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Formador: Miguel Rodrigues

Manual

Saúde da Pessoa Idosa - Cuidados Básicos

Área: 3538

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Índice

Introdução ..................................................................................................................................... 1
Capítulo 1 - Prestação de cuidados básicos .................................................................................. 1
- Envelhecimento da população ................................................................................. 1

- Promoção da qualidade de vida: Metas da OMS ..................................................... 3 0

- Envelhecimento físico e psicológico ......................................................................... 3

Capítulo 2 – Agente em Geriatria ................................................................................................ 15


2.1 - Características inerentes ao agente em Geriatria .................................................. 16

Capítulo 3 – Processos de comunicação e observação ............................................................... 19


- Características da comunicação e elementos do processo de comunicação......... 19

- Princípios da observação ....................................................................................... 22

- Jogos e simulações…............................................................................................... 24

Capítulo 4 – Conforto da pessoa idosa ........................................................................................ 25


- Sono e repouso....................................................................................................... 25

- Camas… .................................................................................................................. 33

Capítulo 5 - Bibliografia ............................................................................................................... 35


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Introdução

Neste módulo pretende-se transmitir informações acerca duma população


muito particular e das suas características, a Terceira idade, visando um aspeto
fundamental que é a saúde.
Deste modo, serão abordados determinados assuntos como os seguintes objetivos: 1
 Reconhecer alguns aspetos do envelhecimento da população;
 Descrever as características do Agente em Geriatria;
 Enumerar os processos de comunicação e observação;
 Abordar os cuidados que proporcionam conforto à pessoa idosa.

Capítulo 1 – Prestação de Cuidados Básicos

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO
O envelhecimento da população é um dos principais problemas do século XXI
(Cabral et al., 2013). As alterações demográficas e o aumento da esperança média
de vida da população impõem vários desafios aos indivíduos e à sociedade,
conduzindo, a nível individual, ao aumento da longevidade, e a nível coletivo, a
mudanças e deficiências das relações sociais e familiares, assim como implicações
económicas (Pocinho, 2014).
O envelhecimento é um fenómeno que desperta interesse há vários séculos,
tendo o conceito de envelhecimento sofrido diversas alterações ao longo dos
tempos, evoluindo consoante as atitudes, crenças, cultura, conhecimentos e
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relações sociais de cada época (Sequeira, 2010). Atualmente o conceito de


envelhecimento, na sociedade portuguesa, encontra-se frequentemente associado
a uma fase específica do ciclo de vida, a idade de reforma (65 anos), sendo esta
percecionada como o anúncio do início da velhice (Squire, 2002). A idade
cronológica associada à idade da reforma é o único parâmetro que a sociedade
portuguesa atribuiu na definição da população idosa, uma vez que o seu
desenvolvimento sofreu modificações quer no seu sistema de produção de bens,
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quer a nível laboral a partir do momento que o trabalho começou a ser
renumerado.
O envelhecimento deve ser compreendido como um processo natural,
dinâmico, progressivo e irreversível que acompanha o ser humano desde o seu
nascimento até à sua morte. Este é um fenómeno pessoal e de variabilidade
individual, ou seja que varia de indivíduo para indivíduo, e que está associado a um
conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais que se processam ao longo
do ciclo vital (Jacob 2013; Sequeira, 2010).
Durante o último século, assistiu-se a um grande progresso na medicina dos
países desenvolvidos e a esperança de vida aumentou de um modo considerável.
Primeiro, a mortalidade na infância tornou-se menos provável, devido à melhoria
das condições sanitárias e ao desenvolvimento de vacinas e tratamentos para as
doenças da infância (antibióticos). Segundo, o desenvolvimento da doença e a
invalidez tornaram-se menos frequentes ou aparecem mais tarde nos idosos
porque melhoraram os cuidados de saúde e a medicina preventiva.
Atualmente, a pessoa considerada a mais velha do mundo é um homem com 146
anos, natural da ilha Java na Indonésia.
Envelhecer hoje ilustra como o crescente envelhecimento da população se percebe
num país. Quem é velho, quais os meios de que dispõe, onde vive e qual a sua
qualidade de vida, são interrogações que merecem respostas pertinentes da nossa
comunidade.
Em Portugal, a esperança de vida à nascença foi estimada em 80,62 anos
para o total da população, sendo de 77,61 anos para os homens e de 83,33 anos
para as mulheres, no período entre 2014 e 2016 (INE, 2017).
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No espaço de uma década verificou-se um aumento de 2,44 anos de vida para o


total da população, de 2,80 anos para os homens e 2,00 anos para as mulheres
(INE, 2017).
O aumento da esperança média de vida nos países desenvolvidos é um triunfo, mas
traz o desafio de conseguirmos envelhecer saudavelmente, pois viver mais tempo
nem sempre é sinónimo de viver melhor. A migração e a baixa taxa de natalidade,
também têm contribuído, de forma notável, para o envelhecimento da população
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em Portugal. A população portuguesa está envelhecida. Em 2011, 19,1% tinha 65
ou mais anos, situação que se prevê que aumente para os 32% em 2050. A
diminuição da população jovem, juntamente com o aumento da população idosa, o
índice de envelhecimento mais do que duplicará, passando de 147 para 317 idosos,
por cada 100 jovens, em 2080.

PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA – METAS DA ORGANIZAÇÃO


MUNDIAL DE SAÚDE
A Organização Mundial de Saúde divulgou o conceito de envelhecimento ativo. Este
depende de vários fatores, que não envolvem apenas os indivíduos, mas também
as suas famílias e o próprio meio onde estes se inserem. A principal meta dos dias
de hoje, tendo em conta o envelhecimento populacional, é ganhar anos de vida com
independência, ou seja “Capacidade para realizar funções relacionadas com a vida
diária, isto é, a capacidade de viver com independência na comunidade sem ajuda
ou com pequena ajuda de outrem.”
As políticas de saúde devem, assim, promover:
 O Envelhecimento bem-sucedido/ativo;
 A Coesão e interação familiar;
 A proteção do idoso de negligência, de más práticas, de violência física e
psicológica.

ENVELHECIMENTO FÍSICO, PSICOLÓGICO E SOCIAL


Cada pessoa desde o nascimento tem um ritmo próprio de envelhecimento
biológico. O que significa que pessoas da mesma idade cronológica podem
apresentar diferentes idades biológicas.
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A mudança dos hábitos, mesmo nas idades mais avançadas, traz sempre
benefícios para a saúde. Pertencer ao grupo da Terceira Idade não significa ser
incapacitado para desempenhar atividades que requerem esforço físico ou mental.
As pessoas idosas que estão na fase inicial (média idade) da Terceira Idade
apresentam melhores condições de saúde, quer física, quer mental e menores
alterações naturais do envelhecimento do que as outras. No entanto, é a partir dos
80 anos que a necessidade de auxílio para a realização de algumas atividades
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quotidianas acaba por ser importante, por exemplo, para se alimentarem, vestirem,
tomarem banho, sentarem e levantarem, andarem, fazerem compras, preparem as
refeições, e muitas outras atividades. Apesar de isto não ser uma regra, existem
idosos de 80 anos que são mais saudáveis do que outros com 60 anos, o que
mostra a importância do ritmo de envelhecimento, tendo em conta patologias
(doenças); condições económicas; herança genética; cuidados primários de saúde;
estilo de vida, alimentação, atividade ou exercício físico, ansiedade e stress,
integração e aceitação social; entre outros, de cada indivíduo.
A classificação da pessoa pela idade engloba quatro idades:
 Idade Cronológica – é definida como a idade que a pessoa tem, ou seja, a
idade em anos. Esta forma numérica de idade nem sempre corresponde à
idade biológica.
 Idade Biológica – indica as condições de saúde, física e psicológica da
pessoa. Esta idade carateriza os ritmos diferentes do envelhecimento.
 Idade Psicológica – relacionada com as competências comportamentais que
a pessoa pode mobilizar, incluindo a inteligência, memória e motivação.
 Idade Social – refere-se ao papel e aos hábitos da pessoa, relativamente aos
outros membros da sociedade e é muito influenciada pela cultura e pela
história de um país.

Envelhecimento Físico
A nível biológico (senescência), ocorrem um conjunto de alterações orgânicas,
morfológicas e funcionais (Sequeira, 2010), que resultam na perda gradativa da
capacidade de funcionamento dos órgãos e sistemas, e na consequente alteração
progressiva das capacidades de adaptação do corpo, verificando-se um aumento
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gradual do risco de desenvolver comorbilidades, e da probabilidade de morrer.


Estas alterações nem sempre se convertem em incapacidades, e a ocorrência e
intensidade com que ocorrem variam de pessoa para pessoa (Serviço de Estudos
sobre a População do Departamento Estatísticas Censitárias População, 2002).
As células do corpo têm uma longevidade precisa e a sua capacidade para se
dividir e multiplicar diminui com a idade. Como são organismos vivos, também
envelhecem e morrem. Existe uma perda significativa do número de células do
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nosso organismo, estimando-se que entre os 20 e os 70 anos, a perda será de 30%.
Com a passagem dos anos, a maioria das pessoas toma consciência das
modificações do próprio corpo. Algumas modificações são óbvias enquanto outras
poderão passar despercebidas até surgir alguma doença. Conhecer estas alterações
pode ajudar o indivíduo a adaptar-se ao processo de envelhecimento. As
modificações a nível físico são as seguintes:

 Visão
Entre os 40 e os 50 anos de idade, a maioria das pessoas nota que é difícil ver
objetos a uma distância inferior a 60cm, pois os olhos, já não conseguem focar com
facilidade os objetos próximos.
Com o envelhecimento, torna-se, também, difícil ver em condições de pouca
iluminação, pois ocorre entrada de menor quantidade de luz no olho. Em média, as
pessoas de 60 anos necessitam de três vezes mais de luz do que as de 20 anos (ex:
para ler).
Com o avançar da idade, a pupila reage mais lentamente às alterações da luz. Por
conseguinte, os idosos podem ter dificuldade em adaptarem-se, quer ao escuro
quer ao excesso de luminosidade.

 Audição
A nível do ouvido, com a idade, a capacidade auditiva pode diminuir, tornando
o equilíbrio, ligeiramente, mais difícil de manter, devido à deterioração de algumas
estruturas.
Os idosos podem apresentar uma determinada dificuldade em ouvir sons de tons
agudos. Podem ter problemas em entender o que dizem as mulheres e as crianças,
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dado que a maioria das mulheres e crianças tem vozes com tons mais agudos que
os homens. No entanto, falar em voz alta não é útil dado que se tende a acentuar
mais as vogais (sons agudos) do que as consoantes (sons graves). Por exemplo, a
frase “Diz-me exatamente o que queres tomar” soa como “iz exaee o e e soar”. A
frase soa como se a pessoa que está a falar não pronunciasse claramente as
palavras e o sentido perde-se.
 Paladar
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Após os 50 anos, o paladar começa a diminuir gradualmente, pois o número e a
sensibilidade dos recetores do paladar. Estas modificações tendem a reduzir a
capacidade de reconhecer os sabores doces e salgados mais do que os amargos ou
ácidos.

 Olfato
O olfato só diminui ligeiramente. Os odores fortes continuam a ser fáceis de
cheirar, mas os mais subtis tornam-se mais difíceis de reconhecer e de identificar.

 Pele
A pele tende a tornar-se mais fina, menos elástica, mais seca e finamente
enrugada. A camada de gordura que se encontra debaixo da pele diminui. Esta
camada de gordura atua como uma almofada para a pele, protegendo-a e também
conserva o calor corporal. À medida que esta camada se reduz, a pele é lesada mais
facilmente, sendo mais provável o aparecimento de rugas e diminuindo a
tolerância ao frio. Também o número de células sensitivas (terminações nervosas)
da pele diminui, reduzindo a sensibilidade à dor, aumentando a probabilidade de
lesões.
O número de glândulas sudoríparas (glândulas que produzem o suor) e de
vasos sanguíneos também se reduz. Por isso, os idosos têm mais probabilidade de
sofrer perturbações devido ao excesso de calor (insolações), assim como ao
excesso de frio, como a hipotermia. Também a pele tende a cicatrizar mais
lentamente quando o fluxo sanguíneo é reduzido.

 Ossos e Músculos
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Os ossos tornam-se mais frágeis e mais propensos a fraturas. Principalmente,


nas mulheres, a perda de densidade óssea aumenta depois da menopausa. Os
ossos mais afetados são o fémur, a pélvis (anca), as extremidades dos ossos do
braço (rádio e cúbito), os ossos do pulso e os ossos da coluna vertebral (vértebras).
Ao envelhecer também a quantidade de medula óssea diminui, o que leva a uma
menor produção de células sanguíneas, podendo surgir problemas quando surge
anemia, infeção ou hemorragia. Ao envelhecer, a cartilagem que reveste as
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articulações tende a ficar mais fina. As superfícies de uma articulação podem não
deslizar tão bem uma em cima da outra e a articulação pode tornar-se,
ligeiramente, mais suscetível às lesões. E os ligamentos, que unem as articulações,
tendem a ser menos elásticos com a idade, tornando-as rígidas e menos flexíveis.
A perda de massa muscular inicia-se aos 30 anos e continua ao longo da vida,
pois os níveis da hormona do crescimento e da testosterona que estimulam o
desenvolvimento muscular, diminuem com a idade. A maioria das pessoas mantém
uma massa muscular e uma força suficiente para realizar todas as suas atividades.
O exercício físico regular pode retardar, significativamente, a perda de massa
muscular e de força.

 Cérebro
Com a idade, o número de células nervosas (neurónios) do cérebro só se reduz
levemente. Vários fatores ajudam a compensar essa diminuição. Ao perderem-se
células, estabelecem-se novas ligações entre os neurónios restantes. Podem,
também, formar-se novos neurónios em algumas áreas do cérebro, inclusive
durante a velhice. Além disso, o cérebro possui mais neurónios do que necessita
para levar a cabo a maioria das atividades. Contudo, as substâncias e as estruturas
implicadas no envio de mensagens do cérebro para o resto do corpo e vice-versa
alteram-se. Os níveis de alguns mensageiros químicos (neurotransmissores), bem
como os seus recetores sofrem alterações. Devido a estas alterações, o cérebro
pode funcionar, ligeiramente, pior. As pessoas idosas reagem e executam tarefas
mais lentamente. Algumas funções mentais podem estar um pouco reduzidas.
Entre elas incluem-se o vocabulário, a memória a curto prazo, a capacidade de
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reter novas aprendizagens e a de recordar palavras. Depois dos 60 anos, os


neurónios conduzem os sinais mais lentamente.

 Coração
As paredes do coração tornam-se mais rígidas, dificultando o enchimento do
coração com sangue. As paredes das artérias ficam, igualmente, mais rígidas e mais
grossas e menos elásticas, não respondendo, devidamente, às variações da
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quantidade de sangue que passa por elas. Por isso, a pressão arterial é mais alta
nas pessoas idosas. Apesar destas modificações, um coração idoso saudável
funciona bem. Apenas não pode aumentar tanto a frequência dos batimentos nem
tão rapidamente como um coração jovem. O exercício físico regular reduz muitos
dos efeitos do envelhecimento sobre o coração e sobre os vasos sanguíneos.

 Pulmões
Os músculos utilizados na respiração (como diafragma) tendem a debilitar-se.
Além disso, absorve-se um pouco menos de oxigénio do ar respirado. As pessoas
idosas podem, também, ter dificuldade em respirar a elevadas altitudes. Os
pulmões tornam-se menos aptos para combater as infeções, pois as células que
eliminam os produtos tóxicos da respiração são menos capazes de o fazer. A tosse,
que também ajuda a limpar os pulmões, costuma ser mais fraca.

 Sistema Digestivo
O envelhecimento afeta o sistema digestivo de diferentes modos. Os músculos do
esófago contraem-se com menor força, contudo não é afetado o movimento da
comida no esófago. Os alimentos são eliminados mais lentamente pelo estômago
que, para além disso, não pode reter grandes quantidades de comida, uma vez que
é menos elástico. No entanto, na maioria das pessoas estas modificações são tão
leves que passam despercebidas. Porém, em alguns indivíduos, a diminuição do
tempo de esvaziamento do estômago pode, inclusivamente, contribuir para a
obstipação. O sistema digestivo produz menor quantidade de lactase, uma enzima
necessária para a digestão do leite. Como resultado é mais frequente que os idosos
desenvolvam uma intolerância aos produtos lácteos (intolerância à lactose). O
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fígado também muda, é irrigado por menor quantidade de sangue e tende a tornar-
se mais pequeno. Como as enzimas do fígado trabalham menos, o idoso pode ter
mais dificuldade em eliminar do corpo os medicamentos (os efeitos destes duram
mais tempo) e outras substâncias tóxicas.

 Sistema Urinário
Os rins tornam-se mais pequenos (uma vez que o número das células dos rins
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diminui) e circula menos sangue. A partir dos 30 anos, os rins começam a filtrar o
sangue com menor eficácia. Com a passagem dos anos, não eliminam tão bem os
produtos do metabolismo do nosso corpo (desperdício). Podem também eliminar
demasiada água, pelo que a desidratação se torna mais provável. No entanto,
quase sempre funcionam suficientemente bem para cobrir as necessidades do
organismo. O sistema urinário modifica-se de diversas formas que podem tornar
mais difícil o controlo da micção (urina). O máximo volume de urina que a bexiga
pode reter diminui. As pessoas idosas possuem uma capacidade menor de reter a
micção depois de terem notado o primeiro estímulo para urinar. Os músculos da
bexiga podem também contrair-se de forma esporádica, independentemente da
necessidade de urinar. Os músculos da bexiga debilitam-se. Em consequência, fica
uma maior quantidade de urina retida na bexiga. Estas modificações explicam, pelo
menos em parte, por que razão a incontinência urinária (perda de urina
incontrolável) se torna mais comum com a idade. Nas mulheres idosas, a uretra
(que transporta a urina para fora do corpo) torna-se mais curta e mais fina. O
músculo que controla o peso da urina pela uretra (esfíncter urinário) é menos
capaz de se fechar de modo adequado e prevenir as perdas de urina. Estas
modificações podem ser o resultado da diminuição dos níveis de estrogénios que
se verifica na menopausa. Nos homens, ao envelhecer, a próstata tende a aumentar
de volume. Por vezes, ao ponto de bloquear parcialmente a passagem da urina.

 Sistema Reprodutor
Os efeitos do envelhecimento no sistema reprodutor são mais óbvios nas
mulheres que nos homens. Nas mulheres, a maior parte destes efeitos estão
relacionados com a menopausa, quando os níveis das hormonas femininas
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(sobretudo os estrogénios). A diminuição dos níveis de hormonas determina a


redução das dimensões dos ovários e do útero. Os tecidos da vagina tornam-se
mais finos, mais secos e menos elásticos (uma afeção chamada de vaginite
atrófica). Os seios tornam-se menos firmes e mais fibrosos, pelo que tendem a
perder a sua turgidez. Nos homens, as modificações do sistema reprodutor são
menos dramáticas, a maioria dos homens mantém sempre a fertilidade.

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 Sistema Endócrino
O sistema endócrino é formando por numerosas glândulas e órgãos que produzem
hormonas. As hormonas comportam-se como mensageiros para ajudar na
regulação e na coordenação das atividades de todo o organismo. Com a idade, os
níveis e a atividade de algumas hormonas (para além das hormonas sexuais)
reduzem-se. A maioria das modificações hormonais não tem um efeito sobre as
funções do organismo. No entanto, em algumas circunstâncias, as funções do corpo
podem ser afetadas. Por exemplo, depois da ingestão de uma comida forte, a
insulina libertada pelo pâncreas pode não ser utilizada de modo tão eficaz como
era habitualmente. A insulina ajuda a controlar o nível de açúcar (glicose) no
sangue. Se a função da insulina for menos eficaz, o nível de açúcar no sangue pode
ser mais elevado do que o normal e demorar muito mais tempo a voltar aos valores
normais. Esta modificação pode ter efeitos não evidentes. No entanto, em algumas
pessoas, pode ser um sinal precoce de diabetes.

 Sistema Imunológico
Ao envelhecer, o sistema imunológico sofre alterações ligeiras que a maioria das
pessoas idosas não se apercebem deste se tornar menos eficaz. Muitos indivíduos
só notam que o corpo é menos capaz de se defender das infeções quando estas
persistem ou se tornam graves. Os indivíduos que foram infetados pela
tuberculose no início da idade adulta podem não apresentar sintomas até à velhice.
Desenvolvem-se, então os sintomas porque o sistema imunitário está mais frágil. O
sistema imunitário pode ser menos capaz de distinguir as células do corpo das
substâncias estranhas que invadem o organismo. Por conseguinte, tornam-se mais
frequentes as perturbações cujo sistema imunitário ataca as células do próprio
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corpo (doenças autoimunes). As células do sistema imunitário destroem mais


lentamente as células cancerosas, as bactérias e outras substâncias estranhas. Esta
lentidão pode ser uma das razões pelas quais o cancro é mais frequente nas
pessoas idosas. Além disso, as vacinas costumam proporcionar menos proteção às
pessoas idosas. Estas modificações do sistema imunitário ajudam a explicar a razão
que algumas infeções, como a pneumonia e a gripe, são mais frequentes nas
pessoas idosas e muitas vezes provocam a morte. As modificações do sistema
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imunitário têm também um efeito benéfico. Os sintomas alérgicos tornam-se muito
menos severos.

Envelhecimento Psicológico
O envelhecimento psicológico resulta das repercussões psicológicas das
alterações corporais, que se traduzem numa mudança de atitudes. Nesta dimensão,
podem verificar-se perdas de memória ou maior dificuldade no raciocínio. Por
outro lado, as pessoas mais idosas estão também sujeitas a determinantes externos
que podem desencadear algumas perturbações mentais ou comportamentais
(Squire, 2002; Serviço de Estudos sobre a População do Departamento Estatísticas
Censitárias População, 2002).
Erikson (1983), defendia que a velhice se enquadra no oitavo e último
estádio da sua teoria de desenvolvimento pessoal: Integridade pessoal versus
desespero – permanece o desejo de sentir prazer em viver e envelhecer com
dignidade e a ansiedade associada à antecipação da idade avançada, da perda de
autonomia e da morte. Inicia-se, em média, a partir dos 65 anos.
Segundo a teoria do desligamento de Cumming, os idosos mostram uma
inclinação natural para diminuir o seu envolvimento afetivo com o meio
circundante, estreitando o seu espaço de vida e preocupando-se cada vez mais
consigo próprios. Trata-se de um mecanismo natural influenciado pela redução da
energia mental e física ligada à idade. Contudo, estudos atuais mostram que o
envelhecimento não corresponde à fatalidade de um caminhar sombrio e
confinado. Os acontecimentos são analisados numa perspetiva diferente e mais
equilibrada. A forma como cada um vê e se sente inserido, com as suas
características peculiares é fulcral na sua interação com o meio e,
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consequentemente, na aquisição de um maior ou menor grau de satisfação e bem-


estar. Infelizmente, muitos de nós, quando falamos de pessoas idosas, atribuímos
conotações negativas a esta faixa etária. Principalmente devido aos mitos e
estereótipos enraizados na nossa sociedade/cultura.

Os principais problemas de saúde mental apresentados pelas pessoas


idosas são:
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 depressão (muito frequente, mas pouco diagnosticada ou confundida
com outras doenças);
 ansiedade;
 isolamento;
 suicídio;
 perturbações do sono;
 alcoolismo.

Existem também alterações mentais causadas por medicamentos ou outras


intervenções que visam a cura ou o tratamento das pessoas idosas (causas
iatrogénicas) assim como, devido ao stress relacionado com o internamento
(hospital, lar).
Quanto aos fatores que influenciam o envelhecimento psicológico, estes são:
 O estado de saúde física - Existem pessoas que têm a capacidade de se
percecionarem como saudáveis, ainda que apresentem algumas patologias
crónicas ou agudas. Estas pessoas têm a capacidade de se adaptarem às
suas limitações. Assim, mais importante do que o estado de saúde é a
perceção que cada um tem da sua própria saúde;
 A mudança de papel - A passagem de um papel utilitário tanto para a família
como para a sociedade, para um papel mais passivo traz geralmente
problemas psicológicos. Para se ultrapassar esta fase é necessário que a
pessoa idosa adquira novos papéis, mantendo-se ativa e útil. A falta de
ocupação tem efeitos nefastos sobre a perceção de si e pode conduzir à
depressão;
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 A personalidade – Uma pessoa que ao longo da sua vida sempre


demonstrou capacidade de adaptação terá mais facilidade em se adaptar a
situações de privação ou de stress;
 O estatuto familiar e conjugal – A família e os amigos constituem muitas
vezes a principal rede de suporte das pessoas idosas. A separação da família
ou dos amigos, qualquer que seja a causa, aumentará os sentimentos de
solidão, que por sua vez irão dilatar a insegurança e diminuir seriamente a
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capacidade de adaptação;
 Funções cognitivas - uma diminuição das funções cognitivas poderá ser
vivida de forma dramática pelo próprio e pela família.

Nos idosos, as funções cognitivas mais atingidas são a velocidade de


pensamento, memória de trabalho/imediata e as habilidades visuoespaciais. E as
que se mantêm inalteradas são a inteligência verbal, atenção básica, habilidade de
cálculo e a maioria das habilidades de linguagem. A velocidade em que a
informação é processada representa a alteração mais evidente do idoso. A
lentificação cognitiva influencia todas as outras funções como a atenção e a
memória, sendo responsável pelo défice cognitivo. Esta lentificação pode ser
verificada em determinadas situações, tais como: dificuldade em compreender
textos, necessidade de explicações mais extensas e de maior tempo para executar
cálculos.
A inteligência fluida – processo básico de informação, capacidade de raciocinar,
perceber a relação entre os objetos, criar novas ideias, adaptar-se e organizar a
informação em situações concretas – atinge o seu potencial máximo aos vinte e
cinco anos, iniciando-se a partir daí o seu declínio (Sequeira, 2010). A inteligência
cristalizada – processo de aquisição do conhecimento centrado na educação
(acumulação de informações), no conhecimento e na experiência que os indivíduos
adquirem no contexto sociocultural – aumenta a sua capacidade ao longo da vida.
Assim, o desempenho de atividades, independentemente da sua natureza, tem
influência de forma positiva nas funções intelectuais e contribui para uma maior
eficiência mental (Morris, 1991 citado por Sequeira, 2010). A memória constitui
uma das funções cognitivas essenciais para um envelhecimento ativo.
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Com o avançar da idade ocorre uma diminuição da velocidade de recuperação


dos vários recursos da memória, ocorre também declínio na memória imediata, de
curto prazo ou de trabalho, o que dificulta o processo de aprendizagem. Há maior
comprometimento da atenção (dificuldade para selecionar a atenção por vários
tópicos) e da recuperação das informações, previamente armazenada e também na
consolidação de informações recentes (memória episódica recente, por exemplo,
localização de objetos, recados, repetir números de forma inversa, etc.) A memória
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remota, também designada por memória de recordação, mantém-se estável ou
declina muito pouco com a idade.
Os idosos são capazes de adquirir novos conhecimentos, desde que lhes dêem
tempo para assimilar a informação. Além disso, na maioria dos casos, a
aprendizagem depende mais da motivação do que da memória (Berger, 1995). Ao
longo da vida, as pessoas têm uma grande plasticidade cognitiva e capacidade de
reserva. Estas capacidades podem melhorar através da intervenção, com
programas de estimulação cognitiva tanto em pessoas com demência, como em
pessoas idosas saudáveis (Fernández-Ballesteros, 2009 cit in Teixeira, 2010).
O envelhecimento cognitivo normal é influenciado por diversas variáveis:
 os fatores genéticos (que explicam cerca de 50% da variabilidade
cognitiva na terceira idade);
 a saúde (as pessoas saudáveis apresentam menos alterações cognitivas);
 a escolaridade (um nível de instrução mais elevado funciona como fator
protetor das funções cognitivas);
 a atividade mental (realizar as atividades mentalmente estimulantes
melhoram o desempenho do cérebro);
 a atividade física (a boa forma física está relacionada com uma melhor
preservação das aptidões cognitivas);
 a personalidade, humor, meio social e cultural, treino cognitivo, género e
conhecimentos especializados (influenciam positiva ou negativamente
áreas como a memória ou a atenção) (Spar e La Rue, 2005 cit in
Sequeira, 2010).
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Envelhecimento Social
As redes sociais alteram-se de acordo com o contexto familiar, laboral,
participação na comunidade, entre outros. As redes de apoio fundamentais para a
saúde mental, satisfação com a vida e para um bom envelhecimento, pelo que, de
forma a manter a independência e a participação social, é necessário reorganizar
as redes de apoio informal, tentando combater a falta de pessoas significativas que
vão desaparecendo (amigos, família, etc.).
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Atualmente verificam-se diversas alterações sociais em comparação com o
passado:
 diminuição das famílias alargadas que cuidam de todos os seus membros;
 predominância de famílias nucleares com diminuição da estabilidade
familiar (incremento do número de divórcios e novos casamentos que criam
instabilidade e dificuldade nos processos de cuidar);
 existência de vários tipos de família (monoparentais, uniões de facto, etc.);
 dificuldade e competitividade no trabalho (maior mobilidade geográfica dos
elementos familiares, fragilizando a solidariedade familiar);
 reduzida dimensão das habitações (dificulta a coabitação de vários
membros a família);
 entre outros.
O envelhecer é definitivamente real, mas não existe apenas uma forma correta
de ocorrer. Assim, não se poderá respeitar a pessoa idosa, sem ter em conta a sua
personalidade, a sua experiência, condição social e valores culturais. Cada idoso é
dotado de uma entidade própria que deve ser respeitada.

Capítulo 2 – Agente em Geriatria

O Agente em Geriatria é o profissional que presta cuidados de apoio direto a


idosos, no domicílio e em contexto institucional (lares e centros de dia), cuidando
do seu bem-estar físico, psicológico e social, de acordo com as indicações da equipa
técnica e os princípios deontológicos.
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CARATERÍSTICAS INERENTES AO AGENTE EM GERIATRIA


Relações humanas
O agente de geriatria deve possuir caraterísticas específicas para o
cuidar/relacionamento humano. Deste modo, deve ser: responsável; paciente;
meigo; bem-disposto; educado; humilde; assíduo; honesto; atento; justo;
simpático; bom ouvinte; flexível; competente; dedicado; e profissional.
Um bom profissional também deve saber: colocar-se no lugar ou situação
16
dos idosos (empatia); prestar-lhes a devida atenção; respeitar o idoso, os colegas e
superiores hierárquicos; ter capacidades psicológicas, sociais e de relacionamento
com os outros, especialmente com os idosos; considerar o idoso como um ser
humano, com todas as suas necessidades; mostrar disponibilidade para o idoso;
ajudar o idoso a exercitar as suas aptidões físicas e intelectuais, promovendo ao
máximo as suas capacidades e autonomia.
Um profissional de geriatria deve possuir conhecimentos necessários
para cuidar dos idosos em áreas como:
 alimentação (dietas, cuidados com sondas, etc.);
 saúde e primeiros socorros (como atuar em caso de asfixia,
administração de medicamentos, cuidados a ter com as algálias, etc.);
 higiene e prevenção de acidentes (higiene pessoal, posicionamentos,
prevenção de quedas etc.);
 comunicação e atividades de animação;
 processo de envelhecimento, cultura, hábitos e crenças.

Entre as principais atividades do Agente em Geriatria destacam-se:


 a prestação de cuidados de higiene ao idoso;
 a distribuição e auxílio nas refeições;
 administração de medicação (ter atenção à sua toma);
 auxílio, se necessário, na deslocação ao WC, colocação de fraldas e/
ou urinóis e arrastadeiras;
 prevenção de quedas e acidentes, organizando o espaço físico onde o
idoso se insere;
Formador: Miguel Rodrigues

 organização e promoção de atividades de lazer e animação


adequadas às capacidades dos idosos;
 acompanhamento do idoso nas idas a consultas e tratamentos.

Relativamente aos principais deveres do Agente em Geriatria, estes são


os seguintes:
 respeitar sempre a privacidade do idoso, mantendo sigilo, sempre que ele o
17
solicite, sobre qualquer assunto;
 ser sempre responsável pelas suas ações, reconhecendo e assumindo os
erros cometidos, como prova de humildade e honestidade;
 assegurar, quanto possível, que os seus serviços não são mal utilizados,
respeitando as indicações dadas pelos superiores hierárquicos;
 respeitar o sigilo profissional, não divulgando situações e informações
relacionadas com os idosos, colegas de trabalho ou instituição obtidas no
decorrer do horário de trabalho.

Cuidados a ter em consideração


 Higiene pessoal: tomar banho diariamente; promover a saúde oral; unhas
curtas (não roídas), limpas e sem verniz; mãos e antebraços limpos; manter
os pés secos; evitar passar as mãos no nariz, orelhas, cabeça, boca ou outra
parte do corpo durante a prestação de cuidados; no caso dos homens, evitar
usar barba e bigode; evitar trabalhar com ferimentos nas mãos ou se estiver
doente (diarreia, febre, vómitos, contato com pessoas com doenças infecto-
contagiosas, infeções os olhos, garganta, nariz ouvidos pele, etc.); comunicar
situação de doença; assoar o nariz em lenços de papel e posteriormente
rejeitar e lavar as mãos; não limpar o suor com as mãos, panos ou uniforme
(mas sim em toalha descartável).
 Apresentação pessoal: cabelos limpos, apanhados e protegidos (sem tocar
no uniforme); não usar adornos (anéis, brincos, relógio, pulseiras, colares,
piercing, etc.); não utilizar utensílios que foram colocados na boca; utilizar
equipamento de proteção individual; evitar maquilhagem e perfumes com
cor e/ou odor intenso (utilizar desodorizante sem cheiro ou com odor
Formador: Miguel Rodrigues

suave); apresentar identificação adequada (nome, fotografia e função);


evitar falar, cantar, tossir ou espirrar sobre os outros ou alimentos; não
mascar pastilhas elásticas ou fumar durante o trabalho; não manusear
dinheiro; o fardamento deve ser feito apenas no local de trabalho; e deve-se
utilizar o cacifo para colocar a roupa pessoal.

A apresentação pessoal correta e adequada bem como o uso de uma farda limpa
18
para além de prevenir infeções são o espelho do nosso asseio e a imagem que
transparecemos da instituição onde trabalhamos.
 Atitude: o profissional de saúde deve ter uma atitude positiva, pois deste
modo vai-se sentir entusiasmado, criativo, vai contagiar os outros com a sua
boa disposição e isso vai-se refletir na qualidade do seu trabalho.

Ter conhecimento sobre as tarefas a executar no posto de trabalho é


importante, mas não é tudo. É também necessário conhecer os clientes e adaptar-
se a estes. O cliente deve ser considerado a pessoa mais importante, pois é dele que
depende o trabalho do agente em geriatria. Este não deve ser alvo de juízos de
valor e deve ser tratado de forma individual, respeitando as suas caraterísticas.
Para tal, o profissional deve evitar:
 Efeito de halo - Não se deve formular uma opinião sobre um cliente,
baseado na generalização de uma caraterística. Exemplo: desconfiança;
 Efeito lógico – Não se deve supor que certas qualidades do cliente se
encontram associadas às suas atitudes. Exemplo: um cliente indeciso, não
quer dizer que não vá marcar uma consulta;
 Efeito dos estereótipos – Não se deve qualificar os clientes somente
porque detetamos caraterísticas nele que nos permitem enquadrá-lo em
certos tipos pré-qualificados. Exemplo: se a pessoa tem um ar sisudo, não
significa que seja antipático;
 Efeito da tendência central – não se deve classificar os clientes como
sendo todos iguais, sem considerar as diferenças individuais.
(personalidade, crenças, cultura). Exemplo: “Os utentes são todos iguais”.
Formador: Miguel Rodrigues

Capítulo 3 - PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO E OBSERVAÇÃO

CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO/ELEMENTOS DO PROCESSO DE


COMUNICAÇÃO

A comunicação trata-se de um processo de criação e de recriação de 19

informação, de troca, de partilha e de colocar em comum sentimentos e emoções


entre indivíduos. A comunicação ocorre de maneira consciente ou inconsciente
pelo comportamento verbal e não-verbal, e de modo mais global, pela maneira de
agir dos intervenientes. Por seu intermédio, chegamos, mutuamente, a apreender e
a compreender as intenções, as opiniões, os sentimentos e as emoções sentidas
pela outra pessoa e, até, criar laços significativos com ela.
Os elementos do processo de comunicação deverão estar presentes e
adequados para que a sua mensagem atinja a eficácia desejada:
 Estímulo - motiva uma pessoa a comunicar com outras. Pode ser um
objeto, experiência, emoção, ideia ou um ato;
 Emissor - pessoa que inicia a comunicação interpessoal ou a mensagem.
O emissor põe o estímulo dentro de uma forma de modo a poder ser
transmitido e assume responsabilidade quanto à precisão do conteúdo e
ao tom emocional da mensagem;
 Mensagem - informação enviada ou expressada pelo emissor. Pode
consistir em símbolos de linguagem verbal e não-verbal (palavras
faladas, expressões faciais ou gestos). Uma apropriada quantidade de
informação deve ser transmitida e o Recetor deve estar pronto para
ouvir a mensagem;
 Recetor - pessoa para quem a mensagem é enviada, através dos cinco
sentidos – visão, audição, paladar, tato e olfato. A mensagem do emissor
incita o recetor a descodificar e a responder. Idealmente, a intenção do
emissor é recebida pelo recetor;
Formador: Miguel Rodrigues

 Canal de transmissão - meio através do qual as comunicações são


transmitidas entre os intervenientes – ar, voz, carta, livro, rádio,
telefone, rede de tv, fax, correio, internet, etc.;
 Codificação da mensagem - escolha de uma forma verbal ou não verbal
(palavras escritas ou faladas, gestos ou ações) capaz de transferir e
transmitir significado. O código é um conjunto de sinais com significado;
 Descodificação - atribuição de significado aos símbolos;
20
 Retroalimentação ou feedback: retorno da informação que permite ao
emissor verificar se a comunicação foi ou não perfeitamente
percecionada.

A maior ou menor eficácia no relacionamento depende do nosso poder e


habilidade na comunicação. Cerca de 75% do nosso tempo é passado a relacionar-
nos com outras pessoas. Deste modo, é fundamental desenvolvermos
determinados aspetos, tais como sensibilidade social e a flexibilidade de
comportamento.
Para desenvolver estas características é necessário:
 Melhor conhecimento de nós próprios;
 Melhor compreensão dos outros, interpretando-os pelo que eles são e não
pelo que desejaríamos que eles fossem;
 Melhor convivência em grupo, pela perceção dos vários comportamentos
em grupo, o seu funcionamento e a interação dos indivíduos.

Não são as palavras utilizadas que nos ferem, mas antes as atitudes com que são
pronunciadas, as emoções que as subentendem e que nos fazem reagir.
Existe algo que pode facilitar ou dificultar a nossa comunicação com as pessoas,
que é o nosso estilo de comunicação. Os estilos de comunicação são quatro:
 Passivo - evita os conflitos; espera que as pessoas compreendam o que
deseja; muito preocupado com a opinião dos outros a seu respeito; culpa-se
de tudo; não é capaz de se defender; justifica-se excessivamente; tem
dificuldade em dizer que não.
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Expressão corporal: voz hesitante, mínimo contacto visual, quieto, atitude


defensiva, postura encolhida, mexendo as mãos e inquieto.
 Agressivo - ansioso por vencer, mesmo à custa dos outros; muito
preocupado com os seus desejos e vontades; culpa os outros; crítica os
outros, mas não a si próprio; interrompe com frequência; autoritário; e
conflituoso.
Expressão corporal: máximo contacto visual, voz alta – “grita” e a postura –
21
cerra os punhos ou aponta o “dedo como uma espada”.
 Manipulador: utiliza a simulação; evita dizer o que verdadeiramente
pensa; manipula a informação e as pessoas; e não olha a meios para atingir
os fins.
Expressão corporal: a linguagem corporal não coincide com a verbal.
 Assertivo: vontade de defender os seus direitos, mas ao mesmo tempo
capaz de aceitar que os outros também tenham os seus; ouve bastante os
outros e procura entender; trata as pessoas com respeito; aceita acordos,
soluções; e vai direito ao assunto sem ser áspero.
Expressão corporal: contato visual suficiente para dar a entender que está
a ser sincero; tom de voz moderado, neutro, mas firme; postura comedida e
segura; e expressão corporal de acordo com as palavras.

Cada um de nós pode ter um pouco de cada uma destas formas de


comunicar com o outro, dependendo do contexto em que nos encontrámos.
Existem pessoas que são passivas no local de trabalho, mas em casa são agressivas
ou assertivas, por exemplo. Mas há sempre um estilo que predomina.
Quanto aos princípios gerais da comunicação são os seguintes:
 A comunicação encontra-se em toda a parte;
 É impossível não comunicar;
 A comunicação situa-se nos planos cognitivo e afetivo;
 A comunicação pode ser intencional ou acidental;
 Em mensagens verbais e não-verbais contraditórias, é o significado da
mensagem não-verbal que é retido;
 A comunicação é dificilmente reversível;
Formador: Miguel Rodrigues

 Os primeiros minutos da comunicação são muito importantes: dão o tom à


relação.

Emoções na comunicação
Podemos então perceber que numa mesma situação podemos agir de duas
formas muito diferentes que provocam, em nós e nos outros, emoções muito
diferentes. (emoções negativas: tristeza, zanga, raiva, inveja, frustração, entre
22
outras ou emoções positivas: felicidade, amor, alegria, entusiasmo, entre outras).
As emoções são contagiosas. Um estudo realizado na Escola de Gestão da
Universidade de Yale, chegou à conclusão que a alegria e o amor são as emoções
que se espalham mais facilmente, enquanto a irritabilidade é menos contagiosa e a
depressão quase não se espalha. Esta maior taxa de difusão dos estados de espírito
favoráveis tem implicações diretas para os resultados nas empresas.
Em sentido neurológico, o riso é a distância mais curta entre duas pessoas,
porque liga instantaneamente os seus sistemas límbicos (corrente límbica). Uma
boa gargalhada (riso como reação a observações vulgares e não como reação a
gracejos) transmite uma mensagem amistosa que dá segurança: estamos na
mesma onda, entendemo-nos bem. Indica confiança, bem-estar mútuo,
sentimentos comuns sobre o mundo. Tal como o ritmo de uma conversa, rir é um
sinal de que, de momento, está tudo bem.

PRINCÍPIOS DA OBSERVAÇÃO
A observação é o ato ou efeito de observar. Exame. Análise. Acompanhar a
evolução, o comportamento ou o funcionamento. Observar é examinar
atentamente os indivíduos e ou o ambiente que os rodeiam. Instrumento de coleta
de dados que subsidia o processo de cuidar. Elemento fundamental no trabalho
científico e em toda a ação inteligente. Baseia-se no conhecimento, interesse e
atenção do observador, dentro deste método de reunião de informações. A
observação é a primeira etapa ou passo que conduz à ação do agente em geriatria,
ou seja, a execução de todos os cuidados necessários na assistência ao cliente.

Caraterísticas do processo de observação


Formador: Miguel Rodrigues

As informações recolhidas através da observação chegam ao cérebro do


observador por intermédio dos sentidos:
 Visão: observamos a cor da pele, o aspeto geral, a postura, os
movimentos do corpo, fazemos a leitura de instrumentos
(termômetro, ECG, monitores, etc.);
 Audição: presença de ruídos respiratórios, intestinais, etc.;
 Olfato: sentimos odores característicos de alguns quadros clínicos:
23
hálito cetónico (maçã podre) nos diabéticos descompensados; odor
caraterístico de algumas secreções (infeções); substâncias tóxicas
em casos de intoxicações, etc.
 Paladar: podemos verificar o tempero dos alimentos.
 Tato: utilizado para detetar texturas, temperatura da comida e
corporal, pulso, rubor da pele, entre outros;
 Intuição (sexto sentido): são sensações descritas como um “estado
de alerta” que nos leva a perceber que “algo está fora do padrão
normal”, mas não conseguimos evidenciar exatamente do que se
trata.

Devemos compreender que observar é perceber com todos os órgãos dos sentidos
o mundo que nos rodeia. No entanto, as nossas perceções podem sofrer influências
de experiências anteriores, expectativas, motivações e emoções, podendo alterar o
resultado de nossas observações.
Existem dois tipos de observação:
 Observação Assistemática: também designada de não estruturadas são
aquelas que realizamos espontaneamente, sem utilizarmos meios técnicos
especiais, roteiros ou perguntas específicas. Ocorre em uma experiência
casual, sem que se tenha determinado de antemão quais os aspetos
relevantes a serem observados e que meios utilizar para observá-los;
 Observação Sistemática: também chamada de estruturada ou planeada, é
aquela que fazemos para responder a propósitos preestabelecidos, ou seja,
sabemos de antemão o quê, como e quando vamos observar. A grande
vantagem da observação sistematizada é que os dados já são colhidos de
Formador: Miguel Rodrigues

forma organizada, além do que, o mesmo roteiro pode ser utilizado por
diversos observadores.
Desde que eles compreendam as situações e os detalhes da mesma forma. A
escolha do tipo de observação utilizada ficará na dependência do fenômeno ou
situação que queremos estudar.

JOGOS E SIMULAÇÕES
24
O jogo tem um papel essencial na educação e na animação e também no
processo de socialização e de desenvolvimento intelectual, social e motor. A
realização de jogos com grupos de crianças, adultos ou idosos é das melhores
formas de transmissão de mensagens, de aprender e de diversão.
Com o jogo consegue-se: aumentar o grau cultural e o compromisso coletivo;
aumentar o número de amizades e relacionamentos; canalizar a criatividade;
divertir; libertar tensões e emoções; obter integração intergeracional; orientar
positivamente as angústias quotidianas; refletir; ter predisposição para realizar
outros trabalhos.

Jogos e Paródias
Os jogos de mesa e as paródias são um excelente promotor de
entretenimento e lazer entre os idosos, estabelecendo o convívio e a interação
entre eles. Alguns jogos que podem ser desenvolvidos são as Damas, o Pictionary
(jogo em que é necessário adivinhar uma palavra através de desenhos), o Dominó,
o Xadrez, o Monopólio (jogo em que o objetivo é ganhar dinheiro com a venda e
compra de imóveis), Trivial pursuit (jogo de cultura geral), o Scrable (jogo de
construção de palavras), Jogo do galo, entre outros. Nas paródias estão incluídas as
anedotas, histórias, pequenos atos teatrais, mímica, provérbios, entre outras.
Os jogos de magia não são utilizados com frequência na animação, mas podem
proporcionar bons momentos de entretenimento. Existem truques simples de
cartas, cordas ou moedas, que qualquer idoso pode aprender para depois
apresentar aos colegas numa festa ou passeio.

Desporto e Recreio
Formador: Miguel Rodrigues

Esta animação engloba atividades físicas que podem ser praticadas em


equipa ou individualmente, com ou sem fins competitivos. Os desportos mais
aconselháveis para os idosos são o atletismo, os jogos tradicionais, a natação, o
ténis, a pesca, o golfe e a marcha. As atividades recreativas são realizadas em e
para o grupo e têm por objetivo o recreio, o convívio, a solidificação das relações
sociais e o desenvolvimento comunitário. Os bailes (carnaval, final de ano, etc.), os
torneios de jogos de cartas, os desfiles de moda, as marchas populares, as festas de
25
aniversário e dos santos populares, as procissões, os jornais de parede, os
piqueniques, a decoração de casas ou ruas com flores e outros adereços de papel,
concursos de poesia, prosa ou fotografia, entre outras, são exemplos de atividades
recreativas.

Capítulo 4 – CONFORTO DA PESSOA IDOSA

SONO E REPOUSO
O sono é uma necessidade básica dos seres humanos e, portanto, tem influência na
nossa qualidade de vida. Sabe-se que a experiência de um sono insatisfatório ou
insuficiente é muito desagradável, refletindo no desempenho da pessoa em suas
atividades diárias, comportamento e bem-estar. Particularmente para os idosos, as
perturbações do sono também representam fatores de risco ligados à
institucionalização e à mortalidade.
As consequências da privação de sono são diversas:
 Sonolência;
 Fadiga e falta de vigor;
 Ansiedade e irritabilidade;
 Falta de concentração;
 Confusão;
 Alucinações;
 Distorções de perceção;
 Lapsos e acidentes;
Formador: Miguel Rodrigues

 Defeitos de compreensão da linguagem verbal

O mundo organiza-se em torno de uma periodicidade de 24 horas, determinada


pelo movimento de rotação da Terra. Os nossos ritmos biológicos mais conhecidos
têm periodicidade semelhante e são chamados de ritmos circadianos (do latim
circa diem, em torno de um dia). O ritmo circadiano é sincronizado de acordo com
fatores: Geofísicos – a alternância entre o claro (dia) e o escuro (noite) e as
26
estações do ano. De origem social – horários dos diversos compromissos sociais,
trabalho, escola.

Fases do sono
O sono é constituído por diferentes estágios, de acordo com a frequência e a
amplitude típicas das ondas elétricas cerebrais geradas durante o fenômeno. A
organização e a proporção que ocupam os vários estágios são conhecidas como o
padrão do sono, que se modifica com o envelhecimento:
 Sono NREM (N1, N2 e N3) – Sono lento, sincronizado. Não há movimento
rápido dos olhos. Caracterizado por um EEG (eletroencefalograma) em que
dominam as frequências baixas; ativação parassimpática é dominante;
temperatura central decresce ligeiramente; a atividade cognitiva persiste,
embora os sonhos sejam facilmente esquecidos; Possuí três níveis, N1, N2 e
N3. A qualidade do sono da fase N1 à fase N3 torna-se sucessivamente
profunda, à à medida que as ondas cerebrais se tornam progressivamente
mais lentas e é mais difícil acordar uma pessoa.
 Sono REM (Rapid Eyes Movement) – paradoxal. Existência de movimentos
rápidos dos olhos; ocorre 90 minutos após início do sono; sonhos
predominantemente emocionais, vividos e mais facilmente retidos se
acordar nesta fase.

Uma noite de sono é constituída por ciclos com duração média de 70 a 100
minutos, que se repetem de 4 a 5 vezes, sendo que um ciclo típico é constituído das
fases N1, N2 e N3 do NREM seguidos por um período de sono REM.
Formador: Miguel Rodrigues

Na primeira metade da noite, o sono é mais profundo (predomínio da fase


NREM) e na segunda metade da noite predomínio das fases mais superficiais (N1 e
N2) do sono NREM e de sono REM.

Funções do sono
A principal função do sono é manter-nos acordados, pois tem um efeito
reparador. O ser humano é o único ser vivo capaz de adiar propositadamente o
27
sono, contudo esta capacidade não excede os dez dias.
Durante o sono ocorrem diversos processos:
 São segregadas todas as hormonas anabolizantes, que permitem o
crescimento e a duplicação celular;
 São estabilizados processos imunológicos (por isso, a redução do sono
aumenta a probabilidade de ter doenças infeciosas).
 São estabelecidos e sedimentados diversos processos cognitivos, sobretudo
os que têm a ver com a memória, com o encontrar soluções e com a
aprendizagem, entre outros;
 Através dos sonhos é restabelecido o equilíbrio emocional e são reforçados
os comportamentos próprios da espécie.

Fatores que provocam alterações no sono


Na origem de uma perturbação do sono, frequentemente, ocorre a combinação de
um ou mais fatores:
 Doença física;
 Fármacos e substâncias;
 Estilo de vida;
 Padrões habituais de sono e sonolência diurna excessiva;
 Stress emocional e ambiental;
 Ruído;
 Exercício e fadiga;
 Alimentos e ingestão calórica.

Padrões de sono e o envelhecimento


Formador: Miguel Rodrigues

O ciclo vigília-sono (períodos de sono e de vigília ao longo das 24 horas)


sofre importantes modificações durante o envelhecimento do indivíduo. Nos
bebês, o sono é fragmentado ao longo do dia e da noite; os adultos, em geral,
dormem apenas durante a noite, exibindo um padrão chamado de monofásico e as
pessoas idosas costumam apresentar um padrão de sono mais fragmentado, com
episódios ocorrendo durante o dia e a noite, em diferentes proporções.
Com o envelhecimento o padrão do sono sofre algumas alterações:
28
 Diminuição da duração do sono profundo (N3 e NREN);
 Aumento da duração das fases N1 e N2 do sono NREM (sono superficial);
 Maior número de transições de um estágio para o outro, inclusive para a
vigília, e maior número de interrupções no sono.

A eficiência do sono é a proporção entre o tempo que uma pessoa consegue


realmente dormir e o tempo despendido na cama com esse objetivo. Constitui um
parâmetro fundamental na avaliação da qualidade do sono.
Uma pessoa que se deita às 22 horas e se levanta às 6 horas da manhã seguinte; ela
terá 100% de eficiência do sono se dormir oito horas (oito horas de sono divididas
por oito horas no leito), 75% se dormir seis horas (seis horas de sono divididas por
oito horas no leito), e assim por diante. As pessoas idosas apresentam redução da
eficiência do sono para cerca de 70% a 80%, variando conforme o sexo e a idade
(em adultos jovens esse valor é da ordem de 90%).
No processo de envelhecimento, o sono sofre mudanças quantitativas e
qualitativas que são percebidas pelo idoso como perturbações e podem ser
apresentadas na forma de queixas. As mudanças no sono são as seguintes:
 Dificuldade em manter o sono noturno (os idosos demoram para
adormecer e acordam várias vezes durante a noite);
 Perceção do sono como mais leve e menos satisfatório (menor
eficiência do sono);
 Despertar muito precoce (alguns estudos sugerem que, com o
envelhecimento, torna-se necessário um avanço no sistema
circadiano para que o organismo se ajuste à periodicidade do
ambiente e da organização social (como se um “relógio interno” fosse
Formador: Miguel Rodrigues

adiantado), o que determinaria a escolha de horários precoces para o


início do sono e para o despertar, por exemplo.
 Maior tendência a dormir durante o dia, intencionalmente ou não
(sesta e cochilos). Parte dos idosos já não está sob a influência de
pistas temporais importantes, como horários de trabalho, e, assim,
pode não ter interesse, motivação ou necessidade de manter
horários regulares para levantar-se, deitar-se, alimentar-se ou
29
executar quaisquer outras atividades, o que contribui para acentuar
ainda mais a fragmentação do sono.

Tais modificações, quando muito acentuadas, podem trazer alguns problemas:


 Distúrbio do início e manutenção do sono (DIMS), que é a exacerbação da
dificuldade em conciliar e em manter o sono noturno, queixa frequente
entre as pessoas idosas;
 Despertar muito precoce (em torno das 3 ou 4 horas da manhã), que pode
ser indício de um quadro depressivo;
 Sonolência diurna excessiva, resultante de síndrome da apneia do sono,
mioclonia noturna ou outros distúrbios.

A qualidade percebida do sono é uma experiência subjetiva. Não cabe ao


cuidador afirmar que a pessoa idosa “dormiu muito bem” e está “a queixar-se sem
motivo”, apenas por ter observado que ela dormiu uma noite inteira, de forma
aparentemente profunda e tranquila. A observação contínua ao longo da noite não
é o habitual; o que se costuma fazer são observações intermitentes, entre as quais
podem ocorrer episódios de interrupção do sono que passam despercebidos pelo
observador.
O cuidado com o sono requer, inicialmente, uma avaliação de seu padrão habitual:
 Existem ou não queixas;
 Horários de dormir e despertar;
 Quanto tempo demora para adormecer;
 Número, duração e motivo das interrupções do sono;
 Número e duração de sestas;
Formador: Miguel Rodrigues

 Queixas relatadas pelo companheiro ou outras pessoas próximas;


 Satisfação do idoso com a qualidade do sono, bem como sensação de bem-
estar ao despertar;
 Sonolência ou fadiga durante o dia.

É preciso verificar se o idoso estabeleceu uma rotina antes de deitar para


dormir (ex.: tomar banho ou fazer outro tipo de higiene, rezar o terço, fazer uma
30
refeição leve), a sua regularidade e a sua possível influência na qualidade do sono.
O ambiente físico em que o idoso dorme também tem de ser observado (a
temperatura, iluminação, sons, presença de outrem, características da cama e
segurança do local). Além disso, deve-se analisar a qualidade da vigília, pois alguns
fatores, típicos de quando se está acordado, podem contribuir decisivamente para
a qualidade do sono, bem como sofrer a influência desta (realização de atividades
de lazer, prática de exercícios físicos, presença de interação social, qualidade da
alimentação do idoso, entre outros).
Os idosos costumam ser responsáveis por grande parte do consumo de
medicamentos para dormir (de diversos tipos). A utilização de medicamentos
não assegura um sono de melhor qualidade, uma vez que:
 A pessoa idosa torna-se mais vulnerável aos efeitos colaterais dos
medicamentos indutores do sono, bem como a indesejável sonolência
durante o dia, aumentando o risco de possibilidade de quedas e suas
consequentes complicações;
 A prescrição de medicação de efeito sedativo ou hipnótico é de
responsabilidade exclusiva do médico após minuciosa avaliação de todos os
fatores que possam estar resultando em prejuízo para o sono do idoso. O
cuidador deve ficar atento aos efeitos colaterais indesejáveis que o
medicamento venha a ocasionar e nunca, em hipótese alguma, aumentar a
dose prescrita sem consulta médica prévia;
 Sugestões para uma melhor qualidade do sono;
 Cabe ao cuidador atuar na promoção da denominada higiene do sono,
conjunto de hábitos e comportamentos que auxiliam a melhorar ou manter
Formador: Miguel Rodrigues

a qualidade do sono. Envolve hábitos regulares, desenvolvimento de


atividades físicas e ambiente físico adequado para dormir;
 A manutenção de hábitos regulares contribui para um sono menos
fragmentado e de melhor qualidade;
 Idosos com perturbações do sono e sonolência diurna excessiva devem
estabelecer horários e rotinas regulares para: deitar-se e despertar,
refeições, lazer, realização de atividade física;
31
 Hábitos que sinalizem a aproximação do horário de dormir (preparo da
cama, roupa apropriada, banho morno, rezar o terço) são especialmente
importantes;
 Os cochilos ou a sesta (que resultam em maior sensação de bem-estar)
podem ser inseridos em horário regular como parte da rotina diária, o que
não vai interferir na fragmentação do sono noturno;
 A ingestão de alimentos leves antes de dormir não costuma ser prejudicial
para o idoso, especialmente se é um hábito antigo (copo de leite morno) e
se ele não possui disfunções do trato alimentar, como refluxo
gastroesofágico, caso em que deve ser contraindicada, pelo maior risco de
aspiração;
 A ingestão de líquidos deve ser restrita a algumas horas antes de deitar-se,
sobretudo na presença de noctúria (levantar à noite para urinar) ou de
incontinência urinária;
 Bebidas com cafeína (café, chá-preto, achocolatados e refrigerantes à base
de cola), por suas propriedades estimulantes, precisam ser evitadas em
horários próximos ao de dormir. O mesmo se aplica a cigarros (efeito
estimulante) e álcool (provoca sonolência inicial, mas prejudica a qualidade
do sono).

Os efeitos fisiológicos dos exercícios sobre o sono ainda não são bem
conhecidos, porém os efeitos psicológicos são positivos e devem ser valorizados. A
atividade física tem de ser adequada às condições de saúde do idoso e
desenvolvida com regularidade e critério. Embora o período da manhã seja
tradicionalmente recomendado para sua prática, vários estudos têm evidenciado
Formador: Miguel Rodrigues

que é nesse período que ocorrem os maiores valores da pressão arterial e da


viscosidade sanguínea. Tais fatores, em conjunto com o esforço despendido no
exercício e a perda de líquidos, aumentam o risco de ocorrência de acidentes
vasculares cerebrais (AVC) e cardíacos isquémicos (enfarte), especialmente nas
primeiras horas da manhã. Sugere-se, assim, a realização de exercícios de leve ou
moderada intensidade no final da manhã ou da tarde, mas não logo antes de
dormir, pois poderiam prejudicar a qualidade do sono.
32
A exposição à luminosidade solar contribui para a regularização do ritmo
circadiano de secreção da melatonina e para a consolidação do padrão de sono do
idoso. Também o ambiente físico deve proporcionar conforto, segurança e permitir
o contraste entre o dia e a noite. O estabelecimento de contrastes entre o dia e a
noite auxilia o sistema de temporização circadiana (responsável pela organização
dos ritmos circadianos) do idoso a distingui-los. Esse sistema historicamente
adaptou o organismo humano a dormir em um ambiente escuro e quieto, à noite. O
conforto envolve a avaliação das condições do mobiliário (bom estado de
conservação), colchões, travesseiros e roupas de cama (macias e bem esticadas),
iluminação (indireta, de baixa intensidade), temperatura do ambiente
(temperaturas muito baixas ou muito elevadas são fatores de perturbação do
sono) e presença de ruídos (ambientes ruidosos provocam redução da quantidade
de sono de ondas lentas e respostas cardiovasculares, como taquicardia e
vasoconstrição, e interrupção do sono).
Diminuir a dor se presente, posicionando o idoso em posição antiálgica e,
confortável (com almofadas, esticar a roupa). Assim como garantir a segurança do
idoso, permite a tranquilização da pessoa contra a ocorrência de situações de
violência (ex.: assaltos). Uso de grades nas janelas (casas térreas) e revisão de
portas e fechaduras podem contribuir para amenizar o problema.
Quando o idoso se encontra no domicílio deve-se aconselhar os familiares a:
 Ter em atenção e evitar portas a bater ou televisões muito altas;
 Não ter conversas preocupantes à noite a frente do idoso;
 Programar atividades do dia seguinte, de manhã e não à noite;
 Os familiares devem evitar discussões e conflitos frente aos idosos;
 Evitar de falar do cônjuge falecido;
Formador: Miguel Rodrigues

 Os familiares devem evitar conversas sobre a situação socioeconómica.


Além das recomendações mencionadas quanto ao conforto, é importante
aumentar os estímulos oferecidos durante o dia e diminuí-los à noite (minimização
de ruídos e iluminação no quarto do idoso). A pessoa idosa deve procurar deitar-se
apenas para dormir e, de preferência, quando sentir sono, evitando uma
permanência longa e desnecessária na cama, sobretudo durante o dia. Idosos
institucionalizados ou acamados tendem a apresentar um sono noturno muito
33
fragmentado e pouco satisfatório, aumentando a sonolência diurna e criando um
círculo vicioso. A experiência subjetiva do sono é particular e complexa, e elevar a
qualidade do sono significa melhorar a qualidade da vigília e, consequentemente, a
qualidade de vida da pessoa idosa.

CAMAS
As camas articuladas são camas especiais que foram desenhadas com o
intuito de auxiliar todas as pessoas com mobilidade reduzida, como no caso de um
idoso ou de um acamado. As camas articuladas são uma ferramenta muito útil
para as pessoas que cuidam de um idoso ou de um acamado pois com o mínimo de
esforço conseguem mudar a sua posição e, ao mesmo tempo, para o próprio idoso
ou acamado é sinónimo de um maior conforto, segurança e descanso. As camas
articuladas começaram a ser utilizadas nos hospitais, pois prestavam um melhor
auxílio às pessoas que apresentavam um determinado problema de saúde, aos
idosos e a todos os acamados. Porém, graças à sua versatilidade e comodidade,
uma vez que um idoso ou um acamado precisa de apoio e cuidados constantes, as
camas articuladas depressa se estenderam a todos os lares em geral.
As camas articuladas são compostas por secções articuladas que podem ser
levantadas através da utilização de manivelas ou motores elétricos específicos que
possibilitam a colocação de um idoso ou de um acamado em várias posições
diferentes. Esta garantia de mobilidade é excelente para um idoso ou acamado na
medida em que as tarefas mais básicas do dia-a-dia como dar banho, comer,
sentar-se e levantar-se de uma cama estarão salvaguardadas. Existem vários tipos
de camas articuladas que podem ser adquiridas – as camas articuladas
manuais, elétricas e rotacionais.
Formador: Miguel Rodrigues

Camas articuladas manuais


As camas articuladas manuais possuem estrados articulados com secções
que podem ser levantadas através da utilização de uma manivela que permite
levantar as costas e as pernas de um acamado ou de um idoso que tenha
dificuldades de movimentos. Este tipo de cama requer a ajuda de uma segunda
pessoa, na medida em que é exigida que uma outra parte dê à manivela de forma a
34
posicionar a cama para um melhor conforto do idoso ou do acamado.

Camas articuladas elétricas


As camas articuladas elétricas têm o mesmo funcionamento que os manuais,
com a enorme vantagem de serem automáticas. O idoso ou o acamado não
necessita de uma segunda pessoa para mudar de posição e para mudar a posição
da cama, basta pressionar os botões correspondentes no comando que,
automaticamente, a cama faz o restante.
Na composição das camas articuladas, existem elementos que possibilitam uma
segurança adicional e um maior usufruto no descanso/repouso de uma pessoa com
limitações físicas e/ou de um idoso. Como por exemplo:
 As grades: no caso de um acamado e/ou idoso é recomendável usar guardas
laterais ou grades nas camas articuladas de forma a evitar que o acamado
caia da cama ao mudar de posição ou mesmo quando está a dormir;
 Os colchões: existem colchões especiais anti-escaras para utilizar numa
cama articulada. Estes colchões garantem o alívio das áreas de pressão e
facilitam a circulação sanguínea no idoso ou no acamado, mesmo que estes
se mantenham na mesma posição;
 As almofadas especiais: as almofadas especiais ou em cunha podem ser
colocadas sob as pernas para elevar os pés e as pernas ou sob as costas de
um idoso ou acamado, o que possibilita um maior conforto e relaxamento.
Não acumulam germes ou odores e têm fácil higienização;
 Os rolos especiais: que podem ser colocados por debaixo dos joelhos ou
apoiar a região dorsal e a sua utilização garante ao idoso ou acamado um
Formador: Miguel Rodrigues

melhor posicionamento e desempenho na realização de uma determinada


tarefa.

Capítulo 5 - BIBLIOGRAFIA
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