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Decanato de Gestão de Pessoas / DGP

Diretoria de Capacitação, Desenvolvimento e Educação / DCADE


Coordenadoria de Capacitação / PROCAP - Curso on-line

Produção de textos
oficiais na UnB

Elaboração: Prof.a Dra. Ormezinda Maria Ribeiro


Revisão de conteúdo: Prof.a Dra. Cíntia da Silva Pacheco

Setembro de 2021
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Ficha Técnica

Reitora
Márcia Abrahão Moura

Vice-Reitor
Enrique Huelva Unternbäumen

Decano de Gestão de Pessoas


Maria do Socorro Mendes Gomes

Diretor de Capacitação, Desenvolvimento e Educação


Peterson Góes Silva

Coordenadora de Capacitação
Bruna Emily Pontes Feitosa

Responsáveis técnicas pelas ações EaD/Procap


Ana Daniela Rezende Pereira Neves
Mônica Regiane Wanderley da Silva
Marília Mesquita Resende

Apoio EaD
Márcio Luiz de Jesus Soares
Maria de Fátima Neris

Revisão textual
André Pontes Gaio

Webdesign
Osvaldo Corrêa

Diagramação
Cláudia Dias
Marcelo Jatobá

Contato: procap@unb.br - https://www.facebook.com/ProcapUnB/ | http://capacitacao.unb.br


Telefones: [61] 3107-0443 / 0439
Endereço: PROCAP – Sala A1 56/06 – 1º andar, Prédio da Reitoria, Campus Darcy Ribeiro

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Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 6

UNIDADE I

1. ELABORAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS....................................................... 8

Introdução............................................................................................................ 8

Objetivos.............................................................................................................. 8

1.1 Texto, discurso e textualidade........................................................................ 9

1.1.1 Texto e discurso .................................................................................. 9

1.1.2 Textualidade .......................................................................................11

1.1.3 Intertextualidade ................................................................................ 12

1.1.3.1 Paráfrase.................................................................................... 12

1.2 Coesão e coerência textuais........................................................................ 14

Considerações finais.......................................................................................... 19

1.3 Leitura complementar ................................................................................. 20

UNIDADE II

2. NORMAS GRAMATICAIS DE TEXTOS.............................................................. 22

Introdução.......................................................................................................... 22

Objetivos............................................................................................................ 22

2.1 Atributos da redação oficial................................................................................ 23

2.1.1 Impessoalidade.................................................................................. 24

2.1.2 A concisão.......................................................................................... 25

2.1.3 A clareza............................................................................................. 26

2.2 Uso da norma padrão.................................................................................. 30

2.3 Dicas de pontuação..................................................................................... 32

2.4 Propriedade semântica................................................................................ 33

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

2.5 Novo acordo ortográfico............................................................................... 36

Considerações finais.......................................................................................... 50

2.6 Leitura complementar.................................................................................. 51

UNIDADE III

3. TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO OFICIAL................................................... 52

Introdução.......................................................................................................... 52

Objetivos............................................................................................................ 52

3.1.Características da redação oficial................................................................ 53

3.1.1 Formalidade e padronização............................................................... 53

3.2 Formas de tratamento e de endereçamento................................................ 54

3.3 Outros elementos estruturais das comunicações oficiais: fecho das


correspondências, identificação dos signatários e gêneros............................... 57

3.3.1 Fechos para as comunicações............................................................ 57

3.3.2 Identificação do signatário................................................................... 57

3.4 Gêneros da redação oficial.......................................................................... 58

3.5 Atos de correspondência.............................................................................. 59

3.5.1 Memorando.......................................................................................... 60

3.5.2 Ofício.................................................................................................... 62

3.5.2.1 Partes estruturais do padrão ofício............................................. 63

3.5.2.2 Formato da diagramação do ofício padrão................................. 64

3.5.3 Relatório............................................................................................... 66

3.5.3.1 Estrutura do relatório.................................................................. 66

3.5.4 Correio eletrônico – e-mail................................................................... 68

Considerações finais.......................................................................................... 70

3.6 Leitura complementar.................................................................................. 71

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UNIDADE IV

4.TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO OFICIAL.................................................... 72

Introdução.......................................................................................................... 72

Objetivos............................................................................................................ 72

4.1 Atos de assentamento.................................................................................. 72

4.1.1 Ata........................................................................................................ 72

4.1.1.1 Estrutura da ata.......................................................................... 73

4.1.2 Termo................................................................................................... 75

4.1.3 Auto de infração................................................................................... 75

4.2 Documento normativo: instrução................................................................. 76

4.3 Leitura complementar.................................................................................. 76

UNIDADE V

5.TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO OFICIAL: ATO E DESPACHO.................. 78

Introdução.......................................................................................................... 78

Objetivos............................................................................................................ 78

5.1 Ato................................................................................................................ 78

5.2 Despacho..................................................................................................... 82

Leitura Complementar........................................................................................ 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 85

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 86

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Apresentação
Prezado(a) cursista,

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena partici-


pação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informa-
ção, expressa-se e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo e
produz conhecimento.

Ler e escrever são as atividades mais requeridas no cotidiano de trabalho. Por


isso propomos um curso fundamentado em uma teoria consistente que enfatiza a
prática, de forma que sejam evidenciadas as competências linguísticas necessárias
ao bom desempenho das atividades profissionais, considerando sua aplicação na co-
municação pública.

Neste curso, você refletirá sobre os aspectos ideológicos e pragmáticos que


também norteiam a redação de textos técnicos e demais documentos oficiais, consi-
derando as perspectivas atuais do trabalho com esses gêneros textuais. Você verá
que a textualidade é a condição fundamental para a legibilidade de um texto, e que a
coesão e o emprego adequado dos operadores argumentativos são imprescindíveis
para a coerência textual dos documentos oficiais.

A Universidade de Brasília (UnB) é uma instituição na qual se produzem diver-


sos gêneros textuais, não só acadêmicos, mas também oficiais. Para saber um pouco
mais sobre como esses textos circulam e são produzidos no âmbito da UnB, é impor-
tante ter clara a definição de texto e de como os textos se transformam em discursos.
Para isso, a UnB dispõe do seu próprio manual de redação denominado “Normas para
Padronização de Documentos na Universidade de Brasília”.

O Manual de Redação da Presidência da República é o documento mais ge-


ral e padronizado acerca dos textos oficiais da Administração Pública. Há grandes
diferenças entre os dois manuais, especialmente porque o Manual da Presidência foi
atualizado em 2018, e as Normas da UnB são de 2011. Ao longo da apostila, apon-
taremos algumas diferenças, resguardando a autonomia que os órgãos públicos têm
de definirem suas próprias normas, ainda que baseadas no Manual da Presidência.

Assim, gostaríamos de lhe desejar sucesso em seus estudos sobre redação ofi-
cial. Aqui, você terá a oportunidade de se familiarizar com gêneros oficiais, atentando
para questões da língua portuguesa como concordância, pontuação e o Novo Acordo
Ortográfico, com os quais terá de lidar ao longo de sua carreira pública.

Vamos começar a navegação?

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Unidades de
Aprendizagem

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Unidade 1
1. ELABORAÇÃO E
PRODUÇÃO DE TEXTOS

Introdução

O curso Produção de Textos Oficiais na UnB está fundamentado em uma teoria


consistente que enfatiza a prática, de forma que sejam evidenciadas as competências
linguísticas necessárias ao bom desempenho das atividades profissionais, conside-
rando sua aplicação na comunicação pública.
Neste curso, com base na leitura dos textos teóricos, você refletirá sobre os
aspectos ideológicos pragmáticos que norteiam a redação de textos técnicos e de-
mais documentos oficiais, considerando as perspectivas atuais do trabalho com esses
gêneros textuais.
Você verá que a textualidade é a condição fundamental para a legibilidade de
um texto, sobretudo os elementos da coesão, coerência, informatividade e intertextua-
lidade. A coesão e o emprego adequado dos operadores argumentativos são impres-
cindíveis para a coerência textual dos documentos oficiais. A intertextualidade (vozes
do texto ou polifonia) e o grau de informatividade também contribuem para a tessitura
dos textos. Comecemos a unidade, pois, pela elaboração e produção de textos.

Objetivos

¾ Demonstrar habilidades no uso da comunicação escrita quanto à coesão,


à coerência, à correção e à clareza textuais, do ponto de vista das normas
gramaticais.
¾ Possibilitar a reflexão crítica acerca da leitura e da escrita necessária
ao processo de ensino-aprendizagem da redação oficial como prática
imprescindível na vida profissional do servidor, observando-se as normas
gramaticais vigentes.
¾ Saber organizar um texto a partir de tópicos frasais e estratégias
argumentativas adequadas a cada gênero textual.
¾ Refletir sobre os aspectos ideológicos e pragmáticos que norteiam a
redação de textos técnicos e demais documentos oficiais, considerando as
perspectivas atuais do trabalho com esses gêneros textuais.

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1.1 Texto, discurso e textualidade

1.1.1 Texto e discurso

Já parou para pensar que nós não nos comunicamos por palavras ou frases
isoladas? A unidade comunicativa básica é o texto, ocorrência linguística escrita ou
falada, de extensão variável, com uma unidade comunicativa entre os membros de
uma comunidade.

Na produção de um texto, há um conjunto de fatores: as intenções do falante


(emissor) e o jogo de imagens conceituais, mentais que emissor e destinatário exe-
cutam. Você também deve considerar o contexto em que se insere o discurso, que
delimita os conhecimentos dos interlocutores.

Basicamente, o texto (ou discurso) precisa ser compreendido pelo destinatário,


ou seja, pelo interlocutor que recebe a mensagem. Daí o texto constitui uma unidade
semântica, significativa. O discurso apresenta uma unidade formal, com os elementos
linguísticos integrados no texto, a fim de permitir que este se caracterize como um
todo coeso e, por isso, coerente. Assim, o texto será entendido como uma unidade
linguística concreta (perceptível pela visão ou pela audição) tomada pelos usuários
da língua (falante/escritor/ouvinte/leitor) em uma situação de interação comunicativa
específica, como uma unidade de sentido que preenche uma função comunicativa
reconhecível e reconhecida, independentemente de sua extensão, conforme Koch e
Travaglia (1989, p. 8-9).

Texto é uma sequência verbal (palavras), oral ou escrita, que forma um todo
que tem sentido para um determinado grupo de pessoas em uma determinada situa-
ção. O texto pode ter uma extensão variável: uma palavra, uma frase ou um conjunto
maior de enunciados, mas ele, obrigatoriamente, necessita de um contexto significati-
vo para existir. Seu nível de linguagem pode ser formal, coloquial, informal ou técnico.

Nosso discurso é visto como qualquer atividade produtora de efeitos de sentido


entre interlocutores, portanto qualquer atividade comunicativa englobando os enun-
ciados produzidos pelos interlocutores e o processo de sua enunciação, condicionado
por uma exterioridade social, histórica e ideológica que determina as regularidades
linguísticas e seu uso, sua função.

Ao produzir um texto, temos um plano, um objetivo. Os objetivos são os atos de


fala ou atos ilocucionais (fazer um pedido para o colega de trabalho, o chefe nos dar
uma ordem, fazermos promessas de concluir determinada demanda, etc.).

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

As pessoas não estão sempre preocupadas com o conteúdo daquilo que estão
dizendo. Às vezes, estão apenas praticando um ritual de interação. Por exemplo, nas
relações cotidianas, na pergunta “Você tem alguma coisa para fazer hoje à noite?”
A intenção é muito mais fazer um convite de natureza afetiva do que obter uma res-
posta direta.

Para você pensar

Você sabia que o conceito de texto não se limita à linguagem verbal (palavras)?
O texto pode ter várias dimensões, como o texto cinematográfico, o teatral, o
coreográfico (dança e música), o pictórico (pintura), enfim, pode ser constituído
por vários modos semióticos, o que é chamado de multimodal, ou seja, um texto
construído por diferentes linguagens, segundo Gunther Kress (2010) e Ângela
Dionísio (2005).

Podemos concluir que o texto é um produto de enunciação que se constrói em


termos de coesão e coerência, em um encadeamento semântico que cria uma orga-
nização significativa e recebe o nome de textualidade.

Assim, o texto consiste em uma unidade básica de organização e transmissão de


ideias, conceitos e informações de modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um
quadro, um símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de televisão
também são formas textuais. Tal como o texto escrito, todos esses recursos semióticos
geram um todo de sentido, propriedade a partir da qual iniciaremos nossa reflexão.

Para isso, é necessário definirmos algumas características do objeto de estudo


do curso — o texto. Vamos aprofundar a análise e delimitar o ponto de partida?

a) A primeira dessas características é o texto como um todo gerador de sentido,


uma totalidade — o que está relacionado a duas propriedades básicas: a coesão
e a coerência, esta identificada com os mecanismos de constituição de sentidos.
Um fragmento ou uma parte (frase, palavra) não tem autonomia e não pode ser
tomado isoladamente, na medida em que cada parte se liga ao todo. Fora do
contexto (o texto como um todo), uma determinada parte poderá ter seu sentido
original alterado, impedindo a compreensão do que de fato se desejou transmitir
— o real significado do texto como expressão do autor. Pense agora se na sua
prática profissional você já se deparou com textos mal escritos e de difícil enten-
dimento, e como isso prejudica o andamento do trabalho.

b) Por mais neutro que pretenda ser — como instruções para uso de um equi-
pamento ou uma notícia de jornal —, um texto sempre revela a perspectiva (a
visão de mundo) que o autor constrói da realidade, ainda que certo grau de

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intencionalidade seja um fenômeno mais notável em textos argumentativos. A
visão de mundo que está na base do discurso de um autor pode ser chama-
da de ideologia — processo de produção de significados, signos e valores da
vida social. Você percebe que o texto traz consigo, de modo mais ou menos
evidente, valores identificados com certa cultura e formação histórica e social
na medida em que o autor é um ator social que comunga com esses valores?

c) Pelo fato de ser um produto de uma época e de um lugar específicos, há no


texto as marcas desse tempo e espaço. Por isso, nenhum texto é um objeto
inteiramente autônomo, há sempre um diálogo estabelecido com outros textos
e com o contexto. O texto, ainda que implicitamente, incorpora diferentes pers-
pectivas a respeito de uma mesma questão. O que se tem é uma inter-relação
entre textos que tratam do mesmo assunto ou de assuntos semelhantes com
abordagens diferentes. A esse respeito, Eni Orlandi (2001) afirma que “o senti-
do está sempre no viés. Ou seja, para se compreender um discurso é importan-
te se perguntar: o que ele não está querendo dizer ao dizer isto? Ou: o que ele
não está falando, quando está falando disso?”.

1.1.2 Textualidade

Mas, afinal de contas, o que significa textualidade? É o conjunto de caracterís-


ticas que conduzem à elaboração de um texto, ou à sua tessitura, e não apenas um
amontoado de palavras e frases sem a devida unidade. Está relacionada à coesão e
à coerência, que se relacionam com o material conceitual e linguístico, além de outros
fatores, como intenção do emissor, aceitabilidade pelo destinatário, situação e inter-
textualidade.

A coerência é o elemento indispensável à compreensão do discurso, mas, para


que ocorra, é necessário que o destinatário esteja em condições de receber a mensa-
gem. Por sua vez, a coesão manifesta-se por meio dos mecanismos gramaticais e lexi-
cais (vocabulário). Gramaticalmente, são importantes: os pronomes, os artigos, a con-
cordância verbal e nominal, os conectivos e a correspondência entre os tempos verbais.

Dois blocos de sete fatores são os responsáveis pela textualidade de qualquer


discurso: são os fatores semântico/formal (coerência e coesão) e os fatores pragmáticos
(intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade).

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Imagine que você tenha ido visitar um amigo hospitalizado e pelos corredores
veja placas com a palavra “Silêncio”. A palavra “Silêncio” está dentro de um
contexto significativo por meio do qual as pessoas interagem: você, como leitor
das placas, e os administradores do hospital, que têm a intenção de comunicar
a necessidade de haver silêncio naquele ambiente. Assim, podemos entender
que a palavra “Silêncio”, nesse caso, constitua-se em um texto.

1.1.3 Intertextualidade

A intertextualidade é o diálogo de um texto com outros textos, pois todo texto é a


absorção ou a transformação de outro texto, constituindo-se num mosaico de citações,
conforme afirma Kristeva (1974). Compreende as diversas maneiras pelas quais o co-
nhecimento prévio de outros textos interfere na produção e na recepção de um texto.
Vamos pensar em como poderíamos classificar as ocorrências da intertextualidade?

a) alusão, caracterizada por asserções de determinados textos em outro texto,


de forma integral, transformada, confessa ou camuflada;

b) citação, quando se coloca em um texto um conjunto de fragmentos de outros


textos, explicitados por meio de marcas gramaticais, como as aspas;

c) paródia, quando um texto, ao incorporar outro texto, propõe o deslocamento


da linguagem, num caráter contestador;

d) apropriação, quando o autor não escreve, mas articula, agrupa, transcreve o


texto alheio, colocando os significados de uma forma invertida;

e) paráfrase, caracterizada pela fusão de vozes em um texto que se identifica


com outro sem lhe quebrar a continuidade.

No texto oficial, além da citação, a paráfrase é a ocorrência de intertexto com


maior incidência, por essa razão é necessário que seja elaborada de forma clara e
precisa. Que tal aprofundarmos esse conceito? Até mesmo para entendermos a dife-
rença entre paráfrase e plágio.

1.1.3.1 Paráfrase

Sabemos que parafrasear é dizer algo de forma diferente, mantendo-se o sen-


tido. Vimos que quando há uma fusão de vozes em um texto que se identifica com
outro sem quebrar-lhe a continuidade, temos a paráfrase. Na paráfrase sempre se

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conservam basicamente as ideias do texto original. O que se inclui são comentários,
ideias e impressões de quem faz a paráfrase. Vamos refletir agora sobre seu trabalho,
já que você precisa escrever ou ler atas, relatórios, dentre outros textos oficiais. Como
você faria para reproduzir por escrito uma discussão ou deliberação de uma reunião?
Percebe que o recurso linguístico importante seria a paráfrase? A partir disso, você
escreveria em uma linguagem mais formal ou mais sucinta o que foi explicitado em
outras palavras, sem mudar-lhe o sentido.

Se a paráfrase “é a representação de um texto ou fragmento de texto com


outra forma e (hipoteticamente) o mesmo sentido básico”, então é necessária uma
boa compreensão do texto original para se fazer uma boa paráfrase. Segundo Othon
Garcia (1988):

Paráfrase consiste no desenvolvimento explicativo (ou interpretativo) de um


texto. Corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que
se diz, de maneira mais clara, num texto B o que contém um texto A.

CURIOSIDADE

PALAVRA PARA REFLETIR

Não basta saber escrever com correção e dominar as regras gramaticais.


Para uma comunicação eficiente é preciso observar um conjunto de fatores:
o vocabulário e a sua adequação ao interlocutor, levando em conta o nível
intelectual, o conhecimento e a faixa etária do público; o objetivo da comunicação,
as circunstâncias e o canal usado. Em se tratando de comunicação oral, a
postura, a gesticulação e o tom de voz interferem bastante no processo, pois a
forma como passamos a mensagem também determina sua compreensão.

De acordo com Possenti (1996), porque são utilizadas por todos os grupos
sociais, algumas formas linguísticas não são consideradas erradas ao passo
que outras formas, como a não concordância em “nós foi”, são consideradas
sinais de ignorância por não serem empregadas por todos os grupos de falantes.

Entretanto, a questão da correção não se reduz aos erros de concordância ou


ortografia, mas diz respeito também ao problema da adequação ou inadequação
dos usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo empregado.
Há outras impropriedades, como frases ou períodos truncados, violações de
relações discursivas ao se produzir um texto, hipercorreção, falsa análise do
enunciado, falsa analogia, impropriedade lexical.

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

SAIBA MAIS

Texto base X texto paráfrase

“É que uma dessas formas já não distingue falantes, já que falantes de todos os gru-
pos sociais a utilizam”, como ocorre no primeiro exemplo. Já “a outra forma distingue
falantes, porque certos grupos a utilizam e outros, não” (POSSENTI, 1996).

Em uma situação informal de fala e de escrita, praticamente não se nota que


houve um desvio da norma padrão em “Me empresta uma caneta” (sic), porque
é um traço comum a todo o português brasileiro de todos os falantes. Por outro
lado, são considerados pelo senso comum “erros crassos” daqueles que dizem,
e escrevem, “nós foi” ou “os menino chegou” (sic), justamente por haver distin-
ção social de quem usa essas formas linguísticas.

Os dois textos tratam de um mesmo assunto: a variação linguística, a forma


como as pessoas percebem o “erro linguístico”. Além de tratarem do mesmo as-
sunto, também têm em comum as ideias apresentadas, ou seja, ambos afirmam
que a forma de se receber a variação linguística está relacionada com a aceita-
ção pela comunidade. Em outras palavras, ou parafraseando essa explicação:
alguns “erros linguísticos” são aceitos porque são usados por falantes de todas
as comunidades de falantes e outros não são porque são restritos a um grupo
socialmente desprestigiado.

1.2 Coesão e coerência textuais

Coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de um texto; a


coesão é a associação consistente desses elementos. Essas duas definições literais
não contemplam todas as possibilidades de significação dessas duas operações es-
senciais na construção de um texto e sequer dão conta dos problemas que se levan-
tam na contaminação entre ambas.

A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais numa se-
quência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito aos concei-
tos e às relações semânticas que permitem a união dos elementos textuais.

Você tem observado, com atenção, se os textos produzidos em seu setor de


trabalho são coerentes?

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A falta de coerência em um texto é facilmente percebida quando o interlocutor
não encontra sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. É
a competência linguística, tomada em sentido lato, que permite a esse falante reco-
nhecer de imediato a coerência de um discurso. A competência linguística combina-se
com a competência textual para possibilitar certas operações simples ou complexas
da escrita literária ou não literária: um resumo, uma paráfrase, uma dissertação com
base em um tema dado, um comentário a um texto literário, etc.

Coerência e coesão são fenômenos distintos porque pode ocorrer uma sequên-
cia coesiva de fatos isolados que, combinados entre si, não têm condições para formar
um texto. A coesão não é uma condição necessária e suficiente para constituir um texto.

Já ocorreu algum equívoco na compreensão da mensagem encaminhada ou


recebida ou no uso de determinado conectivo no seu ambiente de trabalho?

É importante pensar nisso porque a coerência não é independente do contexto no


qual o texto está inscrito, isto é, não podemos ignorar fatores como autor, leitor, espaço,
história, tempo, cultura, etc.

A coesão textual pode ser obtida mediante quatro procedimentos gramaticais


elementares. Veja a seguir:

I. Substituição: quando uma palavra ou expressão substitui outras anteriores:

João foi ao cinema. Ele não gostou do filme.

II. Reiteração: quando se repetem formas no texto:

E o meu abraço?! E o meu abraço de meu guri?!


Quando terei meu abraço, meu menino?

A reiteração pode ser lexical em “E o meu abraço?” ou semântica em “guri” /


”menino”.

III.Conjunção: quando uma palavra, expressão ou oração se relaciona com


outras antecedentes por meio de conectores gramaticais.

O cãozinho da Ana desapareceu.


Depois disso, nunca foi a mesma.

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

SAIBA MAIS

Esse assunto é bastante importante! Veja mais sobre esse assunto, bem como
exemplos de conjunções, seus significados e uso em frases no seguinte link:

http://qrolecionar.blogspot.com/2014/09/coordenadas-e-hifen.html

IV. Concordância: ocorre quando se obtém uma sequência gramaticalmente


lógica, em que todos os elementos concordam entre si (tempos e modos verbais
correlacionados, regências verbais corretas, gênero gramatical corretamente
atribuído, coordenação e subordinação entre orações). Veja nos exemplos:

¾ Cheguei, vi e venci.
¾ Primeiro vou ver um filme e depois vou dormir.
¾ Espero que o exame corra bem.
¾ Esperava que o exame tivesse corrido bem.
¾ Estava muito cansado, porque passei a noite acordado.

A coerência de um texto depende da continuidade de sentidos entre os ele-


mentos descritos e inscritos no texto. A fronteira entre um texto coerente e um texto
incoerente depende exclusivamente da competência textual do leitor para decidir so-
bre essa continuidade fundamental que deve presidir a construção de um enunciado.
A coerência e a incoerência revelam-se não direta e superficialmente no texto, mas
indiretamente por ação da leitura/audição desse texto. As condições em que essa lei-
tura/audição ocorre e o contexto de que depende o enunciado também determinam o
nível de coerência reconhecido.

Na construção de um texto escrito, assim como na fala, usamos mecanismos


para garantir ao interlocutor a compreensão do que se lê/diz.

Os mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e a retomada do


que foi escrito/dito são os referentes textuais e buscam garantir a coesão textual para
que haja coerência não só entre os elementos que compõem a oração, como também
entre a sequência de orações no texto.

A coesão também pode se dar muitas vezes de modo implícito, com base em
conhecimentos anteriores que os participantes do processo têm em relação ao tema.
Por exemplo, o uso de uma determinada sigla, que para o público a quem se dirige
deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mão de repetições inúteis.

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Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha imaginária, composta de ter-
mos e expressões, que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer rela-
ções de sentido entre eles.

Dessa forma, com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (re-


petição, substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjun-
ções, numerais, elipses), constroem-se frases, orações, períodos que irão apresentar
o contexto – decorre daí a coerência textual.

Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o apresenta de forma con-


traditória. Muitas vezes essa incoerência é resultado do mau uso dos elementos de
coesão textual. Na organização de períodos e parágrafos, um erro no emprego dos
mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto. Construído com
os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.

Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é imprescindível que haja


uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o tex-
to. Além disso, relembre-se que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
os elementos que compõem a estrutura textual. Há diversas formas de se garantir a
coesão entre os elementos de uma frase ou de um texto, a saber:

1. Substituição – ocorre quando se usam palavras ou expressões do mesmo


campo associativo, ou sinônimos, para evitar a repetição de um vocábulo ou
expressão. Por exemplo: para evitar a repetição do substantivo “troca” podem
ser empregadas uma das seguintes palavras, a depender do contexto: altera-
ção, reposição, câmbio, mudança, permutação, comutação, permuta, transfe-
rência, modificação, recolocação.

2. Nominalização – é o emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o


adjetivo correspondente. Por exemplo: ignorar/ ignoraste/ignorante.

3. Repetição ou anáfora – é a repetição da mesma palavra ou grupo de pala-


vras para a ligação semântica dos termos, empregada como recurso estilístico
para se fazer a articulação frasal, e não uma redundância — essa última é
resultado da pobreza de vocabulário. Exemplo de repetição como recurso esti-
lístico: a letra da música À primeira vista, de Chico César.

Quando não tinha nada, eu quis


Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

4. Hipônimos – são usados para estabelecer uma relação com base na maior
especificidade do significado de um deles. Por exemplo, ipê (mais específico) e
árvore (mais genérico).

5. Hiperônimos – quando se estabelecem relações de um termo de sentido


mais amplo com outros de sentido mais específico. Por exemplo, flor está numa
relação de hiperonímia com petúnia.

6. Substitutos universais – como os verbos vicários, ou verbos que substi-


tuem outro para evitar a repetição. Isso é possível porque, em determinado
contexto, o verbo vicário é sinônimo daquele do qual faz as vezes.

Por exemplo: Gostaria de trocar de carro, todavia só o farei quando pagar mi-
nhas dívidas.

A coesão apoiada na gramática ocorre com o uso de conectivos, como certos


pronomes, advérbios e expressões adverbiais, conjunções, elipses, entre outros.

7. Elipse – quando, sem prejuízo da compreensão global, remete-se a um


enunciado anterior, apesar da omissão de termo ou expressão. Mesmo omitida,
a expressão pode ser subentendida no texto. Nesse caso, ocorre se uma pala-
vra ou expressão for omitida e mesmo assim puder ser percebida como parte
da oração. Vale acrescentar que essa palavra omitida não foi anteriormente
citada e não torna a mensagem incompreensível.

No exemplo A cidade dormia, ninguém na rua, a omissão do verbo “estava” não


faz falta ao sentido da oração.

8. Dêiticos – são os elementos linguísticos cuja função é fazer referência ao


contexto situacional ou ao próprio discurso: os pronomes pessoais que indicam
os participantes; os advérbios de lugar, que são marcadores de tempo (agora,
hoje, amanhã, etc.); os demonstrativos (aqui, lá, este, esse, aquele, etc.). Os
dêiticos exercem a função de progressão textual e só podem ser entendidos
se houver uma explicitação, mesmo dentro da situação de comunicação, pois
são elementos que não significam, apenas indicam, remetem aos componentes
da situação comunicativa.

Por exemplo: Aqui onde eu moro está frio hoje. Isso é o que marca esse ter-
mômetro na parede. Os termos em destaque não significam em si, mas assi-
nalam a localização espacial da pessoa do discurso e determinam o ponto de
referência, o lugar em que decorre a enunciação.

18
1.3 Tópico frasal

Tópico frasal é a ideia principal de um parágrafo. Geralmente encontra-se no


primeiro período de cada parágrafo. Todo texto é composto por vários parágrafos or-
ganizados em função de estratégias argumentativas que sustentem o tópico frasal. A
ideia central ou nuclear de cada parágrafo é um resumo do que será detalhado ao lon-
go do parágrafo e, consequentemente, ao longo do texto, por meio de conectivos que
ligam o tópico frasal às ideias secundárias. Assim, todo texto precisa ser iniciado com
um resumo ou esquema prévio de como serão desenvolvidos os argumentos do texto.

Exemplo de parágrafo:

“Observa-se, de maneira geral, que os textos oficiais produzidos pelo departa-


mento não estão orientados pelos atributos da redação oficial, o que tem interferido
na efetividade da comunicação desse setor. A falta de impessoalidade, a redundância
e a obscuridade são alguns dos problemas evidenciados nesses textos. Como efeito,
eventualmente, há necessidade de retornar os documentos para o emissor em busca
de maiores esclarecimento. Esse fato ocasiona morosidade nos processos e, por con-
seguinte, impacta na efetividade dos serviços prestados.”

Percebe-se, pois, que o tópico frasal, no primeiro período, é a afirmação de que


“os textos oficiais produzidos pelo departamento não estão orientados pelos atributos
da redação oficial, o que tem interferido na efetividade da comunicação desse setor”.
Em seguida, há a exemplificação das causas da ineficiência da comunicação, tais
como falta de impessoalidade, redundância e obscuridade como problemas textuais.
A solução ou proposta de intervenção seria, portanto, a necessidade de retomar o
documento para revisá-lo e deixá-lo mais claro. Por fim, o autor, reafirmando o tópico
frasal inicial, conclui que esse fato gera morosidade nos processos e falta de efetivi-
dade nos serviços prestados.

A tipologia argumentativa presente no parágrafo corrobora a tentativa de con-


vencer o leitor de que, em determinado departamento, há alguns problemas de comu-
nicação oriundos da má escrita dos documentos oficiais.

Considerações finais

A escrita não pode mais ser concebida como um processo linear no qual se se-
gue um plano rígido que consiste em planejamento-esboço-escrita. Ela é um processo
recursivo no qual o escritor relê palavras já escritas, relê o tópico, “relê” a satisfação
que seu texto lhe traz, percebe se ele está claro para o leitor, etc., ou seja, o escritor
pensa, escreve, apaga, reescreve, revisa, reescreve, revisa. A escrita é, portanto,

19
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

um processo cíclico de geração e integração de ideias. Escrever significa expressar


ideias, transmitir significado. Mais do que isso – escrever significa pensar. Um texto
bem escrito é um texto lido e relido diversas vezes, de maneira redundante mesmo.

Como se pode constatar, a prática de revisão textual não é uma atividade pon-
tual efetuada apenas ao fim de um processo, mas um exercício gradual e contínuo ao
longo de todo o processo de elaboração de um texto, do início ao fim. À medida que
você reavalia seu texto, tem a possibilidade de reescrevê-lo e readequá-lo, tomando
gradativamente a consciência da dimensão daquilo que enuncia.

Você revisa seus e-mails e textos, em geral, antes de enviá-los? Busque levar a
sério a revisão de tudo aquilo que escreve, porque é a condição essencial para uma
justa adequação dos nossos enunciados à situação, aos interlocutores e aos objetivos
da enunciação. Revisar, em certa medida, é delimitar, pois na revisão fazemos esco-
lhas, cortamos, alteramos ou ampliamos o que é dito no registro escrito daquilo que
queremos que permaneça.

Bom, assim finalizamos nossa Unidade 1. Conto com vocês na próxima uni-
dade para aprofundarmos nossos conhecimentos e avançarmos no assunto sobre
“Normas gramaticais”. Você verá mais explicações linguísticas no decorrer do nosso
material didático. Não se preocupe!

1.4 Leitura complementar

ABREU, A. S. Curso de redação. São Paulo: Ática, 1989.

______. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia: Ateliê Editorial,


1999.

ANTUNES, I. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Edi-


torial, 2010.

______. Muito além da gramática: por um ensino sem pedras no caminho. São Paulo:
Parábola, 2007.

BARBOSA, S. A.; AMARAL, E. Escrever é desvendar o mundo: a linguagem criadora


e o pensamento lógico. Campinas: Papiros, 1986.

BAZERMAN, C. Escrita, gênero e interação social. São Paulo: Cortez, 2007.

CARNEIRO, A. D. Redação em construção. São Paulo: Moderna, 1993.

CITELLI, A. O. O texto argumentativo. São Paulo: Scipione, 2004.

______. Linguagem e persuasão. 11. ed. São Paulo: Ática, 1997.

20
DIONISIO, Ângela Paiva. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, A.M.;
GAYDECZKA, B.; BRITO, K.S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. Palmas
e união da Vitoria, PR: Kaygangue, 2005.

FIGUEIREDO, L. C. A redação pelo parágrafo. Brasília: Editora Universidade de


Brasília, 1999.

FARACO, C. A.; TEZZA, C. Prática de texto. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

FIORIN, L. J.; PLATÃO, F. S. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
1990.

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. Ler e escrever: estratégias de produção textual.

São Paulo: Contexto, 2009.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça & TRAVAGLIA, Luiz. Texto e coerência. São Paulo:
Cortez, 1989.

KRESS, Gunther. Multimodality. A social semiotic approach to contemporary


communication. New York, Routledge, 2010.

GARCEZ, L. Técnica de redação. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna: Aprendendo a Escrever, Apren-


dendo a Pensar. SP: FGV, 1988.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, Mercado
de Letras, 1996.

SERAFINI, M. T. Como escrever textos. Rio de Janeiro: Globo, 1974.

SOARES, M. Técnica de redação. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.

VAL, M. G. C. Redação e textualidade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

21
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Unidade 2
2. NORMAS GRAMATICAIS
DE TEXTOS

Introdução

Na unidade 2, veremos alguns atributos da redação oficial (impessoalidade,


concisão, clareza e uso de norma padrão), dicas de pontuação, propriedades semân-
ticas e acordo ortográfico.

Sugerimos que vocês acessem o Guia de Produção Textual para maiores ex-
plicações e exemplificações sobre os atributos da redação oficial e sobre os erros re-
correntes de ortografia e morfossintaxe, além da indicação de gramáticas normativas
e dicionários da Língua Portuguesa.

Todo esse assunto bem estudado e praticado, certamente, fará diferença na


sua produção textual. Com relação ao acordo ortográfico, não é necessário memo-
rizá-lo, mas consultá-lo sempre que necessário. Com o tempo, você vai ver que in-
ternalizamos muitas regras e já naturalizamos algumas a ponto de não precisar mais
voltar ao material teórico ou ao acordo ortográfico. No entanto, para isso, é preciso ter
o hábito da consulta. Vamos começar?

Objetivos
¾ Produzir textos com o objetivo de atender às diversas práticas diárias de
redação que envolvem o trabalho na Universidade.
¾ Demonstrar domínio da comunicação escrita quanto à coesão e à coerência
textuais, à correção e à clareza da linguagem, do ponto de vista da norma
gramatical e do Novo Acordo Ortográfico.

22
Concordância

A concordância é o processo sintático segundo o qual palavras se acomodam,


na sua forma, às palavras de que dependem.
Veja as situações do cotidiano:

Errado: Se houverem dúvidas, favor perguntar.


Certo: Se houver dúvidas, favor perguntar.
Errado: Já fazem dez dias que esta instituição se encontra em recesso.
Certo: Já faz dez dias que esta instituição se encontra em recesso.
Errado: Fazem cinco meses que a Polícia Federal iniciou a apuração de irregu-
laridades.
Certo: Faz cinco meses que a Polícia Federal iniciou a apuração de irregulari-
dades.
Errado: Vão fazer cinco anos que ingressei no serviço público.
Certo: Vai fazer cinco anos que ingressei no serviço público.
Errado: Depois das últimas chuvas, podem haver centenas de desabrigados.
Certo: Depois das últimas chuvas, pode haver centenas de desabrigados.

2.1 Atributos da redação oficial

Será que existe uma “fórmula mágica” que nos ensinaria a redigir um bom
texto, ou, como querem alguns, produzir uma redação “nota dez”? Em primeiro lugar,
gostaríamos de confessar, humildemente, que não temos (nem inventamos) a receita
dessa poção mágica; em segundo lugar, não conhecemos ninguém que a possua.
Infeliz..., ou melhor, felizmente.

Entretanto, afirmamos que, tornando-nos leitores atentos de bons textos,


assumindo uma postura crítica ante os vários textos que se apresentam no nos-
so cotidiano, dominando alguns recursos linguísticos básicos e refletindo sobre a
realidade, é possível, ao longo do tempo e da prática contínua, aprimorar nossos
próprios textos.

Esclarecemos, também, que produzir um bom texto não significa produzir uma
obra literária. Um bom texto produzido para determinados fins escolares ou
profissionais não se confunde, em hipótese alguma, com um texto literário que
tenha fins artísticos.

23
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Como sabemos, não existem fórmulas mágicas para se fazer uma boa reda-
ção. O exercício contínuo, aliado à prática da leitura de bons autores e a reflexão
são indispensáveis para a elaboração de textos oficiais. Na redação de textos ofi-
ciais, não basta um modelo, é preciso senso crítico aguçado para que a adequação
ao gênero seja eficiente e precisa, de acordo com a mensagem e com o público a
que se destina.

Nossa tarefa, então, será apontar alguns atributos dos textos oficiais, tais como:
a impessoalidade, a concisão e a clareza e uso de norma padrão. Vamos começar?

SAIBA MAIS
Veja a palestra Chavões de linguagem: Por que mudar se sempre foi assim?,
de Paula Cobucci.
https://www.youtube.com/watch?v=fczx1hHufhk

Algumas dicas sobre concordância:

Constitui erro grave usar vírgula entre termos que mantêm entre si estreita liga-
ção sintática – como entre sujeito e verbo, entre verbos ou nomes e seus com-
plementos.Veja exemplos nas frases abaixo:

Errado: O presidente da República, manifestou, sua indignação com a notícia.


Certo: O presidente da República manifestou sua indignação com a notícia.
Errado: O deputado assistiu, ao pronunciamento do presidente, em Fortaleza.
Certo: O deputado assistiu ao pronunciamento do presidente em Fortaleza.

Apesar de na linguagem coloquial ser comum iniciar frases com os pronomes


oblíquos átonos, na linguagem formal, principalmente em textos profissionais,
devemos evitar esse tipo de construção.
Por exemplo: na oralidade se diz “Me diga qual sua opinião sobre a atual si-
tuação política brasileira”, mas na escrita registra-se “Diga-me qual sua opinião
sobre a atual situação política brasileira”.

2.1.1 Impessoalidade

Conforme explicitado pelo Manual de redação da Presidência da República (p.


16, 2018), a finalidade da língua é comunicar, e para que haja boa comunicação se
faz necessário:

24
a) alguém que comunique;

b) algo a ser comunicado; e

c) alguém que receba essa comunicação.

No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o serviço público (este


ou aquele departamento, divisão, ou instituição); o que se comunica é sempre
algum assunto relativo às atribuições de um estabelecimento público; o desti-
natário dessa comunicação é o público em geral, certo grupo de servidores ou
outro órgão público. Dessa maneira, o tratamento dos assuntos que constam
nas comunicações oficiais deve ser de cunho impessoal.

A impessoalidade consiste da ausência de impressões individuais de quem co-


munica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado pelo chefe de de-
terminada seção, é sempre em nome do serviço público que é feita a comunicação.
Assim, a comunicação alcança uma desejável padronização ou uniformidade para
os documentos que circulam nos diferentes setores administrativos. Se o universo
temático das comunicações oficiais se restringe a questões que dizem respeito ao
interesse público, é natural que resguarde o caráter impessoal do próprio assunto
tratado, não cabendo, desse modo, qualquer tom particular ou pessoal.

Dessa forma, não há lugar na redação oficial para impressões pessoais, como
as que, por exemplo, constam em uma carta a um amigo ou em um artigo de opinião
publicado por um jornal. A redação oficial deve ser sempre isenta de interferências
da individualidade de quem a elabora. Características como a concisão, a clareza, a
objetividade e a formalidade adotadas nos textos oficiais contribuem para que seja
alcançada a necessária impessoalidade.

2.1.2 A concisão

Ser conciso significa não abusar das palavras para exprimir uma ideia. Deve-se
ir direto ao assunto sem ficar “enrolando”. Significa, enfim, eliminar tudo aquilo que é
desnecessário.

A concisão, sem dúvida, é mais uma qualidade do que uma característica do


texto oficial. O texto conciso consegue transmitir o máximo de informações com um
mínimo de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se
tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo
para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes se per-
cebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias. No entanto,

25
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

não se devem eliminar passagens substanciais do texto apenas para reduzi-lo em


tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis e redundâncias. A prolixi-
dade consiste em utilizar mais palavras do que o necessário para exprimir uma ideia,
portanto é o oposto da concisão. O uso de expressões que não acrescentam nada
ao texto, servindo tão somente para prolongar o discurso, pode torná-lo prolixo. São
expressões do tipo: antes de mais nada, pelo contrário, por outro lado, por sua vez.
Cuidado com elas!

Veja também alguns exemplos de chavões e frases feitas que devem ser evitados:

¾ inflação galopante
¾ vitória esmagadora
¾ caixinha de surpresas
¾ caloroso abraço
¾ silêncio sepulcral
¾ nos píncaros da glória

Em seus textos, você costuma ir direto ao assunto? Após escrevê-lo, você


costuma revisá-lo cortando trechos ou palavras desnecessárias? Tenha o cos-
tume de pedir a alguém que leia seu texto. Isso ajuda muito a minimizar erros
de comunicação.

Procure não repetir em excesso os mesmos termos, ok? Faça uso de pronomes,
sinônimos, advérbios e elipses. Todos esses recursos, além de tornar mais ágil
o texto, livrando-o de inúteis e cansativas redundâncias, realizam a trama coesi-
va, responsável pela unidade de sentido do texto. Pense sempre nisso antes de
escrever seus textos.

2.1.3 A clareza

A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto profissional, conforme


apontado na introdução do curso. Pode-se definir como claro aquele texto que pos-
sibilita imediata compreensão da mensagem pelo leitor. No entanto, a clareza não é
algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das demais características da
redação oficial. É necessário:

26
¾ Uso da impessoalidade que evita a duplicidade de interpretações que
poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;
¾ o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de entendimento geral
e por definição avesso a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e o
jargão;
¾ a formalidade e a padronização, que possibilitam a imprescindível
uniformidade dos textos;
¾ a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguísticos.

A clareza consiste na manifestação de uma ideia de forma que possa ser rapi-
damente compreendida pelo leitor. Ser claro é ser coerente, não se contradizer, não
confundir o leitor. São inimigos da clareza: a desobediência às normas da língua, os
períodos longos (obscuridade), o vocabulário rebuscado, a imprecisão vocabular e a
ambiguidade.

Obscuridade equivale à falta de clareza. Vários motivos podem determinar a


obscuridade de um texto, e um deles é o uso de períodos longos, desviando-se do
objeto principal do texto.

Para evitar a obscuridade, segundo o Manual de redação da Presidência da


República (2018), ao escrever é necessário ficarmos atentos à concisão e à clareza.

A ambiguidade ocorre quando uma frase, expressão ou termo apresenta mais


de um sentido. Geralmente ocorre por má pontuação ou mau emprego de palavras ou
expressões. É considerada um defeito do texto profissional porque atenta contra a
clareza da informação. Veja alguns exemplos de frases ambíguas:

¾ O guarda deteve o suspeito em sua casa.


¾ Pedro saiu com sua irmã.

Nesses exemplos, a ambiguidade decorre do fato de o possessivo sua poder


estar se referindo a mais de um elemento (casa do guarda ou do suspeito? Irmã do
Pedro ou do interlocutor?). Portanto, muito cuidado no emprego desse pronome.
Você pode evitar a ambiguidade substituindo-o por dele(s) ou dela(s).

27
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Outras expressões a evitar e expressões de uso recomendável

1. De forma que, de modo que/de forma a, de modo a


Ex: Deu amplas explicações, de forma que tudo ficou claro (ou de modo a deixar
tudo claro).
Atenção: São descabidas na língua escrita as pluralizações orais vulgares *de
formas (maneiras ou modos) que...

2. Detalhar
Evite repetir; alterne com particularizar, pormenorizar, delinear, minudenciar.

3. Devido a
Evite repetir; utilize igualmente em virtude de, por causa de, em razão de, graças
a, provocado por.

4. Dirigir
Quando empregado com o sentido de encaminhar, alterne com transmitir,
mandar, encaminhar, remeter, enviar, endereçar.

5. Em face de
Sempre que a expressão em face de equivaler a diante de, é preferível a regên-
cia com a preposição de; evite, portanto, face a, frente a.

6. Bem como
Evite repetir; alterne com e, como (também), igualmente, da mesma forma. Evite o
seu uso, pois não é consenso entre autores; opte pelo equivalente “assim como”.

7. Causar
Evite repetir. Use também originar, motivar, provocar, produzir, gerar, levar a, criar.

8. Dado / visto / haja vista


Os particípios dado e visto têm valor passivo e concordam em gênero e número
com o substantivo a que se referem.
Ex. Dados o interesse e o esforço demonstrados, optou-se pela permanência do
servidor em sua função.

Dadas as circunstâncias.

Vistas as provas apresentadas, não houve mais hesitação no encaminhamento


do inquérito.

A expressão haja vista, com o sentido de uma vez, é invariável:


Ex. O servidor tem qualidades, haja vista o interesse e o esforço demonstrados.

Evite parágrafos excessivamente longos, com linguagem rebuscada, pois costu-


mam gerar má pontuação.

28
Sabemos que certas distorções de escrita podem prejudicar a compreensão do
nosso texto. Já tratamos das qualidades que devem ser cultivadas. Vamos agora
tratar de alguns defeitos que comprometem o texto e que, portanto, sempre de-
vem ser evitados. Você vai observar que, em alguma medida, já cometeu algum
desses erros nos textos que circulam em seu ambiente de trabalho. No entanto
o importante é tomarmos consciência dos erros a fim de não mais cometê-los.
Vamos detectar alguns desvios textuais existentes?

Observe este fragmento de texto:

O Sistema Único de Saúde (SUS) poderá ser obrigado a oferecer atendimento integral para
prevenção e tratamento de obesidade. A exigência está prevista em projeto de lei apresen-
tado nesta semana à Mesa, que o encaminhou imediatamente às comissões técnicas para
exame em caráter de urgência, dado o relevante interesse social da matéria.

O que você achou desse texto? Está bem escrito?

Realmente, não está!

Ele não é um bom exemplo de texto conciso e claro. O segundo período está
muito longo e com várias orações subordinadas. O ideal é produzir parágrafos mais
curtos e com estrutura mais simples.

Veja como a nova organização torna o parágrafo mais conciso e claro:

O Sistema Único de Saúde (SUS) poderá oferecer atendimento integral para prevenção de
obesidade. A exigência está prevista em projeto de lei apresentado nesta semana às comis-
sões técnicas para exame em caráter de urgência.

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Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Mais expressões a evitar e outras de uso recomendável

1. Enquanto
Conjunção proporcional equivalente a ao passo que, à medida que. Evitar
a construção coloquial enquanto que.

2. Especialmente
Use também principalmente, mormente, notadamente, sobretudo,
nomeadamente, em especial, em particular.

3. Inclusive
Advérbio que indica inclusão; opõe-se a exclusive. Evite seu abuso com
o sentido de “até”; nesse caso, utilize o próprio até ou ainda, igualmente,
também, ademais.

4. Informar
Alterne com comunicar, avisar, noticiar, participar, inteirar, cientificar, instruir,
confirmar, levar ao conhecimento, dar conhecimento; ou perguntar, interrogar,
inquirir, indagar.

5. No sentido de
Empregue também com vistas a, a fim de, com o fito (objetivo, intuito, fim) de,
com a finalidade de, tendo em vista ou mira, tendo por fim.

6. Onde
Como pronome relativo significa em que (lugar): A cidade onde nasceu. O país
onde viveu. Evite, pois, construções como “a lei onde é fixada a pena” ou “o
encontro onde o assunto foi tratado”.

2.2 Uso de norma padrão

A linguagem utilizada na redação deve estar de acordo com a norma padrão, ou


seja, deve obedecer aos princípios estabelecidos pela gramática normativa. Conhecer
as normas que regem o uso da língua é fundamental para a produção de um texto cor-
reto. Evidentemente, a maioria das pessoas não conhece de cor todas as regras grama-
ticais. Por isso, em caso de dúvidas ao redigir, não hesite em consultar uma gramática.

Desvios de linguagem que comumente aparecem em redações são fruto do


desconhecimento de algumas dessas normas. Os desvios mais comuns se dão em
relação à:

30
¾ Grafia: nesse aspecto, é necessário atentar para a grafia de palavras que
não conheça. Em caso de dúvidas, consulte o dicionário. Se não puder
fazê-lo, não hesite em substituir a palavra cuja grafia não conheça por outra
conhecida. Lembre-se: a língua portuguesa é muito rica em sinônimos.
Não se esqueça, também, de verificar se a acentuação das palavras está
conforme o Novo Acordo Ortográfico.
¾ Flexão das palavras: cuidado com a formação do plural de algumas
palavras.
¾ Concordância: lembre-se de que o verbo sempre concordará com o sujeito
e os nomes devem estar concordando entre si.
¾ Regência: fique atento à regência de verbos e nomes, sobretudo aqueles
que exigem a preposição a, a fim de não cometer erro no emprego do
acento que indica a crase.

Ao lado da correção gramatical, a revisão do texto que circula no meio profis-


sional é etapa necessária e exige tempo. Você deve explicitar bem, esclarecer com os
termos adequados caso use expressões técnicas e grafar entre parênteses o signifi-
cado de siglas, abreviações e conceitos específicos que não possam ser dispensados.

Expressões a evitar e Expressões de Uso Recomendável

1. À medida que / na medida em que


À medida que (locução proporcional) – à proporção que, ao passo que
Ex. Os preços deveriam diminuir à medida que diminui a procura.
Na medida em que (locução causal) – pelo fato de que, uma vez que
Ex. Na medida em que se esgotaram as possibilidades de negociação, o
projeto foi integralmente vetado.
Evite os cruzamentos *à medida em que, *na medida que...

2. A partir de
A partir é uma expressão que deve ser empregada preferencialmente no
sentido temporal:
Ex. A cobrança do imposto entra em vigor a partir do início do próximo ano.
Evite usar essa expressão com o sentido de ”com base em”, preferindo, nesse
caso, tomando-se por base, fundando-se em, baseando-se em.

3. Assim
Use assim após a apresentação de alguma situação ou proposta para ligá-la à
ideia seguinte.
Alterne com: dessa forma, desse modo, diante do exposto, diante disso,
consequentemente, portanto, por conseguinte, assim sendo, em consequência,
em vista disso, em face disso.

31
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

2.3 Dicas de pontuação

Sobre a vírgula

A vírgula é usada para determinar pausas breves e para delimitar orações ou


elementos de uma oração.

¾ Na língua padrão, não se pode usar vírgula entre o sujeito e o predicado,


nem entre o verbo e o objeto.

Observe:

I. Escreve-se: Minha amiga emprestou-me um livro.

II. Não se pode escrever: Minha amiga, emprestou-me um livro. ou Minha ami-
ga emprestou-me, um livro.
¾ Na língua padrão, utiliza-se a vírgula para delimitar:

I. um vocativo (Amiga, empreste-me o livro);

II. um aposto (A minha amiga, aluna dedicada, emprestou-me um livro);

III. uma enumeração (Ontem minha amiga emprestou-me os livros, o DVD e o


CD de um curso de italiano);

IV. uma expressão intercalada (Minha amiga se parece muito comigo. Ela, por
exemplo, gosta muito de ler);

V. uma oração adjetiva explicativa (Minha amiga, que sempre estudou comigo,
amanhã se mudará para outra cidade);

VI. uma oração adverbial (Caso eu necessite de algo, sei que posso contar com
a minha amiga).

Sobre o ponto

O ponto final serve para demarcar no discurso pausas mais longas entre ideias
distintas para que o acúmulo exagerado de informações não dificulte a compreensão
do leitor. É comum observar, em textos de vários gêneros, que o autor, prolongando
indevidamente uma frase sem fazer uso do ponto final, mesmo observando todas as
normas de acentuação, concordância e ortografia, gera ruído na comunicação. Mas
devemos ter cuidado para não fragmentar excessivamente o texto, mutilando ou frus-
trando o desenvolvimento das ideias.

32
2.4 Propriedades semânticas

• Sinonímia é um processo muito utilizado por falantes de uma língua. Usa-


mos um sinônimo quando não queremos repetir uma palavra a todo o mo-
mento em um texto.

Se eu disser Vá me visitar um dia na minha casa e quiser referir-me novamente


ao termo sublinhado “casa”, posso lançar mão de um sinônimo para não ter que
repeti-lo: “Vá me visitar um dia na minha casa e verá como meu lar é acolhedor.”

• Antonímia nada mais é do que palavras que possuem significados contrá-


rios, como bom e mau, dentro e fora, grande e pequeno. São palavras que
apresentam sentidos opostos, contrários entre si.

• Homonímia é a identificação fonética e/ou gráfica de palavras com signifi-


cados diferentes. Existem três tipos de homônimos:

¾ Homônimos homógrafos – de mesma grafia e significado diferente.


Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo).
¾ Homônimos homófonos – palavras com mesmo som e grafia diferente.
Exemplo: cessão (ato de ceder), sessão (atividade), seção (setor) e secção
(corte).
¾ Homônimos homógrafos e homófonos – palavras com mesma grafia
e mesmo som. Exemplo: banco (substantivo) e banco (verbo); morro
(substantivo) e morro (verbo).

• Paronímia é a semelhança gráfica e/ou fonética entre palavras.

elegível – que pode ser eleito;


ilegível – que não se consegue ler;
emergir – trazer ou vir à tona;
imergir – mergulhar em um líquido;
eminente – excelente, superior;
iminente - prestes a acontecer.

Outros exemplos de parônimos:

acender (atear fogo), ascender (subir);


acento (sinal gráfico), assento (cadeira);
acerca de (a respeito de), a cerca de (distância aproximada), há cerca de
(aproximadamente);

33
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

afim (parente), a fim (para);


ao invés de (ao contrário de), em vez de (em lugar de);
apreçar (tomar preço), apressar (dar pressa);
asado (alado), azado (oportuno);
assoar (limpar o nariz), assuar (vaiar);
à toa (ruim), à toa (sem rumo);
descriminar (inocentar), discriminar (separar);
despensa (depósito), dispensa (licença);
flagrante (evidente), fragrante (perfumoso);
incipiente (principiante), insipiente (ignorante);
incontinente (imoderado), incontinenti (imediatamente);
mandado (ato de mandar), mandato (procuração);
paço (palácio), passo (marcha);
ratificar (validar), retificar (corrigir);
tapar (fechar), tampar (cobrir com tampa);
vultoso (volumoso), vultuoso (rosto vermelho e inchado).

Usos dos porquês


Há quatro maneiras de se escrever o porquê: porquê, porque, por que e por quê:

1. Porquê – É um substantivo, por isso somente poderá ser utilizado quando for
precedido de artigo (o, os), pronome adjetivo (meu(s), este(s), esse(s), aque-
le(s), quantos(s)...) ou numeral (um, dois, três...)

Ex: Ninguém entende o porquê de tanta desconfiança. Quantos porquês exis-


tem na língua portuguesa? Existem quatro porquês.

2. Por quê – Quando usado no final de frase, deverá receber acento, não im-
portando qual seja o elemento que venha antes.

Ex: Ele não me ligou e nem disse por quê. Você está rindo de quê? Você veio
aqui para quê?

3. Por que – É usado quando há a junção da preposição por com o pronome in-
terrogativo que ou com o pronome relativo que. Para melhor compreender seu
uso, pode-se substituí-lo por: por qual razão, pelo qual, pela qual, pelos quais,
pelas quais, por qual motivo.

Ex: Por que não me disse a verdade? = por qual razão. Gostaria de saber por
que não me disse a verdade. = por qual razão

34
As causas por que discuti com ele são particulares. = pelas quais
Ela é a mulher por que se perdeu. = pela qual

4. Porque – É uma conjunção subordinativa causal ou conjunção subordinativa


final ou conjunção coordenativa explicativa, portanto liga duas orações, indi-
cando causa, explicação ou finalidade. Usa-se essa palavra quando pode ser
substituída por: já que, pois ou a fim de que.

Exemplos:
Não foi à igreja de casa, porque estava iludido. = já que
É uma falácia, porque engana a todos. = pois
Leiam, porque não se deixem enganar. = a fim de que

Emprego de onde/aonde

Onde = lugar em que/em que (lugar). Indica permanência, o lugar em que se


está ou em que se passa algum fato. Complementa verbos que exprimem esta-
do ou permanência e que normalmente pedem a preposição em.

Exemplos:
Onde estás? – Em casa.
Você sabe onde fica o Haiti?
Onde moram os pigmeus?
Não entendo onde ele estava com a cabeça quando falou isso.
De onde você está falando?
Não sei onde me apresentar nem a quem me dirigir.

Aonde = a que lugar. É a combinação da preposição a + onde. Indica movi-


mento para algum lugar. Dá ideia de aproximação. É usado com os verbos ir,
chegar, retornar e outros que pedem a preposição a.

Exemplos:
Aonde você vai todos os domingos?
Sabe aonde eles vão?
A mulher moderna sabe muito bem aonde quer chegar.
Não sei aonde ou a quem me dirijo.
Aonde nos levará tamanha discussão?
Faz três dias que saiu do HRAN, aonde deverá retornar brevemente para novos
exames.
Estavam à deriva, sem saber aonde ir.

35
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Há lugares em Brasília aonde não se deve ir sozinho.

É preciso atentar para a colocação desses termos quando complementam uma


locução verbal com o verbo auxiliar ir, que pode confundir quem escreve. É im-
portante observar que é o verbo que tem ligação com onde/aonde, qual seja, o
verbo principal (o que vem por último). É o caso desta frase:

No final do ano, antes de viajar para Natal, onde foi fazer uma palestra, a profes-
sora estava preocupada com a forma como suas palavras seriam interpretadas.

Em suma, pudemos aprender teoricamente várias dicas de gramática e de


como ler e produzir melhor os textos oficiais. Agora, é importante que você
pratique sempre e revise cada texto a fim de que entenda e aplique as regras
ao formato dos textos.

2.5 Novo Acordo Ortográfico

Com o Novo Acordo, passa a existir uma única forma para a grafia das palavras da
língua portuguesa. Isso não significa que todas as bases do Acordo imponham mudanças
no registro das palavras no Brasil, em Portugal e nos demais países de língua portuguesa.
Algumas bases ratificam modificações já efetuadas no Brasil em 1971, como a suspensão
do acento grave nas sílabas subtônicas de palavras derivadas. Ex.: café – cafezinho.

Em outros casos, como o da eliminação do trema, atinge-se apenas o registro


ortográfico no Brasil, pois este sinal já não era usado em Portugal desde 1945.

Lembremo-nos de que esse acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-


-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas
as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idio-
ma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.

SAIBA MAIS

Para maiores esclarecimentos sobre o acordo ortográfico, sugerimos as


videoaulas

Novo Acordo Ortográfico | Parte 1 [Prof Noslen] - Bing video

Novo Acordo Ortográfico - Parte 2 [Prof Noslen] - Bing video

36
O que se ganha com a adoção do Acordo Ortográfico?

A dupla grafia das palavras obrigava as editoras a publicarem edições especí-


ficas em Portugal e no Brasil. A não adoção do Acordo Ortográfico também dificultava
a inserção do português como uma das línguas oficiais da Organização das Nações
Unidas (ONU), embora ele seja uma das línguas oficiais da União Europeia e do Mer-
cosul. Além disso, dificultava o ensino de português como língua estrangeira em qual-
quer outra parte do mundo e criava empecilhos na formatação dos protocolos para os
mais diferentes navegadores da internet.

Assuntos tratados no Acordo

Entre outros aspectos, o Acordo Ortográfico trata do alfabeto, dos nomes pró-
prios, dos nomes estrangeiros e seus derivados, do h inicial e final, da homofonia
de certos grafemas consonânticos, dos ditongos, da acentuação de modo geral, do
emprego do hífen, da supressão do trema e da divisão silábica. Se não fosse a orto-
grafia, graves problemas de comunicação poderiam ocorrer em virtude das diferenças
que, no português falado, existem de uma região para outra ou de um país para outro.
Esse é o principal argumento dos que defendem um padrão ortográfico para todos os
países lusófonos, isto é, os que falam a língua portuguesa.

Em termos práticos, em instituições públicas do Brasil que mantêm constante


contato com outros países de língua portuguesa, escrever, muitas vezes, sem conhe-
cer as normas vigentes pode causar problemas de comunicação escrita.

Assim, a ortografia ganha relevância para a manutenção da qualidade dos tex-


tos formais bem como para a garantia de exposição clara das mensagens escritas.

Mudanças previstas no português do Brasil

As principais modificações no português do Brasil, que afetarão cerca de 0,5%


do léxico, são concentradas:

¾ no alfabeto;
¾ no uso do trema;
¾ no uso do acento diferencial;
¾ na acentuação dos ditongos abertos;
¾ no uso do hífen;
¾ no uso das maiúsculas e minúsculas.

No alfabeto

37
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w, e y.

O alfabeto completo passa a ser:

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ

As letras k, w e y na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicioná-


rios da nossa língua e sempre foram usadas em várias situações. Por exemplo, na es-
crita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);
e na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy,
playground, windsurf, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

O trema

Não existe mais o trema em língua portuguesa. Ele continua valendo apenas
em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Müller, mülleriano.

Atualmente, deve-se escrever: aguentar, consequência, cinquenta, quinquênio,


frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo,
linguiça.

Acentuação de ditongo aberto e acento nas terminações êem e ôo(s)

38
Os ditongos éi, éu e ói, sempre que tiverem pronúncia aberta em palavras oxí-
tonas (éi e não êi), são acentuados. Vejamos:

éi (s): anéis, fiéis, papéis

éu (s): troféu, céus

ói (s): herói, constrói, caubóis

Por sua vez, os ditongos abertos em palavras paroxítonas não são mais acen-
tuadas. Vejamos os exemplos abaixo:

Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).

COMO ERA COMO FICA

Abençôo Abençoo

Crêem (verbo crer) Creem

Dêem (verbo dar) Deem

Dôo (verbo doar) Doo

Enjôo Enjoo

Lêem (verbo ler) Leem

Magôo (verbo magoar) Magoo

Não se usa acento diferencial nos exemplos:

Ele para o carro.


Ele foi ao polo Norte.
Ele gosta de jogar polo.
Esse gato tem pelos brancos.
Comi uma pera.

Atenção!
O par pôde/pode permanece com o acento diferencial. Pôde é a forma do pas-
sado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3ª pessoa do singular.
Pode é a forma do presente do indicativo, na 3ª pessoa do singular.
Exemplo: Ontem, ele não pôde terminar o projeto mais cedo, mas hoje ele pode.

39
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Na mesma linha de procedimento, temos a manutenção do acento diferencial


em pôr/por. Pôr é verbo; por é preposição.

Exemplo: Vou pôr em discussão o parecer por mim elaborado na próxima reu-
nião do departamento.

Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter


e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir,
advir, etc.).

Exemplos:
Ele tem dois cargos. / Eles têm dois cargos.
Ele vem de Brasília. / Eles vêm de Brasília.
Ele mantém a palavra./ Eles mantêm a palavra.
Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.

É facultativa a utilização do acento circunflexo para diferenciar as palavras for-


ma/fôrma. Em algumas situações, o uso do acento dá clareza à frase, conforme po-
demos ver neste exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

Não se usa mais o acento agudo do u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui,
(eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.
Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir,
como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir, etc.
Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicati-
vo, do presente do subjuntivo e também do imperativo.

Veja:

a) Se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acen-


tuadas.
Exemplos:
¾ verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue,
enxágues, enxáguem.
¾ verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua,
delínquas, delínquam.

b) Se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas.


Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais for-
temente que as outras):

¾ verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague,


enxagues, enxaguem.

40
¾ verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua,
delinquas, delinquam.

Atenção!
No Brasil, a pronúncia mais comum é a primeira, aquela com a e i tônicos.

Uso do hífen

Vimos anteriormente que a ortografia de uma língua consiste na padroniza-


ção da forma gráfica de suas palavras para o fim de uma intercomunicação social
universalista.

Só em casos excepcionais são admitidas duas grafias para uma mesma pala-
vra (HOUAISS, 2008) – o mesmo ocorre com a acentuação gráfica, utilizada para mar-
car diferentes fonemas, ou mesmo diferenciar o significado de escrita para solucionar
possíveis inconsistências ortográficas.

Com relação ao uso do hífen, veja o quadro a seguir.

autoescola, infraestrutura, autoajuda,


VOGAIS DIFERENTES Não use hifen e junte
autoafirmação, semiaberto, semiárido

anti-inflamatório, micro-ônibus, micro-ondas,


VOGAIS IGUAIS Use hífen
auto-observação, contra-ataque

superlegal, hipermercado, intermunicipal,


CONSOANTES DIFERENTES Não use hífen e junte
superpopulação

sub-base, super-requintado, inter-relacional,


CONSOANTES IGUAIS Use hífen
super-romântico

seminovo, autoconhecimento,
VOGAL + CONSOANTE Não use hifen e junte
autodesenvolvimento,

CONSOANTE + VOGAL Não use hífen e junte hiperacidez, superintendente

antirrugas, antissocial, ultrassonografia,


VOGAL + R / S Junte e dobre o R ou o S autorretrato, minissaia, ultrarrigoroso,
corresponsável, contrarregra

41
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Para saber mais:

Vejamos como se mantém o hífen em palavras derivadas por prefixação quan-


do o segundo elemento inicia por h.

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Pré-história Pré-história

Super-homem Super-homem

Extra-humano Extra-humano

Exceção: subumano (neste caso, a palavra humano perde o h).

Ocorreu a eliminação do hífen em vocábulos derivados por prefixação, cuja


vogal final do prefixo é diferente da vogal inicial do segundo elemento.

Exemplos:

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Extra-escolar Extraescolar

Auto-escola Autoescola

Auto-estrada Autoestrada

Plurianual Plurianual

Co-editor Coeditor

Agroindustrial Agroindustrial

Semianalfabeto Semianalfabeto

Exceção: o prefixo co- aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo


quando este se inicia por o ou h. Neste último caso, corta-se o h. Se a palavra se-
guinte começar com r ou s, dobram-se as letras.

Exemplos:

Coobrigação, coedição, coeducar, cofundador, coabitação,


coerdeiro, corréu, corresponsável, cosseno.

Assim, por coerência, co-herdeiro passará a coerdeiro.

42
Atenção!
com o prefixo vice usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante, etc.

Quando o prefixo termina por vogal ou consoante, usa-se o hífen se o segundo


elemento começar pela mesma vogal ou consoante.

Exemplos:

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Antiinflacionário Anti-inflacionário

Antiintelectualismo Anti-intelectualismo

Microondas Micro-ondas

Pseudo-organizado Pseudo-organizado

Contraassinatura Contra-assinatura

Semiinternato Semi-internato

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Inter-racial Inter-racial

Inter-regional Inter-regional

Sub-bibliotecário Sub-bibliotecário

Sub-base Sub-base

Como podemos ver no segundo quadro, essa grafia já era praticada antes do
Acordo, o que reforça o fato de que este não trouxe tantas modificações para o por-
tuguês do Brasil.

Outros exemplos:

Nos demais casos, não se usa o hífen.

Exemplos:

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Contra-regra Contrarregra

Extra-regular Extrarregular

Co-seno Cosseno

43
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Reforçando:

Hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção.

¾ Com o prefixo sub-, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r:
sub-região, sub-raça, etc.
¾ Com os prefixos circum- e pan-, usa-se o hífen diante de palavra iniciada
por m, n e vogal:
circum-navegação, pan-americano, etc.

Atenção!

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Pós-graduação Pós-graduação

Ex-ministro Ex-ministro

Pré-formular Pré-formular

Pró-reitoria Pró-reitoria

Recém-empossado Recém-empossado

As exceções sobre o uso do hífen com os prefixos pre- e pro- anteriormente


apresentadas continuam válidas, pois se referem às formas átonas desses prefi-
xos, o uso do hífen continua obrigatório para as formas tônicas pré- e pró-.

Atente-se para o uso do hífen para ligar duas ou mais palavras que, ocasio-
nalmente, se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos
vocabulares.

Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.

Veja que se deve considerar a manutenção do hífen em palavras compostas por


justaposição cujos elementos constituem uma unidade semântica, mas mantêm uma
tonicidade própria e em compostos que designam espécies botânicas e zoológicas.

Observação:

Esta regra, em alguns momentos, pode causar dúvidas por não explicitar os ca-

44
sos em que a mudança deve ou não ocorrer. Como sugestão de consulta, indicamos
o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), que contém o registro da
ortografia oficial das palavras em português.

Consulte pelo link:


http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario

Atenção!

Ano-luz Segunda-feira

Arco-íris Bem-te-vi

Tio-avô Cravo-da-índia

Amor-perfeito

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Pára-quedas Paraquedas

Manda-chuva Mandachuva

Cabra-cega Cabra-cega

Toca-fitas Toca-fitas

Roda-viva Roda-viva

Girassol Girassol

Madressilva Madressilva

Eliminou-se o hífen também em palavras compostas, cuja noção de composi-


ção, de certa forma, perdeu-se.

O quadro a seguir mostra a eliminação do hífen das palavras compostas com


elemento de ligação, sejam: locuções substantivas, adjetivas, pronominais, adver-
biais, prepositivas ou conjuncionais, salvo algumas exceções de uso consagrado pela
tradição lexicográfica:

45
Curso - Produção de textos oficiais na UnB


Cão de guarda
Fim de semana
Pé de moleque
Sala de jantar
Cor de vinho
Cada um
Quem quer que seja
À parte
Acerca de
A fim de

Exceções de uso consagrado


Água-de-colônia
Arco-da-velha
Cor-de-rosa
Mais-que-perfeito
Pé-de-meia

Uso das maiúsculas e minúsculas

No que se refere à grafia de maiúsculas e minúsculas, o que comumente ob-


servamos é algo mais intuitivo que sistemático. Isso ocorre porque, de maneira geral,
acredita-se que a utilização de letras maiúsculas e minúsculas é de fácil apreensão,
o que pode causar certa confusão em textos oficiais, que primam por certa padroniza-
ção técnica. Assim, surgem várias perguntas pertinentes, entre elas:

Como grafar de forma correta as palavras governo, estado, país e município,


com letra maiúscula ou minúscula?

O que deve ser considerado para saber a correta utilização de maiúsculas e


minúsculas é o emprego dessas palavras.

¾ No caso de elas serem empregadas como substantivos comuns, devem


ser grafadas com letras minúsculas.
¾ No caso dos nomes próprios referentes a estados, cidades, municípios e
tantos outros que são designativos, estes continuam sendo grafados com
letras iniciais maiúsculas: Secretaria da Educação, Estado de São Paulo,
Brasil, Serrana, Prefeitura Municipal de Cássia dos Coqueiros, etc.

O Novo Acordo refere-se às denominações grafadas com letras maiúsculas


como nos casos a seguir.

46
¾ Nos antropônimos, reais ou fictícios: Marquês de Sabugosa; Luís da Cunha,
D. Quixote.
¾ Nos topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro; Atlântida,
Hespéria.
¾ Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor, Netuno.
¾ Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias
da Previdência Social.

Nota-se, porém, que quando esses nomes estiverem expressando conceitos


gerais serão grafados com letras minúsculas: Os institutos de aposentadorias munici-
pais e estaduais [...]; As prefeituras estão obrigadas a [...]; Os governos deveriam es-
tar mais atentos a [...]; Os municípios que apresentarem seus orçamentos até [...]; etc.

Emprego obrigatório das iniciais maiúsculas

Usam-se as maiúsculas nas seguintes situações:

1. A primeira palavra de um período ou citação:

Ex.: Quem festa faz, na sua casa está em paz.

2. Substantivos próprios:
Rafael
Minerva
Deus
Juliana
Humberto
Carolina
Jesus Cristo
Cruzeiro do Sul
Via Láctea
Terra (planeta)

Observação: no caso da palavra deus ser usada de forma genérica, essa regra
não se aplica, permanecendo o uso da inicial minúscula. Ex.: o deus pagão, a deusa
da justiça.

3. Nomes de épocas históricas, datas e fatos importantes, festas religiosas:


Idade Média
Renascimento
Idade Moderna
Romantismo
Simbolismo

47
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

4. Nomes de altos cargos e dignidades:


Papa
Presidente da República

5. Nomes de altos conceitos religiosos ou políticos:

Cristianismo
Islamismo
Protestantismo
Igreja
Estado
República

Observações:

¾ A palavra país é um nome comum. Não é o fato de se referir a Brasil que


deve levá-la a ser escrita com letra maiúscula. Ex.: Brasil, o país do futuro.
¾ Em “Estado de São Paulo”, a palavra “estado” é maiúscula. A regra não
menciona município.

Casos facultativos de uso das maiúsculas

Nomes de ruas, praças, edifícios, estabelecimentos e órgãos públicos.

Antes do acordo, era obrigatório o uso de maiúscula para nomes de logradou-


ros públicos, templos e edifícios. Agora, com o acordo, é facultativo.

Ex: Rua do Ouvidor ou rua do Ouvidor


Edifício Copan ou edifício Copan
Igreja da Lapa ou igreja da Lapa

Antes do Acordo, os nomes dos pontos cardeais eram escritos em maiúsculas;


agora não mais:

norte sul

leste oeste

Antes do Acordo, as formas de tratamento e os títulos eram escritos com


letra maiúscula, agora o uso é facultativo. No entanto, para seu uso na redação
oficial, convém utilizar letra maiúscula, como consta do Manual de redação da Pre-
sidência da República.

48
Senhor Reitor
Doutor José Pinto

Antes do Acordo, nomes de disciplinas que designam domínios do saber eram


grafados com maiúsculas; agora é facultativo.

Português ou português

Linguística ou linguística

Semiótica ou semiótica

Literatura ou literatura

Dupla grafia

É consagrada a dupla grafia para palavras escritas e pronunciadas de maneira


diferente em Portugal e no Brasil.

Exemplos:

PORTUGAL BRASIL

Facto fato

Afectar afetar

Dicção dição

Observação:

Embora ambas as grafias passem a ser dicionarizadas, não se justifica adotar


registro diferente daquele que já se usa no Brasil e em Portugal. Isso significa que, na
prática, não haverá alteração na grafia dessas palavras. O importante é reconhecer
que as duas formas são corretas. É aceita também a acentuação dupla, com acento
circunflexo no Brasil e agudo em Portugal, pois algumas palavras oxítonas, geralmen-
te de origem francesa, terminadas em -e tônico/tónico, podem ser escritas com acento
circunflexo (ê) ou acento agudo (é), pois a pronúncia delas pode ser fechada (caso do
Brasil) ou aberta (caso de Portugal).

PORTUGAL BRASIL

Académico acadêmico

Cénico cênico

Colónia colônia

Oxigénio oxigênio

Génio gênio

49
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Sujeito preposicionado... Agora não pode mesmo!

Antes do Novo Acordo, essa regra sempre causou polêmica, pois nem todos os
gramáticos subscreviam tal proibição. Evanildo Bechara, por exemplo, argumenta, em
sua Moderna gramática portuguesa (2000, p. 536- 537), que ambas as construções
são corretas e cita o uso da contração em vários escritores clássicos da língua. No
entanto, há uma cláusula do Acordo Ortográfico que adota tal proibição. Assim, a partir
da vigência do Acordo, configura erro ortográfico fazer a seguinte contração.

ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO

Eram válidas as duas formas Deixa de valer a forma contraída

Exemplo 1 Exemplo 1:

Não é fácil de explicar o fato de os (e não


Não é fácil de explicar o fato de os professo-
dos) professores ganharem tão pouco.
res ganharem tão pouco.

Não é fácil de explicar o fato dos professores


ganharem tão pouco

Exemplo 2: Exemplo 2:

É tempo de ele sair. É tempo de ele (e não dele) sair.

É tempo dele sair.

Você sabia de todas essas mudanças trazidas pelo Acordo Ortográfico? Qual ou
quais delas mais chamou sua atenção? Sugerimos que faça anotações da grafia
das palavras mais utilizadas no seu cotidiano, para sempre revisar ao escrever
seus textos.

Considerações finais

Esperamos que todo esse conhecimento linguístico tenha sido útil para que
você consiga entender as normas gramaticais dos textos. A partir disso, é possível
compreender e produzir melhor os gêneros textuais oficiais e adequá-los ao seu pró-
prio plano composicional, tema e estilo.

Sigamos para a unidade 3, em que falaremos mais da redação oficial e dos


gêneros textuais mais produtivos no ambiente sociodiscursivo da maioria dos órgãos
públicos, especificamente na UnB.

50
2.6 Leitura complementar

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portu-


guesa. 6. ed. São Paulo: Global, 2021. Disponível em: https://www.academia.org.br/
nossa-lingua/busca-no-vocabulario

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. revista, ampliada e atualizada


conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

DALEFI, R. G. et al. Enciclopédia do estudante: gramática e linguística: história,


regras e usos da língua portuguesa. São Paulo: Moderna, 2008.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Positivo Infor-


mática Ltda., 2004. [Edição eletrônica]

HOUAISS, A. Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo acordo
ortográfico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Publifolha, 2008.

MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português instrumental: de acordo com as


atuais normas da ABNT. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

SILVA, M. O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: o que muda e o que


não muda. Rio de Janeiro: Contexto, 2008.

TUFANO, D. Guia prático da nova ortografia. São Paulo: Melhoramentos, 2008.

51
Curso - Produção de textos oficiais na UnB


Unidade 3
3. TEORIA E PRÁTICA DA
REDAÇÃO OFICIAL: PADRÃO
OFÍCIO, RELATÓRIO E E-MAIL

Introdução

Espera-se que esta unidade sobre teoria e prática da redação oficial contribua,
conforme o próprio Manual de redação da Presidência da República preconiza (2018),
para a consolidação de uma cultura administrativa de profissionalização dos servi-
dores públicos e de respeito aos princípios constitucionais da legalidade, impessoa-
lidade, moralidade, publicidade e eficiência a fim de que haja melhoria nos serviços
prestados à comunidade no geral e, especificamente, à UnB.

Neste momento, praticaremos algumas redações oficiais no intuito de associarmos


teorias já vistas ao processo de compreensão e escrita dos textos administrativos oficiais.

Os conteúdos que serão vistos versam sobre as características da redação oficial


(formalidade e padronização, formas de tratamento, elementos estruturais das comuni-
cações oficiais) e exemplos de textos oficiais, tais como memorando, relatório e correio
eletrônico.

Objetivos
¾ Compreender textos da redação oficial de forma correta e adequada às
características e às funções desses gêneros textuais.
¾ Expressar-se por escrito com fluência, clareza, segurança e expressividade.
¾ Redigir textos técnicos e documentos oficiais com coesão, coerência,
respeitando a estrutura, os elementos constitutivos e as ideias básicas.
¾ Aplicar técnicas e procedimentos requeridos pela redação de uma
correspondência oficial no âmbito profissional
¾ Produzir os textos oficiais padrão ofício e e-mail formal dentro do ambiente
de trabalho.

52
3.1 Característica da redação oficial

De acordo com o Manual de redação da Presidência da República, de 2018, a


redação oficial é “a maneira pela qual o Poder Público redige comunicações oficiais
e atos normativos” (p. 16, 2018). Por causa dessa natureza oficial e pública, a lingua-
gem na redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, pelo uso do padrão
culto da língua, pela clareza, concisão, formalidade e uniformidade, conforme dispõe
o artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988:

A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Pode-


res da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
[...] (BRASIL, 2004).

O conteúdo comunicado pelos órgãos públicos – concretizado pelo servidor


público – precisa ser inteligível a todo e qualquer destinatário letrado em língua por-
tuguesa, por isso a necessidade do uso de linguagem correta gramaticalmente, clara,
com ideias precisas e pertinentes ao objetivo do texto.

É preciso observar que nesse tipo de comunicação há sempre um único emis-


sor – o serviço público –, mas o receptor dessas comunicações pode ser o próprio
serviço público, quando forem expedientes dirigidos por um órgão a outro, ou o públi-
co em geral, formado pelo conjunto dos cidadãos ou instituições. Tanto um quanto o
outro devem ser tratados de forma homogênea.

Nesse sentido, fica claro também que as comunicações oficiais apresentam ne-
cessariamente certa uniformidade. Visto que a finalidade básica da redação ofi-
cial é comunicar com impessoalidade e máxima clareza, não se pode permitir
em sua linguagem a mesma criatividade de outros gêneros textuais que circulam
socialmente.

3.1.1 Formalidade e padronização

As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é, obedecer às regras


de forma. Além das já mencionadas exigências de impessoalidade e uso do padrão
culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata
somente do emprego deste ou daquele pronome de tratamento, mais do que isso, a
formalidade diz respeito à polidez e à civilidade no enfoque dado ao assunto do qual
trata a comunicação.

53
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

A formalidade de tratamento vincula-se também à necessária uniformidade das


comunicações. Ora, se a administração federal é una, é natural que as comunicações
expedidas sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das me-
tas deste estudo, exige que se atente para todas as características da redação oficial
e se cuide, ainda, da apresentação estética dos textos.

Para isso, é necessário também o uso de papéis uniformes como suporte para
o texto definitivo e a correta configuração do texto, respeitando-se as normas especí-
ficas para cada tipo de expediente.

A padronização, portanto, faz-se necessária a fim de garantir credibilidade e boa


recepção dos textos produzidos nacionalmente nos mais diversos âmbitos e lo-
calizações geográficas dos órgãos públicos emissores. O Manual de redação
da Presidência da República é o veículo oficial que apresenta integralmente as
decisões do Poder Executivo no sentido de uniformizar e simplificar as normas
de redação de atos e comunicações oficiais. Muitos manuais de redação utiliza-
dos em órgãos públicos respaldam-se na citada publicação, principalmente no
que tange à parte da legislação nacional, porém não há uma coincidência de
padronização em todos os aspectos textuais. Na verdade, uma vez atendidas
as principais imposições legais, os órgãos públicos usufruem de autonomia na
composição de certas normas para redigir seus atos e expedientes oficiais.

Existem, portanto, quando comparados documentos de diversos órgãos, al-


gumas diferenças de diagramação ou de estrutura nos seus expedientes. Há certos
aspectos da padronização que devem ser obrigatoriamente seguidos por toda a ad-
ministração pública.

3.2 Formas de tratamento e de endereçamento

Os pronomes, como convencionados pela tradição, são os elementos linguísti-


cos que acompanham ou substituem os nomes. No contexto da redação oficial,
merecem especial atenção os denominados pronomes de tratamento, que
conferem essa função em razão do modo como devem ser tratados os interlo-
cutores das correspondências oficiais. No uso desses pronomes, alguns aspec-
tos devem ser considerados adequados, entre os quais: formalidade, regra de
concordância e emprego.

Vejamos as novidades do Decreto nº 9.758, de 11 de abril de 2019, que dispõe


sobre a forma de tratamento e de endereçamento nas comunicações com agentes
públicos da administração pública federal:

a) A tabela dos pronomes de tratamento, disponibilizada no Manual da Presidên-


cia (2018, p. 23-24), torna-se sem efeito.

54
b) Doutor não é considerado forma de tratamento, e sim título acadêmico.
Nesse caso, deve-se utilizar o tratamento “Senhor”.

c) O manual da presidência já dispensava a utilização de “ilustre”, “ilustríssimo”,


“digno” ou “digníssimo”, “respeitável” ou “doutor”. Agora, este decreto am-
pliou para “Vossa Excelência”, “Vossa Senhoria”, “Excelentíssimo Senhor”,
“Vossa Magnificência”. Em todos os casos, deve-se utilizar apenas o trata-
mento “senhor”.

Assim, a formalidade e a ética referem-se às relações de simetria e de assi-


metria entre os interlocutores da ação verbal, isto é, às relações entre papéis sociais
desempenhados pelos sujeitos discursivos independentemente da função ocupada
pelos sujeitos com os quais se correspondem no âmbito das instituições.

Nesse sentido, há de se preservar o respeito pelos cargos, não sendo considerado,


portanto, o grau de relacionamento pessoal entre os interagentes, e sim o de formalidade.

Em qualquer um dos níveis hierárquicos (superior, inferior ou de mesmo ní-


vel), outro aspecto está relacionado intrinsecamente à formalidade: a ética, entendida
como padrão de comportamento adequado em relação a quem se dirige.

Assim sendo, é esperado, pelas regras de formalidade, que um servidor se


dirija a seu superior, seja esse imediato ou mediato, com a correta atitude formal que
a instituição exige. Da mesma forma, os superiores devem se dirigir aos seus colabo-
radores com adequação de tratamento, não sendo tolerados menosprezos ou descor-
tesias em nome de uma pseudossuperioridade pessoal.

Esses dois aspectos — formalidade e ética — manifestam-se no texto escrito,


entre outras escolhas, na seleção e no emprego adequado da forma de trata-
mento, que implicam, por sua vez, uma relação de concordância verbal.

No processo interacional, mesmo que o emissor de uma correspondência ofi-


cial seja a primeira pessoa gramatical e se dirija a um interlocutor — que, em tese, se
trata da segunda pessoa gramatical (a quem se dirige a mensagem) —, a concordân-
cia nominal, verbal e pronominal deve se relacionar com a terceira pessoa gramatical,
pois a forma verbal concorda com o substantivo que compõe a locução pronominal.
Esse modo de expressão é um dos componentes que conferem ao discurso oficial o
princípio da impessoalidade, tendo em vista que garante a “distância” formal necessá-
ria entre os sujeitos institucionais envolvidos na comunicação.

Logo, quando for de sexo feminino, preserva-se, do mesmo modo, a forma mar-
cada do gênero gramatical. Do ponto de vista da Linguística, o masculino em “o” é a
forma não marcada, e o feminino em “a” é a forma marcada.

55
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Exemplo:

A senhora Senadora foi convidada para o cargo.

O vocativo

O vocativo é um termo gramatical empregado pelo emissor para dirigir-se ao


seu interlocutor, solicitando a sua atenção. Para qualquer cargo, o vocativo utilizado é:

Senhor + cargo

¾ Senhor Presidente da República,


¾ Senhor Presidente do Congresso Nacional,

ou Senhor + nome

¾ Senhor Ricardo de Souza e Silva

No envelope da correspondência constará:

Ao Senhor

Ricardo de Souza e Silva


Rua Do Comércio, nº 01
CEP – Monte Sião, MG

Os pronomes de tratamento senhor e senhora foram unificados e padroniza-


dos — após o Decreto nº 9.758, de 11 de abril de 2019 — para se referirem a todos os
cidadãos, independentemente da hierarquia e do título acadêmico que tenham, salvo
o caso dos doutores com titulação, que podem ser tratados por doutor e doutora,
e dos bacharéis em direito e em medicina, para os quais já se convencionaram tais
formas de tratamento.

As exceções estão transcritas no art. 1º, §3º, que determina que essa regra não
se aplicará:

56
I - às comunicações entre agentes públicos federais e autoridades estrangeiras
ou de organismos internacionais; e
II - às comunicações entre agentes públicos da administração pública federal e
agentes públicos do Poder Judiciário, do Poder Legislativo, do Tribunal de Con-
tas, da Defensoria Pública, do Ministério Público ou de outros entes federativos,
na hipótese de exigência de tratamento especial pela outra parte, com base em
norma aplicável ao órgão, à entidade ou aos ocupantes dos cargos.

3.3 Outros elementos estruturais das comunicações oficiais:


fechos das correspondências, identificação do signatário e
gêneros

3.3.1 Fechos para as comunicações

Além da função estrutural de conferir o fechamento da informação, esse ele-


mento tem a função de saudar o interlocutor para a qual a correspondência está sendo
enviada. Para simplificar as diversas maneiras de registro do fechamento, o Manual
de redação da Presidência da República simplificou para dois modos, a depender da
relação hierárquica entre os interlocutores:

I. Para autoridades de cargos hierarquicamente superiores ao do emissor, usa-se:


Respeitosamente
II. Para autoridades de cargos hierarquicamente inferiores ou de mesma hierar-
quia que o emissor, usa-se: Atenciosamente

3.3.2 Identificação do signatário

Com exceção das comunicações assinadas pelo presidente da República, a


identificação do signatário deve seguir o mesmo padrão nas demais correspondên-
cias oficiais e ficar na mesma página do texto-expediente: (espaço para assinatura)

Nome

Cargo que ocupa

57
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

3.4 Gêneros da redação oficial

Antes de começarmos a estudar em sua detalhada configuração, formatação e


funcionalidade cada um dos gêneros textuais da escrita circulantes no nosso ambien-
te de trabalho, retomemos rapidamente o que entendemos por práticas de letramento
e a relação dessas práticas com os gêneros.

A noção de práticas de letramento está intrinsecamente relacionada ao con-


ceito de práticas sociais. Entendemos que estas dizem respeito ao conjunto de há-
bitos e atitudes que envolvem valores, ética, leis e outras formas de regulação para
a organização social. Por seu turno, aquelas se referem ao uso das modalidades
linguísticas que devem garantir a construção dos sentidos na comunicação entre os
interlocutores de qualquer situação interacional. Agora, vamos compreender esses
conceitos no nosso contexto de trabalho, considerando os gêneros textuais do nos-
so cotidiano laboral.

Comecemos pelas práticas sociais. Sabemos que realizar uma reunião, por
exemplo, constitui uma das inúmeras práticas sociais que envolvem o uso formal
da língua, desde a preparação até a finalização do evento. Esse “uso” manifesta-
se na escrita em diversas configurações textuais ou gêneros textuais, que são
a convocatória, a pauta, os documentos apresentados no momento, a lista de
presença, a ata. Portanto, a prática social reunião contempla ações mediadas
pela linguagem, as quais devem ser entendidas por todos, ocorrendo o que
denominamos de prática de letramento.

A ação de despachar documentos constitui outra prática institucional que tam-


bém contempla a utilização de gêneros sociais envolvendo práticas de letramento: a
leitura de cada documento e a compreensão da informação para posterior deliberação.

Para uma visualização mais eficaz das relações entre prática social, prática
de letramento e gênero textual no domínio discursivo da Universidade, vejamos o
quadro a seguir.

58
SITUAÇÕES DE USO DE GÊNEROS TEXTUAIS NA UNIVERSIDADE

Reuniões diversas
Convocatórias/convites
Pautas de reunião
Exposições multimodais (slides)
Despacho de documentos
Elaboração de documentos diversos
1. Uso frequente Identificação (visitante)
de multimodalidade Realização de cadastro
linguística Elaboração de projeto e de planos de trabalho
Solicitar, requerer
2. Uso predominante de Informar, determinar
língua escrita Encaminhar
Comunicar algo por meio de:
• Memorando
• Ofício
• Requerimento
• Aviso
• Ata

Vamos estudar alguns desses gêneros de acordo com as normas técnicas, lem-
brando que devemos seguir algumas normas específicas da Universidade, uma vez
que determinados setores devem antes passar pelas instâncias imediatamente supe-
riores para conhecimento e concordância. Por exemplo, quando o Gabinete do(a) Rei-
tor(a) encaminha documento para ser respondido por um departamento, esse docu-
mento passará antes pelo instituto do departamento, sendo o endereçamento: “Para
[departamento], via [instituto]”. Atente-se também que na UnB se adotam as iniciais
maiúsculas no registro de cargos e funções. Por exemplo: Professor Fulano de Tal;
Assistente em Administração; Diretor do...

3.5 Atos de correspondência

Atos ordinários que visam a disciplinar o funcionamento da administração e a


conduta funcional de seus agentes. Os atos de correspondência são atos de comu-
nicação com um destinatário declarado, podendo ter natureza individual ou pública.

A nova edição do Manual da Presidência da República aboliu a distinção entre


Memorando, Ofício e Aviso, que se diferenciavam de acordo com a finalidade, e pas-
sou a utilizar o termo ofício nas três hipóteses. Contudo, como nossas Normas para
Padronização de Documentos ainda estão na primeira edição (2011), mantivemos a
distinção entre eles.

Compreendem os seguintes gêneros:

59
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Alvará, aviso, edital, comunicado, despacho; carta, exposição de motivos, intimação,


manifesto, memorando, mensagem, nota-ministerial, notificação, relatório, telegrama,
correio eletrônico, fax, nota técnica, dentre outros.

3.5.1 Memorando

O Memorando é um texto oficial que o Manual da Presidência extinguiu em


2018, mas que ainda consta no Manual da UnB de 2011. Portanto, decidimos mantê-lo
também em nosso material didático.

Trata-se de um meio de correspondência interna, utilizado entre unidades para


dar ciência, fazer solicitações, encaminhamentos, recomendações ou esclarecimen-
tos. Seu texto deve ser conciso, objetivo e claro. Dispensa formalidades, mas exige
atenção na elaboração, pois visa à comunicação simples e ágil entre as instâncias
administrativas.

Quanto mais claro e preciso o texto, mais rápido e efetivo o resultado. Compe-
tências: reitor, vice-reitor, decano, dirigente de unidades acadêmicas e administrativas,
centro, órgão complementar, diretoria, chefe de departamento, assessoria, secretaria,
demais órgãos da UnB e servidores autorizados.

Apresenta múltipla funcionalidade, pois se presta a tratar de assuntos admi-


nistrativos, projetos, diretrizes e providências a serem tomadas pelos setores compe-
tentes. Objetiva, do ponto de vista prático, que determinado assunto seja tratado com
brevidade. O memorando segue o formato da estrutura do padrão ofício, devendo o
destinatário ser mencionado pelo cargo que ocupa.

60
Exemplo de memorando

61
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

3.5.2 Ofício
Conforme as Normas de Padronização de Documentos da UnB, “é a corres-
pondência utilizada para tratar de assuntos administrativos, destinada a outros ór-
gãos públicos e privados e a pessoas em geral”. (p. 17, 2011). Vejamos um exemplo:

62
3.5.2.1 Partes estruturais do padrão ofício

Indicação do gênero e do número do expediente, seguida do órgão expedidor:

Exemplo:
Mem. n. 12/2013/ UnB Of. n. 12/2013/ UnB

Local e data à direita do documento:


Exemplo: Brasília, 24 de março de 2016

Assunto informado de forma resumida:


Exemplo: Assunto: Dados para o Relatório CPA 2012

Destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida a correspondên-


cia. No ofício, inclui-se também o endereço.

Corpo do texto:

A informação do texto pode vir em um único parágrafo, para encaminhamento


de documentos, ou pode ser apresentada na estrutura de um texto dissertativo.

Quando o expediente tem o objetivo de encaminhar documentação, a redação


do texto pode ser iniciada de dois modos

1. fazendo referência ao que foi solicitado em outro documento recebido


pela repartição, como em:

Em atendimento à solicitação do Ofício nº 12/2015, de 24 de novembro


de 2015, encaminho, anexo, o documento que trata de XXXXXXXXX

2. encaminhando documento para apreciação e parecer, como em:

Encaminho, para apreciação e parecer, proposta de aquisição de equipa-


mentos XXXXXXXX

Quando o expediente tratar de assunto que exija maior detalhamento, a estru-


tura do corpo do texto segue aquela de um texto padrão, cujas partes são constituídas
por introdução, desenvolvimento e conclusão.

A introdução, que também constitui o parágrafo de abertura, como o próprio


nome indica, apresenta de forma clara e objetiva o assunto a ser tratado. Note-se que
se trata de texto oficial.

O desenvolvimento, parte em que o assunto é detalhado, deve ser redigi-

63
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

do com base também nos princípios da objetividade e da clareza na exposição das


ideias. Por isso, a lógica da organização deve contemplar a própria estrutura que o
assunto exige: se houver mais de uma ideia abordada, recomenda-se que cada uma
seja comentada em parágrafos distintos para garantir clareza na exposição.

A conclusão, como configurada tradicionalmente, retoma ou apresenta a posi-


ção do emissor sobre o assunto abordado.

3.5.2.2 Formato da diagramação do ofício padrão

Antes de falarmos sobre a diagramação do ofício padrão, é importante desta-


car que o SEI, atualmente, disponibiliza os padrões de diversos documentos oficiais.
Assim, basta selecionar o tipo de documento adequado para determinado contexto
administrativo e seguir as orientações lá dispostas.

O SEI, sistema produzido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e


disponibilizado por meio de Acordo de Cooperação Técnica junto ao Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP), foi implementado na UnB
em 16 de maio de 2016. Permite a produção, edição, assinatura e trâmite de
documentos em processo no âmbito da Universidade de Brasília.

A adoção de sistemas digitais de tramitação de documentos é tendência em


expansão na administração pública brasileira, prevista em legislação específica,
e tem promovido economia de tempo e recurso, segurança na tramitação,
transparência e agilidade em seus processos.

Nesse sentido, veja como aparece no SEI o Ofício. Observe que o modelo dis-
ponibilizado pelo SEI ainda não está atualizado conforme o Decreto 9.758/2019, no
que se refere ao pronome de tratamento.

64
Fonte: SEI/UnB, 2020.

A diagramação do ofício padrão deve apresentar a seguinte formatação:

1. a fonte utilizada é UnB Office ou Arial, de tamanho 12, no corpo do texto, 11,
nas citações, e 10, nas notas de rodapés;

2. os símbolos utilizados, quando não existirem na fonte recomendada, podem


ser das fontes Symbol e Wingdings;

3. as páginas são numeradas obrigatoriamente a partir da segunda;

4. os textos dos ofícios, dos memorandos e dos anexos (quando for o caso),
poderão ser impressos no verso e no anverso, respeitando-se as margens nas
duas faces do papel.

5. as margens os espaçamentos devem seguir as seguintes orientações:

¾ 2,5 cm de distância da margem da esquerda para o início de cada parágrafo;


¾ 3,0 cm de distância para a margem lateral da esquerda;
¾ 1,5 cm de distância para a margem lateral da direita;
¾ espaçamento simples entre as linhas e seis pontos;

6. destaques no texto, como negrito, itálico, sublinhado ou qualquer outro que


não seja de importância devem ser evitados;

7. o papel indicado para a impressão dos documentos é o de tamanho A4, que


apresenta as dimensões 29,7 cm x 21 cm;

65
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

8. o tipo de arquivo Rich Text é o mais recomendado;

9. o arquivo do texto deve ser preservado para consultas ou para reaproveita-


mento de trechos em textos análogos;

10. os nomes dos arquivos devem ser formados, observando-se as seguintes


referências: tipo de documento + número do documento + palavras-chave.

3.5.3 Relatório

É a narração expositiva dirigida a algum superior hierárquico de um fato, evento


ou atividade executada, com descrição dos seus principais aspectos, relativa a situa-
ções de serviço, a resultados de exames, eventos, cursos, projetos, programas, etc.
O relatório deverá ser encaminhado por meio de memorando (quando interno) ou por
ofício (quando externo).

Na Universidade de Brasília, esse documento é elaborado pelas unidades aca-


dêmicas, pelos decanatos, pelos centros e pelos órgãos complementares, como tam-
bém, de forma individual, pelos docentes e pelos servidores a fim de cumprirem exi-
gências legais para progressão ou conclusão de estágio probatório.

3.5.3.1 Estrutura do relatório

Título: RELATÓRIO ou RELATÓRIO DE...

Texto: registro em tópicos das principais atividades desenvolvidas, podendo


ser indicados os resultados parciais e totais, com destaque, se for o caso,
para os aspectos positivos e negativos do período abrangido. O cronograma
de trabalho a ser desenvolvido, os quadros, os dados estatísticos e as tabe-
las poderão ser apresentados como anexos.

Local e data

Assinatura e função ou cargo do(s) funcionário(s) relator(es).

Fecho

Nome do emitente e cargo.

66
Outra recomendação de estrutura

Abertura

Sumário, em que são indicadas as partes que compõem o relatório.

Introdução, em que se enuncia o objeto e o objetivo do relatório.

Desenvolvimento, em que se relata os fatos que são objeto do relatório e a


metodologia utilizada.

Conclusão

Recomendações

Apêndices e anexos

Referências

Podem-se obter recomendações mais específicas e detalhadas so-


bre relatório técnico-científico consultando-se a NBR 10719/1989 da ABNT
(http://www.jvasconcellos.com.br/fat/FAT_TI/wp-content/uploads/2013/07/NBR-
10719-2011.pdf), que sugere a seguinte estrutura:

Os elementos que integram as três partes fundamentais do relatório técnico-


-científico devem ser apresentados na seguinte ordem:

a) Pré-Texto:

• capa (primeira e segunda, isto é, frente e verso);


• folha de rosto (ou ficha de identificação do relatório);
• prefácio (apresentação);
• resumo;
• lista de símbolos, unidades, abreviaturas etc.;
• lista de ilustrações;
• sumário.

b) Texto:

• introdução;
• desenvolvimento;
• conclusões e/ou recomendações.

67
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

c) Pós-Texto:

• anexos;
• agradecimentos;
• referências bibliográficas;
• glossário;
• índice(s);
• ficha de identificação do relatório;
• lista de destinatários e forma de acesso ao relatório;
• terceira e quarta capas.

3.5.4 Correio eletrônico – e-mail

O correio eletrônico não é mencionado nas Normas para padronização de do-


cumentos da UnB (2011). Portanto, o referencial teórico é oriundo do Manual da Pre-
sidência da República (2018, p. 46-48).

O e-mail (correio eletrônico) pode ser considerado gênero textual (documento


oficial), endereço eletrônico (institucional) ou sistema de transmissão de mensagem
eletrônica (envio e recebimento de documentos na administração pública).

Para que o e-mail tenha valor documental, é necessário que haja certificação
digital, que atestará a identidade do remetente, na forma estabelecida em lei.

É um dos meios mais utilizados atualmente em comunicações informais, mas


também nas oficiais que não exijam confirmação de assinatura. Em se tratando
de modalidade oficial, deve primar pela linguagem formal tanto quanto em qual-
quer outro gênero oficial. O campo “Assunto” e, se houver, o(s) arquivo(s) ane-
xado(s) sempre deve(m) ser preenchido(s) com uma frase ou termo informativo
e sintético para facilitar a organização no seu armazenamento .

O correio eletrônico deve ser iniciado com uma saudação e o vocativo apropria-
do para cada interlocutor. O fecho padrão é a palavra “Atenciosamente”

É igualmente importante acrescentar uma assinatura eletrônica no seu e-mail


institucional com seus dados profissionais, tais como nome completo, cargo, unidade,
órgão e link para curriculum lattes (se for o caso).

Recomendações do Manual da Presidência da República (2018, p. 48)

68
Exemplo de e-mail formal adequado

69
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Exemplo de e-mail inadequado

Depois de finalizada esta Unidade, vamos refletir: quais desses gêneros você
mais utiliza em seu local de trabalho? E os documentos, estão sendo elabora-
dos segundo as normas de redação oficial?

Considerações finais

A textualidade é a característica estrutural das atividades sociocomunicativas (e


também linguísticas); é ela que faz com que um texto seja considerado como tal. Todo
enunciado porta sempre uma função comunicativa e apresenta certa conformidade tex-
tual. As condições de textualidade que definirão a que gênero textual pertence o texto
em questão.

Portanto, a depender da situação sociocomunicativa, das práticas sociais nas


quais você está inserido, na rotina do seu trabalho, você será demandado a produzir
determinado gênero textual.

Um texto não é um conjunto aleatório de palavras ou de frases. O texto só faz


sentido se houver uma pretensão comunicativa (um propósito comunicativo); um inter-

70
locutor (parceiro), pois consiste atividade social da comunicação; uma orientação temá-
tica (tema, tópico, ideia central, núcleo semântico).

Nesse sentido, esperamos que você esteja apto a produzir ao menos os gêneros
textuais: memorando, padrão ofício, relatório e correio eletrônico no âmbito profissional.

Sigamos para a unidade 4, na qual veremos mais textos oficiais.

3.6 Leitura complementar

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Manual de redação. Brasília:


Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2004a.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: texto


constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas
Emendas Constitucionais n. 1/92 a 44/2004 e pelas Emendas Constitucionais de Revi-
são n. 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004b.

______. Decreto nº 9758, de 11 de abril de 2019. Dispõe sobre a forma de tratamento


e de endereçamento nas comunicações com agentes públicos da administração pública
federal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9758.htm

______. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República.


3. ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2018.

______. Universidade de Brasília. Normas para padronização de documentos da


Universidade de Brasília. 1. Ed. Brasília: Editora da UnB, 2011.

DISTRITO FEDERAL (Brasil). Tribunal de Contas do Distrito Federal. Manual de reda-


ção oficial. Brasília: DIPLAN, 2003.

FERRAZ, J. A.; RIBEIRO, O. M.; ALVES, S. B. Análise e produção textual de outros


gêneros administrativos. Brasília: CEAD/UnB, 2009.

HOUAISS, A. (Ed.). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. [S.l.]:


Objetiva, 2001. 1 CD-ROM. Versão 1.0.

KASPARY, A. J. Redação oficial: normas e modelos. Porto Alegre: Edita, 2003.

MEDEIROS, J. B. Manual de redação e normalização textual: técnicas de editoração


e revisão. São Paulo: Atlas, 2002.

______. Correspondência: técnicas de comunicação criativa. 18. ed. São Paulo: Atlas,
2006.

NEY, J. L. Prontuário de redação oficial. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.

TOMASI, C.; MEDEIROS, J. B. Comunicação empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.


71
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Unidade 4

4. TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO


OFICIAL: ATA E INSTRUÇÃO
Introdução

Vamos continuar conhecendo novos gêneros oficiais? Conheceremos agora


alguns atos de assentamento (apostila, ata, auto de infração e termo) e veremos tam-
bém um documento normativo: a instrução.

Objetivos

¾ Compreender textos da redação oficial de forma correta e adequada às


características e às funções desses gêneros textuais.
¾ Expressar-se por escrito com fluência, clareza, segurança e expressividade.
¾ Redigir textos técnicos e documentos oficiais com coesão, coerência,
respeitando a estrutura, os elementos constitutivos e as ideias básicas.
¾ Aplicar técnicas e procedimentos requeridos pela redação de uma
correspondência oficial no âmbito profissional
¾ Produzir os textos oficiais ata e instrução dentro do ambiente de trabalho.

4.1 Atos de assentamento

Compreendem os seguintes gêneros: Apostila, Ata, Auto de infração, Termo.


A seguir, veremos alguns deles.

4.1.1 Ata

Você já percebeu o quanto usamos o resumo escrito e oral no cotidiano e nas


atividades profissionais?

Assim, a ata é um documento em que deve constar um resumo por escrito,


detalhando os fatos e as resoluções a que chegaram as pessoas convocadas a par-

72
ticipar de uma assembleia, sessão ou reunião. O verbo que designa o ato de redigir
uma ata é “lavrar”. Uma das funções principais da ata é historiar, traçar um painel dos
fatos e vozes que se manifestaram em uma reunião, podendo ser utilizada em uma
empresa, associação, instituição. Serve como documento para consulta posterior, ten-
do caráter obrigatório em situações de decisões nos departamentos e nos colegiados.

Por tratar-se de um documento, a ata deve seguir algumas normas específicas.


Deve ser escrita à mão, no momento da realização do evento. Em algumas situações
há um livro especial, com as páginas numeradas e rubricadas, que deve conter termo
de abertura e encerramento. A pessoa indicada para numerar e rubricar as páginas do
livro, normalmente um secretário, deverá também redigir o termo de abertura. Será que
você já foi essa pessoa no seu serviço? Confira a seguir as normas de escrita da ata.

4.1.1.1 Estrutura da ata

De acordo com as Normas para padronização de documentos da Universidade


de Brasília:

A ata deve ser digitada em espaço simples (espaço 1), sem parágrafos nem
espaços vazios e conter: número sequencial, data, local, horário em que teve início
(todos por extenso); nome do presidente, dos membros presentes e dos convidados,
dos membros com ausência justificada, assuntos discutidos e respectivas delibera-
ções. No fecho deve ser identificado o horário em que foi encerrada a reunião, com
espaço para assinatura de quem redigiu, seguido do nome (por extenso). Em seguida
vem o nome do presidente e dos demais membros presentes (em ordem alfabética),
os quais assinarão a ata, caso seja essa a opção do todo. O número de reunião ordi-
nária é sequencial e deve ser escrito por extenso. Por exemplo:

Ata da Quingentésima Décima Primeira Reunião Ordinária do Colegiado

Importante:

respeitada a tolerância regimental para quórum, deve ser exarada ata de reu-
nião ordinária que não se realizou por falta de quórum nos mesmos moldes das
ocorridas. Reunião extraordinária não tem número. É identificada pela data em
que foi realizada.

73
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Deve conter:

Título: ATA, seguido do respectivo número da reunião ou sessão.

Texto, incluindo:

a) preâmbulo – registro da situação espacial e temporal e participantes;

b) registro dos assuntos abordados e de suas decisões, com indicação das


personalidades envolvidas, se for o caso; e

c) fecho – termo de encerramento com indicação, se necessário, do redator,


do horário de encerramento, de convocação de nova reunião etc.

Assinaturas

Exemplo:

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Nome da unidade/centro/órgão complementar

ATA DA QUADRINGENTÉSIMA NONAGÉSIMA QUINTA (495ª) REUNIÃO


ORDINÁRIA DO(A) [nome do Conselho ou Colegiado] DA UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA [ou do órgão], realizada aos trinta e um dias do mês de novembro do ano de
dois mil e dez, às quatorze horas e vinte e cinco minutos, no(a) [local da reunião], com
a presença dos Conselheiros: [nome do Presidente ou do dirigente da reunião, seguido
dos nomes dos demais Conselheiros presentes, em ordem alfabética, separados por
vírgula; indica-se a condição dos membros, se titular ou suplente]. Foi justificada a
ausência dos Conselheiros [nomes, separados por vírgula; indica-se a condição deles
– se titular ou suplente]. Também estiveram presentes os convidados [nome e respec-
tivos cargos]. Aberta a sessão, o Presidente procedeu aos seguintes informes: 1. ---; 2.
---. Dando início à ordem da pauta, foram analisados os seguintes itens: PARA EXAME
E DELIBERAÇÃO – 1) Ata da Quadringentésima Nonagésima Quarta (494ª) Reunião
Ordinária, realizada no dia 5 de agosto de 2011. Deliberação: aprovada. 2) Circular
MRT n. 002/2010, encaminhando cópia do Ofício n. 003/2010, da Secretaria tal, do
Ministério tal, referente à meta do Governo para contenção de gastos não previstos
no orçamento anual. Com a palavra, o Relator, Conselheiro [nome do Conselheiro],
procedeu à leitura do seu parecer (original anexo a esta ata e cópia no processo e no
dossiê desta reunião), no qual constam questionamentos e sugestões. Deliberação: o
Conselho tomou conhecimento do teor do Ofício e deliberou que os Centros de Custo
da UnB deverão priorizar as atividades inadiáveis, considerando a disponibilidade de
recursos financeiros. 3) ... 4) ... Nada mais havendo a tratar, às dezoito horas e dez
minutos, o Presidente deu por encerrada a reunião, da qual eu, [local destinado à
assinatura de quem redigiu a ata, seguida do nome, por extenso], Secretário(a) [ou
Secretário ad hoc, caso não tenha cargo oficial] do Conselho tal, lavrei a presente Ata,
que, depois de lida e aprovada, será subscrita pelo Presidente e pelos Conselheiros
presentes.

Fulano Beltrano Cicrano


Presidente Membro Membro

74
4.1.2 Termo

Termo: Registro de toda declaração, escrito e autenticado. É essencial à efetivação


dos atos de nomeação. Caso não seja lavrado e assinado, o ato não produz efeitos legais.

É o documento que relata, objetivamente, as discussões, as propostas e as de-


liberações ocorridas em reuniões dos conselhos superiores da FUB e da UnB, das câ-
maras, dos conselhos, das unidades acadêmicas e administrativas, dos centros e dos
órgãos complementares, dos colegiados dos departamentos e de eventos que exijam
registro. Competências: secretário do respectivo conselho ou colegiado, ou aquele
designado para tal. É assinada pelo(a) presidente, por quem a redigiu, e também pe-
los membros presentes à reunião. Viu como é importante conhecermos o termo para
melhorar nossa prática profissional no ambiente de trabalho?

4.1.3 Auto de infração

O auto de infração é o documento por meio do qual uma pessoa ou empresa é


notificada acerca de uma ou mais infrações que tenha cometido. Esse é o tipo de texto
que ninguém quer receber, né? Sabemos que temos direitos, mas também diversos de-
veres. Portanto, é importante respeitarmos para sermos respeitados também. Às vezes
também cometemos essas infrações por descuido ou falta de atenção.

Auto de infração

Infração: substituir o uso de saco plástico de lixo e de sacola plás-


tica pelo uso de saco de lixo ecológico e de sacola ecológica, após
notificação no___________ , de

DLT: art.1º da Lei nº 9.529/2008, regulamentada pelo art. 1º do De-


creto 14.367/2011.

Penalidade: Multa de R$______ , de acordo com o art. 4º da Lei nº


9.529/2008, regulamentado pelo art. 6º do Decreto nº 14.367/2011.

Prazo para pagamento da multa: 30 dias.

Prazo para recurso: 15 dias.

Local, data e hora

Fonte: http://www.fiscaldeposturas.com.br/municipal/2011/06/15/termos-fiscais-relativos-
-ao-uso-de-sacola-plastica/

75
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

4.2 Documento normativo: instrução

A Instrução é o “instrumento que divulga decisões administrativas, disciplina


procedimentos de determinado assunto administrativo, faz recomendações de inte-
resse geral nas respectivas áreas de competência.” (p. 16, 2011). São competentes
para a emissão deste documento: Vice-Reitor, Decano, Dirigente de Unidades Aca-
dêmica e Administrativa, Centro, Órgão Complementar, Diretoria e Chefe de Departa-
mento e de Secretaria. Também pode ser emitido pela Reitoria, mas nos deteremos
no exemplo de Instrução emitida pelos demais agentes públicos da UnB (p.49, 2011).

06/08/2021 SEI/UnB - 3454508 - Instrução

Boletim de Atos Oficiais da UnB em


31/01/2019

INSTRUÇÃO DO(A) BIBLIOTECA CENTRAL Nº 002/2019

Regulamenta e dispõe os
procedimentos para doações
espontâneas da comunidade
acadêmica e usuários externos do
Sistema de Bibliotecas da
Universidade de Brasília (SiB-UnB).

O diretor da Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE), no uso de suas atribuições conferidas
pelo Art. 40 do Regimento Geral da UnB, considerando a polí�ca de formação e desenvolvimento de
acervos do SiB-UnB, o papel da comunidade acadêmica, usuários externos e a natureza do acervo
impresso de uma biblioteca universitária,

INSTRUI:

Art. 1º O Sistema de Bibliotecas da Universidade de Brasília (SiB-UnB) tem interesse em receber como
doação espontânea e livre de ônus, obras que possam enriquecer seu acervo enquanto biblioteca
universitária para todos os suportes de informação u�lizados, tais como, por exemplo, livros
universitários, revistas cien�ficas, história em quadrinhos (HQs), filmes, discos de vinil e obras que
contribuam para as a�vidades de ensino, pesquisa e extensão, enriquecendo o acervo da Biblioteca
Central e das bibliotecas setoriais. A doação ocorrerá de acordo com as seguintes determinações:

CAPÍTULO I
DAS OBRAS

Art. 2º Todas as obras ofertadas em doação devem ser iden�ficadas pelo doador ou seu representante e
conter ao menos informações sobre autor, �tulo, editora, ano e ISBN.
Art. 3º O SiB-UnB não recebe, em hipótese alguma: doações sem iden�ficação; caixas fechadas; apos�las,
material para concursos, cópias de livros, obras não-adequadas à missão do SiB-UnB e doações em
comodato ou modalidade similar.
Art. 4º Caso o doador deseje doar mais que cem (100) itens diferentes, deve-se entrar em contato com o
Setor de Seleção e Aquisição para agendar uma visita de pré-avaliação das obras no local onde se
encontram.

CAPÍTULO II
DOAÇÕES RECOMENDADAS, DE AUTORES, PROJETOS E HERANÇAS

Art. 5º O SiB-UnB demonstra seu interesse em receber como doação obras importantes para as
a�vidades de ensino, pesquisa e extensão e obras cujos autores fazem parte da comunidade acadêmica
da UnB e/ou sociedade de Brasília e região bem como obras financiadas por projetos e editais públicos.
As doações devem seguir o disposto no Capítulo I desta Instrução Norma�va e poderão ser:
https://sei.unb.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=3892516&infra_sistema=… 1/3

76
4.3 Leitura complementar

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Manual de redação. Brasília:


Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2004a.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: texto


constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas
Emendas Constitucionais n. 1/92 a 44/2004 e pelas Emendas Constitucionais de Revi-
são n. 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004b.

BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República.


3. ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2018.

DISTRITO FEDERAL (Brasil). Tribunal de Contas do Distrito Federal. Manual de reda-


ção oficial. Brasília: DIPLAN, 2003.

FERRAZ, J. A.; RIBEIRO, O. M.; ALVES, S. B. Análise e produção textual de outros


gêneros administrativos. Brasília: CEAD/UnB, 2009.

HOUAISS, A. (Ed.). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. [S.l.]:


Objetiva, 2001. 1 CD-ROM. Versão 1.0.

KASPARY, A. J. Redação oficial: normas e modelos. Porto Alegre: Edita, 2003.

MEDEIROS, J. B. Manual de redação e normalização textual: técnicas de editoração


e revisão. São Paulo: Atlas, 2002.

_______. Correspondência: técnicas de comunicação criativa. 18. ed. São Paulo:


Atlas, 2006.

NEY, J. L. Prontuário de redação oficial. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.

TOMASI, C.; MEDEIROS, J. B. Comunicação empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.

77
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Unidade 5

5. TEORIA E PRÁTICA DA REDAÇÃO


OFICIAL: ATO E DESPACHO
Introdução
Vamos conhecer outros gêneros oficiais? Estudaremos agora o ato e o despacho.

Objetivos
¾ Compreender textos da redação oficial de forma correta e adequada às
características e às funções desses gêneros textuais.
¾ Expressar-se por escrito com fluência, clareza, segurança e expressividade.
¾ Redigir textos técnicos e documentos oficiais com coesão, coerência,
respeitando a estrutura, os elementos constitutivos e as ideias básicas.
¾ Aplicar técnicas e procedimentos requeridos pela redação de uma
correspondência oficial no âmbito profissional
¾ Produzir os textos oficiais ato e despacho dentro do ambiente de trabalho.

5.1 Ato
Quando se emitir Ato, Instrução ou Resolução para dar nova redação a algum
artigo, parágrafo, inciso ou alínea, esse texto deve ter início no parágrafo e estar
alinhado à direita. O último artigo de um Ato, Instrução ou Resolução deve ser a res-
peito da vigência do instrumento. Se houver instrumento a ser revogado, este tem de
constar explicitamente: “Este (Ato, Instrução, Resolução) entra em vigor na data de
sua publicação e revoga o(a) (nome do instrumento e ano)”. Deve-se evitar o termo
“Revogam-se as disposições em contrário”. Os documentos Ato, Instrução e Resolu-
ção devem conter no rodapé da página a indicação de sua distribuição, na margem
esquerda inferior (com fonte em tamanho 10). Se tiver mais de uma página terá de
constar da última.

78
A partir do dia 16 de maio de 2016, todos os novos documentos e processos
passaram a ser criados em meio eletrônico na UnB, por meio da utilização do SEI
(Sistema Eletrônico de Informação). Portanto, os Atos não são mais datados, como
ainda prescreve o Manual da UnB. Trata-se de uma indicação que entrou em desuso
e não é mais utilizada. O SEI registra automaticamente a data e a assinatura de quem
elaborou o documento.

A necessidade agora é checar se consta o número correto do processo SEI e


do número do documento SEI. Outra diferença é que os Atos administrativos só en-
tram em vigor na data de sua publicação ou em data futura explicitada.

Na tabela a seguir, há a distinção de propósito e competência do Ato, da Instru-


ção e da Resolução (p. 15-17).

É o instrumento pelo qual são baixadas


instruções, formalizadas decisões em
Reitor ou Vice-Reitor, Decano, Dirigente
matéria concernente à competência
ATO de Unidades Acadêmica e Administrativa,
da autoridade, no âmbito de sua área
de Centro e de Órgão Complementar
de atuação, ou constituídos Grupos de
Trabalhos, Comitês ou Comissões.

É o instrumento que divulga decisões


Reitor ou Vice-Reitor, Decano, Dirigente
administrativas, disciplina procedimentos
de Unidades Acadêmica e Administrativa,
INSTRUÇÃO de determinado assunto administrativo,
Centro, Órgão Complementar, Diretoria e
faz recomendações de interesse geral
Chefe de Departamento e de Secretaria
nas respectivas áreas de competência.

É o documento pelo qual são


constituídos Grupos de Trabalho,
Comissões, divulgadas as decisões Reitor ou Vice-Reitor, Decano, Dirigente
dos Conselhos Superiores da UnB, de Unidades Acadêmica e Administrativa,
RESOLUÇÃO
do Conselho Diretor da FUB, dos Centro, Órgão Complementar, Diretoria e
colegiados de Unidades Acadêmicas e Presidentes dos Órgãos Colegiados
regulamentadas normas estabelecidas
por esses colegiados.

79
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Exemplo de Ato simples

80
Exemplo de Ato dividido em artigos

81
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

5.2 Despacho

O Manual da Presidência da República (2018) não discute o funcionamento do


despacho. Contudo, como os servidores da UnB utilizam muito esse texto oficial, é
importante saber analisá-lo e produzi-lo.

Segundo as Normas para padronização de documentos da Universidade de


Brasília (2011), o despacho, então, “é o modo pelo qual um processo tem andamento
internamente, dispensando confecção de qualquer outro tipo de documento para dar
sequência à tramitação” (p. 16).

Na Universidade, é um documento de competência do(a) Reitor(a), do(a) Vi-


ce-Reitor(a), dos(as) Decanos(as), dos Dirigentes de unidades acadêmicas e admi-
nistrativas, centros, assessorias e secretarias, órgãos complementares, Diretorias e
Chefes de departamento e de serviço ou servidores autorizados e membros da UnB
– por competência do cargo ou de ordem.

Com relação à estrutura do despacho, de acordo com as Normas para padroni-


zação de documentos da Universidade de Brasília,
A formatação do despacho tem configuração própria, porquanto
possui formulário específico. Os textos dos despachos devem
ser claros e objetivos quanto às providências que devem ser
tomadas pelo setor demandado. Deve-se evitar, portanto, textos
evasivos, tais como: “Para as providências necessárias”. (2011,
p. 25)

O despacho possui estrutura bastante simplificada. Pode ser composto apenas


de identificação, data, comunicação e assinatura.

Identificação
Centro de custo: xxxx
Para: xxxx

Data
A data (por extenso) deve ser precedida da preposição “Em” e alinhada à direita.
Exemplo: Em 5/6/2019.

Comunicação
É o conteúdo do despacho, a exposição do assunto, com as informações da decisão ou
do encaminhamento. Se contiver mais de dois parágrafos, convém numerá-los a partir
do primeiro.

Assinatura
É o campo formado pelo conjunto assinatura e nome da autoridade expedidora. Se for
pelo SEI, a assinatura é digital.

82
Algumas orientações gerais

O número dos documentos ato, instrução, memorando, ofício e resolução é com-


posto de quatro casas, seguido de barra e do ano em quatro dígitos (por exem-
plo: 0001/2011, 0021/2011, 0357/2011 e 1236/2011). Observa-se, portanto, que
os espaços são preenchidos com zero até o limite de quatro casas.

As fontes definidas para todas as correspondências emitidas pelo Reitor e pelos


demais dirigentes e membros da UnB são UnB Office e Arial, tamanho 12, va-
riando em casos específicos, conforme as Normas para padronização de docu-
mentos da Universidade de Brasília.

O destinatário de memorandos deve ser mencionado pelo cargo que ocupa, e


não pelo seu nome. Por exemplo:

Para: Diretora do Restaurante Universitário.

Exemplo:

“Por questão de hierarquia, alguns documentos encaminhados a determinados


setores devem antes passar pelas instâncias imediatamente superiores para
conhecimento e concordância. Por exemplo, quando o Gabinete do Reitor en-
caminha documento para ser respondido por um determinado Departamento,
esse documento passará antes pelo Instituto do Departamento, sendo o ende-
reçamento: “Para [Departamento], via [Instituto]”. Na UnB, adotam-se as iniciais
maiúsculas no registro dos cargos e funções. Por exemplo: Encaminhar este
processo para análise do Professor Fulano de Tal.” (p. 29)

83
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

5.3 Leitura complementar

BRASIL. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Manual de redação. Brasília:


Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2004a.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: texto


constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas
Emendas Constitucionais n. 1/92 a 44/2004 e pelas Emendas Constitucionais de Revi-
são n. 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004b.

______. Decreto nº 9.758, de 11 de abril de 2019. Dispõe sobre a forma de tratamento


e de endereçamento nas comunicações com agentes públicos da administração pública
federal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9758.htm

______. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República.


3. ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2018.

______. Universidade de Brasília. Normas para padronização de documentos da


Universidade de Brasília. 1. Ed. Brasília: Editora da UnB, 2011.

DISTRITO FEDERAL (Brasil). Tribunal de Contas do Distrito Federal. Manual de reda-


ção oficial. Brasília: DIPLAN, 2003.

FERRAZ, J. A.; RIBEIRO, O. M.; ALVES, S. B. Análise e produção textual de outros


gêneros administrativos. Brasília: CEAD/UnB, 2009.

HOUAISS, A. (Ed.). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. [S.l.]:


Objetiva, 2001. 1 CD-ROM. Versão 1.0.

KASPARY, A. J. Redação oficial: normas e modelos. Porto Alegre: Edita, 2003.

MEDEIROS, J. B. Manual de redação e normalização textual: técnicas de editoração


e revisão. São Paulo: Atlas, 2002.

_____. Correspondência: técnicas de comunicação criativa. 18. ed. São Paulo: Atlas,
2006.

NEY, J. L. Prontuário de redação oficial. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.

TOMASI, C.; MEDEIROS, J. B. Comunicação empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.

84
Considerações Finais

Durante o desenvolvimento das quatro unidades, convidamos você a ler e a


produzir textos com o intuito de levá-lo a compreender os processos de leitura e escri-
ta intrínsecos às relações suscitadas pelos gêneros textuais veiculados na Universi-
dade. Tendo em vista a natureza do curso, a ênfase foi dada aos gêneros que circulam
nos ambientes profissionais e acadêmicos.

O verdadeiro sucesso na vida profissional depende da habilidade de relaciona-


mento interpessoal e da capacidade de compreender e comunicar ideias e emoções.
Quando entramos em contato com o outro, não gerenciamos apenas informação, mas
também nossa relação com ele.

Esperamos que você tenha compreendido na prática que escrever é bem mais
do que um exercício de aplicação de regras a uma estrutura linguística. Escrever é se
posicionar como autor, consciente do objetivo e do alcance do texto. Nossa intenção
foi proporcionar a você as condições necessárias para refletir sobre o uso da lingua-
gem nos diversos gêneros empregados no universo acadêmico e profissional, sem
deixar de observar os aspectos metodológicos nos quais a escrita desses textos se
pauta. Acenamos com uma proposta prática, mais próxima de sua realidade com o ob-
jetivo de ajudá-lo a desenvolver suas habilidades de escrita, aliando as experiências
do cotidiano de seu trabalho à necessidade de proficiência na produção e na recepção
de textos oficiais.

É nosso desejo que as atividades práticas tenham sido um fio condutor de seu
aprimoramento nas atividades de leitura e de escrita e que tenham estimulado você a
gerenciar suas habilidades de leitor e produtor de textos em todos os gêneros, espe-
cialmente naqueles que fazem parte do seu cotidiano de trabalho.

Sucesso na sua vida profissional e na elaboração de seus textos oficiais!

85
Curso - Produção de textos oficiais na UnB

Referências

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua


Portuguesa. 6. ed. São Paulo: Global, 2021. Disponível em: https://www.academia.
org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario.
ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. Cotia: Ateliê
Editorial, 1999.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informações e
documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.
BARROS, J. Encontros de redação. São Paulo: Moderna 1985.
BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Manual de redação. Brasília: Câmara
dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2004a.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: texto
constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas
Emendas Constitucionais nos 1/92 a 44/2004 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão
nos 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004b.
______. Decreto nº 9.758, de 11 de abril de 2019. Dispõe sobre a forma de tratamento e
de endereçamento nas comunicações com agentes públicos da administração pública
federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/
decreto/D9758.htm
______. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República.
3. ed. rev. e atual. Brasília : Presidência da República, 2018.
______. Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). In: ACADEMIA BRASILEIRA
DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 5. ed. São Paulo:
Global, 2009. p. XV-XXXII.
______. Universidade de Brasília. Normas para Padronização de Documentos da
Universidade de Brasília. Brasília: Editora UnB, 2011.
CABRÉ, M. T. La terminología: teoría, metodología, aplicaciones. Barcelona:
Antártida/Empúries, 1993.
CORREIA, M.; LEMOS, L. Inovação lexical em português. Lisboa: Colibri, 2005.
DALEFI, R. G. et al. Enciclopédia do estudante: gramática e linguística: história,
regras e usos da língua portuguesa. São Paulo: Moderna, 2008.
DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. “Haja vista ou Haja visto? “; Brasil Escola.
Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/haja-vista-ou-haja-visto. htm.
Acesso em 03 de julho de 2017.
FERRAZ, J. A. et al. Reflexões sobre a língua portuguesa: uma abordagem
multimodal. Petrópolis: Vozes, 2007.
FERREIRA, A. B. .H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. e

86
atual. Positivo, 2007.
HOUAISS, Antonio (Ed.). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
[S.l.]: Editora Objetiva, 2001. 1 CD. Versão 1.0.
HOUAISS, I. A. Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo
acordo ortográfico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Publifolha, 2008.
HOUAISS, A. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro.: Instituto Nacional do Livro
– MEC, 1967.
KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. São Paulo: Perspectiva, 1974.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP:
Pontes, 2001.
RIBEIRO, O. M. Janelas na construção da leitura. Uberaba: Vitória, 2006a.
______. Ri melhor quem ri na escola: quando o texto humorístico é também pedagógico.
In: VIEIRA, S. D. Dicas para lecionar. Uberaba: Publi, 2006b.
SILVA, M. O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: o que muda e o que
não muda. Rio de Janeiro: Contexto, 2008.
TOMASI, C.; MEDEIROS, J. B. Comunicação empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.
TUFANO, D. Guia Prático da Nova Ortografia. São Paulo: Melhoramentos, 2008.

87

Você também pode gostar