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Pteros
Há cerca de 100 milhões
de anos, estranhas criaturas,
algumas com mais de 6 m
entre as pontas de suas asas
e aspecto assustador,
percorriam os céus
do Nordeste brasileiro.
Não eram aves, mas répteis
voadores, batizados pelos
cientistas como pterossauros.
os primeiros
Seus fósseis, encontrados
em todos os continentes,
revelam muito sobre suas
características e hábitos,
mas sua origem, evolução
e desaparecimento ainda
intrigam os pesquisadores.
Alexander Wilhelm
Armin Kellner
Departamento de Geologia
A. ITOU, Y. OKAMOTO E T. OHTA
e Paleontologia,
Museu Nacional,
Universidade Federal
do Rio de Janeiro
s sauros
vertebrados voadores
Reconstrução do céu
brasileiro há
110 milhões de anos.
No alto, Tupuxuara,
no meio, Anhanguera
e na parte inferior,
Tapejara imperator
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PALEONTOLOGIA
FOTOS DE A. W. A. KELLNER
Afloramento eles coloriram os céus do planeta
dos sedimentos
em seu tempo.
da formação
Santana,
em Pernambuco
(perto do limite UM ACHADO
com o Ceará), SURPREENDENTE
em uma mina
abandonada
A história da descoberta dos
pterossauros começou em 1784,
com a primeira e inusitada
descrição de um desses animais
na literatura científica. Isso acon-
teceu quando o historiador e na-
turalista italiano Cosimo A. Col-
lini (1727-1806), então curador
do Museu de Mannheim (Ale-
manha), recebeu um esqueleto
senvolvidos. Muitos voavam em bandos e faziam completo (figura 3), preservado em uma laje calcária
mergulhos rasantes sobre a água. De repente, um vinda da bacia de Solnhofen, no sul da Alemanha.
deles mergulhava a ponta do bico na água e afastava- Collini descreveu o animal como desconhecido,
se carregando um peixe, e logo era perseguido por novo para a ciência, de hábitos possivelmente anfí-
outro, em uma disputa pela presa. Tais animais bios e de posição sistemática indefinida. Ou seja,
voadores, extintos há 110 milhões de anos (os abor- ele não tinha a menor idéia do que se tratava.
Figura 2.
Esqueleto dados neste artigo), eram representantes do grupo Somente muitos anos depois, em 1801, o famoso
de pterossauro dos pterossauros, uma das mais fascinantes formas paleontólogo francês Georges Cuvier (1769-1832),
do gênero de vida que já viveram na Terra. considerado o pai da paleontologia de vertebrados,
Rhamphorhynchus, Os mais antigos fósseis de pterossauros ou rép- afirmou que os restos pertenciam a um animal
com 150 milhões teis voadores, como também são chamados (figura voador, mas que este deveria ser incluído no grupo
de anos,
encontrado 2) foram encontrados em rochas formadas há 225 dos répteis. O próprio Cuvier, em 1809, cunhou o
em Solnhofen milhões de anos, no Triássico (primeiro período da termo Pterodactylus (dedo alado, em grego). Curio-
(Alemanha) era Mesozóica). Eles atravessaram todo o Jurássi- samente, a palavra dinossauro (lagarto terrível,
– nota-se a co (o chamado período dos dinossauros) e sua também em grego) só seria criada algumas décadas
impressão, extinção no mundo ocorreu há cerca de 65 milhões depois, em 1842, pelo paleontólogo inglês Richard
na rocha,
da membrana de anos, no final do Cretáceo (a última parte da era Owen (1804-1892).
de pele que Mesozóica). Há fósseis desses animais em todos os A conclusão de Cuvier, porém, não foi aceita por
formava sua asa continentes, inclusive na Antártida. Embora não muitos cientistas de sua época. Durante o século 19,
o aspecto desses animais alados
levou a variadas interpretações:
alguns os consideraram um grupo
extinto de aves aquáticas ou mes-
mo representantes fósseis de mor-
cegos. Com o correr dos anos, e
com novos achados de fósseis do
grupo e a evolução das técnicas
de análise, as idéias de Cuvier
prevaleceram.
Hoje, a ordem Pterosauria é
composta por cerca de 140 espé-
cies conhecidas, de tamanhos
variados. Os menores já encon-
trados não eram maiores que um
pardal atual, enquanto os maio-
res chegavam a ter asas com en-
vergadura em torno de 7 m (gêne-
ro Pteranodon) ou até, como indi-
Wellnhofer, do Museu Estatal da Bavária (Muni- machos atraíssem as fêmeas (ou vice-versa). Essa
A. ITOU, Y. OKAMOTO E T. OHTA
Figura 8.
que, Alemanha). T. wellnhoferi também tinha cris- crista talvez tivesse ainda alguma função aerodinâ- Tapejara
tas na parte anterior do crânio e da mandíbula, mas, mica ou ajudasse na regulação térmica, ou mesmo imperator,
ao contrário de Anhanguera, acredita-se que esse poderia ter todo esse conjunto de utilidades. também
réptil voador se alimentava de frutificações das Outro dado bastante curioso, em relação aos encontrado
plantas da época. pterossauros brasileiros, é que, das 20 espécies já no Ceará,
é o pterossauro
Vale ressaltar ainda outro pterossauro encon- encontradas, 19 vieram da bacia do Araripe com a maior
trado no Brasil, Tapejara imperator. Os fósseis (figura 9). O único fóssil que não é dessa área crista de que
desse animal procedem de camadas um pouco foi encontrado na Paraíba, em rochas se- se tem notícia
mais antigas (115 milhões de anos) da bacia do dimentares que formam a bacia Per- no mundo
Araripe, quando na região existiam vários la- nambuco-Paraíba. O material
gos de água doce. Também não tinha dentes e
ostentava na cabeça uma crista que, vista de
perfil, aumenta de cinco a seis vezes a área de seu
crânio! Assim, esse pterossauro é o animal com a
maior crista de que se tem notícia (figura 8).
Embora não se tenha certeza, acredita-se
que a crista era usada como orna- apenas um
mentação sexual, para que os úmero incom-
pleto é muito im-
portante, por compro-
NA BACIA PERNAMBUCO-PARAÍBA var a existência de outro grupo de
pterossauros no Brasil, denominado
Grupo (família) Nyctosauridae
Nyctosauridae. Esse animal foi descrito tam-
Nyctosaurus lamegoi (Price, 1953)
bém por Price, que propôs o nome Nyctosaurus
NA BACIA DO ARARIPE lamegoi, e na época era a primeira evidência de um
Grupo (família) Anhangueridae réptil voador na América do Sul. Fósseis mais com-
Anhanguera* araripensis (Wellnhofer, 1985) pletos desse grupo, encontrados nos Estados Uni-
Anhanguera* santanae (Wellnhofer, 1985) dos, revelam que esses pterossauros não tinham
dentes e que as proporções dos ossos de suas asas
Anhanguera blittersdorffi (Campos & Kellner, 1985) Sugestões
eram diferentes do observado em todos os demais para leitura
Anhanguera piscator (Kellner & Tomida, 2001)
pterossauros.
Anhanguera* robustus (Wellnhofer, 1987) Alguns museus brasileiros exibem restos fósseis KELLNER, A. W. A.
‘Tapejara
Tropeognathus mesembrinus (Wellnhofer, 1987) de pterossauros em sua área de exposição. Entre eles imperator –
Grupo (família) Tapejaridae destacam-se o Museu Nacional na Quinta da Boa an unusual flying
reptile (Pterosaur)
Tapejara wellnhoferi (Kellner, 1989) Vista e o Museu de Ciências da Terra (do Departa- from the ancient
mento Nacional de Produção Mineral), ambos no skies of Brazil’,
Tapejara imperator (Campos & Kellner, 1997) Dino Press,
Rio de Janeiro, e o Museu de Paleontologia de San- v. 1, p. 63,
Tupuxuara longicristatus (Kellner & Campos, 1988)
tana do Cariri, administrado pela Universidade 2000.
Tupuxuara leonardii (Kellner & Campos, 1994) Regional do Cariri, no Ceará. Maiores informações KELLNER, A. W. A.;
SCHWANKE, C. &
Grupo (família) indeterminado sobre as pesquisas de fósseis brasileiros, em parti- CAMPOS, D. A.
Araripesaurus castilhoi (Price, 1971) cular dinossauros e pterossauros, podem ser obtidas O Brasil no tempo
dos dinossauros,
Araripedactylus dehmi (Wellnhofer, 1977) no site (http://acd.ufrj.br/MNDGP/PVDGP.htm). Rio de Janeiro,
Embora raros, os registros que os cientistas têm Museu Nacional,
Santanadactylus brasiliensis (Buisonjé, 1980)
mostram que os pterossauros, com suas asas, bicos, 1999.
Brasileodactylus araripensis (Kellner, 1984) MONASTERSKY, R.
cristas, dentes e outras características curiosas, ‘Pterossauros’,
‘Santanadactylus’ spixi (Wellnhofer, 1985) cruzaram os céus do planeta durante mais de 150 National
Geographic
‘Santanadactylus’* pricei (Wellnhofer, 1985) milhões de anos, tendo sido extintos juntamente (edição brasileira),
Cearadactylus atrox (Leonardi & Borgomaneri, 1985) com os dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos. maio de 2001,
p. 122.
‘Cearadactylus’ ligabuei (Dalla Vecchia, 1993) No entanto, o estudo dessas criaturas fascinantes
WELLNHOFER, P.
ainda está em seu início. Pouco sabemos sobre eles The illustrated
Arthurdactylus conandoylei (Frey & Martill, 1994)
e será necessário um grande número de trabalhos de encyclopedia
Obs.: Os asteriscos indicam gêneros que sofreram modificação of Pterosaurs,
e as aspas indicam gêneros ainda incertos. campo e pesquisas para que possamos ter uma idéia Londres,
mais precisa da sua origem, sua evolução e seu de- Salamander
Figura 9. Espécies de pterossauros brasileiros, Books,
distribuídas por grupos e com informações sobre saparecimento. n
1991.
os pesquisadores que as estudaram