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Teorias de
Análise de Textos
PÓS-GRADUAÇÃO
SEMESTRE 1 1
UNIVERSIDADE METROPOLITANA
Núcleo de Educação a Distância
DE SANTOS
CURSO: Pós-Graduação
COMPONENTE CURRICULAR: Teorias de Análise de Textos
MÓDULO: 2º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 50 horas
EMENTA
Teorias explicativas da obra literária. As diferentes correntes teórico-críticas. As
formas de abordar o texto.
OBJETIVO GERAL
Dar a conhecer as teorias a partir das quais o texto escrito pode ser estudado.
Analisar textos com bases em teorias do discurso e do texto.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Objetivos específicos da unidade 1
Abordar as teorias que buscaram explicar a obra literária.
UNIDADE 2 -ESTRUTURALISMO
UN 2 - aula 6 – A perspectiva do pós- estruturalismo
UN2 – aula 7 - O monismo e pós-estruturalismo
Objetivos específicos da unidade 3
Apresentar a linguística do texto e seus princípios.
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UNIDADE 3-LINGUÍSTICA TEXTUAL
UN 3- Aula 8 - Contribuições da Linguística Textual - a coesão
UN 3 – Aula 9 – Fatores de Coerência
Objetivos específicos da unidade 4
Apresenta os gêneros do discurso sob diferentes perspectivas.
Bibliografia Básica
BENTES, Anna Cristina; LEITE, Marli Quadros (2010). Linguística de texto e Análise
da conversação. São Paulo: Cortez.
MARCUSCHI, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão.
São Paulo: Parábola.
Bibliografia Complementar
BAKHTIN, M. (2003). Gêneros do Discurso. In: Estética da Criação Verbal. São
Paulo: Martins Fontes.
BENVENISTE, E. (1989). O aparelho formal da enunciação . In: Problemas de
lingüística geral. Vol. II. Trad. de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, p. 81-
90.
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BRAIT, B. (1994). As vozes Bakhtinianas e o diálogo inconcluso. In: BARROS, Diana
Luz Pessoa e FIORIN, J.L. (orgs.) Dialogismo, polifonia, intertextualidade. EDUSP
BRANDÃO, H. H. N (2001). Da língua ao discurso, do homogêneo ao heterogêneo.
In: BRAIT, Beth (org.) Estudos enunciativos no Brasil - história e perspectivas.
Campinas/São Paulo: Pontes/FAPESP.
FIORIN, J. L. (1996) As astúcias da enunciação. São Paulo: Ática.
POSSENTI, S. (1992). Concepções de sujeito na linguagem. Boletim da ABRALIN.
São Paulo, USP, 13, PP. 13-30.
http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/aguiar/index42.html
METODOLOGIA
A disciplina esta dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos
didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e atividades individuais. O
trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites,
de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do
professor e do processo ensino/ aprendizagem.
AVALIAÇÃO
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos
trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição
de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda
a realização de atividades em momentos específicos, como fóruns, chats, tarefas, avaliação a
distância, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.
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Sumário
Aula 01_Conceitos essenciais à compreensão do texto literário ................................ 6
Aula 02_O formalismo russo-breve retomada .......................................................... 12
Aula 03_Dos formalistas aos estruturalistas ............................................................ 15
Aula 04_Estruturalismo e análise estrutural ............................................................. 18
Aula 05_As contribuições da Estética da Recepção ................................................ 22
Aula 06_A Perspectiva do Pós-Estruturalismo ......................................................... 24
Aula 07_O monismo e pós-estruturalismo ............................................................... 27
Aula 08_Contribuições da Linguística Textual - a coesão ........................................ 29
Aula 09_Fatores de Coerência ................................................................................ 34
Aula 10_É fácil classificar ou nomear um gênero? ................................................... 36
Aula 11_O trabalho coma leitura e com a língua ...................................................... 40
Aula 12_Abordagem do texto literário - a poesia ...................................................... 43
Aula 13_Textos Não-ficcionais ................................................................................. 47
Aula 14_Os gêneros e suas acepções ..................................................................... 52
Aula 15_O que dizem os estudos sobre os gêneros? .............................................. 55
Aula 16_A tipologia enunciativa de Bronckart .......................................................... 57
Aula 17_Os tipos de discurso .................................................................................. 60
Aula 18_Os gêneros, o intertexto e as formas de planificação ................................. 63
Aula 19_Os tipos de sequências .............................................................................. 67
Aula 20_Mecanismos de textualização .................................................................... 71
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catarse surtia um efeito negativo. Aristóteles, porém, ligando a catarse à ideia de
música, aconselha-a com fins de “purificação”, fato que passou a gerar controvérsias
a respeito da significação do termo, uma vez que Aristóteles não a explica.
O filósofo Platão concebe a arte como mímesis, ou seja, a reprodução de algo que
existe na realidade, e que deve ser reconhecido pela razão.
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=arte+liter%C3%A1ria&hl=ptBR&biw=1366&bih
=623&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwikgMGRqI_MAhWFIJAK
HWZHAmYQ_AUIBigB#imgrc=Fatr4-jh5BJzuM%3A
Para ele, as imitações são prejudiciais aos indivíduos por não se tratarem de objetos
reais na essência, mas por se constituírem – segundo a ótica platônica - de uma
visão espelhada da realidade, uma aparência ilusória, levando os cidadãos ao
engano.
Aristóteles afasta-se da concepção platônica e considera a arte como imitação da
realidade e mímesis - imitação da ação humana, ou seja, uma representação.
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Fonte: https://www.google.com.br/search?q=imagens+sobre+Arist%C3%B3teles&hl=
pt-BR&tbm=isch&imgil=T24N0sMtGKKYMM%253A%253B-kV6WJYuadZ-
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Ela cria seres ficcionais, seu ambiente imaginário, seu código ideológico, sua própria
verdade: pessoas que são transformadas em animais, animais que falam a
linguagem humana, tapetes voadores, cidades fantásticas, amores incríveis,
situações paradoxais, sentimentos contraditórios. A realidade criada pela ficção
poética tem relação significativa com o real, uma vez que a criação não parte de um
vazio, e sim de algo que já existe.
As estruturas linguísticas, sociais, ideológicas e reais fornecem o material para que o
artista crie o mundo imaginário.
A literatura faz um recorte da realidade, daquilo que pretende mostrar, mesmo
quando não tem consciência disso e pretenda uma reprodução fidedigna da
realidade.
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A pergunta que procura responder esta aula é Como a literatura foi compreendida
por aqueles que buscaram descrevê-la e entendê-la?
O Formalismo Russo tem suas origens associadas ao Círculo Linguístico de
Moscou, da Rússia, e aos estudos da Linguagem Poética, de Praga. Recebeu
influências da estética das vanguardas europeias.
Roman Jakobson, Boris Eikhenbaun, Wladimir Propp, B. Tomachevski, I. Tynianov,
N. S. Trubetzkói e Victor Chlovski são alguns dos principais integrantes que se
opuseram ao regime da antiga União Soviética e contestavam o direcionamento
dado pelos partidários do regime no tratamento do texto literário.
A visão de literatura desses estudiosos desvinculava-se da visão imposta existente.
O fenômeno literário foi considerado por esses como algo autônomo – não
necessariamente explicável por suas relações com a vida do escritor ou por sua
origem e que deveria ser explicado por seus componentes internos.
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Inicialmente, as análises focalizaram o texto poético e definiram a literariedade como
objeto de estudo e que confere ao poema seu traço distintivo, e se distancia do uso
comum da língua. A literariedade promove a renovação no uso cotidiano da língua.
A renovação no uso da língua é “construída” de que forma? Qual é o raciocínio que
orienta o sujeito que lê, escuta textos?
Um dos primeiros passos da “Teoria do ‘Método Formal’” é diferenciar a linguagem
cotidiana da linguagem literária em que podemos observar na primeira a
objetividade ou uma finalidade prática, visando a um fim: a comunicação; na
segunda - o desvio de significado das palavras, o deslocamento da palavra de seu
contexto usual e inseridas em contexto diverso, sendo ressignificada. É seguindo
esta linha, de desvio da norma, que os formalistas apuram os estudos do processo
de desfamiliarização ou estranhamento na linguagem literária.
No poema "José", de Carlos Drummond de Andrade há uma estrofe que formula
uma série de hipóteses, todas elas iniciadas pela conjunção condicional "se", que vai
se repetir em alguns versos, como uma espécie de eco, apoiando e ampliando o
sentido do texto:
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre, você é duro, José!
São vários efeitos sonoros e rítmicos. A palavra "se" é repetida na mesma posição:
a anáfora (repetição de uma palavra, na mesma posição, em versos diferentes)
criando efeito de um eco - "voCÊ", "gritaSSE", "gemeSSE", "tomaSSE" etc. O jogo
sonoro apoia-se na alternância entre sílabas fortes e fracas: Se - vo - CE - gri - TAS
(se) Se-vo-CE-ge-MES(se) O leitor percebe a sugestão das hipóteses não só pelo
sentido, mas também pelas rimas, pela sonoridade, pelo ritmo do poema. Daí a força
de contraste dos dois versos finais: O "Mas" opõe a realidade à série de alternativas
hipotéticas, produzindo ruptura simultânea do sentido e da sequência sonora.
É possível perceber nos poemas de Carlos D. de Andrade esse processo. O Poema
das Sete Faces revela com propriedade o modo como a linguagem é utilizada de
modo peculiar:
Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos!
Ser gauche na vida.
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Aula 02_O formalismo russo-breve retomada
As expressões: “anjo torto”, “vivem na sombra”, “gauche na vida”, fazem referência
a um anjo que que prevê o futuro do eu poético “Carlos”. Trata-se de um anjo não
privilegiado, e que habita um lugar pouco comum – já que vive na “sombra”,
quando deveria estar perto de Deus.
“Gauche” se origina da expressão adverbial “à gauche” - “à esquerda”; ao contrário
de “à droit”, “à direita”. Assim, o verso justifica a má sorte do eu.
As combinações feitas criam efeitos, pois as escolhas lexicais assim como a
disposição dos vocábulos no verso criam combinações sonoras que estão
articuladas ao conteúdo veiculado. Trata-se de um conteúdo que se origina da forma
e que não tem origem com o que está fora do texto.
Na poesia, a palavra é percebida pela associação do significado, pelo arranjo com
outras palavras no discurso. A palavra poética tem dois valores, pois funciona em
termos de ‘signo’, isto é, serve para remeter a um conceito, mas vale também em si
mesma, como sendo ela própria uma realidade (GONÇALVES; BELLODI, 2005,
p.120).
Jakobson, do Círculo Linguístico de Praga, ampliou as três funções da linguagem
criadas por Karl Bühler: função representativa, função apelativa e função de
exteriorização psíquica. A primeira está centrada no referente, a segunda, no
receptor e a terceira, no emissor. Jakobson a estas acrescentou a função fática,
centrada no contato, a função metalinguística, no código e a função poética centrada
na mensagem; sendo essa última a dominante no texto literário, ainda que não
exclusiva.
Os formalistas dedicaram-se a análise da poesia numa perspectiva sincrônica, sem
considerar a noção de contexto literário e sócio-histórico.
Elementos que são analisados no poema
Podemos pensar, nessa perspectiva, na organização externa do poema em seus
aspectos formais. Os poemas são analisados quanto ao número de estrofes, número
de versos por estrofe, esquema das rimas de cada estrofe, métrica dominante, tipo
de rima existente e por opor-se à prosa. Cada linha do poema é chamada de verso.
Um conjunto de versos, separado de outro conjunto de versos por uma linha branca,
é chamado de estrofe e seu número pode variar, como exemplo, podemos citar:
Quadra
“Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!”
(Mário Quintana)
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Balada: Formada por três oitavas (ou décimas) e uma quadra (ou quintilha).
• Sextina: Formada por seis sextilhas e um terceto.
• Rondó: Formado por uma quintilha, um terceto e outra quintilha.
• Rondel: Formado por duas quadras e uma quintilha.
• Haicai: Formado por um terceto.
Exemplo de um haicai:
“Tudo dito,
Nada feito,
Fito e deito.”
(Paulo Leminski)
Decassílabo:
“E, se mais mundo houvera, lá chegara.” (Luís de Camões)
(E / se / mais / mun / do hou / ve / ra / lá / che / ga ra)
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sistemas, tirando, assim, a literatura da dimensão isolacionista formal. Contrário a
essa análise, Tynjanov deslocou a discussão para questões ligadas à diacronia e
assim cria relações diferentes daquelas vistas pelos formalistas inicialmente.
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Aula 03_Dos formalistas aos estruturalistas
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O grupo da Rússia, ao pregar a autonomia da estética, pensou em um método de
análise, que privilegiou não a realidade evocada, mas os recursos de que
se valeram o artista, isto é, todos os recursos próprios do artístico, como
os fônicos, sintáticos e semânticos, visando ao encontro da literariedade.
Um dos marcos da moderna teoria literária encontra-se no ensaio A arte como
procedimento, escrito em 1917 por Vítor Chklovski. Essa noção tornou-se
consensual após os estudos de Victor Erlich nos Estados Unidos (1955) e,
sobretudo, depois que um teórico de orientação marxista, Terry Eagleton, se
apropriou dos princípios do formalista russo em sua Teoria literária (1983), e o
transformou no manual mais popular dessa disciplina na Inglaterra.
Roman Jakobson, outro integrante fundamental do Formalismo, foi responsável por
uma das teorias mais difundidas no Ocidente: a ideia de que a função poética da
linguagem consiste na ambiguidade da mensagem mediante o adensamento do
significante, princípio desenvolvido a partir de pressupostos de Chklovski.
Chklovski foi o criador da abordagem linguística da literatura, pois seu ensaio foi o
primeiro a sistematizar a ideia de língua poética como um desvio da língua cotidiana
e em oposição ao cânone literário dominante.Ele introduziu a noção de que o valor
artístico de uma obra decorre de sua estrutura verbal e da maneira como é lida, pois
não existe valor artístico em termos absolutos, pois os objetos podem ser
concebidos como prosaicos e percebidos como poéticos e vice-versa.
Chklovski define a arte como a singularização de momentos importantes porque
passam por um processo de singularização artística já que a finalidade da arte é
gerar a desautomatização, provocando o estranhamento ou a singularização da
estrutura que o artista oferece à contemplação.
Pela perspectiva desses teóricos, o desconforto dos enunciados inovadores integra
o complexo de propriedades que atribuem valor estético ao texto.
Segundo a teoria de Chklovski, as imagens são um dos dispositivos pelos
quais o poeta singulariza o texto, mediante a produção do estranhamento,
responsável pela dificuldade que atribui densidade à percepção estética.
Elas são uma das possíveis manifestações da ideia de procedimento
artístico, que é o conjunto de atitudes rumo ao desvio da linguagem
comum em favor do insólito e do imprevisto. Transcendendo os limites das
figuras e dos tropos, a concepção de procedimento artístico de Chklovski
pode consistir em qualquer escolha e combinação que transmita a
sensação de surpresa e espanto.
Um dos exemplos citados pelo morfologista é o caso da novela Kholstomer, de
Tolstoi, em que o ponto de vista não é o de um ser humano, mas o de um cavalo.
Na literatura brasileira esse procedimento artístico se encontra nas Memórias
póstumas de Brás Cubas, em que a perspectiva de um defunto é responsável pelo
estranhamento do texto.
Em outra obra de Machado, na abertura do capítulo XI de O alienista emerge essa
singularização: E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a
vila ao saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.
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Todos? Todos. É impossível; alguns sim, mas todos... Todos. Assim o disse ele no
ofício que mandou hoje de manhã à câmara.
A inclusão do leitor na obra causa certo espanto, já que ele é convidado a sentir o
mesmo que sentiram os moradores da cidade. Logo, o leitor deixa a posição de
espectador para assumir o estatuto de personagem (leitor incluso). O alienista é uma
novela sobre a falácia da ciência, o conceito de loucura e o autoritarismo dos
governos.
Os formalistas colocariam o problema de outra forma: as incertezas
da ciência e a arbitrariedade dos governos são um dispositivo para
o exercício da alegoria. A motivação inicial de Machado teria sido a
formulação da sátira ou do escárnio alegórico, categorias
preexistentes ao tema da loucura mal interpretada. Assim, os
procedimentos buscam suas matérias, cujo resultado é a forma
literária. Com isso, elimina-se a ideia de que as matérias podem ser
incluídas ou excluídas de um texto, como se fossem o conteúdo de
uma garrafa. Conforme essa visão, a literatura nunca é sobre
coisas ou situações. Será sempre o resultado da adequação entre
procedimento e matéria, fenômeno que automaticamente a insere
num código de referência literária. Surge daí um conceito funcional
de literatura, entendida não mais como um discurso ornado e
ficcional que visa à imortalidade, mas como um modo especial de
articulação da linguagem, cuja ideia de valor é rigorosamente
relativa, pois leva em conta tanto a estrutura verbal do texto quanto
a percepção do leitor e o eventual desgaste das formas, que, de
estranhas e desautomatizadoras, podem, com o passar do tempo,
se tornar corriqueiras e previsíveis. Até então, jamais se chegara a
um conceito tão relativo do valor da obra de arte, que passou a ser
definida como uma estrutura sígnica contrária ou divergente do
padrão dominante.
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Aula 04_Estruturalismo e análise estrutural
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“estrutura de conteúdo”. Em consonância com a noção de estrutura literária de
Mukarovsky e outras noções coincidentes, a crítica estruturalista se empenha em
descrever, de modo imanente e com rigor analítico, as relações instituídas entre os
vários elementos componentes de um dado texto literário e que configuram
especificamente a estrutura desse texto, ignorando propositadamente problemas de
história literária, de erudição bibliográfica, de interpretação psicologista, etc. (SILVA,
1975, p. 655).
Mukarovsky vê o texto literário como signo, e, ao mesmo tempo, como
uma estrutura de signos e se distingue em dois aspectos: como artefato
(significante) e como objeto estético (significado).
O Estruturalismo segue a tendência do cientificismo corrente. A visão dos
estruturalistas sobre o texto é de uma rede de significância que prioriza a langue,
em sua abstração coletiva de uso, a fim de se debruçar sobre a estrutura do próprio
signo para que esse fosse melhor observado.
Assim também se dá com a obra literária-vista como uma estrutura, um todo
orgânico, um sistema de relações, de tal forma que qualquer alteração imposta, por
exemplo, a um elemento qualquer de um romance significa alteração na obra toda
(GONÇALVES e BELLODI, 2005).
O estruturalismo realiza uma análise da obra literária como se estivesse à
procura de uma base de significância encontrável em todas as obras.
A obra não se refere a um objeto, nem é a expressão de um sujeito
individual; ambos são eliminados, e o que resta, pendendo no ar
entre eles, é um sistema de regras. Esse sistema possui existência
autônoma, e não se inclinará às intenções individuais (EAGLETON,
1997, p.154).
Análise Estrutural
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O poema “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Camões, é um soneto,
estruturado em dois quartetos (estrofes de quatro versos cada) e dois tercetos
(estrofes de três versos cada).
Seus versos são decassílabos e apresentam um esquema rítmico com duas
disposições:
a) na primeira estrofe, as sílabas tônicas são a 4ª e a 10ª;
b) nas demais estrofes, as sílabas tônicas são a 6ª e a 10ª.
As rimas apresentam a distribuição: ABBA ABBA CDC DCD. As rimas A são
intercaladas (interpoladas ou opostas), na medida em que são os extremos do
quarteto, enquanto as rimas B são emparelhadas (paralelas), ou seja, rimam dois a
dois; nos tercetos, as rimas C e D são cruzadas (entrecruzadas ou alternadas), na
medida em que se revezam nas estrofes.
Entre outros teóricos, voltados para a noção estrutural de ver o texto literário, tendo
a França como a grande disseminadora, estão: A. J. Greimas, Tzvetan Todorov e
Gérard Genette. Em Fronteiras imaginárias (1971), Fábio Lucas procura sintetizar as
características básicas do Estruturalismo e de sua vertente no campo da crítica
literária.
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uma essência de origem primeva, ou seja, aos primeiros tempos do mundo, sem
levar em conta as condições enunciativas de sua realização.
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Aula 05_As contribuições da Estética da Recepção
Na aula anterior, vimos que a preocupação dos formalistas estava em analisar a
obra literária dentro uma perspectiva que via o texto a partir da estrutura interna e
externa, apenas isso, desconsiderando outras relações que poderiam ser tecidas-
texto era o objeto de análise. A recepção do texto pelo leitor não era considerada, as
relações que poderiam ser estabelecidas pelo leitor/receptor do texto não era
considerada.
Em resposta a essa tendência instalada e que não satisfazia as reflexões advindas
dos pensadores e teóricos que defendiam uma nova visão, uma forma diferente de
receber e compreender o texto, a estética da recepção nos apresenta suas ideias.
Um leitor do texto que se preocupasse em fazer perguntas como: “O que me diz o
texto? “O que posso concluir sobre ele?” não poderia obtê-las, pois os
estruturalistas se negavam a fazê-lo.
A Estética da Recepção ou Teoria da Recepção surgiu na década de 1960, na
Alemanha. Essa corrente crítica está ligada às comunidades interpretativas que
levam em consideração a produção, a recepção e a comunicação.
Esses três componentes nos trazem a figura de seus representantes: autor - obra -
leitor – que passam a ser vistos em uma relação dinâmica, em que a leitura de um
texto literário depende das condições sócio-históricas, que lhe dão sentido e das
relações estabelecidas entre esses componentes – a figura do receptor ficou restrita
à catarse de Aristóteles e à função conativa, do formalista Jakobson, sem que
aquele que seria responsável pela construção do sentido, fosse valorizado.
Essa preocupação foi manifesta por Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser – estes
criticaram as correntes teóricas anteriores por não pensarem no receptor e por seu
caráter imanentista e sincrônico.
O leitor passa a ser objeto e sujeito da análise literária. O fundamento básico que
sustenta essa unidade triádica do processo hermenêutico (Gadamer), ou seja, o
entendimento na confluência de três momentos – comunicação, interpretação,
aplicação - hauridos através de três leituras:
1ª) leitura perceptiva, imediata (compreensão);
2ª) leitura refletida, reflexiva (interpretação);
3ª) leitura pesquisadora do horizonte histórico determinante da gênese e do efeito da
obra; que permite distinguir os horizontes passados do atual, pelo confronto da
leitura contemporânea com todas as outras merecidas até então (aplicação) (PIRES,
1989, p.103).
Ao trazer o leitor para o primeiro plano, a Estética da Recepção coloca por terra
a crença em possíveis interpretações corretas do fenômeno literário. Para tanto, o
leitor deve estar atento a estratégias de leitura a serem adotadas e, ao mesmo
tempo em que é indispensável o domínio do repertório de temas pertinentes ao
artístico e de um certo protocolo de leitura, diante do texto literário, que pode ser
SAIBA MAIS
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Hermenêutica: é um ramo da filosofia que se volta para a compreensão e
interpretação da Bíblia e de textos escritos, de um modo geral. A palavra deriva do
nome do deus grego Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem os gregos
atribuíam a origem da linguagem e da escrita e considerado o patrono da
comunicação e do entendimento humano. Fonte: ABBAGNANO, 1998, p. 497.
Imanentista: Que diz respeito ao imanentismo, que é próprio de algo, com suas
características peculiares. Em relação ao texto literário, trata-se da crítica que vê a
literatura como capaz de produzir sentido, de forma autônoma, sem depender do
contexto, seja aquele evocado na obra, seja o das condições de leitura. A crítica
imanentista já foi vista na Aula V: O New criticism: A visão imanentista da obra
literária.
As teorias da recepção consideram muitas vezes que existem, por um lado os textos
literários, e, por outro, os textos pragmáticos, que teriam formas de funcionamento
diferentes”. Isto é, na leitura pragmática, o leitor procura ligá-la ao cotidiano,
concreto, enquanto, na não-pragmática, não ocorre essa aplicação automática,
antes a fruição estética impede tal uso.
Em textos, como na parábola, usada nos textos sagrados, nas fábulas, ou nos
apólogos, é possível, sem dificuldade, proceder às duas leituras: não-pragmática e
pragmática.
Em uma leitura não-pragmática, parabólica, o texto vale por si mesmo, isto é, não
necessita de referências externas para produzir sentido, logo, sendo uma narrativa,
os seus elementos é que seriam objeto de análise como: a composição dos
personagens, em suas ações, o uso do tempo, o espaço, onde ocorre o enredo, o
uso do discurso direto, ou do indireto etc. Por outro lado, em uma leitura pragmática,
o texto se justifica pelos dados extra-textuais evocados, como, por exemplo, o fato
de a Agulha e a Linha estarem sempre discutindo, por se sentirem uma superior à
outra. Tais falas refletem as posições antagônicas de classe social, vividas no
cotidiano das pessoas do II Império no Brasil. Por isso, Wolfgang Iser chama a
atenção para certa necessidade de instrumentalização do leitor no ato de fruição
estética. Nas palavras de Terry Eagleton, o posicionamento do alemão de confirma
em:Para ler, precisamos estar familiarizados com as técnicas e convenções literárias
adotadas por determinada obra; devemos ter certa compreensão de seus ‘códigos’,
entendendo-se por isso as regras que governam sistematicamente as maneiras
pelas quais ela expressa seus significados (EAGLETON, 1997, p. 107).
Para Iser, a leitura eficiente é aquela que força o leitor a sair dos hábitos
convencionais de leitura, que viola os modos normativos de ver e sentir, rumo a uma
nova consciência e à aquisição de novos códigos de entendimento, ao preencher os
vazios, os hiatos.
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Aula 06_A Perspectiva do Pós-Estruturalismo
Continuando nossa caminhada pelas tendências críticas, passaremos nesta aula a
identificar O Estruturalismo vinha sofrendo fortes restrições.
O termo pós-estruturalismo entrou em uso teórico-crítico em 1970, junto com o pós-
modernismo com Jean Baudrillard, Jean François Lyotard, pós-criticismo Frederic
Jameson e o conceito de desconstrução de Jacques Derrida.
O Pós-estruturalismo não apresenta uma unidade de pensamento, mas o termo é
muito usado no discurso da crítica. Os autores reconhecidos como pós-
estruturalistas como Jacques Derrida, Michel Foucault e Roland Barthes confessam
não compartilhar nenhuma doutrina ou método único conforme afirma Samuel
(2002).
Como o próprio nome revela o Pós-estruturalismo critica o Estruturalismo por ser
visto como tributário do modelo binário de ver o mundo, em pares dicotômicos.
Em A escrita e a diferença (1967) e em Gramatologia (1973),
Derrida lança as bases da teoria da desconstrução, ao tentar
desconstruir o pensamento logofonocêntrico, isto é, amparado em
monismos, como o conceito de verdade (logo) e da palavra viva
(fono), calcado na metafísica, quando essa vincula a retórica à
lógica e o estilo ao significado, como se esse estivesse imune aos
efeitos da escrita. Para Derrida, a escrita não deve ser vista como
uma sujeição servil à fala, em substituição a essa última, pois toda
linguagem é metafórica e, tanto a filosofia, como o direito e a
literatura constituem-se enquanto linguagens figuradas, e trabalham
sempre para tornar a ambiguidade como injunção da verdade.
Derrida cria o neologismo différance, a partir dos verbos de língua
francesa différer e diférer, que, respectivamente, querem dizer
adiar, diferir e citar, deferir. La différance vem a ser a constituição
mesma do signo, em sua condição vicária, isto é, em seu processo
de significação, está sempre no lugar de algo. E Descamps, em As
Ideias Filosóficas Contemporâneas na França (1991), elucida-nos
como ocorre essa condição do signo, de certa sorte, precária:Os
mecanismos de auto-afetação, de ‘diferança’, destroem a linha
régia da presença em si. Deslocar as figuras da identidade, da
origem, é desconstruir as oposições seculares entre
natureza/cultura, presença/ausência, sujeito/objeto, inteligível/
sensível. A tarefa é imensa já que esses rochedos não param de
frequentar os grandes textos (DESCAMPS, 1991, p. 111).
Para justificar sua existência, o signo precisa se definir pelo que não é, pela sua
ausência, ainda que simule a presença, por exemplo, o signo gato só se torna
linguagem quando há a relação de significância estabelecida, a chamada dupla
articulação, entre significante (cadeia fônica), composto por seus fonemas, e
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significado (evocação mental de um ser, cuja existência é encontrada nas casas, nas
ruas ou outros lugares. Portanto, /g/ /a/ /t/ /o/, enquanto significante, só existe
porque se opõe, se diferencia, por exemplo, de /s/ /a/ /p/ /o/, que remete a um
outro significado, que não o primeiro, sempre em um processo de adiamento da
perfeita articulação entre significante e significado. Restando sempre um
componente de significado, que não foi incluído, na pauta da metafísica ocidental, ao
qual Derrida chama de suplemento, em outras palavras, não se encontra
representado no código linguístico e em todo o sistema de atribuição de sentido.
A crítica desconstrucionista revela como os textos podem ser abalados em seus
sistemas lógicos dominantes. Faz isso assinalando os pontos somáticos – onde a
significação textual se torna vulnerável, perde coesão e se abre a contradições
conforme Pires (1989). Assim, a desconstrução critica os monismos, que se opõem
ao dialogismo, ao pluralismo, à diferença, quando incide suas análises em textos,
visando mostrar a fragilidade de significação, que balizaram todos os centros
excludentes dos pares dicotômicos ocidentais: centro/periferia, branco/negro,
homem/ mulher etc. Tais monismos encontram-se em qualquer área: em piadas, em
novelas televisivas, em propagandas. Na literatura brasileira ocorre quando a figura
do negro é colocada como subalterna ou da mulher sempre em um papel de
dependência em relação ao homem, encerrando, em última instância, um
preconceito velado, incapaz de problematizar o que já está instituído na sociedade.
Nos poemas de Adélia Prado encontramos um questionamento aos papéis pré-
determinados. Através de pontos somáticos, de aporias ou impasses de significado,
que não se sustentam, quando questionados, tornam-se passíveis de revisão:
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A questão das relações de gênero, fundamentadas no patriarcalismo legitima-se
dicotomia da tradição ocidental homem/mulher, em que o segundo par foi sempre
visto como menor, destituído da razão, necessitando da intervenção do primeiro para
existir.
Os poemas apresentam imagens femininas bem distintas.
O poema Com licença poética apresenta uma mulher determinada, decidida,
consciente de seu papel em uma sociedade dominada por homens. Trata-se de uma
mulher que decide “carregar bandeira”, isto é, que assume postura de mulher-poeta,
tarefa difícil em um contexto marcado por grandes poetas, como Manuel Bandeira
(“carregar bandeira”) e Carlos Drummond de Andrade (“vai ser coxo na vida”).
Apesar disso, essa mulher vai à luta e cumpre sua sina (“Mulher é desdobrável. Eu
sou.”). Mas também mostra um outro lado da mulher, aquela ligada aos laços
familiares: casamento, esposa, mãe, filhos, necessidade de alegrias.
O poema Enredo para um tema mostra uma mulher que foi subjugada pelo sistema
machista, que se deixou dobrar. Trata-se de uma mulher que possui uma visão
idealizada de casamento: “só os cabelos pretíssimos e uma beleza de príncipe de
estórias encantadas.”. Uma mulher impedida de expressar opiniões e sentimentos e
decidir seu futuro. Enfim, uma mulher “ainda envergonhada”, como apontada no
poema anterior, sem voz: “Só eu não disse nada, nem antes, nem depois”.
A poetisa coloca o silêncio posto sobre a mulher - ela nunca fala - condicionada, que
é, no caso, ao pai e ao pretendente escolhido pelo primeiro. Há uma negação do
livre arbítrio, pregado pelo racionalismo, para escolher o seu amor.
O filósofo E. Husserl, do Romantismo alemão, usou pela primeira vez, na introdução
de sua obra Origem da Geometria,1968, o termo desconstrução. É bom que se diga
que desconstrução não significa destruição, mas a possibilidade de ler aquilo que o
texto esconde em suas partes significativas, que, a primeira vista, pode passar
despercebida.
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Aula 07_O monismo e pós-estruturalismo
Nesta aula, vamos tentar esclarecer o que é o monismo e sua relação com a
tradição e também como algumas concepções atuais foram surgindo.
Ele defende a morte do sujeito cartesiano, aquele que se diz racional, fruto do seu
livre arbítrio, uma vez que não somos autores dos nossos discursos, mas meros
veículos para aqueles que estão legitimados por instâncias sociais. Para Foucault, o
poder não se encontra em instâncias fechadas, isto é, em instituições, mas de forma
difusa na estrutura social. Roberto Machado, estudioso da teoria foucaultiana,
adverte, em Ciência e Saber: A trajetória da Arqueologia de Foucault (1981): O
Estado não é o ponto de partida necessário, o foco absoluto que estaria na origem
de todo tipo de poder social e de que também se deveria partir para explicar a
constituição dos saberes nas sociedades capitalistas (MACHADO, 1981, p.190).
O livro alerta que o poder do Estado instituído em uma sociedade também exerce
sua coerção, entre os cidadãos, entre outras microfísicas, isto é, aquilo que não é
percebido, mas que coage para a manutenção de uma verdade. Então, as regras de
sujeição disciplinar vão determinar as fronteiras do permitido e do não permitido,
porque se embasam em pares que se opõem: alto/baixo, claro/escuro,
natureza/cultura, homem/mulher, centro/periferia.
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forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade (FOUCAULT, 1977,
p.139).
A crítica feita por Lyotard ao continuísmo historicista questiona toda uma hegemonia
que legitimou o próprio conceito de razão, vindo desde a Antiguidade Clássica,
presa ao mundo das Ideias, à tradição socrático-platônica e às religiões judaico-
cristãs, que, para se manterem, colocaram o mundo sempre balizado em pares
dicotômicos, cujo segundo elemento da díade é sempre visto em posição de falta,
de demérito. Dessa forma, justificaram o avanço sobre continentes, o imperialismo
europeu e, ao mesmo tempo, o seu sistema patriarcal corrente.
Numa análise de cunho conceitual, isto é, do ponto de vista do conteúdo, à luz das
leituras, que se propuseram a rever o racionalismo ocidental, como, por exemplo, o
pós-estruturalismo, os estudos culturais ou o pós-colonialismo, há muito a
acrescentar: A colonização de povos ditos primitivos há algum tempo vem sendo
revista, a partir de acontecimentos que marcaram o mundo ocidental, como, as duas
grandes guerras do século XX; a invasão das tropas soviéticas na Hungria, em
1956, e a denúncia de atrocidades cometidas contra a população local; a
descolonização de domínios europeus em outros continentes; a entrada dos filhos
do operariado em Universidades Abertas, na Europa, nos anos 50 do século
passado; o movimento estudantil de 1968, em Paris, com o apoio das feministas.
Tais fatos constituem elementos desencadeadores do que veio depois em termos de
crítica. A crítica, seja ao status quo, seja ao texto literário, requer, mais do que um
empreendimento, uma postura política, de quem a faz, em forma de agência, em
performance insidiosa.
As teorias críticas ganham uma dimensão muito mais ampla, na medida em que o
teórico não pode mais se eximir do mundo.
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Aula 08_Contribuições da Linguística Textual - a coesão
A abordagem da totalidade exige uma teoria linguística que possa dar conta da
relação entre os elementos e da constituição do todo de sentido. Uma tentativa tem
sido realizada nos trabalhos de Halliday (1985), com a preocupação de construir as
bases de uma gramática funcional para o sistema da língua, em que cada elemento
deve ser interpretado como funcional em relação ao todo. Para ele, a organização
da linguagem não é "arbitrária", ela está intimamente associada às necessidades do
uso. Por ser instrumento de uso, as estruturas linguísticas são produto de três
processos semânticos simultâneos:
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Para Halliday & Hasan, a coesão textual é um conceito semântico, que se refere às
relações de sentido existentes no interior do texto e que o definem como um texto.
Ocorre quando a interpretação de algum elemento do discurso é dependente de
outro, através do sistema léxico-gramatical.
O DIA ESTÁ BONITO, POIS ONTEM ENCONTREI SEU IRMÃO NO CINEMA. NÃO
GOSTO DE IR AO CINEMA. LÁ PASSAM MUITOS FILMES DIVERTIDOS.
Podemos, então, entender por coesão textual o conjunto dos recursos linguísticos
que estabelecem as ligações entre as partes de um texto (nas frases, entre as
orações de um período ou entre os parágrafos), garantindo-lhe a coerência.
1- Anafóricos: elementos linguísticos que recuperam (ou que se referem a) algo que
foi dito anteriormente:
a) pronomes: A escola comprou novos equipamentos. Com eles daremos aulas mais
dinâmicas.
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Você deve evitar a retomada por meio de termos gerais, como coisa, gente, e
termos da oralidade, como treco, bagulho.
a) pronomes:
b) dois-pontos:
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1- conectores ou elementos de ligação (preposições e locuções prepositivas,
conjunções e locuções conjuntivas), que estabelecem uma relação semântica entre
os diversos segmentos das frases, entre os diversos períodos e entre os parágrafos.
O aluno precisou faltar tanto às aulas que não conseguiu acompanhá-las, quando
retornou.
b- causa e consequência: porque, visto que, em virtude de, uma vez que, devido a,
já que, por motivo de, em razão de, graças à, em decorrência de, por causa de.
c- finalidade: a fim de, a fim de que, com o intuito de, para, para que, com o objetivo
de.
d- proporção: à medida que, à proporção que, ao passo que, tanto quanto, tanto
mais.
e- condição: se, caso, contanto que, a não ser que, a menos que.
f- conclusão: portanto, então, assim, logo, por isso, por conseguinte, pois, de modo
que, em vista disso.
g- adição: e, nem, ou, tanto .. quanto (ou como), não só ... mas também.
Cláudio é, sem dúvida, o candidato mais bem preparado. Além disso, revela aguda
sensibilidade às artes.
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e- dúvida: quiçá, se é que, provavelmente, talvez.
h- ilustração, esclarecimento: isto é, quer dizer, a saber, por exemplo, vale dizer.
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Aula 09_Fatores de Coerência
Colóquio.
5a feira, 20/08/1994.
14 horas.
Auditório 111.
b) o assunto é de linguística;
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3.Conhecimento partilhado: como cada um de nós vai armazenando os
conhecimentos na memória, a partir de nossas experiências pessoais, é impossível
que duas pessoas partilhem exatamente do mesmo conhecimento de mundo. É
preciso, todavia, que os dois sujeitos do ato comunicativo tenham uma parcela de
conhecimentos comuns. Quanto maior for essa parcela, menor será a necessidade
de explicitude do texto, pois o receptor será capaz de suprir as lacunas, por
exemplo, através das inferências.
Inferências:
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Aula 10_É fácil classificar ou nomear um gênero?
Tendo em vista que você já leu a respeito das concepções, ideário e análise das
correntes literárias, ficará mais fácil para entender quais critérios comumente são
usados para sua caracterização e designação. Esta aula trata dos critérios
envolvidos na nomeação dos gêneros, já que uma das dificuldades encontradas
pelos alunos tem relação com sua designação.
Todo texto apresenta algo de “igual” e algo de “diferente” de outros textos. O “igual”
corresponde ao que é típico da construção textual em determinado contexto social; o
que é “diferente” corresponde às marcas dos usuários da língua. A identificação de
um gênero depende desse conjunto de fatores, não apenas de um só.
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A receita é uma paródia, uma anedota, pois trata com ironia os elementos presentes
no texto
Os gêneros estão bem fixados e não oferecem problemas para sua identificação.
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Fonte: Marcuschi,2011,p.09
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Fonte: Marcuschi,2011,p.09
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Aula 11_O trabalho coma leitura e com a língua
Quando se opta por apresentar a leitura na escola sem simplificações, tal como
acontece nas práticas sociais e com a diversidade de propósitos, de textos e de
combinações entre eles, deve-se pensar em uma rotina de trabalho que exige
conhecimentos para prever, sequenciar e pôr em prática as ações necessárias em
determinado tempo.
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meio dela. Ver alguém seduzido pelo que faz pode despertar o
desejo de fazer também;
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textos, ou seja, de forma lúdica, feita apenas uma vez, provocando o encanto da
descoberta, que só se experimenta na primeira leitura. Essa leitura pode ser
realizada em voz alta pelo professor ou pelos próprios alunos.
Sugere-se que tais atividades sejam registradas à medida que forem executadas,
com avaliação geral da turma, para que se formem leitores críticos dos textos lidos.
Como o professor do ciclo II atua com diversas turmas, sugere-se o registro dessas
rotinas para cada uma delas, de modo que a organização do trabalho a ser realizado
se torne mais visível.
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Aula 12_Abordagem do texto literário - a poesia
Até agora temos falado de como as correntes teóricas vêm lendo, analisando os
textos. Essas são questões importantes que todo professor de Língua Portuguesa
tem de enfrentar.
O trabalho de leitura do texto literário pode começar pela distinção do texto literário
do não-literário, ou seja, do texto que é fruto de criação subjetiva, da invenção, da
imaginação (que produz emoção estética) e de textos reais, objetivos e que tratam
de situações da vida. Um cientista, por exemplo, busca entender a natureza e
escreve os textos científicos com base naquilo que observou. Ele quer explicar as
coisas do mundo como nos textos jornalísticos, textos de opinião, autobiografia,
biografia, diário e ensaio.
Para ler os textos literários, é preciso descobrir as “pistas” que os autores deixam e
construir, com base nelas, os sentidos.
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conhecer alguns recursos da linguagem poética;
Assim, o professor deve preparar os alunos antes de ler o poema com os alunos, é
preciso identificar os conhecimentos deles sobre poesia e poema.
Os alunos precisam saber que a medida de um verso é dada pelo número de sílabas
poéticas, por isso é preciso ensinar que as sílabas poéticas são contadas de
maneira diferente das sílabas gramaticais. O poeta pode fundir uma vogal com a
vogal seguinte dentro de uma palavra, ou a vogal da sílaba final de uma palavra com
a vogal da sílaba inicial da palavra seguinte.
Ensinar, por exemplo, que a contagem das sílabas poéticas do verso (escansão)
para na sílaba forte da última palavra do verso.
Durante a leitura, é preciso fazer pausas para comentar trechos importantes, para
trocar impressões com os alunos: passagens difíceis, trechos curiosos, palavras
ambíguas.
Motivo
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sou poeta.
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Irmão das coisas fugidias,
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
ou passo.
Leia o poema e comente com os alunos como deve ser a leitura dos versos e
esclareça o sentido de algumas palavras do texto.
Na primeira estrofe, o eu-lírico explicita a causa que o leva a cantar: o instante existe
(motivo?).
Há, no verso 3, uma antítese: “Não sou alegre nem sou triste”. Aqui é preciso falar
sobre as figuras de linguagem, expressões usadas para criar efeitos de
expressividade. Muitas antíteses aparecerão no poema. Todas se referem ao poeta,
não à poesia.
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Na última estrofe aparece a oposição maior, que não está explícita no texto, ou
seja, a transitoriedade do poeta opõe-se à perenidade da canção,reforçada pela
metáfora “tem sangue eterno a asa ritmada” que revela o poder da poesia.
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Aula 13_Textos Não-ficcionais
Esta aula apresenta algumas sugestões de como trabalhar textos não ficcionais.
O ser humano há muito tempo aprendeu a contar histórias e passar para as novas
gerações suas experiências, transmitindo suas memórias e perpetuando-as. Para
registrar e perpetuar memórias, estão a autobiografia (relato da própria vida) e a
biografia (relato da vida de uma pessoa). A autobiografia tem como tema central a
vida de uma pessoa contada ou escrita por ela mesma. A biografia também gira em
torno da história de uma pessoa, só que contada ou escrita por outro” (BENTES,
2004, p. 10).
Por isso, a composição do texto pode variar muito. A biografia pode ser organizada
com base no relato das experiências vividas, apresentadas em ordem cronológica;
pode ainda ser estruturada em função de uma frase emblemática, considerada
essencial pelo autor do texto; pode também ser escrita com base nos depoimentos
colhidos entre amigos ou parentes. Enfim, o autor tem certa liberdade para montar o
texto, ordenando e enfatizando idéias ou episódios que julga traduzir da melhor
maneira a pessoa biografada.
É fundamental que os alunos tenham em mente que, quando lemos uma biografia,
conhecemos mais profundamente a pessoa biografada, pelo olhar do autor da
biografia. A maneira como o texto é montado, as pequenas narrativas e descrições
da pessoa, as cenas escolhidas, os lugares e as paisagens fotografadas, o estilo
romanceado revelam a intencionalidade de quem escreve o texto.
O texto expositivo
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dela, os alunos estudam os conteúdos das disciplinas lendo textos e fazendo
exercícios do livro didático, mas eles não podem ser a única fonte de estudo do
aluno nem a do professor para transmitir e construir saberes. Se a
interdisciplinaridade é característica essencial do conhecimento, é fundamental
trabalhar os temas usando e comparando diferentes fontes, inserindo outros textos e
suportes – jornais, revistas, fitas gravadas, vídeos, textos da Internet, outros livros –
no cotidiano escolar.
Temos de pensar atividades que façam o aluno interagir de fato com o texto, indo
além da simples memorização de fatos e das respostas aos questionários algumas
vezes mal formulados.
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público-leitor outra reação, que é em última análise de adesão – a
de não usar palavras que não tenham sido dicionarizadas: muitos
profissionais da linguagem, ao invés de usar um neologismo mais
apropriado, optam sistematicamente por uma expressão menos
adequada, mas antiga e registrada no dicionário.
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Os grandes dicionários de referência para o português do Brasil são
hoje três: o Novo Aurélio do século xxI (2000), o Dicionário Houaiss
da língua portuguesa (2001) e o Dicionário de usos do português do
Brasil (2002), de Francisco da Silva Borba (mais conhecido pela
sigla dup). Trata-se de obras diferentes, não só por suas dimensões
e complexidade, mas também por sua concepção. O Houaiss e o
Novo Aurélio do século xxI são obras de filólogos, e sua
preocupação é registrar o vocabulário do português brasileiro em
toda a sua riqueza – considerando em um mesmo pé de igualdade
os usos mais antigos e os mais recentes, os mais frequentes e os
mais raros.
Peça aos alunos que observem, no primeiro parágrafo, o uso do travessão e dos
parênteses. É importante que percebam que os autores lançaram mão desses
recursos para inserir informações que consideram relevantes, que completam a
ideia: os dicionários “são referência para a ortografia das palavras”. Repare que a
informação que vem separada pelo travessão tem ênfase maior do que a que vem
entre os parênteses.
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Faça o exercício de ler o parágrafo omitindo primeiro o que vem entre parênteses;
depois o que vem destacado pelo travessão e pelos parênteses. Depois dessa
leitura, os alunos perceberão que a ideia principal continua intacta. Há várias
palavras que devem ser investigadas, de preferência com o uso do dicionário:
abonação, filólogos, neologismos, lexicologia.
Várias atividades poderiam ser realizadas depois da leitura. Por meio de perguntas,
aprofundar a leitura do texto. Na segunda linha do primeiro parágrafo, lemos: “eles
são referência para a ortografia das palavras – um problema que se tornou
inescapável...”. Também no primeiro parágrafo: “muitos profissionais da linguagem,
ao invés de usar um neologismo mais apropriado, optam sistematicamente por uma
expressão menos adequada, mas antiga e registrada no dicionário”. O dicionário
pode ser um problema? Pode conter erros e lacunas? O autor deixa transparecer
sua opinião?
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Aula 14_Os gêneros e suas acepções
Desde os anos 80, a perspectiva adotada como a mais adequada para o ensino tem
sido aquela que toma o texto como unidade de ensino, por entendê-la como produto
do funcionamento da língua. Nessa perspectiva, o trabalho com a dimensão
discursiva do texto deve estar fundamentado numa concepção de linguagem
centrada na interlocução, ou seja, numa concepção sociointeracionista, como já se
comentou.
Para essa classificação, Platão toma os gêneros como obras da voz e baseia-se no
modo de representação mimética. Inicialmente, separou-os em gêneros sérios e
burlescos. A epopéia e a tragédia pertencem ao primeiro, enquanto a sátira e a
comédia, ao segundo. Posteriormente, em “A república”, propõe uma classificação a
partir da observação do contraste entre realidade e representação. A tragédia e a
comédia como gênero mimético; a epopéia como gênero misto; e o ditirambo, o
nomo e a poesia lírica, como expositivo ou narrativo e toda forma lírica como
condenável, pois imita a realidade e não se refere a ela como verdadeira e nem
colabora para organizá-la como república:
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Nessa mesma obra, Platão cita vários gêneros, condenando os “líricos” e a conclui
narrando um “conto” (o mito de Er). Logo, pode-se notar um apanhado de gêneros
em um texto pertencente a um gênero específico, que traduz a própria obra de
Platão, o diálogo.
Outra classificação também citada por Brandão diz respeito à teoria dos estilos
elevado, médio e humilde. Como representantes desses estilos, cita a “Eneida” de
Virgílio que representa o estilo elevado; o estilo médio é representado pelas
“Geógicas” e o estilo humilde pelas “Bucólicas”. Essa classificação apresenta
critérios que se voltam tanto para o campo literário como para o da linguagem.
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No âmbito da linguística, os estudos sobre os gêneros e sua classificação têm por
objetivo categorizar e classificar seu material de análise. Para isso, a área emprega
critérios linguísticos que destacam suas características e as condições de produção
do discurso.
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Aula 15_O que dizem os estudos sobre os gêneros?
Baltar reflete sobre quais relações podem ser estabelecidas entre a competência
discursiva escrita e o trabalho com os gêneros textuais - postulado por Bronckart.
Para desenvolver a pesquisa, o autor usou como ferramenta metodológica a
atividade de linguagem de produção de um jornal em sala de aula, com alunos do
ensino médio de duas escolas públicas de Porto Alegre. Os alunos das duas escolas
trabalharam com gêneros textuais diversificados, buscando interagir
sociodiscursivamente com seus colegas-leitores e com toda a comunidade escolar.
A pesquisa revelou a emersão de gêneros híbridos que surgiram em função da
produção de gêneros textuais jornalísticos no ambiente discursivo escolar.
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1) dimensão didático-pedagógica identificada pelo uso de expressões como ensino-
aprendizagem de gêneros, gêneros escolares/gêneros escolarizados, gênero como
objeto de ensino etc;
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Aula 16_A tipologia enunciativa de Bronckart
Para efetuar uma análise da organização do texto, o autor propõe que sejam
utilizados os métodos elaborados pelas ciências da linguagem na atualidade, por
meio de uma análise que deve considerar e abordar os conceitos e hipóteses já
construídos para efeito comparativo “das espécies de textos existentes”
(Bronckart,1999, p.119). Sendo assim, a organização textual é concebida como um
folhado organizado em três níveis superpostos e interativos: i) a infraestrutura geral;
ii) os mecanismos de textualização; iii) e os mecanismos enunciativos. Essas
camadas expõem a trama da organização textual que apresenta uma dada
hierarquia.
A infraestrutura geral do texto é constituída pelo plano mais geral do texto, pelos
tipos de discurso e sequências produzidas.
PÓS-GRADUAÇÃO 57
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Devíamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas, as
suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma,
devíamos poder construir essas pequenas obras primas
incomunicáveis, que, ainda menos que a rosa, duram apenas o
instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro
vestígio que a nossa memória.
[...]
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Trata-se de uma crônica elaborada em primeira pessoa do plural, abordando
diferentes modos de sonhar, um deles decorrente da aproximação entre o sonho e
a leitura. O universo do sonho é instaurado pelo emprego da perífrase verbal
“devíamos poder”, com a finalidade de marcar o caráter fictício e deôntico do que é
dito, instaura, ao mesmo tempo, uma certa leveza, atenuação do peso, da
necessidade de que isso venha a ocorrer.
O texto é marcado pela firme convicção de que o ser humano, para viver melhor,
necessita sonhar/ler (viajar), exercitar a imaginação, iludir-se, supor-se em lugares
sonhados ou imaginados, projetar, planejar e dar asas à criatividade. O agente-
produtor sugere que uma das maneiras de se conseguir esse treino imaginativo
seria o constante exercício da leitura e do sonho.
Nesse sentido, conduz o leitor por um caminho em que a leitura é exercida por meio
da contemplação de paisagens, de esculturas, do contato com o pensamento de
autores da literatura universal, da mitologia, de lendas indígenas, de personagens da
História Universal.
A crônica propõe: você tem condições de sonhar com o que quiser: escolha o seu
sonho, escolha sua leitura, escolha sua forma de imaginar e sonhar. Essa
proposição permite aproximar a atitude sonhadora – parte de um processo
imaginativo-construtor do ser humano – da atividade de leitura. Torna-se sonho o
termo metafórico que sugere a relação entre a atividade de sonhar e a de ler/viver.
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Aula 17_Os tipos de discurso
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densidade verbal e baixa densidade sintagmática. O subsistema verbal assemelha-
se ao da narração: usa o pretérito perfeito e o imperfeito e algumas variações do
passado como o mais-que-perfeito, o futuro simples e o futuro do pretérito.
Coelho (2009), analisa a crônica a seguir e revela como essa organização serve ao
intuito do produtor do texto:
O lucro do arrastão
[...]
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relógio mais vagabundo de cada um. Qualquer lanchonete, ali pelo
meio-dia, oferece mais dinheiro e mercadoria. E os bandidos sabem
disso.
A crônica “O lucro do arrastão” faz referência direta ao fato noticioso que serve de
ponto de partida para sua produção: o arrastão –fato que suscita no cronista a
necessidade de trazer à tona fato que se repete - é preciso refrescar a lembrança do
leitor e observar o recurso utilizado por aqueles que mantêm interesses não muito
nobres.
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Aula 18_Os gêneros, o intertexto e as formas de planificação
Conforme Coelho (2009), todo ser humano dispõe de um certo conhecimento sobre
os gêneros. De acordo com as circunstâncias de seu desenvolvimento pessoal,
todos são expostos a um número de gêneros. Cada sujeito, cada leitor conheceu
suas características e as “experimentou”, colocando-as em prática numa
determinada situação de ação.
Conforme já afirmado antes, os gêneros são meios para uma ação de linguagem em
que o agente produtor aplica esquemas de utilização: calcula a adequação do
gênero à situação de ação e emprega os mecanismos de que dispõe e que conhece
para concretizar essa ação.
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Durante esse processo, é possível observar as adaptações que o produtor realiza,
gerando assim novos gêneros ou variações de um mesmo gênero, que se
assemelham mais ou menos aos existentes. Explica-se assim a mudança que se
observa em alguns gêneros: “é pelo acúmulo desses processos individuais que os
gêneros se modificam permanentemente e tomam um estatuto fundamentalmente
dinâmico ou histórico”. (Bronckart,1999,p.102)
[...]
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É graças ao acúmulo desses processos que são observadas as mudanças, as
alterações nos gêneros. O processo criativo de adaptação que o agente produtor
investe em seu texto revela suas necessidades, preferências, estilo e deixa evidente
sua marca - a autoria emerge nesse processo. Conforme Bronckart, as planificações
mais encontradas nos tipos de discurso são:
Para Bronckart, as sequências servem aos tipos de discurso que mantêm relações
com os mundos discursivos.
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indexados a determinada formação sócio-discursiva que interagem numa certa
circunstância (Adam, 1999: 85). Bronckart (2005) considera o intertexto como os
diversos processos de interação implícita ou explícita entre textos, reservando o
termo arquitexto, advindo de Genette, a uma organização de textos pré-existentes.
Com isso, o sentido do termo empregado por Bronckart para intertexto é o mesmo
observado em Adam. Em contrapartida, Bronckart utiliza a expressão de arquitexto,
no lugar do interdiscurso de Adam.(PINTO e TEIXEIRA,p.387 in
http://www.apl.org.pt/docs/23-textos-seleccionados/ 28-Pinto_Teixeira.pdf)
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Aula 19_Os tipos de sequências
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atitudes, os sentimentos do interlocutor. Há, portanto, necessidade de prover-se uma
explicação, apresentando-se causas e razões da afirmação inicial. O raciocínio
explicativo apresenta uma fase de constatação inicial – introdução do tema
incontestável; uma fase de problematização e explicitação dos motivos; uma fase de
resolução, que traz informações que respondem às questões colocadas; uma fase
de avaliação ou conclusão, que completa a formulação inicial.
OS QUE FICAM
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vezes, o biquíni seja só a etiqueta”. Observa-se neste trecho uma sequência de
orações coordenadas e subordinadas que expressam relações de dependência
construídas por meio do uso nexos subordinativos próprios do discurso do expor:
relações de finalidade e de concessão que têm relação com a argumentação
desenvolvida e que, na crônica, produz o efeito de ironia - a subordinada concessiva
empregada comenta o fato constatado.
Bronckart trata da sequência injuntiva como uma sequência autônoma cujo objetivo
é fazer agir o destinatário, o interlocutor. Pretende-se que ele faça algo ou modifique
sua visão sobre determinado ser ou objeto. Essas sequências são encontradas em
cartas, receitas que dão instruções sobre como proceder, manuais de instrução,
placas de jardins, de garagens: “não pise na grama”, “ não estacione”. São
empregados verbos na forma imperativa.
A organização dos discursos do expor pode ser feita também, por meio de
esquematizações, apresentando sequências de forma local e breve, frequentes nos
discursos teóricos e acompanhadas de sequências descritivas. As sequências
argumentativa, explicativa e injuntiva ocorrem nos discursos mistos e nos discursos
interativos enquanto as sequências descritivas apoiam sequências argumentativas
ou explicativas, neste tipo de discurso.
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As sequências no discurso do narrar: relatos interativos e narrações são
organizadas em forma de script, de sequência narrativa e na forma secundária de
sequência descritiva. Esta última aparece como a forma de planificação comum às
duas ordens do Narrar e do Expor.
Espero que esta aula tenha contribuído para ajudá-lo (a) a compreender como
podem ser organizadas as sequências dos mundos do expor, narrar, argumentar.
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Aula 20_Mecanismos de textualização
A coesão nominal e a coesão verbal são construídas por meio de mecanismos que
introduzem o tema, o retomam e o substituem. É o caso dos anafóricos (pronomes),
das elipses e alguns sintagmas nominais. A organização temporal resulta do
emprego dos tempos verbais, dos advérbios e de outros organizadores textuais.
Mecanismos enunciativos
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da pessoa que está na origem da produção verbal e que intervém no texto com
comentários, avaliando ou explicando algum aspecto do conteúdo temático.
As marcas linguísticas que indicam a modalização podem ser expressas por verbos
condicionais ou modais: “ gostar, querer, dever, ser necessário, poder”. Como
também podem ser expressas por advérbios ou locuções adverbiais; orações
impessoais ou adverbiais:: “com certeza”, “certamente”, “infelizmente”, “talvez”,
“necessariamente”. Podem ser orações impessoais ou adverbiais: “é provável que, é
lamentável que, sem dúvida que”.
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observação desses índices, percebe-se como o autor/locutor constrói as relações
entre os interlocutores e o enunciado, e como manifesta sua opinião, basta observar
os substantivos, os adjetivos, os advérbios e os verbos empregados. O uso de
termos avaliativos expressa a opção ideológica do sujeito da enunciação e revela
ao leitor caminhos para a construção dos sentidos. A utilização dessas formas revela
pistas para o nível interpretativo da linguagem.
Sobre os dêiticos, a autora explica que a referência é mais importante que o sentido,
pois a linguagem é ancorada à situação de comunicação por meio dos dêiticos. O
“eu” organiza o aqui-agora da situação comunicativa. O pronome “eu”, por exemplo,
tem sempre o mesmo sentido, porém, a cada emprego a referência muda. Os
pronomes são orientados para quem enuncia – o locutor “eu/nós”; para quem se
dirige o enunciado - o “tu”, “você”, “vocês” ou “vós”. O pronome “ele” indica a que ou
quem se refere o enunciado.
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Para exemplificar como esses elementos podem se manifestar num texto,
analisemos o trecho da cônica a seguir:
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