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MAPEAMENTO GEOLÓGICO DE DETALHE E ESTUDO

PETROGRÁFICO DE UM CORPO METACARBONATÍTICO COM


LAMPRÓFIROS ASSOCIADOS NA REGIÃO DE ITATUBA (PB)
Natália Gomes Alves de Souza1; João Adauto de Souza Neto2
1
Graduanda do Curso de Geologia - CTG – UFPE, e-mail: nataliagas@gmail.com; 2Docente/Pesquisador do
Departamento de Geologia – CTG – UFPE, e-mail: adauto@ufpe.br

Sumário: Localizada a cerca de 50 km, a sudeste da cidade de Campina Grande, Paraíba, a


área de estudo apresenta cerca de 30Km² de extensão, e está enquadrada dentro da zona
transversal da Província da Borborema. Situa-se na região de Itatuba, que está inserida no
contexto geotectônico do Terreno Alto Moxotó (Carmona 2006; Santos et al. 2008), sendo
esta uma região caracterizada por uma associação de rochas metagabro-anortositóides,
metagranitóides, metacarbonáticas-metalamprófiros e skarns. Semelhantemente a outras
regiões do globo com mesma associação litológica, esta é uma área com um grande potencial
para ocorrência de mineralizações de Fe-Ti, hospedadas nas rochas gabro-anortosíticas, além
de Fe-Cu-Au em skarns. Objetivando o aprofundamento no estudo de tal associação litológica
da região foi realizado um mapeamento geológico de detalhe (1:25.000), análise petrográfica
e posterior tratamento dos dados de análises geoquímicas das rochas metamáficas-
ultramáficas, que ressaltou o caráter basicamente toleítico das amostras.

Palavras–chave: Itatuba; rochas metacarbonáticas; rochas metamáficas-ultramáficas;


terreno Alto Moxotó

INTRODUÇÃO
Este subprojeto trata especificamente da área da mineralização de Itatuba. Na área da
mineralização de Fe-Ti de Itatuba, onde ocorrem ortognaisses (Arqueano-Paleoproterozóico;
um dos episódios mais antigo é representado pelos Ortognaisses Salvador, uma unidade
diorítica-granodiorítica acrescionária de 2,3 Ga, segundo Santos et al. 2008a e 2008b) com
corpos de gabro-anortositóides (fracionados anortosítico e trondhjemítico; Santos et al.
2008b) metamorfisados, uma suíte tipo-A álcali-granítica (metassienogranitos e metaquartzo
sienitos com Fe-hastingsita, biotita e riebeckita, denominada de Riacho Paulino por Santos et
al. 2008b), rochas metacarbonáticas (metacarbonatitos do tipo sovito ?; contendo olivina,
diopsídio, Fe-hastingsita, plagioclásio, microclina, titanita, apatita, riebeckita e lyndesleita,
associada a rochas máficas (supostamente alcalinas) e metalamprófiros (contém Ti-augita,
plagioclásio, barkevikita-kaesurtita, apatita e zircão, sendo classificado como do tipo
camptonito / sannaito; possuem teores de SiO2 de cerca de 34 %, além de MgO, K2O e Na2O
atingindo até 10 %, 3 % e 3,44 %, respectivamente, assim como TiO2, Zr, e Ba com até 2,55
%, 703 ppm, e 2.510 ppm, respectivamente, com ΣREE entre 607 e 651 ppm), e skarns
(Santos et al. 2008a e 2008b). Os metagabro e a mineralização de Fe-Ti que hospedam, além
dos mármores, já foram abordados do ponto de vista petrológico, geoquímico e geofísico em
trabalhos anteriores (e.g. Alencar 1993, Almeida 1995). Entretanto, a ocorrência de
metanortositóides, rochas metacarbonáticas, metalamprófiros e skarns em Itatuba tem caráter
inédito, tendo sido apenas recentemente revelada nas pesquisas recentes do autor deste
projeto e colaboradores. No cenário de um possível complexo carbonatítico, os skarns de
Itatuba podem tratar-se de rochas que comumente se associam ao mesmo, como visto no
Cinturão Greenville, Canadá (Lentz 1998). Na área investigada, os skarns por sua vez
mostram-se afetados por um evento hidrotermal tardio, que desenvolve, pervasivamente, a
associação quartzo-epidoto-sulfetos (pelo menos calcopirita e bornita foram descritas até o
momento) em estruturas do tipo brechada e stockwork (veios de quartzo com até 3 m de
espessura). Este hidrotermalismo pode ter gerado mineralizações importantes (e.g. Au) em
Itatuba, a exemplo do que ocorre em outros skarns da Província Borborema (Souza Neto et
al. 2008).

MATERIAIS E MÉTODOS
O mapeamento geológico foi executado em duas etapas de campo, de cerca de 10 dias cada,
onde foram descritos os afloramentos de rocha encontrados e a coleta de amostras
representativas das rochas encontradas na área. As amostras foram levadas às etapas de
preparação de amostras para análises (petrográfica e geoquímica). Para confecção de lâminas
petrográficas foram separados tabletes das amostras representativas. Em seguida, foram
conduzida a etapa de estudo petrográfico, com auxílio do microscópio petrográfico. Visando
às análises geoquímicas as amostras foram devidamente britadas, em um britador de
mandíbulas, quarteadas e pulverizadas em moinho. Uma etapa adicional foi a separação de
concentrados minerais (e.g calcita) para posterior datação de rocha.

RESULTADOS
De acordo com o mapa geológico (Figura 1), na área de estudo foram mapeadas as seguintes
unidades litoestratigráficas principais: (1) um complexo gnaisse-migmatítico com
ortognaisses bandados tonalíticos; (2) rochas metafélsicas compostas por leucotonalitos a
trondhjemitos metamorfizados, (3) rochas meta-alcaligraníticas, compostas por sienogranitos
metamorfizados, além de (4) rochas metacarbonáticas, com lentes de (5) skarns e
metalamprófiros subordinados. Também foi individualizada uma última unidade (6) dada
por rochas metamáficas-ultramáficas associadas tanto às rochas metacarbonáticas como às
rochas metafélsicas.

Figura 1. Mapa geológico da área, mostrando as principais associações litológicas (Adaptado de Mendes, 2009).

Quanto à petrografía optou-se por enfatizar neste trabalho as rochas metacarbonáticas e as


metamáficas-ultramáficas, dada à importância petrogenética das mesmas e contexto
geotectônico que representam. As rochas metacarbonáticas apresentam-se basicamente
divididas em três facies principais: (i) facies granular fina, com uma grande variedade
mineral; (ii) um facies maciço, grossa dominada por calcita; (iii) e finalmente um facies
brechado, possivelmente relacionada a um magmatismo explosivo. A composição
mineralógica das rochas metacarbonáticas é bastante diversificada com calcita, actinolita,
diopsídio, olivina, flogopita, hercinita, humita, titanita, cancrinita, nefelina e apatita, além
de sulfetos como pirita e pirrotita. Para as rochas metamáficas-ultramáficas observou-se
uma textura de granulação variando de fina a média, com composição mineralógica
dominada por hornblenda, granada, plagioclásio e minerais opacos. Quanto à separação
mineral para datações geocronológicas, optou-se por priorizar a calcita para o estudo
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Sr/86Sr e Sm/Nd, marcam uma fase importante da pesquisa, e servirá de guia para um
estudo geocronológico mais detalhado e objetivo uma vez que seus resultados servirão para
triagem de amostras mais específicas para estudos geocronológicos U-Pb (apatita e
titanita). Com a pretensão de investigar a gênese das rochas, do ponto de vista da
geoquímica multi-elementar (elementos maiores, traços e Terras Raras), optou-se por se
iniciar o tratamento dos dados geoquímicos pelas rochas metamáficas-ultramáficas e
algumas amostras de rochas metacarbonáticas, dado a sua importância para as
interpretações do ambiente geotectônico da área. Para tal utiliza-se aqui diagramas
geoquímicos, visando caracterizar a série química a que estas pertencem (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Diagrama SiO2 vs. NaO2+K2O (Le Maitre, 1989)


exibindo a classificação primária das rochas metamáficas
pesquisadas. As rochas metanortosíticas (amostra CC-207A) e
metacarbonáticas (amostras CC-30 A, CC-293 A, CC-293B,
CC-298 A, CC-298B, CC-302 A, CC-305B e CC-308C)
também estão plotadas neste diagrama, estas últimas apenas
de forma ilustrativa, apenas com o objetivo de se avaliar
preliminarmente a composição das mesmas, considerando-se
a hipótese de se tratarem de rochas ortoderivadas. Legenda:
Pc= Picritos, B=Basaltos, 01=Andesitos Basálticos,
02=Andesitos, 03=Dacitos, R=Riolitos, S1=Traquibasaltos, S2
e S3=Traquiandesitos, T=Traquitos, U1=Basanitos e Tefritos,
U2=Fonotefritos, U3=Tefrifonólitos, Ph=Fonólitos, F=Fóides
(Feldspatóides). Figura 3. Diagrama AFM (Kuno, 1968, com os campos de
Irvine & Baragar, 1971) para as rochas metamáficas
estudadas. As rochas metanortosíticas (amostra CC-207A)
e metacarbonáticas (amostras CC-30 A, CC-293 A, CC-
293B, CC-298 A, CC-298B, CC-302 A, CC-305B e CC-
308C) também estão plotadas neste diagrama, sendo que
estas últimas estão de forma ilustrativa.
DISCUSSÃO
Análise dos elementos maiores pelo diagrama discriminante de Le Maitre (1989) sugere
composição basáltica para as amostras, CC-58, CC-86, CC-92, CC-98, CC-112, CC-156,
CC-283, CC-293, composição basáltica-andesítica para as CC-9, CC-84, CC-280, Picrítica
para CC-305 A, dacítica para CC-207 A e basanítica para CC-47, sendo que todas as
demais amostras no campo dos fóides (Figura 2). No diagrama AFM, com os campos de
Irvine & Baragar (1971), as rochas estudadas encontram-se distribuídas no campo das
rochas da série toleítica, com exceção da amostra CC-207 A, que apresenta afinidade com
a série cálcioalcalina (Figura 3). O estudo geocronológico da apatita e titanita será
conduzido após estas análises da calcita, em amostras a serem triadas de acordo com os
resultados da calcita. Dos 11 concentrados de calcita, 8 (textura mais grossa) foram
encaminhados para análises no laboratório da UnB. As três outras amostras (textura
relativamente mais fina) ficarão para outra fase do trabalho.

CONCLUSÕES
A partir do mapeamento geológico foram mapeadas na área de estudo as unidades
litoestratigráficas: complexo gnaisse-migmatítico com ortognaisses bandados tonalíticos,
rochas metafélsicas compostas por leucotonalitos a trondhjemitos metamorfizados, rochas
meta-alcaligraníticas, compostas por sienogranitos metamorfizados, rochas
metacarbonáticas, com lentes de skarns e metalamprófiros subordinados, além de uma
unidade dada por rochas metamáficas-ultramáficas associadas tanto às rochas
metacarbonáticas como às rochas metafélsicas. Neste mapeamento foi revelado a maior
ocorrência de skarns até o momento conhecida na área, sendo na forma de lentes de cerca
de 20 metros de largura por cerca de 200 metros de extensão. Os dados geoquímicos das
rochas metamáficas-ultramáficas ressalta o caráter toleítico das mesmas, e o estudo destas
foi de suma importância para o entendimento do contexto petrológico e geotectônico da
região.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo auxílio financeiro para esta pesquisa (Projetos de Edital Universal números
480.719/2004-7 e 477.189/2008-3), além da bolsa de iniciação científica (IC) para a aluna.

REFERÊNCIAS
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MENDES, L.U.D.S. Mapeamento Geológico de uma Área a Sudoeste de Itatuba (PB).
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SANTOS, E.J., SOUZA NETO, J. A., CARMONA, L.C.M., ARMSTRONG, R., SIAL, A.N.,
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SANTOS, E.J., SOUZA NETO, J. A., CARMONA, L.C.M., LIRA SANTOS, L.C.M. Uma
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