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1ª.

Edição
Copyright © P. F. Gomez
Edição Digital: Criativa TI

Organização: Encantadas por Livros e Música

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,

personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação


da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime

estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Bernardo estava desempregado, havia sido abandonado pela

noiva, quando arruma um trabalho e vai para o bar comemorar, decidido a

encontrar uma mulher para ter um caso de uma noite. Ele consegue o que

quer e tem uma noite inesquecível e muito sensual com uma gata misteriosa,

mas ela o abandona no motel, deixando-o desconcertado. Mas isso tem que

ficar para trás, pois vida dele está prestes a mudar no novo trabalho e Ariel, a

CEO indomada vai abalar novamente as suas estruturas.


I
Hoje é uma noite para me distrair antes de começar o novo emprego
na segunda-feira. Resolvi escolher esse bar da moda porque estava querendo
vir aqui desde a inauguração, mas os tempos eram de economia.

O ambiente é chique e descolado ao mesmo tempo. Sexta-feira à


noite, público adulto, música ao vivo, bebida de qualidade, cardápio assinado
por chef de cozinha internacional.

Aqui seria o lugar que eu estaria frequentando sem piscar os olhos


há um ano, antes de descobrir que não podemos dar tudo como ganho e certo.
Eu imaginava que o meu caminho seria direto até o topo, mas percebi
duramente que o tapete pode ser puxado dos nossos pés sem que tenhamos
ideia.

Ainda não me recuperei da queda, nem sei se é possível para o ego

da gente se recuperar totalmente de algo assim.

Estou gastando os últimos centavos para comemorar com os meus


amigos o fato de finalmente ter arrumado um emprego decente em meio à
essa crise que assola o país.

A iluminação meio amarelada, o som da voz rouca da cantora e a


mistura de perfumes caros e bebida me conforta um pouco enquanto aprecio
a noite e escuto os meus amigos rindo e falando besteiras. Estávamos

comentando os resultados das últimas rodadas do Campeonato Brasileiro


quando me distraio.

Já estou um pouco bêbado, mas isso não atrapalha o meu objetivo


secundário, que é levar para a minha casa, uma bela mulher para foder. Sim,
vou fazer isso, e não vai ter memória de Camila, piranha (mais conhecida por

minha ex noiva traidora do caralho), que vai me fazer desistir disso por mais
tempo.

É hora de recomeçar, foi tudo o que pensei quando li nas redes


sociais que ela vai se casar no mês que vem, com ninguém mais, ninguém
menos que o meu ex colega de trabalho. O mesmo filho da puta que me deu
uma rasteira, ficou como o meu cargo e meses depois, com a minha mulher.

Nada disso era realmente seu, idiota, me corrijo.

Sem expectativas, olho para a porta do bar e por todos os locais mais

escuros, tentando localizar alguém que valha a pena investir, mas a noite está
bem devagar e só vemos casais e grupos de amigos que ficaram além do
happy hour.

De repente, o garçom chega com um copo do whisky que eu estou


tomando e me entrega, junto com um bilhete:

Te achei muito gato, mas você tem um único problema: sua boca
sexy está muito longe da minha

Agradeço ao rapaz, e olho novamente ao redor, notando uma morena

sentada em uma mesa sozinha. Tenho certeza que ela tinha outras pessoas
com ela ali, mas agora está só e eu me animo, oferecendo o meu whisky a ela
com um brinde e tomando um gole.

— Bernardo, enquanto você está caçando, está sendo caçado, mano

— observa Luís, que está ao meu lado.

— Porra, se isso não é a verdade, toma aqui o dinheiro para a minha


parte, — tiro a carteira do bolso, separo as notas e coloco debaixo do porta-
guardanapos — não me esperem, e se algum engraçadinho for até lá e tentar
colocar água no meu chope. — Ameaço, o que faz todos rirem.

— Vai lá, tigrão. — Tira sarro Victor, me dando um tapa na nuca. —


Já era hora de a Bela Adormecida acordar, porra!

Apenas ignoro os dois e vou em direção a ela. Quanto mais me

aproximo, mais sinto-me atraído, cabelos longos cobrindo os seios, um pouco


selvagens, naquele castanho com um tom avermelhado, boca sexy, pintada de
vermelho, mãos delicadas mas firmes segurando o copo alto com suco, dois
dedos segurando o canudo, brincando com o gelo me faz ter ideias bem
eróticas e quase ostento um pau duro, que afasto pensando em verrugas e
meias sujas.
— Olá, — ela se levanta e me surpreende com um beijo bem
próximo à minha boca — agora sim, resolvi o problema — Fala e volta ao

seu lugar, como se não tivesse me desestabilizado. — Não seja tímido, sente-
se.

— Lógico, linda, estou aqui para satisfazer todos os seus desejos —


eu falo, me sentando ao lado dela e escovo os meus dedos propositalmente na

lateral de seu quadril, posso estar celibatário há algum tempo, mas também
sei como seduzir.

Ela parece bem satisfeita com essa interação e eu estou mais


satisfeito ainda quando começamos a flertar descaradamente e ela me lasca
um beijo depois de me segurar pela nuca.

É um movimento agressivo e muito diferente do que estou


acostumado, mas encaro o desafio enroscando os meus dedos através de seus
cabelos em sua nuca, devolvendo o beijo com mordidas e lambidas em seus

lábios.

Nossas respirações se misturam e eu não sei se é o álcool, a música,


o ambiente ou essa mulher, mas nunca fiquei tão ligado e com tesão desde a
minha adolescência. E olha que sempre tive um apetite muito saudável para o
sexo.

Ela se afasta e eu fico hipnotizado pelos olhos verdes que consigo


identificar de perto.

— Quer ir para algum lugar mais tranquilo, gato? — Ela propõe e eu

já começo a ficar desconfiado que estou sendo atraído por alguma armadilha
para roubar os meus órgãos e vender para o tráfico.

— Fica tranquilo, não sou nenhuma criminosa traficante de órgãos,


se não está a fim, é só falar — Ela me responde tranquila e um pouco

divertida e eu me dou conta que divaguei em voz alta.

— Não sei, fico desconfiado quando alguém que não me ofereceu o


seu primeiro nome e nem perguntou o meu, queira me levar para algum lugar
com interesses escusos. — Brinco com ela, mas acho que estou há tanto
tempo fora do jogo da paquera que me perdi.

— Ah, que bonito, você é. Mas eu te ofereço o seguinte: hoje a


noite, eu serei a sua gata e você será o meu gato, nomes são super estimados,
não acha? Eu quero transar com você até te esgotar, se quiser usar a minha

boceta de todas as formas possíveis, sem expectativas para o dia seguinte, é


só me seguir. Se não for, uma pena, mas sem ressentimentos.

Ela solta a bomba enquanto segura o meu rosto intimamente e eu


quase gozo ali mesmo.

Depois simplesmente se levanta, indo em direção ao caixa.

Eu não hesito.
A vida é feita de escolhas e essa pode não ser a minha escolha mais
inteligente, mas não posso deixar de sentir o gosto dela.

Sigo minha gata como um gato vagabundo e perdido e alcanço sua


mão, que ela segura firmemente, sem surpresa, apenas com um ar de
satisfação.

O manobrista já está com o seu carro dela a espera, e ela tem um

bom gosto do caralho, é a única coisa que eu consigo pensar, enquanto


lembro do meu bem precioso sendo vendido há três meses atrás, quando
decidi que comer era mais importante do que continuar com o carro na
garagem.

Dou a volta, abro a porta e ela já está segurando o volante, uma


carícia, enquanto sai com o carro, muda a marcha e pega a minha mão,
colocando-a em sua coxa, levantando uma das sobrancelhas em desafio.

Não perco tempo e começo a subir minha mão por sua coxa e

encontro o final da meia com o início de uma liga até alcançar a sua boceta,
que contorno com os meus dedos, brincando com seus lábios macios e
pingando.

Estou hipnotizado pela sua sensualidade e o meu jeans está quase


cortando o meu pau ao meio, quando tenho que me ajustar e percebo que ela
está parando em um motel.
Merda, merda, merda. Estou sem grana para pagar um quarto, vai ser
ficar sem comer por uma semana por causa de uma foda, vale a pena? Me

questiono, mas nesse meio tempo, ela já passou o cartão dela para a moça no
guichê e estamos indo em direção às garagens.

— O que comeu a língua do meu gato? — Ela brinca e não espera


que eu responda — Eu convidei, eu pago.

Respiro fundo e jogo as minhas precauções e preconceitos ao vento.


Agarro ela assim que estaciona na vaga.
II

A nossa primeira foda foi brutal.

Sempre gostei de uma pegada mais firme na cama, mas foi a

primeira vez que eu fui fodido. Não me olha torto, não dei o cu, eu continuo
virgem lá, muito obrigado. Mas a gata esteve ali comigo, passo a passo, lado
a lado.

Foi libertador, foi gostoso demais, foi sexy, foi escandaloso, mas
verdadeiro.

Não teve caras e bocas, nem suspiros ensaiados.

O sexo foi animalesco, cheio de grunhidos e gemidos de ambas as


partes e agora eu estou aqui deitado esperando ela voltar do banheiro, com a

camisinha pendurada no meu pau, que parece muito animado, já a meio


mastro de novo.

Retiro a borracha cuidadosamente e dou um nó na ponta, quando ela


sai do banheiro parecendo muito satisfeita e pega uma água no frigobar,
aproveito para dar um impulso e sair da cama, mas sinto o olhar dela me
admirando, me cobiçando, o que eleva o meu ego e infla mais ainda o meu
pau.
Uso o banheiro que fica num box no complexo onde estão uma linda
banheira que já está enchendo e uma piscina iluminada e quando saio, ela já

está ali dentro, me chamando com o dedo.

— Gananciosa, gata, gosto assim. — piso na água que está perfeita e


vejo que há dois pacotes de camisinha colocados ali. — Gosto muito assim
— afundo ao lado dela, puxando-a para um beijo, alcançando sua boceta ao

mesmo tempo, quando meto dois dedos bem gostoso.

Ela está inchada e macia, rebola nos meus dedos e alcança o meu
pau, acariciando com firmeza. O perfume da espuma é bem erótico e poderia
ser estranho essa intimidade com uma desconhecida. Mas parece certo.

Ela segura minha mão firmemente em sua pelve, raspando seu


clitóris em minha palma, e quando parece que vai explodir em um novo
orgasmo ela retira os meus dedos, levando um deles até o enrugado do seu
cu.

— Gata, você é o sonho molhado de qualquer homem, puta merda


— eu falo em seu ouvido enquanto brinco com o seu buraco, sentindo-a
relaxada e receptiva, enfio até a primeira junta, o que a faz gemer.

— Hum, gato, assim mesmo que eu gosto, você também é o sonho


molhado de qualquer mulher, com esse pau gostoso, dedo habilidoso e
carinha de bom moço, hum, enfia tudo que vou gozar gostoso ela continua
rebolando e se empala em meu dedo, quando percebo que está se
masturbando com sua outra mão, seus dedos encontrando o meu e através da

pele fina que separa sua boceta de seu cu, enquanto bate uma punheta
gostosa.

— Que delícia de foda, acho que poderia querer uma mulher assim
para mim — divago fodendo-a e sinto-a endurecer a coluna o que

rapidamente conserto enfiando outro dedo junto ao que já está em seu buraco
apertado, preparando o seu cu para receber o meu pau.

Estou a ponto de gozar, então paro de beliscar os bicos de seus


peitos que parecem duas balas gostosas e durinhas para caralho e seguro a
mão dela, me retirando colocando a camisinha, quando ela rapidamente
entende e se vira de quatro.

Não precisamos de palavras e eu coloco o meu pau na sua entrada,


ela me recebe abraçando o meu pau, sugando-o deliciosamente e o meu corpo

começa a formigar de tanto prazer.

Ela volta a enfiar os seus dedos na boceta e eu posso senti-la roçando


o meu pau lá dentro, o que me enlouquece e faz martelá-la até que esteja
gritando e gozando com espasmos deliciosos.

Saio dela para trocar o preservativo rapidamente, pois vou comer a


sua boceta deliciosa, ela se abaixa, mas eu sustento o seu peso, penetrando-a
novamente, agora sentindo a sua boceta me agarrar e o seu clitóris inchado e
judiado.

Com a outra mão, envolvo o seu cabelo sedoso em um agarre,


puxando-a ao meu encontro. Ela segura os dois peitos, apertando-os e depois
de alguns golpes, gozamos satisfeitos, ficando moles, caindo um para cada
lado, apenas o contato de nossas pernas na água já gelada e sem espuma.

Em alguns minutos ela se recupera, saindo da banheira e pegando


uma toalha, enquanto eu ainda estou com os meus sentidos sobrecarregados.

— Beba aqui, gato, você merece. — Ela volta me oferecendo uma


água ainda fechada, que eu aceito e abro, tomando o conteúdo de um só gole.
— Hum, que delícia, acho que alguém está drenado. — Ela também está com
uma lata de suco na mão e dá um gole satisfeita.

— Me dá uma hora e um suco desses que vou te mostrar que está


drenado, gata. — Eu a provoco.

Posso dizer que a terceira vez envolveu um sessenta e nove de


arrasar o sexo para mim com qualquer outra mulher e eu acordando na
madrugada com um bilhete de agradecimento pela foda e uma nota de
cinquenta reais para meu transporte.

Diga-se sobre papeis trocados e sentir-se mal. Eu me senti uma


prostituta bem usada e acho que poderia admitir, nesse momento ímpar e
sozinho de extrema vulnerabilidade, estar um pouco perdido e apaixonado
pela gata misteriosa e não tinha como encontrá-la novamente.

Só me restou ir embora, lamber o meu ego ferido em minha


residência, alguns chupões e arranhões as únicas lembranças dessa noite
inesquecível.
III

Orgulho ferido e tudo, a animação com o novo trabalho me fez


colocar os fatos em perspectiva e resolver esquecer a gata misteriosa. Hoje

ela é apenas memória e o meu primeiro dia de trabalho começa literalmente


com uma cagada.

Está achando engraçado? Só porque não foi com você que


aconteceu!

Primeiro dia de trabalho é algo que pode ser muito opressor. Eu


tinha muitos motivos para estar nervoso, afinal, onze meses à procura de um
emprego não é algo que deixa uma pessoa exatamente otimista.

Nesses meses, perdi muitas coisas, dentre elas, a minha noiva, que

não estava disposta a ficar na pobreza comigo e decidiu que o meu ex amigo,
ex companheiro de trabalho e o cara que puxou o meu tapete era o material
de relacionamento perfeito para ela; a minha privacidade, já que fui obrigado
a dividir o meu apê com outros dois amigos para não ir parar na rua e a minha
dignidade pois aceitei essa vaga bem inferior ao meu antigo emprego para
assessorar um CEO nessa grande multinacional.

Fui demitido quando estava em um cargo de gerência e prestígio,


trabalhando para uma multinacional concorrente, mas não estou disposto a

deixar o meu orgulho e o meu ego me levarem para baixo. É uma grande
oportunidade e eu vou fazer o meu melhor.

O meu melhor, no momento é conseguir acesso ao banheiro do hall


do prédio de escritórios que acabei de entrar, para tentar limpar a minha
gravata e camisa, já que uma criança no colo da mãe no metrô achou que

seria interessante grudar o pirulito vermelho e muito babado em mim.

Eu sei, sou sortudo assim.

Mas o banheiro masculino está com a plaquinha que indica que a


limpeza está acontecendo e o meu horário está se esgotando.

O banheiro feminino encontra-se ao lado, aberto, tão convidativo.

Olho ao redor e todos parecem apressados em lotar os elevadores


para começar o expediente.

Decido entrar no banheiro feminino e fecho a porta imediatamente.

Abro as torneiras, molhando um chumaço de papel toalha para


começar a limpeza, quando o cheiro do vaso sanitário me atinge.

Olho de relance e quero vomitar, tenho náuseas e reflexo de vômito


que consigo controlar por pouco.

Alguém teve uma caganeira daquelas e nem se deu ao trabalho de


dar a descarga.
Um grande submarino e seus mísseis apontavam para fora e eu não
poderia me aproximar de novo, náuseas me tomando novamente.

Coloquei os papeis na pia e tampei o nariz e os olhos com os dedos


da mão esquerda e a mão direita usei para tatear e mover a alavanca de
descarga.

Foi triste observar a alavanca travada e ouvir a bosta borbulhando.

Quase vomitei por cima, mas consegui fechar a tampa do vaso


sanitário.

Teria que ignorar um problema que não era meu e resolver a mancha
melada.

Fiz o melhor trabalho que pude, a tempo de subir para o escritório e


me apresentar para o chefe, Ariel Esteves era um nome diferente,
desconhecido do meio, mas suponho que deve ser um cara muito foda para
assumir tal posição e eu não via hora de começar a trabalhar e, enfim, receber

o meu primeiro salário, já que salário desemprego e verbas rescisórias há


muito se esvaíram.

Joguei todos os papeis que usei na lixeira e ajeitei a gravata para


sair.

Quando abri a porta, me deparei com uma mulher deslumbrante.

Os meus olhos se arregalaram, e eu tenho certeza, que a minha boca


abriu um pouco também.

Não sou um cara pequeno, pelo contrário, joguei voleibol na

faculdade e era um ótimo atacante, o que contribuiu para o meu físico, algo
do que me orgulho.

Mas a mulher competia em altura comigo, com curvas maravilhosas


e um salto assassino que deixava as suas pernas lindas. Curvas que eu

desvendei com a minha língua de muitas maneiras que deveriam ser


consideradas ilegais há apenas dois dias atrás.

Qual era a probabilidade da minha gata arisca, a que abandona


homens em motéis depois de fodê-los estar ali na minha frente?

Ela levantou uma das sobrancelhas e, de repente me dei conta que


estava usando o banheiro feminino. Merda. MERDA. E aquele monte de
bosta boiando? Com certeza ela vai achar que eu sou o cagão! A minha
expressão deve ter sido de horror, porque ela deu um sorriso simpático

enquanto eu esperava ela sumir da porta, milagrosamente.

— Você! — eu acusei.

Ela cruzou os braços, impaciente.

— Sim, gato, eu. — Ela deu com os ombros de maneira displicente.


E eu não poderia me rebaixar mais. Respirei fundo, tentando inalar o máximo
daquele cheiro de bosta, fechei os olhos e falei:
— Com licença, gata desculpe-me! — não resisti em provocá-la
também, mas corri e fui em direção aos elevadores, pensando, quais seriam as

possibilidades de ela trabalhar nesse mesmo edifício e eu encontrá-la assim,


imediatamente lembrando de como me descartou e como foi fria e distante
agora a pouco, enquanto alisava o meu terno.

— Deve ser casada, isso sim, esquece isso, Bernardo, concentre-se

— resmunguei para mim, atraindo alguns olhares de lado.

Cheguei no último andar e a moça da recepção chamou a moça do


RH que rapidamente veio ao meu encontro falando aceleradamente e
gesticulando:

— Olá, Bernardo, é um prazer tê-lo conosco na nossa equipe,


acredito que vai se encaixar perfeitamente com toda o seu conhecimento e
bagagem! — cumprimentei-a e segui os seus passos, um pouco atordoado
pela maneira que ela atropelava as palavras e se desviava das pessoas,

cumprimentando um e outro e me apresentando superficialmente.

Recebi mais do que um olhar surpreso ou de pena, não achei


exatamente encorajador, mas chegamos na minha mesa que ficava logo em
frente a uma porta dupla extremamente polida, com uma placa dourada
indicando que era o escritório do CEO.

Coloquei a minha pasta e anotei todas as senhas e instruções, em


uma agenda que eu trouxe, mas na gaveta achei o tablet, o celular e outra
agenda, que tinha várias letras, mudando a cada semana. Interessante.

Liguei o computador e fiz o login, quando uma moça entrou para


deixar a correspondência:

— Olá, sou a Susana, estagiária, muito prazer. — Ela se atrapalhou


com os envelopes e sorriu me estendendo a mão.

— Muito prazer, sou o Bernardo. — Aceitei o seu cumprimento e


indiquei a porta — sabe me dizer que horas o chefe costuma chegar?

Ela juntou as sobrancelhas em confusão e depois falou:

— Ah, Bernardo, está falando da chefe! Ariel é ela, não é um


homem, é uma mulher, mas poderíamos chamá-la de feitora de escravos,
grande megera indomada é o seu apelido por aqui, mas nem me pergunte o
motivo, você vai saber daqui a pouco. — Ela olhou furtivamente ao redor e
cochichou — eu espero que consiga passar da primeira semana, achei você

realmente simpático — parecendo hesitar ela olhou novamente para o


corredor, falou mais baixo ainda — se você não olhar diretamente nos olhos
dela, talvez não vire pedra.

Eu comecei a rir, ainda surpreso que o tal CEO fodão era na verdade
uma mulher. Lógico, presumi errado, mas Ariel, afinal pode ser nome de
mulher também, me resignei, negando o fato que a minha chefe seria uma
idiota que afugentava os assistentes e todos os funcionários morriam de medo
dela.

Eu preciso desse emprego se desejo manter-me alimentado e sob um


teto nos próximos meses e não vou deixar nenhuma estagiária me colocar o
terror. Fico distraído com esses pensamentos, quando uma figura caminha em
direção da minha mesa e pânico se instala em meu estômago.

Não é possível. Puta merda. De jeito nenhum eu vou ser esse cara
azarado!

A deusa maravilhosa, a realização de todas a minhas fantasias, a


personificação do pecado e o meu pior pesadelo da privada cagada (por outra
pessoa, mas que ela não sabe), caminha em minha direção e eu desejo que um
buraco se abra no chão ou que ela pare em alguma das mesas no caminho.

Mas é óbvio que isso não acontece.

Ela continua vindo e não para até chegar na minha frente e eu

finalmente tomo coragem para olhar para cima.

Os olhos dela parecem duas bolas de gude verdes. Não me lembrava


deles tão claros e frios, talvez porque suas pupilas estavam tão dilatadas de
prazer que tomavam quase toda a íris.

Mentalmente me estapeio porque ela deve achar que eu sou um


cagão tarado que invade banheiros femininos, ou uma vítima fácil para
qualquer uma pegar em um bar, mas agora estou distraído, hipnotizado e falo:

— Pois não? Posso ajudá-la?

— Espero que sim, senhor — ela faz uma pausa e olha em um papel
na sua mão — Bernardo de Sousa. Eu sou Ariel Esteves, vamos, — ela indica
a porta, nenhum indício de deboche ou de que ela tenha me reconhecido, a
não ser suas mãos em um aperto de morte no papel — siga-me para o

escritório, traga a agenda e o tablet que tempo é dinheiro e não tenho nenhum
dos dois a perder.

Sigo-a depois de ajeitar a minha gravata e pegar tudo. De jeito


nenhum vou me mostrar intimidado por ela.

Observo de pé ela deixar o seu blazer nas costas da cadeira e a sua


pele cremosa contrastando com uma camisa preta de cetim me faz suar. Não
perco a nova inversão dos nossos papeis e tento achar uma posição em pé
confortável, já que ela não pediu para eu me sentar.

— Senhor Bernardo, por favor, sente-se. — Ela indica a cadeira e eu


penso satisfeito: vejam, ela até é capaz de ler minha mente, um bom sinal,
vamos nos entender, vamos superar tudo isso, talvez ela tenha uma irmã
gêmea que foi a mulher que eu fodi — Vamos começar por...

Durante trinta minutos, ela fala e eu tomo notas, questiono e sempre


solícita, acordamos o esquema de trabalho. Nenhuma ameaça, nenhum
chilique, nenhum discurso de eu sou mulher e espero que como homem
você... (minha criação é machista e enquanto eu quero muito mudar isso é

impossível não cair em armadilhas como essa), nenhum olhar mortal.

A mulher é profissional até os ossos e eu posso respeitar isso.

Estou tomando notas mas não posso mais ignorar o grande elefante
branco que está na sala conosco e resolvo tirar o curativo de uma vez só.

— Senhora Ariel, sobre a outra noite, eu...

— Senhorita Ariel, não sou casada, senhor Bernardo. — Respira


fundo, parecendo vulnerável e cansada desde a primeira vez que nos vimos.
— E sobre a noite de sexta-feira — me olha diretamente nos olhos — ela
nunca aconteceu. Estamos entendidos?

Eu tenho duas alternativas: armar a discussão sobre um


relacionamento que nem aconteceu, afinal tivemos uma transa que foi
consensual, anônima e descartável (pelo menos para ela) ou fingir que tudo

não passou de um sonho e me concentrar na minha sobrevivência na empresa.

— Tudo bem, nunca aconteceu. — Peço licença para começar a


trabalhar e quando estou abrindo a porta para sair ela interrompe com um ar
impertinente:

— Espero que sua indisposição intestinal tenha passado, senhor


Bernardo, e saiba que usar o banheiro feminino e ainda deixá-lo naquelas
condições, é imperdoável.

Fecho os meus olhos e resolvo que o meu silêncio será a melhor

resposta, e assim que fecho a porta bato minha cabeça algumas vezes na
parede, colocando o meu juízo de volta no lugar.
IV

Três meses pode parecer muito tempo se você está ocioso, mas se
está trabalhando como escravo, sob as ordens de uma maníaca por controle,

uma feitora de escravos e a própria medusa, como a colega estagiária tão bem
sugeriu, você poderia entender o motivo de eu não ter visto o tempo passar.

Mas posso admitir que é gratificante e desafiador, não me encolher


diante das demandas de Ariel, bem como olhar todo o escritório espantado
com a nossa dinâmica.

Eu posso ser tão persistente quanto ela, e isso me causa uma certa
dor e saudade, principalmente nas sextas e sábados a noite quando estou em
casa em estado vegetativo de cansaço e fico imaginando-a pegando outro cara
em um bar...

Confesso que o casamento da minha ex passou e eu nem me lembrei,


tão distraído pela minha CEO indomada que eu estava.

Eu tentava esquecer todos os dias, mas o corpo dela, o olhar e a


lembrança do seu gosto em minha língua bem como dos seus gemidos era
como um letreiro em neon piscando.

Mas tudo mudou novamente.


Estávamos saindo do escritório tarde da noite, sexta-feira, todos os
outros há muito haviam saído. Ela toda arrumada, ao encontro de usa amigas

no mesmo bar onde nos conhecemos, pois tenho acesso a sua agenda pessoal
também.

Aquilo me enfureceu durante todo o dia e eu estava em meu pior


comportamento, parecendo um bicho enjaulado.

Quando subimos no elevador e ela passou a língua pelos lábios, eu


bati a minha mão no botão de emergência prendendo-nos entre os andares,
enjaulando-a em meus braços.

— O que pensa que está fazendo, senhor Bernardo? — Ariel me


advertiu, sem uma gota de medo ou alteração em sua expressão, mas as suas
pupilas dilatadas e o pulso visivelmente alterado em seu pescoço me
contaram outra história e eu resolvi jogar todas as minhas cartas de uma vez.

— Se eu colocar a minha mão entre as suas pernas agora e a sua

boceta não estiver molhada, eu prometo que continuo fingindo que aquela
noite nunca aconteceu. — Sussurrei em seu ouvido enquanto segurei sua
coxa e fui subindo uma de minhas mãos.

— Isso não é apropriado e eu tenho certeza que... — ela balbuciava e


nunca a vi tão sem palavras.

— Me diz para parar, Ariel.


O peito dela começou a subir e ela ofegou quando atingi sua
calcinha de seda que estava encharcada de tesão.

Melei o meu dedo e saí de perto, assim que o elevador deu um novo
tranco, retomando o seu caminho e eu lambi o dedo com o gosto dela, nossos
olhos nunca se afastando, um duelo sendo travado.

Chegamos ao térreo e Ariel se virou para sair, seu andar firme e

decidido, meu coração pisoteado e o orgulho ferido, eu não daria o meu braço
a torcer novamente, também saí em seguida, cada um de nós tomando
direções diferentes pois o carro dela ficava estacionado logo ao lado e eu não
queria encontrá-la.

Barulhos de passos em um salto fizeram-me virar e fiquei surpreso


por Ariel se jogar em meus braços, me desequilibrando e empurrando-me no
beco lateral, onde ficavam as lixeiras.

— Então você acha que pode me provocar assim e ficar por isso

mesmo, Bernardo? — Ariel falava entre os beijos agressivos alternados com


mordidas que me dava enquanto se esfregava descaradamente no meu pau.

— Eu só acho que você é a mulher mais gostosa que eu já encontrei,


a CEO mais indomada e a megera feitora de escravos perfeita para mim.
Estou petrificado por você, minha medusa, não sei mais como negar isso, e se
eu tenho que abrir mão do trabalho para ter você, é isso o que vou fazer.
Eu fui prometendo entre mais beijos e carícias, deixando-a mais
desesperada com minhas palavras.

— E eu acho que você é um risco que eu não calculei direito,


Bernardo, mas também te quero, vamos dar um jeito em tudo, não vai se
preciso abrir mão de nada, agora cala a boca e me beija.

Foi a minha primeira transa a seco na rua prensando uma mulher

contra a parede e foi a revelação que nós dois precisávamos para entender
que éramos dois lados de uma mesma moeda.

Foi o nosso recomeço, foi a nossa redenção.

Estávamos saindo do beco arrumando as nossas roupas, quando a


minha barriga roncou, a fome me denunciando.

— Epa, meu gato, corra até o hall novamente, mas antes de usar
quaisquer dos banheiros, confira se a válvula da descarga está funcionando!
— Ariel me provocou.

— Quanto a isso, veja bem, estou com fome e não com dor de
barriga e aquele dia... — Eu comecei a explicar a ela a história verdadeira de
como fui limpar a minha camisa e gravata e o outro banheiro estava
interditado e aquela diarreia era de outra pessoa.
V

— Papai, papai, conta de novo como a mamãe não acredita até hoje
que você não é um cagão! — Isadora implora antes de dormir.

— Nada disso, minha filha, não use essa palavra novamente, já


combinamos que não é legal e o papai já te contou uma história para dormir,
boa noite! — dou um beijo em sua testa e abaixo a luz do abajur.

— Boa noite, papai, amanhã você vai nos comprar churros de doce
de leite? Eu e Isadora prometemos que não vamos para a cama com você e a
mamãe. — Igor fala de sua cama, os olhinhos brilhando com a promessa do
doce durante a semana.

— Shhh, é nosso segredo! — coloco os dedos nos meus lábios e saio

do quarto das crianças, indo em direção ao nosso quarto, onde espero comer
minha Ariel a noite toda.

Assim que abro a porta, ela já está na cama, óculos no rosto,


notebook no colo.

— Hum, amor, vamos lá, guarda isso, as crianças já estão na cama,


vem comigo para o banho, vem... quero começar lá hoje. — Eu a convenço,
mas ela já está fechando o notebook, colocando-o de lado, enquanto tira os
óculos e vejo que está usando apenas a minha camisa.

— E você vai me recompensar com churros de doce de leite

também? — Ela brinca e eu me lembro da babá eletrônica que mantemos


ligada com o monitor ao lado da cama.

— Posso pensar em um leitinho que você vai querer e que vou te dar
agora! — rosno em seu ouvido, e abaixo chupando o seu peito delicioso.

— Anda logo, senhor Bernardo, vamos lá para que cumpra a sua


promessa, caso contrário, posso pensar em alguns castigos para você. — Ela
ameaça segurando o meu pau que já está muito duro, com força.

— Minha promessa é dívida, senhora Ariel. Vem aqui, porque você


é minha, toda minha, e o mais importante é que desde aquela nossa primeira
noite, eu sou seu, todo seu. — Eu reafirmo os meus votos com as minhas
palavras, com o meu corpo e com o meu coração.

A nossa paixão que continua queimando como se fosse há dez anos

brilha linda iluminando a vida que criamos juntos. Continuamos trabalhando


juntos, como uma equipe e superamos os obstáculos que a vida nos colocou.

Admitir e assumir o meu romance com a minha chefe foi um divisor


de águas, bem como foi para Ariel, assumir o relacionamento com um
subordinado. Muitas vezes os nossos piores empecilhos foram nossos
próprios preconceitos e tivemos que nos reinventar, sempre com o
compromisso de não mudarmos a nossa essência, a nossa individualidade.

Foi fácil? Nunca é, pois as pessoas gostam de julgar os outros por si

mesmas, medindo-nos com as mesmas réguas curtas que usam para medir as
suas vidas insignificantes e infelizes. A sociedade é machista e dificilmente
aceita a inversão dos papeis, mas desde o início estabelecemos as nossas
prioridades, construindo o respeito e o amor, depois da paixão avassaladora e

da química inegável que sempre tivemos.

Mas nada que vale a pena vem para nós sem lutas e sem sacrifícios e
estamos dispostos a enfrentar o mundo do jeito que somos, feitos um para o
outro.
Sobre a Autora
Patrícia Gomez é casada e mãe de dois filhos. Mora na região
metropolitana de Campinas/SP.

Para essa leitora eclética e apaixonada pela família, ensino, artes e

culinária, escrever é um desafio prazeroso e a realização de um sonho.

Suas crônicas podem ser lidas às sextas-feiras na página do


Facebook Liga dos 7 e suas resenhas no blog Cinderelas Literárias.

Utilizando o pseudônimo P. F. Gomez, seus romances independentes


A rosa enfeitiçada, Cartas Marcadas e Sentença de amor, bem como os seus
contos, Presente Inesperado e A sombra e a fada (Antologia Vivendo na
Terra do Nunca, editora Rico) estão à venda em formato tradicional no site da
autora. Além disso também são encontrados à venda em formato digital, no
site da Amazon ao lado dos contos Na dúvida, fique em casa, Na dúvida, siga

o seu coração, Na dúvida, não fale com estranhos, Te conheço desde outros
carnavais, Rock Passion: do ódio ao amor, Decisão (Antologia Cicatrizes da
alma) E agora? Antologia Se toca) e Eu escolho ser feliz (Antologia
Mulherão da Porr@, editora Rico).

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