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Artigo recebido em: Credibilidade no

19.08.2016
Aprovado em:
16.05.2017 jornalismo: uma nova
Silvia Lisboa
Doutoranda do Programa
abordagem1
de Pós-graduação em Co-
municação e Informação
da UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande
do Sul), mestre pelo mes-
mo Programa e membro
do grupo de pesquisa
Nupejor (Núcleo de Silvia Lisboa
Pesquisa em Jornalismo) Marcia Benetti
– UFRGS/CNPq.
E-mail: lisboasilvia@
gmail.com. Resumo
Este artigo propõe uma abordagem do conceito de credibilidade a partir da ar-
Marcia Benetti ticulação do jornalismo com a corrente ilosóica da Teoria do Conhecimento e
com as teorias discursivas. Credibilidade jornalística é aqui deinida como um
Doutora em Comuni-
cação e Semiótica pela
predicado epistêmico atribuído ao enunciador e a seus relatos. Essa atribuição
PUC-SP, professora do é feita por alguém, em uma relação intersubjetiva, e amparada em valores éti-
Programa de Pós-gradu- cos e morais. Por só ganhar sentido e relevância através de uma percepção so-
ação em Comunicação e bre o outro, propomos uma nova abordagem do conceito, através da distinção
Informação da UFRGS, de duas dimensões: a credibilidade constituída do enunciador e a credibilidade
pesquisadora do CNPq e percebida pelo interlocutor. A compreensão de que a credibilidade se desdobra
líder do grupo de pesqui- nessas duas dimensões permite qualiicar a aplicação do conceito nas pesquisas
sa Nupejor (Núcleo de empíricas.
Pesquisa em Jornalismo)
– UFRGS/CNPq.
Palavras-chave: Jornalismo. Credibilidade. Conhecimento.
E-mail: marcia.benetti@
gmail.com.
Abstract
his article proposes an understanding of the concept of credibility from the
ields of journalism, philosophy, speciically the heory of Knowledge, and
the discourse studies. Journalistic credibility is deined here as an epistemic
1
Uma versão preliminar deste predicate attributed to enunciator and their reports. his assignment is made
texto foi apresentada no XII
Encontro da Associação
by someone, in an intersubjective relationship, and supported by ethical and
Brasileira de Pesquisadores moral values. By only gaining meaning and relevance through a perception
em Jornalismo (SBPJor). A about the other, we propose a new approach to the concept, through two-di-
versão atual contém revisões
importantes. mensional distinction: the constituted credibility of the enunciator and the per-
ceived credibility by the interlocutor. he understanding that credibility unfolds
in these two dimensions allows qualifying the application of the concept in
Estudos em Jornalismo e Mídia empirical researches.
Vol. 14 Nº 1
Janeiro a Junho de 2017
ISSNe 1984-6924
Keywords: Journalism. Credibility. Knowledge.

DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2017v14n1p51 51
Estudos em Jornalismo e Mídia, Vol. 14 Nº 1. Janeiro a Junho de 2017 - ISSNe 1984-6924

E
mbora seja um termo fre- los – há 2,5 mil anos Aristóteles (1990) já
quente na pesquisa em jor- detalhara as evidências capazes de tornar
nalismo, o conceito de credi- um orador credível3.
bilidade jornalística tem sido Se tomarmos o jornalismo como
pouco desenvolvido. Ainal, o forma e fonte de conhecimento sobre a
que signiica credibilidade? Qual é a sua realidade, podemos pensar o seu funcio-
deinição conceitual? Como os veículos namento dentro deste processo universal
jornalísticos constroem sua credibili- de busca de conhecimento estudado pela
dade diante do público? Como o próprio ilosoia. O jornalismo seria tributário de
jornalismo, como um campo do conhec- um soisticado sistema de crenças que
imento, adquire ou perde credibilidade? explica por que atribuímos credibilida-
Para enfrentar esse desaio, apresenta- de a certos relatos e não a outros. Isto é,
mos aqui a credibilidade a partir da ar- o que nos leva a coniar no jornalismo
ticulação do jornalismo com a corrente tem a ver não apenas com a sua singu-
ilosóica da Teoria do Conhecimento e laridade como conhecimento, mas com
com as teorias discursivas. o fato de ele ser um ato comunicativo
Em um primeiro momento, bus- com a função de informar alguém (LA- 2
Compartilhamos com
caremos a conceituação de credibili- CKEY, 2011). As exigências que fazemos Schmitt (2006) a ideia de
dade na filosofia para entender como ao jornalismo enquanto fonte de conhe- que o conhecimento que
esse predicado epistêmico dos enun- cimento e a maneira pela qual julgamos provém dos testemunhos tem
ciadores e de seus relatos é uma condi- sua credibilidade são, em grande medi- um acentuado caráter social.
ção vital na obtenção de conhecimento da, as exigências e a maneira pela qual Goldman (1999) criou uma
linha de investigação, batiza-
verdadeiro pelo homem. Depois, pro- atribuímos coniabilidade a qualquer da de Epistemologia Social,
poremos uma nova abordagem do con- tipo de fonte de informação. Nós temos para investigar as dimensões
ceito, diferenciando suas duas dimen- mecanismos de percepção e de julga- sociais que inluenciam a
sões: a credibilidade constituída e a mento, desenvolvidos ao longo de anos e formação e a obtenção de
percebida. Para finalizar, mostraremos que, em condições normais, nos tornam conhecimento e crenças
verdadeiras.
como a competência e a integridade de hábeis em perceber inconsistências no
quem fala são indicadores primários discurso alheio, condição absolutamen- 3
Segundo Aristóteles
de credibilidade. te essencial para a evolução da espécie e (1990), os oradores inspiram
para a vida em sociedade. coniança com base em três
evidências: a prudência
Credibilidade na ilosoia Em maior ou menor grau, um in-
(phronesis), a virtude (aretè)
divíduo precisa ter coniança na opinião e a benevolência (eunoia).
De que forma e em que condições alheia para viver em sociedade. Virtual-
o homem obtém conhecimento verda- mente todas as nossas opiniões, com en-
deiro? Quais atributos tornam uma fonte foque especial para as opiniões adquiri-
e seu relato dignos de crédito? Em que das através do que os outros nos dizem,
situações o julgamento da credibilidade são revisadas ao longo do tempo. Por
é possível? Esses são alguns dos questio- isso, Foley (2004) usa o termo “níveis de
namentos investigados pela ilosoia que coniança”, do qual podemos depreender
são úteis para a compreensão do con- que existem também “níveis de credibili-
ceito de credibilidade. O interesse dos dade”, conforme a subordinação do ora-
ilósofos da Teoria do Conhecimento se dor a valores que regem sua conduta éti-
concentra em reletir sobre os aspectos ca. Ou seja, se não temos absolutamente
universais envolvidos no processo de nenhuma informação, direta ou indireta,
conhecimento do homem, sejam os as- que deponha contra quem fala, tende-
pectos de natureza individual, sejam os mos a coniar em algum grau no seu re-
de grandeza coletiva. O objetivo desses lato. Essa coniança é calibrada conforme
ilósofos é mostrar como a percepção do o seu desempenho em nos dizer “verda-
testemunho2, como é chamado o relato des” de um modo plausível.
de terceiros, está baseada em determina- O homem é um ser social em ter-
dos princípios que, não por acaso, per- mos intelectuais. As mais persuasivas e
manecem constantes ao longo dos sécu- poderosas inluências vêm da cultura e
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da tradição, fazendo com que a maioria dibilidade pressupõem a existência de


dos conceitos e suposições que servem regras segundo as quais a verdade seria
de base para nossas crenças não seja au- obrigatória4 – não pelo sentido metafí-
togerada. Grande parte do conhecimen- sico, mas por sua utilidade social para os
to que o homem adquire ao longo da vida indivíduos envolvidos no ato de comu-
não é de primeira mão. Nossa sujeição ao nicação. É porque perseguimos a verda-
testemunho começa muito precocemen- de que tiramos dúvidas especíicas com
te (FRICKER, 2006), muito antes de ter- fontes de informação com autoridade
mos noção do conceito de credibilidade no assunto5 e não com qualquer um
(REID, 2008). A aquisição da linguagem (GOLDMAN, 1999).
ocorrerá por um processo de coniança Baseando-se na premissa aristoté-
das crianças no que é dito por seus pais, lica de que todo homem deseja conhe-
professores e cuidadores. Ao longo da cer, Goldman (1999) considera a busca
4
vida, outras fontes de conhecimento – da verdade, ou de uma aproximação da
Isso não signiica que não
haja mentiras e boatos a memória, o raciocínio, a percepção e verdade, uma das questões mais perva-
circulando socialmente. No a introspecção – se desenvolvem e nos sivas da vida do homem. Reid (2008) foi
entanto, a ilosoia compre- tornam menos dependentes do relato o primeiro a formular dois princípios da
ende que o enunciador que dos outros. Ainda assim, o testemunho veracidade do testemunho até hoje cita-
induz a falsas crenças perde
sua autoridade discursiva
pode continuar sendo a principal fonte dos em estudos da área: 1) temos pro-
ao longo do tempo, e com de crenças verdadeiras. Muito do que pensão a dizer a verdade; 2) temos dis-
isso perde sua importância sabemos sobre o mundo e sobre nós posição a coniar no que os outros nos
epistêmica. mesmos nos chega por meio de relatos dizem. Para Reid, a verdade é um impul-
5
de familiares, amigos, professores – e do so natural da mente humana. Já mentir
Falaremos mais adiante
sobre a dimensão da autori-
jornalismo. seria uma violência contra a natureza do
dade que integra o conceito A percepção sobre a credibilidade homem, e nem o pior dos indivíduos a
de credibilidade. do orador é uma questão essencial na praticaria senão movido por uma ten-
vida em sociedade. Apesar de não haver tação. “Alguém que perde credibilidade
6
No original: “Someone who uma deinição exata na ilosoia, a credi- perde seu poder de induzir a crença no
loses her credibility loses the
power to induce belief in this bilidade no campo é entendida como um seu relato” (WEINER, 2009, p. 22, tra-
way”. predicado epistêmico dos enunciadores e dução nossa6). A credibilidade serviria
seus relatos (LISBOA, 2012). O conceito como uma espécie de iança para justii-
está fundamentalmente associado ao de car uma crença, que pode ser perdida se
coniança, e seu signiicado mais usual é ela se provar falsa.
o de coniabilidade. A credibilidade seria Esse aspecto revela o caráter do
uma característica do que é coniável, e a conceito de credibilidade. A credibilida-
coniança pode ser compreendida como de é um predicado que está amparado
um comportamento, uma expectativa em em valores éticos e morais. Isso porque
relação à atitude de alguém ou ao desem- a avaliação sobre a fonte de informação
penho de algo (LUHMANN, 1996; GID- dirá se ela é um bom ou um mau infor-
DENS, 1991). Coniar em alguém pres- mante de acordo com o que se espera-
supõe uma avaliação da credibilidade va dela e de acordo com o contexto da
(ou coniabilidade) desse alguém. A cre- comunicação, que tornou possível essa
dibilidade, portanto, seria um elemento percepção. O próprio fato de o conhe-
essencial da coniança, sendo resultado cimento ser um bem socialmente com-
de uma percepção da qualidade do tes- partilhado concede à noção uma dimen-
temunho, realizada pelo interlocutor a são ética, porque envolve a relação entre
partir de certos indicadores e situações indivíduos que compartilham interesses
(LISBOA, 2012). Uma avaliação positiva e objetivos (FRICKER, 2011) e torna os
da credibilidade do enunciador é capaz testemunhos uma prática governada por
de gerar coniança – e por essa razão, em normas. Tanto o orador quanto o inter-
muitos momentos, as noções acabam locutor obedecem a normas que têm um
sendo usadas como sinônimos. caráter eminentemente operacional. Po-
A coniança e a atribuição de cre- demos usar o exemplo de Millar (2010)
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sobre o jogo de futebol para mostrar A abordagem de Serra reforça a


como a existência de regras forma o qua- importância de não se incorrer no equí-
dro de referência dentro do qual um dis- voco comum de pensar que a credibili-
curso tem lugar. Uma partida de futebol dade pode ser somente uma qualidade
tem dois tempos de 45 minutos, 11 joga- auto-atribuída por quem fala. Para que
dores de cada lado e uma série de regras a credibilidade seja atribuída como um
que indicam que falta na área é pênalti e predicado, é preciso haver uma corres-
dois cartões amarelos signiicam expul- pondência entre a construção da credi-
são. Ao entrar em campo, os jogadores bilidade pelo enunciador e a percepção
– supostamente – sabem como agir para desse predicado por parte do interlocu-
ganhar a partida e não cometem faltas tor, isto é, uma relação entre o que cha-
gratuitas que possam colocar o time a mamos aqui de a credibilidade constituí-
perigo. Eles têm um contrato virtual so- da do orador e a credibilidade percebida
bre o que fazer ou não fazer em campo, pelo interlocutor7 (LISBOA, 2012). Tra-
e existe um limite de anarquia que o fu- ta-se de uma distinção da ordem da per-
tebol suporta até que deixe de ser consi- cepção, baseada na condição de conheci-
derado futebol. No jornalismo não é di- mento de Kant (1970).
ferente: as regras de seu funcionamento Kant estabelece uma diferenciação
exigem determinadas práticas e acionam entre a “coisa em si” (númeno) e a “coisa
determinados valores, sem os quais ele para nós” (fenômeno), mostrando que
deixará de ser jornalismo. os objetos existem independentemen-
te da nossa percepção, mas é somente
Credibilidade constituída e credibilidade através dela que podemos conhecê-los.
percebida Logo, a credibilidade, enquanto atributo
de qualidade do enunciador ou de seu
A acurácia de um discurso está discurso, seria dependente da perspecti-
sob domínio do enunciador, que precisa va de um outro sujeito. A credibilidade
deixar claras as suas intenções e dar ga- constituída de um orador precisa pree-
rantias da veracidade do que está sendo xistir8 à percepção do interlocutor, mas
dito. A forma do discurso e a exposição só ganha sentido dentro de uma relação
das intenções terão um impacto prepon- intersubjetiva. Aqui temos uma relação
derante na percepção da credibilidade complexa e dinâmica. Não estamos di- 7
Agradecemos aqui ao iló-
pelo interlocutor. Segundo Serra, a rela- zendo que a credibilidade constituída sofo Eros Moreira de Carva-
ção entre a credibilidade do orador e a exista desde sempre como uma essên- lho por nos ajudar a perceber
credibilidade de seu discurso é dialética: cia. Essa dimensão da credibilidade, que essa distinção conceitual.
é anterior à credibilidade efetivamente 8
Esses atributos preexis-
[...] é, por um lado, uma relação percebida pelo interlocutor, está ancora- tentes caracterizam o que
em que as qualidades de cada um da em valores, princípios e práticas que Haddad (2013) chama de
dos elementos vão se repercutindo foram se constituindo historicamente ethos prévio. O ethos prévio
no outro – o orador vai se tornan- como importantes para que a coniança do jornalismo implica uma
presunção de credibilidade
do credível à medida que o seu dis- se estabeleça. Esses valores, que também
(BURGE, 1993).
curso se torna credível, e recipro- não são imutáveis, indicam grande parte
camente – e é, por outro lado, uma das expectativas que a audiência terá so-
relação dinâmica, que progride, bre o jornalismo e, claro, indicam o que o
pelo menos idealmente, do menos enunciador deve fazer para parecer con-
para o mais. Mas, para que esta iável. Os atributos que sustentam a cre-
relação dialética se torne efetiva, dibilidade precisam ser de alguma for-
exige-se que o orador e o discurso ma incorporados ao sujeito que enuncia
sejam capazes de instaurar, com o para serem percebidos pelo sujeito que
auditório e o seu “discurso” inte- interpreta. E, ainda que o interlocutor
rior e silencioso – as suas crenças, nada saiba especiicamente sobre o ora-
os seus valores –, um certo tipo de dor, há elementos que indicam o que se
relação (SERRA, 2006a, p. 2-3). pode esperar dele: “De fato, mesmo que

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o coenunciador não saiba nada previa- blemas: o que diz respeito a uma noção
mente sobre o caráter do enunciador, o mais ampla, inclusive histórica e ética,
simples fato de que um texto pertence a sobre o que sustenta a coniança em uma
um gênero de discurso ou a um certo po- fonte de conhecimento (no nosso caso, o
sicionamento ideológico induz expecta- jornalismo), e o que diz respeito à cre-
tivas em matéria de ethos” (MAINGUE- dibilidade efetiva, mensurável, percebida
NEAU, 2013, p. 71). pelos demais sujeitos (no nosso caso, a
O ethos se constitui a partir de audiência). Embora essas dimensões –
um conjunto de atributos ou valores. No credibilidade constituída e percebida –
caso do jornalismo, isso signiica que a sejam complementares, elas são distintas
credibilidade será acionada como uma e podem exigir procedimentos meto-
expectativa sempre que um texto for per- dológicos também distintos para serem
cebido, pelo interlocutor, como um tex- pesquisadas.
to jornalístico. É importante ponderar
ainda que o sujeito está sempre social- Competência e integridade: princípios da
mente situado, e estes lugares – de fala credibilidade
ou de interpretação – também deinem
a qualidade de sua enunciação ou de sua A credibilidade constituída está
percepção. amparada em noções socialmente com-
partilhadas sobre o que signiica ser “um
O enunciador não é um ponto de bom informante”, ou seja, noções de
origem estável que se “expressaria” caráter moral. Esses aspectos, já iden-
dessa ou daquela maneira, mas é tiicados por Aristóteles, permanecem
levado em conta em um quadro praticamente os mesmos até hoje. São
profundamente interativo, em uma eles: a) a competência, também chamada
instituição discursiva inscrita em de autoridade, que se refere ao conhe-
uma certa coniguração cultural e cimento técnico e verdadeiro sobre o
que implica papéis, lugares e mo- assunto abordado, e b) a integridade da
9
Há pequenas divergên- mentos de enunciação legítimos, fonte, que envolve tópicos relativos ao
cias nos textos consultados um suporte material e um modo seu caráter, como a disposição em com-
sobre a relação dos atribu- de circulação para o enunciado partilhar informações, o compromisso
tos que tornam uma fonte (MAINGUENEAU, 2013, p. 75). com a verdade, a sinceridade em expor
coniável. Em um trabalho
motivações e interesses e, sobretudo, a
de 1994, Fricker (apud
MILLAR, 2011) airma que No âmbito do conhecimento e reputação. Esses aspectos estão presentes
sinceridade e competência do discurso, a credibilidade constituída tanto nos trabalhos ilosóicos de Aristó-
são atributos do caráter da ganha relevância através da percepção teles (1990), Coady (2000), Audi (2003,
fonte. Posteriormente, ela de alguém, por meio da credibilidade 2006), Goldman (2002), Lackey (2006)
separa do caráter da fonte o
componente da competência,
percebida. Isso signiica que um sujei- e Fricker (2011)9, como em pesquisas de
talvez por considerar este to pode se construir discursivamente comunicação de Hovland e Weiss (1951,
último um aspecto de ordem como um enunciador credível, baseado 1959) e Fogg et al (2001a, 2002a).
técnica. Essa sistematiza- em atributos valorizados como com- Aspectos como competência e in-
ção parece mais clara, de petência, honestidade, coerência. Mas tegridade podem ser decompostos em
modo que a adotamos neste
trabalho.
a audiência precisa reconhecê-la como indicadores que tornam possível avaliar
tal para que o conceito ganhe valor. A o nível de credibilidade de uma fonte e
credibilidade percebida pelo leitor sofre seu discurso. Pode-se exigir que um bom
inluência direta da credibilidade cons- informante não tenha interesses persua-
tituída, mas não necessariamente estará sivos ou escusos, seja objetivo, coerente
fundada em todos os mesmos valores e responsável. Nesse caso, seu discurso
e princípios. Esta é a contribuição con- também deve carregar esses índices, que
ceitual que pretendemos trazer com este irão permitir o julgamento da credibi-
artigo. É importante compreender que, lidade percebida pelo interlocutor. As
ao pesquisar credibilidade, precisamos propriedades discursivas sinalizam para
distinguir estes dois horizontes de pro- o leitor a presença de ambos os aspectos:
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competência e integridade. Aristóteles soas que produzem o conteúdo;


(1990) e Moran (2006) acreditam que 4) demonstrar, através de textos e
um discurso diz não apenas do assunto imagens, que você é coniável ou
em questão, mas da pessoa que o pro- que os serviços que você ou sua 10
A confusão conceitual tem
fere. As escolhas feitas em um discurso empresa prestam são coniáveis; 5)
uma origem histórica. Antes
servem como prova das intenções do colocar, de forma visível e acessível, das pesquisas do grupo de
que foi dito, podem revelar aspectos não o telefone e endereço ixo da em- Yale, a credibilidade era tra-
falados pela fonte que ajudarão o inter- presa para que o leitor possa entrar tada apenas como “prestígio”
locutor a formar impressões sobre ela em contato; 6) investir no design (EARLE e CVETKOVICH,
1995).
e sobre seu relato. A competência é tão do site; 7) torná-lo útil e relevan-
relevante na atribuição da credibilidade, te; 8) atualizá-lo com frequência 11
O guideline da credibilida-
que muitos autores a consideram como e deixar essa informação visível; de, elaborado pelo grupo de
uma condição. 9) evitar colocar anúncios, mas, Stanford, pode ser encontra-
A integridade e a autoridade de se isso for necessário, diferenciar do no site http://credibility.
stanford.edu/guidelines/
quem fala se tornam, assim, indicadores o conteúdo pago do editorial; 10) index.html. “1) Make it easy
primários da credibilidade. Se entender- evitar erros de qualquer tipo, por to verify the accuracy of the in-
mos que a reputação integra os dois as- menores que eles sejam (FOGG, formation on your site. 2) Show
that there’s a real organization
pectos, já que é resultado da percepção 2002, tradução nossa 11). behind your site. 3) Highlight
que a audiência tem do enunciador – a the expertise in your organi-
partir de informações sobre seu discur- A autoridade (CHARAUDEAU, zation and in the content and
services you provide.4) Show
so e sobre seu comportamento ao longo 2010) é um dispositivo integrante do that honest and trustworthy
do tempo –, podemos incluir a reputa- contrato de comunicação, que se susten- people stand behind your site.
ção como um dos atributos primários ta na crença de que o jornalismo é uma 5) Make it easy to contact you.
6) Design your site so it looks
da credibilidade constituída. Primário, prática especializada a narrar a realidade. professional (or is appropriate
neste caso, refere-se a primeiro, elemen- Ou seja, o jornalismo constitui-se como for your purpose). 7) Make your
tar. Esse é um dos motivos pelos quais os uma fonte credível dando provas de que site easy to use – and useful. 8)
Update your site’s content oten
conceitos de reputação e autoridade têm está comprometido com a verdade dos (at least show it’s been reviewed
sido, em alguns estudos empíricos, usa- fatos, de que é íntegro nas suas razões e recently). 9) Use restraint with
dos como sinônimos de credibilidade10. conduta. As dimensões autoridade e in- any promotional content (e.g.,
ads, ofers). 10) Avoid errors of
Não se pode confundi-los, mas é correto tegridade, portanto, se entrelaçam e sus- all types, no matter how small
airmar que, quando se olha para um, vê- tentam a coniança de que o jornalismo they seem.”
se o outro (FOGG, et. al., 2001b). é um sistema perito12. Conforme Miguel
12
Um exemplo trazido por Fogg (1999, p. 199, grifo do autor): Miguel (1999) apropria-se
do conceito de expert systems
(et. al., 2001b) sobre como um site jor- (sistemas especialistas ou
nalístico se torna credível ilustra como O leitor/ouvinte/ espectador, no sistemas peritos) de Giddens
as dimensões de competência e integri- papel de consumidor de notícias, (1991).
dade se desdobram na prática. A maior mantém em relação ao jornalismo
parte dos indicadores que servem como uma atitude de coniança, similar
um guia para aferição da credibilidade à dos outros sistemas peritos, que
de um site são tentativas de demonstrar pode ser dividida em três momen-
ao leitor como ele pode atestar o quanto tos: 1) coniança quanto à veraci-
aquela fonte tem competência e qual seu dade das informações relatadas; 2)
grau de honestidade e isenção. São eles: coniança quanto à justeza na sele-
ção e hierarquização dos elemen-
1) facilitar a veriicação, pelo lei- tos importantes ao relato; 3) con-
tor, da veracidade das informações iança quanto à justeza na seleção e
apresentadas, linkando textos de hierarquização das notícias diante
referências e fontes reconhecidas; do estoque de ‘fatos’ disponíveis.
2) deixar claro que existe uma or-
ganização real por trás do site, com É importante destacar que a avalia-
a lista dos membros e seus ende- ção da credibilidade do enunciador não
reços físicos com fotos; 3) expor e é apenas individual. É também coletiva
valorizar a competência das pes- e condicionada por fatores culturais, so-
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ciais e econômicos. Apesar do enfoque ra. Um tema importante referente a essas


racional dado à avaliação da credibilida- expectativas é a função social do jorna-
de do testemunho, o julgamento da cre- lismo. “Para que serve o jornalismo?”,
13
Pesquisas norte-america- dibilidade de um relato escrito ou falado perguntam Kovach e Rosenstiel (2001,
nas datadas dos anos 1990 também ocorre em níveis não racionais p. 16), respondendo em seguida que sua
revelaram que entrevistas ou não totalmente cobertos pela razão principal inalidade “é fornecer aos cida-
pessoais para selecionar
candidatos eram más ferra- (FOLEY, 2004). Aspectos aparentes, dãos a informação de que precisam para
mentas de avaliação porque como o modo de vestir do jornalista, a serem livres e se autogovernarem”. Para
os avaliadores se prendiam a exposição de sua orientação sexual ou a Reginato (2016), que estudou o discurso
aspectos da aparência, ma- diagramação de um jornal ou revista tam- de veículos, leitores e jornalistas sobre o
neirismos e outras informa-
ções supericiais que, apesar
bém podem afetar a aferição do nível de tema, o jornalismo tem 12 inalidades:
de irrelevantes, se tornavam credibilidade 13. São frequentemente usa-
salientes e acabavam pesan- dos em situações de comunicação, ape- Na minha perspectiva, o jornalis-
do mais do que deveriam. A sar de não serem indicadores coniáveis mo deve servir para: a) informar
escolha baseada em desem-
na atribuição de credibilidade de pessoas de modo qualiicado; b) investigar;
penho escolar e outros dados
objetivos e técnicos demons- e discursos no sentido de sua veracidade. c) veriicar a veracidade das infor-
trou ser mais eicaz na A pobreza, por exemplo, pode ser um in- mações; d) interpretar e analisar a
seleção do melhor proissio- dicador negativo de credibilidade, assim realidade; e) fazer a mediação en-
nal, mas era constantemente como a riqueza pode ser um indicador tre os fatos e o leitor; f) selecionar
relegada. Foley (2004) cita
as descobertas expostas por
positivo – ou o contrário, dependendo o que é relevante; g) registrar a his-
Robyn Dawes no livro House do interlocutor. O mesmo pode ocorrer tória e construir memória; h) aju-
of cards (New York: he Free com a etnia ou o status social. Quando dar a entender o mundo contem-
Press, 1994). apenas esses fatores são considerados, porâneo; i) integrar e mobilizar as
14
ocorre o que Fricker (2011) chama de in- pessoas; j) defender o cidadão; k)
Sobre a verdade como
correspondência, sugerimos justiça epistêmica. A credibilidade, então, iscalizar o poder e fortalecer a de-
Abbagnano (2007), Chaui como constata Marsh (2011), é um tipo mocracia; l) esclarecer o cidadão e
(2001), Goldman (1999) e de poder social. apresentar a pluralidade da socie-
Kirkham (2003). Esses fatores estão intimamente dade. (REGINATO, 2016, p. 233).
associados a ideologias e condições sócio
-históricas que determinam as estruturas O que ocorre, na aferição da credi-
de poder vigentes. No caso do jornalis- bilidade, é a relação entre o que o leitor
mo, temos um conhecimento estrutu- efetivamente percebe e aquilo que sabia
rado sobre determinados valores, e esta de antemão sobre o que deveria ser o jor-
estruturação é amplamente difundida na nalismo e que, portanto, dele esperava. A
sociedade. Frequentemente os próprios credibilidade, então, aumenta ou dimi-
jornalistas constroem “representações nui segundo essas relações, pois depende
de suas ações e de suas palavras, às quais da expectativa formada pelos sujeitos.
atribuem valores” (CHARAUDEAU, Dois princípios deontológicos es-
2010, p. 73). Ainda que nem sempre es- tão na base da credibilidade constituída
sas representações correspondam à prá- do jornalismo: a verdade, associada à
tica, a associação entre elas e “o bom jor- integridade, e o interesse público, asso-
nalismo” é reiterada em diversos lugares: ciado à competência. A busca de uma
em editoriais publicados pelos veículos, verdade como correspondência ou con-
em livros escritos e conferências profe- formidade ao real14 sobre fatos que se-
ridas por jornalistas, em documentários jam relevantes a uma comunidade, e
sobre reportagens importantes, em il- não apenas a um grupo, é norteadora do
mes e novelas, em manuais de redação, ethos jornalístico. Como dizem Kovach
em pesquisas acadêmicas. Todo leitor e Rosenstiel (2001, p. 36), “a primeira
tem, no horizonte, um leque de expec- obrigação do jornalismo é para com a
tativas em relação ao jornalismo, e essas verdade”. Franciscato (2005, p. 166, grifo
expectativas foram paulatinamente sen- nosso) também coloca a verdade como
do consolidadas por todos esses discur- correspondência no centro da deinição
sos, além da própria experiência da leitu- do jornalismo: “[a atividade jornalística
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adota] como pressuposto a existência de lidade, objetividade, precisão, equilíbrio


uma ideia de verdade do real que pode e coerência. Sendo a credibilidade o
ser apreendida nos seus aspectos princi- principal capital do campo jornalístico
pais por meio de técnicas jornalísticas e (BERGER, 1996), aquilo que lhe confe-
transformada em relato noticioso”. O jor- re maior ou menor valor, o certo é que
nalismo opera “com base em um sentido a coniança depositada pelos leitores nos
de idelidade entre o relato jornalístico e jornalistas e veículos depende da conso-
as ocorrências cotidianas” (FRANCIS- nância entre o dever-ser do jornalismo e
CATO, 2005, p. 167). É interessante tam- aquilo que percebem que é efetivamente
bém considerar a deinição de Goldman praticado.
(1999) da verdade como um conceito
pós-semântico: é apenas depois de uma Considerações inais
15
proposição ou de qualquer outra coi- Nem sempre o que é
indicado como se tivesse
sa que carregue um sentido de verdade O objetivo deste artigo foi concei- interesse público diz respeito
que a questão sobre a verdade pode ser tuar credibilidade jornalística a partir ao interesse da maioria: “[...]
levantada. Em se tratando de jornalismo, da contribuição da ilosoia e das teorias a noção de interesse público
esse questionamento exigirá voltar aos do discurso. Nesse percurso, pensamos comporta uma dimensão
normativa, referente a
fatos e aos testemunhos. a crença no jornalismo como tributária
valores, princípios e inter-
O interesse público é um princípio de um processo universal de busca por pretações desenvolvidas em
que se refere ao campo da competência conhecimento verdadeiro sobre o qual nível teórico-prescritivo, e
ou autoridade do jornalismo. Não há a Teoria do Conhecimento se debruça. outra dimensão empírica,
uma deinição consensual do que seja Ao inseri-lo nessa perspectiva ilosóica relacionada ao modo pelo
qual o interesse público é so-
exatamente interesse público, que de e também discursiva, conseguimos ver
cialmente construído. Nesse
modo geral costuma ser tomado como o como o jornalismo se constrói como um caso, também a dimensão
que diz respeito à maioria ou à esfera pú- mediador crível da realidade amparan- normativa condiciona ape-
blica. Como diz Cornu (1994, p. 403), “a do-se em aspectos como competência e nas parcialmente a dimensão
informação jornalística concerne a uma integridade, indicados já por Aristóte- empírica, e pode acontecer
ainda de se atribuir uma
verdade que interessa à sociedade civil e les como essenciais. Esses aspectos, so- qualidade de interesse públi-
não à esfera privada”. Sartor (2016) air- cialmente partilhados e consolidados ao co a temas, questões, aconte-
ma que o conceito de interesse público longo do tempo, contribuem para sus- cimentos decisões e ações que
se concretiza, para os jornalistas, a partir tentar a compreensão da audiência sobre correspondem a interesses
das noções de relevância pública15, escla- o dever-ser do jornalismo. privados ou de grupos sociais
especíicos, os quais, por
recimento, vigilância, espaço comum e É esse jogo dialético que torna ne- meio de estratégias discursi-
preferência de consumo. O jornalismo cessária a distinção que aqui propuse- vas (ou de outra natureza),
é ativo no processo de atribuição de um mos entre duas dimensões do conceito conseguem conferir um
caráter público a temas e acontecimentos de credibilidade: a de credibilidade cons- estatuto de universalidade
(SARTOR, 2016) e por isso exerce gran- tituída do jornalismo e a da credibilidade às suas próprias pretensões e
vontades” (SARTOR, 2016,
de poder. No que diz respeito à credibili- percebida pela audiência. A credibilida- p. 119, grifo do autor).
dade, o jornalismo será avaliado a partir de constituída diz respeito ao peril do
da capacidade de selecionar o que é pu- enunciador (jornalista, veículo jornalís-
blicamente relevante, de articular temas tico ou o próprio jornalismo) e do quan-
importantes ao debate sobre cidadania e to ele se aproxima das dimensões ideais
de investigar a retidão de outros atores e socialmente reconhecidas sobre o que
sociais. torna um enunciador digno de conian-
A busca pela verdade e o compro- ça. Há também questões de natureza
misso com o interesse público consti- subjetiva que são de difícil mensuração,
tuem a base da credibilidade constituída mas que não podem ser desprezadas por-
do jornalismo, assim como norteiam o que impactam na percepção do que é um
primeiro movimento de leitura da credi- orador credível. Já a credibilidade perce-
bilidade percebida pelo leitor ou interlo- bida é resultado da avaliação que o leitor
cutor. Outros valores – alguns polêmicos faz do jornalismo a partir de indicadores
– podem ser agregados ao ethos jorna- presentes na credibilidade constituída.
lístico, como independência, imparcia- Ninguém nega a importância da
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credibilidade nos estudos do campo e quanto ao dever-ser do jornalismo; o im-


a centralidade do conceito particular- pacto dos novos suportes sobre a percep-
mente neste momento de crise, em que ção de credibilidade, entre outros.
se repensam questões centrais como a Como desenvolvemos em outro
16
A investigação sobre este identidade, a legitimidade e os valores do trabalho (LISBOA, BENETTI, 2015), o
prisma foi realizada na jornalismo. A credibilidade é ainda hoje jornalismo se torna um tipo de conhe-
dissertação “Jornalismo e a muito citada nos estudos, porém pouco cimento por meio de um processo de
credibilidade percebida pelo
investigada. Nosso objetivo foi analisar a justiicação, o que signiica dizer que o
leitor: independência, im-
parcialidade, honestidade, natureza do conceito e suas dimensões, jornalismo é uma crença verdadeira jus-
objetividade e coerência”, de modo que futuros estudos possam tiicada: os pilares da verdade e da jus-
defendida em 2012. investigar outros aspectos associados a tiicação (provas e evidências de veraci-
ela, como as bases da credibilidade cons- dade) sustentam a crença dos sujeitos na
tituída, da percebida16 e a relação entre validade de seu discurso. É desta forma
ambas em diferentes situações e contex- que a credibilidade se constrói como um
tos; os fatores culturais e históricos que predicado epistêmico, que está ampara-
impactam na crença; as percepções de do em valores éticos e condicionado por
credibilidade entre diferentes públicos fatores históricos, culturais e sociais.

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