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Economia Circular na construção civil pode ser chave para o desenvolvimento

sustentável no setor

Pesquisadores acreditam que a mudança de paradigma da economia linear para o


modelo de economia circular seja inevitável para conservar e promover o uso
eficiente dos recursos

A relação do setor de construção com o desenvolvimento sustentável, a


prosperidade econômica e a equidade social instigou a pós-doutoranda Mayara
Regina Munaro, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), a criar um referencial teórico sobre
implantação de ferramentas e modelos de negócios circulares para que edificações
se tornem banco de materiais.

Em sua tese intitulada “The Circular Economy in the Construction Sector: Existing
Trends, Challenges, and Tools Towards” (“A Economia Circular no Setor de
Construção: Tendências, Desafios e Ferramentas Existentes”, em tradução livre),
Mayara utiliza o conceito chave da Economia Circular (EC) e investiga o que já
existe nesse sentido no ambiente construído e quais são os principais obstáculos e
oportunidades na sua implementação na construção civil. O trabalho foi um dos
vencedores do Prêmio Capes de Teses de 2023.

A pesquisa é constituída por diferentes artigos que se complementam em seus


assuntos. A escolha desse formato se deu com o intuito de facilitar a exposição do
conteúdo, mas também para realizar pesquisas abordando diferentes ferramentas e
modelos de negócios ligados à EC. “É importante salientar que, apesar dos artigos
do estudo serem produtos de diferentes caminhos de pesquisa, há sinergia entre
eles e todos se entrelaçam e formam uma rede de pesquisa ampla, coesa e
contínua”, ressalta Mayara.

Dentre os resultados alcançados, destaca-se a necessidade do setor construtivo


evoluir para a redução de seus impactos ambientais. Foi observada a existência de
ações pontuais de circularidade e de redução de resíduos, como a construção
modular e a utilização de materiais reciclados. Porém, ainda são ações muito
pequenas que precisam avançar para melhorar seu impacto positivo. “Ainda não se
projetam as edificações com pensamento de ciclo de vida, considerando como os
materiais serão recuperados no fim de vida e reinseridos nas cadeias de valor”,
afirma a egressa.

A pesquisadora também se preocupou em entender como as políticas públicas


brasileiras suportam os princípios circulares. Segundo informações levantadas pelo
seu trabalho, há uma robustez de instrumentos que favorecem a implementação de
práticas baseadas na EC na indústria construtiva. Ela destaca a Lei nº 12.305/2010,
que se refere ao Plano Nacional de Educação Ambiental (PNRS). A partir dessa
legislação, três instrumentos fundamentais são instituídos: a logística reversa, a
responsabilidade compartilhada e o estabelecimento de acordos setoriais.

Mesmo com quantidade significativa de regulações, a fiscalização para suas


devidas implantações ainda é carente e há a necessidade de mudanças: “É preciso
que a legislação seja atualizada considerando aspectos tanto de implementação,
como questões de descarbonização e tecnologias de reciclagem e de integração
com outras políticas públicas”, afirma.

Em relação às barreiras e oportunidades no setor construtivo, o trabalho enfatiza


três questões principais: falta de plano de governança para EC, um programa de
gestão eficiente de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) e maior
conscientização e comunicação sobre os princípios circulares. “São necessárias
políticas interativas e inclusivas para garantir que as partes interessadas sejam
capazes e motivadas o suficiente para evitar lacunas entre a elaboração de políticas
e a prática”, ressalta. A ação conjunta entre governo e intervenientes da construção
também é destacada como necessária para que haja uma transição circular no setor
da construção civil.

Em sua tese, Mayara ainda chama a atenção para pensar a construção por meio da
sua desconstrução: “Nós deveríamos projetar as edificações como se fossem
cebolas, com camadas independentes e separáveis”, diz. Dentre as principais
medidas que podem ser adotadas na fase de criação do projeto, a autora destaca a
composição de uma construção com fases independentes, que usem elementos
geométricos simples e leves e que levem à redução de elementos e interações entre
os sistemas construtivos. Por meio dessas ações, componentes usados nos
ambientes construídos podem ser recuperados e reaproveitados, proporcionando a
redução do desperdício de materiais e um modelo de construção mais sustentável.

O trabalho está disponível no Banco de Teses e Dissertações da UFPR. Para


conhecer mais profundamente a pesquisa, acesse aqui.

Prêmio Capes

Criado em 2005, o Prêmio Capes de Tese reconhece as melhores teses de


doutorado defendidas em programas de pós-graduação brasileiros. O edital deste
ano foi publicado em fevereiro e contou com mais de 1.400 trabalhos inscritos, que
foram defendidos em 2022. Destes, 49 foram selecionados como vencedores, um
por área de atuação.

Os critérios avaliativos do prêmio são: originalidade do trabalho, relevância para o


desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor
agregado pelo sistema educacional ao candidato.

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