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Umuarama, domingo, 3 de janeiro de 2010
O Cobrador por Ângela Russi
  Amizade de mais de 20 anos. Tá certo, no começo era um
coleguismo próprio de adolescência, aquela coisa de turma,
mas o tempo foi passando, o vínculo ficou e os anos fizeram
do colega de turma um amigo. Tiveram bons momentos e uns
terríveis também, mas, toda amizade que se preze tem altos e
baixos, idas e vindas. Amizade, amizade mesmo só de uns 10
anos para cá. E mesmo assim acabou. Como acabou? Como
se acaba uma amizade?
  Simples. A maneira mais eficaz para fazer isso é a indif-
erença. Se você não quer mais aquele amigo e ao mesmo tempo
não quer sair como o vilão que exterminou essa amizade já
destinada ao fim, comece fugindo. Não atenda ao telefonema
dele, diga que não está, coloque identificador de chamada. Se
ele insistir, fale com esse chato de vez em quando e sempre
diga que está sem tempo, que sua vida está uma loucura e
que quando tiver um tempinho ligará para marcar algo. Essa
rejeição em doses homeopáticas deve surtir efeito em longo
prazo. Se o desligado de seu amigo não se mancar e continuar
insistindo, dê explicações mais psicológicas e contundentes do
tipo: “não estou bem” ou “preciso ficar sozinho para repensar
minha vida”,” estou tentando me encontrar e me descobrir,
quando estiver devidamente “achado” te ligo.”
  Se o desagradável mesmo assim não entender e te questio-
nar o porquê da rejeição à sua pessoa diga que o problema não é
com ele e sim com você. Que você agradece a preocupação dele,
caso ele se ofereça para ajudá-lo, mas que é melhor deixar como
está. Sua vida é que está meio atrapalhada no momento.
  Se, apesar de tudo isso, ele cobrar lembrança, atenção,
respeito mande-o tomar naquele lugar e, em alto e nem tão bom
tom, diga que você está farta dele, que nunca foram amigos
de fato e que quem está atrapalhando sua vida é ele com essa
cobrança exagerada. Acredite, depois disso você terá êxito.
  Infelizmente, nesse último caso certamente haverá um
vilão e ele será você.
  Pois é, uma amizade de mais de 20 anos, que começou
com coleguismo, superou o tempo e a distância, aguentou os
reversos da vida, apoiou quando necessário, acudiu quando
desesperadamente foi preciso, riu e chorou, não dá para rotular
como banal. Há um vínculo. Mas vínculos também podem ser
rompidos.
  No começo, quando não consegue encontrar seu amigo.
Quando ele não pode atendê-lo ao telefone, ou quando o encontra
e percebe que ele está diferente, um verdadeiro estranho. Depois,
quando insistir em saber o porquê daquele comportamento e ele
dizer que está tudo bem e que apenas está muito ocupado. Ou
quando se toca que só você o procura e que ele está evitando-o.
Também quando, mesmo percebendo algo errado, não aceita
que aquela pessoa tão querida está se afastando e sugere a ela
que diga o que há e quem sabe você poderá ajudá-la. Por fim,
o vínculo se romperá definitivamente quando ao demonstrar
sua tristeza ao ser esquecida, o “amigo” diga que não são
tão amigos assim e o acusa de cobrador. Vínculo quebrado
amizade desfeita.
  Em todo relacionamento há no mínimo dois. Dois pensa-
mentos, dois jeitos de ser, dois comportamentos, dois sonhos
e duas necessidades. No fim há duas pessoas que saem feri-
das. Infelizmente, uma mais que a outra. Infelizmente quem
sofre mais é o cobrador porque demorou a compreender que
amizade quando começa a ser cobrada é porque acabou e aí
só dá para receber restos. De restos podem viver os mendigos,
os amigos não.
Agradecimento e Sugestão
por Tiago Lobão
Fiquei honrado quando li, na última Revista W, a menção
que o vereador Osni Santana (muy honrado e trabalhador
amigo, ex-companheiro de Banco do Brasil), fez sobre meu
trabalho musical com o Nevilton. Todos nós ficamos muito
felizes em saber que você nos acompanha, Osni. Deixo
publicamente registrado os agradecimentos pela citação e
as congratulações pela sua sempre ativa e objetiva atuação
na Câmara dos Vereadores de Umuarama.
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o Jornal
Umuarama Ilustrado
3621-2500
“Graças dou à desgraça, que me
matou tão mal e segui cantando”
 “Feche a porta!” Berrava Joana, em meio a um vento avas-
salador, que entrava pelas portas e janelas. “Tu pediu permissão
para adentrar minha casa?” E recolocava as jarras e bacias
debaixo das goteiras, e por um instante colocou a jarrinha por
debaixo de sua boca. Havia naquela fenda – acreditava - muita
coisa que precisava sair. Palavras e palavras precisavam tomar
vida e ganhar participação na trama.
  Com a janela aberta, a chuva que molhava seu vestido, o fazia
fundir-se ao seu corpo feito segunda pele. Começou a cantar uma
música, em meio ao desespero: “Quantas vezes me mataram?/Quan-
tas vezes morri?/Entretanto estou aqui/Ressuscitando/Graças dou
a desgraça/Que me matou tão mal/E segui cantando”
  Resmungou mais alguns últimos versos, que pelo barulho da
chuva, se perderam. Ora, o que importaria esses últimos versos
para a chuva? Ela vem e alastra a casa de Joana, que não se
encontrava preparada para recebê-la. O telhado surrado, que
deveria ter sido consertado, embora o dinheiro seja curto e não
o pudera realizar. Havia água em todos os lugares, em todos os
cantos, Joana já não sabendo o que fazer, chamou sua filha Ana
Clara, abriu a porta da casa com um violento pontapé, e danou-se
a gritar, apontando o dedo para o céu: Quem avisa para a chuva
que não é tempo de garoar? Nem tempo o tempo está!
      Neste tormento, faltando-lhe fôlego, Joana fechou a porta
Papo Eqüino
por Tiago Lobão
Dia desses fez sol e saí pra caminhar. Passei no Bar Carioca,
tomei um expresso pra corrigir o nível de cafeína no sangue e resolvi
me sentar num banco da Praça Arthur Thomas, logo aí na frente,
também conhecida como “Praça dos Picaretas”. Dali dá pra ficar
bisbilhotando o movimento ao redor enquanto lê-se o Umuarama
Ilustrado do dia.
Nem cinco minutos depois de me sentar, estacionou ali perto
uma carroça puxada por um burro. E estacionou logo ao lado de uma
outra que já estava por lá. O carroceiro foi faceiro pro Carioca filar
um café com esfirra e bater um papo com os “locais”, o que deixou
apenas eu e os burros ali nas redondezas.
Nada de extraordinário até que se passaram 10 segundos. Pro
meu espanto os burros, cientes de que ninguém os estava entendendo
grudaram numa conversa. Eu, pra não perder fato tão insólito, me
fingi interessado na página de esportes e levantei as orelhas para
prestar atenção no papo dos equinos. E foi mais ou menos assim:
- E aí seu Jumento, como vai essa força?
- Mas veja se não é meu grande amigo! Tudo bem por aqui, seu
Burro! Andou sumido...
- Pois é, passei os últimos meses fazendo uns fretes lá pros
lados de Maria Helena, dei um pulo em Ivaté... inclusive, encontrei
o compadre Pé-de-Pano por lá.
- Epa! E como vai o lendário Pé, mantendo a saúde na aposen-
tadoria?
- E que saúde! Numa vida mansa que só vendo. Passa o dia numa
data com mato até o joelho, só pra ele. Aí à noite levam ele embora
pra chacrinha do seu Joça.
- Mas que vidão! Astro de cinema é outros papos.
- Realmente, outros papos. E aqui em Umuarama, como vão
as coisas?
- Olha...nada de inovador não, tudo no mesmo ritmo de sempre.
Frete aqui hoje, outro acolá amanhã... mas não vejo o patrão reclamar!
Tá sempre aqui no Carioca com o pessoal, não falha um dia.
por Caroline Guimarães Gil 
e sentou-se no chão, respirando minuciosamente, sua filha ao
lado sem compreender muita coisa, lhe perguntou: O que é chuva?
Joana então sorriu e disse: É uma criança brincando de ciranda!
E nisso, continuou recitando alguns versinhos: “Ah, chuva, eu me
rendo/ Tu pode abrir minhas portas e minhas janelas/Pode abrir
minha boca/ Pode abrir meus ouvidos/Chove em todos meus can-
tos/Você vem contra mim/Mas eu vou a favor de tua chuva! Sua
filha ajoelhou-se no chão e olhava taciturna para a chuvarada que
vinha sobre o rosto, e tocava sua pele, já encharcada.
      Ana Clara então, vendo a tristeza que sua mãe se encon-
trava em não conseguir mais prolongar os versinhos, deu por
continuar: “Quando tu resolver partir/Pode partir, e deixar de
chover/Ainda vai restar os meus cantos com tuas gotas/Mas,
pode parar de chover se quiser/Eu vou parar de secar/Mas
quando quiser voltar/Pode voltar, que tenho muitos cantos/Que
gota tua nenhuma caiu/Pode voltar, e arrebentar as portas/Você
vem contra/Mas eu vou a favor.
      Derrepente a chuva se foi, e as portas e janelas se fecharam,
e o que antes estava molhado, secou-se como nunca antes tivesse
sido molhado. Respiraram fundo, como quem suspira se recuper-
ando. Levantaram lentamente, e resgataram as bacias do chão,
retirando também a jarra que havia deixado embaixo de sua boca,
e a beberam. 
- Falando em dia, assim que cheguei ontem a noite vi um mun-
daréu de luzes de Natal enfeitando as ruas, há alguns anos que não
tinha algo assim por aqui, né?
- Sim, decente assim já faz uns anos. E você viu o tanto de
gente caminhando pela rua com a família à noite? Tomando sorvete,
levando a garotada ali na Santos Dummond pra dar uma brincada...
Teve até show de música lá esse ano.
- Realmente movimentado, heim! E bonito.
- Como há tempos não se via. Realmente, tá tudo bem bonito.
- Interessante mesmo é que com tanta coisa chamando atenção
do pessoal: Natal, Férias, Jardins, meio-fio branquinho...
- Não esqueça da Zona Azul!
- Heim? Zona quem?
- Pois é, estacionamento rotativo, agora não é em qualquer lugar
que podemos parar. E se paramos lá se vai 1 Real.
- Mas sem ela não se parava em qualquer lugar também. Só se
você quisesse estacionar em Cruzeiro do Oeste!
- Ah, é mesmo! (risos)
- Pois bem, e com tanta coisa pra tirar a atenção do povão, os chefes
da cidade ainda não aumentaram salário, verba de gabinete...
- Ih, to vendo que você não anda se informando direito mes-
mo.
- O que?! Não creio! Mas... já?
- Pra você ver, já.
- Qual foi a mutreta dessa vez?
- Diária de viagens.
- Ê mundão! O pessoal pinta e borda e nada de melhorar essas
ruas, né? Não agüento o patrão quicando na carroça atrás de mim,
fora a barulheira que faz... um saco.
- É, só no psicológico mesmo. Você acha que essa decoração toda
é pra que? Só faltou colocar viseira na galera, igual com a gente.
- Verdade... só quero ver quando tirarem essas luzes todas e o
pessoal parar de olhar pra cima e voltar à olhar por onde tá andando...
Ih, o patrão tá voltando! A gente se fala outro dia aí.
- Tudo certo, compadre! Um feliz Ano Novo pra você.
- Feliz Ano Novo pra você também.
Então se foi o Jumento e ficaram os burros. Um deles estupe-
fato.