Você está na página 1de 311

INOCENTE TENTAÇÃO

Copyright© 2024 – Fernanda Santana


Todos os direitos reservados.
Direitos reservados à autora dessa obra.
Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
qualquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais
é mera coincidência.

Design de capa: Lilly Design


Diagramação: Autora Jack A. F.
Ilustração: Little Pink Design – Rosa Aguiar
Revisão: Deborah A. A. Ratton
SINOPSE

O que você faria se descobrisse que o cara que te deu o melhor sexo da sua vida é seu
novo professor?
Marina Cavalcanti não esperava reencontrar o homem responsável pela noite mais
intensa da sua vida, um com quem nem sequer trocou telefone.
Mas, por ironia do destino, os dois ficam novamente cara a cara em uma situação
delicada: ele é seu professor, e ela, sua nova aluna.
Otto é 22 anos mais velho que ela, divorciado e completamente proibido.
Ambos sabem que a faculdade possui regras que precisam ser cumpridas e que um
relacionamento entre eles é impossível, mas, quanto mais se aproximam, mais vívida fica aquela
noite inesquecível.
Só resta saber até quando Otto resistirá a essa inocente tentação.
SINOPSE
NOTA DE AUTORA
PRÓLOGO - Otto
CAPÍTULO 1 - Marina
CAPÍTULO 2 - Otto
CAPÍTULO 3 - Otto
CAPÍTULO 4 - Marina
CAPÍTULO 5 - Otto
CAPÍTULO 6 - Otto
CAPÍTULO 7 - Otto
CAPÍTULO 8 - Marina
CAPÍTULO 9 - Otto
CAPÍTULO 10 - Marina
CAPÍTULO 11- Otto
CAPÍTULO 12 - Marina
CAPÍTULO 13 - Marina
CAPÍTULO 14 - Otto
CAPÍTULO 15 - Marina
CAPÍTULO 16- Otto
CAPÍTULO 17 - Marina
CAPÍTULO 18 - Otto
CAPÍTULO 19 - Marina
CAPÍTULO 20 - Marina
CAPÍTULO 21 - Otto
CAPÍTULO 22 - Marina
CAPÍTULO 23 - Marina
CAPÍTULO 24 - Otto
CAPÍTULO 25 - Otto
CAPÍTULO 26 - Otto
CAPÍTULO 27 - Marina
CAPÍTULO 28 - Otto
CAPÍTULO 29 - Otto
CAPÍTULO 30 - Marina
CAPÍTULO 31 - Otto
CAPÍTULO 32 - Marina
CAPÍTULO 33 - Otto
CAPÍTULO 34 - Marina
CAPÍTULO 35 - Otto
CAPÍTULO 36 - Marina
CAPÍTULO 37 - Otto
CAPÍTULO 38 - Marina
CAPÍTULO 39 - Marina
CAPÍTULO 40 - Otto
CAPÍTULO 41 - Marina
CAPÍTULO 42 - Otto
EPÍLOGO 1 - Marina
EPÍLOGO 2 - Otto
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
REDES SOCIAIS
NOTA DE AUTORA

Querido leitor,
Obrigada por topar mais uma jornada comigo! :)
Antes de mais nada, quero alertar que você pode se deparar com alguns temas durante a
leitura que podem ser sensíveis para você. Tais como relacionamento abusivo entre cônjuges e
pais, e menção à violência física contra menor de idade.
Reitero que tudo é tratado com extrema responsabilidade, mas, caso se sinta
desconfortável em algum momento, peço que interrompa a leitura imediatamente.
O seu bem-estar sempre virá em primeiro lugar.
No mais, desejo uma excelente leitura e espero que se apaixone pelo casal #Maroni.
Um beijo,
Fê Santana
A todas as mulheres que lutam todos os dias para mostrar o
seu valor:
Vocês não devem nada a ninguém.
PRÓLOGO - Otto

— Você tem que relaxar, cara. Fazer umas merdas de vez em quando — meu amigo fala
mais alto do que a música que toca na casa de show e eu só balanço a cabeça, rindo.
Incrível como um final de semana que começou sendo bem bosta me fez parar em uma
boate repleta de pessoas completamente diferentes de mim.
Jovens, alegres, cheias de vida.
Cantando a plenos pulmões, dançando até o chão na pista do salão e bebendo seus
drinques.
Se divertindo…
Qual foi a última vez que fiz algo desse tipo?
Ainda que eu esteja me sentindo um pouco deslocado neste lugar, não sou o único da
minha idade por aqui. Além do meu parceiro de longa data ao meu lado, ao nosso redor há uns
caras na casa dos quarenta que me fazem não me sentir tão ET por aqui. Eu cheguei bastante
travado, mas aos poucos fui me soltando.
Ou melhor, o álcool foi me soltando.
Sinalizo para o garçom e peço mais uma dose de uísque com energético, que
praticamente viro de uma só vez. A bebida gelada desce pela minha garganta como fogo e envia
uma corrente de adrenalina pelos meus poros.
— Olha ali. — Caio aponta com a cabeça para uma ponta da boate onde um grupo de
amigas dançam despreocupadas.
São meninas lindas e aposto que têm a metade da minha idade.
— Não são muito novas? — murmuro e Caio bufa.
— São todas maiores de idade, Otto, caso contrário não entrariam aqui. Que diferença faz
se têm vinte ou trinta anos?
Muita, penso comigo.
Mas balanço a cabeça, afastando isso.
Eu saí de casa disposto a me distrair e não ficar aqui reclamando a noite toda.
Volto o olhar para as garotas que Caio indica e o vejo sumir de perto de mim até uma em
específico me chamar atenção.
Morena, de cabelos longos, que descem volumosos até a altura do quadril. Os fios
balançam em seu movimento pela pista de dança e destacam o corpo no vestido justo. Preto,
decotado, e o salto alto realça a bunda empinada.
Caramba, ela é linda…
Parece muito jovem, mas é linda.
E a forma como sorri ao se jogar na pista me hipnotiza. Umedeço os lábios e cruzo os
braços, enquanto não tiro os olhos dela, encostado no balcão do bar.
A garota é o centro das atenções e parece não ter se dado conta disso. A forma como se
balança livre, alheia a tudo ao seu redor, é o que mais me fascina. Parece cheia de vida,
aproveitando seu momento sem se importar com o mundo.
Como se sentisse o meu olhar, ela se vira e me pega a encarando. Não desvio meus olhos
dos seus. Um contato visual rápido, que faz a minha garganta secar.
Viro-me para pedir ao garçom mais uma dose de bebida, quando sinto um cheiro
adocicado, similar ao de melancia, se aproximando de mim.
Apoiado no balcão, viro-me para encontrar a rainha da pista de dança e vendo-a de perto
percebo como é ainda mais bonita. Os lábios grossos estão pintados de rosa e a maquiagem,
ainda que forte, não esconde o rosto de menina. Os olhos têm um tom âmbar que eu nunca vi
igual.
— Esquentou por aqui, não é? — puxa assunto e eu me pego fisgado pela voz doce.
— Você dança muito bem — elogio e ela sorri. — A pista realmente deve estar quente…
— Está pegando fogo.
Seus olhos brilham e ela joga os cabelos para trás me dando uma bela visão do decote.
E, caralho, se meu pau não está dando o ar da graça aqui dentro.
— Posso te ajudar a refrescar um pouco te pagando uma bebida? — ofereço e ela abre
um sorriso ainda mais lindo.
— Claro!
Sinalizo para o garçom e ela faz o pedido de uma gin tônica com bastante gelo. A bebida
não demora a vir e, quando a garota puxa pelo canudo demoradamente, é o gesto mais sexy que
eu já vi.
— Você costuma vir muito aqui? — pergunta, sentando-se na banqueta ao meu lado no
balcão.
— Se eu contar que é a primeira vez que eu piso neste lugar, você acredita?
— Acredito, porque também nunca tinha vindo antes!
— Jura? — indago, genuinamente interessado.
Já faz muitos anos, muitos mesmo, que não flerto com ninguém. Mas algo nessa garota
desperta um interesse diferente em mim, uma vontade de saber mais dela, mesmo que isso seja
uma completa loucura.
— Eu acabei de chegar à cidade — explica, puxando mais um pouco da bebida pelo
canudo. — Me mudei há poucos dias.
— Seja muito bem-vinda, então. — Ergo o copo de uísque e ela ri, batendo sua taça em
um brinde. — Eu moro aqui desde sempre, espero que goste da cidade.
— Eu também… — murmura sonhadora e seus olhos vão longe.
Imagino que pela idade deve ser cheia de sonhos, e isso me faz lembrar que eu já fui
assim um dia…
Hoje meus sonhos são muito mais baixos, muito mais possíveis.
— Aceita mais um drinque? — ofereço vendo que ela esvaziou a taça e a garota assente.
Aceno para o garçom e peço mais uma rodada de bebidas.
Logo que chega, ficamos um instante observando a pista de dança à nossa frente, que fica
cada vez mais cheia.
— Você não dança? — ela me pergunta e eu faço uma careta, que lhe tira uma risada.
— Não levo jeito algum nisso.
— Tudo depende de quem conduz. — Ela dá de ombros e me encara firme, sugando a
bebida mais um pouco pelo canudo. — Com a parceira certa, você dançaria muito bem.
— Não acho que seja possível…
Seus olhos brilham e ela sorri de lado.
— Eu aceito o desafio.
Meu coração dá um salto e meu pau reage mais um pouco dentro das calças. Dou mais
um gole na bebida e tento me controlar para não parecer um adolescente ostentando uma ereção.
Principalmente porque…
Eu estou mesmo considerando uma dança em uma boate?
Caramba, esta noite não para de me surpreender.
— Como você se chama? — pergunta ao ver que fiquei em silêncio por um instante.
— Otto — respondo de pronto.
Não é o meu nome, mas é como gosto que me chamem.
— Muito prazer, Otto. Meu nome é Marina.
A morena estende a mão em minha direção e eu aperto, sentindo o calor de seu contato.
E, cacete, como um simples aperto de mão pode enviar uma corrente elétrica dentro de mim.
Principalmente quando ela demora demais nesse gesto.
— O prazer é todo meu, Marina.
Pisco para ela, abrindo um sorriso de lado antes de soltar a sua mão, e a noto corar um
pouquinho.
— E então, Otto… Vai aceitar o meu desafio? — Estreito os olhos para ela, que sorri
mais. — Encara uma pista de dança comigo?
Viro o resto de bebida do copo e devolvo ao balcão.
— Por que não?
Os olhos de Marina faíscam quando ela dá uma última golada em seu drinque e abandona
a taça no balcão, puxando-me pela mão até o centro da pista.
— Você só precisa acompanhar meus movimentos e vai sair daqui um dançarino
profissional — a voz suave ao pé do meu ouvido é absurdamente sexy.
Marina dá uma piscadinha e se põe à minha frente, começando seu show particular. A
garota dança, rebola e se joga a cada música eletrônica que começa a tocar. Eu fico atrás dela,
balançando, sentindo sua energia contagiante e, a cada esfregada que ela me dá, meu pau ganha
vida.
Não dá mais para segurar…
Eu devo estar com um volume imenso na calça, mas, quer saber?
Foda-se.
Toco sua cintura de leve e acompanho o seu ritmo, sentindo Marina se jogar ainda mais,
rebolando e se esfregando em meu pau.
E, agora, eu tenho certeza absoluta de que ela sente a minha ereção.
Mas a garota não se acanha.
Pelo contrário, ela se joga ainda mais, empinando mais a bunda.
Devo estar à beira da loucura, porque minha mente vai toda para ela e essa tensão sexual
absurda que se formou por aqui. Quero erguer a barra desse vestido, meter a mão dentro dela e
fazê-la gritar…
E, pela forma como Marina me corresponde, parece estar na mesma sintonia.
Desço as mãos pela sua coxa e toco sua pele em uma carícia maliciosa. Sinto sua pele se
arrepiar pelo contato e isso me faz sorrir. Que bom saber que estou mexendo com a garota, assim
como ela está mexendo comigo.
O cheiro de melancia mais uma vez me atinge e me faz fechar os olhos, absorvendo o
aroma delicioso de Marina.
Sem soltá-la, beijo seu ombro desnudo e subo a boca até o seu pescoço, sentindo a garota
se render em meus braços, jogando-se contra o meu corpo.
— Porra, Marina… — murmuro para que só ela escute e mordo a sua pele, ouvindo seu
gemido baixo.
Caralho.
Com uma mão, giro o seu corpo e agarro a sua cintura, colando minha boca na sua. A
garota nem tem tempo de reagir, mas, quando reage, cacete, que beijo gostoso do caralho.
Quente, ávido, sedento.
Meus lábios se perdem nos seus e eu a beijo com tanta intensidade, que a garota se
desmancha em meus braços. Pelos sons que ouvimos, estamos chamando atenção em toda a
pista, mas não ligo.
Não consigo pensar em mais nada que não seus lábios macios.
Agarrada aos meus cabelos, a garota se entrega em um beijo que nos tira o ar.
Minhas mãos agarram seu quadril com força enquanto a devoro nesta pista de dança e,
pela forma como Marina se esfrega a mim, louca, rebolando, me envia exatamente a mensagem
que eu quero.
Preciso sair daqui se não quiser comer esta garota no meio da pista de dança.
Subo os lábios até a sua orelha e mordisco devagar.
— Quer ir para um lugar mais reservado? — pergunto e ouço seu gemido em resposta.
Marina não diz nada, apenas se afasta de mim e me puxa pela mão, tirando-me da pista
de dança e me guiando pela boate. Penso em oferecer para sair da balada, mas ela me surpreende
me levando até o banheiro feminino.
Caralho.
Vamos mesmo fazer isso aqui?
A adrenalina percorre cada canto do meu corpo e eu estou alheio a todos os olhares
furtivos, quando sou levado até a última cabine e somos trancados nela. Por sorte, o banheiro
está bem limpo e eu não lhe dou tempo de pensar, quando agarro seu pescoço e a prenso na
parede da cabine, tomando sua boca novamente para mim.
As línguas se enroscam e se perdem em puro desespero, sede e desejo.
Cacete, acho que nunca senti um desejo tão forte assim.
Abandono seus lábios inchados, já borrados pelo batom, e desço até o pescoço, lambendo
e chupando a sua pele, arrancando seus gemidos.
Marina não se importa com o local onde estamos e, se alguém pode nos ouvir, ela apenas
geme sem pudor algum enquanto esfrego a virilha nela, descendo minha boca pelo seu corpo.
Afundo o rosto em seu decote e minhas mãos abaixam as duas alças do vestido,
revelando os seios mais gostosos que eu já vi.
— Gostosa pra porra, Marina — murmuro antes de cair de boca em cada um deles,
mamando, chupando e lambendo cada um de seus mamilos.
— Ai, Otto… — ela geme e eu não alivio, mamando ainda mais, lambuzando-a toda.
Com a mão em meu peito, Marina me afasta e eu estreito os olhos para ela. Penso que vai
me pedir para parar, mas a safada me surpreende erguendo de leve a barra do vestido e tirando a
calcinha, deslizando-a pelas pernas em um gesto absurdo de sexy.
— Porra…
— Um presentinho para você. — A danada pisca para mim antes de colocar a peça de
renda em meu bolso e eu rosno, voltando a atacá-la.
Agarrado a sua cintura, continuo mamando em seus peitos, quando minha mão desce
pelas suas pernas e ergue a barra do vestido.
— Se eu te tocar, vou te encontrar molhada, Marina? — pergunto ao me afastar e brincar
com os dedos na borda de sua virilha.
Ela arfa manhosa e encosta a cabeça na parede, olhando-me divertida.
— Vai me encontrar completamente encharcada, Otto — avisa e eu deslizo o dedo pela
sua boceta, sentindo-me escorregar ali.
— Porra…
Marina geme alto enquanto fricciono os dedos em sua carne, o barulho do atrito sendo
um som gostoso demais para os meus ouvidos.
— Otto…
Ela geme ainda mais quando meto dois dedos nela e bombeio com força, vendo seu rosto
se contorcer de prazer à minha frente.
Que mulher gostosa dos infernos.
Com a mão livre, subo ainda mais o seu vestido e o embolo acima da cintura, tendo sua
visão quase toda nua. Da cintura para cima, os seios fartos molhados pela minha saliva. Da
cintura para baixo, a boceta lisinha sendo fodida pelos meus dedos.
Caralho…
Que visão linda.
Solto a garota e enfio a mão no bolso da calça para buscar a carteira, agradeço aos céus
por ter ouvido o conselho de Caio e ter colocado uma camisinha aqui dentro. Não vou sair deste
banheiro até gozar enterrando fundo nesta garota.
Abro o zíper da calça e liberto a ereção, cobrindo-a com o preservativo.
— Que pau bonito, Otto — ela murmura olhando fixamente para ele.
— Bonito mesmo será meu pau enterrado na sua boceta — anuncio e avanço sobre ela,
tomando sua boca mais uma vez em um beijo cheio de tesão.
Marina se esfrega contra mim e pega o meu pau, masturbando-o enquanto eu a beijo, a
sua mão me tocando é a minha ruína.
Afasto-me abruptamente, abaixo a tampa do vaso ao nosso lado e o estrondo faz Marina
soltar um pulinho.
— Coloca essa perna aí — instruo e a garota sorri fazendo exatamente o que eu peço.
O movimento escancara as pernas e me dá uma visão ainda mais bonita da boceta
gostosa. Eu apenas agarro sua cintura e meto de uma vez só, arrancando gemidos de nós dois.
— Porra, Marina — murmuro ao senti-la me envolver.
Quente.
Apertada.
Deliciosa.
Caralho…
Começo a me mover devagar e vejo a garota jogar a cabeça para trás, apertando os seios
enquanto acelero o ritmo das estocadas.
Marina não se acanha e geme feito uma cadela enquanto meto cada vez mais rápido, mais
forte, fodendo-a como um verdadeiro animal.
Porque é isso que a morena despertou em mim.
Um instinto animal, um desejo primitivo, uma coisa louca que eu pensei que tinha
adormecido dentro de mim.
— Ai, Otto… — ela geme safada, rebolando o quadril enquanto eu a como gostoso nesta
cabine apertada.
Sinto um calor do caralho e já estou suando, mas não alivio e continuo comendo-a com
força, batendo cada vez mais forte nossos quadris e balançando as paredes da cabine.
— Me deixa te comer por trás — falo, tirando o meu pau de dentro dela e a garota
choraminga de leve. — Mãos na parede — peço.
Logo que a morena o faz, ela empina a bunda branquinha para mim e eu não resisto a
estapear a sua nádega enquanto meto de uma só vez.
— Caralho, Otto… — murmura e eu agarro seu quadril com força metendo rápido, forte,
arrancando gemidos de nós dois.
Ao nosso redor, pessoas entram e saem do banheiro, comentando sobre nós, e eu estou
pouco me fodendo.
Bom, na verdade estou fodendo e não é pouco.
Fodendo gostoso demais esta garota.
— Ai, Otto… — Marina geme quando dou mais um tapa em sua bunda e percebo que ela
gosta de um sexo bruto assim como eu.
Colo a boca em sua orelha e mordo de leve sua pele.
— Que boceta gostosa, Marina — rosno e ela geme, enquanto acelero o ritmo das
estocadas. — Está todo mundo lá fora comentando que você fode feito uma cachorra aqui dentro
— murmuro, mordendo sua pele, e ela geme mais.
Solto uma mão de sua cintura e desço até o clitóris, onde começo a tocá-la, arrancando-
lhe um gemido mais alto.
— Geme como uma cachorra — falo e a garota se desespera contra mim.
Ela não tem pudor e a sua entrega só me deixa ainda mais louco, fazendo meter ainda
mais bruto dentro dela.
— Será que goza feito uma também? — murmuro e belisco seu clitóris, apertando a carne
entre os dedos, fazendo-a gemer mais.
Fricciono forte e as estocadas acompanham o ritmo quando a garota se desespera,
rebolando contra mim.
— Eu vou gozar, eu vou gozar…
Seu corpo inteiro treme e se contrai em espasmos, Marina desaba na parede. Mas eu só
paro de fodê-la quando gozo também, enchendo a camisinha de porra.
— Caralho… — murmuro saindo de dentro dela e descarto o preservativo, puxando uma
toalha de papel para me limpar antes de fechar a calça.
Estou com a respiração afetada e a camisa colada ao corpo de suor. Mas ver Marina me
encarar ofegante, completamente desnorteada, me faz sentir um orgulho do caralho por ter sido
eu a proporcionar isso.
— Não me lembro de quando tive uma foda tão boa assim — assumo, com sinceridade,
enquanto a ajudo a se recompor e vestir seu vestido.
— Nem eu… — diz ofegante e eu sorrio, inclinando-me para lhe dar um selinho.
— Quer uma carona para casa? — ofereço e ela nega. — Estou de Uber, mas podemos te
deixar em casa antes.
— Não precisa, Otto. Vou encontrar minha amiga agora — responde e eu assinto.
— Quer a calcinha de volta?
Coloco a mão no bolso e ela recusa.
— Não se devolve um presente, Otto. — Estreito os olhos para ela, que sorri maliciosa.
— Se está com medo de que eu vá abrir as pernas para outro, não se preocupe. Já estou
plenamente saciada.
A safada pisca para mim e eu balanço a cabeça sorrindo, orgulhoso.
— Então está certo… Te vejo por aí?
Marina assente e eu não resisto a agarrar o seu pescoço para beijá-la mais uma vez. Um
beijo mais calmo, tranquilo, no qual eu desfruto de seus lábios. Um beijo quase de despedida.
Não trocamos telefone, não prometemos nos ver de novo, mas essa com certeza será uma
noite que eu nunca vou esquecer.
Uma noite na qual cometi a loucura mais gostosa da minha vida.
— Não sei se vamos nos ver de novo, mas… — ela começa e fala, se afastando para me
ver melhor. — Se nos esbarrarmos por aí, podemos repetir a dose?
Abro um sorriso enorme e me recuso a negar isso a ela.
— Vai ser um prazer te comer de novo. — Dou uma piscadinha. — Boa noite, Marina.
Seja bem-vinda a Vale dos Campos.
— Obrigada, Otto. Boa noite.
Aceno para ela e saio da cabine, recebendo alguns olhares furtivos.
Não abaixo a cabeça e saio sorrindo, pensando na loucura que foi essa noite.
Eu, o cara que sempre foi politicamente correto, fodendo uma desconhecida num
banheiro de boate.
Que belo recomeço, Ottoni.
Essa noite, sem dúvidas, foi uma das melhores de toda a minha vida.
CAPÍTULO 1 - Marina

— Tudo certo para o primeiro dia?


Uma batidinha à porta indica a presença da minha melhor amiga e eu assinto, autorizando
sua entrada.
— Acho que sim. — Solto um suspiro e acabo de fechar a minha mochila. — Coloquei
tudo de que preciso. Caderno, estojo, tablet, carregador portátil…
— Vai dar tudo certo, amiga. Estou muito orgulhosa de você.
Carina sorri e se senta ao meu lado na cama do quarto que ela separou para mim.
Ao contrário de mim, que só estou ingressando na universidade agora, minha amiga está
cursando Odontologia desde o ano passado. Como ela sempre teve o apoio dos pais, conseguiu
alugar um apartamento pequeno ao lado do campus e segurou a minha vaga até que eu
conseguisse a bolsa de estudos.
E agora, como sempre sonhei, dei o primeiro passo para me tornar uma Engenheira Civil.
— Obrigada, Cá.
Abraço a loira ao meu lado e absorvo todo o seu carinho.
— Você vai arrasar, como sempre. — Um beijo no meu ombro ao se afastar. — Uma
pena que nossos horários não coincidam. Tem certeza de que não quer que eu vá com você hoje?
— Não precisa, amiga. Eu consigo me virar sozinha.
Embora nós tenhamos conseguido estudar na mesma universidade, nossos horários de
curso não se chocaram. Carina estuda durante o dia e eu, durante a noite. Ainda assim, nos
veremos em um pedaço da tarde e aos finais de semana, mas saber que tenho alguém que me
ama e me apoia ao meu lado significa tudo.
— E hoje será tranquilo também. Adivinha qual a matéria do primeiro horário? Filosofia!
E depois Introdução à Engenharia.
— Filosofia em plena segunda? Nossa, boa sorte!
Carina faz uma careta e eu gargalho.
— Pelo menos é um dia tranquilo… Amanhã começam as matérias de Cálculo e Física e
aí o pau quebra.
— Como pode gostar de coisas tão absurdas? — ela brinca para aliviar a tensão e eu rio
mais.
— Prefiro meus cálculos a lidar com anatomia — é a minha vez de fazer uma careta e ela
ri.
— Bom, não vou te atrasar, já está quase na sua hora. — Olhamos para o relógio e vemos
que faltam quinze minutos para a aula começar. — Boa sorte, Mari. Vai lá e arrasa.
Carina me abraça e eu agradeço mais uma vez por todo seu carinho comigo.
— Obrigada, amiga. Te dou notícias de lá.
— Eu te espero acordada para saber tudo!
— Combinado!
Despeço-me dela e jogo a mochila nos ombros, dando uma última conferida no espelho.
Como está um clima bem quente na cidade, vesti um short jeans desfiado e camiseta branca
decotada. Nos pés, um tênis confortável colorido, e os cabelos eu prendi em um rabo de cavalo
bem alto.
Respiro fundo e saio do apartamento, repetindo para mim mesma que vai dar tudo certo,
que eu vou conseguir. Só eu sei o quanto me esforcei para chegar até aqui. Ainda que tenha
vindo para a cidade vizinha, é um passo muito grande na minha vida vir morar com a minha
amiga, longe de toda influência da minha família.
Ando pelo quarteirão e sorrio por pensar no privilégio de morar tão perto do campus, já
que em cinco minutos estou adentrando os portões. Pego o celular na mochila para conferir o
número da minha sala quando vejo uma mensagem, que aquece todo o meu coração.
Vó Manoela: Boa sorte no seu primeiro dia, minha flor. Vovó está muito orgulhosa de
você.
Sinto os olhos lacrimejarem por receber tanto carinho da única pessoa que me apoia em
minha família.
Eu: Obrigada, vó. Te amo até o infinito!
Vó Manoela: Ao infinito e além.
Envio um emoji de coração e abro o aplicativo da universidade, procurando por
informações, que não demoro a conseguir. Cruzo o campus em direção ao meu bloco e entro na
sala faltando cinco minutos para começar.
Cumprimento algumas meninas ao meu redor e abro um sorriso sozinha ao notar a
melhor cadeira para estudos disponível:
Na primeira fileira, ao centro.
Tendo a visão completa do quadro branco e a atenção dos professores para perguntar tudo
o que preciso.
Acomodo-me e abro a mochila, pegando caderno e estojo para buscar minhas canetas
favoritas. Ainda estou entretida em minhas coisas, quando ouço passos firmes adentrarem a sala
de aula e uma voz grossa masculina preencher o ambiente.
— Boa noite, pessoal!
Ergo os olhos para encará-lo e simplesmente congelo com a visão que tenho.
De pé, diante de mim, vestindo uma calça jeans escura, sapatos pretos e camisa branca
social de manga longa, está ninguém menos que Otto.
O cara com quem eu transei no banheiro da boate há dois dias.
É sério isso?
Nossos olhares se fixam por um momento e noto em seu semblante o reconhecimento.
Ele não esperava por isso.
Muito menos eu.
Otto abre a boca para falar, mas fecha sem dizer nada, ficando sem reação.
Caramba…
Então o cara que me deu o sexo mais intenso da minha vida é o meu professor de
Filosofia?
Puta que pariu.
Abaixo o olhar, quebrando o nosso contato visual, porque ainda estou em choque com
essa notícia. Otto raspa a garganta e coloca sua pasta na mesa, mexendo com suas coisas.
E, neste momento, sinto uma pontada de arrependimento por ter me sentado tão próximo
a ele, porque ainda não sei como reagir a tudo isso.
Quando todos os alunos adentram a sala, noto Otto ir até a porta e fechá-la, ligando o ar-
condicionado.
— Bom… Sejam todos bem-vindos e espero que estejam animados para o primeiro dia
de aula! Sou o professor Ottoni e vou lecionar Filosofia para vocês. Sei que não é a matéria
favorita de muitos, já que são da área de exatas, mas prometo deixar o menos insuportável
possível para vocês.
Otto dá um sorrisinho de lado e ouço algumas risadas ao fundo, aliviando um pouco a
tensão por aqui.
Quando ele abre o projetor e começa a apresentar a minuta de sua matéria com o que
vamos aprender ao longo do semestre, eu pego o celular e mando uma mensagem para a minha
amiga.
Eu: Amiga, você não vai acreditar em quem é o meu professor de Filosofia!
A resposta vem mais rápido do que eu esperava e preciso disfarçar um sorriso.
Carina: Hummm… Algum coroa gostoso para limpar as vistas?
Eu: Pior… O cara com que eu transei no banheiro da boate aquele dia.
Carina: É O QUÊ? MENTIRA!
Eu: Quem dera… Não sei qual de nós dois está mais sem graça nesta sala de aula.
Carina: Caramba, amiga…
Eu: E ele está tão gostoso hoje… Poxa, por que não um velho feio que come mal?
A gargalhada da minha amiga em emojis me faz segurar um riso.
Carina: Mari, não venha causar problemas, ok? Lembre-se de que na universidade é
totalmente proibido relacionamento entre professor e aluna. Pelo amor de Deus, não inventa
moda. Esquece que esse homem tem a pegada forte.
E, só de pensar nisso, meu rosto queima.
E como pega forte…
Eu fiquei literalmente de pernas bambas sábado, perdi até o rumo da minha vida quando
ele saiu daquele banheiro. Eu nunca fui de transar com desconhecidos assim, mas ali surgiu uma
química tão forte, um desejo tão cru, que não pude resistir. E valeu a pena cada segundo.
Deveria ser crime deixar um homem desses à solta por aí.
Principalmente por saber que não vou poder mesmo repetir a dose…
Saco.
Eu: Relaxa, Cá. A última coisa que eu preciso agora é de problemas para mim. Vou
me comportar.
Devolvo o celular para a mochila e ergo os olhos para Otto, vendo que ele me observava
conversar ao telefone, alheia às suas explicações.
Sinto uma pontada no peito por isso.
Não é essa a imagem que eu quero passar. Pelo contrário, quero que ele saiba o quanto
tudo isso é importante para mim e que darei o meu melhor em cada matéria, não importa qual
seja.
Quando retoma a fala, eu aproveito a atenção que lhe dou para reparar melhor nele e,
agora em ambiente totalmente iluminado, vejo o quanto é lindo.
De pele clara, barba feita e cabelos loiro-escuros perfeitamente arrumados, professor
Ottoni parece ter sido esculpido de tão bonito. Os olhos azul-acinzentados são bem intensos e te
encaram como se fossem te perfurar. E essa versão, vestido todo impecável, é um tanto diferente
daquela que conheci há dois dias na boate.
Eu me pego pensando se ele é sempre assim fora da sala de aula.
Se é tão solto, divertido…
Agradeço aos céus por a primeira aula ser apenas uma introdução à matéria, já que não
estou conseguindo me concentrar como preciso. Não quando não consigo deixar de me lembrar
do sexo tão gostoso que tivemos, parecíamos ter uma harmonia singular. Algo que eu nunca vivi
com homem algum.
Sei que ainda sou nova e tenho a vida inteira pela frente, mas também sei que homens
intensos como Otto são poucos.
E é uma verdadeira pena eu não poder experimentar de novo…
Quando o sinal avisa do intervalo e término de sua aula, vejo-o agradecer a atenção e
sinalizar para que eu o espere. E esse gesto dele faz a minha barriga gelar.
Meu coração dispara aqui dentro e, quando todos os alunos saem nos deixando sozinhos,
caminho até ele.
— Oi… — cumprimento-o, encontrando-o com o quadril encostado em sua mesa,
olhando-me daquele jeito intenso.
— Oi, Marina — a forma como chama o meu nome traz outras lembranças…
Ai, meu Deus.
Marina, supera.
Você não vai sentar neste homem outra vez.
— Que mundo pequeno, não? — comento tentando quebrar o clima pesado e ele sorri,
balançando a cabeça.
— Nem me fale… Então foi para isso que chegou à cidade recentemente? Para começar
os estudos? — pergunta, interessado, e meu semblante se ilumina.
— Sim! Eu consegui uma bolsa aqui na universidade e me mudei para cá. Minha amiga
já estuda Odontologia desde o ano passado e eu estou morando junto com ela.
— Isso é ótimo! Fico muito feliz por ter conseguido — diz, sincero, e eu sorrio.
Percebo como ele é educado e gentil. Bastante parecido com o Otto que eu conheci no
sábado à noite.
— Marina — ele começa a falar e noto seu semblante ficar um pouco mais sério agora.
— Sobre sábado…
— Não — interrompo-o, e ele estreita os olhos para mim. — Não precisa se preocupar
com isso, professor.
Lembro-me do que a Carina me disse e penso em como isso traria muito mais problemas
a ele do que a mim.
— Sei que há uma regra sobre a proibição de qualquer envolvimento entre professor e
aluna, então pode ficar tranquilo, que isso nunca sairá daqui — asseguro-lhe e ele suaviza o
semblante de pronto. — Eu sei guardar segredo.
Pisco para ele, que dá uma risadinha.
— Obrigado, Marina.
Otto desencosta o quadril da mesa e dá um passo em minha direção, encurtando nossa
distância e me fazendo sentir aquele perfume masculino dele.
Tão marcante, tão gostoso…
— Isso seria mesmo um problema para mim — diz, franzindo o cenho de leve. — Não
posso perder este emprego de forma alguma.
Noto um vislumbre de medo passar em seu semblante e sinto algo aqui dentro. Com
certeza ele deve ter questões particulares e muito mais coisas em jogo.
— Claro, não se preocupe mesmo. Eu jamais te prejudicaria de alguma forma — garanto
e ele assente, agradecido.
O silêncio nos abraça mais uma vez e eu penso que é melhor sair. Quando dou um passo
para trás e me preparo para me retirar, sua voz grossa me paralisa.
— Mas saiba que, se as circunstâncias fossem outras, eu ia adorar repetir a dose.
Otto me encara de forma tão intensa, daquele jeito que me estremece inteira.
E o sorriso contido que ele abre de lado me desarma.
Uma pontada de tristeza me toma ao pensar mais uma vez no pesar de não ter esse
homem de novo em minha vida.
Poxa, universo…
Sacanagem, hein?
— Uma pena que a vida nos pregue essas peças, não é? — falo, retribuindo o sorriso. —
Mas que bom que eu te conheci antes do primeiro dia de aula.
Meu professor sorri, balançando a cabeça.
— Graças a Deus por isso — solta, sorrindo, e eu gargalho.
Todo aquele constrangimento do choque ao nos encontrarmos aqui dentro passou e
deixou o clima muito mais leve.
Uma pena mesmo não poder vê-lo mais uma vez como gostaríamos…
— Bom, acho melhor eu ir. — Aponto para a porta da sala e ele assente. — Nos vemos
durante o semestre?
Jogo a mochila nos ombros e o vejo assentir de leve.
— Espero não te entediar com minha matéria — fala, fazendo uma careta, e eu rio mais.
— Imagina, professor. Eu valorizo todas as disciplinas. Sei da importância de cada uma
delas em minha carreira.
A minha resposta parece agradá-lo, porque me abre um sorriso ainda maior.
Um sorriso lindo…
Aceno para ele e me despeço, sentindo o coração acelerado ao deixar a sala de aula.
Ainda estou processando tudo o que aconteceu nas últimas horas enquanto caminho até a
lanchonete do campus e minha mente vira uma completa bagunça.
Ottoni poderia ser simplesmente um professor bonitão de Filosofia pelo qual eu poderia
desenvolver uma paixão platônica que se encerraria ao término do semestre.
Mas não…
Tive o “azar” de ter esse homem dentro das minhas pernas há dois dias, está tudo fresco
demais na minha memória para deixar passar batido.
Principalmente por tudo o que ele me fez sentir…
Um arrepio percorre a minha espinha e eu balanço a cabeça sozinha.
Pelo visto, este semestre será muito longo…
CAPÍTULO 2 - Otto

Termino de conferir a programação de aulas da semana e paro a atenção na listagem de


alunos do primeiro período do curso de Engenharia Civil.
Corro o olho por todos os nomes até parar no dela.
Marina Cavalcanti.
A garota de sorriso doce e olhar penetrante fez uma bagunça aqui dentro no instante em
que a vi sentada na primeira fileira.
Caramba…
Quais seriam as chances?
Foi difícil me concentrar no trabalho e conduzir a aula sem me lembrar daquela noite de
sábado, mas com muito esforço eu consegui. E, depois de conversarmos ao final, fiquei aliviado
pela forma como tudo foi conduzido. O clima ficou bastante leve e isso fez toda a diferença.
Seria terrível se ficasse uma situação chata entre nós dois por todo o semestre.
Agora tenho que encarar a garota como uma de minhas alunas e simplesmente esquecer
aquele sexo intenso que tivemos.
Porra…
Esfrego os olhos e meu celular vibra na mesa. Agradeço a distração, mas o nome que
surge acende um alerta dentro de mim.
— Renata?
— Ulisses, você pode buscar o Yuri na escola para mim hoje?
— Posso. — Levanto-me da cadeira e já vou até o meu quarto me trocar. — Aconteceu
alguma coisa com ele?
— Não. É que eu vou me atrasar no trabalho e vai passar do horário.
— Tudo bem. — Olho para o relógio e vejo que faltam vinte minutos para acabar a aula
do meu filho. — Ele vai ficar comigo hoje?
— Não, eu passo aí para buscar no fim da tarde.
— Ok.
E então ela desliga o telefone, fazendo-me bufar.
Eu poderia me importar com suas grosserias, mas hoje nem tenho tempo para isso.
Termino de me vestir, pego minha carteira e chaves do carro, saindo do apartamento e descendo
pelo elevador.
Caminho apressado até o veículo e entro, dirigindo até a escola do meu filho, que fica em
um bairro próximo de onde eu moro. Chego bem a tempo de estacionar na porta e ver o meu
garoto passar pela segurança.
— Pai?
Seu semblante se ilumina e eu sorrio, indo ao seu encontro. Quando o abraço, sinto uma
saudade absurda dele.
Se há algo pelo que eu lutei nesse casamento fracassado, foi por ele. Eu não ligava de
viver um relacionamento de bosta, desde que tivesse meu filho comigo. Mas infelizmente o
divórcio foi inevitável e agora eu tenho dias contados para passar com ele.
Já são seis meses fora de casa, pegando-o apenas aos finais de semana, e não há um
mísero dia em que eu não sinta a sua falta.
— Eu vou ficar com você hoje? — Seu semblante se ilumina e eu sinto uma fisgada no
peito por não ser verdade.
Sei bem como Renata dificulta tudo, para que eu passe o mínimo de tempo ao seu lado.
— Só à tarde, filho. Hoje o pai dá aula à noite, então sua mãe vai te pegar antes disso.
— Ah, tá.
Yuri balança a cabeça e abre a porta do carro para se sentar no banco do carona.
Dou a volta no carro e me acomodo ao seu lado.
— Quer almoçar em algum lugar ou ir para casa? Não sei se está com saudade das
minhas gororobas — brinco e o moleque ri.
Yuri completou doze anos de idade no mês passado e é o garoto mais doce que eu já vi.
Eu o amo mais do que a minha própria vida, por isso é tão difícil passar os dias longe dele.
— Pode fazer o meu espaguete favorito? — pergunta me olhando esperançoso e eu
assinto.
Há alguns anos peguei tudo o que tinha na geladeira e fiz um espaguete para nós dois,
com carnes e legumes. O garoto gostou tanto que se tornou sua massa favorita.
— Claro. Só precisamos passar no mercado para comprar alguns itens, não tenho tudo em
casa.
— Pode comprar sorvete também? — O garoto loiro de sardinhas no rosto me abre
aquele sorriso que sabe que me tem nas mãos.
— Eu estava contando mesmo com isso. — Sorrio para ele, que assente, empolgado.
Vejo-o ajeitar a mochila no colo e estender a mão para mexer no som do carro.
— Posso colocar uma música legal?
— O que você quiser, filho. Só não coloque rap — reclamo e ele ri.
— Até parece que eu escuto isso. — Ele revira os olhos para mim.
Observo-o conectar no bluetooth do carro e em pouco tempo uma banda de rock começa
a tocar nos alto-falantes.
— Que banda é essa? — pergunto logo que o vejo balançar a cabeça no ritmo da música.
Ainda me espanto por como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que tinha um
bebê em meu colo e agora tenho um garoto pré-adolescente.
— Green Day — responde, mais alto que a música. — É massa, né?
Não é nem um pouco a minha cara esse estilo de música, mas a sua empolgação é
contagiante.
— Não é muito meu estilo, mas é boa, sim.
— É punk rock, pai. São só três integrantes, acredita?
— É sério?
— A-hã. O som deles é muito massa. Eles têm mais de dez discos e…
E então Yuri não para mais de falar, e acho isso fantástico. O quanto ele se propõe a
pesquisar muito sobre tudo de que gosta, descobrindo, se informando, formando suas opiniões.
Quando chegamos ao supermercado, descemos do carro, mas ele não termina o assunto.
Meu filho me conta sobre a origem da banda, as primeiras músicas e como o som deles é bom de
ouvir.
E, ao mesmo tempo que eu amo ouvir seu relato, meu coração se aperta por estar
perdendo um pouco disso. Por mais que ele sempre me conte tudo o que faz durante a semana na
casa de sua mãe, não é a mesma coisa. Sinto como se estivesse perdendo uma parte importante
de sua vida.
Busco o carrinho de compras e vou colocando os ingredientes de que preciso, deixando
que ele pegue seus biscoitos e chocolates favoritos. O sorriso que vejo no seu rosto ao caminhar
ao meu lado é algo que me vale tudo.
Quando voltamos para casa, subimos até o meu apartamento e o garoto joga a mochila no
sofá logo que entra.
— Você tem dever de casa hoje? — pergunto enquanto começo a guardar as compras na
cozinha.
— Tenho, mas vou fazer à noite.
Estreito os olhos para ele.
— É pouca coisa, pai. Eu dou conta. Prefiro ficar com você enquanto estou aqui.
Yuri dá de ombros e eu sinto meu peito se apertar aqui dentro. Meu coração se enche por
isso, mas sei que não posso deixar suas obrigações de lado.
— Mas sou professor, esqueceu? Eu posso te ajudar.
Ele balança a cabeça e some de vista, voltando para a cozinha com os cadernos na mão.
— Eu só tenho uma redação para fazer, vê aqui.
Aproveito a brecha e confiro seus cadernos, vendo o capricho que ele tem em cada
atividade que faz. Duvido muito que Renata acompanhe seu desempenho escolar e por isso eu
faço questão de ver tudo de perto.
Suas notas são excelentes e ele é muito dedicado a tudo o que faz, eu só tenho gratidão
por ter um filho tão perfeito.
— Parabéns, filho. — Aponto para o caderno com um recado da professora elogiando seu
desempenho e ele sorri orgulhoso.
— Viu que eu só tenho a redação? Me deixa fazer hoje à noite em casa? Prometo que dou
conta. Eu te mando uma foto quando terminar.
O garoto não me deixa alternativas e eu assinto.
— Eu vou cobrar a foto, hein?
— Pode deixar.
— Pode ficar à vontade enquanto eu faço o espaguete.
— Vou jogar videogame, eu posso?
— Sabe onde está o console, né?
— No armário debaixo da TV — responde e eu aceno indicando para que ele vá.
Yuri assente e sorri, passando por mim. Daqui eu o vejo tirar os tênis logo que chega à
sala e se jogar no sofá para preparar o videogame.
E vê-lo tão à vontade em minha casa me deixa feliz. Quero que ele sinta aqui o mesmo
que sente na casa de sua mãe, onde mora desde que nasceu. Quero que se sinta em um lar.
Começo a picar os legumes e a carne para refogar, em pouco tempo um cheiro bom
invade o ambiente. Não demoro a concluir o almoço e chamo por Yuri, que interrompe o jogo
para vir me ajudar a montar a mesa.
— Pai, já saiu o jogo mais atual de futebol, podemos olhar depois?
O garoto pergunta enquanto enrola o espaguete no garfo e dá a primeira mordida.
— Você vai falir seu velho desse jeito. Cada jogo custa um rim — brinco e ele abre um
sorrisinho travesso.
— É porque esse tem os jogadores da temporada atual. Os antigos ficam desatualizados.
— Sei…
— Podia ser um adiantamento de Dia das Crianças — sugere e eu estreito os olhos para
ele enquanto dou um gole de suco.
— Não é você que me fala que não é mais criança? — alfineto-o.
O safado me abre um sorriso travesso.
— Mas eu também não sou adulto, então posso ser incluído nessa data.
Eu quase engasgo com o suco e solto uma risada.
— Então quer dizer que até os dezoito anos eu tenho que te dar presente de crianças?
— Sim? — indaga como se fosse óbvio.
— A sua cara não queima, não, Yuri?
Nem o garoto consegue conter a gargalhada.
— Está bem. — Ele bufa, derrotado e eu só rio mais. — Pode ser esse ano o último?
O garoto me pede com tanto carinho que é impossível negar.
— Continue tirando notas boas assim que eu sempre vou te recompensar. — Pisco para
ele. — Só não força a barra, espertinho.
Yuri balança a cabeça rindo e volta a comer.
— Pode deixar.
Terminamos a refeição e meu filho me ajuda a limpar a cozinha. Ao final, vamos até o
sofá onde eu o acompanho em algumas partidas de futebol. Sou péssimo em videogame, mas é
algo que gostamos de fazer juntos, então vale o esforço.
Tudo o que eu puder fazer junto com ele para estreitar ainda mais esse laço, eu farei.
Principalmente agora que não moramos mais juntos.
— Vamos fazer uma pausa para o sorvete? — sugiro, quando sinto minhas costas
cansarem.
— Depois vamos pegar o jogo de luta?
Ah, cacete…
— Você tem que lembrar que seu pai é trinta anos mais velho que você e que tem dor nas
costas — reclamo e ele ri.
— É que daqui a pouco a mãe me busca. — Ele olha para o relógio e um vinco se forma
em sua testa.
E isso me faz pensar no quanto ele valoriza o tempo que temos juntos, assim como eu.
Eu amo tanto esse garoto…
— Está certo. Uma pausa para o sorvete e depois eu te derroto no Mortal Kombat.
— A sua cara é que devia queimar, pai! Você é horrível.
Explodo em uma risada.
— Olha o respeito! Eu sou seu pai! — brinco, bagunçando seus cabelos de um jeito que
ele detesta, e o garoto ri junto comigo.
Empurro-o de lado enquanto vamos até a cozinha buscar o sorvete e no caminho é pura
risada e provocação.
E, em momentos como esse, eu só consigo pensar no quanto eu sinto a falta dele.
E que, se eu pudesse, faria tudo para tê-lo comigo em definitivo.
CAPÍTULO 3 - Otto

Atravesso as portas da sala do primeiro período de Engenharia Civil e sorrio sozinho ao


ver quem encontro já sentada em seu lugar habitual, na primeira fileira.
Marina Cavalcanti.
Logo que ouve os meus passos, ela ergue os olhos e me abre um sorriso lindo, daquele
jeito que é impossível não retribuir.
— Boa noite, pessoal! — cumprimento meus alunos e vejo-os se acomodarem nas
cadeiras enquanto me respondem.
Coloco minha pasta na mesa e percebo que cada movimento meu é observado com
atenção por Marina, que vê tudo com curiosidade. Ainda é a segunda aula em que leciono para
ela, mas, pelo pouco que pude conhecer de sua postura aqui dentro, parece uma aluna bastante
aplicada.
— Boa noite, Marina — falo baixo, logo que me inclino para abrir a minha pasta e buscar
o notebook.
— Boa noite, professor — a voz doce me balança.
E a forma como ela me chama, caralho…
É bem diferente daquele dia, mas, porra, é tão marcante.
Aceno e abro a tela do laptop procurando pela apresentação que preparei para o dia de
hoje.
— Hoje vamos começar a falar da origem da filosofia, mas, antes de tudo, gostaria de
saber se alguém aqui tem ideia da importância dessa disciplina na grade do curso de vocês.
Encosto o quadril na mesa enquanto meus olhos percorrem toda a sala de aula, vendo que
peguei alguns alunos de surpresa. A maioria deles discrimina a disciplina, assim como em muitos
dos cursos em que leciono. Com exceção do próprio curso de Filosofia, os demais só encaram
como mais uma matéria obrigatória da grade.
— Eu posso falar? — Marina pede, erguendo a mão, e eu abro um sorriso.
— Claro!
Aceno para ela, que se endireita na cadeira, brincando com uma caneta colorida nas
mãos.
— Tem a ver com a busca pelo conhecimento?
— Tem tudo a ver! — respondo e a vejo abrir um sorriso muito satisfeito. — A filosofia
vem do grego philo, que significa amor, e sophia que significa conhecimento. Então, só por aí,
vocês já têm uma noção. É sobre a busca constante do conhecimento. Sobre sermos seres
pensantes e questionadores, e tirarmos nossas próprias conclusões do mundo, não apenas
baseados em crenças e tradições que nos impõem.
Noto Marina me ouvir com atenção e fazer várias anotações enquanto falo. E, por esse
caminho, discorro a minha aula, mostrando o porquê do estudo dessa ciência até seguir para a
filosofia antiga e seu surgimento na Grécia.
Alguns alunos se dispersam e outros me fazem perguntas pontuais, mas, de modo geral,
acho a aula bastante produtiva.
Separo os minutos finais para abertura de perguntas e mais uma vez é Marina quem toma
a iniciativa.
— É de Sócrates aquela famosa frase “Só sei que nada sei”?
Sorrio e balanço a cabeça.
Já estou acostumado a receber perguntas desse tipo.
— É dele mesmo! Vamos falar mais sobre quando entrarmos no Período Socrático,
dentre os séculos V e IV antes de Cristo.
— Mas pode nos adiantar o que ele quis dizer com isso? — retruca e eu aceno.
— É porque, antes de alguém sair em busca de conhecimento, precisa fazer uma
autoanálise e perceber sua própria ignorância. Por isso Sócrates era tão sábio, pois ele julgava
não saber e ia atrás do verdadeiro conhecimento.
— Nossa… Interessante…
— A filosofia é muito rica — falo agora, olhando para os demais alunos. — Subestimada
por muitos, mas extremamente importante para a construção da sociedade.
Respondo a mais algumas perguntas e olho para o relógio, vendo que chegamos ao fim.
— Não entediei muito vocês, viram? — brinco e ganho algumas risadas. — Vou colocar
um artigo no portal do aluno para vocês lerem no decorrer da semana e na próxima aula teremos
debate sobre ele — alerto. — Boa noite, pessoal. Obrigado!
Recebo alguns acenos e aos poucos os alunos vão deixando a sala e indo para o intervalo,
enquanto eu começo a guardar os meus pertences.
— Nunca imaginei que fosse gostar tanto de uma aula de Filosofia — ouço a voz de
Marina e ergo os olhos para ela, sorrindo de lado.
— Fico lisonjeado por isso. Procuro sempre trazer a disciplina da forma mais leve e
prazerosa para vocês.
A garota sorri e se aproxima mais, fazendo-me sentir aquele cheiro de melancia que é tão
característico dela.
Cheiro este que me faz engolir em seco por me remeter a algumas lembranças que eu
deveria esquecer a todo custo.
Mas quem disse que eu consigo?
— Posso fazer uma pergunta pessoal? — pergunta com cuidado e eu arqueio uma
sobrancelha.
— Poder, pode. Se eu vou responder é outra história… — falo divertido e ela ri baixo.
— Não é nada comprometedor, não se preocupe — garante. — Mas por que Filosofia?
Dentre todas as profissões do mundo, por que se tornar um filósofo?
A sua curiosidade genuína me faz sorrir.
— Tem compromisso agora no intervalo? — pergunto, apontando para o relógio.
— Nada, a não ser esperar pela próxima aula.
— Quer tomar um café enquanto eu te conto sobre isso? — convido e seu semblante se
ilumina.
— Claro, será um prazer!
Puxo minha pasta, indico que ela me acompanhe e a garota o faz, caminhando ao meu
lado para fora do bloco. Enquanto andamos pelo campus da universidade, não posso deixar de
reparar mais nela.
Diferente da noite da boate, Marina não usa maquiagem, apenas um batom claro nos
lábios, o que para mim a deixa ainda mais bonita. Os cabelos estão presos em um rabo de cavalo
e ela usa uma jardineira jeans desfiada com camiseta colorida por baixo. Sua versão despojada é
tão bonita quanto aquela toda produzida para a noite.
— Eu cresci em uma família muito tradicional, cheia de crenças e verdades absolutas —
começo a contar quando vejo a fachada da cafeteria do campus apontar. — Tudo me era imposto
e eu acreditava veemente naquilo. Inclusive comprava a ideia de uma perfeição que anos depois
eu descobri que não existia.
Marina me escuta com atenção e, quando chegamos ao local, peço um café preto para
mim. Depois pago um cappuccino para ela, pedindo alguns pãezinhos para acompanhar.
— Eles eram muito rigorosos com você? — ela me pergunta logo que nos sentamos para
comer.
— Um pouco. Mas, quando eu ainda era adolescente, aconteceu uma situação na minha
família que colocou por terra toda aquela imagem de perfeição que queriam mostrar.
— Sério?
Assinto e dou um gole no café.
— Meu avô era o homem mais respeitado entre nós. O exemplo que todos deveriam
seguir — só de falar isso, eu já faço uma careta. — Exemplo de homem, de pai, de marido…
— E ele não era um tão bom exemplo assim? — A garota arrisca um palpite e eu
confirmo.
— Não. Eu descobri coisas um tanto feias vindas de seu nome.
Penso em lhe dar mais detalhes, mas me contenho, porque não costumo me abrir tanto
assim com as pessoas. Ainda que Marina me pareça ser uma garota legal, não tenho intimidade o
suficiente para contar esse lado da minha vida.
E nem posso ter, preciso me lembrar disso.
— Mas isso me fez questionar tudo o que eu acreditava, ou melhor, o que me faziam
acreditar. E na época eu tinha uma matéria de Filosofia na escola para a qual eu nunca dei bola.
Quando o professor me fez uma pergunta que trouxe o questionamento sobre o que eu
acreditava, eu comecei a pensar.
Minha mente voa longe para aquela época e sobre o quanto eu me revoltei com tudo
aquilo.
— Aquela pergunta mudou a minha forma de pensar e enxergar o mundo e moldou o
homem que eu sou hoje — falo, encarando-a nos olhos. — E desde então eu decidi que faria o
mesmo pelas pessoas. Que as faria pensar, refletir, e tirar suas próprias conclusões sobre o
mundo.
A garota dá um gole na bebida e sorri.
— Nossa, Otto. Isso é lindo…
Balanço a cabeça e belisco um pãozinho.
Não é tão bonito assim, mas gosto de saber que contribuo um pouco para uma sociedade
melhor.
— E você? Por que Engenharia Civil? — pergunto e seus olhos brilham.
— Eu também não tive uma estrutura familiar muito boa — Marina diz com cuidado,
dando mais um gole na bebida quente. — E, desde o dia em que eu nasci, preciso mostrar o meu
valor.
Franzo o cenho ao notar um vislumbre de vulnerabilidade em sua voz, mas ela logo se
recompõe.
— Eu sempre achei fantástico o poder da construção civil e como cada estrutura é
calculada. Já parou para pensar na engenharia para a construção de um prédio de vinte andares?
Ou de um campo de futebol?
O sorriso dela é palpável e me contagia.
— É incrível mesmo — concordo.
— Mas também ouvi que isso é uma profissão masculina. E bem sabemos como é difícil
uma mulher ganhar destaque nessa área.
— Porra…
— Mas eu sou capaz, sabe? Se um homem pode conduzir a construção de um prédio, eu
também posso.
— Com toda certeza.
— Então me dizer que eu não posso me causa exatamente o efeito contrário — diz,
empinando o queixo, orgulhosa. — Pois, para afrontar, é aí que eu faço mesmo!
— E está coberta de razão. Ninguém pode te dizer que você pode ou não pode alguma
coisa, isso cabe apenas a você.
A garota me abre um sorriso lindo.
— Obrigada, professor. Nunca é fácil, mas eu não me permito desistir. Gosto de um
desafio.
— “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”, já dizia Sócrates — falo e seu
sorriso se amplia mais.
— Está vendo? Já adoro Filosofia!
Balanço a cabeça e olho para o relógio, vendo que o intervalo já chegou ao fim.
— Bom, acho que precisamos voltar — aviso e ela assente, levantando-se junto comigo.
— Obrigada pelo café, Otto. Adorei descobrir um pouco mais sobre você — diz sincera
enquanto saímos da cafeteria.
— Eu que agradeço a companhia.
Dou mais uns passos e me viro para seguir caminho para o outro bloco, onde a turma do
curso de Administração me espera.
— Continue assim, Marina. Nunca deixe de seguir os seus sonhos. Não importa o que te
digam. Vá sempre em busca daquilo em que você acredita.
Ela sorri e acena, mexendo na alça da jardineira.
— Pode deixar, professor. Vou te dar muito orgulho.
— Eu sei disso.
Pisco para ela, que sorri.
— Boa noite, Marina. Até semana que vem.
— Boa noite.
Aceno para ela e me afasto, caminhando sozinho pelo campus.
Um milhão de coisas se passam em minha mente sobre os últimos minutos ao seu lado e
acabo sorrindo sozinho.
Essa garota não cansa de me surpreender.
CAPÍTULO 4 - Marina

— E como estão as aulas, querida? Está gostando? — vovó me pergunta ao telefone e


eu sorrio sozinha, jogando-me no sofá.
— Muito… É bem diferente do que eu imaginei, os professores são bem acelerados, mas
estou me adaptando a essa nova rotina.
— Que bom, minha filha. Fico muito orgulhosa de você.
— Obrigada, vó. E como estão as coisas por aí? Tudo bem com a senhora?
Se há uma coisa que me doeu na vinda para Vale dos Campos, foi deixar a minha avó.
Ainda que eu não esteja muito longe de casa, sinto sua falta, afinal éramos nós duas juntas todos
os dias.
— Estou muito bem, não precisa se preocupar comigo! Continuo frequentando as aulas
de pilates e de costura. Comecei a fazer um vestido lindo para você.
E essas coisas enchem o meu coração.
Meus olhos marejam e eu sorrio ainda mais ao pensar em vó Manoela e no quanto eu
estaria perdida na vida se não a tivesse comigo.
— Ah, que lindo, vó! Fico feliz que a senhora continue fazendo as coisas de que gosta.
Isso é muito importante. No final de semana, vou dar um jeito de dar uma escapadinha para a sua
casa, tá?
Ouço seu silêncio e sinto uma pontada aqui dentro.
— O que foi? — pergunto, ao notar sua respiração forte.
— Joaquim virá aqui no final de semana, disse que quer fazer um churrasco.
Só de ouvir o nome do meu pai, meu coração se acelera aqui dentro.
Parece que realmente só me esperou sair da casa de minha avó para começar a frequentar
o lugar.
— Está certo… Eu vou no próximo. Combino com a senhora certinho.
— Me desculpe, Mari…
— Imagina, vó. A culpa não é sua. Fica tranquila. Teremos vários finais de semana para
passarmos juntas, tudo bem? — falo com a voz calma, mas por dentro eu estou uma bagunça.
Tinha organizado tudo para passar o final de semana com minha avó e matar a saudade,
então recebo esse balde de água fria.
— Eu sinto tanto que as coisas sejam assim… Queria que o seu pai fosse diferente — a
voz triste de vó Manoela corta o meu peito.
— A senhora fez o seu melhor, vó, e deu a melhor criação a ele. Tanto que nenhum irmão
dele é assim. Então não é sua culpa, fica em paz. Algumas coisas têm mesmo que ser assim.
Paciência. Vamos nos falando para combinar outro dia, pode ser?
— Claro, meu amor. Vou preparar tudo de que você gosta com todo carinho.
— A senhora é a melhor do mundo!
Converso mais um pouco com ela e logo encerro a ligação, soltando um suspiro.
Se há mais uma pessoa que sofre com os comportamentos do meu pai além de mim, é a
minha avó. Sei que tudo o que ela faz por mim, além de me amar, é para compensar um pouco o
traste do filho.
Balanço a cabeça e decido não pensar mais em Joaquim hoje, mas o universo parece não
colaborar quando meu celular apita notificando uma mensagem recebida.
Gabriel: Oi, Mari… Como estão as coisas por aí?
Giro o celular nas mãos antes de responder à mensagem do meu irmão caçula.
Eu: Está tudo bem… E por aí?
Sinto meu peito se agitar, como todas as vezes que converso com Gabriel. Eu não o
odeio, sei que não tem culpa alguma, mas ainda assim… é difícil me aproximar muito dele,
dadas as nossas circunstâncias.
Gabriel: Ah, o de sempre. Está gostando das aulas?
Eu: Bastante, sinto que era exatamente o que eu queria.
Gabriel: Que bom, Mari. Fico feliz. Você merece isso.
E nessas horas sinto uma pontada de culpa por ser tão distante dele. Sei que suas palavras
são sinceras e que ele realmente torce por mim, mas Joaquim colocou um muro tão grande entre
nós dois, que é difícil de quebrar.
Eu: Obrigada, Gabe. E o cursinho, como está indo?
Ao contrário de mim, que fui para o lado de exatas, meu irmão sonha em cursar
Medicina. Começou o cursinho preparatório este ano e sei que não vai demorar a conseguir
ingressar na faculdade, porque é muito dedicado. E, principalmente, tem o apoio de toda a
família.
Gabriel: Nossa, estou me matando de estudar… Quero minha vida tranquila de volta!
Sua mensagem desesperada me faz rir sozinha.
Eu: Não é você que quer ser médico, bonitão? Precisa começar a ralar desde agora.
Gabriel: Eu sei… E, apesar do cansaço, estou gostando bastante. Só precisava
reclamar mesmo com quem me entende.
Eu: De ralar, eu entendo bem! E, falando nisso, preciso estudar algumas matérias
agora, tudo bem?
Gabriel: Está certo. Nos falamos depois. Bom estudo!
Eu: Para você também.
Despeço-me dele e encerro nossa conversa, deixando o telefone de lado e indo até a
cozinha beber água antes de pegar nos estudos da tarde. Hoje estou sozinha em casa e quero
aproveitar a ausência de Carina para colocar em dia todas as matérias da semana.
Mas, enquanto bebo água, eu me pego pensando sozinha sobre a minha vida e meu irmão.
Queria me sentir mais à vontade com ele, me soltar mais, mas acabo não conseguindo.
Sei que nenhum de nós dois tem culpa, a não ser Joaquim.
O homem que desde sempre queria um filho, não uma menina.
Meu nascimento foi o maior motivo de desgosto para Joaquim e, desde que eu cheguei ao
mundo, ele cercou a minha mãe para lhe dar outro filho, dessa vez um que prestasse.
E então veio Gabriel, dois anos depois de mim.
E crescer em um lar onde meus pais me tratavam de forma inferior só por ser uma
menina foi a pior coisa que poderia ter me acontecido. Uma criança que via o irmão ganhar o
carrinho dos sonhos, os melhores presentes de aniversário e Natal, enquanto ela ganhava
qualquer coisa só para não falar que não recebia. Eu nunca tive os brinquedos que queria, as
roupas que achava bonitas, as fitas no cabelo…
Nada.
Tudo na casa dos Cavalcantis girava em torno de Gabriel. Do quanto ele daria orgulho ao
meu pai, do quanto ele teria um futuro lindo.
E eu?
Eu poderia ser qualquer coisa.
Joaquim não se importava.
E foi por isso que foi difícil me aproximar de Gabriel. Ele sempre tentou, meu irmão
nunca me tratou diferente, pelo contrário, por várias vezes pedia ao meu pai alguma coisa de que
sabia que eu gostava, só para me agradar um pouco.
Mas ainda assim era horrível viver ali dentro, era horrível crescer nesse lar. Por muitas
vezes me peguei odiando a minha vida e questionando por que Deus não me fez com um pênis.
Mas, quando vi que nada mudaria, eu cansei.
E aos dezoito anos fui morar com a minha avó. A pessoa que sempre me apoiou, que
sempre brigou com Joaquim por minha causa, porque a minha mãe nunca teve voz ali dentro.
Eu já senti raiva de Marieta, já senti mágoa, mas hoje só sinto pena.
Pena de uma mulher submissa ao marido, que não tem voz, que não tem vez alguma.
Uma mulher que vive em função de um homem, se anulando por isso.
E, por esse exemplo em casa, é que eu decidi ser completamente diferente.
Eu nunca, absolutamente nunca, serei dependente de um homem. Eu me recuso a permitir
isso. Jamais vou deixar que um homem me controle, me manipule, que fale por mim. Eu tenho
voz, tenho vontades, e sou capaz de fazer o que quiser.
Cresci ouvindo que eu não tinha valor, eu não era suficiente. E por isso me esforço todos
os dias para ser exatamente o contrário.
Não me importo se preciso estudar mais, trabalhar mais, o que for. Eu preciso de
excelência em tudo o que faço e não aceito menos do que perfeição em minha vida.
Não aceito migalhas, porque não as mereço.
Eu mereço o mundo inteiro.
E é pensando nisso que viro o restante de água e vou para o meu quarto me jogar nos
estudos pelo resto do dia.

No corredor da biblioteca, vejo um vulto familiar passar por mim e sorrio ao notar quem
é.
Professor Ottoni.
Vestindo sua habitual camisa social impecável, calça jeans escuras e cabelos arrumados,
ele está lindo como sempre.
— Professor? — chamo e ele procura pela minha voz, até me encontrar diante de uma
prateleira de livros.
— Ah… Oi, Marina.
Ele me abre um sorriso bonito e vem em minha direção.
— Perdido por aqui? — brinco, tentando disfarçar o quanto sua presença mexe comigo.
Seu ar imponente, seu cheiro…
Sua inteligência.
Por que mesmo, universo, ele tinha que ser meu professor?
— Vim devolver alguns livros que peguei, antes que pague uma multa. — Ele faz uma
careta fofa e eu rio.
— E professores têm disso também?
— Claro! Imagina se eu fico o semestre inteiro com o livro em casa, posso prejudicar um
aluno que também precise dele.
— Hummmm… Faz sentido.
Otto sorri de lado e sinto um salto aqui dentro.
É tão charmoso quando ele faz isso…
— E você? Perdida por aqui também?
— Vim pegar alguns livros para estudo — falo, batendo nos exemplares em minhas
mãos. — O professor de Ciência de Materiais comentou sobre um projeto de pesquisa científica
e eu quero muito conseguir essa oportunidade. Por isso vou me dedicar bastante a essa matéria,
para que ele me considere uma boa candidata.
Otto balança a cabeça e sorri.
— Tenho certeza de que você vai conseguir. Boa sorte!
— Obrigada, professor.
— Nos vemos por aí? — Ele aponta para fora e eu assinto.
— Até mais.
Despeço-me dele e fico um minuto parada processando a sua presença tão marcante para
mim.
Ele é tão cheiroso, tão…
Balanço a cabeça e trato de afastar esses pensamentos.
Isso não vai me levar a lugar algum e meu foco agora é outro.
Preciso me dedicar duzentos por cento nesse curso e entregar sempre o melhor de mim.
CAPÍTULO 5 - Otto

— Boa noite — cumprimento os demais professores logo que entro na sala e vou direto
para a cafeteira me servir de uma xícara.
Hoje cheguei um pouco mais cedo e fui à biblioteca pegar alguns livros emprestados;
aproveitei para vir à sala de professores passar o tempo até a minha primeira aula do dia.
Meus horários de aula são bem espalhados pela semana. Hoje leciono apenas no período
noturno, mas há dias em que venho à universidade também de manhã e outros em que não venho
em horário nenhum. A única constância é que nunca dou aulas à tarde, e isso me ajuda bastante
quando consigo ficar com Yuri durante a semana.
A ausência dele na minha vida ainda é algo que me dói todos os dias.
Beberico a xícara de café e vou até um grupo de professores que está tendo uma conversa
animada na mesa ao lado. Sento-me junto a eles e entro no assunto, quando Luciano, um dos
professores de Engenharia toca num assunto que chama a minha atenção.
— Vou começar a seleção de alunos para o projeto de pesquisa científica. É sempre uma
parte difícil, mas já tenho uma lista de candidatos aqui.
— Eu posso olhar? — pergunto e o moreno assente, abrindo o celular e me mostrando a
relação de alunos que ele tem analisado.
E, quando eu vejo o nome dela, meu coração dá um salto aqui dentro.
Lembro quando comentou, na semana passada, o quanto estava se esforçando para
conseguir essa vaga, que era uma oportunidade incrível para ela.
E, bom…
Já que estou aqui…
— Marina Cavalcanti é da Civil, não é? — indago, tentando parecer despretensioso.
— É, sim. Conhece?
— É minha aluna de Filosofia. Muito boa, viu? Arrisco dizer que é a única que se esforça
em minhas aulas — brinco, fazendo uma careta e todos da mesa riem.
— Eu tenho observado seu desempenho também, parece bastante aplicada. Eu estava na
dúvida entre ela e uma aluna da Elétrica.
— É apenas uma vaga? — questiono e ele nega.
— Vou selecionar um grupo de cinco alunos para começar o projeto.
— Então chame as duas — concluo, dando de ombros. — Eu não leciono para o curso de
Elétrica, então não a conheço. Mas a Marina eu tenho certeza de que vai fazer um bom trabalho.
Dá para sentir a dedicação de alguns alunos desde o primeiro dia.
Luciano pondera por um instante e assente ao final, fazendo meu coração dar mais um
salto aqui dentro.
— Está certo. Amanhã vou anunciar os selecionados e já resolvo isso. Valeu pela dica,
Ottoni.
— Não foi nada.
Termino de beber o café e olho para o relógio, vendo que a primeira aula já está quase
para começar.
— Vou nessa, que deu minha hora.
Despeço-me dos meus colegas e saio da sala, andando pelo campus até o bloco de
Engenharia, já sentindo a adrenalina no meu corpo por ter ajudado um pouco Marina nesse
processo. Sei que ela ficará muito feliz quando receber a notícia.
Adentro a sala de aula e logo a encontro sentada em sua habitual cadeira, fazendo
algumas anotações no caderno. E, antes que ela perceba a minha presença, eu aproveito para
reparar nela.
É como se ficasse mais linda a cada dia…
Marina hoje usa um short jeans curto e a maneira com que cruza as pernas evidencia as
coxas grossas, que são uma verdadeira tentação…
Porque é isso que Marina é.
O rosto delicado e o sorriso doce exalam inocência.
E é exatamente essa inocência que é a minha tentação.
Uma tentação inocente e um tanto proibida.
Balanço a cabeça desviando os pensamentos. Termino meu trajeto até a mesa e, agora
sim, a garota nota a minha presença.
Como em câmera lenta, a morena ergue os olhos para mim e abre um sorriso lindo.
Aquele que demonstra felicidade ao me ver.
Sinto uma gota de suor percorrer a minha espinha.
Não era para ser assim.
— Boa noite, professor.
Aproximo-me mais dela e sinto seu aroma de melancia, fechando os olhos por um
instante.
— Boa noite, Marina.
Reabro-os e a vejo sorrir ainda mais para mim. Não consigo deixar de retribuir e noto seu
rosto corar de leve.
Ah, cacete…
— Boa noite, pessoal — cumprimento os demais alunos, tentando tirar o foco da minha
mente, e aos poucos todos vão ocupando os assentos. — Como foram de final de semana,
aproveitaram?
Encosto o quadril na mesa enquanto escuto relatos de alunos sobre festas, viagens e
ressaca. Marina não me surpreende em nada quando diz que passou todo o final de semana se
dedicando aos estudos, e é por uma dessas que eu tenho certeza de que ela merece a vaga no
projeto de Luciano.
— Bom, já que sou eu a começar a segunda-feira tão amada de vocês… Vamos falar do
Período Pré-Socrático?
Mesmo que o ar-condicionado esteja ligado, sinto uma onda de calor me invadir. Ainda
encostado na mesa, desabotoo o pulso da camisa social e começo a dobrá-la devagar até a altura
dos cotovelos.
— Nosso foco de hoje é o filósofo Tales de Mileto, considerado o Pai da Filosofia. —
Faço uma pausa para terminar de ajustar a camisa e, de canto de olho, vejo que Marina me
observa atentamente, como se acompanhasse cada movimento meu. — Ele também foi um
matemático grego, vocês devem se lembrar do Teorema de Tales, não é?
Noto surpresa passar pelo semblante dos alunos, principalmente o de Marina, que me
incentiva ainda mais a discorrer sobre o assunto.
E a aula flui de tal forma que eu mal vejo passar. Assusto-me quando vejo alguns alunos
se levantando e só então percebo que chegamos ao final.
— Obrigado, pessoal. Até semana que vem!
Começo a juntar as minhas coisas e sinalizo para Marina, que vem sorridente em minha
direção.
Os cabelos negros estão soltos hoje, balançando suavemente a cada passo que ela dá. E
daqui consigo sentir o cheiro deles, lembrando-me da maciez dos fios…
— Tudo bem, professor?
Marina coloca as mãos dentro do short e se inclina de um jeito fofo em minha direção.
A forma como ela me chama não deveria soar tão sexy…
— Tranquilo, e com você?
— Estudando bastante, graças a Deus. — O sorriso que ela me abre é lindo demais.
— Isso é ótimo. Falando nisso… Amanhã você vai receber uma notícia muito boa. —
Pisco para ela, que estreita os olhos para mim.
— Que notícia?
— Se eu contar, vou estragar a surpresa.
Marina faz uma careta e olha para os lados antes de se aproximar de mim. Faço o mesmo
e noto que estamos sozinhos aqui.
— Isso não se faz, Otto — repreende-me e eu rio. — Como começa a me contar uma
coisa e não termina? Eu sou uma mulher ansiosa!
— Bom…
— Por favor — insiste. — Eu não conto para ninguém. Sou boa em guardar segredos.
A forma como ela me encara me faz engolir em seco.
Porra…
— Sabe o projeto de pesquisa que você comentou comigo?
— Sei…
Os olhos da garota brilham e ele dá mais um passo, ficando mais próxima de mim.
— Hoje na sala de professores, Luciano comentou que estava com uma lista de
candidatos às vagas e eu pedi para ver. O seu nome estava lá e, bom… Eu falei bem de você.
— Otto…
— E amanhã ele vai anunciar os selecionados, você está entre eles.
— Mentira!
A garota se joga em meus braços e eu gargalho, acolhendo-a e sentindo o seu cheiro.
Não resisto em correr o nariz pela sua pele e mergulhar ali…
Caralho…
Não posso fazer isso.
Afasto-me sem graça e noto seu sorriso gigante.
— Meu Deus, isso é maravilhoso! Eu nem sei como te agradecer! — Seus olhos marejam
e eu balanço a cabeça.
— Você já estava na lista por seu esforço, Marina. Por reconhecimento de seu trabalho.
Eu só dei um último empurrão por desempate, digamos. — Dou de ombros e ela sorri,
balançando a cabeça.
— Você não tem ideia do quanto isso é importante para mim! Nossa… Obrigada, Otto.
De verdade. Eu não tenho palavras para te agradecer.
— Não precisa, Marina. Como eu disse, é mérito seu. Se você não fosse tão dedicada aos
estudos, nem estaria na lista…
— Ainda assim, obrigada. Mesmo.
E então a morena me surpreende se inclinando para beijar o meu rosto. Seus lábios estão
úmidos e roçam de leve a minha pele, fazendo-me fechar os olhos por um segundo.
Engulo em seco, sentindo uma onda de calor pela proximidade dela, e, quando se afasta,
estou um pouco desconcertado.
— Bom, lembre-se de que eu não te contei nada, hein?
Raspo a garganta e trato de aliviar a tensão que se formou por aqui.
— Claro! Não faço nem ideia do que você está falando — brinca e eu sorrio de lado.
— Certo. Então… Até semana que vem? — Aceno para ela, que assente, despedindo-se
de mim.
— Boa noite, professor.
— Boa noite, Marina.
Saio da sala de aula sentindo-me leve por ter visto a sua felicidade ao saber do projeto, e
nervoso diante de sua proximidade.
Proximidade esta que está sendo uma bagunça dentro de mim…
Eu preciso continuar mantendo o muro que construí entre nós, em que professor e aluna
não se relacionam.
O professor Ottoni não pode desejar uma aluna, não pode querer tê-la de novo…
Mas o Otto daria tudo para ter mais uma noite com ela.
Para senti-la mais uma vez.
Cacete…
Isso vai ser ainda mais difícil do que eu imaginava.
CAPÍTULO 6 - Otto

Termino de arrumar a cama de Yuri, conferindo se está tudo no lugar antes que ele
chegue. Embora a faxineira tenha vindo ontem organizar toda a casa, ela costuma deixar uma
coisa ou outra fora do lugar e eu estou ajustando tudo para a sua chegada.
Os sábados são sempre os dias mais esperados da minha semana.
Isso, claro, quando Renata não inventa alguma programação que ocupe meu filho e o
impeça de ficar o final de semana todo comigo. Mas, felizmente, hoje não é um desses dias.
Como não tenho aulas às sextas-feiras, ontem coloquei tudo que eu tinha em ordem para
ficar liberado hoje. Planos de aula, correção de trabalhos, liberação de notas no portal; trabalhei
até tarde da noite, mas consegui concluir tudo.
E a partir de hoje meu filho é todo meu, até o momento em que o deixarei na escola na
segunda-feira pela manhã, então faço questão de aproveitar cada segundo.
O interfone toca e eu saio do quarto para atendê-lo. Logo que vejo a imagem de Yuri
pelas câmeras, eu sorrio, liberando a sua entrada. Abro a porta do apartamento e encosto-me no
batente, esperando pela sua chegada pelo elevador.
Desde o meu divórcio, eu me mudei para um apartamento no último andar de um
condomínio fechado em um bairro tranquilo. Sempre fui um cara que gosta de sossego e esse
canto é simplesmente perfeito para mim. O apartamento não é muito grande, mas o suficiente
para um homem sozinho e seu único filho.
O elevador apita abrindo as portas e a imagem do amor da minha vida surge, sorrindo ao
ajeitar a mochila nos ombros.
Aqui, parado, eu me pego reparando no quanto meu filho cresceu. Os cabelos lisos e
loiros estão grandes, quase caindo nos olhos, e ele joga para o lado à medida que caminha. Seu
visual de camisa de banda, calça jeans e tênis é o que mais tem usado nos últimos tempos.
— Oi, pai — ele me cumprimenta e eu o puxo em um abraço apertado.
Mesmo que esteja naquela fase tão temida de pré-adolescência, ele continua sendo um
garoto muito carinhoso.
— Oi, filho. — Beijo seus cabelos e me afasto de seu contato. — Senti saudade.
— Eu também. O que vamos fazer hoje?
Yuri me pergunta, logo que adentra o apartamento, e eu fecho a porta atrás de nós.
— Hummmm… Estou aberto a sugestões. Amanhã temos o almoço na casa da sua avó,
mas hoje estamos livres.
Meu filho coloca a mochila em cima do sofá e se vira para mim, jogando a franja para o
lado em um movimento de cabeça.
— Aquele filme novo do Jurassic Park está em cartaz. Podemos ir ao cinema? —
pergunta empolgado e eu assinto.
— Vamos ver a que horas tem uma sessão…
Tiro o celular do bolso e abro o aplicativo do cinema mais próximo, seguindo Yuri pela
cozinha, enquanto busca um copo de água para beber.
— Tem uma às duas da tarde, pode ser?
— Fechado!
— Podemos sair mais cedo para almoçar lá no shopping mesmo e já ficar para o filme.
Os olhos de Yuri brilham e ele acena.
— Legal, pai. Podemos passar na loja de jogos também?
Balanço a cabeça rindo.
Ele é um belo de um esperto.
— Podemos. Mas um jogo só, hein? Senão vou ter que dobrar as minhas aulas para dar
conta de você — brinco e ele ri.
— Tá bom. É só porque eu acabo enjoando de jogar os mesmos jogos.
Ele dá de ombros e eu assinto.
— Está certo. Vou comprar os ingressos de uma vez.
Fecho a compra no aplicativo e seguimos até a sala, onde nos jogamos no sofá para
esperar o tempo passar até a hora do almoço.
— E como foi sua semana? Tudo bem? — pergunto, observando todo o seu semblante
para ver se noto alguma reação diferente.
— Ah, foi normal.
Assinto e brinco com as franjas da almofada em meu colo.
— Está sendo tranquilo morar com sua mãe? — pergunto com cuidado, porque sei que é
um assunto delicado.
Mas meu filho é bem maduro para a idade dele e, mesmo tendo os pais morando em casas
diferentes, faz de tudo para manter a paz. Não fica levando nada de um lugar para o outro, para
evitar atrito. Isso é algo em que eu reparei desde que ele começou a vir passar os finais de
semana comigo.
— Ah, do mesmo jeito… Quando estamos só nós dois, é melhor. Só não gosto muito
quando Fabrício chega, mas eu sempre venho ficar com você mesmo, então não o vejo muito.
Meu peito se aperta ao ouvir o nome desse sujeito.
Ele não é só o novo namorado de Renata, como o cara responsável pelo nosso divórcio.
Não basta toda a separação de um casamento de quinze anos e a divisão da guarda do filho, com
tudo isso eu acabei sabendo que levava um belo de um chifre. Por mais de dois anos.
É foda saber que a mulher que dormia ao seu lado todas as noites, na primeira escapada,
abria as pernas para outro homem. E não foi a primeira vez. Quando Yuri tinha cinco anos,
descobri uma traição com o gerente dela no trabalho e com muito chororô acabei perdoando. Eu,
como um belo de um trouxa, acreditei em suas palavras e dei uma nova chance pelo bem do
nosso casamento e do nosso filho.
Meu maior medo sempre foi ficar longe de Yuri, acima de qualquer coisa. Mas como
uma pessoa é capaz de trair uma vez, ela sempre será capaz de trair duas. E nem sei mais quantas
vezes Renata me traiu em todo o tempo em que estivemos casados. Não quis saber, na verdade.
Quando descobri de Fabrício, eu me neguei a acreditar a princípio, mas, desta vez, era ela que
não me queria mais. A mãe de Yuri tinha se apaixonado perdidamente e não mandamos no
coração, como suas palavras disseram.
Ao mesmo tempo que ficar livre de Renata me causou alívio, porque brigávamos muito, o
divórcio me trouxe dor. Dor por ter que sair de casa e deixar o meu bem mais precioso para trás.
Dor por saber que não fui suficiente. Que todo meu esforço, tudo o que eu fiz pela nossa família,
não foi o bastante para que ela me escolhesse.
E agora, enquanto eu fico aqui, na maior parte do tempo sozinho, Renata está bem como
nunca. Vivendo sua vida com Fabrício, com quem diz amar, e nosso filho.
No fim, quem saiu na merda nesse relacionamento fui eu.
— Ele te trata mal? — indago e noto seu semblante ficar um pouco tenso.
— Ele só não gosta muito de mim. — Yuri dá de ombros e eu sinto uma fisgada no peito.
— Parece que estou sempre atrapalhando alguma coisa…
— Sabe que você pode vir sempre que quiser, não sabe? É só me ligar que te busco na
hora.
Yuri balança a cabeça e sorri de lado.
— Eu sei, pai. Quando ele chega, eu costumo ir para o quarto e ficar jogando videogame,
então acabo não o vendo tanto.
— Está certo. E, se algum dia ele te destratar, ou machucar você, quero que me conte,
ok? Ele pode ser o namorado da sua mãe, mas não é nada seu. Não tem direito algum sobre você.
O seu pai sou eu e vou sempre te defender, combinado?
Yuri assente e me abre um sorriso.
— Eu sei disso. Valeu, pai.
Solto um suspiro e relaxo os ombros.
Não consigo nem pensar em ver algum outro homem machucando o meu filho, seja física
ou emocionalmente. Por sorte, Yuri não é mais uma criança inocente e sabe perceber as coisas
que estão ao seu redor. Somos muito parceiros e sei que, se algum dia Fabrício lhe fizer alguma
coisa, meu filho vai me contar.
— Quer jogar uma partida antes de sairmos? — pergunto, conferindo o relógio. —
Temos pouco mais de uma hora antes do almoço.
Os olhos do meu filho brilham e ele se levanta para buscar o console.
— Já quer ser derrotado logo cedo, coroa?
— Coroa é o seu…
— Pai! — Yuri me repreende segurando uma risada e eu acerto uma almofada em sua
cabeça, o que faz o menino gargalhar.
Quando ele me devolve a almofadada, é a minha vez de rir.
E aqui, ao lado do meu filho, deixo de ser um professor universitário de quarenta e dois
anos, eu me torno um moleque.
Em uma versão mais gostosa da minha vida.

Marina

Calço o tênis cor-de-rosa e tiro uma foto, enviando para minha amiga.
Eu: E este?
Sua resposta não demora dois minutos para chegar.
Carina: Eu gostei mais do azul.
Olho para o espelho à minha frente e preciso concordar. O modelo azul é muito mais
bonito.
Eu: Verdade, vou ficar com ele.
Agradeço a minha amiga e aceno para a vendedora da loja, chamando-a enquanto tiro dos
pés o par de tênis que acabei de experimentar.
Aproveitei que hoje é sábado para vir ao shopping comprar uns tênis novos, porque o
meu descolou o solado no final da aula de ontem. Como Carina está passando o final de semana
fora com a família, acabei precisando vir sozinha, mas dei um jeito de pedir a sua opinião a
distância.
— Vou levar este. — Aponto para o tênis azul de solado branco, logo que a vendedora se
aproxima de mim.
— Ótimo. Só este mesmo?
— Isso!
Acompanho-a até o caixa e faço o pagamento. Quando saio da loja, penso se há mais
alguma coisa de que preciso no shopping, mas acabo concluindo de que não.
Pensando que terei que almoçar sozinha de toda forma, decido ir até a praça de
alimentação para comer alguma coisa antes de voltar para casa. E logo que eu chego, procurando
por uma mesa para me sentar, tenho uma visão que faz o meu coração dar um salto.
Vestindo camisa gola polo clara e calça jeans, está Otto ao lado de um garoto. Estreito os
olhos para eles e penso se o menino é filho do meu professor, porque se parecem muito. De
cabelos loiros lisos e pele clara, o menino tem os olhos da mesma cor dos de Otto.
Se não for filho, é um sobrinho…
Fico sem saber se cumprimento ou se finjo que não vi, quando meu professor também
nota a minha presença e acena para mim, sorrindo um pouco tímido.
Vejo que o mini-Otto também me olha e, quando abre um sorriso, eu tenho certeza de que
é seu filho.
Tento controlar o coração acelerado enquanto caminho até eles.
— Oi, professor — falo e Otto faz uma careta para mim, tirando uma risada baixa.
— Oi, Marina.
Quando ele se inclina para encostar seu rosto ao meu em um cumprimento rápido, eu
sinto seu cheiro gostoso e tudo bagunça aqui dentro.
— Deixa eu te apresentar uma pessoa. Filho, essa é a Marina, uma aluna muito especial.
— A forma como ele fala, olhando para mim, me arrepia inteira.
— Muito prazer, Marina. Eu me chamo Yuri.
O garoto estende a mão para mim com um sorriso tão bonito que é impossível não se
apaixonar por ele.
— O prazer é todo meu, Yuri.
Olho para os dois e fico um pouco desconcertada por estar atrapalhando o momento pai e
filho. E ainda mais por pensar, se Otto tem um filho, significa que ele tem um relacionamento?
Não deveria ter, né?
Se ele ficou comigo aquela noite…
As engrenagens começam a se formar em minha cabeça e o loiro à minha frente parece
perceber, então trata de puxar um assunto.
— Está passeando aqui no shopping?
— Eu vim comprar um tênis. — Aponto para a sacola em minhas mãos. — E decidi parar
para almoçar antes de voltar para casa. E vocês?
— Também vamos almoçar aqui — é Yuri quem responde. — Porque temos uma sessão
às duas.
— Jura? E qual filme vocês vão ver?
— O novo do Jurassic Park.
— Nossa, que legal!
— Não quer ver com a gente? — Yuri chama e eu nego, tímida.
Realmente não tenho nada para fazer hoje, mas acho um pouco íntimo demais participar
de um programa que é só deles.
— Obrigada, mas tenho mesmo que ir para casa depois.
— Quer almoçar conosco então? — Otto convida e seu olhar é tão intenso que é
impossível negar.
E já que viemos até aqui com o mesmo objetivo…
— Claro, por que não?
O sorriso dos dois se amplia e logo nos embrenhamos pela praça de alimentação até
encontrarmos uma mesa disponível, onde nos sentamos.
— O que você quer almoçar, filho? — Otto pergunta e o garoto olha para os restaurantes
ao nosso redor, curioso.
— Pode ser McDonald’s? — Os olhos do menino brilham.
— Claro! Você mesmo faz o pedido?
Yuri faz que sim, Otto pega uma nota de cem na carteira e entrega a ele, que se levanta,
sumindo no meio da praça.
— E você, Marina? Já sabe o que vai querer?
— Acho que vou de massa — respondo, apontando para um restaurante italiano bem
próximo de nós.
Otto acompanha meu olhar e assente.
— Vou te acompanhar então.
Acenamos para o garçom, que anota nossos pedidos, e logo estamos mais uma vez
sozinhos.
— Seu filho é um menino muito bonito — elogio e Otto sorri. — Ele se parece com você.
— Quer dizer então que eu sou um cara bonito? — O loiro abre um sorriso tão sexy que
seria capaz de arruinar qualquer calcinha.
— Se não fosse, eu não teria me aproximado de você, professor. — Pisco para ele e seus
olhos faíscam.
Otto umedece os lábios devagar e eu engulo em seco.
Por que mesmo eu fui brincar com isso?
— A propósito, não sou mais casado — Otto diz e eu estreito os olhos para ele. —
Percebi o quanto ficou calada quando viu o Yuri e posso imaginar o que se passou pela sua
cabeça. Mas sou divorciado e hoje é um dos dias em que eu fico com meu filho.
— Ah…
Fico um pouco sem jeito, sem saber o que dizer, quando Yuri nos interrompe, voltando
com a bandeja com seu fast-food.
— Ainda tenho que buscar o sundae quando acabar de comer — ele anuncia, sentando-se
e beliscando uma batata. — Aceita, Mari? — O garoto me oferece as batatinhas fritas de um jeito
tão educado que eu apenas recuso com um sorriso.
— Mari? — Otto pergunta curioso e o menino dá de ombros.
— Tem uma garota da minha sala que também se chama Marina e todo mundo a chama
de Mari. Por isso eu pensei que…
— Eu adoro assim — interrompo-o e ele sorri satisfeito. — Inclusive até prefiro. Quando
me chamam pelo nome todo, parece que estão me dando bronca — confesso ao menino, que
solta uma risadinha.
Nossos pratos chegam e nós três começamos a comer enquanto jogamos conversa fora.
Yuri é um garoto bem espirituoso e adora conversar, deixando-me encantada por ele.
Consigo ver um pouquinho de Otto em cada gesto seu, em cada comentário alegre. E
também consigo ver o quanto o garoto foi bem educado. Pela idade, parece estar entrando na pré-
adolescência, mas isso não faz com que seja mimado ou irritante. Pelo contrário, o menino é um
doce.
— E como é ser aluna do meu pai? Ele é muito chato? — Yuri indaga e eu solto uma
risada ao notar a careta de Otto.
— Seu pai é ótimo professor — respondo, bebendo um gole da minha Coca. — Ensina
Filosofia de um jeito muito leve, que faz a gente querer prestar atenção em toda a sua aula —
digo, sincera, e observo Otto me encarar daquele jeito intenso.
Yuri parece gostar da minha resposta, porque sorri antes de dar uma mordida no
hambúrguer.
— Eu ia gostar de ter aula com ele um dia — revela. — Mas só se eu estudar na mesma
faculdade que você, né? Como ele tem doutorado, duvido que dará aula para o ensino médio…
E a informação me surpreende.
Viro-me para Otto, que apenas me olha tímido, dando de ombros, como se isso fosse
coisa pouca.
Mas ele é um doutor.
Nossa…
Eu sabia que professores universitários precisavam ter especialização em suas áreas, mas
nunca imaginei que Otto tivesse ido tão longe assim. Principalmente porque nunca falou em
nossas aulas que é doutor em Filosofia. Ao contrário dos outros professores, que fizeram questão
de recitar todos os diplomas logo no primeiro dia de aula, ele simplesmente se apresentou como
nosso professor.
E agora, sabendo disso, eu só consigo admirá-lo ainda mais.
Esse homem é ainda mais interessante do que eu imaginava…
Mais inteligente…
— Mas, se quiser cursar Engenharia Aeroespacial mesmo, será impossível ficar por aqui
— o pai dele pontua.
— Esse é o curso que quer fazer? — pergunto ao menino e seus olhos brilham.
— Sim! Não sei se vou conseguir passar no exame, mas é o meu sonho…
— Claro que consegue — Otto o interrompe. — Só dedicar aos estudos desde agora
como tem feito e consegue ingressar na universidade que quiser.
— Isso é verdade — concordo de pronto. — Mas me conta, o que um engenheiro
aeroespacial faz? — pergunto curiosa.
Yuri termina o seu lanche e puxa o refrigerante pelo canudo antes de me responder.
— É basicamente construir, inspecionar e projetar veículos espaciais. Como satélites,
foguetes, helicópteros, aviões…
— Meu Deus, isso é incrível! — fico empolgada e Yuri se remexe na cadeira, jogando a
franja de lado.
— E é mesmo! Sou apaixonado por tudo relacionado ao espaço.
— Nossa, adorei! Aposto que vai matar esse pai de orgulho. — Pisco para Otto, que sorri,
assentindo. — Eu também curso Engenharia, não é tão chique quanto a sua, mas pretendo atuar
na área de construção civil…
— Jura? Eu acho fantástico!
Então nós dois engatamos em uma conversa animada e vejo que o professor nos
acompanha, apenas pontuando algumas coisas. Em seus olhos, vejo o quanto está feliz por esse
momento.
Quando chega a hora da sessão deles, já terminamos de almoçar e caminhamos para fora
da praça de alimentação.
— Foi um prazer encontrar vocês, mas preciso ir. — Aponto para a saída do shopping. —
Obrigada pela companhia no almoço, rapazes. Bom filme, Yuri!
— Obrigado, Mari. A gente se vê por aí.
Aceno para o garoto, que caminha até o quiosque de sorvete a fim de buscar o seu sundae
e Otto vem em minha direção, com as mãos no bolso.
— Yuri adorou você.
— E eu então? Ele é muito fofo, Otto. Preciso te parabenizar pela educação dele, seu
filho é incrível.
O loiro me abre um sorriso orgulhoso.
— Obrigado, Mari.
Ouvi-lo me chamar assim faz meu coração dar um salto aqui dentro.
E a proximidade…
Seu cheiro me invade mais uma vez e eu engulo em seco.
— Foi um almoço muito gostoso, obrigada por isso.
Ouvimos a voz de Yuri de longe e sabemos que já é hora de ir.
— Bom… Até segunda? — Ele sorri de lado.
— Até segunda, professor — respondo, sentindo o meu coração disparar aqui dentro.
Otto me surpreende se aproximando mais e beijando o meu rosto de um jeito carinhoso.
Fecho os olhos ao sentir seus lábios quentes em minha pele, prendendo a respiração por
uma fração de segundos.
Esse contato, tão delicado, me desarma inteira.
Reabro os olhos quando ele se afasta e pisco algumas vezes, vendo-o acenar para mim e
se afastar, indo ao encontro de seu filho. Ao longe, vejo Yuri acenar também, despedindo-se, e
eu retribuo.
Fico parada por um momento, no corredor do shopping, tentando entender tudo o que
aconteceu por aqui.
Já era difícil ser imune a esse homem conhecendo-o na faculdade. E agora, conhecendo o
seu lado fora da sala de aula, sendo pai e amigo de um pré-adolescente, me bagunça ainda mais.
Ah, Otto…
Por que tão incrível?
CAPÍTULO 7 - Otto

— E como você está, filho?


Sentando-se ao meu lado na escada de sua varanda, minha mãe me pergunta, enquanto
vemos Yuri jogar basquete com seus primos no quintal. Hoje foi um dos tradicionais almoços de
domingo na família Ottoni e eu cheguei cedo aqui com meu garoto. Por mais que eu não tenha
irmãos, minha mãe sempre faz questão de chamar os seus e lotar essa casa de parentes.
— Estou seguindo — respondo a ela sincero.
Dona Regina toca o meu joelho e o movimento me faz olhar seu rosto sereno.
— Eu odeio que aquela víbora tenha machucado você.
Balanço a cabeça, rindo fraco.
Minha mãe, como todos desta família, odeia Renata. E sei que eles têm motivo de sobra
para isso. Ela realmente não foi das melhores comigo.
— Já superei isso, mãe — minto e ela estreita os olhos para mim.
Ainda me machuca saber que fui trocado com tanta facilidade, mas não é isso que me dói
mais.
— O pior disso tudo é não ter Yuri comigo todos os dias.
Isso sim, rasga a minha alma.
— Ele podia ficar com você — afirma e eu comprimo os lábios devagar.
— Não quero forçar nada, se Yuri sentir vontade de vir morar comigo, farei de tudo para
dar certo. Mas ainda é tudo muito novo, não quero atropelar as coisas e travar uma guerra contra
Renata. No fim, o único que vai sofrer será ele, e eu não quero isso.
Eu poderia brigar com Renata na Justiça? Poderia. Mas não é isso que eu quero. Meu
filho só tem doze anos e tem que lidar com a separação dos pais, além de frequentar duas casas e
dividir seu tempo com eles. Quanto menos estressante for para ele, melhor, então não quis tirá-lo
de sua rotina. Se Yuri não se adaptar assim e quiser vir ficar comigo, minha casa sempre estará
de portas abertas para ele. Mas quero que isso seja o seu desejo, e não uma obrigação. Não quero
meu filho infeliz por viver ao meu lado.
A mulher de cabelos grisalhos me olha pensativa antes de assentir.
— Sempre muito sensato. — Seu sorriso é terno agora. — Me orgulho muito de você,
Ulisses. E me preocupo que seja tão sozinho…
De todas as pessoas do mundo a me chamarem pelo meu primeiro nome, a única que eu
não me importo é a minha mãe. A forma como ela me aborda é sempre tão carinhosa, que fica
impossível desgostar vindo dos lábios dela.
— Está tudo bem, mãe. Já não estou tão novo mais, acho melhor que fique sozinho
mesmo…
— Ah, não, senhor! Quarenta e dois anos é velho, onde? — ela me repreende e eu solto
uma risada baixa. — Você ainda tem muito pela frente, querido. Tenho certeza de que, na hora
certa, vai aparecer alguém legal para você. Nesses últimos meses sozinho, ninguém lhe despertou
interesse?
Desvio os olhos para o chão e engulo em seco.
Se despertou?
Claro que despertou…
Mas infelizmente é alguém que não posso ter.
E, ainda que pudesse, não seria nada prudente insistir nisso.
Marina tem apenas vinte anos, eu tenho mais que o dobro da sua idade, não deveria nunca
querer alguém como ela.
O problema é que eu quero.
Mesmo sabendo que isso é tão errado.
Quando a vi no primeiro dia de aula, pensei que pudéssemos seguir nossa vida fingindo
que aquela noite na boate nunca existiu. Mas a cada dia que passa, a cada aula, a cada esbarrão
com ela pela universidade, comprovo o contrário. Só de sentir seu cheiro, sou transportado para
aquele dia e as lembranças ainda estão vivas em minha mente.
Inferno.
— Não — minto mais uma vez. — Não tenho tempo para isso.
— Ah, querido… Saia um pouco, se divirta, faça algo além de trabalhar e se dedicar ao
seu filho. Você também merece isso.
Faço que sim em silêncio, evitando responder.
As pessoas ao meu redor estão sempre me incentivando a sair, me divertir e fazer coisas
as quais não estou a fim. Trabalhar e cuidar do meu filho é tudo o que mais amo fazer e, no
momento, isso basta para mim.
Quando começa a anoitecer, chamo Yuri para ir embora e me despeço de minha mãe para
irmos para casa. Hoje ela mora sozinha em uma casa bem espaçosa em um bairro tranquilo, mas
seu lar nunca está vazio. Minha mãe vive cercada de amigos, familiares e vizinhos, sendo uma
pessoa extremamente sociável, o verdadeiro oposto de mim.
— Vou tomar um banho agora — Yuri anuncia, logo que entramos no apartamento. —
Estou todo suado.
— Vou aproveitar para ir também. Topa uma pizza mais tarde? — ofereço e os olhos do
garoto brilham.
— Você é o melhor, pai.
Yuri sorri e passa, indo ao seu quarto. Eu fico parado, sentindo o meu coração se aquecer
aqui dentro.
Eu amo esse garoto, amo mais do que a mim mesmo e me esforço todos os dias para ser o
melhor para ele. Então, todas as vezes que ouço algo assim a seu respeito, mesmo que não seja
tão incomum eu sinto uma paz absurda dentro de mim.
Dirijo-me ao meu quarto, onde me dispo e vou até a suíte tomar um banho gelado. A
água relaxa o meu corpo e, quando saio, visto uma camiseta e bermuda para voltar para a sala.
Lá, Yuri já espera por mim com a TV ligada. O garoto magrelo está apenas de bermuda, sem
camisa, enquanto zapeia por alguns canais.
— Topa um filme de terror? — pergunta empolgado e eu faço uma careta me jogando ao
lado dele.
— Qual a graça disso mesmo? — resmungo e ele ri.
— Você é tão medroso — debocha.
— O respeito você fez o que com ele mesmo? — brinco e Yuri gargalha mais.
— Vamos, pai… Um filme bem sanguinário, tipo O massacre da serra elétrica ou Jogos
mortais.
— Jogos Mortais não tem uns duzentos?
— Tem um novo que saiu agora… Ah! Já sei! Pânico VI!
— Pânico é velho, hein? Você nem era nascido…
— Mas filme bom é antigo mesmo. Eu já assisti aos outros lá em casa, faltava só esse.
Bora?
Balanço a cabeça concordando, porque sei que esse filme vai mais me fazer rir do que ter
medo.
— Fechado! A pizza eu já posso pedir agora?
— Pode, quero de calabresa!
Enquanto Yuri prepara o filme, eu faço o pedido pelo aplicativo e apago a luz da sala,
antes de voltar para o sofá.
Quando o filme começa, Yuri deita a cabeça na almofada ao meu lado e eu não resisto em
fazer um carinho em seus cabelos.
Meu filho não se opõe e, gargalhando juntos quando os assassinatos do filme começam,
eu me permito viver este momento tão próximo dele, tão íntimo e tão gostoso.
Aqui, eu mato a saudade dele e aproveito ao máximo.
Porque amanhã, ao deixá-lo na escola pela manhã, deixarei meu coração junto.
Até o próximo final de semana.
CAPÍTULO 8 - Marina

Reunida aos outros alunos envolvidos no projeto de pesquisa científica, eu me sinto


extremamente empolgada para começar os trabalhos.
Ainda nem acredito que está mesmo acontecendo.
Como decidido em grupo, vamos trabalhar com o grafeno, um nanomaterial muito
potente. Dez vezes mais forte que o aço e mais fino que um papel, o grafeno é riquíssimo para a
construção civil, composto apenas de carbono, em que os átomos se ligam formando estruturas
hexagonais.
Ele é incrível e eu não vejo a hora de colocarmos a mão na massa. Se o nosso projeto for
aprovado, vamos trabalhar na aplicabilidade dele em concreto, que é muito mais resistente e
sustentável.
Conferir todo o nosso esboço faz meus olhos brilharem.
Temos um longo caminho pela frente, estou muito empolgada com o que está por vir. E
pensar nisso me faz lembrar de Otto e no empurrãozinho que ele deu para que eu fosse escolhida
para o projeto.
Ele não faz ideia do bem que me fez.
Quando ingressei na universidade, consegui uma bolsa de estudos de metade da
mensalidade e o restante seria custeado pela minha avó. Mas agora, com essa pesquisa, eu
consegui um auxílio da outra parte da mensalidade, aliviando o lado de vó Manoela. Meu
próximo passo é conseguir um estágio na minha área para reduzir ainda mais os seus custos
comigo até que eu não dependa dela mais.
Como não tenho o apoio dos meus pais, minha avó acabou assumindo a responsabilidade
de arcar com os meus estudos e eu nunca serei grata o bastante por isso. Mas não quero que seja
assim para sempre, por isso darei o meu melhor para conseguir assumir minhas próprias contas.
Saindo do laboratório do campus, sinto o vento bater em meus cabelos e fecho os olhos
por um instante, absorvendo a energia boa deste lugar. Para o encontro do projeto, vim à
universidade pela manhã e, saindo daqui, vou direto à autoescola para minhas aulas de
legislação, antes de voltar para casa.
É muita coisa para administrar, mas eu acho isso ótimo. Vim aqui para me dedicar cem
por cento aos estudos e todo tempo livre deve ser bem aproveitado. Quero me formar com honras
e estou trabalhando diariamente nisso.
Pego o ônibus para a autoescola e, chegando ao meu destino, mergulho em mais algumas
horas de estudo. Em breve passarei pelo primeiro exame para só então começar as aulas de
direção e estou bastante empolgada para isso. Quero aproveitar meu tempo livre para tirar a
carteira de habilitação, pois sei que, quando começar a trabalhar, ficará tudo mais difícil para
mim.
Ao terminar, volto para casa e encontro Carina estudando na cozinha, com diversos livros
espalhados pela mesa.
— Matéria difícil? — pergunto ao passar por ela e pegar um copo de água para beber.
— Muito! E o professor é bem chato, adora pegar no nosso pé, sabe?
— Ô, se sei… Nem todos são como professor Ottoni. — Suspiro, puxando uma cadeira
para me sentar à sua frente, e ela sorri.
— Vocês não se pegaram mais, né?
— E nem vamos.
Pensar nisso me faz estremecer, e nem é de um jeito bom…
— Acho muito triste que ele seja tão bonito e cheiroso — reclamo e ela ri.
— Que azar, hein, amiga? Nem para o cara ser um policial, médico, motorista de
ônibus…
— Motorista de ônibus? — Arqueio a sobrancelha para ela, que ri mais.
— Eu só chutei algumas profissões. — Dá de ombros.
— Ele poderia ser professor mesmo, Cá. Era só dar aula em outra universidade.
Pensar nisso me faz suspirar mais uma vez.
Dentre todos os lugares do mundo onde Otto poderia trabalhar, tinha que ser logo onde eu
estudo?
— Ou se ele fosse um professor chato, arrogante, insuportável… Mas não, é maravilhoso.
Atencioso e gentil. E ainda me ajudou no projeto de pesquisa…
Ah, Otto.
Você dificulta tanto a minha vida.
— Amiga, uma curiosidade. — Carina se inclina sobre a mesa, apoiando os braços nos
livros. — Em outras circunstâncias, você se relacionaria mesmo com ele? Tipo, mesmo ele tendo
o dobro da sua idade?
Paro para pensar por um instante e engulo em seco.
Não sei bem como responder a isso.
Eu, com certeza, transaria com ele de novo, mas, um relacionamento sério?
Não sei…
Estou focada demais nos estudos agora, não sei se há espaço para isso.
Mas que ele é interessante, disso não me resta dúvidas…
— Confesso que nunca me imaginei namorando um cara mais velho assim, mas Otto é
diferente, sabe? Ele é um homem muito interessante, bem diferente dos caras com que eu
costumo me envolver.
Carina me abre um sorriso atrevido e eu balanço a cabeça.
— Mas não vim aqui para isso, amiga. Vim para me focar nos estudos e não tem espaço
para isso. Além do mais, Otto nunca poderá ser nada meu, então não posso nem ficar pensando
nisso.
— Está certa… Foi só um pensamento que me veio mesmo.
Assinto e bebo mais um pouco de água.
— Mas que, se eu pudesse ter mais uma dose daquele homem, eu teria — confesso e
minha amiga gargalha.
— Não foi você quem disse que não pode ficar pensando nisso?
— Ai, Cá… Juro que tento, mas, toda vez que ele chega perto de mim todo cheiroso, eu
me lembro daquele dia… Que pegada, meu Deus. — Faço um gesto de abano e ela ri mais. —
Ele podia ter me comido mal… Eu teria esquecido tão mais rápido.
— Isso porque já tem mais de mês, né?
— Mas, amiga… Você não sabe o que eu vivi, senão me entenderia.
Se eu fechar os olhos, sou transportada para aquela cabine de banheiro e em tudo o que
aquele homem me fez sentir…
Eita, porra…
Preciso parar de pensar nisso, caso contrário, ficarei maluca.
— Agora vamos parar de falar mesmo sobre isso. Ele é só meu professor de Filosofia,
nada mais.
Levanto-me da cadeira e encho meu copo de água mais uma vez.
— Está certa, Mari. É melhor esquecer isso, para não te causar problemas.
Assinto e abro a geladeira para pegar um cacho de uvas.
— Vai sair hoje à noite? — pergunto e ela nega.
— Ficou doida? Preciso dar conta dessa matéria hoje, a prova é amanhã cedo, tenho nem
hora para largar esses livros.
— Certo. Vou só tomar um banho e te acompanhar nos estudos, mais tarde vamos pedir
uma pizza?
— Sim, mil vezes sim! Um pouco de bacon gorduroso vai me fazer tão bem… —
murmura parecendo desesperada e eu rio.
— Combinado!
Vou até o banheiro e tomo um banho quente, indo ao meu quarto para vestir uma roupa
leve. Pego meus cadernos e livros, mas, antes de voltar para a cozinha, abro o celular para
conferir o portal do aluno.
Confiro minha nota da prova de Filosofia e, quando vejo a nota máxima, sorrio sozinha.
Incrível como uma matéria que nunca me despertou interesse é ensinada tão bem por Otto
que passou a ter todo o meu respeito e admiração. Tanto que passo horas mergulhada em leituras
sobre a matéria e nem vejo o tempo passar.
E isso só me faz pensar no quanto ele é incrível no que faz.
Otto, com sua disciplina, me faz questionar mais sobre a minha própria vida e minhas
escolhas, levando-me a reflexões muito pertinentes.
Certeza que, ao final deste semestre, sairei uma pessoa melhor.
E pensar nisso me faz suspirar.
Quando o semestre acabar, não o verei mais nas aulas e isso me causa um pequeno aperto
no peito, porque sei que sentirei sua falta.
Droga.
Não deveria ser assim…
Eu não deveria pensar assim…
Mas quem disse que eu consigo?
CAPÍTULO 9 - Otto

— Eu posso levar o projeto para a sua casa, pai? — Yuri me pergunta pelo telefone
enquanto eu cruzo o caminho do campus em direção ao estacionamento.
Já encerrei a última aula e, logo que saí da sala, vi a mensagem do meu filho pedindo
para ligar quando eu saísse.
— E desde quando precisa me perguntar uma coisa dessas? — indago, como se fosse
óbvio.
Yuri recebeu um trabalho para fazer em casa, uma maquete de uma cidade, e está
bastante empolgado para fazê-lo.
— Vai ser demorado, mas podemos fazer um pouco a cada final de semana. Deixamos
no meu quarto guardado enquanto isso. Eu prefiro fazer com você do que aqui em casa.
E ouvi-lo falar assim faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Claro, filho. Vai ser divertido. Já tem uma ideia do que quer fazer?
E durante o trajeto até o meu carro, Yuri não para de me contar sobre tudo o que pensou
em fazer. Escola, hospital, shopping, padaria, supermercado, sua minicidade terá de tudo,
inclusive ponte sobre um rio.
— Podemos fazer um aeroporto também — completo e ouço sua empolgação do outro
lado.
— Verdade! Podemos comprar aviões de miniatura, né?
— Claro! Conseguimos colocar até uma linha férrea.
— Pai, isso é muito maneiro! Putz… Vai ficar incrível!
A voz empolgada dele é tudo para deixar o meu dia mais feliz.
— Perfeito. Me manda a lista dos materiais que você precisa para começar, que eu passo
no shopping amanhã para comprar tudo.
— Eu posso ir com você? Me busca na escola, podemos ir juntos ao shopping e almoçar
por lá mesmo…
Solto um suspiro alto.
— Vou ter que ver com sua mãe.
Sei que isso não atrapalharia em nada a vida de Renata, mas, como ela adora me
contrariar por pura implicância, não duvido nada de que colocará empecilho.
— Tá bom — sua voz desanimada me encoraja ainda mais.
— Já vou ligar e resolver isso. Ela está aí com você?
— Está, sim. Quer que eu passe o telefone para ela?
— Por favor!
— Tá.
Ouço som do Yuri conversando pela casa até a voz irritante surgir do outro lado.
— O que foi, Ulisses?
— Amanhã vou buscar o Yuri na escola para almoçar comigo e vamos ao shopping
comprar…
— Amanhã não é seu dia de ficar com ele — ela me corta com a voz amarga.
— Eu sei que não. Mas ele tem um trabalho de escola para fazer comigo no final de
semana e precisamos comprar os materiais.
— Ele não precisa ir com você para isso.
Não falei?
Filha da puta.
— Eu sei que não, Renata. Mas foi ele que me pediu para ir junto. Eu vou te poupar de
buscá-lo na escola amanhã, o que custa você liberar isso?
Chegando próximo ao meu carro, abro a porta e me jogo lá dentro. Solto um suspiro ao
ver os primeiros pingos de chuva caírem sobre o retrovisor e penso na sorte por ter entrado a
tempo.
— E por que ele vai fazer com você? Pode muito bem fazer aqui…
— É sério mesmo que quer fazer uma maquete com um adolescente, Renata? E está
disposta a gastar com isso? Porque duvido que custe menos do que mil reais todo o projeto
dele…
Jogo baixo, porque sempre funciona.
Quando dinheiro entra em jogo, essa mulher muda rapidinho de postura.
Sua bufada do outro lado me dá a resposta de que preciso.
— Traga-o de volta antes de ir para a universidade — avisa e eu reviro os olhos sozinho.
— Sempre faço isso.
Ouço a voz de fundo e sei que ela está indo devolver o celular para Yuri. Enquanto isso, a
chuva engrossa lá fora e, mesmo parado, eu ligo o carro para desembaçar o vidro.
— Deu certo, pai? — a voz de Yuri reaparece e eu sorrio.
— Deu. Amanhã te busco na aula e vamos direto para o shopping, ok?
— Beleza! Vou já montar a lista com as ideias e amanhã te mostro.
— Combinado.
— Valeu, pai. Vai ficar muito massa o projeto.
— Eu sei que vai. Vamos montar a cidade mais bonita. Agora eu preciso voltar para casa,
está uma chuva forte por aqui.
— Tá certo. Boa noite, pai.
— Boa noite, filho.
Despeço-me dele e desligo o telefone, jogando o aparelho no painel à minha frente. Ligo
o carro e coloco o limpador de para-brisa em velocidade máxima, dirigindo devagar pelo campus
em direção à saída. Estou prestes a passar pelo portão, quando uma imagem me chama a
atenção…
Será que é ela?
Avanço em sua direção e, quando estou mais perto, tenho a certeza. Debaixo do telhado
da guarita está Marina, abraçando sua mochila e olhando aflita para a chuva, que cai impiedosa à
sua frente.
Buzino e abaixo o vidro para que ela me veja e, quando me reconhece, ela me olha
esperançosa.
— Quer uma carona para casa? — ofereço e a garota sorri, assentindo depressa.
Destravo a porta do carro e ela entra rápido, acomodando-se ao meu lado. Alguns pingos
de chuva escorrem pelo seu braço e vejo que abraça o corpo, secando-os.
— Ai, professor. Muito obrigada! Eu não moro longe, mas estava aqui preocupada, como
iria para casa debaixo dessa chuva?
— E caiu de uma hora para outra, né? — comento enquanto saímos do campus.
— Sim! Eu não estava preparada para isso, senão teria trazido a minha sombrinha.
— Quer me dizer o caminho? — peço e Marina faz que sim, sinalizando para onde devo
seguir. — Por pouco você não me encontra, porque eu geralmente saio mais cedo. Mas parei
para atender a uma ligação de Yuri e acabei me atrasando.
— Ele está bem? — a morena me pergunta e eu sorrio, assentindo.
— Está ótimo. Queria me contar sobre um trabalho que precisa fazer e quer a minha
ajuda.
— E ninguém melhor do que um pai professor, né? — murmura e eu sorrio de lado.
— Além do mais, Renata não tem muita paciência para isso, então sempre sobra para
mim. O que eu acho ótimo, ela não sabe o que está perdendo.
Dou de ombros e Marina assente, apontando pela janela o seu prédio.
— É aqui que você mora? — pergunto e ela confirma.
— Eu divido um apartamento com uma amiga que também estuda na universidade.
Escolhemos aqui pela facilidade de acesso mesmo.
— É bem perto mesmo — constato.
Marina meneia a cabeça de leve e me encara por um instante em silêncio. Ela sabe que
precisa descer, já chegamos ao nosso destino, mas algo parece impedi-la de sair daqui.
É como se um fio magnético nos mantivesse presos aqui…
De repente o clima fica mais quente, o ar parece pesado, só de estarmos dentro do carro,
nos encarando dentro dos olhos.
Tão próximos e, ao mesmo tempo, tão longe…
— Eu… — A garota raspa a garganta e pisca os olhos demoradamente para mim. — Eu
preciso ir…
Assinto sem tirar os olhos dela e desço para os seus lábios, que estão umedecidos agora.
Tão convidativos.
Tão…
— Obrigada pela carona, Otto — a voz doce queima a minha garganta.
Assinto de leve e a vejo se inclinar em minha direção.
— Você me salvou…
Ela está tão próxima agora, que eu quase sinto a sua respiração em minha pele.
— Não foi nada, Marina — minha voz sai um sussurro e ela acena, fraquinho.
Quando a morena se inclina um pouco mais e beija o meu rosto, eu aperto os olhos por
um instante. O seu calor em minha pele me causa um arrepio e a umidade fica quando ela se
afasta.
Caralho…
— Boa noite, professor — murmura ao se afastar e isso é tudo que eu preciso para
recobrar o juízo.
Professor, Otto…
Você é o professor dela.
Pro-fes-sor.
Não fode.
— Boa noite, Marina.
A garota acena antes de abrir a maçaneta e saltar do veículo, correndo até a porta do
prédio para não pegar chuva.
Aqui, parado, observo-a entrar e só quando está em segurança é que eu arranco o carro,
pegando as ruas da cidade.
Durante o trajeto para casa, não paro de pensar no quanto essa garota mexe comigo.
E no quanto é errado que ela mexa assim.
Por Deus, eu não posso desejá-la, não posso…
Cacete.
Onde isso vai parar?
CAPÍTULO 10 - Marina

— Ai, amiga, uma pena eu não poder ir com você a esse evento hoje… — Carina
lamenta, do outro lado da linha.
Em viva-voz, deixo o celular em cima da cama enquanto me arrumo para sair.
— Você precisa estar com sua família, Cá. Não se preocupe! Eu vou ficar bem.
Termino de fechar o zíper lateral do meu vestido e ajeito os seios no decote, gostando da
visão que eu tenho. Hoje haverá um evento beneficente promovido pela universidade, em um
parque municipal. Terá música ao vivo e várias barracas com quitutes. Confesso que preferia
ficar em casa estudando, mas Carina me convenceu a ir. Além do mais, várias pessoas da minha
sala vão e, pelos comentários que ouvi, deve ser muito boa a festa.
— Aproveite por mim, Mari. E não perca a chance de pegar algum gatinho.
Solto uma risada de seu comentário e pego um batom rosa-pink para passar nos lábios.
Ajeito os cabelos e sorrio ao ver a imagem diante de mim. Borrifo meu perfume favorito e busco
a bolsinha preta, pegando o celular na cama.
— Vou chamar um Uber agora, Cá.
— Divirta-se, amiga! E, quando eu voltar, me conte todos os detalhes.
— Pode deixar!
— E manda uma foto do seu look, quero saber se está gatíssima.
Rio de sua expressão e me despeço dela, fazendo uma foto no espelho e lhe enviando.
Carina: Mas é gostosa essa minha amiga… Não saia de lá sem pegar ninguém, ok?
Eu: Vou tentar… Tchau, amiga!
Saio do apartamento e desço pelo elevador, já abrindo o aplicativo e procurando por um
motorista. Durante esse tempo, não deixo de pensar no que ela disse e no quanto eu queria
alguém que eu não posso ter…
Suspiro.
Nessas horas queria tanto que Otto não fosse o meu professor.
Mas, ao mesmo tempo, penso que, se eu não o encontrasse na universidade, não teria a
oportunidade de conhecê-lo melhor, de saber mais sobre ele.
Acho que as coisas têm que ser mesmo como são.
Preciso continuar mantendo nosso relacionamento o mais profissional possível e tirar
esse professor da cabeça. Isso não vai a lugar nenhum e eu vou ficar maluca nesse processo.
Balanço a cabeça sozinha, tentando tirar esses pensamentos de dentro de mim, quando o
meu carro chega.
Eu me jogo no banco traseiro e suspiro, olhando pela janela.
Essa noite quero me divertir.
Espero mesmo encontrar alguém legal na festa e seguir os conselhos de Carina.

— Acho que vou pegar uma bebida — falo para Bruna, uma colega de sala que encontrei
logo que cheguei aqui.
— Aquela barraca vermelha é a do caixa — ela diz alto e aponta para uma tenda um
pouco afastada de nós.
Assinto e ando pelo parque, vendo alguns rostos conhecidos pelo caminho, professores,
alunos e até parceiros do projeto de pesquisa. A festa está mesmo muito bonita. Como Carina me
contou, todo ano a universidade realiza esse evento para angariar fundos para entidades e este
ano a escolhida foi um lar de crianças abandonadas. Achei linda a iniciativa e foi assim que
minha amiga me convenceu a vir, por ser uma forma de ajudar estas crianças.
Quando estou chegando no caixa, abro a minha bolsa e pego o meu cartão, entrando na
fila. Ao chegar a minha vez de ser atendida, não deixo de sorrir e sentir o meu coração dar um
salto aqui dentro.
— Marina? — a voz grossa me arrepia inteira.
— Otto! — cumprimento-o, e ele abre um sorriso lindo para mim. — Você por aqui?
— Todo ano eu trabalho como voluntário neste evento — justifica, fazendo-me admirá-lo
ainda mais. — Mas desta vez me colocaram no caixa, acredita? Tanto professor de exatas e me
colocaram logo para dar trocos.
A careta de Otto é impagável.
— Vou te ajudar então comprando no cartão de crédito. — Estendo para ele, que sorri. —
Quero uma ficha de drinque.
— Só essa? Não quer aproveitar e já pegar mais uma?
A ideia é boa, mas eu nego, sorrindo.
— Não. Eu volto depois e te encontro mais uma vez.
Pisco para ele, que balança a cabeça, sorrindo de lado para mim.
O que foi que eu disse sobre tirá-lo da minha cabeça mesmo?
Pois é…
Eu sou uma piada!
Mas, todas as vezes que eu chego perto dele, esqueço tudo. Quem sou, quem somos um
para o outro…
Eu só…
Só quero ficar mais perto dele.
Embora isso seja uma tremenda loucura.
— Aqui.
Otto me entrega a ficha, eu aproximo o cartão na máquina e, quando apita, eu sorrio,
guardando-o de volta na bolsa.
— Obrigada, professor. Até daqui a pouco.
Pisco mais uma vez e ele sorri, acenando para mim.
— Até, Marina.
Meu coração ainda está acelerado quando me afasto e vou até a barraca de bebidas,
pedindo uma piña colada. Pego minha bebida e volto ao encontro das minhas colegas de sala,
mas mal presto atenção no assunto delas. Meu pensamento sempre vai ao encontro do professor
da barraca do caixa, que, como de costume, está perfeitamente vestido. Ainda que eu não o tenha
visto de corpo inteiro, pude notar a camisa social em tom claro ajustada ao corpo magro, os
cabelos penteados de forma impecável e a barba feita. Otto não precisa de muito esforço para ser
bonito e os olhos azuis vibrantes são a prova viva disso.
Termino de beber o meu drinque e penso em pegar algo para comer. Sorrio sozinha ao
fazer o trajeto de volta para o caixa e, quando chega a minha vez, é Otto quem sorri.
— Já voltou?
— Agora eu quero um espetinho de churrasco e mais um drinque — peço e ele acena,
buscando as fichas na caixa.
Ao seu lado, está um outro professor que eu já vi pelo campus, mas não o conheço tão
bem.
— Você vai ficar a noite toda aqui? — pergunto enquanto estendo o meu cartão para a
máquina.
— Não, daqui a meia hora acaba o meu turno. Dividimos em dois horários para não ficar
pesado. Eu estou aqui desde cedo, não aguento ficar até o fim do evento.
— Ah, imagino! Então daqui a pouco eu te encontro por aí?
Deixo o convite no ar e Otto sorri, balançando a cabeça.
— Claro.
— Obrigada, professor.
Sorrio para ele e me despeço, pegando as fichas para sair. Vou direto para as
barraquinhas e compro tudo, sentindo o meu coração bater ainda mais forte. Dessa vez não volto
ao encontro das minhas colegas, e sim dou uma volta pelo parque, vendo todas as barracas,
conhecendo a estrutura do evento por inteiro. É muito bonito tudo o que a universidade
organizou e, depois de dar o meu pequeno tour, paro de frente para o palco, onde uma banda de
pop rock vai começar a tocar.
Eu me animo e busco mais uma bebida, mas desta vez não encontro Otto no caixa, então
penso que já trocou o seu turno. Meu coração dá mais um salto por saber que devo encontrá-lo
aqui fora, então procuro-o com o olhar, mas o lugar está bem cheio.
Volto para próximo ao palco e puxo minha bebida pelo canudinho até sentir um cheiro
familiar surgir atrás de mim.
Sorrio sozinha e não preciso me virar para saber quem é.
— Já acabou seu turno? — pergunto, sem tirar os olhos do palco.
— Graças a Deus, sim. Chega de colocar um professor de humanas para fazer contas —
Otto resmunga e eu rio, finalmente me virando para ele.
— É por uma boa causa, professor.
— E é exatamente por isso que eu aceitei.
Vejo-o virar um gole na latinha de Coca-Cola e a forma como seu pomo de adão se
movimenta me faz engolir em seco.
Eu deveria achar isso sexy?
Porque, nossa…
Eu acho.
— Refrigerante hoje? — pergunto, apontando para a latinha.
— Estou dirigindo. Não misturo bebida com volante.
Sorrio por pensar que isso é exatamente algo que Otto faria.
— Há algo que você faz de errado? — brinco e ele arqueia a sobrancelha para mim. —
Você é sempre tão centrado, tão sensato… Há algo que você esconde, professor?
O loiro estreita os olhos para mim e umedece os lábios devagar, em um gesto absurdo de
sexy, antes de beber mais um gole de seu refrigerante.
— Otto não é o meu nome — revela e eu reviro os olhos para ele.
— Eu sei disso. É Ottoni.
Mas ele nega de pronto, fazendo-me franzir o cenho.
— Errado. Ottoni é meu sobrenome. Eu me chamo Ulisses.
E essa informação, sim, me surpreende.
Viro o corpo todo para olhá-lo de frente, procurando alguma sombra de dúvida em seu
semblante, e não encontro.
— É sério?
O professor assente de pronto.
— Mas por que o esconde? Ulisses é um nome bonito — declaro e ele faz uma careta
para mim.
— Quer sair daqui para eu te contar a história? — sugere logo que a banda começa a
cantar uma música bem alta.
Aquiesço e caminhamos pelas pessoas até encontrarmos um banco de madeira no parque,
em um lugar mais afastado. Aqui está parcialmente escuro e estamos sozinhos. A sua
proximidade ao se sentar ao meu lado me causa um arrepio.
— E então? — pergunto, cruzando as pernas, e o movimento involuntariamente faz a
barra do meu vestido subir.
Otto desce os olhos para as minhas coxas e se demora demais nelas, fazendo-me engolir
em seco e sentir um incômodo aqui dentro. Principalmente porque ele não disfarça, pelo
contrário…
Parece fazer questão de deixar claro que está secando as minhas pernas.
Ai, caralho…
Quando seus olhos voltam a encontrar os meus, vejo que estão brilhando em uma
intensidade absurda.
Meu professor umedece os lábios devagar e abre um sorriso discreto, fazendo meu
coração disparar aqui dentro.
— Lembra daquele nosso encontro na cafeteria? Quando conversamos sobre a minha
escolha da filosofia? — sua voz rouca chega a ser um pecado.
— Le-lembro — gaguejo e ele sorri mais.
— Eu comentei sobre meu avô, que era alguém que minha família tinha como
referência…
— Sim! Eu me lembro disso.
— Pois então, ele se chamava Ulisses.
— Ah…
— Quando eu era criança, adorava ser chamado assim. Porque o achava incrível. Mas
quando cheguei à adolescência que fui entendendo o que acontecia, passei a tomar pavor desse
nome.
— Ele era tão ruim assim?
— Fazia minha avó sofrer. Isso já era motivo de sobra para eu deixar de gostar dele.
— Nossa…
— O cara tinha outra família e minha avó sabia. Ela aceitava qualquer migalha que ele
tinha a oferecer. A vida inteira sendo traída, maltratada, deixada de lado… Era esse ser que
queriam que eu homenageasse?
— Nossa, Otto. Eu sinto muito… — digo sincera e ele acena devagar.
— Por isso não gosto que me chamem assim. A única pessoa que me chama assim, além
da minha mãe, é minha ex-mulher, que faz para me irritar.
E ouvi-lo falar dela traz um amargor em minha boca.
— Ulisses é um nome bonito, apesar de tudo isso. Mas Otto também combina com você.
O sorriso que esse homem me abre me desarma inteira.
E aqui, tão próxima a ele, sentindo o seu cheiro, sentindo o seu calor, eu luto bravamente
para tentar manter a cabeça no lugar.
— Então, Marina, eu não sou um cara tão certinho assim — diz, com a voz rouca e
grossa, me desestruturando. — Eu só levo a sério tudo o que eu faço, e o trabalho é uma dessas
coisas.
— Eu… — Engulo em seco e olho para ele. — Eu entendo…
— Mas ultimamente meus pensamentos não estão sendo nada sensatos.
Golpe no estômago é pouco para o que eu estou sentindo agora.
— Ah, não? — pergunto com um fio de voz.
— Nem um pouco.
Meu corpo inteiro se estremece e eu endireito a postura, descruzando as pernas e
cruzando de novo. O movimento chama a atenção de Otto, que mais uma vez desce os olhos para
as coxas. A forma como ele me encara é como se despisse o meu corpo, e eu aperto as pernas
tentando controlar o ardor que me surge.
Otto aperta os olhos e parece recobrar a consciência.
— Acho melhor eu ir — anuncia, olhando para o relógio de pulso. — Estou aqui desde
cedo, estou ficando cansado.
— Acho que também vou indo…
Eu me coloco de pé e não desço a barra do vestido, deixando-o mais curto
propositadamente. Otto entreabre os lábios enquanto me encara e balança a cabeça ao se
levantar.
— Tem certeza? A festa ainda está longe de acabar…
— Eu não vim no intuito de demorar.
Dou de ombros.
Mas a verdade é que, sem ele por aqui, tudo vai deixar de ser interessante.
— Certo. E você veio sozinha?
— Sim, vim de Uber. Minha amiga está fora da cidade este fim de semana.
— Então posso te oferecer uma carona para casa?
Sua voz é gentil e meu coração esmurra aqui dentro.
— Claro.
É só uma gentileza, eu sei. Mas a oportunidade de estar dentro de um carro com ele,
sozinha, em um lugar tão pequeno, não deixa de me criar expectativa…
E me deixar excitada…
Porque sem nem mesmo me tocar, Otto tem esse poder sobre mim.
Em silêncio, vamos até o estacionamento. E da mesma forma seguimos pela cidade até o
meu prédio. Não dizemos uma palavra, mas, quando o seu carro desliga, eu não perco a
oportunidade.
— Você está muito cansado? Ou quer subir um pouco? — ofereço e os olhos de Otto
faíscam, mas eu vejo que ele parece travar uma batalha interna. — Não tem ninguém aqui —
sussurro.
Otto continua pensativo e eu destravo o cinto de segurança, aproximando-me um pouco
mais.
— Ou você quer continuar fingindo que essa química não existe?
Meu professor fecha os olhos por um instante e seu pomo de adão sobe e desce devagar.
Quando ele os reabre, vejo um fogo vindo deles.
— Não dá mesmo para negar isso — a voz grossa faz o meu corpo inteiro se arrepiar. —
Sua amiga não vai chegar hoje? — pergunta e eu nego, sorrindo.
— Só depois de amanhã.
Quando Otto destrava o cinto de segurança e coloca a mão na maçaneta da porta, eu sinto
o meu corpo inteiro se esquentar em expectativa.
Ai, caramba…
Descemos do carro em silêncio e minhas mãos estão tremendo quando eu busco as
chaves na minha bolsa. Abro a porta principal e guio Otto até o elevador, onde subimos até o
meu andar.
Logo que eu abro a porta do apartamento e acendo a luz, o homem agarra a minha cintura
e me pressiona contra a parede, batendo a porta de madeira atrás de nós.
— Você ferra o meu juízo, Marina — rosna antes de atacar a minha boca de um jeito
faminto.
Eu mal tenho tempo de reagir, quando suas mãos me apertam forte e eu retribuo seu
beijo, abrindo a boca para lhe dar passagem.
E, meu Deus…
Sua língua quente me toma, me possui, e eu solto um gemido quando ele suga o meu
lábio inferior antes de me devorar mais uma vez.
Ah, caralho…
Que beijo gostoso.
Minhas mãos sobem até o seu cabelo e o puxam para mais perto, fundindo o nosso corpo
e colando-se ainda mais em mim. Otto esfrega seu quadril ao meu, fazendo-me sentir a ereção
em sua calça e eu só sei gemer diante de seu desespero.
Porque esse homem parece ter fome de mim.
A forma como ele me toca, como devora a minha boca, como desce os lábios pelo meu
pescoço, mordendo, chupando e lambendo, antes de voltar a beijar a minha boca, diz isso.
Diz que ele segurou esse desejo por muito tempo.
Assim como eu.
— Otto…
Ele me deixa ofegante quando abandona meus lábios mais uma vez e desce para o meu
pescoço, indo até o ombro, descendo a alça do meu vestido. A sua língua faz todo o trajeto e,
quando sua mão desce até a minha coxa e adentra o vestido, eu gemo mais.
— Porra, Marina… — ele murmura ao tocar a minha calcinha. — Molhada para mim de
novo?
— Eu…
Perco o raciocínio quando ele afasta o tecido e desliza o dedo pela minha carne já inchada
por ele.
Ai, caralho…
— Porra…
Otto mete um dedo dentro de mim e eu só sei gemer mais. Mas, quando tira, se afastando,
eu franzo o cenho para ele.
— Não tenho camisinha — reclama e eu puxo-o de volta para mim, beijando-o mais uma
vez.
— Mas eu tenho.
Seus olhos brilham e ele volta a me atacar, descendo a outra alça do meu vestido agora.
Sem soltar a sua boca, eu puxo o zíper lateral para baixo e facilito o seu trabalho,
descendo o vestido até a altura da cintura. Otto solta a minha boca e lambe os lábios devagar
quando vê meus seios livres.
— Você tem os peitos mais gostosos que eu já vi — declara, antes de cair de boca neles.
— Ai, Otto… — gemo quando ele chupa e lambe cada biquinho, revezando-se entre eles,
dando um trato em cada um.
Com a cabeça apoiada na porta, eu aperto os olhos enquanto meu professor mama
gostoso em mim e continua dedando a minha boceta.
Eu estou à beira de enlouquecer de tesão e um calor me consome, um fogo me toma.
Afasto-o devagar e ele me olha curioso enquanto termino de tirar o vestido. Fico apenas de
calcinha à sua frente, sobre os saltos altos.
Os olhos de Otto faíscam e ele lambe os lábios em um gesto absurdo de sensual.
— Gostosa pra caralho, Marina.
Otto volta a chupar os meus peitos e afasta mais a minha calcinha, metendo dois dedos
agora, fazendo-me abrir mais as pernas para ele.
Gemo desesperada enquanto sua boca me lambuza inteira e os dedos trabalham frenéticos
dentro de mim.
— Ai, professor… — murmuro e ele me encara com pura luxúria.
— Do que foi que me chamou?
— De… — Ele mete mais um dedo agora. — De professor… — gemo e ele sorri
malicioso.
— Quer ser fodida pelo seu professor, Marina? — a voz rouca de Otto é a minha
verdadeira ruína.
— Quero…
Seus olhos brilham mais e ele me solta, afastando-se de mim e me empurrando para o
sofá.
Otto me derruba no estofado, deixa metade do meu corpo deitado e os pés apoiados ao
chão.
— Eu vou te foder, Marina — anuncia, e, com a cabeça de lado, vejo-o se ajoelhar atrás
de mim. — Mas, primeiro, com a língua.
Meu professor desce a minha calcinha e atira-a longe, deixando-me completamente nua
diante dele. Abro bem as pernas e empino a bunda, vendo-o sorrir antes de dar um tapa em
minha nádega e agarrar o meu quadril para cair de boca em minha boceta.
— Ai, Otto… — gemo ao sentir sua língua percorrer deliciosamente a minha carne.
— Que boceta gostosa da porra, Marina — murmura antes de me devorar inteira.
Otto não se faz de rogado e me come com gosto, lambuzando-se e esfregando o rosto em
minha carne. Meu pescoço dói pela posição de olhar para trás, mas eu não mudo. A visão desse
homem se deliciando em mim é a porra da coisa mais gostosa que eu já vi.
A sua língua percorre cada cantinho meu e, quando o sinto morder a pontinha do clitóris,
eu gemo mais. Um tapa estalado em minha carne e eu rebolo a bunda em seu rosto, tomando
tudo dele para mim.
— Professor… — gemo e o safado ri em minha pele.
— Está gostoso, Marina?
Mais um tapa, seguido de uma chupada em minha boceta.
— Que delícia, Otto… Que delícia.
Eu rebolo mais meu rabo nele e Otto continua chupando gostoso, me comendo com
vontade.
Porra…
— Goza na minha boca, Marina, como uma boa putinha.
Ai, cacete…
Ele nem precisa pedir muito.
Quando Otto mete os dedos dentro de mim, sem parar de me chupar, eu rebolo ainda
mais a bunda em seu rosto quando sinto a primeira onda de tremores me invadir.
— Professor! — grito alto, gozando forte, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Otto só para de me chupar quando meu corpo desaba no sofá e os meus gemidos cessam.
— Porra… — murmuro e o ouço se levantar.
O som da fivela do cinto se abrindo me faz sentir mais um arrepio pelo corpo.
— Você goza gostoso demais, Marina.
Ainda estou ofegante quando o vejo surgir à minha frente.
— Mas quero te ver gozando de novo no meu pau.
CAPÍTULO 11- Otto

— Onde você tem camisinha? — pergunto, enquanto desço a cueca apenas o suficiente
para libertar o meu pau, que pulsa em minha mão.
— Na gaveta — Marina responde ofegante e aponta para o móvel abaixo da TV.
Abro a gaveta, pego a embalagem de preservativo e rasgo, cobrindo toda a minha ereção.
Ergo os olhos e vejo minha aluna ainda deitada parcialmente no sofá. Ela não se mexeu
desde que gozou e parece estar se recuperando do orgasmo insano que acabou de ter.
— Senta de frente para mim no sofá — peço e ela obedece, com os olhos faiscantes.
A garota escancara as pernas e me revela aquela boceta deliciosa e lisinha.
Porra.
Agarro sua cintura e meto de uma vez só, gemendo junto com ela ao sentir o meu pau
entrando em sua boceta tão apertada.
Ai, caralho…
Que saudade eu senti disso.
— Otto…
Solto sua cintura e seguro seu pescoço, prendendo-a e fazendo-a olhar para mim, dentro
dos meus olhos, enquanto eu a como gostoso. Os cabelos estão revoltos, o rosto corado, e a boca
inchada me convida para o beijo.
E é isso o que eu faço.
Tomo sua boca em um beijo sedento enquanto meu pau entra e sai de dentro dela em um
ritmo frenético, enlouquecedor. O som dos nossos quadris se chocando ecoa pelo apartamento e
eu posso apostar que todo este prédio está nos ouvindo foder, porque esta garota não tem um
pingo de pudor ao gemer.
Ela geme feito uma putinha.
E, porra, se isso não me deixa ainda com mais tesão.
— Você é muito gostosa, Marina. Caralho. Puta que pariu.
Xingo inúmeros palavrões enquanto continuo metendo nela, ainda agarrando o seu
pescoço, ouvindo seus gemidos se tornarem ainda maiores.
— Você está com muita roupa, professor — murmura entre gemidos e eu sorrio de lado.
Minha fome por esta garota é tanta que eu nem tive tempo de tirar a roupa.
— Eu estava louco para te comer, Marina — falo e ela geme mais alto agora. — Uma
roupa era o menor dos meus problemas.
Meto mais bruto nela, tirando o meu pau todo e enfiando até no talo, vendo-a se contorcer
no sofá de prazer.
Vejo uma gota de suor escorrer entre os seus seios e não resisto em me encurvar para
chupá-la, aproveitando para mamar um pouco em cada um deles.
Peitos gostosos do caralho.
Não tem nada no corpo dessa mulher que não seja gostoso.
Marina aproveita a minha proximidade e estica a mão para a minha camisa, tentando
desabotoar e eu rio em sua pele.
— Não está sentindo calor, professor? — pergunta e eu gargalho mais, enquanto continuo
metendo duro dentro dela.
— Se eu estou sentindo calor? — Afasto-me um pouco e facilito a retirada dos botões. —
Estou pegando fogo, Marina.
Os olhos dela incendeiam enquanto acaba de me despir e eu a ajudo, puxando a camisa
pelos braços e atirando ao chão.
— Bem melhor assim — murmura e seus pés envolvem o meu quadril, tentando
empurrar minha calça para o chão.
— Isso tudo é para me ver pelado, sua cachorra? — murmuro, sugando o seu lábio e ela
sorri maliciosa.
— Eu também tenho direito a essa visão.
Saio de dentro dela e rio baixo ao ouvi-la resmungar, enquanto me livro de toda a roupa,
ficando completamente nu diante dela.
— Você é um puta gostoso, professor — sussurra, lambendo os lábios devagar. — Agora
vem aqui e continua a comer a sua aluna.
E, porra, se eu não avanço sobre ela.
Meus lábios tomam o dela em um desespero animal e meu pau mete tão fundo em sua
boceta, tão rápido, que ela geme, mas eu abafo em um beijo insano.
Um beijo absurdo de gostoso.
Tiro meu pau e pincelo em sua entrada, lambuzando-me em sua boceta.
— Você que é uma puta gostosa, Marina — falo, ainda sem meter dentro dela. — Geme
feito uma puta — murmuro e brinco ali na portinha, entrando e saindo devagar. — E goza feito
uma também.
— Professor… — pede e eu não continuo, torturando-a mais um pouco.
Desço a boca e chupo seus peitos enquanto esfrego o pau em sua boceta, rodeando seu
clitóris.
— Professor, por favor — pede e eu ignoro, continuando a chupar.
— Não vê que estou ocupado mamando em você? — murmuro sugando um mamilo
agora.
— Professor…
— Precisa ser mais específica, Marina — provoco-a, sugando o bico de seu seio e
tomando-o em minha boca, lambendo e chupando.
O som estalado de minha saliva em sua pele deixa tudo mais gostoso.
— Você pode continuar mamando — fala, ofegante. — Mas com seu pau me fodendo
gostoso.
Ah, caralho…
Agarro a sua cintura e meto de uma vez só, indo até o fundo, e a garota ergue o quadril do
sofá de leve, enquanto um gemido agudo brota de sua garganta.
Gostosa dos infernos.
— É assim que você quer, sua cachorra?
Meu pau esfola a sua boceta, entrando e saindo em ritmo frenético, insano,
enlouquecedor e Marina só responde com gemidos.
Pensa numa mulher que geme gostoso…
Saio de dentro dela e a vejo resmungar.
— Fica de quatro para mim — peço e seus olhos brilham.
Quando ela o faz e empina o rabo para mim, eu não resisto a desferir um tapa em sua
bunda branquinha.
Agarro os seus quadris e meto de uma vez, tendo um ângulo absurdo de gostoso nessa
posição. Marina agarra o estofado e me olha de lado enquanto eu a como por trás, meu pau
entrando e saindo cada vez mais rápido de dentro dela.
Levo a mão a sua boca e ela chupa meus dedos, um a um, de um jeito absurdo de sexy.
Com um dedo lambuzado por sua saliva, rodeio o seu ânus e a vejo gemer mais.
Meto um dedo dentro dela e a garota geme alto e desesperada, rebolando em meu pau.
Deliciosa.
Essa visão de Marina com a bunda empinada, agarrada ao estofado enquanto eu como sua
boceta e dedo o seu cu é absurda de gostosa.
Me deixa tão louco, que só consigo meter mais fundo, mais forte, mais bruto.
— Gostosa demais, Marina. Puta que pariu.
Acerto sua bunda mais uma vez e a safada rebola o rabo em meu pau, desesperada,
deixando a foda muito mais gostosa.
— Está gostoso, Marina? — pergunto, metendo o dedo um pouco mais enquanto meu pau
não alivia a sua boceta.
Eu continuo fodendo-a cada vez mais forte, mais bruto, mais animal.
— Muito… Otto… — geme, emitindo sons desconexos e eu só sei sorrir. — Ai, cacete…
— É meu cacete mesmo que está te fodendo gostoso assim. Sorrio e a estapeio mais uma
vez.
— Ai, professor…
Quando ela geme me chamando assim, é a minha ruína. Sei que vou querer mais dela, de
seu corpo, de seus beijos, de sua boceta gostosa…
Caralho.
Não vou me contentar tendo pouco desta garota e eu lutei por muito tempo, resisti a essa
porra de tentação, mas não consigo mais.
Meu corpo clama pelo dela.
Esta garota me atrai feito ímã.
E a conexão absurda que temos aqui é prova disso, porque não encontramos em qualquer
lugar.
Na verdade, eu nunca senti tanto desejo em toda a minha vida.
— Ai, Otto… — Marina geme quando eu entro um pouco mais com o dedo e continuo
comendo-a por trás.
Vejo sua mão descer até a boceta e tocar ali, fazendo-me gemer mais.
— Isso, Marina. Toca essa sua boceta gostosa.
O eco dos nossos quadris se chocando, somado ao atrito dos dedos de Marina em sua
lubrificação, é a porra do som mais gostoso que eu já ouvi.
— Eu vou gozar, eu vou… — ela anuncia e eu intensifico o ritmo, metendo ainda mais
forte até vê-la gozar.
— Otto! — ela grita o meu nome.
Gozando.
Tremendo.
Gemendo.
Convulsionando.
Porra de mulher gostosa.
Sua cabeça desaba no sofá e eu continuo comendo até gozar também, esporrando tão
forte que seria capaz de estourar essa camisinha.
— Caralho — murmuro, saindo de dentro dela, e a garota desaba o corpo ali.
Ofegante, descarto a camisinha e me abaixo ao seu lado, tocando seu rosto suado.
— Foi bem comida pelo seu professor, aluna? — brinco e ela ri.
— Caramba, Otto… — murmura, recobrando a respiração. — Senti saudade disso.
Eu sei.
Porra, como eu sei.
Se uma trepada com ela no banheiro de uma boate sem a conhecer direito foi do caralho,
imagina hoje…
Conhecendo-a mais, desejando-a mais, querendo-a mais perto de mim…
Hoje foi surreal.
— Eu também senti falta — confesso, tocando seus cabelos e lhe dando um selinho.
Marina sorri preguiçosa e continua ofegante no sofá.
— Não vai se mexer? — brinco e ela ri.
— Você acabou comigo, professor. Me dá um minuto para eu me recuperar.
— Dou até dois. — Pisco para ela e me levanto de pronto. — Quer uma água?
A morena assente, eu caminho pelo apartamento desconhecido até a cozinha e procuro
por um copo nos armários. Encho um de água gelada e viro em um gole só, repondo e voltando
até ela.
Encontro Marina já sentada no sofá quando estendo a ela o copo que também toma com
desespero. Pelo visto não sou eu o único com sede por aqui.
— Hoje você não fica com Yuri? — pergunta quando me sento ao seu lado.
— Ele vai dormir na casa da minha mãe hoje. Eu sabia que a festa acabaria tarde, então
preferi levá-lo para lá.
— Entendi… — Marina termina de tomar a água e repousa o copo sobre a mesinha de
centro.
E agora eu noto que estamos nus no sofá, tendo uma conversa relaxada pós-sexo.
Caramba…
Quem diria, hein?
— Então não precisa voltar para casa hoje? — pergunta, maliciosa, e eu estreito os olhos
para ela.
— Não…
— Não quer ficar por aqui esta noite? Eu prometo me comportar direitinho.
A garota tira os sapatos dos pés e engatinha em minha direção, mostrando que comportar
é algo que certamente ela não vai fazer.
E quem disse que eu quero que ela se comporte?
— Hummmm… Tente me convencer a ficar — desafio e seus olhos brilham enquanto ela
toca a minha coxa, ainda de quatro.
— Será que se… — A garota toca o meu pau, que mesmo amolecido, começa a ganhar
vida de novo em suas mãos. — Se eu te chupar agora, seu pau fica duro de novo?
Porra.
Meu coração dá um salto e minha boca seca quando Marina lambe os lábios devagar,
antes de sugar a cabecinha.
— Ai, caralho… — murmuro, ela sorri satisfeita e me toma em sua boca, chupando e
sugando meu cacete até que fique completamente duro.
— Bom garoto. — Seu sorriso é malicioso quando vê seu feito. — Agora sim.
Marina rebola a bunda enquanto toma meu pau na boca, chupando e correndo a língua
por toda a extensão até engoli-lo por inteiro. O movimento a faz engasgar, mas ela não se acanha
e continua me chupando e mamando com gosto.
Eu me descontrolo e impulsiono o quadril para cima. Fodendo a sua boca, agarro seus
cabelos, ditando o ritmo. O som da sua boca em atrito com a minha pele é insano e sei que ela
não vai demorar a me levar ao orgasmo.
— Se continuar desse jeito, eu vou gozar — falo, ofegante, e ela sorri maliciosa.
Marina aperta as minhas bolas e chupa um pouco mais, sugando a pontinha e engolindo
mais uma vez, antes de se afastar.
— Não te quero gozando ainda, professor — anuncia e sobe no meu colo.
Ela está prestes a me montar, quando a interrompo.
— A camisinha — peço e ela arregala os olhos para mim, assentindo.
— Desculpa.
Balanço a cabeça negando e ela se ergue para buscar mais uma embalagem na gaveta.
Se eu fosse olhar o meu desejo, teria metido dentro dela até o fundo, mas ainda bem que a
consciência gritou mais alto.
Marina volta a sentar em meu colo e abre o preservativo, desenrolando e cobrindo o meu
pau de um jeito tão sexy que me deixa ainda mais duro, se é que é possível.
— Pensei que eu tinha acabado com você, aluna — provoco, vendo-a se posicionar para
montar em mim.
— E acabou mesmo, professor — murmura e se posiciona em meu pau, sentando de uma
vez.
Ai, caralho…
Se essa garota sentando em mim não é a porra da coisa mais gostosa deste mundo.
— Mas seu pau é tão gostoso que vale o esforço. — Pisca e se ergue de leve, sentando
mais uma vez.
Porra…
Agarro seu quadril e ajudo-a, ditando o seu ritmo, subindo e descendo sobre mim em uma
velocidade um pouco mais lenta agora, mas bastante sensual.
Não temos aquela fome de outrora, nem um desespero cru.
Agora sinto que queremos nos saborear, desfrutar o momento…
E, porra, se isso não é ainda mais gostoso.
— Isso, Mari. — Guio-a, e ela joga a cabeça para trás enquanto sobe e desce sobre mim
em um ritmo absurdo de gostoso. — Quica no meu pau, vai.
A garota sorri e rebola em meu colo antes de subir e descer, quicando, rebolando,
buscando seu prazer em mim.
Quando seus olhos descem e encontram os meus, eu sinto algo diferente por trás deles.
Sinto um desejo diferente aqui dentro…
Puxo seus cabelos e tomo sua boca na minha, beijando-a enquanto minhas mãos não
soltam o seu corpo e continuam ditando o seu ritmo, que se acelera um pouco mais agora.
— Gostosa pra caralho…
Abandono seus lábios inchados, desço a boca até os seus seios e abocanho-os mais uma
vez.
Eles são tão gostosos que eu nunca vou me cansar de mamar em cada um deles.
Revezo entre os dois, chupando, lambendo e mamando enquanto Marina continua
quicando sobre mim, subindo e descendo bem mais rápido agora.
— Professor… — chama e eu ergo os olhos para ela, sem tirar seu peito da boca.
A garota está se contorcendo de desejo e eu sorrio de lado, mamando mais um pouco.
Noto que seu corpo começa a desacelerar o ritmo e a tiro de cima de mim, derrubando-a
no tapete da sala.
Marina cai de costas no chão e eu agarro sua cintura, dobrando os seus joelhos e me
ajoelhando diante dela.
Cravo os dedos em sua carne enquanto meto fundo, vendo-a gemer alto sem tirar os olhos
de mim.
A morena chupa um dedo de um jeito tão sexy e desce até o clitóris, enquanto eu como
sua boceta com mais força agora, com muito mais fome.
— Vai aguentar gozar uma terceira vez, Marina? — provoco, acelerando o ritmo das
estocadas.
Os dedos da garota fazem um vaivém frenético em sua boceta e eu continuo fodendo-a
com mais força.
— Ai, Otto… — murmura e pela forma como se desespera, contorcendo-se e acelerando
o ritmo dos dedos, sei que não está longe de gozar.
Acelero as estocadas e meto mais forte, mais rápido; quando seus primeiros tremores
vêm, eu vou até o talo, metendo fundo e gozando junto com ela.
— Porra, Marina — murmuro, ofegante, sentindo o coração esmurrar o peito.
Caralho…
Saio de dentro dela e descarto a camisinha, desabando ao seu lado no tapete.
— Te convenci a ficar? — brinca, quando ficamos calados por tempo demais,
recuperando o fôlego.
Viro-me para ela e sorrio ao ver seu semblante cansado.
— Tem fôlego para mais uma? — brinco e ela ri baixo.
— Ainda não… Mas mais tarde quem sabe.
Ê, caralho…
Pelo visto valeu a pena esperar meses por uma segunda vez.
E terceira…
— Marina… — começo a falar, mas ela me interrompe, colocando um dedo em minha
boca.
— Podemos deixar a conversa séria para outro dia? — Giro o corpo e apoio a cabeça no
cotovelo, ficando de frente para ela. — Hoje eu só quero te curtir um pouco. — Seus dedos
passeiam pelo meu peitoral e eu sorrio. — E prometo continuar guardando segredo.
— Você bagunça a minha cabeça, sabia? — confesso e ela me olha nos olhos, sorrindo.
— De um jeito bom? — pergunta curiosa e eu balanço a cabeça.
— De um jeito muito bom.
Inclino-me para beijar sua boca e o que começa em um selinho se aprofunda, tornando-se
um beijo cheio de significados.
Não sei bem o rumo que tudo isso vai tomar, mas estou cansado de lutar contra esse
desejo.
Cansado de lutar contra a vontade de estar com ela, de querê-la ter por perto.
E por hoje…
Por hoje eu vou ficar.
Por hoje eu quero ficar com ela.
CAPÍTULO 12 - Marina

Ainda sonolenta, estico o braço pela cama e sinto uma pontada no peito ao encontrá-la
vazia. Abro os olhos e não consigo esconder o descontentamento ao ver que estou sozinha.
Será que ele saiu no meio da noite?
Será que não quis ficar comigo?
Pego o celular na mesinha de cabeceira e não encontro mensagem alguma, sentindo um
nó se formar aqui dentro.
Sei que não temos um relacionamento e que eu não deveria me sentir assim, mas ele
concordou em ficar.
E foi tão gostoso dormir nos seus braços…
Sento-me na cama e fecho os olhos me lembrando da noite passada, que foi mesmo muito
intensa. Depois de me proporcionar três maravilhosos orgasmos, nós tomamos um banho juntos
e acabamos pegando no sono aqui na minha cama.
Eu até pensei em acordá-lo de madrugada para uma rapidinha, mas quem disse que eu
consegui?
Meu professor realmente acabou comigo e eu dormi feito uma pedra, acordando apenas
agora pela manhã.
Atravesso o corredor do apartamento e o encontro em absoluto silêncio.
Solto um suspiro.
É… Pelo visto, Otto não quis mesmo ficar aqui.
Entro no banheiro e me dispo, indo até o chuveiro para uma ducha rápida enquanto
escovo os dentes. Penteio os cabelos e os prendo em um coque frouxo. Saio de toalha mesmo,
voltando para o quarto, onde busco uma regata e short levinhos para vestir.
Quando saio para o corredor novamente, ouço o som da porta do apartamento sendo
aberta e me surpreendo com a imagem que surge.
— Otto? — chamo-o e ele abre um sorriso lindo para mim.
Caminho em sua direção e só então noto algumas sacolas em suas mãos.
— Bom dia, Mari — ele me cumprimenta, inclinando-se para me dar um selinho. —
Desculpa a demora. Fui procurar uma padaria aqui no bairro, mas não encontrei. Acabei indo até
uma mais distante que tem uns pães maravilhosos, mas acabei me atrasando. Faz muito tempo
que você acordou?
Pisco os olhos devagar e sorrio sozinha.
Ele não foi embora…
Ai, meu Deus.
Ele não foi embora!
— Acordei há uns minutinhos. Tomei um banho e acabei de me trocar.
Pego as sacolas de sua mão e o ajudo a levar tudo até a cozinha. Acomodo na bancada e
ligo a cafeteira para começar a preparar o nosso café.
— Bom dia, professor — brinco, circulando sua cintura e ele sorri, dando-me mais um
selinho.
— Dormiu bem, minha linda? — a voz carinhosa faz o meu coração dar um salto aqui
dentro.
— Se eu dormi bem? — indago, arqueando a sobrancelha, e ele ri. — Depois de três
orgasmos, como não dormir bem?
Otto abre um sorriso orgulhoso e acena, acariciando o meu braço antes de me soltar.
— Isso é ótimo! Eu não vou poder ficar muito com você, porque preciso passar em casa
para tomar um banho e me arrumar, tenho que chegar antes do almoço na casa da minha mãe.
Mas pelo menos podemos tomar um café juntos.
Mais um selinho e meu coração dá piruetas aqui dentro.
— Está ótimo, Otto. Fico feliz de ter a sua companhia. Confesso que pensei que você
tinha ido embora…
Ele estreita os olhos para mim de um jeito fofo.
— Não sou esse tipo de homem, Marina. O que eu prometo, eu cumpro — a voz grossa e
firme me arrepia inteira.
A piscada que ele me dá em seguida me deixa molinha.
— Eu não sei ainda do que você gosta, então trouxe um pouco de tudo. Bolinhos, pães
recheados, torradas, patês e geleias…
Otto vai tirando um tanto de coisa das sacolas e colocando sobre a mesa, sinto-me
acolhida diante de todo seu carinho e zelo.
— Eu comeria até um pão com manteiga, Otto. Não precisava se incomodar.
— Precisa repor suas energias depois da noite de ontem.
A piscada, seguida de um sorriso safado, me faz sentir uma onda de calor instantânea.
Só de lembrar a noite de ontem…
Caramba.
Nunca senti tanto prazer em toda a minha vida.
Preciso tê-lo mais vezes, senti-lo mais vezes…
— Você, com essa carinha de intelectual na universidade, disfarça bem o furacão que é
na cama — brinco e ele ri.
— Não posso sair entregando meu ouro por aí, mocinha.
Eu rio e nos sentamos à mesa quando o café fica pronto. Experimento de tudo um pouco
enquanto temos uma conversa tranquila durante a refeição. Otto me conta como funcionam os
almoços de domingo em família e o quanto Yuri aproveita para brincar com seus primos. É lindo
de ver o brilho em seus olhos todas as vezes que fala sobre o filho.
— Já está com saudades dele? — pergunto e Otto assente de pronto.
— São poucos dias na semana com quem eu mais amo no mundo. Então, quando chega o
final de semana, eu quero aproveitar cada minuto ao lado dele.
— Deve ser muito bom ter um pai como você — confesso, soltando um suspiro. — Yuri
tem tanta sorte…
Bebo mais um gole de café e percebo Otto me analisar com o olhar compreensivo.
— Eu sinto muito pelo pai que você tem, Mari. — Sua mão encontra a minha na mesa e
ele entrelaça os nossos dedos. — O que eu faço pelo Yuri deveria ser a regra, e não a exceção.
Sorrio agradecida.
Realmente, em um mundo onde muitos pais não estão nem aí para os filhos, Otto é
mesmo um exemplo a seguir.
— Não vou tomar muito o seu tempo — digo, logo que acabamos o café. — Sei que você
precisa ficar com o seu filho um pouquinho agora.
Eu me levanto e Otto me ajuda a tirar a mesa, recolhemos e lavamos juntos toda a louça.
Quando tudo está no lugar, eu me encosto na bancada e fico de frente para ele.
Meu professor me envolve pela cintura e beija meu ombro com carinho.
— Vai passar o dia aqui sozinha?
— Vou… Mas vou ficar bem, não se preocupe. Vou aproveitar para colocar toda a
matéria da semana em dia e trabalhar um pouco no projeto de pesquisa.
Otto assente e solta a minha cintura, tocando o meu rosto agora e acariciando os meus
cabelos, enquanto coloca atrás da orelha uma mecha que se soltou do coque.
— Mari, você sabe que não podemos ter um relacionamento, não é? — sua voz é mais
séria agora e eu assinto, engolindo em seco. — Pelo menos não publicamente. É expressamente
proibido na universidade.
— Eu sei…
Dói no fundo da minha alma, mas eu sei.
— Porém, não dá para ignorar isto aqui.
Seus dedos descem até os meus lábios e roçam neles devagar. Entreabro-os e fecho os
olhos, sentindo meu corpo se arrepiar quando ele toca minha boca, me beijando com tanto
carinho, com tanto cuidado.
Meu Deus…
Eu o quero tanto.
— Eu não deveria te querer, Marina — murmura a milímetros dos meus lábios e eu
estremeço. — Mas quero…
Os olhos azuis estão escurecidos agora e me encaram tão firmes, que parecem adentrar a
minha alma.
— Eu também quero… — sussurro e ele sorri de lado, dando-me um selinho gostoso.
— Não sei como tudo isso vai funcionar, mas, você quer arriscar? — pergunta e eu
aquiesço, sem desviar os olhos dos seus. — Só precisamos ser muito cautelosos, muito mesmo.
Ninguém pode saber disso, Marina. Tem muita coisa em jogo aqui.
— Eu sei… Ninguém vai ficar sabendo, eu prometo. — Seguro a sua mão e continuo
encarando-o firme. — Pode confiar em mim.
Otto assente e cola a sua testa na minha.
Estamos tão próximos, que consigo sentir a sua respiração quente tocar a minha pele.
— Eu te quero tanto, garota…
— Eu também, Otto — murmuro, sentindo meu coração esmurrar aqui dentro. — Vamos
fazer isso dar certo. Ainda não sei como, mas nós vamos.
Ele faz que sim devagar e roça o nariz em minha pele, arrepiando-me inteira.
— Como vou olhar para você naquela universidade sabendo que não posso te tocar? —
Um beijo e eu amoleço toda. — Sabendo que não posso te beijar?
— Ah…
Seus lábios descem até o meu pescoço e ele me morde, fazendo-me gemer baixo.
— Como eu vou te ver sentada na primeira fileira, usando um short minúsculo, sabendo
que não posso te chupar?
Uma sugada em minha pele e eu arfo.
— Eu… — Respiro pesado e pisco os olhos devagar. — Eu vou tentar me comportar. E
usar umas roupas mais compridas para você.
A risada em minha pele me arrepia ainda mais.
— Mas eu gosto de você assim, Marina. Exatamente como é. Só preciso aprender a
resistir à tentação quando estivermos em um lugar público.
Otto roça os lábios em meu pescoço e sobe em direção à minha orelha, mordiscando o
lóbulo bem devagar.
— Porque quando estivermos a sós… Vou cobrar cada minuto em que estivemos
separados. — A promessa velada me faz gemer baixo. — O que fizemos ontem à noite foi só
uma amostra, Marina…
Mais uma mordida e eu gemo mais.
Otto nem mesmo me tocou, mas estou aqui toda arrepiada e excitada por ele.
— Mas agora eu preciso ir.
Beija o meu ombro e eu faço uma careta para ele, que ri.
— Preciso ficar um pouco com o meu filho.
— Está certo… Nos vemos amanhã na aula?
— Como professor e aluna — reforça e eu confirmo.
— Exatamente assim. — Ganho um selinho dele e o vejo se afastar, descolando nosso
corpo. — Aonde vamos nos encontrar? Aqui mesmo?
— Sempre no meu apartamento ou no seu. Quando estivermos completamente sozinhos
— propõe e eu concordo.
— Certo. Por mim está ótimo assim.
Otto dá mais um passo para trás e eu não resisto, puxando-o pela mão e trazendo-o de
volta para colar minha boca na sua. O beijo, que começa lento e preguiçoso, se torna mais
quente, mais afoito, mais urgente.
— Eu preciso mesmo ir, Mari — diz ofegante quando se separa, e eu assinto.
— Eu sei, me desculpa.
Otto balança a cabeça e me dá mais um selinho.
— Te vejo amanhã, aluna.
A piscada que ele dá me faz abrir um sorriso.
— Até amanhã, professor.
Aceno e vejo Otto sorrir antes de sair do meu apartamento, fechando a porta.
Sozinha, olho tudo ao meu redor e sorrio.
Fecho os olhos e penso na loucura que vai ser pegar o meu professor às escondidas.
E, mesmo não sabendo onde isso vai parar, sei que vai valer muito a pena.
É aquela, né?
O proibido é sempre mais gostoso…
E se for com Otto então…
Fica delicioso.
CAPÍTULO 13 - Marina

— Eu não acredito que você só me esperou sair de casa para trazer o gostoso do seu
professor! — Carina finge reprimenda, mas o sorriso que abre me diz que está pensando
exatamente o oposto disso.
— Ué… Preferia estar presente? Te garanto que você não ia querer nos ouvir — provoco
e recebo uma almofadada na cabeça.
— Sua ridícula!
Minha amiga gargalha e eu me uno a ela.
— Ah, amiga… Foi tão gostoso. — Suspiro e Carina sorri.
— Esse homem te deu uma canseira, né? Porque a sua carinha não me engana, dona
Marina! Parece que recebeu um trato e tanto!
Abro um sorriso malicioso para ela.
— Os caras da nossa idade têm muito que aprender com os quarentões, viu? Otto é um
furacão na cama, puta merda…
— Vai… Esfrega na minha cara que está sendo bem comida!
Carina balança as mãos revoltada e eu rio.
— Mas e agora, como vão fazer? Se não podem se relacionar…
— Então… Nós resistimos, né? Por quase dois meses. Mas não dá mais, Cá. Eu nunca
tive essa química com ninguém antes, nunca quis alguém assim como quero o Otto.
— Nossa, então a coisa é séria mesmo, hein?
— Séria, eu não sei. Mas vamos tentar fazer isso dar certo, mesmo que seja escondido. E,
Carina, pelo amor de Deus. Ninguém pode saber disso, ok? Eu prometi ao Otto que não contaria
a ninguém.
— Não precisa nem me pedir uma coisa dessas, Mari. Eu jamais prejudicaria vocês.
Porque isso não traria problemas apenas para o professor, mas para você também. Fica tranquila.
Solto um suspiro e assinto.
Sei que posso confiar nela.
Além do mais, preciso ter alguém para desabafar e contar sobre a minha vida. Eu surtaria
por guardar algo tão forte assim apenas comigo.
— E como vocês vão se ver?
— Nos encontraremos sempre no apartamento dele, ou aqui, quando você não estiver —
falo e ela concorda. — Otto não vai ficar confortável se você estiver aqui.
— E eu também não quero ouvir vocês transando. — A careta que ela faz me tira uma
risada.
— Mas não vamos nos ver sempre para transar — solto e ela estreita os olhos para mim.
— Você vai ficar, sei lá, uma semana sem vê-lo… Jura que quando se encontrarem não
vão mesmo transar?
Faço uma careta.
Culpada.
A gargalhada dela me contagia.
— Mas aproveita, amiga. Só toma muito cuidado. Principalmente se você se apaixonar.
Não quero que se machuque caso isso não dê certo.
E só de pensar nisso já sinto um aperto no peito.
Não quero que dê errado.
Demoramos tanto a ficarmos juntos de novo, que agora não quero mais ficar longe dele…
É tão gostoso… É tão certo estarmos juntos.
Mas não vou pensar nisso agora.
Vamos viver um dia de cada vez, nos curtindo e vendo que direção tudo isso vai tomar.
— Otto é um cara muito legal, Cá. Ele não vai me machucar.
— Ele, pode ser que não… Mas a vida, talvez?
— É, talvez. Mas não quero pensar nisso agora, ok? Me deixa curtir meu professor
gostoso um pouquinho.
Solto um suspiro e me jogo no sofá, quando sinto o celular vibrar no bolso.
— E por falar nele…
Sorrio ao ver seu nome surgir na tela.
Otto: Você costuma dormir cedo?
Eu me levanto do sofá e aceno para Carina, que solta uma risada.
— Vai lá, sortuda!
Digito a resposta enquanto caminho para o meu quarto. Fecho a porta e me jogo na cama.
Eu: Não muito, por quê?
Otto: Quer jantar comigo depois da aula hoje?
Ai, meu Deus…
Meu coração dá um salto aqui dentro e eu abro um sorriso sozinha, adorando a ideia de
passar mais um tempo com ele.
Eu: Claro! Vou adorar. Onde você pensou?
Otto: Aqui na minha casa mesmo, pode ser?
Eu: Por mim está perfeito. Você me passa seu endereço?
Otto: Eu te levo comigo, não se preocupe. Não é a primeira vez que te dou carona,
esqueceu?
Verdade.
Sorrio ao me lembrar de quando ele me trouxe em casa debaixo de uma tempestade.
Naquele dia eu quis tanto beijá-lo, precisei me controlar.
Mas agora não preciso mais…
Eu: Certo. Quer que eu leve uma sobremesa?
Ofereço, gentil, mas a sua resposta faz o meu corpo se esquentar.
Otto: Não mesmo. A minha sobremesa será você.
Ai, caramba…
Eu: Maldade sua me falar uma coisa dessas agora, hein?
Otto: Nem tente se divertir sozinha, garota. Você só vai gozar comigo agora.
Puta que pariu.
Como esse homem consegue me levar à combustão só com algumas palavras?
Eu: Covardia, hein, professor?
A sequência de risadas de Otto vem para me deixar ainda mais quente, porque eu consigo
ouvir o som da sua gargalhada maldosa.
É um som tão gostoso…
Otto: Só mais algumas horas, Marina… Prometo que a espera valerá a pena.
Eu: Em se tratando de você, não tenho dúvidas.
Otto me envia um emoji sorrindo safado e eu fecho os olhos por um instante, repousando
o celular no peito.
Faltam umas boas horas para a aula começar e mais ainda para terminar, mas serei
paciente.
A verdade é que já estou com saudades dele…
Não sei se deveria, mas estou.
Otto: Estou com saudades.
Sinto o celular vibrar e leio a sua mensagem, sorrindo sozinha pela nossa sintonia.
Eu: Eu também… Estava pensando nisso agora, inclusive.
Otto: Só mais umas horas, minha linda.
E, todas as vezes que ele me chama assim, aquelas borboletas dão cambalhota em meu
estômago.
Eu: Mal posso esperar, professor.
Deixo o celular de lado e penso sozinha em toda essa loucura.
Em como eu vim para esta cidade com o intuito de estudar, dar o meu melhor e acabei me
esbarrando com alguém simplesmente incrível.
Nunca pensei que fosse gostar tanto da companhia de alguém assim. Eu, que nunca
cheguei a ter um relacionamento sério com ninguém, nunca cheguei nem perto de me sentir
assim.
Mas com ele…
Com ele é tudo diferente e eu gosto muito da sensação de tê-lo por perto.
Gosto de tudo que Otto desperta em mim.
São só mais algumas horas, Marina…
E logo você estará nos braços dele outra vez.
CAPÍTULO 14 - Otto

— Boa noite, pessoal.


Atravesso a sala de aula do curso de Engenharia Civil e recebo vários cumprimentos
enquanto os alunos se acomodam nas cadeiras. Coloco a minha pasta na mesa e olho para
Marina, que me encara sorrindo.
— Boa noite, professor.
Seu sorriso meigo quase me engana.
Aquela carinha de inocente que Mari sabe fazer sempre será a minha tentação.
Principalmente quando eu bem sei o que essa garota é capaz de fazer…
Balanço a cabeça e afasto esses pensamentos.
Aqui não é momento para isso.
— Boa noite, Marina. — Assumo a postura séria e ela acena, abrindo o seu caderno.
Abro o meu notebook e encontro a matéria em que paramos na aula anterior.
— Bom, continuando o assunto da última aula, entramos no Período Socrático, final do
século V e todo século IV a. C. Aqui, os principais nomes foram Sócrates e Platão. — Cruzo os
braços e encosto o quadril na mesa, ganhando atenção dos alunos.
Nem todos estão atentos ao que eu digo, mas pelo menos não tenho problemas para ser
ouvido. Marina, minha aluna mais aplicada, me ouve sem nem piscar os olhos direito e seu
fascínio ao me ouvir lecionar Filosofia é algo que sempre vai ganhar a minha admiração.
— É a época da democracia em Atenas — falo e observo a morena anotar atentamente
cada informação que julga importante. — Quando o cidadão começa a exercer a cidadania,
emitindo opiniões sobre noções políticas, surgindo então discussões importantes em assembleias.
E, quando o semblante de Marina e dos outros alunos se ilumina, eu sei que finalmente
chegamos àquele momento em que a Filosofia faz sentido. Quando realmente se dão conta da
importância desta ciência para a humanidade.
Levanto tópicos e abro perguntas para debates em sala, a aula decorre ainda melhor do
que planejei. E ver cada um dos alunos discutindo, levantando opiniões, argumentando pontos de
vista enche o meu peito de orgulho.
É exatamente por isso que eu estou aqui.
Talvez eles ainda não tenham se dado conta, mas esses pequenos exercícios que fazemos
na sala de aula que geram debates os preparam para toda uma vida.
Quando chega o fim da aula, eu agradeço a todos e vejo se levantarem para o intervalo,
ficando apenas Marina.
— Você é muito bom, Otto. Juro que nunca tinha dado tanta importância para a filosofia
antes de ser sua aluna — declara e eu abro um largo sorriso.
— Obrigado. Não sabe o quanto eu fico feliz por isso. A filosofia é a base de tudo e
exercitar esse debate em vocês me deixa muito orgulhoso. É a minha missão de vida. Quero que
meus alunos se tornem pessoas um pouco melhores a cada dia. Mais reflexivas, mais
questionadoras.
O sorriso da morena se abre mais e ela se levanta, aproximando-se de mim.
— Você tem feito um excelente trabalho, professor.
Seu cheiro está mais próximo agora, fazendo-me fechar os olhos ao senti-lo.
— Onde eu te encontro depois da aula? — pergunta em um sussurro e eu abro os olhos,
encarando-a firme.
— Pode ser na guarita mesmo, eu passo por lá e te encontro por acaso — sugiro, sentindo
o meu corpo se agitar.
— Certo. Combinado.
Um silêncio paira entre nós e eu consigo sentir a tensão que se formou por aqui. É quase
palpável.
— Vou indo então, que preciso passar pela biblioteca antes da próxima aula — explica e
eu assinto.
— Claro! Te vejo mais tarde.
Marina pisca para mim e sai da sala, fazendo questão de rebolar a bunda.
Ê, caralho…
Foi difícil não a secar durante a aula, porque a morena fez questão de usar um short curto
e uma camiseta justa e decotada, não deixando quase nada para a imaginação. Desviei o olhar o
tempo todo, mas, agora que estamos sozinhos, não resisto em dar uma conferida.
Principalmente porque conheço esse corpo…
Conheço muito bem e Marina é uma tremenda gostosa.
Coço a nuca e seco uma gota de suor que escorre por aqui.
É…
Pelo visto a noite hoje vai demorar a passar.

Marina

Segurando as alças da mochila, começo a ficar ansiosa enquanto espero por Otto na
guarita da portaria do campus. A segunda aula demorou um pouco mais a passar, mas me foquei
na matéria e tudo fluiu melhor. Logo que acabou, vim correndo para o lugar combinado a fim de
esperar por ele.
Porque não vejo a hora de vê-lo mais uma vez.
A sós.
Onde podemos ser apenas nós mesmos.
A buzina do carro preto me desperta e eu sorrio ao ver o vidro da janela se abaixando.
— Precisa de uma carona, Marina?
— Nossa, professor. Obrigada! Vai me ajudar bastante!
Mantendo a atuação, entro em seu carro e finjo timidez, até que ele saia por completo das
paredes da universidade.
— Então hoje vou saber onde meu professor mora? — brinco e ele sorri, balançando a
cabeça.
— Não é nada de muito interessante, já aviso.
— Ah, duvido muito.
— Não vá com muita expectativa, é só o apartamento de um homem que mora sozinho.
E pensar nisso faz um arrepio percorrer a minha espinha.
Não tem como não criar expectativas estando sozinha com ele…
— Tenho certeza de que é incrível — constato.
Para a minha surpresa, Otto não mora muito longe da universidade, então em poucos
minutos estamos adentrando a garagem de um prédio bastante alto em um bairro mais afastado.
Subimos pelo elevador e vejo que ele aperta o botão de número dez.
— Mora no último andar? — indago e ele confirma.
— Quando saí da minha antiga casa, quis um lugar onde eu tivesse sossego para viver
sozinho. Último andar, do último prédio da rua, em um bairro mais tranquilo…
— Nossa…
— Eu queria ter um pouco de paz.
— E conseguiu? — pergunto e ele me olha sorrindo.
— Eu finalmente me sinto em um lar. Mas ele só fica completo quando meu filho está
comigo.
A porta do elevador se abre e Otto gesticula para que eu passe em sua frente. Sigo pelo
corredor até a última porta e, quando ele abre, acende a luz ao passar.
— Seja bem-vinda, Mari.
Sorrio ao adentrar seu cantinho e olho para tudo ao meu redor, maravilhada.
— É lindo… — murmuro observando o apartamento de Otto.
A decoração é leve, com tons claros e pouca mobília. Mas é lindo e refinado, assim como
ele.
— Esta é a sala. — Ele me apresenta o cômodo em que estamos, onde vejo um sofá claro
e tapete felpudo de frente para uma enorme TV.
Dou alguns passos e encontro porta-retratos no móvel, sorrindo ao ver as fotografias de
Otto com Yuri.
— Ele era um bebê lindo — elogio e o vejo surgir ao meu lado.
Seu perfume marcante me envolve e eu inspiro esse aroma gostoso.
— Ele era… Meu filho é lindo.
— Como o pai. — Ergo os olhos para Otto, que sorri de lado, quase um pouco tímido.
— Vem, vou te mostrar o restante da casa. Ali, é a sacada.
Sigo-o até a sacada da sala, cercada por uma vidraça, que dá uma linda visão da cidade.
— Nossa… É lindo daqui de cima.
— Não é? Às vezes gosto de abrir uma garrafa de vinho à noite e me sentar aqui, só para
ficar apreciando essa vista.
— Vou adorar te fazer companhia — ofereço e ele sorri, assentindo.
— Com muito prazer.
Otto me leva até a cozinha e a lavanderia, seguindo para o banheiro, e então, para o
quarto de Yuri.
E eu fico maravilhada com cada detalhe do quarto do menino.
— Ele deve adorar ficar aqui, não é? Porque é lindo…
A cama de casal, os armários, mesa de estudos, pôster de banda, tudo é a cara de um
adolescente, e muito aconchegante.
— Ele diz que prefere este quarto ao que tem na casa da mãe. Mas não sei se fala só para
me agradar… — Dá de ombros e eu nego.
— Duvido muito. Conversei com seu filho apenas uma vez e consigo vê-lo em cada
cantinho aqui.
É isso que consigo sentir no lar de Otto.
Exatamente isso, um lar.
Não é uma casa fria, cheia de móveis, é um lar.
— Eu sempre deixo tudo arrumado para recebê-lo.
— Consigo sentir todo o seu cuidado, Otto — constato, olhando para ele antes de sair do
cômodo. — É realmente tudo muito aconchegante por aqui.
Ele sorri orgulhoso e me leva até a última porta do corredor.
— E aqui é o meu quarto.
Quando Otto abre a porta, sinto meu corpo se arrepiar. Porque todo o lugar parece gritar
seu nome.
— Uau…
A cama king-size ao centro, uma mesa pequena ao canto, prateleira com poucos livros,
uma TV fixada na parede. Tudo muito delicado e sofisticado, simplesmente perfeito.
— E ali tem mais uma sacada.
Meu professor abre as cortinas e revela uma varanda com uma visão muito bonita, porém
menor que o espaço da sala.
— Em dias mais quentes, eu durmo com a porta aberta e quase sinto frio aqui dentro —
explica.
— Deve ser muito gostoso dormir aqui — murmuro e ele confirma.
— Eu gosto muito. Como disse, não tem nada de mais, mas é o meu cantinho.
— É perfeito, Otto. É o lugar mais aconchegante em que eu já estive — digo, sincera.
— Agora vou te mostrar o último cômodo — Otto me leva até uma porta ao lado de seu
quarto.
— Nossa…
— É aqui que eu faço o trabalho de casa — explica, me apresentando seu escritório.
Uma mesa larga com cadeira confortável, uma estante enorme de livros, uma poltrona
para leitura.
— É lindo, Otto… — murmuro e ele acena.
— Eu gosto bastante daqui.
Ele sorri e coloca sua pasta sobre a mesa, antes de apontar para fora.
— Agora vamos jantar?
Otto me guia até a cozinha, onde o vejo ligar o forno.
— Então hoje vou conhecer seus dotes culinários? — brinco e ele ri, buscando uma
garrafa de vinho em uma adega climatizada.
— Deixei uma lasanha pré-assada, para só finalizar agora. Aceita um vinho?
Ele me estende a taça e eu aceito, sorrindo.
— Obrigada.
Professor Ottoni me serve e brindamos juntos ao final.
— Nossa, Otto. É delicioso — elogio logo que saboreio um pouco do vinho.
— É um Merlot, um dos meus preferidos.
Vejo-o sorrir antes de se sentar à minha frente na banqueta da ilha e buscar uma pequena
bandeja com alguns frios para beliscarmos. Espeto uma azeitona e o vejo dobrar delicadamente
as mangas da camisa social, deixando na altura dos cotovelos. Esse movimento dele, ainda que
despretensioso, é absurdamente sexy para mim.
— Amanhã você dá aula pela manhã? — pergunto e ele nega.
— Só à noite.
Assinto e bebo mais um pouco do vinho.
— Então não estou te incomodando ficando aqui neste horário? — indago, pois sei que já
são mais de onze horas da noite e não quero atrapalhar sua rotina.
— Imagina, Mari. Não precisamos acordar cedo amanhã. — Ele dá aquela piscadinha
sexy que sempre me desarma.
Quando Otto arrasta sua banqueta para mais perto de mim e pousa a mão em minha coxa
enquanto bebe o vinho, eu sinto meu corpo inteiro se estremecer.
Sua carícia é lenta, despretensiosa, mas leva uma onda de arrepios em mim.
Logo ele pousa a taça na ilha e espeta uma fatia de queijo, sem soltar a minha coxa.
— Me fale mais de você — pede e eu estreito os olhos para ele. — Além de gostar de
estudar e querer ser uma engenheira, quais são seus sonhos? Ambições? Uma viagem que queira
fazer?
Abro um sorriso e espeto uma fatia de queijo antes de beber mais um pouco de vinho.
— Quero me formar com honras e conseguir um emprego em uma construtora importante
no país. É meu maior desejo profissional. Quero provar que sou capaz de conseguir, sabe?
— E você vai conseguir, minha linda. Não tenho dúvidas algumas disso.
A confiança que Otto tem em mim é algo que sempre vai mexer comigo.
Sempre.
Principalmente vindo de um homem mais velho, pois é a primeira vez que eu tenho isso.
— Além disso, quero conhecer o Egito — confesso e seus olhos brilham.
— Jura?
— Sim! Conhecer as pirâmides, fazer um safári pelo deserto. Visitar o museu egípcio de
Cairo… Já parou para pensar em quanta relíquia esse museu abriga? A riqueza dos artefatos
encontrados nas escavações — digo empolgada e Otto abre um largo sorriso.
— Deve ser mesmo incrível! Eu tenho vontade de conhecer a Grécia, mas isso não deve
ser novidade para você, né?
Ele faz uma careta e eu gargalho.
— A Grécia deve ser linda… Imagina visitar Atenas? Terra em que Sócrates nasceu? —
incentivo e seu semblante se ilumina.
— Nem brinca com uma coisa dessas, Marina — ele murmura e eu rio.
— Pois você deveria ir! Compre um pacote de viagem e vá! As férias letivas sempre vão
coincidir com as de Yuri mesmo — constato.
— É, mas não é tão simples assim… — sua voz se entristece um pouco agora. — Pelo
menos não quando ele ainda for menor de idade e precisar de autorização para viajar…
Otto se serve de mais um pouco de vinho e eu sinto uma pontada por tocar neste assunto
desta forma. Às vezes me esqueço que a mãe de seu filho é uma megera sem coração.
— Me desculpe — peço e ele nega, sorrindo de lado. — Mas pense por outro lado. Daqui
a seis anos, você vai poder marcar essa viagem e mais inúmeras pelo mundo, sem precisar
depender de ninguém.
Pisco para ele e ganho um sorriso terno.
— Yuri quer conhecer a África para fazer um safári, assim como você — comenta
orgulhoso.
— Jura? Deve ser lindo ver aqueles animais de perto, em seu habitat natural.
— Imagino que sim…
— Então já temos três destinos para fazermos no futuro! Egito, Grécia e África!
Ergo minha taça para ele, que sorri, brindando mais uma vez comigo.
— Que todos os seus sonhos se realizem, Mari — a voz grossa de Otto e a firmeza com
que me encara me arrepia inteira.
— Os seus também, professor. — Pisco para ele, que sorri para mim.
— Acho que já deve estar pronto.
Otto se levanta e vai até o forno conferir o seu prato.
— Pronta para experimentar meus dotes culinários, Marina? — ele brinca, tirando a
travessa do forno.
— Estou pronta para experimentar tudo o que venha de você!
Minhas palavras fazem seus olhos faiscarem e ele me abre apenas um sorriso safado de
lado.
Aquele sorriso que molha qualquer calcinha…
Meu professor me guia até a mesa de jantar, que já está perfeitamente montada para nós
dois. A louça escolhida, o sousplat delicado e a flor repousada ao seu lado me encantam.
É tanto carinho em cada detalhe…
— Nossa…
Pego a rosa branca delicadamente colocada para mim e inspiro o aroma, pensando em
como nunca fui recebida com tanto carinho por alguém.
— Isso é lindo, Otto… — murmuro emocionada e o vejo me encarar orgulhoso. —
Obrigada.
— Você merece ser cuidada, Mari — sussurra e eu sinto um aperto no peito.
Porque ele sabe da minha história.
Ele sabe que eu não conheço isso.
Ah, Otto…
— Espero que não esteja muito ruim — diz, ao me servir um pedaço da massa.
— Com esse cheiro maravilhoso? Duvido que esteja ruim!
E quando eu experimento…
Nossa, vó Manoela que não me ouça, mas acho que nunca comi uma lasanha tão gostosa
antes. E mais do que isso, consigo sentir, em cada mordida, todo o amor que Otto colocou ao
preparar este prato para nós dois.
Eu consigo sentir, nesta explosão de sabores, todo o carinho que ele depositou aqui…
— É maravilhoso, Otto! — exclamo, dando mais uma garfada. — Você é um excelente
cozinheiro!
Ele me abre um sorriso satisfeito antes de começar a comer também.
— Eu fico muito tempo sozinho em casa, então acabo sempre inventando alguma coisa
por aqui. Além do mais, gosto de cozinhar para Yuri. Então me esforço para fazer algo que
preste.
— Isso é muito bom — elogio mais uma vez. — Muito, muito bom!
Desfruto de uma refeição tranquila com Otto, enquanto ele me conta um pouco sobre sua
carreira acadêmica e como saiu da graduação decidido a tentar um doutorado. Eu o ouço com
fascínio, porque ele tem muito amor em tudo o que se dedica a fazer e isso é lindo. E só então eu
descubro a sua verdadeira idade.
— Quarenta e dois? Uau…
— Pareço muito velho? — pergunta em uma careta, logo que termina seu prato.
— De forma alguma. Você é um gostoso para a sua idade — confesso e ele gargalha. —
Então você é vinte e dois anos mais velho que eu — constato e ele franze o cenho para mim.
— Mais que o dobro da sua idade…
— É… Mas quem se importa? — Dou de ombros. — Cara nenhum da minha idade é tão
interessante quanto você.
— Ah, é? — a voz sugestiva me faz virar o resto da taça de vinho e me levantar para me
sentar em seu colo.
Otto me envolve pela cintura e eu toco seus cabelos, descendo em direção ao seu rosto.
Meus dedos roçam em sua pele e eu sinto a ponta da barba nascendo me arranhar em uma carícia
muito gostosa.
— Ninguém me faz sentir o que você faz, professor — murmuro antes de beijar os seus
lábios.
Mas, desta vez, não temos pressa nem desespero.
Nós nos degustamos, assim como um vinho.
Minha língua percorre cada canto da boca de Otto e a sua faz o mesmo, me saboreando.
Suas mãos seguram firme a minha cintura e adentram o tecido da minha camiseta, enquanto eu
acaricio sua nuca e me embrenho em seus cabelos.
Meu corpo roça no dele e, ainda que eu sinta a sua ereção se formar e esteja louca de
tesão, não quero acelerar.
E, pelo visto, nem ele.
Não temos pressa alguma aqui.
— A sobremesa — Otto diz ao se afastar e eu toco seus lábios já inchados pelo beijo.
— Você não disse que eu era a sobremesa? — murmuro e ele sorri, beijando-me mais
uma vez.
— Mais ou menos… — Estreito os olhos para ele, que ri. — Na verdade, eu vou degustar
a sobremesa em você.
Olho-o curiosa e ele sorri malicioso me pedindo para levantar de seu colo. E, quando o
faço, vai até a cozinha e eu o acompanho, onde ele busca um pote de sorvete.
Meu coração já dá um salto aqui dentro em expectativa pensando no que está por vir, mas
ele me surpreende, ligando o forno micro-ondas.
— O que está tramando, professor? — indago e ele gargalha.
— Sorvete sem calda quente não tem graça, não é?
Ai, meu Deus…
Os olhos de Otto faíscam quando ele vem em minha direção e toma a minha boca,
enquanto me agarra e me coloca sentada sobre a bancada da ilha.
— Senti saudade, Marina… — murmura, atacando os meus lábios e descendo pelo
pescoço.
Gemo ao sentir sua língua percorrer cada canto da minha pele, arrepiando-me toda.
— Porra, só faz dois dias que eu te comi e já estou morto de saudades.
— Oh…
As mãos descem pela minha cintura e puxam a camiseta para cima, deixando-me apenas
de sutiã diante dele.
— Eu também… — Otto não me deixa completar a frase, me atacando mais uma vez, me
devorando e me beijando daquele jeito que me tira o ar.
Eu não estava mesmo mentindo quando disse que ele me faz sentir o que ninguém mais
faz…
— Me deixa chupar você — a voz rouca e grossa me faz deixar qualquer coisa…
Voltando a beijar a minha boca, Otto me consome nesse beijo, enquanto suas mãos vão
até as minhas costas e libertam o meu sutiã. Quando ele passa as alças pelos meus braços, meu
professor dá um passo para trás e lambe os lábios devagar.
— Agora eu vou começar a desfrutar a minha sobremesa…
Observo-o abrir o pote de sorvete e mergulhar uma colher lá dentro, levando até a boca e
chupando de um jeito tão lento e sensual, que só de vê-lo eu gemo.
Seus olhos crepitam quando ele mergulha a colher mais uma vez e leva à boca; com a
língua despeja a sobremesa gelada em meus mamilos.
— Ai, Otto…
Gemo ao sentir o gelado em minha pele e a sua língua quente traz uma sensação deliciosa
em seguida quando ele começa a me chupar devagarzinho.
— Gosta do geladinho em sua pele, Marina? — murmura, espalhando mais um pouco de
sorvete em meus seios, para chupá-lo todo em seguida, tomando tudo para si.
Esse movimento lento e calculado desperta uma onda de prazer descomunal em mim.
Puta que pariu.
— Otto… — resmungo quando ele se afasta, mas desta vez ele não volta com o sorvete.
O professor volta com a calda de chocolate, que, logo que cai em meu mamilo, me faz
estremecer toda ao sentir o seu calor.
Otto chupa com vontade, tomando cada gotinha, e eu só sei gemer alto.
— Deliciosa — murmura, ao despejar mais um pouco. — Eu disse que sorvete com calda
quente era uma delícia…
— Oh…
O safado alterna entre o quente e o gelado em minha pele e eu estou à beira de
enlouquecer nesta bancada de cozinha. Tento apertar as pernas, mas ele me impede, abrindo-as
ainda mais.
— Otto… — chamo, desesperada de tesão, e ele desce a língua pela minha barriga, até
alcançar o cós dos shorts.
— Tomar sorvete nos seus peitos é uma delícia, Marina — a sua voz é rouca agora
quando ele desabotoa o jeans e desce o zíper. — Imagino como seria experimentar em sua
boceta…
Ai, caralho.
Ergo o quadril para que ele desça o short junto com a calcinha e fico completamente nua
para ele, ainda sentada sobre a bancada.
— Abre bem essas pernas para mim — pede e eu obedeço de pronto, escancarando para
ele.
Meu professor sorri malicioso antes de mergulhar mais uma vez a colher no sorvete e
despejar em meu sexo, fazendo-me soltar um gritinho.
— Porra, Otto…
Agarro a bancada de pedra e o safado sorri, abraçando as minhas coxas para chupar a
minha boceta.
E, quando sua língua me percorre ali, eu enlouqueço de vez.
Rebolo nele, esfrego o sexo em seu rosto enquanto se delicia, desfruta e toma cada
gotinha de mim.
— Deliciosa, Marina… — murmura e continua a me chupar, mostrando que sou mesmo
tão gostosa como ele diz.
E, cacete, se eu não vou gozar com este homem me comendo assim.
— Professor… — gemo quando se afasta para buscar a calda de chocolate e, ao senti-lo
derramar o líquido quente em meu sexo, eu solto um grito.
— Pensei que não tinha como a sua boceta ficar mais gostosa — murmura, chupando tão
devagar que chega a fazer um barulho. — Mas, porra… Lambuzada de chocolate, você fica
ainda mais deliciosa.
Vejo-o derramar um pouco mais da calda para chupar em seguida, provando, degustando
e me lambendo toda.
Cacete…
Meus dedos doem de tão forte que agarro essa pedra, mas a sensação que Otto me
desperta é tão absurda, tão gostosa…
— Eu poderia passar a noite inteira aqui te degustando, Marina — diz, antes de sugar a
minha carne e mordiscar de leve, fazendo-me gemer mais. — Mas você não vai aguentar, não é?
Nego desesperada e ele ri, lambendo-me de novo.
— Você está louca para gozar…
Ele afunda o rosto em meu sexo e me devora com mais fome agora, me chupando tão
gostoso que eu sinto a primeira onda de tremores vir…
Seguro sua cabeça e o mantenho preso ali, enquanto rebolo e me esfrego nele, sentindo o
orgasmo me atingir.
— Otto! — grito alto, gozando, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Meu professor continua me chupando até a última gota e, quando o tremor cessa, eu
desabo na ilha.
Ofegante, cansada, suada…
Porra…
— Você sempre goza tão gostoso, Mari. Quer provar?
Apoio-me nos cotovelos e recebo o seu beijo, que tem um gosto simplesmente delicioso.
Tem um misto de sorvete com vinho, chocolate e gozo.
É um beijo absurdo de gostoso.
Ainda estou ofegante quando ele se afasta e desabotoa a camisa, começando a se despir
para mim.
Ao se livrar da peça, eu não resisto e ergo os braços para tocar o seu peitoral nu, correndo
os dedos por alguns pelos baixos. Otto sorri, tira a carteira do bolso e coloca na bancada,
buscando uma embalagem de preservativo.
Eu o ajudo a abrir o zíper da sua calça e libertar o pau lindo que só ele tem. Grosso,
pesado, de veias pulsantes.
Minha boca saliva quando ele veste o preservativo e me olha safado.
— Vem aqui, sua cachorra.
Seu braço me envolve e me puxa para mais perto dele. Quando abro as pernas e circulo o
seu quadril, Otto me preenche de uma vez, quase me rasgando inteira.
— Porra, que delícia — murmuro e toco o seu peito enquanto seu pau faz um vaivém
frenético dentro de mim.
— Você tem a porra da boceta mais gostosa, Marina — diz antes de se inclinar para
beijar a minha boca de um jeito afoito. — E eu não sei o que você tem, que eu quero te comer o
tempo inteiro, parece que nunca estou satisfeito.
Sorrio e busco seus lábios mais uma vez, beijando-o e gemendo enquanto suas estocadas
se tornam mais firmes agora, mais duras, batendo seu quadril cada vez mais forte ao meu.
— Esta bancada te aguenta me fodendo deste jeito? — sussurro e ele sorri, apertando a
pressão e estocando mais forte agora.
— Vai ter que aguentar.
Otto embola meus cabelos na mão e dá um puxão gostoso, enquanto continua comendo
minha boceta de um jeito insano.
Seu pau sai de dentro de mim, ele pincela a minha entrada, provocando-me. Desço o
olhar ali para onde nossos corpos se unem e clamo por ele.
— Professor… — chamo, desejosa, daquele jeito que sei que o desestrutura.
Mas ele não cede e me tortura um pouco mais.
— Volta aqui, professor… — peço e seus olhos são pura luxúria. — Vem comer sua
aluna safada, vem — falo e isso o enlouquece.
— Ah, porra, Marina.
Otto mete tão fundo, de uma vez só, que parece me rasgar.
E eu adoro isso.
Jogo a cabeça para trás enquanto ele estoca forte agora, indo até o fundo todas as vezes.
Quando sua mão puxa o meu cabelo, ele me obriga a olhá-lo de novo, e o desejo em seus olhos é
puro reflexo dos meus.
Uma gota de suor escorre pelas minhas costas quando Otto tira o pau de novo e entra
apenas metade, roçando ali, entrando e saindo devagar, deixando-me enlouquecida.
Esse ponto…
Cacete…
— Isso, Otto… Assim…
Ele continua me estocando ali no ponto certo, bem no começo e eu me vejo apertando a
bancada mais uma vez.
— Gosta assim, sua putinha?
Ele estoca mais rápido agora, esfregando ainda mais nesse ponto perfeito.
— Porra, sim… — gemo desesperada, prestes a gozar. — Isso, professor. Assim…
Otto continua me comendo na beiradinha e eu gemo tão louca, tão descontrolada, que mal
me reconheço.
Puta que pariu.
Isso é absurdo de tão gostoso.
— Professor — clamo, vendo que seu movimento se torna ainda mais certeiro e logo
sinto aquela onda de tremores vir com tudo.
Forte.
Avassaladora.
— Otto! Puta que pariu! — eu grito, pendendo a cabeça para a frente e gozando tão forte,
tão intensa, que…
Caralho…
Meu professor tira o pau de dentro de mim e arranca a camisinha, masturbando-se até
gozar também, derramando-se em minha virilha.
E vê-lo espalhar sua porra pela minha pele é ainda mais sexy do que eu pensei.
— Caralho, Marina…
Ele encosta a cabeça em meu ombro e me morde, se recuperando também.
— Isso tudo era a saudade de dois dias? — brinco, ainda ofegante, e ele ri, afastando-se
devagar.
— Você me faz perder a cabeça, Marina… — murmura antes de beijar a minha boca.
É um beijo tão quente, tão cheio de sentimentos…
— Pode perder a cabeça sempre, professor — murmuro ao nos afastarmos.
Otto sorri de lado antes de me dar um selinho.
— Quer dormir comigo hoje? Eu te levo para casa de manhã — seu pedido mexe com
tudo aqui dentro.
Assim como eu, ele quer a minha presença…
Ele me quer por perto.
— Nem um guindaste me tiraria daqui hoje, Otto — brinco e ele me olha divertido.
— É o quê?
— Memes, professor — solto e ele ri.
— Vem.
Ele dá um passo para trás e me estende a mão.
— Vem tomar um banho comigo.
E eu seria maluca se dissesse que não.
CAPÍTULO 15 - Marina

— Vó!
Puxo a minha pessoa favorita no mundo em um abraço gostoso logo que adentro a sua
casa.
— Que saudade, minha flor! — O abraço quentinho, seguido de um beijo estalado, é a
coisa mais gostosa deste mundo.
— E eu então, vó? Não via a hora de ver a senhora mais um pouquinho.
Demoramos, um pouco mais do que eu previa, a encontrar um final de semana tranquilo
para que eu viesse visitá-la sem a presença de meus pais. O único que sabe que estou aqui é
Gabriel, que mais tarde deve chegar para me ver.
— Está com fome? Fez boa viagem? Assei um bolo de cenoura que você adora! Ainda
está quentinho!
Deixo minha mala no canto da sala e sigo com ela até a cozinha, onde encontro uma
travessa de bolo maravilhosa com calda de chocolate.
E a imagem dessa calda me traz lembranças ainda melhores…
Ah, Otto…
Depois daquela noite em sua casa, nós nos encontramos apenas pelo campus para um
café rápido ou um bate-papo. Quando contei que passaria um final de semana fora, ele deu um
jeitinho de passar em minha casa hoje pela manhã, antes de buscar Yuri. Como Carina ainda
estava dormindo no horário que passou, meu professor subiu rapidinho no apartamento e
pudemos nos curtir um pouco.
Não teve sexo, mas houve beijos, carícias e um momento muito gostoso entre nós dois.
Eu estou amando isso tudo o que estamos vivendo.
Sei que estamos construindo tudo com calma, dando um passo de cada vez, mas é
inegável o quanto nos queremos e sinto que estamos na mesma sintonia. Em cada gesto dele, em
cada momento ao seu lado, consigo sentir que Otto me quer por perto, tanto quanto eu o quero
comigo.
— Quer um cafezinho, minha filha? — a voz de vó Manoela me tira do transe e eu vou
até a bancada buscar a garrafa de café.
— Pode deixar, que eu nos sirvo.
Vovó puxa a cadeira para se sentar ao meu lado e, quando beberico a bebida quente, solto
um gemido de satisfação.
Que saudade eu estava disso!
Mordo um pedaço do bolo e minha avó sorri orgulhosa ao ver minha expressão de
satisfação.
— Como está tudo por aqui, vó? — pergunto a ela antes de partir mais um pedaço de
bolo.
— Graças a Deus, tudo bem, Mari. Sinto falta de te ter comigo todos os dias, mas, como
te disse, estou bem. Sempre envolvida nas minhas atividades.
— Isso é ótimo! Também sinto muito a falta da senhora, mas estou adorando o curso.
— Eu fico tão feliz por isso! E como está o projeto de pesquisa?
Meu semblante se ilumina ao narrar para a minha avó os detalhes do projeto no qual
estou envolvida. Ela não entende nada dos termos técnicos e nem sabe para que lado anda um
grafeno, mas ainda assim presta a atenção em todos os detalhes que eu lhe conto.
— Estou muito orgulhosa de você! Sei que essa pesquisa será um sucesso.
— Deus a ouça, vó!
— E os garotos? — Seu sorriso se torna cúmplice agora. — Alguém despertou seu
interesse?
Sinto o rosto queimar e penso em como responder a isso sem entregar meu envolvimento
com Otto. Não que minha avó vá contar para alguém, mas não posso trair a confiança dele
contando para mais uma pessoa.
— Demorou demais a responder, é porque tem alguém — ela constata pelo meu silêncio
e eu rio baixo.
— Tem um cara, sim, vó… Mas ainda estamos nos conhecendo, não é nada sério — tento
despistar, mas seus olhos brilham.
Eu a conheço, sei que não vou conseguir fugir sem dar mais alguns detalhes.
— Mas me conta, ele é gatinho?
Isso eu posso falar.
— Gatinho? Ele é maravilhoso! Tem os olhos azuis mais lindos que já vi!
— Ah…
— E é superinteligente — completo.
— Ah, meu Deus! Podia a coisa ficar séria para você trazê-lo para eu conhecer. — Dona
Manoela suspira, sonhadora, e eu rio.
— Calma aí, vó. Vamos por partes. Um dia, quem sabe.
Dou uma piscadela e ela sorri, satisfeita.
A verdade é que não sei quando o meu relacionamento com Otto poderá se tornar público
e nem como faremos isso sem que nos prejudique, mas vou deixar para pensar nisso mais à
frente.
Por agora, só quero curtir a fase gostosa que estamos vivendo.
— Está certo, minha filha. Eu só estou feliz por tudo estar dando certo para você. Na sua
vida pessoal, profissional, você merece cada detalhe disso.
— Obrigada, vó. — Estico a mão e encontro a sua sobre a mesa, onde entrelaço nossos
dedos. — Sem a senhora, nada disso aconteceria.
E é verdade.
Se eu não tivesse alguém para lutar por mim, não sei o que seria da minha vida.
Vó Manoela é meu anjo particular e eu tenho muita sorte de tê-la comigo.
Muita mesmo.

— Mari?
Uma batida à porta que está aberta e reconheço o rostinho que surge dali.
— Gabriel!
Eu me levanto da cama para receber meu irmão mais novo em um abraço, e ele me aperta
de um jeito tão gostoso, que me enche aqui dentro.
— Desculpa não ter conseguido vir mais cedo — explica e eu aponto com a cabeça para
que se sente comigo na cama. — Tive um simulado no cursinho a manhã inteira e fiquei morto
de cansaço. Precisei tirar um cochilo antes de vir.
— Imagina! Está tudo bem. Já passei o dia sendo paparicada pela vó, agora que vim para
o quarto ler um pouquinho.
— Matéria da faculdade? — pergunta e eu assinto.
— Sempre que eu tenho uma folguinha, gosto de colocar o conteúdo em dia.
— Você é meu exemplo, sabia? — ele comenta e eu baixo a cabeça, um pouco
constrangida.
— E como você está? Como estão as coisas por aqui? — pergunto com cuidado, voltando
a olhá-lo.
E agora, encarando-o de perto, vejo o quanto Gabriel está bonito. Os cabelos lisos caem
um pouco sobre os olhos verdes e uma barba baixa ordena o seu rosto.
Eu vi esse garoto literalmente de fraldas e nem acredito que já se tornou um adulto.
— O mesmo de sempre. — Ele dá de ombros, sem falar muito. — Não vejo a hora de
passar logo na prova e sair de casa para estudar.
— Está muito difícil?
Gabe faz uma careta.
— É um clima muito ruim, Mari. Uma energia muito pesada, sabe? Eles não implicam
muito comigo, mas o clima daquele lugar é horrível. Não dá para viver assim.
Eu sei bem do que ele está falando…
Se para ele, que sempre foi o privilegiado da casa, está assim, imagina para mim…
— Eu sinto muito — digo, sincera. — Mas sua vez está chegando — garanto e ele abre
um sorriso. — Já sabe para qual universidade quer ir?
— Qualquer uma bem longe daqui — resmunga e eu rio.
— Escolha uma universidade boa, viu? Você merece o melhor dos estudos!
— Nem sei se vou conseguir em mais de uma, Mari…
— Mas é claro que vai, oras! As universidades vão disputar pela vaga de Gabriel
Cavalcanti — brinco e ele ri baixo.
— Sinto sua falta, sabia? — murmura e eu sinto um aperto no peito. — Sei que nos
últimos anos nós vivemos em casas separadas, mas, ainda assim, eu gostava de te ter aqui por
perto.
Meu rosto cora e minha barriga gela.
Eu preciso muito trabalhar isso em mim, preciso quebrar mais um pouco do muro que
construí entre nós.
Gabriel não tem culpa.
Gabriel não é como eles.
— Me desculpe por ser um pouco ausente. — Suspiro e o vejo me encarar. — Vou me
esforçar mais para ser mais presente daqui para a frente, ok?
Gabe sorri e balança a cabeça.
— Não precisa se preocupar, Mari. Eu sei o que nossos pais fizeram com você, o que
fizeram com nós dois. No seu lugar, eu me odiaria.
— Eu não te odeio — retruco e ele sorri.
— Eu sei. E é por isso que eu admiro tanto você.
Sorrio de lado e vejo meu irmão fitar o quarto ao seu redor.
— Vó Manoela deixou tudo exatamente do seu jeito, não mudou um móvel sequer de
lugar.
— Ela quer que eu me sinta acolhida todas as vezes que eu voltar para cá…
— Ela é especial, não é? — ele constata sorrindo.
— Eu realmente não sei o que seria da minha vida sem ela, Gabe — confesso e ele volta
a me olhar. — Ela sempre foi a única que me apoiou.
Meu irmão abre um sorriso triste.
— Fico feliz de te ver voar cada vez mais alto e para mais longe deles.
— Um dia eu vou vencer tudo isso, e vou andar com minhas próprias pernas.
— Você já é vencedora, Mari — ele diz firme. — Só não se deu conta disso ainda.
Olho para ele e sorrio agradecida.
— Tem planos para hoje à noite? — pergunto e seu semblante se ilumina.
— Eu sou todo seu! Inclusive vou dormir aqui, a vó já está avisada.
Abro um sorriso e penso que preciso aprender a viver esses momentos ao seu lado.
— Quer uma noite de filmes?
Os olhos de meu irmão brilham e ele dá um pulo da cama.
— Invocação do Mal 1, 2 e 3, por favor?
— Sério? Você não se cansa de ver esses filmes de terror?
— Não me diga que está com medo — provoca e eu reviro os olhos para ele.
— Eu? Com medo de filmes de terror? Francamente, Gabriel!
— Assume que você tem medo! — Belisca a minha costela e dou um tapa em seu braço.
— Eu não tenho medo! — brado e ele gargalha.
— Então vamos assistir!
— A vó não vai deixar nunca passar essas porcarias na TV da sala.
— Não faz mal. Vamos ver aqui no seu quarto. — Aponta para a TV no alto da parede.
Quando vejo que não vou ter vez, eu bufo, cedendo.
— Vou ao mercado buscar pipoca e refrigerante — anuncia saindo do quarto.
— Traz sorvete! — grito e ele confirma, sumindo pelo corredor.
Eu me jogo na cama de novo, quando ouço o alerta de chegada de mensagem pelo meu
celular.
Otto: Como estão as coisas aí, minha linda? Tudo certinho?
Eu sempre vou amolecer toda quando ele me chama assim, com todo carinho.
Eu: Graças a Deus, sim! Passei o dia colocando a conversa em dia com a minha avó
e sendo muito paparicada por ela. Agora, meu irmão chegou e quer me convencer a passar
a noite vendo filmes de terror.
Envio um emoji impaciente e Otto ri.
Otto: Yuri ia adorar esse programa. Ele adora me levar para essas ciladas também.
Eu: E como está tudo por aí? Aproveitando muito seu filho?
Otto: Bastante. Passamos o dia trabalhando na maquete dele e agora decidimos dar
uma pausa. Rendemos bastante hoje.
Eu: Que ótimo, Otto. E agora, já sabem o que vão fazer?
Eu me jogo no travesseiro enquanto aproveito este momento conversando com ele.
Otto: Provavelmente jogar videogame e pedir uma pizza.
Sorrio ao imaginá-lo fazendo exatamente isso. Otto se esforça muito para ser o melhor
para Yuri e eu só consigo admirá-lo ainda mais por isso.
Eu: Está certo. Curta muito esse momento de vocês.
Otto: Obrigado, Mari. Vocês também. Sei que é importante para você passar esse
momento com quem te ama de verdade.
E suas palavras aquecem o meu coração. Otto me entende tanto, compreende tanto como
tudo é para mim…
Otto: Vou precisar deixar o celular um pouco agora, porque estou sendo solicitado por
um adolescente.
Sorrio sozinha por isso.
Eu: Está certo. Divirtam-se!
Otto: Vocês também. Amanhã te chamo para conversar mais um pouquinho com você,
ok?
Eu: Combinado. Já estou sentindo saudades…
Otto: Eu também, minha linda. Se precisar de qualquer coisa, me ligue, ok? Estarei
sempre aqui por você.
Estarei sempre aqui por você…
Ah, Otto…
Por que tão incrível?
Eu: Obrigada, professor ;) Boa noite!
Otto: Boa noite, Mari. Tenha uma ótima noite de sono.
E, quando me despeço dele, eu me pego mais uma vez sorrindo sozinha.
Todo seu carinho, seu cuidado quando não está por perto, enchem o meu coração.
Só consigo pensar no tamanho da minha sorte por tê-lo conhecido.
CAPÍTULO 16- Otto

— Está pensativo demais — Caio comenta, sentando-se ao meu lado nos degraus do
fundo da casa de minha mãe.
Como hoje é seu dia de folga, ele me ligou para saber onde eu estava para jogar uma
conversa fora, e claro, filar almoço de dona Regina. Nós nos vemos menos do que gostaríamos,
porque é difícil conciliar nossos horários. Meu amigo é policial e quase sempre está trabalhando
aos finais de semana. Quando me chama para sair, eu sempre estou envolvido em algo da
universidade ou com o meu filho.
— Eu sou filósofo. — Dou de ombros. — Vou sempre pensar demais.
Caio bufa e revira os olhos para mim.
— Não é disso que eu estou falando, imbecil. Tem alguma coisa pegando aí. Eu te
conheço, Ottoni.
Suspiro e encaro o moreno ao meu lado, que, mesmo que não tenhamos nos visto tanto
quanto gostaria nos últimos meses, sempre foi alguém com quem pude contar.
— Conheci alguém — falo baixo, olhando para todos os lados para ver se alguém está
nos ouvindo.
Mas, para a minha sorte, estamos sozinhos e Yuri brinca no quintal com alguns primos.
— Porra, finalmente, hein? Precisava superar a desgraçada da…
— Fala baixo — repreendo-o, apontando para Yuri, e ele faz uma careta.
Renata pode ser quem é, mas ainda assim é a mãe do meu filho e eu o respeito por isso.
Em sua frente, não digo nada, mas nas costas…
— Mas e então, quem ela é?
— Não posso contar detalhes.
— Ah, se foder, Ottoni! — brada e eu rio.
— É complicado, Caio. Mas me deixa resolver tudo primeiro e depois te conto mais, ok?
— Tá… Vou aceitar essa. Se pelo menos você saiu da seca e do mau humor, já fico feliz.
Balanço a cabeça rindo.
Ele que não sabe como estou bem longe disso…
E pensar nela me faz sorrir sozinho.
— Ih… Tá ficando apaixonado, hein? Do nada, viajou aí e riu sozinho?
— Você não tem uma emergência para atender, não? — provoco-o e ele começa a rir de
mim. — Uma operação policial?
— Para de agourar a minha folga, idiota!
Ganho um soco no braço e fecho a cara para ele, pois estamos em muita desvantagem
aqui. Meu amigo, além de ser bem mais alto que eu, é o dobro da largura.
Ele sempre intimida a todos por onde passa.
— Pai. — Yuri vem em minha direção, soprando a franja para o alto. O garoto está
ofegante de tanto jogar futebol. — Cansei — reclama e eu rio. — Podemos ir embora?
— Claro. Tomar um banho, né? — sugiro e ele assente.
— Estou todo suado.
— Então vamos.
Levanto-me dos degraus e Caio me acompanha.
— Não quer ir lá pra casa jogar videogame com a gente, tio? — Yuri convida meu amigo
e meu coração dá um pulo aqui dentro.
Como todas as vezes que meu filho se refere ao meu apartamento como sua casa.
— Hummmm… Tentador, hein? Mas seu pai vai aguentar ser humilhado por nós dois?
Solto uma bufada.
— Francamente, Caio.
O moreno gargalha e Yuri solta uma risadinha.
Ao contrário de mim, que não levo o mínimo jeito para jogos, meu amigo parece que não
saiu da adolescência e dá uma canseira em muito moleque no videogame.
— Podemos pedir pizza de novo — o garoto me sonda com os olhos brilhando.
Ele sabe que me tem nas mãos.
— Não vou nem discutir com isso. Chego mais tarde e levo a cerveja.
Caio bate em meu ombro e se despede de nós, combinando os últimos detalhes.
— Já vão? — Minha mãe aparece, secando as mãos no avental. — Eu pensei que fossem
ficar para o café…
— Estou todo suado, vó. — Yuri faz uma careta que chega a ser fofa. — Cansei.
— Podia ter trazido uma roupa e tomado um banho por aqui.
Dona Regina faz um biquinho e eu aperto sua bochecha, dando-lhe um beijo.
— Da próxima vez eu penso nisso, tá? Vou aproveitar o restinho de noite com Yuri
agora.
— Está certo, filho. — Ela me abre os braços e me recebe em um abraço apertado. —
Obrigada por terem vindo. Você me parece estar muito feliz.
— E eu estou — murmuro, afastando-me de seu contato. — Aos poucos minha vida vai
entrando nos eixos.
— Você merece isso. — Ela me dá uma piscadinha. — Agora vem cá dar um abraço em
sua vó, eu não ligo para suor. — Dona Regina estende os braços para o neto e deposita todo o
seu carinho nessa despedida.
Nos despedimos dos outros familiares e saímos de casa, entrando no carro.
— Liga esse ar-condicionado, pelo amor de Deus. — O desespero de Yuri me faz rir.
— Com toda certeza. Quer parar no mercado para pegar um pote de sorvete?
O garoto se vira para me olhar com o semblante iluminado.
— Pai, você é o melhor do mundo. — Suspira e eu rio.
— Eu tento.
Ligo o carro e logo pego as ruas da cidade em direção ao mercado mais próximo para
comprar o seu sorvete favorito. No caminho, o carro fica climatizado, Yuri suspira relaxado e
agradecido.
O garoto fica dentro do carro mesmo quando saio para comprar. Eu logo volto, colocando
as sacolas em seu colo.
— Aproveitei e comprei os biscoitos e refrigerantes de que você gosta, porque acho que
acabou lá em casa.
— Valeu, pai!
Aciono o veículo e vejo que Yuri fica calado me observando dirigir.
— Sinto sua falta lá em casa — confessa e meu peito se aperta aqui dentro.
— Eu sei, filho… Eu também sinto a sua todos os dias. Mas alguns relacionamentos não
dão certo, você entende?
Yuri assente balançando a cabeça devagar.
— Eu sinto sua falta, mas prefiro você longe dela. — Seu comentário me faz olhá-lo de
lado, curioso. — Você é muito mais legal agora, pai. Mais engraçado, divertido. Você não era
feliz com ela, né?
A sua percepção me desarma e eu apenas meneio a cabeça confirmando.
Meu filho não sabe das traições, pois nós o poupamos desses detalhes e eu não estou aqui
para fazer a caveira da sua mãe. Porque, apesar de Renata ter sido uma péssima esposa, ela é a
mãe dele.
— Infelizmente, não… Eu tentei, mas nos últimos anos nosso casamento não deu mais
certo. Sua mãe e eu estávamos em ritmos diferentes da vida e achamos melhor seguir sozinhos.
Só lamento por não poder ficar com você todos os dias.
— É, eu também — ele responde, brincando com as sacolas em suas mãos. — Mas ela já
está namorando de novo, você também não vai?
Encaro-o, encontro insegurança em seu semblante e isso faz o meu coração se apertar de
novo. Sei o motivo disso, pois Renata simplesmente o deixa de lado todas as vezes que Fabrício
está lá, e isso sei que eu nunca faria.
— Um dia eu posso namorar de novo, Yuri — falo e ganho a atenção do garoto. — Mas,
quando esse dia chegar, você não será deixado de lado, ok? Eu só deixo uma pessoa entrar na
minha vida se ela fizer bem a você também. Ela não pode somente amar o pai, tem que amar o
filho. — Pisco para ele, que sorri, parecendo aliviado.
— Valeu, pai. Espero que um dia você encontre alguém legal.
Suas palavras sinceras me fazem abrir um sorriso, enquanto aceno.
A verdade é que eu já encontrei alguém, só preciso pensar numa forma de fazer tudo isso
dar certo sem que nos prejudique.

— Nossa, mas você é muito ruim, Ottoni! — Caio brada a gargalhadas quando eu jogo a
manete do videogame em seu colo.
— Eu sou doutor em Filosofia, Caio. Não preciso saber jogar videogame — provoco-o,
levantando-me do sofá, e ele só ri mais.
Olho para Yuri e pisco para ele, que está com o sorriso mais divertido do mundo no rosto.
E isso me vale tudo. Eu me sujeito a essas humilhações só para vê-lo sorrir.
— Aproveita e busca mais cerveja pra nós!
— Não sou o seu garçom — retruco e saio da cozinha, ouvindo as reclamações e
gargalhadas dos dois.
Mas, quando abro a geladeira para pegar duas garrafas, sinto o meu celular vibrar no
bolso.
Marina: Oi, professor ;) Já cheguei em casa! Como você está?
Largo as garrafas na bancada e me apoio para responder a sua mensagem.
Eu: Que ótimo, minha linda. Deu tudo certo? Eu estou bem, sendo massacrado no
videogame pelo meu filho e meu amigo…
Marina: Pobrezinho. O que estão fazendo com o meu Otto?
Meu Otto…
Ah, Marina…
Eu: Não se pode ser bom em tudo, né? E em videogame eu sou uma negação.
A sequência de risadas em emoji me faz sorrir.
Eu: Como foi o final de semana? Aproveitou muito a sua família?
Marina: Bastante… Estava morrendo de saudade da minha avó e passei um momento
bem gostoso com meu irmão.
Eu: Isso é ótimo, Mari. Fico feliz por você.
Marina: Obrigada, Otto. Amanhã posso te ver um pouquinho no intervalo? Talvez um
encontro na cafeteria por acaso?
Pensar nisso me faz sorrir.
Sei que não podemos nos ver todos os dias depois da aula, principalmente porque temos
nossos compromissos, mas a minha vontade é exatamente essa.
Eu: Com toda certeza. Não vejo a hora de te encontrar de novo.
Marina: Eu também. Uma pena que não vou poder te beijar…
Aperto os olhos com força.
Ah, caralho…
Eu: Prometo te compensar depois, Mari ;)
Marina: Eu vou cobrar, hein, professor!
Eu: De mim, você pode cobrar o que quiser…
— Está difícil sair uma cerveja aí, hein! — a voz de Caio me faz dar um pulo de susto e
guardar o celular no bolso.
— Porra, Caio. Que susto!
Meu amigo estreita os olhos para mim e abre um sorriso malicioso.
— Você estava de safadeza no telefone, Ottoni? — murmura baixo e eu o fuzilo com os
olhos.
O canalha só gargalha.
— Isso está saindo melhor do que a encomenda — provoca, rindo mais.
— Vai lá jogar, ô infeliz!
— Eu vou mesmo!
O moreno treme as sobrancelhas e abre a cerveja, dando um gole e sumindo da cozinha.
Solto um suspiro e pego o celular no bolso, sorrindo de sua resposta.
Marina: Adorei saber disso! Bom restinho de domingo, Otto. Nos vemos amanhã.
Eu: Até amanhã, minha linda.
Recebo um emoji de coração e guardo o celular no bolso, sorrindo ao pegar a minha
cerveja e voltar para a sala.
Quando me jogo no sofá, Caio me olha divertido e eu apenas balanço a cabeça sabendo
que meu amigo só cresceu no tamanho mesmo.
— GOL! — Yuri grita, levantando-se do tapete, e eu não perco a oportunidade de zoar o
meu amigo.
Então a festa começa e aqui, no meio da bagunça desses dois, só consigo pensar no
quanto me sinto feliz.
Eu sofri por muito tempo, mas agora estou finalmente encontrando a minha paz.
E como me sinto grato por isso.
CAPÍTULO 17 - Marina

— Obrigado, pessoal! Até semana que vem! — Otto acena para os alunos e logo todos se
levantam para sair para o intervalo de aula.
Começo a juntar as minhas coisas e, quando finalmente estamos sozinhos, eu me
aproximo dele. O sorriso que Otto me dá faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Você arrasou na aula, professor. Como sempre — elogio e ele sorri ainda mais.
— Obrigado, Marina. Já vai sair para o intervalo? — pergunta e eu assinto, vendo-o jogar
a alça da pasta no ombro. — Aceita companhia para um café?
Eu prendo um riso diante de sua atuação, como se não tivéssemos combinado ontem
exatamente isso.
— Claro! Eu tenho que ir à biblioteca mesmo, é meu caminho.
Otto para na porta e gesticula para que eu passe na sua frente, como um verdadeiro
cavalheiro.
— Como está indo o projeto de pesquisa? — pergunta de forma gentil enquanto
atravessamos os corredores do campus.
— Está indo muito bem, dentro do esperado. Não vamos demorar a apresentar e, se for
aprovado, vamos começar as pesquisas.
— Tenho certeza de que vocês vão conseguir. Luciano montou uma equipe muito boa.
— Obrigada, professor. Estou bem animada com tudo isso.
Pelo caminho, conto para ele resumidamente como temos trabalhado e Otto me ouve com
bastante atenção, sempre fazendo comentários de incentivo. É incrível como ele acredita em meu
potencial, desde o primeiro dia nesta universidade.
— O que você vai querer? — indaga logo que chegamos à cafeteria.
— Pode deixar, que eu faço o meu pedido — digo, mas ele me corta de pronto.
— De forma alguma. Pode me esperar na mesa que eu levo pra gente.
Abro um sorriso agradecido.
— Vou querer então um croissant de frango e um cappuccino de doce de leite.
— Perfeito. Já volto.
Assinto e procuro por uma mesa afastada para nos sentarmos. Por sorte, a cafeteria não
está muito cheia, assim podemos ter liberdade para desfrutarmos de alguns minutos de
companhia.
Em pouco tempo, Otto retorna com a bandeja nas mãos e se senta de frente para mim,
colocando sua pasta na cadeira vazia ao lado.
— Obrigada, Otto — murmuro antes de dar um gole na bebida quente.
— Como foi seu dia hoje, Mari? — ele pergunta com a voz suave, e sei que aqui não
precisamos mais atuar.
Aqui, somos Otto e Marina.
Não apenas uma aluna com seu professor de Filosofia.
— Foi bem produtivo! Passei o dia estudando para a prova de legislação, que já é esta
semana, e estou confiante de que vou conseguir passar!
— Claro que você vai. — Otto sorri antes de bebericar seu café. — Não tenho dúvidas
nenhumas disso.
— Sabe uma das coisas que eu mais admiro em você? — pergunto e ele me olha curioso.
— Você sempre acreditou em mim, mesmo quando me conhecia tão pouco.
— Sou bom observador, Marina — diz, pegando um cookie para comer. — Eu sei
reconhecer alunos esforçados de longe e a sua postura na sala de aula me chamou a atenção
desde o primeiro dia.
— Eu tento dar o meu melhor — digo tímida e ele sorri, cúmplice.
— Sei disso. E reconheço também. Por isso digo que você vai muito longe na vida.
Assinto e dou mais um gole na bebida antes de morder o croissant.
— E seu dia, como foi?
— Tranquilo. Fiquei em casa mesmo, organizando as aulas da semana, nada de muito
diferente.
— Imagino que deve ser bem puxado ser professor. Além de vir dar aula, tem todo um
trabalho em casa, né?
— Exatamente… — Ele suspira e dá um gole na bebida quente. — Não é um trabalho
fácil e muitas vezes não tem o devido reconhecimento, mas eu amo muito o que faço. Não me
imagino fazendo outra coisa na vida.
— Você nasceu para ser professor, Otto. Eu consigo sentir isso.
O sorriso orgulhoso que ele me abre me diz que escolheu mesmo sua profissão por amor.
— Obrigado, Mari. Significa muito para mim.
Mordo mais um pedaço do croissant enquanto o noto me encarar daquele jeito tão intenso
dele.
— E como está o Yuri? Te dando muito trabalho com a maquete? — indago e ele solta
uma risada baixa.
— Está dando mesmo trabalho, mas está ficando muito legal. Cada dia ele me aparece
com uma invenção nova, agora vamos ter até indústria!
— Jura? Que máximo!
— Eu só não sei como vamos fazer para transportar isso quando estiver pronto! — Otto
faz uma careta e eu rio.
— Contrata um caminhão de mudança — brinco e é a sua vez de rir, balançando a
cabeça.
— Não é uma má ideia! Duvido que vá caber no meu carro. Inclusive, tivemos que medir
a base da maquete para passar pela porta, sabe? Porque, se eu fosse dar ouvidos ao meu filho,
faria do tamanho da minha sala.
Eu quase engasgo com a bebida, contendo uma risada.
— Isso é a cara de um adolescente! Mas aposto que estão se divertindo muito no
processo.
— Com certeza. Yuri passa a semana falando do trabalho e me lembrando de coisas que
preciso comprar. Quando chega o final de semana, meu apartamento vira uma bagunça, mas é
gostoso demais. — Agora Otto se inclina na mesa e abaixa o tom de voz, para que só eu o escute.
— Próxima vez que você for ao meu apartamento, vou te mostrar como está ficando.
Sinto-me lisonjeada e meu coração se aquece aqui dentro.
— Eu vou adorar, Otto — sussurro e ele pisca para mim.
Terminamos de comer, mas não nos levantamos de imediato para sair. Engatamos uma
conversa despreocupada e, para o nosso alívio, quem passa e nos vê aqui nem imagina como nos
relacionamos fora da universidade.
Parecemos apenas dois colegas conversando, sem nenhuma maldade, sem nenhum olhar
comprometedor.
E apesar de estar louca de vontade de beijá-lo e senti-lo, gosto deste equilíbrio. Gosto de
apreciar a sua companhia, e sentir que ele também aprecia a minha.
— Bom, preciso ir — Otto diz, se levantando. — Tenho uma aula começando agora.
Ele olha para o relógio de pulso e eu assinto, juntando-me a ele.
— Vou aproveitar e passar pela biblioteca para pegar um livro antes de voltar para sala
— explico e seguimos pelo campus conversando.
Quando chegamos ao ponto em que nos separamos, Otto coloca as mãos nos bolsos e me
olha pesaroso.
— Nos vemos por aí, Marina? — diz e eu aquiesço, de pronto.
— Claro. Boa aula, professor!
— Para você também.
Aceno para ele e seguimos por lados opostos, onde caminho de cabeça baixa com um
sorriso bobo no rosto.
Meu celular vibra no bolso e sorrio ainda mais ao ver o seu nome surgir na tela.
Otto: Não pude te beijar agora, mas saiba que eu queria. Queria muito…
Eu: Eu sei… Receba um beijo bem gostoso na boca, professor. Daqueles de nos tirar
o fôlego.
Envio uma figurinha de um casal se beijando de língua e o emoji babando de Otto me faz
rir.
Otto: É, Marina…
Gargalho sozinha quando atravesso as portas da biblioteca e sigo para o corredor de
Engenharia.
Eu: Vamos dar um jeito de nos encontrar essa semana, ok? E fazer esse beijo
acontecer.
Otto: Vou ficar esperando… Vou entrar na sala agora. Um beijo, minha linda.
Envio de novo a figurinha de beijo para ele e sorrio sozinha.
Encontro meu livro na prateleira e sigo ainda sorrindo para o balcão da biblioteca,
pensando em como estou vivendo um sonho.
É tudo tão gostoso, tão lindo, que não quero que nunca se acabe…
CAPÍTULO 18 - Otto

— Acho que precisamos de mais árvores, pai — Yuri comenta, logo que terminamos de
montar a linha férrea.
— Você acha? — indago e meu filho faz que sim, assoprando a franja para cima.
— Está muito pouco ecológica essa minha cidade — constata e eu rio.
— Está certo. Quer que eu encomende mais pela internet?
— Na verdade — o garoto coça o queixo, pensativo —, será que encontramos no
shopping?
— Hummmm… Não sei, podemos tentar. Devem ter fazendinhas na loja de brinquedos,
né?
— Acho que sim. Podemos ir olhar? — Yuri me olha esperançoso e é impossível negar.
— Está certo. Bom… Já que vamos sair de casa, podemos almoçar por lá mesmo e me
poupa de cozinhar hoje.
— Fechado! Vou só trocar de camisa.
Assinto e vejo meu filho sumir pelo corredor, enquanto eu fico parado observando a
maquete no meio da sala. Está ficando mesmo um trabalho incrível, só não sei como vamos fazer
para tirar essa cidade da minha casa no dia de sua apresentação na escola.
Lembro-me de tirar uma foto para Marina ver o andamento do trabalho. Logo que ela
recebe a mensagem, envia uma série de figurinhas eufóricas.
Mari: Meu Deus, Otto! Está ficando lindo!
Eu: A cada dia meu filho inventa mais uma coisa e esse projeto nunca chega ao
fim… Agora ele constatou que está pouco arborizada a sua cidade e estamos indo ao
shopping procurar mais árvores.
Marina envia uma sequência de emojis de risada. Eu rio sozinho antes de sair da sala e ir
até o meu quarto para me trocar também.
Mari: Vai ficar incrível, toda verdinha. Yuri fez um ótimo apontamento!
Sorrio para a tela de telefone e penso em como meu filho adorou Marina logo no primeiro
dia e em como eles se deram tão bem.
E pensar nisso…
Eu: Tem planos para o almoço hoje?
Envio a mensagem sentindo o meu coração disparar aqui dentro.
Mari: Ainda não, por quê?
Eu: Quer ir almoçar conosco no shopping?
Vejo que ela demora um pouco para responder e imagino que recusará o convite, mas a
sua resposta me tira um sorriso.
Mari: Nossa, será um prazer! Dá tempo de eu tomar um banho e me arrumar?
Eu: Claro! Vamos passar na loja de brinquedos antes de almoçar, não precisa ter
pressa.
Mari: Combinado então. Te aviso logo que chegar. Obrigada pelo convite, Otto :)
Eu: Oh, minha linda. Eu que agradeço por aceitar! Até daqui a pouco ;)
Despeço-me dela e saio do quarto, encontrando Yuri já inquieto na sala.
— Podemos ir? — ele pergunta e eu concordo, pegando minha carteira na bancada e as
chaves.
Descemos pelo elevador e meu filho começa a falar empolgado o que mais dá para
montar em sua cidade.
— Uma usina hidrelétrica? — pergunto incrédulo e ele me lança aquele olhar de cachorro
pidão.
— Como vamos ter fornecimento de energia para a cidade, pai?
Balanço a cabeça rindo.
Por Deus… Onde essa história vai parar?
— Se for olhar isso, tem que ter a companhia de água e saneamento — aponto e seus
olhos brilham!
— Mas é claro que sim! Boa, pai!
Yuri dá um pulo no banco do carro logo que abre a porta e eu rio de sua empolgação.
— Mas chega, Yuri… Já temos de tudo na cidade, desse jeito não vai sobrar espaço para
os moradores e uma cidade não sobrevive apenas de empresas.
— É… Eu sei. É só porque estou muito empolgado!
— Jura? Se você não me conta, eu jamais imaginaria! — debocho e Yuri faz uma careta
para mim, tirando-nos uma risada.
— Posso colocar Green Day? — Ele aponta para o som do carro e eu assinto.
— Pode, só não muito alto, ok?
Meu filho concorda e logo aciona o bluetooth, colocando uma de suas músicas favoritas.
O garoto vai cantando em todo o trajeto até o shopping e, quando chegamos, vamos direto à loja
de brinquedos procurar pelas miniaturas de árvore. E, no final, acabamos levando mais algumas
casinhas novas e bonecos, já que a cidade precisa de habitantes.
Quando saímos da loja, meu celular vibra no bolso e eu recebo mensagem de Marina.
Mari: Cheguei! Onde vocês estão?
Eu: No segundo piso, perto da loja de brinquedos.
— Tem mais alguma coisa que esteja lembrando? — pergunto a Yuri enquanto enrolo
aqui em cima e ele fica pensativo.
— Hmmmm… Não sei. Acho que não. Ainda não sei como vou montar a usina, então
preciso pensar melhor.
Quando vejo Marina surgir no corredor do shopping, eu abro um sorriso de lado.
— Acho que sei quem pode te ajudar.
Vestindo uma jardineira jeans e tênis coloridos nos pés, Marina vem em nossa direção
com o semblante sereno e um sorriso no rosto. Os cabelos soltos balançam à medida que ela
caminha.
— Oi, rapazes — ela nos cumprimenta e eu a recebo em um abraço rápido.
Essa mínima proximidade me faz sentir o seu cheiro de melancia.
Tão familiar, tão delicado…
Tão gostoso.
— Yuri, lembra da Marina? — indago quando nos afastamos e meu garoto abre um largo
sorriso.
— Lógico que sim! Oi, Mari! — Yuri a recebe em um abraço também.
— Eu a convidei para almoçar conosco, filho, porque acho que ela tem a solução de que
você precisa — despisto e ele me olha curioso.
— Qual?
Marina também me analisa com o semblante intrigado.
— Você precisa de ajuda para montar uma hidrelétrica e ela é quase uma engenheira
civil. — Pisco para ele e o seus olhos brilham.
— Nossa, é mesmo! Você pode nos ajudar, Mari?
— Hummmm… Vamos ver o que posso fazer! Me conte do que você precisa!
E, enquanto descemos pela escada rolante, Yuri vai contando a ela com detalhes sobre a
maquete. A morena ouve tudo com atenção, como se já não soubesse em que ponto está o
trabalho. A empolgação do meu filho é palpável e a forma como Marina se interessa por ele
aquece o meu coração.
Aos poucos, tenho deixado que ela entre na minha vida e isso inclui também o meu filho.
Ver o quanto eles se dão bem me diz que tenho tomado a decisão certa nisso. Marina tem se
mostrado uma pessoa incrível e uma ótima companheira, a qual quero manter ao meu lado. A
cada dia tenho pensado mais sobre como fazer o nosso relacionamento dar certo, mesmo com
todas as nossas diferenças.
— O que querem comer? — pergunto a eles, logo que escolhemos uma mesa para sentar.
— Acho que quero lasanha hoje, pai — Yuri responde, sentando-se ao lado de Marina.
— Acho que vou te acompanhar. — A garota pisca para ele, que sorri satisfeito.
— Se é assim, vou pedir também.
Sinalizo para o garçom do restaurante mais próximo e fazemos nossos pedidos. Quando
ele volta com as bebidas, Marina dá um gole em seu refrigerante antes de se virar para o meu
filho.
— Acho que já sei como podemos fazer a usina.
— Ah, é?
— Podemos pintar o solo de azul e colocar gel, assim representamos a água — sugere e
eu assinto.
— Boa ideia — elogio e ela sorri.
— Quanto à estrutura da usina, acho que podemos montar as comportas de lego. Eu
posso te ajudar. Você tem em casa?
— Não tenho… Mas podemos comprar, pai? — Meu filho me olha sonhador e já sabe
bem a sua resposta.
— Claro! Quando terminarmos de almoçar, podemos voltar à loja de brinquedos para ver
isso.
— Legal! Nós já compramos algumas coisas antes de você chegar, Mari. Quer ver?
A morena assente e Yuri abre a sacola, mostrando tudo que compramos.
— Essa fazendinha pegamos por causa das árvores — justifica. — Eles não vendem
separado.
— E o que você vai fazer com os animais? — Mari pergunta e ele dá de ombros.
— Não sei… Acho que não tem espaço para uma fazenda na minha cidade. — Ele ergue
os olhos para mim e eu nego.
— Não mesmo! Esqueceu que ainda tem a usina e a companhia de saneamento?
— Mas e se fizer um haras? — Marina sugere e o semblante de Yuri se ilumina. — Não
precisa de muito espaço e você aproveita estes cavalinhos.
— Que maneiro! O que você acha, pai?
Olho para os dois e balanço a cabeça rindo.
— Pelo amor de Deus, Yuri. É a última coisa que você vai inventar para essa cidade —
alerto e o garoto concorda de pronto.
— Prometo — fala e eu estreito os olhos para ele. — É sério, pai. Vamos só terminar
agora o que já pensamos.
— Sei…
Marina solta uma risadinha e se volta para o meu filho.
— É melhor parar por aí mesmo, porque menos é mais. Se enchermos de coisas,
acabamos não trabalhando bem nos detalhes.
— De mais coisas, você quer dizer, né? — zombo e ela gargalha.
— E você tem compromisso hoje? — Yuri pergunta e eu franzo o cenho para ele.
— Yuri…
— Não tenho, não! Por quê? Está pensando em já começar a mexer com a usina?
— Se você puder… Meu pai paga pizza pra gente!
Abaixo a cabeça e balanço, rindo.
É esperto esse meu filho…
— Eu vou adorar! Tudo bem para você, Otto? — Mari me pergunta, encarando firme.
E eu sei bem o que é isso.
Ela está se certificando se tem algum problema entrar nessa parte da minha vida. Mas,
quanto a isso, pode ficar despreocupada.
— Com certeza! Já íamos passar o dia mexendo nessa maquete mesmo…
— Legal! — Yuri comemora e logo nosso almoço chega.
Durante toda a refeição, conversamos sobre o trabalho e meu filho conta um pouco sobre
a sua rotina na escola. Como Marina saiu há pouco do ensino médio, rende muito assunto com
ela, e o garoto a olha com tanta admiração, que me alegra.
Ao terminarmos, voltamos à loja de brinquedos, onde Marina ajuda a escolher o lego para
a montagem da usina. Depois passo em uma loja de conveniência e compro alguns chocolates,
biscoitos e salgadinhos para passarmos a tarde.
— Você realmente não tinha outro programa para hoje? — pergunto a Marina logo que
paramos ao lado do carro e Yuri se acomoda no veículo.
— Imagina, Otto. Eu eliminei uma matéria da minha lista, não preciso mais estudar para
a prova de legislação, esqueceu?
A piscada dela me tira um sorriso.
Como eu previa, a garota não só passou no exame, como tirou a nota máxima na prova e
me ligou comemorando no mesmo dia. Eu fiquei extremamente feliz e orgulhoso dela, pois sei
de todo o seu esforço e empenho.
— Então está certo. Vai ser um prazer ter você conosco — afirmo, para que ela saiba que
não é só o meu filho que a quer em nossa casa.
— Eu me sinto muito honrada em fazer parte disso.
Assinto e nos acomodamos no carro, onde seguimos pela cidade até a minha casa. Ao
chegarmos, faço uma apresentação rápida do apartamento e Marina finge surpresa ao conhecer
os cômodos principais.
Em matéria de atuações, nós dois estamos dignos de Hollywood.
— Que linda a sua cidade, Yuri! — Mari elogia sincera logo que se ajoelha no tapete, ao
lado da maquete.
— Ainda temos muita coisa para fazer, mas estou gostando muito. Olha essa ferrovia,
instalamos hoje!
Meu filho apresenta todo orgulhoso cada item de sua cidade, explicando como
montamos, e Marina elogia todo o nosso trabalho. Quando Yuri não está olhando, percebo que
ela troca olhares comigo, em que conversamos sem trocar uma única palavra.
Estou com saudade.
Eu também.
Queria te beijar de novo…
Eu sei.
É feio pensar em mandar o filho tomar um banho, só para eu roubar um beijo dela?
— Está ficando incrível, Yuri. Vocês estão de parabéns!
— Valeu mesmo, Mari. Já podemos começar a usina?
— Só se for agora!
Pelas próximas horas, nós três ficamos entretidos na construção da hidrelétrica e logo
seguimos para o haras, aproveitando para distribuir mais árvores pela maquete.
— Agora é só colocar o gel no dia da apresentação — Marina aponta e Yuri concorda,
eufórico.
— Pode deixar! Ficou muito maneiro, Mari. Valeu mesmo!
O garoto abraça a minha garota e ela corresponde, sorrindo.
— Imagina, Yuri. Fico feliz por ajudar.
— Agora podemos parar? Eu sou o idoso deste lugar e minha coluna está doendo —
reclamo e eles gargalham.
— Acho que está bom por hoje — ele conclui e eu suspiro.
Aleluia.
— Vou só tomar um banho rapidinho. — Yuri aponta para as mãos sujas de tinta azul. —
Você me espera, Mari? Pra gente pedir a pizza?
— Claro! Não precisa correr, eu não vou a lugar nenhum.
Yuri meneia a cabeça fazendo que sim e nos abandona, indo em direção ao banheiro.
Eu abro um enorme sorriso pela brecha e puxo Mari pela mão, levando-a até a cozinha,
que fica longe do campo de visão do corredor.
— Yuri não é de demorar no banho, mas temos alguns minutos… — murmuro antes de
puxá-la pela cintura e colar a minha boca na sua.
Porra, que saudade.
Não podemos nos beijar todos os dias, nem nos tocar, por isso, sempre que tenho a
oportunidade, aproveito cada segundo, que é precioso demais.
— É muita maldade querer que ele demore mais um pouco no chuveiro? — a morena
sussurra e eu rio baixo, tomando seus lábios mais uma vez.
Sem soltar a sua cintura, beijo-a bem lentamente, percorrendo cada cantinho de sua boca
com a língua, sentindo todo seu calor. O sabor do seu beijo vicia e, quando eu ouço o som da
porta do banheiro se abrindo, eu sinto um pesar por ter que me afastar.
Dou um último selinho antes de soltá-la por completo e vejo o descontentamento em seu
semblante.
— Antes de te levar para casa, eu dou um jeito de te beijar de novo — murmuro e vou até
a geladeira fingir pegar um refrigerante, quando vejo meu filho chegar à cozinha.
— Já podemos pedir a pizza, pai?
— Vocês já estão com fome? — pergunto, mas é ele quem assente sem parar.
— Eu topo o que vocês quiserem — Marina diz, puxando a cadeira da cozinha para se
sentar.
Diante da mesma bancada em que a comi naquele dia…
Eita porra.
Quantas lembranças…
— Certo, já vou pedir então.
Escolhemos os sabores e, enquanto esperamos, Yuri engata uma conversa despreocupada
com Marina. Desta vez sobre música e bandas favoritas. Eu participo, porém deixo a maior
interação entre eles, para que se conheçam mais, para que se deem bem.
— Está falando sério? Eu amo Green Day!
Os olhos do meu filho brilham e eu já sei que ele acabou de fazer uma amiga.
— O som deles é muito massa, né?
— Eu tenho vários CDs deles no meu quarto na casa da minha avó.
— Sério? Que maneiro!
Então a conversa deles não tem mais fim, e eu sorrio sozinho ao vê-los assim. De um
lado, o meu bem mais precioso, a pessoa que eu mais amo no mundo. E de outro, a garota que
tem preenchido os meus dias e dominado meus pensamentos. Aquela que me faz querer pensar
em um futuro, quando eu mesmo já tinha desistido dele.
Quando a pizza chega, comemos na cozinha mesmo e o assunto se estende, até Mari
perceber que é hora de ir.
— Está ficando tarde… Acho melhor eu ir.
O semblante triste do meu filho é puro reflexo do meu.
— Tá bom. Depois você volta mais? Quero te mostrar a maquete quando ficar pronta.
— Claro, Yuri. Eu estou contando mesmo com isso. E parabéns mais uma vez, seu
trabalho está lindo!
— Valeu!
— Filho, você se importa de ficar um pouco sozinho para que eu leve a Marina em casa?
— Não precisa, Otto. Eu chamo um Uber… — Ergo a mão para ela, interrompendo-a, e
meu filho acena para mim.
— Eu faço questão.
— Beleza, pai. Vou colocar um seriado para assistir enquanto isso.
— Certo. Não demoro. E, qualquer coisa que precisar, você me liga.
Yuri sinaliza com a mão antes de puxar Marina em um abraço e os dois se despedem com
muito carinho. Quando eu a conduzo para fora do apartamento e descemos pelo elevador, a
garota me olha maravilhada.
— Seu filho é um querido! A cada vez eu fico mais apaixonada por ele.
— Eu sou suspeito para falar, né? Mas amo esse garoto…
Ela sorri e logo saltamos do elevador, mas, antes de seguirmos pela garagem, eu a levo
para um canto atrás das escadas, longe de qualquer visão das câmeras.
— Eu prometi te beijar de novo antes de te levar para casa… — murmuro antes de atacar
a sua boca mais uma vez.
Marina me puxa pela nuca, trazendo-me para mais perto dela, e minhas mãos agarram sua
cintura, colando nosso corpo enquanto minha boca não solta a sua.
— Ai, Otto… — sussurra quando corro os lábios pelo seu pescoço e subo, mordiscando a
sua orelha.
— Eu nunca vou me cansar da sua boca, Mari — murmuro e tomo seus lábios
novamente.
O beijo começa lento e logo se torna urgente, faminto, desejoso. Meu pau ganha vida
dentro das calças e Mari o sente, esfregando-se enquanto me beija afoita.
— Preciso parar, senão vou acabar te comendo aqui mesmo — falo baixo, sentindo o
meu coração voar pela boca.
— Não é uma má ideia, professor… — a voz ofegante faz meu pau reagir ainda mais.
— Não posso arriscar. — Franzo o cenho para ela, que entende, tocando o meu rosto com
carinho.
— Eu sei. É só a saudade mesmo. — Mari se inclina e me dá uma sequência gostosa de
selinhos.
— Vamos marcar um encontro tranquilo essa semana, ok? — Toco seu queixo e roço os
dedos pela sua pele, sentindo-a se arrepiar. — Sem pressa, sem correria, para eu desfrutar de
você com calma.
Os olhos de Marina brilham e ela me abre um sorriso malicioso.
— Vou esperar, viu?
Seguro seu rosto em minhas mãos e beijo sua boca mais uma vez.
— Eu prometo, Mari.
Vejo-a assentir e dou mais um selinho nela antes de guiá-la de volta ao estacionamento,
de onde a levo de volta para casa.
Pelo trajeto, finalmente sozinhos, não consigo deixar de pensar em como seria um futuro
ao seu lado.
Deixando-a entrar em minha vida, sendo mais do que uma amiga aos olhos de meu
filho…
E o mais curioso disso é que gosto da imagem que vejo.
Na verdade, gosto muito disso.
CAPÍTULO 19 - Marina

O elevador apita anunciando a chegada ao décimo andar. Quando as portas se abrem,


pego o corredor e já vejo o motivo do meu sorriso me esperando encostado no batente da porta.
— Oi, professor — murmuro, inclinando-me para lhe dar um selinho, e ele sorri,
abraçando-me pela cintura.
— Aqui eu não sou seu professor, Marina — ele brinca fingindo reprimenda e eu rio logo
que passo pela porta de seu apartamento.
— E eu também não sou Marina — retruco e ele faz uma careta para mim.
— Justo.
Otto sorri antes de afundar o rosto em meu pescoço e me cheirar daquele jeito que me
arrepia inteira.
— Seu cheiro é uma delícia — murmura antes de cravar os dentes em minha pele e me
morder de leve.
— Ai, Otto… — gemo baixo e ele ri, dando-me um beijo antes de se afastar.
— Como foi sua manhã, Mari?
Ele toca os meus cabelos e acaricia a minha pele antes de me dar um selinho.
— Foi bem produtiva — respondo, beijando seus dedos ao roçarem os meus lábios. —
Consegui terminar um trabalho de Teoria da Engenharia.
— Que ótimo…
— E a sua? Como foi?
— Bom… Passei boa parte preparando um almoço para alguém especial — Otto diz,
sorrindo de lado, de forma que uma ruguinha surge em seus olhos.
Tão lindo…
— Você é um homem de talentos, Ottoni — murmuro e ele sorri, dando de ombros.
— Eu tento… E então, já está com fome?
— Um pouco, mas acho que podemos tomar um vinho antes.
Abro a bolsa térmica que carrego nos ombros e tiro de lá uma garrafa, Otto abre um
sorriso ainda maior ao ver.
— Quando um cara especial me convidou para um almoço, pensei em trazer o seu vinho
favorito.
Os olhos do meu professor brilham ao reconhecer a embalagem de Merlot.
— Eu não queria chegar sem trazer nada — digo, balançando o corpo devagar.
Quando Otto me chamou para almoçar em seu apartamento hoje, fiquei pensando no que
eu poderia trazer para a refeição. Rapidamente me lembrei do vinho e agora, olhando para seu
sorriso, sei que acertei na escolha.
— Você… — ele fala e toma meus lábios em um beijo gostoso. — Era só ter trazido
você, Mari. Nada mais do que isso.
Ah, Otto…
Agarro seus cabelos e o beijo de um jeito tão gostoso, tão quente, que meu corpo se
arrepia inteiro.
— Você não pode sair falando essas coisas por aí… — murmuro, roçando meus lábios
nos seus.
— Falando, como?
O vinco que se forma em sua sobrancelha chega a ser sexy.
— Como se gostasse de mim… — minha voz é tão baixa e o coração bate tão forte aqui
dentro, que acho que Otto é capaz de ouvi-lo.
— Mas eu gosto de você — diz firme e minha barriga gela. — Gosto demais de você…
Seus olhos não se desviam dos meus e eu sinto tudo se agitar aqui dentro.
— Otto…
— Ou você acha que eu costumo cozinhar para as pessoas? — sussurra e eu engulo em
seco.
— Na-não? — gaguejo porque ele está tão próximo agora…
— Nunca. — Otto roça os lábios pela minha pele e beija o meu queixo, descendo
devagar.
Aperto os olhos e sinto seu contato, que sempre tem o poder de me tirar o rumo.
— Eu nunca trouxe ninguém aqui, Marina. Nunca deixo ninguém entrar na minha vida…
— a voz grossa está mais rouca agora. — Até você chegar.
Mordo o lábio ao senti-lo chupar a minha pele devagar.
— Eu te quero o tempo todo… E, quando não te vejo, fico morto de saudades.
Meu coração, coitado, está à beira de um colapso aqui dentro.
— Você… — interrompo-o e o faço olhar em meus olhos. — Acha que podemos dar
certo? — Minha voz falha, mas a firmeza em seu olhar faz algo se acender aqui dentro.
— E já não estamos dando certo? — murmura e eu sorrio de lado.
— Muito… Mas não quero que isso seja escondido para sempre.
E, neste momento, o semblante de Otto se torna um pouco preocupado ao assentir.
— Nem eu, minha linda. Mas vamos dar um jeito, ok? Eu já estou pensando em
alternativas…
— Ah, é? — indago curiosa e ele assente.
— Sim, mas me espera ter algo concreto primeiro para te contar?
Franzo o cenho e aceno de leve para ele.
— Pode confiar em mim.
— Eu confio — respondo, sem nem mesmo precisar pensar, e ele me abre um sorriso de
lado.
— Prometo que vai valer a pena. — Otto se inclina para me dar um selinho. — Agora
vamos tomar um vinho?
Assinto, seguindo-o até a cozinha, onde ele abre os armários e busca duas taças para nos
servir.
— Precisa de ajuda? — Aponto para o fogão e ele nega, entregando-me a taça, com a
qual brindamos antes de dar o primeiro gole.
— Está tudo adiantado, só deixei para finalizar quando você chegasse — diz, bebendo
um gole de vinho.
— E o que teremos hoje, chef?
— Risoto de cogumelos e medalhão de filé-mignon — responde, orgulhoso.
— Uau… Deve ser maravilhoso.
— Eu espero que sim. — Ele me dá uma piscadinha. — Já vou começar aqui.
Enquanto o assisto trabalhar na cozinha, pergunto sobre Yuri e sobre a vida. Até chegar
ao assunto viagens de novo.
— Comentei com o meu garoto sobre levá-lo a um safári quando ele completar dezoito
anos.
— Jura? — pergunto animada e ele assente de pronto.
— Ele ficou muito empolgado com a ideia. Nós não falamos muito sobre viagens e
planos, então foi uma boa surpresa para ele.
— Sério? E o que mudou agora?
— De umas semanas para cá, eu comecei a pensar mais no meu futuro… Comecei a
pensar em possibilidades. Coisa que eu meio que havia desistido de pensar — confessa
abaixando o tom de voz e eu sinto meu coração errar uma batida.
— Então agora você pensa mais sobre isso? — Meu coração dispara quando ele assente,
olhando no fundo dos olhos.
— Agora estou tendo motivos para pensar.
Eu perco a fala e Otto desliga o fogão, finalizando o trabalho e indicando para que eu
pegue os pratos para ele montar. Assisto a tudo em silêncio e sorrio diante de tanto cuidado e
amor.
É nítido todo o carinho que ele deposita em tudo que se propõe a fazer para nós dois.
— Vamos?
Otto me conduz até a mesa de jantar. Quando me sento, ele pega uma rosa branca e
coloca ao meu lado na mesa. É um gesto tão lindo, que eu não resisto em inspirar o aroma
gostoso que vem dela.
— Obrigada pela flor, Otto. Eu nunca recebi de alguém antes…
— Sério? — indaga e eu meneio a cabeça confirmando.
— Só da minha avó. — Dou de ombros.
— Fico feliz de ser o seu primeiro então…
— Você é o meu primeiro em muitas coisas, Otto.
Ele abre um sorriso lindo e orgulhoso.
Quando eu dou a primeira garfada, solto um gemido de satisfação.
— Ulisses Ottoni, isso é maravilhoso! É perfeito! É… — desato a falar e meu professor
solta uma gargalhada gostosa.
— Está bom, então?
— Bom? É delicioso!
Como mais um pouco e faço caras e bocas para ele, que só sabe sorrir enquanto desfruta a
refeição comigo.
— Sabe que te ouvir falando o meu nome assim me fez até gostar um pouquinho dele?
— Seu nome é lindo — digo, pausando para dar um gole no vinho. — E acho que você
deveria levar por outra perspectiva — proponho.
— Qual? — Seu semblante é curioso agora.
— Seja lá quem tenha sido o seu avô, ele não é você. Eu não o conheci e, para mim, não
importa. O Ulisses que está diante de mim é um homem incrível. Inteligente, dedicado, carinhoso
e um pai exemplar. Esse é o seu legado, Otto. É o legado que este Ulisses vai passar. Um legado
lindo.
Percebo que ele me analisa em silêncio, absorvendo minhas palavras, e isso só me
encoraja a continuar.
— Uma coincidência de nomes não define quem você é. O outro Ulisses pode ter sido um
ser humano detestável, mas você… é o homem mais incrível que eu já conheci.
Um sorriso lindo se abre em seu rosto e ele balança a cabeça para mim.
— Obrigado por isso, Marina. Significa muito para mim.
Jogo um beijo para ele antes de beber mais um pouco do vinho.
— Mas não se preocupe, que não vou te chamar assim. Só em tons de brincadeira como
agora.
— Pode me chamar se quiser — quando ele diz isso, eu sinto o meu coração dar um salto
aqui dentro. — Você tem passe livre para me chamar do que quiser.
Minha garganta dá um nó e eu me lembro de quando disse mais cedo sobre nunca deixar
ninguém entrar…
E ele me escolheu.
Ah, Otto…
— Otto combina muito com você. — Pisco para ele. — É sexy.
Ele sorri e, quando terminamos a refeição, o professor me conduz até o sofá, onde me
acomodo em seu colo.
— Quero te ter aqui mais vezes… — ele murmura tocando meus cabelos com carinho. —
Eu não estava brincando, Mari. Estou buscando alternativas para que sejamos livres para
ficarmos juntos.
Meus olhos marejam e eu apenas me inclino para lhe dar um selinho.
— É isso que você também quer, não é? — indaga e eu abro um sorriso.
— É o que eu mais quero… — murmuro e ele assente.
— Sabe que às vezes sinto como se lá naquela boate eu já soubesse?
— Jura? — indago e ele acena devagar.
— Se eu não soubesse que ia te querer de novo, eu teria jogado sua calcinha fora.
Afasto-me um pouco e pisco os olhos, incrédula.
— Você… Você guardou?
— Claro. E sabe por quê? — pergunta e eu nego. — Porque eu sabia que um dia te
encontraria…
— Para me devolver? — brinco e ele ri baixo, negando devagar.
— Para que soubesse que aquela noite foi muito especial para mim… De um jeito que eu
nunca vou me esquecer. Para você pode ter sido só um sexo com um desconhecido, mas para
mim foi muito mais.
— Não — corto-o. — Nunca foi só isso para mim. Por isso me doeu tanto te encontrar no
primeiro dia de aula.
Otto ri, balançando a cabeça e se lembrando daquele dia.
— Nós tentamos, né? Tentamos resistir àquela tentação.
— Mas não deu — aponto, contendo uma risadinha.
— É, não deu mesmo.
— Algumas coisas são para ser, Otto. Eu acredito muito em destino, você não?
O homem à minha frente toca o meu rosto com todo carinho, com todo amor.
— Não acreditava muito, não…
— E agora? — questiono, sentindo meu coração se agitar.
— Há muitas coisas em que passei a acreditar desde que você apareceu, Mari. E destino é
só uma delas.
Otto se inclina e cola nossa testa, roçando seu nariz ao meu.
— Tinha que ser assim, professor… — murmuro e ele sorri.
— Ah… Disso eu não tenho dúvidas. Tinha mesmo que ser assim.
Com um beijo, ele me cala.
E aqui, perdida em seus lábios, percebo que palavras não cabem mais.
CAPÍTULO 20 - Marina

Estou entretida estudando com mais afinco sobre o grafeno, quando um zumbido
esquisito ecoa o meu sinal de alerta.
Largo a caneta na mesa e olho para os lados, buscando a origem do som. Quando
finalmente encontro, eu sinto meu corpo inteiro congelar.
Puta que pariu.
— AI, MEU DEUS — grito e saio correndo de cabeça baixa pelo apartamento, sentindo
o meu peito acelerar.
Fecho a porta do quarto e me tranco ali, respirando ofegante e sentindo o meu coração
voar pela boca.
Tem uma barata lá fora.
E não é apenas uma barata.
É uma barata que voa.
Puta que pariu.
O que eu vou fazer?
Estou sozinha, porque hoje é um dos dias em que Carina fica o dia todo na faculdade, e
não existe a mínima possibilidade de eu sair deste quarto.
Não quando tem um monstro lá fora.
Eu me jogo na cama e tiro o celular do bolso, pensando em minhas opções. Nem adianta
tentar chamar a Carina, porque minha amiga é tão medrosa quanto eu e, se souber que tem uma
barata voadora lá fora, ela nem volta para casa hoje.
Ai, que saudade de vó Manoela, que sempre matou as baratas para mim…
Solto um suspiro. E agora?
Então penso nele…
Será que Otto está em casa agora? Será que ele me ajudaria?
Não sei, não tenho ideia, mas preciso arriscar.
É isso ou passar o resto do dia presa neste quarto e eu não posso faltar à aula hoje.
Disco o número dele e sua voz grossa surge no segundo toque.
— Mari?
— Otto, preciso de você — falo, desesperada, e sua voz se torna preocupada.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Respiro fundo e sinto meu corpo estremecer, só de lembrar da imagem que eu vi.
— Tem uma barata lá fora… Uma barata que voa, Otto! Eu não posso sair daqui, eu…
— Calma, respira — sua voz é mais serena agora. — Onde você está?
— Estou no meu quarto. Eu me tranquei aqui logo que a vi, mas, Otto, eu não posso sair
daqui. Não sabendo que tem uma aberração lá fora…
— Fica tranquila, estou indo para aí — diz e eu respiro mais aliviada. — Só me diz uma
coisa, você consegue sair do quarto para abrir para mim?
— Não — respondo rápido, sentindo aquele pavor tomar conta de mim. — De jeito
nenhum. Se eu sair, vou dar de cara com ela. Vai pousar em mim, vai grudar no meu cabelo,
vai…
Meu corpo chega a coçar de puro desespero e o tempo todo meu professor tenta me
tranquilizar do outro lado da linha.
— Certo, não precisa sair daí. Mas como eu vou entrar? A sua amiga está com você?
— Não. Ela está em aula a uma hora dessas.
— Ok… E você acha que eu consigo pegar a chave do apartamento com ela?
— Consegue — respondo, sentindo o meu coração bater um pouco mais calmo agora.
Ele vai vir…
Ele vai me ajudar…
— Ótimo. Me manda o contato dela por mensagem e me fala onde é a sala de aula dela,
que vou até lá agora.
— Tá… Eu vou fazer isso — respondo, abraçando o meu corpo na cama.
— E pode ficar tranquila, Mari. Me espera, que eu estou chegando.
— Obrigada.
Despeço-me dele, enviando a mensagem com todos os dados que me pediu.
Largo o celular na cama e penso no alívio de tê-lo chegando até aqui.
Otto

Atravesso o campus da universidade, seguindo pelo caminho que me levará até a sala de
Carina. Logo que encerramos a ligação, eu consegui entrar em contato com a amiga de Marina
para saber os detalhes a fim de pegar a sua chave do apartamento.
Porque minha garota não consegue sair do quarto por conta de uma barata.
Uma barata.
Poderia ser engraçado se ela não estivesse com tanto medo. E é por isso que eu parei tudo
o que estava fazendo para ir socorrê-la.
De uma barata.
Balanço a cabeça e, quando estou chegando à sala de Carina, envio uma mensagem para
ela avisando. Logo uma garota loira surge no meu campo de visão e noto que é muito bonita.
— Otto? — chama e eu assinto, indo ao seu encontro.
— Muito prazer, Carina. — Estendo a mão a ela, que aceita de pronto, sorrindo.
— O prazer é meu de finalmente conhecer o professor que Mari sempre elogia — diz e
eu sorrio de lado, um pouco constrangido.
Sei que ela sabe de nosso envolvimento, mas Marina me garantiu que podíamos confiar
nela e eu acredito nisso.
— Aqui a chave do apartamento. — Ela me estende o chaveiro e eu pego de sua mão. —
Você vai mesmo tirar aquele alien da nossa casa?
Eu não resisto e solto uma risada.
— Alien… Aberração… Vocês são engraçadas.
— É uma barata que voa, Otto! Não tem como isso ser deste planeta! — reclama e eu
balanço a cabeça rindo.
Consigo perceber por que as duas se dão bem.
— Está certo. Agora me deixa ir para tirar aquele bicho de lá, porque sua amiga está
presa dentro do quarto.
— Tadinha… Vai lá!
Carina me agradece e se despede, voltando para a sala de aula, e eu disparo pelo campus
em direção ao meu carro. Logo que entro, agradeço por elas morarem tão perto daqui, porque
não demora e estou parando em sua porta.
Adentro o prédio e subo pelo elevador até o andar de Marina. Quando destranco a porta,
encontro o absoluto silêncio lá dentro.
— Mari? — chamo e não tenho resposta. — Mari, eu cheguei! — falo mais alto agora e
ouço um vislumbre de sua voz vindo do quarto.
Ando até lá, olhando tudo ao meu redor, mas não encontro a tal barata pelo caminho.
— Mari? — Bato na porta e escuto um som vir lá de dentro.
— Otto, você encontrou? — a voz próxima me diz que ela está atrás da porta.
— Ainda não. Você sabe me falar onde a viu?
— Eu estava estudando na cozinha quando ouvi o zumbido. Não sei para que lado ela foi,
porque saí correndo.
— Certo… Vou procurar pela casa, ok? Qualquer coisa que precisar, você me grita.
— Tem vassoura do lado do tanque, na área de serviço.
— Ok!
Afasto-me da porta e vasculho o apartamento com os olhos, procurando pela bendita
barata, mas não a encontro em lugar nenhum. Sigo até a área de serviço e pego a vassoura,
ficando em posição de alerta enquanto procuro.
Reviro a cozinha até um vulto me chamar atenção.
Parada na janela de vidro está a abençoada, mexendo as antenas devagar.
— Te peguei, sua pestinha — murmuro, acertando o vidro com a vassoura, mas a
ordinária voa antes que eu possa atingi-la.
— Ah, sua filha da puta!
Sigo-a arremessando a vassoura, tentando derrubá-la, mas ela é mais rápida do que eu e
segue voando desgovernada pela casa.
Depois de fazer bastante hora com a minha cara, a infeliz pousa na parede da sala e eu
sorrio sozinho.
— É agora, sua praga…
Calculo meus movimentos e ando pé por pé até ter uma distância segura, onde sei que é
mais difícil de errar. Golpeio a parede com força e finalmente a acerto, derrubando-a ao chão.
— Desgraçada! — Esmago com o sapato e sinto um prazer ao ouvir o estalado em meu
solado. — Isso é por ter deixado minha garota com medo.
Ergo os pés e a imagem da barata estraçalhada me surge.
Perfeito.
Busco uma pá na área de serviço e volto para recolher o cadáver. Higienizo tudo e
quando estou satisfeito, vou até o quarto de Marina, dando batidinhas à porta.
— Pode sair, eu já acabei com ela.
— Jura? — a voz trêmula aperta o meu peito.
— Sim. Eu a encontrei, matei e limpei tudo.
Ouço o barulho da maçaneta sendo destravada e a imagem da minha garota assustada me
desarma.
— Ô meu amor… — murmuro, tomando-a em meus braços, e Marina me aperta tão
forte, que percebo que está tremendo. — Já passou, ela não está aqui mais…
— Obrigada, Otto — a sua voz fraca aperta o meu peito.
Afasto-me dela e toco seu rosto com carinho, vendo seu semblante ainda assustado.
Inclino-me e lhe dou um selinho gostoso.
— Então eu vim salvar a minha garota em apuros? — brinco e noto seu semblante
suavizar.
Mari me abre um sorriso de lado.
— Me desculpe se te atrapalhei, eu não tinha mais a quem recorrer e…
— Ei — interrompo-a, tocando em seu queixo para que olhe para mim. — Você nunca
me atrapalha, ok? Nunca. E fico feliz que tenha me pedido ajuda.
— Obrigada mesmo. Você salvou a minha vida. — Suspira relaxada e eu sorrio.
— Vem beber uma água — chamo pegando-a pela mão e seguimos pelo apartamento.
Pelo caminho, narro o acontecido e vejo que a morena se estremece só de ouvir falar do
inseto voador.
— Um bicho desses não deveria ter asas — resmunga logo que chega à cozinha. — É
desumano isso.
— Mas não é humano mesmo, é inseto — brinco, para descontrair, e ela me fuzila com o
olhar.
Solto uma risada.
Marina nos enche dois copos de água e eu a acompanho, notando se recuperar.
— Estudando? — Aponto para os livros abertos em sua mesa e ela assente.
— Estava… Mas acho que não vou pegar mais por hoje. Aquela aberração tirou toda a
minha concentração.
— Hummmm… Quer um pouco de companhia então? — ofereço e vejo seu semblante se
iluminar.
— Você pode ficar mais um pouco?
— Com o maior prazer. Está com fome?
— Um pouco — confessa.
Assinto e pego-a pela mão, levando até o sofá, onde ela se acomoda em meu colo.
— Vou pedir um sanduíche natural pra gente, pode ser?
— Perfeito!
Faço o pedido pelo aplicativo e largo o celular no sofá, abraçando sua cintura antes de
beijar seus lábios daquele jeito que eu amo.
— Que bom que aquele alien me trouxe você aqui — murmura roçando seus lábios aos
meus antes de mordiscar minha pele. — Em plena quarta-feira à tarde…
Sorrio e tomo sua boca de um jeito mais intenso agora, daquele jeito que nos tira o ar.
— Hummmm… Estou começando a achar que você combinou com essa barata — brinco
e ela ri, balançando a cabeça.
— Não tem saudade nenhuma que me faria trazer uma barata até aqui, Otto. Ainda mais
voadora. Voadora! Tem noção disso?
O desespero em seu semblante me faz rir.
— Não temos mais baratas voadoras por aqui, Mari. Pode ficar tranquila. E, se um dia
aparecer de novo, é só me chamar. Eu venho até de madrugada te socorrer.
Marina sorri e toma meu rosto em suas mãos, acariciando-me de leve.
— Você é perfeito, sabia? — sussurra e eu sinto o meu coração se agitar aqui dentro. —
Inteligente, excelente professor, pai dedicado, ótimo cozinheiro e ainda assassino de baratas.
A garota enumera as minhas qualidades e eu abro um sorriso.
— E lindo — completa me fazendo sorrir mais. — Gostoso…
Eu não resisto e tomo seus lábios mais uma vez, em um beijo muito mais quente agora,
mais intenso.
— Gostosa é você — murmuro, descendo os lábios pelo seu pescoço, onde mordo de leve
e sinto sua pele se arrepiar.
— Otto… — ela geme, rebolando em meu quadril, e, quando minha boca desce até o seu
colo, ouço o interfone tocar.
— Ah, caralho — resmungo me lembrando de que pedimos um sanduíche.
— Logo agora? — Mari reclama e eu rio, dando-lhe um selinho antes de tirá-la de meu
colo.
— Vou descer para pegar.
Saio do apartamento e desço pelo elevador, encontrando o entregador. Quando volto,
encontro Marina arrumando a mesa para comermos e toda aquela tensão sexual se esvaiu.
— Bom que você come um pouquinho — digo e ela sorri, sentando-se ao meu lado.
Dividimos essa refeição rápida, e as conversas despreocupadas com ela deixam o meu
coração tranquilo. Eu a encontrei em puro desespero hoje e fico bastante feliz de saber que ela
está bem agora.
Quando terminamos, ajudo-a a organizar tudo e, desta vez, Mari me leva até o seu quarto.
— Tem mais uns minutinhos para mim, professor? — sua voz é provocativa e eu abro um
sorriso safado ao enlaçar sua cintura.
— Ah, pode apostar que sim…
Calo-a com um beijo e esfrego o meu corpo ao seu, enquanto minhas mãos descem pelas
suas coxas descobertas pelo short curto. Marina não se faz de rogada e me puxa pela nuca,
apertando os meus cabelos e me fazendo sorrir em sua pele ao sentir o desejo latente.
Em um movimento, coloco-a em meu colo e a garota enlaça a minha cintura enquanto eu
a carrego até a parede mais próxima, sem separar a nossa boca.
— Se eu pudesse, te comeria agora, Marina — murmuro descendo os lábios até o seu
pescoço. — Prensada nesta parede.
— E… — ela começa e geme ao sentir a mordida na pele. — E por que não pode?
Sorrio em sua pele.
— Tem roupa demais aqui — falo e seus olhos faíscam.
— Podemos resolver isso — sussurra, afastando-se para arrancar a camiseta, atirando-a
longe.
O sutiã vai pelo mesmo caminho e logo a morena está nua da cintura para cima.
— Mas é gostosa…
Lambo os lábios devagar antes de correr a língua pelos seus peitos, chupando e lambendo
os biquinhos.
Marina joga a cabeça para trás e geme ao sentir o trato que dou em seus seios, mamando
gostoso em cada um deles.
— Ai, Otto…
Eu ainda a seguro no colo enquanto continuo chupando seus peitos, sugando e mordendo
os mamilos, vendo-a se desesperar em meus braços.
— Deliciosa — murmuro, espalhando saliva por onde minha língua passa.
Faço o caminho de vai e volta e Mari se estremece inteira, louca de tesão, o que só me
incentiva a continuar.
Gostosa pra caralho.
Quando me dou por satisfeito, desencosto-a da parede e atiro-a na cama, ela me olha
safada.
— Onde você tem camisinha?
— Lá no móvel da sala.
Assinto e saio, indo até o local indicado. E, quando eu volto, encontro-a completamente
nua me esperando.
E para completar, com as pernas bem abertas.
Os dedos deslizando pela boceta lisinha.
— Que visão, Marina…
— Sabe o que seria melhor que os meus dedos, professor? — pergunta antes de chupar
um indicador e correr por todo o seu sexo.
— O quê?
Arranco a minha camisa e desafivelo o cinto da calça, sentindo um tesão do caralho
diante disso.
— O seu pau… — A morena mete um dedo dentro dela e geme feito uma putinha. —
Bem aqui… — Enquanto eu termino de me despir, ela faz o caminho de vaivém dentro dela. —
Comendo gostoso a minha boceta.
Ah, caralho…
Rasgo a embalagem de preservativo e cubro o meu pau, indo até a borda da cama e
puxando-a de uma vez.
— É isso aqui que você quer? — pergunto, parando em sua entrada.
Os olhos dela brilham ao acenar devagar.
— Então, peça — instruo-a e ela morde o lábio provocativa.
— Professor… — Olho em seus olhos a espero continuar. — Vem aqui, vem. Vem foder
a sua putinha.
— Porra, Marina.
Aperto sua pele e meto de uma vez só, gemendo junto com ela ao chegar ao fundo.
— Sua boceta é tão gostosa, Marina — rosno, sentindo meu pau ser esmagado por ela. —
Tão quente…
Estoco cada vez mais forte e não tenho um pingo de pudor.
E, pela forma como a morena geme, aposto que todo o prédio está nos ouvindo.
Tiro o meu pau e pincelo em sua entrada, lambuzando-o antes de meter de novo.
A cama range com o movimento e eu só sei aumentar a pressão, comendo sua boceta com
muito mais força agora.
— Ainda quero te comer sem camisinha — solto, estocando forte, e vejo a morena gemer
alto se contorcendo na cama.
Seus cabelos estão soltos e revoltos, a pressão do impacto de nosso corpo faz seus peitos
balançarem a cada arremetida.
Deliciosa.
— Quero sentir meu pau em sua boceta quente — falo, metendo bem mais rápido agora.
— E te encher com a minha porra.
— Otto… — ela geme e eu não alivio a pressão, metendo como um louco. — Tira…
Tiro o meu pau na mesma hora e franzo o cenho para ela.
— Não você… A camisinha… Tira ela…
Meu peito sobe e desce rápido e eu analiso o seu semblante.
— Mari…
— Eu tomo pílula, pode confiar.
Caralho…
Minha garganta seca e eu toco o meu pau, pensativo.
— Tira… — pede manhosa e eu perco a porra do meu juízo.
Arranco a camisinha e meto de uma vez nela, gemendo alucinado ao senti-la me engolir.
Pele contra pele.
Todo o seu calor.
— Caralho, Marina — murmuro, sentindo um tesão dos infernos.
— Otto… — Meto tão forte, tão descontrolado, que estou esfolando-a toda.
E o seu rostinho safado me diz que está adorando isso.
— Que gostoso… — geme e toca os peitos, fazendo-me salivar. — Me come de quatro
agora? — pede e eu sorrio de lado.
— Porra…
Saio de dentro dela e vejo a safada se posicionar à minha frente, empinando o rabo para
mim.
Não resisto em desferir um tapa em sua bunda.
— É assim que você quer que eu te coma, sua cachorra?
Agarro seus quadris e meto de uma vez, arrancando um gemido de nós dois.
— Assim…
Marina escancara as pernas e empina mais a bunda, agarrando os lençóis com força
enquanto eu a como por trás.
— Gosta de foder de quatro, Marina?
Desço a mão até os seus cabelos e embolo-os, dando um tranco forte na garota e
erguendo o seu tronco levemente.
— Gosto — murmura, rebolando ainda mais. — Gosto muito.
Continuo estocando-a, puxando seus cabelos, e a garota geme como louca.
— Que delícia, professor… Isso… Você me come tão gostoso.
Ah, caralho.
Essa garota.
Essa boceta.
Essa boca suja.
Aumento a pressão e bato meu quadril tão forte contra o dela, que balança toda a cama e
a garota só sabe gemer.
— Me bate, professor.
Estapeio a sua nádega e a garota geme mais.
— Assim, cachorra? — Bato mais uma vez e ela solta um gritinho. — Você é uma
putinha, Marina. — Mais um tapa e um gemido alto. — Uma putinha gostosa.
Dou um tranco em seus cabelos e vejo a garota agarrar os lençóis ainda com mais força
enquanto esfolo a sua boceta, entrando tão rápido e tão forte com meu pau.
Ela está tão molhada que o som do movimento ecoa em todo o cômodo e isso só me
deixa ainda mais louco.
Inferno de boceta gostosa.
— A minha putinha — completo.
Estapeio a sua nádega e a garota solta o lençol. Desce a mão até o clitóris e começa a
tocar ali enquanto eu continuo fodendo sua boceta.
Seus gemidos são tão loucos, tão desconexos, e eu sei que está prestes a gozar.
Seus dedos friccionam seu sexo em um ritmo insano e logo seus primeiros tremores vêm.
— Eu vou gozar — anuncia e eu acelero as estocadas. — Professor… Puta que pariu!
E então o orgasmo a atinge.
Forte.
Intenso.
Avassalador.
Marina grita, geme e estremece inteira.
Acelero o ritmo e agarro seu quadril com força ao gozar também, esporrando dentro dela.
— Porra!
Meus dedos se afundam em sua carne e, quando finalmente me recupero, eu saio de
dentro dela, desabando ao seu lado.
Marina deita o corpo ofegante e me encara, com os cabelos revoltos e a pele suada.
— Caramba, Otto…
— Foder você é gostoso demais, Marina. Porra… — digo entre respirações e ela sorri.
— Pode vir todos os dias aqui me foder, professor. — Seu sorriso é malicioso agora. —
Eu não vou me importar nem um pouquinho…
Solto uma risada e puxo seu corpo contra o meu, beijando-a.
Sua boca está quente, seu corpo está úmido de suor e o cheiro de sexo exala no ambiente.
Aquela junção que me vicia.
Que me deixa completamente rendido por ela.
CAPÍTULO 21 - Otto

Enquanto recheio os raviólis e fecho a massa, penso no rumo que meu relacionamento
com Marina tomou. Eu nunca imaginei me envolver de novo com alguém, muito menos alguém
tão jovem quanto ela.
Mas é exatamente isso que a diferencia de todas as outras mulheres.
A sua energia, a sua vitalidade…
Marina é alguém que ainda está lutando pelo que acredita, batalhando todos os dias para
construir a sua vida, o seu futuro. E eu já não tenho muitas perspectivas, bom, pelo menos não
tinha.
Já me estabilizei profissionalmente, tenho um filho lindo e não almejava muito mais do
que isso na vida. Apenas ter dias tranquilos ao lado de Yuri.
Uma vida um tanto sem graça, confesso.
Mas Marina veio para mudar isso.
O brilho em seus olhos, a força de vontade que tem, os inúmeros planos para o futuro me
fizeram repensar. Estar ao lado dela é uma constante reflexão de que a minha vida ainda não
acabou.
Na verdade está bem longe disso…
Eu devo estar ainda na metade, e há muita coisa que ainda posso fazer. Muita coisa que
ainda quero fazer. Quero viajar pelo mundo, conhecer lugares incríveis e históricos. Lugares
onde passaram mentes brilhantes e grandes pensadores. Quero conhecer museus milenares,
paisagens paradisíacas e viver experiências. Quero ir a um concerto de ópera, a um show de
tango, um teatro, que seja.
Quero viver.
E o mais curioso de tudo isso é que eu consigo ver Marina em cada uma dessas
experiências. Consigo olhar para a frente e ver essa garota ao meu lado em tudo o que eu fizer. E,
assim como quero que ela participe da minha vida, quero estar ao seu lado também.
Quero vê-la comprar o seu primeiro carro, receber o diploma do reitor e se formar com
honras. Quero vê-la se tornar uma engenheira de sucesso e comandar as maiores obras do país.
Quero vê-la viajar pelo mundo e conhecer as tão sonhadas pirâmides do Egito.
Onde quer que ela esteja, quero estar lá…
E esta certeza é viva em meu coração.
Coração este que voltou a bater mais forte desde que ela entrou em minha vida. Com seu
jeito doce, sorriso malicioso e uma energia linda, Marina me devolveu o sorriso. Eu me sinto
mais leve quando estou com ela, sinto-me mais vivo, mais feliz.
E quando ela se une ao meu maior amor…
Quando estamos os três juntos, eu me sinto o cara mais sortudo do mundo.
Foi pensando em tudo isso e estudando as últimas possibilidades, que tomei uma decisão.
Quero fazer o nosso relacionamento dar certo e, principalmente, quero assumi-la para o
mundo.
Como minha.
Mas, para isso, não podemos estar no mesmo lugar.
Daqui a menos de quatro meses o semestre acaba e teremos um de recesso antes que o
novo comece. Então eu já posso começar a procurar um novo emprego. Tanto em Vale dos
Campos quanto nas cidades vizinhas existem outras universidades e absolutamente todos os
cursos precisam de um professor de Filosofia. Eu não sei bem como está o mercado lá fora, já
que são mais de quinze anos trabalhando no mesmo lugar, mas preciso arriscar.
Se eu começar a procurar agora, pode ser que encontre um novo emprego antes que o
novo semestre se inicie. E, se tudo der certo, estarei livre para ficar com Marina por inteiro, sem
ressalvas.
Como sempre quisemos.
E é por isso que eu a convidei para um jantar em minha casa.
É sábado à noite, aproveitei que Yuri está fora para um acampamento da escola e a
convidei para passar a noite comigo. Preciso abrir o coração e contar meus planos. Se estivermos
na mesma sintonia, seguirei em frente com o que pretendo e em poucos meses seremos livres.
Livres para sermos Otto e Marina, acima de qualquer coisa.
Termino de fechar os raviólis e polvilho farinha sobre eles, guardando em um refratário.
Busco os ingredientes para fazer o molho pesto e preparo tudo no pilão, deixando pronto
também.
Quando termino meu trabalho na cozinha, corro para um banho rápido enquanto Marina
não chega. Visto uma de minhas camisas claras de botão, calça jeans e sapatos escuros. Penteio
os cabelos e borrifo perfume, arrumando-me do jeito que eu sei que ela gosta.
Confesso que faz bem para o meu ego saber que uma garota de vinte anos prefere estar
comigo a ficar com garotos da sua idade. E, mais ainda, que me deseja e me acha gostoso, como
sempre faz questão de me dizer.
Marina não tem noção do quão bem ela me faz.
Quando o interfone toca, eu libero sua entrada e busco a rosa vermelha que escolhi para
ela.
Espero-a parado na porta do apartamento e, quando as portas do elevador se abrem, eu
abro um enorme sorriso ao vê-la caminhar em minha direção.
Usando um vestido preto curto, sandálias de salto vermelhas nos pés e os cabelos soltos,
Marina está deslumbrante.
Simplesmente perfeita.
— Oi, professor — murmura ao me alcançar e eu sorrio antes de puxá-la pela cintura,
dando-lhe um selinho gostoso.
— Oi, minha linda.
Toco seu rosto com carinho e fito seus olhos cor de âmbar.
— Você está perfeita — elogio e ela sorri daquele jeito único.
— E você, um gato, como sempre.
Suas mãos correm pelo meu peitoral sobre a camisa e eu sorrio de lado.
— Isto é para você.
Entrego a rosa vermelha e seu sorriso se amplia, iluminando tudo ao nosso redor.
— Ah, Otto… Que lindo!
A morena inspira a flor em suas mãos e sorri tão lindamente, que meu coração se agita
aqui dentro e me faz ter ainda mais certeza de que me apaixonei por ela.
Na verdade, devo ter me apaixonado no momento em que pus os olhos nela na
universidade naquele primeiro dia de aula.
E me apaixono mais um pouco por ela todos os dias desde então…
Quando me envolve pelo pescoço e me abraça forte, eu inspiro seu aroma gostoso de
melancia.
Ah, Marina…
Como viver sem isso?
— Obrigada, amor — diz baixo, ao pé do meu ouvido, e meu coração erra uma batida.
Afasto-me e beijo sua boca, conduzindo-nos para dentro do apartamento e fechando a
porta atrás.
— Senti saudade… — murmuro, roçando os nossos lábios, e a sinto se arrepiar.
— Mas você me viu ontem — brinca e eu rio baixo.
— Um minuto longe de você já é motivo de sentir saudade — declaro e ela me abre um
sorriso lindo. — Aceita um vinho antes do jantar?
— Claro!
Mari me segue até a cozinha e olha curiosa para as bancadas.
— Está com um cheirinho muito bom… O que você aprontou por aqui, meu chef?
— Um ravióli de frango ao molho pesto — revelo e seus olhos brilham.
— Nossa! Que chique, Otto!
— E o melhor de tudo. — Faço uma pausa dramática e busco a garrafa de vinho. — A
massa foi feita por mim.
— Mentira!
— Claro que não. Minha garota vale o esforço.
Abro um sorriso para ela ao servir as nossas taças e brindamos juntos.
— Existe algo em que você não é perfeito?
— Ah, essa é fácil. Videogame — respondo sem nem precisar pensar e ela ri.
— Verdade. Encontramos seu defeito — brinca e eu balanço a cabeça, conduzindo-a até a
sacada do apartamento.
Coloco a garrafa no balde de gelo, na mesinha ao lado, junto com sua rosa e nos
sentamos nas cadeiras de madeira, diante do céu noturno, que hoje está bem estrelado.
— A vista é mesmo linda daqui — elogia.
— Eu gosto muito. Este lugar me traz paz — pontuo e Mari assente, bebendo mais um
pouco do vinho.
Ficamos mais um instante apreciando este momento, quando decido quebrar o silêncio.
— Mari, vem cá. — Aponto para o meu colo e a garota sorri, levantando-se e se
acomodando de lado em minha coxa. — Sabe por que eu te chamei aqui hoje?
— Para me ver, já que Yuri está fora? — indaga e eu estalo a língua.
— Também… Mas porque quero conversar um pouco com você.
Seu semblante se torna tenso e eu trato de tranquilizá-la.
— Não se preocupe, não é nada ruim.
Toco seus cabelos e coloco uma mecha atrás de sua orelha.
— E o que é, então?
— Lembra quando eu te falei que estava estudando possibilidades? Acerca de nós dois?
— Lembro…
A morena não desvia o olhar do meu e eu consigo imaginar sua mente se tornando
confusa.
— Eu pensei muito, Mari, até chegar a uma conclusão.
— E qual é? — sua voz falha um pouco agora.
— Não quero ficar sem você — digo firme. — E não quero que nosso relacionamento
seja passageiro. Quero fazer planos com você, quero você ao meu lado.
Seus olhos brilham e os lábios tremem de leve.
— Mas e você? O que quer? Consegue ver um futuro ao meu lado?
Marina sorri de lado e pousa a taça na mesinha para tocar os meus cabelos.
— Eu não vim até aqui para procurar um relacionamento, Otto. Me envolver com alguém
era o último dos meus planos — revela e eu sinto o meu coração se acelerar. — Mas como
resistir a você? Como não te querer por perto se o meu corpo e o meu coração clamam por ti?
Eu sinto um nó na garganta e minha respiração pesa quando ela me dá um selinho
gostoso.
— Você me apoiou desde o primeiro dia, Otto. Acreditou em mim e em todos os meus
sonhos. E sim, eu consigo te ver ao meu lado, realizando cada um deles.
Sua voz é baixa, doce e adentra a minha alma.
— Eu nunca me apaixonei antes — revela. — Não verdadeiramente. Nunca quis alguém
por completo em minha vida, assim como quero você.
Inclino-me e beijo seus lábios, tomando seu rosto em minhas mãos, em uma carícia
gostosa.
— Você poderia escolher qualquer cara no mundo, inclusive um da sua idade — sussurro
e ela franze o cenho de leve. — Mas ainda assim me escolheu… Um cara com uma bagagem na
vida, que não tinha muita perspectiva até você chegar.
— Nenhum cara no mundo é como você, Otto. Você é único. Eu não tenho nem dúvidas
do quanto quero você.
Sorrio e a beijo mais uma vez.
— Nunca pensei que fosse me apaixonar a essa época da minha vida. Eu me fechei para o
amor, Marina. Eu me fechei para relacionamentos… Eu me fechei para a vida.
Seu semblante se torna compreensivo e eu fecho os olhos devagar ao senti-la correr os
dedos pela minha pele.
— Meu coração foi muito maltratado. — Reabro os olhos e a vejo me encarar firme.
Aqui, olhando em seus olhos, decido abrir o meu coração e me despir para ela.
— Amei uma pessoa e não fui amado de volta. Eu me doei por alguém que não me deu
valor. Não quero trazer o nome da minha ex-mulher para o nosso momento, mas quero que saiba
tudo o que eu passei.
— E eu quero ouvir, Otto. Quero ouvir tudo o que estiver disposto a me dizer.
Acaricio sua cintura enquanto a mantenho aqui, firme em meu colo.
— Conheci Renata quando eu estava terminando a universidade. Era um cara tímido,
estudante de Filosofia, e ela, a garota popular, que cursava Administração. Na época, achei o
máximo que alguém tão extrovertida pudesse olhar para mim, e acabei ficando cego.
Namoramos e, cinco anos depois, nos casamos. Pensei que estivéssemos na mesma sintonia, mas
não. Ela não queria um parceiro para a vida, na verdade nem sei por que se casou comigo. Na
rua, se gabava pelo meu doutorado, mas em casa diminuía a minha profissão.
— Nossa…
Abro um sorriso fraco.
— Ela adorava passar a imagem de casal perfeito, postava fotos em redes sociais, mas
comigo era completamente diferente. Fazia questão de me humilhar todos os dias. Tudo naquele
casamento era ruim. Nós não conversávamos como amigos, não nos abríamos um com o outro,
não aproveitávamos a companhia. Até o sexo era ruim. — Faço uma careta ao me lembrar. —
Sabe esse cara que você permite que eu seja na cama? — indago e ela assente.
— Um devasso — constata e eu rio baixo.
— Eu só sou assim com você… — falo e noto seu semblante surpreso. — Não podia ser
eu mesmo com ela. Porque de tudo ela reclamava. Era um sexo morno, sem química, uma coisa
horrível. Ela me fazia pensar que eu era um doente pervertido por sequer falar alguma palavra de
sacanagem.
— Credo, Otto. Que horror…
— Pois é. E sabe o mais irônico disso? É que tudo o que eu não podia fazer com ela, ela
fazia lá fora…
— Ah, não…
Abaixo o olhar, porque lembrar disso me dói. Não por Renata, mas por saber que não fui
o suficiente para alguém.
— Quando descobri a primeira traição, Yuri já tinha nascido. Eu perdoei, sabe? Pelo bem
do nosso casamento e principalmente pelo meu filho. Eu não queria me separar dela. Mas uma
vez infiel…
— Sempre infiel — completa pesarosa e eu assinto.
— Colecionei muitos chifres ao longo desses quinze anos de casamento e, mesmo que eu
não saiba de todos, tenho certeza de que houve muitos por ali. Até que ela conheceu Fabrício e se
apaixonou verdadeiramente — falo, revirando os olhos. — E foi onde tudo acabou.
— Poxa, Otto…
— Mas isso tudo foi bom, porque eu precisava desse basta na minha vida. Precisava que
Renata saísse para você entrar — digo, sorrindo de lado.
— É, mas não precisava dos chifres…
— Não, não precisava. — Rio baixo e ela se junta a mim.
Toco seu rosto agora e a faço me olhar nos olhos.
— Me doeu ser traído, me doeu saber que eu não era suficiente para alguém. Então foi
por isso que fechei o meu coração. Mais do que um relacionamento proibido pela universidade,
eu não queria deixar alguém entrar — confesso e Marina não desvia os olhos dos meus. — Mas
então você chegou… Você nem me deu chance, amor.
Meus dedos tocam seus lábios e sentir a maciez deles aquece aqui dentro.
— Com você eu posso ser cem por cento eu mesmo, Mari. E você não tem vergonha de
mim, pelo contrário…
— Eu me orgulho muito de quem você é, Otto. E te admiro tanto…
— Está vendo? Eu nunca tive isso. Bom, pelo menos não vindo de uma mulher. No
início, eu me senti muito confuso com tudo isso, porque não estava acostumado. Mas com seu
jeito meigo, doce, você foi adentrando aqui. — Toco o meu coração e ela sorri. — E me
devolveu o sorriso, me devolveu a vontade de viver e principalmente… de viver o futuro.
Roço meus lábios nos seus bem devagar e dou um selinho antes de me afastar.
— E foi inevitável me apaixonar por você. Pela sua doçura, seu jeito leve de viver a vida.
A sua dedicação e esforço ao fazer tudo o que se propõe. Você é incrível, Marina, e hoje meu
coração é todo seu.
Uma lágrima lhe escorre e ela me abre um sorriso lindo demais.
— Prometo que vou cuidar bem dele, amor. Assim como você cuida do meu…
— Eu sei — respondo de pronto, porque não há dúvidas em mim. — Eu confio em você.
Marina sorri e se inclina para me beijar mais uma vez.
— Então eu tomei uma decisão — anuncio e a vejo me encarar firme. — Não podemos
ser namorados, porque estamos na mesma universidade e você acabou de se matricular. São
cinco anos pela frente e, amor, eu não vou conseguir esperar tudo isso.
— Nem eu… — a voz baixa é tão doce…
— Faltam menos de quatro meses para acabar o semestre e teremos mais um de folga
para começar o próximo, acho que o momento é agora. Vou começar a entregar meu currículo
para outras universidades e, pela minha formação e experiência, não devo demorar a encontrar
um emprego novo.
— Otto…
Marina pisca os olhos devagar e percebo que a deixei sem palavras.
— Você tem um longo caminho nessa universidade, Mari. E eu posso construir o meu em
outro lugar. Desde que eu tenha um salário justo para dar um futuro digno para o meu filho e
construir a nossa vida, estou disposto a tentar.
O sorriso da morena se abre e ela se emociona, derramando algumas lágrimas.
— Eu… Eu não sei nem o que dizer — confessa e eu toco seu rosto, secando as lágrimas
devagar. — Jamais te pediria para desistir do seu emprego…
— Eu sei — interrompo-a. — Por isso andei pensando bem e vi que é melhor que eu saia
da universidade. Não posso te pedir para mudar, não agora que começou o projeto de pesquisa e
conseguiu sua bolsa.
Mari já me contou o quanto foi importante essa conquista. Não só para sua carreira, mas
para conseguir arcar com suas despesas e gastar o mínimo possível da ajuda de sua avó.
Então eu jamais tiraria isso dela. Minha garota tem muito mais a perder do que eu.
— Eu já fiz um concurso há mais tempo para a universidade federal da cidade vizinha,
mas eles demoram muito a chamar. Isso se me chamarem um dia. Mas vou tentar uns contatos
que tenho nas outras universidades até conseguir. Não sei se vai ser para agora, mas já vou
começar a olhar o quanto antes. Só precisava dividir isso com você e saber se me quer tanto
quanto eu te quero.
— Ah, Otto… Não existe nada no mundo que eu queira mais do que você.
Sorrio antes de colar os lábios nos dela, beijando-a com todo meu amor. Minha língua
percorre cada cantinho dela, seguindo em um ritmo só nosso.
Marina agarra meus cabelos enquanto eu desço as mãos pela sua coxa, alcançando a barra
do vestido, e esse movimento, quente e intenso, me deixa duro.
A garota percebe a minha excitação e se esfrega nela, rebolando em meu colo e me
deixando louco. Minha boca não solta a sua e Marina se endireita em meu colo, ficando de frente
para mim, com as pernas bem abertas, envoltas à minha cintura.
Nosso beijo fica mais intenso, mais quente, mas sem desespero. Apenas sensual demais.
Eu me afasto de seus lábios e desço até o pescoço, fazendo uma trilha em sua pele.
— Otto… — Mari geme baixinho e eu subo as mãos pelas suas coxas, erguendo a barra
do vestido e embolando na cintura.
O rebolado de Marina em meu colo me deixa louco de tesão e eu toco sua calcinha,
afastando de leve para deslizar um dedo pela sua lubrificação.
— Ai, professor… — sussurra e eu rio em sua pele.
— Quer foder aqui na varanda? — sugiro e seus olhos brilham ao assentir. — Mas tem
que ficar caladinha, amor, senão os vizinhos vão nos ouvir.
— Ah… — Ela prende os lábios nos dentes enquanto meus dedos trabalham intensos em
seu sexo.
Tiro-os e trago à boca, chupando-os lentamente.
Marina me observa com os olhos brilhando de desejo.
— Sua boceta é tão gostosa… — murmuro, lambendo os lábios ao final. — Pena que não
posso te chupar agora.
Volto a tocar o seu clitóris e ela geme baixinho.
— Por… Por que não? — gagueja e eu sorrio safado antes de afastar os cabelos do seu
pescoço para chupá-la ali.
— Você não vai conseguir se controlar se eu chupar a sua boceta, Marina. Vai gemer
como a boa putinha que é e acordar toda a vizinhança.
— Oh…
Mordo a sua pele e a sinto se arrepiar.
— Estou mentindo?
— Ai, não… — responde rápido e eu rio.
— Mas consegue se controlar se eu chupar os seus peitos? — digo baixo e ela acena,
rápido demais.
Afasto-me dela e puxo o vestido pela sua cabeça, deixando-a nua, apenas de calcinha
para mim.
— Tão gostosa…
Toco seu mamilo com a ponta da língua e brinco ali, circulando, antes de correr a língua
pelo seu peito; vejo que a garota faz um esforço enorme para não gemer alto.
Boa menina.
— Hummmm…
Eu me delicio em cada um deles, chupando e lambendo bem devagar. Sugo o biquinho e
mordo, vendo Marina rebolar desesperada em meu colo.
— Já quer meu pau em você? — murmuro erguendo os olhos para Marina enquanto
mamo nela.
— Si-sim… Por favor…
Marina desce a mão pela minha calça e desafivela o cinto, abrindo o zíper e libertando o
meu pau.
E, porra, se agora não é a minha vez de gemer ao senti-la me tocar.
— Me deixa montar em você, professor.
O sorriso safado me desarma e eu apenas assinto ao vê-la se erguer de leve e sentar em
mim, me engolindo inteiro.
— Porra, Mari…
Agarro sua cintura e volto a beijar a sua boca enquanto a garota sobe desce sobre o meu
pau, em um ritmo leve e sensual demais.
Cacete…
Ela é uma delícia.
Nossos beijos abafam o gemido de nós dois enquanto Marina me cavalga e com as mãos
eu a ajudo a ditar o ritmo. Quando ela se levanta de uma vez e senta de novo, é a minha vez de
gemer um pouco mais alto.
— Está difícil se controlar, professor?
A safada repete o movimento, saindo por inteiro antes de sentar até o fundo.
Caralho…
— Isso, cachorra — murmuro, segurando o seu queixo, para que ela me olhe nos olhos.
— Quica gostoso no seu pau.
Os olhos da morena brilham quando ela faz exatamente o que eu digo, quicando e
rebolando em mim.
E, porra…
Isso é uma delícia.
Tomo sua boca mais uma vez enquanto Marina continua me cavalgando, rebolando e se
esfregando em meu cacete.
O nosso ritmo hoje não é insano e animal, mas é absurdo de gostoso. É sensual demais.
Quando desço uma mão até o seu clitóris, preciso engolir um gemido seu.
Toco ali a sua boceta enquanto Marina me cavalga, buscando o seu prazer, buscando o
nosso prazer.
— Otto… — Se afasta para gemer. — Desse jeito eu vou gozar…
Já consigo ver o seu semblante rosado e a sua entrega é tudo.
Esta mulher é a minha perdição.
— Então goza, amor — falo, acelerando o ritmo dos dedos. — Mas goza caladinha.
Marina assente e sobe e desce mais rápido em mim agora. Quando o clímax a atinge, ela
joga o corpo contra o meu, afundando o rosto em meu pescoço.
— Ai, Otto… — murmura, mordendo a minha pele e gozando forte, mas sem emitir um
ruído.
Agarro sua cintura e estoco forte em sua boceta até gozar também, esporrando dentro
dela.
Encosto a cabeça na parede e olho para o céu noturno, recobrando a respiração com essa
mulher foda em meu colo.
E aqui, me recuperando, tendo Marina desmontada em meu corpo, penso que, se esse não
foi o nosso sexo mais gostoso, foi o mais cheio de sentimentos.
Aqui foi onde despimos a nossa alma e nosso coração.
— Não quero nunca sair da sua vida… — Mari sussurra e eu a abraço, acariciando seus
cabelos.
Embalo-a e beijo sua cabeça, pensando no quanto a quero comigo.
— Nem eu, meu amor, nem eu…
Nunca quis tanto alguém como a quero.
E nunca estive tão certo como agora.
CAPÍTULO 22 - Marina

Um mês depois

— Você tinha que ter visto a cara dos professores, Mari! Eles ficaram impressionados
com a minha maquete — Yuri narra com detalhes, empolgado sobre a sua apresentação.
Otto já tinha me dito que foi um sucesso, mas ouvir da boca do garoto deixa o meu
coração quentinho. Principalmente porque eu também fiz parte disso. Ao contrário da bruxa da
mãe dele, que não comprou um mísero isopor e nem montou uma casinha sequer, eu participei
disso. Depois de ajudá-lo com a hidrelétrica, Yuri me chamou outro dia para a montagem e eu
curti cada momento com eles.
E agora, vendo o sorriso do menino, vejo como valeu a pena.
Queria muito ter ido assistir a sua apresentação, mas sei que não posso. Pelo menos não
ainda. Mas, quando eu e Otto assumirmos o relacionamento, sei que poderei participar mais da
vida dele.
E pensar nisso me faz lembrar daquele dia…
O dia em que Otto me abriu o seu coração e me contou seus planos de procurar outro
emprego. Desde então, temos vivido um sonho. Meu professor não estava brincando e já
começou a espalhar currículos, se esforçando para encontrar um novo trabalho.
E eu nem preciso dizer o quanto isso me tocou, o quanto mexeu comigo.
Enquanto Otto acha que eu poderia escolher qualquer cara, eu penso exatamente o
mesmo…
O que eu, uma estudante caloura que ainda não consegue se sustentar sozinha, tem a
oferecer a alguém como ele?
Um homem feito, um doutor com carreira consolidada, poderia ter qualquer pessoa.
Mas, ainda assim, ele me escolheu.
E, nossa, como sou feliz por isso.
No fim das contas, percebo que precisávamos nos encontrar.
Precisávamos ter aquele sexo louco no banheiro da boate e cair de paraquedas na sala de
aula. Porque, se não fosse assim, talvez nunca olhássemos um para o outro com os mesmos olhos
e estaríamos perdendo essa chance…
Só de pensar nisso, já sinto um aperto no peito.
Engraçado como, há poucos meses, eu nem conhecia Otto e hoje já não me imagino mais
sem ele.
— Eu posso imaginar! Tenho certeza de que a sua ficou a mais bonita da escola —
elogio, voltando de meus pensamentos, e o garoto sorri.
— Quem vai me ajudar a fritar o pastel? — Otto chama da cozinha e nós dois vamos até
ele.
Hoje é um daqueles finais de semana em que os dois ficam em casa e, na maioria, Otto
tem me convidado para passar um tempo com eles. Eu não sei se Yuri percebeu o nosso
envolvimento ainda, mas, se desconfia, consegue disfarçar muito bem. A vantagem desse garoto
é que não me deixa nem um pouco desconfortável aqui, pelo contrário, ele já me vê como uma
amiga. E isso vale tudo para mim.
— Já montou tudo? — pergunto ao Otto, que assente, apontando para as massas na
bancada.
Enquanto Yuri me contava com detalhes sobre a apresentação do trabalho, seu pai ficou
montando os pastéis para fritar. O menino teve a ideia de fazer uma noite do pastel e eu amei ser
incluída nesse programa maravilhoso.
— Fez de todos os recheios, pai?
— Sim. O de carne é esse retangular — Otto mostra na bancada. — O de queijo, o
achatado. E o em meia-lua é o de pizza.
— E eu posso comer um de cada? — pergunto e Otto ri.
— Um? Tem trinta pastéis aí, Marina.
— TRINTA? — indago e o homem gargalha ainda mais.
— Eu como dez fácil — Yuri diz, satisfeito, e eu arregalo os olhos para ele. — Estou em
fase de crescimento — justifica e eu balanço a cabeça.
— Eu que não vou acompanhar vocês, senão saio rolando daqui — resmungo.
— Agora me ajudem aqui.
Eu pego um pastel na bancada e entrego a Otto, que mergulha na panela de gordura
quente.
— Yuri, pega a travessa de inox ali.
O garoto obedece e coloca ao lado do pai, forrando com papel-toalha.
— Vou colocar um sabor de cada lado aqui, ok? — Otto diz e concordamos.
Enquanto ele frita os pastéis, vamos conversando e rindo. E, por todo tempo, penso no
quanto é gostoso estar ao lado desse menino.
— E se fizermos um brigadeiro? — sugiro, entregando mais um pastel na mão de Otto.
— Mano, se você fizer isso, vai ser a melhor amiga do mundo! — Yuri suspira e eu
gargalho.
— Mano? — Otto indaga e eu rio mais.
— Vocês têm leite condensado e chocolate em pó?
— Acho que sim. Procura no armário, Yuri.
O garoto loiro de cabelos lisos, que hoje veste uma bermuda jeans e camisa do Green
Day, vai até os armários e encontra tudo de que precisa, voltando com um sorriso no rosto.
— Panela pequena eu encontro onde? — pergunto e Yuri na mesma hora busca para
mim.
O rapaz pega tudo de que eu preciso e, quando eu começo a fazer o brigadeiro, ele
assume a tarefa de entregar os pastéis para Otto.
Com tudo frito e o brigadeiro pronto e esfriando na pia, vamos até a sala de Otto ver um
filme enquanto comemos os pastéis. Meu anfitrião arruma tudo na mesinha de centro e eu fico
encantada com o quanto os dois são educados e cuidadosos para não fazer bagunça.
Yuri faz um esforço para não sujar o tapete do pai, que é lindo de ver.
— O que vamos assistir? — pergunto e os olhos de Yuri brilham.
— Pode ser um filme de terror?
— Você é parente do meu irmão, por acaso? — reclamo e o garoto ri.
— É legal!
— Otto, seu filho não deveria assistir a coisas mais leves, não?
O homem ao meu lado balança a cabeça e ri.
— Eu já tentei, mas quem disse que consigo? Porém, tem um limite. Geralmente os
filmes que ele assiste são mais bobos que tudo.
— Ei, não é bem assim…
— Coisa muito pesada eu não o deixo assistir, não — Otto diz e eu penso que isso é
muito sua cara.
Claro que ele monitora isso.
— Certo. Então, o que vamos assistir?
— Pode ser Sexta-feira 13?
— Esse é velho, hein? — Solto um assobio e o garoto ri.
— Mas é muito bom. Podemos?
O garoto olha de mim para o pai e concordamos.
E pensando nisso é que eu vejo o que Otto disse. Um filme de serial-killer não é muito
pesado para um garoto tão maduro quanto Yuri.
Mordo um pastel de queijo quando o filme começa na tela e os olhos do menino brilham.
— Para você ver o que os pais não fazem pelos filhos — Otto murmura e eu rio baixo.
— Mas aposto que você não mudaria nada.
Encaro seus olhos azuis e o que encontro dentro deles é lindo demais.
— Não mesmo. — Sua voz se torna mais baixa agora, de forma que só eu posso ouvi-lo.
— Ter vocês aqui comigo é o que há de mais precioso na minha vida.
Suas palavras me arrepiam e eu dou apenas uma piscadinha para ele, antes de pegar meu
copo de refrigerante para beber.
E, nas próximas horas, comemos pastel, depois brigadeiro, rimos com Yuri e nos
assustamos com a trilha sonora do filme.
É tudo tão gostoso, tão acolhedor, que eu me sinto em família.
Eu me sinto parte dessa família porque Otto permite que seja assim.
E eu realmente me vejo em um futuro com esses dois.
Eu, meu professor e seu filho.
CAPÍTULO 23 - Marina

— E como estão as aulas de direção, Mari? — Gabriel me pergunta ao telefone e eu me


levanto da mesa, dando uma pausa nos estudos.
— Eu estou gostando bastante, Gabe. Ainda cometo umas gafes no trânsito, mas tenho
algumas aulas pela frente, então logo pego o jeito.
Ainda que eu pudesse fazer várias aulas seguidas de direção, preferi não fazer isso. Tenho
muita coisa com que lidar no curso, e não quero acelerar este processo. Então tenho feito aos
poucos até me sentir segura para ir à banca examinadora e tirar a minha tão sonhada habilitação.
— Meu pai quer de todo jeito que eu comece as aulas de legislação, mas não estou a fim
agora, sabe? Estou me matando todos os dias no cursinho, só de pensar em estudar para mais
alguma coisa, eu surto.
E o seu comentário me traz um aperto no peito, ainda que involuntário. Porque me faz
lembrar de quando eu quis e não tive apoio, porque mulheres não precisavam dirigir. Agora o
meu irmão é praticamente obrigado a fazer isso, mesmo não querendo.
— Sei que não vai adiantar de muita coisa, mas peça para pelo menos esperar que você
consiga a aprovação na universidade.
— É, vou tentar. — Consigo ouvir sua voz cansada do outro lado. — E como você está?
— Ah, eu estou bem… Cansada por ter que lidar com muita coisa ao mesmo tempo, mas
ainda assim feliz por estar realizando tantos sonhos longe de casa.
— E você merece cada um deles, não se esqueça disso. Qualquer dia desses, eu vou aí te
visitar — ele diz e meu peito se aquece aqui dentro.
— Venha, sim! Vamos combinar um final de semana tranquilo e longe de provas para
que eu possa te dar mais atenção.
— Combinado! Preciso ir agora, porque meu intervalo acabou e mais um simulado me
espera.
— Vai lá. Boa sorte, Gabe!
— Obrigado. Um beijo, Mari.
Despeço-me do meu irmão e largo o celular na mesa, indo à geladeira pegar um pouco de
suco para beber.
— Amiga, pega para mim também. — Carina aparece na cozinha e eu aceno, enchendo
dois copos de suco de laranja.
— Já está indo?
Pegando o copo de minha mão, a loira olha para o relógio e acena antes de beber um
gole.
— Saio daqui a uns dez minutos. Tenho aula prática hoje.
— Ai, tadinha — brinco e ela balança a cabeça.
— Tadinha, nada! É a minha parte favorita do curso! Inclusive não vejo a hora de
começar o estágio na clínica odontológica do campus.
— Falando em estágio. — Paro para beliscar algumas rosquinhas no pote de vidro da
bancada. — Assim que eu conseguir tirar a minha habilitação, vou começar a procurar por um.
Tenho alguns professores donos de construtora e vou conversar com eles. Mas só depois que
finalizar isso, senão eu piro.
— Está certíssima. Não sei como você dá conta de tanta coisa. Faculdade, pesquisa
científica, aulas de direção e ainda te sobra tempo para sentar no professor gostoso.
O sorrisinho malicioso me faz soltar uma risada.
— Ai, amiga… Nem eu sei como eu dou conta de tudo isso. Mas é tão gostoso…
— O quê? Os estudos, ou sentar no professor?
— As duas coisas! — solto e é a sua vez de gargalhar. — Ai, Cá… Ele é tão incrível…
Suspiro e minha amiga cutuca a minha cintura, fazendo-me rir.
— É tão bonitinho te ver apaixonada assim.
— E estou mesmo. Por ele e pelo filho… Você não tem ideia do quanto Yuri é fofo.
— Eu imagino! Não o conheço, mas, por tudo o que você fala dele, consigo ter uma
noção.
— Otto o criou muito bem, porque é um garoto incrível.
Meu celular vibra na mesa e eu vou para pegá-lo, sorrindo ao ver o nome que aparece na
tela.
— E por falar nele…
Otto: Está em casa, amor?
É inevitável que borboletas deem piruetas em meu estômago todas as vezes que ele me
chama assim.
Eu: Estou, sim! Estudando para a prova de um professor muito gostoso.
Otto: Hummm… Será que você quer uma ajudinha dele?
Eu: Jura?
Otto: Estou aqui perto, posso passar aí?
Eu: Claro, vem sim!
Otto: Certo. Chego em cinco minutos.
Encerro a conversa sorrindo e Carina me observa curiosa.
— Esse sorrisinho bobo aí…
— Ah, amiga. Sou mesmo apaixonada por esse homem! E ele está chegando aqui,
inclusive. Disse que está por perto.
— Ah, que ótimo que eu estou saindo então, aí não atrapalho os pombinhos apaixonados.
— Besta! — Trombo em seu corpo e lhe tiro uma risada. — Vou só tomar um banho
rapidinho. Se ele chegar antes, você abre a porta, por favor?
— Claro, vai lá!
Assinto e corro até o meu quarto. Busco uma camiseta e saia jeans para vestir. Vou ao
banheiro e tomo uma ducha rápida. Depois de escovar os dentes, borrifo o perfume que eu sei
que ele adora. Visto-me e, quando pego a calcinha, tenho uma ideia melhor.
Volto para o quarto e deixo minhas coisas. Quando ouço a voz grossa de Otto, sigo pelo
corredor, vendo-o cumprimentar Carina.
— Oi… — Eu me aproximo dele e me inclino para dar um selinho.
O perfume de Otto me invade e não resisto em dar um cheiro em seu pescoço.
— Oi, minha linda.
Mais um selinho e eu me viro para a minha amiga.
— Vou deixar vocês à vontade — ela diz, entendendo o meu recado.
— Não precisa ir embora por minha causa, Carina. Estou só de passagem mesmo — Otto
é tão educado que me tira um sorriso bobo.
— Imagina, eu já estava de saída. Tenho aula agora. Pode ficar mesmo à vontade.
Minha amiga junta suas coisas e se despede de nós, finalmente nos deixando sozinhos.
— Então você está estudando para a prova de um certo professor? — Otto pergunta,
enlaçando-me pela cintura e me beijando daquele jeito que me deixa de pernas bambas.
— A-hã… — murmuro enquanto sinto seus lábios descerem pelo meu pescoço. — E
você? O que fazia aqui perto de casa?
Otto sorri e mordisca a minha pele antes de se afastar.
— Fui a uma confeitaria e pensei em trazer alguma coisa para você.
Meu professor aponta para uma sacola de papel pardo na bancada e meus olhos brilham.
— Jura?
O loiro assente e vai até a sacola, tirando de lá duas embalagens com fatias de torta e
garfinhos descartáveis.
— Prefere torta Floresta Negra ou de limão?
— Limão!
Otto sorri e puxa a cadeira da mesa para se sentar. Afasto os cadernos para me sentar em
seu colo e comer a torta que ele trouxe, direto da embalagem.
— Isso aqui é muito perfeito! — murmuro ao dar a primeira garfada na sobremesa doce
que chega a derreter na boca.
— Essa daqui também está muito boa — Otto elogia, dando mais uma garfada em sua
torta, e faz uma carinha de satisfação. — Quer experimentar?
Aceito e ele coloca um pedaço da torta na minha boca, onde mastigo soltando um
gemido. O contraste do chocolate com o limão faz uma combinação perfeita na minha boca.
— Nossa, é maravilhosa. Quer provar da minha?
Otto acena e eu coloco um pedaço da sobremesa de limão em sua boca, ele também sorri
satisfeito.
— Muito boa.
A forma como desfrutamos as tortas, gemendo e colocando na boca um do outro, não
deveria ser tão sensual assim. Mas algo inocente como dividir uma sobremesa se tornou
excitante por aqui.
Principalmente quando Otto pousa a embalagem vazia na mesa e segura o meu pescoço
antes beijar a minha boca de um jeito gostoso demais.
Sua língua busca a minha em uma carícia lenta e calculada, eu não resisto e puxo-o pelos
cabelos, intensificando nosso beijo e sentindo todo o seu sabor.
O gosto de Otto junto ao sabor de chocolate e limão é a combinação mais perfeita que eu
já vi.
É uma delícia…
Quando suas mãos descem pelo meu corpo e apertam os seios por cima da camiseta, eu
solto um gemido e me lembro de que estou sem calcinha. É só Otto subir a minha saia que eu
monto gostoso nele.
Me esfrego mais um pouco quando sua voz rouca me atinge.
— Não posso te atrapalhar a estudar — murmura e eu reclamo.
— Claro que pode. — Franzo o cenho e ele abre um sorriso safado.
— Você precisa ir bem na minha prova, Marina. Eu não vou considerar como te foder é
uma delícia enquanto a estiver corrigindo.
Este homem.
Essa boca suja.
Como pode ser tão gostoso?
— Eu estudo depois — insisto e volto a beijar a sua boca, mas o safado me interrompe.
— Continua estudando — murmura, subindo os lábios até a minha orelha. — Em voz
alta.
O comando me arrepia inteira e eu já posso imaginar o que meu professor está tramando.
Jogo os cabelos para trás e respiro fundo antes de puxar os livros e abrir na página onde
tinha parado mais cedo.
Olho para Otto e ele acena para que eu comece, olhando-me daquele jeito que me arrepia
inteira.
— Os três maiores representantes da filosofia grega clássica são Sócrates, Platão e
Aristóteles[1] — falo e sinto-o afastar os meus cabelos para beijar o meu pescoço, subindo os
lábios até a nuca.
Eita, porra…
Ele vai me matar assim, enquanto eu recito filosofia?
— Continua — a voz rouca ao pé do meu ouvido me arranca um gemido.
— Os dois primeiros são nascidos cidadãos de Atenas, já o último, este lá se radicou,
estudou e depois praticou o magistério.
Os dedos de Otto descem até a minha blusa e brincam ali na barra, levantando-a devagar.
Eu não suporto essa tortura e ergo os braços, tirando a camisa e ficando apenas de sutiã para ele.
Meu peito sobe e desce descompassado quando sinto seus lábios quentes tocarem a
minha pele, arrepiando-me inteira. E, por mais que eu queira acabar logo com isso, estou
adorando esse joguinho.
— Sócrates marcou a história da filosofia grega. Ele nasceu por volta de 470 a. C., era
cidadão de Atenas, não era rico e viveu toda a sua vida de forma regrada — falo e sinto o meu
sutiã ser desabotoado.
As mãos quentes de Otto passeiam pela minha pele e arrancam a peça, fazendo-me fechar
os olhos e gemer quando ele toca os meus seios e belisca os dois mamilos ao mesmo tempo.
— Ai, Otto… — murmuro enquanto ele me tortura um pouco mais, massageando e
apertando meus peitos.
— Continua, Marina. Está uma delícia te ouvir falar de filosofia.
Aperto os olhos e jogo a cabeça para trás, encostando-me em seu peito e rebolando em
seu colo. Sua boca desce ao meu ombro e, mesmo que ele não esteja me chupando por estar de
costas para ele, o safado não tira as mãos dos meus peitos.
— Ele tinha predileção pela discussão com os amigos, esse era seu passatempo favorito, e
passou a vida ensinando filosofia aos jovens atenienses, embora nunca tenha cobrado por isso,
como o faziam os sofistas.
Eu mal reconheço a minha voz e não sei como estou conseguindo ler com coerência esses
parágrafos, com as mãos de Otto em mim.
Quando seus dedos descem pela minha barriga e tocam o zíper da saia, eu gemo ao senti-
lo enfiar a mão para me tocar ali dentro.
— Cadê a sua calcinha, cachorra? — a voz rouca me faz arrepiar.
— Eu não preciso de uma — respondo com a voz falha e sinto seu dedo mergulhar em
meu sexo, tirando-me um gemido.
— Tão molhada… — Otto crava os dentes em meu ombro enquanto seus dedos
acariciam a minha boceta e eu estou à beira de colapsar. — Eu não te pedi para parar, Marina.
— Oh…
Os dedos ávidos em meu sexo me arrancam ainda mais gemidos e eu preciso de um
esforço sobrenatural para voltar a minha concentração à leitura.
— Sócrates não deixou qualquer obra escrita, portanto o que se sabe sobre sua vida e
sobre seus pensamentos deve-se ao trabalho de seus contemporâneos, especialmente Platão, de
quem foi mestre, e do general Xenofonte.
— Isso é ainda mais gostoso do que eu pensava… — Otto murmura e continua
massacrando minha boceta com os dedos. — Você, a filosofia e esta sua boceta quente… —
Quando ele enfia um dedo lá dentro, eu arfo.
— Ai, Otto…
— Levanta do meu colo — pede e eu na mesma hora faço, ficando de pé diante dele.
Quando aponta para a cadeira, eu sinto uma corrente elétrica percorrer o meu corpo.
Obedeço e me ajoelho na cadeira, empinando a bunda e apoiando os cotovelos sobre a
mesa.
— Continua estudando — pede e eu ouço o som do zíper se abrindo.
Ai, caralho…
Ele vai mesmo me comer enquanto eu estudo filosofia?
— Ele é considerado o “patrono da filosofia”. As divergências inerentes à democracia da
época levaram Sócrates a refletir em seu interior.
Quando minha saia é levantada e embolada à cintura, um arrepio me percorre ao sentir
seus dedos tocarem minha boceta já inchada por ele. Escancaro as pernas e empino mais a bunda,
sentindo seu pau roçar a minha entrada.
Engulo em seco e sinto-o deslizar bem devagar para dentro de mim.
— Otto…
— Continua, minha aluna safada.
Pisco os olhos e procuro no livro onde foi que eu parei, mordendo o lábio ao senti-lo
meter em mim.
— Refletindo sobre si mesmo, Sócrates descobriu que, apesar da variedade de coisas,
somos capazes de criar conceitos universais. — Sinto sua mão abraçar a minha cintura quando
ele sai e entra de novo, um pouco mais rápido agora.
Nossa, é tão gostoso…
Agarro o tampo da mesa com força enquanto meu professor me fode aqui, ajoelhada
diante de uma pilha de livros.
— Pensava que poderíamos criar um conceito universal de justiça que, por ser igual para
todos, seria capaz de dissolver as divergências e discórdias nas assembleias de cidadãos —
continuo a leitura e minha voz oscila, entregando o meu tesão e o quanto isso está gostoso.
— Porra, Marina…
Otto tira o pau de uma vez e mete de novo, indo até o fundo e, por mais que eu queira que
ele me coma com força, estou adorando esse ritmo mais lento.
— Que delícia, professor — murmuro ao senti-lo acelerar um pouco as estocadas.
— O que é uma delícia, Marina?
Sua mão enrola meus cabelos e dá um leve puxão agora, enquanto ele me estoca mais
firme.
— Seu pau… — falo e sinto minha garganta secar a cada arremetida. — Grande e
grosso… — gemo mais alto quando ele dá uma estocada mais forte. — Me comendo gostoso
assim…
Rebolo nele e Otto não resiste a acelerar um pouco mais, porque esse safado gosta de um
sexo bruto tanto quanto eu.
— Continua, minha putinha.
Uma arremetida bruta e eu gemo mais.
Puxo o livro para mais perto e minha visão nubla, demoro a encontrar onde parei.
— Foi o precursor das escolas estoica e cínica do período imediatamente posterior ao seu.
A sua despreocupação para com os bens terrenos inspirou os cínicos, já os estoicos
identificaram-se com o interesse de Sócrates pela virtude como o maior dos bens.
Toco meu seio e puxo o mamilo de leve enquanto Otto acelera as estocadas e, porra, se
este homem não vai me deixar louca hoje.
É gostoso demais.
É intenso demais.
Puta que pariu.
Quando Otto deita a minha cabeça sobre o livro e me segura pelo pescoço, sufocando de
leve, eu olho em seus olhos e encontro fogo crepitando neles.
— Você é gostosa demais, Marina… Porra…
A sua voz está tão afetada quanto a minha e, agora que não preciso mais ler o livro, gemo
feito uma cachorra ao senti-lo entrar e sair de mim em um ritmo animal agora.
Eu nunca vou me cansar desse homem, desse pau, desse sexo…
Porra.
— Isso, professor — murmuro ao senti-lo sair para se esfregar ali na beiradinha.
Otto não entra por completo, friccionando e fazendo um vaivém logo no começo.
— Gosta assim, amor?
— Isso, Otto, assim…
Aperto o meu peito e, com a sua mão ainda apertando o meu pescoço, Otto me come de
um jeito muito mais intenso agora, gostoso pra caralho.
— Eu vou gozar assim — anuncio e seus olhos brilham ao meter ainda mais forte,
estocando como um louco e balançando toda a mesa.
Solto uma sequência de gemidos altos quando o meu corpo inteiro treme e o orgasmo me
atinge forte, daquele jeito que só Otto causa em mim.
— Professor! — grito, tremendo toda, e ele não para, me fodendo ainda com mais força
até gozar também, derramando-se dentro de mim.
— Puta que pariu, Marina.
Otto desaba seu corpo contra o meu e o som de nossas respirações ofegantes se mistura.
— Porra… — murmura ao se afastar e sai de dentro de mim.
Eu fico ainda parada, imóvel, acabada, quando sinto seus dedos tocarem minha boceta
sensível.
— Pensei em limpar, mas não — Otto diz, soltando-me e eu arqueio a sobrancelha para
ele. — Vou te deixar estudar com a minha porra escorrendo em você.
Ah, caralho…
Levanto-me com relutância e me sento na cadeira, vendo-o fechar a sua calça e buscar a
minha roupa para me devolver.
— Já vai? — pergunto e ele assente com uma carinha triste.
— Eu não podia demorar, passei só para te trazer uma torta, mas não resisti a te comer
um pouquinho.
Otto me abre um sorriso safado antes de me dar um selinho. Com todo carinho do mundo,
ele me ajuda a vestir o sutiã e a camiseta, correndo os dedos pelos cabelos revoltos por mais uma
de nossas rodadas de sexo intenso.
Quando termina, ele busca um copo de água e me entrega, onde bebo com um certo
desespero, que o faz sorrir.
— Agora preciso ir, porque tenho uma reunião de professores antes de começar a aula.
— Está bem. Te vejo mais tarde? — pergunto e ele concorda, beijando-me mais uma vez.
— Bom estudo, amor. Espero ter te ajudado.
A piscadinha dele me tira uma risada e ganho um último selinho antes de vê-lo sair pelo
apartamento e me deixar sozinha.
Olho para os livros ao meu redor e penso que nunca mais verei a filosofia com os
mesmos olhos.
Desço a mão até a minha saia e toco meu sexo, sentindo seu sêmen lambuzado ali. Mordo
o lábio ao me lembrar dessa loucura.
Uma loucura deliciosa, por sinal.
CAPÍTULO 24 - Otto

— É o quê? Não, Renata. Você não pode fazer isso comigo.


Corro a mão pelos cabelos nervoso, não querendo acreditar numa coisa dessas.
— Ah, para de drama, Ulisses. Um final de semana sem ele não vai te matar.
— É, tem razão. Mas desde que me avise com antecedência. Eu sempre preparo tudo e,
na hora de sair para buscá-lo, você me solta essa?
— Sinto muito que não tenha saído do seu jeito — solta e eu bufo.
Sente o caralho.
— Me deixa falar com ele, por favor?
— Pode até falar, mas já está resolvido.
Caminho nervoso pela casa, pensando no inferno que essa mulher faz com a minha vida.
Eu sei que ela tem direito a passar alguns finais de semana com ele, mas tudo é acordado com
antecedência. Agora me vira na hora de sair de casa para buscá-lo e me aparece com um
compromisso de família?
— Oi, pai — a voz de Yuri ao telefone me faz respirar um pouco mais aliviado.
— Sua mãe está me falando sobre uma festa de família neste final de semana — falo,
sentindo um nó na garganta.
— É… Ela acabou de me falar também. Parece que vamos sair daqui a pouco. Desculpa
não ter te falado antes, mas eu também não sabia.
Uma punhalada no peito doeria menos.
— Entendo… E você quer ir? — confiro, pois, se ela estiver arrastando meu filho para
um lugar aonde ele não quer ir só para me afrontar, eu vou entrar nessa briga.
— Vai ser legal, pai. Meus primos todos vão e vai ter piscina e videogame, então vai ser
divertido.
Aperto os olhos e engulo em seco, aceitando minha derrota.
— Está certo, filho. Divirta-se, ok? Na semana que vem nos encontramos.
— Valeu, pai. E desculpa mesmo…
— Não se preocupe. Está tudo bem. Se chegar lá e não estiver gostando, me liga que eu
te busco, ok?
— Pode deixar.
Converso mais um pouco com ele antes de me despedir e, quando encerro a ligação,
esfrego as mãos no rosto, frustrado.
Incrível como Renata tem prazer em ferrar a minha vida.
Tenho certeza de que ela planejou isso há meses e só me contou agora, com o intuito de
me prejudicar mesmo.
Filha da mãe.
Jogo-me no sofá e penso no jogo novo que comprei para Yuri, que infelizmente vai ter
que ficar para semana que vem. Penso nas batatinhas no freezer e nos ingredientes para o
brigadeiro que ele adorou fazer com Marina.
Inferno…
Vou passar o final de semana sozinho?
Pego o celular e disco para a minha garota, que não demora a atender.
— Oi, amor — a voz doce faz o meu coração bater mais tranquilo.
— Oi, minha linda… O que você está fazendo aí?
— Agora? Terminando de fazer as unhas do pé. Por quê?
— Quer passar o dia comigo? Yuri não vai mais ficar comigo esse final de semana.
— Ah, jura? Por que não?
— Renata inventou uma festa da família dela e me avisou agora, quando eu estava prestes
a sair de casa para buscá-lo — reclamo e mais uma vez sinto meu peito se apertar.
Inferno.
— Me espera só terminar aqui e tomar um banho? Em mais ou menos uma hora, eu
chego aí!
— Claro, Mari. Não quero te atrapalhar.
— Você nunca atrapalha. E pode ficar tranquilo, que não vai passar o final de semana
sozinho. Logo eu chego aí!
— Eu te busco.
— Não precisa, Otto. Eu chamo um Uber.
— Você já vai mudar seus planos por minha causa, amor. O mínimo que posso fazer é te
buscar — insisto e ela sabe que não tem chance comigo.
— Está bem. Eu te aviso quando estiver quase pronta, ok?
— Combinado!
Despeço-me dela e olho para os lados, pensando que vou precisar adaptar o meu
planejamento do final de semana, mas pelo menos não estarei sozinho.
Marina me entende e sabe o quanto é importante para mim cada momento ao lado de meu
filho, por isso estou tão chateado por essa mudança.
Sigo até a cozinha e tiro uns bifes do freezer para descongelar, já pensando no meu
almoço a dois. Espero que Mari goste do cardápio que planejei para este dia.
Já deixo a salada preparada quando ouço meu celular tocar com a mensagem de Marina
avisando que já posso sair para buscá-la. Lavo as mãos e busco minha carteira e chaves na
bancada, saindo do apartamento.
Quando pego as ruas da cidade, não demoro a chegar em seu prédio e a encontro me
esperando na porta, com uma mochila nos ombros.
— Oi, professor.
A garota sorri, acomodando-se ao meu lado e afivelando o cinto de segurança.
— Olá, Marina. Como vai?
Pisco para ela, pensando em como é difícil resistir à tentação de beijá-la, mas ambos
sabemos que é arriscado demais. Ainda é dia e estamos perto demais da universidade para correr
esse risco.
— Estou bem. Prestes a passar um final de semana incrível! — exclama e eu sorrio ao
arrancar o veículo.
— Não atrapalhei sua programação, né?
— Claro que não, Otto. Fica em paz. A matéria está toda adiantada e esse é um fim de
semana que eu ia mesmo passar mais tranquila.
— Ótimo. Vou adorar te ter lá em casa.
Desço uma mão do volante e toco sua coxa, acariciando sua pele descoberta pelo short.
Pisco de lado e ela me abre um lindo sorriso.
Quando estamos em casa, não resisto a puxá-la em um beijo logo que adentramos o
apartamento.
— Senti saudade… — murmuro colando nossa boca e saciando um pouco da minha
vontade dela.
Mari me puxa pelos cabelos, os corpos se fundem enquanto saboreio sua boca e desfruto
dela.
Do sabor que é só dela.
— Vem cá — ela me chama ao nos afastarmos e me guia até o sofá.
Tiro os sapatos e me sento ao seu lado, Marina cruza as pernas de frente para mim.
— Quer conversar? — pergunta e eu pondero por um instante. — Sei que ficou chateado,
amor. — A morena pega a minha mão e entrelaça os nossos dedos. — Estou aqui para te ouvir.
Assinto e suspiro, encostando a cabeça no sofá.
— Sabe o que é uma merda? Me sentir impotente — confesso. — Eu fico dependendo da
porra da boa vontade de Renata e ela ama fazer essas coisas de propósito só pra me ferrar.
Tombo a cabeça e olho para Marina, que me escuta com atenção.
— Sinto muito, Otto. Imagino que deve ser horrível…
Aceno e engulo em seco.
— Sabe o que me dá mais raiva? É que ela me exclui de muita coisa da vida dele, mas,
quando é para pedir dinheiro, eu sou o primeiro a ser acionado. Não me entenda mal, eu poderia
gastar todo o meu salário com Yuri, que não me importaria. O que me irrita é saber que para ela
eu só sirvo para pagar pensão ou algo extra de que ele precise. Eu também sou pai, sabe? Eu
quero participar mais da vida dele.
— Mas isso é sobre ela, você sabe, né? — a voz doce de Marina é bem calma. — Porque
Yuri te inclui em tudo da vida dele. Pense no projeto da maquete que ele dividiu apenas com
você. A mãe dele só viu como ficou no dia da apresentação.
Olho para ela e aceno de leve.
— Eu sei… Yuri é incrível e gosta muito do tempo que passamos juntos. O problema é
que, enquanto ele morar debaixo do mesmo teto que aquela desgraçada, a minha vida sempre
será um inferno — reclamo, apertando os olhos devagar.
— Você não pode tentar pedir a guarda dele?
— Até posso, mas não sei se é o que ele quer. E não quero ir contra a sua vontade,
entende?
Marina assente e eu fecho os olhos por um instante.
— Além do mais, não tenho motivos para simplesmente tirar o Yuri da mãe. A
implicância dela é só comigo, com ele ela é boa.
A garota me olha pesarosa antes de acenar.
— Sinto muito, amor… Queria poder fazer algo por você.
— Você já faz, minha linda. Só de estar aqui comigo hoje, me ouvindo, já significa
muito.
Trago nossas mãos aos meus lábios e dou um beijo delicado em seu dorso.
— Pensa que é temporário, Otto. Quando Yuri for maior de idade, as coisas ficarão muito
mais fáceis para vocês.
Assinto e a beijo mais uma vez.
— Espero que ele pelo menos se divirta lá. Se ele passar esses dias feliz, já vale a pena
para mim.
— Tenho certeza de que sim. E semana que vem vocês vão tirar o atraso, você vai ver!
Arrasto-me pelo estofado e me aproximo dela, tocando seu queixo para beijar seus lábios
com carinho.
— Obrigado, amor. Por estar aqui.
— Não tem outro lugar onde eu gostaria de estar, Ulisses — murmura e eu arqueio a
sobrancelha para ela, que sorri. — Andei pensando e acho que você deveria ressignificar o seu
nome. Você só tem memórias ruins vindas dele, quero que passe a ter memórias boas daqui para
a frente.
Sorrio para Marina e a trago ao meu colo, ela gargalha pelo movimento brusco.
— Você é perfeita, sabia? — Toco seus cabelos e brinco com algumas mechas. — Tenho
muita sorte de te ter na minha vida.
A garota sorri antes de se inclinar e beijar meus lábios de um jeito muito gostoso, de um
jeito todo nosso.
— Sortuda sou eu de ter um professor tão gostoso assim.
Solto uma risada e sou surpreendido com mais um beijo seu.
— Já está com fome? Posso começar a preparar o nosso almoço.
— Hummm… Acho que não é uma má ideia, hein?
Marina se levanta de meu colo e vamos juntos para a cozinha, onde eu abro uma garrafa
de vinho para bebermos enquanto preparamos nossa refeição. Ainda que eu não precise de muita
ajuda, deixo que ela participe deste momento comigo e, com o seu talento natural, Mari faz tudo
se tornar mais leve.
Meu coração bate mais calmo agora e quase não me lembro da chateação de mais cedo.
Porque essa garota tem esse poder sobre mim, de me fazer sorrir em meio à tempestade.
Ela me trouxe luz.
Depois de dividirmos uma refeição tranquila, chamo-a para assistir a um filme comigo na
sala e ela se joga no sofá, mas não sem antes apontar para a minha roupa.
— Vai mesmo ficar aqui comigo de jeans e gola polo? — Ela franze o cenho e eu rio.
— Quer me ver pelado, Mari?
— Não pelado, mas um pouco menos formal? — sugere. — Somos só nós dois aqui,
Ulisses. E vamos passar o dia inteiro juntos, no sofá, curtindo preguiça. Não há mal nenhum em
uma camiseta e bermuda ou cueca…
É incrível como o meu nome dos lábios dela não me soa como algo ruim.
Pelo contrário, me faz começar a gostar…
— Você está certa, já volto.
Sigo até o meu quarto e abro o guarda-roupa, procurando por uma peça mais leve. Troco-
me vestindo uma regata branca e bermuda clara de tecido leve que uso para correr na rua.
Quando volto, Marina bate palmas de aprovação.
— Agora, sim! Muito mais confortável. Vem aqui.
A garota dá uma batidinha ao seu lado, mas, antes, puxo o sofá e o abro para que vire
uma cama.
— Melhor, né?
Deito-me ao seu lado e busco o controle da TV.
— O que quer ver? — pergunto e ela fica pensativa.
— O que você gosta de assistir?
— Eu gosto de filmes de suspense, gosta?
— Adoro!
— Perfeito.
Busco pelo streaming até achar um filme que parece ser bom. Logo que dou o play, Mari
se acomoda em meu peito, aninhando-se em meu corpo de um jeito muito delicioso.
Não resisto e toco seus cabelos, em uma carícia gostosa. Mesmo que ela não esteja me
olhando, consigo vê-la sorrir.
E aqui, deitado em um sofá, em uma tarde de sábado, com a garota dos meus sonhos nos
meus braços, eu penso no quanto sou um homem de sorte.
Eu poderia passar o final de semana na merda, se dependesse de Renata.
Mas minha ex-mulher não tem esse poder sobre mim.
Não mais.
Agora eu tenho alguém para dividir a vida, os momentos bons e os ruins também. Tenho
alguém com quem contar.
Inclino-me para beijar os seus cabelos e fecho os olhos ao inspirar o seu aroma.
— Eu amo você, Marina — sussurro, sentindo meu coração dar um salto aqui dentro.
Eu, que nunca pensei que fosse capaz de dizer essas palavras a alguém um dia de uma
maneira tão verdadeira.
Eu, que pensei que meu coração não fosse se abrir de novo…
Mas olha eu aqui, me surpreendendo com a vida.
Continuo acariciando seus cabelos e fixo os olhos nela, alheio ao filme, alheio ao que há
ao nosso redor. Simplesmente a embalo com todo meu calor, com todo meu amor.
Minha garota se vira para olhar em meus olhos, sem se afastar dos meus braços.
— Eu sei, Otto — murmura, sorrindo de leve. — Consigo sentir. Em cada carícia, em
cada gesto seu, consigo sentir o seu amor por mim.
Meu coração esmurra o peito e eu corro os dedos por todo seu rosto agora, deslizando na
pele macia.
— E preciso que saiba de uma coisa. — Ela para e eu não desvio meu olhar do seu. —
Que tudo o que sente, tudo o que faz, é recíproco. — Meu coração erra uma batida. — Eu
também amo você — as palavras saem de sua boca e fazem morada em meu peito. — E você
merece ser muito amado e cuidado… Você é muito amado, não se esqueça disso. Por mim, pelo
seu filho, pela sua mãe, pela sua família… Você é amado, Ulisses.
Um nó se forma em minha garganta e eu assinto, sentindo uma lágrima rolar em minha
face.
Marina a seca e se inclina para me beijar com carinho.
E aqui, perdido em seus lábios, eu consigo sentir todo o seu amor.
Ah, Marina…
Como eu sou feliz em ter você.
CAPÍTULO 25 - Otto

— Estou te sentindo diferente, Ulisses — minha mãe me analisa, enquanto bebe um gole
de café.
— Diferente, como? — tento despistar, mas sei bem do que ela está falando.
Já faz uns dias que dona Regina vem me rodeando, tentando arrancar alguma informação
de mim, mas eu sempre me esquivo. Como eu sei que ela é uma casamenteira de marca maior,
prefiro evitar o assunto. Ainda mais que não posso falar sobre Marina, pelo menos não ainda.
— Você conheceu alguém, não foi? — pergunta direto e eu abro um sorriso de lado antes
de pegar um pãozinho. — Eu sabia! Eu te conheço, meu filho. Sabia que tinha alguma coisa aí!
Embora eu venha sempre com Yuri almoçar aqui aos domingos, hoje minha mãe me
chamou para um café da tarde bem no meio da semana. Eu estranhei seu convite, mas agora sei
bem qual é sua intenção com tudo isso.
Dona Regina não dá ponto sem nó.
— Você não vai me dar sossego até eu contar, né? — murmuro e ela faz uma careta para
mim, declarando o óbvio.
— Por que esconderia de mim, filho? Eu não posso saber?
— É complicado — eu me limito a dizer, já que não posso dar muitos detalhes da minha
relação com Marina.
Dona Regina estreita os olhos para mim antes de partir uma fatia de bolo.
— É porque ela é casada?
A pergunta me faz engasgar com a bebida quente.
— É o quê? Ficou maluca, mãe? — disparo e ela me olha assustada. — Logo eu, o cara
que foi traído várias vezes em quinze anos de casamento, vou me envolver com uma mulher
casada?
Balanço a cabeça nervoso.
Só pode ser brincadeira isso.
— Desculpa, Ulisses. Eu só estranhei esse mistério todo vindo de um cara tão correto
quanto você.
— E por isso cogitou que eu me envolveria em uma traição?
Minha mãe me olha pesarosa e balança cabeça negando.
— Foi errado mesmo, desculpa, filho.
Assinto e volto a beber o meu café.
— E como ela é? Pode me dizer?
Fito-a e minha mãe apenas me olha curiosa, acabo cedendo um pouco. Sei que ela só quer
o melhor para mim.
— Ela é incrível. Uma mulher doce e muito dedicada a tudo o que se propõe a fazer —
falo, sem conseguir esconder meu sorriso apaixonado.
E dona Regina não deixa passar batido.
— Eu vou conhecê-la algum dia? — pergunta com cuidado e eu pondero antes de
assentir.
— Eu só preciso acertar algumas coisas primeiro.
— Certo… Vou esperar. Só de saber que tem alguém na sua vida, já fico feliz. Você
merece muito isso.
E seu semblante terno me faz relaxar.
— Obrigado, mãe. Na hora certa, eu vou trazê-la até aqui.
Minha mãe parece satisfeita e apenas assente concordando, não insistindo mais no
assunto.
— E Yuri? Como está?
Dona Regina decide ir para o caminho seguro e eu respiro aliviado por isso. Engatamos
em uma conversa sobre meu filho e os relatos das últimas semanas a fazem proferir alguns
palavrões sobre Renata. É incrível a capacidade que a minha ex-mulher tem de ser odiada por
todos.
Bom, por todos, exceto meu filho.
Quando terminamos o café, eu me levanto para me despedir, e minha mãe me recebe em
um abraço.
— Venha mais vezes, Ulisses. Eu amo te receber aqui.
— Pode deixar que vou me esforçar mais, mãe.
Beijo seus cabelos e me afasto dela, acenando e indo até o meu carro. No caminho,
lembro-me de Marina e do quanto estava nervosa hoje pela chegada do exame de direção
amanhã.
Nós almoçamos juntos e eu a tranquilizei quanto a isso, sabendo que ela vai se destacar e
conseguir mais uma vez.
Quando chego em casa, aproveito as horas livres para corrigir algumas provas e
trabalhos. Quando termino de lançar as notas no sistema da universidade, já está ficando tarde e
eu mando uma mensagem para minha garota.
Eu: Tente dormir um pouco mais cedo hoje, amor. Descansa. Amanhã vai dar tudo
certo.
Mari: Estou tentando… Mas a ansiedade não quer deixar.
Sinto um aperto no peito por saber que está tão nervosa. Principalmente porque sei que
ela se cobra muito para não errar, para que faça tudo perfeito. E, embora aprecie seu esforço, eu
me preocupo com isso.
Todo mundo tem o direito de fraquejar, mas Marina não se permite isso.
Eu: Posso te ligar em vídeo?
Mari: Pode, sim.
Sigo para o meu quarto enquanto faço a chamada de vídeo para ela e, quando atende, vejo
a imagem escura surgir à minha frente.
— Já está deitada?
— Estou… Só não consigo dormir.
— E o que você geralmente faz que te ajuda a pegar no sono?
Coloco o celular de pé na cômoda do quarto e abro o guarda-roupa para pegar algo leve
para vestir.
— Assistir a um filme chato costuma funcionar — diz e eu assinto, desabotoando a
camisa para me despir. — Está fazendo um striptease, Ulisses? — indaga e eu gargalho.
— Não, só estou me trocando para dormir junto com você.
Quando finalmente termino, eu me jogo na cama e apago as luzes do quarto, deixando
apenas o abajur aceso.
— Um filme chato… Vamos ver o que encontramos por aqui.
Ligo a TV e procuro pelo streaming por algo.
— O que é chato para você?
— Hummm… Documentários, acho.
— Certo. Vamos achar um bem tedioso.
Reviro pelo canal até encontrar uma opção válida.
— Um documentário sobre uma banda espanhola que você nunca ouviu na vida, pode
funcionar? — sugiro e a vejo abrir um sorriso.
— Vai mesmo fazer isso, Otto?
— Claro que eu vou! Estou tentando te fazer dormir mais rápido.
Ajeito-me nos travesseiros enquanto ajudo Marina a procurar pelo mesmo documentário
que eu.
— Preparada? — indago e ela assente. — Então vamos começar!
Dou play no filme junto com Marina e, quando começam os relatos sobre a banda
desconhecida, ouço a garota resmungar ao fundo. Seguro uma risada.
Não quero que isso seja divertido, caso contrário, não a ajudarei a dormir rápido.
Sigo firme assistindo ao documentário, até ver os olhos de Mari começarem a pesar.
— Boa noite, meu amor. Tenha bons sonhos — murmuro e quando não tenho sua
resposta, sei que ela conseguiu pegar no sono.
Fico mais alguns minutos assim, velando por seu sono até finalmente encerrar a ligação.
Com a certeza de que ela dorme tranquila do outro lado, eu fecho os olhos e me permito
relaxar.
Embarcando em uma noite agradável de sono.
CAPÍTULO 26 - Otto

Mari: Não consegui. Eu sou um fracasso.


A mensagem que recebo de Marina chega a apunhalar o meu peito. Sei o quanto estava
nervosa para esse dia, preparando-se para isso, e saber que minha garota não conseguiu passar no
exame de direção dói lá no fundo.
Eu sei o quanto era importante para ela.
Disco para o seu número na mesma hora, mas cai na caixa postal.
Porra.
Esfrego os cabelos nervoso e fecho a tampa do notebook, deixando para terminar meu
trabalho depois. Minha garota é prioridade agora. Levanto-me e vou até o meu quarto para um
banho rápido. Quando saio, eu me lembro de que tenho o telefone de Carina.
— Otto? — a amiga de Marina atende logo no segundo toque.
— Oi, Carina. Tudo bem? Você está em casa?
— Estou não. Estou presa em um seminário hoje na faculdade. É sobre a Mari, né?
— Sim… Ela me mandou mensagem avisando que não passou no exame e fiquei
preocupado com ela, porque desligou o celular.
— Ah, Otto… Mari se cobra muito, eu morro de pena.
— Eu sei… Por isso meu coração está apertado. Eu posso passar no campus para pegar a
chave do apartamento com você?
— Claro! Logo que chegar, me avise, que vou te encontrar.
— Perfeito. Obrigado, Carina.
Termino de me vestir e apanho minhas coisas para sair de casa. No caminho, paro na
confeitaria, compro aquela torta doce que Mari adorou e alguns docinhos à parte. Logo que volto
ao carro, dirijo até a universidade e encontro Carina, onde pego as chaves, como combinado. A
menina também está preocupada com a amiga e eu lhe garanto que vou cuidar dela.
Não demora e estou adentrando o prédio das meninas com algumas sacolas na mão.
Destranco o apartamento e encontro o silêncio absoluto.
— Mari? — chamo, mas não tenho resposta.
Pouso as sacolas na bancada da cozinha e sigo até o seu quarto, que encontro com a porta
semiaberta.
— Amor? — Dou uma batidinha antes de adentrar o cômodo e a imagem que eu vejo
estilhaça o meu coração.
Deitada na cama encolhida em posição fetal está Marina, agarrada a um travesseiro.
— Ô minha linda…
Corro em sua direção e me ajoelho ao lado da cama, tocando seus cabelos com carinho.
Logo que afasto os fios, noto seus olhos vermelhos e inchados, uma lágrima escorre em sua face.
— Eu estou aqui com você… — sussurro e mais uma lágrima lhe escorre.
Quando Marina ergue os olhos e encontra os meus, eu me sinto apunhalado mais uma vez
por ver toda a dor refletida neles.
— Você não é um fracasso, amor — falo baixo e ela solta um soluço antes de assentir.
— Sou, Otto — sua voz falha e rasga a minha alma. — Claro que eu sou… Não fui capaz
de ir bem em um exame que treinei tanto… E sabe por quê? Porque eu calculei errado uma ré e
subi no meio-fio. Eu sou uma estudante de Engenharia, Otto! Não posso errar um cálculo
simples como esse. Eu sou horrível…
— Não, Mari, você não é. Você é uma mulher muito dedicada e sempre dá o seu melhor
no que se propõe a fazer.
— Mas eu errei…
— Eu sei, amor.
Levanto-me do chão e me deito ao seu lado na cama, aconchegando-a em meus braços.
— Mas todo mundo erra, faz parte da vida. Isso não te torna uma pessoa pior, pelo
contrário.
Acaricio seus cabelos e beijo sua testa com carinho, sentindo um aperto ao vê-la fungar
baixinho.
— Eu não posso errar… — Sua voz é tão baixa que eu quase não a escuto. — Eu preciso
mostrar o meu valor. Eu sempre vou ser inferior por ser mulher. Sempre…
Sinto um aperto no peito ao ouvi-la dizer assim, porque sei que isso é reflexo de seus
pais. Da forma cruel como a criaram.
Toco seu queixo com carinho e a faço olhar em meus olhos enquanto seco suas lágrimas.
— Você não tem que provar nada a ninguém, Marina — digo firme. — Só a si mesma. E
sabe que é uma mulher foda, esforçada, dedicada e muito inteligente. Eu sei que está chateada
por não ter conseguido, e tem todo o direito de se sentir assim. Mas não leve isso para o seu
coração.
Mais uma lágrima lhe escorre e eu a seco com um beijo.
— Só preciso que saiba de uma coisa. — Corro os dedos pelo seu rosto e mantenho meu
olhar fixo ao seu. — Você não é inferior a ninguém por ser mulher. Não há nada que não possa
fazer. Nada, Marina. Absolutamente nada. Está me ouvindo? — A garota assente de leve. — Se
lembre todos os dias do quão foda você é. E que pode tudo, tudo mesmo.
Marina assente, sem muita convicção, e isso apunhala o meu peito.
O que esses filhos da puta fizeram com ela?
— Você tem o direito de fraquejar às vezes, sabia? — Acaricio seus cabelos e noto seu
semblante relaxar um pouquinho pelo contato. — Não precisa ser forte o tempo todo, amor.
Você não é de ferro, é humana.
Meus dedos descem pelo seu rosto em uma carícia lenta. Sobem de novo aos seus cabelos
e esse afago ajuda um pouco a tranquilizá-la, já que não derrama mais uma lágrima.
— Nem sempre as coisas vão sair como você planeja e está tudo bem. Errar faz parte da
vida. Ouça esse seu namorado, que já errou muito na vida. — Rio baixo e ela me abre um esboço
de sorriso. — Não se cobre tanto, tá? Você é incrível.
Mari me olha tímida e assente de leve, antes de se aconchegar e esconder o rosto em meu
peito.
— É só que… Dói, sabe? — sua voz é abafada em minha camisa.
— Eu sei, minha linda. — Beijo seus cabelos e deito minha cabeça sobre a sua. — Você
tem todo o direito de se sentir triste hoje, mas só hoje. Amanhã eu quero te ver sorrindo de novo,
ok? E com o pensamento tranquilo de que você fez o seu melhor e vai continuar tentando até
conseguir.
Ela balança a cabeça e eu a beijo mais uma vez.
— Você me enxerga como um mau motorista? — indago e ela nega.
— Claro que não.
— Pois então… Eu fui reprovado cinco vezes até conseguir minha habilitação.
Essa informação chama a sua atenção e ela se afasta de leve para me olhar.
— É sério?
— Pode perguntar a minha mãe se quiser! — solto e seu semblante se suaviza. — Eu
tinha dezoito anos na época e ficava muito nervoso em todos os dias de exame. Fui vencendo
pelo cansaço até conseguir.
Toco seu queixo e me inclino para lhe dar um selinho.
— Agora me diz, eu sou um fracasso por isso?
— Não, claro que não.
— Pois então. Se eu não sou, você também não é. Não tem por que se sentir assim.
A morena me olha por um instante antes de assentir.
— Nunca permita que te diminuam, Marina. Nunca.
Beijo-a mais uma vez e a acolho em meus braços.
Ficamos um instante aqui, abraçados, envolvidos nesse calor, quando ouço sua voz doce.
— Obrigada, Otto. Obrigada por estar aqui.
— Meu lugar é ao seu lado, amor — murmuro, beijando seus cabelos. — Estou aqui por
você, como você sempre está por mim.
Ficamos mais um pouco aqui juntos, quando me lembro das sacolas na cozinha.
— Está com fome? — pergunto e ela nega. — Mesmo se for aquela torta de limão e
brigadeiros?
A última frase chama a sua atenção, pois ela se afasta delicadamente para me olhar.
— Brigadeiros? — Seus olhos brilham e eu sorrio de lado.
— Sim, brigadeiros gourmet. Acho que tem de chocolate belga, nozes, churros…
— De churros?
Sorrio mais ao notar que acertei na escolha.
— A-hã! Quer que eu traga para você ou levanta comigo para comer?
Marina se ergue na cama e os cabelos caem sobre o seu rosto.
— Você trouxe mesmo torta e brigadeiros?
— Claro que sim. Para adoçar um pouco o seu dia.
— Você é mesmo de verdade? — pergunta, tocando o meu rosto, e eu mordo o seu dedo,
tirando-lhe uma risada.
— Sou de verdade sim, e inclusive mordo.
Pisco para ela, que me abre um sorriso lindo.
Ainda que esteja com os olhos vermelhos e o semblante triste, é lindo vê-la sorrir.
— Vem, vamos comer um pouquinho.
Levanto-me da cama e estendo a mão para ela, que aceita, então a conduzo pelo
apartamento até a cozinha.
Nós nos acomodamos à mesa e eu sinalizo para que ela se sente em meu colo, e na
mesma hora o faz.
Quando minha garota morde o primeiro brigadeiro, ela sorri tão satisfeita, que meu
coração bate mais calmo por tê-la agradado.
— Você não vai à aula hoje? — pergunto, enquanto coloco seus cabelos atrás da orelha e
a observo pegar mais um brigadeiro da embalagem.
— Acho que não… Vou ficar em casa mesmo.
— Acho muito justo que você descanse hoje. Não pegue nos estudos também. Vá ver um
filme bobo, ouvir música, distraia a mente — sugiro e ela concorda, beliscando mais um
brigadeiro. — Infelizmente não posso ficar com você até tarde, porque tenho aula.
— Eu sei, Otto. Não se preocupe. Eu vou ficar bem.
— Mas posso vir depois da aula para dormir com você, o que acha? — ofereço e seu
semblante se ilumina.
— Não vou te atrapalhar?
— De jeito nenhum. Amanhã cedo não tenho aula, então está tranquilo.
— Obrigada, Ulisses.
Sorrio ao vê-la me chamando assim, porque é tão fofo vindo dela.
Quando Marina termina de comer seus brigadeiros, eu a aninho em meus braços, e beijo
seus cabelos, transmitindo todo meu calor.
— Eu te amo, viu? Vai ficar tudo bem.
Continuo acariciando-a e Marina relaxa em meus braços.
— Eu também te amo, Otto. Obrigada por ser você.
Fecho os olhos e aperto-a mais contra mim, demonstrando todo o meu amor.
Para que saiba que eu sempre estarei por ela.
Sempre mesmo.
CAPÍTULO 27 - Marina

Ao despertar, a primeira imagem que vejo é a dos olhos azuis de Ulisses, que me encaram
com devoção.
— Oi… — murmuro e ele sorri de lado, antes de apoiar o antebraço debaixo da cabeça.
— Oi, amor. Dormiu bem? — sua voz grossa é rouca e me arrepia inteira.
— Como um anjo. Obrigada por ter voltado para ficar comigo.
— Eu sempre vou ficar ao seu lado, Mari. Sempre.
Otto sorri e me derruba na cama antes de me beijar de um jeito calmo e tão gostoso, que
faz aquelas borboletas costumeiras baterem asas em meu estômago.
Ontem foi um dia péssimo para mim.
Eu estava muito nervosa para a prova de direção, mas me preparei tanto para ela que
pensei que fosse bem. A verdade é que nem sempre tenho controle sobre as emoções e acabo me
frustrando quando isso acontece.
Eu me senti muito mal, me senti um verdadeiro fracasso.
Até ele chegar.
Otto acalmou meu coração e me fez enxergar tudo isso em outra perspectiva, com aquele
dom que só ele tem. Eu ainda estou chateada por não ter conseguido, mas pelo menos não me
sinto um lixo.
Não mais.
E como prometido, depois da aula, ele voltou para passar a noite comigo, acordar em seus
braços foi ainda mais gostoso.
— Quer tomar café? — pergunto a ele logo que nos afastamos.
Meu professor toca o meu rosto com carinho antes de me dar mais um selinho.
— Quero. E em seguida vou para casa, ok? Preciso terminar um planejamento de aula
que comecei ontem.
— Claro, sem problemas. Não quero te atrapalhar no trabalho, já foi incrível te ter
comigo essa noite.
Nós nem mesmo transamos, apenas dormimos abraçados, curtindo a presença um do
outro. E isso é algo que eu tenho amado em nossa relação, o quanto aproveitamos nossos
momentos juntos, com muito carinho.
Assinto e me sento na cama, pegando o celular para conferir as horas.
— Carina já saiu, inclusive — constato. — Ela sai cedo para as aulas.
— E falando nela… Espero que não tenha se importado de eu ter pegado as chaves do
apartamento com ela. Mas eu jamais te deixaria sozinha.
Otto franze as sobrancelhas de leve e eu trato de tranquilizá-lo.
— Você veio cuidar de mim, amor. Como eu poderia me importar?
O sorriso que ele me abre é tudo…
Levantamos da cama e Ulisses se veste antes de irmos para a cozinha, onde eu encontro a
garrafa de café já feita.
— Carina é a melhor pessoa do mundo — murmuro antes de abrir a geladeira e pegar
algumas poucas coisas que temos por aqui.
Frutas e ingredientes para fazer um misto quente.
— Universitárias não têm geladeiras lotadas. — Faço uma carinha para Otto, que balança
a cabeça, rindo.
— Eu tomo até café puro, Mari. Não se preocupe. Além do mais, eu adoro misto quente.
— Que bom, senão você ficaria com fome — brinco.
Preparo nossos sanduíches e, logo que ficam prontos, nos sentamos à mesa para comer.
— Vai à aula hoje? — ele me pergunta logo que dá o primeiro gole no café.
— Hoje vou, sim! Não posso ficar perdendo aula à toa e me sinto muito melhor.
— Isso é ótimo, amor.
— E o final de semana? Já sabe o que vai fazer com Yuri? — pergunto e seu semblante
se ilumina.
Otto sorri daquele jeito fofo que evidencia as ruguinhas próximas aos olhos.
— Nós já acabamos a maquete, né? Então não temos mais esse trabalho para fazer. Estou
na dúvida se o levo ao cinema, ao parque ou ao clube. Não sei… Vou deixar para ele decidir.
— Eu acho linda a relação de vocês, sabia? É inspiradora. Às vezes, fico parada apenas
vendo vocês dois conversando, é tão bonito… — Suspiro e ele sorri mais.
— Eu sou apaixonado por aquele garoto, Mari. Ele é realmente uma das melhores partes
da minha vida.
— Uma das? — indago, sentindo o meu coração se acelerar.
— É porque a outra parte está me olhando agora. — A piscadinha desse homem me
desmonta inteira.
— Você sempre bagunça as pessoas com suas palavras? — pergunto e ele balança a
cabeça.
— Não. Apenas quem merece.
Ah, Otto…
Terminamos de tomar o café e ele me ajuda com a louça, antes de juntar suas coisas para
partir.
— Você vai ficar bem mesmo? — O loiro me analisa, logo que o levo à porta do
apartamento.
— Vou, sim, amor. Pode ficar tranquilo. Se eu precisar de alguma coisa, eu te chamo. E à
noite podemos nos esbarrar sutilmente pela universidade. — Dou de ombros e ele acena,
sorrindo.
— Certo. Então nos vemos mais tarde.
Meu professor me enlaça pela cintura e me dá um beijo daqueles de tirar o fôlego.
Aproveito e desfruto o momento, porque sei que mais tarde, quando o vir, não poderei nem
mesmo pegar em sua mão.
— Até mais tarde, Ulisses — murmuro em seus lábios e ele sorri, dando-me mais um
selinho.
— Até, Marina.
Ele acena e passa pela porta, fazendo-me acompanhá-lo até que suma pelo elevador.
Fico parada sorrindo sozinha, até voltar para dentro e trancar a porta atrás de mim.
É…
Hoje preciso reagir.
Preciso sacudir a poeira e erguer a cabeça. Amanhã vou ligar para a autoescola e já
marcar algumas aulas extras para me preparar para o próximo exame.
Não tem outro jeito, não é?
Preciso dar a volta por cima e dar o meu sangue para me sair melhor no próximo exame.
Sigo até o meu quarto e aproveito esta manhã sozinha para colocar as matérias em dia,
principalmente das aulas a que faltei ontem. Confiro os materiais no portal do aluno e engreno
em uma manhã muito proveitosa de estudo.
Já é quase hora do almoço quando recebo uma mensagem de texto, que me faz sorrir.
Otto: Está tudo bem por aí, minha linda?
O carinho desse homem comigo é algo a que eu nunca vou me acostumar.
Eu: Sim! Rendi bastante nos estudos e logo vou parar para almoçar.
Otto: Isso é ótimo, amor. Lembre-se sempre do que eu te disse ontem: Você é mulher
foda, nunca deixe que te façam pensar o contrário.
Eu: Te amo, sabia?
Otto: Claro que sabia :) Também amo você, Marina.
Sorrio sozinha ao enviar uma figurinha romântica para ele, e logo ouço o som da porta do
apartamento sendo aberta.
Vou até a sala onde encontro minha amiga colocando a mochila sobre o sofá.
— Ah, Mari… Como você está?
Carina me envolve em um abraço gostoso e eu fecho os olhos por um instante neste
contato.
— Estou bem melhor agora, Cá — respondo ao me afastar e ela assente, sorrindo.
— Me perdoa por não ter conseguido ficar ontem à tarde com você. Mas seu boy
maravilhoso deu conta do recado — ela brinca e eu rio.
— Nossa… Eu não sabia que precisava ter Otto na minha vida até ter Otto na minha vida.
— Ah, é tão lindo vocês dois… Confesso que no início fiquei receosa pelo lance da
faculdade e tal, mas hoje não mais. Vocês nasceram um para o outro, amiga. É palpável isso.
Sorrio ao me afastar dela.
— Ele me faz mesmo muito feliz.
— E você merece tudo isso!
Carina segue até a cozinha e eu a acompanho, vendo-a abrir a geladeira.
— O que vamos fazer de almoço? — indaga e eu me coloco ao seu lado para pensar.
— Um espaguete à bolonhesa? — sugiro.
— Tem queijo?
Abro os armários e assinto ao pegar uma embalagem.
— Tem, sim!
— Perfeito! Bom que é rapidinho de fazer.
E então, juntas, começamos a preparar a nossa refeição, regrada de uma conversa leve e
boas risadas.
E aqui, com ela, eu percebo o quanto sua presença também é muito importante em minha
vida.
É quando eu reflito que qualidade sempre estará acima de quantidade.
Eu não tenho muitas pessoas em minha vida, mas tenho as mais incríveis, que estão
sempre ao meu lado.
E constatar isso me faz pensar no quanto sou sortuda.
Com eles, eu sei que jamais estarei sozinha.
CAPÍTULO 28 - Otto

Decido dar uma pausa no trabalho e ir até a cozinha procurar algo para comer, aproveito
para descansar um pouco a mente. Hoje é um dos meus poucos dias em que não dou aulas à
noite, mas nem por isso tenho folga. Estou há horas elaborando provas e lançando notas de
alunos no portal, isso é ainda mais cansativo do que enfrentar uma sala de aula.
Estalo o pescoço antes de abrir a geladeira e pegar alguns itens para montar um sanduíche
rápido. Como de pé mesmo na bancada e aproveito esses minutos para pensar um pouco na vida.
E em como tudo mudou nesse último ano.
Há doze meses eu ainda estava em um casamento de bosta, sobrevivendo naquele
inferno.
Mas hoje…
Hoje eu estou livre, vivo mais leve e ainda conheci uma pessoa que realmente vale a
pena.
Ficaria ainda melhor se Yuri vivesse comigo, mas sei esperar. Pelo bom relacionamento
que nós temos, consigo vê-lo morando comigo em um futuro próximo e essa esperança enche o
meu peito.
Na verdade, não me lembro de uma época em que eu tinha esperanças na vida.
Estou terminando de comer quando sinto o meu celular vibrar dentro do bolso.
Yuri…
Termino de engolir tudo para atendê-lo.
— Oi, filho — atendo sua ligação enquanto lavo as mãos na torneira da cozinha.
— Pai… — a voz amedrontada de Yuri acende um sinal de alerta dentro de mim. —
Você pode me buscar aqui?
— Vou agora! — digo rápido, sentindo o meu coração se acelerar aqui dentro. —
Aconteceu alguma coisa, Yuri?
Disparo pelo apartamento, trombando pelos móveis, e vou até o meu quarto para me
trocar.
— É o Fabrício… — a voz do meu filho está trêmula e eu paraliso.
— O que foi que ele fez, Yuri? — minha voz sai um tanto ríspida.
Se esse desgraçado tiver encostado um dedo no meu filho, eu não sei o que sou capaz de
fazer com ele.
— Eu estava na minha, jogando videogame na sala, e ele quis ver TV — a voz de Yuri é
pausada, mas eu consigo sentir a apreensão na forma como respira. — Eu pedi só para acabar a
partida, pai. E então ele arrancou a manete da minha mão e jogou na parede. — O relato de
Yuri só me deixa ainda mais nervoso, porque sinto que isso não vai acabar nada bem.
Meu sangue inteiro ferve e a adrenalina toma conta do meu corpo.
Calço um tênis qualquer e busco a minha carteira. Estou prestes a sair de casa quando a
sua voz baixa me detém.
— Eu reclamei e então ele me deu uma surra. Acho que eu quebrei o nariz…
— É O QUÊ?
Não.
Esse desgraçado não fez isso.
Ele não encostou o dedo no meu filho.
Filho da puta desgraçado do caralho.
Eu vou acabar com a raça dele.
— Você está bem, Yuri? Onde você está? — pergunto aflito, enquanto luto com as
chaves para trancar o apartamento.
— Eu não sei, pai… Tá doendo e tá sangrando…
— Puta que pariu! — esbravejo, esmurrando os botões do elevador, impaciente para
descer.
Nessas horas eu odeio o fato de morar no último andar.
— Eu vim para o banheiro e tranquei a porta.
Solto um suspiro de alívio.
Pelo menos ele está longe do desgraçado.
— Ótimo. Não saia daí até eu chegar, ok? — instruo e ele concorda de pronto. — Você
sabe se esse bosta ainda está em casa?
— Está, sim… Daqui eu estou o ouvindo brigar com a minha mãe. Ela foi para cima dele
e eu aproveitei a discussão dos dois para correr para o banheiro.
Bom. Pelo menos para isso essa ordinária prestou.
Mas, ainda assim, ela colocou a vida do nosso filho em risco e isso é algo que eu nunca
vou perdoar.
— Certo, filho. Eu já estou entrando no carro, tá? — aviso, logo que desço do elevador e
disparo para o estacionamento. — Não abra essa porta até eu chegar, Yuri. Nem mesmo para a
sua mãe, ok?
— Eu não vou — me garante.
Adentro o carro e manobro rapidamente para sair do prédio.
— Já estou quase chegando aí.
— E, pai… Eu posso morar com você? — a voz dolorosa me pede e rasga o meu coração.
— Eu não quero mais ficar aqui.
— Você não volta para essa casa nunca mais, Yuri. Eu te prometo isso.
Encerro a ligação com ele e piso o pé no acelerador, pegando as ruas da cidade em
direção à minha antiga casa.
Com um olho no trânsito e outro no celular, disco para Caio, que não demora a me
atender.
— Fala, Ottoni.
— Caio, você está trabalhando hoje?
— Estou aqui no batalhão, por quê? Precisando de mim?
Ah, graças a Deus.
Nunca amei tanto meu amigo por ser um policial militar.
— Pode ir até a casa da Renata agora? Yuri me ligou contando que o filho da puta do
namorado dela bateu nele e parece que quebrou o nariz.
— Ah, ele não fez isso! Desgraçado! Estamos indo para lá agora.
Ouço sua voz chamando ao fundo e sinto o meu coração bater um pouco mais calmo por
saber que tenho esse suporte.
— Yuri está trancado no banheiro e me falou que eles ainda estão em casa. Podemos
pegá-lo em flagrante.
— Me encontra lá na porta, Otto. E não entre até eu chegar, tá? Se controla, porra! Não
piora as coisas.
Concordo, sentindo o coração esmurrar aqui dentro. E pedindo aos céus para que eles não
demorem a chegar.
Não sei se vou conseguir conter por muito tempo a vontade de entrar lá e socar aquele
ordinário.
Jogo o celular no banco ao lado e piso no acelerador, sentindo aquela adrenalina voltar
com tudo. Dirijo feito um louco pela cidade e pouco me importo se estou tomando multas de
trânsito, desde que eu chegue logo.
Viro a esquina da rua da minha antiga casa sentindo meu coração quase saltar pela boca
de nervoso. Estaciono o carro à porta e consigo ouvir os gritos de Renata lá de dentro.
— Anda, Caio… Anda, porra…
Ando em círculos pela calçada, quase arrancando os cabelos de nervosismo quando ouço
o som da viatura chegando.
Graças a Deus.
Caio salta lá de dentro ao lado de seu parceiro e eu os cumprimento rápido.
— Ele ainda está aí? — meu amigo me pergunta e eu assinto.
— Ouvi a voz da discussão dele com a Renata daqui de fora.
— Ótimo. Eu vou na frente e assim que eu conseguir abordá-lo, você vai atrás do Yuri,
ok?
Aceno e sigo os dois até a porta de casa.
Caio toca o interfone umas duas vezes, até um rosto familiar me aparecer.
Meu punho se fecha ao ver a imagem do cara que eu mais odeio nesta vida.
Dou um passo em sua direção, mas Caio me intercepta e eu entendo o recado.
Não posso piorar as coisas.
— Sr. Fabrício? — a voz firme de meu amigo faz o cara concordar, franzindo o cenho. —
Recebemos denúncia de agressão a um menor…
— Isso deve ser um engano — o safado fala, com a voz confusa. — Não tem nada disso
aqui…
Um passo para dentro e Fabrício permite que os policiais entrem em sua casa, olhando-
me torto ao me reconhecer.
Ele tem sorte que eu não estou sozinho, senão quebraria a sua cara e arrastaria pelo
asfalto.
— Gomes! — Caio sinaliza para seu parceiro e eu o conduzo pela casa para
encontrarmos Yuri, enquanto meu amigo mantém Fabrício sob sua vigilância.
Seguimos pelo corredor do térreo até avistar outra pessoa em quem, se eu pudesse, voaria
em cima.
— Yuri, sai daí!
A voz de Renata faz o meu sangue ferver de ódio.
De puro ódio.
Essa mulher perdeu o mínimo de respeito que eu ainda tinha por ela em relação ao nosso
filho.
Quando ela me vê chegando ao lado de um policial, seu semblante se assusta.
— Ulisses? O que significa isso?
— Afaste-se daí, senhora — é o policial que ordena e ela arregala os olhos, dando um
passo para trás.
— Não é nada do que estão pensando, foi um mal-entendido e… — tenta justificar e eu
ergo o braço para ela.
— Cala a boca! — grito e ela tem um sobressalto.
Chego à porta do banheiro e colo meu ouvido, dando uma batida na madeira.
— Filho? Sou eu, pode abrir para mim?
Ouço uma movimentação lá de dentro e, quando a porta se abre, a visão de um garoto
assustado com o nariz ensanguentado me desarma.
— Pai!
O menino vem em minha direção, ele me agarra como se eu fosse a sua salvação e isso
me desestabiliza.
— Está tudo bem? — pergunto, tateando o seu rosto e procurando mais alguma coisa
além de seu nariz.
Yuri balança a cabeça e suas lágrimas descem, como se estivesse me esperando chegar
para desabar.
— Ei, vai ficar tudo bem, ok? Eu vou te levar para casa agora.
Seco suas lágrimas e ele assente, ainda incapaz de me soltar.
— Você não pode levar o meu filho. Eu tenho a guarda dele e…
— Cala a boca! — grito mais uma vez e ela me olha assustada. — Você vai se entender
comigo perante o juiz agora.
A mulher engole em seco e Gomes me conduz até a sala, onde Caio ainda está com
Fabrício.
Quando meu amigo vê meu filho com o nariz ensanguentado, eu vejo seu semblante
endurecer de raiva. Aqui não é só um caso que ele atende no trabalho, é um garoto que ele
considera como um sobrinho sendo agredido.
A satisfação que eu tenho ao ver Caio algemar Fabrício e carregar para a viatura quase
me faz esquecer a tristeza por ver meu filho machucado.
E então somos todos guiados para a delegacia a fim de prestar depoimento. É uma parte
burocrática e desgastante, mas necessária. Saber que o vagabundo vai dormir atrás das grades
hoje me deixa muito mais aliviado.
Uma pena que eu não pude socar a sua cara, mas tenho coisas maiores agora. Como
cuidar do meu filho.
Logo que somos liberados da delegacia, levo Yuri até o hospital para avaliar sua situação.
Por sorte, o pronto-socorro não está cheio e não demoramos a ser atendidos.
Para o nosso alívio, o seu caso não é cirúrgico, pois não houve fratura com desvio dos
ossos do nariz. O tratamento será feito apenas com compressa de gelo, repouso e medicação.
E isso já me deixa com o coração muito mais tranquilo.
Saindo de lá, vamos direto para a farmácia comprar os medicamentos. Durante todo o
tempo, noto Yuri calado e isso me machuca.
Não gosto de vê-lo assim…
— Está com fome? — pergunto ao voltar para o carro e colocar a sacola de remédios em
seu colo.
— Não muito…
— Quer passar no drive-thru de alguma rede de fast-food e pegar um combo? — ofereço
e o vejo dar de ombros.
— Pode ser.
Assinto e dirijo com calma até o local, onde faço o pedido de seu sanduíche favorito. Já
em casa, colocamos todas as sacolas na mesa e começamos a comer.
Noto o tempo todo o semblante triste de Yuri e isso me machuca. Sei que a adrenalina do
susto passou e ficou a tristeza no lugar. Fico me perguntando se ele está magoado pela situação
em que sua mãe o colocou.
— Quer tomar um banho agora para dormir? — ofereço logo que terminamos de comer e
meu filho concorda.
— Sei que não tivemos tempo de pegar suas coisas, mas pelo menos alguns pares de
roupa você tem aqui. Depois eu vou passar lá na casa da sua mãe para buscar o restante, tá?
— Tá bom.
Yuri segue até o banheiro e eu aproveito a deixa para ligar para Marina e contar o
ocorrido. Acabou que, com toda essa loucura, eu não tive tempo de falar com ela e eu sempre lhe
mando mensagem à noite.
Da delegacia, eu liguei para a minha advogada para pedir que entre com o pedido de
guarda provisória em caráter de urgência, dadas as circunstâncias. Deixei-a a par de tudo e recebi
suas instruções. Pelo que me falou, não devo demorar a conseguir, e a partir de agora entraremos
em uma briga judicial pela sua guarda definitiva. Pela idade de Yuri, sua vontade também é
levada em consideração e eu espero muito que dê tudo certo. Eu não aceito que tirem meu filho
de mim. De lá também liguei para a minha mãe só para deixá-la ciente de tudo e aproveito para
mandar uma mensagem agora avisando que chegamos em casa e está tudo bem.
Agora, sigo para o meu quarto e me sento na cama para ligar para Marina.
— Otto? — sua voz é preocupada e eu sinto um aperto aqui dentro.
Sei que é bem tarde da noite e ela deve ter estranhado o meu sumiço.
— Oi, Mari… Desculpa a demora para te ligar. Aconteceu um incidente com Yuri e tive
que buscá-lo às pressas na casa de Renata…
Narro com detalhes o ocorrido e minha garota escuta tudo do outro lado com atenção,
ficando igualmente revoltada e aliviada ao final.
Porque foi isso que eu senti…
Caralho, minha cabeça está até doendo.
Em poucas horas eu senti uma avalanche de emoções.
Raiva, revolta, ódio, tristeza, alívio…
Porra, que dia ruim dos infernos.
— E como ele está? — pergunta ao final do meu relato.
— Calado. Ele já tomou um banho e foi deitar, eu vou lá conversar com ele antes de
dormir. Parece que baixou a adrenalina e ele ficou triste, sabe?
— Tadinho, amor… Yuri é tão incrível. Não merecia nunca passar por isso. Amanhã
você dará aulas de manhã?
— Não, só à noite.
— Então vou passar o dia com vocês, pode ser? Aproveitar para distraí-lo um
pouquinho…
— Se não for te atrapalhar, Mari. Eu vou achar ótimo. Yuri gosta muito da sua
companhia.
— Imagina, Otto. Amanhã não tenho compromisso, então logo que tomar o café eu
desço, ok?
— Certo, combinado.
Solto um suspiro e esfrego os olhos.
— E vai ficar tudo bem, viu? Sei que você tem uma batalha pela frente, mas eu estou com
você.
A sua voz doce adentra o meu coração.
— Obrigado, amor.
Saber que tenho essa mulher ao meu lado, me apoiando e me fortalecendo, realmente faz
toda a diferença.
Despeço-me dela e desligo o telefone, seguindo até a cozinha para buscar uma bolsa de
gelo antes de adentrar o quarto de Yuri.
Dou uma batidinha na porta e vejo o garoto erguer os olhos para mim.
Sento-me ao seu lado na cama, entrego-lhe a bolsa e ele faz uma careta ao colocar sobre o
nariz.
— Ainda dói? — pergunto com cuidado e ele nega.
— Não muito…
— Logo os remédios começam a fazer efeito e para de doer.
Yuri assente, desviando os olhos dos meus.
— Pode descansar, filho. Amanhã eu vou ligar para a escola e explicar que você não vai
essa semana, ok? Vou apresentar o atestado médico.
O garoto assente, ainda calado.
— Você quer conversar? — ofereço, sentindo o meu peito se apertar por vê-lo tão calado.
— Eu só… — Yuri para e olha para o teto do quarto. — Me sinto mal com tudo isso.
Você, que é meu pai e tinha o direito de me bater, nunca encostou um dedo em mim. E agora o
Fabrício, que não é nada meu, fez isso comigo.
— Eu não tenho o direito de te bater, Yuri — corrijo-o. — Eu tenho o direito de te
corrigir, são coisas muito diferentes.
Yuri me analisa antes de concordar.
Toco seus cabelos lisos e jogo-os para trás, vendo o semblante do garoto se suavizar um
pouco.
— Sei que você não está legal, e acredite, eu também não. Eu confiei na sua mãe para
cuidar de você e não para levar um cara para te machucar.
Meu filho assente, engolindo em seco.
— Mas vamos vencer isso juntos, ok? Eu estou aqui com você e não vou desistir. Temos
uma briga judicial pela frente, mas estou disposto a tudo para conseguir sua guarda definitiva.
Yuri aquiesce e eu me inclino para beijar a sua testa.
— Obrigado, pai — diz baixo e meu peito se aperta. — Quando eu corri para o banheiro,
a primeira coisa que eu pensei foi em te ligar, porque eu sabia que me ajudaria a sair de lá.
E isso aqui me vale tudo.
Saber que meu filho pode contar comigo, que me vê como seu porto seguro.
Porra…
Eu faço tudo por ele. Tudo mesmo.
— Eu sempre vou te ajudar, filho — afirmo, olhando seus olhos. — Em qualquer fase da
sua vida, eu sempre serei alguém com que você pode contar.
— Eu sei. — Yuri baixa o olhar e seu semblante se torna um pouco tímido. — E
desculpa…
— Desculpar pelo quê? — indago, arqueando a sobrancelha.
— Eu poderia ter me defendido, mas eu simplesmente corri para o banheiro. Não fui dos
mais corajosos…
Seus olhos marejam e eu sinto um aperto aqui dentro.
— Ei… Você foi muito corajoso, sim. Você me ligou e me ajudou a pegar o Fabrício. Ter
chegado com a polícia para o flagrante fez toda a diferença, filho. E essa foi a sua forma de se
defender.
Passo essa nova perspectiva para Yuri, que me analisa antes de assentir.
— Você é só uma criança de doze anos, Yuri, diante de um homem de mais de quarenta.
Não é uma briga justa e você agiu da melhor forma que pôde. Eu estou muito orgulhoso de você.
Essa última frase parece ser tudo o que ele precisava ouvir, porque o garoto me dá o
primeiro sorriso desde que o encontrei hoje.
— Obrigado, pai.
— Eu te amo, viu? — declaro, tocando seus cabelos com carinho. — E, enquanto eu
estiver vivo, estarei com você. Nunca se esqueça disso.
— Eu também te amo..
Beijo sua testa mais uma vez e tiro a compressa de gelo, colocando na mesinha de
cabeceira.
— Agora vamos dormir? Está bem tarde e amanhã Marina vem para fazer brigadeiro para
você — anuncio e seus olhos brilham.
— Legal!
— Boa noite, filho. Durma bem. Se por acaso se sentir mal durante a noite, pode bater na
minha porta.
— Pode deixar. Boa noite, pai.
Aceno e me levanto da cama, indo até a porta para apagar as luzes.
Ainda que no escuro, fico aqui parado, velando seu sono até ouvi-lo ressonar.
E saber que ele está comigo e em segurança enche o meu peito de uma maneira
inexplicável.
Agora, mais do que nunca, tenho a certeza de que irei até o fim, mas ninguém vai tirar o
meu filho de mim.
Ninguém mesmo.
CAPÍTULO 29 - Otto

— Oi… — Marina se aproxima de mim e eu me inclino para lhe dar um selinho,


aproveitando que estamos no corredor do prédio.
A garota sorri antes de me dar um abraço gostoso, daqueles que demonstra todo apoio e
carinho de que preciso.
— Obrigado por ter vindo — sussurro, beijando seus cabelos ao nos afastar.
— Imagina, Ulisses. Como ele está?
— Ainda um pouco chateado com tudo isso, mas bem melhor do que ontem.
— Vai ficar tudo bem, você vai ver.
Ela acaricia o meu braço e eu assinto de leve.
— Vamos entrar?
Adentramos o apartamento e eu fecho a porta atrás de mim.
— Yuri, olha quem chegou — anuncio e o garoto ergue a cabeça do sofá.
Quando ele nota a presença de Marina, seu semblante se ilumina, fazendo-me ter ainda
mais certeza do quanto acertei em trazer essa garota para a minha vida.
— Oi, Mari! — meu filho a cumprimenta, sentando-se no estofado, e a morena se
acomoda ao seu lado.
— Como você está? Tudo bem?
O garoto dá de ombros e abaixa o olhar, um pouco constrangido.
Meu peito se aperta por saber que ele ainda se envergonha pelo ocorrido, como se a culpa
fosse dele por ter apanhado daquele maldito.
— Seu nariz ainda dói? — Mari pergunta e ele ergue o olhar de novo.
— Não muito. Só se eu encostar nele.
— Logo você fica cem por cento — garante. — Sabe que um nariz quebrado faz sucesso
entre as garotas?
Fico curioso com o rumo dessa conversa e me sento no braço do sofá para ouvi-los.
— É sério? — Yuri pergunta desconfiado, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que faz! — ela responde confiante. — Volte para as aulas e conte o ocorrido, se
você não vai ver várias garotas querendo cuidar de você. — Marina dá uma piscadinha para ele,
que sorri de lado. — Ainda mais um tão gatinho quanto você.
Os olhos do garoto chegam a brilhar e eu agradeço mentalmente por minha namorada ser
tão incrível.
— Você me acha um gatinho? — ele pergunta curioso e Marina suspira.
— Já se olhou no espelho, Yuri? — bufa e o garoto sorri de lado. — Você é a cara do seu
pai, que é o professor mais gato daquela universidade — constata e é a minha vez de ficar
vermelho.
Abaixo o olhar constrangido e percebo o quanto meu filho me olha divertido.
Eu já senti que ele desconfia que algo rola entre nós dois e agora com essa afirmação de
Marina…
— Duvido que nenhuma garota da sua sala não te acha gatinho — ela continua.
— Bom…
— A-há!
Marina bate palmas de empolgação, ela me lança um olhar cúmplice e neste momento eu
entendo qual é o seu objetivo. Está cumprindo com excelência sua promessa de distrair o meu
filho.
— Me conte tudo agora mesmo, mocinho!
Yuri sorri de lado jogando os cabelos para trás e eu fico me perguntando onde esse garoto
já aprendeu a fazer um movimento charmoso assim.
Porra…
Esse menino nasceu ontem e já está pensando em garotas?
— Teve uma brincadeira na escola, onde elegeram os garotos mais bonitos de cada sala.
E, bem… Meu nome estava lá…
— MENTIRA! — Marina dá um gritinho de euforia e eu solto uma gargalhada junto com
Yuri.
— Essa também é novidade para mim — constato e ele dá de ombros.
— Foi só uma brincadeira, não foi nada de mais.
— Ah, foi sim! Você é eleito o garoto mais gato da sua sala e não é nada de mais? —
Marina diz, extremamente empolgada, e Yuri sorri de lado.
Eu olho para os dois e vejo o quanto é natural estarmos aqui juntos. O quanto gosto dessa
companhia.
— Eu disse que você é um gatinho, não disse? — constata orgulhosa. — Pois bem… Não
sou só eu que penso assim.
— Eu devo me preocupar? — Encaro um e depois o outro, Yuri balança a cabeça para
mim.
— Relaxa, pai. Eu não vou namorar ninguém agora, sei que sou muito novo para isso.
Solto um suspiro alto e é a vez dos dois de rirem de mim.
— Bom, agora que deixamos claro a beleza dos Ottonis, o que pensaram em fazer hoje?
— Mari pergunta e meu filho parece ponderar por um instante.
— Não estou a fim de sair… Meu nariz ainda está feio — Yuri aponta para o próprio
rosto. — Podemos assistir a um filme de terror?
— E se… — Marina o interrompe e eu rio, sabendo que ela está fugindo da programação
do meu filho. — Se jogarmos Imagem e Ação?
— Mas não tem que ser de quatro?
— Ah, droga! — A garota bufa. — Não tem nenhum outro jogo de tabuleiro por aqui,
não, Ulisses?
Quando as palavras de Marina saem de sua boca, meu filho arregala os olhos para mim.
Ele sabe que eu odeio ser chamado assim, mas não sabe que vindo dos lábios de Marina eu
adoro…
— Banco Imobiliário serve? — sugiro e ela bate palmas de empolgação.
— É perfeito!
— Mas nós não temos Banco Imobiliário em casa, pai — Yuri constata.
— Não temos, mas eu posso comprar. Me esperem uns quinze minutos?
Levanto-me do sofá e o semblante iluminado de Yuri diz tudo. Eu poderia ir para outra
cidade buscar um jogo, que não me importaria.
— Ótimo. Vamos fazer brigadeiro enquanto isso? — Mari sugere se levantando de
pronto.
— Antes do almoço, pode? — O menino olha para mim pedindo uma autorização e eu
aquiesço.
— Hoje você está liberado para qualquer coisa, Yuri. Eu já volto.
Vou até o meu quarto trocar de roupa e calçar um par de tênis. Quando volto, encontro os
dois na cozinha e sinalizo para Mari vir até mim.
— Tudo bem mesmo ficar com ele por alguns minutos? Prometo não demorar.
— Não se preocupe, Otto. Vamos ficar bem!
E se há uma coisa de que eu tenho certeza é isso.
Eu confio de olhos fechados nessa mulher.
— Certo. Se precisar de alguma coisa, só me ligar, ok?
— Combinado.
Marina dá uma piscadinha para mim e se volta ao encontro de Yuri.
— Não fica muito perto do fogão, filho — oriento e o garoto acena, fazendo um sinal
positivo com a mão.
Sei que o médico instruiu que ele ficasse o mais longe possível do calor e, quando Yuri
dá um passo para trás apenas para ver Marina trabalhar, eu fico aliviado.
Saio de casa e sigo pelas ruas até encontrar uma loja de brinquedos mais próxima. Busco
pelo jogo e, quando estou fazendo o pagamento, sinto o meu celular vibrar.
Estou recebendo várias mensagens ameaçadoras de Renata e ignorando todas
devidamente. Ela não sabe que, em vez de me irritar, está é cavando a própria cova. Tiro print de
tudo e envio para a minha advogada, que já sabe exatamente o que fazer.
Eu não quero papo com essa mulher.
Ela que se resolva comigo na audiência.
Sei que não posso impedi-la de ver o nosso filho, mas esta semana ele ainda está
sensibilizado demais com tudo o que aconteceu e vou respeitar a sua vontade de ficar em casa
sozinho.
Quando ele estiver melhor, eu vejo uma forma como eles podem se encontrar com as
orientações da advogada.
Mas, por hoje, não quero pensar nisso.
Faço o caminho de volta para casa e, quando adentro o apartamento, encontro minha
namorada e meu filho a gargalhadas na cozinha enquanto raspam a panela ainda quente de
brigadeiro.
Ver a naturalidade com que conversam e brincam entre si aquece o meu peito.
Fico parado por um instante apenas absorvendo essa imagem que quero carregar para o
resto da vida.
Se depender de mim, eles sempre estarão assim, juntos.
Como uma família.
CAPÍTULO 30 - Marina

— Não vai para a sala agora, Mari? — Carol, uma colega do projeto de pesquisa, me
pergunta e eu nego.
— Preciso só passar na biblioteca antes.
Aponto para o caminho contrário do bloco e ela assente, indo na direção oposta à minha.
Hoje cheguei mais cedo na universidade para trabalharmos no projeto e, agora que a aula
está prestes a começar, decidimos parar. Mas, como eu tenho prova de Teoria da Engenharia essa
semana, quero passar na biblioteca para pegar um livro que vai me ajudar nos estudos.
Adentro o estabelecimento e vou até as prateleiras de Engenharia, já conhecendo a
posição dos livros de que preciso. Confiro tudo e vou até o balcão anotar o meu empréstimo,
colocando tudo dentro da mochila.
Quando saio, agarro as alças e ando de cabeça baixa pelo campus até ouvir uma voz
feminina que me chama a atenção.
— Mas é claro que vai funcionar, Fabrício! Já estou indo à sala da reitoria, eu já decidi.
Desacelero os passos e encosto-me na mureta, abaixando o corpo e fingindo amarrar os
cadarços do tênis para ouvir a conversa.
Esse nome…
Pode ser coincidência, mas será?
— Ulisses não sabe mentir, vai por mim, isso vai dar certo.
Meu coração se acelera no peito e agora eu sei que não é coincidência.
Ulisses e Fabrício em uma mesma frase não pode ser…
— Não, eu não sei quem é ela, e nem tenho provas. Mas farei a denúncia assim mesmo.
Se a universidade demitir o Ulisses por se relacionar com uma aluna, eu consigo pegar a guarda
de Yuri de volta. É só disso que eu preciso!
Sinto como se fosse golpeada no estômago e meus dedos tremem tanto que eu embolo os
cadarços, gastando ainda mais tempo para colocá-los de volta no lugar.
Meu Deus, ela não pode fazer isso.
Não pode!
— Eu coloquei um detetive particular para vigiá-lo, esqueceu? Essa prova não vai
demorar a aparecer.
Puta que pariu.
Otto está sendo vigiado.
Meu Deus do céu…
— Estou indo à reitoria agora…
A mulher cujo semblante eu nem mesmo notei anda pelo caminho de pedras e some da
minha vista.
Levanto-me de pronto e sinto o meu peito pesar, o coração esmurrar aqui dentro.
Eu preciso avisar ao Otto.
Preciso fazer isso agora.
Dou a meia-volta para ir até o bloco onde ele está dando aula agora até simplesmente
parar.
Eu não posso fazer isso…
Renata está certa.
Ulisses é um homem muito íntegro, de caráter exemplar, ele jamais mentiria para a
reitoria. E, se lhe perguntarem agora sobre o nosso relacionamento, sei que vai se embolar com a
resposta, dando a eles o que precisam.
Inferno!
Puxo os cabelos com força, enquanto penso em uma solução para isso.
Pensa, Marina, pensa…
Otto não pode perder o emprego, porque, se isso acontecer, ele vai perder a guarda
provisória do Yuri, que acabou de ser concedida. E, com isso, a chance de ter o seu filho com
ele.
Sei que essa ordinária está fazendo isso com o puro intuito de se vingar do ex-marido.
Como Fabrício foi preso e solto no dia seguinte para responder processo em liberdade,
Renata só pode ver Yuri com visita supervisionada. E, agora que Otto conseguiu a guarda
provisória do filho, o processo da guarda definitiva já está correndo e ela não esperava por isso.
Mas eu não vou deixar que ela consiga, não agora que Otto está tão perto de ter seu filho
para sempre com ele.
Pensa, Marina, pensa.
Se Otto for questionado pela reitoria estando comigo, ele não vai saber mentir e vai
entregar o nosso envolvimento.
Eu não posso permitir isso.
Então…
Fecho os olhos com força e sinto um nó na garganta, uma vontade absurda de chorar.
Meu corpo inteiro treme, o peito dói por cogitar isso, mas é a única solução agora.
Pelo menos para que ele passe no interrogatório da reitoria.
Se Otto for questionado estando solteiro, não precisa mentir…
Eu luto contra a vontade de chorar enquanto caminho pelo campus em direção à sala de
aula onde ele leciona agora e repasso mentalmente como posso fazer isso sem machucá-lo tanto.
Espero que ele um dia me perdoe por isso, mas temos algo muito maior agora com que
lidar.
Não vou permitir que ele se afaste do filho, mesmo que o preço a pagar seja a sua
ausência na minha vida…
Meu queixo inteiro treme e bate tão forte que acho que posso ser ouvida a distância.
Quando chego à porta de sua sala, ouço sua voz ao fundo e sinto o meu coração esmurrar
aqui dentro. Encosto-me na parede do lado de fora e fico parada, ouvindo a sua voz e pensando
na dor de ter que me despedir dele.
Vai doer demais.
Na verdade, já está doendo.
Dói tanto, que tenho dificuldades de respirar.
Meu Deus, que eu esteja agindo certo.
Que meu sacrifício valha a pena.
Porque abrir mão desse homem é uma das coisas mais difíceis que terei que fazer em toda
a minha vida.
Fecho os olhos e sinto os lábios tremerem, pedindo aos céus para que a aula passe mais
rápido.
Ainda estou em completo desarranjo, quando a voz familiar me encontra e golpeia o meu
peito.
— Marina?
Abro os olhos e encontro o homem que adentrou o meu coração e tem todo o meu amor,
penso que vai ser ainda mais difícil do que eu imaginava.
Vou contar a ele sobre a Renata, eu sei que vou, mas não hoje, não agora.
Não quando ele está prestes a ser interrogado e a perder o emprego.
— Otto, eu… A gente pode conversar? — minha voz sai um sussurro e meu coração
esmurra o peito.
As pernas bambeiam e eu respiro com dificuldade.
— Claro. Aconteceu alguma coisa?
Aceno para ele, que me conduz até umas mesinhas ao final do corredor. Por sorte, com a
troca de professores, a aula não parou e o intervalo ainda não começou, então está tudo vazio.
— Otto…
Meu queixo bate tão forte, tremendo tanto que eu tenho dificuldade de falar.
— Marina, você está me preocupando…
Engulo o choro e ergo os olhos para ele, que está com o semblante franzido.
E saber que estou prestes a quebrar o seu coração me destrói.
— Eu estive pensando, refletindo um pouco — começo a falar o que ensaiei e penso que
isso é ainda mais difícil do que eu imaginei. — E cheguei à conclusão de que… — Paro e tento
reunir toda a coragem em mim. — Acho que não podemos mais nos ver — minha voz abaixa um
tom e Otto arregala os olhos para mim.
— É o quê? Por quê?
— Nós somos muito diferentes, Otto.
Por favor, amor, me perdoe por isso…
— E não estamos vendo uma solução sobre isso. Não podemos nos encontrar como um
casal de verdade, não podemos nem namorar e isso é exaustivo para mim.
O rosto do professor se torna vermelho e seus olhos marejam, enquanto ele processa as
minhas palavras.
— Não temos perspectiva de quando ficaremos juntos e isso não é bom… — Meu
coração dói tanto que eu consigo senti-lo sangrar. — Então acho melhor seguirmos o nosso
caminho.
— Mas… — A expressão de dor em seu semblante acaba comigo.
Esmaga o meu coração em mil pedacinhos.
— O que mudou agora? Ontem a gente estava tão bem… Eu não entendo…
— Acho que estender isso só vai causar mais dor entre nós… Mas é só olhar e ver o
quanto somos diferentes um do outro.
Meu coração bate tão rápido, tão forte que acho que ele é capaz de ouvi-lo.
Meu D eus, como isso é difícil…
Como dói.
— Mas…
— Preciso voltar para a aula agora.
Deixo um Otto perplexo e aperto as alças da mochila, preparando para me virar, quando
sua voz rouca me atinge.
— Eu pensei que você me amasse…
Sua voz é tão dolorosa que me atinge forte e eu não sei como não desabei à sua frente.
— E eu amo — respondo olhando em seus olhos, que estão tão quebrados quanto os
meus. — E é por te amar que estou fazendo isso. Se cuida, professor.
Abaixo a cabeça e me viro, apertando o passo para sair do bloco, sentindo-me sufocar.
Não sou capaz de olhar para trás.
Não sou capaz de ver o quanto machuquei o homem que eu mais amo no mundo.
O homem mais doce, mais amoroso e mais incrível que eu já conheci.
Me perdoa, Otto…
Me perdoa por falhar com você.
Me perdoa por quebrar a minha promessa e machucar o seu coração.
Mas tem algo muito maior acontecendo agora.
E eu não posso permitir que você perca o seu filho.
Eu não posso.

Abro a porta do apartamento e encontro Carina sentada no sofá vendo TV. Corro em sua
direção e desabo em seu colo, chorando de soluçar.
— O que foi, amiga? O que aconteceu?
— O Otto, Cá… Tá doendo…
Encolho o corpo e recebo seu afago enquanto choro, sentindo uma dor absurda dentro de
mim.
Dói o meu coração, o meu corpo, a minha alma.
Dói tudo…
Eu sabia que seria difícil terminar com ele, ainda mais o amando tanto, mas não pensei
que fosse tanto assim.
Ver em seus olhos o quanto o machuquei acabou comigo.
— Quer me contar o que aconteceu? — ela me pergunta quando vê que meus tremores
diminuíram um pouco.
— A vaca da ex dele… — choramingo, apertando a almofada em minhas mãos.
— O que aquela mocreia fez?
— Ela descobriu sobre nós dois e foi à faculdade denunciar o Otto para a reitoria.
— O QUÊ? Ah não, ela não fez isso! Como você descobriu?
Então eu narro para a minha amiga, com detalhes, a conversa que ouvi e a decisão mais
dolorosa que precisei tomar em toda a minha vida.
— Ah, amiga… Não tinha uma outra forma de resolver isso?
— Otto não é capaz de mentir, Cá… Ele é o homem mais correto que eu já conheci.
Estando comigo, eu tenho certeza de que ele cairia em contradição ou simplesmente assumiria a
culpa.
— Nossa… E estando terminados, ele não tem o que mentir, né?
— Sim, porque agora ele não tem uma namorada mais — falo, sentindo o coração
queimar aqui dentro.
— Ah, amiga… Eu sinto muito.
Carina faz carinho em meus cabelos e eu desabo a chorar mais uma vez.
— Está doendo tanto, Cá… Tanto…
— Eu sei, Mari… Eu sinto muito mesmo. Você pretende contar para ele sobre isso?
Confirmo meneando a cabeça, fungando baixinho.
— Vou, sim, mas vou deixá-lo passar pela reitoria primeiro. Ele precisa ir bem nessa
entrevista para não perder o emprego.
Minha amiga faz que sim e me acaricia mais uma vez, fazendo-me agarrar a sua cintura
com força.
— Eu odeio essa mulher. Odeio que ela faça o Otto sofrer e agora, você.
Balanço a cabeça, sentindo o meu peito esmurrar.
Eu também odeio. Como eu odeio.
Eu tive que abrir mão do homem que eu mais amo por puro capricho dela.
E pior, não sei se um dia o terei de novo.
Não sei se Otto vai me perdoar por ter quebrado o seu coração assim e é essa sensação
que mais me assombra.
Não sei viver uma vida sem ele ao meu lado.
Não agora, que aprendi o que é ser amada de verdade.
Por Deus…
Quando é que vai parar de doer?
CAPÍTULO 31 - Otto

Eu pensei que já tinha sentido as piores dores da minha vida.


Uma foi quando enterrei o meu pai, e a outra, quando precisei sair de casa deixando meu
filho para trás.
Depois disso, pensei que nada mais me abalaria.
Até agora.
Ver Marina se afastar de mim depois de terminar tudo, sem me dar maiores explicações,
acabou comigo.
Pergunto-me o que eu fiz de errado.
Será que foi uma carga muito alta para ela suportar?
Será que minha vida é tão complicada a ponto de ela não me querer mais?
Sinto uma dor profunda no peito e não posso fraquejar.
Pelo menos não em meu ambiente de trabalho.
Engulo o choro e sigo até a sala dos professores, para tomar um café antes que a próxima
aula comece. Talvez um pouco de bebida quente alivie essa dor no peito.
Sigo cabisbaixo pelo campus pensando em como minha vida é patética.
Como eu não nasci para ser feliz, eu não sou mesmo digno disso.
Vivi quinze anos em um casamento de merda, sendo completamente infeliz. E quando
finalmente encontro alguém que me ame de verdade e deixe meus dias mais leves, ela
simplesmente não quer ficar comigo.
O que eu fiz para merecer isso?
Eu sou um ser humano tão desprezível assim?
Subo as escadas que levam à sala de professores e, chegando lá, apenas cumprimento
alguns colegas em um aceno. Não estou a fim de papo hoje. Sigo até a cafeteira e me sirvo de um
copinho descartável, fechando os olhos ao provar a bebida quente.
Minha cabeça lateja e, se eu pudesse, iria para casa agora mesmo. Mas não posso
simplesmente fugir dos meus compromissos assim.
Inferno.
Termino de beber o café e estou me servindo de novo quando uma voz feminina surge ao
meu lado.
— Professor Ottoni? — Viro-me e encontro uma funcionária da universidade. — O
senhor está sendo solicitado na sala da reitoria.
Estreito os olhos para ela intrigado.
— Agora?
— Sim, parece que é urgente.
— Certo, estou indo. Obrigado.
Viro o restante do café e descarto o copo, sentindo o meu peito se acelerar aqui dentro.
Não sei o que pode ser, já que nunca fui chamado à sala do reitor, pelo menos não em
particular.
Isso não deve ser coisa boa, né?
Primeiro eu perco uma namorada e agora eu sou chamado à sala do chefe.
Mas que merda de dia, hein?
Tem como piorar essa porra, será?
Ajeito a pasta nos ombros e saio da sala, caminhando pelo campus até o último bloco,
onde fica o reitor e toda a diretoria da universidade. Identifico-me para a secretária, que pede que
eu aguarde.
Sento-me na poltrona na recepção e bato os pés no chão, impaciente, enquanto espero.
Estou à beira de surtar quando finalmente a porta se abre e meu nome é chamado.
— Boa noite, professor — o reitor me cumprimenta logo que adentro a sua sala e estica a
mão para mim.
Aperto-a, sentindo os dedos suarem, e ele sinaliza para que eu me sente à sua frente.
Francisco Barbosa é um homem muito respeitado na cidade por coordenar uma das
maiores universidades de Vale dos Campos. Sei que é muito correto e íntegro, fazendo com que
todos respeitem suas regras por aqui.
— Boa noite, reitor. O senhor mandou me chamar?
O homem calvo de barba baixa confirma, ajeitando os óculos.
— Recebi uma denúncia anônima e gostaria de ouvir do senhor se ela procede.
Meu coração erra uma batida e eu estreito os olhos para ele.
— Denúncia? De quê?
— Do seu envolvimento com uma aluna — solta e eu sou golpeado no peito.
— Como é que é? — pergunto incrédulo, incapaz de entender quem foi que fez isso.
Como descobriram isso?
E a minha incredulidade é interpretada de outra forma por ele, porém bastante benéfica.
— Eu também fui surpreendido com isso. O senhor integra o quadro docente desta
instituição há mais de quinze anos e eu tenho bastante apreço pelo seu trabalho. Sei do seu
caráter, por isso preferi chamá-lo por aqui. Então, professor Ottoni, o senhor atualmente não tem
qualquer envolvimento com uma aluna?
— Não — respondo, sem precisar pensar.
Eu tinha um envolvimento, hoje não mais.
Francisco assente, apreciando a minha resposta.
— O senhor sabe que qualquer envolvimento de um profissional com aluno é
extremamente proibido nesta instituição e que, caso comprovado, acarreta uma rescisão imediata,
certo?
— Claro, senhor. Tenho total ciência disso.
— Certo… Vou considerar a denúncia como falsa, baseado no seu histórico profissional e
em sua boa-fé. Está dispensado, professor.
— Obrigado, reitor.
Aceno e me despeço dele, sentindo as pernas tremerem.
Saio de sua sala com a cabeça doendo e pensando em quem foi que fez uma coisa dessas.
Será Renata?
Só pode ter sido essa ordinária, já que está puta porque o juiz me concedeu a guarda
provisória de Yuri.
Mas como ela descobriu isso? Se eu e Marina nunca nos encontramos em público?
Minha mente fervilha e eu estou tão agitado, que quase me esqueço do rompimento de
Marina hoje.
Desacelero o passo e tenho um estalo dentro de mim.
Marina…
A garota terminou comigo de um jeito um tanto estranho minutos antes de eu ser
chamado na sala do reitor.
Será…
Será que ela sabia?
Não pode ser coincidência, pode?
Mas por que ela não me contou em vez de fazer isso?
Minha cabeça está prestes a explodir e eu sei que preciso seguir para a minha próxima
aula, por isso tento manter a mente no lugar.
Mas uma coisa é certa…
Eu vou até a casa dela quando a aula acabar.
Preciso esclarecer isso.

Parado em frente ao prédio, disco para Marina, mas, como previa, ela não me atende.
Porém, não vou sair daqui sem ter as respostas de que preciso.
Estou à beira de colapsar.
Minha mente está uma bagunça, meu coração está estraçalhado e meu corpo inteiro
treme.
Eu só preciso esclarecer isso. Preciso saber se Marina realmente não me quer mais em
sua vida, ou se sua decisão tem a ver com a conversa com o reitor.
Continuo sem sucesso, quando disco para Carina e com muita insistência ela me atende.
— Oi, Otto — sua voz é um sussurro.
— Carina! Estou aqui embaixo… Pode, por favor, abrir para mim? — imploro, sentindo
o coração esmurrar o meu peito.
— Não sei se é uma boa ideia…
— Eu fui chamado na sala da reitoria, Carina. Pouco depois de Marina ter terminado
comigo do nada. Preciso conversar com ela. Preciso saber se isso foi só coincidência, ou ficarei
maluco.
A garota pondera por um momento em silêncio antes de soltar um suspiro.
— Está certo, pode subir.
Quando vejo a porta sendo aberta, sinto meu corpo entrar em adrenalina e subo agitado
até o andar das duas.
Bato à porta e logo a imagem da amiga me surge, indicando com a cabeça o sofá.
— Amiga, me perdoe por isso… Mas vocês precisam conversar — Carina diz antes de
seguir pelo corredor e nos deixar a sós.
Observo Marina deitada no sofá, toda encolhida, e caio de joelhos no tapete à sua frente.
Os olhos vermelhos, o nariz inchado, as lágrimas ainda rolando…
Ela também está sofrendo…
Porra.
— Por que você fez isso, Mari? — murmuro, tocando o seu rosto, e ela fecha os olhos,
derramando mais uma lágrima. — Por que desistiu de nós dois?
Falar isso em voz alta dói tanto que é a minha vez de chorar também, sentindo o meu
coração sangrar.
Eu segurei por todo esse tempo, porque não podia desabar na faculdade, mas agora não
consigo mais.
Deixo as lágrimas descerem com tudo e lavarem a minha alma, mas, em vez de sentir
alívio, só sinto dor.
Uma dor agonizante.
— O meu amor não é o suficiente para você? — pergunto entre lágrimas e Mari chora de
soluçar, agarrando a almofada com força.
Meu corpo inteiro treme e eu sinto uma dor absurda dentro de mim, que sai em pranto
livre, fazendo com que doa ainda mais.
— Eu fui chamado na sala da reitoria — falo e vejo seus olhos me buscarem, curiosos. —
Bem depois do seu rompimento. Me diz que isso não é coincidência, Marina. Me conta o que
está acontecendo…
A garota se senta com relutância no sofá e me olha, secando as lágrimas devagar.
Levanto-me do tapete e me sento ao lado dela.
— Como… Como foi lá? — sua voz é um sussurro e apunhala o meu peito.
— O reitor recebeu uma denúncia sobre o meu envolvimento com uma aluna e veio me
questionar se isso era verdade.
— E o que você respondeu?
— Que não — falo e ela solta um suspiro. — Naquele momento eu não tinha mais uma
namorada, então…
— E ele acreditou em você?
— Acreditou.
— Graças a Deus — solta, correndo os dedos pelos cabelos, e eu franzo o cenho para ela.
— E é agora que você me conta o que está acontecendo? Você sabia, não é?
Marina me lança um olhar dolorido antes de assentir.
— Eu estava saindo da biblioteca quando ouvi uma conversa suspeita pelo telefone e
descobri ser da Renata.
— A Renata? Lá na universidade?
— É. Ela usou o seu nome e o do Fabrício na mesma frase e não tive como não
reconhecer o assunto. Ela estava conversando com ele pelo telefone e contou que estava indo
para a sala do reitor fazer uma denúncia. Porque, se você perdesse o emprego, ela conseguiria a
guarda do Yuri de volta.
— Desgraçada!
Soco o sofá e Marina me lança um olhar triste.
— Mas por que você não me contou isso, Mari? Por que preferiu terminar comigo?
— Você teria conseguido mentir para o reitor se ainda estivesse comigo? — pergunta e
eu engulo em seco.
Ela tem um ponto.
Se nós dois estivéssemos bem naquele momento, eu poderia facilmente ter gaguejado.
— Eu não poderia correr esse risco, Otto. Você não pode perder o seu emprego e ficar
sem o Yuri.
— Então… — Paro e engulo em seco, sentindo o meu coração se acelerar ainda mais
aqui dentro. — Não é porque você não me quer?
Marina me abre um sorriso fraco e uma lágrima lhe escorre.
— Você é tudo o que eu mais quero na minha vida, Ulisses. Mas, neste momento, algo
muito maior está acontecendo.
Ouvir isso dela me traz alívio, ainda que em circunstâncias tão perturbadoras.
Porque, se ela me quer, podemos dar um jeito.
— Mas, agora que eu já passei pelo reitor, podemos continuar e…
Mari nega de pronto e seu semblante triste me apunhala.
— Renata colocou um detetive particular atrás de você — murmura e eu dou um pulo no
sofá.
— Como é que é?
— Ela está disposta a descobrir qualquer coisa sobre você para te prejudicar, Otto. E isso
inclui te vigiar e desmascarar sobre o nosso relacionamento.
Aperto os olhos com força e sinto o meu coração voar pela boca.
Não acredito no que eu estou ouvindo.
Eu não acredito que ela foi capaz de fazer isso…
— Vou falar isso tudo com a minha advogada — digo, sentindo dificuldade de respirar.
— Tem que haver um jeito de parar essa mulher.
Reabro os olhos e vejo Marina se levantar e ficar diante de mim.
— Entende que não podemos ficar juntos? — diz, com a voz tão dolorosa que me
golpeia. — Pelo menos, não agora. Tem muita coisa em jogo, Ulisses. E um passo em falso pode
te custar a guarda do Yuri.
Encaro a mulher diante de mim e penso que ela está certa.
Dói pra caralho admitir isso, mas ela está certa.
Porra…
— Renata quer foder a minha vida, porra!
Puxo os cabelos com força e sinto falta de ar.
Meu peito dói tanto, o corpo dói tanto…
Marina me encara desolada e eu vejo toda a minha dor refletida nos olhos dela.
— Você tem algo maior com que lidar agora, Otto: conseguir a guarda definitiva do seu
filho. Foca nisso primeiro, que é mais importante.
Aquiesço, sentindo meus lábios tremerem.
— E quanto a nós dois?
Estendo a mão e toco o seu rosto, sentindo meus dedos trêmulos ao contato.
— Uma coisa de cada vez — ela diz me encarando firme.
— Mas…
— Está doendo muito me separar de você, Ulisses. Por favor, não torne isso ainda mais
difícil.
Suas palavras são de puro desespero, eu estico a mão e a tomo em meus braços,
abraçando-a forte.
Meu calor a envolve e a garota desaba em meus braços, fazendo-me chorar junto com ela.
Nosso corpo se balança com os tremores e eu não sei o que será de mim quando soltá-la e
passar por aquela porta.
Eu não quero ir embora.
Mesmo sabendo que não temos escolha agora.
— Eu posso… — murmuro, ao me afastar e tomar seu rosto em minhas mãos. — Eu
posso te pedir para me esperar?
Um soluço lhe escapa e mais uma lágrima rola em sua face.
— Eu não sei o que vou fazer, Marina. Nem como eu farei isso dar certo, mas eu vou
conseguir. Só preciso que confie em mim. Não sei se tenho o direito de te pedir isso, mas eu
quero você para mim.
Marina sorri de lado e uma lágrima lhe escorre.
— Eu não vou a lugar algum, Ulisses — diz firme. — Meu coração é seu, meu amor é
todo seu.
Diante de sua declaração, não resisto a colar nossos lábios em um beijo tomado pela dor.
Um beijo de saudade e de despedida.
Cacete…
Como eu vou viver sem ela?
— Eu vou voltar, Marina — murmuro, colando nossa testa e olhando dentro de seus
olhos lindos. — Eu vou achar uma solução e vou voltar para você. Vou voltar para nós dois.
Só… me espera.
A garota assente e eu colo minha boca na sua.
Uma última vez.
— Eu amo você, Marina. Nunca se esqueça disso.
Uma lágrima lhe escorre e ela aquiesce, comprimindo os lábios.
— Eu também te amo, Ulisses.
Toco seu rosto mais uma vez e memorizo seus detalhes, sentindo sua pele contra a minha.
Não quero me despedir dela.
Eu não quero sair por aquela porta.
Não quero admitir que Renata ganhou.
Mas, quando eu me afasto dela, apertando sua mão por uma última vez, eu sinto uma dor
desgraçada no peito.
Abaixo a cabeça e saio do apartamento, incapaz de dizer adeus.
Incapaz de admitir que Renata venceu.
Porque, pelo menos por hoje, ela conseguiu.
E constatar isso me destrói.
CAPÍTULO 32 - Marina

Um mês depois

Otto passa pela porta da sala de aula e eu sinto aquele aperto no peito, como todas as
vezes que o vejo na universidade, desde que tudo aconteceu.
Não há um dia em que eu não sinta a sua falta.
Não há um dia em que não me doa a sua ausência em minha vida, mas aprendi a conviver
com ela.
Pelo bem da minha saúde mental, precisei aprender a conviver com essa dor.
Porque não posso sucumbir.
— Boa noite, pessoal — ouvir a voz grossa do professor faz com que eu feche os olhos
por um instante.
Quando os reabro, Otto está me encarando com o semblante triste.
Não tocamos no assunto desde então, mas é nítido em nossos olhos o quanto estamos
sofrendo com essa separação. Principalmente porque não sabemos quanto tempo ela pode durar.
— Boa noite, Marina — a voz baixa, mais próxima de mim, me faz sentir um nó na
garganta.
— Boa noite, professor.
Desvio os olhos dos seus e abro meu caderno, pegando as canetas coloridas para começar
a anotar a matéria.
Otto está sério quando começa a lecionar, passando uma postura bastante profissional,
mas sei que sua mente está longe daqui.
Eu não sei o que ele está enfrentando nas últimas semanas, como está sendo sua vida com
Yuri em casa, mas imagino que não deve estar nada fácil. Principalmente porque ele precisa
enfrentar uma batalha judicial contra Renata.
Eu queria fazer mais por eles, queria ajudá-lo nesse momento, estar ao seu lado… Mas
infelizmente não posso. Ficar com Otto agora só pioraria as coisas, então a minha forma de
ajudar está sendo me manter afastada dos dois.
Presto atenção em toda a sua aula, fazendo anotações e evitando fazer as perguntas que
costumo fazer, para não ter sua atenção voltada diretamente para mim.
Estou fazendo o máximo que posso, fingindo que nada entre nós aconteceu, mas ainda é
muito difícil para mim.
Ver o Otto nessa universidade e tratá-lo apenas como um professor, ignorando tudo o que
vivemos, é ainda mais difícil do que eu pensei.
Mas, como não quero ter minhas notas prejudicadas, foco a atenção na matéria e absorvo
o máximo que eu posso, sentindo um pesar quando a aula chega ao fim.
Porque, ao mesmo tempo que me dói tê-lo tão perto de mim, sabendo que não pode ser
meu, encontrá-lo regularmente conforta um pouco o meu coração.
Eu prefiro ter um pouquinho de Otto na minha vida a não ter nenhuma presença sua.
— Oi, Marina — sua voz é suave quando ele se aproxima, ao ficarmos sozinhos. —
Como você está?
— Estou vivendo — respondo sincera. Não tem como ter uma resposta diferente dessa.
— E você?
— Também…
— E o Yuri está bem? — pergunto genuinamente interessada.
Não basta ter perdido Otto, acabei perdendo Yuri por tabela.
E a ausência desses dois é dolorosa demais para mim.
— Está, sim, graças a Deus. Se adaptando à nova rotina lá em casa, mas tudo bem.
— Que ótimo. Imagino que deve estar adorando tê-lo com você.
— Sim… É a única parte que me mantém firme.
Balanço a cabeça e jogo uma mecha de cabelos para trás.
— Bom… Preciso dar um pulo na lanchonete antes da próxima aula — digo, apontando
para a porta.
— Está certo. Nos vemos por aí? — pergunta, jogando a pasta sobre os ombros e
colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.
— Claro. Até mais, professor.
Aceno para ele e saio da sala, andando cabisbaixa até a lanchonete do campus. Procuro
por uma que não seja aquela cafeteria, porque não quero frequentar esse lugar sem a presença de
Otto.
Eu vivi tantos momentos gostosos com ele ali, que não dá para viver essa experiência
sem ele.
Peço um sanduíche e um suco, então me sento a uma mesa distante, debaixo de uma
árvore. Começo a comer e olho para o longe, até ver uma imagem que me chama a atenção.
Sentado em um banco de madeira, a uma distância considerável, está Otto, com os olhos
fixos em mim.
Ele me observa de longe, como se precisasse deste momento, e eu sinto mais uma vez
aquele aperto no peito por não o ter comigo.
Termino de comer o meu sanduíche sem quebrar o nosso contato visual e, quando acabo,
apoio a cabeça na mão.
Dói vê-lo assim, tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante de mim.
Dói saber que estamos os dois sofrendo com essa separação, mas que infelizmente não há
nada a ser feito.
Pelo menos não se Otto não conseguir um emprego fora daqui.
Mas, ainda que me doa toda essa distância, saber que ele está bem e com seu filho em
casa me conforta.
Sei que esse sacrifício não é vão, é por um bem maior e meu coração fica tranquilo por
saber que os dois estão juntos.
Ulisses merece ter Yuri em casa com ele, e isso é maior do que tudo.
Quanto a nós dois, eu consigo aguentar mais um pouco.
Sei que, no momento certo, tudo vai se ajeitar.
Eu só preciso ter forças para resistir até lá.
Mas eu consigo.
Eu sei que consigo.

Otto
Vejo Marina acenar para mim antes de se levantar e deixar a lanchonete, trazendo-me de
novo aquele vazio.
Sei que não posso tê-la tão perto, nem a tocar nem a sentir…
Mas posso observar de longe.
Posso ver seus cabelos se movimentarem à medida que ela se mexe. Posso ver a forma
fofa com que puxa o suco pelo canudinho.
Ah, Marina…
Quanta falta você faz em minha vida.
E não só para mim, como para o meu filho.
Perdi as contas de quantas vezes Yuri perguntou por ela e precisei desconversar, mas sei
que meu filho não é bobo. Ele sabe que está acontecendo algo para que a garota tenha
simplesmente parado de frequentar a nossa casa.
Esfrego os olhos e solto um suspiro antes de me levantar do banco e seguir pelo campus
para a próxima aula.
Ando cabisbaixo, chutando algumas pedrinhas pelo caminho, enquanto penso em como a
minha vida virou dessa forma nas últimas semanas.
Sei que esse afastamento é necessário, mas nem por isso dói menos.
Na verdade, saber que Renata conseguiu tirar de mim algo que eu amo tanto só faz com
que doa mais.
O processo de guarda definitiva está correndo e, enquanto isso, estou distribuindo
currículos para outras universidades. Mas parece que, por ser final de semestre, não estão
interessados em me chamar. Ou sou eu que não estou dando sorte mesmo, vai saber.
Eu só queria conseguir um emprego longe de tudo isso, para poder continuar com a
guarda do meu filho e trazer Marina de volta para mim.
Porque eu a quero de volta.
Deus, como me dói não a ter comigo.
Não sentir o seu cheiro, não ouvir o som da sua voz ao pé do meu ouvido, não sentir o
sabor de seus lábios…
Não a ter na minha vida está sendo ainda mais difícil do que eu pensei.
E, a cada dia que passa, fica pior. Eu não consigo me acostumar com sua ausência, ainda
mais sabendo que não é de nossa vontade…
Se ela me odiasse ou não quisesse mais ficar comigo, eu entenderia melhor.
Mas saber que me quer da mesma forma como eu a quero só me machuca mais por não a
ter comigo.
Termino de fazer o meu trajeto e, quando chego à sala de aula, suspiro antes de adentrá-
la.
— Boa noite, pessoal — cumprimento os alunos e coloco a minha pasta sobre a mesa,
sabendo que preciso me focar agora.
Aproveito a aula para lecionar a matéria que mais amo como forma de distrair o coração
e a mente.
E isso parece funcionar, pois mergulho em filosofia pelas próximas horas e esqueço um
pouco de mim.
E do quanto tem sido doloroso viver a minha vida.
CAPÍTULO 33 - Otto

— Pai, senta aqui.


Yuri dá uma batidinha no sofá e eu me acomodo ao lado dele, curioso pela sua
abordagem.
— Você sabe que eu não sou mais uma criança, né? — Estreito os olhos para ele, que me
abre um sorriso travesso. — Bom, posso até ser. Mas não sou tão ingênuo, concorda?
— Concordo — respondo de pronto.
Se há uma coisa que eu sempre admirei em meu filho é o quanto ele é maduro para a sua
idade.
— Pois então… Algumas coisas eu sou capaz de entender, sabe? Se você conversar
comigo.
Cruzo os braços e analiso seu semblante, querendo entender aonde ele quer chegar com
isso.
— Pode me dizer de verdade por que a Marina não vem mais aqui? — sua pergunta
golpeia o meu peito.
Engulo em seco e desvio o olhar do seu, fitando os pés, que esfregam o tapete agora.
— É complicado, filho — respondo, olhando-o de lado.
— Ela terminou com você? É isso?
Arregalo os olhos para ele e o garoto apenas dá de ombros.
— Eu sei que tinham alguma coisa… Não acho que você seria só amigo de uma mulher
tão gata quanto a Marina — constata e eu balanço a cabeça rindo baixo.
E eu bem achando que estava tapeando o meu filho…
— Então foi isso o que aconteceu? Ela era sua namorada e terminou com você? Por isso
não vem mais aqui?
Encaro meu filho por um instante e penso que não vou conseguir tapeá-lo hoje. Não
quando ele está disposto a arrancar a verdade de mim.
— É mais ou menos isso, Yuri. Só um pouco mais complicado…
— É porque você é professor dela? — arrisca um palpite e eu franzo o cenho para ele.
— De onde você tirou tanta coisa assim?
— Não sei, andei pensando… Vocês se davam tão bem e do nada pararam de se ver.
Algo sério tem que ter acontecido.
Solto um suspiro e decido abrir um pouco da verdade para ele. Apesar de tudo, eu me
sinto mal por mentir para Yuri também.
— A universidade proíbe professores de se relacionarem com alunos e infelizmente o
reitor recebeu uma denúncia.
Agora é a vez dele de arregalar os olhos para mim.
— E quem faria isso?
— Alguém que quer me prejudicar de alguma forma.
Dou de ombros e abaixo o olhar, evitando falar demais e entregar a verdadeira culpada.
Não quero voltar meu filho contra a mãe.
— Foi a minha mãe quem fez isso? — A constatação de Yuri atinge o meu peito e eu não
falo nada.
Fico apenas em silêncio, encarando o chão, e ele entende a minha resposta.
— Caramba, pai… Não pensei que as coisas fossem assim.
— Mas está tudo bem, filho. Não se preocupe. O reitor acreditou em minha palavra, e eu
e Marina não estamos nos vendo mais até que tudo se resolva.
Viro-me para Yuri, que me encara preocupado antes de assentir.
— Acho que a culpa é minha… — diz e eu o interrompo.
— Não, Yuri. Claro que não.
— Eu falei da Marina com a minha mãe — explica. — Foi na época da maquete. Estava
muito empolgado e comentei que uma aluna que era sua amiga tinha me ajudado a construir a
usina.
— Mas você não falou que ela era minha namorada, falou?
— Não, isso não.
— Então, filho. Você não fez nada de mais. Se sua mãe interpretou errado o seu
comentário e distorceu para me prejudicar, isso é culpa dela, não sua.
Yuri me analisa por um tempo e faz que sim com a cabeça.
— Que merda, pai…
Esfrego o rosto e suspiro com força.
— É… Que merda.
Não tem mesmo outra forma de definir isso.
— Eu sinto a falta dela — Yuri diz depois de um longo silêncio. — Ela é muito legal.
Esfrego a barba por fazer e balanço a cabeça.
— Nem me fale…
Se há algo que eu sinto todos os dias é a falta de Marina em minha vida. Não ouvir a sua
voz em uma ligação despreocupada, não dormir ao seu lado em uma de nossas escapadas, não
ver o seu sorriso lindo…
Porra.
Tem sido difícil pra caralho.
— Mas eu vou ficar bem — asseguro-lhe. — Eu sempre fico.
De tantas porradas que eu já tomei nessa vida, já estou um tanto vacinado.
— Eu sei — ele diz, sorrindo. — Você é foda.
E o sorriso orgulhoso que ele me dá me derrete todo.
Eu sou apaixonado por esse garoto e não sei se aguentaria toda essa situação se não o
tivesse aqui comigo.
Eu já teria pirado, com toda certeza.
— Quer me derrotar no videogame? — sugiro e vejo os olhos do menino brilharem.
— Tem certeza de que quer passar essa vergonha? — indaga e eu gargalho.
— Mas é atrevido… — repreendo-o e ele ri junto comigo. — Vamos logo, estou
precisando distrair a cabeça.
— Demorou!
Yuri se levanta e pega o console do videogame para jogar, entregando-me uma manete.
Peço para colocar um jogo de luta, pois estou a fim de dar muitos chutes e socos para aliviar a
tensão.
Quando o duelo começa na tela, aperto os botões com tanta força e com tanta repetição
que sinto os dedos doerem. Eu nem dou tempo de Yuri respirar pela sequência de golpes, e seu
personagem cambaleia no chão.
— Que é isso, pai?
— Estou a fim de descer a porrada em alguém, me deixa — murmuro e o garoto solta um
assobio, orgulhoso.
Sem tirar os olhos da tela, soco a manete com força, apertando os botões com tudo, e
mais uma vez tenho um nocaute.
E assim eu sigo, desferindo vários golpes, sem nem ter noção dos botões que estou
apertando, sem um pingo de estratégia montada.
Eu só quero acertar alguém, eu só quero aliviar a tensão…
Eu só quero extravasar um pouco.
Quando terminamos, jogo a manete no sofá e percebo que estou suando.
— Gostei de ver, seu Ulisses — Yuri brinca e eu faço uma careta para ele, que solta uma
risada. — Posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Por que passou a gostar desse nome? Você sempre o odiou, até eu ouvir Marina te
chamar assim na maior naturalidade…
— Não sei explicar, filho. Isso é coisa de Marina.
E não tem como eu definir melhor.
São coisas que só ela faz e que só são perfeitas por isso.
— Vou tomar um banho agora — anuncio, levantando-me do sofá. — Quando voltar,
vou fazer alguma coisa pra gente comer, ok?
— Tá bom — Yuri assente e começa a jogar sozinho seu videogame.
Sigo até o meu quarto e jogo o celular na cama, retirando as minhas roupas para ir até a
suíte tomar um banho.
Fico um momento longo demais debaixo da água quente, pensando no quanto a minha
vida deu um giro e um capote nos últimos meses.
Eu vivia em um limbo de tristeza, solitário, sem perspectiva. Então Marina chegou e me
trouxe alegria, trouxe esperança. Quando pensei que fosse digno de amar e ser amado de novo,
vem a vida e me tira tudo outra vez.
Cacete, vai ser assim para sempre?
Desligo o chuveiro e puxo a toalha do boxe, secando-me antes de enrolá-la na cintura e
voltar para o quarto.
Quando adentro o cômodo, ouço o sinal de alerta de mensagem em meu celular e me
sento na cama para conferir.
E o nome que surge em minha tela faz o meu coração disparar aqui dentro.
Marina…
Desde que tudo aconteceu, desde que eu saí da sua casa há pouco mais de um mês, nunca
mais trocamos mensagens.
Nenhuma ligação, nada.
O que será que aconteceu?
Com os dedos trêmulos, abro o aplicativo de mensagem e me emociono com o que leio.
Marina: Oi… Fui examinada hoje e consegui passar na prova de direção. Pensei que
gostaria de saber sobre isso. Obrigada por todo o apoio naquele dia, significou muito para
mim. Boa noite, Otto.
Meus olhos marejam e eu sorrio sozinho diante da tela.
Porra…
Ela conseguiu!
Eu sabia que Marina ia conseguir, ela é foda.
E, mais do que isso, quis compartilhar sua conquista comigo, mesmo depois de tudo.
Ah, Marina…
Você não tem ideia do quanto mexe comigo.
Eu: Isso é maravilhoso, Mari! Eu sabia que você ia conseguir. Estou muito feliz e
orgulhoso de você. Parabéns! Continue buscando os seus sonhos, você ainda vai muito
longe.
Marina: Obrigada, professor.
Eu: Boa noite, Marina. Que sua noite seja incrível.
Travo a tela do celular e jogo-o no colchão, fechando os olhos por um instante.
Queria tanto poder abraçá-la e comemorar essa tão sonhada conquista…
Aquela dorzinha no peito volta, lembrando que eu não faço mais parte da sua vida. Pelo
menos não como gostaria.
Mas, apesar de tudo, sinto-me extremamente honrado por ela ter se lembrado de mim.
Por querer dividir algo tão importante comigo…
E isso, por hoje, me basta.
Basta para o meu coração.
CAPÍTULO 34 - Marina

— Então quer dizer que os moradores de Vale dos Campos agora correm perigo? —
Gabriel me provoca e eu acerto uma bolinha de guardanapo na cabeça dele.
— Não diga isso, Gabriel! Tenho certeza de que Marina é uma excelente motorista —
vovó me defende e eu faço uma careta para ele, quando caímos todos na risada.
Eu não sabia o quanto precisava vir à casa da minha avó até chegar aqui e encontrar esses
dois. As últimas semanas não têm sido fáceis e, logo que eu tive uma folga, dei um jeito de
escapar para cá.
— Estou muito orgulhosa de você, minha filha. — Vó Manoela sorri, tocando minha mão
por cima da mesa. — Sou muito abençoada por ter netos como vocês.
Ela olha para nós dois e conseguimos sentir todo o seu amor nesse olhar, nesse contato.
— Obrigada, vó.
— E como está a faculdade, Mari? — Gabe me pergunta e eu suspiro.
Sirvo-me de mais um pouco de café para ganhar tempo e belisco uma fatia de bolo.
— Está boa… Graças a Deus está tudo dando certo — limito-me a responder.
— O que aconteceu, minha flor? — dona Manoela me pergunta e eu engulo em seco. —
Estou te achando mais caladinha desde que chegou aqui e você é sempre tão empolgada com os
estudos.
— Isso é verdade — meu irmão concorda.
Penso em inventar uma desculpa qualquer, ou não dar maiores explicações. Mas estou
cansada.
Cansada de guardar essa dor no coração e, mesmo que eu tenha Carina para dividir,
parece que não é o bastante.
A sensação que eu tenho é de que nunca vou me curar.
— Prometem que não vão me julgar? — Encaro os dois, que franzem o cenho para mim.
— E que dia eu fiz isso? — vó me pergunta e eu assinto.
Se há uma coisa que eu sempre tive dessa senhora, foi apoio, nunca julgamentos.
— Ninguém vai te julgar aqui, irmã. Pode confiar na gente.
Olho para os dois e suspiro.
— Eu me apaixonei pelo meu professor de Filosofia — revelo e os dois me olham
surpresos.
— Uau…
— E o que tem de mais nisso? — Gabriel pergunta.
— Não teria se não fosse expressamente proibido pela universidade um relacionamento
entre professor e aluno. — Suspiro mais uma vez.
— Ah, minha querida… Eles descobriram?
— Não ainda — falo triste. — Mas precisamos nos afastar antes que a bomba explodisse.
E então conto a eles sobre Otto, Yuri e a megera da ex-mulher. A sequência de
xingamentos que vovó fala sobre Renata chega a ser hilária e eu e Gabriel nos acabamos de rir.
No fim, os dois me olham com compaixão e aquela dor no peito volta a me assombrar.
— Eu sinto tanto a falta dele, sabe? Ulisses é tão incrível… — Paro por um momento e
me lembro de seu sorriso lindo, de sua voz grossa, do seu cheiro inconfundível… — É tão ruim
amar uma pessoa e não poder tê-la em sua vida.
Dou de ombros e bebo mais um gole do café.
— E vocês não podem fazer nada para ficar juntos? — Gabe pergunta, com o semblante
preocupado.
— Não se Otto não conseguir outro emprego. Ele me disse que estava tentando e, se não
me ligou até hoje, é porque ainda não conseguiu…
— Oh, meu amor… Eu sinto tanto por isso — vovó diz acariciando minha mão. — Mas
acredito muito em destino e acho que, mesmo que a vida tenha separado vocês um pouquinho,
ela tem algo melhor reservado. Vocês vão conseguir ficar juntos, eu acredito nisso.
Sua voz é tão cheia de esperança que aquece o meu peito.
— Obrigada, vó. Não está sendo fácil. Principalmente porque eu continuo vendo-o todas
as semanas na faculdade. É melhor do que se eu não o visse nunca, mas ainda assim… nunca
pensei que fosse doer tanto amar alguém — confesso, sentindo uma fisgada no peito.
— Ele deve ser mesmo especial — Gabe constata.
— Ele é… E me apoia tanto, acredita tanto em mim. Em meus piores momentos, sempre
me estendeu a mão…
Se eu fechar os olhos, consigo me lembrar do dia em que ele foi me resgatar da barata
voadora ou de quando foi ficar comigo porque eu estava arrasada pela reprovação no exame de
direção. Lembro-me também do dia em que eu estava com uma cólica terrível e ele foi até mim
para levar uma compressa quente…
Ah, Otto…
Que saudade de você.
Já são mais de trinta dias separados, mas não há um único em que sua ausência não me
doa.
— Vai ficar tudo bem, Mari. Pode confiar. Dê tempo ao tempo e o destino arranjará uma
forma de reaproximar vocês — a firmeza na voz de minha avó me tranquiliza um pouco.
Assinto e pego sua mão, dando um beijo gostoso.
— Agora podem me distrair? Não quero passar o final de semana triste… Eu vim até aqui
para curtir um pouquinho vocês!
— Já sei! — Gabe se levanta e eu o detenho.
— Não me venha com filmes de terror, Gabriel. Pelo amor de Deus!
Meu irmão bufa, voltando a se sentar na cadeira.
— Eu só acho que um pouco de sangue ia te fazer bem… — argumenta e eu reviro os
olhos. — Ou prefere comédia romântica?
Sinto um arrepio só de pensar na possibilidade, porque sei que, se optar pelo último, vou
desfalecer de tanto chorar.
— Podemos não assistir a filmes?
— O que vamos fazer então?
— Eu tenho uma ideia melhor! — minha avó se manifesta. — Podemos jogar buraco!
Os olhos da senhora brilham e eu sorrio, concordando.
Sei que ela ama esse jogo e, de fato, umas rodadas de baralho vão me distrair.
— Eu topo, mas só se rolar uma cervejinha! — Gabe sugere e eu abro um largo sorriso.
— Combinado!
— Vou ao mercado buscar. Enquanto isso, vão organizando tudo por aqui.
— Traz amendoim salgado — peço e ele concorda.
— E não se esqueça de que eu só tomo “Stellinha” — vó Manoela pede e meu irmão
aquiesce.
— Eu não sou nem doido de chegar com outra cerveja, vó. Já volto!
Enquanto ajudo minha avó a recolher a mesa de café para montarmos as de cartas no
quintal, acabo perguntando sobre o que ela tem feito por aqui e vovó me atualiza das fofocas de
toda a vizinhança.
Ela sabe que eu preciso distrair a mente, então não me poupa de detalhes, sempre me
tirando uma risada quando o babado é mais forte.
Estamos terminando de ajeitar tudo quando Gabe se aproxima com uma caixa térmica na
mão e uma sacola de supermercado na outra.
— Aproveitei e comprei gelo, para nem precisarmos nos levantar daqui — diz orgulhoso
e acomoda a caixa na lateral do banco de madeira.
Debaixo de uma árvore, nos acomodamos na mesa do jardim e nos servimos para
beliscarmos durante as rodadas.
— O baralho é comigo! — vó anuncia, fuzilando Gabriel com o olhar. — Você sempre
rouba, Gabriel.
— Eu? — meu irmão se faz de inocente e eu quase engasgo com a bebida.
— Você, sim! Estou de olho, mocinho!
E, quando ela começa a embaralhar as cartas, eu bato palmas de empolgação.
Passar uma noite de jogatina com esses dois, acompanhada de cerveja gelada e uns
aperitivos, é tudo de que eu precisava hoje.
Eles são mesmo incríveis.

— Mari? — ouço a voz baixa de Gabriel logo que ele bate à porta. — Eu posso entrar?
— Vem cá!
Autorizo e ele termina de abrir a porta para se sentar ao meu lado na cama.
— Estudando? — pergunta apontando para o livro em minhas mãos.
— Não… Só peguei um livro de suspense para ler. Não estou com muito sono —
confesso.
Embora eu tenha passado boa parte da noite jogando com os dois e me divertindo,
quando vim para o quarto e fiquei sozinha, a solidão bateu.
A saudade de Ulisses bateu.
E então eu não consegui dormir.
— Sinto muito por tudo que aconteceu com você — diz, sincero. — E espero que fiquem
bem de novo.
— Obrigada, Gabe… Eu também espero.
Marco a página onde parei e fecho o livro, colocando-o sobre a mesinha de cabeceira.
— Quer companhia para dormir? — meu irmão oferece com tanto carinho que meu
coração erra uma batida.
— Não é mico para alguém da sua idade dormir com a irmã mais velha? — brinco e ele
revira os olhos para mim.
— Deixa de ser ridícula, Mari.
Gabriel tira os chinelos e levanta a coberta, acomodando-se ao meu lado. Ele apoia a
cabeça nos cotovelos e me encara por um instante.
— Eu estou aqui para o que você precisar. Sabe disso, não é? — murmura e eu balanço a
cabeça de leve.
— Eu sei… Obrigada, Gabe.
— E aposto que meu colo não é igual ao do seu professor, mas posso te oferecer uma
conchinha.
— Você está se saindo um ótimo conselheiro feminino — brinco e ele ri. — Onde foi que
você aprendeu isso?
— Ah… — Gabriel dá de ombros e seu rosto cora de leve. — Não dá para simplesmente
acabar e ir embora, né?
— Acabar o quê? — indago e seu rosto cora mais.
— Você sabe…
— Ai, meu Deus! Você não é mais virgem! — exclamo um pouco alto demais.
Ele me repreende, mandando calar, e eu solto uma risada.
— A vó não precisa ouvir isso!
— Meu Deus, Gabriel! Eu bem achando que meu irmão era ingênuo… — provoco e ele
me fuzila com o olhar.
— Eu tenho dezoito anos, Mari. Não sou uma criança. E aposto que na minha idade você
também não era — aponta e é a minha vez de corar.
Culpada.
— Então você dorme de conchinha depois do sexo? Que fofo.
Ele me abre um sorriso tímido.
— Quando dá para dormir, sim. Não gosto de ir embora logo em seguida, dá uma
impressão ruim. Como se eu só tivesse usado a pessoa.
— Isso mesmo. Você está corretíssimo! E me conta… Você tem alguma namorada?
— Não, nenhuma.
— Nem está apaixonado por alguém?
— Nops.
— Caramba, meu irmão caçula é adepto de sexo sem compromisso? — finjo
incredulidade e ele gargalha.
— Não é bem assim, Mari. Já surgiu interesse, já fiquei algumas vezes até finalmente
transar, mas nada que me fizesse morrer de amores.
— Hummm… Entendi. E quando foi sua primeira vez?
Gabriel me abre um sorriso de lado.
— Com dezesseis.
Solto um assobio.
— E você nem para me contar — repreendo-o e ele faz uma careta para mim.
— A gente não era tão próximo… — sua voz é cautelosa e eu sinto um aperto no peito.
Foi só quando eu saí da casa dos meus pais que me aproximei um pouco mais dele. E,
depois que eu me mudei para Vale dos Campos, as coisas ficaram um pouco melhores.
Então ele tem razão.
— Você sempre usa camisinha, né, Gabe? Pelo amor de Deus, não complica a sua vida
engravidando alguém sendo tão novo.
— Ei, relaxa. Eu sou muito cismado com isso. Não tive nem coragem de experimentar
sem ela para não correr o risco…
— Não experimenta mesmo, não, que é um caminho sem volta — solto e sinto o meu
rosto virar um pimentão ao ver que falei demais.
— Ora, ora… Então você está sendo irresponsável, dona Marina?
— Irresponsável, não — corrijo-o. — Eu tomo pílula — falo e cubro o rosto com as
mãos, tirando uma risada dele.
— Precisa confiar muito para transar com alguém sem camisinha, né? — Gabriel constata
e eu confirmo com um gesto.
— E eu confio, Gabe. — Suspiro, fechando os olhos por um instante. — Como eu
confio…
Meu irmão se remexe na cama e se deita, abrindo os braços.
— Vem cá. O colo de Gabriel Cavalcanti cura tudo.
Ele pisca para mim e eu rio, mas obedeço e me aconchego em seus braços,
surpreendendo-me por serem tão macios.
— E não é que é gostoso mesmo?
— Estou dizendo, Mari… Este colo aqui faz sucesso.
Rio em seu peito e, quando ele começa a fazer carinho em meus cabelos, sinto uma paz
tomar conta de mim.
Sinto o bem danado que ele me faz.
— Me desculpe por ter sido ausente — murmuro depois de um longo momento em
silêncio.
— Não esquenta, Mari. Foca no daqui para a frente. Temos a vida toda para isso.
Sorrio em seu peito e penso no quanto ele está certo.
Não podemos mudar o passado, mas podemos refazer o futuro.
E de fato temos a vida inteira para isso…
Meus pais poderiam tentar tirar isso também de mim, mas não conseguiram.
Contra todas as probabilidades, nós nos tornamos amigos.
E quero levar isso por toda a vida.
CAPÍTULO 35 - Otto

Meu celular vibra na mesa, fazendo o meu coração dar um salto.


É inútil pensar assim, mas é inevitável que eu tenha esperanças…
A verdade é que a minha única troca de mensagens com Marina desde que tudo
aconteceu foi quando ela me contou que conseguiu tirar a carteira de habilitação.
E é o certo, já que este foi o combinado.
Mas, ainda assim, meu coração não deixa de esperar por mais um pouquinho dela…
— Fala, Caio — atendo a ligação do meu amigo.
— Meu caro Ottoni! Está em casa?
— Estou, sim. Mexendo com alguns trabalhos enquanto Yuri está na escola.
— Ótimo. Vou dar uma passada aí.
— Agora?
— É, estou no bairro. Logo chego.
Caio encerra a ligação e eu jogo o celular de novo na mesa, salvando o arquivo antes de
fechar. Eu preciso muito terminar isso, mas posso deixar para amanhã. A distração do meu
amigo pode cair muito bem agora, já que não está fácil ficar sozinho em casa.
Saio do meu escritório e sigo para a cozinha, para beber um copo de água, quando ouço o
interfone tocar. Libero a sua entrada e não demoro a ouvir o som das batidas à porta.
— Está de folga hoje? — pergunto ao encontrá-lo de camiseta e bermuda.
— Graças a Deus, sim. Estou por conta… O que você tem aí para nós? Uma cerveja?
Meu amigo passa por mim e vai até a geladeira, abrindo-a, e eu encaro o relógio de pulso.
— Em plena terça-feira, duas horas da tarde? — indago e ele faz uma careta.
— Para você é uma terça, para mim é dia de folga. Amanhã também não trabalho, então
posso muito bem beber hoje.
Cruzo os braços e me encosto na parede enquanto vejo Caio destrinchar a geladeira até
encontrar o que procura.
— Eu sabia que você não ia me decepcionar!
Os olhos do meu amigo brilham quando ele pega duas long necks e me entrega uma,
brindando junto comigo.
Puxo a banqueta da cozinha e me sento ao seu lado antes de dar um belo gole na cerveja.
Está calor, então não é uma má ideia, afinal.
— E como estão as coisas por aqui?
— Tá tranquilo, por enquanto. — Dou de ombros. — Renata só pode ter visita assistida,
já que continua morando com Fabrício. Como ela se recusa a vir aqui em casa, eu mando o Yuri
para a casa da minha mãe quando ela precisa vê-lo.
— Nossa, eu imagino a cara da dona Regina por ter que presenciar isso. — Caio faz uma
careta e eu rio.
— Nem me fale… Mas sabemos que é inevitável. Yuri também precisa ver a mãe, apesar
de tudo. Eu só não o deixo sozinho com ela nem a pau.
— Cara, que merda essa sua ex-mulher foi te meter, hein? Porra… Que filha da puta.
— Nem me fale… Renata veio ao mundo só para me atormentar, Caio. Acho que a
alegria da vida daquela mulher é me infernizar. Tudo o que pode fazer contra mim, ela faz.
Esfrego as mãos no rosto, nervoso, e dou mais um gole na bebida.
— Não basta ter me dado uma coleção de chifres, me separou do meu filho para colocar
outro homem dentro de casa para agredi-lo. E, para completar, ferrou com meu relacionamento.
Solto um suspiro.
Pouco depois que tudo aconteceu, Caio me viu na fossa e acabei me abrindo com ele.
Recebi todo o seu apoio e percebi que me fez um bem enorme dividir isso com alguém.
— Mas logo isso acaba, Ottoni. Em breve sai a guarda definitiva e seu emprego novo
para você ficar com a sua novinha.
A piscada de Caio me tira uma risada.
— Deus te ouça…
— Agora me diz uma coisa — Caio diz sério e eu o analiso com atenção. — Você não
tem um tira-gosto aí, não? Tô a fim de mais uma cerveja…
Eu encaro meu amigo, incrédulo, antes de cair na risada.
— Porra, Caio. Eu achando que era algo sério.
— E é sério. Um tira-gosto sempre é. Não tem nada aí, não?
Balanço a cabeça e me levanto da banqueta, abrindo os armários para procurar.
— Tem este amendoim salgado. — Atiro o pacote e meu amigo o pega no ar. — E
salaminho.
Puxo a bisnaga e aponto para ele, que me faz um sinal afirmativo.
— Agora melhorou!
Enquanto vejo-o ir em direção à geladeira para pegar mais cerveja, eu sigo até a bancada
da pia e busco uma tábua para fatiar o salaminho. Estou trabalhando com a faca quando o
interfone toca.
— Está esperando alguém? — ele pergunta e eu nego. — Deixa, que eu atendo.
Estico o pescoço e vejo Caio seguir até a sala de TV.
— Pronto — daqui consigo ouvir a sua voz. — Ah, certo. Vou descer, só um instante.
— O que é? — pergunto quando ele volta para a cozinha.
— É dos Correios, precisa assinar o comprovante.
— Que estranho, não estou esperando nada…
— Foca nessa tábua, que eu vou lá ver o que é. Se for alguma caixa suspeita, não vamos
abrir — orienta e eu assinto, vendo-o deixar o apartamento.
Ainda que eu fique desconfiado, saber que tenho Caio aqui comigo no momento em que
eu abrir me tranquiliza. Se for alguma tramoia de Renata, eu tenho testemunhas.
Termino de fatiar tudo e lavo as mãos. Estou secando-as no pano de prato no momento
em que ele passa pela porta.
— É só um telegrama, cara. Nada suspeito. — Dá de ombros. — Agora me diz, quem a
esta altura do campeonato ainda manda telegramas?
Meu amigo vira o papel em suas mãos procurando o destinatário e eu pego a garrafa para
dar mais um gole na minha cerveja.
— Universidade Federal de…
A cerveja cai da minha mão e o estrondo assusta o meu amigo.
A garrafa se espatifa no chão e vira uma bagunça de cacos de vidro e cerveja.
— Que porra é…
— Me dá isso aqui!
Puxo o papel de sua mão e tento abrir o envelope, mas os dedos tremem tanto que eu
quase faço um rasgo muito largo.
— Que é isso, Ottoni?
Aceno para ele esperar e sinto o meu coração voar no peito ao finalmente abrir o papel
que traz a salvação da minha vida.
Eu paro de respirar e sinto tudo girar abaixo de mim quando leio o cabeçalho.
Carta de convocação.
— Caralho, Caio, eu consegui.
Meus olhos se enchem de lágrimas e a minha visão nubla ao ler todo o teor da carta, mal
acreditando no que está diante de mim.
Porra.
É a chance da minha vida.
Cacete.
As lágrimas descem e eu tenho uma crise de riso. Meus dedos estão trêmulos quando eu
entrego a carta para Caio, que ainda está sem saber o que está acontecendo.
— Caramba, Ottoni. Isto aqui…
— Eu fui chamado, Caio. Porra!
Soco a bancada de pedra e sinto o punho doer.
Porra.
Corro as mãos pelos cabelos e os puxo com força enquanto continuo a gargalhar. As
lágrimas descem pelo meu rosto e a crise de riso não cessa.
Porra.
— É a salvação da minha vida, Caio. Eu vou poder sair da faculdade, vou poder ficar
com Marina, me livrar da Renata e ainda receber mais…
— Cara, que foda! Eu falei que você ia conseguir.
Com a manga da camisa, seco as lágrimas e não consigo parar de rir.
— Puta que pariu. Isso é real, não é? Não é pegadinha…
— Isso não me parece nada falso.
— Caralho…
Ainda estou rindo quando finalmente me dou conta e desperto do transe.
— Vou me trocar. Preciso comparecer à universidade hoje e você vai comigo.
Aponto para ele, que assente erguendo a garrafa de cerveja.
— Vai lá, meu caro. Eu limpo essa bagunça enquanto isso.
Disparo para o meu quarto e decido tomar um banho rápido antes de me vestir para um
encontro que vai mudar toda a minha vida.
Porra…
Eu não consigo acreditar.
Há meses tenho procurado um emprego, sem sucesso. Parecia que nenhuma universidade
tinha vaga para mim.
Mas a verdade é que a vaga perfeita estava me esperando…
Na cidade vizinha, em uma universidade federal renomada.
E o melhor de tudo, com salário mais alto e estabilidade de emprego.
É, Renata…
Quero ver você me derrubar agora.
CAPÍTULO 36 - Marina

— Otto? — atendo a sua ligação sentindo o meu coração voar pela boca.
Ele nunca me ligou desde aquela noite…
Ouvir a sua voz ao telefone, depois de tanto tempo, bagunça tudo dentro de mim.
— Oi, Mari — a voz calma adentra a minha alma e me faz sorrir sozinha. — Te
atrapalho?
— Não, imagina… Já acabei minha rodada de estudos por hoje.
É final de semestre, quando tudo acumula. Entrega de trabalhos, provas finais, um
desastre. Porém, como ando sempre com a matéria em dia, acabei conseguindo me organizar
bem nesta reta final para dar conta de tudo.
— Ah, certo… Eu liguei para saber como você está e para te fazer um convite.
— Um convite? — pergunto curiosa.
— É… Mas primeiro me fala de você.
— Eu estou bem, Ulisses. Na medida do possível — respondo sincera.
— Hummm… E eu posso te deixar um pouquinho melhor, será?
— Pode? — indago, sentindo o meu coração errar uma batida.
— É sobre o convite que vou te fazer. Amanhã você não terá aula à noite, certo?
— Não, é meu dia livre.
— Quer jantar comigo?
Fecho os olhos por um instante e sinto um nó na garganta ao ouvir o seu pedido.
Se ele…
Se está me chamando é porque…
— Mas é seguro? — pergunto em um sussurro.
— É, sim, não se preocupe. Tenho uma notícia ótima para te contar. Confia em mim?
— Claro que confio — respondo, sem nem precisar pensar, e sinto o coração se acelerar
aqui dentro.
Um encontro com Otto, depois de tanto tempo, acompanhado de uma boa notícia?
Deus…
Isso… Isso é real?
— Então esteja pronta amanhã às sete, que enviarei um carro para te buscar.
— Um carro? — pergunto incrédula e consigo imaginar seu sorriso do outro lado da
linha.
— Será uma noite inesquecível… Te vejo amanhã?
Eu fico em estado de choque, Otto precisa me chamar de novo para que eu finalmente
volte para a realidade e responda.
— Claro, com certeza! Mal posso esperar.
— Combinado então. Até amanhã, minha linda.
Minha linda…
Seco uma lágrima quando Otto encerra a ligação e fico parada, encarando o nada por um
instante.
Será que…
Será que a nossa vez finalmente chegou?

— Então você será o meu motorista particular hoje? — pergunto ao melhor amigo de
Otto, que me espera de pé, ao lado de um carro preto.
— Estou aqui para te servir, madame.
Ele faz uma mesura antes de abrir a porta para mim e eu solto uma risadinha.
Otto não existe.
Eu mal consegui dormir na noite passada de ansiedade e hoje o dia parece ter demorado
cinquenta horas para passar.
Mas finalmente chegou o momento tão esperado.
Acomodo-me no banco traseiro e, enquanto afivelo o cinto de segurança, Caio se
acomoda na poltrona de motorista, acionando o veículo.
— Aceita uma água, senhorita?
— É sério isso, Caio? — indago e ele sorri orgulhoso.
— Claro que sim! Aqui é serviço completo. — Pelo retrovisor, vejo que ele dá uma
piscadinha.
— Gente… Ainda não consigo acreditar em tudo isso.
O carro do policial está todo limpo e perfumado, aposto que Otto deu várias instruções
para ele quanto a isso.
— Ottoni capricha — constata. — E você, Marina, como está?
— Empolgada, curiosa, ansiosa, nervosa — disparo e ele gargalha.
— Ele está igual a você, não se preocupe.
Pelo trajeto, Caio desenrola uma conversa despreocupada comigo, aliviando um tanto a
minha tensão. Nós nunca passamos um tempo sozinhos, já que o vi poucas vezes na casa de Otto,
então consigo perceber o quanto é agradável.
Quando chegamos à porta de um hotel de luxo, ele para o carro e se vira para me olhar.
— Dê o seu nome na portaria, que vão te levar até ele.
— Certo. Muito obrigada, Caio!
Despeço-me dele e desço do veículo, caminhando em passos firmes até a recepção do
hotel.
— Boa noite, senhorita Marina?
Um mensageiro me aborda e eu abro um sorriso.
— Boa noite, sou eu mesma!
— Me acompanhe, por favor.
Sigo o funcionário do hotel pelo elevador até o último andar e sinto um frio na barriga
quando entramos no corredor.
— O quarto da senhorita é o último à esquerda. — Ele aponta com a mão. — Aqui está a
chave. Boa noite.
Sinto um frio na barriga quando pego o cartão magnético de sua mão e caminho pelo
corredor até a porta indicada.
Respiro fundo e passo a chave, que destranca na mesma hora.
— Otto? — chamo-o ao adentrar o quarto com baixa iluminação.
Encontro uma cama enorme de casal decorada com pétalas de rosas, e velas iluminam
todo o local.
É lindo…
As cortinas balançando em uma porta de vidro me chamam a atenção e sigo até ela,
sentindo o coração errar uma batida.
— Otto…
De pé, encostado no parapeito da enorme sacada do quarto, está ele.
Tão lindo…
Vestido com uma calça social e camisa de botão azul-clara, Otto está deslumbrante.
E o que mais me chama a atenção nele é o seu sorriso.
Alegre, genuíno…
Ulisses dá um passo em minha direção, mas antes busca um buquê de rosas vermelhas,
sorrindo ainda mais ao me oferecer.
É o maior buquê que eu já vi…
— Nossa… — murmuro ao pegar o arranjo de suas mãos e sentir o peso em meus braços.
— São quarenta e uma rosas — explica e eu arqueio a sobrancelha para ele.
— Por que quarenta e uma?
Meu professor baixa o olhar e abre um sorriso tímido agora.
— Uma rosa para cada dia que você ficou longe de mim…
Ah, Otto…
Olho para as flores em minhas mãos e não consigo conter a emoção.
— Isso é lindo — murmuro entre lágrimas.
Fecho os olhos e inspiro o aroma delas, sentindo uma paz tão grande dentro de mim.
— Elas são lindas… Obrigada, Otto.
O loiro sorri e se aproxima mais, fazendo-me sentir seu cheiro gostoso.
— Vou colocá-las ali ao canto para podermos conversar, tá?
Assinto e o vejo acomodar as flores em um jarro próximo.
Quando ele volta, estende a mão para mim e eu aceito, sorrindo ao vê-lo entrelaçar
nossos dedos.
— Marina, eu te chamei aqui hoje para te fazer um pedido — diz e meu coração dispara
forte aqui dentro.
— E qual é? — Mal consigo reconhecer a minha voz.
— Quer ser minha namorada?
Quando as palavras saem de sua boca, eu sinto um nó na garganta.
Uma vontade absurda de chorar.
Isso… Isso está mesmo acontecendo?
— Otto… — Dou um passo em sua direção e ergo a mão para tocar o seu rosto.
O movimento o faz fechar os olhos, e sentir o calor da sua pele contra a minha arranca
mais uma lágrima de mim.
— Mas nós podemos ficar juntos? — pergunto em um sussurro.
Quando Ulisses reabre os olhos e sorri, acena de leve e eu sinto o meu corpo inteiro se
arrepiar.
— Jura?
— Eu não ia te dar uma boa notícia hoje? — indaga e eu assinto. — Recebi a carta de
convocação para um concurso que tentei há um tempo, Mari. Já me apresentei e levei toda a
documentação. Hoje pela manhã, fui ao campus e formalizei meu pedido de demissão.
A cada palavra que sai de sua boca, o meu coração bate ainda mais rápido em meu peito.
— Otto…
— Acabou, meu amor. Não estamos infringindo nenhuma regra mais, porque não
fazemos mais parte da mesma instituição. Estamos livres…
Ele mal acaba de falar e eu encurto a nossa distância, colando minha boca na sua.
Ulisses demora uma fração de segundos para reagir, mas quando o faz…
Ele me agarra pela cintura enquanto me beija daquele jeito que eu amo.
Daquele jeito que eu morri de saudades.
Sua língua percorre cada cantinho da minha boca e o calor que emana dela me derrete
inteira.
Ah, Otto…
Que saudade.
Lágrimas de emoção rolam na minha face e o sabor salgado delas se une a esse beijo, que
é o mais forte que eu já vivi.
Carregado de sentimentos, de entrega, de saudade…
— Eu… Eu senti tanto a sua falta — murmuro, ainda chorosa, ao nos afastar e encostar
minha testa na sua.
— Ah, Mari… Não mais do que eu. — Seu nariz roça o meu de um jeito tão gostoso
agora. — Sofri todos esses quarenta e um dias longe de você.
— Doeu tanto…
— Eu sei, minha linda. Eu sei. Mas eu voltei… Eu voltei para nós dois. Eu não te prometi
que o faria?
Sorrio assentindo e ele me dá um selinho gostoso.
— Obrigado por me esperar — Otto diz, olhando no fundo dos meus olhos.
— Eu… Meu Deus, Otto! Isso é mesmo verdade?
Rio entre lágrimas e ele sorri, beijando-me outra vez.
— É, sim, amor… O nosso momento chegou.
— Eu te amo tanto — falo, com a voz embargada.
Devo estar com a maquiagem toda borrada, mas não ligo.
Não quando sei que posso tê-lo de novo e dessa vez por inteiro.
— Mas tanto… Meu Deus, Ulisses! Como eu te amo.
O loiro sorri e toma meus lábios mais uma vez, em um beijo muito mais intenso agora.
Aquele beijo costumeiro, que sempre me tira o ar.
Que saudade eu senti disso.
— Também te amo, Marina — diz, roçando seus lábios aos meus. — E todo esse tempo
separados só me fez te amar mais.
Ergo a mão e toco seus cabelos macios, adorando a sensação deles em meus dedos.
— Dessa vez é para sempre, Ulisses? — indago e ele sorri ainda mais para mim.
— Dessa vez é para sempre, meu amor. Eu te prometo.
E quando seus lábios se juntam novamente aos meus, eu me sinto finalmente em paz.
Andei por todos esses quarenta e um dias sem rumo, sem direção, tendo a dor como
minha maior companhia.
Meu coração naquela noite foi fragmentado em um milhão de pedaços e agora todos os
meus caquinhos foram colados.
Porque ele voltou…
Voltou podendo ser meu.
Todo meu.
— Já quer jantar? — pergunta e eu nego de leve.
— Quero te namorar mais um pouquinho, eu posso? — pergunto, enquanto circundo sua
cintura com os braços.
— Você pode tudo, amor.
Sorrio e me inclino para beijá-lo mais uma vez, sentindo seus lábios quentes junto aos
meus. Puxo Ulisses pelos cabelos e intensifico nosso beijo que é tão gostoso…
É tão intenso…
— Foram quarenta e um dias sem te beijar, Ulisses — murmuro, roçando meus lábios aos
seus.
— Mas agora temos a vida inteira, Marina… — constata e eu sorrio.
— Temos mesmo.
Colo minha boca à sua e me entrego a ele mais uma vez.
Aqui, abraçados sob a luz da lua, eu só consigo senti-lo.
Sentir sua boca que não solta a minha, seus braços me envolvendo, seu calor que
irradia…
— Eu senti tanta saudade — sussurro, repousando-me em seu peito.
Otto me envolve e beija meus cabelos com carinho.
— Eu também, meu amor… Eu também…
Nunca vou me cansar de dizer o quanto eu o amo e o quanto eu senti sua falta em todos
esses quarenta e um dias.
Mas agora, finalmente está tudo em seu devido lugar.
E isso, me traz uma paz absurda.
— Acho que podemos jantar agora — sussurro, erguendo os olhos para ele que sorri.
— Ótimo. Eu preparei algo lindo para você.
Arqueio a sobrancelha para ele e Otto me conduz até uma mesa ao canto, perfeitamente
montada para nós dois.
Eu fiquei tão emocionada quando eu cheguei, que nem notei mais nada ao nosso redor,
que não fosse ele.
Meu namorado puxa a cadeira para que eu me sente e logo se acomoda de frente para
mim à mesa.
— E o que teremos hoje, chef? — pergunto e ele me abre um sorriso orgulhoso.
— Primeiro, um brinde. — Ulisses pega uma garrafa de champanhe em um balde de gelo,
tirando uma risada de nós dois quando a abre em um estrondo.
Ergo minha taça para ele, que a enche, logo servindo a sua.
— A nós dois — diz, propondo um brinde.
— À nossa eternidade — completo, batendo minha taça à sua, antes de dar um gole na
bebida gelada.
— Agora… — Ele faz um suspense e ergue a cloche ao nosso lado revelando o prato que
nos espera.
Meu coração erra uma batida ao reconhecer o cardápio.
— Otto…
— Quando eu te chamei na minha casa e te pedi para confiar em mim, foi isso que eu
preparei para você. Naquela noite, Mari, eu te prometi que encontraria uma solução para
ficarmos juntos.
Suas palavras são tão carregadas de amor, que me arrancam uma lágrima.
— Eu estava decidido a fazer qualquer coisa por nós dois. E mesmo que tenha demorado
um pouco mais do que prevíamos, e tendo que enfrentar uma separação que não queríamos, a
resposta finalmente veio.
Meu coração está disparado dentro do peito e eu só sei sorrir dentre lágrimas.
— Naquele dia eu preparei um ravióli para você com todo carinho — diz, também
emocionado, e uma lágrima lhe escorre. — E hoje eu te preparei mais uma vez, com todo o meu
amor e morto de saudade.
— Ah, Ulisses…
— Obrigado por ter confiado em mim, Marina. Obrigado por ter me esperado e
enfrentado essa turbulência comigo. Hoje eu sou o homem mais feliz deste mundo porque te
tenho de volta na minha vida.
Estico a minha mão e toco a sua por cima da mesa, entrelaçando os nossos dedos.
— Eu te amo, Ulisses. Obrigada por voltar para mim.
Ele me abre aquele sorriso lindo, que é dono de todo meu coração.
Eu não solto a sua mão quando dou a primeira garfada e desfruto de um prato perfeito, e
o melhor de tudo, cheio de amor.
Porque eu consigo sentir.
Todo seu cuidado, todo seu amor, todo seu carinho.
Arrisco dizer que este é o prato mais gostoso que ele já me preparou em todo esse tempo
juntos.
Ah, Ulisses…
Como eu amo você.

— E agora eu posso desfrutar do meu namorado mais um pouquinho? — pergunto a ele,


ao afastar nossos lábios já inchados.
Depois de terminarmos o jantar, dividimos uma deliciosa torta de limão e agora ficamos
apenas abraçados, nos curtindo, olhando para as estrelas no céu.
Os beijos que começaram delicados, inocentes, se tornaram mais quentes e sensuais.
E me trouxeram aquela saudade que eu estava dele.
Seus olhos faíscam ao notar as minhas intenções.
— Hoje a noite é sua, amor. Você pode tudo.
— Minha, não, professor. Nossa.
Pisco para ele e o pego pela mão, conduzindo-o até aquela cama linda que preparou para
nós dois.
Empurro-o para que caia sentado no colchão e, quando ele percebe o que estou prestes a
fazer, me abre um enorme sorriso safado.
Aquele que é meu favorito.
Ergo o braço e puxo o zíper debaixo dele, descendo até a altura da cintura.
Otto nem pisca os olhos enquanto me observa descer as alças do vestido, uma a uma, até
finalmente tirar a peça toda por completo. Chuto-o sobre os saltos altos e vejo meu namorado
lamber os lábios, com os olhos na lingerie que escolhi para ele.
— Porra, Marina…
A voz rouca e afetada me dá a confirmação de que acertei na escolha.
Para hoje, vesti um conjunto de renda preto bastante sensual, mas não tenho intenção de
ficar com ele toda a noite.
Levo as mãos às costas e desabotoo o sutiã, livrando-me da peça e libertando os seios.
— Gostosa…
Sorrio ao erguer as mãos até o rabo de cavalo e soltar os cabelos, balançando a cabeça
bem devagar ao sentir os fios roçarem as minhas costas nuas.
— Vem cá, vem.
Ulisses sinaliza com o dedo e eu sorrio maliciosa ao me sentar em seu colo, prendendo-o
entre as minhas pernas.
— Senti tanta saudade, Marina…
Os lábios tocam o meu pescoço e me fazem arrepiar, enquanto Otto toca o meu seio e
belisca um mamilo.
— Eu também senti saudade, professor — murmuro e vejo sua pressão em meu seio
aumentar.
Ele adora que eu o chame assim.
Sei que sempre fica muito excitado.
Enquanto sua língua percorre o meu corpo, eu jogo a cabeça para trás e rebolo em seu
colo em uma tortura lenta, sentindo sua ereção ficar cada vez mais evidente em sua calça.
Essa dança sensual em seu corpo é simplesmente deliciosa e, quando sua boca alcança o
meu peito, eu gemo alto.
— Deliciosa, Marina — ele murmura antes de me chupar, mamando tão gostoso, que eu
perco o rumo.
— Ai, professor…
Continuo rebolando em seu colo enquanto ele alterna a língua em meus seios,
lambuzando-me e me levando à loucura.
Que saudade eu senti.
Dele.
Da sua boca.
Da nossa química.
De nós dois.
Enquanto ele me chupa, desço as mãos até o cinto, desafivelando-o e arrancando da
calça. Desabotoo e desço o zíper, enfiando a mão para libertar o seu pau, que já está duro feito
um porrete.
Masturbo-o devagar e seus gemidos roucos só me encorajam a continuar.
— Estou te achando tão sequinho, professor — murmuro, tocando o seu pau, e Otto se
afasta para me encarar.
— Quer me chupar, sua cachorra?
Ah, que saudade de ouvi-lo me chamando assim…
Assinto, lambendo os lábios, e saio de seu colo, me ajoelhando ao chão.
Desço sua calça pelas pernas e o deixo nu da cintura para baixo. Dou uma encarada nele,
que entende o recado e desabotoa a camisa devagar, ficando completamente nu diante de mim.
Engatinho para mais perto dele e o faço abrir bem as pernas para que eu me encaixe entre
elas e tome seu membro duro nas mãos, antes de correr a língua por ele.
— Porra, Marina…
Circulo a cabecinha com a língua e sugo de leve, antes de descer de boca nele, indo até o
talo.
— Senti saudade desse pau gostoso, professor — declaro, fazendo um vaivém enquanto
sugo-o com rapidez.
O som que o movimento faz, unido à minha saliva, é lindo de se ouvir e percebo que
estou enlouquecendo meu namorado. Ele estoca a minha boca, empurrando o quadril para cima e
agarrando o meu cabelo com força.
— Delicioso — murmuro antes de cuspir na glande e espalhar a saliva por toda a
extensão, sugando cada gotinha dele.
— É melhor parar de me chupar, se não quiser que eu goze na sua boca — diz,
desesperado, e eu sorrio satisfeita.
Uma última chupada e eu abandono o seu pau, levantando-me para montar em seu colo
novamente.
— Ah, não vai, não… Hoje você vai gozar dentro de mim, professor.
Olhando em seus olhos, eu afasto a calcinha e posiciono-me, sentando nele de uma só
vez.
O gemido que nós dois soltamos ao chegar ao fundo é lindo demais.
Sentir a sua pele quente contra a minha, depois de tanto tempo, é um paraíso…
— Cavalga, minha putinha — Ulisses me instrui, quando me vê parada por um tempo em
seu colo.
— Eu só estava sentindo seu pau gostoso — explico antes de erguer o corpo e descer
novamente, quicando sobre ele.
O som do atrito é gostoso demais e Otto agarra a minha cintura, guiando-me e ditando o
nosso ritmo.
Agarro as suas coxas e jogo a cabeça para trás, enquanto subo e desço sobre ele, em um
ritmo delicioso.
Porra… Que delícia.
Que saudade eu senti disso.
Eu quico e rebolo em seu cacete, ora rápido, ora devagar, arrancando gemidos de prazer
de nós dois.
— Você é tão gostosa, Marina — a voz rouca me causa um arrepio, quando ele se inclina
para voltar a chupar os meus peitos.
— Que saudade, professor — murmuro e ele sorri em minha pele.
— Saudade de que, minha aluna safada?
Otto suga o meu mamilo e eu solto um gemido, enquanto continuo quicando sobre ele.
Engolindo o seu pau a cada descida.
— De você — respondo, com a voz afetada. — Da sua boca, do seu pau…
Um tapa estalado em minha bunda e eu solto um gritinho, vendo-o sorrir safado.
Cavalgo mais um pouco sobre ele até que Otto me tira de seu colo e me derruba na cama,
de bruços.
— Erga essa bunda para mim — obedeço, ficando de quatro para ele, que agarra o meu
quadril para meter de uma vez só.
— Ai, professor — gemo ao senti-lo me comer de um jeito muito mais afoito agora, mais
desesperado.
O sexo que começou mais lento, sensual, se torna muito mais bruto agora.
Daquele jeito que a gente adora…
Eu amo quando ele me fode desse jeito.
— Senti tanta saudade de comer esta boceta, Marina.
Um tapa estalado em minha bunda me faz gemer mais e Otto não alivia, estocando cada
vez mais forte, mais rápido, me fodendo de um jeito insano.
— Eu também senti saudade de ser fodida por você, professor.
— Ah, sua cachorra!
Mais um tapa estalado e eu gemo alto demais.
Agarro os lençóis com força enquanto ele massacra a minha boceta, metendo tão bruto
que só sei gemer alto.
Que saudade estava disso.
Que delícia.
Porra.
— Te comer olhando para o seu rabo é gostoso demais — anuncia, me estapeando mais
uma vez.
— Ai, professor… — choramingo e o safado me bate de novo, daquele jeito que eu amo.
É tão gostoso, é tão…
Quando sai de dentro de mim e me derruba na cama, Otto me puxa pelas pernas me
colocando de frente para ele.
E aqui deitada, diante desse homem nu me olhando como um predador, eu sinto o meu
peito subir e descer cada vez mais rápido.
— Tira a minha calcinha — peço e ele sorri safado.
Com o movimento mais lento e calculado do mundo, Ulisses desliza a peça de renda por
todo o meu corpo, deixando-me completamente nua.
Aproveito a deixa e toco o meu clitóris, correndo os dedos bem devagar, daquele jeito
provocativo que ele adora.
— Vai fazer esse showzinho para mim, sua puta?
Sorrio e enfio o dedo na boca para chupá-lo, antes de meter fundo na boceta.
— Acho que vou fazer o serviço sozinha, já que não tem nenhum pau bem aqui… —
murmuro, me estocando com o dedo.
— O caralho que vai!
Otto arranca a minha mão e toma a minha cintura em um gesto tão brusco que eu
gargalho.
Mas a minha risada morre quando ele enfia seu pau de uma vez em mim, metendo fundo
até o talo.
— Prefere o seu dedo aqui, sua cachorra? — debocha, enquanto estoca rápido, afoito,
daquele jeito insano que eu amo. — Prefere seu dedo no meu lugar?
— Na-não… — gaguejo, gemendo e ele ri. — Quero seu pau, professor… Me comendo
assim… Bem gostoso… — murmuro, entre estocadas e ele sorri orgulhoso.
Quando Otto deita seu corpo sobre o meu, eu aproveito e circulo sua cintura com as
pernas, intensificando o contato, e trazendo-o para mais perto de mim.
Fundindo-nos ainda mais, se é que é possível.
Porque aqui, agora, com meu namorado olhando em meus olhos enquanto me penetra, eu
não consigo saber onde Ulisses começa e onde Marina termina.
Porque somos indiscutivelmente um só.
— Eu te amo, Marina — declara, antes de tomar meus lábios em um beijo faminto.
Suas estocadas desaceleram e Otto me come mais devagar agora, enquanto me beija de
um jeito absurdo de tão gostoso.
— Eu também te amo — murmuro em seus lábios, antes de senti-lo me devorar mais uma
vez.
Toco seus cabelos, me embrenhando nos fios macios, enquanto sinto.
Sinto sua boca junto à minha, nossos corpos se fundindo em uma dança lenta e
completamente sensual.
Em uma entrega que eu nunca vi igual.
Eu me entrego a você, Ulisses.
Entrego o meu corpo, o meu coração, e todo o meu amor…
Quando meu namorado sai um pouco para me estocar na pontinha, daquele jeito que
sempre me desestrutura, eu enlouqueço.
— Ai, professor… Assim… — gemo, desesperada.
— É assim que você gosta, não é, minha putinha?
Suas estocadas aceleram agora, mas nunca vão até o fundo.
Ali na beirinha, no ponto perfeito, eu me contorço toda abaixo de Ulisses.
— Assim, Otto…
Rebolo contra seu corpo, esfregando-me a ele e buscando enlouquecidamente por mais.
— Ai, que delícia…
Otto desce a boca até o meu peito e me chupa ali, me fazendo gemer mais.
— Eu vou gozar, Ulisses. Eu vou…
Meu namorado continua mamando de um jeito delicioso em meus peitos, me comendo
tão gostoso que chega a ser absurdo, e eu começo a sentir a primeira onda de tremores me
invadir.
— Ulisses! — gozo, gritando, gemendo, tremendo e ele sorri ao se afastar.
— Senti saudade de te ver gozando tão gostoso assim…
Eu ainda estou tremendo quando ele acelera o ritmo das estocadas e crava os dedos em
minha pele, gemendo ao gozar também, indo tão fundo e desabando em seguida.
— Caralho…
Toco seus cabelos umedecidos pelo suor e faço um carinho ao sentir seu corpo relaxado
sobre o meu, plenamente saciado.
— Não sei do que senti mais saudade — murmura, ainda relaxado em meus braços. — Se
foi de te comer gostoso, ou do seu carinho…
Eu solto uma risada, que é abafada pelo peso de seu corpo.
— Acho que estão empatados.
Ele assente e ergue o corpo, subindo para me beijar.
— Eu nunca mais vou sair do seu lado, Marina. Nunca mais — promete e eu sinto o meu
peito se aquecer.
Porque sinto toda a veracidade de suas palavras.
Toco seus cabelos mais uma vez e abro o meu melhor sorriso.
— Agora é mesmo para sempre, Ulisses?
Ele acena, antes de me beijar mais uma vez .
— Para todo o sempre, Marina.
As suas palavras fortes atingem a minha alma.
Porque sei que não é uma promessa vazia.
CAPÍTULO 37 - Otto

Olho para o relógio de pulso e sinto minha barriga gelar em expectativa. Está perto do
horário combinado com Marina e eu quero fazer uma surpresa para Yuri. Ainda que eles já se
conheçam e meu filho saiba que não éramos apenas amigos, é diferente agora.
Agora Marina é oficialmente minha…
Caramba, ainda não acredito que tudo finalmente deu certo. Que as coisas realmente se
ajustaram na minha vida.
O interfone toca e eu sorrio sozinho antes de olhar para meu filho deitado no sofá
assistindo à TV.
— Filho, só vou lá embaixo buscar uma encomenda, tá?
Yuri acena e eu busco as chaves, deixando o apartamento para descer até a entrada do
prédio.
Quando encontro Marina na calçada me olhando com aquele sorriso lindo nos lábios, eu
sinto o meu coração errar uma batida.
Ela está linda…
Vestindo uma calça jeans justa e desfiada, uma camiseta decotada rosa-choque e
sandálias coloridas nos pés, ela está perfeita.
Como sempre.
Indiscutivelmente linda.
— Oi, amor.
Puxo-a pela cintura e beijo seus lábios, aqui na calçada mesmo, diante de todos que
possam ver.
E, cacete, que delícia.
Parece que é ainda mais gostoso beijá-la assim.
— Oi, professor — murmura ao afastar os nossos lábios e sorri travessa.
— Você está linda — elogio e noto seu rosto corar um pouquinho. — E cheirosa também.
Afundo o rosto em seu pescoço e sinto aquele aroma de melancia que é só dela.
Que saudade eu senti desse cheiro.
E pensar que vou passar a vida inteira sentindo-o…
— Nunca troque o seu perfume — murmuro e ela me olha divertida. — É delicioso
demais e é só seu.
— Pode deixar. É meu perfume favorito também.
Sorrio antes de lhe dar um selinho.
— Pronta para conhecer o meu filho como minha namorada? — indago, tocando seus
cabelos com carinho.
— Mais do que pronta!
Pego sua mão e a conduzo para dentro do prédio. Quando pegamos o elevador de mãos
dadas, rindo e conversando sobre coisas triviais, eu me pego pensando no quanto almejei isso.
Ser livre para ser dela, sem me preocupar em nos esconder.
Quando chegamos ao meu andar, eu peço que me espere no corredor.
— Espera só um pouquinho, que vou fazer uma surpresa para Yuri.
— Certo.
Mais um selinho e me afasto dela, voltando para o meu apartamento.
— Yuri, trouxe um presente para você — digo e o garoto na mesma hora se levanta do
sofá.
— Um presente? Onde?
Meu filho procura algo em minhas mãos e eu rio antes de voltar para a porta e sinalizar
para Marina.
Quando a garota entra no meu apartamento, o semblante do menino se ilumina.
— Filho, quero que conheça a minha namorada, Marina.
Pego-a pela mão e Yuri quase tropeça vindo até nós.
— É sério isso, pai? — pergunta incrédulo e eu assinto, ainda sorrindo.
— Seríssimo. Agora é para sempre.
— Ah… Mari!
O garoto corre até ela e a abraça, ela o acolhe em um momento tão gostoso dos dois.
— Senti saudade — ele revela, fazendo o meu coração apertar aqui dentro.
Pelo visto, todos os Ottonis são apaixonados por essa mulher.
— Eu também senti, Yuri — ela diz, se afastando de seu abraço. — Meus finais de
semana foram muito sem graça sem vocês.
— Então agora vocês estão namorando de verdade? — Yuri olha de mim para ela e eu
concordo. — Não precisam mais se esconder?
— Não, filho. O pai trocou de emprego, lembra? Vou começar o próximo semestre em
uma universidade nova, então não tenho vínculo nenhum com a faculdade de Marina.
— Que maneiro! — O semblante do garoto se ilumina e é impossível não sorrir. — Então
agora você é… — Yuri para e lança um olhar preocupado para Marina. — Minha madrasta?
— Ah, não! Pelo amor de Deus! — A careta de Marina é impagável e eu gargalho. —
Madrasta me remete a bruxa e acho que eu não sou uma!
— Não, você não é — o menino responde rápido e eu fico aqui só observando a conversa
desses dois.
— Então, pronto. Eu posso ser sua amiga, que tal? E namorada do seu pai.
A garota dá de ombros e Yuri sorri satisfeito.
— Isso, amiga é melhor! Ufa! Eu já ouvi tanta história dos meus colegas de madrasta
ruim…
— Pois é. Isso eu não vou ser nunca, Deus me livre.
— Bom, agora que está tudo certo por aqui… Que tal sairmos para jantar fora e
comemorar?
Yuri concorda eufórico, mas quem me olha emocionada é Marina.
Só nós dois sabemos o quanto ansiamos por isso.
Podermos sair por aí, de mãos dadas, sem nos preocuparmos com nada…
— E aonde vamos? — ela pergunta curiosa, abraçando-me pela cintura.
Uma outra coisa que eu ansiava muito era poder abraçá-la e beijá-la na frente do meu
filho, sem culpa, sem receio…
Ah…
Isso parece ser um sonho.
— Não sei. Vocês podem escolher!
Afago seus cabelos e olho para Yuri, que nos observa com um enorme sorriso no rosto.
Saber que ele não só aprova o nosso relacionamento como adora Marina significa tudo
para mim. Eu jamais traria alguém para a minha vida que não fosse se dar bem com o meu filho.
— Pode ser comida chinesa? — Yuri sugere e eu olho para Marina, que sorri aceitando.
— Por mim, está perfeito!
— Então está decidido!
Enquanto esperamos Yuri se trocar, eu aproveito esses minutinhos na sala a sós com ela
para matar a saudade de seus beijos.
E agora, é como se o sabor deles fosse muito mais gostoso…
Dou um último selinho nela quando ouço o som dos passos de Yuri e o garoto volta ao
nosso encontro todo elegante.
— Uau… Você está um gato, hein?
— Estou treinando para, quando crescer, ser igual ao meu pai.
— Igual a mim, por quê? — pergunto curioso, ainda que esteja sentindo um orgulho
imenso no peito.
— Ah, pai… Você poderia namorar uma mulher da sua idade, mas conquistou logo uma
de vinte anos. Você deve ter algum charme.
Eu explodo em uma risada e Marina se junta a mim.
— Está me chamando de velho, Yuri?
— Novo igual a ela você não é — constata e eu ainda balanço a cabeça rindo.
— Você está certo, Yuri. Seu pai tem um charme e tanto.
A garota pisca para mim e eu bem sei que charme é esse que ela está dizendo…
Mas ainda bem que não precisamos entrar nesses detalhes com o meu filho.
— Bom, então vamos?
Chamo-os e saímos pelo corredor, conversando animados em direção ao estacionamento.
Adentrando o carro, Yuri e Marina escolhem músicas de Green Day para tocar e vão cantando
pelo caminho.
Dividindo minha atenção entre o trânsito e eles, não consigo conter um sorriso ao ver o
quanto estão se divertindo juntos.
É lindo de ver e sinto que estamos nos tornando uma verdadeira família.
Ao chegarmos ao restaurante, desço e pego a mão de Marina, enquanto somos
conduzidos até uma mesa no segundo piso, tendo uma vista linda da cidade.
— Nossa, aqui é lindo… — Mari sussurra ao meu lado e me inclino para beijar o seu
ombro com carinho.
— Não é? Eu ainda não tinha vindo aqui, mas Caio já me falou muito bem do lugar.
— É bem maneiro mesmo — Yuri concorda, entrando no assunto.
— Bom… O que vamos pedir?
Pego o cardápio nas mãos, e Yuri nem mesmo o olha para responder.
— Eu quero um Yakisoba!
— Hummm… Boa, Yuri! Também vou querer um.
— Então eu vou acompanhar vocês dois.
Aceno para o garçom e fazemos nosso pedido, junto com uma garrafa de refrigerante.
Enquanto não chega, engatamos em uma conversa, em que Marina pergunta a Yuri como
estão as aulas, e o garoto desata a falar.
— Semana que vem eu já entro de férias — diz, animado.
— Recesso escolar, né? — corrijo-o e ele dá de ombros.
— Ainda que sejam poucos dias, são férias, porque eu estarei em casa livre de
atividades…
— Mas você tem que ler um livro nesse período, esqueceu? Terá um trabalho sobre ele
quando voltarem as aulas.
— Como é ser filho de um professor, hein? — Marina se inclina para a frente na mesa,
fingindo cochichar.
— Quando eu preciso de ajuda no dever de casa, é ótimo. Mas nessas horas aí é um saco
— solta e a morena dá uma risadinha.
— Eu estou ouvindo vocês, viu?
A risada na mesa é coletiva agora.
— Você também entra de férias, não é, Mari? — ele pergunta e ela confirma.
— Logo que eu terminar minhas provas finais, estarei livre.
— Que maneiro… Podemos assistir a muitos filmes com brigadeiro. — O sorriso do
garoto se amplia.
— Acho justo! Mas sem terror.
— Ah, qual é? O mais legal! — A cara de insatisfação dele me faz rir baixo.
— Vamos ceder um pouco, bonitinho? Temos que agradar a todo mundo.
Meu filho bufa e sopra a franja dos cabelos.
— Tá bom…
Ainda estou rindo quando o garçom chega com nossos pedidos e começamos a comer
tranquilos.
É um momento leve e muito gostoso que dividimos e, quando acaba, eu não quero sair
daqui.
Não quero que momentos como este se acabem.
Na saída para o estacionamento, estou prestes a abrir a porta do motorista, quando tenho
um estalo.
— Amor, leva o carro.
Jogo as chaves na mão de Marina, que pega no ar, arregalando os olhos para mim.
— Sério? Mas eu nunca dirigi depois do exame e…
— Então chegou a oportunidade perfeita. — Pisco para ela.
Marina olha para mim e para Yuri, que a incentiva em um sorriso.
— Vocês têm certeza?
— Eu não tenho medo, filho, você tem?
— Lógico que não.
— Então pronto.
Dou a volta e me acomodo no banco do carona, vendo meu filho fazer o mesmo no banco
de trás.
Mari ainda está ressabiada quando se senta no lugar do motorista e eu dou a ela as
instruções sobre o meu carro.
— Fica tranquila, amor. Dirige devagar, no seu ritmo, ninguém aqui está com pressa. Aos
poucos, você vai pegando confiança.
— Certo…
Ela assente e, quando aciona a chave, ligando o motor, um sorriso desponta em seus
lábios.
— Ai, meu Deus. Isso é muito legal! — exclama quando o carro começa a ganhar vida
pelas ruas.
Seu semblante é um misto de insegurança e empolgação e o tempo todo eu a encorajo,
elogiando a forma como está dirigindo. Ela ainda anda mais devagar, mas está no caminho certo,
é a melhor coisa a fazer enquanto não está cem por cento segura.
— Desculpa — pede quando passa rápido demais em um quebra-molas e eu nego com a
cabeça.
— Ele estava muito mal sinalizado, faz parte.
Mari assente e aos poucos a vejo relaxar os ombros, ficando mais tranquila. Todo o
trajeto é feito com bastante atenção e, quando chegamos ao meu prédio, dou todas as orientações
para estacionar na minha vaga, que é um pouco estreita.
— Viu? Você se saiu muito bem! — elogio logo que ela desliga o motor.
— Ainda estou com as pernas bambas, mas ok, eu consegui!
— Você mandou bem, Mari — Yuri elogia do banco de trás e a garota sorri.
— Sempre que sairmos de carro, vou te deixando dirigir comigo, tá? Até você ir pegando
mais segurança — afirmo. — Dirigir é prática. Você vai vendo que, com o tempo, fica muito
mais fácil.
— Obrigada, Ulisses.
Descemos do carro e seguimos pelo elevador com um Yuri que não para de tagarelar em
nossa cabeça. Quando subimos, ele sugere um filme e, enquanto procura na TV, eu puxo Mari
pela mão e a levo até a cozinha.
— Quer que eu te leve para casa hoje, ou você dorme comigo? — pergunto, envolvendo-
a pela cintura.
— Não vou atrapalhar vocês se eu ficar?
— Está brincando? Aquele garoto ali é louco por você, vai achar o máximo te ter aqui.
— O pai dele, não? — provoca e eu solto uma risada antes de beijar a sua boca.
— O pai dele é absurdamente apaixonado por você — sussurro, entre beijos. — Louco,
alucinado, morto de amores por você…
— Ah, Ulisses…
Nem dou a ela tempo de responder, tomando sua boca na minha novamente em um beijo
muito mais intenso.
Em um beijo forte, louco, alucinado…
Assim como o meu amor.
CAPÍTULO 38 - Marina

— Ai, amiga, eu estou tão feliz de te ver bem assim… — Carina comenta, enquanto me
vê trabalhar sorrindo em uma torta de frango para Otto.
Hoje é um daqueles dias em que Yuri vai dormir na casa da avó para receber a visita de
Renata e eu aproveitei para convidar o meu namorado para ficar aqui em casa com a gente. Sei
que ele fica tenso todas as vezes que esse dia chega, por isso quero distraí-lo um pouquinho.
— Finalmente, né, Cá? — murmuro e ela assente, colocando-se ao meu lado.
— Foi muito triste te ver sofrendo tanto, Mari. Sei que não foi pior do que você, mas
acredite, me doía todas as vezes ter que sair de casa para as aulas e te deixar aqui sozinha.
Paro o que estou fazendo e lavo as mãos para lhe dar um abraço.
Eu realmente não sei o que seria de mim se não a tivesse ao meu lado comigo. Se eu
tivesse optado por morar sozinha quando vim para a cidade, eu teria sofrido muito mais nesse
período. Ter o seu apoio foi crucial para mim.
— Obrigada por tudo, Cá. Você tem um lugar no meu coração que é só seu.
Beijo seu rosto e me afasto dela, voltando ao trabalho.
— Você quer que eu saia de casa para que vocês fiquem à vontade? — oferece e eu
reviro os olhos para ela.
— Já passamos dessa fase, amiga. Fica tranquila, Otto vai adorar te ver aqui.
— Ah, tá. Porque não quero ficar de vela e…
— Você nunca ficará de vela, um castiçal talvez… — brinco e ela me dá um tapinha no
braço, tirando-nos uma risada.
— Ridícula!
Gargalho mais e peço a ela um copo de água, que pega para mim.
— Mas é sério, Cá, não se preocupe. Pode ficar à vontade com a gente.
— Ótimo. Porque amo a sua torta de pão de forma e, se eu precisasse sair, eu te pediria
para me guardar ao menos um pedaço.
— Mas é lógico que eu não te deixaria sem a minha torta!
Termino de montar tudo e levo à geladeira, aproveitando o tempo para tomar um banho
rápido antes que Otto chegue. Estou terminando de me arrumar, quando ouço sua voz grossa
anunciando a sua chegada.
Borrifo o perfume e confiro o meu visual no espelho. Depois sigo até a sala e encontro-o
de pé, conversando com Carina.
— Oi, minha linda.
Inclino-me para lhe dar um selinho e ele me envolve com seus braços quentes.
— Oi, amor.
Mais um selinho e Otto sorri, afastando-se de leve.
— Ah, vocês são tão fofinhos juntos. — Minha amiga suspira. — Também quero um
namorado!
— Mas não era você quem dizia que não tem tempo para isso? — indago e ela faz uma
careta.
— Eu sei, eu sei. É só que o amor de vocês contagia.
Encaro Otto, que sorri para mim, antes de me beijar mais uma vez.
— Deu tudo certo na sua mãe? — pergunto e ele assente.
— Deu, sim. Eu sempre fico com o coração na mão por deixá-lo lá, mas confio muito em
dona Regina. E Renata sabe que com ela não tem vez, então sei que não vai tentar nenhuma
gracinha.
— Sua mãe deve ser ótima — concluo e ele me abre um sorriso de lado.
— É… E, falando nisso, ela quer te conhecer. Posso marcar um almoço?
Meu coração erra uma batida com o seu convite. É incrível como precisamos nos
esconder por tanto tempo e agora as coisas fluem com tanta naturalidade que às vezes me pego
sem acreditar.
— Claro, será um prazer!
— Acho que vocês se darão muito bem — conclui.
— Se ela for tão incrível quanto você e Yuri, tenho certeza de que sim. Você já está com
fome? Fiz uma torta pra gente.
— A melhor torta do mundo, Otto! — Carina exclama, fazendo uma pose dramática, e
caímos na risada.
— É mesmo? Fiquei curioso agora…
— Então vem experimentar!
Pego meu namorado pela mão e o guiamos até a cozinha, onde Carina me ajuda a montar
a mesa.
Com tudo pronto, sirvo os três pratos com a torta e fico observando Otto experimentar a
primeira garfada.
— Meu Deus, isso é muito bom! — exclama e eu sorrio orgulhosa.
— Não disse? Eu sempre dou pulinhos de alegria quando Marina anima a fazer essa torta
pra gente!
Não tem como não sorrir disso e Otto continua comendo animado, tecendo vários elogios
sobre o prato que preparei com tanto carinho.
— E as aulas, Carina? Você já está de férias? — ele pergunta a ela, antes de beber um
gole do refrigerante.
— Que nada! Eu vou ter uma semana a mais que a Mari dessa vez. Acabei precisando
repetir uma prova de uma matéria em que não consegui a pontuação mínima.
— Ah, isso faz parte. Tenho certeza de que vai conseguir se sair muito bem nessa
próxima prova — Otto diz, gentil.
— Deus te ouça! Só de pensar em repetir uma matéria por um semestre inteiro, já me bate
um desânimo.
— Eu também morro de medo disso. — Balanço a cabeça, só de pensar nessa
possibilidade.
— Mas e a universidade nova? Está ansioso para começar as aulas? — minha amiga
pergunta e o semblante dele se ilumina.
— Bastante! Eu ainda estou cumprindo aviso e preciso fechar esse semestre, com todas
as notas e diário para entregar tudo certo para a instituição. Mas não vejo a hora de começar no
novo lugar.
— Eu imagino! Boa sorte no novo emprego.
— Obrigado, Carina.
Então mudamos de assunto e conversamos sobre nossas famílias, Carina sempre
contando como minha avó e Gabriel são especiais. Ulisses fica curioso e diz que quer muito
conhecê-los; eu lhe garanto que vou providenciar isso em breve. Só precisamos ver um final de
semana tranquilo para viajar.
Ao terminarmos, recolhemos tudo e vamos para o sofá bater um papo despreocupado, até
Carina pedir licença para ir se deitar e se despedir de nós dois.
A noite passou voando e ver o homem que eu amo e a minha melhor amiga se dando tão
bem significou tudo para mim.
Fico tão feliz por saber que está tudo se encaixando.
— Yuri vai dormir mesmo com a sua mãe? — pergunto quando estamos sozinhos.
— Vai, sim. Eu vou buscá-lo amanhã na hora do almoço. Quer ir comigo? — Ulisses me
pergunta enquanto acaricia a minha cintura e eu sinto o meu coração se acelerar aqui dentro.
— Sua mãe não vai se importar? Por ser em cima da hora assim?
— Imagina! Ela ama a casa cheia e não vê a hora de te conhecer. Vai adorar saber que
vou te levar.
— Então perfeito, quero ir, sim!
Otto sorri e se inclina para me dar um selinho.
— Quer dormir aqui comigo? — sugiro e ele assente na mesma hora.
— Eu só não trouxe nenhuma roupa para isso.
— Você pode dormir sem roupa mesmo — brinco e ele solta uma risada.
— Espertinha!
Levanto-me do sofá e o pego pela mão, guiando até o meu quarto.
— Quer ver um filme? — ofereço, pegando o controle da TV.
— Claro. Sua amiga não costuma entrar no seu quarto, né? — indaga e eu nego.
— Com você aqui, com toda certeza, não.
— Perfeito.
Enquanto zapeio pelos canais do streaming, vejo Otto colocar sua carteira, celular e
chaves sobre a minha cômoda, então começa a desabotoar a camisa de um jeito lento que chega a
ser absurdo de tão sexy.
— Está me provocando, senhor Ulisses?
— Eu? Claro que não — responde, sorrindo travesso. — Só não quero dormir de camisa
social e calça jeans.
Quando ele tira os sapatos dos pés e se livra da calça, a visão do meu namorado de cueca
boxer branca me surge e é a coisa mais linda do mundo.
— Você é perfeito, sabia?
Aproximo-me dele e toco o seu peitoral nu.
— Não tanto quanto você — diz, me dando um beijo gostoso.
— Vou me trocar também, só um instante.
Vejo Otto se sentar em minha cama enquanto eu abro o guarda-roupa e pego uma
camisola branca para vestir.
— Vou combinar com você hoje — comento antes de começar a me despir.
Ulisses parece me comer com os olhos enquanto eu tiro toda a minha roupa, ficando
apenas de calcinha. Visto a camisola e vou ao seu encontro, acomodando-me ao seu lado na
cama.
— Muito gostosa — murmura antes de me beijar.
O beijo começa inocente e vai se esquentando, arrepiando o meu corpo inteiro.
— Vamos ver o filme? — ele diz, ao se afastar, e eu pisco os olhos por um instante.
— Cla-claro — gaguejo e ele sorri, malicioso.
Erguendo a colcha da cama, Otto se acomoda ali, dando uma batidinha no travesseiro
para que eu me deite ao seu lado e, quando o eu faço, meu corpo se encaixa perfeitamente no
dele.
Sinto sua ereção se formar em minha bunda e sorrio ao pensar que ver filme é a última
coisa que faremos hoje.
— Qual filme você quer ver? — pergunto enquanto ele beija o meu ombro e desce a mão
pela minha cintura.
— Qualquer um… Pode escolher.
Com a boca, ele abaixa a alça da minha camisola e corre a língua pela minha pele,
fazendo o meu sexo pulsar.
Respiro fundo antes de escolher um filme qualquer de romance. Quando dou play, a
música de início começa e esse som incentiva Otto a continuar.
— Consegue ficar calada, amor? Não estamos sozinhos em casa — sussurra ao morder a
minha orelha.
— Consigo…
A minha respiração pesa quando ele adentra a minha camisola e sobe as mãos pela minha
coxa, tocando-me por cima da calcinha.
Mordo o lábio de leve e engulo um gemido ao senti-lo afastar a peça de renda para correr
os dedos pela minha boceta já molhada por ele.
Só a forma como esse homem sussurra ao pé do meu ouvido me deixa sempre excitada.
Aqui, deitada de lado na cama, com Otto encaixado atrás de mim, me tocando sem que eu
possa emitir um ruído, é uma das coisas mais excitantes que eu já vivi.
— Tão molhada… — murmura antes de meter um dedo dentro de mim e me fazer
suspirar para conter um gemido.
Ai, caramba…
Empino a bunda para ele e roço em sua ereção, enquanto Otto continua fazendo um
vaivém delicioso dentro de mim.
Estou à beira de enlouquecer de tesão e jogo a cabeça para trás, encostando em seu
ombro, enquanto sinto seus dedos massacrarem a minha boceta.
— Isso é tão gostoso — digo baixinho e o sinto morder minha orelha mais uma vez. —
Coloca seu pau, amor — peço e ele solta uma risada safada.
— Você já me quer te comendo? — murmura e eu gemo baixinho.
— Devagarzinho não vai fazer barulho — incentivo. — Por favor…
— Eu amo o quanto você é safada, sabia? — sua voz sussurrada me faz arrepiar inteira.
Sinto a mão de Otto me soltar e, quando o seu pau roça a minha bunda, eu arfo baixinho.
Ergo a perna direita e a dobro, facilitando sua posição, e ele me penetra facinho.
— Porra, Marina… — Ulisses morde o meu ombro quando mete até o fundo. — Você
está tão molhada…
Empino a bunda e agarro o travesseiro abaixo de mim quando ele começa a me estocar
devagar, entrando e saindo de um jeito absurdo de gostoso.
Todo o seu movimento é calculado e sei que está fazendo um esforço enorme para não
fazer muito barulho e nem ranger a cama.
— Eu amo quando você me fode com força — digo e ele cola o rosto ao meu para me
ouvir. — Mas, me comendo devagarzinho assim, também é uma delícia — sussurro e é a sua vez
de gemer baixo.
— Ah, caralho…
Deito a perna de volta e empino mais a bunda, enquanto Otto continua me comendo
gostoso.
E se ter esse pau grosso rasgando a minha boceta, ainda que devagar, não é a coisa mais
deliciosa desse mundo…
— Essa sua boceta é gostosa demais — murmura, acelerando um pouco o ritmo das
estocadas, mas tomando o cuidado para não ir além.
Quando sua mão sobe pela minha camisola e toca o meu peito por baixo do tecido, eu
arfo baixinho.
— Seus peitos também são uma delícia — diz, baixo. — Pena que não posso mamar
neles agora.
— Não pode mesmo — respondo desejosa. — Se você fizer isso, eu vou gemer
descontrolada e vamos ser ouvidos por todo o prédio.
Sinto a sua risada em minha pele e começo a rebolar em seu pau, fazendo com que ele
meta com mais intensidade agora.
— E você acha que sua amiga não está te ouvindo agora? — diz, enquanto belisca o meu
mamilo. — Será que ela não sabe que a amiga dela está dando essa boceta para o professor dela?
Esse homem.
Falando essas coisas.
Enquanto me come desse jeito.
Sempre vai acabar comigo.
— Ela não — falo, fechando os olhos quando ele esfrega meu mamilo com mais força. —
Ela não pode me ouvir… — minha voz falha e sei que não é verdade.
Por mais que estejamos mais contidos, sei que não estamos sendo totalmente silenciosos.
— Será que não? — Mordisca a minha orelha e eu gemo baixinho. — Porque você
sempre geme gostoso, amor. — A fricção de seus dedos em meu biquinho me causa tanto prazer,
que eu sinto um calor absurdo.
Uma gota de suor desce pela minha coluna e eu afasto a colcha de nosso corpo,
empurrando-a para baixo.
E a visão que me surge me faz gemer mais.
Otto com a cueca abaixada, o pau encaixado no meio da minha bunda e a camisola meio
levantada, com sua mão massacrando o meu seio.
— Está sentindo calor, Marina? — murmura e eu apenas balanço a cabeça. — Pois estou
pegando fogo…
Toco a barra da camisola e a puxo mais para cima, libertando os meus seios para que eu
consiga vê-lo me tocar.
Essa visão é deliciosa…
Empino mais a bunda para ele e rebolo em seu pau, que começa a me estocar um pouco
mais rápido agora, metendo até o fundo.
Espero muito que Carina esteja ferrada no sono ou com fones de ouvido, caso contrário
ela vai mesmo conseguir nos escutar.
Não dá para disfarçar o som do choque de nossos quadris.
— Está difícil se controlar, Marina? — murmura e eu assinto, gemendo baixo. — É
porque você é uma putinha safada que adora foder com o seu professor.
— Ai, Otto…
Mordo o lábio com força ao senti-lo me penetrar mais forte agora.
— Quero ver se vai continuar se controlando assim quando gozar gostoso para mim.
O safado solta o meu peito e desce a mão até a minha boceta, onde esfrega o meu clitóris
de um jeito absurdo de gostoso.
Eu enterro a cabeça no travesseiro e aperto os olhos com força, segurando-me para não
gemer tão alto.
Porque isso está além de gostoso.
É delicioso.
É surreal.
Caralho…
Agarro a fronha com força quando Otto me come com mais brutalidade agora,
massacrando minha boceta, e sei que estou prestes a gozar.
Otto também sabe, porque cola a boca em meu ouvido.
— Goza caladinha, amor.
Abafo meu gemido no travesseiro quando sinto aquela onda de tremor me invadir e me
levar a um minuto de insanidade.
Eu estremeço toda, rebolo nele e gozo de um jeito que chega a ser sobrenatural.
É intenso.
Delicioso.
Ainda estou ofegante, me recuperando, quando Otto aperta a minha bunda e estoca forte
até gozar também, derramando-se dentro de mim.
— Porra, Marina — rosna antes de se afastar e desabar ao meu lado na cama.
— Agora eu tenho certeza de que ela nos ouviu — murmuro e ele solta uma risada baixa.
Viro-me para ele e toco o seu rosto corado, correndo os dedos pela sua pele macia.
— Se arrepende? — indaga e eu balanço a cabeça.
— Lógico que não. Eu montaria em você agora e cavalgaria em seu pau de novo se não
estivesse tão sem forças… — murmuro e ele sorri de lado.
— Eu te amo, minha linda. Minha aluna safada e linda — completa e eu rio, inclinando-
me para lhe dar um selinho.
— Eu também te amo, professor.
Beijo-o mais uma vez e toco seus cabelos.
— Em breve não serei seu professor mais — conclui e eu nego.
— Você sempre será meu professor, Ulisses. Só vou parar de te chamar assim se você
quiser.
— Eu sempre fico duro quando te ouço me chamar assim — afirma.
— Viu? Então vou te chamar pra sempre — declaro e ele ri.
— Ainda dá tempo de assistir ao filme? — pergunta apontando para a TV.
— Assistir eu não sei… Mas dormir de conchinha, com certeza, sim. Só preciso levantar
para me limpar.
— Limpar do quê?
Reviro os olhos e aponto para o sêmen descendo pela minha coxa.
— Tem certeza de que prefere se levantar da cama para se lavar enquanto pode dormir
com a minha porra escorrendo?
A pergunta safada me faz morder o lábio.
— Tão safado, professor…
— Só com você, Marina. Só com você.
Otto ergue os braços e indica para que eu me acomode em seu peito.
— Agora vem. Vem dormir comigo.
Eu abro um sorriso ao me aconchegar em seus braços.
— Boa noite, Ulisses — murmuro e sinto-o beijar os meus cabelos.
— Boa noite, meu amor.
Vejo-o erguer o braço para apagar a luz do quarto e logo somos iluminados apenas pela
tela da TV.
Abro um sorriso ao fechar os olhos e beijar o seu peito, sendo guiada para uma deliciosa
noite de sono.
CAPÍTULO 39 - Marina

— Então você é a garota que tirou o meu filho do rumo? — a mãe de Otto me saúda,
antes de me puxar em um abraço apertado.
Todo o carinho que recebo dela faz com que o meu nervosismo se acalme. Eu nunca
tinha conhecido uma mãe de namorado, por isso estava bem tensa antes de chegar aqui.
— Eu… Acho que sim?
Viro-me para Otto, que cruza os braços, soltando uma risada.
— Com toda certeza, é.
Ele dá aquela piscadinha que sempre me tira dos eixos.
— É um prazer te conhecer, querida. Fiquei radiante de felicidade quando Ulisses me
disse que você viria hoje.
— O prazer é todo meu, dona Regina. Otto me fala muito bem de você.
O sorriso de minha sogra é tão lindo, que contagia.
Sogra…
Meu Deus, quem diria, hein, Marina?
— Vó, meu pai já chegou? — a voz de Yuri surge do corredor e, logo que o menino nos
vê, seu semblante se ilumina. — Mari!
Eu ganho um abraço bem gostoso dele e, só quando me solta, é que abraça o pai.
— Como você está, filho, se divertiu?
— Sim! Foi bem legal! Minha mãe trouxe o meu sorvete favorito.
O semblante relaxado dele me faz sentir uma pontada no peito. Por mais que eu odeie
Renata sem ao menos conhecê-la, ela ainda é mãe de Yuri e ele a ama. Isso é o suficiente para
que eu a respeite.
— Que bom, filho. Fico feliz.
— Você já está com fome, Marina? — a mãe de Otto se dirige a mim. — Estou quase
terminando o almoço.
— Imagina, dona Regina. Precisa de ajuda?
— Que nada, está tudo adiantado! Vem, vou te apresentar a minha casa.
Deixamos Otto e Yuri na sala e a minha sogra me conduz por toda a residência,
apresentando cada cômodo com tanto orgulho que consigo sentir todo o seu amor aqui. Consigo
imaginar inclusive meu namorado crescendo em um lar cheio de amor.
Ao contrário de muitos domingos na casa dos Ottonis, Ulisses pediu para que hoje
sejamos apenas nós quatro em casa e pelo visto sua mãe respeitou, pois não há mais ninguém por
aqui.
— Este quarto era de Ulisses — diz, abrindo a porta de um cômodo para me mostrar. —
Hoje Yuri fica por aqui quando dorme comigo.
Adentro o quarto e observo cada cantinho dele, maravilhada.
As paredes pintadas de azul, os móveis em tom de madeira clara, a cama perfeitamente
arrumada.
Caminho até a cômoda e encontro alguns porta-retratos com fotografias de Ulisses em
diversas fases da vida. Infância, adolescência, formatura na faculdade… É tanta recordação linda
que meu peito se aquece.
— É tão aconchegante… — elogio e ela sorri.
— Yuri adora ficar aqui. Principalmente por já ter sido de Ulisses.
— Ele tem muito orgulho do pai, né?
— Demais. — Ela suspira, encarando o ambiente ao redor.
— E eu preciso parabenizá-la pela educação de Ulisses, ele é o ser humano mais íntegro
que já conheci.
Regina sorri e aponta para a cama, onde me sento ao seu lado.
— Eu tenho um filho incrível e um neto perfeito. Sou muito sortuda por tê-los comigo.
— Eu sei bem como é…
— E quero aproveitar que estamos aqui sozinhas para te agradecer — fala e encara os
meus olhos, eu engulo em seco. — Meu filho nunca foi tão feliz com alguém, tão amado… Eu
nunca o vi sorrir desse jeito.
Suas palavras chegam a me emocionar e eu apenas sorrio lisonjeada.
— Ele sofreu muito em um casamento fracassado, Marina. Ulisses nunca teve o seu
devido valor quando esteve com Renata. Mas com você é diferente… Eu acabei de te conhecer,
mas sinto que valoriza o meu filho. Você o ama como ele merece ser amado.
— Eu não sei se sou tudo de que Otto precisa, dona Regina. Mas te garanto que faço o
meu melhor para retribuir tudo o que ele é para mim. Ulisses é o meu sonho mais lindo, dono de
todo o meu amor.
Minhas palavras parecem agradá-la, pois uma lágrima solitária lhe escorre.
— Isso é suficiente. Obrigada, Marina.
A senhora de cabelos grisalhos e sorriso doce dá um tapinha na minha perna antes de se
levantar da cama.
— Agora vamos descer? Aposto que os meninos já estão com fome.
Eu a sigo pelos corredores e encontramos Otto e Yuri na cozinha pegando alguns
utensílios nos armários. Ajudamos minha sogra a montar a mesa e, quando nos acomodamos,
olho para a mesa farta e sorrio.
— O cheiro está maravilhoso — elogio e ela sorri orgulhosa.
— Espero que goste do meu tempero. Fiz tudo com muito amor para vocês.
— Tenho certeza de que vou adorar!
E não estou mesmo mentindo.
Ela fez um peixe assado com batatas, arroz branco e salada variada que está
simplesmente divino.
Desfrutamos de uma refeição tão gostosa, tão leve, que me sinto como se fizesse parte
mesmo desta família. É tão natural estar com eles, que sinto que este é o meu lugar.
De todo este mundo, não existe outro lugar onde eu queira estar.
Ainda passo o resto da tarde na companhia deles e, quando está quase escurecendo, Otto
nos chama para finalmente ir para casa.
— Volte mais vezes, Mari. Será sempre um prazer te receber aqui.
— Eu que agradeço o dia tão agradável, dona Regina. Foi maravilhoso te conhecer.
Recebo um abraço quentinho e, quando os meninos se despedem dela, vamos até o carro
de Ulisses, que mais uma vez me pede para dirigir.
Eu abro um sorriso sempre que ele me incentiva a pegar o volante, porque tenho me
soltado um pouco mais todas as vezes. Tenho perdido mais o medo, tenho criado segurança um
pouquinho mais a cada dia. E o apoio dele tem sido crucial nesse processo.
Meu sorriso de orgulho só não é maior que o de Otto quando eu manobro para estacionar
em sua vaga, sem precisar da sua ajuda.
— Daqui a uns dias, você já pode até viajar sozinha — constata e eu solto uma risadinha.
— Não é para tanto, né?
— Que nada, você está arrasando.
— Está mesmo, Mari — Yuri concorda e eu sorrio para os dois.
Quando subimos pelo elevador, o garoto conversa empolgado sobre suas férias e tudo o
que quer fazer nos dias em que estiver em casa.
E aqui, ao lado dele, percebo o quanto deixa o clima mais leve. Yuri traz uma vitalidade
que é só sua.
Adentramos o apartamento e o garoto vai direto para o banho.
— Obrigado por ter ido hoje. Significou muito para mim — meu namorado diz,
enlaçando-me pela cintura.
— Eu amei conhecer a sua mãe, ela é maravilhosa. E tem muito orgulho de você —
ressalto e ele sorri de lado.
— Tenho muita sorte de ter vocês na minha vida — diz, beijando minha boca daquele
jeito tão gostoso. — Todos vocês três.
Puxo Ulisses pelos cabelos e aprofundo este beijo que tem gosto de tudo, inclusive de
amor.
— Eu te amo, sabia? — murmuro em seus lábios e ganho uma mordida.
— Sabia… Claro que sabia — a declaração me faz sorrir de leve. — Mas eu te amo
muito mais, Marina.
Sua boca cola na minha mais uma vez e, quando ouvimos um raspar de garganta, nos
afastamos depressa, rindo.
Yuri nos olha divertido do canto da sala antes de seguir para o sofá.
Eu fico envergonhada por ter sido pega em flagrante, mas, ao mesmo tempo, experimento
aquela sensação gostosa de lar.
Isso é tão familiar…
Encosto o rosto no peito de Otto e rio baixinho, sendo acolhida por seus braços quentes.
Lar, definitivamente, é onde ele está.
CAPÍTULO 40 - Otto

Atravesso os corredores do campus da nova universidade e sinto uma energia boa se


apossar de mim.
É uma sensação de recomeço, de renovação.
Uma sensação de paz.
Não conheço ninguém neste lugar, mas ainda assim não me sinto aflito, pelo contrário, eu
me sinto completo, realizado.
Não foi fácil me despedir do antigo emprego, já que foram mais de quinze anos
trabalhando no mesmo lugar. Fiz amizades por lá, criei memórias e, acima de tudo, conheci
Marina.
Aquela universidade sempre terá um lugar especial no meu coração por ter me
apresentado o amor da minha vida.
Mas como tudo são ciclos, eu precisava encerrar aquele para iniciar um novo.
Um que me desse tudo aquilo que eu preciso agora:
Liberdade para ser feliz.
Abro o aplicativo no celular e confiro mais uma vez o número da sala de aula do curso de
Arquitetura e Urbanismo; procuro pelo bloco até finalmente encontrar.
Há alguns alunos espalhados pelos corredores e, logo que notam a minha presença,
assumem os seus lugares. Adentro a sala e sigo até a minha mesa, onde coloco a minha pasta e
encaro cada rostinho novo por aqui.
— Boa tarde, pessoal — cumprimento-os, e eles me saúdam de volta. — Eu me chamo
Ulisses Ottoni e serei o professor de Filosofia de vocês neste semestre. Sou novato, assim como
vocês, e espero que tenham um pouco de paciência comigo — digo, sorrindo, enquanto ajeito a
manga da camisa social e encosto o quadril na mesa. — Vocês têm alguma dúvida antes de
começarmos?
Olho para cada rosto da sala e ninguém esboça uma reação quanto a isso.
— Ótimo. Então, antes de passar a programação do semestre, quero saber um pouco de
vocês. Até porque, ainda não tiveram tempo de se conhecerem, certo? — indago e todos
concordam, pois estamos no primeiro dia de aula, do primeiro período do curso. — Ok… Quero
que se apresentem dizendo o nome e por que escolheram este curso.
Aponto para uma garota negra da primeira cadeira do canto e ela sorri, assentindo.
— Meu nome é Jéssica e eu escolhi por ser a mesma profissão do meu pai. Cresci em um
escritório de arquitetura e acabei me apaixonando por esse universo.
— Isso é ótimo. Núcleo familiar é muito importante — constato. — E você? — Aponto
para a garota ruiva logo atrás dela.
— Meu nome é Briana e escolhi por afinidade mesmo. Sempre fui apaixonada por
diversos tipos de arquitetura e me vejo fazendo isso no futuro.
— Acho que nunca conheci uma Briana antes — falo, e a garota olha tímida. — É um
lindo nome, inclusive.
— Obrigada, professor.
Aceno e sigo para o próximo.
— E você?
Sigo conhecendo um pouco cada um dos alunos e, quando finalmente acabam as
apresentações, a última me devolve a pergunta.
— E você, professor? Nos fale mais de você, é casado, tem filhos? Por que escolheu a
Filosofia?
Balanço a cabeça e puxo a manga da camisa, antes de encarar todos os olhares atentos.
— Eu já fui casado, me divorciei e me livrei de um relacionamento abusivo — falo e noto
alguns semblantes surpresos. — Mas que me deu um filho de doze anos, que é o que há de mais
precioso na minha vida — completo. — E há poucos meses conheci uma mulher que me mostrou
o que é ser amado de verdade. Ainda não me casei com ela, mas pretendo em breve mudar isso.
— Dou uma piscadinha e recebo alguns olhares empolgados vindos das meninas da sala. —
Quanto à filosofia, minha história de amor por essa ciência começou quando eu estava no ensino
médio…
Conto a eles com detalhes minha experiência com a disciplina e como veio em um
momento delicado da minha vida. Sem dar muitos detalhes acerca da minha vida particular,
consigo despertar a curiosidade deles sobre a importância da filosofia para o indivíduo.
Aproveito esse gancho para tocar nesse assunto, que é sempre tema das minhas primeiras aulas e
deixo-os a par do plano de aula que montei para todo o semestre.
Só me dou conta de que a aula chegou ao fim quando vejo alguns alunos fechando os
cadernos e olho para o relógio vendo que o tempo voou.
É tão natural estar aqui, é algo tão vívido para mim que realmente perco a noção do
tempo.
— Obrigado pela atenção, pessoal. Nos vemos na semana que vem!
Todos se levantam e começam a juntar suas coisas, então fecho a minha pasta, jogando-a
no ombro a fim de sair da sala para o intervalo. Logo que alcanço o corredor, sinto o celular
vibrar no bolso.
Mari: Como está sendo o seu primeiro dia, amor? Tudo certo por aí?
Sorrio sozinho para a tela do celular enquanto sigo até a sala dos professores, a fim de
tomar um café antes de encarar a próxima turma.
Eu: Tudo tranquilo. Você não tem ideia da sensação de paz que eu estou sentindo
por trabalhar aqui.
Mari: Ah, Otto… Isso é ótimo! Fico muito feliz por você. Uma pena que não vou te ver
mais pelo campus, mas é por uma boa causa. :)
Se há uma coisa de que também vou sentir muita falta é de esbarrar com Marina pelos
corredores. Tomar um café com ela pelos intervalos, dar uma carona ao final da aula…
Ou simplesmente sentir o seu cheiro gostoso.
Ver o seu sorriso…
Eu: Nem me fale, minha linda. Foi a primeira coisa que eu pensei quando pisei aqui.
Mas ser livre para ser seu vale o sacrifício.
E isso é tão verdadeiro…
Mari: Eu te amo tanto, sabia?
Eu: E eu te amo muito mais.
Despeço-me dela e continuo seguindo até o meu destino.
E, pelo caminho, não consigo deixar de sorrir.
Finalmente está tudo se ajeitando em minha vida…

Destranco o apartamento e encontro Yuri deitado no sofá, assistindo à TV.


— Oi, filho. Cheguei.
Coloco a pasta na mesinha ao lado e ele ergue os olhos para mim, mas volta a atenção à
tela.
— E aí, como foi o primeiro dia de aula? Foi legal?
Sento-me ao seu lado no sofá e suspiro, assentindo.
— Foi bem diferente do que estou acostumado, mas gostei bastante. É uma nova
dinâmica agora, uma nova rotina, mas vou me adaptar.
— Vai, sim, pai. Você é foda.
Seu comentário me tira um sorriso.
Eu ainda vou demorar a me acostumar com os horários novos, porque a cada dia terei
aula em um turno diferente. Hoje, por exemplo, foi na parte da tarde, amanhã será no período da
manhã e ao longo da semana vai oscilar bastante.
Mas sei que é questão de tempo até me adequar.
— Já lanchou? — pergunto a ele.
— Ainda não, estava esperando você chegar.
— Beleza. Vou só tomar um banho e vejo o que temos na cozinha para fazer, ok?
Yuri assente e volta a atenção ao seriado a que está assistindo.
Levanto-me do sofá e olho para ele por um instante, vendo que está crescendo a cada dia.
Está caminhando para a adolescência, e perceber que ainda assim não deixa de ser um garoto tão
doce me enche de orgulho.
Fiquei bastante preocupado quando precisei deixá-lo sozinho em casa pela primeira vez,
mas ele como sempre me surpreendeu muito. Dei várias recomendações sobre segurança e deixei
claro que poderia me ligar a qualquer momento, mesmo se eu estivesse em aula. Por sorte, meu
filho é muito sensato e se comporta muito bem todas as vezes que preciso sair.
Sigo pelo corredor até o meu quarto e, quando chego, sinto meu celular vibrar.
— Oi, amor — atendo à ligação de Marina enquanto desabotoo a camisa.
— Ulisses, você não vai acreditar!
— No quê? — Meu coração se agita ao ouvir a empolgação em sua voz.
— Sabe aquela entrevista que eu fiz na semana passada para a vaga de estágio na
construtora do professor Geraldo?
— Sei! Teve alguma notícia?
— Eles acabaram de me ligar para dizer que eu fui selecionada!
Caio sentado na cama sorrindo por ela.
— Mari, isso é incrível!
— Eu sei! Eu estou tão feliz! Meu Deus, Otto! Meu Deus!
Mari dispara a falar e eu só sei sorrir de felicidade por ela.
— Ô meu amor… Parabéns! Você merece tanto tudo o que está conquistando, tanto! —
digo, sincero. — Tudo isso é fruto do seu esforço, da sua dedicação. Você dá o seu melhor todos
os dias, Mari, então o resultado não tem como ser diferente.
Mari suspira do outro lado e imagino que esteja emocionada.
— Obrigada, Otto. Por nunca me deixar desistir. Por sempre acreditar em mim. Desde o
início, quando você não era nada meu, sempre acreditou em mim.
E essas palavras aquecem o meu peito.
Se eu fechar os olhos, consigo me lembrar dos primeiros dias de aula, em que percebi
aquela garota curiosa da primeira fileira. Marina destoava dos outros alunos, sempre dedicada,
perceptiva e interessada em cada linha que eu falava.
Ali o meu coração já foi se apaixonando por ela, eu só não havia me dado conta disso
ainda.
Porque a sua garra, a sua força e vitalidade são apaixonantes.
— Eu sempre estarei aqui para te aplaudir, meu amor. Em cada conquista sua, cada
vitória, estarei ao seu lado. Quando fraquejar, eu vou te estender a mão e, quando vencer, eu
também estarei lá para comemorar.
— Você é tão incrível… — a voz doce adentra o meu coração. — Eu tenho tanta
sorte de ter te conhecido, amor. Que bom que você foi àquela balada aquele dia — diz e eu rio
baixo.
— Foi ótimo estar na fossa — completo e ela solta uma risadinha. — Eu não queria ir,
sabe? Mas Caio insistiu tanto comigo que acabei cedendo. Hoje eu só agradeço a ele por isso,
porque eu precisava estar lá.
— Vou me lembrar de agradecer a ele quando o vir de novo — avisa. — Aquela noite
mudou tudo, Otto. Obrigada por ter entrado na minha vida e, principalmente, por ter ficado.
Fecho os olhos por um instante e consigo sentir todo o seu amor.
— Eu que agradeço por ter me aceitado, Mari. Mesmo com a minha idade, e com toda a
minha bagagem, você me quis.
— Você é perfeito, Ulisses. Perfeito para mim.
Às vezes, quando estou com ela, eu me pego perguntando se isso é mesmo real. Se sou
digno de alguém tão especial quanto ela.
Mas, todos os dias, saber que dentre todos os homens ela me escolheu me faz o ser mais
sortudo do mundo.
— Perfeita é você, meu amor. Agora, precisamos comemorar, hein? Seu primeiro estágio
merece uma comemoração à altura!
— Simmmm! Esse final de semana estava pensando em ir para a casa da minha avó, o
que acha? Já aproveitamos para comemorar e você conhecer minha família.
— Eu acho perfeito!
— Ótimo. Então vamos combinando ao longo da semana.
— Perfeito, amor.
— Agora vou começar a me arrumar para a aula. Nos falamos depois?
— Se quiser me ligar quando chegar, estarei acordado.
— A propósito, te amo!
Eu sempre vou sorrir sozinho e sentir o coração aquecido quando ela me disser isso.
— Também te amo, meu amor. Boa aula!
Despeço-me dela e encerro a ligação com um sorriso bobo no rosto e um orgulho imenso
no peito.
Ah, Mari…
Esse é só o seu começo, meu amor.
Você ainda vai muito longe.
CAPÍTULO 41 - Marina

— Vó? — chamo, logo que atravessamos o portão de sua casa e lá do fundo escuto sua
voz.
— Ela deve estar no quintal — aviso a Otto, que assente ao meu lado e me segue. — Mas
vamos deixar as mochilas aqui na sala antes.
Conduzo-o para dentro de casa e deixamos tudo em um cantinho, antes de seguir para os
fundos.
Finalmente chegou o final de semana quando vou apresentar o meu namorado para minha
família, que nada mais é que minha avó e meu irmão. Uma pena que Yuri não tenha vindo
conosco, mas ele preferiu ficar este final de semana na casa de minha sogra. Além de passar um
tempo com alguns primos de Otto, ainda receberá a visita da mãe.
— Ah, vocês chegaram! — Vó Manoela se levanta do chão com algumas folhas de sua
horta nas mãos.
Ela bate a mão nos joelhos e nos abre aquele sorriso amistoso.
— Vó, esse é o…
— Só me espere lavar as mãos para poder abraçá-lo. Só um instante!
Assinto e a vejo ir até o tanque colocar as verduras e lavar bem as mãos antes de secá-las
e vir em nossa direção.
— Agora posso te apresentar o meu namorado? — indago e ela assente empolgada.
— Agora sim!
— Vó, esse é o Ulisses, ou Otto, como preferir.
Meu namorado estende a mão para ela, que rapidamente o recebe em um abraço
aconchegante.
— É um prazer conhecer a senhora — diz, ao se afastar.
— O prazer é meu por finalmente conhecer o homem que cuida da minha neta por mim
— sua voz é tão marejada que eu sinto um aperto no peito.
— Ah, vó…
— E ele é bonitão mesmo, hein? — ela sussurra, como se fosse só eu a ouvir, e Otto cai
na risada.
— São seus olhos, dona Manoela.
— Os seus, né? Que olhos lindos!
Vovó toca o rosto de Ulisses conferindo toda a sua beleza e eu não resisto a soltar uma
risada diante de seu deslumbramento.
Não posso julgá-la, ele é mesmo muito lindo.
— É agora que a senhora para de secar o meu namorado e me dá um abraço? — finjo
reprimenda e ela faz uma careta divertida antes de me puxar em um abraço gostoso. — Que
saudade, vó.
— Saudades também, minha flor. Você está tão bonita hoje, bem diferente da última vez
que esteve aqui…
Olho para ela e sinto uma fisgada no peito ao me lembrar daqueles dias tão difíceis da
minha vida, em que não tinha Otto comigo.
Mas agora está tudo bem, finalmente.
— É assim que eu fico quando ele está comigo. — Pisco para ela, que sorri ainda mais.
— Gosto disso! Vocês já tomaram café? Fiz bolo de cenoura novinho.
Encaro Otto e sei que meus olhos estão brilhando, porque ele solta uma risada.
— Nós comemos antes de sair, mas por que não? — ele responde por mim.
— Excelente resposta, Ulisses. Não se pode rejeitar meu cafezinho com bolo.
— E você vai adorar, amor. Tudo que a vó faz é perfeito.
— Ah, mas eu não tenho mesmo dúvidas disso.
Vó nos guia para dentro de casa e nos leva até a cozinha, onde sinto o cheirinho de bolo
logo que ela abre o forno para pegá-lo.
— Tem pão de queijo também. — Ela busca uma cestinha e coloca na mesa. — E essa
geleia de morango que eu fiz ontem.
Vó sai pegando tanta coisa da geladeira e colocando na mesa que eu fico assustada.
— Que é isso, dona Manoela? Vai chamar um time de futebol para comer com a gente?
Ela me mostra a língua antes de se sentar ao nosso lado.
— É a primeira vez que você traz seu namorado, Mari. Tenho que recebê-lo bem, para
que volte mais vezes.
— Olha, dona Manoela. — Otto para e beberica um gole de café logo depois de beliscar
um pedaço de bolo. — A senhora foi bastante convincente, já pode marcar a data, que
voltaremos com toda certeza.
E então ela me encara orgulhosa.
— Viu? Funciona!
Balanço a cabeça rindo e começamos a comer o nosso café tranquilos. Vó pergunta
algumas coisas para Otto, que ele responde sempre muito gentil, e logo engatamos uma conversa
gostosa.
— Gabe só chega mais tarde, né? — pergunto e ela confirma.
— Sim, ele tem simulado agora de manhã. Mas me disse que, assim que acabar a prova,
vem direto para cá.
— Beleza.
— Nós podemos fazer um churrasquinho no almoço, né? Faz muito tempo que não
fazemos por aqui…
— Opa, estou dentro! — Otto se manifesta e eu também concordo.
— Acho a ideia ótima, vó. A senhora precisa que compre alguma coisa?
— Sim, eu fiz uma listinha. Não tive tempo de comprar tudo, porque estava arrumando a
casa para receber vocês.
— Nem precisa se preocupar, dona Manoela. Logo que acabarmos aqui, nós podemos
sair para fazer as compras.
Vovó encara o meu namorado e suspira.
— Ele é sempre tão gentil assim?
— A senhora não viu nada. — Pisco para ela mais uma vez, e de canto de olho vejo Otto
nos olhar divertido.
— Ele me lembra o seu vô… Ele era desse jeitinho assim.
Vó fica nostálgica, começando a contar algumas façanhas da sua época de juventude e
como se apaixonou pelo meu avô. Ele era da Marinha e teve uma ótima aposentadoria, que
permitiu a eles viajarem para lugares incríveis, mas infelizmente não aproveitaram tanto quanto
gostariam. Há dez anos, vô Lauro partiu e vovó vive sozinha desde então. A pensão que ela
recebe pela morte dele é bem alta e é com ela que vó me ajuda nos estudos. Eu realmente não sei
o que seria de mim sem eles.
— Engraçado que a senhora é tão doce e o vô era tão gentil… Não sei quem foi que seu
filho puxou.
Faço uma careta ao me lembrar desse ser.
— Seu bisavô — diz, fazendo uma careta. — Meu sogro era um demônio, Deus me
perdoe. — Ela faz um sinal da cruz e uma careta engraçada. — Graças a Deus, você era muito
novinha quando ele morreu, então não tem recordações daquele traste.
— Graças a Deus mesmo. — Estremeço-me.
Otto nos olha avaliativo por um segundo.
— E ele não vem quando Marina está aqui? — pergunta com cuidado.
— Não. Eu já mando o recado logo para ele não aparecer por aqui — ela responde e Otto
assente de leve. — Não é porque sou mãe que não sei reconhecer os erros dos meus filhos,
Ulisses. Joaquim sempre foi um homem difícil e, quando minha neta nasceu, a coisa piorou de
vez. Não posso simplesmente excluí-lo da minha vida, porque é meu filho e, apesar de tudo, eu o
amo. Mas não vou ficar passando a mão em cabeça de marmanjo.
A braveza na voz dela me faz sorrir.
Eu amo essa mulher.
— Está certo. Agora consigo entender por que Marina admira tanto a senhora.
Vó balança a mão e bebe um gole de café.
— Eu só digo verdades.
— Ela é maravilhosa!
Inclino-me e dou um beijo em seu rosto, tirando-lhe um sorriso.
Ao terminarmos o café, recolhemos toda a mesa e pegamos com vovó a lista de tudo que
precisamos comprar.
Quando chegamos ao carro, Ulisses joga a chave para mim e dá uma piscadinha.
— Você conhece a cidade melhor do que eu. Já nos leve direto ao supermercado.
Assinto e me acomodo no banco do motorista. Já estou tão familiarizada com o carro dele
que não sinto nenhum receio em dirigi-lo.
— Sua avó é mesmo maravilhosa — ele comenta e eu me viro para sorrir.
— Ela sempre me acolheu, Ulisses. Sempre fez de tudo por mim. Não sei o que seria da
minha vida sem ela.
— Que bom que vocês têm uma à outra — constata. — Ela também é apaixonada por
você.
Sorrio para ele mais uma vez antes de arrancar o veículo.
— Ela é meu lar, Otto. Assim como você.
E sim, esses dois são os amores da minha vida.
Otto

— Hummm… Esqueci o sorvete! — Mari comenta logo que terminamos de passar o


último item no caixa e eu estou fazendo o pagamento.
— Estava na lista?
— Não, por isso mesmo! É meu sabor favorito e de Gabriel, também.
Entrego meu cartão para ela e gesticulo com a cabeça.
— Vai lá pegar então, que eu já vou colocando as compras no carro para adiantar.
— Beleza!
Junto todas as sacolas na mão e saio do supermercado, indo para o estacionamento.
Diante do carro, destravo-o e acomodo tudo no banco de trás, fechando a porta ao final.
Encosto-me na lataria e pego o meu celular, quando sinto passos se aproximarem de mim.
— Ottoni?
Ergo o rosto e estreito os olhos para o homem que vem até mim.
— Eu conheço você?
— Claro que sim! Joaquim, do curso de Engenharia Elétrica, lembra?
Puxo na memória até finalmente reconhecer.
Mas, porra, o homem está completamente diferente.
Agora está mais careca, com barba grisalha e um corpo bem diferente do que eu conheci
muitos anos atrás.
— Caramba, como você está diferente! — exclamo e ele ri.
— E você não mudou nada, que é isso? Me passa a receita! — brinca e eu gargalho.
Nós não éramos do mesmo curso, mas, como entramos no mesmo ano na faculdade,
fizemos algumas matérias juntos e acabamos fazendo uma amizade. Mas, depois da formatura,
cada um seguiu o seu caminho e nós nunca mais nos vimos.
Até agora.
— Estresse — brinco e ele assente, rindo.
— E você casou? Tem filhos? Ainda está com aquela garota que namorava na faculdade?
Esqueci o nome dela… É… Rebeca?
— Renata — corrijo-o.
— Isso! Essa mesmo! Lembro que matava todo mundo de inveja na época.
Faço uma careta.
— Precisavam ficar com inveja não, aquela mulher é maluca. Me divorciei dela faz
pouco mais de um ano e temos um filho de doze.
— Caramba…
— Pois é. E você, se casou também?
— Sim. Me casei e tenho um filho de dezoito anos. O garoto está tentando Medicina e é o
meu maior orgulho.
— Que bacana, fico feliz por você.
— E o que está fazendo na cidade? Você não é daqui, né?
— Não, eu vim visitar a família da minha namorada.
— Ah… Bacana. — Joaquim me encara ainda surpreso com esse encontro, assim como
eu. — Cara, são uns vinte anos já, né?
— É por aí mesmo…
Ouço uns passos em nossa direção e ergo os olhos para ver Marina surgir, com uma
sacola na mão, até simplesmente congelar.
— O… O que você está fazendo com ele?
Estreito os olhos e Joaquim se vira para encará-la; seu semblante de desprezo me golpeia.
Joaquim…
Esse nome…
Eu o ouvi hoje…
Porra! É o mesmo cara?
— O que você está fazendo com ela? — Joaquim repete a pergunta e toda a alegria por
tê-lo encontrado se dissolve.
— Não te devo explicação nenhuma — corto-o e ele franze o cenho para mim.
— Ela que é a sua namorada? A minha filha? — A incredulidade em sua voz me faz rir.
— Que filha? Você não acabou de me dizer que só tem um filho de dezoito anos?
O semblante de Joaquim se torna vermelho de raiva e eu o ignoro, puxando Marina para
perto de mim e abraçando a sua cintura.
— Deveria se envergonhar, Ottoni. Você tem a idade do pai dela — diz, mas não me
atinge.
— Não, ele não tem — é Marina quem responde e chama a minha atenção. — Teria se eu
tivesse um pai, coisa que definitivamente eu não tenho.
E então se vira para me olhar.
— Vamos, amor? A vó deve estar preocupada com nossa demora.
— Claro.
Ignoramos os protestos de Joaquim e entramos no carro. Quando ele vê Marina ao
volante em vez de mim, parece ficar ainda mais nervoso.
Que ser humano lixo.
— De onde você o conhece? — ela pergunta, depois que sumimos de seu campo de
visão.
— Fizemos algumas matérias juntos na faculdade. Mas, depois que formamos, eu nunca
mais o vi. Tanto que nem o reconheci, foi ele que me viu parado ao lado do carro e se
aproximou.
Mari balança a cabeça e logo fica em silêncio.
— Quer conversar? — ofereço e ela nega.
— Não tenho muito que dizer além do que você já sabe, amor. E você viu com os
próprios olhos como ele é desprezível. Eu vivi muitos anos buscando uma aprovação e nunca
tive, mas agora não me importo mais. Tenho você, tenho Yuri, minha avó e meu irmão. Não
preciso dos meus pais na minha vida.
Ao mesmo tempo que sinto orgulho dela, sinto um aperto no peito por as coisas serem
dessa forma.
Pais não deveriam ser assim com os filhos.
Mas, se há uma coisa que eu aprendi nessa minha vida, é que relacionamentos abusivos
estão por toda parte. De pais para filhos, entre irmãos, entre casais, entre amigos… E laço
sanguíneo não quer dizer nada, infelizmente. Não quando a pessoa que deveria te amar te faz
sofrer.
O basta nessas horas é libertador.
— Eu fico feliz por ter se libertado disso, minha linda. Você não precisa provar nada para
ninguém, apenas para si mesma.
— Eu sei — diz e se vira para me olhar, sorrindo. — Obrigada por isso.
Quando sua atenção volta ao trânsito, eu não deixo de olhá-la e ver toda a sua força. Essa
mulher incrível que dirige ao meu lado tem uma força tremenda e eu estarei aqui todos os dias
para lhe mostrar isso.
Porque ela pode tudo.
Ela é incrível.
Marina

— Gabe, esse é o Otto — apresento meu namorado para meu irmão caçula, logo que este
chega em casa.
Há pouco, chegamos do mercado, guardamos tudo e Otto veio para o quintal acender a
churrasqueira. Durante o tempo todo, ele tem me observado, certificando-se de que estou bem,
mas, curiosamente, estou.
Pela primeira vez, não me doeu ouvir que eu não sou a filha de Joaquim.
Pelo contrário, me deu alívio.
Aprendi a viver sem eles, e, a cada dia que passa, vejo o quanto fazem menos falta em
minha vida.
— Ah, muito prazer. — Meu irmão estica a mão para Otto, que a aperta sorrindo.
— O prazer é meu. Sua irmã fala muito bem de você.
— Jura?
Os olhos de Gabriel brilham ao se virar para mim.
— Você e a vovó são tudo o que tenho — respondo, sincera. — Eu amo vocês.
E, neste momento, Gabe me abraça.
Mas um abraço tão apertado, tão gostoso, tão cheio de amor.
— Eu também te amo, Mari — murmura, sem me soltar. — Desculpa se não fui o irmão
ideal para você.
Afasto-me dele e estreito os olhos.
— Você sempre foi incrível, Gabe. As circunstâncias em que fomos criados que
formaram essa divisão entre nós dois — pontuo e ele assente de leve. — Mas agora não existe
isso mais. Podemos recomeçar, o que acha?
O sorriso que ele me abre é tão lindo, que aquece o meu peito.
— Eu acho perfeito. Não quero ser só um irmão caçula, Mari. Quero ser o seu melhor
amigo, alguém com quem você possa contar.
Meus olhos marejam e eu sinto um nó na garganta.
— Mas você é… Além da Carina, só tenho você.
Ele sorri orgulhoso e beija o meu rosto.
— Quando ele pisar na bola com você, pode me ligar que eu vou te defender, tá? — Ele
aponta para Otto, que ri.
— Eu senti essa ameaça, hein?
— Olhe, senhor Ottoni… Eu não ligo que você tenha mais do que o dobro da minha
idade e seja mais alto do que eu. — Meu irmão dando uma de valentão me faz gargalhar. — Mas
estou malhando, tá? — Ele ergue a camisa para mostrar os braços firmes.
— Pode ficar tranquilo, Gabriel, eu não vou pisar na bola com ela. Eu também amo a sua
irmã.
O garoto suspira relaxado e eu rio mais.
— A propósito, fico feliz que ela tenha você.
O olhar cúmplice que ele me lança aquece o meu peito. Otto sabe o quanto nossa relação
era conturbada e sei que está mesmo feliz por nós dois.
— Ótimo. Eu já dei o meu recado.
— E agradeço por isso. Quer me ajudar aqui?
Meu namorado aponta para a churrasqueira e o garoto acena, empolgado.
— Só me espera buscar uma cerveja para a gente.
— Aí eu vi vantagem em ter um cunhado — Otto brinca e eu rio.
Gabriel some de vista e eu aproveito a brecha para enlaçar a sua cintura.
— Obrigada por ser tão incrível com eles — murmuro e ele sorri, dando-me um selinho
gostoso.
— Como ser diferente? Eles te amam e cuidam de você.
Balanço a cabeça e me aconchego em seu peito, sendo embalada pelo seu amor.
E aqui, na casa onde passei os melhores dias da minha infância, cercada das três pessoas
que mais amo no mundo, eu sinto mais uma vez aquela paz.
Não me importam as pessoas que não tenho na vida, porque essas não me agregam mais.
O que importa são esses que se fazem presentes, que me estendem a mão e que vão me
acolher em todos os meus momentos.
Seja para secar as minhas lágrimas quando eu estiver triste.
Ou para sorrir comigo em meus momentos de alegria.
Eles sempre estarão lá.
E, no fim, é isso que importa.
CAPÍTULO 42 - Otto

Seis meses depois

Atravesso os corredores do fórum, sentindo um frio na barriga. O clima está muito


pesado por aqui, desde que saímos de casa. Por mais que eu tenha feito tudo certo nos últimos
meses, seguido todas as orientações da minha advogada, ainda não me sinto cem por cento
seguro. Não quando o meu futuro e do meu filho depende disso.
Segurando firme a minha mão, está Marina, enquanto Yuri, Caio, e Stela, minha
advogada, caminham ao meu lado até a sala de audiências.
Só espero que tudo finalmente se acerte e eu possa dormir em paz.
Quando nos aproximamos de nosso destino, vejo Renata sentada em uma cadeira ao lado
de seu advogado. O som dos nossos passos batendo ao chão desperta a sua atenção, e ela ergue
os olhos para nos encarar.
E a imagem que eu vejo é bem diferente da que eu estou acostumado.
Renata está destruída.
É nítido em seu semblante.
Chegou aos meus ouvidos que ela pegou Fabrício em flagrante com outra mulher na
cama deles e que isso rendeu uma briga tão feia que acordou todos da vizinhança. O homem saiu
de casa, mas, depois disso, ela se arrependeu. Renata tentou a todo custo fazê-lo voltar, porém
parece que ele se cansou dela.
E agora vendo o quanto está diferente e abatida, imagino que não deve ter se recuperado
ainda.
— Yuri…
Ela se levanta e abre os braços para ele, meu filho vai em sua direção para ganhar um
abraço. Nessas horas, eu sinto uma fisgada no peito, porque, apesar de tudo, de toda a sua
maldade, ele é apenas uma criança e a ama. Uma pena que Renata não saiba valorizar isso.
Ao se afastar, noto que suas mãos estão trêmulas e os olhos marejados, quando sua voz
me surpreende.
— Ulisses, podemos conversar? — sua voz é aflita e eu franzo o cenho para ela.
Ainda não soltei a mão de Marina, por isso sinto-a me apertar de leve, demonstrando todo
o seu apoio.
— Em particular, por favor?
— Olha, Renata…
— É rapidinho, por favor — sua voz é suplicante e eu solto um suspiro, decidindo ceder.
Eu só quero paz, então vamos acabar logo com isso.
— Não demoro, tá? — Viro-me para Marina, que assente de leve.
Beijo a sua testa e olho para Caio sinalizando para que fique atento a Yuri por mim.
Afasto-me deles e sigo até o final do corredor com Renata ao meu lado, até finalmente
parar. Estamos a uma distância segura deles, onde não podem nos ouvir mas também não os
perco de vista.
— Pode falar — digo, cruzando os braços para encará-la.
A mulher começa a tremer os lábios até que as lágrimas caiam. E aqui, vendo-a mais de
perto, noto o quanto está envelhecida. Os cabelos loiros estão com a raiz escura, o rosto limpo de
maquiagem revela olheiras profundas. Ela parece mesmo estar sofrendo, mas não me comovo
com isso.
— Eu sei que não tenho o direito de te pedir muita coisa…
— Não tem mesmo, não — corto-a e Renata engole em seco.
— Mas, por favor, Ulisses, me deixa ficar com o Yuri. Fabrício não mora mais comigo,
então ele não corre perigo… — sua voz é suplicante e eu apenas estreito os olhos para ela.
— E quem garante que ele não vai voltar? Você mesma implorou que ele voltasse.
— Não! — responde rápido, em prantos. — Pelo nosso filho, eu não o aceito mais. Eu só
queria Yuri de volta e…
— Olha, Renata…
— Eu perdi tudo, Ulisses — ela me interrompe, aos soluços. — Não tenho mais ninguém.
Perdi você, perdi Yuri, perdi Fabrício, perdi tudo… Estou sozinha e está doendo…
A voz chorosa quase me compadece, quase mesmo. Se eu não a conhecesse tão bem…
— Olha, sinto muito que esteja passando por isso, mas infelizmente não é problema meu.
Além do mais, não é apenas a minha vontade, e sim a dele. Yuri acabou de completar treze anos
e sei que o juiz vai levar em consideração o que ele quer.
Os olhos dela se arregalam e o desespero neles é palpável.
— Por favor, Ulisses. Eu estou te implorando… Não quero ficar sozinha.
Esfrego a mão no rosto e solto um suspiro.
— Deveria ter pensado nisso antes de fazer tanta cagada na vida, né? — solto e mais uma
lágrima lhe escorre. — Sinto muito, Renata, mas Yuri só sai da minha casa se o juiz decretar
isso.
Uma última encarada nela e viro-me para sair, ignorando seu chamado.
— Ulisses, por favor…
Continuo andando tranquilamente até alcançar a minha turma.
— Está tudo bem? — Marina pergunta em um sussurro e eu confirmo.
— Uma última tentativa de me convencer a voltar atrás — respondo e ela assente,
engolindo em seco. — Logo isso tudo acaba e eu só quero ir para casa com vocês.
Olho ao nosso redor. Quando Renata volta e se senta na cadeira, chorando, eu encaro meu
filho, que está cabisbaixo.
E, isso sim, apunhala meu peito.
Ele é só uma criança de treze anos, não tinha que passar por isso.
Não tinha que ficar pulando de galho em galho na casa de pais separados, muito menos
enfrentar audiências.
Quando adultos entram em uma briga judicial por pura disputa de ego, esquecem que
quem mais sofre são os filhos, que não têm culpa alguma dos erros dos pais.
Eu cedi por muito tempo, querendo poupar meu filho disso, mas agora não mais. Renata
desperdiçou sua chance de ter a guarda de Yuri e eu não vou desistir até que ela finalmente seja
minha. Principalmente agora que ele diz com todas as letras que prefere ficar comigo.
Yuri passou pelas duas experiências de morar com cada um dos pais e tem propriedade
para responder a essa pergunta. Além do mais, passou por assistente social e psicóloga nesse
processo e todos os seus relatos serão pontuados hoje.
Espero muito que tudo se resolva hoje para podermos viver em paz.
— Vamos? — Stela me chama, avisando que vai começar a audiência.
Assinto e viro-me para Marina, que aperta a minha mão.
— Vai dar tudo certo, amor. Estou aqui torcendo por vocês.
Toco seu rosto e lhe dou um selinho.
— Obrigado, Mari.
— Eu amo vocês, lembra disso.
Sua declaração me tira um sorriso. O primeiro desde que pisei neste lugar.
— Nós também amamos você — sussurro. — Já volto.
Beijo sua testa e ela acena, sentando-se na cadeira do corredor enquanto somos
conduzidos para dentro da sala de audiências.
Se lá fora o clima estava pesado, aqui dentro chega a ser fúnebre.
Quando todos estamos acomodados, o juiz dá início à audiência.
— Boa tarde. Meu nome é Victor Mancini e sou o juiz da vara de família. Declaro aberta
a audiência de guarda unilateral do menor Yuri Ottoni Vasconcelos movida pelo autor Ulisses
Ottoni, em desfavor da genitora Renata de Vasconcelos. Há proposta de acordo, senhores?
— Boa tarde, Excelência — é Stela quem se pronuncia primeiro. — Da nossa parte não
há acordo.
Mas, quando o advogado de Renata intervém, eu sinto um frio na barriga.
— Excelência, boa tarde. Nós gostaríamos de propor um acordo de guarda
compartilhada…
Então começam os argumentos fajutos, e eu preciso de um autocontrole sem tamanho
para não esboçar nenhuma reação.
Não é a nossa primeira audiência, mas espero muito que seja a última. E a forma como
Renata treme na cadeira, demonstrando toda sua instabilidade emocional, é tudo de que Stela
precisa para argumentar a meu favor.
Ela não tem condições de cuidar de Yuri, não mais. Renata se perdeu nesse caminho.
Espero muito que o juiz reconheça isso e, principalmente, leve em consideração a vontade de
meu filho.
Quando Yuri é questionado por ele, fala com segurança que quer ficar comigo, porque
está sendo muito bem cuidado por mim e tem medo de morar com a mãe, o meu coração se
parte.
Não era para ser assim.
Não precisávamos chegar a esse ponto. Mas, se chegamos, é por pura culpa de Renata.
Levantando todos os documentos, provas e relatórios das profissionais que
acompanharam Yuri nesse processo, e após algumas horas de audiência, finalmente o juiz dá o
seu veredicto.
— Levando em consideração tudo o que me foi apresentado hoje, assim como a vontade
do menor, a Justiça determina: Fica concedida a guarda unilateral de Yuri Ottoni Vasconcelos ao
pai, Ulisses Ottoni, podendo ser visitado pela mãe aos finais de semana, de quinze em quinze
dias.
Abaixo a cabeça e sinto o meu corpo inteiro tremer de puro alívio, eu simplesmente perco
tudo o que acontece neste final até o momento em que somos liberados.
Ainda é uma sensação de incredulidade, de alívio, de…
Porra, eu consegui.
Caralho.
Quero gritar, xingar, rir, chorar…
Mas não é nada disso que eu faço.
Quando passo pela porta e encontro o olhar de Marina, eu apenas confirmo para ela, que
corre em direção aos meus braços.
— Nós conseguimos, amor — sussurro e sinto seu corpo tremer contra o meu.
Ela bem sabe o quanto isso significava para mim. O quanto lutei pela minha família.
Cacete…
Yuri ainda está calado quando sai da sala e, antes de irmos embora, Renata o puxa em um
abraço choroso.
— Me perdoa, filho — a sua voz é baixa, mas eu ainda consigo ouvi-la.
Yuri apenas balança a cabeça para ela, antes de se afastar.
— Vem, Yuri — chamo-o e ele assente, envolvendo a minha cintura, para sair abraçado
comigo.
E, olhando por cima do ombro, percebo o quanto essa imagem destrói Renata.
Nosso filho sair do fórum abraçado a mim, por livre escolha dele. Por pura opção dele.
Yuri escolheu a mim, e não a ela.
E isso eu sei que foi a maior punhalada que Renata já teve nesta vida.
Não precisei me vingar, afinal, por tudo o que ela me fez. A própria vida se encarregou
disso.
Tirou tudo dela, tirou tudo o que ela mais amava.
Ela, que sempre quis tirar a minha paz, tirar o meu sossego…
Terminou completamente sozinha.

Já em casa, sinto o clima muito mais leve.


Marina percebeu o quanto Yuri ficou calado quando saímos da audiência e tratou de usar
o seu talento natural para distraí-lo. Colocou Green Day no carro para ouvir e cantar junto com
ele, puxou assuntos aleatórios e ofereceu para assistir a um filme de terror.
E é olhar para esses dois se dando tão bem, ver meu filho sorrir depois de um dia tão
pesado, que me faz ver o quanto fiz a escolha certa ao trazer essa mulher para a minha vida.
Eu a escolhi uma vez e a escolherei de novo todos os dias.
Todos os dias da nossa vida.
— A qual filme você quer assistir, Yuri? — ela pergunta, jogando-se no sofá.
— Hummm… Pode ser o mais novo do Halloween? — sugere.
— Precisa ver os anteriores para entender?
— Acho que não. Se precisar, eu explico alguma coisa para vocês.
— Combinado! Vai colocando aí, que eu vou fazer o brigadeiro. E você, Ulisses — ela
aponta para mim, levantando-se —, fica com a pipoca.
— Fechado!
Deixamos o garoto na sala e seguimos até a cozinha. Quando finalmente estamos
sozinhos, Mari vem até mim e me dá um abraço gostoso.
— Como você está, amor? — pergunta, tocando o meu rosto com carinho.
— Eu estou bem… Cansado, mas aliviado e feliz. Muito feliz.
Ela me abre um sorriso e se inclina para me dar um selinho.
— Estou muito feliz por vocês. De coração, vocês mereciam muito isso.
— Obrigado, minha linda. — Beijo-a mais um pouquinho. — Ter você conosco nesse
processo fez toda a diferença. Obrigado mesmo por estar aqui.
— Não te largo mais, senhor Ulisses Ottoni — diz, sorrindo, ao se afastar. — Vai ter que
me aturar até ficar velhinho.
Solto uma risada baixa.
— Eu vou adorar isso!
— Agora vamos trabalhar, porque hoje a noite é toda de Yuri — Mari anuncia antes de
abrir os armários e pegar tudo de que precisa.
Trabalhando junto a ela ao fogão, eu estouro a pipoca enquanto Marina faz o brigadeiro,
e a naturalidade em que dividimos essa tarefa, aquece o meu peito.
Eu me vejo vivendo ao seu lado até ficar velhinho, como ela disse.
Eu me vejo vivendo ao seu lado para sempre.
Com tudo pronto, despejo a pipoca no balde e guardamos o brigadeiro na geladeira,
pegando os refrigerantes.
— Tudo certo aí, filho? — pergunto e ele assente.
— Só dar o play.
— Você vai mesmo ver filme de roupa social? — Marina aponta para a minha roupa e eu
faço uma careta.
— Já volto.
Vou até o meu quarto e me troco, vestindo uma camiseta e bermuda leves. E, ao voltar, a
garota me aplaude orgulhosa.
Ela e essa espontaneidade me contagiam.
Eu me sinto mais vivo ao lado dela, mais novo, mais livre.
— Pode começar? — Yuri pergunta e eu sinalizo para ele, indo apagar a luz da sala.
— Agora, sim.
O garoto sorri antes de dar o play e mergulhar a mão no balde de pipoca.
Eu me acomodo entre ele e Marina, cercado dos dois amores da minha vida.
Abro os braços no estofado e sinto-os acomodar em meu peito, cada um de um lado, e os
envolvo com todo o meu amor.
Faço um cafuné nos dois enquanto assistimos ao filme e sinto aquela sensação de paz e
de plenitude me atingir.
Minha família finalmente está completa.
O Ulisses de mais de um ano atrás jamais imaginaria o cara que eu me tornei hoje.
Amando, amado, sendo feliz.
Cercado de pessoas que realmente importam.
E, no fim de tudo, é isso o que vale.
Eu demorei um pouco para encontrar a minha verdadeira felicidade, mas valeu cada
segundo de espera.
Foram mais de quarenta anos esperando pelo meu momento e ele finalmente chegou.
Hoje me sinto completo…
Ao lado desses dois que têm todo o meu amor.
EPÍLOGO 1 - Marina

Dois anos depois

Abro a porta do apartamento e encontro o absoluto silêncio.


Que estranho…
Será que eles estão dormindo?
— Ulisses? Yuri?
Procuro pela casa e não os encontro em lugar algum.
Acho que saíram e não voltaram ainda, imagino que seja isso. Hoje é um dos dias em que
Otto não tem aula no período da noite, então eu sempre chego em casa mais tarde que os dois.
Já faz um ano que me mudei para cá, dividindo um lar com eles. Eu sempre ficava mais
aqui do que no apartamento que dividia com a Carina até Otto finalmente me fazer o convite.
E posso dizer que aceitar foi a melhor decisão que já tomei.
Nunca me imaginei dividindo uma vida com alguém, ainda mais tendo um enteado
adolescente.
Às vezes penso que é uma loucura, mas é a loucura mais gostosa da minha vida.
Nossa rotina é bem agitada durante a semana, mas nem por isso deixa de ser incrível.
Ulisses tem aulas em todos os turnos, oscilando entre os dias. Eu consegui um emprego
efetivo na construtora em que estagiei e agora trabalho em horário integral, indo direto para a
universidade nos dias em que tenho aula. Não é fácil conciliar trabalho e estudo, mas tenho todo
o apoio dos meus amores. Aos finais de semana, quando preciso estudar, eles me dão espaço e
até saem de casa se for preciso. Ter o suporte deles nessa fase tem sido tudo. Yuri, por sua vez, já
está no primeiro ano do ensino médio. Como estuda de manhã, à tarde e à noite ele fica em casa,
indo apenas dois finais de semana por mês ficar com a mãe.
E por falar nela…
Renata hoje vive com a mãe, porque não consegue mais se manter sozinha. Foi demitida
do emprego e está tentando auxílio do governo, porque não tem condições emocionais de
trabalhar. É triste a situação em que se encontra hoje e até digna de pena.
No fim, a vida nos cobra por nossos atos.
É a famosa lei do retorno.
Adentro o quarto que divido com Otto e coloco minha bolsa na mesinha ao lado. E é
quando eu encontro um bilhete, que faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
“Consegue se arrumar em trinta minutos?
Um motorista vai te buscar.
Estamos esperando por você.
Com amor,
Ulisses”
Ai, meu Deus…
A última vez que meu namorado me mandou um motorista, ele me deu uma das noites
mais inesquecíveis da minha vida.
O que será que Sr. Ulisses Ottoni está aprontando hoje?
Vou deixar para me preocupar com isso quando estiver a caminho, porque eu tenho
menos de trinta minutos agora para me aprontar.
Sigo direto para o banheiro, onde tomo um banho rápido e espalho hidratante pelo corpo.
Enrolada na toalha, vou até o guarda-roupa. Procuro por um vestido que eu amo e acho elegante
para a ocasião.
Visto-me e faço uma maquiagem rápida, sorrindo ao ver o resultado ao final.
Olho para o relógio e vejo que faltam dois minutos para o tempo marcado, então busco a
minha bolsa e saio do apartamento, descendo pelo elevador.
Quando saio do prédio, eu solto uma risada ao ver mais uma vez Caio ao lado de um
carro preto.
— Não sabia que você fazia mesmo serviços de motorista em suas folgas, Caio — brinco
e ele ri.
— Para você ver o que eu não faço pelos amigos…
Ele abre a porta traseira para mim, mas, antes que eu entre, dou-lhe um abraço. Este cara
é muito importante na vida de Otto e Yuri, e agora na minha também. Seu apoio foi crucial no
período delicado que vivemos, então lhe devemos muito.
— Bom que, se um dia se cansar da polícia, já tem uma profissão.
Ele solta mais uma risada e eu me acomodo no carro, vendo-o pegar o volante e seguir
pelas ruas da cidade.
— Eles te contaram o que estão aprontando comigo? — indago e ele sorri, encarando-me
pelo espelho retrovisor.
— Contaram, mas eu não posso falar.
Faço um biquinho e ele gargalha.
— Não se preocupe, Mari. Você vai amar.
— Vindo de Ulisses, eu não duvido mesmo disso.
Para acalmar a ansiedade, puxo conversa aleatória com Caio, que deixa o trajeto muito
mais leve e gostoso.
Quando chegamos a um parque da cidade, eu acho um tanto curioso quando ele desliga o
carro.
— É aqui?
— Sim, só seguir pelo portão ali, que está aberto — ele indica e eu assinto.
— Obrigada, Caio.
Aceno para ele e saio do veículo. Então sigo pelo caminho indicado e encontro uma trilha
de pétalas de rosas pelo trajeto de pedras.
Meu coração se acelera dentro do peito e eu agradeço por não ter escolhido saltos altos.
Além da pista irregular, estou tremendo muito, o que só me atrapalharia.
Sigo pelo caminho até finalmente avistar aqueles dois que são donos de todo o meu
coração.
Ulisses é o primeiro a me ver e sorrir para mim.
Aquele sorriso tão lindo, tão aberto, que fecha levemente os olhos.
Aquele que inunda o meu coração.
Logo é Yuri que nota a minha presença e também sorri. Ainda que esteja na fase rebelde
da adolescência, ele não perde a sua doçura e continua sendo um garoto incrível.
— Vocês estão muito bonitos — elogio ao me aproximar deles.
Todos os dois estão de roupa social preta e, sem saber, eu acabei me vestindo da mesma
cor.
— É você quem está incrível — Otto diz, aproximando-se para me abraçar pela cintura e
depositar um beijo casto em meus lábios.
— E o que vocês estão aprontando, hein? — pergunto ao me afastar e os dois me
encaram cúmplices.
— Você já vai saber. Yuri?
O garoto faz que sim e some de vista, nos deixando a sós.
Ainda que estejamos no escuro, o céu estrelado ilumina todo o ambiente e algumas
tochas de fogo ornamentam o lugar.
É tão lindo…
Tão aconchegante.
Tão romântico…
— Quer saber por que eu te trouxe aqui, amor? — ele pergunta, tocando o meu rosto e eu
assinto. — Para dizer que eu te amo.
Suas palavras são tão doces que meu coração erra uma batida.
— Eu te amo tanto, Marina, mas tanto, que não sei viver uma vida sem você.
Seus dedos tocam meus lábios agora e eu estremeço pelo seu contato.
É tanto amor…
— Eu também te amo, Ulisses — digo sincera, e ele sorri.
— Lembra quando você disse que conseguia se imaginar fazendo planos comigo? —
indaga e eu sinto meu peito se acelerar.
— Lembro…
— Você ainda consegue se imaginar fazendo isso?
— Claro que sim, amor. Você é a minha vida — respondo de pronto e, pelo seu sorriso
lindo, vejo que gostou da minha resposta.
Meu namorado toma o meu rosto em suas mãos e me beija.
Daquele jeito cheio de sentimentos, cheio de amor.
De puro amor.
— Nós já enfrentamos muita coisa juntos, Marina — diz, ao se afastar. — E provamos
por várias vezes que sempre estaremos ali um pelo outro.
— Eu sempre estarei com você, Ulisses — afirmo. — Sempre.
O loiro sorri, antes de me beijar mais uma vez.
— O último ano vivendo ao seu lado só me fez ter ainda mais certeza de que eu te quero
comigo pelo resto da minha vida. Quero viajar com você, fazer planos para o futuro, ter filhos…
Quando Ulisses coloca a mão no bolso, eu sinto o meu coração errar uma batida.
Será…
Mas, ao vê-lo retirar uma caixinha de veludo, eu tenho aquela certeza e uma lágrima me
escorre.
— Otto…
— Quero viver uma vida com você, Marina. — Eu posso? — pede e eu apenas assinto,
incapaz de dizer mais nada, tomada pela emoção. — Casa comigo?
Otto ergue a caixinha em minha direção e eu aquiesço, entre lágrimas, vendo que uma
solitária lhe escorre.
Então ele sorri, retirando delicadamente o anel para deslizá-lo pelo meu dedo, beijando a
joia ao final.
— Eu amo você, Marina. Obrigado por ter me escolhido.
Puxo-o para um beijo nos lábios, onde deposito todo o meu amor.
— Eu também te amo, Ulisses. Obrigada por ser você.
Eu agarro o pescoço do meu noivo com tanta força, que o sinto soltar uma risada baixa.
Estou tão emocionada, tão apaixonada, tão…
Sem soltá-lo, estico a mão para ver melhor o anel em meu dedo e a pedra de diamante
brilha sob a luz da lua.
— É tão lindo… — elogio, dando um passo para trás.
— Não mais do que você — constata e eu abro um largo sorriso.
— Ah, Otto…
Ele me toma em mais um beijo e escutamos um raspar de garganta, que nos tira uma
risada.
— Eu também posso falar? — Yuri surge e nós sorrimos para ele.
— Claro, filho.
O garoto caminha até nós dois com um sorriso orgulhoso no rosto.
— Mari, você nunca será a minha madrasta, sabe disso, porque você é minha amiga —
afirma e eu balanço a cabeça sorrindo, encostada no ombro de Ulisses. — E eu fico muito feliz
que meu pai tenha encontrado alguém legal como você. Ele merecia ser feliz também, porque
vivia muito sozinho. — Olha para o pai agora. — E o que eu acho mais incrível no
relacionamento de vocês é que a diferença de idade é grande, mas não tem a menor importância.
Vocês foram feitos um para o outro e eu estou muito feliz que vão se casar.
Solto um soluço no peito de Otto e Yuri sorri, colocando a mão no bolso também.
Esse gesto, me faz afastar um pouco do meu noivo e olhá-los curiosa.
— Você achou que era só o meu pai que te daria uma joia hoje?
Quando o garoto abre a caixinha e me revela uma correntinha de ouro delicada com um
pingente do mesmo diamante do meu anel, eu deixo escapar mais um soluço.
— Yuri…
— Esse é o meu pedido para você, Marina — diz e consigo notar seus olhos brilharem.
Eu já mal consigo enxergar nada, tomada pelas lágrimas.
— Que você cuide do meu pai quando eu não estiver por perto — as suas palavras
emocionam Otto também, que funga baixinho ao meu lado. — Nem sempre eu vou morar com
vocês. Um dia eu vou viver a minha própria vida e, quando essa hora chegar, vou sair de casa
tranquilo sabendo que meu pai tem você.
— Filho…
— Eu estou mesmo feliz, pai, por você ter encontrado alguém como a Mari — declara,
olhando fixamente para Otto. — E que vocês possam ser felizes juntos. Para sempre.
Quando Yuri tira a correntinha da caixa e se oferece para colocar em mim, eu apenas ergo
os meus cabelos e o deixo prender a joia, observando onde ela toca.
Bem acima do meu peito.
Onde eles sempre vão morar.
— Eu amo vocês — é tudo o que eu consigo dizer, antes de ser tomada em um abraço
gostoso.
Intenso.
Cheio de sentimentos.
— Eu prometo, Yuri — murmuro, ao me afastar. — Eu sempre vou cuidar de seu pai.
Enquanto eu viver.
O garoto sorri, jogando os cabelos de lado.
— Obrigado.
Olho para Otto, que não consegue mais disfarçar a emoção, nem segura mais as lágrimas.
Ele apenas balança a cabeça e nos une em mais um abraço, daqueles que inundam.
E é aqui, rodeada de tanto amor, que eu tenho noção do tamanho da minha sorte.
Eu fui mesmo contemplada ao ser amada por esses dois.
Dois amores da minha vida.
EPÍLOGO 2 - Otto

Seis anos depois

— Papai, quem é aquele? — Lavínia aponta para um mamífero ao longe e eu estreito os


olhos para tentar identificar.
— É um javali, Lá — é Yuri quem responde e a garotinha sorri satisfeita em meu colo.
— E aquele ali?
— Ah, esse é fácil… É um rinoceronte.
— “Rinoceonte”? — pergunta de um jeito tão fofo que me tira um sorriso.
— Ri-no-ce-ron-te, amor — é Marina quem responde, do banco da frente.
— Ah…
Lavínia treina por mais umas três vezes a palavra até finalmente conseguir.
— Muito bem, princesa. Parabéns!
Beijo seu rostinho e ela sorri orgulhosa voltando a atenção ao ambiente ao nosso redor.
Como a realização de um sonho de minha esposa e meu filho, finalmente marcamos uma
viagem para um safári na África. Daqui vamos para a região onde se localizava a Grécia Antiga e
também para o Egito, a fim de completar os lugares que sonhamos. Aproveitamos o período de
férias na universidade para conciliar com as de Marina e programarmos este momento em
família.
Há quatro anos, nossa vida se tornou mais alegre, quando Lavínia chegou ao mundo,
nossa filha caçula. A pequena é paparicada por todos, mas não mais do que eu. Sou um pai babão
assumido.
Na verdade, tenho muito orgulho dos meus filhos.
Yuri está no quarto ano de Engenharia Aeroespacial, como sempre sonhou. Com vinte e
um, ele mora sozinho em outra cidade para estudar, e a responsabilidade que tem, mesmo sendo
tão novo, me enche de orgulho. Todas as férias ele vem para casa ficar com a gente, além dos
feriados prolongados.
Outra coisa que mudou nesses anos foi o nosso lar. Vendemos o antigo apartamento e nos
mudamos para uma casa maior, com quintal. Minha pequena aproveitando e brincando por todo
o espaço só me fez ver que tomamos a decisão certa.
Até adotamos um cachorro vira-lata, que é o nosso fiel companheiro.
Eu continuo lecionando na mesma universidade, reduzindo um pouco o número de aulas
para ficar mais tempo com a minha família. Já Marina, conseguiu o emprego de engenheira
sênior em uma construtora de renome, que atende em todo país. Ela ficou responsável pelas
obras da nossa região e agora está supervisionando a construção de um shopping center. A cada
dia se destaca mais em sua carreira e eu fico extremamente feliz por ela.
Minha garota ainda vai muito longe…
Sua amiga Carina se formou em Odontologia e decidiu mudar de cidade, atuando em um
lugar um pouco mais afastado de nós. Mas, ainda que não more perto da gente, não perdemos o
contato, pelo contrário. Ela inclusive é madrinha de nossa filha.
Um que veio para mais perto de nós foi Gabriel. O garoto se formou em Medicina com
honras e atualmente está fazendo residência em Neurologia no hospital da nossa cidade. E ter
meu cunhado mais perto de nós fez um bem imenso à minha esposa. Uma pena que dona
Manoela não tenha vindo com o neto, mas sempre que podemos nos encontramos. Seja em sua
casa ou na nossa, a presença da avó de Marina é constante em nossa vida.
Outro que continua sendo presente é Caio, que permanecia solteirão convicto até o ano
passado. Ele conheceu uma personal trainer divorciada e as aulas particulares deles se tornaram
algo mais. Fiquei muito feliz com a notícia, pois meu amigo merece isso.
— Olha lá, filha. A girafa! — Aponto para uma manada ao longe e coloco Lavínia de pé
em meu colo para ver melhor pela janela.
Os olhos da garota brilham ao ver cada um dos animais.
Começamos o passeio hoje; logo que adentramos o carro e pegamos a estrada,
conhecemos vários animais.
É realmente muito bonito e emocionante vê-los em seu habitat natural.
Sem jaulas, sem gaiolas…
Simplesmente livres.
— Papai, será que tem macaquinho?
— Com toda certeza, Lalá. Só precisamos esperar que eles apareçam.
E, como se ouvissem o pedido de minha filha, do outro lado do carro os primatas surgem.
— Aqui, filha! Vem ver!
Passo Lavínia para o banco da frente para que Marina possa mostrar a ela os macacos e a
pequena bate palmas, rindo de euforia.
— Eles não deixam fazer carinho como o Bidu, mamãe? — a pequena pergunta se
referindo ao nosso cãozinho.
— É perigoso, meu amor. Eles não estão acostumados com pessoas, entende? Só com
animais. Se ele morasse dentro de uma casa como o Bidu, seria diferente.
— Então podemos levar um pra morar com a gente?
A sua inocência nos tira uma risada.
— Como vamos levar um macaco de avião, Lavínia? — Marina indaga e a menina fica
pensativa.
— Hummmm…
— Além do mais, eles não podem sair daqui, porque é o lugar deles. Lembra que a selva
é cheia de animais bonitinhos? — A garotinha balança a cabeça concordando. — Então não
podemos tirá-los daqui, é a casinha deles.
— Tá bom… Mas aqui eles têm muitos amiguinhos pra brincar, não é?
— Demais! Olha lá, o bando que vem vindo atrás!
E então a diversão continua.
Vemos vários animais, de diversas espécies. Quando não reconhecemos algum,
perguntamos ao guia no volante e até pesquisamos no Google.
Quando o passeio acaba, estamos exaustos e vamos direto para o hotel.
— Eu vou para o banho primeiro — Yuri se adianta, indo direto para o banheiro.
Sento-me na cama, com Lavínia em meu colo, e noto seu semblante de cansaço.
— Cansou, filha? — pergunto e ela balança a cabeça em meu peito.
— Eu amei o passeio, papai. Mas são muitos animaizinhos, né?
Seu comentário me faz rir baixo.
— São, filha. São muitos mesmo.
— Eu já vou separar a roupa da Lalá para tomar banho, logo que o Yuri sair. Podemos
pedir serviço de quarto hoje? Estou exausta…
— Claro, amor. Eu nem tenho pique para sair também, não. Se Yuri animar, ele pode ir
sozinho — pontuo e minha esposa assente, abrindo os armários para pegar nossas coisas.
Quando meu filho mais velho sai do banheiro, Marina pega a pequena de meus braços e a
leva até o chuveiro.
— Se quiser sair hoje, fique à vontade, Yuri. Eu e Mari estamos mortos de cansaço.
— Eu até pensei nisso mesmo, pai. Mas quando eu tomei banho meu corpo relaxou e eu
só quero cama.
Ele veste um short de dormir e se joga em sua cama, tirando-me uma risada.
Vê-lo de cabelos lisos na altura do queixo e barba é algo que nunca vai cansar de me
surpreender.
Parece que nasceu ontem e agora já é um adulto…
Como o tempo passa rápido.
— Ela dormiu no chuveiro mesmo — Marina comenta, voltando para o quarto com a
pequena nos braços, já vestindo pijamas.
— Pode me dar a Lalá aqui, Mari — Yuri pede e se afasta da cama para receber a irmã.
Lavínia se aconchega no peito dele e meu filho faz uma carícia gostosa nos cabelos da
pequena, embalando-a ali.
E, vendo esses dois assim, sinto o meu peito explodir de tanto amor.
Mesmo sendo dezessete anos mais velho, Yuri tem o maior amor e carinho por sua irmã.
A parceria deles é invejável e vê-los juntos é mesmo a realização de um sonho.
Embora a garota tenha misturado um pouco meus genes com os de Marina, ela é bastante
parecida com Yuri, coisa de que ele adora se gabar por aí. E eu nem julgo, porque Lavínia é a
menina mais linda que eu já vi.
Depois de também tomarmos um banho e deixarmos os garotos no quarto, sigo com
Marina até a sacada, onde abrimos uma garrafa de vinho.
Sentado na cadeira com uma vista linda na cidade, minha esposa se acomoda em meu
colo para desfrutar deste momento comigo.
— Aqui é tão lindo, né? — Suspira e eu assinto.
— Não mais do que você — murmuro beijando seus ombros com carinho.
Já são mais de nove anos juntos e eu sigo apaixonado por ela.
Todos os dias.
— Estou tão empolgada com a nossa viagem, amor. Vai ser tudo tão lindo! — exclama e
eu sorrio, dando um gole no vinho.
— Vai mesmo, Mari. Vai valer a pena ter esperado por este momento.
— Eu sei…
Marina encara o céu noturno por um momento antes de se virar para mim.
— Obrigada por realizar os meus sonhos, Ulisses — diz, inclinando-se para me beijar. —
Quando tivemos aquela conversa sobre viagem há tantos anos, você se imaginava aqui um dia,
casado e com dois filhos?
Balanço a cabeça negando e ela sorri.
— Ainda bem que insistiu, amor.
— Ainda bem que você acreditou em mim — responde, beijando-me mais uma vez. —
Você sempre será a minha melhor escolha, Otto.
— Mesmo que eu já tenha passado dos cinquenta? — brinco e ela solta uma risada.
— Na verdade, o tempo te fez muito bem, marido. Você está um coroa e tanto,
envelhecendo como o vinho.
Mari ergue a taça e dá um gole, fazendo-me sorrir.
— Eu te amo, Marina — digo, tomando seus lábios para mim.
— Eu também te amo, professor. — Sorrio em sua pele antes de beijá-la mais uma vez.
— Amo para sempre.
Afasto nossos lábios e Mari repousa a cabeça em meu colo, onde a abraço e envolvo com
todo meu amor.
Aqui, cercado dos três amores da minha vida, eu só consigo pensar no quanto sou grato
por tê-los comigo.
No quanto sou sortudo…
Eu não poderia ter uma vida melhor do que esta.
Eu não poderia ser mais feliz.
AGRADECIMENTOS

Todas as vezes que finalizo uma história, eu o faço com o coração quentinho.
E aqui não poderia ser diferente.
Eu aprendi muito nessa jornada de #Maroni.
Aprendi que nunca é tarde para encontrar o amor e a felicidade plena.
Aprendi que, muito mais que quantidade, é a qualidade de pessoas que estão ao nosso
redor.
E que família nem sempre são laços sanguíneos.
Família é quem escolhemos.
Termino esta jornada com o coração grato e um sorriso no rosto, orgulhosa por mais um
trabalho concluído.
Ulisses, Marina e Yuri têm todo o meu coração.
Todinho mesmo.
E me sinto muito grata por eles terem me escolhido para contar esta história tão doce e
tão linda.
Meu agradecimento hoje é a você, leitor (a), que me acompanha em todas as minhas
jornadas. Seja acompanhando mais de perto como uma leitora beta ou uma autora amiga, ou
simplesmente confiando em mim para conhecer o meu trabalho.
Vocês nunca têm ideia do que espera vocês dentro das páginas e, ainda assim, confiam.
Ainda assim se arriscam, se entregam, entram de cabeça.
E eu nunca serei grata o bastante por isso.
Obrigada pela paciência, pela persistência e por nunca soltarem a minha mão.
Se eu ainda escrevo, é porque tenho vocês comigo.
Obrigada.
Eu amo, amo muito vocês.
BIOGRAFIA

Fernanda Santana mora em Timóteo, Minas Gerais, com seu esposo e três filhos felinos.
Formada em Ciências Contábeis, atualmente é sócia de um escritório de contabilidade e,
por mais que ame o que faz, sua paixão sempre foi a literatura.
Leitora compulsiva desde a adolescência, sempre teve facilidade na escrita e capacidade
de tirar lágrimas das pessoas com suas palavras.
É fã de carteirinha de Nicholas Sparks e o tem como principal inspirador na sua escrita.
Mesmo sendo amante de um romance fofo e clichê, também adora livros de terror e
suspense. A adrenalina do medo é algo que a fascina.
É autora de outras obras de romance, sempre cercada de drama e histórias que levam os
leitores a muitas reflexões.
REDES SOCIAIS

Instagram: @autora.fernandasantana
Facebook: @autorafernandasantana
Twitter: @autorafesantana
Tiktok: @autora.fernandasantana
E-mail: autora.fernandasantana@gmail.com

Conheça meu trabalho:


https://www.amazon.com.br/Fernanda-Santana/e/B08F2Z9NR4

[1]
Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/filosofia-grega-socratica/863996665

Você também pode gostar