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Artigo

Onde a Amazônia encontra o mar: estudando


os sambaquis do Pará

Maura Imazio da Silveira1; Resumo


Denise Pahl Schaan2
O artigo revê e analisa dos dados exis-
tentes sobre as ocupações de grupos
dedicados à exploração de recursos
aquáticos nas zonas atlântica e estuari-
na amazônicas, com ênfase para sítios
localizados no Estado do Pará. Salienta-
se a especificidade dessas ocupações
com relação a sítios semelhantes no res-
tante do Brasil, dada a associação local
com fragmentos cerâmicos. Colocam-se
os principais problemas de pesquisa
levantados pelo projeto em curso, enfa-
tizando-se a importância do estudo para
o entendimento dos processos de ocu-
pação sedentária do território amazôni-
co e sua relação com mudanças geográ-
ficas e climáticas durante o Holoceno.

Palavras-chave: Sambaqui, Arqueologia


amazônica, Estratégias de subsistência

Abstract
The article reviews and analyses the
available data on maritime and riverine
adaptations to both atlantic and estua-
rine zones of Amazonia, focusing on sites
of the state of Pará. The particularities
of such occupations, where ceramic
sherds are present, vis-à-vis non-cera-
mic shell middens located in other Brazi-
lian areas are highlighted. Current rese-

1
Coordenação de Ciências Humanas, Museu Paraense Emílio Goeldi,. Av. Perimetral 1901,
CEP 66077-530, Belém/PA. E-mail: maura@museu-goeldi.br.
2
Departamento de Antropologia, Universidade Federal do Pará. Rua Augusto Corrêa 1, Campus
Básico, CEP 66075-110, Belém/PA. E-mail: denise@marajoara.com.

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Silveira, M. I.; Schaan, D. P.

arch problems are discussed, taking in de sambaquis, sendo freqüentemente


account the importance of such studies referidos por populações amazônicas
for the understanding of the process of como minas de sernambi3. São colinas
ancient sedentary occupation of the de base geralmente oval, com dimen-
Amazonian territory and its relations to sões e alturas variadas, formadas por
geographic and climatic changes during the amontoados de carapaças de moluscos,
Holocene. restos faunísticos, fragmentos e objetos
líticos e cerâmicos, estruturas de habi-
tações (fogueiras e marcas de estacas)
Keywords: Shell middens, Amazonian
e enterramentos.
archaeology, Aubsistence strategies.
Os sambaquis existentes no litoral do
Salgado, como é chamada a zona cos-
Introdução teira nordeste do Estado do Pará, estão
Em diversos lugares do mundo, al- geralmente localizados às margens de
gumas das mais antigas populações a rios, furos, interiores de baías e ilhas,
se estabelecerem de forma sedentária cercados total ou parcialmente por man-
privilegiaram ambientes ricos em re- guezais e apicuns. No litoral amazônico
cursos aquáticos (Richardson, 1978; se encontra uma das maiores extensões
Stothert & Quilter, 1991; Wing, 1992; contínuas de manguezais do planeta,
Keefer et al., 1998; Moss & Erlandson, ecossistemas estes extremamente dinâ-
1998; Sandweiss et al., 1999). Tais micos e bastante suscetíveis a mudan-
adaptações costeiras estiveram relacio- ças climáticas e ambientais (Prost &
nadas aos movimentos de transgressão Mendes, 2001; Fernandes, 2003). Essas
e regressão marinhas que ocorreram du- áreas de mangues, principalmente, por
rante o Holoceno. Entre sete mil e quatro sua rica biodiversidade, atraíram popu-
mil anos atrás, quando os níveis do mar lações sedentárias há pelo menos 6000
estabilizaram-se, esses sítios aumentam anos.
em freqüência, pois grupos humanos
passam a explorar de forma mais inten- Pesquisas anteriores no
siva os recursos aquáticos dos oceanos
e zonas estuarinas, sobrevivendo de litoral do Salgado
uma dieta baseada em peixes, crustá- As primeiras informações disponíveis
ceos, moluscos e mamíferos aquáticos, sobre a existência de sambaquis no
complementada por coleta e caça de Estado do Pará são provenientes de
produtos terrestres. É também nos síti- relatos de viajantes e naturalistas dos
os arqueológicos que se formaram como séculos XVIII e XIX (Barbosa Rodrigues,
conseqüência desses antigos assenta- 1892; Ferreira Penna, 1876; Hartt, 1896;
mentos que vão ser encontradas as mais Morais, 1930; Simões, 1981). Aqueles
antigas cerâmicas e os primeiros indícios relatos mencionaram que sambaquis
de complexidade social – indicados pe- podiam ser encontrados desde a mar-
las desigualdades em práticas funerári- gem do rio Trombetas, passando pelo
as, hierarquia de assentamentos e aces- baixo Amazonas, baixo Tocantins e
so diferenciado a objetos provenientes arquipélago de Marajó chegando até o
de redes de troca à longa distância. litoral nordeste do Pará, ou zona do Sal-
Os sítios arqueológicos típicos des- gado, que por sua vez se estende da
tas ocupações são chamados no Brasil baía de Marajó até a foz do rio Gurupi

3
Sernambi é o nome local para molusco. Além disso, sernambi é também palavra que denota
espécie de funil ou escoadouro cilíndrico feito de fibras vegetais usado para escorrer a seiva da
seringueira, sendo freqüente a confusão entre as duas coisas.

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(ver mapa, Fig. 01)4. Quase todos es- mentos de cerâmica, entre finas cama-
ses sambaquis foram destruídos, com- das de Anomalocardia brasiliana e Mytella
pleta ou parcialmente, à medida em que sp. calcinadas. Além disso, um dos cor-
vinham sendo descobertos, durante os tes estratigráficos revelou um enterra-
séculos XVIII e XIX, pela retirada dos mento primário (corpo fletido, decúbito
depósitos de conchas para uso das dorsal direito) associado com alguns pou-
indústrias da cal usada para construção cos artefatos, entre eles uma lâmina de
de edificações e estradas. machado lítico. No Ponta de Pedras tam-
Foi somente entre 1968 e 1977 que bém foram encontrados enterramentos,
pesquisadores do Museu Paraense Emílio além de carapaças de moluscos das mes-
Goeldi realizaram um primeiro e extenso mas espécies encontradas nos outros
levantamento na região do Salgado, sambaquis.
registrando 62 sítios arqueológicos. Den- Em todos os sítios pesquisados, os
tre os 62 sítios havia 46 sambaquis. poucos utensílios líticos encontrados –
Destes, 43 (com predominância de bi- lâminas de machado polidas, quebra-co-
valves) foram encontrados parcialmente quinhos, trituradores, facas e raspadores
destruídos, enquanto que apenas dois es- – eram provavelmente provenientes de
tavam bem preservados. Além disso, três trocas, dada a ausência de rochas na re-
sítios caracterizavam-se pela presença gião (Simões, 1981). Foram também en-
de gastrópodes fluviais (Simões, 1981). contrados colares de contas e brincos
Os sambaquis investigados tinham em feitos de conchas perfuradas, vértebras
geral a forma oval, com dimensões vari- de tubarão e ossos de peixes, além de
ando entre 25 por 30m (PA-SA-15: Ta- dentes de felinos que também podem ter
perebá) e 130 por 170m (PA-SA-10: For- sido usados como ornamentos.
taleza). Os sítios eram depósitos estra- As amostras de carvão coletadas nos
tificados de carapaças de moluscos, de- sambaquis Porto da Mina e Ponta de
notando a preferência e disponibilidade Pedras produziram as datas radiocarbô-
de Anomalocardia brasiliana, seguida por nicas mais antigas para a região amazô-
Crassostrea sp., Mytella falcata, M. nica na época – respectivamente 3165
guyanensis, Chione pectorina, Thais ± 195 a.C. e 2550 ± 90 a.C., colocando
coronata, T. haemastoma e diversas a fase Mina como a mais antiga do Brasil
outras espécies, representadas em pe- e entre as mais recuadas das Américas
quenas proporções (Simões, 1981:11). (Simões, 1981). Também foi datado o
Algumas espécies de peixes e crustáce- antiplástico de concha encontrado em
os (caranguejos e siris) também ocorre- fragmentos cerâmicos do sítio Porto da
ram, e a presença de proporções míni- Mina, confirmando as datas anteriores e
mas de ossos de fauna terrestre indicou estabelecendo, desta forma, o início da
sem dúvida uma dieta orientada para os ocupação em 3000 a.C.
recursos aquáticos.
Entretanto, uma outra data mais an-
Foram feitas sondagens nos samba- tiga ainda estava disponível para a re-
quis que se apresentavam preservados: gião do Salgado, sendo levantada por
PA-SA-5: Porto da Mina e PA-SA-6: Pon- Anna Roosevelt (por indicação de José
ta das Pedras, na época com, respecti- Proenza Brochado) nos arquivos do la-
vamente, 4 e 9m de altura. No Porto da boratório que realizou as datações. Uma
Mina foram encontrados restos faunísti- amostra de carvão coletada no sítio PA-
cos (carapaças de moluscos, ossos de SA-23: Uruá, no nível 200-220cm, foi
animais e patas de crustáceos) e frag- datada em 5570 ± 125 AP (3620 a.C.)
4
Existem sambaquis também na costa do Maranhão e ilhas, como a de São Luís, que também
fazem parte da zona costeira amazônica; contudo, neste trabalho estamos nos restringindo aos
sambaquis do estado do Pará.

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Silveira, M. I.; Schaan, D. P.

(Roosevelt, 1995:117). Apesar de ter 5500 e 3000 AP, diversos grupos humanos
sido descrito como o sítio tipo da fase ocuparam de forma permanente áreas
Uruá, que não se enquadraria nas ca- não alagadas junto aos manguezais da
racterísticas da fase Mina, este sítio, lo- costa nordeste do Pará, sobrevivendo
calizado às margens do curso médio do primariamente de recursos do mar e do
rio Quatipuru, também era um sambaqui. mangue, e produzindo vasilhas cerâmi-
A fase Uruá foi considerada por Si- cas possivelmente para processar alimen-
mões como mais tardia do que a fase tos5. Os dados disponíveis não permitem
Mina, o que foi interpretado como uma concluir sobre as relações sincrônicas
mudança nas estratégias de subsistência entre os assentamentos ou uma avalia-
(Prous, 1991:473). De acordo com Prous, ção da intensidade da ocupação em um
as datas radiocarbônicas indicam a ocu- mesmo sítio, assim como a distribuição
pação, entre 1750 e 1550 a.C., das en- de áreas de atividade intra-sítio. Por ou-
costas que avizinham as áreas baixas tro lado, a ocorrência de três enterra-
alagadas da região do Salgado. A fase mentos primários em três cortes estrati-
Uruá se caracterizaria por um incremento gráficos aleatórios concorre para a hi-
da caça, enquanto que a coleta de mo- pótese de uma ocupação relativamente
luscos se restringia a um grande gastró- densa.
pode fluvial, Pomatia linneata (Uruá). Os
sítios são pequenos – em torno de 15 a
62m de diâmetro e entre 1,2 e 2m de Sambaquis do baixo
altura – e não são tão impressionantes
quanto os anteriores. Os artefatos são
Amazonas
do mesmo tipo daqueles da fase Mina, e No baixo Amazonas, a ocorrência de
contas de colar feitas de conchas estão sambaquis é registrada desde o século
presentes freqüentemente. O uso de XIX. O sambaqui da Taperinha foi identi-
areia como antiplástico na cerâmica au- ficado e escavado em 1870 por Charles
menta, o que provavelmente levou Si- F. Hartt, que notou a antiguidade dos
mões a concluir que a fase Uruá seria depósitos de conchas, baseado em evi-
posterior à Mina. Entretanto, as datas dência geológica (Roosevelt et al., 1991).
radiocarbônicas apresentadas por Roo- Este sambaqui está localizado em um bra-
sevelt questionam a idéia de que a fase ço do rio Amazonas, próximo ao rio Ta-
Uruá representa um deslocamento de pajós e à cidade de Santarém (ver Fig.
grupos humanos do litoral para as en- 01). Esta região tornou-se importante a
costas, sugerindo contemporaneidade partir do século X, com o desenvolvi-
entre as duas fases. Apesar disso, as mento da chefatura dos tapajós, cujo
diferenças em estratégias de subsistên- sítio mais extenso e importante se loca-
cia, assim como as datas mais tardias liza na foz do rio Tapajós, ocupando prin-
apresentadas para alguns dos sítios da cipalmente a área onde hoje se encontra
fase Uruá indicam que as ocupações não o bairro Aldeia e o porto da cidade de
eram totalmente contemporâneas. Santarém.
A partir das investigações do projeto Em 1987, a primeira autora partici-
Salgado, pode-se concluir que, entre pou da pesquisa coordenada por Anna

5
Oyuela-Caycedo (1995) alerta para o fato de que a relação entre cerâmica, sedentarismo e
estratégias de subsistência deve ser investigada, não assumida a priori. Realmente não se sabe
qual a relação entre a cerâmica da fase Mina, caracterizada por vasilhas abertas e de base
arredondada, e estratégias de subsistência. Seria necessário verificar se a cerâmica dos samba-
quis está associada a uma dieta baseada em recursos aquáticos ou surge em função do proces-
samento de plantas, conforme argumenta Perota (1992), para os sambaquis do baixo Xingu.

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Roosevelt no sambaqui fluvial da Taperi- A fase Castália foi definida a partir


nha, que consistiu em prospecção geo- de fragmentos cerâmicos recolhidos da
física e escavações estratigráficas. Esse superfície do sítio de mesmo nome, mas
sítio ainda conservava seis metros de os resultados finais da pesquisa nunca
depósitos apesar da redução ocasiona- foram publicados. Cerâmica da fase Cas-
da pela exploração para a indústria de tália estaria representada também no
cal. A partir das escavações foram iden- sambaqui Ponta do Jauari, Lago Grande
tificados 48 estratos diferentes, conten- do Curuá, a oeste de Alenquer, segundo
do pouco solo e uma grande quantidade Peter Hilbert (1959), que estudou mate-
de carapaças de moluscos, carvão, os- rial coletado por Protásio Frikel em 1939
sos faunísticos, líticos e fragmentos de e 1941.
cerâmica (Roosevelt et al.,1991:1622).
No baixo rio Xingu, Perota (1992:213-
As conchas indicaram o consumo princi-
215) identificou dois sambaquis da fase
pal de três espécies de moluscos de água
Macapá, para os quais obteve as datas
doce: Castalia ambigua, Paxyodon pon-
radiocarbônicas de 3170±120 AP e
derosus e Triplodon corrugatus. Diver-
1650±70 AP. Dentre os vestígios encon-
sas amostras de carvão e conchas, as-
trados havia a predominância de Casta-
sim como de cerâmica, foram datadas
lia ambigua, com pouca quantidade de
pelos métodos radiométrico, AMS e
Prisidon alatus e Triplodon corrugatus.
termoluminescência, proporcionando da-
Foram encontrados ainda ossos de ani-
tas bastante antigas para a ocupação
sedentária do sítio, assim como para o mais e uma cerâmica de paredes finas,
uso da tecnologia cerâmica. Dezoito frag- com tempero de areia e conchas tritu-
mentos de cerâmica recolhidos do nível radas.
12 indicaram datas entre 7600 e 7335 Ainda no baixo rio Xingu, uma outra
AP, comprovando que aquela seria a ce- tradição cerâmica identificada por Pero-
râmica mais antiga das Américas6. ta (1992:216), denominada Guará, está
A cerâmica, no entanto, não parece relacionada a uma ocupação de coleto-
ter sido muito importante em Taperinha, res de conchas, onde também Castalia
dada a sua ocorrência reduzida – 383 ambígua é predominante, e Prisidon ala-
fragmentos distribuídos em diversas ca- tus e Triplodon corrugatus aparecem em
madas nas três escavações. Os poucos pouca quantidade. Os dois sítios da Tra-
instrumentos líticos incluíam percutores, dição Guará, estudados por Perota, são
lascas, moedores e pedras para cozinhar. bastante profundos, atingindo um deles
Foram encontrados também alguns até 2,20m, nível esses que se situa abaixo
raspadores feitos de carapaças de mo- do nível médio do rio. As datações radi-
luscos e casco de tartaruga. Os rema- ocarbônicas obtidas mostram uma ocu-
nescentes faunísticos incluem também pação, segundo o autor, não contínua,
quelônios e peixes. entre 2255±55 AP e 840±60 AP. Perota
considera que na tradição Guará havia o
Outros sambaquis no baixo Amazo-
cultivo da mandioca, com o consumo
nas, estudados durante o PRONAPABA –
concomitante de recursos malacológicos,
Programa Nacional de Pesquisas Arque-
caça e pesca.
ológicas da Bacia Amazônica, foram
incluídos na Tradição Mina, que inclui as
fases Castália, Mina, Macapá e Uruá.

6
Para os interessados no debate sobre a antigüidade da cerâmica na América do Sul, assim como
sobre a existência de um ou mais centros de invenção independente, ver Roosevelt (1995, 1997),
Meggers (1997, 1998), Williams (1997).

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Silveira, M. I.; Schaan, D. P.

Sambaquis no arquipélago se estendem por cerca de 50m, com lar-


guras que variam entre 6 e 8m. Na su-
de Marajó7 perfície encontram-se fragmentos de
A ocorrência de sambaquis no arqui- conchas e cerâmica, misturados à terra
pélago de Marajó aparece mencionada preta arqueológica.
em fontes dos séculos XIX e XX, mas Ainda em 2005 visitamos o sítio PA-
até dois anos atrás nenhum deles tinha JO-58: Araçacar (UTM 0637221/
ainda sido objeto de registro por parte 9814822), um sambaqui fluvial localiza-
de arqueólogos. Ferreira Penna (1876) e do em terreno alto próximo ao rio Araça-
Morais (s/d:33) comentam sobre a exis- car, afluente do rio Canaticu, no Muni-
tência de sambaquis às margens do rio cípio de Curralinho. O sítio apresenta terra
Arari, próximo a cidade de Cachoeira do preta e carapaças de moluscos
Arari. No relatório de sua viagem ao (gastrópodes e bivalves) em grande
Marajó, Morais (s/d:282) comenta que quantidade já em superfície, além de
um caracol, chamado Uruá, é encontra- fragmentos de cerâmica com tempero de
do em vários locais da ilha e possui um conchas. Segundo informaram os mora-
significado metereológico para os dores, teriam sido encontradas urnas
habitantes. Dizem que a altura de pos- funerárias agrupadas, em número de seis,
tura de seus ovos, sobre galhos e for- que foram parcialmente escavadas. Essas
quilhas de árvores, é sempre superior ao urnas continham ossos, e em uma delas
nível que a cheia pode vir a alcançar e foram identificados esqueletos de três
por isso indica o rigor do inverno, época indivíduos. Ao que parece as urnas
em que as águas sobem e inundam ex- estavam muito friáveis e não puderam
tensas áreas dos campos e várzeas. Vi- ser removidas inteiras, motivo pelo qual
sitamos e registramos alguns dos sítios a escavação foi interrompida e todo o
mencionados por estes e outros auto- material novamente enterrado. Teria sido
res, mas nenhum deles foi ainda objeto ainda encontrado um zoólito, que desa-
de investigação arqueológica. Nos sam- pareceu.
baquis do arquipélago há a presença de
Em outubro de 2006, em visita ao
Uruá, e cerâmica temperada com con-
município de Melgaço, identificamos um
chas, assim como notícias de sepulta-
sambaqui que havia sido referido em 1999
mentos em urnas.
pelo geógrafo Nigel Smith, da Universi-
Em janeiro de 2005 identificamos dois dade da Flórida, além de outro sítio indi-
sambaquis no município de Cachoeira do cado por moradores (Schaan e Marques,
Arari, sudeste da ilha de Marajó. Um de- 2006). O primeiro, localizado na baía de
les, PA-JO-68: Fazenda São José (UTM Melgaço, foi registrado como PA-GU-16:
726193,9887788), localiza-se em frente Fazenda Vitória (UTM 525978,9793902).
à cidade, estando já bastante prejudi- Lá encontramos cerâmica indígena (tem-
cado pela existência de uma moradia e perada com conchas), cerâmica policrô-
construção de uma barragem no igarapé mica e material do período colonial, visí-
São José, que corta o terreno e desá- veis em barranco junto ao rio. O outro,
gua no rio Arari. Possui uma área de cer- localizado na comunidade de São Sebas-
ca de 80m de diâmetro e uma altura de tião, é o PA-GU-15: Cacoal (UTM 550275,
4 a 5m acima do nível do rio. O outro, 9803288). Trata-se de um sambaqui flu-
PA-JO-67: Bacabal (UTM 724992, vial onde encontramos, além de carapa-
9890678) é composto de várias colinas ças de moluscos (gastrópodes e bival-
alongadas, com 2 a 3m de altura e que ves) misturadas ao solo de terra preta,

7
O arquipélago de Marajó, localizado na foz do rio Amazonas, é formado por inúmeras ilhas,
sendo a maior delas a ilha de Marajó.

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fragmentos de cerâmica indígena e ma- se localiza na ilha de Trambioca, mas já


terial do período histórico, tais como ce- foi encontrado bastante perturbado pela
râmica industrial e faiança. A localidade existência de construção durante o pe-
fica no rio Cacoal, que desemboca no rio ríodo colonial, a julgar pela presença de
Carnajuba e este por sua vez na baía de material construtivo e louça em superfí-
Melgaço. cie. Ambos os sambaquis apresentaram
A descoberta fortuita dos sítios aci- fragmentos cerâmicos temperados com
ma mencionados sinaliza para a possibili- conchas e com tratamento de superfície
dade de encontrarmos ainda muitos ou- diversos, como pintura vermelha, esco-
tros sítios no arquipélago, a partir de pros- vado, entalhado, entre outros, associa-
pecções sistemáticas. Argamassa de con- dos a grande quantidade de carapaças
chas misturadas à argila e areia tem sido de moluscos gastrópodes e bivalves (Mar-
identificada em construções do período ques, 1990; Silveira & Marques 2004).
colonial, como é o caso da igreja de Nos-
sa Senhora do Rosário, hoje em ruínas, Avaliação e problemas
construída por padres franciscanos no
século XVII, e localizada em Joanes, costa para pesquisa
leste da Ilha. Ao longo de toda a costa As datações obtidas por Roosevelt e
marajoara encontram-se mangues, que seus colegas para o sambaqui da Taperi-
podem ter favorecido a ocupação por gru- nha (em torno de 8000 anos AP) e para
pos sedentários contemporâneos à ocu- a caverna da Pedra Pintada (10500 anos
pação na costa do Salgado, dada tam- AP) são as mais recuadas para assenta-
bém a similaridade da formação geológica mentos humanos nas terras baixas Ama-
entre as duas áreas. Entretanto, a for- zônicas. Após este período, diversos sí-
mação de mangues no Marajó pode ser tios datados entre 8000 e 6000 anos
um pouco mais recente, e a área nordes- atrás evidenciam a adaptação humana a
te da Ilha pode ter permanecido submer- diferentes zonas de recursos, que incluí-
gida mais tempo do que o litoral norte am caça e coleta por habitantes de
durante o Holoceno médio. cavernas, abrigos rochosos e sítios aber-
tos sobre uma grande área da floresta
amazônica (Prous, 1991; Meggers &
Sambaquis de Barcarena Miller, 2003; Magalhães, 1994). Há cer-
Em Barcarena foram localizados dois ca de 5500 anos, sambaquis ocorrem na
sambaquis durante um estudo de enge- costa do Equador (Stothert, 1992), Co-
nhos de maré realizado por Fernando lômbia (Valdés, 1992), Guiana (Williams,
Marques na década de 1990 (Marques, 1992) e no nordeste do estado do Pará
1990). O sambaqui PA-BA-40: Jacare- (Simões, 1981; Roosevelt, 1995),
quara (UTM 762688, 9844153), com bom indicando que grupos humanos sedentá-
nível de integridade e, portanto, ofere- rios do norte da América do Sul estavam
cendo boas condições para pesquisa, explorando recursos aquáticos de ma-
localiza-se na comunidade de mesmo neira intensiva. Diversos sítios localiza-
nome, próximo às ruínas do engenho São dos ao longo do rio Amazonas e em gru-
Pedro, na ilha de Trambioca. Lá foram tas na Serra dos Carajás (Silveira, 1994)
encontrados cerâmica e carapaças de revelam a exploração de moluscos como
moluscos (gastrópodes e bivalves). O um recurso complementar.
sambaqui tem uma área aproximada de A reconstrução dos padrões de as-
30 por 100m e, segundo informação de sentamento para os sambaquis do esta-
moradores locais, possui cerca de 2m de do do Pará é prejudicada pela carência
profundidade. O sambaqui PA-BA-41: de dados empíricos. Após o projeto
Prainha (UTM 767029, 9839120) também Salgado, nenhuma outra investigação ar-

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Silveira, M. I.; Schaan, D. P.

queológica foi realizada na área. Isso melhor. Os moluscos serviriam como uma
contrasta com o desenvolvimento im- complementação, uma fonte segura de
pressionante dos estudos de sambaquis proteína, no caso da pesca não ser pos-
na costa leste do Brasil, especialmente sível ou ser escassa. Resta-nos saber
nos Estados do Rio de Janeiro, São Pau- se nos sambaquis da Amazônia ocorreu
lo, Paraná e Santa Catarina. Percebe-se o mesmo. Especialmente na última dé-
que a ocorrência de sambaquis diminui cada, diversos arqueólogos passaram a
do sul em direção à costa nordeste do voltar suas atenções para os papéis sim-
Brasil, devido provavelmente à geomor- bólicos que essas enormes colinas resul-
fologia do litoral, muito reta, sem a for- tado de atividade de coleta poderiam ter
mação característica de lagoas, que pro- tido em um sistema de desigualdade so-
porcionam as condições ambientais fa- cial (Price & Brown, 1985; Lima, 1996;
voráveis para a exploração de recursos Kneip, 1998; DeBlasis et al., 1998). O
marinhos (Lima, 1996). Alguns samba- modelo de adaptação marítima que con-
quis na costa leste brasileira são mais siderava aqueles grupos como sendo pou-
antigos que aqueles do litoral do Salga- co significativos demograficamente, igua-
do, como Ramal, no Estado do Paraná, litários e sazonais tem sido desafiado.
datado em 6540 ± 105 anos AP, e Porto Lima (1996), por exemplo, coloca que
Maurício, datado em 6030 ± 130 AP (Gas- a economia voltada para a coleta de
par, 1998). A maioria dos sítios, entre- moluscos pode ser vista como uma al-
tanto, apresenta datações do mesmo ternativa à agricultura, uma vez que es-
período, o que confirma que o fenômeno tes recursos permitem às populações
foi o mesmo para toda a costa brasileira fixarem-se permanentemente e crescer
durante o Holoceno médio. demograficamente. A tecnologia reque-
A interpretação das funções destes rida para isso é simples, a produtividade
sambaquis tem sido o desafio maior des- é alta com relação à energia despendida
de o início da descoberta destes sítios. e os custos e riscos são baixos se com-
Estudiosos têm debatido ritos funerári- parados a outros recursos alimentares.
os, velocidade de formação dos depósi- Em Maricá, região dos lagos no estado
tos, tipologia de artefatos, relações entre do Rio de Janeiro, os pescadores costu-
os sítios, áreas de atividade dentro dos mam dizer que “a lagoa é a lavoura do
sítios e outros temas, de maneira a des- pescador”. De acordo com Lima (1996),
cobrir padrões que pudessem explicar a o aumento das taxas de crescimento po-
disseminação do modo de vida voltado pulacional, notado principalmente nos sí-
aos recursos marítimos ao longo da cos- tios localizados no Estado de Santa Ca-
ta (Lima, 1991; Kneip, A. 2004; Kneip, L, tarina, pode ser a causa para o decrés-
1994, 1998; Figuti, 1993, 1995, 1999; cimo da distância entre sítios, favore-
Gaspar, 1999; Lima & Mazz, 2000; Sil- cendo uma maior concentração em zo-
veira, 2001; Klökler, 2003; Okumura & nas de lagoas. A distribuição dos sítios
Eggers, 2000). Diversos estudos volta- nesse período de crescente demografia
dos, principalmente, para questões de é entendida em função da competição
subsistência têm demonstrado que nos pelas melhores localizações para a ex-
sambaquis do sudeste a pesca foi signi- ploração de recursos aquáticos. O
ficativa, exercendo um papel mais im- tamanho dos sítios, em um sistema de
portante do que o considerado anterior- desigualdade social, pode ter tido um sig-
mente. Uma primeira avaliação equivo- nificado simbólico importante. Desigual-
cada pode ter ocorrido em função da dade social é inferida pelas diferenças
quantidade de vestígios produzidos pela em práticas funerárias, produção de ob-
pesca, que é inferior as carapaças de jetos rituais e diferenças nos tamanhos
moluscos, que também se preservam de sítios e localização. Lima (1996) su-

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Onde a Amazônia encontra o mar: estudando os sambaquis do Pará

gere que os sambaquis foram construí- Uma outra questão que se coloca diz
dos de acordo com um projeto ideológi- respeito ao abandono dos sítios costei-
co, com o objetivo de determinar limites ros por volta de 2800 AP, o que parece
entre os diferentes segmentos sociais. refletir mudanças em estratégias de
O litoral do Pará foi pouco estudado subsistência. É possível que estas mu-
e os dados coletados pelo projeto Sal- danças estejam ligadas à superexplora-
gado não contribuíram muito para o nos- ção de algumas espécies, o que teria
so entendimento das adaptações maríti- levado à sua extinção (Hurt, 1974). A
mas no norte do Brasil. Uma das ques- coleta excessiva de Anomalocardia bra-
tões que se coloca, por exemplo, é o de siliana, por exemplo, é referida como a
por quê não são encontrados sítios na causa do abandono de sítios em certas
costa antes de 5500 anos antes do áreas costeiras do Brasil.
presente. A resposta que tem sido ofe-
recida a esta pergunta em outras partes
do mundo é a de que os sítios estariam Considerações finais: o
provavelmente embaixo d’água (Richar-
dson, 1998). Entre 15000 e 6000 anos
projeto “Sambaquis do
AP os níveis do mar subiram considera- Pará”
velmente, submergindo os antigos sítios Nesse artigo procuramos rever o qua-
da costa. Sítios tão antigos como o da dro atual do conhecimento sobre as
Taperinha, portanto, podem estar sub- primeiras ocupações sedentárias na
mersos ao longo da costa norte, e so- Amazônia atlântica e no estuário do rio
mente poderão ser investigados com téc-
Amazonas, apresentando e interpretan-
nicas desenvolvidas pela arqueologia su-
do os dados disponíveis. Salientamos a
baquática. No litoral do Salgado consta-
importância de melhor conhecermos es-
tamos a existência de alguns sambaquis
tas primeiras populações que desenvol-
submersos8, contudo ainda são neces-
veram as mais antigas estratégias de
sários estudos complementares.
extração estáveis de recursos alimenta-
A ocorrência de cerâmica apenas nos res, além de principiar a produção de
sambaquis do norte e nordeste brasilei-
cerâmica e estabelecer as primeiras redes
ros e sua ausência nos sambaquis do sul
de troca de objetos líticos a longas dis-
do país, por exemplo, é intrigante. Exis-
tâncias. O estudo desses grupos huma-
tiria uma relação entre os sambaquieiros
nos tem implicações óbvias para o en-
do norte e nordeste, sul e sudeste? Como
tendimento dos processos de crescimento
explicar a existência de cerâmica ape-
nas nos sambaquis do norte e nordeste? demográfico e expansão territorial que
Seria a cerâmica, assim como os zoóli- culminaram com o desenvolvimento de
tos do sul e sudeste do país, um marca- sociedades regionais complexas às vés-
dor de identidade social dos grupos sam- peras da conquista européia.
baquieiros? (Gaspar & Silveira, 1999). Tendo em vista o atual quadro do
Além disso, a cerâmica encontrada nos conhecimento da área e as questões que
sambaquis do norte está entre as mais se colocam para a pesquisa, discutidas
antigas das Américas, não estando rela- acima, percebeu-se a necessidade da
cionadas ao advento da agricultura, con- constituição de uma estratégia de pes-
trariando a associação corrente (e muitas quisa voltada a entender melhor a ocu-
vezes pouco questionada) entre cerâ- pação da costa e relacioná-la às ocupa-
mica, sedentarismo e agricultura (ver ções posteriores, assim como às popu-
Oyuela-Caycedo, 1995). lações contemporâneas de áreas fluviais.

8
Conhecidos na área como “mina afogada”.

Revista de Arqueologia, 18: 67-79, 2005 75


Silveira, M. I.; Schaan, D. P.

O projeto “Sambaquis do Pará”, co- e o meio ecológico: (a) definindo os


ordenado pelas autoras deste artigo, diferentes ambientes e sítios neles locali-
investiga as adaptações humanas (apro- zados; (b) identificando os itens alimen-
ximadamente entre 7000 a 4000 anos AP) tares componentes da dieta dos grupos
a ecossistemas marítimos e estuarinos nos diferentes sítios; (c) determinando
no nordeste da Amazônia. Devido à sua as técnicas de captação de recursos dos
grande amplitude, o trabalho é dividido grupos nos diferentes tipos de ambien-
em subprojetos, que se dedicam a in- tes; (d) identificando sistemas de sub-
vestigar sambaquis localizados no litoral sistência para cada ambiente; (e) evi-
do Salgado, em Barcarena e no arquipé- denciando as possíveis mudanças na di-
lago de Marajó.
eta alimentar ao longo do tempo; (f) ve-
As pesquisas permitirão determinar a rificando a possibilidade da existência de
antiguidade da exploração intensiva de diferentes períodos de ocupação para
recursos aquáticos e estudar processos cada sítio (sazonalidade ou não); (g)
de mudança cultural em uma perspecti- estudando mudanças culturais através
va diacrônica. Pretende-se, inicialmen- do tempo. Além disso, o estudo dos sam-
te, desenvolver um estudo comparativo
baquis da costa irá contribuir para a
entre estratégias de subsistência utili-
reconstrução dos paleoambientes, pois
zadas por grupos pescadores, coletores
sua localização indica a linha da costa
e caçadores que construíram e habita-
ram os sambaquis na zona do Salgado, e pretérita, assim como os resíduos de
aqueles que habitaram sambaquis flu- alimentação informam sobre a cons-
viais. A pesquisa vai possibilitar estudar tituição da fauna e flora que caracteri-
as relações entre populações humanas zavam aqueles ambientes.

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Onde a Amazônia encontra o mar: estudando os sambaquis do Pará

Fig. 01 - Mapa de localização dos sítios.

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