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FUNDAMENTOS DE GERIATRIA

E GERONTOLOGIA

ASPECTOS BIOLÓGICOS E
PSICOSSOCIAS DO
ENVELHECIMENTO

Thais Helena Machado


Material de apoio (Moodle)
Idoso
 Todo indivíduo com mais de 60 anos (OMS)
 +- 80% desta população tem ao menos uma condição
crônica de saúde

 Desafio: apesar das progressivas limitações que


possam ocorrer, contribuir para que essas pessoas
possam redescobrir possibilidades de viver sua
própria vida com a máxima qualidade possível
Qual o limite entre “normal” e
patológico?

FUNCIONALIDADE

o Envelhecimento saudável: não é ausência


de doença e sim capacidade de realizar
compensações e manter funcionalidade e
autonomia

4
Funcionalidade
 Um dos atributos fundamentais do envelhecimento
humano
 Reflete o nível de autonomia e independência para
a realização das atividades da vida diária. Por
isso é um bom indicador da saúde da pessoa idosa
 Designa boa qualidade de vida na velhice, pois
trata da interação entre as capacidades física e
psicocognitiva para a realização de atividades no
cotidiano e as condições de saúde, sendo mediada
pelas habilidades e competências desenvolvidas ao
longo do curso da vida (PERRACINI; FLÓ; GUERRA, 2009).
Funcionalidade
 No Brasil, 30,1% das pessoas com 60 anos ou mais
apresentam limitação funcional, definida pela
dificuldade para realizar pelo menos uma entre
dez atividades básicas ou instrumentais da vida
diária (LIMA-COSTA et al., 2017)
Funcionalidade
 As tarefas cotidianas podem ser, didaticamente, subdivididas
em:
 ƒAtividades básicas de vida diária (ABVD): compreendem
tarefas de autocuidado (higiene, alimentação, eliminações e
transferências).
 ƒAtividades instrumentais de vida diária (AIVD): abarcam
outras tarefas cotidianas necessárias para viver de forma
independente, tais como: ter controle do dinheiro ou finanças,
fazer compras, usar telefone, usar o transporte, sair sozinho,
preparar refeições, realizar tarefas domésticas e manejar
medicamentos.
Funcionalidade
 Atividades avançadas de vida diária (AAVD): referem-se às
atividades do cotidiano mais relacionadas ao trabalho, à
recreação e à participação social, tais como: fazer e receber
visitas; participar de atividades culturais, de recreação e de
lazer; viajar; fazer trabalhos voluntários ou remunerados;
participar de atividades da vida comunitária e cidadã
(reuniões, organizações, associações e grupos sociais).
Funcionalidade
 A perda de capacidade para a realização de
atividades fundamentais para a vida diária indica
um processo de declínio funcional. O declínio
funcional guarda certa hierarquia: primeiramente, a
pessoa apresenta dificuldades para realizar as
atividades mais complexas e, depois, pode ter
dificuldades na realização das atividades mais
básicas da vida diária (RAMOS et al., 1993).
Importante

Autonomia Independência

 Direito ao livre-arbítrio, à  Estado, condição, caráter do


tomada de decisões por que ou de quem goza de
vontade própria, que faz autonomia, de liberdade
com que alguém esteja apto com relação a alguém ou
para tomar suas próprias algo
decisões de maneira  Estado qualidade de ser
consciente; independência, livre, de não depender de
liberdade. ninguém
 Competência para gerir sua
própria vida, fazendo uso de
seus próprios meios,
vontades ou princípios.
CIF
 Possibilita classificar o impacto biopsicossocial das
doenças. Assim, pessoas idosas com as mesmas doenças
podem experimentar impactos diferentes nos aspectos
biopsicossociais e ter níveis funcionais completamente
distintos entre eles
 Funcionalidade: interação dinâmica e complexa entre a
condição de saúde de uma pessoa, os fatores ambientais
e os fatores pessoais.
 Há influência multidirecional entre seus elementos: funções
e estruturas do corpo, atividade e participação de
fatores contextuais, representados pelo ambiente e por
fatores pessoais
Visão Geral dos Componentes da CIF - 2003

1. Funções e Estruturas do Corpo e Deficiências


Definições:
 Funções do Corpo são as funções fisiológicas dos
sistemas orgânicos (incluindo as funções
psicológicas).
 Estruturas do Corpo são as partes anatômicas do
corpo, tais como, órgãos, membros e seus
componentes.
 Deficiências são problemas nas funções ou na
estrutura do corpo, como um desvio importante ou
uma perda.
Visão Geral dos Componentes da CIF - 2003

2. Atividades e Participações / Limitações de


Atividades e Restrições de Participação
Definições:
 Atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um
indivíduo.
 Participação é o envolvimento numa situação da vida.

 Limitações de Atividades são dificuldades que um

indivíduo pode encontrar na execução de atividades.


 Restrições de Participação são problemas que um
indivíduo pode experimentar no envolvimento em
situações reais da vida.
Visão Geral dos Componentes da CIF - 2003

3. Fatores Contextuais
 Representam o histórico completo da vida e do

estilo de vida de um indivíduo. Incluem dois


fatores
Pessoais
Ambientais  Histórico particular da vida e do estilo de vida do indivíduo,
Constituem o ambiente  Englobam as características do indivíduo que não são parte
físico, social e atitudinal no de uma condição de saúde ou de um estado de saúde.
qual as pessoas vivem e  Podem incluir o sexo, raça, idade, outros estados de saúde,
conduzem sua vida. condição física, estilo de vida, hábitos, educação recebida,
diferentes maneiras de enfrentar problemas, antecedentes
Esses fatores são externos sociais, nível de instrução, profissão, experiência passada e
aos indivíduos e podem ter presente, (eventos na vida passada e na atual), padrão
geral de comportamento, caráter, características
uma influência positiva ou
psicológicas individuais e outras características, todas ou
negativa sobre o seu algumas das quais podem desempenhar um papel na
desempenho. incapacidade em qualquer nível.
cognição

Independência
comunicação e autonomia humor

+ interação
com fatores
mobilidade ambientais
Saúde
 “Saúde é o estado de pleno bem estar físico,
psíquico e social e não a ausência de doença”
(OMS, 1947)

 Acredita-se que a saúde deve ser vista a partir de


uma perspectiva ampla, com uma equipe
intersetorial e interdisciplinar de promoção de
modo de vida saudável em todas as idades.
Determinantes sociais da saúde
 São as condições econômicas, sociais, culturais e
políticas em que as pessoas nascem, crescem e
vivem que afetam o estado de saúde
Política Nacional da Saúde da
Pessoa Idosa (PNSPI)
 Porta de entrada: atenção básica / saúde da família

 Meta: a atenção integral à saúde da pessoa idosa, e


considera a condição de funcionalidade como
importante indicador de saúde dessa população

 Finalidade primordial: promover, manter e recuperar a


autonomia e a independência das pessoas idosas,
direcionando medidas coletivas e individuais de saúde,
em consonância com os princípios e as diretrizes do SUS
 Apresenta orientações
técnicas para nortear a
construção e a
implementação de uma
linha de cuidados para a
atenção integral à saúde
das pessoas idosas na
Rede de Atenção à
Saúde (RAS).
Hábitos saudáveis = prevenção de
doenças
 Promoção da saúde  Prevenção de doenças
 “Açõesque se  Prevenção e tratamento
manifestam por de enfermidades
alterações no estilo de especialmente comuns
vida e que resultam em aos indivíduos à
uma redução do risco medida que
de adoecer e/ou envelhecem
morrer” (OPAS, 1992)
Estatuto do idoso (Lei 10.741 de 2003)
 Objetivo: proteção integral à pessoa idosa,
regulando seus direitos

 Contém:
 Garantia de prioridade
 Direitos fundamentais: à vida, à liberdade, respeito e
dignidade, alimentos, saúde (atenção integral),
educação, cultura, esporte, lazer, profissionalização,
trabalho, assitência e previdência social....
 OMS década do envelhecimento saudável lançada
em 2021
 https://www.youtube.com/watch?v=gwxSiFoDA1M&list=PL6hS8Moik7kuc-
ZkPBMd_mjHFXhFMdSzT&index=12
 https://www.paho.org/pt/decada-do-
envelhecimento-saudavel-nas-americas-2021-2030
 Explorem o site!!!
Envelhecimento saudável (OMS)
 Processo contínuo de otimização da habilidade
funcional e de oportunidades para manter e
melhorar a saúde física e mental, promovendo
independência e qualidade de vida ao longo da
vida.
Envelhecimento - 3 grupos

Idosos jovens (65


a 74 anos)

Idosos velhos
(75 a 84 anos)

Idosos mais
velhos (85 ou +)
Envelhecimento
 IDADE  IDADE BIOLÓGICA
CRONOLÓGICA  Fruto de modificações
 Tempo de vida individuais
 Variável entre as
pessoas
Envelhecimento

 O ENVELHECIMENTO não é determinado pela IDADE


CRONOLÓGICA

 Consequência de experiências passadas, da forma como se


vive e se administra a própria vida no presente e de
expectativas futuras

 Integração entre as vivências pessoais e o contexto social e


cultural em determinada época, e nele estão envolvidos
diferentes aspectos: biológico, cronológico, psicológico e
social
Envelhecimento

 Por outro lado, a própria OMS define idoso pela


idade

 Definir por condições físicas, funcionais, mentais e


de saúde das pessoas?

 O envelhecimento humano, cada vez mais, é


entendido como um processo influenciado por
diversos fatores, como gênero, classe social, cultura,
padrões de saúde individuais e coletivos da
sociedade, entre outros
Determinantes do envelhecimento
 Genética
 Ambiente
 Estilo de vida -> determina o envelhecimento
saudável
 Diretrizes básicas:
◼ Atividade física regular
◼ Atividades laborativas
◼ Social e intelectualmente ativo
◼ Não fumar
◼ Moderar a ingestão de álcool
Aspectos biológicos do
envelhecimento
 Programação genética e alterações em nível celular-
molecular
 Diminuição da estatura

 Redução da massa óssea

 Pele mais fina e seca

 Diminuição na acuidade visual e auditiva

 Diminuição de neurônios e neurotransmissores


Aspectos psicossoais do
envelhecimento
 Papéis sociais e comportamentos: determinados
pela cultura
 Mercado de trabalho x aposentadoria
 Habilidades adaptativas dos indivíduos para se
adequarem às exigências do meio
 Maior sabedoria, conhecimento e experiência
 Senso subjetivo de idade cada pessoa avalia a
presença ou a ausência de marcadores biológicos,
sociais e psicológicos do envelhecimento
Avaliação psicossoal do idoso
 Cognição
 Humor
 Hábitos de vida
 Suporte social e familiar
 Violência e maus-tratos
 Sexualidade
 https://www.youtube.com/watch?v=6yjibMArDEk
Envelhecimento ativo (OMS)
 “O processo de otimização das
oportunidades de saúde,
Envelhecimento
participação e segurança, com o ativo
objetivo de melhorar a qualidade
de vida à medida que as pessoas
ficam mais velhas”.

Envelhecimento
 Mais abrangente do que saudável
“envelhecimento saudável”.
Reconhece, além dos cuidados com
a saúde, outros fatores que
afetam o modo como os indivíduos
e as populações envelhecem
(Kalache e Kickbusch, 1997).
Envelhecimento ativo (OMS)

Base: conceito de atividade, atrelado a quatro pilares interligados:

Saúde Participação Segurança e Aprendizagem


Proteção ao longo da
Bem-estar Social vida
biopsicossocial Cidadania
Cultural
Espiritual
Envelhecimento ativo (OMS)
 Parte do pressuposto de que envelhecer significa
favorecer oportunidades para que os indivíduos
possam optar por estilos de vida saudáveis e,
ainda, fazer controle do próprio status de saúde e
melhorar sua qualidade de vida.

 Objetivo:
 Aumentar a expectativa de uma vida SAUDÁVEL e com
QUALIDADE
 Manter autonomia e independência
Envelhecimento bem sucedido /
ativo

sociais econômicas culturais espirituais civis

 Processo contínuo de otimização da habilidade funcional e


de oportunidades para manter e melhorar a saúde física e
mental, promovendo independência e QV ao longo da vida
(OMS)

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Continuum do declínio cognitivo no
envelhecimento normal e patológico
 Relatório sobre o status global da demência
 É essencial: construir sistemas de saúde e assistência social para
prevenir, retardar e atenuar os efeitos da demência
 Apresenta novas e estimativas de custo da demência e discute o
progresso dos países em atingir as metas globais descritas no Plano
de ação global sobre a resposta da saúde pública à demência
2017-2025.
* Países de baixa
e média renda
 O plano de ação global contra a demência define metas globais
para sete áreas de ação que, juntas apoiam uma resposta
abrangente e equitativa à demência com o objetivo final de
melhorar a vida das pessoas com demência, suas famílias e
cuidadores.

 194 países

 www.globaldementia.org.
1. Demência como prioridade de saúde pública:
Precisamos de ações urgentes para garantir que
os países tenham políticas e planos, incluindo
componentes de conscientização sobre a
demência, redução do estigma, inclusão e
redução de riscos
2. Conscientização: objetiva maior inclusão e
diminuição do estigma
3. Redução de riscos: conhecer, integrá-los e educar
a população
4. Diagnóstico, tratamento e cuidado: melhorar o
acesso equitativo à saúde integrada, centrado na
pessoa e baseados na comunidade
5. Suporte aos cuidadores
6. Sistemas de informação de saúde: aumentar a
capacidade dos países de manter os sistemas de
informações sobre demência e monitorar os principais
indicadores para orientar ações baseadas em
evidências e monitorar o progresso no tempo
7. Pesquisa e inovação: promover a inovação e o
desenvolvimento científico para a demência. Esses
esforços devem se basear na equidade com a
participação ativa dos países de baixa e média
renda e das pessoas com demência
Fatores de risco não modificáveis
para demência
 Idade
 Gênero
 História familiar
 Raça
 Síndrome de Down
 Mutações genéticas
 Amiloidose cerebral
Fatores de
risco
modificáveis
para
demência
 Lancet Commission on dementia prevention, intervention, and care (Livingston et al.,2020) 51
Fatores de risco modificáveis
 menos educação
 hipertensão Juntos, estes fatores
 deficiência auditiva representam cerca de 40%
das demências mundiais
 tabagismo
 obesidade
 depressão Alto potencial de
prevenção!!!
 inatividade física
 Diabetes
 baixo contato social
 consumo excessivo de álcool
Mais
 lesão cerebral traumática recentes
 poluição do ar
Fatores de risco modificáveis
 Atuação de políticas públicas + intervenções individuais
 Nunca é muito cedo ou muito tarde para prevenir
demência!
 Doze fatores de risco (FRs) são responsáveis por 40% dos casos
de demência em todo o mundo. No entanto, a maioria dos
dados de frações atribuíveis à população (PAFs) é de países de
alta renda (HIC). Estimamos o quanto esses FRs são responsáveis
pelos casos de demência no Brasil, estratificando as estimativas
por raça e nível socioeconômico.
 O PAF geral ponderado foi de 48,2%.
 Menor escolaridade teve o maior PAF (7,7%)
 Hipertensão (7,6%)
 Perda auditiva (6,8%)

 A PAF de 49,0% nas regiões mais ricas


 54,0% nas mais pobres
 A PAF foi semelhante entre brancos e negros, mas a
importância do principal RF variou de acordo com a raça.
Fatores de
risco
modificáveis
para
demência
NO BRASIL
Risk factors for dementia in Brazil: Differences by region and race (Suemoto et al.,2022) 56
Fatores de
risco
modificáveis
para
demência
NO BRASIL
Risk factors for dementia in Brazil: Differences by region and race (Suemoto et al.,2022) 57
Fatores de O potencial do Brasil para a
risco prevenção da demência é
maior do que nos países de
modificáveis alta renda!

para Alvos prioritários:


- Educação
demência - Hipertensão
- Perda auditiva
NO BRASIL
Risk factors for dementia in Brazil: Differences by region and race (Suemoto et al.,2022) 58
Fatores protetivos
 Todos aqueles fatores de risco, se controlados, são
protetivos!

 Nutrição
 Cuidados com a saúde: estilo de vida e atividade
física

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Fatores protetivos
 Reserva cognitiva: mecanismo cerebral de adaptação
cognitiva em resposta a um prejuízo ou lesão

Reserva

Risco de
desenvolver
demência

escolaridade ocupação quociente


intelectual

(Valenzuela e Sachdev, 2009; Buschert, Bokde e Hampel, 2010) 60


Reserva cognitiva

• Programas de treino cognitivo em indivíduos


saudáveis podem diminuir o risco de declínio cognitivo
(Valenzuela e Sachdev, 2009)

• Meta-análise com 29.000 indivíduos: sujeitos com


grande reserva cognitiva tinham 46% de risco
reduzido para desenvolver demência se comparados
àqueles com pequena reserva cognitiva (Valenzuela et
al., 2006)
Reserva cognitiva

• Treino cognitivo em saudáveis pode melhorar seu


desempenho em domínios cognitivos específicos
(Mahncke et al., 2006) e os resultados podem ser
observados em até 5 anos após o final do mesmo
(Willis et al., 2006)

• Portanto, desenvolver intervenções que preservem a


função cognitiva pode ajudar a manter a qualidade
de vida e a independência de indivíduos idosos.
Dica: busque por
 WHO x dementia

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