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Delegação Regional de Lisboa e Vale do Tejo

Centro de Formação Profissional do Coto

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS


Curso: Técnico de Geriatria

FORMADOR:

António Manuel Simeão Mendes


Abril de 2018
TECNICO DE GERIATRIA
INDICE
p.
ENVELHECIMENTO…………………………………………………...…………………... 3
ATIVIDADES PSICOMOTORAS COM POPULAÇÃO IDOSA ..…...………………... 5
1 – ISOLAMENTO E IMOBILIDADE……………………………………………………... 6
1.1 – Isolamento…………………………………………………………………………… 6
1.2 – Consequências da Imobilidade………………………………………………….. 7
2 – PRINCIPAIS PROBLEMAS MOTORES NO IDOSO………………………………. 9
2.1 – A força muscular associada ap processo de envelhecimento…………… 9
2.2 – Flexibilidade……………………………………………………………………….. 10
2.3 – Velocidade………………………………………………………………………….. 11
2.4 – Amplitude de Movimentos………………………………………………………… 12
3 – ASPETOS PSICOMOTORES NO ENVELHECIMENTO NORMAL E
PATOLÓGICO……………………………………………………………………………… 13
3.1 – Aspetos Psicomotores no envelhecimento normal………………………….. 13
3.2 – Aspetos Psicomotores no envelhecimento patológico…………………….. 15
4 – PRINCIPAIS PROBLEMAS PSICOMOTORES DOS IDOSOS………………….. 16
4.1 – Tonicidade…………………………………………………………………………… 16
4.2 – Equilíbrio……………………………………………………………………………... 17
4.3 – Lateralidade………………………………………………………………………….. 17
4.4 – Esquema corporal e Imagem corporal………………………………………… 17
4.5 – Organização e espaço temporal…………………………………………………. 18
4.6 – Coordenação Motora – Motricidade global e fina…………………………….. 19
5 – ATIVIDADES MOTORAS/FISICAS A IMPLEMENTAR COM POPULAÇÃO
IDOSA………………………………………………………………………………………… 21
6 – ATIVIDADES DE ESTIMULAÇÃO SENSORIAL NOS IDOSOS….……………… 25

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António Manuel Simeão Mendes ATIVIDADE PSICOMOTORA NA POPULAÇÃO IDOSA
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ENVELHECIMENTO
O que é envelhecimento?

A Ordem dos Enfermeiros definiu


envelhecimento como processo de desenvolvimento
físico, normal e progressivo, durante a transição da
idade adulta para a velhice…, é acompanhado pelo
declínio dos processos corporais devido à
diminuição da capacidade para regenerar as
células, levando à perda de massa e coordenação
musculares e de competências psicomotoras; perda de pêlos e pele fina e enrugada.

O envelhecimento vem acompanhado de uma série de efeitos nos diferentes


sistemas do organismo que, de certa forma, diminuem a aptidão e a performance física. No
entanto, muitos destes efeitos são devido à falta de atividade física.

O envelhecimento é um fenómeno normal, gradual, progressivo e global que se


traduz em modificações biológicas, psicológicas, sociais e culturais que ocorrem ao longo
do tempo. Estas alterações não são generalizáveis pois o envelhecimento é um processo
heterogéneo e, também a forma de o encarar e de se adaptar às mudanças que lhe são
inerentes, é diferente de idoso para idoso. Estas modificações podem alterar a
funcionalidade do idoso, ou seja, a sua capacidade de gerir a sua vida de forma
independente e autónoma, concretizando as atividades do quotidiano; no entanto
independentemente das alterações que ocorram, é importante que a pessoa detenha a
capacidade de superar as adversidades que vão surgindo ao longo da vida, ajudado pelo
que os rodeiam e acompanham e o Técnico de Geriatria tem um papel primordial nesta
etapa da vida.

Face às estatísticas e previsões relativas ao envelhecimento, em 2002 a


Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu o conceito de envelhecimento ativo.
Este conceito visa a manutenção da qualidade de vida do idoso, bem como a sua
participação ativa na sociedade, sendo criadas políticas sociais e de saúde que o permitam
mais facilmente. Assim, pretende-se que a vivência do processo de envelhecimento possa
ser enriquecedora, não só para o idoso, como também para a família e restante sociedade.
Uma das políticas sociais criadas refere-se à construção de instituições que acolhem o
idoso de forma permanente, a fim de lhe prestar o apoio necessário em tudo aquilo que
seja indispensável para a manutenção da sua qualidade de vida.

Como tal, cruzando o aumento do número de idosos com a importância de contribuir


para que vivam um envelhecimento ativo, também nos casos em que estão
institucionalizados, importa permitir o acesso a terapias holísticas que avaliem a pessoa e
criem planos adaptados a cada um, tendo em conta as suas necessidades e características
individuais, podendo atuar grupal ou individualmente.

Os Técnicos de Geriatria, como profissionais de saúde, detém conhecimentos que


deve mobilizar para permitir que os cidadãos tenham um envelhecimento normal, gradual,
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progressivo e global e ensinando-lhes a forma de o encarar e de se adaptar às mudanças
que lhe são inerentes e proporcionando-lhe estratégias de capacidade de superar as
adversidades que vão surgindo ao longo da vida visando sempre a manutenção da
qualidade de vida nesta etapa da vida.

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ATIVIDADE PSICOMOTORA COM POPULAÇÃO IDOSA
Alguns dos efeitos do Envelhecimento:

Função musculosquelética e metabólica:

O envelhecimento conduz a uma progressiva diminuição da força e da flexibilidade


muscular. A força máxima é atingida por volta dos 25 anos de idade, e entra num platô entre
35-40 anos, a partir desta, mostra um rápido declínio, chegando a 25% de perda máxima
até os 65 anos. Muitos mecanismos hormonais diminuem sua eficiência, por exemplo o
pâncreas e a tiroide são afetadas por lesão e, ou, diminuição no número de células
secretoras. Com essas mudanças, podem ser desenvolvida a diabetes, e outras, resultando
em obesidade, diminuição da tolerância ao frio e depressão.

Estrutura óssea:

provocando a deterioração da matriz orgânica do osso devido ao envelhecimento.

maiores nas mulheres, devidos em parte as diferenças no aspeto


hormonal, e em parte à baixa ingestão de cálcio e proteína de alta qualidade.

ntece com o idoso em relação a FLEXIBILIDADE?

- O colagénio diminui e endurece;

- 60% de idosos acima de 85 anos possuem alguma diminuição da amplitude


articular devido a desuso;

- Amplitude de caminhada e da articulação do ombro foram as mais afetadas.

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1 – ISOLAMENTO E IMOBILIDADE

Isolamento - Ação ou efeito de isolar, de


separar dos demais; separação.
Estado de uma coisa ou de uma pessoa
isolada.

Imobilidade - Característica ou condição do


que não se move; qualidade do que não possui
nem apresenta movimento(s); repouso.
Ação que consiste em continuar ou ficar muito
tempo num só lugar; paragem ou estacionamento.
Característica da pessoa que não se abala; qualidade de quem não se perturba;
impassibilidade ou serenidade.

Podemos definir Imobilidade como situação de repouso prolongado que pode ser
voluntário ou involuntário, parcial ou total.

Hoje fala-se muito de Síndrome de Imobilidade, que consiste num conjunto de alterações
que ocorrem no doente que permanece imobilizado no leito.

A Imobilidade a par da solidão e isolamento são dos problemas que mais afetam a
população idosa em Portugal. Saber como evitar e como combater o isolamento de idosos
é crucial para perceber este sentimento e conseguir ajudar aqueles que o rodeiam.

1.1 - Isolamento

A solidão e isolamento são dos problemas que mais afetam a população idosa em
Portugal. Saber como evitar e como combater o isolamento de idosos é crucial para
perceber este sentimento e conseguir ajudar aqueles que o rodeiam.
Existem várias causas que podem levar ao isolamento de idosos e a sentimentos
controversos como a solidão, tristeza e depressão. Além disso, importa perceber que a
solidão está ligada à saúde, uma vez que esta conjuga o estado de completo bem-estar,
nomeadamente físico, mental e social. A saúde tem um papel bastante importante na
qualidade de vida do idoso e interfere com o seu bem-estar.
A solidão está intrinsecamente ligada à saúde, uma vez que esta se define pelo
estado de completo bem-estar físico, mental e social. A solidão é um sentimento causado
por uma ausência de algo ou perda de alguém.

A solidão pode ter o mesmo impacto que o stresse crónico na nossa saúde cerebral
e também pode afetar os nossos sistemas endócrino e imunológico, o que pode contribuir
para o aparecimento de doenças. Estima-se que 70% dos idosos têm um problema de
saúde grave associado à solidão e 10% padecem de solidão maligna, o que compromete a
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sua saúde física e emocional. As doenças mais comuns associadas à solidão são a
hipertensão arterial, as infeções repetidas, a ansiedade e a depressão. (fonte: Portugal
Sénior).

Cerca de 400 mil idosos vivem sozinhos em Portugal.

Existem variados fatores pessoais e sociais que contribuem e levam ao


isolamento e solidão. E são eles:

Solidão depois da reforma:


A solidão e o isolamento de idosos pode surgir devido ao término da atividade
laboral, uma vez que existe uma mudança no modo de vida e pode levar à sensação de
perda de utilidade social. A reforma está, também, associada à perda de rendimento, de
prestígio, de sentido, de competência, de utilidade e afastamento de alguns contactos
sociais.
Deste modo, a reforma favorece e proporciona o isolamento, a inatividade e, por
consequência, a depressão e solidão.
Isolamento de idosos após a viuvez:
A viuvez é, também, muitas vezes associada ao isolamento de idosos. A perda do
cônjuge pode gerar sentimentos de solidão e abandono. Muitas vezes, são os próprios
idosos que se isolam e se privam de atividades sociais.
Nesta fase, os amigos têm um papel muito importante na criação de laços de
convívio, de desabafo e de partilha de experiências.
Abandono dos idosos pela família:
O abandono por parte de familiares faz com que o sentimento de solidão seja mais
acentuado, principalmente se forem abandonados em lares ou asilos.

1.2 – Consequências da Imobilidade

Quando se fala de imobilidade pensa-se no indivíduo que está sempre deitado, no


entanto, a redução de força muscular que leva a uma incapacidade de marcha gera também
uma Síndrome da Imobilidade Prolongada, mas neste caso, como é comum nas
Instituições que acolhem idosos e Pessoas portadoras de deficiência, de posição sentado
prolongada.

O aspeto dinâmico do corpo, ou seja, a capacidade/necessidade que o corpo tem de


se movimentar, é um dos principais responsáveis pela nossa saúde. Qualquer alteração
desta dinâmica afetará, mais cedo ou mais tarde, tanto os músculos como as estruturas
responsáveis pelos atos motores.
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Considera-se que de sete a dez dias seja um período de repouso, de doze a quinze
dias já é considerada imobilização e a partir de quinze dias é considerado decúbito de longa
duração (KANOBEL, 2004).

Os efeitos da imobilidade são definidos como uma redução na capacidade funcional


dos sistemas ósseo, muscular, respiratório, cardiovascular, urinário e linfático.

A imobilidade prolongada pode alterar também o estado emocional da pessoa,


podendo esta apresentar ansiedade, apatia, depressão, alterações de humor, isolamento
social, entre outros.

IMPLICAÇÕES CLÍNICAS DA IMOBILIDADE:

 Disfunções osteoarticulares

As articulações tornam-se mais rígidas devido ao aparecimento de fibroses (são como


“teias de aranha” que se instalam em redor das estruturas ósseas dificultando o seu
movimento) e o líquido que as “alimenta” (líquido sinovial) diminui. Este líquido deixa de fluir
adequadamente podendo extravasar pelas estruturas à sua volta causando inchaço
articular. A probabilidade de osteoporose aumenta consideravelmente.

 Disfunções musculares

Os músculos perdem flexibilidade, ou seja, capacidade de contrair e relaxar. Sendo assim,


instala-se uma atrofia muscular e consequente perda de força muscular.

 Disfunções respiratórias

Os nossos pulmões utilizam músculos para respirar. Sendo que existe uma perda de
força muscular, a respiração é afectada, principalmente, na posição de deitado, pois a
actuação da força da gravidade dificulta os movimentos respiratórios. Verifica-se, então,
uma diminuição da capacidade vital.

 Disfunções do sistema cardiovascular

Diminuição do volume total de sangue, redução da concentração de hemoglobinas


(que pode originar situações de anemia) e diminuição do consumo máximo de oxigénio.

 Disfunções do sistema urinário e linfático

Sendo que ambos os sistemas utilizam o movimento e a força da gravidade a seu


favor, em situações de Síndrome de Imobilidade Prolongada o seu funcionamento está
comprometido, causando: retenção de líquidos e inchaço – especialmente dos membros
inferiores e ventre.

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2 – PRINCIPAIS PROBLEMAS MOTORES NO IDOSOS

2.1 – A força muscular associada ao


processo de envelhecimento

O envelhecimento é um processo onde


ocorrem alterações fisiológicas, morfológicas,
bioquímicas e psicológicas, ocasionando perdas
e maior dificuldade de adaptação. A redução da massa e da força muscular decorrentes
do envelhecimento (sarcopenia) são aspetos facilmente observados e tem sido amplamente
associados ao declínio funcional do idoso, levando a um maior risco de quedas, fraturas,
internamento e morte.
Fatores como a diminuição nos níveis de atividade física, alimentação deficitária,
desordens hormonais e do sistema nervoso central (SNC), entre outros, têm grande
influência na instalação da sarcopenia. Esse processo ocorre em indivíduos sedentários e
também nos fisicamente ativos, porém a atividade física praticada desde cedo tem o poder
de retardar a perda e o impacto na funcionalidade e qualidade de vida dos idosos. A
sarcopenia aparenta ser um processo inevitável de origem multifatorial que está
amplamente relacionada ao declínio da capacidade funcional no idoso, podendo ser
revertida por reposição hormonal, suplementação nutricional e pela prática do exercício
físico, que se apresenta como a forma mais poderosa para restabelecer os níveis de força.

Por outro lado sabemos que sendo um processo complexo, o envelhecimento resulta
da interação de diversos fatores como: fatores genéticos, estilo de vida, doenças crônicas,
determinando o declínio da capacidade funcional. Dentre as doenças mais relacionadas ao
envelhecimento, as mais prevalentes são as alterações sensoriais, as doenças ósseas,
cardiovasculares e o diabetes.

A redução da massa e da força muscular decorrentes do envelhecimento


(sarcopenia) são aspetos observados facilmente no idoso. Essa fraqueza e atrofia mus-
cular, que geralmente acomete mais membros inferiores, têm sido amplamente associadas
ao declínio funcional do indivíduo longevo, levando assim à perda gradual de equilíbrio
estático e dinâmico, tornando maior o risco de quedas, fraturas, internamento e morte.
As quedas são a principal causa de morte entre idosos. A quantidade de idosos
internados com fraturas causadas por quedas cresce de forma alarmante. Os gastos do
Sistema Nacional de Saúde (SNS) no tratamento de pacientes da terceira idade aumentam
a cada ano. Um simples desequilíbrio pode causar sérios prejuízos à qualidade de vida
daqueles que têm mais de 60 anos e, nos casos mais graves, o acidente pode até levá-los
à morte.

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2.2 – Flexibilidade

A flexibilidade é a capacidade física responsável pela execução voluntária de um


movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações,
dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesões.

Condições mínimas de amplitude nos movimentos são necessárias para boa


qualidade de vida e, geralmente, a flexibilidade mantém correlação direta com a idade
fisiológica das pessoas. Com o envelhecimento a flexibilidade tende a diminuir
significativamente em virtude de vários fatores biológicos e sua diminuição poderia ser
acentuada também pela inatividade do indivíduo.

A flexibilidade é uma qualidade física básica essencial para a vida das pessoas. Ela
está presente, não somente no desporto, mas também no trabalho, nas atividades de lazer,
nas atividades de higiene, vestir, enfim, desde as atividades mais rudimentares do homem
às mais complexas. Indivíduos com baixa flexibilidade possuem dificuldades para
desempenhar essas atividades. No caso de pessoas idosas, o desenvolvimento de tais
atividades torna-se ainda mais complicado, e, quanto menor for o nível de flexibilidade,
maior a dificuldade e desconforto para realiza-las por mais básicas e simples que algumas
destas atividades possam ser.

Fatores influenciadores da flexibilidade:

Para Dantas (1999, p.58), o grau de flexibilidade de uma articulação tem influência
direta com diversos fatores, como:

Mobilidade: no tocante ao grau de liberdade de movimento da articulação.


Elasticidade: com referencia ao estiramento elástico dos componentes musculares.
Plasticidade: grau de deformação temporária que estruturas musculares e articulações
devem sofrer, para possibilitar o movimento. Maleabilidade: modificações das tensões
parciais da pele, fruto das acomodações necessárias no segmento considerado.

Dentre os fatores endógenos apresentados acima, a flexibilidade relaciona-se,


principalmente, à maleabilidade da pele e à elasticidade muscular que são poderosamente
influenciadas por alguns fatores, tais como idade e sexo. Quanto mais velha é a pessoa,
menor será sua flexibilidade e geralmente as mulheres são mais flexíveis que os homens.

Flexibilidade na terceira idade:

A flexibilidade é um componente da aptidão física que, em decorrência da


inatividade física, é perdida rapidamente. E como grande parte dos idosos, são fisicamente
inativos, essa perda torna-se mais evidente ainda.

Idosos, geralmente, são menos flexíveis, e consequentemente possuem menor


mobilidade articular e elasticidade muscular. A flexibilidade está presente em muitas
atividades do ser humano, e para retardar os efeitos do envelhecimento sobre a mesma,
exercícios específicos para melhora e manutenção, devem ser praticados. A qualidade de
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vida e o bem estar das pessoas estão diretamente ligados à flexibilidade, em virtude da
correlação desta com a motricidade humana (NAHAS, 2003).

Os alongamentos, que são práticas regulares e orientadas, além de combater o


estresse, e reduzir as tensões musculares, ajuda na coordenação motora global,
melhorando assim as capacidades para outras atividades do cotidiano (OTTO, 1987).

Essas afirmações evidenciam que idosos que apresentam boa flexibilidade


conseguem desempenhar sua atividades diárias com maior facilidade, tornando-os mais
independentes com relação a estas atividades e consequentemente aumentando sua
autoestima, motivação e algo muito importante para o indivíduos desta idade: a autonomia
funcional.

Os músculos, tendões, ligamentos e tecidos conectivos tendem a melhorar suas


propriedades elásticas mediante programas regulares de exercícios que englobem
amplitudes de movimento acima das habituais, com repercussões benéficas em diversas
dimensões.

O trabalho de flexibilidade se difere em duas modalidades: o flexionamento ativo


que atua sobre a elasticidade muscular, no componente elástico e miofilamentos, onde
ficam os maiores causadores da redução da flexibilidade dos idosos. E o alongamento,
que propicia a manutenção da flexibilidade por trabalhar em níveis submáximos ao limite
articular (NAHAS, 1999). Portanto devemos diferenciar e ter bem claro em mente que o
alongamento somente mantém os níveis flexibilidade, enquanto o flexionamento melhora
os níveis deste componente.

2.3 – Velocidade

A diminuição da força dos membros inferiores, diminuição da velocidade dos


passos, dores provenientes de artrose do quadril, são identificados como fatores de risco
para quedas.

As alterações que ocorrem no padrão de marcha são apontadas como um dos


motivos que provoca a queda. Uma das alterações é a diminuição da velocidade de
marcha em relação ao jovem, onde os passos são mais curtos e o tempo de duplo apoio
aumenta, buscando-se maior estabilidade, porém paradoxalmente, esta estratégia está
relacionada a indivíduos com maior risco de queda. A diminuição da velocidade da marcha
também está associada ao avanço da idade e diversos são os fatores que podem explicar
este comportamento, como a busca de estabilidade do corpo, diminuição na flexibilidade
das articulações, principalmente do tornozelo, joelho e quadril, alterações na
propriocepção, mudança das capacidades sensório-motoras .

A projeção do tronco à frente, a qual está associada a alterações de parâmetros


espaciais e temporais, gerando instabilidade e provocando um balanço alterado do tronco

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no sentido antero-posterior, é apontada como outro fator que altera o padrão de marcha
em idosos.

O indivíduo idoso apresenta maior aceleração horizontal da cabeça, transformando-


a numa plataforma menos estável para o sistema visual. A velocidade de contato do
calcanhar é maior que no adulto jovem, havendo redução do poder de absorção mecânica
no joelho, além da ativação dos isquiotibiais ser tardia, aumentando o risco de deslize e
queda. Ocorre também diminuição do comprimento do passo, aumento do tempo na fase
de apoios simples e duplo, ocorrendo menor força propulsiva na fase de impulsão, o que
faz o idoso buscar um padrão de marcha mais seguro.

Tentando aumentar a estabilidade o indivíduo aumenta também a largura de seus


passos, com o objetivo de diminuir a oscilação lateral do tronco que também ocorre nesta
população e aumenta a dificuldade para transpor obstáculos.

2.4 – Amplitude de movimentos

O idoso dos nossos dias cresceu numa era industrial e tecnológica, onde a presença
de carros, elevadores e escadas rolantes reduziram em muito a quantidade de movimento
corporal realizado no quotidiano, por cada indivíduo. Ao ritmo que as sociedades vão
evoluindo, ao nível tecnológico, poder-se-á prever uma redução cada vez mais acentuada
da ação do corpo, pois cada vez mais as máquinas realizarão as atividades pela pessoa.
Por outro lado, a institucionalização dos idosos em lares e residências sénior retiram ainda
hoje responsabilidade e movimentos a quem lá passa a residir.
Em pessoas saudáveis admite-se que a capacidade e a liberdade de executar
movimentos geram conforto, levando ao bem-estar. Com o envelhecimento, surge um
aumento da densidade na cartilagem e nos tecidos ao seu redor, além da tendência à
perda da elasticidade dos músculos, ao desenvolvimento da artrite e de outras patologias
do aparelho locomotor, que intensificam a restrição do movimento articular, reduzindo a
flexibilidade A perda de flexibilidade e da elasticidade muscular durante o processo de
envelhecimento são as causadoras da diminuição da mobilidade articular e consequente
amplitude de movimentos, no idoso.
A amplitude de movimento de joelhos diminui com a idade e isso leva à ocorrência de
quedas em idosos.

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3 – ASPETOS PSICOMOTORES NO ENVELHECIMENTO NORMAL
E PATOLÓGICO
Ao longo de todas as fases da vida, a idade
marca a passagem do tempo, que é expressa
através corpo. Socialmente, o envelhecimento é
um processo marcado por desgaste, limitações,
perdas físicas e de papéis sociais. Na maioria dos
casos, as perdas, manifestam-se em problemas de
saúde que são vistos, em grande parte, na
aparência do corpo.
Nessa etapa, o ser humano fica mais sujeito às perdas evolutivas em vários
domínios, em virtude de sua programação genética, de eventos biológicos, psicológicos e
sociais característicos de sua história individual.
Além destas alterações típicas da idade, os idosos seguem também um processo de
envelhecimento psicomotor, ao qual Fonseca (2001) denomina de retrogénese
psicomotora, e que é acompanhada de alterações funcionais específicas psicomotoras.
Como já vimos as alterações psicomotoras características do processo de
envelhecimento encontram-se relacionadas com limitações ao nível da força, da
resistência, da flexibilidade, da velocidade e ainda da amplitude de movimentos. Neste
sentido, é importante manter o equilíbrio, a coordenação do movimento e a destreza.
Nesta fase, verifica-se também uma redução das capacidades cognitivas que se
relacionam com o tratamento da informação. Os processos atencionais são especialmente
afetados, bem como o processo de seleção e programação da resposta motora.
As características do movimento realizado por determinado idoso podem ser
completamente distintas quando comparadas com outro idoso, mesmo que ambos sejam
da mesma idade. Contudo, segundo Aubert e Albaret (2001), de um modo geral, os idosos
realizam movimentos bastante mais lentos e com enorme variedade de performances, além
de que os tempos de reação e de movimentos são mais extensos e igualmente variáveis
(Aubert & Albaret, 2001).

3.1 – Aspetos psicomotores no envelhecimento normal

No processo natural do envelhecimento, haverá características anatómicas,


funcionais e psicossociais distintas.
As alterações anatómicas são principalmente as mais visíveis e manifestam-se em
primeiro lugar. A pele que resseca, tornando-se mais quebradiça e pálida, perdendo o brilho
natural da jovialidade. Os cabelos que embranquecem e caem com maior frequência e
facilidade não são mais naturalmente substituídos, principalmente nos homens. O
enfraquecimento do tónus muscular e da constituição óssea leva a mudanças na postura
do tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvaturas da coluna torácica e lombar.
As articulações tornam-se mais endurecidas, reduzindo assim a extensão dos movimentos
e produzindo alterações no equilíbrio e na marcha. Nas vísceras, produz-se uma alteração

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causada pelos elementos glandulares do tecido conjuntivo e certa atrofia secundária, como
a perda de peso.

Quanto as alterações orgânicas que ocorrem com o aumento da idade cronológica


podem ser citadas as mudanças que ocorrem nas dimensões corporais, tais como: a
estatura, o peso, a composição corporal. Apesar do alto componente genético na
determinação do peso e da estatura dos indivíduos, outros fatores, tais como a dieta, a
atividade física, aspetos psicossociais e as doenças, estão envolvidos nas alterações
desses componentes durante o envelhecimento.
Existe uma diminuição da estatura, com o passar dos anos, decorrente da
compressão vertebral, com o estreitamento dos discos intervertebrais e da cifose. Quanto
ao peso e a composição corporal sofrem alterações a partir dos 45/50 anos, estabilizando-
se aos 70 e declinando aos 80 anos, resultado de fatores multifatoriais, tais como
hormonais, dependência funcional, uso excessivo de medicamentos, sedentarismo.
Estudos evidenciam que o aumento da gordura, nas primeiras décadas do envelhecimento,
e a perda dela, nas décadas mais tardias, parece ser o padrão mais provável de
comportamento da gordura corporal no envelhecimento.
Na parte fisiológica, as alterações, na maioria das vezes, podem ser observadas
pela lentidão do pulso, do ritmo respiratório, da digestão e assimilação dos alimentos.
Porem, acima de tudo, o próprio individuo sente a decadência de sua capacidade de
satisfação sexual. O orgasmo torna-se cada vez mais difícil para ambos os sexos, contudo,
a atividade sexual não desaparece, apenas torna-se menos intensa e frequente.
Acompanhando as alterações morfológicas e estruturais do envelhecimento, ocorre
o comprometimento funcional, sendo abordadas principalmente as alterações
cardiorrespiratórias; é próprio da fase da velhice a dilatação aórtica e a hipertrofia e
dilatação do ventrículo esquerdo do coração, associados a um ligeiro aumento da arterial;
há uma diminuição da eficiência do músculo do miocárdio, e a dinâmica da respiração fica
diretamente afetada, em razão das modificações na caixa torácica e no parênquima
pulmonar. A capacidade pulmonar decresce também a partir dessa idade, o que leva a uma
redução de oxigenação do sangue.

Outras alterações motoras acentuam a diminuição da agilidade, redução da


coordenação, diminuição do equilíbrio, redução da flexibilidade e da mobilidade articular e
o aumento da rigidez da cartilagem, dos tendões e dos ligamentos. Esta condição está
relacionada com a sarcopenia (perda de massa, força e função musculares em
consequência do envelhecimento), “que compromete todas as atividades do dia-a-dia dos
idosos”, como andar, subir e descer escadas, ir às compras e cozinhar, indicou o
investigador.

Alem das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser humano uma serie de
mudanças nos aspetos psicossociais. O envelhecimento social da população traz uma
modificação no status do idoso e no relacionamento dele com outras pessoas em função
de diversos aspetos, tais como crise de identidade (o que levara o idoso a uma perda de
sua autoestima); mudanças de papéis (na família, trabalho e sociedade); reforma (os idosos
sentem-se mais inúteis apos pararem de trabalhar); diminuição dos contatos sociais (que

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se tornam reduzidos com a saída do emprego) e perdas diversas que vão da condição
económica ao poder de decisão, a perda de parentes e amigos, da independência e da
autonomia.
Quanto as alterações psicológicas que poderão resultar do processo de
envelhecimento, podem ser ressaltadas desde a dificuldade de se adaptar a novos papéis,
a falta de motivação e dificuldade de planejar o futuro, a necessidade de trabalhar as perdas
orgânicas, afetivas e sociais; ate a dificuldade de se adaptar as mudanças rápidas que tem
reflexos dramáticos nos idosos, a alterações psíquicas que exigem tratamento, como, por
exemplo, depressão, hipocondria, somatização, paranoia; baixas autoimagem e
autoestima.

3.2 – Aspetos psicomotores no envelhecimento patológico

A nível de nutrição, vários estudos provaram que 15% dos idosos estão em situação
de risco, o que, é espantoso visto que quase 90% de idosos têm excesso de peso ou
obesidade. Para além da questão do isolamento, a desnutrição pode ser causada pelo
acesso limitado aos alimentos, à incapacidade de preparar as refeições, por problemas
económicos e por uma locomoção reduzida.

As doenças crónicas também influenciam esse fator, sendo que “quanto mais velha
for a pessoa, mais patologias pode ir acumulando, o que aumenta a probabilidade de terem
problemas a nível alimentar, agravando o risco de desnutrição”.

Quanto à hidratação, mais de um terço dos idosos estão desidratados. “Há a ideia
que o mecanismo que nos defende da desidratação – a sede – perde progressivamente
eficácia com a idade e, por outro lado, não se verifica muito, nesta faixa etária e em
Portugal, o hábito de se beber água”, o que pode levar à obstipação e problemas renais.

O consumo excessivo de sal, que se verifica em mais de 85% dos idosos, pode
estar ligado à hipertensão arterial e aos acidentes vasculares celebrais (AVC).

Por outro lado, todos estes indicadores agravam-se com o isolamento, o que,
configura uma ideia dos idosos em Portugal, que estão nas suas casas ou apenas em
centros de dia, com níveis excessivamente baixos de atividade física e altos de uma
alimentação desadequada.

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4 – PRINCIPAIS PROBLEMAS PSICOMOTORES DOS IDOSOS
Durante o processo de envelhecimento muitos
processos tornam-se lentificados, bem como as
respostas psicomotoras. Com a idade, todo
processo e mais lento, parece que devido a menor
capacidade do sistema nervoso central. A diminuição
das respostas é atribuída a todas as etapas do
processo. Os órgãos preceptivos dos sentidos
necessitam de maior intensidade nos estímulos ou
“sinais” para possam capta-los, demonstrando a
necessidade de um nível maior de excitação do sentido para que possa captar o sinal.

O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional do corpo e das


suas partes e encontra-se dividido em sete fatores psicomotores, que são: tonicidade
(tónus muscular), equilíbrio, lateralidade (lateralização), esquema corporal (noção do
corpo e imagem corporal), organização espaco-temporal, praxias global (coordenação
motora geral) e praxias fina (coordenação motora fina/motricidade fina).

4.1 – Tonicidade

Thompson (2000) considera tónus como sendo o estado de tensão permanente dos
musculos que tem origem reflexa, varia quanto a sua intensidade e segue as diferentes
ações sinérgicas; sendo reforçado ou inibido, com a função de ajustamento postural. Assim
a tonicidade e considerada como o alicerce fundamental para o desenvolvimento motor,
pois e através do tónus que se estabelece o contato com o mundo exterior e e através dele
que a tonicidade garante as atitudes, as posturas, as mimicas, as emoções, etc., emergindo
a motricidade humana. Sendo assim, o tónus e fundamental no desenvolvimento motor,
pois assegura a preparação da musculatura para as múltiplas e variadas formas de
atividade postural.
E impossível separar motricidade da tonicidade, pois toda motricidade parte de uma
tonicidade preparando-a, apoiando-a e inibindo-a, ocorrendo autorregulamento. A
motricidade e composta por uma sucessão de tonicidades que resulta na equilibração e na
postura humana.
Relacionando a tonicidade com o processo de envelhecimento Fonseca (1995,
1998), que afirma que pelo princípio de retrogénese dos fatores psicomotores, o tónus
muscular sofre uma diminuição e o ultimo fator a ser alterado. Para Fonseca (1995), a
explicação está na relação neurológica do tónus com a força muscular, ou seja, ao fortalecer
o musculo ocorre o aumento do tónus muscular, e o inverso é verdadeiro, afirmando que a
força muscular é proporcional a tonicidade; com isso, entende-se que no processo de
envelhecimento com a diminuição progressiva da força muscular ocorre também a
diminuição da tonicidade.

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4.2 – Equilibrio

Conforme Mello (1989), o equilíbrio e a capacidade de manter-se sobre uma base


reduzida de sustentação do corpo, através de uma combinação adequada de ações
musculares e sob a influência de forcas externas.
O equilíbrio é classificado em duas formas: estático e dinâmico. O equilíbrio estático
apresenta maior dificuldade em ser mantido, pois exige concentração e as mesmas
características da imobilidade; seu controle e importante para a aprendizagem e aquisição
motora, suas formas de ação referem-se a capacidade de sustentar-se em diferentes
situações. Enquanto o equilíbrio dinâmico está relacionado com as funções tónicas
motoras, com os membros e os órgãos, tanto os sensoriais como os motores. Dessa forma,
exigindo, ao contrário do estático, uma orientação controlada do corpo em situação de
deslocamento no espaço com auxílio da visão.
Podemos então dizer que a equilibração é composta pelo conjunto das aptidões
estáticas e dinâmicas, envolvendo não só o controlo postural, como também o
desenvolvimento das aquisições da marcha, tendo em conta as relações com o meio
envolvente.
Por todos os problemas psicomotores das pessoas idosas, conjugadas com
perturbações afetivas originam o desequilíbrio que muito afetam o idoso.

4.3 – Lateralidade

A lateralidade, conforme Carvalho (2006) é definida como a sensação interna de que


o corpo tem dois lados que não são exatamente iguais. O corpo humano caracteriza-se
pela presença de partes anatómicas e globalmente simétricas. Tal simetria anatómica
redobra-se através de uma assimetria funcional, no sentido de que certas atividades são
efetuadas apenas por uma destas partes.
A lateralidade e a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo:
mão, olho, ouvido, perna. A lateralização cortical e a especialidade de uma dos dois
hemisférios quanto ao tratamento da informação sensorial, ou quanto ao controle de certas
funções. Ela ocorre em função de um predomínio que autoriza a iniciativa de um dos dois
hemisférios: a organização do ato motor, o qual culminara na aprendizagem e consolidação
das praxias.
A lateralidade representa o predomínio normal de um lado do corpo. Seu
fortalecimento é importante para o idoso, já que se constitui a base da orientação espacial
e coordenação geral (ARAUJO, 2003; CARVALHO, 2006).

4.4 – Esquema Corporal e Imagem corporal

Esquema corporal é uma perceção do todo ou um conhecimento imediato que temos


do nosso corpo, estando ele estático ou em movimento, fazendo relação das suas

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diferentes partes entre si e, sobretudo, o relacionando com o espaço e os objetos que nos
circundam (LE BOUCH, 1982).
Os primeiros contatos corporais que o ser humano percebe, realiza e manipula são
de seu próprio corpo, e o meio da ação, do conhecimento e da relação. A construção do
esquema corporal, em outras palavras, é a organização das sensações relativas a seu
próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior (ARAUJO, 2003),
informações essas unidas para dar imagem real do próprio corpo e do que podemos fazer
com ele, tornando a estruturação do esquema corporal mais complexa que a orientação
cinestésica (GALLARDO, 2000).
Nos idosos, devido à redução das capacidades cognitivas que se relacionam com o
tratamento da informação, os processos atencionais são especialmente afetados, bem
como o processo de seleção e programação da resposta motora aos espaços e objetos que
os rodeiam.

4.5 – Organização espaço temporal

A Estrutura espaco-temporal é composta de duas dimensões: a Organização


Espacial e a Organização Temporal.
Segundo Araújo (2003), a habilidade motora relacionada a organização espacial
depende do desenvolvimento dos órgãos da visão, pois e através dela que são fornecidas
as referências do corpo bem como sua inserção no espaço; alem das sensações
cinestésicas que informam a localização do corpo em relação a esse meio ambiente.
Possuímos duas ambientações, o espaço físico absoluto, que existe
independentemente de seu conteúdo e de nos e, o espaço psicológico, o qual esta
associado a nossa atividade mental, revelando-se de forma direta ao nível da consciência.
No cotidiano, utiliza-se com frequência os dados sensoriais e preceptivos relativos ao
espaço que nos cerca; tais dados contem as informações sobre as relações entre os objetos
no espaço, porem, e a nossa atividade preceptiva, baseada na experiencia do aprendizado,
que lhe prove significado.
Em resumo, podemos dizer que a organização espacial depende, portanto, ao
mesmo tempo de nossa estrutura corpórea, da natureza do meio que nos cerca e de suas
características. Para um melhor desenvolvimento dessa capacidade são necessárias
informações provenientes do sistema auditivo. Ao analisar esta habilidade na terceira idade,
observa-se que com o envelhecimento pode ocorrer uma diminuição paulatina na
organização corporal do idoso; seja pela diminuição ou maior dificuldade em captar
informações propriocetivas (em decorrência de alterações fisiológicas do envelhecimento
nos órgãos sensoriais como visão e audição e alterações nos propriocetores musculares e
articulares); ou pelo estilo de vida de alguns idosos, onde há maior privação de estímulos
ou ainda pela combinação de ambos.
Já a organização temporal, de acordo com Gallardo (2000), está mais associada aos
órgãos da audição, e atua combinada com outros órgãos dos sentidos como a visão e as
sensações propriocetivas (do próprio corpo). Em suma, a Organização temporal refere-se
a noção de adaptação rítmica, sendo a capacidade de seguir ritmos diferentes; de

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orientação temporal, o qual e a capacidade de lidar com moções de tempo como antes,
depois e agora; e da estruturação do tempo, que a capacidade de conduzir movimentos
segundo seu ritmo e sua duração tão difíceis na população idosa.

4.6 – Coordenação motora – Motricidade Global e Fina

Sabe-se que com o envelhecimento ocorre uma diminuição no desempenho motor,


bem como alterações no controle motor em vista das alterações estruturais e funcionais no
organismo com o aumento da idade.

Rezende et al. (2003) definem a motricidade/praxia global como a capacidade de


realizar movimentos voluntários que são pré-estabelecidos para um determinado objetivo.
Ela está relacionada com a realização e a automização dos movimentos globais complexos,
que se desenrolaram num determinado tempo, exigindo a atividade conjunta de vários
grupos musculares.
Conforme Costallat (1987), a praxia global e a colocação em ação simultaneamente
de grupos musculares diferentes, verificando a execução de movimentos globais e
voluntários.
O movimento motor global e um movimento sinestésico, tátil, labiríntico, visual,
espacial, temporal, e assim por diante. Para Souza (2006), no envelhecimento ocorre perda
neuronal no córtex do giro precentral e no cerebelo. Presumindo que devido a essas
alterações ocorra a diminuição da praxia global por estar relacionado a estas áreas.
A manipulação de qualquer objeto necessita de certas habilidades, estas
configuram-se como essenciais. A pessoa que produz o movimento precisa saber
movimentar-se no espaço com desenvoltura, habilidade e equilíbrio, alem de ter domínio
do gesto e do instrumento. Nesta capacidade o nível de desenvolvimento terá que ser alto,
pois os movimentos novos e complexos serão assimilados com mais rapidez,
economizando esforços e energia, obtendo assim uma precisão nos resultados de
execução dos movimentos (ARAUJO, 2003).
Considerado por Le Bouch (1982) como aspeto particular da coordenação global, a
praxia fina esta localizada nos lóbulos frontais, compreendendo as tarefas motoras
sequenciais finas. Por ser responsável pela coordenação dos movimentos dos olhos
durante a fixação da atenção e das manipulações de objetos, e por exigir o controle visual,
esta área e responsável também pelas funções de programação, regulação e verificação
das atividades apreensivas e manipulativas mais finas e complexas. Oliveira (2000) afirma
que esses movimentos específicos utilizam pequenos músculos e a mão é considerada
como o principal órgão deste fator, por ser a unidade motora mais complexa.
Assim, a coordenação óculo-manual pode ficar comprometida, ocasionando uma
diminuição da destreza manual e da coordenação motora, especialmente da coordenação
motora fina, prejudicando os movimentos realizados pelas mãos. A coordenação motora
fina envolve o movimento executado principalmente pelas mãos e dedos, através de uma
atividade de movimento pequena com mínimo de força, mas grande precisão ou velocidade.
No idoso, a velocidade de movimentos simples e repetitivos diminui, o controle dos
movimentos de precisão é alterado, causando dificuldades em realizar as atividades
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básicas de vida diária. Assim, o comprometimento temporário ou permanente na realização
de habilidades motoras finas com as mãos é visto como uma das principais problemáticas
do envelhecimento.

Todavia, no envelhecimento esse fator psicomotor é o primeiro a sofrer de lapidação


por constitui-se de uma atividade complexa ao demais fatores, acredita-se que essa
diminuição se deve as alterações degenerativas das estruturas do olho durante o processo
de envelhecimento.

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5 – ATIVIDADES MOTORAS/FISICAS A IMPLEMENTAR COM A
POPULAÇÃO IDOSA

Como combater o isolamento e a solidão de idosos?


A velhice não é sinónimo de solidão ou isolamento.
Há várias atividades que proporcionam o convívio e a
ocupação dos tempos livres. Algumas atividades que vão
contribuir para que o idoso não se sinta sozinho:

 Procure novas amizades – conhecer pessoas e fazer novas atividades é uma das
melhores formas de combater o isolamento e a solidão nos idosos.
 Faça voluntariado – tornar-se voluntário por uma causa em que acredita pode trazer
inúmeros benefícios para si. Terá a oportunidade de conhecer novas pessoas, fazer
parte de um grupo que partilha os mesmo ideais e viver novas experiências.
 Invista nas suas relações sociais – organize jantares ou almoços de família ou de
amigos e tire o máximo proveito destes eventos. Divirta-se, distraia-se e promova o
convívio social.

 Frequente um curso – a velhice também não significa inutilidade. Experimente


aprender uma língua nova ou frequentar o curso com que sempre sonhou. Assim, para
além de se sentir motivado, terá também a oportunidade de integrar um novo grupo.
 Adote um animal de estimação – Os animais de estimação, em especial os
cães e gatos, trazem vários benefícios e um deles é a prevenção da solidão.
Ter um animal de estimação é sinónimo de uma companhia constante. Além
disso, é possível que faça novas amizades enquanto passeia o seu animal
de estimação.

Infelizmente, são muitos os idosos que, devido à sua condição de


mobilidade, não conseguem praticar as atividades sugeridas. Aliás, a maior
parte das pessoas que sentem a sua mobilidade afetada acabam por ficar a
maior parte do tempo em casa, agravando o sentimento de solidão.

A solução para o isolamento pode ser simples…


A palavra-chave é ouvir. Ouvir o idoso e não apenas concentrar os esforços nos
cuidados físicos. Conversar e apurar o estado afetivo do utente é necessário para a garantia
da sua qualidade de vida e prevenção do isolamento.

Numa sociedade cada vez mais centrada em si própria, por vezes é difícil sairmos da
nossa zona de conforto e “perdermos tempo” a ouvir o próximo. Mas experimente:
experimente ouvir e conversar com alguém que precisa. Além de estar a ajudar uma
pessoa com carências afetivas, irá sentir-se melhor consigo. É esta a nossa sugestão.

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Como combater a imobilidade dos idosos?
Se o problema é a imobilidade, a solução será o movimento! A isto
chamamos Cinesioterapia, que KISNER & COLBY definem, em 1998, como “(…) terapia
pelo movimento, sendo a utilização de diferentes formas de atividade motora como meio de
tratamento de enfermidades.”

É uma técnica baseada em conhecimentos anatómicos, fisiológicos e princípios


biomecânicos, que visa oferecer às pessoas uma prevenção e reabilitação eficaz. O seu
principal efeito será a manutenção e desenvolvimento do movimento direcionado à
funcionalidade.

Assim, colocamos na Cinesioterapia um papel terapêutico fundamental que


necessita de conhecimentos profundos para ser aplicada, normalmente utilizada por
profissionais como: Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais e Técnicos Superiores de
Reabilitação.

Prevenir a síndrome de imobilidade:

Posicionamentos corretos e alternados frequentemente


Mobilizações articulares
Cinesiterapia Respiratória
Técnicas de relaxamento e massagem
Hidratação/ nutrição adequada
Levante precoce e diário
Recurso a ajudas técnicas

Para a manutenção e a melhora nos índices de flexibilidade, são conhecidos alguns


métodos de treinamento. A seguir destacamos os principais:

 Método ativo ou de flexionamento dinâmico: o trabalho é realizado contraindo os


músculos agonistas, até a máxima extensão dos músculos antagonistas. O
movimento deverá ser conduzido lentamente indo até o máximo de elasticidade
muscular que uma determinada área permite e depois voltando na posição inicial.
 Método passivo ou estático: os movimentos são realizados com o auxílio de outra
pessoa, devendo a musculatura permanecer relaxada. Esta posição deverá ser
adotada por um determinado período.
 Método misto: contraindo os músculos agonistas contra uma força externa,
oferecendo maior relaxamento dos músculos antagonistas.

No entanto, o treinamento de flexibilidade para idosos deve ser diferenciado com


relação a outras faixas etárias. O trabalho de flexionamento, devido ao aumento das
tensões sobre os ossos, deverá ser realizado com cautela e adaptação prévia aos
movimentos a serem trabalhados a fim de evitar lesões ou desconforto (NAHAS, 1999).
Temos que ter em mente que o ser humano por natureza prefere a realização de atividades

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prazerosas, e, muitas vezes o treinamento de flexibilidade pode tornar-se desconfortável e
monótono, afastando assim, principalmente os idosos de sua prática e prejudicando
consideravelmente o processo de envelhecimento.

Dentre as várias formas possíveis para manutenção, desenvolvimento e treinamento


da flexibilidade fazem-se necessários alguns cuidados especiais e o acompanhamento de
profissionais de educação física para a prática destes treinamentos quando direcionados
para idosos é de fundamental importância para a obtenção dos resultados desejados.

Dessa forma podemos concluir que o treinamento da flexibilidade pode ser, então,
um forte aliado para o idoso no que diz respeito a sua mobilidade e melhora da sua
capacidade funcional, autonomia, independência. Além de auxiliar para incrementar sua
expectativa de vida, tem a capacidade de contribuir para adiar algumas debilidades que
atingem os idosos, e como consequência disso, melhora consideravelmente a qualidade de
vida e níveis de saúde em idosos inseridos em programas regulares de exercícios físicos
que abordam em sua programação treinamentos específicos para a flexibilidade.

A atividade física com o objetivo de reduzir problemas na marcha de idosos,


diminuindo o risco de queda é efetiva diminuindo significativamente sua incidência,
evitando lesões limitadoras.

A marcha apresenta diversas alterações decorrentes do processo de


envelhecimento e implicações na qualidade de vida e capacidade funcional do idoso. As
pesquisas apontam que exercícios físicos regulares trazem importantes benefícios para a
marcha e diminuição do risco de quedas, por isso a avaliação da marcha é fundamental
para que se desenvolva um programa de treinamento adequado de acordo com as
necessidades inerentes do organismo do idoso.
De seguida apresentamos exemplos de um Plano de Atividades Motoras de
Gerontomotricidade e Hidroginástica programadas semanalmente para idosos:

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6 – ATIVIDADES DE ESTIMULAÇÃO SENSORIAL NOS IDOSOS
O psicomotricista deve basear a sua
intervenção na adaptação das actividades, de
uma forma que, se dado indivíduo não
conseguir realizar algo de um modo, deve
realizá-lo de outro, atingindo os objetivos por
etapas. Com a população idosa em especial, o
psicomotricista, permite ajudar a
consciencializar a existência de competências,
que muitas vezes estão ocultas, potenciando-as cada vez mais.
De acordo com a WHO (s/d a), a população idosa pode constituir um grande
benefício para as sociedades, no sentido em que pode partilhar as suas experiencias,
habilidades e sabedoria, constituindo-se assim, um recurso. Deste modo, é dever das
sociedades o desenvolvimento de sistemas que promovam a participação da população
idosa no maior número de atividades, potenciando a autonomia de todos eles
De seguida apresentamos exemplos de Plano de Atividades de Estimulação
Cognitiva em Grupo e em Pequenos Grupos e Estimulação Sensorial, programadas
semanalmente para idosos:

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