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ABSTRACT
Age structure and spatial distribution of Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) on a sandy
beach from the south coast of brazil (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae)
Spatial distribution and population structure of Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) were studied
at Pinhal beach, Rio Grande do Sul, from November/91 to December/93. Analysis of frequency
distributions of the ghost crab population was based on indirect census, with burrow diameter mea-
surement. It was identified the presence of two age-groups, with the possible presence of a third
one. The maximal life span was estimated to be about 3 years. Burrow diameter/carapace width,
lenght/width and weight/width relationships were estimated from samples obtained by excavating
burrows and individual capture by traps. These relationship were ajusted by the following equa-
tions, respectively: DT = 0,6648 + 1,0013.L; C = 0,77.L1,02; and P = 0,0004.L3,0876 (DT is burrow
diameter; C is the carapace lenght; L is the carapace width; and P is the weight). Spatial distri-
bution analysis was performed based on distance and altitude to water line. These crabs dig bur-
rows preferentialy in the central large range of the beach, although having possibility of migra-
tion at adverses conditions. Burrow shape also was analysed.
Key words: Ocypode quadrata, ghost-crab, population structure, burrows.
RESUMO
Analisou-se a distribuição espacial e a estrutura da população do caranguejo-fantasma Ocypode qua-
drata (Fabricius, 1787), habitante da praia de Pinhal, no litoral do Rio Grande do Sul, no período
de novembro de 91 a dezembro de 93. Para a análise da distribuição etária, utilizou-se o censo indireto,
baseando-se em medidas aleatórias dos diâmetros das tocas. Constatou-se a existência de 2 grupos
etários distintos, com possibilidade de um terceiro grupo. A longevidade foi estimada em até 3 anos.
Para as relações diâmetro de toca/largura do cefalotórax, comprimento/largura e peso/largura, foram
tomadas amostras de animais, utilizando-se técnicas de escavação e uso de armadilhas específicas. As
equações que descrevem estas relações são, respectivamente, DT = 0,6648 + 1,0013.L; C = 0,77.L1,02;
e P = 0,0004.L3,0876 (DT é o diâmetro da toca; C é o comprimento da carapaça; L é a largura da carapa-
ça; e P é o peso). A análise da distribuição espacial foi realizada através do mapeamento das tocas,
baseando-se na distância e no desnível em relação à linha d’água. Constatou-se existir uma preferência
pela construção das tocas na grande área central da faixa de praia, podendo haver, no entanto, migração
da população em condições adversas. Analisou-se também a morfologia das tocas encontradas, esta-
belecendo-se padrões para o local.
Palavras-chave: Ocypode quadrata, caranguejo-fantasma, estrutura populacional, tocas.
.
Rev. Brasil. Biol., 59(1): 95-108
96 ALBERTO, R. M. F. e FONTOURA, N. F.
B R A S I L
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an
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O
Rio
Grande
do Sul
Porto
Alegre
Pinhal
1000 km 100 km
Fig. 1— Localização da área de amostragem; praia de Pinhal, município de Balneário Pinhal, Rio Grande do Sul.
Para análise da estrutura etária, utilizou-se toca (mm); L é a largura do cefalotórax (mm); e
o censo indireto baseado nas medidas mensais dos a e b são parâmetros. A relação entre o peso e a
diâmetros das tocas. A fim de minimizar o impacto largura do cefalotórax foi baseada na seguinte
da atividade humana e o conseqüente nível de equação: P = a.Lb , em que P representa o peso
interferência, considerou-se área de amostragem (g), L é a largura do cefalotórax (mm) e a e b são
aquela que se iniciava a cerca de 1km do centro parâmetros. Para a relação entre comprimento e
urbano de Pinhal, em direção ao Sul, com extensão largura do cefalotórax, utilizou-se a expressão: C =
máxima de 2 km, que corresponde às proximidades a.Lb, em que C é o comprimento, L é a largura
da praia de Magistério. A cada amostragem, foram do cefalotórax (mm), a e b são parâmetros.
mensuradas as aberturas de tocas encontradas alea- Para a análise da distribuição espacial, na
toriamente, nesta área. As medidas foram reali- faixa de praia estudada, foram realizadas amos-
zadas com paquímetro de precisão de 0,1 mm e tragens por meio de transectos perpendiculares à
os dados foram agrupados por classes de tama- praia com 20 m de largura, divididos em faixas
nho para análise da distribuição de freqüências. de 5 m x 5 m, no qual o ponto zero correspondeu
Por ocasião de cada amostragem, foi anotada a ao limite médio do alcance das ondas e o último
temperatura do ar. “quadrats” foi estabelecido pelo local extremo da
Para a relação entre o diâmetro da toca e o ocorrência de tocas. Em cada “quadrats” foram
tamanho do respectivo animal, foram realizadas medidas todas as tocas, registrando-se sua loca-
escavações e capturas por armadilhas. lização. Para a análise da distribuição espacial de
Os espécimes capturados foram medidos e acordo com a declividade da praia, foram traçadas
devolvidos ao seu hábitat natural, com exceção faixas paralelas ao mar, em diversas altitudes em
de alguns exemplares levados ao laboratório para relação à linha d’água. A variação entre uma faixa
pesagem, em balança semi-analítica com preci- e outra, foi determinada em 0,10 m. Para o estudo
são de 0,01 g. da morfologia das tocas, extraíram-se moldes de
Para a relação entre o diâmetro da toca e a uma amostra aleatória, de vários tamanhos, uti-
largura do cefalotórax, utilizou-se a equação da lizando-se uma mistura de gesso e água, na pro-
reta: DT = a + b.L, em que Dt é o diâmetro da porção aproximada de 1:4.
0,3 35
2
Tocas/m
0,25 30
Diâm. médio
20
0,15
15
0,1
10
0,05
5
0 0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
Distância em relação à linha d'água (m)
Fig. 2 — Densidade e diâmetro médio de tocas de Ocypode quadrata, em função da distância em relação à linha média da
zona de lavagem. Amostragens realizadas em 11 e 12 de fevereiro de 1991; 143 tocas observadas.
0,06 35
Tocas/m2 30
0,05
Diâm. médio
20
Tocas por m2
0,03
15
0,02
10
0,01
5
0 0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
Distância em relação à linha d'água (m)
Fig. 3 — Densidade e diâmetro médio de tocas de Ocypode quadrata, em função da distância em relação à linha média da
zona de lavagem. Amostragens realizadas em 16 e 17 de fevereiro de 1991; 46 tocas observadas.
Esta amostragem foi realizada após um pe- entre 50 a 55 m de distância. Os registros isolados
ríodo de ressaca, quando o mar avançou sobre a que ocorreram a 75 m da linha d’água localiza-
faixa de praia durante cerca de 3 dias, cobrindo- vam-se sobre as dunas e correspondiam a indiví-
a quase que totalmente em seu momento máximo. duos grandes, com mais de 30 mm de largura, que,
Isto justifica o pequeno número de tocas encon- provavelmente, se deslocaram para lá devido à
trado, mesmo tendo continuado a coleta de dados subida das águas. É possível que o número de
por 2 dias consecutivos (n = 46). indivíduos ocorrentes nas dunas seja superior ao
Constatou-se também um aumento gradativo registrado, uma vez que a areia seca e solta pode
no diâmetro médio das tocas, à medida que se afas- cobrir a abertura das tocas, impedindo sua per-
tavam da orla, tendo o limite máximo localizado feita localização.
0,7 30
2
Tocas/m
0,6
Diâm. médio 25
0,4
15
0,3
10
0,2
5
0,1
0 0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
Distância em relação à linha d'água (m)
Fig. 4 — Densidade e diâmetro médio de tocas de Ocypode quadrata, em função da distância em relação à linha média
da zona de lavagem. Amostragem realizada em 3 de março de 1991; 211 tocas observadas.
A Fig. 4, que apresenta os resultados de co- Leitherman (1981) sugeriram que a dispersão de
leta realizada em 3 de março (n = 211), mostra caranguejos sobre todo o perfil da praia pode
igualmente uma maior concentração de tocas na ocorrer devido ao hábito alimentar destes animais.
faixa mediana, situada em torno de 40 m de dis- A praia de Pinhal apresenta distribuição de ali-
tância da linha d’água, a qual diminui para am- mento para O. quadrata em toda a sua largura, não
bos os extremos. O diâmetro médio das tocas com só pela utilização humana (no verão) como também
algumas exceções, aumentou proporcionalmen- pelos restos de peixes e mariscos deixados por
te com a distância em relação ao mar. Os dados pescadores e espalhados pela areia durante as res-
de campo registraram tocas de indivíduos pequenos sacas e marés mais altas. Portanto, a justificati-
e médios, com diâmetros entre 10 e 25 mm, dis- va sugerida pelos autores poderia se enquadrar
tribuídas desde 10 m até 55 m da linha d’água; neste caso. Constatou-se também que a densidade
enquanto que, tocas de indivíduos maiores, cujos populacional nas proximidades do Clube de Pesca
diâmetros situavam-se entre 25 a 30 mm, apare- local tende a aumentar visivelmente, se comparada
ceram somente além dos 35 m de distância; e ainda, a zonas mais desertas. Possivelmente, os hábitos
tocas com diâmetros superiores a estes só ocor- desta espécie assemelham-se àqueles registrados
reram em distâncias acima de 40 m. Nesta amos- para O. gaudichaudii, por Koepcke (1953). Se-
tragem, constatou-se uma maior proximidade da gundo este autor, quando encontram uma boa fonte
linha d’água, com registros de tocas até 15 m da de alimentação, os caranguejos iniciam a cons-
mesma. Analisando as três figuras citadas, pode- trução de novas tocas, permanecendo pelas pro-
se verificar que existe uma faixa preferencial para ximidades.
a construção das tocas, considerando-se a distância As Figs. 5 e 6, as quais foram traçadas a partir
da linha d’água, com maior incidência na área de amostragens diferentes, mostram a densidade
central de praia. Indivíduos de diferentes idades de tocas em relação à altitude do terreno. Na Fig.
também se distribuem mediante determinado pa- 5, que corresponde aos resultados dos dias 25 e
drão, no qual os maiores tem preferência pelas 27 de fevereiro (n = 196), constata-se que não foi
áreas mais afastadas, conforme já constatado por encontrada nenhuma toca em altitude inferior a
Frey & Mayou (1971) (apud Duncan, 1986). Tocas 0,50 m e, mesmo nesta faixa e nas seguintes, elas
de indivíduos de tamanho médio (em torno de 15 ocorreram em baixa densidade. A maior concen-
a 20 mm), no entanto, podem ser encontrados em tração de tocas apareceu na zona mediana da praia,
praticamente toda a faixa de praia. Steiner & correspondendo a uma altitude de cerca de 1 m
da linha d’água. A partir daí, em direção às du- cia do reduzido comprimento das faixas neste pon-
nas, a quantidade de tocas tende a diminuir, mas to, conforme citado anteriormente, já que se si-
a densidade das mesmas por metro quadrado é tuam na encosta da duna. Ocorreram tocas também
gradativamente maior, com algumas exceções. Isto sobre as dunas, a cerca de 3,40 e 3,80 m de al-
ocorre porque a variação de desnível da praia titude. Esta distribuição homogênea constatada
acentua-se mais à medida que se aproxima do topo nesta amostragem pode ser explicada pelo fato de
das dunas, cuja altitude máxima, neste local, corres- serem as tocas quase que exclusivamente de in-
pondeu a cerca de 4 m. divíduos jovens.
Considerando-se a distância em relação ao Com exceção daquelas encontradas sobre as
mar, constatou-se que a toca mais próxima situ- dunas, cujo diâmetro médio era de 27,75 mm, todas
ava-se a cerca de 10 m da linha d’água, em desnível as tocas aferidas nesta amostragem, encontravam-
de 0,50 m. A toca mais extrema distava cerca de se entre 6,55 mm e 13,15 mm de diâmetro, apesar
50 m do mar e localizava-se já na encosta da duna, do caráter aleatório da técnica utilizada. Compa-
em altitude aproximada de 1,80 m. A faixa de rando-se ambas as amostragens (Figs. 5 e 6), ob-
desnível onde ocorreu maior incidência de tocas servou-se um aumento da faixa de praia em cerca
situava-se entre 20 e 40 m do mar, em altitude média de 10 m, constatado pela mensuração em linha reta
aproximada de 1 m em relação à linha d’água. perpendicular ao mar, desde o ponto médio de
Outra amostragem, realizada na mesma área, alcance das ondas, até um marco referencial, fixado
após intervalo de 15 dias, forneceu resultados um no ponto mais alto das dunas desde o início dos
pouco diferentes, conforme apresentado na Fig. trabalhos. Os resultados destas amostragens re-
6 (n = 179). A primeira faixa em que se registrou forçam a observação de preferência destes animais
presença de tocas localizava-se a 0,80 m da linha em construírem suas tocas na grande área central
d’água e a maior concentração estava em torno da faixa de praia, reservando uma determinada
de 1,40 m de altitude. A quantidade de tocas por distância da linha d’água. Resultados semelhantes
m 2 não apresentou grandes variações, até a alti- foram constatados por Koepcke (1953), para O.
tude de 2 m, oscilando entre o mínimo de 0,12 ao gaudichaudii, em praia arenosa da costa perua-
máximo de 0,24. na. Apesar das peculiaridades de cada ambiente
Este último dado coincide também com o e da diferença entre as espécies, pode-se constatar
maior número de tocas por faixa. Os índices mais que, em geral, os animais distribuem-se nas zo-
altos de 0,69 e 0,70 tocas/m2, registrados em al- nas intertidal e de praia seca, com densidades
titude de 2,20 m e 2,40 m, sofreram interferên- variáveis conforme a proximidade da linha d’água.
80 0,6
o
70 N tocas
Tocas/m
2
0,5
60
0,4
50
Número de tocas
Tocas por m2
40 0,3
30
0,2
20
0,1
10
0 0
0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00
Altitude em relação à linha d'água (m)
Fig. 5 — Densidade de tocas de Ocypode quadrata em função da altitude do terreno, em relação à linha média da zona de
lavagem. Amostragens realizadas em 25 e 27 de fevereiro de 1993; 196 tocas observadas.
70 0,7
o
N tocas
60 0,6
Tocas/m2
50 0,5
Número de tocas
40 0,4
Tocas por m2
30 0,3
20 0,2
10 0,1
0 0
0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20 3,40 3,60 3,80
Altitude em relação à linha d'água (m)
Fig. 6 — Densidade de tocas de Ocypode quadrata em função da altitude do terreno, em relação à linha média da zona de
lavagem. Amostragens realizadas em 14 de março de 1993; 179 tocas observadas.
Os resultados obtidos na praia de Pinhal de- túnel principal da toca. Este canal dirigia-se à
monstram, igualmente, a possibilidade de migração superfície mas não se abria no exterior (Fig. 7f).
da população perpendicularmente ao mar, cujo fa- Estes tipos de tocas encontrados podem ser com-
tor determinante esteve relacionado com as con- parados com aqueles referidos por Cowles (1908),
dições ambientais, principalmente no que se refere para praias da Flórida. As tocas de jovens, também
à distância da linha d’água. referidas por Cowles (1908), puderam ser facil-
As tocas de O. quadrata, encontradas du- mente identificadas devido ao seu diâmetro redu-
rante os trabalhos, apresentavam morfologia e zido, à sua pouca profundidade e à sua posição
profundidades variadas, podendo ser agrupadas vertical. Além destes, o autor citado caracteriza
por determinados padrões. Animais pequenos, com como outro tipo, tocas inclinadas, mais profun-
diâmetro médio em torno de 8 mm, eram encon- das e sem ramificação, que também ocorreram no
trados em tocas retas, verticais, de pouca profun- Pinhal. No entanto, foram encontradas tocas em
didade (aproximadamente 15 a 20 cm) (Fig. 7a). curva, conforme já descritas, que tanto poderiam
Tocas com diâmetro de abertura maior, apresen- ser incluídas neste terceiro tipo de Cowles (1908)
tavam-se mais profundas e, geralmente, inclinadas como em uma classificação a parte devido às suas
em ângulo variável com a superfície, podendo particularidades. Willians (1984) registrou esta
apresentar sua porção terminal um pouco mais forma de “U”, mas em tocas ramificadas. Sabe-
alargada e curva, com tendência para a horizontali- se, no entanto, que existe grande individualida-
dade (Figs. 7b, c e d). de na construção das tocas e que estas podem
Nas escavações feitas, constatou-se que este apresentar diferentes formas em latitudes diferentes
era o local onde se encontrava o caranguejo quando (Cowles, 1908; Phillips, 1940; Hill & Hunter, in
em repouso. Esta curvatura, em algumas tocas, era Williams, 1984). Todos os tipos de tocas, encon-
bastante acentuada, dando-lhe aspecto de “U”, tradas no Pinhal, enquadram-se nas forma gerais
embora a porção terminal nunca atingisse a super- estabelecidas por Takahasi (1935) para o gêne-
fície (Fig. 7e). As tocas de indivíduos grandes, com ro Ocypode.
diâmetro em torno de 30 mm, inclinavam-se pro- As análises de distribuição e estrutura etária
fundamente para baixo das dunas, dificultando sua de O. quadrata foram facilitadas pela correlação
escavação ou obtenção de moldes devido à areia existente entre a largura do cefalotórax e o diâ-
solta. Um outro tipo encontrado apresentava uma metro da toca, permitindo a utilização de senso
ramificação secundária, bem mais estreita que o indireto no levantamento de dados.
a b c d e f
Fig. 7 — Padrões de tocas encontradas durante os trabalhos de campo na praia de Pinhal, município de Balneário Pinhal,
Rio Grande do Sul. A variação no diâmetro é proporcional à largura da carapaça do animal. Toca de indivíduo muito jovem
(a); tocas de indivíduos maiores, mostrando diferentes inclinações e profundidades (b, c, d); toca em forma de “U” (e); toca
com ramificação secundária (f).
Este fato também foi considerado por Wolcott tamanhos mínimos de tocas mensuradas foram
(1978) e Fisher & Tevesz (1979) em estudos eco- registrados no mês de março; mas, com pouca
lógicos nesta espécie. Comparando-se as medi- diferença de tamanho (6,0 mm), foram encontradas
das obtidas de largura do cefalotórax e diâmetro tocas em janeiro, fevereiro, junho, julho e outubro.
da toca, em uma amostra de 170 indivíduos, cons- No mês de novembro, as menores tocas mediam
tatou-se existir uma relação direta que foi repre- 6,4 mm; e, em dezembro, todas as tocas encon-
sentada pela seguinte equação: DT = 0,6648 + tradas apresentavam diâmetro igual ou superior
1,0013.L (r = 0,97), em que DT é o diâmetro da a 9,7 mm. A maior toca foi registrada no mês de
toca e L é a largura do cefalotórax (ambos em mm) agosto medindo 40,4 mm de diâmetro, corres-
(Fig. 8). Os dados biométricos dos indivíduos pondendo a indivíduos com, aproximadamente,
(comprimento e largura do cefalotórax) apresen- 39,7 mm de largura.
taram uma relação direta (Fig. 9). Para a popula- O menor indivíduo capturado media 5,2 mm
ção estudada, em uma amostra de 43 indivíduos, de largura do cefalotórax e, os maiores espécimes,
a relação entre comprimento e largura foi descrita 34,4 mm (um dos quais, encontrado em toca com
pela seguinte equação: C = 0,77.L1,02 (r = 0,99), 40,0 mm de diâmetro). Mediante estas informa-
em que C é o comprimento e L, a largura da ca- ções, pode-se deduzir que, no local estudado, os
rapaça (ambos em mm). indivíduos maiores não alcançam as dimensões
Nesta mesma amostra aleatória, 22% dos citadas por Sawaya (1939), o qual, pesquisando
indivíduos capturados eram machos, 31,82% eram uma população desta espécie na enseada de
fêmeas e 49,07% eram jovens. Para esta classi- Guarujá (São Paulo), observou tocas com diâmetros
ficação, estabeleceu-se a largura de 20 mm de em torno de 50 mm, ou Milne & Milne (1946) que
carapaça como limite entre jovens e adultos, após registraram indivíduos com 48 mm de largura, em
ter-se constatado que, a partir desta medida, já é Nova Jersey. Da mesma forma, enquanto Crane
visível o dimorfismo sexual. Neste caso, não se (1940) registrou megalopas desta espécie com
considerou o fator maturidade sexual, mas ape- largura de 4,6 a 5,3 mm, no Pinhal foram encon-
nas as diferenciações morfológicas entre jovens trados caranguejos juvenis com 5,2 mm, já habi-
e adultos, mais visíveis nas fêmeas devido às tando suas tocas. Estes dados demonstram que os
modificações que ocorrem no abdômen. exemplares de O. quadrata, na região estudada,
As menores tocas encontradas apresentavam apresentam porte menor do que aqueles citados
5,2 mm e 5,8 mm de diâmetro, o que corresponde na literatura e referidos para outros locais.
a animais com larguras de carapaça estimadas em Durante todo o trabalho de campo, foram
torno de 4,5 mm e 5,1 mm, respectivamente. Estes capturadas fêmeas com largura de carapaça que
variou de 21,8 mm a 34,4 mm. A única fêmea de jovens em praticamente todas as amostragens.
ovada foi coletada no mês de junho e media 23,6 Tal fato sugere que a reprodução ocorra duran-
mm de comprimento e 29,6 mm de largura do te todo o ano. Esta constatação pode ser corro-
cefalotórax. Ela foi encontrada em meio à areia borada pelo fato de ter sido capturada uma fêmea
seca, na base de uma duna, em toca de pouca pro- ovada em escavações realizadas também no mês
fundidade e não parecia completamente saudável. de junho, ou seja, no início do inverno.
Portava, em seu abdômen, cerca de 9.000 ovos, Os estudos de Haley (1972) com fêmeas de
com diâmetro médio de 250 mm. Apesar de te- O. quadrata já sugeriam atividades copulatórias
rem sido realizadas outras escavações na mesma cíclicas com picos na primavera e no verão, con-
área e em áreas semelhantes, com as técnicas uti- firmando as hipóteses de Cowles (1908), embora
lizadas, nenhuma outra fêmea ovada foi encon- tenham sido encontrados animais em cópula tam-
trada. Portanto, deduziu-se que, para sua captura, bém no outono. Considerando-se o período de 30
torna-se necessária maior especialização das téc- dias entre a eclosão e o primeiro estágio semi-
nicas de coleta, as quais devem se adaptar tam- terrestre (Haley , op. cit.), pode-se estabelecer que
bém às condições rústicas das praias de mar aberto. os pequenos caranguejos, com diâmetro de toca
A relação entre o peso e a largura do cefa- em torno de 6 mm (que corresponde a L =
lotórax, para uma amostragem de 54 indivíduos, 5,34 mm), surgidos na praia no mês de janeiro,
foi descrita pela seguinte equação: P = 0,0004. eclodiram provavelmente em dezembro. A coluna
L 3,0876 (r = 0,99), em que P é o peso, em gramas; representativa deste grupo, no gráfico, aumentou
e L é a largura, em mm (Fig. 10). O menor indi- gradativamente no período de janeiro à março,
víduo capturado pesava 0,10 g (L = 5,6 mm); e demonstrando um acréscimo de jovens na popu-
o maior indivíduo que teve seu peso avaliado lação, em número maior do que o grupo em cres-
pesava 21,54 g (L = 34,4 mm). Esta relação foi cimento.
também apresentada por Wolcott (1978) em es- Este recrutamento é reforçado pelo registro
tudos realizados com esta espécie. de animais menores ainda nos meses de fevereiro
A Fig. 11 apresenta as distribuições mensais e março. A partir de abril, continuam ingressando
de freqüências de diâmetros de tocas. Embora não jovens na população, mas em quantidades progres-
se observe nítido deslocamento modal, vários as- sivamente menores do que aqueles em crescimento.
pectos da biologia de O. quadrata podem ser Isto é demonstrado pelo deslocamento da moda
identificados. Inicialmente, constata-se a presença entre março e junho.
45,00
DT = 0,6648 + 1,0013.L
40,00
n = 170
35,00
30,00
Diâmetro da toca (mm)
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00
Largura do cefalotórax (mm)
Fig. 8 — Relação entre o diâmetro da toca e a largura da carapaça de Ocypode quadrata, na praia de Pinhal, município de
Balneário Pinhal, RS.
30
C = 0.77.L1.02
n = 43
25
Comprimento do cefalotórax (mm)
20
15
10
5
5 10 15 20 25 30 35
Largura do cefalotórax (mm)
Fig. 9 — Relação entre o comprimento e a largura do cefalotórax de Ocypode quadrata, na praia de Pinhal, município de
Balneário Pinhal, RS.
25
3.0876
P = 0.0004.L
n = 54
20
15
Peso (g)
10
5
5 10 15 20 25 30 35
Largura do cefalotórax (mm)
Fig. 10 — Relação entre o peso e a largura do cefalotórax de Ocypode quadrata, na praia de Pinhal, município de Balneário
Pinhal, RS.
Era esperado, também, que o último mês de vens em janeiro pode indicar que o início do pico
coleta (outubro) fosse complementado pelo pri- reprodutivo foi em novembro, o que confirma as
meiro (novembro), como um processo cíclico deduções de Haley (1972) no que se refere ao pico
anual. No entanto, observando-se o gráfico, cons- de primavera. Como o próprio autor constatou,
tata-se que não houve continuidade nos resulta- a maturidade de verão é menos sincronizada,
dos, demonstrando prováveis alterações ambientais sugerindo um tempo variável de recuperação e
de um ano para o outro. O início do pico de jo- rematuração.
121
103
89 Novembro
84
61 62
n = 675
42
29
15 17 20
8 8 9 6
0 0 0 0 1 0
125 119
Dezembro
84
98 n = 675
58 59
20 19 26
7 12
0 0 0 0 0 2 2 1 0 0
112
93
77 77 Janeiro
59 n = 635
41 39 32
26 19
11 18 12 13
0 0 0 1 3 2 0
135
101 Fevereiro
n = 532
50 53
47
36 32 26
16 8
4 5 11 6 2 0 0
0 0 0 0
125
Março
n = 302
Freqüência absoluta
57
24 19
19 12 13
10 6 7 2
0 0 0 1 3 4 0 0 0 0
211
195
Abril
n = 606
76
38
17 6 11 18 11 5 7 7
0 0 0 0 3 1 0 0 0
204
Junho
n = 436
104
49 36 24
0 0 0 1 4 0 1 3 1 3 4 2 0 0 0 0
187
Julho
111 n = 472
64
43
22 9
0 0 0 1 4 0 5 3 7 3 6 3 2 2 2
118 120
Agosto
64 n = 420
17 13 19 10
11 11 14 6 4 1 1
0 0 0 0 5 1 5
122
72 Setembro
49 n = 362
21 17 16
16 13 13 13 11
4 6 8 0 1
0 0 0 0 0
168
Outubro
115 n = 442
60
1 11 19 11 11 11
8 4 7 8 4 1 2 0 1
0 0 0
0,00 4,00 8,00 12,00 16,00 20,00 24,00 28,00 32,00 36,00 40,00
Fig. 11 — Distribuição mensal de freqüências de diâmetros de tocas de Ocypode quadrata, na praia de Pinhal, município
de Balneário Pinhal, RS (período de novembro de 91 a outubro de 92).
Esta heterogeneidade de maturação das fê- entanto, comparando-se os dados, pode-se dedu-
meas é representada por um período reprodutivo zir que estes tamanhos médios de diâmetros de tocas
muito longo. Os animais menores que aparecem (22,89 mm e 22,92 mm) correspondem a indiví-
nos meses de fevereiro e março (nascidos, por- duos, em sua maioria, com idades próximas a 1 ano
tanto, em dezembro e janeiro anteriores) podem de vida, entrando em processo de reprodução.
ser indicadores do pico de maturação de verão, A presença de exemplares grandes, com ta-
citado por Haley (1972). O gráfico bimodal in- manhos bem superiores à média do segundo grupo
forma, ainda, a presença de dois grupos etários etário, em cada mês, sugere ainda a existência de
distintos e uma expectativa de vida em torno de alguns indivíduos que poderiam atingir o terceiro
2 anos, o que é bem visível nos meses de janei- ano de idade. Esta constatação é reforçada por Haley
ro a outubro. O tamanho médio de cada grupo (1972) que deduziu que as fêmeas de caranguejo-
etário, a cada mês do ano, está representado na fantasma vivem quase 3 anos, sendo juvenis du-
Tabela 1. O mês de março foi a época em que se rante o primeiro ano de vida. O segundo grupo etário
registraram tocas com diâmetro médio inferior a da população em estudo deve incluir, portanto, in-
todos os outros meses, no que se refere ao primeiro divíduos em maturidade sexual, apresentando lar-
grupo etário (grupo 0), que corresponde a animais guras médias de carapaça a partir de 23 mm.
que ainda não atingiram 1 ano de vida. Estes dados
reforçam a existência do pico reprodutivo de verão, Agradecimentos — Ao Prof. Dr. Jeter Bertoletti, Diretor do
quando maior quantidade de jovens ingressam na Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCTPUCRS),
pela autorização para o desenvolvimento deste trabalho nas
população, diminuindo o tamanho médio do grupo. dependências do Museu. À Biól. Esp. Carmem Freitas, do
Nos meses de novembro e dezembro, com os dados Laboratório de Botânica do MCTPUCRS, pela identificação
obtidos, visualiza-se apenas um grupo etário. No do material botânico.
TABELA 1
Diâmetros máximo, mínimo e médio de tocas por grupo etário de
Ocypode quadrata, aferidos mensalmente na praia de Pinhal, RS.
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