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Rev. do M u seu de A rq u eologia e E tnologia, São P aulo, 9: 43-59, 1999.

PALEOAMBIENTE E PALEOETNOLOGIA DE
POPULAÇÕES SAMBAQUIEIRAS DO SUDESTE
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

R ita Scheel-Ybert*

SC H E EL -Y B E R T, R. P aleoam biente e paleoetnologia de populações sam baquieiras do su­


d este do E stado do R io de Janeiro. Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São
P aulo, 9: 4 3-59, 1999.

RESUMO: A análise antracológica de sete sambaquis do Estado do Rio de


Janeiro perm itiu a reconstituição do paleoam biente vegetal e a elucidação de
diversas questões paleoetnológicas com respeito à utilização da m adeira e à
alim entação dos sam baquieiros. A estabilidade do m eio am biente vegetal,
apresentando diversos ecossistemas como a restinga, a mata seca, o mangue e
a M ata Atlântica, foi provavelmente um fator fundamental na manutenção do
sistem a sociocultural dos pescadores-coletores-caçadores.

UNITERMOS: Paleoambiente - Paleoetnologia - Antracologia - Sambaquis


- Tubérculos - Restinga - Mangue - Floresta - Brasil.

Introdução antracologia, pode também evidenciar as relações


entre o homem e seu meio ambiente e o impacto
O meio ambiente no qual viviam as popula­ antrópico exercido (Scheel et al. 1996a, 1996b).
ções sambaquieiras do litoral brasileiro e sua dieta A antracologia foi aplicada pela primeira vez à
sempre estiveram entre as principais preocupações arqueologia brasileira no estudo de sete sambaquis
dos arqueólogos, mas a má conservação dos res­ do litoral sudeste do Estado do Rio de Janeiro. Nos­
tos vegetais nos sambaquis não permitia, até hoje, sos objetivos principais foram: (1) a reconstituição
uma abordagem direta destes aspectos. Ora, o estu­ da evolução paleoambiental e paleoclimática da re­
do dos fragmentos de carvão presentes nos sedi­ gião e a avaliação das interrelações entre ocupação
mentos arqueológicos fornece inúmeras informa­ humana e meio ambiente, procurando uma eventual
ções paleoetnológicas relacionadas à utilização da influência antrópica sobre o meio e/ou uma possível
madeira e à alimentação das populações pré-histó­ influência do ambiente sobre as populações; e (2) a
ricas, além de permitir reconstituições paleoambien- obtenção de informações paleoetnológicas referen­
tais e paleoclim áticas. Este estudo, cam po da tes à utilização de vegetais pelos sambaquieiros.

Área de estudo

(*) L aboratoire de Paléoenvironnem ents, A nthracologie


et A ctio n de l ’H o m m e (U P R E S A 5 0 5 9 ), U n iv e rsité Os sete sam baquis estudados lo ca liza m -se
M ontpellier II. Institut de Botanique, M ontpellier, França. na R egião dos LagOS, entre OS m u n icíp io s de

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SCHEEL-Y BERT, R. Paleoam biente e paleoetnologia de populações sam baquieiras do sudeste do E stado do Rio de
Janeiro. Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9: 43-59, 1999.

Saquarema e Cabo Frio. Os Sambaquis do Forte, M aterial e métodos


Salinas Peroano, Boca da Barra e do Meio situam-
se em Cabo Frio (22°53’S, 42°03’W), às margens As amostras de carvão foram coletadas em
do Canal de Itajuru, que liga a Lagoa de Araruama perfis verticais, sempre no interior das trinchei­
ao mar. O Sambaqui da Ponta da Cabeça, em Ar­ ras deixadas pelas escavações arqueológicas fei­
raial do Cabo, localiza-se sobre o M orro do tas previam ente. Dois perfis foram estudados
Itirinho (22°57’S, 42°14’W), na extremidade su­ nos sambaquis do Forte, Salinas Peroano e Boca
doeste da Praia Grande. Os Sambaquis da Beira­ da B arra; um único p erfil nos sam baquis do
da e da P o n tin h a situ a m -se em S aq u are m a Meio, da Beirada e da Pontinha. Níveis artifici­
(22°55’S, 42°33’W), no dorso do cordão interno ais de 10 cm foram decapados em seções de 2 m
da restinga que separa a Lagoa de Saquarem a de largura por 50 cm de profundidade, com o
do mar (Figura 1). Informações detalhadas sobre auxílio de um guia de amostragem (Ybert et al.
clima, geomorfologia e vegetação atual da área 1997). Todo o sedimento foi peneirado a seco no
de estudo podem ser encontradas em Scheel- campo e os fragmentos de carvão foram recupe­
Ybert (1998). Informações sobre o contexto ar­ rados no laboratório com a utilização de uma
queológico de cada sambaqui podem ser encon­ célula de flotação (Ybert et al. 1997). Tanto a
tradas na literatura especializada (Kneip 1976, peneiragem a seco como a flotação foram feitas
1977,1980,1994; Heredia 1984,1986,1987; Kneip com peneiras de malha de 4 mm.
eta l. 1988, 1989, 1991; Kneip & Pallestrini 1990; As amostras do Sambaqui da Ponta da Ca­
Scaramella et al. 1990; Gaspar 1991; Franco & b e ç a fo ra m o b tid a s d u ra n te a e s c a v a ç ã o
Gaspar 1992; Gaspar & Scaramella 1992; Tenório arqueológica por peneiragem a seco de todo o
et al. 1992; Kneip & Machado 1993), e na sínte­ sedim ento e triadas posteriorm ente no labora­
se apresentada por Scheel-Ybert (1998). tório.

Figura 1 - Localização geográfica dos sítios estudados. (1) Sam baqui do Forte; (2) Sam baqui
Boca da Barra; (3) Sambaqui do Meio; (4) Sambaqui Salinas Peroano; (5) Sambaqui da Ponta da
Cabeça; (6) Sam baqui da Beirada; (7) Sam baqui da Pontinha.

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T odos os fragm entos de carvão com mais de 30 taxons por nível artificial. No Sambaqui do
de 4 mm de lado foram analisados. Em regiões Forte, por exem plo, mais de cem taxons foram
tropicais, a determ inação de fragm entos m eno­ iden tificad o s. Isto in d ica que os carv õ es c o ­
res é normalmente impossível, pois em geral eles letados correspondem à am ostragem (coleta de
n ão a p re se n ta m um c o n ju n to de c a ra c te re s lenha) de uma área significativam ente grande no
anatôm icos suficientem ente am plo que perm ita entorno do sítio e a uma atividade temporal rela­
sua identificação sequer ao nível de família. tivam ente longa, critérios essenciais para um a
Os fragm entos de carvão foram analisados boa interpretação paleo eco ló g ica b aseada nos
num microscópio metalográfico de luz refletida a carv õ es arq u e o ló g ico s (S ch eel et al. 1996a,
fundo claro/fundo escuro. Cortes transversais, 1996b).
tangenciais longitudinais e tangenciais radiais Na região de Cabo Frio, onde se situam os
foram exam inados a partir de fraturas recentes Sambaquis do Forte, Salinas Peroano e Boca da
feitas a mão. A determinação sistemática foi fei­ Barra, a restinga, o mangue e a mata seca já esta-
ta com parando-se a estrutura anatômica com as vam presentes desde 5500 anos BP (Figura 2. cf.
am ostras de um a coleção de referência e com Tabela I). Os sambaquieiros tinham acesso tam ­
descrições e fotografias de obras de referência bém à M ata Atlântica, situada mais para o interi­
(Détienne & Jacquet 1983, Mainieri & Chimelo or das terras.
1989, Record & Hess 1943 etc.). A anatomia de Todos os níveis antracológicos se caracteri­
m adeiras tropicais sendo muito pouco conheci­ zam por uma forte predominância de espécies de
da, especialm ente no Brasil, revelou-se indispen­ mirtáceas. Atualmente, esta família tem represen­
sável a constituição de uma coleção de referência tantes na maior parte das comunidades vegetais
de m adeiras carbonizadas. N ossa coleção conta brasileiras, mas ela pode ser considerada como
atualm ente com cerca de 2000 amostras obtidas característica do ambiente de restinga. A restinga
a partir de doações de xilotecas e de coletas de aberta é m elhor representada no Sam baqui do
campo. A identificação dos carvões foi facilita­ Forte, enquanto nos outros dois sítios predom i­
da pela elaboração de um programa informatizado nam a mata seca e a mata de restinga. Isto é uma
de determ inação especialm ente concebido para conseqüência da localização geográfica de cada
a antracologia associado a um banco de dados sambaqui. O Sambaqui do Forte está localizado
anatômicos de amostras atuais e fósseis (Scheel- na beira da praia, dom ínio fitossociológico da
Ybert e ta l. 1998). restin g a, enq u an to os sam baquis S alin as P e­
roano e Boca da Barra se situam na margem leste
do Canal de Itajuru, sobre pequenas elevações
R esultados e discussões cristalinas dom inadas por form ações florestais.
No Sambaqui do Meio, somente 9 micro-frag-
/. P aleoam biente m entos de carvão foram encontrados, no setor
A 15, entre 50 e 60 cm de profundidade. Destes,
Os sambaquieiros da Região dos Lagos ocu­ apenas quatro puderam ser identificados: dois
param um am biente caracterizado basicam ente tipos de mirtáceas e Condalia sp (Figura 3). Es­
pela in terface de três associações vegetais: a tes taxons, típicos da restinga, confirm am que
restinga, o mangue e formações florestais como esta vegetação existia no entorno do sítio pou­
a mata seca, característica da região de Cabo Frio, co após 5200 anos BP, mas nenhuma reconstitui­
e a Mata Atlântica. ção ambiental mais precisa pode ser feita.
Neste artigo, os resultados da análise antraco- No Sambaqui da Ponta da Cabeça, em A rrai­
lógica são apresentados sob forma de diagramas al do Cabo, as formações de restinga aberta são
sintéticos (Figura 2). Os diferentes taxons foram predom inantes de ca. 3300 até depois de 2000
reunidos segundo a formação vegetal onde eles anos BP (Figura 2). Este resultado também pode
existem. Diagramas antracológicos completos po­ ser explicado pela localização geográfica do sí­
dem ser encontrados em publicações anteriores tio. Apesar de situado sobre uma colina cristali­
(Scheel-Ybert 1998, no prelo). na, ele está muito próximo da praia e numa região
Todas as am ostras estu d ad as ap resentam caracterizada por um clima particularmente seco,
uma grande diversidade florística, em geral mais devido ao fenôm eno de ressurgência centrado

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Figura 2 - D iagram as antracológicos sintéticos dos Sam baquis do Forte, Salinas Peroano, Boca
da Barra, Ponta da Cabeça, da Beirada e da Pontinha. Sambaqui do Forte Nt: 8097; Nsp: 102.
Sam baqui Salinas Peroano Nt: 2052; Nsp: 59. Sam baqui Boca da Barra Nt: 698; Nsp: 47.
Sambaqui Ponta da Cabeça Nt: 1956; Nsp: 58. Sambaqui da Beirada Nt: 519; Nsp: 39. Sambaqui
da Pontinha Nt: 1621; Nsp: 54. (Nt: núm ero total de fra g m en to s estudados; Nsp: núm ero de
taxons identificados).

neste ponto da costa. volta de 2300 anos BP, é muito discreto para ser
Formações de restinga aberta também foram considerado como conseqüência de um a m odi­
predominantes na região de Saquarema durante ficação am biental. As oscilações relativam ente
o período de ocupação dos Sambaquis da Beira­ im portantes nas porcentagens relativas dos di­
da e da Pontinha, entre 4300 e 3800 anos BP e de ferentes grupos vegetais no Sambaqui da Beira­
ca. de 2300 até após 1800 anos BP (Figura 2). As da, assim como em alguns níveis do Sambaqui
baixas porcentagens de elementos de formações Salinas Peroano (Figura 2), também não devem
flo restais e do m angue nestes sam baquis não ser levadas em consideração. Elas são conseqü­
indicam necessariam ente que estas form ações ência do número excessivamente baixo de frag­
fossem raras naquela época, mas sim que esta- mentos de carvão estudados nestes dois casos.
vam certam ente mais longe dos sítios. A vege­ Em c o n s e q ü ê n c ia , as ú n ic a s v a ria ç õ e s
tação de M ata A tlântica se encontrava prova­ s ig n ific a tiv a s o b se rv a d a s n o s d ia g ra m a s
velmente do lado norte da Lagoa de Saquarema, antracológicos concernem à vegetação do m an­
e o mangue em suas margens. gue (Figura 2). Na região de Cabo Frio, estas
O pequeno aumento de elementos florestais variações podem ser atribuídas a oscilações cli­
no nível inferior do Sambaqui da Pontinha, por máticas que provocaram variações na salinidade

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da Lagoa de A raruam a (Scheel-Y bert 1998, no Na região de Arraial do Cabo, duas hipóte­
prelo), interpretação que é corroborada pela aná­ ses podem ser propostas para explicar o aum en­
lise da curva de variação isotópica dos carbona- to sig n ificativ o dos elem entos de m angue na
tos no sedimento (Tasayco-Ortega 1996). O cli­ parte superior do diagrama, pouco antes de 2000
ma desta área era mais úmido até aproxim ada­ anos BP. Ela pode ser devida a um aumento real
mente 5000 anos BP, tendo havido em seguida deste tipo de vegetação no entorno do sítio, ou
um período seco que durou até ca. de 2300 anos pode ser ligada a uma exploração diferencial do
BP. Um breve episódio pluvioso entre 2300 e meio entre o início e o fim da ocupação. Tenório et
2000 anos BP foi seguido então por um novo al. (1992) descrevem os primeiros 90 cm do perfil
período seco que permaneceu pelo menos até o como “uma grande fogueira que cresce e se agre­
final da ocupação desta área (Figura 4). ga a numerosas pequenas fogueiras” O aumen-

Tabela I
Datações radiocarbônicas dos sítios estudados*
Sítio Nível Data convencional Data calibrada Material No. labo.
2
cam ada IV 5520 ± 120 BP 6180 5630 cal BP conchas Bah

2 7 0 -3 2 0 cm 1 5270 ± 80 BP 6190 5760 cal BP c a rv ã o G ifA -9 8 3 4 8

2 4 0 -2 5 0 cm 1 4910 ± 55 BP 5720 5480 cal BP c a rv ã o L y -8 4 6 7

150-160 cm 1 3815 ± 50 BP 4340 3980 cal BP c a rv ã o L y -8 4 6 6


Forte 2
cam ada III 4330 ± 140 BP 4820 4070 cal BP co n c h a s Bah

cam ada I I 2 3940 ± 140 BP 4300 3550 cal BP co n c h a s Bah

40-50 cm 1 2320 ± 55 BP 2360 2140 cal BP c a rv ã o G if-1 1 0 3 8

cam ada 12 2240 ± 70 BP 1990 1670 cal BP co n c h a s Bah


Meio 0 ,70 m 3 5180 ± 80 BP 5700 5320 cal BP co n c h a s B e ta -8 4 8 0 9
130-140 c m 4 4340 ± 70 BP 5040 4650 cal BP c a rv ã o G if-8 4 5 4
Salinas Peroano 100-110 cm 1 4490 ± 40 BP 5280 4870 cal BP c a rv ã o G i f - 11042

20-30 cm 1 1830 ± 45 BP 1820 1570 cal BP c a rv ã o G i f - 11041

9 0 -100 cm 3 3760 ± 180 BP 4540 3580 cal BP c a rv ã o B e ta -8 3 8 2 7


Boca da Barra
20-30 cm 1 1430 ± 55 BP 1380 1180 cal BP c a rv ã o G if - 11043

1 60-170 c m 5 3270 ± 70 BP 3630 3270 cal BP c a rv ã o B e ta -8 4 3 3 2


Ponta da Cabeça
7 0-80 cm 1 2080 ± 40 BP 2110 1880 cal BP c a rv ã o G if - 11045

cam ada IV 6 4520 ± 190 BP 5240 4190 cal BP conchas B a h -1 6 5 1

cam ada III 6 4300 ± 190 BP 4860 3870 cal BP conchas B a h - 1647
Beirada
cam ada II 6 4160 ± 180 BP 4720 3710 cal BP conchas B a h - 1646

cam ada 1 6 3800 ± 190 BP 4250 3290 cal BP conchas B a h - 1765

cam ada IV 6 2270 ± 190 BP 2750 1750 cal BP c a rv ã o B a h -1 7 6 4


Pontinha cam ada III 6 1810 ± 50 BP 1820 1540 cal BP c a rv ã o G if-8 6 8 3

cam ada II 6 1790 ± 40 BP 1730 1540 cal BP c a rv ã o G if-8 6 8 2

(*) D atas convencionais e datas calibradas com 2 sigm a de intervalo de confiança (95% ). (1) S cheel-Y bert 1998; (2)
K neip 1980; l3) T enório 1996; (4) F ranco & G aspar 1992; (5) T enório, inédito; (6) K neip et al. 1991.

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to dos elem entos de m angue é observado nos


30 cm superiores, que apresentam um sedimento
rico em conchas de m oluscos e são considera­
dos como o apogeu da ocupação. Ora, um au­
mento populacional poderia induzir, por exem ­
plo, um aumento na área de coleta de lenha. No
entanto, somente a análise de um maior número
de amostras de carvão e uma melhor compreen­
são do contexto arqueológico perm itirão o es­
clarecim ento desta questão.
D e todo m odo, a p rese n ça de elem entos
de m a n g u e n e s te s a m b a q u i é de e x tre m a
Figura 3 - Sam baqui do Meio, setor A l 5, 50- im p o rtân cia, pois esta form ação v eg etal não
60 cm de profundidade. Histograma de freqüên­ existe m ais na região. O m angue se encontra­
cia dos m icro-carvões encontrados. va p ro v av elm en te nas m arg en s da L ag o a de
A raruam a.

Margem Oeste

Margem Leste
Figura 4 - Com paração dos histogram as de elem entos de m angue dos sam baquis da região de
Cabo F rio com a curva de variação da com posição isotópica dos carbonatos ( S ,sO e ô ,3C) da
Lagoa de Araruam a (segundo Tasayco-Ortega 1996). Baixos valores de d I80 indicam uma influên­
cia predom inante de águas pluviais; valores mais altos indicam um aum ento de salinidade.

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Apesar das oscilações da vegetação de man­ forma extremamente estável durante pelo menos todo
gue, provocadas por variações clim áticas pelo o Holoceno Superior, e nenhuma alteração climática
menos na região de Cabo Frio, nenhum outro nem antrópica pôde ser verificada ao longo deste
indício de mudança significativa no ecossistema período. Estas formações vegetais, que são as mes­
vegetal foi observado neste período em nenhum mas que existem atualmente na região, provavel­
dos sítios estudados. N orm alm ente, espera-se mente só começaram a sofrer uma alteração signifi­
que modificações climáticas afetem a vegetação cativa a partir do período colonial, em conseqüência
e influenciem o m odo de vida das populações do extrativismo, da ocupação da faixa costeira e tam­
pré-históricas. E isto especialmente nos am bien­ bém, mais recentemente, do turismo.
tes co steiro s, g eralm en te co nsiderados com o A estabilidade am biental teve certam ente
mais sensíveis às m udanças clim áticas (Senna conseqüências muito importantes para as popu­
1990). O estudo antracológico invalida esta hi­ lações pré-históricas. Ela foi provavelmente um
pótese, pelo m enos no que se refere à vegeta­ fa to r d e c isiv o na m a n u ten ç ão do s is te m a
ção costeira de terra firme. sociocultural dos sam baquieiros.
Devemos observar que as formações de res­
tin g a são re la c io n a d a s ao so lo are n o so e à 2. P aleoetnologia
geom orfologia dos cordões litorais, ou seja, tra­
ta-se de uma vegetação essencialm ente edáfica. 2.1. Ocupação do Sam baqui do Forte
Este é também o caso das associações vegetais
características dos m aciços rochosos da região Kneip (1977) considera que o Sambaqui do
de Cabo Frio, com o a m ata seca. Em bora esta Forte é composto por dois “sambaquis” separa­
última apresente igualmente um componente cli­ dos um do outro por uma camada arenosa esté­
mático importante, o caráter edáfico contribuiu ril. No entanto, diversos argum entos dem ons­
certamente para que ela não tenha sido influen­ tram que esta camada arenosa não é estéril, ape­
ciada pelas oscilações clim áticas observadas. sar da ausência de conchas:
A análise antracológica aqui apresentada mos­ (1) Durante a amostragem antracológica foi
tra que a vegetação de terra firme da região costeira observado que ela apresenta várias m arcas de
(restinga, mata seca, Mata Atlântica) se manteve de fogueiras bem delimitadas (Figura 5) e é extre-

Figura 5 - M arca de fogueira na camada arenosa do Sambaqui


do Forte. Perfil Norte, 180 cm de profundidade.

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mámente rica em restos de debitagem de quartzo conchas, o que vem finalm ente a reforçar nos­
e fragm entos de carvão. sas o b se rv a çõ e s.
(2) O histogram a de concentração de car­ Em conseqüência, propom os que a ocupa­
vões neste sam baqui m ostra que a m assa de ção do sítio tenha sido contínua. Esta proposição
carvões é, na m aioria dos casos, significativa­ corrobora a opinião de Gaspar (1991, 1992, 1995/
m ente m aior nos níveis arenosos que nos n í­ 96), que considera que as populações sambaqui­
veis ricos em conchas (Figura 6). Note-se que a eiras eram sedentárias.
utilização da m assa para estim ar a quantidade
de carvões num nível arqueológico é delicada, 2.2. Coleta de lenha
pois o peso dos fragm entos pode ser alterado
por im pregnações calcárias, principalm ente nos A coleta aleatória de m adeira m orta certa­
sam baquis (Scheel-Y bert 1998, no prelo). No mente constituiu a principal fonte de lenha para
entanto, estas impregnações são em geral mais as p o p u la çõ e s sa m b a q u ie ira s (S c h ee l-Y b e rt
im p o rta n te s ju sta m e n te nos n ív eis rico s em 1998, aceito). A utilização de m adeira morta é

PE R F IL LESTE

(
0-10 "
P E R F IL N ORTE
10-20 ’

20-30
30-40 0 10 20 30 40 50 60 70gC
cam ada de conchas 40-50 40-50 '
50-60 5 0 -6 0 '
60-70 60-70 ’
SAM BAQUI 70-80 70-80 ’
SU PER IO R
80-90 80-90 ’
sedim ento averm elhado 90-100 90-100 '
100-110 ’

110 - 1 2 0 ’
120-130 ’
130-140 '
1 4 0 -1 5 0 '
1 5 0 -1 6 0 ’
1 6 0 -1 7 0 '
170-180 '
1 8 0 -1 9 0 '
190-200 '
200-210 '

210-220 '

220-230 ’
CAMADA
230-240
ARENOSA
240-250 [
2 5 0 -2 6 0 '
2 6 0 -2 7 0 ’
270-280 ’
280-290 I
2 9 0-300 '
3 0 0 -3 1 0 '
3 1 0 -3 2 0 '
2 7 0-280 I
2 8 0 -2 9 0 ]
SAM BAQUI
290-300 '
IN FE R IO R
300-310 \
3 1 0-320 ’

F igura 6 - C oncentração de carvão p o r n ível a rtificia l em cada um dos p e r fis estudados no


Sam baqui do Forte (em gram as p or 100 kg de sedimento).

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Figura 7 - Fragm entos de carvão apresentando traços de decom posição antes da carbonização:
(1) ataque fúngico; (2) ataque p o r larvas de insetos.

sugerida por num erosos fragm entos de carvão pecialmente selecionada por razões culturais. A
apresentando traços de decomposição, por ata­ prim eira hipótese deve ser descartada, pois in­
ques de fungos ou de larvas de insetos, ocorri­ dicaria uma vegetação muito diferente das for­
dos antes da carbonização (Figura 7). A coleta mações conhecidas atualmente, o que entra em
aleatória de lenha é indicada pela grande diver­ contradição com todos os outros elem entos do
sidade do cortejo antracológico, tanto entre os esp ectro an traco ló g ico . A segunda h ip ó tese,
carvões dispersos (ver legenda da Figura 2) quan­ que nos parece a mais provável, pode ser apoia­
to nas am ostras de carvões concentrados pro­ da por diversas características próprias a este
venientes de fogueiras (Figura 8). taxon: a m adeira, m uito densa, é considerada
Todavia, as freqüências relativamente impor­ com o um excelente com bustível e perm itiria a
tantes de Condalia sp, principalm ente nos síti­ extração de um pigmento azul; o fruto, uma pe­
os da região de Cabo Frio e Arraial do Cabo, são quena drupa, é comestível; e a casca das raízes
dificilmente explicáveis pela coleta aleatória ou de algumas espécies deste gênero é medicinal e
por critérios ambientais (Scheel-Ybert 1998, no pode ser utilizada como sabão (Record & Hess
prelo). Nos diagramas antracológicos, Condalia 1943).
sp é em geral m uito abundante. Com exceção Podemos também aventar a hipótese de uma
das mirtáceas, este é o único taxon representado utilização ritual, cerimonial ou mística desta planta.
em todos os sam baquis estudados. Heizer (1963) observa que cerimônias ligadas ao
Ora, para que um a espécie seja explorada fogo são muito freqüentes em sociedades ameri­
sistematicamente durante mais de três mil anos, canas nativas, implicando sempre numa colete' ri-
ela deve ser suficientemente freqüente no ambi­ tualizada das plantas utilizadas. Um argumento que
ente, senão verdadeiram ente dominante. Este é pode apoiar esta hipótese é o fato de que todos os
por exem plo o caso das mirtáceas, que até hoje fragmentos de Condalia se apresentam vitrifica­
são dom inantes na vegetação de restinga, e a dos, o que sugere que esta madeira possa ter sido
caracterizam. Logo, esta planta era pelo menos queimada verde (Scheel-Ybert 1998). Além disso,
mais freqüente na época do que é atualm ente. seu caule é cheio de espinhos, dificultando bas­
Condalia buxifolia, característica da restinga e tante a coleta da planta.
única espécie deste gênero que ocorre hoje na No entanto, a seleção de espécies concerne
região, é muito rara (Silva & Oliveira 1989). som ente um a fração lim itada das associações
Podem os então supor que Condalia sp era vegetais. A maior parte das plantas presentes no
realmente muito freqüente, ou senão que era es­ ambiente são em geral representadas nos restos

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Janeiro. Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9 : 4 3 - 5 9 , 1999

Figura 8 - Sambaqui do Forte. Diagrama antracológico da fogueira 2, nível 160-170 cm. Nt: 159;
Nsp: 28.

de carvão, sobretudo se a lenha doméstica é ob­ quieiros. Até hoje, vestígios diretos desta ativi­
tida a partir da coleta de madeira morta. Além dis­ dade eram raramente encontrados nos sambaquis,
so, é provável que as espécies mais abundantes nos quais o consumo de vegetais só era verifica­
apresentem freqüências mais altas. De fato, para do pela presença de coquinhos, raras sementes,
que um taxon seja selecionado, deve ser suficien­ e objetos líticos que provavelm ente serviram à
temente freqüente no ambiente: para que uma plan­ sua preparação (Kneip 1977, 1994; Gaspar 1995;
ta seja escolhida, deve antes existir. Tenório 1991; Tenorio et al. 1992 etc.).
A ¿rande diversidade de taxons encontrada As am ostras estudadas perfazem m ais de
no registro antracológico dos sambaquis indica 15.500 fragm entos de carvão, dos quais 4 %
o caráter pouco seletivo da coleta de lenha pe- correspondem a restos alimentares: fragm entos
losékambaquieiros. Isto justifica a utilização dos de coquinhos, sem entes e resíd u o s de tecido
estudos antracológicos para a reconstituição do parenquim ático provenientes de tubérculos de
paleoam biente vegetal a partir deste m aterial, m onocotiledôneas. A m aior p arte d estes res­
mesmo que exista seleção de uma ou de algumas tos ainda não pôde ser determ inada com preci­
espécies para fins particulares. são, m as da g ran d e v a rie d a d e de e s p é c ie s
verificada alguns fragm entos correspondem a
2.3. Importância dos vegetais tubérculos de G ram ineae/C yperaceae e outros
na alim entação dos sam baquieiros a carás (Dioscorea sp). Outros ainda poderiam
pertencer a Typha dom ingensis, mas esta hipó­
Numerosos restos alimentares vegetais car­ tese ainda não foi co n firm ad a (S ch eel-Y b ert
bonizados, presentes em todos os sítios estuda­ 1998, aceito).
d o s, sug erem que a c o le ta de v eg e ta is era Os resto s alim en tares v eg etais são m ais
extrem am ente im portante na dieta dos sam ba­ abundantes nas am ostras de sedim entos ricos

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SCH EEL-Y BERT, R. Paleoam biente e paleoetnologia de populações sam baquieiras do sudeste do E stado do Rio de
Jan eiro . Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São P aulo, 9: 43-59, 1999.

em conchas do que nos sedim entos arenosos e frutos, que são consum idos cozidos ou fres­
(Figura 9). Isto sugere que, nos sambaquis, uma cos (Munson et al. 1971, apud M iksicek 1987).
maior concentração de restos vegetais carboni­ A ssim sendo, alim entos desta últim a categoria
zados não indica necessariam ente um a intensi­ são raram ente preservados por carbonização, e
ficação de consumo, mas sim uma zona arqueo­ seus restos só são excepcionalm ente encontra­
lógica com alta concentração de restos alim en­ dos em sítios arqueológicos.
tares, tanto animais quanto vegetais (Scheel-Ybert M iksicek (1987) considera que a preserva­
1998). Os sambaquis apresentam freqüentemente ção de tubérculos é muito improvável, e, quan­
bo lsõ es de sed im en to s rico s em conchas de do p o r acaso eles são co n serv ad o s, os fra g ­
moluscos e ossos. No entanto, somente escava­ mentos são frágeis e dificilm ente identificáveis.
ções em superfícies mais amplas e uma melhor H ather (1993, 1994) confirm a que estes vestígi­
com preensão da heterogeneidade dos sítios (cf. os são raram ente d eterm inados, mas o bserva
Gaspar et al. 1994) poderão nos informar se eles que, apesar de às vezes serem freqüentes, eles
correspondem ou não a aumentos populacionais. são em geral considerados com o indeterm iná-
Os sambaquieiros foram por muito tempo con­ veis. De fato, os m étodos de determ inação de
sid e ra d o s qu ase que e x c lu siv a m e n te com o resto s alim e n tares v eg etais são ain d a m uito
“comedores de moluscos” Mais recentemente, a pouco desenvolvidos. Em bora em nosso m ate­
pesca tem sido reconhecida como mais importan­ rial os tubérculos sejam pouco abundantes, sua
te do que a coleta de moluscos em sua dieta (Figuti presença foi observada na m aior parte dos ní­
1992, 1993, 1996), mesmo quando os restos de veis arqueológicos de todos os sam baquis es­
conchas são aparentem ente predom inantes na tudados. Sua conservação atesta que eles eram
estratigrafía do sítio. Já a coleta de vegetais, em­ largam ente u tilizados pelos sam baquieiros, e
bora im plicitam ente reconhecida, é freqüente­ que a coleta de vegetais contribuiu de form a
mente vista como uma atividade secundária, e sua im portante na dieta destas populações.
contribuição à dieta é considerada como pratica­ Um pequeno inventário dos restos vegetais
mente negligenciável. No entanto, devemos ob­ encontrados em sambaquis do Estado do Rio de
servar que uma alimentação baseada na coleta de Janeiro m ostra que os resíduos alim entares de
moluscos, caça ou pesca deixa muitos vestígios origem vegetal mais freqüentemente citados são
materiais no sítio arqueológico, ao contrário da fragm entos de coquinhos carbonizados. Estes
coleta de vegetais. Não podendo ser provado, o frutos são em geral pequenos e, em bora muito
consumo de vegetais é geralmente subestimado raramente identificados, pertencem provavelmen­
em favor de dietas que deixam vestígios mais vi­ te em sua m aioria aos gêneros A stro ca ryu m ,
síveis no sedimento arqueológico. Bactris e Syagrus. No Sambaqui Zé Espinho, por
O ra, a conservação de restos vegetais sob exem plo, fragm entos de coquinhos de Bactris
um clima tropical úmido ocorre quase que exclu­ setosa são muito abundantes em todas as cama­
sivamente pela carbonização, e esta depende do das arqueológicas (Kneip & Pallestrini 1987).
material ser ou não exposto ao fogo, intencional O Sam baqui de Sernam betiba é provavel­
ou acidentalm ente, visando sua preparação ou mente o único sítio onde foi possível recuperar
consumo. As partes duras dos coquinhos, além um grande número de restos vegetais não car­
de serem muito mais resistentes à degradação, bonizados, graças a uma excelente conservação
têm uma grande chance de serem queimadas após dos v estíg io s d ev id a à sua se d im en tação no
separação da parte com estível do fruto, poden­ m angue sobre o qual se situ a o sítio. Foram
do mesmo ser recicladas como um combustível identificadas duas espécies de frutos de palm ei­
adicional. Isto aumenta enormemente a sua pro­ ras (A crocom ia sp e outra indeterm inada), d i­
babilidade de preservação nos sítios arqueoló­ versos exemplares de frutos de uma mirtácea (cf.
gicos. Sementes, que são freqüentem ente torra­ Psidium), uma bombacácea (Ceiba ou Bom baxl)
das, podem ser acidentalmente conservadas, por e um a le c itid á c e a (p ro v a v e lm e n te L e c y th is
exemplo, se algumas delas caem na fogueira. Por pisonis) cujas sem entes oleaginosas são m uito
outro lado os tubérculos, geralm ente consum i­ nutritivas (Heredia & Beltrão 1980).
dos cozidos em água, são dificilmente expostos N o sítio C o ro n d ó , re sto s de fru to s de
diretamente ao fogo, da mesma forma que folhas mirtáceas (Psidium sp, Eugenia sp) e de palmei-

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Jan eiro . Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9: 43-59, 1999.

0-10 (0,03)

10-20 (0,03)

20-30 (0,07)

80-90 (0,03)
30-40 (0,08)

40-50 (0,03)

50-60 (0,07)

60-70 (0,04)

70-80 (0,02)

90-100 (0,04)

110- 1 2 0 (0 ,01)

150-160 (0,04)
100-110(0,05)

120-130(0,04)

130-140(0,02)

140-150(0,12)

240-250 (0,002)

260-270 (0,01)

270-320 (0,02)
220-230 (0,005)

230-240 (0,01)

270-320C (0,01)
200-210 (0,02)

210-220 (0,02)
170-180(0,08)

180-190(0,06)

250-260(0,01)
160-170 (0,04)

190-200 (0,02)

Figura 9 - H istogram as m ostrando o núm ero de fra g m en to s de tubérculos, p a rên q u im a não-


identificado, sementes e coquinhos em cada nível arqueológico dos Sambaquis do Forte e Salinas
Peroano. A pós a referência do nível no eixo x é apresentada, entre parênteses, a relação restos
alim entares/fragm entos de carvão.

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Jan eiro . Rev. do M useu de A rqueologia e E tnologia, São P aulo, 9: 4 3-59, 1999.

ras (A strocaryum sp, Bactris sp) foram encon­ Um aporte considerável de am ido era for­
trados em três das quatro cam adas arqueológi­ n e c id o p elo s n u m e ro so s tu b é rc u lo s d a r e s ­
cas (Carvalho 1984). No Sambaqui da Malhada, tinga. N a restinga aberta e na floresta de res­
onde restos vegetais atribuídos à família Menis- tin g a , e x is te m v á r ia s e s p é c ie s de c a rá s
permaceae foram identificados em associação a (D io sc o re a sp p ); nas zo n a s ú m id a s, Typha
um enterram ento, foram encontrados tam bém d o m in g e n s is e u m a g ra n d e d iv e rs id a d e de
v estíg io s de sem entes e de raíz es (M achado gram íneas e ciperáceas.
1992). No entanto, diversos autores argum entam
Estes exem plos, em bora pouco numerosos, que a ausência de cáries nas populações sam ­
dem onstram que não som ente coquinhos, mas baq u ieiras in d ica um a alim en tação pobre em
também sem entes e frutos faziam parte da ali­ glucídeos (Machado 1992; Prous 1992; Kneip et
m entação das populações dos sam baquis. D e­ al. 1995), e portanto baseada exclusivamente na
vido à d ificuldade de p reservação dos restos pesca e na coleta de moluscos. A dentição des­
vegetais em geral, a m aior ou m enor abundân­ tas populações é caracterizada por um a usura
cia de cada vestígio não exprim e a im portância extremamente importante, em geral bastante pre­
de cada categoria alimentar, mas sim uma con­ coce. E ste fato é em geral atrib u íd o à areia
servação diferencial. Em conseqüência, pode­ consumida junto com os moluscos. Porém, usu­
m os d e d u z ir que os ex em p lo s m en cio n ad o s ra dentária não é evidentemente incompatível com
correspondem apenas a um a ínfim a porcenta­ um a alim entação rica em fibras vegetais, pelo
gem das esp écies realm en te u tiliza d as. U m a contrário.
grande quantidade e d iversidade de produtos Prous (1992) propõe que os sam baquieiros
v e g e ta is e ra com c e rte z a c o n s u m id a p elo s tinham poucas cáries porque a intensidade da
sam b aquieiros. usura era tal que, d estru in d o rap id am en te as
N este sentido, cabe lem brar que o am bien­ cúspides dentárias, ela facilitava a limpeza. Este
te de restinga é extrem am ente rico em legum ino­ argumento justificaria a raridade de lesões, mes­
sas, que possuem freqüentem ente sementes co­ mo numa alimentação rica em açúcares e amido,
m estíveis, e em num erosas espécies frutíferas que são aliás elem entos indispensáveis à nutri­
que produzem flores e frutos durante todo o ção humana.
ano (M aciel 1984). Alguns exemplos destas úl­ No Sambaqui do Forte, o único sítio entre
tim as podem ser selecionados entre as espéci­ os que nós estudam os para o qual existe um a
es de m irtáceas (gêneros E ugenia, G om idesia, referência às características dentárias da popu­
M yrcia , M yrc ia ria , P sid iu m ), an aca rd iác eas lação, os dentes apresentam forte abrasão e cári­
( S p o n d ia s , T a p ir ir a ), a n o n á c e a s (A n n o n a , es em d iv erso s estád io s de d esen v o lv im en to
D uguetia), brom eliáceas (A n a n a s, B rom elia ), (Messias 1977). Esta observação corrobora nos­
cactáceas ( C ereu s), cela strác eas (M a yte n u s), sa hipótese de que o consumo de glucídeos era
c riso b alan áceas ( C h ryso b a la n u s), m alpighiá- provavelmente mais importante do que é admiti­
ceas (B yrsonim a ), m oráceas (F icus), passiflo- do atualm ente.
rác eas (P a s s iflo r a ) e sa p o tá c e a s (P o u te r ia , Apesar disso, pensamos que uma alim enta­
Sideroxylon), entre outras. A m aior parte des­ ção rica em amido não indica necessariamente a
tes taxons está presen te no reg istro antraco- ex istên cia de p ráticas ag ríco las. E sta d ieta é
lógico (Scheel-Y bert 1998, no prelo). inteiramente com patível com um modo de vida
Um caso interessante é o de S ideroxylon baseado na pesca e na coleta, devido à grande
o b tu sifo liu m , um taxon abundante na m aioria riqueza do ambiente no qual viviam estas popu­
dos sítios estudados e que atualm ente é m uito lações, mas é muito provável que existisse m a­
fre q ü e n te nas p ro x im id a d e s dos sa m b aq u is nejo, eventualm ente de várias espécies pro d u ­
(A raújo, com unicação pessoal). E sta asso cia­ toras de tubérculos e frutos.
ção perm ite em itir a hipótese de m anejo desta Um maior investimento na pesquisa e no estu­
espécie, podendo ter com eçado acidentalm en­ do dos restos alimentares vegetais carbonizados é
te m as q u e te ria sid o in c e n tiv a d o p e lo s extremamente promissor e fornecerá sem dúvida
sam baquieiros devido à utilização de seus fru­ informações de suma importância quanto aos há­
to s. bitos alimentares de populações pré-históricas.

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SCH EEL YBERT, R. P aleoam biente e paleoetnologia de populações sam baquieiras do sudeste do E stado do Rio de
Janeiro. Rev. do M useu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, São Paulo, 9: 4 3 - 5 9 , 1 9 9 9

Conclusão A análise antracológica evidenciou também


um a série de aspectos paleoetnológicos, espe­
A análise antracológica de sete sam baquis cialmente em relação à utilização da madeira e à
do litoral do Estado do Rio de Janeiro permitiu a alim entação dos sambaquieiros.
reconstituição do paleoam biente vegetal nessa A coleta aleatória de m adeira morta forne­
região e a avaliação das interrelações entre ocu­ cia a essas populações a m aior parte da lenha
pação humana e meio ambiente. utilizada. C ontudo, a m adeira de Condalia sp
O paleoam biente regional era caracterizado era particularm ente selecionada, por razões cul­
pelas diversas fisionomias da restinga, pela mata turais ainda não definidas. Estas eram prova­
seca dos costões rochosos de Cabo Frio, pelo velm ente relacionadas às qualidades dessa ma­
mangue e, mais para o interior, pela Mata Atlânti­ deira como com bustível, com o forite de pigmen­
ca. A floresta de restinga era provavelmente mui­ to ou como medicinal, mas a espécie pode tam­
to mais abundante do que atualmente. As popu­ bém ter sido objeto de um a utilização ritual.
lações sambaquieiras que ocuparam a região pri­ Condalia sp, atualm ente rara na restinga, era
vilegiaram para sua instalação a interface entre certam ente m ais freq ü en te durante o período
vários ambientes, dos quais a restinga e o man­ e s tu d a d o .
gue foram os principais. A coleta de produtos vegetais era com cer­
O cortejo taxonómico em todos os sítios es­ teza muito mais im portante para a alimentação
tudados é essencialmente o mesmo ao longo de dos sambaquieiros do que o considerado atual­
vários séculos de ocupação hum ana, indicando mente. Todos os sítios analisados apresentaram
que a vegetação não sofreu alterações signifi­ fragm entos de coquinhos carbonizados, semen­
cativas de origem climática nem antrópica. tes e resíd u o s de tu b ércu lo s de m o n o co tile-
Apesar das oscilações climáticas que influ­ dôneas (provavelm ente gramíneas, ciperáceas e
enciaram a vegetação do mangue, especialm en­ carás - Dioscorea sp), estes últimos identifica­
te na região de Cabo Frio, nenhum a outra evi­ dos pela primeira vez em sítios brasileiros. A pos­
dência de mudança paleoambiental foi observa­ sibilidade da existência de manejo de vegetais é
da durante toda a segunda metade do Holoceno. aventada.
Isto é provavelm ente devido ao caráter edáfico
dos ecossistem as costeiros, em particular a ve­
getação de terra firme, que apresenta em conse­ Agradecim entos
qüência uma relativa estabilidade às mudanças
climáticas. Este artigo apresenta os principais resulta­
A estabilidade do meio ambiente vegetal foi dos da tese de doutorado da autora, desenvol­
sem dúvida um fator fundam ental na m anuten­ vida com o apoio de um a bolsa de estudos da
ção do sistem a sociocultural dos pescadores- CAPES e associada ao projeto “A proveitam en­
coletores-caçadores, contribuindo para uma pos­ to Ambiental das Populações Pré-Históricas do
sível sedentarização e para a conservação de uma Estado do Rio de Janeiro” (convênio MN/FINEP/
cultura estacionária que se manteve por mais de FUJB), coordenado por M aria Dulce Gaspar.
6000 anos. Entre as várias pessoas que contribuíram à
É im p o rta n te o b se rv a r q u e o re g is tro sua realização , agradecem os especialm ente a
antracológico representa essencialm ente a ve­ Jean-Louis Vernet e Maria Dulce Gaspar pela ori­
getação local. Os nossos resultados validam a entação do trabalho; a Lina Kneip, M aria Dulce
utilização da antracologia para reconstituições G aspar e M aria C ristina Tenório, arqueólogas
paleoambientais, mas mostram também que o es­ responsáveis pelos sítios estudados, pelo auxí­
tudo de sítios isolados fornece som ente infor­ lio no campo e permissão para efetuar este estu­
m ações pontuais. Um a reconstituição regional do; a D orothy Sue D unn de A raújo, M aurice
só pode ser obtida pelo estudo de um grande Roux, Michel Servant e Jean-Pierre Ybert pelas
número de sítios distribuídos numa área relati­ discussões sobre vários temas e apoio na inter­
vamente ampla. pretação dos resultados am bientais.

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SCH EEL-Y BERT, R. Paleoam biente e paleoetnologia de populações sam baquieiras do sudeste do E stado do Rio de
Jan eiro . Rev. do M u seu de A rqueologia e E tnologia, São P aulo, 9: 43-59, 1999.

SC H E EL -Y B E R T, R. P alaeoenvironm ent and p alaeoethnology o f sam baqui inhabitants in


S o u th easte rn R io de Jan eiro S tate. Rev. do M useu de A rq u eo lo g ia e E tnologia, Sào
P au lo , 9: 4 3 -5 9 , 1999.

ABSTRACT: Charcoal analysis of seven sambaquis from the southeastern


Brazilian coast allow ed palaeoenvironm ent reconstruction as well as various
palaeoethnological considerations on wood use and on the fishers-gatherers-
hunters’ diet. Restinga, dry forest, m angrove and Atlantic Forest ecosystem s
were present. Environm ental stability has certainly been a main factor in the
m aintenance of the fishers-gatherers-hunters sociocultural system.

UNITERM S: Palaeoenvironm ent - Palaeoethnology - Charcoal analysis -


Shellmounds - Tubers - Restinga - Mangrove - Forest - Brazil.

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