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SINOPSE

PLAYLIST
CAPÍTULO 1

O DIABO RESSURGIU

— Eu fodi tudo.

As palavras arrastadas são enterradas no meu travesseiro,


onde definitivamente não há uma pilha quente de baba se
acumulando. Há uma batida constante na minha cabeça, e eu me
viro, fechando os olhos com força para a luz do sol queimando
como raios laser através da janela do meu quarto.

Minha merda gira em torno do motivo da dor de cabeça batendo


no meu crânio: a quantidade de álcool que consumi ontem à noite
e Carter.

Maldito Carter. A razão por trás de 99% das minhas cagadas,


especialmente as movidas a álcool.

Daí o vídeo que é atualmente o assunto principal em nosso


bate-papo em grupo do hóquei, Puck Sluts, quando consigo
encontrar meu telefone.

Qual é o vídeo? Eu, de cabeça para baixo e segurando um barril


de cerveja enquanto meus companheiros Emmett e Garrett me
seguram pelas pernas, Jaxon filmando, e Carter segurando o bico
na minha boca, falando merda para me manter em movimento. E
quem são os Puck Sluts? Nós, obviamente.

Garrett: Você ainda está dormindo, Woody?

Woody é uma versão abreviada do meu sobrenome, Lockwood.


Ah, e também porque os caras uma vez me pegaram me
masturbando no meu quarto de hotel. Não é meu momento de
maior orgulho, e eles não vão deixar passar. Mas ei, eu estava, tipo,
mil e quinhentas milhas de distância da minha namorada, e com
apenas dezenove. Processe um cara por tentar obter algum alívio.

Carter: Dormindo com sua ressaca como um bebezinho,


assim como minha garotinha.

Em anexo está uma foto de sua filha de cinco meses, Ireland,


tão doce quanto seu pai é irritante.

Carter: Até Ollie está de pé e ela teve 3 barris.


Recomponha-se.

Ok, bem, isso não é justo. Sua esposa, Olivia, é uma campeã
quando se trata de beber, embora ela mal seja do tamanho do copo
que compro na Starbucks para meu cachorro. Além disso, mereço
desabafar. Meus amigos estão todos se acomodando, exceto Jaxon,
e não estamos nem perto de estar no mesmo nível. Ele sai em
vários encontros por mês para transar; eu saio em vários
encontros só para voltar para casa sozinho, desapontado e
cansado de procurar por algo que provavelmente nem está
disponível neste momento. Não para mim, de qualquer maneira.

Emmett: Vocês estão prontos para uma sessão de


patins esta manhã?

Garrett: 30 minutos? Jennie está prestes a me levar


para um passeio.

Carter: Foda-se.

Garrett: Prefiro foder sua irmã.

Carter: Vou matar você, porra.

Emmett: Pai??? É aqui que você intervém.

Sou o pai e meu trabalho não oficial é manter Carter e Garrett


a salvo um do outro. Carter ainda está chegando a um acordo com
um de seus melhores amigos namorando sua irmã mais nova, e
Garrett se transformou em uma merda um tanto hostil que adora
jogar na cara que ele está pegando Jennie regularmente. É muito
divertido ver alguém irritar Carter tanto quanto ele irrita o resto de
nós, mas não sou fisicamente capaz de manter os dois vivos hoje.

Eu: Estou deixando a seleção natural seguir seu curso hoje.


Garrett: WTF1? Vai apenas deixar Carter vir atrás de
mim?

Jaxon: Não sei se vou conseguir. Acho que distendi


minha virilha. Além disso, RIP2 Gare-Bear.

Emmett: Fazendo o quê?

Jaxon: *emoji sorridente* Você quer dizer fazendo


quem.

Gemendo, balanço minhas pernas para fora da cama e me


sento. Todo o sangue sobe à minha cabeça, e pressiono meus
dedos contra a dor latejante em minhas têmporas antes de digitar
minha próxima mensagem, que é mais um pedido do que qualquer
coisa. Simplesmente não consigo funcionar hoje sem comer o
suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas.

Eu: Porra. Big Mac, por favor.

Os meninos estão ansiosos para rodar com os patins e ir ao


McDonald's, então ligo o chuveiro do meu banheiro para lavar o
máximo que posso dessa ressaca antes de afogar o resto em
hambúrgueres gordurosos e batatas fritas salgadas.

Meu pau está alto, balançando contra meu umbigo, implorando


para que eu cuide da minha ereção matinal. Quando entro na água

1
Sigla para What The Fuck, na tradução: Que Porra É Essa.
2
Sigla para Rest In Peace, na tradução: Descanse Em Paz.
morna e envolvo meu punho em meu pau, minha outra palma
contra a parede de mármore, deixo cair minha cabeça e gemo.

Eu tenho fodido minha mão por tanto tempo agora, eu nem me


lembro o que é estar dentro de alguém. E honestamente? Estou
cansado. Não é do sexo que sinto falta, mas da conexão. Minha
pessoa costumava ser meu mundo inteiro, acima do hóquei, acima
de tudo.

E em um único momento, ela destruiu esse mundo.

Ela pegou tantos pedaços de mim e jogou-os aos pés,


transformando-os em pó sob seus saltos pontudos pra caralho.

Eu não sinto falta dela. Sinto falta do amor que já existiu, do


corpo que segurei contra o meu todas as noites, de como meu
coração disparava toda vez que ela sorria para mim. Sinto falta do
jeito que ela me amava antes de...

Parar.

Ela parou, e agora não sei se algum dia encontrarei alguém que
me ame pelo que sou.

Não Adam Lockwood, goleiro superstar. Não o menino de ouro


da NHL, o ingresso para o luxo, eventos de primeira linha,
propriedades de férias e nunca mais ter que trabalhar outro dia
em sua vida.

Apenas eu.

Afasto os pensamentos no mesmo momento em que percebo


que meu pau ficou mole. Rindo, eu pego o sabonete e me ensaboo.
Nada mata um tesão mais rápido do que pensar em Courtney.
Quando saio do chuveiro, percebo que meu cachorro, Bear, não
está no meu quarto. Ele fica grudado no meu quadril, os mais de
sessenta quilos dele, e geralmente gosta quando estou bebendo,
porque fico mais carinhoso. Meu telefone diz que passa das dez,
então o pobre rapaz provavelmente está praticando seu melhor
drama, fingindo-se de morto em sua tigela na cozinha.

Coloco uma cueca boxer e desço as escadas correndo, sem


parar ao som de pratos batendo na cozinha. É típico acordar com
alguns colegas de equipe ainda por perto na manhã seguinte a
uma festa, mas não espero a loira de pernas compridas desfilando
pelo corredor, bem na minha direção. Ela termina de aplicar o
brilho labial rosa enquanto seus olhos vagam sobre mim, parada
aqui quase nua. — Obrigada pela diversão, bonitão. — Com a mão
no meu tronco, ela pressiona um beijo demorado na minha
bochecha, fazendo-a esquentar.

— Uh... — Eu corro minha mão pelos meus cachos


despenteados. — Eu não sei quem você... o que... diversão?

— Tudo isso. — Ela pisca, calça um par de saltos vermelhos e


sai, deixando-me super confuso.

Nós não...?

Não, porque eu nunca faria isso. Certo? E se tivesse, com


certeza me lembraria. Sexo com uma estranha? Não eu, não em
meu juízo perfeito.

A menos que eu não estivesse em meu juízo perfeito.

Balanço a cabeça, suspirando quando vejo Bear no canto da


cozinha. — Aí está você, amigo.
Olhos cor de chocolate se voltam para mim, cheios de desdém.

Caindo de joelhos, enterro meus dedos em seu pelo grosso e


escuro. — Eu sei. Desculpe. Não queria deixar você fora da cama
e estou atrasado para o café da manhã. Eu bebi demais ontem à
noite. Perdoe-me?

Ele bufa, lambe meu nariz e volta a olhar fixamente.

Exceto que não sou eu que ele está olhando.

Seguindo seu olhar por cima do meu ombro, meu coração para
nas pernas nuas no meu fogão. Eu acompanho os membros longos
até minha camiseta dos Vipers que mal cobre sua bunda. Mais
para cima, para o cabelo ruivo vibrante caindo nas costas
enquanto ela cozinha na minha cozinha.

— Ele está super mal-humorado esta manhã — uma voz alegre


me diz enquanto ela adiciona bacon à frigideira quente. — Eu fiz o
café da manhã dele uma hora atrás, mas ele não tocou nele.
Apenas fica olhando para mim.

Levantando-me lentamente, eu olho para as costas da ruiva


fogosa, esperando que, oh, eu não... entre em combustão? Meus
punhos cerram, sangue trovejando em meus ouvidos. Bear fica de
pé ao meu lado, um rosnado baixo ressoando em seu peito.

— Lá vai ele de novo com o rosnado. Você o está mimando


demais, Adam. Você sempre mimou.

— Dê o fora da minha casa.

Minha ex-namorada gira, olhos azuis condescendentes me


prendendo com um beicinho pelo qual eu costumava desmoronar.
— Isso é jeito de falar comigo, baby? — Ela se aproxima, as
pontas dos dedos deslizando através dos pelos do meu peito antes
de sua palma se curvar em volta do meu pescoço. — Era uma vez,
esta casa também era minha.

— E então você fodeu outra pessoa na minha cama. — Eu tive


que comprar um colchão novo, e Carter me convenceu a comprar
o escandalosamente caro em que durmo agora. Um ganha-ganha,
realmente, considerando todas as coisas.

Ela passa o braço em volta do meu pescoço, dando-me aqueles


grandes olhos azuis que eu costumava amar. — Se você tivesse me
dado mais atenção, eu não teria procurado em outro lugar. Mas
estou disposta a superar isso se você estiver. — Seu lábio inferior
desliza entre os dentes. — Você parecia disposto ontem à noite
quando me deixou entrar.

Eu a deixei entrar? Bêbado ou sóbrio, de jeito nenhum eu


deixaria essa diaba entrar em minha casa.

Eu busco as memórias da noite passada enquanto tiro o braço


dela de cima de mim, mas não consigo. — Eu não deixei você
entrar.

— Então como vim parar aqui, Adam? Por que estou com sua
camiseta, preparando o café da manhã na sua cozinha?

— Diga-me. As bruxas têm todos os tipos de superpoderes, eu


ouvi. — Passando por ela, desligo o fogão e tiro a panela do
queimador, mandíbula cerrada.

Esta não é a garota quieta cuja mão estava úmida quando a


peguei em nosso primeiro encontro. Não a mulher com quem dei
minha virgindade aos dezessete anos. Não a parceira com quem
construí sonhos, moldei minha vida ao redor.

Mãos macias deslizam lentamente pelas minhas costas e fecho


os olhos enquanto ela envolve os braços em volta da minha
cintura, entrando em mim.

— Sinto sua falta — Courtney sussurra. — Por favor, Adam.


Podemos ser felizes novamente. — Lábios quentes tocam meu
ombro e, por um momento, afundo na conexão.

Eu quero algo. Eu quero ser necessário. Estimado. Amado.

Não, eu não quero apenas isso. Eu desejo isso.

E ela não pode me dar nada disso.

— Eu mereço mais. — Virando-me, afasto seus braços e pego


seu queixo em minha mão, forçando seus olhos nos meus,
certificando-me de que ela ouça minhas palavras. Esta será a
última vez que as falarei. — Eu mereço mais do que você pode me
dar, Courtney. Eu mereço melhor.

E eu vou encontrar.

Seus olhos se arregalam, encobrindo enquanto ela balança a


cabeça. — Não. Adam, não.

— Sim. Nada sobrou. Vá embora e não volte.

Eu sigo em frente, forçando-a pelo corredor, até que suas


costas batem na minha porta na entrada.

Sua expressão contém toda a traição de um mestre


manipulador. — Como você pode jogar fora tudo o que tínhamos?
Eu dei a você tanto tempo para superar isso, Adam. Por que você
não consegue superar isso?

Alguém realmente supera voltar para casa e encontrar sua


namorada transando com outro cara na sua cama, o anel de
noivado que ele planejou dar a ela enfiado na gaveta de roupas
íntimas?

Abro o armário, encontrando sua bolsa e sapatos


cuidadosamente guardados lá dentro, como se ela já tivesse
decidido ficar. Eu os coloco em suas mãos e olho para a camisa
que ela está vestindo. Não quero saber como ela colocou as mãos
nisso. — Dê-me a porra da minha camisa e vá embora.

Seu olhar escurece, e ela puxa a camisa sobre a cabeça,


jogando-a aos meus pés.

— Jesus Cristo — murmuro enquanto ela está diante de mim,


completamente nua.

— É melhor dar uma boa olhada — Courtney estala,


arrancando um vestido de sua bolsa. Ela o coloca sobre a cabeça
antes de vestir a calcinha. — Será a última vez que você verá este
corpo.

— Esperançosamente.

Ela se engasga, e sua palma atinge minha bochecha.

Abro a porta da frente. — Saia.

Bear late concordando ao meu lado, fazendo Courtney pular.

Ela pisa na varanda e abre a boca, mas antes que ela possa
usá-la, eu bato a porta na cara dela.
Bear cutuca minha coxa com o nariz molhado. Ele sorri para
mim, a língua pendurada para fora da boca, e eu solto uma risada.

— Eu pensei que era um pesadelo também — digo a ele,


coçando suas orelhas e voltando para a cozinha. — De que outra
forma Voldemort apareceria aqui?

Bear uiva, avançando para devorar seu café da manhã


enquanto eu examino o desastre diante de mim. O interior da
minha casa não está tão ruim, mas me encolho ao ver meu quintal.
Unicórnios flutuantes enchem minha piscina e, entre eles, dois
pênis infláveis gigantes com os quais Carter e Emmett lutaram
com espadas em um ponto. Muito obrigado, Cara, por trazer esses
artigos. Copos vermelhos estão espalhados pelo quintal, alguns
biquínis aleatórios, embora eu não me lembre de uma única garota
nua na minha piscina ontem à noite. Na verdade, Jaxon é o único
que ameaçou tirar a sunga.

A limpeza é a última da lista de coisas que quero fazer agora.


Estou desesperado por um Big Mac, ou cinco, então subo as
escadas para me vestir, deixando de lado a bagunça.

Uma das portas do quarto se abre e Jaxon sai, puxando uma


camisa sobre a cabeça. Ele sorri, passando os dedos pelo cabelo
antes de escondê-lo sob um boné. — Onde você desapareceu
ontem à noite?

— Huh? Desapareci?

— Você sumiu da face da terra, cara. Imaginei que tinha ido


para a cama. Você não se lembra? Aqueles barris realmente
foderam você, hein?
Eu esfrego minha têmpora. — Eu não faço uma barraca de
barril desde o colégio.

— E ainda assim você deixou Carter convencê-lo a fazer três


deles.

Eu deixo Carter me convencer de um monte de coisas quando


estou bebendo, porque ele tem um jeito de fazer a maioria das
coisas parecerem ideias engenhosas. Excluindo ontem à noite,
obviamente, porque ainda estou tentando descobrir como e
quando Courtney entrou aqui.

— Ei, por acaso você viu uma ruiva aqui ontem à noite? —
Jaxon só se juntou à nossa equipe no ano passado, então ele
nunca teve o desprazer de conhecer Courtney. Ele também é o
único outro cara solteiro em nosso grupo, então se alguém esteve
por perto o suficiente ontem à noite para notá-la, seria ele.

— Ruiva? Esta é o diabo ao qual você estava se referindo ontem


à noite?

— O quê?

Ele dá de ombros. — Sim, nós estávamos na piscina com


algumas garotas depois que Carter, Garrett e Em saíram, e uma
nova onda de pessoas apareceu. De repente, seus olhos ficaram
enormes e você disse: ‘Puta merda. O diabo ressuscitou.’ Então
você pulou da piscina, disse: ‘Eu nunca estive aqui’ e fugiu como
se sua bunda estivesse pegando fogo.

Merda. Ok, então ela definitivamente estava aqui. Estremeço só


de pensar, mas pelo menos tenho certeza de que nunca a tocaria,
não importa o que ela insinuasse. Mas e aquela loira de antes?
Aquela que me agradeceu pela, hum... diversão. Ela estava falando
sobre a festa ou...?

— Você não, uh, viu... quero dizer, eu não, uh... eu — limpo


minha garganta em meu punho — dormi com alguém noite
passada?

As sobrancelhas de Jaxon mergulham antes que a risada


exploda de seu peito. — Cara, como eu vou saber? Eu não estava
sentado do lado de fora da sua porta. Estava ocupado.

Na hora certa, unhas cor-de-rosa pousam em seu torso,


escorregando por baixo de sua camisa. Uma pequena loira espreita
ao seu lado, e Jaxon sussurra: — Bom dia, baby — antes de
pressionar seus lábios nos dela.

— Liga para mim. — Ela enfia um pedaço de papel na mão dele,


sorri para mim e beija minha bochecha. — Obrigada pela festa,
Aaron.

— Adam — murmuro enquanto ela passa. Eu me viro para


Jaxon, levantando minhas sobrancelhas para seu sorriso irritante.
— Você não pode apenas... — Meu queixo cai, uma morena
aparecendo atrás dele. Ele pega o número dela também, quando
ela o deixa para ele. Eu balanço minha cabeça. — Não.

Ele sorri mais largo. — Sim.

Inacreditavelmente, uma terceira garota com cabelo preto


azeviche sai, outro baby, outro número. Tenho 99% de certeza de
que ele só as está chamando de baby porque não se lembra de seus
nomes.

Ainda assim, meu queixo cai um pouco mais baixo. — Não.


— S...

— Meus pais dormem aí quando visitam! Este é um colchão


novo! Acabei de comprar!

— Foi batizado para a próxima visita deles. Deacon e Bev


podem me agradecer mais tarde.

Ele me segue até meu quarto, contando-me sobre sua noite


selvagem enquanto eu visto um short e uma camiseta. Essa merda
entra por um ouvido e sai pelo outro, e apoio um cotovelo na minha
cômoda e abro minha caixa de entrada do Tinder. A bolha
vermelha brilhante me dizendo que tenho noventa e sete
mensagens em espera aumenta minha pressão sanguínea. Eu as
ignoro e navego até o terceiro da lista.

Alessia: Mal posso esperar para *emoji de beijo* esta


noite.

O emoji de beijo me deixa perplexo. Nós não nos conhecemos


pessoalmente, então parece um pouco ousado. Carter diz que sou
apenas antiquado, mas não sei.

Eu: Eu também. Vejo você às 7. *emoji sorridente*

*emoji de beijo, emoji de beijo*

Eu guardo meu telefone, tentando não me sentir uma


catástrofe. Já estou me arrependendo do encontro de hoje à noite,
mas para ser justo, a vida tem sido um incêndio após o outro nos
últimos quinze meses ou mais.

Eu olho para Bear. — Comida, depois caminhada?

Ele lambe o nariz e sai correndo da sala.

Jaxon sorri. — Big Mac?

— Malditos Big Macs.


CAPÍTULO 2

NÃO É A PIOR MANEIRA DE IR

— Você tira um dia de folga?

Olho para Archie, meu colega de trabalho, melhor amigo e


colega de quarto. Ele está sentado atrás do balcão da recepção,
vestindo um uniforme azul com cachorrinhos e gatinhos nele. Ele
tem um metro e oitenta de altura, super largo e coberto de
tatuagens. Os adoráveis uniformes são para sempre o ponto alto
do meu dia.

— Não estou trabalhando hoje.

— Certo. Você apenas está aqui no seu dia de folga e


definitivamente não vai passar tempo com nenhum dos animais.
— Ele ergue uma sobrancelha. — O voluntariado é a mesma coisa
que trabalhar, Rosie.

Reviro os olhos, assinando o check-in do visitante. — Alguém


veio passear com Piglet hoje?

Archie sorri tristemente para a tela do computador. — Você


sabe a resposta para isso.
Claro que eu sei. Piglet é um pastor alemão de 30 quilos com
quase a mesma quantidade de ansiedade que eu, que é, de acordo
com meu terapeuta totalmente direto e indiferente, muito grande.
Ela precisa de tempo, paciência e amor; a maioria dessas coisas
sai pela janela com os outros voluntários após alguns minutos de
tentativas.

— E é por isso que estou aqui no meu dia de folga — digo a


Archie, indo em direção aos canis. — Porque Piglet precisa que
alguém apareça para ela.

— Quando você vai levá-la para casa? — Archie grita atrás de


mim.

— Quando eu tiver mais de trezentos metros quadrados para


oferecer a ela e puder alimentá-la enquanto ainda me alimento —
respondo.

Atualmente, temos oito cães aqui no Wildheart Animal


Sanctuary e, de acordo com a folha de registro, todos eles, exceto
Piglet, foram passear esta manhã. A maioria mal levanta os olhos
da cama, satisfeita com a atenção e o exercício que já receberam
hoje, o que me deixa feliz. Mas quando meus olhos pousam
naquele cachorro preto e marrom encolhido em uma bola apertada
no canto de seu canil, tremendo, meu coração afunda.

— Oi, doce menina — murmuro, agachando-me. Seus olhos


castanhos arregalados pousam nos meus, e apesar de brilharem,
ela fica exatamente onde está, observando-me de uma distância
segura enquanto ela choraminga. Porque, assustada como ela
está, ela quer vir dizer olá.
Quatro meses atrás, eu a encontrei amarrada no banco da
frente uma manhã. Havia uma nota colada na porta da frente na
qual o autor dizia estar cansado de ouvir o mau tratamento do
cachorro pelo dono. Tivemos que sedá-la para fazê-la passar pelas
portas, porque ela estava com tanto medo que gritava com
qualquer um que se aproximasse. Passei o dia inteiro fora de seu
canil, lendo e conversando com ela, e trabalhei duro desde então
para construir o vínculo que temos hoje.

Com muita paciência, aprendemos que, apesar de seu extremo


medo e hesitação, ela é uma menina tão doce e amigável que adora
seu aconchego. O pior é que sua gaiola causa muito de sua
ansiedade; ela é uma garota diferente lá fora – mais
despreocupada, curiosa e feliz. Ela só não encontrou sua família
para sempre ainda.

Eu seguro sua coleira. — Quer fazer uma caminhada, Pig? —


Suas orelhas se animam e ela inclina a cabeça. Mostro a ela minha
mochila e dou um tapinha nela. — Eu preparei o almoço.

Lentamente, ela se levanta, com as pernas tremendo. Seu rabo


vai entre as patas traseiras enquanto ela se aproxima, farejando-
me através da gaiola, depois a mochila. Sua língua pende para fora
da boca, ela fica um pouco mais alta e me dá um latido suave!

— Boa garota. — Eu destranco seu canil e coço atrás de suas


orelhas antes de colocar seu arnês. — Qualquer coisa para comer,
hein?

Ela lambe meu tornozelo, cutuca minha mochila e me olha com


olhos esperançosos.
— Caramba — suspiro, abrindo minha bolsa e dando a ela um
dos biscoitos que ela tanto ama. — Você sabe como me ganhar.

Piglet cola ao meu lado enquanto atravessamos o abrigo, mas


quando pisamos no sol quente de Vancouver, ela está livre. Ela
galopa três passos para a frente e pula no ar, girando, seu lindo
traseiro de cachorro liderando o caminho enquanto sua língua rola
para fora da boca. Quando ela está de volta em suas patas, ela
fuça meu quadril e começa a mostrar o caminho.

O Wildheart está situado em uma área tranquila de North


Vancouver, longe do barulho e das multidões do centro da cidade.
As montanhas e o mar verde aqui são o cenário mais espetacular,
e adoro andar de ônibus pela ponte todos os dias, deixando a
cidade para trás e caminhando direto para a natureza.

Como sempre, nossa caminhada nos leva a algum lugar ao


longo do sopé do Monte Fromme. Há um aglomerado de pessoas
mais adiante na estrada onde os turistas vêm para caminhar, mas
Piglet e eu nos esgueiramos por uma pequena abertura na parte
de trás do parque, correndo ao longo da estreita trilha de terra até
chegarmos ao final de um lance de escadas.

Os degraus de madeira são velhos e frágeis, levando ao nosso


ponto favorito de paz e sossego. Piglet não tem problema em subir,
saltando ansiosamente três degraus de cada vez enquanto eu me
esforço para acompanhá-la. Descer mais tarde será um problema.

Ela gosta da liberdade que as montanhas trazem, do som dos


pássaros e da água corrente por perto, do cheiro de terra fresca e
pinheiros. Você pode respirar de forma diferente aqui em cima,
mais profundamente, cada inspiração nítida e refrescante. Isso
acorda você, traz a clareza que não sabia que precisava.

Antes de Piglet, eu passava muito tempo aqui sozinha, vagando


sem rumo pela floresta, sentada com os pés no riacho,
contemplando a vida. Às vezes, eu gostaria que a vida fosse
diferente, mas sabia que nunca desistiria do que tenho agora,
apesar da solidão que se aproxima.

Aqui com essa garota, não me sinto tão sozinha. Não é a vida
que imaginei quando criança, mas é o que me foi dado. Amo-a por
tudo o que é e por tudo o que me deu.

Mesmo se eu lamentar para sempre as partes que foram


tiradas.

Piglet e eu continuamos, serpenteando entre pinheiros e cedros


altos, meus olhos percorrendo o tronco de cada pinheiro,
procurando na casca um coração e três iniciais que sei que vivem
em algum lugar desta floresta. Estou procurando há anos, todos
os sábados desde que me mudei para cá, mas cada vez saio daqui
com um buraco no coração que parece, de alguma forma, crescer
um pouquinho maior.

Uma hora depois, meu estômago começa a roncar e Piglet


diminui a velocidade, olhando incisivamente entre mim e minha
mochila.

Reviro os olhos. — Você dá os melhores olhos de cachorrinho


da história, você sabe disso, Pig, não é? — Eu coço sua cabeça
enquanto ela lambe meu joelho. — Estamos quase na ponte agora.
Mais cinco minutos e faremos uma pausa para o almoço, ok,
garota?
Ela late e corre na frente, parando no tronco de uma árvore
para cheirar. Um galho estala ao longe, seguido pelo farfalhar das
folhas, e uma voz profunda diz uma palavra que ninguém quer
ouvir quando está caminhando sozinho.

— Bear!

A cabeça de Piglet estala e ela para no meio do caminho. Eu me


coloco contra a casca áspera de um tronco largo, tremendo com o
trovão dos passos. Algo gigantesco e preto irrompe por entre as
árvores, roubando a respiração dos meus pulmões quando se volta
para mim.

Minha vida inteira passa diante dos meus olhos, porque tenho
99% de certeza de que é um urso vindo em minha direção.

— Salve-se, Pig! — eu grito, jogando sua coleira e empurrando-


a para trás de um arbusto. Eu cubro meu rosto e me preparo para
o impacto. — Sou muito jovem para morrer!

Algo sólido e fofo colide com meu corpo, levando-me ao chão.


Um nariz molhado se enfia no meu rosto, fungando
agressivamente, e antes que ele me faça sua próxima refeição, ele
abre a boca e... me lambe.

Corre sua língua grande e molhada da minha mandíbula até o


lado do meu rosto, antes de passar para o outro lado e repetir a
ação. É bastante estranho, mas não é a pior maneira de ir,
suponho.

Eu abro um olho, cada grama de medo drenando do meu corpo


para o rosto feliz ofegante acima de mim.
— Oh, meu Deus, eu vou morrer. Sim, eu vou! — O corpulento
cachorro preto me olha com enormes olhos cor de chocolate, e
enterro minhas mãos em seu pelo longo e macio e fecho meus
olhos, inclinando-me para o banho que ele está me dando com a
língua. — Você é o cachorrinho mais bonito e doce de todos, não
é, garotão? Sim, você é. — Eu o abraço perto enquanto seu nariz
faz uma casa na curva do meu pescoço, o rabo balançando para
frente e para trás com sua dança feliz. — Eu morri e fui para o
céu? Se isto é o paraíso, ficarei para sempre.

Passos soam através de folhas caídas, galhos quebrando, e uma


voz profunda grita a mesma palavra aterrorizante novamente.

— Bear!

O cão corpulento se vira, sentando sua bunda


excepcionalmente grande no meu colo como se ele fosse um
cachorrinho, não um mastim tibetano quase do meu tamanho. Ele
enfia a língua no meu ouvido e descansa o queixo no meu ombro
enquanto uma montanha de um homem atravessa o matagal, os
olhos azuis saltando descontroladamente. Quando ele nos vê, ele
suspira, o corpo murcha enquanto ele agarra os quadris e abaixa
o rosto.

— Jesus Cristo — ele resmunga, esfregando os olhos. Ele abre


os braços, incrédulo, mas com um olhar divertido fixo no cachorro
que pode ou não ter me reivindicado como dele. — Você me
assustou pra caralho, cara!

Eu rio quando o cachorro enfia sua grande cabeça no meu


pescoço, e o olhar do homem se volta para o meu. Suas bochechas
ficam rosadas enquanto ele me olha. As minhas também, quando
faço o mesmo.

— Você é muito alto — eu deixo escapar. — Oh, meu Deus, isso


foi rude. Eu só quero dizer, tipo, você é... — Eu engulo. — Tão alto.

Sua boca se abre em um sorriso. É tão genuíno e amigável, tão


amplo, e fico surpresa com sua beleza. Quando uma risada
calorosa sai de sua boca, eu me aninho um pouco mais no
cachorro ao meu lado, escondendo meu rubor enquanto estudo o
pai do cachorro.

Ele é... excepcional. Seus olhos azuis elétricos são um contraste


gritante contra o beijo dourado de sua pele, a barba por fazer
forrando sua mandíbula, e quando ele tira o boné de beisebol e
deixa seus cachos escuros soltos, longos dedos correndo por eles,
eu engulo.

Sua camiseta cinza se apega ao seu corpo largo, exibindo


bíceps musculosos, antebraços de dar água na boca e uma cintura
fina. Meu olhar segue a linha de seu short preto justo até suas
coxas grossas, e vejo uma tatuagem espreitando da bainha de sua
perna direita, quase roçando sua rótula. Se você já se perguntou
se as tatuagens nas coxas são sensuais, a resposta é sim. Tão.
Sexy. Porra.

Engulo novamente, e ele levanta a bainha de sua camisa para


enxugar o suor de sua testa, revelando – oh, minha merda – um
maldito pacote de dez? Isso existe?

Minha garganta fecha com a visão de seu abdômen imaculado.


Precisando desesperadamente de água fresca, do tipo realmente
eu necessito – caramba – eu pego a mochila ainda presa às minhas
costas. No processo, eu perco meu controle sobre o cachorro, e
talvez a sanidade, caindo para frente com um guincho, plantando
o rosto na terra. O cachorro ao meu lado pula de pé com um latido,
Piglet choraminga do arbusto atrás do qual ela ainda está
escondida, e o homem de quem acabei de me envergonhar corre
em meu socorro.

Grandes mãos seguram minha cintura, levantando-me do


chão.

— Peguei você — ele murmura, caminhando pela terra comigo


em seus braços.

— Eu sou muito pesada...

— Eu sei que você não está discutindo comigo agora — ele


brinca, colocando-me em uma pedra. Mãos quentes cobrem meus
joelhos, separando minhas pernas enquanto ele se ajoelha entre
elas e me olha com poças azuis nas quais uma garota poderia se
afogar. Ele limpa a sujeira do meu rosto antes de limpar meus
joelhos. — Acho que é a segunda vez que meu cachorro leva você
para passear.

Eu sorrio, outra risada escapando. Seus olhos caem para a


minha boca, e meu coração bate contra a minha caixa torácica.

— Para ser justa, foi o seu cachorro da primeira vez, mas desta
vez eu só fiquei... distraída.

— Distraída?

— Sim, você fez aquela coisa com sua camisa e seu abdômen.
— Eu limpo minha garganta em meu punho. — Caras gostosos
fazem isso nos filmes o tempo todo.
A diversão dança em seus olhos. — Ah. Então nós dois temos
que nos desculpar, hein?

— Aceito desculpas na forma de sorvete ou lattes gelados; eu


não sou exigente.

Ele ri enquanto seu cachorro lambe seu pescoço. — Vamos


manter isso em mente quando prepararmos sua cesta de
desculpas. — Seus olhos caem, seu polegar roçando um arranhão
recente no meu joelho. — Eu realmente sinto muito por ele ter
derrubado você. Ele nunca foge assim. É como se ele tivesse
cheirado você e corrido.

— Honestamente, foi mais minha culpa do que qualquer coisa.


Eu o vi correndo em minha direção e me apavorei. Eu, hum...
pensei que ele fosse um urso.

O homem ri e acaricia a orelha de seu cachorro. — Ouviu isso,


amigo? Ela pensou que você era um urso grande e feroz. Ele vai se
gabar disso a noite toda. — Seu olhar passa por mim. — Você tem
certeza de que está bem? Você não está ferida?

Balanço a cabeça e mexo os dedos no ar. — Viu? Totalmente


bem.

Ele ri de novo, e fico impressionada com o quanto gosto de ser


o motivo. — Esse movimento dos dedos foi mais ou menos. Você
tem que ficar de pé e dar o giro completo para um efeito dramático.
Realmente me convença se quiser que eu deixe você sair daqui e
não arrastar para minha casa para dar uma olhada.
Ele pega minha mão e se levanta, levantando-me enquanto eu
meio que penso em fingir um osso quebrado, porque me levar para
casa para me examinar? Leve-me, porra.

— Quer saber o que é engraçado? — Ele gesticula para o


cachorro. — O nome dele é Bear.

Eu bato minha palma na minha testa enquanto tudo se


encaixa. — Oh, duh! Achei que você estava me avisando sobre a
chegada de um urso. — Eu dou um empurrão brincalhão em seu
ombro. — Então é sua culpa que acabei na sujeira.

Ele pisca. — Vamos lá. Há um riacho logo adiante onde


podemos limpar você.

Eu sei onde fica o riacho, é claro. Piglet e eu passamos por ele


depois do almoço toda vez que estamos aqui. Ela adora pisar na
água, e andar com água até os tornozelos é uma das maneiras
pelas quais tenho me esforçado lentamente para – um dia, espero
– nadar.

Mas eu não conheço esse homem, e em algum lugar desses


arbustos está uma cachorra, escondida assustada, porque ela
também não o conhece.

— Eu não posso, na verdade, mas obrigada. — Encontro a


ponta da coleira de Piglet, perdida em toda a comoção. Ela me leva
ao redor de uma rocha e encontro minha doce menina encolhida.
— Oi, linda — eu sussurro, agachando-me ao nível dela e largando
minha mochila. Ela rasteja em minha direção, o rabo entre as
pernas trêmulas. Eu olho para o homem atrás de mim,
observando-me com curiosidade. Cada linha em seu rosto suaviza
quando Piglet se aninha em mim. — Piglet é um cachorro do abrigo
em que trabalho.

Ele olha para Bear. A compaixão em ambos os olhares aquece


meu coração. — Nós assustamos você, garota? Nós não queríamos,
não é, amigo?

— Eu a encontrei amarrada na frente uma manhã, alguns


meses atrás — eu explico. — Ela estava assustada e ansiosa, e
gritou com alguns de nós. Não sabemos o que aconteceu com ela,
mas ela estava gravemente desnutrida e tinha algumas costelas
quebradas. — Esfrego o ponto entre seus olhos e ela se inclina para
o meu abraço. — Ela é apenas um inseto fofo, mas ainda está
aprendendo a confiar nas pessoas. Ela tem medo especialmente de
homens.

Sua carranca se aprofunda, olhos azuis gravados em tristeza.


Ele e Bear trocam um longo olhar antes de afundar no chão atrás
de mim. Bear descansa a cabeça nas patas, observando Piglet.

— Eu sou Adam, a propósito.

Minhas bochechas esquentam, sem dúvida ficando da mesma


cor do meu nome. — Rosie.

— Rosie — sua voz profunda murmura, olhos deslumbrantes


vagando lentamente pelo meu rosto enquanto seu sorriso se
transforma em um de tirar o fôlego. — Eu gosto disso.

Eu escondo meu rosto caloroso e um sorriso que é igualmente


tímido e tonto enquanto acaricio o pelo de Piglet.

Adam pega uma folha de grama, girando-a entre os dedos antes


de fazer cócegas no nariz de Bear com ela. — Você gosta de
caminhar com Rosie, Piglet? Aposto que você não a derruba como
o grande e feroz Bear aqui, não é?

Piglet levanta a cabeça do meu colo, piscando para Adam.

— Oh, você é uma garota bonita, não é? Simplesmente linda, e


aposto que seu coração também é.

Eu sorrio para ela enquanto ela olha de mim para Adam. —


Você não tem que se sentar aqui conosco. Eu sei que não é muito
divertido. Ela só precisa de um pouco de paciência.

— Não nos importamos. — Ele cutuca Bear. — E podemos ser


pacientes também, não podemos, amigo? Exceto quando se trata
de cheeseburgers.

Bear late e, quando eu rio, Piglet lentamente sai do meu colo,


deslizando ao longo de sua barriga, um pouco mais perto dos
meninos. As orelhas de Bear se animam e ele olha para Adam em
busca de instruções.

— Paciência — Adam o lembra gentilmente.

Bear deita a cabeça nas patas, esperando. Lento como melaço,


Piglet se aproxima, um centímetro de cada vez, seu corpo varrendo
o chão, olhando para mim após cada movimento para verificar se
ainda estou aqui.

— Estou com você — asseguro a ela, tentando controlar minha


excitação.

Cautelosamente, Piglet se levanta. Bear fica parado enquanto


ela perambula ao seu lado, cheirando sua orelha, seu pescoço,
descendo pelas costas até seu rabo enorme e fofo, contraindo-se
de felicidade. Quando ela se move de volta para o rosto dele, aquela
cauda começa a bater firme contra o chão.

Piglet se deita na frente de Bear, nariz com nariz, dois pares de


olhos castanhos chocolate olhando um para o outro, e eu aperto
meu peito, bem onde meu coração está explodindo. Eu olho para
Adam e coro quando encontro seus olhos sorridentes fixos em
mim.

— Você está tão fofa agora — ele sussurra, rindo das minhas
mãos enquanto eu olho para os cachorros.

— Eu? Eles estão!

Bem na hora, Bear abre a boca, a língua mergulhando para


fora, passando direto pelo nariz de Piglet, e eu enterro meu rosto
inteiro em minhas mãos para não gritar acidentalmente.

E então a coisa mais incrível acontece. Minha doce e corajosa


Piglet se levanta novamente, voltando sua atenção para Adam. O
rabo dela se abaixa apenas por um momento, mas quando ele fica
parado e deixa que ela o cheire, ele se levanta novamente. Ela enfia
o nariz no rosto dele, fazendo-o rir, e o ruído suave faz com que o
rabo dela balance no ar, batendo no meu rosto.

— Posso acariciá-la? — Adam pergunta. — Eu entendo se for


muito cedo. Não quero desfazer nenhum de seus progressos com
ela.

Antes que eu possa responder, Piglet arrasta a língua do queixo


de Adam até a testa dele, onde aqueles cachos se soltam quando
ela tira o boné da cabeça dele.
— Pig! — Eu rio baixinho, balançando para frente. — Pelo
menos leve-o para jantar primeiro!

Minha risada piora quando Piglet sobe em Adam, montando em


seu colo e indo para cima em seu rosto, e eu acidentalmente bufo.
Bato palmas por causa do barulho, mas Adam está muito ocupado
rindo, tentando afastar o pastor alemão em seu colo, que parece
tê-lo reivindicado como seu, e Bear decide que estamos perdendo.

Ele corre ao meu redor, cutucando meu ombro, minha cabeça,


antes de finalmente desistir e me jogar direto no colo de Adam.
Piglet salta de cima dele enquanto eu reivindico o espaço, caindo
de costas, com as pernas no ar enquanto ela e Bear começam a
rolar.

— Bear! — Adam repreende de brincadeira, agarrando meus


pulsos enquanto tento me endireitar entre suas pernas. — Você
derrubou Rosie de novo!

— Sinto muito — eu gaguejo, ficando de joelhos. Eu agarro sua


coxa musculosa, muito perto do caroço entre suas pernas, e meus
olhos se arregalam quando percebo. Minha mão escorrega e caio
para frente, meu peito esmagando contra o dele, fazendo-o cair
para trás comigo em cima dele. — Sinto muito, Adam, eu juro. —
Seguro seu peito, tentando me afastar enquanto ele continua
rindo. Quando finalmente me sento, corada e suada, percebo que
estou sobre um estranho.

Eu olho para baixo. Para seu corpo largo, sua camiseta


levantada, expondo aquela placa de mármore primorosamente
esculpida, e isso...? Merda, elas são. Veias grossas e salientes,
uma de cada lado do torso, correndo abaixo do cós do short, que
na verdade não consigo ver, porque estou ativamente sentando
minha virilha bem em cima do pau desse homem.

Ops.

— Ah! — eu grito, jogando-me de seu colo. Meu pé prende em


sua perna e eu tropeço para trás, ainda gritando, esperando minha
morte iminente ao cair de uma montanha.

Adam simplesmente estende a mão, pegando um punhado da


minha camiseta, puxando-me de volta para a segurança. Eu
aterrisso de volta em seu colo, com as mãos em seu peito, minha
respiração escalonada e pesada. Meu batimento cardíaco cai entre
minhas pernas quando aqueles olhos azuis seguram os meus e ele
sussurra: — Não vá morrer comigo, Rosie. Ainda não estou pronto
para deixar você ir. Acabamos de nos conhecer.

Todo o sangue do meu corpo corre para o meu rosto, e minha


boca abre e fecha quinhentas vezes antes de Adam ter pena de
mim. Ele gentilmente me tira de seu colo e me ajuda a ficar de pé
antes de me entregar a coleira de Piglet e pegar a de Bear para si.

— Você se importa se Bear e eu caminharmos com vocês duas?

— Uh... — Eu tiro minha franja fina da minha testa enquanto


Adam joga minha mochila por cima do ombro.

Suas sobrancelhas arqueiam com uma pitada de diversão, e ele


inclina a cabeça antes de dar um passo à frente, tomando a decisão
por mim.

— Vamos, meninas bonitas.


CAPÍTULO 3

BUBBLE BUTT3

Na verdade, ainda não me movi, caso você esteja se


perguntando. Eu sei que é simples, um pé na frente do outro e
tudo mais. Mas, veja bem, é a primeira vez que Adam me agracia
com seu traseiro, e, hum...

O homem tem uma bunda bolha.

Doce mãe dos dragões, é glorioso. É divino. Isso é...

— Você vem, Rosie?

Eu me assusto, sacudindo a névoa da bolha, e deixo Piglet me


arrastar até Adam e Bear.

É uma caminhada tranquila e pacífica, os cachorros


explorando à nossa frente, parando para cheirar um galho caído
ocasional ou para um beijo no nariz. A mão de Adam esbarra na
minha mais de uma vez enquanto ziguezagueamos pelo terreno
irregular, e quando tropeço em meus próprios pés, ele me firma
envolvendo seus longos dedos em volta dos meus.

3
Bunda Bolha, refere-se a nádegas arredondadas, normalmente de tamanho maior que a média.
Há uma batida constante no meu peito que lateja em meus
ouvidos, fazendo-me engolir os nervos que apareceram do nada.
Eu não o conheço. Nem um pouco. Ele é gentil e amigável e aqui
estou eu pronta para cair em seus pés. Preciso me controlar, então
o silêncio é provavelmente o melhor.

Chegamos a uma bifurcação no caminho, uma velha ponte de


madeira à frente. Piglet corre de volta para nós, belisca de
brincadeira minha mochila pendurada no ombro de Adam e, em
seguida, dá seu infame salto e giro de bunda.

— Sempre paramos na ponte e almoçamos — digo a Adam


enquanto Piglet nos leva ao seu lugar favorito. — É o ponto alto do
dia dela, porque, comida.

— A comida também é o ponto alto do nosso dia, não é, Bear?


— Adam ri enquanto entrega minha bolsa, observando-me afundar
na beirada da pequena ponte, os dois cachorros rastejando em
cima de mim enquanto tiro recipientes de comida.

Pego uma batata-doce frita enquanto Adam se senta ao meu


lado. — Bear pode fazer um lanche? São saudáveis e caseiros. Eu
tenho batata doce desidratada com um pouco de canela e biscoitos
de banana com manteiga de amendoim. Fiz tudo esta manhã,
então está bem fresco.

Ele balança a cabeça, observando enquanto eu alimento os


cachorros. — Isso soa saudável. O que você é, uma veterinária?

— Tentando ser — murmuro, limpando minhas mãos depois


que os cachorros as lambem.

— Você é seriamente uma veterinária? Isto é tão legal.


— Ainda não, mas ano que vem, espero. — Eu sorrio para ele
enquanto desembrulho meu sanduíche e estendo metade para ele.
— Frango grelhado e pesto panini.

Seu estômago ronca. — Não posso comer metade do seu


almoço.

Eu rio, colocando-o em suas mãos. — Seu estômago diz


diferente.

Ele cora, mas aceita alegremente. — Não me julgue, mas já


comi dois Big Macs hoje.

— Oh, Deus — eu gemo. — Não como um Big Mac há anos. —


Quando você está com um orçamento tão rígido quanto o meu, não
se desvia de sua lista de compras cuidadosamente selecionada,
exceto para acomodar os cupons que estiverem no panfleto
naquela semana. Eu olho para Adam, notando que na minha
segunda mordida, ele já devorou sua metade. Eu cutuco seu
estômago duro. — Você parece o tipo de cara que está sempre com
fome. — Empalideço com minhas palavras, então rapidamente
volto atrás. — Porque você é tão alto, quero dizer. Não tenho
certeza se já conheci alguém tão alto. — Eu engulo. — E largo. —
E sua bunda. Quero dizer, uau.

Adam ri, pegando um biscoito de torta de maçã do recipiente


que ofereço. — Sou o mais alto dos meus amigos e estou com fome
a maior parte do tempo. — Ele devora o biscoito e engole. — Mas
você deveria ver meus amigos, Carter e Garrett. Eles são
trituradores de lixo humano. Tenho um armário em casa com
salgadinhos só para quando eles aparecem.

— Você está brincando.


— Não. Tenho que recarregá-lo semanalmente.

Piglet se levanta e se estica antes de se deitar ao lado de Adam,


com a cabeça em seu colo. Enquanto ela cai no sono enquanto
Adam gentilmente acaricia o ponto entre os olhos dela, do jeito que
ela gosta, estou impressionada com a mudança instantânea em
seu comportamento hoje.

— Eu nunca, nunca vi isso antes. Ela realmente não gostou de


nenhum homem. A única pessoa com quem ela está tão relaxada
sou... eu.

— Não se preocupe. — Ele cutuca meu ombro com o dele. —


Eu não vou substituir você.

Eu rio. — Promessa?

— Promessa. — Seu olhar se move sobre mim em uma


varredura lenta que aquece minhas entranhas. — Porque você é
insubstituível, Rosie, não é?

Eu deixo cair meu olhar para minhas pernas, observando-as


balançar acima do riacho cintilante abaixo, incapaz de manter seu
olhar. Parece intenso, como se ele estivesse procurando por algo.
Não sei o quê, mas ao mesmo tempo que estou preocupada que ele
não encontre, espero que ele não encontre.

Seja o que for que ele esteja procurando, não é provável que eu
acumule. A única coisa em que fui boa em ser é a segunda escolha
de alguém.

Dedos vibram contra minha bochecha, persuadindo meu olhar


de volta para Adam. Ele afasta minha franja e sorri, enrolando uma
mecha de loiro mel e rosa pálido antes de colocá-la atrás da minha
orelha.

— Eu gosto do seu cabelo — ele me diz baixinho.

Minhas bochechas esquentam quando eu toco um dos coques


rosa bagunçados na minha cabeça, antes de descer para a metade
inferior que fica solta, ondas indisciplinadas descansando cerca de
um centímetro acima dos meus ombros. — Os coques? Ou a cor?

— Esses coques em cima são fofos como o inferno. Mas eu gosto


muito do rosa. É meio rosado... assim como você.

Meu nariz torce. — Você acha?

— Mhmm. Bonita e única.

Suas palavras gentis diminuem a batida do meu coração.


Normalmente, as únicas pessoas que elogiam meu cabelo são
crianças. Em vez disso, recebo olhares críticos de pessoas na fila
do caixa do supermercado que acham que as escolhas de vida de
uma pessoa se refletem em algo tão trivial quanto a cor do cabelo.
Eu não tenho muito controle de nada na minha vida. Esta é uma
maneira de retomar o controle, algo que faço porque é uma escolha
minha e somente minha.

Então, quando as pontas dos dedos de Adam roçam minha


bochecha ao se afastar, tenho certeza de que ele sente o calor que
traz quando sussurro: — Obrigada.

Depois do almoço, atravessamos o riacho raso, a água


refrescando meus pés descalços. Adam vai um pouco mais longe,
até que a água quase atinge seus joelhos, e eu volto para margem
enquanto meu coração bate forte no peito.
Ele se junta a mim alguns minutos depois com dois cachorros
felizes e molhados e caminha ao meu lado enquanto voltamos por
onde viemos. Eu penso em desviar várias vezes e alegar que nos
perdemos para prolongar este dia um pouco mais? Sim. Sim,
penso.

Mas antes que eu perceba, estamos no topo daquela escada


velha e bamba que nos leva de volta à realidade.

Adam começa a descer na minha frente com Bear, e Piglet faz


como sempre: crava as patas na terra, recusando-se a se mover.

— Vamos, garota — tento persuadir suavemente. — Você está


segura comigo; eu prometo.

Ela choraminga e se deita, e eu me sento no degrau mais alto,


acariciando sua cabeça.

— Ei, Adam? Continue sem nós. Pig tem medo de descer as


escadas. Geralmente é um caso de meia hora. Eu apenas...

— Aqui. — Adam está ao meu lado em um instante, pegando a


coleira de Piglet em sua mão, trocando pela de Bear. — Você leva
Bear. Vou pegar Pig.

Antes que eu possa protestar, ele se inclina, beija a testa dela


e depois se levanta e dá um tapinha no peito. Piglet se ergue sobre
as patas traseiras, com as patas no torso de Adam, e ele a ergue
em seus braços.

— Boa garota — ele canta enquanto minha boca se abre. — Vá


em frente.
Eu olho para Bear, e ele inclina a cabeça para o lado, como se
estivesse pensando que pode querer uma carona também. — Sem
chance, garotão.

Ele bufa e começa a descer as escadas. Quando chegamos ao


chão, Piglet parece muito presunçosa e contente nos braços de
Adam.

Reviro os olhos enquanto ela lambe atrás de sua orelha. — Sua


pequena flertadora.

Adam coloca Pig no chão e tira o boné, passando os dedos pelos


cachos despenteados antes de cobri-los novamente. — Você dirigiu
até aqui?

Eu balanço minha cabeça.

— Você, uh... precisa de uma carona? Eu vim andando até


aqui, mas não moro longe. Podemos caminhar até minha casa e
eu posso levá-la de volta.

— Tudo bem. O abrigo não fica longe daqui.

Adam assente, olhando por cima do ombro. Ele coça o pescoço


e aponta para trás. — Bem, eu estou indo nessa direção.

Aponto na direção oposta. — E eu vou nessa direção.

Sua cabeça balança. — Acho que é aqui que dizemos adeus.

Agora sou eu quem balança a cabeça. É tão estranho. Então


faço isso cem vezes mais estranho, estendendo minha mão. —
Prazer em conhecê-lo.
Ele olha para a minha mão, então de volta para mim. Na minha
mão novamente, então para mim. Ele sorri, tão largo, tão divertido,
tão presunçoso. — Um aperto de mão, hein? Tão formal.

Meus olhos se estreitam, braços cruzando meu peito. — O que


você sugere?

Ele dá de ombros e, quando dá um passo em minha direção,


meu coração sobe à garganta.

— Você sabe, Rosie. Eu não estava tendo o melhor dia quando


encontrei você. Ou melhor, quando meu cachorro derrubou você
no chão. Talvez ele soubesse o que estava fazendo, no entanto.
Porque meu dia ficou cem vezes melhor depois que você caiu nele.

Ele dá mais um passo à frente e, em todo o pânico que surge


ao pensar que esse homem bonito e gentil pode realmente estar...
flertando comigo, perco o controle do meu corpo, cruzando
acidentalmente um tornozelo sobre o outro e prontamente tropeço
nos meus dois pés, colidindo com ele.

Adam ri em meu ouvido, baixo e caloroso, sua respiração


caindo no meu pescoço enquanto ele me segura para ele. — Você
é problema, não é?

Essa palavra com P acende algo dentro de mim, algo perdido e


quebrado, e eu me agarro a Adam enquanto ele me aperta por um
momento que termina cedo demais.

Ele dá um arranhão no queixo de Piglet e, com um último olhar


em minha direção, pisca para mim. — Vejo você por aí, Trouble4.

4
Problema, apelido carinhoso que ele dá a ela.
CAPÍTULO 4

EU QUERO A GARRAFA INTEIRA, POR FAVOR

Estou morrendo.

Figurativamente, é claro. Talvez literalmente. Pergunte-me


novamente em duas horas.

Um tornozelo engancha em torno do meu embaixo da mesa, e


mal resisto à vontade de arrastar minhas mãos pelo meu rosto. Eu
limpo minha garganta, desengancho minha perna e
cuidadosamente coloco meus dois pés sob a segurança da minha
cadeira. Tomo um gole do meu vinho tinto, coloco na mesa e, em
seguida, pego de volta e bebo o resto do pinot noir de nove anos
quando a ponta do pé de Alessia toca o meu novamente.

— Você realmente gosta de vinho, hein? — ela pergunta, olhos


azuis encapuzados, cílios batendo.

— Isso é óbvio, hein? — Acho que nunca bebi dois copos em


menos de dez minutos.

Eu preciso parar com isso e encerrar rápido.

O encontro, não o vinho. O vinho fica, a garota vai.


Não sei por que continuo pensando que este pode ser diferente,
que quanto mais tempo eu passar aqui na piscina de encontros,
mais rápido vou encontrar aquela. Jaxon diz que estou delirando,
para apenas aproveitar os encontros, levá-las para casa e me
divertir um pouco. Acho que ele e eu não temos a mesma ideia de
diversão.

Olha, eu gostaria de fazer sexo? Obviamente. Já faz mais de um


ano. Estou desenvolvendo uma artrite prematura no pulso e só
recentemente fiz 26 anos. Mas quando cada encontro termina,
prefiro estar sujeito a uma vida inteira usando um protetor no
pulso e desistir de minha carreira como goleiro mais bem pago da
NHL do que passar mais tempo com essas mulheres.

Além disso, elas nem estão nisso pelo sexo. Esse é o problema
de muitos caras do meu time: mulheres que só querem dizer que
transaram com um famoso jogador de hóquei.

Meu problema é que elas querem mais. Eu também quero mais,


mas o mais que eu quero é genuíno. Quanto mais elas querem é
cifrões.

— Oh! Ei, você! — Alessia acena para nosso garçom enquanto


ele passa com uma bandeja de comida. Ela aponta para a garrafa
de vinho quase vazia. — Podemos pegar outra garrafa?

Scott levanta uma sobrancelha em minha direção, e quando eu


aceno, sua boca se inclina em um pequeno sorriso. Venho aqui
cerca de duas vezes por mês, porque Scott respeita minha
privacidade e lê minhas dicas. Ele cuida dos meus encontros como
se fosse da realeza e, quando as coisas parecem especialmente
sombrias, ele me diz que o chef gostaria de me conhecer. Então ele
me empurra para fora da porta da cozinha para uma pausa de
cinco minutos enquanto tenta acelerar o resto do serviço de jantar.

Alessia olha ao redor do restaurante, fazendo beicinho. —


Deveríamos pedir a ele para trocar nossa mesa. Estamos bem no
fundo.

— É bom aqui atrás — eu respondo suavemente, tomando


minha água gelada. — É quieto.

Jesus, o beicinho dela pode ficar maior? Até onde vai esse lábio
inferior? — Quase ninguém pode nos ver aqui atrás.

— Gosto da minha privacidade — é minha resposta simples.


Não estou com vontade de entrar em todas as razões pelas quais
ela prefere estar na frente e no centro comigo.

Alessia apareceu na minha caixa de entrada no Tinder há uma


semana. Seu perfil mostrava fotos dela com cavalos e cachorros,
ela com os braços em volta da avó na cama da casa de repouso e
caminhando pela Trilha dos Apalaches. Ela era doce e não falava
muito, apenas que Bear era fofo na minha foto de perfil e que ela
adorava caminhar também. Três dias atrás, perguntei se ela
gostaria de jantar, e desde então tem sido ladeira abaixo. Os emojis
de beijos, as mensagens intermináveis ao longo do dia pedindo
atualizações constantes sobre o que estou fazendo, com quem
estou. Assim que a vi na frente do restaurante hoje à noite, ela
jogou os braços em volta do meu pescoço e colocou batom na
minha bochecha.

Eu gosto de contato físico. Eu gosto de intimidade. Mas quero


que pareça natural. Como aconteceu hoje cedo, quando aquela
gracinha de cabelo cor de mel e rosa tropeçou em seus próprios
pés e caiu em mim quando eu disse a ela para deixar de lado o
aperto de mão.

Minha mente se volta para Rosie pela centésima vez hoje, o


brilho fácil de suas bochechas, as manchas douradas que
dançavam naqueles olhos verdes claros, o jeito que ela bufou
quando riu e pareceu tão aliviada quando pensou que eu não havia
notado.

Tudo nela era natural. Seus sorrisos, suas risadas, a maneira


tímida com que ela tirou os sapatos e caminhou comigo pelo riacho
enquanto observava a beleza ao nosso redor.

— Então você acabou de assinar novamente seu contrato com


os Vipers — Alessia diz, quebrando meus pensamentos. Seus olhos
brilham de emoção quando ela se aproxima. — Dez milhões e meio
por ano durante os próximos oito anos?

— Eu pensei que você não acompanhasse o hóquei. —


Especificamente, ela me disse que teve que pesquisar sobre mim
quando contei a ela que jogava profissionalmente.

Ela dispensa minhas palavras. — Então, o que você vai fazer


com todo esse dinheiro? Comprar uma casa nova? Onde você mora
agora? Quantos quartos? Você consegue ver as montanhas? —
Seus olhos se arregalam e ela segura minha mão nas dela. — Oh,
meu Deus, você já esteve em Paris? É tão bonito, especialmente no
outono. Realmente devemos ir.

— Eu tenho hóquei — eu a lembro, tentando puxar minha mão


de volta. Alessia entrelaça nossos dedos, e engulo um gemido
quando um flash de um telefone dispara do outro lado do
restaurante.
— Você pode reservar uma semana de folga?

— Não é assim... — Eu suspiro. — Não é assim que o hóquei


funciona, não com um contrato.

— Oh. — Ela franze a testa, depois sorri. — Ouvi dizer que é


lindo no Natal também.

— Você me disse que passa o dia com sua avó na casa de


repouso.

— Vovó provavelmente estará morta até então. Se ela não


estiver, eu simplesmente escaparei. Não é como se ela soubesse.
— Ela tira o telefone da bolsa e prontamente me mostra uma série
de fotos dela posando ao lado da avó adormecida, fazendo o sinal
da paz enquanto sorri ou franze os lábios.

Em que diabos eu me meti?

— Hum... — Eu despejo o restante da garrafa número um no


meu copo, em seguida, bebo tudo, esperando que queime a
memória desta conversa. — Então você caminhou pela Trilha dos
Apalaches.

Ela revira os olhos e se inclina sobre a mesa, batendo palmas.


— Oh, sim, foi absolutamente o pior. Eu odeio a natureza. Odeio
insetos. Odeio andar. Eu me presenteei com férias de spa de cinco
dias depois daquele pesadelo.

O que restou do meu coração afunda no meu estômago,


revirando.

— Sua garrafa — Scott murmura, aparecendo em nossa mesa.


Ele abre o vinho, coloca uma amostra em cada taça e sorri. — Sr.
Lockwood, por gentileza, nosso chefe de cozinha adoraria conhecê-
lo. Ele é um grande fã seu.

Eu pulo de pé, meus joelhos colidindo com a mesa, sacudindo


os pratos. Pego as taças de vinho antes que caiam. — Claro. Claro
que sim. Sim, claro. Adoro conhecer os fãs. — Eu toco o ombro de
Alessia. — Volto já.

Scott me conduz pelo restaurante até um corredor escuro.

— Da próxima vez que eu beber meia garrafa de vinho de


duzentos dólares em dez minutos, preciso que você finja que há
um incêndio na cozinha e escolte todos os convidados para fora.
Eu cuido das contas. Entendido?

Scott ri. — Alto e claro, Sr. Lockwood.

— Então você a beijou.

— Eu não a beijei. Você tem me ouvido?

Carter dá de ombros. — Aquela foto no Instagram diz que você


a beijou.

Eu empurro o ombro de Carter, e ele tropeça de lado em seus


patins, passando por cima do meio-fio e arrastando os pés na
grama, onde ele se choca contra uma árvore.

— Filho da puta — ele morde, saltando de volta para a estrada,


correndo atrás de mim a toda velocidade enquanto eu saio na
frente dele.
Antes que ele possa me pegar, Emmett envolve um braço ao
redor de sua cabeça, puxando-o contra ele. — Não cutuque o urso.
Adam está no modo pardo.

Garrett dá uma risada. — Adam nunca fica totalmente no modo


pardo.

Jaxon gira em torno de mim e se vira, patinando para trás para


que ele possa sorrir para mim. — Fiquei totalmente no modo pardo
com três garotas no quarto dos pais dele na sexta à noite.

Eu aponto para ele. — Você está no topo da minha lista de


merda.

Ele balança as sobrancelhas e gira, nós cinco começamos a


caminhar juntos, descendo a estrada tranquila. — Então você não
a beijou?

Eu puxo meu boné com a lembrança desconfortável da noite


passada. Acompanhei Alessia até o carro dela, agradeci pelo tempo
bom/horrível, mas quando abri a porta, ela passou os braços em
volta do meu pescoço e pressionou os lábios nos meus. Eu fiquei
lá em estado de choque antes de sua língua abrir caminho em
minha boca.

Não estou totalmente orgulhoso de dizer que, por três segundos


inteiros, considerei isso. Eu deixei sua língua deslizar contra a
minha, e minha mente vagou para um lugar onde eu me perguntei
como seria desistir por uma noite, esquecer o que quero e obter
algum alívio uma vez em tanto tempo.
Mas eu voltei à realidade com o flash do telefone dela enquanto
ela tirava uma maldita selfie nossa no meio do beijo, e obrigado
por isso.

— Eu parei o beijo e disse que não sentia uma conexão e que


seria melhor seguirmos caminhos separados. — Acaricio minha
bochecha, onde ainda posso sentir a picada de sua palma. — Ela
me deu um tapa e disse: Obrigada por desperdiçar meu tempo,
antes de entrar no carro, bater a porta e ir embora.

Carter ri. — Nunca pensei que seria você levando um tapa de


todos nós.

Jaxon toca sua bochecha e sorri. — Eu ganhei meu quinhão. É


alimentado por alguma energia selvagem. Normalmente termina
na cama ou contra a parede. Uma vez, até caímos direto no...

— Eu não preciso ouvir isso — eu o interrompo. — E agora há


uma foto minha e dela flutuando na internet para sempre.

Garrett puxa seu telefone, rindo da foto que eu vi uma centena


de vezes hoje, a que Alessia me marcou no raiar do dia. — A
legenda é a pior parte.

Emmett pega o telefone, limpando a garganta antes de ler as


palavras de Alessia em voz alta no timbre que ele reserva para sua
impressão de sua esposa, Cara. — Tive a melhor noite com esse
homem, mas fiquei tão triste quando tive que dizer a ele que não
sentia uma conexão amorosa. Emoji triste. Três em cinco na escala
de beijos. Precisa de algum trabalho de língua.

— Precisa de um pouco de trabalho de língua, minha bunda —


eu resmungo, patinando na minha garagem. Risos e gritos fluem
do quintal enquanto eu viro a fechadura do meu portão. — E eu
disse a ela que não sentia a conexão!

— Modo Grizzly ativado. — Carter faz garras com a mão. —


Rour. — Seus olhos brilham quando pousam em sua filha, mas
antes que ele possa chegar lá, Garrett corre, pega-a e a abraça
contra seu peito.

— Oi, anjo — ele murmura, pontilhando seu rosto com beijos


enquanto ela grita de tanto rir. — Tio Gare está aqui.

Carter geme, cerra os punhos e começa a arrancar os patins.


— Jenny! Venha buscar seu namorado!

Cara revira os olhos de onde está tomando banho de sol de


bruços. — Aja de acordo com a sua idade, Carter, não com o
tamanho do seu sapato. — Ela sorri para Emmett enquanto ele
bate a mão em sua bunda. — Oi, baby.

A porta do meu pátio se abre, e Jennie e Olivia saem. Ambos os


olhares se iluminam ao ver seus homens, sem camisa, suados e
brigando pelo bebê mais doce. Garrett finalmente desiste da
Ireland em favor de varrer Jennie em seus braços, enterrando o
rosto em seu pescoço.

— Mantenha as mãos acima da cintura, Andersen — Carter


resmunga enquanto Garrett aperta a bunda de Jennie. — Essa é
minha irmã. — Ele coloca uma Ireland balbuciante entre ele e
Olivia. — Minhas duas princesas.

Jaxon rouba os holofotes enquanto chora por todos, gritando:


— Bala de canhão! — antes de desaparecer na minha piscina com
um mergulho de quase dois metros.
Olivia me segue até minha cozinha, onde encho um copo com
água gelada e esvazio em segundos.

— O encontro não foi bem, hein? — ela pergunta, puxando uma


bandeja de frutas da minha geladeira.

— O quê, aquela foto nossa nos beijando não convenceu você?


— Eu coloco um pedaço de melão na minha boca enquanto ela ri.

— Você parecia um cervo pego pelos faróis.

— Talvez seja por isso que ela só me deu uma nota três em
cinco na escala de beijos.

Olivia bufa, mas tanta compaixão genuína brilha em seus


olhos. — Sinto muito por não ter dado certo.

Eu dou de ombros. — Tudo bem. Estou me acostumando com


a ideia de que não há ninguém lá fora para mim.

Ela franze a testa. — Não acredito nisso, Adam. Nem um pouco.

— Estou cansado de procurar — admito em voz baixa.

— Talvez seja esse o ponto. Talvez quando você parar de


procurar e apenas viver... talvez seja quando vai encontrar sua
magia.

Eu sorrio com o pensamento enquanto abraço o pequeno corpo


de Olivia no meu antes que ela saia. Magia soa bem.

Meu telefone toca enquanto tiro hambúrgueres e salsichas da


geladeira, o rosto de minha mãe me encarando da tela. Seus olhos
castanhos profundos e sorriso largo na pose ao meu lado depois
do meu primeiro jogo da NHL, orgulhosa como sempre e mal
alcançando meus ombros, trazem um nível de conforto que é difícil
encontrar em qualquer outro lugar.

Enfio o telefone entre a orelha e o ombro enquanto coloco a


carne em uma tábua. — Oi, mãe.

— Oi, querido. O que você está fazendo?

— Prestes a começar o churrasco — eu digo a ela com um grito


e um som de respingo pela porta.

— Gostaria que papai e eu estivéssemos lá para nos juntar a


você. — Ela hesita, seu tom sombrio quando ela fala a seguir. —
Talvez precisemos nos visitar mais cedo ou mais tarde.

Meu peito aperta. — Está tudo bem?

— Bem, seu pai e eu estamos preocupados, porque... — outra


pausa — e isso é...

— Você está rindo?

— Não. — Ela ri. — É só que estamos realmente preocupados


com você, porque... — riso — aparentemente você é apenas um...
— bufo — três em cinco na escala de beijos — ela finalmente
engasga, quase afogada pelo estrondo do riso do meu pai.

— Pelo amor de Deus. Vocês dois são brutais.

— E ela não sentiu uma conexão amorosa! — ela fala, ofegante,


e meus olhos encontram um espaço permanente na parte de trás
da minha cabeça.

— Não se esqueça do trabalho de língua! — papai grita. — Ele


precisa de um trabalho sério com a língua!

— Eu odeio vocês — resmungo.


Quando ela finalmente consegue controlar o riso – ela pode
estar chorando – diz: — Sinto muito, querido. Acompanhar sua
vida amorosa nas redes sociais é a nossa maneira favorita de
passar as manhãs de domingo.

— Não muito de uma vida amorosa.

— Talvez você precise recuar um pouco — ela sugere.

— Sim, Ollie estava apenas dizendo a mesma coisa.

— Você tem um grande bando ao seu redor, querido. Se você


está procurando por amor, dê uma olhada nas pessoas que
aparecem para você todos os dias. Quando encontrar alguém que
faça você sentir assim, uma extensão da sua família, você vai
saber.

Eu sei que ela está certa. O riso que me cerca nos meus
melhores e piores dias me traz um contentamento sem o qual não
poderia viver, e enquanto saio e observo meus amigos sentindo-se
à vontade em minha própria casa, sei que se eles fossem tudo que
tivesse pelo resto da vida nesta vida, eu ficaria bem.

Mas isso ainda não me impede de desejar alguém para chamar


de minha à noite, quando o silêncio se instala.

— Oi, princesa — eu sussurro, levantando Ireland e beijando


seu nariz minúsculo. Eu puxo a alça de seu chapéu de sol xadrez
rosa, e ela sorri para mim, desdentada, fazendo aquelas covinhas
de Beckett em seu maiô de babados. — Jesus, você é fofa pra
caralho.

— Essa é uma característica dos Beckett — Carter diz, nadando


até a beira da piscina. — Ireland, querida, olha! Olha o papai! Veja
o que posso fazer! — Ele pressiona os pés contra a parede da
piscina e se joga para trás, girando debaixo d'água, emergindo com
um suspiro. — Você me viu, princesa? Você viu o papai? Dez em
dez, certo, querida?

Eu faço cócegas em sua bochecha. — Não estava assistindo.

— Aw. — Carter dá um tapa na água e sai nadando.

— Seu pai é demais às vezes, não é? — murmuro para Ireland,


colocando-a de volta em seu cobertor, estendendo-me ao lado dela.

Seus olhos verdes inocentes olham para mim enquanto eu


dirijo seu carro inseto favorito ao redor dela, e não posso evitar
deixar minha mente vagar de volta para outro par de olhos verdes.
Perdi a conta de quantas vezes fiz isso, deixei meus pensamentos
vagarem para Rosie. Aquele sorriso doce, aquelas madeixas loiras
cor de mel com mechas de rosa suave, as sardas douradas
salpicadas nas maçãs do rosto, a maneira como aquele cachorro
olhava para ela como se ela fosse seu mundo inteiro.

Horas depois, quando estou sentado na beira da piscina, vendo


o sol se pôr atrás do cenário espetacular, quando está quieto e a
cabeça do meu cachorro descansa na minha coxa, ainda estou
pensando nela.

A porta do meu pátio se abre e Jaxon se senta ao meu lado,


entregando-me uma cerveja e mergulhando as pernas na água. —
Nunca vou me cansar dessa vista.

— Nem eu. — Tomo um longo gole da minha bebida, lambendo


o gosto dos meus lábios e, pela centésima vez, pergunto-me qual é
o gosto da boca de Rosie. Jaxon provavelmente não é o único a
falar sobre isso, mas ele é o único outro solteiro em nosso grupo,
então ele é o único ainda aqui esta noite. — Conheci alguém
ontem.

— Sim, cara, eu sei. Essa foto tem duzentos e cinquenta mil


curtidas no Instagram. Todo mundo sabe.

Eu rio, um som exausto, e esfrego os olhos. — Outra pessoa.


Ontem, quando Bear e eu saímos para uma caminhada.

Suas sobrancelhas se erguem. — Oh? E? Derrame.

— Ela era... não sei. — Eu apalpo a parte de trás do meu


pescoço, pensando em Rosie. — Tão fofa. Ela está na escola
veterinária e estava passeando com um cachorro do abrigo de
animais. Ela preparou guloseimas especiais para o cachorro e
compartilhou algumas com Bear. Compartilhou seu almoço
comigo também. O cachorro com quem ela estava teve uma vida
difícil, ela disse, e foi tão paciente com ela. — Eu dou de ombros.
— Ela era muito doce.

— Você está me dizendo que encontrou alguém que realmente


gosta de cachorros e não está apenas fingindo? Você tirou a sorte
grande, amigo.

— Cale a boca, imbecil.

Ele ri e bebe sua cerveja. — Sério. Parece algo que vale a pena
explorar.

— Sim, acho que sim.

— E como ela se comportou sobre as coisas do hóquei?

— Não apareceram. — Lembro-me de como procurei em seus


olhos qualquer sinal de excitação quando me apresentei, como seu
olhar arregalado não revelava nada. — Acho que ela não me
reconheceu.

— Não é uma grande fã de hóquei, então. Tudo bem. Mais ou


menos o que você queria, certo?

— Seria bom saber se ela gosta de mim como sou, com certeza.

— Então você vai ligar para ela e convidá-la para sair?

Estremeço. — Eu iria, mas, uh... não consegui o número dela.

— Jesus, Adam, erro de novato.

— Eu não estava pensando direito. Estava todo... — Passo a


mão pelo meu cabelo, puxando-o. — Abestalhado.

Jaxon ri. — Então volte no próximo fim de semana. Mesma


hora, mesmo lugar. Aposto que ela estará lá.

— Isso é meio... lógico. Mas é muito? Parece perseguidor. Não


quero assustá-la.

— Não. Um cara determinado a rastrear uma garota com quem


ele se conectou? As meninas comem essa merda. Além disso, se
você sentiu algo, algo que pode ser real... — Ele dá de ombros
novamente. — Você não quer perder essa chance. Persiga-a.

Eu o observo em silêncio por um momento, bebendo


casualmente sua cerveja enquanto ele olha para as montanhas. —
Você não tem um ponto fraco, Jaxon, não é?

— Nah, foda-se isso.

— Parece que você é um molenga por baixo desse exterior duro.


— Meu sorriso cresce quando ele balança a cabeça. — Parece que
você pode realmente saber como cortejar uma mulher, não apenas
dormir com elas.

— Tudo bem. — Ele arranca minha cerveja das minhas mãos e


caminha em direção à casa. — Você já teve o suficiente. Estou
fazendo um café para você.

Eu rio enquanto ele entra, e Bear abre os olhos sonolentos,


olhando para mim sob o sol poente.

— O que você acha, Bear? Vamos tentar? — Eu solto um


suspiro quando o sol faz seu mergulho final e as estrelas começam
a pintar o céu. — Talvez ela goste de nós exatamente por quem
somos.

Eu realmente deixei Jaxon me convencer disso?

— O que estou fazendo aqui? — Eu olho para Bear, onde ele


espera pacientemente, então de volta para o pequeno prédio na
minha frente. Eu jogo meus braços para cima. — Vamos. Isso é
estúpido. Provavelmente nem é o abrigo certo. E ela provavelmente
nem vai se lembrar de nós.

Bear me dá um latido raivoso, como se estivesse discordando


sobre o quão memorável eu pareço pensar que ele é. Ele pega a
coleira com os dentes e puxa, tentando me levar em direção ao
Wildheart Animal Sanctuary.
— Vamos, amigo. Vamos. Se pretendemos vê-la novamente,
então...

O som de uma risada suave rouba minhas palavras quando a


porta da frente se abre, e um pastor alemão pula para fora,
arrastando uma coisinha com cabelo loiro mel e ondas de ouro
rosa caindo do coque bagunçado no topo de sua cabeça.

Eu observo enquanto Piglet dá três passos rápidos para frente


antes de pular no ar, como se ela nunca tivesse estado tão
animada, e Rosie não se cansa disso.

Bear choraminga ao vê-las, aquelas duas garotas que poderiam


ter roubado um lugar em nossos corações uma semana atrás, e
dois pares de olhos se voltam para nós. Piglet se encolhe,
escondendo-se entre as pernas de Rosie até que ela nos reconhece.
Lentamente, ela volta para a luz do sol, olha para Rosie, de volta
para nós, e começa a abanar o rabo dela.

Os olhos de Rosie brilham com reconhecimento, surpresa, e os


nós em meu estômago apertam enquanto eu luto entre o desejo de
correr e o desejo de ficar.

— Adam?

— Oi, Rosie. — Sai rouco pra caralho, e apalpo a parte de trás


do meu pescoço úmido enquanto ela se aproxima de mim
lentamente, a curiosidade dançando em seus olhos suaves de jade.
— Eu, uh... eu não tinha certeza se este era o abrigo certo, mas é
o mais próximo, e pensei que talvez você normalmente vá no
mesmo horário todos os sábados, e... — Limpo minha garganta em
meu punho. — Achei que seria legal se os cachorros pudessem
caminhar juntos novamente, já que eles pareciam gostar muito um
do outro. Você sabe, pelos cachorros.

Aquele sorriso cresce, tão grande, tão deslumbrante, e Rosie


balança a cabeça em concordância. — Oh, sim. Definitivamente.
Pelos cães.

— E talvez por mim também — eu admito. — Eu, hum... gostei


de caminhar com você. E conversar com você. E comer você. Não,
porra. — Eu aperto meus olhos fechados e balanço minha cabeça.
— Foda-se, não, isso não é o que eu – comer com você. Seus
sanduíches. Não sua... — Aponto para sua virilha. Puta merda, eu
gesticulei para a porra da virilha dela. Estou me transformando em
Garrett.

Eu preciso de ajuda. Eu preciso de uma intervenção. Tenho


uma paixão e não sei o que fazer com ela. Já faz muito tempo. Devo
ligar para Carter? Ele é realmente minha melhor aposta para
conselhos? Não, vou ligar para a Olivia. Ela é sensata. Ela pode me
ajudar com isso. Talvez ela possa reunir as meninas.

Aponto para a calçada. — Eu vou embora agora.

Uma gargalhada me persegue quando me viro. Tudo dentro de


mim se acomoda com as próximas palavras de Rosie, com sua mão
envolvendo meu pulso e me parando.

— Adoraríamos caminhar com vocês.


CAPÍTULO 5

PROBLEMAS COM P MAIÚSCULO

Ela é tão bonita. Ela sabe o quão bonita ela é? Seu cabelo
parece tão macio, eu só quero tocá-lo. Ela tem essas sardas, como
ouro líquido, pontilhando a ponta do nariz e cobrindo as maçãs do
rosto. Seu queixo tem uma pequena covinha, bem ali no meio, e
quando ela sorri, eu...

— Você está me deixando nervosa.

Eu tropeço em meus pés, sacudindo para frente. — O quê?

Rosie dá uma risadinha e, quando o faz, seu nariz fica uma


coisinha fofa e franzida. — Você não disse uma palavra em dez
minutos, Adam. Você está apenas andando em silêncio, olhando
para mim. — Ela esfrega o queixo. — Eu tenho algo no meu rosto?
Eu comi um sanduíche de manteiga de amendoim e geleia mais
cedo e costumo comer incrivelmente bagunçado. — Ela balança a
cabeça por cima do ombro, tentando olhar para sua bunda. — Ou
eu me sentei em alguma coisa? Você não acreditaria quantas vezes
já fiz isso, apenas para descobrir horas depois, enquanto tirava
minhas roupas.
Eu rio. — Não, você não tem geleia no rosto e não se sentou em
alguma coisa. Sua bunda é per... — Eu paro. Rosie pisca para
mim. Pisco de volta. — Púrpura. — Eu aponto para sua bunda em
suas leggings lilás colantes. — Sua calça é roxa, então sua bunda
também é... roxa. Não que eu estivesse olhando.

Eu estava totalmente olhando.

Rosie enfia uma pequena onda rosa-pétala atrás da orelha. —


Obrigada... eu acho?

Eu concordo. — Sim, legging legal. — Eu amo a legging, quase


tanto quanto amo a bunda, e não por causa da cor.

Porque seus quadris são cheios e redondos pra caralho, e não


tenho orgulho de dizer que toda vez que ela pula na minha frente,
meus olhos se concentram naquela bunda perfeita naquela calça
esculpida. Quem tinha o direito de dar a ela uma bunda assim?
Isso atrai minha mente para lugares escuros e proibidos, como se
fosse agarrá-la em minhas mãos, levantá-la para mim e pressioná-
la contra uma árvore.

Eu quero senti-la. Tocá-la. Eu quero passar meu polegar sobre


aquela pequena covinha em seu queixo, deslizar minha mão sobre
seu quadril, enredar meus dedos com os dela, e apenas sentir. Eu
quero sentir alguma coisa, qualquer coisa, e eu só quero que
pareça certo.

— Sinto muito — eu finalmente digo. — Estou em minha


própria cabeça hoje. Todos os dias, na verdade.

— Tudo bem. Eu moro na minha. É um lugar esmagador para


se estar às vezes. Oh! — Ela bate no meu ombro e se vira, andando
de costas na minha frente. — Você já fez aquela coisa de pior
cenário?

Eu levanto uma sobrancelha. — Coisa do pior cenário?

Ela coloca a mão sobre o peito. — Sou uma especialista em


cenários de pior caso. — Ela se vira e se junta a mim, segurando
meu cotovelo enquanto caminhamos. — Então, começo pensando
em uma coisa aparentemente insignificante e, acidentalmente,
penso em algo ruim que poderia acontecer por causa disso, depois
em outra coisa ruim e, antes que perceba, tenho uma lista de todas
as coisas horríveis e aterrorizantes. Coisas que podem dar errado
se eu mergulhar muito fundo na água, ou se eu for passear à noite,
ou se eu criar uma espinha dorsal, abrir minha boca e finalmente
dizer não a alguém. — Ela observa meu rosto inexpressivo por um
momento, depois se encolhe. — Desculpe. Meu nível de ansiedade
quase sempre é incomparável. — Ela aponta para Piglet, vagando
à frente com Bear. — Exceto com Pig. E veja, agora estou fazendo
aquela coisa do pior cenário em que estou pensando que de
repente você gostaria de não ter me convidado para caminhar com
você, e agora você está pensando em maneiras de acabar com isso,
e se você... você está desesperado o suficiente para me jogar do
penhasco? — Olhos arregalados me encaram. — Por favor, não me
mate.

Um estrondo de riso escapa do fundo do meu peito, e eu lanço


um braço em volta dos ombros dela. — Eu não sonharia em levar
você para o penhasco. Como eu olharia para sua calça roxa?

— Você quer dizer minha bunda?

— Cuidado, Trouble.
E aquele rubor, da mesma cor do nome dela, mancha as maçãs
do rosto.

— Eu entendo o que você quer dizer, no entanto — eu digo a


ela. — Eu me perco em meus pensamentos, e eles fogem com
coisas que podem dar errado, como posso não estar vendo algo
com clareza, ou como a história pode se repetir. É confuso e...

— Assustador.

— Sim, é. Faz-me parar para muitas coisas.

— Faz com que eu perca muitas chances — acrescenta


baixinho.

— Ei. — Cutucando seu lado, sorrio, porque quero ver o dela


novamente. — Mantenha-me por perto e você não perderá nada.
Vou aparecer no abrigo para que você não tenha escolha.

Ela abre um sorriso largo e esperançoso, partes extras patetas.


— Alguém pode pensar que você está me perseguindo.

— Foi o que eu disse! Meu amigo disse que garotas gostam


dessas coisas, no entanto.

Seus olhos vêm aos meus, curiosos e um pouco hesitantes,


outro rubor manchando suas bochechas. — Você falou com seu
amigo sobre mim?

Há uma parte de mim, uma parte tão grande, que está incerta.
Preocupada que estou vendo algo, sentindo algo que não está
realmente aqui. Que fiquei desesperado o suficiente para me
convencer de que ela está interessada. Quero dizer, realmente
interessada. E esse medo rouba minhas palavras.
Em vez disso, sorrio suavemente e pego a mão dela, ajudando-
a a passar por um aglomerado de pedras e chegar à ponte. Ela cai
de bunda na beira da floresta, os pés balançando sobre o riacho, e
afundo ao lado dela. Os cachorros correm para o lado dela quando
ela coloca a mochila no colo, e observo como Bear se comporta
como um anjo perfeito enquanto ela o faz sentar alto e imóvel,
mostrando a ele seu biscoito antes de oferecê-lo a ele. Ele pega
delicadamente e lambe a bochecha dela quando termina. Rosie ri
e beija o nariz dele antes de fazer o mesmo com Piglet, e depois de
beber um pouco de água de uma tigela dobrável, os dois cachorros
se enrolam atrás de nós.

— A Pig parece gostar do Bear — observo.

— Como ela é tão ansiosa com as pessoas, ela não atrapalha


muito a socialização dos filhotes no Wildheart. Ela é seletiva sobre
em quem confia, e me deixa triste pensar nela gastando tanto
tempo em sua própria cabeça. Estou tão feliz que ela fez um amigo.

— Então devemos caminhar juntos todos os sábados, hein?

Rosie sorri para sua bolsa. — Se você quiser.

— Eu poderia. Você?

Desta vez, o rubor sobe até a ponta das orelhas. — Sim. Acho
que sim.

— Legal. É um encontro.

Os olhos de Rosie fixam-se nos meus, um mar de curiosidade


e nervosismo que gira enquanto ela me examina sob seus cílios.
Sua franja cai em seu rosto, roçando suas têmporas e não
deixando que ela esconda aquelas emoções que ela usa tão
livremente. Ela abre a boca, mas parece duvidar, em vez disso,
escolhe colocar o lábio inferior entre os dentes e focar sua atenção
em sua mochila, um leve tremor em suas mãos.

Ela me entrega dois sanduíches e um muffin. — Aqui. Para


você.

— Você fez o almoço para mim?

— Eu pensei, você sabe, apenas no caso de encontrarmos você


de novo, e você quisesse comer conosco. É um sanduíche de bacon
de peru com fermento suíço. Não é grande coisa. Se você não
quiser...

— É um grande negócio. — Eu coloco minha mão sobre a mão


desajeitada dela, parando o jeito nervoso que ela está rasgando a
borda do sanduíche. — Você pensou em mim, e isso é muito
importante para mim. — Eu acaricio seu pulso com meu polegar,
e seus olhos acompanham o movimento antes de se levantarem
para mim. — Obrigado, Rosie.

E então, para aliviar a tensão no ar, suspiro feliz. — Não como


desde o segundo café da manhã.

— Segundo café da manhã?

— Eu definharia se tivesse apenas o primeiro.

Há aquela risada abafada, mesmo que ela a esconda atrás do


muffin. Quando ela termina, ela me entrega um lenço para limpar
minhas mãos, oferece outro biscoito aos cachorros e torna a
encher a tigela de água uma última vez antes de guardarmos tudo.
Pego a mão dela, ajudando-a a subir nas rochas, e inclino a
cabeça na direção do riacho cintilante. — Caminhe pela água
comigo?

Ela hesita como se fosse dizer não, mas Bear corre à frente,
batendo na água, e Piglet puxa sua coleira, puxando Rosie para
frente enquanto ela persegue Bear.

— Aqui — eu digo com uma risada, pegando a coleira de Piglet.


Tiro os sapatos e as meias e sigo os cachorros até a água. — Vá se
sentar. Mergulhe os pés enquanto brincamos.

Ela acena com a cabeça, sentando-se na beirada da margem,


observando-nos enquanto mergulha os pés. Os cachorros andam
na minha frente, lutando e rolando, até nós três ficarmos
encharcados até os ossos. Eles param para descansar, deitados ao
sol, e o som silencioso da água chama minha atenção por cima do
ombro.

Rosie caminha lentamente em nossa direção, uma das mãos no


queixo e a outra segurando a gola da camisa. Ela olha para mim,
um sorriso instável se espalhando em câmera lenta, e eu sorrio,
estendendo minha mão para ela.

Sua palma quente desliza contra a minha, e eu a seguro com


força, puxando-a para mim. Não quero soltar, mas o faço, e juntos
atravessamos a água rasa.

Depois de alguns minutos tranquilos, o próximo passo de Rosie


faz com que a água suba repentinamente até os joelhos,
arrancando dela um forte suspiro. — Ah. Eu não sabia que era tão
profundo.
Ela freneticamente dá um passo para trás, agarrando a parte
de trás da minha camisa antes de escorregar em uma pedra e
quase cair de bunda. Eu a pego pela cintura, suas curvas suaves
derretendo sob a palma da minha mão enquanto ela segura minha
camisa. As pontas dos meus dedos cavam em seus quadris
enquanto ela olha para mim, separando os lábios rosados, cada
sopro de respiração beijando meus lábios enquanto eu a seguro
para mim, olhando para seu rosto em forma de coração.

— Cuidado, Trouble.

Seus dedos apertam minha camisa e seu olhar cai para minha
boca. Então ela pisca, balança a cabeça e nos empurra para cima.
Piglet corre para o lado dela, cheirando as pernas de Rosie, suas
mãos, antes de finalmente lambê-la onde quer que ela consiga
colocar a língua.

Rosie dá um tapinha na cabeça dela. — Estou bem, Pig, mas


obrigada mesmo assim pelos beijos. — Seus olhos encontram os
meus por apenas um momento antes de se desviarem. —
Desculpe. Surtei um pouco ali.

— Não se desculpe. Você é bem baixinha; devemos ficar onde é


raso.

Ela dá uma gargalhada. — Eu não sou baixa.

— Isso é o que todos os baixinhos dizem.

— Eu — Rosie bufa, prendendo os braços sobre o peito. — Eu


não sou pequena.

Eu sorrio, tocando o canto de seu beicinho. — O que você tem,


um e cinquenta e cinco?
Ela aponta um nariz fofo pra caralho e teimoso para o céu. —
Um e sessenta, muito obrigada. Mas suponho que pareça
minúscula em comparação com sua altura monstruosa.

Eu sufoco uma risada. — Desculpe, eu perdi alguns


centímetros.

— Alguns centímetros são importantes.

— Ah, concordo plenamente. Um centímetro pode significar a


diferença entre uma noite decepcionante e uma passada gritando
pelos motivos certos. — As palavras saem da minha boca antes
que eu possa pensar demais nelas, e espero que se acalmem. A
boca de Rosie se abre, o calor em suas bochechas voltando como
lava derretida, e eu pisco.

Fechando a boca, ela torce o nariz para esconder sua diversão


e dá um tapa no meu ombro. — Garoto safado. Espero, para o seu
bem, e para o bem de todas as garotas que passam as noites com
você, que você tenha esse centímetro a mais.

Eu solto uma risada. — Não há garotas.

Suas sobrancelhas sobem. — Nenhuma?

— Nenhuma.

— Hmmm. — Ela se aproxima, acenando para mim como se


tivesse um segredo, e eu inclino minha cabeça, um coquetel de
excitação e nervos correndo pela minha espinha enquanto seu
hálito quente toca minha orelha. — É porque você não tem aquele
centímetro extra?

Eu me afasto com um suspiro agudo e uma mão pressionada


no meu peito. Quando ela começa a rir, dou um leve puxão no
coque em sua cabeça. — Você realmente é um problema com P
maiúsculo, não é?

Sua risada cessa lentamente, e ela volta sua atenção para os


dedos dos pés.

— Não é fã do apelido?

— Trouble?

— Mmm.

Ela olha para o céu azul brilhante, um sorriso distante


curvando seus lábios. — Adorava, na verdade. Meu pai cunhou
quando eu tinha dois anos.

— Ah, então nós dois vimos através desses grandes olhos


verdes e sorriso inocente.

— Ei. — Ela estreita os olhos e cutuca meu estômago. — Vai


saber que o maior problema que já tive quando criança foi levar
para casa um coelhinho que encontrei no parque. Estava sozinho,
então pensei que havia perdido a mãe e estava fazendo a coisa
certa. Papai explicou que as mães coelhas os deixam durante o dia
para protegê-los dos predadores, que ela estaria procurando seu
bebê quando o sol se pusesse e ela voltasse para alimentá-lo.
Fiquei perturbada comigo mesma por tirá-lo de sua mãe.

— Vamos. A pior coisa que você já fez foi salvar um coelhinho


do que você pensou que poderia ser fome? De jeito nenhum, eu
não compro.

— É verdade! Eu era uma boa garota. Meus pais e eu estávamos


sempre tão ocupados em nosso tempo livre, caminhando,
acampando, explorando... — Ela dá de ombros. — Acho que nunca
tive a chance de me desviar do curso.

— E na adolescência?

Algo em sua expressão muda, a luz em seus olhos escurece,


roubando toda a sua excitação. — Fui uma adolescente ainda
melhor. Tão quieta que ninguém nem me notou. — Ela se vira,
voltando para a margem. — Tenho que começar a voltar. — Seu
sorriso reservado rapidamente se transforma em gargalhada
enquanto os cachorros reivindicam seus pés, limpando a água
enquanto ela tenta calçar as meias. — Parem — ela grita, virando,
rastejando para longe em suas mãos e joelhos. — Eu sinto cócegas
nos pés!

Vê-la de joelhos com sua bunda cheia e redonda no ar mexe


comigo. Isso revela algo sombrio e selvagem, tão faminto que tenho
que me virar e passar a palma da mão trêmula sobre a boca.

Deus, não consigo me lembrar da última vez que estive tão


excitado, tão atraído por alguém. Não são apenas as malditas
curvas selvagens, o alargamento de seus quadris amplos, a
depressão em sua cintura onde estou desesperado para ver meus
dedos cavarem e desaparecerem.

É a maneira como todo o seu corpo ganha vida quando ela ri,
seu nariz enrugando junto com ela. É a maneira como seus olhos
brilham de excitação e escurecem de decepção, incapaz de
esconder uma única emoção que a percorre, deixando-a aberta,
implorando para ser lida como seu livro favorito. Como seus dentes
descem naquele lábio inferior, mordiscando quando ela está se
fazendo de tímida. Como ela é incapaz de segurar aquele sorriso
quando ele quer se libertar, e como ele arrasta o meu como um
ímã, porque quando ela sorri, tudo parece certo.

É o jeito que ela ama os cães tão completamente, mostra a


Piglet uma paciência sem fim. Está trazendo sanduíches extras em
sua caminhada, só por precaução, porque ela pensou em mim.

Não é que eu me sinta menos quebrado com Rosie, mas a luz


flui de qualquer maneira, entre todos os pedaços quebrados
deixados para trás. Encontro beleza ali, uma sensação de paz que
me diz que coisas boas estão esperando.

Talvez seja estúpido da minha parte ser tão esperançoso depois


de tudo, das traições, das mentiras, dos inúmeros encontros com
tudo menos as intenções certas. Talvez eu tenha enlouquecido,
pensando que posso encontrar qualquer tipo de consolo em
alguém que mal conheço.

Mas prefiro ter esperança a aceitar a opção mais destrutiva:


que não vou encontrar o que meus amigos têm, o tipo de amor que
meus pais me ensinaram a esperar.

Rosie e eu andamos em silêncio enquanto os cachorros trotam


à nossa frente e, depois de alguns minutos, ela cutuca meu lado.
— E você?

— Eu?

— Você era uma criança doce ou um terror?

Eu rio, roçando meu queixo enquanto admito: — Eu fui um


merda. Meus pais sempre me ensinaram a ser gentil e prestativo;
isso nunca foi um problema. Acabei me encontrando em muitos
lugares onde não deveria estar. Como em um buraco de mais de
um metro de profundidade no quintal da minha avó quando testei
se você realmente poderia cavar seu caminho para a China. —
Aponto o dedo para o rosto divertido de Rosie. — Você não pode, a
propósito, então não desperdice sua energia. Depois, houve aquela
vez na casa de campo em que peguei um balde de sapos e os levei
para minha mãe enquanto ela dormia no sofá. Ela tinha medo de
sapos, mas eu queria mostrar a ela que não havia nada a temer,
porque eles eram apenas carinhas alegres e gentis, e um pouco de
lodo não ia machucar. Isso, uh, realmente não saiu como
planejado. — Apalpo minha nuca enquanto me lembro de como ela
abriu uma pálpebra quando sussurrei que tinha uma surpresa,
como ela disparou, derrubando acidentalmente o balde da minha
mão, tropeçou no cobertor e caiu de cara no chão enquanto todos
os doze sapos pulavam pela sala. — Lembre-me de ligar para
minha mãe e pedir desculpas pela centésima vez quando chegar
em casa.

— Ah, vamos. Você era apenas uma criança! Seu coração


estava no lugar certo. Você tinha, o quê? Cinco? Seis?

Passo a mão na boca para esconder meu sorriso culpado. —


Treze.

— Treze? Adam! Ligue para sua mãe agora mesmo e peça


desculpas!

— Eu sei, eu sei. Eu falei: eu era um merdinha. Mas ei, acabei


bem. — Eu sorrio, bem charmoso, e balanço minhas sobrancelhas.
— Já fui chamado de angelical quando adulto.

Ela bufa, revirando os olhos. — Arrogante também. E os


apelidos? Você tem algum?
— Woody, eu acho, é o único.

— Woody? Por quê?

Eu digo a ela a meia verdade, porque não estou contando a ela


sobre o incidente do hotel. — Porque meu sobrenome é Lockwood.

— Lockwood — ela murmura, e prendo a respiração, esperando


que ela coloque meu nome e sobrenome juntos, para que o
reconhecimento chegue. Esperando que essa bolha feliz e segura
em que me encontro finalmente estoure.

Mas não.

Ela sorri, estendendo a mão. — Prazer em conhecê-lo, Adam


Lockwood. Sou Rosie Wells.

Eu rio, puxando-a para o meu lado, balançando meu braço em


volta de seus ombros. — Você é linda pra caralho, Rosie Wells. —
Bear me lança um olhar por cima do ombro, e eu reviro os olhos.
— Você também, Bear. — Piglet se vira, batendo no rosto de Bear
com sua bunda, e salta para nós, com a língua pendurada para
fora da boca. — E você também, linda Pig.

Ela passa pelas pernas de Rosie com um gemido, grandes olhos


castanhos espiando o topo da escada quando elas aparecem.
Entrego a coleira de Bear para Rosie e dou um tapinha no meu
peito.

— Vamos, garota.

— Você vai perder as costas um dia desses. — Rosie repreende


enquanto eu pego Piglet em meus braços.

— Não. — Mudo Piglet para um braço e flexiono o bíceps no


outro. — Sou grande e forte.
— Seu pai acha que ele é tudo isso e um saco de batatas fritas,
Bear, não é? — ela sussurra para ele enquanto eles começam a
descer as escadas, e o merdinha late em concordância. — Certo,
se ele realmente quisesse nos impressionar, ele carregaria você
também.

— Eu posso ouvir você!

Ela me dá um sorriso brilhante por cima do ombro. — Você está


indo muito bem, Adam! Uau, você é tão forte!

— Mulheres — murmuro, e Pig enfia a língua no meu ouvido.

Passei os dez minutos andando até o Wildheart pensando em


como dizer casualmente que sou um atleta profissional famoso,
que a acho muito bonita e que seria ótimo se ela quisesse, talvez,
tipo... passar algum tempo comigo. Comer uma refeição que ela
não fez para mim, talvez tomar uma taça de vinho que eu possa
provar de seus lábios depois.

Eu abro minha boca cerca de vinte mil vezes e a fecho em favor


do silêncio todas as vezes.

Rosie não está muito melhor do que eu. Ela está parada aqui
na minha frente, enrolando uma mecha rosa e arranhando o chão
com seus tênis Nike surrados com um swoosh floral branco e azul.
Seus olhos saltam entre seus pés e meu rosto, suas bochechas
ficando mais quentes a cada passagem.

— Bem, eu acho...

— Você quer jantar comigo? — eu deixo escapar, e de repente


minhas bochechas estão tão vermelhas quanto as dela.

— Jantar?
— Sei que concordamos em caminhar novamente no próximo
sábado, mas seria bom ver você antes disso.

Olhos arregalados e esperançosos olham para os meus. —


Antes de?

— Antes de.

— Antes de sábado?

— Antes de sábado.

Ela morde o lábio, franze o nariz. — Como quando?

Esta noite está na ponta da minha língua, mas é muito cedo.


Eu preciso de ajuda. Talvez profissional. Preciso convocar uma
reunião.

Eu preciso de uma maldita noite de garotas.

— Que tal quarta-feira? Você, eu e o jantar.

Algo faísca em seus olhos, iluminando-a de dentro para fora.


Suas mãos se fecham em punhos ansiosos ao lado do corpo. —
Oh, sim, eu poderia fazer isso. Eu sou muito boa em jantar. — Seu
queixo cai e ela coloca as duas mãos sobre a boca. — Oh, meu
Deus. Eu sou muito boa em jantar. Acabei de dizer isso em voz alta?
Eu disse, não foi?

— Você disse — eu confirmo, pânico aliviando seu aperto na


minha garganta. — Mas não foi pior do que hoje cedo, quando eu
disse que gostava de comer você e depois apontei para sua virilha.
— Pego suas mãos nas minhas, meu polegar movendo-se sobre o
esmalte roxo lascado em suas unhas. — Então... jantar? Quarta-
feira?
Rosie acena com a cabeça ansiosamente, então faz uma pausa.
— Mas espere. É apenas um encontro de amigos? Ou é como... um
jantar? Tipo um encontro? Como duas pessoas jantando, como
um…

— Encontro?

— Sim.

— Sim. — Eu sorrio. — É um encontro.

— Ok. Legal. Tão legal. — Sua cabeça balança. — Eu gosto


disso.

— Bom. — Trago seu corpo para o meu para um daqueles


abraços em que estive pensando a semana toda. Ela cheira a verão,
como coco, melão e roupa lavada, e eu afundo na maneira como a
sinto contra mim, macia, quente e perfeita. — Porque eu tenho que
dizer, Rosie, os pensamentos que tenho colocariam o apenas amigo
em uma enorme enrascada.

Depois que trocamos números e ela está desaparecendo lá


dentro, ela ainda está balançando um rubor vulcânico que pinta
todo o seu corpo, quente o suficiente para que eu ainda possa
senti-lo quando começo a voltar para casa.

Abrindo um novo tópico de mensagens, digito os nomes de


Olivia, Cara e Jennie.

Eu: Eu preciso de ajuda. Eu conheci uma garota.

Olívia: OH MEU DEUS! Adam!!! *emoji de olhos de


coração emoji de lágrimas felizes emoji de noiva emoji
do noivo*
Jennie: Meu cara!!! *emoji de berinjela emoji de
pêssego emoji de gotículas de água*
Tenho algumas indicações de brinquedos, se vocês dois
quiserem ser criativos.
<link> Este é o meu favorito. Ameaço substituir Garrett
por ele pelo menos 2x/semana.

Cara: Bem, bem, bem. Veja quem veio rastejando até


as mestres em busca de conselhos. Você veio ao lugar
certo, jovem gafanhoto.

Eu: Cara, que porra???

Cara: Desculpe, querido. *emoji triste* Tentei – Adam's


Road to Hope: One Man's Journey to Pussy Palace6 –
mas era muito longo.

Jesus Cristo. Em que diabos eu acabei de me meter?

5
Viagem ao Palácio da Boceta – tradução literal.
6
O caminho de Adam para a esperança: a jornada de um homem ao Palácio da Boceta – tradução literal.
CAPÍTULO 6

ADAM’S ROAD TO HOPE: ONE MAN’S JOURNEY TO PUSSY PALACE

— Bem-vindos, todos, à primeira reunião oficial de ‘Adam's


Road to Hope: One Man's Journey to Pussy Palace’. Não se
esqueçam de pegar uma cesta de presente e marcar seus cartões
de ponto na saída. A sangria está na geladeira, os lanches estão
na mesa e a pizza chegará em trinta minutos. — Cara joga uma
perna sobre a outra, junta as mãos sob o queixo e sorri. — A aula
está começando agora.

— Cara, pelo amor de Deus. — Eu enterro meu rosto atrás de


uma mão antes de abrir os dois braços. — Podemos parar de
chamá-la assim?

— Aula? Acho que se você quiser ser exigente.

— Não, não a aula. Journey to Pussy Pal... ugh, esqueça isso.


— Eu afundo nas almofadas do sofá, prendendo meus braços
sobre o peito e batendo os pés na mesa de centro. — Nem sei se
quero uma namorada se ela for como você — eu resmungo.

— Oh, querido. — Ela dá um tapinha na minha mão. — Você


não poderia lidar comigo.
— E por que Hank está aqui? — Faço um gesto para o nosso
velho amigo. — Sem ofensas, Hank. Eu amo você, mas parece um
pouco deslocado com isso... isso...

— Adam's Road to Hope: One Man's Journey to Pussy Palace


— Cara termina para mim. — Dá para acreditar, Hank? Adam acha
que você é velho demais para estar aqui.

— Eu não disse isso! É que, sabe... você tem oitenta e seis anos.

Ele sorri, acariciando as cabeças de Bear e Dublin de onde


descansam em seu colo. Dublin costumava ser seu cão-guia, mas
quando ele se mudou para uma casa de repouso há um ano,
Dublin foi morar com Carter e Olivia. Hank recebe todo o
aconchego desses dois quando está por perto.

— Já me disseram que sou um conquistador, Sr. Lockwood,


mesmo na minha velhice. E algo sobre a sabedoria dos sábios, blá,
blá, blá. — Ele acena com suas próprias palavras. — Por que vocês
continuam a ouvir as palavras que saem da minha boca está além
de mim, mas se você precisa de ajuda para conseguir mulheres...

— Não preciso de ajuda para... ok, preciso de uma ajudinha,


mas realmente não acho que seja... bom, não tenho ideia do que
estou fazendo. — Pego a tigela de batatas fritas All Dressed da
mesa, abraçando-a enquanto jogo um punhado na boca. — Vou
morrer com um caso severo de... — engulo — artrite no meu pulso.

Olivia dá um tapinha na minha coxa. — Isso não é verdade,


Adam.
— Sim, Adam. — Jennie dá uma risadinha. — Eles têm
brinquedos para isso, então você não precisa fazer nada sozinho.
Você não precisa se condenar a uma vida de artrite.

Reviro os olhos e jogo uma almofada para ela e Cara quando


elas dão mais cinco dicas. Eu sempre soube que Jennie tinha uma
boca como a de seu irmão, mas tem sido bom vê-la realmente
entrar em si mesma desde que ela e Garrett estão juntos.

— Ok. — Cara pega uma prancheta e uma caneta, em seguida,


coloca um par de óculos, que ela prontamente desliza para baixo
do nariz para que ela possa olhar para mim por cima da armação
deles. — Conte-nos sobre a nossa protagonista.

Eu esmago outro punhado de batatas fritas e franzo a testa


quando Olivia leva a tigela embora. — O nome dela é Rosie.

— Rosie! — Cara rabisca no papel, acrescenta meu nome e um


sinal de mais, depois envolve com um coração. — Tão fofo. Adoro.
Conte-nos tudo.

— Bem, eu a conheci no fim de semana passado quando estava


caminhando com Bear. Ele a derrubou. Ela estava passeando com
um cachorro do abrigo em que é voluntária. E ela dividiu seu
sanduíche comigo. E ela quer ser veterinária. Eu voltei para o
abrigo esta manhã, porque Jaxon disse que eu deveria ir, e
acidentalmente insinuei que gostei de comê-la, mas eu estava
falando sobre seu sanduíche, e então descobri que ela fez dois
sanduíches extras para mim apenas no caso ela me ver
novamente. Ela é tão gentil e atenciosa, e ela é muito paciente e
doce com os cachorros. E tem essas pequenas sardas douradas no
nariz, e às vezes ela bufa quando ri, e ela tem, tipo, cabelo cor de
mel, mas as pontas são cor de rosa, e ele cai sobre os ombros, e
ela me faz sorrir muito, ela é realmente... — Eu paro quando o
silêncio ao meu redor afunda. Quatro pares de olhos observam,
esperando, sorrindo. Eu engulo. — Fofa.

Olivia aperta minha mão. — Ela já parece tão maravilhosa,


Adam.

— Cabelo rosa — Cara murmura.

— Eu quero a porra do cabelo rosa — acrescenta Jennie.

— Parece que vocês tiveram uma conexão — Hank fala. —


Então, com o que você precisa de ajuda?

— Isso só parece... diferente. Não quero tratar este encontro


como qualquer outro encontro. Podemos realmente ter uma
chance de algo aqui. Quero ter certeza de que estou fazendo isso
direito.

— Então, onde você vai levá-la na quarta-feira? — Cara levanta


sua prancheta e sorri. Ela desenhou a Rosie com base na minha
descrição. É surpreendentemente preciso, exceto que ela tem
galhos no lugar dos membros. — Acertou em cheio.

— Eu ainda não tenho certeza. Um lugar privado seria bom,


sem pressão.

— Que tal um jantar de piquenique? — Jennie sugere. — Isso


pode ser bom.

— E serão apenas vocês dois, então você não precisa se


preocupar com fotógrafos ou pessoas pedindo autógrafos —
acrescenta Olivia. — Isso pode ser realmente esmagador no
começo. Vocês, homens do hóquei, atraem a atenção em todos os
lugares que vão.

Concordo com a cabeça, mas uma sensação de enjoo invade


meu estômago. — Há apenas, tipo, um problema bem pequeno. —
Eu levanto meu polegar e indicador, espiando entre a pequena
abertura. — Pequenino, realmente. Rosie, hum... ela não assiste
hóquei.

Jennie dá de ombros. — Não é grande coisa. Podemos ensiná-


la.

— Ah, sim, isso é... — Sacudo meus cachos. Coço minha


garganta. Bato o punho na mão oposta enquanto me ponho de pé
e dou três passos para a direita, depois giro, enfio a mão no cabelo
e aponto para o nada. — Sim, não foi isso que eu quis dizer. Quer
dizer, ela, uh... ela não sabe quem eu sou.

As sobrancelhas de Jennie saltam. O queixo de Olivia cai. Hank


passa a mão na boca enquanto solta um longo suspiro. Cara sorri,
ri de um jeito maldoso e começa a escrever em sua prancheta.

— Identidade... oculta. — Ela sublinha três vezes. — Eu amo


esse tópico.

Olivia balança a cabeça. — Ok, vamos voltar. Quando você diz


que ela não sabe quem você é...?

— Eu disse a ela meu nome completo e ela simplesmente me


devolveu o dela. Ela acha que sou um cara normal.

— Bem, você é um cara normal — Jennie argumenta.

Cara assente. — Um cara normal que ganha mais de quinze


milhões por ano entre seu contrato como um dos melhores goleiros
da NHL e todos os patrocínios de sua marca. Apenas um cara de
colarinho azul totalmente normal. — Seus olhos azuis
permanecem nos meus, o canto de sua boca levantado em um
sorriso enquanto ela acrescenta mais uma linha dolorosamente
lenta abaixo das palavras identidade oculta.

Eu esfrego minhas mãos sobre meu rosto e gemo, caindo de


volta no sofá. — Eu fodi tudo. Ainda nem tivemos nosso encontro
e estraguei tudo.

— Isso não é verdade — Olivia insiste. — Seu trabalho surgiu


organicamente na conversa?

Eu balanço minha cabeça.

— Então você não fez nada de errado. Você pode contar a ela
na quarta-feira.

Eu me sento com suas palavras por alguns momentos,


contemplando tudo o que poderia dar errado ao invés de tudo o
que poderia dar certo. Talvez eu seja um especialista em cenários
de pior caso, assim como Rosie.

— Estou com medo — eu finalmente admito. — Eu sei que é


cedo, mas algo parece tão diferente com ela. Parece natural e fácil
e eu tenho... — Jogo meu braço para fora e suspiro, odiando que
estou prestes a dizer essa palavra. — Borboletas. Quando estou
com ela, quando penso nela... tudo parece novo, excitante e
esperançoso. Mas e se eu estiver errado sobre isso?

— Você passou dois dias com ela, apenas sendo capaz de ser
você mesmo, sem tudo o que vem sendo um figurão da NHL. Claro,
não parece muito, mas sem toda essa pressão, nenhum de vocês
tem motivos para ser alguém que não é. Rosie parece ser do tipo
que é desonesta sobre quem ela é?

— Não — eu respondo sem hesitação. — Ela não me deu


nenhuma razão para pensar que ela está sendo alguém que não é.
É apenas...

— Isso é o que você sabe — Jennie diz, balançando a cabeça.


— Eu entendo, Adam. Você está acostumado a namorar pessoas
que dão um lado primeiro, para conseguir seu tempo e atenção, e
uma vez que elas têm, mostram a você como são na verdade. —
Ela balança a cabeça, um olhar triste em seus olhos. — É
enganoso, e quando tudo que você procura é uma conexão
genuína, uma pessoa ao seu lado, é apenas... triste.

Meu coração dói por Jennie, pela merda que ela passou. Ela
passou muitos anos sendo procurada pelos motivos errados
também. É onde ela e eu somos parecidos e me sinto um pouco
menos sozinho.

Mas eu quero estar onde ela está agora, do outro lado. Ela se
sentiu tão sozinha enquanto esperava? Ela sentia que nem se
conhecia? Porque sinto que estou perdendo pedaços de mim ao
longo do caminho, e odeio isso.

— Não há pressa — Cara entra na conversa, o olhar segurando


toda a suavidade que persiste sob o sarcasmo e a maldade. —
Encontre-a onde ela está, deixe-a fazer o mesmo com você e
aproveite cada momento para se conhecerem ao longo do caminho.
— Ela arqueia uma sobrancelha e inclina a cabeça. — E se ela
acabar como todas as outras, ou pior — ela engasga — ela-que-
não-deve-ser-nomeada, então pegamos dez caixas de ovos e um
pacote de papel higiênico Costco, e nós vamos para a casa dela no
meio da noite, e nós...

— Não.

— Mas nós...

— Tenho vinte e seis anos! Não vou cobrir a casa de ninguém


com papel higiênico, Cara!

Cara faz beicinho, afundando em seu assento. — Bebezão. —


Ela vira para a próxima página em sua prancheta. — Ok,
decidimos fazer um piquenique e dizer a ela que você é rico e
famoso. Agora vamos repassar as coisas importantes.

— Isso parece ser a coisa mais importante.

Ela revira os olhos. — Não, Adam, o importante é o que você vai


vestir, o que vai dar para ela, com ou sem álcool, com ou sem sexo,
bolo de chocolate como sobremesa ou...

— Sexo? — Calor corre para meus ouvidos e eu balanço minha


cabeça. — Sem sexo. É um primeiro encontro. Eu nem vou beijá-
la! — Olho para Jennie e Olivia. — Certo? Sem beijo? Sim, você
não beija no primeiro encontro. — Sento-me no meu lugar, aliviado
quando Hank concorda com a cabeça. — Sim, isso seria muito
rápido. Sem beijo. — Sento-me para a frente. — Ou espere. Isso
envia a mensagem errada se eu não a beijar? Será que ela vai
pensar que não gosto dela? E se eu a beijar, longo ou rápido? Com
ou sem língua? Eu deixo minhas mãos vagarem ou eu — olho para
minhas mãos úmidas, enxugando-as em meu short antes de jogá-
las no ar, dando um pequeno aceno — mantenho minhas mãos no
ar onde ela possa vê-las, então ela sabe que não haverá nenhum
negócio engraçado?

O porão fica em silêncio por dez segundos completos.

Hank limpa a garganta. — Eu nunca desejei poder ver mais na


minha vida do que agora.

As meninas caem na gargalhada, e até eu abro um sorriso,


forçando-me a voltar para o sofá.

— Estou tão nervoso. Nunca fico assim antes de um encontro.

— Bem, talvez isso signifique alguma coisa — diz Hank. — Para


essa Rosie pegar um cara tão sólido e confiante como você e
transformá-lo em uma bagunça desconexa... talvez conhecê-la
fosse o destino. E eu sei que você perdeu um pouco dessa
confiança quando as coisas terminaram com sua última
namorada, mas talvez Rosie o ajude a voltar lá. Todas as melhores
pessoas nos ajudam a nos encontrar quando nos sentimos
perdidos.

Eu inclino minha cabeça. — Agora eu entendi.

— Entendeu o quê?

— Por que elas convidaram você para a noite das garotas. Eu


nem preciso delas, só você.

— Ei! — Olivia aponta para o andar de cima. — Eu trouxe a


bebê fofa que você tanto ama!

Cara segura um tablet. — Ollie também trouxe isso.

Eu franzo a testa. — Um tablet?


— Oh, seu doce tolo — ela murmura, batendo na tela. — Alto-
falantes do porão me conectarão ao seu sistema de som surround,
certo?

— Sim...

— Ótimo. — Ela coloca o tablet para baixo enquanto meus alto-


falantes apitam, informando que um dispositivo foi conectado. Seu
sorriso é ainda mais assustador, e um mal-estar percorre minha
espinha.

— O que nós...

— Capítulo Doze. Isabella. Minhas costas batem na parede no


corredor escuro com um baque, e eu me engasgo ao sentir a ereção
dura como pedra de Grant pressionando contra a parte inferior do
meu estômago. Ele é quente, pesado e grande – tão grande que eu
gemo seu nome quando ele levanta minha perna, enrolando-a em
torno de sua cintura, empurrando contra mim. Eu gosto quando você
choraminga meu nome, mas você vai estar gritando quando eu
terminar com você, Grant rosna.

— Que porra é essa? — eu grito, abrindo meus braços. — O que


é isso?

— É um audiolivro — Cara diz simplesmente, verificando as


unhas. — Você lê, Adam.

— Eu leio livros de autoajuda! Às vezes, leio fantasia! Eu


adorava Harry Potter quando era criança – processe-me! E-e-eu...
eu não leio isso!

— Você não está julgando o gosto de livros de Ollie e Hank,


está, Sr. Lockwood?
Hank balança as sobrancelhas. — Esta foi a minha escolha
para o nosso clube do livro na semana passada.

— Foi tão bom — acrescenta Olivia, sem fôlego. Ela abana o


rosto. — Grant é tão digno de desmaio.

— Posso confirmar. — Jennie abre a embalagem de um pacote


de Dunkaroos. — Foi a minha iniciação e da mamãe no clube na
semana passada, e não decepcionou. — Ela passa um biscoito
minúsculo por um pouco de glacê e o coloca na boca. — Pense
nisso como uma pesquisa, Adam. Você está perdendo a cabeça se
deve beijá-la, e isso vai ajudá-lo a descobrir. Esses primeiros
encontros são sobre ler as dicas e a linguagem corporal um do
outro.

— Às vezes, você guarda aquele primeiro beijo para o encontro


dois ou três — acrescenta Olivia.

— E, às vezes, você deixa o capitão de hóquei arrogante que


você jurou que nunca a tocaria levá-la para cima e direto pela
passagem de ano em seu Califórnia king — rebate Cara, piscando
para Olivia.

— Ele me disse que Oprah tinha o mesmo colchão! Como eu


poderia dizer não?

— É muito fácil — diz Jennie. — Não. Viu? Fácil. Experimente


comigo, pip-squeak. Não, Carter, não vou fazer sexo com você.

Olivia aponta um dedo para mim. — Isso deveria ser sobre


Adam não saber como namorar, não eu ser fraca e com tesão!

— Ei! — Eu afasto seu dedo ameaçador. — Fiquei feliz por vocês


dois quando vocês se beijaram no ano novo! — Jogo meus braços
no ar quando percebo que o casal no audiolivro está nu. — Ótimo,
para onde foram as roupas deles?

— Eles as perderam enquanto vocês estavam brigando —


responde Hank.

Isabella e Grant se tornam nada mais do que beijos ardentes,


toques punitivos, gemidos torturados que saem do meu sistema de
som, garantindo que a memória seja gravada para sempre em
meus ouvidos, e quando ela pega seu ‘comprimento grosso e
pulsante’ em sua mão, eu abaixo a cabeça e gemo.

— Isso é necessário? É como se eu estivesse ouvindo


pornografia com as esposas dos meus melhores amigos. Vocês são
como minhas irmãs. Eu sinto...

Olivia pressiona a mão na minha boca. — Shhh. Está prestes


a ficar bom.

— Ele pressiona dois dedos dentro da minha boceta encharcada


e circula meu clitóris lentamente enquanto sua boca se move sobre
meu pescoço.

— Jesus Cristo. Não posso. — Eu salto para os meus pés e


passo os dedos pelo meu rosto. — Eu não posso fazer isso. Alguém
desligue isso. — Aponto para Cara, que está digitando em seu
telefone. — O que você está fazendo?

— Apenas mandando uma mensagem para Emmett sobre algo


que eu quero que ele tente hoje à noite.

— Cara...

— É assim que você gosta de ser fodida? Ele pergunta. Devagar


e gentil? Ele empurra seus dedos grossos com mais força, mais
rápido, e meus joelhos dobram quando eu agarro seus ombros. Ou
duro e áspero, assim?

— Ah! — Um grito horripilante soa atrás de mim. Eu olho por


cima do meu ombro, encontrando meus amigos no final da minha
escada.

Carter coloca as mãos sobre as orelhas de Ireland, de onde ela


está agarrada a Garrett. — Cubra seus ouvidos, princesa!

— Leve-a, leve-a! — Garrett grita, empurrando Ireland para os


braços de Carter.

As mãos de Jaxon estão coladas em suas bochechas. — Que


porra você está fazendo, Adam? — ele grita.

Emmett pisca para Cara. — Recebi sua mensagem, querida.

Subo as escadas o mais rápido que minhas pernas permitem.


— Estou fora daqui.

Por algum milagre, chego até quarta-feira.

Eu supero as recomendações desnecessárias de brinquedos de


Jennie.

Faço isso através de trechos de cenas úteis de audiolivros


enviados por Olivia.

Pela glória de Deus ou de quem diabos me colocou nesta terra,


eu até faço compras com Cara para uma roupa de noite.
Agora só preciso passar por esse encontro com minha criança
favorita de cinco anos primeiro.

— Você está fazendo errado — a pequena voz ao meu lado


sussurra.

— Merda — eu murmuro quando o pequeno elástico rosa que


eu estou tentando enrolar em torno de um gancho estala,
ricocheteando no ar. Meu olhar muda para Lily, e eu me encolho.
— Quero dizer, merda. Cocô. Pô? Ahhh. — Esfrego a mão na boca.
— Droga.

Lily dá uma risadinha, pegando a pequena agulha de tear das


minhas mãos. Ela engancha outro elástico brilhante no tear e
começa a trabalhá-lo sem esforço com a agulha. — Viu? É tipo
isso.

Eu olho para minhas mãos. — Minhas mãos são muito


grandes. São mãos de ogro.

Ela balança a cabeça, escondendo o sorriso enquanto continua


trabalhando. — Eu não acho. Ogros são assustadores. — Grandes
olhos castanhos erguem-se para os meus. — Você não é tão
assustador.

Quatro palavras simples não deveriam fazer meu coração bater


um pouco mais rápido, mas fazem. Há alguns anos que trabalho
como voluntário na Second Chance Home, passando tempo com
as crianças que entram pela porta, precisando de um pouco de
amor extra, da mesma forma que eu, quando tinha a idade de Lily.

Lily chegou à casa há quatro meses. Ela costumava chorar


quando me via e, por mais que isso partisse meu coração, dei a ela
o espaço de que ela precisava. Estar fora da temporada e ser um
dos dois amigos solteiros em nosso grupo significa que tenho
passado muito tempo aqui recentemente. Talvez ela tenha se
acostumado comigo, porque um mês atrás, Lily se sentou na ponta
do sofá em que eu estava sentado e olhou para a capa do livro que
ela trouxe com ela. Perguntei se poderia ler para ela, e ela me
encarou por um minuto inteiro antes de se aproximar lentamente,
empurrando o livro entre nós. Wherever You Are My Love Will Find
You7, de Nancy Tillman. Agora nós o lemos a cada visita.

Progresso é progresso, por mais lento que seja.

Espero que seja assim que ela se sente sobre me ensinar a fazer
pulseiras Rainbow Loom, porque essa merda já dura duas
semanas e não está indo bem. Entendo o processo, simplesmente
não consigo fazer meus dedos gigantes trabalharem em algo tão
minúsculo.

Lily me devolve a agulha e enfia o cabelo castanho atrás da


orelha. — Aqui. Agora tente de novo, mas vá devagar.

— Devagar. Entendi.

Trabalhamos em nossas pulseiras lado a lado sem uma


palavra. Eu não me importo com o silêncio com ela. Cada
centímetro de silêncio que ela me deu sempre foi mais do que
suficiente.

Eu olho para cima quando uma porta se abre e um garotinho


sai correndo dela, indo para os blocos no chão. Emily, uma boa

7
Onde quer que você esteja, meu amor o encontrará.
amiga de Garrett e Jennie e sua antiga vizinha, sai da sala atrás
dele. Ela coloca um par de óculos de armação escura no nariz e
sorri quando me vê.

— Hoje é o dia em que o Sr. Lockwood finalmente termina seu


primeiro Rainbow Loom? — Ela se agacha e cutuca Lily. — Já era
hora, estou certa?

Lily ri. — Ele ainda está aprendendo, mas está indo muito bem.
— Ela coloca suas ferramentas para baixo e envolve os braços em
volta da cintura de Emily, apertando. — Olá, Srta. Emily. Vamos
conversar hoje?

— Nós absolutamente vamos, querida. Tenho tempo para você


agora, mas se estiver ocupado com Adam...

— Não! — Ela pega um fecho e começa a prendê-lo no elástico.


— Terminei!

— Ah, cara — eu lamento. — A minha ainda está muito curta.

Lily se inclina, examinando o comprimento da minha pulseira.


Ela olha para a dela e morde o lábio. Então ela me entrega um
fecho. — Você se lembra como terminar?

— Eu acho que sim. — Prendo o pequeno fecho da mesma


forma que vi Lily fazer centenas de vezes, depois puxo minha
pulseira minúscula do tear e franzo a testa. — É muito pequena.

Lily pega a pulseira de mim e a coloca em seu pulso, então


gentilmente pega minha mão na dela e desliza sua pulseira em
meu pulso. — Eu sou um pouco mais rápida, então a minha é mais
longa. Podemos trocar. Agora você pode pensar em mim quando
usar minha pulseira, e eu também pensarei em você.
Algo grosso fica preso no fundo da minha garganta e luto para
engolir. — Obrigado, Lil.

— Vou esperar no seu escritório — ela diz a Emily, então me


lança um olhar tímido. — Tchau, Adam.

Ela corre pela sala e desaparece antes que eu possa dizer


adeus, e eu me levanto, guardando o tear.

— Você está crescendo nela, hein? — Emily observa.

— Ela é a criança mais doce de todas.

Emily sorri, mas é triste e um pouco distante. Como psicóloga


infantil que trabalha com as crianças aqui, ela sabe muito mais
sobre elas e suas vidas do que eu. Não quero ficar cego para o
motivo de alguns deles estarem aqui, mas também não tenho
certeza se conseguiria aguentar todos eles.

— Ela é uma mocinha muito forte. — Ela afasta o pensamento


e sorri. — Ouvi dizer que você tem um encontro esta noite. Jennie
disse que você realmente gosta dessa garota.

— Eu gosto. Eu acho. Quero dizer, até agora. Sim. Eu gosto.

Seus olhos brilham enquanto eles vagam sobre mim, enquanto


enfio meus dedos pelo meu cabelo e puxo minhas roupas. — Meu
Deus, Jennie estava certa. Você está uma bagunça agora, não é?

Eu suspiro. — Não tenho orgulho disso.

— Puta merda. — Ela agarra minha mão quando a porta da


frente se abre e meu treinador entra. — Quem é?

— Davis.

— Davis quem? Nunca o vi antes.


— Ele é meu treinador. Ele visita as crianças aqui e ali.

— Mmm... — Ela traça o lábio inferior com a unha, os olhos em


chamas. — Solteiro?

— Recentemente divorciado.

— Foda-se, sim. Bem o meu tipo.

— A filha dele é muito fofa também.

— Filha? — Seus braços caem com seu suspiro desanimador.


— Ugh, nojento. Crianças.

Eu arqueio uma sobrancelha, gesticulando para todas as


crianças, aquelas com quem ela trabalha de graça em seu tempo
livre.

— Eu tenho que devolver essas, Adam. Não estou interessada


em manter uma em tempo integral.

A porta de seu escritório se abre e Lily põe a cabeça para fora,


com os olhos arregalados. — Emily? Você ainda está aí?

— Já estou indo, querida! — Ela bate no meu quadril com o


dela. — Divirta-se no seu encontro, Casanova. Não se esqueça de
levar flores e sobremesa. Garotas adoram essa merda. — Ela pisca
para mim enquanto se afasta, segurando uma mão entre o lado de
seu rosto e o resto da sala. — Elas também adoram ser a
sobremesa.

Como se eu estivesse seguindo algum conselho de Emily.


Ok, estou seguindo um pequeno conselho dela.

Sobre a sobremesa. Levando uma, não fazendo de Rosie uma.


Um dia, talvez, mas... não. Não, Adam. Foco.

Enfio os biscoitos recém-assados e os morangos com cobertura


de chocolate em minha cesta de piquenique e coloco na porta da
frente, ao lado do buquê brilhante de rosa, laranja e peônias
amarelas que comprei antes. Calço meus sapatos, prendo a coleira
de Bear e abro a porta da frente.

Então eu a bato novamente.

Bear olha para mim, a cabeça inclinada como se dissesse: Que


porra é essa, cara?

Corro para o banheiro, acendo a luz e olho para o meu reflexo.

Meus cachos foram domados, meu rosto recém barbeado, meus


dentes escovados três vezes só para garantir, e minha roupa está
no ponto, graças a Cara. Aliso minha camisa, ajeito meu cabelo e
olho para Bear.

— O que você acha, amigo? Bonito?

Sua cauda feliz bate contra a parede.

— Certo? Tão bonito. Vai correr tudo bem. Vou contar a Rosie
o que faço da vida, ela vai ficar totalmente indiferente com tudo
isso, vamos ter uma ótima noite, e talvez eu até segure a mão dela,
e vai ser perfeito. Noite perfeita. Sim.

Ainda assim, levanto meu telefone, dou um sorriso trêmulo e


tiro uma foto. Depois mando para as meninas.

Eu: Eu pareço bem?


Jennie: Bonito como sempre, meu caro. Vai arrasar.
*emoji de berinjela emoji de gotículas de água*

Olívia: *olhos do coração emoji de lágrimas felizes*


Você parece perfeito, Adam.

Cara: Se meu marido não colocar um bebê em mim,


você colocará???

Pego a cesta e as flores e respiro fundo.

— Deseje-me sorte, Bear. Vou conquistar a garota bonita.


CAPÍTULO 7

DERRAMANDO SEGREDOS E VINHO

— Ela ficou com o bálsamo colorido. Boa escolha.

— Eu não dei a ela uma escolha.

— E o vestido de verão? Foi você também?

Archie cantarola, olhando-me no espelho. — Foi Rosie, na


verdade.

Marco passa os braços em volta do pescoço de Archie por trás,


o queixo em seu ombro. Ele beija as pontas dos dedos. — Beijo do
Chef, Ro. Fácil acesso também.

Calor se infiltra em minhas bochechas enquanto eu verifico


meu reflexo. Meu cabelo não está se comportando hoje, e as
presilhas de flores que usei para prender meu cabelo para trás não
estão fazendo muito para escondê-lo. Eu corro minhas mãos pelo
meu vestido. — Eu pareço bem? Devo mudar? Cortei meu joelho
raspando. Meu cabelo não está certo. E se...

Archie dá de ombros para o namorado e me puxa para um


abraço. — Você está linda, Ro.

— Muito sexy — acrescenta Marco.


— E se ele não gostar de mim? — eu sussurro contra o peito de
Archie.

Sua expressão se contorce de desgosto. — O que há para não


gostar?

Eu dou de ombros, brincando com meus dedos. — As pessoas


parecem encontrar razões suficientes.

— Nunca somos bons o suficiente para as pessoas erradas. Mas


você é perfeita para nós, e nós amamos tudo sobre você. Não fique
nervosa. Seja você mesma. — Ele embala meu rosto, sorrindo. —
Agora, o que dizemos?

Respiro fundo antes de recitar as palavras que esses dois


trabalham tão arduamente para eu assimilar. — Eu sou gentil. Eu
sou forte. Eu sou bonita. As pessoas que deveriam estar na minha
vida vão me encontrar.

— Certo. — Marco me conduz pelo corredor, dando um tapa na


minha bunda. — Agora saia daqui! — Quando começo a calçar
meus tênis, ele grita: — Não! Não os Nikes, Rosie, por favor, pelo
amor de Deus. Você está arruinando uma roupa perfeitamente
boa!

Eu olho para os meus sapatos, as flores brancas decorando o


swoosh azul claro. Eles são fofos e combinam com meu vestido. Eu
não tenho carro — eu o lembro. — Estes são práticos para
caminhar.

Seu olhar me implora para reconsiderar, então eu continuo


antes que ele possa argumentar.
— Você pode forçar o protetor labial colorido em mim, mas é
tênis ou pés descalços. — Aponto para Archie. Além dos anos que
passamos como colegas de classe e de trabalho, também fomos
colegas de quarto por três anos. Nossa rotina é uma segunda
natureza, mas tenho um certo controle sobre certas coisas. —
Connor está sendo deixado em...

— Cinco.

— E banho...

— Às seis e quinze.

— E...

— Sim, Rosie, eu sei. Eu não sou novo. — Ele enfia meu chapéu
de aba larga na cabeça. — Saia daqui, ou vou segurar você para
que Marco troque seus sapatos. — Ele lança um olhar aguçado
para o armário do corredor, onde um par de saltos de dez
centímetros espera para arruinar meus pés.

Qualquer sugestão de humor se dissipa, e eu saio correndo pela


porta antes que eles possam cumprir suas ameaças.

É uma tarde linda e ensolarada, e estou saindo cedo, então


desço do ônibus duas paradas antes para poder entreter os
pensamentos que estão prestes a me deixar em uma espiral sobre
como este encontro deve ser horrível, assim como o resto deles. Eu
vacilo entre estar contente em saber que não precisamos de
alguém em nossas vidas que não queira estar aqui, e me preocupar
que Adam não vai me querer, não tudo de mim. É uma decepção
que já parece tão pesada, que não quero carregar comigo.
Eu odeio estar me antecipando, vivendo no futuro em vez de
mergulhar no agora. Então, quando o parque isolado aparece, eu
aliso minhas mãos no meu vestido uma última vez e me
comprometo a dar a isso uma chance.

A última mensagem de Adam me disse para ligar quando


chegasse para que ele pudesse vir me encontrar, mas é impossível
perder a enorme extensão sob um carvalho crescido demais. Meu
coração tem uma batida rápida e constante que desce até a ponta
dos meus dedos, curvando-se ansiosamente nas palmas das
minhas mãos. Um cobertor xadrez está à sombra dos galhos, uma
cesta em um canto, uma variedade de carnes, queijos, biscoitos,
pães e frutas espalhados sobre uma tábua de madeira no centro.
Uma pilha de almofadas no canto completa a estética, porque
Adam Lockwood é totalmente digno do Pinterest.

— Eu não disse para você me ligar quando chegasse aqui?

Meu coração pula para a garganta e, quando giro, ele para


completamente. Adam é a imagem da perfeição sem esforço,
alguém abençoado além da crença com aparência impecável,
finalizado com estilo em sua camisa branca de manga curta, para
fora de seu short cinza justo, cachos escuros jogados para o lado,
olhos azuis vibrantes tão brincalhões quanto seu sorriso torto e
imaculado. Mas a coisa mais sexy que ele usa é a confiança de um
homem que tem certeza de que vai arrasar nesse encontro.

— O engraçado é — ele murmura, dando um passo em minha


direção, sobrancelhas arqueadas quando dou um passo para trás.
— Eu sabia que você não iria ouvir. — Outro passo em minha
direção, e outro passo para trás, seu sorriso crescendo, como se
ele gostasse desse jogo de gato e rato que estamos jogando. — Você
é meu tipo favorito de problema. Quer saber por quê?

— Por quê?

Sua mão sai do bolso, pegando um punhado do meu vestido,


parando meu próximo passo para trás, diminuindo a distância
entre nós. Sua voz cai para um sussurro, todo cascalho e casca,
que envia um arrepio quente ondulando pela minha espinha
quando seus lábios param na concha da minha orelha. — Porque
eu nunca quis me aprofundar tanto quanto agora que conheci
você.

Ele pressiona um beijo suave na minha bochecha ardente antes


de pegar minha mão, puxando-me para o nosso piquenique. —
Vamos, menina bonita. Parece que você precisa de uma taça de
vinho.

Uma taça? Vou precisar de uma garrafa inteira de coragem


líquida para acompanhar isso. O que aconteceu com o homem que
estava tão nervoso para me convidar para jantar que não falou
comigo por dez minutos inteiros, apenas abriu a boca e depois a
fechou?

— Eu tive uma noite de garotas — Adam me diz enquanto me


guia até uma pilha de almofadas.

— Perdão?

— Você está se perguntando de onde veio a confiança. Eu tive


uma noite de garotas. Eu estava tão nervoso sobre acertar com
esse encontro que recrutei as esposas dos meus melhores amigos
para me aconselhar. — Ele ergue uma garrafa de água com gás,
vinho tinto e suco de uva, servindo-me um copo de tinto quando
aponto para ele. — Ideia horrível, a propósito. Minha confiança
vem às custas da minha dignidade, que foi perdida ao ouvir
audiolivros sensuais.

Eu coloco a mão sobre a boca enquanto cuspo no meu vinho.


— Perdão?

— O que, você nunca foi pega por seus melhores amigos


ouvindo um audiolivro obsceno com três mulheres e um homem
de oitenta e seis anos? — O sol dança com a diversão em seus
olhos enquanto ele me observa rir. — Eles pensaram que eu
poderia precisar de ajuda para namorar.

— Acho difícil acreditar que você está tão fora de contato com
o mundo dos encontros.

— Eu não estou, eu acho. Estive em muitos encontros. Mas


este é o primeiro que parece significar algo. — Ele levanta um
ombro, gesticulando na frente de nós. — É provavelmente por isso
que eu também estava em uma videochamada em grupo quinze
minutos atrás com as mesmas garotas, enlouquecendo se as
almofadas estavam muito para a frente, se eu deveria me sentar
do lado oposto do cobertor e quanto tempo depois da sua chegada
tenho que esperar antes de pegar sua mão e não soltá-la pelo resto
da noite.

Ele joga meu chapéu para trás e afasta minha franja, as pontas
dos dedos roçando minha bochecha. — Eu posso dizer que você
está nervosa, Rosie, e quero que você saiba que, mesmo que eu
pareça confiante agora, tenho estado uma bagunça a semana toda
por causa disso. Não tenho vergonha de admitir. — Quando ele
olha para mim em seguida, sob cílios tão escuros e com um olhar
tão inebriante, borboletas explodem em meu estômago. — Então
vi você parada lá com esse chapéu e esse vestido de verão, e todas
as coisas assustadoras desapareceram. A única coisa que estou
sentindo agora é felicidade, e se você ainda está nervosa, já estou
feliz o suficiente por nós dois.

— As almofadas são confortáveis, gosto de ter você ao meu lado,


porque você me faz sentir quente e especial, e se você pegar minha
mão agora, talvez eu nunca mais a peça de volta. — As palavras
saem, mas se não posso dar a ele todas as minhas verdades esta
noite, pelo menos quero que ele fique com essas. O pânico que
aperta minha garganta diminui com seu sorriso gentil. — Nossa,
só precisei beber meio copo de vinho para dizer isso.

— Trouxe duas garrafas para o caso de você querer arriscar


tudo esta noite. Você pode me contar todos os seus segredos.

— Isso é um tipo de segundo encontro, Sr. Lockwood, e também


requer sorvete.

— Entendi. Duas garrafas de vinho, uma casquinha de sorvete


e o encontro número dois. — Ele sorri então, largo e cheio de
malícia enquanto seu olhar cai para as minhas pernas. Sua mão
pousa no meu joelho, deslizando ao longo da minha pele nua, onde
ele agarra a bainha do meu vestido de onde ele subiu na minha
coxa. Gentilmente, ele o coloca de volta no lugar, olhos subindo
para encontrar os meus, um fogo ardendo tão quente que queima
minha pele. — Mal posso esperar para desvendar você.

Meus olhos se arregalam com a insinuação e bebo o resto do


meu vinho. Não faz nada para aliviar a queimação em minhas
bochechas, ou a batida repentina vibrando entre minhas pernas,
então eu pego o vinho e torno a encher meu copo. Adam ri,
entregando-me uma pequena garrafa de água com gás também.

Ele enfia a mão na cesta de piquenique e tira um buquê de


flores, estendendo-o para mim, sorrindo. — Para você.

Minha mão dispara, os dedos se curvando na palma da mão


por um momento antes de eu hesitantemente passar pelas pétalas,
tons de rosa suave e azul lilás empoeirado. Minha visão vacila e
prendo meu lábio inferior trêmulo entre os dentes, uma reação
esperada quando a risada de minha mãe ressoa em meus ouvidos,
lembranças de mãos e joelhos sujos, arbustos de peônia e folhas
caindo piscam em minha mente.

— Rosie? — Sua voz diminui, um leve tremor em sua mão


quando ele começa a puxar o buquê de volta. — Desculpe. Eu
queria rosas, por causa do seu nome. Mas então eu vi estas, e elas
eram tão bonitas que me lembraram de você. Se você não gosta
delas...

— Elas são perfeitas — murmuro, envolvendo minha mão em


torno dele, levando as flores ao meu nariz. — Eu as amo, Adam.

Olhos de safira me observam, e Adam prende uma única


lágrima rolando pelo meu rosto. — Então por que você está
chorando?

Porque não parece haver outra opção. — Recordações.

Seu olhar pisca. — Boas ou más?

Eu sorrio. — As melhores. Às vezes, eu simplesmente esqueço


que não consigo fazer novas. A percepção é um pouco avassaladora
por um momento. — Coloco o buquê para baixo, e antes que eu
possa questionar, envolvo meus braços em torno dele, afundando
em seu calor. — Obrigada, Adam.

Ele tira meu chapéu e me aperta contra seu peito sólido. Seus
lábios tocam o topo da minha cabeça. — De nada, Rosie.

Ficamos assim, entrelaçados, como se nenhum de nós


estivesse pronto para soltar, mas quando meu estômago ronca,
Adam ri, afastando-se e ajeitando minha franja.

— Com fome?

Outro resmungo, emparelhado com um sorriso tímido. —


Sempre.

Enquanto comemos, ele me faz pergunta após pergunta, até


ficar satisfeito por saber tudo sobre mim, assim: Cresci em Ontário
e me mudei para Vancouver depois de me formar no ensino médio.
Que tenho vinte e quatro anos, mas sou um bebê de novembro,
então quando me formar na primavera, terei vinte e cinco. Que
concluí minha graduação em ciências animais e estou com uma
bolsa integral no programa de Doutora em Medicina Veterinária do
Pacific Veterinarian College.

— Bolsa integral? — Suas sobrancelhas saltam. — Não me diga.


Você é uma espertinha.

Eu dou de ombros. — Eu não tinha nada melhor para fazer do


que estudar e ler enquanto crescia. Eu não tinha muitos amigos,
então acho que veio com o território.

— Não se venda barato. Você está no último ano da escola


veterinária, com uma bolsa integral, e não tem nem vinte e cinco
anos. Você está prestes a ser médica, Rosie. Essas são algumas
realizações incríveis. Você deveria estar orgulhosa.

Meu coração dispara. Estou orgulhosa de mim mesma.


Trabalhei mais do que pensei ser possível, e ter alguém
reconhecendo minhas realizações é bom.

Adam reabastece meu vinho. — O que você faz no abrigo?

— Bem, a escola veterinária é muito exigente, então eu só


trabalho lá durante o verão e o que consigo durante o ano letivo.
Espero que eles me contratem como veterinária quando eu me
formar, mas agora, eu principalmente socializo animais. Muitos
dos animais que chegam estão assustados. Toda a sua vida foi
virada de cabeça para baixo. Trabalhamos com eles para começar
a confiar nos humanos novamente antes que estejam prontos para
serem adotados.

— Deve ser gratificante vê-los sair de suas conchas.

— É realmente incrível, Adam. Especialmente com animais


como Piglet, que já passaram por tanta coisa. Ela tem tanto amor
para dar, e alguém roubou essa luz dela. Eu amo ser parte da razão
pela qual ela a encontra novamente.

Adam sorri para mim. — Você realmente a ama.

— Muito.

— Você já pensou em adotá-la?

— Somente todos os dias.

— O que está parando você?


Eu trago meus pés em minha direção, cruzando as pernas,
traçando o movimento dos meus Nikes. — Não tenho o espaço que
ela merece. — Nem o dinheiro para manter seus cuidados. — Se
tivesse, eu a levaria para casa em um piscar de olhos. Mas ela
merece mais do que posso oferecer a ela.

— Entendi. Mas pelo que vale, Rosie, geralmente não é o espaço


que faz um lar. É o amor. E aposto que você dá o melhor tipo.

O canto da minha boca se curva. — Você é realmente


refrescante, sabia?

— Como assim?

— Você parece alguém que está sempre no controle, ou alguém


que gosta de estar, talvez. Talvez seja o seu tamanho ou o quão
confortável você parece em sua própria pele. Você não tem medo
de ser cordial, doce e gentil, como carregar Piglet escada abaixo
porque ela está com medo, ou admitir que você pede conselhos às
suas amigas. Mas o jeito que você fala às vezes, o jeito que você...
toca... tanto quanto você gosta de estar no controle, eu sinto que
há uma parte de você morrendo de vontade de perder todo esse
controle, de ser desenfreado. É revigorante ver alguém tão disposto
a ser aberto sobre exatamente quem é e o que precisa.

Eu limpo a secura na minha garganta, então a afogo com vinho


enquanto o silêncio gira em torno de nós, esperando que eu não
tenha cruzado a linha.

— E você? — Adam finalmente pergunta. — Você gosta de estar


no controle?
— Eu tenho que estar no controle. Na escola, no trabalho, não
posso me dar ao luxo de deixar minhas emoções tomarem conta
de mim. É uma das coisas mais difíceis que já fiz, conter-me, e às
vezes falho. Às vezes, eu falho com frequência, mas estou
tentando. E em casa, eu... — Eu me paro antes de falar demais,
algo que não estou pronta para compartilhar. — Eu dependo da
rotina. Eu deveria ser mais flexível, mas me estressa só de pensar
em mudar alguma coisa no meu dia a dia, às vezes. Então, sim,
estou no controle. Mas eu gosto de estar? — Mordo meu lábio
enquanto olho para Adam, o jeito que ele está me observando com
muita atenção, bebendo cada palavra. — Às vezes, desejo que
outra pessoa assuma o controle, só para que eu não precise fazer
isso. Só para que eu possa deixar ir, mesmo que por um momento.
Estar no controle o tempo todo é... exaustivo.

Adam se inclina para trás em suas mãos, olhando para o céu


azul brilhante lentamente desaparecendo em um lindo tom de lilás
enquanto o sol se põe. Quando seus olhos encontram os meus,
algo em meu peito quer se abrir, deixá-lo ver por dentro, os medos,
as inseguranças, as pequenas alegrias e triunfos, todas as
nuances que me moldam. De alguma forma, parece que é isso que
ele quer também.

— E se este for o seu espaço seguro para fazer isso? E se


quando você estiver comigo, você puder desistir, deixar para lá e
apenas... ser?

— É uma boa ideia. — Rebuscado, mas legal. A ansiedade, as


tendências obsessiva-compulsivas que cercam minhas rotinas e
moldam minha vida, são uma voz em minha cabeça menos
agradável, menos esperançosa. Ela me diz que não posso deixar ir,
porque o que acontece quando deixo? Caos, desordem. Coisas que
precisarei consertar.

— Não precisa ser apenas uma ideia. — Ele coloca a mão sobre
a minha, um toque gentil que acalma as preocupações. — Você diz
que é uma especialista em cenários de pior caso, e a ideia de
desistir de qualquer quantidade de controle é provavelmente
horrível, mas talvez com tempo e um pouco de confiança,
aprendemos a dar e receber o controle quando precisamos. Um
para o outro e para nós mesmos.

Eu viro minha palma, observando enquanto ele traça as linhas


nela. — Faz sentido que a ideia seja tão assustadora quanto
calmante?

— Faz todo o sentido, Rosie. Nada que valha a pena vem fácil,
não é? Queremos a calma, mas às vezes temos que enfrentar a
tempestade para chegar lá.

Suas palavras se acomodam em torno de mim como um


cobertor aconchegante, e um arrepio percorre meu corpo quando
seus dedos deixam minha palma, subindo pelo interior do meu
antebraço, o que me faz cócegas. — Tão sábio. O que você é, um
terapeuta?

Ele ri baixinho. — Não.

— Estou perto?

— Nem um pouco, Trouble.

— Hmm... — Eu afasto meu braço quando ele me faz cócegas


novamente, escondendo meu rosto quando minha risada começa
a se transformar em território de bufo de porco. Pegando sua mão
na minha, eu a viro, trocando de lugar com ele enquanto passo as
pontas dos meus dedos sobre sua palma.

— Você é um... treinador de cães?

Seus olhos brilham quando ele balança a cabeça. — Nuh-uh.

— Professor?

— Não.

— Corretor de imóveis?

— Frio.

— Policial?

— Mais frio.

— Operador de equipamento pesado? Contador? Você trabalha


na AVAC? Oh, meu Deus. — Eu giro em direção a ele, quase
rastejando em seu colo. — Você é um detetive particular?

Ele ri, passando o braço em volta da minha cintura, puxando-


me entre suas pernas, de volta contra seu peito. O trovão de seu
coração dá lugar a seus nervos enquanto espero por sua resposta.

— Eu sou um, uh... — Ele limpa a garganta. — Eu trabalho


com atletas.

— Atletas? Tipo, times esportivos?

Ele engole. — Profissionais.

— Oh. — Meu nariz enruga. — Uh-oh.

Ele endurece. — O quê?


— Não entendo nada de esportes. Eu não tenho pontos de
discussão. Desculpe. Mal consigo distinguir uma luva de beisebol
de uma luva de hóquei8.

Ele bufa uma risada linda e gloriosa. — Luva.

Eu me inclino para o lado para poder olhar para ele por cima
do ombro. — Huh?

— Luva de hóquei. A menos que você esteja falando sobre o que


o goleiro veste, isso é um apanhador e um bloqueador. E, na
verdade, luva é perfeitamente aceitável para chamar as de
beisebol, especialmente a luva do apanhador. — Ele ri, cutucando
a covinha no meu queixo. — Mas não as de hóquei.

— Isso é apenas confuso. Todos elas vão para suas mãos. Por
que tantos nomes diferentes?

— Sinceramente, eu não sei.

— O que você faz com os atletas no trabalho?

Olhos azuis encontram os meus, e a preocupação ali, a dor,


rouba minha respiração, cava um buraco em meu peito e esculpe
um lar que dói. Não tenho certeza do que ele está procurando
enquanto seu olhar percorre meu rosto, mas se isso tirar esse
peso, espero que ele encontre.

Em vez disso, ele baixa o olhar. Quando ele olha para mim, é
com uma reserva que embota o brilho em seus olhos, parece
antinatural em um homem tão gentil e aberto.

8
Aqui foi usada a palavra mitten, que também é traduzida como luva na língua portuguesa, do tipo sem a
separação de todos os dedos, somente com o polegar separado.
— Um pouco de tudo — ele finalmente me diz, passando o dedo
pelo corte no meu joelho por causa da lâmina. — Treinamento,
nutrição, viagens. — Sua boca se contrai e ele pisca. — Todas as
coisas chatas.

— Você gosta disso?

— Muito. Não trocaria por nenhum outro trabalho.

— Isso é o que importa, não é? Muitas pessoas passam seus


dias infelizes no trabalho. A vida é muito curta para não amar o
que você faz.

Adam sorri para mim. — Você tem razão. O que é a vida se não
estiver cheia do que você ama?

— Incomoda você que eu não goste de esportes?

— De jeito nenhum. É revigorante. Dá-me outra coisa para


falar.

Eu cubro sua mão na minha coxa. — Você vai me contar mais


sobre você? Eu quero saber tudo.

Seu sorriso gentil diminui a velocidade do meu coração, e eu


relaxo em seu corpo enquanto ele me conta sobre sua vida em
Vancouver, como ele passa os verões com seu cachorro e seus
amigos, como ele está amando ser o Tio Adam para a filha de cinco
meses de seu melhor amigo, e que embora tenha se mudado para
cá a trabalho e nunca queira sair, ele cresceu no Colorado. Eu
absorvo tudo, embora de alguma forma me sinta insatisfeita, como
se estivesse perdendo grandes pedaços dele.

Conversamos para sempre, mesmo quando ele exibe com


orgulho os morangos cobertos com chocolate e os biscoitos de
chocolate que trouxe para a sobremesa, enquanto pega o suco de
morango escorrendo pelo meu queixo, levando o polegar à boca e
provando.

O silêncio só começa a se estabelecer quando o céu escurece, e


fico dolorosamente ciente de todos os lugares em que estamos
conectados. Seu peito pressionado contra minhas costas, subindo
continuamente. O roçar de seus dedos em minhas coxas, roçando
a bainha do meu vestido. Seu queixo no meu ombro e seus lábios
na minha orelha, tudo isso em contraste com a brisa fresca que
começa a beliscar meus braços nus.

Adam passa a mão sobre meus braços, um calor escaldante


que, de alguma forma, só provoca mais arrepios. — Aqui — ele
sussurra, alcançando atrás das almofadas, pegando um suéter.

Eu deslizo o tecido macio sobre minha cabeça, enterrando-me


em seu calor. Uma sensação vertiginosa corre para a minha cabeça
quando o cheiro de Adam me envolve – um aroma terroso e picante,
algo limpo e fresco como frutas cítricas, e o cheiro sempre
reconfortante de roupa lavada.

E então algo magnífico acontece. Quando o sol finalmente se


põe atrás do horizonte, a árvore acima de nós ganha vida.
Pequenas luzes espalhadas entre as folhas brilham como vaga-
lumes, fazendo a noite brilhar. Meu coração sobe até minha
garganta e faz ali um lar, roubando cada palavra que quero dizer.
Quando meu olhar encontra o de Adam, suave e elétrico ao mesmo
tempo, não sei se tudo dentro de mim para de funcionar, ou se
algo dentro de mim recomeça. É apenas uma sensação diferente, e
sou lançada pelo súbito desequilíbrio, a necessidade de estender a
mão e agarrar este homem, como se ele fosse meu centro de
gravidade.

— Você gosta delas? Elas são movidas a energia solar. Eu


estava preocupado que não recebessem luz solar suficiente
escondidas nas árvores, então eu as deixei no meu quintal o dia
todo. — Ele passa a mão ansiosamente pela nuca. — Achei que
poderíamos ficar mais tempo se tivéssemos um pouco de luz.
Então eu poderia ficar com você por mais tempo.

— Você pode me manter para sempre — acidentalmente escapa


dos meus lábios, e eu coloco a mão sobre minha boca suja e
traidora.

Adam sorri. — Cuidado. Posso aceitar isso. — Ele entrelaça


nossos dedos, um calor que não quero perder. — Parece o meu tipo
de eternidade.

Ele fica de pé, puxando-me com ele, e seu sorriso ilumina todo
o meu mundo em chamas.

— Dance comigo, Rosie.

— D-dançar? Mas... não tem música.

— Não preciso disso. — Ele pisca, puxando minha mão. —


Agora venha aqui.

Eu vou, tropeçando no meu pé, e Adam me pega contra seu


peito sólido, sua risada profunda rolando pelo meu pescoço antes
de sussurrar aquele apelido que me emociona e traz tantas
memórias perdidas também.

— Trouble.

— Talvez seja você o problema.


Mãos largas deslizam sobre meus quadris, as pontas dos dedos
cavando enquanto balançamos lentamente juntos, as folhas
sussurrando na brisa do verão e o zumbido das cigarras cantando
uma melodia suave no ritmo da respiração rouca que beija meu
pescoço quando Adam mergulha sua boca ali.

Sua palma sobe pela minha espinha, curvando-se sobre a


minha nuca, onde ele aperta muito suavemente. — O único
problema em que quero me meter, Rosie... é com você.

Lábios macios escovam minha têmpora antes que ele apoie o


queixo na minha cabeça enquanto dançamos sob as luzes
cintilantes e as estrelas acima de nós.

São quase onze horas quando começamos a empacotar tudo, e


minha cabeça está cheia de ar e borboletas. É um lugar feliz e
despreocupado para se estar, e como quase nunca é, eu me agarro
a ele com todas as minhas forças. É um sentimento no qual eu
poderia me perder, inebriante e viciante, e percebo com que
facilidade Adam fez exatamente o que disse que faria: ele assume
o controle e, por ora, deixo ir.

Eu deixo de lado as expectativas, as regras, os e se. Deixo de


lado as perguntas que levam a pensar demais e apenas... existo.

Eu observo enquanto Adam arruma tudo em sua cesta de


piquenique e bolsa antes de enganchá-los em seu ombro, a dobra
de seu cotovelo, meu chapéu de sol preso entre as pontas de seus
dedos.

Eu deslizo minha mão na dele. — Obrigada.


Ele olha para nossas mãos, balançando a garganta. — Pelo
quê?

— Por me mostrar que não há problema em deixar ir às vezes.

Ele aperta meus dedos, leva minha mão aos lábios e dá um


beijo em meus dedos antes de me rebocar pelo parque até um carro
azul meia-noite estacionado, onde ele joga tudo dentro.

— Você se divertiu? — ele pergunta, uma centelha de incerteza


em seu olhar, uma voz esperançosa em seu tom.

Então eu envolvo meus braços em torno de sua cintura e o


seguro com força. — Eu me diverti muito, Adam. Muito obrigada
por uma noite linda.

— Ok. Legal. Muito obrigado por ser linda. Não. Não. Foda-se.
Merda. — Ele me arranca dele, segurando-me no comprimento do
braço. — Isso não foi o que eu quis dizer. Quero dizer, eu acho você
linda, obviamente. Obviamente acho você linda. — Ele enfia os
dedos pelos cachos e suspira. — Isso é o pior. Eu sou o pior. Agora
estou nervoso de novo.

Eu dou uma risadinha, então bato as palmas sobre o som


desagradável. Só assim, os nervos de Adam desaparecem, um
sorriso arrogante aparecendo em sua boca.

— Por que você continua fazendo isso?

Eu enrolo meu cabelo em volta do meu dedo. — Fazendo o quê?

— Cobrindo sua risada.

— Não é uma risada. É algum tipo de som de animal morrendo


estrangulado, e é embaraçoso.
— Ok, bem, isso vai ser estranho.

— O que vai ser estranho?

— Quando alguém me perguntar qual é o meu som favorito, e


eu tiver que descrevê-lo assim.

Eu pisco para ele. — Você é perturbado.

Rindo, ele pega minha mão e segue pela calçada. — Vamos lá.
Onde você estacionou?

— Ah, eu não fiz.

Seu olhar balança em minha direção. — Você não fez?

— Não tenho carro.

— Oh. Alguém deixou você?

— Não.

— Alguém vem buscar você?

Outra risada abafada, mas estou menos envergonhada com


essa. — Não, Adam.

— Então como você... como você vai... — Ele coça a cabeça. —


Chegar em casa com segurança?

— Da mesma forma que eu vim. Vou pegar um ônibus.

Adam cantarola para si mesmo, depois me puxa, voltando por


onde viemos.

— O ponto de ônibus é do outro lado.

— E minha caminhonete está por aqui.

— Adam...
— Está tarde. Você não está andando e pegando o ônibus
sozinha.

— Mas eu...

— Inegociável. — Ele abre a porta do passageiro. — A menos


que você queira que eu siga atrás de você todo o caminho em
minha caminhonete. Então acho que é um pouco negociável. —
Ele sorri para meus braços cruzados e sobrancelha levantada. —
Você deveria estar trabalhando para deixar ir, e eu deveria estar
trabalhando para estar mais no controle, lembra?

Eu espeto meu dedo em seu peito. — Não vire minhas próprias


palavras contra mim.

Ele ri quando começo a subir no assento e, conforme minha


frustração cresce com a difícil tarefa, a diversão emana dele em
ondas.

— Algo que você quer dizer? — eu resmungo enquanto levanto


uma perna de uma forma particularmente charmosa em meu
vestido de verão.

— Eu estava prestes a perguntar a mesma coisa. Você pode me


ajudar, Adam? Eu pareço ser um pouco baixa demais para fazer
isso sozinha, pode ser um bom lugar para começar.

Minha cabeça gira em câmera lenta para olhar para ele por
cima do meu ombro.

Ele espera, o cotovelo apoiado no batente da janela, a bochecha


apoiada na mão e até ergue as malditas sobrancelhas. — Sim,
Rosie?
— Você é insuportável. — Eu agarro o console central, mas
antes que eu possa me erguer, Adam agarra minha cintura e me
levanta sem esforço para o assento. Ele se inclina sobre mim,
colocando meu cinto de segurança no lugar.

— Aí está. Isso não foi tão difícil. — Ele bate na maçaneta acima
da minha cabeça. — Para referência futura, se você segurar isso e
colocar o pé no degrau, poderá se balançar para cima. Ou posso
continuar levantando você. — Ele dá de ombros. — Pessoalmente,
prefiro a opção dois, porque assim posso verificar sua bunda. —
Antes de fechar a porta, ele pisca e, quando sobe na caminhonete,
simplesmente pede meu endereço como se não tivesse acabado de
dizer isso.

A viagem por Vancouver é pacífica. Tão tranquila, na verdade,


que quando acordo com a mão de Adam em meu joelho e sua voz
suave em meu ouvido e descubro que estamos estacionados em
frente ao meu prédio, fico sem fôlego.

— Adormeci? Isso é tão embaraçoso. — Meu rosto esquenta. —


Quase nunca fico acordada tão tarde, a menos que esteja
estudando para uma prova. — Eu franzo a testa para a exibição
do mapa em seu painel, que parece estar preso no
redirecionamento. — Por que diz redirecionamento?

— Eu posso ter dado a volta no quarteirão algumas vezes para


não ter que acordar você.

— Quantas vezes é algumas?

Ele coça o nariz e desvia o olhar. — Oito.

— Adam.
— Ok, vamos lá! — Ele está na minha porta antes que eu possa
contar até três.

— Você não tem que me acompanhar. — Ele não pode entrar,


e o pensamento de ter que dar desculpas faz meu pulso disparar
em meus ouvidos.

— Não vou pedir para entrar. Só quero acompanhá-la até sua


porta, só isso.

Com a mão na parte inferior das minhas costas, ele me segue


pelo saguão e entra no elevador. Ele sobe lentamente, meus nervos
subindo com ele. Quando chegamos ao décimo segundo andar,
estou uma bagunça ansiosa.

Ele vai me beijar? Eu o beijo? Eu ofereço a ele um aperto de


mão? Não, não posso fazer isso de novo. E se...

— Qual deles?

Minha cabeça se levanta. — Huh. Oh. Sim. Aqui. — Eu me


arrasto pelo corredor. — Estou aqui embaixo, no final. — Enfio a
chave na fechadura, parando para ouvir qualquer sinal de vida,
segurando um suspiro de alívio com o silêncio. Eu me viro para
Adam. — Então eu acho que vou, uh... — Enfio minha mão entre
nós.

Droga, Rosie.

Eu aperto meus olhos fechados e balanço minha cabeça,


puxando minha mão para trás. Então estalo os dedos. — Oh! Seu
suéter! — Estendo a mão para a bainha, mas Adam me para com
a mão na minha.

— Mantenha. Para a próxima vez.


— Próxima vez? Tipo, um... segundo encontro?

— Um segundo encontro. Com vinho e sorvete e todos os seus


segredos. — Ele dá um passo para dentro de mim e, quando
minhas costas batem na porta, ele ri. Seu rosto mergulha, e meu
coração salta para minha garganta enquanto ele hesita, seus
lábios a centímetros dos meus, tão perto que posso prová-lo.

Ele sorri, bem ali no canto direito, uma pequena peculiaridade


de sua linda boca, antes de roçar seus lábios macios em minha
bochecha.

— Boa noite, Trouble.

Meus olhos permanecem fixos nos dele enquanto desapareço


no meu apartamento. Eu observo pelo olho mágico enquanto ele
está lá, as mãos enfiadas nos bolsos. Sua mão sobe, correndo por
seus cachos, e com um último olhar para a minha porta e um
sorriso que continua crescendo, Adam se vira e vai embora.

Eu largo meus sapatos no corredor e afogo minha excitação


com um copo d'água antes de seguir para a sala escura. Dou três
passos antes de tropeçar em algo fofo que começa a rir.

— Elmo adora rir!

— Pelo amor de Deus, Elmo. — Pego o brinquedo do chão e jogo


na cesta no canto. Ele cai com um baque e ri de mim de novo, um
som sarcástico e satânico que eu odeio com paixão.

Eu paro na porta do meu quarto, ouvindo com meu ouvido


pressionado contra ela. Nada além de ruído branco sai, então
empurro a porta o mais silenciosamente possível. Sons de farfalhar
e um corpo minúsculo se levanta correndo, saindo do berço no
canto do meu quarto. O brilho fraco das estrelas refletidas no teto
da luminária favorita de Connor ilumina os olhos verdes mais
magníficos e sonolentos, e meu homem favorito sorri para mim
quando entro.

Connor muda de posição, erguendo as mãozinhas no ar,


tentando me agarrar.

— Mamãe!

Eu pego meu filho em meus braços e o abraço perto, meus


olhos fechados tremulando contra seus cabelos finos e loiros.

— Oi, baby — eu sussurro. — Mamãe sentiu sua falta.


CAPÍTULO 8

OKAY, AMIGOS; CONSELHO TERRÍVEL

— Meu lixo parece enorme.

Eu afasto a foto que está sendo empurrada na minha cara. —


Tire isso da minha frente.

Carter arqueia as sobrancelhas. — Intimidador, hein? Você não


precisa me contar. — Ele folheia as fotos em seu telefone antes de
se inclinar para sua esposa, que está sentada na ponta da mesa
com Irleand amarrada ao peito. Ele abaixa a voz, mas não baixo o
suficiente para que eu não consiga entender suas palavras. — Você
não acha que a espada do trovão parece enorme nas fotos do meu
pau?

— Pelo amor de Deus, Carter, isso se chama sessão de fotos de


cuecas, não fotos de pau.

— Tomato, tomahto9. Estarei em toda a América do Norte.

Ela arranca o telefone de suas mãos, enfiando-o na bolsa. —


Pare de olhar fotos suas. Seu amigo está lhe pedindo conselhos.

9
Expressão usada para se referir a algo similiar, apesar de chamado de forma diferente.
Ele espera que ela se afaste, observando com um sorriso
enquanto ela se junta a uma garotinha brincando com bonecas.
Ele coloca as mãos entre nós. — Ok, aqui está o que você faz. Você
aguarda pelo menos cinco dias e espera que ela ligue primeiro.
Quando ela ligar, você hesita, como se estivesse tentando
identificar o nome.

Garrett olha para Carter. — Esse é o pior conselho que já ouvi.


Ollie teria quebrado seu nariz se você tentasse isso nela.

— Ela teria que ser capaz de alcançar meu nariz primeiro.

— Eu posso ouvir você! — ela chama do outro lado da sala.

Emmett balança a cabeça, amarrando uma conta de borboleta


rosa brilhante em um fio. — Escute, cara, se você gosta dela, você
liga para ela. Não há regra sobre quanto tempo você precisa
esperar.

— Quanto mais cedo, melhor — acrescenta Garrett de seu lugar


no chão, onde um garotinho está sentado entre suas pernas,
folheando um livro sobre animais. — Isso mostra que você está
falando sério.

Eu olho para Jaxon. Seus olhos estão fechados enquanto uma


garota passa uma sombra roxa brilhante sobre suas pálpebras e
cola dois adesivos de flores holográficas nos cantos externos de
seus olhos.

Ele abre uma pálpebra. — Por que você está olhando para mim?
Eu não ligo para garotas depois de um encontro, ponto final. —
Sarah, a garota que atualmente está fazendo sua maquiagem,
chuta sua canela. — Ai, porra! Quer dizer, merda. Merda, para que
foi isso?

Sarah apoia o punho no quadril. — Nenhuma garota vai amar


você com essa atitude ruim, Jaxon.

— Minha mãe me ama. Ela é a única garota de que preciso.

— Que seja. Diga-me isso de novo quando vier me pedir


conselhos chorando porque a garota de quem você gosta não liga
de volta.

— Por que eu... ugh, não importa. Você tem onze anos. Você
não está me irritando. — Jaxon aponta para mim enquanto Sarah
usa uma presilha de borboleta para tirar o cabelo de sua testa. —
Meu ponto é o seguinte: não me peça conselhos, porque não tenho
nenhum. Você e eu namoramos por dois motivos muito diferentes.

Sarah torce o nariz. — Por que você namoraria por qualquer


outro motivo que não fosse se apaixonar e se casar?

— Porque eu gosto de f... — Ele para, segurando meu olhar. —


Eu amo amigos. Eu amo fazer amigos. Tantos amigos. Por que
escolher apenas um, sabe?

Uma pequena mão toca a minha, e os grandes olhos cor de


chocolate de Lily olham para mim.

— Seus amigos são estranhos — ela sussurra.

— Tão estranhos — eu sussurro de volta. — Mas estou preso a


eles.

Ela ri em sua mão. — Pelo menos você tem a mim. Não sou
estranha.
— E você é a minha favorita de todos os meus amigos.

Seus olhos brilham. — Realmente?

— Sim. Você é sempre gentil comigo e me ensina coisas novas.


Tenho sorte de ter uma amiga como você.

Lily fica vermelha antes de examinar a pulseira em que estou


trabalhando. — Você está indo muito bem. Talvez você possa dar
para sua namorada na próxima vez que a vir. — Ela inclina a
cabeça. — Por que você e seus amigos estão brigando sobre ligar
para ela?

— Porque estou confuso, e eles só estão me deixando mais


confuso. O que você acha que eu deveria fazer?

— Bem... — Ela bate no lábio. — Você tem uma paixão? Tipo,


uma supergrande?

— Hipergrande.

— Fácil então.

— Fácil? — Nada sobre isso parece fácil. Estou sem prática.


Meu instinto diz que eu deveria ligar para Rosie. Já se passaram
treze horas inteiras. Não quero que ela pense que não me diverti
muito ou que não quero vê-la novamente. Meu coração me lembra
que nada deu certo por tanto tempo, avisa-me para ir devagar. Meu
cérebro é como a porra de um macaco de circo; ele não tem ideia
de qual direção seguir, então ele continua andando em círculos.

— É como na hora do almoço, quando há potes extras de pudim


de chocolate. Eu amo pudim de chocolate, então eu como o meu
bem rápido para poder pegar outro antes que acabe. Isso é o que
você deve fazer com as coisas que você realmente gosta. Agarre-as
antes que alguém o faça.

Eu bato meus dedos. — Eu acidentalmente guardei o chapéu


dela.

Emmett arqueia uma sobrancelha. — Acidentalmente?

Eu engulo. — Acidentalmente de propósito.

— Movimento clássico — diz Carter. — Sabe o que eu guardei


de Ollie depois de nossa primeira vez juntos, para que ela não
tivesse escolha a não ser voltar? — Ele balança as sobrancelhas
para a esposa. — O coração dela.

Ela revira os olhos do outro lado da sala. — Adam, como Rosie


ficou quando você contou a ela sobre hóquei?

Meu olhar cai para a pulseira que mal toquei.

— Adam — Olivia repete lentamente. — Como Rosie ficou


quando você contou a ela sobre o hóquei?

— Ela não assiste esportes — eu digo para a pulseira.

— Ah, pelo amor de Deus. Você não contou a ela, contou?

— Fiquei com medo — eu deixo escapar, ignorando os olhares


surpresos dos meus amigos. — Ela me perguntou o que eu fazia e
ia contar a ela. As palavras estavam bem ali, eu juro. Mas tudo
estava tão perfeito, e naquele momento tudo que conseguia
imaginar era tudo o que poderia dar errado. — Eu puxo a pulseira,
observando-a se desenrolar lentamente, do jeito que essa pequena
mentirinha certamente vai acontecer em algum momento se eu
não lidar com isso rapidamente. — O hóquei muda tudo. Não quero
ser Adam Lockwood, Vancouver Viper. Não para ela. Eu só quero
ser eu.

É a tempestade perfeita, realmente. Eu não minto, nunca. Qual


é o ponto? Mas aqui estou no período de entressafra, nada além
de tempo livre e sol no horizonte. Dias a fio para explorar as coisas
com Rosie sem o compromisso de tempo que o hóquei tira de mim.
Sem a mídia nas minhas costas, câmeras na minha cara. Eu só
preciso de alguns dias para entender isso, para estragar minha
cabeça e explicar isso para ela.

Os olhos castanhos de Olivia brilham de compaixão, mas é Lily


quem fala primeiro.

— Não gosto de hóquei, mas gosto de você. O hóquei não é o


que o torna especial. — Ela bate no peito e sorri. — É o seu
coração.

Ela está certa; eu sei que ela está. Mas isso não impede o pânico
que aperta minha garganta com a mensagem de texto que aparece
na minha tela dois minutos depois.

Trouble: Olá, Adam. Eu me diverti muito ontem à noite,


mas acho que precisamos conversar.

Na história de não ter certeza do que estou fazendo, isso leva o


bolo.

Ligue para ela, todos disseram. E o que eu fiz?


Disse um adeus apressado, corri para minha caminhonete e
dirigi para um lugar onde provavelmente não deveria estar.

E agora aqui estou no décimo segundo andar, parado do lado


de fora da mesma porta pela qual a vi desaparecer ontem à noite
com um sorriso estúpido e tímido e bochechas da mesma cor de
seu nome.

Eu olho para o chapéu de sol na minha mão antes de levantar


meu punho para a porta.

Então eu o afasto, enfio os dedos no cabelo e me viro.

— Oi, Rosie — eu pratico dizer. — Sou eu, Adam. — Eu aperto


meus olhos fechados. — Não, isso é estúpido. Ela sabe quem você
é e pode vê-lo. — Eu limpo minha garganta. — Olá, Rosie. Você
deixou seu chapéu na minha caminhonete e eu... não, não, não.
Olá, Adam, sou eu, Rosie. Puta merda. — Eu arrasto minhas mãos
e o chapéu pelo meu rosto. — Eu estou indo para casa.

— Adam?

Eu me viro, meu olhar colidindo com o de Rosie. Além de


parecer um pouco divertido e curioso, há uma ponta em seu olhar,
a maneira como ela diz meu nome também, que me faz duvidar.

Esta foi uma má ideia. Eu me precipitei demais e agora estamos


a quilômetros de distância.

Rosie muda de posição, olhando por cima do ombro. — O que


você está fazendo aqui?

— Eu... eu... — Meus pensamentos estão confusos e nebulosos;


não sei onde termina um e começa o outro. Acho que é por isso
que abro a boca e falo vomitando em cima dela: — Eu me diverti
muito ontem à noite e estava com meus amigos esta manhã e
estava contando tudo a eles e pedi ajuda porque não sabia quanto
tempo deveria esperar para ligar para você, e alguns deles me
disseram para liguei para você imediatamente e alguns deles me
disseram que eu deveria esperar, e fiquei muito confuso, e então
você me mandou uma mensagem dizendo que precisávamos
conversar, o que normalmente é a pior coisa que um cara pode
ouvir de uma garota que ele realmente gosta, e eu estava um pouco
sobrecarregado, e meio que entrei em pânico, e eu... — Paro,
esfregando a minha nuca. — Eu realmente queria ver você de novo.

Um sorriso se espalha em seu rosto, a pequena covinha em seu


queixo implorando por um beijo. — Você não sabia se deveria me
ligar, então você simplesmente apareceu aqui?

Eu seguro o chapéu dela. — Eu também meio que roubei seu


chapéu para ter um motivo para vê-la novamente.

Ela inclina a cabeça. — Mas eu ainda tenho seu suéter.

Eu engulo. — Duplo golpe. Você teria que me ver.

Ela ri, mas antes que possa me tirar do meu sofrimento, a porta
é arrancada de sua perna onde ela a mantém aberta, e um
garotinho sai cambaleando atrás dela, segurando um sapato e
uma sandália.

— Sa-atos — diz ele com orgulho, segurando-os para ela. Seus


olhos encontram os meus, um tom vibrante de verde. — Sa-atos!

— Bem, olá, amiguinho. — Eu me agacho na frente dele. —


Você tem sapatos?
Ele acena com entusiasmo. — Sa-atos! — Ele os enfia no meu
peito, depois se joga aos meus pés, mostrando-me os dedos dos
pés descalços.

— Connor — Rosie diz com um suspiro, ajoelhada ao lado dele.


— Adam não quer calçar seus sapatos. — Um sorriso diabólico
reivindica sua boca, e ela começa a fazer cócegas em seus pés. —
Seus pés fedem demais para ele!

O garotinho dá uma gargalhada, contorcendo-se no meu colo,


até eu começar a rir também.

— Desculpe. — Rosie o coloca em seu quadril antes de


empurrar um carrinho vermelho, modelo vagão, para fora e colocá-
lo ali dentro. — Ele geralmente é muito tímido. Ele não aborda
estranhos com frequência. — Ela pega os sapatos de mim,
trocando um para que ela tenha um par de sandálias combinando.
Ela os prende em seus pezinhos enquanto ele pula em seu assento,
como se mal pudesse esperar para ir aonde quer que eles
estivessem indo.

— Quem é? — eu finalmente pergunto.

Rosie encara o garotinho, passando as unhas roxas pelo cabelo


ralo dele. Um sorriso floresce em seu rosto, tão cheio de amor que
é quase doloroso, e quando vejo aqueles dois pares de olhos sábios
olhando um para o outro, não fico surpreso ao ver o mesmo amor
refletido no olhar do menino. Observo-os por mais um momento,
notando o formato de sua boca, a maneira como combina com a
de Rosie, o tom de mel combinando em suas ondas, e sei antes que
as palavras saiam de sua boca.

— Este é o Connor. Ele é meu filho.


CAPÍTULO 9

PEQUENO PROBLEMA

Filho. Ele é meu filho.

Rosie é mãe.

Seus olhos se fecham enquanto ela pressiona um beijo na testa


dele, e quando ela olha para mim, além do orgulho, do amor, vejo
a hesitação, como se ela estivesse preocupada com o que isso pode
significar para nós. Vejo o ponto mais sombrio da dor, como se ela
já tivesse aceitado minha decisão, já tivesse dito adeus.

Mas eu não gosto de despedidas, e certamente não estou


disposto a fazer isso para ela.

Eu me agacho ao lado de Connor e sorrio. — Olá, Connor. Eu


sou Adam.

— Dada. — Ele dá um tapinha na minha mão, depois na coxa


de Rosie. — Mama.

— Oh, meu Deus. — O rosto de Rosie fica vermelho. — Eu sinto


muito. Deve ser uma nova fase.

Connor aponta para o corredor. — Andar?

— Você e mamãe vão dar um passeio? Posso ir também?


Ele sorri, tão cheio de dentes e inocente, e tem as mesmas
pequenas sardas salpicadas em seu nariz pequenino que sua mãe.
— Andar.

— Estamos indo para o parque — Rosie diz, colocando sua


mochila no carrinho. — Você não precisa vir conosco.

— Eu adoraria, obrigado.

Seu queixo cai. — Eu... bem..., mas você... — Ela desiste das
palavras, escolhendo em vez disso entrelaçar suas ondas pastel em
volta do dedo.

— A menos que você não queira. Era sobre isso que você queria
falar comigo? Que você não quer mais me ver?

Ela franze a testa. — Claro que quero ver você.

— Ótimo. — Coloco o chapéu em sua cabeça. — O truque


funcionou. Vamos. — Pego a mão dela, agarro a alça do carrinho e
começo a puxar os dois fofinhos de olhos verdes em direção ao
elevador. — Então, sobre o que você queria falar comigo?

Os olhos de Rosie caem para Connor. Quando eles voltam para


mim, o olhar que ela me dá diz que ela não tem certeza de que
estou aqui. — Que eu tenho um filho? Você sabe, no caso de não
ser algo que você queria em sua vida.

— Por que isso importaria?

Ela olha para os próprios pés, puxa sua camiseta enorme. —


Importa para muita gente.

As palavras sussurradas são gravadas em mágoa, então eu


aperto a mão dela e prometo: — Isso não importa para mim. Agora
tenho dois pelo preço de um.
Seu olhar se eleva, movendo-se cautelosamente entre os meus.
— Você realmente quer dizer isso?

— Sei que isso é novo, que não nos conhecemos há muito


tempo, mas sinto algo aqui. Eu gostaria de explorá-lo com você. É
isso que você quer também?

— Sim. Isso é.

— Então vamos passar algum tempo juntos. Podemos nos


mover na velocidade que você quiser. Não estou com pressa; eu só
quero continuar conhecendo você. Você me faz sorrir.

Ela me concede um aqui e agora, brilhante o suficiente para


rivalizar com o sol de julho. — Você me faz sorrir também.

— Brum-brum! — Connor grita atrás de nós, apontando para


um caminhão que desce a rua. — Caminão! Brum-brum!

— Esse é o barulho do motor dele. Você deveria vê-lo quando


um ônibus passa. Perde sua mente sempre amorosa.

Estaciono o carrinho sob a sombra de uma árvore nos


arredores do parque vazio e seguimos enquanto Connor corre para
o equipamento de brincar, gritando: — Pak! Pak!

— Quantos anos ele tem?

— Quinze meses. Ele nasceu em abril do ano passado. — Ela


me observa com o canto do olho enquanto Connor desliza a mão
na dela, subindo na pequena plataforma que leva ao escorregador.
— Você gosta de crianças?

— Eu amo crianças. Eu faço um pouco de voluntariado com


alguns vulneráveis.
Seu sorriso é suave, olhar curioso sobre mim. — Isso é incrível,
Adam.

Eu dou de ombros. — Não é nada. — Isso é algo. The Family


Project, meu evento de arrecadação de fundos para a Second
Chance Home, arrecada centenas de milhares de dólares todos os
anos, ajuda a financiar seu centro e reúne novas famílias. É meu
orgulho e alegria, minha maior realização, e gosto de guardá-la em
meu coração.

— Dada!

— Oh, pelo amor de Deus... Connor, este é Adam. — Rosie dá


um tapinha no meu peito. — Adam.

Connor pisca para ela. Olha para mim. De volta a Rosie, depois
para mim. Ele aponta para o escorregador. — Dada, r-rega?

Rosie enterra o rosto na mão. — Eu sinto muito.

— Não sinta. — Começo a subir na plataforma. — Você quer


alguma ajuda para chegar ao topo, amigo?

Seus dedos agarram os meus, e eu olho para a conexão. Sua


mão é tão pequena, todos os seus dedos em volta do meu
mindinho, e quando ele me puxa atrás dele, fico impressionado
com a sensação quente e apertada em meu peito.

No topo do escorregador, Connor faz uma pausa. — Dada,


baby, r-rega.

Rosie dá uma risadinha. — Oh, baby. Não tenho certeza se


Adam pode se encaixar no escorregador.

Minhas sobrancelhas disparam. — Ele quer que eu...?


— Mhmm.

— Mas eu... — O pequeno escorregador azul é estreito pra


caralho. Sou um cara bastante confiante e não recuso a maioria
dos desafios, mas isso... não sei nada sobre isso. Uma vida inteira
de patinação me deu o que eu graciosamente apelidei como uma
bunda de hóquei. Tacos de hóquei... eles não cabem nos
escorregadores infantis. — Sinto muito, amigo. — Eu olho por cima
do meu ombro, para baixo em minha própria bunda. — Eu não
acho... bem, o problema é...

— Adam tem uma bunda bolha — Rosie diz a ele seriamente,


como se ele pudesse entender o significado por trás de suas
palavras. Seu olhar brincalhão sobe para o meu. — É perfeita, a
propósito, e já me peguei olhando para ela com muita frequência,
mas não deixe que isso suba à sua cabeça.

O canto da minha boca se ergue, explodindo em um sorriso


lento. — Tarde demais. Eu posso sentir minha cabeça ficando
maior a cada segundo. — Eu levanto meus braços acima da cabeça
com um gemido exagerado. — Tudo bem, amigo. Vamos fazer isso.
Vamos ver se minha bunda perfeita nos leva para baixo neste
escorregador. E... — Eu corro ao redor dele, coloco meus quadris
entre o plástico, e Connor dá um gritinho, jogando-se no meu colo.
Pressionando suas costas no meu peito, envolvo meus braços em
torno dele. — Pronto?

Eu me solto no escorregador, começando nossa descida.

Isso é...

Totalmente nada assombroso. Que porra.


Eu mexo meus quadris tão rigorosamente quanto posso,
tentando ganhar impulso. Connor não parece se importar, rindo e
gritando, e o melhor de tudo? Nunca ouvi Rosie rir assim antes.

É lindo e arejado, tão despreocupado e selvagem, deixando-me


ver o quão pesado foi, o peso de se perguntar como eu reagiria ao
fato de ela ter um filho. Eu daria tudo para capturar esse momento
em uma foto, porque agora, eu a vejo inteira, mas mais do que isso,
eu a encontrei.

Eu me pergunto se ela vai me encontrar também.

Chegamos ao fim do escorregador de 2,5 metros depois de 25


segundos cansativos, e no segundo em que minha bunda bate nas
lascas de madeira, Connor está me puxando de volta para cima.
Nós vamos de novo e de novo, até que ele muda para o balanço e,
eventualmente, Rosie tem que arrancá-lo para almoçar.

Sob a sombra de uma árvore, Rosie tira sanduíches, frutas e


muffins de sua bolsa. — É simples hoje. — Ela estende um
recipiente de sanduíches. — Banana e PB10.

— Oh, não. Não posso. É para vocês dois.

— Há o suficiente para todos nós — ela me assegura, colocando


um pequeno prato de comida na frente de Connor.

— Ba-na — ele diz entusiasmado, enfiando um pedaço do


sanduíche de banana e PB na boca. — Ba-na!

10
Peanut Butter, manteiga de amendoim.
Rosie ri e me entrega um triângulo de sanduíche. — Eu nunca
sei com Connor, então sempre tenho um extra. Alguns dias ele dá
duas mordidas e diz pronto, e alguns dias ele...

Ele cambaleia até o meu colo, joga-se nele e dá uma mordida


no meu sanduíche. O tempo todo rosnando como um urso e ainda
segurando seu próprio sanduíche, o que é, para ser honesto,
impressionante pra caralho.

— ... não para de comer — Rosie termina com um suspiro. —


Não há nada como meu em nossa casa. O que é meu é dele, e o
que é dele é... bem, é dele também. Eu pego as sobras.

Como se fosse uma deixa, Connor oferece a sua mãe a crosta


de seu sanduíche. — Mamãe.

Rindo, eu faço cócegas em seu lado. — Você é um problema,


assim como a mamãe, não é? — Ele ri, se contorcendo no meu colo
antes de mastigar outra mordida do meu sanduíche. — Little
Trouble 11 é você, hein, amigo? Tudo bem. Vou dividir meu
sanduíche com você qualquer dia.

Connor dá uma última mordida antes de segurar a crosta na


minha boca, e eu como sem pensar.

— Provavelmente não é o tipo de germe que você estava


pensando em trocar, hein? — Rosie murmura antes de seus olhos
se arregalarem. — Não que você estivesse pensando em trocar
algum germe. Não, tipo, meus germes e seus germes. Eu não quis

11
Pequeno Problema.
dizer isso. Eu não quis dizer que você estava pensando em me
beijar ou qualquer coisa ridícula assim.

— Uh-huh — eu penso, observando enquanto ela pega o lixo e


pula de pé, arrastando a bunda para a lata de lixo.

Falando em bunda, toda a curva dela está fora deste maldito


mundo nesse short jeans.

— Você está olhando para minha bunda em forma de bolha? —


Ela bate com as duas mãos sobre ela, e eu quero fazer isso.
Afundando de volta ao meu lado, ela esconde seu sorriso tímido
em seu muffin. — Não é como a sua.

— Você não tem que esfregar isso, Rosie. Eu sou sensível sobre
minha bunda. Eu sei que a sua é melhor.

Ela enfia o canudo da garrafa de água na boca, escondendo o


sorriso. — Cale-se.

— Você teria que me obrigar. — Eu pisco. — Posso pensar em


algumas maneiras de fazer isso, se você quiser.

Ela consegue fazer com que salpicar água em si mesma seja


fofo, e Connor acha tão engraçado que começa a tentar fazer isso
também. Eles são um par perfeito, parecendo gêmeos enquanto ele
se aconchega em seu colo depois do almoço, quando ela pega seu
livro favorito, The Wheels on the Bus. Eu sorrio enquanto ela canta
cada palavra e ele desmaia em seu colo, o polegar na boca, os
dedos de Rosie correndo por seu cabelo.

— Sinto muito por não ter contado ontem à noite — Rosie diz
baixinho, os olhos dançando com vulnerabilidade, uma explicação
que ela não me deve, mas quer me dar de qualquer maneira. — Eu
não estava tentando esconder, é só... eu não saio muito. Além de
ser difícil encontrar tempo, tem sido uma grande decepção. No
primeiro encontro que tive depois que Connor nasceu, foi com
alguém com quem conversei algumas vezes enquanto esperava na
fila pelo meu café da manhã. Eu realmente gostava dele, e quando
ele me convidou para sair, eu estava tão nervosa para estar com
alguém, ainda mais tendo que contar a ele que eu era mãe. Mas
ele foi tão legal que contei a ele sobre Connor quinze minutos
depois do encontro. Ele mal falou nos dez minutos seguintes, antes
de pedir licença e ir ao banheiro. Ele voltou, disse que não estava
se sentindo bem e foi embora. Comi sozinha, tentando não chorar.
No caminho para casa, eu o vi no pátio do bar três portas abaixo.
— Seu nariz enruga. — Cheguei em casa para dormir antes de
deixar as lágrimas virem. Acho que o pior foi que perdi a hora de
dormir do meu filho por alguém que não se importava conosco.

Cobrindo sua mão com a minha, dou um aperto carinhoso. —


Lamento que ele não tenha reconhecido o que poderia ter tido,
Rosie.

— Não é grande coisa. Acabei de perceber que não seríamos


para todos. Decidi depois disso que não estava interessada em
namorar. Mas meu colega de quarto e seu namorado sempre
tentam me levar para lá de vez em quando. — Ela levanta um
ombro. — Vou, mas sem expectativas. É minha política não
envolver Connor em nada, a menos que eu sinta uma conexão
genuína. Eu nunca tive um segundo encontro com ninguém,
então... — Seu lábio inferior desliza entre os dentes, e ela engole.
— Nunca mais tive que lidar com a rejeição.
— Isso conta como nosso segundo encontro?

Olhos arregalados e esperançosos colidem com os meus. —


Você quer que seja?

Eu esfrego a ponta do meu polegar sobre suas lindas unhas


roxas antes de entrelaçar nossos dedos, maravilhado com a
perfeição de sua pequena mão na minha.

— Já estou planejando o terceiro.


CAPÍTULO 10

MY PEEN HERO12

— Este encontro é o número dois ou três? — Marco apoia o


queixo no punho e inclina a cabeça. — Ou tecnicamente quatro?

— Quatro — responde Archie. — Porque tecnicamente o


encontro deles no parque com Connor foi o segundo, e então a
caminhada com os cachorros esta manhã foi o terceiro. Certo, Ro?

— Eu não sei — murmuro, entrelaçando meus dedos em meu


cabelo, amarrando minhas tranças francesas para baixo, deixando
as costas livres. É definitivamente o encontro quatro. Esta manhã,
quando encontrei ele e Bear na frente do Wildheart, esperando por
mim e Piglet, ele pegou minha mão e disse que era o encontro
número três. Ele ainda tinha sua própria mochila, cheia de frutas
e biscoitos para a sobremesa depois do almoço na ponte.

Deslizo uma presilha lilás em cada trança e giro, gemendo


quando meu maiô de duas peças é empurrado em meu rosto.

12
Peen aparece aqui como gíria para pênis.
— Eu não estou usando isso. — Eu o empurro para longe, pego
o maiô pendurado na parte de trás da porta do banheiro e então
mudo de ideia. — Na verdade, acho que não vou levar roupa de
banho.

As sobrancelhas de Marco se erguem. — Ok, Rosie vai apostar


tudo. Nadar pelada. Adam vai adorar isso. Peitos e bunda são
sempre escolhas certas.

— Eu não vou ficar nua. — Eu passo por ele e entro no meu


quarto. — Só não vou nadar. — E daí se foi isso que ele me
convidou para fazer.

Archie aperta meu ombro. — Se você não se sente confortável


nadando, Ro, apenas diga a ele. Ele vai entender, dado o que
aconteceu.

— Não é isso. — É definitivamente parcialmente isso. — Além


disso, ele não sabe o que aconteceu. — Eu balanço minha cabeça.
— Ok, estou com medo de surtar na piscina, mas principalmente,
ele é tão bonito. Tive um vislumbre de seu abdômen naquele
primeiro dia na trilha, e não era nem um tanquinho. Eu juro, havia
pelo menos oito daquelas coisas. E ele tem aquilo... — Eu aponto
para minha virilha. — Aquele V estúpido que aponta direto para
o... dele...

— Anaconda?

— Varinha mágica?

— Dickmatized13?

13
Referência ao pênis (dick em inglês) – um termo inventado que dá a ideia de ser aniquilada por ele.
— Hospitalizador?

Aceno para longe de suas palavras. — Sim. Isso.

Archie dá de ombros. — Então? Ele é gostoso pra caralho, qual


é o seu ponto?

Eu olho para mim mesma, o corpo escondido atrás do meu


vestido de verão esvoaçante. Eu amo meu corpo por tudo que ele
fez e pelo mundo que ele me deu, mas está longe de ser perfeito.
— Como eu me comparo a alguém que se parece com aquilo?

Archie e Marco trocam um olhar, e Marco concorda. — Ela é


uma daquelas garotas que não percebe que é linda.

— Eu odeio quando ela faz isso. — Archie suspira e me pega


pelos ombros. — Você, Rosie Wells, é linda. Por fora e por dentro
também. Qualquer homem tropeçaria nos próprios pés para
conseguir um sorriso seu, e parece que Adam fez exatamente isso.

— Você teve um bebê — acrescenta Marco. — Isso não faz você


valer menos.

— Não sou tão magra quanto antes. E minha cicatriz...

— Sua cicatriz é uma medalha de honra por ter uma vida que
você criou esculpida diretamente de você. E suas estrias são listras
de tigre, Rosie. Você é forte. Você é feroz. Você é perfeita, do jeito
que você é. — Marco afasta minha franja. — Não duvide que a
pessoa certa não verá isso, porque ela verá.

— Comparar-se com os outros não a levará a lugar nenhum. É


uma maneira inútil de gastar sua energia. — Archie bate no meu
nariz e pisca. — E você precisa reservar isso, porque parece que
Adam pode durar a noite toda.
Eu bato em sua mão. — Não importa, porque eu
definitivamente não posso. Desmaiei na caminhonete dele a
caminho de casa depois do nosso encontro na quarta-feira.

Marco suspira melancolicamente. — Existe algo sobre um


homem que dirige uma caminhonete.

As sobrancelhas de Archie baixam. — Eu dirijo uma


caminhonete.

Marco acena para ele. — Por favor, Rosie. Use as duas peças.
A parte de baixo é de cintura alta, mostra suas curvas, e Adam vai
ficar babando.

Eu mordo meu lábio enquanto examino o traje amarelo com


pequenas margaridas brancas. — Você realmente acha isso?

— Eu sei que sim. Agora vamos retocar essas unhas dos pés.

Um retoque torna-se um refazer completo, e Marco ainda


acrescenta margaridas para combinar com meu biquíni, algo que
não percebo até terminar, porque estou muito absorta pensando
em Adam.

Ele foi um sonho com Connor na quinta-feira. Não fiquei


surpresa, acho, mas fiquei surpresa por ele ter se mostrado tão
indiferente com a notícia. O homem nem piscou, apenas desceu
até o nível de Connor e se apresentou antes de pegar minha mão
e nos puxar para o parque. Não esperava que fosse tão fácil, mas
tenho vergonha de ainda estar aqui, meio que... esperando o outro
sapato cair.

Porra, espero que não haja outro sapato.


Meu telefone apita enquanto verifico meu cabelo pela centésima
vez e o pego, ansiosa para ver se é Adam vindo para cá.

Brandon: você precisa vir buscar o Connor. Algo está


errado com ele.

Meu coração bate rápido e ansioso enquanto espero muito


tempo para o pai do meu filho atender o telefone de onde ele me
mandou uma mensagem apenas alguns segundos atrás.

— Você está no caminho? — ele resmunga em saudação, e meu


peito aperta ao som dos gritos de Connor ao fundo.

— O que está errado? Ele está bem?

— Eu não sei.

— O que você quer dizer com não sabe? Você disse que algo
está errado. Ele está doente?

Brandon geme, como se a conversa o estivesse exaurindo. —


Eu não sei, porra, Rosie. Ele simplesmente não está certo. Ele não
para de chorar.

— Você tentou segurá-lo?

— Ele não quer ser segurado.

— Ele almoçou?

— Tivemos alguns Timbits.

— Timbits não são... — Respiro fundo e solto o ar, sentindo


minha frustração. — Ele pode estar com fome ainda. Você pode
fazer um sanduíche para ele? Cortar algumas frutas para ele?
— Ele não está com fome, Rosie, ele está apenas miserável. Eu
preciso que você venha buscá-lo; ele está me deixando louco.

— Por favor, não diga coisas assim na frente dele.

— Ele é um bebê. Ele não sabe o que estou dizendo. — Brandon


suspira. — Olha, você vem ou não?

— Estou indo — murmuro, pegando o carrinho dobrado do


armário da frente, saindo silenciosamente pela porta antes que
Archie e Marco possam me pegar e me forçar a bater o pé, para
lembrar a Brandon que ele deveria ficar com Connor até amanhã
à noite, que ele precisa intensificar e ser um pai.

Em vez disso, digito uma mensagem que não quero enviar.

Eu: Sinto muito, Adam. Tenho que cancelar hoje. Espero que
possamos reagendar.

Assim que saio do elevador, meu telefone toca. O nome de


Adam ilumina minha tela, e endureço minha espinha antes de
responder.

— Ei, você.

— Ei, Trouble. Tudo certo? — Há uma gentileza em sua voz,


uma que está sempre presente, mesmo quando seu lado sedutor
voa livremente.

— Sim, totalmente. — Fecho os olhos com força e balanço a


cabeça, antes de passar pelas portas da frente para a brisa quente.
— Não, na verdade não. Não sei. Connor está tendo um dia difícil,
eu acho. O pai dele quer que eu vá buscá-lo.
— Lamento que ele esteja lutando hoje. — Ele faz uma pausa.
— Ele gosta de nadar?

— Você quer que eu... leve ele?

— Quero passar o resto do dia com vocês dois. Tudo bem?

— Não. Quero dizer, sim. Sim, claro que está tudo bem. É que...
ninguém nunca... eu...

— Você vai pegá-lo agora? — Adam pergunta, tirando a pressão


para dar voz aos meus pensamentos em espiral. — Você precisa de
uma carona?

— Brandon fica a apenas dez minutos a pé.

— Ok, bem, eu posso pegar você e Connor em cerca de meia


hora se você quiser ir para casa e pegar a roupa dele e tudo o mais
que você precisar.

— Não, eu não posso... quero dizer, eu não tenho uma


cadeirinha para ele. Nós andamos ou pegamos o ônibus para todos
os lugares. — Suspiro, esfregando os olhos. Isso não parece que
vai funcionar. — E ele precisa de uma soneca, então eu teria que
levar seu cercadinho, mas ele pode não dormir bem em um
ambiente diferente, e é só... eu não sei, Adam. Talvez hoje não seja
um bom dia.

— Ei. — Sua voz calma e paciente acalma meus pensamentos


acelerados. — Eu tenho um cercadinho para quando a filha do
meu amigo vem aqui em casa. Connor pode se deitar aqui se você
se sentir confortável com isso. Eu sei que você gosta de rotina,
então se você não estiver pronta para mudar as coisas, eu entendo.
Mas eu adoraria ver vocês dois, então se quiserem tentar por um
dia, saibam que estou aqui.

Meus pés param de se mover e eu me concentro no momento.


Sinto o couro macio e falso da alça do carrinho em meu punho, o
sol quente em minhas bochechas, a brisa quente roçando meu
cabelo. Eu vejo a maneira como meu vestido balança suavemente,
ouço a respiração paciente e suave de Adam em meu ouvido
enquanto ele espera.

— Ok — eu finalmente digo.

— Ok?

— Sim. Vamos tentar. — Há uma respiração ofegante do outro


lado do telefone, e eu sorrio com seu alívio. Meu próprio alívio vem
em suas próximas palavras, a emoção que sangra tão vividamente.

— Porra, sim, Rosie!

Ele está exatamente onde eu esperava que ele estivesse. Ambos


são, na verdade.

Passo por Brandon, sentado em seu sofá com os pés em cima


da mesa de centro, virando uma cerveja enquanto assiste ao
beisebol, e tiro Connor do cercadinho de onde ele está me
alcançando, chorando e gritando.

— Há quanto tempo ele está ali? — eu pergunto enquanto


Connor coloca sua bochecha encharcada no meu peito, agarrando
um punhado do meu cabelo enquanto ele se acomoda com
respirações profundas.

O ombro de Brandon sobe e desce, os olhos nunca deixando a


TV. — Uma hora mais ou menos.

— Parece que ele só queria alguns abraços.

Seu olhar se volta para mim, os olhos rolando. — Ele precisa


aprender que não consegue tudo o que quer chorando.

— Ele é um bebê, Brandon. Ele não consegue regular suas


emoções. Ele está chorando porque quer consolo e nós somos seu
lugar seguro. — Eu pressiono meus lábios no cabelo de Connor e
esfrego suas costas, balançando-o para frente e para trás. — Ele
só quer estar perto de nós. Ele quer interação.

— Eu não sou um programa de TV. Eu nem sempre quero


entretê-lo.

— Você acha que eu quero entretê-lo a cada minuto? É difícil e


cansativo, mas escolhemos ter um bebê, então fazemos isso.

— Eu não escolhi merda nenhuma.

Eu paro de pular quando a cor sai do meu rosto. — O que você


disse?

Ele suspira, colocando a garrafa no chão para poder se sentar


e passar as duas mãos pelo cabelo e pelo rosto. — Eu não posso
mais fazer isso.

— Não pode ou não quer?

Ele pula de pé, os braços abertos. — É muito! Ele é demais!


Tudo o que ele faz é chorar até você voltar. Ele demora uma
eternidade para pegar no sono, e eu perco meu próprio sono por
causa dele. Eu só... eu não... — Ele puxa seu cabelo, girando para
longe de mim.

— Tenha muito cuidado com suas próximas palavras — advirto


humildemente. — Você o abandonou uma vez, apenas para
rastejar de volta um mês depois. Se você fizer isso de novo, não
será bem-vindo de volta. Ele merece ter pessoas em sua vida que
o amam.

Brandon gira para mim, apontando para mim com um dedo


ameaçador. — Não faça isso. Eu o amo. Ele sabe que sim.

Então aja como tal, eu quero gritar. Em vez disso, eu me afasto,


abro a porta e olho para ele. — Ele merece estar rodeado de
pessoas que querem estar em sua vida, não importa o quão
desafiador os dias possam ser.

Isso tem que ser um dong de vinte e dois centímetros, pelo


menos. Talvez vinte e cinco.

Pênis de vinte e cinco centímetros existem? Eles devem, porque


tenho quase certeza de que este homem está carregando um.

Jesus, eu me pergunto se suas costas doem carregando isso


entre as pernas o dia todo.
A menos que seja preenchimento. Ouvi dizer que às vezes eles
fazem isso, afofam o lixo com estofamento para torná-lo muito
grande.

Mas não, acho que não. Não, o olhar arrogante e confiante nos
penetrantes olhos verdes desse homem diz, eu tenho um pau
enorme e sei disso.

Connor está tão obcecado quanto eu. Ele estende a mão,


colocando sua pequena mão sobre a foto do pacote do homem. A
diferença de tamanho é tão alarmante que chega a ser cômica.

— Connor, amigo. — Eu pego sua mão e o guio de volta para o


banco no ponto de ônibus, transformando minha risada em uma
tosse. — Não tocamos no corpo de outras pessoas, mesmo que seja
apenas uma foto. — Uma foto gigantesca de um dong gigante,
enfiado em uma cueca boxer apertada.

Sério, quem diabos decidiu que um ponto de ônibus era um


bom lugar para um anúncio de roupas íntimas? Eu não me
importo se o homem é – eu aperto os olhos para as palavras – um
presente de Deus para o hóquei, mulheres e roupas íntimas.
Afinal, o que isso quer dizer? Aposto que o modelo nem sabe. Ele
ouviu que seu pau monstruoso estaria em exibição e aproveitou a
chance.

O ronco de um motor soa e a cabeça de Connor se levanta antes


que ele corra em direção à calçada. — Brum, brum!

Pego o carrinho e sigo, mas não é o ônibus.

— Caminão — afirma Connor com orgulho, apontando para a


caminhonete azul meia-noite que se aproxima. — Grande! — Ele
acena com as duas mãos, saltando na ponta dos pés. — Uau! Oi,
grande caminão!

A caminhonete para ao nosso lado, e um homem com um


sorriso tão devastadoramente bonito quanto tímido salta para fora.

— Bem, olá, amiguinho — Adam diz, agachando-se na frente


de Connor. — Lembra de mim?

— Dada! — Connor pula em Adam, envolvendo seus pequenos


braços em volta de seus ombros largos. Quando Adam ri e o
levanta no ar, algo acontece dentro de mim.

É a coisa mais estranha, como algo se consertando e se


desfazendo ao mesmo tempo. Sinto uma atração por um futuro
com o qual sempre sonhei, uma estabilidade pela qual ansiei e da
qual fui privada por muito tempo. E, no entanto, estou pronta para
jogar fora quase tudo o que sei, tudo pelo que trabalhei, pelo menor
gosto deste homem, para sentir suas mãos percorrendo os vales
do meu corpo, para fazer cada centímetro de mim ganhar vida.
Porque, Deus, eu me sinto viva com ele, e tudo o que ele está
fazendo é ficar aqui, segurando meu mundo em seus braços,
olhando para nós como se fôssemos dele.

— O que você está fazendo aqui? — Dou um passo hesitante


em direção a ele, minhas mãos tremendo ao perceber que ele
significa tanto para mim em um piscar de olhos, sem rima ou
razão, e temo que isso acabe do jeito que a vida sempre funcionou
para mim: ele, partindo, e eu, trilhando esta estrada sozinha. —
Não tenho cadeirinha.

— Não, mas... — Ele abre a porta atrás do banco do passageiro.


— Eu tenho.
Eu a encaro por tanto tempo, Adam acaba na minha frente,
dois dedos tocando meu queixo, fechando minha boca, diversão
brilhando em seus olhos enquanto Connor ri e tenta fazer o mesmo
com Adam.

— Eu não corri para comprar uma cadeirinha ou algo assim —


ele rapidamente esclarece quanto mais tempo fico em silêncio. —
Eu não estou... por favor, não pense que estou... desculpe se isso
é demais e assustei você. Meu amigo tem cinco carros e um
assento em cada um deles – não me pergunte por quê; ele é super
ostensivo sobre todas as coisas – e ele me emprestou um. Ele me
ajudou a instalá-lo, o que, ao que parece, é muito foda – uh, muito
difícil. Existem tantos detalhes, mas ele me mostrou como ajustá-
lo para que possamos garantir que se encaixe perfeitamente em
Connor. — Adam sorri. É extralargo, arenoso e cheio de dentes,
como se ele estivesse percebendo o quão selvagem isso é. — Eu
superei totalmente, não foi? Ah, merda. Eu não queria. Estou tão
fora do meu reino aqui. A ideia de vocês dois pegarem o ônibus
para casa sozinhos mais tarde esta noite não me caiu bem, então
eu... eu... — Ele abaixa a cabeça. — Desculpe.

Connor põe a mão na bochecha de Adam e tira o boné, deixando


seus cachos soltos, um belo desastre, e Connor não perde tempo
enterrando os dedos depois de jogar o boné de Adam por cima do
ombro. — Cabelo — diz ele simplesmente, acariciando as madeixas
escuras. Ele aponta para caminhonete. — Grande caminão. Bip
Bip!

As palavras simples de Connor limpam a névoa da minha


cabeça. Tudo é simples para ele. Ele é descontraído e flexível. Ele
vê algo de que gosta – como Adam, seu boné, seu cabelo, sua
caminhonete – e o pega. Eu quero ser assim. Não quero analisar
demais cada detalhe. Eu só quero deixar ir e levá-lo.

Passo por Adam, espiando o banco do carro. — Oh, uau —


murmuro. — Top de linha.

— Sim — Adam sussurra em meu ouvido. — Ele é, tipo...


ostentoso.

— Ele parece divertido.

Ele engole. — Um pouco exagerado.

Eu olho por cima do meu ombro, e os olhos de Adam caem para


os meus, saltando para a minha boca, quase um suspiro dele com
o queixo caído, antes de ricochetear de volta. — Connor tem oitenta
e um centímetros de altura e oito quilos.

— Então ele ainda pode ficar de costas — Adam bufa. — Foi o


que imaginei quando o instalamos e, a propósito, é quinhentos por
cento mais seguro do que voltado para a frente.

Um sorriso puxa minha boca. — Você fez sua pesquisa.

— Eu amo pesquisar. — Suas sobrancelhas apertam com sua


carranca. — Isso foi tão idiota.

Uma risada borbulha em meu peito, e Adam sorri. A tensão


entre nós se dissipa e faço cócegas na barriga de Connor. — O que
você acha, amigo? Quer andar na caminhonete de Adam? —
Porque mamãe quer montar outra coisa de Adam.

Não. Foda-se. Não, Rosie. Pense com o cérebro, não com os seios.
Pense com o cérebro, não com os seios. Pense com o cérebro, não
com os seios.
Se eu disser três vezes, talvez se torne realidade.

Adam estava certo sobre ter feito sua pesquisa, embora ele
insista que seu amigo realmente enfiou muitas informações goela
abaixo antes de sair da garagem com o assento instalado. Levamos
apenas um minuto para ajustar o assento perfeitamente para
Connor, e meu filhinho está feliz como sempre quando colocamos
o cinto de segurança nele.

— Ainda bem que você veio logo. Não acho que Connor e eu
poderíamos passar mais um minuto olhando para a virilha daquele
homem.

Adam me dá uma olhada, e quando faço um gesto em direção


ao ponto de ônibus, ele joga a caminhonete em marcha à ré e
lentamente recua até que o anúncio em tamanho real apareça, o
sorriso arrogante e diabólico e o extragrande – possivelmente
acolchoado – dong.

— Jesus Cristo — Adam murmura.

— Certo? Isso era necessário? É como um acidente ruim. Eu


não conseguia desviar o olhar, não importava o quanto eu
tentasse. Isso deve ter vinte e cinco centímetros, não?

— Vinte e dois — eu juro que ele sussurra.

— O quê?

— Nada. Definitivamente acolchoado. — Ele engata a marcha,


passa o braço por cima do meu assento, olha por cima do ombro e
pisca para mim antes de entrar no trânsito. — Chega de abrigos
de ônibus com pênis para você, Rosie. Eu protegerei você.
Seguro seu queixo antes de me inclinar para frente,
surpreendendo a nós dois quando pressiono meus lábios em sua
bochecha. — Meu herói.
CAPÍTULO 11

PODE CONFIRMAR: ISSO É UM HOSPITALIZADOR

Você já entrou em um espaço e foi atingida pelo desejo


irresistível de trancar a porta para poder viver ali, naquele
momento, para sempre?

Sou eu agora, sou eu desde que Adam abriu a porta da frente


e me guiou com Connor para dentro.

Já que Connor deu uma olhada na escada larga e começou a


subir por ela, Adam passou quinze minutos mostrando a ele como
subir e descer, porque não temos escadas em casa.

Ele nos mostrou a mesa da sala de jantar que ele e seu pai
construíram juntos quando ele se mudou há dois anos, e depois
brincaram de esconde-esconde com Connor ao redor dela.

Depois Connor encontrou o controle remoto da TV, entregou


para Adam, pediu ônibus, e os dois assistiram e cantaram
repetidamente três vezes.

E agora, passo meus dedos sobre o backsplash de tijolos


rústicos, as bancadas de mármore, ao longo da borda da enorme
pia estilo fazenda, até os armários. O revestimento branco
imaculado misturado com grandes pedras, os pilares de madeira,
as janelas emolduradas em preto, esta casa de fazenda enorme
voltada para as montanhas no norte de Vancouver é
simplesmente... perfeita.

Mas são os armários verde-oliva que me matam.

— Sempre adorei a cor desses armários, mas eles se tornaram


minha parte favorita desta casa desde que conheci você.

Meu olhar encontra o de Adam enquanto ele caminha ao meu


lado. — Por que isso?

Ele afasta minha franja. — Porque eles são da mesma cor dos
seus olhos.

Um calor feliz se acumula em minhas bochechas e observo


meus dedos deslizarem lentamente pela cor suave. — Meus pais e
eu nos mudamos para nossa casa quando eu tinha seis anos. Os
armários eram de bordo maciço, mas velhos, e não tínhamos
dinheiro para reformar. — Sorrio com a lembrança de meu pai nos
arrastando pela Home Depot, segurando lascas de tinta em meus
olhos. — Ele os pintou de verde para combinar com os meus olhos
e os da minha mãe.

— Mmm... — Adam passa um braço em volta da minha cintura,


puxando-me para trás contra seu peito, seus lábios no meu cabelo.
— Seu pai e eu nos daríamos bem, eu acho.

Eles realmente teriam. Deus sabe que ele teria feito minha mãe
comer na palma da mão dele também.

Connor se espreme entre nós, puxando o short de Adam. —


Lanch?
— Lanche? — Adam pergunta, e quando Connor acena, ele
pega manteiga de amendoim, pão e uma banana. — Sim, cara.
Deixe-me fazer um...

— Ba-na! — ele grita, marchando no local, batendo palmas. Ele


pega a banana. — Ba-na!

— Tudo bem, banana. — Adam ri, descascando a banana,


partindo-a ao meio e entregando-a ele. — Essa foi fácil.

— Onde está o Bear? — pergunto, de repente percebendo o que


está faltando.

— Coloquei ele no meu quarto. Eu não tinha certeza se Connor


ficaria nervoso perto dele, já que ele é tão grande.

— Oh, não. Connor adora cachorros. — Eu bagunço seu cabelo.


— Não é, amigo?

— Cachorro — ele responde, enfiando o resto da banana na


boca. — Oof, oof!

Adam se agacha na frente dele. — Você quer conhecer meu


cachorro Bear? Ele é meu melhor amigo.

Connor enfia o resto de sua banana na boca e agarra um dos


dedos de Adam. Ver como os olhos de Adam se iluminam, o canto
de sua boca se contorcendo enquanto ele olha para a conexão, faz
meu coração palpitar.

Eu sigo enquanto eles sobem as escadas, Connor olhando para


ele com olhos grandes e maravilhosos, como se estivesse
encantado com cada palavra que Adam fala para ele. Ou talvez seja
a atenção total que Adam dedica a ele. Seja o que for, acho que ele
está apaixonado.
Adam abre a porta do quarto um centímetro, e um focinho preto
aparece, farejando. Há um baque sólido e constante de um rabo
feliz chicoteando para frente e para trás, e quando a língua de Bear
surge, Connor começa a rir.

— Bear, sente-se — Adam comanda, levantando Connor em


seus braços enquanto ele abre a porta. — Bom menino. Espere. —
Os olhos castanhos de Bear saltam entre mim e Connor. Ele muda
de pata para pata, choramingando, e Connor começa a ofegar,
contorcendo-se, tão desesperado para tocar em Bear quanto Bear
para tocá-lo.

— Cachorro. Cachorro! — Olhos verdes selvagens encontram


os meus. — Mamãe, cachorro!

Adam entra no quarto, vai até a imaculada cama king-size e se


senta. Ele dá dois tapinhas e chama Bear antes de fazê-lo se deitar.
Então ele coloca Connor na cama.

— Somos gentis com nossos animais de estimação — eu lembro


a Connor, e ele tenta alcançar Bear, seus olhos brilhando de amor.
Bear o encontra no meio do caminho, uma língua gigantesca que
cobre todo o rosto de Connor em um único golpe, e meu garotinho
joga os braços em volta do pescoço corpulento de Bear. — Oi,
cachorro! Oi, cachorro!

Adam ri, e minha atenção vagueia por seu espaço incrível, como
é íntimo estar aqui com ele. Ando pelas tábuas castanhas, quentes
sob meus pés descalços pelo sol que entra pelas portas francesas
duplas. Elas estão abertas, deixando a brisa entrar, e sigo até
varanda enorme.

— Uau — a única sílaba escapa em uma respiração.


Um mar de sempre-vivas espreita para mim, seguindo seu
caminho até a montanha exuberante, envolvendo-me em sua
beleza etérea, lembrando-me por que me mudei para cá. Ora, de
todos os lugares que minha família visitou quando eu era criança,
Vancouver é o que escolhi para ser meu lar. Há uma nostalgia no
verde, o cheiro fresco de pinho e terra que cada rajada de vento
traz. Uma calma pacífica que acalma todos os meus pensamentos
acelerados neste momento, a batida irregular do meu coração.
Tudo está parado e quieto, e eu me sinto... em casa. Comigo
mesma. Com Conor.

Com Adam.

Algo quente roça minhas costas, e dois braços fortes me


prendem, mãos grandes segurando a parede de pedra da varanda
de cada lado da minha.

— Bonito, hein?

— Bonito não começa a descrevê-lo — eu respiro.

Lábios macios contornam a concha da minha orelha. — Eu


estava pensando a mesma coisa.

Gritos de riso soam atrás de nós, e eu olho para trás para


encontrar Connor e Bear rolando no tapete de pelúcia.

Adam ri, um som quente que percorre minha espinha. — Acho


que meu cachorro está apaixonado.

Sim. O cachorro. Com certeza o cachorro. Não o... não o humano.


Não. Isso é absolutamente... não.

Observo a mão de Adam se mover, tão lentamente, as pontas


dos dedos trilhando meu antebraço antes de sua palma se abrir
sobre minha barriga. Em vez de me preocupar com tudo o que ele
pode sentir, as linhas suaves que falam do meu amor pelas
manhãs de sábado assando muffins e fornadas de biscoitos no
meio da semana, muitos lattes gelados no verão e muitos
chocolates quentes no inverno, eu afundo no toque. Eu me deleito
com a conexão, dedos firmes que parecem formigar sobre o
material do meu vestido de verão, como se ele estivesse tocando a
pele nua. Meu coração bate forte em meus ouvidos, uma batida
constante que me liberta e me assusta. Engulo o aperto em minha
garganta, lambo meus lábios e imploro para que uma tempestade
repentina apague o calor que chamusca minha pele.

— Seu coração está batendo a mil por hora — Adam murmura


em meu ouvido.

— Eu... — Deus, isso é embaraçoso. Enrolo meus dedos em


minhas palmas até minhas unhas morderem a pele. — Desculpe.

— Não. Francamente, Rosie, eu não posso dizer como é bom


saber que, pela primeira vez na minha vida, estou na mesma
página que alguém.

Nossos olhares se encontram, uma pergunta silenciosa na


minha: Estamos na mesma página? Realmente? Estou muito
nervosa para expressar isso, mesmo que ele tenha acabado de
dizer as palavras. Mas em que página ele está? Que capítulo?
Como termina seu livro e quem ele quer ao seu lado em seu
epílogo?

Eu não tenho escolha; meu futuro é aquele garotinho ali


dentro. E mesmo que a decisão fosse minha? Ele seria minha
escolha, dia após dia. Eu sempre vou escolhê-lo.
Como seria bom que outra pessoa também nos escolhesse.

Adam segura minha bochecha, girando-me contra ele. Os


nervos apertam minha garganta, roubando minha respiração, mas
ele simplesmente se inclina para frente, pressiona o beijo mais
gentil na minha testa e acalma todas as preocupações com suas
palavras.

— Estou feliz que você esteja aqui, Rosie. Vocês dois.

Eu tenho que começar a fazer ioga ou algo assim se quiser


acompanhar Connor, porque como vou criar uma criança tão
flexível quanto a de quinze meses de idade que basicamente
dormiu no cercadinho no quarto de hóspedes de Adam quando eu
ainda estava tentando explicar a ele que sua soneca seria diferente
hoje? Talvez as técnicas de respiração também ajudassem a não
me deixar em parafuso com a ideia de mudar nossa rotina diária
pelo menos uma vez.

— Ele dormiu bem? — Adam sussurra, fazendo-me pular


enquanto eu recuava silenciosamente para fora do quarto.

— Sim, caiu como um... um... um... — Meus olhos rolam para
o peito nu de Adam, o pedaço de cachos escuros que parecem tão
macios que quero correr meus dedos por eles. Até as linhas de
músculos grossos e vigorosos esculpidos tão impecavelmente, e
puta merda, eu estava certa. É um pacote de oito. E, porra, o
calção de banho. Ele é apertado da pior maneira, porque eu não
consigo desviar o olhar, listras brilhantes de verão que envolvem
todo o corpo, abraçando cada centímetro dele.

E, senhoras, acreditem em mim quando digo isso: há muitos


centímetros.

Quero dizer, merda sagrada. Ele é maior que o cara da cueca


no ponto de ônibus; estou certa disso. Ou são as listras? Sempre
as evito porque acho que me fazem parecer maior. Funciona assim
em pênis também?

Sim. Sim, deve. Porque não tem como ele... que ele...
simplesmente não tem como, certo?

É isso. Estou olhando a destruição bem na cara. Obliteração.


Aniquilação total. Essa é a única coisa que pode vir de um pau tão
grande. Nenhuma mulher está sobrevivendo a uma transa com
este homem, não sem ser levada para fora depois, e possivelmente
em coma induzido pela penetração.

Oh, meu Deus. Archie e Marco estavam certos. Eu seria


destruída.

— Desculpe, você disse... aniquilação total?

Meus olhos se voltam para Adam passando os dedos por


aqueles cachos desgrenhados, um leve rubor em suas maçãs do
rosto salientes. — Perdão?

— Você estava falando sobre colocar Connor para dormir, mas


você parou e sussurrou, uh... aniquilação total. — Ele engole. —
Eu acho que você estava olhando para a minha virilha.
Eu forço minha mandíbula fechada, ignorando o som violento
de estalo que ela faz. Meus olhos se contraem, desesperados para
desacelerar, só mais uma vez, mas não vou fazer isso.

Ok, estou fazendo isso. Porra. Caramba. Meu olhar salta para
baixo, então volta para cima. Os olhos de Adam seguem, e sua
boca se curva enquanto o calor derretido corre para as pontas das
minhas orelhas.

Eu corro por ele, indo para as escadas. — Tenho que colocar


meu biquíni.

— Eu trouxe sua bolsa para o meu quarto. Você pode se trocar


lá.

Paro, já na metade da escada. — Oh. — Virando-me


rapidamente, passo por ele, mantendo meus olhos em meus pés.
— Obrigada.

— Rosie?

Eu paro em sua porta, observando seus pés se aproximarem,


até que tudo que posso cheirar, tudo que posso respirar, é ele.

— Precisa de ajuda?

Eu engulo. — Não. — Talvez.

— Ok. — Dedos quentes deslizam pelo meu braço, puxando a


alça do meu vestido de volta para o meu ombro. — Grite se você
mudar de ideia, Trouble.

Eu preciso de ajuda. Todo tipo de coisa. Ajuda para esfriar


meus jatos, porque não faço sexo há mais de um ano e, olhando
para ele, de repente é tudo em que consigo pensar. Estou confusa.
Tão perturbada. Ele é tão doce e gentil, tão paciente, e então ele
joga essas pequenas coisas em mim, toques persistentes e
ardentes, olhares famintos, palavras quentes e provocantes
encharcadas de intensidade. Estou com tesão pra caramba,
claramente, o que é novo e assustador, mas não estou pronta para
entrar nisso, e se for isso que ele está esperando?

Além disso, preciso de ajuda para encontrar confiança para sair


daqui de biquíni.

Não quero me sentir bonita por Adam. Eu quero me sentir


bonita para mim.

E agora, enquanto estou diante de seu espelho e me observo,


estou lutando.

Lembro a mim mesma que este corpo me deu o amor da minha


vida. Que cresceu algo do nada. Que passou por crises
intermináveis de enjoo, dias curvada no banheiro, dores e dores
que me fizeram sentir como se nunca mais fosse andar direito,
uma cirurgia de emergência que – tão brevemente – me convenceu
de que eu era menos mulher porque não conseguia empurrar meu
filho para fora. Uma cirurgia que me impediu de ficar de pé sozinha
por dias, de dar mais do que alguns passos com meu recém-
nascido nos braços.

Este corpo não é perfeito, mas é forte. Fisicamente,


mentalmente, em tudo que trabalhei tanto para superar.

Este corpo não é perfeito, mas por tudo o que fez e me deu, é
lindo.

Amarro o cordão do meu biquíni transparente no quadril e


respiro fundo antes de abrir a porta e começar a descer as escadas.
As fotos alinhadas na parede da escada chamam minha
atenção, e eu paro para observá-las. É Adam em cada uma delas,
tenho certeza disso. Até o garotinho enfiado ao lado do casal
sorridente é tão claramente ele, olhos vibrantes de cobalto, o
sorriso mais genuíno com apenas uma pitada de malícia.

E o casal... eles são tudo. Desde a maneira como eles se olham,


cheios de devoção, amor sem fim, até a maneira como olham para
Adam, como se ele fosse o mundo deles.

Estou tão encantada com o amor que flui das fotos que não
percebo Adam até que ele esteja ao meu lado, elevando-se sobre
mim, embora esteja um degrau abaixo. Ele está sorrindo para as
fotos, uma pitada de saudade em seus olhos que me deixa um
pouco triste.

— Esses são meus pais.

Eu olho para o casal, sua pele morena profunda e olhos


calorosos, os cachos escuros caindo sobre os ombros da mulher.

— Fui adotado.

Um sentimento estranho aperta meu coração, o peso dessa


única palavra recusando-se a se instalar em meu peito, perguntas
que quero fazer mas não posso, por medo de ultrapassar.

Medo de revelar partes de mim para as quais não estou pronta.

Então eu digo a ele: — Dá para ver o amor entre vocês três.

— Mmm. Eu sempre fui capaz de sentir isso também. — Sua


boca se contrai de um lado enquanto ele olha para uma foto dele
nos ombros de seu pai. — Mesmo que meu pai tenha demorado
um pouco mais para descobrir.
— O que você quer dizer?

Adam pega minha mão, puxando-me escada abaixo. — Eu


estava em um lar adotivo em grupo.

O aperto em meu coração diminui instantaneamente, um


sentimento crescente e libertador quando a empolgação borbulha
à superfície com o pensamento de que talvez, afinal de contas,
sejamos muito mais parecidos do que eu imaginava. Que ele vai
entender todos os medos, os pensamentos incômodos que me
consomem nas partes mais escuras e silenciosas da noite, quando
estou sozinha, perguntando-me se sempre serei assim.

A esperança me preenche com tanta fluidez, um sentimento


caloroso que quase sai de mim. Antes que as palavras possam vir,
Adam continua.

— Meu pai fazia muito trabalho voluntário na casa em que eu


morava, então logo me aproximei. Acho que aos quatro anos eu
teria ido para casa com ele naquele primeiro dia, eu estava tão
apaixonado por ele. Sempre que ele entrava, eu o seguia como um
cachorrinho. Eu queria ser igual a ele. — Ele sorri, um pouco
distante, como se estivesse se lembrando de algo. — Fiquei em um
orfanato por dez meses e meus pais me adotaram pouco depois do
meu quinto aniversário.

Toda aquela esperança borbulhante morre, caindo como um


peso morto, sentando-se no meu peito de uma forma
estranhamente sufocante. É uma coisa mesquinha e suja, o ciúme
que me morde, a amargura por ele ter passado tão pouco tempo
lá, por ter encontrado essa linda família que o escolheu, que
decidiu que queria amá-lo pelo resto de suas vidas e da dele.
Tudo o que quero sentir por ele neste momento é a felicidade
por ele ter encontrado isso. Em vez disso, sou dominada pela culpa
e por uma pilha pungente de ódio de mim mesma, porque além da
felicidade genuína está o peso de desejar que houvesse alguém lá
fora, qualquer pessoa, que pudesse entender o que é sentar lá dia
após dia, em seu melhor comportamento, esperando, sonhando
que alguém escolhesse você. Pudesse passar cinco minutos
conversando com você e dizer: Ei, acho que quero me arriscar com
ela. Acho que quero ficar com ela.

Acho que quero amá-la.

Eu enterro os pensamentos desagradáveis o mais fundo que


posso, escolhendo abraçar os bons enquanto aperto sua mão. —
Estou feliz que você encontrou sua família para sempre, Adam.

— Seus pais estão na cidade? — ele pergunta casualmente


enquanto me conduz por sua casa, em direção ao seu quintal.

— Somos só eu e Connor. Eu vim para cá sozinha depois de me


formar no ensino médio.

— Alguma vez se sente solitária?

Sempre.

Eu forço um sorriso. — Eu me mantenho ocupada.

— Certo, mas... — Seus dedos circulam meu braço e me param.


— Não foi isso que perguntei.

Seus olhos examinam meu rosto, em busca de respostas. Mas


ainda estou procurando por elas.

— Que tal isso, Rosie? — Ele segura meu queixo com a mão, a
ponta do polegar prendendo meu lábio inferior. — Quão ocupada
você quer que eu mantenha você? Porque às vezes me sinto
sozinho, mas quando estou com você, eu me sinto completo.

Essa plenitude que ele jura sentir se infiltra em minha pele,


preenchendo todos os espaços vazios como areia entre pedrinhas.
— Eu gostaria que você me mantivesse muito ocupada.

A felicidade detona seu rosto. — Eu posso fazer isso.

O quintal de Adam é tão imaculado quanto sua casa,


requintado e amplo. Situado abaixo do Monte Fromme, é um oásis
verde luxuoso digno de uma revista.

— Claro que você tem um recurso de cachoeira — murmuro


enquanto Adam mergulha na piscina, braços longos fazendo
círculos enquanto ele se empurra para trás, esperando,
observando, sorrindo.

Meu batimento cardíaco ameaça sair do meu peito enquanto


mergulho meus dedos dos pés. A água está morna, mas o frio que
me percorre a espinha não.

Eu nado onde há salva-vidas. Onde a água atinge meus quadris


e meus pés tocam o fundo. Onde Archie e Marco estão à distância,
caso o pânico se instale.

Meus olhos se fecham enquanto canto o mantra que meu


terapeuta me ensinou.

Meu passado não é meu futuro. Posso ter medo e posso optar por
me mover devagar, desde que me mova.

Desço um degrau, a água morna batendo em meus tornozelos


enquanto o ar em meu peito sacode minhas costelas.
— Rosie? — Adam murmura, e minhas pálpebras se abrem. —
Você vai tirar o vestido?

— O quê? — Olho para mim mesma, ainda coberta. — Oh. Sim.


Duh. — Encontro uma das espreguiçadeiras abaixo do
caramanchão e, de costas para Adam, tiro lentamente meu vestido
e o deixo cair. Meus dedos tremem em minha barriga enquanto me
lembro que sou bonita e forte, que se Adam não pode ver isso, a
perda é dele.

Desço no primeiro degrau e paro, dobrando os dedos nas


palmas três vezes, fechando os olhos enquanto conto cada um. Eu
ouço o bater da água, o constante drip, drip, drip enquanto Adam
sobe os degraus, sinto o calor de suas mãos enquanto elas
circulam minha cintura, as pontas dos dedos se enterrando.

— Rosie? — ele sussurra, tão perto que acho que seus lábios
podem estar quase tocando os meus. Eu quero olhar, mas não
posso.

— Sim?

— Abra seus olhos.

— Eu tenho?

— Eu gostaria que você fizesse isso, mas não vou forçá-la a


fazer nada que não queira.

Eu abro um, só um pouquinho. Ele abre um sorriso torto e


doce.

— Do que você está com medo agora? De mim ou de nadar?

— E se eu dissesse os dois?
— Bem, eu diria que você não tem nada a temer quando se
trata de mim. Serei gentil e não vou machucar você. — Ele passa
o polegar sobre a covinha no meu queixo, persuadindo meu olhar
a se abrir. Olhos cobalto erguem-se para os meus. — Gostaria de
poder lhe dizer que você também não tem nada a temer quando se
trata de nadar, mas não conheço seus motivos e não vou miná-los.
Quero que saiba, porém, que está segura comigo. Não vou deixar
nada acontecer com você.

— Você promete?

— Juro.

Dou um passo, depois outro, descendo cinco centímetros,


depois dez, e minhas unhas cravam em seus ombros. Mãos fortes
apertam minha cintura com mais força, guiando-me para ele.
Quando ele afunda, a água beijando seu peito, ele puxa meus
membros ao redor dele, deixando-me agarrar a ele.

— Boa garota — ele murmura contra a minha têmpora. — Você


está bem?

Eu aceno em seu pescoço. — Não me solte, por favor.

— Nem sonharia com isso.

— Eu quase me afoguei quando tinha onze anos — eu deixo


escapar. — Um bombeiro me salvou. Foi um... um acidente bobo.
Na minha própria piscina.

— Foda-se, Rosie. Desculpe. — Suas mãos ainda em meu


corpo. Ele começa a caminhar em direção às escadas. — Eu nunca
teria pedido para você-
— Não, por favor. Tudo bem. — Eu afasto meu rosto do lugar
seguro em seu pescoço. — É algo em que venho trabalhando há
anos, voltar à água, e tem sido uma prioridade desde que Connor
nasceu. Eu sei por que meus medos existem, mas não quero que
eles me controlem para sempre. Mais do que isso, não quero que
eles afetem a vida de Connor. Ele adora a água e quero que se sinta
confiante e seguro nela. Estamos aprendendo juntos.

O olhar de Adam está fixo no meu, um peso reconfortante que


me diz que ele está ouvindo, absorvendo. — Obrigado por me
deixar fazer parte de sua jornada. — Ele mergulha a boca no meu
ombro, pressionando um beijo que envia todo o sangue para a
minha cabeça, deixando-me tonta. — Não vou pressioná-la a fazer
nada para o qual não esteja preparada. Você me diz onde estão
seus limites e eu os respeitarei.

— É mais fácil — murmuro contra seu pescoço. — Com você,


parece mais fácil.

— Eu sinto o mesmo com você.

Eu olho para ele, a sombra da barba por fazer delineando seu


queixo áspero, a linha acentuada de suas maçãs do rosto, a forma
como seus cachos caem em perfeição sem esforço acima de seus
olhos. — O que é mais fácil para você?

— Ser eu — ele sussurra. — Apenas eu.

Pego seu rosto em minhas mãos e engulo cada preocupação. —


Eu gosto de você, Adam. Só você, do jeito que você é.

Seu sorriso é como o raio de sol mais brilhante, aquecendo as


partes mais frias e escuras de mim. Ele encosta o nariz no meu, os
lábios tão próximos que posso sentir o gosto de menta em seu
hálito. — Eu também gosto de você, Rosie. Só você.
CAPÍTULO 12

TOTALMENTE HIPNOTIZANTE

A perfeição existe, e está bem aqui em meus braços.

São olhos verdes suaves que se iluminam com tanta facilidade,


dando lugar a cada emoção que passa por ela. É uma boca em
forma de coração, lábios rosados que dão lugar a um sorriso que
tira o ar dos meus pulmões. O nariz bronzeado e o jeito que ele
enruga toda vez que ela ri.

A maneira como ela parece em meus braços neste exato


momento, a pele quente que se funde na minha, a depressão em
sua cintura onde eu a seguro, o arredondamento de seus quadris
inebriantes, implorando-me para arrastar minhas mãos para
baixo, para explorar cada centímetro dela.

Eu poderia flutuar pelo resto da minha vida contente em saber


que segurei a perfeição nestes braços.

Rosie deita a bochecha em meu ombro com um suspiro suave,


enfiando o rosto em meu pescoço, como se eu fosse seu espaço
seguro. Acho que ela pode ser o meu.
— Você parece muito bem — lábios perfeitos murmuram contra
a minha pele. — Sólido. Estável. — Outro suspiro. — Seguro.

— Eu serei qualquer coisa que você quiser que eu seja.

— Só você, Adam. Você é suficiente exatamente como você é.

Suas palavras puxam uma corda invisível, apertando tudo em


meu peito. Quero ser suficiente para ela, mas passei o último ano
e meio sem me sentir suficiente para ninguém. Mas com ela, aqui
e agora? Não há hóquei, nem goleiro superstar, nem atleta
milionário.

Sou apenas eu, e ela diz que sou o suficiente para ela.

Minha mente corre com pensamentos de uma vida que eu


sempre sonhei. Minha família nas arquibancadas e eu deixando-a
orgulhosa. Noites tranquilas de sábado, recipientes para viagem
embrulhados uns nos outros. Manhãs lentas de domingo, café da
manhã com panquecas e desenhos animados na TV.

De repente, parece que finalmente estou sendo presenteado.

Mas eu sei que esta vida não pode ser verdadeiramente minha
até que eu dê a Rosie tudo de mim, e agora, estou lutando para
encontrar as palavras que dão a ela esses pedaços.

Então eu as engulo, enterro-as um pouco mais fundo, e espero


que quando ela diz que sou o suficiente para ela, ela esteja falando
sério.

— Como você está? — murmuro contra seu cabelo, mechas de


mel e ouro rosa entrelaçadas em uma trança.

— Bem. Eu acho. — Seu olhar se ergue para o meu, incerto. —


Estou bem?
Eu rio. — Você está indo bem. Avise-me se for demais.

— Não é. Pensei que poderia ser, mas parece bom. Embora


possa ter algo a ver com o homem gigante ao qual me agarrei como
um coala.

— Sinto-me honrado em ser seu galho de árvore. — Perguntas


sobre o passado dela sobem pela minha garganta, procurando por
respostas que ela não me deve. Em vez disso, digo a ela que estou
orgulhoso dela.

— Pelo quê?

— Já é difícil vencer nossos medos, e há uma certa pressão


quando você não está fazendo isso apenas por si mesma. É
admirável que você esteja enfrentando seu medo mais profundo
por você e por seu filho.

Seu lábio inferior desliza entre os dentes enquanto ela pensa.


— Acho que meu medo mais profundo é apenas... perder tudo.
Connor. Ele é toda a minha vida. Então, nadar depois de quase me
afogar? Por mais difícil que seja, parece nada mais do que acordar
em uma manhã chuvosa em comparação com o mais breve
pensamento de uma vida sem ele.

— Você pensa nisso com frequência? A vida um sem o outro?

— Penso principalmente em ter que me despedir, como isso


seria impossível, mas ter que fazer mesmo assim. Quão difícil seria
saber que era a última vez que veria seu rosto, rezando para que o
mundo fosse bom para ele sem mim para protegê-lo.

Um aperto aperta meu peito antes de subir pela minha


garganta. — Isso é...
— Triste — ela termina com uma risada ansiosa, mudando de
posição como se quisesse se afastar, hesitando porque não pode.
— Eu sei. É embaraçoso. A maioria das pessoas não tem
pensamentos tão mórbidos.

Eu pego uma de suas mãos na minha, pressionando um beijo


no interior de sua palma antes de subir as escadas com ela em
meus braços.

— Seus pensamentos são dolorosos, sim, mas não mórbidos.


Não posso me colocar no seu lugar, mas ficaria nele se isso
significasse um minuto a menos em que você sentiria aquela dor
sozinha.

— Às vezes, acho que é isso que eu faço — ela murmura


enquanto eu a coloco em uma espreguiçadeira na sombra,
observando enquanto ela se cobre com a toalha que entrego a ela.
— Coloco-me no lugar dos meus pais.

Sento-me ao lado dela, esfregando o cabelo com a toalha. — O


que você quer dizer?

— Às vezes, pergunto-me como foi para meus pais. — Ela


respira fundo, lambe os lábios enquanto seus olhos percorrem
meu rosto, buscando coragem para continuar. — Quando eles
souberam que era um adeus.

Um silêncio espesso se instala entre nós enquanto suas


palavras se estabelecem. Minha mente dispara, lembrando o olhar
em seu rosto na primeira vez que a chamei de Trouble, o desejo
quando ela explicou o apelido de seu pai para ela. A maneira como
ela se desfez em meus braços quando lhe dei aquele buquê de
peônias, quando ela me contou sobre todas as lembranças
maravilhosas que surgiram ao vê-las, explicou que ela não poderia
fazer mais.

Porque os pais dela não estão mais aqui.

— Você teve que dizer adeus.

— Essa é a coisa. Eu não consegui, porque eu não sabia. Mas


meu pai... ele sabia, eu acho. — Uma tempestade se forma em seus
olhos, nuvens raivosas sem ter para onde ir. — Alguns dias eu me
lembro de tudo, de cada momento. Alguns dias é tudo... embaçado.
Distorcido. Mas há uma imagem... é como se estivesse queimando
em meu cérebro. — A tempestade em seu olhar se dissipa,
deixando para trás uma exaustão que posso sentir em meus ossos,
uma espécie de... resignação. — A maneira como meu pai colocou
meu cabelo atrás da orelha quando disse que voltaria. A
devastação em seus olhos quando ele olhou para mim uma última
vez, por cima do ombro, e disse que me amava.

Eu gostaria de ter as palavras para tornar isso melhor, algo


para tirar a dor e substituí-la por uma felicidade eterna. Mas não
tenho, e embora eu realmente não tenha perdido ninguém – não
do jeito que ela, pelo menos – eu sei que não é assim que o luto
funciona.

Então, em vez disso, passo um braço em volta de sua cintura,


trazendo seu corpo para junto do meu, onde posso mantê-la
segura, e dou um beijo em sua têmpora.

Ela enxuga uma única lágrima logo que escapa. — Eu


realmente não falo sobre isso com frequência. Não é que eu não
consiga, mas estou sempre tentando seguir em frente, sabe? Perdi
minha família, mas estou construindo uma nova com Connor.
Estamos fazendo memórias que não posso mais ter com meus pais.

— Conte-me sobre eles. As memórias. Você me contou sobre o


apelido, que seu pai também chamava você de Trouble. E as
peônias?

Ela olha para mim, seu queixo com covinhas no meu peito,
olhos brilhantes e um sorriso ainda mais brilhante. — Mamãe
sempre quis um jardim enorme e colorido, como o que ela tinha
em casa quando criança. Fomos a uma linda loja de jardinagem
no final de setembro, quando eu tinha oito anos. — Seu sorriso se
alarga, florescendo enquanto a memória passa por sua mente. —
Fiquei encantada. Estávamos lá para sempre, apenas andando por
lá, absorvendo tudo. Mamãe queria algo que voltasse a cada
primavera. Ela disse que havia algo tão delicado em uma flor que
floresceria novamente após o inverno mais rigoroso. Encontrei um
delicioso arbusto de peônia. Eram tão bonitas, as flores cor-de-
rosa. Não extremamente brilhante, mas um tom rosa suave e lindo
que simplesmente me cativou.

Ela toca as pontas rosadas de seu cabelo. — É por isso o rosa.


Isso me lembra minha mãe, mas minha mãe sempre dizia que a
cor a lembrava de mim. Que eu era como a flor mais fresca a cada
primavera, cativante. — A cor que pontilha suas bochechas corre
desenfreada, até as pontas das orelhas enquanto ela baixa o olhar.
— Acho que queria me sentir assim de novo, como se eu fosse...
cativante. Para alguém, pelo menos.

Cativante? Mas ela é muito mais do que isso. Ela é... fascinante.
Deslumbrante. Totalmente hipnotizante. Ela não sabe disso?
Ela não tira o ar dos meus pulmões quando entra em uma sala;
ela respira a vida de volta em mim. Se ela é a flor que desabrocha
após o inverno mais rigoroso, eu sou a primavera. Eu sou tudo
novo e fresco, cheio de vida e cor e luz do sol e esperança, depois
que tudo foi roubado de mim do jeito que a primeira geada do
inverno rouba a beleza do outono.

Rosie dá tudo isso para mim, e ela tem a coragem de se sentar


aqui ao meu lado e pensar que ela é nada menos do que
encantadora?

Isso simplesmente não vai funcionar.

— Então você pegou o rosa? — pergunto, arrastando meu dedo


ao longo da curva de sua coxa, observando enquanto ela espelha
o movimento por conta própria, traçando as linhas pretas da
minha tatuagem saindo do meu calção de banho.

— E o roxo. O azul também. — Ela ri. — Então, no outono


seguinte, pegamos um laranja e um amarelo no seguinte.
Plantávamos um novo arbusto a cada outono e eu esperava na
janela a cada primavera para vê-los florescer. Nosso jardim da
frente era um arco-íris. Todos paravam para olhar quando
passavam.

— Como você, então.

Ela olha para mim, um notável engolir em sua garganta quando


pega a intensidade por trás do meu olhar. — Como eu?

— A explosão de cor e vida que todos param para olhar.

Seu nariz enruga, um rubor pintando suas maçãs do rosto


sardentas com minhas palavras. Ela mantém os olhos treinados
em sua mão enquanto ela se move sobre minha coxa, brincando
com a bainha do meu short. Seus lábios se franzem para o lado, e
ela me espia por baixo de cílios grossos e loiros. — Posso?

— Mhmm.

Algo apertado e grosso se instala em minha garganta com o


toque suave de seus dedos, algo quente em minha barriga
enquanto ela puxa meu short para cima, expondo centímetro após
centímetro de pele tatuada cobrindo minha coxa. A ponta de sua
unha roça a juba do leão pintada de preto, as linhas envelhecidas
de seu rosto, a sabedoria em seus olhos, como se ele já tivesse visto
de tudo.

— Bonito — Rosie murmura, um golpe lento e acalorado de sua


mão que tem músculos saltando que não deveriam saltar. — Por
que um leão?

— Um símbolo, eu acho.

— De?

De tudo que Courtney tentou tirar de mim, ou talvez tenha


conseguido tirar de mim. Quase perco cada pedaço de mim com
cada encontro esperançoso antes que inevitavelmente se torne sem
sentido.

— De força — é o que sai da minha boca. — Sabedoria das


lições aprendidas. Um lembrete para fazer melhor. Que eu estou
no comando do meu destino, não qualquer outra pessoa.

— Quero estar no comando do meu destino — murmura Rosie.


— Parece que, não importa quanto controle eu tente exercer, não
posso controlar meu futuro.
— Seu futuro e seu destino não são a mesma coisa. Seu futuro
é qualquer coisa que vai acontecer, as coisas que não podemos
escolher. Mas o seu destino... é tudo o que está destinado a você.
As coisas pelas quais trabalhamos duro todos os dias, porque as
queremos. Talvez parte do seu destino seja um futuro no qual você
não tenha medo de percorrer as partes mais profundas do riacho
na montanha, nadar com seu filho sem medo, poder dizer adeus a
ele todas as manhãs sem esse medo que pode ser permanente. Mas
essas coisas não vêm facilmente, não é?

A maneira como ela olha para mim, uma pequena ruga entre
as sobrancelhas enquanto ela se concentra em cada palavra,
pondera em sua cabeça, é uma sensação inebriante e viciante,
como se ela não estivesse em nenhum outro lugar, mas bem aqui
comigo.

— É algo que você quer, e você está trabalhando para chegar


lá, porque você sabe que é o seu destino, uma vida que está fadada
a viver por quanto tempo você vai viver, e não vai aceitar nada
menos. Seu futuro é uma vida com seu filho. Seu destino é uma
vida com ele onde sua força e coragem a tornam a melhor vida
possível.

Um momento de silêncio se estende entre nós enquanto ela


observa sua mão se mover sobre minha coxa, seu toque mais
firme, mais lento, mais determinado enquanto viaja em uma
direção perigosa. Um tremor de respiração escapa dela, e ela olha
para mim com admiração. — Eu quero isso.
— Então pegue-o — eu digo a ela, capturando seu pulso. Se a
mão dela continuar se movendo do jeito que está, algo dentro de
mim está fadado a estalar, e eu deveria estar no controle.

Há um calor que vem sobre ela, como se a iluminasse de dentro


para fora, mas não toca os cantos mais distantes dela. Não as
bordas de seu olhar, manchadas de gelo, uma leve incerteza que
persiste, como se ela estivesse desesperada para se livrar disso.
Não tenho certeza do que é, até que me aproximo, puxando a
toalha que ainda a cobre ao acaso.

Ela deixa o material macio cair, dedos finos esvoaçando sobre


as adoráveis margaridas na parte de baixo do biquíni de cintura
alta, as mãos descansando sobre a barriga. Seu olhar salta para
minha coxa, a maneira como os músculos se flexionam quando me
aproximo ainda mais, depois para meus braços, meu peito e mais
para baixo, parando em meu estômago. Ela engole, os dedos se
abrindo mais, cobrindo mais de si mesma, e algo dentro de mim
morre.

— Incomoda você que eu não me pareço com você?

O que me incomoda é o significado oculto por trás de suas


palavras, então começo com humor para tentar aliviar sua tensão.
— Que você é baixa? É um pouco inconveniente, claro. Meu
pescoço vai doer quando chegarmos a todos os beijos.

Ela revira os olhos e dá um tapa no meu ombro. — Eu não sou


baixa! Você é simplesmente enorme!

— Certo, desculpe. Média. — Eu pego sua mão agitada, unindo


nossos dedos, dando-lhe um aperto reconfortante. — O que está
em sua mente, Rosie? Vamos conversar.
O calor sobe por seu pescoço como uma videira, mas ela
mantém meu olhar. — Eu acho você muito bonito e, às vezes,
especialmente quando estou de biquíni, luto para me sentir
confortável em meu corpo. Eu não tenho um abdômen definido, e
de alguma forma você o tem definido em um pacote de oito. Além
disso... — Ela mergulha a ponta do dedo na depressão dos
músculos do meu estômago, traçando a linha do meu quadril
esquerdo, o músculo que desaparece sob meu short, e ela suspira.
— Esse V ridículo. Quem inventou isso? Você sabe o que isso faz
com uma mulher? — Ela sorri. Macio. Honesto. Vulnerável. — Eu
acho que perto de você, estou me sentindo um pouco mediana.

— Se eu ouvir essa palavra sair de sua boca mais uma vez, não
serei responsável por minhas ações.

Olhos musgosos piscam para mim, arregalados e cheios de


surpresa. Ela abre a boca como se fosse argumentar, dizer essa
porra de palavra mais uma vez. Antes que ela possa, eu agarro
seus quadris, empurro-a para frente, até que ela esteja deitada de
costas, e estou vivendo uma visão com a qual tenho sonhado desde
que a conheci – ela, embaixo de mim, lábios entreabertos, peito
arfando, calor manchando cada centímetro exposto da pele.

— A única coisa mediana em você, Rosie, é sua altura. — As


palavras são grossas com cascalho, um amontoado muito generoso
de luxúria reprimida por uma mulher que tem ocupado meu
cérebro nas últimas semanas. Meus joelhos a seguram, uma mão
deslizando lentamente por seu lado delicioso, sobre a pele
imaculadamente corada, sol e margaridas, mais pele e muito,
muito calor. — E todas as coisas que você vê como imperfeições
são onde outra pessoa, como eu, encontra beleza. — Meu polegar
corre sobre o recuo em seu queixo, o menor pedaço de perfeição
que eu já vi. — Como esta covinha. É tão perfeita que me vi
querendo beijá-la pelo menos cinco vezes hoje. E esses quadris...
— Minhas mãos tremem enquanto meus dedos caem em seus
lados, roçando sua cintura, roçando a borda de seu biquíni, onde
eles envolvem o estilo largo de seus quadris cheios. Cada toque é
uma fome mal contida, uma fome que nunca senti antes. — Jesus,
eu quero pegá-los. Queimar meus dedos direto neles. Tanto, é
doloroso me impedir de fazê-lo.

No segundo em que suas mãos se levantam, um toque frenético


que arranha o cabelo que reveste minha mandíbula, aquela
contenção estala, um fio que mal estava pendurado. Eu coloco
meus quadris nos dela, e a pressão explode em meu estômago
enquanto ela pressiona em mim, um som gutural e inumano
ressoando em meu peito quando ela geme, como se estivesse tão
faminta quanto eu. Pernas suaves vêm em volta da minha cintura,
e minhas mãos agarram sua única linha de vida, as pontas dos
dedos mergulhando abaixo de sua bunda, afundando em sua
bunda macia enquanto eu a seguro forte contra mim, como se
tivesse medo de que ela pudesse escapar.

Eu não vou deixá-la.

— E essas malditas pernas — eu expiro, correndo minhas mãos


sobre elas, um deslizamento áspero que me pressiona mais perto
quando Rosie joga a cabeça para trás, expondo seu longo pescoço.
Meus lábios caem sobre a pele corada ali, provando-a e, foda-se,
não é suficiente. Minha boca desliza pelas colunas de sua
garganta, beliscando seu queixo, até que finalmente consigo beijar
aquela covinha ali. — Não tenho certeza como você pode pensar
que elas não são o céu. Eu com certeza não vejo nada além do céu
quando olho para você.

— Adam — ela choraminga, contorcendo-se abaixo de mim, os


dedos passando pelo meu cabelo.

— Não é nem um pouco mediana. — Eu arrasto meu nariz ao


longo de sua bochecha, colocando minha boca sobre a dela. —
Nunca mais quero ouvir essa palavra. Entendeu?

Ela acena com a cabeça, um movimento frenético de sua


cabeça, olhos arregalados prontos para desistir de qualquer
aparência de controle. — Entendi.

— Boa menina.

Eu corro minha mão em sua garganta, os dedos coçando para


trancá-la no lugar, mantê-la ali. Em vez disso, agarro seu queixo,
dando a ela uma versão um pouco menos exigente de mim, gentil.
Tão gentil quanto posso ser agora com ela embaixo de mim,
passando a língua em seus lábios rosados, preparando-me.

— Tenho que dizer, Trouble, isso não é exatamente o que eu


planejei para ganhar o primeiro beijo. — Eu prendo seu lábio
inferior sob meu polegar, meu olhar rastreando seu arrastar
através de uma boca que mal posso esperar para reivindicar. — Eu
vou roubá-lo de qualquer maneira.

Nossos olhares se encontram e, apesar de toda a fome maníaca,


algo dentro de mim se suaviza com a esperança nadando em seus
olhos, a confiança.
Seus lábios se abrem, eu inclino minha cabeça, e uma pequena
voz chama pelo monitor de vídeo a um metro e meio à minha
direita.

— Mamaaa!
CAPÍTULO 13

ESPECIAL 2 POR 1

Não consigo me lembrar de uma vez que alguém tenha olhado


para mim do jeito que Rosie olha.

Courtney olhou, uma vez, mas é quase impossível lembrar de


nossos primeiros anos juntos e imaginar que foi real, mesmo
quando tínhamos dezessete anos e ela olhava para mim como se
eu tivesse pendurado as estrelas.

Mas com Rosie... eu não sou as estrelas, iluminando pedaços


de seu céu. Eu sou o sol nascente no dia mais claro, tocando cada
centímetro de seu mundo, iluminando as partes mais sombrias e
sombrias onde ela não vê a luz há muito tempo. Ela olha para mim
como se eu fosse tudo de bom e brilhante. Ela olha para mim como
se estivesse... grata. Grata por estar aqui comigo. Grata pela
paciência, pela compreensão, por cada gentileza e cada sorriso.

É quase doloroso o quão pesado é o peso de seu olhar.

Porque eu sei, mesmo em nossos melhores dias, a maneira


como Courtney costumava olhar para mim nunca poderia ser
comparada, e isso me faz sentir um pouco... vazio. Parece anos
perdidos e sonhos frustrados. Como invernos rigorosos que duram
mais que as boas-vindas, uma primavera que demorou demais
para chegar.

É doloroso porque, por tudo que Rosie me deu, não importa o


quão pequeno ou hesitante, eu não fiz o mesmo com ela. Ela pega
os pedaços que vêm com facilidade, os que não machucam, e eu
guardo todos os outros na mão, segurando-os com força contra o
peito, com medo do que ela fará com eles.

E é isso. Quando conheci Courtney, eu tinha tudo o que sonhei.


Uma família incrível que me amava infinitamente, uma carreira
promissora como goleiro da NHL no horizonte. Eu estava feliz e
despreocupado. Courtney tinha meus pontos positivos, e eles não
eram suficientes. Eu a deixei roubar tudo de bom, brilhante e feliz,
um pequeno punhado de cada vez. Minha confiança, minha fé em
finais felizes.

Não acho errado fazer de alguém o seu mundo inteiro, mas sei
que a única vez que fiz isso foi meu maior erro.

Agora sei que Courtney não era o mundo destinado a mim, mas
isso não torna mais fácil pensar em começar um novo com outra
pessoa, alguém que tem o poder de quebrar você novamente. Eu
quero pular de cabeça. Porra, digo a mim mesmo que já estou
fazendo isso, que nunca me apaixonei tão rápido, comecei a sonhar
com um futuro com alguém que mal conheço. Mas a realidade é
como uma corda amarrada em meus tornozelos, deixando-me
arrastar os pés pela estrada que quero seguir, mas cada pequeno
passo queima minha pele, incitando-me a desacelerar, apenas...
esperar. Apenas no caso de.
Sobrevivi à primeira vez, mas sobreviverei à segunda?

O olhar de Rosie enquanto ela me observa chapinhando na


piscina com seu filho nos braços me diz que não há nada para
sobreviver. Que ela não será a única a me quebrar. As fissuras em
meu peito sussurram... e se?

Connor se contorce em minhas mãos, alcançando os degraus.


Eu sei exatamente para onde isso está indo; temos feito isso nos
últimos quarenta minutos. Eu nado até a borda e ele sobe os
degraus. Ele contorna o pátio com passos rápidos, parando para
pegar o rosto de Bear em suas mãozinhas. — Oi, cachorrão — ele
diz antes de dar um beijo em sua testa. — Mamãe — murmura
Connor, dando um tapinha em seu joelho. — Mamãe!

— Estou assistindo, querido. Você vai pular para Adam?

— Dada!

Eu sufoco uma risada com o horror pintando o rosto de Rosie,


embora Connor tenha me chamado assim cerca de quinhentas
vezes hoje.

— Sinto muito — ela sussurra. — O Google diz que é uma fase.

Eu apenas pisco, então estendo a mão para Connor enquanto


ele se agacha. — Pronto para pular, Little Trouble?

— Tubble — ele repete com um sorriso cheio de dentes. Mãos


minúsculas se estendem em minha direção e, quando ele se lança
do pátio para os meus braços, grita: — Daaa-daaa!

Eu o giro no ar antes de mergulhar sua metade inferior


enquanto ele grita de alegria. Ele se agarra ao meu peito,
perninhas envolvendo-me enquanto ele ri contra o meu pescoço, e
Rosie não consegue tirar os olhos de nós.

— Devemos jogar água na mamãe? — Eu me aproximo de


Rosie, escondendo meu sorriso. — O que você acha, amigo? A
mamãe precisa se molhar um pouco?

Ela aponta um dedo para mim. — Não se atreva. Já estive


molhada, agora estou seca. — Ela enrosca os dedos pintados de
margarida no pelo de Bear. — Bear e eu gostamos assim.

— Mmm. Mamãe não gosta de ficar molhada. — O calor furioso


que se acumula nas bochechas de Rosie diz que ela não perdeu a
insinuação, mas não temos tempo para pensar nisso enquanto
ajudo Connor a subir os degraus novamente. — Vá dar um grande
abraço na mamãe. Esprema todo o seu amor para ela.

Pés minúsculos atravessam o pátio, mãos agarradas


alcançando sua mãe. Ela dá uma gargalhada enquanto ele joga o
corpo molhado no colo dela, e acho que eles podem ser minhas
pessoas favoritas no mundo.

Gotas de água caem em cascata pelo meu corpo, respingando


no concreto enquanto caminho em direção a eles. Pego uma toalha,
observando os olhos de Rosie se moverem sobre mim em uma
varredura lenta e acalorada, a língua correndo sem rumo em seu
lábio inferior enquanto sacudo meu cabelo, sua garganta
balançando enquanto esfrego a toalha em meu estômago.

— Vou começar o churrasco e preparar o jantar.

Rosie não pisca, o olhar vagando para baixo, depois para cima.
Eu cutuco seu queixo com os nós dos dedos, guiando seus
olhos para os meus. — Ok, menina bonita?

— Quente — ela murmura, então pisca rapidamente,


balançando a cabeça. — Churrasco, quero dizer. Está quente. Vai
estar quente. Quando você... começar. — Ela acena com a cabeça.
— Sim.

Abro meu sorriso em sua testa, pisco para Connor e entro. Meu
telefone está tocando no balcão da cozinha, meu grupo favorito de
Puck Sluts fazendo check-in.

Carter: A cadeirinha funcionou bem?

Garrett: Qual cadeirinha?

Carter: Estou falando com Adam, não você.

Garrett: Tudo bem, vou voltar ao que estava fazendo


antes. Sua irmã.

Carter: Seu filho de puta.

Emmett: Acredito que o termo correto é filho da puta,


amigo.

Jaxon: *emoji chorando de rir* Filho da puta. Pegou?


Porque ele está fodendo sua irmã.

Carter: Eu odeio todos vocês. Só estou falando com


Adam de agora em diante.
A cadeirinha funcionou para sua namorada???
Garrett: ... Quantos anos tem Rosie?

Emmett: Espera, espera, espera... *emoji com


monóculo*

Carter: Não para Rosie, seus merdas.

Garrett: Achei que você não estava falando com a


gente.

Jaxon: *emoji pensando*

Carter: ...

Jaxon: *emoji surpreso* Não. Não, não, não, não.

Carter: Sim.

Jaxon: *emoji derretendo* Adam, amigo. Diga-me que


ela não tem um filho.

Garrett: Jennie soltou um AWWW tão longo que parei


de contar.

Emmett: Cara diz: Padrasto Adam??? O homem


acabou de passar de 10/10 para um sólido 20.

Jaxon: ADAM. Diga-me que não é assim.

Eu: O nome dele é Connor, ele tem quinze meses e é fofo pra
caralho.
Jaxon: NÃO. Papai Adam?! RIP.

Emmett: Ayooo! Isso é incrível, cara. Feliz por você.

Carter: Mantenha-o longe da minha bebê, porque não


há meninos até que ela tenha 40 anos.
Ou nunca.
Nenhuma garota também.

Não vou tentar tocar no fato de que um dia a Ireland vai crescer
e ser ela mesma e nunca mais ouvir o pai, porque é uma conversa
inútil. A atitude de Carter quando alguém tenta argumentar com
ele envolve tapar as orelhas com as mãos e cantar Não estou
ouvindo, não estou ouvindo.

Na verdade, a Ireland pode crescer antes dele.

Meu telefone toca, e eu meio que espero que seja Jaxon. O


compromisso o assusta, e o pensamento de uma criança
provavelmente o deixa em uma espiral. Se alguém vai tentar me
convencer a sair desse relacionamento, será ele.

Mas o rosto da minha mãe sorri para mim da minha tela, e eu


atendo o pedido de vídeo enquanto saio do alcance da voz da porta
do pátio, para a janela da sala, onde posso ver Rosie, Connor e
Bear brincando na grama com o aspersor.

— Ei, mãe.

— Importa-se de me dizer por que Garrett me contou que você


tem uma namorada antes de você?

— Eu não... o que... quando você... — Esfrego os olhos e


suspiro. — Aquele merdinha.
— Não culpe meu anjo. — Garrett é definitivamente o favorito
dela entre meus amigos, e é por isso que ela envia a ele uma caixa
mensal de lanches especiais dos Estados Unidos que você não
pode encontrar aqui no Canadá. — Ele ligou para me agradecer
pelos lanches e perguntou se eu estava animada para conhecer
Rosie. Eu disse, ‘Rosie, quem?’ e ele disse, ‘Oh, merda.’ Então
Jennie começou a cacarejar ao fundo e cantar: ‘Você fodeu isso,
você fodeu isso’.

— Ela não é minha namorada — murmuro. — Eu nem a beijei


ainda.

— Bem, isso é compreensível.

— Isso é?

— Sim, claro.

Há uma risadinha ao fundo, e então o rosto divertido do meu


pai aparece por cima do ombro da minha mãe. — Se alguém
avaliasse publicamente meu beijo como três em cinco, eu hesitaria
em beijar alguém novamente também.

Eles uivam de tanto rir, e os filhos da puta até batem as mãos.


— Acertou em cheio, Deac!

Eu sorrio quando Connor salta atrás de Bear, e Rosie atrás de


Connor, os três encharcados até os ossos enquanto eles saltam na
água borrifada.

— Oh, meu Deus — mamãe murmura. — Ele está apaixonado.

— Eu não estou. — Eu posso estar. Bem no caminho, pelo


menos. — Olha, tenho que ir. Ela está aqui agora, e eu deveria
estar começando o chu...
— Ela está aí? Agora mesmo? Apresente-nos!

— Absolutamente não.

Suas sobrancelhas escuras puxam para baixo. — Deacon, faça


seu filho nos apresentar.

Papai abre um Fruit Roll-Up, e agora eu quero um, então pego


um também. — Adam, ouça sua mãe para que eu não precise, blá,
blá, blá, esposa feliz, vida feliz.

Eu sufoco uma risada com o olhar que ela dá a ele, e quando


Connor dá uma gargalhada, a mandíbula da minha mãe balança,
e eu paro, meu doce de arco-íris pendurado na frente da minha
boca aberta.

— Isso é um... um bebê?

Enfio meu Fruit Roll-Up na boca. — Criança, tecnicamente.


Connor tem quinze meses.

Ela se vira para olhar para o meu pai, fungando. — Deacon,


nós vamos ser avós.

— Pelo amor de Deus. — Eu sabia que isso poderia acontecer.


— Eu acabei de dizer que nem a beijei!

— Bem, o que você está esperando? E faça bem, assim ela vai
querer ficar com você! Nada dessa meia-boca, a besteira de três de
cinco! — Ela ri do olhar de pura exaustão no meu rosto. — Você
pode nos contar um pouco sobre ela? Apenas rápido. Então
desligamos e deixamos você em paz. Prometo.

Afastando-me da janela com um suspiro, ando pela sala,


olhando para os meus pés, esfregando meu pescoço. — Ela é... ela
é realmente linda. Não só por fora, mas por dentro também. Ela
está na escola veterinária e trabalha em um dos abrigos de animais
daqui. Ela tem um coração tão bom e é a melhor mãe. — Eu dou
de ombros. — Ela me faz sentir que as coisas não são tão pesadas.

Mamãe me observa com um sorriso quieto e vacilante, e papai


me dá dois polegares para cima atrás dela, outro Fruit Roll-Up em
sua boca. Registo o suave drip, drip, drip de água apenas um
momento antes de uma vozinha sussurrar: — Dada — atrás de
mim.

Eu me viro, olhos fixos nos de Rosie, onde ela está parada no


meio da porta do meu pátio, Connor embrulhado em uma toalha
em seus braços, Bear ofegante ao seu lado.

— Ok, mãe, tenho que ir — eu meio que grito.

— Ele acabou de chamar você de-

— Tchau! — Levo dezessete mil tentativas para desligar. Eu


enfio uma mão pelo meu cabelo e faço um gesto por cima do meu
ombro, esquecendo meu telefone na minha mão. Ele voa pelo ar e
aterrissa com um estrondo em algum lugar atrás de mim. — Isso
foi meu... meu amigo apenas... eu não estava falando sobre... isso
foi... — Eu escolho parar – parece ser a aposta mais segura – e me
contento com uma risada ansiosa em vez disso.

— Era sua mãe?

— Quem, essa? — Aceno com a mão no ar. — Não.

— Você disse, ‘Ok, mãe, tenho que ir.’

— Hmmm. Sim, eu vejo como isso pode ser interpretado.


Definitivamente.
O canto da boca de Rosie se contrai. — Ok, bem, vamos nos
trocar.

— Ótimo. Incrível. Sim, e eu vou começar o churrasco.

Ela para ao meu lado, cheirando a coco e limão, luz do sol,


esperança e tudo de bom e certo. — Você me faz sentir como se as
coisas não fossem tão pesadas também, Adam. Apenas no caso de
você estar se perguntando.

— Como diabos você conseguiu purê de batata em sua


sobrancelha, amigo — murmuro, esfregando o rosto de Connor
com um pano quente. Ele se vira, lançando um jato de água ao
nosso redor quando espirra na banheira. — Jesus Cristo, está no
seu ouvido. Rosie! Está no ouvido dele!

Rosie ri, caindo de joelhos ao meu lado enquanto limpo a orelha


dele. — Connor tem o dom de colocar seu jantar em cada fenda.
Verifique o cotovelo dele.

Pego sua pequena mão na minha e levanto seu braço. Com


certeza, bem ali na dobra de seu cotovelo, está uma moita de
batata. Balanço a cabeça, limpo-o, e o macaquinho tenta comer a
batata da minha mão. — Trouble e Little Trouble. Nomes perfeitos
para você e a mamãe.

Rosie joga água em mim. — Eu acho que é você quem é o


encrenqueiro.
Quero começar todo tipo de problema com Rosie, mas estou
tentando me comportar da melhor maneira possível. É difícil,
porque o sol está se pondo, o ar esfriou e ela está se afogando em
uma das minhas camisetas e calça de moletom.

Algo sobre uma garota bonita em suas roupas, envolta em seu


cheiro... nunca envelhece.

Bear empurra entre nós, apoiando o queixo na borda da


banheira. Connor descansa a testa contra a de Bear enquanto
sussurra: — Oi, cachorrão — e tudo parece exatamente certo com
esses três ao meu lado.

— Estou muito feliz que você pode ficar — digo a Rosie


enquanto ela coloca o pijama de Connor e o deita no cercadinho.

— Eu não esperava que ele se saísse tão bem para sua soneca
aqui. Ele dorme no meu quarto em casa e sempre vamos para lá
para as sonecas. — Ela empurra o cabelo dele para trás, sorrindo
para seus olhos cansados. — Acho que não lhe dou crédito
suficiente.

— Não acho que seja isso. Você tem sua rotina e nem sempre é
fácil fugir de nossa rotina. — Eu cutuco seu ombro com o meu. —
Trata-se de abrir mão de um pouco de controle, certo?

— O que eu tenho dificuldade em fazer — ela admite.

— Mas você está indo muito bem.

Seu sorriso é suave e agradecido. — Obrigada por dizer isso,


Adam.

— Mamãe. — Connor dá um tapinha no cercadinho. — Cat?


— Ah, cara. Isso mesmo. — Ela pega sua bolsa da cama e
vasculha antes de tirar um gato fofo de pelúcia laranja. — Ele não
dorme sem Cat.

Connor se levanta, esfregando os olhos com os punhos, Cat


debaixo do braço. — Mamãe, beijo?

Rosie segura o rosto dele com a mão, dando um beijo em sua


testa, nas duas bochechas e, por fim, nos lábios. — Boa noite,
baby. Mamãe ama você.

Connor estende a mão para mim. — Dada, beijo?

Dou um beijo alto em sua testa. — Boa noite, Little Trouble.

Com a mão de Rosie na minha, eu a guio para fora do quarto,


apagando a luz e fechando a porta silenciosamente. Ela está toda
nervosa agora, dedos inquietos e olhos saltitantes, o brilho
dourado do sol poente fluindo pelas janelas, iluminando as sardas
em seu nariz.

— Só vou ligar para meu colega de quarto para pedir conselhos


— ela deixa escapar, depois bate na testa. — Para dizer a ele que
estarei em casa mais tarde, quero dizer.

— Encontre-me lá atrás quando estiver pronta. — Eu beijo sua


bochecha. — Espero que ele dê bons conselhos.

Há um zap estranho de eletricidade passando por mim


enquanto eu arrumo o quintal, Bear se arrastando em meus
calcanhares enquanto faço isso. Estou nervoso, mas o fato de
Rosie também estar nervosa é reconfortante. Apesar do meu desejo
desesperado por uma base sólida, uma conexão significativa e uma
vida para compartilhar com alguém, eu me sinto um pouco
desequilibrado desde que encontrei Rosie por acaso, semanas
atrás. Eu sei exatamente onde quero levar as coisas, mas em todas
as minhas tentativas de seguir em frente no ano passado, nunca
realmente me movi nessa direção. Cada passo à frente terminou
com dois para trás. Cada encontro terminando em desastre, toda
vez que meu rosto foi espirrado em algum meio de comunicação
social ao lado de uma mulher que mal conhecia, eu me retraí ainda
mais nas sombras, eu me agarrei mais a cada pedaço de mim.

Quero dar essas peças para Rosie. Quero abrir os punhos


cerrados, mostrar-lhe as peças com as mãos trêmulas e pedir-lhe
que me aceite assim mesmo, que goste de mim como sou.

Pela primeira vez na minha vida, não quero ser Adam


Lockwood, Vancouver Viper, goleiro de todas as estrelas. Eu só
quero ser...

Eu só quero ser, porra. Quero existir exatamente como sou.


Quero ser um amigo leal, um filho amoroso. Quero ser confiável,
gentil e generoso porque gosto de ser, não porque preciso ser. Eu
quero ser um parceiro, o melhor amigo de alguém, a mão firme em
suas costas quando ela precisa ser sustentada, os dedos
entrelaçados nos dela para caminharmos juntos pela vida.

Eu quero ser Adam.

E como sempre, o hóquei só vai atrapalhar isso.

A porta do pátio se abre, fazendo meu coração disparar,


batendo contra meu esterno como uma chuva pesada caindo sobre
um telhado de zinco. Meus dedos se curvam em minhas palmas
enquanto respiro fundo, esperando diminuir a batida acelerada e
cada pensamento errático na minha cabeça, e me viro.
Rosie é uma visão, uma beleza impecável banhada pelo brilho
dourado do crepúsculo, fragmentos espalhados de lavanda e
pêssego refletindo na água, as luzes cintilantes iluminando a
maravilha em seu olhar enquanto anda pelo quintal, absorvendo
tudo.

Ela dá um passo hesitante para frente, depois outro, uma mão


em sua garganta, a outra segurando a bainha da minha camiseta
que ela veste. — Adam, isso é lindo.

— Sim? Eu, uh... — Corro para o gazebo, recolhendo as flores


que tinha deixado na minha sala de jantar o dia todo. Eu as ofereço
a Rosie com a mão trêmula. — Eu trouxe mais peônias para você.
Espero que esteja tudo bem.

— Obrigada. — Ela as pega com um sorriso e olha para o


colchão inflável colocado na grama, coberto com almofadas e
cobertores. — E isso?

— Eu pensei, se você quiser, nós podemos, hum...

Ela enlaça seus dedos nos meus e aperta, uma pressão suave
que acalma meu batimento cardíaco. Eu tento de novo.

— Eu gostaria de assistir ao pôr do sol com você enquanto nos


deitamos juntos.

— Eu realmente gostaria disso.

Meu batimento cardíaco pula. — Sim?

Ela acena com a cabeça, puxando-me para o colchão,


segurando minha mão enquanto ela afunda nele, fazendo-me
segui-la. Ela se curva de lado, a bochecha apoiada em uma
almofada enquanto ela olha para mim enquanto eu puxo um
cobertor sobre nós.

— Este foi um dia tão perfeito, Adam. Estou tão feliz que não
precisamos cancelar.

— Connor é sempre bem-vindo aqui. Não quero que você sinta


que precisa cancelar porque está com ele. Eu gosto de estar com
ele.

Seu sorriso mostra partes iguais de gratidão e tristeza, então


dou um aperto em sua mão.

— Tudo certo?

— É bom ouvir isso, só isso.

Eu franzo a testa. — Que eu gosto de passar o tempo com


Connor?

Ela acena com a cabeça. — Brandon, seu pai... bem, essa é a


razão pela qual eu o peguei cedo hoje. Ou acho que sim, pelo
menos. Crianças não faziam parte do plano. Não estávamos
falando sério e ele fugiu. Ele voltou, mas quando Connor tinha
alguns meses, ele disse que não queria mais fazer isso, que não foi
feito para isso. Desapareceu por um tempo de novo, voltou de
novo. — Seus olhos param na minha clavícula enquanto eu esfrego
meu polegar ao longo dela. — É tão desgastante mentalmente. Ou
você está todo dentro ou não está, sabe? Connor merece se sentir
amado e desejado o tempo todo. Quero protegê-lo das pessoas que
não podem oferecer consistência a ele.

— Acho que é natural como mãe querer proteger seus filhos de


tudo que possa prejudicá-los.
— Então como é que o pai dele é quem às vezes causa dor? —
Ela desvia o olhar, franzindo o nariz enquanto ela morde o lábio
inferior. — É só que... Connor foi um acidente, sim, mas não foi
um erro. Ele é a melhor coisa que já me aconteceu, o maior
presente que já recebi. Dói que, às vezes, parece que sou a única
de nós que pensa assim.

— É algo pesado para carregar, Rosie. Espero que um dia ele


perceba o quão sortudo ele é por ter não apenas Connor, mas você
também, por trazer Connor para sua vida.

Eu acaricio minha mão por seu cabelo, descendo por suas


costas, enquanto ela se aconchega mais perto, cutucando sua
perna entre as minhas. Ela me deu tanto hoje, pedaços de si
mesma que ela entregou de bom grado enquanto eu me contenho,
e quero dar algo a ela. A resposta óbvia grita dentro da minha
cabeça, mas eu afasto o pensamento, enterrando a culpa enquanto
arrasto outro dia sem dizer a ela qual é realmente o meu trabalho,
quem eu sou para todos, menos para ela.

— Posso contar uma coisa?

Ela muda de volta ao meu tom, dando-me toda a sua atenção.


— Claro.

— Nunca conheci minha mãe biológica. Só sei que ela era jovem
quando me teve e lutava contra o vício. Ela ficou limpa durante a
gravidez, mas teve uma recaída quando eu tinha apenas alguns
dias de vida. Ela me deixou com minha avó e nunca mais voltou.
— Passo a ponta do dedo pelo braço de Rosie, uma âncora para a
realidade, minha firmeza neste momento instável. — Não me
lembro da minha avó, mas sei que ela me amava muito. Em todas
as fotos que tenho, parecemos tão felizes juntos. Ela teve um
derrame quando eu tinha quatro anos. Minha única lembrança é
esta vívida em seu funeral, onde uma mulher com cachos escuros
e olhos azuis olhou para mim da porta e, em vez de entrar, ela se
virou e saiu.

Rosie enlaça seus dedos nos meus, passando suavemente o


polegar pelas costas da minha mão de uma forma gentil que me
deixa saber que ela está aqui, ela está ouvindo.

— O problema é que nunca fiquei bravo com ela. Acho que ela
não poderia me dar a vida ou o amor que toda criança merece, e
ela sabia disso. Ela pensou que havia alguém melhor lá fora para
mim e, ao sair, ela me deu isso. Uma chance de algo melhor. — Eu
enxugo a única lágrima que escorre do olho de Rosie enquanto ela
segura minha bochecha. — Quando você me contou sobre seus
pais mais cedo, como o pensamento de dizer adeus despedaça
você, eu queria pegar sua mão e dizer que você não estava sozinha,
porque eu também perdi pessoas. Mas não senti uma perda tão
profunda quanto a sua. A minha é diferente. As pessoas
escolheram ir embora, porque não fomos feitos um para o outro.
Eles não foram feitos para mim, e há uma certa paz em saber disso.

— Isso não torna sua perda menos válida — Rosie diz com
firmeza. — Por favor, não diminua nada pelo que você passou por
minha causa.

— Eu não vou. A verdade é que tive muita sorte e sei disso. Não
há dor no meu passado, não nas minhas memórias, pelo menos.
Mas quando você falou comigo... eu quase queria que tivesse. Eu
não queria que você estivesse sozinha sentindo a sua.
Há uma suavidade no olhar de Rosie, uma compreensão que
nos aproxima, um nó na corda. — Eu não preciso que você assuma
minha dor, Adam. Eu só preciso que você se sente comigo
enquanto sinto isso. Isso é o suficiente para mim. — Ela tira um
cacho da minha testa. — Isso faz sentido?

— Eu penso que sim.

— Obrigada por compartilhar isso comigo.

— Obrigado por compartilhar seu mundo comigo.

Rosie se aconchega mais perto, os centímetros macios dela


pressionados contra mim me trazendo um conforto que eu não
sabia que precisava enquanto os fragmentos restantes de luz do
sol desaparecem atrás das árvores, estrelas começando a explodir
contra o horizonte escuro.

— Você não pode ver as estrelas com seu rosto enterrado aí


dentro, menina bonita.

Ela apoia o queixo no meu peito, sorrindo para mim. — Gosto


mais desta vista.

Eu rio, passando o polegar sobre a covinha em seu queixo. —


Você é a mais fofa de todas.

Rosie cora, desviando o olhar. Eu cutuco seu queixo, guiando


seus olhos de volta para os meus.

— Eu acho adorável quando você fica tímida. Todo o seu corpo


esquenta, você começa a mordiscar o lábio e suas sardas tentam
se esconder sob essas bochechas rosadas. — A ponta do meu
polegar se arrasta em seu lábio inferior. — Você é linda, Rosie, e
eu realmente gosto de estar aqui com você.
— Gosto muito de estar aqui com você também — ela respira.
— Você vai me beijar agora? — Seus olhos se arregalam e ela fecha
a boca. — Uau – eu não – não, isso deveria ser...

Eu engulo suas palavras com minha boca na dela, e, porra, é


tudo que eu poderia ter esperado. É suave e gentil, o jeito que ela
se derrete contra mim, os ruídos que ela faz no fundo de sua
garganta. É tudo doce com uma pitada de mordida, o sabor de
toranja agarrado a seus lábios, a pressão frenética de seus dedos
em meus ombros, a mudança de suas curvas contra as linhas
duras do meu corpo.

Eu afundo meus dedos em seu cabelo, inclinando sua cabeça


para trás. Rosie suspira, abrindo os lábios, deixando-me entrar.
Sua língua encontra a minha sem hesitar enquanto suas mãos
deslizam sobre mim, descendo pelos meus braços, meu peito,
agarrando minha camisa enquanto ela me puxa para mais perto,
joga a perna sobre meu quadril. Minha mão desliza ao longo de
sua coxa, sobre sua bunda, segurando sua cintura enquanto a
seguro com força e me movo contra ela, certo de que finalmente
encontrei o paraíso.

Rosie é o céu azul brilhante e o calor do sol de verão beijando


suas bochechas. Ela é estar com os pés na areia e a água cristalina
espirrando aos seus pés. Arco-íris feitos de flores e redemoinhos
de cores que se misturam ao pôr do sol como uma pintura
impecável. Ela é escapar da realidade e viver em pura felicidade
sem os pensamentos acelerados e a coceira de muitos corpos,
muitos olhos em você.

Ela é a minha versão do paraíso.


Seguro seu rosto em minha mão, passando o polegar pela maçã
de seu rosto enquanto diminuo a velocidade, levando um último
momento para prová-la, chupando seu lábio inferior antes de
pressionar minha boca na dela uma, duas vezes mais.

A respiração errática de Rosie se mistura com a minha, a cor


florescendo em suas bochechas. Ela pressiona dois dedos trêmulos
nos lábios inchados. — Uau.

— Sim.

— Eu... eu quis dizer isso na minha cabeça. A coisa do beijo. E


honestamente, o uau também.

— Eu gosto quando você pensa em voz alta.

— Muitos dos meus pensamentos são sobre você — ela admite.

Solto um suspiro de alívio e a puxo para o meu peito. — Graças


a Deus, porque todos os meus são sobre você.

— O que está comendo você?

— Hum?

Meus olhos se erguem para o espelho retrovisor, avistando


Connor atrás. Ele desmaiou com sua pelúcia e não se mexeu por
mais de um minuto quando o tirei do cercadinho e o coloquei na
cadeirinha. Rosie, no entanto, é uma história diferente.
— Você está mordendo o lábio nos últimos quinze minutos —
digo a ela, parando na frente de seu apartamento. Eu puxo seu
lábio inferior livre de seus dentes. — O que está em sua mente?

— Eu não quero soar... estou nervosa porque vou soar... não


quero que você pense...

— Rosie.

Seus ombros se esvaziam e ela me lança um sorriso culpado


sob a luz do poste. — Eu realmente gosto de você, Adam.

— Eu realmente gosto de você também.

— Mas...

— Ah, porra. Não um mas.

Ela ri, dando-me um empurrão. — Eu realmente gosto de você,


mas não estou procurando algo casual. Honestamente, eu não
estava procurando. Mas agora você está aqui e não quero colocar
meu filho em algo que não tem potencial para ser de longo prazo,
para ser real, sério e bom. — Ela respira fundo, colocando o cabelo
atrás das orelhas. — Sei que tenho apenas vinte e quatro anos,
mas quero compartilhar uma vida com alguém. Quero que sejamos
especiais para alguém. Eu quero construir uma família com
alguém, e não tenho nenhum problema em me separar de alguém
que não quer isso também. Porque se Connor é a única família que
tenho nesta vida... ele é o suficiente para mim. — Olhos turvos se
movem sobre mim, e eu observo seus dedos se fecharem em seus
punhos. — Eu sei que algumas pessoas não gostam de falar sobre
compromisso, e talvez seja rápido. Mas eu...
Pela segunda vez esta noite, eu engulo suas palavras, cada uma
delas. Suas verdades e suas inseguranças, aquelas que se alinham
tão perfeitamente com as minhas.

— Eu quero isso, Rosie. — Eu descanso minha testa contra a


dela. — Tudo isso e muito mais.

— Estou com medo — ela sussurra. — Nunca ninguém se


encaixou na minha vida. Não quero saber como é perder isso.

— Gosto de estar aqui. Não tenho planos de sair. — Eu olho


para o menino no banco de trás, o som suave de sua respiração
profunda, de volta para a mulher encantadora na minha frente. —
Você é um pacote, Rosie. Isso não me assusta. Eu vou dizer
quantas vezes eu precisar até que você acredite.

Olhos cautelosos se movem entre os meus. — Promete?

Eu ergo meu dedo mindinho e ela sorri, colocando o dela em


volta do meu, puxando nossas mãos para seu peito e minha boca
para a dela.

— Prometo.
CAPÍTULO 14

ISSO ESTÁ... VIBRANDO?

— Eu acho que está limpo, RO. — Archie arranca das minhas


mãos o prato que estou lavando há cinco minutos, enxaguando a
espuma antes de colocá-lo no escorredor. — Aquele cara realmente
perfurou você, não foi?

— Não use essa palavra.

— Está no meu vocabulário, e no seu também, já que você está


andando por aí com esse olhar atordoado no rosto há dias. —
Archie pega o próximo prato de mim. — Orgulhoso de você, no
entanto. Você é como uma adolescente excitada se descobrindo
pela primeira vez.

Reviro os olhos, jogando espuma nele. — Sou mãe; dificilmente


estou me descobrindo pela primeira vez.

— Praticamente. Quantos orgasmos Brandon lhe deu enquanto


vocês dois estavam fazendo... o que diabos vocês estavam fazendo?
Dois?

— Cale-se.

— Um?
Minha boca se contrai enquanto esfrego um garfo com vigor.

— Rosie, diga-me que Brandon lhe deu pelo menos um...

— Eu posso me dar orgasmos, ok? — Sai um pouco mais alto


do que eu pretendia, porque não, Brandon nunca me deu um
orgasmo e, francamente, qualquer orgasmo que eu consiga me dar
é passageiro e nada assombroso. Melhor do que nada, acho.

— Preciso de um orgasmo — digo no exato momento em que


Archie declara: — Você precisa transar.

— Eu não quero pular em nada com Adam, no entanto. —


Esvazio a pia, lavando as mãos. — Eu quero o material físico, mas
não quero que ele substitua todo o resto, sabe?

— Parece que vocês estão se movendo em um bom ritmo. — Ele


agarra meu lábio inferior e o solta de meus dentes. — Com o que
você está realmente preocupada?

Eu mordo minha unha do polegar e levanto um ombro. — E se


eu for chata na cama? Não tenho muita experiência e nunca
tentamos nada diferente. É por isso que Brandon sempre quis que
acabasse tão rápido? E nós nunca nos abraçamos depois. Ele
sempre rolava, ou se levantava para jogar videogame, ou...

— Rosie. — Archie segura meu rosto com as mãos. — Eu sei


que ele é o pai de Connor, mas o cara é um total idiota; desculpe,
não me desculpo. Ele nunca mereceu seu tempo, seu corpo ou seu
coração, mas você deu tudo a ele de qualquer maneira.

— Eu só queria que alguém me quisesse. — As palavras são


quebradas e sussurradas, e odeio que machuquem, a maneira
como chamuscam o ar e o deixam pesado e sufocante.
— Eu sei que você queria, querida. Mas ele deixou você com
mais inseguranças do que quando começaram, e eu o odeio por
isso. Você tem um coração lindo. Você é tão gentil, tão inteligente
e tão incrivelmente forte. Ele tem um jeito de fazer você esquecer
isso. Não conheço Adam, mas ele parece fazer você se lembrar de
todas essas coisas sobre si mesma. — Archie pega minhas mãos,
um aperto suave que sempre acalma meus pensamentos
acelerados. — Deixe que ele edifique você. E, enquanto isso, vamos
comprar alguns brinquedos para que você possa se cuidar.

Eu bato em suas mãos. — Eu não preciso de um vibrador.

— Existem esses de clitóris também.

— Archie, não vou comprar brinquedos para mim.

Ele pisca, jogando o pano de prato sobre o ombro enquanto


começa a guardar os pratos. — Ok, Rosie.

— Você também não vai me comprar brinquedos.

Outra piscadela. — Definitivamente não, Rosie.

Eu enfio um dedo em seu ombro. — Pare de dizer meu nome.

Um sorriso malicioso. — Claro, Ro. — Sua risada me persegue


enquanto pego a bolsa de fraldas de Connor. — Você ficaria menos
mal-humorada se transasse.

— Mmm — resmungo, jogando a bolsa perto da porta antes de


me juntar a Connor no chão da sala, onde ele está brincando com
seus animais de fazenda. — Você está pronto para ir ao parque,
querido?
Ele pega a pequena vaca, enfiando-a na minha cara. — Vaca!
Muuu! — A galinha é a próxima, saltando ao longo da minha coxa.
— Cluck-cluck, cluck-cluck!

Eu toco no trator verde. — E o que é isso?

— Tracta! Brum-brum!

— Ei, macaco. — Archie se inclina na porta. — Vamos ao


parque?

Connor pula de pé, jogando seus animais em uma cesta antes


de correr em direção a Archie com as pernas bambas. — Pak! Pak!

Eu jogo meus braços no ar. — Não se importa quando eu


sugiro.

— Porque eu sou o Tio Arch legal. — Ele pega Connor,


colocando-o no carrinho e empurrando meus sapatos em minha
direção. — Você é apenas mamãe.

Apenas mamãe está se esforçando ao máximo para ser uma


mãe legal e corajosa, e é por isso que estou de maiô de novo hoje
para meu filho, perseguindo-o ao redor do splash pad no parque
meia hora depois sob o sol quente de verão.

— Estou orgulhoso de você. — Archie me diz quando paramos


para um lanche. — Você está fazendo grandes progressos com a
água ultimamente.

— Connor se divertiu muito nadando com Adam ontem. Ele


continuou pulando, direto para os braços de Adam. Ele estava tão
feliz. Eu entrei também. Todo o caminho.

Archie olha para mim, sobrancelhas levantadas, lábios


entreabertos.
— Ok, eu me agarrei a Adam, e ele prometeu que não me
largaria. Não foi tão difícil quanto pensei que seria, uma vez que
eu estava lá, mas acho que tem mais a ver com ele.

— Você disse a ele? Sobre-

— Que eu quase me afoguei? Sim.

— E os seus pais?

— Eu disse a ele que eles faleceram.

— Mas você não disse a ele que os dois foram próximos? — ele
adivinha. — Você quase se afogou e seus pais faleceram?

Balanço a cabeça, a vergonha subindo pela minha garganta.

— Ei. — Archie aperta meu joelho. — Tudo bem. Não há pressa.

— É só... e se eu der muito a ele? Cedo demais? Então, se não


der certo, perco tudo de novo. Isso parece bobo, eu sei, mas...

— Não é bobagem, Rosie, mas gostaria que você não esperasse


sempre o pior. Eu entendo, no entanto. Ou tento, pelo menos.

— Adam estava no sistema de adoção também — digo a ele em


voz baixa.

— Realmente? Quais são as chances? Algo para vocês dois se


conectarem.

— Sim, eu também pensei assim, mas então... — Esfrego meu


pescoço, culpa fazendo minha garganta apertar. — Eu não disse a
ele que estava em um orfanato. Nossas experiências foram
diferentes. Ele tinha quatro anos e foi adotado em menos de um
ano.
Archie assente. — Então você sente que, em vez de se conectar
por meio de uma experiência compartilhada, elas foram muito
diferentes para Adam possivelmente simpatizar com você.

Eu abaixo meu rosto, envergonhada. — Quão horrível eu sou?


Ninguém está no sistema por motivos felizes. Mas quando ele falou
sobre encontrar sua família, eu fiquei... com tanto ciúme. E me
sinto suja por me sentir assim, Arch. Eu sou uma adulta agora.
Eu deveria ter superado isso. Tenho minha própria família agora.
Não tenho nada a reclamar.

— É assim que funciona? Seus pais morrem, deixando você


sozinha em um mundo grande e assustador, e você deixa isso para
trás? — Archie balança a cabeça. — Não, sua experiência
definitivamente não diminui a dele, mas a dele também não
diminui a sua.

— Eu deveria ter dito a ele que também estava no sistema —


argumento —, mas estava tão focada em como nossas experiências
foram diferentes, como não poderíamos nos conectar por causa
dessas diferenças, como eu estava com ciúme, que eu não poderia
compartilhá-lo.

— Conhecer alguém onde eles estão nem sempre é encontrar


uma maneira de se relacionar com o que eles passaram. Ele
compartilhou algo e você ouviu, o que é tudo o que ele realmente
poderia pedir. O que se passa na sua cabeça é problema seu. Seus
sentimentos são válidos e você precisa processá-los e, olhe para
você, fazendo isso agora. Você não precisa se punir porque
imediatamente fez suposições sobre outra pessoa.
Faz sentido, tudo isso, e Archie sempre foi essa pessoa para
mim, quem ouve meus pensamentos e valida todos eles antes de
me ajudar no outro lado. Às vezes, demoro um pouco para chegar
lá, só isso.

— Ei. — Ele segura meu rosto, forçando meus olhos nos dele.
— Você passou muito tempo se convencendo de que não era digna
de amor porque ninguém escolheu você. Você queria ser a primeira
escolha de alguém e não foi. Mas não somos para todos. Sempre
houve algo melhor esperando por você. — Ele aponta para Connor.
— Você é a primeira e única escolha daquele garotinho. E você
também será a primeira escolha de outra pessoa quando se trata
de amor. Talvez seja Adam, talvez não. Mas o que mais importa,
Rosie, é que você é sua primeira escolha. Ame-se exatamente por
quem você é e onde está, erros, imperfeições e tudo mais. As
pessoas que escolherem você vão amar todas as suas peças, não
só algumas.

— Vamos. Apenas uma rápida olhada em seu Instagram.

— Absolutamente não.

Marco sacode o telefone para mim, da mesma forma que tem


feito na última hora enquanto tenta arrancar o sobrenome de
Adam de mim para que ele e Archie possam bisbilhotar seu perfil.
— Vamos. Você não quer ver se ele tem alguma foto de ex?
— Isso soa como uma ideia terrível. — A última coisa que quero
fazer é me comparar com qualquer mulher com quem ele namorou
no passado. Eu trabalho duro para ser feliz com minha aparência,
e nem sempre é fácil. Comparação é o ladrão da alegria.

— Ok, não nos importamos com ex-namoradas. Isso é bom.


Você não pode simplesmente mostrar seu namorado gostoso para
seus melhores amigos?

— Ele não tem mídia social — minto preguiçosamente,


ignorando o rótulo de namorado que não discutimos.

— Que tipo de perdedor não tem mídia social hoje em dia?

Eu prendo meus braços em meu peito e faço uma careta para


o sorriso ridículo e cheio de dentes de Marco enquanto Archie se
esconde atrás de uma almofada do sofá. — Eu. — A campainha da
porta toca e eu corro para ela, pensando que pode ser Adam. —
Olá?

— Eu, uh... — A voz desconhecida do outro lado limpa a


garganta. — Tenho alguns... pacotes... para Rosie Wells?

— Oh. Ok. Vou descer em um minuto. — Eu pego minha bolsa


e franzo a testa para Archie. — Que estranho, não me lembro de
ter pedido nada.

— Mhmm — ele cantarola, dobrando os lábios em sua boca. —


Tão estranho.

— Vou pegar os pacotes e esperar na frente por Adam. Até mais.

— Tchau — Archie fala por cima do ombro.

— Boa escolha para o vestido — acrescenta Marco. — Fácil


acesso.
Fácil acesso. Psssh. Por favor. Não é como se eu esperasse
sentir as mãos de Adam em minhas pernas durante o filme desta
noite, sob as estrelas no drive-in. Eu absolutamente não estou
sonhando com seus dedos deslizando mais alto, mergulhando
abaixo da bainha do meu vestido no escuro. E não usei minha
calcinha de seda rosa mais bonita na esperança de que ele pudesse
tocá-la, ou melhor ainda, vê-la.

Absolutamente não.

Tudo bem, mas não é minha culpa. Temos passado tanto tempo
juntos, com Connor e sem, e eu apreciei cada vez que aquele
homem colocou a língua na minha boca na última semana. Estou
começando a desejar... não sei exatamente, mas mais. Um
pouquinho mais. Processe-me por esperar que eu consiga hoje à
noite.

O elevador se abre, revelando o próprio homem em quem não


consigo parar de pensar, com a cabeça baixa enquanto examina a
infinidade de pacotes de cores vivas arrastados em seus braços.

— Adam. Ei. Eu estava descendo para pegá-los. Você não


precisava... — Minhas palavras se arrastam enquanto seu rosto se
levanta lentamente, a boca aberta, as bochechas rosadas. Ao
mesmo tempo que noto o olhar em seus olhos – intrigado, mas um
pouco assustado – noto o leve zumbido vindo de um dos pacotes.

Adam dá um passo em minha direção, e eu dou um para trás,


com a mão na garganta, caso precise apertá-la para não, oh, não
sei, vomitar?

— O que é isso? — eu sussurro, mas já sei.


Adam dá outro passo cuidadoso em minha direção, depois
outro, até que estou colada na parede. — Uh, o entregador... ele
estava... e eu estava vindo para pegar você... e então pensei... —
Ele abre a boca, então faz uma pausa, as sobrancelhas franzidas
como se ele estivesse sem palavras. — E então eu... e então isto
aqui... — Ele segura o pacote vibrante, com pelo menos 20
centímetros de comprimento, rosa choque com letras amarelas
neon que dizem PARA O PRAZER DELA por toda parte. Adam
engole e o sangue troveja em meus ouvidos. — Ele começou...
vibrar.

— Eu não comprei isso — deixo escapar. — E-eu... eu não. —


A boca de Adam se contrai, um puxão minúsculo de um lado, como
se ele não acreditasse em mim ou de repente achasse essa situação
horrível... cativante. E não sei por que – eu deveria estar apertando
minha garganta, parando –, mas eu vou em frente: vômito de
palavra. — Archie me disse e eu disse não, mas ele-ele-ele nunca
me ouve e não tenho um orgasmo há muito tempo e nunca com
outra pessoa. — Minhas mãos voam para minha boca, batendo em
meu suspiro, com os olhos arregalados. — Oh, meu Deus. Não
acredito que acabei de dizer isso.

Eu limpo minha garganta, pegando os vários pacotes dos


braços de Adam e os colocando nos meus. — Desculpe-me por um
momento.

Começo um passeio casual de volta pelo corredor, mas se


transforma em uma batida rápida e raivosa.

— Achei que você estaria de volta — Archie murmura quando


eu irrompo pela porta.
— Seu filho da puta — eu resmungo, deixando cair os pacotes
em nossa mesa da cozinha. Sete. Sete. Pacotes. Porra. — Odeio
você.

— Mhmm. Diga-me novamente depois de dar uma olhada. —


Ele inclina a cabeça para o zumbido. — Você já ligou um?

— Não, Archie, eu não liguei. — Pego o pacote vibratório,


tentando ignorar o tamanho dessa coisa. — Adam pegou isso para
mim no saguão, e este começou a vibrar em suas mãos.

Ele e Marco se encaram por cinco segundos silenciosos. Então


eles explodem em gargalhadas.

Eu deixo o pacote rosa voar antes de me virar, jogando meu


dedo médio por cima do meu ombro quando um baque satisfatório
soa quando o pacote faz contato. — Foda-se muito.

Minha calcinha de seda foi desperdiçada.

Ok, não um desperdício total. Eu me sinto sexy usando-a, e


cada vez que as mãos de Adam roçavam lentamente minha coxa,
a antecipação por si só já valia a pena. Não é como se eu realmente
esperasse que ele ficasse sensível durante um filme, com pessoas
por perto, mesmo que estivesse escuro e estivéssemos
estacionados nos fundos, então se ele realmente quisesse, ele
poderia ter. Apenas dizendo.
Agora é meia-noite, estamos dirigindo por uma estrada
secundária no meio do nada, e o último lugar que quero ir é para
casa.

Não consigo desviar o olhar de Adam, com uma das mãos no


volante, as pernas bem abertas, os cachos de ébano balançando
com a brisa que entra pela janela aberta. Ele está tão relaxado, tão
em casa, tão lindo, e ele está aqui comigo.

Adam olha para mim, da mesma forma que ele tem feito a cada
trinta segundos, olhos azuis cobalto acesos. Um sorriso gentil
começa nos cantos de sua boca antes de explodir em um sorriso
enorme quando ele me pega olhando. Ele estende a mão, os dedos
se espalhando sobre minha coxa, deslizando dolorosa e lentamente
para cima, para cima, para cima, até que ele alcança a bainha do
meu vestido e aperta.

— O que você está pensando, menina bonita?

— Não estou pronta para ir para casa.

Seus olhos caem para os meus lábios, deslizam pelos meus


braços, percorrem o comprimento das minhas pernas nuas antes
de voltar para o meus. — Não?

Eu balanço minha cabeça.

— Não está cansada?

— Ainda não — eu respiro.

— Mmm...

Meus olhos se fixam em seu dedo médio, seguindo seu caminho


enquanto a ponta se arrasta lentamente ao longo da minha coxa,
ao redor do meu joelho, voltando para dentro. Todo o ar é sugado
para fora do carro, e meu coração bate uma batida implacável no
meu peito antes de cair entre as minhas pernas.

— Hum. — Ele rouba seu toque de volta, segurando o volante


com as duas mãos. Inclinando-se para a frente, ele olha pelo para-
brisa, as sobrancelhas franzidas.

— O quê?

Ele puxa o lábio inferior entre os dentes e cantarola. — Acho


que estamos perdidos.

— Perdidos? — Eu olho em volta para a noite negra. À luz da


lua, tudo o que posso ver são árvores e campos sem fim. — Aqui?

— Mhmm. Não sei como isso aconteceu. — Ele encosta a


caminhote e desliga a ignição, deixando apenas o rádio ligado. Ele
mexe no telefone antes que uma música suave e lenta saia dos
alto-falantes, encharcando o ar da noite de verão. — É melhor tirar
o melhor proveito disso — diz ele com um sorriso malicioso antes
de pular.

Não tenho certeza do que ele quer dizer, mas observo com
muita atenção enquanto ele contorna o capô, abre minha porta e
estende a mão para mim.

— Dance comigo, Trouble.

Uma risadinha escapa, e as mãos de Adam engolem minha


cintura, levantando-me da caminhonete. Dedos longos se
entrelaçam com os meus, puxando-me diante dos faróis fracos,
sob as estrelas dançantes acima. Ele envolve um braço em volta
da minha cintura e sorri para mim antes de me puxar para seu
peito, seu corpo ágil balançando contra o meu enquanto ele
cantarola junto com a música.

— Posso contar uma coisa? — ele murmura, afundando a mão


no cabelo na parte de trás da minha cabeça, segurando-me perto.
— Eu nunca estou pronto para dizer boa noite. Não para você,
Rosie. — Lábios macios tocam o ponto abaixo da minha orelha,
mordiscam ao longo da borda da minha mandíbula antes de
reivindicar minha boca. Sua língua varre para dentro, lenta,
profunda, proposital e tão quente que cada centímetro de mim
queima com o calor. — Se eu nunca mais tivesse que fechar meus
olhos, tudo bem, contanto que eu pudesse mantê-los em você.
Parece que não consigo tirá-los sempre que você está por perto.

Eu enrolo meus dedos em seus cachos e tento o meu melhor


para segurar. — Você não pode?

Ele balança a cabeça. — Eu sei que filme vimos, mas não posso
contar porcaria nenhuma do que aconteceu. — Ele puxa minhas
mãos de seu cabelo, entrelaçando seus dedos com os meus e
levantando-os acima de sua cabeça, girando-me antes de me puxar
de volta.

Ele enrola uma mecha de cabelo no dedo indicador. — Tudo o


que pude ver foi a maneira como você enrolou essas ondas em seus
dedos enquanto me observava com o canto do olho. — Seu dedo
desliza pela minha clavícula, arrastando a alça do meu vestido do
meu ombro, tocando com os lábios as sardas que moram ali. — A
maneira como a luz da tela dançava ao longo desses ombros. —
Com dois dedos, ele levanta meu queixo. — A maneira como a lua
brilhava nesses olhos toda vez que você sorria para mim, como se
estivesse tão feliz por estar comigo quanto eu estava com você.
Porra, amo esses malditos olhos.

Seu nome deixa meus lábios em um gemido, e ele não perde


tempo em engoli-lo, as mãos na minha bunda ao me levantar para
ele, minhas pernas enroladas em sua cintura enquanto ele me
carrega ao redor da caminhonete. Há um baque surdo, e meu
batimento cardíaco dispara quando ele me deixa cair em sua porta
traseira.

As mãos de Adam pousam em cada lado de mim, segurando-


me enquanto ele se inclina sobre mim. — Então você vai precisar
me contar sobre o que era aquele filme, porque com certeza não
sei. Tudo o que sei é você, Rosie. E acho que é tudo o que quero
saber.

Eu lambo meus lábios, o olhar em seus olhos inebriante e


faminto. — Eu não sei — admito.

— Não?

— Não. Eu não estava... também não estava assistindo.

— Mmm... — Seu olhar cai para minhas coxas, e elas se abrem


para ele, convidando-o a se aproximar. Eu vejo o sorriso satisfeito
que ele tenta esconder antes de se colocar entre elas, as mãos
deslizando pelas minhas pernas, as pontas dos dedos
mergulhando sob meu vestido, agarrando meus quadris. — Então
o que você estava fazendo?

— Eu estava... — O fogo queima minha barriga e seca minha


garganta enquanto ele move meu vestido cada vez mais para cima.
— Distraída.
— Distraída por quê?

— Sua mão – você estava fazendo – você manteve- — Sua palma


quente desliza para baixo da minha coxa, polegar roçando a
bainha do meu vestido. Uma respiração trêmula escapa da minha
garganta, e suspiro quando minha pele fica arrepiada. — Sim. Isso.

Ele ri baixinho, a respiração quente deslizando pelo meu ombro


nu enquanto ele pressiona seus lábios ali, arrastando sua boca em
direção ao meu pescoço, ao longo da curva, encontrando seu
caminho até minha orelha. — Desculpe, eu sou uma distração.
Mas é justo, não é? Se eu não estava assistindo, você também não.

— Sim, mas eu não estava... — Minha cabeça cai entre meus


ombros quando Adam me empurra para trás apenas um toque,
uma mão no meu peito, a outra em volta do meu quadril nu
enquanto ele abre sua boca quente contra o meu pescoço. — Eu
não estava deixando você... selvagem... tocando em você.

— Selvagem?

— Foi demais... e não o suficiente. Eu queria... — Eu suspiro


quando ele puxa a alça do meu ombro, desliza sua boca ao longo
dela, seus dentes roçando a pele sensível antes de sua língua
acalmar a leve mordida. — Mais. Deus, eu queria mais.

— Isso está certo? — ele murmura. — Você queria ser tocada


onde qualquer um poderia ter visto?

— Eu... eu não sei. — É isso que eu queria? Ao ar livre, sob a


falsa segurança que nos cobria sob o céu escuro? Eu o deixaria?

Assim que a pergunta passa pela minha cabeça, sei que a


resposta é sim. Não apenas sim, mas inferno, sim. Nunca fui
ousada. Estou acostumada a me misturar; desaparecendo,
realmente. Passei tantos anos sem ser vista. Com Adam, pela
primeira vez em muito tempo, eu me sinto vista. Mas é mais do
que isso. Eu não apenas me sinto vista; sinto que sou a única
pessoa em seu mundo quando estou com ele.

Então eu teria me importado com qualquer outra pessoa se ele


ousasse me tocar esta noite? Não, eu não teria.

— Eu só queria ser tocada por você.

Um rosnado áspero ressoa em seu peito, um zumbido de


aprovação que vibra tão profundamente que eu o sinto na minha
barriga e até os dedos dos pés. Suas palmas arrastam pelas
minhas coxas, seu toque tão selvagem, como se ele estivesse quase
desequilibrado. — Assim?

Meu peito sobe e desce bruscamente. — Sim.

— E quanto a isso? — Dedos deslizam por baixo da minha


calcinha, agarrando dois punhados da minha bunda, apertando-
me mais perto.

— Sim.

— E isso, Rosie? Queria que eu tocasse você assim? — Suas


mãos deslizam sobre meus quadris, segurando a junção das
minhas coxas, mantendo-as abertas para ele enquanto seus
polegares passam ao longo da borda da minha calcinha, sobre a
pele ultrassensível, fazendo-me contorcer. Ele engancha um dedo
sob meu queixo, forçando meu olhar para ele enquanto a ponta de
seu polegar desliza sobre meu clitóris, fazendo-o doer mais do que
já está.
— Adam — eu choro baixinho, minha cabeça caindo para trás.
Sua boca encontra minha garganta e sinto seu sorriso ali, seu
prazer.

— Sim, Rosie?

— Por favor — eu choramingo. — Toque-me, por favor.

Acho que essas duas palavras o levam ao limite. Ele não perde
tempo levantando meu vestido, revelando minha calcinha, a
mancha encharcada decorando o centro da seda rosa.

— Jesus — ele resmunga, uma respiração trêmula saindo de


seus lábios antes de tomar minha boca com um beijo que nos deixa
sem fôlego e quentes.

Com um aperto punitivo, ele enfia os dedos em meus quadris,


engancha os polegares na cintura da minha calcinha e a guia pelas
minhas pernas, tirando minhas sandálias no processo. Ele esmaga
a seda em seu punho, olhos semicerrados e viciados na ação antes
de enfiá-la no bolso e voltar, mãos nas minhas enquanto ele cutuca
meu nariz com o dele e reivindica um beijo que pertence apenas a
ele.

— Se você quer que eu pare...

— Deus, Adam, por favor, não pare, porra. Eu imploro se for


preciso.

Ele sorri, e fico impressionada com o quão infantil é. Feliz e tão


orgulhoso, apenas a quantidade certa de arrogância atrevida. —
Por mais que eu não me importe de ouvir você implorar, prefiro dar
a você tudo e qualquer coisa que queira e precise. Você só tem que
me dizer, e é seu.
— Faz muito tempo — eu admito. — Quero que você seja gentil
e paciente, porque estou nervosa. Mas principalmente... — Minhas
mãos deslizam por seus braços tensos, sobre seus ombros largos,
curvando-se em seus cachos macios enquanto eu roço meus lábios
nos dele. — Principalmente, eu só quero você.

— Eu sou seu — ele me diz, logo antes de afundar sua língua


em minha boca, levantando-me para ele. Ele se aperta em mim, e
cada centímetro de mim entra em curto-circuito ao senti-lo, o peso,
a necessidade. Ele precisa de mim, e me quer tanto quanto eu a
ele.

— Oh, Deus — eu choramingo quando ele puxa minha cabeça


para trás, dentes roçando as colunas da minha garganta.

— É isto o que você quer? — Adam sussurra enquanto sua boca


se move em minha clavícula, uma mão encontrando meu seio. —
Ser tocada na traseira da minha caminhonete?

— Sim — eu gemo enquanto ele belisca a pele delicada do meu


ombro, sua língua chicoteando sobre ela, selando-a com prazer. A
ponta de seu polegar arranha meu mamilo, queimando meu
vestido quando ele o aperta e rola, e eu passo minhas unhas por
seus braços. — Adam.

— Você teria feito todos esses barulhos? Deixado as pessoas


ouvirem você? — A respiração quente desce pelo meu pescoço,
fazendo-me tremer quando seus dentes roçam minha orelha. —
Eles teriam querido ver. Ver a linda garota se desfazer só para mim.
— Ele agarra meus quadris e me puxa para a beirada da carroceria
da caminhonete antes de abrir minhas coxas.
— A coisa é, Rosie... — Seus olhos caem, travam no ponto entre
as minhas pernas, aquele que mostra a ele o quanto eu o desejo, e
um sorriso perverso puxa sua boca. — Não gosto de dividir. — Ele
desliza dois dedos ao longo da minha fenda, juntando minha
umidade e me fazendo ofegar. Então ele os afunda na boca,
lentamente, saboreando, e quando ele lambe os lábios, tenho
certeza de que morri e fui para o céu. — Eles não podem ouvir seus
barulhos. — Ele afunda um único dedo largo dentro, e minha
cabeça cai para trás, os lábios se abrindo em um gemido. Adam
emaranha seus dedos no meu cabelo, puxando meu olhar de volta
para o dele enquanto ele trabalha seu dedo dentro e fora. — Eles
não podem ter sua boca, do jeito que ela se abre só para mim. —
Seu polegar encontra meu clitóris, uma pressão firme com um
rolar lento e torturante, e quando meus olhos suplicantes se
prendem aos dele, ele sorri. — E eles com certeza não podem ter
seus olhos. — Sua boca encontra a minha com outro beijo de
derreter o cérebro antes que as próximas palavras saiam, baixas,
promissoras e tão ásperas. — Porque. Eu. Não. Compartilho.
Porra.

— Ahhh, Deus. — Eu enfio minhas mãos nas mangas de sua


camiseta e agarro seus ombros nus abaixo, cravando as unhas
enquanto me agarro a ele, e talvez a sanidade também.

— Apenas Adam está bem — ele sussurra, aquela voz baixa


mergulhada na alegria, uma certa presunção que é tão rara dele,
mas tão bonita também.

Meus quadris se movem, levantando, rolando, perseguindo a


fricção de sua mão, implorando por mais, e mais forte, e por favor,
e foda-se, ele sempre ouve, dando tudo que eu quero e mais, até
que estou ofegante, pronta para entrar em combustão.

— Jesus, ouça você. Ia fazer esses barulhos para eles? — Ele


inclina a cabeça, estalando a língua. — Não, isso é tudo meu,
Trouble.

— Toda sua — eu mal consigo falar, afundando meus dedos


nos cachos em sua nuca, puxando sua testa para baixo na minha
enquanto começo a me desfazer.

— Porra. — Suas sobrancelhas se franzem e ele fecha os olhos,


balançando levemente a cabeça. — Não pensei que fosse possível.

Eu pressiono meus lábios nos dele, persuadindo-o a abrir os


olhos. — O quê?

A ponta de seu polegar raspa em meu lábio inferior. — Você


ficar ainda mais linda. Mas aqui está você, olhando para mim
desse jeito, seus lábios inchados e vermelhos, seu cabelo uma
bagunça, e você tão... — Olhos azuis elétricos mergulham, vagando
sobre mim com uma intensidade selvagem que incendeia minha
pele. — Tão corada. Como se você não conseguisse o suficiente.
Como se você estivesse ganhando vida. — Ele empurra um
segundo dedo para dentro, fazendo-me tremer enquanto seu
polegar esfrega meu clitóris, então engole meu suspiro com a boca.
— Bonita não é o suficiente, Rosie. Você é imaculada.

E aqui está o mais incrível: eu acredito nele.

Digo a mim mesma que é por isso que o fundo do meu estômago
começa a florescer, porque minha coluna começa a tremer e meus
dedos dos pés se curvam, apesar de nunca ter chegado tão longe
com Brandon. Porque além do prazer alucinante que ele está
entregando, é a confiança, a sensação poderosa que vem com o
sentimento tão desejado. Estimada. Vista.

Faz muito tempo desde que alguém me viu.

— Eu estava sonhando mais cedo quando você disse que nunca


teve um orgasmo com ninguém?

Eu viro minha cabeça de um lado para o outro enquanto


minhas coxas começam a tremer. — Nunca.

— Mmm. Isso é a porra de um crime. — Ele me observa com


uma fome mal contida enquanto eu me inclino para trás em
minhas mãos, e quando minha cabeça rola sobre meus ombros,
ele aperta sua boca sobre meu pescoço, arrastando-a pela minha
garganta até encontrar minha orelha. — No segundo em que você
gozar em meus dedos, essa boceta é minha.

Santa Mãe de... – sim, isso basta. Adam também sabe, porque
ele fica com um sorriso malicioso no rosto, quase perverso.

— Pronta, menina bonita? — Ele ri, um som sombrio e áspero


que raspa contra a cavidade da minha clavícula enquanto ele a
traça com os lábios. — Pergunta boba, não é? A maneira como você
está sufocando meus dedos e arranhando meus ombros me diz
isso.

Seus dedos deslizam no cabelo na minha nuca, puxando minha


cabeça tensa enquanto ele enrola os dedos dentro de mim e
sussurra: — Goze, Rosie — contra a minha boca, e eu deixo ele me
jogar da beira do penhasco.
Parece que estou caindo e me afogando e, no último segundo,
ele me puxa e respira vida de volta em mim, seus lábios nos meus
enquanto ele engole meus gemidos.

Um gemido satisfeito raspa em sua garganta enquanto eu


monto seus dedos, balançando contra as ondas de prazer que
batem como chuva forte dentro de mim e a boca de Adam se move
contra a minha, murmurando a palavra que ele prometeu, a única
palavra que quero ouvir.

— Minha.
CAPÍTULO 15

LÁ ONDE USAM BIGODES FALSOS

As manhãs de segunda-feira no Wildheart são quase


impossíveis de superar. É um começo lento, o zumbido silencioso
da música saindo do rádio na recepção, o ronronar suave dos gatos
descansando em seus casulos enquanto esperam por suas casas
para sempre, esticando-se preguiçosamente ao sol, barrigas para
fora e implorando por arranhões.

Há uma certa paz em ser a única aqui por uma ou duas horas,
enquanto o resto do mundo acorda de seus fins de semana. É um
tipo seguro de felicidade, em uma bolha de contentamento,
fingindo por um momento que não estamos todos recomeçando às
segundas-feiras, saindo correndo pela porta e nos preparando
para uma semana longa e prolongada em que você mal consegue
ficar parado no fim disso.

Um nariz molhado cutuca meu bolso e eu sorrio para Piglet. —


Você também gosta das manhãs de segunda-feira, hein?

O que ela realmente gosta são as guloseimas enfiadas no meu


bolso. Seu nariz detecta essas coisas a um quilômetro de distância,
e ela não para de olhar para mim com aqueles enormes olhos
castanhos pegajosos até que eu dê a ela uma. Ou cinco.

— Você é irresistível, sabia disso, Pig? — Ela pega a guloseima


da minha mão e trota alegremente ao meu lado, e seguimos o
caminho para o santuário de gatos, seu lugar favorito para estar.
Acontece que ela tem um traço maternal de um quilômetro de
largura.

Ela tem sido incrível com Adam e Bear em nossas caminhadas


semanais e, embora ainda pareça totalmente deprimida quando
vou ao canil logo pela manhã, logo que ela me vê, ela salta de pé,
abanando o rabo, a língua para fora, pronta para qualquer
aventura. Em manhãs tranquilas como esta, eu coloco a guia dela
em volta da minha cintura, deixo ela andar pelo abrigo comigo. Ela
ama a liberdade recém-descoberta, mas, Deus, esses gatos. Acho
que ela nunca tinha visto um antes, a julgar pela maneira como
olhou com os olhos mais arregalados para o primeiro a passar pela
porta por cinco minutos seguidos, sem mover um único músculo.

E então aquela gata se levantou e se espreguiçou, caminhou


até Piglet e tocou seu minúsculo nariz rosa contra o grande e preto
molhado, e o inferno começou.

Piglet saltou no ar, girou primeiro o traseiro e prontamente caiu


de costas com a barriga para cima, pronta para brincar com a bola
de pelúcia. Ela tem sido uma ótima socialização para os gatos, e
eles para ela.

Archie acha que Piglet estará pronta para adoção em breve. O


pensamento deixa minhas palmas coçando e minha garganta
grossa. Eu quero que a casa dela esteja comigo. Não quero ter que
me despedir dela. Quero ser a pessoa em quem ela confia, o colo
em que se joga todas as manhãs, o rosto que cobre de beijos.

Mas ela merece mais do que eu. Mais tempo, mais dinheiro,
mais espaço. Eu tenho o amor; simplesmente não tenho mais
nada. E Piglet merece tudo, não apenas as sobras.

A porta de um carro bate na frente, seguida de gargalhadas


profundas, e eu espio pela janela da frente quando dois homens se
aproximam da entrada. Piglet inclina a cabeça, hesitante, mas
curiosa.

Eu aliso o ponto entre seus olhos enquanto ela aninha a cabeça


na palma da minha mão. — Você quer dizer oi, garota? Você está
pronta para isso?

Ela fica grudada na minha perna enquanto me segue até a


recepção. Quando nossos convidados entram, ela corre atrás de
mim, quase enfiando o rosto inteiro na minha bunda.

— Você está segura, Pig — digo a ela. — Eu não vou deixar nada
acontecer com você. Eu prometo.

— Oh, merda — um dos homens murmura. — Essa é a Piglet.

Minha testa se enruga. Talvez Archie tenha compartilhado sua


foto na página de mídia social do abrigo. Às vezes, ele faz sessões
de fotos com chapéus ridículos, e elas se tornam virais. Não
entendo, mas as pessoas sempre correm para ver os animais
depois. Talvez Piglet tenha se tornado... viral.

Eca. Eu não gosto do som disso.

Os homens têm mais ou menos a minha idade, talvez um pouco


mais velhos. Um com ondas douradas e olhos turquesas, o outro
com cabelos castanhos e tatuagens. Ambos ridiculamente grandes
e atraentes, com sorrisos felizes e fáceis e uma presença ao redor
deles que parece estranhamente... calorosa. Amigável. Ambos
também têm bigodes, um castanho e outro loiro, mas a forma é tão
idêntica, tão limpa e perfeita, que quase parecem... falsos.

Sim, tenho certeza de que esses bigodes são falsos como o


inferno, mas não sei por quê.

Piglet não parece questionar os bigodes, enfiando a cabeça


entre as minhas pernas, fazendo-me cair de lado na mesa, seu
nariz indo a mil por hora enquanto ela os avalia.

— Ela é linda pra caralho, cara — o tatuado sussurra para seu


amigo loiro.

— Desculpe. Esta é o Piglet. Ela é uma de nossas resgatadas e


está aprendendo a confiar nos homens. E sim, ela é muito fofa e
sabe disso.

O loiro se agacha, sorrindo para ela. — Não vamos incomodar


você, menina bonita.

O rabo de Piglet começa a bater na mesa. Ela não chega mais


perto, mas a tensão em seu corpo ágil se dissipa quando ela olha
entre nós.

— Posso ajudar vocês?

O loiro se levanta e passa a mão pelo cabelo, olhando para o


amigo com os olhos arregalados. — Uh, sim. Sim, nós íamos... —
Ele bate no peito do amigo com as costas da mão. — Você ia olhar
para aqueles... aqueles... gatos.
O homem tatuado bate palmas. — Sim! Sim, eu ia olhar aqueles
gatos! Para você, no entanto. Porque você queria dar a Jennie um...
um gato. Para o aniversário dela.

— Eu não vou pegar um gato para ela. Começa com um, a


próxima coisa que você sabe é que terei cinco gatos e três
cachorros e estarei dormindo sozinho no sofá. — Ele cutuca o
amigo no ombro. — Você está pegando a porra do gato, babaca.

— Uh... certo, então... — Eu manuseio em direção aos gatos. —


Gatos?

— Sim — diz aquele tatuado, lançando um olhar feroz para o


amigo. — Mas estamos apenas olhando, se estiver tudo bem.

— Claro. — É sempre assim, na maioria das vezes, e então eles


voltam uma ou duas semanas depois, só para ver se o gato pelo
qual se apaixonaram ainda está aqui. Então, alguns dias depois
disso, e outro dia depois disso, desta vez com a papelada de
adoção, uma caixa e um sorriso brilhante para levar seu novo
amigo para casa. Temos uma das maiores taxas de rotatividade em
Vancouver. Nossos gatos raramente ficam aqui por mais de
algumas semanas, a menos que por razões médicas. Archie diz que
é graças a seus gatos em sessões de fotos de chapéus.

Piglet e eu lideramos o caminho para a toca dos gatos, e


enquanto os sussurros dos homens se arrastam atrás de nós,
tenho quase certeza de que eles estão falando sobre mim.

— Definitivamente é ela... cabelo rosa... não, cara, ele não disse


que era todo rosa, ele disse que tinha rosa nele.
Minha mão vai para o meu cabelo, enrolando nas pontas cor de
rosa. Por um momento, gostaria de me misturar com as paredes
cor de creme.

— Ela ouviu você, merda. Agora ela vai pensar que não
gostamos do cabelo dela.

Uma garganta limpa e eu olho para trás, orelhas quentes,


enquanto o homem loiro me oferece um sorriso gentil. — Uh, eu
gosto do seu cabelo. É muito bonito e único.

A cabeça de seu amigo balança. — Sim, e superlegal. Combina


com você.

Meus ombros se afastam dos meus ouvidos e minha mão cai


do meu cabelo. — Obrigada. — Quando entro na sala, Piglet me
puxa para uma gaiola cheia de gatinhos. Eles são os favoritos dela,
indisciplinados e cheios de amor, e são ferozes para ela.

— Puta merda. — O loiro enfia o dedo pela porta fechada e uma


pequena bola preta de pelúcia o ataca. — Olha essa gracinha.

Aquele com as tatuagens revira os olhos. — Como se você não


estivesse adotando um – oh, minha merda. — Ele para na frente do
nosso mais novo recém-chegado, uma bola gigante de penugem
branca com algumas bolhas laranja estrategicamente
posicionadas, como aquelas nas quatro patas e ao redor do olho
direito. — Quem é esse marshmallow mole?

— Ele ainda não tem nome. Ele chegou há poucos dias. Ele foi
deixado quando seus donos saíram do apartamento, então não
temos nenhuma documentação sobre ele. — O gato cai quando
abro sua gaiola, patas no ar, barriga à mostra. O homem avança
sem hesitar.

— Oh, merda. — Ele ri, fazendo cócegas na barriga. — Você é


um filho da puta bonitinho. — Levantando uma pata, ele franze a
testa. — Sou só eu ou ele tem dedos demais?

Eu concordo. — Ele é polidáctilo.

— Poli-o quê?

— Polidáctilo. — Eu rio, observando enquanto ele levanta o gato


em seus braços como um bebê. — Ele tem um dedo extra em cada
pata, mas isso não afeta sua vida. — Eu coço seu queixo. — Só
mais de você para amar, hein, amigo?

— É como se ele estivesse usando luvas. Ei, amigo? É assim


que seu nome deveria ser. — Ele enterra o rosto na barriga do gato,
e o gato mia, lambendo o cabelo ondulado do homem. — Mittens14.

O loiro ri. — Mittens? Uau, Jaxon grande e durão. — Sua boca


se abre em um grito silencioso quando o punho de seu amigo
atinge seu ombro, e ele agarra o membro ferido enquanto dá um
tapa no rosto de seu amigo. — Ai, seu burro!

O gato – Mittens? – sibila e dá um tapa no loiro. O homem –


Jaxon? – esconde seu sorriso em seu pelo. — Bom menino,
Mittens.

Eu sorrio para eles. — Vocês dois fariam um par tão fofo.

14
Em inglês: luvas.
Jaxon puxa seu rosto mortificado da barriga de Mittens. O
queixo de seu amigo cai e ele dá um passo para trás.

— Não, mas eu... eu tenho... Jennie é minha... eu tenho uma


Jennie!

Jaxon gesticula para ele com um braço instável. — E eu sou


muito mais gostoso que ele!

— Não é!

— Eu sou!

— Eu sou um grande upgrade para você!

Jaxon afasta um dedo de seu ombro, e o gato sibila e o golpeia


novamente. — Você é um rebaixado do caralho, amigo! Mittens
também pensa assim! E Rosie. Rosie, diga a ele!

Eu inclino minha cabeça, franzindo a testa. — Como você sabe


meu nome?

Ambos os homens param de brigar e talvez de respirar. Eles se


olham, o medo tomando conta deles, estendendo-se por seus
rostos. O bigode do loiro se desprende de seu rosto, pendurado no
canto de sua boca para salvar sua vida.

Ele ganha vida então, enfiando a mão no bolso, levando o


telefone silencioso ao ouvido. — Jennie? Você-você precisa de
mim? Ok, sim, estarei aí.

Jaxon enfia Mittens de volta na gaiola. — Desculpe, Mitts,


tenho que ir! — Ele dá três passos antes de voltar correndo, dando
um beijo em sua cabeça peluda, sussurrando: — Amo você, amigo.
— Ele acena por cima do ombro, correndo pelo corredor atrás de
seu amigo. — Tchau, Rosie! Tchau, Piglet!
Pela janela, nós os vemos entrar no carro e acelerar pela rua.

Encontro o olhar de Piglet, tão perdido quanto o meu. — Os


homens são estranhos, Pig. Não se prenda, garota.

— Você disse que ia deixá-lo comigo no trabalho. — Empurro o


carrinho pela porta de Brandon e pisco para afastar a chuva dos
meus olhos. Estou encharcada até os ossos, meu cabelo uma
bagunça emaranhada.

Brandon não desvia o olhar da TV. — É, mas aí começou a


chover e eu não quis sair.

— Você tem um carro — eu o lembro, pegando Connor quando


ele bate em mim, segurando-o em meu peito molhado e abraçando-
o com força. — Estou tão feliz em vê-lo, amigo.

— Se você não quer andar, talvez deva tirar sua carteira de


habilitação e ter seu próprio carro, em vez de esperar que todo
mundo a atenda.

O sangue corre para os meus ouvidos, vibrando com raiva


enquanto Brandon vira uma cerveja, assistindo a um jogo de
beisebol. — Não espero que ninguém me atenda. Eu espero que o
pai do meu filho às vezes compartilhe o esforço e o deixe ou o
pegue, de modo que nem sempre seja eu quem está fazendo isso.

Ele joga um punhado de batatas fritas na boca. — Parece que


suas expectativas são o problema então, Ro. — Finalmente, ele
olha para mim por cima do ombro. — Jesus, você parece uma
merda.

Tudo dentro de mim borbulha até ferver, apesar do bater dos


meus dentes do meu corpo encharcado e do frio do ar-
condicionado. Cerro os punhos antes de colocar Connor em seu
carrinho e colocar seu gatinho de pelúcia na minha bolsa,
ignorando Brandon.

— Para que serve essa bolsa grande?

— Nós estamos indo para algum lugar — murmuro.

— Onde?

— Para os meus amigos.

— Você não tem amigos.

Eu fecho meus olhos para a explosão de cerveja dentro de mim.


— Estou saindo com alguém e vamos passar algum tempo com ele.
— É a nossa primeira festa do pijama, e estou muito menos
animada com isso agora que me sinto como um rato afogado e
Brandon apontou com tanto amor que pareço uma merda.

Sons sufocados por cima do meu ombro, e embora eu esteja


tentada a sair e esperar que a natureza siga seu curso, olho por
cima do meu ombro enquanto ele cospe sua cerveja.

— Você tem um namorado? — Seus olhos escurecem, descendo


pelo meu corpo, um sorriso malicioso puxando seus lábios. —
Onde você o encontrou? Na esquina?

— Você está sendo um idiota.


— Eu só quero dizer – e ei, sem ofensa –, mas você não tem se
cuidado muito bem. Você ganhou algum peso.

A raiva aperta minha mandíbula. Eu me concentro em Connor,


seus grandes olhos verdes fixos nos meus, tão cheios de amor e
preocupação. — Eu tive um bebê.

— Dezesseis meses atrás. Não pode usar essa desculpa para


sempre, pode? Além disso, você teve uma cesariana. Não é a saída
mais fácil? — Brandon se volta para a TV, mastigando outro
punhado de batatas fritas. — Não leve isso a sério nem nada. Você
só precisa começar a frequentar a academia ou algo assim. —
Outro gole de cerveja. — Não quero que você dê um mau exemplo
para o nosso filho.

Um mau exemplo? Como recusar-se a ficar com seu filho no seu


tempo, porque ele está tendo um dia difícil e você não quer lidar com
isso? Não mostrar a ele o amor que ele precisa e merece, porque
prefere sair com seus amigos e ficar bêbado? Ou falando mal com a
mãe dele na frente dele, fazendo-a se sentir uma merda para que
você possa se sentir melhor consigo mesmo?

As palavras estão ali, bem na ponta da minha língua,


queimando como ácido. Mas como já fiz tantas vezes antes, eu me
forço a engoli-las, a sentir a queimadura, como se de alguma forma
merecesse mais do que ele. Como se eu preferisse que ele se
esquecesse de mim como todo mundo na minha vida fez, e talvez
se ficar quieta, ele vai.

Mas suas palavras formigam na minha pele, tão afiadas quanto


a chuva forte batendo no meu rosto enquanto eu caminho em
direção ao ponto de ônibus, Connor seguro sob sua capa de chuva.
E quando o céu se abre com um estrondo de trovão e um
relâmpago, algo dentro de mim também se abre, escorrendo pelo
meu rosto para me lembrar o quão fraca eu sou, o quão fraca
sempre fui, mesmo quando tentei tanto ser forte.

O ar pesado e úmido torna-se sufocante e, em meio à mistura


de chuva e lágrimas, mal consigo ver a calçada à minha frente. Mal
consigo ver a caminhonete diminuindo a velocidade, parando ao
meu lado. Os cachos escuros que surgem, correm para mim,
cobrindo-me com um guarda-chuva, o cabo enfiado em meu
punho.

Mas sinto o calor de suas mãos enquanto elas me puxam para


seu corpo, um abraço que é muito mais do que caloroso. Sinto seus
lábios no topo de sua cabeça, as pontas de seus dedos enquanto
seguram meu queixo, sinto sua boca tomar a minha sem hesitar,
a maneira como sua língua desliza tão facilmente contra a minha
antes de finalmente se afastar, deixando-nos respirar.

— O que você está fazendo aqui? — eu sussurro enquanto ele


levanta Connor do carrinho, dando um beijo em ambas as
bochechas e meu doce menino grita de emoção por seu Dada.

— Não poderia ter minhas duas pessoas favoritas andando na


chuva — Adam diz simplesmente enquanto coloca Connor no
assento do carro na parte de trás de sua caminhonete. Ele fecha a
porta e se vira para mim, o sorriso desaparecendo de seu rosto. —
Por que você está chorando?

— E-eu não estou — eu insisto pateticamente, enxugando


minhas lágrimas. — É a chuva. Parece lágrimas, porque, água,
mas é... é... — Eu fungo, então soluço, e arrasto a parte de trás do
meu pulso no meu nariz. — Eu não estou chorando.

Ele segura meu rosto com as mãos fortes, passando os


polegares nas gotas que escorrem pelo meu rosto. — Então eu vou
beijar a chuva — ele murmura antes de seus lábios tocarem meu
rosto, repetidamente, pequenos beijos que tornam tudo melhor e
pior ao mesmo tempo. E quando eu desmorono em seus braços,
ele simplesmente me segura contra ele, sua voz em meu ouvido,
dizendo-me que ele está comigo.

E sei que ele está. Eu sei disso pelo jeito que ele mantém seus
dedos entrelaçados nos meus, uma mão no volante durante todo o
caminho até sua casa. Enquanto estou no pé da escada,
observando-o com Connor praticando subir e descer por dez
minutos, a maneira como Adam o pega em seus braços, o gira no
ar e comemora toda vez que eles descem. Quando ele puxa o
banquinho de madeira que construiu apenas para Connor, para
que meu homenzinho possa ficar com ele no balcão da cozinha
enquanto eles fazem o jantar juntos.

E quando ele olha por cima do ombro e sorri, e com seu


cachorro aconchegado no sofá e uma taça de vinho, percebo que
estou encontrando um lar, uma família, bem aqui com um homem
que entrou na minha vida uma tarde e nunca olhou para trás, que
escolheu cada centímetro de mim, não apenas um pouco de mim.

— Você está ansiosa para voltar para a escola em algumas


semanas? — ele me pergunta enquanto lavamos os pratos lado a
lado depois do jantar, Connor e Bear brincando no chão da sala.
— Sim — eu admito com um suspiro. — Meu horário escolar é
tão exigente, e este ano será ainda mais. Connor e eu nunca
passamos tanto tempo separados.

— Qual é a sua maior preocupação com isso?

— Que ele vai pensar que não é minha prioridade. Que ele vai
se sentir menos amado, menos importante.

— Entendi. — Ele hesita, como se estivesse ordenando seus


pensamentos. — Minha agenda também começa a piorar em
setembro e estarei muito fora da cidade. Acho que estou um pouco
preocupado com você se sentindo menos importante para mim
também.

— Não acho que seja sobre o tempo que temos, mas como o
gastamos quando estamos juntos. — Eu pressiono um beijo em
seu bíceps antes de pressionar meus dedos dos pés e fundir minha
boca à dele enquanto sua testa descansa na minha. — E você
sempre me faz sentir importante quando estamos juntos, Adam.

— E eu acho que você sempre faz Connor se sentir importante


e amado quando estão juntos. Então entendo de onde você vem, e
sei que você está se sentindo culpada, mas se serve de consolo,
não acho que haja uma maneira no inferno que aquele garoto ali
sinta outra coisa senão tão amado por você.

Pressionando meus lábios para esconder meu sorriso, eu olho


para ele, cutuco seu estômago. — Eu vi o que você fez aí. Garoto
sorrateiro.

Ele ri, piscando. — Porque vale a pena, estou genuinamente


preocupado. Mas sei que farei o possível para que você se sinta
importante, assim como sei que fará o possível com Connor,
porque você sempre faz isso. Você faz isso sem esforço, Rosie.

— Talvez pareça, mas não é fácil.

— Não, porque sem esforço não significa fácil. É fácil porque o


amor deve ser natural, algo que você sente tão profundamente e
nada pode mudar. Mas todo amor é difícil às vezes.

— Mas vale a pena, não é?

Ele sorri, colocando meu cabelo atrás da orelha antes de beijar


a ponta do meu nariz. — Sempre vale a pena.

— Dada? — Connor aparece entre nós, puxando o short de


Adam.

Adam bagunça seu cabelo. — E aí, Little Trouble?

— Ee-ya, ee-ya, bo?

— Ee-ya, ee-ya, bo? — As sobrancelhas de Adam se juntam


enquanto ele repete os sons, tentando descobrir o que Connor está
pedindo enquanto o arrasta para a sala de estar. — Sim, podemos
ee-ya, ee-ya, bo. Claro que sim.

Connor aponta para a TV. — Ee-ya, ee-ya, bo, Dada? — Ele


levanta as mãos e começa a dançar enquanto Adam continua
repetindo os sons, quase silenciosamente, tentando juntá-los. —
Ee-ya, ee-ya, bo!

Adam pisca, então joga a cabeça para trás. — Oooh! EI-EI-O?

Connor sorri, batendo palmas enquanto Adam encontra um


videoclipe – “Old MacDonald Had a Farm”. — Ee-ya, ee-ya, bo!
Meu coração sorri tanto quando Adam pega Connor em seus
braços, dança pela sala com ele sem se importar com o mundo, os
dois cantando a plenos pulmões, rindo, grasnando como patos,
mugindo como vacas, miando como gatos. Este homem parece tão
em casa com uma criança em seus braços, como se fosse um papel
que ele sempre foi feito para desempenhar. O fato de ele fazer isso
sem esforço e com nada além de entusiasmo só me faz cair ainda
mais.

“Old MacDonald” se transforma em “The Wheels on the Bus” –


cerca de dezessete vezes enquanto fico sentada e assisto, tirando
algumas fotos que rapidamente se tornam favoritas, e quando
estou prestes a terminar a festa e dizer a Connor que é hora do
banho, o telefone de Adam vibra no balcão ao meu lado.

— Você tem um telefonema — digo a ele.

— Não é importante — diz ele através de sua risada, Connor e


Bear rastejando em cima dele.

— Pode ser. Estão ligando de novo.

— Tudo bem, vamos lá, amigo. — Ele se levanta, virando


Connor por cima do ombro, levando-o para a cozinha com uma
mão enquanto ele grita de tanto rir. Adam pega o telefone,
franzindo a testa para a ligação antes de recusá-la. — Não
reconheço o número. Se for importante, eles vão deixar uma
mensagem. — Ele arrasta Connor por cima do ombro, os dois nariz
com nariz. — É hora do banho de alguém, e talvez eu tenha
comprado algumas bolhas azuis especiais, só para você.

Connor engasga, cantando uma de suas palavras favoritas


enquanto subimos as escadas. — Bub-bow! Bub-bow!
— Você não precisava fazer tudo isso — murmuro alguns
minutos depois, enquanto Adam o mergulha em sua banheira,
barcos e patos flutuando em um mar de bolhas azul-turquesa. Eu
espio por cima do meu ombro para as estrelas que brilham no
escuro presas no teto acima do cercadinho, a luz noturna do trator
lançando um brilho fraco sobre o quarto, e algo grosso obstrui
minha garganta.

— Claro que sim. Ele também faz parte desse relacionamento.


Quero que ele sinta que tem um espaço aqui e nunca quero que
você sinta que precisa lidar com algo sozinha.

Aí está aquela palavra com R, aquela que para tudo dentro de


mim, exceto a corrida frenética do meu coração. Quero perguntar
a ele sobre isso, onde estamos e para onde vamos, especialmente
com o fim do verão se aproximando. Eu, de volta à faculdade, no
meu ano mais movimentado, e ele de volta ao trabalho, viajando
com os atletas com quem trabalha. A preocupação estampada em
seu rosto mais cedo na cozinha penetra em meus ossos, mas não
porque eu ache que serei menos importante para ele. Mas porque,
depois de um verão cheio dele, de nós, a ideia de passar tantos
dias sem vê-lo, sem estar envolta em seus braços, sob o peso
constante de seu olhar, envolta em seu afeto... um vazio
surpreendente.

É neste momento, com Connor olhando para Adam com tanta


adoração enquanto este homem dá a ele toda a sua atenção, ama-
o, age como um bobo com ele e apenas... se diverte com ele, eu
percebo como a vida foi plena com ele assim. Connor sempre foi a
única família que eu precisava, mas acho que com Adam... talvez
ele nos complete.

Adam passa a mão na parte de trás da minha coxa, apertando.


— Connor e eu podemos cuidar da hora de dormir sozinhos. Por
que você não vai tomar um banho para relaxar? Não quero me
gabar, mas o do meu quarto é o melhor que existe. Há dezoito jatos.

— Dezoito? — eu expiro.

Ele pisca. — Dezoito.

Deus, não me lembro da última vez que tomei banho. A ideia


de relaxar por alguns momentos, paz e sossego onde minha mente
é toda minha, parece... bem, para ser honesta, parece inventado.

Pego o rosto de Connor em minhas mãos, dando um beijo em


ambas as bochechas, no nariz e depois em seu beicinho. — Adam
pode colocar você na cama esta noite, querido?

Connor aponta para Adam. — Dada.

— Adam.

Ele dá um tapinha na mão de Adam e sorri. — Dada.

— Ad... — eu suspiro. — Ok. Sim. Mamãe ama você, amigo. Se


precisar de mim, estarei bem aqui.

A enorme banheira no canto do banheiro de Adam é tão gloriosa


quanto ele prometeu. Há até uma pilha de toalhas felpudas e uma
garrafa de espuma de banho novinha em folha esperando por mim,
como Adam planejou para isso.

Abro a torneira até a água sair cheia de vapor e despejo uma


porção generosa de banho de espuma. Baunilha doce, menta e café
enchem a sala, e fecho meus olhos para o cheiro. Minha bolsa
espera por mim na cama com roupas limpas para vestir, mas
também uma das camisetas grandes e limpas de Adam, e eu
prefiro muito mais estar enrolada nele.

O gatinho de pelúcia de Connor chama minha atenção e eu o


carrego de volta pelo corredor. Ele nunca dorme sem ele.

Eles ainda estão no banheiro, o silêncio da água, risadas


musicais e palavras suaves me atraindo, queixo apoiado em seu
punho como se estivesse imerso em pensamentos. É uma visão
ridícula, mas que me aquece da ponta das orelhas até os dedos
dos pés.

— Eu estava pensando que você poderia me ajudar a pedir a


sua mãe para ser minha namorada — Adam murmura para
Connor, e meu coração para. — O que você acha disso, Little
Trouble? Tudo bem para você se eu for o namorado da mamãe?

Connor joga um monte de bolhas em cima da cabeça já


borbulhante de Adam. — Dada, arco-íris! — Ele dá um tapinha na
cabeça. — Cabelo.

Adam retribui o gesto, cobrindo o rosto de Connor com outra


camada de bolhas, até que caia até a metade de seu peito. — Você
é muito especial para mim, amigo, e sua mãe também. É por isso
que eu quero que ela seja minha namorada. Você acha que mamãe
gostaria disso? — Com um grande suspiro, Adam gentilmente
deixa sua testa cair na borda da banheira. — Eu penso que sim.
Espero que sim. Merda, eu não sei, amigo. E se ela disser não?

— Eu não vou dizer não — eu deixo escapar, um par de olhos


verdes excitados e outro de azuis nervosos vindo até mim enquanto
empurro a porta. Caindo de joelhos na frente de Adam, tomo seu
rosto em minhas mãos, os dedos empurrando através das
camadas de bolhas. Ele parece tão ridículo e adorável que dói.

— Você é o homem mais bonito, gentil e atencioso deste


planeta. Meu coração já é seu. Não, não é uma opção, Adam.
CAPÍTULO 16

ISSO NÃO SE ENCAIXA EM LUGAR NENHUM

Perdi a conta de quantas vezes me perguntei por que amar a


nós mesmos é uma das coisas mais difíceis.

Na maioria das vezes, acho que posso fazer isso bem. Eu me


lembro de todas as coisas incríveis que este corpo fez por mim, os
presentes que ele me deu, e eu não o trocaria por nada no mundo.
E então alguém abre a boca sem motivo e destrói esse trabalho em
segundos. Você fica lá em seu rastro, segurando o amor que
carrega com tanta força em suas mãos, sem vontade de deixá-lo ir.
Mas às vezes, quanto mais forte você o segura, mais fácil é deixá-
lo escorrer entre seus dedos como areia, caindo em seus pés.

Enquanto estou em frente ao espelho enorme no quarto de


Adam, meus olhos percorrem todo o meu corpo nu, tanto as peças
que amo todos os dias quanto aquelas com as quais luto um pouco
mais alguns dias.

Você não tem se cuidado muito bem. Você ganhou algum peso.
Já se passaram dezesseis meses. Vá para a academia ou algo
assim.
Eu fecho meus olhos para palavras que tentam tanto trazer
vergonha, mãos se fechando em punhos que tremem em meu
estômago enquanto eu luto contra a tentação de deixá-las vencer.
Porque no final das contas, eu sei que amor-próprio não é ser feliz
comigo mesma, com tudo de mim, a cada momento. Não é realista
e uma receita para o fracasso.

Soltando um suspiro trêmulo, forço meus olhos a se abrirem,


forço-os a me beber bem aqui no espelho.

— Eu não sou a opinião de outra pessoa sobre mim — eu


sussurro. — Sou forte. Sou resiliente. Meu coração é grande e
bondoso. Estou sempre aprendendo. Eu sou a única de mim. — A
cada palavra, a tensão em meu corpo se dissipa lentamente, os
ombros se afastando de minhas orelhas, os dedos se desenrolando
enquanto meu corpo absorve as afirmações como se estivesse
faminto por elas, esperando que eu me abraçasse, porque hoje
preciso de um pouco mais de amor de mim.

Porque, eu acho, o amor-próprio é tão simples quanto me dar


graça nos dias difíceis, e me amar extra quando preciso.

A porta do quarto se abre e eu tiro a toalha do chão, enrolando-


a em volta de mim enquanto o olhar de Adam me encontra. Calor
se acumula em minhas bochechas com a maneira como seus olhos
escurecem enquanto eles passam por mim, a curva de sua boca
enquanto suas longas pernas comem a distância entre nós.

— Oi — eu sussurro quando ele vem para ficar atrás de mim,


envolvendo seus braços em volta de mim, seu queixo encontrando
um lar em meu ombro enquanto ele me olha no espelho.
— Olá, garota bonita. — Ele ri, beijando o calor que pontilha
minha bochecha. — Connor está dormindo.

— Muito obrigada por fazer isso. Ele realmente adora passar o


tempo com você.

— Ele me faz sentir como se estivesse fazendo algo certo nesta


vida.

Dedos escaldantes deslizam pelos meus braços, sobre meus


ombros, antes de mergulhar até minha clavícula, onde agarro a
toalha contra mim. O fogo arde baixo em minha barriga, rolando
em ondas em todas as direções, a maior chama de todas se
estabelecendo entre minhas coxas.

Eu engulo. — Você está fazendo tudo certo.

— Tudo?

Concordo com a cabeça, o olhar fixo em seu reflexo enquanto


ele arranca minha mão de ferro da toalha. O tecido macio cinza
lentamente se abre, revelando meu corpo centímetro por
centímetro dolorido. Por um momento, a incerteza assume o
controle, correndo por mim enquanto luto para cobrir meus seios,
a maciez da minha barriga, as estrias que não desapareceram
totalmente, uma cicatriz que nunca desaparecerá.

— Eu alimentei Connor por treze meses — eu deixo escapar


enquanto os dedos de Adam circulam meus pulsos, gentilmente
me abrindo para ele. — Então, eles são... eles são...

— Perfeitos — ele sussurra, seu toque suave traçando a forma


dos meus seios, guiando meus olhos de volta para onde ele me
observa tão intensamente, segurando nada além de profunda
apreciação, adoração absoluta. — Eles são perfeitos, Rosie. Por
favor, nunca tente se convencer de que qualquer parte de você não
está certa, porque para mim, é tudo. Você. É. Tudo.

Uma única lágrima desce pelo meu rosto. Quando seus lábios
a prendem, eu me viro em seu beijo, afundando contra ele. — Acho
que realmente precisava ouvir isso.

— Você precisa ver isso também? Sentir? — Ele leva a palma


da minha mão à boca, dando beijos demorados enquanto as
pontas dos dedos deslizam pela minha barriga. — Porque eu quero
dar a você o que você precisa. Quero que você saiba exatamente
onde está comigo, que se veja exatamente como eu o vejo. A
maneira como meu coração dispara quando estou com você,
quando eu toco em você, quando eu apenas... olho para você? Eu
quero que você sinta isso.

Meu olhar segue o olhar ardente de Adam no espelho. — Como


você faria isso?

— Que tal começarmos com você colocando seus olhos em si


mesma? Olhando para cada parte de você exatamente como ela é,
apreciando tudo o que é você. Vê-la pela beleza que é.

— Nem sempre é tão fácil.

— Não — ele concorda. — Não é. Não quando estamos falando


de nós mesmos. — Ele pega meu queixo com a mão e passa o
polegar pelo meu lábio inferior. Minha língua sai, perseguindo seu
caminho. — Deixe-me mostrar como é para mim, olhar para você.
Cada pensamento deixa meu corpo, exceto... uau. Quão sortudo
eu sou? Encontrei você e, de alguma forma, você me escolheu. Eu
posso ficar com você.
— Havia alguma outra opção? Escolhendo você? Porque não
parecia uma escolha; parecia certo.

— Como se fosse para acontecer? Eu e você? Aquele garotinho


lá fora?

— Como se estivéssemos perdidos e você parasse sua


caminhonete no acostamento e perguntasse se precisávamos de
uma carona. Entramos e nunca mais saímos.

Adam sorri contra a minha bochecha. — Eu gosto disso. Você


foi feita para andar no meu banco de passageiro.

Ele passa os dedos pelas mechas, entrelaçando uma ponta de


ouro rosa enquanto agarra meu quadril. — Você pinta essas ondas
de mel com o tom mais suave de rosa porque quer se destacar um
pouco. Acho que isso faz você parecer inocente, doce, mas o que
faz você se destacar... — Ele passa o polegar sob meu olho. —
Esses olhos deslumbrantes, da mesma cor das árvores no dia em
que nos conhecemos. — Ele roça minha bochecha. — E essas
sardas, do jeito que iluminam seu rosto quando você sorri, saem
do esconderijo depois de uma tarde ao sol... — A ponta do nariz
dele roça no meu. — Esse nariz, a porra do nariz mais fofo, do jeito
que ele enruga quando eu faço você corar. — Capturando meu
queixo, ele reivindica minha boca com o toque mais suave dele. —
E esse sorriso... Jesus, é isso que faz você se destacar, Rosie. Esse
sorriso é do que eu não conseguia tirar os olhos naquele dia na
floresta, não o jeito nervoso que você o mastigou quando olhou
para mim, o jeito que ele cresceu quando você viu aquele cachorro
precioso derreter no meu colo, o jeito que ele transformou cada
centímetro do seu rosto quando você riu. Eu me apaixonei por esse
sorriso primeiro, porque não havia outra escolha a não ser cair.

Há sempre uma escolha, quase digo. E eu nunca fui de ninguém.

Mas Adam balança a cabeça, um brilho em seus olhos como se


ele soubesse exatamente onde minha mente está tentando me
levar. Como se ele não fosse permitir.

Ele agarra meu pescoço, trazendo minha boca para a dele,


devorando-me com uma ferocidade que me rouba o fôlego, levanta-
me até a ponta dos pés, perseguindo mais, tudo. — Não há outra
escolha — ele sussurra contra meus lábios antes de forçar meu
olhar de volta para o nosso reflexo, onde cada centímetro da minha
nudez brilha em vermelho sob seu escrutínio.

Com os olhos fixos nos meus, Adam dá um passo para trás,


estendendo a mão para trás e puxando a camisa sobre a cabeça.
Minha boca saliva ao vê-lo, quilômetros de músculos bronzeados
e nodosos esculpidos em um nível de perfeição que parece surreal.
E quando ele tira o short, as coxas musculosas esticando abaixo
das linhas imaculadas do leão pintadas ali, o calor se espalha por
toda a minha barriga.

Adam dá um passo para trás em mim, a palma da mão cobrindo


meu tronco enquanto ele desliza para cima, para cima, as mãos
deslizando pelos lados dos meus seios enquanto ele pontilha meu
ombro em beijos.

— Estes — ele murmura, segurando o peso deles em suas


mãos. — Estes são perfeitos. E eles alimentaram seu filho por treze
meses? Eu nunca quero ouvir você dizer algo negativo sobre algo
tão incrível. E, porra, eles são incríveis. Como se tivessem sido
feitos para caber nessas mãos.

— Adam — eu engasgo enquanto seus polegares raspam em


meus mamilos, puxando tudo dentro de mim apertado. Minhas
costas arqueiam, empurrando-me mais fundo em seu toque,
querendo mais.

As pontas dos dedos dançam em minha carne, mergulhando


entre meus seios, mais abaixo, em minha barriga, deixando um
rastro de arrepios em seu curso. Os olhos de Adam encontram os
meus enquanto ele gentilmente traça as estrias fracas pintadas na
minha pele. Calor se acumula em minhas bochechas, implorando-
me para desviar o olhar, mas o olhar de Adam me implora para
ficar aqui com ele.

— Listras de tigresa? — ele se pergunta em voz alta. — Eu


entendo o termo agora mais do que nunca. Um belo lembrete da
versatilidade do seu corpo, da forma como ele se adaptou para
cultivar algo tão precioso. Você é incrivelmente forte, Rosie. Uma
mãe que fará qualquer coisa por seu filho, para ajudá-lo a crescer
e aprender cercado de amor, ao mesmo tempo em que mostra a ele
como é a verdadeira força.

— Com o que se parece? — eu pergunto baixinho enquanto


suas mãos queimam minha carne como um pincel em uma tela.

— É ferocidade. Coragem. Vencer seus medos para que você e


seu filho possam viver sem as barreiras que você vê em sua mente.
Mas também é vulnerabilidade. Honestidade. Confiança. É ver
suas falhas, seus medos, como contratempos e oportunidades
para crescer e aprender mais sobre si mesma, ao invés de um beco
sem saída. É avançar um passo de cada vez, com a mão de alguém
na sua, segurando você com força.

— Eu gosto de segurar sua mão. Isso torna todas essas etapas


um pouco mais fáceis.

— Eu me sinto da mesma maneira sobre segurar sua mão. Mas


pelo que vale, Rosie, acho que você seguiria em frente com ou sem
mim. Eu não sou sua força. Você é sua própria força. — Dedos
vibram na linha da minha cicatriz de cesariana, abaixo da maciez
do meu ventre. — Se você questionar, isso aqui deve ser toda a
prova que você precisa de que você é uma fodona com força
incomparável. Porque esta cicatriz conta uma história. A história
de uma vida que você fez crescer, uma vida que você criou, uma
família que você construiu sozinha, uma que qualquer um teria
muita sorte de fazer parte.

Ele me puxa apertado contra ele, envolvendo-me em seu calor


e algo que parece muito com amor. E eu? Eu afundo nisso. Abraço
tudo isso, porque acho que é isso que se faz com amor. Você nunca
sabe o quão fugaz é, afinal.

— É assim que me sinto, Rosie. Sortudo. Muita sorte de fazer


parte de sua família, por menor que seja essa parte. Muito grato
por me deixar entrar em suas vidas. Muito grato por esses lindos
olhos verdes e o sorriso mais gentil e amplo que faz meu coração
se sentir tão cheio. Muito grato por este corpo forte e incrível que
me presenteou com um garotinho que eu não sabia que precisava,
por quem me apaixonei. Então, obrigado, Rosie. Se você não
consegue se ver por tudo de incrível que fez por você, espero que
consiga ver tudo de incrível que me trouxe.
Meu coração bate uma batida implacável quando Adam pega
minha mão trêmula na dele, puxando-a para trás.

— Isto, Rosie — ele murmura, pressionando minha palma


acima de seu coração martelando. — É tudo para você.

Não sei por que parece tão pesado, tão profundo, como estar
submerso na água, exceto que é o tipo bom de afogamento, em que
dá a vida em vez de roubá-la. Afogando-me em apreço, em elogios,
em palavras que, por algum motivo, sei que são genuínas. A
realização é impressionante, puxando uma respiração instável de
meus pulmões, fazendo meus joelhos vacilarem enquanto a
sensação deste homem me envolve. E quando meus joelhos cedem,
jogando-me para trás, sinto a pressão pesada de uma
protuberância contra a parte inferior das minhas costas, o
tamanho e o peso dela arrancando um suspiro da minha garganta.

A risada baixa de Adam desliza pelo meu pescoço. — Sim, isso


é tudo para você também.

O fogo floresce, rastejando ao longo de cada centímetro de mim


enquanto ele passa duas palmas ardentes pelos meus lados,
agarrando meus quadris com tanta força que atravessa essa linha
de dor e prazer da maneira mais perfeita, como se afrouxar seu
aperto significasse me perder.

— Eu beijaria cada porra de centímetro deste corpo, adoraria


tudo, faria disso minha única religião se você apenas me deixasse.
— Ele passa a ponta de um único dedo pelo meu ombro, minha
clavícula, mergulhando para baixo para circundar um mamilo
tenso. — O que você diz, Trouble? Você vai me deixar?
Minhas costas arqueiam, empurrando meus seios doloridos em
suas mãos capazes. — Por favor, Adam.

Ele suporta o peso deles tão facilmente, apertando, rolando


meus mamilos entre os polegares e indicadores, puxando cada
som da minha boca. Beijos quentes e molhados trilham meu
ombro, até meu pescoço. Ele traça cada curva, desenha um
caminho na minha barriga, ao redor da plenitude dos meus
quadris. Ele mergulha ainda mais fundo, e quando seu toque
passa do ponto que eu mais o quero, meu corpo inteiro treme,
dobrando para frente com a provocação, a saciedade que me foi
negada, e o lindo filho da puta realmente ri em meu ouvido.

— Eu gosto de você frustrada — ele me diz, puxando minha


bunda de volta para ele. Ele mergulha a mão entre as minhas
pernas, traçando minhas coxas, e ele cantarola apreciativamente
quando encontra a evidência física do que ele faz comigo ali
mesmo.

— Eu gostaria que sua mão fosse um pouco mais alta.

— Mmm. Isso está certo? — As pontas dos dedos dançam mais


perto, tão lentamente que dói, um aperto desesperado baixo na
minha barriga. — Aqui? — ele sussurra em meu ouvido, deslizando
o dedo pela umidade da parte interna da minha coxa.

— Mais alto, por favor.

— Aqui então. — Ele traça a junção da minha coxa. — Este


deve ser o local.

— Adam. — Seu nome é um grito truncado, afogado em


desespero. — Por favor, toque-me. Eu farei qualquer coisa.
— Uma boca tão bonita, implorando tão bem. Mas você não
precisa implorar. — Dois dedos deslizam lentamente por minhas
dobras, dando-me exatamente o que eu quero enquanto caio em
direção ao espelho com um gemido, a boca de Adam em minha
orelha. — Eu nunca diria não para você.

Minha boca se abre em um suspiro agudo quando ele empurra


dois dedos dentro de mim e me mostra outro lado do homem que
eu pensei que conhecia.

Adam é suave e gentil. Cada palavra, cada ação, é cuidadosa e


pensada. A maneira como ele me fode com os dedos agora, olhos
de cobalto queimando com calor, com poder, é tudo menos isso. É
selvagem e implacável, como se ele possuísse cada centímetro
deste corpo. Como se ele quisesse que meu corpo se lembrasse
para sempre de sua forma, o aperto possessivo em meu quadril
enquanto ele me segura no espelho, a maneira como sua mão
desliza para baixo, agarrando minha bunda como se fosse feita
para ele segurar.

— Essa porra de bunda. Quase esqueci de dizer o quanto eu


amo isso.

— Você não acha que é muito grande? — indago.

— Muito grande? Isso é uma coisa? — As pontas dos dedos


cavam na carne macia e me apertam em sua grande palma. —
Parece o tamanho perfeito para mim. Veja como fica bem em mim.

— Suas mãos são enormes.


Ele dá um tapa rápido e gentil na minha bunda antes de passar
pelo cabelo na minha nuca, travando nossos olhares refletidos. —
Porra, e sua bunda é imaculada.

Um arrepio percorre minha espinha quando o polegar de Adam


encontra meu clitóris, movendo-se com precisão. — Por que você
está xingando tanto?

— Por que não posso falar como um cavalheiro quando você


está nua e sob minhas mãos?

Eu sorrio contra sua boca quando ele rouba um beijo. — Gosto


de você como um cavalheiro, mas adoro quando perde um pouco
a compostura.

— Bem, obrigado, porra. Porque sinto que estou perdendo a


cabeça agora, e é você quem a está roubando. — Ele me arrasta
para longe do espelho, para seu corpo imponente. — Então venha
aqui, Trouble. Porque se você está roubando minha mente, eu
quero a sua.

O impulso de seus dedos se torna cada vez mais selvagem


conforme eles se movem mais rápido, bombeiam mais fundo,
atingindo um ponto dentro de mim que ninguém jamais
encontrou. O calor sobe pelo meu peito e envolve minha garganta
como uma videira enquanto minha respiração vem em jorros
pesados.

Não consigo tirar os olhos de Adam, a maneira como seu corpo


fica atrás do meu, um lar que venho procurando, um abrigo pelo
qual ansiava. A maneira como seus olhos azuis elétricos se movem
sobre mim, memorizando, reverente, como se ele estivesse em total
admiração.
A ferocidade à espreita sob suas pálpebras encapuzadas aperta
tudo dentro de mim. Ele envolve a mão em volta da minha
garganta, guiando meus olhos para os dele no espelho, sua mão
se movendo entre minhas coxas lisas.

— Foda-se, Rosie. Olhe para você, menina bonita, pingando por


todos os meus dedos. Uma garota tão boa, mas você quer ser um
pouco má, não é?

— Só para você — eu consigo em um suspiro.

— Sim — ele murmura, a respiração quente rolando pelo meu


pescoço, sacudindo minha espinha com um arrepio. — Só para
mim. — Ele pressiona os lábios na minha têmpora. — Você pode
aguentar mais um?

— Mais um? — Uma ponta de pânico se insinua em minha voz,


porque as mãos deste homem são grandes, seus dedos grossos. Eu
estive com um homem, e... bem, ele com certeza não era nada
parecido com Adam.

— Mais um — ele repete, gentilmente introduzindo outro dedo,


segurando-me perto enquanto eu me engasgo com a intrusão,
estendendo-me ao redor dele. — Essa é a porra da minha linda
garota, pegando meus dedos. Em breve, será meu pau.

— Oh, Deus — eu choro, e minha alma começa a deixar meu


corpo. — Adam.

— Eu amo a sensação de sua boceta apertando meus dedos


quando você está perto. E você está perto, Rosie, não está?

Eu balanço contra seu toque, agarrando sua mão enquanto


tento responder a ele. — Tão... tão... mmm...
— Perto — ele termina para mim, a única palavra mergulhada
em alegria e um pouco de arrogância. Seus dedos mergulham mais
fundo, mais rápido, seu polegar dedilhando meu clitóris dolorido,
e tudo dentro de mim começa a se desfazer enquanto Adam desce
sua boca quente e úmida no declive do meu pescoço antes de
sussurrar seu comando. — Goze em meus dedos para que você
possa gozar novamente em minha língua.

Em sua língua? Mas eu nunca...

— Agora, Rosie. — Ele pontua seu pedido com a curvatura de


seus dedos, a pressão firme de seu polegar em meu clitóris, e algo
dentro de mim estala. Estrelas explodem atrás das minhas
pálpebras, mas Adam aperta minha garganta gentilmente, e meu
olhar se volta para ele. — Esses olhos pertencem a mim quando
você está gozando para mim. Para quem você está gozando?

— Você. — Ele inclina minha cabeça sobre meu ombro, e


quando nossos olhares se encontram, eu gozo em sua mão, dando-
lhe as palavras que ele quer antes que ele tome minha boca
também. — Deus, Adam, você.

Grandes mãos agarram minha cintura e me viram,


pressionando-me contra o espelho. Ele deixa cair a testa na minha,
nós dois nada além de peitos arfantes, respirações escalonadas,
mãos trêmulas. Além do som de nossa respiração pesada, noto o
silêncio além das portas francesas abertas de Adam, levando a sua
varanda. As nuvens se abrem e o sol poente ilumina Adam com
um brilho âmbar, iluminando-o como o deus que eu acho que ele
é.
— A chuva parou — eu sussurro, e minhas mãos tremem
enquanto deslizam por seu abdômen até seus quadris, onde enfio
meus dedos no cós de sua cueca, descendo lentamente, e...

— Oh, Jesus Cristo. — Eu pulo para trás, uma mão na minha


garganta, a outra apontando para... para... — Puta merda...
shirtballs15. — Meu olhar salta para o dele. — Isso é... quero dizer,
isso é apenas... — Eu aponto para seu pau, balanço meu dedo para
ele, em seguida, bato um punho na minha mão oposta para
distrair do que estou enlouquecendo. Eu limpo minha garganta. —
Enorme. Isso é... enorme, meu amigo. Uau. — Curvando-me,
seguro meus joelhos e tento respirar.

— Você está bem? — ele pergunta, e eu odeio o brilho de humor


em seus olhos.

— Adam, não posso... isso não vai... — Balançando a cabeça,


dou um passo para trás, depois outro, e no terceiro, tropeço em
meus pés, saindo da beirada do colchão de Adam. Ele ri, correndo
para me ajudar a levantar, eu acho, mas nunca vou saber ao certo,
porque deslizo para cima da cama e rastejo para longe dele o mais
rápido que posso.

— Volte aqui — diz ele em uma risada, pegando meu tornozelo.


Ele me vira de costas e me arrasta para a beira da cama, usando
o sorriso mais sujo e quente que eu já vi. — Para onde você pensa
que está indo?

Literalmente para qualquer lugar, menos perto desse pau.

15
Termo para expressar surpresa, consternação, e não usando shitballs, que é um xingamento.
Eu fiz uma cesariana, porque a cabeça de Connor não cabia na
minha pélvis, e esse homem acha que seu pau vai de alguma forma
abrir caminho? Claro, um pau não é um bebê de três quilos. E,
sim, não está seguindo exatamente o mesmo caminho, mas, Jesus,
filho da puta...

Eu jogo minhas mãos no ar. — Eu acho que você é maior do


que aquele modelo de cueca no abrigo do ponto de ônibus!

— Eu definitivamente sou.

— Isso não se encaixa em lugar nenhum. Nem na minha boca,


nem na minha vagina. Você sabe disso, certo?

Ele levanta um ombro. — As coisas têm um jeito de se resolver


sozinhas.

— As coisas têm um jeito de se resolver sozinhas? Que diabos


isso significa?

— Significa que vamos fazer caber.

— Fazer caber — murmuro, com os braços abertos na cama.


Eu desisto. Resignada com a minha destruição iminente com o pau
deste homem, dentro e ao redor de qualquer parte do meu corpo
esta noite e no futuro, seja minha boca ou minha vagina. Tudo o
que sei é: não haverá sobreviventes. — Nós vamos fazer caber. Ok,
sim, tenho certeza de que isso vai... whoa!

Todo o ar do meu corpo me deixa quando Adam me pega e me


joga por cima do ombro, seguindo até a varanda. Ele abre as portas
e sai para a noite úmida, o ar fresco e terroso de uma tarde de
chuva, e quando ele me põe de pé, o borrão do arco-íris
manchando o céu rosa e laranja rouba cada uma das minhas
preocupações.

— É lindo — murmuro enquanto ele dá um passo atrás de mim,


envolvendo-se em torno de mim.

— Lindo pôr do sol para minha linda garota. — Seus lábios se


movem sobre meu pescoço. — Você vai observar aquele céu
enquanto eu provo você. — Ele passa o polegar sobre a súbita
chama de calor nas minhas maçãs do rosto. — Por que está
corada?

— Você não precisa fazer isso. — Eu odeio a suavidade na


minha voz, a vergonha que alguém colocou lá porque não fez isso.
— Se não quiser, tudo bem.

— Não há nada que eu queira mais do que provar você; eu


prometo. — Ele levanta meu queixo, os olhos procurando os meus
por cima do meu ombro. — Você nunca fez isso antes?

Eu balanço minha cabeça.

— Egoisticamente, estou feliz por ser seu único. Eu vou fazer


isso tão bom, Rosie. Prometo.

— Não, mas... — Eu viro minha cabeça para a esquerda, depois


para a direita. A propriedade de Adam é enorme, um oásis
expansivo de árvores verdes exuberantes e cercas altas que
oferecem quase toda a privacidade que você poderia desejar. Mas
daqui de cima, na varanda dele, posso ver as casas aninhadas de
cada lado de nós, então baixo a voz como se de alguma forma eles
pudessem nos ouvir. — Alguém pode ver.
Aí está aquele sorriso de novo, embora ele abaixe a cabeça para
escondê-lo. Ele se senta na enorme espreguiçadeira e me levanta
em seu colo, envolvendo minhas pernas em torno dele. Com a
sensação grossa e pesada dele pressionado contra mim,
exatamente onde eu mais o quero, eu cavo minhas unhas em seus
ombros.

Adam passa os dedos pelo meu cabelo antes de me puxar para


frente, fundindo sua boca à minha. Há uma lentidão nesse beijo,
algo sem pressa e paciente. Mas por trás disso, há uma fome tão
profunda que sinto em cada movimento de sua língua, a maneira
como ele suspira em minha boca, o leve tremor de suas mãos. E
quanto mais nos beijamos, mais quente cada parte de mim fica,
até que estou de joelhos, empurrando-o de costas, rolando meus
quadris, arrancando gemidos das partes mais profundas de mim,
sem me importar com quem poderia ver.

Eu não sei onde isso vai dar esta noite. Eu pensei que queria
mais tempo, mas com ele embaixo de mim, a maneira como ele
reivindica cada pedaço de mim como seu com o roçar de suas mãos
ao longo do meu corpo, me sinto pronta.

— Ninguém pode ver — ele promete contra a minha boca. —


Mas se você gemer alto o suficiente, eles vão ouvir. Quer ser
barulhenta, Rosie?

— Sim — eu gemo.

— Bom. — Ele se espalha sobre as almofadas e me puxa para


frente, abrindo minhas coxas e colocando meus joelhos em cada
lado de seu rosto. — Diga a eles que você é minha.
Uma lambida. Isso é tudo que ele me dá. Traiçoeiramente lenta,
de baixo para cima, parecendo uma obra-prima tragicamente bela
abaixo de mim com os olhos fixos nos meus, e então todos os
vestígios do meu gentil Adam se foram. O homem com o rosto entre
minhas coxas me mostra como ele está faminto, seus dedos
mordendo a carne macia da minha bunda enquanto ele balança
meus quadris para frente e para trás, sua língua mergulhando
profundamente, incitando um prazer que eu nunca soube que era
possível.

— Ohhh, Deus. — Eu agarro seus cachos com força em meus


punhos, incapaz de olhar para qualquer lugar, exceto para ele
enquanto me devora. — Tão... mmm, Adam. Tão bom.

— Pensando a mesma coisa, querida. — Ele suga meu clitóris


em sua boca de uma forma que esmaga minha alma. — Tão. Porra.
Bom.

Eu me inclino para o lado, uma mão em seu cabelo, a outra


alcançando acima, equilibrando-me em sua coxa grossa enquanto
minha pélvis rola contra sua boca. É a visão de seu pênis que me
deixa de pé, tão alta, tão orgulhosa, quando tudo o que ele está
fazendo é tudo para mim.

Ele está gostando disso. Fazendo-me sentir bem, faz com que
ele se sinta bem também. E isso... isso faz algo comigo. Não é uma
tarefa; é uma escolha. E pela sensação de suas mãos em mim, a
maneira como seus gemidos vibram contra mim... eu diria que é
uma escolha que ele faria alegremente de novo e de novo.
— Adam. — Alcançando atrás de mim, eu agarro seu pênis. Ele
pulsa na minha mão, e o corpo de Adam sacode abaixo de mim
enquanto ele sibila, puxando meu clitóris. — Eu quero me virar.

— Você não tem...

— Eu quero chupar seu pau, por favor. — É parte apelo, parte


reclamação, e muito beicinho, mas com certeza funciona. Em um
segundo nossos olhos estão fixos, e no próximo eu estou sendo
absolutamente maltratada quando Adam me vira, minha bunda
no ar antes de ele puxá-la de volta em seu rosto.

Adam segura meu cabelo, segurando-me acima dele, minhas


costas curvadas enquanto eu monto seu rosto, seu pau agarrado
com força na minha mão.

— Você quer isso? — Sua boca se move sobre a curva da minha


bunda, beijos molhados e beliscões provocantes que me levam à
beira do abismo. — Peça gentilmente.

— Por favor — eu imploro em um gemido enquanto sua língua


retorna exatamente onde ela pertence, deixando-me louca. — Por
favor, Adam.

— O que você quer?

— Seu pau.

— Boa menina — ele sussurra, guiando-me para frente com a


mão no meu quadril. — Você pode ficar com ele.

É uma visão perturbadora, as coxas musculosas de Adam


flexionando abaixo de mim, seu comprimento grosso pulsando na
minha mão pequena. Ele está duro como pedra, e observo com
admiração como uma gota de esperma decora a cabeça de seu
pênis enquanto eu lentamente o acaricio. Eu me inclino para
frente, passando minha língua sobre aquela gota brilhante,
sorrindo quando ele geme contra mim.

Ele está sempre tão no controle, mas essas pequenas fissuras,


dando um vislumbre do homem abaixo, aquele que deseja apenas
deixar ir, elas me fazem querer desvendar tudo dele, ver o que está
escondido sob a fachada calma.

Então eu agarro a base de seu pênis e lambo, de baixo para


cima, lentamente, antes de girar minha língua ao redor da cabeça.
Suas coxas se esticam e os dedos dos pés se curvam, e quando
lentamente engulo o máximo que posso dele, seus dedos mordem
minha bunda.

— Foda-se, Rosie. — Seu aperto em mim treme, e quando seu


pau atinge a parte de trás da minha garganta, sua boca se afasta
de mim, o mais belo gemido gutural saindo de seus lábios.

Palmas ásperas deslizam pelos meus lados antes que ele as


arraste pelas minhas costas, agarre minha bunda e me espalhe
mais. Algo se rompe, talvez sua corda final, porque todo indício de
cavalheiro desaparece enquanto ele me come como um homem que
passou fome por muito tempo, perdido no deserto por semanas a
fio. E quando ele enfia o polegar dentro de mim por trás, todo o
meu mundo desaparece.

— Ahhh... foda-se. Adam.... — Meus olhos rolam para cima,


para as montanhas, o pôr do sol pintando o céu enquanto eu luto
para respirar, luto para manter minha boca nele. — Deus, Adam.

— Essa é minha garota barulhenta. Diga a quem você pertence.


Mas ele também me pertence e quero que todos saibam.

Eu o levo em minha boca novamente, combinando a rocha de


meus quadris, o impulso de seu polegar, o colo de sua língua. Não
somos nada além de respirações ofegantes, unhas roendo,
suspiros estrangulados e gemidos baixos.

Adam abre a boca, levando o polegar com ele antes de


substituí-lo por dois dedos profundos que me fazem gritar. —
Cristo, Rosie. Tão bom. Você é uma obra-prima, cavalgando meu
rosto.

Eu gemo em torno de seu pênis quando ele puxa os dedos,


passando-os pela minha bunda antes de dar um tapa rápido e
mergulhar de volta com a língua. Nunca senti nada assim, o
deslizar macio e aveludado de sua língua, o puxão gentil de seus
dentes exatamente no lugar certo, a pressão macia de seus lábios
em meu lugar mais íntimo. É um gostinho do céu que me deixa
desejando mais, para que nunca acabe. Tudo dentro de mim fica
tenso, pronto para estourar, e estou tão desesperada. Desesperada
para dar tudo de mim a este homem, para que ele veja, aceite...
ame.

— Dê-me tudo, Rosie. Goze para mim, querida.

E como não posso? Com suas mãos em meus quadris me


segurando forte, e sua língua em cima de mim, eu desmorono. É
como caminhar até a beira de uma montanha, contemplar toda
aquela beleza abaixo de você, fechar os olhos e apenas... pular.
Deixando ir. Queda livre no esquecimento e amando cada
momento disso. Não há nenhuma preocupação no mundo sobre
quem pode ver, ou quem pode ouvir, porque no momento eu sei:
cada centímetro de mim pertence a este homem de alguma forma,
esse que torce cada gota de prazer para mim enquanto eu chamo
seu nome.

Ele se afasta, substituindo a boca pelos dedos, arrancando um


segundo orgasmo de mim sem pausa. — Rosie — ele murmura,
seus quadris sacudindo enquanto ele desliza para dentro e para
fora da minha boca. — Eu vou gozar. — Ele puxa meus quadris,
tentando me puxar para fora. — Você tem que se mover, baby.

Mas eu não quero. Eu quero dar a ele tudo o que ele me deu.

Seus dedos se enrolam dentro de mim enquanto ele arranca


outro orgasmo destruidor da terra do meu corpo quando pensei
que não tinha mais nada para dar. Afundando seus dedos em
meus quadris, ele me segura enquanto solta todo o resto,
derramando dentro da minha boca enquanto ele morde a carne
macia da minha bunda.

— Foda-se — ele rosna, quando me pega e me joga na


espreguiçadeira.

Ele rasteja por cima de mim, o olhar feroz em seus olhos me


dizendo que ele não está nem perto de saciado. Um sorriso
perverso surge em seus lábios quando ele agarra minha nuca e
levanta minha boca para a dele, onde ele murmura suas próximas
palavras antes de mergulharmos direto para a segunda rodada.

— Amo o jeito que você prova quando se desfaz para mim.


— Você, na minha varanda, bebendo vinho sob as estrelas,
vestindo nada além da minha camiseta.

Eu inclino minha cabeça para trás no peito de Adam, olhando


para ele. Ele já está olhando para mim, uma mão segurando a
haste de sua taça de vinho, a outra traçando um caminho sobre
minha coxa nua. Ele está usando um par de óculos de armação
escura, porque queria ver todas as fotos de Connor que eu já tirei,
e isso aumenta o fator foda-me para incríveis cem e não dez, mas
realmente, parei de contar. A pontuação do foda-me do homem
está fora das paradas.

Sua grande mão segura meu queixo enquanto ele deixa sua
boca cair na minha. — Minha versão do paraíso.

— Se isto é o paraíso, poderíamos ficar aqui para sempre?

— Eu ficaria feliz em qualquer lugar que você estivesse. — Ele


enfia a mão por baixo da camiseta que visto, passando a ponta do
dedo pela minha barriga. — O que eu não daria para ter visto você
quando estava grávida. Aposto que você era uma maldita obra-
prima.

— Eu comi muitos sundaes com calda quente, calda quente


extra. Era um vício.

— Eu teria alimentado alegremente esse vício.

— Você teria contribuído para o número de estrias, hein?

— Listras de tigresa — ele murmura contra o meu ombro, meu


pescoço. — E eu teria passado todas as noites beijando-as
também. — Ele coloca nossos copos na mesa e me gira, envolvendo
minhas pernas em volta dele antes de se levantar e me carregar
pelas portas francesas, passando por Bear cochilando em uma
almofada no canto da sala. Deitando-me em sua cama, ele tira a
minha camiseta e rasteja por cima de mim. — Eu poderia passar
a noite toda beijando-as agora.

— Acho que você já fez isso. — As palavras me deixam com um


gemido enquanto sua boca sobe pelas minhas coxas, pelos meus
quadris, pelo meu estômago, cobrindo minhas imperfeições com
ternura.

— Só quero ter certeza de que você sabe o quanto aprecio este


corpo e tudo o que ele fez e continua a fazer.

— Você me faz sentir muito apreciada — eu prometo baixinho.


— Mais apreciada do que já senti.

As palavras suaves trazem os olhos de Adam para os meus, e


eu desvio o olhar.

— Ei — ele sussurra, inclinando meu rosto para ele. — Eu


gostaria que você não sentisse que precisa se esconder comigo.
Somos parceiros agora, Rosie. Você e eu. E não posso ser o melhor
parceiro que posso se você não se sentir segura comigo.

— É só... um pouco embaraçoso.

Seu olhar suaviza, e ele se move para os travesseiros, sentando-


me contra seu peito. Ele inclina meu queixo, trazendo meus olhos
para os dele. — Gosto de você por tudo que você é, por todas as
peças que você me mostrou, e pelas que você tenta esconder
também. Sei que nossas inseguranças existem por um motivo, mas
não há nada que você precise esconder de mim.
Eu afundo na segurança de suas palavras e dou a ele as
minhas. — Brandon disse que eu precisava perder peso. Que eu
precisava cuidar melhor de mim, porque estava dando um mau
exemplo para Connor.

— Foda-se. — Adam enterra o rosto no meu cabelo. —


Desculpe. Eu não quis dizer isso em voz alta. Eu só... não, não
sinto muito. Esse cara precisa se foder logo. Ele é de verdade,
porra?

O riso borbulha e a tensão diminui. — Adoro quando você diz


foda-se.

— Bom, porque eu estou realmente louco agora.

— Não fique com raiva por mim.

— Tarde demais. Ninguém tem o direito de falar sobre o corpo


de outra pessoa.

— Ele disse que fazer uma cesariana era a saída mais fácil, que
eu não podia mais usar a desculpa de ter um bebê.

Adam resmunga uma série de maldições baixinho, e algo que


soa muito como: — Dá a ele o maior presente de sua vida só para
jogá-lo de volta na cara dela — antes de me apertar mais forte,
cobrir meu ombro com beijos. — Lamento que alguém tenha dito
algo tão doloroso e descuidado. Você é linda, por dentro e por fora,
e não precisa mudar nada.

Eu tiro seus cachos de sua testa, sentindo a barba áspera ao


longo de sua mandíbula antes de pressionar meus lábios nos dele.
— Tudo é mais fácil quando você está por perto. É mais fácil me
amar exatamente onde estou, porque você aprecia tudo de mim.
— Você é a pessoa mais forte, gentil e bonita que já conheci.
Como eu poderia não apreciar você? — Ele se deita, puxando-me
contra ele, seu rosto no meu pescoço. — Estou morrendo de
vontade de fazer isso desde o nosso primeiro beijo. Acho que vai
ser o melhor sono que já tive e nunca mais vou deixar você ir
embora.

Acho que não quero que ele o faça, porque enquanto o sono
ameaça me derrubar, levando-me a uma paz que não conheço há
anos, há uma coisa que sei com certeza.

É assim que você se apaixona.


CAPÍTULO 17

PAUS COM SABOR DE BANANA

É difícil parar de olhar para ela.

Esta manhã, quando ela estava aconchegada sob a bagunça


que fizemos durante a noite. Lábios macios que imploravam por
beijos sob o sol nascente, sardas de mel com as quais eu poderia
acordar pelo resto da minha vida. Bear encolhido atrás de seus
joelhos, recusando-se a sair de seu lado. O garotinho que se juntou
a nós na cama assim que nossas roupas voltaram, aconchegou-se
entre nós e, como eu, não conseguia tirar os olhos de sua mãe
enquanto ela lia para ele seu livro favorito.

E agora, enquanto ela caminha à minha frente e de Connor, os


dois cachorros amarrados na cintura, as pontas dos dedos
roçando o tronco de cada pinheiro por onde ela passa. Ela está em
casa aqui, nestas montanhas arborizadas. Eu vejo a clareza
refletida em seus olhos de musgo depois de apenas alguns minutos
aqui, como se o ar fresco levantasse sua névoa.

De seu lugar em meus ombros, Connor se curva sobre minha


cabeça, envolvendo-a com os braços. Seus lábios pressionam
contra o meu boné enquanto ele aperta com força. — Muaaah!
Não tenho certeza se já tive tanta sorte e, mais do que isso, não
tenho certeza se já me senti tão acordado. Tão vivo.

Porque eu estava tão cansado. Cansado de as pessoas pegarem


apenas o que queriam, deixando o resto para trás. Você não pode
escolher partes das pessoas; você tem que querer tudo delas. Eu
dei a Rosie as peças que ninguém mais queria, e ela pegou todas
elas com mãos ansiosas.

E de alguma forma, isso é mais assustador. Antes, eu só tinha


a mim mesmo a perder. Agora tenho dois loiros de olhos verdes
que levariam tudo de mim com eles se fossem embora. O
pensamento deixa minhas palmas suadas, minhas mãos trêmulas.
Porque no centro do meu medo está o lembrete de que não fui
honesto com Rosie. Que escondi grande parte da minha vida,
enquanto pedia a ela que me desse tudo.

Fiz tudo ao contrário. Sempre pensei que teria que convencer


alguém a amar todas as partes normais de mim depois que se
apaixonar pela estrela do hóquei. Agora tenho que convencê-la de
que, por trás de tudo, a estrela do hóquei ainda sou eu.

Eu preciso dar a ela tudo de mim.

— Posso contar um segredo? — eu sussurro, olhando para


Connor. — Eu só quero ser bom o suficiente para vocês dois, e
estou com medo de não ser. Mas prometo, vou tentar o meu
melhor.

Ele sorri para mim, então descansa sua testa contra a minha,
acariciando minha bochecha. — Bom Dada.
— Obrigado parceiro. Eu precisava disso. — Meus olhos
encontram Rosie, observando-nos com um sorriso atordoado. —
Pare de me olhar assim, Trouble.

— Como?

Eu pressiono minhas palavras abaixo de sua orelha. — Como


se você quisesse repetir a noite passada na minha varanda.

Ela sorri, os dentes pressionando seu lábio inferior rosado. —


Você está carregando minha prole em seus ombros. Eu vou olhar
para você do jeito que eu quiser olhar.

— Admita. Você quer a segunda rodada.

— Você e eu sabemos que é a quinta rodada, pelo menos.

— Quer ver se conseguimos atingir dois dígitos?

— Quer me carregar para todo lugar no dia seguinte quando


minhas pernas não funcionarem?

— Quer nunca mais sair da cama?

Ela sorri para mim, colocando sua pequena mão na minha, e


eu nunca vou superar o quão perfeito é a sentir ali, a forma como
nossos dedos se entrelaçam. — Eu quero. — Ela me espia por baixo
dos cílios. — Parece que uma noite sem bebês pode ser o melhor.

Minhas batidas do coração disparam. — Sem bebê?

Ela pisca, girando para fora do meu alcance, e dança em


direção à ponte, os cachorros a perseguindo.

— Sem bebê? — repito, Connor saltitando em meus ombros


enquanto corro atrás dela. — Rosie! O que significa sem bebê?
Ela me ignora, e quando finalmente a alcançamos e ela está
servindo o almoço para todos, ela ainda está com aquele sorriso
presunçoso.

— Puta merda, Trouble — murmuro, tirando Connor dos meus


ombros.

— O que você vai fazer sobre isso?

Meus olhos se voltam para os dela, brilhando com um calor tão


selvagem que a faz corar. Ela revira os lábios e se vira para sua
mochila, e eu pego um punhado de sua camisa, puxando seus
lábios nos meus. — Acho que você vai ter que descobrir.

Connor dá um tapinha em nossos ombros, um sorriso


borbulhante aparecendo entre nós. — Mama, Dada, beijos.

Depois do almoço, caminhamos até o riacho, Bear e Piglet


flanqueando Connor enquanto ele caminha logo à frente, com as
mãos enterradas em seus pelos.

— Eu acho que Pig e Bear adotaram Connor — eu digo.

— Eu também acho — ela murmura, observando-os com um


sorriso. — Estou tão feliz que ele ama os animais. E Piglet... — Ela
balança a cabeça, seu sorriso tem partes iguais de esperança e
tristeza. — Ela chegou tão longe, não é? Ela é tão boa com você e
Bear, e ela ama muito Connor.

— Ela parece tão em casa aqui com você.

— Com todos nós. Muitos de seus passos aconteceram desde


que você apareceu.

— Fico feliz por ser uma parte positiva da jornada dela, mas
não descarte todo o trabalho que você fez com ela, Rosie.
— Eu não vou. Realmente, não vou. Mas havia tanto que eu
poderia fazer sozinha, sabe? Sim, trabalhei duro para ganhar a
confiança dela, para ajudá-la a se sentir confortável, mas não
conseguimos aproximá-la dos homens até você. E agora olhe para
ela. Ela está tão despreocupada aqui, tão feliz. — A esperança se
esvai de seus olhos, deixando-a de luto por um futuro que ela disse
a si mesma que não poderia ter. — Ela vai fazer uma família tão
feliz um dia.

Aperto a mão de Rosie na minha. — Sua família eterna terá


muita sorte.

Rosie acena com a cabeça antes de se concentrar nas árvores


ao nosso redor, passando a ponta do dedo sobre a casca de cada
árvore que ela passa como sempre faz, como se estivesse
procurando por algo que perdeu. Ela nunca oferece nenhuma
informação e eu não pressiono. É o momento de silêncio dela, e
estou grato por ela me permitir acompanhá-la. Além disso, há algo
gratificante em dar a ela tempo e espaço para ela vir até mim
quando estiver pronta. Isso me faz sentir digno, e esse é um
sentimento que me faltou nos últimos dois anos.

— Ei. — Eu cutuco o lado dela. — Eu estava pensando em você


ficar presa na chuva ontem. Eu tenho um SUV na minha garagem,
mas gosto bastante da minha caminhonete. E se você o usasse
para se locomover? Trabalho, pegar e deixar Connor. Economizaria
algum tempo e evitaria a chuva.

— Oh, não. Eu não posso fazer isso.

— Certamente você pode. Fico feliz em lhe emprestar um dos


meus carros se isso tornar a vida um pouco mais fácil para você.
— Não, não é isso. É... bem... — Ela enrola uma onda em torno
de seu dedo e levanta um ombro. — Não sei dirigir.

— Sério?

— Tenho minha carteira de estudante, mas nunca aprendi a


dirigir. Papai sempre deveria me ensinar, mas... — Ela dá de
ombros. — Acabei não tendo ninguém por perto para me ensinar.
— Ela me dá um sorriso agradecido e um aperto de mão. — Mas
obrigada pela oferta, Adam. Isso é tão atencioso da sua parte. O
ônibus está ótimo, e um pouco de chuva não vai me machucar.

Memórias inundam minha cabeça, semanas passadas no


banco do motorista do F-150 do meu pai enquanto eu me arrastava
por bairros tranquilos, minha mãe no banco de trás, pendurada
no meu ombro e ofegante toda vez que eu chegava perto demais de
outro carro, ou quando uma vez bati no meio-fio. Meus pais me
esperando com um cartaz e balões quando terminei meu exame de
motorista, e o jantar que eles me levaram depois para comemorar.
Memórias incríveis, mas que não aprecio o suficiente. Porque um
simples ritual de amadurecimento que eu achava que toda criança
tinha... Rosie não teve. Ela não teve ninguém sentado ao lado dela,
preocupando-se com quanto pisava no pedal do acelerador, cada
giro excessivo do volante e se ela checara seu ponto cego. Ela não
teve ninguém olhando para ela sair da garagem sozinha pela
primeira vez, alguém para se preocupar sobre onde ela estava indo
e se ela chegaria lá com segurança, dizendo-lhe para não se
atrasar, mandando uma mensagem de texto quinze minutos
depois para ter certeza de que ela chegou bem.
Pela primeira vez, realmente me ocorre o quanto Rosie perdeu.
Posso devolver a ela todas essas experiências?

Estou tão orgulhoso dela, dessa linda garota, da maneira como


ela prospera apesar das coisas que perdeu, da maneira como ela
se esforça para vencer seus medos por seu filho. Porque quando
Connor quer chapinhar no riacho, ela pega a mão dele e chapinha
com ele, e quando ele quer ir um pouco mais longe, ela respira
fundo e dá um passo à frente.

— Vou sentir falta disso — Rosie diz quando começamos a


voltar. Connor está cochilando rapidamente, seus bracinhos
jogados em volta do meu pescoço, a cabeça descansando no meu
ombro, sua respiração ficando mais tranquila enquanto ele salta
no meu peito.

— Verão?

— Verão. Isso. Eu e você. Conor. Todo o tempo que temos


juntos. Eu não tive um verão tão incrível desde... desde... — Ela
fecha os olhos, balançando a cabeça levemente. — A faculdade
começa em duas semanas, e mal posso esperar para voltar, para
me formar, mas sei que estarei muito ocupada com todas as
minhas rotações, e você também estará ocupado no trabalho,
então... eu vou sentir falta disso. O tempo ilimitado. Os dias
preguiçosos e as noites longas.

Meu estômago se contorce, um caroço pesado afunda nele.


Duas semanas. Faltam duas semanas para o término das férias de
verão, antes que Rosie volte para a faculdade e eu comece a treinar
antes dos jogos da pré-temporada.
Não quero gastá-las mentindo para ela. Quero passá-las
amando-a, dando-lhe tudo de mim, recebendo tudo dela em troca.
Eu a quero na abertura em casa. Eu a quero na minha camisa,
meu nome nas costas. Eu quero Connor gritando por mim,
chamando-me do que diabos ele quiser me chamar. E quero deixá-
los orgulhosos de fazer parte da minha vida.

— Nada vai mudar entre nós, Rosie. Vai ser difícil, sim, mas
vamos descobrir isso juntos. Começaremos uma nova rotina e você
passará voando pelo seu último ano de escola. Antes que você
perceba, será primavera e você será uma veterinária.

— Isso é tão assustador quanto emocionante.

— Qual é o plano depois da formatura?

Ela cerra os dentes. — Eu não faço ideia.

— Oh, vamos lá. Você, a menina que planeja tudo, não sabe?
Eu não compro isso.

Ela respira fundo, girando antes de balançar para o meu lado,


segurando meu braço. — Talvez eu tenha algumas ideias.

— Derrame-as, Trouble.

— Bem, o último ano é para explorarmos todos os diferentes


aspectos da medicina veterinária para que possamos decidir onde
queremos nossa especialidade. Então, a primeira parte é na
própria escola, onde a gente faz cirurgias, emergências, radiologia,
essas coisas. Depois, podemos escolher nossas rotações. Já sei que
quero cursar medicina de abrigo e já planejei fazer a maior parte
de minhas rotações eletivas no Wildheart. Espero que, se eu me
sair bem, eles me contratem como veterinária após a formatura.
— Você vai ser fabulosa. E eles já amam você lá. Não consigo
imaginá-los não querendo ficar com você.

— Sim, espero que sim. Eu realmente adoraria que Connor e


eu tivéssemos nossa própria casa também. Sei que Marco quer
morar com Archie, mas nosso apartamento é tão pequeno. Quase
não há espaço suficiente para mim e Connor, muito menos para
outro adulto. E eles são tão altruístas que nunca vão me pedir para
sair. Se eu conseguir um emprego e economizar os primeiros
pagamentos, então devo conseguir comprar para mim e Connor
nosso próprio apartamento, com seu próprio quarto.

— Eu gosto dos seus sonhos. Eles parecem perfeitos e sei que


você os alcançará. Enquanto isso, podemos dar a Connor seu
próprio quarto em minha casa.

— Você não precisa fazer isso.

— Por que não? Eu tenho quatro. E pretendo manter vocês dois


o máximo que puder, então faz sentido para ele ter algo um pouco
mais permanente do que um cercadinho que colocamos em um
quarto livre, certo?

Ela cora, mordiscando o lábio. — Ele realmente amou aquelas


estrelas que brilham no escuro que você pendurou para ele. — Ela
olha para mim. — Isso seria realmente maravilhoso, Adam. Tem
certeza?

— Tenho certeza. — Reviro os olhos e inclino a cabeça para os


cachorros à nossa frente. — Agora, vá separar aqueles dois.

— Bear! — Rosie corre até os cachorros, tentando fazer com


que o meu desça do dela. — Você está castrado! Vocês não podem
ter bebês Bear e Pig, por mais fofos que sejam! — Ela olha para
eles, punhos apoiados em seus quadris. — O que vamos fazer com
vocês dois?

Eu rio baixinho enquanto Rosie tem que voltar e separá-los


uma segunda vez, apenas momentos depois de virar as costas para
eles.

— Nós íamos levar vocês dois para os copos de creme, mas


agora eu simplesmente não sei. — Ela dá de ombros, como se não
fosse subir no meu banco da frente, lançar-me aqueles olhos de
cachorrinho e dizer: — Eles não estavam tão bons hoje? Eles
merecem copos de creme para cachorros, você não acha? — Assim
como ela faz todas as vezes. E, como sempre faço, vou acabar com
chantili nas mãos enquanto os cachorros bagunçam os copinhos
que seguro para eles.

Connor se mexe, virando-se para enfiar o rosto em meu


pescoço, colocando sua mãozinha sobre meu coração. Eu beijo
suas ondas, apertando meu domínio sobre ele, saboreando a
plenitude que sinto neste momento, bem aqui nesta floresta. Olho
em volta para a terra, todas as árvores, o mar de verde que faz este
lugar cheirar tão fresco, e não posso acreditar que aqui encontrei
exatamente o que procurava.

Uma árvore à minha direita chama minha atenção. É um


pinheiro velho e imponente, como os outros, mas em seu tronco
grosso, a casca é marcada por entalhes desbotados.

— Olhe, — eu chamo Rosie, tocando a casca, o coração velho e


áspero esculpido nela, as três letras no meio. D, M, R. Abaixo dele
há uma série de números que marcam uma data de eras atrás. —
Está aqui há treze anos.

Eu ouço o barulho da terra sob seus sapatos, a maneira como


eles param abruptamente, a inspiração aguda. Eu olho para Rosie,
encontrando sua mão em sua boca, os olhos cheios de lágrimas, e
aperto seu braço.

— Ei. Você está bem?

Seus olhos não deixam o coração na árvore. — Você achou. E-


eu... estive procurando. Cada caminhada, por sete anos. Eu nunca
fui capaz de... eu não conseguia me lembrar... — Seu peito sobe
bruscamente com uma inspiração escalonada, e aquelas lágrimas
escorrem por seu rosto antes que ela jogue seus braços em volta
de mim. — Você achou.

Eu olho de volta para o coração, e algo estala.

D, M, R. Papai, mamãe, Rosie.

— Você já esteve aqui antes. Com seus pais.

Um soluço quebrado a sacode até o âmago, e ela enterra o rosto


no meu ombro enquanto passo a palma da mão em suas costas.

— Você quer me contar sobre isso?

Rosie enxuga as lágrimas de seu rosto e acena com a cabeça.


Pegando a mão dela, eu a incentivo a descer até a base da árvore,
puxando um Connor adormecido para o meu colo. Rosie descansa
a cabeça em meu ombro antes de me contar sua história.

— Meus pais e eu adorávamos o ar livre. Estávamos sempre


caminhando, acampando, nadando, explorando. Qualquer coisa
que você pudesse fazer lá fora, nós fazíamos. Passamos todos os
verões viajando e, quando eu tinha onze anos, viemos para cá.
Atravessamos o Canadá, passamos duas semanas em Alberta,
demoramos um pouco para chegar à Colúmbia Britânica. E
terminamos aqui. Vancouver era minha favorita, então
estendemos nossa estadia por uma semana e caminhávamos por
essa trilha todas as manhãs. — Rosie olha para a escultura, com
um sorriso nos lábios. — Em nosso último dia, meu pai esculpiu
isso. Ele prometeu que voltaríamos, que o encontraríamos. — Ela
olha para mim. — Você conhece a Ponte Capilano? A ponte pênsil
através das montanhas? Fica coberta de luzes durante todo o
inverno.

Eu concordo. — Já fui algumas vezes. É linda.

Rosie sorri melancolicamente. — Eu aposto. Só vi fotos, mas


parece incrível. As árvores cobertas de neve, todas aquelas luzes
cintilantes... parece mágica. Eu queria tanto ir, mas é claro que as
luzes não estavam acesas no verão. Meus pais disseram que
poderíamos voltar em novembro para o meu aniversário para ver
todas as luzes. — Seu queixo treme enquanto novas lágrimas se
acumulam, deslizando silenciosamente por seu rosto. — Meus pais
faleceram em setembro. Nunca conseguimos ir.

Segurando seu rosto, eu limpo as lágrimas que vêm rolando. —


Sinto muito, Rosie.

— É por isso que estou aqui. Por que escolhi Vancouver,


embora haja uma faculdade de veterinária incrível a quarenta e
cinco minutos da minha cidade natal. Porque esta é a última
viagem que fizemos juntos. Porque nós fomos tão felizes aqui.
Estávamos juntos e felizes. Porque Vancouver, porque aqui, bem
aqui, é onde eu sinto minha família.

Rosie fica de pé, estendendo a mão para mim, convidando-me


a fazer o mesmo. Ela traça o formato do coração, a data, aqueles
D e M. — Eu não quero perder isso de novo. Não posso. Não posso
esquecer onde esta árvore está.

— Você não vai — eu prometo a ela. — Lembrarei. Podemos


colocar algo aqui para marcá-lo. Plantar algumas flores.

Ela sorri. — Peônias?

Eu sorrio, tocando meu polegar na covinha em seu queixo. —


Peônias.

Rosie olha para o coração por um longo momento antes de


colocar a mão sobre a inscrição, os olhos fechados. Quando eles
se abrem novamente, há uma clareza por trás deles, uma nova
esperança. Ela não está mais perdida; ela foi encontrada.

Ela se agarra ao coração. — Sabe o que eu acho, Adam? Acho


que foi você quem o encontrou porque agora também é minha
família. Você sente vontade, de qualquer maneira. Você não
apenas encontrou minha família; encontrei minha família em você.

Estou feliz por poder dar a ela algo que ela tinha perdido, algo
que tanto deseja e que tanto merece.

Porque sei que nela encontrei algo de que havia desistido.

Eu encontrei o amor.
— Acho que ela está pronta para fazer sexo.

A conversa ao meu redor morre e quatro pares de olhos se


erguem para os meus. Carter torce seu vigésimo quinto Oreo,
lambendo lentamente o recheio, e Garrett abre um saco de Flamin
'Hot Funyuns antes de enfiar a mão dentro, puxando um punhado
no ritmo literal de uma tartaruga. Jaxon abre uma garrafa de
cerveja mesmo que ele já tenha uma, a excitação brilhando em
seus olhos quando ele leva as duas à boca ao mesmo tempo, e
Emmett pega seu telefone, o som de seus dedos estalando na tela
preenchendo este terrível silêncio.

Um tipo de guincho horrível, agudo e moribundo chega ao


quintal vindo da cozinha de Carter, e meu Deus, o que eu não daria
para ter aquele silêncio constrangedor de volta.

— Rosie está pronta para fazer sexo! — Cara grita de dentro. —


Nosso doce bebê anjo está molhando o pau!

— Jesus. — Esfrego minhas mãos sobre meu rosto e olho para


Emmett. — Ela alguma vez, você sabe... não?

Ele balança a cabeça melancolicamente. — Nunca. Nunca, ela


não. Ela sempre faz isso.

— Quando você vai vê-la de novo? — Jaxon pergunta,


alcançando os Funyuns de Garrett. Garrett olha, puxando o pacote
para fora de alcance.

— Amanhã.

— E o que faz você pensar que ela está pronta para o sexo?

— Bem, ela... nós estamos... quero dizer, as coisas


progrediram, naturalmente.
Garrett enfia um punhado de seus salgadinhos na boca. —
Naturalmente.

Carter joga o biscoito na boca. — Então você foi malvado com


o biscoito dela.

— Eu me recuso a reconhecê-lo quando você fala com biscoitos


na boca e chama as partes do corpo por eles.

— Meh meh meh meh meh — ele imita, então tenta arrancar o
pacote de Oreo da minha mão quando eu o pego. — Não! Você não
ganha meus biscoitos se vai tirar sarro de mim.

— Carter — Olivia avisa de dentro. — Compartilhe seus


biscoitos.

Suas sobrancelhas se juntam com força enquanto ele desiste


dos biscoitos. É incrivelmente difícil levá-lo a sério quando ele está
vestindo essa camiseta, Support Your Local Girl Dads estampado
nela. Ele agarra Emmett, que está segurando a Ireland. — Dê-me
meu bebê.

— Não.

— Se não posso ter meus Oreos, preciso da minha princesa.

Emmett faz cócegas na barriga de Ireland, e ela ri no patim de


hóquei de silicone que está mordendo. — Ela está feliz aqui. Não
é, anjo?

A porta do pátio se abre, Olivia sai. Seu olhar varre o pátio antes
de pousar em Emmett e Ireland. — Aí está minha garota. Eu
preciso alimentar você, querida, mas prometo que vou trazê-la de
volta para o tio Emmett, ok?
— Estarei esperando. — Ele manda um beijo para Ireland e se
recosta na cadeira, cruzando um tornozelo sobre o outro, olhando
para mim. — De volta para você fazendo sexo.

— Você sabe que ela dormiu aqui pela primeira vez na semana
passada. E ela está dizendo... ela está dizendo que quer que a
próxima vez seja livre de bebê. Então eu acho... você acha... — Eu
apoio meus cotovelos em meus joelhos saltitantes. — Isso
significa…?

Os quatro saltam de suas cadeiras, cumprimentando-se


mutuamente.

— Ay-yo!

— Aí está!

— Esse é totalmente o sinal! — Garrett me diz, afundando de


volta em seu assento.

Carter assente. — Ollie sempre diz que quer um tempo livre de


bebê quando quer aproveitar a noite toda ou ficar muito
barulhenta.

— Oh, pelo amor de Deus. — Olivia rosna de dentro. — Carter!

Emmett bate sua cerveja na minha. — Parece que você vai fazer
sexo amanhã à noite, amigo.

— Amanhã à noite? Mas isso é... tão cedo... e se eu... — Minha


garganta fica seca e eu lambo meus lábios. Faz tanto tempo.
Demasiado longo tempo. Estou sem prática. E se eu não for bom?
Eu olho para minhas mãos trêmulas e deixo escapar: — Minhas
mãos estão suadas.
Jaxon me observa cuidadosamente. — Então, Rosie está
pronta..., mas você está?

Estou pronto? Ninguém nunca me perguntou isso antes. Acho...


acho que não tinha pensado nisso. Eu nunca estive pronto antes,
mas nenhuma daquelas garotas era Rosie. Eu só quero ser o
suficiente para ela.

Levanto-me de um pulo, derrubando os Oreos no chão,


arrancando um suspiro de Carter, que pula para pegá-los. Eu enfio
meus dedos pelo meu cabelo e deixo escapar a primeira coisa que
me vem à mente. — Eu... eu não tenho nenhum preservativo.

Com seus biscoitos seguros no colo, Carter passa a palma da


mão sobre o peito estufado. — Eu daria um dos meus, mas seria
muito grande.

O bufo de Olivia passa pela porta do pátio. — Carter, se alguém


ensinou a ele a importância de usar preservativo, foi você. Todo
mundo aqui sabe que você não possui nenhum.

Garrett exala alto, recostando-se na cadeira, chutando as


pernas à sua frente, descansando a nuca nas mãos entrelaçadas.
— Eu daria um pouco se eu tivesse, mas Jennie me deixa transar
com ela sem.

— Sim, eu quero, baby!

— Retire isso — Carter rosna baixinho.

Garrett joga um dos biscoitos de Carter na boca. — Não.

Emmett levanta as mãos. — Não olhe para mim. Eu e Cara


estamos tentando ter um bebê.

— O que é um preservativo? — Cara fala.


Jaxon suspira e se levanta, tirando a carteira do bolso de trás.
— Ajudo você, garotão. O que precisa? Eu tenho ultra nervuras,
pele nua, ponto G – esse é projetado para o prazer dela, Rosie vai
gostar... magnum, com sabor de banana, fogo e gelo...

— Por que você tem tantos?

— Você nunca sabe o que ela vai...

Um estrondo termina suas palavras, e nós nos viramos,


observando Carter e Garrett lutarem na grama.

— Eu disse para pegar de volta! — Carter grita, prendendo


Garrett no chão.

Garrett rola em cima dele. — E eu disse não!

— Você roubou meus biscoitos!

— Ollie disse que você tem que compartilhar!

— Você não pode fazer sexo desprotegido! Você pode


acidentalmente ter um bebê!

— Prova de que comi sua irmã! E não chame sua filha de


acidente!

— Ireland, querida, papai ama você! Você foi uma feliz


surpresa!

A porta do pátio se abre e Olivia, Jennie e Cara saem.

— Oh, meu Deus — Olivia murmura, devolvendo a Ireland para


Emmett.

— Crianças — Jennie murmura.

— Aposto cem dólares em Gare-Bear — diz Cara. — Quem quer


entrar?
— De jeito nenhum — eu resmungo. Garrett adquiriu um novo
conjunto de bolas desde que ele e Jennie começaram a namorar.
É muito divertido vê-lo aterrorizar Carter. Além disso, aprendi a
não apostar em Carter. O casamento dele foi um erro de setecentos
dólares que não vou cometer de novo.

— Você parece frustrado — Olivia diz enquanto se senta ao meu


lado, a caixa perdida de Oreos de Carter agora em seu colo. — Você
sabe o que é ótimo para isso?

— Sexo? — eu digo que com um suspiro exausto.

Ela joga um biscoito na boca e pisca. — Sexo.


CAPÍTULO 18

ANTES QUE EU ME ESQUEÇA

— Rosie vai transar esta noite.

— Não, eu não vou!

— Correção: Rosie vai ser cercada por um metro e oitenta de


profundidade esta noite.

Eu olho para Marco. — Não é útil, e não é o que eu quis dizer


quando disse não.

Ele balança as sobrancelhas escuras. — Você vai estar de cama


amanhã. Talvez durante todo o fim de semana. — Ele apoia o
queixo no punho e olha para Archie. — Eu nunca vi Rosie
dickmatized.

— Acho que ela nunca foi realmente dickmatized.

— Hum. Certo, Brandon não entregou. Gravidez sem orgasmo


deveria ser ilegal.

— Ok, primeiro de tudo — eu levanto um dedo para cima, uma


mão apoiada no meu quadril — sim, deveria. Em segundo lugar,
fui dickmatized!
Archie sorri enquanto coloca massa de panqueca em uma
frigideira. — Quando?

Cruzando os braços, aponto o nariz para o teto. — Apenas na


semana passada, quando tentei engolir o pau dele. Essa é a única
maneira de explicar como encaixei remotamente parte daquela
coisa na minha boca. — Eu capturo meu lábio inferior entre meus
dentes enquanto meus pensamentos vagam de volta para a
varanda de Adam, todo o controle que eu alegremente solto.

— Olhe para você — murmura Marco. — Sua vagabunda


adorável. Você vai conseguir aquele pau hoje à noite.

— Eu não tenho certeza. Às vezes, ele parece contente em


manter as coisas como estão.

— Um cara que gosta de ir devagar? Soa como um unicórnio;


homens assim realmente não existem. — Marco joga um saco de
gotas de chocolate no cotovelo de Archie e dá um beijo em sua
bochecha, um lembrete de que ele só come panquecas quando
estão cheias de chocolate. — Falando em ir devagar, quando vamos
conhecer esse seu homem misterioso?

— Ele não é um mistério. O nome dele é Adam.

— Ele é um mistério para nós, e estou cansado de ouvir papai


Archie tarde da noite, preocupado com sua doce Rosie, porque ele
ainda não fez uma revisão ocular em seu namorado e o liberou
para sair com você. Por que você o está escondendo de nós?

— Eu disse a você — rosna Archie — pare de me chamar de


papai.

— Ok, papai.
Eu rio, beijando a bochecha de Archie. — Acho fofo quando você
se preocupa, papai.

A cabeça de Archie cai para trás e ele suspira. — Pelo amor de


Deus. E não estou preocupado. Vocês dois estão se vendo há quase
dois meses e não o conhecemos. Eu só quero colocar um rosto no
nome. — Ele vira uma panqueca e dá de ombros. — E certificar-
me de que ele seja bom o suficiente para a minha Rosie.

— Você conheceu os amigos dele? — Marco pergunta.

— Ainda não, não.

Ele franze a testa. — Ele está mantendo você em sua própria


bolha secreta ou algo assim?

Meu coração dispara. — Bolha secreta? O que você quer dizer?

Ele dá de ombros. — Vocês nunca saíram em público.

— Você acha... — Minha garganta seca, e eu a coço. Não é como


se eu não tivesse pensado nisso, imaginado quando ele me
apresentaria a seus amigos. Ele está com eles o tempo todo e eles
parecem uma família para ele. Estou esperando ansiosamente que
gostem de mim, mas o convite nunca veio. — Que ele não quer ser
visto comigo?

Marco segura minha mão. — Não, Rosie. Sem chance.


Desculpe-me, não foi isso que eu quis dizer. Realmente, é meio
doce. Como se ele quisesse você só para ele.

— Nós realmente adoraríamos conhecê-lo — Archie acrescenta


com um sorriso suave. — Por que você não o convida para jantar
no domingo? Tenho certeza de que conhecer seus amigos o levará
a apresentá-la aos dele também.
Eu forço a tensão em meus ombros para longe. — Sim, ok. Você
tem razão. Vou convidá-lo para jantar.

— Maaaaaa!

Eu sorrio, indo em direção ao meu quarto. — E aí está a minha


deixa.

Connor sorri assim que me vê, levantando os braços. — Oi,


Mama — ele murmura enquanto eu o pego em meus braços. —
Dada?

— Você verá seu pai mais tarde hoje, querido.

— Bear? Dada Bear, Bear?

Meu coração faz algo engraçado, uma palpitação que cai na


minha barriga, explodindo como borboletas.

Ele está perguntando por Adam, não por Brandon.

Connor passou a amar tanto Adam, e não posso culpá-lo. Ele


dá a Connor tudo o que ele precisa, sendo a primeira dessas
necessidades amor incondicional, paciência, conexão, as coisas
que seu próprio pai luta para lhe dar. Não quero que seja uma
competição; quero que meu filho receba o amor que merece de
todas as pessoas importantes em sua vida.

— Tio Arch fez panquecas — digo a Connor enquanto o visto


para o dia. — Gotas de chocolate.

— Pa-quecas? — ele sussurra com os olhos arregalados. —


Uau.

— Rosie! — Archie chama. — Seu telefone! Por que a reitora


está ligando para você?
— O quê? A reitora?

Ele aparece na porta, telefone na mão. — Como você já se


meteu em problemas? O ano letivo ainda nem começou.

Eu arranco meu telefone. — Eu nunca me meti em problemas.

— Ah-chee! Panquecas?

Archie balança Connor em seus braços. — Vamos,


homenzinho. Eu fiz a sua em forma de coração.

Espero que eles saiam antes de atender a chamada. —


Professora McKee? Oi.

— Quantas vezes tenho que dizer para você me chamar de Eva,


Rosie? Você sabe que não gosto de sobrenomes e títulos.

— Desculpe. Eu entrei em pânico.

Eva ri, e eu suspiro, o pânico derretendo. Tipo. Ufa. Na verdade.


Eva é o tipo de professora que você espera ter. Acessível, gentil.
Ela tem como missão fazer com que todos se sintam confortáveis
em sua presença. Ainda assim, é agosto, ela é a reitora e está me
ligando. Se isso não é motivo para pânico, não sei o que é.

— Alguma chance de você aparecer no meu escritório hoje?

— Oh. — Eu posso vomitar. — Sim. Totalmente. Eu estou com


meu filho hoje. Ele não vai para a casa do pai até mais tarde. Tudo
bem?

Eva faz uma pausa, e o pânico em meu estômago dá um nó,


ficando tenso. — Seria melhor se fôssemos só você e eu.

Com certeza vou vomitar. — Estou... estou com problemas?


— Claro que você não está em apuros, Rosie. Em que tipo de
problema você já se meteu?

Nenhum, mas isso não significa que coisas ruins não tenham
acontecido comigo.

— Precisamos conversar, só isso. Seria melhor se você pudesse


dar toda a atenção à conversa, e sei como isso pode ser desafiador
quando você tem um filho para ficar de olho.

Meus olhos ardem e engulo a vontade de chorar enquanto


começo a catalogar mentalmente todos os piores cenários. — Vou
deixar Connor na casa do pai dele e passar aí.

— Ótimo. Estou aqui até as três. E Rosie, tente não se


preocupar.

O problema da ansiedade é que você não tem controle sobre


ela. Seu cérebro detecta uma ameaça e todos os alarmes em sua
cabeça começam a soar. Os nervos em seu corpo saltam e você fica
tentando lutar contra o desejo de se levantar e correr enquanto
cada pior cenário se desenrola em sua cabeça. Às vezes, o que é
mais difícil de entender sobre a ansiedade é que é tão fácil para as
pessoas sem ela simplesmente deixar os pensamentos rolarem por
suas costas, enquanto parece que estou perdendo a cabeça por
causa de algo tão sem sentido. Porque é inútil, não é mesmo,
preocupar-se com algo fora do seu controle? Eu só queria que meu
cérebro recebesse o memorando.

Minhas unhas mordem minhas palmas para parar o leve


tremor em minhas mãos antes de ligar para Brandon. Vai para o
correio de voz e, quando ligo pela segunda vez, ele atende com um
gemido.
— Estou tentando dormir.

— Desculpe acordá-lo. Algo aconteceu. Posso deixar Connor


um pouco mais cedo hoje?

— O quê? Quando?

— Agora, talvez?

Outro gemido. — Ele não deveria vir até as quatro e meia. Os


caras estão vindo para assistir ao jogo de beisebol.

Eu tento esfregar a dor de cabeça dos meus olhos. — Eu não


pediria se não fosse importante.

— Por que você não pede ao seu namorado para cuidar dele?
— Seu tom é azedo, e não tenho paciência para isso.

— Porque você é a porra do pai dele, Brandon, e francamente,


estou cansada de você agir como se tivesse coisas melhores para
fazer do que passar tempo com seu filho. Agora posso deixá-lo mais
cedo ou preciso encontrar alguém que se preocupe com ele?

— Jesus, Ro, quem cagou no seu café esta manhã? — Ele


suspira, longo e baixo, como se tivesse que pensar sobre isso. —
Sim, tanto faz. Deixe-o aqui, eu acho. Mas não estou cancelando
meus planos.

— Obrigada, Brandon.

— Você me deve. Você vai deixá-lo três horas e meia mais cedo,
então você me deve essas horas de volta.

Desligo sem dizer uma palavra, porque estou incrivelmente


perto de atingir meu limite. Acho que sou uma pessoa bastante
paciente, mas Brandon tem um jeito de testar cada um dos meus
nervos quando se trata de nosso filho.

Connor não foi planejado, eu entendo, mas já se passaram


dezessete meses e Brandon ainda age como se fosse uma tarefa
árdua ser pai de seu filho. É apenas mais um estressor hoje, e
quando estou batendo na porta de seu apartamento várias horas
depois, não posso deixar de querer envolver Connor em meus
braços e levá-lo comigo para saber que ele está recebendo todo o
amor que merece.

Brandon abre a porta com uma cerveja em uma das mãos e um


chip de nacho na outra. — Ei — ele dispara, já de costas para nós
enquanto ele volta para sua sala de estar onde seus amigos estão
espalhados na mobília.

— Não — sussurra Connor, olhando para mim com os olhos


arregalados enquanto começo a tirar seus sapatos. — Mama, não.

— Você vai ficar com seu pai. — Meu sorriso é tão falso que dói.
— Mamãe vai ver você amanhã.

— Não. — Ele balança a cabeça, puxando a bainha do meu


vestido. — Não. Nããão!

— Foda-se — murmura Brandon, esfregando a mão sobre a


boca. — Aqui vamos nós. Já começando.

Meu peito aperta, e quando Connor olha para mim com os olhos
cheios de lágrimas, meus olhos também se enchem. Pego seu doce
rosto em minhas mãos, enxugando as lágrimas silenciosas que
caem. — Eu gostaria de poder ficar com você todos os dias,
querido. Isso deixaria meu coração de mãe muito, muito feliz. Você
vai ficar com papai esta noite, e mamãe estará pensando em você.
Quando eu vier buscar você amanhã, vou dar o maior abraço de
todos para que você perceba o quanto senti sua falta.

Brandon se encosta na parede, observando-me com


desinteresse. — Você acha que vai parar de sufocá-lo tão cedo? Ele
não precisa que você explique tudo para ele como se fosse um
bebê; ele precisa que você saia. Ele vai se esquecer de você assim
que você sair pela porta.

Eu tenho essa coisa de evitar brigar com Brandon na frente de


Connor. Chame isso de ser um adulto maduro que deseja modelar
relacionamentos respeitosos, mas não acho que expor nossas
queixas na frente de nosso filho seja uma demonstração de
comunicação particularmente saudável. Escusado será dizer que
Brandon e eu não estamos na mesma página.

Também estou a cerca de dois minutos de agarrar e socar o pai


do meu filho bem no meio do pau minúsculo e inútil dele.

Então eu fecho meus olhos e respiro, esfregando os braços de


Connor. Pego suas mãos nas minhas e sorrio, dando-lhe um aperto
carinhoso. — Mamãe ama você e mal posso esperar para vê-lo
amanhã. Vou sentir sua falta, mas espero que você se divirta muito
com papai e seus amigos.

— Dada — Connor sussurra, lindos olhos procurando os meus


enquanto ele aponta para a porta. — Bear.

Eu pressiono meus lábios em seu biquinho e o puxo em meus


braços, abraçando-o com força. — Podemos vê-los amanhã —
murmuro em seu ouvido, saboreando a forma como seu corpinho
quente se funde com o meu. Eu dou mais um aperto antes de
Brandon puxá-lo, levando-o para a sala de estar.

— Oi — diz Connor para os três homens descansando no sofá.


Ele aponta para o logotipo do Batman em sua camiseta. — Ba-
man?

Três olhares se voltam para ele antes de voltar para o jogo de


beisebol na TV, e meu coração afunda.

Connor vasculha uma pequena cesta de brinquedos, tirando


uma vaca de plástico. Ele exibe isso com orgulho, sorrindo
amplamente. — Vaca. Moo-moo!

— Eles não querem brincar — Brandon diz a ele


categoricamente.

Connor coloca a mão no joelho de seu pai, segurando sua vaca


para ele. — Ee-ya, ee-ya, bo?

— Eu não sei o que você está dizendo.

— EI-EI-O — eu esclareço gentilmente, lembrando a paciência


que Adam mostrou a ele, o jeito que ele trabalhou tão duro para
descobrir o que Connor queria, como ele cantou e dançou com ele
por toda a sala de estar. — Ele quer que você cante “Old
MacDonald” com ele.

— Não, obrigado.

O rosto de Connor cai no mesmo ritmo que meu coração bate


no chão.

Brandon o pega e o coloca no cercadinho no canto da sala,


esvaziando a cesta de brinquedos ali dentro. — Aqui. Brinque aqui.
— Ok, bem... — Eu engulo, torcendo minhas mãos. — Ligue-
me se precisar de mim. Adeus, querido. Adeus, pessoal.

Enquanto espero o elevador no corredor, procuro meu telefone


na bolsa para dizer a Adam que estou indo para a faculdade.
Minha mão esbarra em algo peludo e gemo quando pego o gatinho
de pelúcia de Connor. Ele vai tirar uma soneca sem o gatinho, mas
não vai – aconteça o que acontecer – passar a noite sem ele.

Volto para a casa de Brandon, abrindo a porta.

— Ela é tão estranha — diz alguém, e meus pés param.

— Nem me fale — eu ouço Brandon murmurar.

— Um pouco arrogante, não?

— Controladora como o inferno, é o que ela é. Deixa-me contra


a porra da parede.

Uma risada silenciosa soa enquanto meu peito arfa, minha


cabeça mergulha para baixo. Minha mão treme na maçaneta, a
outra segurando o bicho de pelúcia com tanta força.

— Não acredito que você teve um filho com ela.

As palavras doem, mas não tanto quanto a resposta de


Brandon.

— Você acha que eu escolhi isso? Escolhi ela? Ela não deveria
ser nada além de uma foda casual por algumas semanas de
diversão de verão. Você sabe que os pais dela morreram quando
ela era criança e ninguém a adotou. Às vezes, acho que ela fez um
furo na camisinha ou algo assim, só para conseguir a família que
ela queria. Agora estou preso com ela para sempre. Você acha que
é isso que eu quero?
Meus dedos cavam no bichinho de pelúcia e tento me firmar no
momento. Sinto a maciez de seu pelo, ouço o zumbido do ar-
condicionado, sinto o cheiro da comida espalhada nas bancadas.

Mas não funciona.

Em vez disso, ouço as palavras na minha cabeça, de novo e de


novo, como se estivessem se gravando lá para eu repetir nos meus
momentos mais sombrios.

Você acha que eu escolhi isso? Escolhi ela?

Ninguém a adotou.

Agora estou preso com ela.

As palavras são afiadas e cruéis, uma faca mergulhada


profundamente e torcida com tanta força. A pelúcia cai no chão
enquanto minha mão se move para segurar o tremor do meu
queixo, para abafar o gemido ferido pingando de meus lábios. Dou
um passo para trás, depois outro, observando a porta bater na
minha cara quando a solto.

Chego ao elevador antes de começar a desmoronar.

— Você está se sentindo bem, Rosie? Parece que você vai


vomitar.

— Estou bem — eu minto, torcendo as mãos no colo. Elas estão


molhadas de suor, tremendo de vontade de desmoronar. Levou
tudo de mim para não desmoronar no caminho até aqui, para não
ceder à compulsão torturante de chorar por um homem cujas
palavras não deveriam ter nenhum peso.

Mas com algumas frases simples, ele tocou em cada uma das
minhas inseguranças. Ele trouxe à vida todos os medos que passei
anos em terapia combatendo as legitimidades e validou todos eles
de uma só vez.

— Não dormi bem ontem à noite. E estou com um pouco de dor


de cabeça. — Aceno uma mão abalada no ar. — Este tempo, eu
acho.

O olhar de Eva diz que ela não acredita. — Como está sendo o
seu verão?

— É, uh, tem sido ótimo. Connor e eu... — Fechando os olhos


com força, balanço a cabeça. — Na verdade, poderíamos não fazer
isso? Desculpe. Não quero ser rude, mas estou incrivelmente
ansiosa sobre por que você me trouxe aqui. Prefiro acabar logo com
isso para poder parar de imaginar o pior na minha cabeça.

— Eu certamente posso entender isso. Eu não queria causar


ansiedade em você com isso, Rosie, mas... bem, olhe. Para ser
honesta com você, não é a melhor notícia, então, no espírito de
acabar com isso, vou simplesmente dizer logo. — Ela apoia os
cotovelos na mesa, girando uma caneta entre os dedos enquanto
me observa. Ela baixa o olhar por apenas um momento, soltando
um suspiro. — Você perdeu sua bolsa de estudos.

O aperto que eu tinha na minha bolsa falha, e ela cai do meu


colo, o conteúdo se espalhando no chão. — O quê? — Eva corre ao
redor da mesa para me ajudar. Eu levanto minha mão para cima,
parando-a. — Não. Pare.
— Rosie — ela insiste gentilmente, observando-me lutar para
pegar minhas coisas, enfiando-as na minha bolsa. — Deixe-me
ajudá-la.

— Eu tenho isso — eu estalo, a emoção borbulhando na minha


garganta. — O que quer dizer com perdi minha bolsa de estudos?

— O doador sentiu que você não levava seus estudos a sério e


queria seguir uma direção diferente.

— Não levava a sério? Mas eu... eu trabalhei tanto para isso! —


Luto para ficar de pé, segurando minha bolsa no meu peito arfante.
— Eu aceito tudo. Eu estudo tanto. Eu... eu não tenho vida fora
da escola. Quase não tenho amigos. Eu não saio, não participo de
nada. A faculdade é a minha vida.

— Você é uma excelente aluna, Rosie, e tem sido desde o


momento em que pisou nesta faculdade.

— Então me ajude a entender — eu imploro, meus olhos


queimando com lágrimas que querem tão desesperadamente cair.
— O que eu fiz errado?

Eva dá um passo à frente, pegando minha mão. — Você não fez


nada de errado, querida. Os valores do doador... ficou claro que
eles não se alinham com os seus.

— O que isso significa?

Ela puxa o lábio inferior entre os dentes, como se estivesse


debatendo se deve me contar. Suspirando, ela me guia de volta
para a cadeira. — Ele ficou desapontado ao saber que você fez uma
pausa acadêmica.
— Uma pausa acadêmica? Mas eu estava de licença
maternidade. Eu estava criando meu filho.

— Ele sentiu que, ao escolher tirar uma licença maternidade


em um momento tão importante de sua vida acadêmica, você
decidiu quais eram suas prioridades.

— Moramos no Canadá. — Eu pressiono meus dedos contra a


dor de cabeça que se forma em minhas têmporas. Eu não posso
estar ouvindo isso direito. — Tenho direito a um ano inteiro de
licença maternidade.

— Você absolutamente tem.

— Estou sendo penalizada por fazer do meu filho, da minha


família, minha prioridade?

— Rosie, você não está sendo penal-

— Estou perdendo minha bolsa de estudos! — Sangue troveja


em meus ouvidos quando eu pulo de pé. A sala gira, as bordas da
minha visão borrando. — Como vou pagar a faculdade? Oh, meu
Deus. — Eu giro para longe dela, a mão trêmula pressionando
minha boca enquanto meu mundo começa a desmoronar ao meu
redor, o peso da percepção me atingindo bem no peito. — Como
vou pagar a faculdade? — eu sussurro. — Usei o que restava da
minha herança para complementar minha licença-maternidade do
último ano. Só voltei ao trabalho por quatro meses. E apenas meio
período. E tenho as despesas da creche. Eu... eu não tenho o
suficiente guardado. Nem mesmo perto. — Um soluço sufocado
escapa da minha garganta, e eu coloco minha mão sobre minha
boca enquanto meu estômago ameaça se esvaziar. — Oh, Deus.
Uma mão pousa nas minhas costas e, embora o toque deva ser
reconfortante, não sinto conforto.

— Quais são minhas opções?

Eva faz uma pausa. — Procurei algum financiamento adicional,


algumas bolsas, mas Rosie, tão perto do início do ano letivo... tudo
já foi decidido.

Abraço minha bolsa contra o peito, olhando para o chão. — Eu


mereço isso — eu sussurro. — Eu mereço.

— Não estou discutindo isso, mas, em última análise, cabe ao


doador. — Ela aperta meu ombro. — Você pode tirar um ano de
folga. Trabalhe na clínica e economize. A equipe está preparada
para guardar sua vaga para o próximo ano. O que é outro ano?

O que é outro ano? Mais um ano significa que estou trabalhando


o máximo que posso, longos dias e noites para poder cobrir meu
aluguel, pagar a creche e, de alguma forma, economizar dinheiro
suficiente para cobrir o custo da faculdade de veterinária. São mais
dois anos na casa de Archie e essa é a razão pela qual ele e Marco
não podem morar juntos, porque não tenho dinheiro para me
mudar. É menos tempo com meu filho, uma batalha mental que
tenho que enfrentar por decepcionar nós dois, colocando nosso
futuro em espera por mais um ano.

Deslizando minha mochila no meu ombro, eu vou para a porta.


— Obrigada por reservar um tempo para se encontrar comigo —
digo a ela em voz baixa.

— Rosie...
— Está tudo bem — eu minto. — Estou bem. Aproveite o resto
do seu verão.

Ela me observa atentamente e vejo a angústia em seus olhos.


Ela odeia ter que fazer isso, e sei que não é culpa dela. Mas neste
momento, preciso ficar longe dela.

Ela finalmente acena com a cabeça, sorrindo levemente. —


Manteremos contato. Cuide-se, Rosie.

Eu corro pelos corredores, contornando os professores e alguns


alunos vagando por aí. Minha garganta queima, algo que aperta
como um torno. Tudo parece embaçado, confuso, uma bagunça
confusa que não consigo enxergar. Eu irrompo pelas portas da
frente, entrando no sol quente e na brisa fresca, mas isso não
ajuda. Não traz clareza, e corro sem rumo pelo campus, sem saber
para onde estou indo, o que estou procurando.

Eu não vou encontrar aqui de qualquer maneira, certo? Eu não


pertenço aqui. Não agora, pelo menos.

Eu... não tenho certeza se pertenço a algum lugar. E a


percepção está me destruindo, dobrando meus joelhos,
ameaçando me tirar do chão, e me jogar no chão.

Mas chego a um banco antes de desmoronar.


CAPÍTULO 19

IDIOTAS

— Eu juro, Adam, se perdermos mais uma vez por sua causa,


eu vou perder minha merda.

— Ele está distraído pra caralho hoje.

— Deixe-o em paz. Ele vai transar esta noite pela primeira vez
em muito tempo. Isso requer muita preparação mental.

— Eu não estou – não, eu – isso é... — suspiro, minha tela de


TV respinga com o sangue do meu personagem enquanto morro
mais uma vez, decepcionando meus companheiros de equipe do
outro lado do meu fone de ouvido pela enésima vez hoje. — Sim,
definitivamente estou meio que pensando sobre isso.

Quero dizer, porra, processe-me. Como Emmett disse, tem sido


muito tempo. E também, Rosie é Rosie. Você a conheceu? Ela tem
o coração mais gentil e paciente que já conheci, e estar com ela me
faz sentir vivo. Claro que não consigo pensar direito agora.

— Ele está fazendo isso de novo — Jaxon murmura. — Amigo,


é melhor você entrar no chuveiro e bater uma antes que sua garota
apareça. Caso contrário, Rosie vai precisar satisfazer a si mesma
esta noite, quando você estourar sua bola cinco segundos depois
de molhar o pau.

— Foda-se. — Definitivamente me aliviando no chuveiro.

— Que horas ela vai? — Garrett pergunta.

— Estou esperando que ela mande uma mensagem dizendo que


está pronta para eu ir buscar. Ela teve que ir à faculdade para se
encontrar com uma de suas professoras. — Meu Apple Watch vibra
e solto meu controle do Xbox com toda a minha ansiedade. —
Provavelmente é ela. — Eu franzo a testa para o número,
recusando a chamada. — Deixa para lá. Não é.

— Quem mais poderia ser? Você tem outros amigos sobre os


quais não está nos contando? — Carter acusa.

— Com sua personalidade grandiosa? Não tenho espaço para


mais amigos.

— Você está certo que não.

O mesmo número salta para mim do mostrador do relógio e


minhas sobrancelhas se juntam. Não sei, mas reconheço que é o
mesmo que ligou na semana passada, quando Rosie e Connor
estavam aqui. Recuso a ligação novamente e me sento no sofá,
esfregando os olhos.

— Eu vou indo.

— Ele vai se masturbar no chuveiro — esclarece Jaxon.

— Ei, Jaxon?

— Sim cara?

— Cale a boca.
— Ah, merda. — Ele ri. — Cuidado, Rosie. Papai Adam está se
sentindo fogoso esta noite.

Eu jogo meu controle e fone de ouvido na minha mesa de


centro, acariciando a cabeça de Bear antes de me levantar,
esticando meus braços acima da cabeça.

— Onde está Rosie, hein, Bear? — Pego meu telefone na ilha da


cozinha. Sua última mensagem de texto chegou há duas horas,
pouco antes de deixar Connor na casa de Brandon.

Trouble: Você acha que vou ser expulsa por ser uma
garota má?

Eu: Você é uma boa garota, mas se quiser ser má depois,


posso garantir que seja punida de acordo.

Trouble: Devíamos chamá-lo de Trouble, não eu. Eu


sou um anjo e você é uma má influência.

Eu: Você pode me chamar do que quiser, desde que seus


olhos estejam rolando para trás em sua cabeça enquanto
você faz isso.

Trouble: O mais problemático, o menino mais malvado.


Estou prevendo uma catástrofe?

Eu: Talvez. Mas o melhor de nós às vezes. Tenho certeza


que não é nada.

Trouble: Espero que sim. Ainda posso ser uma garota


má depois?
Eu: Você sempre pode ser uma garota má, contanto que seja
minha.

Trouble: *emoji sorrindo* Obrigada por me fazer sentir


melhor e tirar minha mente disso. Ligo quando terminar.
Mal posso esperar para ver você.

Eu sorrio com as mensagens, esfregando a mão no peito, do


jeito que ele bufa de orgulho, de felicidade, de plenitude. Porque
Rosie me faz sentir todas essas coisas, e faz tanto tempo que não
sinto nada além de decepção.

Envio uma mensagem de texto curta, perguntando se a reunião


foi boa, e tomo um banho rápido. Não foi rápido porque não me
masturbei - porque eu absolutamente o fiz. É rápido porque Jaxon
estava certo, já faz muito tempo, e estou muito envolvido com essa
garota para durar mais do que alguns minutos pensando em seu
corpo abaixo do meu.

Não há resposta de Rosie quando saio do chuveiro, e quando


ligo para ela, vai direto para o correio de voz. De pé na ilha da
cozinha, bato as chaves da caminhonete no mármore, tentando
ignorar a pontada de mal-estar que deixa minha nuca úmida.

— Foda-se. — Eu jogo meu telefone no bolso e meu boné na


cabeça antes de sair pela porta e subir na minha caminhonete.

Algo parece errado, e quanto mais perto chego da faculdade,


mais me preocupo. O telefone de Rosie ainda está desligado, o que
não é típico dela. Ela sempre o mantém por perto quando não está
com Connor.
Dirigindo lentamente pela rua, meu olhar percorre o terreno,
procurando por Rosie. Não sei qual é o meu plano se não conseguir
encontrá-la. Não tenho ideia de onde ela pode estar neste prédio,
e não posso simplesmente passear por ele e esperar que ninguém
me reconheça.

Estou prestes a tentar ligar mais uma última vez quando capto
um flash de cabelos loiros finos e ondas douradas sob a sombra
de um carvalho imponente. Rosie está sentada sozinha em um
banco, e eu sei. Eu sei que algo está errado pela queda derrotada
de seus ombros, o jeito que ela pendura a cabeça, a maneira como
ela agarra a bolsa contra o estômago.

Estaciono a caminhonete, desligo a ignição e atravesso o


gramado correndo sem me preocupar com quem pode me
reconhecer, só que Rosie está sozinha agora e preciso consertar
isso.

— Rosie — murmuro quando a alcanço. — Querida, o que há


de errado?

Ela não vacila, nem um pouco, como se soubesse que eu a


encontraria.

Quase espero que ela não diga nada. Sentada aqui em silêncio,
incapaz de encontrar as palavras de que precisa.

Mas ela não. Ela tem as palavras e as dá para mim.


Silenciosamente, e tão facilmente, como se fossem a única verdade
que ela conhece.

— Meus pais morreram em um incêndio em casa quando eu


tinha onze anos. Minha casa foi destruída. Minha vida inteira foi
perdida. Eu fui a única que sobreviveu, porque meu pai escolheu
me salvar primeiro. Ele me escolheu. — Lentamente, o olhar de
Rosie se ergue para o meu, e a dor sem fim que brilha em seus
olhos como vidro quebrado, muito fraturado para ser consertado,
abala-me profundamente. — Essa foi a última vez que fui a
primeira escolha de alguém.

As palavras murmuradas e entrecortadas acabam com minha


determinação. Eu caio de joelhos, bem ali diante dela, e enquanto
a represa se rompe e aquelas lágrimas escorrem por seu rosto
como chuva, eu a pego em meus braços, agarrando-me a ela tanto
quanto ela está agarrada a mim.

Não consigo tirar os olhos dela, do jeito que ela está


aconchegada sob o sol que se põe rapidamente e um cobertor
quente, meu cachorro enrolado ao seu lado, recusando-se a deixá-
la. Eu não o culpo. Ela está diferente esta noite, desde que a
coloquei em minha caminhonete, abandonando nossos planos de
jantar para comprar sua comida favorita. Ela está quieta e
distante, e o silêncio é ensurdecedor e doloroso de uma forma que
abala a terra.

Meu mundo não está certo sem a risada dela.

Atravessando a porta do pátio, vou até ela, substituindo sua


taça de vinho por uma caneca de seu chá de mirtilo favorito. Ela
aceita com um pequeno sorriso, olhos avermelhados olhando para
mim, e quando me sento ao lado dela, ela não perde tempo se
dobrando ao meu lado.

Apertando-a para mim, eu beijo sua cabeça. — Eu acho que


você pertence bem aqui.

— Com você? — ela pergunta, com o queixo no meu peito.

— Onde mais?

Ela coloca sua bochecha sobre meu coração, suas palavras são
suaves. — Há muito tempo queria pertencer a alguém. Tanto
tempo, não tenho certeza se meu cérebro vai me deixar acreditar
agora.

— Eu sou um homem paciente. Não me importo de precisar


provar isso a você todos os dias.

Rosie sorri e, nos minutos seguintes, ficamos sentados na paz


do entardecer, a brisa tranquila soprando entre as árvores, o
zumbido das cigarras, o canto evanescente dos pássaros se
preparando para a noite.

E então Rosie me conta sua história.

— Acordei no meio da noite com minha mãe gritando meu


nome. A porta do meu quarto estava fechada, mas estava tão
quente lá dentro. Lembro-me do brilho vindo de baixo da fresta da
minha porta. — Uma lágrima desliza por sua bochecha. — Eu só
pensei que as luzes do corredor estavam acesas.

Eu a puxo mais contra mim, esfrego suas costas enquanto


ouço.

— Minha mãe não parava de gritar, dizendo para meu pai me


pegar. Isso me deixou com medo, e comecei a chorar, chamando
pelos meus pais. Então meu pai entrou no meu quarto. Ele se
ajoelhou ao lado da minha cama e me disse para colocar meus
braços em volta de seu pescoço e minhas pernas em volta de sua
cintura. E ele me disse para fechar os olhos. — Os olhos de Rosie
encontram os meus, brilhando com lágrimas sob a luz da lua. —
Eu o escutei. Eu sempre escutava meu pai.

— Uma menina tão boa — murmuro, enxugando as lágrimas


de seus olhos antes que caiam.

— Mesmo de olhos fechados, eu sabia. Eu podia ouvi-lo. Senti-


lo. Meu pai me abraçou com tanta força que deixou hematomas.
Estava tão frio quando ele correu para fora. Era setembro e o
tempo começava a mudar. Foi um grande alívio estar do lado de
fora, mas eu podia sentir o calor nas minhas costas enquanto meu
pai me mantinha longe de casa.

Rosie olha para o céu, respirando trêmula. Quando ela o solta,


suas lágrimas escorrem por suas bochechas. — Fique bem aqui,
meu pai me disse. Não se mexa. Espere por ajuda. Ele me disse
que tinha que ir, que tinha que pegar minha mãe. Perguntei se ele
voltaria e ele olhou para mim por um minuto antes de prometer
que voltaria. Volto logo, disse ele. Eu prometo, nunca vou deixar
você. — Seus olhos tremulam fechados, e ela se perde no
momento, na memória, enquanto eu beijo sua testa, aliso seu
cabelo para trás de suas bochechas molhadas. — Eu sabia que ele
estava mentindo. Ele não ia voltar, e ele sabia disso também. Ele
me beijou e me abraçou tão... tão apertado. Prendeu meu cabelo
atrás da orelha e disse que estava orgulhoso de mim. E pouco
antes de desaparecer dentro de casa, ele olhou para mim uma
última vez por cima do ombro e disse que me amava pela última
vez.

Meu peito aperta, sinto que está se abrindo quando Rosie


enterra o rosto no meu pescoço e chora pelos pais que perdeu, pelo
adeus que ela nunca deveria ter dito, não aos onze anos de idade.
Eu pressiono meus lábios em seu ombro, repetidamente,
quaisquer palavras que possam tornar isso melhor completamente
perdidas para mim. Existe um melhor? Realmente não sei, mas
não quero que ela se sinta sozinha.

— Ele só ficou lá dentro por um minuto quando aconteceu. Eu


podia ouvir os caminhões de bombeiros por perto. Mas de repente
houve um estrondo e todas as janelas se quebraram. A porta da
frente se abriu e as chamas se espalharam. Eu gritei, corri pelo
portão para o quintal assim que os caminhões pararam. Bem na
hora da porta dos fundos explodir — ela acrescenta em um
sussurro. — Isso me assustou e eu tropecei. Sobre meus próprios
pés. Caí de costas, direto na nossa piscina. A capa de sol estava
colocada e eu me enrolei nela. Comecei a afundar e não conseguia
me libertar. Eu não conseguia encontrar uma saída. Achei que era
isso, Adam. Achei que estava morrendo e só queria ficar com meus
pais. — Rosie limpa os olhos com as costas dos pulsos, fungando.
— A próxima coisa que me lembro é que estava deitada em nosso
deck e um bombeiro estava me aplicando RCP. Já era tarde demais
para meus pais.

— Ah, foda-se, Rosie. — Eu a puxo para o meu colo,


envolvendo-a em torno de mim, sentindo-a contra mim. Ela está
aqui e é real, mas a batida do meu coração me lembra o quão perto
estive de perdê-la, de nunca conhecê-la, e o pensamento é
impressionante.

— Ei — ela sussurra, segurando meu rosto, trazendo meu olhar


para ela. — Eu estou bem aqui. Estou bem.

— Sinto muito — eu tento, mas é rouco, quebrado. As duas


palavras não são suficientes, mas são tudo o que tenho. Fechando
os olhos, descanso minha testa contra a dela enquanto me oriento.
Eu coloco seu cabelo atrás das orelhas, olhando para os olhos
verdes mais doces que carregam tanto amor, compaixão, força, dor
sem fim. — Eu não acho que ele estava mentindo, Rosie. Seu pai.
Eu sei que é assim. Mas ele disse que nunca deixaria você porque
nunca deixará. Você não pode vê-lo, eu sei, mas ele está lá. Sua
mãe também.

— Eu sei, realmente sei. Mas eu fiquei sozinha. Tantas vezes


desejei ter ido com eles, porque fiquei sem ninguém. Eu fiquei
sozinha e tinha apenas onze anos.

— O que quer dizer com você ficou sozinha? Você tinha família,
certo? Alguém que a acolheu?

Ela olha para mim por um longo momento, deixando minha


mente trabalhar, e eu sei antes que ela me diga. — Eu fui para o
sistema de adoção, Adam. Acolhimento em grupo. Assim como
você.

Há uma pequena parte de mim, esse garotinho que quer pular


de alegria com uma conexão que compartilhamos, mas eu sei. Sei
pelo olhar solitário que mora no canto dos olhos, a saudade que
está sempre ali. — Nossas experiências foram muito diferentes,
não foram?
Ela acena com a cabeça, um sorriso triste no rosto. — Eu
envelheci. Sentei-me lá sozinha, ano após ano, querendo nada
mais do que ser escolhida. Eu queria minha família de volta. Eu
queria qualquer família. Eu só queria pertencer, sentir-me segura,
sentir-me desejada. E eu... — Ela funga, pegando uma lágrima logo
que escorre de seu olho. — Eu não entendia por que ninguém me
queria. Eu era uma garota tão boa. Sempre fui gentil e respeitosa.
Eu adorava a escola e era uma aluna nota 10. Ninguém me quis,
Adam. E ainda...

— O que você quer dizer com ainda? — Eu agarro seu queixo


quando ela se vira, forçando seu olhar de volta para o meu. — O
que você quer dizer com ainda, Rosie?

Ela funga, mordiscando o lábio inferior. — Eu ouvi Brandon


hoje quando deixei Connor. Seus amigos estavam lá, e ele disse...
ele disse que nunca teria escolhido ter um filho comigo. Que eu
deveria ser apenas uma diversão temporária, mas ele estava preso
comigo agora.

— Que idiota de merda — eu acidentalmente deixo escapar.

— É minha própria culpa por esperar mais de pessoas que


nunca me deram motivos para isso. Ele nem está listado na
certidão de nascimento de Connor, pelo amor de Deus. Eu dei à
luz sozinha, porque ele não conseguiu participar e me apoiar nos
meus momentos mais vulneráveis.

— Foda-se esse cara — eu mordo, sangue trovejando em meus


ouvidos. — Rosie, foda-se ele, e foda-se sua opinião inútil. Ele não
sabe o que tem, como é sortudo por ter você como mãe de seu filho.
Você deu a ele o presente mais lindo do mundo, e ele não fez nada
além de dar como certo. Então foda-se ele.

— Isso não é tudo — ela sussurra. — Perdi minha bolsa de


estudos hoje.

— O quê?

— Minha professora, ela me disse que ele – o doador – sentiu


que fazer uma pausa para minha licença-maternidade era minha
maneira de declarar onde estava minha prioridade. Que eu deveria
ter escolhido a faculdade em vez de ficar em casa com Connor
durante o ano.

Uma risada escura e amarga sai da minha garganta. — Você só


pode estar brincando comigo. Essa é a besteira mais misógina que
eu já ouvi. Ele cancelou sua bolsa porque você escolheu seu filho
quando ele precisou de você?

— É só... durante anos, ninguém me escolheu. Eu não tinha


ninguém e queria desesperadamente ter minha própria família
novamente. Alguém para amar, alguém para me amar. E então
Connor veio e, por algum milagre, eu consegui. Eu tinha a família
com que sempre sonhei. Disse a mim mesma que sempre o
escolheria, então escolhi. Eu o escolhi e, honestamente, escolhi a
mim mesma. Porque ninguém mais fez isso, e eu não ia começar a
vida do meu filho deixando de colocá-lo em primeiro lugar, não
quando tenho a oportunidade de passar esse tempo com ele. Mas
agora, ao fazer isso, perdi a única coisa pela qual fui escolhida em
anos. — Ela balança a cabeça, um sulco entre as sobrancelhas. —
Eu trabalhei tanto para isso, Adam. Eu coloquei meu coração e
alma em minha educação, e ganhei esta bolsa ano após ano. E
agora... agora nem eles me querem.

— Eles não merecem você, Rosie. Ninguém que trata você assim
merece. — Eu escovo meu polegar sobre seu lábio inferior. — Sinto
muito que alguém não tenha escolhido você quando estava
crescendo, que não tenha tido tempo para conhecê-la, para ver
como seu coração é lindo. Lamento que Brandon seja um twat-
waffle16.

Rosie bufa uma risada, música para meus malditos ouvidos


depois de um dia sem ela. — O que é um twat-waffle?

— Sinceramente, não tenho certeza, mas minha amiga chama


o namorado e o irmão disso toda vez que eles estão sendo idiotas,
então pareceu adequado. — Ela ri de novo, e eu sorrio, provando
isso em sua boca. — Sinto muito por você ter perdido sua bolsa de
estudos. Eu sei o quanto você trabalhou duro para isso, e não é
certo. Nós vamos descobrir isso, ok? Juntos.

— Não há como descobrir, Adam. Eu não tenho dinheiro para


pagar por isso, fim da linha. Vou ter que tirar o ano de folga
novamente e trabalhar para economizar.

Eu balanço minha cabeça. — Não. Qual é a opção dois?

Ela ri de novo, baixinho desta vez, um som cansado e resignado


que odeio. — Não tenho outra opção. Eu tinha algum dinheiro
depois que meus pais faleceram, mas usei o que restava para

16
Gíria para imbecil, idiota.
sustentar a mim e Connor durante a licença maternidade. Não tem
outra maneira.

— Então, eu ajudo.

— Você absolutamente não vai — diz ela com firmeza. Quando


abro a boca, ela ergue as sobrancelhas e eu a fecho novamente. —
Você não vai, Adam Lockwood, está me ouvindo?

— Eu não quero que você coloque seus sonhos em espera,


Rosie.

— O que é mais um ano? — ela murmura, e as palavras soam


como se machucassem dizer tanto quanto machucam ouvir. Ela
sai do meu colo e se senta ao meu lado, puxando os joelhos contra
o peito. Ela parece tão pequena, tão vulnerável, que quero envolvê-
la em plástico bolha para que nada possa machucá-la novamente.
— Hoje foi um forte lembrete de que nunca pertenci a nada ou a
ninguém. Que nunca fui o suficiente, nunca fui o certo para ser a
primeira escolha de ninguém. — Ela descansa o queixo no joelho,
olhando para o nada. — Talvez seja menos sobre ser a primeira
escolha de alguém e mais sobre ser amada, ser amada o suficiente
para ser a primeira escolha de alguém. — Ela dá de ombros. —
Ninguém nunca me amou o suficiente para me fazer sua primeira
escolha.

— Ei. — Eu pego suas mãos nas minhas, puxando-a de volta


para mim. — Nunca seremos certos para todos, mas seremos
perfeitos para a pessoa certa. E quando essa pessoa aparece, não
há escolha. Apenas isso. Existimos exatamente como somos,
exatamente com as pessoas certas, porque não há outro jeito de
ser.
Eu pressiono meus lábios nos dela, e ela os abre sem hesitar,
seus dedos deslizando carinhosamente pelo meu cabelo enquanto
ela suspira contra a minha boca.

— Eu quero você, Rosie. Eu quero você inteira. E não há outra


escolha.
CAPÍTULO 20

PARTINDO-A AO MEIO, MAS EDUCADAMENTE

Juro que este corpo foi feito para mim. Quente e macio,
enrolado em torno de mim mais apertado do que nunca, dedos
gentis que deslizam ao longo dos meus braços, um olhar terno que
não balança.

Este corpo é perfeito, cada centímetro doce dele, e eu não quero


deixá-lo ir.

Ficamos sentados por muito tempo sob as estrelas, membros


emaranhados amontoados sob um cobertor aconchegante, Bear
esparramado aos nossos pés. Rosie está diferente agora do que era
antes. Mais livre, como se não precisasse mais se esconder. Ela
derrubou sua última parede, colocou tudo para fora, e agora ela
pode apenas... ser.

Ela nunca precisou se esconder, mas eu entendo a hesitação


em deixar alguém entrar. Estou apenas agradecido por ser o tolo
sortudo que consegue todas as suas peças.

Ela me conta sobre a casa em que cresceu, grande e bonita,


uma velha vitoriana com vitrais emoldurando a porta da frente e
uma ampla varanda envolvente com um balanço. Seus lugares
favoritos eram a janela saliente na sala de estar, onde ela se
aconchegava para ler, e o jardim de peônias que ela e sua mãe
plantavam na frente. Ela adorava todo o charme que a casa tinha
e conta que, apesar da fiação antiga que provocou o curto-circuito
e o incêndio, ela só relembra com carinho as memórias de lá.

— Adam? — Rosie esfrega o ponto entre os olhos de Bear,


sorrindo para a cabeça dele em seu colo. Ela olha para mim, seus
olhos se movendo entre os meus. — Quero me desculpar por não
ter contado antes que eu também estava no sistema de adoção. Eu
sei que o momento ideal para contar foi quando você compartilhou
o mesmo comigo, mas quando você me contou sobre seu tempo no
sistema, senti um pouco de ciúme. Você encontrou esta linda
família e eu não encontrei nada. Sua experiência parecia tão
maravilhosa e a minha foi tão solitária. O ciúme não durou, mas
depois me senti suja e culpada por me sentir assim, e não sabia
como falar com você sobre isso. Minhas maiores inseguranças
foram formadas durante meu tempo lá, e passei os anos tentando
combatê-las, tentando me exaltar e me amar o suficiente para não
ter que depender de outra pessoa para me dar isso. Mas alguns
dias são mais difíceis do que outros quando se trata de lembrar de
todos os passos que fiz. Então, sinto muito, Adam.

— Você não precisa se desculpar por ser humana. Esses


sentimentos são reais e válidos, e você merecia tempo para resolvê-
los. — Eu pressiono um beijo em sua palma. — Obrigado por ser
honesta comigo sobre isso.
Ficamos aconchegados juntos por mais meia hora, sem
palavras enquanto nos abraçamos. Ela teve um longo dia, então
quando ela enterra seu terceiro bocejo contra o meu braço, eu a
tiro do meu colo.

De pé, estendo minha mão para ela. — Vamos, querida. Vamos


para a cama.

Bear não consegue passar da sala antes de decidir desmaiar no


sofá. Mantenho a mão de Rosie na minha enquanto nos movemos
silenciosamente pela casa escura, e quando ela desaparece no meu
banheiro para se preparar para dormir, ela o faz com um beijo em
meus lábios primeiro.

Eu tiro as roupas e mantenho minha cueca boxer, e conecto


meu telefone no carregador. Tenho dezenove notificações perdidas.
Duas são mais ligações daquele número desconhecido; as outras
dezessete são do bate-papo do grupo Puck Sluts. Garrett enviou
quatro emojis de berinjela, quatro emojis de pêssego e oito pontos
de interrogação. Emmett diz que Cara quer ter outra noite de
garotas para que possam analisar nossa primeira vez. Jaxon quer
saber quantos preservativos dele eu usei. Carter quer saber se
comemos lanches pós-sexo na cama. Aparentemente, esse é o
momento favorito dele e de Ollie.

Estou exausto demais para lidar com qualquer um deles, então,


quando a porta do banheiro se abre, desligo meu telefone
imediatamente.

— Pronta para – ahhh. Você está nua. — Ela está nua. Eu enfio
minha mão pelo meu cabelo, em seguida, aponto para o corpo
bonito, cheio e nu de Rosie. — Você está... realmente nua.
Espetacular também, caso você esteja se perguntando. Além disso,
nua.

Minha marca favorita de risadas problemáticas, aquele nariz


adorável enrugando quando ela faz isso, suas mãos torcendo em
sua barriga. Ela dá um passo à frente e meus olhos saltam de seus
seios imaculados para o balanço de seus quadris redondos. Cristo,
ela é impecável. Eu já disse isso?

— Pode confirmar, estou, de fato, nua. Caso você esteja se


perguntando. — Há uma pitada de malícia em seus olhos que
brilham tanto, escondendo quase todos os nervos. — Você gostaria
de ficar nu também?

— Bem, eu... eu... — Esfrego minha nuca, então aponto para a


cama. — Para fazer coisas nuas?

Rosie assente. — Para fazer coisas nuas. Se você quiser.

— Eu não quero tirar vantagem de você estando vulnerável.

— Estou me sentindo vulnerável, mas não de um jeito ruim.


Sinto-me segura, Adam, e isso é libertador. Esta noite me fez sentir
mais perto de você. Talvez eu tenha derrubado minha última
parede. — Seu ombro aparece para cima e para baixo. — Não sei,
mas me sinto bem, e estar com você me faz sentir ainda melhor.

Engulo o nó na garganta quando ela para na minha frente. —


Estar com você me faz sentir melhor do que nunca.

Ela pega meu rosto em suas mãos, seu toque suave e quente
deslizando ao longo de minha barba por fazer. — Posso beijar você?

Meu coração troveja, e dou a ela a resposta sussurrada mais


articulada que consigo: — Dã.
Ela sorri, a visão mais incrível e de tirar o fôlego, e guia meu
rosto até o dela. Esse beijo é todo Rosie. Paciente e lenta, suave,
mas confiante, a maneira gentil como seus lábios se movem nos
meus, sua língua varrendo minha boca com certeza, dedos
deslizando em meu cabelo, peneirando os cachos. Isso acalma meu
coração e faz todas as terminações nervosas dispararem ao mesmo
tempo.

— Você está tremendo — Rosie murmura, cabeça inclinada


enquanto ela me observa. — Você está nervoso.

— Não — eu minto. — Sem chance. Estou totalmente preparado


e superexcitado e nem um pouco nervoso. Olhe! — Correndo para
a minha mesa de cabeceira, abro a gaveta com minhas mãos
superfirmes. — Eu até tenho tudo isso. — Eu ergo o enorme
chumaço de preservativos que Jaxon empurrou no meu peito
ontem, acenando na cara de Rosie. — Preservativos! — Eu começo
a classificá-los. — Ultra com nervuras, pele nua crua, com sabor
de banana, mag...

— Adam. — Rosie ri, colocando a mão sobre a minha e minha


gigantesca coleção de preservativos. — Por que diabos você tem
tantos?

Meu rosto queima e posso sentir meu coração batendo na


minha garganta. — Meu amigo me deu.

— Ele realmente gosta de variedade, não é? — Rosie escolhe


entre a variedade, deixando um de lado, guardando o resto. Com
um sorriso tão certo, tão certo, ela se aproxima de mim, e meu
cérebro dá um curto-circuito enquanto olho para tudo o que eu
queria, ansiava por tanto tempo. Ela finalmente está aqui, esta
mulher incrível na minha frente, e parte de mim está com medo de
estender a mão e pegá-la. Parece que não há como voltar atrás
depois disso, mas e se ela quiser? E se ela decidir que não sou
suficiente?

— Continuo tentando... — Engulo em seco, abalado pelo


nervosismo que toma conta de mim enquanto Rosie fica aqui, tão
certa disso. Ela pega minhas mãos nas dela, estabilizando o tremor
em minhas mãos quando ela aperta. — Eu não quero apressar
você. Estou tentando levar as coisas devagar conosco.

— Você quer devagar?

Meus olhos se movem entre os dela, esperando que ela veja


tudo. O compromisso, a admiração, todas as minhas melhores
intenções. — Quero você. Eu só quero você, Rosie.

— Você tem a mim, Adam. Não sinto que apressamos nada ou


nos movemos muito devagar. Tudo parece certo. — Ela afasta
meus cachos da testa antes de pressionar seus lábios nos meus.
— Muito certo.

E talvez seja exatamente isso que eu precisava ouvir, que sou


a pessoa certa para ela. Porque a tensão acumulada em meus
ombros se dissolve e, à medida que fico mais alto, meu peito se
enche de orgulho.

— Ah — Rosie reflete. — Aí está esse sorriso. Uma parte


brincalhona, duas partes arrogantes. — Ela passa os braços em
volta do meu pescoço enquanto eu a puxo para mim. — Do jeito
que eu amo.
— Sabe o que mais você vai amar? — Minha boca se move sobre
seu ombro, sobe seu pescoço, parando na concha de sua orelha.
— O jeito que vou foder você.

As unhas de Rosie cravam em meus ombros enquanto eu a levo


para trás. A parte de trás de suas coxas bate na cama, e com
minha mão em sua clavícula, eu a forço a se deitar no colchão.
Seus olhos arregalados seguem o caminho das minhas mãos, até
o cós da minha cueca boxer, e quando eu a deixo no chão, ela
lambe os lábios.

— Deus, eu continuo esquecendo o tamanho do seu pau. Tenho


quase certeza de que isso vai doer.

— Eu vou ser gentil — eu prometo. — Vou tentar ser, pelo


menos. — Arrastando meu dedo até sua coxa, observo sua pele
ficar arrepiada antes de suas pernas se abrirem para mim,
deixando-me entrar entre elas. — Podemos ficar na cama o dia
todo amanhã e comer sundaes com calda quente enquanto você se
recupera.

— Cuidado. Sirva sundaes com calda quente para uma garota


na cama e ela pode se apaixonar por você.

— Nota para mim mesmo — murmuro, estendendo a mão para


agarrar a nuca de Rosie, levantando sua boca na minha. — Servir
sundaes com calda quente para Rosie na cama.

Recuando, eu aperto a base do meu pau duro, levando um


momento para apreciar o rubor escarlate rastejando sobre o corpo
de Rosie, o jeito que me deixa quente de dentro para fora.
— Pés apoiados na cama. Quero ver como essa boceta está
molhada, menina linda. Mostre-me que você está pronta para mim.

Ela não hesita, apoiando-se nos cotovelos, abrindo bem as


pernas para mim. A visão é gloriosa, sua pele delicada de uma leve
cor rosa, brilhante e carente, implorando para ser tocada, provada.
Eu caminho em direção a ela, e suas pupilas dilatam enquanto ela
vai para trás, até os travesseiros. Eu sorrio, agarrando seus
tornozelos, arrastando-a para baixo de mim enquanto meus
joelhos batem na cama.

— Volte aqui — murmuro, os dedos deslizando no cabelo na


nuca, segurando-o, inclinando o queixo. — Não consigo sentir seu
gosto de lá.

Eu reivindico sua boca primeiro, porque eu amo o jeito que ela


se solta contra mim, libera aquela respiração que parece conter até
a última gota de tensão, como se ela se derretesse só por mim.
Quando deslizo ao longo de sua mandíbula, deixando beijos
molhados em sua garganta, sua respiração falha. Eu apalpo seu
quadril, apertando a carne macia em minha mão enquanto tomo
um mamilo rosado entre meus dentes, arrastando minha língua
por ele enquanto ela se contorce.

— Adam — ela choraminga enquanto minha boca se move para


baixo, em seu estômago, girando minha língua em torno de seu
umbigo, mordiscando seu osso do quadril.

— Sim, querida?

— Eu... eu... — Ela cobre o rosto com as mãos, levantando os


quadris da cama quando traço a junção de suas coxas com a
minha língua. — Oh, merda.
Eu me acomodo entre suas pernas, enganchando meus braços
ao redor de seus quadris. — Você está tentando dizer alguma
coisa?

— Eu... eu... — Olhos verdes brilhantes saltam entre os meus.


— Eu só... — Ela engole, a simples ação audível. — Eu gosto
mesmo de você.

— Eu realmente gosto de você também. Quer que eu lhe mostre


quanto?

— Por favor.

— Ok. — Com meus olhos fixos nos dela, eu lambo um caminho


lento até o centro dela, observando enquanto ela joga a cabeça
para trás com um gemido áspero. Seus dedos passam pelo meu
cabelo, e quando eu puxo seu clitóris inchado em minha boca, ela
resiste contra mim, gritando meu nome.

— Mais — ela implora. — Deus, dê-me mais, por favor.

— Eu disse antes. Apenas Adam está bom.

Sua cabeça rola para trás. — Você é irritante às vezes.

— Se é você que estou enfurecendo, terei prazer em fazer isso


pelo resto da minha vida.

Rosie ganha vida quando enfio dois dedos dentro dela e, merda,
se isso não é uma visão impressionante.

Ela mantém uma mão no meu cabelo enquanto esfrega contra


meu rosto, cavalga meus dedos, um rubor brilhante manchando
sua pele imaculada, subindo por sua garganta como uma videira,
acumulando-se em suas bochechas. Suas suaves ondas cor de
rosa roçam seu pescoço esguio, lábios carnudos e vermelhos
entreabertos enquanto ela luta para respirar, cada respiração um
grito estrangulado enquanto ela a persegue.

Eu enrolo meus dedos dentro dela, puxando um suspiro de sua


garganta, e chupo seu clitóris até que ela se desfaça, derramando
tudo sobre mim enquanto meu nome soa em meus ouvidos.

Rosie se senta, subindo na cabeceira da cama enquanto eu vou


para a mesa de cabeceira, pegando o preservativo que ela pegou
para mim. Magnum.

Eu a amo pra caralho.

Eu seguro seu olhar arregalado enquanto rasgo o invólucro


com meus dentes e embainho meu pau latejante em um
movimento fluido. Meus joelhos batem no colchão e eu rastejo
sobre ela, segurando seu rosto enquanto ela se deita.

— Você tem certeza? — eu pergunto baixinho.

— Muita certeza.

— Bom. Porque tenho tanta certeza sobre você.

Ela sorri para mim então, livre e gentil, e eu sei que vou me
lembrar de como me sinto agora pelo resto da minha vida.

Rosie envolve seu punho em meu pau, guiando-o entre suas


coxas. Apesar de toda a sua confiança neste quarto esta noite,
sinto um leve tremor em seu toque. Eu tiro a mão dela de cima de
mim, segurando-a na minha.

— Ei — murmuro, alisando o cabelo de seu rosto. — Tudo bem


ficar nervosa. Eu também estou.

— Faz muito tempo — ela admite em um sussurro.


— Para mim também. Mas estou feliz por isso. Significa que
esperei por algo especial. Você é minha coisa especial, Rosie.

Ela inclina o queixo, correndo a ponta do nariz contra o meu


antes de me beijar. — Estou pronta.

Eu seguro meu pau, pressionando-o contra ela. Meu peito


aperta e meu batimento cardíaco salta para minha garganta
enquanto Rosie mantém meu olhar, e lentamente, muito
lentamente, eu afundo dentro dela. Sua boca se abre em um
suspiro, as unhas marcando meus ombros enquanto ela fica tensa
abaixo de mim.

— Sinto muito — eu sussurro contra seu pescoço, segurando-


me ainda. Meu corpo treme com o desejo de mergulhar para frente,
de sentir cada centímetro dela apertado ao meu redor.

— Não quero que isso suba à sua cabeça, mas parece que estou
sendo educadamente dividida ao meio.

Eu rio. — Desde que eu esteja fazendo isso educadamente.

Ela levanta os quadris, incitando-me mais fundo. Aperto os


olhos com a euforia avassaladora enquanto ela me leva ao máximo,
parando ali para me ajustar.

— Cristo, Rosie. — Eu deixo cair minha testa em seu ombro,


lutando para manter minha sanidade. — Você é tão apertada. —
Lentamente, eu balanço meus quadris contra os dela. — Tudo
bem?

— Sim — ela geme, combinando cada movimento com um dos


seus. — Por favor, mais.
Eu dou a ela mais, puxando para fora antes de afundar de volta
para dentro, centímetro por centímetro dolorido, com cuidado para
não a empurrar. Ela pega tudo, abrindo mais as pernas,
levantando os quadris mais alto, e eu agarro seu queixo enquanto
dirijo um pouco mais fundo, um pouco mais rápido.

— Uma garota tão bonita, tomando tudo de mim. Você está indo
tão bem.

Olhos nebulosos rolam para os meus, língua rosa passando por


seus lábios inchados. Ela joga um braço em volta do meu pescoço,
puxando-me para mais perto, o outro espalhado ao acaso acima
de sua cabeça enquanto ela encontra cada uma das minhas
estocadas. — Tão bom — ela murmura. — Tão perfeito. Não pare,
Adam. Por favor.

Acho que não conseguiria parar se quisesse, mas se ela me


pedisse, daria um jeito. Eu daria a ela qualquer coisa, o que ela
quisesse, porque enquanto ela olha para mim como se eu fosse o
sol em seu céu, eu percebo que ela é o meu. Ela é tudo brilhante e
bom no meu mundo e, neste momento, estou muito grato. Grato
por uma ex que me tratou mal, porque ela me mostrou o que eu
merecia. Grato pelos encontros que deram em merda, porque me
mostraram o que eu queria. Grato por cada coisa que não
funcionou do jeito que eu queria na época, porque tudo – toda a
besteira, a confiança quebrada, a dor – trouxe-me aqui, para esta
mulher incrível embaixo de mim, a única que eu quero ao meu
lado.

E o conhecimento me deixa selvagem.


Algo vem sobre mim. Algo escuro e faminto que quer reivindicar
esta mulher para que todos saibam que ela é minha. Minha mão
vai para sua garganta, fechando em torno dela, arrastando seu
olhar drogado para o meu enquanto eu rosno minhas próximas
palavras.

— Você quer pertencer a alguém, Rosie? Você pertence a mim.


Estes olhos são para mim. Este sorriso é para mim. Esse coração?
Todo meu. — Eu arrasto minha mão para baixo ao seu lado, sobre
seu quadril, cavando meus dedos em sua bunda enquanto a trago
para mais perto, conduzindo-me cada vez mais fundo, até que não
haja mais lugar para ir. — Esses quadris. Essa bunda. Essa porra
de boceta? Meus. Você toda pertence a mim, Rosie.

— Oh, porra — ela geme, apertando-me mais forte. — Adam, eu


vou gozar.

— Ainda não, você não vai. Não até que você diga a quem
pertence. — Eu levanto sua perna para cima, jogando-a sobre meu
ombro. Ela grita quando mergulho mais fundo, e graças a Deus
tomei aquele banho, porque estou a cerca de trinta segundos de
explodir minha carga. — A quem você pertence, Rosie? Melhor
fazer valer a pena, porque só vou perguntar uma vez.

Seus olhos se arregalam, as pernas tremendo, e quando sua


cabeça cai para trás, eu agarro seu cabelo e trago seu olhar de
volta para o meu. Suas paredes tremem, e quanto mais rápido eu
empurro, mais ela rasga meus ombros. Meu polegar encontra seu
clitóris, e ela explode ao meu redor com um grito, gritando meu
nome.
— Você — ela grita enquanto eu enterro meu rosto em seu
pescoço, queimando dentro dela. — Eu pertenço a você.

Esmagando minha boca na dela, puxo seu corpo escorregadio


contra o meu e pego outro preservativo, porque ainda não terminei.
Não com ela, e vou garantir que ela saiba disso.

— Você não é minha primeira escolha, Rosie. Você é a única


maldita opção.
CAPÍTULO 21

NÓS USAMOS SETE PRESERVATIVOS

Eu pensei muito sobre o destino na minha vida.

Reconheci que se minha primeira mãe não tivesse tomado a


decisão de não me criar, se minha avó não tivesse morrido, eu
nunca teria encontrado meus pais e a família incrível que escolheu
amar uma criança que eles não tinham obrigação de amar. Sem
minha família, provavelmente não teria conseguido seguir meu
sonho de ser um jogador profissional de hóquei. Inferno, eu não
sei se teria tido o sonho.

Se eu não tivesse sido convocado para Vancouver e transferido


do Colorado para o Canadá, nunca teria encontrado meus
melhores amigos.

Se eu não viajasse para jogar hóquei, talvez não tivesse voltado


de uma viagem de doze dias para encontrar minha namorada
transando com outro homem em nossa cama.

Se eu não tivesse visto Courtney me traindo, nunca teria me


forçado a ir embora.
Se eu não tivesse me forçado a sair, não estaria naquela trilha
pelo Monte Fromme há quase dois meses.

Se eu não estivesse nessa trilha, não teria encontrado a melhor


e mais brilhante coisa em meu mundo.

Eu penso muito sobre o destino. Penso em todas as merdas que


tive que superar para chegar onde estou agora, o mais feliz que me
lembro de ter sido, com uma doce belezinha escondida ao meu
lado, sua bochecha corada descansando no meu ombro, mão
macia aberta sobre o meu estômago. Eu não teria essas sardas,
deliciosas manchas de mel salpicadas sobre a pele beijada pelo sol.
Nem esse nariz que se enruga da maneira mais doce quando ela
está tentando não sorrir, esses quadris largos e macios que exigem
que meus olhos os sigam aonde quer que vão, esse sorriso
brilhante que consegue mudar todo o meu dia e me dar esperança
para um futuro do qual tinha desistido.

Aprendi a não perguntar o porquê, mas sempre me pego


imaginando como. Como diabos eu me encontrei aqui? Como eu
tive tanta sorte? Como a encontrei e como posso ter certeza de que
vou ficar com ela?

Cílios grossos tremulam e olhos sonolentos de musgo piscam


para mim. Um sorriso tímido surge primeiro de um lado da boca
antes de dar lugar a uma explosão brilhante que essa garota
perfeita tenta esconder enterrando o rosto no meu peito.

— Por que você está me encarando? — Rosie resmunga contra


mim.

— Por que você está se escondendo de mim?


— Eu perguntei a você primeiro.

— Eu perguntei a você em segundo lugar.

Ela levanta o rosto, o cabelo uma bagunça maravilhosa, olhar


brincalhão estreitado. — Você é irritante.

Rindo, eu a coloco de costas e me espalho em cima dela,


segurando seus pulsos acima de sua cabeça. — Não sei como
encontrei você, mas não quero perder meu tempo me perguntando.
Eu não posso acreditar que acabei de tropeçar em você em um dia
normal, que você entrou na minha vida e não se virou e saiu de
volta. Não quero saber como ou por que tive tanta sorte; só quero
aceitar que sim e nunca questionar.

— Eu não quero perder meu tempo fazendo perguntas inúteis,


imaginando uma vida onde você está em qualquer lugar que não
seja ao meu lado. Quero passar meus dias dando a você o amor
que você sempre mereceu, do tipo com que sempre sonhou, e quero
mostrar a você o quanto sou grato por retribuí-lo. Você é minha,
Rosie, e eu sou seu. Isso é tudo que preciso saber. É por isso que
estou olhando para você.

— Oh. — Ela inclina o queixo, varrendo um beijo ofegante em


meus lábios. — Acho que está tudo bem então.

— Mmm, você acha? Bem, eu não posso deixar você achar.


Precisa ter certeza.

— E como você planeja fazer isso?

Eu desço meu nariz pela curva de seu pescoço, então abaixo,


até que eu possa segurar seu seio cheio em minha mão, girar
minha língua sobre aquele broto tenso e escuro. Meus dedos
deslizam sobre a depressão em sua cintura, abrem caminho entre
suas deliciosas coxas, mergulhando em uma poça de calor,
arrancando um grito de sua garganta. — Fodendo isso em você.

— Só nos resta um preservativo.

Sentando-me sobre os calcanhares, pego a última embalagem


lacrada da pilha de embalagens rasgadas sobre a mesa. Eu levanto
uma sobrancelha e embainho meu pau enquanto Rosie assiste,
cativada. — Melhor fazer valer a pena então, hein, Trouble?

O nome faz algo com ela, talvez a faça ganhar vida com
confiança. Porque ela tem esse brilho perverso em seus olhos,
tentando e falhando em segurar seu sorriso. Ela fica de joelhos, a
palma da mão batendo no meu peito enquanto ela me empurra
para baixo de costas e monta em meus quadris, prendendo meu
pau entre sua boceta molhada e meu estômago.

— Olhe para você — murmuro. — Tão sexy quando você está


assumindo o controle. Você vai se sentar no meu pau?

— Não sei. Provocar você pode ser divertido.

— Provocar-me?

— Mhmm... — Uma mão desaparece em seu cabelo, a outra


apoiada em meu abdômen enquanto ela lentamente – tão devagar
– desliza ao longo do comprimento do meu pau, até a cabeça, e
depois de volta, encharcando-me. — Provocar você.

— Rosie — eu aviso, segurando seus quadris quando ela faz


isso de novo, esmagando-a na ponta do meu pau. — Nem sempre
sou paciente.

— Mas você é sempre gentil.


Eu me apoio no cotovelo, trazendo sua boca para a minha com
um punhado de seu cabelo. — Não confunda minha bondade com
fraqueza. Vou colocar você de joelhos, enterrar-me dentro de você
e foder você até que a única palavra que lembre seja meu nome, e
você possa me sentir mesmo quando não estivermos juntos. — Eu
mordo seu lábio inferior. — Eu sou fraco por você – tão fraco –, mas
o quarto é o último lugar que você vai ver isso.

Rosie sorri, presunçosa e orgulhosa, antes de pegar meu pau


com uma das mãos e me empurrar para baixo com a outra. Ela
afunda no meu comprimento, uma visão magnífica enquanto sua
cabeça pende para trás, os lábios se abrindo em um suspiro baixo
e longo enquanto tudo dentro de mim se acende como uma
máquina de pinball, implorando para que eu assuma o controle.

— Oh, Deus. Isto é... — Ela se move, balançando para frente, e


cai em mim com um gemido, as unhas cravando em meu peito. —
Sim, é isso. Meu favorito de sua coleção. Agradeça ao seu amigo.

Pego a embalagem amassada, rindo quando a leio. Ponto G,


para o prazer dela. Abro minha boca para dizer a ela que não vou
contar merda nenhuma para Jaxon – isso vai subir direto à cabeça
dele –, mas ela se levanta e afunda uma segunda vez, mais fundo
desta vez, sentando-se totalmente no meu pau, e eu jogo minha
cabeça para trás com um rosnado baixo, dedos cavando em seus
quadris com um aperto de punição.

Rosie se inclina, ondas caindo em nossos rostos. — Eu gosto


de você fraco por mim — ela sussurra. — Também sou fraca por
você, exceto que, de alguma forma, eu me sinto muito mais forte
com você. — Sua mão macia acaricia minha bochecha e ela
pressiona sua boca na minha, forçando-a a se abrir. — Obrigada
por me fortalecer, por me fazer sentir segura o suficiente para ser
eu mesma, por ser o tipo de homem que tenho tanto orgulho de ter
meu filho admirando. Obrigada por ser você, Adam, exatamente
como você é.

O destino levou tanto apenas para me conceder tantas coisas


inestimáveis nesta vida. E por mais que eu tenha tentado não
questioná-lo, simplesmente aceitar o que ele me dá, estaria
mentindo se dissesse que às vezes não questiono o processo de
chegar lá.

Porque se Courtney tivesse me amado exatamente como eu era


e mesmo assim não tivesse dado certo, eu não teria mentido para
Rosie sobre quem eu sou.

Mas Courtney não me amava por quem eu era.

E eu menti.

E Rosie não tem ideia de quem ela realmente está namorando.

Mas isso não é culpa do destino. É minha.

— Você usou todos eles?

— Não vou contar quantas vezes fizemos sexo. — Se eu


estivesse me gabando, porém, com certeza estaria dizendo aos
meus amigos que é um milagre meu pau ainda estar preso ao meu
corpo e que não corro mais o risco de desenvolver artrite
prematura. Eu não sinto vontade de me gabar embora. Estou
nervoso e meu estômago dói.

Jaxon balança as sobrancelhas. — Então você fez sexo.

— O quê? Não, eu... ugh. — Cruzo os braços sobre o peito e


desvio o olhar. Se eu não fizer contato visual, há uma chance
melhor de eu não derramar os detalhes suculentos que todo mundo
pede. — Cale-se.

— Não estou perguntando quantas vezes você fez sexo. Estou


perguntando se você usou todos os preservativos.

— Dizer quantos preservativos usamos mostra quantas vezes


fizemos sexo.

Carter pisca. — A menos que você tenha entrado nu depois que


gozou rápido.

— Eu não.

— Seu filho da puta — Jaxon reflete. — Você usou todos os


preservativos. Jesus, foram, tipo, seis vezes.

— Sete — murmuro, ignorando a mão de Carter quando ele a


levanta para um high five. Ele recorre a Garrett para o high-five.
— Mas a última foi esta manhã. — Eu aponto para os dois,
enfiando as mãos em uma caixa de Oreos. — Se vocês dois não
pararem de comer, vão ficar cobertos de migalhas de biscoito para
as entrevistas.

Garrett franze a testa para as mãos antes de limpá-las na calça.


Carter, por outro lado, mastiga outro biscoito entre os dentes
enquanto me olha bem nos olhos.
Reviro os olhos. — Eu não dou a mínima para sua aparência
na entrevista, mas sei que Ollie vestiu você com essa roupa esta
manhã, e se estiver coberto de migalhas, vai ser seu problema.

— Eu posso lidar com Ollie — diz ele, lambendo os dedos, e eu


solto uma risada.

— Ok, amigo. Vamos fingir que sua esposa de um metro e meio


não tem suas bolas em um torno.

Ele me cutuca no ombro. — Um metro — cutucada — e


cinquenta — cutucada — e cinco. Ela tem uma personalidade tão
poderosa. Você sabe que ela tem aqueles olhos de professora. —
Ele aponta dois dedos agressivamente para os olhos. — Vê tudo. E
não me fale sobre aquela voz de professora. Ela me excita e me
assusta pra caralho ao mesmo tempo. — Ele coloca os biscoitos na
mesa, espana as mãos, ajeita o lixo e franze a testa. — Acho que
vou guardar isso por enquanto.

Emmett pula do banco em que esteve sentado nos últimos dez


minutos, apertando a mão do jornalista esportivo que o estava
entrevistando. Seus olhos se arregalam com seu sorriso enquanto
ele corre até nós.

— Eu ouvi você dizer que usou sete preservativos ontem à


noite? Cara vai perder a cabeça. Ela diz que você tem ignorado as
mensagens dela. Ela está chateada com você.

Gemendo, tiro meu telefone do bolso. Recebi vinte e três


notificações, e todas elas são do meu bate-papo em grupo com as
garotas.

Olívia: Por que ele está nos ignorando?


Cara: Sabemos onde você mora, Lockwood. Ninguém
ignora Cara Brodie e vive para falar sobre isso.

Jennie: Nosso homem definitivamente viajou para


Pussy Palace na noite passada. Pode ter se perdido lá
também.

Olívia: Só quero saber se ela tratou você bem.


Oh! Você tentou aquela jogada do audiolivro? Você
conhece a cena, onde ela está de joelhos???

Jennie: Eu sinto que Adam é uma aberração entre os


lençóis. São sempre os calados, sabe?

Cara: Se não tivermos notícias suas nos próximos dez


segundos, eu não poderei ser responsabilizada por
minhas ações. Está me ouvindo, Lockwood? EU. NÃO.
PODEREI. SER. RESPONSABILIZADA. POR.
MINHAS. AÇÕES.
Esse filho da puta está caindo.

Jennie: ** Filho da Puta da Rosie.

Eu guardo meu telefone como tenho feito o dia todo, porque


não posso lidar com essas três agora. Minha cabeça dói quando
penso em Rosie. Significa reconhecer os erros que cometi, as
maneiras como falhei com ela, e não tenho certeza se estou pronto
para enfrentar uma versão de mim que não foi honesta.

Esfregando a boca com a mão, eu me afasto dos meus amigos,


jogando uma desculpa por cima do ombro sobre a necessidade de
um pouco de ar. Não estou surpreso quando ouço a porta abrir
atrás de mim alguns segundos depois de fechar, mas estou um
pouco surpreso ao ver Jaxon se sentar ao meu lado no banco na
frente.

Ele me entrega uma garrafa de água. — Você está bem?

— Sim. Tudo bem.

Ele bufa uma risada, olhando para seus pés. — Sabe, eu sou
péssimo em relacionamentos, mas quando uma mulher diz que
está bem, quase sempre está mentindo.

— Eu não sou mulher.

— Mas você também não está bem, está?

Eu olho para o meu amigo, a maneira fácil como ele se senta


aqui, como se ele não tivesse nenhuma preocupação no mundo. —
Você realmente quer saber?

— Claro. Estou aqui, não estou? Além disso, parece que você
vai vomitar, então provavelmente deveria fazê-lo antes de ficar
atrás daquela câmera.

Apoiando os cotovelos nas coxas, concentro-me na garrafa de


água em minhas mãos, mexendo sem pensar no rótulo de papel.
— Estou apaixonado por Rosie.

— Sim, eu imaginei isso. Você fala sobre ela o tempo todo e está
constantemente sorrindo para o telefone como um colegial
enviando mensagens de texto para sua paixão. Ou Carter
mandando mensagens de texto para Olivia. Garrett e Jennie
também. — Ele suspira. — E Emmett e Cara. Vocês todos são
péssimos, para ser honesto.

Eu rio, mas termino com um suspiro, arrastando minhas mãos


pelo meu cabelo. — Eu realmente estraguei tudo, cara.
— Com Rosie? Achei que a noite passada tivesse sido boa.

— Sim. Foi ótima. Perfeita. Ela é... ela é perfeita pra caralho. É
só... algo mudou ontem à noite. Ela se abriu sobre algumas coisas
sérias, algumas merdas vulneráveis que são simplesmente...
horríveis. Não é justo. Ela não teve uma vida fácil e sentou-se lá e
me contou tudo sobre isso.

— Você está se sentindo mal por fazer sexo depois disso?


Porque ela estava vulnerável?

Meu joelho salta e eu aperto a garrafa de água. As palavras


estão na ponta da língua, mas continuo tentando engoli-las.
Nunca fui tão descuidado, tão egoísta, e não posso aceitar que a
única vez que fui, foi para alguém que significa muito para mim,
alguém que nunca quis magoar. — Estou me sentindo mal porque
ela me deu tudo e eu menti para ela.

Jaxon hesita, então abaixa a cabeça. — Você ainda não contou


a ela.

— Não.

— Cara.

— Eu sei. Porra. — Eu deixo cair meu rosto exausto em minhas


mãos. — Foda-se, sou um idiota. Eu me sinto mal com isso. Já
passou tanto tempo agora, muito mais do que eu jamais planejei.

— Por que cara? Por que você deixou chegar tão longe? Foda-
se, Adam, você poderia ter sido desmascarado por qualquer um a
qualquer momento. O campo de treinamento começa em breve e,
em seguida, os jogos da pré-temporada. O que você vai dizer a ela
quando estiver fora do país?
Meu estômago revira. — Eu só estava... com medo. Apavorado
pra caralho. Ser Adam Lockwood, goleiro da NHL, só me trouxe
problemas. Eu só queria ser eu. E isso é tudo que eu fui para Rosie.
Nunca tive que me preocupar com ela me querendo por nada além
de mim. Nunca tive que me preocupar com ela mentindo para me
fazer gostar dela. Foi fácil. Porra, foi apenas... bom.

— Eu entendo, Adam, entendo. Mas você percebe que tudo que


você estava preocupado que ela fizesse com você, você se virou e
fez com ela, não é? Você mentiu para ela porque queria que ela
gostasse de você.

O que tenho feito nunca me passou despercebido, e talvez isso


torne tudo pior. Todo esse tempo eu tenho medo de ser enganado.
Acontece que sou o único a enganar.

Minha garganta queima e uma dor de cabeça bate em minhas


têmporas. — E se ela não me perdoar?

— Aww. — Jaxon aperta meu ombro. — Ela vai, amigo. Eu sei


que ela vai. Você ainda é o mesmo cara que sempre foi para ela.
Apenas mais rico e famoso. — Ele suspira, girando o boné na
cabeça. — Olha, cara, você só precisa confessar. Seja honesto com
ela e não se contenha. As garotas adoram essa merda, quando você
está vulnerável com elas. Diga a ela por que você estava com medo,
peça desculpas, peça que ela o perdoe e siga em frente.

— É tão fácil, hein?

— A solução? Sim, é. Acho que a honestidade quase sempre


funciona. Mas intensificar e ser honesto quando você não foi? Não
tão fácil.
— Porra, fale-me sobre isso. Continuei dizendo a mim mesmo
que contaria tudo a ela, mas quanto mais demorava, mais difícil
ficava. Gostei da vida que criamos, como se estivéssemos em nossa
própria bolha. Eu queria segurá-la um pouco mais. Agora a ideia
de contar a ela, depois de tudo que ela me deu, especialmente
depois da noite passada, parece impossível.

O som das portas se abrindo faz nossas cabeças girarem. Uma


das assistentes põe a cabeça para fora. — Sua vez, Adam.

Jaxon se levanta, apertando meu ombro. — Fale com Rosie.


Seja honesto com ela. Vai dar certo.

Eu normalmente não dou muita importância aos conselhos de


relacionamento de Jaxon, mas desta vez estou determinado a que
ele esteja certo. Vai dar certo, porque não tem outra escolha. Rosie
pertence à minha vida e vou garantir que ela permaneça ali. Sei
que isso significa ficar vulnerável, abrir-me sobre as inseguranças
contra as quais tenho lutado. Mas Rosie me deu tanto, confiou em
mim seus segredos, seus medos, seu coração e, o mais precioso de
tudo, seu filho. Ela confiou em mim com tudo isso, mesmo quando
não foi fácil para ela fazer isso.

Ela tem sido muito mais forte do que eu. Desta vez, vou ser
forte.

É o que estou dizendo a mim mesmo enquanto volto para


dentro. É tudo o que está em minha mente enquanto me sento na
frente das câmeras, aciono o charme de Adam Lockwood que todo
mundo adora.

Fazemos essas entrevistas de pré-temporada todos os anos, no


final do verão, quando todos se reúnem em Vancouver para se
preparar para o campo de treinamento. São sempre as mesmas
perguntas: o que você fez neste verão, como você está se
preparando para a próxima temporada, quais são suas esperanças
para a temporada e para a equipe? Cada entrevista termina com o
repórter tentando desenterrar o que realmente interessa às
pessoas – algo sobre nossas vidas pessoais. Para a maioria dos
caras, é uma chance de se gabar de suas famílias. Carter trouxe
uma pilha de fotos de sua filha para mostrar, e mesmo sendo a
última entrevista, todo mundo já viu cada foto pelo menos duas
vezes hoje. Garrett quase trouxe o anel de noivado que planejava
dar a Jennie, até que percebeu que ela assistiria à entrevista
quando fosse ao ar em algumas semanas. Em vez disso, observei-
o sorrir de orelha a orelha enquanto contava ao jornalista tudo
sobre a casa para a qual ele e Jennie acabaram de se mudar, o
estúdio de dança que ela tem trabalhado tanto para se preparar
para abrir.

Meus amigos estão felizes e adoro vê-los se gabar das pessoas


que os tornam assim. Mas também estou feliz e cansado de não
poder me gabar das duas pessoas que me fazem estar assim, as
que mais me importam.

— Como seus pais se sentem sobre você assinar novamente


com Vancouver por mais oito anos? — Chuck, o jornalista
esportivo, pergunta. — Dizem na rua que seu pai esperava que
você aceitasse a oferta do Colorado.

Rindo, eu deslizo minha mão ao longo da minha mandíbula. —


Sim, meus pais teriam adorado me receber de volta em casa.
Minha mãe disse algo sobre eu voltar a morar com eles. Mas meu
coração está aqui em Vancouver, e meus pais sabem disso. Estou
trabalhando para convencê-los a se mudarem, mas então Garrett
não teria ninguém para enviar pacotes de salgadinhos dos Estados
Unidos.

Chuck ri. — Sim, ele mencionou algo sobre Dunkaroos e uma


edição especial de Pop-Tarts. Mas vamos voltar ao que você disse
agora.

— Que estou tentando convencer meus pais a se mudarem para


cá?

— Ah, vamos lá, Lockwood. Você sabe que não é isso que todo
mundo quer saber.

Eu sorrio, esfregando a minha nuca. Eu sei aonde isso vai dar,


porque quase todas as entrevistas não relacionadas ao jogo vão
por esse caminho em algum momento.

— Você disse que seu coração está aqui em Vancouver. —


Chuck levanta as mãos em sinal de rendição no segundo em que
minha boca se abre. — Agora eu sei, eu sei. É apenas para explicar
que você pertence aqui. Mas terei muitas mulheres furiosas em
minhas mãos mais tarde se não fizer a pergunta para a qual todos
querem a resposta, especialmente porque o namorador em série
residente da NHL parece ter desaparecido completamente da cena
de namoro nos últimos meses.

Chuck bate com a caneta nos papéis à sua frente, sorrindo. —


Então, Sr. Lockwood, todo mundo quer saber... existe alguém
especial em sua vida?
CAPÍTULO 22

O OUTRO SAPATO

— POR QUE ele tem tantos dedos? Isso é normal? Gatos são
pequenas aberrações, não são?

— Mittens é polidáctilo — eu digo a Marco, coçando o queixo


do meu amigo fofo. — Ele tem dedos extras. E os gatos não são
pequenas aberrações. Pequenos demônios que aterrorizam você no
meio da noite, sim. Mas pequenas aberrações, nunca.

— Quantas vezes você perguntou a Archie se poderia levar um


gato para casa?

Eu franzo a testa, pegando Mittens contra mim. Ele ronrona,


acariciando minha bochecha. — Demais para contar. Ele não vai
me deixar. Diz que não quer pelo de gato em toda a mobília. Coisa
engraçada de se dizer para alguém que fica tão animado quando
seus novos chapéus chegam pelo correio para suas sessões de
fotos de gatos.

Marco revira os olhos, girando em torno de mim para que ele


possa apoiar o quadril no abrigo de gatos. Ele está me seguindo
nos últimos quinze minutos, esperando que Archie termine o
trabalho. — Tenho noventa e nove por cento de certeza que ele vai
ser um pai gato louco quando tivermos nossa própria casa e eu
vou ser submetido a uma vida inteira de pelos de gato na mobília.
Simplesmente não há espaço suficiente agora para todos os gatos
que ele planeja levar para casa.

Meu sorriso começa a cair antes de eu colá-lo de volta. —


Connor e eu sairemos assim que pudermos, prometo. Sei que não
é o ideal e...

— Rosie, não. Isso não foi o que eu quis dizer. Você pode ficar
o tempo que precisar.

— Eu sei que você está esperando que nos mudemos para que
você possa ir para lá. Não há espaço suficiente para todos nós,
entendo. — Eu coloco Mittens de volta em sua casa, e ele me dá
aqueles olhos enormes e tristes dele, emparelhados com o menor
miado, porque ele odeia ficar sozinho aqui. Ele é sociável, embora
pareça ser muito particular sobre quem é seu povo. O favorito dele
até agora foi aquele homem tatuado que veio aqui com o amigo, e
eu realmente pensei que ele voltaria para adotá-lo. Acho que
Mittens e eu estamos chateados por ele não ter feito isso. — Eu
estava planejando me mudar depois da formatura na próxima
primavera, mas agora, com a perda da bolsa de estudos...

— Rosie. — Marco agarra minhas mãos, parando meus


pensamentos em espiral. — Eu sei que você pensa assim, mas você
não está nos segurando. Não há outro lugar onde Archie gostaria
de estar do que com você e Connor agora. E eu fico lá quase todas
as noites de qualquer maneira. Mas estamos felizes, ok?
Realmente, nós estamos. Além disso, minha mãe ainda não está
pronta para me deixar sair de casa.

— Você odeia morar com sua mãe.

— Porque ela me coloca contra a porra da parede. Mas sou o


filho favorito dela – naturalmente – então eu persisto.

Deixo cair meu olhar para os meus tênis. — Se algum dia eu


me tornar um fardo...

— Você é uma família, não um fardo. Eu amo você, Ro. Você é


como minha irmãzinha chata. Eu não posso me livrar de você, mas
nenhuma parte de mim realmente quer.

Eu dou um puxão em seu cabelo escuro antes de voltar para


as tocas dos gatos, verificando uma ninhada de gatinhos e a mãe
perdida que foi trazida na semana passada. — Você é muito mais
irritante do que eu.

— Cuidado com sua boca suja.

— Não dá. Eu apenas deixei sair. — Pressiono um beijo em um


pequeno gatinho listrado de cinza antes de colocá-lo de volta em
sua cama. — Archie deve sair da cirurgia em breve. Vocês vão
jantar fora?

— Não. Vamos pegar Connor e comprar comida para viagem.

Minha cabeça se levanta. — O quê?

— Archie me contou o que Brandon disse sobre você ontem.


Vamos pegar Connor no caminho de casa para que você não
precise.
— Você vai dizer algo para ele. — Se não for Marco, será Archie.
Inferno, talvez os dois.

Marco sorri. — O que poderíamos dizer?

— Marco.

— Posso dizer que você foi atingida com tanta força ontem à
noite que está mancando hoje.

— Eu não estou mancando! — Eu definitivamente estou


mancando pra caralho. Minhas pernas poderiam ter funcionado
bem hoje se não tivéssemos usado aquele último preservativo esta
manhã. Mas em vez disso, Adam extraiu um total de quatro
orgasmos de mim enquanto estava dentro de mim – deitada de
costas, minhas pernas sobre seus ombros, de joelhos e contra a
parede – antes de finalmente gozar. Quando me levantei para
segui-lo até o chuveiro, cinco minutos depois, minhas pernas
tremiam tanto que minha bunda estava a uma fração de segundo
de bater no chão quando Adam segurou minha cintura e me puxou
contra ele.

Eu fui atingida com tanta força que sinto isso no meu cérebro.

— Rosie, você foi fodida com tanta força que está olhando para
o nada enquanto sorri.

Eu estalo minha boca fechada. — Eu não estou.

— Olá — Marco suspira, empurrando-me para o lado. Ele


coloca os óculos escuros apenas para poder apoiá-los no nariz
enquanto olha pela janela. — Alerta de gostoso. E ele tem flores.
Eu sigo seu olhar, e quando espio a caminhonete azul escuro,
o homem incrivelmente grande descendo dela com um buquê de
peônias, meu coração cai no meu estômago. — Oh, meu Deus.

Eu me pressiono contra a janela, observando enquanto Adam


tira os óculos escuros e os dobra na gola da camiseta, girando o
chaveiro no dedo.

— Oh, meu Deus — murmuro novamente, embaçando a janela.


Eu me viro para Marco, cruzando minhas mãos no meu estômago.
— Como estou? Não, espere. Não responda a isso. É tarde demais
para mudar alguma coisa. Adam gosta de mim do jeito que sou. —
Eu o empurro para o lado, passando por ele. A porta se abre assim
que Marco bate em mim por trás, e sorrio para Adam quando ele
para, olhando para nós dois olhando para ele, sem fôlego. — Adam.
Você está aqui. — Levanto as palmas das mãos e faço um gesto ao
meu redor, caso ele não saiba onde está. — No meu trabalho.

Ele está sempre esperando por mim do lado de fora, a visão de


sua caminhonete estacionando quinze minutos antes do fim do
meu turno faz meu coração disparar, ou todas as manhãs de
sábado, quando ele e Bear se juntam a Piglet e a mim na frente
para nossa caminhada. Algo sobre ele estar aqui, no lado de
dentro, parece tão pessoal.

Eu dou um passo em direção a ele antes de me parar, sem


saber como agir. Ele está apenas me observando, seus olhos se
movendo entre mim e Marco, que pode ou não estar
hiperventilando ao meu lado.

E então, de repente, Adam sorri, apontando o dedo para mim.


— Venha aqui, Trouble, e me dê sua boca.
Eu corro pelo saguão até Adam, e ele engancha um braço sob
minha bunda, puxando-me para ele antes de deixar sua boca cair
na minha.

— Mal podia esperar para ver você esta noite. Queria aparecer
e dizer oi.

— Oiii. — Marco se aproxima lentamente, com um sorriso bobo


no rosto. Ele arqueia a mão no ar. — Eu sou Marco, o amigo lindo
e incrível de Rosie que ela ama tanto.

Adam ri, colocando-me em pé. — Sim, isso combina com tudo


o que ela me disse sobre você. — Ele lhe oferece a mão. — Oi,
Marco. Eu sou Adam.

— Mhmm. — Seus olhos se movem para baixo em Adam, depois


voltam para cima. — Isso você é, isso você é. Também ouvi falar
muito de você, Adam, mas não o suficiente.

— Talvez possamos jantar em breve — sugiro animadamente,


olhando para Adam. A visão dele, tão imponente, tão impecável,
deixa-me nervosa, e me pego voltando atrás, enrolando o cabelo no
dedo. — Caso queira.

Seus olhos azuis se movem sobre mim, e o canto de sua boca


se ergue quando ele puxa meu dedo do meu cabelo. — Eu adoraria
se todos jantássemos, ou o que quer que seja. — Ele estende o
buquê de peônias para mim, rosa brilhante, amarelo escuro e
laranja escuro, meu pôr do sol favorito. — Estas são para você.

Levo as flores ao nariz para cheirá-las, mas engasgo quando


vejo o que está esperando lá dentro.
Escondido no meio do buquê está um sundae com calda quente
da Dairy Queen.

— Calda quente extra — Adam sussurra contra a minha


têmpora com o braço em volta da minha cintura.

É a coisa mais boba, algo tão pequeno e doce, mas está


trazendo três palavrinhas para a ponta da minha língua, prontas
para rolar. Eu quero dizer isso. Nunca quis, porque nunca senti.
Achei que não tinha certeza se estava apaixonada, que teria que
me perguntar, mas agora sei que não há como me perguntar.

O amor é, sem dúvida, a emoção mais certa que já senti. É


estável e seguro, constante, como a suave ondulação do riacho
serpenteando pelas montanhas, o canto tranquilo dos pássaros
nas copas das árvores. Abri meus olhos uma manhã e lá estava,
esculpido nas partes mais profundas de mim, como se sempre
estivesse lá.

Como se Adam sempre tivesse sido um pedaço de mim.

Há uma felicidade irradiando por mim, um leve tremor em


minhas mãos enquanto eu olho para ele, como se meu corpo
estivesse me implorando para estender a mão, para tomá-lo em
meus braços, e Deus, eu quero.

Ele passa o polegar pelo meu lábio inferior. — Pare de me olhar


assim. É perigoso.

— Como estou olhando para você?

— Como se você fosse se casar comigo agora mesmo se eu


prometesse trazer flores e sundaes todos os dias pelo resto de
nossas vidas.
Eu falho completamente em conter meu sorriso quando digo a
ele: — Eu me contentaria com semanalmente.

Suas sobrancelhas se arqueiam, um desafio brincalhão. — Não


me tente, Trouble. Eu não vim preparado com um anel.

— Uau. Vocês dois são adoráveis. — Marco gesticula para nós


com círculos de mãos. — Quase sinto que estou interrompendo um
belo momento.

Adam lança um olhar divertido a ele. — Quase, hein?

— Oh, não se importe comigo. Obtenha sua aberração. Ro já


está destruída. Esteve mancando por aqui o tempo todo...

— Marco!

Adam ri, envolvendo um braço em volta da minha cintura e me


puxando para seu peito quando tento decapitar meu amigo. — Eu
tenho que ir. Não mate Marco antes de podermos jantar. Mas para
que conste, Rosie... — Seus lábios mergulham na concha da minha
orelha, enviando um arrepio na minha espinha. — Eu gosto de
você um pouco destruída. — Com meu queixo entre os dedos, ele
pressiona um beijo demorado em meus lábios. — Até logo, linda.

Eu fico enraizada no lugar, observando Adam ir para sua


caminhonete, piscando para mim antes de entrar e ir embora.

— Se você não vai comer esse sundae...

— Para trás. — Eu arranco meu buquê com sorvete de Marco,


colocando-o na mesa da recepção enquanto pego meu sundae. Há
uma quantidade obscena de calda quente nessa coisa, em
camadas na parte inferior, superior e na metade. Acho que nunca
estive tão feliz.
— Você tem algumas explicações a dar, Srta. Rosie.

Meu olhar se eleva para Marco, minha colher parando um


pouco antes da minha boca. — O quê?

Seu sorriso é particularmente grande enquanto ele me observa


com o queixo apoiado nas mãos, cotovelos sobre a mesa. — Não
venha com ‘o quê?’ para mim. Você sabe exatamente ‘o quê’.

— Eu não.

— Mhmm. — Ele deixa cair os antebraços sobre a mesa,


batendo os dedos. — Então, todo esse tempo você simplesmente
convenientemente esqueceu de mencionar que está namorando
Adam Lockwood?

— O que você quer dizer? Eu disse que estávamos namorando.

— Você me disse que estava namorando um homem chamado


Adam. Você não me disse que estava namorando Adam. Porra.
Lockwood.

— Eu não entendo — eu digo lentamente, abaixando minha


colher. — Você o conhece?

Marco franze a testa. — Você não sabe o que Adam faz para
viver?

— Ele trabalha... ele trabalha com atletas profissionais — não


sei por que é um murmúrio, ou porque soa mais como uma
pergunta. Também não sei por que meu estômago dá um nó.

— Rosie, Adam Lockwood é um atleta profissional. Ele é o


goleiro titular do Vancouver Vipers.

— H... hóquei?
— Um dos melhores e mais bem pagos da liga.

Minha cabeça balança, e o tremor em minhas mãos retorna.


Adam não mentiria para mim sobre algo tão importante. Ele
simplesmente não faria isso.

— Ele acabou de assinar novamente com os Vipers por 10,5


milhões por ano. E isso não inclui acordos de patrocínio. — Marco
pega seu telefone, digitando. — O Google diz que no final da última
temporada, seu homem tinha um patrimônio líquido de trinta e
quatro milhões.

— Trinta e quatro milhões? — Eu coloco minha mão sobre meu


estômago. Está balançando como se meu almoço pudesse
reaparecer.

— Eu juro, Ro. Você ao menos o conhece? Olhe aqui. — Ele me


mostra uma foto. — Aqui está ele em um de seus trajes de jogo.
Veja como ele veste bem um terno. Imagine ele assim no seu
casamento?

Não posso; tudo o que posso focar são as fotos. Tantas delas,
todas de Adam. Clico em um, e a tela se enche com uma foto de
Adam no gelo, parecendo enorme em um par de patins e
equipamento enorme e desajeitado, uma máscara que combina
com sua camisa verde e azul.

Meu estômago revira quando pego outra foto. Adam com os


lábios pressionados na têmpora da linda ruiva enfiada ao seu lado.
Há uma legenda incluída, uma que me faz parar de respirar.
Eles realmente terminaram? O garoto de ouro do hóquei, Adam
Lockwood, e sua namorada de longa data, Courtney McLean, terminam
seu relacionamento de sete anos em meio a rumores de traição.

Engulo a bile subindo pela minha garganta e, contra meu


melhor julgamento, escolho uma nova foto. Nesta, Adam nem
parece saber que sua foto está sendo tirada. Ele está sentado em
um restaurante, bebendo vinho com uma linda morena. A
legenda?

Adam Lockwood, o solteiro mais cobiçado do hóquei e namorador em


série, não vai se estabelecer tão cedo!

Meu coração acelerado desacelera até eu jurar que para de


bater completamente, e meu sundae escorrega de minhas mãos,
espirrando aos meus pés.

Não tenho certeza, mas acho que é ali que meu coração acaba
também, depois que se despedaça.
CAPÍTULO 23

EU VOU VER VOCÊ

Eu circulei o Wildheart cinco vezes. Cinco malditas vezes.

Repeti meu discurso várias vezes, o mesmo que recitei para


Bear oitocentas vezes antes de sair de casa, depois de me certificar
de que meu cabelo estava bonito e de que estava usando minha
camiseta da sorte. Minhas mãos não param de tremer, e digo a
mim mesmo que minhas palmas suadas deslizando contra o
volante são a razão pela qual perco a entrada do Wildheart pela
sexta vez.

— Porra. — Eu agarro o volante, batendo suavemente minha


testa contra ele. Eu deveria ter feito isso há muito tempo; talvez
isso tivesse colocado algum sentido em mim.

Mas não posso mais brincar com isso, então, quando o sinal na
minha frente fica verde, viro para o estacionamento do Wildheart
Sanctuary e estaciono no mesmo lugar de sempre, onde tenho um
assento na primeira fila para Rosie andando por ali, terminando a
última papelada, fazendo suas últimas rondas na toca dos gatos,
enchendo-os de amor uma última vez antes de se despedir.
Soltando meu cinto de segurança, eu olho para minhas mãos
trêmulas antes de limpá-las em meu jeans, esfregando uma sobre
minha boca, passando a outra pelo meu cabelo antes de colocar
meu boné de volta na minha cabeça e, finalmente, sair da
caminhonete.

As duas garotas atrás da mesa levantam a cabeça quando


entro, e um gato se aproxima de mim, jogando-se aos meus pés e
me mostrando sua barriga. O silêncio cai sobre a sala, e meus
ombros ficam tensos quando me abaixo, esfregando a barriga do
gato.

— Rosie está por aí? Você pode dizer a ela que Adam está aqui?

As meninas trocam olhares, olhos esbugalhados e cabeças


inclinadas em minha direção. A loira pigarreia, virando-se para
mim. — Uh, Rosie não está aqui.

— Ela não está?

— Ela não estava se sentindo bem. Ela foi para casa mais cedo.

De pé, deslizo meus dedos na parte de trás do meu boné,


coçando a cabeça. — Oh. Ok. Ela estava bem?

— Ummm... — Elas se olham novamente.

— Deixa para lá. Obrigado. — Dou um último tapinha no gato


antes de ir para a porta e, quando estou no meio dela, suas
palavras sussurradas fazem meu coração disparar.

— Oh, meu Deus. Realmente é ele. Rosie está namorando Adam


Lockwood.
Não tenho certeza se há uma palavra para descrever o que
estou sentindo agora, contornando o elevador e subindo todos os
doze andares até o apartamento de Rosie. Não há mais nervosismo,
apenas pânico puro e puro, e ele sai de mim com a batida frenética
dos meus dedos contra a porta dela, a maneira como tiro meu boné
da cabeça e puxo meus cachos enquanto espero que ela responda,
para me dizer que posso consertar isso.

Mas não é Rosie quem abre a porta, e o olhar estreito e os


braços cruzados do homem tatuado esperando por mim me dizem
que posso estar atrasado demais.

— Archie-

— Oh, isso é interessante — ele morde. — Você sabe quem eu


sou, mesmo que nunca tenhamos nos conhecido, mas você tem
transado com minha melhor amiga nos últimos dois meses, e ela
não tinha ideia de quem você era.

— Não, não é - não é assim.

— Realmente? Você não mentiu para ela sobre seu trabalho?

— Não, eu- — Foda-se. — Eu fiz. Mas eu tinha uma...

— Boa razão? — Suas sobrancelhas se erguem. — Mal posso


esperar para ouvir.

A porta se afasta dele, e minha doce menina aparece, ondas cor


de rosa empilhadas em sua cabeça e roçando seu pescoço, olhar
treinado nas mãos que ela torce em seu estômago. Quando o nome
dela deixa meus lábios, é um apelo desesperado, afogando-se na
dor que sinto saindo dela.

— Rosie.

Ela olha para mim então, olha para mim com aqueles olhos
verdes, impossivelmente arregalados e tão destruídos, implorando
para que faça sentido. Tudo o que quero dizer a ela, tudo o que
pratiquei quando estava no controle dessa situação, tudo morre
em algum lugar na minha garganta.

Eu preciso abraçá-la. Eu preciso senti-la, preciso que ela me


sinta. Sinta o quanto sinto muito, o quanto me importo com ela.
Como eu não vou a lugar nenhum, porque ela é a única desde que
entrou na minha vida. Se eu puder apenas abraçá-la, ela saberá.
Vou espremer tudo dentro dela, todo o amor que tenho.

Mas ela cruza um braço sobre o estômago, agarrando o cotovelo


oposto, e mais do que eu vejo, posso sentir a parede que ela acabou
de erguer entre nós.

— Aqui se precisar de mim. — Archie dá um beijo em sua


têmpora antes de me lançar um olhar castrador e desaparecer.

Lágrimas de traição nadam em seus olhos cautelosos, mas a


desesperança pode ser o pior de tudo. Olhos que brilhavam com
tanta fé, tanto calor, agora estão estilhaçados e mudos. Há uma
certa resignação neles, quase como se ela estivesse esperando que
algo ruim acontecesse, que o chão desabasse.

— Você mentiu para mim — ela sussurra, limpando as lágrimas


que começam a escorrer por seu rosto.
Dou um passo em direção a ela, mas ela recua. — Sinto muito,
Rosie.

— Sente muito por mentir, ou por ter sido pego?

— Eu ia contar a você. Eu juro, Rosie. Eu ia contar esta noite.

Uma gargalhada escapa dela. Ela puxa as mangas de seu


suéter – meu suéter – sobre as mãos, enxugando os olhos. —
Momento conveniente, hein?

— Dada? — Uma pequena voz flutua pelo corredor, parando


meu coração. Connor aparece à vista, olhos fixos nos meus e
cheios de tanta emoção antes de começar a correr em minha
direção. Eu me agacho, pronto para pegá-lo, porque acho que a
única coisa no mundo que pode me fazer sentir melhor agora é
segurar esse garotinho em meus braços. — Dada!

— Connor, não. — Rosie o pega antes que ele possa colidir


comigo. Por um momento, fico curvado no chão, tentando afastar
a sensação assustadora que arranha meu peito. Combina com
meus braços: vazio pra caralho.

Connor aponta para mim, olhando para Rosie. — Dada,


abraço?

Ela aperta as mãos dele nas dela, suas palavras são roucas. —
Agora não, querido.

Seu rosto doce se enruga e estou pronto para cair de joelhos,


implorar por perdão, pegá-los em meus braços e dizer-lhes o
quanto eu os amo.

Mas então Marco aparece, pegando a mão de Connor. — Ei,


camarada. Vamos brincar de trens.
— Diga adeus a Adam, baby — Rosie diz a ele, e as palavras
simples trazem aquelas lágrimas pelo seu rosto novamente, mais
rápidas desta vez, e ela se vira para livrar seu rosto das evidências.

— Tchau, Dada — Connor sussurra, acenando para mim. —


Amo você.

Eu fecho meus olhos para as duas palavras que nunca ouvi


antes, não dele, aquelas que eu quero ouvir de novo, mas talvez
nunca tenha a chance. — Também amo você, Little Trouble.

Ele aponta para Rosie. — Tubble?

— Marco — Rosie engasga. — Por favor.

Ele pega Connor em seus braços, lançando um olhar de


desculpas para mim. — Vamos, amigo. Tio Arch está preparando
seus rastros.

— Rosie, eu... — Meu telefone toca no meu bolso, cortando-me.


Eu o puxo para fora, silenciando-o sem olhar para ele, mas antes
que eu possa guardá-lo, ele toca novamente. — Desculpe —
murmuro, franzindo a testa para o número, o mesmo maldito que
está acendendo há mais de uma semana. — Vou desligar.

— Você pode atender, Adam — Rosie diz, esfregando os olhos.

— Não, eu não... — Toca de novo, e Rosie suspira.

— Adam, por favor. Apenas responda.

Levando o telefone ao ouvido, mantenho os olhos em Rosie. —


Olá?

— Adam? Oh! Graças a Deus. Estou tentando falar com você


há dias!
Eu franzo a testa, deixando meu olhar cair enquanto tento
identificar a voz do outro lado. Quando me atinge, o apelo frenético
por trás do meu nome, algo cai do meu peito, afundando no meu
estômago. — Courtney?

O rosto de Rosie cai, e eu sei imediatamente que ela sabe quem


é Courtney.

E eu me recuso a deixar essa mulher estragar qualquer


relacionamento que não seja aquele que ela já incendiou há um
ano e meio.

— Eu bloqueei seu número por um motivo — eu mordo em voz


baixa enquanto Rosie olha para baixo, dando-me um espaço que
eu não quero.

— Eu sei, mas precisava falar com você. É sobre-

— Não há o que falar. Não me ligue de novo. — Antes de jogar


meu telefone no bolso, bloqueio o número dela. — Desculpe por
isso. Ninguém importante.

Rosie acena com a cabeça, arrastando o chão com os dedos dos


pés descalços antes de finalmente encontrar meu olhar. — Você
está no Tinder.

Minhas sobrancelhas puxam para baixo. — Tinder? Não.

Ela pega o telefone, mostrando meu perfil naquele maldito


aplicativo de namoro. — Este não é você?

— Não, é... quero dizer, sim, é. Mas não estou... quero dizer, eu
estava... meu perfil ainda está... ugh. — Eu esfrego minhas mãos
no meu rosto, porque nada está saindo direito. Estou todo fodido,
em pânico, e minhas palavras não estão sendo formuladas, então
respiro fundo e tento novamente. — Eu não o usei desde que
conheci você, Rosie. Prometo.

Ela olha para baixo, e eu odeio como sua voz é baixa quando
ela fala em seguida. — Por que você não excluiu seu perfil? Você
não tinha certeza sobre mim?

Dou um passo à frente, dizendo um grande foda-se para a


distância entre nós, a parte do meu cérebro que me avisa para dar
espaço a ela. Pego suas mãos nas minhas, segurando-as entre nós.
— Você é a única coisa que eu já tive certeza. — Eu passo meus
polegares sobre seus dedos. — É uma desculpa de merda, mas eu
simplesmente não pensei nisso. Eu não estava abrindo isso, então
não estava na minha cabeça.

Seus olhos se movem entre os meus enquanto ela puxa o lábio


inferior com os dentes. — Os sites estão chamando você de
‘solteirão mais cobiçado do hóquei’ e ‘namorador em série da NHL’.
Você já namorou muitas mulheres em público, mas não eu. Você
namorou comigo em particular, Adam. Por que você não queria
que as pessoas soubessem sobre mim?

Balanço a cabeça e, quando ela tenta se afastar, eu a puxo para


mais perto. — Não. Não, não é isso. Nunca foi isso. Isso não é sobre
você, Rosie. Isso é sobre mim, e não quero que você pense que eu
estava tentando esconder você, que estava envergonhado de
alguma forma, porque isso simplesmente não é verdade.

— Mas parece assim, você entende isso, não é? Tudo o que li


sobre você esta tarde me diz que sou diferente.

— Você é diferente. Você é absolutamente tudo o que não foram


para mim, da melhor e mais surpreendente forma. Vou me
desculpar por muitas coisas, porque sei que estraguei tudo. Deus,
eu fodi tudo. Mas não vou me desculpar por querer mantê-la só
para mim, por querer envolvê-la e mantê-la afastada desse mundo.

— Do seu mundo, Adam. Este é o seu mundo. E eu não sou, de


jeito nenhum. E descobrir isso agora me faz sentir como se não
conhecesse você. — Ela dá um passo para trás, olhando para o
teto, lutando arduamente para impedir que mais lágrimas caiam.
— Deus, quão estúpida eu sou? Estou namorando um dos goleiros
mais famosos da NHL e não faço ideia. Eu me sinto como uma tola.

— Foda-se, Rosie. Eu sou uma maldita bagunça, e estou tão


desapontado comigo mesmo. Eu não queria machucar você, juro.
E odeio mais do que tudo ter feito você se sentir uma idiota. Eu
entrei em pânico. Eu disse meu nome no dia em que nos
conhecemos e você não reagiu. Quando você me perguntou o que
eu fazia, percebi que você não fazia ideia de quem eu era, e eu
simplesmente... não consegui. Por alguma razão, as palavras não
vinham.

Eu sei o que fiz. Porra, eu sei exatamente o que fiz. Ao mentir


para ela, perpetuei seus medos mais profundos. Ela passou a vida
inteira querendo que alguém a escolhesse e foi decepcionada
várias vezes. E agora, não sou diferente.

— Eu sei que parece que você não era importante o suficiente


para eu ser sincero com você. Eu sei que você está se sentindo
como se não tivesse escolhido você.

— Parece que você nos escolheu, apenas para o verão. Você


brincou de casinha por alguns meses e agora pode voltar a ser um
jogador de hóquei famoso. Você não apenas escondeu seu trabalho
de mim, Adam. Você nos colocou em uma bolha e nos escondeu
do resto de sua vida.

— Eu fiz. Eu vi uma oportunidade e corri com ela. Você não


sabia sobre o hóquei, e eu gostei. Não precisava me perguntar qual
versão de mim você gostava.

Algo em seus olhos suaviza, mas eles sempre foram suaves.


Gentil e bondosa, mesmo agora, quando quebrei seu coração.

— Preciso que você entenda que não se trata de hóquei, Adam.


Percebi isso em algum lugar ao longo do caminho, como atleta
profissional, você foi feito para sentir que é tudo o que você é. E
posso dizer com absoluta certeza que isso não é verdade. Você é
um ser humano lindo com muito mais a oferecer. Mas ao deixar
essas preocupações consumirem você do jeito que fez, você não
mentiu apenas para mim. Você escondeu pedaços inteiros de si
mesmo, porque não queria confiar em mim com eles. E tudo o que
fiz foi confiar em você. Eu dei tudo a você. Minhas verdades mais
pesadas e avassaladoras. — Sua voz diminui e seus olhos se
movem para Connor por cima do ombro, observando-nos de seu
lugar no chão onde ele brinca com Archie e Marco. — E todo o meu
coração. Eu confiei em você com meu filho, Adam, e você mentiu
para nós. Você me fez sentir conveniente, temporária, quando
pensei que isso poderia ser... — Cada uma de suas inseguranças
brilha em seus olhos devastados. — Eu pensei que isso poderia ser
permanente. Você prometeu que não iria me machucar, mas isso?
Isso dói.
Seus ombros caem e ela parece encolher diante dos meus
olhos. — Eu não sei como confiar em você agora. E se não posso
confiar em você, não sei como podemos ficar juntos.

Bolhas de pânico e o mundo ao meu redor desaceleram. — Você


está terminando comigo?

Olhos cheios de lágrimas se erguem para os meus. — Eu... eu


não sei. Honestamente, Adam, não sei. Quando você entrou na
minha vida, você me escolheu. Você me puxou para o meu centro
e, pela primeira vez desde que meus pais morreram, senti como se
estivesse finalmente em terreno plano. Eu me senti segura e me
senti amada. Agora sinto que perdi o equilíbrio novamente. Eu não
sei qual caminho seguir, e odeio isso. Eu odeio isso.

Engulo o nó na garganta. — Você é minha família, Rosie. Você


e Connor.

— As famílias são construídas com base na honestidade.


Verdades duras e vulnerabilidades assustadoras. Você não
esconde quem você é.

— Não quero voltar para antes. Para sem você. Não quero
esquecer como é ser uma família com você. — Algo se quebra
dentro de mim, se é que alguma coisa ainda está inteira. Ela
rasteja pela minha garganta, abrindo caminho para fora,
quebrando meu próximo apelo enquanto uma lágrima escorre dos
meus olhos. — Por favor, Rosie. Eu não posso deixar você ir. Eu
não vou.

Rosie dá um passo à frente, segurando meu rosto. Seus


polegares roçam sob meus olhos, saindo molhados, roubando meu
desgosto e tornando-o dela também. Ela pega minhas mãos nas
dela, dedos finos entrelaçados nos meus. Eles são tão pequenos,
tão quentes, tão perfeitos, e estou com medo de que seja a última
vez que os seguro.

— Eu preciso de um minuto, Adam. Preciso de um pouco de


espaço para respirar, para entender isso e descobrir o que isso
significa para nós, se conseguimos superar isso. Você pode me dar
isso? Um tempo? Um pouco de paciência?

Eu olho para nossas mãos entrelaçadas, a maneira como elas


se encaixam. — Eu daria qualquer coisa que você pedisse. —
Mesmo que seja a última coisa que quero fazer agora.

— Tudo que eu sempre quis foi você, Adam. Mesmo as partes


que você tem medo de compartilhar. — Ela pega meu rosto em
suas mãos, seu toque terno e compassivo, assim como o jeito que
ela olha para mim. — Temos que ficar confortáveis com as partes
desconfortáveis de nós mesmos antes que possamos realmente
saber quem somos e amar essa pessoa, antes que possamos deixar
que outra pessoa nos conheça e nos ame. Eu quero conhecer você,
mas quero que você se conheça mais. Então você pode
compartilhar essa pessoa comigo. Ok?

A esperança faísca em meu peito, uma batida frenética que dói


do jeito que a esperança às vezes pode. — Não é um adeus? Não
para sempre?

Sua boca se curva com um sorriso triste. — Não gosto de


despedidas.

Eu enterro meus dedos trêmulos em seu cabelo e trago sua


testa para descansar contra a minha. — Prometa-me. Prometa-me,
Rosie.
Seus olhos tremulam fechados, cílios contra sua pele rosada
enquanto as lágrimas caem em cascata por suas bochechas. — Eu
não acho que o meu para sempre exista sem você em algum lugar
dentro dele.

Neste momento, essas palavras são suficientes. O suficiente


para dar vida a mim, mesmo que por um breve momento, enquanto
estamos aqui abraçados, o peito dela subindo e descendo no
mesmo ritmo do meu, tão perto que não sei dizer se é o coração
dela ou o meu batendo tão forte, tão rápido.

É quando ela finalmente me solta e se afasta que percebo que


é meu coração. Porque, neste momento, para de bater
completamente, um silêncio tão alto, tão ensurdecedor, que ouço
cada pequena fissura que estilhaça todas as partes de mim que
Rosie e Connor tornaram inteiras novamente.

Rosie volta para seu apartamento e, pouco antes de


desaparecer, ela sussurra as quatro palavras às quais me
agarrarei até que ela volte para mim.

— Eu vou ver você.


CAPÍTULO 24

STARDUST LANE

Tenho certeza de que essas mãos nunca sentiram algo tão


macio quanto essas ondas, finas mechas loiras espalhadas pela
testa de Connor. Elas são perfeitas em todos os sentidos, esse sinal
de inocência espero que nunca desapareça.

Eu corro meus dedos pelos fios, tirando-os de sua têmpora,


passando meu polegar sobre a maçã de seu rosto, onde é tão macio
quanto seu cabelo.

E, no entanto, não posso deixar de me lembrar da aspereza das


palmas das mãos calosas de Adam quando elas agarram as
minhas, a maneira como elas raspam meus lados, agarram meus
quadris e me puxam contra ele. Elas são macias de uma maneira
diferente, descendo pela curva da minha espinha enquanto eu
deito enrolada nele, entrelaçando-se no meu cabelo, a ponta de seu
polegar correndo sobre a covinha no meu queixo antes de ele
pressionar seus lábios nos meus.

E eu sinto falta dele. Sinto falta da maneira como ele me faz


sentir tão selvagemente necessária enquanto tão totalmente
valorizada com a simples varredura de seu olhar sobre meu corpo,
o toque de suas mãos. Tão apaixonadamente amada com as
palavras calmas e seguras que ele pressiona contra o meu ouvido.

Ele é todo macio e gentil, ganancioso apenas da maneira mais


calorosa. Um homem feliz com tudo o que tem, mas insaciável,
com uma necessidade feroz de manter sua felicidade ao seu
alcance, sem vontade de deixá-la escapar.

Eu vi isso na semana passada em seu olhar, a relutância em


me dar o que eu precisava. Tempo para pensar, espaço para
respirar. Ele não queria dar para mim, mas como ele disse então,
ele me daria qualquer coisa que eu pedisse.

Mas tudo que eu sempre pedi foi ele.

Passei a semana passada em busca de clareza, mas não tenho


certeza se meu cérebro ficou menos nebuloso.

Uma parte do porquê é clara. Está escrito em todas as


manchetes que mencionam o status de superestrela de Adam
como goleiro da NHL, quanto dinheiro ele vale. Cada manchete que
viola seu direito à privacidade quando publica uma foto dele e de
sua ex-namorada, especula o motivo de sua separação, as fotos
indesejadas dele em encontro após encontro, imaginando qual
garota terá a sorte de finalmente pegar o galã mais desejável e
disponível da NHL. É claro que Adam teve dificuldade em saber
quais relacionamentos eram genuínos e quais eram egoístas, e não
consigo imaginar como seria desafiador navegar com a grave falta
de privacidade que esse homem tem.

Mas a outra parte do porquê, a parte que mentiu para mim,


pergunta-se por que, depois de todo o tempo que passamos juntos,
aprendendo um com o outro, amando um ao outro, ele ainda não
se sentia seguro o suficiente para confiar em mim. Para me
escolher para compartilhar tudo de si mesmo.

Todas as inseguranças horríveis com as quais passei anos


lutando tentam invadir minha mente, e em primeiro lugar está o
fato de que nunca fui a primeira escolha de ninguém. Que nem
uma única pessoa olhou para mim e viu a possibilidade de para
sempre, uma certa permanência que vem com uma família
escolhida, um amor incondicional que passei minha vida
perseguindo.

Engano não fala de permanência. Além da dor intencional


infligida pela torção da faca alojada em suas costas, está o
turbilhão emocional de ser apenas um momento fugaz na vida de
alguém. Porque mentiras nunca são para sempre, e não consigo
entender o sentido delas com alguém que você pretende manter
em sua vida.

Apesar dos medos que cravaram seus dentes em meus ossos


ao longo dos anos, eu me orgulho de nunca ter perdido a esperança
de encontrar meu povo. Nem sempre me beneficiou, como o tempo
que passei tentando forçar algo para trabalhar com Brandon
apenas para ser uma família. E eu estaria mentindo se dissesse
que não estou preocupada em me colocar na posição de repetir a
história. Não há um centímetro de mim que já tenha se preocupado
com isso com Adam.

Até a semana passada, quando a vida que ele estava


escondendo de mim foi jogada na minha cara.

— Rosie?
Meu olhar se volta para Eva, esperando na porta de seu
escritório. Seu sorriso é fácil; eu gostaria de poder apreciá-lo mais.

— Muito obrigada por vir novamente no último minuto. — Ela


acena para que eu entre, fazendo beicinho para Connor enquanto
eu o carrego passando por ela. — Dormindo?

— Passamos a manhã no parque e um dos acampamentos


diurnos estava indo para uma viagem, então Connor queria ver
todos os ônibus partindo. — Não digo a ela que ele perguntou por
Dada e Bear vinte vezes depois que encontrou o boné de Adam na
minha bolsa. Não conto a ela que ele colocou o boné de beisebol
na cabeça e andou por aí dizendo boné de Dada. E não digo a ela
que quando Connor deu a primeira mordida em seu sanduíche de
manteiga de amendoim e banana, ergueu-o e perguntou por Dada
novamente, querendo dividir seu sanduíche com ele como sempre
faz, e a primeira lágrima se soltou.

— Parece um dia divertido até agora.

Emocionante.

Pelo menos não sobrou rímel em meus cílios para quando eu


chorar de novo ao lembrar que Eva está prestes a me falar sobre
meu futuro estar atrasado mais um ano. Inferno, talvez ela me diga
que eles não podem mais segurar meu lugar, não por dois anos
seguidos. Para eu descobrir e juntar o dinheiro em quatro dias
para que possa começar na próxima semana, ou desistir de minha
vaga no programa.

Estou passando por um período um pouco pessimista agora, se


você pode acreditar, então, quando Eva ligou esta manhã e me
pediu para vir para outro bate-papo, eu estava praticamente
resignada a ser expulso.

— Você tem todos os seus livros e materiais para este ano, não
é? — ela pergunta, sentando-se na beirada de sua mesa,
apontando para a cadeira em frente a ela.

Connor se mexe quando me sento, enfiando o rosto no meu


pescoço e o polegar na boca.

— Tenho comprado os materiais um de cada vez para torná-lo


mais acessível. — Eu pressiono meus lábios no cabelo de Connor,
meu joelho quicando. — Eu provavelmente poderia vendê-los, no
entanto. Tenho certeza de que tem aluno que ainda não comprou.
Não é grande coisa.

— Rosie, do que você está falando?

— Não posso pagar minha mensalidade este ano sem minha


bolsa de estudos. Não é por isso que estou aqui? Vai me dizer que
não vão mais guardar minha vaga para mim? Que tenho que pagar
e frequentar este ano ou ir embora para sempre?

Ela me encara por um longo momento e, quando finalmente ri,


não sei se rio também ou choro. Não tenho mais ideia do que está
acontecendo na minha vida, mas parece que está se desenrolando
diante dos meus olhos.

— Rosie, você é nossa melhor aluna. Reconhecemos o quanto


você tem trabalhado arduamente ao longo dos anos, e o mundo
veterinário sofreria um grande golpe ao perdê-la antes mesmo de
você ter a chance de começar. Estamos muito orgulhosos de tudo
que você conquistou. Você é uma aluna incrível, uma aluna
ansiosa e uma mãe dedicada. Temos muita sorte de ter você.

— Oh. Uh... — Calor rasteja até meu pescoço, formigando


minhas bochechas. — Obrigada. É muito bom ouvir isso. Ser
reconhecida.

— Você deve perceber o quanto você traz para a mesa, não?

— É difícil ver o que você traz para a mesa quando ninguém se


senta com você.

— Aqui está a coisa, Rosie. Você não precisa de ninguém para


se sentar à mesa com você. Você precisa ser feliz sentada aí com
você mesma. Essa é a única maneira de você entender e valorizar
seu próprio valor.

Eu pego a lágrima assim que ela escapa do meu olho. Meu olhar
cai para o menino em meus braços, a única pessoa que pensa o
mundo de mim. Mas talvez ele seja o único que importa.

— Bem... — Eva dá a volta em sua mesa, sentando-se na


cadeira atrás dela. — Estou feliz em saber que você tem todos os
seus materiais. Eu odiaria ter você lutando apenas quatro dias
antes do início das aulas.

— Perdão?

— E eu espero que você encontre o seu valor este ano. Tenho


certeza que sim, pelo menos aqui na sala de aula.

Meu pulso troveja em meus ouvidos. — Estou confusa e


emocionada porque, francamente, esta foi uma semana de merda.
Então, vou precisar que você me tire do meu sofrimento e me diga
sobre o que está falando em código.
Ela ri baixinho. — Um senhor parou no meu escritório ontem,
querendo criar um fundo de bolsa de estudos anual para nossos
alunos de veterinária. Descreveu todas as qualidades que gostaria
de ver nos destinatários, não apenas como estudantes, mas como
pessoas reais. Alguém dedicado à família, alguém que prioriza as
coisas que realmente importam, alguém carinhoso e compassivo
que se compromete a ajudar os animais. Alguém que se parece
muito com você, Rosie.

— Quem? — eu pergunto, a única palavra ofegante enquanto


meu peito arfa, meus olhos ardem com lágrimas. — Quem é o
doador?

— Ele deseja permanecer anônimo.

— Eva, eu não posso...

— Você pode, Rosie. Você pode aceitar isso exatamente como é:


alguém que quer ver você ter sucesso em todos os seus sonhos,
porque você merece.

Meu queixo treme. — O que você está dizendo?

— Estou dizendo para ir para casa e descansar um pouco neste


fim de semana, Rosie, porque você tem um ano louco pela frente.
Você é a primeira a receber a Bolsa Stardust Lane.

Já é difícil o suficiente entender que recebi uma bolsa de


estudos no último minuto, permitindo-me terminar meus estudos
quando eu quase perdi as esperanças. Mas ouvir o nome da bolsa
é o que me faz chorar.

Porque Stardust Lane? Esse é o nome da rua em que cresci.

A última vez que estive em casa com meus pais.


— Gástrico o quê?

— Dilatação gástrica e vólvulo — repito para a mulher parada


diante de mim, uma mão segurando a alça da bolsa, a outra
colocada protetoramente sobre a barriga de seu cachorro. — É
quando o estômago de um cão se enche de gases e incha, ou o que
chamamos de dilatação gástrica. Progride para um vólvulo quando
o estômago inchado se torce, bloqueando a entrada e a saída do
estômago.

— E Pepper... ela precisa de cirurgia? Não há outra maneira?

— GDV requer cirurgia para corrigir.

— E vai? A cirurgia vai funcionar e Pepper vai ficar bem?

Olho para a linda e dócil São Bernardo na mesa de exame, o


laço rosa que ela usa na coleira. Grandes olhos castanhos me
encaram, e eu gostaria de poder mentir. — A cirurgia não é uma
garantia.

— Qual é a taxa de mortalidade?

— A taxa de sobrevivência-

— Pedi a taxa de mortalidade, não a taxa de sobrevivência.


Quero saber quais são as chances de meu cachorro morrer se eu
deixar você colocá-la naquela mesa.

Eu cerro meus punhos na tentativa de parar o violento tremor


em minhas mãos. — Em casos não complicados, a taxa de
mortalidade é de cerca de quinze a vinte por cento. Dependendo de
quanto tempo o estômago foi torcido e se outros problemas estão
presentes durante a cirurgia, a taxa de mortalidade pode saltar
para até trinta e oito por cento.

Ela acena com a cabeça, olhando para seu cachorro. — Preciso


de um tempo para decidir. Talvez eu leve Pepper para casa e
veremos como ela se sai no fim de semana.

— Sra. Greene, com todo o respeito, GDV é uma emergência


com risco de vida e requer intervenção imediata. É crucial aliviar a
pressão nos órgãos internos de Pepper o mais rápido possível.

Seus olhos se enchem de lágrimas e ela olha para a Dra.


Holmes ao meu lado, como se minha professora pudesse dizer a
ela que estou errada.

— Rosie está correta — ela diz simplesmente. — E quanto mais


tempo um cão fica sem tratamento, maiores são as taxas de
mortalidade. Se não for tratado, um cão com GDV morrerá. A
cirurgia é uma garantia? Não. Mas podemos garantir que faremos
tudo ao nosso alcance para ajudar sua garota. Sua outra opção é
sacrificar...

— Não. Não vou considerar isso. — Lágrimas escorrem pelo seu


rosto, e eu luto para me controlar, mordendo minha língua para
tirar a dor do meu peito enquanto a Sra. Greene olha para sua
melhor amiga. — Não entendo como isso aconteceu.

— Não há nenhuma causa ou razão — eu digo a ela


suavemente. — Tende a acontecer com cães maiores, como Pepper,
mas pode acontecer com qualquer cachorro.
Ela enxuga as lágrimas. — Posso ficar alguns minutos a sós
com ela?

— Claro. Vamos começar a nos preparar para a cirurgia.

A Dra. Holmes me segue até a sala de cirurgia, observando


enquanto eu organizo os instrumentos necessários. — É assim que
você imaginou terminar sua primeira semana do quarto ano?

— Preparando-me para a cirurgia? Eu esperava que sim,


honestamente. Eu tenho estado tão ansiosa para estar deste lado
do vidro. Mas para GDV? — Eu penso em Pepper, inconsciente no
SUV de sua mãe quando ela chegou aqui, como a Sra. Greene disse
que ela passou mal a manhã toda. — Não, não era assim que eu
imaginava terminar esta semana.

Mas, sinceramente, está de acordo com o que está acontecendo.


Não houve flexibilização no ano. Pulamos direto para o ambiente
de emergência na clínica do campus e não houve um momento de
silêncio desde então. Estou exausta, mal controlando minhas
emoções, e ontem à noite desmaiei na cama com os sapatos ainda
calçados e a janta – uma maçã – meio comida na mão. Estou muito
grata por estar aqui, mas mal posso esperar por uma pausa.

A Dra. Holmes me entrega o prontuário de Pepper enquanto ela


entra na sala. — Você pode nos contar sobre Pepper antes de
começarmos?

Eu sorrio para a doce e linda garota enquanto ela olha para


mim. — Oi, querida — murmuro, acariciando a mancha marrom
entre seus olhos. — Pepper é um São Bernardo de três anos e
cinquenta e sete quilos. Sua mãe relatou que ela não parecia bem
esta manhã. Ela não tomou café da manhã, estava quieta e
letárgica e preferiu dormir, coisas incomuns para Pepper. A mãe a
trouxe quando ela desmaiou tentando caminhar até seu prato de
água. — Eu aliso minha mão sobre suas orelhas, dando-lhe uma
coçada. — E ela tem os olhos castanhos mais lindos.

— Ela certamente tem, não é? — A Dra. Holmes põe a máscara


sobre a boca e coloca as luvas. — Tudo bem, vamos nos certificar
de manter Pepper confortável e vamos começar.

Eu não solto a pata de Pepper da minha mão. Não quando a


colocamos sob anestesia, e não quando entrego o bisturi à Dra.
Holmes para que ela possa fazer o primeiro corte em seu abdômen.
Não solto quando seu estômago se rompe repentinamente antes
que a cirurgia possa realmente começar, e não solto quando a
energia na sala se torna frenética enquanto a Dra. Holmes trabalha
o mais rápido que pode, fazendo tudo ao seu alcance para salvá-
la.

Eu não a solto, mesmo enquanto observo seu pulso cair cada


vez mais, até que ela se vai bem ali na mesa na minha frente, sua
pata ainda quente em meu aperto.

Não solto quando a Dra. Holmes toca meu ombro, diz que esta
é a parte mais difícil do trabalho e ela lamenta que eu tenha visto
isso tão rapidamente.

Não solto até que a sala se esvazie, até chegar a hora do


momento que temo, algo que passei esses anos esperando que, de
alguma forma, nunca tivesse que fazer.

— Nunca fica mais fácil? — eu pergunto em um sussurro,


espiando a mãe de Pepper através da pequena janela na porta.
A Dra. Holmes hesita. — Nunca.

— Eu estava com medo disso.

— Rosie. — Ela pega meu braço, parando-me antes que eu


possa abrir a porta. — Você foi ótima hoje. Você foi minuciosa e
rápida com sua avaliação de Pepper anteriormente, permitindo-
nos colocá-la naquela mesa tão rápido quanto nós, mesmo que
fosse tarde demais. Dê a si mesma alguma graça. Precisamos
manter nossas emoções sob controle aqui, sim, mas não preciso
que você seja um robô. Se você precisar chorar depois disso, grite,
xingue... dê a si mesma a graça de sentir o que você precisa sentir.
Acho que não podemos seguir em frente até que o façamos.

Concordo com a cabeça e, antes que perca a coragem, empurro


a porta.

A Sra. Greene pula de pé, torcendo as mãos. — Isso foi rápido.


Você disse que seria mais longo. — Ela sorri, mas é trêmula. —
Isso é uma coisa boa?

Eu não quero fazer isso. Eu não quero ser responsável por


partir seu coração, por dizer a ela que sua melhor amiga não vai
para casa esta noite, que ela não vai ficar enrolada em seus pés,
ou descansar a cabeça em seu colo.

Eu limpo minha garganta e caminho em direção a ela. — Sra.


Greene-

Sua respiração falha e ela pressiona a mão na garganta, dando


um passo para trás. — Não.

Tudo fica tenso, tão apertado que sinto que algo tem que se
romper. Há um nó na minha garganta tornando cada vez mais
difícil respirar. — A GDV da Pepper era extensa e avançada. Seu
estômago se rompeu com a pressão logo depois que começamos, e
não conseguimos salvá-la.

Meus olhos queimam enquanto vejo os dela se encherem de


lágrimas, derramando implacavelmente por seu rosto. Eu pisco
para longe, pressionando meus lábios para parar o soluço que quer
escapar.

— Ela não estava com dor quando se foi. Nós nos certificamos
de que ela estava confortável e amada. Ela não estava sozinha. —
Minha voz falha na última palavra e sinto um toque gentil em meu
ombro.

— Rosie segurou a pata de Pepper o tempo todo — diz a Dra.


Holmes à Sra. Greene. — Sabemos que isso é muito para
processar. Você gostaria de um momento sozinha, ou você gostaria
de um ombro?

— Eu... — Ela afunda em seu assento. — Eu não..., mas


Pepper... ela estava bem ontem à noite. Ontem à noite ela estava
bem. — Seu olhar está perdido, fixo no chão, mas aposto que ela
não está vendo nada. Seus olhos começam a vagar, saltando ao
redor da sala, como se estivessem entendendo as notícias.

Como se ela estivesse percebendo que acabou de perder sua


melhor amiga.

Eu estou bem. Juro que estou bem, mesmo quando seu peito
começa a arfar. Mas quando seu rosto se contorce, quando um
soluço se solta e ela desaba sobre si mesma, enterrando as mãos
trêmulas no cabelo e gritando por seu cachorro, algo dentro de
mim se despedaça. Agarro meu peito, tentando arrancar a dor dali,
e a Dra. Holmes sussurra um simples: — Vá — em meu ouvido
antes de se sentar ao lado da Sra. Greene.

E eu vou. Eu jogo minha prancheta na sala dos médicos e


irrompo pelas portas duplas que levam à área de recepção. Passo
correndo pelos olhares e saio pela porta da frente, para a tarde
quente de setembro, e corro.

Corro pelo campus, até acabar no mesmo banco em que


desmoronei duas semanas atrás, quando Adam me encontrou aqui
depois que perdi minha bolsa de estudos.

E eu faço a mesma coisa que fiz então.

Não quero, mas me entrego à dor, enterro o rosto nas mãos


trêmulas e deixo passar.

Como fiz aqui neste banco na segurança dos braços de alguém


que amei e confiei, eu desmorono.
CAPÍTULO 25

FAMÍLIAS PARA SEMPRE

Adotado.

Há essa parte boba de mim, essa criança pequena enterrada


tão fundo, que vê essa palavra de sete letras rabiscada na jaula do
animal e, toda vez, sem falta, realmente sente... ciúme. Luto por
uma família que perdi e por uma segunda com a qual nunca tive
chance.

Isso não muda nada sobre o quão animada eu fico ao ver os


animais indo para casa com suas famílias para sempre. Não há
nada que eu queira mais do que eles viverem o resto de suas vidas
no luxo.

Luxo é estar rodeado de todo o amor que você precisa para


caminhar pela vida. É ter com quem rir nos dias bons, e braços
para segurar você nos dias ruins. Luxo... são as pessoas que fazem
tudo valer a pena. Todo dia.

Já vivi com luxo e vivi sem ele. Eu sei qual eu escolheria.

Eu puxo Mittens de sua toca, aconchegando-o contra meu


peito. — Estou feliz que você está recebendo sua família, Mitts.
Ele rasteja até meu ombro, agarrando-se firmemente a mim
enquanto ando pelo abrigo.

— Vai ficar tudo bem, amigo. — Eu aliso minha palma em suas


costas enquanto chego à sala onde seu novo pai deve estar
esperando. — Você vai amar sua nova família.

Ele faz um som baixo e rosnado, como se não acreditasse em


mim.

Eu empurro a porta, parando quando vejo o homem grande e


tatuado ali.

Jaxon Riley, que agora sei ser o defensor superastro do


Vancouver Vipers, um dos lutadores mais notórios da NHL, um
playboy gigantesco e um dos melhores amigos de Adam, sorri. —
Oi, Rosie.

A cabeça de Mittens se vira e, com um miado que ecoa pela


galáxia, ele sai do meu peito. Jaxon ri, agachando-se para pegá-lo
em seus braços. Meu coração aquece com a visão, Mittens
enfiando sua cabeça fofa branca e laranja na curva do pescoço de
Jaxon, o ajuste perfeito.

— Ei, Mitts — Jaxon sussurra contra seu pelo. — Você está


indo para casa, marshmallow.

Eu disfarço minha risada como uma tosse quando Mittens


corre para cima da camisa de Jaxon e se joga sobre seus ombros
largos. — Sua camisa diz Cat Daddy?

Jaxon nem pestaneja. — Foda-se, sim. Eu queria dizer Slutty


Cat Daddy, mas Adam não deixou. Ele não é divertido às vezes.
Limpando a garganta, começo a folhear a papelada de adoção.
— Quase não reconheci você sem o bigode.

Seu sorriso é orgulhoso enquanto ele esfrega o local onde


aquela falsa monstruosidade estava quando o conheci. Agora, há
apenas restolho. — Pensando em cultivar um de verdade. Eu posso
arrasar, certo? Garrett parecia ridículo com o dele, no entanto.
Certo? Eu parecia melhor?

— Quem usava o melhor bigode falso quando vieram me


espionar é realmente uma competição?

— Tudo é uma competição entre mim e Garrett. E não


estávamos espionando você. — Ele ri do revirar de olhos atrevido
que lanço. — Ok, nós estávamos espionando você, mas apenas
porque Adam não parava de falar sobre você, e estávamos
cansados de esperar que ele apresentasse você.

Meu coração afunda com suas palavras inofensivas, e agarro a


prancheta em minhas mãos. — Hum, então, você trouxe uma caixa
transportadora para levar Mittens para casa, isso é ótimo.

— Rosie.

— Acho que você não terá nenhum problema, considerando o


quanto ele ama você...

— Rosie.

— Mas pode haver um período de ajuste em que ele vai se


esconder e-

— Rosie. — O peito de Jaxon aparece no meu campo de visão,


e Mittens estende a pata, colocando-a no meu ombro. — Isso saiu
errado. Adam não estava escondendo você de nós nem nada.
— Ele não estava?

— Não. Esse não é o estilo dele. — Ele ri de repente, coçando a


barba por fazer. — Na verdade, ele poderia, mas só porque ele
estaria com medo de que nós assustássemos você. Somos um
grupo autoritário. Como uma família grande e disfuncional. Uma
família grande, disfuncional e muito amorosa — acrescenta com
um olhar aguçado.

— Eu acredito em você — eu digo baixinho, passando por ele


para inspecionar sua transportadora.

— Você acredita?

— Claro que sim. A mídia ama seu relacionamento.

Não muito do que encontrei online me fez sorrir, mas uma coisa
que fez foi essa pequena família que Adam parece ter formado com
alguns de seus companheiros de equipe e suas parceiras. Toda vez
que são fotografados em uma noite na cidade, eles estão juntos. A
mídia adora referenciar suas contas de mídia social também,
especialmente a de Carter Beckett, o modelo de cueca com o pau
enorme do ponto de ônibus e, aparentemente, o capitão do time.
Sua conta no Instagram está repleta de fotos de sua família: sua
filha, sua esposa e seus melhores amigos, sempre juntos.

— A mídia não sabe tudo — Jaxon me lembra. — Eles inventam


histórias para fazê-las parecer mais interessantes do que
realmente são.

— Então Adam não é realmente o solteiro mais cobiçado da


NHL?
Ele esconde o sorriso atrás da mão. — Nah, ele realmente é. Ou
era, até que ele conheceu você. Mas me olhe nos olhos e me diga
que todos aqueles artigos sobre ele ser um namorador em série
não o fizeram parecer o maior filho da puta. — Olhos divertidos se
movem entre os meus. — Você não pode, pode? Eu sou o filho da
puta, não Adam. Eu estava apenas tentando transar; ele estava
apenas tentando encontrar seu lugar feliz. E ele falhou todas as
vezes, até que ele levou você para um piquenique e roubou seu
chapéu só para ter um motivo para vê-la novamente.

Meu coração palpita e a felicidade sobe pelo meu rosto,


puxando o canto da minha boca. — Ele contou sobre isso?

— Eu falei, ele nunca se cala sobre você. Sobre Connor


também.

Pego Mittens de Jaxon, aconchegando-o pela última vez. — Ele


disse a você que começou uma nova bolsa de estudos na minha
faculdade só para que eu pudesse me formar a tempo?

— Eu pensei que ele ficaria anônimo? — O rosto de Jaxon cai


com o meu sorriso. — Ah, porra. — Ele balança o dedo para mim.
— Sua merdinha sorrateira. Adam vai me matar.

Dói pensar em Adam, em todas as maneiras como ele tem sido


tão altruísta, tão solidário. Eu queria ficar com raiva dele por ser
egoísta em sua decisão de se esconder de mim, mas em todas as
minhas pesquisas, em tudo que li nas entrelinhas na internet, eu
entendo. Não gosto, mas entendo. Ele foi ferido várias vezes, e não
posso culpá-lo por ter medo de se machucar novamente.

Não temos todos medo de desgosto? Vem de muitas formas, das


pessoas que você menos espera, e nunca dói menos.
A coisa é, porém, ao tentar proteger seu coração, ele quebrou
os nossos no final. E o de Connor, que pergunta pelo Dada todos
os dias, quebrando meu coração novamente.

Abraçando um Mittens ronronante contra o meu peito, eu fecho


meus olhos. — Vou sentir sua falta, amigo, mas estou muito feliz
por você. — Ele cutuca sua cabeça macia contra a minha, e
pressiono um beijo antes de prendê-lo na caixa.

— Você pode ir visitá-lo algum dia, talvez — diz Jaxon, pegando


a transportadora e me seguindo até a recepção. — Ele vai viver
como um rei.

— Eu não tenho dúvidas.

Ele faz uma pausa na mesa, olhando para mim. — Você está
bem?

— Tudo bem.

— Você ficaria surpresa, mas anos de comportamento filho da


puta me ensinaram que quando uma mulher diz que está bem, ela
nunca está bem.

Eu dou uma risada cansada, esfregando meus olhos exaustos.

— Sério, o que há? Parece que você está prestes a desmoronar.

— Foram apenas algumas semanas difíceis. Não é nada. — Eu


fungo. — Estou bem.

Espero que ele acene com a cabeça, que saia pela porta com
seu novo melhor amigo, mas ele não se mexe. Apenas olha para
mim. Espera.
— Eu perdi um cachorro ontem — eu deixo escapar. — Na
faculdade. O nome dela era Pepper e ela ainda era apenas um bebê.
Eu segurei sua pata enquanto ela dava seu último suspiro, e então
eu tive que contar para sua mãe... — Lágrimas borram minha
visão, e a memória aperta minha garganta. — Tive de dizer à mãe
dela que ela não ia para casa. E tudo o que eu queria era ir até
Adam, porque ele apenas ouve, ele não tenta consertar coisas que
não podem ser consertadas. Ele me deixa sentir o que preciso
sentir e me faz sentir segura enquanto o faço. Mas ainda estou tão
magoada. Ele era meu lugar seguro, mas eu não era o dele. —
Esfrego minhas bochechas. Claro que estou chorando de novo.
Parece tudo o que fiz nas últimas duas semanas. — Quero ser
alguém com quem ele tenha orgulho de estar, mas em vez disso,
parece que eu era seu segredo sujo, e não sua primeira escolha.

A caixa bate na mesa na minha última palavra, e os braços de


Jaxon vêm ao meu redor, trazendo-me para seu peito. Ele me
segura assim até que meu corpo pare de tremer, até que minhas
lágrimas parem de vir, e quando ele finalmente me solta, não
consigo olhar para ele.

Observo com o canto do olho enquanto ele contorna a mesa,


sacode o mouse para ativar o computador, digita no teclado. Então
ele me puxa de volta para ele. Sinto seu queixo no topo da minha
cabeça e, por um momento, afundo na compaixão.

— Eu sei que não parece agora, mas prometo a você que tudo
ficará bem. — Ele me solta, pega Mittens e caminha até a porta
antes de parar mais uma vez. — Você nunca foi o segredo sujo
dele, Rosie. Você é o mundo dele, e tenho certeza de que ele parou
de girar desde que você se foi.

Pensamentos sobre Adam correm desenfreados em minha


mente enquanto observo Jaxon ir embora. Passos se aproximam e
o apito familiar de Archie soa atrás de mim antes de parar
repentinamente.

— Rosie? O que é isso?

Archie está inclinado sobre a mesa, olhando para o


computador. Ele aponta para mim com sua cabeça, e meu coração
tenta sair do meu peito ao ver o vídeo esperando por mim na tela,
com a legenda no alto.

Adam Lockwood quebra corações em todos os lugares: ele está


comprometido!

O vídeo foi iniciado, pausado em um ponto no meio. Adam está


sentado em um banquinho, vestindo a mesma roupa que usava na
última vez que o vi.

Archie pega o mouse, mas eu o agarro.

— Jesus — ele murmura enquanto eu pressiono Play. — Eu ia


fazer isso, garota mandona.

— Não rápido o suficiente.

Tudo em meu corpo para lentamente quando o vídeo começa,


o sorriso comovente de Adam em exibição, seus olhos azuis
elétricos, o timbre profundo de sua voz enquanto ele fala sobre sua
vida em Vancouver. Meu estômago aperta como um punho com o
lembrete do repórter de que eu nunca teria encontrado Adam se
ele não tivesse assinado novamente para ficar em Vancouver pouco
antes de nos conhecermos.

Posso ter vivido uma vida inteira antes dele, mas agora dói
imaginar uma sem ele. Porque quando Adam diz para a câmera
que seu coração está em Vancouver, eu sei que o meu também
está.

— Terei muitas mulheres furiosas em minhas mãos mais tarde


se não fizer a pergunta para a qual todos querem a resposta,
especialmente porque o namorador em série residente da NHL
parece ter desaparecido completamente da cena de namoro nos
últimos meses — diz o repórter. — Então, Sr. Lockwood, todo
mundo quer saber... existe alguém especial em sua vida?

Estou hiperconsciente do olhar de Archie, ricocheteando entre


mim e o vídeo, a maneira como tudo ao meu redor desaparece e
fica mais lento, até que tudo que consigo ouvir é o bater do meu
coração, o tamborilar do sangue em meus ouvidos. Minhas mãos
tremem e estou quase desligando o computador quando os olhos
de Adam ganham vida, uma faísca familiar que contém tanto amor,
o sorriso que surge em seu rosto, dividindo suas bochechas.

— Sim, há alguém especial. Duas pessoas especiais, na


verdade.

As sobrancelhas do repórter saltam. — Duas?

Adam ri. — Não é o que parece. Ela tem um garotinho.

— Padrasto Adam! — alguém grita fora da câmera, seguido por


uma série de vaias e assobios. Suas bochechas queimam antes que
ele abaixe a cabeça para esconder o sorriso.
— Você parece muito apaixonado — reflete o repórter. — É bom
ver você tão feliz.

— Eu não tinha certeza se seria tão feliz de novo. — Adam


esfrega a nuca e dá de ombros. — Eles me fazem querer ser a
melhor versão de mim mesmo.

— Então, é sério? Esta mulher e seu filho?

— A única coisa que levo tão a sério quanto o hóquei.

— Você está planejando seguir os passos do seu capitão?

— Eu normalmente me esforço para fazer exatamente o oposto


de Carter — diz ele com uma risada. — Mas presumo que você
esteja se referindo a ele se estabelecendo, casando-se e começando
uma família...

— Exatamente.

Os dedos de Adam batem em seu joelho por um momento de


silêncio, e então ele sorri. — Sempre adorei a ideia de ser casado.
Sempre foi uma parte importante do meu plano de vida, porque
meus pais foram um exemplo incrível de duas pessoas que se
amam trabalhando nas partes mais difíceis da vida. Eles são a
prova de que você não precisa fazer isso sozinho, e eu não quero.
Quero fazer todas as coisas difíceis com a pessoa certa ao meu
lado.

— Então, eu me vejo me estabelecendo com ela? Sim, eu


realmente faço. E começar uma família? — Adam olha diretamente
para a câmera e, por um momento, parece que está olhando
diretamente para mim. — Já temos uma, mas mal posso esperar
para continuar a construí-la.
Esta é a primeira vez que venho aqui sozinha em mais de dois
meses.

Tive Adam ao meu lado desde que o encontrei por acaso em


julho. Sem ele, não fui capaz de voltar aqui.

Mas este é o meu espaço. Antes de Adam, era aqui que me


sentia segura. Há algo de inatamente reconfortante na sensação
da terra sob seus pés, onde tudo é tão verde, tão fresco, um sinal
de vida, uma energia renovada. Onde cada respiração do ar da
montanha faz você se sentir vivo com clareza.

Clareza. Está desaparecida há duas semanas e, neste


momento, é tudo o que preciso.

— Pare de me olhar assim, garota atrevida — digo a Piglet


enquanto caminhamos pela floresta, porque é a centésima vez que
ela lança esse olhar mal-humorado para mim por cima do ombro.
— Eu entendo: tudo é muito menos divertido sem Adam e Bear.
Eu não sou excitante o suficiente.

Ela inclina a cabeça, seus lindos olhos castanhos piscando


para mim. Então ela trota de volta para o meu lado, cutucando
minha mão antes de continuar ao meu lado. Ela tem um jeito
engraçado de desacelerar meus pensamentos acelerados,
lembrando-me de pegar leve comigo mesma. Talvez seja por isso
que nos damos tão bem. Damos uma à outra a paciência e o amor
de que ambas precisamos.
— Eu sei que está aqui em algum lugar — murmuro, rastejando
por entre as árvores. Eu havia desistido de encontrar aquelas
iniciais de treze anos atrás que meu pai esculpiu naquela árvore
quando eu tinha onze anos. Devo ter procurado centenas de vezes
durante meus anos em Vancouver. É bobagem, mas quando Adam
as encontrou, pensei que talvez fosse a maneira de meus pais me
avisarem que estavam conosco, que aprovavam Adam.

E acho que isso é parte do motivo pelo qual não voltei aqui
desde então. Porque sei que se não achar agora, quando precisar
muito, vou me questionar. Minha mente vai vagar para aquele
perigoso território hipotético que odeio, onde eu duvido de tudo. E
estou tão cansada de adivinhar. Eu só quero ter certeza. Quero
seguir em frente com a certeza de que estou tomando a decisão
certa para mim. Não importa o que aconteça no final, quero saber
que acreditei em mim, que me dei uma chance verdadeira de amar,
de um feliz para sempre com alguém que só me eleva.

E se eu não conseguir encontrar esta árvore, se meu cérebro


tentar convencer meu coração de que é um sinal... e se eu não for
forte o suficiente para lutar contra essa voz? E se as vozes me
dominarem e eu ceder à pressão para desistir?

Digo a mim mesma que não estou realmente procurando, que


se eu encontrar, encontrei. Mas cinco minutos se transformam em
dez, e quando estou andando em círculos por quarenta e cinco
minutos, tudo em meu peito fica tenso.

— Está aqui — digo a Piglet. — Eu sei que está aqui. Tem que
star.
Mas quanto mais eu me encontro de mãos vazias, mais duvido
de mim mesma. E quanto mais duvido de mim mesma, mais eu só
quero rastejar para os braços dos meus pais, lembrar como é estar
cercada, protegida por esse tipo de amor incondicional.

Então, quando meu coração fica pesado e essas vozes tentam


vencer, eu me dou alívio. Pego uma árvore, qualquer uma velha, e
me afundo na base dela. Piglet coloca a cabeça no meu colo e lambe
meus dedos enquanto fixo minha visão no céu azul se filtrando por
entre as árvores, e me concentro em inspirar lufadas de ar fresco,
limpando minha mente.

— Sou mais forte do que as vozes na minha cabeça que me


dizem que sou fraca — lembro a mim mesma. — Eu priorizo a mim
mesma e minha família, e tomo decisões com meu bem-estar no
centro. — Respiro fundo e mergulho no momento, a terra sob
minhas mãos. Se eu ouvir com atenção, quase posso ouvi-lo.
Minha risada soando por entre as árvores, mamãe me dizendo para
ficar perto, papai sugerindo um mergulho no riacho. Eu posso
ouvir o barulho da água enquanto dançamos por ela, sinto seu frio
beijar meus pés e, neste momento, eu os sinto. Colocando minha
mão sobre meu coração palpitante, digo com certeza: — Mesmo
que eu não possa vê-los, meus pais estão sempre comigo.

Piglet e eu ficamos aqui por meia hora, e quando finalmente me


levanto de novo, minha cabeça está clara. Não há vozes me dizendo
o que posso ou não fazer. Tudo parece estável. Claro. Como se eu
soubesse exatamente para onde estou indo, e o alívio que isso traz,
a sensação de liberdade, é impressionante.
Nas últimas duas semanas, tenho lutado contra a dor
avassaladora dentro de mim que parecia tão vazia. Nunca estive
vazia, porém, e precisava me lembrar disso. Eu tenho Connor, e
nossa pequena família é suficiente. Sempre será o suficiente. Ele é
a luz do sol se infiltrando pelas rachaduras de vidro quebrado que
foi colado: ele preenche todos os espaços vazios com luz.

O problema é que, quando alguns desses pedaços quebrados


se soltaram e tentei colocá-los de volta no lugar, Adam me ajudou
a perceber que não havia problema em deixá-los onde estavam, ao
ar livre. Ele os segurou em suas mãos e me mostrou o quanto mais
luz brilha quando você aprende a deixar ir, deixar as coisas
acontecerem.

Acho que o que estou dizendo é que, embora eu tenha tudo de


que preciso com a família que Connor e eu criamos um com o
outro, a família que acho que ambos queremos... bem, acho que
essa família inclui Adam.

Porque mesmo quando ele não está aqui, ele está em todo lugar.

Talvez seja por isso que não me surpreendo quando meus olhos
pousam naquele coração esculpido no pinheiro imponente diante
de mim, aninhado no meio da floresta. Meu olhar percorre as
linhas daquelas iniciais, os números que marcam o tempo que
passei aqui com meus pais. E, finalmente, meus olhos baixam.
Descendo o tronco, onde a árvore encontra a terra.

Onde caules de peônias rosa brilhantes estão espalhados ao


redor, tornando esta árvore impossível de perder.

Porque mesmo quando ele não está aqui, ele está em todo lugar.
E acho que não o quero em nenhum outro lugar.
CAPÍTULO 26

ELES CHAMARAM MINHA MÃE

Esqueci o quão fisicamente exaustivo é o desgosto.

É ficar olhando para o celular até tarde da noite, relendo


mensagens antigas, sorrindo para as fotos. Digitando uma centena
de novas mensagens, apenas para desistir e excluir cada uma
delas. Desgosto é esquecer de comer, não dormir nada ou dormir
demais. É confusão mental e dores de estômago, pular o treino
matinal e esquecer que você fez planos.

O desgosto é mil vezes pior quando Rosie é quem está faltando


em meu coração.

Eu gostaria que fosse tão fácil quanto me ajoelhar e implorar


por perdão, mas quando me afundo em um dos sofás da sala
principal da Second Chance Home, sei que não é. Menti para
Rosie, alguém que confiou em mim tudo o que é precioso em sua
vida. E em vez de ficar furiosa comigo, em vez de gritar, de me dizer
que nunca me perdoaria, ela me confortou. Ela tomou minha dor
em suas mãos e me deu graça. Por espaço, por paciência. E, como
disse a ela então, eu daria a ela qualquer coisa que ela pedisse.
Um arrastar de pés silencioso traz meu olhar para cima,
encontrando a pequena Lily de pé na extremidade oposta do sofá,
mãos entrelaçadas, cabeça baixa.

— Ei, Lily.

— Oi, Adam. — Ela se arrasta no chão, grandes olhos


castanhos saltando para os meus, depois de volta para baixo. —
Posso me sentar com você?

Dou um tapinha na almofada ao meu lado. — Você sempre


pode se sentar comigo, querida.

Ela se aproxima, deixando um espaço entre nós. — Eu fiz algo


ruim?

— Algo ruim?

Ela balança a cabeça, os olhos fixos em suas mãos no colo. —


Às vezes, em casa, papai dizia que não queria me ver. Ele dizia que
era porque eu estava sendo ruim, mas nunca sabia o que tinha
feito. Ele me trancava no meu quarto por um tempo.

Um tique muscular na minha mandíbula. — Um tempo?

— Sim. Eu não tinha permissão para sair ou descer para


assistir TV ou brincar com meus brinquedos. Mamãe me levava
sanduíches e outras coisas e ia brincar comigo enquanto papai
dormia. — Ela puxa a bainha do vestido várias vezes, os nós dos
dedos ficando brancos. — Eu pensei que talvez eu tivesse sido ruim
e você não quisesse mais me ver.

A raiva se move através de mim, e eu forço meus punhos a se


abrirem. Não conheço a história de Lily, mas sei que não quero ser
como o pai dela. Que eu inadvertidamente a fiz se sentir indesejada
enquanto estava em minha própria cabeça nas últimas duas
semanas me deixa doente.

Eu alcanço a abertura, enganchando meu dedo mindinho em


torno de seu minúsculo. — Sinto muito, Lily-bug. Eu estava tendo
alguns dias difíceis, mas não deveria desaparecer assim. Sinto
muito por ter assustado você, e sinto muito por ter feito você sentir
que tinha algo a ver com você. Você é especial para mim, e eu
nunca faria nada para ferir seus sentimentos intencionalmente
dessa forma.

Lentamente, ela desliza sua pequena mão na minha. — Como


é que você me chamou, de Lily-bug?

— Eu não tenho certeza. Mas parece meio feliz, não é? E me


sinto feliz quando estou com você. Parece que meu coração está
sorrindo.

Suas orelhas ficam vermelhas e ela torce o nariz e a boca,


tentando esconder o sorriso. — Mamãe costumava me chamar de
Lily-bug. Antes de papai mandá-la para o céu.

Porra. — Se você quiser, não vou chamá-la assim de novo. Você


pode manter seu nome especial que você compartilhou apenas com
sua mãe.

Lily fica quieta, aproximando-se e virando nossas mãos


entrelaçadas em seu colo, passando a ponta de um dedo
minúsculo sobre meus dedos. — Por que você está triste hoje?

— Não estou fazendo um bom trabalho em esconder isso, hein?

Seu nariz enruga. — Talvez você seja melhor no hóquei?


— Espero que sim. — Eu rio, depois suspiro. — Feri os
sentimentos de alguém. Alguém especial para mim. Eu menti para
ela sobre algo bobo e isso realmente a machucou.

— Como é que você fez isso?

— Eu estava com medo de me machucar e não queria perdê-la.


Achei que talvez ela gostasse mais de mim se não soubesse que eu
jogo hóquei.

Lily inclina a cabeça. — Mas por quê? Eu gosto de você, embora


você jogue hóquei.

— Sim? — Eu aperto a mão dela. — Por que você gosta de mim?

— Porque você é legal comigo, você me faz rir, faz pulseiras


comigo, e nos dias em que estou muito triste, esqueço por que
estou triste quando você brinca comigo.

Algo quente se move através de mim, e eu luto contra o desejo


de envolver esta garotinha em meus braços. — Isso me faz sentir
muito especial, Lily. Obrigado.

— Você é especial, Adam. — A compaixão brilhando em seu


olhar me balança profundamente. Nesse momento, percebo o
quanto ela me lembra Rosie. — Eu poderia dar um abraço em você,
se quiser. Mamãe dizia que eu tenho abraços mágicos. Eles sempre
a faziam se sentir feliz quando ela estava triste. Então, se você
quiser... — Ela dá de ombros. — Eu poderia dar um abraço em
você.

— Eu adoraria um abraço mágico.

Cautelosamente, ela envolve seus bracinhos em volta de mim.


Enrolo meu braço em suas costas, segurando-a gentilmente, e
enquanto ela se aconchega em mim, tudo parece que vai ficar bem.
Acho que essa é a mágica.

— Adam? Acho que você poderia me chamar de Lily-bug. Como


minha mãe fazia.

— Isso me faria sentir muito especial em compartilhar algo com


você que você só compartilhou com sua mãe.

— Eu acho que ela gostaria se eu compartilhasse com você. —


Ela deita a cabeça contra mim, suspirando baixinho. — Você
parece seguro, assim como minha mãe.

Eles chamaram a minha mãe, porra.

Meu pai também, mas ele simplesmente deu um tapinha nas


minhas costas e deslizou para o quintal com o resto dos caras,
murmurando um rápido: — Boa sorte — antes de me deixar
sozinho com esse bando de hienas ferozes.

— Sinceramente — minha mãe começa — já era hora de eu ser


convidada para a noite das garotas, já que alguém tem ignorado
meus telefonemas.

Arrasto-me no chão. — Eu estive ocupado.

— Ocupado chafurdando na autopiedade — Cara esclarece


revirando os olhos.

— Ocupado com saudades de Rosie — Olivia corrige com um


olhar penetrante para Cara.
— Ocupado cuidando de sua artrite prematura, porque ele
voltou a se masturbar agora — Jennie murmura, verificando suas
unhas.

Eu arrasto minhas mãos pelo meu rosto. — Como?

— Como o quê? — Cara pergunta.

— Como vocês são minha melhor opção?

— Ei! — Olivia apoia os punhos nos quadris. — Eu me ofendo


muito com isso! Eu sou quase normal e madura!

Com os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos, passo os


dedos pelo cabelo. — Talvez possamos encerrar a noite. — Eu
bagunço as orelhas de Bear, e ele estala uma pálpebra sonolenta,
olhando para mim do meu colo. — O que você acha, cara? Sou
uma causa perdida?

— Adam. — Olivia se espreme ao meu lado. — Você não é uma


causa perdida.

— Eu sei como é fácil desistir de si mesmo — Jennie oferece


gentilmente. — Mas não vamos deixar você fazer isso.

— Eu realmente sinto falta dela. — Esfrego meu peito, tentando


aliviar a dor que bate ali. — Não está ficando mais fácil, dar espaço
a ela. Só fico com mais raiva de mim mesmo a cada dia que passa
sem ela.

— Eu odeio Courtney — minha mãe murmura.

— Estou com Bev — Cara diz, jogando uma perna sobre a


outra. — E não é tarde demais para voltar à minha ideia original
de atropelá-la com meu carro.
— Não vamos atropelar ninguém — diz Olivia. — Mas se ela
fosse empurrada acidentalmente... — Ela levanta a mão, parando
e balançando a cabeça. — De todas as coisas terríveis que
Courtney fez, a pior de longe foi derrubar você a ponto de acreditar
que – exatamente como você é – não merece o amor de alguém.

Eu abaixo minha cabeça. — Eu nem sei mais quem eu sou.

— Sabemos quem você é, Adam — Jennie insiste baixinho. —


Você é eternamente esperançoso. Alguém que sempre tenta ver o
melhor nos outros.

— Você torce por todos e sempre fica ao lado de seus amigos —


acrescenta Olivia.

— Você torce pelas pessoas pequenas que não conseguem


torcer por si mesmas — Cara me diz. — Algumas daquelas crianças
não tinham um motivo para sorrir até você entrar em suas vidas.

— Você tem o maior coração de todos que eu conheço — Garrett


diz atrás de mim, e eu me viro, encontrando meus amigos e meu
pai na porta do meu pátio.

— Quando me sinto um fracasso, eu me encontro com você —


Emmett me diz. — Você me levanta e me lembra o quão longe
cheguei.

— Você me faz querer ser uma pessoa melhor — Jaxon


murmura, olhando de mim para o chão. — Acho que meio que já
sou, e é porque sigo você.

Carter se inclina contra a porta, sua filha em seus braços. —


Você acredita em mim quando ninguém mais acredita.
Eu bufo uma risada cansada. — Isso provou ser uma
característica cara minha.

— E você dá os melhores aconchegos — ele murmura com uma


voz de bebê, balançando os braços de Ireland enquanto ela ri. — E
você é definitivamente o mais bonito e forte de todos os meus tios,
quase tão bonito e forte quanto meu pai, mas não exatamente.

Risos ecoam por toda a sala, e Carter coloca sua filha sorridente
em meus braços. — Sério, cara, você não se vê com clareza. E nós
entendemos. Como você poderia depois de tudo que você passou?
Mas se olhar em volta desta sala, verá um monte de gente que ama
você. — Ele dá de ombros. — Mas você precisa se amar também.
Especialmente se quiser que Rosie ame você.

— Por que você sente que não a merece? — meu pai pergunta.

— Eu nunca disse isso.

— Não com suas palavras, talvez. Mas é isso que suas ações
dizem, não é? Você escondeu quem você era porque sentiu que
essa pessoa poderia ser menos merecedora do amor dela.

Rosie é tudo de bom e brilhante neste mundo. Ela tem o


coração mais puro, feito do sol mais quente. Ela é a personificação
da compaixão e da graça, a pessoa mais gentil que já conheci,
alguém que se esforça para dar às pessoas a compreensão que não
recebeu quando mais precisava. Ela está continuamente
trabalhando em si mesma, dando passos difíceis para dar ao filho
a vida que ele merece. Ela está sempre tentando ser a melhor
versão de si mesma, mas não acho que ela precise mudar nada;
sua motivação e seu coração garantem que ela seja alguém que só
dá o melhor de si sempre que se move.
— E se eu não puder dar a ela tudo o que ela passou a vida
procurando? — eu sussurro. — Não posso ser um parceiro que
está ao lado dela todos os dias quando estou viajando 75% do ano.
Vou perder aniversários e comemorações, e não vou segurar a mão
dela em alguns de seus momentos mais difíceis. Como posso ser o
parceiro que ela merece? A família que ela e Connor precisam? —
Balanço a cabeça quando a verdade aperta minha garganta. — Não
posso ser.

— Ah — minha mãe murmura. — Então é por isso que você só


a escolheu com metade do seu coração.

As garotas estão todas concordando, mas eu estou sentado


aqui, tão perdido que não consigo distinguir a esquerda da direita.

— Aqui você tem essa linda mulher que viveu sua vida sem ser
escolhida. Quem nunca quis nada mais do que alguém que a visse
e a amasse o suficiente para a escolher e seu filho. E você a
escolheu, Adam, você realmente escolheu. Mas você não escolheu
a si mesmo. Você pegou tudo dela e só deu a ela metade de você
em troca. Todos esses pedaços quebrados não fazem um todo, a
menos que você dê todos eles para ela.

Todo esse tempo, eu queria que alguém gostasse das partes de


mim que não eram definidas pelo hóquei. Eu queria que alguém
me visse fora do esporte e tudo o que ele me trouxe, e também
quisesse essas partes. Porque por tanto tempo, isso foi tudo que
eu fui. Mas a verdade é... o hóquei faz parte de mim. Fez de mim
tudo o que sou hoje, tanto o bom quanto o ruim. Sou leal e
solidário porque sei fazer parte de uma equipe. Sou empático
porque sei como é perder, colocar tanta pressão em mim para ter
sucesso, e sei como é ter pessoas me apoiando a cada passo do
caminho quando acho que não mereço. Eu amo tanto quanto amo
porque as pessoas me amaram com a mesma intensidade.

E porque as pessoas me quebraram, eu nunca, jamais quero ser


como elas.

Encontrei Rosie. Finalmente, eu a encontrei, porra. Alguém que


me faz sentir como uma pessoa. Esqueço quando estou com ela.
Esqueço que eu fui quebrado. Eu esqueço de fingir. Esqueço
quanto dinheiro valho e, ainda assim, com ela ao meu lado, eu me
sinto inestimável. Insubstituível. Quando estou com Rosie, sinto
que não há ninguém vivo que possa amá-la do jeito que eu amo,
do jeito que quero prometer amá-la pelo tempo que ela me permitir.

Mas quando estou sozinho, eu me lembro.

Lembro que fui substituído por alguém que amava. Que eu não
era nada além de cifrões, uma casa chique e um rosto bonito.
Esqueço todas as coisas que Rosie ama em mim, as coisas que
amo em mim, e me concentro em todo o resto. Tudo isso me leva
mais fundo na mentira que contei, onde não consigo enfrentar a
possibilidade de dar tudo a Rosie, porque tudo nunca foi
suficiente.

— E se eu der a ela tudo de mim e ela decidir que não quer? —


As palavras são roucas, meio quebradas, mal se agarrando a um
fio de esperança. — Não tenho mais nada para dar a ela.

Olivia coloca a mão sobre a minha. — Você dá o que pode,


Adam, e se ela não quiser, a perda é dela, e é grande. Mas pelo que
vale, não consigo imaginá-la não amando você inteiro. O que você
deu a ela é quem você é; o hóquei é apenas uma extensão de você
mesmo. Isso não muda nada em seu coração. Ela precisa dar uma
chance a você para mostrar isso a ela – e ela o fará, porque ela
sempre foi tão paciente, tão boa em fazer você se sentir visto. E
você precisa estar disposto a deixá-la ficar com todas essas peças,
confiar a ela tudo isso.

— Tudo bem ter medo, Adam — Jennie murmura. — Porque


quando você tem problemas para amar seus próprios pedaços
quebrados, nada parece mais assustador do que dá-los a outra
pessoa. — Seus olhos voam para Garrett, e algo suave se move em
seu olhar. — Mas às vezes essas pessoas mostram exatamente
como amar os pedaços quebrados de si mesmo. Para eles, você não
está nem um pouco quebrado.

Minha mãe sorri suavemente do outro lado da sala. — Vá


mostrar a Rosie como você pode amá-la, simplesmente porque você
é você e ela é ela. Mostre que ela e Connor são a família que você
escolheu, porque vocês se encaixam perfeitamente. Mostre a ela
que o homem por quem ela se apaixonou e o jogador de hóquei que
ela acabou de conhecer são a mesma coisa. Mostre a ela que você
a ama, Adam, porque nós sabemos que você a ama. E, no fundo,
acho que ela também sabe.

Cara enxuga uma única lágrima de seu olho, fungando. — Eu


sabia que ligar para sua mãe era meu melhor trabalho até agora.
Mal posso esperar para ver como vou superá-lo.

Meu pai vem para ficar atrás de mim, cutucando meu ombro.
— Talvez duas semanas seja tempo suficiente para esperar de
braços cruzados. Você tem sido paciente, e isso é ótimo. Agora,
talvez o que Rosie precise seja que você se intensifique e lembre a
ela que você ainda está aqui e não vai a lugar nenhum. Que
quando ela estiver pronta, você estará bem aqui, pronto para
seguir em frente com ela. — Ele pisca. — As mulheres adoram os
homens que as perseguem um pouco. Basta perguntar a sua mãe.

— E Ollie — Carter acrescenta com o movimento de suas


sobrancelhas. — Ela me quis desde o começo, mas fingiu que
não...

— Carter.

— Tudo bem — ele resmunga, cruzando os braços. — Mas foi


relevante.

Mamãe me abraça por trás, beijando minha têmpora. — Estou


orgulhosa de você, querido. Eu quero que você se orgulhe de você
também. — Ela afasta um dos cachos de Ireland da testa. — Jesus,
Carter, eu não posso acreditar que você ajudou a fazer algo tão
bonito e puro. Graças a Deus por sua incrível esposa. — Ela se
endireita, dando tapinhas no meu ombro. — Garrett, tenho uma
caixa de salgadinhos para você no...

— Não diga mais nada — diz ele, sem fôlego enquanto corre
pelo corredor.

É incrível como, assim, minhas preocupações começam a


desaparecer. Acho que é para isso que serve a família: para
levantar você quando está tão caído que não consegue ver a saída.
Mesmo as coisas mais difíceis parecem mais administráveis com
minha família ao meu redor.

Então, enquanto passamos o resto da noite aproveitando o final


do verão no pátio, bebendo cerveja e comendo churrasco, eu me
sinto contente. Pela primeira vez em duas semanas, adormeço
pacificamente e, quando acordo de manhã com o sol batendo em
meu rosto, estou otimista.

A hora no meu telefone me diz que já passa das nove, e é


provavelmente por isso que Bear não está na cama. Se eu não o
alimentar até as sete, posso encontrá-lo esperando em sua tigela
na cozinha, agindo como se eu o tivesse deixado passar fome por
dias.

Eu ando escada abaixo, o cheiro da torrada francesa da minha


mãe flutuando da cozinha, fazendo meu estômago roncar. Dou um
beijo em sua bochecha, roubando um pedaço de bacon da
travessa.

— Bom dia, querido. Tentei alimentar o Bear, mas ele não se


interessou. — Ela gesticula para o quintal. — Ele está
descansando no sol. Parece que ele está se movendo um pouco
devagar hoje.

— Obrigado, mãe. — Eu saio com sua tigela, assobiando para


ele. Sua cabeça aparece de onde ele está enrolado sob a sombra de
um carvalho, mas ele não se move, exceto pelo agitado chicote de
sua cauda quando me aproximo. — E aí, cara? — Coloco a tigela
na frente dele, acariciando suas orelhas caídas e beijando o ponto
entre seus olhos. Ele deita a cabeça para trás e eu franzo a testa,
passando a palma da mão sobre sua barriga. É difícil dizer por
baixo de todo o pelo, mas parece inchada, quase estufada. — Você
está com dor de barriga, garotão?
Enormes olhos castanhos olham para mim enquanto seu rabo
desacelera para uma batida feliz e constante na grama, mas ele
não faz nenhum movimento para comer seu café da manhã.

— A vovó está fazendo bacon — eu tento, e aquele baque


constante se torna frenético antes que ele fique de pé. — Aí, garoto.
Vamos, grandalhão. É a coisa boa, duplamente defumada e com
sabor de bordo.

Ele corre na minha frente, um pulo feliz antes de parar de


repente. Seus olhos encontram os meus por cima do ombro e, por
um momento, acho que ele está esperando que eu o alcance.

Até que os mais de sessenta quilos dele desabam no pátio.


CAPÍTULO 27

QUANTAS PORRAS DE SAPATOS EXISTEM?

A clareza tem uma maneira engraçada de fazer você se sentir


como se estivesse amarrada a um feixe de balões de hélio,
flutuando acima dos céus com a visão mais nítida do seu mundo,
onde todas as respostas estão diante de você como um livro aberto.
O tipo de clareza que vem com a pausa, tendo tempo para refletir
sobre suas prioridades para que você possa escolher seu futuro
com certeza.

Connor é meu tudo. Ele é meu passado, meu presente e meu


futuro. Mas Adam, ele é o nosso futuro. Esse é o tipo de
conhecimento que a clareza me trouxe, fazendo-me pesquisar as
datas do campo de treinamento do Vancouver Vipers no Google e a
programação dos jogos da pré-temporada do Vancouver Vipers
ontem à noite. O Google me disse que ele sai amanhã para seu
primeiro jogo de pré-temporada em Edmonton, então se eu quiser
falar com ele – e quero – tem que ser hoje.

Deve ser por isso que tenho flutuado durante minha rotação
matinal na emergência com um sorriso no rosto, sem um pingo de
tensão nos ombros.
Tudo bem, tenho que creditar a dose extra de café expresso que
adicionei ao meu café com leite gelado de baunilha esta manhã. E
tudo bem, também ajuda que as emergências tenham sido
inexistentes até agora. Passamos a manhã olhando radiografias
antigas e suas anotações clínicas correspondentes e contando a
Dra. Holmes o que achamos que estava acontecendo com os
animais. Eu acertei todos elas até agora, então eu flutuo um pouco
mais alto enquanto vou para a recepção para arquivar os registros.

— É difícil acreditar depois de dias como sexta-feira — diz a


Dra. Holmes —, mas temos dias bons por aqui. Aproveite quando
vierem.

Minha mente vagueia de volta para uma noite quente de verão


quando eu saí pela porta da frente, determinada a checar três
vezes o coelhinho que devolvemos ao seu ninho vazio no parque,
para ter certeza de que sua mãe realmente tinha voltado. Meu pai
me alcançou no final da entrada da garagem e caminhamos juntos.
Essa foi a primeira vez que eu disse a ele que queria ser veterinária
como ele, e ele me disse a mesma coisa que Dra. Holmes disse: que
apesar de todos os dias difíceis, onde tudo que eu faria seria chorar
e querer desistir, viriam tantos dias bons também.

Os dias bons nem sempre são os dias fáceis, ele disse. E ele
estava certo. Às vezes, eram os dias em que você se sentia
pendurada por um fio, em que se perguntava por que tinha
escolhido algo que poderia ser tão doloroso, apenas para ver um
amigo peludo abrir os olhos quando você não tinha certeza se eles
abririam novamente, quando os braços de seu humano vinham ao
seu redor sem aviso, abraçando-o com tanta força enquanto
agradeciam.

Os dias em que você pode olhar para trás e saber que fez a
diferença, ele disse. Esses são os dias que fazem tudo valer a pena.

Sei que os dias serão difíceis. Eu quero ser aquela que tira a
dor do dia mais difícil de alguém e o torna um pouco mais fácil de
carregar.

Um motor ruge por perto, seguido pelo guincho de pneus no


estacionamento. A conversa murmurada irrompe ao meu redor
enquanto meus colegas se reúnem nas janelas da frente para
assistir à nossa primeira emergência.

— Desculpe encurtar nosso dia fácil, pessoal — diz a Dra.


Holmes. Seus olhos vêm aos meus. — Pronta?

Concordo com a cabeça, tirando meu estetoscópio do bolso e


pendurando-o no pescoço. Minhas pernas me levam rapidamente
para as portas, e eu quase tropeço em meus pés quando uma
caminhonete azul escura derrapa e para na frente. Quando a porta
do passageiro se abre, meu coração para.

— Aquele é Adam Lockwood? — alguém se pergunta em voz


alta, e quando Adam pula do banco do passageiro, seu cachorro
de sessenta quilos flácido em seus braços, eu já estou empurrando
a porta, correndo em sua direção.

— Rosie! — Adam grita enquanto profissionais e estudantes o


cercam, alcançando Bear. — Eu preciso de Rosie! — Ele agarra
Bear contra seu peito arfante, seus olhos lacrimejando através do
estacionamento, deslizando diretamente sobre mim. — Não! Você
não pode levá-lo. Só Rosie pode tocá-lo!

Abro caminho, agarrando o rosto de Adam e puxando seu olhar


torturado para o meu. — Respire, Adam. Respire, amor. Eu estou
bem aqui.

Olhos cor de safira fixam-se nos meus, avermelhados e em


pânico. — Eles não podem levá-lo — ele sussurra. — Eu não confio
neles. E-eu... eu confio em você.

Eu cubro a mão trêmula de Adam, seus dedos emaranhados no


pelo de Bear. — Vou dar uma olhada no Bear, ok? Mas você pode
confiar em todos aqui, prometo. Eles querem ajudar.

— Você vai olhá-lo? — Olhos esperançosos saltam entre os


meus. — Você? Porque ele conhece você. Ele-ele... ele ama você.

— E eu o amo também. Muito.

Um homem bonito e largo com pele morena profunda sai do


banco do motorista da caminhonete de Adam, parando atrás dele,
apertando seu ombro. Conheço esse homem pelas fotos felizes na
escada de Adam, mas o que eu não sabia sobre ele até o Google me
dizer é que o diácono Lockwood, pai de Adam, é um jogador
aposentado da NFL. Um zagueiro, para ser específico, e acho que
isso é um grande negócio.

Em meio à preocupação, seu olhar brilha de bondade. — Oi,


Rosie.

— Oi, Sr. Lockwood. — Nós compartilhamos um sorriso suave


antes de eu correr meus dedos pelos cachos despenteados de
Adam, segurando sua bochecha. — Precisamos levar Bear para
dentro para que possamos olhar para ele imediatamente, ok?

Seu queixo treme, lágrimas grudam em seus cílios escuros.


Quando ele pisca, elas escorrem por suas bochechas. — Não posso
perdê-lo, Rosie. Eu não posso. Ele é meu melhor amigo.

— Vamos fazer tudo o que pudermos por ele. Eu prometo.

— Sr. Lockwood, sou a Dra. Holmes, professora de Rosie e chefe


de cirurgia de emergência aqui. — Ela guia Adam e seu pai para
dentro. — Vamos caminhar e conversar para que possamos
alcançar Bear e estabilizá-lo imediatamente. Você pode nos dizer o
que aconteceu?

— Não sei. — Adam coloca Bear na mesa de exame. — Ele


estava bem ontem à noite. Ele estava brincando com o amigo no
quintal, e ele ocupou a cama inteira à noite como ele gosta, Rosie,
sabe? E então, esta manhã, ele não quis tomar café da manhã, e
você sabe o quanto ele gosta de sua comida. Então ele
simplesmente... caiu. Ele estava andando e simplesmente
desmaiou.

Eu sorrio para o cão fortemente ofegante, levantando sua pata


dianteira corpulenta enquanto pressiono meu estetoscópio em seu
peito. — Ele vomitou?

Adam fecha os olhos com força, franzindo a testa. — Não


consigo... não consigo me lembrar. — Ele olha para o pai. — Pai?

— Sim — Deacon responde por ele. — Bear vomitou três vezes


no quintal
— Oi, Bear — murmuro, escovando meu polegar ao longo do
focinho de Bear. — Senti a sua falta. O que você está fazendo sem
tomar seu café da manhã, hein? Você nunca deixa passar comida.
— Meu cara grande e corpulento choraminga, acariciando minha
mão. O fraco pulsar de seu pulso em meus ouvidos aperta minha
garganta. — Vou ajudar você a respirar um pouco mais fácil, ok,
garotão? — eu digo a ele, ajustando-o com uma máscara de
oxigênio. Minhas palmas deslizam ao longo de sua caixa torácica,
movendo-se suavemente sobre sua barriga. O pavor sobe pelo meu
peito quando sinto o inchaço ali, e o olhar que compartilho com a
Dra. Holmes diz que ela sabe exatamente o que encontrei.

Isso não pode estar acontecendo, não de novo, não tão cedo, e
não com nosso Bear.

Eu limpo minha testa no meu pulso antes de enrolar meus


dedos em minhas palmas, unhas cravadas para acalmar meu
pânico. — Eu gostaria de começar com um IV em Bear
imediatamente. Ele está em choque, e isso ajudará a estabilizá-lo.
Eu também gostaria de fazer um raio-X.

— Por quê? Você acha que ele quebrou alguma coisa?

— O raio X nos dará mais informações. Seu estômago está


inchado e há uma chance de que ele o tenha torcido.

— O que isso significa? Como você o destorce?

Eu aperto seu antebraço e seus ombros se afastam de suas


orelhas enquanto ele se inclina para o meu toque. — Vamos dar
uma olhada lá dentro e ver o que está acontecendo primeiro. Você
e seu pai podem ficar com ele durante o raio-X, e então a Dra.
Holmes e eu discutiremos o que vemos e voltaremos para
conversar com você sobre um plano de ação. Isso soa bem?

Adam concorda, e uma vez que Bear coloca um IV e é


estabilizado, um técnico de raios-X vem para levá-lo para outra
sala.

A mão de Adam desce sobre a barriga de Bear, olhos em pânico


disparando para os meus. — Rosie? Eu quero que você faça isso.

O calor corre através de mim quando cubro sua mão com a


minha, como se meu corpo tivesse perdido isso, ganhando vida
apenas para ele. — Este é o trabalho de Maribel, e ela é realmente
incrível nisso. Ela também tem um mastim tibetano em casa,
sabia?

Maribel sorri. — Ainda maior que o Bear, se você pode


acreditar.

Ele olha para Bear, e eu aperto sua mão, trazendo seus olhos
de volta para os meus. — Não posso esperar para você ver como
gentil Maribel será com ele. Ele vai amá-la. Talvez até mais do que
ele me ama.

Seu olhar pisca com algo como descrença. — Isso não é possível
— ele murmura antes de dar a Maribel um sorriso fraco. — Ok.
Estamos prontos.

Digo a mim mesma que não estou tirando conclusões


precipitadas. Digo a Dra. Holmes que estou esperançosa, que os
raios-X mostrarão o estômago ainda na posição adequada, para
que possamos remover qualquer gás com rapidez e facilidade.
Digo a mim mesma que está tudo bem, mas quando aquelas
imagens de raios-X chegam às minhas mãos quinze minutos
depois, mostrando-me as evidências contundentes, elas caem
direto no chão, seguidas pelos olhos da Dra. Holmes.

— O estômago de Bear está torcido. Ele tem GDV.

— Eu não entendo. — A voz calma e perdida de Adam perfura


meu peito enquanto ele olha para Bear, sua cabeça descansando
contra seu torso. — É algo que eu fiz? É minha culpa?

— GDV não tem muito motivo ou razão — repito a mesma


informação que dei à Sra. Greene apenas três dias atrás, só que
desta vez, não consigo engolir a mágoa. — Raças maiores com peito
profundo, como Bear, correm um risco maior, embora possa
acontecer com qualquer cão e até com gatos. GDV acontece
quando o estômago se expande com gás e depois gira, ou torce,
bloqueando a entrada e a saída.

— Então o gás não tem para onde ir — ele murmura, uma


palma protetora deslizando sobre a barriga de Bear. — Quão
comum é isso?

— A chance de o tamanho de um cão como Bear contrair GDV


é de cerca de vinte e um a vinte e quatro por cento.

— Porra. Você já tratou um cachorro com GDV?


Olho para a Dra. Holmes e ela acena com a cabeça,
gesticulando para que eu continue. — Na última sexta-feira,
diagnosticamos um São Bernardo com GDV.

— O que aconteceu?

As palavras se perdem para os olhos brilhantes de Adam,


segurando aquela centelha de esperança, mas diminuindo
rapidamente.

— Rosie — ele sussurra. — O que aconteceu?

— Pepper — Seu nome fica preso na minha garganta,


quebrando, queimando. — Pepper faleceu durante a cirurgia. Seu
estômago não aguentou mais a pressão e rompeu antes que
pudéssemos liberá-lo. — Uma única lágrima vaza do canto do meu
olho, e eu fungo, limpando-a. — Entendo por que isso pode fazer
você hesitar em prosseguir, mas a cirurgia é a única opção. Nós
liberamos o gás e colocamos o estômago de Bear de volta na
posição normal, depois realizamos uma gastropexia, que é onde
prendemos o estômago à parede abdominal para evitar futuras
torções. — Eu hesito. — Se Bear não for operado, Adam, ele vai
morrer. Não há outro resultado.

Seu peito se ergue bruscamente e ele acaricia o lado de Bear


com a mão. — Ok.

— Ok?

— Eu confio em você, Rosie. Se você diz que ele precisa de


cirurgia, vamos fazer.
Confiança. Às vezes, é uma faca de dois gumes, não é? Quero
isso. Estou honrada em tê-la. E, no entanto, estou com medo de
ser a única a quebrá-la, mesmo sem querer.

Então apenas aceno com a cabeça, rezando para não ter que
fazer isso hoje, e então peço licença para preparar a sala de
cirurgia.

A Dra. Holmes me pega no corredor. — Você está bem para


fazer isso? Não há vergonha em recuar. É sempre difícil, mas
quando você tem uma ligação pessoal com um animal...

— Eu quero ficar com o Bear. Por favor, não me tire disso.

— Se você sentir que está perdendo o controle a qualquer


momento, avise-me e outra pessoa pode intervir.

— Obrigada, mas não vou perder o controle. — É apenas meia


mentira; vou me controlar até o fim da cirurgia.

Quando a sala de cirurgia está pronta, volto para a sala de


exames, onde Adam espera com Bear e seu pai. Deacon sorri para
mim, ficando de pé.

— Sua mãe está vindo. Vou encontrá-la lá na frente. — Ele dá


um tapinha nas costas de Adam, beija sua cabeça e então pega o
rosto de Bear em suas mãos. — Você, garotão. Eu sei que vou ver
você mais tarde. Posso sentir até meus pés nos quais você tanto
gosta de se sentar. — Ele pressiona um beijo no seu nariz e Bear
retribui o sentimento com um movimento lânguido de sua língua
no rosto de Deacon. — Você é um menino tão bom, Bear.
Deacon faz uma pausa ao meu lado no caminho. — Obrigado
por cuidar dos meus meninos, Rosie. Eu sei o quanto eles amam
você.

As palavras ficam pesadas no ar enquanto ele se afasta,


deixando Adam olhando para o rubor profundo que o sentimento
deixa em minhas bochechas.

— Estamos prontos para Bear — digo a ele. — A Dra. Holmes


fará a cirurgia e...

— Mas você...

— Não posso fazer a cirurgia, Adam. Meu trabalho é ajudá-la


com instrumentos e monitorar Bear enquanto observo e aprendo.

Ele morde o lábio inferior. — Você não vai sair do lado dele?

— Nunca. Prometo.

— Ele vai ficar bem, Rosie. Certo? — Suas palavras estão


encharcadas de desespero, assim como o olhar comovente
escurecendo seus olhos cor de cobalto, implorando-me por uma
promessa que ele sabe que não posso fazer.

— Ele vai estar cercado de amor, Adam. Eu posso prometer


isso.

— Sim — ele murmura, observando nossas mãos dançarem


uma ao lado da outra na lateral de Bear, quase se tocando. — Eu
sei. Você dá o melhor tipo de amor. — Ele funga, seu olhar vindo
para o meu, e a confiança que vive ali agarra meu coração. —
Obrigado, Rosie.

Adam se agacha, pegando o rosto de Bear em suas mãos.


Lindos olhos se enchem de lágrimas antes de ele descansar a testa
na de Bear, e eu me viro, afastando a única e gorda lágrima que
escapa e desce furtivamente pelo meu rosto.

— Amo você, Bear — Adam sussurra para ele. — Você é o


melhor cachorro do mundo e meu melhor amigo. — Ele pressiona
um último beijo na cabeça de Bear, e no caminho para fora da
porta, seus dedos encontram os meus, emaranhados juntos,
apertando com ternura.

Enquanto ele desaparece na área de recepção, não consigo


evitar o medo que sobe pela minha garganta. E minutos depois,
quando grandes olhos castanhos me encaram antes de fecharem,
a sedação fazendo seu trabalho, aquelas garras afundam mais
fundo, sem vontade de soltar.

Porque se Bear não passar por isso, e se Adam nunca me


perdoar? E se, hoje, eu perder os dois?

Não pensei que pudesse piorar. Achei que todos os sapatos


tinham caído, mas aqui estou, diante da possibilidade de perder
não apenas Rosie e Connor, mas agora também meu Bear.

Quantas porras de sapatos existem?

Meu único consolo é que estou cercado por minha família. Meu
pai anda pela área da recepção, e Carter está agachado em um
pequeno cercado, silenciosamente mostrando a Ireland uma
ninhada de gatinhos enquanto Jaxon se reveza para aconchegá-
los. Jennie se senta ao lado de Garrett, com a cabeça apoiada em
seu ombro, e Olivia e minha mãe ao meu lado, sussurrando
palavras tranquilizadoras para mim enquanto espero com a cabeça
entre as mãos.

Cometi o erro de pesquisar sobre GDV assim que me sentei.


Artigo após artigo que me deixou repentinamente certo de que
nunca mais verei meu cachorro, porque ele apresentava alguns
dos sintomas mais avançados. Não parei até que as portas da
clínica se abriram atrás de mim e meus amigos entraram, Carter
puxando meu telefone e me lembrando por que ele é o capitão do
nosso time, um líder nato, com um punhado de palavras.

Nós não vamos fazer isso. Não vamos nos concentrar em todos
os números ruins. Vamos nos sentar aqui juntos, porque é assim
que somos mais fortes, e vamos encontrar paz em saber que Bear
está nas mãos mais capazes agora, e vamos esperar. É isso que
vamos fazer, entendeu?

Então, em vez disso, estou sentado aqui há uma hora pensando


em tudo de bom que Bear me trouxe. A lealdade, a amizade. O
corpo quente aconchegado ao meu lado na cama depois de ter meu
coração partido, o toque de suas patas ao me seguir pela casa,
fazendo companhia. As risadas patetas, as massagens na barriga
e o coração mais gentil.

E Rosie.

Bear me trouxe Rosie, e Rosie me trouxe Connor.

Eu não teria um sem o outro, e não sinto que minha família


esteja completa sem os três.
O silêncio cai sobre a sala, e Olivia dá um pequeno aperto na
minha mão. Meu olhar se eleva para ela e arrasto minha cabeça
para fora de minhas mãos, seguindo seu olhar.

Rosie está parada na porta, olhos verdes cansados varrendo a


sala, pousando em mim. Suas mãos se fecham em pequenos
punhos ao lado do corpo, e ela caminha em minha direção
enquanto me levanto do meu assento. Ela me encontra no meio da
sala, todos os seus 1,60 metros olhando para mim, aquele queixo
com covinhas tremendo.

— Está tudo bem — eu digo a ela calmamente. — Se ele não...


— O pensamento de uma vida sem ele muito mais cedo do que eu
deveria pensar toma meus pulmões, e eu engulo contra ele. — Você
pode me dizer.

Lágrimas brilham em seus olhos e o canto de sua boca se


contrai. — Bear se saiu muito bem.

— Ele... o quê?

— A cirurgia foi um sucesso. A Dra. Holmes liberou o gás


aprisionado e prendeu seu estômago à parede abdominal. Não
houve complicações.

Meu coração dispara, batendo contra minha caixa torácica. —


Ele vai ficar bem?

Rosie pega minhas mãos nas dela, apertando-as com força. —


Ele vai ficar bem.

A sala se dissolve em aplausos, e minha família vem ao meu


redor, uma teia emaranhada de braços me abraçando com força
enquanto o alívio desliza por mim. A sensação é tão forte, tão
palpável que tira o ar do meu estômago, deixa meus membros
fracos. Eu afundo no amor, na família que tenho tanta sorte de ter
encontrado.

Meus olhos se abrem a tempo de ver Rosie saindo


silenciosamente pelas portas da clínica, correndo para o
estacionamento.

— Já volto — murmuro, desembaraçando-me e perseguindo a


mulher que acabou de sair daqui com o coração nas mãos.

— Rosie! Espere.

Ela olha por cima do ombro, acenando para mim. — Estou bem,
Adam. Não se preocupe comigo.

Eu pego seu pulso, puxando-a de volta para mim. — Ei. Pare.

Olhos verdes oscilam, cada respiração afiada e cambaleante. —


Estou bem — ela repete, e a mentira é tão fraca que quase rio. —
Você deveria estar com sua família. Bear vai acordar logo. Eu só
preciso fazer uma coisa.

— Estou com minha família e estarei com Bear assim que ele
acordar. Então me diga o que você precisa fazer e eu ajudo.

Ela balança a cabeça, tentando se livrar do meu aperto. — Eu


só preciso... eu só preciso fazer uma coisa — ela chora, o peito
arfando enquanto seu rosto começa a desmoronar. — Por favor.

— Rosie. — Eu corro minhas palmas por seus braços,


apertando seus ombros. — Deixe ir, querida. Deixa ir.

Seu lábio inferior treme, e tudo que eu quero fazer é prendê-lo


sob meu polegar, segurá-lo entre meus lábios. Eu quero sua dor,
suas preocupações, sua confiança. Eu quero que ela desista do
controle, dê tudo para mim. Eu cuidarei dela.

— Eu estava com tanto medo — ela finalmente sussurra, as


palavras fraturadas e mansas. — Eu estava com tanto medo de
perdermos Bear. E eu estava com medo de que você nunca me
perdoasse por isso. Achei que poderia perder vocês dois para
sempre, e eu... — Um soluço escapa de sua garganta, sacudindo
seu corpo. — Eu sobrevivi a muitas coisas, mas não sei como
sobreviveria a essa perda.

Sua agonia envolve minha garganta como um punho,


ameaçando cortar o oxigênio. Quando uma nova onda de lágrimas
cai em cascata por seu rosto e ela se encolhe, cobrindo o rosto com
as mãos enquanto chora, eu a puxo para mim. Desta vez, eu me
recuso a deixá-la ir.

— Você nunca vai me perder, Rosie. Enquanto você me quiser


aqui, não há outro lugar para eu estar. — Pressiono meus lábios
com ternura em sua têmpora enquanto ela se agarra à minha
camisa. — Prometo.
CAPÍTULO 28

MUITO TEMPO CHEGANDO

— O que você está fazendo?

Desloco meus óculos de leitura para cima do nariz e viro a


página. — Lendo.

— Eu sei disso — resmunga Garrett. — Mas lendo o quê?

— Um livro.

Ele prende os braços sobre o peito e cai em seu assento de


avião. — Você é tão irritante às vezes, seu maldito peru.

Eu sorrio para mim mesmo, colando uma aba azul em uma


passagem do meu livro. Irritar Garrett é divertido. Ele começa a
vomitar todos os tipos de insultos estranhos e pitorescos, a maioria
deles herdados de Jennie, que também gosta de irritá-lo. Por
razões diferentes das minhas, no entanto. Algo sobre colares de
mão e outras merdas que prefiro não saber.

— O que você está fazendo aí? — Jaxon gesticula para as abas


que estou colando no meu livro. — Com as abas?

— Chama-se anotação — Carter responde por mim, puxando


uma caixa de Oreos de sua bolsa. — Oooh, mergulhado em fudge.
Porra, sim, Ollie. — Ele rasga o pacote e joga um na boca. — Ol-
wie faz isso com seus livros picantes. — Ele engole o biscoito para
poder falar como um adulto novamente. — Ela marca todas as
coisas sexy que ela gosta, e então nós tentamos. Como uma
venda...

— Não. — Eu levanto uma mão. — Pare. Odeio o quanto sei


sobre sua vida sexual.

Jaxon franze a testa. — Então, você está marcando merda sexy


para tentar com Rosie?

— Não, eu estou-

— Cara marca pornografia que ela gosta — diz Emmett. — Isso


é como anotar, mas com um filme, não um livro.

— O quê? Não, não é a mesma coisa...

Ele sorri, um olhar distante em seus olhos. — Semana passada,


ela saiu do banheiro vestindo couro...

— Pelo amor de Deus, eu não quero saber sobre nenhuma de


suas vidas sexuais!

— Whoa — Garrett murmura, os olhos arregalados. — Alguém


está irritado.

Carter lambe a cobertura de um novo biscoito. — Porque ele


não está recebendo nenhum agora.

— Ele usou todos os meus preservativos em uma noite e agora


não faz sexo há três semanas — Jaxon acrescenta
desnecessariamente.
Emmett dá um tapinha no meu ombro. — Isso deixaria o
melhor de nós mal-humorado.

— Puta merda. — Guardo meu livro; claramente a leitura não


está mais acontecendo. Com meu MacBook e AirPods, levanto-me
e aponto para um assento vazio na fileira. — Vou assistir a um
filme.

— Divirta-se olhando as fotos de Rosie — Garrett diz enquanto


eu me afasto.

Estamos na estrada há três dias para nossos dois primeiros


jogos da pré-temporada em Edmonton e Calgary, e Garrett tem
sido meu infeliz companheiro de quarto.

Não, espere. Eu sou o infeliz colega de quarto. Ele voltou para


o quarto uma noite e me encontrou olhando para todas as fotos
que Rosie tem me enviado dela e de Bear enquanto ele se recupera
da cirurgia na clínica da escola, e eu voltei para o quarto uma noite
para ele esfregando furiosamente uma bagunça no tapete
enquanto Jennie cacarejava com ele no FaceTime. Ele gritou para
nós dois que tinha feito um gol e merecia deixar escapar, mesmo
que fosse apenas um jogo de exibição. Para qual cena você
preferiria voltar para casa?

Colocando meus fones de ouvido, ligo meu laptop e abro


minhas mensagens com Rosie. Nossa pré-temporada começou no
dia seguinte à cirurgia de Bear, mas saber que Rosie estaria lá
todos os dias para lhe dar muito amor tornou mais fácil entrar no
avião. As fotos e vídeos que ela tem enviado diligentemente
também não machucam.

Pego meu favorito, enviado esta manhã.


Rosie sorri para a câmera, brilhante e feliz. — Vamos ver se
Bear acordou.

Ela empurra um conjunto de portas de vaivém e a cabeça dele


salta da cama. Lentamente, ele se levanta, o rabo balançando para
frente e para trás, batendo contra a parede do enorme canil.

— Olhe para você, garotão — Rosie murmura, apoiando o


telefone enquanto se ajoelha, enterrando os dedos no pelo dele.
Bear não perde tempo cobrindo o rosto dela de beijos, e ela ri,
abraçando-o perto. — Você quer dizer ao papai o quanto sente falta
dele? — Ela aponta para a câmera enquanto Bear dá um pequeno
latido. — Diga: ‘Eu amo você, papai’. — Ele late de novo. — Esse é
o meu menino bonito.

Uma mensagem de texto atravessa minha tela e suspiro com a


interrupção da minha publicitária.

Angie: Ela me ligou três vezes hoje, Adam.

Não há nome, porque Angie sabe que não o dizemos quando


podemos evitar.

Você pensaria que bloquear o número dela não uma, mas duas
vezes, e dizer a ela para nunca mais me ligar resolveria, mas depois
que Courtney me ligou naquela noite na casa de Rosie, no meio de
todo o caos, ela recorreu a ligar para Angie.

A mulher não está na minha vida desde que a joguei – e o cara


com quem ela estava transando – para fora da minha cama há
mais de um ano, e de repente ela quer conversar. Não tenho tempo
para ela e certamente não posso me incomodar em vê-la
novamente. Ainda me encolho ao pensar nela na minha cozinha
naquela manhã de julho, vestindo nada além da minha camiseta,
agindo como se pertencesse àquele lugar, alegando que esteve na
minha festa na noite anterior.

O bêbado Adam nem sempre toma as decisões mais brilhantes,


mas o bêbado Adam nunca fez um ops desse tamanho.

Eu: Eu não quero falar com ela.

Angie: E eu disse isso a ela. Aproximadamente 25.000x.


Honestamente, Adam, como você esteve com esta
mulher está além de mim. Sem ofensa.

Eu poderia jurar que Courtney não era nada disso aos


dezessete anos, mas quanto mais reflito, mais sinais vejo de que
não pensava antes. Ainda assim, nos meus dias ruins, às vezes me
pergunto se sou responsável, se não a amei do jeito que ela
precisava ser amada, se o hóquei me deixou muito ausente. Todos
os mesmos medos que levaram à minha queda, às mentiras que
eu nunca deveria ter contado a Rosie.

Angie: Acho que você deveria se encontrar com ela.


Ouça-me.
Eu: Absolutamente não.

Angie: Eu sei, eu sei. Mas ela diz que tem algo que você
gostaria de ouvir.

Eu: Isso é bobagem. O que ela poderia ter a dizer que eu


gostaria de ouvir?
Angie: Eu concordo, mas também sei que você gosta
de ficar de fora da mídia quando não é hóquei ou
arrecadação de fundos, e eu não duvidaria dela para
arrastá-lo para algo se ela quer tanto a sua atenção.
Então sugiro encontrá-la em algum lugar público, eu falo
e damos a ela cinco minutos, nada mais.

Courtney já me envergonhou o suficiente na mídia, mas nada


é pior do que a dor que isso causa, sabendo que depois de tudo o
que passamos, todos os anos que dei a ela, ela se importa tão
pouco comigo que faria tanto esforço para me derrubar de
qualquer maneira que pudesse. Como se ela só quisesse destruir
tudo pelo que trabalhei tanto, tirar essa vida que ganhei.

Portanto, concordo com cinco minutos, nem um único segundo


a mais, neste sábado. Eu só quero acabar com isso.

A tensão se acumula em meus ombros, tão apertado que me


curva para a frente. Eu rolo meu pescoço, mas a rigidez já cravou
suas garras. Meus dedos se movem por conta própria, apertando
o botão de chamada de vídeo, e meu joelho salta enquanto rezo
para que se conecte.

O rosto de Rosie preenche a tela do meu computador e eu


derreto no assento.

— Ei — ela me cumprimenta baixinho, uma centelha de


hesitação em seus olhos. Através de todas as mensagens desde
que Bear saiu da cirurgia, não nos falamos cara a cara.

— Desculpe por ligar tão tarde.

— Tudo bem. Acabei de subir na cama há dois minutos. — Ela


parece um anjo, iluminada apenas pelo brilho de seu telefone,
ondas rosas espalhadas em seu rosto, a manga de sua camiseta
enorme pendurada em um ombro delicioso. — Parabéns pelo seu...
oh, Deus, isso vai ser tão embaraçoso. Eu sei que isso é errado,
mas sei que está perto. Shut-up17?

Eu solto uma risada, e ela cora meu blush favorito. —


Shutout18.

— Eu disse que seria embaraçoso. Mas ainda fazia sentido na


minha cabeça. Você não deixou entrar nenhum gol, então meio
que cala a boca do outro time, sabe?

— Eu gosto disso. Petição para mudar de Shutout para Shut-up.

— Eu sei que você está apenas me acalmando, Adam Lockwood.

— E eu sei que estou em apuros quando você ou minha mãe


usam meu nome completo. — Eu sorrio com o jeito que ela ri. —
Você assistiu?

Ela balança a cabeça, jogando a franja para trás. — Os dois


jogos. Carter Beckett é muito rápido. E Jaxon gosta muito de
brigar, o que eu não esperava, já que ele se apaixonou por um gato
à primeira vista, chamou-o de Mittens e depois o adotou.

— Ele esconde seu lado suave atrás de tatuagens e socos.

— E você, você era tão... — Ela solta um suspiro, olhos


arregalados. — Grande. Eu não pensei que você poderia ficar
maior, mas você realmente fez. E, hum... flexível. Quero dizer, eu
sabia que você era flexível, é claro. — Seus olhos se arregalam. —

17
Calar.
18
Fechar. Aqui ela confunde as gírias de hóquei para muitas defesas em um jogo, por isso estão como no
original.
Oh, Deus. Isso é... isso é... — Ela passa a mão pelo ar. — Só não
ligue para mim.

Cristo, ela é tão linda, eu daria qualquer coisa para puxá-la em


meus braços agora. — Eu, uh, liguei porque eu... queria... — Dizer
que amo você e odiei cada minuto longe? — Obrigado. Por cuidar
de Bear.

— Você não precisa me agradecer por isso, Adam. Ele torna a


faculdade melhor, recebendo um abraço e um beijo sempre que eu
quero.

— É por isso que ele parece tão presunçoso em todas as fotos


que você me envia, hein?

— Você sabe que não posso dizer não a ele. Além disso, ele está
prosperando com toda a atenção. Ele tem as garotas aqui
enroladas em sua pata. — Um farfalhar desvia seu olhar de mim,
e então ela mergulha sob as cobertas com seu telefone. — Ah, cara.
Estou acordando Connor. É melhor eu ir.

— Vejo de manhã? Quando eu for pegar Bear?

— Estarei lá, Adam. Estamos muito animados para ver você.

Estamos. A única palavra deixa meu coração estúpido em


parafuso, e eu me concentro nisso pelo resto do voo, e duas horas
depois, quando estou acordado na cama. Ao entrar na clínica
depois do café da manhã na manhã seguinte, girando as chaves
no dedo e assobiando, a frase de seis palavras ainda está repetindo
na minha cabeça.

— Sr. Lockwood — a recepcionista me cumprimenta. — É um


lindo dia para levar para casa um filhote feliz e saudável.
— Definitivamente é. — Deslizo uma caixa de rosquinhas para
a mesa. — Estas são para todos.

— Nós amamos rosquinhas. Vou avisá-las que você está aqui.

Uma mulher sai dos fundos um minuto depois e ela


definitivamente não tem cabelo rosa. — Venha comigo. Vou
orientá-lo sobre o que esperar da recuperação de Bear em casa.

— Rosie está aqui? Trouxe um lanche para ela, caso não tenha
comido esta manhã. Ela se esquece, às vezes.

— Rosie está trabalhando em uma emergência que surgiu cerca


de vinte minutos atrás. Ela vai ficar triste por perdê-lo, mas posso
levar isso para você. — Ela tenta pegar o café com leite gelado, a
sacola com bacon bem quente, gouda e sanduíche de ovo em um
croissant, com um biscoito de melaço de gengibre quente e
pegajoso.

E o que eu faço? Puxo os itens em meu peito, porque


aparentemente, sou uma criança.

— Vou garantir que ela os receba, Sr. Lockwood — a mulher


me garante. — Eu prometo que não vou comer o café da manhã
dela.

— Oh. — Eu olho para a comida na minha mão antes de


entregá-la lentamente. — Ok. Obrigado.

Um sentimento sombrio se instala no meu estômago. Com Bear


voltando para casa, Rosie não tem motivos para fazer contato.
Enquanto sigo a médica pela clínica, meu cérebro já está
trabalhando a todo vapor, imaginando centenas de maneiras de
esbarrar nela acidentalmente. Se eu conseguir colocar minhas
mãos em seu chapéu novamente, ela terá que me ver.

— Rosie veio cedo esta manhã para preparar Bear — a médica


me diz. — Ela o levou para uma curta caminhada pelo campus e
disse que ele estava muito feliz por sair ao sol. — Ela gesticula para
que eu entre em uma pequena sala de exames, onde Bear me
cumprimenta pulando nas patas traseiras, com as patas
dianteiras na minha barriga.

— Ah, amigo. — Eu caio de joelhos, deixando-o lamber meu


rosto, minhas mãos em seu pelo grosso e sedoso. O alívio se
expande em meu peito, obstruindo minha garganta enquanto
abraço meu cachorro contra o peito. — Amo você, Bear —
murmuro contra sua orelha de abano. Minhas mãos deslizam
sobre o algodão macio e me afasto para olhar a bandana amarrada
em seu pescoço. — O que é isso?

— Rosie queria fazer uma surpresa para você. E como você


pode ver, Bear parece muito elegante em sua nova bandana.

O logotipo do Vipers e o número da minha camisa, quarenta,


cobrem a bandana azul. Mas bem no centro? Um desenho meu e
do meu melhor amigo peludo, as palavras o maior fã do papai
rabiscadas embaixo dele.

Eu deveria saber. Se alguém veria além de tudo, a máscara de


goleiro, os medos e as inseguranças, eu deveria saber que seria
Rosie.

Sempre foi Rosie.


Pense com o cérebro, não com os seios. Pense com o cérebro, não
com os seios.

Não importa quantas vezes eu repita as palavras, tudo o que


consigo ver são os músculos. Quilômetros de músculos.
Intrincadamente esculpido, dourado como mel, movendo-se com
agilidade sob o sol suave da manhã de sábado em setembro,
cachos de ébano caindo sobre olhos azuis brilhantes. Para o
melhor, realmente, porque sei o que vai acontecer quando os vir.

Eu vou me afogar. Vou me perder naqueles olhos, todo o amor,


a bondade, a paciência que nadam neles. Eu vim aqui para falar
com ele, para descobrir para onde ir a partir daqui, mas quando
olho para ele, as únicas palavras que me vêm à mente são: eu amo
você.

Eu só dou mais três passos no caminho sinuoso antes que meu


coração caia no meu estômago, meus pés parando. O jardim
brilhante em que Adam está trabalhando desde que apareci no
final de sua garagem entra em foco, pétalas exuberantes
espalhando um arco-íris de cores em sua varanda da frente,
embalando-me para a frente, mais perto de um sentimento que
grita lar.

— O que você está fazendo?

Os olhos de Adam erguem-se e ele salta de pé, todos os seus


1,80m de músculos suados e mal cobertos. — Rosie.
Bear pula da cama de cachorro na varanda, ganindo enquanto
corre em minha direção, pressionando-se ao meu lado.

Adam limpa as gotas de suor em sua testa, deixando uma


mancha de sujeira acima de sua sobrancelha. — Você está aqui.

Concentro-me em uma gota que corre como um rio no centro


de seu peito largo, através do abdômen impecavelmente marcado,
flexionado enquanto ele tira as luvas.

— O que você está fazendo? — repito, os olhos passando


rapidamente para os arbustos que não estavam aqui antes.

Ele torce as luvas, o olhar ricocheteando entre mim e os


arbustos.

— Adam... — Eu roço as pétalas rosas suaves, lutando contra


a ardência de emoção atrás dos meus olhos. — São peônias. Você
está plantando um jardim de peônias aqui na frente.

Ele concorda.

— Por quê? — eu sussurro, coração batendo em meus ouvidos.

A névoa em seus olhos se dissipa, deixando-os vulneráveis. —


Porque eu queria que você se sentisse em casa se decidisse voltar
para mim.

Há muito espaço entre nós. Demais, a única decisão lógica é


eliminá-lo me jogando em seu peito, envolvendo cada centímetro
de mim em torno dele até não sobrar nada.

Adam ri baixinho, sua mão correndo pelas minhas costas.


— Eu esqueci como você é tão bom — eu gemo baixinho em seu
pescoço, e então ele suspira, seu corpo relaxando enquanto ele me
abraça mais forte.

— Senti tanto a sua falta, Rosie.

Eu deslizo por seu corpo, enxugando as lágrimas traiçoeiras de


minhas bochechas. — Eu vim para verificar Bear, e então eu iria
continuar perguntando se poderíamos conversar sobre as coisas.
Eu não estava planejando pular em você.

Ele ri de novo, e não tenho certeza se há som mais bonito.

— Para referência futura, pular em cima de mim é sempre


aceitável. — Ele aponta para minha bolsa, descartada em algum
lugar ao longo da entrada da garagem, e o cachorro pulando aos
meus pés. — Você quer verificar Bear e depois me perguntar se
podemos conversar aqui, ou devemos fazer isso lá dentro? — Ele
se encolhe, verificando o relógio. — Merda, esqueci que tenho que
encontrar alguém em meia hora. É meio importante. Minha
publicitária disse que eu tenho que estar lá.

— Oh. Tudo bem. — A decepção cai sobre meus ombros, e


Adam apalpa a nuca.

— Eu poderia adiar isso? Sim, vou adiar. Então podemos ter o


tempo que precisarmos para conversar.

— Tudo bem. Eu não deveria ter aparecido sem avisar. Deixei


Connor na casa de Brandon e, em vez de ir para casa, acabei aqui.

— Não vou demorar. Se você quiser, pode esperar aqui com


Bear, e eu voltarei para casa.
— Isso funciona. — Esfrego as orelhas de Bear, sorrindo para
o menino feliz. — Vamos entrar e deixar você confortável no sofá
para que eu possa dar uma olhada, ok, bonitão?

Lá dentro, Adam deixa suas ferramentas de jardinagem no


corredor e sobe para tomar banho enquanto eu abro minha bolsa.

— Oh, droga — eu murmuro, puxando o gatinho de pelúcia de


Connor para fora. Estar com Adam no verão passado me ajudou a
perceber que meu filho é muito mais flexível do que eu pensava,
mas a única constante em sua vida é esse gatinho em sua cama
todas as noites, não importa onde ele durma. Eu tive que ir até a
casa de Brandon enquanto Connor gritava do outro lado do
telefone muitas vezes.

Uma vez que Bear foi cuidadosamente examinado e estou


confiante em sua cura, eu me aconchego ao lado dele, sua cabeça
em meu colo enquanto ligo para Brandon. Leva três tentativas
antes que ele responda.

— O quê?

— Esqueci de deixar o gatinho de Connor para você.

— Foda-se, Rosie. — Ele solta um suspiro profundo, um que eu


mal ouço por causa de todo o barulho ao fundo. — Isso foi estúpido
da sua parte.

Meu peito fica tenso com a palavra que ele usa com tanta
facilidade. — Posso levar mais tarde.

— Sim, é melhor — ele murmura distraidamente. — Ah,


besteira! Ele estava na base! Ele está seguro! — Outro suspiro. —
Estarei em casa em algumas horas. Leve-o depois das quatro.
— Vocês saíram? Isto é engraçado. — Eu mordo minha língua
para parar de perguntar se ele está com nosso filho em um bar
enquanto assiste a um jogo de beisebol.

— Nah, Connor está em casa.

— Oh. Quem o está observando? Eu poderia tê-lo mantido por


mais tempo se você queria sair.

Ele dá uma risada. — Claro, e então você reclamaria de mim


por não passar mais tempo com ele. Ele está bem de qualquer
maneira. Acertei o alarme antes de sair.

— Você definiu o... o quê?

— O alarme.

Eu esfrego a dor de cabeça que se forma em minhas têmporas


enquanto processo o significado por trás de suas palavras, o som
dos passos de Adam enquanto ele desce as escadas batendo junto
com a batida do meu coração agitado. — Quem está vigiando
Connor? — eu pergunto novamente.

— Eu programei o alarme — ele repete.

— Quem diabos está vigiando Connor, Brandon?

— Relaxe — diz ele em um sussurro abafado. — Eu o coloquei


em seu cercadinho para tirar uma soneca e acionei o alarme
quando saí. Estou no bar aqui embaixo.

— Você deixou nosso bebê em casa sozinho enquanto sai para


se embebedar e assistir a uma porra de jogo de beisebol? — Minha
última restrição se rompe e eu fico de pé enquanto as palavras
saem de mim, uma onda de raiva e violência que pulsa através de
mim. — Como você pode ser tão descuidado com a vida do seu
filho?

Eu não fico por perto para ouvir sua desculpa de merda. Em


vez disso, coloco meu telefone na bolsa e caminho pelo corredor,
lágrimas de raiva inundando minha visão enquanto me esforço
para calçar meus tênis.

— Sinto muito — eu digo enquanto Adam me força a sentar na


escada, deslizando meus sapatos para mim. — Tenho que ir. Eu
não sei como... ele não o ama de jeito nenhum? Ele é o pai dele,
pelo amor de Deus. — Meus punhos se fecham, as unhas cravando
na carne, e murmuro obrigada distraída enquanto ele me ajuda a
ficar de pé, abre a porta para mim e me segue para fora.

— Rosie — ele chama quando eu começo minha caminhada


pela entrada de sua garagem.

— Ligo para você mais tarde, Adam.

— Rosie.

Eu paro, olhando por cima do meu ombro. Ele está em sua


caminhonete, segurando a porta do passageiro aberta. Há um
tique em sua mandíbula afiada, veias saltando em seu antebraço
enquanto ele aperta as chaves em seu punho, a raiva irradiando
dele.

— Entre na caminhonete.

— Você tem que encontrar alguém. Você disse que era


importante. Sua publicitária...

— Cancelado. Entre na caminhonete.

— Mas...
— Connor é um milhão de vezes mais importante. Não há
ninguém tão importante para mim quanto você e aquele garotinho,
então, pelo amor de Deus, Rosie, entre neste carro antes que eu
jogue você nele.

Meu coração palpita, e ele não tira os olhos de mim enquanto


caminho em sua direção, então me ajuda a sentar e me tranca
dentro. Ele não diz uma palavra durante todo o caminho, seguindo
silenciosamente minhas instruções baixas e em pânico. A
caminhonete mal está estacionada antes que ele pule do assento,
rebocando-me do meu, puxando-me pelo saguão até o elevador.

Assim que as portas se abrem, os lamentos de Connor


perfuram meus ouvidos, flutuando pelo corredor do prédio.

— Foda-se — murmura Adam, quente em meus calcanhares


enquanto corro para a porta do apartamento.

— Está trancada — eu choro, balançando a maçaneta.

— Maaamaaa — Connor grita, enviando lágrimas quentes em


cascata pelo meu rosto enquanto Adam gentilmente me coloca de
lado, testando a fechadura.

— Está tudo bem, querido! — Luto para disfarçar a ansiedade


que sobe pela minha garganta. — Mamãe está aqui!

— Estamos entrando para pegar você, ok, amigo? — Adam diz


a ele. — Apenas aguente firme.

— O que nós fazemos? Devo procurar Brandon? Pegar as


chaves dele?

— Eu tenho isso — resmunga Adam.


— Como você vai... — Eu suspiro quando Adam empurra seu
ombro contra a porta. — Adam, é uma porta reforçada. Não tem
como você...

Seu ombro se conecta com ela uma segunda vez, e a porta se


solta da dobradiça superior. Com um grunhido, ele empurra seu
corpo para dentro dela uma, duas vezes mais, e ele se segura
contra o batente bem quando a porta se abre e o elevador atrás de
nós também.

— Que porra é essa? — Brandon grita. — A porra da minha


porta!

— Imagino que você se preocupa com sua família tanto quanto


se preocupa com sua porta? — Adam cruza o braço na entrada,
impedindo Brandon de me seguir enquanto corro pelo
apartamento. — Não a siga, porra.

O rosto coberto de lágrimas de Connor aparece de onde ele está


preso entre o chão e seu cercadinho virado. Pequenas mãos se
estendem para mim, olhos cheios de medo colidindo com os meus,
e eu arranco o cercadinho dele, pegando-o em meus braços,
pressionando meus lábios no pequeno corte em sua testa.

— Estou aqui, baby — eu choro baixinho em seu cabelo


enquanto ele enterra o rosto no meu pescoço. — Vai ficar tudo
bem. A mamãe está com você. — Pego sua bolsa no chão e Adam
a pega de mim, com a mão nas minhas costas enquanto me guia
em direção à porta, passando por um Brandon confuso e meio
bêbado. — Ele estava preso sob seu cercadinho.

— Ele... ele... — Os olhos de Brandon ricocheteiam da bagunça


em sua sala de estar para o sangue escorrendo da testa de Connor.
— Ele deve ter tentado sair e tombou. Foi um acidente. Certo? Foi
apenas um acidente, amigo. Você está bem.

Ele estende a mão para Connor, e eu o arrasto para longe.

— Não toque nele — eu fervo. — Nunca mais. Você teve um


milhão de chances. Muitas chances, e como tola, continuei dando
mais, porque tudo que eu sempre quis é que Connor tivesse uma
família. Mas você não é a família dele, é? Você não se importa com
ninguém além de si mesmo.

— Isso não é verdade — ele tenta fracamente, os olhos


passando rapidamente para Adam. — Eu... eu o amo.

— Você não tem ideia do que é o amor.

Ele revira os olhos, desistindo do ato. — E você sabe?

— Eu sei que não parece nada com isso. Essa besteira tóxica e
egoísta que você chama de amor não faz nada além de prejudicar
as pessoas. E eu não vou deixar você machucá-lo mais.

— E daí? Vocês terminaram comigo então?

— Você nem está na certidão de nascimento.

Ele bufa uma risada, balançando a cabeça quando me viro para


sair. — Que seja. Grande perda do caralho. Cansado de ser uma
maldita babá.

Eu me viro, as palavras na ponta da língua, mas Adam chega


antes de mim.

— E essa é a porra do seu problema, não é? — Ele paira sobre


Brandon, observando enquanto ele se encolhe. — Você não é uma
babá, você é o maldito pai dele, e a última coisa que você fez foi
agir como tal.

— Quem diabos você pensa que é? — Brandon olha para mim,


uma risada amarga subindo em sua garganta. — É com quem você
está namorando? A porra do Adam Lockwood? Você deve estar
maluca se acha que esse cara se importa com qualquer outra coisa
além de conseguir uma boceta. — Ele olha para Adam. — Ela deve
estar mantendo longe de você ainda, caso contrário, você saberia
que não vale a pena.

— Saia — Adam diz, tão baixinho que a única palavra causa


um arrepio na minha espinha. — Rosie, saia. Agora.

— Eu...

— O que ela é, seu mais novo caso de caridade? Ela é um


pedaço de bunda sem valor, Lockwood. Você deve saber disso,
certo? É por isso que nunca a vi em nenhuma foto com você. Você
está envergonhado.

— Saia — Adam repete, olhos fixos em Brandon enquanto ele


aponta para mim. — Pegue Connor e entre na caminhonete.

— Ela fez um buraco na camisinha só para tirar um bebê de


mim — Brandon cospe sua mentira quando tento me afastar,
sabendo muito bem que a porra do látex rasgou bem no meio. —
Porque ela estava tão desesperada por uma família. Para alguém a
querer. Alguém tão rico e famoso quanto você? O que você acha
que ela vai fazer para prender você?
A porta bate na minha cara, uma força tão pesada e brutal que
me faz recuar um passo. Mas não é isso que traz o suspiro
rasgando minha garganta.

É o som do punho de Adam se conectando com carne e osso.

Uma vez.

Duas vezes.

Três vezes.

Suas ameaças sussurradas são quase inaudíveis, e eu estou


enraizada no lugar enquanto elas flutuam pela porta, tocando
meus ouvidos.

— Cale a boca e pare de agir como se aqueles dois saindo por


esta porta e nunca olhando para trás não será a pior coisa que vai
acontecer com você. Porque eu prometo a você, será. Você só
recebe algo assim uma vez na vida, e outra pessoa vai apreciar e
amar a linda família que você recebeu, a mesma que você não
valoriza.

— Quem? — Brandon se esforça para perguntar. — Você?

— Sim. Eu.

A porta se abre e eu tropeço para trás antes que os dedos de


Adam envolvam meu braço, segurando-me. Ele pega meu filho
chorando em seus braços sem hesitar, abraçando-o com força
enquanto Connor enterra seu Dada no pescoço de Adam. Sua mão
desliza pelo meu braço, os dedos se conectando com os meus, e
meu olhar se fixa em seus dedos inchados e ensanguentados.

Adam me puxa para dentro do elevador, seu olhar aquecido


vindo para o meu enquanto seu peito arfa com cada respiração
irregular. — Acho que precisamos de alguns sundaes com calda
quente.
CAPÍTULO 29

BATMAN SEMPRE PEGA A GAROTA

— Você é muito boa nisso.

Deus, ele é tão fofo, sentado aqui ao meu lado, tentando puxar
conversa. Por que mais ele ficaria surpreso que eu, uma aluna de
veterinária do quarto ano e mãe, sou boa em cuidar de ferimentos?
Tem havido uma série de comentários desde que chegamos aqui,
dez minutos atrás, menos elogios e mais observações gerais. Você
está com uma trança no cabelo hoje. Eu gosto do seu grampo de
cabelo roxo. Você cheira a laranja. Sou só eu ou esta grama é
realmente verde?

Meu favorito? Quando ele olhou para mim, engoliu em seco e


sussurrou: Há trinta e seis árvores neste parque. Eu contei.

Termino de limpar os nós dos dedos machucados de Adam,


passando pomada sobre eles. — Você quer um band-aid do
Batman igual ao do Connor?

Connor bate o curativo na testa. — Ba-man. — Ele dá um


tapinha na mão de Adam. — Dada, ba-man.
— Você acha que ele está me chamando de Batman? — Adam
sussurra enquanto coloco um curativo sobre os nós dos dedos.

— Acho que você pode muito bem ser o Batman pessoal dele.

Seu peito infla com orgulho, e eu engulo minha risada. Este


homem é nada menos que um super-herói. Pensei nisso quando
ele saiu furioso do apartamento de Brandon, e foi a única coisa em
minha mente quando ele saiu do Dairy Queen com meu filho nos
ombros, os nós dos dedos ensanguentados em volta do pé de
Connor, uma bandeja de sundaes na outra mão. A visão fez algo
selvagem para mim, e eu estava de volta a entoar meu mantra
cérebro/seios na minha cabeça.

— Obrigada — eu sussurro enquanto observamos Connor e


Bear na grama. — Por defender a mim e a Connor.

— Eu sempre vou proteger vocês, Rosie. — Ele coloca a mão


sobre a minha. — Como você está se sentindo?

— Um pouco assustada, para ser honesta. Sei que é a decisão


certa, tirar Brandon da vida de Connor por enquanto. Ele está fora
de casa desde antes do nascimento, e colocar a segurança de
Connor em risco é inaceitável. Mas fazer tudo sozinha agora parece
meio assustador.

— Você não está sozinha. Você tem Archie e Marco. Você tem a
mim.

Concentro-me no guardanapo que rasgo entre os dedos. — Não


somos responsabilidade de ninguém.

— Não, vocês não são. Vocês são nossa família. —


Hesitantemente, ele ergue meu queixo, puxando minha franja para
trás. — Sinto muito que minhas ações fizeram você se sentir como
se você e Connor não fossem uma prioridade. De todas as coisas
que me arrependi na minha vida, mentir para você sobre quem eu
sou leva o bolo. O problema, Rosie, é que, quando menti para você,
não era eu quem estava escolhendo. Meu coração escolheu você a
cada passo do caminho.

— Você vai me contar o que aconteceu?

Ele descansa os braços sobre os joelhos, os olhos em Connor e


Bear.

— Sempre foi sobre hóquei, sabe? Era sobre hóquei quando


pegamos Bear, porque Courtney disse que estava entediada de
ficar em casa sozinha, e era sobre hóquei quando ele tinha três
meses e eu tive que começar a deixá-lo com a mãe de Carter
quando não estava em casa, porque Courtney estava cansada de
ser responsável por ele. — Ele puxa uma folha de grama, mexendo
nela entre os dedos. — Foi sobre hóquei quando cheguei em casa
de uma viagem e encontrei Courtney na cama com outro homem,
e tem sido sobre hóquei para todas as mulheres com quem saí
desde então.

Seu olhar encontra o meu, quieto, reservado. — Irônico, não é?


Courtney disse que me traiu porque eu não estava em casa o
suficiente para lhe dar a atenção de que ela precisava, mas
também não queria ir embora, porque o hóquei apoiava seu estilo
de vida. Cada encontro foi com perguntas sobre contratos e
salários, propriedades de férias e quantos carros estão na minha
garagem. Sempre foi sobre hóquei, Rosie, e foi tão cansativo não
ser o suficiente para ninguém sem isso.
Ele olha para baixo, encolhendo os ombros. — Cheguei a um
ponto em que tudo o que queria era desistir. E então conheci você,
e você não tinha ideia de quem eu era. E você gostou de mim de
qualquer maneira, todas as peças que ninguém mais se preocupou
em olhar. Eu vi uma chance e corri com ela. Não estou orgulhoso,
mas também não vou mentir para você: este verão com você,
esquecendo toda a merda que veio por ser a versão famosa de
mim... foi o melhor verão que já tive. Foi sobre mim e você, sobre
Connor, sobre o tempo que passamos juntos e tudo o que
estávamos construindo. Eu sei que machuquei você, e isso não é
desculpa, mas foda-se, Rosie, você ter me escolhido... consertou
algo dentro de mim. Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti
digno.

É de partir o coração vê-lo assim, enrolado em si mesmo, tão


inseguro de quão incrível ele é e tudo o que ele tem a oferecer, nas
mãos de pessoas que nunca mereceram nada dele. Eu odeio que
pessoas descuidadas quebraram um homem tão bondoso,
levando-o a um lugar onde ele sentiu que precisava esconder algo
tão importante apenas para que alguém lhe desse uma chance.

Eu cubro sua mão com a minha, parando sua inquietação. —


Você fez o mesmo por mim, sabe? Você consertou algo dentro de
mim. Algo que estava quebrado há tanto tempo, pensei que não
poderia ser consertado novamente. Não tenho certeza se realmente
vi meu valor antes de você. Não como mãe, amiga ou meu potencial
como parceira. Agora estou certa disso.

Orgulhosos olhos azuis se movem entre os meus. — Eu fiz isso?


— Você fez isso. Lamento que as pessoas não tenham tido
tempo para ver o homem maravilhoso que você é além do hóquei,
Adam. Mas a perda é delas. — Observo Connor engatinhar pela
nossa toalha de piquenique e ir para o colo de Adam, acomodando-
se em seu peito enquanto Bear faz o mesmo, passando a cabeça
por ambas as pernas. — E nosso ganho.

— E se você não gostar do meu lado hóquei?

A coisa é, eu já sei que amo isso. Passei as últimas duas


semanas observando-o. Cenas de destaque, entrevistas pós-jogo,
jogos de pré-temporada. A única coisa que vi com clareza foi que
ele é o mesmo tipo de pessoa no gelo e fora dele. Cheio de vida.
Dominando. Ele comemora todas as vitórias e levanta seus
companheiros quando eles estão lutando. Alguém que tenta
colocar tudo nas próprias costas, mesmo que seus amigos não
deixem. Ele é ferozmente protetor com sua equipe, da mesma
forma que ele é com sua família.

Como explico a ele que eu o vejo?

— Qual foi a primeira coisa que você notou em mim naquele


dia na trilha? — pergunto.

Adam sorri, elétrico, como se pudesse ver a memória se


desenrolar bem diante de seus olhos. — Seu sorriso. Era tão
grande, tão genuíno, enquanto meu cachorro sentava sua bunda
de sessenta quilos em seu colo. E então você riu, e foi tão bonito,
tão feliz e viciante quanto o seu sorriso, e soube imediatamente
que seu coração combinava. — O sorriso em seus olhos traça a
forma da minha boca, seu polegar correndo ao longo da covinha
no meu queixo. — Essas foram as primeiras coisas que notei em
você.

— Você se lembra quando eu disse que pintei meu cabelo de


rosa por causa da minha mãe?

— Você lembrava as peônias rosas que plantaram. Fresca e


cativante. — Ele inclina a cabeça, sorrindo. — Uma das minhas
descrições favoritas de você.

Meu batimento cardíaco dispara, zumbindo com a confirmação


de que este homem sempre me ouviu, sempre viu muito mais. —
Essa é metade da razão. A outra metade é porque eu queria ser
notada. Tanto que eu queria a atenção de alguém. Eu não tinha
conseguido capturar ninguém durante todos aqueles anos em um
orfanato. Pensei que se alguém notasse meu cabelo, se eles fossem
curiosos o suficiente e passassem algum tempo conversando
comigo... talvez eles notassem outras coisas. Talvez, se eles me
dessem uma chance, eles encontrariam outras coisas para gostar.
E funcionou com bastante frequência, embora não exatamente da
maneira que eu esperava. Sempre foi a primeira coisa que as
pessoas notavam sobre mim, mas não você. Você viu muito mais,
desde o início. Você me fez sentir vista por todas as razões certas.

Estendo a mão por cima do cobertor, entrelaçando meus dedos


nos dele. Ele é tão caloroso, do jeito que sempre é, esse toque firme
que faz cada montanha parecer pequena. Com a mão dele na
minha, nunca estive tão confiante.

— Eu sempre vi você, Adam. E amei tudo o que vi. Sei que você
escondeu essa parte de você por um motivo, mas tenho certeza de
que vou adorar também.
Ele olha para meu filho dormindo em seu colo, passando os
dedos por suas ondas loiras. — Eu só quero ser perfeito para vocês
dois.

— Eu não preciso de perfeição. Preciso da bagunça, do caos, de


todos os seus medos e inseguranças. Eu dei a você os meus, e você
me guiou por todos eles. Deixe-me caminhar com você através do
seu caos.

— E se for demais? Todo o tempo separados, os jogos, a mídia.


E se for muito difícil?

— A vida é assim, não é? Descobrir quando fica difícil? É assim


que crescemos. E eu passei tantos anos crescendo sozinha. Agora
quero crescer com outra pessoa.

A esperança brilha em seus olhos, e juro que seu corpo ganha


vida. — Comigo?

— Com você, Adam.

Ele sorri para nossas mãos, observando seu polegar se mover


ao longo da minha pele. Quando ele olha para mim, há paciência
ali, um lembrete de que esse homem sempre entendeu até as
partes mais profundas de mim. — Acho que você precisa que eu
vá devagar.

— Eu também acho — admito, avaliando sua reação. Mas ele


apenas sorri.

— Acho que pode ser o que eu preciso também. Tenho certeza


de que você pertence ao meu mundo, mas quero fazer isso direito,
Rosie. Eu quero dar a você tudo de mim, dar-lhe tempo para se
acostumar com tudo isso na velocidade que você precisar. — Ele
leva minha mão à boca, dando um beijo leve como pluma nos nós
dos meus dedos. — Então vamos com calma, ok? Porque quando
você estiver pronta, não vou deixar você ir de novo.

Sempre fui fã do silêncio. Do tipo bom, onde tudo é confortável.


O tipo de silêncio que vem com a paz, colocando tudo para fora,
resolvendo seus problemas juntos e, finalmente, encontrando o
caminho onde vocês podem caminhar juntos, lado a lado. É o tipo
de silêncio em que eu ficaria feliz em ficar, e faço exatamente isso
enquanto subimos no elevador para o meu apartamento.

A porta se abre assim que paramos em frente a ela, quase como


se alguém estivesse olhando pelo olho mágico. Archie está ali, seu
olhar movendo-se cautelosamente entre nós, e Adam estende a
mão.

— Nós não nos conhecemos formalmente. Eu sou Adam.

O rosto de Marco aparece por cima do ombro de Archie. — Oh,


meu Deus. Ele está aqui. Para fins de pesquisa, Adam, você
poderia levantar sua camisa? Rosie diz que você tem um
tanquinho, mas Archie acha que ela está exagerando. Temos uma
pequena aposta acontecendo, e — ele coloca a mão sobre o peito
— eu apostei em você, obviamente, então se você...

Archie o silencia com a mão sobre o rosto. — Por favor,


mantenha sua camisa. Marco está trabalhando nos limites, mas é
um prazer conhecê-lo formalmente. — Ele se agacha, coçando as
orelhas de Bear. — Ei, garotão. Você é tão bonito quanto Rosie
prometeu. — Seus olhos vêm aos meus, procurando. Quando eu
sorrio, ele sorri também. — Connor, quer brincar de trem enquanto
mamãe diz boa noite para Adam?

Connor corre pela porta com um grito, então derrapa até parar.
Ele corre de volta para nós, jogando os braços em volta do pescoço
corpulento de Bear. — Tchau, cachorrão. Amo você. — Em
seguida, ele colide com as pernas de Adam, envolvendo-as com os
braços. — Tchau, Dada. Amo você.

Adam o aperta contra o peito. — Tchau, amigo. Também amo


você.

A porta se fecha atrás de Connor, deixando-nos sozinhos no


corredor.

— Eu senti falta disso — diz ele em voz baixa. — Dada. Eu sei


que isso não significa... — Ele balança a cabeça, enfiando as mãos
nos bolsos. — Isso me faz sentir especial para ele, só isso.

— Você é especial para ele, Adam. Você é especial para nós dois.
— Eu estudo este homem diante de mim enquanto ele acena com
a cabeça, os olhos no chão, a mistura mais estranha e cativante
de confiante e tímido, o coração mais puro por baixo de tudo. —
Como você sabia?

— Sabe o quê?

— Stardust Lane — murmuro o nome da rua onde passei


minha infância. O nome da bolsa que convenientemente apareceu
depois que a minha foi perdida.
Adam cora, rindo nervosamente. — Você sabia que era eu,
hein? Eu, uh, pesquisei você no Google.

Eu dou uma risada. — Acho que toda essa confusão teria sido
evitada se eu tivesse pesquisado você no Google.

Adam olha para seu cachorro, sentado exatamente no meio do


caminho entre nós, como se ele se recusasse a escolher apenas um
de nós. — Eu acho que Bear me trouxe você, sabe. Eu nunca teria
tido você e Connor se ele não tivesse batido em você naquele dia
nas montanhas. E enquanto ele estava na cirurgia, percebi isso.

Ele dá um passo mais perto de mim, e meu coração pula para


a minha garganta. — Mas também percebi que tinha que agradecer
a seus pais. Que você não teria vindo parar em Vancouver se não
tivessem trazido você para cá e feito você se apaixonar. O fato de
que nunca desejaria ser veterinária se não fosse por seu pai ou
pela maneira como seus pais a criaram deu a você esse coração
incrível e empático. Eu não poderia sentar e assistir você colocar
seu sonho em espera por mais um ano, não depois de todo o
trabalho que você colocou nisso. Eu sei que você não queria que
eu pagasse por isso, Rosie, mas dar isso a você... é uma das
melhores coisas em que já gastei meu dinheiro. E quanto a
Stardust Lane? Eu queria encontrar uma maneira de honrar o
papel de seus pais em sua vida e em seu futuro. Porque sei que
eles estiveram com você a cada passo do caminho, orgulhosos
como o inferno de sua filha.

Lágrimas furtivas ardem em meus olhos, e eu fungo, abanando


meu rosto. — Por que você sempre tem que me deixar emocionada?
Ele ri baixinho, enxugando uma lágrima perdida. — Eu amo
seu coração, Rosie. É o que vai fazer de você uma veterinária
incrível. É o que faz de você, você.

— Obrigada por acreditar em mim, Adam.

— Obrigado por me dar uma segunda chance. Eu não vou


precisar de uma terceira, no entanto. Prometo.

A promessa é tão boa quanto o calor de sua mão em meu rosto,


e afundo em ambos. — Sem mais segredos, ok?

— Ok. — Ele puxa a mão para trás. Seus olhos piscam e ele
flexiona os dedos, fechando-os em punhos antes de deixar escapar:
— Adoro Fruit Roll-Ups. Sei que parece que só como comida
saudável, mas adoro tanto Fruit Roll-Ups que tenho oito caixas na
despensa no momento. Já tentei parar, mas não consigo. — Ele
exala, tão longo e tão alto, uma mão em seu torso enquanto
desinfla. — Uau, eu me sinto muito melhor.

Que esse é o pior de seus segredos é tão revelador sobre o tipo


de pessoa que ele é, e quando eu rio, ele sorri.

Seus dedos encontram os meus, entrelaçando-os lentamente.


— Passei a maior parte das últimas duas semanas na minha
cozinha, olhando para os meus armários verdes, porque não
queria esquecer a cor dos seus olhos. — Seus olhos vagam sobre
mim, e meu coração chuta em alta velocidade com o olhar pesado
ali. — Eu não teria desistido, só para você saber. E agora, farei
tudo o que você precisar que eu faça até que esteja pronta. Eu irei
tão devagar quanto você precisar. Serei paciente.

— Pronto para passar seus dias esperando uma mulher, hein?


— Se essa mulher é você? Absolutamente. — Ele dá um beijo
na minha bochecha, lábios macios encontrando meu ouvido,
demorando-se ali com suas palavras sussurradas. — Eu vou me
casar com você algum dia, afinal. Batman sempre fica com a
garota.

Ele se afasta, com um sorriso orgulhoso no rosto, antes de


seguir para o elevador. Olhos brincalhões vêm aos meus antes que
as portas se fechem, e ele pisca. — Noite, Trouble.
CAPÍTULO 30

PAIS SEM CAMISA FAZEM MELHOR

— Você poderia apenas enviar uma mensagem de texto para


ela? Estou farto de ver você abrir suas mensagens, olhar para elas
e depois fechá-las novamente!

— Nossa — murmuro, olhando furiosamente para Jaxon. —


Alguém está irritado esta manhã.

— Mittens pensou que minha maldita salsicha era um


brinquedo pendurado quando saí da cama, e ele a golpeou com
suas malditas garras afiadas antes que eu pudesse me proteger.
— Ele agarra seu lixo com uma mão, o outro braço se agitando. —
Claro que estou irritado pra caralho!

— Talvez você devesse proteger seus testículos, e assim não


ficaria tão irritado — diz Carter. Ele balança as sobrancelhas,
erguendo a mão para um high five. — Eh? Pegou? Porque eu
disse...

— Não, nós entendemos — asseguro-lhe.

— Oh. — Ele franze a testa para a mão. — Porque ninguém me


cumprimentou. — Ele engole seu smoothie pós-treino e depois
torce um Oreo. Equilíbrio, eu acho. — Por que você não está
mandando mensagens de texto para Rosie?

— É pouco depois das sete da manhã.

— Ela tem filho e faculdade — diz Emmett, enquanto ele e


Garrett espalham purê de abacate em vários pedaços de torrada.
— Ela definitivamente está acordada.

— Eies esaum ino devagar — Garrett murmura em torno de sua


mordida.

Jaxon pisca para ele. — O quê?

— Eles estão levando as coisas devagar — Garrett repete. —


Então ele não pode enviar uma mensagem de texto para ela logo
pela manhã, porque isso não é lento.

Carter ri, esticando os braços acima da cabeça. — Sim, eu


conheço esse jogo. Ollie e eu nunca fomos bons em lentidão. Ela
mais do que eu. Deveríamos estar levando as coisas devagar, então
ela subiu em cima de mim na limusine depois da festa de noivado
de Cara e Em. Tive que lutar contra ela.

Olivia passa com uma caneca fumegante de chá, sacudindo-o


na cabeça. — Isso não é absolutamente como aconteceu. — Ela
sorri para mim. — Eu acho que é legal vocês estarem
desacelerando as coisas por um momento. Não pode doer. E sim,
você pode enviar uma mensagem de texto para ela. As mulheres
adoram saber que são seu primeiro pensamento pela manhã.

— Então eu deveria...

— Sim.
— Sim. — Pego meu telefone e imediatamente começo a digitar
uma mensagem, nem um pouco para dar a mínima para o jeito
que meus amigos estão rindo de mim.

Bom dia. Você dormiu bem?

Não. Coxo. Apagar.

Olá, Rosie. Você está bem hoje?

Como ficou pior? Apagar.

Bom dia, linda. Pensei em você na cama ontem à noite.

Oh, meu Deus, Adam, o que há de errado com você? A-porra-


pagar.

Olivia espia por cima do meu ombro. — Um simples bom dia


faria maravilhas, Casanova. Não pense demais.

Eu: Bom dia, Trouble. Espero que você tenha um bom dia.

Trouble: Obrigada, Adam. Não foi um ótimo começo.

Uma foto segue, um Connor choroso em volta dela.

Connor tem um problema estomacal.

Ah, foda. Pobre garoto. Dou zoom na foto, os olhos sonolentos


de Connor, sua pele excepcionalmente pálida. É o olhar exausto e
estressado nos olhos de Rosie que me faz apertar o botão de
chamada, deslizando pela porta do pátio de Carter para seu
quintal.

— Ei — Rosie responde.
— Sinto muito que Connor esteja doente, Rosie. Você está bem?

— Sim, é só... — Ela suspira. — Tempo de merda. Não posso


mandá-lo para a creche e, obviamente, Brandon não é mais uma
opção. — Ela funga, puxando as cordas do meu coração. —
Desculpe, estou frustrada e exausta, porque estamos acordados
desde as duas e isso está mexendo comigo. Eu deveria estar na
cirurgia em duas horas, mas vou ter que perder.

— Eu vou vigiá-lo. Posso ficar com Connor hoje enquanto você


estiver na faculdade.

— Não posso pedir para você fazer isso.

— Você não está. Estou me voluntariando. Já fiz meu treino


com os caras; tenho o resto do dia livre.

— Não vai ser um dia fácil. Ele é pegajoso e emotivo quando


está doente.

— Eu gosto de pegajoso e emocional.

— Adam...

— Deixe-me ajudá-la, Rosie. Você pode contar comigo. Além


disso, eu sinto falta dele pra caralho. Apoie-se em mim hoje.

Ela hesita, e imagino seus dentes puxando o lábio inferior, a


pequena ruga entre as sobrancelhas enquanto ela pensa demais
nisso. — Tem certeza?

— Com certeza. — Volto pela casa. — Estarei aí em vinte.

Carter joga os braços para o alto, seguindo-me até a porta da


frente. — Você prometeu fazer aquele TikTok comigo!

— Eu não.
— Ah, cara. Mas todas as garotas adoram ver você dançar.

— Não, Carter. — Abro a porta, olhando para ele em sua


camiseta DILF. — Elas adoram ver o conteúdo do papai sem
camisa.

— Você também pode ser um papai sem camisa! — ele grita pela
porta enquanto eu subo em minha caminhonete.

Agora, a única pessoa que eu estou bem em me chamar de


Dada é Connor.

E, merda, é o pobre garoto doente, com os olhos vermelhos e o


nariz escorrendo de tanto chorar, a pele pálida e escorregadia de
suor.

— Nós vamos ficar bem — eu prometo a Rosie quarenta


minutos depois, quando estamos na frente da sua faculdade.
Podemos não ficar bem. — Temos tudo sob controle. — Não temos
nada sob controle. Eu sorrio para Connor. Está muito mais instável
do que eu gostaria, então tento o plano B, que é dois polegares
para cima. — Certo, amigo?

Ele arfa e Rosie consegue colocar o saco aberto na posição uma


fração de segundo antes de ele vomitar.

— Oh, bebê. — Ela enxuga o rosto dele, o olhar preocupado


encontrando o meu. — Não sei, Adam. Talvez eu devesse ficar com
ele.

— Rosie. — Eu agarro seus ombros, apertando suavemente. —


Isso é assustador porque você não pode controlar. Mas você
também não será capaz de controlá-lo se estiver doente em casa
com ele. Eu sei que você só quer ficar com ele, garantir que ele
esteja bem, e prometo, vou cuidar dele. Ele vai ser amado demais
em casa comigo e com Bear. Certo, amigo?

Connor enxuga as lágrimas do rosto, fungando. — Dada, Bear?

Rosie sorri suavemente, afastando o cabelo de sua testa úmida.

— Confie em mim? — eu pergunto a ela baixinho.

Ela me observa por um momento, então acena com a cabeça.


— Eu confio em você, Adam.

— Foda-se, sim, você confia.

— Foda-se — Connor repete baixinho, e meu sorriso


desaparece.

— Ah, merda. Não. Oh, merda. Merda. — Eu olho para Rosie.


— Rosie.

Connor sorri lentamente, uma visão diabólica, pequenas


sobrancelhas arqueadas. — Ah, merda. Oh, merda! Merda!

Pego a mochila de Rosie, coloco as alças em seus ombros e o


café da Starbucks que peguei para ela em suas mãos. — Ligo para
você se precisar de alguma coisa e prometo que não vou mais
xingar! — Eu a empurro — gentilmente — em direção à entrada do
prédio. — Tenha um ótimo dia, nós amamos você! — Eu paro,
batendo o punho no quadril, as sobrancelhas franzidas enquanto
repasso essas três últimas palavras na minha cabeça. — Não, eu
não, hum... — Meus olhos encontram os de Rosie. Ela está ali,
segurando seu café da manhã, sorrindo para mim. — Tudo bem,
tchau! — Corro para o meu lado e me jogo, saindo do
estacionamento sem outro olhar em sua direção. — Merda. Essa
foi por pouco, hein, amigo?
Connor sorri para mim no reflexo do espelho do banco do carro.
— Merda.

Ah, foda.

Trouble: Como está indo?

Eu: Ótimo!

Trouble: Você está mentindo?

Eu: Só um pouco!

Trouble: *emoji rindo* Eu aprecio você, Adam.

Ela conseguiu esperar duas horas e meia antes de enviar


mensagens de texto. Estou impressionado; só sei que seus dedos
coçaram a manhã toda.

E, realmente, estamos indo bem. Dia difícil, mas estamos


superando. Ele não vomita há quase duas horas, conseguiu engolir
alguns biscoitos e água e só se sentiu pior, tipo, três vezes, todas
as três vezes que tentei tirá-lo do colo. Eu? Estou inteiro. Estou
totalmente inteiro.

— Eu preciso de ajuda.

— Estarei aí em cinco — diz Carter.


Eu sei o que você está pensando: você ligou para Carter pedindo
conselhos? É a última coisa que pensei que faria também, mas
tenho que admitir, ele sabe o que é ser pai.

Estou esperando na minha varanda da frente quando ele


chega, um Connor chorando em meus braços, sua pequena mão
emaranhada no meu cabelo.

— O que é isso? — pergunto enquanto ele caminha em nossa


direção.

— Isso? — Ele toca o boné na cabeça. — É o meu boné DILF.

— Eu sei ler, Carter. Eu sei o que seu boné diz. E por que você
precisa de um boné DILF quando já está usando sua camisa DILF?

— Para realmente deixar claro o ponto. — Ele segura uma


engenhoca na mão. Parece algum tipo de... mochila? — Quando a
Ireland está tendo um dia difícil, ela só quer ser abraçada. Eu a
amarro no meu peito e ela fica feliz como o inferno. — Ele me
avalia. — Provavelmente teremos que ajustar isso, porque você é
menor que eu.

Reviro os olhos enquanto ele secretamente aumenta a cintura,


porque ele sabe tão bem quanto eu quem é o menor de nós.

— Vou colocar você no chão por um minuto, ok, amigo? — Eu


abaixo Connor para uma cadeira na minha varanda, e ele grita,
agarrando minha camisa.

— Não! Não para baixo! Sobe! Para cima! — Ele se levanta,


puxando minha calça, chorando. — Levanta, Dada, levanta!
— Ei — eu acalmo, agachando-me, esfregando suas costas. —
Sei que você está chateado. Meu amigo Carter vai me ajudar a
colocar isso, e depois vou pegá-lo de volta, ok?

— Vou ser muito rápido, carinha. Prometo. — Carter amarra a


engenhoca em volta da minha cintura. — Disse que você poderia
ser um papai sem camisa.

— Não quero ser um papai sem camisa. Eu quero manter


minha camisa. — Eu pego Connor de volta, e Carter me mostra
como colocá-lo contra o meu peito antes de prender as alças
juntas. Connor esfrega os olhos com os punhos minúsculos,
soluçando, encostando a bochecha na minha clavícula. — O que
você acha, cara? Você gosta disso?

— Ônibus — ele sussurra, apontando para a rua.

— Você quer ir assistir a alguns ônibus? — Eu olho para Carter.


— Podemos fazer isso quando ele está doente?

— O ar fresco pode ser bom para ele. — Ele dá um tapinha nas


costas de Connor, sorrindo. — Prazer em conhecê-lo, carinha. Você
terá que vir para um encontro com a Ireland em breve, ok?

Os olhos grandes e vidrados de Connor movem-se entre os de


Carter. — I-lan?

— Acertou em cheio! — Ele me dá um tapinha nas costas. —


Você tem isso, papai.

— Por favor, não me chame de papai.

Ele pisca para mim, entrando em seu carro. — Você pode me


chamar de papai.

Meu Deus. Pobre Olive.


Prendo Bear na coleira, pego alguns lanches e nós três saímos.
Connor fica quieto no começo, observando-me enquanto eu aponto
caminhões e pássaros, mas Bear arranca uma risada abafada dele
quando ele se enrola tentando perseguir um esquilo em uma
árvore.

— Carro vermelho — ele sussurra, apontando para um carro


parado no semáforo.

— Sim! Carro vermelho! — Eu aponto para um azul. — Que cor


é essa?

Ele sorri e seus pezinhos começam a chutar. — Carro vermelho!

— Carro azul!

— Rrrrrr carro!

— Perto o suficiente! Caramba, amigo! — Aponto para o ônibus


descendo a rua. — Olhe!

— Woooah-ho-hooo! Ônibus! Ônibus grande! — O ônibus passa


por nós e Connor acena freneticamente. — Oi, ônibus! Oi, ônibus
grande! — A motorista do ônibus acena de volta, buzinando, e
Connor perde sua mente amorosa. — Bip-bip, ônibus! Bip Bip!

Paramos no Wildheart e convidamos Piglet para uma


caminhada rápida. Ela está confusa, porque Rosie não está
conosco, mas feliz do mesmo jeito, jogando a bunda para o alto
como sempre faz, acertando o rosto de Bear enquanto desce.
Quando voltamos para casa, todos estão prontos para tirar uma
soneca.

Connor come metade de seu sanduíche de manteiga de


amendoim e banana no almoço, depois enfia a outra metade na
minha boca, e espero em Deus não pegar uma infecção estomacal
quatro dias antes do jogo de estreia em casa.

— Pronto para uma soneca? — pergunto, levando-o para cima.

— Não — ele responde simplesmente.

— Eu estou. Estou com sono.

Ele aponta um dedo na minha cara. — Dada sono?

— Sim, amigo. Dada está com sono. Você me manteve ocupado


hoje. — Entro no meu quarto de hóspedes e coloco Connor de pé
para que eu possa afastar as caixas que coloquei aqui na outra
semana, enfiar as latas de tinta no armário.

Quando me endireito, Connor se foi.

— Connor? — Corro para o banheiro, o pânico apertando meu


coração quando não o encontro. — Connor! Onde você está,
amigo?

Uma risadinha soa no corredor e sigo o som até meu quarto.


Connor está ao pé da minha cama, e Bear está com a cabeça
debaixo da sua bunda, como se estivesse tentando levantá-lo.

— Dada, cima? — Connor aponta para a cama e estende as


duas mãos para mim. — Para cima.

Alívio desliza através de mim enquanto expiro. — Você me


assustou. Achei que tinha perdido você por um minuto. — Eu o
levanto em meus braços. — Você tem que se deitar no seu
cercadinho.

— Não — ele grita, agarrando meus ombros, tentando se


levantar. — Não, não! — Ele dá um tapinha na testa, a marca
desbotada de sábado, quando ficou preso embaixo do cercadinho
na casa de Brandon. — Ai.

Eu suspiro, abraçando-o ao meu peito. — Você está assustado.


Eu sei, amigo. Desculpe. — Eu o balanço de um lado para o outro
e ele deita a bochecha no meu ombro, enfiando o polegar na boca.
— O que deveríamos fazer?

Ele aponta para minha cama novamente, abafando um bocejo.


— Dada, Bear, Conn'a, deitar.

— Você quer que eu me deite com você?

Sua resposta é um sorriso suave e sonolento. Eu o coloco no


meio da cama, e Bear sobe ao lado dele enquanto pego travesseiros
extras do armário, construindo uma guarda improvisada em torno
dos dois.

Deito ao lado deles e meu suspiro se transforma em um bocejo


completo de cinco segundos. Eu esfrego meus olhos ardentes
enquanto Connor se enrola ao meu lado, Bear em suas costas, e
se acomoda no calor. — Vou ficar aqui deitado até você dormir, ok,
amigo?

Ele desliza sua pequena mão na minha, e eu sorrio para ele


enquanto seus olhos se fecham. Suas ondas loiras estão
espalhadas em sua testa, pequenas sardas revestindo seu nariz.
Ele tem aquela covinha no queixo, a mesma de Rosie, e foda-se,
não consigo acreditar como esse garotinho é perfeito, como sou
sortudo. Isso é tudo em que estou pensando enquanto seguro seu
pequeno corpo contra o meu e meus olhos se fecham,
pensamentos sobre ele e sua mãe correndo desenfreados na minha
cabeça.
Rosie soa igual em meus sonhos. Suave e doce quando ela
chama meu nome, sua risada silenciosa deslizando sobre mim.
Porra, ela até parece o mesmo em meus sonhos, mãos gentis que
deslizam pelo meu braço, roçando minha mandíbula, segurando
minha bochecha.

— Adam — ela sussurra meu nome novamente, e quando seu


polegar varre meu lábio inferior, meus olhos se abrem,
encontrando seus olhos divertidos me observando.

— Oh, merda, eu adormeci. Oh, merda, eu adormeci! — Eu me


ergo rápido, quase batendo meu rosto no dela. Eu agarro seus
braços, firmando-a, e olho para Connor, ainda desmaiado ao meu
lado. — Esqueci de pegar você? Foda-se, Rosie, sinto muito.
Connor não queria dormir em seu cercadinho, ele não me largava,
então nos deitamos aqui porque ele estava cansado e eu estava
cansado pra caralho, e ele só... ele só... — Eu aponto para o meu
lado. — Ele se enrolou ao meu lado, uma bolinha, e ele estava
apenas agarrado a mim, e adormeceu, e eu estava apenas olhando
para ele, não podia acreditar como ele era doce, como era perfeito,
e eu... acho que adormeci também.

Rosie sorri, uma visão incrível e avassaladora que me faz querer


cair de joelhos aos pés dela. — Meu professor me deixou sair
depois da cirurgia. Entrei quando você não respondeu e encontrei
vocês dois exatamente onde eu esperava. — Ela passa os dedos
pelos meus cachos bagunçados. — Cuidar de um pequeno
humano o dia todo é cansativo, especialmente um doente. — Ela
gesticula para Bear, ofegando alegremente a seus pés. — Eu e Bear
deixamos vocês dormindo enquanto fazíamos o jantar.
— Você fez o jantar? Por quê?

— Para agradecer a você. Eu estava estressada esta manhã,


porque não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, e odeio
deixar Connor quando ele está doente. Achei que ficaria olhando
para o meu telefone o dia todo, pedindo atualizações, mas quando
você saiu daquele estacionamento com meu filho no carro, eu me
senti calma. Eu sabia que ele estaria seguro com você, Adam.

Ela pega meu rosto em suas mãos, puxando-me para frente


para que ela possa deixar cair seus lábios na minha bochecha
quente. — Todos os dias, você me dá algo novo para amar em você.
Quão sortuda eu sou por encontrar alguém que me dá tantas
coisas pelas quais agradecer?

— Isso não tem sentido.

Observo Rosie, andando de um lado para o outro ao lado da


caminhonete na tranquila estrada rural em que estamos
estacionados. Ela fica parando para pensar, depois joga os braços
para o alto, dizendo: Isso não tem sentido, e recomeça a se
pavonear.

— Por que isso não tem sentido?

— Porque eu nem tenho carro, Adam! E não posso pagar um,


então não é como se eu fosse dirigir, então por que aprender a
dirigir, sabe? — Ela apoia o queixo no punho, olhando para mim,
mas sem realmente me ver enquanto balança a cabeça. — Sim,
está resolvido. Vamos ignorá-lo. — Ela marcha até o porta-malas,
gesticula por cima do ombro e dá dois tapinhas no capô. — Sem
aulas de direção hoje! Vamos, pessoal! Vamos!

— Ela faz muito isso? — eu pergunto, os braços cruzados


enquanto ela se esforça para abrir a porta que acabei de trancar.

— O dramático golpe final? — Archie a observa puxar a


maçaneta. — Uh-huh.

— Acredite ou não — acrescenta Marco — ela tem um talento


maior para o drama do que eu.

— Tudo bem. — Archie ri, revirando os olhos. — Eu não iria tão


longe. Ninguém é tão dramático quanto você.

— Ah, eu tenho um amigo. — Eu destranco a porta para me


divertir, e os olhos de Rosie brilham antes que ela alcance a
maçaneta novamente. E tranco de novo. — Às vezes, não tenho
certeza de quando pressioná-la a tentar coisas novas e quando
deixar as coisas acontecerem. Não quero forçá-la a fazer algo para
o qual ela realmente não está pronta, sabe?

Archie cantarola, balançando a cabeça. — Sim, eu conheço


essa luta. O problema é que você saberá quando ela realmente não
estiver pronta para algo. Ela vai desligar completamente e seu
coração vai dizer para você parar, para abraçá-la. Você parece lê-
la bem. Ela nunca se sentiu apressada com você. Ela precisa ser
convencida sobre algumas coisas, no entanto.

— Alguém já parou para pensar se realmente enfiar coisas nela


pode funcionar melhor do que convencê-la a fazer alguma coisa?
— Marco balança as sobrancelhas para mim. — Dê uma chance, é
tudo o que estou dizendo.

Connor se curva sobre a cabeça de Marco de onde está sentado


em seus ombros, cobrindo a boca com a mão. Pode ser o melhor.
— Mama, dobra?

— Acho que não, amigo — Rosie diz, caminhando de volta para


nós, com as mãos nos quadris enquanto ela bufa. — Hoje não. —
Ela aponta por cima do ombro para a caminhonete. — Adam, algo
está acontecendo com as fechaduras.

— Realmente?

— Sim, elas continuam destravando e travando novamente.

— Não diga.

— É estranho, porque é quase como quando eu alcanço a


maçaneta... — Ela para, franzindo a testa para mim. Está
carrancuda, com um lado de vou castrar você. — Seu filho da p...

— Ah-ah. Cuidado com a linguagem perto de ouvidos inocentes.

— Filho da mãe. — Seus olhos se estreitam e ela levanta o


quadril, prendendo os braços sobre o peito. Meu olhar cai para seu
decote – ops – e ela puxa sua camisa de botão, roubando minha
visão. — Nem pense nisso.

— Aqui vamos nós — resmunga Archie.

— E você disse que ela não tem talento para o drama? — Marco
sussurra.

— Não, eu disse que o talento dela para o drama não era tão
grande quanto o seu.
— Eu estou bem aqui!

— Nós certamente sabemos, Rosie.

Eu rio, então transformo em uma tosse quando Rosie olha para


mim. — Vamos, Trouble. Vamos conversar na caminhonete.

— Eu sei o que você está fazendo — ela diz enquanto eu a coloco


no banco do motorista, aquele que ajustamos para ela três vezes.
— Você vai me dar aquele olhar...

— Que olhar? — Eu dou a ela o olhar.

— Esse olhar! — Ela me deixa afivelar o cinto. — E então você


vai me perguntar o que está me impedindo de dirigir com aquela
voz gentil que me faz querer contar tudo, e eu vou ceder!

Eu subo no banco do passageiro, segurando minha palma


virada para cima entre nós. Seu olhar passa entre mim e ela três
vezes antes de ela finalmente deslizar sua mão contra a minha,
emaranhando nossos dedos juntos. Porra, é um sentimento que
senti muita falta, um que faz tudo parecer tão quente, brilhante e
cheio.

— O que está impedindo você de dirigir?

Ela geme e eu rio.

— Estou falando sério. Você estava animada com nossa aula


de direção hoje, então acho que você quer fazer isso.

Ela viu o lábio com os dentes. — Eu quero.

— Mas você está com medo.

Ela abaixa a cabeça. — Estou cansada de ter medo de coisas


simples.
— Tudo bem ter medo, Rosie. Só porque dirigir é simples para
algumas pessoas não significa que seja simples para todos. É algo
que eu possa ajudá-la a resolver?

— Acho que não.

— Quer tentar de qualquer maneira? Nunca se sabe.

— Tenho medo de morrer — ela deixa escapar, então espera,


avaliando minha reação. Quando eu não dou a ela, ela continua.
— Não é realmente a morte que eu tenho medo, mas o que vem
depois da morte inesperada. A ideia de nunca mais ver Connor, de
não conseguir vê-lo crescer, isso me destrói. E quem vai cuidar
dele? Ele não tem avós. O próprio pai dele nem... — Ela se
interrompe, acenando com as palavras, franzindo o nariz. — Eu
sei que meus pais não morreram em um acidente de carro. Mas as
pessoas morrem em acidentes de carro todos os dias, e os
incêndios são muito menos prováveis, e mesmo assim aconteceu.

— Depois que eles morreram, comecei a ter muita ansiedade


com a possibilidade de uma morte inesperada, mas depois que tive
Connor, ela aumentou dez vezes. De repente, eu tinha esse
pequeno humano que dependia de mim para tudo, e tudo em que
conseguia pensar era como foram os momentos finais dos meus
pais, sabendo que eles não iriam me ver de novo, que eu estaria
sozinha. As pessoas sempre dizem: ‘Eu só posso imaginar’, e
sempre acho isso bobo, porque, tipo, não, você realmente não
pode. Mas estou imaginando isso há tanto tempo, e é... é
debilitante. Não há outra maneira de descrevê-lo. É como se meu
corpo desistisse de mim. O medo toma conta do meu cérebro, e
não posso fazer nada além de sentar e imaginar o pior cenário. Eu
fico tão perdida em meus pensamentos, Adam. Às vezes, parece
que eles me comem vivo.

Ela funga, um gole tão audível que dói minha própria garganta.
Quando uma lágrima escorre por sua bochecha, eu a pego com o
polegar. — Eu sei que é só minha imaginação, mas isso quase
torna tudo mais difícil, sabe? Porque se dói tanto só de imaginar...
Deus, a dor que meus pais devem ter experimentado naqueles
momentos, sabendo que era isso.

Ela passa a mão pelo ar, descartando sua própria dor, forçando
uma risada. — Então, sim, é por isso que tenho medo de dirigir,
embora adoraria aprender. Tolo, hein?

— Não.

Seu olhar desliza para mim. — O quê?

— Não é nada tolo. Seus medos são reais e válidos. Posso sentir
sua dor, Rosie, e dói. Eu tenho um pensamento embora. Você está
sentindo o que está sentindo, esse medo de ter que dizer adeus a
Connor, deixá-lo para trás, e isso é assustador o suficiente por si
só..., mas e se você também estiver segurando a dor de seus pais?
E se você estiver assumindo a dor que eles sentiram deixando você
para trás? A dor deles por sentirem que estavam abandonando
você?

Seu olhar cai, procurando através de minhas palavras


enquanto seu peito arfa.

Eu aperto suas mãos nas minhas. — Você pode tentar uma


coisa? Feche os olhos para mim. — Eu sorrio, tirando o cabelo de
seu rosto enquanto seus olhos se fecham. — Eu sei que é difícil,
mas imagine seus pais sentados aqui com você. — Uma lágrima
escapa, descendo por sua bochecha, seguida por outra, e ela
aperta o lábio inferior, o queixo tremendo. — Diga a eles que você
vê a dor deles.

Ela balança a cabeça, as lágrimas caindo mais rápido.

— Rosie — eu sussurro, tomando seu rosto em minhas mãos.


— Por favor. Diga a eles.

— Eu vejo sua dor — ela chora baixinho.

— Boa menina — murmuro, limpando suas lágrimas. — Agora


diga a eles que você não pode segurá-la para eles.

Ela se engasga com as palavras antes de cair no console


central, desmoronando contra o meu peito. Eu aliso minha palma
em suas costas, segurando-a perto enquanto ela chora em meu
pescoço.

— O que eles disseram?

Ela olha para mim, os olhos verdes dançando em sua própria


chuva cristalina enquanto lava apenas um pouco de seus medos.
— ‘Não estamos pedindo para você.’

— Acredito nisso. Eles não querem que você se apegue a isso.


Nem a dor, nem os medos. Eles querem que você se lembre do
amor. — Eu enxugo as lágrimas que se agarram aos seus cílios
enquanto ela me dá um sorriso de partir o coração. — Aposto que
eles deram o melhor tipo de amor, Rosie. Assim como você.

Rosie joga os braços em volta do meu pescoço, abraçando-me


com força. — Obrigada, Adam. Muito obrigada.
Passamos os próximos minutos verificando os retrovisores,
praticando o freio e acelerando um pouco a caminhonete, e quando
Rosie está pronta, ela respira fundo, segurando o volante.

— Coloque na marcha dirigir — eu digo a ela, observando


enquanto ela faz isso. — Bom. Agora sinalize à esquerda para que
as pessoas saibam que você entrará no trânsito. — Eu olho por
cima do meu ombro para o tráfego imaginário, Archie e Marco nos
acertando com dois polegares enquanto observam do lado da
estrada, Connor batendo palmas na cabeça de Marco. — E quando
estiver pronta, tire o pé do freio.

Ela fecha os olhos e respira fundo antes de exigir: — Diga-me


algo bom. Conte-me sobre sua instituição de caridade, The Family
Project. Por que você faz isso?

Eu sorrio. — Faço isso pelas crianças que procuram um lugar


para pertencer, em busca de segurança, de amor.

Rosie estala as pálpebras. Lentamente, ela solta o freio e a


caminhonete avança.

— Faço isso pelas crianças que querem desistir, porque quero


mostrar a elas o que acontece quando você aguenta um pouco
mais.

Ela pisa no acelerador, só um pouquinho, e a caminhonete


anda um pouco mais rápido.

— Eu faço isso para que elas saibam que sempre há alguém


que as ama, que está torcendo por elas. Isso pode levar algum
tempo, mas elas vão encontrar seu povo. Eu faço isso pelas Rosies.
Ela sorri, brilhante e tão bonita, e quando ela para na esquina
e estaciona a caminhonete, Archie e Marco correm em nossa
direção com Connor, gritando e comemorando. O orgulho
brilhando em seus olhos é incomparável, uma visão que vou
lembrar para sempre.

— Eu fiz isso, Adam. Eu dirigi pela minha primeira rua!


CAPÍTULO 31

QUEM É O VERDADEIRO SR. INCRÍVEL?

— Você está nervosa?

— Eu? Nervosa? Pfft. Você já me viu nervosa?

Adam me olha de soslaio enquanto caminhamos pela calçada


juntos, rebocando Connor em um carrinho novinho em folha, top
de linha e chique como o inferno que ele tinha na garagem. Ali com
Connor? Bear. Sim, este carrinho tipo vagão é tão chique que
suporta este cachorro de sessenta quilos com facilidade. —
Sempre.

— Este seria um momento aceitável para mentir, caso você


esteja se perguntando. — Eu olho para Connor, pulando em seu
novo carrinho favorito, batendo palmas e cantando I-lan, porque
Adam disse a ele que íamos conhecer sua nova amiga Ireland.
Então, olho para mim mesma, a roupa que troquei quatro vezes, o
jeans que Archie jurou que apertava minha bunda da maneira
certa, o suéter grande que vesti depois de desistir de todo o resto.
— Eu só quero que seus amigos gostem de mim.

— Eles já amam você, Rosie.


— Você não pode saber disso, Adam. Você só está tentando me
fazer sentir melhor.

— Eu absolutamente sei disso. Estamos falando de você há três


meses. Eles estão morrendo de vontade de conhecer a garota que
me faz sorrir para o meu telefone o tempo todo.

O calor toca minhas bochechas e eu escondo meu sorriso. Já


se passaram duas semanas desde que Adam e eu decidimos levar
as coisas devagar, e o homem voltou a ser um elemento
permanente em minha vida, exceto que está ainda melhor do que
antes, mesmo sem o material físico.

Ele terminou seus jogos de pré-temporada na semana passada


e, entre todos os treinos, práticas e cirurgias, nós nos vemos todos
os dias. Às vezes, acordo com ele confirmando meu pedido na
Starbucks e, trinta minutos depois, ele está na minha porta,
ajudando-me a preparar Connor para a creche enquanto saboreio
meu café. Às vezes, ele está encostado em sua caminhonete
quando saio da faculdade, um sorriso ridiculamente bonito
esperando por mim, um sorriso bobo no rosto feliz de Bear. E, às
vezes, o meu favorito, ele aparece à noite com chás e muffins, ajuda
no banho de Connor, lê seus livros favoritos para ele e o coloca na
cama, e então se aninha no sofá comigo, Archie e Marco para
assistir Jeopardy!.

Ele se espremeu em cada fenda da minha vida, e tudo parece


tão cheio que estou quase prestes a explodir.

— Pelo menos eu já conheci alguns deles — digo enquanto


iniciamos um caminho longo e sinuoso.
— Você quer dizer na clínica depois da cirurgia de Bear, quando
todos estavam lá?

— Não, quando eles foram até o Wildheart.

— Hmmm?

— Garrett e Jaxon? Quando eles foram me ver no Wildheart?

Adam arqueia uma sobrancelha. — Desculpe?

— Sim, eles usavam... bigodes falsos. Você não sabia?

Adam tropeça nos próprios pés, de alguma forma chutando um


sapato no processo. — Bigodes falsos?

— Espere. — Paro, e Adam ainda está tentando calçar o sapato.


— Se você não sabia que eles foram me espionar, de onde você
acha que Jaxon conseguiu Mittens?

Ele joga os braços acima da cabeça. — Ele me disse que ouviu


pequenos miados vindos da lixeira no estacionamento de seu
condomínio, entrou e salvou Mittens! Ele me enviou uma foto de
Mittens ao lado de uma meia velha e um saco amassado de Doritos
e disse: ‘Olha o que encontrei no lixo’.

— Uau. Isso é uma mentira muito elaborada. Estou


impressionada.

Adam pisca para mim e, então, novamente: — Bigodes falsos?

— O de Garrett caiu e ele fugiu depois de fingir que tinha


recebido um telefonema.

Adam esfrega as mãos no rosto em câmera lenta. Com um


suspiro, ele aponta para a casa enorme diante de nós. — Bem,
vamos conhecer o resto deles.
Ele enfia o carrinho na varanda da frente e pega a mão de
Connor. Quando ele abre a porta da frente, um animado golden
retriever nos dá as boas-vindas caindo de costas, rolando no chão.
Bear se junta a ele, e Connor dá uma gargalhada, caindo no chão
para que possa entrar na diversão, e eu estou ocupada pensando
se devo apertar a mão, abraçar ou oferecer um aceno simples e
amigável para todos que vou conhecer essa noite. Eu me viro para
Adam, prestes a deixar escapar a pergunta, mas Garrett Andersen
desce a escada, sorrindo quando me vê.

— Rosie! Bem-vinda ao Palácio do Amor de Carter. — Ele me


envolve em um abraço assim que começo a colocar minha mão no
espaço entre nós. — Nós somos abraçadores aqui.

— Bem, teve aquela vez que você levou um vibrador no rosto


como forma de saudação. — Jaxon Riley aparece atrás dele,
envolvendo um braço em volta de mim. — Oh, ei, mal posso
esperar para mostrar a você todas as minhas fotos de Mitts. —
Seus olhos disparam para Adam por cima do meu ombro. — Uh,
esse gato de rua, eu, uh... encontrei na lixeira. — Ele pisca para
mim, então franze a testa para Adam. — Por que você está mal-
humorado?

— Bigodes falsos?

Jaxon fez uma careta. — Oh.

Garrett cerra os dentes. — Você ouviu falar sobre isso, hein? —


De repente, seus olhos se arregalam e ele coloca a mão em volta
da orelha. — O que é isso, Jennie? Estou indo! — Ele sai correndo
pelo corredor na velocidade da luz, deixando Jaxon olhando para
nós.
— Então, acho que somos só nós. Bem, eu, uh... — Ele é quase
tão rápido quanto Garrett quando ele corre, exceto que ele
escorrega no final do corredor, batendo na parede. — Owww.

— Você mereceu isso — diz uma linda mulher, jogando seus


longos cabelos loiros por cima do ombro. Quando Jaxon estende a
mão para ela, ela a empurra com o pé. — Tão fofo você achar que
vou ajudar. Cara Brodie não se ajoelha para nenhum homem. —
Ela pisca para mim, cutucando a parte interna da bochecha com
a língua. — Exceto meu marido.

Connor fica de pé, apontando para Cara enquanto ela me


abraça. — Bonita.

— Oh, abençoe sua alma, doce menino. — Ela o pega em seus


braços. — Você tem um gosto incrível, não é?

Ele passa a mão pelo cabelo dela, fascinado. — Wooow.

— Eu fiz a mesma coisa na noite em que a conheci — Emmett


Brodie diz, cutucando meu lado quando ele aparece. Ele sorri para
mim antes de me envolver em possivelmente o melhor e mais doce
abraço de urso que já recebi. — Eu sou o marido sortudo.

A mão de Adam desliza sobre meu quadril, puxando-me para


perto, seus lábios em minha orelha. — Você está bem?

— Ah, merda. — Levo a mão à testa. — Eu não disse uma


palavra ainda, disse? Eu sou Rosie. — Eu estendo minha mão, em
seguida, puxo-a de volta. — Oh, certo. Já nos abraçamos. — Eu
limpo minhas mãos em meus jeans. — Eu estou nervosa.

— Você sabe o que é ótimo para os nervos? — Cara pergunta,


transferindo Connor para seu quadril e envolvendo seu braço no
meu. — Frozen margaritas. — Ela se aproxima enquanto me
conduz pelo corredor, o som de... música? agraciando nossos
ouvidos. — Você vai precisar de pelo menos cinco.

A visão da sala é interessante, para dizer o mínimo. Cada


pedacinho de ansiedade que eu tenho com o pensamento de
conhecer a família de Adam se desfaz quando vejo Carter Beckett
e sua irmã, Jennie, fazendo um show completo enquanto cantam
a versão de karaokê de “I Just Can't Wait to be King”.

— Uau.

— Sim — Cara sussurra. — Você não acreditaria com que


frequência isso acontece.

Garrett se esgueira ao nosso lado, bebendo uma lata de


refrigerante de cereja. — A bunda de Jennie parece irreal naquele
jeans, hein?

— Cale a boca, Garrett! — Carter grita, girando para nós. Ele


para quando me vê, jogando o microfone por cima do ombro. —
Ollie! Rosie está aqui!

Passos ecoam e, um momento depois, uma pequena morena


desliza para dentro da sala, segurando sua pequenina irmã gêmea.
— Oh, meu Deus. — Isso são... lágrimas? — Finalmente.

Jennie vem dançando, com um sorriso brilhante e cheio de


covinhas em exibição quando ela para na minha frente, seu longo
cabelo castanho amarrado para trás com uma fita. — Oi. Eu sou
a irmã Beckett mais engraçada, mais bonita e mais madura. Posso
abraçar você?
— Eu adoraria — falo, engolindo a emoção subindo pela minha
garganta enquanto ela me dá um aperto, tão quente, como se
estivesse envolta na luz do sol. Todo mundo é tão legal, e eu tive
nada menos que três ataques de ansiedade hoje com a perspectiva
de conhecê-los.

Carter se aproxima, e eu juro por Deus, estou fazendo tudo ao


meu alcance para não olhar para sua virilha. Isso foi empurrado
na minha cara dezessete mil vezes no ponto de ônibus, quase sinto
que somos amigos.

— Carter Beckett, capitão da NHL, modelo de roupas íntimas


da Calvin Klein, o homem mais sexy da GQ e extraordinário DILF.
— Seu peito infla de orgulho e ele dá de ombros. A humilde
vanglória rolando dele em ondas é surpreendente. — Algumas
pessoas também me chamam de Sr. Incrível.

— Ah, pelo amor de Deus, Carter. — Olivia revira os olhos e


suspira. — Desculpe. Ele é... bem, ele é assim o tempo todo. Eu
sou Olivia e estou presa a ele pelo resto da minha vida. — Ela
passa a filha para Carter e me aperta contra ela. — É um prazer
conhecê-la, Rosie.

Carter empurra sua adorável filha na minha cara. — E eu sou


Ireland, a maior fã do meu pai e seu orgulho e alegria.

— Oi, Ireland. — Eu rio, apertando sua mãozinha. — Você é


simplesmente perfeita, não é?

— I-lan! — Connor grita, puxando a calça de Carter até que ele


a jogue no chão na frente dele. — Woooah-ho-ho — Connor se
pergunta em voz alta, agachando-se para olhar para ela, com as
mãos nos joelhos. Ele acena para ela, depois acaricia seus cachos
macios e escuros. — Olá, I-lan. Oi, bebê. — Ele sorri, olhos
brilhantes, e aponta para o peito. — Conn'a abraço I-lan?

— Olivia! — Carter grita, acenando sem rumo. — Pegue a


câmera! Está acontecendo! — Ele arranca o gravador de vídeo da
mão dela quando ela volta com ele, e cai de bruços no chão, os
olhos brilhando enquanto grava meu filho abraçando esta doce
garotinha. — O primeiro amigo dela.

Ele se levanta, passando a mão pelo peito enquanto suspira, e


é então que percebo sua camisa. É uma foto dele com Ireland,
‘Daddy’ escrito em cima dela. Meu olhar vai para Ireland quando
Connor solta a garota risonha, e eu dobro meus lábios em minha
boca quando vejo seu macacão.

Porque a foto corresponde à de Carter e rabiscada em cima da


dela? ‘Daddy’s Princess’.

Adam enfia uma frozen margarita na minha mão. — Você


conheceu todo mundo, viu os irmãos Beckett no karaokê e foi
submetida às camisas de Carter, das quais, aliás, ele tem um
armário cheio. Você merece isso. Cara colocou tequila extra nessa.

A tequila extra é maravilhosa, assim como o daiquiri de


morango que Cara me prepara a seguir, mas, para ser sincera, são
as pessoas que tornam esta noite tão fácil. Existir aqui com eles,
estar à vontade sendo eu mesma. Observá-los dando as boas-
vindas a Connor em sua família, dançando pela sala com ele,
interagindo com ele exatamente da mesma maneira que fazem com
Ireland. Não há diferença aqui, não com eles. Família é família,
puro e simples.

E eles estão nos tratando exatamente como se fôssemos deles.


— Ele continua me batendo nas bolas todas as manhãs. Tipo,
assim que eu saio da cama.

— Talvez deva dormir de cueca? — sugiro a Jaxon, que


aparentemente está sendo abusado por Mittens todos os dias.

Ele me lança um olhar de desgosto. — Sem chance. Eu gosto


de bolas livres. Meus meninos adoram ficar soltos.

— Ok, bem, você pode colocar uma antes de sair da cama.

— E tirá-la dois segundos depois, quando for fazer meu xixi


matinal? Não.

— Eu poderia estar sem soluções para você então, Jaxon.


Embrulhe seu lixo, ou Mittens continuará a usá-lo para praticar
rebatidas.

Ele bufa, afundando no sofá, mas sorri para o protetor de tela.


São os rostos dele e de Mittens, lado a lado. — Ele tem sorte de ser
tão fofo.

Meu olhar percorre a sala, encontrando as mesmas pessoas


que está procurando a tarde toda. Adam não está a mais de três
passos de distância de Connor, e a única vez que ele tira os olhos
dele é para colocá-los em mim. Agora, ele está sentado no chão
com Connor, Ireland, Garrett, Carter e Emmett, as crianças
gritando de tanto rir enquanto os meninos os entretêm.

— Há algo tão naturalmente atraente em homens com filhos,


não é? — Olivia me pergunta em uma expiração, com os olhos em
seu marido.

Eu observo enquanto eles cantam agressivamente a letra de


“The Wheels on the Bus”, ações e tudo, até que as risadas
estridentes de Connor e Ireland preenchem cada centímetro desta
casa, e quando Adam pega meu filho contra o peito, abraçando-o
com força e soltando um beijo em sua bochecha, fogos de artifício
explodem em meu estômago. — Tão atraente.

Olivia se vira para olhar para mim, sorrindo.

— O quê?

— Ele merece isso, sabe. Você. Ele merece você. Alguém que o
veja por tudo que ele é e não peça mais nada. Alguém que ama seu
coração gentil e o combina com o dela. Alguém que olha para ele
do jeito que você olha para ele.

Os olhos de Adam encontram os meus então, uma suavidade


que me derrete de dentro para fora, amor que brilha como as
manchas douradas do sol em seu olhar azul cerúleo, e quando ele
sorri, meu mundo inteiro se endireita.

— Do mesmo jeito que ele olha para você.

Eu aceno uma mão abatida no ar para distrair os sentimentos


que estão me encarando, exigindo que eu jogue essa ideia de lento
pela maldita janela e continue exatamente de onde paramos: eu,
com três pequenas palavras na ponta da minha língua, destinada
apenas para ele. — Você ainda não sabe disso, mas eu sou uma
pessoa excepcionalmente emotiva.

— Oh, meu Deus, eu também! Ainda mais depois que tive


Ireland.

— Os hormônios pós-parto são selvagens. Como se eu não


tivesse chorado por coisas suficientes antes de ter um bebê. Tipo
aqueles comerciais com os cachorrinhos, sabe de quais estou
falando? Os da SPCA com...

— Sarah McLachlan! Sim! Tive que morder a língua para não


chorar por causa de um na noite em que conheci Carter!

— A música era necessária? Isso torna tudo muito pior.

— Mata-me toda hora. — Olivia pega minha mão, puxando-me


com ela. — Vamos lá. Vamos fazer outra bebida.

Ela anda pela cozinha, jogando os ingredientes no liquidificador


enquanto eu examino a bandeja de salgadinhos na ilha. É noite
BYFS19 – traga seu lanche favorito – algo que Adam me explicou
enquanto carregava cinco caixas de Fruit Roll-Ups no carro. Você
pensaria que estávamos em uma festa de aniversário infantil
olhando para esta configuração elaborada, composta
principalmente de vários tipos de Oreos, Dunkaroos, Pop-Tarts e
sortimentos aleatórios de salgadinhos de frutas e cereais, mas
aparentemente, é assim que eles gostam de comemorar o início da
temporada e amanhã é a estreia em casa.

— Se você escolher um Oreo em vez de um Fruit Roll-Up, Carter


vai segurar isso na cabeça de Adam para sempre — Olivia me diz.

Eu rio, abrindo um Fruit Roll-Up, e Adam sorri para mim do


outro lado da sala. Ele pisca, murmurando: Boa escolha, Trouble,
e minhas entranhas esquentam.

— O que é isso? — pergunto, encontrando um álbum de


recortes entre toda a comida. A capa mostra uma foto de Carter

19
Bring your favorite snack.
em seu equipamento de hóquei, segurando uma Ireland
sorridente, as palavras Daddy Goes to Hockey rabiscadas na capa.

— Carter está trabalhando nisso o verão inteiro. É um livro


para Ireland, para quando os meninos estiverem fora da cidade
para jogar hóquei. Vá em frente e olhe.

Folheio as páginas, obviamente criadas com muito amor, fotos


e mais fotos de sua família, de Carter no gelo, Olivia e Ireland nas
arquibancadas. Passa por suas rotinas diárias, aconchego matinal
e um café da manhã bagunçado, caminhadas no parque, beijos de
cachorro e banhos de espuma antes de dormir. E então mostra
Carter embarcando em um avião, explica como ele está indo para
algum lugar longe para jogar hóquei, mas que estará pensando em
casa e, em breve, estará com suas garotas novamente.

Na última página há uma foto de Carter com Ireland dobrada


na dobra do braço, Olivia apertada contra o corpo. O amor refletido
em seu olhar é impressionante, mas são as palavras abaixo da foto
que puxam cada pedacinho do meu coração.

Papai vai para o hóquei, mas seu amor fica aqui.

Carter se aproxima de mim, espiando por cima do meu ombro,


com um pequeno sorriso. — Não sei o que vou fazer ficando tanto
tempo longe dela.

— Você realmente vai sentir falta dela, hein?

— Uh, sim. Eu sou meio obcecado por ela.

Meu olhar se volta para sua camiseta com ‘Daddy’. — Nem


percebi.
— E se ela se esquecer de mim, sabe? E se ela esquecer como
eu sou?

Eu olho para Ireland, sentada no colo de Garrett, o rosto de seu


pai em sua roupa. — Eu realmente não acho que isso seja possível.

— Você está certa, Rosie. Eu deveria mandar fazer mais


camisas para nós. Uma para cada dia da semana. Ótima ideia,
obrigado.

— O quê? Eu não disse-

— Ollie! Rosie me disse para fazer mais camisas para mim e


para Ireland!

— Carter, você deu àquela pobre garota na rua um emprego em


tempo integral fazendo camisas para você, e ela tem apenas
quatorze anos. Você precisa dar um tempo para ela.

— Ok. — Ele pisca para mim. — Eu definitivamente farei isso.


— Piscada, piscada.

— Você é uma ameaça — eu sussurro para ele.

— Você não tem ideia de quão alto eu posso voar, Rosie.

As meninas me puxam para fora, reunindo-nos em torno de


uma fogueira com todos os ingredientes para s'mores enquanto
saboreamos nossas bebidas.

— Não acredito que estamos confiando naqueles cinco sozinhos


com as crianças — Jennie diz enquanto gira um pedaço de
marshmallow sobre as brasas.

— Você está brincando comigo? Encontrei um rolo gigante de


plástico-bolha na garagem há dois dias. Quando perguntei a
Carter para que servia, ele disse que era para Ireland quando ela
começasse a andar. Eu pensei que ele estava brincando, mas
quando eu ri, ele disse: A segurança de nossa filha não é uma
piada, Olivia.

Cara suspira. — Ele chamou você pelo seu nome completo?

Ela acena com a cabeça sombriamente. — Connor e Ireland


estão possivelmente muito seguros com aqueles garotos lá dentro.

Jennie me dá um s'more pegajoso, e algo grosso se instala na


minha garganta enquanto eu olho para ele.

— Você está bem? — ela me pergunta baixinho.

— Oh, sim. Desculpe. Isso é muito bom. Isso me lembra meus


pais. Costumávamos acampar várias vezes no verão, e s'mores
eram a especialidade do meu pai. Faz muito tempo que não tenho
um.

Jennie sorri, apertando meu antebraço. — Meu pai faleceu


quando eu tinha dezesseis anos. É estranho, não é? Fazendo
coisas agora que costumávamos fazer antes? É nostálgico de todas
as maneiras certas, e me faz sentir como se ele estivesse aqui ao
meu lado. Mas ainda é difícil também. Porque, às vezes, a sensação
de que ele está ao meu lado é tão forte que eu olho para dizer algo
a ele e...

— Ele não está lá.

— Sim. É quase como se eu tivesse esquecido como respirar


por um segundo.

— Eu conheço esse sentimento. — Eu aperto a mão dela. —


Obrigada por compartilhar isso comigo.
Nós quatro começamos uma conversa fácil e, quando os
meninos saem para nos avisar que vão colocar as crianças na
cama, Olivia e Cara decidem adicionar apenas um pouco mais de
tequila à próxima jarra.

— Eu não sou uma pessoa violenta...

Olivia interrompe o monólogo de Cara com uma bufada.

— Mas se eu tivesse cinco minutos sozinha em um quarto com


ela...

Eu rio, e Cara aponta para mim.

— Você está rindo, mas estou falando sério. Se Courtney


estivesse na beira de um penhasco, meu cotovelo acidentalmente
cutucaria suas costelas e nunca mais falaríamos o nome dela.

— Ela era tão ruim assim? — eu pergunto. Todas as três me


nivelam com um olhar, e eu me encolho. — Pensei que talvez a
mídia estivesse embelezando.

— Não houve embelezamento. — Olivia suspira. — Ela era


exatamente tão horrível quanto eles a pintaram, mas,
sinceramente, estamos felizes por ela ter saído da vida de Adam.
Ele sempre mereceu muito mais. Ela nunca pareceu fazer parte
desta família.

Eu olho para o meu colo para aquela palavra com f, o desejo


que me puxa quando a ouço. Mas então Cara fala, persuadindo
meus olhos de volta.

— Não como você, Rosie.

— O que você quer dizer?


— Somos uma família. Queremos que você e Connor façam
parte desta família.

Algo acontece então. A menor mudança, mas com o maior


impacto. Como se a peça final já estivesse aqui, apenas
entreaberta, e alguém batesse nela, tão gentilmente que eu
provavelmente não notaria. Exceto que, finalmente, ela desliza
para o lugar certo, esse ajuste perfeito que estava apenas
esperando para ser preenchido e, de repente, tudo está exatamente
do jeito que deveria estar.

Meu coração bate em uma batida implacável, e eu luto contra


o aperto em minha garganta, a emoção mantendo-a refém. Nunca
na minha vida tive isso, esse amor imediato, essa aceitação sem
questionar, sem hesitar. É assustador e lindo e... incrível. É tudo
que eu sempre quis.

— Obrigada — eu sussurro, e quando minha voz falha, essas


mulheres incríveis se jogam em mim, envolvendo-me em um
abraço que me preenche completamente.

E nós quatro congelamos com o grito estridente de Carter vindo


de dentro.

— Ollie! Venha rápido! É uma emergência!

Corremos para dentro, cedendo de alívio quando vemos os


meninos parados na cozinha, pilhas de embalagens de Fruit Roll-
Up na frente deles, salgadinhos pela metade apertados nas mãos.

Carter segura seu lanche arco-íris, os olhos brilhando de


entusiasmo. — Ele faz tatuagens na língua!
— Jennie! — Garrett grita animadamente, correndo até ela. Ele
mostra a língua. — Olhe para a minha!

Carter corre para Olivia, o Fruit Roll-Up inteiro pendurado em


sua língua. — Uau! Você está vendo? Observe! — Ele o puxa,
exibindo com orgulho o Yoda azul deixado ali. — É Yoda!

Meu olhar desliza para Adam, e manchas rosadas em suas


maçãs do rosto afiadas enquanto ele sorri timidamente para mim.
Lentamente, ele mostra a língua, exibindo o unicórnio tatuado ali,
e é tão fodido que o único pensamento na minha cabeça agora é o
quanto eu quero levá-lo para um banheiro e montá-lo.

— Quero perguntar se você se divertiu, mas você não para de


sorrir e continua dançando na rua, então acho que sei a resposta.

Eu giro no ar frio da noite, então danço de volta para Adam,


segurando seu bíceps enquanto ele reboca Connor e Bear
adormecidos no carrinho. — Eu tive o melhor tempo.

— Eles não assustaram você?

— Nem um pouco.

— Tem certeza de que não é o álcool falando?

Eu rio, inalando o ar fresco e leve. — Você não ama esse cheiro?


Deus, isso me deixa tão feliz, o cheiro de ar fresco. Você tinha um
varal enquanto crescia? Nós tínhamos. Na primavera e no verão,
minha mãe sempre colocava meus lençóis do lado de fora para
secar, e passar por eles à noite era a melhor sensação do mundo.

Adam pega seu telefone, digitando na tela.

— O que você está fazendo?

— Tomando nota para instalar um varal.

— Por quê?

— Então você ficará tão feliz todas as noites quando se deitar


em nossa cama. Esposa feliz, vida feliz e tudo mais.

Eu dou uma risadinha e estou tão bêbada que nem me importo.


— Você realmente acha que vai se casar comigo um dia?

— Com certeza.

— E se eu disser não?

— Você não vai.

— Arrogante — murmuro enquanto ele abre sua garagem, pega


Connor do carrinho, conduz a mim e Bear para dentro.

— Não. Só tenho certeza sobre nós.

Além de todo o álcool correndo desenfreado em meu sistema, é


uma coisa engraçada e maravilhosa ouvir essas palavras, saber
que alguém tem tanta certeza sobre meu lugar no futuro, e toda a
caminhada subindo as escadas, com ele olhando para mim, eu não
posso parar o calor de subir para minhas bochechas.

— Você vai ter que dormir aqui esta noite — diz ele, mostrando-
me um de seus quartos vagos. — Tirei a cama do quarto de Connor.

— O quarto de Connor?
— Sim. — Ele abre a porta para o quarto onde o cercadinho
está sempre montado, e meu batimento cardíaco dispara quando
entro.

As outrora paredes taupe são agora de um cinza enevoado, com


nuvens brancas e pássaros pretos pintados acima, montanhas
azuis cobertas de neve e sempre-vivas à meia-noite abaixo. Uma
cômoda fica em uma parede, uma linda estante cheia ao lado dela,
e do outro lado da sala há uma cama com estrutura de madeira,
em forma de casa, com um material branco transparente
pendurado sobre o telhado. Centenas de estrelas que brilham no
escuro dançam no teto acima de nós, assim como meu coração
dança em meu peito.

— É uma cama de chão — diz Adam. — O colchão fica no chão,


então Connor não vai se machucar. Ele estava com medo do
cercadinho, então pensei que ele poderia gostar disso.

— Quando você fez isso?

— Essa semana. Você gosta disso?

Meus olhos ardem, porque acredite ou não, o álcool me deixa


cem vezes mais emocional, mas caramba, estou determinada a não
chorar esta noite. — Você fez isso por ele?

— Por vocês dois, Rosie. Quero que sintam que têm um lugar
quando estiverem aqui. Como se vocês estivessem...

— Lar.

— Sim. Como se fosse um lar.

Connor se mexe em seus braços, esfregando os olhos


sonolentos com os punhos. — Dada — ele sussurra, sorrindo para
Adam. Ele olha ao redor do quarto, arregalando os olhos,
contorcendo-se até que Adam o coloque de pé. — Whoooa-ho-ho!
Pássaros!

Adam o segue até a parede. — E árvores e montanhas também.

— Montanha?

— Você conseguiu, amigo.

Ele espia a cama e sai correndo, subindo no colchão. — Cama!


Cama grande! Whoooa, cama grande!

— Eu acho que ele gosta — Adam murmura, olhando para mim.


Ele sorri suavemente quando vê as lágrimas escorrendo
silenciosamente pelo meu rosto. — Connor, vá dar um abraço de
boa noite na mamãe, e então eu vou ler um livro para você na
cama, ok?

Ele envolve seu pequeno corpo em torno do meu, pressionando


um beijo desleixado na minha boca. — Amo você, Mama — ele diz,
e então corre para a estante para pegar um livro enquanto eu fujo
para meu quarto temporário, enxugando as lágrimas.

Eu ouço enquanto Adam lê para Connor história após história,


enquanto ele lhe diz boa noite e que o ama, quando a porta do
quarto se fecha atrás dele, e sua sombra faz uma pausa na luz que
flui sob minha própria porta. E quando sobe na cama, ouço o som
da minha própria respiração, superficial e cambaleante, o
batimento frenético do meu coração que não quer nada mais do
que estar nos braços do homem que amo.

Quando a casa está silenciosa e escura, eu desisto de dormir e


desço as escadas na ponta dos pés, até a cozinha. A luz da lua
entra pela porta do pátio e a chaleira ferve enquanto vasculho a
despensa de Adam em busca do meu chá favorito.

Amaldiçoo a altura de Adam enquanto me esforço para


alcançar as canecas, o ar frio beijando minhas coxas nuas
enquanto me pressiono na ponta dos pés, quase agarrando uma.

O ar frio desaparece, substituído por um calor escaldante que


queima a camiseta fina que visto enquanto um corpo se pressiona
contra minhas costas, hálito quente beijando minha orelha. Uma
mão forte agarra meu quadril, prendendo-me entre seu corpo e o
balcão enquanto ele se estende por cima de mim e puxa uma
caneca para baixo.

— Imagine sua altura acima da média — a voz rouca de Adam


sussurra. — Então você só precisaria de mim para coisas muito
mais divertidas do que chá no meio da noite.

Ai, Jesus Cristo.

Ele me solta, olhos de meia-noite lançando-me um olhar ainda


mais sombrio enquanto enche a caneca, mergulha meu saquinho
de chá dentro, e tudo em que consigo me concentrar é que ele está
vestindo apenas uma cueca boxer, esse abdômen impecável e as
coxas dignas de babar em exibição sob o luar fraturado. — O que
você está fazendo acordada, Rosie?

— E-eu... não consegui dormir.

— Por quê?

— Eu estava pensando sobre... sobre... por que Carter chama


a si mesmo de Sr. Incrível? — Pronto, Rosie. Muito melhor do que
dizer a ele que você estava pensando em entrar furtivamente em seu
quarto e pedir-lhe para foder a sobriedade de volta em você.

— Porque ele acha que tem o maior pau.

Veja, é aqui que o álcool me coloca em apuros, porque em vez


de acenar com a cabeça, eu respondo.

— Ok, bem, eu vi – todo mundo viu – o contorno do pau dele, e


é grande? Quero dizer, claro. Sim, claro. Mas eu tive o seu em meu
corpo – em mais de um lugar – e sei que o seu é maior, então, quem
é o verdadeiro Sr. Incrível?

Adam ri, um som profundo e estrondoso que se instala no meu


estômago, formigando entre minhas pernas. — Eu gosto de você
um pouco bêbada.

— Você gosta de mim o tempo todo.

— Isto é verdade. — Lentamente, ele se aproxima de mim, e


meus olhos mergulham em seu corpo, parando sem minha
permissão na protuberância em sua cueca enquanto ele me
enjaula contra o balcão. — Eu gosto de você em seu jaleco
veterinário. Gosto de você com a legging roxa que usou naquela
segunda caminhada, aquela que se agarrava à sua bunda. — Ele
agarra minha cintura, levantando-me sobre o balcão, abrindo
minhas coxas e pisando entre elas, com as mãos nos joelhos,
queimando minha pele. — E eu gosto de você nisso, minha
camiseta e nada mais, com suas pernas à mostra e seus quadris
me implorando para deslizar minha mão por baixo e agarrá-la.

Meu cérebro para de funcionar e meu batimento cardíaco cai


para o meu clitóris, latejando com a necessidade enquanto Adam
arrasta suas palmas ásperas sobre minhas coxas, pegando a
bainha de sua camiseta enquanto sobem. Olhos escuros colidem
com os meus enquanto ele empurra o material mais alto, até que
ele se acumule em volta dos meus quadris, e minha respiração se
perde na minha garganta sem saída. Ele baixa o olhar entre as
minhas pernas enquanto o ar beija o ponto quente e úmido entre
minhas pernas, e uma respiração pesada escapa dele.

— Eu sabia — ele fala, arrastando seus polegares sobre o ápice


das minhas coxas, tão perto, mas não perto o suficiente enquanto
ele mancha minha excitação, arranca um gemido de mim
enquanto eu me inclino para trás em minhas mãos. — Eu pude
sentir seu cheiro logo que você entrou aqui.

— Como eu cheiro? — eu sussurro enquanto ele traz um


polegar para a boca, chupando-me dele, uma visão que me deixa
absolutamente selvagem.

Ele abaixa a cabeça, os lábios encontrando o ponto oco na


minha clavícula antes de subir pelo meu pescoço até minha orelha.
— Você cheira a problema e tem gosto disso também. Agora volte
para a cama, antes que eu me meta na porra de tudo isso.

Ele se afasta, observando enquanto eu luto para ficar de pé.

Palavras inebriantes me param na beira da cozinha.

— E Rosie? Se eu encontrar você na minha cozinha no meio da


noite de novo, vou transar com você aqui mesmo nesse balcão.
CAPÍTULO 32

É TRÊS DE OUTUBRO

— Não estou fazendo TikTok, Carter.

Você não acreditaria quantas vezes essas palavras são ditas


neste vestiário. Você pensaria que a maioria dos capitães estaria
hiperfocada antes do jogo de estreia em casa, talvez até incutindo
o temor de Deus em seus companheiros de equipe, mas não Carter.
Não, nosso capitão está tão animado para sua filha vê-lo jogar hoje
à noite, ele está repetindo “My Girl” repetidamente, balançando a
bunda em seu cubículo e filmando um monte de conteúdo para
sua página do TikTok. Ele está tentando fazer alguém concordar
com algum vídeo inspirado em Meninas Malvadas nos últimos dez
minutos, mas ninguém está cedendo.

— Por que não? — Carter pergunta a Garrett, franzindo a testa.

— Porque estou tentando me preparar para o nosso jogo.

— Depois do jogo, então?

— Não.

— Mas é o dia das Meninas Malvadas! Este é tão fácil! Tudo o


que você precisa fazer é olhar para a câmera e dizer a data. — Ele
cruza os braços sobre o peito. — Não vou dar permissão para você
se casar com minha irmã, a menos que você faça o vídeo.

— A única permissão que preciso para me casar com sua irmã


é da sua irmã. Além disso, você já me disse que ficaria feliz em me
chamar de cunhado, já que eu deixo Jennie tão feliz.

— Ssshhh! — O olhar de Carter percorre a sala. — Eu disse isso


em segredo!

— Você sabe que ele comprou para Ireland uma camisa que diz
‘Daddy’ nas costas, certo? — Jaxon sussurra para mim. — E para
Olivia uma jaqueta de couro com o número dele e ‘Sra. Beckett’
nela. O homem é obcecado.

— Você sabe, Jaxon, Carter era muito parecido com você antes
de conhecer Olivia. Talvez pior.

— Aonde você quer chegar?

Eu dou de ombros. — Mal posso esperar para ver como você


ficará obcecado pela mulher certa.

Jaxon olha para mim, desgosto curvando seus lábios. — Bruto.


Se eu voluntariamente der a uma mulher uma jaqueta que diga
‘Sra. Riley’, apenas me mate. Eu obviamente fui possuído.

Eu solto uma risada, ajeitando as tiras das minhas almofadas


de goleiro.

— Ei, Adam? — Carter chama.

— E aí?

— Que dia é hoje?

— É três de outubro.
Um gemido coletivo enche o vestiário, enquanto Carter grita
com o punho no ar, seu telefone apontado para mim. — Acertou
em cheio!

Eu olho para Jaxon. — Acabei de fazer aquela coisa de Meninas


Malvadas?

— Você acabou de se tornar Cady Heron, cara.

— Porra.

Sinceramente, eu gostaria de estar tão relaxado quanto Carter


agora. Estou excitado, e tenho estado a maior parte do dia. Com
nossa patinação matinal e uma reunião de equipe mais cedo, não
tive a chance de falar com Rosie desde que deixei ela e Connor
depois do café da manhã. Engoli a pergunta na minha língua junto
com o meu café, e quinze malditas vezes eu a digitei, indagando se
ela queria vir ao jogo hoje à noite, deixando-a saber que eu tinha
comprado dois ingressos para eles. Em vez disso, eu me acovardei
toda vez, com medo de que ela dissesse não, que era muito, muito
rápido. Eu não a culparia, mas tenho que dizer: cansei da lentidão.

Estou tão faminto por ela que a dor oca dentro de mim me
implora para me saciar.

Foi difícil não afundar meus dedos dentro de sua boceta


encharcada ontem à noite, não a puxar para a beirada do balcão
da minha cozinha e lembrar a nós dois o quão bem ela pega meu
pau. Eu quero sentir sua boca se mover contra a minha, sentir o
jeito que seus quadris levantam e rolam, perseguindo cada
movimento meu. Quero seus dedos em meu cabelo e meu nome
em seus lábios, e quero isso para sempre.
Mais do que isso, quero que ela saiba o que sinto por ela.

Como sou totalmente devotado a ela.

Como estou incrivelmente apaixonado por ela.

Meu corpo teve o dela e, porra, ele a quer de novo e de novo.


Mas posso ir devagar. Posso afastar o desejo, desde que consiga o
coração dela.

Meu telefone apita no meu cubículo, e eu o pego, sorrindo para


o nome que aparece para mim.

Trouble: Divirta-se esta noite, Adam. Você será incrível!


Tão grande e flexível.

A mensagem dela me dá a coragem de que preciso para


enfrentar os dois assentos vazios atrás do banco e, enquanto
seguimos para o túnel dos jogadores, estou me concentrando em
entrar na zona.

A névoa enche o túnel da máquina à frente, e as luzes da arena


se apagam, aplausos ensurdecedores enchendo o rinque enquanto
eu sacudo meus nervos, minha máscara de goleiro apoiada no topo
da minha cabeça. Holofotes verdes e azuis brilham no rinque, e
Carter passa de pateta a capitão em uma fração de segundo.

— Aqui vamos nós, rapazes! Quem é o dono dessa porra de


rinque?

— Vipers!

— Quem trabalha mais do que nós?

— Ninguém!
— E quem vai levar a vitória para casa esta noite?

— Nós vamos!

— Com certeza vamos, rapazes! Levantem seus traseiros e


mostrem a eles quem nós somos!

A música começa, e o locutor vem pelos alto-falantes,


apresentando cada jogador conforme eles pisam no gelo, até que
só restamos eu e Carter.

Carter agarra minha cabeça, trazendo minha testa para a dele.


— Você consegue isso, cara. — Ele bate a mão na minha bunda
quando seu nome é chamado e patina no gelo enquanto a arena
explode.

— E finalmente, senhoras e senhores, de pé para nosso orgulho


e alegria, número quarenta do Vancouver Vipers, Adaaammm
Lockwood!

Eu piso no gelo, levantando meu taco no ar enquanto meu


nome cantado abafa a música. É uma sensação surreal, olhar para
esse mar de azul e verde, gente aqui só para torcer por você. É o
que eu amo no hóquei, a forma como todos defendem uns aos
outros, ficam ao seu lado, acreditam em você. É viciante, o apoio,
todo o amor, mas ainda assim, quando as luzes se acendem para
o nosso aquecimento, mantenho meus olhos fora do banco.

Em muitos jogos, olhei bem ali, o ponto logo atrás dele, e vi as


esposas, namoradas, famílias dos meus companheiros. E no meio
de todo aquele amor havia um lugar vazio que Courtney não se
preocupou em preencher, uma desculpa que ela não se preocupou
em me dar. Como um tolo, continuei comprando o mesmo maldito
ingresso em todos os jogos.

A culpa é minha, eu sei. Eu nem dei a Rosie a chance de vir


esta noite. E, no entanto, não consigo olhar, porque não suporto a
ideia de associar as lembranças dolorosas daquele assento vazio a
alguém de bom coração como Rosie. Ela merece mais do que isso.

Eu penduro minha máscara no topo da minha rede, então vou


para um canto seguro do gelo onde ninguém está atirando em
mim. Antes que eu possa me alongar como planejei, a música
muda e eu suspiro quando “Cha-Cha Slide” começa.

— Ah, merda! — Carter grita, parando ao meu lado. — Sabe


que horas são, Woody?

Suspiro de novo, porque sei exatamente que horas são. — É


hora do Cha-Cha. — Eu aponto para Jaxon, que está rindo de nós
quando Garrett e Emmett se juntam. — Eu não vou fazer isso a
menos que Riley entre nisso este ano!

— Absolutamente não. Esta é a sua tradição. Eu não estava


aqui quando foi formada.

— Você faz parte desta família — Carter diz a ele humildemente,


pegando sua camisa e arrastando-o. — E esta família participa da
hora do Cha-Cha. — Ele gesticula para a multidão, todos os seus
telefones apontados para nós, porque desde que Carter nos impôs
essa tradição durante meu primeiro jogo em uma tentativa de
acalmar meus nervos e me impedir de vomitar, eles esperam isso
sempre que a música começa. — As pessoas querem nos ver bem
suaves no Cha-Cha, Riley, e o que as pessoas querem, as pessoas
conseguem.
— Eu não quero que ele fique ao meu lado — Garrett resmunga.
— Se ele errar, ele vai me derrubar com ele. E Jennie gosta de me
ver balançando a bunda.

Carter puxa Jaxon entre nós, e ele revira os olhos, parado como
uma estátua enquanto o resto de nós segue as instruções da
música, deslizando para a esquerda.

— Deslize para a maldita esquerda — eu rosno para ele,


empurrando-o para a esquerda com meu ombro. — Agora está
certo.

— Criss-cross!

Eu salto em meus patins, cruzando meus pés, e estreito meus


olhos para Jaxon.

— Tudo bem — ele rosna, cruzando os pés uma vez, depois


duas. Ele bate palmas junto com a música e pelo menos três
quartos da multidão, e quando chega a hora do Cha-Cha bem
suave, ele o faz perfeitamente, rolando os quadris enquanto gira
em um círculo, quase como se estivesse... praticando.

Ele aponta um dedo ameaçador na minha cara no segundo que


abro minha boca. — Eu sei o que você está prestes a dizer, e não
diga. Apenas. Não. Diga. Porra.

Eu sorrio, focando nos passos de dança enquanto Jaxon acerta


cada um deles ao meu lado, e quando finalmente termina, dou um
tapinha nas costas dele. — Parece que você é muito mais parecido
com Carter do que você gostaria de acreditar.

— Se você quer que eu defenda sua rede esta noite, foda-se.


Rindo, eu abro bem minhas pernas e afundo nas rachaduras
em cima do gelo, deleitando-me com o puxão em minha virilha e
meus tendões enquanto desço o mais baixo que posso.

Garrett afunda ao meu lado de joelhos, abrindo as pernas. —


Nunca vou entender como você consegue fazer espacates.

— Coisas de goleiro.

— Jennie diz que parece que estou batendo no gelo quando faço
isso — diz ele, saltando em seu alongamento. Ele olha para cima,
balançando as sobrancelhas, e eu sei, sem dúvida, que ele está
balançando para Jennie.

Eu me inclino para frente, aproximando meu peito do gelo o


máximo que posso. — Você acha que Rosie vai assistir ao jogo na
TV?

— Não.

Eu estreito meus olhos. — Obrigado, porra de tartaruga.


Poderia ter me apaziguado e dito sim, você sabe.

Garrett ri, levantando-se comigo. — Ela não vai assistir na TV.


— Ele pega um disco com a lâmina de seu taco, lançando-o no ar
antes de pegá-lo. Então ele aponta para trás do banco. — Ela vai
assistir de lá.

Meu olhar se volta para os assentos que jurei que estariam


vazios, e meu coração se enche quando os vejo, minhas duas
pessoas favoritas aninhadas entre pessoas que chamo de família.

Eu não conseguiria tirar o sorriso do meu rosto se tentasse, e


enquanto patino em direção a Rosie e Connor, ele só cresce.
Connor está usando uma versão minúscula da minha camisa,
grandes fones de ouvido cobrindo as orelhas, e quando Rosie
aponta para mim, um sorriso ilumina seu rosto.

Ele bate no vidro quando eu paro ali. — Dada! Olá, Dadá!

Eu rio, colocando minha mão enluvada contra o vidro, do outro


lado da dele. — Oi, cara. Estou tão feliz que você está aqui.

— Hóquei! — Ele aponta para o meu taco. — Dada... Dada...


hóquei?

Rosie é de tirar o fôlego, sentada ali com a minha camisa, mal


consigo ouvir Cara perdendo a cabeça com o fato de Connor estar
me chamando de Dada.

— Gire para mim. — As palavras são um apelo silencioso, e


meu coração bate contra o peito quando Rosie sorri, levantando
Connor em seus braços e girando em um círculo lento, mostrando
meu sobrenome em suas costas.

Perfeição do caralho.

E então ela sorri para mim, e é brilhante e detonante e tudo


que eu amo. — Sou mais uma garota de rosa, mas acho que estou
arrasando com o azul e o verde.

Eu tiro meu bloqueador, pressionando minha mão contra o


vidro. — Obrigado por ter vindo.

Os olhos de Rosie se suavizam e ela toca o outro lado do vidro


com a mão. — Onde mais estaríamos se não estivéssemos aqui
apoiando nossa pessoa favorita?

As palavras me enchem de orgulho e, vinte e cinco minutos


depois, quando os hinos terminam e eu estou tomando meu lugar
na rede, estou determinado a deixá-los orgulhosos também.
Não tenho certeza de quanto do primeiro período Rosie
realmente assiste. Toda vez que olho para ela, ela está olhando
para mim. Eu sorrio, ela cora e eu sorrio ainda mais. No segundo
período, seus olhos estão seguindo a jogada, e quando o disco vai
de Emmett para Garrett, depois para Carter, e ele o enfia na rede
logo acima do ombro do goleiro de Philly, ela até pula da cadeira
com o resto das meninas. Tenho certeza de que Connor não tem
ideia do que está acontecendo, mas todo mundo está gritando,
então ele também.

Carter gira para parar no centro do gelo, apontando seu taco


para sua esposa e filha. — Para minhas princesas!

Olivia parou de enterrar o rosto nas mãos quando ele faz isso,
mas com certeza ela ainda fica vermelha pra caralho. Tudo se
desfaz, porém, quando Carter patina, tocando as mãos e a testa no
vidro, bem contra a de Ireland do outro lado.

Estou jogando fenomenalmente, parando cada chute, mas


meus defensores estão fazendo o possível para evitar que o disco
chegue tão longe. Quando falta apenas um minuto e meio para o
final do jogo, temos o único gol e estou a caminho de um chute,
Philly puxa o goleiro e coloca um jogador extra no gelo,
determinado a empatar o jogo.

A jogada vira na linha azul durante uma mudança de linha


ruim, e Jaxon pula do banco, correndo como o inferno para
alcançar o central que está correndo no gelo para mim. Eu me
agacho, seguindo o disco enquanto saio da minha rede, e quando
ele começa a atirar, Jaxon cutuca o disco livre. Prendo-o com meu
taco e tiro-o das tábuas, e assim que Garrett o agarra, ele fica
imprensado contra as tábuas.

O disco salta livre e o ponta-direita de Philly acelera em minha


direção. Ele puxa o taco para trás antes de mandá-lo para frente,
e eu mergulho para a direita, desviando-o com meu bloqueador.
Outro jogador pega o disco, atirando antes que eu possa me
levantar, e pulo para o outro lado e o pego com minha luva no
exato momento em que Jaxon o acerta nas tábuas.

O apito soa, eu tiro minha máscara, pego minha garrafa de


água da minha rede e esguicho uma porção generosa em minha
boca antes de encharcar meu rosto molhado de suor com ela. Rosie
está me observando com a boca aberta, então eu pisco, observando
seu rosto ficar vermelho enquanto puxo minha máscara de volta
para baixo.

Faltando dez segundos para o final do jogo, o disco cai no


círculo à minha esquerda. Quando ele se solta bem na minha
frente, tiro certeiro para a rede vazia de Philly, decido que quero
martelar meu fechamento esta noite. E talvez eu queira me exibir
um pouco.

Eu embalo o disco para frente e para trás na lâmina do meu


taco enquanto patino para fora da minha dobra, e Carter empurra
os únicos defensores em meu caminho para fora dele. Então puxo
meu taco para trás e deixo o disco voar em direção à rede vazia.

A campainha toca uma fração de segundo antes do relógio


secar, e encontro Rosie e Connor, de pé e torcendo.
Pouco antes de meus companheiros de equipe me jogarem no
gelo, bato no coração duas vezes e aponto para as duas pessoas
que o possuem.

Eu nunca na minha vida arranquei meu equipamento tão


rápido como esta noite, pulei no chuveiro e esfreguei cada
centímetro de mim antes de vestir meu terno, sem me incomodar
com os cachos molhados que se agarram à minha pele, deixando
gotas de água cascateando pelo meu rosto.

Minha gravata volta, mas o nó está solto e muito para a


esquerda, e estou muito tonto para dar a mínima.

— Adam, você está-

— Saindo. Tchau.

O riso explode atrás de mim enquanto atravesso o vestiário,


seguido por vaias e gritos, algo sobre eu ir para Pound Town e uma
promessa de me ligar amanhã para que eu não me perca lá e
esqueça de pegar o avião para Washington em trinta e seis horas.

Como se eu fosse passar as próximas trinta e seis horas


enterrado dentro de Rosie.

Quem eu estou enganando? Vou passar as próximas trinta e


seis horas enterrado dentro de Rosie.
Câmeras e gravadores são enfiados na minha cara, quando saio
do vestiário. Eu os empurro, acenando por cima do ombro, porque
tenho certeza de que não vou ficar para conversar.

Rosie olha para cima no corredor, a mão de Connor na dela,


cercada por meus amigos. Um belo rubor pinta suas feições
delicadas enquanto caminho em direção a ela, câmeras em meus
calcanhares, esperando para ver o que vou fazer.

— Dada! — Connor grita quando me vê. Ele corre para mim


com as pernas instáveis, e eu o seguro em um braço, levantando-
o para mim.

— Ei, Little Trouble.

Ele aponta para Rosie. — Big Tubble.

— Adam — ela sussurra quando eu paro na frente dela. — Eu-

Eu engulo suas palavras, todas elas. Seja lá o que diabos elas


eram, eu as engulo com minha boca na dela. Porra, ela é doce.
Como chocolate quente e canela, meu primeiro sabor do outono.
Minha boca se lembra dela toda, e eu a devoro selvagemente, como
se tivesse sonhado com nada além disso toda a minha vida.

E eu vou levá-la para casa e adorá-la.

Eu me afasto, apenas um centímetro, os dedos trêmulos de


Rosie em meu rosto, os meus enterrados em seu cabelo.

— Ei, Trouble — murmuro, e ela sorri.

— Ei, você.
CAPÍTULO 33

EU ACHO QUE TRANSCENDI

Eu não estava esperando isso.

Porra, eu não estava esperando isso.

Corro pelo meu quarto, jogando as roupas sujas no cesto,


esfregando a mancha no espelho do banheiro, lavando a gota de
pasta de dente que caiu na pia antes de sair para o jogo. Ouço
Rosie dar um último boa-noite a Connor no corredor, o clique da
porta de seu quarto, e me jogo em cima da cama, puxando as
cobertas para deixá-lasarrumadas.

Porra, a única vez que estou atrasado e não tenho tempo para
arrumar tudo antes de sair de casa, Rosie vem para casa comigo.

A porta do quarto se abre quando estou no meio de um golpe


de caratê em um travesseiro, e quando meu olhar se choca com o
divertido de Rosie, eu paro. Gentilmente, termino de afofar os
travesseiros, então me apoio de lado, minha bochecha no meu
punho, cotovelo no colchão.

— Ei.
— O que você está fazendo? — ela pergunta, e cada passo que
ela dá para mais perto de mim faz meu coração disparar.

— Eu estava apenas... eu estava... arrumando — eu termino


com um suspiro, tendo um momento para observar a cama antes
de pular dela, juntando-me a ela na minha mesa de cabeceira. —
Não tive tempo de arrumar antes de ir para o hóquei e não queria
que você pensasse que sou bagunceiro.

— Adam, eu sou tão bagunceira.

— Sim, mas sua bagunça é um caos organizado. A minha é


apenas... — Eu circulo uma mão em torno da bagunça na minha
mesa de cabeceira, procurando a palavra que estou precisando,
mas toda a esperança se perde quando vejo o que deixei na mesa.
— Ah, merda.

O olhar de Rosie segue o meu e, quando tento ficar na frente


da mesa, ela me empurra para fora do caminho. — O que é isso?

— O que é o quê?

Ela levanta o livro da minha mesa de cabeceira. — Isso.

Engulo os nervos que querem me comer vivo. Bem quando eu


estava me sentindo tão confiante trinta minutos atrás também. —
Eu tenho feito um pouco de leitura leve.

— Leitura leve? — Ela vira o livro nas mãos. — Copai, não


padrasto: como jogar fora os rótulos e apoiar sua parceira para que
você possa ser o melhor copai que puder.

— Ok, bem, você não precisava ler o título em voz alta. —


Nossa.

— Há quanto tempo você tem isso?


Eu esfrego a parte de trás do meu pescoço. — Um tempo. Eu
queria ser perfeito para você e Connor se você me desse uma
segunda chance.

Ela me encara por um longo momento, sua garganta


balançando. Então, ela aponta para as abas adesivas coloridas e o
marcador na minha mesa de cabeceira. — E aqueles?

Eu limpo minha garganta no meu primeiro. — Eu, uh... eu


estive marcando as partes importantes. Para que eu possa voltar
a elas mais tarde.

— Você tem feito anotações em um livro sobre como ser um


bom parceiro e padrasto?

— Sim, eu acho. Bem, quero dizer, o livro diz que uma das
coisas mais importantes é descartar o rótulo de padrasto. Você
deve amar a criança como se fosse sua. Mas isso é fácil, porque,
olá, eu já amo Connor como se ele fosse meu.

Lágrimas brotam dos olhos de Rosie, e elas me deixam


frenético. Quero detê-las, então abro a gaveta e pego minha caneta
e meu caderno.

— Tenho este caderninho. Às vezes, tenho perguntas durante


a leitura e as anoto para poder indagar a você mais tarde. — A
vergonha sobe pelo meu pescoço, a incerteza puxa o caderno para
o meu peito, escondendo-o. — Isso é estranho. Estou dizendo isso
em voz alta e ouvindo como isso soa estranho. Você pode não
querer voltar a ficar junto. E se você...

— Eu quero.
Eu engulo novamente. — Você pode não querer que eu esteja
tão envolvido. Vocês dois já são uma família. Vocês podem não
precisar de mim, não da mesma forma que eu preciso de vocês.

Rosie olha para mim, com uma ruga em sua sobrancelha como
se estivesse tentando processar as palavras. Ela fecha os olhos,
balança levemente a cabeça e dá um passo à frente, pegando o
caderno das minhas mãos e entrelaçando seus dedos nos meus.
— Nós precisamos de você.

— Precisam?

— Claro. Mais do que precisamos de você, Adam, queremos


você.

Meu peito fica tenso, ameaçando se abrir com a tensão do meu


coração acelerado. — Sério? Porque eu nunca quis nada do jeito
que eu quero você e Connor, Rosie. Nem uma única coisa, nem
mesmo hóquei. Quero ser seu parceiro e quero fazer todas as
coisas juntos. As coisas aventureiras e as coisas quietas e
preguiçosas. Quero fazer todas as coisas felizes, e todas as coisas
tristes e difíceis também, desde que esteja fazendo com você. Eu
quero continuar amando Connor exatamente do jeito que amo,
como se ele fosse meu, nosso, porque ele é. Aquele garoto é dono
do meu coração, e não há um minuto que eu não espere que um
dia o Dada não seja apenas um nome que ele me chama porque é
uma fase, mas porque eu sou o homem que ele pode contar para
estar lá para ele o tempo todo.

— Oh, meu Deus — Rosie murmura. — Eu amo você.

Meu coração acelerado derrapa até parar. — Você o quê?


Seus olhos se arregalam e ela solta minhas mãos. Ela dá um
passo para trás e eu dou um passo à frente. — E-eu... eu tenho
que tomar banho! — Ela gira, correndo para o banheiro, batendo
a porta atrás de si.

Olho para ela por três segundos antes de ir atrás dela.

Rosie está andando pelo banheiro, olhos fechados, dedos


pressionados nas têmporas. Tenho certeza de que ela nem me
ouviu entrar, não por causa do barulho do chuveiro e sua cantoria
incessante.

— Pense com o cérebro, não com os peitos. Pense com o


cérebro, não com os seios. Pense com seu cérebro, não com seus
peitos. — Ela joga os braços no ar. — Quero dizer, sério, Rosie, não
é tão difícil assim!

— Por quê?

Rosie grita, girando para mim. — Adam. Você ouviu isso.

— Por quê? — repito, apoiando-a contra o balcão.

Seus olhos saltam entre os meus enquanto ela procura algo


para se agarrar, algo que não seja eu. — Por que o quê?

— Por que você me ama?

— Ah, isso? — Ela acena uma mão abatida no ar, tocando


ansiosamente. — Psssh. Isso foi tão bobo. Eu amo você? Sim, eu
digo isso o tempo todo. Motorista de ônibus? Ei, obrigada pela
carona, cara. Eu amo você! Caixa no supermercado? Obrigada por
empacotar minhas compras! Amo você! — Outra risadinha
estridente e, foda-se, eu amo o lado quente e bagunçado dela.
— Por quê? — Minha mão vai para sua calça jeans, e seu
estômago salta enquanto eu passo o dedo pelo cós. — Dê-me as
razões — murmuro enquanto abro o botão, arrastando lentamente
o jeans sobre seus quadris cheios, descendo por suas coxas
deliciosas. Cristo, ela já está molhada para mim, e ainda nem
começamos. A mancha escura no centro dessa calcinha rosa me
implora para prová-la, para mergulhar minha língua dentro dela e
lambê-la até deixá-la limpa.

E eu pretendo.

Esta noite, vou tê-la de volta.

Hoje à noite, eu estou farto de lento.

Minhas mãos deslizam por seus lados, sobre seus quadris e a


depressão em sua cintura, puxando sua camisa para cima,
guiando seus braços acima de sua cabeça enquanto ela me deixa
tirá-la imediatamente. Eu alcanço suas costas, abrindo o fecho de
seu sutiã, um gemido gutural retumbando em meu peito quando
seus seios perfeitos e cheios saltam livres.

Nossos olhares se chocam enquanto eu passo meus polegares


sobre seus mamilos apertados, sua respiração escapando por seus
lábios.

— Razões, Rosie. Agora.

— Eu não me sinto mais sozinha — ela deixa escapar, então


lambe o lábio, observando meus dedos rastejarem por sua barriga.
Seus olhos se voltam para os meus. — E não se trata de ter alguém.
É sobre ter você. É sobre saber que você é meu parceiro, não
apenas um corpo quente ao meu lado. São as mensagens de bom
dia e aparecer no ponto de ônibus porque está chovendo. É me
preparar um banho e me forçar a relaxar enquanto você passa o
tempo com Connor. É verificar novamente meu pedido na
Starbucks, caso o clima mais frio me faça querer uma bebida
quente em vez de gelada. É meu chá favorito em seus armários e
uma camiseta limpa esperando na cama para eu vestir. É amar
meu filho como se fosse seu, aceitando nós dois sem hesitar. —
Seus cílios vibram, abaixando a voz. — É dar à bolsa o nome da
rua da casa em que cresci, peônias sob a marcação da árvore de
meus pais e peônias no jardim da frente, só para saber que meus
pais estão comigo. Porque eu sinto você em todos os lugares,
Adam, mesmo quando você não está aqui.

Algo surge em seus olhos, uma hesitação que doma minha fome
por um momento.

Eu descanso minha testa contra a dela. — Do que você tem


medo, Rosie?

— Perder você — ela sussurra. — O de Connor é o único amor


que tenho para manter.

— Você pode ficar com o meu. Isso pertence a você.

— Promete?

— Prometo. — Eu a coloco no balcão, tiro sua calcinha e abro


bem suas pernas, passando dois dedos ao longo de sua fenda
encharcada enquanto ela suspira. — Amo como você fica molhada
pra caralho por mim — murmuro enquanto mergulho meus dedos,
espalhando sua umidade sobre seu clitóris. Eu afundo minha mão
em seu cabelo e puxo seu olhar para o meu. — Agora me diga de
novo, e não do jeito que você diz ao motorista do ônibus.
Ela segura meu rosto em suas mãos, e o amor nadando nesses
olhos sábios quase me derruba de joelhos. — Eu amo você, Adam.
Por tudo que você é.

Fecho meus olhos enquanto suas palavras penetram em minha


pele, um calor que se espalha por mim.

Eu conheço essa sensação. Senti isso quando mamãe e papai


me perguntaram se eu queria ir para casa com eles, se queria fazer
parte da família deles. Quando eles prometeram me amar para
sempre, e provaram isso uma e outra vez quando eu errei. Eu não
tive que fazer nada para ganhar o amor deles. Eles simplesmente
me escolheram, dia após dia.

E é isso que Rosie está fazendo agora. Ela está me escolhendo.

Tudo de mim.

— Obrigado — eu sufoco.

— Pelo quê?

— Por me amar.

— Adam. — Ela passa o polegar sob meu olho, atraindo meu


olhar pesado de volta para o dela. — Amar você veio tão
naturalmente, como se todos esses anos eu tivesse guardado isso
só para você, e quando entrou na minha vida, tudo que eu queria
fazer era entregar meu coração a você e dizer para pegá-lo. Então
me beije, por favor, porque estou pronta para dar tudo a você.

Esperei muito por isso, uma parceira para caminhar pela vida,
um amor que não tive que conquistar, mas simplesmente mereci.
Porque, porra, todos nós merecemos ser amados sem condições.
Minha boca toma a dela, um beliscão suave dos meus dentes,
implorando para entrar. Uma varredura suave da minha língua,
saboreando-a lentamente. Suas costas se curvam quando
pressiono dois dedos dentro dela, um mergulho sem pressa
enquanto saboreio a beleza abaixo de mim, cada um de seus
ruídos, aqueles que ela faz só para mim.

— Eu me apaixonei por você naquele primeiro dia, você sabe.


Lá fora, cuidando de um cachorro pelo qual você não tinha
obrigação. Com medo de desistir do controle, de colocar sua
confiança em qualquer outra pessoa, mas disposta a fazê-lo de
qualquer maneira e por um homem que você tinha acabado de
conhecer. Esses olhos que sorriram primeiro, antes de mais nada.
E Jesus, Rosie, eu simplesmente continuei caindo. Foi tudo o que
fiz, todos os dias, caindo mais, mais forte, até não haver mais lugar
para onde ir.

Eu puxo meus dedos enquanto ela me observa, afundo-os


lentamente, mais fundo, mais e mais, meu polegar circulando seu
clitóris enquanto videiras de calor vermelho sobem por sua pele
dourada e sua respiração constante se torna irregular.

— Logo que vi você com aquele garotinho, soube que meu


coração era seu. Você é tudo que eu estava procurando. Gentil e
bondosa, com tanto amor para dar. Alguém que trabalha pela vida
que deseja e não desiste sem lutar. Você passou por tanta coisa,
Rosie. Tanta coisa, e nem uma vez você se virou e foi embora.
Mesmo quando eu pensei que você poderia. Quando rezei para
você não ir. Quando eu estava apavorado, você não desistiu de
mim. Você ficou, Rosie. E você me escolheu. Por sua causa, sei
como é ser visto, ter cada pedaço de mim amado. Eu sei porque
você faz isso todos os dias, e porra, Rosie, é tão bom.

Eu seguro sua bochecha, correndo meu polegar ao longo de seu


lábio inferior enquanto ela luta para respirar quando a puxo para
mais perto da borda.

— É por isso que eu amo você, Rosie. Amo você, e amo há muito
tempo.

— Adam — ela geme, apertando meus dedos, esfregando sua


pélvis na palma da minha mão enquanto ela goza.

— Adoro quando você goza para mim também — murmuro.


Arrastando-a para fora do balcão, eu a empurro em direção ao
vapor que se derrama sobre a porta do chuveiro enquanto a água
bate contra ela. Eu puxo minha camisa sobre minha cabeça e
minha calça para baixo, meu pau está orgulhoso enquanto
empurro meu queixo em direção ao chuveiro. — Agora entre lá.

Quando ela hesita, eu sorrio, estalando.

— Você está com vontade de ser uma garota má esta noite,


hein? Tudo bem. Não estou com vontade de ser tão legal.

Curvando-me, agarro-a por trás dos joelhos, erguendo-a sobre


meu ombro.

— Adam — ela grita, batendo na minha bunda, fazendo-me rir.


— Ponha-me no chão!

Eu abro a porta de vidro, deixando-a de pé sob o jato quente,


empurrando-a contra as paredes de azulejos. Meus dedos se
enroscam em suas ondas molhadas, mel derretido e rosa, e
pressiono minha boca contra seu pescoço e meu pau na parte
inferior de suas costas.

— Pronta para ouvir agora?

— Não — ela respira.

— Por que não?

— Porque eu quero que você me foda com tanta força que


esqueço todo o tempo que perdemos, quando você poderia estar
dentro de mim.

Eu enterro meu sorriso em seu pescoço. — Você quer que eu


marque a forma do meu pau em sua boceta apertada e molhada,
Trouble?

Ela sorri para mim por cima do ombro sardento, atrevida e


charmosa. — Faça o que quiser, Adam. Contanto que eu goze
enquanto você está fazendo isso.

Eu a giro, batendo suas mãos no azulejo de cada lado de sua


cabeça, segurando seus pulsos. Arrastando a ponta do meu nariz
pelo dela, encontro sua boca, roubando um beijo. — Diga de novo
— eu sussurro.

— Eu amo você.

— Foda-se, isso soa bem. — Levantando seus joelhos, envolvo


suas pernas em volta dos meus quadris enquanto ela passa os
braços em volta do meu pescoço. — Eu não tenho nenhum
preservativo, Rosie. Eu não esperava por isso, não esta noite.

Ela roça seus lábios nos meus. — Estou tomando pílula. Eu


confio em você.
Concordo com a cabeça, pressionando um beijo naquela
pequena covinha em seu queixo. — Eu amo você.

— Eu sei.

— E vou foder você como eu amo você. Mas primeiro... primeiro


vou foder como deveria ter feito ontem à noite no balcão da minha
cozinha.

Ela abre a boca, mas o que quer que esteja para sair morre em
um gemido quando a jogo bem no meu pau, enterrando-me até o
fim.

— Jesus, porra — eu gemo, apertando sua bunda enquanto ela


arfa, arranhando minhas costas com as unhas.

— Você é muito grande — ela chora, e eu rio.

— Oh não, meu pobre ego.

— Cale-se.

— Diga de novo, querida. Isso só vai tornar isso melhor.

O fogo faísca em seus olhos. — Cale-se.

— Boa garota. — Com uma mão apoiada na parede e a outra


em sua bunda, eu me dirijo para frente. Mais e mais, mais forte,
mais rápido, mais profundo, até que Rosie não é nada além de
suspiros agudos e súplicas choramingadas, unhas arranhando e
um par de seios incríveis e saltitantes que eu só quero devorar.

Eu abaixo minha boca, sugando um mamilo rosado entre meus


dentes, e Rosie geme, arqueando-se em mim.

— Deus. Adam. Oh, meu... oooh. Sim. Pooorra.

— Você não está falando direito, querida.


— Eu vou gozar — ela chora, calcanhares cavando em minha
bunda, unhas arranhando meus braços. Seus olhos reviram, o
cabelo molhado espalhado pelo pescoço, e eu pego um punhado
dele, arrastando seu olhar de volta para mim.

— Olhe para mim enquanto você faz isso.

— Foda-se, Adam. — Sua boceta aperta meu pau, e eu continuo


empurrando, arrastando até a última gota dela. Quando ela fica
mole em meus braços, eu a puxo de cima de mim, jogo-a sobre
meu ombro, desligo o chuveiro e atravesso o quarto.

Deixando-a cair na cama, dou um tapa em sua bunda e seguro


meu pau. — Mãos e joelhos, Rosie.

Ela sobe ali, lentamente, e eu agarro seus quadris, puxando-a


para a beira da cama, bem onde preciso dela. Eu arrasto a ponta
do meu dedo ao longo de sua espinha, então sigo com meus lábios.

— Você vai gozar de novo para mim?

— Sim, Adam.

— Quantas vezes?

— Quantas você quiser que eu faça.

— E onde você vai gozar?

Ela suspira, agarrando os lençóis enquanto eu mergulho minha


língua dentro dela, deleitando-me com sua doce boceta. — No seu
pau, por favor.

— Garota linda, porra. — Eu corro minha língua ao longo de


sua fenda, lambendo o máximo que posso antes de me inclinar
sobre ela, fundindo minha boca com a dela para que ela possa
provar o quão boa ela é.

Eu me movo atrás dela, meu olhar percorrendo cada centímetro


delicioso dela, a depressão em sua cintura que leva aos quadris
largos, macios o suficiente para eu cavar meus dedos. A curva em
sua coluna que desliza até as covinhas na parte inferior das costas,
logo acima da bunda redonda e imaculada.

— Amo isso pra caralho — eu resmungo, arrastando minhas


mãos pelas suas costas até as covinhas, cavando meus polegares
em sua carne macia. Eu pressiono meu pau contra sua bunda e
gemo, segurando-a no lugar enquanto luto pelo controle. — Você
é a porra de uma deusa, Rosie. Este corpo me deixa totalmente...
selvagem.

— Selvagem? — ela sussurra, e quando ela levanta a bunda,


esfregando-a contra o meu pau, qualquer aparência de controle
desaparece.

Eu puxo suas coxas para mim, as solas de seus pés batendo


no chão, seu peito apoiado na cama, e chuto suas pernas bem
abertas antes de mergulhar profundamente dentro dela. Suas
costas se inclinam para fora da cama e ela arranca os lençóis do
colchão.

— Cristo. — Eu agarro seu quadril, segurando-a ali enquanto


bato nela, minha outra mão deslizando por suas costas, agarrando
seus cabelos molhados. — Droga, amo você. Amo foder você. Mas
principalmente... — Eu me inclino sobre ela, indo mais fundo
enquanto inclino seu rosto para o meu. — Principalmente, eu amo
amar você.
Ela grita meu nome e nossas bocas colidem, meus quadris
batendo em sua bunda enquanto subo cada vez mais alto. Ela
aperta meu pau, apertando mais fundo, e quando esfrego seu
clitóris, ela explode, deixando cair o rosto nos lençóis para enterrar
o grito.

Eu saio dela, virando-a e jogando-a sobre os travesseiros,


rastejando em sua direção.

— Mais um, baby — eu imploro, abrindo suas pernas, jogando


uma por cima do meu ombro enquanto coloco meu peito no dela.
— Mais um.

Ela balança a cabeça, os olhos bem fechados enquanto eu


afundo de volta dentro dela, correndo em direção à linha de
chegada. Ela já está gozando, apertando-me de novo, ou talvez ela
nunca tenha parado. Eu não sei, mas quando seus quadris se
erguem e ela puxa minha boca para baixo na dela, quando ela me
diz que me ama mais uma vez, eu deixo ir. Esvazio tudo o que
tenho dentro dela, enterrando seu nome na curva de seu pescoço
enquanto nos agarramos um ao outro, suados, sem fôlego e muito
felizes.

Quando saio de cima dela dois minutos depois, é só porque


estou com medo de esmagá-la.

— Isso foi incrível. Sobrenatural. Acho que transcendi. — Sua


cabeça cai, olhos turvos olhando para mim. — Sério, Adam, não
sei como você vai conseguir superar isso.

— Vou passar o resto da minha vida tentando.

— Objetivos de vida?
— Meu único objetivo nesta vida é garantir que você passe o
resto de seus dias sabendo, sem dúvida, como você e Connor são
amados. — Eu a coloco ao meu lado, passando meu polegar sobre
seu queixo com covinhas. — Se eu tiver sucesso, terei vivido esta
vida direito.

Ela sorri, passando os dedos pelos meus cachos antes de


pressionar um beijo em meus lábios. — Você é perfeito para nós,
Adam.

Não é difícil perceber a sorte que tive em encontrar Rosie. Se


não fosse por ela, não tenho certeza se teria encontrado coragem
para ser eu mesmo, para dar tudo de mim para outra pessoa. Eu
poderia ter vivido para sempre com muito medo de rejeição, muito
medo de amores falsos e intenções equivocadas. Agora, posso viver
minha vida sabendo que alguém já viu de tudo e ainda assim me
escolheu.

Essa é Rosie.

Ela desfaz todos os fios e, quando me recompõe, estou melhor


do que antes. Completo, finalmente, e acho que nunca estive
inteiro.
CAPÍTULO 34

NO NUT NOVEMBER20

— Rosa é minha cor favorita.

— É uma das minhas também. — Não era até quatro meses


atrás, mas agora, quando penso em rosa, penso em tudo brilhante,
fresco e cativante. Eu penso em Rosie.

Mas em vez de dizer a essa pré-adolescente que, de todas as


opções que me foram apresentadas hoje cedo, escolhi me vestir
como o giz de cera rosa porque a cor me lembra o punhado de
cabelo que eu tinha em minhas mãos esta manhã enquanto Rosie
pegava meu pau o mais fundo que podia em sua garganta, decido:
— Isso me deixa feliz.

A garota na minha frente sorri enquanto eu pego minha foto de


suas mãos e destapo meu marcador. — Meu nome é Skylar.

— Skylar — eu repito, rabiscando o nome dela na foto antes de


assinar o meu, terminando com o número da minha camisa. —

20 No Nut November (NNN) é um desafio online entre homens onde eles fazem um
juramento de abstinência sexual de um mês. Este desafio surge todos os anos no mês de
novembro. Envolve homens que abandonam a ejaculação durante 30 dias, o que significa
nada de sexo e de masturbação durante um mês!
Aqui está, Skylar. — Eu despejo um monte de balas em seu balde
de abóbora de plástico. — Feliz Dia das Bruxas.

— Obrigada! — Ela olha para Jaxon, seus olhos se movendo


sobre ele com desgosto. — Eu não gosto de verde. Isso me lembra
vômito.

Jaxon cruza os braços sobre o peito verde, e seu chapéu verde


com ponta de giz de cera cai sobre uma de suas sobrancelhas. —
Sim, bem, eu não gosto de rainhas borboletas. Elas também me
lembram vômito.

Skylar se engasga, a ponta de suas altas asas de borboleta


acertando Jaxon no queixo quando ela se contorce e sai furiosa.

— Você é péssimo com crianças — eu digo baixinho enquanto


ela lança a ele um último olhar por cima do ombro, um que ele dá
de volta.

— Estou bem com Ireland. Ela só chora, tipo, trinta por cento
do tempo que eu a seguro, e ela ri quando eu sopro framboesas em
suas bochechas. E Connor é, tipo, meu melhor amigo.

Isso é verdade, mas pode ter algo a ver com o gato fofo que
Jaxon leva para minha casa toda vez que vai me visitar. Jaxon
adora exibir todos os truques que ensinou a Mittens, e Connor
adora rolar no chão com Mittens e Bear. Ele até chama seu gatinho
de pelúcia de Mittens agora.

— Por que diabos estou vestido como um giz de cera? — Jaxon


resmunga, abrindo um Kit Kat mini. — E por que diabos eu sou o
único que não tive permissão para usar calça com minha fantasia?
Eu não sei, mas ele parece hilário em seu vestido verde de giz
de cera, com seu chapéu de ponta de giz de cera verde e suas
pernas peludas à mostra. — É o mundo de Carter; todos nós
estamos apenas vivendo nele.

— Ele disse a você que fantasias ele está nos fazendo usar esta
noite para doces ou travessuras?

— Ele diz que é uma surpresa.

— Ele disse o mesmo para mim, mas depois deu uma risadinha
estridente, prometeu que seria ‘picante’ e depois fugiu.

Estou tão assustado quanto todo mundo. Não estamos em casa


e sem jogos no Halloween há cinco anos. Naquele Halloween,
Carter fez todos nós nos vestirmos de Britney Spears. Ainda tenho
pesadelos em vê-lo em sua roupa de colegial. Eu estava preso em
látex vermelho, Garrett estava vestido como uma aeromoça sexy e
Emmett estava quase nu com uma cobra de pelúcia em volta do
pescoço.

Nós ganhamos o Melhor Traje de Grupo naquela noite, então...

— Eu ouvi sobre o desastre de Britney Spears — Jaxon


sussurra. Olhos assustados saltam entre os meus. — Este ano vai
ser melhor, certo? Porque ele tem uma filha agora? Então ele não
vai ser tão... Carter?

Antes que eu possa responder, um microfone grita. Jaxon e eu


olhamos para cima, observando como Carter – vestido como um
giz de cera roxo e com sua filha de giz de cera roxo amarrada ao
peito – pisa no palco montado em frente às portas da arena.
— Não — Jaxon murmura enquanto uma tela é abaixada atrás
de Carter.

— Ele está realmente fazendo isso — eu sussurro.

— Eu pensei que ele estava brincando — murmura Garrett,


aparecendo à minha esquerda.

— Alguém ligue para Olivia — Emmett murmura, à direita de


Jaxon. — Ele precisa ser parado.

— Todos estão prontos para o Vipers Karaokê? — Carter grita


para a multidão reunida. Para nosso horror, ela explode de alegria.
— Vinte dólares dão a você a música de sua escolha aqui no palco
com um Viper de sua escolha...

— O quê? — Jaxon suspira.

— Eu não concordei com isso — Garrett rosna.

— Não — Emmett geme.

— Puta merda — eu suspiro.

— E todos os rendimentos vão para a comunidade para ajudar


a financiar programas esportivos para jovens carentes. Portanto,
várias músicas não são apenas bem-vindas, mas incentivadas.

Jaxon prende os braços sobre o peito. — É melhor ninguém me


escolher, porque eu não vou cantar.

Uma garotinha usando um vestido rosa brilhante com uma saia


fofa e uma tiara se aproxima de Jaxon, puxando seu vestido de giz
de cera com as mãos enluvadas, piscando os olhos azuis. — Com
licença, Sr. Riley. Meu nome é Mia e sou uma princesa. Eu quero
cantar uma música de princesa com você.
Seus olhos derretem quando ele olha para ela, e quando ela
junta as mãos e abaixa a cabeça em derrota, Jaxon geme. Ele pega
a mão dela, puxando-a para o palco onde Carter espera com um
sorriso de comedor de merda.

— Vamos, princesa Mia. Vamos escolher uma música de


princesa.

Treze. Esse é o número de canções que Jaxon cantou esta


tarde.

— Ele age como se não fosse um de nós — Carter reflete,


observando enquanto Jaxon termina sua performance de “How Far
I'll Go” de Moana com uma garota vestida exatamente como ela. —
Mas eu sabia que ele era um Puck Slut desde o momento em que
desceu daquele avião de Nashville, um ano atrás.

Garrett tira o chapéu de giz de cera azul e bagunça o cabelo. —


Quando podemos ir para casa? Eu quero levar Jennie para Pound
Town uma vez rápido no banheiro de Carter antes de irmos para
doces ou travessuras.

Carter enfia o cotovelo na caixa torácica de Garrett.

— Uau! Só estou dizendo!

— Eu vou cortar seu pau se você tocar na minha irmã no meu


banheiro.
— Você não pode. — Garrett fica com um sorriso lento e
presunçoso no rosto, e seu peito treme, já rindo de sua própria
piada. — É o passeio favorito dela, junto com o meu rosto.

Jaxon aponta para Garrett quando ele se junta a nós. — De


onde vieram as bolas deste no ano passado?

— Jennie — Emmett e eu respondemos simultaneamente.

— Eu só sei que ela vai ficar sexy em sua fantasia. Não vou
conseguir resistir a ela.

Eu arqueio uma sobrancelha, olhando para a foto no meu


telefone, aquela que Rosie me enviou meia hora atrás, depois que
elas saíram daqui e voltaram para a casa de Carter e Olivia. É uma
foto de grupo das meninas e Connor, e todos elas estão vestidas
como diferentes animais e insetos.

Eu mostro meu telefone para Garrett. — Ela é uma borboleta.

— Uma borboleta sexy.

— Você foderia Jennie em um saco de lixo.

— Como se você não fosse foder Rosie em um.

Touché. — Jennie não vai querer tocar em você com seu vestido
de giz de cera.

Ele gesticula agressivamente para si mesmo, passa as mãos


pelos quadris cobertos de giz de cera. — Jennie vai ficar em cima
disso tudo.

— Uh-huh.

Ele enfia o dedo no meu peito. — Apenas espere. Ela vai


implorar por mim. Vou ter que dizer não a ela.
Jaxon bufa uma risada. — Como se você fosse capaz de dizer
não a ela.

O peito de Carter incha. — Sim, eu tenho que dizer não a Ollie


o tempo todo.

Todos riem, exceto Carter.

— O quê? Eu digo! — Ele franze a testa, as mãos nos quadris.


— Bem, eu poderia, se quisesse. Eu nunca quero.

— Você absolutamente não poderia — Emmett argumenta. —


Nem mesmo se alguém pagasse.

— Quer apostar? — Carter puxa um maço de dinheiro de sua


carteira. — Quinhentos dólares dizem que eu posso.

— Oh, eu estou tão dentro. — Garrett segura seu próprio


dinheiro.

Emmett cruza os braços. — Quais são os termos?

Carter pensa por um minuto. — No Nut November.

— No Nut- — Enterro meu rosto na minha mão. — O quê?

— Os termos são simples. Quinhentos dólares cada um, e


estamos todos apostando em nós mesmos. Sem sexo, sem
masturbação, sem enlouquecer – ponto final. Começamos
amanhã, primeiro de novembro. Quem durar mais leva o pote. Dois
mil e quinhentos dólares.

Meu rosto ainda está em minhas mãos, então eu as arrasto em


câmera lenta. — Não acredito que estamos tendo essa conversa
vestidos de giz de cera.
— Não acredito que estou sem calça — diz Jaxon, e então: —
Estou dentro.

— Você?

— O quê? Eu não estou em um relacionamento.

— Você ainda fode quase tanto quanto o resto de nós —


argumenta Garrett.

Jaxon passa a palma da mão pelo peito orgulhoso. — Sim, sou


difícil de resistir.

— Eu absolutamente não estou dentro — eu digo a eles.

— Ah, vamos lá — lamenta Carter.

— Comecei a fazer sexo regularmente há um mês. Não estou


prestes a desistir. Além disso, estou meio com medo de Rosie. Ela
gosta de ser fodida para dormir na noite anterior a uma grande
cirurgia, ou a uma prova importante. Isso a ajuda a relaxar e tirar
sua mente disso, caso contrário, ela fica acordada a noite toda com
hiperfoco. Ela também gosta de sexo matinal e sexo no chuveiro, e
na outra tarde eu transei com ela no balcão da minha cozinha
enquanto Connor estava cochilando no andar de cima. Eu não vou
ser o único a tirar isso dela.

— Então aposte em mim — Carter diz tão simplesmente, como


se fosse... lógico. Porra, não é. É por isso que dou a risada mais
alta e incrédula. — Não vou decepcioná-lo, Adam, prometo. Além
disso, estamos na estrada catorze dias em novembro. O que
significa que só tenho que resistir a Olivia por dezesseis dias. Eu
posso fazer isso. Eu posso.
Ele parece tão confiante, é tanto cômico quanto triste. Depois
de todos esses anos, Carter acha que não o conheço. Depois de
todos esses anos, Carter não se conhece.

— Não.

— Não aposte em mim — Emmett diz. — Eu sei exatamente


como vai acontecer quando eu jogar isso em Cara. Dica: não muito
bem, porra. — Ele balança a cabeça. — Caramba, eu amo minha
esposa, mas tenho pavor dela.

— Você pode apostar em mim — Garrett me garante. — Não se


preocupe. Jennie não manda em mim.

Eu pisco para ele. — Meu dinheiro está em Jaxon.

— Foda-se, sim!

Carter estica os braços acima da cabeça. — Sim, espere até que


as garotas nos vejam com as roupas que escolhi para nós esta
noite. Elas vão ficar de joelhos, implorando por um pedaço.

— Você é-

— Sim.

— Adam. — Rosie dobra os lábios na boca, mas isso não impede


o riso. Em vez disso, ela sacode todo o seu corpo enquanto seus
olhos percorrem meu corpo e depois voltam para cima. Para baixo
novamente, depois para cima. Para baixo mais uma vez, e
finalmente o riso se solta. — Não consigo lidar com isso — ela
chora, com as mãos no rosto, e vou dizer uma coisa: ela
definitivamente não está de joelhos, implorando por um pedaço.

Ela está tão adorável em sua fantasia de joaninha, e eu estou...


eu estou... Deus, não consigo nem dizer as palavras.

De alguma forma, Carter encontrou uma maneira de superar o


desastre de Britney.

Há um grito viril do banheiro do andar de baixo, e eu sei que


Jaxon acabou de descobrir seu destino.

— Eu não vou usar isso!

— Você tem que usar!

— Eu não vou pintar meu cabelo!

— É apenas gel de cabelo colorido! Vai sair na hora!

Rosie e eu trocamos um olhar. — Ruivo.

Ela espia por cima do ombro, então caminha em minha direção,


empurrando-me de volta para o banheiro de onde acabei de sair.
— Você sabe — ela murmura, arrastando a mão para baixo da
minha regata laranja cortada, sobre meu abdômen nu. — Eu acho
que isso combina com você. Laranja pode ser a sua cor.

— Porra, vou congelar.

Ela sorri, pressionando-se contra mim, varrendo sua boca


sobre a minha. — Vou aquecê-lo depois.

— Isso me lembra que Carter quer fazer No Nut November.


Nada de sexo durante todo o mês.
— Mas eu começo uma nova rotação na segunda-feira. Ficarei
acordada a noite toda pensando demais em tudo se você não me
fizer dormir. E também, simplesmente não.

Eu rio, beijando seus lábios carnudos e vermelhos. — Posso ter


deixado ele me convencer a usar essa porra de roupa ridícula, mas
não vou deixar que ele me dissuada de você. — Meus olhos vão
para o meu reflexo no espelho e suspiro com todo o laranja. Prefiria
estar com minha fantasia de giz de cera. — Eu pareço bem?

Rosie aperta os lábios e acena com a cabeça. — Mhmm.

— Isso não é convincente.

— Bem, amo você de qualquer maneira. — Dedos finos


entrelaçam-se aos meus, e ela me puxa para fora do banheiro.

Todos os olhos se voltam para mim, e Carter, que está usando


um vestido roxo com uma sobreposição de renda preta, abre os
braços. — Ehhh! Ali está ele!

As meninas explodem em gargalhadas, e Rosie finalmente solta


a dela ao meu lado.

— Ah, vamos! — Garrett joga os braços no ar. Seu cabelo loiro


está preso em tranças altas, e ele está usando um vestido rosa
justo e meias até os joelhos com seus tênis. O toque final é a
gargantilha dourada em volta do pescoço que diz BABY. — Adam
tem que ser a Sporty Spice e eu estou preso como a porra da Baby
Spice?

Emmett gesticula para seu macacão de spandex dourado. —


Foda-se. Eu sou a porra da Scary Spice. Estou usando a porra do
spandex. — Ele aponta um olhar aguçado para sua virilha e abaixa
a voz para um sussurro. — Você pode ver tudo.

Cara esfrega o peito dele. — E nós amamos isso, querido.

Connor espia do tatame em que está jogando com Ireland, seus


olhos brilhando. — Woooah-ho-ho! Dada! Dada laranja! — Ele
pula, cambaleando até mim, acaricia minha calça cargo laranja e
sorri para mim. — Ama você, Dada laranja.

— Eu também amo você, Mittens. — Mittens porque ele está


vestido de gatinho e anda por aí chamando a si mesmo de Mittens.

A porta do porão se abre, mas ninguém sai. Então, depois de


um minuto, um tênis de corrida aparece, seguido por uma meia
Union Jack, presa a uma perna longa e peluda. Lento como
melaço, Jaxon entra no corredor, vestido com short vermelho e
uma regata combinando, exibindo uma lasca de seu torso, e seu
cabelo castanho agora brilha em um vermelho vibrante.

— Ninguém diz uma palavra — ele murmura, entrando na


cozinha silenciosa com a cabeça baixa. — Nenhuma palavra, porra.

O barulho lento de seus sapatos soa contra o chão da cozinha


enquanto todos os olhos o seguem. Quando ele puxa uma cerveja
da geladeira e começa a beber, as risadinhas começam, sufocadas
e abafadas.

Jaxon fecha os olhos e joga a cabeça para trás com um gemido


enquanto o riso explode ao seu redor. — Foda-se, eu não me
importo. Eu pareço bem pra caralho, e todo mundo sabe que
Ginger Spice era a Spice Girl mais gostosa.
— Ok, bem — eu gesticulo para mim mesmo — era claramente
a Sporty Spice.

— De jeito nenhum — Garrett argumenta. Ele segura um


pequeno rabo de cavalo e coloca um pirulito cor-de-rosa na mão.
— Baby Spice, até o fim.

Emmett gesticula agressivamente para sua roupa. — Estou.


Vestindo. Elastano. Porra.

— Vocês estão todos errados — Carter diz. — Era Posh Spice.


Ela era a mais gostosa. É por isso que estou vestido como ela. —
Ele aponta o pé em seus tênis, e meus olhos vão para a corda preta
que ele amarrou em suas panturrilhas como uma espécie de
decoração. Quando ele flexiona uma panturrilha, a corda se
rompe. — Ah, droga. Ollie! Minhas panturrilhas musculosas
arrebentaram minha corda de novo!

— Bem, pare de flexioná-las!

— Não consigo simplesmente parar de flexionar meus


músculos. — Ele balança a cabeça e pega Ireland, que está vestida
como o cachorrinho mais fofo do mundo. — Vamos, meu cãozinho.
Vamos colocar você em sua fantasia de Posh Spice.

Olivia planta os punhos nos quadris. — Ela está feliz em sua


fantasia de cãozinho.

— Ela quer ser gêmea com o papai, no entanto. Sim, você quer,
princesinha, não é? Papai até comprou uma jaqueta de couro para
mantê-la aquecida. — Apesar dos protestos de Olivia, ele segue
pelo corredor com Ireland em seus braços, cantando “Spice Up
Your Life” enquanto vai, e dez minutos depois, ele retorna com sua
irmã gêmea Posh Spice, só que ela ainda está usando as orelhas
de cachorro.

Ele a estende para Olivia. — Pronto. — Inclinando-se para mim,


ele esconde seu sussurro atrás de sua mão. — Se eu só tiver mais
uma noite, tenho que fazer valer a pena.

Ele não tem apenas uma noite restante; ele sabe disso tão bem
quanto o resto de nós, incluindo Olivia, que revira os olhos e
sussurra algo em seu ouvido, algo que faz seus olhos
esbugalharem enquanto todos nos dirigimos para a porta da
frente.

Paramos na varanda da frente para uma sessão de fotos –


várias, na verdade, até que Carter esteja satisfeito – então
descemos a rua, um grupo aterrorizante que definitivamente
nunca deveria ser visto em público.

Mas quando olho para meus amigos, a maneira como todos


simplesmente aceitam seu lugar nesta unidade, como é
permanente, sei que isso é tudo que sempre quis da vida. Família
que escolhe ficar ao seu lado todos os dias, mesmo quando você é
um homem de 1,80m vestido como uma Spice Girl e se
envergonhando pra caralho.

Eu olho para a mãozinha na minha, sua outra mão enfiada na


de sua mãe enquanto caminhamos pela rua, e foda-se, tudo parece
tão certo neste mundo.

O olhar de Rosie desliza para o meu, as bochechas corando


quando ela pega o sorriso bobo preso no meu rosto. — O quê?

— Eu amo nossa família.


Seus olhos se movem sobre nosso povo e ela sorri com o sorriso
mais bonito. — Connor e eu temos muita sorte de fazer parte disso.

Cara coloca a cabeça por cima do ombro. — E nós temos muita


sorte de vocês dois fazerem parte disso.

Eu: Onde está todo mundo?

Já estou no rinque há quinze minutos, preparando-me para


nossa patinação matinal, e os outros quatro ainda não chegaram.
Eu gostaria de ouvir suas desculpas, já que transar com
esposa/namorada/garota aleatória da academia a manhã toda
não pode ser nenhum dos motivos. No Nut November começou há
nove horas. Eu sou o único com licença para estar vinte e quatro
centímetros de profundidade dentro da minha mulher.

E eu estava, caso alguém esteja se perguntando. Rosie e eu nos


levantamos com o sol, e o café na varanda se transformou em...
bem, foda na varanda. Processe-me por não querer aproveitar um
lindo nascer do sol sobre as montanhas.

A porta do vestiário se abre e Jaxon entra, com o cabelo


bagunçado e óculos escuros, um copo da Starbucks nas mãos.

Ele afunda ao meu lado com um suspiro, esticando as pernas


e cruzando um tornozelo sobre o outro. — Desculpe, estou
atrasado. Eu dormi. Foi incrível. Talvez uma pausa no sexo seja o
que eu precisava.
— Já se passaram nove horas. Acho que você ainda não pode
deduzir isso.

— Sinto que posso. — Ele dá um gole no café e me olha. — Você


transou de seis maneiras até domingo. Seu sortudo.

Antes que eu possa responder, a porta se abre com tanta força


que bate na parede. Carter entra, com a braguilha meio aberta e a
camisa do avesso. Ele tira um maço de dinheiro do bolso e o joga
no banco ao meu lado.

— Estou fora.

— Você está fora? — Eu jogo meus braços abertos. — Só se


passaram nove horas!

— Ollie vestiu sua fantasia de abelha esta manhã, só que sem


blusa e sem calcinha por baixo do tutu. — Ele ri, passando a mão
na boca. — Nós jogamos um jogo onde ela...

A porta se abre e Garrett entra valsando, assobiando. Ele joga


uma pilha de notas para baixo e Jaxon se engasga. — Você
também?

— Jennie ganhou um brinquedo novo. Disse que não precisava


mais de mim. — Ele dá de ombros. — Tive que mostrar que ela, de
fato, precisa de mim.

Desta vez, quando a porta se abre, é um rangido lento. Emmett


enfia a cabeça para dentro, espiando antes de entrar, passando a
mão pelo cabelo loiro despenteado. — Então, uh... que tal aquele
No Nut November, hein?

— Carter e Garrett já estão fora.


— Oh, obrigado, porra. — Ele conta seu dinheiro,
acrescentando-o à pilha. — Bem, começou com Cara se recusando
a desmontar de mim à meia-noite. Então argumentei que não
contava, porque tínhamos começado antes da meia-noite, então,
tecnicamente, era sexo de Halloween. Então ela disse,
tecnicamente, Emmett, eu não preciso que você me faça gozar. —
Seus olhos vidrados. — Ela abriu a porra daquele audiolivro que
eles estavam ouvindo e começou... ela começou... ela abriu as
pernas e eu... eu... eu tentei. Eu realmente tentei.

Garrett aperta seu ombro. — Eu sei, amigo. Eu sei.

Jaxon pula de pé, jogando os braços acima da cabeça. — Você


está brincando comigo? Eu era o único levando isso a sério? — Ele
pega o dinheiro, enfiando-o agressivamente no bolso antes de
apontar o dedo para eles, um após o outro. — Fodam-se vocês.
Fodam-se. E foda-se você. — Ele aponta para mim. — Obrigado
por acreditar em mim, mas foda-se você também, porque você fez
sexo e eu não.

— OK, então. Ouçam-me. — Carter coloca as mãos na frente


dele e sorri com expectativa. — Dezembro destrua-a-com-seu-pau.

O silêncio paira no ar apenas por um breve momento. Então,


de repente, o lugar vazio no banco onde estavam os ganhos de
Jaxon está transbordando com uma porra de dinheiro novamente.

— Estou dentro.
CAPÍTULO 35

VINTE E CINCO E PODE FINALMENTE DIRIGIR

— Não.

— Rosie, você pode fazer isso.

Eu olho para o prédio do outro lado do para-brisa. Teste de


condução de Vancouver. Absolutamente não. Eu prendo meus
braços em meu peito e balanço minha cabeça. — Adam, não. Eu
não posso fazer isso. E-eu... não estou pronta. Eu vou falhar.

— Quando você já falhou em alguma coisa? — Adam se


contorce em seu assento, pegando minhas mãos nas dele. — Rosie,
você tem praticado tanto. Você está indo de maneira incrível e,
além disso, é uma motorista extraordinariamente segura.

Tradução: devagar. Eu sou uma motorista devagar, e nós dois


sabemos disso. Adam me lembrou carinhosamente que posso
ultrapassar um pouquinho o limite de velocidade e ainda estar
segura, mas prefiro continuar dirigindo do meu jeito: tirando o pé
do acelerador e deixando-nos desacelerar toda vez que eu passo
um pouco o limite.
— Eu já sei que o examinador vai ficar tão impressionado com
o quão bem você mantém o limite de velocidade exato o tempo todo.

Estreito meus olhos para a diversão dançando nos dele. — Eu


sei que você está rindo de mim na sua cabeça, Adam.

Ele ri, puxando minha mão para sua boca, varrendo um beijo
sobre meus dedos. — Eu nunca iria rir de você. Eu só rio com você.

— Não estou rindo — eu argumento, levantando meu ombro


para empurrar a língua de Piglet para fora da minha orelha quando
ela a enfia lá do banco de trás. Ela decide lamber minha têmpora.
— É por isso que pegamos Pig? Trouxemos Bear? Para que todos
possam me ver falhar? E no meu aniversário, nada menos.

— Connor, diga a mamãe que ela não vai falhar.

— Mama não falha! — ele grita do banco de trás.

Eu não posso dizer quantas vezes eu desejei ter a mesma fé em


mim que Adam e Connor têm. Eles fazem parecer tão fácil, tão
natural, a maneira como acreditam em mim. O que eu não daria
para viver um dia dentro da cabeça de uma pessoa que nunca se
questiona.

Adam passa o polegar sobre a covinha no meu queixo. — Pare


com isso.

— Parar com o quê?

— Pensar demais. Esquecer o quanto você é incrível, quantos


passos você dá dia após dia para ser melhor do que você era. Você
fica atrás do volante todos os dias, seja comigo, Archie ou Marco.
Quer estejamos praticando por duas horas ou apenas correndo
para a Starbucks. Você constantemente coloca um pé na frente do
outro e trabalha em seus objetivos e seus medos. Você me inspira
todos os dias, Rosie. Mesmo em seus dias difíceis.

— Você acorda todos os dias e pensa: O que posso dizer a Rosie


hoje para fazê-la se apaixonar ainda mais por mim?

— Bastante. Eu preciso de você de cabeça para baixo se tenho


esperança de fazer você mudar seu sobrenome um dia. Todas as
manhãs eu acordo e me pergunto como posso nos aproximar um
passo.

— Cale a boca — eu digo, toda risonha enquanto aquele calor


familiar sobe pelo meu pescoço. Arrastando o chão da
caminhonete, murmuro: — Não acredito que você não me contou.

— Rosie, o que você teria feito se soubesse, três semanas atrás,


que tinha seu exame de direção marcado para hoje?

— Eu teria perdido pelo menos três noites de sono pensando


tudo o que poderia dar errado, teria alguns ataques de ansiedade
e definitivamente teria vomitado esta manhã.

Ele sorri gentilmente, jogando minha franja para trás. — Eu


queria que fosse uma surpresa para que você não ficasse
estressada e em sua cabeça sobre isso por semanas. Era muito
tempo para você questionar o quanto aprendeu nesses últimos
dois meses. — Com meu queixo na mão, ele traz meus lábios aos
dele. — Se você não está pronta, ou simplesmente não quer, não
importa o motivo; você não precisa de uma desculpa – apenas diga
a palavra. Vou ligar a caminhonete de novo e vamos comprar
cupcakes de aniversário. Não há um livro de regras dizendo que
você tem que fazer isso. Mas você pode fazer isso, Rosie. E se
sairmos daqui hoje sem tentar, tudo bem. Contanto que você vá
embora sabendo que é capaz. — Outro beijo, todo tão
inerentemente Adam. Doce, suave, aquele pouco de força que me
deixa totalmente aberta. — Eu acredito em você.

Eu olho para o meu filho no banco de trás, conversando com


os cachorros que olham para ele como se ele fosse o mundo deles.
Seu suéter diz mamãe é uma super-heroína, e quando Adam o
deixou na cama esta manhã vestindo isso, pensei que era
simplesmente um gesto doce para o meu vigésimo quinto
aniversário.

— Você realmente acha que eu sou uma super-heroína? —


sussurro para Adam.

— Eu sei que você é. Já vi com meus próprios olhos. Você pega


o impossível e o torna possível.

A verdade é que sinto que a maioria das coisas neste mundo


são possíveis com a mão dele na minha.

Talvez seja por isso que respiro fundo e saio da caminhonete.

E talvez seja por isso, quinze minutos depois, quando saio


dirigindo com o examinador no banco do carona e Adam, Connor
e os cachorros na calçada, segurando um cartaz que diz ‘Go,
Mama, Go!’, sinto que posso realmente ser uma super-heroína.

E talvez, apenas talvez, quando estaciono no meio-fio quarenta


e cinco minutos depois, seja por isso que pulo da caminhonete,
seguro minha nota final com as mãos trêmulas e grito uma frase
que nunca pensei que me ouviria dizer.

— Eu sou uma motorista licenciada!


— Tenho cinco carros. Você pode usar um dos meus.

Abro a boca para recusar educadamente, mas Carter levanta a


mão.

— Espere, são seis. Eu tenho seis carros. Porque Ollie não vai
me deixar me livrar de Red Rhonda.

O rosto de Olivia se ilumina. — Você pode pegar Red Rhonda


emprestada! Ela é um ótimo carro para iniciantes. Eu a comprei
usada quando tinha dezessete anos. Ela-

Carter cobre sua boca com a mão, puxando-a contra seu peito.
— Uma vez que ela começa com Rhonda, ela não para. E confie em
mim, Ro, a velha Rhonda não vai levar você a lugar nenhum,
exceto presa em uma vala.

Olivia franze a testa, afastando a mão dele. — Isso foi uma vez.
Ela só precisa de pneus novos para neve e ficará como nova.

O olhar de Carter encontra o meu, e ele balança a cabeça,


discretamente cortando a garganta com a mão.

— Provavelmente vou usar o ônibus enquanto economizo.


Talvez essa seja minha primeira grande compra depois de me
formar na primavera, quando Connor e eu tivermos nossa própria
casa.

— Você quer dizer quando forem morar com Adam? — Carter


pergunta, então agarra seu ombro quando Olivia dá uma pequena
pancada nele. — Ai! Não me faça amarrar essas mãos, garota Ollie.
Ela revira os olhos. — A discussão sobre a mudança é para eles,
não eles mais você.

— Mas-

Olivia o silencia com nada além do olhar feroz em seus olhos.

— Tudo bem — ele resmunga. — Mas não é como se Adam fosse


deixá-la ir para outro lugar. Ele é muito obcecado por ela.

Meu olhar se volta para Adam ao meu lado, apenas para


encontrá-lo já me observando. Ele pisca, e a ação simples,
emparelhada com ele empurrando aquele carrinho gigante com
Connor e Ireland dentro, e Bear e Dublin, o golden retriever de
Carter e Olivia, envia uma onda inebriante de sangue à minha
cabeça. Ele parece tão em casa nesse papel de homem de família,
como se tivesse sido feito para preencher esses sapatos e,
caramba, ele faz isso tão bem.

Já se passaram dois meses desde que vimos Brandon e não tive


notícias dele nenhuma vez. Eu sabia que era isso, assim que
saímos de sua porta. Eu sabia que não haveria como voltar atrás,
que ele escolheria o caminho mais fácil, aquele que provavelmente
vinha procurando desde o início. Mas se eu tivesse um pingo de
dúvida, teria se dissolvido em chamas na noite em que Archie
voltou do trabalho, dizendo ter visto uma pilha de coisas de Connor
ao lado do lixo na calçada em frente ao prédio de Brandon.

A imagem na minha cabeça foi devastadora, e uma vez que


Connor estava na cama para passar a noite, eu me enrolei no sofá
e chorei nos braços de Archie. O conhecimento de que foi tão fácil
para Brandon deixar Connor ir, compará-lo a levar o lixo para fora,
doeu como o inferno.
E, no entanto, Connor não pediu por ele uma vez. Seus dias
estão cheios de mais amor agora do que nunca, pessoas que se
colocam em sua vida porque querem fazer parte dela, e meu filho
está prosperando, absolutamente radiante. Tenho que agradecer a
tantas pessoas incríveis por isso, mas quem fez a maior diferença
recentemente é o homem que está ao meu lado. Aquele que o pega
cedo na creche enquanto ainda estou na clínica, e o mantém em
casa durante o dia porque sentiu muito a falta dele enquanto
viajava. Canta e dança com ele na sala. Acompanha-o até a escola
local na hora da saída, só para que ele veja todos os ônibus indo e
vindo. Deixa que ele faça bagunça no balcão da cozinha enquanto
eles preparam o café da manhã juntos. Usa barbas de bolha e
chapéus de bolha com ele. Lê para ele quando estão deitados na
cama à noite. Ama-o incondicionalmente, como uma criança deve
ser amada.

A nostalgia acende um fogo quente em meu peito nesta noite


fria de novembro, lembrando-me da infância que tive, de todas as
maneiras que meus pais me amaram e me mostraram todos os
dias. Tudo o que quero fazer é dar a Connor uma infância como a
que tive, e espero que em algum lugar meus pais estejam olhando
para mim, orgulhosos da vida que estamos vivendo.

Orgulhosos de mim.

— Desculpe, pessoal. Adoraríamos dar a vocês dois uma


permissão especial, mas vocês têm que deixar o carrinho aqui. A
ponte não é totalmente acessível, infelizmente.

— A Ponte? — Eu viro minha cabeça, percebendo pela primeira


vez que saímos da Capilano Road, que agora estamos na entrada
de algum tipo de parque, conversando com um atendente
sorridente. Observo Adam e Carter tirarem as crianças do
carrinho, prendendo-as ao peito em suportes. A visão é muito
atraente, mas não posso apreciá-la totalmente neste momento. —
Que ponte, Adam?

— Bem na hora também — continua o atendente. — As luzes


se acendem em cinco minutos.

— Luzes? Que luzes? Adam, que luzes?

Ele apenas sorri, pegando minha mão, puxando-me para


frente. Meu coração está prestes a explodir, porque a única ponte
e luzes em que consigo pensar são aquelas que meus pais deveriam
me levar para ver exatamente treze anos atrás, no meu aniversário
de 12 anos.

— Achei que estávamos apenas dando um passeio — falo


rápido, tropeçando no caminho, minha mão de repente pegajosa
na dele.

— Você não achou que eu deixaria seu aniversário passar sem


lhe dar algo que você sempre quis, não é?

— Você já fez — eu argumento. — Você me ensinou a dirigir.


Hoje sou uma motorista licenciada por sua causa. Você me deu
café da manhã na cama, e ninguém nunca fez isso por mim. — E
como estou nervosa e um pouco assustada, inclino-me para mais
perto e sussurro: — E você fez aquilo com a língua, lembra?

— Ah — ele cantarola. — Sim, eu fiz. E com os dedos também.


E então você fez aquela coisa que você faz, quantas, três vezes?
— Quatro — murmuro, a memória de seu nome em meus lábios
enquanto gozava esta manhã ainda é tão vibrante, linda e incrível.

— Certo, bem, deixe-me dar-lhe uma última coisa. — Ele para


e me puxa de volta para ele, parando para olhar para o relógio.
16h28, ele mostra, bem no caminho para este pôr do sol de final
de outono em Vancouver, e Adam sorri. — Eu preciso que você
feche os olhos para mim.

Meu peito fica tenso, e eu balanço minha cabeça. — Eu estou


assustada.

Connor toca meu nariz. — Mama sem medo.

— Eu deveria ser corajosa? — pergunto a ele calmamente.

Ele concorda. — Mama corajosa.

— Ok. Serei corajosa, mas apenas porque é fácil ser corajosa


com vocês dois ao meu lado.

Os dedos de Adam entrelaçam-se nos meus, um aperto terno


que me obriga a fechar os olhos. Gentilmente, ele me conduz para
a frente e, quando paramos de novo, aperto sua mão com tanta
força que tenho medo de cortar os dedos de que ele pode ou não
precisar para pegar os discos; ainda não estou totalmente certa da
logística do hóquei.

Enquanto espero, meu coração bate rápido e instável, um


zumbido de eletricidade que pulsa através de mim, da ponta dos
meus dedos até os dedos dos pés. Eu respiro o ar fresco, ouço o
som dos pássaros cantando no alto, galhos quebrando e folhas
farfalhando, e centenas de memórias inundam meu cérebro.
Memórias de tempos tão distantes, passados em lugares como
este, onde as duas pessoas que me amaram mais do que tudo me
mostraram como apreciar a natureza, como me apaixonar pela
forma como fundamenta, faz com que cada preocupação pareça
tão pequena.

Às vezes, a vida tem uma maneira engraçada de lembrá-lo de


que a permanência da morte não é tão abrangente quanto
acreditamos. Que, apesar da falta de evidências físicas, as pessoas
de quem nos separamos nunca estão tão longe. Que eles
permanecem conosco, aparecem às vezes nos momentos mais
estranhos e inconsequentes.

Porque ao terminar de sorrir ao pensar em meus pais, quando


os lábios de Adam tocam minha orelha, sussurrando para que eu
abra os olhos, sou agraciada com a vista mais magnífica, uma que
esperei mais da metade da minha vida para ver.

Em uma floresta exuberante de verde profundo, cores vibrantes


dançam com as árvores balançando, brilham lá embaixo no rio que
corre, brilham contra o pôr do sol roxo e coral e serpenteiam como
trepadeiras brilhantes ao redor de uma ponte pela qual desisti de
caminhar.

No meu vigésimo quinto aniversário, Adam está me dando o


presente que meus pais não puderam entregar no meu décimo
segundo aniversário. Mas mais do que isso, ele está me dando isso.
Não há nada que eu sinta mais agora do que a certeza de que meus
pais estão aqui ao meu lado, que nunca partiram.

Sem palavras, fico olhando para a Ponte Suspensa de Capilano,


o rio e as árvores, os milhões de luzes cintilantes que fazem este
dia brilhar. E quando olho nos olhos de Adam, não são apenas as
luzes que dançam neles, mas o mesmo amor com o qual meus pais
me banharam, dia após dia. Uma lágrima silenciosa escorre pelo
meu rosto com a sensação poderosa, tão palpável que me inclino
para ela, fecho os olhos e a absorvo.

Adam pega minha lágrima com o polegar. — Eu sei que deveria


ser algo especial que você e seus pais fariam juntos, e não posso
substituir isso, mas pensei... — Ele gesticula atrás de mim, e me
viro para ver todos os nossos amigos se juntarem a nós ao lado de
Olivia e Carter. Archie e Marco, Garrett e Jennie, Cara e Emmett e
Jaxon. — Achei que esta família poderia ser a vice-campeã.

— Por favor, diga sim — Carter sussurra por cima do meu


ombro. — Meu ego não aguenta o golpe.

— Seu ego é grande o suficiente para aguentar pelo menos cem


golpes antes de estar em perigo — eu sussurro de volta, fungando.

— Droga, ela já me conhece muito bem.

Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos. — Vocês estão aqui por


mim?

— Onde mais estaríamos? — Archie pergunta.

Cara sorri. — Somos uma família, Rosie. Aparecemos um para


o outro.

Jennie dá um tapa em suas bochechas. — Eu não estou


chorando, FYI 21 . É só que você está chorando, e as luzes são
superbonitas, e adoro aniversários, e-e... — Ela se engasga com

21
For Your Information, para sua informação.
um soluço baixo enquanto Garrett esfrega suas costas. — Tenho
alergias muito fortes.

Adam segura minha mão. — Eu mencionei que amamos muito


nesta família, certo? Mais e seria absolutamente sufocante.

Sufocante? Mas é o oposto. Essas pessoas, o jeito que amam


tão abertamente e sem limites, é tão revigorante. Tenho procurado
toda a minha vida por essas pessoas, por esse tipo de amor, e não
o encontrei apenas em uma pessoa; encontrei em um grupo inteiro
delas. Cercar-me do amor deles é como respirar no último
momento, ter a vida respirando de volta em você.

Penso nisso a noite toda, enquanto vagamos pelas trilhas


iluminadas, tomamos chocolate quente acima do rio, enquanto
conversamos, rimos e aproveitamos cada momento juntos. E
quando Adam e eu estamos deitados na cama mais tarde naquela
noite, tudo o que quero fazer é agradecer.

Eu corro meus dedos pelo punhado de cachos escuros em seu


peito, enfio minha perna entre as dele, desesperada para estar o
mais perto possível de mim enquanto seus dedos percorrem
minhas costas.

— Posso contar uma coisa? — murmuro no silêncio da noite.

Os olhos da meia-noite caem sobre os meus, um sorriso bonito


e preguiçoso enganchado no canto da boca. — Qualquer coisa,
menina linda.

— Mais cedo esta noite, você disse que queria me dar algo que
eu sempre quis. Mas já tenho isso, Adam, porque tenho você. Você
me deu você. O que sempre quis, mesmo antes de conhecer você.
Meu coração sabia que você estava por aí, que nós o
encontraríamos um dia. — Eu roço sua mandíbula, dedos
deslizando em seu cabelo enquanto guio sua boca na minha. —
Quão sortuda eu sou por ter meus sonhos realizados?

— Eu sou realmente o seu sonho? — ele sussurra contra meus


lábios. — Jura?

— Juro.
CAPÍTULO 36

NINGUÉM VAI SABER

— Você é embaraçoso pra caralho.

— Oh, o quê? Então você e Carter podem levar seus filhos para
patinar em família, mas eu não posso levar o meu? — Jaxon
arremessa os braços no ar antes de apoiar os punhos nos quadris.
Seu gato, Mittens, mia de onde ele está amarrado ao peito, em um
– porra, isso me dói dizer – suporte para gatos. — Padrões duplos,
porra.

Garrett olha para cima de seus joelhos, onde ele está


amarrando os patins de Jennie. — Estou com medo de que você
esteja perdendo o controle, amigo.

Jennie se encolhe. — Eu odeio dizer isso, Jaxon, mas acho que


você pode precisar de uma...

— Não diga isso. Não diga isso, Jennie.

— Namorada.

Lá vão seus braços, acima de sua cabeça novamente. — Eu


disse para você não dizer isso! Mittens tem um toque de ansiedade
de separação, só isso. E nós estávamos na estrada por oito dias.
— Ele pega a pata de Mittens, balançando. — Odeia quando eu
deixo você, não é, Mitts? Sim, você odeia. Papai também odeia
deixar você.

Rosie solta uma risada e Jaxon estreita os olhos para ela. Ela
dobra os lábios na boca, fingindo abotoá-los, então se inclina para
mim enquanto amarro os patins de hóquei novinhos em folha de
Connor. — Acho que todos nós sabemos quem é o único com
ansiedade de separação.

Eu rio, observando enquanto ela olha para seus patins,


balançando-os suavemente, seus dedos segurando o banco
enquanto ela respira profundamente. Ela com certeza não está
sentindo ansiedade de separação de um gato agora, mas sei que
minha garota está se sentindo um pouco ansiosa. — Como você
está, Trouble?

— Eu? — Suas sobrancelhas saltam e ela coloca a mão no peito.


— Bem. Estou bem, Adam.

— Quer tentar de novo?

Ela suspira, longo e alto, voltando a olhar para seus patins. —


Estou nervosa. Eu nunca patinei antes. Acho que vou fazer papel
de boba, mas estou muito feliz por estar aqui e fazer algo que
significa tanto para vocês.

Seu olhar hesitante se volta para a multidão de crianças que


acabaram de passar pelas portas, correndo para encontrar lugares
nos bancos do nosso vestiário para calçar patins também.
Crianças da Second Chance Home, juntando-se a nós hoje para
uma patinação em família, porque fazem parte da nossa família
Viper.
Cubro as mãos retorcidas de Rosie com uma das minhas,
erguendo seu queixo até que ela esteja olhando para mim. Nos
últimos dois meses, contei a Rosie tudo sobre minha instituição de
caridade, The Family Project, o trabalho que fazemos com a
comunidade adotiva. Ela adora minhas histórias e está tão
orgulhosa de mim, e por mais que eu adorasse arrastá-la para
conhecer todo mundo, nunca a convidei. Nunca quis colocá-la em
uma posição em que fosse forçada a reviver partes de sua infância
que gostaria que nunca tivessem acontecido.

Mas isso, convidar as crianças para fazer parte da nossa


patinação em família, para ajudar a decorar a árvore da arena, foi
ideia dela.

— Não quero me lembrar de como é passar despercebida — ela


admite calmamente. — Sentir-me indesejada. Mas acho que a
memória nunca foi muito longe, e acho que estou apenas...
temendo me ver em outra pessoa, alguém pequeno, perfeito e
inocente que merece ser o centro do mundo de alguém. Alguém
que não deveria estar se perguntando como pode mudar a si
mesmo, tornar-se mais amável para que alguém o escolha.

Ela tem o maior coração, minha Rosie, e isso transparece em


cada uma de suas decisões, cada pensamento que passa por sua
cabeça. Eu sei que ela também passou essa qualidade para o filho,
porque Connor estende a mão, coloca a mão na bochecha dela e
diz a ela: — Conn'a escolhe Mama.

Ela beija o interior da palma da mão dele. — Eu também


escolho você, Connor.
— Acho que passar algum tempo com essas crianças quando
você tem emoções tão pesadas em torno do sistema de adoção é
corajoso de sua parte, Rosie. Mas nem sempre você precisa ser
corajosa. Se alguma vez se tornar demais, você pode se afastar,
ok? Apenas deixe-me saber se você quer se afastar sozinha ou
comigo. Eu vou apoiá-la, no entanto, você precisa ser apoiada.

Olhos agradecidos olham para mim. — Obrigada.

Tranças castanhas chamam minha atenção, e encontro Lily


pairando sozinha no canto, observando-me com Connor e Rosie.
Quando aceno para ela, suas orelhas ficam vermelhas e ela desvia
o olhar.

— Deve ser Lily — Rosie murmura. — Por que você não vai dizer
oi? Connor e eu iremos até o gelo com os outros e esperaremos por
você no banco. — Ela dá um beijo em meus lábios e fica com as
pernas trêmulas, envolvendo um braço no de Jaxon enquanto
Garrett pega Connor, e eu os vejo desaparecer.

Lily enrola um rabo de cavalo no dedo, arranhando o chão


quando me aproximo dela.

— Ei, Lily-bug. Estou feliz em ver você.

Olhos castanhos disparam para os meus. — Era sua família?

— Sim, eram Rosie e Connor. Você quer conhecê-los?

Ela levanta um ombro. — Não quero incomodá-los.

— Você não os incomodaria.

— Tudo bem. Vou ficar aqui.

Eu franzo a testa. — Você não vai patinar?


— Não sei como.

— Bem, eu vou ensinar você. — Estendo minha mão para ela.


— Vamos lá. Vamos encontrar um par de patins que caiba nesses
seus pezinhos.

— Você promete não soltar minha mão? Tenho medo de cair.

Eu levanto dois dedos em uma promessa. — Eu não vou soltar


sua mão a menos que você me peça. Você pode confiar em mim,
Lily.

Seu nariz enruga e, lentamente, ela desliza sua pequena mão


na minha. — Eu confio em você, Adam.

Não tenho certeza do que fiz nesta vida para merecer a


confiança dela, mas sei que nunca farei nada para quebrá-la.

Com um par de patins nos pés, um capacete na cabeça e a mão


na minha, atravessamos o túnel e saímos para o rinque.

— Adam! — Rosie grita, o maior sorriso que eu já vi abrindo


suas bochechas enquanto ela se agarra a Olivia e Garrett,
deslizando junto com eles. — Olhe! Eu estou fazendo isso! Estou
patinando!

— Papai! — Connor acena do gelo, onde ele segura a pequena


armação de plástico vermelho que o ajuda a patinar, Emmett
segurando-a do outro lado enquanto Connor dá passos
minúsculos e rápidos. — Dada, oi! Conn'a joga hoqui!

— Olhe para você, Little Trouble! Você está fazendo isso! E


mamãe também!

— Eles estão apenas aprendendo também? — Lily pergunta,


puxando minha mão. — Como eu?
— Assim como você, querida.

Seu peito incha. — Ok. Vamos fazer isso.

— Essa é minha garota — eu grito, pisando no gelo.

Lily congela no último segundo, soltando minha mão e


abraçando as tábuas. — Não. Espere. Eu estou assustada.

Eu me agacho na frente dela. — Tudo bem. Às vezes, as


melhores coisas da vida são um pouco assustadoras. Podemos
fazê-las em nosso próprio ritmo. Não há pressa.

Ela espia ao meu redor, observando todas as crianças correndo


pelo gelo, divertindo-se, e então aqueles olhos castanhos
gigantescos vêm aos meus. — Eu acho que talvez se você me
segurasse, tudo bem. Você pode fazer isso?

Como se eu fosse capaz de dizer não a ela.

Eu a pego em meus braços, sentando-a no meu quadril, e ela


se agarra ao meu pescoço enquanto eu deslizo no gelo.

— Não vá muito rápido — ela sussurra, e quando dou uma


pequena volta, ela ri. — Isso é meio divertido.

Carter patina ao nosso lado, Ireland em seus braços, sua roupa


completa com um pequeno capacete, camiseta com ‘Daddy’ escrito
nela, e os menores patins que eu já vi enquanto ela mastiga um
mordedor de hóquei de silicone. — Ei, Lily. Quer dar uma volta
comigo? Sou muito mais rápido que Adam.

Ela balança a cabeça, abraçando-me mais apertado. — Quero


ficar com ele. Você fala demais.
— Uau — Carter murmura enquanto eu solto uma risada. —
Uma adaga bem no coração. Eu não falo muito, Ireland, baby, não
é?

— Você absolutamente fala — Olivia responde quando ela se


junta a nós, segurando a mão de Rosie.

— Olhe para você — murmuro, puxando Rosie para o meu lado


livre. — Conseguiu se livrar de Garrett, hein?

— E Olivia disse que não parecia mais que eu estava


esmagando os ossos em sua mão!

Olívia ri. — Você é uma aluna muito melhor do que Cara. Levei
semanas para ensiná-la.

— Eu não estava motivada o suficiente — Cara diz, patinando


em um círculo vacilante ao nosso redor. — Emmett já era obcecado
por mim. Mostrei a ele como ganhei o prêmio de o maior número
de tacos comidos em cinco minutos na universidade, e ele caiu de
joelhos e me implorou em casamento.

Cara, Olivia e Carter saem patinando, e Rosie sorri para Lily.

— Olá, Lily. Adam me falou muito sobre você. Eu sou Rosie.

Suas bochechas queimam e suas pernas apertam minha


cintura com mais força enquanto ela murmura: — Eu gosto do seu
cabelo rosa.

— Obrigada. Era a cor favorita da minha mãe.

— Sua mãe está no céu?

Os olhos de Rosie piscam. — Ela está.

— A minha também.
Ela hesita, então estende a mão timidamente, apertando seu
braço. — Você deve sentir muito a falta dela.

— Eu sinto mais falta dos beijos de borboleta dela — Lily


sussurra. Ela bate no nariz. — Ela me dava aqui mesmo quando
eu estava triste ou com medo.

Um pequeno sorriso aparece no canto da boca de Rosie. —


Minha mãe costumava me dar isso também.

O rosto de Lily se ilumina. — Jura? Então você sabe como dar


a eles?

— Eu sei.

— Talvez se você me der um, eu não terei medo de andar de


patins. — Ela olha entre nós, a excitação borbulhando, então
morrendo tão rápido quanto ela se encolhe em si mesma. — A
menos que você não queira. Você não precisa. Talvez eu devesse
me sentar no banco.

Rosie dá um passo à frente com os pés trêmulos, segurando o


rosto de Lily em suas mãos. Meu coração bate forte e instável
enquanto a observo dar beijos leves como pluma ao longo do nariz
enrugado de Lily, e vejo o sorriso dessa garotinha explodir como o
sol.

— Acho que posso tentar patinar agora. Eu me sinto meio


corajosa agora.

Quando a coloco de pé, ela desliza uma mão na minha e a outra


na de Rosie, e os olhos de Rosie vêm aos meus. A maneira como
dançam diz tudo: ela está apaixonada, o que é exatamente o que
imaginei que aconteceria quando essas duas se conhecessem.
Afinal, tem sido o mesmo para mim desde a primeira vez que Lily
deslizou no sofá e me pediu para ler para ela.

— Eu tentei dar passos no começo também — Rosie diz


enquanto Lily se arrasta entre nós. — Mas Olivia me disse para
tentar manter os pés no gelo e mexer um pouco a bunda e os
quadris.

— Assim? — Lily balança os quadris, olhando para Rosie


enquanto deslizamos lentamente para a frente.

— Bem desse jeito.

— Eu estou fazendo isso — ela sussurra. — Estou realmente


fazendo isso! Olhe para mim!

— Você está indo tão bem, Lily-bug. — Eu sorrio para Rosie. —


Vocês duas estão.

— Dada! — Connor corre em minha direção com a sua armação


ajudando, as mãos de Emmett em cada lado dele. — Dada!

— Companheiro! Olhe para você!

— Ele é rápido pra caralho — Emmett diz, parando Connor


antes que ele se choque contra nós. — Quero dizer, rápido como...
porra. — Ele se encolhe. — Vou tentar melhor da próxima vez, juro.
— Agachando-se, ele levanta a mão, sorrindo quando Connor dá
um tapa nela. — Obrigado por patinar comigo, cara!

— Tchau, cara!

— Oh, meu Deus. — Lily se livra de nosso alcance, colocando


as mãos nos joelhos enquanto se agacha até o nível de Connor. —
Olá, Conor. Você é tão fofo. Eu sou Lily. Você pode dizer Lily?
— Woooah-ho-ho. Lily! Abraço? Conn'a abraça Lily? — Ele abre
bem os braços e se aproxima dela, e os dois caem no gelo, uma
bagunça risonha.

— Eu acho que ele gosta de mim! Eu posso ser sua melhor


amiga, ok, Connor?

Pego os dois, coloco-os de pé, e Lily segura a mão dele.

— Vamos, Connor. Vou mantê-lo seguro, ok? Sua mãe me deu


beijos de borboleta, então estou corajosa agora.

— Sim!

— Tenham cuidado, vocês dois — Rosie diz, deslizando sua mão


na minha enquanto deslizamos lentamente atrás deles,
observando seus passos rápidos e pequeninos em seus patins. —
Não muito rápido, ok?

Olhos calorosos e musgosos vêm até os meus, e ela abre aquele


sorriso pateta e magnífico. — Uh-oh.

— Uh-oh? Uh-oh o quê?

— Uh-oh, acho que acabei de me apaixonar.

Uma das coisas que amo em Rosie é que ela não se apaixona
simplesmente. Ela é uma amante de cabeça para baixo, tudo ou
nada, tipo de amante do mundo inteiro. Se eu já não tivesse certeza
disso, certamente teria agora. Porque na semana seguinte à
patinação em família, Rosie não para de falar sobre uma certa
garota de cabelos castanhos que roubou seu coração.

— As crianças podem sair com as famílias? — ela pergunta


enquanto passeamos pelo shopping, em busca de um vestido para
ela usar na minha gala de Natal na próxima semana. É a primeira
desse tipo, uma espécie de extensão da cerimônia de iluminação
da árvore que minha instituição de caridade, The Family Project,
realiza todos os anos. Exceto que este é um jantar chique e dança,
envolve álcool e custa muito mais dinheiro. Mas é uma noite fora
para nós, e mal posso esperar para ver Rosie em seu vestido e
depois tirá-lo dela.

— Você está pensando em Lily de novo.

— Talvez ela queira dar uma caminhada com a gente e os


cachorros. Algo casual, uma mudança de cenário.

Essa é a primeira sugestão. As próximas quinhentas rolam, em


rápida sucessão, e acho que ela nem faz uma pausa para respirar.

— Oh! Eu sei! Podemos ir à Ponte Suspensa novamente e ver


todas as luzes de Natal! Ela vai adorar isso!

— Poderíamos levá-la para um café da manhã com panquecas


e chocolate quente.

— Ou sobremesa. Todo mundo adora sobremesa!

— Oh, ei, tem aquele novo filme da Disney saindo. Talvez


possamos levá-la no ano novo.

— E o trem no Stanley Park?

— Você acha que ela gosta de ônibus tanto quanto Connor?


— Eu sei que ela adora fazer suas pulseiras de tear. Do que
mais ela gosta? Ela gosta de pintar ou colorir?

Eu a sigo por uma loja, observando enquanto ela fala sobre


vestidos lindos e depois se convence a não usá-los, dizendo a si
mesma que não vai funcionar em seu corpo. Cada um que ela
coloca de volta, eu penduro em meu braço, e ela continua com
ideias para Lily.

— Posso perguntar uma coisa? — Ela se vira, franzindo a testa


quando vê minha braçada de vestidos. — Adam, o que você está
fazendo com tudo isso?

— É isso que você queria me perguntar?

— Não, eu... esses não vão me servir. Eu sou muito... eu tenho


muito...

— Não há nada em você que seja demais, Rosie. Tudo sobre


você está certo. Você gostou desses vestidos, então vai
experimentá-los, e se você os odiar, é isso. Mas dê uma chance a
eles.

— Mandão — ela murmura, mexendo em outra prateleira. Ela


puxa um vestido carmim de cetim com alças finas e uma fenda na
altura da coxa, seus olhos brilhando. — Com licença, posso
incomodá-la para verificar se você tem isso no tamanho maior? —
ela pergunta a uma das vendedoras.

— Absolutamente. — Ela tira os vestidos de mim. — E vou levar


isso para um provador para você.

Rosie afasta a franja. Eu a ajudei a retocar o cabelo ontem, e o


rosa acobreado normal está mais vibrante, um tom impressionante
contra as sardas douradas no nariz e nas maçãs do rosto. — O que
você acha de ter Lily se juntando a nós no Natal? Ela poderia vir
de manhã e poderíamos colocar alguns presentes debaixo da
árvore para ela. Sei que eles fazem essas coisas em casa, mas...
não sei. — Ela abaixa o olhar, sem pensar, corre os dedos ao longo
de um vestido brilhante. — Eu quero que ela se sinta especial. Eu
odiava o Natal sem família. Parecia tão solitário, mesmo estando
cercada por tantas pessoas.

— Sim.

— Sim? Sim, você vai pensar sobre isso, ou...

— Sim, vamos convidá-la para o Natal. Vou verificar com a


assistente social dela para ter certeza de que é permitido e se é algo
que ela gostaria.

Seu olhar sobe para o meu, pensativo, curioso. Lentamente, ela


desliza os braços em volta da minha cintura, elevando-se em seus
dedos dos pés para tocar seus lábios nos meus. — Obrigada.

Estou prestes a persuadi-la a abrir a boca, ver se ela vai me


deixar deslizar minha língua ali para apenas um gosto rápido, mas
uma garganta limpa ao nosso lado.

— Sinto muito — pede desculpas a vendedora. — Não temos


mais o tamanho maior, mas tenho esse. Você gostaria de
experimentar?

— Ah, cara. Esse foi o meu favorito. Hum... — Rosie tamborila


com as pontas dos dedos no queixo e acena com a mão no ar. —
Tudo bem. Provavelmente não vai caber.
A vendedora segura o vestido ao lado de Rosie e olha para mim.
Nós dois acenamos com a cabeça.

Rosie olha para nós com olhos esperançosos. — Sim? Você


acha? — Ela dispensa minha resposta antes que eu possa dar. —
Não. — Ela franze a testa. — Ok, talvez. Que diabos, certo?

A vendedora nos leva aos provadores, e eu desabo em uma


cadeira de pelúcia enorme enquanto Rosie desaparece em seu
provador. Há pelo menos vinte mulheres perambulando por esta
loja, e o único outro homem está sentado do lado oposto dos
provadores, enterrado sob uma pilha de vestidos, assistindo
atualizações esportivas em seu telefone pelo que posso ouvir. Ele
olha para mim, e eu dou a ele um meio aceno que retribui com um
aceno de cabeça e o soco duas vezes contra o peito.

Solidariedade, irmão, ele murmura.

Eu percorro meu telefone sem rumo enquanto espero por Rosie,


verificando com Carter para ver como Connor está indo na casa
deles. Quando cinco minutos se transformam em dez, e o silêncio
de Rosie se transforma em grunhidos, vou até a porta dela e bato
suavemente.

— Tudo bem aí?

— Hum, sim. Não. Acho... acho que esse vestido... não é para
mim.

— Vamos ver.

— Hum... não. Não, obrigada. Acho que preciso aumentar um


tamanho.

— O que quer que faça você se sentir confortável.


— Ou algo menos revelador, talvez.

Menos revelador? Não estou totalmente orgulhoso da forma


como meu pau presta atenção, como se sua presença tivesse
acabado de ser solicitada. Aproximo-me um pouco mais da porta,
principalmente porque quero entrar, mas também porque não
quero que meu amigo ali veja a ereção que de repente estou tendo.

Eu bato novamente, baixando minha voz para um sussurro. —


Deixe-me ver, querida. Aposto que você está perfeita.

A porta se abre e Rosie dá um passo para o lado, os olhos fixos


no chão enquanto ela me deixa entrar. Fecho a porta atrás de mim,
meu olhar caindo sobre seu corpo nesse vestidinho apertado.

Ela enfia o cabelo atrás da orelha e gesticula para o corpo que


não consigo tirar os olhos, aquele que preenche cada centímetro
de cetim tão perfeitamente, enviando uma onda de sangue para o
meu pau latejante. — Maldição do corpo de mãe, estou certa? —
Ela força uma risada, e quando eu não digo nada, seus olhos vêm
aos meus, a voz delicada embargada. — Adam? Por que você não
está dizendo nada? — Ela alcança o zíper nas costas. — Isso foi
bobo. Eu não posso fazer algo assim. Eu não tenho o corpo-

Ela engasga quando eu a empurro contra a parede, mandíbula


agarrada entre meus dedos. Grandes olhos verdes me encaram,
suas bochechas coradas com o mesmo calor que pulsa através de
mim.

— Falo da maneira mais educada possível, Rosie, eu juro, mas


pelo amor de Deus, cale a boca. E se você não fizer isso, se você
disser mais uma coisa sobre este corpo que não seja elogiar o quão
requintado ele é, eu vou fazer um favor a nós dois e calar você com
meu pau na sua boca.

Minha mão desliza para sua garganta, apertando-a


suavemente, segurando-a no lugar enquanto eu abaixo minha
cabeça e a absorvo mais uma vez. O cetim carmesim aperta sua
cintura, estendendo-se por seus quadris cheios. A fenda em sua
coxa está na altura do céu, implorando para que minha mão
deslize para baixo e descubra como ela está quente, como está
molhada. Meus olhos sobem, concentrando-se no mergulho
profundo em seu decote, a elevação de seus seios cheios e macios.
A ponta do meu dedo roça seu lado, corre até o centro de seu peito,
traça a curva de seus seios, ao longo de sua clavícula e até aquela
alça delicada que pende de seu ombro. Deslizo meu dedo por baixo
dela, brincando com ela, antes de agarrá-la e puxá-la para frente.

— Tem vontade de fazer algum barulho para mim, Trouble?

Seus olhos disparam para a porta. — Aqui? Mas... oooh.

— Bom começo, anjo — eu murmuro, acariciando sua boceta


através de sua calcinha. — Eu vou tirar isso, ok?

Ela balança a cabeça freneticamente e levanta o pé, como se


pensasse que eu fosse tirá-la por ali. Em vez disso, enrolo a renda
fina em meu punho e rasgo.

— Ops.

— Idiota — ela respira, passando a perna em volta do meu


quadril enquanto eu arrasto minhas mãos até suas coxas,
segurando dois punhados de sua bunda.
— Ah, veja, eu ia ser legal e foder você devagar e gentilmente
para que pudesse ficar quieta. — Eu empurro o vestido sobre seus
quadris, e um arrepio percorre minha espinha ao ouvir o som que
faz quando se rasga. — Agora acho que vou garantir que todos aqui
saibam meu nome.

— Adam-

— Mais alto, querida. — Eu mergulho dois dedos dentro de sua


boceta molhada. — Deixe-os saber por quem sua boceta está
encharcada.

— Oh, Deus. — Ela segura meu casaco, arrancando-o do meu


corpo, puxando os botões da minha camisa e rolando sua pélvis
contra a minha mão quando eu a devolvo entre suas pernas.

— Adam, querido. Não Deus. Quantas vezes tenho que dizer?


— Eu roubo sua boca, afogando seus gemidos com minha língua,
beliscando ao longo da borda de sua mandíbula até encontrar sua
orelha. — Ou você precisa que eu foda isso em você?

— Sim — ela choraminga, puxando a fivela do meu cinto,


puxando meu zíper para baixo. — Por favor.

— Diga-me como esse corpo é perfeito — eu exijo, provocando


seu clitóris com a cabeça do meu pau. — Diga-me e você pode ter
meu pau.

— Foda-se — ela murmura, observando meu pau deslizar por


sua fenda.

— Diga-me.

— Perfeito — ela chora. — Meu corpo é perfeito.

— E a quem pertence?
— Você — ela choraminga, sem fôlego enquanto eu empurro
dentro dela.

— E essa boceta? Quem a está fodendo? Quem é o dono?

— Você, Adam. Deus, você.

— Essa é a porra da minha boa menina, Rosie.

Meus dedos deslizam por sua nuca, agarrando o cabelo ali


enquanto a seguro contra a parede e a fodo. Suas unhas arranham
meus ombros enquanto ela levanta os quadris, incitando-me mais
fundo, mais forte. Minha mão desliza ao longo de seu ombro,
agarrando aquela alça delicada. Eu puxo, rasgando, e seus seios
incríveis saltam livres, saltando no meu rosto enquanto ela me
monta.

— Você é a porra de uma obra-prima, querida. Feita só para


mim, juro por Deus. — Eu puxo sua cabeça, trazendo aqueles
olhos para os meus. — Vou adorar este corpo pelo resto da minha
vida.

— Por favor — ela implora. — Eu não quero que você pare.

— Não conseguiria se eu tentasse. — Apoio minha testa na dela


enquanto me conduzo para frente, mais e mais, a porta
balançando nas dobradiças. — Cristo, Rosie. Você é tão apertada,
tão molhada, segurando-me tão bem.

Apalpando seu seio, chupo seu mamilo em minha boca,


provocando-o com minha língua, puxando-o suavemente entre
meus dentes enquanto ela se contorce e chora, implorando por
mais.

— Eu vou gozar. Adam, eu vou... foda-se. Por favor, Adam.


— Você está pedindo tão bem. — Eu arrasto minha boca até
sua garganta enquanto a pressão se instala na base da minha
espinha, minhas bolas apertando. Agarrando a parte de trás de
seus joelhos, eu levanto suas pernas contra seus lados,
empurrando-as mais largas, mergulhando o mais fundo que posso,
até que meu nome saia de sua boca em um suspiro alto. — Puta
merda, nunca pensei que amaria tanto ouvir meu nome.

Sua cabeça pende sobre o ombro, olhos encapuzados e


atordoados fixos nos meus enquanto eu a esmurro, saboreando a
maneira como ela se aperta ao meu redor e luta para respirar.

— Espere — eu exijo, enquanto meu orgasmo desce pela minha


espinha.

Ela balança a cabeça, apertando-me com mais força.

— Espera aí, porra, Rosie.

— Eu... eu não posso. Porra, Adam. Oh, Deus. Por favor. — Ela
levanta os quadris, e quando eu bato nela, ela explode ao meu
redor, gritando meu nome, arrastando o dela da minha garganta
enquanto eu me esvazio dentro dela, minha palma batendo contra
a parede.

— Foda-se, Rosie.

Seu corpo arfante fica mole em meus braços, e luto por ar


enquanto sorrio para seu rosto úmido, beijando seus lábios
inchados.

Cinco minutos depois, quando estamos vestidos e o provador


está... bem, está tão limpo quanto seria de se esperar, saímos dele.
Todas as cinco vendedoras, um punhado de mulheres e meu
amigo, que ainda está sentado na cadeira sob uma montanha de
roupas, olham para nós, sem palavras e com o queixo caído.

Eu seguro o cabide com o vestido rasgado. — Vamos levar dois,


por favor.
CAPÍTULO 37

COMO O GRINCH ROUBOU O NATAL

— Tenho medo de deixar você com eles.

Cara revira os olhos, tomando seu coquetel vermelho brilhante.


— Diga isso mais uma vez, Adam, e darei a você algo para se
assustar.

— Você continua dizendo isso como se Rosie ainda não fosse


uma de nós — Jennie acrescenta.

— Ela se juntou ao clube do livro. Ela está oficialmente


infiltrada no grupo. Não há como voltar atrás agora. — Olivia dá
um tapa na mão de Carter por baixo da mesa e levanta sua faca
de manteiga. — Carter, juro por Deus, se você tentar enfiar a mão
por baixo do meu vestido mais uma vez, vou cortá-lo. Estamos em
uma arrecadação de fundos para crianças, pelo amor de Deus.

Carter faz beicinho. Aprendi que ninguém faz isso como ele,
exceto talvez sua irmã. Algo sobre aquelas covinhas de Beckett,
talvez. — Sim, mas não há crianças aqui, e suas pernas ficam
espiando por essa fenda.
Garrett joga de volta sua água. — Sim, Carter. Em vez disso,
leve-a ao banheiro. Jennie e eu já fomos.

— Seu fodido — Carter ferve, lançando-se sobre Olivia, uma


batalha de bofetadas entre os dois homens adultos, ou crianças
crescidas, o que você preferir.

— Fodendo a irmã — Jaxon corrige, e Emmett troca um high-five com ele.

Adam se levanta, dobrando o guardanapo e colocando-o sobre


a mesa. — Sim, veja, isso é exatamente o que eu quero dizer.

— Rosie pode se virar sozinha — diz Carter.

Emmett joga seu braço sobre meu ombro. — Vamos contar a


Rosie como você conseguiu seu apelido de Woody.

Os olhos de Adam se arregalam. — Não.

— Eu pensei que era porque o sobrenome dele é Lockwood?

— Eles pegaram Adam se masturbando em seu quarto de hotel


em sua primeira viagem — Jaxon me conta.

Adam enfia um dedo no rosto de Jaxon. — Você nem estava lá,


babaca!

A mesa fica em silêncio e logo explode em gargalhadas.

Carter faz uma garra com a mão. — Rawr.

— Adoro deixá-lo irritado — diz Garrett.

Eu rio, agarrando um punhado da camisa branca de Adam,


puxando-o para mim. — Eu vou ficar bem. Sei exatamente quem
são essas pessoas e escolho amá-las, e a você também.

— Isso foi um insulto? — Carter sussurra. — Parecia um


insulto.
Eu pressiono meus lábios nos de Adam enquanto o mestre de
cerimônias o apresenta. — Está tão bonito. Não vou conseguir tirar
os olhos de você lá em cima. — Ele sorri e eu o puxo para mais
perto, meus lábios em sua orelha. — Então talvez você possa me
levar para o banheiro.

Juro que ouço a forma como seu coração acelera, sua lenta
deglutição.

Normalmente sou tão ousada? Claro que não.

Eu tenho uma queda por sexo em lugares semipúblicos onde


alguém poderia nos pegar desde que Adam me fodeu com tanta
força que minha alma deixou meu corpo naquele provador na
semana passada?

...

Sim.

Ouça, está além de mim esta noite. A festa vai até as onze para
que os meninos possam embarcar no avião para Tampa quarenta
minutos depois. Se eu o quiser mais uma vez – e eu quero – não
tenho escolha.

Eu beijo seus lábios e sorrio para ele enquanto ele luta com os
botões do paletó, os olhos arregalados saltando entre mim, o
corredor que leva aos banheiros e o palco onde todos estão
esperando por ele.

Ele se afasta e os lábios de Cara tocam minha orelha. — Eu


sabia que você tinha um lado bizarro.

Eu arqueio uma sobrancelha, porque eu sei que Adam recebeu


um pedido de ajuda em seu bate-papo em grupo na semana
passada que envolveu algum tipo de confusão com algemas e
chaves perdidas. Se isso não bastasse, Cara entrou no nosso bate-
papo de meninas quarenta minutos depois para perguntar a Olivia
se ela gostou do que viu quando ela e Carter foram para salvar o
dia.

Cara apenas dá um sorriso tortuoso, balançando as


sobrancelhas, e eu reviro os olhos, voltando toda a minha atenção
para Adam enquanto ele sobe ao palco.

Ele é sempre um sonho, seja coberto da cabeça aos pés em


roupas de hóquei, em um conjunto de moletom, nu e amarrotado
pelo sono na cama, ou em nada além de uma fina calça de pijama
pendurada nos quadris e a barba por fazer, minha favorita,
enquanto ele faz rabanada com bacon para nós no fogão. Mas hoje
à noite, com seus cachos normalmente indisciplinados domados,
o rosto bem barbeado e um terno azul meia-noite que parece ter
sido feito apenas para ele, uma gravata carmesim que combina
com meu vestido, ele está imaculado. Uma imagem de confiança e
controle, alguém que sabe qual é o seu propósito na vida e se
orgulha de cada passo que dá.

Estou orgulhosa dele também.

— Boa noite a todos, e obrigado por se juntarem a nós hoje à


noite na primeira gala anual de caridade Tinsel and Ties. Meu
nome é Adam Lockwood e eu...

— Porra, sim, Woody!

— Arrase, baby!
— Tenho os amigos mais solidários e inapropriados do mundo,
aparentemente. — A multidão ri, e ele sorri. — A maioria de vocês
me conhece como goleiro do Vancouver Vipers, mas também sou o
orgulhoso fundador do The Family Project, uma instituição de
caridade que apoia agências locais de adoção aqui na Colúmbia
Britânica. Todos os rendimentos vão diretamente para a nossa
comunidade e esta noite, em particular, estamos arrecadando
dinheiro para abrir nosso primeiro acampamento de verão
esportivo. — Seu sorriso é tão infantil, tão adorável enquanto ele
esfrega a nuca, um doce rubor pintando suas maçãs do rosto com
as vaias e aplausos. — Estou muito orgulhoso, mas
principalmente, estou orgulhoso desta comunidade. Nada disso
seria possível sem as pessoas incríveis que sempre aparecem e nos
apoiam, que doam seu tempo – e seu dinheiro, muito obrigado –
apenas para colocar um sorriso no rosto de uma criança. E embora
eu saiba o quanto isso significa para essas crianças, não posso
dizer o quanto significa para mim. Porque eu fui aquele garoto.

Adam baixa o olhar por um momento e, quando ergue os olhos,


eles vêm até mim. Há algo neles, algo triste e ainda assim tão grato,
e isso acende uma esperança em mim que eu não sabia que
precisava, não agora. — A verdade é que tive muita sorte de
encontrar minha família para sempre. E se eu não a tivesse
encontrado, não estaria onde estou agora, com todo um grupo de
pessoas que chamo de família. — Ele aponta para a nossa mesa.
— Meus companheiros de equipe e suas esposas incríveis. Minha
namorada espetacular e nosso lindo filho.

Meu coração pula para a garganta com essa palavra que ele
jogou ali tão casualmente, como se ele nem tivesse que pensar
sobre isso. Sua boca se curva enquanto ele me observa começar a
me mexer, puxando meu vestido, mexendo-me na cadeira.

— Se eu puder ajudar pelo menos uma criança a encontrar o


amor que encontrei, sei que terei feito a diferença. Obrigado,
pessoal, por virem aqui e fazerem a diferença também.

Adam é ovacionado de pé, colocando a mão no botão do paletó


enquanto se aproxima de mim. A música começa, abafando os
aplausos, e ele pega minha mão, puxando-me para a pista de
dança.

— Por que você está chorando, linda? — ele pergunta, girando-


me antes de me puxar para seu peito.

— Estou tão orgulhosa de você. — Eu fungo, enxugando as


lágrimas. — E também, você disse nosso. Você chamou Connor de
nosso filho. E tudo que eu sempre quis é que alguém o amasse tão
infinitamente quanto você.

— Eu estava pensando, talvez um dia no futuro... — Ele


pigarreia, e fico surpresa com a timidez repentina, a incerteza.

— Fale logo, Woody.

Ele sorri e bem aqui na pista de dança, na frente de todos,


aperta minha bunda. — É Adam para você, e quando estou dentro
de você, Deus também é aceitável. — Soltando um suspiro baixo,
ele nos gira em um círculo lento. — Eu estava pensando, no futuro,
quando nos casarmos...

— Você tem que me perguntar primeiro, você sabe.

Ele estreita os olhos. — Se conseguirmos chegar ao banheiro,


com certeza todo mundo vai ouvir meu nome saindo dessa boca,
Trouble. — Ele arqueia uma sobrancelha, e quando eu dobro meus
lábios em minha boca, continua. — Será que eu adotar Connor
seria algo que você gostaria? Obviamente, também falaríamos com
ele sobre isso e veríamos se ele quer, mas...

Eu jogo meus braços em volta do pescoço dele, abraçando-o tão


apertado, e ele ri.

— Isso é um sim?

— Ele seria o garoto mais sortudo do mundo se pudesse


chamá-lo oficialmente de papai. — Minha mão desliza em seu
cabelo e pressiono meus lábios nos dele. — Mas você é o pai dele
desde o momento em que ele pôs os olhos em você, Adam.

Sua expiração suave desce pelo meu pescoço, e enquanto


passamos de uma música para a próxima, onde ele se recusa a
desistir, não consigo tirar minha mente de uma garotinha de olhos
castanhos que roubou meu coração em um par de patins.

— Você já pensou em adotar alguma das crianças da casa?


Ou... nós adotando juntos?

Sua mão desliza lentamente pelas minhas costas. — É algo que


sempre esteve em minha mente, para ser honesto com você.

— Realmente? Como é que você nunca me perguntou se é algo


que eu quero? Porque, sinceramente, até recentemente, a ideia de
pisar em um lar adotivo novamente me dava náuseas. Eu queria
deixar todos esses anos no meu passado, mas agora só consigo
pensar em dar a alguém a infância que eu gostaria de ter. A família
que perdi e a que encontrei agora.
Adam passa o polegar sobre a covinha no meu queixo. —
Porque nenhuma dessas coisas é um obstáculo para mim, Rosie.
Há tantas maneiras de devolvermos a esta comunidade. Não
precisa ser por adoção se não for algo que se encaixe na nossa
família. Também reconheço como nossas experiências foram
diferentes dentro do orfanato, e você ainda está analisando essas
emoções. A última coisa que farei é pressionar você.

Sua mão vai para o meu cabelo, passando pelo prendedor,


enrolando uma mecha rebelde em torno de seus dedos antes de
colocá-la atrás da minha orelha. — Como formamos uma família
não importa para mim. Seja abrindo nossa casa para crianças que
nasceram de outra pessoa, seja fazendo cinco bebês ou Connor
como nosso único, e ele e Bear nos convencendo a comprar uma
fazenda cheia de animais para brincar. O que importa para mim,
no final das contas, é que estou com minha família. E minha
família é formada por você e Connor.

Com a bochecha em seu peito, respiro o conforto, a segurança,


o jeito que ele me ama tão completamente, sem condições. —
Obrigada.

— Pelo quê?

— Por ser você. Por não me fazer sentir pressionada de


qualquer maneira. Por tudo que você faz que torna este mundo um
lugar melhor para crianças como Connor e Lily. Para crianças
como eu, aos 12 anos, que esperava um dia encontrar alguém que
se importasse tanto quanto você. — Eu tomo seu rosto em minhas
mãos. — Você é um bom homem, Adam Lockwood. Eu amo você.

— Você ama, hein? Quanto?


Eu arqueio uma sobrancelha. — O que você quer?

Ele sorri, encolhendo os ombros. — Estive pensando no que


Carter disse algumas semanas atrás, no seu aniversário.

— Ele diz muitas coisas. Na verdade, ele quase nunca para de


falar.

Adam ri. — Sobre você e Connor se mudando depois de se


formar.

Meu pulso dispara. — Oh. Não se preocupe com isso.

— Eu não me preocupo.

— Legal. — Minha cabeça balança. — Sim, eu também não. —


Eu tento recuar, colocando um mínimo de espaço entre nós para
que ele não possa ouvir a maneira como meu coração bate contra
minha caixa torácica, mas suas palmas pressionam minhas
costas, puxando-me de volta até que eu quique em seu peito.

— O quarto de Connor já está arrumado, e você não tem muitas


coisas na casa com Archie. Deve ser um movimento rápido e
indolor.

Meu queixo cai e Adam sorri, dois dedos no meu queixo para
fechar minha boca.

— Você não está surpresa, está? Você ouviu Carter dizer que
sou obcecado por você, certo?

— Quero dizer, não é como se eu não tivesse pensado, você


sabe, como seria legal, se tudo ainda estivesse perfeito na
primavera, e Adam talvez quisesse que ficássemos para sempre,
e...
— Eu quero que você fique para sempre, Rosie. Eu estava
pensando que poderíamos começar o ano em nossa casa, juntos.

— O ano? Como-como-como... o ano novo? Em duas semanas,


esse ano novo?

— Esse mesmo.

— Mas-mas-mas- — Jesus, Rosie. — Isso é tão cedo.

— Respeitosamente, eu não dou a mínima para quanto tempo


é. Por que devo esperar por algo que me traz tanta felicidade? —
Ele segura minha bochecha, guiando meu olhar para o dele. — Se
não é algo para o qual você está pronta e você sente que é muito
rápido, tudo bem. Fale comigo e eu vou recuar. — Ele abaixa a
cabeça, acariciando meu pescoço. — Mas se você estiver em cima
do muro e aberta à persuasão, posso levá-la ao banheiro e mostrar
o que poderíamos fazer todas as manhãs no balcão do banheiro.

— Mmm... — Eu balanço para ele enquanto ele beija um


caminho até meu pescoço. — E se eu quiser pintar nosso quarto
de rosa?

— Feito.

Eu penso em seu SUV, aquele que eu dirijo para a faculdade


desde que tirei minha carteira. — E se eu bater no meio-fio com
seu carro? Oh, e se eu batesse na sua caminhonete com o seu
carro? Huh? E então?

Ele abaixa a cabeça, pressionando sua risada silenciosa e


estrondosa contra meu ombro. — Você quer ouvir como a primeira
coisa que vou perguntar é se você está bem? E depois dizer que
está tudo bem, são apenas carros? Ou você quer que eu lhe diga
como vou dobrar você sobre o capô mais tarde naquela noite,
quando a casa estiver silenciosa, e fingir que estou furioso? Porque
eu vou fazer as duas coisas, Rosie.

Parece bom. Ok, Rosie, vamos nivelar esse menino mau.

— E se eu tiver uma coleção assustadora de bonecas de


cerâmica que não contei a você e quiser exibi-las para todos
verem?

— Então eu vou construir uma maldita prateleira para suas


bonecas assustadoras para que seus olhos possam me seguir em
qualquer lugar que eu vá em nossa casa, contanto que seja nossa
casa. Apenas venha morar comigo, por favor.

— Nossa — murmuro, escondendo meu sorriso em seu ombro.


— Não precisa implorar. Eu ia dizer sim.

— Fodida encrenqueira — ele murmura contra meus lábios,


então olha para o relógio. — Ainda temos mais de uma hora antes
que eu precise estar naquele avião. Quantas vezes você acha que
posso fazer você entrar naquele banheiro antes disso?

— Nojento — Carter sussurra, matando o momento quando ele


aparece ao nosso lado. — Seus orgasmos no banheiro precisam
esperar. O DJ está prestes a colocar nossa música.

— Nossa música? O que... — As sobrancelhas de Adam puxam


para baixo, sua boca em uma linha sombria quando “Cha-Cha
Slide” começa a sair dos alto-falantes. Os meninos se reúnem ao
redor dele, batendo palmas no ritmo, e Adam tenta se agarrar a
mim como Jack tentou se agarrar àquela porta. Porém, não há
espaço suficiente para ele na minha porta, e este Titanic está
afundando, então sorrio para ele enquanto o solto.

— Meu cérebro genuinamente não consegue compreender por


que acho isso totalmente mortificante e ao mesmo tempo excitante
— Olivia sussurra enquanto me puxa para um lugar seguro.

— Ah, eu adoro isso. — Cara traça o formato dos lábios com o


dedo indicador enquanto observa o marido dançar. — Emmett às
vezes coloca enquanto ele está limpando. Não há nada como
assistir seu homem com “Cha-Cha Slide” e um Dyson na mão.

— Adoro quando Garrett sacode a bunda — Jennie nos diz com


um suspiro. — Ele é um péssimo dançarino e isso o torna cem
vezes mais adorável.

— Adam está ensinando Connor como fazer a Macarena.


Connor chama isso de Macarrão, então agora toda vez que Adam
põe as mãos na bunda e pula, ele canta, heeey, Macarrão. É a coisa
mais atraente de todas, e pulei em cima dele assim que Connor foi
dormir esta tarde.

— Aquele homem foi feito para ser pai — Cara diz, balançando
a cabeça.

A música chega ao fim e os meninos se curvam para a torcida


antes de começarem a se aproximar.

— Quem é o primeiro a decidir sobre o banheiro privativo? —


Cara pergunta. — Porque eu... — Seus olhos se arregalam, e seu
rosto fica com um tom vulcânico de vermelho enquanto seu olhar
se estreita em algo sobre meu ombro. — Devo ter morrido e ido
para o inferno, porque sei que a prostituta de Satanás não
ressuscitou das cinzas e entrou aqui.

O sorriso fácil de Adam desaparece e o sangue escorre de seu


rosto. Ele agarra minha mão, puxando-me para trás dele, e eu
agarro seu paletó enquanto espio ao redor dele, o que quer que
esteja causando a comoção.

Uma ruiva deslumbrante caminha em nossa direção com salto


alto e um casaco de pele. Não é até que ela para diante de nós e o
tira, mostrando-nos o brilhante vestido azul royal abaixo, que
percebo que ela está grávida.

Um suspiro baixo enche a sala, e Cara murmura algo sobre a


cria de Satanás.

A ruiva sorri para ela, cruzando os braços sobre o peito. —


Encantadora como sempre, Cara. — Olhos azuis
devastadoramente lindos e igualmente malignos se movem sobre
mim com desdém, e meu estômago dá cambalhotas quando Adam
me aperta mais contra ele.

— O que você quer, Courtney?

— Ah, isso é simples. — Ela joga seus cabelos vermelhos


ardentes por cima do ombro. — Eu quero que você se apresente e
seja um pai para o bebê que você colocou dentro de mim.

— Que porra você acabou de dizer?


Eu bato a porta atrás de nós, o ar frio e fresco não faz nada
para acalmar o fogo queimando minhas entranhas. Rosie está ao
lado de Olivia, seu olhar tão perdido que se move entre mim e a
barriga de Courtney.

Eu sinto que minha maldita cabeça vai explodir.

— Estou grávida — diz Courtney.

Eu bufo. — Claramente.

— O bebê é seu, Adam. E se você tivesse atendido o telefone em


qualquer uma das centenas de vezes que tentei ligar para você, ou
aparecido na reunião que marcou comigo, você saberia disso.

— Absolutamente não. Faz um ano e meio que não dormimos


juntos.

Ela zomba, revirando os olhos. — Então você vai fingir que


aquela noite na sua casa não aconteceu? Em julho, quando você
deu aquela festa?

— O quê? Eu não toquei em você! Eu nem me lembro de você


estar lá! — Meu olhar se move rapidamente para Rosie, e vejo o
jeito que ela está voltando atrás, somando datas em sua cabeça, e
eu entro em pânico. — Rosie, eu não olhei para outra mulher desde
que você entrou na minha vida, juro.

— Isso é ridículo — Courtney cospe. — Achei que você estava


arrependido quando acordou na manhã seguinte e tentou fingir
que nada aconteceu, quando me expulsou do que costumava ser
nossa casa. Mas não acredito que você, Adam Lockwood, menino
de ouro, agiria como se não tivesse nada a ver com isso. Você me
encontrou com nada além de sua camisa, pelo amor de Deus.
— Isso não significa nada. — Não sou eu quem diz isso, mas
Carter. — Todo mundo sabe que você não passa de uma velha
megera conivente e vingativa. Tudo o que você faz é tentar quebrar
tudo de bom, porque você perdeu a melhor coisa que já teve. Você
está mentindo.

— Então que porra é essa? — Courtney enfia o telefone na cara


dele, na cara de Rosie, antes de eu arrancá-lo de sua mão. —
Evidência bastante contundente em que cama eu dormi naquela
noite.

A foto sou eu, desmaiado na minha cama. Próxima a mim?


Courtney, em nada além da minha camisa.

Balanço a cabeça, procurando em meu cérebro. Como naquela


manhã, está nebuloso como o inferno. — Eu bebi demais. Eu fiz...
eu fiz aqueles suportes de barril. — Eu olho para Jaxon,
implorando por respostas, mas ele apenas balança a cabeça, seus
olhos tristes por mim, como se ele desejasse poder ajudar.

— Eu disse a você naquela manhã, cara. Você saiu correndo da


piscina quando a viu entrar e nunca mais o vi.

Eu puxo meu cabelo. — Não me lembro.

Courtney dá um passo à frente, uma mão na barriga e a outra


no meu braço. — Podemos ser uma família novamente, Adam.

Eu me afasto de seu toque. — Eu tenho uma família.

— Uma família de verdade. Você já brincou de casinha com


essa garota por muito tempo, não acha?

— Não fale sobre ela, porra — eu rosno baixinho, pairando


sobre Courtney.
— Este é o nosso filho. Nosso, Adam. Aquele que você sempre
quis. Aquele que sonhamos em ter juntos.

Meu estômago revira e coloco a mão sobre ele. — Um bebê não


vai mudar nada entre nós. E tenho o filho que sempre sonhei ter.

— Esse ato de padrasto rico e mártir está envelhecendo, Adam.


— Ela se vira para Rosie, uma gargalhada escapando de seu nariz.
— Uau, fale sobre ter sorte, hein? Você deve estar emocionada que
seu doce ato de mãe solteira, ai de mim, funcionou. Você acha que
está pronta para a vida agora, hein?

— Chega — eu exijo, sangue trovejando em meus ouvidos, meu


coração martelando. — Porra, não fale com ela. Nem olhe para ela.
Você está tão abaixo dela que ela nem consegue ver você.

Rosie corre para o meu lado, colocando sua mão trêmula na


minha, colocando a outra mão sobre meu peito arfante. — Essa
conversa acabou — ela diz a Courtney. — Você não deveria ter
vindo aqui esta noite.

— Não se atreva a falar assim comigo, sua vadia.

— Não — Cara rosna, colocando-se entre Rosie e Courtney. —


Você não se atreva a falar com ela assim. Na verdade, a vida seria
imensamente melhor para todos se você apenas saísse. — Ela
balança o quadril para fora, prendendo os braços sobre o peito. —
Você deveria ter vergonha de si mesma por arruinar uma noite tão
especial por cinco minutos de fama. Como a mulher lhe disse, esta
conversa acabou. Agora. Cai. Porra. Fora.

— Você é uma vadia — Courtney cospe.


— Orgulho disso, querida. — Cara mexe os dedos para ela
enquanto ela desce a rua. — Aproveite sua viagem de volta às
profundezas do inferno.

Por sorte, nosso ônibus da equipe para na frente neste


momento e as portas se abrem enquanto o resto da equipe sai.

O treinador levanta as sobrancelhas para mim. — Tudo bem


aqui?

Não.

— Tudo bem, treinador — Carter responde, seu aperto no meu


ombro é trêmulo.

— Tudo bem. Todos no ônibus. Partimos em quarenta.

— Rosie, eu juro...

Ela silencia minhas palavras frenéticas com sua boca na


minha, seus dedos trêmulos pressionando minha mandíbula
enquanto seus lábios macios se movem com propósito. Quando ela
se afasta, é o tremor em seu queixo que me quebra, a maneira
como seu olhar oscila quando ela olha para mim. — Nós... nós
vamos resolver isso, Adam. Ok?

Eu subo no ônibus e observo meu mundo de cabelo rosa


desaparecer lentamente de vista, e não posso evitar os
pensamentos que abrem caminho, irrompendo dentro do meu
cérebro.

Será que vamos resolver isso?


CAPÍTULO 38

BONITO DEMAIS PARA BRIGAR

Eu sou um jogador de hóquei emocional.

Eu acho que vem com o território de ser um goleiro. As perdas


são dolorosas e sempre achei difícil não colocar a culpa em meus
ombros. Pior ainda, quando algo acontece na minha vida pessoal
– como, digamos, encontrar minha namorada de longa data
aprontando em nossa cama – e isso me distrai. Meus pensamentos
vão para outro lugar, e às vezes isso leva a erros descuidados.

Não esta noite, no entanto. Porque esta noite eu não estou


quebrado.

Estou furioso pra caralho.

O lateral-esquerdo do Tampa corre para baixo, ao redor de


nosso exausto defensor. Jaxon cometeu um pênalti descuidado
um minuto atrás – o resultado de alguém cantando em seu ouvido
– então perdemos um homem, e eu tenho me jogado por toda a
rede para parar os incontáveis arremessos.

O capitão do Tampa voa pela linha azul, em nossa zona


defensiva, pedindo o disco. O ala manda direto pelas pernas do
meu defensor, e o capitão termina, atirando o disco em mim na
velocidade da luz. Eu mergulho para a direita, minha luva subindo
bem na hora de pegar o disco antes que ele atinja o fundo da minha
rede. O apito soa, deixo cair o disco na mão do árbitro e pego um
copo d'água enquanto nossas linhas mudam.

— Caramba, porra — Carter murmura, colocando a mão na


minha cabeça enquanto circula na área do gol.

— Você não está deixando nada passar por você esta noite.

— Não.

Ele me dá uma avaliação mais uma vez. — Você está bem?

— Não.

Não vejo Rosie há quarenta e oito horas e, além de algumas


mensagens de texto, não tivemos a chance de conversar. Ela
trabalhou o dia todo ontem, teve doze horas de clínica hoje e está
se esforçando para estudar para o NAVLE, seu exame de
licenciamento veterinário em janeiro.

Enquanto olho em volta desta arena, tudo o que vejo são as


maneiras que somei ao estresse dela.

Para onde envio minha inscrição para a mamãe do bebê nº 3?

Vou deixar você atirar e marcar e não vou pedir mais!

Vou levar 2 minutos para fisgar se for com Woody!

Caramba, quem deixa essas garotas entrarem aqui com esses


cartazes? Pela primeira vez nesta temporada, espero que Rosie não
esteja assistindo.
Carter segue meu olhar. — Ela sabe que não deve acreditar
nesses cartazes.

— Não significa que não vão tornar isso mais difícil para ela.

Eu jogo minha garrafa de água de volta na minha rede, ficando


em posição na borda da minha área do gol enquanto todos se
alinham para o confronto direto. O apito soa e o disco cai, e eu
deslizo para a esquerda e para a direita enquanto o jogo se move
em torno de nossa extremidade do gelo. O centroavante
perturbador da merda tentando bloquear minha visão do disco
está me irritando pra caralho, então eu deslizo para frente e o
empurro para fora do meu caminho.

— Dá o fora da minha rede, Marchanbo.

— Está se sentindo irritado esta noite, Lockwood? — Olhos


escuros se movem para as mulheres batendo no vidro,
empurrando seus cartazes contra ele. — Achei que você deixava
qualquer um marcar hoje em dia.

Acompanho o disco enquanto ele passa entre os jogadores, ao


redor da minha rede, enquanto Garrett prende alguém contra as
tábuas, tentando libertá-lo.

— É por isso que você tem duas mamães, certo? — Ele desliza
na minha frente e eu o empurro para fora do caminho quando a
penalidade de Jaxon termina e ele pula para fora de lá. — Quantas
mais você acha que estão por aí? Aposto que as mulheres furam
as camisinhas há anos, tentando pegar um pedaço do menino de
ouro.

— Foda-se.
— Eu gosto daquela com cabelo rosa. Parece corajosa. E aquela
bunda? Oof. Amo algo para agarrar.

Eu jogo meu taco e luvas no chão enquanto fico na cara dele.


O jogo ao nosso redor para quando eu o agarro pelo colarinho. —
Cale a porra da sua boca.

— Acha que o filho dela vai me chamar de papai?

Meu punho recua antes de eu jogá-lo para frente, muito


parecido com a última vez que vimos Brandon, quando ele se
certificou de que Rosie soubesse como ela e Connor eram
descartáveis para ele. Porque é o seguinte: todo mundo acha que
sou uma espécie de menino de ouro, que sou dócil e gentil o tempo
todo. Mas no segundo em que você abrir a boca e insultar as duas
pessoas que amo mais que tudo neste mundo, você vai ver um
novo lado meu, que é tudo menos dócil.

Marchanbo limpa o sangue do lábio rachado, rindo baixinho,


um som que mal ouço em meio ao rugido de uma multidão que
adora ver os punhos voarem. — Acho que você não é tão dourado
— ele murmura, logo antes de se lançar sobre mim, arrancando
meu capacete.

Eu pego seu punho em minha mão antes que ele possa se


conectar com minha mandíbula. Pouco antes de eu deixar o meu
voar novamente, outro corpo colide com Marchanbo a toda
velocidade, esmagando-o contra as tábuas.

O peito de Jaxon arfa quando Marchanbo cai no gelo a seus


pés. — Não toque na porra do meu goleiro. — Ele joga minha
máscara no meu peito. — Aqui. Seu rosto é bonito demais para
olhos negros.
Parece que eu os tenho de qualquer maneira, dois olhos negros.
Tudo dói, uma dor latejante atrás dos meus olhos e nas minhas
têmporas que sugere a exaustão que corre desenfreada por mim,
arrastando-me para o chão quando volto para o meu quarto de
hotel. Tudo o que quero fazer é enterrar minhas mágoas em um
balde de cerveja e uma travessa de picles fritos e depois desmaiar
no meu quarto de hotel com o rosto de Rosie sorrindo para mim
do outro lado do meu telefone. Mas eu não tenho nenhuma dessas
coisas.

Eu olho para as duas últimas mensagens de Rosie enquanto


tiro meus sapatos dentro do meu quarto. Uma de antes de jogo,
Connor em seu pijama Vipers. A outra veio na metade do terceiro
período, bem na hora em que dei um soco na cara de Marchanbo,
e ela repete as palavras de Jaxon para mim.

Trouble: Eu já disse que seu rosto é bonito demais para


olhos negros? Seu rosto é muito bonito para olhos
negros, Adam.

Já li isso pelo menos vinte vezes. É praticamente a única coisa


que colocou um sorriso no meu rosto hoje.

A verdade é que não sei como enfrentar Rosie e isso está me


matando. Tenho medo do que posso ver refletido naquelas poças
de sálvia. Eu sei que a mesma velha bondade estará lá, e todo
aquele amor. Mas é a hesitação, a decepção que pode ofuscar tudo
tão intrinsecamente Rosie... essas são as coisas que vão me
destruir.

Eu não dou a mínima para a minha reputação. Não que a mídia


esteja distorcendo minhas palavras do meu discurso na gala, onde
chamei Connor de nosso filho, e supondo que ele é biologicamente
meu. Não que Courtney esteja dando a eles sua melhor história
triste, que não foi ela quem traiu nosso relacionamento, mas eu.
Que ela descobriu sobre minha amante quando me pegou
visitando Rosie e Connor no hospital, poucas horas depois que ele
nasceu. Tudo isso, um monte de merda que me pinta da pior
maneira, e eu não dou a mínima.

Eu não dou a mínima para a minha reputação, mas eu dou a


mínima para a de Rosie.

Destruidora de lar. É assim que a estão chamando. Está em


todas as páginas de fãs dos Vipers, a foto dela e de Connor
enquanto ela o coloca na parte de trás do meu SUV no maldito
supermercado. E eu fiz isso com ela.

É por minha causa.

Ela ficou comigo durante uma confusão; como posso pedir a


ela que fique comigo em uma segunda, esta bem mais difícil do
que a primeira?

Minha cabeça gira quando a porta se abre atrás de mim, meus


amigos passeando no meio da conversa, os braços cheios de
sacolas.

— O que vocês estão fazendo aqui? Eu pensei que estavam indo


para o bar?
Carter descarrega pilhas de caixas para viagem. — Você disse
que não estava com vontade, então vamos ficar com você. — Ele
me entrega uma montanha de picles fritos. — Você tem que parar
de parecer assim.

— Como o quê?

Garrett joga uma caixa de Fruit Roll-Ups em cima dos meus


picles. — Como se toda essa tempestade de merda fosse sua culpa.

— É — eu digo simplesmente.

Carter balança a cabeça. — Sabe, isso me lembra muito aquela


noite em que você voltou para casa e descobriu a traição de
Courtney. Naquela época, você se perguntava se era sua culpa. Se
você poderia tê-la amado melhor, dado a ela mais do que ela
precisava. Mas é a mesma história agora como era então. Você não
poderia ter evitado isso. Se você atendesse os telefonemas dela ou
fosse àquela reunião. Ela quer algo de você, sendo um pai para o
bebê ou dando dinheiro para ela se sustentar.

Jaxon abre uma cerveja e a entrega para mim. — Ela quer os


dois e acha que você é bom o suficiente para aceitar seu destino
sem questioná-la.

Emmett pega minhas guloseimas e as coloca na mesinha no


canto. Balanço minha cabeça, apertando-a entre as mãos
enquanto me afundo na cadeira ali.

— Esse bebê não é meu. De jeito nenhum. Eu sei que estava


bêbado. E que não tenho a melhor memória de algumas partes
daquela noite, mas... de jeito nenhum eu dormiria com ela. Não há
nada que ela possa dizer que me faça questionar nosso status de
relacionamento, não importa quantas bebidas eu tenha tido.

Honestamente, sinto nojo só de pensar que ela estava na minha


cama em algum momento naquela noite, mesmo que fosse apenas
para tirar uma foto.

Meu telefone toca, minha publicitária, Angie, na outra linha.


Aceito a ligação e coloco no viva-voz enquanto abro a caixa de Fruit
Roll-Ups e pego um. — Qualquer notícia? — Fecho os olhos,
pressiono os dedos contra a dor de cabeça latejante enquanto faço
uma bola com o Fruit Roll-Up e o jogo na boca. — Desculpe. Oi.
Como vai você?

Ela ri. — Não há espaço para gentilezas agora; entendo. Fiz


uma conta falsa no Instagram e segui Courtney. Parece que ela
está saindo com o mesmo cara desde que vocês dois se separaram.
Mas não há fotos deles juntos depois de junho.

Leva um momento para que as palavras sejam absorvidas, mas


quando o fazem, a esperança brilha em meu peito.

— Acho que ela já estava grávida na sua festa, Adam. Meu


melhor palpite é que esse cara a abandonou quando ela contou a
ele, então ela foi para sua festa esperando que você dormisse com
ela.

— Para que ela pudesse fingir que era meu.

— Bingo.

Carter balança a cabeça e joga uma fatia inteira de pizza na


boca. — Eu vi isso em Maury uma vez.

— Isso é literalmente o que Maury faz — Emmett diz a ele.


— Sim — sussurra Garrett. — Continue, seu burro.

— Cale a boca — Carter sussurra de volta, e eu bato em sua


mão quando ele pega um dos meus Fruit Roll-Ups.

— O que devo fazer?

— Acho que você só precisa esperar e fazer um teste de


paternidade quando o bebê nascer — Emmett sugere.

— Sem chance. — Jaxon golpeia a mesa. — Exija essa merda


agora. Há testes que eles podem fazer antes.

— Eu nem quero saber por que você sabe disso, Jaxon — Angie
diz com um suspiro. — Mas os meninos estão certos, Adam. Você
tem duas opções. Você pode ver quanto dinheiro ela quer para ir
embora, ou...

— Foda-se isso. — Claro, posso pagá-la, mas tenho mil


maneiras melhores de gastar esse dinheiro. O acampamento de
verão que vou abrir no próximo ano, a educação de Connor, um
jardim cheio de peônias no quintal e um anel de noivado que Rosie
nunca vai querer tirar do dedo, para citar algumas. — Ela não está
recebendo um centavo.

— Ou — continua Angie — você solicita um teste de


paternidade. Isso tudo vai embora com um ou outro. Eu sei que
parece muito mais complicado do que isso, mas, na verdade, é
simples assim.

Ela está certa sobre uma coisa: nada sobre isso parece simples.
É um jogo de espera, e já esperei demais em minha vida.

A vida começou quando Rosie e Connor entraram nela, e tudo


o que quero fazer é mergulhar de cabeça no resto dela. Nunca
deveria ter sido colocado em uma posição em que tivesse que
esquecer como me amar, como ter orgulho de tudo que me torna
quem sou, mas foi preciso encontrá-los, deixá-los me amar, para
lembrar como.

E não vou deixar Courtney roubar isso de mim novamente.

— O que ele está fazendo? — Garrett sussurra.

— Eu não sei — Jaxon murmura. — Esse é, tipo, o quinto Fruit


Roll-Up dele.

— Acho que ele nem percebeu que os comeu o tempo todo —


Emmett acrescenta.

— Estou preocupado com ele — Carter diz baixinho. — Ele nem


está fazendo as tatuagens na língua. Ele está apenas... comendo-
os inteiros.

Eu enfio minha mão na caixa, franzindo a testa quando volta


vazia. — Vocês trouxeram mais de uma caixa?

Sem quebrar o contato visual, Garrett desliza lentamente outra


caixa sobre a mesa. — Então, ei, garotão, estávamos pensando...

— Emmett, chame Cara no telefone. Preciso do conselho dela.

Ele salta de seu assento, correndo pela sala para pegar seu
telefone. — Ela tem se preparado para isso a vida inteira.

É quase uma da manhã quando estou subindo a entrada da


minha garagem dois dias depois, desesperado para rastejar para a
cama depois de nossa viagem. Já se passaram muitos dias de
chamadas perdidas, fotos enviadas de diferentes fusos horários e
muita análise de mensagens de texto sem tom.

Sinto tanta falta de Rosie que meu alarme já está definido para
seis da manhã, então posso dirigir até a Starbucks, abastecer-me
com tudo que a deixa quente e sorridente e aparecer em sua porta
antes que ela vá para a faculdade. Se não fosse meia-noite, eu
estaria na porta dela agora, implorando para entrar.

Eu brinco com minhas chaves na porta da frente, parando


quando a luz da varanda acende. A porta se abre, e Rosie está ali
com nada além da minha camiseta e minhas meias mais grossas,
e, porra, nunca fiquei tão feliz em ver rosa.

— Você está aqui.

— Onde mais eu estaria?

Meu estômago afunda, o peso em meus ombros diminuindo. —


Você não vai a lugar nenhum?

— Por que faríamos isso? Connor e eu éramos uma família


antes de encontrar você, claro, mas agora... — Ela balança a
cabeça, os olhos se fechando ao pensar em um futuro que ela não
quer, o mesmo que eu não quero: um sem o outro. — Algo sempre
estaria faltando sem você, Adam.

Ela pega minhas mãos, puxando-me para o calor da casa, o


calor irradiando dela. Dedos gentis afastam meus cachos da testa
e um sorriso terno toca seus lábios.

— Não escolhemos você apenas quando é conveniente, fácil e


feliz. Nós escolhemos você em todos os momentos difíceis e
desafiadores entre eles. É assim que as famílias se amam, Adam.
E Connor e eu? Estaremos sempre ao seu lado.

Ela limpa a lágrima solitária que escorre pelo meu rosto antes
de pressionar seus lábios nos meus.

— Não há melhor vista do que aqui ao seu lado.


CAPÍTULO 39

COMEU E NÃO DEIXOU MIGALHAS

Quatro dias é muito tempo para ficarmos separados quando o


que precisamos mais do que tudo é um do outro. É muito tempo
para pensar demais, para catastrofizar as coisas que normalmente
faço melhor. É hora de não precisar descobrir como lidar com essa
situação, porque eu soube desde o momento em que essas
palavras saíram da boca de Courtney.

Tudo o que posso fazer, tudo o que fiz, é ficar ao lado de Adam.

Mas a surpresa que ele teve quando me encontrou esperando


por ele, algo sobre isso me quebrou. Passei tanto da minha vida
acreditando que não era o suficiente. Que se eu fosse melhor,
alguém me escolheria, daria o amor que eu tanto queria. Adam
passou meses me construindo, ajudando-me a perceber que nunca
foi sobre mim. Que eu sempre seria suficiente para as pessoas
certas. Mas à uma da manhã, o olhar aterrorizado em seus olhos
me disse que ele não tinha tanta certeza de que ele era o suficiente.

E agora, estou dedicando o resto da minha vida para garantir


que este homem ao meu lado nunca questione seu valor
novamente.
Eu olho para a loja de café e confeitaria e engulo meu
aborrecimento. É claro que Courtney pediu que Adam a
encontrasse em seu antigo local de encontro favorito. Adam parece
igualmente irritado ao meu lado, e um pouco nauseado enquanto
segura o envelope pardo em sua mão.

Ele odeia que tenha chegado a isso. Depois de tudo que esta
mulher o fez passar, este homem gentil que posso chamar de meu
prefere que ela apenas se veja fora de sua vida silenciosamente.

— Nós não temos que fazer isso — eu o lembro gentilmente. —


Se não é o que você quer, Adam, podemos esperar até que o bebê
nasça e solicitar um teste de paternidade. Podemos esperar isso
em silêncio.

Ele balança a cabeça e o envelope amassa sob seu aperto. —


Ela perdeu o direito de ficar quieta quando trouxe você e Connor
para isso. Já tolerei muitas besteiras dela, mas me recuso a tolerar
isso. — Ele pega minha mão na dele, apertando enquanto seus
olhos vêm aos meus. — Eu amo você, Rosie. Obrigado por ficar ao
meu lado.

Espero que um dia ele entenda que não há outro lugar para
mim e para Connor a não ser ao seu lado.

Tudo o que já fiz com o amor foi perdê-lo.

Mas não vou perder isso. Não Adam, não esta vida que estamos
construindo juntos.

Eu me recuso.
O sino sobre a porta toca quando entramos, e as cabeças se
erguem, os olhos esbugalhados quando veem o próprio Adam
Lockwood.

— Adam. — Courtney se levanta, um largo sorriso se


estendendo por suas bochechas. Mesmo depois de todas as coisas
feias que ela fez, ela ainda é dolorosamente bonita. Tanto que, por
um breve momento, uma semente de insegurança floresce.

E então Adam aperta minha mão, e eu enterro essa semente


tão fundo, recusando-me a dar-lhe raízes para crescer.

Os olhos azuis brilhantes de Courtney escurecem quando eles


me veem, sua mandíbula apertada em uma linha dura enquanto
nos aproximamos da cabine íntima que ela escolheu no canto de
trás. A sua localização não impede que todos os olhares errantes
nos sigam. — Achei que seríamos só nós dois.

— É justo que, se estou falando da perspectiva de aumentar


minha família, minha família atual esteja presente, não?

Ela cruza os braços sobre o peito. — Eu não vou me sentar com


ela.

— Você tem razão; ela não vai se sentar. — Ele deixa cair o
envelope na mesa na frente dela. — Não vamos ficar.

— O que é isso?

— Uma carta do meu advogado. Ele está enviando uma via por
e-mail também. Deve estar na sua caixa de correio em... — Ele
verifica seu relógio. — Há dois minutos. — Então ele sorri para ela,
sádico e devastadoramente bonito. — Egoisticamente, eu tinha que
ver sua reação pessoalmente.
Há um leve tremor nas mãos que ela tenta esconder enquanto
abre o envelope, tira a carta. Seus olhos se movem sobre as
palavras, e qualquer indício de confiança que ela estava
conseguindo manter desliza de seu rosto, cai em seus ombros.

— Você está me processando?

— Por dois vírgula cinco milhões — confirma, apontando uma


mancha no documento.

— Mas você-você... você não pode fazer isso.

— Eu posso, na verdade. Suas histórias tristes de merda não


conseguiram nada além de prejudicar minha reputação. Eu
poderia ter deixado passar, mas então você arrastou pessoas que
eu amo para isso. Sabe, eu realmente não consigo compreender
como você pensou que arrastar meu nome na lama era a melhor
maneira de chegar até mim, mas, novamente, você nem sempre
tomou as melhores decisões.

— Eu não posso pagar por isso — ela gagueja. — Eu não tenho


esse tipo de dinheiro. Estou tendo um bebê! — Seu olhar se volta
para mim, acendendo com fogo, ciúme por algo que ela desistiu.
— Que tipo de besteira tóxica ela está plantando na sua cabeça?
Você trocaria sua própria carne e sangue e a mãe de seu filho por
alguma cadela e sua prole? O pai da criança não o queria, e ele
também não a queria.

Em um momento, Adam está sólido e firme ao meu lado, minha


mão aninhada calorosamente na dele. No próximo, ele está
pairando sobre Courtney, uma energia tão selvagem que faz o
cabelo da minha nuca se arrepiar.
— Mantenha o nome dela longe da porra da sua boca — ele
sussurra, as palavras tão letais, tingidas de veneno, Courtney se
atrapalha para trás, com a mão na garganta. — Isso não é mais
um maldito jogo, Courtney. Você não pode brincar com a vida das
pessoas como se elas fossem suas para manipular. Estou cansado
de ser a porra da sua peça de xadrez.

Eu dou um passo à frente, colocando minha mão suavemente


em suas costas, observando seus ombros caírem, seu peito
arfando esvaziar enquanto sua respiração diminui para se
estabilizar.

Courtney observa a troca, e vejo em seus olhos, o desespero


para que isso funcione, o conhecimento de que não vai, que ela
está vendo seu plano tão mal pensado escorregar entre seus dedos,
desmoronar a seus pés. E em todo o seu desespero, ela faz uma
última tentativa, jogando-se em Adam, agarrando o casaco dele
com os punhos apertados. — Por favor, Adam. Por favor. Você não
pode fazer isso comigo. Você não pode. Esta é a nossa chance.
Podemos ser uma família. Uma família de verdade.

— Eu tenho uma família, Courtney, e ela está bem aqui! Tenho


uma família que me escolhe dia após dia, que me ama pelo que
sou, e você não tem ninguém. Você. Não. Tem. Ninguém. Então,
que porra você ainda está fazendo aqui? Por que você ainda está
em Vancouver? No Canadá? Pelo amor de Deus, Courtney, vá para
casa.

Ela balança a cabeça freneticamente, com lágrimas nos olhos.


Para seu crédito, elas parecem genuínas, mas tenho quase certeza
de que estão ali porque esse aqui é seu último esforço. Ela não se
importa com Adam e certamente não o merece.

— Você nunca vai se livrar de mim — ela sussurra. — Eu não


vou embora. Você não pode simplesmente me varrer para debaixo
do tapete porque tem uma namorada nova.

— Eu não estou varrendo você para debaixo do tapete. Estou


dizendo aqui e agora, que você não tem lugar na minha vida. Nada
disso pertence a você e nunca mais pertencerá. Esse bebê não é
meu, e nós dois sabemos disso.

Seus olhos vidrados saltam ao redor da cafeteria, um calor


vulcânico subindo por seu pescoço, explodindo em suas
bochechas.

— Aqui estão suas escolhas, Courtney — Adam começa


calmamente. — Você pode provar agora mesmo, fazer um teste e
provar que o bebê é meu. Mas quando os resultados mostrarem
que não sou o pai, vou processar você por difamação e todo o
dinheiro irá diretamente para o abrigo de jovens mães no centro
da cidade. Ou você pode admitir que esse bebê não é meu. Você
pode fazer um anúncio público de que estava mentindo, que Rosie
não teve nada a ver com o fim de nosso relacionamento. Eu não
dou a mínima se você contar a eles a verdade sobre quem traiu,
contanto que você diga a verdade sobre Rosie. Vamos resolver isso
de uma forma ou de outra, mas nada disso envolve você e eu e um
futuro juntos.

Ele entrelaça seus dedos nos meus e, juntos, nós nos voltamos
para a porta. Nós só damos três passos antes que ele se vire de
volta.
— E sem ofensa, Courtney, mas foda-se. Foda-se por me usar
para fazer você feliz até que decidiu que não precisava mais de
mim. Por pegar o que você queria e me deixar sem nada. Por ficar
por tudo que eu dava e não me dar nada em troca. Você não me
deu nada. Nem amor, nem felicidade e, com certeza, não o seu
respeito. Você tirou minha confiança e todo o meu valor próprio, e
machuquei alguém que amo porque você me fez sentir que ela não
seria capaz de me amar por mim. Você fez isso. E eu deixei, porra.

Ele esfrega a mandíbula, uma risada baixa ressoando em seu


peito. — Sabe, por incrível que pareça, eu não mudaria nada. Caso
contrário, eu teria continuado em um relacionamento miserável e
não teria encontrado Rosie e Connor. Eu não conheceria o amor
de verdade, o que é sentir, o que é ser amado assim, se não fosse
por eles. E eu sempre os escolherei. — Ele aponta um dedo trêmulo
para o rosto dela. — Foda-se você. Ofensa total.

Ela pisca aqueles olhos azul-bebê e funga, abrindo a boca,


quase como se pudesse realmente tentar a sorte respondendo.

Mas estou tão orgulhosa do meu homem, do jeito que ele se


defende, porque nunca é fácil de fazer. E agora quero mostrar a ele
exatamente como é ter alguém sempre ao seu lado. Então, quando
ela fala sua primeira palavra, eu levanto meu dedo, silenciando-a.

— Você desistiu do direito de ter um final feliz com ele quando


escolheu machucá-lo em vez de amá-lo. Agora vou dar a ele o final
feliz que ele merece. Todos os dias, vou escolher respeitá-lo. Todos
os dias, vou escolher levantá-lo em vez de derrubá-lo. Todos os
dias, vou escolher ficar ao lado dele. Todos os dias, vou escolher
amá-lo. Todos os dias, Courtney, vou escolhê-lo, e ele vai me
escolher de volta. E esse é o nosso final feliz.

Ele não para de olhar para mim desde que saímos da cafeteria.

Ele estava me olhando enquanto segurava a porta para mim, e


ele estava me olhando quando tropeçou no meio-fio e caiu contra
o capô de sua caminhonete. Ele estava me olhando ao me colocar
no banco do passageiro, batendo com a testa no batente da porta.
E ele estava me olhando durante todo o caminho para casa quando
quase passou no sinal vermelho.

Ele ainda está olhando para mim agora, mesmo quando tiro
meus sapatos em seu corredor da frente, penduro meu casaco no
armário. Sinto seu olhar tocar minhas costas enquanto caminho
pelo corredor e entro na cozinha, tagarelando sobre tudo e
qualquer coisa para me distrair do fato de que, entre todos os
olhares, ele não falou uma única maldita palavra para mim desde
que nós abandonamos Courtney.

— Você ainda está de acordo com bebidas e jantar na véspera


de Natal na casa de Carter e Ollie amanhã? Encontrei biscoitos de
gengibre com Oreos naquela pequena mercearia do outro lado da
cidade. Eu os comprei para Carter. — Abro a geladeira,
arregalando os olhos para o nada enquanto o ar frio roça minhas
bochechas, um alívio bem-vindo do olhar ardente de Adam. Pego
uma garrafa de água e fecho a porta, bebendo metade dela
enquanto me inclino contra o balcão. — Jaxon disse que vai levar
Mittens, então Connor vai ficar empolgado. Ei, você viu a previsão
do tempo? Deve nevar. Imagina isso? Neve.

Eu esvazio o resto da água, deixando-a descansar em minhas


bochechas por um momento enquanto balanço minha cabeça.
Então, faço o que faço de melhor, faço papel de boba quando
esqueço de engolir antes de abrir a boca. — Marco- — Eu cuspo a
água em minhas mãos, acenando minha mão ao redor como se eu
não estivesse sufocando, meus olhos lacrimejando. — Marco
estava medindo meu quarto ontem. Diz que vai dar um belo
estúdio de ioga. Então Archie o lembrou que ele não pratica ioga
há dois anos, então Marco o olhou bem nos olhos enquanto fazia
o pedido de um novo tapete e cinco roupas da Lululemon. — Eu
forço uma risada enquanto vou para a garagem para jogar minha
garrafa no lixo reciclável. — Sim, eu realmente vou sentir falta –
ah!

Adam me para com a mão em volta do meu pescoço.


Lentamente, seus dedos sobem em meu cabelo e ele puxa minhas
costas contra seu peito. Lábios macios tocam a concha da minha
orelha, respirações quentes e trêmulas rolando pelo meu pescoço,
endurecendo meus mamilos sob minha blusa.

— Tire a porra das roupas, Trouble.

— Roupas? Mas-

— Tire. A. Porra. Das. Roupas.

Eu arranco meu moletom, puxando-o sobre minha cabeça. A


calça jeans é a próxima, e quando uma perna da calça fica presa
em volta do meu tornozelo, Adam me empurra contra a parede,
segurando-me ali com a mão entre minhas omoplatas enquanto
tira minha calça. Sua palma desliza lentamente pela minha
espinha, e ele abre o fecho do meu sutiã, guiando as alças pelos
meus braços. Os polegares engancham na minha calcinha, e a
velocidade torturante com que ele a arrasta pelos meus quadris,
pelas minhas pernas, isso me faz tremer.

Seu peito pressiona contra minhas costas enquanto ele apalpa


um seio, a outra mão empurrando entre minhas pernas. Eu
suspiro quando ele me acaricia, e ele cantarola enquanto eu molho
seus dedos.

— O que você disse lá atrás? Na cafeteria?

Fecho os olhos, tentando lembrar as palavras que deixaram


aquele olhar atordoado no rosto de Courtney enquanto ele
mergulha dois dedos dentro de mim. — Que eu escolho você.
Diariamente.

— Mmm. E aquela última frase? Sobre o final feliz?

— É você. Você é meu final feliz.

Ele estremece, sua mão subindo para agarrar minha garganta


enquanto ele abre a boca no meu pescoço, lento, beijos molhados
e dentes roçando. Sua protuberância pressiona a parte inferior das
minhas costas, e eu sorrio quando a realização bate. Ele está
excitado. Eu o defendi, de alguém que não fez nada além de
machucá-lo e desrespeitá-lo, e ele está excitado.

— Eu amo você, Adam. Eu sempre vou amar.

Há uma breve pausa em que seus movimentos param e ele


descansa a testa no meu ombro, como se estivesse saboreando o
momento. E então ele me gira e me joga por cima do ombro,
carregando-me para a cozinha.

Ele me deixa na ilha, com um olhar faminto em seus olhos


enquanto ele segura meu olhar e descarta suas roupas atrás dele.
Jesus, eu nunca o vi tão duro, tão alto, tão orgulhoso, seu pau
balançando contra o umbigo.

— Abra as pernas — ele exige, segurando seu pau. — Mostre-


me essa boceta perfeita e molhada.

Coloco meus pés no balcão, desnudando-me para ele. Seu


gemido profundo envia um arrepio pela minha espinha, e o calor
se instala em meu clitóris, latejando com a necessidade enquanto
ele envolve seus dedos em torno de meus tornozelos,
estabelecendo-se entre minhas pernas.

— Essa é uma boa menina, anjo. Quer que eu mostre como é


boa?

— Sim, por favor.

Estou toda quente, uma necessidade selvagem e desenfreada


de que este homem se enterre dentro de mim até que ele seja tudo
o que posso sentir, até que não consiga lembrar meu próprio nome.

Ele me guia até minhas costas, espalhando-me sobre a


bancada, pressionando beijos carinhosos ao longo da parte interna
da minha coxa. Olhos azuis elétricos se voltam para os meus, e
meus dentes pressionam meu lábio inferior trêmulo enquanto
observo sua língua deslizar para fora, lambendo-me lentamente de
baixo para cima.
— Eu nunca vou superar o seu gosto — é tudo o que ele diz,
apenas um murmúrio, e então ele mergulha.

Deus, é tudo que eu sempre quis, o jeito que ele me come. Feroz
e faminto, como se precisasse de mim para sobreviver. Reverente
e que tudo consome, como se ele adorasse cada centímetro deste
corpo. Ele lambe minha boceta, suga meu clitóris inchado em sua
boca, afunda dois dedos dentro de mim e me fode até que eu veja
estrelas, empurrando meus quadris e arrancando seus cachos
macios. E quando ele termina, ele me puxa para cima, para a
beirada do balcão e envolve minhas pernas ao redor de seus
quadris.

Os dedos vasculham minhas ondas, apertando-se ao redor


delas enquanto ele força meu olhar para o dele, deixa cair sua doce
boca contra a minha para um beijo longo e lento. E quando ele se
dirige para dentro de mim, arrancando um grito da minha
garganta enquanto suas pontas dos dedos cavam em meu quadril,
juro por Deus que vejo a luz.

— Se eu sou seu final feliz, você é meu paraíso. Não há mais


nada que eu precise deste mundo. Eu poderia viver aqui para
sempre, neste lugar onde sou seu e você é minha. Nunca houve
nada mais bonito do que esta versão do paraíso. Tenho certeza
disso.
CAPÍTULO 40

DICKICLES DE NATAL

— Bem-vindo à Aldeia do Papai Noel. Você foi travesso ou legal


este ano?

Dou um golpe de caratê no pulso de Carter, fazendo-o largar o


gorro de Papai Noel que ele acabou de tentar colocar na minha
cabeça na porta da frente.

— Ohhh-ho-ho — ele reflete, pegando o gorro com um sorriso


irritante. — Garota Ollie, mude a marca de Adam na minha lista
de bom ou mau! Ele tem sido um menino mau este ano! — Ele se
inclina para mim e Rosie, uma mão em sua boca. — Tudo bem.
Ollie tem sido muito travessa.

— Carter! Eu posso ouvir você!

— É como se ela tivesse uma audição supersônica. Eu estou


cansado disso. Eu nunca me safo de nada. — Ele pega Connor em
seus braços, dando um beijo alto em suas bochechas antes de
colocá-lo em seus ombros. — Vamos, carinha. Sua melhor amiga
está esperando por você. Comprei roupas de rena combinando.
Estamos fazendo uma sessão de fotos.
— Jesus — murmuro, agarrando a mão de Rosie enquanto
seguimos Carter até a sala de estar. Há enfeites pendurados no
teto, visco pendurado na porta, bastões de doces gigantes, luzes
cintilantes e uma pequena árvore de Natal cor de rosa,
deslumbrante à perfeição. — Parece que os elfos do Papai Noel
vomitaram aqui.

— Carter queria que o primeiro Natal da Ireland fosse especial


— diz Olivia, envolvendo a mim e Rosie em um abraço. — Feliz
Natal, vocês dois. — O pacote de Rosie amassa contra Olivia, cujos
olhos se arregalam. — São aqueles...

— Biscoitos de gengibre com Oreos! — Carter grita, arrancando


o pacote de suas mãos. — Eu tenho procurado por isso em todos
os lugares! — Ele puxa Rosie em seus braços, girando-a. — Amo
você, amo você, amo você!

A porta da frente se abre atrás de nós, e Jennie passa pela


porta, um sorriso deslumbrante e cheio de covinhas no rosto
enquanto ela estende a mão. — Estamos...

Garrett passa por ela, girando na entrada. — Noivos!

— Garrett, seu burro. — Jennie olha para ele, com os punhos


nos quadris. — Você roubou minha entrada!

— Ops. Desculpe, raio de sol. — Ele a pega em seus braços,


girando-a enquanto ela grita de tanto rir. — Estamos noivos!

As garotas correm para frente, abraçando os dois, e quando


Jennie se liberta, ela corre para o irmão. Carter a puxa para seu
peito, abraçando-a com tanta força enquanto sussurra em seu
ouvido, e quando ela se afasta, juro que ele enxuga uma lágrima
de seu olho.

Então ele estende a mão para Garrett e diz a ele: — Tenho sorte
de chamá-lo de cunhado — e quando eles se abraçam, todas as
mulheres na sala começam a chorar.

Rosie bate em seu rosto. — Não sou estável o suficiente para


isso.

Eu agarro seu queixo, inclinando seu rosto para cima e


pressiono meus lábios em suas lágrimas. — Eu amo seu coração
instável.

— Isso é bom, porque é seu.

Jaxon entra, com Mittens debaixo do braço, os dois com


suéteres natalinos combinando. Ele olha para a cena que se
desenrola ao seu redor, garotas chorando e Jennie e Garrett se
beijando sob o visco. — Eles ficaram noivos?

Eu concordo.

— Legal. Eu sou o único que restou. Tudo bem. Mitts e eu não


precisamos de ninguém além um do outro, certo, Mitts? — Ele
acaricia o rosto de Mittens. — Não, nós não precisamos. Não
precisamos de nenhuma garota mesquinha e assustadora
colocando nossas bolas em um torno.

— Você não vai ter mais bolas para colocar em um torno se seu
gato continuar usando-as como prática de rebatidas — Rosie
murmura, e Jaxon dá uma gargalhada.

— Quer saber, eu comecei a dormir de cueca, então o problema


está resolvido.
Rosie arqueia uma sobrancelha.

— Tudo bem. Que seja. O problema não está resolvido. Eu me


recuso a usar roupas íntimas para dormir. — Ele aponta um dedo
na cara dela. — Cale-se.

Mittens pula do peito de Jaxon para o de Rosie, acariciando seu


queixo, e Jaxon olha enquanto os dois se afastam, encontrando
um lugar para se aconchegar no sofá onde o resto de nós se junta
enquanto Jennie e Garrett nos dão os detalhes de como foi o
noivado. Detalhes explícitos, até a cor da calcinha de Jennie.
Aparentemente, é um detalhe muito necessário, Jennie argumenta
quando Carter diz que não, porque ela combinou perfeitamente
com a safira em seu anel, uma agradável surpresa para Garrett
quando ele conseguiu tirá-la depois que ela disse que sim.

— Você não pode me dizer que não é uma merda de alma gêmea
— diz Garrett. — Calcinha combinando com o anel dela?

Parece coincidência, mas ele está tão empolgado com isso que
apenas aceno com a cabeça e digo: — Ah, com certeza.
Definitivamente calcinha de alma gêmea.

Suspiro, observando Carter enfiar chifres com sinos nas


cabeças de Connor e Ireland. Em seguida, ele joga dois iguais em
Bear e Dublin, e quando Connor pega Mittens, segurando-o contra
o peito e beijando sua testa, Carter também coloca um pequeno
par no gato.

Carter se achata no chão, apontando sua câmera para o grupo


de renas mais caótico que já vi. — Ok, pessoal, olhem aqui. Ireland,
querida, olhe para o papai! Connor! Connor, olhe para o seu tio
Carter favorito! Dublin!
— Mittens — Jaxon chama, tilintando suas chaves acima da
cabeça de Carter. — Mittens, olhe para o papai! Pss-pss-pss!

Foda-se. Se não posso vencê-los, é melhor me juntar a eles.

— Bear! — Eu bato palmas. — Aqui em cima, amigo! Connor,


olhe para o Dada! Diga xis!

Connor levanta o bastão de doces, sorrindo para mim. — Xis,


Dada!

— Não, Dublin, não coma isso!

— Ireland, querida, o nariz de Connor não é um brinquedo para


mastigar.

— Mitts! Não a árvore! Não, não a... não a árvore!

A árvore rosa tomba para o lado, os cachorros passam por cima


dela, o gato voa como um raio, espalhando enfeites rosa em todas
as direções, e Connor está apenas sentado ali, gritando de tanto
rir enquanto Ireland fica de pé sobre suas pernas bambas, seus
braços em volta da cabeça dele enquanto ela rói seu nariz.

Suspiro, virando-me para Rosie, e meu coração para ao ver as


duas lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto enquanto ela
percebe a comoção total ao seu redor.

Olivia coloca a mão sobre a de Rosie. — Você está bem?

Ela funga, enxugando o rosto, balançando a cabeça. — Eu


esqueci como o Natal deveria ser. Obrigada por me lembrar.

Observo as duas se abraçarem e fico impressionado com a


facilidade com que esqueço. Esqueço que Rosie perdeu tanto,
tradições tolas, travessuras ridículas, família embaraçosa que você
não trocaria por nada no mundo. Eu nunca soube o que é estar
sozinho em um feriado, desejar algo tão profundamente, algo que
tantas pessoas dão como certo.

Mesmo nesta última semana, em toda a minha raiva, confusão,


em toda a porra da minha mágoa, nunca tive necessidade de
querer nada mais do que tenho. Todos de quem preciso para
passar por essa tempestade de merda ficaram firmemente ao meu
lado, lembrando-me de que, seja qual for o resultado, não preciso
fazer isso sozinho.

Rosie não teve isso, não até agora, e sei que esta família vai dar
a ela tudo o que ela estava perdendo.

— Ei. — Carter cutuca meu lado, oferecendo-me uma cerveja,


inclinando a cabeça em direção à porta do pátio. — Vamos sair um
pouco.

Deixo Rosie com um beijo e sigo o resto dos meninos para fora,
sentando-me ao redor da pequena fogueira que Carter está
cuidando.

Ele segura um saco de marshmallows e um pacote de bombons


e biscoitos de gengibre com Oreos. — S'mores de Natal?

— Oooh. — Garrett esfrega a barriga. — Eu poderia foder com


isso.

— Como está se sentido? — Emmett me pergunta enquanto


assamos marshmallows.

— Melhor do que eu estava há dois dias. O conselho de Cara


estava certo, eu acho. Ameaçar processar, expor Courtney em
público assim. Havia tantos olhos em nós, observando.
Normalmente, faço tudo ao meu alcance para evitar a mídia. Eles
são sanguinários e implacáveis, que é a única razão pela qual
alguém com um cérebro espalharia aquela história de merda sobre
Rosie ser minha amante e Connor ser nosso bebê secreto.

Não tenho certeza se Courtney percebeu o erro que cometeu


ontem. Ela pensou que tinha me identificado como o mesmo cara
legal que a deixou passar por cima dele todos esses anos. O
processo a chocou, e em sua pressa de agarrar-se a qualquer coisa,
ela tropeçou em sua própria mentira e admitiu que eu não era o
pai biológico de Connor.

Agora só posso esperar que, de alguma forma, a notícia se


espalhe.

— Eu não vou dizer a Cara que você disse que ela estava certa.
Ela quase nunca está errada. Na verdade, ela conta cada dia que
passa onde ela não está errada. Sua sequência atual é de cento e
quarenta e sete. — Emmett passa a palma da mão exausto sobre
o rosto. — Eu deveria saber. Está escrito no espelho do meu
banheiro com batom rosa.

Eu rio, tomando um gole da minha cerveja enquanto o fogo


queima meu marshmallow. — Eu preciso vê-la sair desta cidade e
nunca mais voltar. Este capítulo da minha vida precisa terminar,
e não sinto que posso realmente deixar isso para trás até que ela
se vá para sempre.

Carter levanta sua cerveja. — Matando Courtney. — Ele olha


em volta para nossos rostos vazios, nossas cervejas ainda no colo.
— O quê? Não é isso que estamos... sim, não, obviamente o que eu
quis dizer foi... gentilmente... guiar... Courtney... para fora desta
cidade. Obviamente. Obviamente, foi isso que eu quis dizer.

Seus olhos deslizam para Garrett e depois rolam. — E acho que


para Garrett e Jennie, que sorte de ter você como irmão, mal posso
esperar para você se casar com minha irmã, eu sei que você vai
fazê-la feliz, blá blá blá, amo você.

— Você acabou de dizer que me ama — sussurra Garrett.

— Não, eu não disse.

— Carter acabou de dizer que ama Garreeett — eu canto.

— Carter ama Garrett, Carter ama Garrett — acrescenta Jaxon.

Carter amassa um marshmallow assado entre um Oreo. — Que


seja. Homens de verdade amam seus amigos. Li em algum lugar
que existe uma correlação direta entre quanto amor um homem
demonstra a outros homens e o tamanho de seu pau.

— Ah — Emmett cantarola. — Isso explica seu foguete de bolso.

Carter para, seu olhar subindo lentamente para encontrar o de


Emmett. — Com licença?

— Seu pau minúsculo. Isso explica.

Carter se levanta de sua cadeira. — Desculpe. Porra.

— Todo mundo sabe que o de Adam é o maior — Garrett


acrescenta, e dou de ombros, mas também aceno, porque, sim.

— Seu filho da puta. Acabei de dar as boas-vindas à minha


família. — Ele se inclina para mais perto, tentando e não
conseguindo sussurrar: — Eu disse que amo você, e é assim que
me retribui?
— Só há uma maneira de saber com certeza. — Jaxon se
levanta, alcançando a fivela de seu cinto.

— Há crianças aqui — falo correndo. — Nós não estamos


chicoteando nossos paus para fora.

— Claro que não. — Ele caminha até a grama coberta de neve


e vira as costas para nós, o som de seu zíper ecoando no ar gelado
da véspera de Natal. Ele sorri para nós por cima do ombro e então
abre bem os braços, plantando o rosto na neve.

— Ooou, foda-se! — Ele se põe de pé, pulando para frente e para


trás enquanto se acomoda. Então, com um sorriso, ele aponta para
a neve, uma espécie de anjo de neve distorcido e, uh... uma marca
de formato perfeito de seu pau. — Aqui, filhos da puta.

— Não. Sem chance.

Eu balanço minha cabeça, afastando-me.

— Tenho vinte e seis anos. Não vou mergulhar meu pau na neve
para comparar tamanhos.

Mergulhei meu pau na neve para comparar tamanhos.

Honestamente, eu não quero falar sobre isso.

— Isso é claro encolhimento! — Carter grita. — Da neve! Porque


está frio!
— Se você tem encolhimento, todos nós temos encolhimento!
— Garrett grita de volta, agitando os braços. — Isso não muda o
fato de que Adam é dois centímetros maior que você!

— Um! Um centímetro, não dois!

A porta do pátio se abre, quatro lindas mulheres preocupadas


olhando para nós com canecas de chocolate quente alcoolizadas
nas mãos.

— O que está acontecendo aqui? — Olivia pergunta, olhos


esquivos movendo-se entre nós enquanto trememos, molhados de
neve.

— Nada — Carter mente rapidamente. — Nada, Ollie.

Cara olha para Emmett, levantando uma sobrancelha, e aquele


filho da puta se dobra como uma cadeira de jardim. — Estávamos
comparando paus mergulhando-os na neve — ele deixa escapar,
depois solta um profundo suspiro de alívio. — Adam derrotou
Carter por dois centímetros.

— Um!

O olhar divertido de Rosie encontra o meu. — Adam, você não


participou disso, não é?

Calor sobe para minhas bochechas, mesmo que meu lixo esteja
totalmente congelado. Com uma risada ansiosa e um sorriso
tímido que espero ser igualmente encantador, dou um passo para
a direita, mostrando a ela meu anjo sacana na neve.

— Doce Santa Mãe de Jesus — Cara murmura. — Olha aquele


pau. Rosie, como você está de pé?
Ela abre a boca para dizer a todos o quão doce e
respeitosamente eu transo com ela, mas o trinado do meu telefone
corta o ar da noite. Meu batimento cardíaco dispara no meu peito
com o nome na minha tela.

— É o meu advogado.

Rosie corre para o meu lado e meus amigos se aglomeram ao


meu redor enquanto atendo ao telefone.

— Eu sei que é véspera de Natal, Adam, mas imaginei que você


iria querer respostas assim que eu as tivesse — meu advogado me
diz. — Courtney recusou o teste de paternidade.

— Claro que sim — eu rosno, e Rosie desliza sua mão na minha,


apertando suavemente.

— Ela recusou o teste de paternidade porque o bebê não é seu,


Adam.

— O quê?

— Você não dormiu com ela naquela noite. Você estava


dormindo em seu quarto e ela tirou aquela foto para fazer parecer
que vocês dois estiveram juntos. Ela já estava grávida de cinco
semanas.

Eu não dormi com ela.

— Eu também emiti a ela uma ordem de restrição para você e


Rosie, e deixei explicitamente claro quais tipos de consequências
pode haver em seu visto canadense caso ela opte por quebrá-la.
Isso acabou, Adam, para sempre. E se você precisar de uma
pequena prova para ajudá-lo a se sentir confiante nisso, sugiro
entrar no Twitter. Um minuto de rolagem lhe dará toda a satisfação
que você precisa.

Abro o aplicativo assim que desligamos, meu coração batendo


rápido com o conteúdo que enche meu feed. Links para artigos de
fofoca detalhando as tramas de Courtney, todas as suas mentiras.
Postagens de apoio a Rosie e a mim, pessoas enviando seus
melhores desejos para nossa família. Clico em um vídeo que tem
dezenas de milhares de compartilhamentos, assistindo a uma
repetição de ontem de uma visão diferente: eu e Rosie, uma frente
unida, e Courtney, desesperada e presa em suas mentiras.

— Como eles conseguiram essa filmagem? — Rosie pergunta.

Eu olho para ela, para meus amigos ao meu redor, e minhas


mãos tremem. — Não sei. Mas eles são incríveis.

— Uau — Cara murmura, fazendo um péssimo trabalho em


esconder seu sorriso furtivo atrás de seu chocolate quente
embriagado. — É quase como se alguém soubesse que vocês
estariam lá, naquela cafeteria exata, naquela hora exata, e se
certificasse de que estava ao alcance exato da voz daquele diabo,
para que pudesse gravar aquela conversa exata, apenas para se
virar e vazá-la. Hmmm. — Ela dá um gole na bebida, lambendo o
chantili do lábio superior. — Eu me pergunto quem possivelmente
poderia ter sido.

— Foi você? — pergunto baixinho. — Você fez isso?

— Com bastante facilidade, meu homem. E, francamente, estou


insultada por vocês dois não terem me notado. Sim, eu estava com
meus grandes óculos de sol, e sim, eu estava usando o cachecol
horrível de Emmett que sua avó tricotou para ele, que
normalmente eu nunca usaria. Mas não há ninguém vivo com um
cabelo tão lindo, e vocês devem ser capazes de me identificar a um
quilômetro de distância.

— Você fez isso por Adam? — Rosie sussurra, os olhos verdes


vidrados.

— Fiz pela minha família. Por Adam, Connor e você. Porque


ninguém se safa de machucar as pessoas que amo.

Rosie se joga em Cara, envolvendo os braços em volta do


pescoço dela, enterrando o rosto nos longos cabelos loiros de Cara,
enquanto eu fico aqui, chocado demais para me mexer.

— Há mais uma coisa — diz Cara. — Pesquise a hashtag


deportcourt.

Meu feed é inundado com fotos da minha ex. A mesma foto,


repetidas vezes, dela com um boné de beisebol puxado para baixo,
um suéter folgado e um cachecol enrolado no pescoço, cobrindo
metade do rosto, como se ela estivesse tentando passar
despercebida.

Não há como confundir aquele cabelo ruivo, no entanto.

Assim como não há como confundir a bagagem a seus pés.

Ou a pista atrás dela.

Nas minhas atualizações, um novo tweet aparece com a mesma


hashtag. Uma simples imagem de um avião decolando e duas
palavras que eu estava começando a pensar que nunca veria.

Ela se foi.
Jogo meu telefone no peito de Carter, envolvo Cara no melhor
e mais apertado abraço e pego o rosto de Rosie em minhas mãos.

— Ela se foi? — ela sussurra. — Jura?

— Ela se foi.

Um ramo de visco aparece acima de nós, sustentado por Carter.


— Eu realmente quero um abraço em grupo, então todos nós
precisamos que vocês se apressem e se beijem.

Rosie ri, aquele nariz adorável franzido me fazendo sorrir. Eu o


beijo primeiro, então a covinha em seu queixo, antes de finalmente
– finalmente, porra – tomar sua boca. É macia e doce, sem pressa
e suave, e tem gosto de liberdade. Liberdade para amar com tudo
o que tenho. Liberdade em deixar ir. Liberdade de ser quem sou e
de saber com certeza que tudo em mim é amado.

Então, nossos amigos vêm ao nosso redor, abraçando-nos e


apertando-nos com ternura.

E isso? Isso parece família.


CAPÍTULO 41

PEÇAS DE QUEBRA-CABEÇAS

— E aqui está Adam com oito anos de idade, desmaiado na


despensa.

— Ele está usando cueca com Papai Noel canino? — Ele


definitivamente está, e é a única coisa que ele está vestindo. Ele
também está a meio caminho da despensa, dobrado na prateleira
de baixo, com a bochecha no chão, cachos escuros espalhados ao
seu redor.

— Essa era a cueca do Papai Noel — sua mãe, Bev, conta. —


Era a favorita dele. Ele a usava todos os dias. Eu tive que lutar
com ele para me deixar lavá-la. Um menino tão obstinado.

— E ele está na despensa porque...?

— Ele queria pegar o Papai Noel em flagrante. E ele está só de


cueca porque queria mostrar para o Papai Noel.

— Mãe. — Adam a nivela com um olhar de que porra é isso do


outro lado da sala. — Quem realmente viaja com álbuns de fotos
para se exibir?
— Eu. — Ela vira a página. — Ai, ai, meu Deus! Olha ele aqui!
Ele tinha treze anos e começou a deixar crescer esse precioso
bigodinho.

— Oh, meu Deus. — Eu olho para o meu namorado


desengonçado, seu cabelo desgrenhado precisando
desesperadamente de um corte, sorriso largo finalizado com
aparelho e cerca de oito fios de cabelo facial do qual ele parece tão
orgulhoso. Quando encontro a carranca de Adam, ele estreita os
olhos.

— Não — ele sussurra. — Não se atreva.

— Você parece... — Eu dobro meus lábios em minha boca,


meus ombros tremendo com a risada que continuo tentando
engolir. — Tão fofo.

— Eu quero ver! — Lily apoia a pulseira que está fazendo para


Connor e beija sua testa. — Eu já volto, ok, Connor? Você fica bem
aqui. — Então ela beija a cabeça de Bear, e a de Piglet em seguida,
e quando ela chega ao pai de Adam, ela apenas cora. — Você fica
também, ok?

— Eu não sonharia em ir a lugar nenhum — Deacon diz a ela


sinceramente, segurando seu Rainbow Loom, seu pulso já
decorado com vários braceletes elásticos coloridos. Ele é muito
melhor do que Adam, que ainda está lutando com seu primeiro
bracelete. — Estou aprendendo muito sobre como fazer pulseiras.

Lily esteve conosco o dia todo, aparecendo às nove da manhã


com um lindo vestido vermelho que estava esperando por ela
embaixo da árvore de Natal no orfanato esta manhã. Ela estava
chorando quando chegou aqui, e eu estava preocupada que ela não
quisesse estar aqui conosco até que ela se envolveu em minhas
pernas e me agradeceu por querer passar um tempo com ela. Ela
gostou de Bev imediatamente, o mesmo que Connor fez quando
pegamos ela e Deacon no aeroporto a caminho da casa de Carter e
Olivia ontem à noite.

Ela está mais hesitante com Deacon, mas Adam disse que ela
fica um pouco nervosa com os homens, assim como Piglet. Mas as
duas garotas se aproximaram dele a manhã toda, e agora Piglet
está em seu colo, com as patas no ar, e sei que ela está
aproveitando uma folga do abrigo neste Natal.

— Qual era o tamanho de Adam quando você o adotou? — Lily


pergunta a Bev.

— Adam tinha cinco anos quando o adotamos.

O rosto de Lily se ilumina. — Ei, eu tenho cinco anos! Talvez


alguém me adote também, como Adam.

Bev sorri, passando os dedos pelo cabelo de Lily. — A família


que encontrar você vai ser uma família de muita sorte, Lily.

Minha garganta aperta, e meu olhar colide com o de Adam. Não


paro de pensar em Lily desde que a conheci e, ultimamente, tenho
pensado em como seria um dia abrir nossa casa para alguém que
precisa de uma. Alguém que precisa de um pouco mais de amor,
porque temos muito para dar. É tão assustador quanto
fortalecedor. Quando eu estava em um orfanato, tentei tudo ao
meu alcance para me tornar mais adotável, como se isso fosse uma
qualidade real. Levei anos para aceitar o fato de que não havia
nada que eu pudesse fazer. Nunca dependeu de mim. E agora
estou nesta posição incrível, onde tenho o poder de mudar a vida
de alguém para melhor.

E ainda há algo dentro de mim que está com medo. Algo que
me impede de dar esse passo final. Algo que me preocupa não será
a escolha certa.

Encontrei todas essas pessoas que são perfeitas para mim, mas
estou nervosa por não ser perfeita para ela.

— Maldição — Adam resmunga da sala de estar. — Lily! Preciso


de ajuda com minha pulseira, por favor!

— De novo?

— Não é – não posso – meus dedos são muito grandes!

— Bem, então como é que seu pai pode fazer isso? — ela grita
de volta, em seguida, envolve-se em torno de mim, abraçando-me
com força antes de voltar para a sala de estar. — Você só precisa
acreditar em si mesmo, Adam. Se você disser que não consegue,
nunca conseguirá. — Ela se senta ao lado dele, e ele olha para ela
como se ela fosse uma das poucas razões pelas quais ele respira.
— Não se preocupe. Eu não vou desistir de você.

— Peças de um quebra-cabeça — Bev murmura ao meu lado.

— Hum?

— Eu sempre pensei que as pessoas eram como peças de um


quebra-cabeça. Que passamos a vida procurando por alguém que
tenha a forma quase como se fosse só para nós. Vocês se
encontram e ficam com uma sensação engraçada e empolgada no
estômago. Quanto mais perto você chega, mais aprende sobre eles.
E então, de repente, algo se encaixa no lugar, esse encaixe perfeito,
como se você tivesse esse espaço reservado só para eles. E quando
eles se espremem, parece que seu quebra-cabeça finalmente está
completo.

Ela sorri, observando o marido e o filho enquanto eles puxam


todos os brinquedos que Connor e Lily abriram esta manhã,
puxando a rede de mini-hóquei, mostrando às crianças como
segurar os bastões.

— Achei que Deac e eu tínhamos encontrado todas as nossas


peças quando nos conhecemos na faculdade. E então encontramos
Adam, e é como se um novo espaço se abrisse só para ele. E então
eu realmente pensei que tínhamos terminado. — Ela cobre minha
mão com a dela, apertando com ternura. — Parece que
encontramos mais algumas peças.

Tudo o que fiz nos últimos seis meses foi encontrar mais peças,
encher minha vida com tantas pessoas incríveis. Mas eu tenho
mais espaço? Tenho espaço para mais uma? Como eu vou saber?
Começo com a pergunta mais lógica.

— Você sempre quis adotar?

— Não. Nunca quis filhos.

— Então, como você acabou com Adam?

Seus suaves olhos castanhos seguem Deacon enquanto ele


cobre as mãos de Connor em seu taco de hóquei, ajudando-o a
atirar e marcar em Adam. — Porque o coração de Deacon é tão
grande quanto o de Adam. Ele tinha muito dinheiro e nada para
gastá-lo. Depois de algumas arrecadações de fundos com sua
equipe, ele começou a se voluntariar em alguns programas para
jovens sem-teto. Então ele começou a organizar suas próprias
arrecadações de fundos, tentando encontrar famílias para essas
crianças que as amassem. Adam apareceu um dia, aqueles
grandes olhos azuis e cachos por dias, tímido como poderia ser.
Deacon começou a aparecer na casa sempre que podia. Ele
encontrava qualquer desculpa para ir ver aquele garotinho. Ele
disse que, por mais triste que Adam estivesse, seus olhos sempre
brilhavam com tanta esperança sempre que alguém se sentava
com ele, prestava atenção a ele.

Eu pressiono minha mão no meu peito, sobre o coração que dói


por um menino que só queria alguém para amá-lo. Por mais
diferentes que tenham sido nossas experiências, tivemos muito
mais em comum do que eu imaginava. A conexão não é tão estável
quanto pensei que seria; e me quebra saber que ele já se sentiu da
mesma maneira que eu.

Bev ri baixinho, observando Lily gritar de tanto rir quando


Adam erra seu tiro, caindo de costas em derrota. — Aquele garoto
roubou todo o meu coração e fez isso sem nem mesmo tentar.
Certo dia, Deacon organizou um evento discreto no parque,
tentando fazer com que as crianças interagissem com famílias em
potencial. Adam não queria falar com ninguém além de nós. Ele
levou um pouco de futebol de espuma, disse-nos que economizou
todo o dinheiro das tarefas para aprender a jogá-lo como Deacon
fazia na TV. Essa foi a primeira vez que aquele menino me fez
chorar. A segunda vez foi vinte minutos depois, depois que ele caiu
e ralou o joelho. Eu limpei, remendei e beijei para melhorar. Ele
olhou para mim com tanto amor naqueles olhos cheios de
lágrimas, cobriu minha mão com a dele e disse que eu seria a
melhor mãe para a criança mais sortuda do mundo. Iniciamos o
processo de adoção no dia seguinte. — Ela enxuga as lágrimas
enquanto as minhas rolam silenciosamente pelo meu rosto.

— Às vezes, você não nasce em sua família, às vezes, não é sua


família para sempre. Às vezes, você nasce e a tragédia os atinge e
os separa até que possam estar juntos novamente. E, às vezes,
apesar de tudo, você encontra sua família. Vocês se escolhem
todos os dias, repetidamente. Quando você encontra as pessoas
que entram em sua vida e a tornam completa, você não hesita,
Rosie. Você as agarra antes que acabe, porque a vida sem elas não
é mais viver. É simplesmente existir.

— Desculpe, estou chorando — eu choro, batendo nas lágrimas


que escorrem pelo meu rosto.

Ela ri, puxando-me para seu abraço. É tudo Lockwood, quente


e brilhante e absolutamente estável, o lugar mais seguro para se
estar. — Agradeço a seus pais todos os dias por colocar você no
caminho do nosso filho naquele dia. Por nos deixar ficar com você.
E agradeço a você, Rosie, por tornar nossa família inteira.

É selvagem, não é? Como você pode passar anos procurando


por amor, por aceitação, e logo antes de aceitar que não é para
você, alguém entra e banha você com isso. É como se Adam tivesse
dado uma olhada no meu coração e dissesse: É isso que você quer?
Deixe-me dar-lhe mais. Ele não apenas me deu ele; ele me deu a
família que eu estava procurando por todos esses anos.

Uma pequena mão puxa a minha e olhos castanhos


preocupados olham para mim. — Você está bem, Rosie? — Lily me
pergunta. — Eu vi você chorando.
Eu me agacho diante dela, tirando a franja de sua testa. —
Estou bem, querida.

— Você estava pensando em sua mamãe e papai no céu?

— Sim, eu estava.

— Posso lhe dar algo para ajudá-la a se sentir melhor?

— Gostaria disso.

Duas mãos minúsculas e gentis seguram minhas bochechas, e


eu fecho meus olhos enquanto Lily pressiona beijos leves como
plumas em meu nariz. — Aqui — ela sussurra. — Beijos de
borboleta. — Ela se vira para sair, mas faz uma pausa, sorrindo
para mim por cima do ombro. — Eu acho que Connor é o garoto
mais sortudo do mundo. Ele tem a melhor mãe.

Meu coração fica preso na garganta, alguns beijos especiais e


duas pequenas frases de uma menina de cinco anos que soam
idênticas às que um Adam de cinco anos disse há cerca de vinte e
um anos.

Adam se junta a mim no balcão, aconchegando-me ao seu lado


enquanto olhamos para o nosso Natal.

— Você conseguiu tudo o que queria?

Meu olhar desliza para Lily, e meu coração bate contra o meu
peito enquanto ela ajuda Connor a subir no sofá, aconchegando-
se com ele, Deacon, Bev e os cachorros.

O ajuste perfeito.
A palma da mão de Adam toca a parte inferior das minhas
costas, deslizando pela minha coluna, seu polegar se movendo
sobre a minha nuca. — Você sabe o que eu estava pensando?

— O quê?

— Temos cinco quartos e apenas dois deles estão sendo usados.

Meu peito sobe e desce rapidamente. — Sim?

Ele olha para Lily, e quando ela sorri para nós, ele sorri
também. — Sim.

— Pelo amor de Deus, Marco, eu nem saí ainda!

Eu apoio meus punhos em meus quadris na porta do meu


quarto. Oh, desculpe, Zen Den de Marco. É assim que ele o está
chamando agora. Acho que é por isso que ele está trocando minhas
lâmpadas brancas de brilho suave por lâmpadas âmbar quentes,
por que há galhos de bambu em um grande vaso de cerâmica no
canto e por que ele está conectando um difusor.

Ele abana a névoa em seu rosto e inala profundamente, depois


pisca para mim por cima do ombro. — Tenho que me livrar de
todos os juju ruins.

— Não existe juju ruim! Connor e eu não temos juju ruim!

Certo, ao que parece, estou mais apegada a este pequeno


apartamento e a este quartinho do que imaginava. Deveria ser
simples fazer as malas e partir hoje, para começar oficialmente o
ano novo em minha nova casa. E isso é. Mas subestimei o poder
que este lugar tem sobre mim.

Esta era a nossa casa. Foi aqui que descobri que estava
grávida, e foi no sofá da sala que Archie me segurou e me garantiu
que eu seria uma mãe incrível. Este quarto é onde Connor dormiu
quando voltou do hospital, e onde passei a noite inteira apenas
olhando para ele, recusando-me a acreditar que criei algo tão
perfeito. Esta casa é onde ele sorriu pela primeira vez, e estas
paredes ouviram sua risada antes que eu tivesse que compartilhá-
la com alguém. Ele aprendeu a engatinhar, aprendeu a andar e
aprendeu a amar aqui mesmo nesta casa.

— Oh, Deus. Porra. Archie! Ajuda! Eu a fiz chorar! — Marco


corre para o meu lado, puxando-me para seu peito. — Eu estava
brincando sobre o juju, Ro. Você tem o melhor juju. Ninguém tem
juju como Rosie Wells-barra-Lockwood. Ninguém.

— O que você fez agora? — Archie pergunta com um suspiro


pesado, entrando no quarto.

— Ele não fez nada — eu me engasgo, batendo no meu rosto.


— Só estou — soluço — realmente vou sentir saudades de vocês!

— Ah, Rosie. — Archie me abraça com força e Marco se empilha


por cima. — Você sabe que não vamos a lugar nenhum.

— Vocês dois são a única família que conheço há tanto tempo.


Não quero perder isso.

Archie limpa as lágrimas que caem dos meus olhos. — Sempre


seremos uma família, Ro. E estamos muito orgulhosos de você e
muito felizes em ver você aumentando sua família. Você merece
tudo de bom que encontrou neste mundo.

— Vocês são duas das melhores coisas que encontrei —


murmuro.

— Nós ouvimos muito isso — Marco sussurra, e eu bufo em


meio às minhas lágrimas.

Vinte minutos depois, coloco minhas últimas coisas na bolsa.


Uma bolsa é tudo que me resta, porque Adam e Archie já levaram
tudo para a casa de Adam – nossa casa – ontem.

— Ah, oi. — Archie me para na porta após meu quinto adeus,


entregando-me uma pasta do banco. — Pegue isso.

— O que é?

— Uma conta poupança para Connor. Abri quando você


descobriu que estava grávida. — Ele esfrega o pescoço, levantando
um ombro. — Tenho colocado sua metade do aluguel lá todos os
meses para a educação dele.

Meu peito se abre e meu coração cai aos meus pés. Não tenho
palavras para dizer a ele o quanto isso significa para mim, então,
no verdadeiro estilo de uma garota que tem muitos sentimentos e
nunca aprendeu a expressá-los adequadamente, eu me jogo em
seu peito e choro.

Ele esfrega minhas costas, sua respiração presa na garganta.


— Se você não sair daqui nos próximos dez segundos, eu também
vou chorar, e não quero chorar.

— Eu amo você, Archie. Obrigada por ser meu melhor amigo.

— Eu também amo você, Rosie. Agora vá para casa.


Mal posso esperar, mas é ano novo e não posso deixar uma das
minhas garotas favoritas comemorar sozinha, então paro no
Wildheart no caminho. A técnica veterinária que ficou encarregada
com a tarefa durante os feriados acena para mim da toca dos gatos
quando entro.

— Ei, Rosie. — Ela me segue até o canil com um dos gatinhos


de dez semanas de uma ninhada que alguém encontrou na beira
da estrada. — O que você está fazendo aqui hoje?

— Só quero ver Piglet. — Não a vejo desde que a trouxemos de


volta no dia de Natal, e acho que nunca passei tanto tempo sem
vê-la. — Vou levá-la para uma caminhada rápida.

— Piglet? Ninguém contou a você?

— Contou o quê? — Eu pego sua coleira do gancho, já pegando


sua guloseima favorita no meu bolso enquanto me aproximo de
seu canil. Meus pés param derrapando e meus joelhos vacilam,
como se não soubessem mais como me manter em pé. Então leio
a placa pendurada no canil do Piglet e, quando minha colega de
trabalho sussurra as mesmas palavras, meu coração se
despedaça.

— Piglet foi adotada.

Levo uma hora para me recompor o suficiente para me sentar


ao volante.
Uma hora para me convencer de que isso era tudo que eu
queria para a minha Piglet. Um lar. Uma família que a amará sem
sombra de dúvida e a tratará bem. Uma família que a escolhe para
o resto da vida.

Ela merece isso, uma família para sempre. O mesmo que


encontrei, a minha.

Acho que só estava esperando que minha família eterna... bem,


que pudesse ser a dela também.

Chorar feio e fungar todos os tipos de fluidos ranhosos não é


exatamente como eu imaginei dirigir até esta casa pela primeira
vez desde que ela se tornou oficialmente minha casa. Quando
Adam me observa da varanda da frente ao sair do carro, posso
dizer que não é como ele imaginou também.

É um dia ameno, a camada de neve que pegamos ontem


derretendo sob o sol forte enquanto Connor anda de bicicleta pela
calçada. O olhar de Adam vem em minha direção, e toda a
preocupação em seus olhos azuis rouba sua excitação quando ele
se levanta nos degraus da frente.

Connor para a bicicleta com os pés, desce e corre até mim. —


Mama! — Ele abraça minhas pernas com força, seu grande
capacete verde encostado em minhas coxas. — Eu amo você,
Mama.

— Eu também amo você, baby. — As palavras saem roucas, e


quando Adam pega minha mão e me puxa para ele, uma nova onda
de lágrimas cai.
— O que está errado? — ele sussurra, balançando-me de um
lado para o outro. — Você mudou de ideia? Porque você não tem
permissão. Vou trancar as portas e não vou deixar você sair.

Eu dou uma risada abafada e estrangulada, depois choro um


pouco mais. — Estou bem. Estou total e completamente cem por
cento bem.

— Uh-huh. Quer tentar de novo?

— E-eu fui visitar Piglet no meu caminho e levá-la para passear,


mas ela não estava lá. Ela-ela-ela... — Passo a palma da mão no
nariz. — Ela foi adotada! É tão bom, não é? Isto é tão bom. É
excelente. É incrível. Ela encontrou uma... — Um soluço sufocado
me joga para frente, e eu enterro meu rosto no peito de Adam. —
Ela encontrou uma família!

Adam desliza a mão por baixo do meu suéter, sua palma fria
pesando nas minhas costas enquanto desliza para cima e para
baixo, repetidamente. Ele não diz nada, apenas me abraça
enquanto eu me agarro a ele. Então, ele pega minha mão e minha
bolsa, puxando-me em direção aos degraus da frente.

— Vamos, Connor. Vamos mostrar à mamãe como enchemos


nossa casa hoje.

Eu esfrego meus olhos enquanto Connor corre para a porta da


frente. — O que você quer dizer com encheu nossa casa?

Adam sorri e, mesmo em meu estado quase histérico,


reconheço que bela visão é.

Se lar é um sentimento, eu sinto quando vejo esse sorriso.


Quando ele abre a porta, um coro de latidos nos cumprimenta
enquanto Bear pula para frente, cobrindo-nos de beijos,
acalmando meu coração dolorido. E então um flash de pelos
marrom e preto, chama minha atenção, e eu olho para cima
quando a mais bela pastora alemã avança, feliz língua rosa
pendurada para fora de sua boca enquanto seus lindos olhos
castanhos piscam para mim. Ela dá três passos antes de pular no
ar, acertando Bear bem no rosto com sua bunda quando ela gira,
eu caio de joelhos e passo meus braços em volta de seu pescoço,
enterrando meus gritos em seu pelo.

— Piglet.

Uma peônia rosa de crochê está presa em sua coleira, e eu pego


a etiqueta em forma de coração com o nome dela entre meus dedos.
Atrás está meu número de telefone e uma mensagem simples: Se
eu estiver perdida, ligue para minha mãe.

— Você fez isso por ela? — eu sussurro, olhando para Adam


com os olhos embaçados.

Ele balança a cabeça. — Eu não fiz nada além de me apaixonar


por uma garota e seu cachorro um dia na floresta. E então elas me
trouxeram aquele garotinho e juntos, todos nós, formamos uma
família.

— Miau!

Minha cabeça se ergue com o minúsculo miado, bem a tempo


de pegar uma pequena bolha de penugem cinza que se lança da
cabeça de Bear e sobe pelo meu ombro. O gatinho cutuca meu
queixo com sua cabecinha e depois crava suas garras perfurantes
em meu suéter, descendo pelo meu peito e caindo no meu colo.
Adam esfrega a nuca. — Oh, e, uh, esse é Dinosaur. Fomos
visitar os gatos enquanto esperávamos por Piglet, e eu, uh... bem,
Connor olhou para mim com aqueles olhos esperançosos, e eu...
— Ele suspira, um sorriso tímido enquanto dá de ombros. — Ele
queria chamá-lo de Dinosaur. Eu não podia dizer não.

E então ele sorri, pegando Connor em seus braços, ajudando-


me a levantar e me colocando ao seu lado. Ele pega meu queixo
em sua mão, inclinando meu rosto, deixando cair os lábios mais
doces nos meus enquanto outra peça do quebra-cabeça se encaixa
lentamente no lugar.

— Bem-vinda ao lar, Rosie.


EPÍLOGO: OPS

— Você acha que ela vai gostar?

Dou um passo para trás, meus pés descalços aquecidos nas


tábuas de madeira, o sol da costa oeste da manhã entrando pelas
janelas de nossa sala de estar, banhando a cena diante de mim
com luz. Balões rosa metalizado, soletrando seu nome e o que este
dia significa para nós. Seu café da manhã favorito foi colocado em
um cobertor no chão, porque os piqueniques são nossa maneira
favorita de comer em família. “Up” pronto na TV, porque não há
filme que ela goste mais.

Mãos quentes pousam em meus braços, subindo até meus


ombros, onde seus dedos deslizam sob as alças da minha blusa.
Adam me guia de volta contra seu peito, braços largos me
envolvendo enquanto ele deixa beijos ao longo do meu ombro, até
meu pescoço.

— Ela vai adorar. Ela adoraria sem tudo isso, Rosie, porque ela
ama você.

Eu sorrio, balançando contra Adam enquanto ele beija minha


bochecha. — Eu a amo tanto. Parece que fomos feitas uma para a
outra. — Eu me viro para ele, colocando meus braços sobre seus
ombros enquanto ele agarra meus quadris. — Foi assim que eu
soube que ela era para nós, da mesma forma que eu sabia que você
era para mim. Sua mãe me disse que as pessoas são como peças
de um quebra-cabeça e, quando você encontra as peças que se
encaixam nas suas, não desiste.

— Ela é a nossa peça do quebra-cabeça.

— O ajuste perfeito.

Ele entrelaça seus dedos nos meus, puxando-me em direção à


escada. — Vamos lá. Vamos levantar as crianças.

Adam faz uma pausa fora do quarto de Connor, seu ouvido na


porta. Pequenas vozes chegam até nós, e ele sorri quando nossos
olhares se encontram. Quando abrimos a porta, todos estão
exatamente onde esperamos que estejam.

Connor ainda está enfiado debaixo dos cobertores, encolhido


nos travesseiros, o polegar na boca. Bear e Piglet estão encolhidos
ao pé da cama, e Dinosaur – que é meio bobo, diga-se de passagem
– está jogado na beirada do colchão, de barriga para cima, a cabeça
no chão, as patas esticadas para cima.

E Lily está sentada de pernas cruzadas sobre os travesseiros,


um livro nas mãos enquanto lê para Connor e os animais, o mesmo
que faz todas as manhãs antes do café da manhã.

Lily está morando conosco há seis semanas. No dia seguinte ao


Natal, Adam contatou sua assistente social e perguntou sobre
como poderíamos nos tornar pais adotivos. Em 2 de janeiro,
começamos nosso treinamento pré-serviço PRIDE de doze
semanas e, assim que nos qualificamos, Lily veio morar conosco.
Nem sempre foi fácil. Houve lágrimas e tantos medos, longas
noites e dias ainda mais longos. A exaustão aumentou quando
terminava meu estágio antes de me formar, e tudo parece mais
difícil quando Adam não está aqui, mas ele nos verifica todas as
noites. E apesar de todos os dias difíceis, cada um valeu a pena.
Porque além de tudo, houve os saltos e saltos mais corajosos,
sorrisos de tirar o fôlego, muitas risadas e mais amor do que eu
jamais pensei ser possível.

E agora, depois de quase seis meses, Adam e eu estamos


oficialmente prontos para adoção.

— Bom dia, queridos — cumprimento as crianças, sentando-


me no chão ao lado da cama. Connor e Lily correm, subindo no
meu colo para um aperto antes de correrem para Adam. — Você
dormiu aqui com Connor na noite passada? — pergunto a Lily
enquanto Adam os pega em seus braços fortes, colocando uma
criança em cada quadril.

Lily deita a cabeça no ombro de Adam, balançando a cabeça.


— Não gosto de dormir sozinha. Eu e Connor fazemos com que um
ao outro se sinta seguro.

Meu coração se aquece com o amor que ela tem por Connor,
tão profundo e infinito, e estou feliz que ela encontrou outra
maneira de se sentir mais em casa aqui, mais segura. Ouvimos a
porta do quarto dela abrir todas as noites esta semana, colocamos
nossas cabeças para fora e a vimos atravessar o corredor com pelo
menos um animal em seus calcanhares, rastejando
silenciosamente para o quarto de Connor. E cinco minutos depois,
abrimos a porta dele, e encontramos os dois dormindo
profundamente sob o brilho das luas e as estrelas presas em todo
o teto.

Lily se mexe pelo corpo de Adam, correndo até mim e pegando


minha mão. — Você pode me ajudar a me arrumar, Rosie?

Adam joga Connor em seus ombros. — Eu tenho este aqui.

Como um relógio, minha garganta aperta ao ver o quarto de


Lily, limpo e arrumado, mal habitado, sua bolsa no canto do quarto
como se ela estivesse apenas visitando. Ela abre o zíper, tira a
roupa limpa que lavei ontem, as roupas que ela colocou de volta lá
dentro. E eu faço a ela a mesma pergunta que faço todas as
manhãs.

— Você gostaria de desfazer sua mala hoje?

Ela balança a cabeça, espalhando algumas opções na cama. —


É melhor assim. Caso você queira que eu vá, posso sair rápido.

Sua dor envolve meu coração como um punho raivoso,


apertando. Os mesmos velhos sentimentos ressurgem, a
lembrança de anos passados me sentindo indesejada, indigna de
amor, dando um tapa na cara. Não é melhor assim, e eu faria
qualquer coisa para ela acreditar nisso.

Por enquanto, eu me agacho ao lado dela, colocando minha


mão sobre a dela, olhando para aqueles olhos inocentes e
arregalados. — Nós amamos muito você, Lily. Sempre que estiver
pronta para desfazer sua mala, avise-me e nós guardaremos tudo
juntas. Nossa casa não seria um lar sem você.

Aquele narizinho enruga quando ela funga. Ela enrola as


pontas rosa de seu cabelo castanho nos dedos, a tinta temporária
que colocamos no fim de semana passado, quando ela disse que
queria um cabelo como o meu. — Você poderia fazer tranças no
meu cabelo esta manhã? Eu quero combinar com você.

Quinze minutos depois, com tranças francesas combinando e


em seu vestido favorito – aquele que ela estava usando quando
perguntamos se ela queria vir morar conosco – descemos as
escadas. Meu coração dispara, ficando mais ansiosa quanto mais
nos aproximamos. Quando vemos os meninos na sala, esperando
embaixo dos balões e no meio do nosso minizoológico, Lily para.

— Dia da Lily? — ela sussurra, curiosos olhos cor de chocolate


movendo-se entre nós e os balões rosa. Ela inclina a cabeça. —
Pensei que meu aniversário fosse só em junho.

— Isso é. Mas hoje queremos mostrar o quanto somos gratos


por ter você em nossa família. Adoramos ver você crescer, Lily.
Você é feroz, corajosa e gentil, e é uma irmã tão carinhosa e
espetacular para Connor.

Seus olhos brilham com aquela palavra com “i”, e quando


Connor corre, envolvendo-se em torno dela, ela fecha os olhos,
afundando em seu amor.

— Eu amo você, irmã — meu doce filho de dois anos diz a ela.

Adam se ajoelha na frente dela, pegando suas pequenas mãos


em suas mãos grandes. — Nós amamos você, Lily. Adoramos
recitais de dança nas manhãs de sábado, piqueniques no chão da
sala, brincar de Dra. Lily, veterinária, com os cachorros e o gato.
Adoramos nos aconchegar e ler seus livros favoritos
repetidamente, dias chuvosos assistindo aos filmes e sua arte na
geladeira.
Enquanto o queixo de Lily treme e as lágrimas inundam seus
olhos, Adam enfia a mão no bolso e tira a pulseira rosa e roxa que
fez ontem à noite, depois que ela dormiu profundamente. Ele a
desliza no pulso dela, passando a ponta dos dedos sobre o pequeno
acréscimo, as letras prateadas penduradas. A,R,L,C.

— Uma para cada um de nós — ele diz a ela, e quando a


primeira lágrima escorre, ele a pega com o polegar. — Você é a
nossa peça do quebra-cabeça, Lily. Nossa família não está
completa sem você.

Eu corro minha mão por sua trança, sorrindo em meio às


minhas próprias lágrimas. — Nós queremos que você fique,
querida. Para sempre.

— Vocês-vocês-vocês... — Ela funga, o queixo tremendo. —


Vocês querem me adotar?

Eu concordo. — Você faz parte da nossa família há algum


tempo. Mas se estiver tudo bem para você, gostaríamos de torná-
lo oficial.

Ela pega a saia do vestido com as mãos, olhando para Adam.


— Isso significa que eu ganho uma camisa como a de Connor para
usar nos seus jogos? Uma que diz ‘Daddy’ nas costas?

Adam sorri, caminhando até a mesa de centro, voltando com


uma pequena camisa azul e verde. Ele a desdobra, mostrando o
verso para Lily, seu número definido abaixo dessa mesma palavra,
aquela que Adam se sente tão sortudo por ser chamado por
Connor, aquela que ele espera que algum dia Lily se sinta
confortável em falar para ele também.
Lágrimas caem em cascata pelas bochechas de Lily enquanto
ela esfrega os olhos com os punhos trêmulos. — Isso significa que
posso chamar você de mamãe?

Meu coração se despedaça e eu a puxo para o meu peito. — Se


você quiser, querida. Eu ficaria muito honrada em ser sua mãe e
vou amar você para sempre, assim como sua mãe no céu.

Um soluço sai de sua garganta, e ela se agarra a mim enquanto


choramos. Connor envolve seus bracinhos em volta de nós, e Adam
pega nós três nos dele. Em algum lugar, há um gato miando em
desaprovação por não estar no meio desse abraço, e dois cachorros
dançam ao nosso redor, enfiando a língua em nossos ouvidos,
lambendo nossas lágrimas.

Quando nos separamos, Lily olha para mim, enxuga as


lágrimas dos olhos. Com a borda vermelha e cansada, é a
esperança renovada neles que pinta as fissuras em meu coração
como cola, consertando pedaços de mim que eu pensei que nunca
mais poderiam ser consertados.

E então ela pega minha mão e diz: — Acho que estou pronta
para desfazer minha mala hoje.

Ela veste sua camisa para o jogo de play-off de Adam naquela


noite. Exibe com orgulho aquele nome de cinco letras nas costas,
um sorriso devastador e tanta cor nas bochechas enquanto aponta
para ele se esticando no gelo e diz a todos: — Esse é o meu pai.
— Puta merda — Cara murmura baixinho.

— Sim — Olivia diz com um suspiro.

— Todos nós sabíamos disso — Jennie cantarola.

— O quê? — eu pergunto, meus olhos em Adam enquanto ele


afunda mais em seu alongamento, suas pernas esticadas ao lado
do corpo enquanto ele faz as aberturas e de alguma forma
consegue piscar para mim e acenar para as crianças ao mesmo
tempo.

— Adam — Olivia diz simplesmente. — Ele é um DILF maior do


que Carter.

Carter joga a perna para cima no banco, espreguiçando-se e


encarando. — Como você ousa! Estou bem aqui. Ninguém me
supera como DILF, Olivia.

Cara aponta para Adam, fixando sua nova máscara de goleiro


em seu rosto enquanto ele patina. — Adam acabou de fazer,
querido.

— Papai!

— Papai!

Connor e Lily pulam no vidro, batendo as mãos contra ele


enquanto Adam para na frente deles.

Os olhos de Connor brilham e ele aponta para a arte na


máscara de Adam. — Pic ta! Dada, Mama, Conn'a, irmã! Oooh-ho-
ho! Bear, Pig-it, Dino-saw! Chomp-chomp!

Ser pai nunca combinou mais com uma única pessoa viva do
que com este homem, juro por Deus. Perdi a conta de quantas
vezes pulei em cima dele logo que ele saiu de seus quartos depois
de ler uma história para dormir, aconchegando-os durante a noite.
E eu fiz a mesma maldita coisa quando Adam voltou para casa
quatro noites atrás e me mostrou a nova máscara que ele fez com
a arte de Lily nela, um desenho de nossa família.

O queixo de Lily treme. — Eu desenhei essa imagem. Você


colocou na máscara?

Adam assente. — Tenho que manter minha família comigo


quando estou no gelo. — Ele coloca a palma da mão contra o vidro,
e Lily sorri, avançando para colocar a dela do outro lado.

— Aqui, Connor — diz ela suavemente. — Você coloca a sua


aqui, bem ao lado da minha.

Ouço uma fungada ao meu lado e o clique distinto de uma


câmera. Lennon, a nova fotógrafa da equipe e gerente de conteúdo
de mídia social, e a mais nova adição à nossa equipe feminina,
funga. — Peguei. — Ela bate em seus olhos. — É isso. Essa é a foto
mais doce que já tirei. As garotas vão enlouquecer com isso.

Jaxon bate no vidro. — E quanto a mim? Você tirou minha foto?

Ela o ignora, tirando uma foto de Carter e Ireland em seguida.


— Perfeição. Perfeição absoluta.

— Lennon? Você tirou minha foto? Veja isso. — Jaxon


cambaleia para trás, caindo de joelhos, abrindo bem as pernas. —
Olhe o quão baixo eu posso chegar.

— Não tão baixo quanto Adam — ela murmura, folheando suas


fotos.

— Len? Você me viu? Quer que eu faça de novo?


— Sim, Jaxon — ela finalmente fala, revirando os olhos para
apenas nós vermos, seus cachos castanhos saltando de onde eles
estão empilhados no topo de sua cabeça quando ela finalmente se
vira para dar a ele sua atenção. — Eu vi você. Estamos todos muito
impressionados.

Ele sorri, tão infantil e orgulhoso, e eu rio baixinho. Entre os


dois, não tenho certeza de qual irrita mais o outro, mas tenho
certeza de que ambos gostam.

Um toque suave no vidro à minha frente atrai meu olhar para


lá, encontrando Adam me observando, sua máscara apoiada no
topo de sua cabeça.

— Temos muita sorte, hein, Trouble?

— Muita sorte.

Ele sorri então, diabólico e tão seguro de si. — Eu vou me casar


com você um dia, você sabe.

Eu sorrio, aquela mesma sensação tonta no estômago toda vez


que temos essa conversa. — E se eu disser não?

Ele puxa a máscara para baixo, fixando-a sobre o rosto.


Enquanto ele se afasta, ele pisca para mim. — Você não vai.

E no final do jogo, quando eles vencem na prorrogação, Adam


olha para nós e bate três vezes no coração.
Acordamos cedo na manhã seguinte, as crianças e todos os
animais embalados na caminhonete para nossa caminhada. Sim,
até Dinosaur.

O sol tinha acabado de surgir no horizonte quando Adam


deixou as crianças em cima de mim na cama, cartões desenhados
à mão e um buquê brilhante de peônias rosa para mim no Dia das
Mães, solicitando uma caminhada ao nascer do sol. O copo da
Starbucks quentinho em minhas mãos ajuda a espantar o sono de
uma noite comemorando com nossa família e amigos, mas eu
acordaria cedo todos os dias pelo resto da minha vida, desde que
fosse com essa família.

Raios fraturados de âmbar se filtram pelos galhos enquanto


caminhamos, o sol subindo lentamente aquecendo esta trilha
arborizada. Connor e Lily dançam à nossa frente de mãos dadas,
os cães logo atrás, o gato tentando abrir caminho na frente deles.

— Sobre o que você está pensando? — O timbre profundo de


Adam estala na floresta silenciosa enquanto os pássaros acordam
um por um, suas canções matinais se tornando mais altas à
medida que caminhamos mais fundo.

— Como nunca me imaginei passeando com um gato na coleira.

Ele late uma risada, sua mão apertando a minha. — Dinosaur


não gosta quando todos nós saímos sem ele.

Sim. O gato tem o maior medo de ser deixado que já encontrei.


Todos os três quilos dele também pensam que ele é tão grande e
feroz quanto seus irmãos caninos – que, aliás, têm pavor dele –
então ele praticamente comanda nossa casa agora.
Lily e Connor param para inspecionar um inseto subindo no
tronco de uma árvore, e os animais correm, os cinco se
amontoando enquanto a lagarta felpuda laranja e preta sobe
lentamente.

— Não acredito como meu mundo mudou no ano passado.


Tenho tudo o que sempre quis, mas nunca ousei sonhar que
realmente teria. Tudo o que eu aprendi a acreditar que não
merecia. Achei que precisava ser melhor. Fazer algo para me
destacar. Pintar meu cabelo para que as pessoas me notassem. Eu
só queria ser escolhida. Eu queria que alguém olhasse para mim e
dissesse: É ela. Só queria alguém que me amasse por quem eu era
sem ter que mudar uma única coisa sobre mim, Adam, e então
encontrei você. E não só recebi o seu amor, mas aprendi a me amar
melhor por causa da maneira como você me amou, tão
completamente.

Os dedos de Adam apertam os meus, fazendo-me parar. A


emoção que brilha em seus olhos reflete exatamente o que sinto
em meu coração – muita gratidão pelo amor de uma vida. Eu pego
seu rosto em minhas mãos, guiando sua boca até a minha.

— A única escolha que tive foi ao escolher pisar nesta mesma


trilha naquela manhã. O destino cuidou do resto. É nisso que
estou pensando.

— Case-se comigo — ele deixa escapar, então pisca


rapidamente, como se não pudesse acreditar que essas palavras
acabaram de sair de sua boca. — Ah, merda. Não era assim que
deveria acontecer.
— Eu pensei que você ia fazer isso na árvore — Lily repreende,
com as mãos nos quadris. — Onde estão os pais dela. — Ela bate
o pé. — E você tem que dar o anel a ela, papai. Isso é o que vai
fazê-la dizer sim.

— Eu sinto muito — ele fala rápido, e não tenho certeza se ele


está se desculpando comigo ou com Lily. Ele agarra minha mão,
arrastando-me enquanto corre para aquela velha árvore, aquela
com minhas iniciais e as de meus pais, cercada por um arco-íris
de peônias que começaram a florescer. Meu coração tenta rastejar
até minha garganta quando ele se vira para mim, puxando uma
pequena caixa de veludo de sua bolsa com as mãos trêmulas. —
Ei, uh, esqueça o que eu disse há um minuto, ok?

— Esquecido — eu sussurro quando ele cai de joelhos.

Os cães sentam-se ao seu lado e Dinosaur cai de costas,


rolando na terra enquanto mia. Connor puxa a caixa das mãos de
Adam, abrindo-a, e o sol nascente atinge o diamante mais lindo.

— Oooh — ele sussurra, empurrando-o na minha cara. —


Bonito, Mama.

— Achei que você ia esperar o sol nascer completamente —


lembra Lily a Adam. — Porque você disse que ela é como o nascer
do sol.

Adam abaixa a cabeça, uma risada cansada sacudindo seu


peito. Quando ele olha para mim, é com o sorriso mais suave, tão
inerentemente Adam, terno e calmo, tão paciente. — Eu deveria
ter esperado que isso fosse exatamente o oposto de como eu
planejei, hein?
Concordo com a cabeça, as lágrimas já se acumulando em
meus olhos. — Isso é paternidade para você.

— Mas talvez seja exatamente como planejei, porque tudo que


eu preciso é você aqui, cercada por todo o amor que torna esta
família tão perfeita quanto é. Essa é a única coisa com que sempre
sonhei. — Ele se vira para Connor, pegando suas mãozinhas nas
dele. — Connor, amigo, eu me apaixonei logo que conheci você,
quando jogou seus sapatos no meu peito e exigiu que eu os
calçasse. Você é tão inteligente e curioso e ama de todo o coração,
assim como sua mãe. — Ele puxa Lily para se juntar a eles. — Lily,
você é tudo de bom e paciente neste mundo, e no dia em que você
me pediu para ler com você, eu soube que amava você. — Ele
aperta as mãos deles. — Eu amo vocês dois e estou muito
orgulhoso e grato por ser seu pai. Agora, o que vocês acham de eu
fazer da mamãe minha esposa?

— Sim! — eles gritam, e Connor tropeça em seus pés, plantando


o rosto contra o peito de Adam enquanto ele agarra seu pescoço.

— Eu amo você, Dada. — Ele aponta para mim, segurando o


anel. — Dá Mama anel?

Adam pega o anel da caixa com as mãos trêmulas. Seu olhar


toca o coração esculpido na árvore e, quando ele fecha os olhos e
pressiona a mão no mesmo local que meus pais tocaram, minhas
lágrimas brotam.

Ele abre a boca, hesita, depois a fecha, balançando a cabeça.


— Pratiquei isso mil vezes. Cada palavra que eu queria dizer, disse
na frente do espelho, no chuveiro, Cristo, Rosie, eu até recitei na
frente dos caras na semana passada. E agora estamos aqui, e
estou olhando para você, e a única palavra que consigo pensar é
obrigado. Obrigado por confiar em mim com tudo de você, seus
medos, suas inseguranças, seu passado e seu futuro. Obrigado por
me deixar entrar em sua vida, por me fazer sentir como se
pertencesse a ela. — Ele abaixa a cabeça, expirando, e eu me
inclino para frente, correndo meus dedos por seus cachos macios
até que ele me dê seus olhos novamente, azul elétrico e brilhando
com lágrimas. — Obrigado por me dar uma segunda chance.
Obrigado por reservar um tempo para me ver por inteiro, conhecer
tudo de mim e obrigado por amar tudo isso. Obrigado por me
mostrar o que significa ser amado sem reservas. Obrigado, Rosie,
por ser você.

Reluzentes raios dourados dançam pela floresta enquanto o sol


finalmente surge por entre as árvores, banhando minha família
com um calor deslumbrante e de tirar o fôlego que posso sentir até
a ponta dos dedos dos pés.

Adam sorri, uma visão bela, magnífica, o tremor em seu toque


desaparecendo quando ele desliza minha mão na dele. — Você tem
sido minha melhor amiga e minha parceira em tudo isso. — Ele
desliza o anel requintado no meu dedo, o diamante em forma de
lágrima do mesmo tom rosado do meu cabelo. — Agora eu quero
que você seja minha esposa.

Ele me pega contra ele quando caio em seu colo, uma risada
suave que desliza pelo meu pescoço enquanto jogo meus braços
em volta dele e choro por um amor com o qual passei minha vida
sonhando.

— Você não expressou isso como uma pergunta — eu choro.


— Porque você não tem permissão para dizer não; eu já disse.
— Ele me move para trás, tirando minhas ondas do meu rosto
úmido. — Sabe como eu sabia? Como eu sabia que era você?

— Como?

— Às vezes, as pessoas dizem que sabem que encontraram a


pessoa certa porque viraram seu mundo de cabeça para baixo,
pegaram tudo o que achavam que sabiam e o sacudiram. Mas
você? Não você, Rosie. Você não desequilibrou todo o meu mundo.
Você o centralizou. Era como se você fosse minha gravidade, e cada
momento que eu estava com você, tudo se encaixava. Meus medos,
minhas inseguranças, minhas esperanças e meus sonhos. Eu
estava em paz com tudo, desde que você estivesse ao meu lado. —
Ele coloca meu cabelo atrás da minha orelha, seu polegar
passando pela covinha no meu queixo enquanto ele sorri. — Com
você, encontrei minha gravidade. Isso vale muito mais do que o
meu caos.

Ficamos por aqui a manhã toda, eu e minha família, tomamos


café da manhã na ponte, mergulhamos no riacho fresco lá
embaixo. E na hora de partir, Adam tira um canivete da bolsa e
acrescenta C, L e A àquele coração marcado para sempre na árvore.

Pego a mão de Lily na minha enquanto Adam coloca Connor em


cima de seus ombros, Bear, Piglet e Dinosaur nos levando para
casa.

— Teremos que voltar em janeiro para gravar mais uma inicial.

O olhar de Adam desliza para o meu. — Mais uma?


— Mhmm. Quando seremos uma família de cinco. — Eu dou
de ombros. — Ou oito, eu acho, incluindo os animais.

— Família de... — Ele para, marcando cada um de nós em seus


dedos enquanto conta baixinho.

Lily se engasga, e os olhos de Adam se voltam para a minha


barriga quando ela coloca a mão ali.

— Eu sei que é um pouco mais cedo do que planejamos, e você


tinha grandes esperanças de um bebê na primavera ou no verão,
então você poderia viajar conosco, mas parece que fizemos um...

— Um bebê de inverno. — Suas palavras escapam dele em um


suspiro. Seu peito sobe bruscamente, e aquele tremor em suas
mãos de antes retorna quando ele leva uma à boca, esfregando-a,
antes de estender a mão hesitantemente, colocando a palma da
mão sobre minha barriga. Olhos azuis se voltam para os meus bem
a tempo de eu rastrear a única lágrima que escapa, escorrendo por
sua bochecha. — Fizemos um bebê de inverno?

Eu sorrio, cobrindo sua mão com a minha, e dou de ombros.

— Ops.

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