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/1996
RESUMO
ABSTRACT
Constitution, local and regional ranges and stratigraphic position of fossils of the
Corumbataí and Estrada Nova formations sponge spicules, ostracodes, ichthyoliths, coprolites,
probable biogenic fragments, charophyte oogonia, stromatolites and bivalves are studied.
Micropaleontological analyses allowed to: 1) classify sponge spicules as monaxonid oxeas
characteristic of the class Demospongia of the Haploscherida Order; 2) identify, based on the
external morphology of the carapace, 16 genera and 23 new species of ostracodes; 3) identify
10 morphotypes of ichthyoliths and 4 types of PaleollÍscoidei scales; 4) describe, for the first
time in Brazil, a charophyte oogonium occurrence in which the paleozoic specimens could be
isolated from the rock matrix. The charophyte may eventually prove to be an index fossil as it
has so far been registered only at the top of the Teresina Member of the Estrada Nova
Formation; 5) identify two distinct groups of probable biogenic fragments. The study of
bivalves was extended to the regions of Santa Cruz das Palmeiras, Tambaú, Porangaba,
Angatuba, Guareí, Taguaí and Fartura; it is shown that the biostratigraphic zonation proposed
for the Rio Claro region can be applied to other areas of the State. The biozones were widely
distributed geographically, as for instance the Pinzonella neotropica-Jacquesia brasiliensis
Zone, which extends from the northeast to the southwest of São Paulo State. The lithological
and petrographic characteristics and the sedimentary structures associated with the taphono-
mic and paleoecological features of the bioclasts showed that the fossils of the Corumbataí
and Estrada Nova formations do not, in general, correspond to in situ depositions, but were
transported and redeposited during sucessive storm events.
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METODOLOGIA
Trabalhos de Campo
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35
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ração dos microfósseis e microrrestos.
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COM LAMINAÇÃO
CONSIDERAÇÕES PALEONTOLÓGICAS
1--:1
A associação fossilífera presente nas for-
mações Corumbataí e Estrada Nova com-
15
preende espongiários (espículas), ostracodes,
ictiofósseis, coprólitos, prováveis fragmentos
biogênicos, oogônios de carófitas, bivalves e
estromatólitos. Os critérios utilizados para as
m
UTOLOGIA
12.16
12
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descrições e classificações dos vários grupos trais, tipo, número e posição dos porocanais e
serão discriminados a seguir: vestíbulo, adotou-se a classificação artificial,
baseada em características externas das valvas
Espículas de Espongiários direita e esquerda, relação de recobrimento das
valvas e contorno da carapaça em vista dorsal,
As espículas descritas neste trabalho encon- que permitiu a identificação de 23 morfoespé-
tram-se arquivadas na Fundação Zoobotânica do cies distribuídas por 16 morfogêneros. O gênero
Rio Grande do Sul.
1 espécie 1 definido nesse trabalho está ilustrado
Na ESTAMPA 1 estão ilustradas algumas na ESTAMPA 2.
espículas isoladas classificadas como espículas No trabalho de SOHN & ROCHA-CAM-
óxeas monaxônidas características da Classe
POS (1990) sobre ostracodes da Formação
Demospôngia, da Ordem Haplosc1erida Corumbataí, os espécimes descritos foram
(BERGQVIST, 1978). Não foram encontrados atribuídos com dúvidas aos gêneros
vestígios de sua organização nos esqueletos das Cypridopsis, Candona e Darwinula, além de
esponjas. três espécies assinaladas a um gênero' desco-
Associados às espículas, foram encontra- nhecido; as descrições apresentadas, entretanto,
dos microrrestos identificados como possíveis não trazem detalhes sobre as cáracterísticas das
ossículos (elementos calcíticos do esqueleto). duas valvas e relações de recobrimento, impossi-
de ofiuróides. bilitando comparar os morfotipos aqui descritos
com o material estudado por esses autores (op.
Ostracodes cit.). Apenas o gênero 2 espécie 1 foi relaciona-
do ao gênero desconhecido espécie 1 figurado
Os ostracodes descritos neste trabalho por SOHN & ROCHA-CAMPOS (op. cit.) na
encontram-se arquivados temporariamente no figura 6.13. Por outro lado, o gênero 4 espécie 1
Acervo do CENPES - PETROBRÁS. apresenta relações de contorno com Candona sp.
figurada por SOHN & ROCHA-CAMPOS (op.
Na ausência de caracteres morfológicos
cit.). Variações são observadas, entretanto,
como: charneira, impressões musculares cen-
quanto ao contorno da carapaça em vista dorsal.
A dificuldade de identificação das relações de
m
E~JI~. FÓSSEIS DESCRI AO SUCINTA
recobrimento das carapaças descritas impede
L1TOLOGIA
11,18
SILTITO SEMELHANTE AO caracterizar, sob esse aspecto, possível identi-
ANTERIOR. dade entre essas formas, Entretanto, detalhes das
10 margens livres indicam a provável sobreposição
da valva esquerda sobre a direita ao longo das
mesmas.
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Coprólitos
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ESTAMPA 1
ESPÍCULAS DE ESPONGIÁRIOS
Fig. 1 Megasclera oxea (X200); Fig. 2 Megasclera oxea (X200); Fig. 3 Megasclera oxea (X200); Fig. 4
Megasclera oxea (X150); Fig. 5 Rocha com restos de espículas (XIOO); Fig. 6 Detalhe da figura 5 (X200);
Procedência: afloramento situado na estrada de Angatuba, a 1,5km da entrada para a cidade, na propriedade do
Sr. Femando Turelli.
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ESTAMPA 2
OSTRACODES
Fig. 1 Gênero 1 espécie 1 - Parátipo. Yalva direita (X96); Fig. 2 Detalhe da ornamentação da valva di-
reita (X192); Fig. 3 a 6 Série ontogenética; Fig. 3 Yalva direita (X120); Fig. 4 Yalva esquerda (X120); Fig. 5
Yalva direita (X120); Fig. 6 Yalva esquerda (X120); Procedência: Pedreira de Pau Preto (município de Taguaí)
- Rodovia Taquarituba-Fartura, SP-249, marco 12,4km a partir de Taquarituba.
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- Amostra 1 (Membro Serra Alta): km 162 Além destes, foram observados alguns
da Rodovia Castello Branco, SP-280; grãos de pólen dissacado indeterminado (ARAI
-Amostra 2 (Membro Serra Alta): km 161,5 & DINO, 1995).
Rodovia Castello Branco, SP-280. De acordo com ARAI & DINO (op. cit.) "a
Estas amostras foram submetidas a trata- associação polínica da amostra 2 relaciona-se ao
"Intervalo L" de DAEMON & QUADROS
mento palinológico no Setor de Bioestratigrafia
(1970) e à Zona Lueckisporites virkkiae de
e Pa1eoecologia do CENPES (PETROBRÁS),
MARQUES- TOIGO (1988). Esses autores
sendo os estudos realizados pelo Df. Rodolfo
atribuíram idade kazaniana (Neopermiano) a
Dino e pelo Geólogo Mitsuru Arai.
estas unidades bioestratigráficas. Por outro lado,
A amostra 1 apresentou raros palinomorfos ARAI (1980) relacionou a "Fase"
severamente carbonificados e/ou oxidados, o Lueckisporites, que apresentou características
que impediu qualquer identificação taxonômica. semelhantes ao "Intervalo L", com o
A amostra 2 forneceu os seguintes táxons: Kunguriano. Esta aparente contradição, no
Alisporites aff. nuthallensis, Corisaccites entanto, não constitui um problema, já que
vanus, Limitisporites sp., Lueckisporites virkkiae ARA I (1980) estudou apenas associações
e Vittatina? sp. polínicas da Formação Irati, para caracterizar a
ESTAMPA 3
ICTIODONTES (Actinopterygii)
Fig. I Detalhe do capuz apical (XI00); Fig. 2 Fragmento mandibular com duas fileiras de dentes
(XIOO); Fig. 3 Cortes dos ictiodontes com detalhes dos canais pulpares (X350); Procedência: km 162,8 da
Rodovia Castello Branco.
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ESTAMPA 4
ICTIODONTES (Actinopterygii)
Fig. I Ictiodonte F-I (XIOO); Fig. 2 Detalhe da ornamentação do capuz apical (XIOOO); Fig. 3 Detalhe
da ornamentação da fuste (XIOOO); Fig. 4 Ictiodonte F-l (X75); Fig. 5 Detalhe da ornamentação do capuz api-
cal (X 1000); Fig. 6 Detalhe da ornamentação da fuste (X I000); Procedência: km 161,5 da Rodovia Castello
Branco.
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Barbosaia angulata - Anhembia jroesi. Essa rior de HUENE (op. cit.), respectivamente, de
biozona, entretanto, desde a sua proposição, tem "Zona Pinzonella e Plesiocyprinella" e "Zona
sido objeto de poucos trabalhos, podendo-se Pinzonellopsis e Jacquesia".
citar: MEZZALIRA (1957, 1980) e MARA- Posteriormente (MENDES, 1952), mudou a
NHÃO (1986, 1995) que enfocam o conteúdo nomenclatura mais adequadamente para "Zona
ma1acofaunístico dos níveis basais da Formação Pinzonella illusa e Plesiocyprinella carinata" e
Corumbataí.
"Zona Pinzonella neotropica e Jacqúesia
A descoberta de novas ocorrências dessa brasiliensis". MEZZALIRA (1980) simplificou
biozona mostra diversidade específica alta, com as designações dessas biozonas adotando apenas
identificação de seis novas espécies e dois o nome das primeiras espécies.
gêneros novos (MARANHÃO & MEZZALI- Novos exemplares procedentes dessas duas
RA, em elaboração). As zonas média e superior biozonas, permitiram a proposição de duas novas
(Zona Pinzonella illusa - Plesiocyprinella cari- espécies, uma para a Zona Pinzonella illusa e
nata e Zona Pinzonella neotropica - Jacquesia outra para a Zona Pinzonella neotropica
brasiliensis do zoneamento de MENDES (1952)
(MARANHÃo & MEZZALIRA, em elaboração).
correspondem aos horizontes malacofaunísticos
reconhecidos por HUENE (1928), respectiva-
mente nas ferrovias Ajapi-Ferraz (nível inferior) CORRELAÇÕES REGIONAIS
e Batovi-Itirapina (nível superior).
No primeiro zoneamento formal, MENDES A utilização do zoneamento malacofaunísti-
(1945) denominou os horizontes inferior e supe- co proposto por MENDES (1952) para corre-
ESTAMPAS
ESCAMAS (Actinopterygii)
Fig. 1 Escama P-3 (X50); Fig. 2 Detalhe da superfície (XlOO); Fig. 3 Detalhe da superfície da costela
(XlOO); Procedência: km 161,5 da Rodovia Castello Branco.
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lações regionais, tem por décadas despertado o reglao de Fartura mostram que as zonas
interesse dos pesquisadores. Barbosaia angulata, Pinzonella illusa e
O próprio MENDES (1962) correlacionou Pinzonella neotropica (MENDES, 1952) apre-
as ocorrências de bivalves da região de sentam distribuição horizontal ampla, ultrapas-
Angatuba à Zona Pinzonella illusa- sando os limites da área norte do Estado.
Plesiocyprinella carinata. Posteriormente, FUL- A Zona Barbosaia angulata com. maior
FARO (1964) reconheceu as Zonas Pinzonella número de ocorrências na área de Rio Claro -
illusa-Plesiocyprinella carinata e Pinzonella Piracicaba, ultrapassa os limites regionais, com
neotropica-Jacquesia brasiliensis, respectiva- níveis correlacionáveis nos afloramentos do
mente em Conchas-Anhembi e Bofete- Membro Serra Alta, expostos nos km 161,5
Porangaba. (MARANHÃO, 1995, figo 24) e 163 da Rodovia
As novas ocorrências registradas na Castel10 Branco, na Estrada Monte Cristo -
Formação Corumbataí em afloramentos situa- Ribeirão Grande (MARANHÃO op. cit., figo 27)
dos nas regiões de Santa Cruz das Palmeiras e e no km 235 da Rodovia Angatuba -
Tambaú, bem como nos da Formação Estrada Paranapanema (MEZZALlRA, 1966).
Nova situados no centro-sul (regiões de A Zona Pinzonella illusa bem representada
Porangaba e Guareí) e mais ao sudoeste, na na área de Rio Claro, apresenta desenvolvimen-
ESTAMPA 6
COPRÓLITOS
Fig. 1 Copró1ito (X50); Fig. 2 Coprólito (X50); Fig. 3 Copró1ito (X75); Fig. 4 Coprólito (X50);
Procedência: km 161,5 da Rodovia Castell0 Branco.
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ESTAMPA 7
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ESTAMPA 8
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ESTAMPA 9
OOGÔNIOS DE CARÓFITAS
Figs. I a 4 Leonardosia langei (XlOO) Vista lateral; Procedência: afloramento situado às margens da
Represa Xavantes, noroeste de Fartura (SP).
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quer espécie representada por proporções equi- fig_ 30B); nestes locais os ostracodes estão asso-
valentes de toda seqüência ontogenética ou de ciados a esteiras algáceas, tratando-se, provavel-
sua maior parte, pode ser considerada autóctone mente, de formas fitais caracterizadas por cara-
(WHATLEY,1988). paças alongadas, lisas e pouco calcificadas.
Na Pedreira de Pau Preto, a recuperação de
proporções equivalentes da maior parte da Ictiofósseis
seqüência ontogenética do gênero I espécie I,
gênero 2 espécie I e gênero 3 espécie I, eviden- Os paleoniscídeos responsáveis pelas con-
cia caráter autóctone dessa assembléia, caracte- centrações de restos isolados são os fósseis me-
rizando-a como do Tipo 1, conforme histogra- lhor representados em termos de freqüência e va-
mas propostos por WHATLEY (op. cit.), para riedade, tanto na Formação Corumbataí como na
representar as características da população, face Formação Estrada Nova (Membro Serra Alta).
os regimes de energia. Entretanto, o transporte dos ictiofósseis é
Além disso, a maioria dos ostracodes tem evidente pela grande quantidade de elementos
suas carapaças imediatamente desarticuladas, exoesqueletais isolados distribuídos por toda
quando do processo de ecdise e sob qualquer seqüência, em contraposição a raros peixes com-
grau de turbulência. Desta forma, para uma po- pletos (DUNKLE & SCHAEFFER, 1956 e
pulação fóssil, a associação de porcentagens SILVA-SANTOS, 1991). Isto pode ser observa-
significativas de carapaças articuladas, em está- do nos bone beds do afloramento do km 161,5
gios ontogenéticos iniciais, caracteriza elevada da Rodovia Castello Branco (FIGURA 5) e da
taxa de mortalidade que, provavelmente, resul- exposição da Fazenda Itaoca (FIGURA 6), onde
tou de condições ambientais desfavoráveis. concentrações de dentes e escamas ocorrem nas
Como exemplo, em Weymouth (Inglaterra) depressões das marcas onduladas, denotando a
em ambientes de baixa energia da fácies ação de fluxos oscilatórios de tempestades. Em
Corrallian do Oxfordiano Superior, são encon- apoio a essa conclusão, no primeiro afloramento
trados estratos delgados de arenitos grossos e citado, SIMÕES & ROHN (1996) registraram a
oolíticos, onde 75% a 90% de carapaças articu- concentração de sedimentos fosfatizados em
ladas de ostracodes jovens indicam alta mortali- contato erosivo com siltitos atribuindo sua
dade por soterramento rápido, durante tempes- gênese a processos erosivos, provavelmente,
tades, que acarretam o aporte de material associados às correntes de tempestades.
arenoso (WHATLEY, 1983a apud WHATLEY, Estudos realizados na Formação Estrada
1988). Nova (no Rio Grande do Sul), comprovaram que
Por analogia, a análise populacional dos as ictiofaunas encontradas são constituídas de
ostracodes da Pedreira de Pau Preto, que se elementos parautóctones e autóctones.
encontram em grande número em estágios juve- WÜRDIG-MACIEL (1975) chamou a atenção
nis (com carapaças articuladas) permite inferir para a associação Xenaeanthus com dentes e
mudanças na taxa de sedimentação com corres- escamas de paleoniscídeos o que, na sua
pondente aumento nos índices de mortalidade. opinião, poderia atestar "uma carga transportada
As estruturas hummoeky, presentes nesta de ambiente continental para o interior de uma
seqüência, comprovam mudanças repentinas de baía ou de um mar interno". RICHTER et aI.
energia. (1985) analisando a ictiofauna do Intervalo
Outro aspecto a ser ressaltado é a importân- denominado I1b (equivalente às formações Irati,
cia da vegetação (principalmente algas) na dis- Serra Alta e Teresina), observaram mistura de
tribuição dos ostracodes, como tem sido demons- faunas, com elasmobrânquios de águas doces
trado por vários autores, especialmente os associados com gêneros interpretados como
europeus. Ostracodes fitais estão freqüentemente marinhos (Orodus e Ctenaeanthus).
associados com algas como Laminaria, Assim, na opinião de RICHTER et aI. (op.
Caulerpa, Vidalia e algas calcárias, cada planta eit.) os restos dispersos de paleoniscídeos "são
abriga uma assembléia diferente das demais bons indicadores da energia paleoambiental,
(COIMBRA & MOURA, s.d.). Durante as cole- porém nada podem indicar, neste estágio de co-
tas realizadas, foram recuperadas duas assem- nhecimentos, a respeito da paleo-salinidade".
bléias desse tipo, no afloramento situado na Pelos aspectos bioestratinômicos discutidos,
estrada de Angatuba para a Rodovia Raposo as ictiofaunas das formações Corumbataí e
Tavares, a 1,5 km da entrada desta cidade Estrada Nova (em São Paulo e no Rio Grande
(FIGURA 4) e no afloramento situado na estrada do Sul), têm origem mista, reduzindo a confia-
vicinal para o bairro Bocaina, no sentido Tejupá, bilidade do emprego desses fósseis em recons-
2km do trevo de Taguaí (MARANHÃO, 1995, truções paleoecológicas.
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