Você está na página 1de 455

Esta presente tradução é de autoria de dois grupos de tradução.

Nossos
grupos não possuem fins lucrativos, sendo este um trabalho voluntário e
não-remunerado. Traduzimos livros com o objetivo de possibilizar a leitura
para aqueles que não sabem ler em inglês.
Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento dos grupos
de tradução, pedimos que:
• Não publique abertamente sobre essa tradução em quaisquer redes
sociais (por exemplo: não responda a um tuíte dizendo que tem esse livro
traduzido);
• Não comente com o autor que leu este livro traduzido;
• Não distribua este livro como se fosse autoria sua;
• Não faça montagens do livro com trechos em português;
• Se necessário, finja que leu em inglês;
• Não poste – em nenhuma rede social – capturas de tela ou trechos
dessa tradução.
Em caso de descumprimento dessas regras, você será banido desses
grupos.
Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma editora brasileira,
iremos excluí-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos os canais permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam feitas de forma
construtiva e sem desrespeitar o trabalho da nossa equipe.
SINOPSE ........................................................................................................5
SUMÁRIO .....................................................................................................6
Aviso — Bookworm’s Cafe & Wicked Lady .................................................3
CAPÍTULO UM .........................................................................................10
CAPÍTULO DOIS ......................................................................................21
CAPÍTULO TRÊS......................................................................................34
CAPÍTULO QUATRO..............................................................................46
CAPÍTULO CINCO ..................................................................................61
CAPÍTULO SEIS ........................................................................................71
CAPÍTULO SETE ......................................................................................75
CAPÍTULO OITO .....................................................................................89
CAPÍTULO NOVE ................................................................................. 100
CAPÍTULO DEZ ..................................................................................... 108
CAPÍTULO ONZE ................................................................................. 113
CAPÍTULO DOZE ................................................................................. 129
CAPÍTULO TREZE................................................................................ 136
CAPÍTULO QUATORZE...................................................................... 148
CAPÍTULO QUINZE............................................................................. 164
CAPÍTULO DEZESSEIS ........................................................................ 182
CAPÍTULO DEZESSETE ...................................................................... 193
CAPÍTULO DEZOITO .......................................................................... 204
CAPÍTULO DEZENOVE ...................................................................... 213
CAPÍTULO VINTE ................................................................................ 221
CAPÍTULO VINTE E UM..................................................................... 233
CAPÍTULO VINTE E DOIS.................................................................. 243
CAPÍTULO VINTE E TRÊS ................................................................. 259
CAPÍTULO VINTE E QUATRO ......................................................... 270
CAPÍTULO VINTE E CINCO ............................................................. 276
CAPÍTULO VINTE E SEIS .................................................................... 283
CAPÍTULO VINTE E SETE .................................................................. 297
CAPÍTULO VINTE E OITO ................................................................. 308
CAPÍTULO VINTE E NOVE ................................................................ 329
CAPÍTULO TRINTA............................................................................. 345
CAPÍTULO TRINTA E UM ................................................................. 365
CAPÍTULO TRINTA E DOIS .............................................................. 374
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS .............................................................. 382
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO ...................................................... 386
CAPÍTULO TRINTA E CINCO .......................................................... 398
CAPÍTULO TRINTA E SEIS ................................................................ 404
CAPÍTULO TRINTA E SETE .............................................................. 408
CAPÍTULO TRINTA E OITO ............................................................. 417
CAPÍTULO TRINTA E NOVE ............................................................ 428
CAPÍTULO QUARENTA ..................................................................... 439
EPÍLOGO ................................................................................................. 451
AGRADECIMENTOS: .......................................................................... 453
Este livro é para os molengas.
Para os doces com corações ternos.
Para os introvertidos que têm medo de brilhar.
Plantar um jardim é acreditar no amanhã.
— Audrey Hepburn
Annie

Eu estou convencida de que a ideia de ir a encontros foi algo criado


por um vilão maligno para torturar a humanidade. Dramática? Nem
um pouco. Para introvertidos com ansiedade social como eu, o
processo de sair a encontros é equivalente a depilar com cera as partes
íntimas. A cólicas menstruais no segundo dia do seu ciclo. Um
procedimento odontológico de emergência que você não esperava –
e adivinha só: o efeito da anestesia passou.
— Mais uma vez, sinto muito pela cerveja — digo ao homem
sentado à minha frente.
— Está tudo bem — diz ele de forma cortante, o que significa que
não está nada bem.
Isso não está indo bem. Não que alguma vez tenha dado certo para
mim no passado, mas desta vez realmente não está indo nada bem.
Acho que afastar um homem nos primeiros dez minutos de um
encontro é meu novo recorde. Porque John, o homem sentado à
minha frente com uma camisa polo e calça cáqui encharcadas e
manchadas de cerveja, bebida que acidentalmente derrubei em seu
colo, parece pronto para fugir. Não posso culpá-lo.
Por que eu pensei que conseguiria fazer isso? Faz anos que não saio
com alguém, e mesmo naquela época nunca gostei muito. Sou uma
pessoa que evita atenção a todo custo. Alguém que não consegue
pensar em uma única coisa para dizer quando um homem sentado
em frente a ela está olhando fixamente para ela.
Mais uma vez, eu me pergunto: Por que você está aqui, Annie?!
Oh, certo. Foi o brownie. Bem, primeiro foi a percepção de que,
mesmo depois de abrir a floricultura da qual minha mãe sempre
sonhou, a sensação incômoda de que algo está faltando ainda me
atormenta. Então decidi que era hora de bolar um plano em ação para
achar meu par perfeito e começar uma vida com ele – porque essa é a
única tarefa do checklist da minha vida que não foi marcada. E como
tenho babado por John (o homem que eu e minhas irmãs sempre
chamamos de Gatinho Bancário), pensei que ele poderia ser o
candidato perfeito para a função.
A função em questão tem critérios muito rígidos com base no
casamento repleto de amor que meus pais tiveram. Primeiro passo,
ele deve morar na cidade e ter raízes aqui em Rome, Kentucky;
segundo passo, ele deve ter um emprego estável; terceiro passo, ele
deve ser gentil e também apoiar minha carreira; e quarto passo, ele
deve querer ter uma família.
Essas são as únicas coisas que importam para mim.
Então, da última vez que fui ao banco para depositar um cheque,
usei meu momento extrovertido (que ocorre uma vez ao ano) e
perguntei se ele gostaria de sair algum dia. Ele milagrosamente disse
que sim, e passei a semana seguinte me recuperando do estresse e da
ansiedade que sofri ao perguntar isso.
De qualquer forma, quando sugeri um encontro em algum lugar
um pouco fora de Rome para ter um novo cenário (e manter nossa
intrometida cidade, que tem somente um semáforo, fora da minha
vida), ele sugeriu Peppercorn, um bom restaurante a cerca de trinta
minutos de distância. E quando pesquisei, o site disse que este lugar
tem um excelente brownie gigante. Não fica melhor do que isso.
A sobremesa é literalmente a única razão pela qual ainda estou
sentada aqui neste encontro dolorosamente estranho.
Eu gostaria de poder mandar uma mensagem para minhas irmãs
agora e perguntar o que fazer. Mas isso exige que elas realmente
saibam que estou em um encontro, o que abriria margem para o tipo
de atenção que venho tentando evitar. No minuto em que minhas
irmãs descobrirem sobre minha busca para encontrar um marido,
todos os outros saberão também. Eu realmente odiaria que Mabel (a
mulher que é como uma avó para mim) tentasse me arranjar com
todos os solteiros elegíveis que ela conhece. Então estou mantendo
isso em segredo – como a maioria das coisas na minha vida.
A única razão pela qual estou superando minha terrível ansiedade
social agora é porque estou totalmente confiante de que o casamento
é a coisa que está faltando. Eu gostaria de poder ligar para meus pais
para saber a opinião deles, mas como eles morreram quando eu tinha
três anos, isso nunca será uma opção. Então, em vez disso, estou
seguindo os passos deles. De estar casada e feliz aos vinte e oito anos.
Isso me dá pouco menos de um ano para encontrar a pessoa com
quem quero passar o resto da minha vida.
Pena que tenho que ir a encontros primeiro.
Eu sorrio para John, esperando que isso diminua seu
aborrecimento por estar ensopado com minha bebida. Mas eu sou
Annie Walker: tímida, com ansiedade social, uma introvertida
extraordinária que sente que este homem não quer passar nem mais
um segundo em minha companhia. E isso faz meu sorriso parecer
meio uma careta. Imagino que parece até uma careta de rosnado.
Minhas narinas podem até estar meio abertas.
Eu não posso fazer isso.
John pigarreia e tenta sorrir casualmente também. Claro que o
sorriso dele é melhor que o meu.
— Então... como é ter uma floricultura? — Ele fala parecendo
entediado.
Eu gostaria de cavar um túnel e sumir daqui até o México. Meu
coração está disparado, e este restaurante chique é muito barulhento.
Eu não pertenço a este lugar. Minhas irmãs, Madison e Emily, no
entanto, iriam adorar.
— Annie? — John pergunta novamente quando eu não respondo
de imediato.
Certo! Conversar. Você pode fazer isso, Annie. Não há
necessidade de se calar só porque o homem perguntou sobre um
assunto que você realmente gosta. Flores. Fácil demais.
Eu engulo em seco e me preparo para dar minha resposta.
— Hum... é divertido. — John espera um momento e então
inclina-se um pouco para a frente, claramente esperando que eu diga
mais alguma coisa. — Muito divertido — acrescento para apaziguar
seu desejo por uma frase maior.
Eu elaboraria, mas agora a única coisa que gira em torno da minha
mente é o ciclo reprodutivo das flores (que acho profundamente
fascinante), mas tenho uma sensação distinta de que John não é do
tipo que se maravilha com biologia. Então eu me calo novamente.
— Então é... muito divertido? — Ele pergunta e eu aceno. — Bem,
bom. — Ele respira fundo e então recosta-se na cadeira e desvia o
olhar. Caímos em um silêncio desconfortável. Isso faria a maioria das
pessoas dizer algo – qualquer coisa – mas não eu. Eu congelo ainda
mais. O peso de manter uma conversa é muito pesado para os meus
ombros.
Eu sou a quieta da minha família. Aquela com o nariz sempre
enfiado em um livro porque prefere mundos onde não tenha que
interagir com outros humanos. É muito mais fácil ler sobre
relacionamentos do que promovê-los. Menos perigoso também. Não
posso ofender ninguém escrito em um livro. Eu não posso dizer a
coisa errada. E os personagens dos livros não me julgam.
Quando John pega seu celular e começa a mexer nele, percebo que
tenho que tentar algum tipo de conversa, ou esta noite vai acabar
antes de começar.
— Então, John — eu começo, e então durante os próximos dez
minutos eu praticamente perco a noção enquanto tagarelo sem parar,
apenas recuperando a consciência quando eu estava terminando com
um: —, e é por isso que o propósito principal da flor é a reprodução.
— Uau. OK. Isso foi... muita informação sobre flores — ele diz
com uma expressão que beira ao espanto. Claramente, minha
tentativa de conversa passou direto por ele, entrando por um ouvido
e saindo pelo outro.
Eu sorrio timidamente e olho em volta para a nossa garçonete.
Está tão cheio aqui que ela não apareceu para anotar nosso pedido
depois de pegar nossas bebidas. Eu realmente adoraria uma
interrupção agora.
Nada.
— Então, uh, você pelo menos tem algum hobby? — Ele
pergunta.
Nossa, “pelo menos”. Eu já estou tão longe de seu tipo para
namorar que ele está procurando por um pelo menos para melhorar a
situação de alguma forma.
Eu aperto o tecido do meu vestido debaixo da mesa. Eu tenho um
hobby, mas até mesmo minhas irmãs não sabem sobre isso, então eu
com certeza não vou compartilhá-lo com este homem que
aparentemente passar o tempo comigo lhe causa dor física.
— Flores meio que são meu hobby e também minha carreira.
— Certo — diz ele brandamente, porque mais uma vez encerrei
qualquer conversa. Por que eu sou assim? Eu preciso falar. Fazer
perguntas! Por que não consigo pensar em nenhuma? Meu cérebro é
uma tábula rasa.
Mas ele está batendo com o dedo na mesa agora e desviando o
olhar de mim.
Em um ataque de pânico, deixo escapar a primeira coisa que me
vem à cabeça.
— Eu quero me casar.
Olha só, finalmente disse algo que chamou a atenção de John.
Ele olha para mim, boquiaberto e em estado de choque, porque,
sim, acabei de mencionar o casamento durante um encontro que já
estava indo por água abaixo.
Tentando me recuperar, eu digo:
— Oh não, não com você! — Meu sorriso desaparece quando vejo
seu rosto franzir. — Bem, talvez com você. Quem sabe? Se as coisas
correrem bem esta noite, tudo pode acontecer. — Agora percebo que
fiz parecer que vamos dormir juntos esta noite, e John tem que me
dar prazer o suficiente para me conquistar. Incrível. — Desculpe, não,
eu não quis dizer que você tem que ser bom em você sabe o quê... para
eu me casar com você. Tenho certeza de que há uma curva de
aprendizado quando se trata desse tipo de coisa.
Agora o rosto dele perde toda a cor porque estou piorando tudo.
John pisca, pisca e pisca para mim, completamente sem saber como
responder. Não há como salvar este encontro.
— Você me dá licença, John? Eu preciso usar o banheiro. — E me
recompor. E possivelmente sair pela janela e fugir.
Ele está tão aliviado por estar livre da minha companhia por
alguns minutos que acena com a cabeça ansiosamente.
— Sim, demore o tempo que precisar!
Eu fico de pé com as pernas bambas e atravesso o restaurante,
sentindo irracionalmente como se todo mundo aqui estivesse
olhando para o quão estranho este vestido fica em mim. É o vestido
da minha irmã, então ficou um pouco longo em mim. Abraça todas
as minhas curvas como deveria, mas depois cobre meus joelhos e paira
no meio da panturrilha, ao contrário de como fica em Emily, logo
acima dos joelhos. Ela usa esse vestido em seus muitos encontros de
sucesso porque não tem um pingo de ansiedade social. Eu roubei do
armário dela e guardei na minha bolsa para que ela não notasse
quando eu saísse de casa e perguntasse para onde eu estava indo. Eu
não tinha nada meu para vestir porque nunca saio em bons encontros
(meu último foi a três anos atrás e progrediu de maneira muito
semelhante a este).
Eu teria pegado um vestido da minha outra irmã, mas Madison é
do tamanho de uma fada, e nenhum de seus vestidos passaria dos
meus quadris.
Depois do que parece ser uma caminhada de um quilômetro,
chego ao banheiro e afundo contra a parede. O secador automático
de mãos dispara no meu ombro, me dando um susto e me fazendo
gritar.
— Tudo bem, Annie, se recomponha. Você consegue fazer isso —
eu digo enquanto me afasto dos secadores de mãos e tiro meu telefone
da minha bolsa. Deslizo para abrir uma conversa de texto com minha
futura cunhada, Amelia. Ela é a única pessoa que sabe que tenho um
encontro esta noite.
Desde que Amelia (você deve conhecê-la como Rae Rose, estrela
pop mundialmente famosa) veio para a cidade há pouco mais de um
ano e apaixonou-se por meu irmão mais velho, tivemos uma conexão
instantânea que não consigo explicar. Como se ela sempre estivesse
destinada a estar em nossa família. E apesar de ela ser nova na família,
confio nela de uma forma que não confio em muitas outras pessoas.
É por isso que eu mando uma mensagem para ela agora.
Annie: SOCORRO!!!!

Amelia: Ah não! Não está indo bem?

Annie: Derramei minha bebida nele. E então disse a ele que

quero me casar.
Amelia: Caramba! Você gosta tanto assim dele?

Annie: Não, eu o odeio.

Amelia: Hmm, estou confusa. Você consegue fugir?

Aninha: Não! Isso é tão rude!

Amelia: Em e Maddie estão chegando em alguns minutos.

Apenas diga a ele que você teve um imprevisto e depois

venha sair com a gente!

Annie: Não posso fazer isso com ele depois de derramar

uma bebida nele e insinuar que ele tem que me agradar

na cama ou não vai conseguir casar comigo.

Amelia: Oh meu Deus. Há tantas camadas nisso.

Annie: Vou apenas comer rápido. Não comecem um filme

sem mim.

Amelia: Boa sorte!! Peça para mim um brownie para

viagem. Eles têm os melhores.


Eu me endireito no espelho, aliso para trás meu longo cabelo loiro
(que pelo menos parece muito bonito graças ao modelador de cachos
de Emily, que eu também roubei) e, em seguida, saio do banheiro.
Infelizmente, chego à mesa bem a tempo de ouvir John
terminando um telefonema que ele não pretendia que eu escutasse.
— Sim, estou te dizendo que ela é incrivelmente chata. Meio
estranha e esquisita. Com zero personalidade. — Ele pausa para
escutar a pessoa do outro lado da linha. — Quero dizer, sim, acho que
ela é bonita, mas não quero nem tentar ficar com ela esta noite porque
ela é tão chata. Então me liga em cinco minutos com uma
emergência. Ok, sim. Obrigado.
Minhas bochechas queimam. A senhora da mesa ao nosso lado
ouviu tudo e está me lançando um olhar de pena. Eu odeio olhares
de pena. Eu prefiro que ela ria de mim. Eu posso lidar com o riso.
Minhas irmãs e irmão são piadistas profissionais, então fui
condicionada a rir ao longo da vida. Já aguentar a pena... não.
Respiro pelo nariz para não chorar – porque isso seria mesmo a
cereja no topo do bolo, não é? –, e dou vários passos para trás. Conto
até cinco e, assim que me recomponho, volto a mesa anunciando
minha chegada.
— Voltei!
John se mexe e ajusta o guardanapo, com um novo sorriso
brilhante no rosto (provavelmente para que ele possa estar
convincentemente triste por ter que sair após a ligação de
emergência).
— Ótimo. Você sabe o que quer pedir?
— Provavelmente apenas um brownie — eu digo mais para mim
mesma do que para John antes que veja pela minha visão
estereoscópica um casal entrando no restaurante. Eu olho para cima
e dou uma conferida.
É... o pirata.
Annie

Ou não. Não um pirata de verdade, mas Will Griffin – o ex-guarda-


costas da estrela pop Rae Rose – também conhecida como a noiva do
meu irmão, Amelia. Noah e Amelia conheceram-se há pouco mais de
um ano, quando o carro dela quebrou no jardim da casa dele. Eles
têm sido bastante inseparáveis desde então. Então, depois da última
viagem de Amelia, quando ela decidiu se mudar oficialmente para
nossa pequena cidade de Rome, em Kentucky, para morar com meu
irmão, Will veio com ela por algumas semanas até que ela se
acomodasse e a imprensa se acalmasse. Sem que houvesse grande
ameaça à segurança dela, Will foi transferido para fornecer segurança
para outra celebridade de alto nível.
Antes disso, ele foi o guarda-costas de Amelia por cinco anos
ininterruptos, conforme ela precisava dele. Durante esse tempo, ele
se tornou famoso por ser um dos guarda-costas mais gostosos do
mundo. E um dos mais perigosos. Se você pesquisar Guarda-costas
perigoso e gostoso no Google, a foto de Will é a primeira que aparece,
junto com uma série de vídeos dele prendendo contra as paredes
pessoas assustadoras tentando chegar até Amelia, ou vídeos
mostrando-o derrubando um cara no chão que puxou uma faca
quando ele estava protegendo um político. Existem muitas imagens e
vídeos terrivelmente corajosos dele fazendo seu trabalho de forma
completa e bem-sucedida. E depois há o artigo do BuzzFeed, que é o
meu favorito. Eles dedicaram um artigo inteiro aos muitos aspectos
de Will Griffin. É basicamente uma rotação de imagens e GIFs onde
ele está zangado ou carrancudo. Will aperfeiçoou bem o equilíbrio
entre o visual de “eu vou te bater se você tentar passar por mim, mas
minhas mãos podem percorrer tão suavemente seu corpo”.
Há também o artigo da revista People mostrando fotos dele com
várias mulheres diferentes em vários encontros ao redor do mundo. E
há muitas delas. Eu não amo tanto esse artigo.
Amelia – a única mulher no mundo que parece imune a seus
encantos – afirma que ele parece um lutador de rua, mas ela está
errada. Os lutadores de rua têm pedaços faltando nas orelhas, dentes
lascados e punhos machucados. Will Griffin é... lindo.
Ele tem essas sobrancelhas pretas (parece que foram pintadas) e
com personalidade que se projetam sobre seus olhos de cor azul-
acinzentados e travessos. Um corpo musculoso e ágil e uma boca
brincalhona que parece absolutamente perversa quando ele sorri. E
há seu braço esquerdo, coberto por belas tatuagens florais
ornamentadas com linhas pretas que descem por todo o braço
tonificado para terminar em uma borboleta espalhada no topo de sua
mão e nos nós dos dedos. Não preciso olhar agora para confirmar que
a borboleta está lá. Eu o estudei o suficiente para ter memorizado sua
forma quando Will não estava olhando para mim durante aquelas
semanas em que ele esteve na cidade.
Will tem o tipo de rosto que desafia você a contrariá-lo porque ele
adoraria a diversão – anseia pela aventura que vem junto dela. Não,
ele não é um lutador de rua, ele é tipo um demônio malandro e
selvagem. Um pirata. Pelo menos, ele é em minhas fantasias. Além
disso, nas referidas fantasias, ele usa um brinco e usa calça justa de
camurça com uma camisa de linho branca de gola aberta que revela a
parte do peito de suas tatuagens que presumo que existam.
Eu mencionei que meu hobby é ler romances de época?
Especificamente aqueles com piratas.
Quando Will e sua linda acompanhante entram no restaurante,
parece que todo o lugar de repente ganha vida. Seu sorriso suave envia
um redemoinho de eletricidade pelo ar. Quando ele coloca a mão na
parte inferior das costas de sua acompanhante, sinto um toque
fantasma dele contra minha pele. O tempo passa devagar enquanto
Will e a mulher deslizam pelo restaurante até a mesa deles – tão
seguros e confiantes que aparentemente nem percebem que todos
estão olhando. Talvez ele esteja acostumado.
Bem na hora, o telefone de John começa a tocar. Eu sorrio para
mim mesma enquanto ele faz uma performance digna de um Oscar.
Ele baixa os olhos para o telefone e franze o cenho entre as
sobrancelhas. Um pequeno “hmm engraçado” escapa de seus lábios.
— Eu me pergunto por que meu colega de quarto está me ligando
uma hora dessas. Você se importa se eu atender?
— Nem um pouco — eu digo fracamente, distraída pela visão de
Will removendo seu paletó justinho e pendurando-o nas costas de sua
cadeira antes de arregaçar os punhos de sua camisa. Santa Guacamole,
esses antebraços são gloriosos.
John atende o telefone, a voz carregada de preocupação quando
ele diz:
— Alô?
Imediatamente seu rosto se transforma em algo carrancudo, e eu
o imito porque também quero um Oscar.
— Sério? O que houve? — Ele levanta um dedo de volta para mim
e, em seguida, levanta-se da mesa, afastando-se para conversar
ansiosamente com seu colega de quarto ou quem quer que esteja do
outro lado da linha.
Finalmente sinalizo para a garçonete que parecia ter a intenção de
nos evitar a noite toda e peço a conta e também um brownie gigante
para viagem.
Então eu me ocupo em dobrar meu guardanapo em um pequeno
quadrado perfeito.
— Annie? — Escuto uma voz masculina familiar acima de mim.
Meu coração dá um salto e levanto a cabeça para olhar diretamente
nos olhos místicos de Will Griffin. Nunca o ouvi dizer meu nome
antes – foi mágico. Eu nem planejei dizer oi para ele porque não tinha
certeza se ele se lembraria de mim.
Como guarda-costas de Amelia, ele era totalmente um agente
focado. Claro, ele sorria gentilmente e sempre piscava para as
velhinhas, fazendo Mabel desmaiar; mas ele nunca realmente entrou
na conversa. Ele sempre ficava na sombra com seus óculos de aviador
espelhados e parecia pronto para levar um tiro por Amelia a qualquer
momento. Eu fico arrepiada só de pensar nisso.
— Will Griffin. É você. Oi.
Ele sorri.
— Annie Walker. Oi, você também.
— O que você está fazendo aqui? — Eu olho em volta esperando
ver Adele, mas nada. Apenas a linda morena com quem ele veio
olhando seu cardápio. Eu viro meus olhos de volta para Will e é
quando meu olhar o percorre. Sua calça de terno sob medida abraçam
as coxas bem musculosas, e uma camisa preta de botão cobre sua
metade superior. É justa nos ombros, desabotoada na gola e enrolada
até os antebraços. Uma arte com ramos com flores de magnólia e
folhagem sai de debaixo de sua camisa e desce até seu pulso.
Santa Batatinha, aposto que Will tem todos os outros homens
neste restaurante agarrando suas mulheres para não escaparem,
apenas torcendo para que Will não decida fugir com uma delas.
— Na verdade, estou em um encontro — diz ele, sinalizando para
a adorável senhorita em sua mesa.
— Você está em um encontro a trinta minutos de Rome? Isso é
uma coincidência?
Ele sorri e duas rugas – não exatamente covinhas – destacam seu
sorriso, como se até seu corpo entendesse o quão marcante é ele dar
um sorriso e quisesse enfatizar a ação.
— Na verdade, Gretchen e eu estávamos passando por esta área,
então nos encontramos para passar a noite, e então irei para Rome
amanhã. Amelia não te contou? Eu fui designado para ela novamente
por um tempo.
— Oh. Eu não sabia. — Por que ela não contou? Então,
novamente, por que ela me contaria? Ninguém sabe que tenho uma
queda por Will desde que o conheci.
— A equipe dela está prevendo um aumento na mídia em cima de
toda a cidade com a aproximação do casamento. Eles me queriam por
perto, só para garantir.
— Bom. Estou feliz que você está voltando. — E então percebo
como isso soou e acrescento: — Quero dizer, para o bem de Amelia.
Ele sorri suavemente e meu estômago revira.
Engulo em seco.
— E bom que você vai ficar tão perto de sua namorada por um
tempo — eu digo, tentando distraí-lo de admitir acidentalmente que
estou feliz por ele estar na cidade novamente. Próximo de mim
novamente.
Ele olha por cima do ombro brevemente e para trás.
— Gretchen não é minha namorada, é apenas um encontro.
Mas ele disse que vai passar a noite com ela...
Oh! Certo! Eles estão apenas ficando. Legal, legal, legal.
Totalmente legal e normal, e o pensamento de Will tirando todas as
suas roupas não faz minha pele queimar com estranheza e
formigamento.
— Então você está aqui sozinha? — Ele pergunta, os olhos
varrendo sobre mim e, em seguida, a mesa e a cadeira vazia.
No momento seguinte, John volta para a mesa. Antes que ele abra
a boca, falo por ele:
— Bem, eu estava em um encontro. Mas acho que John está
prestes a sair porque ele tem uma emergência. — Eu olho para os
olhos arregalados de John. Ele acha que sou vidente agora. — Sua casa
está pegando fogo? Sua avó está no hospital? Ou seu colega de quarto
tem um pneu furado? — Eu pergunto alegremente.
Ele hesita um segundo.
— Uh – o pneu furado.
Tanto se foi para esse Oscar. Sob o olhar repentinamente sombrio
de Will, as habilidades de atuação de John estão diminuindo junto
com sua coragem.
— Odeio quando isso acontece — digo gentilmente enquanto a
garçonete traz nossa conta e meu brownie para viagem. Ela coloca-o
na mesa checando Will. Ela fica momentaneamente chocada com a
beleza dele. Entra na fila, mulher.
— Bem, John, boa sorte ajudando seu amigo. Dirija com cuidado!
— Pego minha carteira em minha bolsa para pagar minha bebida e
sobremesa antes de sair, mais do que ansiosa para sair daqui e deixar
esse encontro para trás.
John muda de posição e bate as chaves na lateral da perna.
— Sim. Obrigado pela compreensão.
— Sem problemas. — Aceno para ele enquanto ainda vasculho
minha bolsa.
Eu olho para cima quando ouço o som de um pigarreio e vejo o
ombro de Will pressionando levemente contra o peito de John,
impedindo-o de se afastar como se estivesse aparentemente tentando.
A cabeça de Will aponta para a mesa em alguma linguagem masculina
não dita, e então John enfia a mão no bolso de trás, puxa a carteira e
joga uma nota de cinquenta na mesa.
— Uh, eu vou pagar a conta, já que sou eu que tenho que pagar a
conta.
— Mas eu derramei...
— Está bem. Tenha uma boa noite, Annie. — E então John foi-se
tão rápido que ficou uma mancha fumegante no carpete por onde ele
passou.
Jogo minha bolsa no ombro e me levanto. Will ainda não se
mexeu, e eu nunca percebi o quão alto o homem é até agora. Eu fico
na altura de seu ombro. Mas isso não é necessariamente algo difícil
quando você tem apenas um metro e sessenta e cinco.
— Você está bem? — Will pergunta com as sobrancelhas
franzidas.
Eu sorrio.
— Sim. Por que eu não estaria?
— Por que aquele idiota aparentemente inventou uma desculpa
para ir embora?
— Oh. Sim. Ele definitivamente inventou.
Will me olha atentamente em busca de sinais de tristeza.
— E isso não te incomoda?
Eu penso sobre isso e então respondo honestamente.
— Um pouco, mas não muito. Nós dois estávamos tendo um
encontro terrível. Eu não gostaria que ele ficasse por perto se estivesse
infeliz. — Eu dou de ombros. — Espero que ele tenha uma noite boa
agora.
Will solta uma risada curta e incrédula.
— Você está falando sério?
— Não deveria?
Ele sorri e novamente o sorriso atinge a boca do meu estômago.
Nossa, como seria namorar um homem como ele? Com todo o
carisma e confiança. Eu definitivamente me envergonharia.
— Eu acho que talvez você seja legal demais? — Ele diz isso como
uma pergunta.
— Minhas irmãs concordariam com você, mas uma espiada
dentro da minha cabeça durante o trânsito... — Eu faço um som leve
com a boca e não finalizo a frase para deixar implícito que sou
malvada no trânsito.
— E você? Você vai ter uma noite ruim agora?
— Alguém pode realmente ter uma noite ruim se levar um
brownie gigante para comer no caminho de volta para casa? — Eu
levanto meu recipiente de plástico como prova.
Oh não. Agora ele está me dando olhares de pena.
— Sim. Isso absolutamente torna tudo pior. Quer se juntar a mim
e a Gretchen para jantar?
Isso me faz rir audivelmente.
— Não, obrigada, mas não em um milhão de anos. Isso seria tão
embaraçoso — eu digo, avançando em direção à saída do restaurante.
Will está parado ao meu lado, acompanhando-me passo a passo, e não
consigo entender por que ele ainda está falando comigo. Oh certo,
por pena. — Não se preocupe comigo. Sério. Terei uma noite
espetacular. Há um livro que eu realmente queria terminar.
É uma meia-verdade. Eu definitivamente vou chorar no meu
caminho para casa com a dor das palavras de John, mas então eu
tenho um romance quente para terminar onde um pirata acaba de
roubar uma dama, e ela está prestes a virar seu mundo de cabeça para
baixo com comentários engraçadinhos e uma personalidade
encantadora.
— Um livro — ele repete incrédulo.
— Uh-huh.
— Um livro vai ser divertido?
Eu rio enquanto continuamos a andar.
— Você é um daqueles que não leem? O filme nunca é melhor, te
garanto.
— Eu não diria que não leio. A leitura simplesmente não estava
no meu radar antes.
— Mas agora está? — Eu pergunto esperançosa, olhando para ele.
— Talvez. — Ele sorri.
Eu chego à porta e penso que este é o momento em que Will e eu
vamos nos separar, mas para minha surpresa, ele se inclina para frente,
abre a porta para mim e então me segue para fora, lançando um olhar
para trás em seu encontro e procurando por um sinal de que está tudo
bem ele me acompanhar. Ela dá a ele um pequeno aceno para ir em
frente. Garota legal.
O ar está quente e abafado, como todas as noites de verão no Sul,
e meus saltos faz um som de clip-clip na calçada de concreto. Eu não
posso deixar de rir. Não é de forma alguma a trilha sonora habitual
da minha vida. Meu sapato normal de escolha é um par de Converses
brancos. Meu traje: um dos meus cinco macacões de cores diferentes
com uma camiseta por baixo. Se você procurar a palavra confortável
no dicionário, encontrará uma foto minha.
— Então, qual livro será? — Will pergunta quando chegamos à
minha caminhonete e eu pego minhas chaves.
Eu rio levemente.
— O quê?
— Que livro você vai ler esta noite?
Eu olho rapidamente para o restaurante, me perguntando por que
diabos ele está aqui comigo tentando juntar-se ao meu clube do livro
secreto em vez de voltar lá com seu encontro. Quase parece que ele
está protelando, tentando prolongar nossa conversa. Mas, não, tenho
certeza de que ele está apenas sendo gentil. Não há como um homem
como ele se interessar por uma mulher que acabou de ser dispensada
no meio do encontro porque ela é incrivelmente chata, bonita e nem
mesmo boa só para transar. Tenho certeza de que Will está apenas
prestando um pouco de atenção à garota legal antes de seguir seu
caminho.
Aperto os olhos e sorrio.
— Bem, eu diria a você, mas então eu teria que matar você. E eu
realmente não sou fã de assassinato, então acho que vou guardar para
mim.
Will tosse uma risada. Ele não tem ideia do que fazer comigo. E
isso faz de nós dois, porque de repente percebo que estou aqui tendo
uma conversa forçada com Will Griffin e não tenho ideia de como
estou conseguindo. Tudo o que sei é que, de alguma forma, é fácil.
— Bem, se vale de algo, espero que você realmente se divirta lendo
seu livro.
Will abre a porta da minha caminhonete e me sinto
momentaneamente chateada, apenas porque esses cinco minutos
com ele já foram melhores do que qualquer outro encontro que já
tive, e ainda assim nunca mais vou conseguir ter esses momentos. E
agora, em cada encontro que eu tiver, espero que abram a porta para
mim – o que não vai acontecer, porque metade das mulheres no
mundo odeia quando um homem abre a porta e a outra metade
adora, resultando no homem em pânico e desnorteado ao seu lado,
sem nunca perguntar o que a mulher realmente prefere. Eu nunca me
importei particularmente de qualquer maneira, mas agora, depois de
ter Will fazendo isso por mim, está decididamente na coluna de
favoritos.
Pior ainda, espero que meu próximo encontro tenha olhos azuis-
acinzentados como os de Will, mas não qualquer tipo de azul, mas
um azul-acinzentado com uma borda grossa e perigosa de preto ao
redor deles. Eu nem tenho certeza do que isso significa, só sei que
sinto até os dedos dos pés que essa íris é um perigo.
É possível que eu esteja lendo muitos romances.
Eu sorrio.
— E espero que você se divirta com Gretchen em todas as suas
aventuras amorosas. — Oh Deus. Eu faço uma careta quando os
olhos de Will se arregalam.
Se ainda não está bem claro, sou virgem. Apenas parece
importante relembrar isso neste momento.
— Eu provavelmente não deveria ter dito isso. Desculpe. É culpa
da estranheza que ficou do meu encontro. Vou parar por aqui antes
de falar sobre a reprodução das flores.
Will não se encolhe ou desvia o olhar. Ele sorri completamente e
esse sorriso que me dá desliza direto para dentro do meu coração,
inflando-o como uma boia recém-enchida.
— Bem, acho que te verei pela cidade, Annie.
— Eu acho que você irá.
Então subo em minha caminhonete. Mas pulo um pouco alto
demais e bato a cabeça no batente da porta.
Will

— Como estão as coisas no trabalho, Annie? — Meu encontro pisca


para mim com os olhos arregalados, e eu imediatamente percebo meu
erro. — Gretchen! Merda. Desculpe. Isso foi...
— É a segunda vez que você faz isso desde que a acompanhou até
o carro — Gretchen diz baixinho, mas com uma pontada de dor. Ela
estava completamente bem comigo passando alguns minutos com
Annie do lado de fora, mas depois que o nome de Annie escapuliu
pela primeira vez, as coisas rapidamente azedaram. Compreensível.
Que coisa idiota chamar seu encontro pelo nome de uma mulher
diferente. O que diabos tem de errado comigo? Não consigo tirar
Annie Walker da cabeça por algum motivo. Eu continuo me
distraindo e imaginando seus olhos azuis claros e então percebo que
estou apenas olhando para o saleiro e pimenteiro na mesa.
É uma atração não esquecida, só isso.
Durante minha estadia trabalhando em Rome, Kentucky, sempre
foi difícil não prestar atenção à irmã mais nova dos Walker. A irmã
mais doce, como todos dizem. A mais quieta. A irmã fofa. Já ouvi
pessoas naquela cidade referirem-se a Annie com todos os sinônimos
possíveis dessas palavras – mas nunca deram a ela o adjetivo que
sempre me vinha à cabeça quando a via: linda.
Nós nunca havíamos conversado antes porque, primeiro, eu não
socializo enquanto trabalho e, segundo, eu sabia desde o momento
em que coloquei os olhos em Annie que precisava ficar bem longe
dela. Algo nela me atrai do jeito que eu sei que posso adquirir
sentimentos por ela. E eu não sou um cara de sentimentos.
Mas esta noite, conversei com ela e foi um erro colossal. Não
consigo parar de pensar nela.
Mesmo aquela conversa rápida com Annie fora do restaurante foi
o que mais gostei de conversar com alguém durante muito tempo. O
que é um problema, porque atualmente estou em um encontro com
uma mulher na qual não consigo me concentrar. Continuo
pensando em como todo o rosto de Annie se iluminou e refletiu seus
pensamentos. Seus olhos arregalados. Sua boca rosada. Seu
nervosismo. Eu queria falar com ela a noite toda. Inferno, eu teria me
contentado em sentar e observá-la ler seu livro. Aposto que ela faz
todo tipo de careta enquanto lê.
E agora percebo que fiz isso de novo. Gretchen disse alguma coisa,
e não sei o que foi. Merda, eu não mereço estar em um encontro com
ela esta noite.
— Uh... — Eu sorrio para ela, tentando procurar em meu cérebro
para ver se alguma parte dele a ouviu. — Droga, me desculpe,
Gretchen. Estou distraído esta noite e não prestei atenção ao que você
disse. — Eu odeio não estar dando a ela toda a minha atenção. Annie
fez algo comigo – ela embaralhou meu cérebro.
Gretchen dá um tapinha nos lábios com o guardanapo.
— Tudo bem, só disse que recebi uma promoção no meu
trabalho.
— Isso é ótimo. Você merece isso.
— Sim — ela concorda e então franze a testa. — Para ser sincera,
Will, sinto como se estivesse jantando com uma parede de tijolos. É
por causa dela? Da Annie?
Eu minto, principalmente porque quero que seja verdade.
— Não. Bem, mais ou menos. Annie é um membro da família da
pessoa para quem estarei fornecendo segurança novamente a partir
de amanhã.
— Rae Rose — Gretchen diz categoricamente. — Você tem sido
o segurança dela por cinco anos, Will, não é segredo. Você pode
apenas dizer o nome dela.
Sim, mas nunca farei isso. Eu levo meu trabalho de proteger
Amelia a sério – e isso significa nunca revelar o nome dela. O número
de encontros em que elas me reconhecem daquele maldito artigo do
BuzzFeed é absurdo. Elas sempre querem saber as fofocas sobre a
Amelia. Como ela é? Ela é doce? Eu já fiquei com ela?
É uma loucura para mim as perguntas intrusivas que as pessoas
fazem sobre uma celebridade porque acham que sua vida está aberta
ao consumo público. E, a propósito, a resposta a essa última pergunta
é um retumbante não. Eu nunca dormi, nem dormirei com Amelia.
Como eu disse, levo meu trabalho a sério e dormir com a pessoa que
você está protegendo não é profissional. Sem mencionar que gosto de
pensar que tenho boa moral, então dormir com alguém que se está
noiva não é atraente. E terceiro, depois de trabalhar para Amelia por
tanto tempo, ela parece como a irmãzinha que eu nunca tive.
Eu não quero ofender as pessoas, então eu evito a declaração de
Gretchen assim como faço com todos os outros.
— De qualquer forma, minha cabeça começou a trabalhar antes
do esperado depois de ver Annie. Eu odeio fazer isso, mas acho que
vou ter que encurtar nosso encontro esta noite e sair depois do jantar.
Gretchen franze a testa.
— Espere. Você não vai voltar para o meu hotel?
Eu entendo por que ela está chateada. Gretchen e eu não nos
vemos regularmente. Ela trabalha para uma empresa farmacêutica e
viaja muito devido a isso. Nós ficamos ocasionalmente quando
estamos na mesma área e geralmente saímos antes. Há uma diferença.
Mas não estou a fim disso esta noite. Annie está, por alguma razão,
presa na minha cabeça, e não acho que seria certo ir para o hotel de
Gretchen quando estou preocupado com outra pessoa.
— Sim, acho que só preciso dormir um pouco esta noite.
Ela zomba com um sorriso, puxando o guardanapo do colo para
colocá-lo sobre a mesa.
— Uau. Ela deve ter realmente causado uma boa impressão.
— Sinto muito, Gretchen — eu digo novamente, e eu realmente
sinto muito. Eu não pretendia que isso acontecesse, e nunca
aconteceu antes.
Parte da tratativa fria de Gretchen quebra e ela sorri
genuinamente.
— Está bem. De verdade. Não sei por que estou agindo com tanto
ciúme de repente. Você e eu nunca tivemos esse tipo de
relacionamento, e eu também não quero isso. Eu acho, eu só... — Ela
faz uma pausa, olha para o prato e então de volta para mim. — O
olhar que você tinha em seu rosto enquanto pensava nela... — Ela
encolhe os ombros levemente. — Por um minuto pensei que seria
bom ter alguém assim enquanto pensa em mim. Talvez eu esteja
percebendo que é hora de reajustar minhas intenções.
Espere, eu tinha um olhar no meu rosto? Isso não é bom.
Gretchen suspira e continua:
— Você já pensou em se comprometer com alguém? Não me
refiro a mim... apenas com alguém no futuro?
— Nunca — eu digo rapidamente. — Relacionamentos de longo
prazo não são para mim e nunca serão.
Tomo um gole da minha água, de repente sentindo que minha
garganta está muito seca para falar. Principalmente porque a
pergunta de Gretchen está ecoando alto em meus ouvidos. Annie me
impressionou e não estou animado com isso. Gosto de mulheres,
gosto de ir a encontros e gosto de pensar que sou um cara legal que
aprecia e respeita as mulheres. Garanto que todas saibam minhas
intenções desde o início e só durmo com mulheres que têm os
mesmos objetivos de vida que eu: a solteirice.
Mas, ultimamente, tenho notado que, quando fico parado, há um
sentimento que não consigo definir com precisão – ou, mais
precisamente, talvez não queira identificar. É por isso que gosto de
me manter ocupado com o trabalho e as aventuras. Isso evita que
minha cabeça divague.
Hoje à noite, no entanto, depois de conversar com Annie e vê-la
partir, eu me vi esfregando meu peito para aliviar aquela maldita
sensação. Eu odeio isso. Quero pagar o jantar, levar Gretchen de volta
para o hotel dela e passar a noite me enrolando com ela até que a
sensação desapareça e eu nunca mais a sinta.
Em vez disso, pago o jantar e a levo até o carro. Nós temos uma
conversa memorável no caminho e eu suspiro de alívio quando entro
no meu SUV e dirijo para longe dela, direto para a cidade que eu
esperava não ter que voltar. Direto para a mulher que agora me parece
ser a pessoa mais perigosa do mundo para mim.
Dez minutos depois de dirigir, meu telefone toca e eu atendo pelo
Bluetooth do meu carro.
— E aí, cara — eu digo para Ethan depois de atender a chamada.
Ele é dois anos mais novo que eu e não somos nada parecidos. Onde
eu tenho cabelo escuro e olhos azuis que me disseram parecer mais
cinza em certas luzes do que propriamente azul, ele tem olhos
castanhos escuros e cabelo loiro escuro. Além de nossa aparência,
porém, somos muito parecidos.
Não nos vemos o suficiente porque meu trabalho me mantém
ocupado (leia-se: gosto de ficar ocupado) e ele mora do outro lado do
país, em Nova York, com sua própria carreira cheia. Ele é um
advogado especializado em divórcios, o que é adequado e satisfatório
devido à forma como crescemos.
— O que você está fazendo? — Ele diz como se fosse totalmente
normal para ele estar ligando para jogar conversa fora, em vez de ir
direto ao ponto. Não falamos por telefone, o que significa que, se
ligarmos, geralmente será assim:
E aí cara.
Ei.
Você está bem?
Sim. Você?
Sim.
Ok, até mais tarde.
E então trocamos mensagens de texto com memes de vez em
quando para que o outro saiba que ainda estamos vivos.
— No momento, estou voltando para Rome, Kentucky. O que,
aliás, tem um sinal péssimo, e minha ligação pode cair a qualquer
segundo. — Mais uma razão pela qual estou com medo de voltar para
lá. Quando digo que esta cidade não tem serviço, quero dizer que é
como um buraco negro. Se você quiser fazer uma ligação, terá que
andar com o telefone estendido acima da cabeça, esperando que os
deuses do celular concedam uma única barra de sinal. Minha agência
disse que melhorou um pouco desde a última vez que estive lá com a
ajuda de várias lojas que instalaram wi-fi em seus estabelecimentos, o
que acho que é melhor do que nada.
— Eu pensei que você não iria até amanhã? — Pergunta Ethan.
Eu ajusto meu aperto no volante.
— Decidi ir esta noite em vez disso.
Eu intencionalmente deixo de fora a parte sobre o jantar, e ver
Annie, e depois desistir da minha noite com Gretchen.
Principalmente porque não é grande coisa, e não quero que ele
transforme isso em uma. Estou apenas cansado e distraído, é isso.
Acontece que Annie me desequilibrou um pouco, e tudo que preciso
é de uma boa noite de sono antes de meu trabalho começar amanhã
para colocar minha cabeça no lugar certo.
— Legal — diz Ethan e depois fica quieto. A pausa cresce e cresce
até parecer tangível. Algo grande está chegando, eu posso sentir isso.
E se ele está protelando tanto, é porque sabe que não vou gostar. —
Então... uh... escute. — Ele para. — Eu preciso te contar uma coisa.
— OK.
— Hum... merda, eu só vou dizer isso de uma vez. Pedi Hannah
em casamento ontem à noite. — Outra pausa. — Ela disse sim.
Minha garganta fecha. Um suor frio surge na minha nuca, e
minhas mãos agarram o volante com tanta força que os nós dos dedos
ficam brancos.
— Vamos, Will. Diga alguma coisa — Ethan pede quando eu fico
em silêncio por muito tempo.
Mas eu não quero dizer nada. Eu quero rir. Eu quero xingá-lo e
desligar.
Aperto o volante com mais força.
— Eu não sei o que você espera que eu diga sobre isso. Parabéns?
Estou muito feliz por você? Eu não posso fazer isso, e você sabe disso.
Ethan suspira pesadamente. Odeio decepcioná-lo dessa forma,
mas ele sabe minha posição em relação ao matrimônio e, até alguns
meses atrás, ele estava bem aqui ao meu lado em relação a evitá-lo.
— Eu não espero que você me parabenize, mas talvez... eu não sei,
apenas tente me ouvir.
Eu cerro os dentes e olho para a estrada escura.
— Droga, Ethan. Eu não quero ouvir você! Você praticamente
acabou de conhecê-la. Foi tipo, o que, a três meses atrás? Como
diabos é tempo suficiente para saber que você pode passar sua vida
com ela? Você é um advogado de divórcio, pelo amor de Deus, você é
mais inteligente do que isso.
— Sim, eu sou, então você sabe que vou entrar com os olhos bem
abertos. Mas eu a amo, cara. Eu tenho que arriscar porquê... eu sou
incapaz de fazer qualquer outra coisa.
Impotente para fazer qualquer outra coisa. Eu quero dar um soco
na cara dele.
— Bem, agora eu realmente sei que é um erro. Me diga que é por
razões práticas – que ela precisava de seu seguro de saúde ou que você
queria uma redução de impostos. Qualquer coisa diferente de você
estar fazendo isso por uma noção romântica equivocada, então eu
poderia resolver isso. Mas impotência para tomar outra decisão?
Ridículo.
— Por que tem que ser contra? — Ele pergunta bruscamente.
— Você sabe por quê! — Minha voz é dura como granito. Eu não
posso acreditar que estou mesmo tendo que explicar isso para ele. —
Você e eu crescemos sob o mesmo maldito teto, Ethan. Nossos pais
eram traidores compulsivos. Eles eram tóxicos e nos culpavam por
todas as suas merdas. Ou talvez eu tenha te protegido demais para
você se lembrar disso? Talvez eu devesse ter tirado os fones de ouvido
de seus ouvidos e destrancado a porta do nosso quarto quando eles
estavam gritando um com o outro na cozinha e estávamos lá em cima
morrendo de medo?
— Eu me lembro muito bem — diz ele, mas me pergunto se ele
realmente se lembra.
Nós dois ficamos em silêncio enquanto as memórias inundam
nossas cabeças. A minha provavelmente é diferente da dele porque,
ao contrário dele, eu levei a maior parte do peso de nossa criação
disfuncional, sempre tentando criar pelo menos uma ilusão de
normalidade para Ethan. Nossos pais trabalhavam em empregos de
baixa renda que exigiam que eles ficassem fora a maior parte do dia –
às vezes também à noite. Eu cuidei do meu irmão mais do que eles
jamais cuidaram. Eu cozinhava a maioria de suas refeições. Eu lavava
nossa roupa. Eu me certificava de que ele tivesse ajuda com o dever de
casa. E então, quando eles voltavam para casa exaustos e com raiva,
eles me diziam que era eu quem estava errado por não lavar a louça
depois de fazer o jantar. Minha aparente preguiça daria início às
brigas de meus pais. Meu pai bebia. Minha mãe saía e ia para o cara
com quem ela estava dormindo no momento – e no final, eles sempre
voltavam a ficar juntos e diziam a mim e a Ethan que eles iriam fazer
isso funcionar por nós.
Havia muito pouca felicidade em nossa casa quando éramos
crianças, e com certeza não havia amor. Talvez o casamento funcione
para pessoas que cresceram em lares ideais com pais que se apoiam e
cuidam um do outro; mas para pessoas como eu e Ethan, não
saberíamos nem por onde começar para ter um bom relacionamento.
Eu tentei algumas vezes. Eu nunca ultrapasso a marca de três semanas
antes de eu terminar as coisas ou ela fazer isso porque não
conseguimos parar de brigar, ou porque aquela centelha inicial se
apagou. É por isso que nem me incomodo mais em tentar. Não sei
amar – nem mesmo tenho certeza se sou capaz disso. Na verdade, não
sei se acredito nisso.
E até três meses atrás, quando conheceu Hannah em um show,
Ethan sentia o mesmo.
— Sinto muito, mas não vou apoiá-lo nisso. Você está cometendo
um grande erro, e eu não posso ficar quieto enquanto você faz isso —
eu digo a ele claramente odiando que tenha que aborrecê-lo, mas
incapaz de não ser honesto com ele ao mesmo tempo. Eu o amo
demais para vê-lo potencialmente arruinar sua vida assim. — Por que
não pisar no freio um pouco e ir devagar? Continue namorando por
um tempo e veja se essa sua paixão se sustenta – porque
provavelmente é só isso, e logo as brigas vão começar ou ela vai te trair,
ou...
— Pare. Estou escolhendo não me machucar agora com suas
palavras porque sei de onde você vem, mas não vou ouvir você falar
mal de Hannah. Como alguém que entende isso melhor do que
ninguém, eu esperava que você estivesse disposto a me ouvir e confiar
em mim quando digo que estava errado sobre relacionamentos e
casamento. Tivemos uma criação terrível, mas nem todos os
relacionamentos precisam ser assim. Meu relacionamento com
Hannah é muito bom, Will. Nós nos comunicamos, nós dois damos
e recebemos partes de nós, e é tão bom saber que no final do dia eu
tenho alguém para me amar em todos os…
Eu desligo a chamada.
Mais tarde, enviarei uma mensagem para ele e direi que perdi o
serviço, mas por enquanto não suporto ouvi-lo dizer mais nada sobre
isso. Eu odeio que ele esteja correndo a todo vapor em direção a algo
que pode realmente machucá-lo, tudo por causa de sentimentos que
ainda são novos. E eu realmente odeio que ele não pareça ter tanto
medo disso quanto eu. Como ele é capaz de superar isso tão
rapidamente quando é algo que me afeta diariamente?
Não importa. Porque o fato é que, quando comecei a manter as
pessoas à distância, comecei a realmente encontrar a felicidade – e
nunca conheci ninguém que me fizesse querer contestar essa decisão.
Ninguém.
Nem Gretchen, nem a mulher que conheci na Itália no ano
passado, nem Jada do Texas, nem Allie de Indiana, nem mesmo...
Meus pensamentos se prendem a um nome que não consigo
agrupar com todos os demais por algum motivo preocupante:
Annie Walker.
Annie

Depois de sair do restaurante, vou direto para a casa de Amelia e


Noah para uma noite de filmes da Audrey Hepburn com as meninas.
Antes de entrar, no entanto, tiro o vestido de Emily e coloco meu
macacão e minha camiseta de sempre ainda na minha caminhonete,
e então enfio o vestido na bolsa. Está tudo bem, está escuro. Ninguém
viu nada.
Minhas irmãs e eu adotamos a prática de Amelia de que, se algo
der errado, te machucar ou deixar você confusa, você coloca um filme
de Audrey e injeta o sorriso dela em seu coração até que ele se cure.
Ou você sabe, geralmente é apenas uma noite de garotas, com fofocas
a serem contadas enquanto comemos pipoca.
Isso é o que está acontecendo esta noite, enquanto nós quatro
estamos aninhadas em várias partes da sala de estar de Noah (ou acho
que devo pensar nela como a sala de estar de Amelia agora) assistindo
Cinderela em Paris. Quando Amelia chegou à cidade há pouco mais
de um ano, nunca tínhamos visto um filme de Audrey. Amelia, no
entanto, é Obcecada (com O maiúsculo, mesmo) por ela. E após
assistir aos filmes, minhas irmãs e eu também somos.
— Não — Amelia diz abruptamente sobre o som do filme
enquanto ela aponta para o corredor da sala de estar. — Eu te vi. Volte
para o seu quarto.
Meu irmão Noah surge do corredor com uma cara emburrada.
— Vamos lá. Apenas me deixem assistir a este filme com vocês.
Você não pode me impedir de entrar na minha maldita sala de estar.
Amelia tem sido muito firme em sua decisão de preservar nossa
antiga tradição de noite das garotas, e seu noivado com Noah não
mudou isso. O engraçado é que não acho que ele realmente queira
assistir ao filme. Ele adora ficar de picuinha com a Amelia, e ela adora
essas picuinhas. A combinação perfeita.
— Com licença, essa é a minha sala de estar também a partir de
agora. E esta é a noite das garotas. Garotos não são permitidos.
Noah revira os olhos.
— Está bem. Eu estou indo para a casa de James. — James é o
melhor amigo de Noah e é como nosso segundo irmão. Ele é dono da
fazenda Huxley, aqui do lado. (aqui do lado significa a vários acres de
distância).
— Vou te enviar um pombo-correio quando terminarmos aqui —
diz Amelia.
Noah coloca um boné.
— Apenas me ligue.
— Vamos piscar as luzes vinte vezes quando for seguro voltar e
brincar conosco, Apaixonadinho — diz Maddie com um sorriso
diabólico. Noah odeia o apelido que demos a ele quando ele se
apaixonou por Amelia. Nós nunca vamos deixar isso cair no
esquecimento.
Noah franze a testa.
— Me liguem quando acabar para que eu possa ir para a cama.
Alguns de nós não são professores durante as férias de verão e têm
empregos reais pela manhã.
Emily coloca as mãos em formato de concha em volta da boca para
que saia bem alto:
— Vou ligar a mangueira e jogar um jato d'água na janela de James
quando estivermos saindo, para que você saiba que a barra está livre
para voltar para casa e fazer um amor bem fofo e doce com a Amelia!
Noah faz o possível para não sorrir, mas todos podemos ver o
sorriso à espreita. Ele olha para mim em seguida.
— Você não vai falar nada também?
Eu dou de ombros.
— Diga a James que eu mandei um oi.
Minhas irmãs e Amelia me vaiam, e Noah apenas sorri para mim.
— Eu gosto mais de você.
Ele vira e sai, mas assim que a porta da frente se fecha atrás de dele,
ela se abre novamente. Noah retorna. Ele dá a volta no sofá onde
Amelia está sentada, coloca as mãos no queixo dela e inclina o rosto
dela para cima para que possa dar um beijo de despedida nela.
Quando vi Noah e Amelia pela primeira vez como casal, fiquei
chocada. Bem, todas nós ficamos. A afeição entre esses dois era tão
fácil e livre. Nunca vi Noah daquele jeito com mais ninguém. É
inspirador observar a maneira como eles lidam com o relacionamento
à distância enquanto namoravam dentro das limitações da fama de
Amelia.
— Ew — diz Madison com uma risada desgostosa. — Você vai
beijar ela no estilo Homem-Aranha? Não foi uma boa visão do
Tobey, e também não é uma boa visão sua.
Emily joga um travesseiro em Maddie, e ela o desvia com um
golpe.
— Eu te amo — Noah diz em um sussurro para Amelia depois do
beijo, mas estou sentada perto o suficiente para ouvir.
Eu sorrio olhando para baixo porque adoro o relacionamento de
Amelia e Noah. Acho que deve ser parecido com o que meus pais
tinham. Resistente, profundo e confiável. E eles, com certeza, tem
corações nos olhos quando se olhando, assim como eu já vi em todas
as fotos dos meus pais. É o tipo de amor que simplesmente funciona
e deixa todos ao seu redor com inveja. É isso que eu quero. O
relacionamento pegajoso, que não vai a lugar nenhum, até que a
morte nos separe. Alguém para ficar ao meu lado e me dar a mão para
nosso “Felizes para Sempre” durante a vida.
Noah finalmente vai embora, e as bochechas de Amelia ficam
completamente rosadas enquanto assistimos ao meu favorito de
todos os filmes de Audrey Hepburn, Cinderela em Paris. Eu me
identifico profundamente com Jo – a personagem que Audrey
interpreta. Jo trabalha em uma livraria (que seria o emprego dos meus
sonhos se eu já não tivesse o emprego dos sonhos como dona da
minha própria floricultura), e ela é considerada quieta e
introspectiva, talvez até um pouco sem graça.
Mas no filme, Dick Avery (que é interpretado por Fred Astaire),
um famoso fotógrafo de revista de moda, vê Jo e vê algo nela que não
é nada simples ou silencioso. Juntos, ele e Maggie Prescott, editora da
revista Quality, levam Jo para Paris, onde a tiram de sua concha,
transformando-a em modelo e a ensinando a como se vestir, posar e
se comportar como uma mulher da Quality. É claro que, no final, Jo
e Dick se apaixonam perdidamente e vivem o “felizes para sempre” –
terminando como toda boa história deveria terminar.
— Veja — eu digo com um grande suspiro enquanto aponto para
a TV após a cena final de Audrey e Fred dançando a música “'S
Wonderful.” — Isso é o que eu preciso.
Maddie e Emily estão na cozinha e fora do alcance da voz.
— Um velho para se apaixonar por você? — Pergunta Amelia com
uma risada.
Eu suspiro.
— Não se atreva a falar mal do grande Fred Astaire e o herói do
meu filme favorito.
Amelia faz uma careta e se inclina para pegar outro punhado de
pipoca da mesa de centro.
— Normalmente, eu não diria uma palavra contra um filme de
Audrey. Mas até eu tenho que admitir que temos uma junção
estranha aqui. Audrey estava na casa dos vinte anos e Fred
definitivamente estava na casa dos cinquenta anos.
— Oh, que desilusão — eu digo olhando para a tela novamente.
— Então, por que você quer um grande caso de amor com um
quarentão, Annie-banana?
Puxo minhas pernas para cima do sofá e envolvo meus braços ao
redor.
— Eu não quero um caso de amor com um quarentão. Eu só
quero um caso de amor no geral. Então, estou dizendo que gostaria
de ter alguém como Dick Avery ou Maggie Prescott aparecendo e me
ensinando como ser a mulher da Quality que todos querem namorar.
Ou, pelo menos, quero que meus acompanhantes não digam que sou
chata e depois que seus amigos liguem e lhe deem desculpas para ir
embora.
— O que?! — Diz Amelia um pouco alto demais.
— Shh! — Eu assobio, olhando por cima do ombro para onde
minhas irmãs estão ocupadas cozinhando algo na cozinha. Na
verdade, Madison está cozinhando e Emily está no pé dela a
importunando com perguntas sobre o itinerário de sua próxima
viagem ao México para passar férias com alguns de seus outros amigos
professores. Eles estão economizando há um ano para pagar a viagem.
— Foi isso que aconteceu esta noite? — Amelia me pergunta em
um sussurro neste momento.
— Sim. — Eu esfrego minhas mãos para cima e para baixo em
minhas canelas. — Mas não coloque a culpa nele...
— Eu coloco sim.
— Eu fui um encontro terrível. Eu mal falava e, quando o fazia,
joguei o casamento no pobre rapaz. E então, mesmo depois de tudo
isso, Will o fez pagar pelas bebidas, embora eu tenha jogado a de John
no colo dele. Foi um desastre.
Amelia se inclina para a frente abruptamente.
— Espere, espere, espere. Volte um pouco. Você disse ‘Will’?
Eu concordo.
— Sim, Will. Sabe? O Will Griffin.
— Will Griffin, como meu guarda-costas Will Griffin? Ele estava
no seu encontro?
— Não. — Eu paro. — Quero dizer, sim. Seu guarda-costas estava
no restaurante onde eu estava tendo o pior encontro da minha vida,
mas ele parecia estar em um encontro muito bem-sucedido.
— Mas ele estava com você?
Eu levanto um ombro.
— Bem, mais ou menos. Ele veio e me cumprimentou, mas isso
foi bem no meio do John metendo o pé com sua desculpa, então Will
me acompanhou até o carro e conversamos.
— Você conversou... Com o Will?
— Por que você fica repetindo minhas afirmações e formulando-
as como uma pergunta?
— Só estou tentando imaginar. — Ela circula as mãos no ar como
se estivesse tentando evocar um replay instantâneo. — Ele é sempre
tão profissional comigo. Eu praticamente tenho que forçar amizade
dele, e aqui está ele apenas indo até você e conversando.
Franzo a testa e dou coloco outro punhado de pipoca na boca.
— Foi apenas por cinco minutos no máximo. Não é grande coisa
— eu digo, ignorando completamente o olhar ligeiramente alerta nos
olhos de Amelia. Talvez ela pense que eu tenho uma queda por Will
e está preocupada que eu tente sair com ele? Ha! Um pensamento
hilário. — De qualquer forma, ele voltou ao restaurante rapidamente
e disse que passaria a noite com a mulher com quem estava saindo e
que estaria em Rome amanhã. — Eu cutuco seu joelho. — Eu não
sabia que você o contratou para voltar, a propósito. Você está tendo
problemas de segurança?
— Na verdade, alguns paparazzi têm se aproximado demais
ultimamente, mas não estou preocupada. Eles estão famintos por
detalhes do casamento. Foi Keysha quem achou que era hora de ter
um guarda-costas até que as coisas se acalmassem depois do
casamento.
Keysha é a empresária de Amelia. Ela a contratou há um ano,
depois de descobrir que sua antiga empresária estava a apunhalando
pelas costas. Acho que Keysha tem sido muito boa para Amelia –
assim como Claire, a assistente pessoal que Amelia contratou para
facilitar um pouco a sua vida.
— Mas você está errada — diz Amelia abruptamente. — Will não
vem amanhã. Ele chegou hoje.
Espere, o quê? Eu tento não parecer muito animada com essa
perspectiva e mentalmente intimido minhas bochechas para não
corar apenas com a menção de seu nome.
— Mas ele me disse que ficaria com Gretchen esta noite.
Amelia parece que está me estudando em busca de respostas antes
de uma grande prova – esperando encontrá-las escritas em toda a
minha pele com tinta vermelha.
— Interessante. Tudo o que sei é que cerca de trinta minutos
atrás, Harold, o guarda do turno da noite, mandou uma mensagem
dizendo que Will havia chegado ao trailer da vigilância e pegou seu
telefone via satélite de emergência – que eles mantêm à mão porque
o serviço é irregular por aqui – e depois passaria a noite na Pousada
da Mabel e estaria pronto para começar amanhã às oito da manhã.
Então ele deve ter decidido encurtar o encontro.
Amelia está construindo uma guarita de verdade em suas
instalações, mas não estará pronta por pelo menos mais um ou dois
meses. Até então, sua equipe de segurança sempre fica na estrada na
Pousada da Mabel.
Além disso, vou optar por não pensar muito sobre o fato de que
Will não passou a noite no hotel com Gretchen.
Eu. Não. Vou. Pensar!
Você ouviu isso, seu coração romântico e idiota? Não há
absolutamente como Will ter vindo a Rome uma noite mais cedo ser
algo relacionado a mim e nosso encontro hoje à noite. Pelo que sei,
eles ficaram juntos super-rápido e ele foi embora. Fim da história.
— Do que vocês estão falando? — Maddie pergunta, colocando a
cabeça nas costas do sofá.
Sem parecer nem um pouco suspeita, Amelia diz:
— Meu guarda-costas, o Will Griffin. Eu estava dizendo a Annie
que ele vai voltar para a cidade e ficar comigo até depois do
casamento.
Os olhos de Maddie se iluminam e, por algum motivo, isso faz
meus dedos tremerem.
Emily vira a esquina e se senta na poltrona.
— Espera, quem?
— O guarda-costas mais gostoso do país — diz Maddie, também
vindo se sentar na sala.
— Oooh, Will Griffin?
Novamente, eu não amo a forma que ela soube imediatamente de
quem Maddie estava falando. Mas não sei por que me importo. Não
é como se eu tivesse esperanças quando ele está envolvido. E,
honestamente, minhas irmãs extrovertidas e lindas têm muito mais
chances com ele do que eu. Ah, e você sabe, a parte mais importante:
eu quero um relacionamento estável. O Will está longe disso.
Apoiando o rosto maliciosamente em seus punhos, Maddie
aponta um olhar para Amelia.
— Ok, seja honesta conosco, você e Will já ficaram?
— Eca, não! — Amelia diz com um olhar genuinamente enojado.
— Antes de tudo, Will é como um irmão neste quesito, e pensar nisso
literalmente me dá ânsia de vômito. Em segundo lugar, nunca me
senti atraída por ele.
— Nunca? — Pergunta Emily com uma expressão contemplativa.
— Você está dizendo que mesmo quando ele começou a trabalhar
para você, você nunca achou aquele homem bonito e musculoso
atraente?
Amelia dá de ombros.
— Eu não sei o que te dizer. Ele simplesmente nunca me atraiu.
Eu acho que ele é um cara legal, mas ele não é meu tipo. Noah, por
outro lado...
Nós três gememos.
— Vamos expulsá-la do nosso grupo se continuar a agir toda
caidinha por nosso irmão — diz Maddie.
— Eu estou caidinha pelo seu irmão. É daí que vem o casamento
que se aproxima! — Ela finge dar um tapa na testa de Maddie.
— Mas isso não é desculpa para agir assim na noite das garotas.
Quero dizer, caramba, Amelia, pelo menos faça a coisa educada e finja
que está cansada dele para o nosso bem — diz Maddie antes de
estremecer.
Emily já está me dando uma caneta enquanto eu abro meu
caderno espiral e adiciono uma contagem ao lado do nome dela.
— Quantos mais eu tenho até ter que pagar? — Maddie pergunta.
— Três. — Fecho o caderno de anotações e desejo poder jogá-lo
de um penhasco. O que começou como uma tentativa de humor da
minha parte se transformou em uma parte completa da minha
personalidade que meus irmãos não me deixam esquecer. Todo
mundo recebe uma marca de contagem quando diz um palavrão e
depois tem que pagar vinte dólares quando chega nos vinte palavrões
em um mês. Isso não fez ninguém xingar menos, para ser honesta. Em
vez disso, nos tornou contribuintes regulares de várias organizações
sem fins lucrativos da cidade, porque é para lá que doo nossos
dinheiros todos os meses depois que todos pagam. Apenas nos chame
de bando de filantropos.
— Voltando a Will, você acha que ele gosta de mulheres levemente
mandonas com cabelos loiros? — Emily pergunta, obviamente
brincando, mas ainda despertando dentro de mim uma vontade de
me levantar e gritar “Não! Você não pode ficar com ele!”
Eu fico calada.
Maddie aparentemente tem o mesmo pensamento que eu.
— Sem chance! Se alguém consegue namorar Will, sou eu.
Obviamente, ele é do tipo bad boy e precisa de alguém como eu para
complementá-lo. — Ela bate os cílios de brincadeira. Eu a amo muito,
mas estou sonhando em arrancar cada um desses cílios neste
momento.
Amelia – que Deus a abençoe – então olha para mim.
— Sabe, acho que ele se daria melhor com alguém como a Annie.
Madison solta uma risada com isso. Emily ri também.
— Annie-banana e Will Griffin? Não. Absolutamente não — diz
Maddie, rindo o tempo todo.
Eu sorrio suavemente e tento muito não mostrar que meu
estômago está se contorcendo em um nó apertado.
— Acho que tenho que concordar com Maddie sobre isso — diz
Emily. — Annie é tão suave, doce e pura. Você pode imaginá-la com
alguém como Will? Ele a comeria viva.
Acho que Emily queria que isso parecesse perturbador, mas, por
alguma razão, não está soando tão desagradável para mim. Algo que
eu jamais admitiria para minhas irmãs, pois, sim, infelizmente elas
sabem que sou virgem e me lembram desse detalhe todos os dias da
minha vida.
— Hmm — diz Amelia, com os olhos apertados e um sorriso
suave em minha direção. — O que você acha, Annie? Você e Will
ficariam bem juntos?
Imediatamente minhas bochechas ficam quentes. Se eu disser que
sim, minhas irmãs vão rir e continuar a apontar todas as razões óbvias
pelas quais não somos adequados um para o outro. Eu já sei todos os
motivos (sou uma pessoa caseira, ele é aventureiro. Ele já namorou
inúmeras mulheres, eu não consigo nem fazer com que um cara
termine o encontro comigo), então decido ignorar o
constrangimento.
— Tudo o que eu quero é um cara legal que estará lá para mim
todos os dias.
— Veja... — diz Madison com uma zombaria brincalhona. —
Definitivamente não é Will – o guarda-costas mais sexy e galinha do
BuzzFeed. E como Annie vai esperar até se casar para fazer sexo, e
Emily é muito mandona para Will, acho que devo trazer Will para
casa por uma noite.
Emily bate nela com um travesseiro.
— Que tal nenhuma de nós levar Will para casa e todas
continuarmos amigas?
— Combinado — eu concordo um pouco rápido demais.
— Tudo bem. Malditas estragas-prazeres — diz Madison antes de
ir buscar os brownies que estava assando no forno. Na presença do
chocolate, todos os homens são esquecidos.
A próxima hora é gasta conversando sobre o casamento e
repassando os detalhes finais que pretendemos planejar com Amelia.
Eu providenciarei as flores, e não poderia estar mais animada. Bem,
eu poderia ficar mais animada se também tivesse um acompanhante
para levar ao casamento, mas acho que isso não vem ao caso.
Mais tarde, depois que todas saímos para a noite, Amelia me para
na porta quando Emily e Maddie estão caminhando para suas
caminhonetes.
— Ok, então eu estive pensando sobre sua situação amorosa e o
que você disse depois do filme.
— Você acha que eu deveria visitar um centro de idosos para
encontrar um homem velhote para se casar?
Amelia franze a testa.
— Estou perturbada com a rapidez com que você disse isso. Me
faz pensar que você está pensando nessa ideia o tempo todo.
— Continue com seus pensamentos.
Amelia sorri.
— Ainda estou juntando todas as peças na minha cabeça agora,
mas se eu tivesse uma maneira de ajudá-la a melhorar nos encontros,
você gostaria disso?
— Claro — eu digo facilmente, porque honestamente, eu confio
em Amelia com minha vida. Eu faria qualquer coisa que ela me
pedisse. De certa forma, me sinto mais próxima dela do que de
minhas irmãs. Não sei como aconteceu, mas quando Amelia entrou
na minha vida, nosso vínculo parecia que havia se formando desde a
infância. — Tudo que eu quero é me casar com alguém tão perfeito
para mim quanto Noah é para você e meu pai foi para minha mãe. Se
você puder me ajudar a fazer isso acontecer, farei qualquer coisa que
você disser.
Amelia dá-me um sorriso largo (um pouco diabólico?).
— Perfeito. Eu te conto mais detalhes quando eu ajeitar as coisas.
Will

Depois de uma noite sem dormir, finalmente chega a hora normal de


se levantar para enfrentar o dia. Às cinco da manhã (Ok, pelo menos
para mim é normal.) Isso vem dos meus dias como militar. Servi
ativamente na Força Aérea por seis anos como especialista das Forças
de Segurança e dois anos na reserva enquanto treinava e iniciava
minha carreira como agente de proteção executivo, também
conhecido como APE. Para ser honesto, entrei no exército pelos
motivos errados. Nunca foi meu sonho, mas quando precisei de um
caminho rápido para seguir, a carreira militar surgiu. Não me
arrependo de meu tempo no exército, mas nunca pareceu certo para
mim. Não havia muita felicidade em trabalhar nisso para mim. E
agora aqui estou, no quinto ano como APE e ainda não tenho certeza
se é isso que devo fazer.
Abro os olhos e preciso me reorientar sobre onde estou. Certo.
Rome, Kentucky, dormindo no quarto que será meu pelo próximo
mês. Eu viro minha cabeça para a direita e dou de cara com uma peça
de arte bordada pendurada na parede: “Deus Abençoe a Bagunça”. É
uma pena que a guarita ainda não esteja pronta e eu tenha que dormir
na estalagem.
Desde a última vez que estive aqui, Amelia e Noah fizeram muitas
alterações em sua propriedade. Eles não apenas instalaram um
sistema de segurança de primeira linha ao redor da casa e do
perímetro da propriedade, mas também estão construindo uma casa
para a equipe de segurança no local. Por enquanto, há um pequeno
trailer de vigilância na frente da propriedade, onde Harold monitora
à noite e depois troca pela manhã com outro cara, o Sam, para
monitorar durante o dia.
Trabalhei para várias celebridades durante minha carreira como
agente de proteção executivo (ou guarda-costas, como maioria nos
chamam), e cada celebridade aborda sua segurança de maneira
diferente. Alguns acham que ter uma equipe de segurança é um
desperdício de dinheiro e não investem o suficiente em sua própria
proteção. Eu odeio isso. Normalmente, é preciso que algo realmente
terrível aconteça para dar-lhes um choque de realidade e lhes mostrar
que mais dinheiro precisa ser investido em segurança.
Mas há pessoas como Amelia, que sempre levaram a sério sua
segurança (exceto pela vez em que ela fugiu no meio da noite e não
disse a nenhum de nós para onde estava indo). Felizmente, esta cidade
é segura na maior parte do tempo, e ninguém, nem mesmo a
imprensa, sabia onde ela esteve por um tempo. Ela nunca ficou em
grande perigo. Além disso, estou confiante de que Noah teria
espancado qualquer um que chegasse perto dela. Mas agora a notícia
se espalhou quando os paparazzis a viram aqui na cidade, o que,
infelizmente, colocou Rome no radar do mundo. Então Amelia
investe uma quantia enorme de sua renda em segurança, e é por isso
que estou aqui. Vou seguir Amelia ao longo do mês e garantir que ela
fique segura e tranquila.
Em turnê, meu trabalho é emocionante durante quase o tempo
todo. Eu vasculho os locais antes de ela entrar e então a acompanho
em todos os lugares, examinando constantemente as pessoas ao nosso
redor e, às vezes, bloqueando propositalmente a visão dos paparazzi
se ela não quiser ser fotografada naquele dia. E durante os shows, eu
fico nos bastidores, pronto para ajudar a conter qualquer fã
excessivamente surtado que passe pela segurança do palco e suba na
plataforma.
Geralmente trabalho apenas oito horas por vez, a menos que
tenhamos um show à noite, mas tenho mais folgas do que você
imagina. Normalmente, quando Amelia está em casa ou em seu
quarto de hotel, o pessoal da vigilância assumem o controle. É
quando tenho tempo de sobra para explorar qualquer cidade em que
estejamos e conhecer todos os tipos de pessoas. Graças ao meu
trabalho, fiz paraquedismo em Paris, mergulho com snorkel nas
Bahamas e andei de quadriciclo na Cidade do Cabo. Eu sempre tento
fazer pelo menos uma coisa interessante pela qual cada cidade é
conhecida.
Mas agora estou em Rome, Kentucky, olhando para um teto
branco em uma pousada com babados na cortina, onde
absolutamente nada emocionante acontece. Há apenas um bar na
cidade e nada mais. Esqueça a aventura. Parece que vou ter que
começar a bordar por aqui.
É apenas um mês, e é por Amelia, eu me lembro.
Coloco uma bermuda esportiva, um tênis de corrida e passo a
próxima hora correndo por esta cidade de interior. Meu mau-humor
desaparece lentamente enquanto vejo o sol nascer e iluminar os
campos de trigo e milho. Tudo fica dourado por alguns minutos, e
embora eu sempre tenha sido mais um cara que prefere a cidade
grande, até eu posso admitir que o verão em cidades do interior é
lindo. A grama é tão verde que quase não parece real. Por fim, dou
uma volta pela cidade no momento em que os lojistas estão abrindo
as portas.
E é aí que percebo: olhos me encarando de todas as direções. Nas
vitrines. Espiando pelas entradas. Nas esquinas. Mesmo que eu esteja
encharcado de suor e morto de cansaço, eu aumento minha
velocidade porque eu juro que todos nesta cidade estão saindo de
suas lojas como um filme de terror bizarro para olhar para mim
enquanto eu corro. Que diabos é isso?
Quando finalmente volto para a pousada e estou curvado, com as
mãos nas coxas tentando recuperar o fôlego, um par de sapatilhas
pretas entram no meu campo de visão. Elas param bem ao lado da
grande gota de suor que acabou de cair da minha testa na calçada.
Está tão quente que eu juro que estou ofegando.
Eu olho para cima e encontro ninguém menos que Amelia Rose
em seus jeans escuros, camiseta listrada em preto e branco e um copo
descartável de café na mão e uma bolsa grande com o logotipo do
restaurante local pendurada em seu braço. Suas sobrancelhas se
levantam, e eu ainda estou muito sem fôlego para dizer qualquer coisa
além de:
— Ei. Voltei à cidade.
— Eu vejo isso — diz ela em um tom divertido. — Eu estava
apenas pegando algo para o café da manhã na lanchonete e pensei em
passar por aqui e garantir que você está bem acomodado. Mas aqui
está você. — Ela toma um gole de café, parecendo ser capaz de rir.
— Aqui estou. — Eu mal consigo respirar ainda.
— Então você correu pela cidade assim?
— Assim como? — Eu digo, finalmente me levantando e usando
minha regata amassada apoiada no ombro para absorver o suor do
meu rosto e pescoço.
— Peito nu e um outdoor ambulante para o seu tatuador?
Eu olho para o meu abdômen como se estivesse percebendo que
não estou vestindo a camisa.
— Sim — eu digo, olhando para ela e ainda respirando
pesadamente. — Isso é ruim? Existe um código de vestimenta para
correr por aqui?
Novamente ela sorri.
— Não oficialmente. Mas é melhor eu voltar para casa logo para
poder atender todas as ligações que estão prestes a inundar meu
telefone fixo.
— Espere, por quê? — Eu pergunto a ela recuando.
— Porque o trem da fofoca vai passar em alta velocidade esta
manhã. Tenho que pegá-lo antes que vá longe demais! — Ela levanta
o copo. — Passe lá em casa depois que se trocar. Temos muito café da
manhã para compartilhar!
Agentes de proteção executiva não devem desfrutar de cafés da
manhã sentados com as pessoas que estão protegendo. E, no entanto,
Amelia sempre esteve determinada a me adicionar ao seu círculo de
amigos nem que fosse a última coisa que ela fizesse.


Meia hora depois e recém-banhado, bato na porta da frente de Amelia
e Noah. Ela abre com o telefone fixo grudado na orelha.
— Uh-huh. Absolutamente. Esse é um ponto excelente, Harriet,
com certeza passarei adiante. — Ela sorri e acena para que eu entre.
Tenho que passar por cima do fio de telefone encaracolado que vai
da cozinha ao redor da pequena ilha, desaparecendo na parede do
canto, e depois pelo corredor até o telefone que ela está segurando.
Também está enrolado uma vez em volta da cintura.
Amelia aponta para a sala de estar, gesticulando para que eu entre
e me sente. Ela passa a última parte de sua conversa ao telefone se
desvencilhando do fio. Eu ouço uma porta abrir e fechar atrás de
mim, e quando vejo Noah aparecer no corredor, eu me levanto.
— Will — diz ele entrando na sala e estendendo a mão. Eu a
seguro e nos cumprimentamos com firmeza. — É bom ter você de
volta.
Eu realmente gosto de Noah. Amelia namorou alguns caras
anteriores a ele cujos dentes eu queria fazê-los engolir. Mas esse cara é
legal. Ele é leal e coloca Amelia em primeiro lugar. Eu confio nele e
ele parece confiar em mim.
— É bom estar trabalhando para Amelia novamente.
Ele sorri.
— Não tenho certeza se a cidade compartilha sua alegria.
— O que você quer dizer com isso? — Meus olhos seguem seu
olhar por cima do meu ombro para onde Amelia ainda está ao
telefone, acenando distraidamente para quem está tagarelando em
sua orelha.
— Essa é a quarta ligação para ela desde que você voltou da
corrida.
Nós dois voltamos nossa atenção para Amelia quando ela termina
sua ligação, lentamente movendo o telefone de sua orelha, cada vez
mais perto do receptor a cada palavra.
— Sim... Uh-uh... Absolutamente... Ok... Eu vou... Tchau! — Ela
desliga e se apoia dramaticamente contra a parede, escorregando até
o chão. E então ela aponta o dedo para mim. — Você!
— Eu? — Eu digo com as sobrancelhas levantadas, apontando
para mim.
— Sim, você! Você só teve que correr esta manhã sem camisa,
causando um alvoroço na cidade inteira.
— Você está brincando? — Isso deve ser algum tipo de piada.
Noah balança a cabeça.
— Não. A cidade está em um alvoroço. Você realmente conseguiu
esse feito desta vez.
Amelia se levanta e entra na sala de estar.
— Acabei de falar ao telefone com Harriet, que não gostou nem
um pouco da maneira como você desfilou sua nudez pela cidade,
convidando as jovens solteiras a serem corrompidas.
Meu queixo cai aberto. Estou sem palavras.
Noah balança a cabeça para mim.
— Tão impensado. Você está tentando seduzi-las? Em seu
primeiro dia de trabalho?
— Quem? As jovens solteiras? — Eu levanto minhas mãos. —
Não. Juro. Só fiquei com calor e tirei minha camisa como
normalmente faço, e... — Faço uma pausa quando ouço risadas deles
que mal conseguem conter. — E vocês estão brincando comigo.
Noah acena com a cabeça desta vez, sorrindo.
— Estamos brincando com você. — Ele passa e me dá um tapinha
no ombro. — Bem-vindo de volta a Rome. Onde ninguém tem nada
a fazer a não ser reclamar uns dos outros.
Ele passa por Amelia e para a beijando na boca – nem um beijo
longo, nem um beijo curto. Apenas... romântico. Eu esfrego meu
peito.
— Tenho que trabalhar. Vejo vocês daqui a pouco. E Will — ele
se vira para mim. — Por favor, faça o possível para manter suas
malditas roupas hoje.
— Vou tentar.
Assim que ele sai pela porta, Amelia me serve uma xícara de café e
eu me sento à mesinha da cozinha. Conversamos por alguns minutos,
e ela me conta o que está acontecendo com a imprensa em mais
detalhes e alguns fanáticos que se aproximam um pouco demais do
confortável. Estabelecemos um plano de jogo para o mês e decidimos
que faremos uma programação diária. Um encontro matinal para ver
quais são seus planos para o dia, e então estarei por perto para
acompanhá-la à cidade e a qualquer outro lugar que ela precise ir, mas
não preciso ficar por perto enquanto ela estiver em casa ou em seu
estúdio. Ela aparentemente está trabalhando em um novo álbum e vai
passar muito tempo aqui, e eu vou me divertir enquanto ela faz isso.
Bom.
Ela espera que depois do casamento tudo se acalme. De qualquer
forma, pretendo pedir para ser transferido para um cliente diferente
depois que o mês acabar. Não porque não goste de trabalhar para
Amelia, sempre gostei, mas não vou ficar nesta cidade nem mais um
minuto do que o necessário. O tédio não combina comigo.
— Então isso soa bem para você? — Ela pergunta.
Eu concordo.
— Parece bom. Estou aqui para o que precisar. Sério, jardinagem?
Limpar as calhas? Eu sou seu cara. Você sabe que fico louco quando
não tenho nada para fazer.
Amelia ri.
— Eu sei. É por isso que estou feliz em ouvir você dizer que estaria
disposto a ajudar com outras coisas em seu tempo livre.
Me inclino para a frente, ansioso para saber o que ela tem em
mente.
— Sim, qualquer coisa. Basta dizer
Se não me engano, seu sorriso se torna um pouco diabólico.
Qualquer outra pessoa veria aquele sorriso e pensaria que ela está
insinuando algo sexual. Mas conhecendo Amelia como eu conheço,
definitivamente não é isso. É algo diferente. Algo complicado. Algo
que não vou querer fazer.
— Ótimo. Para começar, você se importa de levar uma carta para
a cidade para mim?
— Claro — eu digo, arrastando a palavra para que ela saiba que
irei fazer, claro. — Tipo ir ao correio?
— Não. — Seu sorriso se expande ainda mais. — Na floricultura,
na verdade.
E como só há uma floricultura na cidade, isso significa que vou ver
Annie Walker hoje. Merda.
Se eu não estava nervoso antes, ao sair pela porta com um discreto
envelope branco na mão, Amelia grita:
— Ei, Will!
— Sim?
— Não diga não, ok?
— Para o quê?
— Para o que está nesse envelope. — O olhar em seu rosto é de
súplica e algo genuíno. — Por favor, não diga não.
Will

Desta vez, para minha viagem à cidade, estou completamente vestido.


Isso não parece impedir todo mundo de colocar a cabeça para fora das
vitrines para olhar. Aceno para uma senhora que sai da loja de
colchas. Ela cora e acena de volta. Um pouco mais abaixo, um homem
sai correndo da loja de ferragens (acho que me lembro que o nome
dele é Phil) e pergunta se preciso de alguma ferramenta. Fitas métricas
estão à venda hoje, ele me informa ansioso e com olhos que só podem
ser descritos como ligeiramente selvagens.
— Por hoje eu não preciso, obrigado. — Eu tento me afastar dele,
mas ele me acompanha. Acho que talvez ele queira algum seguro de
que só comprarei em sua loja qualquer coisa relacionada a consertos
enquanto estiver aqui, então, com um sorriso largo, acrescento: —
Mas sei aonde ir se precisar de alguma coisa.
— Com certeza! — Ele sorri de volta, um pouco exagerado de uma
forma desconcertante. Ele então grita por cima do ombro para um
cara da mesma idade que escreve com giz na placa de rua apoiada. —
Todd! Eu disse que as fitas métricas estão à venda hoje. Não chaves de
fenda.
Todd suspira e limpa silenciosamente seu trabalho manual
intrincadamente detalhado, começando de novo. Cara... pobrezinho
do Todd.
— Certo, bem, na verdade estou indo para a floricultura, então...
— Por favor, saia do meu caminho.
Seus olhos se estreitam.
— Ah, vai ver nossa Annie, não é?
— Mais ou menos, mas não propositalmente. — Eu me movo
para a direita da calçada e ele se move comigo. De novo.
— Claro, claro. Entendo. As crianças de hoje são todas contra
relacionamentos. É supostamente legal manter suas opções em
aberto. — Ele faz aspas no ar quando diz legal.
Eu mudo o peso de um pé para o outro e olho para ele, sentindo
como se estivesse perdendo alguma coisa aqui. Eu rio de uma maneira
natural, no entanto.
— Ouça, Phil, certo? Só estou indo entregar um recado para a
minha chefe. — Todo mundo sabe que trabalho para Amelia, mas
sou cuidadoso mesmo assim. — Uma tarefa que eu realmente preciso
fazer. Então, se você não se importa, vou precisar adiar nossa
conversa. — Gentil, mas firme. A sempre presente corda bamba que
eu ando.
Eu tento contornar ele, mas paro abruptamente quando sinto a
mão de Phil espalmada em meu peito. Eu lentamente olho para seus
dedos e cada grama de simpatia que sinto se dissolve. Agora estou
lutando contra o desejo de envolver minha mão em seu pulso e
prender em suas costas. Eu odeio que esse seja meu primeiro instinto
quando sou tocado sem aviso prévio. Parte de mim se pergunta se
talvez eu esteja fazendo esse trabalho há muito tempo. Mas o que mais
eu faria?
Eu me forço a respirar fundo e relaxar, porque este é Phil, um
homem que viveu nesta cidade toda a sua vida e provavelmente viu
Annie crescer. Então, em vez de empurrá-lo para trás com um aviso
para não me tocar novamente, eu o olho nos olhos e escuto ele falar.
— Nossa Annie é um amor, sabia? — Ele está dizendo isso em um
tom alegre, mas há algo nas entrelinhas que eu não perco. Palavras
não ditas de advertência: nossa Annie é uma doçura, então não mexa
com ela, ou vou cortar suas bolas com a motosserra que temos à venda
hoje com 50% de desconto. Phil e sua camisa de colarinho listrada de
azul e branco, short cáqui, meias até os tornozelos e tênis de velho está
me ameaçando. Eu, um agente de proteção executivo altamente
treinado e especializado em combate corpo a corpo, manobras
evasivas e treinamento com armas. E adivinha? Está funcionando.
Phil tem o olhar paternal que faz meu sangue gelar.
— Eu sei — digo honestamente, porque apenas um olhar nos
suaves olhos azuis de Annie é suficiente para informar a uma pessoa
que ela tem bondade e empatia transbordando de sua alma.
Phil assente.
— Eu não quero ouvir falar de ninguém – e eu quero dizer
ninguém mesmo – machucando nossa garota. Entendido?
Respeito mais Phil e seu jeito de usar meias, mesmo que esteja um
pouco irritado com a insinuação dele de que eu iria machucá-la de
propósito. Ou qualquer mulher.
— Eu entendo, senhor.
Ele dá um tapinha no meu peito e remove a mão.
— E use uma camisa quando for correr de agora em diante. Você
quase fez Gemma desmaiar enquanto levava o lixo para fora esta
manhã. Nunca a encontraria depois disso.
Um mês. Eu posso fazer isso por um mês. Trinta dias. Já aguentei
coisa pior.
Annie

O paraíso inegavelmente é formado por flores.


Não há nada no mundo que melhore meu humor como ficar na
minha floricultura e respirar profundamente as flores. O sol da
manhã entra pelas grandes vitrines da loja e beija o arco-íris de flores
que brotam de todos os cantos da minha pequena loja.
Eu gostaria que minha mãe pudesse ver. Ela adorava flores – e foi
ela quem iniciou a colheita de flores em nossa fazenda local, onde
compro minhas flores no atacado. Ela é a razão pela qual minha loja
se chama Flores de Charlotte. E por mais estranho que pareça, tentei
combinar o espaço com o sorriso da minha mãe. Brilhante, aberto,
acolhedor, esperançoso. Mal tive a chance de conhecê-la e, no
entanto, sofro por ela constantemente. Para saber o que ela pensaria
dos vasos de madeira cheios de flores de caule longo alinhados no
perímetro da loja. Ela gostaria do piso claro de tábuas largas? Acho
que ela adoraria a velha mesa de fazenda gigante no centro da sala que
encontrei por uma pechincha em uma feirinha de rua.
O que minha mãe diria sobre o vazio do qual não consigo me
livrar? De alguma forma, sinto que a traí ao abrir a floricultura dos
seus sonhos e perceber que não é o suficiente para mim. Deve ser
porque meu coração está pronto para o amor, para o casamento e
para ter uma família, e quando eu conseguir todas essas coisas, estarei
contente. Quero dizer, uma olhada na foto dos meus pais diria que
eles tinham tudo o que precisavam um no outro. Eles exalavam
alegria e paz. Eu quero isso.
Atualmente eu deveria estar terminando o buquê que James
pediu mais cedo e que ele buscará em breve; em vez disso, estou
ocupada com um trabalho muito importante (leia-se: lendo só mais
um capítulo do último romance pirata que não consigo largar).
Os seios de Coraline arfam dentro do corpete apertado de seu
vestido de uma maneira que deixa Allistair louco de desejo. Incapaz
de se manter afastado por mais tempo, ele passa o braço em volta da
cintura de Coraline e a puxa com força para ele.
— Coraline — ele sussurra com sua boca apenas um pouco acima
da dela. — Por favor. Eu te imploro. Permita-me...
O sino acima da porta da minha loja toca, e eu mal consigo não
gemer audivelmente de quão frustada estou por ser interrompida
bem quando Allistair estava implorando a Coraline para permitir... o
quê? Beijá-la? Fazer amor com ela? Eu preciso saber!
Eu olho para cima, suspiro e jogo meu livro por cima do ombro,
em algum lugar no abismo do meu depósito.
Há um homem parado na minha loja com um sorriso maroto e
um braço cheio de tatuagens.
— Oi — diz Will Griffin parecendo muito entretido. — Estou
interrompendo alguma coisa?
— Não. — Eu respondo muito rápido.
Ele sorri com curiosidade.
— Mas você acabou de jogar um livro para trás, certo?
— Não. — Mais uma vez, muito rápido. Eu engulo e digo a minha
pele para parar de ferver. — Mas se eu tivesse jogado –
hipoteticamente falando – seria porque não quero que você saiba que
livro estou lendo. Então, por favor, não me faça mais perguntas.
Seu sorriso se alarga enquanto ele avança para a loja para ficar bem
na frente da minha mesa de trabalho.
— Eu entendo. O ilustre livro que você disse que teria que me
matar se me dissesse o nome. Mas você deve saber, é uma tortura por
si só não saber que livro é.
Poxa. Fale em tortura. É quase insuportável olhar direto nos olhos
de Will. É como olhar para o sol. Muito forte para meros mortais.
Eu propositalmente mudo de assunto.
— Em que posso ajudá-lo, Will? Você está aqui para comprar
flores ou está de guarda-costas?
— Agente de proteção executiva.
Eu franzo a testa e ele percebe minha confusão.
— Preferimos ser chamados de agentes de proteção executiva. Mas
atualmente acho que me enquadro mais com o título de garoto de
recados. — Ele estende um pequeno envelope sobre a mesa para mim,
e meu cérebro fica momentaneamente em branco quando meu olhar
recai na tinta preta de sua tatuagem de borboleta tão perto de mim.
Algo sobre isso parece ilegal. Como se o quão sexy a mão desse
homem é estivesse em uma lista dos Homens Mais Perigosos
escondidos em um arquivo ultrassecreto do FBI.
— Não faço ideia do que há dentro dele — ele admite quando
finalmente pego a carta dele – com cuidado para garantir que nossas
mãos não se encostassem no processo, porque não tenho desejo de
entrar em combustão espontânea bem aqui na minha floricultura. —
Amelia acabou de me pedir para trazer para você e para você abrir
enquanto eu estiver aqui.
— Isso soa meio estranho — eu digo, e Will apenas encolhe os
ombros – a camiseta branca contrai seus músculos enquanto ele faz
isso.
Seus olhos vagam de mim para os vasos de flores contra a parede
antes de enfiar as mãos facilmente nos bolsos da frente da calça jeans,
se virando para explorar a loja. Percebo que é a primeira vez que ele
vem aqui. Quando ele estava na cidade pela última vez, ele sempre
pairava do lado de fora de qualquer estabelecimento em que Amelia
estivesse, entrando apenas se houvesse uma grande multidão. Mas
aqui é Rome, e nunca há mais de uma ou duas pessoas em um
estabelecimento ao mesmo tempo.
Mesmo que eu esteja curiosa para saber por que Amelia me enviou
uma carta por meio de seu guarda-costas, levo um minuto para
desviar meus olhos de Will e do jeito que ele está absorvendo cada
detalhe da minha loja. Ele toca as pétalas e os caules. Ele olha para
cima, expondo a longa linha de sua garganta ao olhar a grossa coroa
moldada ao redor da porta da loja. Batendo o pé no chão de tábuas
largas. Eu poderia assistir ele fazer isso o dia inteiro.
Em vez de agir como uma estranha, no entanto, eu me forço a
abrir o selo do envelope e ler a caligrafia de Amelia. Depois de varrer
meus olhos rapidamente por suas palavras, eu prontamente dobro a
carta e considero colocá-la na boca e engolir para que nunca mais seja
vista.
— O que ela diz? — Will pergunta, tendo se virado e,
aparentemente, me visto lendo.
— Nada demais. — Minha voz está suspeitamente afetada. Eu
ando até a porta da loja e a abro. — Bem, tenho certeza de que você
tem muitas coisas para fazer hoje. Não deixe eu te atrase. Obrigada
por trazer isso!
— Eu não acho que tenha nada. — Ele segura a maçaneta e
lentamente fecha a porta. Ele vira os olhos para mim. — O que havia
naquela carta?
Eu dou a ele um sorriso casual.
— Oh, você sabe, nada importante. Coisas de garota.
Ele se aproxima e eu dou um passo instintivo para longe. Não
porque me sinto ameaçada, mas porque me sinto... o oposto de
ameaçada.
— Eu sei que aquela carta tinha algo a ver comigo.
Eu murmuro pelo canto da boca como um ventríloquo.
— Alguém é meio narcisista.
— Annie. Me mostre a carta. — O tom de Will é calculadamente
calmo e seu sorriso está cheio de sedução. Ele está tentando me
persuadir.
Eu não sei o que dá em mim, mas antes que eu possa me conter,
as palavras saem voando da minha boca:
— Você não pode me obrigar.
Seu sorriso se transforma em algo maroto e desafiador.
— Quer apostar? — Ele se aproxima, e uma adrenalina que eu
nunca senti corre em minhas veias.
De jeito nenhum vou deixar Will Griffin pegar esta carta. O que
Amelia estava pensando? É embaraçoso! É uma ideia terrível! O que
torna a carta terrivelmente embaraçosa.
Will se aproxima lentamente e a cada passo que ele dá, minha pele
se arrepia de felicidade. O que é confuso porque não é hora de pensar
em arrepios felizes.
Eu aperto a carta ferozmente entre meus dedos usando todos os
músculos que meus pobres dedinhos pouco tonificados podem
fornecer e, em seguida, a coloco atrás das minhas costas.
— Esta carta não é para você, senhor.
— Mas é sobre mim, certo?
— Não. — Eu levanto meu queixo um pouco mais alto.
Ele sorri.
— Você está mentindo.
— E como você saberia disso?
— Porque eu te observei. Eu conheço o seu jeito.
O chão cede sob meus pés.
— Você... me observou?
Ele não parece envergonhado ou como se tivesse acabado de
admitir algo estranho. Ele afirma isso como um fato.
— É meu trabalho observar e ouvir sobre todos com quem Amelia
interage. E isso inclui você. É por isso que sei que, quando você não
está dizendo toda a verdade, sempre levanta um pouco o queixo.
Como se você tivesse que reunir coragem para contar uma mentira.
É fofo.
Ugh, eu gostaria que ele não dissesse “fofo”. Me faz perder o rumo.
Elogios dele me deixam tonta. Ah, mas esse é o motivo dele, não é?!
Ele é como a cobra em Mogli: O Menino Lobo, se aproximando com
olhos hipnotizantes.
— Nós dois sabemos que vou conseguir essa carta, Annie, então
que tal você entregá-la e economizar um tempo para nós dois? — Sua
voz é tão charmosa e brincalhona que eu poderia me derreter. E com
ele tão perto, posso sentir o cheiro dele. Uma mistura de sabonete
líquido e desodorante, mas não colônia. Um perfume masculino sutil
e suave que é tão bom que dói.
— Você terá que tentar roubá-la de mim se quiser. Porque de jeito
nenhum vou te dar esta carta.
Ele ri baixinho e suavemente, como se eu fosse adorável por sequer
considerar ir contra ele.
— Não estou tentando roubar nada. Estou conseguindo roubá-
la. Seu primeiro erro foi me deixar chegar tão perto.
— Oh? Então, como a carta ainda está em minhas mãos?
— Não está. Você a deixou cair há um minuto.
Engasgo e quebro o contato visual para verificar se o papel ainda
está preso entre meus dedos e, quando faço isso, Will usa minha
confusão momentânea para avançar rápido como um raio e tirar o
papel de minhas mãos.
— E é assim que se mente sem entregar nada, Annie Walker — ele
diz com um sorriso alegre. — Agora vamos ver o que Amelia escreveu
sobre mim aqui, ok?
Ele mal diz sua última palavra antes de eu me lançar sobre ele, com
a intenção de arrancar o papel de sua mão e, em seguida, rasgá-lo em
um milhão de pequenas lascas ilegíveis. Mas esqueço que tenho um
metro e sessenta e três, e ele tem pelo menos um metro e oitenta ou
mais e facilmente seguraria a carta acima de sua cabeça para começar
a ler enquanto eu pulo como uma criança tentando arrancar uma
maçã de uma árvore.
Ele pigarreia dramaticamente.
— Querida Annie! Lembra quando eu disse que tinha uma
solução para seus problemas amorosos?
— Me dê essa carta!
— Bem, eu levei a solução direto para sua porta. Estou convencida
de que Will é exatamente quem você precisa também...
— William! — Eu grito alto, minha própria voz arranhando
meus nervos enquanto continuo pulando, puxando e rodeando ele
por aquela carta. — Você não pode ler isso! É embaraçoso.
Desta vez, ele abaixa a carta na frente do meu rosto como uma isca.
Ele balança levemente entre o indicador e o polegar. Eu franzo meus
lábios sabendo muito bem que ele vai afastá-la de mim no segundo
que eu tentar, mas eu ainda faço isso de qualquer maneira. E sim, ele
imediatamente a puxa para a direita – fora do meu alcance. Estamos
colados agora. Meu rosto está inclinado para cima e o dele está
inclinado para baixo. Eu poderia beijá-lo agora se eu quisesse.
De onde diabos esse pensamento veio?
— O que faz você pensar que meu nome é William? — Ele diz
baixinho, como se estivéssemos deitados juntos na cama, em vez de
brigando em uma floricultura.
— Está bem. Por favor, me dê a carta, Wilson — eu sussurro em
troca.
Ele sorri.
— Definitivamente não depois de perceber que sou a solução para
seus problemas amorosos. Estou tão intrigado que nunca poderia
devolvê-la agora.
Eu rosno e me jogo nele para pegar o papel. Ele passa-o por cima
da cabeça e para o outro lado.
— Wilbert, por favor, dê para mim agora ou eu serei forçada a...
dizer coisas rudes para você.
— Tão educada em me avisar sobre — diz ele em um tom de voz
impressionado. Como se ele estivesse a segundos de rir. — Acho que
gostaria de ouvir as coisas rudes.
Desta vez, agarro seu bíceps e o puxo para baixo. Dado que ele tem
o dobro do meu tamanho e não exerci nada além da minha
inteligência em anos, sei que ele está me deixando fazer isso. Mas eu
uso sua pena a meu favor e torço seu braço sobre meu ombro, girando
para que eu fique de costas para ele e eu possa pegar o papel de sua
mão balançando na minha frente. Experimento um triunfo
momentâneo onde tenho certeza de que sou a mais nova mulher mais
forte do mundo até que Will envolve seu outro braço em volta de
mim e me segura em um abraço para trás. Suas mãos cobrem as
minhas, então agora nós dois estamos segurando o papel. Eu sinto sua
respiração contra o meu ouvido.
— Qual é o seu comentário rude, Annie?
Um arrepio percorre meu corpo. Nunca me senti tão viva.
— Vai ser horrível — eu provoco, lutando para respirar
normalmente com a sensação de seus braços fortes, mas gentis, me
envolvendo e o frio na barriga. — Bem malvado.
— Estou preparado. Fale.
Eu engulo e viro meu queixo para olhar para seus olhos – tão perto
que eu poderia usar uma régua e medir aquela borda preta ao redor
de suas íris de cor azul-acinzelado com bastante precisão.
— Você está agindo... como um... miserável... bunda mole!
Ele se engasga.
— Bunda mole? Assim você parte meu coração. Eu nem sei o que
é isso, mas estou arrasado.
Estou rindo tanto agora que mal consigo ficar de pé. Meus joelhos
estão dobrados, e Will está usando seus braços para me segurar
enquanto ele ri também.
— Tudo bem — eu digo saindo de seu aperto para afastá-lo. —
Desisto. Você claramente não vai embora, então apenas leia e acabe
logo com isso.
Ele recupera o fôlego, me observando apenas com um sorriso
espreitando enquanto desdobra o papel.
— Sabe, eu pensei que você deveria ser tímida.
Eu dou de ombros.
— Eu sou com a maioria das pessoas. — Mas, estranhamente, não
você, é o que deixo de dizer.
Will lê a carta e eu o observo atentamente enquanto seus olhos
examinam as palavras. Como li primeiro, sei que Amelia (uma
mulher que perdeu o juízo) sugere que eu peça a Will para me ajudar
com os encontros, como um treinador. Ela acha que devemos
praticar encontros, e ele pode me ajudar a lidar com minha ansiedade
do primeiro encontro. Ela aponta prestativamente que Will teve
muitos encontros ao longo dos poucos anos que ela o conheceu, e ele
é considerado um profissional nisso. Ela acrescenta que, apesar das
tatuagens e da personalidade ameaçadora, ele é um cara fantástico e
com certeza diria que sim. Para isso, eu rio mentalmente porque não
acho Will ameaçador. Sedutor, sim. Ficaria incrível na capa de um
romance histórico? Absolutamente. Medo dele? Não. Nem um
pouco.
Amelia termina a carta me dizendo para ser corajosa e depois me
pergunta o que Audrey faria. Um truque barato, Amelia Rose.
Não é bravura que me falta – o problema é o alarme alto soando
em meu ouvido, me avisando que isso é uma má ideia. Não posso
pedir a Will para praticar encontros comigo porque, bem, olhe só
para ele! Eu claramente tenho uma grande queda por ele e, a julgar
pela forma como meu corpo reage quando ele está por perto, essa
sugestão é desastrosa. Vou confundir os sentimentos e ficar confusa
sobre qual é realmente o meu objetivo. Sou uma garota
autoconsciente e conheço meus defeitos. Me apaixonar rapidamente
por homens misteriosos bonitões que parecem piratas e não curtem
relacionamentos é definitivamente um deles.
Mas também não posso me apaixonar por Will porque ele não é o
tipo de homem com quem quero me casar. Eu preciso de alguém
confiável, doce e acolhedor. Alguém para combinar com meu jeito.
Alguém para ser um ótimo pai para nossos futuros filhos, ajudar nos
deveres de matemática e brincar de bola no quintal. Em comparação,
Will é perigoso, sexy e excitante. A única coisa que ele vai pegar é meu
coração antes de jogá-lo no chão e esmagá-lo em um milhão de
pedacinhos antes de partir em direção ao pôr-do-sol.
Ele está demorando uma eternidade para ler esta carta. Eu disseco
suas expressões esperando por uma pista do que está acontecendo em
sua cabeça. Ele quase não me dá nenhuma sugestão porque tem uma
cara impassível muito boa, que presumo ter sido aprendida com anos
de guarda-costas. Sua mandíbula flexiona e a minha também. Sua
sobrancelha se contrai e eu contorço a minha. E então,
abruptamente, seus olhos se voltam para mim, e ele sorri porque
estava me observando com o canto do olho o tempo todo.
Bem.
Ele afasta o olhar de mim para terminar a carta e eu reviro os olhos.
O sino acima da porta da minha loja toca, e minha atenção é
forçada a parar de examinar cada movimento de Will para ver meu
cliente favorito e mais desafiador entrar.
— Se prepare, docinho! Tenho um pedido para você que vai te
fazer chorar de alegria ou de angústia. Veremos no final.
A Sra. Mabel, a melhor amiga da minha avó há mais de cinquenta
anos e a mulher que ajudou a criar a mim e meus irmãos, entra pela
porta – em vestido com estampa floral agarrado a sua forma
voluptuosa e balançando levemente na bainha. Ela está respirando
pesadamente, como se tivesse andado por aqui, e tem sua bolsa de
couro apertada contra o peito.
— Bom dia Mabel! Que tipo de pedido...
Sou interrompida quando de repente a porta da loja se abre como
a porta de um bar. Eu meio que espero que Mabel se vire e tire uma
pistola de uma liga sob a saia.
— Preciso de quinze arranjos de flores nas cores rosa e branco até
amanhã à noite!
— Maldita seja, Harriet! Eu cheguei aqui primeiro — Mabel bufa.
— Não me xingue. Não é minha culpa que você tenha demorado.
— Essas duas brigam desde que nasci. Não tenho certeza de como
começou, mas estou confiante de que continuará até que ambas
estejam em seus túmulos. Talvez até depois do túmulo. Mabel
assombrará o local do enterro de Harriet, desenhando imagens
inadequadas em sua lápide, e Harriet retaliará trazendo um coro
celestial para cantar a plenos pulmões em torno do local de descanso
de Mabel.
Mabel põe as mãos nos quadris e franze a testa.
— Estou encarregada das flores para o chá das senhoras. E eu
quero flores roxas.
Harriet, com o peito arfando sob o vestido midi na cor cinza
muito apropriado que combina perfeitamente com o cabelo grisalho
bem enrolado, entra na loja.
— Se levantar da mesa no meio de nossa sessão de planejamento e
correr para a floricultura no segundo que Deloris mencionou que
precisa de arranjos não a torna responsável pelas flores.
— Agora, senhoras — eu digo em um tom suave. — Não há
necessidade de discutir. Mabel, largue essa rosa. Respeitosamente, se
você bater em Harriet com isso, terá que comprá-la. — Mabel bufa e
recoloca a rosa em seu balde de direito. — Que tal eu colocar seus
nomes em um chapéu para decidir quem está no comando? Ou
melhor ainda, podemos fazer metade dos arranjos rosa e branco e
metade roxo e branco.
— Ou — Mabel diz enquanto se aproxima da porta, seus
mocassins de couro rangendo levemente a cada passo. Ela põe a mão
na maçaneta da porta e continua: — Podemos colocar em votação no
comitê de planejamento. Eu vou dizer a eles! Que bom ver você de
volta à cidade, William! — Ela escancara a porta e sai correndo
loucamente por ela, passando pela vitrine e descendo a calçada.
— Aquela trapaceira! Ela vai prometer a Deloris o uso de sua sala
de jantar para a noite do bunco se ela votar nela antes de eu chegar lá.
— E ela sai correndo deixando um rastro cinza enquanto se vai.
Com um sorriso no rosto, volto para a loja, quase pulando
quando vejo Will olhando para mim.
Ele me nivela com um olhar tão potente que acho que vou cair de
costas.
— Minha resposta é não. Não posso ser seu treinador de
encontros.
Will

As mãos de Annie vão para os quadris.


— Bem, só para que conste, eu pensei que era uma má ideia no
começo, mas por que você acha que é uma má ideia?
Eu posso pensar em um milhão e dois de razões. Mas a primeira e
mais importante é que estou extremamente atraído por Annie e
preciso ficar o mais longe possível dela durante o próximo mês. Não
consegui tirá-la da cabeça desde ontem à noite. Eu até sonhei com ela.
Maldito seja esse sonho.
Eu absolutamente não posso me envolver com ela. Não só porque
ela é a futura cunhada de Amelia, mas porque Annie representa tudo
o que evito. Compromisso. Relacionamento. Longevidade. Meu
cérebro a vê e sobrepõe um grande sinal de “Não!” acima de sua
cabeça. Absolutamente não.
— Porque — eu digo, desejando que fosse o suficiente como
resposta. — Você nunca viu os filmes assim? A mulher sempre tem
que fazer um monte de merda que não gosta, como ir a lugares que a
incomodam, mudar de estilo e sair do seu mundo normal. E então,
no final do filme, o cara se apaixona por ela e tudo complica. Não,
parece uma péssima ideia. Sem mencionar que sou contra toda essa
coisa de amor. Eu não quero um relacionamento com ninguém
nunca – e por que você está sorrindo para mim desse jeito?
Seus olhos azuis estão brilhando com ideias perigosas.
— Oh meu Deus. Amelia tem razão. Você é perfeito para o
trabalho.
Eu a encaro incrédulo.
— Você estava ouvindo o que eu disse agora há pouco?
— Sim, e ouvi um homem muito qualificado para ser um
treinador de encontros.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, eu não sou. Eu não estou fazendo isso.
— Mas e se eu prometer que não vou me apaixonar por você? —
Ela diz como se fosse uma opção lisonjeira. — Você não é o tipo de
cara que eu estou procurando de qualquer maneira.
— Uau. Eu me sinto ótimo agora. Obrigado.
— Vamos, Will! É perfeito.
— Annie... — Instintivamente dou um passo para trás, mas ela
segue. Nunca me senti mais acuado do que neste momento. Eu
gostaria de poder dizer que não gosto disso.
— Wildon, por favor, seja meu treinador.
Balanço a cabeça, tentando não rir enquanto passo por ela. Um
minuto atrás era eu quem tinha todo o poder, e de alguma forma ela
inverteu a situação e me fez cruzar para o lado oposto da loja para
escapar dela.
— Por que você precisa tanto de um treinador?
— Porque eu realmente gostaria de me casar antes dos oitenta
anos, e meu último encontro foi um desastre.
— Não pode ter sido um desastre.
— Um desastre — ela repete com firmeza, com os olhos bem
abertos. — Lembra como ele saiu no início do encontro? Antes disso,
eu o ouvi ao telefone dizer ao amigo que eu era incrivelmente chata.
Tediosa demais para namorar.
Uma raiva rápida e profunda toma conta de mim.
— Que idiota. Me diga o nome dele. Eu vou...
— Ele não queria que eu ouvisse — diz Annie, defendendo um
homem que não merece. — E o fato é que ele não estava errado. Eu
pensei no encontro, e... eu realmente era chata. Eu não conseguia
pensar em nada para falar. Preciso de ajuda para aprender a me
divertir nos encontros.
Mas quando olho para o rosto corado e os olhos brilhantes de
Annie, suas palavras ainda não soam bem. Ela não deveria ter que
mudar a si mesma.
Eu me inclino mais perto.
— Se algum idiota acha que você é chata, isso é problema dele, não
seu.
Ela desvia o olhar.
— Você só diz isso porque nunca foi chamado de chato, sem graça
ou algo do tipo. Um olhar para você e todos sabem que você é a
antítese dessas palavras. Mas eu... preciso de ajuda ou nunca vou
encontrar alguém. Preciso de um treinador.
Quanto mais olho para Annie, mais desejo destruir o homem que
a fez duvidar de si mesma.
— Não. Absolutamente não. Você merece mais do que o tipo de
cara com quem você saiu, e eu poderia passar horas falando sobre isso.
Você encontrará alguém que a verá por quem você realmente é.
Annie desconsidera completamente meu monólogo sincero.
— Ugh. Por favor, Will! — Ela pergunta em um pedido exagerado
que me faz ter que sufocar um sorriso.
— Não.
Ela apoia a mão no quadril.
— Você está preocupado que vai se apaixonar por mim?
— Não, eu não estou.
— Bem, então não temos problemas!
— Você não está me ouvindo. Temos problemas porque não
quero fazer parte deste plano. É uma má ideia mudar a si mesma. —
E ainda mais, não quero ver nenhuma mudança em Annie. Nem uma
única mudança. Eu nunca conheci ninguém como ela antes – e seria
uma pena que ela se transformasse em alguma construção social
popular de como uma mulher deveria ser em encontros. Eu odeio
isso. Se algum idiota não se dá ao trabalho de descascar suas camadas
de nervosismo para descobrir quem ela realmente é, ele não merece
tê-la quando ela está mais confortável.
Annie me segue pela sala, segurando sua carta na frente dela como
se estivesse reunindo assinaturas para uma petição.
— Eu não estaria mudando quem sou. Eu só estaria ficando mais
confortável sendo eu mesma em encontros. Além disso, talvez um
pouco de mudança aqui e ali, conforme necessário.
— Eu prefiro arrancar minhas sobrancelhas completamente.
— Rude.
Sem pensar, coloco minhas mãos nos ombros de Annie. O choque
de sua pele quente e macia contra minhas palmas ásperas percorre
momentaneamente, me deixa desnorteado. Um zumbido de desejo
pulsa através de mim tão forte e repentino que tenho que afastar
minhas mãos. Mais uma prova de que não posso ser algum tipo de
treinador de encontros para ela. Fantasias são construídas sobre esse
tipo de merda.
— Eu não vou fazer isso — eu digo com firmeza. Ponto final. Fim
da história.
Os ombros de Annie caem e me sinto mal por decepcioná-la.
Mesmo assim, não farei parte do motivo pelo qual ela não é mais
Annie.
— Tudo bem — diz ela, enrijecendo-se em uma pose mais
teimosa. — Então terei que encontrar outra pessoa para fazer isso. —
Ela se vira e começa a caminhar de volta para onde presumo que sua
mesa esteja.
— Como quem? — Eu a sigo.
Ela contorna a mesa de trabalho e eu dou a volta pelo lado oposto
até nos encontrarmos no meio. Ela vira os olhos para olhar
diretamente para os meus.
— Alguém. — Ela pisca duas vezes. — Alguém bom em ser sexy
que pode me ajudar a ser sexy também. — Mais duas piscadas. —
Talvez um acompanhante masculino.
Eu assobio baixinho.
— Um acompanhante masculino? De jeito nenhum Annie
Walker vai ficar malvada... Você vai pagar mais pelo sexo também?
Seus olhos brilham levemente, mas então seu queixo se levanta.
— Com certeza vou pagar a mais pelo... sexo. — Ela abaixa a voz
para um sussurro na última palavra, me fazendo rir.
— Eu tenho que ver isso. Promete que vai trazê-lo assim que o
contratar?
— Ah, duvido que eu vá — diz Annie enquanto se dirige para o
depósito. Eu a sigo de novo e então paro abruptamente na porta
quando, mais rápido do que eu esperava, ela surge segurando um
pequeno buquê de flores pré-arrumadas. Estamos de pé juntos, de
cada lado da porta. — Estaremos muito ocupados para que eu te
atualize com ele me ensinando todos os tipos de coisas.
Eu estreito meus olhos e inclino para frente para apoiar minha
mão no batente da porta sobre o ombro dela.
— Só para esclarecer e ter certeza de que entendi toda a questão.
Você está dizendo que estará muito ocupada com seu acompanhante?
— Sim, com o meu... — Ela olha brevemente para o meu
antebraço ao lado de sua cabeça e então termina fracamente sua frase
— acompanhante masculino.
— Porque ele vai te ensinar todo tipo de coisa. Coisas sexuais pelo
que estou assumindo, mas me corrija se eu estiver errado.
Suas narinas se abrem e ela inspira profundamente. É muito
divertido brincar com ela. Não há como Annie estar falando sério. Ela
está apenas tentando acender algum tipo de instinto protetor em
mim, esperando que eu concorde em ser seu treinador.
— Provavelmente. Quero dizer, sim. Definitivamente muitos e
muitos... — ela engole em seco — momentos sensuais no horizonte.
— Uau, isso vai ser ótimo. Você vai se divertir — eu digo, gostando
muito dessa provocação antes de perceber os olhos de Annie cair para
os meus lábios. E assim, ela rouba todo o show novamente. Todo o
meu entusiasmo se foi e não consigo pensar direito com os olhos dela
fixos na minha boca assim.
Eu tento ficar parado porque sei que ela está pensando em me
beijar agora, e não posso permitir isso. Eu quero – oh Deus, como eu
quero – mas eu não posso. Cada uma das minhas células em minha
pele doem para que eu dê um passo à frente e cole nossos corpos. Mas
não posso fazer isso porque tenho medo do que será de mim se eu o
fizer.
Mas nenhum de nós se afasta e, de alguma forma, os nós dos dedos
da minha mão livre roçam na dela. Seus dedos respondem e se movem
levemente contra os meus. Nossos dedos nunca se entrelaçam; nós
apenas deixamos nossa pele roçar com uma eletricidade controlada
rodeando. Como isso é a coisa mais erótica que já aconteceu comigo?
E agora, para o inferno com isso, eu tenho que beijá-la. Não, tenho
que fazer mais do que beijá-la, preciso pressioná-la contra o batente
da porta e sentir nossos corpos pressionados juntos.
Ela levanta o rosto e eu abaixo a cabeça e...
Do lado de fora da loja, a porta de um carro bate e nos faz dar um
solavanco, com as cabeças virando culpadas em direção à vitrine.
— Oh, é o James — ela diz sem fôlego. — Ele veio buscar este
buquê. — Aquele que ela está segurando contra o peito com a mão
que não estava torturando a minha. — Ele ligou e pediu hoje de
manhã.
Concordo com a cabeça distraidamente – meu movimento
preguiçoso combinando com seu tom preguiçoso, porque nós dois
estamos presos em uma névoa sensual e ininterrupta. Meu braço
ainda está apoiado atrás de Annie enquanto eu viro meus olhos para
ver James contornar a grande caminhonete branca com o logotipo da
fazenda Huxley na lateral. De tudo que Amelia me contou, ele é o
dono da fazenda agora, depois que se tornou demais para seus pais
lidarem. Aparentemente, ele é o melhor amigo de Noah e
praticamente cresceu com os irmãos Walker. Presumo que ele seja
como um irmão para eles.
Ou talvez ele não seja...
— Oh uau —, Annie diz, também observando James, mas soando
menos confusa a cada segundo. — Ele está vestindo um terno!
Sim, ele está. E até eu posso admitir que o homem parece bem. É
um belo terno que acentua o corpo de fazendeiro. Ele é alto,
musculoso, bronzeado. E ainda mais importante, quando olho para
Annie, ela está olhando para ele como se nunca tivesse o visto antes.
Meu pulso salta com raiva. Possessivamente.
Ela se afasta de mim para ir ao balcão enquanto James abre a porta
da loja.
— James, oi! — Ela diz em um tom alegre, enquanto coloca o
buquê no balcão e puxa um pedaço de papel pardo para embrulhá-lo.
A parte estranha é que ela nem olha para o que suas mãos estão
fazendo. Ela está encarando James o tempo todo. Não
necessariamente como se ela o desejasse, mas como se ela estivesse o
contemplando.
Merda. Receio saber o que está acontecendo agora.
— Bom dia, Annie! Obrigado por preparar isso para mim. — Este
homem tem o rótulo “Menino de Ouro da Cidade” escrito em sua
testa. O sorriso deslumbrante. O rosto amplo. O brilho nos olhos de
uma pessoa que nunca se cansou do mundo. Irracionalmente, eu o
odeio.
— Você está incrível hoje — Annie diz com muita ênfase, se você
me perguntar. — Onde você está indo? — Seus dedos trabalham para
enrolar delicadamente o barbante no papel pardo – e tudo em que
consigo pensar é como aqueles dedos moviam-se suavemente contra
os meus. Como eles gostariam de dançar no meu peito. Pressionados
contra minhas costas.
— Com a minha mãe para o casamento de um dos meus primos.
— Seu pai está bem? — Ela pergunta, doçura e preocupação
revestindo seu tom.
Como é ter alguém como Annie se preocupando com você?
Duvido que James aprecie o que ele tem.
Ele ri levemente.
— Se você contar com a recusa teimosa de ir ao casamento porque
tem um código de vestimenta de terno e gravata e que minha mãe não
o deixa usar o chapéu John Deere, então, sim, ele está bem. Eu, no
entanto, vou me sentir infeliz durante a tarde toda depois de ter sido
induzido a ir.
— E ainda assim você está levando um buquê de flores para ela.
Que gentil — ela diz com uma risada suave. — Mas você vai se divertir
muito. Eu vi você na pista de dança e sei que você terá todas as
mulheres fazendo fila por você até o final da noite.
James ri de novo, e a camaradagem deles está me deixando um
pouco enjoado.
— Vamos ver — diz James antes de piscar para Annie de uma
maneira bem Matthew McConaughey. E agora quero atropelá-lo
com sua própria caminhonete.
Estou com ciúmes? Não, eu nunca tenho ciúmes. Você não pode
ter uma série de encontros sem compromisso com mulheres por toda
a sua vida adulta e ser do tipo ciumento. É impossível. E, no entanto,
quando vejo Annie olhando James de forma avaliativa e chegando a
algum tipo de conclusão, percebo que estou absolutamente com
ciúmes.
— Ei, James? — Ela começa pensativa. — Eu tenho uma pergunta
aleatória para fazer a você. E sinta-se à vontade para dizer não, mas
você...
— Eu topo fazer isso — eu digo rapidamente, interrompendo
Annie.
Ela vira a cabeça em minha direção e olha para mim.
— Você fará? Mas você acabou de dizer...
— Eu sei. Eu mudei de ideia. Eu quero fazer isso. — Ela pisca e
sorri para mim, e meu coração se preenche com algo que parece lava.
— Mas eu tenho uma condição.
— Diga.
Eu sorrio.
— Eu preciso sair daqui hoje com o seu livro.
— Meu livro? — Ela pergunta, esperando que ela tenha ouvido
errado.
— O livro. — Eu sorrio enquanto observo duas manchas rosadas
atingirem as maçãs de seu rosto.
Por um instante, não há nada além de silêncio. Silêncio doloroso
e denso. E então, lentamente, o doce sorriso de Annie se transforma
levemente em um sorriso diabólico, e eu percebo que acabei de ser
epicamente enganado.
— Acordo feito, guarda-costas.
— Agente de proteção executivo.
James limpa a garganta.
— Por que sinto que perdi uma boa oportunidade?
Porque você perdeu. Agora, caia fora, ela é minha.
Annie

Eu abro dramaticamente a porta do estúdio de Amelia e depois tento


apanhar a maçaneta antes que ela bata contra a parede. O objetivo era
fazer uma entrada chocante – não abrir um buraco na parede.
Amelia gira no banco do piano, com os olhos arregalados.
Eu seguro a carta em mãos.
— Isso foi inaceitável, sua pequena... — Ela se inclina para frente
para ver se este será realmente o momento em que eu digo algo
perverso. — Intrometida! Uma linda intrometida, na verdade,
porque você está honestamente radiante hoje, mas isso não muda o
fato de que estou com raiva de você!
Amelia sorri.
— Você está linda hoje também.
— Não tente me bajular. Você está em sérios problemas comigo.
Você me transformou na Cinderela em Paris!
— Sim, eu transformei! — Seu sorriso cresce. — Qual foi a
resposta dele?
Eu me movo para sentar-se no pequeno sofá contra a parede e
corro minha mão para frente e para trás sobre o veludo verde macio
do apoio de braço.
— Você não pode saber. Intrometidos não ganham recompensas.
— Você concordou ontem à noite em me deixar bolar um plano,
lembra? Você disse que queria que alguém aparecesse e ensinasse
como ficar boa em encontros, como Fred ensinou Audrey a ser a
mulher da Quality. Então encontrei o seu Fred.
— Mas você não deveria apresentar o plano para mim na frente de
Fred! — Eu balanço minha cabeça. — Quero dizer, Will, em que ele
lutaria comigo fisicamente pela maldita carta.
Amelia arfa feliz.
— Ele disse que sim, não foi?
Cruzo os braços, observando o espaço ao meu redor e optando
por deixá-la um pouco curiosa. É a melhor forma de tortura que
posso imaginar no momento.
— O estúdio ficou bom. Você está gostando?
O estúdio dela é realmente adorável. É um quarto com um
banheiro anexo. Amelia disse que não queria nada muito sofisticado,
apenas um espaço tranquilo com luz natural para trabalhar em sua
música quando estivesse em casa. Há um piano, algumas guitarras e
uma escrivaninha com equipamento para gravação no canto. Mas
minha parte favorita do espaço é esta pequena e aconchegante área de
descanso composta por um sofá de veludo verde e alguns pufes de
chão espalhados para assentos extras. Acima do sofá há um pôster
gigante de nossa rainha – Audrey Hepburn – em um vestido de cor
creme em frente a uma parede de flores cor de rosa.
— Sim, sim, o estúdio é ótimo. Me diga o que Will respondeu.
Eu olho de soslaio para várias partes da sala.
— Você precisa de mais plantas aqui. Acho que uma folha de
figueira ali no canto seria legal.
— Annie...
— E uma suculenta no seu piano.
Amelia se levanta do banco do piano e se joga no sofá comigo. Ela
me agarra em um abraço.
— Não fique com raiva de mim, Annie! Não aguento sua conversa
educada. É pior do que tratamento de silêncio.
Eu resisto ao seu abraço, dobrando meus braços com força ao
redor da minha cintura. Devo resistir ao carinho. Ela abraça ainda
mais forte. Espremendo a felicidade para fora de mim. Quando não
aguento mais, deixo escapar:
— Tudo bem! Eu desisto. Will disse que sim — E então retribuo
o abraço, porque poucas pessoas entendem isso sobre mim, mas
adoro carinho.
Amelia dá um gritinho, me aperta mais uma vez e depois pula para
fazer uma rápida dança feliz – ou talvez a dança da vitória? – e então
fala para mim:
— Eu sabia! Eu sabia que ele diria sim.
— Uau! Cuidado, aí. — Estendo a mão para a frente e finjo
remover cuidadosamente as armas que ela faz com os dedos, ligando
a trava de segurança e, em seguida, colocando-as debaixo do sofá. —
Você é perigosa quando está gabando-se.
Rindo e um pouco sem fôlego, ela senta-se ao meu lado.
— Então, quando vocês começam?
Eu dou de ombros.
— Ainda não tenho certeza. Ele disse que entraria em contato.
— Tão Dick Avery.
Eu solto uma risada de seu jogo de palavras.
— Ok, mas de verdade, Will Griffin não é Dick Avery.
— Por que não? Will é gentil. Ele é extrovertido. Ele é um
especialista em seu campo – todos os atributos que nosso amigo
dançante Sr. Avery tinha.
Eu rio.
— Você quer dizer que ele é um especialista em ser galanteador.
Há uma diferença.
O mero pensamento de Will Griffin e Fred Astaire (também
conhecido como Dick Avery) alinhados em comparação é hilário para
mim. Will só precisa entrar em uma sala e fazer contato visual direto
com uma mulher para que sua calcinha pegue fogo. Fred Astaire
parecia realmente gostar de uma boa xícara de chá de ervas antes de ir
para a cama cedo. Para ser sincera, sou mais adequada para alguém
como Fred Astaire.
Will me parece... perigoso.
Amelia dá de ombros.
— Você não está tentando se casar com Will, então a parte de ser
galanteador é irrelevante em qualquer outro aspecto além de servir ao
seu propósito – que é se sentir confortável em ir a encontros. Ele é
perfeito para este trabalho. — Quando não respondo imediatamente,
ela cutuca minha perna levemente. — Ele é perfeito para este
trabalho, Annie.
— Uh-huh. Você continua dizendo isso, e eu estava inclinada a
concordar, mas quanto mais tempo tenho para pensar sobre isso, não
tenho tanta certeza.
Amelia põe os pés nas almofadas.
— Ok, bem, vamos conversar sobre isso. Me conte suas
preocupações.
Embora Amelia só esteja na minha vida há pouco mais de um ano,
de alguma forma me sinto mais próxima dela do que de minhas irmãs.
Eu adoro Emily e Madison, e tenho aquela conexão especial de irmã
com elas, mas com Amelia, não é apenas uma conexão de irmã, mas
de uma amiga íntima também. Ela me vê de maneira diferente das
minhas irmãs. Ela valoriza minha opinião e parece me entender de
uma forma que Emily e Madison nunca entenderam. Com elas, tudo
sempre se resume a uma perspectiva clara: Annie é nossa doce
irmãzinha, um pouco simples e desinteressante. Não importa que
dentro de alguns anos farei trinta anos; elas me tratam como se eu
tivesse dez anos. É por isso que mantenho muito da minha vida para
mim. Às vezes, não quero ouvir as brincadeiras de vamos caçoar da
doce Annie, das quais elas sempre brincam, quando lhes conto a
verdade.
Amelia não faz isso comigo.
No entanto, nesta situação, ainda não quero contar a verdade a
ela. Porque a verdade é que hoje, quando a mão de Will tocou a
minha, meu corpo inteiro ficou eletrificado. Quando ele colocou os
braços ao meu redor, eu arfei. Arfei, gente! E, honestamente, tê-lo
brigando comigo por causa da carta foi a coisa mais divertida que já
tive com uma pessoa em... talvez em toda a minha vida. O que não é
bom porque Will absolutamente não é o homem para mim, e não
tenho certeza se posso confiar em mim mesma para não cultivar
sentimentos por ele nas próximas semanas, quando já estou tão
claramente atraída por ele.
Eu não posso dizer nada disso a Amelia porque então ela estaria
um pouco mais atenta a situação. Pior ainda, ela poderia contar a
Will, e então ele daria um tapinha na minha cabeça como todo
mundo faz e diria que minha atração por ele é fofa. Não, esse segredo
é melhor guardado comigo, onde posso trabalhar sozinha para
esmagar qualquer desejo que sinto por ele.
— Estou preocupada de que vai ser estranho — eu digo,
mantendo meu queixo firme e nivelado enquanto conto essa mentira
porque eu sei de fato que não vai ser estranho. Nenhuma parte da
conversa com Will nos últimos dois dias foi estranha. Na verdade, foi
bom.
— Estranho como?
Eu suspiro.
— Estranho como... embaraçoso. Um homem que é superbom
em sair com mulheres vai ver o quão terrível eu sou nisso e
internamente rir de mim. Possivelmente também rir externamente.
Pode haver piadas e gargalhadas.
Amelia balança a cabeça.
— Você está vendo tudo errado. Um homem que é superbom em
ir a encontros está se oferecendo para guiá-la sistematicamente pelas
etapas para que você possa sair e namorar outra pessoa sem
constrangimento e se apaixonar profundamente para que nunca mais
tenha que sair em encontros. E realmente, você não tem nada a
perder. Você não está tentando namorar Will, e ele nem está afim de
um relacionamento, então não há perspectivas ou expectativas sobre
a mesa. É uma maneira sem pressão e sem fio de aprender ir a
encontros.
Eu respiro fundo.
— Você tem razão.
— Eu sei que tenho — diz ela com um sorriso atrevido. — Mas
agora a pergunta é: você vai contar para suas irmãs?
— Não. — A resposta me escapa rapidamente, embora eu não
tenha pensado nisso antes. É uma reação instintiva, mas parece a
decisão certa quando digo isso em voz alta. Eu quero fazer isso em
particular.
Eu adoro minhas irmãs, mas além da maneira como elas
costumam me tratar como uma criança, elas tendem a ser
excessivamente opinativas quando se trata da minha vida – e esta é
uma situação que eu gostaria de navegar sozinha sem as opinões,
sugestões ou provocações delas. Eu posso visualizar claramente agora:
Emily criaria uma longa lista de todas as razões pelas quais esse plano
não vai funcionar, e Maddie faria piadas grosseiras sobre o típico bad
boy ensinando a garota boazinha, e eu apenas... ugh. Estou cansada
disso. Estou tão cansada dessa narrativa girando em torno de mim dia
após dia. Estou cansada de todo mundo me colocando em uma caixa
com tanto cuidado, amarrando uma fita de seda em volta dela e
depois me dizendo para sentar e ficar.
Se eu quiser passar meus dias aprendendo a como ter encontros
com o guarda-costas perigosamente sexy, eu irei.
Então não, eu não vou contar a elas. Não vou contar a ninguém
porque isso não está aberto para discussão.
Will

— O que há de tão ruim na cidade? — Pergunta Liv Nolsen, minha


chefe, do outro lado da linha. Ela está tentando me persuadir a
estender minha estadia em Rome, Kentucky, como um dos agentes
permanentes de Amelia, em vez de me transferir para Washington,
D.C., e proteger algum político de alto nível depois do fim do mês,
como estou pedindo. Estou aqui há um fim de semana e já estou
morrendo de tédio.
Normalmente, fico com outras celebridades quando não estou
trabalhando para Amelia – em parte porque elas me solicitam depois
de me ver no BuzzFeed e nas redes sociais, ou porque me conheceram
quando eu trabalhava para um de seus amigos famosos. Amelia é a
única celebridade que não me faz querer arrancar meus cabelos, no
entanto.
E sinceramente, minhas atribuições favoritas têm sido fornecer
segurança para políticos. Por quê? Porque a merda se torna real para
eles. Raramente é monótono proteger alguém que metade do país
odeia. E quando estou ocupado, não tenho tempo para parar e pensar
em mais nada. Não tenho tempo para me preocupar se estou sozinho
ou se fiz a escolha certa de carreira. Eu apenas trabalho e me
mantenho em movimento, e minha mente permanece alegremente
clara.
Então, cerca de dez minutos atrás, quando minha chefe disse que
estava pensando em me manter em Rome a pedido da equipe de
Amelia, eu me senti mal. Não por causa de Amelia – terei prazer em
fornecer segurança para ela em cada um de seus passeios. Mas nesta
cidade sonolenta a longo prazo? Não.
— Uh, me deixe colocar desta forma, estou falando com você de
um telefone fixo na cafeteria porque o serviço de celular é muito
irregular. E o quarto em que estou hospedado está cheio de frases
bordadas com babados nas paredes e um livro Canja de Galinha para
a Alma ao lado da cama.
Há wi-fi, mas você tem que ter a maldita senha para isso. E
ninguém em nenhum desses estabelecimentos me passa a senha.
Aparentemente, você tem que ser um deles para ter acesso, e eles não
confiam em mim desde que corri sem camisa.
— Droga. Eu amo as cidades de Mayberry — diz Liv. Ela pode ser
uma agente séria, mas também é uma romântica. Ela sempre afirma
que um dia encontrará a mulher perfeita em uma missão e se
apaixonará ao estilo James Bond. Eu mencionei que James Bond
nunca teve a mesma amante no próximo filme, mas ela sempre apenas
me dispensa com a mão.
— Então por que você não vem e assume se você ama tanto
cidades pequenas?
— Porque a Sra. Rose pediu especificamente por você quando sua
empresária disse que queria que um agente ficasse por um tempo,
mesmo depois do casamento, porque eles anunciariam o próximo
álbum. E como ela é nossa cliente que mais paga, literalmente farei
qualquer coisa para mantê-la feliz, incluindo vender meu rim ou
forçar meu melhor agente a morar em sua cidade por um tempo. Rae
Rose quer alguém em quem possa confiar para mantê-la segura e ser
discreto com sua vida pessoal, e graças a seus anos juntos, você
consegue fornecer isso para ela, então aceite isso, Griffin.
Ótimo. Isso é o que ser confiável e trabalhador me trouxe. É o
ensino médio de novo, onde eu praticamente me matei para tirar as
notas mais altas e impressionantes da turma só para que meus pais me
notassem. Se foi por uma necessidade de deixá-los orgulhosos, fazê-
los me enxergar, ou fazê-los parar de brigar tanto e se dar bem por
cinco segundos, eu ainda não sei. Provavelmente uma combinação
pesada dos três. De qualquer forma, não ajudou. Funcionou contra
mim. Meus pais não notaram minhas boas notas, eles notaram as
notas baixas aleatórias em vez disso e me repreenderam
implacavelmente por ser negligente, embora soubessem que eu não
era.
Eu corro minha mão na parte de trás do meu cabelo, esfregando a
tensão crescendo no meu pescoço.
— Isso significa que não tenho escolha? Você realmente não vai
me transferir para D.C. mesmo depois do casamento? — Se isso
acontecer, não sei o que vou fazer. Desistir provavelmente. Eu prefiro
mudar de agência a ser forçado ficar sentado em uma cadeira de
balanço pelo resto da minha maldita carreira.
Ela solta um longo suspiro.
— Vou pensar sobre isso. Por enquanto, aproveite ao máximo e
escolha um hobby em seu tempo livre. Vai ser bom para você. Você
tem trabalhado tanto desde, bem, desde que entrou para a agência há
dez anos.
— Não quero um hobby.
Ela zomba.
— Então arrume uma namorada.
— Isso definitivamente não vai acontecer... — Como se fosse uma
deixa, olho pelas janelas do café da frente e vejo Annie do outro lado
da rua. Ela está subindo a calçada vindo do estacionamento
comunitário, e consigo vê-la perfeitamente através dessas enormes
janelas panorâmicas. Hoje ela está vestindo shorts jeans e uma regata
rosa – longos cabelos loiros soltos e lisos.
Ela sorri e cumprimenta todos por quem passa antes de parar do
lado de fora da loja de ferragens para conversar com Phil por um
minuto. Ele diz a ela algo que a faz inclinar a cabeça para trás
enquanto ela ri. Uma dor aperta meu peito. Ela parece feliz e
acolhedora e... tão malditamente doce. É exatamente a distração que
preciso do meu tédio. Posso não conseguir ter Annie do jeito que
meu corpo quer, mas posso pelo menos me divertir com ela do jeito
que ela pediu.
Em algum momento, percebo que me distraí completamente de
Liv.
— Griffin. Olá? Você está aí?
Eu limpo minha garganta.
— Desculpe. Eu... perdi o serviço por um segundo.
— Eu pensei que você estava em um telefone fixo?
— Certo. Na verdade, eu estava distraído com alguma atividade
suspeita.
Ela embaralha papéis.
— Você é a atividade suspeita.
— Liv, desculpe, eu preciso ir.
— Verifique seu e-mail. Estou enviando algumas novas
informações sobre stalkers e fãs para vigiar.
— Vou verificar — eu digo, colocando o telefone no gancho assim
que o barista chama meu pedido e coloca o café com leite gelado de
Amelia no balcão. Foi a isso que fui reduzido: um garoto de recados.
E não, Amelia não me fez vir até a cidade apenas para tomar um café
– eu implorei a ela por algo para fazer enquanto ela está trabalhando
no estúdio hoje. Então aqui estou.
— Você se importaria de colocá-lo na geladeira por um minuto?
— Pergunto ao barista. — Eu volto já.
Annie

Eu tiro uma caixa de cereais da prateleira e pulo quando ouço uma


voz masculina atrás de mim.
— Olá.
Eu solto um gritinho interno de susto até que uma mão com
desenho de borboleta se estende por cima do meu ombro e agarra
uma caixa de cereais. Meus olhos acompanham a caixa até a cesta de
compras vazia pendurada ao lado da perna de Will.
— O que você está fazendo aqui? — Falo de forma acusatória
apenas porque não o esperava, e preciso de cinco minutos completos
para me preparar para estar em sua companhia antes de vê-lo. Você
sabe, mentalmente criar coragem e tudo mais.
Ele inclina a cabeça.
— Bem, essa atividade é mais amplamente entendida como
compras de supermercado — diz ele, levantando a cesta como prova.
Eu franzo a testa em sua cesta em vez de reconhecer sua observação
sarcástica porque ele selecionou o pior tipo de cereal e não posso
permitir que ele continue vivendo sua vida de uma forma tão
deprimente. Eu removo sua escolha, coloco de volta na prateleira e
coloco uma caixa de Fruit Crunch em sua cesta.
— O que quero dizer, Wilbur, é o que você está fazendo aqui
fazendo compras no meio do dia?
Ele puxa a caixa de cereais da prateleira novamente e a coloca na
minha cesta desta vez, olhando para mim com indulgência
brincalhona.
— Você precisa de fibra, Annie Walker.
— Você veio até a cidade hoje porque tinha uma forte suspeita de
que minha ingestão de fibras estava baixa?
— Vim todo o caminho para a cidade pensando nisso, sim. — Ele
sorri preguiçosamente e eu percebo que não há nada como o som da
voz desse homem quando ele está provocando.
E mãe de Deus, ele parece ótimo hoje. Sua camiseta verde-escura
estende-se sobre seus ombros de uma forma que me dá vontade de
cravar meus dentes ali mesmo, na curva arredondada de seus
músculos. Que tipo de pensamento desequilibrado é esse? Outra
razão para colocar Will na categoria “não-feito-para-mim”. Ele
perturba o status quo da minha sanidade.
E embora a calça de corrida preta que ele usa ajuda muito na sua
aparência, são essas tatuagens que estão me levando para um caminho
sem volta. Traço as linhas das flores e trepadeiras até que desapareçam
sob a manga de sua camisa, e é aí que sinto uma raiva irracional
porque não faço ideia de onde terminam. Elas se estendem sobre o
ombro? Nas costas? Sobre o peito?
Eu nunca vou saber, e é esse pensamento que me faz me afastar
dele me sentindo frustrada.
Ele me alcança rapidamente.
— Você está na sua hora de almoço?
— Sim. Segunda-feira é meu dia de visitar minha avó, então
Jeanine trabalha na loja para mim na parte da tarde enquanto eu saio
um pouco mais cedo para fazer minhas compras, pego uma caixa de
biscoitos de baunilha para minha avó e depois vou a casa de repouso
para ver como ela está.
Por que eu contei tudo isso a ele? Ele só perguntou se eu estava no
meu horário de almoço, e lá vou eu compartilhar toda a minha
agenda. Claramente minhas habilidades sociais são piores do que eu
pensava. A qualquer momento ele vai sorrir agradavelmente e depois
se virar. Ele vai colocar um post-it na minha porta dizendo: Não
posso mais te ajudar com as aulas. Você me entedia.
Will caminha ao meu lado.
— Como ela está?
— Hum, está bem. Ela tem Alzheimer, sabe? Então ela tem dias
bons e ruins. Mas no geral ela está sempre declinando. Vai ser assim
de agora em diante. — Paro em frente à seção de higiene bucal e olho
fixamente para as caixas enquanto uma onda inesperada de tristeza
me envolve. Não costumo pensar no verdadeiro estado de saúde dela
– que um dia a mulher que me criou irá embora. É angustiante.
— Isso parece muito difícil — ele diz gentilmente, seu corpo mais
perto do meu do que antes, como se ele quisesse me confortar, mas
não soubesse como. Eu olho para ele, e seu olhar caloroso não faz
nada para ajudar a emoção repentina em meus olhos.
Eu pisco e pego uma caixa de pasta de dente e coloco na minha
cesta.
— Está tudo bem. Eu apenas aproveito os momentos que tenho
com ela agora — eu digo, forçando aqueles sentimentos ruins para
fora do caminho. Senti-los não ajuda em nada. Isso não faz com que
a doença desapareça. Isso não traz de volta meus pais. É mais fácil não
dar atenção a eles.
Will parece querer dizer mais, mas pega a mesma marca de pasta
de dente que eu e a coloca em sua cesta. Ele então seleciona uma caixa
de limpador de dentaduras e coloca na minha antes de ir embora.
Eu rapidamente recoloco na prateleira e o alcanço.
— Sua vez. Por que você está fazendo compras no meio do dia?
Ele lança um rápido olhar para mim por cima do ombro e diminui
o ritmo para que eu possa alcançá-lo.
— Amelia está no estúdio, então tenho um tempo livre. Achei que
seria o momento perfeito para abençoar Harriet com minha
presença.
Nós dois contornamos o corredor e, naquele exato momento,
interceptamos o olhar frio de Harriet direcionado a Will. Ele sorri
para ela.
— Está linda hoje, Harriet! — Ele diz, fazendo sua carranca
endurecer. — Veja. Ela me ama — ele diz com um sorriso.
Eu rio e nos guio pelo próximo corredor, sabendo que Harriet não
apenas não ama Will, mas abertamente não gosta dele. Isso poderia
ser parte da minha atração por ele? Eu assisti aos filmes. A boa moça
gravita em torno do bad boy por que ela mesma não pode ser má?
Essa é a explicação mais fácil, então vou seguir em frente e ignorar
a voz mais baixa em minha cabeça que diz que sinto uma conexão
com Will.
Passamos por uma seção de higiene feminina, e eu pego um pacote
de absorventes noturnos, jogando-os em sua cesta antes de caminhar
para o outro lado e tentar não rir da expressão vazia em seu rosto.
Com um sorriso tortuoso, viro a esquina e, quando Will me encontra
no meio do próximo corredor, os absorventes não estão à vista.
Enfrento a seção de lanches e tento decidir entre salgadinhos
apimentados ou com queijo.
Ele está lado a lado comigo, e parece que estamos alinhados para
uma inspeção geral. Olho para ele e tento não sorrir quando vejo que
ele está fazendo o mesmo. E então ele se inclina em minha direção.
— A propósito, terminei o livro.
O choque toma conta de mim e derrubo o pacote de Lay's que
estava segurando.
Will casualmente e suavemente coloca uma caixa de Imodium, um
remédio para diarreia, na minha cesta e se afasta.
Embaraço, horror e curiosidade lutam dentro de mim. Desde que
entreguei o livro a ele na floricultura e observei suas sobrancelhas se
erguerem ao ver uma mulher seminua sobre um homem seminu e
musculoso, venho morrendo lentamente de pavor. E agora eu sei –
Will Griffin leu meu romance picante. De repente, uma imagem de
Will deitado sem camisa na cama lendo algumas dessas cenas
incrivelmente sensuais faz minha pele ferver. Acho que não quero
saber se ele gostou ou não.
Espere, sim, eu quero saber.
Não, eu absolutamente não quero.
Eu alcanço Will no próximo corredor.
— O que você achou do livro?
Ok, aparentemente eu quero.
Meu coração dispara enquanto espero ouvir sua resposta. Eu
tento não ter muitas esperanças porque sei que ele provavelmente
odiou. Na verdade, estou preparada para ser ridicularizada e
provocada pelo resto de seu tempo em Rome.
Não estou preparada para o seu sorriso lento e derretido. Como se
ele estivesse reencenando para mim o olhar que tinha em seu rosto
enquanto lia.
— Sinceramente, não consegui largar. Passei o dia todo ontem
lendo.
Eu inspiro uma profunda respiração feliz pelo meu nariz. Eu
pularia na ponta dos pés se não achasse que isso faria parecer infantil.
— Você está falando sério?
Não somos os únicos clientes aqui hoje, e uma mulher que eu
definitivamente já vi antes, cujo nome não consigo lembrar, entra em
nosso corredor. Will se aproxima de mim para dar espaço para ela, e
seu peito pressiona contra o lado do meu corpo. Um calor me
percorre. Mal consigo pensar direito quando sinto sua respiração
contra minha têmpora.
— Foi sexy como o inferno.
Eu mantenho meus olhos fixos à frente nos pães de trigo com mel
porque se eu olhar para Will agora, minha pele vai derreter e sair do
meu corpo. Como ele ousa falar assim comigo! Tipo... como se eu
sempre tivesse sonhado secretamente com alguém falando comigo
assim.
A mulher passa e Will dá um passo para trás novamente, levando
um pacote de pão com ele.
— Mas também foi muito divertido. Houve mais aventura do que
eu esperava. E houve muitos momentos profundos também. Parecia
uma terapia gratuita.
— Não é?! — Eu digo, virando-me para olhar para ele e me
sentindo absurdamente satisfeita por ele ter lido o livro e não apenas
ter gostado, mas se conectado a ele. — Qual foi a sua cena favorita?
— Enfio a mão na cesta e coloco o remédio para diarreia na dele.
— A sequência de luta no barco foi incrível.
Eu sorrio e estreito meus olhos.
— Qual foi a sua cena favorita, Will?
Ele dá um passo um pouco mais perto, um olhar provocador em
seus olhos.
— A cena no bar?
— William — eu repreendo gentilmente, sabendo muito bem que
sua cena favorita era aquela com a escada. Eu absolutamente não
deveria estar tentando fazer com que ele mencionasse isso, mas não
posso evitar. Algo sobre Will traz à tona um lado diferente de mim.
O ar ao nosso redor nos envolve como braços, estendendo a mão
para agarrar as frentes de nossas camisas e nos puxar para mais perto
até que estejamos tão próximos que nossas cestas se encaixem lado a
lado. Como Tetris. Eu vejo um brilho nos olhos de Will e o canto de
sua boca puxa.
— Você não estaria tentando me atrair para uma conversa
inapropriada, estaria, Annie santinha?
Em um instante, qualquer diversão que eu sinto desaparece com
aquele apelido horrível. Uma coisa é quando todo mundo me chama
assim ou me provoca com isso, mas vindo de Will, eu não suporto
isso.
— Não me chame assim, por favor — eu digo, me permitindo um
raro momento de honestidade. — Eu não gosto disso.
Não estou olhando para Will, mas ainda posso sentir seu olhar em
mim. E então posso sentir seus dedos segurando levemente meu
cotovelo como se ele estivesse com medo de que eu esteja prestes a
desmoronar, e ele precisasse manter-me ali ao lado dele.
— Annie. Desculpa. — Sua voz é baixa e genuína. — Eu não quis
dizer isso de uma forma negativa.
Eu forço um sorriso e olho para ele.
— Eu sei. Ninguém faz isso com essa intenção quando me
chamam por esses apelidos. E eu já ouvi todos eles: Santa Annie,
Annie Anjinho, Annie Boazinha. Nunca foi mal-intencionado, mas
isso não significa que eu não sinta uma conotação negativa quando
eles dizem isso. — Eu dou de ombros ligeiramente como se não fosse
grande coisa, embora... eu acho que é uma grande coisa para mim. —
Parece que eles estão dizendo que eu não tenho tanto conteúdo
quanto todo mundo. Que por ser doce não tenho tanto a oferecer.
Eu constantemente me sinto subestimada e estou tão cansada disso.
O polegar de Will desliza suavemente contra minha pele. Sua voz
cai até que esteja intimamente baixa.
— Eu não vou fazer isso de novo.
Eu expiro. Como isso foi tão fácil? Sempre tive dificuldade em
dizer às pessoas a verdade sobre o que estou sentindo quando sei que
será desconfortável para elas ouvirem – então geralmente apenas
mantenho isso reprimido. Mas quero que Will saiba o que realmente
está acontecendo sob a superfície. Talvez seja só porque eu sei que
não há uma ameaça real por ser um relacionamento que não existe de
forma permanente para ele?
— Obrigada. — Meus olhos se voltam para a boca de Will, e é aí
que percebo que estamos parados de forma imprópria para apenas
dois amigos em uma mercearia. Eu sorrio e me afasto para continuar
minhas compras.
Will segue atrás de mim.
— Mas eu sei como é.
Isso me faz rir.
— Você sabe como é ser visto como muito delicado?
— Bem, não. Mas sei como é ser subestimado.
— Como assim? — Eu digo, olhando para ele e curtindo demais
nossa excursão de compras em conjunto.
Will dá de ombros.
— Geralmente as pessoas veem as tatuagens e os meus vídeos
removendo à força um fã agressivo de uma situação, ou aquele
maldito artigo do BuzzFeed, e acham que me conhecem. Eles
assumem que eu não passo de um va... — ele para e sorri antes de
corrigir — um galinha que provavelmente não terminou o ensino
médio.
Eu consigo entender – não que eu tenha pensado isso sobre ele,
mas outras pessoas podem. É evidente pela maneira como Harriet
está agora à espreita pela loja e lançando seus olhos suspeitos em cada
espreitada, como se ela esperasse encontrar Will colocando
mercadorias em seu bolso a qualquer momento. Ou melhor ainda,
como se ele fosse me jogar por cima do ombro e levar a força – a doce
garota de ouro da cidade – para uma noite onde ele me deitaria em
uma cama de flores silvestres e faria amor comigo até...
Oh espera, o quê? Não era disso que estávamos falando.
Ajeito minha cesta de compras no antebraço e coloco uma caixa
de biscoitos na prateleira, bloqueando a visão de Harriet.
— Então, qual é a verdade sobre o ilusório Will Griffin?
— Realmente nada de especial. — Ele caminha para um novo
canto da loja e desta vez eu sigo atrás dele. — Cresci em uma caverna
no Alasca. Fui criado por uma matilha de lobos. Você sabe? O mesmo
de sempre.
Eu gemo.
— Oh vamos lá.
Ele gira no final do corredor com um sorriso ardente.
— Os invernos eram frios, mas aprendi a sobreviver depois de
matar ursos com os dentes e usar seus pelos nas costas.
Eu o empurro enquanto rio.
— Terrível. A PETA1 sabe sobre você?
Seu rosto fica sério demais para ser genuíno.
— É muito rude rir da infância de alguém, Annie. Tenha um
pouco de compaixão.
Meu rosto dói de tanto rir.
— Tudo bem, Garoto Lobo. Se você não vai dizer a verdade,
tenho que avisá-los agora. — Mas quando passo por Will, sua mão
dispara e pega a minha levemente. Um arrepio quente dispara por
entre meus dedos até a boca do meu estômago. Quando olho para ele,
temo que ele possa ver em meus olhos o quanto estou afetada por seu
toque.
— Eu terminei o ensino médio, só para constar. Com uma média
de 4 pontos, depois entrei para a Força Aérea e servi como especialista
das Forças de Segurança porque não suportava a ideia de ir para a
faculdade e continuar com minha existência miserável como um
perfeccionista em busca de realizações.
— Entendo — eu sussurro, tentando absorver toda aquela
informação rápida me atingindo. Mas meus joelhos continuam quase
dobrando com a imagem mental deste homem de uniforme. Como

1
A PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) é uma organização não-governamental e ambiental
que se dedica aos direitos dos animais.
ele deve ter parecido autoritário. Tipo... é justo dizer que é uma visão
de dar água na boca?
Will continua antes que eu possa dizer qualquer coisa que me
arrependa.
— E meu momento favorito no livro foi absolutamente a cena da
escada. — Ele faz uma breve pausa. — Estou disposto a apostar todo
o meu dinheiro que foi o seu também. — Meu coração bate
dolorosamente com o olhar quase perverso em seus olhos enquanto
ele lê meus pensamentos com precisão.
— Como você saberia disso? — Ninguém mais no mundo jamais
suspeitaria que minha cena favorita fosse a mais quente do livro, mas
Will suspeita porque, por algum motivo, ele não me vê como todo
mundo vê. Na verdade, ninguém mais imaginaria que gosto desse
tipo de livro. É um segredo que nem mesmo minhas irmãs sabem,
porque mantive minha caixa de romances bem escondida debaixo da
cama, fora de vista por anos.
E sim, eu percebo que devo falar alto e me orgulhar dos meus
hábitos de leitura de romances, mas quando você cresce com irmãs
como as minhas e essas irmãs lhe deram o apelido de Annie Santinha
e com certeza iriam te atormentar cada dia pelo resto de sua vida, se
elas soubessem que você adora livros picantes como “Big Duke
Energy”, você também esconderia o livro debaixo do travesseiro. Este
é um segredo (junto com a caixa de livros de romance debaixo da
minha cama) que levarei para o túmulo. Se alguém roubar meu
túmulo, ficará chocado ao me encontrar coberta por piratas sem
camisa abraçando ferozmente uma mulher em um vestido que não é
nem remotamente exato para a época do livro.
Mas agora Will conhece meu profundo segredo obscuro. Meu
corpo esquenta com o pensamento.
Seus olhos seguram os meus.
— Porque ao contrário do que todos parecem dizer sobre você,
posso ver uma faísca travessa por trás de seus olhos azuis e suaves,
Annie Walker.
Os olhos de Will caem para os meus lábios, e fico sem palavras por
três segundos. O desejo enche o ar como fumaça – densa e pesada –
dificultando respirar.
— Mas... você não vai contar a ninguém, certo? — Eu pergunto
baixinho, fazendo o olhar de Will subir para os meus olhos
novamente. — Nem mesmo sobre nossas aulas? Não quero que
minhas irmãs saibam.
— Por que elas não podem saber?
Eu olho para baixo.
— Elas vão... elas simplesmente não podem. — Eu balanço minha
cabeça. — Se elas descobrirem, ficarão cheias de opiniões e sugestões
que eu não necessariamente quero. — Eu posso ouvir Emily agora –
fazendo vinte perguntas até que ela saiba todos os detalhes do que
estou planejando e sugerindo uma maneira melhor de fazer isso até
que eu acabe cedendo e fazendo as coisas do jeito dela para não ferir
seus sentimentos. E Maddie exigirá ser minha tutora e, de alguma
forma, serei ofuscada, como sempre faço quando minhas irmãs estão
por perto.
Olho nos olhos de Will e quase me encolhe ao ver como seu olhar
é inabalável. Ele está esperando que eu diga mais.
— Eu só quero fazer algo para mim por um tempo – isso é ruim?
Parece errado.
— Não acho que seja errado, mas sou uma pessoa naturalmente
egoísta, então talvez não seja a melhor pessoa para perguntar.
— Você não parece egoísta.
Seus dedos apertam levemente os meus e sua expressão parece
quase desesperada.
— Annie, preciso que você saiba que não tenho relacionamentos.
Nunca. E eu nunca vou ter. Se fizermos essas “aulas” que você deseja,
será como amigos e nada mais.
Suas palavras não deveriam doer. Eu já sei disso sobre ele, e
também sei que estou procurando um homem completamente
oposto a ele. E, no entanto, sinto-as como cacos de vidro. Ele não
pode saber disso, no entanto.
Eu me inclino ainda mais perto.
— E eu só procuro relacionamentos. Então estamos em perfeito
acordo.
Seus olhos procuram os meus.
— Então... apenas amigos?
— Apenas amigos.
— Ótimo. Então podemos começar as aulas hoje à noite, se você
estiver disponível.
Preciso de todo o meu autocontrole para não engolir em seco de
forma audível. E porque não confio na minha voz, simplesmente
aceno com a cabeça.
Não perco o momento em que seu polegar desliza sobre a pele da
minha mão antes de soltá-la.
— Vou te levar as escondidas para o meu quarto. Por volta das seis
e meia? — Eu mal percebo que ele joga uma caixinha na minha cesta
porque estou muito ocupada internamente em pânico com sua
última declaração.
— Mas como? — Pergunto enquanto caminho rapidamente pelo
corredor para alcançá-lo. — Como você vai me esgueirar para dentro?
Esta cidade tem olhos em todos os lugares.
— Apenas espere do lado de fora da pousada pela minha deixa. —
Will não olha para mim. Ele coloca sua cesta no chão e sai do mercado.
Eu olho para baixo e percebo que sua cesta agora está vazia.
Ele só veio aqui para falar comigo?
No caixa, coloco minha cesta no chão e começo a retirar os itens
para Harriet escanear. E, tarde demais, percebo que estou segurando,
cortesia de Will Griffin, uma caixa de preservativos – do tipo “com
textura para o prazer dela”.
Com as bochechas em chamas, olho diretamente para o rosto
carrancudo de Harriet. É por isso que minhas irmãs compram todos
os seus itens íntimos na Amazon.
— Tenha cuidado com aquele garoto, Annie. Ele não é bom para
você e definitivamente não é o tipo de homem que você precisa em
sua vida.
Eu me viro para a janela bem a tempo de ver Will rindo e se
afastando do mercado, tão orgulhoso de si mesmo e de sua
brincadeira.
Acho que Harriet está certa. Will Griffin não é absolutamente o
tipo de homem de que preciso.
Pena que ele está rapidamente se tornando o homem que eu
quero.
Annie
Está na hora de ir.
Olhando da esquerda para a direita, saio do beco atrás da minha
floricultura e entro no estacionamento. Imediatamente vejo Phil e
Todd – os fofoqueiros – então me escondo atrás da minha
caminhonete para evitá-los. Está um calor infernal hoje, um calor do
tipo úmido e espesso subindo da calçada e aquecendo tudo que está
exposto. Quando me inclino contra o para-choque da minha
caminhonete, ele queima a parte de trás do meu braço como um ferro
quente.
Bem-vindos ao Sul, amigos, onde você sofre queimaduras de
terceiro grau por encostar em seu veículo. Vale a pena para evitar ser
vista, no entanto. Eu, com certeza, seria o assunto da cidade. Ouviram
dizer que a doce Annie Walker passou a noite no quarto de Will
Griffin sozinha? Que escândalo!
O que me incomoda é que se fosse Emily ou Madison, ninguém
pensaria duas vezes. Mas como sou eu, teria quinze visitantes no dia
seguinte me alertando para proteger meu coração.
Phil briga com Todd sobre alguma coisa (é sempre alguma coisa),
e eu espero até que eles estejam dentro da caminhonete deles e se
afastando para sair do meu esconderijo. Eles são os últimos lojistas a
sair hoje, então sei que a barra está limpa. Esperei para voltar à cidade
até depois da hora de fechar, para dar a todos a chance de entrar em
seus veículos e irem para casa. Porque, sem querer ser dramática, esta
noite é a noite em que tudo mudará para mim. Will vai me ensinar a
ser um excelente encontro, e eu vou conseguir um marido
rapidamente.
Will deixou um bilhete na minha porta mais cedo (o que me fez
rir, considerando que tenho um celular para o qual ele poderia ter
mandado uma mensagem) dizendo que esta noite vamos escrever um
plano formal para as aulas. Isso causou arrepios porque não há nada
que eu goste mais do que uma boa check-list. A carta também veio
com um mapa desenhado à mão e carimbos de data e hora de quando
cada parte da missão deveria ser concluída. Eu meio que esperava que
o bilhete se autodestruísse depois que eu terminasse de lê-lo.
Uma coisa é certa, esse homem é meticuloso. O que me faz ter o
pensamento intrigante de como seria beijá-lo ou até mesmo...
Nãooooo. Eu não vou lá.
De volta ao plano. Eu deveria estar do lado de fora da Pousada da
Mabel às 18h30, quando Will irá distrai-la para que eu possa entrar
sem que ela veja. Aparentemente, ele vai dar um sinal e eu saberei
quando ver.
Ouça, isso é um perigo de alto risco. Até mesmo Jason Bourne
estaria suando se fosse confrontado com um potencial flagra em uma
de suas missões por Mabel. Se ela descobrir, é melhor eu transmitir
tudo ao vivo no Instagram, porque todo mundo daqui até a periferia
de Kentucky saberá sobre nossas aulas secretas antes que meu pé
tenha tempo de cruzar sua porta.
Meu relógio diz que tenho quatro minutos até precisar sair da
pousada. Assim que o estacionamento está vazio, atravesso a rua
correndo. Não consigo decidir se devo andar normalmente ou me
apressar enquanto estou agachada, e tenho medo de que o resultado
pareça que Annie está prestes a fazer cocô na calça. Eu realmente
espero que Will não esteja olhando pela janela agora.
Mais alguns quarteirões e chego ao meu destino: Pousada da
Mabel.
É uma linda propriedade vitoriana antiga com uma cerca branca
em torno do pequeno gramado. Tem a aparência de uma casa que foi
construída antes da cidade e tem sido uma segunda casa para mim
desde a infância. Todo domingo depois da igreja, minha avó Silvie nos
trazia aqui para almoçar na casa de Mabel. Mabel não ia à igreja, então
ela passava a manhã inteira preparando um grande banquete – e eu
me lembro de pensar como ela era incrivelmente rebelde. Não vai à
igreja?! Inacreditável! Eu perguntei a ela sobre isso uma vez e ela
apenas me disse: “Se eu quisesse ver um monte de gente com suas
roupas chiques e usando máscaras para as mentiras, eu iria à um baile
de máscaras.”. E como um passe de mágica: eu passei a almejar ser
como a Mabel quando crescer.
A ironia é que, embora Mabel não ponha os pés na igreja, ela joga
pôquer com as senhoras da igreja no Hank's Bar toda segunda-feira.
Infelizmente, ela não vai sair daqui para esse evento antes das oito
horas, então tenho que passar por ela.
Em vez de seguir pela calçada, pulo a cerca lateral e coloco minhas
costas na lateral da casa como Will instruiu. Assim que estou no lugar,
a porta da frente da pousada se abre. E então ouço a voz de Will.
— É por aqui, Mabel! Me siga — ele diz em voz alta.
— Merda, filho. Não há necessidade de gritar. Meus aparelhos
auditivos já estão no máximo — diz Mabel com sua voz rouca e doce
que sempre me faz sorrir.
— Desculpa por isso.
— Desculpas aceitas. Agora me mostre este pedaço de
revestimento que te preocupa.
— Sim, é bem aqui... — A voz de Will é cortada quando ele
contorna a lateral da casa onde estou.
Não que seja relacionado, mas só para constar, não sou tão boa em
ler mapas.
Nossos olhares se encontram e os de Will se arregalam. Começo a
acenar freneticamente para ele ir embora, e ele gira nos calcanhares
pouco antes de Mabel virar a esquina.
— Opa! Lado errado. Esqueci totalmente que é... do outro lado.
— As sombras deles se projetam na grama, e vejo Will colocar as mãos
nos ombros de Mabel e guiá-la na direção oposta.
Ela sibila levemente.
— Nossa, William. Pelo menos me leve para jantar primeiro.
A única pessoa na cidade que flerta mais do que Will é Mabel.
— Acredite em mim, Mabel, se eu achasse que tenho uma
chance... — Will diz, fazendo Mabel rir e eu revirar os olhos. Suas
vozes ficam mais distantes, e quando acredito que a barra está limpa,
espio minha cabeça ao virar da esquina.
Não.
Não está limpa.
É claro que Noah estaria andando pela calçada da pousada,
segurando uma caixa de torta.
— Mabel? Você está aqui? — Ele grita.
— Sim! Estou bem aqui — ela diz, dando a volta para a frente da
pousada e abandonando Will.
— Trouxe sua torta.
— Oh ótimo, apenas coloque na varanda e venha dar uma
olhadinha. William estava me mostrando uma parte que está ruim do
revestimento da pousada.
— Sério? Você não acabou de substituir o revestimento no mês
passado?
Mabel abaixa a voz.
— Sim, senhor. Mas cá entre nós, acho que o menino está
solitário. Inventando desculpas para passar o tempo comigo e tudo
mais. Melhor vir fazer companhia a ele comigo.
— O que está acontecendo? — E essa seria a voz de Emily
enquanto ela caminha até a pousada, vindo se juntar ao circo. O que
minhas irmãs estão fazendo pela cidade tão tarde? Elas não têm
vidas?!
— Will está nos mostrando uma parte ruim do revestimento da
pousada — diz Noah.
Emily zomba.
— Impossível. Achei que a Mabel tinha trocado tudo no mês
passado. E Darell é quem fez isso. Ele nunca faz um trabalho ruim.
Parece que eu deveria ter trazido uma barraca, nesse ritmo. O suor
está se acumulando no meu pescoço. Minha calça está grudando nas
minhas pernas. Exatamente como eu queria aparecer para esta noite
com Will – como mulher do pântano.
— Mabel acha que Will está solitário e está tentando chamar a
atenção.
Emily ri.
— Eu duvido muito disso. Pelo que Amelia disse, ele tem muita
companhia feminina sempre que quer.
Sua declaração faz minha pele coçar desconfortavelmente.
— O que está acontecendo aqui? — Ah, puxa. Nós realmente
precisamos adicionar a Harriet nessa mistura? — Esta é outra reunião
municipal improvisada sem mim? — Ela ainda não perdoou Mabel
depois da última.
— Isso parece uma reunião municipal, Harriet? Você sabe usar seu
cérebro? — Pergunta Mabel impiedosamente.
— Pelo menos eu tenho um para usar! E se não é uma reunião, por
que vocês estão parados aqui?
— William vai me mostrar uma parte ruim do revestimento.
— Você não acabou de substituir o revestimento no mês passado?
— Sim — todos dizem em uníssono, inclusive eu baixinho.
Finalmente, ouço a voz de Will.
— Mabel, você está... oh, pessoal. Olha só. — Eu sorrio para mim
mesma, imaginando o olhar de aborrecimento em seu rosto. Eu
apostaria todo o meu dinheiro que ele passa a mão com desenho de
borboleta pelo cabelo.
— Sim, William, a turma toda está aqui. Agora, nos mostre este
revestimento que está podre.
— Bom. Certo. Fico feliz que todos possam vê-lo. — Ele faz uma
pausa e limpa a garganta. — Me sigam, todos.
Espero três segundos, verifico novamente e, em seguida, corro
para o quarto número quatro. O quarto de Will.
Annie

No momento em que finalmente estou dentro do quarto de Will, o


pânico se instala.
Acabei de entrar de bom grado no quarto do grande sedutor (que
ninguém o chama, mas deveria) Will Griffin? Não estou preparada o
suficiente para isso. E se ele propor que levemos nossas aulas para a
cama? Oh Deus – e se ele estivesse falando sério sobre essas
camisinhas e pretendesse que dormíssemos juntos?! Serei capaz de
resistir à tentação de tudo que Will provoca? Eu quero resistir? Se não
quisesse, seria necessário admitir que ainda sou virgem, e acho que é
algo que prefiro que ele nunca saiba.
Mas então olho em volta para o quarto dele e relaxo com uma
risadinha. Há uma das colchas padrão de Mabel na cama (cortesia da
loja de colchas de Gemma, Comfort Quilts) e várias bugigangas
decorativas na cômoda e nas mesas de cabeceira. Uma coruja
aleatória. Um relógio antigo. Um travesseiro bordado com as palavras
Linda como um Pêssego no meio da cama bem arrumada, onde a
borda superior do lençol está dobrada primorosamente. A única
evidência de que Will fica aqui é o carregador de celular plugado na
parede e as roupas dobradas na cômoda. Fora isso, nada sugere que
uma versão moderna de um libertino esteja aqui.
Claramente, não tenho nada com que me preocupar.
A porta se abre de repente e Will entra correndo, fechando-a atrás
de si.
Ele se inclina para trás como se tivesse acabado de fugir de um
urso. Em sua mão com a borboleta está um pedaço de revestimento
branco.
— Droga, Annie, no que você está me transformando? Agora
estou sentindo um novo nível de terror depois de ter deliberadamente
arrancado um pedaço do revestimento de Mabel antes que todos
viessem olhar! É claro que eu disse a ela que consertaria para ela, mas
sinto que vou ter pesadelos depois de ver como ela olhou orgulhosa
para mim por eu me oferecer para consertá-lo depois que fui eu quem
o arrancou. — Ele ainda está vestindo a mesma calça cargo preta e
camiseta verde desta manhã, mas agora ele tem um sorriso malandro
e animado no rosto. Ele desaparece quando ele percebe minha
expressão. — Por que você está sorrindo assim?
— Oh, não é nada — eu digo, acenando para ele e ainda não
conseguindo conter minhas risadinhas.
Ele inclina a cabeça com ceticismo e joga o pedaço de revestimento
na cama.
— Ok, claramente não é nada. Do que está rindo.?
Balanço a cabeça e me entrego, rindo até que pequenas gotas de
lágrimas se formem em meus olhos.
— É bobo. Mas eu estava um pouco nervosa para ficar aqui com
você em seu quarto esta noite por causa de sua reputação. Mas então,
quando percebi que você estava morando em um dos quartos das
Supergatas, não me preocupei mais.
— Ei, ei, ei — ele diz, parecendo muito ofendido agora. — Por
que você não se sente mais preocupada?
— Porque sim! — Digo, rindo de novo ao pensar em Will
tentando seduzir-me em cima daquela colcha xadrez azul e branca. —
Olhe para este quarto! A única coisa que você pode fazer aqui é um
estudo bíblico.
— Por favor — diz ele olhando para longe e depois de volta com
um sorriso que vim a conhecer como um percursor. — Você acha que
essa decoração importa algo? Se eu quisesse seduzi-la, os babados de
um travesseiro não iriam me impedir.
— Não, desculpe, eu acho isso uma mentira — eu digo, me
sentando na ponta da cama muito limpa e nada sexy. — Aqui estava
eu pensando que Will Griffin moraria em algum lugar com lençóis de
cetim e um toca-discos no canto, onde ele poderia se oferecer para me
mostrar suas músicas lentas favoritas que definitivamente pintaram
um clima. Um verdadeiro antro de perversidade...
— Bem, eu não amo essa palavra.
— Mas, sério, isso só está me deixando com vontade de ir à
feirinha! Essa coisa ainda... — Eu quico no colchão algumas vezes. —
Oh meu Deus! Ele nem chia, Will! Que tipo de mulherengo você é?!
— Eu perco o controle, caindo de costas no colchão com uma
gargalhada.
Ele me observa com um sorriso.
— Está se divertindo, é?
— Muito. Porque você, senhor, é uma ruína para os bad boys de
todo o mundo vivendo em um quarto como este! Estou tentada a
tirar fotos suas com o bordado “Abençoe essa Bagunça” atrás de você
e depois vendê-las para o BuzzFeed.
Will caminha em minha direção com um sorriso preguiçoso.
— Tudo bem. Levanta daí.
Me sinto entorpecida e com os membros molengas de tanta alegria
quando me sento e pego sua mão estendida.
— Aonde estamos indo? Fazer geleia na cozinha?
Mas então minha respiração fica presa em meus pulmões quando
chegamos à porta e Will me gira para que minhas costas fiquem
contra ela.
— Como você insultou minha reputação cuidadosamente
construída, suas aulas começam agora. Vou demonstrar algumas
coisas – vamos pular a aula um, que planejei para ser como um flerte
leve no primeiro encontro – e vamos pular para a aula sete: sedução
pós-encontro para quando você estiver pronta para levar alguém para
a cama.
Oh, Deus.
— Mas primeiro, acredito no consentimento absoluto em todos
os momentos. Então eu preciso saber se posso tocar suas mãos – e
apenas suas mãos?
Eu engulo e aceno com a cabeça, sentindo meu pulso bater forte
contra meu pescoço.
— Palavras, Annie. Preciso ouvir você dizer sim.
Eu pigarro.
— Sim.
— Ótimo. — Ele se aproxima, tão perto que seu peito está quase
roçando o meu, e seus olhos cinza-azulados estão queimando através
de mim. Isso de repente parece uma distância muito grande. O olhar
de Will segura o meu, me hipnotizando enquanto ele entrelaça nossos
dedos. Devagar. Intencionalmente. Nunca minha pele pareceu tão
viva.
Suas mãos são grandes, calejadas e quentes. Lentamente, ele
levanta minhas duas mãos acima da minha cabeça e as pressiona
contra a porta. Nem muito forte, nem muito suave. Apenas a
quantidade certa de pressão. Falando em pressão, meu corpo agora
está morrendo de vontade de que ele diminua a distância entre nós.
Para me pressionar contra ele e... sei lá, apenas fazer alguma coisa!
Meus lábios se abrem e os olhos de Will se abaixam, observando o
momento enquanto ele acontece. A menor das curvas se faz nos
cantos de sua boca antes que ele desça os lábios para a lateral do meu
rosto. Sua respiração roça a concha da minha orelha e faz cócegas em
todas as terminações nervosas do meu corpo, as fertilizando e de
alguma forma crescendo mais. Novas sensações que eu nunca tinha
conhecido surgem na boca do meu estômago e... descem. Ele cheira
tão bem. É tão bom.
— As primeiras anotações primeiro... — Melaço doce, sua voz
calma e retumbante no quarto é quente. — Nunca é sobre o quarto.
O quarto não desempenha um papel no sexo. — Sua voz é profunda,
divertida e confiante. Isso é exatamente como eu imaginei que ele
estaria nesta situação. Não, melhor.
Como prometido, ele não toca em nada além das minhas mãos.
Estou morrendo lentamente.
Ele continua, sua respiração quente e pesada contra a lateral do
meu rosto.
— Em uma situação difícil, um armário, um banheiro e até um
carro servirão. — Sua boca abaixa ainda mais para respirar contra o
meu pescoço agora. Nunca me tocando, apenas respirando. — A
decoração não importa. — Ele sobe pela minha garganta enquanto
fala e vai para o outro lado. Inclino minha cabeça como se quisesse ter
certeza de que ele alcança cada ponto e canto. — Porque se eu
efetivamente capturei a atenção dela durante o encontro, a partir do
momento em que estivermos sozinhos, seu pulso estará acelerado e
sua mente será absorvida com os toques e as respirações e tanto desejo
que a cor da minha maldita colcha nem vai passar pela cabeça dela
uma vez.
Sua boca está no meu ouvido novamente, e suas mãos continuam
segurando as minhas presas acima da minha cabeça com uma pressão
delicada e deliciosa que me faz me contorcer. Uma pressão que eu não
sabia que gostava. Não sabia que precisava. Agora tenho medo de me
sentir privada disso pelo resto da minha vida.
Will se move da minha orelha, soprando sua respiração em minha
mandíbula para pairar bem na frente dos meus lábios agora.
— Annie, abra os olhos e olhe para mim — ele ordena, e até aquele
momento eu nem havia percebido que meus olhos estavam fechados.
Quando minhas pálpebras se abrem, me sinto entorpecida. Seu
olhar cinza está escuro agora e preso ao meu. Me sinto desesperada
para que ele se incline e me beije. Seu polegar segue para frente e para
trás na parte interna do meu pulso. Mal me lembro por que vim aqui
hoje ou qual é o meu nome, aliás. Tudo o que sei é que meu pulso
está batendo alto em meu ouvido, e parece estar dizendo a mesma
coisa repetidamente. Me beija, me beija e me beija.
Com a boca a apenas um centímetro da minha, ele sorri.
— Acredita em mim?
Eu aceno com a cabeça silenciosamente.
— Ótimo — ele sussurra e, em seguida, libera minhas mãos. Meus
braços caem frouxamente ao meu lado porque sou como gelatina
neste momento. Will, no entanto, não está afetado e volta para o sofá.
— Venha se sentar para conversarmos sobre o plano de aula.
Por um momento, não posso fazer nada além de ficar aqui e me
encostar na porta. Minhas entranhas estão em chamas. Meu
estômago está todo torcido e embrulhado, e me sinto absurdamente
desapontada por ele estar lá e eu aqui.
— C-como você fez isso? — Eu digo, finalmente encontrando
minha voz enquanto meus pés me levam em transe de volta para o
sofá. Meu cérebro ainda não está funcionando direito, então, em vez
de ficar sentada, fico aqui parada como um robô esperando o
próximo comando.
Will sorri e engancha um dedo no bolso largo de trás da minha
calça e me puxa para o sofá. Eu me sento, de olhos arregalados.
— Confiança — diz ele, pegando seu notebook e o abrindo.
Eu me inclino e fecho novamente.
Ele ri.
— Mas como?! E se você não se sentir confiante? — Não tenho
certeza se já me senti confiante um dia na minha vida.
— Você finge, Annie.
— Sem chance. — Eu balanço minha cabeça em descrença. —
Você não finge esse tipo de confiança. Tudo isso... — Eu giro meu
dedo em direção à porta onde o fantasma de Annie, que foi
sedutoramente hipnotizada por Will Griffin, ainda vive — ... foi
natural para você.
Ele sorri.
— Não é verdade. Eu estava nervoso.
Eu observo seus olhos de pirata com a borda preta em torno de
suas írises, as tatuagens envolvendo seu braço com as veias masculinas
que excitam universalmente todos, e por último, mas não menos
importante, a mecha rebelde de cabelo que cai acima de sua testa toda
vez ele passa a mão por ela.
— Não acredito em você nem por um segundo.
Os olhos de Will se estreitam olhando em meu rosto, mandíbulas
cerradas enquanto ele debate algo. E então Will levanta a mão entre
nós. É quando eu vejo. Sua mão, aquela mão bonita, forte e tatuada,
está tremendo. Will Griffin está tremendo por me tocar.
— Se eu esperasse até me sentir confiante para viver minha vida e
fazer as coisas que quero fazer, nunca viveria. — Ele olha nos meus
olhos. — Esta lição é tão antiga quanto o tempo: finja até conseguir.
Se você quer alguma coisa, finja que é o tipo de pessoa que não tem
medo disso.
Deixo escapar um som de hum enquanto me afundo no sofá.
— Você faz isso?
— O tempo todo — diz ele, ainda olhando para mim. — Você
deveria ter me visto na primeira vez que saltei de paraquedas. De
verdade, eu pensei que fosse me cagar todo no avião. — Nós dois
rimos. — Mas eu disse a mim mesmo que era Tom Cruise naquele
momento e de alguma forma funcionou. Acabou sendo uma das
coisas mais divertidas que já fiz.
Estou hipnotizada por ele. Puxo minhas pernas para cima da
almofada, totalmente de frente para ele.
— Você parece alguém que vive em busca de aventuras.
Ele sorri.
— Eu absolutamente sou esse tipo de pessoa. É viciante.
— Você também era assim quando criança?
Will desvia o olhar.
— Você quer dizer quando abandonei a escola primária e entrei
no circo para trabalhar como domador de leões? Definitivamente...
Ok, essa é a segunda vez que ele desvia de uma pergunta sobre sua
infância. Aparentemente, isso significa que qualquer conversa sobre
sua adolescência está fora de questão. Interessante.
— Que outras coisas aventureiras você já fez?
Ele respira fundo, seu peito se expandindo sob sua camiseta macia.
Estranhamente, meu cérebro mergulha de cabeça em como seria bom
cair em seus braços e descansar ali mesmo – na curva de seu ombro.
Ter seus braços me envolvendo e apenas me segurando.
— Vamos ver... durante a última turnê mundial de Amelia, eu
andei de quadriciclo na Atlantis Trail na África do Sul. Sou
certificado em mergulho autônomo e já mergulhei em vários lugares,
mas acho que o México foi o meu favorito. E caminhar em Red Rock
foi incrível.
— Isso é um monte de coisas — eu digo, de repente percebendo o
quão pouco eu fiz em comparação com ele. Mais uma vez, Will, sem
ajudar meu lado, lê meu rosto. Ele bate os nós dos dedos no meu
joelho.
— Ainda dá tempo de você fazer o que quiser.
Eu dou de ombros.
— Não acho que uma vida com aventuras seja para mim. Quem
me conhece pode atestar que sou mais feita para uma rotina estável e
segura. Meu sonho é casar com um homem legal e ter filhos para
quem eu possa eventualmente passar minha floricultura. Jogos de
futebol no fim de semana e festas da colheita no outono. E tudo isso
acontecendo bem aqui em Rome. Esse é o meu futuro.
Ele segura meu olhar e sorri suavemente.
— Hum.
— O que?
Ele inclina a cabeça para o lado.
— É só que não tenho certeza se o que você disse é verdade.
— É — eu digo, sentindo uma carranca se formar entre minhas
sobrancelhas.
— OK.
— É verdade! — Minha voz sobe uma oitava acima do normal. —
Isso é o que eu quero.
Ele levanta uma sobrancelha, olha para baixo e abre seu notebook.
— Se você diz. Agora, para essas aulas. Você quer...
Eu fecho o notebook com força.
— Você realmente não acredita em mim?
O desafio descrito em seu olhar sorridente me encara de volta.
— Não. Eu realmente não acredito.
— Por que não?
Os olhos de Will parecem fazer uma carícia no meu rosto.
— Porque você disse para não a chamar de Annie santinha.
Porque você brigou comigo em sua loja e depois me enganou
direitinho para ser seu treinador de encontro. Porque você lê livros
sobre mulheres que são arrancadas de suas vidas comuns e lançadas
em grandes aventuras onde prosperam e encontram a paixão. Porque
mesmo que você diga que ficou aliviada quando percebeu que eu
morava no quarto dessa senhora, pude ver a decepção em seus olhos.
— Seu olhar cai para os meus lábios, se mantém por dois segundos e
volta para cima novamente. — Me parece, Annie, que você está
apenas esperando que alguém lhe dê permissão em voz alta para você
ser você mesma.
Meu coração tropeça em suas palavras. Eu fico quieta. Não fiquei
desapontada com seu quarto – fiquei aliviada. Certo? Claro, eu tive
uma queda por Will esse tempo todo, mas não é como se eu tivesse
ambições secretas de ser algo mais do que amiga dele.
Não, nada do que ele disse era verdade. Não pode ser verdade,
porque se for, esse vazio que estou sentindo não vai desaparecer com
o futuro que descrevi para ele. Vai piorar. E com a saúde da vovó
piorando e tantas mudanças já acontecendo de uma vez para Noah
com seu casamento, minha família não será capaz de lidar com Annie
tendo uma crise de vida precoce em meio a tudo isso.
Então vou tirar as palavras dele da minha cabeça e não pensar
sobre elas. Tudo que eu preciso são essas aulas sobre encontro para
que eu possa arranjar um marido, me casar e viver feliz para sempre
como meus pais. É isso.
Eu olho para baixo quando sinto a mão de Will gentilmente
espalhada em meu joelho.
— Eu não queria chateá-la.
— Você não me chateou — eu digo rapidamente, engolindo meus
sentimentos e olhando para ele com o melhor sorriso que posso
reunir. Ele balança a cabeça lentamente e volta os olhos para o
notebook, abrindo-o mais uma vez. Desta vez eu permito.
Sem olhar para mim, ele acrescenta:
— Vou te dizer uma coisa, Annie. Vamos conseguir que encontre
seu relacionamento sério e sua casa com cerca branca, e se, por algum
motivo não parecer certo e você quiser essa aventura no final das
contas... — Ele olha para mim. — Me liga que eu virei segurar sua
mão no voo.
Suas palavras envolvem meu coração e apertam. E é nesse
momento que percebo que o BuzzFeed não foi capaz de capturar a
expressão mais maravilhosa que já vi em Will: ternura.
Will

— Por mais que eu aprecie isso, você não precisava consertar o


revestimento, sabe? Darell poderia voltar e consertar — diz Mabel.
Ela está pairando atrás de mim em seu vestido pulôver rosa com uma
xícara quente de café na mão.
— Acredite em mim, eu sei. — De jeito nenhum eu a faria pagar
para substituir algo que quebrei intencionalmente. Eu nem
pretendia que Mabel soubesse que fui eu quem consertou (ou que
planejava consertar). Mas cerca de cinco minutos atrás ela me ouviu
enquanto eu tentava colocar o tapume de volta na casa e saiu
marchando em seu vestido para perguntar o que diabos eu estava
fazendo aqui no raiar do dia. São cerca de oito da manhã. Mal
amanheceu. Mas às vezes esqueço que o resto do mundo não
compartilha do mesmo ritmo matinal de acordar às cinco e sair para
correr.
Hoje estava chovendo quando acordei, então tentei ficar na cama
até mais tarde. Mas então meus pensamentos assumiram o controle e
percorreram todos os caminhos que tentei evitar. Como Ethan se
casando com alguém que ele mal conhece e me perguntando como
respondo à mensagem que ele me enviou antes de dormir na noite
passada, dizendo: Por favor, não me ignore. Eu preciso de você durante
tudo isso.
Eu honestamente não sei o que dizer, no entanto. Não estou
pronto para receber sua nova noiva de braços abertos e estou
começando a perceber que pode não ter nada a ver com Ethan ou
Hannah. Ontem à noite, enquanto ouvia Annie falar sobre o tipo de
futuro que ela queria, senti aquele puxão implacável em meu peito
novamente. Não porque eu queira a vida das festas da colheita e dos
jogos de futebol que ela mencionou, mas porque quero a capacidade
de sonhar com uma vida com alguém como Annie, onde meu
pensamento imediato não seja: Mas como isso vai desmoronar?
Ethan parece ter desbloqueado uma nova parte de si mesmo que pode
simplesmente superar o que passamos, e acho que estou com muita
inveja dele por isso. Talvez até me sentindo um pouco amargo sobre.
Porque a única diferença em nossa criação é que ele teve alguém mais
velho para cuidar dele – para garantir que ele fosse amado e abraçado
regularmente.
Eu não tinha ninguém.
Mesmo agora não tenho ninguém, mas a diferença é que parei de
esperar que alguém preenchesse esse papel e estou melhor por isso.
Depois que afastei os pensamentos de Ethan, novos – igualmente
indesejados – tomaram seu lugar. Aqueles que estrelavam Annie
Walker. A sensação de suas mãos sob as minhas. O cheiro dela
durante a minha demonstração. Ugh. Aquela maldita demonstração.
Antes dela aparecer, prometi a mim mesmo me comportar. Manter
as coisas controladas e profissionais. Mas é claro que Annie tinha que
ser a Annie e me nocautear e me fazer agir irracionalmente.
Agora estou preso à memória de sua pele macia, de seus lábios
entreabertos e suas pupilas dilatadas. Ela queria que eu a beijasse. De
verdade. E eu queria beijá-la tanto quanto. Provavelmente mais. E a
pior parte é que não estou apenas fisicamente atraído por ela. Não me
canso de ouvi-la falar e quero ler todos os livros que ela tem
escondidos, e quero mais do que tudo levá-la a uma aventura que ela
nunca esquecerá.
Pelo menos finalmente temos um plano real para essas aulas. Não
foi uma tarefa fácil, porém, porque eu disse a Annie que deveríamos
cadastrá-la em sites de namoro online – ao qual Annie passou boa
parte do tempo explicando como ela não queria de forma alguma
receber fotos de pênis. Eu disse a ela para chamá-los de nudes como o
resto do mundo, mas ela apenas fez uma careta e se recusou, dizendo
que nem mesmo tinha selfies para enviar para um perfil de namoro.
Isso me deixou irracionalmente irritado. Por que ela não tem fotos de
si mesma? Por que ninguém tira fotos dela ou porque ela não se sente
confortável o suficiente para estar nelas? Depois disso, fiz uma
promessa silenciosa de tirar fotos de Annie enquanto estivesse na
cidade. E vetamos completamente o namoro online. Em vez disso,
vou levá-la para sair em alguns dias para que eu possa ver oficialmente
com que tipo de “encontro ruim” estou lidando, e continuaremos a
partir daí.
De qualquer forma, de volta a esta manhã. Eu estava cansado de
lutar contra meus pensamentos, então me levantei e corri na chuva, e
então, quando o tempo melhorou, comecei a consertar a merda na
Pousada da Mabel.
Agora ela leva a caneca aos lábios e me observa enquanto ergo a
lateral, imaginando como diabos prendo isso. Encontrei um martelo
e alguns pregos no armário da estalagem, mas eles estão inutilmente
parados aos meus pés. Acho que estou deixando passar algo crucial
aqui – porque, ao olhar para as outras peças do revestimento, não vejo
um único prego.
— Você não sabe o que está fazendo, hein? — Mabel pergunta.
— Nem um pouco.
Ela bufa.
— Ainda bem que você é bonito.
Dou-lhe um olhar de lado e deixo cair o revestimento no chão ao
lado do martelo e dos pregos que acho que não vou usar.
— Talvez eu precise do número do seu cara do revestimento — eu
admito, embora eu prefira comer meu sapato a forçar alguém a
arrumar a bagunça que causei.
— Como eu disse, você não é responsável por isso. Vou ligar para
o Darrel. Você cuida do seu dia. — Ela faz um movimento de enxotar
com a mão.
Eu me mexo em meus pés desconfortavelmente.
— Eu gostaria de ajudar, no entanto. Se você apenas me der o
número de contato dele, pedirei para ele consertar e pagarei por...
— Você arrancou aquele revestimento para criar uma distração
para levar Annie para o seu quarto, não foi? — As rugas em sua testa
se multiplicam enquanto ela me espeta com um olhar e espera minha
resposta.
Minha boca se abre. Eu me debato por uma resposta.
— Como você sabia?
Não vale a pena mentir. Esta mulher tem habilidades que
claramente não devem ser subestimadas.
Ela dá-me um sorriso lento – magistralmente aperfeiçoado por
anos o utilizando.
— Eu sei sobre tudo nesta cidade.
— Aterrorizante.
— Não é? — Ela dá um gole no café.
— Eu acho que você vai querer saber por que ela estava entrando
furtivamente no meu quarto?
— Você me diria se eu perguntasse?
— Não — eu digo honestamente. — Annie me pediu para não
contar. Então eu tenho que manter minha promessa a ela.
E por alguma razão, ter a confiança de Annie é como dominar o
mundo. Eu não quero quebrá-la nunca.
— Bom homem. Eu sabia que gostava de você. — Ela levanta a
caneca. — Eu teria perdido muito respeito por você se você tivesse
cedido imediatamente. — Seus olhos movem-se para o revestimento
que falta, e o riso brota em seus olhos. Ela balança a cabeça com um
sorriso. — Idiota. Você poderia apenas ter me dito que Harriet estava
a caminho do bar mais cedo para ocupar meu lugar na noite de
pôquer.
— Droga — eu digo genuinamente, também voltando minha
atenção para a monstruosidade ao lado de sua pousada.
— Fica para a próxima vez. — Ela bebe de sua caneca e depois vira-
se. — Eu não vou contar a ninguém — diz ela em voz alta em sua voz
áspera. — E o cara do revestimento é meu sobrinho. Deixe-me ligar
para ele porque vai ser uma piada dizer a ele que sua obra não
aguentou e depois ameaçar ligar para o pai dele. — Ela faz uma pausa
e olha para mim com as sobrancelhas levantadas. — Agora comece a
trabalhar antes que Amelia demita você e você tenha que deixar a
cidade e Annie para trás. — O canto de sua boca se contrai, e acho
que seu cérebro está tirando todo tipo de conclusão que não deveria.
Algumas conclusões com sinos de casamento e bebês e algo a ver com
criar raízes profundas.
— Não vai acontecer nada entre mim e Annie — eu digo, só para
ter certeza de que todos estão na mesma página.
Ela ri.
— Você sabe que são apenas oito da manhã, certo? Isso significa
que é muito cedo para falar merda. Agora vou terminar meu café
enquanto assisto The Price Is Right2, então saia daqui.
Eu rio, embora esteja com um pouco de medo de Mabel.
Aterrorizado e admirado.
— Vejo você mais tarde, Mabel.
De costas para mim e vestido rosa fofo balançando enquanto ela
caminha, ela levanta sua caneca no ar. Não estou totalmente
convencido de que haja realmente café lá.

2
Programa de televisão americano no estilo de game show.
— Você está ridículo — Amelia diz enquanto contornamos as
estufas da Fazenda Huxley.
— Não, você está ridícula — eu digo, olhando Amelia de cima a
baixo. Ela está usando shorts curtos feitos em casa, botas de trabalho
marrons, uma regata cinza e um grande chapéu flexível – tão oposto
ao seu visual clássico de costume. — Como uma caipira.
Normalmente eu nunca ousaria falar com um cliente tão
livremente. Mas essa é a Amelia, e trabalhamos juntos por tanto
tempo que somos praticamente parentes. E Amelia é a coisa mais
distante de uma celebridade arrogante que você pode imaginar. No
primeiro dia de trabalho com ela, ela jogou tudo o que me ensinaram
pela janela. A mulher se recusou a andar na minha frente,
acompanhando meu passo, fazendo uma série interminável de
perguntas como: Então, onde você nasceu? Quantos irmãos você
tem? Qual é o seu passatempo favorito?
Depois de um ano assim, Amelia tornou-se minha amiga, quer eu
quisesse ou não. Nunca nada além disso. Sim, eu, com certeza, levaria
um tiro pela mulher, mas nunca em um milhão de anos dormiria com
ela. E tenho mil por cento de certeza de que ela sente o mesmo.
Ela solta uma risada gutural na garganta.
— Melhor uma caipira do que o que você está vestindo. Você
parece um vigarista da cidade saído de um filme da Hallmark que
precisa aprender uma lição no interior. Quem usa tênis branco em
uma fazenda, Will?
Eu olho para baixo e me encolho com as manchas de sujeira já se
formando.
— Foi um descuido com certeza. Mas é melhor do que se vestir
como Elly May Clampett de A Família Buscapé. Eu nem sei mais
quem você é.
Eu provoco com isso, mas a verdade é que eu gosto desse novo lado
de Amelia. Ela parece mais leve e divertida. A vida no campo combina
com ela assim como a aventura combina comigo. Eu só não percebi o
quanto ela precisava deste lugar, dessas pessoas, até que ela estava aqui
com Noah.
Ela toca a aba do chapéu de palha.
— É basicamente o código de vestimenta da fazenda. Não se
preocupe, você vai aprender.
— Não acho. Estarei fora daqui antes que haja tempo suficiente
para que isso me contagie, assim que você persuadir minha chefe a me
deixar ir. — A grama estala sob nossos pés enquanto caminhamos
para uma ampla clareira atrás de cada uma das estufas onde Amelia e
Noah planejam realizar sua cerimônia e recepção.
Amelia semicerra os olhos para mim.
— Você realmente não quer ficar por aqui depois do casamento?
Esta manhã, a caminho da fazenda, conversei com ela sobre a
conversa que tive com minha chefe. Essa é uma das vantagens de ter
um relacionamento não tradicional com o cliente. Eu posso ser
honesto. Amelia não estava muito animada, no entanto. A única
coisa que pareceu tranquilizá-la foi quando eu disse a ela para me ligar
quando estivesse pronta para uma turnê novamente.
— Eu não posso — eu digo, olhando para ela com um sorriso
genuinamente triste. — Você, de longe, é minha pessoa favorita para
trabalhar – e uma boa amiga – mas você me conhece. Eu preciso de
uma vida acelerada. Estou aqui há poucos dias e já estou arrancando
os cabelos. — Mais ou menos. Ok, na verdade não foi tão ruim assim,
mas não quero admitir isso para Amelia, ou ela vai parecer uma
criança em uma loja de doces.
— Uma vida agitada é realmente o que você precisa? — Ela
pergunta, me surpreendendo com a seriedade de seu tom. Ela tem um
olhar de guia espiritual agora e está me assustando.
Eu me viro para ela e franzo a testa.
— O que isso significa?
— Deixa para lá.
Não confio nem um pouco nesse “deixa para lá.”
— Você pode dizer à minha chefe que está tudo bem em ser
designada para um novo APE?
Ela olha para mim com uma expressão significativamente afiada e
um sorriso tenso.
— Vou considerar isso.
Ou seja, não.
Ela levanta a mão até o topo do chapéu enquanto volta o olhar
para o campo aberto.
— Então, o que você acha? Ótimo lugar para um casamento,
certo?
Eu olho para a extensa grama verde polvilhada com pequenas
flores silvestres brancas e dentes-de-leão que desaparecem em uma
linha de árvores exuberantes sob o céu azul-escuro.
— É lindo.
Mesmo um cínico como eu pode apreciar o quão perfeito é este
local para um casamento.
— Eu também acho. — Amelia pula levemente em seus pés e
então começa a andar na minha frente, descrevendo animadamente o
que está em sua imaginação. — Teremos uma fileira de adoráveis
cadeiras dobráveis de madeira aqui. E uma aqui. É aqui que ficará o
corredor central. — Ela aponta para a esquerda. — Lá estamos
instalando uma pista de dança temporária, e haverá todas essas luzes
sonhadoras e tecidos de veludo caindo sobre ela como um dossel. E
então ali é onde teremos a comida.
Observo silenciosamente enquanto Amelia saltita pelo campo
vazio – alegria explodindo dela como a luz do sol enquanto ela
descreve seu casamento. Como é sentir aquela empolgação
desenfreada em compartilhar sua vida com outra pessoa? Estar cheio
de esperança e antecipação, em vez de pavor e cinismo. Eu a invejo.
— Tudo bem, você está ficando entediado aí? — Ela grita através
da extensão de grama.
Fecho os olhos e finjo roncar, fazendo-a rir.
— Tudo bem, me deixe tirar esta foto e podemos ir — diz ela,
pegando seu telefone.
A única razão pela qual estamos aqui agora é para que ela possa
tirar uma foto da área para seu organizador de casamentos, que está
trabalhando remotamente, e então eu a acompanharei até a cidade,
onde ela passará a tarde com Noah na Loja de Tortas. E então estarei
sozinho pelo resto do dia. Onde esse pensamento costumava causar
pavor, agora sinto uma agitação de antecipação. Eu me pergunto o
que Annie está fazendo?
Depois que Amelia termina de tirar as fotos, fazemos a caminhada
de volta pela fazenda em direção à caminhonete dela. Preenchemos o
silêncio com facilidade, como de costume.
— É uma bela fazenda — eu digo, fingindo que sei alguma coisa
sobre fazendas. — Boa grama.
Felizmente, Amelia compartilha meu tipo de humor sarcástico.
— Não é? Esse é claramente o melhor trator também.
— Sim. O... verde é bom.
— Eu dirigi isso — diz ela com orgulho. — É bem lento.
Eu murmuro evasivamente enquanto nos aproximamos
novamente das estufas cheias de produtos e uma de flores. No meu
conhecimento limitado de fazendas, esta parece enorme. Possui
cultivos ao ar livre além das estufas. Algumas vacas-leiteiras também.
Amelia e eu continuamos a fazer comentários ignorantes sobre a
fazenda até que vejo uma figura a vários metros de distância em uma
das fileiras de enormes flores cor-de-rosa. Meus olhos ficam presos
imediatamente, e eu dou uma olhada dupla. Annie. Seu cabelo loiro
está trançado para o lado, seu rosto protegido por um grande chapéu
de palha. Ela está usando luvas de trabalho e segurando uma tesoura
de jardinagem. Hoje ela está com uma blusa branca justa de manga
curta por baixo do macacão jeans. Juro que a luz do sol atinge essa
mulher de maneira diferente das outras pessoas. Ela se infiltra em sua
pele, a faz brilhar.
Me imagino passando as mãos naquela pele aquecida pelo sol, e o
desejo me atinge como um soco no estômago. Ou melhor, em algum
lugar mais ao sul do que o estômago. Eu fico olhando – e tudo fica
pior quando Annie se inclina para cortar alguns longos caules da
fileira de flores. Meu olhar percorre a curva suave de sua bunda, desce
por suas pernas bronzeadas até suas botas de trabalho marrons. Ela
me parece deliciosamente doce.
— Por que você não está comentando que ela se parece com Elly
May Clampett? — Pergunta Amelia, batendo com o ombro no meu
braço.
— Quem? — Minha voz sai tão seca quanto o deserto. Amelia
solta uma gargalhada, e eu saio do torpor para olhar para ela. — Eu
só estava tentando descobrir qual é o nome daquelas flores.
Ela sorri.
— Uh-huh. Claro. Por que você não pergunta para a mulher que
você está olhando?
Eu mexo meus dedos na frente de seu rosto presunçoso.
— Você pode fazer menos disso, por favor?
Ela pisca os cílios.
— Menos de quê?
— Bancar a cupido. Eu posso sentir isso. Esta cidade se infiltrou
em seu cérebro e a transformou em uma romântica incorrigível e
nojenta.
— E eu posso transformá-lo em um também, se você
simplesmente parar de lutar tanto contra isso. Você não vai querer ser
um pegador para sempre, sabia? E se por acaso você conhecer uma
linda loira dona de uma floricultura e quiser tentar namorar sério...
bem, então...
— Eu sabia que você tinha segundas intenções ao me pedir para
ser o treinador de encontros de Annie. Você ficará muito
desapontada quando isso não funcionar da maneira que você deseja.
Não vou me apaixonar por Annie ou seja lá o que você acha que vai
acontecer.
— Sim... a parte do amor. Isso é exatamente o que eu acho que vai
acontecer.
— Como o inferno. Não acho que fui feito para o amor.
Ela estreita os olhos, ainda não convencida.
— Então por que você disse sim para ajudar Annie?
Por que sim. Porque ela tem um poder sobre mim que eu não
consigo entender. Porque os olhos dela brilham quando ela está
animada e a luz os atinge da maneira certa. Porque a curva do lábio
inferior dela é perfeita. Porque me sinto desesperado para saber que
coisa doida ela vai dizer a seguir sempre que estiver por perto.
— Porque não há absolutamente nada para fazer nesta cidade, e
eu preciso de algo para me manter ocupado quando você não precisar
de m...
Eu paro, meus olhos vagando para seguir a nova cena acontecendo
na minha frente. James aparece do nada e caminha pela fileira de
flores em direção a Annie. Ele está carregando um balde cheio de rosas
cortadas e os músculos de seus braços se projetam de forma
desagradável. Ele sorri para Annie e ela parece muito feliz em vê-lo.
Ele coloca o balde no chão e ela se lança em seus braços para um
grande abraço de urso. O aperto que ele dá em troca parece um pouco
demais.
Amelia paira em minha visão novamente, seguindo meu olhar.
— Alguém está sentindo um pouco de ciúme?
— Nem um pouco.
— Seu maxilar acabou de flexionar.
— Ele faz isso naturalmente porque é muito quadrado.
— Você quer dizer que faz isso naturalmente quando você está
com ciúmes. — Ela arrasta a palavra irritantemente.
Eu suspiro e fecho meus olhos, inclinando meu rosto em direção
ao sol, desejando que ele me queime. Seria melhor do que ter que
suportar Amelia em uma missão. A última vez que isso aconteceu foi
com tacos. Cometi o terrível erro de dizer a ela que não gostava deles
– que por acaso é sua comida favorita – e ela passou a parar em todos
os lugares aclamados de taco durante uma turnê nos Estados Unidos
e fez eu experimentar um de cada restaurante até encontrar um que
eu gostasse.
Infelizmente, eu gosto de tacos agora, mas é irritante.
Amelia ri, e tenho medo de que, se ficarmos aqui por muito mais
tempo, eles ouçam sua gargalhada maligna e nos notem.
Eu abro meus olhos e coloco minhas mãos nos ombros de Amelia,
conduzindo-a na direção do carro – oposto ao caminho de Annie e
James.
— Tudo bem. Hora de ir.
— Por que você está morrendo de ciúmes e prestes a jogar seu
punho na cara de James?
— Porque você está claramente tendo uma insolação e ficando
delirante. — Não gosto da Annie. Não gosto, não gosto, não gosto.
Ou se gosto, é puramente luxúria. Desejo pelo qual não vou agir
porque parece uma situação embaraçosa esperando para acontecer.
Você não pode ter um caso de uma noite com alguém em uma cidade
deste tamanho. Sem mencionar a situação em que Amelia acabou de
me colocar como treinador de encontros de Annie. Todos os sinais
apontam para não!
Amelia é implacável, no entanto.
— Você sabe o que? Agora que penso nisso, Annie e James
formam um lindo casal. Em vez disso, eu deveria pedir a ele para
ajudá-la com a prática em encontros.
Eu ando mais rápido, para chegar à caminhonete mais rápido.
— Ainda bem que você encontrou Noah — digo por cima do
ombro.
— Você não quer dar mais uma olhada nela antes de sair? —
Amelia provoca alegremente.
— Não. Estou bem.
— Oh meu Deus, Will, eles acabaram de se beijar! Com tanta baba
que posso ver daqui.
Reviro os olhos e continuo andando. Mas quando chego à
caminhonete de Amelia (ela se recusa a andar no SUV fornecido pela
empresa), olho brevemente por cima do ombro.
Annie está sozinha de novo entre as flores e, por algum motivo,
isso me faz dar um suspiro de alívio.
Annie

Jeanine coloca o prato de rabanada que pedi ao lado do prato de


panquecas. Eu tenho que deslizar a omelete com um pedaço de bacon
um pouco para a esquerda para abrir espaço. A tigela de frutas se
equilibra na borda oposta da mesa, mas coloco meu pé embaixo e uso
a ponta do sapato para colocá-la de volta.
— Hun, isso é muito até para você — diz Jeanine, empurrando
seu lindo rabo de cavalo vermelho por cima do ombro. Jeanine é uma
daquelas mulheres que eu gostaria de acompanhar por um dia e
anotar como ela faz... tudo. Ela tem aquele balanço natural dos
quadris quando caminha que grita confiança. Um sorriso que é
inatamente sedutor. E uma vez ela foi comigo e minhas irmãs a um
bar na cidade onde a mulher apareceu com dez números de telefone!
Ridículo & Inspirador.
— Não são tudo para mim. Estou indo me encontrar com alguém.
Se houvesse um disco tocando, ele teria parado bruscamente. Os
penetrantes olhos azuis de Jeanine se voltam para mim. Phil e Todd,
sentados duas mesas ao lado, inclinam seus rostos em minha direção.
Greg, atrás do balcão, quase derrama o café que estava servindo.
Jeanine sorri então.
— Uma de suas irmãs?
— Não. — Eu mexo nos pratos ao redor, precisando fazer algo
com minhas mãos. — Uma pessoa. — Meu joelho balança debaixo
da mesa e estou suando. Porque hoje vou me encontrar com Will para
um encontro de prática.
Ele passou pela loja esta manhã e perguntou se eu gostaria de
encontrá-lo para uma prática discreta. E, apesar do fato de estarmos
nos encontrando em um restaurante local, ainda estou envolta por
essa energia nervosa, como se fosse o encontrá-lo em um restaurante
três estrelas Michelin e fossemos filmados para a TV ao vivo. Eu não
conseguia me concentrar no meu trabalho. Derramei meu café de
tanto que minha mão tremia no caminho para o trabalho. Tenho
uma sensação constante de zumbido no estômago que me faz sentir
como se estivesse prestes a levantar voo.
— Outra pessoa, você diz? — Jeanine pergunta, claramente
querendo que eu conte todas as fofocas para que ela não tenha que
descobrir sozinha.
Nesse momento, a outra pessoa em questão entra pela porta. Sua
presença preenche o lugar como uma súbita rajada de vento de verão.
Will entra na lanchonete, tira os óculos escuros em câmera lenta
(tudo bem, é velocidade normal, mas uma garota pode sonhar), seus
bíceps flexionando sob a camisa preta de manga curta enquanto ele
faz isso. Ele vira a cabeça, vasculhando a lanchonete até que seus olhos
azul-acinzentados me encontram. Um sorriso aparece no canto de sua
boca enquanto ele pendura os óculos na gola da camisa.
Eu derreti em uma poça na cabine. Não sou mais humana –
apenas uma bolha de desejo.
E agora ele está caminhando em minha direção, e o rosto de
Jeanine é um reflexo de choque e admiração. Todos – e eu quero dizer
todos – observam Will Griffin e seu corpo tatuado caminharem até
minha mesa. Claramente, eles pensaram que estava tudo bem
quando ele estava aguardando silenciosamente Amelia, mas me
encontrar para um almoço a sós é demais para o estômago. Annie
santinha e o guarda-costas Will? É um grande conceito. Até eu estou
lutando um pouco sobre como acabamos aqui.
É tudo falso, foi assim que acabamos aqui!
— Oi — diz ele enquanto seus olhos risonhos e malandros
pousam em mim.
— Oi você. — Nossa, sai um pouco mais paqueradora do que eu
pretendia, mas a sombra da nossa tarde no quarto dele ainda está me
protegendo da realidade. Eu sorrio para ele quando ele pára ao lado
da cabine, incapaz de tomar seu lugar por causa de como Jeanine está
o bloqueando olhando em silêncio. Ela está tentando processar
porque Will Griffin está me encontrando para almoçar.
— Ei, desculpe, você se importa se eu... — Ele aponta para o banco
que ela está bloqueando.
Jeanine se livra de seus olhos hipnóticos e praticamente salta para
longe.
— Desculpe! Sim. Sente-se, querido! — Ela chama todo mundo
de querido. É coisa dela. É por isso que ela vai para casa com dez
números de telefone do bar.
— Gostaria de pedir algo? — Ela pergunta a Will, ainda
atordoada.
Ele ri, olhando para a mesa.
— Normalmente eu diria que sim, mas parece que todo o
cardápio já está aqui. — Ele olha para mim inquisitivamente, uma
sobrancelha levantada. Tão impressionante, essa habilidade.
Eu mexo no guardanapo ao lado do meu prato.
— Fiquei nervosa enquanto esperava. Então fui em frente e pedi
algumas coisinhas para nós...
— Só algumas — ele repete com um sorriso na minha direção e
depois olha para Jeanine. — Acho que tenho tudo de que preciso
aqui. Obrigado.
— Tudo bem, querido, bem... apenas gritem se precisarem de
alguma coisa. — Ela dá-me um olhar falante e, em seguida,
lentamente se afasta para retornar à área atrás do balcão.
Will se inclina ligeiramente para a frente.
— O que foi esse olhar?
Encolho os ombros, embora saiba exatamente do que se trata
aquele olhar. E então empurro meu prato cheio porque, de repente
não consigo nem pensar em comer.
— Tudo bem. Vamos fazer isso. O que é que vem primeiro?
O olhar de Will se move do meu prato para o meu rosto, um
sorriso cauteloso no lugar.
— O que você quer dizer?
Eu gesticulo entre nós.
— O encontro. O que eu faço primeiro? Você se sentou, eu pedi
tudo o que você poderia precisar. O que eu faço agora? Especialmente
com minhas mãos, porque estou sentindo vontade de agitá-las sem
motivo.
E uau, isso é tão libertador para dizer a alguém. Normalmente, em
encontros, tenho que manter esses pensamentos na cabeça, mas,
nesse cenário, posso desabafar e nada de ruim acontece. Amelia é uma
gênia.
— Você não precisa fazer nada com as mãos.
— Parece que sim. Tipo assim...? — As coloco sobre a mesa e ele
observa, acompanhando meus movimentos enquanto as ajusto
novamente. — Não? Que tal assim então...? — Eu abro meu braço
na parte de trás da cabine. Eu torço meu nariz. — Isso parece viril. Eu
pareço viril? Parece que estou afirmando domínio, porque posso
dizer a você agora que sou passiva o tempo todo.
Will estende a mão sobre a mesa e empurra meu prato de volta na
minha frente.
— Que tal você apenas comer isso?
— Eu não posso comer. Estou muito nervosa.
— O que te faz ficar nervosa?
— Você — eu digo honestamente antes de me lembrar de filtrar.
Algo sobre Will faz isso comigo, porém – não posso deixar de dizer
exatamente o que estou pensando. — Ou... você como homem, no
geral. Um encontro. Você entendeu.
Ele pega o copo de água, pressiona os lábios na borda e toma um
gole rápido.
— Eu tenho um segredo que você gostaria de saber. Está
relacionado aos seus livros piratas.
Nunca precisei saber mais nada em toda a minha vida.
— Diga-me — eu digo me inclinando sobre a mesa e espalmando
minhas mãos na superfície como se estivesse disposta a empurrar a
coisa toda para longe, se necessário.
Ele sorri e acena com a cabeça em direção ao meu prato.
— Dê uma mordida e eu te conto.
Eu o olho de lado, vendo através de suas táticas.
— Eu não sou aquelas garotas que você tem que se preocupar que
não come, sabe? Eu gosto de comida normalmente. Aprecio com
frequência. Provavelmente poderia limpar a maioria desses pratos
sozinha, se isso não fosse uma prática de encontro, que me faz sentir
vontade de vomitar. — Eu estremeço. — Eu disse vomitar na mesa.
Num encontro. Veja, é por isso que eu opto pelo silêncio, geralmente.
Quando você me deixa livre para falar, não há filtro.
Ele balança a cabeça, aparentemente imperturbável com o meu
comentário sobre vômito.
— Sou só eu. Você não pode arruinar nada porque não há nada
para arruinar. Eu sou sua pessoa para adquirir prática, lembra? — Ele
segura meu olhar. — Você está segura comigo.
Seu tom gentil faz toda a tensão do meu corpo se derreter como
manteiga na torrada. Eu respiro fundo e solto.
— OK.
— OK. — Um sorriso. — Agora coma.
Como se fosse uma deixa, meu estômago ronca. Com um apetite
renovado, troco meu prato de ovos pelo hambúrguer com batatas
fritas. Depois de morder o hambúrguer, limpo a boca com o
guardanapo e levanto as sobrancelhas para Will.
— Uma mordida em troca de um segredo. Vamos ouvi-lo, Garoto
Lobo.
Ele aponta preguiçosamente para o ouvido.
— Eu costumava usar um brinco.
Minha boca se abre, mas então me lembro que há comida lá
dentro e a fecho. Imagens vívidas repentinas de Will em uma roupa
de pirata, pistolas penduradas em um cinto de couro em volta da
cintura, camisa aberta sobre o peito tatuado e agora... um aro de prata
em sua orelha. Ou não, seria algo mais berrante. Uma esmeralda. Um
rubi que ele roubou de uma senhora em um salão de baile. O mesmo
salão em que ele me vê e então decide que precisa de mim. Não pode
viver mais um segundo sem mim. Para os gritos de toda a sala, ele
serpenteia o braço em volta da minha cintura e me levanta do chão,
me levando para longe na noite. Ele me leva para seu navio (que de
alguma forma está ancorado nas proximidades), onde ele me empurra
contra a amurada e então sua boca cai sobre a minha. Envolvo meus
braços em volta do pescoço dele e...
— O que diabos está acontecendo na sua cabeça agora? — Ele
pergunta, me puxando da minha fantasia.
Meu rosto está em chamas.
— Nada. Vamos mudar de assunto. — Eu me contorço no meu
lugar, de repente me sentindo quente e estranha. Will nunca pode
saber o que se passava na minha cabeça.
Ele cantarola, sorrindo como se de alguma forma já soubesse.
Enrolo meu guardanapo e jogo nele.
— Você não sabe.
— Eu acho que eu sei, sim. — Ele circula um dedo em torno de
seu rosto. — Você reflete todos os seus pensamentos em seu rosto.
Tão abertamente. Você estava tirando minhas roupas na sua cabeça.
Eu suspiro como uma matrona indignada.
— Absolutamente não.
Seus olhos brilham.
— Quão nu você me deixou? Todo o caminho ou só a minha
cueca?
Eu enterro meu rosto em minhas mãos.
— Continuando! Qual é o próximo assunto?
Ele tem pena de mim, se inclina para a frente e apoia os cotovelos
na mesa.
— Tudo bem. Diga-me sobre o que você é mais insegura quando
se trata de primeiros encontros. Qual é o seu ponto mais fraco?
— Está tudo muito claro?
— Um pouco, sim.
Respiro fundo e penso no meu encontro com John.
— Conversa, eu acho. Estou tão acostumada com minha família e
com o fato de nunca haver um momento de silêncio com eles que não
sei como lidar com as calmarias. Por isso, costumo tentar preenchê-lo
o mais rápido possível.
— E isso te coloca em apuros?
— Eu dei uma palestra no Ted sobre os ciclos reprodutivos das
flores no meu último encontro.
Will faz um grande esforço para não cair na gargalhada. Mas eu
vejo isso lá, pairando abaixo da superfície. Suas narinas dilatam. Sua
bochecha contrai-se.
— É pedir muito para ouvir este monólogo? Por favor, diga-me
que as flores gostam de coisas excêntricas?
— Para! — Eu digo, rindo e esticando meu pé debaixo da mesa
para chutar o seu joelho. Rindo, ele captura meu tornozelo em vez de
me deixar chutá-lo. Seu polegar desliza suavemente pela pele macia
do meu tornozelo e, ao mesmo tempo, nossa risada desaparece. O ar
estala entre nós, e ele solta enquanto eu limpo minha garganta e me
endireito.
O silêncio cobre a mesa.
Will enfia uma batata frita na boca e depois lambe o sal dos lábios.
Antes que eu perceba, estou observando de perto. Para pesquisa!
Obviamente. Observando como os profissionais fazem isso.
Desta vez, ele faz a posição viril que tentei, mas não consegui
dominar: braço enganchado nas costas do banco. Tão casual e
composto. Como se talvez seus ombros estivessem tensos devido a
um longo treino e ele só precisasse alongá-los. Meus olhos rastreiam
aquele longo braço que se estende por cima, exibindo suas tatuagens
florais para mim.
Will limpa a garganta.
— Tudo bem deixar a conversa ficar quieta um pouco, a
propósito. A capacidade de ficar em silêncio mostra confiança. —
Como que para ilustrar um ponto, ele se mexe, pega seu copo de água
e toma um longo gole. Seu pomo de adão balança contra a longa
coluna de sua garganta, e agora estou convencida de que preciso pular
em uma piscina cheia de gelo porque estou com muito calor e
incomodada para um almoço casual no restaurante. O que está
acontecendo comigo?
Eu inclino meus antebraços sobre a mesa, sentando para a frente.
— Como você é tão bom nisso?
— Prática. Todo mundo pensa que um bom encontro é algo que
vem naturalmente, mas não é. Levou tempo para eu aprender as
melhores táticas. Como no outro dia no meu quarto quando nós...
— Ele para e olha para baixo brevemente. — De qualquer forma, sim.
Conheço meus pontos fortes agora e estou confiante neles.
Interessante. Ele está evitando lembrar daquele momento
também. Ele se sentiu tão afetado por isso quanto eu?
Um conceito emocionante.
— Ei, posso te fazer uma pergunta aleatória?
— Claro.
— Há algo entre você e James?
Uma risada pontuada assustada salta da minha garganta.
— Eu e James? — Tenho certeza de que meus olhos estão saltando
da minha cabeça. — Sem chance. Isso seria como eu me apaixonar
por Noah. Nojento.
— De verdade? — Ele pergunta, parecendo um pouco cético.
— De verdade. Não consigo pensar em nada menos atraente. Sem
ofensa para James. — Eu sorrio quando Will acena com a cabeça. —
Por que você pergunta?
Ele dá de ombros.
— Sem motivo. Apenas pensei que seria bom entender a imagem
completa. Se estivéssemos tentando ajudá-la especificamente a
prender James, poderíamos adaptar nossas aulas.
Faz sentido. Mas não, James pode não ser meu irmão de sangue,
mas ele é meu irmão do mesmo jeito.
Eu puxo minhas pernas para cima na cabine, cruzando uma sobre
a outra.
— Ok, falando em aulas. Depois que eu aprender a ficar em
silêncio com confiança, e daí? E quando eu precisar falar? Não acho
que minhas flores sensuais sejam tão interessantes para outras pessoas
quanto são para você.
Ele ri e pega um guardanapo.
— Você tem uma caneta?
Depois de vasculhar minha bolsa, encontro uma e entrego a ele.
Will então escreve uma série de frases no guardanapo e o entrega para
mim.
— Essas são as perguntas que memorizei e que faço em todos os
encontros. Perguntas sobre família são sempre estranhas e têm muitas
armadilhas em potencial, e ninguém realmente quer falar sobre seu
trabalho. Então, eu gosto de fazer perguntas divertidas para quebrar
o gelo. Funciona sempre.
Eu leio o guardanapo em voz alta.
— Qual era o seu programa de TV favorito para assistir quando
criança? O que você sempre quis fazer, mas tem medo de fazer? Você
prefere pular de paraquedas ou ler um livro? — Eu abaixo o
guardanapo. — Você memorizou isso?
Ele concorda.
— E elas realmente funcionam?
Ele não responde. Em vez disso, ele inclina a cabeça e me observa
como se houvesse uma pergunta que o incomoda há anos.
— Annie, o que você sempre quis fazer, mas tem medo de fazer?
Imediatamente a resposta vem à mente. Uma que eu não posso
expressar. Uma que ele não pode saber.
Em vez disso, mordisco uma batata frita e faço um barulho
pensativo. E então meus olhos pousam em seu antebraço e uma
resposta mais apropriada vem à tona.
— Na verdade, sempre quis fazer uma tatuagem.
Ele inclina-se para a frente, parecendo animado e um pouco
satisfeito.
— Sério? Por que não? — Ele pergunta como se fosse tão simples
quanto cortar o cabelo.
— Não sei. Uma combinação de medo de doer e de não ter certeza
do que faria. — E porque eu simplesmente não posso. Eu sou Annie
– seria chocante. Seria tão fora do personagem para mim. Seria
divertido.
De repente, as palavras de Will do outro dia vêm à minha
memória: “Me parece, Annie, que você está apenas esperando que
alguém lhe dê permissão para ser você mesma em voz alta”. Tenho
medo de admitir o quanto ele estava certo. O quanto não consegui
tirar nossa conversa da cabeça, por mais que eu tentasse. Quanto mais
penso nisso, mais medo tenho de que o futuro que descrevi para ele
não seja suficiente. Esse casamento não vai dar o meu felizes para
sempre. E se isso for verdade, o que no mundo está causando esse
sentimento de vazio?
— Não dói tanto — ele diz antes de dar uma grande mordida nas
panquecas. — Tenho certeza de que você pode lidar com isso.
Meus olhos acompanham seu braço até a borboleta.
— Como você decidiu sobre suas flores?
Ele responde rápido demais para eu acreditar nele.
— Não sei, só que sempre gostei delas.
— Se eu erguer o queixo quer dizer que estou mentindo, parecer
um pouco indiferente demais é o seu sinal. Qual é a verdade, Will
Griffin? — Eu pergunto, espelhando sua posição inclinada para
frente, então estamos olho no olho.
Ele olha para mim, sua expressão nunca muda. E então ele me
choca com uma resposta honesta.
— No meu quintal enquanto crescia... tínhamos uma árvore de
magnólias nos fundos. Eu costumava me esconder muito lá fora.
Quando eu precisava fugir. Era uma espécie de paraíso para mim.
Oh.
Algo nos olhos e no tom pensativo de Will me diz que ele visitava
aquela árvore com frequência. E não era apenas um refúgio, mas um
porto seguro. Um lugar que ele precisava com muita frequência. Ao
imaginar uma versão mais jovem desse homem escondido sozinho em
uma árvore de magnólia, meu coração sangra. Eu quero subir lá com
ele e segurar sua mão. Quero saber todos os motivos que o levaram a
subir naqueles galhos – e quero fazer com que toda aquela dor
desapareça.
Ele se recosta abruptamente e sorri.
— Claro que foi antes de eu encontrar minha família de lobos.
Depois disso, eu estava muito ocupado vagando pela terra e caçando
para subir em árvores.
Quanto mais conheço Will, mais percebo que sua encantadora
brincadeira nem sempre é real. Às vezes penso que é uma máscara. É
um sorriso desenhado em um post-it e colado em seu rosto. Se eu
fosse retirá-lo, encontraria uma carranca por baixo.
— Vamos, não olhe assim, por favor. — Ele olha por cima do
ombro para os outros frequentadores do restaurante nos observando
com a intensidade de um falcão. Ele abre um sorriso radiante para
alguém. Acena para outro.
— Estou te dando uma olhada?
— Uma pesada — diz ele antes de voltar os olhos para mim. —
Vamos seguir em frente e descobrir qual tatuagem você deve fazer.
Não quero deixá-lo desconfortável, então reprimo minha
crescente e desesperada necessidade de conhecer esse homem à minha
frente. É o melhor de qualquer maneira. A empatia é o primeiro passo
para os sentimentos. E Will Griffin não é alguém por quem eu possa
ter sentimentos.
— Hum. Bem, correndo o risco de você pensar que estou
tentando ser sua imitadora, seria divertido fazer algumas flores. Talvez
um buquê no meu pulso. — Mas então uma nova ideia atinge-me e a
emoção sobe direto para minha barriga. — Ou até aqui. — Eu puxo
meu ombro para frente e toco no centro de trás dele. Os olhos de Will
seguem meu dedo e um sorriso derrete em sua boca como lava. Por
um minuto, ele se perde em qualquer imagem mental que esteja
evocando. E então suas írises azul-acinzentadas conectam-se com as
minhas – aqueles centros negros dilatados.
— Você definitivamente deveria fazer isso. Seria muito sexy.
Meu estômago aperta e eu pisco para ele.
— Você acha que eu ficaria... sexy com uma tatuagem?
Ele dá uma risada curta e, por um segundo, fico com medo de que
ele esteja rindo de mim. Talvez ele nunca tenha dito sexy. Talvez meu
cérebro tenha adicionado essa palavra por conta própria, por
esperança. Se for verdade, vou precisar entrar no programa de
proteção a testemunhas e sumir.
— Não, Annie. Não me interprete mal. Já te acho sexy sem
tatuagem. Então eu sei com certeza que você seria mais ainda com
uma.
Meus lábios se abrem em uma forte inspiração feliz. Ele realmente
quis dizer isso? Nunca em toda a minha vida fui chamada de sexy.
Sempre fui legal ou a garota de bom coração. Nunca sexy. Nunca
nada me fez sentir tão feminina como a palavra que ele usou para me
descrever. Mas então, com um lampejo de decepção, lembro como
toda essa conversa começou.
Mais uma vez, esta foi uma demonstração. Prática. Ele está me
mostrando como as falas funcionam bem e como ele flerta sem
esforço por causa delas. A história da árvore era real? Ou é apenas uma
parte da farsa.
Ugh. Meu coração está acelerado e minha pele está úmida. Como
se eu fosse chorar. Oh Deus, eu vou chorar?
Eu dou uma risada afetada enquanto abaixo meu olhar e pisco
uma centena de vezes para o meu prato enquanto o movo para
enxugar uma gota inexistente de água da mesa.
— Legal. Boa fala.
— Espere o que? — Ele diz parecendo confuso.
Eu limpo minha garganta e mostro a ele uma imitação de seu
próprio sorriso falso de um minuto atrás.
— Eu vi o que você fez aqui. Com a demonstração sobre as falas
sedutoras e depois o flerte subsequente. Funcionou perfeitamente —
eu digo, excessivamente alegre. — Eu definitivamente terei que me
lembrar disso. Bom trabalho.
— Annie...
— Quer saber? Preciso voltar para a floricultura. Acabei de
lembrar que alguém está vindo para pegar um grande pedido.
Encomenda enorme. — Me levanto do banco. — Diga a Jeanine para
colocar minha metade na minha conta.
— Espere... Annie!
— Desculpe! Eu realmente só tenho que ir. Obrigada pela aula!
Estou com tanta pressa para sair do restaurante que, a caminho da
porta, dou de cara com o peito de Phil.
— Oi, querida, como você está esta manhã? — Ele diz com um
grande sorriso.
Doce Phil. Ele me ajudou a aprender a andar de bicicleta e deu
meu primeiro emprego de verão, reabastecendo as prateleiras de sua
loja. Phil usa tênis e short cáqui todos os dias de sua vida – mesmo no
inverno – e acho que se eu fosse abrir seu armário, encontraria quinze
pares idênticos alinhados em cabides, bem passados e prontos para a
ação. Eu realmente adoro Phil e não quero que ele saiba que estou
chateada. Principalmente porque não há razão para isso. Will estava
apenas fazendo exatamente o que eu queria que ele fizesse – me
ensinando a como flertar e conversar com sucesso em um encontro.
Mas, por alguma razão, ouvir as palavras que tanto desejei sair de
sua boca e saber que não eram verdadeiras, que eram apenas para
provar um ponto – bem, isso dói.
— Eu estou bem! — Digo a Phil, provavelmente fazendo um
péssimo trabalho em esconder minhas emoções com base na maneira
como suas sobrancelhas estão franzidas e ele está olhando por cima
do meu ombro para onde Will está conversando com Jeanine no
estande. Quero acenar com os braços para distraí-lo, mas faço a
próxima melhor coisa para distraí-lo. — Como está sua venda de
parafusos e porcas hoje?
É uma nova liquidação todos os dias, e o ponto alto das minhas
manhãs é adivinhar qual será a liquidação do dia. Minhas irmãs e eu
até temos um quadro branco na geladeira, onde apostamos nossos
palpites. A perdedora (a pessoa que acertar menos palpites em um
período de sete dias) fica encarregada de fazer compras naquela
semana. Infelizmente, eu sou a perdedora desta semana.
— Vendendo como pão quente! Quem diria que porcas e
parafusos seriam tão populares? Não tenho uma venda tão bem-
sucedida desde os rodos de setembro passado. Passe na loja mais tarde,
garota Annie, e eu lhe darei um pacote de parafusos. Nunca se sabe
quando você vai precisar de um.
— Você é o melhor, Phil.
Ele franze a testa novamente.
— Annie, aquele menino disse alguma coisa que te chateou?
Raios. A última coisa de que preciso é que toda a cidade suspeite
que Will está me magoando. Vão expulsá-lo daqui se acharem que
estou prestes a ter meu coração partido.
Eu terei?
Eu arrisco um último olhar por cima do ombro e encontro Will se
levantando da mesa enquanto joga dinheiro para a conta. Como sou
uma covarde, me viro e praticamente corro porta afora.
Will

Já é noite antes que eu possa sair para encontrar Annie.


Ainda não sei bem o que aconteceu esta tarde. Tudo parecia estar
indo bem, e então eu a chamei de sexy e tudo desmoronou. Ela disse
algo sobre ser uma boa fala e sobre funcionar perfeitamente. Mas não
tenho certeza do porquê isso a teria machucado tanto.
Tudo o que sei é que o olhar que ela tinha antes de se levantar da
mesa me destruiu. Ela estava sorrindo com lágrimas nos olhos. Uma
visão e tanto para aqueles olhos azuis cheios de emoção, e eu queria
implorar para ela ficar para que eu pudesse consertar o que aconteceu.
Não consegui afastar a imagem da minha cabeça o dia todo. E agora
finalmente estou livre do trabalho, e tenho tentado encontrar Annie.
Eu chequei a casa dela primeiro, mas a caminhonete dela não estava
lá. E depois passei pelo Hank e ela também não estava lá.
Mesmo que a loja dela esteja fechada, decidi passar de qualquer
maneira e, com certeza, lá está ela. A cidade está escura, mas sua loja
está iluminada como uma caixa de vidro. Eu a vejo parada na frente
da mesa de trabalho de madeira, enfiando hastes de plantas em um
vaso como se isso a irritasse pessoalmente. Seu longo cabelo loiro está
preso em sua cabeça em uma bagunça amontoada, e ela está vestindo
um moletom rosa-claro que está caindo em um de seus ombros. Eu
nunca a vi desfeita assim, e isso está fazendo meu pulso disparar. Meus
dedos doem para afundar na parte de trás de seu cabelo bagunçado e
bagunçá-lo ainda mais. Vê-la banhada de luz e rodeada de flores daqui
no escuro me faz sentir como um homem que saiu do inferno e está
vislumbrando o paraíso.
Annie dá um passo para trás de sua mesa de trabalho e pressiona
um punho coberto de moletom contra a boca, avaliando o buquê em
que ela está trabalhando e, em seguida, aparentemente decidindo que
o odeia e arrancando todos os caules novamente.
Tento abrir a porta, esperando que esteja trancada, mas não está.
O sino toca acima da minha cabeça quando entro na loja quente.
— Estamos fechados — diz Annie, sem sequer verificar se um
serial killer não está prestes a matá-la.
— Que pena, porque eu realmente preciso comprar um buquê
para uma mulher — eu digo e o corpo de Annie enrijece. — É uma
emergência.
Lentamente ela se vira para olhar para mim. Seu rosto é uma visão
de embaraço, mas não sei por quê. Nunca quis entrar na cabeça de
alguém e ler todos os seus pensamentos como faço com Annie.
Minha necessidade de entendê-la, de conhecer cada desejo, cada
esperança, medo e vontade me assusta.
— Que tipo de buquê você precisa? — Ela pergunta, puxando as
mangas de seu moletom – que agora posso ver que tem um logo
desbotado das Flores de Charlotte na frente – sobre os punhos e os
juntando no peito.
Eu aperto um olho.
— Um buquê de pedido de desculpas.
Seu rosto suaviza e suas mãos caem para os lados.
— Will... você não tem nada pelo que se desculpar.
— Eu acho que tenho, porém – eu disse algo que realmente
machucou alguém, e não sei por quê. — Eu dou dois passos em sua
direção. — Mas eu quero consertar isso. Eu quero fazê-la se sentir
melhor. Então, se você puder fazer para ela um buquê que você
gostaria de receber, eu ficaria muito grato. — Ela me observa de perto
enquanto me aproximo ainda mais dela. — Ou... se você estiver
muito ocupada, talvez eu mesmo possa fazer um para ela?
Um sorriso caloroso curva seus lábios carnudos e mais do que
nunca quero pressionar os meus contra os dela. Eu quero lamber a
doçura de sua pele.
— Você não precisa fazer isso, Will.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Muito presunçoso da sua parte, senhora. Você nem conhece a
pessoa.
Ela ri e balança a cabeça antes de se mexer.
— Está bem. Acho que se a moça em questão se machucou,
provavelmente não foi sua culpa.
Eu me aproximo e meus sentidos são absorvidos por Annie. Ela
cheira como a luz do sol e biscoitos de açúcar.
— Foi sim. Eu a chamei de sexy e isso ofendeu. Acho que passei
dos limites.
Annie pressiona as palmas das mãos nos olhos.
— Não. Oh Deus, estou tão envergonhada. Vamos esquecer isso,
por favor?
Estou perto o suficiente agora que sou capaz de puxar suas mãos
para baixo.
— Eu não posso fazer isso. O que aconteceu, Annie? Você está
chateada porque eu acho você sexy? Você tem medo de que isso mude
as coisas?
Ela chia e seus olhos se fecham.
— Não! Estou chateada por você continuar falando essa fala
mentirosa repetidamente.
Eu franzo a testa.
— Não é uma fala mentirosa.
— É sim. Estávamos no meio da prática e você me atraiu direto
para sua armadilha perfeita de sedução com sua pergunta e então
inventou a história sobre a árvore e depois me fisgou com a frase sobre
ser sexy, e foi demais. E então me senti boba porque fui eu quem
pediu tudo isso, mas fiquei tão envolvida que esqueci que era uma
farsa de novo e...
Eu pressiono minha mão em sua boca.
— Nada disso era mentira. Nada. Eu juro para você, eu nem estava
preparando uma armadilha de sedução ou o que quer que você tenha
dito. A história da árvore era verdadeira e algo que nunca contei a
ninguém. E a parte em que acho você extremamente sexy também é
verdade. — E então noto lágrimas brotando em seus olhos
novamente, e agora estou completamente perdido. Desloco minha
mão de sua boca para apertar o lado de sua mandíbula e esfrego meu
polegar sob seu olho, enxugando uma lágrima. — Annie, por que isso
te faz chorar?
Ela fecha os olhos e balança a cabeça desesperadamente, como se
esperasse que isso afastasse suas emoções.
— Porque... porque ninguém nunca disse isso sobre mim antes.
— Aqueles olhos azuis se abrem novamente, e uma explosão de
sentimentos potentes me atinge no peito. — Todos dizem isso sobre
minhas irmãs, mas nunca sobre mim. Sempre sou elogiada por ser tão
legal, gentil e terna. Eu sou a vizinha com o rosto doce. Nunca fui
vista como uma mulher, Will. Em vez disso, sou apenas a pessoa que
os homens bajulam para apresentá-los a Emily e Madison. Até o John
disse... — ela para.
— O que John disse? — Pergunto sentindo cada músculo do meu
corpo ficar rígido.
— Quando eu o ouvi ao telefone dizendo ao amigo como eu era
chata, ele também disse que eu era apenas fofa. — Ela sorri
tristemente.
— Vou matá-lo.
— Will! — Annie repreende-me com uma risada surpresa.
— Estou falando sério, Annie. Aquele cara não merece continuar
vivendo depois de fazer você se sentir tão mal. Especialmente depois
que ele usou a polo azul-bebê mais feia que já vi em um encontro. —
Ela ri, e eu coloco minha mão em sua nuca, não querendo a soltar
ainda. — E ele está simplesmente errado. Primeiro, ele estava errado
sobre você ser chata. Você nem precisa de aulas sobre encontros,
Annie, você foi tão perfeita no nosso encontro. Mesmo quando você
pensa que está fazendo algo errado, você é tão adorável que eu queria
puxá-la para o meu colo e fazer coisas com você no meio daquele
restaurante que me colocariam na prisão por atentado ao pudor. Em
segundo lugar, ele estava tão errado sobre você ser apenas fofa. Deus,
Annie, você é linda de morrer. Tão linda que é difícil olhar para você
e continuar me convencendo de que beijar você seria um erro por
causa do nosso acordo. E terceiro, sua bunda.
Ela arfa.
— O que tem ela?
— Sua bunda é uma obra de arte. Duas curvas absolutamente
perfeitas de uma sensualidade suave e curvilínea que me matam,
Annie. Sua bunda me mata. E eu preciso que você saiba que se não
estivéssemos fazendo essa coisa de apenas amigos, eu já teria... —
Deixo a frase inacabada enquanto meus olhos vasculham sobre ela,
sugerindo tudo o que sonhei em fazer com Annie, mas não dizendo
em voz alta porque acho que já falei demais. E o que mais me assusta
é como estou desesperado para que ela saiba de tudo isso e acredite
em mim. Eu sou tão bom em jogos. Em mover peças estrategicamente
para que eu possa ser sedutor sem nunca ter que ser real. Sem
realmente arriscar quaisquer sentimentos. Mas agora eu sou mais
honesto e aberto do que nunca na minha vida.
Não estou brincando com Annie – estou abrindo meu coração.
Quando nossos olhares se encontram novamente, suas lágrimas se
foram. Em vez disso, suas bochechas estão rosadas e ela está
pressionando o sorriso contra os nós dos dedos.
Eu gentilmente inclino seu rosto para cima para olhar para mim.
— Você acredita em mim?
Ela acena silenciosamente. E então seus olhos caem para os meus
lábios.
— Mas você estava errado sobre algo.
— Sobre o que?
— Não seria um erro me beijar.
Meu coração bate em minhas costelas.
— Não seria?
— Não. Na verdade, acho que deveríamos nos beijar porque eu
poderia praticar.
— Annie, praticar ir a encontros é uma coisa, mas...
— Eu também quero mudar nossos termos originais. — Ela se
move em seus pés, e seus olhos continuam a voar para frente e para
trás entre meus olhos e minha boca. — Essa coisa toda começou
comigo querendo ficar boa em ir a encontros, mas... quanto mais
tempo eu passo com você, mais eu sinto algo ganhando vida dentro
de mim. Algo que não consigo identificar, mas também não quero
perder. Você me faz sentir diferente, e eu gosto disso. Eu me sinto livre
com você – de uma forma aventureira e curiosa.
Ela faz uma pausa e não ouso dizer nada. Eu preciso ouvir aonde
isso está indo sem inserir nenhuma ideia minha.
— Então, eu queria saber se você seria a pessoa certa para me
ajudar a praticar correr riscos, fazer coisas novas e... talvez descobrir
quem eu sou agora?
— Ser sua prática de tudo? — Eu pergunto, deixando meu polegar
arrastar contra seu lábio inferior.
— Se não for pedir muito — ela diz em um sussurro baixo.
— E esta noite... você quer praticar beijos?
Seu peito se enche com uma respiração pesada e ela balança a
cabeça.
— Faz alguns anos que não faço isso. Eu preciso sacudir as teias de
aranha. Ver se eu sou boa nisso.
Esta notícia é surpreendente para mim.
Mesmo quando eu estou envolvendo meu braço em volta dela e
espalmando minha mão contra a parte inferior de suas costas para
puxá-la para perto de mim, eu pergunto:
— Ninguém te beija há anos, Annie? Como isso é possível? — Eu
quis beijá-la a cada segundo desde que a conheci.
Eu a sinto tremer contra mim.
— Talvez haja algo errado comigo. Ninguém nunca tenta. Até
meu namorado da faculdade terminou comigo depois de três
semanas sem nunca me tocar. Acho que minha reputação faz as
pessoas pensarem que não gosto dessas coisas.
— Não há nada de errado com você. — Empurro para trás o
cabelo que está caindo em volta de seu rosto e faço o que estou
morrendo de vontade de fazer há dias – afundo meus dedos na massa
de cabelo loiro atrás de sua cabeça. Eu me curvo e sussurro contra o
canto de sua boca: — Nada.
— Eu posso ser ruim nisso — ela avisa com os olhos bem abertos,
me observando enquanto eu provoco os cantos de sua boca.
— Estou preparado. — E então, quando estou prestes a
finalmente diminuir a distância, uma ideia me ocorre e eu me afasto.
Ela parece desapontada, como se pensasse que estou mudando de
ideia. De jeito nenhum. — Tendo em vista o que aconteceu no
restaurante, acho que devemos ter uma pista clara de quando estamos
no modo de prática. Portanto, não há confusão.
Ela parece aliviada.
— Boa ideia. Tipo... bater ponto?
Eu cantarolo.
— Perfeito.
A tensão entre nós está aumentando, e posso dizer que ela quer
que eu apresse isso e a beije, mas a verdade é que adoro prolongar isso.
Adoro tomar meu tempo e torturar nós dois. E se Annie não é beijada
há anos, quero fazer valer a pena.
Eu afundo meu rosto em sua garganta e coloco um beijo suave na
base. Ela prende a respiração e me movo para beijar sua mandíbula,
abrindo minha boca para sentir sua pele quente contra minha língua.
Ela estremece e eu sorrio, me movendo para beijar o canto de sua
mandíbula e depois sua boca. No momento em que seus lábios
quentes e macios pressionam os meus, meu mundo dá uma volta.
Qualquer sutileza ou controle que sinto se dissolve e, de repente,
estou à mercê dela.
Seu corpo balança em direção ao meu, e mesmo que eu não vá
mais longe do que uma pressão de nossos lábios, é escandalosamente
bom. Eu deslizo minha mão um pouco mais fundo na parte de trás
de seu cabelo e me forço para manter isso leve, apesar de uma
necessidade frenética crescendo abaixo da superfície.
Eu só pretendia que fosse algo rápido. Um beijo luxuoso na boca
para esquentar seu corpo. Mas caramba. Seus lábios respondem aos
meus quando ela se levanta para colocar as mãos em volta do meu
pescoço e meu sangue vibra sob minha pele. Meus dedos se enrolam
em seu cabelo e nas costas de seu moletom até que inconscientemente
a puxo contra mim. Ela é tão macia, e enquanto inclino o beijo, não
posso deixar de provar sua boca apenas uma vez, deixando minha
língua deslizar levemente em seu lábio inferior.
Annie solta um gemido e abre os lábios, e é aí que coloco minhas
mãos sob suas coxas e a levanto. Ela envolve as pernas em volta da
minha cintura e nosso beijo rapidamente se transforma de casto a
devorador. Estou a carregando para o depósito, com a cabeça girando
como se tivesse tomado quatro doses de tequila e saboreando cada
suspiro, cada movimento de sua língua, cada pressão intencional de
sua boca. E enquanto me ajusto para passar pelo batente da porta,
meu ombro bate contra ele e me traz de volta à realidade. O que diabos
estou fazendo? Não posso levar Annie lá. Era para ser apenas um beijo.
Eu quero muito mais do que um beijo dela, porém, e é por isso que
eu quebro o beijo e lentamente a coloco no chão. Ela não protesta,
parecendo concordar com meus pensamentos.
— Intervalo — eu digo, quando a solto e me afasto alguns passos,
esfregando minha nuca, tentando acalmar meu corpo e clarear minha
cabeça.
Controle-se, Will. Foi só um beijo. Apenas foi uma prática.
— Foi bom? — Annie pergunta, constrangida, e a própria
pergunta é tão absurda para mim quanto o fato de ela sentir qualquer
motivo para duvidar de sua habilidade.
Com minha mão ainda enganchada em volta do meu pescoço, eu
olho para ela sabendo que ela pode ver claramente em meu rosto
como fui absolutamente destruído por aquele beijo. Eu dou a ela uma
risada de escárnio.
— Sim. Foi ótimo.
Annie se vira um pouco e sorri para si mesma, e então faz algo tão
aberto, tão honesto que parte meu coração cínico e aterrorizado ao
meio. Ela descansa as pontas dos dedos contra a boca sorridente.
Antes que ela tenha tempo de perceber, pego meu telefone e tiro
uma foto dela parada ali sob as luzes quentes de sua loja.
— Por curiosidade — pergunto mais tarde, enquanto ela está
fechando a porta e eu a acompanho até a caminhonete. — Qual é a
sua flor favorita?
Ela baixa o olhar para seus Converses brancos e sorri.
— Magnólias.
Annie

Eu estaciono minha caminhonete ao lado das caminhonetes dos


meus irmãos no estacionamento comunitário da cidade. É um arco-
íris de laranja queimado (a velha caminhonete enferrujada de Noah),
azul-claro e branco (a minha), vermelho e preto (a de Emily) e verde-
oliva (a de Madison). É uma regra não escrita nesta cidade que, se você
compartilhar do mesmo código postal, deverá dirigir uma
caminhonete. Não importa se é alguém novo ou velho, você só
precisa ter uma.
Enquanto caminho em direção à A Loja das Tortas, onde
encontro meus irmãos para nosso jogo semanal de cartas no sábado à
noite, tudo parece tão familiar e reconfortante. A noite quente de
verão grudando em minha pele, a praça escura da cidade vazia de
intrometidos e evitando a mesma grande rachadura na calçada que
está lá há uma década.
É tudo a mesma coisa, mas de alguma forma eu sou a parte que
parece um pouco diferente. Sinto um fantasma dos beijos de Will em
minha boca, e há uma promessa, um zumbido, uma pontada de algo
novo no ar ao meu redor. Está fazendo o mundo parecer mais nítido.
Mais ou menos como o primeiro dia do último ano do ensino médio.
Você pode sentir a mudança ao virar da esquina, mas ainda não está
ao seu alcance. De alguma forma, isso me faz apreciar a onda de
conforto que sinto ao pisar sob o toldo listrado de azul e branco d’A
Loja das Tortas. Como é possível desejar mudanças e saborear a
familiaridade ao mesmo tempo?
Meu irmão, no entanto, despreza a mudança. Tudo n’A Loja das
Tortas, que ele herdou de nossa avó, é exatamente o mesmo desde que
meus bisavós a fundaram nos anos sessenta. Quando você entra, um
sininho, de som mais suave do que o da minha floricultura, toca
acima da porta. Há uma mesa alta em frente à única grande janela da
frente, onde Phil e Todd se sentam todas as segundas-feiras às oito e
meia para dividir uma fatia de torta de chocolate antes de abrirem sua
loja de ferragens. Uma caixa de torta antiga divide a metade da frente
da loja da parte de trás, e há uma bancada de madeira conectando a
caixa à parede. Minha parte favorita ainda é a pequena seção do balcão
que se eleva para que você possa caminhar até os fundos. Até os
dezesseis anos, nunca levantei o balcão – sempre fiquei no limbo sob
ele enquanto minha avó me avisava que um dia minhas costas iriam
quebrar fazendo isso. Eu daria qualquer coisa para ouvi-la dizer isso
agora (e ter a habilidade de ficar no limbo como uma garota de
dezesseis anos).
Só consigo pensar em duas coisas que Noah mudou na loja desde
que a assumiu. Um, a caixa registradora, porque mesmo o mais
resistente às modernizações não quer fazer contas em um pedaço de
papel. Dois, ele acrescentou um grande decalque de uma torta na
vitrine. E por “ele acrescentou”, quero dizer que ele me deixou colocá-
lo na janela depois que eu bebi muitas cervejas e fiz compras on-line
com meu coração bêbado. Mas escute, eu dei à loja Etsy sua primeira
venda e nunca vou me arrepender.
De qualquer forma, Noah não gosta de mudanças. Então, no dia
em que ele disse que estava instalando wi-fi em sua casa e na Loja das
Tortas para se manter contato com Amelia enquanto ela estava em
turnê, eu sabia que ele estava apaixonado. E agora, quando você olha
para sua pitoresca casa de campo, vê um grande portão intimidador
na frente da garagem e uma placa anunciando os sensores ao redor
dos sete acres de sua propriedade. E depois há a guarita que estão
construindo, que vale a pena mencionar porque é maior do que a
casca de amendoim em que eu e minhas irmãs moramos juntas. Tudo
isso é evidência direta de que meu irmão dedicou totalmente sua vida
a Amelia Rose. Esses dois estão nisso para fazer dar certo, e isso deixa
meu coração mole e romântico louco com duas palavras. Alegria e
inveja.
Abro a porta d’A Loja das Tortas e imediatamente ouço a voz do
meu irmão.
— Não — ele ladra, e no começo eu acho que ele está falando
comigo antes de ver seu olhar verde se estreitar em Madison. —
Absolutamente não.
— Oh, vamos lá! — Ela diz, cutucando o joelho dele com o pé sob
a mesinha dobrável que montamos nas noites de sábado. — Não seja
tão estraga-prazeres.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto, juntando-se a eles na
mesa.
Emily sorri.
— Maddie está tentando fazer com que Noah faça todos os
convidados da festa de casamento fazer uma dança coreografada até o
altar.
— Não vai acontecer — diz ele com firmeza, cruzando os braços.
— Eu já disse a Amelia, e ela disse que queria fazer isso.
Noah resmunga.
— Só por cima do meu cadáver. O inferno que eu vou sair
dançando pelo corredor ao som de alguma música chiclete. Além
disso, eu sei que você está mentindo. Amelia nunca sugeriria isso
porque ela sabia que me daria úlceras só de pensar nisso.
— Ah! Vai ter que pagar! — Emily grita, estendendo as mãos para
Maddie. Em sorri para Noah. — Maddie apostou vinte dólares que
ela poderia persuadi-lo a dizer sim a uma dança coreografada com
todos. — Ela desvia o olhar para Maddie. — E, a propósito, fingir que
Amelia apoiava essa ideia foi totalmente trapaça.
Eu deveria saber. Essas duas estão sempre apostando em alguma
coisa.
Noah cruza os braços.
— Vou me casar, não abrir mão da minha dignidade.
— O que Amelia está fazendo esta noite? — Eu pergunto, me
sentando ao lado de Noah e esperando que ele não leia o contexto
subjacente da minha pergunta: ela está em algum lugar que exige que
ela leve Will?
— Ela está no estúdio trabalhando em seu álbum.
Apesar de nossas melhores tentativas de convencer Amelia de que
ela é bem-vinda para se juntar à noite de nossos jogos de irmãos, ela
se recusa a vir. Ela quer que passemos um tempo juntos, só nós
quatro. A mulher é muito querida para o seu próprio bem.
— Ótimo. E como vão as coisas com a preparação do casamento?
— Eu pergunto, levando minha cerveja aos lábios.
— Está bem. A planejadora do casamento parece ter tudo pronto.
Amelia e eu temos ficado fora disso tanto quanto possível.
Eu aceno lentamente.
— Ótimo! Bom. Isso é bom. E qualquer outra coisa? Sem
problemas de segurança?
Noah balança a cabeça e começa a entregar nossas cartas.
— Não. Tudo ótimo.
— Isso é bom... — Faço uma pausa, dizendo a mim mesma para
não falar, mas perdendo minha própria batalha interna. — Então o
guarda-costas dela... qual é mesmo o nome dele? Eu nunca consigo
me lembrar. Ele está bem também? Se acomodando bem? — Já se
passaram alguns dias desde o nosso beijo na floricultura e, por mais
estranho que seja admitir, sinto falta dele. Ele tem estado ocupado
com Amelia e eu tenho estado ocupada à noite trabalhando nos
arranjos para o casamento e tentando acertar o design. Mas ele deixou
um bilhete colado na porta da minha loja que encontrei esta manhã,
dizendo: “Vamos praticar algo divertido esta noite”.
Sem hora nem lugar para se encontrar. Apenas essas poucas
palavras. Fiquei formigando de ansiedade o dia todo.
Infelizmente, todos percebem minha pergunta incisiva e me
olham especulativamente. Eles parecem uma gangue – todos
largando suas cervejas e prestes a estalar os dedos antes de me sacudir
para obter informações.
— Ok, que diabos, Annie? — Pergunta Noah.
Suspiro de alívio porque Noah salvou o dia sem saber.
— Oooh! — Maddie proclama em voz alta, apontando o dedo
para Noah. — Esse é o palavrão número vinte dele! Pode pagar, cara.
— Não. Isso foi apenas dezenove. Tenho mais um até ter que
pagar. — (Noah diz isso todo mês depois de ser o primeiro a usar seus
vinte palavrões mensais.)
— Vamos levar para o caderno. Annie? — Emily pergunta, se
sentando para a frente e apoiando os antebraços na mesa como se
estivesse prestes a testemunhar algo incrível.
Mesmo que este caderno tenha começado a me desgastar, eu enfio
a mão na minha bolsa e o pego, grata pela mudança de assunto. Eu
folheio as páginas e chego ao gráfico de contagem deste mês. Todos
prendem a respiração enquanto eu os adiciono. Tomando cuidado
para não os avisar, mantenho meu rosto solene e limpo a garganta
antes de fechar o caderno e colocá-lo sobre a mesa. Eles estão
morrendo de ansiedade, cada um inclinado para a frente e ansioso
para ouvir a sentença de Noah. Isso meio que me faz querer falar.
Realmente fazê-los ansiarem por isso.
Mas quando finalmente abro a boca para revelar a resposta, a
sombra de alguém atravessando a rua me chama a atenção. Um
homem. Alto, corpo magro, tatuagens em um braço.
Meu coração erra as batidas.
Ele faz uma pausa do outro lado da rua, faz contato visual comigo
através da vitrine e então levanta a cabeça. Está na hora!
— De repente não estou me sentindo bem — eu digo, pulando da
minha cadeira e segurando meu estômago.
— Oh não — diz Emily, os olhos me examinando da cabeça aos
pés por qualquer doença invisível. — Você acha que está doente?
— Temo que sim. Eu sinto que vou vomitar. — Pego minha bolsa
e caminho em direção à porta.
Emily também se levanta.
— Aqui, eu vou para casa com você.
— Não! — Eu digo, girando ao redor. — Não, você deveria ficar
aqui. Estou bem. Provavelmente é apenas minha menstruação prestes
a começar ou algo assim. Te ligo se precisar.
Eu praticamente posso ver uma antena de suspeita subindo do
topo de sua cabeça. Em todos os momentos, Emily está procurando
por um perigo potencial que possa acontecer a nós, irmãos. E se for
esse o caso, imagino que o sistema de alerta dela esteja disparando
com Will Griffin por perto. Eu forço meu sorriso a não ser muito
grande.
— Eu prometo que vou ficar bem, Em. — eu digo, e Madison vem
em meu auxílio, dizendo a Emily para se sentar para que possam
começar o jogo antes da meia-noite.
E então eu saio d’A Loja das Tortas.

Está completamente escuro lá fora, exceto pela luz da lua e alguns


(mas não o suficiente) postes de luz. Eu menciono isso porque é uma
grande coisa. Na última assembleia municipal, foi votado para
instalar mais postes de luz ou adicionar uma lombada em ambos os
lados da praça da cidade e, claro, uma lombada venceu, embora
ninguém na cidade quisesse. Não é nenhuma surpresa que Harriet
estava encarregada de contar os votos, e a suspeita de sua adulteração
é pesada.
Nunca contribuí para os rumores que circulavam em torno da
manipulação de Harriet porque não gosto de ver ninguém sendo
caluniado pelas costas. Mas agora, enquanto estou procurando por
Will no escuro e não posso vê-lo sem a ajuda de um poste de luz extra,
estou pronta para pintar com spray “Culpa da Harriet!” em negrito
e com letras vermelhas nas janelas do mercado.
— Will? — Eu sussurro no ar abafado da noite enquanto olho ao
redor. — Williamson! — Não o vejo em lugar nenhum. Certamente
eu não apenas o imaginei. Oh Deus, se eu apenas o imaginasse em
meu desespero para vê-lo, teria alcançado um outro nível de paixão.
Porque sim, pelo menos agora posso admitir que é mais do que uma
paixão por Will.
Eu gosto dele.
Muito.
Continuo tentando dizer a mim mesma que não, mas quanto
mais vezes digo que não, mais brilhantes seus olhos ficam em minha
memória. Quanto mais imagino seu rosto enquanto leio meus livros
fumegantes, mais sonho com ele me abraçando à noite. Na verdade,
depois do nosso beijo na outra noite, eu sonho com muito mais do
que ele simplesmente me abraçando.
— Will! Onde está...
Uma mão sai de um beco estreito e me puxa para dentro. Eu sei
que é Will antes mesmo de vê-lo por que minha pele memorizou a
sensação dele. Os calos sutis no topo de suas mãos e a maneira como
sua mão engole a minha. E depois há o cheiro dele. É tão
distintamente ele, como se lavasse a roupa no oceano. Alguém
poderia me vendar e me girar e soltar-me em uma sala cheia de
pessoas, e eu ainda seria capaz de encontrá-lo.
Eu tropeço para dentro do beco, peito a peito com ele. Posso ver
seu sorriso mesmo no escuro.
— Olá, Annie Walker — ele diz e usa sua mão para afastar meu
cabelo do meu rosto. Uma emoção quente gira como um tornado no
meu estômago. É tão bom estar perto dele novamente. Eu quero
envolver meus braços em torno de sua cintura. Eu quero pressionar
meu rosto em seu pescoço. Eu quero prender minhas pernas em
torno dele e não o deixar ir.
Em vez disso, eu fico aqui e olho para ele.
— Olá, Will Griffin.
— Você teve um bom dia? — Ele pergunta, e a pergunta atenta
me choca.
— Eu tive. Acho que finalmente descobri o que estava faltando
nos buquês de noiva de Amelia.
Ele levanta uma sobrancelha enquanto seus dedos roçam minha
mandíbula.
— E?
— Precisava de um toque de rosa.
— Rosa é sempre a resposta — diz ele com uma aspereza em sua
voz que me faz querer lambê-la de seus lábios. O que no mundo está
acontecendo comigo? Quem é essa mulher tão cheia de desejo e
excitação? O surpreendente é que acho que Will deixaria se eu
pedisse. Ele abaixaria a boca para eu conseguir um ângulo melhor
porque isso não significaria nada para ele. Isso tudo pode ser novo e
emocionante para mim, mas para ele, beijar uma mulher em um beco
provavelmente seria normal para uma noite de sábado. E é bom eu
me lembrar disso.
— O que vamos fazer hoje à noite?
Ele sorri maliciosamente e seus olhos azul-acinzentados brilham.
— Algo que você sempre quis fazer, mas tem medo de fazer.
Meu estômago fica tenso.
— Você não quer dizer...
— Você finalmente vai fazer sua tatuagem esta noite.
— O que?! — Eu digo, instintivamente dando um passo para
longe dele. — Não. Eu não posso fazer isso.
— Você pode. — Ele estende a mão e pega minha mão,
entrelaçando nossos dedos, e meu corpo imediatamente amolece. —
Eu já marquei para você um encontro com um artista fora da cidade
que parecia muito bom. E estarei com você o tempo todo. Confie em
si mesma. Você disse que queria flores, vamos fazer suas malditas
flores, Annie. — Ele levanta minha mão e puxa meu pulso até sua
boca, onde ele deixa um beijo carinhoso na pele vulnerável abaixo da
palma da minha mão. Seu carinho fácil me atordoa tanto quanto me
encanta. — Você consegue fazer isso. Se você quiser...
Eu quero. Eu realmente quero.
Normalmente, eu precisaria de tempo para pensar sobre isso.
Pesar os prós e os contras e obter a opinião dos meus irmãos primeiro
e, eventualmente, ser dissuadida completamente. Mas agora estou
empenhada nessa experiência de tentar me encontrar seguindo meus
impulsos. Além disso, ainda estou procurando ativamente por um
marido e praticando minhas habilidades de namoro para o caso de ser
isso que eu realmente preciso também. A resposta tem que passar por
um desses caminhos, então por que não tentar os dois, certo?
Eu inspiro e sorrio.
— Vamos.
Eu tento me afastar, mas ele me puxa de volta para ele com uma
risada.
— Nós não temos que ir agora. Eu não queria tirar você do seu
tempo com seus irmãos. Vá terminar o que estava fazendo e podemos
ir atrás.
— Eles vão ficar bem sem mim no jogo de hoje. Quero ser
espontânea com você esta noite.
Will

Eu espero por Annie hesitar do lado de fora do estúdio de tatuagem.


Não parece o lugar mais amigável, mas as opções eram escassas em um
raio de oitenta quilômetros de Rome. Felizmente, o salão com a
melhor classificação de acordo com o Google era este, a apenas vinte
minutos de distância.
Annie me deixou dirigir sua caminhonete – e eu gostei mais do
que pensei. Agora entendo por que as pessoas são viciadas nesses
bebedores de gasolina. Há algo na sensação de um velho volante Ford
de couro com sulcos ao redor que é muito mais satisfatório do que
um novo e macio. Melhor ainda se vier com uma linda loira
pendurando o braço para fora da janela e deixando o cabelo voar ao
redor do rosto enquanto você dirige.
Não é seguro e não apoio isso, mas tirei uma foto quando ela não
estava olhando.
Quando chegamos ao local, estacionei a caminhonete e olhei para
Annie, esperando ver alguma apreensão em sua expressão. Eu não
poderia estar mais errado. Ela saiu antes que meus olhos tivessem
tempo de pousar nela.
— Vamos — diz ela, animadamente acenando para mim. — Por
que você está se movendo tão devagar?
Fecho a porta da caminhonete e a encontro na calçada.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Eu pergunto,
olhando para a sala iluminada e sentindo uma pontada de remorso
por instigar isso. Nem tenho certeza do porquê. É que a ideia de
Annie em toda a sua suavidade indo para aquele lugar e sendo tatuada
para sempre me faz sentir de repente como uma mãe superprotetora.
Que diabos? Nunca fui de pensar demais em nenhuma escolha em
minha vida. Entrei para o exército quando fui ao supermercado
comprar leite e a barraca de recrutamento estava parada na frente,
pelo amor de Deus.
E ainda... algo sobre estar com Annie me faz querer ser cauteloso
pela primeira vez. Tenho a nítida sensação de estar segurando algo
precioso e não querer deixá-lo cair. Eu me sinto protetor. Possessivo
até.
Annie ri e me olha especulativamente.
— Sim! Tenho certeza absoluta. Vamos.
Em uma reviravolta irônica, Annie agarra minha mão e me puxa
atrás dela. Entramos na sala e ela cheira a velho. Nada como os lugares
atualizados, modernos e limpos onde fiz minhas tatuagens. Esta é
uma loja do interior, e quem sabe que tipo de doença ela poderia
pegar apenas sentada em uma de suas cadeiras? As agulhas são
esterilizadas? Há quanto tempo esse artista está no mercado?
Não posso deixar Annie fazer isso.
— Ei, pensando bem, por que não esperamos e vamos a algum
lugar da cidade?
Ela só tem um segundo para franzir a testa para mim antes que um
homem corpulento com barba de motociclista apareça na esquina.
— Você é uma cliente?
— Sim, senhor! — Ela gorjeia alegremente, e eu instantaneamente
aperto minha mão com mais força em torno da dela. Ela está prestes
a marcar seu corpo para sempre. Por minha causa. Por um homem
que eu absolutamente não quero perto do referido corpo. Olha o
tamanho das mãos dele.
Nunca senti o peso de ser uma má influência antes.
Normalmente, eu prospero com isso, na verdade. Mas não quando
estou olhando para a tela em branco perfeita de pele macia de Annie
e imaginando-a com uma tatuagem que ela pode odiar pelo resto da
vida. Tudo porque eu fiz isso acontecer.
— Me siga — diz o homem, e não há ternura em sua voz. Ele não
se importa que a mulher à sua frente seja o sol em carne e osso. Ele
parece que vai fazer doer o dobro simplesmente porque ela sorriu
para ele. Por que Annie não está com medo? Estou com medo e já
passei mais de vinte horas tatuando. Não posso deixá-la sentir dor esta
noite.
Annie vai atrás dele e eu a puxo de volta. Ela gira e quase esbarra
no meu peito, seu cheiro suave inundando meus sentidos e ilustrando
seu contraste perfeito com este lugar nojento.
— O que está errado?
— Isto é um erro.
— O que? — Ela pergunta com uma risada. — Não, não é. Foi a
melhor ideia. Estou tão feliz que você pensou nisso.
Eu estremeço.
— Exatamente. Eu pensei nisso. Uma tatuagem deve ser sua ideia.
Não é algo que eu te pressiono a fazer.
— Mas você não está pressionando. — Ela olha para onde minha
mão está segurando a dela com força. — Atualmente você está
realmente me segurando.
— Vamos embora — eu digo, cortando meu olhar por cima do
ombro para o homem corpulento puxando um cigarro e acendendo-
o. — Você não quer uma tatuagem dele. Anda, levo você a Nashville
num dia diferente ao meu tatuador. Podemos fazer disso um fim de
semana. — Eu pareço desesperado e não sei por quê.
O rosto de Annie se inclina para o meu. Determinação e um flash
de advertência através de seus olhos de uma forma que eu ainda não
vi dela. Faz os pelos dos meus braços se arrepiarem e meu coração
disparar. E meus joelhos ficam um pouco fracos.
Ela me cutuca no peito.
— Não se atreva, Will.
Eu franzo a testa.
— Do que você está falando?
— Eu vejo o que está acontecendo agora. Você está me tratando
como todo mundo me trata. Como se eu fosse muito sensível e doce
para isso. E estou avisando... não faça isso. Eu posso lidar com isso
vindo de todos os outros, mas não vindo de você. Nunca de você.
E assim, minha apreensão se derrete. Ela está certa. E ouvir que
minha opinião significa mais para ela do que a de qualquer outra
pessoa... caramba, me dê a pistola de tatuagem e eu mesmo farei a
tatuagem. Sozinho garantirei que todos os seus sonhos se tornem
realidade esta noite. Ela quer viajar? Vamos. Ela quer escalar o Monte
Everest? Eu pego o equipamento.
Empurro o cabelo de Annie para trás da orelha.
— Vá fazer sua tatuagem, Annie.
— Obrigada — ela diz, parecendo tão orgulhosa de si mesma que
está praticamente brilhando. — E, na verdade, acho que quero que
você fique aqui.
A apreensão retorna.
— Não. Vou lá com você.
Ela levanta uma sobrancelha atrevida que envia calor em espiral
através das minhas veias.
— Me deixe reformular. Vou para lá sozinha – e eu vou
surpreendê-lo com o que vou tatuar. Fim da história, Will Griffin.
Eu cerro meu punho com o braço estendido ao lado do corpo, mas
não porque estou com raiva. Porque eu tenho que me conter
fisicamente para não pegar aquela mão, segurar seu queixo e tomar
sua boca em um beijo frenético. Nunca senti uma vontade tão forte.
Uma atração tão intensa.
Todos os dias, Annie revela uma nova camada para si mesma – e
caramba, se eu não gosto mais de cada uma.
Não tenho escolha a não ser ficar para trás e sorrir enquanto vejo
a bunda perfeita de Annie se afastar de mim.


Trinta minutos depois ouço passos. Eu olho para cima em tempo
suficiente para ver Annie passar por mim – poderosa saindo pela
porta da frente.
— Vamos — diz ela rapidamente. — Já paguei lá atrás.
Mas que raio?
Eu a sigo, acelerando meus passos para alcançá-la.
— Annie! Espera aí. O que aconteceu?
Ela não responde. Ela abre a porta da caminhonete e pula para
dentro, batendo a porta atrás de si.
Eu praticamente corro para o lado do motorista e entro. Os piores
cenários estão passando pela minha cabeça. E então, quando me viro
para olhá-la totalmente, e vejo sua expressão emburrada, fúria e a
raiva me dominam.
— O que aquele idiota fez com você? Ele te machucou? Ele foi
inapropriado? Eu vou matá-lo! — Eu digo, colocando minha mão no
trinco da porta e me preparando para abri-la. Annie me puxa pela
camisa antes que eu consiga.
— Pare. Grady não fez nada de errado. Ele foi tão legal, e eu vou
lhe dar flores para a festa de aniversário de princesa de sua filha de seis
anos no próximo mês.
Eu relaxo apenas um pouco porque agora Annie tem uma lágrima
escorrendo pelo rosto, e eu sou inadvertidamente a causa disso. Eu a
pressionei para fazer isso esta noite. Eu sou o idiota.
— Então por que você saiu de lá?
Pela primeira vez, seus olhos azuis enevoados deslizam para mim e
ela sorri tristemente.
— Eu precisava chegar à caminhonete para poder chorar.
— Por que você odiou a tatuagem?
Seu sorriso se alarga com grandes lágrimas se acumulando em seus
olhos.
— Não. Porque eu amei muito isso – e estou muito orgulhosa de
mim mesma por ter feito. Obrigada por fazer isso acontecer, Will.
Solto um suspiro quando a tensão em meus ombros diminui.
Então isso não foi uma coisa ruim para Annie, afinal? Na verdade, foi
bom. Quero mergulhar mais fundo nessa lógica, mas decido que não
é seguro. Posso chegar a conclusões que não deveria no final.
Eu coloco minha mão contra a mandíbula de Annie e rio,
enxugando a lágrima de sua bochecha.
— Eu teria cometido um assassinato por você agora mesmo.
— Eu aprecio isso — diz ela com uma risada também.
Nós dois estamos rindo e ela está chorando e eu nunca
experimentei esse tipo de emoção com mais ninguém. É tão frágil e
vulnerável. Me sinto culpado por ser eu quem vivencie isso com ela.
E, no entanto, me sinto ávido por isso ao mesmo tempo.
— Posso ver agora? — Eu pergunto, baixando meu olhar para o
pulso dela. Mas não há nada lá.
Ela acena com a cabeça e afasta-se um pouco para mim em seu
assento, juntando todo o seu cabelo comprido e puxando-o sobre um
ombro. E então minha respiração falha quando ela puxa a gola de sua
camisa para baixo, revelando seu lindo ombro nu.
Bem... seu ombro nu tatuado com a pequena tatuagem mais fofa
que eu já vi.
— Eu fiz um livro — diz ela, soando como se tivesse acabado de
ganhar um milhão de dólares. — Eu ia tatuar as flores sobre as quais
conversamos, mas então percebi que as flores sempre foram o sonho
da minha mãe – não especialmente o meu, embora seguir tenha
funcionado muito bem para mim. — Ela faz uma pausa e eu admiro
as linhas finas de um livro aberto com as páginas esvoaçantes como se
o vento as levasse. — Eu queria algo especial para mim. Só para mim.
Eu sorrio ao ver Annie com o ombro virado para mim – o perfil
recortado pelo poste de luz do lado de fora da caminhonete. E sua
boca macia se curvando em um sorriso gentil. Eu nunca vou esquecer
deste momento. E antes que eu possa me conter, me inclino para
frente e beijo a pele ao lado de sua tatuagem. Annie respira fundo e
eu memorizo a sensação de sua pele contra meus lábios, tão suave e
ardente quanto uma dose de uísque caro. Eu quero beijar cada
centímetro quadrado dela. Eu quero lamber a base de seu ombro. Eu
quero beijar meu caminho até o lado de sua garganta até encontrar
sua boca, e lá quero me demorar, acariciando tão completamente que
nossos lábios arderiam depois.
Se fosse do meu jeito, eu puxaria essa mulher calorosa, doce e
compassiva para o meu colo e mostraria a ela como estou maravilhado
com ela. Eu adoraria o seu corpo.
Em vez disso, eu me afasto e gentilmente puxo sua camisa de volta
sobre o ombro.
— Está perfeito, Annie.
Will

Eu estou na feirinha hoje e não estou feliz com isso por dois motivos.
Primeiro, há tantas pessoas. Esses tipos de lugares – locais ao ar livre
com um número infinito de entradas e saídas – são meu pesadelo.
Ingressos não são necessários, então não tenho como verificar todos
os presentes para ter certeza de que nenhum dos perseguidores de
Amelia estará aqui. Mas eu tenho seus rostos memorizados e
pesquiso em todos os lugares que vamos em busca de sinais deles. Ela
está usando um chapéu e óculos escuros, assim como Noah, mas os
fãs obsessivos ainda saberão que é ela. Na verdade, há um homem
com uma mochila a 2,5 metros à direita dela. Ele a notou três vezes
agora. Mesmo que ninguém esteja aqui para prejudicá-la, esses locais
lotados podem se transformar em uma multidão de fãs em um
segundo se não tomarmos cuidado.
Eu não gosto do cara com a mochila.
A segunda razão pela qual não quero estar aqui é porque Annie
está trabalhando em um estande para sua floricultura. É toda a razão
pela qual Amelia quis sair e apoiá-la, e aquela mulher é a distração de
que não preciso hoje. E quero dizer isso no sentido literal atual e no
sentido metafórico de longo prazo.
Estou usando toda a minha força de vontade para me concentrar
no meu trabalho agora, e é uma tortura. Assim como a cada segundo
que Annie está perto de mim ultimamente. Eu só a vi uma vez desde
que ela fez a tatuagem. Amelia e eu estávamos na cidade e, enquanto
ela visitava Noah n’A Loja de Tortas, entrei na floricultura ao lado
para ver Annie. Seus olhos brilharam quando ela percebeu que era eu,
e agora tenho medo de repetir aquela imagem em loop pelo resto da
minha vida.
Estou tentando colocá-la na mesma categoria de todas as outras
mulheres que passaram pela minha vida. Mas não está funcionando.
Ela está rapidamente se tornando especial para mim, como algo raro
e precioso que você deseja colocar em um lugar seguro para nunca
perdê-lo.
É por isso que não posso olhar para ela hoje. Meus olhos precisam
ficar focados e alertas ao meu redor.
E então Annie ri de sua cabine, e como um maldito canto de sereia
na noite, eu viro à direita para ela. Meu olhar se demora, e eu não
entendo como apenas a visão de alguém pode ser tão boa. Deus, ela é
linda. Sem macacão hoje – o que é estranhamente decepcionante –
mas em vez disso ela está vestindo um par de jeans desgastados e uma
camiseta branca com o logotipo da loja nela. Seu cabelo está preso em
um rabo de cavalo, e algumas mechas caem e grudam em seu pescoço
por causa da umidade aqui fora.
Ela parece tão boa.
E soa bem.
E pela primeira vez em muito tempo, gostaria de não estar preso
aqui fazendo meu trabalho. Eu quero estar lá com ela. Quero saber
como foi o dia dela e se ela está se divertindo. Como a tatuagem dela
está cicatrizando e se ela se lembrou de passar loção nela hoje. Eu
quero tocar meus lábios em seu pescoço brilhante e provar o suor de
sua pele. Mas não posso, não só porque não é o tipo de
relacionamento que temos, mas porque estou de plantão agora.
Mas antes de desviar o olhar e me comprometer mentalmente a
não olhar para ela novamente pelo resto da tarde, pego meu telefone
e tiro uma foto dela rindo atrás de sua cabine. Estou juntando todas
essas fotos e vou enviar para ela quando sair da cidade porque a
mulher merece ter fotos bonitas de si mesma. Vou apagá-las do meu
telefone assim que enviá-las para ela. Eu vou. Eu realmente vou. Não
haveria razão para eu mantê-las depois de partir, porque vou seguir
em frente e voltar à vida normal. Não vou me permitir sentir falta de
Annie. Eu não vou.
Eu coloco meu telefone no bolso e me viro para assistir Amelia,
e...
Merda.
Eu a perdi de vista. Ela estava com Noah perto da barraca de
produtos e agora ela se foi, e Noah está com Annie. Cadê o cara da
mochila? Ele também se foi. A adrenalina me atinge enquanto meus
olhos examinam a multidão por trás dos meus óculos de sol. Eu
mantenho meu rosto neutro e tento projetar um comportamento
relaxado, embora por dentro eu esteja correndo em círculos e
pensando nos piores cenários. Mas a última coisa que preciso é que
alguém nos observando saiba que a perdi de vista.
De repente, recebo um tapa nas costas. Eu me viro e encontro
Amelia. Estou dividido entre suspirar de alívio e repreendê-la por ter
sumido de vista.
— Por que você está tão longe de nós hoje? — Ela pergunta com
as mãos nos quadris.
Eu estabilizo minha respiração e olho em volta novamente.
Sempre observando os perímetros. Eu errei agora mesmo perdendo a
cabeça por um segundo, e não vou deixar isso acontecer novamente.
— Você poderia, por favor, ficar onde eu possa vê-la o tempo
todo?
As sobrancelhas de Amelia se levantam quando ela detecta meu
tom curto.
— Claro. Mas sabe? Seria muito mais fácil me acompanhar se você
simplesmente ficasse próximo da gente.
Eu evito ranger os dentes.
— Não posso efetivamente fazer meu trabalho dessa maneira.
— Por que você está falando comigo como um robô?
— Porque — eu digo olhando ao redor da área novamente —,
estou trabalhando. Você nem deveria estar falando comigo agora.
Você vai chamar a atenção. — Eu tenho dois modos. Brincalhão e
sério. E apesar do fato de que eu amo socializar, amo flertar e adoraria
absolutamente cada segundo de passar o tempo no estande de Annie
com todos, estou trabalhando e, portanto, totalmente
comprometido com a seriedade.
— Estamos em Rome, Kentucky, Will. A ameaça é praticamente
zero.
— Praticamente sendo a palavra-chave aqui. Sua gerência não
teria me contratado se pensasse que a ameaça era zero.
Amelia suspira.
— Apenas venha ficar um minuto conosco. Eu me sinto estranha
por você ficar tão longe quando estamos todos lá.
— Por que diabos você se sentiria estranha? É assim que sempre
operamos em lugares como este.
— Sim, mas... as coisas são diferentes agora.
Ah... agora entendo.
Olho nitidamente para Amelia e depois para longe.
— Estou preocupado com você, Amelia. Você parece ter a ilusão
de que de repente sou uma pessoa diferente desde que cheguei a
Rome. Mas ainda sou muito eu – um APE fazendo seu trabalho até
ser liberado e enviado para um novo. Então, por favor, volte para lá e
saia com seu noivo e não desapareça de novo.
— Você está mal-humorado hoje.
Sim, estou mal-humorado hoje. Estou mal-humorado porque
errei no meu trabalho pela primeira vez em... desde sempre. E embora
nada tenha acontecido, estou bem ciente de tudo o que poderia ter
acontecido. A pior parte é que estou tentando o máximo que posso
para pegar essa raiva e projetá-la em Annie de uma forma que vai me
deixar com repulsa pela ideia e me fará querer me afastar. Mas eu não
posso. Em vez disso, estou apenas mais mal-humorado porque tenho
que me concentrar ainda mais agora e não ir até lá, puxá-la e beijar sua
boca rosada, parecendo rosa-melancia.
Uma grande parte de mim teme que seja assim daqui para frente.
Vou deixar Rome e minha atenção estará dividida entre onde estou e
me perguntando o que diabos Annie está fazendo? Isso não deveria
acontecer. Eu não deveria sentir essas coisas. Eu nunca senti antes.
Inutilmente, as palavras de meu irmão voam pela minha cabeça:
“Sou incapaz de fazer qualquer outra coisa”. É disso que ele estava
falando? Esse magnetismo intenso que meu corpo tem pelo dela?
Certamente é apenas desejo, e se finalmente fizéssemos sexo, ele iria
embora. Certo?
Mas e se não for? E se eu repreendesse meu irmão exatamente pelo
que estou começando a sentir por Annie?
— Além disso, esta é provavelmente a última vez que você vai ver
Annie por alguns dias — Amelia acrescenta como se estivesse tirando
uma carta da manga e jogando-a sobre a mesa. Ela tem uma expressão
presunçosa quando olho para ela.
— Por quê?
— Vamos para Los Angeles amanhã por três dias porque tenho
algumas entrevistas na televisão marcadas. Eu ia te contar no
caminho de volta, mas achei que deveria contar agora por que...
Somos interrompidos por nada mais nada menos do que a
aproximação do mochileiro. Eu imediatamente contorno Amelia,
interceptando sua abordagem.
— Posso ajudar?
Ele tem olhos ansiosos, indo e vindo entre Amelia atrás de mim e
meus óculos reflexivos. Aperto minha mandíbula e endireito meus
ombros, lendo sua linguagem corporal e mapeando mentalmente
oito maneiras diferentes de derrubá-lo, se necessário.
— D-desculpe incomodá-los, mas eu queria saber se eu poderia
tirar uma foto...
— Ela não está disponível para fotos hoje — eu digo,
interrompendo-o com finalidade.
Ele sorri timidamente.
— Não... desculpe. Eu não quis dizer com ela. Eu quis dizer com
você. Eu vi o artigo do BuzzFeed e sou um grande fã de... bem, seu
rosto. — Ele fica vermelho.
Atrás de mim ouço Amelia sufocar uma risada.
Bem, isso é inesperado.
— Obrigado, estou lisonjeado, mas tenho que recusar. Tenha um
bom dia.
— Eu entendo. — Ele se vira para ir embora e, em seguida, gira
brevemente. — Posso apenas tirar uma foto à distância?
Amelia espia ao meu redor.
— Sim, mas por favor, o fotografe apenas pela esquerda porque
esse é o lado bom dele. Tem que ter as tatuagens da foto.
Eu viro um olhar lento para Amelia. Ela ri. O cara aproveita esse
momento para tirar uma foto e sai correndo.
— Se eu não tivesse a tarefa de protegê-la agora...
Amelia me dá um sorriso que é o equivalente ao pequeno emoji
amarelo mostrando todos os dentes.
— Agora que a principal ameaça foi neutralizada, parece que você
pode dizer oi para Annie.
Eu inalo em uma respiração longa e lenta pelo nariz e viro meu
corpo para a multidão novamente.
— Você tem que parar com isso de bancar a cupido, Amelia. Você
só vai se decepcionar. Além disso — eu digo, olhando das entradas
oeste para sul — três dias não é nada. Definitivamente não é o
suficiente para me fazer comprometer sua segurança por falar com ela
antes de irmos.
Mas é o suficiente para eu sair furtivamente da Pousada de Mabel
depois de escurecer naquela noite e dirigir até a casa de Annie –
deixando minha caminhonete em uma rua paralela e depois cortando
gramados para chegar à janela dela.
Annie

Leves batidas soam contra a minha janela. A princípio, acho que é um


inseto tentando entrar, mas depois acontece de novo e de novo,
ficando um pouco mais alto a cada vez. Vou até a janela e espio pelas
cortinas, depois sufoco um grito com a mão. Tem um homem do lado
de fora da minha janela. Mas então registro os olhos azul-
acinzentados, as sobrancelhas escuras e a mão tatuada quando ele leva
um dedo aos lábios. É William Griffin.
Por que ele está do lado de fora da minha janela às dez horas da
noite? Pior ainda, estou toda confortável com meu pijama de estampa
de banana. Ele não pode me ver assim. Não parece que eu tenha
escolha, no entanto.
Silenciosamente destranco a janela e a levanto. O som dos grilos, a
sensação da noite úmida de verão e o sorriso perigoso dirigido a mim
se combinam para garantir que essa se torne a memória central mais
forte da minha vida.
— Oi — Will diz em pouco mais que um sussurro. — Posso
entrar? — Ele pergunta como se estar parado na minha janela fosse
perfeitamente normal. Me permita pegar seu chapéu e casaco, senhor.
— Hum, sim, claro, entre. — Dou um passo para trás e observo
com admiração como ele facilmente deixa cair uma perna sobre o
parapeito da janela, dobra seu corpo alto e abaixa a cabeça sob a
janela. Ele manobra o resto de seu corpo até que ele esteja aqui, de pé
no meu quarto comigo.
— Lembro que era mais fácil quando eu tinha dezesseis anos.
Meus olhos se arregalam.
— Você se esgueirava por janelas quando tinha dezesseis anos?
— Você não se esgueirava? — E então seus olhos caem para o meu
pijama e seu sorriso se alarga, confirmando a resposta a essa pergunta
para ele. — Você tem bananas em todo o seu pijama.
Eu limpo minha garganta levemente e me arrependo de todas as
minhas escolhas de vida.
— Uh, sim. Bem, eu não esperava companhia, então me preparei
para dormir como de costume.
Um pequeno sorriso toca sua boca, e então minha respiração fica
presa quando ele estende a mão e aperta a bainha da minha manga
entre os dedos de sua mão de borboleta.
— Sua roupa de dormir costuma ser com estampa de banana? —
Ele não diz isso de uma forma maldosa. Mais como uma curiosidade
do que qualquer coisa.
— Meu nome completo é Annabell. Então meus irmãos me
chamam de Annie-banana. Tenho uma gaveta inteira cheia de
pijamas com tema de banana. — E roupa íntima. — É basicamente o
único tipo de roupa de dormir que possuo. Isso é patético? Devo
queimar todas?
Sempre adorei meus pijamas de banana. Eu geralmente gosto de
quem eu sou como um todo, mas ficar aqui na frente do sombrio e
misterioso Sr. Tatuado me faz sentir a necessidade de me defender.
Questionar se essa é uma maneira estranha de viver como uma
mulher adulta ou não.
Will está olhando para mim como se estivesse atordoado
enquanto esfrega o polegar para frente e para trás delicadamente
sobre o tecido da minha manga. De vez em quando, seu polegar roça
meu pulso e me sinto como a manifestação física da eletricidade
estática.
— Annie-banana — diz Will calmamente. Ele não pôde deixar de
experimentar meu apelido pelo menos uma vez. Seus olhos saltam
para mim, e vejo algo convincentemente honesto neles. — Prometa-
me, não importa o que você decida mudar em si mesma, isso não será
uma das mudanças.
Deixo escapar um suspiro de alívio e então rio antes de perceber
sua expressão solene. Ele está falando sério. Nem um pouco rindo.
Ele quer que eu prometa que nunca vou parar de usar esses pijamas
de estampa de banana. Será feito um contrato a seguir?
— Ok, vou ficar com eles. — Estranhamente, algo em mim relaxa
e se acomoda de uma forma que normalmente não consigo com
outras pessoas. E então eu pergunto: — O que você está fazendo
aqui? E... como você sabia que este era o meu quarto?
Will solta a bainha da minha camisa e dá um passo para trás.
— Eu não sabia — diz ele com um sorriso torto. — Todos os
outros cômodos da casa estavam escuros, então pensei em tentar a
sorte com este primeiro. Foi uma aposta.
— O que você teria feito se este fosse o quarto de Emily ou
Maddie?
Ele dá de ombros.
— Fingiria estar bêbado e perdido.
Eu ri.
— Você realmente pensou nisso.
— Esteja sempre preparado – esse é o meu lema.
— E com o seu lema você quer dizer o lema dos escoteiros.
— Acho que foi aí que eu ouvi? — Ele faz uma expressão de
pensamento cético antes de se virar para se sentir em casa no meu
quarto. Ele não tem vergonha disso, andar por aí como se fosse o
dono do lugar. Talvez este seja o lado de guarda-costas dele que está
acostumado a revistar locais e inspecionar cada centímetro antes de
deixar Amelia entrar. Estranhamente, há algo divertido em observá-
lo enquanto ele examina preguiçosamente tudo dentro dessas quatro
paredes.
— Seu quarto é bonito — diz ele suavemente. Meus joelhos
fraquejam porque a palavra “bonito” saindo de sua boca parece a
justaposição mais sedutora. É dolorosamente terno e inocente – o
que combate vigorosamente sua aparência mundana e perigosa.
Calafrios dançam pelos meus braços, e eu culpo a noite. A
escuridão e o silêncio são os responsáveis pela intimidade agora. Pela
carga no ar e pelo jeito que não consigo respirar fundo. Para o calor
girando baixo no meu estômago que absolutamente não tem nada a
ver aqui. Não é Will fazendo nada disso acontecer, é apenas ciência.
Ou biologia. Ou... física. Basicamente qualquer outro assunto além
de Will!
Estou hipnotizada ao vê-lo cheirar o buquê de flores na minha
mesa lateral, passar os dedos sobre o cobertor macio no final da minha
cama, pegar as bugigangas na minha cômoda para examiná-las de
perto antes de colocá-las de volta com cuidado. Ele é tão tátil. Imagino
que ele toque e sinta seu caminho pela vida, ao passo que
normalmente mantenho minhas mãos exatamente onde estão agora
– seguramente escondidas atrás de mim, sozinha no canto do quarto.
Mas então Will pega a foto emoldurada na minha cômoda – a
última foto tirada de toda a minha família antes de meus pais
morrerem – e meus pés se movem em sua direção. Ele olha para baixo
e eu sei o que ele está vendo: três crianças felizes alinhadas na frente
de dois pais radiantes; e eu, com apenas três anos, no colo da minha
mãe e sorrindo para ela em vez de para a câmera.
— Essa é a última foto que foi tirada.
Will olha para mim por cima do ombro e seu olhar prende o meu.
— Sinto muito, Annie.
Eu dou de ombros.
— Foi há muito tempo.
— Mas tenho certeza de que ainda dói.
Eu respiro, tentando afastar a onda repentina de emoções que suas
palavras arrancam de mim. Não quero chorar na frente dele. Na
verdade, eu não choro na frente de ninguém. Então eu pisco, e pisco
um pouco mais até que a ameaça de choro se foi.
— Às vezes.
Ele abaixa a moldura e olha para mim. Estou com medo de que ele
pergunte se estou bem, o que realmente espero que não, porque vou
chorar com certeza. Geralmente sou eu quem conforta minha família
– o que, honestamente, é bom porque é um papel que escolhi
quando era muito jovem e meus irmãos estavam desmoronando e eu
não entendia bem por quê. Eles conheciam meus pais melhor do que
eu – então se tornou meu trabalho autodenominado diminuir a dor
deles. Eu poderia abraçá-los. Eu poderia fazê-los se sentirem melhor.
Eu poderia ter certeza de que nunca faria nada para aumentar a
preocupação deles. E então isso, por sua vez, me fez me sentir melhor.
Mas um efeito colateral de ser aquela que ouve e conforta é que as
pessoas raramente se oferecem para me ouvir ou me confortar. Vivo
assim há tanto tempo que não tenho certeza se seria boa em me
expressar, mesmo que me pedissem.
Justo quando penso que Will vai me fazer falar sobre meus
sentimentos, ele segura levemente meu bíceps, me puxando para seu
peito. E é isso. Sem perguntas instigantes. Ele envolve seus grandes
braços em volta de mim e me segura aqui no meu quarto até que meu
corpo derreta contra o dele. É tão bom ser abraçada por ele. E inalá-
lo e sentir seu coração batendo contra o meu peito. Bom demais.
E então ele pressiona seus lábios na minha testa e meu coração
inteiro se contrai.
— O que você está fazendo aqui, Will? — Pergunto quando não
aguento mais a doçura disso. É muito confuso.
Ele me solta.
— Vou sair da cidade por alguns dias com Amelia a trabalho. —
Estou surpresa com o quão decepcionada me sinto com esta notícia.
O que é ridículo. Absolutamente absurdo.
Ele continua:
— E percebi que não tenho o seu número de telefone.
— Oh.
— E eu pensei que deveria tê-lo...
— Você pensou?
Ele balança a cabeça, ainda me observando.
— Caso... você tenha alguma dúvida relacionada as aulas.
— Certo. — Eu dou um aceno firme. Faz sentido. Senso perfeito.
— Onde está o seu telefone? Vou colocar meu número nele.
Ele o tira do bolso de trás da calça jeans e me entrega. Algo sobre
segurar o telefone de Will parece tão... pessoal. Mais pessoal do que
qualquer coisa que ele já me deixou ver antes. Sua tela de bloqueio é
uma foto de uma vista do topo de uma montanha e seu plano de
fundo é uma foto de um oceano. Obviamente são fotos que ele tirou
em suas aventuras – e de repente o desejo de saber tudo sobre essas
viagens me domina. De vê-lo parado nesses lugares e presenciar o
sorriso em seu rosto quando chegasse ao seu destino final. Talvez até
de ir com ele em uma dessas aventuras.
Em vez disso, crio um novo contato, digito meu número e
rapidamente devolvo o telefone. Ele franze a testa levemente para o
nome do contato e exclui Annie Walker e o substitui por Annabell.
Não vamos nem reconhecer o friozinho obsceno que percorre meu
estômago quando ele faz isso.
Em uma tentativa de me sentir normal e não zumbir com a
consciência física, volto para a janela e a abro novamente.
— Ok, bem, agora que você tem meu número, sinta-se à vontade
para... — minhas palavras desaparecem quando me viro e encontro
Will tirando os sapatos e se sentando na minha cama — ... ficar.
Will se inclina contra a minha cabeceira, sapatos tirados, pernas
longas esticadas e um tornozelo cruzado sobre o outro. Will está na
minha cama.
Na. Minha. Cama!
— Está tudo bem? Se eu ficar? — Ele diz com a confiança de um
homem que já sabe a resposta.
Eu adoraria surpreendê-lo e expulsá-lo. Não, você não pode ficar!
Pode cair fora!
Sim, isso não está acontecendo. Eu o quero aqui mais do que já
quis qualquer coisa antes.
— Claro. Mas por quê?
Ele veio aqui para conseguir o meu número de telefone, e ele
conseguiu. Tarefa cumprida. Ele deve ir embora.
Will sorri para mim, confuso.
— Para ficar com você.
— Repito, por quê?
— Porque é divertido ficar com você.
Eu tenho que pressionar meus lábios e desviar meu olhar, então
eu puxo a cadeira da minha mesa e me sento para que ele não veja
como minha alma irradia com essa resposta.
— Você vai ficar aí? — Ele pergunta.
Eu olho para seus olhos brilhantes brincalhões.
— Não é bem “aqui”. Você faz parecer que preciso de um mapa.
— Annie. — Seu tom é gentilmente inquisitivo. — Algo está
errado?
Pisco e balanço a cabeça. Não. Eu estou bem. Tudo está ótimo, devo
dizer. Minha cabeça não está girando. Meu coração não está
martelando e minhas mãos não estão suando. Isso é totalmente
normal. Will e eu estamos apenas saindo. Sem propósito. Nenhuma
prática específica. Apenas... dois amigos em um pequeno quarto
juntos para se divertir.
— Estou te deixando nervosa por estar na sua cama, não é?
Eu faço uma careta porque eu realmente preciso que ele pare de
fazer isso, de ler minha mente tão facilmente.
— Não é isso... — Eu me interrompo antes de tentar mentir e
perceber que ele saberá. Ele vai me ler imediatamente, como sempre
faz. — Tudo bem. Sim, acho que isso está me assustando um pouco.
— Eu gesticulo entre nós. — Eu não sou boa em tudo isso, lembra?
— Tudo isso?
— Sim... a socialização. Amizade. Encontros secretos tarde da
noite. — Faço uma pausa e adiciono baixinho. — Homens na minha
cama.
— Certo. Bem, para sua sorte, há apenas um homem em sua cama
esta noite. Os outros não estarão aqui até amanhã. — Nós dois
sorrimos. — Sério. Sou só eu. Não precisa ficar nervosa. Mas se você
quiser que eu saia, eu irei. Eu nunca quero deixar você desconfortável.
Eu penso sobre isso por um minuto, explorando como eu me
sentiria se ele fosse embora agora. Eu me imagino vendo-o partir e
depois ficando deitada acordada a noite toda imaginando o que teria
acontecido se eu o tivesse deixado ficar. Sinto o desapontamento tão
intensamente que é como se já tivesse acontecido.
— Não vá.
O peso dessas palavras paira no ar entre nós e elas não se
acomodam. Elas levantam questões e implicações como uma
tempestade.
Desta vez, tenho o prazer de ver Will se contorcer. Ou o mais
próximo que ele provavelmente chegará de se contorcer. Ele engole,
pigarreia levemente e então desvia os olhos – procurando.
Infelizmente, eles pousam no livro que deixei aberto na minha cama.
Ele o pega e, para meu horror, começa a lê-lo bem na minha frente.
Inaceitável. Porque sei o que estava escrito na página que eu lia
quando ele chegou: o primeiro beijo do casal. E isso pode soar doce,
mas isso é apenas se você nunca leu um romance de época antes.
Eu sabia que esse beijo estava chegando e queria estar confortável
e aconchegada na cama antes de lê-lo, então larguei o livro e me
levantei para me trocar e escovar os dentes. E agora Will está lendo...
diante de mim. E se for muito picante? E se houver conversa suja? Oh
meu Deus, e se houver outras coisas?
Preciso pensar em uma maneira discreta de distraí-lo. Algo
realmente casual e fácil para que ele deixe o livro de lado, mas não
suspeite.
— Pare de ler! — Eu deixo escapar.
Super. Realmente discreto.
Os olhos de Will se movem para mim, e então um sorriso que eu
conheço muito bem se espalha em seu rosto. Seus dedos agarram a
capa com um pouco mais de força.
— Por que, Annabel? Algo errado comigo lendo este livro? —
Suas sobrancelhas se erguem.
— Wilton, largue o livro.
Sua expressão diz isso: sem chance.
E então – o idiota – volta os olhos para a página e começa a ler. Em
voz alta.
— ‘Um grunhido soou do fundo da garganta do Capitão Cutler
enquanto ele olhava para a boca carnuda e erótica de Lady Eloise...’
Sem pensar, pulo na cama.
— Oh meu Deus, nossa, pare de ler! — Eu tento gritar em um
sussurro para Will, que então pula do outro lado da cama.
Rindo de suas próprias palavras, ele continua.
— ‘Se ele não a agarrasse ali mesmo, ele tinha certeza de que iria
morrer’ — Will lê enquanto se movimenta ao redor da minha cama
para fugir de mim. Ele levanta o livro acima de sua cabeça. — Tão
dramático, esse capitão. Quero dizer, conheço a sensação, mas nunca
pensei que morreria por causa de uma ereção antes.
— Oh meu Deus! Não diga ereção!
— Tesão então? — Ele fornece – sabendo muito bem que essa
palavra não é melhor – enquanto faz um movimento giratório para
me contornar e abaixar o livro para continuar lendo. — ‘Seus seios
erguiam-se acima do corpete de seu vestido, e o capitão Cutler sabia
que ela também o queria.’ — Ele faz uma pausa de novo, tempo
suficiente para eu bater nele como um linebacker e deitá-lo de costas
no colchão. Ele ri mais forte, os olhos brilhando perigosamente, e
estende o livro acima de sua cabeça o máximo que pode enquanto eu
rastejo sobre ele para agarrá-lo. — Vejo muitas red flags de
consentimento em nosso querido capitão. Um homem nunca deve
presumir que uma mulher o quer.
— Ele é um pirata! Ele está acostumado a saquear e assassinar! Não
tenho certeza se consentimento está no radar dele!
— E isso faz com que esteja tudo bem? — Ele pergunta, ainda
rindo das minhas tentativas de pegar o livro.
— Não, definitivamente NÃO. Na vida real eu ficaria
horrorizada. Mas isso é um livro. E os livros são... diferentes. — Essa
última palavra sai como um grunhido enquanto consigo agarrar o
livro e bravamente arrancá-lo de sua mão. Eu seguro-o sobre minha
cabeça, respirando como se tivesse acabado de terminar um triatlo.
Eu sorrio vitoriosamente. — HA, você perdeu!
E então nós dois percebemos que estou sobre ele.
Annie

Meu sorriso morre lentamente conforme a diversão no ar se dissipa e


a realidade cai sobre mim. Will está atualmente deitado de costas, e
minhas pernas estão de cada lado dele. Na minha cama. Seu rosto fica
sério quando nossos olhos se conectam. Calor e algo feroz que estou
com medo de admitir que é desejo passa por mim. As mãos de Will
ainda estão acima de sua cabeça, e meus olhos caem para onde a parte
de sua manga curta se amontoa sobre seu ombro, provando que suas
tatuagens continuam além de seu bíceps. Mas quão longe? Para qual
finalidade? Eu preciso saber.
Os olhos de Will brilham, sabendo exatamente o que estou
querendo.
— Vá em frente.
Eu brevemente olho em seus olhos, me certificando de que ele
realmente me deu permissão. Ele acena com a cabeça uma vez. E
então, com as mãos trêmulas, escovo a bainha de sua camisa antes de
segurá-la o mais levemente possível para a empurrar para cima.
Lentamente, sua pele é revelada como uma cortina subindo para
exibir uma instalação de arte de um milhão de dólares. Um abdômen
firme, liso e definido, seguido por um peito esculpido e – suspiro! –,
uma amostra de folhagem pintada em seu peitoral esquerdo. Ele
flexiona levemente os músculos do estômago, e não tenho certeza se
é uma tentativa de me impressionar ou porque minhas mãos estão
frias. De qualquer maneira, é uma visão e tanto.
Will se senta abruptamente, e minha respiração fica presa quando
temo que ele vá me afastar ou dizer que está ofendido por eu ser tão
ousada e atrevida.
Mas ele não me afasta.
Ele levanta os braços no ar para que eu continue tirando a camisa
completamente de seu corpo. Uma emoção me percorre.
Quando a tira, Will e eu estamos cara a cara, e seu torso, ombros e
peito nus também estão aqui. Pele. Pele masculina quente aqui para
eu tocar. Eu levanto minha mão para pressionar em seu peito e hesito.
Minhas mãos tremem e meus nervos me dizem que isso é errado. Eu
não deveria ser capaz de fazer isso ou de me divertir. Eu sou Annie
Walker! Annie Walker é doce. Annie Walker nem deseja esse tipo de
encontro. Annie Walker é...
A mão de Will cobre a minha enquanto ele a pressiona contra sua
pele. Eu desisto e fecho meus olhos de como isso é incrível. Mas agora
tudo que eu quero é mais. Lentamente, minhas mãos memorizam a
sensação de sua pele tatuada e se maravilham com o fato de ela ter
uma textura – uma memória. Eu deslizo meus dedos delicadamente
para cima e sobre seu ombro, parando para sentir sua clavícula
proeminente ao longo do caminho e, em seguida, a curva de seu
pescoço até a parte de trás de seu cabelo rebelde. O rosto de Will se
vira e sua mandíbula pressiona na palma da minha mão. Algo está
acontecendo entre nós e sou incapaz de impedir.
Suas mãos estão em meus quadris agora, fixas ali, imóveis.
— Annie... — Will diz calmamente. — Eu preciso te perguntar –
você é virgem, não é?
A verdade cai entre nós.
Eu engulo e desejo mais do que qualquer coisa que eu pudesse
mentir. Ou talvez eu não deseje isso.
— Sim. Como você sabia?
— Bem — diz ele com um sorriso torto. — Por um lado, sua
reputação. E por outro... o jeito que você me beijou na outra noite.
— Ele faz uma pausa e estou com medo de que ele diga que sabia de
como estava ruim. Como era inexperiente. Mas então os cantos de
sua boca se curvam e seu aperto aumenta. — Você foi tão receptiva,
como se estivesse experimentando a paixão pela primeira vez. Foi
incrível.
Meu rosto esquenta e eu deixo meu olhar cair. Mas Will toca meu
rosto, inclinando-o de volta para ele.
— Existe uma razão para você estar esperando?
O silêncio nos cerca, mas não me sinto desconfortável. Eu me
sinto completamente segura com Will, como sempre me sinto. Eu
normalmente evito esse tópico a todo custo porque, honestamente,
é embaraçoso; mas agora que está aberto com ele, não sinto nada além
de alívio.
— Eu estava esperando porque estava com muito medo. — Eu
digo essas palavras em voz alta pela primeira vez na minha vida, nunca
sabendo realmente até este momento o motivo. — Na verdade, nem
tenho certeza se medo é a palavra certa. Eu simplesmente nunca
conheci ninguém que me fizesse sentir segura o suficiente para
compartilhar essa parte de mim com eles.
Sempre me fizeram sentir que minha virgindade era bobagem –
não que meus irmãos tenham dito isso com tantas palavras, mas eles
disseram isso nas pequenas piadas sobre o quão angelical eu sou.
Como sou a única de nós que provavelmente passará pelos portões
perolados. Como se, de alguma forma, minha necessidade de esperar
fosse apenas eu tentando provar que era mais doce e mais santa do
que todos os outros, porque não sucumbo aos desejos e necessidades
como todo mundo.
Will não faz isso. Ele acena com a cabeça, parecendo entender que
sempre foi mais sobre proteger a mim e minhas emoções do que
provar qualquer coisa para os outros.
Os olhos de Will caem para a minha boca.
— Intervalo? — Ele diz baixinho, e meu estômago revira. Os sons
constantes de nossa respiração são a única trilha sonora do momento.
— Intervalo.
— Se você quiser beijar de novo, Annie, eu quero. Pegue o quanto
quiser, e vou manter minhas mãos aqui — ele agarra meus quadris
novamente — a menos que você me diga para movê-las.
Encho meus pulmões de ar – sentindo e sabendo que este é um
momento crucial em minha vida. A pergunta que tenho medo de
responder é por que me sinto segura o suficiente para considerar levar
isso adiante com Will quando sei que ele não estará aqui para sempre?
Quando sei que com ele só pode ser paixão e nada mais. Eu não
deveria querer isso com ele porque não há opção de felizes para
sempre e bebês e cercas brancas.
E ainda...
Meus olhos percorrem seu peito, ombros e pescoço, e então
decido dar um salto.
— Você pode movê-las.
Quatro pequenas palavras. Palavras mortais. O desejo puxa as
cordas em meus dedos e os levanta para sua cintura passando por seu
abdômen com uma leve pressão, mas ainda sinto suas costelas se
expandirem sob minha mão. Ele fica absolutamente imóvel. Estou
tremendo e nervosa enquanto deslizo minhas mãos mais para cima,
seguindo a trilha que meus olhos e dedos abriram um momento atrás.
Eu nunca senti nada como sua pele quente antes.
— Sempre guardo minhas mãos para mim mesma porque
ninguém espera que eu queira nada disso — digo mais como uma
constatação do que como uma afirmação. — Mas com você... — Eu
franzo a testa contemplativamente, deixando minha declaração
balançar.
— Me beije, Annie. Por favor.
Sua voz, crua de desejo e contenção, excita partes de mim que eu
não sabia que existiam.
Antes que eu perca a coragem, eu me inclino para frente e
pressiono meus lábios nos dele. Nós já nos beijamos antes, mas isso é
diferente. É íntimo e carregado. No momento em que nos
conectamos, estou perdida na escuridão por trás das minhas
pálpebras e no desejo que se acumula em meu corpo. Seus lábios são
quentes e macios. Ele não muda o ritmo, apenas responde aos meus
beijos suaves. Explorando pequenos passos. Não é que eu seja uma
completa amadora quando se trata de beijar, é que eu sou uma
amadora em beijar Will. E se esta é a última chance que recebo, quero
fazer valer a pena e não apressar um único segundo.
Eu me afasto para olhar para ele, ele me encara de volta, e então eu
me inclino novamente, olhos abertos – beijo. Eu afasto mais uma vez,
noto o olhar ardente por trás de suas írises cinza-azuladas, me inclino
e beijo novamente. Ele sorri levemente após o terceiro beijo, pegando
meu padrão. Ele levanta uma sobrancelha antes de ser o único a se
inclinar neste momento. Ele me beija e demora, inclinando e
persuadindo. Aqui. É ainda melhor assim.
Meus olhos se fecham novamente e eu aprofundo o beijo.
Ele se afasta e nossos lábios se abrem lentamente, como se não
quisessem se soltar. E desta vez, quando vou para o beijo, e também
me demoro. Eu inicio um novo ritmo – algo mais profundo e mais
explorador.
Eu deslizo meus braços ao redor de seu pescoço para que meu
peito fique pressionado contra o dele. Eu quero (preciso) chegar mais
perto. Minha consciência está girando lentamente para longe de mim
enquanto me perco neste beijo, e me agarro a ele como se minha vida
dependesse disso.
E então, pela primeira vez, as mãos de Will deslizam de meus
quadris sob minha camisa para espalmar em minhas costas nuas. Elas
me puxam ainda mais para perto, com seus polegares ásperos
deslizando sobre minha pele macia. Nunca me senti tão viva quando
Will me abraça e me beija – respirando profundamente de vez em
quando, como se ele amasse meu cheiro.
Eu estou aterrorizada. Entusiasmada. Embaraçosamente carente.
A boca de Will deixa a minha para beijar meu queixo e depois meu
pescoço. Minha cabeça inclina-se para trás e suas mãos percorrem
minhas coxas e meu traseiro, onde ele segura minha bunda e me puxa
para ele. Eu suspiro e ele o pega em sua boca. Uma linha tênue se
rompe e estamos perdidos.
Will me segura forte e nos vira para que ele esteja pairando sobre
mim e minhas costas estejam contra o colchão. Meu pulso bate forte
em meus ouvidos, o calor está inundando cada canto do meu corpo
enquanto os beijos de Will se estendem a qualquer parte da pele
exposta que ele pode encontrar, como meu pescoço. O V de pele
espreitando da parte de cima do meu pijama. E então a pequena seção
de pele no meu abdômen onde minha blusa subiu. Bem quando
penso que posso desmaiar de puro êxtase com isso, Will pergunta:
— Por que você está sorrindo?
Balanço a cabeça e o puxo para que fiquemos cara a cara
novamente.
— Eu apenas me envergonhei com meu próprio pensamento.
Os centros negros de seus olhos crescem.
— Diga.
Eu mordo meu lábio e digo a mim mesma que não há como voltar
atrás agora.
— Eu só estava pensando se você talvez... me beijasse...
apaixonadamente — eu pergunto, mal pronunciando as palavras e
me sentindo tão envergonhada por elas que eu poderia entrar em
combustão. — De forma menos controlada. Eu posso sentir você se
segurando... e eu não quero que você se segure.
Ele olha para mim, sua mecha de cabelo rebelde caindo sobre sua
testa e suas tatuagens escuras competindo com a borda perfeita e
perigosa em torno de suas írises. E então, como uma correnteza me
engolindo por inteira, sua boca se inclina sobre a minha e toma tanto
quanto dá. Eu faço um som e ele faz um som, e acho que posso
morrer de tão maravilhoso que isso é – de quanto mais eu preciso.
Não me importo com nada além de pegar tudo que Will quer me dar.
E é aí que percebo que nunca mais poderei me contentar com
simplesmente agradável, macio e estável. Quero dizer, sim, ainda
quero essas coisas. Mas eu também quero isso. O perigoso,
descontrolado e exigente. Como eu pensei que não precisava disso?
Eu agarro suas omoplatas e me afasto surpresa.
— Suas tatuagens estendem-se pelas costas! — Eu espreito e fico
encantada ao ver que essas lindas flores envolvem completamente seu
ombro.
Os olhos de Will estão desfocados quando ele olha para mim,
descansando em seu antebraço e empurrando meu cabelo para trás
do meu rosto com a outra mão.
— Você estava se perguntando?
— Todas as noites desde que te conheci — eu digo solenemente.
— Às vezes não consigo dormir porque fico aqui imaginando onde
elas terminam.
Ele olha para mim, mal respirando.
— Eu não esperava por isso.
E então sua cabeça abaixa e rapidamente toma minha boca para
um beijo tão íntimo, tão exigente, tão febril que meus dedos dos pés
se enrolam e minhas pernas se prendem nas dele. Sua língua separa
meus lábios e desliza sobre a minha até que sou consumida por ele, e
tudo que eu sabia sobre mim desaparece e começa a redesenhar novas
linhas. Eu quero mais. Quero tudo.
Enquanto nos beijamos, as mãos de Will se atrapalham com os
botões da minha camisa, começando de baixo e subindo. Só resta um
quando pego sua mão.
— Espere. Intervalo acabou.
Ele faz uma pausa imediatamente e se afasta.
— Ainda não estou pronta — eu digo com pressa nervosa. —
Sinto muito... pensei que estaria, mas quando as coisas começaram a
progredir...
Will imediatamente segura meu rosto, me interrompendo.
— Não se desculpe. Nenhuma explicação necessária.
— Eu me sinto mal.
— Não. — Ele se ajusta deitando de lado, descansando em seu
antebraço e então usando sua mão livre para puxar minha mão para
sua boca. Ele beija meu pulso interno com uma ternura que chega até
minha alma. — Você não me deve, nem a ninguém, nada, Annie.
Apenas beijar você é um presente. Um que... — Suas sobrancelhas se
juntam e ele faz uma pausa, brincando preguiçosamente com meus
dedos. Quando ele olha para mim novamente, vejo algo tão cru em
seus olhos que nunca esperei ver: medo.
Nunca fiquei sabendo o que ele ia dizer. Espero que Will vá
embora, mas ele suspira e me puxa para descansar minha cabeça em
seu peito, me segurando com tanta força que parece que está com
medo de que eu vá voar para longe.
Will

A luz fraca atinge a parte de trás das minhas pálpebras e eu solto uma
inspiração rápida. Dormi que nem pedra. Que nem morto. Que
nem... eu não estou sozinho.
Merda, merda, merda.
Abro meus olhos para a visão de bananas e cabelos loiros. Annie
está aninhada perto de mim, a perna sobre a minha, a cabeça na curva
do meu ombro nu e a mão espalmada no meu peito. Ela está
respirando profundamente – totalmente adormecida. Devemos ter
caído no sono juntos depois de... Droga, eu nem sei como chamar a
noite passada. Definitivamente não foi apenas um beijo. Foi
devastador.
Isto não é bom.
E por isso não ser bom, quero dizer que toda a situação não é boa.
Estou surtando. Há muita coisa acontecendo dentro de mim com a
qual não sei o que fazer. Estou sentindo coisas por Annie que nem
sabia que era capaz de sentir. Normalmente, nessa altura, estou
entediado em um relacionamento. Isso não é nem mesmo um
relacionamento com Annie, e há uma batalha dentro de mim devido
a necessidade de ser mais para ela. Estar sempre por perto quando ela
precisar de mim. Para ser o tipo de homem que nunca me vi sendo
modelado enquanto crescia.
E ainda assim: eu posso confiar nisso? Posso confiar em me
entregar a ela? Será que ela iria querer um homem como eu com tanta
bagagem e decepções para compartilhar uma vida dentro de sua cerca
branca? Eu me sinto o maior hipócrita vivo por desejar mais com
Annie quando acabei de dizer ao meu irmão para terminar tudo com
a mulher que ele ama. Mas eu não percebi...
Talvez haja esperança para nós.
Ou talvez eu devesse dar um passo para trás e pensar sobre isso sem
essa mulher linda deitada ao meu lado.
Foi uma má ideia voltar a Rome. Deixar Annie me tocar. Me
beijar. Me virar do avesso. Foi muito mais fácil quando pensava que
não gostava de ter um relacionamento e que não queria correr o risco
de acabar em uma posição semelhante à dos meus pais. Por que que
outra opção existe para alguém que suportou dezoito anos de um
casamento cheio de ódio entre seus pais? Quando infidelidade e
abuso emocional eram tudo o que eu via? Não havia ternura. Não
havia paciência. Havia insultos e reprimendas severas e eu me
perguntando se aquela noite seria a noite em que toda a gritaria deles
terminaria com meu pai batendo na minha mãe ou ela nos deixando
para sempre para dormir com outro cara.
Mas nenhuma dessas coisas aconteceu. Ethan e eu estávamos
sempre esperando à beira do precipício por algo terrível – nos
perguntando quando isso aconteceria. Nunca aconteceu – e acho
que sou grato por isso. Em vez disso, o casamento deles fracassou de
uma forma nada esperada que me levou a acreditar que talvez o que
eles tiveram fosse apenas normal. Eles se divorciaram depois que
Ethan e eu saímos de casa e agimos como se todo o inferno que eles
nos proporcionaram nunca tivesse acontecido. Como se eu nunca
tivesse me tornado um homem que evita relacionamentos reais a todo
custo, porque tudo o que conheci foram relações dolorosas. Um
homem que, de forma alguma, confia em si mesmo com uma mulher
tão boa, esperançosa e adorável quanto Annie.
Até eu a conhecer e tomá-la em meus braços, nunca pensei que
pudesse ser capaz de tanta ternura. E não estou falando de sexo. Estou
falando de conversas ternas. Palavras ternas. Uma terna compreensão.
Mesmo a maneira como ela respira contra o meu pescoço enquanto
dorme é terna – e eu quero isso. Tudo isso. Só não tenho certeza se é
sustentável ou se quero descobrir que não é. Desde que percebi que
poderia subir naquela árvore de magnólia no meu quintal, tenho sido
muito bom em me proteger e evitar qualquer coisa que possa me
causar mais dor.
A mulher que estou segurando tem o potencial de causar mais dor
do que qualquer outra pessoa. E eu com certeza posso fazer o mesmo
com ela. Não tenho ideia de para onde ir a partir daqui.
Por enquanto, preciso me mexer. O sol ainda é suave e quente,
apenas começando a nascer, o que significa que é por volta do meu
horário habitual de acordar cedo. Se eu apressar, ainda posso sair
daqui sem que ninguém perceba. Talvez antes mesmo de Annie
perceber.
Mas quando olho para baixo, tentando avaliar a melhor maneira
de me desvencilhar dela, em vez de me afastar, observo meus dedos se
curvarem com mais força ao redor de seu corpo. Percebo tudo em
Annie que não deveria. Como a forma como os cílios dela se curvam
nas pontas e são loiros no início. Como ela tem muitas pequenas
sardas na ponta do nariz. E percebo a forma como ela encaixa em mim
perfeitamente. Sinceramente, não pensei que Annie fosse uma pessoa
que se aconchega. "Eu sempre mantenho minhas mãos para mim
mesma..., Mas com você..." Suas palavras ecoam alto na minha cabeça.
Ela está completamente em cima de mim, jogando seu peso em
mim da maneira mais incrivelmente afetuosa. Eu mantenho meus
dedos leves contra seu lado, embora eu queira enrolá-los no adorável
tecido estampado de banana de seu pijama e, em seguida, começar a
retirá-los um por um. Quero girá-la e acordá-la com beijos no pescoço
e na barriga. Eu quero beijá-la e não parar.
Hora de levantar, Will. Vaza! E ficar longe até que eu possa
pensar com clareza novamente. E eu absolutamente não posso ser
aquele a tirar a virgindade dela. Não apenas porque complicaria as
coisas com Amelia e meu trabalho com ela, mas com certeza porque
estarei fora daqui até o final do mês (assim que eu conseguir que
Amelia concorde com isso) e depois irei para Washington, D.C. Vai
ser um trabalho de alto estresse, alto risco e ritmo acelerado. Meu
favorito. Não há tempo para criar raízes ou cultivar relacionamentos.
Com cuidado, deslizo me afastando de Annie e simultaneamente
puxo o travesseiro para o lugar onde meu ombro estava segurando sua
cabeça erguida. Ela não se move ou se mexe. Por mais que ela odiasse
ouvir isso, ela parece um anjo adormecido com seus lábios rosados
relaxados formando um beicinho e seus cílios curvando contra sua
bochecha. Seu cabelo está meio preso, meio fora do coque que ela
estava usando ontem à noite, e de alguma forma isso torna a visão
ainda mais atraente.
Eu me levanto da cama, movendo um pouco meus ombros em
alguns círculos para aliviar um pouco da tensão. O sol está mais alto
agora, e isso me estimula a sair pela janela e voltar para o meu SUV na
rua antes que alguém perceba. Quando chego à janela, levanto a
vidraça o mais silenciosamente possível, feliz por não ranger ou
arranhar. Deixo cair minha perna para o lado exatamente como entrei
e paro apenas o tempo suficiente para olhar para Annie mais uma vez.
Prendo a respiração quando percebo que ela está de frente para
mim agora, olhos abertos, sorrindo suavemente. Ela não diz nada,
nem eu. Seus olhos azuis brilham ao sol da manhã, e as imagens mais
domésticas passam pela minha cabeça: dela servindo uma tigela de
cereal, eu enchendo com leite e depois ela sentada no meu colo
enquanto comemos juntos na mesa – porque eu sou um filho da puta
pegajoso assim. Isso é tudo errado. Esse não é o tipo de fantasia que
eu deveria ter sobre ela. Deveria ser tudo sexual. Tudo primitivo e
fugaz. Em vez disso, estou esfregando meu peito e dizendo a mim
mesmo para dar o fora daqui antes que acidentalmente a convide para
tomar um café comigo na varanda enquanto o sol nasce.
Dou um último sorriso para Annie e depois saio por sua janela, a
fechando atrás de mim.

Ainda não posso voltar para o meu quarto até ter certeza de que
Mabel se foi. Ela estará rondando a recepção esta manhã esperando
para pegar Terry preguiçosamente jogando o jornal no gramado em
vez de na varanda da frente. Então faço um desvio até a lanchonete
para tomar um café antes de voltar, esperando até que Mabel saia para
sua caminhada das nove horas pela cidade.
Quando chego perto da lanchonete, estaciono no estacionamento
comunitário e começo minha caminhada pela cidade em direção a ela.
Meus olhos estão abertos e estou pronto para alguém aparecer e
tentar me vender algo do qual não tenho interesse, mas, felizmente,
está quieto. Não há narizes encostados nas janelas, nem olhos
espiando pelos cantos, ninguém realmente à vista.
A lanchonete está vazia, exceto por Noah, que está sentado no bar.
Ele vem aqui quase todas as manhãs para tomar café antes de ir até A
Loja das Tortas e fazer ainda mais café. Sento na segunda banqueta
depois dele assim que Jeanine irrompe pela porta, corre de volta para
trás do bar, então joga o avental sobre a cabeça com um sorriso
gigantesco.
— Bom dia, queridos!
Nós dois acenamos para Jeanine, e fazer o mesmo que Noah
parece estranho.
— Estão tendo um bom dia? — Pergunta Jeanine.
Nós dois resmungamos uma resposta.
Jeanine pega seu bloco de notas e caneta e os enfia no bolso.
— Certo. Ok, então o de sempre para Noah: café, preto como
carvão. E quanto a você, Will? — Ela levanta as sobrancelhas para
mim e joga seu longo cabelo ruivo sobre o ombro, esperando minha
resposta.
Eu olho para Noah e de volta para Jeanine, desejando não ter que
fazer meu pedido com ele ouvindo.
— Uh, café também.
— Preto?
— Sim. — Eu me inclino ligeiramente para a frente. — Com
creme e açúcar.
Percebo o sorriso de Noah.
— Cale a boca — eu digo a ele e ele levanta as mãos.
— Eu não disse nada.
— Seu sorriso disse sim. É sexista da sua parte pensar que não
posso ser viril e também gostar de creme e açúcar.
Noah vira os olhos para mim, ainda mantendo um olhar de
completo desinteresse.
— Não posso trabalhar em uma loja de tortas, usar avental todos
os dias da minha vida e também ser machista.
— Estou começando a achar que é tudo fachada. Você e seu café
preto como carvão são machistas para caralho.
Jeanine ri e se vira para a cafeteira para servir nossas bebidas.
— Vocês dois não são apenas raios de sol esta manhã? — Jeanine
passa primeiro o café preto de Noah para ele e depois o meu para
mim. — Noah está sempre mal-humorado, então isso não é novidade
— diz ela, se inclinando sobre o balcão para ficar cara a cara comigo.
— Mas você sempre tem um sorriso para mim. Cadê meu sorriso,
Will?
Ela não está dando em cima de mim – eu acho. É apenas Jeanine.
Ela é naturalmente paqueradora, e as pessoas naturalmente
paqueradoras geralmente são atraídas por mim. Provavelmente
porque eu sou uma delas. Aprendi desde cedo: pessoas paqueradoras
são amplamente amadas, e meu negócio é conseguir o amor de todos
que posso desde o dia em que fui para a escola e disse a Teressa
Howard que ela ficava bonita com sua camiseta de Lisa Frank, e ela
me abraçou. Fazia semanas que eu não era abraçado, e ainda me
lembro de me sentir tão bem.
Eu tomo um gole do meu café e sorrio com a caneca na boca – não
estou me sentindo assim hoje.
— Desculpe, Jeanine. Noite longa.
Seus olhos brilham e ela levanta uma sobrancelha antes de
levantar-se e dar um assobio suave.
— E quem é a sortuda que você trocou por um café da manhã
solo? Alguém que eu conheça? — Eu não perco o sorriso fácil
calculado. Ela está pescando para ver se é Annie porque almoçamos
juntos aqui na lanchonete.
— Eu não... — Eu me contenho, lembrando que o irmão da moça
em questão está sentado a apenas uma banqueta de distância de mim
– e ele também é o noivo da minha chefe. Eu preciso ter cuidado. —
Não foi uma noite tão longa.
Jeanine ri mais alto desta vez.
— Eu entendi. Agora o mau humor faz mais sentido. — Irritante
que ela esteja insinuando que estou de mau humor por não ter feito
sexo com Annie. Eu não poderia me importar menos com isso, e
estou feliz que Annie foi honesta e disse que queria parar. Estou mal-
humorado porque minha noite com ela foi melhor do que qualquer
coisa que já experimentei antes, e não sei o que fazer sobre isso. —
Tudo bem, bem, vou deixar vocês dois sozinhos para o seu tempo de
homem. Gritem se precisarem de mim, queridos. — Jeanine
desaparece na cozinha.
Noah e eu ficamos sentados em silêncio por vários minutos, e sou
grato por isso. Isso me dá tempo para considerar o que vou fazer sobre
Annie e o domínio magnético que ela parece ter sobre mim. Parte de
mim insiste que preciso desistir de me oferecer em ajudá-la. Depois
da noite passada – e depois de adormecer ao lado dela – fica claro que
preciso impor meus limites se quiser permanecer no caminho que
tracei para mim.
— Então... — A voz de Noah me puxa de meus pensamentos. —
Você passou a noite com Annie, hein?
Eu engasgo com meu café. Um engasgo total juntando tosse,
olhos lacrimejando e de falta de ar.
Noah (o idiota) ri.
— Se acalme. Eu não queria que isso saísse como uma ameaça. —
Ele é, talvez, a única pessoa no mundo que pode me fazer sentir
ameaçado. Eu encarei algumas pessoas bastante aterrorizantes, mas
Noah tem uma confiança silenciosa sobre ele que me diz que ele
poderia tornar minha vida um inferno se quisesse.
Tomo outro gole de café para tentar aliviar a tosse e pressiono as
costas da mão na boca. Depois que minha vida parou de passar diante
de meus olhos, olho para Noah.
— De que outra forma eu deveria responder a essa pergunta?
Ele não diz nada, apenas sorri enquanto toma seu café. "Não é
uma ameaça", minha bunda. Ele sabia o que estava fazendo quando
disse isso, e não vou ousar mentir para ele ou tentar convencê-lo de
que não passei a noite com Annie. Mas pelo menos posso ser
honestamente inocente na frente dele. Uma novidade para mim.
— Eu não dormi com ela, só para você saber. — Eu paro. — Bem...
nós dormimos juntos, mas eu não...
Noah levanta a mão, me interrompendo.
— Eu não preciso saber detalhes. Não é da minha conta.
Eu o olho com ceticismo.
— Não é?
Pelo que vi, parece que tudo nesta cidade é da conta de todos.
Noah sorri por baixo de sua barba – e eu trocaria todas as minhas
tatuagens pela habilidade de deixar crescer uma barba como a daquele
homem. Não é justo. Eu sou o ex-militar que virou guarda-costas –
eu deveria ter a barba máscula. Os únicos pelos faciais que posso
deixar crescer de forma excelente são os cílios. Eles são longos e
grossos, e as mulheres sempre reparam neles. Uma pena. Repare nos
meus músculos, repare na minha mandíbula quadrada, repare na
minha bunda pelo amor de Deus – mas, pelo amor de Deus, não
comente sobre o comprimento e o volume dos meus cílios.
— Annie é uma mulher adulta. Não preciso ficar de olho nela ou
monitorar quem ela namora ou não. — Noah vira seu olhar casual
para mim e inclina um ombro. Ele toma um gole de café e, em
seguida, coloca a caneca na mesa e olha para ela. Eu vi ele e Amelia
juntos e é difícil não torcer por eles. Ter inveja descontrolada deles.
Eles são bons um para o outro.
Eu seria bom para Annie?
Instintivamente, sei que ela seria boa para mim. Mas eu me
preocupo em arrastá-la para baixo. Eu não saberia me comunicar bem
e sentiria vontade de sair quando as coisas ficassem difíceis – porque
sou autoconsciente o suficiente para saber que evito todo confronto
e desconforto como se fossem doenças. É por isso que não liguei de
volta para meu irmão. É por isso que não vou a casa dos meus pais há
anos. É por isso que escolhi uma carreira que me permite ser um
nômade despreocupado, onde posso passar de mulher em mulher e
de lugar em lugar, e nunca me apegar o suficiente para ter que lidar
com a vida real.
Jeanine desliza pela porta de vaivém da cozinha e coloca meus ovos
na minha frente com um sorriso e uma piscadela. Só depois que ela
cruza a lanchonete para anotar o pedido de outra mesa é que
pergunto a Noah:
— Como você sabia? Que eu passei a noite com Annie, quero
dizer.
— Sua caminhonete.
— Você mora do outro lado da cidade.
— Não fui eu que vi sua caminhonete. — Ele olha para mim e
sorri, me lembrando que a curiosidade desta cidade é mais profunda
do que posso imaginar. — James a viu quando foi fazer as entregas
esta manhã. Considerando as fofocas na cidade de que vocês
começaram a namorar e depois viram sua caminhonete na estrada da
casa das minhas irmãs... não é preciso ser um gênio para somar dois
mais dois.
Não tenho certeza se isso é bom ou ruim. Annie confirmou que é
virgem ontem à noite – e não tenho certeza de quantas outras pessoas
em sua vida sabem disso ou se isso importa para ela no final do dia.
Mas não sou o tipo de cara que você ouve que está dormindo no
quarto de uma mulher e assume que nada aconteceu. Então,
novamente, ela queria mudar sua reputação nesta cidade.
— Você acha que James contou a mais alguém?
Noah abafa uma risada e me faz uma cara que diz "seu pobre
idiota".
— Não se deixe enganar pelo fazendeiro. James é tão fofoqueiro
quanto Mabel é. — Ele faz uma pausa e inclina a cabeça para o lado e
depois para trás como se estivesse lembrando-se de algo. — Além
disso, há o fato de que Tony, nosso xerife, viu você saindo pela janela
do quarto de Annie esta manhã.
— Merda.
— Sim.
Falando em James, um minuto depois ele entra na lanchonete,
assobiando. James tem o sorriso mais largo que já vi em alguém. Não
há nenhum motivo oculto para isso – é como se ele estivesse
genuinamente feliz o tempo todo. Estranho.
— Bom dia, Jeanine! — Ele grita da porta. Percebo que ele está
carregando uma prancheta na mão, mas ele vai até o outro lado do
bar e a deixa perto da caixa registradora antes de sentar-se no
banquinho ao lado de Noah. Ele dá um tapa nas costas de Noah. —
Bom dia, raio de sol. Sonhou comigo ontem à noite?
— Uh-huh — Noah diz e então toma outro gole de seu café. —
Sonhei que te atropelei com minha caminhonete.
— Bem, é um prazer, James — diz Jeanine, vindo anotar seu
pedido. — Eu nunca vejo você aqui de manhã.
— Eu tinha alguns negócios na cidade para cuidar.
Noah olha para ele com uma carranca.
— Que negócio? Você não tem entrega para minha loja até
amanhã.
— Você vai ver — diz ele com um sorriso enervante. Talvez eu
esteja pensando muito sobre isso, mas combinado com a disposição
anormalmente tranquila da cidade esta manhã, sinto uma pontada de
desconforto. — Vou querer o prato do dia, Jeanine, obrigado. —
James se inclina ao redor de Noah para olhar para mim. — Vocês dois
estão tendo uma conversa estimulante?
— Se você contar com Noah me ameaçando sutilmente, então,
sim, tem sido ótima.
James ri. Noah balança a cabeça olhando para frente.
— Não foi uma ameaça.
— Aposto que foi — diz James. — Se era sobre Annie e a festa do
pijama que tiveram ontem à noite, era absolutamente uma ameaça. E
espere até que as irmãs fiquem sabendo disso.
— Nada aconteceu! — Eu digo, de repente sentindo que preciso
de um advogado presente.
— Pare de tremer. — Noah inclina sua caneca bem alto, engolindo
o último gole de café e então virando-se para mim em seu banquinho.
— Eu gosto de você, Will. Eu sempre gostei. Eu sei que devo ser o
irmão mais velho protetor que avisa o cara com a reputação ruim para
ficar bem longe de sua irmãzinha, mas não é assim que eu trabalho.
Juro que não estou tentando ameaçá-lo, porque, como James disse,
minhas irmãs farão isso sem a minha interferência. Mas, mais do que
isso, confio que minhas irmãs saibam do que precisam melhor do que
eu. E o fato é que o que quer que esteja acontecendo entre você e
Annie, eu apoio.
— Você apoia?
— Sim. — Noah levanta-se e encara-me. — Para ser sincero, estou
mais preocupado com você do que com Annie.
— Por que isso? — Eu digo, embora eu concorde plenamente com
ele.
— Porque eu posso garantir que você nunca conheceu ninguém
como ela — Noah diz ameaçadoramente e então se vira para sair, faz
uma pausa, e então vai para o lado do bar para olhar o que quer que
James tenha deixado. Eu ouço seu grunhido em formato de uma
risada antes que ele me dê um olhar, balança a cabeça e sai sem trocar
nenhuma outra palavra.
— Se vale de algo — James diz enquanto dá uma mordida em seus
ovos —, eu planejo ameaçar você. — Ele joga seu sorriso para mim e,
de repente, não parece mais tão ensolarado. Tem o mesmo brilho que
uma espada tem. — Machuque ela e eu vou matar você e enterrar seu
corpo, utilizando-o como fertilizante para minhas plantas.
Eu aceno uma vez, lentamente.
— Anotado.
Jogo uma nota de dez dólares no balcão e finalmente vou ver o que
está na prancheta. Eu xingo baixinho.
— Você quem fez isso?
Ele ri, nem mesmo olhando para mim enquanto continua a cavar
seus ovos.
— Não. Isso seria coisa de Harriet.
— Quando todos eles tiveram tempo para fazer isso?
— Cerca de trinta minutos atrás, na reunião improvisada de
empresários da cidade. Tem um em cada estabelecimento.
— Claro que tem. — E isso explicaria por que hoje parece uma
cidade fantasma. Todos eles reuniram-se para fazer uma petição para
manter eu e Annie separados. Na parte superior, em negrito, lê-se:
Nós, o povo da cidade, exigimos que Annie Walker e Will
Griffin desistam de terem um novo relacionamento, alegando
que Annie Walker é uma querida e Will Griffin é um... anti-
querido.
Abaixo disso, há uma bela campanha de difamação que lista todos
os motivos pelos quais não sou de confiança (vê-se a cópia do
BuzzFeed anexada) seguida de todas as boas características de Annie.
Estou impressionado por ela ter liderado a campanha de arrecadação
de fundos para alfabetização infantil na biblioteca, mas não surpreso.
E fazer o mercado de Harriet mudar de plástico para sacolas
reutilizáveis também é legal. Na parte inferior há uma publicidade
para a Lojinha de Xerox do Davie.
Legal.
— Isso é mesmo legal? — Eu pergunto a James.
— Duvido. Mas nunca subestime o poder da cidade de Rome de
se intrometer apenas o suficiente por fazer merda. Além disso,
Harriet comprou quinze caixas de biscoitos de escoteira da filha do
xerife, então imagino que ele esteja disposto a fazer vista grossa para
esta petição. — Ele olha de perto. — Então, se você quer se casar com
Annie, é melhor dar o melhor de si e nos mostrar que vale a pena.
Eu gemo.
— Eu não quero me casar com Annie! Este é um grande mal-
entendido. — Um mal-entendido ridículo que está rapidamente
ficando fora de controle.
Ele olha para os ovos com um sorriso.
— Claro que não quer.
Annie

Eu chego em casa depois do trabalho sentindo o cheiro de frango


assado. No momento em que abro a porta, o belo aroma me atinge
bem na cara e vou direto para a cozinha. Eu amo as férias de verão
porque significa que Maddie e Emily estão fora da escola. Isso é
maravilhoso por dois motivos: primeiro, posso vê-las mais e, segundo,
Maddie tem mais tempo para cozinhar.
Eu gemo quando entro na cozinha e encontro Maddie na frente
de uma panela com algo fervendo.
— Que cheiro incrível é esse?
Maddie vira para mim, com um coque enorme e bagunçado
balançando enquanto ela se vira.
— É uma nova receita na qual estou trabalhando: Frango com
Manteiga de Mel Picante. Aqui, experimente a mistura e diga se está
bom.
Ela leva a colher de pau aos meus lábios e, no momento em que a
mistura atinge minha língua, decido que nenhum outro sabor estará
à altura.
— Isso será minha morte — eu digo solenemente. — Meu
máximo de experiência gastronômica termina com esta receita.
Maddie ri e fala.
— Você é muito legal, no entanto. Você nunca me diria se fosse
ruim de qualquer maneira.
— Não é verdade. Eu apenas ficaria muito quieta e elogiaria o
esforço que você colocou nisso. De qualquer forma, eu realmente
amei isso.
Me sento no bar e como o aperitivo que Maddie preparou. Molho
de espinafres e alcachofra. É glorioso. Celestial. Eu não mereço.
— Como foi o seu dia? — Ela pergunta, vindo para mergulhar
uma batata frita no molho também. Seus olhos semicerram
ligeiramente depois que ela dá uma mordida, tentando descobrir o
que está faltando. Não falta nada. Ela é apenas uma perfeccionista
quando se trata de sua comida.
Sua pergunta desperta uma série de memórias. Will subindo no
meu quarto. A pressão devastadora de sua boca contra a minha. E
então acordando em seus braços.
Durante todo o dia, minha mente passou por aquela sessão de
beijos repetidas vezes, mas adicionando novos detalhes fantásticos a
cada passagem. Como em vez de estar no meu quarto, Will entra na
loja depois de lutar contra vários bandidos. Uma gota de sangue
escorre por sua bochecha de um pequeno corte em seu rosto deixado
por uma espada. Naturalmente, corro para o lado dele e o puxo para
dentro da loja, onde cuido de seu ferimento. Ele olha nos meus olhos,
eu olho nos dele, e então nosso beijo explode como um canhão. Não
doce ou tímido, mas quente e frenético.
Eu limpo minha garganta.
— Foi bom. E o seu?
— Bom também. Acabei de passar o dia fazendo compras online
para nossa viagem na próxima semana. Ei, uma dúvida, por quanto
tempo é moralmente aceitável usar uma roupa com as etiquetas ainda
presas antes de devolvê-la porque você está muito falida para
realmente comprá-la? Espere! Não responda a isso. Você vai dizer
para devolver imediatamente, mas eu não quero.
Maddie e Emily estão finalmente indo em sua viagem ao México
com seus amigos professores. Eu continuo dizendo a mim mesma
que essa é a única razão pela qual elas não me convidaram, é uma
viagem apenas para professores. Mas de alguma forma,
instintivamente, eu sei que é porque elas estão assumindo que eu não
gostaria de ir. Elas acham que estou supercolada a esta cidade como
Noah. E provavelmente assumiram que eu seria uma estraga-prazeres
também.
Está tudo bem, no entanto. Eu não poderia ir mesmo se quisesse,
com a quantidade de flores que estou preparando para o casamento
de Amelia e como a loja tem estado ocupada ultimamente. Sem falar
nessas aulas com Will.
Meu estômago revira como sempre quando penso nele. É como se
eu estivesse em uma montanha-russa constante. Preciso que meu
corpo se apresse e se acostume com a presença dele porque não
aguento muito mais essas borboletas.
No meio da mordida, nossa porta da frente se abre e Emily entra
correndo.
— Você! — Ela grita, apontando para mim. — Você e Will Griffin
estão tendo um caso e ele dormiu no seu quarto ontem à noite e você
não nos contou!
— O que?! — Maddie grita, pulando do bar para uma posição de
batalha imediata. — Estamos aqui conversando há cinco minutos
inteiros! Perguntei como foi seu dia e você disse: “Foi bom.” Bom!
Quando a primeira coisa que deveria ter saído da sua boca deveria ter
sido: “Ei, mana, transei com o guarda-costas mais gostoso que já
apareceu na revista People, e não sou mais virgem!”
— Primeiro de tudo, eu nunca diria “transar.”
Emily joga sua bolsa no balcão da cozinha. Ela faz um baque alto,
e eu sei que é porque ela tem a coisa tão carregada com tudo que ela
poderia precisar (incluindo um kit de primeiros socorros e uma
garrafa de água de emergência).
— Aquele homem estava sob nosso teto ontem à noite em sua
cama deflorando você, e você nunca pensou que deveríamos saber?
Estou deserdando você! Não acredito que tive que ouvir de Holden
Jones que Will estava saindo furtivamente pela sua janela ao nascer
do sol!
Eu levanto minhas sobrancelhas.
— Holden? Uau. Chegou até a biblioteca?
— Sim. E ele ouviu isso de Cathy Bryant...
— Lee agora. Ela se casou no mês passado, lembra?
— Que ouviu isso de Harriet quando ela estava tagarelando sobre
sua alma se decaindo no mercado, que ouviu isso de Terry, que viu
tudo com seus próprios olhos quando estava fazendo sua ronda
matinal de jornal e avistou Will saindo da sua janela! — Emily está
furiosa. Ela odeia ser a última a saber de qualquer coisa sobre nós,
seus irmãos. Eu meio que espero encontrar um rastreador plantado
em minha pessoa um dia.
Eu abriria a boca para revelar a verdade, mas sei que não adianta.
Minhas irmãs precisam falar primeiro, ou vão entrar em combustão.
— Harriet disse o que sobre Annie? — Diz Maddie, sua pele
branca macia virando um belo tom de roxo avermelhado.
— Não se preocupe, eu já passei no mercado para falar com ela.
Mas Mabel chegou antes de mim. Ela estava atacando Harriet
quando entrei, então peguei as cápsulas da máquina de lavar louça de
que precisávamos, assinei a petição, paguei e voltei para casa.
Meus ouvidos se alertam.
— Desculpe, que petição?
— Você não viu? A cidade fez uma petição para votar no seu
relacionamento com Will — diz Emily. — Na verdade, é muito mais
extensa do que a que eles fizeram para Paul e aquela mulher com
quem ele estava saindo há algum tempo. Esta tem uma lista completa
de fatos em anexo sobre porque vocês não são adequados para terem
um relacionamento. — Emily finalmente percebe o molho e desliza
para o banquinho ao meu lado para comer. Eu deslizo a tigela um
pouco mais perto dela.
— Espere, espere, espere. É um relacionamento agora? — Maddie
mergulha a mão no cabelo. — Minha cabeça está girando. Você está
me dizendo que você e Will estão namorando? Você que era muito
tímida para falar com o sexy bancário Teller, então você o abandonou
e foi direto para o sexy guarda-costas? Preciso de todos os detalhes.
Minhas irmãs me encaram com expectativa. Eu sei que este é o
momento em que devo lhes dizer a verdade. Eu deveria cair na
gargalhada e explicar que Will é apenas meu treinador de encontros.
Mas por alguma razão, as palavras não saem. Porque agora, minhas
irmãs estão olhando para mim como se eu fosse o oposto de chata.
Como se eu fosse talvez... fascinante. Como se eu não fosse a doce
irmãzinha delas, e talvez haja mais em mim do que elas imaginavam.
E não estou pronta para ver aquele olhar desaparecer quando dizer
a elas que não tive coragem de falar com o sexy bancário Teller e que
ele, na verdade, acha que sou chata demais para sair, então Will está
apenas sendo gentil e ajudando.
E é por isso que eu minto.
— Sim. Não é grande coisa — eu digo, olhando para baixo para
pegar outra batata frita em uma tentativa de parecer casual. — Ele
veio à floricultura outro dia, nos demos bem e... agora estamos...
saindo. — Oh Deus. O que você está fazendo Annie? Will nunca vai
concordar isso. — É apenas casual, no entanto. Poderia terminar
qualquer dia realmente.
— Casual? — Emily repete com uma carranca interrogativa.
— Uh-huh.
— Annie — diz Madison, como se estivesse gentilmente tentando
dizer-me que as pessoas que estou vendo na sala não estão realmente
lá. — Você não é do tipo casual. Você é a Mônica no episódio de
Friends onde ela revela seu álbum de recortes de casamento. Você e
casual não combinam na mesma frase.
— Bem, nós combinamos agora. — Eu inclino um ombro como
se não fosse grande coisa. Mas até eu sei que o que estou dizendo é
muito importante. Também não é verdade. Sinto uma pontada de
decepção quando nego ser verdadeira comigo mesma, mas esmago
esse sentimento sob meus tênis Converse, por que o que é ser
verdadeira comigo mesma me levou além de ser abandonada no meio
de um encontro?
Minhas irmãs se entreolham, obviamente assustadas com esse
desvio de caráter e sem saber como continuar.
— Huh — diz Maddie.
— Então você e Will podem... o quê? Ver outras pessoas? —
Pergunta Emily, me testando.
— Sim.
— E você está bem com isso?
Eu dou de ombros.
— Claro. Quanto mais melhor!
Não. E também estou um pouco preocupada em como o
pensamento de Will (o homem que não é meu namorado de verdade)
saindo com outra pessoa envia uma onda fervente de ciúmes pelo
meu corpo.
Aparentemente, isso foi longe demais porque Maddie e Emily se
olham. Um dos olhares que sempre me deixa louca por ser excluída.
Aquele cujo significado eu nunca consigo entender, mas elas parecem
compreender perfeitamente. Como é possível compartilhar o DNA
com alguém e ainda assim sentir que sou tão “diferente” delas – e
ainda amá-las de todo o coração? É muito confuso.
Elas viram para mim e cruzam os braços – um hábito que todas
adotamos de Noah para quando estamos falando sério.
— Tudo bem. Confesse. O que está acontecendo? Você e Will
realmente dormiram juntos ontem à noite?
Meus ombros caem.
— Está bem. Ele dormiu aqui, mas nada aconteceu. Na verdade,
acho que nunca vai acontecer nada entre nós.
Madison derrete dramaticamente no chão, fingindo chorar
enquanto diz:
— Annie. Você está me matando. Você está literalmente me
matando lentamente. Por favor, comece do começo!
Ugh. Aqui vamos nós. A verdade.
— Ok, ok, ok. Amelia armou tudo. Will é meu treinador de
encontros por algumas semanas para ajudar a praticar porquê... —
Porque eu fui a um encontro e foi um desastre e eu sou chata. Não.
Ainda não consigo contar essa parte a elas. Elas vão rir. Ou elas vão
fazer uma piada sobre a Annie santinha ser muito santa para um
bancário. Ou pior ainda, elas não ficarão surpresas. — Porque estou
pronta para começar a namorar sério, mas estou nervosa. Ele só está
me ajudando a superar o nervosismo. — Não menciono como as
aulas de namoro transformaram-se em algo totalmente diferente, no
entanto. E não conto a elas sobre a tatuagem ou como Will se
ofereceu para ajudar em qualquer outro tipo de prática que eu queira,
porque tudo isso parece muito pessoal. Por mais equivocado que
possa ser, parece algo especial entre mim e Will, e não quero incluir
mais ninguém nisso.
Emily franze a testa levemente – seu modo de mãe sempre
presente tentando dissecar cuidadosamente todos os obstáculos
possíveis que terei que superar e então determinar se sou
emocionalmente forte o suficiente para lidar com uma situação como
esta.
Maddie inclina o quadril contra o balcão.
— Por favor, pelo menos diga que é como uma coisa sexy de
treinador de encontros? Como se vocês fossem praticar sexo
também?
— Não, não é uma coisa sexy de treinador de encontros. — Mas
quando sou confrontada com memórias minhas e de Will se
agarrando na minha cama ontem à noite, percebo que essa afirmação
não é totalmente verdadeira. Mas para com o beijo. Nenhum sexo vai
acontecer entre mim e Will porque, como estou percebendo à luz do
dia, isso só complicaria qualquer missão que eu esteja fazendo para
encontrar um marido ou a mim mesma ou... ugh, eu não sei. Só não
ficaria bom, ok?! Eu tenho que parar de pensar nisso.
— Então, o que você pratica?
Eu dou de ombros.
— Assim como coisas normais. Coisas de encontros, sabe? Bons
tópicos para trazer em encontros. Como flertar. Esse tipo de coisa.
O nariz de Madison enruga.
— Oh. Acho que isso faz mais sentido.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, tendo um mau
pressentimento de que já sei a resposta.
Ela ri levemente porque acha que estou nessa piada.
— É você; e é Will Griffin! Vocês são polos opostos. Ele é como
uma aventura divertida e sexy, e você é a nossa doce e introvertida
Annie. Só estou dizendo que provavelmente é melhor que vocês não
estejam realmente namorando, porque você prefere estar dentro de
casa em uma noite de sexta-feira lendo um livro, e ele provavelmente
estaria bêbado em um clube.
Ela e Emily riem, e eu tento rir também, mas tudo o que sai é uma
fraca tentativa de sorrir.
— O que não é uma coisa ruim. É apenas quem você é. Nossa
tortinha doce — Emily acrescenta, deitando a cabeça no meu ombro
e apertando afetuosamente minha cintura. — Mas escute, eu apoio
totalmente seu esforço para se sentir confortável em encontros para
que você possa encontrar alguém certo para você. Talvez neste
outono tenhamos um novo aluno matriculado com um pai solteiro
com um coração de ouro e muito amor para dar.
— Oooh — diz Madison, acendendo o cigarro. — Isso é perfeito
para Annie! Pontinhos extras se ele for médico.
— Um médico pediatra! — Emily acrescenta.
— Um médico pediatra que está esperando até o casamento para
fazer sexo novamente e também tem uma organização sem fins
lucrativos ajudando cachorros abandonados no fim de semana!
Não consigo decidir quem me deixa mais chateada agora. Minhas
irmãs por mais uma vez dizerem quem eu sou e o que eu quero – ou
a mim por sorrir e acenar enquanto elas o fazem. Eu amo tanto
minhas irmãs – e é por isso que dói não me sentir vista por elas. Eu só
quero ser amiga delas e não sua irmãzinha o tempo todo. Quero ser
valorizada e levada a sério. Mas como faço isso sem abrir uma lata
inteira de vermes viscosos e bagunçados? Ou potencialmente
machucá-las quando dizer que elas estão me machucando
inadvertidamente há anos? Não quero parecer chorona ou frágil.
E, por favor, explique por que não consigo me imaginar de pé ao
lado do homem que acabaram de descrever, mas posso imaginar
perfeitamente um homem com um par de olhos azul-acinzentados
travessos, um sorriso torto e tatuagens pairando sobre mim na minha
cama enquanto ele beija minha boca de novo e de novo pelo resto da
minha vida.
Que porcaria.
Segunda-feira

Will: A cidade ainda tem algo para fofocar enquanto eu

estou viajando?

Annie: Quem é?

Will: É o Will. Nós literalmente trocamos os números de

telefone na noite passada.

Annie: Desculpe. Eu acho que você se confundiu.

Will: Sério?

Annie: Não. Eu só estava brincando com você.

Will: Haha, engraçadinha.

Annie: Está tudo bem. Mas o local está, estranhamente,

muito menos quente.

Will: Annie Walker. Você está flertando comigo?

Annie: Talvez. Ou talvez este seja o número de um homem

de quarenta anos e eu esteja enganando você.

Will: Se você é um cara, você é, pelo menos, sexy?


Annie: O que você acha de mocassins com franjas na

frente?

Will: *mordendo o punho*

Terça-feira
Will: Você já viu a petição?

Annie: Oh Meu Deus, você viu também?! Tenho estado

toda preocupada em como te contar. Eu estava com

medo de que você ficasse chateado.

Will: Por que eu ficaria chateado?

Annie: Porque a cidade pensa que somos um casal e estão

votando contra.

Will: De novo. Por que eu ficaria chateado? Eu estou,

claramente, obtendo toda a parte boa deste cenário.

Você é quem está namorando um guarda-costas devasso.

Annie: Devasso! Que palavra boa.

Will: Aprendi com seu livro de romance pirata. Eu gosto

disso.
Annie: Combina com você. Mas não se preocupe, vou pôr

toda a cidade a par da verdade, cada uma.

Will: Ou...

ANNIE: Ou???

Will: Podíamos dizer nada. E apenas deixar todos

acreditarem no que quiserem acreditar. Você disse que

queria que todos parassem de vê-la como a doce e santa

Annie... isso pode ser a coisa certa a fazer.

Annie: Você faria isso por mim?

Will: Estou aprendendo rapidamente que faria qualquer

coisa por você.

Quarta-feira
ANNIE: Oi.

WILL: Oi. O que você está fazendo?

ANNIE: *foto de opções de boutonnières3*

3
Um pequenino ramo de flores que fica na lapela dos ternos de homens em ocasiões como casamento,
combinando com a roupa da madrinha.
ANNIE: Qual você prefere para os padrinhos?

WILL: O da esquerda.

WILL: Enquanto você está on-line...

WILL: *Foto da palmeira e do céu azul acima*

WILL: Correndo o risco de soar um pouco poético e cafona

demais, a cor do céu da Califórnia é o mesmo azul dos seus

olhos.

ANNIE: Uau. Isso foi cafona.

WILL: Droga. Eu também achei.

ANNIE: Vou deixar passar desta vez.

WILL: Mudando de assunto agora. Você já esteve em Los

Angeles?

ANNIE: Não. Eu não viajei muito.

WILL: Isso é uma pena. Você precisa vir para a Califórnia,

Annie. Há tantas floriculturas bacanas. Você adoraria isso

aqui.

ANNIE: Eu quero, mas tenho medo de andar de avião. E ir

para novos lugares. E conhecer novas pessoas.


WILL: Minha oferta está de pé de segurar sua mão.

ANNIE: Eu gosto das suas mãos.

ANNIE: Uau. Finja que não disse isso. Estou super

envergonhada agora. AH! Por que não há um botão de

cancelamento de envio?

WILL: Eu também gosto das suas mãos, Annie-banana.

Quinta-feira
Annie: Tive um sonho muito engraçado com você ontem à

noite.

Will: Engraçado? Hum. Eu prefiro a opção sexy.

Annie: Bem, você não pode escolher. E este foi engraçado

porque você e eu estávamos no ensino médio juntos, e eu

reprovava no mesmo teste várias vezes, então você

escreveu o gabarito para mim em um pedaço de papel e

o deu para mim.

Will: Parece algo que eu faria. Nós fomos pegos?

Aninha: Sim. E então tivemos que passar a detenção no

estudo bíblico de Harriet.


Will: Caramba.

Annie: Você já colou na escola?

Will: Não.

Will: Era meio difícil colar em uma matilha de lobos. Nossos

testes consistiam em caçar outros animais e a sobre qual

era melhor maneira de lamber seu pelo até limpá-lo.

Annie: Você nunca vai contar nada sobre sua infância ou

adolescência?

Will: Eu era pequenino naquela época...

Annie: Você é impossível.

Will: Obrigado :)
Annie

Eu giro uma rosa de haste longa entre meus dedos enquanto me


inclino contra a mesa de trabalho na floricultura, mas minha mente
não está aqui. Está presa em um mundo alternativo onde um homem
sexy, engraçado e extrovertido é meu namorado. E depois há as
mensagens. Eu sei que não deveria ler muito nas entrelinhas, mas
essas mensagens parecem significativas esta semana. Ontem à noite
ele mandou uma mensagem antes de dormir, com apenas: “boa
noite”.
Foi isso.
É tão confuso. Ele diz que não é feito para relacionamento e então
vai e manda uma mensagem de “Boa noite.”
Enfio a rosa no buquê que estou montando e digo a mim mesma
para me controlar. Não importa se ele quer um relacionamento ou
não. Eu não gosto dele assim. Não há absolutamente nenhum
sentimento despertando dentro de mim. Tudo o que sinto até agora
é apenas atração. Quero dizer, quem não se sentiria atraída por Will
Griffin? Tem que ser uma lei da natureza ou algo assim. Nada com
que me preocupar – mas definitivamente preciso manter minha
cabeça no lugar e me lembrar de que todos os beijos, carinhos e
mensagens de texto são apenas uma parte do processo de minha
transformação.
Ele é Fred e eu sou Audrey. Mas em nosso filme, os créditos vão
rolar depois que minha transformação estiver completa e eu
encontrar a plenitude que estava procurando. Subtrama de romance
foi removida. É certo que seria mais fácil imaginar essa analogia se
Will não fosse tão gostoso. Preciso desenhar algumas rugas em seu
rosto e amarrá-lo em sapatos de sapateado e calça de cintura alta. Isso
vai curar minha atração.
Minha atenção vai para a porta da loja quando a campainha toca
e um homem bonito entra.
— Oi! Caso precise de ajuda, basta me chamar — eu digo
enquanto continuo a mexer no buquê. Eu tento não incomodar os
compradores porque ninguém gosta de um vendedor rondando.
— Obrigado — diz o homem e imediatamente percebo sua voz. É
uma bela voz. E por ter me chamado a atenção, procuro avaliá-lo
discretamente enquanto ele anda pela loja.
Belo cabelo castanho-claro cortado rente à cabeça, mas com
espaço suficiente no topo para arrumá-lo bem.
Uma barba bem cuidada.
Camisa casual de botão.
Jeans legal.
Claramente se exercita.
Sem anel de casamento.
Ele olha para cima e me pega olhando, então sou forçada a dizer
alguma coisa.
— Hum, esses buquês de pronta-entrega custam metade do
preço.
— Ótimo — diz ele com um sorriso fácil. — Obrigado.
O arranjo em que estou trabalhando está faltando alguma coisa.
Parece bom e tudo mais, mas acho que falta um elemento que dê
destaque. Algo que me agarra e não me deixa desviar o olhar. Algo
empolgante. Está faltando uma borda preta perigosa em torno de
suas írises... e espere, não estou mais pensando em flores, estou?
Eu mal me contenho de gemer em minhas mãos. É claro que eu
estaria pensando em Will enquanto um homem bonito
(possivelmente solteiro) está perambulando pela minha floricultura.
— Ei, posso pedir seu conselho sobre uma coisa? — O homem
pergunta, se aproximando de mim na mesa de trabalho.
— Claro! Ficarei feliz em ajudar.
Ele franze a testa, olhando ao redor da loja.
— Que tipo de buquê é apropriado comprar para uma mulher
que acabou de ter um bebê?
Oh.
Ele é um pai.
Bem, é isso.
— Na verdade, é para uma cunhada que acabou de ter um bebê
— ele emenda como se talvez tivesse visto meu rosto murchando e
quisesse esclarecer.
As coisas estão melhorando novamente.
Contorno a mesa de trabalho e vou até o canto mais distante, onde
tenho algumas flores coloridas recém-colhidas.
— Acho que qualquer uma dessas seria perfeita. Elas são lindas,
mas não exageradas.
— Ótimo. — Ele se inclina e seleciona uma, me levando a cheirar
sua colônia. E é colônia. Ele definitivamente possui uma fragrância
chique de algo parecido com canela e borrifa uma vez – talvez duas –
antes de sair de casa.
Acho que gosto. Ou eu poderia gostar.
Não cheira nada como...
Não! Não irei terminar esse pensamento absurdo. Agora é minha
chance de usar um pouco da confiança recém-adquirida que venho
praticando.
— Então, você é daqui ou veio apenas para uma visita? — Eu digo,
me perguntando se esta foi uma quantidade apropriada de contato
visual.
— Na verdade, acabei de mudar para a cidade. Ou para cidade
vizinha para ser exato. Minha família mora por aqui e estou pronto
para me estabelecer. Então mudei minha clínica para cá e comprei
uma casa.
Isso está começando a parecer muito contato visual. Demais. Oh
Deus, eu preciso desviar o olhar. E, por favor, diga por que nunca tive
esse problema com Will? Com ele eu nunca quero desviar o olhar.
Levo o buquê ao balcão para ajeitá-lo.
— Ah, você é médico?
— Veterinário — diz ele, e isso ganha outro som de ding, ding,
ding em meu cérebro porque eu amo animais. Melhor ainda – um
homem que também ama os animais. E ele é aparentemente um
homem de família que quer criar raízes! Minhas irmãs
definitivamente estariam me dando um sinal de positivo agora e me
dizendo para ir em frente.
— Essas são ótimas notícias! — Digo um pouco exageradamente.
— Oh sim? Você tem algum animal?
— Bem... não, mas é uma ótima notícia para todos os outros que
os têm. — Ele ri e entrega seu cartão de crédito. — Brandon Larsdale
— eu digo, lendo descaradamente o nome em seu cartão de crédito
em voz alta.
— Não é justo. Não consigo ler seu cartão para saber seu nome.
Eu sorrio para ele, sentindo minhas bochechas ficarem rosadas de
uma forma que eu realmente gostaria que não ficassem. Acho que ele
está flertando comigo agora também – e o desconforto familiar de
falar com um cara novo está se instalando em mim. Devo superar isso.
— Sou Annie Walker.
— Prazer em conhecê-la, Annie. — Ele faz uma breve pausa
enquanto pega seu buquê no balcão. — Escute, eu sei que isso é
muito ousado da minha parte, mas... você é solteira, né?
Meu coração dispara. Ele está prestes a me convidar para sair? Isso
está realmente acontecendo? Eu quero que isso aconteça?
Além disso, o que constitui ser “solteira”? Se você perguntar a
qualquer pessoa na cidade, eles diriam que estou namorando um
guarda-costas devasso. Mas isso não é real, Annie.
— Estou solteira — digo e então percebo que meu queixo está
levantado. Eu imediatamente nivelo.
Brandão sorri.
— Bem, então, você estaria interessada em sair algum dia? Eu sei
que acabamos de nos conhecer, e isso pode parecer super assustador,
então sem pressão. Além disso, estou no Instagram, se você quiser me
procurar para ter certeza de que sou confiável.
Eu deveria dizer sim. Diga sim, Annie! Ele está gabaritando o
check-list até agora, e se eu quiser me casar, tenho que ir a um
encontro novamente. Mas eu não quero terminar um encontro com
alguém que só quer dar uns amassos no final da noite, porque não
importa o quão incrível tem sido ficar com Will ultimamente, estou
percebendo que nunca serei o tipo de pessoa que é feita para o casual.
E talvez esteja tudo bem?
Honestamente, isso poderia ser perfeito. Eu queria seguir os dois
caminhos (um, ir a encontros e o outro, sair do comodismo) na
esperança de descobrir qual deles traz a paz que tenho procurado – e
parece que um desses caminhos está atualmente iluminado com um
sinal piscando acima dele lendo “CAMINHE POR AQUI”.
Decido lançar a verdade para ver se esse homem vai ser uma perda
de tempo ou não.
— Eu preciso ser franca com você, Brandon. Não estou
procurando nada casual.
Seu sorriso cresce.
— Nem eu, na verdade. — Brandon enfia a mão no bolso de trás
para tirar a carteira. — Aqui — ele diz, e então pega um cartão de
visita de aparência muito oficial com o logotipo e informações de sua
clínica veterinária. — Você tem uma caneta?
Entrego uma, e ele rapidamente anota um número no verso.
— Este é o meu número do celular. Mande uma mensagem se você
achar que gostaria de sair. Ou se você quiser apenas conversar para
nos conhecermos melhor.
— Tudo bem, eu irei. Obrigada — eu digo pegando seu cartão e
lhe dando mais um sorriso antes de ele se virar, desejando um bom
dia e que ele espera que nos vejamos novamente.
Assim que ele sai pela porta, jogo o cartão no balcão como se fosse
uma folha venenosa.
— Bem — eu digo, esfregando a parte de trás do meu pescoço
enquanto olho para o pequeno cartão retangular. — Isso foi
inesperado.
Annie

O bar do Hank se ilumina nas noites de sexta-feira. A cidade inteira


sai para dançar, beber e socializar. Se você não está no Hank em uma
sexta à noite, você é um definitivamente é um zero à esquerda. É por
isso que até eu consigo vir. (E eu gosto de estar aqui, então é isso.)
Eu já fiz isso o suficiente para saber como lidar, no entanto. Hank
é um dos meus locais de conforto. Eu e minhas irmãs chegamos um
pouco mais cedo do que a maioria – por volta das sete, bebemos
algumas cervejas e conversamos sobre nossas semanas, embora nos
vejamos literalmente todos os dias e saibamos quase todas as
novidades uma da outra o tempo todo. Mas... acho que tenho
novidades que elas não sabem agora. Por que isso faz com que uma
emoção me percorra?
De repente, me pergunto se elas também têm coisas que eu não sei
sobre suas vidas.
Eu olho ao redor da mesa, avaliando minhas irmãs sob um novo
olhar. Um olhar de Sherlock. O que elas estão escondendo? Por fora,
Emily parece normal. Seu cabelo loiro está repartido ao meio,
cuidadosamente preso atrás das orelhas, os cachos que ela fez com seu
modelador esta manhã estão escovados em ondas suaves e sedutoras.
Mas seus traços fortes, maçãs do rosto salientes e olhos conhecedores
lembram que ela poderia chutar sua bunda em um segundo. Emily é
nossa protetora feroz. Embora minha avó tenha nos criado, no final
do dia, ela ainda parecia mais como uma avó do que como uma figura
materna. Mas Emily sempre pareceu mais como uma mãe do que
como uma irmã para mim. Eu nunca conheci ninguém que consiga
manter tudo sob controle como ela faz. E caso alguém precise de mais
convencimento de que ela é uma rainha feroz, Emily leciona na
segunda série há nove anos, com vinte ou mais crianças em sala de
aula a cada vez. Uma verdadeira heroína.
Então, o que ela está escondendo? Muitas vezes me perguntei por
que ela não se casou. Não é por falta de homens tentando, mas até
onde eu sei, ela só amou uma pessoa. Seu namorado do ensino médio.
Nenhum de nós realmente sabe o que aconteceu com ele. Foi tudo
muito quieto. Um dia ele era o amor de sua vida e, no seguinte, estava
arrumando sua caminhonete e deixando Rome para sempre. Me
lembro de Emily passando vinte e quatro horas inteiras chorando em
seu quarto, e então ela enxugou as lágrimas e nunca mais o
mencionou. Também não nos deixou mencioná-lo.
E depois há Madison. Basta olhar para ela. Uma duende, se é que
já vi uma. Uma morena corajosa com um corte de cabelo saltitante na
altura dos ombros, olhos castanhos selvagens que estão sempre
procurando problemas e um nariz pequeno e adorável que é muito
fofo. Maddie parece um biscoito de açúcar, mas ela é selvagem por
dentro.
Mas ela está escondendo algo, estou convencida. Ela olha para
mim e sorri, eu sorrio de volta. Estou de olho em ti, mocinha. Então o
que é? Odeia o trabalho dela? Não, espere, isso não é segredo.
Madison sempre foi rápida em seguir os passos de Emily, mesmo
quando o resto de nós pode ver que claramente não é algo para ela.
Madison também leciona na segunda série na mesma escola que
Emily, mas ela reclama de seu trabalho 90% do tempo – geralmente
enquanto prepara algo fantástico para nós na cozinha.
Então... Madison, qual é o seu segredo?
— Annie, você está bem? — Emily pergunta. — Seu sorriso está
super assustador.
Eu limpo meu rosto em branco.
— Eu estava pensando em um... filme que acabei de assistir.
— Era um filme sobre um serial killer? Porque essa é a vibe que
você está transmitindo.
Eu zombo.
— Claramente não era o sorriso de um serial killer. Vocês
simplesmente não conhecem meus sorrisos.
Amelia de repente aparece por cima do meu ombro e puxa uma
cadeira da mesa, um pouco sem fôlego.
— Olá! Cheguei de Los Angeles! Quem tem o sorriso de um serial
killer?
— Annie-banana.
Amelia sorri e se acomoda na cadeira.
— É sempre com as quietinhas que você tem que ficar de olho.
Com a presença de Amelia vem um pico na minha pressão arterial,
porque se Amelia está de volta à cidade, isso significa que Will
também está de volta. Estou mais confusa sobre aquele homem do
que nunca. Ele e eu trocamos mensagens de texto sem parar desde
que ele deixou a cidade há uma semana. E a parte estranha é que sinto
falta dele. Muita.
Eu não deveria sentir falta dele. Ele é a pessoa que me treina para
encontros, sem compromisso. Não deveria ser difícil manter meu
olhar focado em vez de esticar o pescoço para ver se ele está em algum
lugar neste bar.
E então Noah se aproxima, joga as chaves na mesa, se abaixa para
beijar a lateral do pescoço de Amelia de um jeito demorado e não
seguro para o local, e então diz a ela que vai pegar as bebidas para eles
no bar. Os olhos dela gritam para ele a plenos pulmões “estou
desesperadamente apaixonada por você” enquanto ele se afasta, e
todas nós, irmãs, notamos, compartilhando um sorriso malicioso.
Aposto todo o meu dinheiro que eles saem deste bar bem cedinho
esta noite.
Amelia percebe que estamos rindo como colegiais às custas dela, e
seu rosto fica vermelho como uma beterraba.
— Parem! Todas vocês. Parem com isso agora mesmo!
Estamos todas rindo de forma desagradável agora, enquanto
Madison faz gestos exagerados de bater a mão na mesa. Amelia joga
as mãos sobre os olhos.
— Vocês são tão más. Vocês não deveriam notar coisas assim.
— Difícil não perceber quando Noah está beijando seu pescoço
assim — eu digo, tomando um gole da minha cerveja.
Amelia espreita por cima das mãos para me mostrar um semblante
ofendido de brincadeira.
— Você também? Minha doce Annie vai me apunhalar pelas
costas desse jeito?
Estendo a mão e arrumo o suéter de Amelia, que está um pouco
torto.
— Desculpe. Seu guarda-costas está sendo uma má influência para
mim.
Maddie sorri e levanta sua cerveja em um brinde.
— E falar do diabo. — Ela acena com a cabeça por cima do meu
ombro.
Meu estômago pula em minha garganta e sapateia. Não preciso
virar para perceber que ele está aqui. Eu posso senti-lo. A temperatura
muda, o ar fica espesso. (O que não deveria estar acontecendo porque
ele não significa nada para mim.) Lembre-se, Annie, sem compromisso!
— Oooh, ele pode sentar conosco agora que está fora do horário
e está namorando Annie, certo? — Maddie diz com um brilho muito
grande nos olhos enquanto cita no ar a palavra namorando. A mão
de Maddie dispara no ar, acenando freneticamente. — Will! Sua
mulher está aqui!
— Silêncio, Maddie! Você está fazendo todo o bar se virar.
Ela mostra uma expressão de satisfação que me permite saber que
esse era seu objetivo em primeiro lugar.
Eu não aguento mais. Eu espio por cima do meu ombro, apenas
um olhar rápido e minúsculo para o lado. Mas meus olhos
instantaneamente se conectam com os dele, e eu viro meu olhar para
frente novamente, com meu coração batendo forte em meus ouvidos.
Aquele pequeno olhar foi o suficiente para observar cada centímetro
de Will, e está piorando tudo.
Hoje à noite ele está vestindo jeans preto, tênis branco e uma
camisa jeans enrolada nos antebraços. Seu cabelo está meio
bagunçado propositalmente, e ele está usando um relógio preto no
pulso tatuado. Ele parece bom demais para ser real. E agora que sei
como é a pele dele por baixo daquela camisa – a forma como as linhas
de suas tatuagens são sutilmente levantadas para adicionar a textura
mais que deliciosa – meu rosto esquenta.
— Annie está guardando seu lugar! — Madison diz inutilmente,
me fazendo parecer desesperada, embora eu não tivesse ideia de que
ele estaria aqui esta noite. Eu arregalo meus olhos para sinalizá-la para
se acalmar, mas ela apenas me joga seu sorriso malicioso para mim.
Amelia aponta por cima do meu ombro para Will.
— OK! Regras primeiro. Você pode se juntar a nós, mas tem que
interagir como amigo e não como guarda-costas. Nada de me
proteger sutilmente!
E então os nós dos dedos de borboleta de Will entram em minha
visão, e minha pele arrepia com a tensão. Eu mantenho meus olhos
na mesa, e a mão em volta da minha bebida.
— Combinado. Se começar uma briga, usarei você como meu
escudo.
Will se senta ao meu lado, e seus ombros são muito largos para este
pequeno espaço. Ele está quase me tocando. Com o canto do olho, o
vejo olhar para mim. Eu corto meu olhar para ele por uma fração de
segundo, e sua boca sugere um sorriso – um sorriso escondido.
Indicando segredos.
— Annabell — ele sussurra fazendo os cabelos da minha nuca se
arrepiarem.
— Wilfred.
Nós sorrimos silenciosamente um para o outro até que a voz de
Maddie rompe nosso momento.
— Ei, você viu os últimos artigos circulando sobre você esta
semana?
— Não. Eu tento ficar fora das redes sociais tanto quanto possível
— Amelia diz, e então sua expressão parece cansada. — Mas o que
eles estão dizendo agora?
Maddie ri.
— Não você, estrela pop. Ele. — Ela acena para Will. — Há um
novo lote de fotos dele protegendo você em todos os seus eventos dos
últimos dias, e eles o estão chamando de... — Seu sorriso cresce —
Um grumpy de coração mole.
— Do quê? — Will pergunta, parecendo horrorizado. — Espera,
eu quero saber? Parece perturbador.
— O que é perturbador? — Noah pergunta, finalmente voltando
para a mesa, e desta vez, ele tem James a reboque.
Amelia olha para Noah enquanto ele coloca uma cerveja na frente
dela.
— Will é um grumpy com coração mole.
Noah parece que acabou de pisar em estrume de vaca.
— Nem sequer consigo imaginar o que isso significa.
James, no entanto, pega uma cadeira da mesa ao nosso lado e a vira
para sentar-se, os antebraços apoiados nas costas. Ele rouba uma das
batatas fritas de Maddie, ganhando o olhar dela.
— Um grumpy com coração mole é um termo que os leitores de
romance usam para descrever um tipo de personagem. É quando um
cara que parece assustador é, na verdade, todo fofo e doce com a
pessoa que ele ama.
Noah olha para ele consternado. Na verdade, todos nós olhamos.
Madison arranca a batata frita dos dedos de James.
— Pare de agir como se você fosse um homem super evoluído que
entende de romance. Você só sabe disso porque mostrei o artigo dez
minutos atrás no bar.
James dá de ombros.
— Mas eu ganho pontos por realmente te ouvir. — Ele faz uma
pausa e olha para o meu irmão carrancudo. — Na verdade... agora
que penso nisso, Noah, você é meio que um grumpy...
— Se você disser a palavra grumpy mais uma vez, vou raspar os seus
dentes no chão.
James finge tremer de alegria.
— Adoro quando você fica todo bravinho.
Eu gostaria de poder dizer que estou gostando desta conversa, mas
a verdade é que mal estou ouvindo. A maior parte da minha
consciência está focada no local onde o joelho de Will está apoiado
contra o meu. Uma pressão suave, mas quase intencional, que tento
não pensar demais. Mas o que acontece com as pessoas quietas é que
só ficamos quietas porque nossos cérebros estão muito ocupados
pensando demais em tudo.
Ele sabe que sua perna está tocando a minha? Ele quer que sua
perna toque a minha? Tátil, Annie. Ele é apenas tátil, lembra? O
homem precisa estar tocando em algo o tempo todo. Ele
provavelmente está tocando a perna de Emily do outro lado. Eu olho
debaixo da mesa para espiar, mas não. As pernas deles estão tão
afastadas poderiam caber uma melancia inteira entre elas. E então
meu olhar muda para sua mão descansando em sua coxa. Eu tenho o
desejo mais forte de estender a mão e correr meu dedo sobre as asas
da intrincada borboleta. Para pegar aquela mão e colocá-la de volta
no meu quadril e dizer a ele para apertar, porque é a memória daquele
toque que provavelmente vai me assombrar até minha morte.
E então sua mão flexiona, e eu percebo que fui pega encarando.
Prendo a respiração e jogo meu olhar para cima e para frente. Mas
pelo canto do olho, posso ver Will olhando para mim. Ele se vira
abruptamente quando Amelia se dirige a ele.
— Aposto que você está desejando nunca ter sentado agora.
Will ri e é caloroso e convidativo.
— Não, eu meio que gosto do absurdo. Isso me faz sentir falta do
meu irmão.
— Você tem um irmão? — Ela pergunta. — Como eu não sabia
disso?
— Eu não consigo vê-lo muito. Você sabe... com o trabalho e tudo
mais.
A expressão no rosto de Amelia diz que ela se sente pessoalmente
responsável pela falta de tempo dele com o irmão, mas eu sei que não.
Eu ouvi a hesitação em sua voz e a maneira blasé com que ele proferiu
essa frase – há mais coisas que Will não quer que sejam desenterradas.
Tenho o desejo mais profundo de pegar uma pá e começar a cavar.
Will interpreta a expressão dela também.
— Amelia, não se preocupe. Você não está me sobrecarregando.
Seu rosto inclina.
— Eu sinto que estou. Você precisa de uma pausa! Pegue uma
agora. A partir de hoje, eu não trabalharei mais até depois do...
— O cacete que eu vou. Eu gosto de trabalhar. É o que me faz feliz.
Agora, é o suficiente sobre mim. Por favor. — Este homem realmente
odeia falar sobre si mesmo. Ele desviou qualquer tipo de revelação
pessoal desde o dia em que nos conhecemos. E, no entanto, ainda
consegui entendê-lo mais do que ele gostaria. Eu sei que ele chuta
todas as cobertas quando dorme porque seu corpo esquenta até a
temperatura do sol. Eu sei que ele adiciona sal extra às batatas fritas –
e que odeia refrigerante. Eu sei que ele é madrugador e acorda com as
galinhas. E também sei que algo em seu passado o machucou porque
ele costumava se esconder em uma árvore de magnólia, mas
absolutamente não discute isso. Acho que ele tem cicatrizes que
mantém escondidas com segurança por trás de seu charme.
De repente, percebo que minha família está toda olhando para
mim como se eu tivesse um chifre brotando entre meus olhos.
— O que? — Eu pergunto, um tom de alarme correndo pela
minha voz.
— Ele acabou de dizer um palavrão. Por que ele não tem um
registro no caderno sagrado? — Emily pergunta.
— Oh. Bem, porque... — Eu viro meus olhos para Will e
contemplo. A resposta vem à minha mente imediatamente, mas sei
que não posso dizê-la em voz alta. Porque eu gosto quando ele xinga.
Então, em vez disso, sorrio. Nem mesmo querendo, realmente. E Will
sorri também, como se pudesse ler meus pensamentos. Como se ele
estivesse lembrando de nossos momentos secretos roubados juntos
na floricultura, na minha caminhonete, no meu quarto – e que talvez
ele me conheça de maneiras diferentes dos meus irmãos. — Ele ganha
um passe livre.
Isso parece agradar a todos o suficiente para que suas atenções se
desviem de mim.
— Falando nisso... — Amelia começa. — Adivinha o que eu
trouxe para vocês de Los Angeles
Desligo quando Will se aproxima do meu ouvido.
— Tudo bem eu estar aqui? Achei que seria porque todos na
cidade pensam que estamos namorando agora. Mas talvez eu tenha
presumido errado, e você quer manter nossos encontros em segredo?
Hmm, tudo bem que ele esteja aqui? Que seu hálito quente está
acariciando a concha da minha orelha e fazendo minha cabeça girar?
Que apenas a proximidade dele faz o sangue em minhas veias
queimar? Não. Não está tudo bem. E acho que é justo que ele se
mude para muito, muito longe porque, querendo ou não, ele está
lentamente destruindo meus planos.
— Estou feliz que você está aqui — eu digo com um sorriso
tranquilo. — E minha família sabe que não estamos realmente juntos
agora. Eles adivinharam outro dia, então não há pressão para agir
assim na mesa.
— Hmm — diz ele fazendo um barulho profundo em sua
garganta. — Isso é ruim.
E algo acontece comigo que eu nunca experimentei antes. O
mundo ao meu redor desmorona e, pela primeira vez, não estou
preocupada com o que as pessoas estão pensando de mim. Tudo o
que sei é que os olhos de Will estão fixos nos meus, e sua boca está se
curvando suavemente e sua mão está caindo para minha perna, onde
se espalha como se já tivesse estado naquele mesmo lugar centenas de
vezes antes. E antes que eu perceba, estou me inclinando para frente.
Ele me encontra no meio caminho e nossos lábios se roçam.
Não é o suficiente, porém, e instintivamente minha mão se
levanta para agarrar sua nuca, meu corpo se curvando em direção ao
dele enquanto sua mão se contrai contra minha coxa. Nossas bocas se
movem e se pressionam e parece tão certo. Tão quente, seu toque
queima de dentro para fora. Eu sinto o sutil deslizar de sua língua na
minha e é quando a realidade me atinge. Oh meu Deus, estamos nos
beijando na mesa na frente da minha família. Eu! Annie Walker está
dando uns amassos em um ambiente público. Afasto minha boca da
de Will e acaricio meus lábios com as costas da mão.
Todos – e eu quero dizer todos neste bar – estão com os olhos
arregalados, encarando. Eles se parecem com desenhos animados com
mandíbulas abertas.
Emily fala primeiro enquanto uma risada passa por sua voz.
— Bem, acho que o sexy bancário Teller está desejando ter
convidado você para sair agora.
— O que?
Meus olhos voam sobre o ombro de Will e, com certeza, John está
aqui, observando, parecendo tão chocado quanto todos os outros. É
claro que minhas irmãs não sabem que eu realmente fui a esse
encontro com John e que foi um desastre, então eles esquecem da
declaração de Emily rapidamente. Mas porque eu saí com ele e ele
prejudicou minha autoestima ao sair no meio do encontro, toda uma
nova camada é adicionada àquela sessão pública de amassos com Will.
Eu não fiz isso para chamar a atenção de John ou provar qualquer
coisa para ele, mas saber que ele está tendo que engolir suas palavras,
que talvez eu não seja tão chata ou sem sal quanto ele suspeitava, uma
onda de alegria dispara por mim. Mas eu o teria beijado em público?
Eu me sentiria segura o suficiente com ele para deixá-lo me tocar do
jeito que deixei Will? Eu acho que não.
Will percebe minha expressão triunfante e vira o rosto para ver
onde meu olhar está pousando. E posso sentir o momento em que
todos os pontos se conectam para ele. Seu corpo enrijece um pouco,
e quando ele olha de volta para mim, seu rosto está um pouco vazio
de emoção.
— Aquele era o cara, certo?
Eu não preciso que ele explique.
— Sim.
Ele acena com a cabeça algumas vezes.
— Legal. Acho que você conseguiu deixá-lo com ciúmes — ele diz
em voz baixa para que o resto da mesa não possa ouvir.
— Não, Will, isso é...
— É exatamente o que eu teria feito. Bom trabalho. Toda essa
prática está valendo a pena. — Ele me dá um sorriso que parece tão
falso que quero limpá-lo de seu rosto. Eu odeio esse sorriso. Esse não
é o sorriso dele. Isso é um sorriso de proteção. E serve apenas para me
lembrar que Will não quer que eu o conheça. Ele prometeu desde o
início que isso nunca seria nada além de práticas, e ele está
restabelecendo esses limites agora.
Eu odeio isso.
Will

Já se passaram alguns dias desde aquele beijo no bar que me abalou


completamente. Não, não estou sendo dramático e não estou
exagerando. Acho que nunca pensei em um beijo por mais de vinte
minutos depois do fato. Mas o beijo de Annie... aquele beijo suave e
vulnerável, está passando pela minha cabeça há três dias. Foi perfeito
de uma forma que não consigo descrever. Eu sei que a atenção do
público é difícil para ela, então tê-la iniciando aquele beijo porque ela
queria foi demais.
Mas então ela olhou por cima do meu ombro e um ciúme que eu
nunca senti tomou conta de mim. Foi para demonstrar. É claro que
foi. Ela não fez nada de errado. Na verdade, como eu disse a ela, é
exatamente o que eu teria feito se alguém que eu gostaria de deixar
com ciúmes estivesse por perto. Eu só queria poder dizer que não dói
perceber que isso significou tanto para mim e foi apenas parte de uma
manobra dela.
Eu achei que... deixa para lá. Não importa.
Depois do beijo, fui ao bar tomar uma cerveja. Mas, para ser
honesto comigo mesmo, fui encontrar o idiota sentado no bar que
teve a audácia de abandonar Annie no meio de um encontro.
E eu sei que ele é um idiota porque quando eu cheguei e pedi uma
cerveja, ele me perguntou se Annie e eu éramos exclusivos. Por um
longo minuto, tudo o que pude fazer foi encará-lo. Olhei para ele e
imaginei dando um soco nele porque ele só quis a Annie depois que
ele a viu me beijando em público. Ele não é o tipo de homem que vai
saboreá-la ou tratá-la bem ou desnudar suas camadas para ganhar sua
confiança. Ele está procurando uma diversão rápida com ela, e isso é
demais para aguentar.
Mas se é isso que Annie quer, não é da minha conta atrapalhar,
não importa o que eu pense dele. Então eu fui honesto.
— Não, não é sério. Provavelmente irei embora no final do mês.
— E por alguma razão, dizer essa última parte fez com que todos os
músculos do meu corpo fiquem tensos.
Suas sobrancelhas se ergueram com um olhar ansioso que me fez
odiá-lo ainda mais.
— Sério? — Ele sorriu enquanto toma um gole de sua cerveja. —
Legal. Acho que a julguei mal.
E então eu me odiei naquele momento também, porque fui um
idiota desrespeitoso por falar sobre Annie sem a presença dela. Por
jogá-la para um tubarão, tudo porque estou com medo de admitir
que segurá-la em meus braços é o mais perto que cheguei de me sentir
verdadeiramente feliz em muito tempo. Eu nem sabia que faltava
felicidade. Mas agora que notei, posso identificá-la com uma precisão
assustadora.
Não sei o que isso significa para mim agora ou para onde ir a partir
daqui. Em nenhum lugar, talvez?
E é por isso que tenho me escondido e evitado ela nos últimos dias.
Inventei uma falsa ameaça de fã e disse a Annie que precisava ficar
estacionado do lado de fora do estúdio de Amelia enquanto ela
trabalhava e que não poderíamos ir à cidade. Nem Amelia
questionava por que esse tipo de coisa acontece de vez em quando.
Nossa agência vigia de perto seus perseguidores conhecidos e
recebemos alertas quando eles estão em um determinado perímetro
de alcance. Eu me sinto mal por adicionar preocupações
potencialmente desnecessárias à vida de Amelia, sugerindo que o tal
perseguidor está por perto? Não. Porque eu não sou o mocinho –
embora passar um tempo com Annie me faça sentir incrivelmente
próximo de um.
Hoje estamos indo para a cidade, no entanto. Eu não poderia
manter a hipótese de uma ameaça em potencial por muito mais
tempo. Atualmente estou acompanhando Amelia pela calçada em
direção à Loja das Tortas. As aparições de paparazzis têm sido
mínimas ultimamente, e mesmo agora só consigo ver um carregando
uma lente longa no lado oposto da praça, mas falei com minha
agência ontem à noite e eles preveem um aumento acentuado nas
próximas duas semanas que antecedem o casamento. Estou em modo
de foco total no trabalho quando estamos em público, mantendo um
olho ao nosso redor o tempo todo em busca de qualquer ameaça em
potencial. Zero por cento do meu cérebro está focado em Annie ou
no que ela está fazendo ou no que tem feito em seus dias ou porque
ela nem sequer me mandou uma mensagem. E é aí que meu pé bate
em um buraco na calçada e eu tropeço, quase caindo de bunda na
calçada antes de me segurar.
— Puta merda, Will! — Diz Amelia, estendendo a mão me
ajudando a levantar. Eu não aceito a mão dela e, em vez disso, me
levanto sozinho com exuberância extra, roçando minhas mãos
levemente esfoladas contra meu jeans. — Você está bem? Nunca vi
você tropeçar antes.
— Estou bem, vamos continuar.
A boca de Amelia está aberta e ela parece quase rindo.
— Você está corando. Também nunca te vi corar! Eu não sabia
que você poderia ficar envergonhado. — Agora ela está rindo e eu a
odeio por isso. Afinal, temos certeza de que ela não é minha
irmãzinha chata?
— Vamos, não precisamos ficar aqui. Tem paparazzi ali. — Quem
definitivamente capturou minha queda espetacular na câmera e irá
publicá-la o mais rápido possível. Legal. Exatamente o tipo de
imagem que eu quero espalhada pela internet. Guarda-costas
Desajeitado & Corado.
Isso é culpa de Annie. Outra razão pela qual preciso tirar minha
cabeça das nuvens. Relacionamentos interferem. Eles são ruins para
as pessoas. Eles são...
— Onde diabos está Annie? — Pergunto a Amelia quando
passamos por sua floricultura e vemos uma placa de “Fechado” na
porta.
— Ela está doente.
— O quê? Desde quando? — Minha voz soa um pouco ansiosa
demais.
Amelia aponta para o pequeno bilhete colado na porta. Está com
a caligrafia de Annie. Somente em uma cidade tão pequena alguém
deixaria um bilhete como este: “Estou doente! Volto quando não
sentir mais que tenho um desentupidor preso no nariz.”
Eu olho nitidamente para Amelia.
— Há quanto tempo ela está doente?
— Acho que desde o dia seguinte à ida ao bar do Hank.
Merda. Eu não fazia ideia. Agora me sinto péssimo. Este tempo
todo ela esteve doente, e eu não a procurei. Espere. Não. Não é meu
trabalho verificar se ela está bem. Eu sou o treinador de encontros
dela, não o namorado ou o enfermeiro. Se fosse qualquer outra
pessoa no mundo, eu nunca pensaria duas vezes sobre alguém estar
resfriado. Na verdade, eu ficaria ainda mais longe para não pegar
nada. Só vou tirá-la da cabeça e a ver quando tiver que vê-la.
Caminhamos em silêncio alguns passos.
— Você acha que ela está com febre?
Amelia ri para si mesma.
— Ela estava..., mas eu não sei se ela ainda está.
Eu bato meu polegar na lateral da minha coxa e tento ficar em
silêncio novamente.
— Só não entendo por que ninguém me disse que ela estava
doente.
Ela faz uma pausa e se vira para mim com olhos sorridentes.
— E eu não sabia que deveria lhe atualizar sobre a saúde diária de
Annie.
— Bem, agora você sabe que deve. Eu sempre quero estar
informado sobre... a saúde de todos.
— OK. Agora eu estou ciente — diz ela, com profunda satisfação.
Damos mais alguns passos antes que Amelia interromper o silêncio.
— O filho de Davey quebrou o braço na semana passada.
— Quem? — Eu franzo a testa para ela.
— Você sabe. Pequeno Charlie?
— Não.
— E Mabel disse que estava com cócegas na garganta outro dia.
Eu me pergunto se ela está pegando o que Annie tem.
Respiro fundo para a calmar meu aborrecimento. Eu vejo o que
ela está fazendo.
— Oh, e eu ouvi que Gemma vai ter que fazer uma cirurgia para
alguns de seus joanetes no final deste mês!
— Amelia.
— O que?! — Ela ri. — Eu pensei que você queria ser mantido
informado sobre a saúde de todos. Estou apenas informando você
conforme o seu pedido!
Eu gemo.
— Digo isso com todo o respeito como alguém que trabalha para
você – por favor, cale a boca.
Assim que eu digo isso, Noah sai d’A Loja das Tortas.
— Ela não sabe como fazer isso. Acho que é fisicamente impossível
para ela, na verdade. — Ele sorri para ela e ela se atira para os seus
braços, inclinando o rosto para beijá-lo. Bem aqui em plena luz do
dia, onde os paparazzi se satisfazem. Esses dois não se importam – eles
estão em uma bolha apaixonada. Tão em uma bolha que Noah saiu
para cumprimentar Amelia como um golden retriever ansioso
demais. Eu nunca serei assim.
Amelia olha para mim por cima do ombro assim que eles
terminam sua demonstração pública de afeto.
— Obrigada por me acompanhar, Will. Ficarei aqui a tarde toda
com Noah e depois voltarei para casa com ele. Então você está livre
pelo resto do dia para ir... onde quiser e ver... quem você gostaria de
ver.
Noah franze a testa levemente.
— Você está falando sobre Annie, certo?
Ela o belisca levemente no lado.
— Eu estava tentando ser sutil.
— Eu te amo, mas não havia nada de sutil nisso. Deixe-o em paz e
venha me incomodar — diz Noah, puxando Amelia para longe
enquanto ela tenta me olhar para ver se eu confesso algo em seu
caminho para dentro d’A Loja de Tortas.
Só quando ela está fora de vista eu viro e saio correndo para o
mercado.

Coloco uma caixa de lenços no balcão do caixa, seguida por uma caixa
de remédio para resfriado, alguns tipos de chá quente e alguns
produtos aleatórios; e então deixo meus olhos percorrerem a petição
da cidade, tentando impedir que eu e Annie ficássemos juntos. Até
agora, está com péssimos resultados. Três votos a favor (Mabel, Emily
e Madison) e mais de cem votos contra. Por que isso faz meu
estômago afundar?
Eu me afasto e olho para os olhos mais aterrorizantes que já vi: os
de Harriet. Essa mulher é severa e calculista o tempo todo. E ela
realmente me odeia.
— Hmm... remédio para resfriado — diz ela de uma forma
estranha.
Concordo com a cabeça e pesco minha carteira no bolso de trás
enquanto ela começa a escanear tudo, exceto o remédio para
resfriado.
De repente, uma voz áspera soa à direita do meu ombro. De
Mabel, ela está em toda parte.
— Muitos produtos para gripes e resfriados, William. Está se
sentindo mal?
— Uh-não, senhora.
— Então por que você precisa de todo esse remédio para resfriado,
hmm? — Diz Harriet, erguendo as sobrancelhas até a linha do cabelo.
— Você está planejando fazer drogas com eles?
Eu franzo a testa para a única caixa de Tylenol Gripe + Resfriado.
— Acho que você está pensando no remédio que contém
pseudoefedrina.
Seus olhos se estreitam em minha direção, descem para minhas
tatuagens e voltam para o meu rosto.
— Você saberia, não é?
Isso me faz rir. Sim, minha manga de flores e folhagens intrincadas
combinadas com a borboleta realmente se enquadra no perfil padrão
para viciados em metanfetamina. Eu me pergunto o que esta cidade,
ou o público em geral, pensaria se descobrissem que eu fui o orador
da turma de formatura. Que eu tinha pontuações tão altas e me
destacava em tantas atividades extracurriculares (alô, clube de
ciências) que entrei no MIT. Que eu nem fui ao meu primeiro
encontro até me formar no ensino médio e decidir que estava cansado
de viver minha vida com perfeição sem que isso ajudasse em nada.
Olho para trás, para o meu eu mais jovem, e encolho ao lembrar
de como pensei que tirar nota máxima ajudaria meus pais a brigar
menos. Que fazer muitas tarefas extras em casa e cuidar do meu irmão
mais novo removeria um pouco do estresse deles, então talvez eles
realmente gostassem de estar perto um do outro. Gritar menos e
sorrir mais. Não. Em vez disso, não me diverti no ensino médio por
nada. No segundo em que me formei, dei de cara com a parede. Eu
não conseguia ir a algum lugar e continuar trabalhando para algo que
não me importava. Foi quando entrei para o exército.
— Harriet, o que você está pensando? Você está desconfiando da
coisa errada — diz Mabel, abrindo caminho ao meu lado para colocar
as mãos nos quadris. — O homem não está tentando fazer drogas, sua
idiota. Ele está tentando fazer amor.
— Desculpa, o quê? — Eu pergunto, mas Mabel não está mais
prestando atenção em mim.
— Não me chame de idiota, sua velha maluca. E isso é ainda pior
se ele estiver tentando fazer amor com uma caixa de remédios.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, posso garantir a vocês duas, não estou...
— Que nojo, Harriet. Não com a caixa. Com Annie! A mulher
com quem ele está saindo. Ele está claramente comprando toda essa
merda para cuidar dela porque a ama.
— Não. Mais uma vez, eu não...
— Isso é verdade? — Harriet olha para mim, tentando decidir se
vou fazer coisas indescritíveis com esta caixa de remédio para resfriado
ou não. Não consigo decidir se ela acha que é melhor ou pior do que
fazer isso com Annie. — Você está levando tudo isso para a nossa
Annie?
Eu suspiro, realmente desejando não ter que trazer toda a maldita
cidade para esta decisão mal pensada de cuidar da minha namorada
falsa.
— Sim. É tudo para Annie.
Ela cantarola enquanto seus lábios se franzem firmemente.
— Eu realmente não te vejo como alguém que cuida dos outros.
— Nem eu me vejo. Mas aqui estamos — digo a ela em um raro
momento de vulnerabilidade.
— Só um minuto, William — diz Mabel, desaparecendo em um
corredor antes de retornar com uma braçada de ingredientes e colocá-
los no balcão com um aceno firme. — Vou te ensinar a fazer a sopa
preferida dela. Isso vai animá-la e dar a você alguns pontos extras.
Eu quero pontos extras?
Droga, eu quero.
Agradeço a Mabel com um sorriso e depois me viro para Harriet.
Meu sorriso morre. Eu quase pulo com o olhar severo em seus olhos.
Como se ela estivesse lentamente extraindo minha alma e a
analisando. Silenciosamente, Harriet chega a algum tipo de
conclusão sobre mim, e então pega a caixa de remédio para resfriado
e começa a escanear.
Estranhamente, me sinto aliviado por isso. Talvez até um pouco
orgulhoso.
Há claramente algo na água desta maldita cidade.
Annie

Ok, Annie. Você consegue. Você pode tirar sua bunda do chão e ir à
consulta médica.
Isso é o que eu ganho por precisar de água. Achei que já havia
treinado meu corpo para não precisar mais dela – para viver com uma
dieta rigorosa apenas de café – mas não. A pequena doninha decidiu
desafiar-me e exigir reidratação.
Depois de beber meu gole de água obrigatório, pensei que só
precisava de um pouco de descanso, então me sentei no chão da
cozinha, e então isso se transformou em deitar no chão da cozinha, e
agora aqui estou eu... trinta minutos depois, ainda deitada aqui, a
cabeça latejando, as orelhas parecendo que alguém bateu com um
taco de beisebol nelas e o nariz está tão entupido que é possível que
eu nunca mais respire pelas narinas.
Minhas irmãs viajaram para o México ontem, e agora estou me
perguntando se é aqui que vou morrer e como minhas irmãs vão me
encontrar quando voltarem para casa radiantes e bronzeadas da praia.
Elas vão pairar sobre o meu corpo e rir que eu morri vestindo calcinha
com estampa de banana e regata combinando. Mas não é minha culpa
que eu não consigo dormir com a calça do pijama, e foi muito difícil
me vestir antes de entrar na cozinha porque meu corpo não tem mais
energia de tanto gastar tentando respirar.
Mas eu tenho que me levantar. Devo me levantar. Tenho um
encontro amanhã com Brandon, o cara da floricultura. Eu o
investiguei no Instagram, depois trocamos algumas mensagens de
texto e marcamos um encontro para sábado, que é amanhã. Até
agora, não sinto faíscas quando conversamos, mas tenho certeza de
que isso virá mais tarde. Não precisa se preocupar, Annie. Mais cedo,
consegui ligar para a Dra. Mackey e marcar uma consulta para esta
tarde, então talvez ela pudesse prescrever algo para me deixar melhor
antes do encontro – mas como diabos eu vou chegar lá?
Neste momento, há uma batida na minha porta. Não atendo
porque estou apenas 50% consciente. Acho que pode ser um ladrão
porque ouvi a maçaneta virar, seguida da porta se abrindo. Bom. Vou
pedir uma carona para ele para ir ao médico.
— Annie? — Uma voz paira sobre mim, e eu me encolho porque
conheço aquela voz, e também sei que estou sem calça. Eu ouço um
baque quando ele cai de joelhos. — Merda, Annie. Fale comigo, você
está bem?
— Will? Você está brincando comigo? — Eu abro meus olhos para
encontrar o homem mais atraente do mundo ajoelhado ao meu lado,
parecendo aliviado por eu não estar morta. Isso é doce.
Sei que deveria ficar chateada por ele me ver sem calça
(especialmente porque sei que ele está me evitando desde aquele beijo
mal interpretado no Hank na outra noite), mas, em vez disso, sinto
uma profunda sensação de paz.
— Eu não estava tentando te usar para fazer ciúmes, sabe — digo,
porque estou morrendo de vontade de contar a verdade a ele há dias.
Mas eu não queria fazer isso por telefone.
— Shh... está tudo bem, Annie.
Ele empurra meu cabelo para trás e eu pego seu pulso.
— Não está bem. É importante para mim que você saiba que não
foi um jogo.
Will respira fundo e acena com a cabeça.
— OK.
Eu sorrio, me sentindo como se 40 quilos tivessem saído de
minhas costas agora que isso está fora do meu peito e fecho meus
olhos novamente.
— Ok, agora saia. Você não deveria me ver assim.
— Como o que? Sem calça? Vestindo calcinha estampada com
pequenos desenhos de banana? — Ele pergunta dando um sorriso
torto. — Fofinha. Ela combina com seus pijamas.
Eu gemo e jogo meu braço sobre meus olhos.
— Me deixe morrer.
— Essa é uma opção. Mas então quem atenderia às necessidades
de flores de todos na cidade?
— As chaves estão na minha bolsa. A loja é sua agora. Por favor,
não dê a ninguém buquês de cravos feios.
Uma risada baixa e estrondosa soa em seu peito, e tudo que eu
quero é pressionar meu rosto contra ela e sentir as vibrações contra
minha bochecha.
— Eu não amo flores tanto quanto você.
— Diz o homem que as tem tatuadas na pele por toda a
eternidade.
— Bom saber que você ainda tem seu senso de humor. — Sinto
sua mão repousar sobre minha testa e ele sibila. — Nossa, você está
queimando. Você tomou alguma coisa ultimamente?
— Não. Eu não consigo me mover. Meu corpo não funciona
mais.
A mão de Will acaricia afetuosamente a linha do meu cabelo,
afastando meu cabelo suado do meu rosto.
— Por que você não me ligou para vir cuidar de você? Ou ligou
para Noah?
Eu faço uma careta.
— E arriscar que algum de vocês fique doente? Sem chance. Eu
vou ficar bem. Tenho uma consulta médica em uma hora.
— Bom. Mas como você planeja chegar lá?
— Vou pegar carona nas costas de uma tartaruga.
— Muito prático — diz ele com as costas dos dedos demorando
contra o meu pescoço. — Vamos tirar você do chão, raio de sol.
Raio de sol. Estou tendo alucinações ou Will acabou de me
chamar pelo apelido mais doce que meus ouvidos já ouviram?
Os braços fortes de Will passam por baixo das minhas coxas e
costas nuas, me levantando do chão e me levando para o meu quarto,
onde sou depositada delicadamente na cama. Sou imensamente grata
pela parte gentil porque minha cabeça parece que vai explodir. Eu
poderia apreciar muito mais toda essa ternura se não estivesse perto
da morte. Infelizmente.
Eu ouço Will mexer no meu armário por um minuto e então
voltar para os meus pés.
— Annie, vou colocar essa calça em você para poder levá-la ao
médico, ok? Você pode dar um sinal de vida de que está tudo bem
comigo fazendo isso?
Eu resmungo uma afirmativa, e então Will gentilmente puxa meus
pés e pernas para dentro do meu pijama e o desliza por todo o meu
corpo até que esteja abaixo dos meus quadris. Uso minhas últimas
forças para levantar minha bunda para que ele possa deslizá-la pelo
resto do caminho. O estranho é que sou a pessoa mais recatada que
você já conheceu, mas não me sinto nem um pouco constrangida por
estar seminua. Eu confio nele de uma forma que não deveria. De uma
forma que sei que só vai me machucar mais tarde, quando ele lembrar
que não é o tipo de relacionamento que gosta. Que ele odeia o
casamento. Que ele absolutamente não está retribuindo os
sentimentos que captei.

O sol se pôs e estou me sentindo mais eu mesma e um pouco


menos como um cadáver ambulante. Will me levou ao médico, onde
fui diagnosticada com sinusite e infecção de ouvido. Depois de me
trazer de volta para casa e me colocar na cama, ele foi à farmácia e
comprou meus antibióticos. Eu tomei e então dormi o dia inteiro,
pensando que acordaria em uma casa vazia novamente, mas ao invés
disso, eu saio do meu quarto para encontrar Will na minha cozinha...
cozinhando.
— O que você está fazendo? — Eu resmungo, imediatamente
repreendida por minha garganta seriamente seca e dolorida.
Ele franze a testa levemente e dá a volta na ilha da cozinha para
colocar a mão na minha testa novamente.
— Parece que sua febre baixou. Isso é bom. O remédio deve estar
funcionando.
Empurro levemente sua mão, porque tudo que quero fazer é me
inclinar para ela.
— Will, o que você ainda está fazendo aqui?
— Fazendo o jantar. — Ele se volta para a panela que estava
mexendo. Um cheiro bom o suficiente para rivalizar com uma das
sopas de Maddie. — Você deveria ir se sentar. Vou trazer uma tigela
para você em alguns minutos.
Eu quero chorar. Meus sentimentos geralmente bem guardados
estão bem na superfície da minha pele, expostos e crus.
— Não. Quero dizer, o que você ainda está fazendo aqui? Como
se... Você não deveria estar aqui.
— Por que não?
— Porque, você sabe!
— Não, me diga?
Eu caio e envolvo meus braços em volta de mim para maior
conforto e estabilidade, porque, sim, o remédio está funcionando,
mas ainda sinto como se um ônibus tivesse passado por cima de mim.
Não posso dizer a Will que ele não deveria estar aqui porque nos
beijamos três vezes e foram todos tão bons que realmente acho que
vou precisar de um quarto beijo. Ou pior ainda, que eu quero que ele
fique e converse, se aconchegue e ria comigo a noite toda.
Depois da noite no Hank, eu disse a mim mesma que iria me
afastar de Will porque se continuássemos naquela trajetória em que
estávamos, isso significaria um desastre e dor de cabeça para mim.
Portanto, nada de mensagens de texto. Sem potenciais
desentendimentos. Nada de práticas até que eu pudesse limpar a
sensação de seus lábios do meu cérebro e seu sorriso do meu coração,
porque estou começando a duvidar seriamente da minha capacidade
de manter Will na categoria casual, onde ele quer pertencer. E agora
aqui está ele, complicando tudo com uma sopa.
— Você vai pegar meu resfriado. Você precisa ir.
Ele estreita os olhos enquanto olha ao redor das bancadas.
— Você tem pimenta por aqui? — Sua borboleta esvoaça por toda
a cozinha.
— Você deveria estar no trabalho.
— Procurei no armário de temperos, mas não está lá.
— Encontrei antenas crescendo na minha cabeça.
— E o sal também. Ambos desapareceram.
Suspiro e abro o armário acima do fogão e pego o saleiro e o
pimenteiro.
— Maddie diz que eles são um casal e merecem a privacidade de
sua própria casa. E você não está me ouvindo.
Will sorri, gentilmente pegando os temperos das minhas mãos.
— Eu tenho um sistema imunológico muito forte. Amelia me deu
o dia de folga. E você vai ficar muito fofa com antenas.
— Wilington...
— Annie. — Seu comportamento despreocupado se transforma
em algo sério. Desprotegido. Ele coloca as mãos nas laterais dos meus
braços e depois as desliza até meus dedos. — Por favor. Apenas me
deixe ficar aqui. Não sei por que, mas não consigo estar em outro
lugar. Eu tentei, mas meus pés continuam me trazendo de volta aqui
para sua porta. — Ele faz uma pausa, olha para a sopa e depois para
mim. — Isso... não é algo que eu normalmente faria, mas eu só
preciso cuidar de você. Por favor, me deixe fazer isso.
Bem. Com uma resposta dessas, como posso dizer não? O que é
outra pequena fratura no meu coração? Voltarei a construir limites
amanhã, indo ao meu encontro com minha potencial alma gêmea
perfeita, e tudo ficará bem.
— As tigelas estão no armário à direita. E é melhor você colocar
essa faca de volta no mesmo lugar que você a encontrou, ou Maddie
vai cortar seu pescoço quando ela chegar em casa.
Ele solta um suspiro, solta minhas mãos e sorri.
— Entendi. Reorganizar completamente as gavetas da cozinha
antes que Maddie volte. Agora vá se sentar antes de decidir acampar
no chão novamente.
Eu faço o que ele diz, pegando um grande cobertor felpudo de
uma cesta enorme ao lado do sofá e enrolando-o em volta dos meus
ombros. Sento, colocando minhas pernas sobre as almofadas,
descansando meu rosto contra o encosto para que eu possa olhar para
Will por cima. Seus ombros se movem enquanto ele serve a sopa, e
me pergunto se posso culpar minha doença se pedir a ele para tirar a
camisa enquanto cozinha.
Perco a coragem e Will traz uma tigela fumegante para mim no
sofá. Ele coloca na mesa de centro e, em seguida, se senta aos meus
pés, os levantando e os puxando para seu colo. Eu pisco, atordoada
com seu toque físico descontraído. Tátil. Ele é apenas tátil.
— Will?
— Hum?
— Você é tão carinhoso com todo mundo? — Eu pergunto,
acenando para onde suas mãos estão agora descansando sobre minhas
canelas.
— Praticamente — diz ele, hesitando antes de trazer seus olhos
azul-acinzentados para encontrar os meus.
Fico instantaneamente desapontada e com ciúmes. Não há
nenhuma razão para que eu esperasse que ele fosse assim só comigo –
e ainda assim aqui estou. Um pouco triste. Culpo o frio e o fato de só
estar assim com ele.
Will franze a testa.
— Isso não é o que você queria ouvir?
Eu aninho o lado do meu rosto contra o travesseiro estofado que
mantemos no sofá.
— Não sei o que quero ouvir. Eu estou doente. Está mexendo
com a minha cabeça. E você está me alimentando, o que é uma erva-
doce para molengas como eu.
O lado direito de sua boca se ergue em um sorriso.
— Você normalmente não é carinhosa, não é?
— Eu não diria que não sou carinhosa. Eu nunca tive ninguém
com quem ser carinhosa. Acho que devo acidentalmente lançar um
campo de força invisível que diz às pessoas que não quero ser tocada.
E parece muito estranho começar de repente depois de todo esse
tempo.
Will olha para os meus pés descalços e então começa a esfregar
suavemente meus calcanhares e minha panturrilha. É tão bom que
quero chorar. Todos os músculos do meu corpo estão com cãibras
devido à desidratação hoje. E as mãos quentes de Will são exatamente
o que eles precisam para relaxar. Infelizmente, também está
funcionando da maneira oposta, enchendo meu corpo de calor.
— Você pode ser carinhosa comigo. Não vou pensar nada além —
ele diz casualmente, como se não tivesse acabado de me entregar as
chaves de um palácio dourado. Porque a verdade é que adoro o toque
físico. Desejo mais do que quero admitir. Mas minha timidez e
ansiedade social muitas vezes me impedem de ter isso primeiro.
Espero que outras pessoas iniciem e, às vezes, isso me deixa esperando
para sempre.
Eu forço meu tom de voz para soar calmo e nem um pouco
animado com este passe de acesso total para a cidade dos abraços.
— Certo. Porque você é minha pessoa para praticar. Posso praticar
iniciação de aconchego.
— Exatamente. — Ele olha para mim.
— Como Fred e Audrey antes do final.
Ele franze a testa.
— Agora eu me perdi.
Eu aceno para ele.
— Não se preocupe com isso.
Ficamos sentados em silêncio tenso por vários minutos antes de
Will quebrá-lo, se inclinando e movendo suavemente a tigela de sopa
da mesa para o meu colo.
— Já esfriou. Você precisa comer um pouco, se puder. A médica
disse que caldo quente é bom para a garganta.
Não estou nem um pouco surpresa ao descobrir que Will é
carinhoso e atencioso. Mas eu acho que ele é...
O primeiro gole é sal, manteiga e cenoura. Canja de galinha –
minha favorita. Will veio até minha casa, vestiu meu pijama, me levou
ao médico e me fez canja de galinha. Não se atreva ler nas entrelinhas
disso, coração.
Meu coração enfia arrogantemente um par de óculos na ponta do
nariz. Ele pode ser carinhoso por natureza, mas normalmente não faz
isso com outras mulheres, ele me lembra de forma inútil. Eu chuto meu
coração nas canelas.
— Está muito bom, obrigada.
— É a receita da Mabel. Ela me encurralou no mercado e
empurrou ingredientes em minhas mãos depois que soube que eu
estava vindo para cá. Ela também me seguiu até o carro e escreveu a
receita inteira no verso do recibo do supermercado, o que foi bom
porque eu nunca fiz sopa antes e definitivamente teria gosto mais de
xixi de gato do que qualquer outra coisa.
Eu rio e estremeço quando meus ouvidos, cabeça e garganta
doem. Coloco a sopa na mesa e esfrego as têmporas para aliviar um
pouco da dor. É bem possível que um gemido patético também
escape da minha boca.
— Venha aqui — Will diz, sem esperar pela minha resposta antes
de colocar meus pés no chão e começar a me ajustar. Ele coloca um
travesseiro em seu colo e então acomoda minha cabeça nele. E então
ele gentilmente passa os dedos sobre meu couro cabeludo e meu
pescoço em movimentos suaves de massagem. Suas mãos são quentes
e seguras enquanto ele as move sobre mim, mas é mais o fato de que
ele parece se importar tanto que está fazendo meu coração se
contorcer.
— Seus pais também eram afetuosos? Foi daí que você puxou isso?
Seus dedos param no meu cabelo, e acho que talvez eu o tenha
assustado. Vai haver um buraco em forma de Will na minha porta da
frente a qualquer momento.
— Tão afetuosos quanto os lobos podem ser, sabe? — Ele diz,
tentando ser leviano e falhando.
Eu olho para ele.
— Sem mais piadas. Por favor, conte.
Ele suspira e suas mãos se movem pelo meu cabelo novamente.
— Não gosto de falar sobre minha infância, Annie. Na verdade,
trabalhei muito para bloqueá-la.
— Entendo. E se você realmente não quiser, eu desisto. Mas se há
alguma parte de você que quer me contar, prometo ser uma boa
ouvinte e não tocar no assunto novamente se você não quiser.
Um sorriso suave toca o canto de sua boca.
— Ninguém jamais a acusaria de não ser uma boa ouvinte. Na
verdade, acho que você foi feita para ouvir demais.
Estendo a mão e belisco o tecido de sua camiseta macia perto de
seu peito e puxo levemente.
— Conte. Vamos, eu tenho a carta de estar doente. Me deixe usá-
la.
Will abre a palma da mão voltada para cima.
— Me deixa ver.
Suspiro dramaticamente e finjo tirá-la da calça do meu pijama. Eu
bato contra a palma da mão. Will o segura contra a luz para inspeção
e, em seguida, dá um furo imaginário e faz um som de tsc com a boca.
Ele devolve o cartão.
— O seu é apenas um passe de um dia. Expira à meia-noite.
— Combinado.
Ele lança os olhos para o teto como se estivesse procurando
inspiração sobre por onde começar.
— Uh-ok, bem. Em poucas palavras, cresci em um lar
disfuncional. Havia muitas brigas e traições acontecendo entre meus
pais. Meu pai dormia muito no meu chão e falava sobre todas as
brigas quando ele realmente deveria ter calado a boca sobre isso. — O
tom de Will é duro como granito na última frase, e antes que eu
perceba o que estou fazendo, eu me viro para encarar seu abdômen.
Talvez seja porque ele me deu permissão, talvez seja porque algo em
mim me faz me sentir livre com Will – eu não sei – mas não hesito
antes de passar meus braços ao redor dele.
Ele não para de passar os dedos pelo meu cabelo e pelo meu
pescoço. Não me faz sentir que isso é algo fora do comum. Meus
braços ao redor dele parecem tão naturais quanto respirar.
— Vá em frente — eu insisto.
— Se você me visse naquela época – no colégio e antes – você não
me reconheceria — ele diz com uma espécie de sorriso triste. — Eu
usava camisas polo, Annie. E óculos. E eu nunca socializava, nunca.
— Espere... — Eu olho para ele. — Você usa óculos ainda?
— Só à noite, depois de tirar as lentes de contato.
Meus ovários tremem com esta notícia. É muito para lidar, então
eu engulo, faço um som evasivo de hmm, e então espero que ele
continue.
— Eu me esforcei durante toda a escola porque pensava... — ele
acrescenta uma risada curta. — Pensava que ajudaria. Eu esperava
que, se eu pudesse ser o filho perfeito para eles, se pudesse ajudar a
cuidar do meu irmão e garantir que nunca trouxéssemos um estresse
adicional, então…
— Então eles ficariam felizes.
— Exatamente.
Nossos olhos se conectam e suas palavras ressoam em algum lugar
dentro de mim.
— Eu me identifico. Embora de uma forma um pouco diferente.
Porque, para mim, eu estava tentando manter a vida livre de estresse
para meus irmãos durante o luto. — Meu olhar se move para a camisa
de Will enquanto sinto um aperto doloroso do meu passado contra
o meu coração. Não tenho certeza se já disse isso em voz alta antes –
ou mesmo percebi que era verdade. Mas agora me sinto quase fora de
mim, enquanto observo uma Annie mais jovem tentar juntar os cacos
para seus irmãos. Cortando as mãos no processo e nunca contando a
ninguém que está sangrando.
Não percebo que estou franzindo a testa até sentir o polegar de
Will roçar minhas sobrancelhas, relaxando-as.
— Parece que nós dois colocamos nossas necessidades em segundo
plano durante momentos críticos de nossas vidas.
E, no entanto, estamos ambos buscando caminhos diferentes para
nos encaixar. Ele não quer nada com relacionamentos, e eu quero.
Eu pisco de volta para ele.
— Então funcionou? Sua perfeição valeu a pena?
Sua mandíbula se flexiona lutando contra as memórias.
— Não — diz ele calmamente. — Eu formei como orador da
turma e entrei no MIT, mas Dale e Nina ainda eram tóxicos, uma
grande surpresa. Eles não conseguiam fazer nada certo aos olhos um
do outro e, como resultado, Ethan e eu também não podíamos fazer
nada certo. Acho que eles se ressentiram profundamente de suas
vidas. Então, para responder à sua pergunta, não, eles não eram
carinhosos.
— Sinto muito, Will. Você não merecia isso deles.
— Sim... bem, deu tudo certo, então está tudo bem. Depois da
minha cerimônia de formatura, cheguei em casa e minha mãe estava
chorando porque meu pai descobriu que ela havia o traído de novo,
e então... — ele franze a testa para a parede — ela gritou comigo por
não ter tirado o maldito lixo naquela manhã. Por isso, me irritei.
Arrumei uma mala e fui embora. Eu simplesmente não conseguia
mais fazer isso. Em vez disso, fiquei em um hotel por uma semana e
depois entrei para o exército. Eu me senti péssimo por deixar meu
irmão para trás daquele jeito, mas precisava ir, e a Força Aérea estava
distribuindo camisetas de graça do lado de fora do supermercado. —
Ele sorri auto depreciativamente.
— Uau. — Eu tento processar tudo o que ele acabou de dizer, não
sendo totalmente capaz de imaginar esse tipo de vida. E para ser
honesta, se eu estivesse no lugar de Will, também não posso dizer que
me sentiria diferente sobre relacionamentos. Seria difícil entrar em
um quando ele viu tanta dor em torno de um relacionamento que
deveria ser estável para ele.
— A parte realmente triste é que meus pais estão melhor agora,
porque depois que meu irmão e eu saímos de casa, eles finalmente se
divorciaram. Eles disseram que sempre ficaram juntos por nossa
causa – e devemos ser gratos por terem nos dado esse tempo como
uma família completa. Quão confuso isso é?
— Isso é difícil. Você os vê agora?
— Ocasionalmente, mas não com frequência. Não tenho vontade
de passar um fim de semana inteiro com eles e fingir que minha
infância não me destruiu por pouco. E também não sou corajoso o
suficiente para brigar com eles por causa disso. Então eu apenas os
evito.
— Eu não culpo você, Will. Eu também não gostaria disso. —
Meus olhos traçam as linhas de seu rosto, e sinto uma raiva protetora
crescer contra qualquer um que ousasse tratá-lo como se ele não fosse
a pessoa mais maravilhosa do mundo. Como se ele não fosse precioso
e valioso. — Quanto tempo você esteve no exército?
— Seis anos na ativa, dois na reserva. Servi como especialista das
Forças de Segurança.
— Você não gostou?
Ele dá de ombros levemente.
— Mais ou menos. Era mental e fisicamente exaustivo e deixava
muito pouco espaço para viver a vida fora disso. Eu estava pronto para
algo diferente no final. Tenho um amigo que me apresentou a agência
que estou agora, e comecei a treinar com eles enquanto estava na
reserva. O resto é história. Já tive bastante treinamento em combate
corpo a corpo em minha carreira militar, mas com a agência também
fui treinado em direção evasiva e em vários outros cursos de
armamento.
— Isso significa que você carrega uma arma?
— Não para proteger celebridades. Principalmente ao proteger
políticos ou pessoas com alto nível de ameaça. Você tem que ter
autorização para isso.
De repente, penso em Will em um daqueles trabalhos de alto nível
de ameaça e tendo que usar uma arma ou ser confrontado com outra
pessoa usando uma, e meus braços instintivamente o apertam.
— Você já se arrependeu de não ter ido para o MIT e escolhido
uma carreira diferente?
Há uma pausa carregada que não perco.
— Acho que não gosto da palavra arrependimento. Cada escolha
que fiz foi valiosa de uma forma ou de outra. E o fato é que, se eu
tivesse ido para o MIT naquela época, provavelmente teria
continuado lutando pela perfeição acadêmica e voltado para casa
quando não deveria. Mas os militares me forçaram a conseguir o
espaço de que precisava – se é que isso faz sentido. Foi em algum lugar
que meus pais e seu drama não poderiam alcançar facilmente.
Meus olhos caem para o braço dele. Suas flores. Eu traço meu dedo
sobre as pétalas.
— Então você estava se escondendo de seus pais na árvore.
— Sim — ele diz enquanto seus dedos trilham pelo meu pescoço
e para a pele exposta onde a parte de cima do meu pijama se abriu
sobre o meu ombro. Seu toque roça minha tatuagem de livro e sinto
o sorriso na ponta de seu dedo. — Então, isso responde a todas as suas
perguntas, Senhorita Curiosa?
— Ainda não.
Ele geme.
— Me conte sobre seu irmão. Como ele é? Ele também é anti-
relacionamento?
— Meu irmão costumava se sentir como eu. Contra toda a ideia
de casamento e como se estivéssemos melhor sem um... até
recentemente.
— O que aconteceu recentemente?
— Ele conheceu uma pessoa e acabou de ficar noivo. — Ele faz
uma pausa e apenas nos encaramos por um minuto – pensamentos e
sentimentos não ditos correndo como correntes no ar. — Tenho
evitado suas ligações porque não consigo dizer a ele que estou feliz
por ele. Isso faz de mim o irmão mais merda do mundo?
— Não. Acho que significa que você ainda está muito magoado, e
aposto que ele provavelmente entende.
Will sorri e empurra uma mecha do meu cabelo para trás do meu
rosto.
— Você vê muita bondade em mim, Annie. Existe uma
possibilidade muito real, você sabe, de que eu seja apenas um idiota
muito egoísta que usa as mulheres e vive de acordo com meus
próprios caprichos só porque gosto mais da vida assim.
Eu murmuro levemente e fecho meus olhos, sentindo a exaustão
me pressionar novamente.
— Isso é o que você gostaria que eu e todas as outras pessoas
pensássemos.
De repente, sinto o polegar de Will traçar meu lábio inferior.
— É hora de tirar esses óculos cor de rosa, raio de sol.
Eu coloco meu queixo e me aconchego mais perto de seu
estômago porque ele me deu permissão e também porque é tão bom
fazer isso. Apenas estar perto de alguém e ganhar o carinho que desejo
há tanto tempo, sem qualquer pressão ou medo de que ele não seja a
pessoa certa para mim.
— Sem chance. Eu amo como o mundo fica bonito com eles. Você
é um cara legal, Will, eu realmente espero que você saiba disso.
— Harriet discordaria. Ela pensou que eu estava fazendo
metanfetamina com seu remédio para resfriado.
Começo a cochilar neste conforto preguiçoso.
— São as tatuagens. Ela sempre as odiou. Você deveria ter visto
como ela ficou brava quando descobriu que Noah tem uma
tatuagem. Não o deixou comprar nada além de vegetais no mercado
por uma semana.
— E o que você acha das minhas tatuagens agora que realmente as
viu? — Ele diz, passando a parte de trás de seus dedos contra minha
mandíbula e cabelo. Nunca me senti tão confortável com ninguém
em toda a minha vida.
— Eu acho que elas não são tão interessantes quanto o homem
que elas representam. E que nunca me senti mais segura com alguém
como me sinto contigo.
Eu sinto sua respiração contra o meu rosto enquanto ele solta um
suspiro profundo.
— Annie. O que estamos fazendo? — Ele pergunta mais a si
mesmo do que a mim.
Eu não respondo. Em vez disso, caio em um sono profundo e
acordo horas depois, no meio da noite, aninhada ao lado de Will na
minha cama. Ele não foi embora. E fico apavorada quando percebo
que espero que nunca se vá.
Will

— Você está tão assustado por acordar ao meu lado de novo — Annie
diz, olhando para mim quando eu pensei que ela estava dormindo.
Eu estive acordado, olhando para o teto nos últimos vinte minutos e
reavaliando todas as minhas escolhas de vida. E a mensagem de texto
que li quando acordei.
— Um pouco, sim.
— Você deveria estar assustado mesmo. Já liguei para o pastor e ele
está a caminho para nos casar imediatamente. — Mesmo sabendo
que ela está brincando, meu estômago afunda e aperta. Infelizmente,
não por medo.
Annie se senta, com o cabelo caindo em cascata sobre o ombro e
apoia o queixo no meu peito.
— Ajudaria se eu dissesse que não estou esperando nada mais? —
Sua voz ainda está rouca e seu nariz está entupido, mas ela soa muito
melhor do que ontem. Quero fazer um chá com mel para ela.
Eu franzo a testa – e minto.
— Sim. Isso é verdade? Porque a noite passada pareceu...
significativa entre nós, e significativa me assusta para caralho.
— Eu sei.
— E então eu dormi aqui novamente, embora eu tenha uma
política muito rígida de não passar a noite – e estou perdendo a
cabeça.
Seus lábios carnudos e rosados se curvam em um sorriso delicado.
Porra, ela é linda. Mesmo com os olhos inchados e um pouco
vermelhos.
— Acho que o que aconteceu conosco ontem à noite foi amizade,
o que também pode te assustar.
— Com certeza.
— Por quê?
Eu faço um som tsc.
— Seu cartão expirou à meia-noite.
Annie é implacável.
— Você realmente não tem amigos, Will?
Suspiro e volto meus olhos para o teto. Ela me prendeu aqui. Não
vou fugir sem contar a ela toda a verdade sobre mim.
— Meu trabalho me mantém ocupado. Não há muito tempo para
os amigos.
— O que é intencional — diz ela, me colocando no centro da
conversa. Eu sabia que havia contado muito a essa mulher sobre mim
ontem à noite. Agora ela conhece todos os meus pontos fracos.
Eu cubro sua mão descansando no meu peito com a minha.
— Sim. É. — Faço uma pausa e ela apenas espera. — Depois de
basicamente criar a mim e ao meu irmão, quando saí de casa e
encontrei alguma liberdade, decidi que estava cansado de viver para
outras pessoas. Eu ia ser egoísta por um tempo e aproveitar isso para
caramba. Sem relacionamentos. Ninguém para colocar grandes
expectativas em mim, e eu nunca posso ser decepcionado por alguém
se eu nunca os deixar aproximar em primeiro lugar. Este trabalho me
deu a desculpa perfeita para me manter ocupado e feliz.
Annie franze o nariz.
— E agora aqui está você. Na minha cama.
Ela acrescenta essa última frase porque sabe que isso é um desvio
severo do meu plano. Intimidade desse tipo nunca foi algo que eu
quis... até agora.
Annie se afasta de mim e volta para seu travesseiro, e nós dois
olhamos para o teto.
— Annie, a verdade é que eu realmente quero me afastar de você.
Mas também sinto vontade de lhe contar tudo. Que feitiço você
lançou sobre mim?
Ela ri e desliza aqueles lindos olhos azuis sobre mim, me espiando.
— Você tem sentimentos por mim, Will?
Eu solto uma risada.
— Annie. Você não pode simplesmente perguntar isso a uma
pessoa. Isso é contra as regras.
— Por quê?
— Porque... devemos manter tudo escondido e viver em angústia.
Mantenha o outro sem respostas e miserável. É assim que funciona.
Seus lábios se curvam e ela desliza a mão sobre as cobertas para
unir delicadamente nossos dedos.
— Você gosta de mim, Will?
Eu seguro seu olhar e aperto seus dedos enquanto suas palavras
arrancam a verdade de mim como sempre fazem.
— Sim, eu gosto, Annie. Você gosta de mim?
— Sim. Indo contra o meu melhor julgamento.
Eu rio completamente com isso e, em seguida, passo minha mão
livre sobre meu rosto.
— É por isso que você precisa correr para longe de mim. Me
expulsar. Fechar suas janelas. Trancar suas portas. Tenho tanta
bagagem, Annie... não tenho certeza se seria bom para você. Ou que
algum dia serei do tipo que se casa.
Ela se ajusta, rolando para o lado, mas não soltando minha mão.
— Eu posso cuidar de mim mesma, obrigada. — Ela sorri
levemente e todo o meu peito dói. — Eu não estou vivendo em um
mundo de fantasia aqui. Você e eu somos duas pessoas que acabaram
tendo sentimentos, mas nunca deveriam. Nossas vidas estão em
caminhos diferentes que de alguma forma conseguiram se cruzar
acidentalmente ao longo do caminho.
— Então o que fazemos agora?
— Nós sofremos — diz ela dramaticamente, mas com uma pitada
de diversão tocando o canto da boca. — Continuamos amigos.
— Amigos.
— Essa é a única opção para quem quer coisas diferentes, não é?
Então, seremos amigos, e sentiremos saudades por um tempo, e então
um dia estarei velha e casada com um monte de netos aqui em
Kentucky e você será um pirata em um navio em algum lugar nas
Bahamas com um pequeno coque no cabelo.
— Oh, não — eu digo gravemente. — Você ama piratas. Você vai
sentir saudades de mim enquanto está deitada ao lado de seu velho e
bom marido?
Ela acena com a cabeça.
— Infelizmente, sim. Mas não tanto quanto você sentirá saudades
da mulher que deixou para trás.
Como a honestidade é tão fácil conosco? Fácil demais.
— De qualquer forma — Annie diz, se sentando e balançando as
pernas para fora da cama —, você está fora das garras do matrimônio,
Menino Lobo. E eu tenho que fazer xixi – não ouça — Annie diz
antes de desaparecer em seu banheiro e fechar a porta como se
tivéssemos acabado de discutir o que há para o jantar, em vez de
admitir sentimentos.
Tão bom. Sim. Eu estou livre. Eu deveria sentir um grande alívio.
A qualquer segundo, o Grande Alívio me inundará. Não me
inundou. Não sinto alívio, me sinto frustrado.
Estou pensando demais com minhas emoções, esse é o problema.
Eu preciso ser lógico. E logicamente, tenho uma carreira que me
afastará de Rome aconteça o que acontecer. Logicamente, estou feliz
vivendo assim desde os dezoito anos. Esses sentimentos estão apenas
passando por lombadas inesperadas em minha estrada cheia
liberdade. Então o que preciso fazer é ignorá-los e continuar com meu
plano. Me divertir com Annie e depois dizer adeus com um término
bom e sem ressentimentos quando eu for embora. Até ela acha que
esta é a melhor decisão.
Sim. É bom. Isso é bom.
Um minuto depois, Annie sai do banheiro e volta para a cama,
sem hesitar nem um segundo antes de se aconchegar ao meu lado.
— Você quer um pouco de café?
Eu observo seus longos cabelos loiros, seus suaves olhos azuis e a
curva de sua boca, e jogo todos os meus planos pela janela e considero
fazer a única coisa que me assusta como o inferno: ficar. Esquecer a
estrada aberta da liberdade. Acho que tenho tudo o que poderia
precisar em meus braços.
Mas então o telefone de Annie vibra na mesa de cabeceira. Pego
para ela, mas a tela acende e vejo o nome: “Brandon Larsdale (o cara
da floricultura)”.
Sem dizer nada, entrego para Annie, e nem percebo que espero
que esse cara não seja nada além de um fornecedor de flores até que
ela abre a mensagem, nem mesmo tentando esconder a tela de mim,
e vejo as palavras: “Ainda está de pé o nosso encontro esta tarde?”
Portanto, não é um fornecedor de flores.
— Você... tem um encontro? — Eu pergunto a ela, franzindo a
testa e odiando o quão patético eu pareço por estar perguntando isso.
— Sim. Mais ou menos. Eu queria te contar, mas... não consegui
achar o momento certo. — Ela olha para mim. — Desculpe. Eu
deveria ter te contado antes.
Meu estômago afunda. Annie tem um encontro.
— Não, isso é... totalmente bom... ótimo mesmo. — Me sento e
jogo as pernas para fora da cama.
— Will... — Annie diz em um tom terno.
Eu dou a ela um sorriso rápido por cima do ombro para tentar
impedi-la de sentir minha estranheza.
— Está tudo bem, Annie. De verdade. Esta é a coisa certa.
Acabamos de dizer que estamos em caminhos diferentes e este é o
curso exato que o seu deve seguir — eu digo, me concentrando ainda
mais em soar normal e não como se eu estivesse sentindo um ciúme
de mil sóis. Como se eu quisesse encontrar esse cara e empurrá-lo
contra a parede com meu punho e avisá-lo para não tocar em Annie
ou ele morrerá.
Eu vou para o banheiro e jogo água no meu rosto e me preparo
para escovar os dentes com os dedos apenas para que eu possa
controlar-me. Ela tem um encontro. Annie tem um encontro esta
tarde. Com um cara. Um cara chamado Brandon. Um cara chamado
Brandon vai levar Annie para um encontro.
Não sei por que estou listando todos esses fatos como se
pertencessem a uma parede com pequenos cordões vermelhos
conectando todas as pistas. Meu comportamento agora é ridículo.
Patético. Não é como se eu não previsse isso. É literalmente o que
estamos trabalhando.
Ela disse desde o início que seu objetivo era encontrar sua alma
gêmea. Oh Deus, e se esse Brandon for sua alma gêmea? Ele se torna
sua alma gêmea e eu sou apenas sua pessoa perfeita para praticar por
um tempo.
Aperto o tubo de pasta de dente com muita força e a pasta voa
pelo banheiro até a parede.
Annie entra no banheiro naquele exato momento e, sem dizer
nada, molha um pano e enxuga a pasta de dente colorida. Tenho que
passar as mãos no rosto porque ela parece tão autenticamente bonita
e calma, e isso só serve para deixar meus nervos ainda mais frenéticos.
Por que estou agindo assim? Eu nunca fico com ciúmes. Nunca me
importo se uma mulher com quem estou saindo sai com outro
homem.
Eu me importo se Annie sair.
— Wilton — ela diz suavemente, pegando meus ombros e me
puxando para ela. — Vamos conversar.
— Não precisamos. — Eu consigo não soar imaturo de alguma
forma. Mas quero que ela saiba que não me deve nenhum tipo de
explicação. Ela é dona de si e eu sou... apenas seu amigo.
— Você veio e fez sopa. E cuidou de mim. E me aconchegou. E
disse que gosta de mim. E então viu uma mensagem dizendo que
estou saindo com outro cara. Claro que preciso lhe contar o que está
acontecendo.
— Não estamos juntos de verdade, então... está tudo bem. Você
não me deve nada. — Viu? É por isso. Esta é uma das razões pelas
quais não quero casamento ou relacionamento. Você nunca pode
prever qual será o próximo passo de uma mulher ou quando ela fará
algo que dói demais.
Annie parece determinada a me fazer olhar para ela. Ela segura
meu maxilar em suas mãos.
— Mas você quer saber quem era?
— Ele é o seu encontro para hoje?
— Sim.
— Então eu acho que estou a par.
Ela deixa cair as mãos, mas continua a me encarar com seu olhar
implacável.
— Ele é um cara que entrou na floricultura na semana passada
enquanto você estava fora da cidade. Ele é veterinário e acabou de se
mudar para a cidade vizinha à nossa. — Ela faz uma pausa. — Nós
nos demos bem e ele pediu meu número. Eu disse a ele que não estava
procurando nada casual agora, e ele disse que também não, então eu
dei a ele meu número porque – esse não era o objetivo o tempo todo?
Eu quero me casar. Eu quero ter uma família. Eu preciso fazer isso,
Will. Você não entende, mas eu tenho que me casar. Eu tenho esse
buraco no meu coração, e não consigo fechá-lo. Essa é a única coisa
que resta para tentar fechá-lo, embora eu tenha certeza de que não vai
funcionar, e você vai embora, e eu vou me casar, e ainda vai estar lá
vazio e machucando. — Ela está começando a chorar.
Eu coloco minhas mãos na parte externa de seus braços com
ternura.
— Está tudo bem, Annie. Você não precisa se explicar. Eu
entendo. Você tem que fazer isso por você.
Ela continua, no entanto.
— Brandon e eu trocamos mensagens de texto esta semana, e ele
chamou para sair hoje. Eu não te contei, embora quisesse, porque
estava com medo de te afastar e, egoisticamente, não quero que você
vá embora ainda.
Eu expiro enquanto agarro suavemente seu bíceps e a puxo um
pouco mais para perto.
— Se há algo que entendo perfeitamente, Annie, é agir por
necessidade egoísta.
Ela dá um sorriso triste. Um sorriso corajoso.
— Ele parece legal, no entanto. Temos os mesmos objetivos. Eu
tinha que dizer sim, Will. Não havia razão para que eu não o fizesse.
Eu não posso nem ficar chateado com isso, porque ela está certa.
Eu não sou um motivo. Eu disse a ela de antemão que nunca seria um
motivo. Qualquer conexão estranha que tenhamos é um pontinho na
linha do tempo de nossas vidas. Um interlúdio que pensaremos com
carinho. E logo, espero, voltarei à vida real, e Rome e Annie e todos
nesta cidade absurda serão apenas lembranças.
Forço um sorriso que diz que não sinto nada.
— Estou feliz por você, Annie. Realmente. E este é um ótimo
momento, na verdade, porque tenho algo que preciso contar a você
também. — Eu paro. — Vou embora logo.
Ela franze a testa levemente.
— O que?
— Depois do casamento. — Tento dizer isso da forma mais casual
e desapegada possível. — Não se preocupe, você não está me
afastando. E não é por causa do seu encontro com Brandon. — A
mentira escapa facilmente. — Meu chefe aprovou minha
transferência para Washington, D.C., e eu aceitei.
Eu tenho que olhar para todos os lugares, menos para o rosto dela.
Se eu olhar em seus olhos, ela verá a verdade. Amelia ligou para minha
chefe ontem e disse que estava tudo bem em ser transferida para um
novo AEP (o que parece um momento suspeito), então a mensagem
que li esta manhã confirmou que fui liberado para me mudar para
um novo emprego após o casamento.
O problema é que ainda não disse sim. Eu tinha planejado
responder a Liv e perguntar se eu poderia ter alguns dias para pensar
sobre isso, porque eu poderia querer ficar em Rome, afinal. Mas este
encontro iminente de Annie é exatamente o chute na bunda que eu
precisava para lembrar que tudo o que está acontecendo entre nós é
passageiro. Eu não deveria mudar todos os meus planos de vida por
uma pessoa que conheci há apenas algumas semanas. Estou seguindo
meu próprio conselho para Ethan e pisando no freio. Ou... acho que
uma metáfora mais precisa seria pisar fundo no acelerador e sair
daqui.
— Mas... Amelia não quer um guarda-costas diferente.
— Agente de proteção executivo — eu digo fracamente. — E ela
disse a minha chefe que estava bem com isso. Vai ser difícil seguir em
frente sem... ela, mas está na hora. Eu preciso de uma vida mais
agitada. Não posso mais ficar aqui ou... — Ou vou começar a querer
coisas que me assustam. Ou vou pensar em fazer as coisas que prometi
que nunca faria. — Vou ficar entediado.
Nos filmes, é aqui que Annie se sentiria magoada. Era para ferir.
Para cortar nós dois para que eu pare de ter esses malditos
sentimentos e para mostrar a ela que não sou o mocinho que ela quer.
Eu tenho um passado confuso e um coração confuso que mantenho
cerrado com força em meu punho junto com uma série de mulheres
em todo o país que atestarão o fato de que nunca vou liberá-lo para
mais ninguém.
Mas esta é a Annie. E ela não faz nada como previsto.
Seu sorriso se inclina para um que está tão perto da pena que meus
dentes se apertam. Ninguém – e quero dizer ninguém – jamais foi
capaz de me ler tão bem. Mas Annie sim. É como se ela tivesse as
legendas ativadas para o meu cérebro e ela não se sente magoada. Ela
fica triste por eu estar aqui mentindo para ela.
Ela olha para baixo e limpa a garganta.
— Ok, bom. Estou feliz por você, Will.
— E eu estou feliz por você.
Estamos todos felizes, somos felizes!
Depois de um silêncio doloroso, finalmente pergunto:
— Então, onde você vai no seu encontro?
Ela estreita os olhos.
— Por que a pergunta?
Eu puxo um olhar ofendido.
— Como assim por quê? Eu sou seu treinador de encontro. É meu
trabalho saber tudo sobre sua vida amorosa. Isso não tem nada a ver
com os... — eu me inclino e abaixo minha voz como se estivesse
compartilhando um grande segredo — sentimentos sobre os quais
conversamos antes. Esses estão oficialmente voltando para a caixa
onde pertencem daqui em diante.
Ela ri baixinho.
— Bem, se você quer saber, vamos ao jogo da liga infantil do
sobrinho dele.
Minhas sobrancelhas sobem.
— Liga infantil? Para um primeiro encontro?
Ela dá de ombros.
— Ele é um homem de família, aparentemente.
Quando eu rio, pareço um vilão.
— Que perfeito. Acho que ele está procurando uma esposa para
fazer carne assada nos fins de semana também?
— Espero que não. Não sei fazer carne assada.
Eu o odeio. Quem quer que seja.
Mas você sabe o que? Brandon não está aqui com Annie agora. Eu
estou.
— Então... você acha que ele vai te beijar hoje?
Seus olhos se arregalam.
— Não sei. Talvez? Oh Deus. Você acha que ele vai tentar?
Cruzo os braços e dou de ombros.
— Eu te beijaria no primeiro encontro.
Seus olhos seguram os meus – e eles brilham. Ela está lendo minha
mente novamente. Ela sabe exatamente o que estou fazendo e aprova.
— Bem... talvez possamos praticar um beijo de primeiro
encontro? Você sabe, só para não ser pega desprevenida.
— Claro. Certo. — Eu aceno pensativamente. — Como seu
treinador de namoro, é minha responsabilidade garantir que você
esteja preparada para esse tipo de coisa.
— Isso é o que eu estava pensando.
Eu me aproximo.
— Então, como você quer fazer isso? Tipo... encenar?
— OK.
— Ok — repito enquanto meu coração bate forte. — Batendo o
ponto de entrada — eu digo, já pressionando em direção a ela.
Ela levanta seus dedos e os pressiona rapidamente em meus lábios
para me parar.
— Espere. Estou resfriada. Tive febre ontem. Não quero que você
pegue.
— Você se sente mal agora?
— Não, eu me sinto muito melhor hoje, mas...
— Então dê-me o maldito resfriado, Annie — eu digo baixinho
ao lado de seu ouvido. Eu a sinto tremer levemente, mas sei que não
é de febre.
Deslizo minhas mãos pela parte inferior de suas costas, avançando
ao longo do terreno que estou começando a me familiarizar. Eu
tenho esta pequena curva memorizada. Aquela logo acima de sua
bunda perfeita. Eu sei que se eu abrir minha mão contra ela e
pressioná-la contra mim, ela vai ofegar levemente e então se derreter
em meus braços. Eu faço isso agora, e depois de ouvir o suspiro suave
que eu gostaria de capturar em uma jarra e manter selado por toda a
eternidade para que ninguém mais tenha o prazer de ouvi-lo, eu
começo a falar.
— Imagine isto: seu encontro está chegando ao fim. Você está
queimada de sol por ficar sentada por horas nas arquibancadas e, ao
lado de sua caminhonete, ele lhe entrega um Capri Sun que roubou
do refrigerador de lanches pós-jogo de Pam...
Annie ri e empurra meu peito de brincadeira.
— Pare com isso! Não é assim que vai acontecer!
— Está bem. Vou falar sério. — Eu faço meu rosto sombrio. —
Annie... eu me diverti muito com você vendo as crianças nunca
acertarem uma bola de beisebol por cinco horas e meia...
— Inútil! Você é inútil!
Nós dois estamos rindo e Annie está tentando me fazer cócegas,
mas em vez disso, eu a pego e a carrego para seu quarto para jogá-la na
cama.
— Você acha que vai ter uma cama no jogo de beisebol?
— Absolutamente.
— Então... — Eu pairo sobre Annie e mergulho minha cabeça em
seu pescoço, correndo meus lábios em sua pele. — Annie, obrigada
pelo melhor primeiro encontro da minha vida. Podemos sair de
novo?
Ela suspira enquanto eu lambo levemente a pele macia atrás de sua
orelha.
— Eu acho que pode ser aceitável – sim.
— Maravilhoso. Que tal no próximo final de semana? Conheço
um castelo inflável sendo erguido para o aniversário de uma criança
de oito anos. — Eu inclino minha boca sobre a dela antes que ela
tenha tempo de dar-me qualquer resposta afiada, e ela me
corresponde beijo atrás de beijo. Sua língua desliza contra a minha, e
suas mãos escalam minhas costas. Estou tremendo com o quanto
estou me segurando. O quanto eu quero arrancar suas roupas de seu
corpo e consumi-la completamente. Seria tão bom. Nós seríamos tão
bons juntos.
Mas Annie não é minha.
Então eu me acalmo e de alguma forma consigo me afastar dela,
observando sua expressão triste quando afasto. Beijo sua bochecha,
sua têmpora e sua testa.
— Eu devo ir.
Annie acena com a cabeça me seguindo para fora de seu quarto e
parando na porta da frente aberta enquanto eu saio. Antes de ir, não
posso deixar de olhar para ela mais uma vez.
— Se divirta no seu encontro, Annie. — Eu paro. — Talvez ele
possa te levar para comer alguns nuggets de frango depois.
Ela geme e revira os olhos.
— Fechando a porta agora!
— Você quer um dólar emprestado para um refrigerante caso ele
esqueça sua carteira de couro?
Bam!
Annie

— Obrigado por concordar em vir comigo ao jogo do meu sobrinho


— diz Brandon. Ele está sentado ao meu lado em uma das
arquibancadas de metal que (como previsto por Will) está tão quente
que está queimando o jeans do meu macacão. — Eu sei que não é
normal, mas... — Ele ri e dá de ombros bem-humorado. — Bem,
honestamente, isso será muito normal para mim agora que estou de
volta. Pretendo me aproximar mais da minha família do que no
passado.
Dez pontos no requisito “homem de família”.
— Acho ótimo. Algum dos outros membros da sua família estão
vindo? — Eu pergunto, grata por meu remédio para resfriado estar
funcionando e meu nariz não me deixar fanhosa e falando como Sr.
Snuffleupagus da Vila Sésamo.
— Ninguém além de meu irmão, Rob — diz ele, apontando para
o homem de meia-idade parado no campo com as mãos nos quadris.
— Ele treina o time. E então minha cunhada normalmente estaria
aqui também, mas ela teve seu bebê há duas semanas, então ela vai
ficar em casa hoje.
Certo. Aquela para quem ele comprou flores. Parece que esse cara
é atencioso em grande estilo. Todos os pontos por isso.
— Você tem algum outro irmão na cidade? — Pergunto,
admirando discretamente sua barba bem cuidada e seus olhos
castanhos escuros. Ele também está vestindo uma camiseta do time,
Pequenos Grizzlies, e eu acho incrivelmente cativante.
Brandon tem vibes confortáveis escritas nele. Vibe de pai em
potencial. Assim como Emily e Madison me disseram que eu
precisava.
— Não, somos apenas eu e meu irmão. Mas nossos pais também
moram na cidade.
Uau. Outro requisito preenchido. Ele tem os pais em sua vida. O
que significa que eu poderia ter a presença de pais em minha vida
também, se dermos certo.
— Aposto que eles estão ansiosos para ter outro neto — eu digo,
me sentindo super orgulhosa de minhas habilidades de jogar conversa
fora hoje. Esse encontro já está se mostrando completamente
diferente do meu último. Acho que todo o tempo que passei com
Will valeu a pena. Não é que praticamos muitas coisas específicas
sobre encontros no geral. É mais que aprendi nas últimas semanas
com ele a confiar em mim e no que tenho a oferecer. Ele tem sido um
lugar seguro para mim...
Ugh! Não, Annie, pare de pensar em Will!
Brandon solta uma bela risada baixa.
— Ah, eles estão. E eles estão muito ansiosos para que eu comece
a adicionar alguns à lista também. O que eu não me importo porque
também estou ansioso para começar uma família — diz ele com um
sorriso fácil enquanto olha para o campo. Nem um pouco
envergonhado por ele ter apenas insinuado que iríamos direto à fase
de ter filhos se dermos certo. Engraçado como os homens podem se
safar dizendo coisas assim em um encontro e é cativante, mas quando
eu disse, fui abandonada dez minutos depois do encontro.
Dou um pulo de repente quando Brandon bate palmas e grita:
— Vamos lá, Hunter!
Ele vira o rosto para mim, e seu sorriso só aumenta. É um sorriso
tão bonito que espero pelas borboletas em meu estômago. Vá em
frente, borboletas, voem. Tudo bem, apenas um pouco então? Posso pelo
menos sentir uma conexão? Escute... eu me contentaria com uma
contração no estômago.
Nada. Que droga.
Ah, bem. Não é um problema. Relacionamentos amorosos de
longo prazo são construídos com base em mais do que apenas
borboletas no estômago, certo? Então, mesmo que eu não as sinta
agora, está tudo bem. Há muito caminho a ser percorrido. O que
estou procurando é um parceiro. Não aventura de uma montanha-
russa.
Se ao menos eu não tivesse experimentado um grande enxame de
borboletas no estômago esta manhã, talvez isso fosse mais fácil. Will
não apenas ficou comigo até que meus ossos parecessem serem feitos
de mingau, mas... ele me disse que tem sentimentos por mim.
Sentimentos. E eu disse a ele que tenho sentimentos por ele. E agora
aqui estou eu, em um encontro com outra pessoa. Parece tão errado,
retrógrado e desconcertante. Quando duas pessoas declaram seus
sentimentos, elas ficam juntas, certo?! É assim que acontece. Mas é
claro que eu me apaixonaria por um homem que não acredita em
casamento. Que não quer ter uma família. Quem quer permanecer
selvagem e livre como um pássaro.
Eu sabia que sentiria algo por ele desde o começo, não é? Acho
que algo em mim sabia que eu era capaz de amá-lo desde o segundo
em que coloquei os olhos nele.
Mas eu nunca, nem em meus sonhos mais insanos, tentaria mudar
Will, e ele não quer tentar me mudar. Nenhum de nós quer pedir ao
outro que sacrifique nada. Portanto, nossa única opção é seguir em
frente.
Vasculhando minha mente em busca de conselhos sobre namoro
Daquele que Não Deve Ser Nomeado, eu recordo de um pedaço de
conversa memorizada.
— Então, Brandon... você prefere pular de paraquedas ou ler um
livro?
— Oh, boa pergunta. — Ele faz um barulho pensativo e estreita
um olho. — Ler um livro.
Ding, ding, ding. Resposta correta! Viu estômago? Esse cara está
cada vez melhor.
Eu me inclino animadamente em direção a ele.
— Eu também! Eu amo ler. Qual é o seu gênero favorito?
— Praticamente qualquer coisa — diz ele, e depois acrescenta: —
Bem, não é verdade. Qualquer coisa, exceto romance.
Oh, não.
Eu rio levemente para cobrir meu desespero.
— Por que não romance?
Ele me dá um olhar provocante.
— Porque todo o gênero parece confuso. Primeiro, estabelecem
padrões irrealistas que ninguém consegue alcançar e, segundo, é
apenas... bobagem. Prefiro ler algo que realmente tenha conteúdo,
sabe?
Começa a minha crise interna:
Ele odeia romance.
Mas ele ama sua família!
Mas ele acabou de menosprezar todo um gênero que eu adoro
chamando-o de bobo.
Mas escondi meus hábitos como uma leitora de romance por toda
a minha vida adulta. O que são mais alguns anos?
A voz de Will aumenta o caos na minha cabeça desde quando ele
leu o livro de romance que dei a ele. Era sexy como o inferno. E houve
muitos momentos profundos também. Parecia uma terapia gratuita.
Ugh. Isso não é justo, no entanto. Eu não deveria comparar Brandon
e Will. São dois homens completamente diferentes. Tipo... Brandon
não está se parecendo nada com Will.
No entanto, esse pensamento é irrelevante porque Will está indo
embora e não planeja olhar para trás.
— E você? — Ele pergunta. — Que tipo de livros você gosta de
ler?
O sol parece ficar oito vezes mais quente, se é que isso é possível.
Se você ouvir com atenção, poderá ouvir o som do meu suor
escorrendo pela minha nuca.
— Oh eu? Bem... na verdade...
Duas figuras de repente me chamam a atenção, tentando pular na
arquibancada lateral, várias fileiras atrás de nós. Oh meu Deus... isso
não pode estar acontecendo. O que eles estão fazendo aqui?
— O que há de errado? — Brandon pergunta, prestes a virar a
cabeça para olhar para o caminho de Will e Amelia, usando bonés de
beisebol, óculos escuros e... Amelia está usando um bigode falso?
Eu agarro o queixo de Brandon e o puxo de volta em minha
direção. Seus olhos se arregalam enquanto eu finjo derrubar um
inseto imaginário de sua mandíbula.
— Era uma abelha. Não queria que você fosse picado.
— Uma abelha? — Ele pergunta, imediatamente se levantando.
— Sou muito alérgico a abelhas. — Ele está procurando a abelha em
todos os lugares. Agora me sinto péssima.
— Oh, não se preocupe. Já foi! Ela caiu sob as arquibancadas.
— Sério? Ok, precisamos nos mover, então, caso ela tenha um
ninho. Você está bem se subirmos algumas fileiras?
Dou uma olhada rápida para cima e os únicos assentos disponíveis
são ao lado de Tweedle Narigudo e Tweedle Bigodudo. Sério, quem
Amelia pensa que está enganando usando um bigode? E nem está
preso. E Will... bem, ele está vestido normalmente e parece
absolutamente delicioso com aquele boné, e é por isso que não posso
sentar ao lado dele.
— Oh, eu não acho que precisamos. Tenho certeza que a abelha...
— Sinto muito, sei que pareço muito paranoico aqui, mas o
problema é que prefiro não usar meu antialérgico hoje se não for
necessário.
E agora me sinto péssima por esse homem pensar que eu não
estava preocupada com sua segurança. Ou que ter uma alergia mortal
é um inconveniente para mim.
— Oh meu Deus, absolutamente. Vamos.
— Ótimo, obrigado — diz ele, estendendo a mão para que eu o
siga primeiro.
Quando me viro e encaro Will, ele imediatamente desvia o olhar e
tenta se esconder atrás da aba do chapéu. Ele levanta a mão para puxar
o boné mais para baixo sobre os olhos, e isso me faz rir. Como se ele
não pensasse que era distinto o suficiente por conta própria, ele está
se protegendo com seu braço tatuado. Legal.
Subo as arquibancadas e paro bem na frente de Will.
— Com licença, senhor, este lugar está ocupado?

Os dois culpados erguem os olhos para mim e depois para o homem


atrás de mim.
— Claro! Sente-se aí, mocinha! — Diz Amelia com a pior
imitação de sotaque de homem do interior que já ouvi.
Will – o diabo – morde os lábios para não rir.
— Obrigada — eu digo solenemente enquanto me sento ao lado
de Will. Brandon se senta ao meu lado e agora somos um grande e
desajeitado sanduíche humano. Devo apenas reconhecer que
conheço esses dois malucos ao meu lado e colocar tudo para fora? Se
eu fizer isso, no entanto, isso pode levantar muitas questões.
Nenhuma das quais me apetece responder.
De repente, o sobrinho de Brandon se levanta para rebater e
Brandon se levanta de seu assento batendo palmas e gritando
encorajamentos.
Aproveito a oportunidade para virar minha cabeça em direção a
Will e Amelia.
— Que raio vocês dois estão fazendo aqui? — Eu sussurro.
— Apenas curtindo o passatempo favorito da América. — Se eu
pudesse descrever a expressão de Will em uma palavra, seria
provocação.
Enfio meu cotovelo em suas costelas.
— Não se atreva a sorrir agora! Vocês dois precisam ir.
Imediatamente. Amelia, você está ridícula.
— Sair antes que eu descubra quem ganha o jogo? Nunca. Nós
não somos fãs momentâneos — Will diz muito exagerado.
— Pare com isso. E você... — eu digo me inclinando para Amelia.
— Seu bigode está caindo!
Ela engasga e o pressiona de volta com um sorriso.
— É bastante convincente, não é? Foi uma sobra de uma fantasia
de Halloween.
— Não. Você parece suspeita e levemente alarmante.
Will dá de ombros.
— Disse para ela não usar, mas ela insistiu.
— Você não deveria ter vindo! Não preciso de guarda-costas.
Um sorriso toca sua boca.
— Agente de proteção exe...
Eu levanto um dedo ameaçador.
— Não se atreva a terminar essa frase.
Brandon assovia com dois dedos, e é tão alto que tenho que
tampar meu ouvido. Ele finalmente se senta quando seu sobrinho
marca três strikes. Ele então se inclina sobre mim para protagonizar
ao meu pior pesadelo: meu encontro tendo uma conversa com Will,
o único homem que ele nunca viverá de acordo.
— Olá, eu sou o Brandon. E eu acho que você já conheceu a
Annie?
Observo o momento em que Amelia volta ao personagem. É
doloroso.
Ela sorri tanto que seu bigode se desfaz no canto direito.
— Olá! Meu nome é Joe! E este aqui é meu irmão, Sam.
Observo em um silêncio consternado enquanto as mãos dos dois
homens cruzam sobre mim para se juntarem em um aperto
masculino. A visão da mão de borboleta de Will apertando a mão
muito normal do meu acompanhante me deixa irracionalmente
irritada. Eu não deveria ser capaz de comparar os dois homens tão
diretamente assim. Não é justo com Brandon. E quando os olhos de
Will se voltam para mim pelo mais breve dos momentos acalorados,
temo que o pensamento “Ele lambeu meu pescoço esta manhã” esteja
projetado em meu rosto. As impressões digitais invisíveis de Will em
todo o meu corpo agora estão brilhando como uma substância
radioativa.
— Prazer em conhecê-los — diz Brandon.
— Também.
Brandon se recosta e então inclina-se para mim.
— Definitivamente é uma mulher com um bigode falso, certo?
— Parece que sim — eu digo, meu olhar fixo para frente,
desejando poder jogar as duas pessoas ao meu lado em um buraco
negro em algum lugar.
— Acho que me mudar para o interior vai levar mais tempo para
me acostumar do que eu esperava.
— Se te faz sentir melhor, vivi aqui toda a minha vida e ainda não
me acostumei.
Ele ri.
— Não tenho certeza.
Will cruza os braços e os nós dos dedos roçam a parte de trás do
meu braço. As borboletas em meu estômago, malcriadas e mimadas,
dão uma cambalhota. Eu quero olhar para Will.
Uma conversa que Amelia está tendo com a mulher na frente dela
de repente chama minha atenção.
— Eu nunca vi você nesses jogos antes. Quem você disse que
estava aqui para ver jogar? — Diz a mulher vestida com roupas do
Pequenos Grizzlies.
— Nunca nos viu, hein? Estranho. Estamos aqui todo fim de
semana para torcer pelo pequeno Tommy.
— Timmy — Will corrige.
— Certo. Pequeno Timmy. Coitado nunca foi muito bom no
beisebol, mas eu digo a ele para continuar tentando, assim como a tia
dele!
— Tio — diz Will.
— Tio, certo. Oh, olhe, lá está ele se levantando para rebater! —
Amelia se levanta, seu jeans (isto é, o jeans de Noah) engolindo-a
inteira e grita: — Vá, Timmy!
— Esse é meu filho... Matthew — diz a mulher.
Amelia finge apertar os olhos pesadamente.
— Bem merda. É o que ganho por deixar os óculos no carro.
Irmão, você pode ver Timmy?
— Não, irmão, eu não posso — Will diz impassível, e eu quero
empurrar os dois para fora das arquibancadas.
Brandon, de alguma forma alheio à cena dos Dois Patetas
acontecendo ao meu lado, pergunta:
— Há quanto tempo você possui sua floricultura?
Ah, não, perguntas sobre floricultura. Foi isso que me colocou em
apuros no meu último encontro. No entanto, sou Annie 2.0, então
estou preparada para isso. Eu estalo meus dedos mentais e me preparo
para impressioná-lo com uma resposta floreada.
— Quatro anos.
Sim, o impressionou.
Will bate no meu braço intencionalmente. Eu lanço um olhar
rápido para ele, e ele arregala os olhos com um olhar contínuo.
Espere, então ele está aqui para me ajudar ou me sabotar? Sinto como
se estivesse girando em uma xícara de chá.
Eu suspiro e me viro para Brandon.
— O que quero dizer é... quatro anos na loja de tijolo e argamassa.
Mas antes disso eu possuía um caminhão de flores e vendia na
feirinha.
Ele parece genuinamente impressionado e interessado. Outra
marca de seleção.
— Isso é muito legal. Você viajou para outros estados ou ficou no
Kentucky?
— Eu praticamente fiquei em um raio de oitenta quilômetros —
eu digo, e então percebo que esta é a introdução de conversa perfeita
para uma pergunta que se tornou importante para mim
ultimamente. — Hum, na verdade é por isso que eu acho que gostaria
de viajar mais no futuro.
— Vá Timmy! — Amelia grita novamente.
Will balança a cabeça.
— Ainda não é Timmy.
— Raios. — Amelia se senta.
— Você gosta de viajar, Brandon? — Eu pergunto enquanto tento
ao máximo bloquear o homem ao meu lado definitivamente
mascando chiclete de menta. Seu beijo teria um gosto incrível agora.
Brandon faz uma careta.
— Eu gostava. Mas viajei muito aos vinte anos – honestamente,
estou bastante cansado disso. Estou pronto para finalmente me
estabelecer em algum lugar e apenas explorar a própria vida ao meu
redor.
Um mês atrás, Annie estaria pulando de alegria. A Annie atual
está murchando – especialmente quando percebo que não tenho
mais certeza do que realmente quero. Quem eu era e quem estou me
tornando estão se encontrando em um cruzamento e decidindo
quem deve prosseguir. Tudo o que sei é que, por Brandon ter
preenchido tanto requisitos na minha Lista de Almas Gêmeas
Perfeitas, não sinto nenhuma reação física ao sentar ao lado dele.
Não ajuda que Will se incline para a frente de repente e se dirija a
Brandon diretamente e sem vergonha de ter ficado escutando.
— Mas, uh, sua namorada acabou de dizer que quer viajar.
Certamente, se ela quiser, você iria com ela?
Oh. Meu. Deus!
Discretamente, levo minha mão para trás e belisco a parte de trás
do braço de Will. Sua mandíbula aperta, mas ele não recua como eu
esperava.
Brandon parece tão surpreso quanto eu com essa pergunta. Ele ri
levemente para cobrir seu mal-estar.
— Oh, bem, ela não é minha namorada, na verdade. Este é o nosso
primeiro encontro. Mas, hum, acho que se ela realmente quisesse
viajar, poderíamos... dar um jeito. — A maneira como ele diz dar um
jeito me diz que ele está apenas sendo educado. Ele não tem vontade
de viajar. Tudo bem, porém, certo? Eu estou bem ficando por aqui.
— Ótimo — diz Will em um tom brando.
Amelia – ou devo dizer Joe – se inclina para a frente.
— Sabe, eu sou conhecido por fazer algumas viagens sozinho. E
cantar algumas músicas também. Sempre foi um grande sonho meu
chegar ao grande palco um dia desses.
Ela está claramente se divertindo muito com isso. Eu
absolutamente vou ter que matá-la mais tarde.
— Muito legal. Não desista dos seus sonhos — Brandon diz, e ele
definitivamente ganha pontos extras por não evitar imediatamente
esses dois estranhos.
Eu me levanto.
— Estou com tanta sede! Quem precisa de uma bebida?
Brandon se levanta também.
— Posso ir buscar algumas garrafas de água. — Ugh, ele é tão legal.
— Não! Sente-se. Seu sobrinho está prestes a rebater, então você
não vai querer perder isso. — E então, quando passo por Will,
arregalo meus olhos e abano minhas narinas para ele de uma maneira
que ele não perde de vista.
— Oh, uh, Joe, eu vou pegar algo para nós também. Mantenha os
olhos abertos para Timmy.
— Bem, volte logo.
— Isso não é tão charmoso quanto você pensa que é — digo a
Amelia baixinho enquanto passo. Ela belisca minha bunda, e agora
eu realmente espero que Brandon não esteja olhando.
Eu corro em direção ao estande de vendas com Will seguindo
alguns metros atrás de mim. Quando finalmente estamos fora do
alcance visual, eu me viro para ele.
— Que diabos você pensa que está fazendo?! Você está tentando
sabotar meu encontro? Entrar na minha cabeça? Estragar meu
encontro?
— Não — diz ele com firmeza. — Você nunca deveria ter nos
visto.
— Oh, por favor — eu digo, revirando os olhos. — Joe lá atrás
nunca poderia passar despercebido.
— Eu disse a ela para deixar o bigode na caminhonete.
— William.
— Annabell.
— Você está arruinando meu encontro.
Ele zomba.
— Aquele cara já estava fazendo isso.
— Não! Não faça isso. — Eu mexo meus dedos na frente de seu
rosto. — Você não pode dizer coisas assim e me fazer duvidar de
qualquer coisa. Brandon é um cara perfeitamente legal. Ele é gentil,
quer uma família, quer criar raízes. Ele quer tudo o que eu quero. Este
encontro estava indo perfeitamente, e ele é exatamente o que eu
estava procurando!
Os olhos azul-acinzentados de Will me fitam, e então ele coloca o
polegar no meu queixo e o puxa de volta para baixo. Nenhum de nós
diz nada por um minuto. Não há necessidade de reconhecer que eu
realmente não quis dizer nada disso – nós dois sabemos que não era
verdade.
Will aproxima-se para poder falar baixinho.
— Se você quer casamento e uma família e tudo isso – tudo bem,
ótimo. Mas não tente se iludir pensando que ainda está feliz em se
contentar com um relacionamento sem sal e sem aventura. Você
viveu nesta cidade fazendo eventos familiares toda a sua vida, Annie.
Você não precisa de um marido para isso. O que você ainda não fez é
ver o mundo. Experimentar coisas novas. Viver de acordo com seus
próprios desejos. E se você se contentar com alguém que vai impedi-
la de fazer isso, vou ficar muito chateado.
Ele dá um passo para trás como se já estivesse com raiva apenas da
perspectiva de eu casar-me com alguém como Brandon. Ele pega seu
boné de beisebol, passa a mão pelo cabelo, depois o coloca de volta e
caminha de volta para mim.
— E sabe o que mais?! Você é uma das pessoas mais apaixonantes
que já conheci. O que você está fazendo aqui, Annie? Você não quer
ir a um jogo de beisebol da pequena liga para o seu primeiro encontro,
onde a única coisa que ele está provando é que vai colocar sua família
antes de você desde o início.
Estou com raiva. Ele não deveria estar aqui.
— Se você me conhece tão bem, onde eu quero ir para um
primeiro encontro, hein? — Eu jogo meus braços para os lados. —
Onde é esse lugar incrível que você acha que Brandon deveria ter me
levado?
Will inclina a cabeça.
— Pergunta capciosa. Porque você quer que perguntem onde
quer ir no primeiro encontro. — Ele se aproxima ainda mais e roça
seus dedos nos meus. Como se seu corpo estivesse implorando ao
meu por algo. — E o problema com o seu encontro fracassado
algumas semanas atrás não foi porque você era chata também. É
porque você estava entediada, Annie. Você quer alguém excitante e
apaixonante e...
— Alguém como você? — Eu digo em um tom sarcástico afiado.
Soltei esse comentário de propósito e acertou na mosca. O rosto de
Will cai e eu dou uma risada curta e triste. — Qual era o propósito
desse discurso, se não para entrar na minha cabeça? O que realmente
não é justo, Will, porque da última vez que verifiquei, nunca fomos
uma opção. Não colocamos tudo sobre a mesa esta manhã?
Ele esfrega a nuca e recua emocionalmente.
— Você tem razão.
— E nada mudou para você nas últimas quatro horas, não é? Você
ainda vai sair da cidade depois do casamento?
Ele acena silenciosamente.
— Nada mudou para mim também. Então, por favor, saia.
Porque embora eu saiba que você tem boas intenções, isso não está
ajudando em nada. E, francamente, não foi justo de sua parte
aparecer aqui assim.
Will não foge ou faz beicinho como uma criança.
Prendo a respiração quando ele avança, um olhar ardente em seus
olhos enquanto ele aperta minhas mãos.
— Desculpe. Você está totalmente certa. Eu realmente não queria
estragar isso para você hoje, eu juro. Eu só queria... não sei, ter certeza
de que você estava segura. Cuidar de você. E então eu ouvi aquele cara
já cortando as coisas que você estava me dizendo que queria fazer – e
quando eu pensei em você ter que sacrificar tudo isso... eu não pude
lidar com isso. Eu sei que seu objetivo é se casar, mas... — Ele solta
minhas mãos para segurar meu rosto. — Por favor, apenas me
prometa que vai se casar com alguém que te vê e te ama e que te deixa
animada e feliz – não apenas alguém que parece certo no papel.
Você. Eu quero você, Will.
— Eu prometo — digo baixinho, resistindo às lágrimas com cada
fibra do meu ser. — Você tem que ir agora. E vou dar a Brandon mais
do que uma chance de dez minutos, porque talvez ele tenha alguma
aventura sob toda essa barba.
Will estremece como se eu tivesse dado um soco no estômago dele.
— Você só tinha que mencionar a barba. — Sua careta lentamente
se transforma em um sorriso que transforma meu coração em
caramelo. Ele então lança um olhar torturado para minha boca antes
de afastar-se. — Vou sair agora.
— Obrigada. E leve Joe com você.
Quando volto para as arquibancadas, Will e Amelia se foram.
Entrego a Brandon uma das águas que comprei no posto de vendas,
mas seguro a pequena caixa de pipoca. Ele sorri gentilmente e
agradece-me. Não posso deixar de notar que ele não tem uma borda
preta perigosa em volta da íris.
— Então... seus amigos finalmente foram embora? — Ele diz
quando me sento ao lado dele.
Eu estalo meus olhos para ele.
— Você sabia o tempo todo?
Ele ri.
— Absolutamente. E aquele cara está apaixonado por você, certo?
Eu respiro e decido parar de jogar comigo mesma e ser honesta.
— Sim, eu acho que ele pode estar.
— Qual é o problema, então?
Eu olho para a minha pipoca.
— Nós dois temos medo de coisas diferentes.
— Já passei por isso — diz ele, em um tom de voz pensativo que
claramente tem uma história por trás. Uma história que nunca
saberei por que Brandon não é o homem para mim.
— Hum, então Brandon, eu não acho... — Faço uma pausa para
encontrar as palavras certas. Infelizmente, nenhuma inspiração bate.
Ele ri e me salva.
— Está tudo bem, Annie. Também não estou sentindo uma
conexão, se é isso que você ia dizer.
Meus ombros caem de alívio.
— Ah, que bom. Eu estava preocupada em ferir seus sentimentos.
Amigos?
— Eu acho que é o melhor. Quer que eu leve você para casa agora?
Olho para a água e a pipoca e depois para o jogo de beisebol.
— Na verdade, se você não está ansioso para se livrar de mim, acho
que seria divertido ficar e sair.
Ele sorri.
— Absolutamente.
E isso, John, é como você termina com gentileza um encontro
ruim.

Mais tarde naquela noite, eu me deito na cama inquieta e incapaz de


dormir de perguntas intermináveis dando cambalhotas em minha
cabeça. Então eu mando uma mensagem para a pessoa que se tornou
meu porto seguro. “Não consigo dormir. Vem cá?”
Dez minutos depois, embora seja contra suas regras, Will está
deslizando para a minha cama e envolvendo seus braços em volta de
mim. Ele beija meu pescoço, minha mandíbula e minha têmpora e,
em seguida, com seus braços em volta de mim, adormeço com meu
dedo traçando as linhas elevadas de sua tatuagem de borboleta – com
medo do dia em que eu lhe ligar e ele estiver muito longe.
Will

Eu arranco uma moita de ervas daninhas dos canteiros da frente da


Pousada da Mabel. Não sei bem por que estou aqui – nada menos
que às seis da manhã. Só sei que acordei na cama de Annie às quatro
e meia da manhã, depois de prometer a mim mesmo que não
dormiria ali de novo, e imediatamente me levantei e fui correr para
clarear a cabeça. Corri pela cidade para ter certeza de que tudo parecia
seguro (aparentemente, eu me designei como o vigilante da cidade) e,
antes de voltar para o meu quarto, notei que os canteiros de flores de
Mabel estavam cheios de ervas daninhas. Então aqui estou. Mãos e
joelhos, arrancando ervas daninhas de seu jardim como se tivessem
me traído e eu precisasse me vingar.
Mas, na verdade, estou tentando desesperadamente evitar que
minha mente pense em Annie. Eu não consigo descobrir como
desligar esses sentimentos. Eu nunca tive ninguém preso na minha
cabeça assim antes. Quando fecho os olhos, vejo o rosto dela. Eu a
seguro em meus sonhos e ouço sua voz em meu ouvido quando estou
acordando. Imagino deixá-la depois do casamento e meus punhos se
cerram.
Eu esfrego meu peito.
É hora de falar com alguém. Me ajoelhando, me sento na grama e
passo as mãos pelo cabelo, desejando poder arrancar esses
pensamentos também.
Antes de me convencer do contrário, pego meu celular.
Milagrosamente, tenho sinal aqui na terra do jardim de Mabel. Eu
pressiono o nome do contato aberto na minha tela.
Ele atende no segundo toque.
— Will? O que há de errado?
— Por que você pensa automaticamente que algo está errado?
Não posso ligar para o meu irmão sem motivo?
— Não às seis da manhã, você não pode. E não depois de ter me
deixado sem resposta durante várias semanas. — Ouço o arrastar de
cobertores e uma voz feminina perguntar quem é no telefone.
Hannah. Claro que ela estaria na cama com ele. Eles são um casal, e
os casais dormem juntos. A noite toda. Lado a lado.
Minha mente pisca mais uma vez para Annie – o jeito que ela
parecia acordando no meu peito ontem de manhã. Eu penso em seus
suaves olhos azuis piscando para mim sob seus grossos cílios escuros
e a curva de seu sorriso. E de repente penso em ver isso todos os dias
pelo resto da minha vida, e aquele puxão doloroso no meu peito
acontece novamente.
Ethan sussurra para Hannah que já estará de volta, e então ouço
uma porta se fechando suavemente.
— Ok, o que está acontecendo? Você tem evitado todas as minhas
ligações e mensagens de texto por semanas, e agora está ligando de
madrugada?
— Dificilmente é de madrugada. Alguns de nós vivem uma vida
inteira antes das seis da manhã.
— Eu não sou uma dessas pessoas. Ainda não tomei café e me
sinto um merda antes das sete, então é melhor você ter um motivo
incrível para precisar de mim tão cedo.
— Sinto muito — eu digo, e minhas palavras são seguidas por uma
pausa densa. — Não por ligar cedo. Quero dizer, acho que sinto
muito por isso também. Ou, não, eu não sinto. Você deveria acordar
mais cedo. É bom para você. — Eu limpo minha garganta quando
percebo que estou divagando nervosamente. — Sinto muito por não
apoiar você e por ser um idiota sobre o noivado. Eu nunca fiquei
realmente chateado com você pelo pedido de casamento. Acho que
só estava com ciúmes e amargurado por você ter conseguido e eu não.
E honestamente, eu não entendi antes... sobre você e Hannah.
— Mas agora sim?
— Apoio vocês? Sim, eu...
— Não — ele diz, rapidamente. — Você disse que não entendia
antes. Mas você entende agora?
Droga. Eu fui direto para isso.
Eu respiro fundo.
— Eu-uh-talvez. — Merda, isso é doloroso. Estou tão acostumado
a ser aquele que tem todas as respostas, que abre o caminho e ensina
a Ethan tudo o que sabe. Tenho protegido meu irmão do mundo
desde que éramos crianças. E agora me sinto perdido e... apavorado.
— Ethan, como você sabia que valia a pena amar Hannah?
Ele ri baixinho do outro lado da linha, parecendo que está abrindo
um saco de café.
— Você faz parecer que houve uma escolha no assunto. Acredite,
se eu pudesse escolher, ainda estaria morando em meu apartamento
solitário de um quarto no SoHo. Não houve escolha, Will, e sou grato
por isso. Eu conheci Hannah e me apaixonei completamente contra
o meu melhor julgamento.
Essas palavras aterrissam com uma história em quadrinhos
dramática de super-heróis “Boom!” em meu cérebro. Não tenho
escolha, meu coração quer Annie.
— Ok, então... — eu digo, pensando em como reformular minha
pergunta. — Como você sabia que valia a pena ceder aos seus
sentimentos?
— Hum. — Ele fica quieto por um minuto. — Acho que quando
percebi que era mais assustador viver a vida sem ela do que com ela.
Qualquer outra resposta além dessa. Por favor. Qualquer outra
resposta e eu teria sido capaz de varrer isso para debaixo do tapete.
Mas essa... eu não posso descartá-la.
— Você conheceu alguém, Will?
— Mais ou menos.
— E você está com medo?
— Um pouco. Geralmente tento não precisar de ninguém desde
criança e percebi que precisar de pessoas geralmente acaba em algo
doloroso.
Há um silêncio tenso.
— Ei, Will?
— Hum?
— Acho que nunca disse obrigado antes. Por tudo que você foi
para mim e fez por mim enquanto crescia. — Me sento em silêncio,
incapaz de formar qualquer palavra. Ethan continua: — Não tenho
certeza se já percebi as diferenças em nossa infância tanto quanto
agora, quando você disse isso. Porque eu não tenho a mesma reação
de precisar de pessoas que você – principalmente porque quando eu
precisei de você, você sempre esteve lá para mim.
— Eu não estava lá para você quando saí do ensino médio e entrei
para o exército.
— Você está brincando comigo? Você mandava dinheiro para casa
para mim todos os meses. Você até voltou para se despedir de mim no
baile. Você pode não ter estado lá dia após dia depois que saiu de casa,
mas nunca duvidei de que você estava sempre a um telefonema de
distância e largaria tudo para estar lá para mim. Então... obrigado.
Engulo em seco e cerro o maxilar, mal conseguindo articular
minhas palavras sem chorar.
— Foi nada demais.
Ethan ri levemente, entendendo como estou profundamente
desconfortável com, bem, sentir meus sentimentos. Ele tem
misericórdia de mim.
— Tudo bem. Agora me fale sobre ela — ele diz, e eu ouço o
sorriso em sua voz. Imagino que seja presunçoso e exagerado. Eu
gostaria de poder reter informações sobre Annie só para irritá-lo, mas,
infelizmente, estou morrendo de vontade de falar sobre ela com
alguém há semanas.
— Ela é bonita. Daquela maneira saudável e incrivelmente feliz –
mas ela tem tanta coragem sob a superfície que a torna quase
perigosa. Ela é gentil e empática, e tão apaixonada e excitante de uma
forma que eu nunca tinha visto antes... e ela é boa demais para mim.
Ele ri.
— Então você a ama?
— Foi por isso que liguei para você, Sr. Hannah. Não sei. Não sei
se sou capaz de amar. Quer dizer... você estava lá, Ethan. Você estava
bem ao meu lado quando tivemos que nos fechar no meu quarto e
deixar o rádio bem alto para não ouvir os gritos entre nossos pais.
Você ouviu o jeito que ele falava com ela e como ela jogava coisas nele.
Estou com tanto medo de acabar sendo eu um dia, e não poderei ir
embora. Serei exatamente como eles – preso em um relacionamento
tóxico sem amor que parece não ter saída. Como diabos você superou
isso?
— Francamente, terapia.
— Merda.
— Sim. Tivemos pais disfuncionais, Will. Passamos toda a nossa
adolescência em um ambiente emocionalmente instável e fomos
levados a sentir que éramos os problemas na maior parte do tempo.
Você mais do que eu, obviamente, porque você me protegeu de muita
coisa. Não é algo que você simplesmente supera ou escolhe deixar de
sentir. E acho que o dia em que aceitei isso foi quando comecei a me
curar de verdade. Eu nunca vou ser capaz de simplesmente varrer para
baixo do tapete. Vai levar tempo, trabalho e paciência da minha
parceira enquanto eu lido com a bagagem emocional.
— Eu entendo, mas passei a maior parte da minha vida me
sentindo absolutamente miserável todos os dias. Não quero arriscar
que isso aconteça novamente. — Embora no fundo eu saiba que
Annie não tem os mesmos traços dolorosos que meus pais tinham.
— Will, nós éramos crianças. Não tivemos escolha. Mas você é um
adulto agora – você sempre tem a opção de sair de uma situação ruim.
— E se eu não conseguir ver que é ruim?
— Eu vou te dizer.
— E se eu for o único que é ruim para Annie? E se eu for como
nossos pais e a única maneira de proteger Annie for não me deixar tê-
la?
— Merda, Will. Você tem andado com esse pensamento o tempo
todo? É por isso que você nunca ficou com ninguém?
Meu silêncio responde a essa pergunta.
— Isso é uma mentira. Você é uma boa pessoa, com um coração
muito bom. Você merece ter e dar amor.
Eu tenho que limpar minha garganta sentindo um nó se formar.
E eu enxugo meu rosto porque aparentemente estou suando pelos
olhos.
— Obrigado, cara.
— Agora, aqui está o outro lado de um advogado de divórcio:
ainda não estou convencido de que o casamento é para todos. Então,
se você é uma dessas pessoas para quem não é, Will, tudo bem. Isso
não faz de você uma pessoa ruim ou menos digna de felicidade, ou
mesmo de amor, do que qualquer outra pessoa por aí. Isso significa
que você teve um começo de vida mais confuso do que a maioria das
pessoas. No entanto... — ele diz com ênfase — se você é uma daquelas
pessoas que sempre disse que iria odiar e depois mudou de ideia –
tudo bem também. Apenas seja honesto consigo mesmo sobre o que
você precisa, ou então você se sentirá miserável com ou sem amor.
Eu rio e balanço a cabeça.
— E você disse que não funciona às seis da manhã
— Sim, bem, não torne isso um hábito.
— Ethan?
— Hum?
— Eu a amo. E eu estou morrendo de medo.
O suspiro de Ethan é dramaticamente longo.
— Vou te dar o nome da minha terapeuta. Ela também faz
consultas virtuais. Talvez queira considerar duas vezes por semana
por um tempo.
Eu rio e desejo estar perto o suficiente para dar um abraço no meu
irmão. Sinto falta dele e de repente tenho a nítida sensação de que
tenho me mantido ocupado demais. Que talvez a segurança que eu
achava que meu trabalho constante estava trazendo, na verdade estava
prejudicando.
Ethan e eu desligamos um minuto depois, depois que eu disse a
ele para trocar os lençóis de sua cama de hóspedes, porque irei visitá-
lo em breve. No segundo em que a ligação termina, eu coloco meu
telefone no bolso e coloco meu rosto em minhas mãos. Não tenho
certeza se me sinto muito melhor, mas me sinto mais perto de aceitar
meus sentimentos.
Sou interrompido por um pigarro à minha esquerda. Eu levanto
minha cabeça e encontro Mabel em pé na varanda da frente em seu
roupão rosa-claro com um vestido de flanela xadrez azul e branco
aparecendo na barra.
— Há quanto tempo você está parada aí, mulher bisbilhoteira? —
Eu pergunto a ela com um sorriso provocador.
— Tempo suficiente para saber que você ama minha Annie e está
com medo e eu realmente gostaria de fazer uma visita a seus pais —
ela diz em seu jeito direto, e isso me faz rir. Ela sorri e não diz mais
nada, apenas abre os braços.
Eu levanto e caminho até ela antes de entrar em seus braços e
deixá-la me apertar no abraço mais reconfortante da minha vida.
Mabel não diz nada, apenas me aperta forte. Eu a aperto de volta e
enterro minha cabeça em seu pescoço, me sentindo muito como o
garotinho que costumava subir naquela árvore de magnólia só
desejando um abraço como este.
Mabel não me solta, mas dá tapinhas carinhosos nas minhas
costas.
— Agora... eu deveria estar preocupada que você estava deitado
no meu canteiro de flores às seis da manhã? Juro que os jovens desta
cidade estão sempre fazendo algo preocupante.
Annie

Não é meu dia de visitar minha avó, mas vou lá mesmo assim.
Logicamente, sei que ela não terá nenhuma das respostas de que
preciso – mas vou de qualquer maneira, com uma esperança
equivocada de que ela terá o dia mais incrível que teve em meses e será
minha avó novamente esta noite, cheia de sabedoria e graça e poderá
me dizer exatamente o que fazer.
Não vejo Will há alguns dias. Não desde a noite do meu encontro
com Brandon, para ser exata. Acho que ele pode estar se escondendo.
Tudo bem, no entanto. Eu tenho me escondido também. Somos
bons nisso.
Ele entrou no mercado ontem, e me escondi atrás de uma
prateleira, abandonei meu carrinho e me arrastei para fora. (Tudo
bem, eu me curvei e tropecei para sair.) No dia seguinte, eu o vi n’A
Loja das Tortas e, quando fizemos contato visual, pisquei e ele se foi.
Abaixado em um beco, provavelmente. Só para garantir, mandei uma
mensagem para ele mais tarde naquele dia.
Annie: Você está me evitando, certo?

Will: Sim. E você está me evitando?

Annie: Sim. Estou confusa e preciso de um tempo.

Will: O mesmo. Eu sinto sua falta, no entanto.


Annie: Eu também sinto sua falta.

Então esclarecemos isso, e agora estou apenas tentando descobrir


o que fazer com ele. Porque agora sou capaz de admitir totalmente
para mim mesma que tenho sentimentos por ele. Sentimentos reais.
Sentimentos reais que poderiam dobrar de tamanho como um bolo
de manteiga. E isso é muito, muito ruim porque Will Griffin quer
permanecer tão solteiro quanto uma fatia pré-embalada de queijo
americano.
Então, o que fazer quando ela quer ter um casamento feliz mais
do que tudo, como seus pais e irmãos, mas se apaixonou
completamente por um homem que nunca terá um relacionamento?
Ela segue em frente e o supera. Essa é a única coisa a fazer, certo? Ela
sai mais com outros homens. Ela lembra a si mesma que Will Griffin
nunca foi Fred Astaire e ela não é Audrey Hepburn, e quando ele
embarcar no avião na próxima semana, ele não voltará como Fred.
Certo? Eu não sei mais. É por isso que estou aqui.
Mas quando entro no quarto da minha avó em sua casa de
repouso, encontro-a dormindo profundamente em sua confortável
poltrona reclinável. Ela está com seu conjunto de pijama azul-claro,
de mangas compridas e botão de seda porque, mesmo com
Alzheimer, essa mulher lembra que não se contentará com nada
menos do que se vestir bem o tempo todo. Ela sempre foi assim.
Roupas impecáveis. Recém passada todos os dias. Não saía de casa
sem se maquiar e arrumar o cabelo, típico uma mulher do sul.
Eu sorrio ao vê-la agora, relaxada, dormindo profundamente em
sua cadeira, Wheel of Fortune passando na TV, lançando seu quarto
escuro em um tom sutil de azul. E por alguma razão, essa visão me faz
chorar. Eu não posso acordá-la. Isso só vai desorientá-la e tornar a
noite uma bagunça para ela e a equipe. Mas eu preciso dela. Eu
preciso de alguém para apontar o caminho para mim.
Eu preciso da minha mãe e do meu pai.
Como é possível sentir tanta falta de pessoas que mal conhecia que
tenho que segurar meu estômago e se sentar no sofá, me dobrando
para chorar silenciosamente? Em um dia há tantos momentos em que
eu gostaria de poder ligar para minha mãe. Eu não posso nem pescar
nas memórias para encontrar pedaços dela para segurar. Eu não me
lembro dela. E a mulher que também foi avó e mãe para mim tem um
pé na terra e outro no céu.
Eu estou assustada.
Mas não posso contar nada disso aos meus irmãos porque, bem,
porque não é isso que eu faço. Nunca os sobrecarreguei com meus
fardos emocionais. Eles têm o suficiente sem empilhar o meu por
cima. E Will está indo embora, então é inútil contar a ele.
Então choro silenciosamente neste quarto azul, encharcando a
parte de cima da minha calça jeans com lágrimas até sentir uma mão
em meu ombro. Prendo a respiração e olho nos olhos de Mabel. Ela
franze a testa ao ver meu rosto e, em seguida, usa a ponta do polegar
para enxugar as lágrimas do meu rosto. Ela silenciosamente me
incentiva a levantar do sofá e então sussurra:
— Vamos, querida, vamos sair daqui.


Mabel estende o braço por cima da mesa e segura minha mão.
— Me diga por que você está chorando, Annabell.
— Não tenho certeza se há apenas um motivo.
— Me dê seus cinco primeiros, então.
Estamos sentadas na sala de jantar escura da casa de repouso. O
jantar acabou há cerca de duas horas, então Mabel e eu somos as
únicas aqui. O cômodo é decorado em tons de vinho escuro, dourado
e azul-marinho, e toda vez que trago minha avó para cá ela comenta
como o lugar é cafona. Eu tenho que concordar. É uma instalação
muito boa, mas algo nela parece uma casa funerária, o que é
inaceitável.
Faço uma anotação mental para trazer um buquê fresco e colorido
para colocar em cada mesa amanhã e conversar com o gerente das
instalações sobre pintar a sala com uma cor mais alegre.
— Eu não tenho mais certeza de quem eu sou, Mabel – e eu
realmente gostaria que minha mãe ajudasse a resolver isso, mas ela não
pode porque ela está morta. E nunca a conheci como meus irmãos, e
às vezes ressinto-me deles por isso. E não sei por que estou chorando
por meus pais mortos quando tenho quase trinta anos, quando acho
que não chorei por eles nem na infância. — Prendo a respiração. —
Ah, e eu me apaixonei por um guarda-costas que não acredita no
amor e está indo embora para sempre. Foram cinco? Não sei.
Mabel suspira.
— Bem merda, querida. Você está a dez passos à frente nesse seu
cérebro. — Ela aperta minha mão, incitando-me a olhar em seus
olhos gentis. — O que você precisa de mim, querida? Conselho? Ou
alguém para te ouvir?
— Conselho. Eu realmente preciso de conselhos.
— Bom, porque você ia conseguir de qualquer maneira. — Seu
sorriso puxa um de mim em troca. — Verdade seja dita, eu estava
esperando por este dia. Você está atrasada em um bom luto por seus
pais.
Eu balanço minha cabeça.
— Não é isso. Não estou de luto. — Faço uma pausa e Mabel
apenas me observa. — Eu não estou. Eles morreram há décadas,
Mabel. Eu vivi uma vida inteira sem eles. Quase não sei nada sobre
as pessoas que me deram a vida além das migalhas que meus irmãos
contam. E o resto de suas memórias estão engarrafadas em uma
mulher que não consegue me falar, e estou tão perto de perdê-la para
sempre — eu digo, levantando o polegar e o indicador para mostrar a
medida tão pequena e deprimente.
Não percebo que estou chorando durante tudo isso até que
Mabel me entrega um guardanapo de papel sobre a mesa. Eu enxugo
meus olhos e agradeço a minha estrela da sorte por não ter usado
rímel hoje.
— Isso é dor, Annie. E está tudo bem. O luto – aquele filho da
puta malvado – não tem uma linha do tempo ou regras. Ele bate
quando quer. Mesmo comigo – às vezes me sinto totalmente curada
e, aleatoriamente, sinto um perfume que cheira à colônia do meu
marido e o perco em um corredor do mercado. Não faz sentido, a dor.
E eu conheço você por tudo isso, e nunca vi você sofrer por causa de
seus pais. Por quê?
Meus lábios tremem e eu aponto meu olhar para o meu colo.
— Achei que não tinha permissão para isso.
— Mas, querida, por que você pensaria isso? — Sua voz terna
arranca meu coração do peito, e sinto como se estivesse sangrando em
forma de lágrimas.
— Porque eu não os conhecia o suficiente para chorar por eles.
Mas Noah, Emily e até Madison, sim. Eles têm memórias específicas
que eu não tenho. Eu só tenho um buraco no meu coração que não
consigo preencher totalmente, e não sei bem por que é que ele está lá.
Espere.
De repente, como um relâmpago, percebo que tenho ido atrás das
coisas erradas. Eu não precisava de um marido. Ou mesmo me
encontrar. Acho que esse vazio é resultado de me afastar
constantemente dos meus sentimentos. Eu sei quem sou e o que
quero da vida – apenas ignorei essas necessidades.
— Seus irmãos não falam muito sobre seus pais?
Mais uma vez, balanço a cabeça.
— Não. E fazer perguntas sobre mamãe e papai sempre fez com
que todos se fechassem. Parecia muito doloroso para eles falarem
comigo sobre suas memórias. Então parei de tentar – não queria
adicionar mais pesar à dor deles. Eu apenas parei de reconhecer minha
própria tristeza e me concentrei na de todos os outros. Funcionou.
Isso os fez se sentirem melhor e, em troca, me fez me sentir bem.
— Até que isso não funcionou mais.
Eu suspiro e aceno.
— Até que não funcionou mais. E agora vivi tanto da minha vida
sem compartilhar quem sou com eles, que não sei como começar.
Não sei como dizer a eles que essa versão de mim que eles viram por
tanto tempo não é mais necessariamente verdadeira para mim.
— Você diz isso. Exatamente assim.
— Eles vão se machucar, Mabel. Minha família me ama tanto que
descobrir que eu menti para eles todos esses anos...
— Exatamente, querida. Eles te amam muito. Honestidade é um
dom, Annie. E se você realmente os ama também, será honesta com
eles sobre quem você é. E quanto a William... — Ouvir seu nome
mencionado de repente nesta conversa me faz quase pular na cadeira.
— Não desista dele.
— Mas Mabel...
— Não me diga “mas Mabel...”, se você ama aquele garoto, não
desista dele, Annie. Ele precisa de alguém que lute por ele, como você
precisou de alguém que lutasse por você. E não estou dizendo que vai
parecer convencional, ou qualquer coisa como você sempre
imaginou, ou mesmo algo como o que seus pais tinham... — Ela sorri
e é um sorriso cheio de memórias. — Mas talvez seja algo ainda
melhor.
— Ou talvez acabe e queime e doa.
— Ou talvez isso.
Eu rio até que nós duas ficamos sérias novamente.
— O que minha mãe teria dito?
— Hmm — diz Mabel, franzindo os lábios e semicerrando os
olhos. — Charlotte queria viver o momento. Não lembro dela
pensando muito no futuro sobre as coisas – e às vezes isso a colocava
em muitos problemas. — Mabel sorri carinhosamente, e de repente
fico triste por não ter tentado falar com ela sobre meus pais antes. —
Sua avó costumava vir até mim reclamando de sua garota selvagem o
tempo todo, mas sempre havia um brilho nos olhos de sua avó como
se ela não pudesse deixar de se orgulhar de sua filha obstinada.
Portanto, não sei o que ela teria dito exatamente, mas tenho a
sensação de que seria algo como seguir seu coração ou seu instinto,
como diabos você queira chamar.
Duvido que Mabel saiba o quanto vou me apegar a essas palavras.
— Embora eu não seja sua mãe ou sua avó, mas alguém que viveu
muito tempo e amou mais profundamente do que eu poderia
descrever para você, eu diria que me arrependo das coisas que nunca
disse muito mais do que das coisas que disse... Se você o ama, seja
honesta. Com você e com ele. E então comece a partir daí. Não se
negue mais, Annie.
Eu olho para Mabel com um sorriso aguado.
— Eu te amo, Mabel.
Ela acena para mim como se não precisasse de palavras fofas como
essa, mas vejo como seus olhos se embaçam quando ela desvia o olhar.
— Também te amo, Annie-banana.
Will

Estou no serviço de vigilância hoje. Eu normalmente não faço este


trabalho porque é a ruína da minha existência, mas o cara que
geralmente fica aqui durante o dia e assiste as câmeras ao redor da
propriedade de Amelia ligou entre ataques de vômito esta manhã e
precisou de mim para cobri-lo.
Esta é a única parte deste trabalho que eu odeio – vigilância
sedentária e sem ação. Não vou mentir, parece inútil. Meu tempo
como guarda-costas de Amelia aqui em Rome tem sido muito
tranquilo. O que é incrível para ela – chato para mim. A ameaça para
ela aqui é praticamente inexistente. Honestamente, esta cidade faz
um ótimo trabalho cuidando dela por conta própria. Nem tenho
certeza se ela precisa de um guarda-costas aqui. Se alguém descobre
paparazzi ou pessoas suspeitas que se parecem com fãs na cidade, os
telefones começam a tocar. Um por um, os residentes passam pela
praça da cidade até que todos sejam alertados, e Amelia é levada em
segurança pela entrada dos fundos de sua caminhonete e levada para
casa.
É por isso que não sou necessário. Teria sido difícil para mim ir
embora sabendo que Amelia está em perigo real, mas o único perigo
para ela agora é dar uma topada no dedo do pé na varanda da frente
de sua casa. Hora de seguir em frente. Vai ser ótimo me manter
ocupado e explorar novos lugares novamente. Para não ter que lidar
com as verificações noturnas de chá de camomila de Mabel. Ou a
constante insistência de Phil sobre qualquer venda que ele esteja
realizando. Ou esta cidade intrometida tentando separar Annie e eu.
Ou a constante tentação de pegar Annie nos braços e fazer amor com
ela com promessas e planos. É demais. Decidi que Ethan estava certo
e, eventualmente, gostaria de raízes e estabilidade, mas vou pegar essa
chance na próxima rodada com alguém que não amo tanto quanto
Annie. Eu não estou pronto ainda. Eu não posso fazer isso.
Para matar o tempo, faço rotações de flexões e abdominais por um
tempo. Depois disso, e quando minha perna começa a balançar
novamente, coloco meu notebook na frente das telas de segurança e
abro o navegador da web. Eu nem sei por que, mas antes que eu
perceba, estou digitando na faculdade comunitária local. Está
zumbindo na minha cabeça como uma mosca irritante desde que
Annie perguntou-me se eu me arrependo de não ter ido à faculdade.
Enquanto percorro o site, sou bombardeado com fotos de alunos
felizes comendo juntos em uma mesa ao ar livre, estudando juntos
em uma biblioteca, fazendo anotações diligentemente nas aulas
usando – adivinha só – grandes sorrisos. Nada disso parece atraente.
Mas, ao rolar mais para baixo, vejo uma seção listando seus programas
em destaque e não posso deixar de me perguntar o que faria se não
fosse um guarda-costas. No ensino médio, eu tinha planos de me
tornar um engenheiro, mas acho que nunca foi meu sonho. Era
apenas a carreira mais importante que eu poderia pensar para
impressionar meus pais.
Eu gostava de matemática, no entanto. Bastante. Ainda gosto.
Meu cursor paira sobre Educação na lista de programas e me
imagino diante de um grupo de alunos, apontando para meu nome
no quadro branco. E então Annie entra pela porta da sala de aula com
um sorriso de desculpas e me entrega a garrafa térmica de café que
deixei no balcão naquela manhã.
Eu imediatamente fecho o notebook.
— Que diabos estou fazendo? — Eu murmuro para mim mesmo
enquanto passo minhas mãos pelo meu cabelo.
Vai ser assim daqui para frente? Vou estar constantemente
pensando em Annie? Que cor de macacão ela está usando naquele
dia? O que ela tem feito? Ela está namorando alguém? Ele será capaz
de dar a ela tudo o que eu não posso? Eles terão uma família? Bebês?
Porra, ele vai dormir com Annie. Ele vai segurá-la e tocá-la e... ótimo,
agora estou irritado.
Estou irracionalmente zangado com um cara que nem existe
ainda. Só preciso mandar uma mensagem para ela. Uma mensagem
de texto para saber como ela está, e então isso vai me acalmar.
Mas quando pego meu telefone, uma notificação de violação de
perímetro aparece em uma das minhas telas. Amelia não está
esperando ninguém porque decidiu passar o dia no estúdio. Meu
corpo imediatamente entra em alerta enquanto meus olhos
examinam o monitor. Merda. Um cara vestindo uma camiseta com o
rosto de Amelia ampliado até o tamanho máximo escalou o portão e
está correndo pela entrada de sua garagem segurando uma caixa.
Tanto para uma calmaria.
Eu pulo da minha cadeira e ela tomba atrás de mim. Em dois
segundos, estou fora da porta e correndo a toda velocidade atrás dele.
— Pare! — Eu grito, sabendo que ele não vai. Fãs obsessivos como
esse nunca o fazem.
— Eu não vou machucá-la — ele grita por cima do ombro,
enfiando a caixa debaixo do braço como se estivesse carregando uma
bola de futebol para a end zone.
— Ótimo, então pare onde você está e podemos conversar!
— Não até que ela veja o que tenho para ela nesta caixa.
Por favor, não seja algo desagradável.
Ele dobra sua velocidade, mas não é rápido o suficiente. Eu o
alcanço mais rápido do que ele esperava e o derrubo no chão.
Annie

Minhas irmãs finalmente voltaram da viagem e esta noite é a


despedida de solteira de Amelia em nossa casa. Ela não queria sair e
festejar – surpresa, surpresa – ela queria ficar em casa e assistir a um
filme de Audrey Hepburn. Ainda a fizemos usar uma faixa e um véu,
e penduramos lingerie picante por toda a sala. Ah, e todas nós
estamos usando colares de pênis. Isso é divertido.
O casamento é daqui a apenas dois dias. Todos os detalhes estão
finalizados, e o vestido da Amelia voltou hoje da costureira e caiu
como uma luva. Todos parecem estar notavelmente calmos sobre as
núpcias iminentes. Eu não. Porque o que tudo isso significa é que em
três dias, Will vai sumir da minha vida para sempre.
Estou tentando com todas as minhas forças prestar atenção à
história de minha irmã sobre como, no México, um professor ficou
muito bêbado e saiu correndo pela praia e não foi encontrado até uma
hora antes de seu voo no dia seguinte, nu no chão da praia, traseiro
apontado para o céu, mas minha mente não consegue parar. Em vez
disso, deseja que meu telefone acenda com uma mensagem de texto
de um certo guarda-costas.
— E eu não cheguei a ver, mas, aparentemente, a bunda branca
dele estava frita como uma lagosta! — Maddie estremece e olha para
mim com expectativa. Quando eu sorrio, fingindo que estou
realmente envolvida em sua história, ela franze a testa. — Você não
vai pegar o caderninho?
— Huh? Para que?
— Por dizer bunda — diz Maddie com uma expressão duh.
— Você ganha um brinde hoje à noite.
Todas as três mulheres suspiram.
— Algo está errado com você. Você ainda não se recuperou do
resfriado. Você está morrendo? — Diz Emily com uma leve risada,
apenas 10 por cento brincando, mas tentando nos convencer de que
ela não está 90 por cento preocupada.
— Estou bem, Em. Apenas distraída. — Eu inconscientemente
olho para o meu telefone.
Todos elas olham para mim com expectativa.
— Distraída sobre...
Eu olho para elas.
— Coisas.
Maddie ri. Emily geme.
— Eu juro que você é mais difícil de obter informações do que
Noah — Amelia diz com um sorriso afetuoso.
Eu dou de ombros, pensando que há apenas uma pessoa neste
mundo a quem eu já tive vontade de contar tudo. Ótimo, e agora
estou triste. Eu nunca estou triste. Tenho essa capacidade
extraordinária de ver o lado positivo na maioria das situações, mas
não vejo isso agora. Tenho a sensação de que Will foi-se embora de
mim para sempre, assim como eu sabia desde o início que ele faria.
Toda essa situação me transformou em uma pessimista angustiada!
Como é que ele se atreve?!
— Você esteve aqui bufando e suspirando a noite toda e olhando
carrancuda para o seu telefone como se ele tivesse beliscado a vovó —
ela diz, ajustando seu corpo para me encarar no sofá.
— Falando na vovó, como ela estava quando vocês foram visitá-la
hoje? — Pergunto a minhas irmãs, sabendo que elas foram na
primeira hora quando voltaram para a cidade esta manhã.
Madison joga um travesseiro no meu rosto.
— De jeito nenhum você está nos jogando uma cortina de fumaça.
Vovó estava bem – agora o que há de errado com você, meu pequeno
botão de ouro angelical? Suas pétalas estão murchando.
Sabendo que Maddie geralmente fala figurativamente em
insinuações inadequadas, eu olho para o meu peito.
— Não estou falando dos seus seios, Annie. Aconteceu alguma
coisa com Will? — Madison pula no sofá ao meu lado para que ela
possa me encarar com um olhar próximo demais para ser confortável.
— Ele te machucou? Aquele idiota, vou depilar ele da cabeça aos
pés! — Diz Emily, se levantando de sua cadeira.
— Sente-se, Emily. Ele não me machucou.
Emily cruza os braços.
— Só vou me sentar se você contar exatamente o que ele fez com
você e por que está fazendo você murchar como um girassol sem água.
— Tantas analogias com flores hoje.
Madison cutuca.
— Será que ele queria levar suas aulas para o próximo nível e fazer
sexo? Não se sinta mal por esperar até o casamento – todo mundo
sabe que isso vem com os requisitos de namorar a Annie santinha.
Atenha-se às suas regras, porque você terá que falar com o Todo-
Poderoso para nos levar para o céu com você! O céu aceita
acompanhantes, certo?
Estou imediatamente com raiva. Não é um movimento suave no
medidor de verde para amarelo, e então, para vermelho. É fúria lívido
em um segundo. A princípio, tento engolir meus sentimentos para
não chatear ninguém, mas então ouço a voz de Mabel em minha
cabeça: conte a verdade para suas irmãs.
— Maddie, eu preciso que você pare de dizer coisas assim. É tão
frustrante para mim.
A cabeça de Madison se inclina um pouco para trás e seus olhos se
arregalam. Todas parecem atordoadas demais para falar. Tudo bem,
porque eu tenho mais do que o suficiente para dizer agora.
— E, por favor, eu estou implorando para você parar de me
chamar de Annie santinha. Eu odeio isso. Eu sempre odiei isso. Eu sei
que você não quer dizer isso como uma coisa ruim, mas parece que
sim. Isso é me colocar nesta caixinha sufocante da qual não consigo
sair.
— Annie... de onde vem isso de repente? — Pergunta Emily,
parecendo assustada.
Eu suspiro e então, sim, as lágrimas finalmente alcançam minha
raiva.
— Está vindo de anos e anos de sentimentos engolidos que eu
estava com muito medo de expressar. E isso é minha culpa. Não fui
sincera com vocês – e agora sinto que vocês nem me conhecem.
— Isso não pode ser verdade — diz Maddie, balançando a cabeça
e tentando recuperar o atraso.
— É – e eu vou provar isso. Will estava, na verdade, agindo como
meu treinador de encontro porque eu saí com o sexy bancário Teller,
e ele desistiu no meio do encontro porque eu era muito chata.
Emily fica com rugas de raiva entre os olhos.
— Aquele filho de...
Eu levanto a mão em sua direção.
— Mas não é sobre ele. O que percebi é que eu tenho sido chata.
Eu tenho escondido tanto de mim todo esse tempo para me encaixar
no molde que acidentalmente montei quando criança. Eu realmente
nunca pensei que fui afetada pelas mortes de nossos pais como vocês
foram, mas acontece que meu perfeccionismo tem sido um grande
mecanismo de enfrentamento. Eu nunca quis perturbar a ordem ou
acrescentar mais dor ou estresse à vida de ninguém, então me tornei
essa versão sempre feliz de mim mesma, o que... está me matando.
Lágrimas começam a rolar pelo meu rosto agora e, em vez de ficar
com raiva de mim, Maddie se inclina para a frente e pega minha mão.
Ela não diz nada, apenas aperta em uma espécie de sinal verde.
— Gente, eu odeio o caderninho de palavrões. Eu detesto essa
coisa. Mas eu mantenho isso por vocês porque parecia importante
para vocês. — Eu levanto e abaixo meus ombros em um encolher de
ombros exagerado. — Eu nem me lembro como começou! Mas
sinceramente, eu não poderia me importar menos se vocês xingam ou
não. Oh! E sim, é verdade – não gosto de sexo casual. Sou uma pessoa
emotiva e preciso de uma conexão emocional antes de dormir com
alguém. E eu realmente preciso que vocês parem de transformar isso
em uma piada.
— Não fizemos disso uma piada! Ou... não intencionalmente —
Emily diz defensivamente.
— Sempre senti como uma, no entanto. Toda vez que vocês me
chamam de doce ou se referem a mim como um anjinho ou alguém
que nunca comete erros, parece que vocês estão dizendo isso de uma
forma depreciativa.
— Ok, eu te entendo, mas nós fazemos isso! É assim que
mostramos nosso amor.
— E eu entendo isso também. Mas vocês não podem se referir
apenas a esses aspectos de mim em uma piada. Vocês precisam
espalhar a provocação por aí. Tirar sarro dos meus pés fedorentos, ou
que eu ronco à noite, ou alguma outra merda aleatória. Nem sempre
vá atrás da minha personalidade, porque isso começa a fazer com que
pareça um defeito meu.
Maddie olha para Emily.
— Ela acabou de dizer merda?
— Eu acho que ela disse.
Eu estou em ação agora, no entanto. Minha adrenalina está
bombeando com tanta força que eu poderia sair e erguer esta casa
acima da minha cabeça. Eu poderia quebrá-la no meio com minhas
próprias mãos.
— E isso não é tudo! — Eu digo como uma apresentadora de info-
comercial super exuberante.
Saio correndo da sala e volto, empurrando minha caixa de
romances.
— Sou uma leitora de romances — digo com firmeza, como se esta
fosse a maior revelação de todas. — E os romances sensuais de piratas
são os meus favoritos. Eu tenho fantasias de homens em calça de
camurça usando um brinco e fazendo amor no leme de um navio!
Mas mais importante, tenho fantasias de Will Griffin ser o pirata a
fazer isso! E eu acidentalmente me apaixonei por ele e ele está indo
embora em três dias e ele nunca vai olhar para trás e agora eu
provavelmente arruinei meu relacionamento com vocês também – e
eu sinto muito.
Eu desabo em uma pilha no chão agora. Colocando minhas mãos
sobre meu rosto e chorando em minhas mãos. Nunca fui tão
dramática em toda a minha vida, e tenho certeza de que amanhã vou
me sentir envergonhada por isso. Mas esta noite, só preciso ser
autenticamente eu. Emoções confusas e embaraçosas e tudo.
— Sinto muito por não ter sido honesta com vocês. Eu só não
sabia como. E agora...
De repente, sinto corpos perto de mim e braços me envolvendo.
— Psiu, Annie! Tudo bem! — Maddie diz com o rosto
pressionando meu pescoço para que ela possa me abraçar mais forte.
— Nós amamos você — Emily acrescenta, afastando meu cabelo
do meu rosto como a mãe afetuosa que ela é. — Tudo sobre você.
Sinto muito que você tenha sentido que não poderia ser honesta
conosco ou que estávamos tirando sarro de como você é gentil e doce.
Sinto muito por termos feito você se sentir como se essa fosse a única
versão que você poderia ter de si mesma perto de nós.
Amelia também está aqui.
— E eu sinto muito por ter encorajado sua alegria constante. Eu,
mais do que qualquer uma, deveria ter visto os sinais de que você
estava cansada de sempre ter que ser perfeita, mas não vi isso.
Estamos todas as quatro chorando agora. Nenhuma de nós
realmente soa coerente e, no entanto, todas nós nos entendemos
perfeitamente.
— Não, está tudo bem — eu digo para Amelia enquanto alcanço
e removo seu colar de pênis que está me cutucando no olho. — Não
é culpa de ninguém.
Depois de um minuto, Maddie se levanta.
— Como estamos sendo honestas aqui, também tenho algumas
coisas a dizer. — Ela respira fundo. — Também não fui totalmente
honesta com vocês. Eu me inscrevi no The Culinary Institute of
America e... entrei. Eu me matriculei para o próximo semestre de
outono e estou indo. — Ela lança um olhar firme para Emily. — Eu
vou, não importa o que alguém tenha a dizer sobre isso.
Há tanto silêncio. Acho que ninguém está respirando. Estamos
apenas absorvendo.
E então...
— Finalmente! — Todas dizemos em uníssono antes de derrubar
Madison no chão.
— Maddie! Eu estou tão feliz por você! — Eu digo, beijando a
bochecha de Maddie até que ela se desfazer.
— Eu te odeio por nos deixar — diz Emily —, mas estou tão feliz
que você finalmente está seguindo seus sonhos.
— Isso significa que vocês não estão com raiva de mim? — Maddie
pergunta rindo.
Eu me afasto e franzo a testa levemente.
— Por que estaríamos com raiva de você?
Ela dá de ombros.
— Por que eu ficaria com raiva de você por me pedir para não a
chamar mais de Annie santinha?
— Touché.
— Mas, na verdade, também tenho mais um segredo. Eu acho que
você vai gostar deste, no entanto. — Maddie desaparece em seu
quarto e volta segurando... uma caixa. Ela a coloca ao lado da minha
e depois me diz para olhar dentro.
Abro a aba e dou uma gargalhada quando vejo uma pilha de
romances de época.
Ela sorri.
— Eu gosto mais de duques e condes do que de piratas, no
entanto.
Eu pressiono minha mão no meu coração.
— Você gosta de homens como o personagem de Big Duke Energy
também?
— Oh sim. Eu também tenho uma conta no Bookstagram. Foi
assim que realmente aprendi sobre o termo grumpy.
Emily então geme ao meu lado e se levanta.
— Está bem. Se estamos todas fazendo isso, não quero ficar de
fora.
Quer adivinhar o que ela buscar? Sua própria caixa. E enquanto
todas nós caímos na gargalhada tirando seus pequenos livros de bolso
da feirinha de seu esconderijo, descobrimos que Emily tem uma
queda grande por romances escoceses.
Amelia faz beicinho porque não mora aqui e não tem uma caixa
de livros. Nós dizemos a ela que ela ainda pode fazer parte do nosso
grupo, porque sempre teremos Audrey. Ela, no entanto, pega uma
braçada de livros de cada uma de nossas caixas e os coloca na porta
para levar para casa.
É uma boa noite e me sinto mil vezes mais leve. Mabel estava certa,
honestidade é um dom, e eu gostaria de ter compartilhado com
minhas irmãs antes. Então, novamente, talvez tudo esteja
acontecendo em seu próprio tempo perfeitamente confuso.
Depois de sentarmos juntas no chão, colares de pênis em volta do
pescoço e desempacotarmos muitas das coisas que admiti para elas –
também conversamos sobre nossos pais e como me sinto excluída de
suas memórias. Emily admitiu que é difícil para ela falar sobre eles,
mas ela tentaria falar mais.
E então, quando pensei que iria escapar desta noite sem ninguém
ficar com raiva de mim, Maddie me belisca debaixo do braço.
— Ai! — Eu digo, puxando meu braço para longe dela.
— Isso foi por não nos contar sobre John e todas as merdas que
ele disse para você!
— Foi muito embaraçoso — eu digo, olhando para o chão. —
Agora, mais do que nunca, porque estou louca por Will, e ele já se
afastou antes mesmo de deixar Rome. Não tenho notícias dele há
alguns dias.
É quando percebo que todas elas compartilham um olhar. Um
olhar significativo de “alguém-tem-que-contar-a-ela”.
— O que? O que é? — Eu pergunto, me sentindo um pouco
frenética agora.
Minhas irmãs procuram Amelia para explicar.
— Deixe-me começar dizendo que ele está bem...
Assim que ela pronuncia as palavras, eu me levanto.
— O que aconteceu com ele?!
— Eu não te contei antes por que ele fez-me prometer não dizer
nada até que a maior parte do hematoma tenha cicatrizado, então não
iria assustar você.
— Oh meu Deus, hematoma?! — Estou prestes a chorar de novo.
Will está quase morto? Imagens dele ligado a uma triste máquina de
bipes no hospital passam em minha mente.
— Houve um superfã que entrou no local outro dia. Ele pulou o
portão e correu em direção à casa porque realmente queria que eu
tivesse uma cueca azul dele para carregar comigo pelo corredor como
meu algo emprestado e algo azul.
— Atencioso da parte dele — Maddie intervém.
— Will teve que derrubá-lo, e o cara acabou sendo muito agressivo
para alguém vestindo uma camiseta com o meu rosto estampado. —
Eu sinto que vou desmaiar. — De qualquer forma, Will controlou a
situação rapidamente, mas o cara conseguiu acertar alguns bons
golpes antes disso. Mas quando Will o derrubou na entrada de
cascalho, seu ombro pousou em uma pedra afiada e fez um grande
corte. — Ela para quando eu rodopio e saio em direção à porta, pego
nas minhas chaves e bato com a porta atrás de mim ao sair.
Will

Eu saio do chuveiro e me olho no espelho. O inchaço do meu olho


diminuiu, o que é bom, mas meu ombro ainda está sensível. Eu tive
que levar cinco pontos – o que, entre tudo que já passei, não é nada.
A dor é administrável com Tylenol, e estou feliz por Amelia estar
segura.
O cara foi preso e encaminhado à delegacia. Além disso, está fora
de minhas mãos.
De repente, ouço o som da minha porta batendo e percebo que
esqueci de trancá-la. A adrenalina corre em minhas veias. Eu
rapidamente jogo uma toalha em volta da minha cintura e abro a
porta do banheiro, pronto para pegar um intruso de surpresa, e não
o contrário. E é então que a vejo, parada no meio do meu quarto.
— Annie? — Meus ombros relaxam por apenas um segundo antes
de eu ver como ela está. — O que há de errado? Por que diabos você
está descalça e usando um colar de pênis?
Ela está respirando pesadamente enquanto seus olhos examinam
meu corpo.
— Como você ousa!
— Eu? — Eu pergunto, me sentindo bêbado com o quão
desorientado estou.
— Sim, você! Estou com tanta raiva de você que poderia
despedaçá-lo membro por membro.
Ela avança em minha direção e instintivamente me afasto um
passo.
— O que eu fiz?
— Nada, Will! — Os olhos azuis de Annie estão brilhando. — E
esse é o problema. Você foi atacado e ferido e não me contou. Olhe
para você! Você tem um olho roxo e um grande curativo no ombro, e
não me ligou imediatamente e me deixou vir cuidar de você. Você não
está apenas me evitando, Will, você está me eliminando da sua vida
gradativamente.
Ela balança o dedo para mim.
— Não se preocupe em negar porque, goste ou não, William
Griffin, eu conheço você. — Ela nem se permite respirar. A
capacidade pulmonar desta mulher é impressionante. — Mas você
não pode me eliminar gradativamente. Eu não vou permitir! Se você
nunca quiser nada romântico, tudo bem. Mas não posso passar pela
vida sem te reconhecer, falar com você e segurar sua mão quando sair
em uma aventura porque você prometeu. Porque nunca senti com
ninguém o que sinto com você.
Seu peito está arfando e seu rosto está vermelho e seus olhos estão
marejados.
— Diga alguma coisa... — ela exige, um pouco de sua coragem
falhando agora.
Eu rio.
— Oh, é a minha vez agora?
— Sim, obviamente essa foi a sua deixa — ela admite, mas então
seus olhos caem para o meu torso e a toalha mal pendurada na minha
cintura, e ela franze a testa. — Mas você está nu. E acho que vou ter
muita dificuldade em prestar atenção em qualquer coisa que você
diga enquanto estiver nu.
— Não estou nu, estou de toalha...
Nesse exato momento, a dita toalha cai da minha cintura, e agora
estou, de fato, muito nu. Nu e molhado do meu banho e totalmente
de frente para Annie. Eu imediatamente coloco minhas mãos na
minha frente quando o queixo de Annie cai no chão.
— Oh meu Deus — ela diz em um sussurro que não soa como se
ela odiasse o que vê. O que não está ajudando a esconder meu
problema na virilha.
— Merda... Annie... você se importaria?
Ela suga uma respiração afiada e cobre os olhos.
— Por que você é assim, Will?
— Como o que? — Pego na toalha e a prendo de volta no lugar.
Firmemente desta vez.
— Tipo... tão bom! — Ela diz, me fazendo sorrir. — Will... você
parece um modelo de roupa íntima. Mas sem a cueca. Ainda bem,
acabei de ver seu corpo nu.
— Você poderia parar de gritar isso?
— Desculpe. — Sua mão ainda está firmemente fechada sobre os
olhos. — E você tem uma tatuagem na coxa!
— Eu tenho.
— É um lobo. Você realmente é o Garoto Lobo.
— Você não tem ideia de como isso era preciso o tempo todo. Ok,
você pode olhar de novo.
Ela não se move.
— Annie, você pode descobrir seus olhos.
Ela inspira e segura.
— Eu nunca estive em uma sala com um homem nu antes, Will
— ela diz isso baixinho, como uma confissão.
Ando até Annie e lentamente tiro sua mão de seu rosto. Mas seus
olhos estão fechados. Eu não posso deixar de rir.
— Abra seus olhos. Sou só eu.
— Só eu, ele diz. Como se ele não fosse a pessoa mais linda que
meus olhos já viram. — Ela ergue os cílios hesitantemente, a princípio
semicerrando os olhos, e então os abre completamente.
— Obrigado — eu digo suavemente. Não tenho certeza se alguém
já me elogiou assim antes. Ou talvez seja porque nunca alguém como
Annie me elogiou antes. Isso abala meu eu já abalado. — Você é a
pessoa mais linda que eu já vi também.
— Obrigada. — Ela sorri timidamente.
— Você estava certa, no entanto.
— Sobre parecer um modelo de roupa íntima? Eu sei, você tem o
V que...
Eu cubro seus lábios com meus dedos.
— Sobre eu te eliminando.
— Oh — ela disse do outro lado da minha mão. Eu abaixo. —
Porque você não sente nada por mim, afinal?
Eu balanço minha cabeça.
— O oposto completo. Meu plano era correr o mais rápido que
pudesse para longe de você. — Eu sorrio. — Obrigado por correr
atrás de mim.
Ela pisca.
— Sempre.
A tensão entre nós cresce, crepitando e fumegando para a vida. E
mais do que tudo agora, eu quero Annie. Tudo de Annie. Tudo de
nós.
— Você provavelmente deveria ir — eu digo a ela enquanto meus
olhos caem para sua boca.
— Provavelmente, sim — diz ela se aproximando ainda mais e
colocando os dedos suavemente no meu estômago nu. Meus
músculos se contraem e cerro os dentes enquanto seus dedos descem
até o topo da minha toalha. — Mas eu não quero.
— Annie... — Meu apelo é irregular por ter que segurar meu
próprio desejo. Estou tentando tanto ser honesto aqui, mas ela está
tornando isso muito difícil. — Ainda não resolvemos nada entre nós,
e se você ficar...
— Eu vou ficar — diz ela com firmeza, sem deixar espaço para
discussão. Ela sabe quem ela é e o que ela quer e eu com certeza não
vou ficar no caminho disso.
Eu removo seus dedos do topo da toalha, e um momento de
mágoa passa por seus olhos antes de eu pegar aqueles dedos e levantá-
los aos meus lábios para beijar cada um deles.
Annie

Eu respiro fundo quando as mãos de Will se movem para envolver


meus quadris, seu rosto pairando tortuosamente na curva do meu
pescoço e na curva do meu ombro.
Ele me beija uma vez e se afasta para olhar nos meus olhos. Essa
borda perigosa é superada pelo centro negro de seus olhos –
escurecendo e se espalhando. Suas mandíbulas apertam e ele engole,
pegando minha mão e a levantando entre nós. Ele lentamente desliza
seus dedos entre os meus e não acho bom eu já querer gemer com
aquele pequeno contato.
Seu sorriso sobe. Ele sabe.
— Eu quero que você se sinta absolutamente confortável. Nós
vamos apenas até onde você quiser – e no ritmo que você quiser. E se
a qualquer momento você quiser parar, basta dizer e nós paramos. —
Ele diz isso enquanto solta lentamente uma alça e depois a outra. Elas
caem no chão com um baque satisfatório. O sorriso derretido que
toma conta de sua boca quando ele percebe que estou com uma
calcinha diferente com estampa de banana (essas bananas usam
óculos escuros) faz meus joelhos virarem geleia. Will me segura –
contra ele para ser exata – e deixa sua boca cair no meu ouvido.
— Me diga o que você gosta — ele sussurra, suas palavras quase
abafadas de como elas estão pressionando e mordiscando minha pele.
Seu corpo é tão duro e inflexível em todos os lugares, causando
uma piscina de calor em todos os cantos do meu corpo.
— Eu não... eu não sei do que eu gosto — eu digo, as palavras mal
saindo.
— Sim, você sabe. — Ele corre a boca contra a minha mandíbula,
enviando arrepios na minha espinha. Ele pega nossas mãos
entrelaçadas e as pressiona acima da minha cabeça contra a porta. Ele
está fazendo uma observação: você sabe que gosta disso. É igual ao dia
em que praticamos, mas diferente. Tão diferente porque desta vez a
boca de Will está beijando meu pescoço. Minhas clavículas. Ele não
está se segurando e eu não quero que ele faça isso. — Você sabe.
Confie em si mesma e depois me conte, Annie. Somos só eu e você.
E ele está certo. Eu sei o que eu gosto e quero, e de alguma forma,
tê-lo confiando e acreditando nisso sobre mim, envia uma onda de
confiança, bem como uma nova onda de desejo por mim.
Decido ser corajosa.
Eu abaixo minhas mãos para envolver o pescoço de Will. Ele se
ajusta para olhar em meus olhos, tentando me ler como sempre.
Tentando dar um passo à frente. Antes que ele possa, eu me levanto
e pressiono firmemente minha boca na dele. Ele suga uma respiração
afiada e suas mãos me apertam mais forte.
Tenho sido tão medida, controlada e cuidadosa a minha vida toda,
e não consigo ser assim esta noite. Eu quero me perder por um tempo.
Eu pulo e Will me pega enquanto envolvo minhas pernas em volta
de sua cintura. Sua boca explora a minha em carícias profundas e
quentes e antes que eu perceba, minhas costas estão pousando
suavemente no colchão. Eu me viro para o travesseiro, percebendo
que cheira a Will, um cheiro fresco e limpo. Ele sobe em cima de mim
e pressiona sua boca na minha, persuasivo e tão sensual que estou
bêbada e atordoada.
— Linda — diz ele com reverência depois que suas mãos deslizam
pelos meus quadris e costelas e tiram minha camisa. Ele beija minha
barriga e, em seguida, passa a língua ao redor da borda do meu
umbigo. — E você é tão doce. — Mas desta vez, quando ele diz doce,
eu não me encolho. Meu estômago embrulha porque só Will pode
me chamar de doce de uma forma que não me faz me sentir doce.
Não demora muito para perdermos cada peça de roupa. E quando
estamos pele a pele, eu deveria sentir medo. Aterrorizada. Em vez
disso, o topo dos ombros nus de Will está iluminado pela lua, e eu
estudo a forma de seus músculos enquanto eles se movem e se
flexionam. Estou relaxada, segura e alegre – e completamente
maravilhada com a maneira como seu corpo se move com facilidade
e confiança. Como suas mãos deslizam sobre mim com carinho e
precisão. E pelo resto da noite, nos perdemos nos lençóis e Will me
ensina coisas que eu nunca soube que precisava aprender.
O tempo passa muito rápido, e sei que pelo resto da minha vida
vou me lembrar desta noite com Will neste quarto. Vou me lembrar
dos flashes de seus olhos escuros e de suas mãos pressionadas no
colchão ao lado do meu rosto. Seus antebraços flexionados e nossos
corpos juntos. Vou me lembrar do gosto de suor e do cheiro de
sabonete líquido e do calor do nosso banho por volta das duas da
manhã.
E em algum momento, quando o sol está começando a beijar o
horizonte tão carinhosamente quanto Will está beijando meu ombro,
quando nós dois estamos exaustos e com uma necessidade
desesperada de dormir, Will me puxa de volta contra seu peito,
envolvendo seu braço firmemente em volta de mim apenas para me
segurar, e eu não acho que nada poderia ser mais perfeito.
Will

Eu seguro a mão de Annie enquanto caminhamos pela cidade em


direção ao restaurante na manhã seguinte. Foi preciso um esforço
monumental para eu sair da cama e ir com ela para o café da manhã,
em vez de pedir que ela viesse morar comigo naquele quarto e nunca
mais sair. Ela... Annie... Era... E eu... Nós...
Tão bom.
Já fiz sexo antes e sempre foi ótimo, mas nunca na minha vida fiz
amor com alguém. E agora posso dizer com absoluta certeza – não há
nada igual. E agora que tive Annie em meus braços, não consigo
imaginar querer outra pessoa.
Caminhamos em um silêncio amigável até que algo chamou a
atenção de Annie e ela me fez parar.
— Espere — diz ela, soltando-se para dar alguns passos para trás e
olhar por cima do ombro. Ela arfa. — Oh meu Deus, eu sabia disso.
— O que é? — Pergunto, seguindo seu olhar para a Comfort
Quilts do outro lado da rua. Através do vidro, posso ver muitas
pessoas amontoadas em um só lugar. — O que diabos está
acontecendo aí?
Agora posso sentir a raiva irradiando de Annie quando ela puxa a
mão do meu aperto e a planta severamente em seu quadril. Deus –
seus quadris. Não, não vou pensar nisso agora.
— Uma reunião municipal improvisada, é isso. — Observo Annie
atravessar a rua, o rabo de cavalo balançando loucamente atrás dela.
Estou fazendo de tudo para acompanhar, mas nunca vi essa mulher
tão determinada. Exceto talvez ontem à noite. (Novamente, sem
pensar nisso.)
— Eu estou supondo que você não está feliz que haja uma reunião
municipal improvisada?
— Não quando não fui convidada para isso. Aquilo só pode
significar uma coisa.
— O quê?
Ela vira-se do lado de fora da porta da loja.
— Eles estão falando sobre nós.
— Oh. É isso? Venha, vamos tomar café da manhã. — Tento
puxar sua mão para me seguir, mas ela não se mexe.
— Não te incomoda que eles estejam todos lá discutindo nossas
vidas sem nós?
Eu rio.
— Nem um pouco. Eles estão sempre discutindo a vida de todos
sem eles.
Ela cruza os braços.
— Bem, eu não gosto disso e isso me deixa louca.
Ao ouvir isso, sei que só há uma coisa a fazer: contornar Annie e
abrir a porta.
Ela acena com a cabeça uma vez e me precede dentro. Todos os
donos de empresas locais estão enfiados aqui como prêmios em uma
máquina de venda automática. As poucas prateleiras cobertas com
pedaços de tecido foram empurradas para o fundo da sala para
acomodar todas as cadeiras dobráveis de metal. Há uma pequena área
aberta na frente, onde Harriet está de pé com uma prancheta na mão
dirigindo-se à multidão. Isso realmente é uma coisa completa. Como
essas pessoas têm tempo para isso? Alguém teve que trazer todas essas
cadeiras e depois montá-las. Incrível.
Quando o sino acima da porta toca, todas as cabeças na sala giram
para ver quem entrou. Você pode dizer que eles já estavam nervosos
com a perspectiva de Annie aparecer, porque quando eles percebem
que é ela, há um suspiro coletivo e murmúrios baixos começam.
— Uh, Annie... bem-vinda... nós estávamos apenas...
— Ah, me poupe! — Ela diz, passando por todas as cadeiras para
chegar à frente. Cadeiras dobráveis de metal rangem contra o chão
em uma tentativa de sair de seu caminho rapidamente. — Eu sei o
que vocês estão fazendo aqui, e vocês deveriam ter vergonha de si
mesmos.
E então Harriet se posiciona na frente de Annie para bloquear sua
fala. As duas começam a brigar baixinho e eu fico atrás, sentando em
um lugar vazio ao lado de Noah, que está ao lado de Amelia, que está
ao lado de Emily, que está ao lado de Madison. Cada um deles se
inclina para a frente para acenar e sorrir para mim quando me sento.
— Estava me perguntando se vocês viriam — diz Maddie.
— Por que vocês estão aqui?
Cada um deles, incluindo Noah, olha para mim como se eu
estivesse louco por perguntar isso.
— Por que não estaríamos?
— Porque isso é sobre a irmã de vocês.
Amelia resmunga uma risada.
— E no mês passado foi sobre Noah e como ele se recusa a dar
tortas de graça para a arrecadação de fundos da escola primária local
– isso não me impediu de vir. Pipoca? — Ela inclina a bolsa na minha
direção.
— São oito da manhã.
— E?
— Você estourou um saco de pipoca às oito da manhã? — Eu
pergunto, e ela apenas dá de ombros. Eu olho para Noah. — E por
que você não fornece tortas para as crianças?
Noah me encara.
— Eu forneci tortas. Forneci vinte e cinco tortas.
Amelia sorri.
— Vinte e cinco tortas de ruibarbo – e todo mundo sabe que as
tortas de ruibarbo são as piores, então é como se ele não tivesse doado
nada.
Noah cruza os braços com mais força sobre o peito – claramente
irritado.
— Quando todo mundo ficou tão exigente com coisas grátis? Eu
tinha um excesso de ruibarbo naquela semana. Eles deveriam ser
gratos.
Alguém na frente de Noah se vira e olha para ele.
— Ninguém gosta de tortas de ruibarbo, Noah. Apenas nos dê
sujeira em um copo da próxima vez.
— Quer saber, Jonathan, vou tirar todas as tortas do cardápio,
exceto a torta de ruibarbo, até que todos aprendam a ser gratos.
Do outro lado do corredor, alguém se levanta e olha em nossa
direção.
— Antes de fazer isso, posso pegar uma torta de chocolate? Eu
tenho familiares vindo visitar esta noite, e minha sogra jura que não
sei cozinhar – quero fazê-la engolir suas palavras quando eu servir
uma sobremesa caseira.
Noah resmunga e então enfia a mão no bolso de trás e pega um
bloco de notas.
— Que horas, Jane?
— Posso pegá-la por volta das três?
Annie e Harriet ainda estão brigando na frente.
Um homem três fileiras acima, se inclina em nossa direção.
— Noah! Você pode me fazer uma torta de maçã com baunilha
hoje?
— Estou sem maçãs – reclame com James e sua fazenda de merda.
James de repente se levanta da frente.
— Droga, houve uma infestação de besouros, homem!
— Ei! — Annie de repente grita da frente da sala com uma única
palmada reverberante. — Ouça! Chega de falar em tortas. Eu tenho
algo a dizer. Harriet, sente-se.
O saco de pipoca de Amelia de repente paira na minha frente. Eu
o afasto com uma careta e me concentro em Annie.
Ela respira fundo e então olha para mim. Aceno com a cabeça uma
vez, silenciosamente encorajando-a a continuar.
Seus ombros se endireitam e a mulher parece adequada para um
tribunal com a severidade de sua expressão. Droga. É sexy.
— É completamente inaceitável que todos vocês se reúnam para
discutir maneiras de separar eu e Will.
Mabel tenta intervir.
— Mas querida...
— Não! — Ela levanta a mão. — Todo mundo precisa ouvir isso.
Estou tão cansada de ser tratada como uma criança por esta cidade.
Só porque metade de vocês ajudou a me criar não dão a vocês o direito
de fazer petições e ditar com quem posso ou não namorar. Se eu
quiser ter um relacionamento com Will Griffin, eu vou, fim da
história! — Ela pega um panfleto de cores vivas da mão de um
membro da plateia. — E além disso, só porque vocês fizeram uma
petição e todo mundo... — Ela se interrompe enquanto franze a testa
para o papel em suas mãos.
Estou na ponta do meu assento agora. O que está naquele papel?
E como isso é de repente a coisa mais divertida que testemunhei em
semanas?
Ela abaixa o panfleto e olha para todos.
— Aprova? Vocês todos aprovam?
O quê?
Pego um panfleto de Phil, sentado na minha frente.
— Da próxima vez, jovem, é só pedir! — Ele diz por cima do
ombro antes de Todd colocar a mão no braço de Phil e dar um
tapinha gentilmente, ganhando um amolecimento dos ombros de
Phil antes que eles finalmente dessem as mãos.
— Espere — eu digo a Noah baixinho. — Eles estão juntos?
— Claro. O que você pensou?
Bem. As vibrações do antigo casal fazem mais sentido agora, com
certeza.
Volto minha atenção para o folheto e, com certeza, ele mostra a
contagem final dos votos da cidade para nosso relacionamento: 250
votos a favor do namoro entre mim e Annie, 0 votos contra. Isso não
pode estar certo.
Este sou eu, eles estão falando sobre namorar Annie. Eu não a
mereço. Isso é besteira. Cada pessoa nesta cidade deveria ter votado
contra mim. Eles não se importam com ela?
Abaixo da contagem está a pauta da reunião:
Caso do Marvin usando a vaga de estacionamento do prefeito
Compartilhar os resultados oficiais da petição para o
relacionamento de Annie e Will: decisão a favor e apoio.
Harriet se levanta novamente.
— Admito que inicialmente fiquei cética por causa da reputação
de Will na mídia. Mas quanto mais assistíamos a vocês dois juntos,
mais víamos a verdade em Will. Ele é um bom homem. Além disso,
podemos ver que vocês dois estão claramente apaixonados e são
certos um para o outro. Nós só queremos que você seja feliz, Annie.
E vemos como ele te faz feliz.
Ainda estou me recuperando da palavra amor usada para
descrever eu e Annie tão casualmente. Mentalmente, estou dobrado,
hiperventilando e tentando alcançar algo para me segurar.
Mabel de repente levanta-se de seu assento.
— Mas que fique registrado que sempre fui a favor de William
desde o início! Harriet só embarcou recentemente.
— Ah, sente-se. Ninguém quer ouvir você tagarelar.
— Não vou me sentar — diz Mabel, indignada. — Na verdade, eu
vou, mas só porque meu quadril está doendo e eu quero me sentar.
Mas não porque você disse para fazer isso.
Annie parece tão abalada pela palavra com A quanto eu. Ela pisca
suavemente, entrega o panfleto para Harriet e sorri. Uma montagem
de nossa noite juntos passa pela minha cabeça, e presumo que esteja
fazendo o mesmo por ela. E então vejo o momento em que ela decide
que enganou toda a cidade e precisa confessar.
Suas sobrancelhas se juntam enquanto ela olha para a multidão, e
é quando eu me levanto.
— Obrigado pelos votos, pessoal. Jeanine, você vai voltar para a
lanchonete logo?
Ela pisca para mim.
— Uh, você pode entrar, querido. O café está quente e Greg deve
estar na cozinha. Esteja lá em dez minutos.
— Parece bom. — Vou até a frente, pego a mão de uma Annie que
parece atordoada e começo a puxá-la comigo. — E Marvin. Você
realmente tem que parar de estacionar na vaga do prefeito, cara. Não
é legal — eu digo, balançando a cabeça enquanto saio.
Assim que saímos pela porta, paro e pego o rosto de Annie em
minhas mãos, pressionando minha boca firmemente contra a dela,
roubando qualquer palavra que ela estava prestes a dizer de seus
lábios. Annie envolve seus braços em volta do meu pescoço e nós dois
simultaneamente aprofundamos o beijo até que estamos na calçada.
A reunião estranha da cidade esquecida.
Um ou dois, ou cinco minutos depois, nos afastamos sem fôlego.
Annie pressiona os dedos nos lábios roubados pelo beijo e pisca para
mim. Nenhum de nós sabe mais o que está acontecendo. E tudo bem.
— Vamos tomar café da manhã, certo?
Ela engole.
— OK.
Olho por cima do ombro enquanto atravessamos a rua e encontro
nada menos que vinte rostos espiando pela vitrine da loja de colchas
de Gemma.
Annie

Depois de um café da manhã anormalmente tranquilo, onde Will e


eu nem chegamos perto de discutir o que vai acontecer conosco
depois que ele deixar a cidade em dois curtos dias, fui à floricultura.
Está fechada hoje para que eu possa passar a tarde inteira dando os
toques finais nos preparativos para o jantar de ensaio esta noite.
De alguma forma, consegui bloquear todos os pensamentos sobre
Will e me concentrar no meu trabalho. Estou brincando! Eu
literalmente me distraí pelo menos dez vezes quando percebi que
estava repassando nossa noite juntos. Acontece que, mesmo depois
de ler todas aquelas cenas incrivelmente picantes em meus livros de
romance de época, eu não estava de forma alguma preparada para o
quão incrível é o negócio real. Como seria ser totalmente conhecida
por outra pessoa. Amar alguém de uma maneira tangível e externa.
E foi muito divertido, então tem isso também.
De qualquer forma, consegui terminar os preparativos e carregá-
los em minha caminhonete e depois descarregá-los novamente na
fazenda de James a tempo de voltar para casa, tomar banho e me
preparar para a noite.
E agora, enquanto estou aqui olhando para o vestido que comprei
para o ensaio do casamento pendurado no meu armário, penso em
não ir.
— Eu não posso usar isso — digo a Madison, que está de pé à
minha direita.
— Você absolutamente tem que usar isso! — Ela diz
enfaticamente.
— É o vestido mais bonito que já vi. — Emily acrescenta à minha
esquerda.
Nós três continuamos olhando para o vestido rosa-claro até o
chão e nos maravilhamos. Acho que nunca usei nada tão chique.
Comprei quando estava tentando provar que poderia ser Audrey
Hepburn em Cinderela em Paris, e escolhi o vestido porque era do
mesmo tom de rosa da sobreposição que ela usa durante sua grande
revelação na passarela. A revelação onde ela deslumbra
completamente a multidão. Mas agora não sinto que tenho nada a
provar a mim mesma, então considero vestir meu macacão.
— Ah, não, você não vai — diz Madison, observando meu olhar
cair para o meu traje regular bem gasto pendurado atrás do vestido
deslumbrante. — Você pode amar a si mesma e amar se vestir com
um vestido chique. Os dois podem ser sinônimos.
Antes que eu possa protestar, ela está levantando meus braços e
tirando minha camisa, e Emily está tirando minha calça da minha
metade inferior. Em questão de segundos, estou sendo vestida com
um vestido que me cai como uma luva. É simples: um vestido rosa
suave com decote quadrado e alças grossas sem mangas. Ao contrário
do vestido de Emily que usei no meu encontro desastroso, este é
cortado exatamente no ponto perfeito para minha forma curvilínea e
meu tamanho pequeno – na metade dos meus joelhos. Mas a parte
mais selvagem é a fenda sexy que se estende até o meio da minha coxa.
Eu me sinto bonita e feminina, e não consigo deixar de sorrir
quando me olho no espelho.
E uma hora depois, assim que entro no local do jantar de ensaio, é
claro que John – o único homem que eu gostaria de nunca mais ver
– me encurrala no open bar. Noah e Amelia tiveram que ir e convidar
a maior parte da cidade. Claro que John não foi convidado – mas
Jeanine foi – e eu sei por ter sido avisada por Amelia depois que a
resposta do convite chegou que Jeanine trouxe-o como seu
acompanhante.
— Uau, Annie... você está... incrível. — Ele assobia enquanto me
olha da cabeça aos pés de uma forma que eu realmente não acho que
ele deveria se sentir confortável em fazer depois que ele me
abandonou no meio do encontro, e atualmente está em um encontro
com outra mulher.
Bem, me sinto incrível, mas não comprei este vestido para ele. Ou
para qualquer um realmente. Comprei e estou usando porque me
deixa feliz e confiante. Tanto que se alguém me chamasse de Doce
Annie esta noite, eu nem ficaria ofendida. Porque só é um insulto se
eu o aceitar como tal.
E graças a Will, agora vou sorrir sempre e para sempre quando
ouvir esse adjetivo em particular. Falando em Will, espio por cima do
ombro e olho ao redor da tenda ao ar livre para encontrá-lo, mas ele
não está aqui. Há lindas luzes quentes de corda, grandes buquês
lindos (cortesia minha), mesas com lençóis brancos e pessoas vestidas
com esmero em todos os lugares que eu olho – mas não Will.
Eu me viro e quase esqueço que estava conversando com John.
— Ah, obrigada. Você parece legal também. Tenha uma boa noite
— eu digo, pegando uma taça de vinho no bar e preparando-me para
virar-me.
— Espere, uh, Annie — diz ele em uma espécie de pressa frenética.
— Estou aqui com Jeanine esta noite, mas não é nada sério. Então, eu
estava me perguntando se você gostaria de sair de novo algum dia?
Porque a última vez foi interrompida... pela minha emergência.
Ha! Este homem ainda tem coragem de fingir que foi uma
“emergência”. E insultar Jeanine convidando outra mulher para sair
enquanto ele está em um encontro com ela.
Isso está realmente acontecendo? Estou tendo meu momento
cinematográfico? Aquele em que fui completamente transformada e
estou com meu vestido sexy, e posso dizer ao perdedor que me fez
sentir como cocô de vaca se ferrar na frente de todos? Seria tão bom.
Vou sorrir o tempo todo em que faço meu monólogo:
“Acho que não, por ser chata demais para você”.
Mas então percebo que não preciso dessa vitória. Não tenho nada
a provar a John e não quero perder um único segundo com ele.
— Obrigada, mas não. Tenha uma boa noite, John. — Eu saio
com a cabeça erguida e realmente esperando que Jeanine não esteja
realmente interessada nele.
Atravesso uma multidão de pessoas que não reconheço que estão
reunidas em torno de Amelia e Noah. Amigos do mundo da música,
provavelmente. Ela não convidou muitas pessoas de sua vida de Rae
Rose porque ela e Noah queriam manter o casamento bastante
íntimo, mas quando olho mais de perto, reconheço a mãe de Amelia,
Claire (sua assistente pessoal) e Keysha (sua gerente).
Mas então vejo um pequeno grupo de pessoas que conheço
reunidas na mesa de canapés e sou atraída por elas como qualquer
verdadeira introvertida seria em um grande evento.
— Estou dizendo a vocês — Mabel diz para Jeanine, Harriet e
James enquanto eu caminho até o grupo amontoado. — Acho que
tem um fantasma morando no último andar da pousada. — Ela diz
isso com tanta paixão que até eu estou levantando minha sobrancelha
e inclinando-me para ouvir a história.
— Mabel, fantasmas não existem — diz James com um sorriso
bem-humorado antes de tomar um gole de sua cerveja.
Mabel dá a ele uma expressão de lábio de pato e projeta seu
quadril.
— Então me explique por que ouvi todos aqueles gemidos ontem
à noite.
Claro que estou no meio da bebida quando ela diz isso, o que me
faz cuspir pela boca. Eu imediatamente cubro minha boca, e Jeanine
empurra um guardanapo de coquetel em minha direção.
— Meu Deus, criança — diz Mabel com olhos arregalados (muito
inocentes).
Harriet murmura algo sobre pagãos sem educação em voz baixa.
Algumas coisas nunca mudam com ela.
— Eu sinto muito! — Dou tapinhas na boca mais algumas vezes e
tento recuperar o juízo. — Havia um inseto na minha bebida e não o
vi a tempo.
— Claro, querida. Bem, de qualquer maneira... como eu estava
dizendo, havia todos esses sons estridentes e, pior ainda, gemidos. —
Ela balança a cabeça e então lança um olhar malicioso que só eu seria
capaz de ver. E é aí que percebo que ela sabe tudo sobre o que
aconteceu ontem à noite com Will e está me provocando na frente de
todos. Traidora!
Eu limpo minha garganta, desejando que minhas bochechas não
queimem.
— Sim! Parece um fantasma para mim. Melhor ligar para alguém
sobre isso. Bem, com licença, preciso ir ver como está a Amelia. Até
mais!
Saio de lá tão rápido que quase esbarro em alguém. Felizmente,
uma mão com uma tatuagem de borboleta cobre meu pulso e me
impede antes que minha bebida acabe em qualquer um de nós. Eu
olho para os olhos sorridentes de Will, e meu coração suspira de alívio.
— Você está aqui — eu digo, soando muito sonhadora até para os
meus próprios ouvidos. Mas você também falaria assim, se pudesse
ver o homem. Ele está em um terno azul-índigo que se ajusta
perfeitamente a ele. Camisa social branca por baixo com o botão
superior desabotoado. A única tatuagem que aparece é a borboleta
dele, que por algum motivo, sabendo o que mais está vivendo sob
aquele traje, que ninguém mais sabe que está ali além de mim, está
me deixando louca. Quero desabotoá-lo um a um bem aqui no meio
da festa. Deixá-lo nu como ele sempre deveria estar. Seu corpo é
simplesmente bom demais para ficar coberto.
Ele abaixa a voz, se aproxima e se inclina para mim, sua única
mecha de cabelo rebelde caindo quase provocativamente sobre a
sobrancelha.
— Você é a mulher mais deslumbrante que eu já vi.
E assim, minha pele está formigando com sussurros lembrados de
seu corpo contra o meu.
— Você também está deslumbrante. — Impressionante demais.
— Espere, estou distraindo você do seu trabalho agora?
Ele balança a cabeça e envolve o braço em volta da parte inferior
das minhas costas para puxar-me para perto dele.
— Estou de folga esta noite. Bem, de folga da Amelia para sempre.
Meu substituto da agência apareceu hoje. Danielle está ali de
terninho preto. Ela está designada para Amelia de agora em diante.
Eu volto meu olhar para a mulher de aparência muito severa
pairando nos arredores do evento.
Meu sorriso cai junto com todas as minhas esperanças e sonhos.
— Então isso significa... que seu trabalho aqui acabou
oficialmente?
Ele olha para longe e depois de volta para mim.
— Significa que posso aproveitar a noite ao seu lado.
— A noite... — Repito baixinho, sentindo o quão final tudo
parece de repente. Como tenho pouco tempo para dizer tudo o que
sinto.
— Will... — Eu envolvo meus braços em volta de sua cintura. —
Eu... quero dizer obrigada.
Sua sobrancelha sobe, e um sorriso arrogante se inclina em sua
boca.
— Pela noite passada?
— Por tudo. Pelas aulas particulares, pela amizade e...
Ele me interrompe, a brincadeira dissipada.
— Espere, espere, espere. Isso é um discurso de despedida?
Eu dou de ombros e, em seguida, direciono meu olhar para o chão
para não chorar.
— Bem, amanhã é o casamento. Estarei trabalhando a manhã toda
para arrumar e também depois do casamento para limpar. E se o seu
trabalho aqui está feito, então...
Will engancha o dedo sob meu queixo e o inclina para cima. Antes
que ele diga qualquer outra coisa, ele se abaixa e me beija. Longo e
lento. Não é um beijo obsceno, mas é tão carinhoso que meu
estômago estremece. Meu coração desmaia.
Ele se afasta e, em seguida, passa um dedo suavemente em um dos
cachos que minhas irmãs arrumaram no meu cabelo mais cedo, seus
olhos traçando seus próprios movimentos enquanto ele faz.
— De jeito nenhum vou me despedir aqui na frente de todas essas
pessoas, Annabell. — Ele me beija mais uma vez. Um beijo rápido no
momento em que um DJ começa a tocar uma música suave de fundo
enquanto todos se misturam.
Will sorri.
— Dança comigo?
Eu olho em volta.
— Uh, eu não acho que esta seja realmente uma noite dançante.
Todo mundo está apenas comendo e conversando.
— Vamos, pratique uma dança lenta comigo — ele diz com um
engate brincalhão de seu queixo. Um olhar de quem se importa com
os outros. É o que eu amo nele.
Concordo com a cabeça e Will pega minha mão na sua e envolve a
outra em volta da minha cintura enquanto me puxa para perto.
Juntos, aqui no meio da tenda, Will e eu dançamos lentamente. Sua
mão se espalha possessivamente em minhas costas e então coloca
nossas mãos unidas entre nossos peitos. Eu fecho meus olhos e
memorizo seu cheiro e a sensação de seu paletó contra minha
bochecha. Nós balançamos no ritmo sob as luzes cintilantes, e posso
ouvir o som de sua respiração. Seu polegar desliza delicadamente
pelas costas da minha mão com o carinho mais terno que já
experimentei. De repente, eu quero implorar para ele ficar. Fica! Fica!
Fica! Nunca vá embora. Esqueça D.C., poderíamos ser tão bons juntos.
Eu te amo.
Ao lado, vejo Amelia e Noah começarem a caminhar em direção à
clareira no campo onde a cerimônia será realizada, e o organizador do
casamento acena para todos nós seguirmos. É hora de começar o
ensaio.
Will se abaixa e beija minha bochecha, e mais uma vez antecipo o
adeus mais triste da minha vida.
— Ei, me faz um favor e use aquele pijama de banana esta noite?
— Por quê? — Eu pergunto.
Ele sorri e se parece com o demônio malandro que é quando diz:
— Porque eu sonhei em descascá-lo de você mais vezes do que
você pode imaginar. Eu quero tornar isso uma realidade esta noite.
Eu rio ao mesmo tempo em que sinto um formigamento de
antecipação.
— Descascá-lo. Eu reparei no trocadilho. Isso significa que você
virá mais tarde?
— Deixe a janela aberta.
Então isso ainda não é um adeus? Tenho mais uma noite com Will
Griffin.
— Você sabe que pode usar a porta da frente agora, certo?
— Que diversão teria nisso? — Ele me solta e gesticula com a
cabeça para que eu siga o resto da festa de casamento até o campo. —
Vejo você hoje à noite, Annabell.
— Acho que sim, William.
Espio por cima do ombro enquanto me afasto e encontro Will
segurando o telefone em minha direção. Acho que ele acabou de tirar
uma foto minha.

Will cumpriu sua promessa e escalou minha janela uma hora atrás.
Agora, ele me segura contra ele na minha cama – meu pijama de
banana felizmente descartado no chão. É tarde, mas minhas irmãs
ainda não estão em casa, e presumo que estejam na casa de Noah e
Amelia ou talvez na casa de James para dar um pouco de privacidade
a mim e a Will. Sou grata. Houve tantas mudanças e tantas revelações
nos últimos dias que sinto como se tivesse corrido uma maratona. Ou
virado o homem de ferro. Ou concorrido contra Harriet para
vereadora.
Hoje à noite, Will e eu nunca chegamos a dizer adeus ou discutir
o que faremos depois que ele se for ou se haverá algo a ser feito,
porque toda vez que tento tocar no assunto, ele muda de assunto. Em
vez disso, fazemos amor e nos aconchegamos, e Will beija minha testa
mais vezes do que posso contar. E é isso. Na manhã seguinte, quando
acordo e o sol está aparecendo no horizonte, Will já se foi. E o último
romance de piratas que eu estava lendo e que estava na minha mesa
de cabeceira também se foi.
Ele tomou isso como uma lembrança minha?
Enquanto faço café, digo a mim mesma para não me preocupar.
Vou vê-lo no casamento. Não tem como ele perder isso. E não há
como ele ir embora sem se despedir.
Certo?
Mas então penso na noite passada e em como ele me segurou
como se estivesse com medo de que eu estivesse fugindo. Como ele
me beijou, mesmo depois de termos feito amor, até minha boca ficar
inchada. Como, à luz de sua ausência esta manhã, percebo que a noite
passada foi muito parecida com um adeus.
E é aí que percebo que ele não vai estar no casamento. Ele nem vai
despedir-se – e pretendia que fosse assim desde o início.
Como ele ousa?
Annie

A cerimônia está marcada para começar em cerca de dez minutos. Eu


nunca amei um vestido mais do que os que Amelia forneceu para nós,
damas de honra. É um midi cor de menta com um corpete em forma
de V e várias camadas de sobreposição de malha macia nas saias,
adicionando apenas um toque de capricho de princesa. Nós todas
estivemos na casa de James nas últimas duas horas nos preparando –
Noah e seus padrinhos de um lado e Amelia e nós, damas de honra,
do outro. Mas fomos mantidos separados para não espiarmos
acidentalmente um ao outro antes do casamento.
Consegui escapar do quarto que estávamos usando como suíte
nupcial sem que Emily percebesse, o que parece uma verdadeira
conquista. Ela está latindo ordens e se certificando de que todas
estejam seguindo a linha durante toda a manhã. Oh, Amelia tem uma
planejadora de casamento, mas até aquela mulher parece ter um
pouco de medo de Emily e recuou mais de uma vez para deixar Emily
comandar o show. Ninguém é mais feroz do que uma professora de
escola primária quando é hora de colocar as pessoas em ordem e
mantê-las dentro de um cronograma.
Mas eu queria um minuto a sós com Noah antes da cerimônia,
então, depois de me afastar de Amelia e minhas irmãs, bato na porta
do quarto de James, onde sei que Noah está se arrumando.
— Entre.
Lá dentro, encontro Noah parado na janela, vestido com seu
smoking e olhando para a fazenda que foi transformada em um local
mágico para casamentos. Fiquei aqui a manhã toda com alguns
trabalhadores contratados fazendo arranjos de flores, então não
preciso olhar para fora para saber o que Noah está vendo. Em vez
disso, estou mais interessada em cuidar do meu irmão mais velho. Eu
pisco para conter as lágrimas, absorvendo a visão do homem que
carregou nossa família desde muito jovem, prestes a casar-se com a
mulher dos seus sonhos. Ele pode caminhar pela vida com ela agora
– compartilhar momentos de felicidade e tristeza. E ninguém merece
um felizes para sempre mais do que ele. Eu gostaria que meus pais e
minha avó pudessem vê-lo agora. Eles ficariam incrivelmente
orgulhosos do homem que ele se tornou.
— Oi — eu digo, movendo-me para ficar ao lado dele na janela.
— Ei, você — diz ele em um tom suave, estendendo a mão para
envolver o braço em volta do meu ombro e me puxar para um abraço.
Noah e eu sempre compartilhamos um vínculo especial. Talvez seja
porque ele é vários anos mais velho que eu, então nunca brigamos,
ou talvez porque ele e eu somos almas tranquilas, mas sempre me
sinto confortável com ele. E ele nunca me chamou de Annie santinha,
então isso é uma vantagem.
— Como é que você vai se casar hoje? — Pergunto-lhe. — Ontem
mesmo você estava correndo pela cidade com sua cueca do Homem-
Aranha.
— Como você sabe disso? Você nem estava viva ainda quando isso
aconteceu. Droga, Mabel está espalhando essa história por aí hoje?
— Durante toda a manhã — eu digo olhando para ele com um
sorriso brilhante.
Ele geme e olha para o teto.
Eu afago seu peito.
— Você está nervoso?
Ele inclina o rosto para baixo e franze a testa.
— De jeito nenhum. Estou pronto para isso. Fechar o acordo e me
casar com aquela mulher.
— Bom. Sem pés frios? Porque eu poderia preparar a
caminhonete se você precisar de uma fuga rápida.
— Só se Amelia estiver fugindo comigo.
Eu sorrio, tão feliz em ver meu irmão assim. Meu coração tenta
apertar quando penso no homem que está desaparecido desde hoje,
mas não deixo.
Como esperado, não houve sinais de Will hoje. Nem mesmo uma
mensagem de texto ou uma carta, ou um sinal de fumaça. Ele
simplesmente desapareceu e uma grande parte de mim está
decepcionada. Eu não esperava que ele ficasse por perto nem nada,
mas eu esperava que ele pelo menos me desse um abraço de
despedida. Me dissesse que eu significo algo para ele, mesmo que seja
apenas amizade. Fui atrás dele uma vez quando ele se afastou – ir de
novo pareceria desespero. Se esta é a escolha dele, tenho que deixá-lo
ir.
— Sinto muito por ele ter ido embora — Noah diz de repente –
aparentemente lendo a expressão que eu erroneamente pensei que
estava mantendo muito neutra. — Ouvi dizer que ele saiu da casa de
Mabel esta manhã.
Oh.
Eu não tinha ouvido isso. Então eu acho que é oficial. Ele
realmente foi embora.
Eu aceno como, eh, não é grande coisa!
— Desde o início ele teria que ir. — Eu dou um grande sorriso
falso. — Ele não foi feito para ficar em um lugar só. Mas nos
divertimos enquanto ele estava aqui. — Nossa, isso dói. Ser
falsamente feliz. Ser falsamente positiva.
Noah ri.
— Besteira, Annie. Não tente me enganar com essa mentira. Você
sente muita falta dele e está brava por ele ter ido embora.
— Eu não tenho nenhum direito de estar brava. Ele foi franco
sobre o que sentia desde o início. Posso, no entanto, ficar brava por
ele ter ido embora sem se despedir.
Ele me dá uma espécie de sorriso triste.
— O problema é que você está tentando racionalizar seus
sentimentos. Tenho más notícias para você, o coração quer o que
quer, e não há como mudar isso.
— Você parece um biscoito da sorte.
No entanto, Noah não aceitará sair dessa conversa.
— Você pediu para ele ficar?
— Você teria pedido a Amelia para ficar se ela estivesse
determinada a partir?
Ele inclina a cabeça para o lado.
— Bom ponto.
— Eu simplesmente não poderia fazer isso, Noah. Eu não poderia
pedir a ele para mudar sua vida por mim. Ele acabaria se ressentindo
de mim.
Ele se vira para mim.
— Acredite em mim, eu entendo o que você quer dizer. Mas me
ouça. E se ele estivesse esperando um convite para ficar?
Não... isso não é... ele não teria... Certamente, ele sabia...
Oh, não.
Somos interrompidos por uma pequena batida na porta, seguida
de um rangido ao se abrir. Amelia espreita a cabeça para dentro.
— Noah, posso entrar... Oh, Annie! Desculpe, eu não sabia que
você estava aqui!
Eu rio e me afasto de Noah.
— Você está brincando? É o dia do seu casamento. Você pode fazer
o que quiser!
Ela abre a porta e desliza para dentro rapidamente, como se
houvesse um monstro lá fora prestes a devorá-la.
— Se Emily me vir entrando aqui, ela vai enlouquecer — ela diz,
fechando a porta silenciosamente atrás dela. Quando ela se vira
novamente, vejo o rosto de meu irmão derreter em algo tão terno que
quero apertar meu coração.
Ele respira rapidamente enquanto seus olhos caem para ver seu
vestido de noiva de inspiração vintage. É feito de delicada renda
branca e se ajusta a cada curva. Mangas soltas de renda fina e
transparente cobrem seus ombros, e o decote é profundo em V. Nas
costas, o vestido flui até a menor sugestão de uma cauda. É um vestido
simples, mas deslumbrante, que é o contraste perfeito com os olhos
escuros de Amelia e o cabelo levemente ondulado, puxado para trás
de um lado por um grampo de cabelo cravejado de pérolas.
— Amelia — meu irmão sussurra reverentemente enquanto ela
cruza para ele. — Você está tão, tão linda.
Ela sorri.
— Obrigada. Sei que não deveríamos nos ver antes da cerimônia,
mas... — ela se interrompe ao se aproximar de Noah e ele pega sua
mão, a levantando acima de sua cabeça para girá-la e admirá-la de
todos os ângulos. E então ele a puxa para seu peito e a envolve em seus
braços. — Eu só precisava ver você primeiro. E minha planejadora de
casamentos continua jogando tarefas para mim, e eu amo sua irmã,
mas estou a segundos de matar Emily porque ela parece estar
tentando superar a planejadora de casamento em seu jeito mandão
e...
Noah captura os lábios de Amelia, sem demonstrar nenhum
cuidado por sua maquiagem. E é então que me viro e saio
silenciosamente da sala, dando-lhes o momento a sós de que
precisam.
Infelizmente, vê-los assim não ajuda em nada a aliviar a dor em
meu coração. Como vou seguir em frente com Will? Como vou ser
abraçada por outro homem e não desejar o tempo todo que fosse
Will?
E a parte estranha é que ainda acho que o casamento é uma ideia
maravilhosa e algo que eu gostaria de ter um dia – mas agora estou
vendo que foi errado colocá-lo em um pedestal de felicidade absoluta.
Eu estava procurando a pessoa perfeita com as características perfeitas
e o timing perfeito, quando, na verdade, tudo o que meu coração
realmente deseja é ser totalmente conhecido e amado. Alguém com
quem compartilhar os momentos tranquilos – alguém a quem
recorrer quando tudo vai bem ou tudo vai mal. Alguém que não
ficaria bravo se eu escapasse para vê-lo antes do casamento e pelas
tradições arruinadas, mas que estaria tão ansioso para estar comigo
quanto eu estaria com ele. Alguém como... Will.
Os detalhes nunca foram tão importantes quanto eu pensava.
No corredor, não estou olhando para onde estou andando e
esbarro em um homem.
— Ufa! Desculpe.
— Oh, desculpe Annie. Uau, você está tão bonita — diz James,
admirando meu vestido de dama de honra.
— E você parece muito elegante. — Eu devolvo seu elogio com
facilidade, embora eu sinta que cacos de vidro estão bombeando meu
coração. Eu só quero passar por este dia e seguir em frente.
— Ei — diz ele de repente, o olhar em seu rosto mudando. Receio
que ele vá me encher com perguntas sobre Will como todo mundo,
mas ele me choca ao ir em uma direção completamente inesperada.
— É verdade sobre Maddie? Ela está mudando-se para Nova York
para estudar culinária?
— Ah sim, é verdade. Você acredita nisso? Teremos que ficar sem
ela por dois anos. — Eu rio levemente. — Então, novamente, isso
provavelmente parecerá uma pausa para você, porque você não terá
mais que lidar com a constante insistência dela.
Espero que ele ria comigo. Ele não ri. Ele parece estranhamente
preocupado enquanto olha fixamente para as escadas que levam até a
suíte nupcial.
— Sim. Vai ser legal. — Ele limpa a garganta. — De qualquer
forma. Vejo você lá fora. — Ele pisca e aperta levemente meu cotovelo
enquanto passa. Eu o observo ir, me perguntando se James também
tem um segredo. Talvez eu não o conheça tão bem quanto penso que
conheço.

Estamos todos alinhados em nossos lugares depois de ter acabado de


caminhar pelo corredor e estamos tentando desesperadamente conter
as lágrimas enquanto Noah acompanha Mabel até seu assento. O
assento de honra onde os pais do noivo geralmente se sentam.
Fungadas soam por toda a plateia enquanto ele beija a bochecha de
Mabel e sussurra algo em seu ouvido antes de tomar seu lugar na
frente do corredor.
Noah lança um olhar significativo para cada uma de nós, irmãs,
dizendo silenciosamente o quanto ele nos ama. Eu sou um desastre.
Segurar um soluço nunca foi tão doloroso. E então a música muda, e
o público se vira para olhar por cima dos ombros e a expressão de
Noah me estilhaça. Seus olhos se fixam em Amelia andando pelo
corredor, segurando seu buquê de flores brancas, verdes e rosa, seu
longo véu se arrastando elegantemente atrás dela. Ela o vê e sorri
suavemente, seus olhos se embaçam e seu peito se expande com uma
respiração profunda. Quando ela alcança Noah, ele dá dois passos à
frente para pegar a mão dela, como se não pudesse esperar tanto
tempo para tocá-la. É só então que ela solta o ar que respirou.
Eles ficam juntos, olhando fixamente nos olhos um do outro
enquanto o oficiante inicia a cerimônia e olhando para todo o mundo
como se tivessem encontrado seu paraíso.
Meus olhos se desviam de meu irmão e Amelia para a visão além
deles. James está parado atrás de Noah, seu olhar de dor fixo
pesadamente em um lugar logo acima do meu ombro. Maddie. Eu
roubo um olhar discreto para trás, e a encontro sorrindo
carinhosamente para Noah e Amelia, sem saber que um homem está
olhando para ela como se cada segundo que ela não está em seus
braços fosse uma tortura.
Eu conheço esse olhar.
E não posso deixar de espelhar isso enquanto meus olhos
examinam o público, sentindo intensamente a perda da pessoa que
amo mais do que tudo neste mundo.

O casamento foi de tirar o fôlego. Romântico e terno; e mesmo que


eu diga isso, as flores estavam deslumbrantes. Sim, Amelia, você era
uma deusa, mas vamos ser sinceros – todo mundo vai falar sobre as
flores nos próximos anos.
E agora Noah e Amelia estão dançando lentamente no meio da
pista de dança ao som de “The Way You Look Tonight”, com a lua e
as luzes cintilantes sobre suas cabeças, balançando com seus corpos
tão próximos que quase parece inapropriado assistir.
Também é um pouco doloroso de assistir, para ser sincera, porque
me lembra de dançar com... ugh, não vou pensar nele de novo.
Eu me levanto do meu lugar na mesa da recepção e pego meus
saltos altos do chão, onde os descartei duas horas atrás, quando
minhas irmãs me puxaram para a pista de dança com elas. Tudo está
começando a esfriar, e Amelia e Noah partirão para a lua de mel em
breve. A atmosfera geral é de alívio. Acabou. O casamento está
completo, Amelia e Noah estão casados e felizes, e tudo pode começar
a desacelerar e voltar ao normal.
Digo a Emily e Maddie que vou pegar uma bebida e já volto, mas
quando me aproximo do bar, sou atingida por uma nova onda de
tristeza quando vejo a nova guarda-costas de Amelia em posição de
sentido ao lado da recepção. De repente, não quero mais ficar por
aqui – e Amelia e Noah estiveram tão envolvidos um com o outro a
noite toda que nem vão notar se estou aqui para a despedida deles ou
não. Então eu coloco meu copo na mesa e sigo para o estacionamento,
deixando o local ao som de Frank Sinatra e murmúrios atrás de mim.
Quase parece errado entrar na minha velha caminhonete vestida
com tanta elegância. E ainda de alguma forma é exatamente certo.
Percebi que muitas coisas mudaram em mim, mas amar esta cidade e
essa caminhonete não estão entre elas.
Mas quando coloco minha mão na maçaneta da caminhonete,
uma voz familiar brincalhona e maliciosa soa em meu ouvido, e uma
mão com uma tatuagem de borboleta passa por cima do meu ombro
para fechar a porta novamente.
— Sou eu, e você está segura. Vou vendar você agora. — Uma tira
fina de pano preto cobre meus olhos.
Eu suspiro.
— Will?! O que você está fazendo?
— Sim, sou eu, Will — ele diz baixinho e então limpa a garganta e
fala com mais firmeza – teatralmente – e definitivamente com mais
barítono. — Mas também – não, eu não sou Will.
Meu coração está batendo alegremente. Está cantando e correndo
e pulando e eu nem sei o que está acontecendo. Achei que ele tinha
ido embora!
— Meu nome é Capitão Blackheart — ele diz antes de me erguer
por cima do ombro, fazendo-me gritar. — E você, minha senhora,
está sendo sequestrada.
Annie

Estou definitivamente sentada em um veículo estranho agora, ao lado


de Will – isso eu sei. E é uma caminhonete, a julgar pelo banco e pelo
cheiro distinto de gasolina velha, também conhecido como o cheiro
da minha vida. Mas a pergunta é: de quem é essa caminhonete?
Porque Will dirige o SUV de sua empresa normalmente.
Nada faz sentido.
E esta venda é sexy.
E acho que vou hiperventilar.
— Ok, espere. Podemos apenas fazer uma pausa? — Eu pergunto,
querendo tanto concordar com o que quer que seja, mas porque tem
sido uma semana emocional muito longa, estou achando minha
tolerância natural para brincadeirinhas muito baixa.
Will deve ouvir o pânico em minha voz.
— Claro.
— Então posso tirar a venda?
— Sim, com certeza — ele diz gentilmente, o que parece um
bálsamo para meu nervosismo
Quando puxo o tecido preto para baixo, meus olhos piscam
contra a imagem difusa de Will em uma camiseta preta e jeans, sua
mão jogada casualmente sobre o volante de uma velha caminhonete
enquanto dirigimos por uma estrada escura.
Primeiro as coisas mais importantes.
— De quem é essa caminhonete?
— Minha.
— Mas você não tem uma caminhonete.
Ele estala o canto da boca e pisca.
— Ah, mas eu tenho. Bem, esta é na verdade um velho Bronco.
Comprei por uma pechincha, porque não posso estar nesta cidade e
não dirigir uma caminhonete. Você deveria saber disso melhor do que
ninguém.
Estou tonta. Eu vou vomitar.
— O que está acontecendo, Will? Eu pensei que você tinha ido
embora. Achei que você tivesse saído da cidade esta manhã para
nunca mais ser visto, e agora, aqui está você... dirigindo uma
caminhonete como se meu mundo não estivesse desmoronado o dia
inteiro. — Minha voz está subindo os degraus de uma escada em uma
terra de histeria.
Ele brevemente olha para mim e depois de volta para a estrada.
— Seu mundo estava desmoronando?
— Bem... — Eu levanto e abaixo meus ombros. — Mais ou
menos. Internamente. Sim.
Talvez eu não devesse ter admitido isso. Talvez eu esteja
mostrando minhas cartas cedo demais. Mas eu nem sei que jogo
estamos jogando porque pensei que ele tinha ido embora há cerca de
cinco minutos. E agora ele está sentado em seu Bronco e tendo a
audácia de parecer casual.
Ele balança a cabeça.
— Por que você achou que eu tinha saído da cidade? Ou que eu
iria embora sem me despedir de você, aliás?
Eu solto uma risada presa.
— Hum, vamos ver. Talvez porque você não estivesse lá quando
acordei esta manhã, e então você nunca mandou uma mensagem ou
ligou, ou deixou um bilhete, e então Mabel disse que você saiu do seu
quarto esta manhã também. O que mais devo pensar?
Novamente ele olha para mim com as sobrancelhas franzidas.
— Mas eu mandei uma mensagem para você... esta manhã. Eu
disse que não conseguiria ir ao casamento, mas veria você hoje à noite.
Minha boca se abre.
— Não. Você não mandou mensagem.
— Eu mandei. — Ele tira o telefone do bolso e joga-o no meu colo.
— Olha.
Eu toco na tela de seu telefone, parando brevemente para me
maravilhar com sua nova foto de papel de parede: eu de pé na
floricultura na noite em que nos beijamos pela primeira vez. Meu
coração treme, assim como minhas mãos quando abro seu telefone e
olho para a nossa conversa. Com certeza, há uma mensagem que ele
me enviou dizendo exatamente essas palavras. Mas acima deles há um
pequeno ponto de exclamação vermelho.
— Nunca enviou.
— O que? — Ele desvia os olhos para a tela do telefone e volta para
a estrada, fazendo uma careta. — Maldito serviço de internet. Sinto
muito, Annie. — E então, como se estivesse fora de mim, observo sua
mão, minha mão favorita no mundo, estender a mão e deitar sobre
minha coxa. — Eu nunca iria embora sem te avisar. Nunca.
Um nó pesado no meu peito desenrola-se. Começo a respirar
normalmente.
— Bom.
Ele sorri para mim.
— Bom. Agora... posso terminar meu sequestro, por favor?
Minha tontura se espalha pelo meu estômago e se transforma em
borboletas. Algo está acontecendo agora. Meus pensamentos correm
para recuperar o atraso agora que todo sentimento de pavor está
desaparecendo. Will me sequestrou por diversão. Ele comprou uma
caminhonete. Ele não saiu da cidade. Sua mão está na minha coxa.
Eu tento, mas não consigo conter um sorriso enquanto levo a
venda de volta sobre meus olhos.
Alguns minutos depois, Will está estacionando a caminhonete e
desligando o motor.
— Vou dar uma volta e pegar você — diz ele antes de sair da
caminhonete.
Durante sua curta caminhada ao redor da caminhonete, tento
imaginar do que se trata tudo isso, mas não consigo pensar em nada.
Ou talvez eu esteja com muito medo de ousar. De qualquer maneira,
quando Will abre a porta da minha caminhonete e desliza meus
quadris para a beira do assento, meus pensamentos se perdem
quando ele se inclina e beija minha boca levemente.
— Vem comigo?
Eu concordo.
— A qualquer lugar.
Há um silêncio pesado e, nele, levanto minha mão para sentir sua
boca sorridente na ponta dos meus dedos. E então ele me levanta por
cima do ombro, novamente citando versos impossivelmente cafonas
que reconheço de alguns dos meus romances de piratas favoritos.
Todos aqueles em que uma heroína é sequestrada por um pirata
desonesto. Não posso deixar de sorrir pensando em quanto Brandon
zombaria disso. O quanto minhas irmãs ririam de mim. Mas Will não
apenas apoia meu amor pela ficção histórica – ele os reencena.
Eu ouço seus passos batendo contra a madeira e, em seguida, uma
porta abrindo e se fechando novamente. A menor quantidade de luz
quente inunda o tecido da minha venda. Will desliza-me de seu
ombro para o chão e segura minha cintura quando eu balanço
levemente com todo o sangue correndo da minha cabeça. Ele vira-me
para ele e então eu sinto seus dedos acariciarem carinhosamente meu
rosto enquanto ele abaixa a venda.
Mais uma vez, pisco para o mundo voltar ao foco. Prendo a
respiração.
Estamos em uma casa quase vazia, exceto por todas as coisas que
Will claramente acrescentou. Luzes quentes cintilantes por toda a
sala. Velas acesas dentro da lareira vazia. E a parte mais maravilhosa –
todos os tipos diferentes de flores espalhadas pelo chão. Um tapete de
pétalas. Uma nuvem de folhagem. E envolvendo tudo isso, um puff
de aparência confortável no meio da sala.
Will pega minha mão e quando olho para ele, imaginando o que
está acontecendo, uma peça de prata brilha em sua orelha. Eu suspiro.
— Você está usando um brinco!
Ele ri.
— Só por esta noite. E só para você. Serei seu pirata, Annie. — Ele
sorri e é tão tortuoso e sexy que faz meu estômago revirar como um
navio balançando. Ele pega minhas mãos. — Não pude ir ao
casamento hoje porque a marca registrada de todo bom romance é
um grande gesto. E eu queria te dar um. — Ele parece meio tímido e
inseguro enquanto gesticula em direção à sala.
— Will... — eu começo, mas ele interrompe-me, aproximando-se
e pegando meu rosto em suas mãos.
— Annabell, eu preciso que você saiba, eu me apaixonei
perdidamente por você.
Eu fico parada.
— Mas você não acredita no amor.
Ele passa as costas dos dedos carinhosamente sobre minha
mandíbula e desce pela minha garganta.
— Era mais fácil dizer que não acredito no amor, em vez de
admitir para mim mesmo que tinha medo de não ser amado de volta.
Eu espalho minha mão sobre seu peito.
— De partir o coração, Will. É impossível não te amar.
Ele sorri e pressiona um dedo em meus lábios, me silenciando.
— E então liguei para meu irmão e, enquanto conversávamos,
percebi que deixar esta cidade sem você foi o pensamento mais
assustador que já tive. Preciso de você na minha vida como preciso de
ar, Annie. Você me arruinou da melhor maneira que eu poderia
imaginar, e eu nunca mais serei o mesmo. Nunca mais vou querer ser
o mesmo. — Ele beija minha testa. — Eu te amo. E sei que o
casamento é algo profundamente importante para você – e o que
você deseja é profundamente importante para mim, então... case-se
comigo, Annie. Ninguém mais.
Eu rio enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Isso está
acontecendo? Deve ser um sonho.
— Não — eu digo com um enorme sorriso enquanto balanço a
cabeça. — Eu não vou me casar com você.
Ele me encara por um segundo, se perguntando se ele me ouviu
errado porque minha expressão e minhas palavras estão em conflito.
— Você... não vai?
Mais uma vez, não consigo conter o riso enquanto a alegria
transborda de mim. Me aproximo de Will e coloco meus braços em
volta de sua cintura, inclinando meu rosto para cima. A borda escura
ao redor de suas írises nunca pareceu tão perigosa. Tão atraente. Tão
adorável.
— Eu também te amo, Will. Eu te amo mais do que pensei ser
possível amar alguém. E é por isso que não vou me casar com você.
— Confuso.
— Não é? — Eu sorrio. — Primeiro, quero que saiba que ouvi
você naquela noite em que você explicou por que está hesitante em se
casar, e, sabendo tudo o que sei sobre você agora, nunca pediria para
você pular de cabeça em algo e apenas confiar em mim. Não acho que
isso seja amor verdadeiro. Na verdade, seria uma porcaria da minha
parte pedir para você deixar todos esses medos de lado pela minha
felicidade. E segundo... — eu levanto-me para beijá-lo uma vez
suavemente na boca só porque eu preciso. — Estou reaprendendo
quem sou e por que amo as coisas que amo. Então, gostaria de algum
tempo para fazer isso antes de decidir me casar. — Eu o beijo
novamente. — Mas o que eu quero é ter um relacionamento com
você – viver dia após dia e ganhar sua confiança enquanto você ganha
a minha, e nós descobrimos quem somos juntos nesta vida confusa.
Se você quiser...?
Ele sorri.
— Eu já comprei a caminhonete.
— É uma ótima caminhonete.
— Mas você tem certeza? Porque, Annie, se o casamento é
realmente o que você deseja no fundo...
— Nunca tive tanta certeza de nada. Além disso, Will... — Eu rio.
— Eu só te conheci há um mês! Mesmo que eu quisesse me casar, não
iria querer um pedido de casamento tão rápido!
Ele dá de ombros.
— Bem, você é sulista.
— Não tão sulista. — E então percebo algo enquanto olho ao
redor da sala que ele está tão cuidadosamente polvilhado com flores,
luzes e cobertores aconchegantes. — Espere. Em que casa estamos?
— Minha.
— Mas você não tem uma casa.
— Agora eu tenho — diz ele com naturalidade.
E de volta à xícara giratória lá vou eu.
— Oh meu Deus. Vou beliscar você, Garoto Lobo!
— Capitão Blackheart.
Eu o cutuco no peito.
— Me diga o que está acontecendo! Do começo ao fim.
Ele cede com um sorriso fácil.
— Bem, tecnicamente a casa é minha em trinta dias depois que eu
fechar oficialmente, mas já é praticamente minha porque Mary disse
que tudo bem se eu for em frente e me mudar. Está no mercado há
uma eternidade e precisa de muito trabalho. Não olhe muito de perto
para nada.
— Willmont. Você comprou uma casa — eu digo, me afastando
dele para admirar o lugar com uma nova compreensão.
Ele ri.
— Sim. Comprei uma casa, larguei meu emprego e não vou para
D.C. porque não posso. Eu não queria mais. Encontrei raízes nesta
cidade incrivelmente frustrante e não quero partir. Eu amo isso aqui.
E eu te amo. E parece uma grande nova aventura ficar parado em
algum lugar – pelo menos até escolhermos para onde viajar juntos
primeiro. Porque estou absolutamente levando você ao redor do
mundo.
— Você não é mais um guarda-costas?
— Agente de proteção executivo.
— Will!
Ele abre um sorriso enorme, com aqueles colchetes perfeitos em
volta da boca.
— Não, eu não sou mais um APE. Mas estou oficialmente
registrado para o semestre de outono na melhor faculdade
comunitária de Rome — ele diz como se não fosse grande coisa.
Como se isso não fosse uma mudança de vida. — Não consegui tirar
o que você disse da minha cabeça naquela noite, quando conversamos
no seu sofá. E percebi que voltar a estudar e obter meu diploma
parecia muito bom – com planos de... tornar-me professor quando
me formar.
Ok, mas é adorável como ele parece envergonhado de repente. Se
houvesse uma pedrinha na frente dele, ele a chutaria.
Eu toco minha mão suavemente em seu rosto com o sorriso mais
aguado que já tive.
— Faz sentido. Você é um bom professor.
Ele ri.
— Mas acho que vou continuar ensinando matemática ou
ciências de agora em diante.
— Provavelmente inteligente.
— Annie?
— Sim?
— Eu te amo.
Respiro o cheiro das flores e de Will Griffin. Meus dois perfumes
favoritos em todo o mundo.
— Eu também te amo, Will.
— Então, se você não quer se casar comigo, você quer ser minha
namorada? — Ele diz, deixando um beijo na curva do meu pescoço.
— Antes de responder, você deve saber que John está interessado em
você. Na noite em que nos beijamos em Hank perguntou se
estávamos falando sério, e eu disse que não e me arrependi todos os
dias desde então.
Fogos de artifício explodem da minha cabeça. Corações inundam
meus olhos. Minha pele brilha da cabeça aos pés.
— Quem é John?
— Boa resposta. — Will me pega em seus braços e me carrega até
o puff, onde ele me coloca no chão e se deita ao meu lado. Ele arrasta
seu dedo languidamente sobre minha clavícula sem pressa, porque...
nós temos tempo. Para sempre.
— Eu já te disse por que nunca falei com você antes daquele dia
no beco?
— Não — eu digo, sentindo como se estivesse em um sonho
enquanto olho para Will banhado nas luzes quentes e sorrindo para
mim como se o segredo de sua felicidade vivesse dentro de meus ossos.
— Porque eu sabia que assim que o fizesse, estaria acabado para
mim. Uma parte de mim sempre soube que eu te amaria.
— Pare — eu digo, arrastando a palavra como se estivesse com dor
e apertando meu coração. — Não aguento mais declarações
emocionais, ou morrerei de felicidade.
Ele sorri, abaixa a cabeça para substituir o dedo pelos lábios e
murmura contra a minha pele.
— Existem maneiras piores de morrer. Mas eu prefiro que você
fique por aqui. E tenho várias ideias de como podemos preencher
nosso tempo.
A mão de Will se estende sob o travesseiro na minha cabeça e puxa
algo. Eu rio quando olho para baixo. Ele coloca o livro que roubou
do meu quarto esta manhã no meu estômago e sorri tortuosamente
para mim.
— Eu destaquei as partes que você pode estar interessada em
reencenar. Elas, é claro, exigirão que você tire seu lindo vestido. Aqui,
me deixe te ajudar.
Eu rio até que sua boca cobre a minha.
E nunca nenhum beijo teve um sabor tão doce.
Gazeta de Rome

Ontem à noite, os cidadãos de Rome foram brindados com uma


grande aventura quando o xerife Tony foi despachado na calada da
noite para investigar uma invasão na residência de Will Griffin e
Annie Walker. Os dois se ausentaram de Rome, Kentucky, por duas
semanas enquanto estavam em férias em Paris, e não eram esperados
para casa até o dia seguinte.
Por volta das duas da manhã, Bud Appleton (vizinho) notou duas
pessoas, um homem e uma mulher, tentando invadir a casa dos
Griffin-Walker por uma janela lateral. O xerife Tony, ao chegar ao
local, atacou o homem tatuado de um metro e oitenta e o jogou no
chão. Tendo sido alertado sobre a chegada do xerife Tony por causa
das sirenes irritantemente altas e das luzes brilhantes de seu veículo
policial, os espectadores se aglomeraram no local para dar uma olhada
melhor.
Bud Appleton comentou: “Foi diferente de tudo que já vi antes!
Tanta comoção. O xerife atacou o homem e o derrubou rápido o
suficiente, mas o pobre velho Tony foi imediatamente virado de
bruços e suas mãos foram contidas atrás das costas”.
Testemunhas relatam que o ladrão perigoso soltou o xerife Tony
em uma notável demonstração de compaixão quando Tony gritou:
“Ok, ok, eu desisto! Me solte”.
Quando entrevistado mais tarde, o ladrão comentou: “É a minha
própria maldita casa, Terry. Por que você continua referindo-se a mim
como um ladrão? Você conhece eu e Annie; e tivemos um longo dia
de viagem, perdemos a chave de casa e só queremos entrar e dormir.
Por favor, saia”.
Em uma reviravolta emocionante, parecia que os bandidos
noturnos eram ninguém menos que os moradores da casa: Will
Griffin e Annie Walker, que são os felizes proprietários da casa há um
ano.
Embora o Sr. Griffin fosse menos obrigado a falar, a Sra. Walker,
em sua maneira amável de sempre, permaneceu do lado de fora para
responder a várias perguntas do repórter.
“Nossa viagem a Paris? Ah, Terry, foi incrível! Trouxe para você
uma pequena Torre Eiffel como você pediu. Foi tão romântico e tudo
o que eu esperava que fosse, mas estou ansiosa para voltar à
floricultura e terminar nossas reformas na casa. Só nos falta a
varanda”.
Infelizmente, nossa entrevista foi interrompida abruptamente
quando o Sr. Griffin voltou para fora, agarrou a Sra. Walker e a
carregou sobre o ombro para dentro de casa, fechando a porta e todos
os curiosos do lado de fora, encerrando assim outro dia agitado em
Rome, Kentucky.
Bem, amigos, nós conseguimos. Mais um livro meu está no mundo
(e atualmente em suas mãos), e eu não poderia estar mais grata por
isso. Isso nunca para de parecer um milagre.
No início da escrita deste livro, me lembro de pensar que este seria
muito mais fácil de escrever do que When in Rome! HA! Sugestão de
que este foi o livro mais difícil que já escrevi. No momento em que
terminei, eu tinha sete (sim, sete) rascunhos quase finalizados desta
história porque Annie e Will, que continuavam exigindo que eu
acertasse a história deles. O rascunho final, aquele que está em suas
mãos, foi quando tudo se juntou, e eu me apaixonei pela história e
por esse casal.
Então agora, vou prometer meu amor eterno às pessoas que me
ajudaram a tornar isso possível.
Como sempre, em primeiro lugar, quero agradecer à minha
própria pessoa segura: Chris. Meu marido, meu amor, meu idiota
absoluto, eu te amo. Obrigada por me encorajar todos os dias a correr
riscos e seguir meu coração. Você é meu coração, então me veja te
seguindo pelo resto da minha vida.
À minha maravilhosa agente literária, Kim Lionetti, muito
obrigada por defender a mim e meus livros de tantas maneiras.
Também adoro podermos sentar juntas em uma teleconferência por
quinze minutos, quando ninguém mais aparece, e conversar sobre
The Office vs. Friends. Honestamente, sua amizade significa o
mundo para mim e suas habilidades neste negócio são incomparáveis.
Sou sortuda por ter você!
Para minha incrível editora, Shauna Summers, estou muito
orgulhosa e honrada em trabalhar com você. Você não apenas se
apaixona por meus personagens como eu, mas sempre encoraja
minha voz e me inspira a ter confiança em minha escrita, e não posso
te agradecer o suficiente por isso. Ter você como editora (e amiga) é
uma alegria e um privilégio!
Para minhas amigas brilhantes, deslumbrantes e criativas da Dell:
Taylor, Corina, Mae e Jordan, muito obrigada por seu trabalho
árduo, apoio e risadas! Quero que vivamos todas na mesma cidade
para podermos ser melhores amigas.
À minha família, obrigada por me ouvir falar sem parar sobre
meus livros, estresse e alegria e não me colocar no porta-malas do
carro de alguém e dizer para irem embora. Eu amo todos vocês!
E aos meus amigos com quem compartilho poeira estelar, que
mandam 400 rolos de um lado para o outro comigo, com quem
marco polo depois de muito vinho espumante, que voaram até
Nashville e ensinaram-me a fazer um pizookie, que são
absolutamente nerds sobre Taylor Swift comigo, e que conhecem
todos os meus segredos e também me enviam memes de Nick Miller
o dia todo, obrigada a todos por seu amor e apoio. Sem vocês, este
trabalho e essa vida seriam muito chatos.
E para os meus leitores, eu amo muito vocês. Vocês se juntaram a
mim quando meus livros independentes estavam em crise, vocês
forçaram todos os seus amigos e familiares a comprar meus livros
mesmo quando eles não queriam, e vocês me enviaram palavras de
encorajamento e até mesmo pequenos presentes quando vocês
sabiam que eu precisava de um estímulo como se fosse um de seus
amigos mais queridos e, por isso, sempre serei grata!
Ok, acho que devo terminar isso e escrever o próximo livro
ambientado em Rome, Kentucky! :)
Amor, amor & amor,
Sarah

Você também pode gostar