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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais
é mera coincidência.
O que você faria se descobrisse que o cara que te deu o melhor sexo da sua vida é seu
novo professor?
Marina Cavalcanti não esperava reencontrar o homem responsável pela noite mais
intensa da sua vida, um com quem nem sequer trocou telefone.
Mas, por ironia do destino, os dois ficam novamente cara a cara em uma situação
delicada: ele é seu professor, e ela, sua nova aluna.
Otto é 22 anos mais velho que ela, divorciado e completamente proibido.
Ambos sabem que a faculdade possui regras que precisam ser cumpridas e que um
relacionamento entre eles é impossível, mas, quanto mais se aproximam, mais vívida fica aquela
noite inesquecível.
Só resta saber até quando Otto resistirá a essa inocente tentação.
SINOPSE
NOTA DE AUTORA
PRÓLOGO - Otto
CAPÍTULO 1 - Marina
CAPÍTULO 2 - Otto
CAPÍTULO 3 - Otto
CAPÍTULO 4 - Marina
CAPÍTULO 5 - Otto
CAPÍTULO 6 - Otto
CAPÍTULO 7 - Otto
CAPÍTULO 8 - Marina
CAPÍTULO 9 - Otto
CAPÍTULO 10 - Marina
CAPÍTULO 11- Otto
CAPÍTULO 12 - Marina
CAPÍTULO 13 - Marina
CAPÍTULO 14 - Otto
CAPÍTULO 15 - Marina
CAPÍTULO 16- Otto
CAPÍTULO 17 - Marina
CAPÍTULO 18 - Otto
CAPÍTULO 19 - Marina
CAPÍTULO 20 - Marina
CAPÍTULO 21 - Otto
CAPÍTULO 22 - Marina
CAPÍTULO 23 - Marina
CAPÍTULO 24 - Otto
CAPÍTULO 25 - Otto
CAPÍTULO 26 - Otto
CAPÍTULO 27 - Marina
CAPÍTULO 28 - Otto
CAPÍTULO 29 - Otto
CAPÍTULO 30 - Marina
CAPÍTULO 31 - Otto
CAPÍTULO 32 - Marina
CAPÍTULO 33 - Otto
CAPÍTULO 34 - Marina
CAPÍTULO 35 - Otto
CAPÍTULO 36 - Marina
CAPÍTULO 37 - Otto
CAPÍTULO 38 - Marina
CAPÍTULO 39 - Marina
CAPÍTULO 40 - Otto
CAPÍTULO 41 - Marina
CAPÍTULO 42 - Otto
EPÍLOGO 1 - Marina
EPÍLOGO 2 - Otto
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
REDES SOCIAIS
NOTA DE AUTORA
Querido leitor,
Obrigada por topar mais uma jornada comigo! :)
Antes de mais nada, quero alertar que você pode se deparar com alguns temas durante a
leitura que podem ser sensíveis para você. Tais como relacionamento abusivo entre cônjuges e
pais, e menção à violência física contra menor de idade.
Reitero que tudo é tratado com extrema responsabilidade, mas, caso se sinta
desconfortável em algum momento, peço que interrompa a leitura imediatamente.
O seu bem-estar sempre virá em primeiro lugar.
No mais, desejo uma excelente leitura e espero que se apaixone pelo casal #Maroni.
Um beijo,
Fê Santana
A todas as mulheres que lutam todos os dias para mostrar o
seu valor:
Vocês não devem nada a ninguém.
PRÓLOGO - Otto
— Você tem que relaxar, cara. Fazer umas merdas de vez em quando — meu amigo fala
mais alto do que a música que toca na casa de show e eu só balanço a cabeça, rindo.
Incrível como um final de semana que começou sendo bem bosta me fez parar em uma
boate repleta de pessoas completamente diferentes de mim.
Jovens, alegres, cheias de vida.
Cantando a plenos pulmões, dançando até o chão na pista do salão e bebendo seus
drinques.
Se divertindo…
Qual foi a última vez que fiz algo desse tipo?
Ainda que eu esteja me sentindo um pouco deslocado neste lugar, não sou o único da
minha idade por aqui. Além do meu parceiro de longa data ao meu lado, ao nosso redor há uns
caras na casa dos quarenta que me fazem não me sentir tão ET por aqui. Eu cheguei bastante
travado, mas aos poucos fui me soltando.
Ou melhor, o álcool foi me soltando.
Sinalizo para o garçom e peço mais uma dose de uísque com energético, que
praticamente viro de uma só vez. A bebida gelada desce pela minha garganta como fogo e envia
uma corrente de adrenalina pelos meus poros.
— Olha ali. — Caio aponta com a cabeça para uma ponta da boate onde um grupo de
amigas dançam despreocupadas.
São meninas lindas e aposto que têm a metade da minha idade.
— Não são muito novas? — murmuro e Caio bufa.
— São todas maiores de idade, Otto, caso contrário não entrariam aqui. Que diferença faz
se têm vinte ou trinta anos?
Muita, penso comigo.
Mas balanço a cabeça, afastando isso.
Eu saí de casa disposto a me distrair e não ficar aqui reclamando a noite toda.
Volto o olhar para as garotas que Caio indica e o vejo sumir de perto de mim até uma em
específico me chamar atenção.
Morena, de cabelos longos, que descem volumosos até a altura do quadril. Os fios
balançam em seu movimento pela pista de dança e destacam o corpo no vestido justo. Preto,
decotado, e o salto alto realça a bunda empinada.
Caramba, ela é linda…
Parece muito jovem, mas é linda.
E a forma como sorri ao se jogar na pista me hipnotiza. Umedeço os lábios e cruzo os
braços, enquanto não tiro os olhos dela, encostado no balcão do bar.
A garota é o centro das atenções e parece não ter se dado conta disso. A forma como se
balança livre, alheia a tudo ao seu redor, é o que mais me fascina. Parece cheia de vida,
aproveitando seu momento sem se importar com o mundo.
Como se sentisse o meu olhar, ela se vira e me pega a encarando. Não desvio meus olhos
dos seus. Um contato visual rápido, que faz a minha garganta secar.
Viro-me para pedir ao garçom mais uma dose de bebida, quando sinto um cheiro
adocicado, similar ao de melancia, se aproximando de mim.
Apoiado no balcão, viro-me para encontrar a rainha da pista de dança e vendo-a de perto
percebo como é ainda mais bonita. Os lábios grossos estão pintados de rosa e a maquiagem,
ainda que forte, não esconde o rosto de menina. Os olhos têm um tom âmbar que eu nunca vi
igual.
— Esquentou por aqui, não é? — puxa assunto e eu me pego fisgado pela voz doce.
— Você dança muito bem — elogio e ela sorri. — A pista realmente deve estar quente…
— Está pegando fogo.
Seus olhos brilham e ela joga os cabelos para trás me dando uma bela visão do decote.
E, caralho, se meu pau não está dando o ar da graça aqui dentro.
— Posso te ajudar a refrescar um pouco te pagando uma bebida? — ofereço e ela abre
um sorriso ainda mais lindo.
— Claro!
Sinalizo para o garçom e ela faz o pedido de uma gin tônica com bastante gelo. A bebida
não demora a vir e, quando a garota puxa pelo canudo demoradamente, é o gesto mais sexy que
eu já vi.
— Você costuma vir muito aqui? — pergunta, sentando-se na banqueta ao meu lado no
balcão.
— Se eu contar que é a primeira vez que eu piso neste lugar, você acredita?
— Acredito, porque também nunca tinha vindo antes!
— Jura? — indago, genuinamente interessado.
Já faz muitos anos, muitos mesmo, que não flerto com ninguém. Mas algo nessa garota
desperta um interesse diferente em mim, uma vontade de saber mais dela, mesmo que isso seja
uma completa loucura.
— Eu acabei de chegar à cidade — explica, puxando mais um pouco da bebida pelo
canudo. — Me mudei há poucos dias.
— Seja muito bem-vinda, então. — Ergo o copo de uísque e ela ri, batendo sua taça em
um brinde. — Eu moro aqui desde sempre, espero que goste da cidade.
— Eu também… — murmura sonhadora e seus olhos vão longe.
Imagino que pela idade deve ser cheia de sonhos, e isso me faz lembrar que eu já fui
assim um dia…
Hoje meus sonhos são muito mais baixos, muito mais possíveis.
— Aceita mais um drinque? — ofereço vendo que ela esvaziou a taça e a garota assente.
Aceno para o garçom e peço mais uma rodada de bebidas.
Logo que chega, ficamos um instante observando a pista de dança à nossa frente, que fica
cada vez mais cheia.
— Você não dança? — ela me pergunta e eu faço uma careta, que lhe tira uma risada.
— Não levo jeito algum nisso.
— Tudo depende de quem conduz. — Ela dá de ombros e me encara firme, sugando a
bebida mais um pouco pelo canudo. — Com a parceira certa, você dançaria muito bem.
— Não acho que seja possível…
Seus olhos brilham e ela sorri de lado.
— Eu aceito o desafio.
Meu coração dá um salto e meu pau reage mais um pouco dentro das calças. Dou mais
um gole na bebida e tento me controlar para não parecer um adolescente ostentando uma ereção.
Principalmente porque…
Eu estou mesmo considerando uma dança em uma boate?
Caramba, esta noite não para de me surpreender.
— Como você se chama? — pergunta ao ver que fiquei em silêncio por um instante.
— Otto — respondo de pronto.
Não é o meu nome, mas é como gosto que me chamem.
— Muito prazer, Otto. Meu nome é Marina.
A morena estende a mão em minha direção e eu aperto, sentindo o calor de seu contato.
E, cacete, como um simples aperto de mão pode enviar uma corrente elétrica dentro de mim.
Principalmente quando ela demora demais nesse gesto.
— O prazer é todo meu, Marina.
Pisco para ela, abrindo um sorriso de lado antes de soltar a sua mão, e a noto corar um
pouquinho.
— E então, Otto… Vai aceitar o meu desafio? — Estreito os olhos para ela, que sorri
mais. — Encara uma pista de dança comigo?
Viro o resto de bebida do copo e devolvo ao balcão.
— Por que não?
Os olhos de Marina faíscam quando ela dá uma última golada em seu drinque e abandona
a taça no balcão, puxando-me pela mão até o centro da pista.
— Você só precisa acompanhar meus movimentos e vai sair daqui um dançarino
profissional — a voz suave ao pé do meu ouvido é absurdamente sexy.
Marina dá uma piscadinha e se põe à minha frente, começando seu show particular. A
garota dança, rebola e se joga a cada música eletrônica que começa a tocar. Eu fico atrás dela,
balançando, sentindo sua energia contagiante e, a cada esfregada que ela me dá, meu pau ganha
vida.
Não dá mais para segurar…
Eu devo estar com um volume imenso na calça, mas, quer saber?
Foda-se.
Toco sua cintura de leve e acompanho o seu ritmo, sentindo Marina se jogar ainda mais,
rebolando e se esfregando em meu pau.
E, agora, eu tenho certeza absoluta de que ela sente a minha ereção.
Mas a garota não se acanha.
Pelo contrário, ela se joga ainda mais, empinando mais a bunda.
Devo estar à beira da loucura, porque minha mente vai toda para ela e essa tensão sexual
absurda que se formou por aqui. Quero erguer a barra desse vestido, meter a mão dentro dela e
fazê-la gritar…
E, pela forma como Marina me corresponde, parece estar na mesma sintonia.
Desço as mãos pela sua coxa e toco sua pele em uma carícia maliciosa. Sinto sua pele se
arrepiar pelo contato e isso me faz sorrir. Que bom saber que estou mexendo com a garota, assim
como ela está mexendo comigo.
O cheiro de melancia mais uma vez me atinge e me faz fechar os olhos, absorvendo o
aroma delicioso de Marina.
Sem soltá-la, beijo seu ombro desnudo e subo a boca até o seu pescoço, sentindo a garota
se render em meus braços, jogando-se contra o meu corpo.
— Porra, Marina… — murmuro para que só ela escute e mordo a sua pele, ouvindo seu
gemido baixo.
Caralho.
Com uma mão, giro o seu corpo e agarro a sua cintura, colando minha boca na sua. A
garota nem tem tempo de reagir, mas, quando reage, cacete, que beijo gostoso do caralho.
Quente, ávido, sedento.
Meus lábios se perdem nos seus e eu a beijo com tanta intensidade, que a garota se
desmancha em meus braços. Pelos sons que ouvimos, estamos chamando atenção em toda a
pista, mas não ligo.
Não consigo pensar em mais nada que não seus lábios macios.
Agarrada aos meus cabelos, a garota se entrega em um beijo que nos tira o ar.
Minhas mãos agarram seu quadril com força enquanto a devoro nesta pista de dança e,
pela forma como Marina se esfrega a mim, louca, rebolando, me envia exatamente a mensagem
que eu quero.
Preciso sair daqui se não quiser comer esta garota no meio da pista de dança.
Subo os lábios até a sua orelha e mordisco devagar.
— Quer ir para um lugar mais reservado? — pergunto e ouço seu gemido em resposta.
Marina não diz nada, apenas se afasta de mim e me puxa pela mão, tirando-me da pista
de dança e me guiando pela boate. Penso em oferecer para sair da balada, mas ela me surpreende
me levando até o banheiro feminino.
Caralho.
Vamos mesmo fazer isso aqui?
A adrenalina percorre cada canto do meu corpo e eu estou alheio a todos os olhares
furtivos, quando sou levado até a última cabine e somos trancados nela. Por sorte, o banheiro
está bem limpo e eu não lhe dou tempo de pensar, quando agarro seu pescoço e a prenso na
parede da cabine, tomando sua boca novamente para mim.
As línguas se enroscam e se perdem em puro desespero, sede e desejo.
Cacete, acho que nunca senti um desejo tão forte assim.
Abandono seus lábios inchados, já borrados pelo batom, e desço até o pescoço, lambendo
e chupando a sua pele, arrancando seus gemidos.
Marina não se importa com o local onde estamos e, se alguém pode nos ouvir, ela apenas
geme sem pudor algum enquanto esfrego a virilha nela, descendo minha boca pelo seu corpo.
Afundo o rosto em seu decote e minhas mãos abaixam as duas alças do vestido,
revelando os seios mais gostosos que eu já vi.
— Gostosa pra porra, Marina — murmuro antes de cair de boca em cada um deles,
mamando, chupando e lambendo cada um de seus mamilos.
— Ai, Otto… — ela geme e eu não alivio, mamando ainda mais, lambuzando-a toda.
Com a mão em meu peito, Marina me afasta e eu estreito os olhos para ela. Penso que vai
me pedir para parar, mas a safada me surpreende erguendo de leve a barra do vestido e tirando a
calcinha, deslizando-a pelas pernas em um gesto absurdo de sexy.
— Porra…
— Um presentinho para você. — A danada pisca para mim antes de colocar a peça de
renda em meu bolso e eu rosno, voltando a atacá-la.
Agarrado a sua cintura, continuo mamando em seus peitos, quando minha mão desce
pelas suas pernas e ergue a barra do vestido.
— Se eu te tocar, vou te encontrar molhada, Marina? — pergunto ao me afastar e brincar
com os dedos na borda de sua virilha.
Ela arfa manhosa e encosta a cabeça na parede, olhando-me divertida.
— Vai me encontrar completamente encharcada, Otto — avisa e eu deslizo o dedo pela
sua boceta, sentindo-me escorregar ali.
— Porra…
Marina geme alto enquanto fricciono os dedos em sua carne, o barulho do atrito sendo
um som gostoso demais para os meus ouvidos.
— Otto…
Ela geme ainda mais quando meto dois dedos nela e bombeio com força, vendo seu rosto
se contorcer de prazer à minha frente.
Que mulher gostosa dos infernos.
Com a mão livre, subo ainda mais o seu vestido e o embolo acima da cintura, tendo sua
visão quase toda nua. Da cintura para cima, os seios fartos molhados pela minha saliva. Da
cintura para baixo, a boceta lisinha sendo fodida pelos meus dedos.
Caralho…
Que visão linda.
Solto a garota e enfio a mão no bolso da calça para buscar a carteira, agradeço aos céus
por ter ouvido o conselho de Caio e ter colocado uma camisinha aqui dentro. Não vou sair deste
banheiro até gozar enterrando fundo nesta garota.
Abro o zíper da calça e liberto a ereção, cobrindo-a com o preservativo.
— Que pau bonito, Otto — ela murmura olhando fixamente para ele.
— Bonito mesmo será meu pau enterrado na sua boceta — anuncio e avanço sobre ela,
tomando sua boca mais uma vez em um beijo cheio de tesão.
Marina se esfrega contra mim e pega o meu pau, masturbando-o enquanto eu a beijo, a
sua mão me tocando é a minha ruína.
Afasto-me abruptamente, abaixo a tampa do vaso ao nosso lado e o estrondo faz Marina
soltar um pulinho.
— Coloca essa perna aí — instruo e a garota sorri fazendo exatamente o que eu peço.
O movimento escancara as pernas e me dá uma visão ainda mais bonita da boceta
gostosa. Eu apenas agarro sua cintura e meto de uma vez só, arrancando gemidos de nós dois.
— Porra, Marina — murmuro ao senti-la me envolver.
Quente.
Apertada.
Deliciosa.
Caralho…
Começo a me mover devagar e vejo a garota jogar a cabeça para trás, apertando os seios
enquanto acelero o ritmo das estocadas.
Marina não se acanha e geme feito uma cadela enquanto meto cada vez mais rápido, mais
forte, fodendo-a como um verdadeiro animal.
Porque é isso que a morena despertou em mim.
Um instinto animal, um desejo primitivo, uma coisa louca que eu pensei que tinha
adormecido dentro de mim.
— Ai, Otto… — ela geme safada, rebolando o quadril enquanto eu a como gostoso nesta
cabine apertada.
Sinto um calor do caralho e já estou suando, mas não alivio e continuo comendo-a com
força, batendo cada vez mais forte nossos quadris e balançando as paredes da cabine.
— Me deixa te comer por trás — falo, tirando o meu pau de dentro dela e a garota
choraminga de leve. — Mãos na parede — peço.
Logo que a morena o faz, ela empina a bunda branquinha para mim e eu não resisto a
estapear a sua nádega enquanto meto de uma só vez.
— Caralho, Otto… — murmura e eu agarro seu quadril com força metendo rápido, forte,
arrancando gemidos de nós dois.
Ao nosso redor, pessoas entram e saem do banheiro, comentando sobre nós, e eu estou
pouco me fodendo.
Bom, na verdade estou fodendo e não é pouco.
Fodendo gostoso demais esta garota.
— Ai, Otto… — Marina geme quando dou mais um tapa em sua bunda e percebo que ela
gosta de um sexo bruto assim como eu.
Colo a boca em sua orelha e mordo de leve sua pele.
— Que boceta gostosa, Marina — rosno e ela geme, enquanto acelero o ritmo das
estocadas. — Está todo mundo lá fora comentando que você fode feito uma cachorra aqui dentro
— murmuro, mordendo sua pele, e ela geme mais.
Solto uma mão de sua cintura e desço até o clitóris, onde começo a tocá-la, arrancando-
lhe um gemido mais alto.
— Geme como uma cachorra — falo e a garota se desespera contra mim.
Ela não tem pudor e a sua entrega só me deixa ainda mais louco, fazendo meter ainda
mais bruto dentro dela.
— Será que goza feito uma também? — murmuro e belisco seu clitóris, apertando a carne
entre os dedos, fazendo-a gemer mais.
Fricciono forte e as estocadas acompanham o ritmo quando a garota se desespera,
rebolando contra mim.
— Eu vou gozar, eu vou gozar…
Seu corpo inteiro treme e se contrai em espasmos, Marina desaba na parede. Mas eu só
paro de fodê-la quando gozo também, enchendo a camisinha de porra.
— Caralho… — murmuro saindo de dentro dela e descarto o preservativo, puxando uma
toalha de papel para me limpar antes de fechar a calça.
Estou com a respiração afetada e a camisa colada ao corpo de suor. Mas ver Marina me
encarar ofegante, completamente desnorteada, me faz sentir um orgulho do caralho por ter sido
eu a proporcionar isso.
— Não me lembro de quando tive uma foda tão boa assim — assumo, com sinceridade,
enquanto a ajudo a se recompor e vestir seu vestido.
— Nem eu… — diz ofegante e eu sorrio, inclinando-me para lhe dar um selinho.
— Quer uma carona para casa? — ofereço e ela nega. — Estou de Uber, mas podemos te
deixar em casa antes.
— Não precisa, Otto. Vou encontrar minha amiga agora — responde e eu assinto.
— Quer a calcinha de volta?
Coloco a mão no bolso e ela recusa.
— Não se devolve um presente, Otto. — Estreito os olhos para ela, que sorri maliciosa.
— Se está com medo de que eu vá abrir as pernas para outro, não se preocupe. Já estou
plenamente saciada.
A safada pisca para mim e eu balanço a cabeça sorrindo, orgulhoso.
— Então está certo… Te vejo por aí?
Marina assente e eu não resisto a agarrar o seu pescoço para beijá-la mais uma vez. Um
beijo mais calmo, tranquilo, no qual eu desfruto de seus lábios. Um beijo quase de despedida.
Não trocamos telefone, não prometemos nos ver de novo, mas essa com certeza será uma
noite que eu nunca vou esquecer.
Uma noite na qual cometi a loucura mais gostosa da minha vida.
— Não sei se vamos nos ver de novo, mas… — ela começa e fala, se afastando para me
ver melhor. — Se nos esbarrarmos por aí, podemos repetir a dose?
Abro um sorriso enorme e me recuso a negar isso a ela.
— Vai ser um prazer te comer de novo. — Dou uma piscadinha. — Boa noite, Marina.
Seja bem-vinda a Vale dos Campos.
— Obrigada, Otto. Boa noite.
Aceno para ela e saio da cabine, recebendo alguns olhares furtivos.
Não abaixo a cabeça e saio sorrindo, pensando na loucura que foi essa noite.
Eu, o cara que sempre foi politicamente correto, fodendo uma desconhecida num
banheiro de boate.
Que belo recomeço, Ottoni.
Essa noite, sem dúvidas, foi uma das melhores de toda a minha vida.
CAPÍTULO 1 - Marina
No corredor da biblioteca, vejo um vulto familiar passar por mim e sorrio ao notar quem
é.
Professor Ottoni.
Vestindo sua habitual camisa social impecável, calça jeans escuras e cabelos arrumados,
ele está lindo como sempre.
— Professor? — chamo e ele procura pela minha voz, até me encontrar diante de uma
prateleira de livros.
— Ah… Oi, Marina.
Ele me abre um sorriso bonito e vem em minha direção.
— Perdido por aqui? — brinco, tentando disfarçar o quanto sua presença mexe comigo.
Seu ar imponente, seu cheiro…
Sua inteligência.
Por que mesmo, universo, ele tinha que ser meu professor?
— Vim devolver alguns livros que peguei, antes que pague uma multa. — Ele faz uma
careta fofa e eu rio.
— E professores têm disso também?
— Claro! Imagina se eu fico o semestre inteiro com o livro em casa, posso prejudicar um
aluno que também precise dele.
— Hummmm… Faz sentido.
Otto sorri de lado e sinto um salto aqui dentro.
É tão charmoso quando ele faz isso…
— E você? Perdida por aqui também?
— Vim pegar alguns livros para estudo — falo, batendo nos exemplares em minhas
mãos. — O professor de Ciência de Materiais comentou sobre um projeto de pesquisa científica
e eu quero muito conseguir essa oportunidade. Por isso vou me dedicar bastante a essa matéria,
para que ele me considere uma boa candidata.
Otto balança a cabeça e sorri.
— Tenho certeza de que você vai conseguir. Boa sorte!
— Obrigada, professor.
— Nos vemos por aí? — Ele aponta para fora e eu assinto.
— Até mais.
Despeço-me dele e fico um minuto parada processando a sua presença tão marcante para
mim.
Ele é tão cheiroso, tão…
Balanço a cabeça e trato de afastar esses pensamentos.
Isso não vai me levar a lugar algum e meu foco agora é outro.
Preciso me dedicar duzentos por cento nesse curso e entregar sempre o melhor de mim.
CAPÍTULO 5 - Otto
— Boa noite — cumprimento os demais professores logo que entro na sala e vou direto
para a cafeteira me servir de uma xícara.
Hoje cheguei um pouco mais cedo e fui à biblioteca pegar alguns livros emprestados;
aproveitei para vir à sala de professores passar o tempo até a minha primeira aula do dia.
Meus horários de aula são bem espalhados pela semana. Hoje leciono apenas no período
noturno, mas há dias em que venho à universidade também de manhã e outros em que não venho
em horário nenhum. A única constância é que nunca dou aulas à tarde, e isso me ajuda bastante
quando consigo ficar com Yuri durante a semana.
A ausência dele na minha vida ainda é algo que me dói todos os dias.
Beberico a xícara de café e vou até um grupo de professores que está tendo uma conversa
animada na mesa ao lado. Sento-me junto a eles e entro no assunto, quando Luciano, um dos
professores de Engenharia toca num assunto que chama a minha atenção.
— Vou começar a seleção de alunos para o projeto de pesquisa científica. É sempre uma
parte difícil, mas já tenho uma lista de candidatos aqui.
— Eu posso olhar? — pergunto e o moreno assente, abrindo o celular e me mostrando a
relação de alunos que ele tem analisado.
E, quando eu vejo o nome dela, meu coração dá um salto aqui dentro.
Lembro quando comentou, na semana passada, o quanto estava se esforçando para
conseguir essa vaga, que era uma oportunidade incrível para ela.
E, bom…
Já que estou aqui…
— Marina Cavalcanti é da Civil, não é? — indago, tentando parecer despretensioso.
— É, sim. Conhece?
— É minha aluna de Filosofia. Muito boa, viu? Arrisco dizer que é a única que se esforça
em minhas aulas — brinco, fazendo uma careta e todos da mesa riem.
— Eu tenho observado seu desempenho também, parece bastante aplicada. Eu estava na
dúvida entre ela e uma aluna da Elétrica.
— É apenas uma vaga? — questiono e ele nega.
— Vou selecionar um grupo de cinco alunos para começar o projeto.
— Então chame as duas — concluo, dando de ombros. — Eu não leciono para o curso de
Elétrica, então não a conheço. Mas a Marina eu tenho certeza de que vai fazer um bom trabalho.
Dá para sentir a dedicação de alguns alunos desde o primeiro dia.
Luciano pondera por um instante e assente ao final, fazendo meu coração dar mais um
salto aqui dentro.
— Está certo. Amanhã vou anunciar os selecionados e já resolvo isso. Valeu pela dica,
Ottoni.
— Não foi nada.
Termino de beber o café e olho para o relógio, vendo que a primeira aula já está quase
para começar.
— Vou nessa, que deu minha hora.
Despeço-me dos meus colegas e saio da sala, andando pelo campus até o bloco de
Engenharia, já sentindo a adrenalina no meu corpo por ter ajudado um pouco Marina nesse
processo. Sei que ela ficará muito feliz quando receber a notícia.
Adentro a sala de aula e logo a encontro sentada em sua habitual cadeira, fazendo
algumas anotações no caderno. E, antes que ela perceba a minha presença, eu aproveito para
reparar nela.
É como se ficasse mais linda a cada dia…
Marina hoje usa um short jeans curto e a maneira com que cruza as pernas evidencia as
coxas grossas, que são uma verdadeira tentação…
Porque é isso que Marina é.
O rosto delicado e o sorriso doce exalam inocência.
E é exatamente essa inocência que é a minha tentação.
Uma tentação inocente e um tanto proibida.
Balanço a cabeça desviando os pensamentos. Termino meu trajeto até a mesa e, agora
sim, a garota nota a minha presença.
Como em câmera lenta, a morena ergue os olhos para mim e abre um sorriso lindo.
Aquele que demonstra felicidade ao me ver.
Sinto uma gota de suor percorrer a minha espinha.
Não era para ser assim.
— Boa noite, professor.
Aproximo-me mais dela e sinto seu aroma de melancia, fechando os olhos por um
instante.
— Boa noite, Marina.
Reabro-os e a vejo sorrir ainda mais para mim. Não consigo deixar de retribuir e noto seu
rosto corar de leve.
Ah, cacete…
— Boa noite, pessoal — cumprimento os demais alunos, tentando tirar o foco da minha
mente, e aos poucos todos vão ocupando os assentos. — Como foram de final de semana,
aproveitaram?
Encosto o quadril na mesa enquanto escuto relatos de alunos sobre festas, viagens e
ressaca. Marina não me surpreende em nada quando diz que passou todo o final de semana se
dedicando aos estudos, e é por uma dessas que eu tenho certeza de que ela merece a vaga no
projeto de Luciano.
— Bom, já que sou eu a começar a segunda-feira tão amada de vocês… Vamos falar do
Período Pré-Socrático?
Mesmo que o ar-condicionado esteja ligado, sinto uma onda de calor me invadir. Ainda
encostado na mesa, desabotoo o pulso da camisa social e começo a dobrá-la devagar até a altura
dos cotovelos.
— Nosso foco de hoje é o filósofo Tales de Mileto, considerado o Pai da Filosofia. —
Faço uma pausa para terminar de ajustar a camisa e, de canto de olho, vejo que Marina me
observa atentamente, como se acompanhasse cada movimento meu. — Ele também foi um
matemático grego, vocês devem se lembrar do Teorema de Tales, não é?
Noto surpresa passar pelo semblante dos alunos, principalmente o de Marina, que me
incentiva ainda mais a discorrer sobre o assunto.
E a aula flui de tal forma que eu mal vejo passar. Assusto-me quando vejo alguns alunos
se levantando e só então percebo que chegamos ao final.
— Obrigado, pessoal. Até semana que vem!
Começo a juntar as minhas coisas e sinalizo para Marina, que vem sorridente em minha
direção.
Os cabelos negros estão soltos hoje, balançando suavemente a cada passo que ela dá. E
daqui consigo sentir o cheiro deles, lembrando-me da maciez dos fios…
— Tudo bem, professor?
Marina coloca as mãos dentro do short e se inclina de um jeito fofo em minha direção.
A forma como ela me chama não deveria soar tão sexy…
— Tranquilo, e com você?
— Estudando bastante, graças a Deus. — O sorriso que ela me abre é lindo demais.
— Isso é ótimo. Falando nisso… Amanhã você vai receber uma notícia muito boa. —
Pisco para ela, que estreita os olhos para mim.
— Que notícia?
— Se eu contar, vou estragar a surpresa.
Marina faz uma careta e olha para os lados antes de se aproximar de mim. Faço o mesmo
e noto que estamos sozinhos aqui.
— Isso não se faz, Otto — repreende-me e eu rio. — Como começa a me contar uma
coisa e não termina? Eu sou uma mulher ansiosa!
— Bom…
— Por favor — insiste. — Eu não conto para ninguém. Sou boa em guardar segredos.
A forma como ela me encara me faz engolir em seco.
Porra…
— Sabe o projeto de pesquisa que você comentou comigo?
— Sei…
Os olhos da garota brilham e ele dá mais um passo, ficando mais próxima de mim.
— Hoje na sala de professores, Luciano comentou que estava com uma lista de
candidatos às vagas e eu pedi para ver. O seu nome estava lá e, bom… Eu falei bem de você.
— Otto…
— E amanhã ele vai anunciar os selecionados, você está entre eles.
— Mentira!
A garota se joga em meus braços e eu gargalho, acolhendo-a e sentindo o seu cheiro.
Não resisto em correr o nariz pela sua pele e mergulhar ali…
Caralho…
Não posso fazer isso.
Afasto-me sem graça e noto seu sorriso gigante.
— Meu Deus, isso é maravilhoso! Eu nem sei como te agradecer! — Seus olhos marejam
e eu balanço a cabeça.
— Você já estava na lista por seu esforço, Marina. Por reconhecimento de seu trabalho.
Eu só dei um último empurrão por desempate, digamos. — Dou de ombros e ela sorri,
balançando a cabeça.
— Você não tem ideia do quanto isso é importante para mim! Nossa… Obrigada, Otto.
De verdade. Eu não tenho palavras para te agradecer.
— Não precisa, Marina. Como eu disse, é mérito seu. Se você não fosse tão dedicada aos
estudos, nem estaria na lista…
— Ainda assim, obrigada. Mesmo.
E então a morena me surpreende se inclinando para beijar o meu rosto. Seus lábios estão
úmidos e roçam de leve a minha pele, fazendo-me fechar os olhos por um segundo.
Engulo em seco, sentindo uma onda de calor pela proximidade dela, e, quando se afasta,
estou um pouco desconcertado.
— Bom, lembre-se de que eu não te contei nada, hein?
Raspo a garganta e trato de aliviar a tensão que se formou por aqui.
— Claro! Não faço nem ideia do que você está falando — brinca e eu sorrio de lado.
— Certo. Então… Até semana que vem? — Aceno para ela, que assente, despedindo-se
de mim.
— Boa noite, professor.
— Boa noite, Marina.
Saio da sala de aula sentindo-me leve por ter visto a sua felicidade ao saber do projeto, e
nervoso diante de sua proximidade.
Proximidade esta que está sendo uma bagunça dentro de mim…
Eu preciso continuar mantendo o muro que construí entre nós, em que professor e aluna
não se relacionam.
O professor Ottoni não pode desejar uma aluna, não pode querer tê-la de novo…
Mas o Otto daria tudo para ter mais uma noite com ela.
Para senti-la mais uma vez.
Cacete…
Isso vai ser ainda mais difícil do que eu imaginava.
CAPÍTULO 6 - Otto
Termino de arrumar a cama de Yuri, conferindo se está tudo no lugar antes que ele
chegue. Embora a faxineira tenha vindo ontem organizar toda a casa, ela costuma deixar uma
coisa ou outra fora do lugar e eu estou ajustando tudo para a sua chegada.
Os sábados são sempre os dias mais esperados da minha semana.
Isso, claro, quando Renata não inventa alguma programação que ocupe meu filho e o
impeça de ficar o final de semana todo comigo. Mas, felizmente, hoje não é um desses dias.
Como não tenho aulas às sextas-feiras, ontem coloquei tudo que eu tinha em ordem para
ficar liberado hoje. Planos de aula, correção de trabalhos, liberação de notas no portal; trabalhei
até tarde da noite, mas consegui concluir tudo.
E a partir de hoje meu filho é todo meu, até o momento em que o deixarei na escola na
segunda-feira pela manhã, então faço questão de aproveitar cada segundo.
O interfone toca e eu saio do quarto para atendê-lo. Logo que vejo a imagem de Yuri
pelas câmeras, eu sorrio, liberando a sua entrada. Abro a porta do apartamento e encosto-me no
batente, esperando pela sua chegada pelo elevador.
Desde o meu divórcio, eu me mudei para um apartamento no último andar de um
condomínio fechado em um bairro tranquilo. Sempre fui um cara que gosta de sossego e esse
canto é simplesmente perfeito para mim. O apartamento não é muito grande, mas o suficiente
para um homem sozinho e seu único filho.
O elevador apita abrindo as portas e a imagem do amor da minha vida surge, sorrindo ao
ajeitar a mochila nos ombros.
Aqui, parado, eu me pego reparando no quanto meu filho cresceu. Os cabelos lisos e
loiros estão grandes, quase caindo nos olhos, e ele joga para o lado à medida que caminha. Seu
visual de camisa de banda, calça jeans e tênis é o que mais tem usado nos últimos tempos.
— Oi, pai — ele me cumprimenta e eu o puxo em um abraço apertado.
Mesmo que esteja naquela fase tão temida de pré-adolescência, ele continua sendo um
garoto muito carinhoso.
— Oi, filho. — Beijo seus cabelos e me afasto de seu contato. — Senti saudade.
— Eu também. O que vamos fazer hoje?
Yuri me pergunta, logo que adentra o apartamento, e eu fecho a porta atrás de nós.
— Hummmm… Estou aberto a sugestões. Amanhã temos o almoço na casa da sua avó,
mas hoje estamos livres.
Meu filho coloca a mochila em cima do sofá e se vira para mim, jogando a franja para o
lado em um movimento de cabeça.
— Aquele filme novo do Jurassic Park está em cartaz. Podemos ir ao cinema? —
pergunta empolgado e eu assinto.
— Vamos ver a que horas tem uma sessão…
Tiro o celular do bolso e abro o aplicativo do cinema mais próximo, seguindo Yuri pela
cozinha, enquanto busca um copo de água para beber.
— Tem uma às duas da tarde, pode ser?
— Fechado!
— Podemos sair mais cedo para almoçar lá no shopping mesmo e já ficar para o filme.
Os olhos de Yuri brilham e ele acena.
— Legal, pai. Podemos passar na loja de jogos também?
Balanço a cabeça rindo.
Ele é um belo de um esperto.
— Podemos. Mas um jogo só, hein? Senão vou ter que dobrar as minhas aulas para dar
conta de você — brinco e ele ri.
— Tá bom. É só porque eu acabo enjoando de jogar os mesmos jogos.
Ele dá de ombros e eu assinto.
— Está certo. Vou comprar os ingressos de uma vez.
Fecho a compra no aplicativo e seguimos até a sala, onde nos jogamos no sofá para
esperar o tempo passar até a hora do almoço.
— E como foi sua semana? Tudo bem? — pergunto, observando todo o seu semblante
para ver se noto alguma reação diferente.
— Ah, foi normal.
Assinto e brinco com as franjas da almofada em meu colo.
— Está sendo tranquilo morar com sua mãe? — pergunto com cuidado, porque sei que é
um assunto delicado.
Mas meu filho é bem maduro para a idade dele e, mesmo tendo os pais morando em casas
diferentes, faz de tudo para manter a paz. Não fica levando nada de um lugar para o outro, para
evitar atrito. Isso é algo em que eu reparei desde que ele começou a vir passar os finais de
semana comigo.
— Ah, do mesmo jeito… Quando estamos só nós dois, é melhor. Só não gosto muito
quando Fabrício chega, mas eu sempre venho ficar com você mesmo, então não o vejo muito.
Meu peito se aperta ao ouvir o nome desse sujeito.
Ele não é só o novo namorado de Renata, como o cara responsável pelo nosso divórcio.
Não basta toda a separação de um casamento de quinze anos e a divisão da guarda do filho, com
tudo isso eu acabei sabendo que levava um belo de um chifre. Por mais de dois anos.
É foda saber que a mulher que dormia ao seu lado todas as noites, na primeira escapada,
abria as pernas para outro homem. E não foi a primeira vez. Quando Yuri tinha cinco anos,
descobri uma traição com o gerente dela no trabalho e com muito chororô acabei perdoando. Eu,
como um belo de um trouxa, acreditei em suas palavras e dei uma nova chance pelo bem do
nosso casamento e do nosso filho.
Meu maior medo sempre foi ficar longe de Yuri, acima de qualquer coisa. Mas como
uma pessoa é capaz de trair uma vez, ela sempre será capaz de trair duas. E nem sei mais quantas
vezes Renata me traiu em todo o tempo em que estivemos casados. Não quis saber, na verdade.
Quando descobri de Fabrício, eu me neguei a acreditar a princípio, mas, desta vez, era ela que
não me queria mais. A mãe de Yuri tinha se apaixonado perdidamente e não mandamos no
coração, como suas palavras disseram.
Ao mesmo tempo que ficar livre de Renata me causou alívio, porque brigávamos muito, o
divórcio me trouxe dor. Dor por ter que sair de casa e deixar o meu bem mais precioso para trás.
Dor por saber que não fui suficiente. Que todo meu esforço, tudo o que eu fiz pela nossa família,
não foi o bastante para que ela me escolhesse.
E agora, enquanto eu fico aqui, na maior parte do tempo sozinho, Renata está bem como
nunca. Vivendo sua vida com Fabrício, com quem diz amar, e nosso filho.
No fim, quem saiu na merda nesse relacionamento fui eu.
— Ele te trata mal? — indago e noto seu semblante ficar um pouco tenso.
— Ele só não gosta muito de mim. — Yuri dá de ombros e eu sinto uma fisgada no peito.
— Parece que estou sempre atrapalhando alguma coisa…
— Sabe que você pode vir sempre que quiser, não sabe? É só me ligar que te busco na
hora.
Yuri balança a cabeça e sorri de lado.
— Eu sei, pai. Quando ele chega, eu costumo ir para o quarto e ficar jogando videogame,
então acabo não o vendo tanto.
— Está certo. E, se algum dia ele te destratar, ou machucar você, quero que me conte,
ok? Ele pode ser o namorado da sua mãe, mas não é nada seu. Não tem direito algum sobre você.
O seu pai sou eu e vou sempre te defender, combinado?
Yuri assente e me abre um sorriso.
— Eu sei disso. Valeu, pai.
Solto um suspiro e relaxo os ombros.
Não consigo nem pensar em ver algum outro homem machucando o meu filho, seja física
ou emocionalmente. Por sorte, Yuri não é mais uma criança inocente e sabe perceber as coisas
que estão ao seu redor. Somos muito parceiros e sei que, se algum dia Fabrício lhe fizer alguma
coisa, meu filho vai me contar.
— Quer jogar uma partida antes de sairmos? — pergunto, conferindo o relógio. —
Temos pouco mais de uma hora antes do almoço.
Os olhos do meu filho brilham e ele se levanta para buscar o console.
— Já quer ser derrotado logo cedo, coroa?
— Coroa é o seu…
— Pai! — Yuri me repreende segurando uma risada e eu acerto uma almofada em sua
cabeça, o que faz o menino gargalhar.
Quando ele me devolve a almofadada, é a minha vez de rir.
E aqui, ao lado do meu filho, deixo de ser um professor universitário de quarenta e dois
anos, eu me torno um moleque.
Em uma versão mais gostosa da minha vida.
Marina
Calço o tênis cor-de-rosa e tiro uma foto, enviando para minha amiga.
Eu: E este?
Sua resposta não demora dois minutos para chegar.
Carina: Eu gostei mais do azul.
Olho para o espelho à minha frente e preciso concordar. O modelo azul é muito mais
bonito.
Eu: Verdade, vou ficar com ele.
Agradeço a minha amiga e aceno para a vendedora da loja, chamando-a enquanto tiro dos
pés o par de tênis que acabei de experimentar.
Aproveitei que hoje é sábado para vir ao shopping comprar uns tênis novos, porque o
meu descolou o solado no final da aula de ontem. Como Carina está passando o final de semana
fora com a família, acabei precisando vir sozinha, mas dei um jeito de pedir a sua opinião a
distância.
— Vou levar este. — Aponto para o tênis azul de solado branco, logo que a vendedora se
aproxima de mim.
— Ótimo. Só este mesmo?
— Isso!
Acompanho-a até o caixa e faço o pagamento. Quando saio da loja, penso se há mais
alguma coisa de que preciso no shopping, mas acabo concluindo de que não.
Pensando que terei que almoçar sozinha de toda forma, decido ir até a praça de
alimentação para comer alguma coisa antes de voltar para casa. E logo que eu chego, procurando
por uma mesa para me sentar, tenho uma visão que faz o meu coração dar um salto.
Vestindo camisa gola polo clara e calça jeans, está Otto ao lado de um garoto. Estreito os
olhos para eles e penso se o menino é filho do meu professor, porque se parecem muito. De
cabelos loiros lisos e pele clara, o menino tem os olhos da mesma cor dos de Otto.
Se não for filho, é um sobrinho…
Fico sem saber se cumprimento ou se finjo que não vi, quando meu professor também
nota a minha presença e acena para mim, sorrindo um pouco tímido.
Vejo que o mini-Otto também me olha e, quando abre um sorriso, eu tenho certeza de que
é seu filho.
Tento controlar o coração acelerado enquanto caminho até eles.
— Oi, professor — falo e Otto faz uma careta para mim, tirando uma risada baixa.
— Oi, Marina.
Quando ele se inclina para encostar seu rosto ao meu em um cumprimento rápido, eu
sinto seu cheiro gostoso e tudo bagunça aqui dentro.
— Deixa eu te apresentar uma pessoa. Filho, essa é a Marina, uma aluna muito especial.
— A forma como ele fala, olhando para mim, me arrepia inteira.
— Muito prazer, Marina. Eu me chamo Yuri.
O garoto estende a mão para mim com um sorriso tão bonito que é impossível não se
apaixonar por ele.
— O prazer é todo meu, Yuri.
Olho para os dois e fico um pouco desconcertada por estar atrapalhando o momento pai e
filho. E ainda mais por pensar, se Otto tem um filho, significa que ele tem um relacionamento?
Não deveria ter, né?
Se ele ficou comigo aquela noite…
As engrenagens começam a se formar em minha cabeça e o loiro à minha frente parece
perceber, então trata de puxar um assunto.
— Está passeando aqui no shopping?
— Eu vim comprar um tênis. — Aponto para a sacola em minhas mãos. — E decidi parar
para almoçar antes de voltar para casa. E vocês?
— Também vamos almoçar aqui — é Yuri quem responde. — Porque temos uma sessão
às duas.
— Jura? E qual filme vocês vão ver?
— O novo do Jurassic Park.
— Nossa, que legal!
— Não quer ver com a gente? — Yuri chama e eu nego, tímida.
Realmente não tenho nada para fazer hoje, mas acho um pouco íntimo demais participar
de um programa que é só deles.
— Obrigada, mas tenho mesmo que ir para casa depois.
— Quer almoçar conosco então? — Otto convida e seu olhar é tão intenso que é
impossível negar.
E já que viemos até aqui com o mesmo objetivo…
— Claro, por que não?
O sorriso dos dois se amplia e logo nos embrenhamos pela praça de alimentação até
encontrarmos uma mesa disponível, onde nos sentamos.
— O que você quer almoçar, filho? — Otto pergunta e o garoto olha para os restaurantes
ao nosso redor, curioso.
— Pode ser McDonald’s? — Os olhos do menino brilham.
— Claro! Você mesmo faz o pedido?
Yuri faz que sim, Otto pega uma nota de cem na carteira e entrega a ele, que se levanta,
sumindo no meio da praça.
— E você, Marina? Já sabe o que vai querer?
— Acho que vou de massa — respondo, apontando para um restaurante italiano bem
próximo de nós.
Otto acompanha meu olhar e assente.
— Vou te acompanhar então.
Acenamos para o garçom, que anota nossos pedidos, e logo estamos mais uma vez
sozinhos.
— Seu filho é um menino muito bonito — elogio e Otto sorri. — Ele se parece com você.
— Quer dizer então que eu sou um cara bonito? — O loiro abre um sorriso tão sexy que
seria capaz de arruinar qualquer calcinha.
— Se não fosse, eu não teria me aproximado de você, professor. — Pisco para ele e seus
olhos faíscam.
Otto umedece os lábios devagar e eu engulo em seco.
Por que mesmo eu fui brincar com isso?
— A propósito, não sou mais casado — Otto diz e eu estreito os olhos para ele. —
Percebi o quanto ficou calada quando viu o Yuri e posso imaginar o que se passou pela sua
cabeça. Mas sou divorciado e hoje é um dos dias em que eu fico com meu filho.
— Ah…
Fico um pouco sem jeito, sem saber o que dizer, quando Yuri nos interrompe, voltando
com a bandeja com seu fast-food.
— Ainda tenho que buscar o sundae quando acabar de comer — ele anuncia, sentando-se
e beliscando uma batata. — Aceita, Mari? — O garoto me oferece as batatinhas fritas de um jeito
tão educado que eu apenas recuso com um sorriso.
— Mari? — Otto pergunta curioso e o menino dá de ombros.
— Tem uma garota da minha sala que também se chama Marina e todo mundo a chama
de Mari. Por isso eu pensei que…
— Eu adoro assim — interrompo-o e ele sorri satisfeito. — Inclusive até prefiro. Quando
me chamam pelo nome todo, parece que estão me dando bronca — confesso ao menino, que
solta uma risadinha.
Nossos pratos chegam e nós três começamos a comer enquanto jogamos conversa fora.
Yuri é um garoto bem espirituoso e adora conversar, deixando-me encantada por ele.
Consigo ver um pouquinho de Otto em cada gesto seu, em cada comentário alegre. E
também consigo ver o quanto o garoto foi bem educado. Pela idade, parece estar entrando na pré-
adolescência, mas isso não faz com que seja mimado ou irritante. Pelo contrário, o menino é um
doce.
— E como é ser aluna do meu pai? Ele é muito chato? — Yuri indaga e eu solto uma
risada ao notar a careta de Otto.
— Seu pai é ótimo professor — respondo, bebendo um gole da minha Coca. — Ensina
Filosofia de um jeito muito leve, que faz a gente querer prestar atenção em toda a sua aula —
digo, sincera, e observo Otto me encarar daquele jeito intenso.
Yuri parece gostar da minha resposta, porque sorri antes de dar uma mordida no
hambúrguer.
— Eu ia gostar de ter aula com ele um dia — revela. — Mas só se eu estudar na mesma
faculdade que você, né? Como ele tem doutorado, duvido que dará aula para o ensino médio…
E a informação me surpreende.
Viro-me para Otto, que apenas me olha tímido, dando de ombros, como se isso fosse
coisa pouca.
Mas ele é um doutor.
Nossa…
Eu sabia que professores universitários precisavam ter especialização em suas áreas, mas
nunca imaginei que Otto tivesse ido tão longe assim. Principalmente porque nunca falou em
nossas aulas que é doutor em Filosofia. Ao contrário dos outros professores, que fizeram questão
de recitar todos os diplomas logo no primeiro dia de aula, ele simplesmente se apresentou como
nosso professor.
E agora, sabendo disso, eu só consigo admirá-lo ainda mais.
Esse homem é ainda mais interessante do que eu imaginava…
Mais inteligente…
— Mas, se quiser cursar Engenharia Aeroespacial mesmo, será impossível ficar por aqui
— o pai dele pontua.
— Esse é o curso que quer fazer? — pergunto ao menino e seus olhos brilham.
— Sim! Não sei se vou conseguir passar no exame, mas é o meu sonho…
— Claro que consegue — Otto o interrompe. — Só dedicar aos estudos desde agora
como tem feito e consegue ingressar na universidade que quiser.
— Isso é verdade — concordo de pronto. — Mas me conta, o que um engenheiro
aeroespacial faz? — pergunto curiosa.
Yuri termina o seu lanche e puxa o refrigerante pelo canudo antes de me responder.
— É basicamente construir, inspecionar e projetar veículos espaciais. Como satélites,
foguetes, helicópteros, aviões…
— Meu Deus, isso é incrível! — fico empolgada e Yuri se remexe na cadeira, jogando a
franja de lado.
— E é mesmo! Sou apaixonado por tudo relacionado ao espaço.
— Nossa, adorei! Aposto que vai matar esse pai de orgulho. — Pisco para Otto, que sorri,
assentindo. — Eu também curso Engenharia, não é tão chique quanto a sua, mas pretendo atuar
na área de construção civil…
— Jura? Eu acho fantástico!
Então nós dois engatamos em uma conversa animada e vejo que o professor nos
acompanha, apenas pontuando algumas coisas. Em seus olhos, vejo o quanto está feliz por esse
momento.
Quando chega a hora da sessão deles, já terminamos de almoçar e caminhamos para fora
da praça de alimentação.
— Foi um prazer encontrar vocês, mas preciso ir. — Aponto para a saída do shopping. —
Obrigada pela companhia no almoço, rapazes. Bom filme, Yuri!
— Obrigado, Mari. A gente se vê por aí.
Aceno para o garoto, que caminha até o quiosque de sorvete a fim de buscar o seu sundae
e Otto vem em minha direção, com as mãos no bolso.
— Yuri adorou você.
— E eu então? Ele é muito fofo, Otto. Preciso te parabenizar pela educação dele, seu
filho é incrível.
O loiro me abre um sorriso orgulhoso.
— Obrigado, Mari.
Ouvi-lo me chamar assim faz meu coração dar um salto aqui dentro.
E a proximidade…
Seu cheiro me invade mais uma vez e eu engulo em seco.
— Foi um almoço muito gostoso, obrigada por isso.
Ouvimos a voz de Yuri de longe e sabemos que já é hora de ir.
— Bom… Até segunda? — Ele sorri de lado.
— Até segunda, professor — respondo, sentindo o meu coração disparar aqui dentro.
Otto me surpreende se aproximando mais e beijando o meu rosto de um jeito carinhoso.
Fecho os olhos ao sentir seus lábios quentes em minha pele, prendendo a respiração por
uma fração de segundos.
Esse contato, tão delicado, me desarma inteira.
Reabro os olhos quando ele se afasta e pisco algumas vezes, vendo-o acenar para mim e
se afastar, indo ao encontro de seu filho. Ao longe, vejo Yuri acenar também, despedindo-se, e
eu retribuo.
Fico parada por um momento, no corredor do shopping, tentando entender tudo o que
aconteceu por aqui.
Já era difícil ser imune a esse homem conhecendo-o na faculdade. E agora, conhecendo o
seu lado fora da sala de aula, sendo pai e amigo de um pré-adolescente, me bagunça ainda mais.
Ah, Otto…
Por que tão incrível?
CAPÍTULO 7 - Otto
— Eu posso levar o projeto para a sua casa, pai? — Yuri me pergunta pelo telefone
enquanto eu cruzo o caminho do campus em direção ao estacionamento.
Já encerrei a última aula e, logo que saí da sala, vi a mensagem do meu filho pedindo
para ligar quando eu saísse.
— E desde quando precisa me perguntar uma coisa dessas? — indago, como se fosse
óbvio.
Yuri recebeu um trabalho para fazer em casa, uma maquete de uma cidade, e está
bastante empolgado para fazê-lo.
— Vai ser demorado, mas podemos fazer um pouco a cada final de semana. Deixamos
no meu quarto guardado enquanto isso. Eu prefiro fazer com você do que aqui em casa.
E ouvi-lo falar assim faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Claro, filho. Vai ser divertido. Já tem uma ideia do que quer fazer?
E durante o trajeto até o meu carro, Yuri não para de me contar sobre tudo o que pensou
em fazer. Escola, hospital, shopping, padaria, supermercado, sua minicidade terá de tudo,
inclusive ponte sobre um rio.
— Podemos fazer um aeroporto também — completo e ouço sua empolgação do outro
lado.
— Verdade! Podemos comprar aviões de miniatura, né?
— Claro! Conseguimos colocar até uma linha férrea.
— Pai, isso é muito maneiro! Putz… Vai ficar incrível!
A voz empolgada dele é tudo para deixar o meu dia mais feliz.
— Perfeito. Me manda a lista dos materiais que você precisa para começar, que eu passo
no shopping amanhã para comprar tudo.
— Eu posso ir com você? Me busca na escola, podemos ir juntos ao shopping e almoçar
por lá mesmo…
Solto um suspiro alto.
— Vou ter que ver com sua mãe.
Sei que isso não atrapalharia em nada a vida de Renata, mas, como ela adora me
contrariar por pura implicância, não duvido nada de que colocará empecilho.
— Tá bom — sua voz desanimada me encoraja ainda mais.
— Já vou ligar e resolver isso. Ela está aí com você?
— Está, sim. Quer que eu passe o telefone para ela?
— Por favor!
— Tá.
Ouço som do Yuri conversando pela casa até a voz irritante surgir do outro lado.
— O que foi, Ulisses?
— Amanhã vou buscar o Yuri na escola para almoçar comigo e vamos ao shopping
comprar…
— Amanhã não é seu dia de ficar com ele — ela me corta com a voz amarga.
— Eu sei que não. Mas ele tem um trabalho de escola para fazer comigo no final de
semana e precisamos comprar os materiais.
— Ele não precisa ir com você para isso.
Não falei?
Filha da puta.
— Eu sei que não, Renata. Mas foi ele que me pediu para ir junto. Eu vou te poupar de
buscá-lo na escola amanhã, o que custa você liberar isso?
Chegando próximo ao meu carro, abro a porta e me jogo lá dentro. Solto um suspiro ao
ver os primeiros pingos de chuva caírem sobre o retrovisor e penso na sorte por ter entrado a
tempo.
— E por que ele vai fazer com você? Pode muito bem fazer aqui…
— É sério mesmo que quer fazer uma maquete com um adolescente, Renata? E está
disposta a gastar com isso? Porque duvido que custe menos do que mil reais todo o projeto
dele…
Jogo baixo, porque sempre funciona.
Quando dinheiro entra em jogo, essa mulher muda rapidinho de postura.
Sua bufada do outro lado me dá a resposta de que preciso.
— Traga-o de volta antes de ir para a universidade — avisa e eu reviro os olhos sozinho.
— Sempre faço isso.
Ouço a voz de fundo e sei que ela está indo devolver o celular para Yuri. Enquanto isso, a
chuva engrossa lá fora e, mesmo parado, eu ligo o carro para desembaçar o vidro.
— Deu certo, pai? — a voz de Yuri reaparece e eu sorrio.
— Deu. Amanhã te busco na aula e vamos direto para o shopping, ok?
— Beleza! Vou já montar a lista com as ideias e amanhã te mostro.
— Combinado.
— Valeu, pai. Vai ficar muito massa o projeto.
— Eu sei que vai. Vamos montar a cidade mais bonita. Agora eu preciso voltar para casa,
está uma chuva forte por aqui.
— Tá certo. Boa noite, pai.
— Boa noite, filho.
Despeço-me dele e desligo o telefone, jogando o aparelho no painel à minha frente. Ligo
o carro e coloco o limpador de para-brisa em velocidade máxima, dirigindo devagar pelo campus
em direção à saída. Estou prestes a passar pelo portão, quando uma imagem me chama a
atenção…
Será que é ela?
Avanço em sua direção e, quando estou mais perto, tenho a certeza. Debaixo do telhado
da guarita está Marina, abraçando sua mochila e olhando aflita para a chuva, que cai impiedosa à
sua frente.
Buzino e abaixo o vidro para que ela me veja e, quando me reconhece, ela me olha
esperançosa.
— Quer uma carona para casa? — ofereço e a garota sorri, assentindo depressa.
Destravo a porta do carro e ela entra rápido, acomodando-se ao meu lado. Alguns pingos
de chuva escorrem pelo seu braço e vejo que abraça o corpo, secando-os.
— Ai, professor. Muito obrigada! Eu não moro longe, mas estava aqui preocupada, como
iria para casa debaixo dessa chuva?
— E caiu de uma hora para outra, né? — comento enquanto saímos do campus.
— Sim! Eu não estava preparada para isso, senão teria trazido a minha sombrinha.
— Quer me dizer o caminho? — peço e Marina faz que sim, sinalizando para onde devo
seguir. — Por pouco você não me encontra, porque eu geralmente saio mais cedo. Mas parei
para atender a uma ligação de Yuri e acabei me atrasando.
— Ele está bem? — a morena me pergunta e eu sorrio, assentindo.
— Está ótimo. Queria me contar sobre um trabalho que precisa fazer e quer a minha
ajuda.
— E ninguém melhor do que um pai professor, né? — murmura e eu sorrio de lado.
— Além do mais, Renata não tem muita paciência para isso, então sempre sobra para
mim. O que eu acho ótimo, ela não sabe o que está perdendo.
Dou de ombros e Marina assente, apontando pela janela o seu prédio.
— É aqui que você mora? — pergunto e ela confirma.
— Eu divido um apartamento com uma amiga que também estuda na universidade.
Escolhemos aqui pela facilidade de acesso mesmo.
— É bem perto mesmo — constato.
Marina meneia a cabeça de leve e me encara por um instante em silêncio. Ela sabe que
precisa descer, já chegamos ao nosso destino, mas algo parece impedi-la de sair daqui.
É como se um fio magnético nos mantivesse presos aqui…
De repente o clima fica mais quente, o ar parece pesado, só de estarmos dentro do carro,
nos encarando dentro dos olhos.
Tão próximos e, ao mesmo tempo, tão longe…
— Eu… — A garota raspa a garganta e pisca os olhos demoradamente para mim. — Eu
preciso ir…
Assinto sem tirar os olhos dela e desço para os seus lábios, que estão umedecidos agora.
Tão convidativos.
Tão…
— Obrigada pela carona, Otto — a voz doce queima a minha garganta.
Assinto de leve e a vejo se inclinar em minha direção.
— Você me salvou…
Ela está tão próxima agora, que eu quase sinto a sua respiração em minha pele.
— Não foi nada, Marina — minha voz sai um sussurro e ela acena, fraquinho.
Quando a morena se inclina um pouco mais e beija o meu rosto, eu aperto os olhos por
um instante. O seu calor em minha pele me causa um arrepio e a umidade fica quando ela se
afasta.
Caralho…
— Boa noite, professor — murmura ao se afastar e isso é tudo que eu preciso para
recobrar o juízo.
Professor, Otto…
Você é o professor dela.
Pro-fes-sor.
Não fode.
— Boa noite, Marina.
A garota acena antes de abrir a maçaneta e saltar do veículo, correndo até a porta do
prédio para não pegar chuva.
Aqui, parado, observo-a entrar e só quando está em segurança é que eu arranco o carro,
pegando as ruas da cidade.
Durante o trajeto para casa, não paro de pensar no quanto essa garota mexe comigo.
E no quanto é errado que ela mexa assim.
Por Deus, eu não posso desejá-la, não posso…
Cacete.
Onde isso vai parar?
CAPÍTULO 10 - Marina
— Ai, amiga, uma pena eu não poder ir com você a esse evento hoje… — Carina
lamenta, do outro lado da linha.
Em viva-voz, deixo o celular em cima da cama enquanto me arrumo para sair.
— Você precisa estar com sua família, Cá. Não se preocupe! Eu vou ficar bem.
Termino de fechar o zíper lateral do meu vestido e ajeito os seios no decote, gostando da
visão que eu tenho. Hoje haverá um evento beneficente promovido pela universidade, em um
parque municipal. Terá música ao vivo e várias barracas com quitutes. Confesso que preferia
ficar em casa estudando, mas Carina me convenceu a ir. Além do mais, várias pessoas da minha
sala vão e, pelos comentários que ouvi, deve ser muito boa a festa.
— Aproveite por mim, Mari. E não perca a chance de pegar algum gatinho.
Solto uma risada de seu comentário e pego um batom rosa-pink para passar nos lábios.
Ajeito os cabelos e sorrio ao ver a imagem diante de mim. Borrifo meu perfume favorito e busco
a bolsinha preta, pegando o celular na cama.
— Vou chamar um Uber agora, Cá.
— Divirta-se, amiga! E, quando eu voltar, me conte todos os detalhes.
— Pode deixar!
— E manda uma foto do seu look, quero saber se está gatíssima.
Rio de sua expressão e me despeço dela, fazendo uma foto no espelho e lhe enviando.
Carina: Mas é gostosa essa minha amiga… Não saia de lá sem pegar ninguém, ok?
Eu: Vou tentar… Tchau, amiga!
Saio do apartamento e desço pelo elevador, já abrindo o aplicativo e procurando por um
motorista. Durante esse tempo, não deixo de pensar no que ela disse e no quanto eu queria
alguém que eu não posso ter…
Suspiro.
Nessas horas queria tanto que Otto não fosse o meu professor.
Mas, ao mesmo tempo, penso que, se eu não o encontrasse na universidade, não teria a
oportunidade de conhecê-lo melhor, de saber mais sobre ele.
Acho que as coisas têm que ser mesmo como são.
Preciso continuar mantendo nosso relacionamento o mais profissional possível e tirar
esse professor da cabeça. Isso não vai a lugar nenhum e eu vou ficar maluca nesse processo.
Balanço a cabeça sozinha, tentando tirar esses pensamentos de dentro de mim, quando o
meu carro chega.
Eu me jogo no banco traseiro e suspiro, olhando pela janela.
Essa noite quero me divertir.
Espero mesmo encontrar alguém legal na festa e seguir os conselhos de Carina.
— Acho que vou pegar uma bebida — falo para Bruna, uma colega de sala que encontrei
logo que cheguei aqui.
— Aquela barraca vermelha é a do caixa — ela diz alto e aponta para uma tenda um
pouco afastada de nós.
Assinto e ando pelo parque, vendo alguns rostos conhecidos pelo caminho, professores,
alunos e até parceiros do projeto de pesquisa. A festa está mesmo muito bonita. Como Carina me
contou, todo ano a universidade realiza esse evento para angariar fundos para entidades e este
ano a escolhida foi um lar de crianças abandonadas. Achei linda a iniciativa e foi assim que
minha amiga me convenceu a vir, por ser uma forma de ajudar estas crianças.
Quando estou chegando no caixa, abro a minha bolsa e pego o meu cartão, entrando na
fila. Ao chegar a minha vez de ser atendida, não deixo de sorrir e sentir o meu coração dar um
salto aqui dentro.
— Marina? — a voz grossa me arrepia inteira.
— Otto! — cumprimento-o, e ele abre um sorriso lindo para mim. — Você por aqui?
— Todo ano eu trabalho como voluntário neste evento — justifica, fazendo-me admirá-lo
ainda mais. — Mas desta vez me colocaram no caixa, acredita? Tanto professor de exatas e me
colocaram logo para dar trocos.
A careta de Otto é impagável.
— Vou te ajudar então comprando no cartão de crédito. — Estendo para ele, que sorri. —
Quero uma ficha de drinque.
— Só essa? Não quer aproveitar e já pegar mais uma?
A ideia é boa, mas eu nego, sorrindo.
— Não. Eu volto depois e te encontro mais uma vez.
Pisco para ele, que balança a cabeça, sorrindo de lado para mim.
O que foi que eu disse sobre tirá-lo da minha cabeça mesmo?
Pois é…
Eu sou uma piada!
Mas, todas as vezes que eu chego perto dele, esqueço tudo. Quem sou, quem somos um
para o outro…
Eu só…
Só quero ficar mais perto dele.
Embora isso seja uma tremenda loucura.
— Aqui.
Otto me entrega a ficha, eu aproximo o cartão na máquina e, quando apita, eu sorrio,
guardando-o de volta na bolsa.
— Obrigada, professor. Até daqui a pouco.
Pisco mais uma vez e ele sorri, acenando para mim.
— Até, Marina.
Meu coração ainda está acelerado quando me afasto e vou até a barraca de bebidas,
pedindo uma piña colada. Pego minha bebida e volto ao encontro das minhas colegas de sala,
mas mal presto atenção no assunto delas. Meu pensamento sempre vai ao encontro do professor
da barraca do caixa, que, como de costume, está perfeitamente vestido. Ainda que eu não o tenha
visto de corpo inteiro, pude notar a camisa social em tom claro ajustada ao corpo magro, os
cabelos penteados de forma impecável e a barba feita. Otto não precisa de muito esforço para ser
bonito e os olhos azuis vibrantes são a prova viva disso.
Termino de beber o meu drinque e penso em pegar algo para comer. Sorrio sozinha ao
fazer o trajeto de volta para o caixa e, quando chega a minha vez, é Otto quem sorri.
— Já voltou?
— Agora eu quero um espetinho de churrasco e mais um drinque — peço e ele acena,
buscando as fichas na caixa.
Ao seu lado, está um outro professor que eu já vi pelo campus, mas não o conheço tão
bem.
— Você vai ficar a noite toda aqui? — pergunto enquanto estendo o meu cartão para a
máquina.
— Não, daqui a meia hora acaba o meu turno. Dividimos em dois horários para não ficar
pesado. Eu estou aqui desde cedo, não aguento ficar até o fim do evento.
— Ah, imagino! Então daqui a pouco eu te encontro por aí?
Deixo o convite no ar e Otto sorri, balançando a cabeça.
— Claro.
— Obrigada, professor.
Sorrio para ele e me despeço, pegando as fichas para sair. Vou direto para as
barraquinhas e compro tudo, sentindo o meu coração bater ainda mais forte. Dessa vez não volto
ao encontro das minhas colegas, e sim dou uma volta pelo parque, vendo todas as barracas,
conhecendo a estrutura do evento por inteiro. É muito bonito tudo o que a universidade
organizou e, depois de dar o meu pequeno tour, paro de frente para o palco, onde uma banda de
pop rock vai começar a tocar.
Eu me animo e busco mais uma bebida, mas desta vez não encontro Otto no caixa, então
penso que já trocou o seu turno. Meu coração dá mais um salto por saber que devo encontrá-lo
aqui fora, então procuro-o com o olhar, mas o lugar está bem cheio.
Volto para próximo ao palco e puxo minha bebida pelo canudinho até sentir um cheiro
familiar surgir atrás de mim.
Sorrio sozinha e não preciso me virar para saber quem é.
— Já acabou seu turno? — pergunto, sem tirar os olhos do palco.
— Graças a Deus, sim. Chega de colocar um professor de humanas para fazer contas —
Otto resmunga e eu rio, finalmente me virando para ele.
— É por uma boa causa, professor.
— E é exatamente por isso que eu aceitei.
Vejo-o virar um gole na latinha de Coca-Cola e a forma como seu pomo de adão se
movimenta me faz engolir em seco.
Eu deveria achar isso sexy?
Porque, nossa…
Eu acho.
— Refrigerante hoje? — pergunto, apontando para a latinha.
— Estou dirigindo. Não misturo bebida com volante.
Sorrio por pensar que isso é exatamente algo que Otto faria.
— Há algo que você faz de errado? — brinco e ele arqueia a sobrancelha para mim. —
Você é sempre tão centrado, tão sensato… Há algo que você esconde, professor?
O loiro estreita os olhos para mim e umedece os lábios devagar, em um gesto absurdo de
sexy, antes de beber mais um gole de seu refrigerante.
— Otto não é o meu nome — revela e eu reviro os olhos para ele.
— Eu sei disso. É Ottoni.
Mas ele nega de pronto, fazendo-me franzir o cenho.
— Errado. Ottoni é meu sobrenome. Eu me chamo Ulisses.
E essa informação, sim, me surpreende.
Viro o corpo todo para olhá-lo de frente, procurando alguma sombra de dúvida em seu
semblante, e não encontro.
— É sério?
O professor assente de pronto.
— Mas por que o esconde? Ulisses é um nome bonito — declaro e ele faz uma careta
para mim.
— Quer sair daqui para eu te contar a história? — sugere logo que a banda começa a
cantar uma música bem alta.
Aquiesço e caminhamos pelas pessoas até encontrarmos um banco de madeira no parque,
em um lugar mais afastado. Aqui está parcialmente escuro e estamos sozinhos. A sua
proximidade ao se sentar ao meu lado me causa um arrepio.
— E então? — pergunto, cruzando as pernas, e o movimento involuntariamente faz a
barra do meu vestido subir.
Otto desce os olhos para as minhas coxas e se demora demais nelas, fazendo-me engolir
em seco e sentir um incômodo aqui dentro. Principalmente porque ele não disfarça, pelo
contrário…
Parece fazer questão de deixar claro que está secando as minhas pernas.
Ai, caralho…
Quando seus olhos voltam a encontrar os meus, vejo que estão brilhando em uma
intensidade absurda.
Meu professor umedece os lábios devagar e abre um sorriso discreto, fazendo meu
coração disparar aqui dentro.
— Lembra daquele nosso encontro na cafeteria? Quando conversamos sobre a minha
escolha da filosofia? — sua voz rouca chega a ser um pecado.
— Le-lembro — gaguejo e ele sorri mais.
— Eu comentei sobre meu avô, que era alguém que minha família tinha como
referência…
— Sim! Eu me lembro disso.
— Pois então, ele se chamava Ulisses.
— Ah…
— Quando eu era criança, adorava ser chamado assim. Porque o achava incrível. Mas
quando cheguei à adolescência que fui entendendo o que acontecia, passei a tomar pavor desse
nome.
— Ele era tão ruim assim?
— Fazia minha avó sofrer. Isso já era motivo de sobra para eu deixar de gostar dele.
— Nossa…
— O cara tinha outra família e minha avó sabia. Ela aceitava qualquer migalha que ele
tinha a oferecer. A vida inteira sendo traída, maltratada, deixada de lado… Era esse ser que
queriam que eu homenageasse?
— Nossa, Otto. Eu sinto muito… — digo sincera e ele acena devagar.
— Por isso não gosto que me chamem assim. A única pessoa que me chama assim, além
da minha mãe, é minha ex-mulher, que faz para me irritar.
E ouvi-lo falar dela traz um amargor em minha boca.
— Ulisses é um nome bonito, apesar de tudo isso. Mas Otto também combina com você.
O sorriso que esse homem me abre me desarma inteira.
E aqui, tão próxima a ele, sentindo o seu cheiro, sentindo o seu calor, eu luto bravamente
para tentar manter a cabeça no lugar.
— Então, Marina, eu não sou um cara tão certinho assim — diz, com a voz rouca e
grossa, me desestruturando. — Eu só levo a sério tudo o que eu faço, e o trabalho é uma dessas
coisas.
— Eu… — Engulo em seco e olho para ele. — Eu entendo…
— Mas ultimamente meus pensamentos não estão sendo nada sensatos.
Golpe no estômago é pouco para o que eu estou sentindo agora.
— Ah, não? — pergunto com um fio de voz.
— Nem um pouco.
Meu corpo inteiro se estremece e eu endireito a postura, descruzando as pernas e
cruzando de novo. O movimento chama a atenção de Otto, que mais uma vez desce os olhos para
as coxas. A forma como ele me encara é como se despisse o meu corpo, e eu aperto as pernas
tentando controlar o ardor que me surge.
Otto aperta os olhos e parece recobrar a consciência.
— Acho melhor eu ir — anuncia, olhando para o relógio de pulso. — Estou aqui desde
cedo, estou ficando cansado.
— Acho que também vou indo…
Eu me coloco de pé e não desço a barra do vestido, deixando-o mais curto
propositadamente. Otto entreabre os lábios enquanto me encara e balança a cabeça ao se
levantar.
— Tem certeza? A festa ainda está longe de acabar…
— Eu não vim no intuito de demorar.
Dou de ombros.
Mas a verdade é que, sem ele por aqui, tudo vai deixar de ser interessante.
— Certo. E você veio sozinha?
— Sim, vim de Uber. Minha amiga está fora da cidade este fim de semana.
— Então posso te oferecer uma carona para casa?
Sua voz é gentil e meu coração esmurra aqui dentro.
— Claro.
É só uma gentileza, eu sei. Mas a oportunidade de estar dentro de um carro com ele,
sozinha, em um lugar tão pequeno, não deixa de me criar expectativa…
E me deixar excitada…
Porque sem nem mesmo me tocar, Otto tem esse poder sobre mim.
Em silêncio, vamos até o estacionamento. E da mesma forma seguimos pela cidade até o
meu prédio. Não dizemos uma palavra, mas, quando o seu carro desliga, eu não perco a
oportunidade.
— Você está muito cansado? Ou quer subir um pouco? — ofereço e os olhos de Otto
faíscam, mas eu vejo que ele parece travar uma batalha interna. — Não tem ninguém aqui —
sussurro.
Otto continua pensativo e eu destravo o cinto de segurança, aproximando-me um pouco
mais.
— Ou você quer continuar fingindo que essa química não existe?
Meu professor fecha os olhos por um instante e seu pomo de adão sobe e desce devagar.
Quando ele os reabre, vejo um fogo vindo deles.
— Não dá mesmo para negar isso — a voz grossa faz o meu corpo inteiro se arrepiar. —
Sua amiga não vai chegar hoje? — pergunta e eu nego, sorrindo.
— Só depois de amanhã.
Quando Otto destrava o cinto de segurança e coloca a mão na maçaneta da porta, eu sinto
o meu corpo inteiro se esquentar em expectativa.
Ai, caramba…
Descemos do carro em silêncio e minhas mãos estão tremendo quando eu busco as
chaves na minha bolsa. Abro a porta principal e guio Otto até o elevador, onde subimos até o
meu andar.
Logo que eu abro a porta do apartamento e acendo a luz, o homem agarra a minha cintura
e me pressiona contra a parede, batendo a porta de madeira atrás de nós.
— Você ferra o meu juízo, Marina — rosna antes de atacar a minha boca de um jeito
faminto.
Eu mal tenho tempo de reagir, quando suas mãos me apertam forte e eu retribuo seu
beijo, abrindo a boca para lhe dar passagem.
E, meu Deus…
Sua língua quente me toma, me possui, e eu solto um gemido quando ele suga o meu
lábio inferior antes de me devorar mais uma vez.
Ah, caralho…
Que beijo gostoso.
Minhas mãos sobem até o seu cabelo e o puxam para mais perto, fundindo o nosso corpo
e colando-se ainda mais em mim. Otto esfrega seu quadril ao meu, fazendo-me sentir a ereção
em sua calça e eu só sei gemer diante de seu desespero.
Porque esse homem parece ter fome de mim.
A forma como ele me toca, como devora a minha boca, como desce os lábios pelo meu
pescoço, mordendo, chupando e lambendo, antes de voltar a beijar a minha boca, diz isso.
Diz que ele segurou esse desejo por muito tempo.
Assim como eu.
— Otto…
Ele me deixa ofegante quando abandona meus lábios mais uma vez e desce para o meu
pescoço, indo até o ombro, descendo a alça do meu vestido. A sua língua faz todo o trajeto e,
quando sua mão desce até a minha coxa e adentra o vestido, eu gemo mais.
— Porra, Marina… — ele murmura ao tocar a minha calcinha. — Molhada para mim de
novo?
— Eu…
Perco o raciocínio quando ele afasta o tecido e desliza o dedo pela minha carne já inchada
por ele.
Ai, caralho…
— Porra…
Otto mete um dedo dentro de mim e eu só sei gemer mais. Mas, quando tira, se afastando,
eu franzo o cenho para ele.
— Não tenho camisinha — reclama e eu puxo-o de volta para mim, beijando-o mais uma
vez.
— Mas eu tenho.
Seus olhos brilham e ele volta a me atacar, descendo a outra alça do meu vestido agora.
Sem soltar a sua boca, eu puxo o zíper lateral para baixo e facilito o seu trabalho,
descendo o vestido até a altura da cintura. Otto solta a minha boca e lambe os lábios devagar
quando vê meus seios livres.
— Você tem os peitos mais gostosos que eu já vi — declara, antes de cair de boca neles.
— Ai, Otto… — gemo quando ele chupa e lambe cada biquinho, revezando-se entre eles,
dando um trato em cada um.
Com a cabeça apoiada na porta, eu aperto os olhos enquanto meu professor mama
gostoso em mim e continua dedando a minha boceta.
Eu estou à beira de enlouquecer de tesão e um calor me consome, um fogo me toma.
Afasto-o devagar e ele me olha curioso enquanto termino de tirar o vestido. Fico apenas de
calcinha à sua frente, sobre os saltos altos.
Os olhos de Otto faíscam e ele lambe os lábios em um gesto absurdo de sensual.
— Gostosa pra caralho, Marina.
Otto volta a chupar os meus peitos e afasta mais a minha calcinha, metendo dois dedos
agora, fazendo-me abrir mais as pernas para ele.
Gemo desesperada enquanto sua boca me lambuza inteira e os dedos trabalham frenéticos
dentro de mim.
— Ai, professor… — murmuro e ele me encara com pura luxúria.
— Do que foi que me chamou?
— De… — Ele mete mais um dedo agora. — De professor… — gemo e ele sorri
malicioso.
— Quer ser fodida pelo seu professor, Marina? — a voz rouca de Otto é a minha
verdadeira ruína.
— Quero…
Seus olhos brilham mais e ele me solta, afastando-se de mim e me empurrando para o
sofá.
Otto me derruba no estofado, deixa metade do meu corpo deitado e os pés apoiados ao
chão.
— Eu vou te foder, Marina — anuncia, e, com a cabeça de lado, vejo-o se ajoelhar atrás
de mim. — Mas, primeiro, com a língua.
Meu professor desce a minha calcinha e atira-a longe, deixando-me completamente nua
diante dele. Abro bem as pernas e empino a bunda, vendo-o sorrir antes de dar um tapa em
minha nádega e agarrar o meu quadril para cair de boca em minha boceta.
— Ai, Otto… — gemo ao sentir sua língua percorrer deliciosamente a minha carne.
— Que boceta gostosa da porra, Marina — murmura antes de me devorar inteira.
Otto não se faz de rogado e me come com gosto, lambuzando-se e esfregando o rosto em
minha carne. Meu pescoço dói pela posição de olhar para trás, mas eu não mudo. A visão desse
homem se deliciando em mim é a porra da coisa mais gostosa que eu já vi.
A sua língua percorre cada cantinho meu e, quando o sinto morder a pontinha do clitóris,
eu gemo mais. Um tapa estalado em minha carne e eu rebolo a bunda em seu rosto, tomando
tudo dele para mim.
— Professor… — gemo e o safado ri em minha pele.
— Está gostoso, Marina?
Mais um tapa, seguido de uma chupada em minha boceta.
— Que delícia, Otto… Que delícia.
Eu rebolo mais meu rabo nele e Otto continua chupando gostoso, me comendo com
vontade.
Porra…
— Goza na minha boca, Marina, como uma boa putinha.
Ai, cacete…
Ele nem precisa pedir muito.
Quando Otto mete os dedos dentro de mim, sem parar de me chupar, eu rebolo ainda
mais a bunda em seu rosto quando sinto a primeira onda de tremores me invadir.
— Professor! — grito alto, gozando forte, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Otto só para de me chupar quando meu corpo desaba no sofá e os meus gemidos cessam.
— Porra… — murmuro e o ouço se levantar.
O som da fivela do cinto se abrindo me faz sentir mais um arrepio pelo corpo.
— Você goza gostoso demais, Marina.
Ainda estou ofegante quando o vejo surgir à minha frente.
— Mas quero te ver gozando de novo no meu pau.
CAPÍTULO 11- Otto
— Onde você tem camisinha? — pergunto, enquanto desço a cueca apenas o suficiente
para libertar o meu pau, que pulsa em minha mão.
— Na gaveta — Marina responde ofegante e aponta para o móvel abaixo da TV.
Abro a gaveta, pego a embalagem de preservativo e rasgo, cobrindo toda a minha ereção.
Ergo os olhos e vejo minha aluna ainda deitada parcialmente no sofá. Ela não se mexeu
desde que gozou e parece estar se recuperando do orgasmo insano que acabou de ter.
— Senta de frente para mim no sofá — peço e ela obedece, com os olhos faiscantes.
A garota escancara as pernas e me revela aquela boceta deliciosa e lisinha.
Porra.
Agarro sua cintura e meto de uma vez só, gemendo junto com ela ao sentir o meu pau
entrando em sua boceta tão apertada.
Ai, caralho…
Que saudade eu senti disso.
— Otto…
Solto sua cintura e seguro seu pescoço, prendendo-a e fazendo-a olhar para mim, dentro
dos meus olhos, enquanto eu a como gostoso. Os cabelos estão revoltos, o rosto corado, e a boca
inchada me convida para o beijo.
E é isso o que eu faço.
Tomo sua boca em um beijo sedento enquanto meu pau entra e sai de dentro dela em um
ritmo frenético, enlouquecedor. O som dos nossos quadris se chocando ecoa pelo apartamento e
eu posso apostar que todo este prédio está nos ouvindo foder, porque esta garota não tem um
pingo de pudor ao gemer.
Ela geme feito uma putinha.
E, porra, se isso não me deixa ainda com mais tesão.
— Você é muito gostosa, Marina. Caralho. Puta que pariu.
Xingo inúmeros palavrões enquanto continuo metendo nela, ainda agarrando o seu
pescoço, ouvindo seus gemidos se tornarem ainda maiores.
— Você está com muita roupa, professor — murmura entre gemidos e eu sorrio de lado.
Minha fome por esta garota é tanta que eu nem tive tempo de tirar a roupa.
— Eu estava louco para te comer, Marina — falo e ela geme mais alto agora. — Uma
roupa era o menor dos meus problemas.
Meto mais bruto nela, tirando o meu pau todo e enfiando até no talo, vendo-a se contorcer
no sofá de prazer.
Vejo uma gota de suor escorrer entre os seus seios e não resisto em me encurvar para
chupá-la, aproveitando para mamar um pouco em cada um deles.
Peitos gostosos do caralho.
Não tem nada no corpo dessa mulher que não seja gostoso.
Marina aproveita a minha proximidade e estica a mão para a minha camisa, tentando
desabotoar e eu rio em sua pele.
— Não está sentindo calor, professor? — pergunta e eu gargalho mais, enquanto continuo
metendo duro dentro dela.
— Se eu estou sentindo calor? — Afasto-me um pouco e facilito a retirada dos botões. —
Estou pegando fogo, Marina.
Os olhos dela incendeiam enquanto acaba de me despir e eu a ajudo, puxando a camisa
pelos braços e atirando ao chão.
— Bem melhor assim — murmura e seus pés envolvem o meu quadril, tentando
empurrar minha calça para o chão.
— Isso tudo é para me ver pelado, sua cachorra? — murmuro, sugando o seu lábio e ela
sorri maliciosa.
— Eu também tenho direito a essa visão.
Saio de dentro dela e rio baixo ao ouvi-la resmungar, enquanto me livro de toda a roupa,
ficando completamente nu diante dela.
— Você é um puta gostoso, professor — sussurra, lambendo os lábios devagar. — Agora
vem aqui e continua a comer a sua aluna.
E, porra, se eu não avanço sobre ela.
Meus lábios tomam o dela em um desespero animal e meu pau mete tão fundo em sua
boceta, tão rápido, que ela geme, mas eu abafo em um beijo insano.
Um beijo absurdo de gostoso.
Tiro meu pau e pincelo em sua entrada, lambuzando-me em sua boceta.
— Você que é uma puta gostosa, Marina — falo, ainda sem meter dentro dela. — Geme
feito uma puta — murmuro e brinco ali na portinha, entrando e saindo devagar. — E goza feito
uma também.
— Professor… — pede e eu não continuo, torturando-a mais um pouco.
Desço a boca e chupo seus peitos enquanto esfrego o pau em sua boceta, rodeando seu
clitóris.
— Professor, por favor — pede e eu ignoro, continuando a chupar.
— Não vê que estou ocupado mamando em você? — murmuro sugando um mamilo
agora.
— Professor…
— Precisa ser mais específica, Marina — provoco-a, sugando o bico de seu seio e
tomando-o em minha boca, lambendo e chupando.
O som estalado de minha saliva em sua pele deixa tudo mais gostoso.
— Você pode continuar mamando — fala, ofegante. — Mas com seu pau me fodendo
gostoso.
Ah, caralho…
Agarro a sua cintura e meto de uma vez só, indo até o fundo, e a garota ergue o quadril do
sofá de leve, enquanto um gemido agudo brota de sua garganta.
Gostosa dos infernos.
— É assim que você quer, sua cachorra?
Meu pau esfola a sua boceta, entrando e saindo em ritmo frenético, insano,
enlouquecedor e Marina só responde com gemidos.
Pensa numa mulher que geme gostoso…
Saio de dentro dela e a vejo resmungar.
— Fica de quatro para mim — peço e seus olhos brilham.
Quando ela o faz e empina o rabo para mim, eu não resisto a desferir um tapa em sua
bunda branquinha.
Agarro os seus quadris e meto de uma vez, tendo um ângulo absurdo de gostoso nessa
posição. Marina agarra o estofado e me olha de lado enquanto eu a como por trás, meu pau
entrando e saindo cada vez mais rápido de dentro dela.
Levo a mão a sua boca e ela chupa meus dedos, um a um, de um jeito absurdo de sexy.
Com um dedo lambuzado por sua saliva, rodeio o seu ânus e a vejo gemer mais.
Meto um dedo dentro dela e a garota geme alto e desesperada, rebolando em meu pau.
Deliciosa.
Essa visão de Marina com a bunda empinada, agarrada ao estofado enquanto eu como sua
boceta e dedo o seu cu é absurda de gostosa.
Me deixa tão louco, que só consigo meter mais fundo, mais forte, mais bruto.
— Gostosa demais, Marina. Puta que pariu.
Acerto sua bunda mais uma vez e a safada rebola o rabo em meu pau, desesperada,
deixando a foda muito mais gostosa.
— Está gostoso, Marina? — pergunto, metendo o dedo um pouco mais enquanto meu pau
não alivia a sua boceta.
Eu continuo fodendo-a cada vez mais forte, mais bruto, mais animal.
— Muito… Otto… — geme, emitindo sons desconexos e eu só sei sorrir. — Ai, cacete…
— É meu cacete mesmo que está te fodendo gostoso assim. Sorrio e a estapeio mais uma
vez.
— Ai, professor…
Quando ela geme me chamando assim, é a minha ruína. Sei que vou querer mais dela, de
seu corpo, de seus beijos, de sua boceta gostosa…
Caralho.
Não vou me contentar tendo pouco desta garota e eu lutei por muito tempo, resisti a essa
porra de tentação, mas não consigo mais.
Meu corpo clama pelo dela.
Esta garota me atrai feito ímã.
E a conexão absurda que temos aqui é prova disso, porque não encontramos em qualquer
lugar.
Na verdade, eu nunca senti tanto desejo em toda a minha vida.
— Ai, Otto… — Marina geme quando eu entro um pouco mais com o dedo e continuo
comendo-a por trás.
Vejo sua mão descer até a boceta e tocar ali, fazendo-me gemer mais.
— Isso, Marina. Toca essa sua boceta gostosa.
O eco dos nossos quadris se chocando, somado ao atrito dos dedos de Marina em sua
lubrificação, é a porra do som mais gostoso que eu já ouvi.
— Eu vou gozar, eu vou… — ela anuncia e eu intensifico o ritmo, metendo ainda mais
forte até vê-la gozar.
— Otto! — ela grita o meu nome.
Gozando.
Tremendo.
Gemendo.
Convulsionando.
Porra de mulher gostosa.
Sua cabeça desaba no sofá e eu continuo comendo até gozar também, esporrando tão
forte que seria capaz de estourar essa camisinha.
— Caralho — murmuro, saindo de dentro dela, e a garota desaba o corpo ali.
Ofegante, descarto a camisinha e me abaixo ao seu lado, tocando seu rosto suado.
— Foi bem comida pelo seu professor, aluna? — brinco e ela ri.
— Caramba, Otto… — murmura, recobrando a respiração. — Senti saudade disso.
Eu sei.
Porra, como eu sei.
Se uma trepada com ela no banheiro de uma boate sem a conhecer direito foi do caralho,
imagina hoje…
Conhecendo-a mais, desejando-a mais, querendo-a mais perto de mim…
Hoje foi surreal.
— Eu também senti falta — confesso, tocando seus cabelos e lhe dando um selinho.
Marina sorri preguiçosa e continua ofegante no sofá.
— Não vai se mexer? — brinco e ela ri.
— Você acabou comigo, professor. Me dá um minuto para eu me recuperar.
— Dou até dois. — Pisco para ela e me levanto de pronto. — Quer uma água?
A morena assente, eu caminho pelo apartamento desconhecido até a cozinha e procuro
por um copo nos armários. Encho um de água gelada e viro em um gole só, repondo e voltando
até ela.
Encontro Marina já sentada no sofá quando estendo a ela o copo que também toma com
desespero. Pelo visto não sou eu o único com sede por aqui.
— Hoje você não fica com Yuri? — pergunta quando me sento ao seu lado.
— Ele vai dormir na casa da minha mãe hoje. Eu sabia que a festa acabaria tarde, então
preferi levá-lo para lá.
— Entendi… — Marina termina de tomar a água e repousa o copo sobre a mesinha de
centro.
E agora eu noto que estamos nus no sofá, tendo uma conversa relaxada pós-sexo.
Caramba…
Quem diria, hein?
— Então não precisa voltar para casa hoje? — pergunta, maliciosa, e eu estreito os olhos
para ela.
— Não…
— Não quer ficar por aqui esta noite? Eu prometo me comportar direitinho.
A garota tira os sapatos dos pés e engatinha em minha direção, mostrando que comportar
é algo que certamente ela não vai fazer.
E quem disse que eu quero que ela se comporte?
— Hummmm… Tente me convencer a ficar — desafio e seus olhos brilham enquanto ela
toca a minha coxa, ainda de quatro.
— Será que se… — A garota toca o meu pau, que mesmo amolecido, começa a ganhar
vida de novo em suas mãos. — Se eu te chupar agora, seu pau fica duro de novo?
Porra.
Meu coração dá um salto e minha boca seca quando Marina lambe os lábios devagar,
antes de sugar a cabecinha.
— Ai, caralho… — murmuro, ela sorri satisfeita e me toma em sua boca, chupando e
sugando meu cacete até que fique completamente duro.
— Bom garoto. — Seu sorriso é malicioso quando vê seu feito. — Agora sim.
Marina rebola a bunda enquanto toma meu pau na boca, chupando e correndo a língua
por toda a extensão até engoli-lo por inteiro. O movimento a faz engasgar, mas ela não se acanha
e continua me chupando e mamando com gosto.
Eu me descontrolo e impulsiono o quadril para cima. Fodendo a sua boca, agarro seus
cabelos, ditando o ritmo. O som da sua boca em atrito com a minha pele é insano e sei que ela
não vai demorar a me levar ao orgasmo.
— Se continuar desse jeito, eu vou gozar — falo, ofegante, e ela sorri maliciosa.
Marina aperta as minhas bolas e chupa um pouco mais, sugando a pontinha e engolindo
mais uma vez, antes de se afastar.
— Não te quero gozando ainda, professor — anuncia e sobe no meu colo.
Ela está prestes a me montar, quando a interrompo.
— A camisinha — peço e ela arregala os olhos para mim, assentindo.
— Desculpa.
Balanço a cabeça negando e ela se ergue para buscar mais uma embalagem na gaveta.
Se eu fosse olhar o meu desejo, teria metido dentro dela até o fundo, mas ainda bem que a
consciência gritou mais alto.
Marina volta a sentar em meu colo e abre o preservativo, desenrolando e cobrindo o meu
pau de um jeito tão sexy que me deixa ainda mais duro, se é que é possível.
— Pensei que eu tinha acabado com você, aluna — provoco, vendo-a se posicionar para
montar em mim.
— E acabou mesmo, professor — murmura e se posiciona em meu pau, sentando de uma
vez.
Ai, caralho…
Se essa garota sentando em mim não é a porra da coisa mais gostosa deste mundo.
— Mas seu pau é tão gostoso que vale o esforço. — Pisca e se ergue de leve, sentando
mais uma vez.
Porra…
Agarro seu quadril e ajudo-a, ditando o seu ritmo, subindo e descendo sobre mim em uma
velocidade um pouco mais lenta agora, mas bastante sensual.
Não temos aquela fome de outrora, nem um desespero cru.
Agora sinto que queremos nos saborear, desfrutar o momento…
E, porra, se isso não é ainda mais gostoso.
— Isso, Mari. — Guio-a, e ela joga a cabeça para trás enquanto sobe e desce sobre mim
em um ritmo absurdo de gostoso. — Quica no meu pau, vai.
A garota sorri e rebola em meu colo antes de subir e descer, quicando, rebolando,
buscando seu prazer em mim.
Quando seus olhos descem e encontram os meus, eu sinto algo diferente por trás deles.
Sinto um desejo diferente aqui dentro…
Puxo seus cabelos e tomo sua boca na minha, beijando-a enquanto minhas mãos não
soltam o seu corpo e continuam ditando o seu ritmo, que se acelera um pouco mais agora.
— Gostosa pra caralho…
Abandono seus lábios inchados, desço a boca até os seus seios e abocanho-os mais uma
vez.
Eles são tão gostosos que eu nunca vou me cansar de mamar em cada um deles.
Revezo entre os dois, chupando, lambendo e mamando enquanto Marina continua
quicando sobre mim, subindo e descendo bem mais rápido agora.
— Professor… — chama e eu ergo os olhos para ela, sem tirar seu peito da boca.
A garota está se contorcendo de desejo e eu sorrio de lado, mamando mais um pouco.
Noto que seu corpo começa a desacelerar o ritmo e a tiro de cima de mim, derrubando-a
no tapete da sala.
Marina cai de costas no chão e eu agarro sua cintura, dobrando os seus joelhos e me
ajoelhando diante dela.
Cravo os dedos em sua carne enquanto meto fundo, vendo-a gemer alto sem tirar os olhos
de mim.
A morena chupa um dedo de um jeito tão sexy e desce até o clitóris, enquanto eu como
sua boceta com mais força agora, com muito mais fome.
— Vai aguentar gozar uma terceira vez, Marina? — provoco, acelerando o ritmo das
estocadas.
Os dedos da garota fazem um vaivém frenético em sua boceta e eu continuo fodendo-a
com mais força.
— Ai, Otto… — murmura e pela forma como se desespera, contorcendo-se e acelerando
o ritmo dos dedos, sei que não está longe de gozar.
Acelero as estocadas e meto mais forte, mais rápido; quando seus primeiros tremores
vêm, eu vou até o talo, metendo fundo e gozando junto com ela.
— Porra, Marina — murmuro, ofegante, sentindo o coração esmurrar o peito.
Caralho…
Saio de dentro dela e descarto a camisinha, desabando ao seu lado no tapete.
— Te convenci a ficar? — brinca, quando ficamos calados por tempo demais,
recuperando o fôlego.
Viro-me para ela e sorrio ao ver seu semblante cansado.
— Tem fôlego para mais uma? — brinco e ela ri baixo.
— Ainda não… Mas mais tarde quem sabe.
Ê, caralho…
Pelo visto valeu a pena esperar meses por uma segunda vez.
E terceira…
— Marina… — começo a falar, mas ela me interrompe, colocando um dedo em minha
boca.
— Podemos deixar a conversa séria para outro dia? — Giro o corpo e apoio a cabeça no
cotovelo, ficando de frente para ela. — Hoje eu só quero te curtir um pouco. — Seus dedos
passeiam pelo meu peitoral e eu sorrio. — E prometo continuar guardando segredo.
— Você bagunça a minha cabeça, sabia? — confesso e ela me olha nos olhos, sorrindo.
— De um jeito bom? — pergunta curiosa e eu balanço a cabeça.
— De um jeito muito bom.
Inclino-me para beijar sua boca e o que começa em um selinho se aprofunda, tornando-se
um beijo cheio de significados.
Não sei bem o rumo que tudo isso vai tomar, mas estou cansado de lutar contra esse
desejo.
Cansado de lutar contra a vontade de estar com ela, de querê-la ter por perto.
E por hoje…
Por hoje eu vou ficar.
Por hoje eu quero ficar com ela.
CAPÍTULO 12 - Marina
Ainda sonolenta, estico o braço pela cama e sinto uma pontada no peito ao encontrá-la
vazia. Abro os olhos e não consigo esconder o descontentamento ao ver que estou sozinha.
Será que ele saiu no meio da noite?
Será que não quis ficar comigo?
Pego o celular na mesinha de cabeceira e não encontro mensagem alguma, sentindo um
nó se formar aqui dentro.
Sei que não temos um relacionamento e que eu não deveria me sentir assim, mas ele
concordou em ficar.
E foi tão gostoso dormir nos seus braços…
Sento-me na cama e fecho os olhos me lembrando da noite passada, que foi mesmo muito
intensa. Depois de me proporcionar três maravilhosos orgasmos, nós tomamos um banho juntos
e acabamos pegando no sono aqui na minha cama.
Eu até pensei em acordá-lo de madrugada para uma rapidinha, mas quem disse que eu
consegui?
Meu professor realmente acabou comigo e eu dormi feito uma pedra, acordando apenas
agora pela manhã.
Atravesso o corredor do apartamento e o encontro em absoluto silêncio.
Solto um suspiro.
É… Pelo visto, Otto não quis mesmo ficar aqui.
Entro no banheiro e me dispo, indo até o chuveiro para uma ducha rápida enquanto
escovo os dentes. Penteio os cabelos e os prendo em um coque frouxo. Saio de toalha mesmo,
voltando para o quarto, onde busco uma regata e short levinhos para vestir.
Quando saio para o corredor novamente, ouço o som da porta do apartamento sendo
aberta e me surpreendo com a imagem que surge.
— Otto? — chamo-o e ele abre um sorriso lindo para mim.
Caminho em sua direção e só então noto algumas sacolas em suas mãos.
— Bom dia, Mari — ele me cumprimenta, inclinando-se para me dar um selinho. —
Desculpa a demora. Fui procurar uma padaria aqui no bairro, mas não encontrei. Acabei indo até
uma mais distante que tem uns pães maravilhosos, mas acabei me atrasando. Faz muito tempo
que você acordou?
Pisco os olhos devagar e sorrio sozinha.
Ele não foi embora…
Ai, meu Deus.
Ele não foi embora!
— Acordei há uns minutinhos. Tomei um banho e acabei de me trocar.
Pego as sacolas de sua mão e o ajudo a levar tudo até a cozinha. Acomodo na bancada e
ligo a cafeteira para começar a preparar o nosso café.
— Bom dia, professor — brinco, circulando sua cintura e ele sorri, dando-me mais um
selinho.
— Dormiu bem, minha linda? — a voz carinhosa faz o meu coração dar um salto aqui
dentro.
— Se eu dormi bem? — indago, arqueando a sobrancelha, e ele ri. — Depois de três
orgasmos, como não dormir bem?
Otto abre um sorriso orgulhoso e acena, acariciando o meu braço antes de me soltar.
— Isso é ótimo! Eu não vou poder ficar muito com você, porque preciso passar em casa
para tomar um banho e me arrumar, tenho que chegar antes do almoço na casa da minha mãe.
Mas pelo menos podemos tomar um café juntos.
Mais um selinho e meu coração dá piruetas aqui dentro.
— Está ótimo, Otto. Fico feliz de ter a sua companhia. Confesso que pensei que você
tinha ido embora…
Ele estreita os olhos para mim de um jeito fofo.
— Não sou esse tipo de homem, Marina. O que eu prometo, eu cumpro — a voz grossa e
firme me arrepia inteira.
A piscada que ele me dá em seguida me deixa molinha.
— Eu não sei ainda do que você gosta, então trouxe um pouco de tudo. Bolinhos, pães
recheados, torradas, patês e geleias…
Otto vai tirando um tanto de coisa das sacolas e colocando sobre a mesa, sinto-me
acolhida diante de todo seu carinho e zelo.
— Eu comeria até um pão com manteiga, Otto. Não precisava se incomodar.
— Precisa repor suas energias depois da noite de ontem.
A piscada, seguida de um sorriso safado, me faz sentir uma onda de calor instantânea.
Só de lembrar a noite de ontem…
Caramba.
Nunca senti tanto prazer em toda a minha vida.
Preciso tê-lo mais vezes, senti-lo mais vezes…
— Você, com essa carinha de intelectual na universidade, disfarça bem o furacão que é
na cama — brinco e ele ri.
— Não posso sair entregando meu ouro por aí, mocinha.
Eu rio e nos sentamos à mesa quando o café fica pronto. Experimento de tudo um pouco
enquanto temos uma conversa tranquila durante a refeição. Otto me conta como funcionam os
almoços de domingo em família e o quanto Yuri aproveita para brincar com seus primos. É lindo
de ver o brilho em seus olhos todas as vezes que fala sobre o filho.
— Já está com saudades dele? — pergunto e Otto assente de pronto.
— São poucos dias na semana com quem eu mais amo no mundo. Então, quando chega o
final de semana, eu quero aproveitar cada minuto ao lado dele.
— Deve ser muito bom ter um pai como você — confesso, soltando um suspiro. — Yuri
tem tanta sorte…
Bebo mais um gole de café e percebo Otto me analisar com o olhar compreensivo.
— Eu sinto muito pelo pai que você tem, Mari. — Sua mão encontra a minha na mesa e
ele entrelaça os nossos dedos. — O que eu faço pelo Yuri deveria ser a regra, e não a exceção.
Sorrio agradecida.
Realmente, em um mundo onde muitos pais não estão nem aí para os filhos, Otto é
mesmo um exemplo a seguir.
— Não vou tomar muito o seu tempo — digo, logo que acabamos o café. — Sei que você
precisa ficar com o seu filho um pouquinho agora.
Eu me levanto e Otto me ajuda a tirar a mesa, recolhemos e lavamos juntos toda a louça.
Quando tudo está no lugar, eu me encosto na bancada e fico de frente para ele.
Meu professor me envolve pela cintura e beija meu ombro com carinho.
— Vai passar o dia aqui sozinha?
— Vou… Mas vou ficar bem, não se preocupe. Vou aproveitar para colocar toda a
matéria da semana em dia e trabalhar um pouco no projeto de pesquisa.
Otto assente e solta a minha cintura, tocando o meu rosto agora e acariciando os meus
cabelos, enquanto coloca atrás da orelha uma mecha que se soltou do coque.
— Mari, você sabe que não podemos ter um relacionamento, não é? — sua voz é mais
séria agora e eu assinto, engolindo em seco. — Pelo menos não publicamente. É expressamente
proibido na universidade.
— Eu sei…
Dói no fundo da minha alma, mas eu sei.
— Porém, não dá para ignorar isto aqui.
Seus dedos descem até os meus lábios e roçam neles devagar. Entreabro-os e fecho os
olhos, sentindo meu corpo se arrepiar quando ele toca minha boca, me beijando com tanto
carinho, com tanto cuidado.
Meu Deus…
Eu o quero tanto.
— Eu não deveria te querer, Marina — murmura a milímetros dos meus lábios e eu
estremeço. — Mas quero…
Os olhos azuis estão escurecidos agora e me encaram tão firmes, que parecem adentrar a
minha alma.
— Eu também quero… — sussurro e ele sorri de lado, dando-me um selinho gostoso.
— Não sei como tudo isso vai funcionar, mas, você quer arriscar? — pergunta e eu
aquiesço, sem desviar os olhos dos seus. — Só precisamos ser muito cautelosos, muito mesmo.
Ninguém pode saber disso, Marina. Tem muita coisa em jogo aqui.
— Eu sei… Ninguém vai ficar sabendo, eu prometo. — Seguro a sua mão e continuo
encarando-o firme. — Pode confiar em mim.
Otto assente e cola a sua testa na minha.
Estamos tão próximos, que consigo sentir a sua respiração quente tocar a minha pele.
— Eu te quero tanto, garota…
— Eu também, Otto — murmuro, sentindo meu coração esmurrar aqui dentro. — Vamos
fazer isso dar certo. Ainda não sei como, mas nós vamos.
Ele faz que sim devagar e roça o nariz em minha pele, arrepiando-me inteira.
— Como vou olhar para você naquela universidade sabendo que não posso te tocar? —
Um beijo e eu amoleço toda. — Sabendo que não posso te beijar?
— Ah…
Seus lábios descem até o meu pescoço e ele me morde, fazendo-me gemer baixo.
— Como eu vou te ver sentada na primeira fileira, usando um short minúsculo, sabendo
que não posso te chupar?
Uma sugada em minha pele e eu arfo.
— Eu… — Respiro pesado e pisco os olhos devagar. — Eu vou tentar me comportar. E
usar umas roupas mais compridas para você.
A risada em minha pele me arrepia ainda mais.
— Mas eu gosto de você assim, Marina. Exatamente como é. Só preciso aprender a
resistir à tentação quando estivermos em um lugar público.
Otto roça os lábios em meu pescoço e sobe em direção à minha orelha, mordiscando o
lóbulo bem devagar.
— Porque quando estivermos a sós… Vou cobrar cada minuto em que estivemos
separados. — A promessa velada me faz gemer baixo. — O que fizemos ontem à noite foi só
uma amostra, Marina…
Mais uma mordida e eu gemo mais.
Otto nem mesmo me tocou, mas estou aqui toda arrepiada e excitada por ele.
— Mas agora eu preciso ir.
Beija o meu ombro e eu faço uma careta para ele, que ri.
— Preciso ficar um pouco com o meu filho.
— Está certo… Nos vemos amanhã na aula?
— Como professor e aluna — reforça e eu confirmo.
— Exatamente assim. — Ganho um selinho dele e o vejo se afastar, descolando nosso
corpo. — Aonde vamos nos encontrar? Aqui mesmo?
— Sempre no meu apartamento ou no seu. Quando estivermos completamente sozinhos
— propõe e eu concordo.
— Certo. Por mim está ótimo assim.
Otto dá mais um passo para trás e eu não resisto, puxando-o pela mão e trazendo-o de
volta para colar minha boca na sua. O beijo, que começa lento e preguiçoso, se torna mais
quente, mais afoito, mais urgente.
— Eu preciso mesmo ir, Mari — diz ofegante quando se separa, e eu assinto.
— Eu sei, me desculpa.
Otto balança a cabeça e me dá mais um selinho.
— Te vejo amanhã, aluna.
A piscada que ele dá me faz abrir um sorriso.
— Até amanhã, professor.
Aceno e vejo Otto sorrir antes de sair do meu apartamento, fechando a porta.
Sozinha, olho tudo ao meu redor e sorrio.
Fecho os olhos e penso na loucura que vai ser pegar o meu professor às escondidas.
E, mesmo não sabendo onde isso vai parar, sei que vai valer muito a pena.
É aquela, né?
O proibido é sempre mais gostoso…
E se for com Otto então…
Fica delicioso.
CAPÍTULO 13 - Marina
— Eu não acredito que você só me esperou sair de casa para trazer o gostoso do seu
professor! — Carina finge reprimenda, mas o sorriso que abre me diz que está pensando
exatamente o oposto disso.
— Ué… Preferia estar presente? Te garanto que você não ia querer nos ouvir — provoco
e recebo uma almofadada na cabeça.
— Sua ridícula!
Minha amiga gargalha e eu me uno a ela.
— Ah, amiga… Foi tão gostoso. — Suspiro e Carina sorri.
— Esse homem te deu uma canseira, né? Porque a sua carinha não me engana, dona
Marina! Parece que recebeu um trato e tanto!
Abro um sorriso malicioso para ela.
— Os caras da nossa idade têm muito que aprender com os quarentões, viu? Otto é um
furacão na cama, puta merda…
— Vai… Esfrega na minha cara que está sendo bem comida!
Carina balança as mãos revoltada e eu rio.
— Mas e agora, como vão fazer? Se não podem se relacionar…
— Então… Nós resistimos, né? Por quase dois meses. Mas não dá mais, Cá. Eu nunca
tive essa química com ninguém antes, nunca quis alguém assim como quero o Otto.
— Nossa, então a coisa é séria mesmo, hein?
— Séria, eu não sei. Mas vamos tentar fazer isso dar certo, mesmo que seja escondido. E,
Carina, pelo amor de Deus. Ninguém pode saber disso, ok? Eu prometi ao Otto que não contaria
a ninguém.
— Não precisa nem me pedir uma coisa dessas, Mari. Eu jamais prejudicaria vocês.
Porque isso não traria problemas apenas para o professor, mas para você também. Fica tranquila.
Solto um suspiro e assinto.
Sei que posso confiar nela.
Além do mais, preciso ter alguém para desabafar e contar sobre a minha vida. Eu surtaria
por guardar algo tão forte assim apenas comigo.
— E como vocês vão se ver?
— Nos encontraremos sempre no apartamento dele, ou aqui, quando você não estiver —
falo e ela concorda. — Otto não vai ficar confortável se você estiver aqui.
— E eu também não quero ouvir vocês transando. — A careta que ela faz me tira uma
risada.
— Mas não vamos nos ver sempre para transar — solto e ela estreita os olhos para mim.
— Você vai ficar, sei lá, uma semana sem vê-lo… Jura que quando se encontrarem não
vão mesmo transar?
Faço uma careta.
Culpada.
A gargalhada dela me contagia.
— Mas aproveita, amiga. Só toma muito cuidado. Principalmente se você se apaixonar.
Não quero que se machuque caso isso não dê certo.
E só de pensar nisso já sinto um aperto no peito.
Não quero que dê errado.
Demoramos tanto a ficarmos juntos de novo, que agora não quero mais ficar longe dele…
É tão gostoso… É tão certo estarmos juntos.
Mas não vou pensar nisso agora.
Vamos viver um dia de cada vez, nos curtindo e vendo que direção tudo isso vai tomar.
— Otto é um cara muito legal, Cá. Ele não vai me machucar.
— Ele, pode ser que não… Mas a vida, talvez?
— É, talvez. Mas não quero pensar nisso agora, ok? Me deixa curtir meu professor
gostoso um pouquinho.
Solto um suspiro e me jogo no sofá, quando sinto o celular vibrar no bolso.
— E por falar nele…
Sorrio ao ver seu nome surgir na tela.
Otto: Você costuma dormir cedo?
Eu me levanto do sofá e aceno para Carina, que solta uma risada.
— Vai lá, sortuda!
Digito a resposta enquanto caminho para o meu quarto. Fecho a porta e me jogo na cama.
Eu: Não muito, por quê?
Otto: Quer jantar comigo depois da aula hoje?
Ai, meu Deus…
Meu coração dá um salto aqui dentro e eu abro um sorriso sozinha, adorando a ideia de
passar mais um tempo com ele.
Eu: Claro! Vou adorar. Onde você pensou?
Otto: Aqui na minha casa mesmo, pode ser?
Eu: Por mim está perfeito. Você me passa seu endereço?
Otto: Eu te levo comigo, não se preocupe. Não é a primeira vez que te dou carona,
esqueceu?
Verdade.
Sorrio ao me lembrar de quando ele me trouxe em casa debaixo de uma tempestade.
Naquele dia eu quis tanto beijá-lo, precisei me controlar.
Mas agora não preciso mais…
Eu: Certo. Quer que eu leve uma sobremesa?
Ofereço, gentil, mas a sua resposta faz o meu corpo se esquentar.
Otto: Não mesmo. A minha sobremesa será você.
Ai, caramba…
Eu: Maldade sua me falar uma coisa dessas agora, hein?
Otto: Nem tente se divertir sozinha, garota. Você só vai gozar comigo agora.
Puta que pariu.
Como esse homem consegue me levar à combustão só com algumas palavras?
Eu: Covardia, hein, professor?
A sequência de risadas de Otto vem para me deixar ainda mais quente, porque eu consigo
ouvir o som da sua gargalhada maldosa.
É um som tão gostoso…
Otto: Só mais algumas horas, Marina… Prometo que a espera valerá a pena.
Eu: Em se tratando de você, não tenho dúvidas.
Otto me envia um emoji sorrindo safado e eu fecho os olhos por um instante, repousando
o celular no peito.
Faltam umas boas horas para a aula começar e mais ainda para terminar, mas serei
paciente.
A verdade é que já estou com saudades dele…
Não sei se deveria, mas estou.
Otto: Estou com saudades.
Sinto o celular vibrar e leio a sua mensagem, sorrindo sozinha pela nossa sintonia.
Eu: Eu também… Estava pensando nisso agora, inclusive.
Otto: Só mais umas horas, minha linda.
E, todas as vezes que ele me chama assim, aquelas borboletas dão cambalhota em meu
estômago.
Eu: Mal posso esperar, professor.
Deixo o celular de lado e penso sozinha em toda essa loucura.
Em como eu vim para esta cidade com o intuito de estudar, dar o meu melhor e acabei me
esbarrando com alguém simplesmente incrível.
Nunca pensei que fosse gostar tanto da companhia de alguém assim. Eu, que nunca
cheguei a ter um relacionamento sério com ninguém, nunca cheguei nem perto de me sentir
assim.
Mas com ele…
Com ele é tudo diferente e eu gosto muito da sensação de tê-lo por perto.
Gosto de tudo que Otto desperta em mim.
São só mais algumas horas, Marina…
E logo você estará nos braços dele outra vez.
CAPÍTULO 14 - Otto
Marina
Segurando as alças da mochila, começo a ficar ansiosa enquanto espero por Otto na
guarita da portaria do campus. A segunda aula demorou um pouco mais a passar, mas me foquei
na matéria e tudo fluiu melhor. Logo que acabou, vim correndo para o lugar combinado a fim de
esperar por ele.
Porque não vejo a hora de vê-lo mais uma vez.
A sós.
Onde podemos ser apenas nós mesmos.
A buzina do carro preto me desperta e eu sorrio ao ver o vidro da janela se abaixando.
— Precisa de uma carona, Marina?
— Nossa, professor. Obrigada! Vai me ajudar bastante!
Mantendo a atuação, entro em seu carro e finjo timidez, até que ele saia por completo das
paredes da universidade.
— Então hoje vou saber onde meu professor mora? — brinco e ele sorri, balançando a
cabeça.
— Não é nada de muito interessante, já aviso.
— Ah, duvido muito.
— Não vá com muita expectativa, é só o apartamento de um homem que mora sozinho.
E pensar nisso faz um arrepio percorrer a minha espinha.
Não tem como não criar expectativas estando sozinha com ele…
— Tenho certeza de que é incrível — constato.
Para a minha surpresa, Otto não mora muito longe da universidade, então em poucos
minutos estamos adentrando a garagem de um prédio bastante alto em um bairro mais afastado.
Subimos pelo elevador e vejo que ele aperta o botão de número dez.
— Mora no último andar? — indago e ele confirma.
— Quando saí da minha antiga casa, quis um lugar onde eu tivesse sossego para viver
sozinho. Último andar, do último prédio da rua, em um bairro mais tranquilo…
— Nossa…
— Eu queria ter um pouco de paz.
— E conseguiu? — pergunto e ele me olha sorrindo.
— Eu finalmente me sinto em um lar. Mas ele só fica completo quando meu filho está
comigo.
A porta do elevador se abre e Otto gesticula para que eu passe em sua frente. Sigo pelo
corredor até a última porta e, quando ele abre, acende a luz ao passar.
— Seja bem-vinda, Mari.
Sorrio ao adentrar seu cantinho e olho para tudo ao meu redor, maravilhada.
— É lindo… — murmuro observando o apartamento de Otto.
A decoração é leve, com tons claros e pouca mobília. Mas é lindo e refinado, assim como
ele.
— Esta é a sala. — Ele me apresenta o cômodo em que estamos, onde vejo um sofá claro
e tapete felpudo de frente para uma enorme TV.
Dou alguns passos e encontro porta-retratos no móvel, sorrindo ao ver as fotografias de
Otto com Yuri.
— Ele era um bebê lindo — elogio e o vejo surgir ao meu lado.
Seu perfume marcante me envolve e eu inspiro esse aroma gostoso.
— Ele era… Meu filho é lindo.
— Como o pai. — Ergo os olhos para Otto, que sorri de lado, quase um pouco tímido.
— Vem, vou te mostrar o restante da casa. Ali, é a sacada.
Sigo-o até a sacada da sala, cercada por uma vidraça, que dá uma linda visão da cidade.
— Nossa… É lindo daqui de cima.
— Não é? Às vezes gosto de abrir uma garrafa de vinho à noite e me sentar aqui, só para
ficar apreciando essa vista.
— Vou adorar te fazer companhia — ofereço e ele sorri, assentindo.
— Com muito prazer.
Otto me leva até a cozinha e a lavanderia, seguindo para o banheiro, e então, para o
quarto de Yuri.
E eu fico maravilhada com cada detalhe do quarto do menino.
— Ele deve adorar ficar aqui, não é? Porque é lindo…
A cama de casal, os armários, mesa de estudos, pôster de banda, tudo é a cara de um
adolescente, e muito aconchegante.
— Ele diz que prefere este quarto ao que tem na casa da mãe. Mas não sei se fala só para
me agradar… — Dá de ombros e eu nego.
— Duvido muito. Conversei com seu filho apenas uma vez e consigo vê-lo em cada
cantinho aqui.
É isso que consigo sentir no lar de Otto.
Exatamente isso, um lar.
Não é uma casa fria, cheia de móveis, é um lar.
— Eu sempre deixo tudo arrumado para recebê-lo.
— Consigo sentir todo o seu cuidado, Otto — constato, olhando para ele antes de sair do
cômodo. — É realmente tudo muito aconchegante por aqui.
Ele sorri orgulhoso e me leva até a última porta do corredor.
— E aqui é o meu quarto.
Quando Otto abre a porta, sinto meu corpo se arrepiar. Porque todo o lugar parece gritar
seu nome.
— Uau…
A cama king-size ao centro, uma mesa pequena ao canto, prateleira com poucos livros,
uma TV fixada na parede. Tudo muito delicado e sofisticado, simplesmente perfeito.
— E ali tem mais uma sacada.
Meu professor abre as cortinas e revela uma varanda com uma visão muito bonita, porém
menor que o espaço da sala.
— Em dias mais quentes, eu durmo com a porta aberta e quase sinto frio aqui dentro —
explica.
— Deve ser muito gostoso dormir aqui — murmuro e ele confirma.
— Eu gosto muito. Como disse, não tem nada de mais, mas é o meu cantinho.
— É perfeito, Otto. É o lugar mais aconchegante em que eu já estive — digo, sincera.
— Agora vou te mostrar o último cômodo — Otto me leva até uma porta ao lado de seu
quarto.
— Nossa…
— É aqui que eu faço o trabalho de casa — explica, me apresentando seu escritório.
Uma mesa larga com cadeira confortável, uma estante enorme de livros, uma poltrona
para leitura.
— É lindo, Otto… — murmuro e ele acena.
— Eu gosto bastante daqui.
Ele sorri e coloca sua pasta sobre a mesa, antes de apontar para fora.
— Agora vamos jantar?
Otto me guia até a cozinha, onde o vejo ligar o forno.
— Então hoje vou conhecer seus dotes culinários? — brinco e ele ri, buscando uma
garrafa de vinho em uma adega climatizada.
— Deixei uma lasanha pré-assada, para só finalizar agora. Aceita um vinho?
Ele me estende a taça e eu aceito, sorrindo.
— Obrigada.
Professor Ottoni me serve e brindamos juntos ao final.
— Nossa, Otto. É delicioso — elogio logo que saboreio um pouco do vinho.
— É um Merlot, um dos meus preferidos.
Vejo-o sorrir antes de se sentar à minha frente na banqueta da ilha e buscar uma pequena
bandeja com alguns frios para beliscarmos. Espeto uma azeitona e o vejo dobrar delicadamente
as mangas da camisa social, deixando na altura dos cotovelos. Esse movimento dele, ainda que
despretensioso, é absurdamente sexy para mim.
— Amanhã você dá aula pela manhã? — pergunto e ele nega.
— Só à noite.
Assinto e bebo mais um pouco do vinho.
— Então não estou te incomodando ficando aqui neste horário? — indago, pois sei que já
são mais de onze horas da noite e não quero atrapalhar sua rotina.
— Imagina, Mari. Não precisamos acordar cedo amanhã. — Ele dá aquela piscadinha
sexy que sempre me desarma.
Quando Otto arrasta sua banqueta para mais perto de mim e pousa a mão em minha coxa
enquanto bebe o vinho, eu sinto meu corpo inteiro se estremecer.
Sua carícia é lenta, despretensiosa, mas leva uma onda de arrepios em mim.
Logo ele pousa a taça na ilha e espeta uma fatia de queijo, sem soltar a minha coxa.
— Me fale mais de você — pede e eu estreito os olhos para ele. — Além de gostar de
estudar e querer ser uma engenheira, quais são seus sonhos? Ambições? Uma viagem que queira
fazer?
Abro um sorriso e espeto uma fatia de queijo antes de beber mais um pouco de vinho.
— Quero me formar com honras e conseguir um emprego em uma construtora importante
no país. É meu maior desejo profissional. Quero provar que sou capaz de conseguir, sabe?
— E você vai conseguir, minha linda. Não tenho dúvidas algumas disso.
A confiança que Otto tem em mim é algo que sempre vai mexer comigo.
Sempre.
Principalmente vindo de um homem mais velho, pois é a primeira vez que eu tenho isso.
— Além disso, quero conhecer o Egito — confesso e seus olhos brilham.
— Jura?
— Sim! Conhecer as pirâmides, fazer um safári pelo deserto. Visitar o museu egípcio de
Cairo… Já parou para pensar em quanta relíquia esse museu abriga? A riqueza dos artefatos
encontrados nas escavações — digo empolgada e Otto abre um largo sorriso.
— Deve ser mesmo incrível! Eu tenho vontade de conhecer a Grécia, mas isso não deve
ser novidade para você, né?
Ele faz uma careta e eu gargalho.
— A Grécia deve ser linda… Imagina visitar Atenas? Terra em que Sócrates nasceu? —
incentivo e seu semblante se ilumina.
— Nem brinca com uma coisa dessas, Marina — ele murmura e eu rio.
— Pois você deveria ir! Compre um pacote de viagem e vá! As férias letivas sempre vão
coincidir com as de Yuri mesmo — constato.
— É, mas não é tão simples assim… — sua voz se entristece um pouco agora. — Pelo
menos não quando ele ainda for menor de idade e precisar de autorização para viajar…
Otto se serve de mais um pouco de vinho e eu sinto uma pontada por tocar neste assunto
desta forma. Às vezes me esqueço que a mãe de seu filho é uma megera sem coração.
— Me desculpe — peço e ele nega, sorrindo de lado. — Mas pense por outro lado. Daqui
a seis anos, você vai poder marcar essa viagem e mais inúmeras pelo mundo, sem precisar
depender de ninguém.
Pisco para ele e ganho um sorriso terno.
— Yuri quer conhecer a África para fazer um safári, assim como você — comenta
orgulhoso.
— Jura? Deve ser lindo ver aqueles animais de perto, em seu habitat natural.
— Imagino que sim…
— Então já temos três destinos para fazermos no futuro! Egito, Grécia e África!
Ergo minha taça para ele, que sorri, brindando mais uma vez comigo.
— Que todos os seus sonhos se realizem, Mari — a voz grossa de Otto e a firmeza com
que me encara me arrepia inteira.
— Os seus também, professor. — Pisco para ele, que sorri para mim.
— Acho que já deve estar pronto.
Otto se levanta e vai até o forno conferir o seu prato.
— Pronta para experimentar meus dotes culinários, Marina? — ele brinca, tirando a
travessa do forno.
— Estou pronta para experimentar tudo o que venha de você!
Minhas palavras fazem seus olhos faiscarem e ele me abre apenas um sorriso safado de
lado.
Aquele sorriso que molha qualquer calcinha…
Meu professor me guia até a mesa de jantar, que já está perfeitamente montada para nós
dois. A louça escolhida, o sousplat delicado e a flor repousada ao seu lado me encantam.
É tanto carinho em cada detalhe…
— Nossa…
Pego a rosa branca delicadamente colocada para mim e inspiro o aroma, pensando em
como nunca fui recebida com tanto carinho por alguém.
— Isso é lindo, Otto… — murmuro emocionada e o vejo me encarar orgulhoso. —
Obrigada.
— Você merece ser cuidada, Mari — sussurra e eu sinto um aperto no peito.
Porque ele sabe da minha história.
Ele sabe que eu não conheço isso.
Ah, Otto…
— Espero que não esteja muito ruim — diz, ao me servir um pedaço da massa.
— Com esse cheiro maravilhoso? Duvido que esteja ruim!
E quando eu experimento…
Nossa, vó Manoela que não me ouça, mas acho que nunca comi uma lasanha tão gostosa
antes. E mais do que isso, consigo sentir, em cada mordida, todo o amor que Otto colocou ao
preparar este prato para nós dois.
Eu consigo sentir, nesta explosão de sabores, todo o carinho que ele depositou aqui…
— É maravilhoso, Otto! — exclamo, dando mais uma garfada. — Você é um excelente
cozinheiro!
Ele me abre um sorriso satisfeito antes de começar a comer também.
— Eu fico muito tempo sozinho em casa, então acabo sempre inventando alguma coisa
por aqui. Além do mais, gosto de cozinhar para Yuri. Então me esforço para fazer algo que
preste.
— Isso é muito bom — elogio mais uma vez. — Muito, muito bom!
Desfruto de uma refeição tranquila com Otto, enquanto ele me conta um pouco sobre sua
carreira acadêmica e como saiu da graduação decidido a tentar um doutorado. Eu o ouço com
fascínio, porque ele tem muito amor em tudo o que se dedica a fazer e isso é lindo. E só então eu
descubro a sua verdadeira idade.
— Quarenta e dois? Uau…
— Pareço muito velho? — pergunta em uma careta, logo que termina seu prato.
— De forma alguma. Você é um gostoso para a sua idade — confesso e ele gargalha. —
Então você é vinte e dois anos mais velho que eu — constato e ele franze o cenho para mim.
— Mais que o dobro da sua idade…
— É… Mas quem se importa? — Dou de ombros. — Cara nenhum da minha idade é tão
interessante quanto você.
— Ah, é? — a voz sugestiva me faz virar o resto da taça de vinho e me levantar para me
sentar em seu colo.
Otto me envolve pela cintura e eu toco seus cabelos, descendo em direção ao seu rosto.
Meus dedos roçam em sua pele e eu sinto a ponta da barba nascendo me arranhar em uma carícia
muito gostosa.
— Ninguém me faz sentir o que você faz, professor — murmuro antes de beijar os seus
lábios.
Mas, desta vez, não temos pressa nem desespero.
Nós nos degustamos, assim como um vinho.
Minha língua percorre cada canto da boca de Otto e a sua faz o mesmo, me saboreando.
Suas mãos seguram firme a minha cintura e adentram o tecido da minha camiseta, enquanto eu
acaricio sua nuca e me embrenho em seus cabelos.
Meu corpo roça no dele e, ainda que eu sinta a sua ereção se formar e esteja louca de
tesão, não quero acelerar.
E, pelo visto, nem ele.
Não temos pressa alguma aqui.
— A sobremesa — Otto diz ao se afastar e eu toco seus lábios já inchados pelo beijo.
— Você não disse que eu era a sobremesa? — murmuro e ele sorri, beijando-me mais
uma vez.
— Mais ou menos… — Estreito os olhos para ele, que ri. — Na verdade, eu vou degustar
a sobremesa em você.
Olho-o curiosa e ele sorri malicioso me pedindo para levantar de seu colo. E, quando o
faço, vai até a cozinha e eu o acompanho, onde ele busca um pote de sorvete.
Meu coração já dá um salto aqui dentro em expectativa pensando no que está por vir, mas
ele me surpreende, ligando o forno micro-ondas.
— O que está tramando, professor? — indago e ele gargalha.
— Sorvete sem calda quente não tem graça, não é?
Ai, meu Deus…
Os olhos de Otto faíscam quando ele vem em minha direção e toma a minha boca,
enquanto me agarra e me coloca sentada sobre a bancada da ilha.
— Senti saudade, Marina… — murmura, atacando os meus lábios e descendo pelo
pescoço.
Gemo ao sentir sua língua percorrer cada canto da minha pele, arrepiando-me toda.
— Porra, só faz dois dias que eu te comi e já estou morto de saudades.
— Oh…
As mãos descem pela minha cintura e puxam a camiseta para cima, deixando-me apenas
de sutiã diante dele.
— Eu também… — Otto não me deixa completar a frase, me atacando mais uma vez, me
devorando e me beijando daquele jeito que me tira o ar.
Eu não estava mesmo mentindo quando disse que ele me faz sentir o que ninguém mais
faz…
— Me deixa chupar você — a voz rouca e grossa me faz deixar qualquer coisa…
Voltando a beijar a minha boca, Otto me consome nesse beijo, enquanto suas mãos vão
até as minhas costas e libertam o meu sutiã. Quando ele passa as alças pelos meus braços, meu
professor dá um passo para trás e lambe os lábios devagar.
— Agora eu vou começar a desfrutar a minha sobremesa…
Observo-o abrir o pote de sorvete e mergulhar uma colher lá dentro, levando até a boca e
chupando de um jeito tão lento e sensual, que só de vê-lo eu gemo.
Seus olhos crepitam quando ele mergulha a colher mais uma vez e leva à boca; com a
língua despeja a sobremesa gelada em meus mamilos.
— Ai, Otto…
Gemo ao sentir o gelado em minha pele e a sua língua quente traz uma sensação deliciosa
em seguida quando ele começa a me chupar devagarzinho.
— Gosta do geladinho em sua pele, Marina? — murmura, espalhando mais um pouco de
sorvete em meus seios, para chupá-lo todo em seguida, tomando tudo para si.
Esse movimento lento e calculado desperta uma onda de prazer descomunal em mim.
Puta que pariu.
— Otto… — resmungo quando ele se afasta, mas desta vez ele não volta com o sorvete.
O professor volta com a calda de chocolate, que, logo que cai em meu mamilo, me faz
estremecer toda ao sentir o seu calor.
Otto chupa com vontade, tomando cada gotinha, e eu só sei gemer alto.
— Deliciosa — murmura, ao despejar mais um pouco. — Eu disse que sorvete com calda
quente era uma delícia…
— Oh…
O safado alterna entre o quente e o gelado em minha pele e eu estou à beira de
enlouquecer nesta bancada de cozinha. Tento apertar as pernas, mas ele me impede, abrindo-as
ainda mais.
— Otto… — chamo, desesperada de tesão, e ele desce a língua pela minha barriga, até
alcançar o cós dos shorts.
— Tomar sorvete nos seus peitos é uma delícia, Marina — a sua voz é rouca agora
quando ele desabotoa o jeans e desce o zíper. — Imagino como seria experimentar em sua
boceta…
Ai, caralho.
Ergo o quadril para que ele desça o short junto com a calcinha e fico completamente nua
para ele, ainda sentada sobre a bancada.
— Abre bem essas pernas para mim — pede e eu obedeço de pronto, escancarando para
ele.
Meu professor sorri malicioso antes de mergulhar mais uma vez a colher no sorvete e
despejar em meu sexo, fazendo-me soltar um gritinho.
— Porra, Otto…
Agarro a bancada de pedra e o safado sorri, abraçando as minhas coxas para chupar a
minha boceta.
E, quando sua língua me percorre ali, eu enlouqueço de vez.
Rebolo nele, esfrego o sexo em seu rosto enquanto se delicia, desfruta e toma cada
gotinha de mim.
— Deliciosa, Marina… — murmura e continua a me chupar, mostrando que sou mesmo
tão gostosa como ele diz.
E, cacete, se eu não vou gozar com este homem me comendo assim.
— Professor… — gemo quando se afasta para buscar a calda de chocolate e, ao senti-lo
derramar o líquido quente em meu sexo, eu solto um grito.
— Pensei que não tinha como a sua boceta ficar mais gostosa — murmura, chupando tão
devagar que chega a fazer um barulho. — Mas, porra… Lambuzada de chocolate, você fica
ainda mais deliciosa.
Vejo-o derramar um pouco mais da calda para chupar em seguida, provando, degustando
e me lambendo toda.
Cacete…
Meus dedos doem de tão forte que agarro essa pedra, mas a sensação que Otto me
desperta é tão absurda, tão gostosa…
— Eu poderia passar a noite inteira aqui te degustando, Marina — diz, antes de sugar a
minha carne e mordiscar de leve, fazendo-me gemer mais. — Mas você não vai aguentar, não é?
Nego desesperada e ele ri, lambendo-me de novo.
— Você está louca para gozar…
Ele afunda o rosto em meu sexo e me devora com mais fome agora, me chupando tão
gostoso que eu sinto a primeira onda de tremores vir…
Seguro sua cabeça e o mantenho preso ali, enquanto rebolo e me esfrego nele, sentindo o
orgasmo me atingir.
— Otto! — grito alto, gozando, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Meu professor continua me chupando até a última gota e, quando o tremor cessa, eu
desabo na ilha.
Ofegante, cansada, suada…
Porra…
— Você sempre goza tão gostoso, Mari. Quer provar?
Apoio-me nos cotovelos e recebo o seu beijo, que tem um gosto simplesmente delicioso.
Tem um misto de sorvete com vinho, chocolate e gozo.
É um beijo absurdo de gostoso.
Ainda estou ofegante quando ele se afasta e desabotoa a camisa, começando a se despir
para mim.
Ao se livrar da peça, eu não resisto e ergo os braços para tocar o seu peitoral nu, correndo
os dedos por alguns pelos baixos. Otto sorri, tira a carteira do bolso e coloca na bancada,
buscando uma embalagem de preservativo.
Eu o ajudo a abrir o zíper da sua calça e libertar o pau lindo que só ele tem. Grosso,
pesado, de veias pulsantes.
Minha boca saliva quando ele veste o preservativo e me olha safado.
— Vem aqui, sua cachorra.
Seu braço me envolve e me puxa para mais perto dele. Quando abro as pernas e circulo o
seu quadril, Otto me preenche de uma vez, quase me rasgando inteira.
— Porra, que delícia — murmuro e toco o seu peito enquanto seu pau faz um vaivém
frenético dentro de mim.
— Você tem a porra da boceta mais gostosa, Marina — diz antes de se inclinar para
beijar a minha boca de um jeito afoito. — E eu não sei o que você tem, que eu quero te comer o
tempo inteiro, parece que nunca estou satisfeito.
Sorrio e busco seus lábios mais uma vez, beijando-o e gemendo enquanto suas estocadas
se tornam mais firmes agora, mais duras, batendo seu quadril cada vez mais forte ao meu.
— Esta bancada te aguenta me fodendo deste jeito? — sussurro e ele sorri, apertando a
pressão e estocando mais forte agora.
— Vai ter que aguentar.
Otto embola meus cabelos na mão e dá um puxão gostoso, enquanto continua comendo
minha boceta de um jeito insano.
Seu pau sai de dentro de mim, ele pincela a minha entrada, provocando-me. Desço o
olhar ali para onde nossos corpos se unem e clamo por ele.
— Professor… — chamo, desejosa, daquele jeito que sei que o desestrutura.
Mas ele não cede e me tortura um pouco mais.
— Volta aqui, professor… — peço e seus olhos são pura luxúria. — Vem comer sua
aluna safada, vem — falo e isso o enlouquece.
— Ah, porra, Marina.
Otto mete tão fundo, de uma vez só, que parece me rasgar.
E eu adoro isso.
Jogo a cabeça para trás enquanto ele estoca forte agora, indo até o fundo todas as vezes.
Quando sua mão puxa o meu cabelo, ele me obriga a olhá-lo de novo, e o desejo em seus olhos é
puro reflexo dos meus.
Uma gota de suor escorre pelas minhas costas quando Otto tira o pau de novo e entra
apenas metade, roçando ali, entrando e saindo devagar, deixando-me enlouquecida.
Esse ponto…
Cacete…
— Isso, Otto… Assim…
Ele continua me estocando ali no ponto certo, bem no começo e eu me vejo apertando a
bancada mais uma vez.
— Gosta assim, sua putinha?
Ele estoca mais rápido agora, esfregando ainda mais nesse ponto perfeito.
— Porra, sim… — gemo desesperada, prestes a gozar. — Isso, professor. Assim…
Otto continua me comendo na beiradinha e eu gemo tão louca, tão descontrolada, que mal
me reconheço.
Puta que pariu.
Isso é absurdo de tão gostoso.
— Professor — clamo, vendo que seu movimento se torna ainda mais certeiro e logo
sinto aquela onda de tremores vir com tudo.
Forte.
Avassaladora.
— Otto! Puta que pariu! — eu grito, pendendo a cabeça para a frente e gozando tão forte,
tão intensa, que…
Caralho…
Meu professor tira o pau de dentro de mim e arranca a camisinha, masturbando-se até
gozar também, derramando-se em minha virilha.
E vê-lo espalhar sua porra pela minha pele é ainda mais sexy do que eu pensei.
— Caralho, Marina…
Ele encosta a cabeça em meu ombro e me morde, se recuperando também.
— Isso tudo era a saudade de dois dias? — brinco, ainda ofegante, e ele ri, afastando-se
devagar.
— Você me faz perder a cabeça, Marina… — murmura antes de beijar a minha boca.
É um beijo tão quente, tão cheio de sentimentos…
— Pode perder a cabeça sempre, professor — murmuro ao nos afastarmos.
Otto sorri de lado antes de me dar um selinho.
— Quer dormir comigo hoje? Eu te levo para casa de manhã — seu pedido mexe com
tudo aqui dentro.
Assim como eu, ele quer a minha presença…
Ele me quer por perto.
— Nem um guindaste me tiraria daqui hoje, Otto — brinco e ele me olha divertido.
— É o quê?
— Memes, professor — solto e ele ri.
— Vem.
Ele dá um passo para trás e me estende a mão.
— Vem tomar um banho comigo.
E eu seria maluca se dissesse que não.
CAPÍTULO 15 - Marina
— Vó!
Puxo a minha pessoa favorita no mundo em um abraço gostoso logo que adentro a sua
casa.
— Que saudade, minha flor! — O abraço quentinho, seguido de um beijo estalado, é a
coisa mais gostosa deste mundo.
— E eu então, vó? Não via a hora de ver a senhora mais um pouquinho.
Demoramos, um pouco mais do que eu previa, a encontrar um final de semana tranquilo
para que eu viesse visitá-la sem a presença de meus pais. O único que sabe que estou aqui é
Gabriel, que mais tarde deve chegar para me ver.
— Está com fome? Fez boa viagem? Assei um bolo de cenoura que você adora! Ainda
está quentinho!
Deixo minha mala no canto da sala e sigo com ela até a cozinha, onde encontro uma
travessa de bolo maravilhosa com calda de chocolate.
E a imagem dessa calda me traz lembranças ainda melhores…
Ah, Otto…
Depois daquela noite em sua casa, nós nos encontramos apenas pelo campus para um
café rápido ou um bate-papo. Quando contei que passaria um final de semana fora, ele deu um
jeitinho de passar em minha casa hoje pela manhã, antes de buscar Yuri. Como Carina ainda
estava dormindo no horário que passou, meu professor subiu rapidinho no apartamento e
pudemos nos curtir um pouco.
Não teve sexo, mas houve beijos, carícias e um momento muito gostoso entre nós dois.
Eu estou amando isso tudo o que estamos vivendo.
Sei que estamos construindo tudo com calma, dando um passo de cada vez, mas é
inegável o quanto nos queremos e sinto que estamos na mesma sintonia. Em cada gesto dele, em
cada momento ao seu lado, consigo sentir que Otto me quer por perto, tanto quanto eu o quero
comigo.
— Quer um cafezinho, minha filha? — a voz de vó Manoela me tira do transe e eu vou
até a bancada buscar a garrafa de café.
— Pode deixar, que eu nos sirvo.
Vovó puxa a cadeira para se sentar ao meu lado e, quando beberico a bebida quente, solto
um gemido de satisfação.
Que saudade eu estava disso!
Mordo um pedaço do bolo e minha avó sorri orgulhosa ao ver minha expressão de
satisfação.
— Como está tudo por aqui, vó? — pergunto a ela antes de partir mais um pedaço de
bolo.
— Graças a Deus, tudo bem, Mari. Sinto falta de te ter comigo todos os dias, mas, como
te disse, estou bem. Sempre envolvida nas minhas atividades.
— Isso é ótimo! Também sinto muito a falta da senhora, mas estou adorando o curso.
— Eu fico tão feliz por isso! E como está o projeto de pesquisa?
Meu semblante se ilumina ao narrar para a minha avó os detalhes do projeto no qual
estou envolvida. Ela não entende nada dos termos técnicos e nem sabe para que lado anda um
grafeno, mas ainda assim presta a atenção em todos os detalhes que eu lhe conto.
— Estou muito orgulhosa de você! Sei que essa pesquisa será um sucesso.
— Deus a ouça, vó!
— E os garotos? — Seu sorriso se torna cúmplice agora. — Alguém despertou seu
interesse?
Sinto o rosto queimar e penso em como responder a isso sem entregar meu envolvimento
com Otto. Não que minha avó vá contar para alguém, mas não posso trair a confiança dele
contando para mais uma pessoa.
— Demorou demais a responder, é porque tem alguém — ela constata pelo meu silêncio
e eu rio baixo.
— Tem um cara, sim, vó… Mas ainda estamos nos conhecendo, não é nada sério — tento
despistar, mas seus olhos brilham.
Eu a conheço, sei que não vou conseguir fugir sem dar mais alguns detalhes.
— Mas me conta, ele é gatinho?
Isso eu posso falar.
— Gatinho? Ele é maravilhoso! Tem os olhos azuis mais lindos que já vi!
— Ah…
— E é superinteligente — completo.
— Ah, meu Deus! Podia a coisa ficar séria para você trazê-lo para eu conhecer. — Dona
Manoela suspira, sonhadora, e eu rio.
— Calma aí, vó. Vamos por partes. Um dia, quem sabe.
Dou uma piscadela e ela sorri, satisfeita.
A verdade é que não sei quando o meu relacionamento com Otto poderá se tornar público
e nem como faremos isso sem que nos prejudique, mas vou deixar para pensar nisso mais à
frente.
Por agora, só quero curtir a fase gostosa que estamos vivendo.
— Está certo, minha filha. Eu só estou feliz por tudo estar dando certo para você. Na sua
vida pessoal, profissional, você merece cada detalhe disso.
— Obrigada, vó. — Estico a mão e encontro a sua sobre a mesa, onde entrelaço nossos
dedos. — Sem a senhora, nada disso aconteceria.
E é verdade.
Se eu não tivesse alguém para lutar por mim, não sei o que seria da minha vida.
Vó Manoela é meu anjo particular e eu tenho muita sorte de tê-la comigo.
Muita mesmo.
— Mari?
Uma batida à porta que está aberta e reconheço o rostinho que surge dali.
— Gabriel!
Eu me levanto da cama para receber meu irmão mais novo em um abraço, e ele me aperta
de um jeito tão gostoso, que me enche aqui dentro.
— Desculpa não ter conseguido vir mais cedo — explica e eu aponto com a cabeça para
que se sente comigo na cama. — Tive um simulado no cursinho a manhã inteira e fiquei morto
de cansaço. Precisei tirar um cochilo antes de vir.
— Imagina! Está tudo bem. Já passei o dia sendo paparicada pela vó, agora que vim para
o quarto ler um pouquinho.
— Matéria da faculdade? — pergunta e eu assinto.
— Sempre que eu tenho uma folguinha, gosto de colocar o conteúdo em dia.
— Você é meu exemplo, sabia? — ele comenta e eu baixo a cabeça, um pouco
constrangida.
— E como você está? Como estão as coisas por aqui? — pergunto com cuidado, voltando
a olhá-lo.
E agora, encarando-o de perto, vejo o quanto Gabriel está bonito. Os cabelos lisos caem
um pouco sobre os olhos verdes e uma barba baixa ordena o seu rosto.
Eu vi esse garoto literalmente de fraldas e nem acredito que já se tornou um adulto.
— O mesmo de sempre. — Ele dá de ombros, sem falar muito. — Não vejo a hora de
passar logo na prova e sair de casa para estudar.
— Está muito difícil?
Gabe faz uma careta.
— É um clima muito ruim, Mari. Uma energia muito pesada, sabe? Eles não implicam
muito comigo, mas o clima daquele lugar é horrível. Não dá para viver assim.
Eu sei bem do que ele está falando…
Se para ele, que sempre foi o privilegiado da casa, está assim, imagina para mim…
— Eu sinto muito — digo, sincera. — Mas sua vez está chegando — garanto e ele abre
um sorriso. — Já sabe para qual universidade quer ir?
— Qualquer uma bem longe daqui — resmunga e eu rio.
— Escolha uma universidade boa, viu? Você merece o melhor dos estudos!
— Nem sei se vou conseguir em mais de uma, Mari…
— Mas é claro que vai, oras! As universidades vão disputar pela vaga de Gabriel
Cavalcanti — brinco e ele ri baixo.
— Sinto sua falta, sabia? — murmura e eu sinto um aperto no peito. — Sei que nos
últimos anos nós vivemos em casas separadas, mas, ainda assim, eu gostava de te ter aqui por
perto.
Meu rosto cora e minha barriga gela.
Eu preciso muito trabalhar isso em mim, preciso quebrar mais um pouco do muro que
construí entre nós.
Gabriel não tem culpa.
Gabriel não é como eles.
— Me desculpe por ser um pouco ausente. — Suspiro e o vejo me encarar. — Vou me
esforçar mais para ser mais presente daqui para a frente, ok?
Gabe sorri e balança a cabeça.
— Não precisa se preocupar, Mari. Eu sei o que nossos pais fizeram com você, o que
fizeram com nós dois. No seu lugar, eu me odiaria.
— Eu não te odeio — retruco e ele sorri.
— Eu sei. E é por isso que eu admiro tanto você.
Sorrio de lado e vejo meu irmão fitar o quarto ao seu redor.
— Vó Manoela deixou tudo exatamente do seu jeito, não mudou um móvel sequer de
lugar.
— Ela quer que eu me sinta acolhida todas as vezes que eu voltar para cá…
— Ela é especial, não é? — ele constata sorrindo.
— Eu realmente não sei o que seria da minha vida sem ela, Gabe — confesso e ele volta
a me olhar. — Ela sempre foi a única que me apoiou.
Meu irmão abre um sorriso triste.
— Fico feliz de te ver voar cada vez mais alto e para mais longe deles.
— Um dia eu vou vencer tudo isso, e vou andar com minhas próprias pernas.
— Você já é vencedora, Mari — ele diz firme. — Só não se deu conta disso ainda.
Olho para ele e sorrio agradecida.
— Tem planos para hoje à noite? — pergunto e seu semblante se ilumina.
— Eu sou todo seu! Inclusive vou dormir aqui, a vó já está avisada.
Abro um sorriso e penso que preciso aprender a viver esses momentos ao seu lado.
— Quer uma noite de filmes?
Os olhos de meu irmão brilham e ele dá um pulo da cama.
— Invocação do Mal 1, 2 e 3, por favor?
— Sério? Você não se cansa de ver esses filmes de terror?
— Não me diga que está com medo — provoca e eu reviro os olhos para ele.
— Eu? Com medo de filmes de terror? Francamente, Gabriel!
— Assume que você tem medo! — Belisca a minha costela e dou um tapa em seu braço.
— Eu não tenho medo! — brado e ele gargalha.
— Então vamos assistir!
— A vó não vai deixar nunca passar essas porcarias na TV da sala.
— Não faz mal. Vamos ver aqui no seu quarto. — Aponta para a TV no alto da parede.
Quando vejo que não vou ter vez, eu bufo, cedendo.
— Vou ao mercado buscar pipoca e refrigerante — anuncia saindo do quarto.
— Traz sorvete! — grito e ele confirma, sumindo pelo corredor.
Eu me jogo na cama de novo, quando ouço o alerta de chegada de mensagem pelo meu
celular.
Otto: Como estão as coisas aí, minha linda? Tudo certinho?
Eu sempre vou amolecer toda quando ele me chama assim, com todo carinho.
Eu: Graças a Deus, sim! Passei o dia colocando a conversa em dia com a minha avó
e sendo muito paparicada por ela. Agora, meu irmão chegou e quer me convencer a passar
a noite vendo filmes de terror.
Envio um emoji impaciente e Otto ri.
Otto: Yuri ia adorar esse programa. Ele adora me levar para essas ciladas também.
Eu: E como está tudo por aí? Aproveitando muito seu filho?
Otto: Bastante. Passamos o dia trabalhando na maquete dele e agora decidimos dar
uma pausa. Rendemos bastante hoje.
Eu: Que ótimo, Otto. E agora, já sabem o que vão fazer?
Eu me jogo no travesseiro enquanto aproveito este momento conversando com ele.
Otto: Provavelmente jogar videogame e pedir uma pizza.
Sorrio ao imaginá-lo fazendo exatamente isso. Otto se esforça muito para ser o melhor
para Yuri e eu só consigo admirá-lo ainda mais por isso.
Eu: Está certo. Curta muito esse momento de vocês.
Otto: Obrigado, Mari. Vocês também. Sei que é importante para você passar esse
momento com quem te ama de verdade.
E suas palavras aquecem o meu coração. Otto me entende tanto, compreende tanto como
tudo é para mim…
Otto: Vou precisar deixar o celular um pouco agora, porque estou sendo solicitado por
um adolescente.
Sorrio sozinha por isso.
Eu: Está certo. Divirtam-se!
Otto: Vocês também. Amanhã te chamo para conversar mais um pouquinho com você,
ok?
Eu: Combinado. Já estou sentindo saudades…
Otto: Eu também, minha linda. Se precisar de qualquer coisa, me ligue, ok? Estarei
sempre aqui por você.
Estarei sempre aqui por você…
Ah, Otto…
Por que tão incrível?
Eu: Obrigada, professor ;) Boa noite!
Otto: Boa noite, Mari. Tenha uma ótima noite de sono.
E, quando me despeço dele, eu me pego mais uma vez sorrindo sozinha.
Todo seu carinho, seu cuidado quando não está por perto, enchem o meu coração.
Só consigo pensar no tamanho da minha sorte por tê-lo conhecido.
CAPÍTULO 16- Otto
— Está pensativo demais — Caio comenta, sentando-se ao meu lado nos degraus do
fundo da casa de minha mãe.
Como hoje é seu dia de folga, ele me ligou para saber onde eu estava para jogar uma
conversa fora, e claro, filar almoço de dona Regina. Nós nos vemos menos do que gostaríamos,
porque é difícil conciliar nossos horários. Meu amigo é policial e quase sempre está trabalhando
aos finais de semana. Quando me chama para sair, eu sempre estou envolvido em algo da
universidade ou com o meu filho.
— Eu sou filósofo. — Dou de ombros. — Vou sempre pensar demais.
Caio bufa e revira os olhos para mim.
— Não é disso que eu estou falando, imbecil. Tem alguma coisa pegando aí. Eu te
conheço, Ottoni.
Suspiro e encaro o moreno ao meu lado, que, mesmo que não tenhamos nos visto tanto
quanto gostaria nos últimos meses, sempre foi alguém com quem pude contar.
— Conheci alguém — falo baixo, olhando para todos os lados para ver se alguém está
nos ouvindo.
Mas, para a minha sorte, estamos sozinhos e Yuri brinca no quintal com alguns primos.
— Porra, finalmente, hein? Precisava superar a desgraçada da…
— Fala baixo — repreendo-o, apontando para Yuri, e ele faz uma careta.
Renata pode ser quem é, mas ainda assim é a mãe do meu filho e eu o respeito por isso.
Em sua frente, não digo nada, mas nas costas…
— Mas e então, quem ela é?
— Não posso contar detalhes.
— Ah, se foder, Ottoni! — brada e eu rio.
— É complicado, Caio. Mas me deixa resolver tudo primeiro e depois te conto mais, ok?
— Tá… Vou aceitar essa. Se pelo menos você saiu da seca e do mau humor, já fico feliz.
Balanço a cabeça rindo.
Ele que não sabe como estou bem longe disso…
E pensar nela me faz sorrir sozinho.
— Ih… Tá ficando apaixonado, hein? Do nada, viajou aí e riu sozinho?
— Você não tem uma emergência para atender, não? — provoco-o e ele começa a rir de
mim. — Uma operação policial?
— Para de agourar a minha folga, idiota!
Ganho um soco no braço e fecho a cara para ele, pois estamos em muita desvantagem
aqui. Meu amigo, além de ser bem mais alto que eu, é o dobro da largura.
Ele sempre intimida a todos por onde passa.
— Pai. — Yuri vem em minha direção, soprando a franja para o alto. O garoto está
ofegante de tanto jogar futebol. — Cansei — reclama e eu rio. — Podemos ir embora?
— Claro. Tomar um banho, né? — sugiro e ele assente.
— Estou todo suado.
— Então vamos.
Levanto-me dos degraus e Caio me acompanha.
— Não quer ir lá pra casa jogar videogame com a gente, tio? — Yuri convida meu amigo
e meu coração dá um pulo aqui dentro.
Como todas as vezes que meu filho se refere ao meu apartamento como sua casa.
— Hummmm… Tentador, hein? Mas seu pai vai aguentar ser humilhado por nós dois?
Solto uma bufada.
— Francamente, Caio.
O moreno gargalha e Yuri solta uma risadinha.
Ao contrário de mim, que não levo o mínimo jeito para jogos, meu amigo parece que não
saiu da adolescência e dá uma canseira em muito moleque no videogame.
— Podemos pedir pizza de novo — o garoto me sonda com os olhos brilhando.
Ele sabe que me tem nas mãos.
— Não vou nem discutir com isso. Chego mais tarde e levo a cerveja.
Caio bate em meu ombro e se despede de nós, combinando os últimos detalhes.
— Já vão? — Minha mãe aparece, secando as mãos no avental. — Eu pensei que fossem
ficar para o café…
— Estou todo suado, vó. — Yuri faz uma careta que chega a ser fofa. — Cansei.
— Podia ter trazido uma roupa e tomado um banho por aqui.
Dona Regina faz um biquinho e eu aperto sua bochecha, dando-lhe um beijo.
— Da próxima vez eu penso nisso, tá? Vou aproveitar o restinho de noite com Yuri
agora.
— Está certo, filho. — Ela me abre os braços e me recebe em um abraço apertado. —
Obrigada por terem vindo. Você me parece estar muito feliz.
— E eu estou — murmuro, afastando-me de seu contato. — Aos poucos minha vida vai
entrando nos eixos.
— Você merece isso. — Ela me dá uma piscadinha. — Agora vem cá dar um abraço em
sua vó, eu não ligo para suor. — Dona Regina estende os braços para o neto e deposita todo o
seu carinho nessa despedida.
Nos despedimos dos outros familiares e saímos de casa, entrando no carro.
— Liga esse ar-condicionado, pelo amor de Deus. — O desespero de Yuri me faz rir.
— Com toda certeza. Quer parar no mercado para pegar um pote de sorvete?
O garoto se vira para me olhar com o semblante iluminado.
— Pai, você é o melhor do mundo. — Suspira e eu rio.
— Eu tento.
Ligo o carro e logo pego as ruas da cidade em direção ao mercado mais próximo para
comprar o seu sorvete favorito. No caminho, o carro fica climatizado, Yuri suspira relaxado e
agradecido.
O garoto fica dentro do carro mesmo quando saio para comprar. Eu logo volto, colocando
as sacolas em seu colo.
— Aproveitei e comprei os biscoitos e refrigerantes de que você gosta, porque acho que
acabou lá em casa.
— Valeu, pai!
Aciono o veículo e vejo que Yuri fica calado me observando dirigir.
— Sinto sua falta lá em casa — confessa e meu peito se aperta aqui dentro.
— Eu sei, filho… Eu também sinto a sua todos os dias. Mas alguns relacionamentos não
dão certo, você entende?
Yuri assente balançando a cabeça devagar.
— Eu sinto sua falta, mas prefiro você longe dela. — Seu comentário me faz olhá-lo de
lado, curioso. — Você é muito mais legal agora, pai. Mais engraçado, divertido. Você não era
feliz com ela, né?
A sua percepção me desarma e eu apenas meneio a cabeça confirmando.
Meu filho não sabe das traições, pois nós o poupamos desses detalhes e eu não estou aqui
para fazer a caveira da sua mãe. Porque, apesar de Renata ter sido uma péssima esposa, ela é a
mãe dele.
— Infelizmente, não… Eu tentei, mas nos últimos anos nosso casamento não deu mais
certo. Sua mãe e eu estávamos em ritmos diferentes da vida e achamos melhor seguir sozinhos.
Só lamento por não poder ficar com você todos os dias.
— É, eu também — ele responde, brincando com as sacolas em suas mãos. — Mas ela já
está namorando de novo, você também não vai?
Encaro-o, encontro insegurança em seu semblante e isso faz o meu coração se apertar de
novo. Sei o motivo disso, pois Renata simplesmente o deixa de lado todas as vezes que Fabrício
está lá, e isso sei que eu nunca faria.
— Um dia eu posso namorar de novo, Yuri — falo e ganho a atenção do garoto. — Mas,
quando esse dia chegar, você não será deixado de lado, ok? Eu só deixo uma pessoa entrar na
minha vida se ela fizer bem a você também. Ela não pode somente amar o pai, tem que amar o
filho. — Pisco para ele, que sorri, parecendo aliviado.
— Valeu, pai. Espero que um dia você encontre alguém legal.
Suas palavras sinceras me fazem abrir um sorriso, enquanto aceno.
A verdade é que eu já encontrei alguém, só preciso pensar numa forma de fazer tudo isso
dar certo sem que nos prejudique.
— Nossa, mas você é muito ruim, Ottoni! — Caio brada a gargalhadas quando eu jogo a
manete do videogame em seu colo.
— Eu sou doutor em Filosofia, Caio. Não preciso saber jogar videogame — provoco-o,
levantando-me do sofá, e ele só ri mais.
Olho para Yuri e pisco para ele, que está com o sorriso mais divertido do mundo no rosto.
E isso me vale tudo. Eu me sujeito a essas humilhações só para vê-lo sorrir.
— Aproveita e busca mais cerveja pra nós!
— Não sou o seu garçom — retruco e saio da cozinha, ouvindo as reclamações e
gargalhadas dos dois.
Mas, quando abro a geladeira para pegar duas garrafas, sinto o meu celular vibrar no
bolso.
Marina: Oi, professor ;) Já cheguei em casa! Como você está?
Largo as garrafas na bancada e me apoio para responder a sua mensagem.
Eu: Que ótimo, minha linda. Deu tudo certo? Eu estou bem, sendo massacrado no
videogame pelo meu filho e meu amigo…
Marina: Pobrezinho. O que estão fazendo com o meu Otto?
Meu Otto…
Ah, Marina…
Eu: Não se pode ser bom em tudo, né? E em videogame eu sou uma negação.
A sequência de risadas em emoji me faz sorrir.
Eu: Como foi o final de semana? Aproveitou muito a sua família?
Marina: Bastante… Estava morrendo de saudade da minha avó e passei um momento
bem gostoso com meu irmão.
Eu: Isso é ótimo, Mari. Fico feliz por você.
Marina: Obrigada, Otto. Amanhã posso te ver um pouquinho no intervalo? Talvez um
encontro na cafeteria por acaso?
Pensar nisso me faz sorrir.
Sei que não podemos nos ver todos os dias depois da aula, principalmente porque temos
nossos compromissos, mas a minha vontade é exatamente essa.
Eu: Com toda certeza. Não vejo a hora de te encontrar de novo.
Marina: Eu também. Uma pena que não vou poder te beijar…
Aperto os olhos com força.
Ah, caralho…
Eu: Prometo te compensar depois, Mari ;)
Marina: Eu vou cobrar, hein, professor!
Eu: De mim, você pode cobrar o que quiser…
— Está difícil sair uma cerveja aí, hein! — a voz de Caio me faz dar um pulo de susto e
guardar o celular no bolso.
— Porra, Caio. Que susto!
Meu amigo estreita os olhos para mim e abre um sorriso malicioso.
— Você estava de safadeza no telefone, Ottoni? — murmura baixo e eu o fuzilo com os
olhos.
O canalha só gargalha.
— Isso está saindo melhor do que a encomenda — provoca, rindo mais.
— Vai lá jogar, ô infeliz!
— Eu vou mesmo!
O moreno treme as sobrancelhas e abre a cerveja, dando um gole e sumindo da cozinha.
Solto um suspiro e pego o celular no bolso, sorrindo de sua resposta.
Marina: Adorei saber disso! Bom restinho de domingo, Otto. Nos vemos amanhã.
Eu: Até amanhã, minha linda.
Recebo um emoji de coração e guardo o celular no bolso, sorrindo ao pegar a minha
cerveja e voltar para a sala.
Quando me jogo no sofá, Caio me olha divertido e eu apenas balanço a cabeça sabendo
que meu amigo só cresceu no tamanho mesmo.
— GOL! — Yuri grita, levantando-se do tapete, e eu não perco a oportunidade de zoar o
meu amigo.
Então a festa começa e aqui, no meio da bagunça desses dois, só consigo pensar no
quanto me sinto feliz.
Eu sofri por muito tempo, mas agora estou finalmente encontrando a minha paz.
E como me sinto grato por isso.
CAPÍTULO 17 - Marina
— Obrigado, pessoal! Até semana que vem! — Otto acena para os alunos e logo todos se
levantam para sair para o intervalo de aula.
Começo a juntar as minhas coisas e, quando finalmente estamos sozinhos, eu me
aproximo dele. O sorriso que Otto me dá faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Você arrasou na aula, professor. Como sempre — elogio e ele sorri ainda mais.
— Obrigado, Marina. Já vai sair para o intervalo? — pergunta e eu assinto, vendo-o jogar
a alça da pasta no ombro. — Aceita companhia para um café?
Eu prendo um riso diante de sua atuação, como se não tivéssemos combinado ontem
exatamente isso.
— Claro! Eu tenho que ir à biblioteca mesmo, é meu caminho.
Otto para na porta e gesticula para que eu passe na sua frente, como um verdadeiro
cavalheiro.
— Como está indo o projeto de pesquisa? — pergunta de forma gentil enquanto
atravessamos os corredores do campus.
— Está indo muito bem, dentro do esperado. Não vamos demorar a apresentar e, se for
aprovado, vamos começar as pesquisas.
— Tenho certeza de que vocês vão conseguir. Luciano montou uma equipe muito boa.
— Obrigada, professor. Estou bem animada com tudo isso.
Pelo caminho, conto para ele resumidamente como temos trabalhado e Otto me ouve com
bastante atenção, sempre fazendo comentários de incentivo. É incrível como ele acredita em meu
potencial, desde o primeiro dia nesta universidade.
— O que você vai querer? — indaga logo que chegamos à cafeteria.
— Pode deixar, que eu faço o meu pedido — digo, mas ele me corta de pronto.
— De forma alguma. Pode me esperar na mesa que eu levo pra gente.
Abro um sorriso agradecido.
— Vou querer então um croissant de frango e um cappuccino de doce de leite.
— Perfeito. Já volto.
Assinto e procuro por uma mesa afastada para nos sentarmos. Por sorte, a cafeteria não
está muito cheia, assim podemos ter liberdade para desfrutarmos de alguns minutos de
companhia.
Em pouco tempo, Otto retorna com a bandeja nas mãos e se senta de frente para mim,
colocando sua pasta na cadeira vazia ao lado.
— Obrigada, Otto — murmuro antes de dar um gole na bebida quente.
— Como foi seu dia hoje, Mari? — ele pergunta com a voz suave, e sei que aqui não
precisamos mais atuar.
Aqui, somos Otto e Marina.
Não apenas uma aluna com seu professor de Filosofia.
— Foi bem produtivo! Passei o dia estudando para a prova de legislação, que já é esta
semana, e estou confiante de que vou conseguir passar!
— Claro que você vai. — Otto sorri antes de bebericar seu café. — Não tenho dúvidas
nenhumas disso.
— Sabe uma das coisas que eu mais admiro em você? — pergunto e ele me olha curioso.
— Você sempre acreditou em mim, mesmo quando me conhecia tão pouco.
— Sou bom observador, Marina — diz, pegando um cookie para comer. — Eu sei
reconhecer alunos esforçados de longe e a sua postura na sala de aula me chamou a atenção
desde o primeiro dia.
— Eu tento dar o meu melhor — digo tímida e ele sorri, cúmplice.
— Sei disso. E reconheço também. Por isso digo que você vai muito longe na vida.
Assinto e dou mais um gole na bebida antes de morder o croissant.
— E seu dia, como foi?
— Tranquilo. Fiquei em casa mesmo, organizando as aulas da semana, nada de muito
diferente.
— Imagino que deve ser bem puxado ser professor. Além de vir dar aula, tem todo um
trabalho em casa, né?
— Exatamente… — Ele suspira e dá um gole na bebida quente. — Não é um trabalho
fácil e muitas vezes não tem o devido reconhecimento, mas eu amo muito o que faço. Não me
imagino fazendo outra coisa na vida.
— Você nasceu para ser professor, Otto. Eu consigo sentir isso.
O sorriso orgulhoso que ele me abre me diz que escolheu mesmo sua profissão por amor.
— Obrigado, Mari. Significa muito para mim.
Mordo mais um pedaço do croissant enquanto o noto me encarar daquele jeito tão intenso
dele.
— E como está o Yuri? Te dando muito trabalho com a maquete? — indago e ele solta
uma risada baixa.
— Está dando mesmo trabalho, mas está ficando muito legal. Cada dia ele me aparece
com uma invenção nova, agora vamos ter até indústria!
— Jura? Que máximo!
— Eu só não sei como vamos fazer para transportar isso quando estiver pronto! — Otto
faz uma careta e eu rio.
— Contrata um caminhão de mudança — brinco e é a sua vez de rir, balançando a
cabeça.
— Não é uma má ideia! Duvido que vá caber no meu carro. Inclusive, tivemos que medir
a base da maquete para passar pela porta, sabe? Porque, se eu fosse dar ouvidos ao meu filho,
faria do tamanho da minha sala.
Eu quase engasgo com a bebida, contendo uma risada.
— Isso é a cara de um adolescente! Mas aposto que estão se divertindo muito no
processo.
— Com certeza. Yuri passa a semana falando do trabalho e me lembrando de coisas que
preciso comprar. Quando chega o final de semana, meu apartamento vira uma bagunça, mas é
gostoso demais. — Agora Otto se inclina na mesa e abaixa o tom de voz, para que só eu o escute.
— Próxima vez que você for ao meu apartamento, vou te mostrar como está ficando.
Sinto-me lisonjeada e meu coração se aquece aqui dentro.
— Eu vou adorar, Otto — sussurro e ele pisca para mim.
Terminamos de comer, mas não nos levantamos de imediato para sair. Engatamos uma
conversa despreocupada e, para o nosso alívio, quem passa e nos vê aqui nem imagina como nos
relacionamos fora da universidade.
Parecemos apenas dois colegas conversando, sem nenhuma maldade, sem nenhum olhar
comprometedor.
E apesar de estar louca de vontade de beijá-lo e senti-lo, gosto deste equilíbrio. Gosto de
apreciar a sua companhia, e sentir que ele também aprecia a minha.
— Bom, preciso ir — Otto diz, se levantando. — Tenho uma aula começando agora.
Ele olha para o relógio de pulso e eu assinto, juntando-me a ele.
— Vou aproveitar e passar pela biblioteca para pegar um livro antes de voltar para sala
— explico e seguimos pelo campus conversando.
Quando chegamos ao ponto em que nos separamos, Otto coloca as mãos nos bolsos e me
olha pesaroso.
— Nos vemos por aí, Marina? — diz e eu aquiesço, de pronto.
— Claro. Boa aula, professor!
— Para você também.
Aceno para ele e seguimos por lados opostos, onde caminho de cabeça baixa com um
sorriso bobo no rosto.
Meu celular vibra no bolso e sorrio ainda mais ao ver o seu nome surgir na tela.
Otto: Não pude te beijar agora, mas saiba que eu queria. Queria muito…
Eu: Eu sei… Receba um beijo bem gostoso na boca, professor. Daqueles de nos tirar
o fôlego.
Envio uma figurinha de um casal se beijando de língua e o emoji babando de Otto me faz
rir.
Otto: É, Marina…
Gargalho sozinha quando atravesso as portas da biblioteca e sigo para o corredor de
Engenharia.
Eu: Vamos dar um jeito de nos encontrar essa semana, ok? E fazer esse beijo
acontecer.
Otto: Vou ficar esperando… Vou entrar na sala agora. Um beijo, minha linda.
Envio de novo a figurinha de beijo para ele e sorrio sozinha.
Encontro meu livro na prateleira e sigo ainda sorrindo para o balcão da biblioteca,
pensando em como estou vivendo um sonho.
É tudo tão gostoso, tão lindo, que não quero que nunca se acabe…
CAPÍTULO 18 - Otto
— Acho que precisamos de mais árvores, pai — Yuri comenta, logo que terminamos de
montar a linha férrea.
— Você acha? — indago e meu filho faz que sim, assoprando a franja para cima.
— Está muito pouco ecológica essa minha cidade — constata e eu rio.
— Está certo. Quer que eu encomende mais pela internet?
— Na verdade — o garoto coça o queixo, pensativo —, será que encontramos no
shopping?
— Hummmm… Não sei, podemos tentar. Devem ter fazendinhas na loja de brinquedos,
né?
— Acho que sim. Podemos ir olhar? — Yuri me olha esperançoso e é impossível negar.
— Está certo. Bom… Já que vamos sair de casa, podemos almoçar por lá mesmo e me
poupa de cozinhar hoje.
— Fechado! Vou só trocar de camisa.
Assinto e vejo meu filho sumir pelo corredor, enquanto eu fico parado observando a
maquete no meio da sala. Está ficando mesmo um trabalho incrível, só não sei como vamos fazer
para tirar essa cidade da minha casa no dia de sua apresentação na escola.
Lembro-me de tirar uma foto para Marina ver o andamento do trabalho. Logo que ela
recebe a mensagem, envia uma série de figurinhas eufóricas.
Mari: Meu Deus, Otto! Está ficando lindo!
Eu: A cada dia meu filho inventa mais uma coisa e esse projeto nunca chega ao
fim… Agora ele constatou que está pouco arborizada a sua cidade e estamos indo ao
shopping procurar mais árvores.
Marina envia uma sequência de emojis de risada. Eu rio sozinho antes de sair da sala e ir
até o meu quarto para me trocar também.
Mari: Vai ficar incrível, toda verdinha. Yuri fez um ótimo apontamento!
Sorrio para a tela de telefone e penso em como meu filho adorou Marina logo no primeiro
dia e em como eles se deram tão bem.
E pensar nisso…
Eu: Tem planos para o almoço hoje?
Envio a mensagem sentindo o meu coração disparar aqui dentro.
Mari: Ainda não, por quê?
Eu: Quer ir almoçar conosco no shopping?
Vejo que ela demora um pouco para responder e imagino que recusará o convite, mas a
sua resposta me tira um sorriso.
Mari: Nossa, será um prazer! Dá tempo de eu tomar um banho e me arrumar?
Eu: Claro! Vamos passar na loja de brinquedos antes de almoçar, não precisa ter
pressa.
Mari: Combinado então. Te aviso logo que chegar. Obrigada pelo convite, Otto :)
Eu: Oh, minha linda. Eu que agradeço por aceitar! Até daqui a pouco ;)
Despeço-me dela e saio do quarto, encontrando Yuri já inquieto na sala.
— Podemos ir? — ele pergunta e eu concordo, pegando minha carteira na bancada e as
chaves.
Descemos pelo elevador e meu filho começa a falar empolgado o que mais dá para
montar em sua cidade.
— Uma usina hidrelétrica? — pergunto incrédulo e ele me lança aquele olhar de cachorro
pidão.
— Como vamos ter fornecimento de energia para a cidade, pai?
Balanço a cabeça rindo.
Por Deus… Onde essa história vai parar?
— Se for olhar isso, tem que ter a companhia de água e saneamento — aponto e seus
olhos brilham!
— Mas é claro que sim! Boa, pai!
Yuri dá um pulo no banco do carro logo que abre a porta e eu rio de sua empolgação.
— Mas chega, Yuri… Já temos de tudo na cidade, desse jeito não vai sobrar espaço para
os moradores e uma cidade não sobrevive apenas de empresas.
— É… Eu sei. É só porque estou muito empolgado!
— Jura? Se você não me conta, eu jamais imaginaria! — debocho e Yuri faz uma careta
para mim, tirando-nos uma risada.
— Posso colocar Green Day? — Ele aponta para o som do carro e eu assinto.
— Pode, só não muito alto, ok?
Meu filho concorda e logo aciona o bluetooth, colocando uma de suas músicas favoritas.
O garoto vai cantando em todo o trajeto até o shopping e, quando chegamos, vamos direto à loja
de brinquedos procurar pelas miniaturas de árvore. E, no final, acabamos levando mais algumas
casinhas novas e bonecos, já que a cidade precisa de habitantes.
Quando saímos da loja, meu celular vibra no bolso e eu recebo mensagem de Marina.
Mari: Cheguei! Onde vocês estão?
Eu: No segundo piso, perto da loja de brinquedos.
— Tem mais alguma coisa que esteja lembrando? — pergunto a Yuri enquanto enrolo
aqui em cima e ele fica pensativo.
— Hmmmm… Não sei. Acho que não. Ainda não sei como vou montar a usina, então
preciso pensar melhor.
Quando vejo Marina surgir no corredor do shopping, eu abro um sorriso de lado.
— Acho que sei quem pode te ajudar.
Vestindo uma jardineira jeans e tênis coloridos nos pés, Marina vem em nossa direção
com o semblante sereno e um sorriso no rosto. Os cabelos soltos balançam à medida que ela
caminha.
— Oi, rapazes — ela nos cumprimenta e eu a recebo em um abraço rápido.
Essa mínima proximidade me faz sentir o seu cheiro de melancia.
Tão familiar, tão delicado…
Tão gostoso.
— Yuri, lembra da Marina? — indago quando nos afastamos e meu garoto abre um largo
sorriso.
— Lógico que sim! Oi, Mari! — Yuri a recebe em um abraço também.
— Eu a convidei para almoçar conosco, filho, porque acho que ela tem a solução de que
você precisa — despisto e ele me olha curioso.
— Qual?
Marina também me analisa com o semblante intrigado.
— Você precisa de ajuda para montar uma hidrelétrica e ela é quase uma engenheira
civil. — Pisco para ele e o seus olhos brilham.
— Nossa, é mesmo! Você pode nos ajudar, Mari?
— Hummmm… Vamos ver o que posso fazer! Me conte do que você precisa!
E, enquanto descemos pela escada rolante, Yuri vai contando a ela com detalhes sobre a
maquete. A morena ouve tudo com atenção, como se já não soubesse em que ponto está o
trabalho. A empolgação do meu filho é palpável e a forma como Marina se interessa por ele
aquece o meu coração.
Aos poucos, tenho deixado que ela entre na minha vida e isso inclui também o meu filho.
Ver o quanto eles se dão bem me diz que tenho tomado a decisão certa nisso. Marina tem se
mostrado uma pessoa incrível e uma ótima companheira, a qual quero manter ao meu lado. A
cada dia tenho pensado mais sobre como fazer o nosso relacionamento dar certo, mesmo com
todas as nossas diferenças.
— O que querem comer? — pergunto a eles, logo que escolhemos uma mesa para sentar.
— Acho que quero lasanha hoje, pai — Yuri responde, sentando-se ao lado de Marina.
— Acho que vou te acompanhar. — A garota pisca para ele, que sorri satisfeito.
— Se é assim, vou pedir também.
Sinalizo para o garçom do restaurante mais próximo e fazemos nossos pedidos. Quando
ele volta com as bebidas, Marina dá um gole em seu refrigerante antes de se virar para o meu
filho.
— Acho que já sei como podemos fazer a usina.
— Ah, é?
— Podemos pintar o solo de azul e colocar gel, assim representamos a água — sugere e
eu assinto.
— Boa ideia — elogio e ela sorri.
— Quanto à estrutura da usina, acho que podemos montar as comportas de lego. Eu
posso te ajudar. Você tem em casa?
— Não tenho… Mas podemos comprar, pai? — Meu filho me olha sonhador e já sabe
bem a sua resposta.
— Claro! Quando terminarmos de almoçar, podemos voltar à loja de brinquedos para ver
isso.
— Legal! Nós já compramos algumas coisas antes de você chegar, Mari. Quer ver?
A morena assente e Yuri abre a sacola, mostrando tudo que compramos.
— Essa fazendinha pegamos por causa das árvores — justifica. — Eles não vendem
separado.
— E o que você vai fazer com os animais? — Mari pergunta e ele dá de ombros.
— Não sei… Acho que não tem espaço para uma fazenda na minha cidade. — Ele ergue
os olhos para mim e eu nego.
— Não mesmo! Esqueceu que ainda tem a usina e a companhia de saneamento?
— Mas e se fizer um haras? — Marina sugere e o semblante de Yuri se ilumina. — Não
precisa de muito espaço e você aproveita estes cavalinhos.
— Que maneiro! O que você acha, pai?
Olho para os dois e balanço a cabeça rindo.
— Pelo amor de Deus, Yuri. É a última coisa que você vai inventar para essa cidade —
alerto e o garoto concorda de pronto.
— Prometo — fala e eu estreito os olhos para ele. — É sério, pai. Vamos só terminar
agora o que já pensamos.
— Sei…
Marina solta uma risadinha e se volta para o meu filho.
— É melhor parar por aí mesmo, porque menos é mais. Se enchermos de coisas,
acabamos não trabalhando bem nos detalhes.
— De mais coisas, você quer dizer, né? — zombo e ela gargalha.
— E você tem compromisso hoje? — Yuri pergunta e eu franzo o cenho para ele.
— Yuri…
— Não tenho, não! Por quê? Está pensando em já começar a mexer com a usina?
— Se você puder… Meu pai paga pizza pra gente!
Abaixo a cabeça e balanço, rindo.
É esperto esse meu filho…
— Eu vou adorar! Tudo bem para você, Otto? — Mari me pergunta, encarando firme.
E eu sei bem o que é isso.
Ela está se certificando se tem algum problema entrar nessa parte da minha vida. Mas,
quanto a isso, pode ficar despreocupada.
— Com certeza! Já íamos passar o dia mexendo nessa maquete mesmo…
— Legal! — Yuri comemora e logo nosso almoço chega.
Durante toda a refeição, conversamos sobre o trabalho e meu filho conta um pouco sobre
a sua rotina na escola. Como Marina saiu há pouco do ensino médio, rende muito assunto com
ela, e o garoto a olha com tanta admiração, que me alegra.
Ao terminarmos, voltamos à loja de brinquedos, onde Marina ajuda a escolher o lego para
a montagem da usina. Depois passo em uma loja de conveniência e compro alguns chocolates,
biscoitos e salgadinhos para passarmos a tarde.
— Você realmente não tinha outro programa para hoje? — pergunto a Marina logo que
paramos ao lado do carro e Yuri se acomoda no veículo.
— Imagina, Otto. Eu eliminei uma matéria da minha lista, não preciso mais estudar para
a prova de legislação, esqueceu?
A piscada dela me tira um sorriso.
Como eu previa, a garota não só passou no exame, como tirou a nota máxima na prova e
me ligou comemorando no mesmo dia. Eu fiquei extremamente feliz e orgulhoso dela, pois sei
de todo o seu esforço e empenho.
— Então está certo. Vai ser um prazer ter você conosco — afirmo, para que ela saiba que
não é só o meu filho que a quer em nossa casa.
— Eu me sinto muito honrada em fazer parte disso.
Assinto e nos acomodamos no carro, onde seguimos pela cidade até a minha casa. Ao
chegarmos, faço uma apresentação rápida do apartamento e Marina finge surpresa ao conhecer
os cômodos principais.
Em matéria de atuações, nós dois estamos dignos de Hollywood.
— Que linda a sua cidade, Yuri! — Mari elogia sincera logo que se ajoelha no tapete, ao
lado da maquete.
— Ainda temos muita coisa para fazer, mas estou gostando muito. Olha essa ferrovia,
instalamos hoje!
Meu filho apresenta todo orgulhoso cada item de sua cidade, explicando como
montamos, e Marina elogia todo o nosso trabalho. Quando Yuri não está olhando, percebo que
ela troca olhares comigo, em que conversamos sem trocar uma única palavra.
Estou com saudade.
Eu também.
Queria te beijar de novo…
Eu sei.
É feio pensar em mandar o filho tomar um banho, só para eu roubar um beijo dela?
— Está ficando incrível, Yuri. Vocês estão de parabéns!
— Valeu mesmo, Mari. Já podemos começar a usina?
— Só se for agora!
Pelas próximas horas, nós três ficamos entretidos na construção da hidrelétrica e logo
seguimos para o haras, aproveitando para distribuir mais árvores pela maquete.
— Agora é só colocar o gel no dia da apresentação — Marina aponta e Yuri concorda,
eufórico.
— Pode deixar! Ficou muito maneiro, Mari. Valeu mesmo!
O garoto abraça a minha garota e ela corresponde, sorrindo.
— Imagina, Yuri. Fico feliz por ajudar.
— Agora podemos parar? Eu sou o idoso deste lugar e minha coluna está doendo —
reclamo e eles gargalham.
— Acho que está bom por hoje — ele conclui e eu suspiro.
Aleluia.
— Vou só tomar um banho rapidinho. — Yuri aponta para as mãos sujas de tinta azul. —
Você me espera, Mari? Pra gente pedir a pizza?
— Claro! Não precisa correr, eu não vou a lugar nenhum.
Yuri meneia a cabeça fazendo que sim e nos abandona, indo em direção ao banheiro.
Eu abro um enorme sorriso pela brecha e puxo Mari pela mão, levando-a até a cozinha,
que fica longe do campo de visão do corredor.
— Yuri não é de demorar no banho, mas temos alguns minutos… — murmuro antes de
puxá-la pela cintura e colar a minha boca na sua.
Porra, que saudade.
Não podemos nos beijar todos os dias, nem nos tocar, por isso, sempre que tenho a
oportunidade, aproveito cada segundo, que é precioso demais.
— É muita maldade querer que ele demore mais um pouco no chuveiro? — a morena
sussurra e eu rio baixo, tomando seus lábios mais uma vez.
Sem soltar a sua cintura, beijo-a bem lentamente, percorrendo cada cantinho de sua boca
com a língua, sentindo todo seu calor. O sabor do seu beijo vicia e, quando eu ouço o som da
porta do banheiro se abrindo, eu sinto um pesar por ter que me afastar.
Dou um último selinho antes de soltá-la por completo e vejo o descontentamento em seu
semblante.
— Antes de te levar para casa, eu dou um jeito de te beijar de novo — murmuro e vou até
a geladeira fingir pegar um refrigerante, quando vejo meu filho chegar à cozinha.
— Já podemos pedir a pizza, pai?
— Vocês já estão com fome? — pergunto, mas é ele quem assente sem parar.
— Eu topo o que vocês quiserem — Marina diz, puxando a cadeira da cozinha para se
sentar.
Diante da mesma bancada em que a comi naquele dia…
Eita porra.
Quantas lembranças…
— Certo, já vou pedir então.
Escolhemos os sabores e, enquanto esperamos, Yuri engata uma conversa despreocupada
com Marina. Desta vez sobre música e bandas favoritas. Eu participo, porém deixo a maior
interação entre eles, para que se conheçam mais, para que se deem bem.
— Está falando sério? Eu amo Green Day!
Os olhos do meu filho brilham e eu já sei que ele acabou de fazer uma amiga.
— O som deles é muito massa, né?
— Eu tenho vários CDs deles no meu quarto na casa da minha avó.
— Sério? Que maneiro!
Então a conversa deles não tem mais fim, e eu sorrio sozinho ao vê-los assim. De um
lado, o meu bem mais precioso, a pessoa que eu mais amo no mundo. E de outro, a garota que
tem preenchido os meus dias e dominado meus pensamentos. Aquela que me faz querer pensar
em um futuro, quando eu mesmo já tinha desistido dele.
Quando a pizza chega, comemos na cozinha mesmo e o assunto se estende, até Mari
perceber que é hora de ir.
— Está ficando tarde… Acho melhor eu ir.
O semblante triste do meu filho é puro reflexo do meu.
— Tá bom. Depois você volta mais? Quero te mostrar a maquete quando ficar pronta.
— Claro, Yuri. Eu estou contando mesmo com isso. E parabéns mais uma vez, seu
trabalho está lindo!
— Valeu!
— Filho, você se importa de ficar um pouco sozinho para que eu leve a Marina em casa?
— Não precisa, Otto. Eu chamo um Uber… — Ergo a mão para ela, interrompendo-a, e
meu filho acena para mim.
— Eu faço questão.
— Beleza, pai. Vou colocar um seriado para assistir enquanto isso.
— Certo. Não demoro. E, qualquer coisa que precisar, você me liga.
Yuri sinaliza com a mão antes de puxar Marina em um abraço e os dois se despedem com
muito carinho. Quando eu a conduzo para fora do apartamento e descemos pelo elevador, a
garota me olha maravilhada.
— Seu filho é um querido! A cada vez eu fico mais apaixonada por ele.
— Eu sou suspeito para falar, né? Mas amo esse garoto…
Ela sorri e logo saltamos do elevador, mas, antes de seguirmos pela garagem, eu a levo
para um canto atrás das escadas, longe de qualquer visão das câmeras.
— Eu prometi te beijar de novo antes de te levar para casa… — murmuro antes de atacar
a sua boca mais uma vez.
Marina me puxa pela nuca, trazendo-me para mais perto dela, e minhas mãos agarram sua
cintura, colando nosso corpo enquanto minha boca não solta a sua.
— Ai, Otto… — sussurra quando corro os lábios pelo seu pescoço e subo, mordiscando a
sua orelha.
— Eu nunca vou me cansar da sua boca, Mari — murmuro e tomo seus lábios
novamente.
O beijo começa lento e logo se torna urgente, faminto, desejoso. Meu pau ganha vida
dentro das calças e Mari o sente, esfregando-se enquanto me beija afoita.
— Preciso parar, senão vou acabar te comendo aqui mesmo — falo baixo, sentindo o
meu coração voar pela boca.
— Não é uma má ideia, professor… — a voz ofegante faz meu pau reagir ainda mais.
— Não posso arriscar. — Franzo o cenho para ela, que entende, tocando o meu rosto com
carinho.
— Eu sei. É só a saudade mesmo. — Mari se inclina e me dá uma sequência gostosa de
selinhos.
— Vamos marcar um encontro tranquilo essa semana, ok? — Toco seu queixo e roço os
dedos pela sua pele, sentindo-a se arrepiar. — Sem pressa, sem correria, para eu desfrutar de
você com calma.
Os olhos de Marina brilham e ela me abre um sorriso malicioso.
— Vou esperar, viu?
Seguro seu rosto em minhas mãos e beijo sua boca mais uma vez.
— Eu prometo, Mari.
Vejo-a assentir e dou mais um selinho nela antes de guiá-la de volta ao estacionamento,
de onde a levo de volta para casa.
Pelo trajeto, finalmente sozinhos, não consigo deixar de pensar em como seria um futuro
ao seu lado.
Deixando-a entrar em minha vida, sendo mais do que uma amiga aos olhos de meu
filho…
E o mais curioso disso é que gosto da imagem que vejo.
Na verdade, gosto muito disso.
CAPÍTULO 19 - Marina
Estou entretida estudando com mais afinco sobre o grafeno, quando um zumbido
esquisito ecoa o meu sinal de alerta.
Largo a caneta na mesa e olho para os lados, buscando a origem do som. Quando
finalmente encontro, eu sinto meu corpo inteiro congelar.
Puta que pariu.
— AI, MEU DEUS — grito e saio correndo de cabeça baixa pelo apartamento, sentindo
o meu peito acelerar.
Fecho a porta do quarto e me tranco ali, respirando ofegante e sentindo o meu coração
voar pela boca.
Tem uma barata lá fora.
E não é apenas uma barata.
É uma barata que voa.
Puta que pariu.
O que eu vou fazer?
Estou sozinha, porque hoje é um dos dias em que Carina fica o dia todo na faculdade, e
não existe a mínima possibilidade de eu sair deste quarto.
Não quando tem um monstro lá fora.
Eu me jogo na cama e tiro o celular do bolso, pensando em minhas opções. Nem adianta
tentar chamar a Carina, porque minha amiga é tão medrosa quanto eu e, se souber que tem uma
barata voadora lá fora, ela nem volta para casa hoje.
Ai, que saudade de vó Manoela, que sempre matou as baratas para mim…
Solto um suspiro. E agora?
Então penso nele…
Será que Otto está em casa agora? Será que ele me ajudaria?
Não sei, não tenho ideia, mas preciso arriscar.
É isso ou passar o resto do dia presa neste quarto e eu não posso faltar à aula hoje.
Disco o número dele e sua voz grossa surge no segundo toque.
— Mari?
— Otto, preciso de você — falo, desesperada, e sua voz se torna preocupada.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Respiro fundo e sinto meu corpo estremecer, só de lembrar da imagem que eu vi.
— Tem uma barata lá fora… Uma barata que voa, Otto! Eu não posso sair daqui, eu…
— Calma, respira — sua voz é mais serena agora. — Onde você está?
— Estou no meu quarto. Eu me tranquei aqui logo que a vi, mas, Otto, eu não posso sair
daqui. Não sabendo que tem uma aberração lá fora…
— Fica tranquila, estou indo para aí — diz e eu respiro mais aliviada. — Só me diz uma
coisa, você consegue sair do quarto para abrir para mim?
— Não — respondo rápido, sentindo aquele pavor tomar conta de mim. — De jeito
nenhum. Se eu sair, vou dar de cara com ela. Vai pousar em mim, vai grudar no meu cabelo,
vai…
Meu corpo chega a coçar de puro desespero e o tempo todo meu professor tenta me
tranquilizar do outro lado da linha.
— Certo, não precisa sair daí. Mas como eu vou entrar? A sua amiga está com você?
— Não. Ela está em aula a uma hora dessas.
— Ok… E você acha que eu consigo pegar a chave do apartamento com ela?
— Consegue — respondo, sentindo o meu coração bater um pouco mais calmo agora.
Ele vai vir…
Ele vai me ajudar…
— Ótimo. Me manda o contato dela por mensagem e me fala onde é a sala de aula dela,
que vou até lá agora.
— Tá… Eu vou fazer isso — respondo, abraçando o meu corpo na cama.
— E pode ficar tranquila, Mari. Me espera, que eu estou chegando.
— Obrigada.
Despeço-me dele, enviando a mensagem com todos os dados que me pediu.
Largo o celular na cama e penso no alívio de tê-lo chegando até aqui.
Otto
Atravesso o campus da universidade, seguindo pelo caminho que me levará até a sala de
Carina. Logo que encerramos a ligação, eu consegui entrar em contato com a amiga de Marina
para saber os detalhes a fim de pegar a sua chave do apartamento.
Porque minha garota não consegue sair do quarto por conta de uma barata.
Uma barata.
Poderia ser engraçado se ela não estivesse com tanto medo. E é por isso que eu parei tudo
o que estava fazendo para ir socorrê-la.
De uma barata.
Balanço a cabeça e, quando estou chegando à sala de Carina, envio uma mensagem para
ela avisando. Logo uma garota loira surge no meu campo de visão e noto que é muito bonita.
— Otto? — chama e eu assinto, indo ao seu encontro.
— Muito prazer, Carina. — Estendo a mão a ela, que aceita de pronto, sorrindo.
— O prazer é meu de finalmente conhecer o professor que Mari sempre elogia — diz e
eu sorrio de lado, um pouco constrangido.
Sei que ela sabe de nosso envolvimento, mas Marina me garantiu que podíamos confiar
nela e eu acredito nisso.
— Aqui a chave do apartamento. — Ela me estende o chaveiro e eu pego de sua mão. —
Você vai mesmo tirar aquele alien da nossa casa?
Eu não resisto e solto uma risada.
— Alien… Aberração… Vocês são engraçadas.
— É uma barata que voa, Otto! Não tem como isso ser deste planeta! — reclama e eu
balanço a cabeça rindo.
Consigo perceber por que as duas se dão bem.
— Está certo. Agora me deixa ir para tirar aquele bicho de lá, porque sua amiga está
presa dentro do quarto.
— Tadinha… Vai lá!
Carina me agradece e se despede, voltando para a sala de aula, e eu disparo pelo campus
em direção ao meu carro. Logo que entro, agradeço por elas morarem tão perto daqui, porque
não demora e estou parando em sua porta.
Adentro o prédio e subo pelo elevador até o andar de Marina. Quando destranco a porta,
encontro o absoluto silêncio lá dentro.
— Mari? — chamo e não tenho resposta. — Mari, eu cheguei! — falo mais alto agora e
ouço um vislumbre de sua voz vindo do quarto.
Ando até lá, olhando tudo ao meu redor, mas não encontro a tal barata pelo caminho.
— Mari? — Bato na porta e escuto um som vir lá de dentro.
— Otto, você encontrou? — a voz próxima me diz que ela está atrás da porta.
— Ainda não. Você sabe me falar onde a viu?
— Eu estava estudando na cozinha quando ouvi o zumbido. Não sei para que lado ela foi,
porque saí correndo.
— Certo… Vou procurar pela casa, ok? Qualquer coisa que precisar, você me grita.
— Tem vassoura do lado do tanque, na área de serviço.
— Ok!
Afasto-me da porta e vasculho o apartamento com os olhos, procurando pela bendita
barata, mas não a encontro em lugar nenhum. Sigo até a área de serviço e pego a vassoura,
ficando em posição de alerta enquanto procuro.
Reviro a cozinha até um vulto me chamar atenção.
Parada na janela de vidro está a abençoada, mexendo as antenas devagar.
— Te peguei, sua pestinha — murmuro, acertando o vidro com a vassoura, mas a
ordinária voa antes que eu possa atingi-la.
— Ah, sua filha da puta!
Sigo-a arremessando a vassoura, tentando derrubá-la, mas ela é mais rápida do que eu e
segue voando desgovernada pela casa.
Depois de fazer bastante hora com a minha cara, a infeliz pousa na parede da sala e eu
sorrio sozinho.
— É agora, sua praga…
Calculo meus movimentos e ando pé por pé até ter uma distância segura, onde sei que é
mais difícil de errar. Golpeio a parede com força e finalmente a acerto, derrubando-a ao chão.
— Desgraçada! — Esmago com o sapato e sinto um prazer ao ouvir o estalado em meu
solado. — Isso é por ter deixado minha garota com medo.
Ergo os pés e a imagem da barata estraçalhada me surge.
Perfeito.
Busco uma pá na área de serviço e volto para recolher o cadáver. Higienizo tudo e
quando estou satisfeito, vou até o quarto de Marina, dando batidinhas à porta.
— Pode sair, eu já acabei com ela.
— Jura? — a voz trêmula aperta o meu peito.
— Sim. Eu a encontrei, matei e limpei tudo.
Ouço o barulho da maçaneta sendo destravada e a imagem da minha garota assustada me
desarma.
— Ô meu amor… — murmuro, tomando-a em meus braços, e Marina me aperta tão
forte, que percebo que está tremendo. — Já passou, ela não está aqui mais…
— Obrigada, Otto — a sua voz fraca aperta o meu peito.
Afasto-me dela e toco seu rosto com carinho, vendo seu semblante ainda assustado.
Inclino-me e lhe dou um selinho gostoso.
— Então eu vim salvar a minha garota em apuros? — brinco e noto seu semblante
suavizar.
Mari me abre um sorriso de lado.
— Me desculpe se te atrapalhei, eu não tinha mais a quem recorrer e…
— Ei — interrompo-a, tocando em seu queixo para que olhe para mim. — Você nunca
me atrapalha, ok? Nunca. E fico feliz que tenha me pedido ajuda.
— Obrigada mesmo. Você salvou a minha vida. — Suspira relaxada e eu sorrio.
— Vem beber uma água — chamo pegando-a pela mão e seguimos pelo apartamento.
Pelo caminho, narro o acontecido e vejo que a morena se estremece só de ouvir falar do
inseto voador.
— Um bicho desses não deveria ter asas — resmunga logo que chega à cozinha. — É
desumano isso.
— Mas não é humano mesmo, é inseto — brinco, para descontrair, e ela me fuzila com o
olhar.
Solto uma risada.
Marina nos enche dois copos de água e eu a acompanho, notando se recuperar.
— Estudando? — Aponto para os livros abertos em sua mesa e ela assente.
— Estava… Mas acho que não vou pegar mais por hoje. Aquela aberração tirou toda a
minha concentração.
— Hummmm… Quer um pouco de companhia então? — ofereço e vejo seu semblante se
iluminar.
— Você pode ficar mais um pouco?
— Com o maior prazer. Está com fome?
— Um pouco — confessa.
Assinto e pego-a pela mão, levando até o sofá, onde ela se acomoda em meu colo.
— Vou pedir um sanduíche natural pra gente, pode ser?
— Perfeito!
Faço o pedido pelo aplicativo e largo o celular no sofá, abraçando sua cintura antes de
beijar seus lábios daquele jeito que eu amo.
— Que bom que aquele alien me trouxe você aqui — murmura roçando seus lábios aos
meus antes de mordiscar minha pele. — Em plena quarta-feira à tarde…
Sorrio e tomo sua boca de um jeito mais intenso agora, daquele jeito que nos tira o ar.
— Hummmm… Estou começando a achar que você combinou com essa barata — brinco
e ela ri, balançando a cabeça.
— Não tem saudade nenhuma que me faria trazer uma barata até aqui, Otto. Ainda mais
voadora. Voadora! Tem noção disso?
O desespero em seu semblante me faz rir.
— Não temos mais baratas voadoras por aqui, Mari. Pode ficar tranquila. E, se um dia
aparecer de novo, é só me chamar. Eu venho até de madrugada te socorrer.
Marina sorri e toma meu rosto em suas mãos, acariciando-me de leve.
— Você é perfeito, sabia? — sussurra e eu sinto o meu coração se agitar aqui dentro. —
Inteligente, excelente professor, pai dedicado, ótimo cozinheiro e ainda assassino de baratas.
A garota enumera as minhas qualidades e eu abro um sorriso.
— E lindo — completa me fazendo sorrir mais. — Gostoso…
Eu não resisto e tomo seus lábios mais uma vez, em um beijo muito mais quente agora,
mais intenso.
— Gostosa é você — murmuro, descendo os lábios pelo seu pescoço, onde mordo de leve
e sinto sua pele se arrepiar.
— Otto… — ela geme, rebolando em meu quadril, e, quando minha boca desce até o seu
colo, ouço o interfone tocar.
— Ah, caralho — resmungo me lembrando de que pedimos um sanduíche.
— Logo agora? — Mari reclama e eu rio, dando-lhe um selinho antes de tirá-la de meu
colo.
— Vou descer para pegar.
Saio do apartamento e desço pelo elevador, encontrando o entregador. Quando volto,
encontro Marina arrumando a mesa para comermos e toda aquela tensão sexual se esvaiu.
— Bom que você come um pouquinho — digo e ela sorri, sentando-se ao meu lado.
Dividimos essa refeição rápida, e as conversas despreocupadas com ela deixam o meu
coração tranquilo. Eu a encontrei em puro desespero hoje e fico bastante feliz de saber que ela
está bem agora.
Quando terminamos, ajudo-a a organizar tudo e, desta vez, Mari me leva até o seu quarto.
— Tem mais uns minutinhos para mim, professor? — sua voz é provocativa e eu abro um
sorriso safado ao enlaçar sua cintura.
— Ah, pode apostar que sim…
Calo-a com um beijo e esfrego o meu corpo ao seu, enquanto minhas mãos descem pelas
suas coxas descobertas pelo short curto. Marina não se faz de rogada e me puxa pela nuca,
apertando os meus cabelos e me fazendo sorrir em sua pele ao sentir o desejo latente.
Em um movimento, coloco-a em meu colo e a garota enlaça a minha cintura enquanto eu
a carrego até a parede mais próxima, sem separar a nossa boca.
— Se eu pudesse, te comeria agora, Marina — murmuro descendo os lábios até o seu
pescoço. — Prensada nesta parede.
— E… — ela começa e geme ao sentir a mordida na pele. — E por que não pode?
Sorrio em sua pele.
— Tem roupa demais aqui — falo e seus olhos faíscam.
— Podemos resolver isso — sussurra, afastando-se para arrancar a camiseta, atirando-a
longe.
O sutiã vai pelo mesmo caminho e logo a morena está nua da cintura para cima.
— Mas é gostosa…
Lambo os lábios devagar antes de correr a língua pelos seus peitos, chupando e lambendo
os biquinhos.
Marina joga a cabeça para trás e geme ao sentir o trato que dou em seus seios, mamando
gostoso em cada um deles.
— Ai, Otto…
Eu ainda a seguro no colo enquanto continuo chupando seus peitos, sugando e mordendo
os mamilos, vendo-a se desesperar em meus braços.
— Deliciosa — murmuro, espalhando saliva por onde minha língua passa.
Faço o caminho de vai e volta e Mari se estremece inteira, louca de tesão, o que só me
incentiva a continuar.
Gostosa pra caralho.
Quando me dou por satisfeito, desencosto-a da parede e atiro-a na cama, ela me olha
safada.
— Onde você tem camisinha?
— Lá no móvel da sala.
Assinto e saio, indo até o local indicado. E, quando eu volto, encontro-a completamente
nua me esperando.
E para completar, com as pernas bem abertas.
Os dedos deslizando pela boceta lisinha.
— Que visão, Marina…
— Sabe o que seria melhor que os meus dedos, professor? — pergunta antes de chupar
um indicador e correr por todo o seu sexo.
— O quê?
Arranco a minha camisa e desafivelo o cinto da calça, sentindo um tesão do caralho
diante disso.
— O seu pau… — A morena mete um dedo dentro dela e geme feito uma putinha. —
Bem aqui… — Enquanto eu termino de me despir, ela faz o caminho de vaivém dentro dela. —
Comendo gostoso a minha boceta.
Ah, caralho…
Rasgo a embalagem de preservativo e cubro o meu pau, indo até a borda da cama e
puxando-a de uma vez.
— É isso aqui que você quer? — pergunto, parando em sua entrada.
Os olhos dela brilham ao acenar devagar.
— Então, peça — instruo-a e ela morde o lábio provocativa.
— Professor… — Olho em seus olhos a espero continuar. — Vem aqui, vem. Vem foder
a sua putinha.
— Porra, Marina.
Aperto sua pele e meto de uma vez só, gemendo junto com ela ao chegar ao fundo.
— Sua boceta é tão gostosa, Marina — rosno, sentindo meu pau ser esmagado por ela. —
Tão quente…
Estoco cada vez mais forte e não tenho um pingo de pudor.
E, pela forma como a morena geme, aposto que todo o prédio está nos ouvindo.
Tiro o meu pau e pincelo em sua entrada, lambuzando-o antes de meter de novo.
A cama range com o movimento e eu só sei aumentar a pressão, comendo sua boceta com
muito mais força agora.
— Ainda quero te comer sem camisinha — solto, estocando forte, e vejo a morena gemer
alto se contorcendo na cama.
Seus cabelos estão soltos e revoltos, a pressão do impacto de nosso corpo faz seus peitos
balançarem a cada arremetida.
Deliciosa.
— Quero sentir meu pau em sua boceta quente — falo, metendo bem mais rápido agora.
— E te encher com a minha porra.
— Otto… — ela geme e eu não alivio a pressão, metendo como um louco. — Tira…
Tiro o meu pau na mesma hora e franzo o cenho para ela.
— Não você… A camisinha… Tira ela…
Meu peito sobe e desce rápido e eu analiso o seu semblante.
— Mari…
— Eu tomo pílula, pode confiar.
Caralho…
Minha garganta seca e eu toco o meu pau, pensativo.
— Tira… — pede manhosa e eu perco a porra do meu juízo.
Arranco a camisinha e meto de uma vez nela, gemendo alucinado ao senti-la me engolir.
Pele contra pele.
Todo o seu calor.
— Caralho, Marina — murmuro, sentindo um tesão dos infernos.
— Otto… — Meto tão forte, tão descontrolado, que estou esfolando-a toda.
E o seu rostinho safado me diz que está adorando isso.
— Que gostoso… — geme e toca os peitos, fazendo-me salivar. — Me come de quatro
agora? — pede e eu sorrio de lado.
— Porra…
Saio de dentro dela e vejo a safada se posicionar à minha frente, empinando o rabo para
mim.
Não resisto em desferir um tapa em sua bunda.
— É assim que você quer que eu te coma, sua cachorra?
Agarro seus quadris e meto de uma vez, arrancando um gemido de nós dois.
— Assim…
Marina escancara as pernas e empina mais a bunda, agarrando os lençóis com força
enquanto eu a como por trás.
— Gosta de foder de quatro, Marina?
Desço a mão até os seus cabelos e embolo-os, dando um tranco forte na garota e
erguendo o seu tronco levemente.
— Gosto — murmura, rebolando ainda mais. — Gosto muito.
Continuo estocando-a, puxando seus cabelos, e a garota geme como louca.
— Que delícia, professor… Isso… Você me come tão gostoso.
Ah, caralho.
Essa garota.
Essa boceta.
Essa boca suja.
Aumento a pressão e bato meu quadril tão forte contra o dela, que balança toda a cama e
a garota só sabe gemer.
— Me bate, professor.
Estapeio a sua nádega e a garota geme mais.
— Assim, cachorra? — Bato mais uma vez e ela solta um gritinho. — Você é uma
putinha, Marina. — Mais um tapa e um gemido alto. — Uma putinha gostosa.
Dou um tranco em seus cabelos e vejo a garota agarrar os lençóis ainda com mais força
enquanto esfolo a sua boceta, entrando tão rápido e tão forte com meu pau.
Ela está tão molhada que o som do movimento ecoa em todo o cômodo e isso só me
deixa ainda mais louco.
Inferno de boceta gostosa.
— A minha putinha — completo.
Estapeio a sua nádega e a garota solta o lençol. Desce a mão até o clitóris e começa a
tocar ali enquanto eu continuo fodendo sua boceta.
Seus gemidos são tão loucos, tão desconexos, e eu sei que está prestes a gozar.
Seus dedos friccionam seu sexo em um ritmo insano e logo seus primeiros tremores vêm.
— Eu vou gozar — anuncia e eu acelero as estocadas. — Professor… Puta que pariu!
E então o orgasmo a atinge.
Forte.
Intenso.
Avassalador.
Marina grita, geme e estremece inteira.
Acelero o ritmo e agarro seu quadril com força ao gozar também, esporrando dentro dela.
— Porra!
Meus dedos se afundam em sua carne e, quando finalmente me recupero, eu saio de
dentro dela, desabando ao seu lado.
Marina deita o corpo ofegante e me encara, com os cabelos revoltos e a pele suada.
— Caramba, Otto…
— Foder você é gostoso demais, Marina. Porra… — digo entre respirações e ela sorri.
— Pode vir todos os dias aqui me foder, professor. — Seu sorriso é malicioso agora. —
Eu não vou me importar nem um pouquinho…
Solto uma risada e puxo seu corpo contra o meu, beijando-a.
Sua boca está quente, seu corpo está úmido de suor e o cheiro de sexo exala no ambiente.
Aquela junção que me vicia.
Que me deixa completamente rendido por ela.
CAPÍTULO 21 - Otto
Enquanto recheio os raviólis e fecho a massa, penso no rumo que meu relacionamento
com Marina tomou. Eu nunca imaginei me envolver de novo com alguém, muito menos alguém
tão jovem quanto ela.
Mas é exatamente isso que a diferencia de todas as outras mulheres.
A sua energia, a sua vitalidade…
Marina é alguém que ainda está lutando pelo que acredita, batalhando todos os dias para
construir a sua vida, o seu futuro. E eu já não tenho muitas perspectivas, bom, pelo menos não
tinha.
Já me estabilizei profissionalmente, tenho um filho lindo e não almejava muito mais do
que isso na vida. Apenas ter dias tranquilos ao lado de Yuri.
Uma vida um tanto sem graça, confesso.
Mas Marina veio para mudar isso.
O brilho em seus olhos, a força de vontade que tem, os inúmeros planos para o futuro me
fizeram repensar. Estar ao lado dela é uma constante reflexão de que a minha vida ainda não
acabou.
Na verdade está bem longe disso…
Eu devo estar ainda na metade, e há muita coisa que ainda posso fazer. Muita coisa que
ainda quero fazer. Quero viajar pelo mundo, conhecer lugares incríveis e históricos. Lugares
onde passaram mentes brilhantes e grandes pensadores. Quero conhecer museus milenares,
paisagens paradisíacas e viver experiências. Quero ir a um concerto de ópera, a um show de
tango, um teatro, que seja.
Quero viver.
E o mais curioso de tudo isso é que eu consigo ver Marina em cada uma dessas
experiências. Consigo olhar para a frente e ver essa garota ao meu lado em tudo o que eu fizer. E,
assim como quero que ela participe da minha vida, quero estar ao seu lado também.
Quero vê-la comprar o seu primeiro carro, receber o diploma do reitor e se formar com
honras. Quero vê-la se tornar uma engenheira de sucesso e comandar as maiores obras do país.
Quero vê-la viajar pelo mundo e conhecer as tão sonhadas pirâmides do Egito.
Onde quer que ela esteja, quero estar lá…
E esta certeza é viva em meu coração.
Coração este que voltou a bater mais forte desde que ela entrou em minha vida. Com seu
jeito doce, sorriso malicioso e uma energia linda, Marina me devolveu o sorriso. Eu me sinto
mais leve quando estou com ela, sinto-me mais vivo, mais feliz.
E quando ela se une ao meu maior amor…
Quando estamos os três juntos, eu me sinto o cara mais sortudo do mundo.
Foi pensando em tudo isso e estudando as últimas possibilidades, que tomei uma decisão.
Quero fazer o nosso relacionamento dar certo e, principalmente, quero assumi-la para o
mundo.
Como minha.
Mas, para isso, não podemos estar no mesmo lugar.
Daqui a menos de quatro meses o semestre acaba e teremos um de recesso antes que o
novo comece. Então eu já posso começar a procurar um novo emprego. Tanto em Vale dos
Campos quanto nas cidades vizinhas existem outras universidades e absolutamente todos os
cursos precisam de um professor de Filosofia. Eu não sei bem como está o mercado lá fora, já
que são mais de quinze anos trabalhando no mesmo lugar, mas preciso arriscar.
Se eu começar a procurar agora, pode ser que encontre um novo emprego antes que o
novo semestre se inicie. E, se tudo der certo, estarei livre para ficar com Marina por inteiro, sem
ressalvas.
Como sempre quisemos.
E é por isso que eu a convidei para um jantar em minha casa.
É sábado à noite, aproveitei que Yuri está fora para um acampamento da escola e a
convidei para passar a noite comigo. Preciso abrir o coração e contar meus planos. Se estivermos
na mesma sintonia, seguirei em frente com o que pretendo e em poucos meses seremos livres.
Livres para sermos Otto e Marina, acima de qualquer coisa.
Termino de fechar os raviólis e polvilho farinha sobre eles, guardando em um refratário.
Busco os ingredientes para fazer o molho pesto e preparo tudo no pilão, deixando pronto
também.
Quando termino meu trabalho na cozinha, corro para um banho rápido enquanto Marina
não chega. Visto uma de minhas camisas claras de botão, calça jeans e sapatos escuros. Penteio
os cabelos e borrifo perfume, arrumando-me do jeito que eu sei que ela gosta.
Confesso que faz bem para o meu ego saber que uma garota de vinte anos prefere estar
comigo a ficar com garotos da sua idade. E, mais ainda, que me deseja e me acha gostoso, como
sempre faz questão de me dizer.
Marina não tem noção do quão bem ela me faz.
Quando o interfone toca, eu libero sua entrada e busco a rosa vermelha que escolhi para
ela.
Espero-a parado na porta do apartamento e, quando as portas do elevador se abrem, eu
abro um enorme sorriso ao vê-la caminhar em minha direção.
Usando um vestido preto curto, sandálias de salto vermelhas nos pés e os cabelos soltos,
Marina está deslumbrante.
Simplesmente perfeita.
— Oi, professor — murmura ao me alcançar e eu sorrio antes de puxá-la pela cintura,
dando-lhe um selinho gostoso.
— Oi, minha linda.
Toco seu rosto com carinho e fito seus olhos cor de âmbar.
— Você está perfeita — elogio e ela sorri daquele jeito único.
— E você, um gato, como sempre.
Suas mãos correm pelo meu peitoral sobre a camisa e eu sorrio de lado.
— Isto é para você.
Entrego a rosa vermelha e seu sorriso se amplia, iluminando tudo ao nosso redor.
— Ah, Otto… Que lindo!
A morena inspira a flor em suas mãos e sorri tão lindamente, que meu coração se agita
aqui dentro e me faz ter ainda mais certeza de que me apaixonei por ela.
Na verdade, devo ter me apaixonado no momento em que pus os olhos nela na
universidade naquele primeiro dia de aula.
E me apaixono mais um pouco por ela todos os dias desde então…
Quando me envolve pelo pescoço e me abraça forte, eu inspiro seu aroma gostoso de
melancia.
Ah, Marina…
Como viver sem isso?
— Obrigada, amor — diz baixo, ao pé do meu ouvido, e meu coração erra uma batida.
Afasto-me e beijo sua boca, conduzindo-nos para dentro do apartamento e fechando a
porta atrás.
— Senti saudade… — murmuro, roçando os nossos lábios, e a sinto se arrepiar.
— Mas você me viu ontem — brinca e eu rio baixo.
— Um minuto longe de você já é motivo de sentir saudade — declaro e ela me abre um
sorriso lindo. — Aceita um vinho antes do jantar?
— Claro!
Mari me segue até a cozinha e olha curiosa para as bancadas.
— Está com um cheirinho muito bom… O que você aprontou por aqui, meu chef?
— Um ravióli de frango ao molho pesto — revelo e seus olhos brilham.
— Nossa! Que chique, Otto!
— E o melhor de tudo. — Faço uma pausa dramática e busco a garrafa de vinho. — A
massa foi feita por mim.
— Mentira!
— Claro que não. Minha garota vale o esforço.
Abro um sorriso para ela ao servir as nossas taças e brindamos juntos.
— Existe algo em que você não é perfeito?
— Ah, essa é fácil. Videogame — respondo sem nem precisar pensar e ela ri.
— Verdade. Encontramos seu defeito — brinca e eu balanço a cabeça, conduzindo-a até a
sacada do apartamento.
Coloco a garrafa no balde de gelo, na mesinha ao lado, junto com sua rosa e nos
sentamos nas cadeiras de madeira, diante do céu noturno, que hoje está bem estrelado.
— A vista é mesmo linda daqui — elogia.
— Eu gosto muito. Este lugar me traz paz — pontuo e Mari assente, bebendo mais um
pouco do vinho.
Ficamos mais um instante apreciando este momento, quando decido quebrar o silêncio.
— Mari, vem cá. — Aponto para o meu colo e a garota sorri, levantando-se e se
acomodando de lado em minha coxa. — Sabe por que eu te chamei aqui hoje?
— Para me ver, já que Yuri está fora? — indaga e eu estalo a língua.
— Também… Mas porque quero conversar um pouco com você.
Seu semblante se torna tenso e eu trato de tranquilizá-la.
— Não se preocupe, não é nada ruim.
Toco seus cabelos e coloco uma mecha atrás de sua orelha.
— E o que é, então?
— Lembra quando eu te falei que estava estudando possibilidades? Acerca de nós dois?
— Lembro…
A morena não desvia o olhar do meu e eu consigo imaginar sua mente se tornando
confusa.
— Eu pensei muito, Mari, até chegar a uma conclusão.
— E qual é? — sua voz falha um pouco agora.
— Não quero ficar sem você — digo firme. — E não quero que nosso relacionamento
seja passageiro. Quero fazer planos com você, quero você ao meu lado.
Seus olhos brilham e os lábios tremem de leve.
— Mas e você? O que quer? Consegue ver um futuro ao meu lado?
Marina sorri de lado e pousa a taça na mesinha para tocar os meus cabelos.
— Eu não vim até aqui para procurar um relacionamento, Otto. Me envolver com alguém
era o último dos meus planos — revela e eu sinto o meu coração se acelerar. — Mas como
resistir a você? Como não te querer por perto se o meu corpo e o meu coração clamam por ti?
Eu sinto um nó na garganta e minha respiração pesa quando ela me dá um selinho
gostoso.
— Você me apoiou desde o primeiro dia, Otto. Acreditou em mim e em todos os meus
sonhos. E sim, eu consigo te ver ao meu lado, realizando cada um deles.
Sua voz é baixa, doce e adentra a minha alma.
— Eu nunca me apaixonei antes — revela. — Não verdadeiramente. Nunca quis alguém
por completo em minha vida, assim como quero você.
Inclino-me e beijo seus lábios, tomando seu rosto em minhas mãos, em uma carícia
gostosa.
— Você poderia escolher qualquer cara no mundo, inclusive um da sua idade — sussurro
e ela franze o cenho de leve. — Mas ainda assim me escolheu… Um cara com uma bagagem na
vida, que não tinha muita perspectiva até você chegar.
— Nenhum cara no mundo é como você, Otto. Você é único. Eu não tenho nem dúvidas
do quanto quero você.
Sorrio e a beijo mais uma vez.
— Nunca pensei que fosse me apaixonar a essa época da minha vida. Eu me fechei para o
amor, Marina. Eu me fechei para relacionamentos… Eu me fechei para a vida.
Seu semblante se torna compreensivo e eu fecho os olhos devagar ao senti-la correr os
dedos pela minha pele.
— Meu coração foi muito maltratado. — Reabro os olhos e a vejo me encarar firme.
Aqui, olhando em seus olhos, decido abrir o meu coração e me despir para ela.
— Amei uma pessoa e não fui amado de volta. Eu me doei por alguém que não me deu
valor. Não quero trazer o nome da minha ex-mulher para o nosso momento, mas quero que saiba
tudo o que eu passei.
— E eu quero ouvir, Otto. Quero ouvir tudo o que estiver disposto a me dizer.
Acaricio sua cintura enquanto a mantenho aqui, firme em meu colo.
— Conheci Renata quando eu estava terminando a universidade. Era um cara tímido,
estudante de Filosofia, e ela, a garota popular, que cursava Administração. Na época, achei o
máximo que alguém tão extrovertida pudesse olhar para mim, e acabei ficando cego.
Namoramos e, cinco anos depois, nos casamos. Pensei que estivéssemos na mesma sintonia, mas
não. Ela não queria um parceiro para a vida, na verdade nem sei por que se casou comigo. Na
rua, se gabava pelo meu doutorado, mas em casa diminuía a minha profissão.
— Nossa…
Abro um sorriso fraco.
— Ela adorava passar a imagem de casal perfeito, postava fotos em redes sociais, mas
comigo era completamente diferente. Fazia questão de me humilhar todos os dias. Tudo naquele
casamento era ruim. Nós não conversávamos como amigos, não nos abríamos um com o outro,
não aproveitávamos a companhia. Até o sexo era ruim. — Faço uma careta ao me lembrar. —
Sabe esse cara que você permite que eu seja na cama? — indago e ela assente.
— Um devasso — constata e eu rio baixo.
— Eu só sou assim com você… — falo e noto seu semblante surpreso. — Não podia ser
eu mesmo com ela. Porque de tudo ela reclamava. Era um sexo morno, sem química, uma coisa
horrível. Ela me fazia pensar que eu era um doente pervertido por sequer falar alguma palavra de
sacanagem.
— Credo, Otto. Que horror…
— Pois é. E sabe o mais irônico disso? É que tudo o que eu não podia fazer com ela, ela
fazia lá fora…
— Ah, não…
Abaixo o olhar, porque lembrar disso me dói. Não por Renata, mas por saber que não fui
o suficiente para alguém.
— Quando descobri a primeira traição, Yuri já tinha nascido. Eu perdoei, sabe? Pelo bem
do nosso casamento e principalmente pelo meu filho. Eu não queria me separar dela. Mas uma
vez infiel…
— Sempre infiel — completa pesarosa e eu assinto.
— Colecionei muitos chifres ao longo desses quinze anos de casamento e, mesmo que eu
não saiba de todos, tenho certeza de que houve muitos por ali. Até que ela conheceu Fabrício e se
apaixonou verdadeiramente — falo, revirando os olhos. — E foi onde tudo acabou.
— Poxa, Otto…
— Mas isso tudo foi bom, porque eu precisava desse basta na minha vida. Precisava que
Renata saísse para você entrar — digo, sorrindo de lado.
— É, mas não precisava dos chifres…
— Não, não precisava. — Rio baixo e ela se junta a mim.
Toco seu rosto agora e a faço me olhar nos olhos.
— Me doeu ser traído, me doeu saber que eu não era suficiente para alguém. Então foi
por isso que fechei o meu coração. Mais do que um relacionamento proibido pela universidade,
eu não queria deixar alguém entrar — confesso e Marina não desvia os olhos dos meus. — Mas
então você chegou… Você nem me deu chance, amor.
Meus dedos tocam seus lábios e sentir a maciez deles aquece aqui dentro.
— Com você eu posso ser cem por cento eu mesmo, Mari. E você não tem vergonha de
mim, pelo contrário…
— Eu me orgulho muito de quem você é, Otto. E te admiro tanto…
— Está vendo? Eu nunca tive isso. Bom, pelo menos não vindo de uma mulher. No
início, eu me senti muito confuso com tudo isso, porque não estava acostumado. Mas com seu
jeito meigo, doce, você foi adentrando aqui. — Toco o meu coração e ela sorri. — E me
devolveu o sorriso, me devolveu a vontade de viver e principalmente… de viver o futuro.
Roço meus lábios nos seus bem devagar e dou um selinho antes de me afastar.
— E foi inevitável me apaixonar por você. Pela sua doçura, seu jeito leve de viver a vida.
A sua dedicação e esforço ao fazer tudo o que se propõe. Você é incrível, Marina, e hoje meu
coração é todo seu.
Uma lágrima lhe escorre e ela me abre um sorriso lindo demais.
— Prometo que vou cuidar bem dele, amor. Assim como você cuida do meu…
— Eu sei — respondo de pronto, porque não há dúvidas em mim. — Eu confio em você.
Marina sorri e se inclina para me beijar mais uma vez.
— Então eu tomei uma decisão — anuncio e a vejo me encarar firme. — Não podemos
ser namorados, porque estamos na mesma universidade e você acabou de se matricular. São
cinco anos pela frente e, amor, eu não vou conseguir esperar tudo isso.
— Nem eu… — a voz baixa é tão doce…
— Faltam menos de quatro meses para acabar o semestre e teremos mais um de folga
para começar o próximo, acho que o momento é agora. Vou começar a entregar meu currículo
para outras universidades e, pela minha formação e experiência, não devo demorar a encontrar
um emprego novo.
— Otto…
Marina pisca os olhos devagar e percebo que a deixei sem palavras.
— Você tem um longo caminho nessa universidade, Mari. E eu posso construir o meu em
outro lugar. Desde que eu tenha um salário justo para dar um futuro digno para o meu filho e
construir a nossa vida, estou disposto a tentar.
O sorriso da morena se abre e ela se emociona, derramando algumas lágrimas.
— Eu… Eu não sei nem o que dizer — confessa e eu toco seu rosto, secando as lágrimas
devagar. — Jamais te pediria para desistir do seu emprego…
— Eu sei — interrompo-a. — Por isso andei pensando bem e vi que é melhor que eu saia
da universidade. Não posso te pedir para mudar, não agora que começou o projeto de pesquisa e
conseguiu sua bolsa.
Mari já me contou o quanto foi importante essa conquista. Não só para sua carreira, mas
para conseguir arcar com suas despesas e gastar o mínimo possível da ajuda de sua avó.
Então eu jamais tiraria isso dela. Minha garota tem muito mais a perder do que eu.
— Eu já fiz um concurso há mais tempo para a universidade federal da cidade vizinha,
mas eles demoram muito a chamar. Isso se me chamarem um dia. Mas vou tentar uns contatos
que tenho nas outras universidades até conseguir. Não sei se vai ser para agora, mas já vou
começar a olhar o quanto antes. Só precisava dividir isso com você e saber se me quer tanto
quanto eu te quero.
— Ah, Otto… Não existe nada no mundo que eu queira mais do que você.
Sorrio antes de colar os lábios nos dela, beijando-a com todo meu amor. Minha língua
percorre cada cantinho dela, seguindo em um ritmo só nosso.
Marina agarra meus cabelos enquanto eu desço as mãos pela sua coxa, alcançando a barra
do vestido, e esse movimento, quente e intenso, me deixa duro.
A garota percebe a minha excitação e se esfrega nela, rebolando em meu colo e me
deixando louco. Minha boca não solta a sua e Marina se endireita em meu colo, ficando de frente
para mim, com as pernas bem abertas, envoltas à minha cintura.
Nosso beijo fica mais intenso, mais quente, mas sem desespero. Apenas sensual demais.
Eu me afasto de seus lábios e desço até o pescoço, fazendo uma trilha em sua pele.
— Otto… — Mari geme baixinho e eu subo as mãos pelas suas coxas, erguendo a barra
do vestido e embolando na cintura.
O rebolado de Marina em meu colo me deixa louco de tesão e eu toco sua calcinha,
afastando de leve para deslizar um dedo pela sua lubrificação.
— Ai, professor… — sussurra e eu rio em sua pele.
— Quer foder aqui na varanda? — sugiro e seus olhos brilham ao assentir. — Mas tem
que ficar caladinha, amor, senão os vizinhos vão nos ouvir.
— Ah… — Ela prende os lábios nos dentes enquanto meus dedos trabalham intensos em
seu sexo.
Tiro-os e trago à boca, chupando-os lentamente.
Marina me observa com os olhos brilhando de desejo.
— Sua boceta é tão gostosa… — murmuro, lambendo os lábios ao final. — Pena que não
posso te chupar agora.
Volto a tocar o seu clitóris e ela geme baixinho.
— Por… Por que não? — gagueja e eu sorrio safado antes de afastar os cabelos do seu
pescoço para chupá-la ali.
— Você não vai conseguir se controlar se eu chupar a sua boceta, Marina. Vai gemer
como a boa putinha que é e acordar toda a vizinhança.
— Oh…
Mordo a sua pele e a sinto se arrepiar.
— Estou mentindo?
— Ai, não… — responde rápido e eu rio.
— Mas consegue se controlar se eu chupar os seus peitos? — digo baixo e ela acena,
rápido demais.
Afasto-me dela e puxo o vestido pela sua cabeça, deixando-a nua, apenas de calcinha
para mim.
— Tão gostosa…
Toco seu mamilo com a ponta da língua e brinco ali, circulando, antes de correr a língua
pelo seu peito; vejo que a garota faz um esforço enorme para não gemer alto.
Boa menina.
— Hummmm…
Eu me delicio em cada um deles, chupando e lambendo bem devagar. Sugo o biquinho e
mordo, vendo Marina rebolar desesperada em meu colo.
— Já quer meu pau em você? — murmuro erguendo os olhos para Marina enquanto
mamo nela.
— Si-sim… Por favor…
Marina desce a mão pela minha calça e desafivela o cinto, abrindo o zíper e libertando o
meu pau.
E, porra, se agora não é a minha vez de gemer ao senti-la me tocar.
— Me deixa montar em você, professor.
O sorriso safado me desarma e eu apenas assinto ao vê-la se erguer de leve e sentar em
mim, me engolindo inteiro.
— Porra, Mari…
Agarro sua cintura e volto a beijar a sua boca enquanto a garota sobe desce sobre o meu
pau, em um ritmo leve e sensual demais.
Cacete…
Ela é uma delícia.
Nossos beijos abafam o gemido de nós dois enquanto Marina me cavalga e com as mãos
eu a ajudo a ditar o ritmo. Quando ela se levanta de uma vez e senta de novo, é a minha vez de
gemer um pouco mais alto.
— Está difícil se controlar, professor?
A safada repete o movimento, saindo por inteiro antes de sentar até o fundo.
Caralho…
— Isso, cachorra — murmuro, segurando o seu queixo, para que ela me olhe nos olhos.
— Quica gostoso no seu pau.
Os olhos da morena brilham quando ela faz exatamente o que eu digo, quicando e
rebolando em mim.
E, porra…
Isso é uma delícia.
Tomo sua boca mais uma vez enquanto Marina continua me cavalgando, rebolando e se
esfregando em meu cacete.
O nosso ritmo hoje não é insano e animal, mas é absurdo de gostoso. É sensual demais.
Quando desço uma mão até o seu clitóris, preciso engolir um gemido seu.
Toco ali a sua boceta enquanto Marina me cavalga, buscando o seu prazer, buscando o
nosso prazer.
— Otto… — Se afasta para gemer. — Desse jeito eu vou gozar…
Já consigo ver o seu semblante rosado e a sua entrega é tudo.
Esta mulher é a minha perdição.
— Então goza, amor — falo, acelerando o ritmo dos dedos. — Mas goza caladinha.
Marina assente e sobe e desce mais rápido em mim agora. Quando o clímax a atinge, ela
joga o corpo contra o meu, afundando o rosto em meu pescoço.
— Ai, Otto… — murmura, mordendo a minha pele e gozando forte, mas sem emitir um
ruído.
Agarro sua cintura e estoco forte em sua boceta até gozar também, esporrando dentro
dela.
Encosto a cabeça na parede e olho para o céu noturno, recobrando a respiração com essa
mulher foda em meu colo.
E aqui, me recuperando, tendo Marina desmontada em meu corpo, penso que, se esse não
foi o nosso sexo mais gostoso, foi o mais cheio de sentimentos.
Aqui foi onde despimos a nossa alma e nosso coração.
— Não quero nunca sair da sua vida… — Mari sussurra e eu a abraço, acariciando seus
cabelos.
Embalo-a e beijo sua cabeça, pensando no quanto a quero comigo.
— Nem eu, meu amor, nem eu…
Nunca quis tanto alguém como a quero.
E nunca estive tão certo como agora.
CAPÍTULO 22 - Marina
Um mês depois
— Você tinha que ter visto a cara dos professores, Mari! Eles ficaram impressionados
com a minha maquete — Yuri narra com detalhes, empolgado sobre a sua apresentação.
Otto já tinha me dito que foi um sucesso, mas ouvir da boca do garoto deixa o meu
coração quentinho. Principalmente porque eu também fiz parte disso. Ao contrário da bruxa da
mãe dele, que não comprou um mísero isopor e nem montou uma casinha sequer, eu participei
disso. Depois de ajudá-lo com a hidrelétrica, Yuri me chamou outro dia para a montagem e eu
curti cada momento com eles.
E agora, vendo o sorriso do menino, vejo como valeu a pena.
Queria muito ter ido assistir a sua apresentação, mas sei que não posso. Pelo menos não
ainda. Mas, quando eu e Otto assumirmos o relacionamento, sei que poderei participar mais da
vida dele.
E pensar nisso me faz lembrar daquele dia…
O dia em que Otto me abriu o seu coração e me contou seus planos de procurar outro
emprego. Desde então, temos vivido um sonho. Meu professor não estava brincando e já
começou a espalhar currículos, se esforçando para encontrar um novo trabalho.
E eu nem preciso dizer o quanto isso me tocou, o quanto mexeu comigo.
Enquanto Otto acha que eu poderia escolher qualquer cara, eu penso exatamente o
mesmo…
O que eu, uma estudante caloura que ainda não consegue se sustentar sozinha, tem a
oferecer a alguém como ele?
Um homem feito, um doutor com carreira consolidada, poderia ter qualquer pessoa.
Mas, ainda assim, ele me escolheu.
E, nossa, como sou feliz por isso.
No fim das contas, percebo que precisávamos nos encontrar.
Precisávamos ter aquele sexo louco no banheiro da boate e cair de paraquedas na sala de
aula. Porque, se não fosse assim, talvez nunca olhássemos um para o outro com os mesmos olhos
e estaríamos perdendo essa chance…
Só de pensar nisso, já sinto um aperto no peito.
Engraçado como, há poucos meses, eu nem conhecia Otto e hoje já não me imagino mais
sem ele.
— Eu posso imaginar! Tenho certeza de que a sua ficou a mais bonita da escola —
elogio, voltando de meus pensamentos, e o garoto sorri.
— Quem vai me ajudar a fritar o pastel? — Otto chama da cozinha e nós dois vamos até
ele.
Hoje é um daqueles finais de semana em que os dois ficam em casa e, na maioria, Otto
tem me convidado para passar um tempo com eles. Eu não sei se Yuri percebeu o nosso
envolvimento ainda, mas, se desconfia, consegue disfarçar muito bem. A vantagem desse garoto
é que não me deixa nem um pouco desconfortável aqui, pelo contrário, ele já me vê como uma
amiga. E isso vale tudo para mim.
— Já montou tudo? — pergunto ao Otto, que assente, apontando para as massas na
bancada.
Enquanto Yuri me contava com detalhes sobre a apresentação do trabalho, seu pai ficou
montando os pastéis para fritar. O menino teve a ideia de fazer uma noite do pastel e eu amei ser
incluída nesse programa maravilhoso.
— Fez de todos os recheios, pai?
— Sim. O de carne é esse retangular — Otto mostra na bancada. — O de queijo, o
achatado. E o em meia-lua é o de pizza.
— E eu posso comer um de cada? — pergunto e Otto ri.
— Um? Tem trinta pastéis aí, Marina.
— TRINTA? — indago e o homem gargalha ainda mais.
— Eu como dez fácil — Yuri diz, satisfeito, e eu arregalo os olhos para ele. — Estou em
fase de crescimento — justifica e eu balanço a cabeça.
— Eu que não vou acompanhar vocês, senão saio rolando daqui — resmungo.
— Agora me ajudem aqui.
Eu pego um pastel na bancada e entrego a Otto, que mergulha na panela de gordura
quente.
— Yuri, pega a travessa de inox ali.
O garoto obedece e coloca ao lado do pai, forrando com papel-toalha.
— Vou colocar um sabor de cada lado aqui, ok? — Otto diz e concordamos.
Enquanto ele frita os pastéis, vamos conversando e rindo. E, por todo tempo, penso no
quanto é gostoso estar ao lado desse menino.
— E se fizermos um brigadeiro? — sugiro, entregando mais um pastel na mão de Otto.
— Mano, se você fizer isso, vai ser a melhor amiga do mundo! — Yuri suspira e eu
gargalho.
— Mano? — Otto indaga e eu rio mais.
— Vocês têm leite condensado e chocolate em pó?
— Acho que sim. Procura no armário, Yuri.
O garoto loiro de cabelos lisos, que hoje veste uma bermuda jeans e camisa do Green
Day, vai até os armários e encontra tudo de que precisa, voltando com um sorriso no rosto.
— Panela pequena eu encontro onde? — pergunto e Yuri na mesma hora busca para
mim.
O rapaz pega tudo de que eu preciso e, quando eu começo a fazer o brigadeiro, ele
assume a tarefa de entregar os pastéis para Otto.
Com tudo frito e o brigadeiro pronto e esfriando na pia, vamos até a sala de Otto ver um
filme enquanto comemos os pastéis. Meu anfitrião arruma tudo na mesinha de centro e eu fico
encantada com o quanto os dois são educados e cuidadosos para não fazer bagunça.
Yuri faz um esforço para não sujar o tapete do pai, que é lindo de ver.
— O que vamos assistir? — pergunto e os olhos de Yuri brilham.
— Pode ser um filme de terror?
— Você é parente do meu irmão, por acaso? — reclamo e o garoto ri.
— É legal!
— Otto, seu filho não deveria assistir a coisas mais leves, não?
O homem ao meu lado balança a cabeça e ri.
— Eu já tentei, mas quem disse que consigo? Porém, tem um limite. Geralmente os
filmes que ele assiste são mais bobos que tudo.
— Ei, não é bem assim…
— Coisa muito pesada eu não o deixo assistir, não — Otto diz e eu penso que isso é
muito sua cara.
Claro que ele monitora isso.
— Certo. Então, o que vamos assistir?
— Pode ser Sexta-feira 13?
— Esse é velho, hein? — Solto um assobio e o garoto ri.
— Mas é muito bom. Podemos?
O garoto olha de mim para o pai e concordamos.
E pensando nisso é que eu vejo o que Otto disse. Um filme de serial-killer não é muito
pesado para um garoto tão maduro quanto Yuri.
Mordo um pastel de queijo quando o filme começa na tela e os olhos do menino brilham.
— Para você ver o que os pais não fazem pelos filhos — Otto murmura e eu rio baixo.
— Mas aposto que você não mudaria nada.
Encaro seus olhos azuis e o que encontro dentro deles é lindo demais.
— Não mesmo. — Sua voz se torna mais baixa agora, de forma que só eu posso ouvi-lo.
— Ter vocês aqui comigo é o que há de mais precioso na minha vida.
Suas palavras me arrepiam e eu dou apenas uma piscadinha para ele, antes de pegar meu
copo de refrigerante para beber.
E, nas próximas horas, comemos pastel, depois brigadeiro, rimos com Yuri e nos
assustamos com a trilha sonora do filme.
É tudo tão gostoso, tão acolhedor, que eu me sinto em família.
Eu me sinto parte dessa família porque Otto permite que seja assim.
E eu realmente me vejo em um futuro com esses dois.
Eu, meu professor e seu filho.
CAPÍTULO 23 - Marina
— Estou te sentindo diferente, Ulisses — minha mãe me analisa, enquanto bebe um gole
de café.
— Diferente, como? — tento despistar, mas sei bem do que ela está falando.
Já faz uns dias que dona Regina vem me rodeando, tentando arrancar alguma informação
de mim, mas eu sempre me esquivo. Como eu sei que ela é uma casamenteira de marca maior,
prefiro evitar o assunto. Ainda mais que não posso falar sobre Marina, pelo menos não ainda.
— Você conheceu alguém, não foi? — pergunta direto e eu abro um sorriso de lado antes
de pegar um pãozinho. — Eu sabia! Eu te conheço, meu filho. Sabia que tinha alguma coisa aí!
Embora eu venha sempre com Yuri almoçar aqui aos domingos, hoje minha mãe me
chamou para um café da tarde bem no meio da semana. Eu estranhei seu convite, mas agora sei
bem qual é sua intenção com tudo isso.
Dona Regina não dá ponto sem nó.
— Você não vai me dar sossego até eu contar, né? — murmuro e ela faz uma careta para
mim, declarando o óbvio.
— Por que esconderia de mim, filho? Eu não posso saber?
— É complicado — eu me limito a dizer, já que não posso dar muitos detalhes da minha
relação com Marina.
Dona Regina estreita os olhos para mim antes de partir uma fatia de bolo.
— É porque ela é casada?
A pergunta me faz engasgar com a bebida quente.
— É o quê? Ficou maluca, mãe? — disparo e ela me olha assustada. — Logo eu, o cara
que foi traído várias vezes em quinze anos de casamento, vou me envolver com uma mulher
casada?
Balanço a cabeça nervoso.
Só pode ser brincadeira isso.
— Desculpa, Ulisses. Eu só estranhei esse mistério todo vindo de um cara tão correto
quanto você.
— E por isso cogitou que eu me envolveria em uma traição?
Minha mãe me olha pesarosa e balança cabeça negando.
— Foi errado mesmo, desculpa, filho.
Assinto e volto a beber o meu café.
— E como ela é? Pode me dizer?
Fito-a e minha mãe apenas me olha curiosa, acabo cedendo um pouco. Sei que ela só quer
o melhor para mim.
— Ela é incrível. Uma mulher doce e muito dedicada a tudo o que se propõe a fazer —
falo, sem conseguir esconder meu sorriso apaixonado.
E dona Regina não deixa passar batido.
— Eu vou conhecê-la algum dia? — pergunta com cuidado e eu pondero antes de
assentir.
— Eu só preciso acertar algumas coisas primeiro.
— Certo… Vou esperar. Só de saber que tem alguém na sua vida, já fico feliz. Você
merece muito isso.
E seu semblante terno me faz relaxar.
— Obrigado, mãe. Na hora certa, eu vou trazê-la até aqui.
Minha mãe parece satisfeita e apenas assente concordando, não insistindo mais no
assunto.
— E Yuri? Como está?
Dona Regina decide ir para o caminho seguro e eu respiro aliviado por isso. Engatamos
em uma conversa sobre meu filho e os relatos das últimas semanas a fazem proferir alguns
palavrões sobre Renata. É incrível a capacidade que a minha ex-mulher tem de ser odiada por
todos.
Bom, por todos, exceto meu filho.
Quando terminamos o café, eu me levanto para me despedir, e minha mãe me recebe em
um abraço.
— Venha mais vezes, Ulisses. Eu amo te receber aqui.
— Pode deixar que vou me esforçar mais, mãe.
Beijo seus cabelos e me afasto dela, acenando e indo até o meu carro. No caminho,
lembro-me de Marina e do quanto estava nervosa hoje pela chegada do exame de direção
amanhã.
Nós almoçamos juntos e eu a tranquilizei quanto a isso, sabendo que ela vai se destacar e
conseguir mais uma vez.
Quando chego em casa, aproveito as horas livres para corrigir algumas provas e
trabalhos. Quando termino de lançar as notas no sistema da universidade, já está ficando tarde e
eu mando uma mensagem para minha garota.
Eu: Tente dormir um pouco mais cedo hoje, amor. Descansa. Amanhã vai dar tudo
certo.
Mari: Estou tentando… Mas a ansiedade não quer deixar.
Sinto um aperto no peito por saber que está tão nervosa. Principalmente porque sei que
ela se cobra muito para não errar, para que faça tudo perfeito. E, embora aprecie seu esforço, eu
me preocupo com isso.
Todo mundo tem o direito de fraquejar, mas Marina não se permite isso.
Eu: Posso te ligar em vídeo?
Mari: Pode, sim.
Sigo para o meu quarto enquanto faço a chamada de vídeo para ela e, quando atende, vejo
a imagem escura surgir à minha frente.
— Já está deitada?
— Estou… Só não consigo dormir.
— E o que você geralmente faz que te ajuda a pegar no sono?
Coloco o celular de pé na cômoda do quarto e abro o guarda-roupa para pegar algo leve
para vestir.
— Assistir a um filme chato costuma funcionar — diz e eu assinto, desabotoando a
camisa para me despir. — Está fazendo um striptease, Ulisses? — indaga e eu gargalho.
— Não, só estou me trocando para dormir junto com você.
Quando finalmente termino, eu me jogo na cama e apago as luzes do quarto, deixando
apenas o abajur aceso.
— Um filme chato… Vamos ver o que encontramos por aqui.
Ligo a TV e procuro pelo streaming por algo.
— O que é chato para você?
— Hummm… Documentários, acho.
— Certo. Vamos achar um bem tedioso.
Reviro pelo canal até encontrar uma opção válida.
— Um documentário sobre uma banda espanhola que você nunca ouviu na vida, pode
funcionar? — sugiro e a vejo abrir um sorriso.
— Vai mesmo fazer isso, Otto?
— Claro que eu vou! Estou tentando te fazer dormir mais rápido.
Ajeito-me nos travesseiros enquanto ajudo Marina a procurar pelo mesmo documentário
que eu.
— Preparada? — indago e ela assente. — Então vamos começar!
Dou play no filme junto com Marina e, quando começam os relatos sobre a banda
desconhecida, ouço a garota resmungar ao fundo. Seguro uma risada.
Não quero que isso seja divertido, caso contrário, não a ajudarei a dormir rápido.
Sigo firme assistindo ao documentário, até ver os olhos de Mari começarem a pesar.
— Boa noite, meu amor. Tenha bons sonhos — murmuro e quando não tenho sua
resposta, sei que ela conseguiu pegar no sono.
Fico mais alguns minutos assim, velando por seu sono até finalmente encerrar a ligação.
Com a certeza de que ela dorme tranquila do outro lado, eu fecho os olhos e me permito
relaxar.
Embarcando em uma noite agradável de sono.
CAPÍTULO 26 - Otto
Ao despertar, a primeira imagem que vejo é a dos olhos azuis de Ulisses, que me encaram
com devoção.
— Oi… — murmuro e ele sorri de lado, antes de apoiar o antebraço debaixo da cabeça.
— Oi, amor. Dormiu bem? — sua voz grossa é rouca e me arrepia inteira.
— Como um anjo. Obrigada por ter voltado para ficar comigo.
— Eu sempre vou ficar ao seu lado, Mari. Sempre.
Otto sorri e me derruba na cama antes de me beijar de um jeito calmo e tão gostoso, que
faz aquelas borboletas costumeiras baterem asas em meu estômago.
Ontem foi um dia péssimo para mim.
Eu estava muito nervosa para a prova de direção, mas me preparei tanto para ela que
pensei que fosse bem. A verdade é que nem sempre tenho controle sobre as emoções e acabo me
frustrando quando isso acontece.
Eu me senti muito mal, me senti um verdadeiro fracasso.
Até ele chegar.
Otto acalmou meu coração e me fez enxergar tudo isso em outra perspectiva, com aquele
dom que só ele tem. Eu ainda estou chateada por não ter conseguido, mas pelo menos não me
sinto um lixo.
Não mais.
E como prometido, depois da aula, ele voltou para passar a noite comigo, acordar em seus
braços foi ainda mais gostoso.
— Quer tomar café? — pergunto a ele logo que nos afastamos.
Meu professor toca o meu rosto com carinho antes de me dar mais um selinho.
— Quero. E em seguida vou para casa, ok? Preciso terminar um planejamento de aula
que comecei ontem.
— Claro, sem problemas. Não quero te atrapalhar no trabalho, já foi incrível te ter
comigo essa noite.
Nós nem mesmo transamos, apenas dormimos abraçados, curtindo a presença um do
outro. E isso é algo que eu tenho amado em nossa relação, o quanto aproveitamos nossos
momentos juntos, com muito carinho.
Assinto e me sento na cama, pegando o celular para conferir as horas.
— Carina já saiu, inclusive — constato. — Ela sai cedo para as aulas.
— E falando nela… Espero que não tenha se importado de eu ter pegado as chaves do
apartamento com ela. Mas eu jamais te deixaria sozinha.
Otto franze as sobrancelhas de leve e eu trato de tranquilizá-lo.
— Você veio cuidar de mim, amor. Como eu poderia me importar?
O sorriso que ele me abre é tudo…
Levantamos da cama e Ulisses se veste antes de irmos para a cozinha, onde eu encontro a
garrafa de café já feita.
— Carina é a melhor pessoa do mundo — murmuro antes de abrir a geladeira e pegar
algumas poucas coisas que temos por aqui.
Frutas e ingredientes para fazer um misto quente.
— Universitárias não têm geladeiras lotadas. — Faço uma carinha para Otto, que balança
a cabeça, rindo.
— Eu tomo até café puro, Mari. Não se preocupe. Além do mais, eu adoro misto quente.
— Que bom, senão você ficaria com fome — brinco.
Preparo nossos sanduíches e, logo que ficam prontos, nos sentamos à mesa para comer.
— Vai à aula hoje? — ele me pergunta logo que dá o primeiro gole no café.
— Hoje vou, sim! Não posso ficar perdendo aula à toa e me sinto muito melhor.
— Isso é ótimo, amor.
— E o final de semana? Já sabe o que vai fazer com Yuri? — pergunto e seu semblante
se ilumina.
Otto sorri daquele jeito fofo que evidencia as ruguinhas próximas aos olhos.
— Nós já acabamos a maquete, né? Então não temos mais esse trabalho para fazer. Estou
na dúvida se o levo ao cinema, ao parque ou ao clube. Não sei… Vou deixar para ele decidir.
— Eu acho linda a relação de vocês, sabia? É inspiradora. Às vezes, fico parada apenas
vendo vocês dois conversando, é tão bonito… — Suspiro e ele sorri mais.
— Eu sou apaixonado por aquele garoto, Mari. Ele é realmente uma das melhores partes
da minha vida.
— Uma das? — indago, sentindo o meu coração se acelerar.
— É porque a outra parte está me olhando agora. — A piscadinha desse homem me
desmonta inteira.
— Você sempre bagunça as pessoas com suas palavras? — pergunto e ele balança a
cabeça.
— Não. Apenas quem merece.
Ah, Otto…
Terminamos de tomar o café e ele me ajuda com a louça, antes de juntar suas coisas para
partir.
— Você vai ficar bem mesmo? — O loiro me analisa, logo que o levo à porta do
apartamento.
— Vou, sim, amor. Pode ficar tranquilo. Se eu precisar de alguma coisa, eu te chamo. E à
noite podemos nos esbarrar sutilmente pela universidade. — Dou de ombros e ele acena,
sorrindo.
— Certo. Então nos vemos mais tarde.
Meu professor me enlaça pela cintura e me dá um beijo daqueles de tirar o fôlego.
Aproveito e desfruto o momento, porque sei que mais tarde, quando o vir, não poderei nem
mesmo pegar em sua mão.
— Até mais tarde, Ulisses — murmuro em seus lábios e ele sorri, dando-me mais um
selinho.
— Até, Marina.
Ele acena e passa pela porta, fazendo-me acompanhá-lo até que suma pelo elevador.
Fico parada sorrindo sozinha, até voltar para dentro e trancar a porta atrás de mim.
É…
Hoje preciso reagir.
Preciso sacudir a poeira e erguer a cabeça. Amanhã vou ligar para a autoescola e já
marcar algumas aulas extras para me preparar para o próximo exame.
Não tem outro jeito, não é?
Preciso dar a volta por cima e dar o meu sangue para me sair melhor no próximo exame.
Sigo até o meu quarto e aproveito esta manhã sozinha para colocar as matérias em dia,
principalmente das aulas a que faltei ontem. Confiro os materiais no portal do aluno e engreno
em uma manhã muito proveitosa de estudo.
Já é quase hora do almoço quando recebo uma mensagem de texto, que me faz sorrir.
Otto: Está tudo bem por aí, minha linda?
O carinho desse homem comigo é algo a que eu nunca vou me acostumar.
Eu: Sim! Rendi bastante nos estudos e logo vou parar para almoçar.
Otto: Isso é ótimo, amor. Lembre-se sempre do que eu te disse ontem: Você é mulher
foda, nunca deixe que te façam pensar o contrário.
Eu: Te amo, sabia?
Otto: Claro que sabia :) Também amo você, Marina.
Sorrio sozinha ao enviar uma figurinha romântica para ele, e logo ouço o som da porta do
apartamento sendo aberta.
Vou até a sala onde encontro minha amiga colocando a mochila sobre o sofá.
— Ah, Mari… Como você está?
Carina me envolve em um abraço gostoso e eu fecho os olhos por um instante neste
contato.
— Estou bem melhor agora, Cá — respondo ao me afastar e ela assente, sorrindo.
— Me perdoa por não ter conseguido ficar ontem à tarde com você. Mas seu boy
maravilhoso deu conta do recado — ela brinca e eu rio.
— Nossa… Eu não sabia que precisava ter Otto na minha vida até ter Otto na minha vida.
— Ah, é tão lindo vocês dois… Confesso que no início fiquei receosa pelo lance da
faculdade e tal, mas hoje não mais. Vocês nasceram um para o outro, amiga. É palpável isso.
Sorrio ao me afastar dela.
— Ele me faz mesmo muito feliz.
— E você merece tudo isso!
Carina segue até a cozinha e eu a acompanho, vendo-a abrir a geladeira.
— O que vamos fazer de almoço? — indaga e eu me coloco ao seu lado para pensar.
— Um espaguete à bolonhesa? — sugiro.
— Tem queijo?
Abro os armários e assinto ao pegar uma embalagem.
— Tem, sim!
— Perfeito! Bom que é rapidinho de fazer.
E então, juntas, começamos a preparar a nossa refeição, regrada de uma conversa leve e
boas risadas.
E aqui, com ela, eu percebo o quanto sua presença também é muito importante em minha
vida.
É quando eu reflito que qualidade sempre estará acima de quantidade.
Eu não tenho muitas pessoas em minha vida, mas tenho as mais incríveis, que estão
sempre ao meu lado.
E constatar isso me faz pensar no quanto sou sortuda.
Com eles, eu sei que jamais estarei sozinha.
CAPÍTULO 28 - Otto
Decido dar uma pausa no trabalho e ir até a cozinha procurar algo para comer, aproveito
para descansar um pouco a mente. Hoje é um dos meus poucos dias em que não dou aulas à
noite, mas nem por isso tenho folga. Estou há horas elaborando provas e lançando notas de
alunos no portal, isso é ainda mais cansativo do que enfrentar uma sala de aula.
Estalo o pescoço antes de abrir a geladeira e pegar alguns itens para montar um sanduíche
rápido. Como de pé mesmo na bancada e aproveito esses minutos para pensar um pouco na vida.
E em como tudo mudou nesse último ano.
Há doze meses eu ainda estava em um casamento de bosta, sobrevivendo naquele
inferno.
Mas hoje…
Hoje eu estou livre, vivo mais leve e ainda conheci uma pessoa que realmente vale a
pena.
Ficaria ainda melhor se Yuri vivesse comigo, mas sei esperar. Pelo bom relacionamento
que nós temos, consigo vê-lo morando comigo em um futuro próximo e essa esperança enche o
meu peito.
Na verdade, não me lembro de uma época em que eu tinha esperanças na vida.
Estou terminando de comer quando sinto o meu celular vibrar dentro do bolso.
Yuri…
Termino de engolir tudo para atendê-lo.
— Oi, filho — atendo sua ligação enquanto lavo as mãos na torneira da cozinha.
— Pai… — a voz amedrontada de Yuri acende um sinal de alerta dentro de mim. —
Você pode me buscar aqui?
— Vou agora! — digo rápido, sentindo o meu coração se acelerar aqui dentro. —
Aconteceu alguma coisa, Yuri?
Disparo pelo apartamento, trombando pelos móveis, e vou até o meu quarto para me
trocar.
— É o Fabrício… — a voz do meu filho está trêmula e eu paraliso.
— O que foi que ele fez, Yuri? — minha voz sai um tanto ríspida.
Se esse desgraçado tiver encostado um dedo no meu filho, eu não sei o que sou capaz de
fazer com ele.
— Eu estava na minha, jogando videogame na sala, e ele quis ver TV — a voz de Yuri é
pausada, mas eu consigo sentir a apreensão na forma como respira. — Eu pedi só para acabar a
partida, pai. E então ele arrancou a manete da minha mão e jogou na parede. — O relato de
Yuri só me deixa ainda mais nervoso, porque sinto que isso não vai acabar nada bem.
Meu sangue inteiro ferve e a adrenalina toma conta do meu corpo.
Calço um tênis qualquer e busco a minha carteira. Estou prestes a sair de casa quando a
sua voz baixa me detém.
— Eu reclamei e então ele me deu uma surra. Acho que eu quebrei o nariz…
— É O QUÊ?
Não.
Esse desgraçado não fez isso.
Ele não encostou o dedo no meu filho.
Filho da puta desgraçado do caralho.
Eu vou acabar com a raça dele.
— Você está bem, Yuri? Onde você está? — pergunto aflito, enquanto luto com as
chaves para trancar o apartamento.
— Eu não sei, pai… Tá doendo e tá sangrando…
— Puta que pariu! — esbravejo, esmurrando os botões do elevador, impaciente para
descer.
Nessas horas eu odeio o fato de morar no último andar.
— Eu vim para o banheiro e tranquei a porta.
Solto um suspiro de alívio.
Pelo menos ele está longe do desgraçado.
— Ótimo. Não saia daí até eu chegar, ok? — instruo e ele concorda de pronto. — Você
sabe se esse bosta ainda está em casa?
— Está, sim… Daqui eu estou o ouvindo brigar com a minha mãe. Ela foi para cima dele
e eu aproveitei a discussão dos dois para correr para o banheiro.
Bom. Pelo menos para isso essa ordinária prestou.
Mas, ainda assim, ela colocou a vida do nosso filho em risco e isso é algo que eu nunca
vou perdoar.
— Certo, filho. Eu já estou entrando no carro, tá? — aviso, logo que desço do elevador e
disparo para o estacionamento. — Não abra essa porta até eu chegar, Yuri. Nem mesmo para a
sua mãe, ok?
— Eu não vou — me garante.
Adentro o carro e manobro rapidamente para sair do prédio.
— Já estou quase chegando aí.
— E, pai… Eu posso morar com você? — a voz dolorosa me pede e rasga o meu coração.
— Eu não quero mais ficar aqui.
— Você não volta para essa casa nunca mais, Yuri. Eu te prometo isso.
Encerro a ligação com ele e piso o pé no acelerador, pegando as ruas da cidade em
direção à minha antiga casa.
Com um olho no trânsito e outro no celular, disco para Caio, que não demora a me
atender.
— Fala, Ottoni.
— Caio, você está trabalhando hoje?
— Estou aqui no batalhão, por quê? Precisando de mim?
Ah, graças a Deus.
Nunca amei tanto meu amigo por ser um policial militar.
— Pode ir até a casa da Renata agora? Yuri me ligou contando que o filho da puta do
namorado dela bateu nele e parece que quebrou o nariz.
— Ah, ele não fez isso! Desgraçado! Estamos indo para lá agora.
Ouço sua voz chamando ao fundo e sinto o meu coração bater um pouco mais calmo por
saber que tenho esse suporte.
— Yuri está trancado no banheiro e me falou que eles ainda estão em casa. Podemos
pegá-lo em flagrante.
— Me encontra lá na porta, Otto. E não entre até eu chegar, tá? Se controla, porra! Não
piora as coisas.
Concordo, sentindo o coração esmurrar aqui dentro. E pedindo aos céus para que eles não
demorem a chegar.
Não sei se vou conseguir conter por muito tempo a vontade de entrar lá e socar aquele
ordinário.
Jogo o celular no banco ao lado e piso no acelerador, sentindo aquela adrenalina voltar
com tudo. Dirijo feito um louco pela cidade e pouco me importo se estou tomando multas de
trânsito, desde que eu chegue logo.
Viro a esquina da rua da minha antiga casa sentindo meu coração quase saltar pela boca
de nervoso. Estaciono o carro à porta e consigo ouvir os gritos de Renata lá de dentro.
— Anda, Caio… Anda, porra…
Ando em círculos pela calçada, quase arrancando os cabelos de nervosismo quando ouço
o som da viatura chegando.
Graças a Deus.
Caio salta lá de dentro ao lado de seu parceiro e eu os cumprimento rápido.
— Ele ainda está aí? — meu amigo me pergunta e eu assinto.
— Ouvi a voz da discussão dele com a Renata daqui de fora.
— Ótimo. Eu vou na frente e assim que eu conseguir abordá-lo, você vai atrás do Yuri,
ok?
Aceno e sigo os dois até a porta de casa.
Caio toca o interfone umas duas vezes, até um rosto familiar me aparecer.
Meu punho se fecha ao ver a imagem do cara que eu mais odeio nesta vida.
Dou um passo em sua direção, mas Caio me intercepta e eu entendo o recado.
Não posso piorar as coisas.
— Sr. Fabrício? — a voz firme de meu amigo faz o cara concordar, franzindo o cenho. —
Recebemos denúncia de agressão a um menor…
— Isso deve ser um engano — o safado fala, com a voz confusa. — Não tem nada disso
aqui…
Um passo para dentro e Fabrício permite que os policiais entrem em sua casa, olhando-
me torto ao me reconhecer.
Ele tem sorte que eu não estou sozinho, senão quebraria a sua cara e arrastaria pelo
asfalto.
— Gomes! — Caio sinaliza para seu parceiro e eu o conduzo pela casa para
encontrarmos Yuri, enquanto meu amigo mantém Fabrício sob sua vigilância.
Seguimos pelo corredor do térreo até avistar outra pessoa em quem, se eu pudesse, voaria
em cima.
— Yuri, sai daí!
A voz de Renata faz o meu sangue ferver de ódio.
De puro ódio.
Essa mulher perdeu o mínimo de respeito que eu ainda tinha por ela em relação ao nosso
filho.
Quando ela me vê chegando ao lado de um policial, seu semblante se assusta.
— Ulisses? O que significa isso?
— Afaste-se daí, senhora — é o policial que ordena e ela arregala os olhos, dando um
passo para trás.
— Não é nada do que estão pensando, foi um mal-entendido e… — tenta justificar e eu
ergo o braço para ela.
— Cala a boca! — grito e ela tem um sobressalto.
Chego à porta do banheiro e colo meu ouvido, dando uma batida na madeira.
— Filho? Sou eu, pode abrir para mim?
Ouço uma movimentação lá de dentro e, quando a porta se abre, a visão de um garoto
assustado com o nariz ensanguentado me desarma.
— Pai!
O menino vem em minha direção, ele me agarra como se eu fosse a sua salvação e isso
me desestabiliza.
— Está tudo bem? — pergunto, tateando o seu rosto e procurando mais alguma coisa
além de seu nariz.
Yuri balança a cabeça e suas lágrimas descem, como se estivesse me esperando chegar
para desabar.
— Ei, vai ficar tudo bem, ok? Eu vou te levar para casa agora.
Seco suas lágrimas e ele assente, ainda incapaz de me soltar.
— Você não pode levar o meu filho. Eu tenho a guarda dele e…
— Cala a boca! — grito mais uma vez e ela me olha assustada. — Você vai se entender
comigo perante o juiz agora.
A mulher engole em seco e Gomes me conduz até a sala, onde Caio ainda está com
Fabrício.
Quando meu amigo vê meu filho com o nariz ensanguentado, eu vejo seu semblante
endurecer de raiva. Aqui não é só um caso que ele atende no trabalho, é um garoto que ele
considera como um sobrinho sendo agredido.
A satisfação que eu tenho ao ver Caio algemar Fabrício e carregar para a viatura quase
me faz esquecer a tristeza por ver meu filho machucado.
E então somos todos guiados para a delegacia a fim de prestar depoimento. É uma parte
burocrática e desgastante, mas necessária. Saber que o vagabundo vai dormir atrás das grades
hoje me deixa muito mais aliviado.
Uma pena que eu não pude socar a sua cara, mas tenho coisas maiores agora. Como
cuidar do meu filho.
Logo que somos liberados da delegacia, levo Yuri até o hospital para avaliar sua situação.
Por sorte, o pronto-socorro não está cheio e não demoramos a ser atendidos.
Para o nosso alívio, o seu caso não é cirúrgico, pois não houve fratura com desvio dos
ossos do nariz. O tratamento será feito apenas com compressa de gelo, repouso e medicação.
E isso já me deixa com o coração muito mais tranquilo.
Saindo de lá, vamos direto para a farmácia comprar os medicamentos. Durante todo o
tempo, noto Yuri calado e isso me machuca.
Não gosto de vê-lo assim…
— Está com fome? — pergunto ao voltar para o carro e colocar a sacola de remédios em
seu colo.
— Não muito…
— Quer passar no drive-thru de alguma rede de fast-food e pegar um combo? — ofereço
e o vejo dar de ombros.
— Pode ser.
Assinto e dirijo com calma até o local, onde faço o pedido de seu sanduíche favorito. Já
em casa, colocamos todas as sacolas na mesa e começamos a comer.
Noto o tempo todo o semblante triste de Yuri e isso me machuca. Sei que a adrenalina do
susto passou e ficou a tristeza no lugar. Fico me perguntando se ele está magoado pela situação
em que sua mãe o colocou.
— Quer tomar um banho agora para dormir? — ofereço logo que terminamos de comer e
meu filho concorda.
— Sei que não tivemos tempo de pegar suas coisas, mas pelo menos alguns pares de
roupa você tem aqui. Depois eu vou passar lá na casa da sua mãe para buscar o restante, tá?
— Tá bom.
Yuri segue até o banheiro e eu aproveito a deixa para ligar para Marina e contar o
ocorrido. Acabou que, com toda essa loucura, eu não tive tempo de falar com ela e eu sempre lhe
mando mensagem à noite.
Da delegacia, eu liguei para a minha advogada para pedir que entre com o pedido de
guarda provisória em caráter de urgência, dadas as circunstâncias. Deixei-a a par de tudo e recebi
suas instruções. Pelo que me falou, não devo demorar a conseguir, e a partir de agora entraremos
em uma briga judicial pela sua guarda definitiva. Pela idade de Yuri, sua vontade também é
levada em consideração e eu espero muito que dê tudo certo. Eu não aceito que tirem meu filho
de mim. De lá também liguei para a minha mãe só para deixá-la ciente de tudo e aproveito para
mandar uma mensagem agora avisando que chegamos em casa e está tudo bem.
Agora, sigo para o meu quarto e me sento na cama para ligar para Marina.
— Otto? — sua voz é preocupada e eu sinto um aperto aqui dentro.
Sei que é bem tarde da noite e ela deve ter estranhado o meu sumiço.
— Oi, Mari… Desculpa a demora para te ligar. Aconteceu um incidente com Yuri e tive
que buscá-lo às pressas na casa de Renata…
Narro com detalhes o ocorrido e minha garota escuta tudo do outro lado com atenção,
ficando igualmente revoltada e aliviada ao final.
Porque foi isso que eu senti…
Caralho, minha cabeça está até doendo.
Em poucas horas eu senti uma avalanche de emoções.
Raiva, revolta, ódio, tristeza, alívio…
Porra, que dia ruim dos infernos.
— E como ele está? — pergunta ao final do meu relato.
— Calado. Ele já tomou um banho e foi deitar, eu vou lá conversar com ele antes de
dormir. Parece que baixou a adrenalina e ele ficou triste, sabe?
— Tadinho, amor… Yuri é tão incrível. Não merecia nunca passar por isso. Amanhã
você dará aulas de manhã?
— Não, só à noite.
— Então vou passar o dia com vocês, pode ser? Aproveitar para distraí-lo um
pouquinho…
— Se não for te atrapalhar, Mari. Eu vou achar ótimo. Yuri gosta muito da sua
companhia.
— Imagina, Otto. Amanhã não tenho compromisso, então logo que tomar o café eu
desço, ok?
— Certo, combinado.
Solto um suspiro e esfrego os olhos.
— E vai ficar tudo bem, viu? Sei que você tem uma batalha pela frente, mas eu estou com
você.
A sua voz doce adentra o meu coração.
— Obrigado, amor.
Saber que tenho essa mulher ao meu lado, me apoiando e me fortalecendo, realmente faz
toda a diferença.
Despeço-me dela e desligo o telefone, seguindo até a cozinha para buscar uma bolsa de
gelo antes de adentrar o quarto de Yuri.
Dou uma batidinha na porta e vejo o garoto erguer os olhos para mim.
Sento-me ao seu lado na cama, entrego-lhe a bolsa e ele faz uma careta ao colocar sobre o
nariz.
— Ainda dói? — pergunto com cuidado e ele nega.
— Não muito…
— Logo os remédios começam a fazer efeito e para de doer.
Yuri assente, desviando os olhos dos meus.
— Pode descansar, filho. Amanhã eu vou ligar para a escola e explicar que você não vai
essa semana, ok? Vou apresentar o atestado médico.
O garoto assente, ainda calado.
— Você quer conversar? — ofereço, sentindo o meu peito se apertar por vê-lo tão calado.
— Eu só… — Yuri para e olha para o teto do quarto. — Me sinto mal com tudo isso.
Você, que é meu pai e tinha o direito de me bater, nunca encostou um dedo em mim. E agora o
Fabrício, que não é nada meu, fez isso comigo.
— Eu não tenho o direito de te bater, Yuri — corrijo-o. — Eu tenho o direito de te
corrigir, são coisas muito diferentes.
Yuri me analisa antes de concordar.
Toco seus cabelos lisos e jogo-os para trás, vendo o semblante do garoto se suavizar um
pouco.
— Sei que você não está legal, e acredite, eu também não. Eu confiei na sua mãe para
cuidar de você e não para levar um cara para te machucar.
Meu filho assente, engolindo em seco.
— Mas vamos vencer isso juntos, ok? Eu estou aqui com você e não vou desistir. Temos
uma briga judicial pela frente, mas estou disposto a tudo para conseguir sua guarda definitiva.
Yuri aquiesce e eu me inclino para beijar a sua testa.
— Obrigado, pai — diz baixo e meu peito se aperta. — Quando eu corri para o banheiro,
a primeira coisa que eu pensei foi em te ligar, porque eu sabia que me ajudaria a sair de lá.
E isso aqui me vale tudo.
Saber que meu filho pode contar comigo, que me vê como seu porto seguro.
Porra…
Eu faço tudo por ele. Tudo mesmo.
— Eu sempre vou te ajudar, filho — afirmo, olhando seus olhos. — Em qualquer fase da
sua vida, eu sempre serei alguém com que você pode contar.
— Eu sei. — Yuri baixa o olhar e seu semblante se torna um pouco tímido. — E
desculpa…
— Desculpar pelo quê? — indago, arqueando a sobrancelha.
— Eu poderia ter me defendido, mas eu simplesmente corri para o banheiro. Não fui dos
mais corajosos…
Seus olhos marejam e eu sinto um aperto aqui dentro.
— Ei… Você foi muito corajoso, sim. Você me ligou e me ajudou a pegar o Fabrício. Ter
chegado com a polícia para o flagrante fez toda a diferença, filho. E essa foi a sua forma de se
defender.
Passo essa nova perspectiva para Yuri, que me analisa antes de assentir.
— Você é só uma criança de doze anos, Yuri, diante de um homem de mais de quarenta.
Não é uma briga justa e você agiu da melhor forma que pôde. Eu estou muito orgulhoso de você.
Essa última frase parece ser tudo o que ele precisava ouvir, porque o garoto me dá o
primeiro sorriso desde que o encontrei hoje.
— Obrigado, pai.
— Eu te amo, viu? — declaro, tocando seus cabelos com carinho. — E, enquanto eu
estiver vivo, estarei com você. Nunca se esqueça disso.
— Eu também te amo..
Beijo sua testa mais uma vez e tiro a compressa de gelo, colocando na mesinha de
cabeceira.
— Agora vamos dormir? Está bem tarde e amanhã Marina vem para fazer brigadeiro para
você — anuncio e seus olhos brilham.
— Legal!
— Boa noite, filho. Durma bem. Se por acaso se sentir mal durante a noite, pode bater na
minha porta.
— Pode deixar. Boa noite, pai.
Aceno e me levanto da cama, indo até a porta para apagar as luzes.
Ainda que no escuro, fico aqui parado, velando seu sono até ouvi-lo ressonar.
E saber que ele está comigo e em segurança enche o meu peito de uma maneira
inexplicável.
Agora, mais do que nunca, tenho a certeza de que irei até o fim, mas ninguém vai tirar o
meu filho de mim.
Ninguém mesmo.
CAPÍTULO 29 - Otto
— Não vai para a sala agora, Mari? — Carol, uma colega do projeto de pesquisa, me
pergunta e eu nego.
— Preciso só passar na biblioteca antes.
Aponto para o caminho contrário do bloco e ela assente, indo na direção oposta à minha.
Hoje cheguei mais cedo na universidade para trabalharmos no projeto e, agora que a aula
está prestes a começar, decidimos parar. Mas, como eu tenho prova de Teoria da Engenharia essa
semana, quero passar na biblioteca para pegar um livro que vai me ajudar nos estudos.
Adentro o estabelecimento e vou até as prateleiras de Engenharia, já conhecendo a
posição dos livros de que preciso. Confiro tudo e vou até o balcão anotar o meu empréstimo,
colocando tudo dentro da mochila.
Quando saio, agarro as alças e ando de cabeça baixa pelo campus até ouvir uma voz
feminina que me chama a atenção.
— Mas é claro que vai funcionar, Fabrício! Já estou indo à sala da reitoria, eu já decidi.
Desacelero os passos e encosto-me na mureta, abaixando o corpo e fingindo amarrar os
cadarços do tênis para ouvir a conversa.
Esse nome…
Pode ser coincidência, mas será?
— Ulisses não sabe mentir, vai por mim, isso vai dar certo.
Meu coração se acelera no peito e agora eu sei que não é coincidência.
Ulisses e Fabrício em uma mesma frase não pode ser…
— Não, eu não sei quem é ela, e nem tenho provas. Mas farei a denúncia assim mesmo.
Se a universidade demitir o Ulisses por se relacionar com uma aluna, eu consigo pegar a guarda
de Yuri de volta. É só disso que eu preciso!
Sinto como se fosse golpeada no estômago e meus dedos tremem tanto que eu embolo os
cadarços, gastando ainda mais tempo para colocá-los de volta no lugar.
Meu Deus, ela não pode fazer isso.
Não pode!
— Eu coloquei um detetive particular para vigiá-lo, esqueceu? Essa prova não vai
demorar a aparecer.
Puta que pariu.
Otto está sendo vigiado.
Meu Deus do céu…
— Estou indo à reitoria agora…
A mulher cujo semblante eu nem mesmo notei anda pelo caminho de pedras e some da
minha vista.
Levanto-me de pronto e sinto o meu peito pesar, o coração esmurrar aqui dentro.
Eu preciso avisar ao Otto.
Preciso fazer isso agora.
Dou a meia-volta para ir até o bloco onde ele está dando aula agora até simplesmente
parar.
Eu não posso fazer isso…
Renata está certa.
Ulisses é um homem muito íntegro, de caráter exemplar, ele jamais mentiria para a
reitoria. E, se lhe perguntarem agora sobre o nosso relacionamento, sei que vai se embolar com a
resposta, dando a eles o que precisam.
Inferno!
Puxo os cabelos com força, enquanto penso em uma solução para isso.
Pensa, Marina, pensa…
Otto não pode perder o emprego, porque, se isso acontecer, ele vai perder a guarda
provisória do Yuri, que acabou de ser concedida. E, com isso, a chance de ter o seu filho com
ele.
Sei que essa ordinária está fazendo isso com o puro intuito de se vingar do ex-marido.
Como Fabrício foi preso e solto no dia seguinte para responder processo em liberdade,
Renata só pode ver Yuri com visita supervisionada. E, agora que Otto conseguiu a guarda
provisória do filho, o processo da guarda definitiva já está correndo e ela não esperava por isso.
Mas eu não vou deixar que ela consiga, não agora que Otto está tão perto de ter seu filho
para sempre com ele.
Pensa, Marina, pensa.
Se Otto for questionado pela reitoria estando comigo, ele não vai saber mentir e vai
entregar o nosso envolvimento.
Eu não posso permitir isso.
Então…
Fecho os olhos com força e sinto um nó na garganta, uma vontade absurda de chorar.
Meu corpo inteiro treme, o peito dói por cogitar isso, mas é a única solução agora.
Pelo menos para que ele passe no interrogatório da reitoria.
Se Otto for questionado estando solteiro, não precisa mentir…
Eu luto contra a vontade de chorar enquanto caminho pelo campus em direção à sala de
aula onde ele leciona agora e repasso mentalmente como posso fazer isso sem machucá-lo tanto.
Espero que ele um dia me perdoe por isso, mas temos algo muito maior agora com que
lidar.
Não vou permitir que ele se afaste do filho, mesmo que o preço a pagar seja a sua
ausência na minha vida…
Meu queixo inteiro treme e bate tão forte que acho que posso ser ouvida a distância.
Quando chego à porta de sua sala, ouço sua voz ao fundo e sinto o meu coração esmurrar
aqui dentro. Encosto-me na parede do lado de fora e fico parada, ouvindo a sua voz e pensando
na dor de ter que me despedir dele.
Vai doer demais.
Na verdade, já está doendo.
Dói tanto, que tenho dificuldades de respirar.
Meu Deus, que eu esteja agindo certo.
Que meu sacrifício valha a pena.
Porque abrir mão desse homem é uma das coisas mais difíceis que terei que fazer em toda
a minha vida.
Fecho os olhos e sinto os lábios tremerem, pedindo aos céus para que a aula passe mais
rápido.
Ainda estou em completo desarranjo, quando a voz familiar me encontra e golpeia o meu
peito.
— Marina?
Abro os olhos e encontro o homem que adentrou o meu coração e tem todo o meu amor,
penso que vai ser ainda mais difícil do que eu imaginava.
Vou contar a ele sobre a Renata, eu sei que vou, mas não hoje, não agora.
Não quando ele está prestes a ser interrogado e a perder o emprego.
— Otto, eu… A gente pode conversar? — minha voz sai um sussurro e meu coração
esmurra o peito.
As pernas bambeiam e eu respiro com dificuldade.
— Claro. Aconteceu alguma coisa?
Aceno para ele, que me conduz até umas mesinhas ao final do corredor. Por sorte, com a
troca de professores, a aula não parou e o intervalo ainda não começou, então está tudo vazio.
— Otto…
Meu queixo bate tão forte, tremendo tanto que eu tenho dificuldade de falar.
— Marina, você está me preocupando…
Engulo o choro e ergo os olhos para ele, que está com o semblante franzido.
E saber que estou prestes a quebrar o seu coração me destrói.
— Eu estive pensando, refletindo um pouco — começo a falar o que ensaiei e penso que
isso é ainda mais difícil do que eu imaginei. — E cheguei à conclusão de que… — Paro e tento
reunir toda a coragem em mim. — Acho que não podemos mais nos ver — minha voz abaixa um
tom e Otto arregala os olhos para mim.
— É o quê? Por quê?
— Nós somos muito diferentes, Otto.
Por favor, amor, me perdoe por isso…
— E não estamos vendo uma solução sobre isso. Não podemos nos encontrar como um
casal de verdade, não podemos nem namorar e isso é exaustivo para mim.
O rosto do professor se torna vermelho e seus olhos marejam, enquanto ele processa as
minhas palavras.
— Não temos perspectiva de quando ficaremos juntos e isso não é bom… — Meu
coração dói tanto que eu consigo senti-lo sangrar. — Então acho melhor seguirmos o nosso
caminho.
— Mas… — A expressão de dor em seu semblante acaba comigo.
Esmaga o meu coração em mil pedacinhos.
— O que mudou agora? Ontem a gente estava tão bem… Eu não entendo…
— Acho que estender isso só vai causar mais dor entre nós… Mas é só olhar e ver o
quanto somos diferentes um do outro.
Meu coração bate tão rápido, tão forte que acho que ele é capaz de ouvi-lo.
Meu D eus, como isso é difícil…
Como dói.
— Mas…
— Preciso voltar para a aula agora.
Deixo um Otto perplexo e aperto as alças da mochila, preparando para me virar, quando
sua voz rouca me atinge.
— Eu pensei que você me amasse…
Sua voz é tão dolorosa que me atinge forte e eu não sei como não desabei à sua frente.
— E eu amo — respondo olhando em seus olhos, que estão tão quebrados quanto os
meus. — E é por te amar que estou fazendo isso. Se cuida, professor.
Abaixo a cabeça e me viro, apertando o passo para sair do bloco, sentindo-me sufocar.
Não sou capaz de olhar para trás.
Não sou capaz de ver o quanto machuquei o homem que eu mais amo no mundo.
O homem mais doce, mais amoroso e mais incrível que eu já conheci.
Me perdoa, Otto…
Me perdoa por falhar com você.
Me perdoa por quebrar a minha promessa e machucar o seu coração.
Mas tem algo muito maior acontecendo agora.
E eu não posso permitir que você perca o seu filho.
Eu não posso.
Abro a porta do apartamento e encontro Carina sentada no sofá vendo TV. Corro em sua
direção e desabo em seu colo, chorando de soluçar.
— O que foi, amiga? O que aconteceu?
— O Otto, Cá… Tá doendo…
Encolho o corpo e recebo seu afago enquanto choro, sentindo uma dor absurda dentro de
mim.
Dói o meu coração, o meu corpo, a minha alma.
Dói tudo…
Eu sabia que seria difícil terminar com ele, ainda mais o amando tanto, mas não pensei
que fosse tanto assim.
Ver em seus olhos o quanto o machuquei acabou comigo.
— Quer me contar o que aconteceu? — ela me pergunta quando vê que meus tremores
diminuíram um pouco.
— A vaca da ex dele… — choramingo, apertando a almofada em minhas mãos.
— O que aquela mocreia fez?
— Ela descobriu sobre nós dois e foi à faculdade denunciar o Otto para a reitoria.
— O QUÊ? Ah não, ela não fez isso! Como você descobriu?
Então eu narro para a minha amiga, com detalhes, a conversa que ouvi e a decisão mais
dolorosa que precisei tomar em toda a minha vida.
— Ah, amiga… Não tinha uma outra forma de resolver isso?
— Otto não é capaz de mentir, Cá… Ele é o homem mais correto que eu já conheci.
Estando comigo, eu tenho certeza de que ele cairia em contradição ou simplesmente assumiria a
culpa.
— Nossa… E estando terminados, ele não tem o que mentir, né?
— Sim, porque agora ele não tem uma namorada mais — falo, sentindo o coração
queimar aqui dentro.
— Ah, amiga… Eu sinto muito.
Carina faz carinho em meus cabelos e eu desabo a chorar mais uma vez.
— Está doendo tanto, Cá… Tanto…
— Eu sei, Mari… Eu sinto muito mesmo. Você pretende contar para ele sobre isso?
Confirmo meneando a cabeça, fungando baixinho.
— Vou, sim, mas vou deixá-lo passar pela reitoria primeiro. Ele precisa ir bem nessa
entrevista para não perder o emprego.
Minha amiga faz que sim e me acaricia mais uma vez, fazendo-me agarrar a sua cintura
com força.
— Eu odeio essa mulher. Odeio que ela faça o Otto sofrer e agora, você.
Balanço a cabeça, sentindo o meu peito esmurrar.
Eu também odeio. Como eu odeio.
Eu tive que abrir mão do homem que eu mais amo por puro capricho dela.
E pior, não sei se um dia o terei de novo.
Não sei se Otto vai me perdoar por ter quebrado o seu coração assim e é essa sensação
que mais me assombra.
Não sei viver uma vida sem ele ao meu lado.
Não agora, que aprendi o que é ser amada de verdade.
Por Deus…
Quando é que vai parar de doer?
CAPÍTULO 31 - Otto
Parado em frente ao prédio, disco para Marina, mas, como previa, ela não me atende.
Porém, não vou sair daqui sem ter as respostas de que preciso.
Estou à beira de colapsar.
Minha mente está uma bagunça, meu coração está estraçalhado e meu corpo inteiro
treme.
Eu só preciso esclarecer isso. Preciso saber se Marina realmente não me quer mais em
sua vida, ou se sua decisão tem a ver com a conversa com o reitor.
Continuo sem sucesso, quando disco para Carina e com muita insistência ela me atende.
— Oi, Otto — sua voz é um sussurro.
— Carina! Estou aqui embaixo… Pode, por favor, abrir para mim? — imploro, sentindo
o coração esmurrar o meu peito.
— Não sei se é uma boa ideia…
— Eu fui chamado na sala da reitoria, Carina. Pouco depois de Marina ter terminado
comigo do nada. Preciso conversar com ela. Preciso saber se isso foi só coincidência, ou ficarei
maluco.
A garota pondera por um momento em silêncio antes de soltar um suspiro.
— Está certo, pode subir.
Quando vejo a porta sendo aberta, sinto meu corpo entrar em adrenalina e subo agitado
até o andar das duas.
Bato à porta e logo a imagem da amiga me surge, indicando com a cabeça o sofá.
— Amiga, me perdoe por isso… Mas vocês precisam conversar — Carina diz antes de
seguir pelo corredor e nos deixar a sós.
Observo Marina deitada no sofá, toda encolhida, e caio de joelhos no tapete à sua frente.
Os olhos vermelhos, o nariz inchado, as lágrimas ainda rolando…
Ela também está sofrendo…
Porra.
— Por que você fez isso, Mari? — murmuro, tocando o seu rosto, e ela fecha os olhos,
derramando mais uma lágrima. — Por que desistiu de nós dois?
Falar isso em voz alta dói tanto que é a minha vez de chorar também, sentindo o meu
coração sangrar.
Eu segurei por todo esse tempo, porque não podia desabar na faculdade, mas agora não
consigo mais.
Deixo as lágrimas descerem com tudo e lavarem a minha alma, mas, em vez de sentir
alívio, só sinto dor.
Uma dor agonizante.
— O meu amor não é o suficiente para você? — pergunto entre lágrimas e Mari chora de
soluçar, agarrando a almofada com força.
Meu corpo inteiro treme e eu sinto uma dor absurda dentro de mim, que sai em pranto
livre, fazendo com que doa ainda mais.
— Eu fui chamado na sala da reitoria — falo e vejo seus olhos me buscarem, curiosos. —
Bem depois do seu rompimento. Me diz que isso não é coincidência, Marina. Me conta o que
está acontecendo…
A garota se senta com relutância no sofá e me olha, secando as lágrimas devagar.
Levanto-me do tapete e me sento ao lado dela.
— Como… Como foi lá? — sua voz é um sussurro e apunhala o meu peito.
— O reitor recebeu uma denúncia sobre o meu envolvimento com uma aluna e veio me
questionar se isso era verdade.
— E o que você respondeu?
— Que não — falo e ela solta um suspiro. — Naquele momento eu não tinha mais uma
namorada, então…
— E ele acreditou em você?
— Acreditou.
— Graças a Deus — solta, correndo os dedos pelos cabelos, e eu franzo o cenho para ela.
— E é agora que você me conta o que está acontecendo? Você sabia, não é?
Marina me lança um olhar dolorido antes de assentir.
— Eu estava saindo da biblioteca quando ouvi uma conversa suspeita pelo telefone e
descobri ser da Renata.
— A Renata? Lá na universidade?
— É. Ela usou o seu nome e o do Fabrício na mesma frase e não tive como não
reconhecer o assunto. Ela estava conversando com ele pelo telefone e contou que estava indo
para a sala do reitor fazer uma denúncia. Porque, se você perdesse o emprego, ela conseguiria a
guarda do Yuri de volta.
— Desgraçada!
Soco o sofá e Marina me lança um olhar triste.
— Mas por que você não me contou isso, Mari? Por que preferiu terminar comigo?
— Você teria conseguido mentir para o reitor se ainda estivesse comigo? — pergunta e
eu engulo em seco.
Ela tem um ponto.
Se nós dois estivéssemos bem naquele momento, eu poderia facilmente ter gaguejado.
— Eu não poderia correr esse risco, Otto. Você não pode perder o seu emprego e ficar
sem o Yuri.
— Então… — Paro e engulo em seco, sentindo o meu coração se acelerar ainda mais
aqui dentro. — Não é porque você não me quer?
Marina me abre um sorriso fraco e uma lágrima lhe escorre.
— Você é tudo o que eu mais quero na minha vida, Ulisses. Mas, neste momento, algo
muito maior está acontecendo.
Ouvir isso dela me traz alívio, ainda que em circunstâncias tão perturbadoras.
Porque, se ela me quer, podemos dar um jeito.
— Mas, agora que eu já passei pelo reitor, podemos continuar e…
Mari nega de pronto e seu semblante triste me apunhala.
— Renata colocou um detetive particular atrás de você — murmura e eu dou um pulo no
sofá.
— Como é que é?
— Ela está disposta a descobrir qualquer coisa sobre você para te prejudicar, Otto. E isso
inclui te vigiar e desmascarar sobre o nosso relacionamento.
Aperto os olhos com força e sinto o meu coração voar pela boca.
Não acredito no que eu estou ouvindo.
Eu não acredito que ela foi capaz de fazer isso…
— Vou falar isso tudo com a minha advogada — digo, sentindo dificuldade de respirar.
— Tem que haver um jeito de parar essa mulher.
Reabro os olhos e vejo Marina se levantar e ficar diante de mim.
— Entende que não podemos ficar juntos? — diz, com a voz tão dolorosa que me
golpeia. — Pelo menos, não agora. Tem muita coisa em jogo, Ulisses. E um passo em falso pode
te custar a guarda do Yuri.
Encaro a mulher diante de mim e penso que ela está certa.
Dói pra caralho admitir isso, mas ela está certa.
Porra…
— Renata quer foder a minha vida, porra!
Puxo os cabelos com força e sinto falta de ar.
Meu peito dói tanto, o corpo dói tanto…
Marina me encara desolada e eu vejo toda a minha dor refletida nos olhos dela.
— Você tem algo maior com que lidar agora, Otto: conseguir a guarda definitiva do seu
filho. Foca nisso primeiro, que é mais importante.
Aquiesço, sentindo meus lábios tremerem.
— E quanto a nós dois?
Estendo a mão e toco o seu rosto, sentindo meus dedos trêmulos ao contato.
— Uma coisa de cada vez — ela diz me encarando firme.
— Mas…
— Está doendo muito me separar de você, Ulisses. Por favor, não torne isso ainda mais
difícil.
Suas palavras são de puro desespero, eu estico a mão e a tomo em meus braços,
abraçando-a forte.
Meu calor a envolve e a garota desaba em meus braços, fazendo-me chorar junto com ela.
Nosso corpo se balança com os tremores e eu não sei o que será de mim quando soltá-la e
passar por aquela porta.
Eu não quero ir embora.
Mesmo sabendo que não temos escolha agora.
— Eu posso… — murmuro, ao me afastar e tomar seu rosto em minhas mãos. — Eu
posso te pedir para me esperar?
Um soluço lhe escapa e mais uma lágrima rola em sua face.
— Eu não sei o que vou fazer, Marina. Nem como eu farei isso dar certo, mas eu vou
conseguir. Só preciso que confie em mim. Não sei se tenho o direito de te pedir isso, mas eu
quero você para mim.
Marina sorri de lado e uma lágrima lhe escorre.
— Eu não vou a lugar algum, Ulisses — diz firme. — Meu coração é seu, meu amor é
todo seu.
Diante de sua declaração, não resisto a colar nossos lábios em um beijo tomado pela dor.
Um beijo de saudade e de despedida.
Cacete…
Como eu vou viver sem ela?
— Eu vou voltar, Marina — murmuro, colando nossa testa e olhando dentro de seus
olhos lindos. — Eu vou achar uma solução e vou voltar para você. Vou voltar para nós dois.
Só… me espera.
A garota assente e eu colo minha boca na sua.
Uma última vez.
— Eu amo você, Marina. Nunca se esqueça disso.
Uma lágrima lhe escorre e ela aquiesce, comprimindo os lábios.
— Eu também te amo, Ulisses.
Toco seu rosto mais uma vez e memorizo seus detalhes, sentindo sua pele contra a minha.
Não quero me despedir dela.
Eu não quero sair por aquela porta.
Não quero admitir que Renata ganhou.
Mas, quando eu me afasto dela, apertando sua mão por uma última vez, eu sinto uma dor
desgraçada no peito.
Abaixo a cabeça e saio do apartamento, incapaz de dizer adeus.
Incapaz de admitir que Renata venceu.
Porque, pelo menos por hoje, ela conseguiu.
E constatar isso me destrói.
CAPÍTULO 32 - Marina
Um mês depois
Otto passa pela porta da sala de aula e eu sinto aquele aperto no peito, como todas as
vezes que o vejo na universidade, desde que tudo aconteceu.
Não há um dia em que eu não sinta a sua falta.
Não há um dia em que não me doa a sua ausência em minha vida, mas aprendi a conviver
com ela.
Pelo bem da minha saúde mental, precisei aprender a conviver com essa dor.
Porque não posso sucumbir.
— Boa noite, pessoal — ouvir a voz grossa do professor faz com que eu feche os olhos
por um instante.
Quando os reabro, Otto está me encarando com o semblante triste.
Não tocamos no assunto desde então, mas é nítido em nossos olhos o quanto estamos
sofrendo com essa separação. Principalmente porque não sabemos quanto tempo ela pode durar.
— Boa noite, Marina — a voz baixa, mais próxima de mim, me faz sentir um nó na
garganta.
— Boa noite, professor.
Desvio os olhos dos seus e abro meu caderno, pegando as canetas coloridas para começar
a anotar a matéria.
Otto está sério quando começa a lecionar, passando uma postura bastante profissional,
mas sei que sua mente está longe daqui.
Eu não sei o que ele está enfrentando nas últimas semanas, como está sendo sua vida com
Yuri em casa, mas imagino que não deve estar nada fácil. Principalmente porque ele precisa
enfrentar uma batalha judicial contra Renata.
Eu queria fazer mais por eles, queria ajudá-lo nesse momento, estar ao seu lado… Mas
infelizmente não posso. Ficar com Otto agora só pioraria as coisas, então a minha forma de
ajudar está sendo me manter afastada dos dois.
Presto atenção em toda a sua aula, fazendo anotações e evitando fazer as perguntas que
costumo fazer, para não ter sua atenção voltada diretamente para mim.
Estou fazendo o máximo que posso, fingindo que nada entre nós aconteceu, mas ainda é
muito difícil para mim.
Ver o Otto nessa universidade e tratá-lo apenas como um professor, ignorando tudo o que
vivemos, é ainda mais difícil do que eu pensei.
Mas, como não quero ter minhas notas prejudicadas, foco a atenção na matéria e absorvo
o máximo que eu posso, sentindo um pesar quando a aula chega ao fim.
Porque, ao mesmo tempo que me dói tê-lo tão perto de mim, sabendo que não pode ser
meu, encontrá-lo regularmente conforta um pouco o meu coração.
Eu prefiro ter um pouquinho de Otto na minha vida a não ter nenhuma presença sua.
— Oi, Marina — sua voz é suave quando ele se aproxima, ao ficarmos sozinhos. —
Como você está?
— Estou vivendo — respondo sincera. Não tem como ter uma resposta diferente dessa.
— E você?
— Também…
— E o Yuri está bem? — pergunto genuinamente interessada.
Não basta ter perdido Otto, acabei perdendo Yuri por tabela.
E a ausência desses dois é dolorosa demais para mim.
— Está, sim, graças a Deus. Se adaptando à nova rotina lá em casa, mas tudo bem.
— Que ótimo. Imagino que deve estar adorando tê-lo com você.
— Sim… É a única parte que me mantém firme.
Balanço a cabeça e jogo uma mecha de cabelos para trás.
— Bom… Preciso dar um pulo na lanchonete antes da próxima aula — digo, apontando
para a porta.
— Está certo. Nos vemos por aí? — pergunta, jogando a pasta sobre os ombros e
colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.
— Claro. Até mais, professor.
Aceno para ele e saio da sala, andando cabisbaixa até a lanchonete do campus. Procuro
por uma que não seja aquela cafeteria, porque não quero frequentar esse lugar sem a presença de
Otto.
Eu vivi tantos momentos gostosos com ele ali, que não dá para viver essa experiência
sem ele.
Peço um sanduíche e um suco, então me sento a uma mesa distante, debaixo de uma
árvore. Começo a comer e olho para o longe, até ver uma imagem que me chama a atenção.
Sentado em um banco de madeira, a uma distância considerável, está Otto, com os olhos
fixos em mim.
Ele me observa de longe, como se precisasse deste momento, e eu sinto mais uma vez
aquele aperto no peito por não o ter comigo.
Termino de comer o meu sanduíche sem quebrar o nosso contato visual e, quando acabo,
apoio a cabeça na mão.
Dói vê-lo assim, tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante de mim.
Dói saber que estamos os dois sofrendo com essa separação, mas que infelizmente não há
nada a ser feito.
Pelo menos não se Otto não conseguir um emprego fora daqui.
Mas, ainda que me doa toda essa distância, saber que ele está bem e com seu filho em
casa me conforta.
Sei que esse sacrifício não é vão, é por um bem maior e meu coração fica tranquilo por
saber que os dois estão juntos.
Ulisses merece ter Yuri em casa com ele, e isso é maior do que tudo.
Quanto a nós dois, eu consigo aguentar mais um pouco.
Sei que, no momento certo, tudo vai se ajeitar.
Eu só preciso ter forças para resistir até lá.
Mas eu consigo.
Eu sei que consigo.
Otto
Vejo Marina acenar para mim antes de se levantar e deixar a lanchonete, trazendo-me de
novo aquele vazio.
Sei que não posso tê-la tão perto, nem a tocar nem a sentir…
Mas posso observar de longe.
Posso ver seus cabelos se movimentarem à medida que ela se mexe. Posso ver a forma
fofa com que puxa o suco pelo canudinho.
Ah, Marina…
Quanta falta você faz em minha vida.
E não só para mim, como para o meu filho.
Perdi as contas de quantas vezes Yuri perguntou por ela e precisei desconversar, mas sei
que meu filho não é bobo. Ele sabe que está acontecendo algo para que a garota tenha
simplesmente parado de frequentar a nossa casa.
Esfrego os olhos e solto um suspiro antes de me levantar do banco e seguir pelo campus
para a próxima aula.
Ando cabisbaixo, chutando algumas pedrinhas pelo caminho, enquanto penso em como a
minha vida virou dessa forma nas últimas semanas.
Sei que esse afastamento é necessário, mas nem por isso dói menos.
Na verdade, saber que Renata conseguiu tirar de mim algo que eu amo tanto só faz com
que doa mais.
O processo de guarda definitiva está correndo e, enquanto isso, estou distribuindo
currículos para outras universidades. Mas parece que, por ser final de semestre, não estão
interessados em me chamar. Ou sou eu que não estou dando sorte mesmo, vai saber.
Eu só queria conseguir um emprego longe de tudo isso, para poder continuar com a
guarda do meu filho e trazer Marina de volta para mim.
Porque eu a quero de volta.
Deus, como me dói não a ter comigo.
Não sentir o seu cheiro, não ouvir o som da sua voz ao pé do meu ouvido, não sentir o
sabor de seus lábios…
Não a ter na minha vida está sendo ainda mais difícil do que eu pensei.
E, a cada dia que passa, fica pior. Eu não consigo me acostumar com sua ausência, ainda
mais sabendo que não é de nossa vontade…
Se ela me odiasse ou não quisesse mais ficar comigo, eu entenderia melhor.
Mas saber que me quer da mesma forma como eu a quero só me machuca mais por não a
ter comigo.
Termino de fazer o meu trajeto e, quando chego à sala de aula, suspiro antes de adentrá-
la.
— Boa noite, pessoal — cumprimento os alunos e coloco a minha pasta sobre a mesa,
sabendo que preciso me focar agora.
Aproveito a aula para lecionar a matéria que mais amo como forma de distrair o coração
e a mente.
E isso parece funcionar, pois mergulho em filosofia pelas próximas horas e esqueço um
pouco de mim.
E do quanto tem sido doloroso viver a minha vida.
CAPÍTULO 33 - Otto
— Então quer dizer que os moradores de Vale dos Campos agora correm perigo? —
Gabriel me provoca e eu acerto uma bolinha de guardanapo na cabeça dele.
— Não diga isso, Gabriel! Tenho certeza de que Marina é uma excelente motorista —
vovó me defende e eu faço uma careta para ele, quando caímos todos na risada.
Eu não sabia o quanto precisava vir à casa da minha avó até chegar aqui e encontrar esses
dois. As últimas semanas não têm sido fáceis e, logo que eu tive uma folga, dei um jeito de
escapar para cá.
— Estou muito orgulhosa de você, minha filha. — Vó Manoela sorri, tocando minha mão
por cima da mesa. — Sou muito abençoada por ter netos como vocês.
Ela olha para nós dois e conseguimos sentir todo o seu amor nesse olhar, nesse contato.
— Obrigada, vó.
— E como está a faculdade, Mari? — Gabe me pergunta e eu suspiro.
Sirvo-me de mais um pouco de café para ganhar tempo e belisco uma fatia de bolo.
— Está boa… Graças a Deus está tudo dando certo — limito-me a responder.
— O que aconteceu, minha flor? — dona Manoela me pergunta e eu engulo em seco. —
Estou te achando mais caladinha desde que chegou aqui e você é sempre tão empolgada com os
estudos.
— Isso é verdade — meu irmão concorda.
Penso em inventar uma desculpa qualquer, ou não dar maiores explicações. Mas estou
cansada.
Cansada de guardar essa dor no coração e, mesmo que eu tenha Carina para dividir,
parece que não é o bastante.
A sensação que eu tenho é de que nunca vou me curar.
— Prometem que não vão me julgar? — Encaro os dois, que franzem o cenho para mim.
— E que dia eu fiz isso? — vó me pergunta e eu assinto.
Se há uma coisa que eu sempre tive dessa senhora, foi apoio, nunca julgamentos.
— Ninguém vai te julgar aqui, irmã. Pode confiar na gente.
Olho para os dois e suspiro.
— Eu me apaixonei pelo meu professor de Filosofia — revelo e os dois me olham
surpresos.
— Uau…
— E o que tem de mais nisso? — Gabriel pergunta.
— Não teria se não fosse expressamente proibido pela universidade um relacionamento
entre professor e aluno. — Suspiro mais uma vez.
— Ah, minha querida… Eles descobriram?
— Não ainda — falo triste. — Mas precisamos nos afastar antes que a bomba explodisse.
E então conto a eles sobre Otto, Yuri e a megera da ex-mulher. A sequência de
xingamentos que vovó fala sobre Renata chega a ser hilária e eu e Gabriel nos acabamos de rir.
No fim, os dois me olham com compaixão e aquela dor no peito volta a me assombrar.
— Eu sinto tanto a falta dele, sabe? Ulisses é tão incrível… — Paro por um momento e
me lembro de seu sorriso lindo, de sua voz grossa, do seu cheiro inconfundível… — É tão ruim
amar uma pessoa e não poder tê-la em sua vida.
Dou de ombros e bebo mais um gole do café.
— E vocês não podem fazer nada para ficar juntos? — Gabe pergunta, com o semblante
preocupado.
— Não se Otto não conseguir outro emprego. Ele me disse que estava tentando e, se não
me ligou até hoje, é porque ainda não conseguiu…
— Oh, meu amor… Eu sinto tanto por isso — vovó diz acariciando minha mão. — Mas
acredito muito em destino e acho que, mesmo que a vida tenha separado vocês um pouquinho,
ela tem algo melhor reservado. Vocês vão conseguir ficar juntos, eu acredito nisso.
Sua voz é tão cheia de esperança que aquece o meu peito.
— Obrigada, vó. Não está sendo fácil. Principalmente porque eu continuo vendo-o todas
as semanas na faculdade. É melhor do que se eu não o visse nunca, mas ainda assim… nunca
pensei que fosse doer tanto amar alguém — confesso, sentindo uma fisgada no peito.
— Ele deve ser mesmo especial — Gabe constata.
— Ele é… E me apoia tanto, acredita tanto em mim. Em meus piores momentos, sempre
me estendeu a mão…
Se eu fechar os olhos, consigo me lembrar do dia em que ele foi me resgatar da barata
voadora ou de quando foi ficar comigo porque eu estava arrasada pela reprovação no exame de
direção. Lembro-me também do dia em que eu estava com uma cólica terrível e ele foi até mim
para levar uma compressa quente…
Ah, Otto…
Que saudade de você.
Já são mais de trinta dias separados, mas não há um único em que sua ausência não me
doa.
— Vai ficar tudo bem, Mari. Pode confiar. Dê tempo ao tempo e o destino arranjará uma
forma de reaproximar vocês — a firmeza na voz de minha avó me tranquiliza um pouco.
Assinto e pego sua mão, dando um beijo gostoso.
— Agora podem me distrair? Não quero passar o final de semana triste… Eu vim até aqui
para curtir um pouquinho vocês!
— Já sei! — Gabe se levanta e eu o detenho.
— Não me venha com filmes de terror, Gabriel. Pelo amor de Deus!
Meu irmão bufa, voltando a se sentar na cadeira.
— Eu só acho que um pouco de sangue ia te fazer bem… — argumenta e eu reviro os
olhos. — Ou prefere comédia romântica?
Sinto um arrepio só de pensar na possibilidade, porque sei que, se optar pelo último, vou
desfalecer de tanto chorar.
— Podemos não assistir a filmes?
— O que vamos fazer então?
— Eu tenho uma ideia melhor! — minha avó se manifesta. — Podemos jogar buraco!
Os olhos da senhora brilham e eu sorrio, concordando.
Sei que ela ama esse jogo e, de fato, umas rodadas de baralho vão me distrair.
— Eu topo, mas só se rolar uma cervejinha! — Gabe sugere e eu abro um largo sorriso.
— Combinado!
— Vou ao mercado buscar. Enquanto isso, vão organizando tudo por aqui.
— Traz amendoim salgado — peço e ele concorda.
— E não se esqueça de que eu só tomo “Stellinha” — vó Manoela pede e meu irmão
aquiesce.
— Eu não sou nem doido de chegar com outra cerveja, vó. Já volto!
Enquanto ajudo minha avó a recolher a mesa de café para montarmos as de cartas no
quintal, acabo perguntando sobre o que ela tem feito por aqui e vovó me atualiza das fofocas de
toda a vizinhança.
Ela sabe que eu preciso distrair a mente, então não me poupa de detalhes, sempre me
tirando uma risada quando o babado é mais forte.
Estamos terminando de ajeitar tudo quando Gabe se aproxima com uma caixa térmica na
mão e uma sacola de supermercado na outra.
— Aproveitei e comprei gelo, para nem precisarmos nos levantar daqui — diz orgulhoso
e acomoda a caixa na lateral do banco de madeira.
Debaixo de uma árvore, nos acomodamos na mesa do jardim e nos servimos para
beliscarmos durante as rodadas.
— O baralho é comigo! — vó anuncia, fuzilando Gabriel com o olhar. — Você sempre
rouba, Gabriel.
— Eu? — meu irmão se faz de inocente e eu quase engasgo com a bebida.
— Você, sim! Estou de olho, mocinho!
E, quando ela começa a embaralhar as cartas, eu bato palmas de empolgação.
Passar uma noite de jogatina com esses dois, acompanhada de cerveja gelada e uns
aperitivos, é tudo de que eu precisava hoje.
Eles são mesmo incríveis.
— Mari? — ouço a voz baixa de Gabriel logo que ele bate à porta. — Eu posso entrar?
— Vem cá!
Autorizo e ele termina de abrir a porta para se sentar ao meu lado na cama.
— Estudando? — pergunta apontando para o livro em minhas mãos.
— Não… Só peguei um livro de suspense para ler. Não estou com muito sono —
confesso.
Embora eu tenha passado boa parte da noite jogando com os dois e me divertindo,
quando vim para o quarto e fiquei sozinha, a solidão bateu.
A saudade de Ulisses bateu.
E então eu não consegui dormir.
— Sinto muito por tudo que aconteceu com você — diz, sincero. — E espero que fiquem
bem de novo.
— Obrigada, Gabe… Eu também espero.
Marco a página onde parei e fecho o livro, colocando-o sobre a mesinha de cabeceira.
— Quer companhia para dormir? — meu irmão oferece com tanto carinho que meu
coração erra uma batida.
— Não é mico para alguém da sua idade dormir com a irmã mais velha? — brinco e ele
revira os olhos para mim.
— Deixa de ser ridícula, Mari.
Gabriel tira os chinelos e levanta a coberta, acomodando-se ao meu lado. Ele apoia a
cabeça nos cotovelos e me encara por um instante.
— Eu estou aqui para o que você precisar. Sabe disso, não é? — murmura e eu balanço a
cabeça de leve.
— Eu sei… Obrigada, Gabe.
— E aposto que meu colo não é igual ao do seu professor, mas posso te oferecer uma
conchinha.
— Você está se saindo um ótimo conselheiro feminino — brinco e ele ri. — Onde foi que
você aprendeu isso?
— Ah… — Gabriel dá de ombros e seu rosto cora de leve. — Não dá para simplesmente
acabar e ir embora, né?
— Acabar o quê? — indago e seu rosto cora mais.
— Você sabe…
— Ai, meu Deus! Você não é mais virgem! — exclamo um pouco alto demais.
Ele me repreende, mandando calar, e eu solto uma risada.
— A vó não precisa ouvir isso!
— Meu Deus, Gabriel! Eu bem achando que meu irmão era ingênuo… — provoco e ele
me fuzila com o olhar.
— Eu tenho dezoito anos, Mari. Não sou uma criança. E aposto que na minha idade você
também não era — aponta e é a minha vez de corar.
Culpada.
— Então você dorme de conchinha depois do sexo? Que fofo.
Ele me abre um sorriso tímido.
— Quando dá para dormir, sim. Não gosto de ir embora logo em seguida, dá uma
impressão ruim. Como se eu só tivesse usado a pessoa.
— Isso mesmo. Você está corretíssimo! E me conta… Você tem alguma namorada?
— Não, nenhuma.
— Nem está apaixonado por alguém?
— Nops.
— Caramba, meu irmão caçula é adepto de sexo sem compromisso? — finjo
incredulidade e ele gargalha.
— Não é bem assim, Mari. Já surgiu interesse, já fiquei algumas vezes até finalmente
transar, mas nada que me fizesse morrer de amores.
— Hummm… Entendi. E quando foi sua primeira vez?
Gabriel me abre um sorriso de lado.
— Com dezesseis.
Solto um assobio.
— E você nem para me contar — repreendo-o e ele faz uma careta para mim.
— A gente não era tão próximo… — sua voz é cautelosa e eu sinto um aperto no peito.
Foi só quando eu saí da casa dos meus pais que me aproximei um pouco mais dele. E,
depois que eu me mudei para Vale dos Campos, as coisas ficaram um pouco melhores.
Então ele tem razão.
— Você sempre usa camisinha, né, Gabe? Pelo amor de Deus, não complica a sua vida
engravidando alguém sendo tão novo.
— Ei, relaxa. Eu sou muito cismado com isso. Não tive nem coragem de experimentar
sem ela para não correr o risco…
— Não experimenta mesmo, não, que é um caminho sem volta — solto e sinto o meu
rosto virar um pimentão ao ver que falei demais.
— Ora, ora… Então você está sendo irresponsável, dona Marina?
— Irresponsável, não — corrijo-o. — Eu tomo pílula — falo e cubro o rosto com as
mãos, tirando uma risada dele.
— Precisa confiar muito para transar com alguém sem camisinha, né? — Gabriel constata
e eu confirmo com um gesto.
— E eu confio, Gabe. — Suspiro, fechando os olhos por um instante. — Como eu
confio…
Meu irmão se remexe na cama e se deita, abrindo os braços.
— Vem cá. O colo de Gabriel Cavalcanti cura tudo.
Ele pisca para mim e eu rio, mas obedeço e me aconchego em seus braços,
surpreendendo-me por serem tão macios.
— E não é que é gostoso mesmo?
— Estou dizendo, Mari… Este colo aqui faz sucesso.
Rio em seu peito e, quando ele começa a fazer carinho em meus cabelos, sinto uma paz
tomar conta de mim.
Sinto o bem danado que ele me faz.
— Me desculpe por ter sido ausente — murmuro depois de um longo momento em
silêncio.
— Não esquenta, Mari. Foca no daqui para a frente. Temos a vida toda para isso.
Sorrio em seu peito e penso no quanto ele está certo.
Não podemos mudar o passado, mas podemos refazer o futuro.
E de fato temos a vida inteira para isso…
Meus pais poderiam tentar tirar isso também de mim, mas não conseguiram.
Contra todas as probabilidades, nós nos tornamos amigos.
E quero levar isso por toda a vida.
CAPÍTULO 35 - Otto
— Otto? — atendo a sua ligação sentindo o meu coração voar pela boca.
Ele nunca me ligou desde aquela noite…
Ouvir a sua voz ao telefone, depois de tanto tempo, bagunça tudo dentro de mim.
— Oi, Mari — a voz calma adentra a minha alma e me faz sorrir sozinha. — Te
atrapalho?
— Não, imagina… Já acabei minha rodada de estudos por hoje.
É final de semestre, quando tudo acumula. Entrega de trabalhos, provas finais, um
desastre. Porém, como ando sempre com a matéria em dia, acabei conseguindo me organizar
bem nesta reta final para dar conta de tudo.
— Ah, certo… Eu liguei para saber como você está e para te fazer um convite.
— Um convite? — pergunto curiosa.
— É… Mas primeiro me fala de você.
— Eu estou bem, Ulisses. Na medida do possível — respondo sincera.
— Hummm… E eu posso te deixar um pouquinho melhor, será?
— Pode? — indago, sentindo o meu coração errar uma batida.
— É sobre o convite que vou te fazer. Amanhã você não terá aula à noite, certo?
— Não, é meu dia livre.
— Quer jantar comigo?
Fecho os olhos por um instante e sinto um nó na garganta ao ouvir o seu pedido.
Se ele…
Se está me chamando é porque…
— Mas é seguro? — pergunto em um sussurro.
— É, sim, não se preocupe. Tenho uma notícia ótima para te contar. Confia em mim?
— Claro que confio — respondo, sem nem precisar pensar, e sinto o coração se acelerar
aqui dentro.
Um encontro com Otto, depois de tanto tempo, acompanhado de uma boa notícia?
Deus…
Isso… Isso é real?
— Então esteja pronta amanhã às sete, que enviarei um carro para te buscar.
— Um carro? — pergunto incrédula e consigo imaginar seu sorriso do outro lado da
linha.
— Será uma noite inesquecível… Te vejo amanhã?
Eu fico em estado de choque, Otto precisa me chamar de novo para que eu finalmente
volte para a realidade e responda.
— Claro, com certeza! Mal posso esperar.
— Combinado então. Até amanhã, minha linda.
Minha linda…
Seco uma lágrima quando Otto encerra a ligação e fico parada, encarando o nada por um
instante.
Será que…
Será que a nossa vez finalmente chegou?
— Então você será o meu motorista particular hoje? — pergunto ao melhor amigo de
Otto, que me espera de pé, ao lado de um carro preto.
— Estou aqui para te servir, madame.
Ele faz uma mesura antes de abrir a porta para mim e eu solto uma risadinha.
Otto não existe.
Eu mal consegui dormir na noite passada de ansiedade e hoje o dia parece ter demorado
cinquenta horas para passar.
Mas finalmente chegou o momento tão esperado.
Acomodo-me no banco traseiro e, enquanto afivelo o cinto de segurança, Caio se
acomoda na poltrona de motorista, acionando o veículo.
— Aceita uma água, senhorita?
— É sério isso, Caio? — indago e ele sorri orgulhoso.
— Claro que sim! Aqui é serviço completo. — Pelo retrovisor, vejo que ele dá uma
piscadinha.
— Gente… Ainda não consigo acreditar em tudo isso.
O carro do policial está todo limpo e perfumado, aposto que Otto deu várias instruções
para ele quanto a isso.
— Ottoni capricha — constata. — E você, Marina, como está?
— Empolgada, curiosa, ansiosa, nervosa — disparo e ele gargalha.
— Ele está igual a você, não se preocupe.
Pelo trajeto, Caio desenrola uma conversa despreocupada comigo, aliviando um tanto a
minha tensão. Nós nunca passamos um tempo sozinhos, já que o vi poucas vezes na casa de Otto,
então consigo perceber o quanto é agradável.
Quando chegamos à porta de um hotel de luxo, ele para o carro e se vira para me olhar.
— Dê o seu nome na portaria, que vão te levar até ele.
— Certo. Muito obrigada, Caio!
Despeço-me dele e desço do veículo, caminhando em passos firmes até a recepção do
hotel.
— Boa noite, senhorita Marina?
Um mensageiro me aborda e eu abro um sorriso.
— Boa noite, sou eu mesma!
— Me acompanhe, por favor.
Sigo o funcionário do hotel pelo elevador até o último andar e sinto um frio na barriga
quando entramos no corredor.
— O quarto da senhorita é o último à esquerda. — Ele aponta com a mão. — Aqui está a
chave. Boa noite.
Sinto um frio na barriga quando pego o cartão magnético de sua mão e caminho pelo
corredor até a porta indicada.
Respiro fundo e passo a chave, que destranca na mesma hora.
— Otto? — chamo-o ao adentrar o quarto com baixa iluminação.
Encontro uma cama enorme de casal decorada com pétalas de rosas, e velas iluminam
todo o local.
É lindo…
As cortinas balançando em uma porta de vidro me chamam a atenção e sigo até ela,
sentindo o coração errar uma batida.
— Otto…
De pé, encostado no parapeito da enorme sacada do quarto, está ele.
Tão lindo…
Vestido com uma calça social e camisa de botão azul-clara, Otto está deslumbrante.
E o que mais me chama a atenção nele é o seu sorriso.
Alegre, genuíno…
Ulisses dá um passo em minha direção, mas antes busca um buquê de rosas vermelhas,
sorrindo ainda mais ao me oferecer.
É o maior buquê que eu já vi…
— Nossa… — murmuro ao pegar o arranjo de suas mãos e sentir o peso em meus braços.
— São quarenta e uma rosas — explica e eu arqueio a sobrancelha para ele.
— Por que quarenta e uma?
Meu professor baixa o olhar e abre um sorriso tímido agora.
— Uma rosa para cada dia que você ficou longe de mim…
Ah, Otto…
Olho para as flores em minhas mãos e não consigo conter a emoção.
— Isso é lindo — murmuro entre lágrimas.
Fecho os olhos e inspiro o aroma delas, sentindo uma paz tão grande dentro de mim.
— Elas são lindas… Obrigada, Otto.
O loiro sorri e se aproxima mais, fazendo-me sentir seu cheiro gostoso.
— Vou colocá-las ali ao canto para podermos conversar, tá?
Assinto e o vejo acomodar as flores em um jarro próximo.
Quando ele volta, estende a mão para mim e eu aceito, sorrindo ao vê-lo entrelaçar
nossos dedos.
— Marina, eu te chamei aqui hoje para te fazer um pedido — diz e meu coração dispara
forte aqui dentro.
— E qual é? — Mal consigo reconhecer a minha voz.
— Quer ser minha namorada?
Quando as palavras saem de sua boca, eu sinto um nó na garganta.
Uma vontade absurda de chorar.
Isso… Isso está mesmo acontecendo?
— Otto… — Dou um passo em sua direção e ergo a mão para tocar o seu rosto.
O movimento o faz fechar os olhos, e sentir o calor da sua pele contra a minha arranca
mais uma lágrima de mim.
— Mas nós podemos ficar juntos? — pergunto em um sussurro.
Quando Ulisses reabre os olhos e sorri, acena de leve e eu sinto o meu corpo inteiro se
arrepiar.
— Jura?
— Eu não ia te dar uma boa notícia hoje? — indaga e eu assinto. — Recebi a carta de
convocação para um concurso que tentei há um tempo, Mari. Já me apresentei e levei toda a
documentação. Hoje pela manhã, fui ao campus e formalizei meu pedido de demissão.
A cada palavra que sai de sua boca, o meu coração bate ainda mais rápido em meu peito.
— Otto…
— Acabou, meu amor. Não estamos infringindo nenhuma regra mais, porque não
fazemos mais parte da mesma instituição. Estamos livres…
Ele mal acaba de falar e eu encurto a nossa distância, colando minha boca na sua.
Ulisses demora uma fração de segundos para reagir, mas quando o faz…
Ele me agarra pela cintura enquanto me beija daquele jeito que eu amo.
Daquele jeito que eu morri de saudades.
Sua língua percorre cada cantinho da minha boca e o calor que emana dela me derrete
inteira.
Ah, Otto…
Que saudade.
Lágrimas de emoção rolam na minha face e o sabor salgado delas se une a esse beijo, que
é o mais forte que eu já vivi.
Carregado de sentimentos, de entrega, de saudade…
— Eu… Eu senti tanto a sua falta — murmuro, ainda chorosa, ao nos afastar e encostar
minha testa na sua.
— Ah, Mari… Não mais do que eu. — Seu nariz roça o meu de um jeito tão gostoso
agora. — Sofri todos esses quarenta e um dias longe de você.
— Doeu tanto…
— Eu sei, minha linda. Eu sei. Mas eu voltei… Eu voltei para nós dois. Eu não te prometi
que o faria?
Sorrio assentindo e ele me dá um selinho gostoso.
— Obrigado por me esperar — Otto diz, olhando no fundo dos meus olhos.
— Eu… Meu Deus, Otto! Isso é mesmo verdade?
Rio entre lágrimas e ele sorri, beijando-me outra vez.
— É, sim, amor… O nosso momento chegou.
— Eu te amo tanto — falo, com a voz embargada.
Devo estar com a maquiagem toda borrada, mas não ligo.
Não quando sei que posso tê-lo de novo e dessa vez por inteiro.
— Mas tanto… Meu Deus, Ulisses! Como eu te amo.
O loiro sorri e toma meus lábios mais uma vez, em um beijo muito mais intenso agora.
Aquele beijo costumeiro, que sempre me tira o ar.
Que saudade eu senti disso.
— Também te amo, Marina — diz, roçando seus lábios aos meus. — E todo esse tempo
separados só me fez te amar mais.
Ergo a mão e toco seus cabelos macios, adorando a sensação deles em meus dedos.
— Dessa vez é para sempre, Ulisses? — indago e ele sorri ainda mais para mim.
— Dessa vez é para sempre, meu amor. Eu te prometo.
E quando seus lábios se juntam novamente aos meus, eu me sinto finalmente em paz.
Andei por todos esses quarenta e um dias sem rumo, sem direção, tendo a dor como
minha maior companhia.
Meu coração naquela noite foi fragmentado em um milhão de pedaços e agora todos os
meus caquinhos foram colados.
Porque ele voltou…
Voltou podendo ser meu.
Todo meu.
— Já quer jantar? — pergunta e eu nego de leve.
— Quero te namorar mais um pouquinho, eu posso? — pergunto, enquanto circundo sua
cintura com os braços.
— Você pode tudo, amor.
Sorrio e me inclino para beijá-lo mais uma vez, sentindo seus lábios quentes junto aos
meus. Puxo Ulisses pelos cabelos e intensifico nosso beijo que é tão gostoso…
É tão intenso…
— Foram quarenta e um dias sem te beijar, Ulisses — murmuro, roçando meus lábios aos
seus.
— Mas agora temos a vida inteira, Marina… — constata e eu sorrio.
— Temos mesmo.
Colo minha boca à sua e me entrego a ele mais uma vez.
Aqui, abraçados sob a luz da lua, eu só consigo senti-lo.
Sentir sua boca que não solta a minha, seus braços me envolvendo, seu calor que
irradia…
— Eu senti tanta saudade — sussurro, repousando-me em seu peito.
Otto me envolve e beija meus cabelos com carinho.
— Eu também, meu amor… Eu também…
Nunca vou me cansar de dizer o quanto eu o amo e o quanto eu senti sua falta em todos
esses quarenta e um dias.
Mas agora, finalmente está tudo em seu devido lugar.
E isso, me traz uma paz absurda.
— Acho que podemos jantar agora — sussurro, erguendo os olhos para ele que sorri.
— Ótimo. Eu preparei algo lindo para você.
Arqueio a sobrancelha para ele e Otto me conduz até uma mesa ao canto, perfeitamente
montada para nós dois.
Eu fiquei tão emocionada quando eu cheguei, que nem notei mais nada ao nosso redor,
que não fosse ele.
Meu namorado puxa a cadeira para que eu me sente e logo se acomoda de frente para
mim à mesa.
— E o que teremos hoje, chef? — pergunto e ele me abre um sorriso orgulhoso.
— Primeiro, um brinde. — Ulisses pega uma garrafa de champanhe em um balde de gelo,
tirando uma risada de nós dois quando a abre em um estrondo.
Ergo minha taça para ele, que a enche, logo servindo a sua.
— A nós dois — diz, propondo um brinde.
— À nossa eternidade — completo, batendo minha taça à sua, antes de dar um gole na
bebida gelada.
— Agora… — Ele faz um suspense e ergue a cloche ao nosso lado revelando o prato que
nos espera.
Meu coração erra uma batida ao reconhecer o cardápio.
— Otto…
— Quando eu te chamei na minha casa e te pedi para confiar em mim, foi isso que eu
preparei para você. Naquela noite, Mari, eu te prometi que encontraria uma solução para
ficarmos juntos.
Suas palavras são tão carregadas de amor, que me arrancam uma lágrima.
— Eu estava decidido a fazer qualquer coisa por nós dois. E mesmo que tenha demorado
um pouco mais do que prevíamos, e tendo que enfrentar uma separação que não queríamos, a
resposta finalmente veio.
Meu coração está disparado dentro do peito e eu só sei sorrir dentre lágrimas.
— Naquele dia eu preparei um ravióli para você com todo carinho — diz, também
emocionado, e uma lágrima lhe escorre. — E hoje eu te preparei mais uma vez, com todo o meu
amor e morto de saudade.
— Ah, Ulisses…
— Obrigado por ter confiado em mim, Marina. Obrigado por ter me esperado e
enfrentado essa turbulência comigo. Hoje eu sou o homem mais feliz deste mundo porque te
tenho de volta na minha vida.
Estico a minha mão e toco a sua por cima da mesa, entrelaçando os nossos dedos.
— Eu te amo, Ulisses. Obrigada por voltar para mim.
Ele me abre aquele sorriso lindo, que é dono de todo meu coração.
Eu não solto a sua mão quando dou a primeira garfada e desfruto de um prato perfeito, e
o melhor de tudo, cheio de amor.
Porque eu consigo sentir.
Todo seu cuidado, todo seu amor, todo seu carinho.
Arrisco dizer que este é o prato mais gostoso que ele já me preparou em todo esse tempo
juntos.
Ah, Ulisses…
Como eu amo você.
Olho para o relógio de pulso e sinto minha barriga gelar em expectativa. Está perto do
horário combinado com Marina e eu quero fazer uma surpresa para Yuri. Ainda que eles já se
conheçam e meu filho saiba que não éramos apenas amigos, é diferente agora.
Agora Marina é oficialmente minha…
Caramba, ainda não acredito que tudo finalmente deu certo. Que as coisas realmente se
ajustaram na minha vida.
O interfone toca e eu sorrio sozinho antes de olhar para meu filho deitado no sofá
assistindo à TV.
— Filho, só vou lá embaixo buscar uma encomenda, tá?
Yuri acena e eu busco as chaves, deixando o apartamento para descer até a entrada do
prédio.
Quando encontro Marina na calçada me olhando com aquele sorriso lindo nos lábios, eu
sinto o meu coração errar uma batida.
Ela está linda…
Vestindo uma calça jeans justa e desfiada, uma camiseta decotada rosa-choque e
sandálias coloridas nos pés, ela está perfeita.
Como sempre.
Indiscutivelmente linda.
— Oi, amor.
Puxo-a pela cintura e beijo seus lábios, aqui na calçada mesmo, diante de todos que
possam ver.
E, cacete, que delícia.
Parece que é ainda mais gostoso beijá-la assim.
— Oi, professor — murmura ao afastar os nossos lábios e sorri travessa.
— Você está linda — elogio e noto seu rosto corar um pouquinho. — E cheirosa também.
Afundo o rosto em seu pescoço e sinto aquele aroma de melancia que é só dela.
Que saudade eu senti desse cheiro.
E pensar que vou passar a vida inteira sentindo-o…
— Nunca troque o seu perfume — murmuro e ela me olha divertida. — É delicioso
demais e é só seu.
— Pode deixar. É meu perfume favorito também.
Sorrio antes de lhe dar um selinho.
— Pronta para conhecer o meu filho como minha namorada? — indago, tocando seus
cabelos com carinho.
— Mais do que pronta!
Pego sua mão e a conduzo para dentro do prédio. Quando pegamos o elevador de mãos
dadas, rindo e conversando sobre coisas triviais, eu me pego pensando no quanto almejei isso.
Ser livre para ser dela, sem me preocupar em nos esconder.
Quando chegamos ao meu andar, eu peço que me espere no corredor.
— Espera só um pouquinho, que vou fazer uma surpresa para Yuri.
— Certo.
Mais um selinho e me afasto dela, voltando para o meu apartamento.
— Yuri, trouxe um presente para você — digo e o garoto na mesma hora se levanta do
sofá.
— Um presente? Onde?
Meu filho procura algo em minhas mãos e eu rio antes de voltar para a porta e sinalizar
para Marina.
Quando a garota entra no meu apartamento, o semblante do menino se ilumina.
— Filho, quero que conheça a minha namorada, Marina.
Pego-a pela mão e Yuri quase tropeça vindo até nós.
— É sério isso, pai? — pergunta incrédulo e eu assinto, ainda sorrindo.
— Seríssimo. Agora é para sempre.
— Ah… Mari!
O garoto corre até ela e a abraça, ela o acolhe em um momento tão gostoso dos dois.
— Senti saudade — ele revela, fazendo o meu coração apertar aqui dentro.
Pelo visto, todos os Ottonis são apaixonados por essa mulher.
— Eu também senti, Yuri — ela diz, se afastando de seu abraço. — Meus finais de
semana foram muito sem graça sem vocês.
— Então agora vocês estão namorando de verdade? — Yuri olha de mim para ela e eu
concordo. — Não precisam mais se esconder?
— Não, filho. O pai trocou de emprego, lembra? Vou começar o próximo semestre em
uma universidade nova, então não tenho vínculo nenhum com a faculdade de Marina.
— Que maneiro! — O semblante do garoto se ilumina e é impossível não sorrir. — Então
agora você é… — Yuri para e lança um olhar preocupado para Marina. — Minha madrasta?
— Ah, não! Pelo amor de Deus! — A careta de Marina é impagável e eu gargalho. —
Madrasta me remete a bruxa e acho que eu não sou uma!
— Não, você não é — o menino responde rápido e eu fico aqui só observando a conversa
desses dois.
— Então, pronto. Eu posso ser sua amiga, que tal? E namorada do seu pai.
A garota dá de ombros e Yuri sorri satisfeito.
— Isso, amiga é melhor! Ufa! Eu já ouvi tanta história dos meus colegas de madrasta
ruim…
— Pois é. Isso eu não vou ser nunca, Deus me livre.
— Bom, agora que está tudo certo por aqui… Que tal sairmos para jantar fora e
comemorar?
Yuri concorda eufórico, mas quem me olha emocionada é Marina.
Só nós dois sabemos o quanto ansiamos por isso.
Podermos sair por aí, de mãos dadas, sem nos preocuparmos com nada…
— E aonde vamos? — ela pergunta curiosa, abraçando-me pela cintura.
Uma outra coisa que eu ansiava muito era poder abraçá-la e beijá-la na frente do meu
filho, sem culpa, sem receio…
Ah…
Isso parece ser um sonho.
— Não sei. Vocês podem escolher!
Afago seus cabelos e olho para Yuri, que nos observa com um enorme sorriso no rosto.
Saber que ele não só aprova o nosso relacionamento como adora Marina significa tudo
para mim. Eu jamais traria alguém para a minha vida que não fosse se dar bem com o meu filho.
— Pode ser comida chinesa? — Yuri sugere e eu olho para Marina, que sorri aceitando.
— Por mim, está perfeito!
— Então está decidido!
Enquanto esperamos Yuri se trocar, eu aproveito esses minutinhos na sala a sós com ela
para matar a saudade de seus beijos.
E agora, é como se o sabor deles fosse muito mais gostoso…
Dou um último selinho nela quando ouço o som dos passos de Yuri e o garoto volta ao
nosso encontro todo elegante.
— Uau… Você está um gato, hein?
— Estou treinando para, quando crescer, ser igual ao meu pai.
— Igual a mim, por quê? — pergunto curioso, ainda que esteja sentindo um orgulho
imenso no peito.
— Ah, pai… Você poderia namorar uma mulher da sua idade, mas conquistou logo uma
de vinte anos. Você deve ter algum charme.
Eu explodo em uma risada e Marina se junta a mim.
— Está me chamando de velho, Yuri?
— Novo igual a ela você não é — constata e eu ainda balanço a cabeça rindo.
— Você está certo, Yuri. Seu pai tem um charme e tanto.
A garota pisca para mim e eu bem sei que charme é esse que ela está dizendo…
Mas ainda bem que não precisamos entrar nesses detalhes com o meu filho.
— Bom, então vamos?
Chamo-os e saímos pelo corredor, conversando animados em direção ao estacionamento.
Adentrando o carro, Yuri e Marina escolhem músicas de Green Day para tocar e vão cantando
pelo caminho.
Dividindo minha atenção entre o trânsito e eles, não consigo conter um sorriso ao ver o
quanto estão se divertindo juntos.
É lindo de ver e sinto que estamos nos tornando uma verdadeira família.
Ao chegarmos ao restaurante, desço e pego a mão de Marina, enquanto somos
conduzidos até uma mesa no segundo piso, tendo uma vista linda da cidade.
— Nossa, aqui é lindo… — Mari sussurra ao meu lado e me inclino para beijar o seu
ombro com carinho.
— Não é? Eu ainda não tinha vindo aqui, mas Caio já me falou muito bem do lugar.
— É bem maneiro mesmo — Yuri concorda, entrando no assunto.
— Bom… O que vamos pedir?
Pego o cardápio nas mãos, e Yuri nem mesmo o olha para responder.
— Eu quero um Yakisoba!
— Hummm… Boa, Yuri! Também vou querer um.
— Então eu vou acompanhar vocês dois.
Aceno para o garçom e fazemos nosso pedido, junto com uma garrafa de refrigerante.
Enquanto não chega, engatamos em uma conversa, em que Marina pergunta a Yuri como
estão as aulas, e o garoto desata a falar.
— Semana que vem eu já entro de férias — diz, animado.
— Recesso escolar, né? — corrijo-o e ele dá de ombros.
— Ainda que sejam poucos dias, são férias, porque eu estarei em casa livre de
atividades…
— Mas você tem que ler um livro nesse período, esqueceu? Terá um trabalho sobre ele
quando voltarem as aulas.
— Como é ser filho de um professor, hein? — Marina se inclina para a frente na mesa,
fingindo cochichar.
— Quando eu preciso de ajuda no dever de casa, é ótimo. Mas nessas horas aí é um saco
— solta e a morena dá uma risadinha.
— Eu estou ouvindo vocês, viu?
A risada na mesa é coletiva agora.
— Você também entra de férias, não é, Mari? — ele pergunta e ela confirma.
— Logo que eu terminar minhas provas finais, estarei livre.
— Que maneiro… Podemos assistir a muitos filmes com brigadeiro. — O sorriso do
garoto se amplia.
— Acho justo! Mas sem terror.
— Ah, qual é? O mais legal! — A cara de insatisfação dele me faz rir baixo.
— Vamos ceder um pouco, bonitinho? Temos que agradar a todo mundo.
Meu filho bufa e sopra a franja dos cabelos.
— Tá bom…
Ainda estou rindo quando o garçom chega com nossos pedidos e começamos a comer
tranquilos.
É um momento leve e muito gostoso que dividimos e, quando acaba, eu não quero sair
daqui.
Não quero que momentos como este se acabem.
Na saída para o estacionamento, estou prestes a abrir a porta do motorista, quando tenho
um estalo.
— Amor, leva o carro.
Jogo as chaves na mão de Marina, que pega no ar, arregalando os olhos para mim.
— Sério? Mas eu nunca dirigi depois do exame e…
— Então chegou a oportunidade perfeita. — Pisco para ela.
Marina olha para mim e para Yuri, que a incentiva em um sorriso.
— Vocês têm certeza?
— Eu não tenho medo, filho, você tem?
— Lógico que não.
— Então pronto.
Dou a volta e me acomodo no banco do carona, vendo meu filho fazer o mesmo no banco
de trás.
Mari ainda está ressabiada quando se senta no lugar do motorista e eu dou a ela as
instruções sobre o meu carro.
— Fica tranquila, amor. Dirige devagar, no seu ritmo, ninguém aqui está com pressa. Aos
poucos, você vai pegando confiança.
— Certo…
Ela assente e, quando aciona a chave, ligando o motor, um sorriso desponta em seus
lábios.
— Ai, meu Deus. Isso é muito legal! — exclama quando o carro começa a ganhar vida
pelas ruas.
Seu semblante é um misto de insegurança e empolgação e o tempo todo eu a encorajo,
elogiando a forma como está dirigindo. Ela ainda anda mais devagar, mas está no caminho certo,
é a melhor coisa a fazer enquanto não está cem por cento segura.
— Desculpa — pede quando passa rápido demais em um quebra-molas e eu nego com a
cabeça.
— Ele estava muito mal sinalizado, faz parte.
Mari assente e aos poucos a vejo relaxar os ombros, ficando mais tranquila. Todo o
trajeto é feito com bastante atenção e, quando chegamos ao meu prédio, dou todas as orientações
para estacionar na minha vaga, que é um pouco estreita.
— Viu? Você se saiu muito bem! — elogio logo que ela desliga o motor.
— Ainda estou com as pernas bambas, mas ok, eu consegui!
— Você mandou bem, Mari — Yuri elogia do banco de trás e a garota sorri.
— Sempre que sairmos de carro, vou te deixando dirigir comigo, tá? Até você ir pegando
mais segurança — afirmo. — Dirigir é prática. Você vai vendo que, com o tempo, fica muito
mais fácil.
— Obrigada, Ulisses.
Descemos do carro e seguimos pelo elevador com um Yuri que não para de tagarelar em
nossa cabeça. Quando subimos, ele sugere um filme e, enquanto procura na TV, eu puxo Mari
pela mão e a levo até a cozinha.
— Quer que eu te leve para casa hoje, ou você dorme comigo? — pergunto, envolvendo-
a pela cintura.
— Não vou atrapalhar vocês se eu ficar?
— Está brincando? Aquele garoto ali é louco por você, vai achar o máximo te ter aqui.
— O pai dele, não? — provoca e eu solto uma risada antes de beijar a sua boca.
— O pai dele é absurdamente apaixonado por você — sussurro, entre beijos. — Louco,
alucinado, morto de amores por você…
— Ah, Ulisses…
Nem dou a ela tempo de responder, tomando sua boca na minha novamente em um beijo
muito mais intenso.
Em um beijo forte, louco, alucinado…
Assim como o meu amor.
CAPÍTULO 38 - Marina
— Ai, amiga, eu estou tão feliz de te ver bem assim… — Carina comenta, enquanto me
vê trabalhar sorrindo em uma torta de frango para Otto.
Hoje é um daqueles dias em que Yuri vai dormir na casa da avó para receber a visita de
Renata e eu aproveitei para convidar o meu namorado para ficar aqui em casa com a gente. Sei
que ele fica tenso todas as vezes que esse dia chega, por isso quero distraí-lo um pouquinho.
— Finalmente, né, Cá? — murmuro e ela assente, colocando-se ao meu lado.
— Foi muito triste te ver sofrendo tanto, Mari. Sei que não foi pior do que você, mas
acredite, me doía todas as vezes ter que sair de casa para as aulas e te deixar aqui sozinha.
Paro o que estou fazendo e lavo as mãos para lhe dar um abraço.
Eu realmente não sei o que seria de mim se não a tivesse ao meu lado comigo. Se eu
tivesse optado por morar sozinha quando vim para a cidade, eu teria sofrido muito mais nesse
período. Ter o seu apoio foi crucial para mim.
— Obrigada por tudo, Cá. Você tem um lugar no meu coração que é só seu.
Beijo seu rosto e me afasto dela, voltando ao trabalho.
— Você quer que eu saia de casa para que vocês fiquem à vontade? — oferece e eu
reviro os olhos para ela.
— Já passamos dessa fase, amiga. Fica tranquila, Otto vai adorar te ver aqui.
— Ah, tá. Porque não quero ficar de vela e…
— Você nunca ficará de vela, um castiçal talvez… — brinco e ela me dá um tapinha no
braço, tirando-nos uma risada.
— Ridícula!
Gargalho mais e peço a ela um copo de água, que pega para mim.
— Mas é sério, Cá, não se preocupe. Pode ficar à vontade com a gente.
— Ótimo. Porque amo a sua torta de pão de forma e, se eu precisasse sair, eu te pediria
para me guardar ao menos um pedaço.
— Mas é lógico que eu não te deixaria sem a minha torta!
Termino de montar tudo e levo à geladeira, aproveitando o tempo para tomar um banho
rápido antes que Otto chegue. Estou terminando de me arrumar, quando ouço sua voz grossa
anunciando a sua chegada.
Borrifo o perfume e confiro o meu visual no espelho. Depois sigo até a sala e encontro-o
de pé, conversando com Carina.
— Oi, minha linda.
Inclino-me para lhe dar um selinho e ele me envolve com seus braços quentes.
— Oi, amor.
Mais um selinho e Otto sorri, afastando-se de leve.
— Ah, vocês são tão fofinhos juntos. — Minha amiga suspira. — Também quero um
namorado!
— Mas não era você quem dizia que não tem tempo para isso? — indago e ela faz uma
careta.
— Eu sei, eu sei. É só que o amor de vocês contagia.
Encaro Otto, que sorri para mim, antes de me beijar mais uma vez.
— Deu tudo certo na sua mãe? — pergunto e ele assente.
— Deu, sim. Eu sempre fico com o coração na mão por deixá-lo lá, mas confio muito em
dona Regina. E Renata sabe que com ela não tem vez, então sei que não vai tentar nenhuma
gracinha.
— Sua mãe deve ser ótima — concluo e ele me abre um sorriso de lado.
— É… E, falando nisso, ela quer te conhecer. Posso marcar um almoço?
Meu coração erra uma batida com o seu convite. É incrível como precisamos nos
esconder por tanto tempo e agora as coisas fluem com tanta naturalidade que às vezes me pego
sem acreditar.
— Claro, será um prazer!
— Acho que vocês se darão muito bem — conclui.
— Se ela for tão incrível quanto você e Yuri, tenho certeza de que sim. Você já está com
fome? Fiz uma torta pra gente.
— A melhor torta do mundo, Otto! — Carina exclama, fazendo uma pose dramática, e
caímos na risada.
— É mesmo? Fiquei curioso agora…
— Então vem experimentar!
Pego meu namorado pela mão e o guiamos até a cozinha, onde Carina me ajuda a montar
a mesa.
Com tudo pronto, sirvo os três pratos com a torta e fico observando Otto experimentar a
primeira garfada.
— Meu Deus, isso é muito bom! — exclama e eu sorrio orgulhosa.
— Não disse? Eu sempre dou pulinhos de alegria quando Marina anima a fazer essa torta
pra gente!
Não tem como não sorrir disso e Otto continua comendo animado, tecendo vários elogios
sobre o prato que preparei com tanto carinho.
— E as aulas, Carina? Você já está de férias? — ele pergunta a ela, antes de beber um
gole do refrigerante.
— Que nada! Eu vou ter uma semana a mais que a Mari dessa vez. Acabei precisando
repetir uma prova de uma matéria em que não consegui a pontuação mínima.
— Ah, isso faz parte. Tenho certeza de que vai conseguir se sair muito bem nessa
próxima prova — Otto diz, gentil.
— Deus te ouça! Só de pensar em repetir uma matéria por um semestre inteiro, já me bate
um desânimo.
— Eu também morro de medo disso. — Balanço a cabeça, só de pensar nessa
possibilidade.
— Mas e a universidade nova? Está ansioso para começar as aulas? — minha amiga
pergunta e o semblante dele se ilumina.
— Bastante! Eu ainda estou cumprindo aviso e preciso fechar esse semestre, com todas
as notas e diário para entregar tudo certo para a instituição. Mas não vejo a hora de começar no
novo lugar.
— Eu imagino! Boa sorte no novo emprego.
— Obrigado, Carina.
Então mudamos de assunto e conversamos sobre nossas famílias, Carina sempre
contando como minha avó e Gabriel são especiais. Ulisses fica curioso e diz que quer muito
conhecê-los; eu lhe garanto que vou providenciar isso em breve. Só precisamos ver um final de
semana tranquilo para viajar.
Ao terminarmos, recolhemos tudo e vamos para o sofá bater um papo despreocupado, até
Carina pedir licença para ir se deitar e se despedir de nós dois.
A noite passou voando e ver o homem que eu amo e a minha melhor amiga se dando tão
bem significou tudo para mim.
Fico tão feliz por saber que está tudo se encaixando.
— Yuri vai dormir mesmo com a sua mãe? — pergunto quando estamos sozinhos.
— Vai, sim. Eu vou buscá-lo amanhã na hora do almoço. Quer ir comigo? — Ulisses me
pergunta enquanto acaricia a minha cintura e eu sinto o meu coração se acelerar aqui dentro.
— Sua mãe não vai se importar? Por ser em cima da hora assim?
— Imagina! Ela ama a casa cheia e não vê a hora de te conhecer. Vai adorar saber que
vou te levar.
— Então perfeito, quero ir, sim!
Otto sorri e se inclina para me dar um selinho.
— Quer dormir aqui comigo? — sugiro e ele assente na mesma hora.
— Eu só não trouxe nenhuma roupa para isso.
— Você pode dormir sem roupa mesmo — brinco e ele solta uma risada.
— Espertinha!
Levanto-me do sofá e o pego pela mão, guiando até o meu quarto.
— Quer ver um filme? — ofereço, pegando o controle da TV.
— Claro. Sua amiga não costuma entrar no seu quarto, né? — indaga e eu nego.
— Com você aqui, com toda certeza, não.
— Perfeito.
Enquanto zapeio pelos canais do streaming, vejo Otto colocar sua carteira, celular e
chaves sobre a minha cômoda, então começa a desabotoar a camisa de um jeito lento que chega a
ser absurdo de tão sexy.
— Está me provocando, senhor Ulisses?
— Eu? Claro que não — responde, sorrindo travesso. — Só não quero dormir de camisa
social e calça jeans.
Quando ele tira os sapatos dos pés e se livra da calça, a visão do meu namorado de cueca
boxer branca me surge e é a coisa mais linda do mundo.
— Você é perfeito, sabia?
Aproximo-me dele e toco o seu peitoral nu.
— Não tanto quanto você — diz, me dando um beijo gostoso.
— Vou me trocar também, só um instante.
Vejo Otto se sentar em minha cama enquanto eu abro o guarda-roupa e pego uma
camisola branca para vestir.
— Vou combinar com você hoje — comento antes de começar a me despir.
Ulisses parece me comer com os olhos enquanto eu tiro toda a minha roupa, ficando
apenas de calcinha. Visto a camisola e vou ao seu encontro, acomodando-me ao seu lado na
cama.
— Muito gostosa — murmura antes de me beijar.
O beijo começa inocente e vai se esquentando, arrepiando o meu corpo inteiro.
— Vamos ver o filme? — ele diz, ao se afastar, e eu pisco os olhos por um instante.
— Cla-claro — gaguejo e ele sorri, malicioso.
Erguendo a colcha da cama, Otto se acomoda ali, dando uma batidinha no travesseiro
para que eu me deite ao seu lado e, quando o eu faço, meu corpo se encaixa perfeitamente no
dele.
Sinto sua ereção se formar em minha bunda e sorrio ao pensar que ver filme é a última
coisa que faremos hoje.
— Qual filme você quer ver? — pergunto enquanto ele beija o meu ombro e desce a mão
pela minha cintura.
— Qualquer um… Pode escolher.
Com a boca, ele abaixa a alça da minha camisola e corre a língua pela minha pele,
fazendo o meu sexo pulsar.
Respiro fundo antes de escolher um filme qualquer de romance. Quando dou play, a
música de início começa e esse som incentiva Otto a continuar.
— Consegue ficar calada, amor? Não estamos sozinhos em casa — sussurra ao morder a
minha orelha.
— Consigo…
A minha respiração pesa quando ele adentra a minha camisola e sobe as mãos pela minha
coxa, tocando-me por cima da calcinha.
Mordo o lábio de leve e engulo um gemido ao senti-lo afastar a peça de renda para correr
os dedos pela minha boceta já molhada por ele.
Só a forma como esse homem sussurra ao pé do meu ouvido me deixa sempre excitada.
Aqui, deitada de lado na cama, com Otto encaixado atrás de mim, me tocando sem que eu
possa emitir um ruído, é uma das coisas mais excitantes que eu já vivi.
— Tão molhada… — murmura antes de meter um dedo dentro de mim e me fazer
suspirar para conter um gemido.
Ai, caramba…
Empino a bunda para ele e roço em sua ereção, enquanto Otto continua fazendo um
vaivém delicioso dentro de mim.
Estou à beira de enlouquecer de tesão e jogo a cabeça para trás, encostando em seu
ombro, enquanto sinto seus dedos massacrarem a minha boceta.
— Isso é tão gostoso — digo baixinho e o sinto morder minha orelha mais uma vez. —
Coloca seu pau, amor — peço e ele solta uma risada safada.
— Você já me quer te comendo? — murmura e eu gemo baixinho.
— Devagarzinho não vai fazer barulho — incentivo. — Por favor…
— Eu amo o quanto você é safada, sabia? — sua voz sussurrada me faz arrepiar inteira.
Sinto a mão de Otto me soltar e, quando o seu pau roça a minha bunda, eu arfo baixinho.
Ergo a perna direita e a dobro, facilitando sua posição, e ele me penetra facinho.
— Porra, Marina… — Ulisses morde o meu ombro quando mete até o fundo. — Você
está tão molhada…
Empino a bunda e agarro o travesseiro abaixo de mim quando ele começa a me estocar
devagar, entrando e saindo de um jeito absurdo de gostoso.
Todo o seu movimento é calculado e sei que está fazendo um esforço enorme para não
fazer muito barulho e nem ranger a cama.
— Eu amo quando você me fode com força — digo e ele cola o rosto ao meu para me
ouvir. — Mas, me comendo devagarzinho assim, também é uma delícia — sussurro e é a sua vez
de gemer baixo.
— Ah, caralho…
Deito a perna de volta e empino mais a bunda, enquanto Otto continua me comendo
gostoso.
E se ter esse pau grosso rasgando a minha boceta, ainda que devagar, não é a coisa mais
deliciosa desse mundo…
— Essa sua boceta é gostosa demais — murmura, acelerando um pouco o ritmo das
estocadas, mas tomando o cuidado para não ir além.
Quando sua mão sobe pela minha camisola e toca o meu peito por baixo do tecido, eu
arfo baixinho.
— Seus peitos também são uma delícia — diz, baixo. — Pena que não posso mamar
neles agora.
— Não pode mesmo — respondo desejosa. — Se você fizer isso, eu vou gemer
descontrolada e vamos ser ouvidos por todo o prédio.
Sinto a sua risada em minha pele e começo a rebolar em seu pau, fazendo com que ele
meta com mais intensidade agora.
— E você acha que sua amiga não está te ouvindo agora? — diz, enquanto belisca o meu
mamilo. — Será que ela não sabe que a amiga dela está dando essa boceta para o professor dela?
Esse homem.
Falando essas coisas.
Enquanto me come desse jeito.
Sempre vai acabar comigo.
— Ela não — falo, fechando os olhos quando ele esfrega meu mamilo com mais força. —
Ela não pode me ouvir… — minha voz falha e sei que não é verdade.
Por mais que estejamos mais contidos, sei que não estamos sendo totalmente silenciosos.
— Será que não? — Mordisca a minha orelha e eu gemo baixinho. — Porque você
sempre geme gostoso, amor. — A fricção de seus dedos em meu biquinho me causa tanto prazer,
que eu sinto um calor absurdo.
Uma gota de suor desce pela minha coluna e eu afasto a colcha de nosso corpo,
empurrando-a para baixo.
E a visão que me surge me faz gemer mais.
Otto com a cueca abaixada, o pau encaixado no meio da minha bunda e a camisola meio
levantada, com sua mão massacrando o meu seio.
— Está sentindo calor, Marina? — murmura e eu apenas balanço a cabeça. — Pois estou
pegando fogo…
Toco a barra da camisola e a puxo mais para cima, libertando os meus seios para que eu
consiga vê-lo me tocar.
Essa visão é deliciosa…
Empino mais a bunda para ele e rebolo em seu pau, que começa a me estocar um pouco
mais rápido agora, metendo até o fundo.
Espero muito que Carina esteja ferrada no sono ou com fones de ouvido, caso contrário
ela vai mesmo conseguir nos escutar.
Não dá para disfarçar o som do choque de nossos quadris.
— Está difícil se controlar, Marina? — murmura e eu assinto, gemendo baixo. — É
porque você é uma putinha safada que adora foder com o seu professor.
— Ai, Otto…
Mordo o lábio com força ao senti-lo me penetrar mais forte agora.
— Quero ver se vai continuar se controlando assim quando gozar gostoso para mim.
O safado solta o meu peito e desce a mão até a minha boceta, onde esfrega o meu clitóris
de um jeito absurdo de gostoso.
Eu enterro a cabeça no travesseiro e aperto os olhos com força, segurando-me para não
gemer tão alto.
Porque isso está além de gostoso.
É delicioso.
É surreal.
Caralho…
Agarro a fronha com força quando Otto me come com mais brutalidade agora,
massacrando minha boceta, e sei que estou prestes a gozar.
Otto também sabe, porque cola a boca em meu ouvido.
— Goza caladinha, amor.
Abafo meu gemido no travesseiro quando sinto aquela onda de tremor me invadir e me
levar a um minuto de insanidade.
Eu estremeço toda, rebolo nele e gozo de um jeito que chega a ser sobrenatural.
É intenso.
Delicioso.
Ainda estou ofegante, me recuperando, quando Otto aperta a minha bunda e estoca forte
até gozar também, derramando-se dentro de mim.
— Porra, Marina — rosna antes de se afastar e desabar ao meu lado na cama.
— Agora eu tenho certeza de que ela nos ouviu — murmuro e ele solta uma risada baixa.
Viro-me para ele e toco o seu rosto corado, correndo os dedos pela sua pele macia.
— Se arrepende? — indaga e eu balanço a cabeça.
— Lógico que não. Eu montaria em você agora e cavalgaria em seu pau de novo se não
estivesse tão sem forças… — murmuro e ele sorri de lado.
— Eu te amo, minha linda. Minha aluna safada e linda — completa e eu rio, inclinando-
me para lhe dar um selinho.
— Eu também te amo, professor.
Beijo-o mais uma vez e toco seus cabelos.
— Em breve não serei seu professor mais — conclui e eu nego.
— Você sempre será meu professor, Ulisses. Só vou parar de te chamar assim se você
quiser.
— Eu sempre fico duro quando te ouço me chamar assim — afirma.
— Viu? Então vou te chamar pra sempre — declaro e ele ri.
— Ainda dá tempo de assistir ao filme? — pergunta apontando para a TV.
— Assistir eu não sei… Mas dormir de conchinha, com certeza, sim. Só preciso levantar
para me limpar.
— Limpar do quê?
Reviro os olhos e aponto para o sêmen descendo pela minha coxa.
— Tem certeza de que prefere se levantar da cama para se lavar enquanto pode dormir
com a minha porra escorrendo?
A pergunta safada me faz morder o lábio.
— Tão safado, professor…
— Só com você, Marina. Só com você.
Otto ergue os braços e indica para que eu me acomode em seu peito.
— Agora vem. Vem dormir comigo.
Eu abro um sorriso ao me aconchegar em seus braços.
— Boa noite, Ulisses — murmuro e sinto-o beijar os meus cabelos.
— Boa noite, meu amor.
Vejo-o erguer o braço para apagar a luz do quarto e logo somos iluminados apenas pela
tela da TV.
Abro um sorriso ao fechar os olhos e beijar o seu peito, sendo guiada para uma deliciosa
noite de sono.
CAPÍTULO 39 - Marina
— Então você é a garota que tirou o meu filho do rumo? — a mãe de Otto me saúda,
antes de me puxar em um abraço apertado.
Todo o carinho que recebo dela faz com que o meu nervosismo se acalme. Eu nunca
tinha conhecido uma mãe de namorado, por isso estava bem tensa antes de chegar aqui.
— Eu… Acho que sim?
Viro-me para Otto, que cruza os braços, soltando uma risada.
— Com toda certeza, é.
Ele dá aquela piscadinha que sempre me tira dos eixos.
— É um prazer te conhecer, querida. Fiquei radiante de felicidade quando Ulisses me
disse que você viria hoje.
— O prazer é todo meu, dona Regina. Otto me fala muito bem de você.
O sorriso de minha sogra é tão lindo, que contagia.
Sogra…
Meu Deus, quem diria, hein, Marina?
— Vó, meu pai já chegou? — a voz de Yuri surge do corredor e, logo que o menino nos
vê, seu semblante se ilumina. — Mari!
Eu ganho um abraço bem gostoso dele e, só quando me solta, é que abraça o pai.
— Como você está, filho, se divertiu?
— Sim! Foi bem legal! Minha mãe trouxe o meu sorvete favorito.
O semblante relaxado dele me faz sentir uma pontada no peito. Por mais que eu odeie
Renata sem ao menos conhecê-la, ela ainda é mãe de Yuri e ele a ama. Isso é o suficiente para
que eu a respeite.
— Que bom, filho. Fico feliz.
— Você já está com fome, Marina? — a mãe de Otto se dirige a mim. — Estou quase
terminando o almoço.
— Imagina, dona Regina. Precisa de ajuda?
— Que nada, está tudo adiantado! Vem, vou te apresentar a minha casa.
Deixamos Otto e Yuri na sala e a minha sogra me conduz por toda a residência,
apresentando cada cômodo com tanto orgulho que consigo sentir todo o seu amor aqui. Consigo
imaginar inclusive meu namorado crescendo em um lar cheio de amor.
Ao contrário de muitos domingos na casa dos Ottonis, Ulisses pediu para que hoje
sejamos apenas nós quatro em casa e pelo visto sua mãe respeitou, pois não há mais ninguém por
aqui.
— Este quarto era de Ulisses — diz, abrindo a porta de um cômodo para me mostrar. —
Hoje Yuri fica por aqui quando dorme comigo.
Adentro o quarto e observo cada cantinho dele, maravilhada.
As paredes pintadas de azul, os móveis em tom de madeira clara, a cama perfeitamente
arrumada.
Caminho até a cômoda e encontro alguns porta-retratos com fotografias de Ulisses em
diversas fases da vida. Infância, adolescência, formatura na faculdade… É tanta recordação linda
que meu peito se aquece.
— É tão aconchegante… — elogio e ela sorri.
— Yuri adora ficar aqui. Principalmente por já ter sido de Ulisses.
— Ele tem muito orgulho do pai, né?
— Demais. — Ela suspira, encarando o ambiente ao redor.
— E eu preciso parabenizá-la pela educação de Ulisses, ele é o ser humano mais íntegro
que já conheci.
Regina sorri e aponta para a cama, onde me sento ao seu lado.
— Eu tenho um filho incrível e um neto perfeito. Sou muito sortuda por tê-los comigo.
— Eu sei bem como é…
— E quero aproveitar que estamos aqui sozinhas para te agradecer — fala e encara os
meus olhos, eu engulo em seco. — Meu filho nunca foi tão feliz com alguém, tão amado… Eu
nunca o vi sorrir desse jeito.
Suas palavras chegam a me emocionar e eu apenas sorrio lisonjeada.
— Ele sofreu muito em um casamento fracassado, Marina. Ulisses nunca teve o seu
devido valor quando esteve com Renata. Mas com você é diferente… Eu acabei de te conhecer,
mas sinto que valoriza o meu filho. Você o ama como ele merece ser amado.
— Eu não sei se sou tudo de que Otto precisa, dona Regina. Mas te garanto que faço o
meu melhor para retribuir tudo o que ele é para mim. Ulisses é o meu sonho mais lindo, dono de
todo o meu amor.
Minhas palavras parecem agradá-la, pois uma lágrima solitária lhe escorre.
— Isso é suficiente. Obrigada, Marina.
A senhora de cabelos grisalhos e sorriso doce dá um tapinha na minha perna antes de se
levantar da cama.
— Agora vamos descer? Aposto que os meninos já estão com fome.
Eu a sigo pelos corredores e encontramos Otto e Yuri na cozinha pegando alguns
utensílios nos armários. Ajudamos minha sogra a montar a mesa e, quando nos acomodamos,
olho para a mesa farta e sorrio.
— O cheiro está maravilhoso — elogio e ela sorri orgulhosa.
— Espero que goste do meu tempero. Fiz tudo com muito amor para vocês.
— Tenho certeza de que vou adorar!
E não estou mesmo mentindo.
Ela fez um peixe assado com batatas, arroz branco e salada variada que está
simplesmente divino.
Desfrutamos de uma refeição tão gostosa, tão leve, que me sinto como se fizesse parte
mesmo desta família. É tão natural estar com eles, que sinto que este é o meu lugar.
De todo este mundo, não existe outro lugar onde eu queira estar.
Ainda passo o resto da tarde na companhia deles e, quando está quase escurecendo, Otto
nos chama para finalmente ir para casa.
— Volte mais vezes, Mari. Será sempre um prazer te receber aqui.
— Eu que agradeço o dia tão agradável, dona Regina. Foi maravilhoso te conhecer.
Recebo um abraço quentinho e, quando os meninos se despedem dela, vamos até o carro
de Ulisses, que mais uma vez me pede para dirigir.
Eu abro um sorriso sempre que ele me incentiva a pegar o volante, porque tenho me
soltado um pouco mais todas as vezes. Tenho perdido mais o medo, tenho criado segurança um
pouquinho mais a cada dia. E o apoio dele tem sido crucial nesse processo.
Meu sorriso de orgulho só não é maior que o de Otto quando eu manobro para estacionar
em sua vaga, sem precisar da sua ajuda.
— Daqui a uns dias, você já pode até viajar sozinha — constata e eu solto uma risadinha.
— Não é para tanto, né?
— Que nada, você está arrasando.
— Está mesmo, Mari — Yuri concorda e eu sorrio para os dois.
Quando subimos pelo elevador, o garoto conversa empolgado sobre suas férias e tudo o
que quer fazer nos dias em que estiver em casa.
E aqui, ao lado dele, percebo o quanto deixa o clima mais leve. Yuri traz uma vitalidade
que é só sua.
Adentramos o apartamento e o garoto vai direto para o banho.
— Obrigado por ter ido hoje. Significou muito para mim — meu namorado diz,
enlaçando-me pela cintura.
— Eu amei conhecer a sua mãe, ela é maravilhosa. E tem muito orgulho de você —
ressalto e ele sorri de lado.
— Tenho muita sorte de ter vocês na minha vida — diz, beijando minha boca daquele
jeito tão gostoso. — Todos vocês três.
Puxo Ulisses pelos cabelos e aprofundo este beijo que tem gosto de tudo, inclusive de
amor.
— Eu te amo, sabia? — murmuro em seus lábios e ganho uma mordida.
— Sabia… Claro que sabia — a declaração me faz sorrir de leve. — Mas eu te amo
muito mais, Marina.
Sua boca cola na minha mais uma vez e, quando ouvimos um raspar de garganta, nos
afastamos depressa, rindo.
Yuri nos olha divertido do canto da sala antes de seguir para o sofá.
Eu fico envergonhada por ter sido pega em flagrante, mas, ao mesmo tempo, experimento
aquela sensação gostosa de lar.
Isso é tão familiar…
Encosto o rosto no peito de Otto e rio baixinho, sendo acolhida por seus braços quentes.
Lar, definitivamente, é onde ele está.
CAPÍTULO 40 - Otto
— Vó? — chamo, logo que atravessamos o portão de sua casa e lá do fundo escuto sua
voz.
— Ela deve estar no quintal — aviso a Otto, que assente ao meu lado e me segue. — Mas
vamos deixar as mochilas aqui na sala antes.
Conduzo-o para dentro de casa e deixamos tudo em um cantinho, antes de seguir para os
fundos.
Finalmente chegou o final de semana quando vou apresentar o meu namorado para minha
família, que nada mais é que minha avó e meu irmão. Uma pena que Yuri não tenha vindo
conosco, mas ele preferiu ficar este final de semana na casa de minha sogra. Além de passar um
tempo com alguns primos de Otto, ainda receberá a visita da mãe.
— Ah, vocês chegaram! — Vó Manoela se levanta do chão com algumas folhas de sua
horta nas mãos.
Ela bate a mão nos joelhos e nos abre aquele sorriso amistoso.
— Vó, esse é o…
— Só me espere lavar as mãos para poder abraçá-lo. Só um instante!
Assinto e a vejo ir até o tanque colocar as verduras e lavar bem as mãos antes de secá-las
e vir em nossa direção.
— Agora posso te apresentar o meu namorado? — indago e ela assente empolgada.
— Agora sim!
— Vó, esse é o Ulisses, ou Otto, como preferir.
Meu namorado estende a mão para ela, que rapidamente o recebe em um abraço
aconchegante.
— É um prazer conhecer a senhora — diz, ao se afastar.
— O prazer é meu por finalmente conhecer o homem que cuida da minha neta por mim
— sua voz é tão marejada que eu sinto um aperto no peito.
— Ah, vó…
— E ele é bonitão mesmo, hein? — ela sussurra, como se fosse só eu a ouvir, e Otto cai
na risada.
— São seus olhos, dona Manoela.
— Os seus, né? Que olhos lindos!
Vovó toca o rosto de Ulisses conferindo toda a sua beleza e eu não resisto a soltar uma
risada diante de seu deslumbramento.
Não posso julgá-la, ele é mesmo muito lindo.
— É agora que a senhora para de secar o meu namorado e me dá um abraço? — finjo
reprimenda e ela faz uma careta divertida antes de me puxar em um abraço gostoso. — Que
saudade, vó.
— Saudades também, minha flor. Você está tão bonita hoje, bem diferente da última vez
que esteve aqui…
Olho para ela e sinto uma fisgada no peito ao me lembrar daqueles dias tão difíceis da
minha vida, em que não tinha Otto comigo.
Mas agora está tudo bem, finalmente.
— É assim que eu fico quando ele está comigo. — Pisco para ela, que sorri ainda mais.
— Gosto disso! Vocês já tomaram café? Fiz bolo de cenoura novinho.
Encaro Otto e sei que meus olhos estão brilhando, porque ele solta uma risada.
— Nós comemos antes de sair, mas por que não? — ele responde por mim.
— Excelente resposta, Ulisses. Não se pode rejeitar meu cafezinho com bolo.
— E você vai adorar, amor. Tudo que a vó faz é perfeito.
— Ah, mas eu não tenho mesmo dúvidas disso.
Vó nos guia para dentro de casa e nos leva até a cozinha, onde sinto o cheirinho de bolo
logo que ela abre o forno para pegá-lo.
— Tem pão de queijo também. — Ela busca uma cestinha e coloca na mesa. — E essa
geleia de morango que eu fiz ontem.
Vó sai pegando tanta coisa da geladeira e colocando na mesa que eu fico assustada.
— Que é isso, dona Manoela? Vai chamar um time de futebol para comer com a gente?
Ela me mostra a língua antes de se sentar ao nosso lado.
— É a primeira vez que você traz seu namorado, Mari. Tenho que recebê-lo bem, para
que volte mais vezes.
— Olha, dona Manoela. — Otto para e beberica um gole de café logo depois de beliscar
um pedaço de bolo. — A senhora foi bastante convincente, já pode marcar a data, que
voltaremos com toda certeza.
E então ela me encara orgulhosa.
— Viu? Funciona!
Balanço a cabeça rindo e começamos a comer o nosso café tranquilos. Vó pergunta
algumas coisas para Otto, que ele responde sempre muito gentil, e logo engatamos uma conversa
gostosa.
— Gabe só chega mais tarde, né? — pergunto e ela confirma.
— Sim, ele tem simulado agora de manhã. Mas me disse que, assim que acabar a prova,
vem direto para cá.
— Beleza.
— Nós podemos fazer um churrasquinho no almoço, né? Faz muito tempo que não
fazemos por aqui…
— Opa, estou dentro! — Otto se manifesta e eu também concordo.
— Acho a ideia ótima, vó. A senhora precisa que compre alguma coisa?
— Sim, eu fiz uma listinha. Não tive tempo de comprar tudo, porque estava arrumando a
casa para receber vocês.
— Nem precisa se preocupar, dona Manoela. Logo que acabarmos aqui, nós podemos
sair para fazer as compras.
Vovó encara o meu namorado e suspira.
— Ele é sempre tão gentil assim?
— A senhora não viu nada. — Pisco para ela mais uma vez, e de canto de olho vejo Otto
nos olhar divertido.
— Ele me lembra o seu vô… Ele era desse jeitinho assim.
Vó fica nostálgica, começando a contar algumas façanhas da sua época de juventude e
como se apaixonou pelo meu avô. Ele era da Marinha e teve uma ótima aposentadoria, que
permitiu a eles viajarem para lugares incríveis, mas infelizmente não aproveitaram tanto quanto
gostariam. Há dez anos, vô Lauro partiu e vovó vive sozinha desde então. A pensão que ela
recebe pela morte dele é bem alta e é com ela que vó me ajuda nos estudos. Eu realmente não sei
o que seria de mim sem eles.
— Engraçado que a senhora é tão doce e o vô era tão gentil… Não sei quem foi que seu
filho puxou.
Faço uma careta ao me lembrar desse ser.
— Seu bisavô — diz, fazendo uma careta. — Meu sogro era um demônio, Deus me
perdoe. — Ela faz um sinal da cruz e uma careta engraçada. — Graças a Deus, você era muito
novinha quando ele morreu, então não tem recordações daquele traste.
— Graças a Deus mesmo. — Estremeço-me.
Otto nos olha avaliativo por um segundo.
— E ele não vem quando Marina está aqui? — pergunta com cuidado.
— Não. Eu já mando o recado logo para ele não aparecer por aqui — ela responde e Otto
assente de leve. — Não é porque sou mãe que não sei reconhecer os erros dos meus filhos,
Ulisses. Joaquim sempre foi um homem difícil e, quando minha neta nasceu, a coisa piorou de
vez. Não posso simplesmente excluí-lo da minha vida, porque é meu filho e, apesar de tudo, eu o
amo. Mas não vou ficar passando a mão em cabeça de marmanjo.
A braveza na voz dela me faz sorrir.
Eu amo essa mulher.
— Está certo. Agora consigo entender por que Marina admira tanto a senhora.
Vó balança a mão e bebe um gole de café.
— Eu só digo verdades.
— Ela é maravilhosa!
Inclino-me e dou um beijo em seu rosto, tirando-lhe um sorriso.
Ao terminarmos o café, recolhemos toda a mesa e pegamos com vovó a lista de tudo que
precisamos comprar.
Quando chegamos ao carro, Ulisses joga a chave para mim e dá uma piscadinha.
— Você conhece a cidade melhor do que eu. Já nos leve direto ao supermercado.
Assinto e me acomodo no banco do motorista. Já estou tão familiarizada com o carro dele
que não sinto nenhum receio em dirigi-lo.
— Sua avó é mesmo maravilhosa — ele comenta e eu me viro para sorrir.
— Ela sempre me acolheu, Ulisses. Sempre fez de tudo por mim. Não sei o que seria da
minha vida sem ela.
— Que bom que vocês têm uma à outra — constata. — Ela também é apaixonada por
você.
Sorrio para ele mais uma vez antes de arrancar o veículo.
— Ela é meu lar, Otto. Assim como você.
E sim, esses dois são os amores da minha vida.
Otto
— Gabe, esse é o Otto — apresento meu namorado para meu irmão caçula, logo que este
chega em casa.
Há pouco, chegamos do mercado, guardamos tudo e Otto veio para o quintal acender a
churrasqueira. Durante o tempo todo, ele tem me observado, certificando-se de que estou bem,
mas, curiosamente, estou.
Pela primeira vez, não me doeu ouvir que eu não sou a filha de Joaquim.
Pelo contrário, me deu alívio.
Aprendi a viver sem eles, e, a cada dia que passa, vejo o quanto fazem menos falta em
minha vida.
— Ah, muito prazer. — Meu irmão estica a mão para Otto, que a aperta sorrindo.
— O prazer é meu. Sua irmã fala muito bem de você.
— Jura?
Os olhos de Gabriel brilham ao se virar para mim.
— Você e a vovó são tudo o que tenho — respondo, sincera. — Eu amo vocês.
E, neste momento, Gabe me abraça.
Mas um abraço tão apertado, tão gostoso, tão cheio de amor.
— Eu também te amo, Mari — murmura, sem me soltar. — Desculpa se não fui o irmão
ideal para você.
Afasto-me dele e estreito os olhos.
— Você sempre foi incrível, Gabe. As circunstâncias em que fomos criados que
formaram essa divisão entre nós dois — pontuo e ele assente de leve. — Mas agora não existe
isso mais. Podemos recomeçar, o que acha?
O sorriso que ele me abre é tão lindo, que aquece o meu peito.
— Eu acho perfeito. Não quero ser só um irmão caçula, Mari. Quero ser o seu melhor
amigo, alguém com quem você possa contar.
Meus olhos marejam e eu sinto um nó na garganta.
— Mas você é… Além da Carina, só tenho você.
Ele sorri orgulhoso e beija o meu rosto.
— Quando ele pisar na bola com você, pode me ligar que eu vou te defender, tá? — Ele
aponta para Otto, que ri.
— Eu senti essa ameaça, hein?
— Olhe, senhor Ottoni… Eu não ligo que você tenha mais do que o dobro da minha
idade e seja mais alto do que eu. — Meu irmão dando uma de valentão me faz gargalhar. — Mas
estou malhando, tá? — Ele ergue a camisa para mostrar os braços firmes.
— Pode ficar tranquilo, Gabriel, eu não vou pisar na bola com ela. Eu também amo a sua
irmã.
O garoto suspira relaxado e eu rio mais.
— A propósito, fico feliz que ela tenha você.
O olhar cúmplice que ele me lança aquece o meu peito. Otto sabe o quanto nossa relação
era conturbada e sei que está mesmo feliz por nós dois.
— Ótimo. Eu já dei o meu recado.
— E agradeço por isso. Quer me ajudar aqui?
Meu namorado aponta para a churrasqueira e o garoto acena, empolgado.
— Só me espera buscar uma cerveja para a gente.
— Aí eu vi vantagem em ter um cunhado — Otto brinca e eu rio.
Gabriel some de vista e eu aproveito a brecha para enlaçar a sua cintura.
— Obrigada por ser tão incrível com eles — murmuro e ele sorri, dando-me um selinho
gostoso.
— Como ser diferente? Eles te amam e cuidam de você.
Balanço a cabeça e me aconchego em seu peito, sendo embalada pelo seu amor.
E aqui, na casa onde passei os melhores dias da minha infância, cercada das três pessoas
que mais amo no mundo, eu sinto mais uma vez aquela paz.
Não me importam as pessoas que não tenho na vida, porque essas não me agregam mais.
O que importa são esses que se fazem presentes, que me estendem a mão e que vão me
acolher em todos os meus momentos.
Seja para secar as minhas lágrimas quando eu estiver triste.
Ou para sorrir comigo em meus momentos de alegria.
Eles sempre estarão lá.
E, no fim, é isso que importa.
CAPÍTULO 42 - Otto
Todas as vezes que finalizo uma história, eu o faço com o coração quentinho.
E aqui não poderia ser diferente.
Eu aprendi muito nessa jornada de #Maroni.
Aprendi que nunca é tarde para encontrar o amor e a felicidade plena.
Aprendi que, muito mais que quantidade, é a qualidade de pessoas que estão ao nosso
redor.
E que família nem sempre são laços sanguíneos.
Família é quem escolhemos.
Termino esta jornada com o coração grato e um sorriso no rosto, orgulhosa por mais um
trabalho concluído.
Ulisses, Marina e Yuri têm todo o meu coração.
Todinho mesmo.
E me sinto muito grata por eles terem me escolhido para contar esta história tão doce e
tão linda.
Meu agradecimento hoje é a você, leitor (a), que me acompanha em todas as minhas
jornadas. Seja acompanhando mais de perto como uma leitora beta ou uma autora amiga, ou
simplesmente confiando em mim para conhecer o meu trabalho.
Vocês nunca têm ideia do que espera vocês dentro das páginas e, ainda assim, confiam.
Ainda assim se arriscam, se entregam, entram de cabeça.
E eu nunca serei grata o bastante por isso.
Obrigada pela paciência, pela persistência e por nunca soltarem a minha mão.
Se eu ainda escrevo, é porque tenho vocês comigo.
Obrigada.
Eu amo, amo muito vocês.
BIOGRAFIA
Fernanda Santana mora em Timóteo, Minas Gerais, com seu esposo e três filhos felinos.
Formada em Ciências Contábeis, atualmente é sócia de um escritório de contabilidade e,
por mais que ame o que faz, sua paixão sempre foi a literatura.
Leitora compulsiva desde a adolescência, sempre teve facilidade na escrita e capacidade
de tirar lágrimas das pessoas com suas palavras.
É fã de carteirinha de Nicholas Sparks e o tem como principal inspirador na sua escrita.
Mesmo sendo amante de um romance fofo e clichê, também adora livros de terror e
suspense. A adrenalina do medo é algo que a fascina.
É autora de outras obras de romance, sempre cercada de drama e histórias que levam os
leitores a muitas reflexões.
REDES SOCIAIS
Instagram: @autora.fernandasantana
Facebook: @autorafernandasantana
Twitter: @autorafesantana
Tiktok: @autora.fernandasantana
E-mail: autora.fernandasantana@gmail.com
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Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/filosofia-grega-socratica/863996665