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XV SIMPÓSIO NACIONAL DE ESTUDOS TECTÔNICOS

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1 8 a 21 de m aio de 201 5
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O GRUPO CAMPANÁRIO NO RIO APA, SUL DO CRÁTON AMAZÔNICO:


GEOLOGIA, DEFORMAÇÃO E METAMORFISMO

Rafael Ferreira Cabrera1,4,6, Amarildo Salina Ruiz2,4,6, Maria Zélia Aguiar de Sousa3,4,6, Maria Elisa
Fróes Batata4,5,6, Gabriela dos Santos1,4,6

1
Programa de Pós-Graduação em Geociências, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Brasil
2
Departamento de Geologia Geral, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Brasil
3
Departamento de Recursos Minerais, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Brasil
4
Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica Guaporé, Brasil
8
Centro de Pesquisas Geocronológicas/IGC/USP, Brasil,
6
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Geociências da Amazônia (GEOCIAM), Brasil

Introdução
O Grupo Campanário localiza-se no Terreno Rio Apa, Sul do Cráton Amazônico (CA), na
região sudoeste do Estado do Mato Grosso do Sul (centro-oeste do Brasil), fronteira entre o Brasil,
Paraguai e Bolívia. Poucas pesquisas abordaram as sequências sedimentares deste terreno e entre
elas houveram mudanças e discussões a respeito da posição e correlação estratigráfica, no
Neoproterozóico como Formação Urucum – 600 Ma (por Correia Filho et al. 1981, Araújo et al.
1982 e Godoi et al. 1999), outrora Formação Amolar – 1.0 Ga (por Lacerda Filho et al. 2006 e
Cordani et al. 2010), até mesmo Paleoproterozóica, como Grupo Alto Tererê (Lacerda Filho et al.
2006). Pesquisas recentes apontam evidências de que se trate de uma unidade distinta, ainda não
descrita em território brasileiro.
Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar e discutir dados geológicos, estruturais,
metamórficos e estratigráficos de parte desta sequência, exposta na região da Serra da Esperança
(Fig. 1), município de Porto Murtinho (MS), na região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai,
contribuindo para a compreensão da evolução crustal do terreno Rio Apa e, em particular, desta
sequencia metasedimentar de natureza siliciclástica.

Contexto Geológico Regional


As pesquisas pioneiras a descreverem a sequência sedimentar aqui estudada são referentes à
Correia Filho et al. (1981), seguidos por Araújo et al. (1982), que evidenciam a ocorrência de
rochas sedimentares e as associam à Formação Urucum, uma bacia química-siliciclástica formada
em abiente rift que, no entorno da Serra da Esperança, seria composta por quartzitos com
estratificação cruzada acanalada, associados a outras rochas areníticas. Posteriormente Lacerda
Filho et al. (2006), seguido por Cordani et al. (2010), associam estas rochas ao Grupo Amolar,
Figura 1: Mapa geológico da região da Serra da Esperança, sul do Terreno Rio Apa.

inicialmente descrita no entorno da Serra do Amolar, município de Corumbá (MS), descrevendo


conglomerados, arcóseos conglomeráticos e filitos. Segundo esses autores esta unidade seria
cronocorrelata ao Grupo Aguapeí/Sunsás (SW do CA), do Meso ao Neoproterozóico Superior.

Resultados e Discussão
Esta sequência compreende cristas e serras alinhadas de direção N-S se estendendo desde o
Paraguai, a oeste de Cerro Paiva, até o norte da Serra da Alegria, no norte do Terreno Rio Apa,
restringindo-se, ao Bloco Ocidental. Fazem contato por zonas de cisalhamento que alçam camadas
de metassedimentos contra os granitoides da Suíte Intrusiva Alumiador e Formação Serra da
Bocaina. É representada por metaparaconglomerados oligomíticos (Fig. 2A) de matriz argilo-
arenosa, de cor bege a marrom; muscovita metarenitos de granulação média a fina, bege a
avermelhado, comumente foliados, por vezes apresenta clastos areníticos, ocorrendo intercalados
com camadas de quartzitos e filitos (Fig. 2B), quartzitos inequigranulares, médios a finos, de cor
bege a cinza, compostos quase na totalidade por cristais subarredondados de quartzo; quartzo-
muscovita xistos ocorrendo em finas camadas e lentes intercalados com muscovita metarenito,
quartzito e filito. Apresentam textura lepidoblástica (Fig. 2C) marcada pela orientação de cristais de
muscovita, que por vezes encontra-se em mica-fish e em kink-band (Fig. 2D); e filitos, que são
inequigranulares a porfiroclásticas, muito finos a finos, com porções onde a matriz é afanítica,
representam a porção superior da sequência, intercalado a quartzitos e muscovita metarenitos.

Figura 2: Fotografia ilustrando o contato entre camada de metaparaconglomerados e o muscovita


metarenito em (A); intercalação de quartzito, filito e muscovita metarenito em (B); textura
lepidoblástica marcada pela orientação de cristais de muscovita em quartzo-muscovita xisto em (C);
fotomicrografia de muscovita-fish em (D).

Observam-se estruturas sedimentares (S0) preservadas, como laminação nos metapelitos e


estratificação plano paralela nos metarenitos e quartzitos, além de estratificação cruzada tabular e
acanalada em camadas de muscovita metarenitos. A primeira fase (F1) gerou xistosidade (S1),
marcada pela orientação de muscovita e quartzo, de orientação preferencial 110/32. Este esforço
tectônico gerou dobras (D1) recumbentes, fechadas, de eixo NW-SE, do acamamento sedimentar
(S0). Ainda alterou a paragênese mineral, gerando cristais de clorita, muscovita e sericita marcando
metamorfismo da Fácies Xisto Verde. A segunda fase (F2) gerou clivagem de crenulação (S2), de
orientação preferencial 180/21. A terceira e última fase (F3) gerou crenulação suave em todo o
pacote, de orientação 80/85. As duas últimas sem alteração nas paragêneses minerais.
Conclusões
A análise litológica e estratigráfica desta sequência permite sugerir que estas rochas foram
depositadas em um ambiente tipo plataforma continental estável, evoluindo de domínios de alta
energia até regimes de estabilidade tectônica, reafirmada pela maturidade de todos os níveis desta
sequência.
Em trabalhos anteriores estas rochas eram consideradas como pertencentes ao Grupo
Amolar (Lacerda Filho et al. 2006), considerado como cronocorrelata ao Grupo Aguapeí/Sunsás
(Lacerda Filho et al. 2006), de idade mínima de sedimentação de 1.0 Ga. Cordani et al. (2010)
ressalta uma homogeneização no geocronômetro Ar-Ar em torno de 1.3 Ga. Embora não haja
datações nos metassedimentos, por correlação estrutural é possível afirmar que este evento esta
presente nestas rochas, que apresentam-se metamorfizados na fácies Xisto Verde (marcada pela
coexistência de clorita, muscovita e sericita), portanto, mais antigo que 1.3 Ga. Em território
paraguaio Wiens (1984), seguido por Fúlfaro & Palmieri (1986), descrevem uma sequência de
rochas muito semelhante, denominada Grupo San Luis, posicionado no Mesoproterozóico.
Tendo em vista a impossibilidade de se correlacionar estas rochas com o Grupo
Amolar/Aguapeí/Sunsás e as semelhanças e continuidade física com as cristas expostas em
território paraguaio, sugere-se utilizar o termo Grupo Campanário, considerando a grande exposição
destas rochas em fazenda homônima, para esta sequência siliciclástica, sendo cronocorrelata ao
Grupo San Luis (descrito por Wiens 1984, posicionado no Mesoproterozóico, no Paraguai).

Referências
Araújo, H. J. T.; Santos Neto, A.; Trindade, C. A. H.; Pinto, J. C. A.; Montalvão, R. M. G.; Dourado, T. D. C.;
Palmeira, R. C. B.; Tassinari, C.C.G. Projeto RadamBrasil: Folha SF.21 – Campo Grande: geologia, geomorfologia,
pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1982. p. 23-124.
Cordani, U. G.; Teixeira, W.; Tassinari, C. C. G.; And Ruiz, A. S.; 2010, The Rio Apa Craton in Mato Grosso
do Sul (Brazil) and Northern Paraguay: Geochronological Evolution, Correlations and Tectonic Implications for
Rodinia and Gondwana. American Journal of Science, 310:1-43.
Correia Filho, F. C. L.; Martins, E.G.; Araùjo, E. S. Projeto Rio Apa: relatório da área I. Goiânia: CPRM,
1981. 2v. Convênio CODESUL/ CPRM.
Fúlfaro, V. J. & Palmieri, J. H. 1986. Mapa Geológico del Paraguay (1 mapa 1:1.000.000 y texto
explicativo).Proyecto PAR 83/005. Gov. Rep. del Paraguay/ONU, Asunción, Paraguay.
Godoi, H. O.; Martins, E. G. Folha SF.21, Campo Grande: Escala 1:500.000. Brasília: CPRM, 1999. Programa
de Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil – PLGB.
Lacerda Filho, J.W.; Brito, R.S.C.; Silva, M.G.; Oliveira, C.C. de, Moreton, L.C., Martins, E.G., Lopes, R.C.,
Lima, T.M., Larizzatti, J.H. Valente, C.R. 2006. Geologia e Recursos Minerais do Estado de Mato Grosso do Sul.
Programa Integração, Atualização e Difusão de Dados de Geologia do Brasil. Convênio CPRM/SICME - MS, MME, 10
- 28p.
Wiens, F. 1984. El Precámbrico Paraguayo. In: Simpósio Nacional de Geologia Resumen. Asunción.

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