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Educação e Formação de Adultos

Agente em Geriatria

Manual

3538 – Saúde da pessoa idosa – cuidados


básicos

Formador: Filipe Miguel da Cruz Barros


3538 – Saúde da pessoa idosa – cuidados básicos

INDICE

Enquadramento ............................................................................................................................................. 3
1. Envelhecimento da população ........................................................................................................ 4
2. Agente em geriatria ............................................................................................................................. 6
3. Processos de comunicação e observação .................................................................................... 9
4. Conforto da pessoa idosa ................................................................................................................ 10

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ENQUADRAMENTO

Cuidar é transversal a todas as faixas etárias. Este manual destina-se aos


cuidadores para que desenvolvam e adquiram capacidades necessárias à prestação de
cuidados à pessoa independentemente da idade e do grau de dependência. Sendo o
envelhecimento uma área emergente da nossa sociedade e nem sempre acompanhado
de qualidade de vida.
O/a Agente em Geriatria é o profissional que presta cuidados de apoio direto a
idosos, no domicílio e em contexto institucional, nomeadamente, lares e centros de dia,
zelando pelo seu bem-estar físico, psicológico e social, de acordo com as indicações da
equipa técnica e os princípios deontológicos.
Ao longo deste módulo é de esperar que os formandos atinjam os seguintes
objetivos:
 Reconhecer alguns aspetos do envelhecimento da população.
 Descrever as características do Agente em Geriatria.
 Descrever os processos de comunicação e observação.
 Prestar cuidados que proporcionem conforto à pessoa idosa.

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1. ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO

Antes de percebermos o que são os cuidados que são necessários para


cuidarmos da população geriátrica é preciso saber quem faz parte dessa
população. Desta forma, Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é
todo o indivíduo com 60 anos ou mais. Porém, a OMS reconhece que, qualquer que
seja o limite mínimo adotado, é importante considerar que a idade cronológica não
é um marcador preciso para as alterações que acompanham o envelhecimento,
podendo haver grandes variações quanto a condições de saúde, nível de
participação na sociedade e nível de independência entre as pessoas idosas, em
diferentes contextos.
O estudo do processo de envelhecimento é chamado gerontologia, enquanto o
estudo das doenças que afetam as pessoas idosas é chamado geriatria. Existe, em
alguns países, o Estatuto do Idoso, que garante direitos à população que já tem
idade avançada.
O processo de envelhecimento tem sido alvo de estudo nos últimos tempos.
Para a DGS, o envelhecimento consiste num processo de “deterioração endógena
e irreversível das capacidades funcionais do organismo. É um fenómeno inevitável
e inerente á própria vida”, igual à fase final de um processo de desenvolvimento e
diferenciação, ou seja, é um processo contínuo, ativo e diferencial. Inicia-se muito
antes de alcançarmos a idade adulta e constrói-se ao longo da vida (Pina,
2013,p.19, cit por OMS 2005). A idade apresenta um conceito multidimensional, por
isso não é considerada uma boa medida para avaliar o desenvolvimento humano.
Para Paúl (2005) o processo de envelhecimento possui três elementos: a
senescência, onde o processo de envelhecimento biológico advém da
vulnerabilidade crescente e de maior probabilidade de falecer; o envelhecimento
social, referente aos papéis sociais adequados às espectativas da sociedade e o
envelhecimento psicológico, definido pela regulação do próprio individuo, pelo
tomar de decisões e opções, adequando-se ao processo de senescência e do
envelhecimento. Há vários determinantes que influenciam o crescimento e o
envelhecimento, contudo não são exclusivos, pois a “ base filogenética, da nossa

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hereditariedade, do nosso contexto sociocultural que estimula a expressão das


nossas tendências genéticas”( Paúl 2005,p.28). Refere ainda que o envelhecimento
consiste num processo adaptativo, moroso e contínuo, que implica diversas
modificações em todos os sentidos, e que intervém nos fatores biológicos,
psicológicos e sociais. As pessoas idosas envelhecem de forma diferente e em
ritmo diferente. Fontaine (2000) refere que existem três tipos de idades: idade
biológica; idade psicológica e idade social. A idade biológica está ligada ao
envelhecimento orgânico. Os órgãos sofrem transformações que provocam a
diminuição do seu funcionamento normal, por consequência a capacidade de se
auto-regularem torna-se menos eficaz. Este processo do envelhecimento não
ocorre ao mesmo tempo, cada parte do organismo envelhece num determinado
momento. A idade psicológica refere-se às competências comportamentais que a
pessoa idosa pode alterar em resposta às alterações ambientais, abrange ainda a
inteligência, a memória e a motivação. Quanto à idade social, esta representa a
relação da pessoa idosa com os outros elementos da comunidade onde está
inserida, relativamente aos papéis, rotinas e estatuto. Podemos acrescentar que as
pessoas idosas podem viver em isolamento social e solidão, mesmo quando vivem
acompanhadas com familiares ou outros indivíduos. O facto da pessoa idosa não
contribuir produtivamente para a sociedade leva a que seja tratada de forma
diferente, o que prejudica a sua integração social e, consequentemente pode levar
à marginalização.
Os profissionais qualificados podem ajudar as pessoas idosas a vivenciar um
envelhecimento ativo. Contudo, podem surgir doenças que afetem as pessoas
idosas, sendo as mais comuns: Doenças Cardiovasculares; Hipertensão; Derrame;
Diabetes; Cancro; Doença pulmonar obstrutiva crónica; Doenças músculo-
esqueléticas (como artrite e osteoporose); Doenças mentais (demência e
depressão, maioritariamente); Cegueira e diminuição da visão (OMS, 2005). Com o
aparecimento destas doenças crónicas, as pessoas idosas perdem um pouco da
sua autonomia e são obrigadas a viver o envelhecimento de uma forma mais
regrada. É producente que o processo de envelhecimento seja encarado como um
processo natural e não como um problema. Contudo, para que seja vivenciado com
autonomia e independência é necessário uma mudança nos comportamentos e
atitudes da população, na formação dos profissionais de saúde e de apoio social,
além de uma adaptação dos serviços de saúde e de apoio social às novas

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realidades sociais e familiares das pessoas idosas, assim comum a adaptação do


meio ambiente de acordo com as fragilidades que prevalecem com maior
frequência nas pessoas com idade avançada.
Uma das definições que expressa um conhecimento abrangente e complexo
da qualidade de vida é a da OMS. Tal como referimos anteriormente, esta
organização define a qualidade de vida como a perceção que o indivíduo tem da
sua posição na vida dentro do contexto da sua cultura e do seu sistema de valores,
em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (OMS,
2002). Campos e Neto (2008) consideram este conceito de qualidade de vida
genérico e apontam um outro ligado à saúde: o valor atribuído à vida, influenciado
pelas deteriorações funcionais; as perceções e condições sociais que são induzidas
pela doença, pelo seu agravamento e tratamento e a organização política e
económica do sistema de saúde.
Face ao envelhecimento da população, o grande desafio que se coloca aos
profissionais de saúde é o de conseguir uma sobrevida maior, com uma qualidade
de vida cada vez melhor (Oliveira et al., 2010). Para estas investigadoras à medida
que o indivíduo envelhece, a sua qualidade de vida é influenciada pela habilidade
destes em manter a sua autonomia e independência.

2. AGENTE EM GERIATRIA

Medicina geriátrica ou geriatria é o ramo da medicina focado no estudo, na


prevenção e no tratamento de doenças e da incapacidade em pessoas idosas. O
termo deve ser distinguido de gerontologia, que é o estudo do envelhecimento em
si.
O objetivo da geriatria é acompanhar o utente idoso no seu processo de
envelhecimento, estudando, prevenindo e tratando doenças, com o objetivo final de
prolongar a sua vida e otimizar a sua qualidade de vida, sem esquecer o bem-estar
e a qualidade de vida dos cuidadores utilizando três abordagens diferentes:
 Abordagem de prevenção: o médico educa o utente para hábitos de saúde
saudáveis no momento de transição do utente adulto para idoso, modera a

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sua terapêutica (caso exista) e acompanha o utente num processo de


senescência
 Abordagem de acompanhamento: o utente já se encontra num processo de
senescência e é acompanhado pelo médico de uma forma preventiva e
assente também na educação para a saúde
 Abordagem de tratamento: o médico acompanha e trata doenças pré-
existentes, trabalha no sentido de prevenir sequelas de doenças atuais e
atua sempre de forma preventiva baseada na educação para a saúde sobre
a potencialidade de novas doenças associadas

Desta forma podemos dizer que a geriatria não é um tratamento. A geriatria é


uma abordagem médica aos utentes idosos que visa estudar, prevenir e tratar
doenças e incapacidades permanentes ou não.
São muitas as denominações mas um só perfil a conceber – ser o apoio de
alguém que, por sua idade e eventuais patologias, se encontra mais vulnerável.
Esta vulnerabilidade pode ser temporária ou contínua. Mas em qualquer um dos
casos, o apoio do profissional de Geriatria é transversal e abrangente. Reúne na
sua atuação duas áreas complementares: a Geriatria e a Gerontologia. Esta união
permite que o Auxiliar de Geriatria conheça as principais patologias relacionadas
com a idade avançada. Sabendo identificar e atuar em conformidade com as
distintas características das mesmas (Geriatria), também possibilita que seja capaz
de reconhecer em cada idoso um individuo único e irrepetível, com uma história de
vida ímpar e rica. Deste modo, será capaz de responder às necessidades
específicas inerentes à esfera emocional e psicossocial (Gerontologia). Este
entendimento é a base da construção de um profissional não somente conhecedor
das limitações de cada idoso, mas sobretudo ciente das capacidades consolidadas
e de como as potenciar. O respeito e a dignidade humana encontram-se como
princípio fundamental e irrefutável, orientador de todo o processo deste cuidador
formal que é, aos dias de hoje, crucial para a manutenção da qualidade de vida.
Resumindo, o agente de geriatria é o profissional que garante o equilíbrio
pessoal e institucional no relacionamento interpessoal do dia adia com pessoas
idosas e outros profissionais e complementa o cuidado da pessoa idosa nas suas
vertentes física, mental e social.

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O agente de geriatria tem como principais funções:

 Reconhecer o quadro concetual básico que carateriza o


envelhecimento na sociedade atual e diferentes contextos sociais;
 Cuidar e vigiar idosos, selecionando e realizando atividades de
animação / ocupação com os mesmos, no seu próprio domicílio ou em
contexto institucional;
 Zelar pelo bem-estar do idoso, pelo cumprimento das prescrições de
saúde, dos cuidados de higiene e da realização de atividades de
animação / ocupação com o idoso no seu domicílio ou em contexto
institucional.

O agente em geriatria, deve ter alguns cuidados relativamente à forma como


comunica, como se apresenta e em relação às atitudes que tem perante a pessoa
idosa, nomeadamente:
 Manter a capacidade e preparação física, emocional e espiritual;
 Cuidar da sua aparência e higiene pessoal;
 Demonstrar educação e boas maneiras;
 Adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários;
 Respeitar a privacidade da Família e do idoso;
 Demonstrar sensibilidade e paciência;
 Saber ouvir;
 Manter a calma em situações críticas;
 Manter otimismo em situações adversa;
 Reconhecer as suas limitações e saber quando e onde procurar ajuda;
 Demonstrar criatividade;
 Lidar com a agressividade;
 Saber ser, saber estar e saber fazer.

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3. PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO E OBSERVAÇÃO

A comunicação é um processo que envolve a troca de informações entre dois


ou mais interlocutores através de signos e regras semióticas mutuamente
entendíveis. Trata-se de um processo social primário, que permite criar e interpretar
mensagens que provocam uma resposta. Os passos básicos da comunicação são as
motivações ou a intenção de comunicar, a composição da mensagem e a
interpretação da mensagem por parte do recetor. A comunicação inclui temas
técnicos (por exemplo, as telecomunicações), biológicos (por exemplo, fisiologia,
função e evolução) e sociais (por exemplo, jornalismo, relações públicas, publicidade,
audiovisual).
Nesta área, a comunicação é um elo fundamental para que a prestação de
cuidados possa ser realizada da melhor forma. Podemos ter dois tipos de
comunicação: verbal e não-verbal. A comunicação verbal pode ser definida como
sendo toda linguagem falada ou escrita, ou seja, toda mensagem transmitida
através de palavras. A comunicação não verbal é compreendida por tudo aquilo que
não faz uso de palavras. Está relacionada com o tom de voz e com a linguagem
corporal, que abrange tanto os movimentos do corpo quanto as expressões faciais.
Como comunicar com um idoso:
 Agir de modo sereno e competente;
 Chamar o idoso pelo nome que mais gosta de ser tratado;
 Identificar-se pelo nome e categoria profissional;
 Não utilizar linguagem infantil;
 Respeitar a individualidade dos idosos;
 Estar disponível para escutar;
 Incentivar as suas próprias decisões;
 A conversa deverá ser sem pressa e sem pressões;
 Responder às perguntas de forma simples, breve e lentamente;
 Manter o contacto visual e tátil com o idoso;
 Não elevar o tom de voz, a menos que o idoso apresente diminuição de
adição

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4. CONFORTO DA PESSOA IDOSA

Se considerarmos o conforto como um estado imediato de se sentir fortalecido


por ter supridas as necessidades de alívio, tranquilidade e transcendência, nos
contextos físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental, podemos perceber entre
este conceito e o de bem-estar, duas diferenças subtis: “conforto” refere-se ao
estado imediato, emergente, enquanto o bem-estar se refere à avaliação
perspectivada a prazo superior ao imediato, a uma perspetiva que embora avaliada
num determinado momento, se reporta relativamente ao bem-estar subjetivo, à
presença de afeto agradável a longo prazo e à falta de afeto desagradável, e
satisfação com a vida; “conforto”, como acima definido, refere-se à experiência
subjetiva de se sentir fortalecido de se perceber ajudado, beneficiado por algo ou
alguém que fortalece, enquanto o bem-estar parece referir-se à experiência,
também subjetiva, de estar bem, de estar satisfeito (ou insatisfeito) com a vida nas
suas múltiplas nuances (saúde, emoções, relacionamentos, economia, ocupação e
lazer, etc.), numa avaliação de influências temporalmente mais difusas.
Para que a pessoa idosa se possa sentir confortável devemos ter em atenção
os seguintes aspetos: ambiente, cuidados de higiene e alimentação. Em relação ao
ambiente, este deve ser calmo, reconfortante e caloroso, transmitindo um
sentimento de serenidade é importante no cuidar, suscitando confiança e
proporcionando um estímulo assíduo, positivo, motivador. Os cuidados de higiene
da pessoa que está a ser cuidada são um dos fatores mais importantes para o
conforto e qualidade da sua vida. O cuidador avalia o grau de dependência da
pessoa em relação à higiene pessoal, tendo em conta a sua segurança, os
produtos a utilizar e como realizar. O cuidador deve sempre optar por “fazer com” a
pessoa que está a ser cuidada, incentivando-a ao autocuidado, e nunca “fazer pela”
pessoa. Em relação à alimentação, esta deve ser saudável, adequada
nutricionalmente e essencial para a recuperação física e manutenção do bem-estar.
Para que haja uma alimentação equilibrada, com todos os nutrientes necessários
para uma saúde saudável, é preciso variar os tipos de alimentos, consumindo-os
sempre com moderação. A refeição deve ser equilibrada, colorida e saborosa.

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Outra situação que devemos estar atentos em relação ao conforto dos


idosos está relacionada com a prevenção do aparecimento de úlceras de pressão.

Uma úlcera por pressão é um dano do tecido ou da pele que ocorre quando
há uma diminuição da circulação sanguínea provocada pela pressão aplicada a
uma área específica. Inicialmente, é possível observar uma ligeira vermelhidão na
área afetada (o primeiro sinal de danos nos tecidos). O tecido subjacente morre
devido à deficiência de irrigação sanguínea. Podem ser afetadas várias camadas
de pele, músculos e ossos. A região do sacro, os calcanhares, os cotovelos e as
omoplatas são áreas consideradas de risco elevado.

É possível evitar a ocorrência da maioria das úlceras por pressão ao


minimizar os fatores de risco através de medidas preventivas como a avaliação
formal de riscos e a minimização de riscos específicos (alívio da pressão, cuidados
da pele preventivos, utilização de camas e colchões adequados).

Dependendo da extensão dos danos aos tecidos, as úlceras por pressão são
classificadas em quatro fases:

 Grau I: Não há abertura da pele, mas a vermelhidão não fica branca


quando pressionada.
 Grau II: Os danos atingem a epiderme, a derme ou ambas. Em
termos clínicos, os danos observados são escoriações ou bolhas. A
pele em redor poderá estar vermelha.
 Grau III: Os danos estendem-se através de todas as camadas
superficiais da pele, tecido adiposo, diretamente e incluindo o
músculo. A úlcera tem o aspeto de uma cratera profunda.
 Grau IV: Os danos incluem a destruição de estruturas de tecidos
moles e osso ou de estruturas de articulações.

O posicionamento/alternâncias de decúbito é essencial para a pessoa com


alterações da mobilidade, com o objetivo de prevenir complicações associadas à
imobilidade, como por exemplo as úlceras de pressão, proporcionar conforto e
promover a autonomia da pessoa.

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