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SUÍTE INTRUSIVA MORRO DO TRIUNFO - SUL DO CRÁTON AMAZÔNICO –

GEOLOGIA, PETROGRAFIA E GEOQUÍMICA, CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR

Rafael Ferreira Cabrera1,4,5, Amarildo Salina Ruiz2,4,5, Maria Zélia Aguiar de Souza3,4,5,
Shayenne Fontes Nogueira1,4,5.
1
Programa de Graduação em Geologia, ICET/UFMT; 2Departamento de Geologia Geral,
ICET/UFMT; 3Departamento de Recursos Minerais, ICET/UFMT; 4Grupo de Pesquisa em Evolução
Crustal e Tectônica – Guaporé; 5Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Geociências da
Amazônia.

Resumo
A Suíte Intrusiva Morro do Triunfo corresponde à rochas gabróicas dispostas em um único corpo de
aproximadamente 23 Km2, representando um magmatismo básico que afetou o Terreno Rio Apa, no extremo Sul
do Cráton Amazônico. O estudo de sua relação com as encaixantes é dificultado devido à não exposição dos
contatos.
Esta suíte é composta por rochas gabróicas, isotrópicas, compostas essencialmente por plagioclásio,
olivina e piroxênio. Sugere-se tratar de uma intrusão estratiforme, evidenciada na estrutura acamadada das
rochas. Os dados geoquímicos indicam que este corpo foi formado em ambiente intra-placa a partir de um
magma básico, sub-alcalino de caráter toleítico.

Palavras – Chave: Magmatismo Básico; Geoquímica; Cráton Amazônico.

Introdução
Este trabalho apresenta, por meio de critérios geológicos, petrográficos e geoquímicos, uma
caracterização preliminar das rochas que constituem a Suíte Intrusiva Morro do Triunfo, com o intuito
de colaborar com o entendimento deste magmatismo, assim como, inferir o que ele representa para a
evolução tectônica do Terreno Rio Apa e, conseqüentemente, para o Cráton Amazônico.
As rochas da Suíte Intrusiva Morro do Triunfo foram relatadas pela primeira vez na literatura
por Corrêa et al. (1976) que as caracterizaram como gabros coroníticos definindo-as como unidade
geológica Morro Jaraguá. No Projeto RadamBrasil, Araújo et al. (1982), considerando o termo
utilizado na região para essa colina, substituem essa denominação por Gabro Morro do Triunfo. A
exposição destas rochas ocorre nas imediações da Fazenda Emadicá, próxima ao município de Porto
Murtinho, extremo oeste do Estado de Mato Grosso do Sul.
A Suíte Intrusiva Morro do Triunfo compreende um maciço que se destaca no relevo em meio
à topografia rebaixada característica da região pantaneira em um único corpo de aproximadamente 23
Km2. Apresenta um contato claramente litológico com os sedimentos da Formação Pantanal que
encobre a relação desta intrusiva com as rochas do embasamento Pré-Cambriano, tendo na porção
oeste um contato por falha com as vulcânicas ácidas do Grupo Amoguijá (Araújo et al. 1982).

Materiais e Métodos
Esta pesquisa se iniciou a partir de uma revisão bibliográfica, seguida pela interpretação de
imagens de satélite Landsat, com o auxílio do Software ArcGis, onde se distinguiram as zonas
homólogas da área. Os preparativos para as análises sucederam-se nos laboratórios de Preparação de
Amostras e de Laminação do Departamento de Recursos Minerais da UFMT. O estudo petrográfico e
as análises geoquímicas foram realizados, respectivamente, nos laboratórios do já mencionado
departamento e na Acme Analytical Laboratories (Acmelab)-Vancouver/Canadá para determinações
através dos métodos ICP (Inductively Couple Plasma) e ICP-MS.

Contexto Geológico
O extremo sul do Cráton Amazônico, representado pelo Terreno Rio Apa, é composto por um
conjunto de rochas que guardam registros do Paleo ao Neoproterozóico, representando um elemento
crustal chave no estudo da aglutinação do Supercontinente Rodínia.
O Terreno Rio Apa (Fig. 1) localiza-se no oeste do estado do Mato Grosso do Sul, estendendo-
se até terrenos bolivianos. Ruiz et al. (2005) consideram o Terreno Rio Apa como embasamento dos
cinturões móveis neoproterozóicos (faixas Paraguai, Araguaia e aulacógeno Tucavaca – Bolívia), e
relaciona as rochas sedimentares dos grupos Boqui, Tucavaca e Murciélago com os metassedimentos
dos grupos Jacadigo, Corumbá e Alto Paraguai, respectivamente.
Este corpo ainda não possui uma relação estratigráfica bem estabelecida devido à escassez de
trabalhos em escala de detalhe, apesar de já mencionado em trabalhos de âmbito regional, como
Corrêa et al. (1976), Araújo et al. (1982), Lacerda Filho et al. (2006) e Cordani et al. (2010) e algumas
pesquisas locais como Cabrera et al. (2010).
De acordo com Lacerda Filho et al. (2006) a Suíte Intrusiva Morro do Triunfo, os enxames de
diques máficos da Suíte Intrusiva Rio Perdido e a Suíte Gabro-Anortosítica Serra da Alegria
correspondem a um evento magmático básico de natureza intracontinental.

Figura 1: Mapa geológico da parte sul do Terreno Rio Apa, com destaque para a localização do Morro
do Triunfo (Extraído de Manzano et al. 2008).

Aspectos Petrográficos
As rochas da suíte estudada afloram em lajedos e blocos (Fig. 2 A) e exibem localmente
estratos plano-paralelos, com espessura variando entre 1 a 5 cm, sugerindo uma intrusão estratiforme
(Fig 2 B). As amostras estudadas foram caracterizadas como rochas gabróicas, maciças, faneríticas de
granulação variando de média a fina, melanocráticas de cor cinza-escuro, holocristalinas, apresentando
diversos estágios de alteração. A petrografia executada nesse estudo preliminar indica composições
modais médias de plagioclásio, olivina e piroxênio que permite a classificação desses gabros como
troctolitos, segundo o diagrama de Streckeisen (1976).
Opticamente, são rochas de textura sub-ofítica a ofítica (Fig. 2 C), equi a inequigranular,
constituída essencialmente por plagioclásio, olivina, clinopiroxênio e opacos, tendo biotita, clorita,
calcita, epidoto, serpentina, talco, iddingsita, opacos e rutilo como minerais acessórios e/ou de
alteração. O plagioclásio, identificado como andesina, ocorre em cristais tabulares, euédricos a
subédricos, com geminações dos tipos albita, periclina e Carlsbard, por vezes combinadas;
apresentando com freqüência zonação e fraturas preenchidas por clorita e calcita. A olivina exibe-se
em grãos anédricos, arredondados ou levemente elípticos, apresentando textura coronítica, bem
marcante, formada por clinopiroxênio, exibe também fraturas preenchidos por iddingsita e serpentina
(Fig. 2 D e E). O clinopiroxênio, correspondente à augita, além de ocorrer como coroas na olivina,
mostra-se em cristais intergranulares, marrons a turvos, exibindo comumente textura simplectítica e,
por vezes, geminação múltipla (Fig. 2 F). A biotita ocorre na maioria das vezes associada ao rutilo
formando coroas de reação nos opacos, raramente representando uma fase primária.

Figura 2: Ilustrações de rochas da Suíte Intrusiva Morro do Triunfo: (A) formas de afloramento, em
blocos; (B) estrutura acamadada; (C) textura sub-ofítica; (D e E) coroas de reação de clinopiroxênio
em olivina; (F) textura simplectítica em clinopiroxênio. Polarizadores
cruzados em (C), (E) e (F), e paralelos em (D).

Aspectos Geoquímicos

Figura 3: Diagramas classificatórios: (A) Na2O+K2O versus SiO2 de Le Bas (1986) com as divisões de
Irvine e Baragar (1971), (B) AFM de Irvine & Baragar (1971) e (C) Hf-Rb/30-Ta*3 de Harris et. al
(1986).

Os dados geoquímicos preliminares (Fig. 3) obtidos para quatro amostras, quando lançados no
diagrama de TAS indicam que as rochas da Suíte Intrusiva Morro do Triunfo são classificadas como
basaltos formados a partir de um magmatismo sub-alcalino (TAS de Le Bas, 1986, com as divisões
propostas por Irvine & Baragar 1971; Fig. 3A) de caráter toleítico (AFM de Irvine & Baragar 1971;
Fig. 3B) em um ambiente intra-placa, conforme indica o diagrama Hf-Rb/30-Ta*3 de Harris et. al
(1986; Fig. 3C).
Conclusão
A Suíte Intrusiva Morro do Triunfo é constituída por rochas gabróicas isotrópicas, de texturas
sub-ofítica a ofítica, composta essencialmente por plagioclásio, olivina e piroxênio. A existência de
estrutura acamadada sugere que a intrusão é do tipo estratiforme gerada em um evento magmático
intra-placa, de caráter básico, sub-alcalino, de natureza toleítica. A ausência de deformação dúctil
sugere que a intrusão estudada não se relaciona ao arco magmático Amoguijá e, embora não haja
dados geocronológicos, sugere-se a correlação desta unidade aos enxames de diques intracontinentais
da Suíte Intrusiva Rio Perdido.

Agradecimentos
Os autores deste trabalho agradecem à FAPEMAT (448287/2009), ao PROCAD/CAPES
(096/2007), ao GEOCIAM - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Geociências da Amazônia,
e ao Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica Guaporé. Por último, mas não menos
importante, à CNPQ pela concessão de bolsas de iniciação científica aos autores RFC e SFN.

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