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Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto de Ciências Humanas – Ciências Sociais (CSO/UFJF)

QUESTÃO DA PROVA

• Roberto Cardoso de Oliveira argumenta que nos trabalhos


antropológicos cada um dos atos de olhar, ouvir e escrever possui sentidos próprios e
concernentes à história conceitual da disciplina. Assim, Malinowski, embora seja um
autor do início do século XX, constitui uma referência para as pesquisas atuais pelo
debate metodológico no trabalho de campo entre os trobriandeses e cuja principal
marca é a relação construída com os seus “informantes”. Da mesma forma, alguns
anos depois, seria a vez de William Foote-White, na década de 30, elaborar um
conjunto de problemas teóricos sobre a vida nas periferias urbanas de Boston a partir
da interlocução com um grupo de descendentes de italianos. As possibilidades de
interlocução variam, as estratégias também, mas existem pontos fundamentais em
comum, diríamos, um conjunto de preocupações que permeiam a lógica de produção
do trabalho de campo em Antropologia. Considerando as práticas de pesquisas
realizadas até o momento na disciplina de método etnográfico, disserte sobre esse
conjunto de preocupações que conformam a pesquisa, segundo os autores lidos no
curso.

ENSAIO SOBRE O MÉTODO ETNOGRÁFICO


BREVE REFLEXÃO

INTRODUÇÃO
Podemos iniciar este diálogo, compreendendo que, como forma de realizar uma
pesquisa antropológica, isto é, um estudo de determinado grupo, sociedade em suas
dimensões, sendo, a etnografia nosso objeto de estudo, é preciso compreender determinados
métodos. A importância para se atentar aos métodos etnográficos de uma pesquisa, torna-se
relevante no momento em que compreendemos a Sociologia como Ciência. Em que, mesmo
os empiristas e os racionalistas buscam uma certa objetividade do conhecimento pesquisado.
Segundo Roberto Cardoso, o método é o caminho para ir em busca de algo (CARDOSO,
2000, p.7). Contudo, existe a problematização do método, pois, tratando-se de uma ciência
mole - ou seja, diferente de uma ciência exata ou dura - o método deve estar atento às
generalizações ou universalização de seus conceitos, respeitando em todos seus trabalhos o
tempo histórico analisado e a cultura apresentada.
Dessa forma, o método pode ser compreendido com um sistematização descrita, a fim de
auxiliar o pesquisador a compreender ou até mesmo, categorizar o mundo a sua volta;
compreendendo que o processo de sistematização inicia-se na pré-concepção do etnógrafo, ou
melhor, em seus conceitos pré-concebidos que por sua vez, podem ter impacto sobre os
sujeitos da investigação, tanto a Ciências Humanas quanto as Ciências Naturais estão
condicionadas pela pré-estruturação do conhecimento. Um exemplo, é que para a melhor
compreensão da mentalidade nativa, Malinowski, ressalta o quão importante é conhecer a
língua no grupo. Logo, somos apresentados ao conceito de Compreensão e Explicação de
Roberto Cardoso, em que a Compreensão está relacionada a entender o objeto estudado,
através dos estudos pré-concebidos, e a Explicação seria a busca por leis e regras desse objeto
estudado; sendo os dois conceitos, respectivamente, Hermenêutica e Metódica.
CONSTRUÇÃO DOS ELEMENTOS DE PESQUISA
Podemos compreender nossos sentidos - olhar, ouvir e escrever; como peças
fundamentais para a produção de uma pesquisa etnográfica, que deve ser apurada com
“teorias”, algo que Roberto Cardoso apresenta como "Domesticação no Olhar” (CARDOSO,
2002, p.15) que seria a compreensão dos fatos com o apoio teórico, dessa forma
enriquecendo a pesquisa; logo, podemos traçar um paralelo com Laplantine, que compreende
a etnografia como a percepção daquilo que está em sua volta, e assim como Roberto Cardoso,
Laplantine apresentamos a transformação no olhar em escrita, ou seja, uma descrição
etnográfica que não apenas descreve a experiência, mas que constrói uma descrição dentro
desse contato com o outro. Compreendendo assim, que o contato entre o pesquisador e o
pesquisado, torna-o como parte da experiência. Algo, que pode ser compreendido em Roberto
Cardoso, como intersubjetividade, talvez, o conceito mais importante desse trabalho; que
consiste na relação entre os sujeitos da pesquisa e por muitas vezes, o pesquisador.
Compreendendo-se que a antropologia se faz pela interação de dois ou mais sujeitos,
Laplantine reflete sobre a contaminação dos dados - compreendi como a precisão dos
mesmos - porém, torna-se relevante a ideia de que em uma escrita antropológica e muito
importante a inclusão no observador no processo, sabendo-se que o mesmo faz parte na
criação das relações como alguém que observa e o outro que está sendo observado. Vale
ressaltar, o método utilizado pelos autores a serem apresentados, conhecido como observação
participante, em que o pesquisador frequenta ou participa de atividades ou no cotidiano de
seu objeto de estudo.
Contudo, é possível compreender em Gilberto Velho, ser improvável de um pesquisador se
abster de seus próprios conceitos pré-formados, quando propõe-se a investigar diretamente
com seu objeto de estudo em suas complexibilidades culturais.
CONDIÇÕES NO CAMPO DE PESQUISA
Em Malinowski, o autor torna-se o próprio cronista e em seu processo de aproximação dos
nativos, o autor relata determinado estranhamento com sua presença, contudo, com o tempo -
elemento de suma importância no trabalho de campo - os nativos, pararam com o olhar de
estranhamento, sua presença tornou-se mais usual, o próprio autor teve que aprender a se
comportar. Dessa forma, Malinowski abre a noção de totalidade, como construção de
conhecimento, em que como etnógrafo, ele descreve todos os processos que ocorrem na tribo,
sem atribuir "juízo de valor” - compreendendo que seu "juízo de valor” não pode interferir na
pesquisa - logo, compreende a complexibilidade constitucional dos povos trobriandeses e
como a vida social daquele povo e interligada. Algo, que torna-se explícito no processo de
construção da canoa, que mostra-se importantíssimo para a manutenção da vida cotidiana.
Enquanto Whyte, em seu processo de pesquisa, apresenta as mesmas questões de campo no
que Malinowski, no sentido de obtenção da confiança de seus pesquisados, em que ele
através de “Doc” - um morador local - consegue acesso às pessoas no bairro em que
apresenta seu estudo. E pode ser observado outras semelhanças, quando Licia Valladares, em
sua resenha sobre a pesquisa de Whyte, observa que, o acompanhamento de rotina, interação
com o ambiente tornam a pesquisa mais enriquecedora e completa, visto a complexibilidade
dos grupos e seu comportamento.
CONCLUSÃO

Pode-se compreender que, o exercício de observação participante, descrição


etnográfica e o processo de sistematização, não são simples de serem feitos, contudo, através
da literatura proposta, este trabalho propõe-se em esclarecer determinados pontos e ressaltar
as lições compreendidas para uma melhor efetividade no processo. Em nossa pesquisa de
trabalho, podemos detectar alguns pontos convergentes; como o estranhamento daqueles que
estão sendo analisados e o processo de aproximação com nossos interlocutores, que assim
como em Malinowski, demandam tempo até sua presença tornar-se comum e apresentarem
demasiada confiança para continuarem em suas interações cotidianas sem a sensação de
estarem sendo vigiados. Vale ressaltar, que tratando-se de uma pesquisa sobre “grupos de
extrema-direita”, compreendemos a atenção que devemos ter com os conceitos pré-
concebidos, que poderão ter impacto sobre a investigação.
Em suma, devido ao curto tempo e este trabalho tratar-se de uma breve reflexão
teórica, em que, espero ter denotado compreender sobre os conjuntos de preocupações que
permeiam uma pesquisa etnográfica, abordando os principais temas dos autores propostos e
confluindo para as problemáticas de seus métodos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O lugar (e o lugar) do método. O trabalho do


antropólogo. Brasília/São Paulo: Paralelo/Unesp, 2000. pp. 73-94, 1995. (disponível em pdf
na web).
MALINOWSKI, Bronisław. Argonautas do Pacífico Ocidental (1922) (Introdução e
Capítulo IV). São Paulo: Abril Cultural, p. 17-34, 87-100, 1984.
LAPLANTINE, François. 2002. A descrição etnográfica. São Paulo: Terceira Margem. pp.
29- 53.
MAGNANI, José G. C. “Discurso e representação, ou De como os baloma de Kiriwina
podem reencarnar-se nas atuais pesquisas”, in R. CARDOSO (org.) A Aventura
antropológica. Rio de janeiro: Paz e Terra, p.127-140, 1986.
CARDOSO de OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. (17-
36). In: O Trabalho do antropólogo. São Paulo: Unesp/paralelo 15, 2002.
VELHO, Gilberto. “Observando o familiar”, in E. O. NUNES (org.) A aventura sociológica.
Rio de Janeiro: Zahar, p. 36-46, 1978.
FOOTE-WHYTE, William. Treinando a observação participante. In: Alba ZALUAR.
Desvendando Máscaras sociais, 1980. (capítulo 3).
VALLADARES, Licia. “Os dez mandamentos da observação participante” (Resenha de
FOOTE-WHYTE, William. Sociedade de Esquina: a estrutura social de uma área urbana
pobre e degradada). Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 22, n. 63: 153-155, 2007.

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