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Dedicatória

Aos meus pais, que insistiram que a mesa de jantar era para leitura.
Capítulo 1
Este foi, oficialmente, o pior dia da vida de Harper.
O que ela viu naquele idiota? Abaixou o quebra-sol do carro, apertando os
olhos contra o sol poente da primavera que, pelo menos, significava que
esse dia infernal estava quase acabando. Mesmo que ela ainda não tivesse
ideia de para onde estava indo.
O que era simplesmente perfeito.
Ela automaticamente foi pegar sua bolsa antes de se lembrar que a tinha
esquecido, junto com a carteira e telefone, contendo o GPS que diria se
estava indo na direção certa.
Hannah morava duas horas a sudoeste da cidade, e Harper não tinha
certeza de como sua colega de quarto se sentiria em relação a uma hóspede
inesperada, mas ela era sua única esperança no momento.
A luz laranja do painel, que indicava pouco combustível, escolheu aquele
momento para acender.
— Droga.
Ela tinha se esquecido de parar para abastecer no caminho para casa, e
certamente não tinha pensado nisso depois de sair correndo.
Avistou a próxima saída – uma cidade chamada Benevolence, Maryland –
e sinalizou. Teria que encontrar um telefone público. Eles ainda
existiam? Ela, pelo menos, sabia o número de alguém? Harper gemeu.
Talvez pudesse pegar emprestado o telefone de alguém, entrar no
Facebook e implorar por uma carona a amigos próximos.
Assim que adentrou nos limites da cidade, ela parou no estacionamento de
cascalho do que parecia ser um bar se preparando para uma agitada noite de
sexta-feira. Era uma espécie de cabana de madeira de aparência
rústica. Nenhuma luz néon nas janelas, apenas uma simples placa pintada a
mão, pendurada no beiral da estreita varanda da frente:
Remo’s
Havia um pátio lateral decorado com luzes e toldos, e alguns clientes
estavam agrupados em torno de aquecedores e uma lareira externa.
Parecia amigável. E ela poderia usufruir de um amigo naquele momento.
Harper desceu de seu velho Fusca Volkswagen, e as dobradiças rangeram
quando fechou a porta. Encostada no para-lama desbotado, ela deixou seu
olhar vagar, procurando por um estranho amigável com um smartphone.
— Como consigo me colocar nessas situações? — ela suspirou, colocando
uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha.
— Eu te avisei!
O grito gutural veio de uma , duas fileiras atrás, onde um homem se
erguia sobre uma pequena morena. Ele segurava a mulher pelos ombros e
estava sacudindo-a com força suficiente para bater os dentes.
— Porra, eu disse a você, não disse? — Ele a sacudiu novamente, ainda
mais forte desta vez.
Harper avançou rapidamente.
— Ei!
O gigante gritando mal a olhou por cima do ombro.
— Cuide da sua vida, puta intrometida. — Harper podia ouvir a
repreensão em suas palavras.
A morena começou a chorar.
— Glenn...
— Estou farto de ouvir isso!
Ele fechou um punho enorme em volta do pescoço dela e a empurrou
contra a picape, levantando-a do chão. A mulher agarrou, impotente, a mão
que apertava a sua garganta.
Vendo vermelho, Harper se lançou em suas costas.
Com o impacto, ela colocou os braços em volta do pescoço dele. Ele
gritou, agudo demais para um homem de seu tamanho, e soltou a
mulher. Balançando os braços, ele bateu as costas na picape, tentando tirar
Harper de cima dele.
Ela segurou com mais força quando o peso dele esmagou seu torso.
— Não é tão fácil quando lutamos, não é, idiota? — ela soltou.
— Você está morta, sua vadia! — ele gritou.
Ela brevemente pensou em morder sua orelha, mas em vez disso, usou as
pernas para empurrá-los para longe da picape e apertou os braços com mais
força em volta do pescoço dele. Seu rosto estava ficando vermelho com a
pressão.
Glenn agarrou os braços dela e deu um empurrão para frente, jogando
Harper no chão em frente à mulher que chorava. Ela caiu de lado com força
e se levantou cambaleando. Ele deu um murro de raspão em seu ombro, que
doeu muito, e ela o acertou na lateral da cabeça
— Glenn! — Uma voz profunda e cheia de autoridade saiu de trás deles.
Harper aproveitou a distração e disparou um soco em seu rosto, pegando-
o desprevenido, mas apenas por um momento. O gigante bêbado se virou
para ela, e o estacionamento explodiu em estrelas.
***
— Ei. — Lá estava aquela voz novamente, desta vez flutuando em sua
direção através da névoa. Profunda e um pouco áspera.
Harper estava deitada de costas no cascalho. A lateral de seu rosto parecia
estar em chamas. Mas o que prendeu sua atenção foi o homem pairando
sobre ela. Cabelo escuro, curto e bagunçado, e a sombra do sol poente
emoldurando os olhos castanhos mais profundos que já tinha visto. Um pôr
do sol espetacular estava acontecendo atrás de sua cabeça. Era uma imagem
linda.
— Uau — ela sussurrou. — Eu estou morta?
Ele sorriu, e ela viu uma covinha aparecer ao lado de sua boca. Santa
gostosura. Ela estava, definitivamente, morta.
— Você não está morta, mas poderia estar, depois de enfrentar um grande
filho da puta como aquele.
Harper gemeu, se lembrando.
— Onde está o filho da puta? A garota está bem?
— Ele está com a cara no asfalto, debaixo de um policial, e Gloria está
bem. Graças a você. — Ele tocou seu rosto suavemente, sondando o
machucado do tamanho de um punho. — Você levou um golpe como uma
campeã.
Ela estremeceu.
— Obrigada. Posso me sentar?
Sem dizer nada, ele a ajudou a se sentar e a segurou pelos ombros.
— Como você está se sentindo?
A preocupação coloriu aqueles olhos profundos.
Ela levou as pontas dos dedos à bochecha e sentiu o calor do que devia ser
um machucado bem feio.
— Já me senti pior.
Ele tinha uma cicatriz em uma das sobrancelhas e as mais leves rugas ao
redor dos olhos. Seu antebraço direito estava completamente coberto por
uma tatuagem.
— Enfrentar um cara daquele tamanho foi uma coisa muito corajosa e
estúpida. — Ele sorriu novamente.
— Não é a coisa mais estúpida que fiz hoje.
— Vocês estão bem, Luke?
Harper parou de olhar para ele por tempo suficiente para notar a multidão
que os cercava.
— Estamos bem. — Ele se voltou para Harper. — Acha que consegue se
levantar?
Ela assentiu, moderadamente satisfeita quando sua cabeça não caiu do
pescoço com o movimento. Ele deslizou as mãos por baixo dos braços dela
e gentilmente a levantou. A multidão explodiu em aplausos.
— Já era hora de alguém colocar aquele idiota em seu lugar — alguém
gargalhou, e o resto da multidão riu.
— Jesus, Luke, o que você fez agora?
Uma beldade de cabelos negros, em uma saia jeans e uma polo com a
palavra Remo’s bordada, abriu caminho entre os espectadores.
— Não fique irritada com ele, Soph. — Um policial deu um passo à
frente. — Ele não começou, mas um deles quebrou o nariz de Glenn.
Harper olhou para baixo e notou os nós dos dedos machucados na mão
direita de seu herói.
— Há testemunhas suficientes para ele passar algumas noites na prisão,
mesmo que Gloria não dê queixa desta vez — continuou ele.
A mulher gritou e agarrou Luke para um beijo estalado.
— Mamãe vai ficar muito orgulhosa.
Luke revirou os olhos, as mãos ainda firmando Harper.
A morena se virou para Harper.
— E você foi o quê, dano colateral?
— Você está de brincadeira? — O policial riu. — Eu estava parando
quando a vi pular nas costas dele com sangue nos olhos. Ela virou a
Princesa Guerreira Xena antes que ele conseguisse dar esse golpe de sorte
nela e Luke o derrubasse — O policial disse.
— Então está resolvido — ela apontou para Luke e Harper. — Vocês dois
irão beber de graça esta noite.
A multidão explodiu em aplausos.
— Ei, e eu? — O policial fingiu fazer beicinho. — Eu o algemei.
— Ty, você receberá a recompensa após o seu turno. — Ela o puxou para
um beijo forte na boca e sorriu. — Não se esqueça de pegar ovos no
caminho de casa.
— Sim, sim — ele suspirou. — Eu vou cobrar essa recompensa. Bem,
vou levar esse idiota até o pronto-socorro, a caminho da prisão. — Ele
piscou e voltou para a viatura. Glenn estava caído no banco de trás e Ty
sentou-se ao volante. — Vejo vocês mais tarde.
Ele acionou as luzes enquanto saía do estacionamento, para o deleite da
multidão.
Ela balançou seus cachos escuros e revirou os olhos para o céu.
— Esse é meu marido — ela suspirou. — Então, garota durona. Tem um
nome?
— Harper.
— Eu sou Sophie. Bem-vinda a Benevolence, Harper. Que tal um pouco
de gelo para esse rosto?
Capítulo 2
Sophie arranjou gelo e ibuprofeno para Harper, além de uma visita
improvisada de uma médica no banheiro feminino.
— Tudo bem, Harper, estou pensando que você pode ter escapado de uma
concussão. Você tem muita sorte — disse Trish Dunnigan, inclinando-se
para examinar as pupilas de Harper mais uma vez. — Eu gostaria de ver
você amanhã de manhã. Não acho que seu braço esteja quebrado, mas pode
ter uma fratura. O mesmo acontece com as costelas. Você precisa de um
raio-X.
— Oh, eu não estarei aqui amanhã. Estou apenas de passagem.
— Tudo bem, então certifique-se de ver o seu médico o mais rápido
possível.
Harper acenou com a cabeça, sabendo que isso não iria acontecer.
— Obrigada pela consulta, doutora — disse Sophie, encostando-se na pia.
— Sem problemas. Eu estava na vizinhança, pegando comida. Fico feliz
em ajudar. — Ela acenou ao sair pela porta.
— Desculpe te dar tantos problemas — disse Harper, segurando a bolsa
de gelo.
— Você está de brincadeira? Você é uma heroína. Glenn tem tratado a
pobre Gloria dessa maneira desde o colégio.
Harper suspirou.
— Que idiota.
— Com certeza. — Sophie se inclinou em direção ao espelho, para aplicar
uma nova camada de brilho labial. — Então, qual é a sua história? Eu sei
que você não é daqui.
Harper suspirou.
— É uma longa história. Vamos apenas dizer que hoje peguei meu
namorado, e chefe, em uma posição comprometedora com uma entregadora
e saí correndo com nada além das chaves do carro.
— E então acabou levando um soco de um bêbado idiota em um
estacionamento?
— Sim.
— Uau. Que dia ruim. — Sophie a estudou por um minuto. — Então, sem
carteira, sem telefone, sem dinheiro?
— Nada. Além disso, fiquei sem gasolina no seu estacionamento.
Sophie jogou a cabeça para trás e riu.
— Garota, não poderia ter acontecido em um lugar melhor. Eu vou cuidar
de tudo. — Ela enfiou o gloss no bolso da frente. — Meu turno está
começando, então me encontre no bar. Terei uma cerveja e alguns nachos
com o seu nome neles.
Harper observou Sophie sair pela porta em estilo de celeiro. O que ela não
daria por esse tipo de confiança na vida.
Ela largou o saco de gelo e se olhou no espelho. O hematoma estava bem
feio. Ia da têmpora à maçã do rosto em um roxo mosqueado. E se Luke
ainda estivesse lá?
Harper soltou o cabelo do rabo de cavalo e escovou a franja lateralmente
na testa, para cobrir um pouco do hematoma. Ela deixou o resto do cabelo
cair de forma despenteada ao redor do rosto.
Nada bom. Mas teria que servir.
Ela empurrou a porta e entrou em uma noite de sexta-feira muito
animada. O tema de cabana rústica continuava no bar principal, com vigas
de madeira e uma enorme lareira de pedra. Mesas de bilhar atraíam uma
multidão em uma alcova elevada com vista para o pátio externo.
E lá estava Luke, de pé no longo e rústico bar, com uma cerveja,
esperando. Ele empurrou com o pé um banquinho vazio em sua direção. O
gesto percorria a linha tênue entre um convite e um pedido.
Ele estava muito sexy. Vestido com jeans e uma camiseta cinza simples,
ele tinha um corpo e tanto. Como aqueles mocinhos bem definidos de capa
de romance. E os olhos. Verde, cinza e marrom. Não me admirava que tudo
o que eu conseguira dizer fora uau.
Ela deslizou cautelosamente no banquinho, enquanto seus músculos
protestavam. Eles se encararam por um minuto. O silêncio pairava
densamente, cortando o volume dos ruídos do bar.
— Oi — disse Harper finalmente.
— Oi.
— Eu sou Harper. — Ela estendeu a mão para uma apresentação atrasada.
— Luke. — Ele pegou a mão dela com força e a segurou. — Vem sempre
aqui?
Ele sorriu, e a covinha apareceu novamente. Harper sentiu seu coração
pular uma batida. Oh, bom Deus. Agora não. Este era o pior momento
possível para ter uma paixonite. Ela havia renunciado aos homens há menos
de duas horas, depois de levar um chute na bunda de um deles. Ela se
ordenou a se recompor.
— Primeira vez. Ouvi dizer que o estacionamento fica muito turbulento
nas noites de sexta-feira.
Ele se endireitou e levou os dedos ao rosto dela, puxando suavemente a
franja para trás. — Como está seu rosto, Harper?
— Vai ficar tudo bem, Luke. — Ela corou ao dizer o nome dele. Não era
uma situação normal estar tão familiarizada com um estranho. — Como
está a sua mão?
Ele ainda estava segurando seu rosto, correndo o polegar levemente sobre
sua bochecha machucada.
Alguém próximo pigarreou. Sophie estava atrás do bar, sorrindo como
uma idiota para eles.
— Desculpe interromper, crianças, mas isto é para você — ela disse,
jogando um saco de gelo em Luke. — E isto é para você — Ela deslizou
uma garrafa de cerveja para Harper. — Os nachos estão a caminho. Por
conta da casa. Sente.
— Obrigado, mana — Luke disse, mal dando uma olhada em Sophie
enquanto afundava no banquinho vazio ao lado de Harper.
Harper corou sob seu olhar e agarrou a cerveja como uma tábua de
salvação.
— Obrigada.
Sophie piscou para ela antes de sair correndo.
— Bom trabalho lá fora, Luke. — Um homem magro, com um boné de
beisebol vermelho, deu-lhe um tapa nas costas. — Foi um soco e tanto que
você deu no Glenn. Eles ensinam isso no exército?
— Obrigado, Carl.
— Derrubado e nocauteado — Carl gritou, imitando um gancho de
direita. — Lembre-me de não te irritar.
— Basta lembrar disso da próxima vez que não me der um desconto na
madeireira — Luke disse secamente.
Carl riu de novo e se virou para Harper.
— É bom ver Luke aqui, em uma companhia tão bonita. Não sei seu
nome, Loira.
Luke fez a apresentação superficial.
— Carl, esta é Harper. Harper, este é Carl.
— Bem, Harper, se precisar de alguma coisa enquanto estiver na cidade,
não hesite em me pedir. Ficarei feliz em fazer qualquer coisa, qualquer
coisa por você.
— Sim, aposto que sim — disse Luke. — Como está a sua esposa?
— Grande como uma casa. O bebê número três deve nascer na próxima
semana. — Ele estufou o peito de orgulho. — Tem que ser um menino. Um
homem não pode ter três filhas.
— Ele pode, se está recebendo o troco pela época de escola — Luke disse.
— Talvez você devesse ir para casa e esfregar os pés de Carol Ann para
tentar compensar.
— Oh, estou me saindo melhor do que isso. Estou levando um sanduíche
cheesesteak para ela.
Bem na hora, Sophie reapareceu com um grande saco de papel.
— Três sanduíches, todos os acompanhamentos. — Ela o deslizou pelo
bar para Carl.
— Mande lembranças a Carol Ann — Luke disse a ele.
— Claro. Claro. Foi um prazer conhecê-la, Harper. Se você ficar cansada
de sair com este soldado, é só me ligar.
— Eu irei, Carl. — Harper riu.
— Não o incentive — disse Luke, enquanto Carl passava por eles.
— Então, soldado? — Harper se voltou para Luke.
— Capitão da Guarda Nacional do Exército — disse Sophie, servindo um
prato transbordando de nachos e uma pilha de guardanapos.
Luke olhou para a irmã e não disse nada.
Hum. Militar. São classificados exatamente com os bombeiros e cowboys
na categoria de profissão nobre e sexy. Havia sobre esse homem algo que
não fosse quente?
Harper olhou ao redor do bar, que estava ficando mais lotado a cada
minuto. Parecia que todo mundo estava falando com todo mundo ao mesmo
tempo. Ninguém estava sozinho, mesmo que tivessem chegado
agora. Saudações e mãos se erguiam de todos os cantos do lugar.
— Estou tendo a sensação de que esta é uma cidade muito pequena e sou
a única estranha aqui — arriscou Harper.
— Não se preocupe em se sentir uma estranha. Não vai durar — Luke
avisou. — Está vendo aquela mulher ali, com o moletom do Coelhinho da
Páscoa?
Harper a viu tagarelando perto da jukebox.
— Esta é Georgia Rae. Ela provavelmente já está planejando como
encurralá-la para extrair a história de sua vida.
Harper riu e provou um nacho de queijo.
— E aquele — Luke disse, apontando para um homem de bigode cinza,
perto da mesa de sinuca — É meu tio Stu. Garanto que ele já ligou para o
meu pai e disse que estou no bar com a garota que derrubou Glenn Diller. E
vê como Sophie fica checando o telefone? É minha mãe mandando
mensagem para ela, para descobrir como você é.
— Uau. Eu provavelmente deveria sair daqui antes que me convidem para
o jantar de domingo — Harper riu.
O telefone de Luke tocou. Ele olhou para a tela e fez uma careta.
— Muito tarde.
— Muito engraçado. — Harper revirou os olhos e tomou um gole de
cerveja.
Ele ergueu o telefone para ela ver.
Mãe de Luke: Pergunte à sua amiga se ela pode trazer uma torta para o
jantar no domingo.
Ela se engasgou, tapando a boca com a mão.
— Isso não pode ser real. Ainda estou inconsciente no estacionamento,
não estou?
Luke riu e colocou uma mão sólida e quente nas costas dela.
— Como desejar.
Clique.
Harper olhou para cima para ver Sophie apontando o telefone para a
direção deles.
— Soph. — A voz de Luke tinha um tom agudo de aviso.
Sophie sorriu inocentemente.
— O quê? Opa, preciso ir, entregar os pedidos.
— Ela acabou de tirar uma foto nossa?
Luke pegou a cerveja. O ponto em suas costas, onde ele a tocou, ainda
parecia formigar.
Ela levantou as mãos para cobrir o rosto, mas parou quando tocou a
bochecha e se lembrou do hematoma.
— Eu sinto que estou em uma realidade alternativa. Eu nem deveria estar
aqui.
— Onde você deveria estar?
— Fremont.
— Você está muito longe de Fremont.
— Você está brincando comigo?
— Harper, Fremont fica quatro horas a oeste daqui.
— Caralho. Eu estava indo para o lado errado. — Ela se inclinou para
frente e cobriu os olhos com as mãos.
— Tudo bem aqui? — Sophie reapareceu. — O que você fez agora, Luke?
— Não é ele, sou eu. — A voz de Harper foi abafada por suas mãos.
— Ela deveria estar em Fremont esta noite — Luke respondeu.
— Bem, isso não vai acontecer, Harp. Fremont fica a quatro horas de
distância.
— Eu sei disso agora — Harper gemeu em suas mãos.
Sophie começou a rir, e Harper baixou as mãos.
— Estou feliz por você achar minha vida tão divertida.
Isso só a fez rir ainda mais.
— Isto é ridículo. Coisas assim acontecem com você o tempo todo?
— Coisas como o quê? — Luke perguntou.
Harper abaixou a cabeça para o bar, enquanto Sophie dava a Luke os
breves detalhes de sua situação, misericordiosamente deixando de fora
qualquer menção à entregadora.
— Você saiu de casa com nada além das chaves do carro e dirigiu por
horas na direção errada? — Foi a vez de Luke passar a mão no rosto e
suspirar. — Então, onde você vai ficar esta noite?
Harper se sentou e deu um gole triste na cerveja.
— Eu não sei. O plano era mandar uma mensagem para Hannah no
Facebook, pedindo uma carona. Mas foi quando pensei que estava a apenas
dez minutos dela.
— Talvez alguém aqui esta noite esteja indo nessa direção e possa levá-la
até lá — Sophie sugeriu.
Luke balançou a cabeça.
— Não vamos colocá-la em um carro com um estranho meio bêbado.
— O que você acha de um táxi para Fremont, muito caro?
— Soph, seja realista. Além disso, por que simplesmente não dar o
dinheiro para a gasolina?
— Vou dormir no meu carro — decidiu Harper. Não seria a primeira vez
que faria isso.
— Ok, você dorme no seu carro. Então o quê? — Luke perguntou.
— Vou mandar uma mensagem para Hannah e implorar para ela me pegar
de manhã.
— Aqui — Sophie deslizou seu telefone para Harper. — Faça login e
envie uma mensagem para ela. — Ela correu para pegar um refil para um
cliente.
Sentindo como se fosse a sua salvação, Harper se lançou ao telefone.
Ela digitou seu login e foi para a página de Hannah.
— Merda! O marido de Hannah a surpreendeu com uma viagem de fim de
semana, para uma maldita cabana em West Virginia.
— Então, dar a você o dinheiro da gasolina para chegar lá é um ponto
discutível. Hummm, se você pudesse passar a noite com alguém. Hummm.
— Sophie arqueou uma sobrancelha para Luke.
Harper recostou-se no banquinho e inclinou a cabeça para cima.
— Eu vou resolver isso. Eu vou resolver.
Sophie se inclinou sobre o bar.
— Ei, e o Mickey?
— Pelo amor de Deus. — Luke bateu com força sua cerveja.
— Ele tem uma casa vazia, agora que sua namorada se mudou. Tenho
certeza de que ele não se importaria com um convidado por uma noite —
Sophie gorjeou.
Harper estreitou os olhos.
— A namorada dele se mudou porque ele foi preso por furto na loja de
bebidas — Luke rosnou.
— Eu pensei que era porque ele está transando com Sherri do banco —
Sophie interrompeu.
— Então por que você o sugeriria? — Luke pressionou os dedos na
têmpora.
— Eu deixaria você ficar na minha casa, Harp, mas você teria que dormir
em uma poltrona irregular e provavelmente acordar com uma criança de
três anos, gritando e com dedos pegajosos — disse Sophie, servindo uma
cerveja.
— O que aconteceu com o seu sofá?
— Josh derramou uma caixa de suco nele, e então Bitsy decidiu comer a
almofada inteira. Ela poderia dormir em meio sofá. Mas com suco.
Harper esperava que “Bitsy” fosse um cachorro.
Luke balançou a cabeça, e Harper pôde ver sua mandíbula tensionar.
— Então, seu plano é dormir no carro, e o seu plano é mandá-la dormir
com um ladrão de loja de bebidas e traidor?
— Ei, pelo menos estamos fazendo um brainstorming aqui. Você está
apenas eliminando ideias. Eu odeio quando você brinca de advogado do
diabo — Sophie fez beicinho.
Luke suspirou novamente e olhou para o bar.
— Você pode ficar comigo esta noite e amanhã eu vou levá-la de volta à
sua casa, para pegar suas coisas.
Sophie se virou, mas não antes de Harper ver o sorriso de gato que comeu
o canário em seu rosto.
— Ah, não. Eu não posso aceitar. Não quero incomodar ninguém —
Harper deixou escapar, com os olhos arregalados de repente.
Luke olhou para ela.
— Eu ficarei mais incomodado se você dormir no maldito
estacionamento. Além disso, prometi à doutora que traria você de manhã
para que ela pudesse tirar algumas radiografias rápidas, se ainda estivesse
na cidade.
— Bem, por que você simplesmente não disse isso? — Sophie perguntou
em uma exasperação fingida.
Luke olhou para ela, e ela se calou.
— Obrigada, Luke. Você realmente não precisa fazer isso. Eu deveria
sofrer as consequências de ser uma idiota. E então, talvez eu aprendesse.
Ele baixou o olhar para o bar e sorriu, e ela viu a covinha surgir.
— Acho que você já teve um dia difícil o suficiente. — Ele se voltou para
ela novamente. — Tudo bem se ficarmos até fechar?
— Claro. — Ela assentiu.
O que havia com aqueles olhos? Talvez fosse a sombra neles. Harper
sentia uma atração cada vez que o fitava. Ele estava quieto, claramente nada
inclinado a falar sobre si mesmo. Definitivamente, não era como Ted, o
Idiota. Mas a maneira como ele observava o que estava acontecendo ao seu
redor a fazia pensar que não havia muito que ele deixasse de perceber.
— Então, qual é a sua história, Luke? Quer dizer, sinto que devo saber
mais sobre você, se vamos ter uma festa do pijama.
— Sem história. — Ele coçou a nuca.
— Uh-huh. Sim. Certo. — Ela ergueu as sobrancelhas e bebeu
profundamente de sua cerveja.
Ele riu novamente.
— Meu nome é Luke. Eu moro aqui minha vida inteira. Estou no ramo da
construção e na Guarda Nacional. E Sophie é minha irmã.
— Isso é tudo que você tem? — Harper deu uma cotovelada nele.
— O que mais você precisa?
— Que tal mandados de prisão? Corpos enterrados no quintal? Fetiches
incomuns?
Ele se inclinou. Perto. Ela podia sentir o cheiro de seu sabonete. Algo um
pouco picante. Sentiu sua respiração em seu rosto. Harper separou os
lábios. Ficou sem fôlego.
— Defina “incomum”.
Capítulo 3
A noite passou como um borrão de saudações de todos, cerveja e comida
de bar. Georgia Rae realmente veio falar com ela. Harper se sentiu um
pouco tonta e incrivelmente exausta enquanto esperava Luke, que
observava Sophie trancar as portas da frente. Ela reprimiu um bocejo. Eram
2 da manhã, muito depois de sua hora de dormir. E seu rosto estava
começando a latejar novamente.
— Obrigada novamente por esperar — disse Sophie, enquanto eles
cruzavam o estacionamento.
— Tenha uma boa-noite, Soph — Luke disse, abrindo a porta do carro
para ela.
— Você também, irmão mais velho. Boa noite, Harper! Espero vê-la
novamente.
Harper acenou com o braço bom e bocejou, se despedindo.
— Obrigada por tudo, Sophie.
— É melhor levá-la para casa antes que ela adormeça em pé, Luke.
Ele bateu no teto do carro dela e acenou enquanto ela saía.
— Pronta para ir? — ele perguntou a Harper.
Ela assentiu, cruzando os braços contra o frio da noite de primavera. Eles
estavam sozinhos. E assim ficariam pelas próximas horas. Harper se
perguntou se ficaria acordada a noite toda em seu sofá, pensando sobre ele
estar tão perto... e provavelmente nu. Homens como Luke não dormiam de
pijama.
— Está bem ali — disse ele, apontando para uma picape cinza-escuro nos
fundos do estacionamento. — Precisa de alguma coisa do seu carro?
— Não, eu estou bem. — A única coisa que tinha em seu carro era o café
velho da manhã.
Eles começaram a andar juntos, e Harper esfregou os braços.
— Frio? — ele perguntou.
Ela assentiu e sentiu um formigamento que estava exatamente entre o
conforto e a luxúria, quando Luke passou o braço por cima do ombro dela e
a puxou. O calor saindo de seu corpo instantaneamente aqueceu sua pele
nua, e ela não resistiu ao desejo de se aconchegar um pouco mais perto.
Ele abriu a porta do passageiro para ela, que se ergueu no assento,
tentando não estremecer quando seu corpo dolorido deslizou pelo couro.
Luke se sentou no banco do motorista e ligou a picape. Apertou um botão,
e Harper instantaneamente sentiu o calor sob sua bunda. Aquecedores de
assento! Ele virou à esquerda, para fora do estacionamento, e em apenas
alguns minutos, estavam entrando na garagem de uma casa de tijolos de três
andares, com uma ampla varanda. Harper piscou os olhos cansados.
— Você mora aqui?
Ele olhou pelo para-brisa para a casa.
— Sim.
— Eu esperava algo diferente. Como um apartamento de solteiro. Você
tem colegas de quarto? — Uma namorada? Mulher e quatro filhos?
— Não. Apenas eu. — Ele sorriu, um sorriso rápido de fazer cócegas no
coração. — Vamos.
A ampla varanda de madeira era enorme, envolvia até o outro lado da
casa. Não havia móveis, mas Harper podia imaginar um balanço de varanda
e cestos pendurados com flores coloridas.
Luke destrancou a porta da frente e segurou-a aberta para ela.
Ela ultrapassou a soleira e esperou enquanto ele acendia as luzes. O
saguão se abria diretamente para uma ampla escadaria com corrimão. Um
par de portas se espelhava em paredes opostas que conduziam a salas
escuras. Acima dos lambris escuros, as paredes eram cobertas com papel de
parede ornamentado com rosas e beija-flores.
— Você realmente não mora aqui, não é?
Luke jogou as chaves em uma mesa estreita logo após a porta. A única
peça de mobília visível para Harper. Ele ergueu uma sobrancelha.
— O que te faz dizer isso?
Ela arrastou um dedo sobre uma rosa de papel.
— Nenhum motivo.
Harper enfiou a cabeça na sala à direita. Pelas luzes da rua lá fora, ela só
conseguia ver um sofá ornamentado com braços de madeira, em frente a
uma tela plana em cavaletes. O resto da sala estava vazio.
— Você acabou de se mudar?
— Na verdade, não. — Ele parecia envergonhado. — Estou aqui há
alguns anos.
— Sério?
— Eu estive ocupado.
— Onde você conseguiu esse sofá? — Ela gesticulou para a
monstruosidade esculpida em madeira, com suas almofadas irregulares de
veludo vermelho.
— Foi da minha avó.
— Oh! Graças a Deus. Achei que você tivesse ido a uma feira de usados
um dia e achado que esse era o lugar perfeito para assistir a evangelistas na
TV.
Ele esboçou um sorriso.
— Esta era a casa da minha avó. Comprei quando ela faleceu.
— Vocês eram próximos?
— O mais próximo que você pode ser de uma avó italiana maluca, que te
persegue com uma colher de pau. A maior parte da mobília que está aqui
era dela.
— Não parece haver muito disso — observou Harper.
— Eu sempre penso em comprar mais coisas, mas eu estive...
— Ocupado — ela terminou para ele.
— De qualquer forma, só há uma cama, então você pode ficar com ela, e
eu fico com o sofá.
Horrorizada, Harper olhou para as linhas inóspitas do sofá.
— Absolutamente não. Eu não vou colocar você para fora de sua própria
cama.
— Bem, você não vai dormir no sofá.
— Nem você — insistiu Harper.
— O que você sugere?
Ela fez uma pausa, pensando nas opções.
— Somos dois adultos exaustos que provavelmente têm uma quantidade
razoável de autocontrole. Podemos ambos dormir na cama?
— Não acho que seja uma boa ideia.
Suas mãos estavam fora dos bolsos agora e cruzadas atrás da cabeça. Ele
estava nervoso, e Harper achava adorável.
— Por que não?
— Nós não nos conhecemos e... — ele parou, e Harper farejou vitória.
— Eu acho que posso confiar que você pode controlar seus hormônios e
que não pulará em mim no meio da noite — ela brincou.
— Não são com meus hormônios que estou preocupado.
Ela deu um tapa no peito dele. Um peito muito sólido e quente. Talvez ele
tivesse razão.
***
A única mobília do segundo andar estava no quarto principal. Uma cama
queen size com dossel dominava uma parede, oposta a uma cômoda
esculpida.
— Vovó? — Harper segurou levemente uma das colunas de mogno ao pé
da cama.
Luke acenou com a cabeça, as mãos nos bolsos.
— É legal.
Encarar a cama, de repente, estava deixando Harper um pouco tímida.
— Ainda posso dormir no sofá, se você se sentir mais confortável. — Ele
apontou o polegar em direção ao corredor.
— Não seja ridículo. Aquela coisa iria deixar sua bunda dormente, se você
se sentasse por tempo suficiente para amarrar os sapatos. Somos
adultos. Isso não precisa ser estranho, certo?
Em vez de responder, ele se virou e abriu uma das gavetas da cômoda.
— Aqui. — Luke estendeu uma camiseta branca, lisa. — Você pode
dormir com isso.
Era macio ao toque e obviamente bem gasto. Por ele.
— Obrigada. — Ela a pegou, com cuidado de tocar apenas na camisa.
— Você pode se trocar lá. — Ele gesticulou em direção ao banheiro
conectado. — Eu vou trancar.
— Ok, obrigada.
Eles se encararam por mais um minuto.
— Isso é estranho, não é? — Harper deixou escapar.
Luke sorriu.
— Um pouco.
— É só por uma noite.
Ela não tinha certeza se estava tentando tranquilizá-lo.
— Certo.
— E nós somos adultos.
— Parece que sim.
— Estamos apenas sendo tolos — argumentou Harper. — É só dormir.
Ela podia ver sua covinha novamente. Pelo menos, ele estava se
divertindo. Ela finalmente acenou com a cabeça.
— Ok, vou me trocar.
No banheiro, ela jogou água fria no rosto e secou com cuidado o lado
machucado. Nem mesmo olhou para o resto de seu corpo. Julgando por
quão dolorido tudo estava, provavelmente estava tão roxo quanto o rosto.
Ainda bem que não era uma “Primeira vez” com alguém como Luke. Ela
não estava no seu melhor, talvez até pairasse perto do pior. E se ia ter uma
primeira vez com alguém como ele, gostaria que fosse perfeito.
Ela revirou os olhos e tirou a camiseta. Era ridículo ficar sem teto, sem
emprego e mais preocupada se aconteceria sexo imaginário com o capitão
gostosão. Imaginou como ele seria de farda.
— Controle-se — ela murmurou. — É apenas uma noite platônica de
sono.
Ela passou a mão no algodão da camisa e parou um momento para
agradecer por se lembrar de usar calcinha hoje.
Harper puxou a gola da camisa até o nariz e respirou fundo. Cheirava a
ele. E estava prestes a rastejar para uma cama que cheirava a ele... com
ele. Esperava que pudesse se controlar durante o sono.
Ela estava parada ao pé da cama, inquieta, quando ele voltou para cima.
— Tudo certo? — ele perguntou, abrindo uma gaveta da cômoda.
— Oh, sim. Só não sabia se você tinha um lado — disse ela, brincando
com a bainha da camisa.
De repente, ele pareceu muito interessado no conteúdo da gaveta.
— Um lado?
— Da cama. Você dorme em qual lado?
Ele olhou para cima.
— Eu geralmente durmo no meio. Então você pode escolher.
— Oh, obrigada.
Luke pegou uma calça de pijama.
— Eu já volto.
Assim que a porta do banheiro se fechou, uma Harper agradecida se jogou
na cama e se escondeu sob as cobertas. Ela ficaria bem na borda, e ele nem
saberia que ela estava ali. Nenhum inconveniente.
Ela esperava não roncar.
A porta do banheiro se abriu. Ele estava na porta, com nada além de
calças de flanela desamarradas bem abaixo dos quadris. Harper molhou os
lábios e tentou não olhar para seu abdômen definido. Cada centímetro
visível de seu torso era esculpido, musculoso e terrivelmente sexy. Havia
outra tatuagem, uma fênix, sobre seu coração.
Oh, meu Deus. Ela iria dormir com isso.
Não! Ela não iria cair na toca do coelho das escolhas ruins da vida
novamente. Ela havia prometido a si mesma que viraria uma nova
página. Começaria de novo, focando em si mesma.
Harper estava falhando em não se concentrar no peito nu de Luke. Seus
dedos coçavam para contornar a tatuagem em seu peito e todo o seu
abdômen, até o cós indecentemente baixo. Ela cerrou as mãos malcriadas na
colcha. De jeito nenhum ela iria pregar o olho. Não próximo a esse corpo
perfeito.
Ele estava olhando para ela também, mas seus olhos não estavam saltando
das órbitas como os dela. Harper pensou tê-lo ouvido suspirar. Mas ele se
moveu em direção à porta do quarto e silenciosamente apagou a luz.
No escuro, Harper ficou aliviada por não ter nada para olhar. Até que
sentiu seu peso do outro lado da cama.
Ele parecia ter a mesma ideia que ela, se manter na borda.
— Boa noite — ela sussurrou na escuridão.
— Noite.
— Luke?
— Hum?
— Obrigada por me deixar ficar aqui.
Ele suspirou.
— De nada.
— Eu realmente agradeço muito.
— Harper?
— Sim?
— Cale a boca e vá dormir.
Capítulo 4
Luke acordou de repente, no meio da noite, se sentindo aquecido. Ele nem
se lembrava de ter adormecido. Ouviu uma respiração e se lembrou que não
estava sozinho. A cabeça de Harper estava apoiada em seu ombro, a mão
dela espalmada em seu peito. A coxa dela estava puxada para cima e sobre
as pernas dele.
Já fazia muito tempo desde que acordara com uma mulher deitada sobre
ele. Automaticamente, ele esmagou a memória. Era bom nisso, em focar no
presente. Era assim que vivia todos os dias.
Harper fez um pequeno som, como um suspiro, e se aninhou mais perto.
A mulher era um desastre. Invadira sua noite e agora sua cama. Foi
preciso um ato de força de vontade suprema para não rolar e acordá-la da
maneira que seu corpo exigia.
Harper. Era um nome antiquado para um espírito tão livre. Ele já estava
indo na direção de Glenn, quando viu o borrão loiro lançar-se sobre ele. Foi
incrivelmente estúpido da parte dela se envolver assim. Qualquer pessoa
com bom senso teria ido pedir ajuda.
Mas não Harper, ela entrou com tudo. Se esta noite era qualquer indicação
de como ela vivia sua vida, era um milagre que ainda estivesse viva.
Não havia dúvida de que ela era linda. Aqueles grandes olhos cinzas não
deixavam nada passar, e sua boca carnuda parecia estar sempre sorrindo. E
a julgar pela sensação de seu corpo colado ao dele, ela tinha curvas suaves
que provocavam a mão de um homem a percorrê-las. Tinha uma energia
que parecia estar tentando explodir dela a cada segundo.
Ela não era uma pessoa sossegada e cuidadosa. A conhecia há apenas
algumas horas e já estava preocupado com a sua segurança.
Sem emprego. Nenhum lar. Sem dinheiro. De acordo com Soph, Harper
estava ferrada. E provavelmente nem tinha um plano. Alguém que saiu de
sua própria casa com nada além das chaves do carro não parecia ser muito
planejador.
Ele falaria com ela pela manhã. Descobriria o que ela iria fazer e depois
conversaria sobre qualquer esquema ridículo que ela possa ter inventado. E
a ajudaria, quer ela quisesse ou não.
Luke apertou a mandíbula no escuro, enquanto Harper deslizava a perna
mais para cima em suas coxas e murmurava algo em seu pescoço.
***
Harper acordou com a luz do sol, que entrava pela janela, em seu
rosto. Ela tentou se esticar, mas descobriu que seus braços estavam presos.
Luke.
Quente e duro contra ela, ele a estava acariciando. A respiração dele
estava quente em seu cabelo. Um braço tatuado estava possessivamente
sobre ela, a mão segurando seu seio através da camiseta que agora estava
enrolada em sua cintura. Sua bunda estava pressionada contra uma
impressionante ereção matinal.
Que maneira de acordar. Quente, segura e envolta em braços fortes.
Ela apertou os lábios para parar a risada que borbulhou por dentro. Ela
estava preocupada em não se controlar.
Ele se contraiu em seu sono, apertando seu seio.
Harper mordeu o lábio. Ela não conhecia Luke bem, mas tinha quase
certeza de que ele não gostaria de acordar em uma... posição vulnerável.
Ela teria que escapar. Depois de curtir isso por mais trinta segundos.
Ela se aninhou e inalou seu perfume. Seu peito subia ritmicamente contra
suas costas, suas coxas duras embalando-a.
Ela merecia uma medalha por deixar esta cama. Prendeu a respiração e
gentilmente tirou a mão dele de seu peito. Segurando o braço de Luke, ela
se afastou de seu corpo perfeito. E se amaldiçoou ao fazê-lo.
Manobrando para a beira da cama, ela se acomodou em uma posição
sentada.
Mesmo dormindo, Luke era sexy. Cílios longos e pretos como tinta
roçavam suas maçãs do rosto esculpidas. Exceto por aqueles cílios, não
havia nada de delicado sobre ele. Ele tinha um corpo poderoso e forte. Ela
deixou seu olhar permanecer nas linhas de seu braço. O músculo forte de
seu bíceps dava lugar à tinta sensual em seu antebraço.
Teria que perguntar a ele o que isso significava. Uma pequena conversa
durante a viagem ajudaria a manter sua mente longe da memória de acordar
com ele pressionado contra ela.
Sentindo-se como se tivesse sido atropelada por um pequeno carro,
Harper se esgueirou cautelosamente até a cozinha, onde começou a preparar
um bule de café antes de abrir a geladeira. Considerando o estado do resto
da casa – não havia nada além de uma pilha de caixas na sala de jantar – ela
não tinha grandes esperanças de suprimentos na cozinha de um solteiro,
mas ficou feliz em encontrar ovos no prazo de validade, leite, queijo e os
restos de um pão. Sanduíches de ovo mexido daria início ao seu dia de
folga.
O inchaço em seu rosto havia diminuído, felizmente. Mas os hematomas
tinham ficado mais feios. Todo o resto doía. Ela até descobriu um
hematoma do tamanho de uma bola de beisebol em sua
nádega. Esperançosamente, aquele idiota presunçoso estaria chorando como
um bebê em uma cela em algum lugar, e Gloria teve sua primeira boa noite
de sono em anos.
Harper encontrou o laptop de Luke no balcão e, enquanto os ovos
cozinhavam, verificou a lista de empregos nos Classificados de
Fremont. Havia alguns que serviriam, pelo menos temporariamente. Era
quase uma pena que ela não conhecesse alguém aqui em Benevolence. A
cidade adormecida e seus residentes intrometidos emitiam uma boa
vibração. Ninguém nunca poderia se sentir sozinho aqui.
Mas o mercado de trabalho provavelmente não existia. Além disso,
Harper pensou enquanto procurava açúcar, se ficasse faria papel de boba,
por causa de Luke.
E quem não faria? Ele era sexy, protetor... e aqueles olhos.
— Definitivamente, uma má ideia — ela murmurou para si mesma.
— Você sempre fala sozinha enquanto cozinha? — A cozinha ficou mais
quente e o ar mais crepitante quando Luke entrou.
Ela ergueu os olhos da frigideira para onde ele estava, perto da geladeira,
estudando-o. Ele ainda usava a calça do pijama, mas acrescentou uma
camiseta. Droga.
— Bom dia — ela disse alegremente, tentando tirar os pensamentos
carnais de sua cabeça.
— Dia. O que é tudo isso? — Ele acenou com a cabeça em direção ao
fogão.
Ele parecia cauteloso. Harper entregou-lhe uma caneca vazia.
— Café da manhã. É um agradecimento por me deixar ficar aqui.
Ele pegou a caneca e, após um segundo de hesitação, foi até o café.
Ela o observou com o canto do olho enquanto ele servia café e ela
montava os pratos. Como seria ter essa vista todas as manhãs?
***
— Eu realmente agradeço muito — disse Harper, entrando na picape de
Luke.
Ele esperou até que ela colocasse o cinto de segurança para ligar o motor.
— Você já disse isso.
— Bem, eu não queria que você pensasse que fiquei menos grata desde o
café da manhã.
Ela olhou pela janela enquanto desciam a calçada e saíam para a rua. A
cidade passava, agradável e arrumada. Casas bem mantidas ocupavam a rua
principal e edifícios históricos de tijolos abrigavam empresas com nomes
bonitos, como Common Grounds e Sparkle Shop.
Enquanto crescia, ela sonhava com uma cidade como esta. Um lugar para
pertencer. Eles passaram pela escola, com seu amplo gramado verde e
estádio de futebol. Ela se perguntou como as coisas teriam sido diferentes
para ela, se a vida tivesse começado aqui.
— Você está quieta — Luke observou, olhando para ela.
— Só pensando. Você jogou futebol americano? No colégio, quero dizer.
Luke parou no sinal vermelho.
— Sim. E corrida.
— Muito atlético — comentou Harper.
— Você?
— Não, nunca joguei futebol.
— Espertinha. — Luke disse isso suavemente, e Harper teve um
vislumbre de uma covinha.
Harper sorriu.
— Nenhum outro esporte também.
— Por que, por acaso sua escola não tinha boxe?
— Engraçado. — Ela torceu o nariz para ele. — Foi principalmente por
causa das circunstâncias. Eu me mudava muito.
— Escapando de mandados de prisão?
— Estou começando a achar que você tem uma percepção um pouco
distorcida de mim, Luke.
— Você pode me culpar?
— Ei, você é quem me pegou em um bar.
— Eu peguei você no estacionamento.
— Detalhes, detalhes — Harper acenou com a mão.
Luke entrou em um pequeno estacionamento, ao lado de um escritório
vermelho. Dunnigan & Associados.
— Droga, Luke. Eu disse a ela que veria meu médico quando pudesse.
— Aceite, querida. É o preço de uma carona para a cidade.
Harper fez beicinho.
— Eu me sinto bem.
— Besteira. Você mal consegue se mover. Agora seja uma garota crescida
e saia.
Ela demorou a segui-lo até a rampa de entrada.
— Se você está com tanta dor, ficaria feliz em carregá-la — ele ameaçou.
Harper apressou o passo e esgueirou-se pela porta atrás dele.
— Eles nem estão abertos ainda — ela sibilou em suas costas.
— A doutora abriu mais cedo apenas para suas lindas costelas.
A Dra. Dunnigan entrou apressada na sala de espera vazia, segurando um
café.
— Bem na hora, Luke. Ai — ela disse, olhando para o rosto de Harper. —
Como você está se sentindo hoje?
— Simplesmente ótima — disse ela. — Na verdade, acho que estamos
perdendo seu tempo...
Luke estendeu a mão e cutucou-a bem na nádega machucada. Harper
gritou. Ele tinha um espetacular radar para contusão ou teve um vislumbre
de sua bunda quando ela escapou da cama esta manhã.
— Sim, acho que ainda precisamos fazer uma checagem. Vamos lá para
trás. Luke, você também pode vir. Enquanto Harper se troca, vou mostrar
onde estou pensando em fazer a adição. Sem sutiã, sem calcinha — disse
ela por cima do ombro, para Harper.
Harper vestiu tristemente a bata de TNT descartável e a prendeu embaixo
dela com o máximo de modéstia possível. Ela não era a maior fã de
consultórios médicos. O tempo era o que proporcionava a melhor cura. Ela
estava um pouco machucada, mas isso sequer entrava em sua lista dos cinco
principais ferimentos. Para ela, todos estavam exagerando.
Uma batida na porta foi seguida pelos cachos crespos da Dra. Dunnigan.
— Decente? Tudo bem se Luke entrar?
Harper encolheu os ombros.
— Claro, por que não?
Ela olhou para os pés descalços enquanto eles entravam. Luke se sentou
na cadeira de visitantes, enquanto a Dra. Dunnigan apontava a lanterna para
os olhos de Harper.
— Eu não tive uma concussão — Harper suspirou.
— Falando por experiência própria? — a médica perguntou, movendo-se
para o outro olho.
— Uma ou duas vezes. Você não esquece como elas te fazem sentir.
— Então, sem náuseas, vômitos?
— Não. E sem visão turva também.
Dunnigan riu.
— Bem, neste caso vou concordar com o seu autodiagnóstico. Acho que
você está sem concussão. O que a torna muito sortuda ou muito habilidosa
em levar um soco. Glenn tem punhos de concreto.
Harper permaneceu em silêncio e evitou o olhar de Luke.
— Ok, vamos dar uma olhada nessas costelas. — Ela puxou a bata de
TNT para verificar a lateral de Harper. — Uau, está uma
bagunça. Definitivamente, vamos fazer um raio-X.
Harper estremeceu com a sondagem suave dos hematomas. A Dra.
Dunnigan abriu um pouco mais o vestido, e Harper viu a mandíbula de
Luke apertar. Sem palavras, ele se levantou da cadeira para andar.
Ignorando-o, a Dra. Dunnigan passou para o braço de Harper.
— Ok, Rainha da Contusão, vamos tirar algumas fotos para o relatório
policial e alguns raios-X, e você pode ir embora. Vou pegar a câmera.
Harper suspirou e se deitou cautelosamente de volta na mesa. O relatório
da polícia. Uma parte muito forte dela queria recusar, mas pensou no rosto
aterrorizado de Gloria quando aquele punho se fechou em torno da sua
garganta. Ela continuaria nessa situação. Além disso, se fosse chamada para
voltar à cidade para testemunhar, poderia ver Luke novamente.
Harper fechou os olhos e tentou fingir que estava em uma praia em algum
lugar, usando um boné e biquíni, em vez de um TNT amassado.
— Harper. — Luke estava parado ao lado dela. Ele falou suavemente, mas
sua expressão era dura. — Posso ver? — Ele segurou a ponta da bata entre
os dedos.
Ela assentiu. Por que diabos não? Isso era o mais perto de ficar nua com
ele.
Ele puxou o material sobre ela, com cuidado para manter sua frente
coberta.
— Querida. — Ele arrastou os dedos sobre o lado de sua caixa torácica
até logo abaixo do seio.
Harper sentiu sua frequência cardíaca aumentar. Um Luke acordado,
tocando-a, era ainda mais quente do que ser apalpada pelo adormecido.
Ele gentilmente espalmou a palma da mão quente sobre o hematoma, as
pontas dos dedos apenas roçando a curva de seu seio.
Harper olhou em seus olhos e se perguntou como podia tanto raiva quanto
ternura neles.
— Tudo bem — Dra. Dunnigan disse, abrindo a porta. — Vamos colocar
esse show na estrada. Luke, você pode ajudar Harper a se levantar? Vamos
tirar de pé, contra a parede.
As mãos de Luke envolveram seus braços e a colocaram em uma posição
sentada. Harper cerrou os dentes o mais forte que pôde para evitar
estremecer.
Ela segurou nos antebraços dele para se firmar, enquanto descia para o
piso de madeira. Quando esticou o pescoço para olhar para ele, viu uma
guerra de emoções emaranhadas em seu olhar. Ele roçou os nós dos dedos
suavemente em sua bochecha.
— Isso não vai acontecer de novo. — A promessa sussurrada foi tecida
com aço.
Ele recuou e deixou a médica tirar várias fotos das costelas, braço e rosto
de Harper.
— Ok, isso deve ser suficiente. Vamos fazer algumas radiografias no
corredor — disse Dunnigan, colocando a câmera na mesa.
Luke segurou as costas da bata de Harper enquanto caminhavam para o
quarto. Ela tentou imaginar uma centena de cenários diferentes, onde a mão
dele estaria roçando a pele nua de suas costas, o que não envolvia tratá-la
como uma idosa inválida.
Às vezes, a vida era uma droga.
E se ela tivesse entrado na cidade com um lindo vestido de verão e sua
maldita carteira? Poderia ter comprado uma bebida para ele, em vez de
exigir um salvamento e caridade. Se isso não era um alerta sobre quando
era hora de começar a se comportar como uma adulta, ela não sabia o que
era.
Dunnigan os conduziu a uma pequena sala sem janelas e a fez se deitar na
mesa. Ela ajustou a posição da câmera sobre as costelas de Harper e cobriu-
a com uma pesada capa de chumbo.
— Apenas fique quieta aí, e isso vai acabar em um minuto.
A médica fez Luke recuar com ela para trás da proteção, e Harper ouviu o
zumbido da máquina.
A Dra. Dunnigan a fez mudar de posição e tirou mais algumas imagens
das costelas e uma de seu braço antes de deixá-la sentar-se novamente.
Ela trouxe um laptop para Harper.
— OK. Vamos verificar isso.
Luke se juntou a eles, encostado na mesa. Seu braço descansando contra o
de Harper.
Dunnigan ampliou uma imagem.
— Hum.
— O que “hum” significa? — Luke exigiu.
— Este ponto bem aqui — ela bateu na tela — É uma fratura
curada. Então, ou você tem poderes de cura sobre-humanos ou você
quebrou suas costelas antes.
— Acho que tive uma fratura, anos atrás — disse Harper, cruzando os
braços sobre o peito. Era constrangedor reviver seu histórico médico com
dois estranhos.
A Dra. Dunnigan olhou para Harper por cima dos óculos de leitura e
esperou.
— Hum.
Harper a ignorou. Ela podia sentir o olhar de Luke pesando sobre
ela. Olhou para a tela com os olhos semicerrados.
— Sem novas fraturas? — ela perguntou alegremente.
Dunnigan passou por uma série de imagens.
— Parece que você está bem. Desta vez.
— Eu te disse — Harper sorriu para Luke.
— Você é terrivelmente arrogante, para alguém coberto da cabeça aos pés
de hematomas — ele a lembrou.
— A mesma história com o seu braço — Dr. Dunnigan disse, batendo na
tela. — Fratura antiga. Este parece que sarou melhor do que sua costela. —
Ela olhou diretamente para Harper.
Harper encolheu os ombros e não respondeu. O tempo curou essas feridas
físicas há muito tempo e, com elas, as mentais também.
— Alguma nova?
— Não. — A médica girou em seu banquinho e colocou o laptop de volta
no balcão. — Um pouco de inchaço, muitos hematomas. Mas, no geral, não
é tão ruim quanto poderia ter sido. Vou prescrever alguns analgésicos para
ajudá-la a dormir, e estou dizendo que o descanso é o melhor remédio.
Capítulo 5
Eles dirigiram em silêncio depois de deixar a Dra. Dunnigan. Cada um
perdido em pensamentos. Harper foi finalmente quem quebrou o silêncio.
— Então, suas tatuagens significam alguma coisa?
Ele manteve os olhos na estrada.
— Por quê?
— Você não quer me dizer o que elas significam?
— O que te faz pensar isso?
— Você está respondendo as perguntas com perguntas. É como um truque
de terapeuta.
— É?
Ela suspirou alto.
— Eu sinto que estou jogando um quiz quando falo com você.
Luke sorriu e não disse nada.
Harper deixou para lá. Observou os sinais de trânsito passando
rapidamente, voltando para a cidade que chamara de lar nos últimos dois
anos. Ela chamou muitos lugares de casa, mas era por falta de uma palavra
melhor. Nunca se sentiu realmente em casa em qualquer lugar. Não desde
que era uma criança em uma casa minúscula, com uma mãe e um pai que
agora eram mais fantasmas do que memórias.
— Então, qual é o seu plano quando você pegar suas coisas?
Harper apertou os lábios e suspirou.
— Abastecer meu carro e ir para a casa de Hannah.
— Você está colocando muita fé na generosidade de uma amiga.
Ela percebeu o julgamento em seu tom.
— É apenas temporário. Já verifiquei alguns empregos e apartamentos
nos classificados. Eu estarei fora do sofá dela em pouco tempo.
— Que tipo de empregos?
— Há algumas vagas de garçonete/gerente, uma posição de balconista de
estoque e, na pior das hipóteses, uma daquelas pessoas que se sentam em
banquinhos no meio do shopping e tentam lhe vender uma banheira nova.
— Trabalho dos sonhos, heim?
— Qualquer trabalho que pague as contas é um trabalho dos sonhos nos
dias de hoje.
Ele mudou de assunto.
— Então, você quer falar sobre por que saiu correndo de sua casa sem
nada ontem?
— Na verdade, não — disse Harper, olhando pela janela. Ela suspirou. —
Apenas um erro da minha parte. Mau julgamento seguido por uma surpresa
desagradável, quando voltei para casa mais cedo.
— Namorado?
— Ex, a partir de ontem.
— Traindo?
— Com uma daquelas entregadoras de bicicleta. Ela tinha pernas lindas,
pelo que pude ver.
— Meu Deus, Harper. Você é uma bagunça.
Ela soltou um suspiro.
— Parece que sim.
Uma hora depois, Luke parou na frente da casa bege que Harper apontou.
— Você quer que eu entre com você? Não quero que carregue nada
pesado.
— Não, ele deve estar no trabalho. E não tenho muito para embalar. Não
vai demorar muito. — Harper abriu a porta e saiu.
— Apenas saia quando estiver pronta, e eu trarei as coisas para a picape.
Ela correu até a porta da frente e entrou. O carpete bege e as paredes
brancas nunca gritaram “Casa” para ela. E certamente não a faziam sentir
saudades.
Era a hora de ir.
Ela pegou sua bolsa do armário do corredor, checando se sua carteira e
telefone estavam lá antes de correr escada acima para o quarto. Os lençóis
ainda estavam desarrumados, e ela podia ver duas marcas de cabeça nos
travesseiros. A entregadora deve ter passado a noite. Ou talvez ele tenha
pedido pizza, depois de terminar com ela.
Ela virou as costas para a cama, com nojo, e pegou sua mala e mochila do
armário. Esvaziou as gavetas da cômoda na mochila e depois foi para o
armário. Em menos de dez minutos, ela tinha as duas malas prontas.
No banheiro, rapidamente cobriu o olho com um pouco de base e jogou os
cosméticos em uma bolsa Ziploc. Empurrou suas malas escada abaixo, uma
de cada vez, até a porta da frente.
Luke estava esperando por ela na varanda.
— Eu disse que carregaria tudo. — Ele pegou as malas dela e as puxou
escada abaixo.
Harper revirou os olhos.
— Eu posso lidar com uma mala.
— Quantas malas mais? — ele perguntou por cima do ombro, enquanto
descia a calçada.
— Só essas, para as roupas. Só quero dar uma olhada e ver se estou
esquecendo alguma coisa importante.
— Todas as suas roupas cabem em duas malas? — Ele parou de andar e
olhou para ela, como se tivesse acabado de tirar um braço da testa e pedisse
um high five.
— Perdi muito no incêndio e não tive realmente a chance de substituir
tudo.
— Incêndio? — Luke piscou rapidamente.
— Sim, seis meses atrás. Meu prédio em South Side pegou fogo. Uma das
minhas vizinhas estava fazendo queijo grelhado em uma chapa quente ao
lado das cortinas. — Ela tropeçou sozinha.
— Você estava em casa? — Ele estava cobrindo os olhos com a mão
agora.
— Sim. — Ela voltou a olhar para a casa.
— Foi assim que você quebrou o braço e as costelas?
— Não. Só vou pegar alguns papéis e já vou sair.
— Uh, sim. Eu vou contigo. Conhecendo você, pode haver um vazamento
de gás ou um urso de circo escondido lá.
— Você não é um fofo quando age todo protetor? — Harper brincou.
Luke balançou a cabeça e abriu a porta para ela.
— Eu não posso acreditar que você ainda está viva — ele murmurou.
Depois de três caixas de documentos e bugigangas já embaladas, Harper
estava pronta para partir.
— Tem certeza de que é isso? — Luke perguntou, colocando as caixas no
banco de trás de sua picape.
— Isso é tudo — disse Harper, tirando a chave do chaveiro. — Eu só vou
deixar isso lá dentro. Volto já.
Luke voltou para a picape e ligou o motor.
Um minuto se transformou em cinco antes de Harper voltar, tropeçando
sob o peso de um peixe gigante empalhado.
Luke saltou da picape e puxou-o para fora de suas mãos.
— Droga! Pare de carregar essas merdas!
— Você pode simplesmente jogá-lo lá. — Ela apontou para a carroceria
da picape.
Ele o jogou pelas costas antes de subir no banco do motorista.
— O que há com o peixe? — Luke perguntou casualmente.
Harper deu de ombros, prendendo o cinto de segurança.
— Ele o comprou em uma liquidação de garagem e disse às pessoas que
ele mesmo o pegou. “Levei quatro horas para conseguir pegar aquele peixe-
espada” — ela imitou em uma voz grave.
— Tenho certeza de que é um marlim.
Harper olhou para ele por um momento.
— Um marlim?
Luke acenou com a cabeça.
Ela começou a rir, deixando cair a cabeça contra o encosto.
— Que idiota.
***
Harper insistiu em pagar o almoço para Luke, no meio do caminho de
volta para Benevolence. Eles pararam em um pequeno restaurante familiar
que tinha uma excelente torta de frango e batatas fritas recém-feitas.
Ela parou de mastigar por tempo suficiente para enviar uma mensagem
para Hannah.
Harper: O pau do Ted escapou das calças. Estou me mudando. Sofá
disponível?
Hannah respondeu em minutos.
Hannah: Sempre odiei o cavanhaque estúpido. Volto na segunda à
noite. O sofá é seu.
— Excelente — Harper suspirou de alívio e voltou a comer sua torta.
— Tudo certo? — Luke perguntou, pegando uma batata frita.
— Sim. Hannah e Flynn estarão de volta na segunda à noite, e então posso
ficar com eles.
— O que você vai fazer, entre agora e então?
— Provavelmente, vou conseguir um quarto de motel para o fim de
semana. Oh! Talvez um hotel com piscina coberta! Será como férias.
Depois do almoço, Harper fez Luke estacionar a picape perto da lixeira
atrás do restaurante. Ele ergueu uma sobrancelha, mas não fez perguntas.
Ele permaneceu em silêncio quando ela pulou na caçamba da picape e,
depois de uma breve luta, ergueu o marlim sobre a cabeça e jogou-o na
lixeira.
Nenhum deles disse uma palavra quando ela subiu de volta na picape e
colocou o cinto.
***
Eles voltaram para a casa de Luke, onde ele descarregou as caixas e
malas, empilhando tudo no foyer. Harper assistia inutilmente do sofá, onde
Luke ordenou que ela ficasse.
Quando terminou, ele se juntou a ela na antiguidade irregular chamada de
sofá.
— Vamos conversar sobre o que você fará esta noite… — Luke foi
interrompido por um yoo-hoo de Sophie na porta da frente.
Harper teve certeza de que ela ouviu Luke xingar baixinho.
— Oh, aí está você — disse Sophie animadamente. — Como você está se
sentindo hoje? Seu rosto não parece tão ruim.
— Obrigada, nem o seu — disse Harper secamente.
— Espertinha. Vou buscar uma bebida, alguém quer uma? — Ela voltou
para a cozinha. Harper deu de ombros para Luke e eles se levantaram para
segui-la.
— Entããão, como foi a coleta das coisas? — Sophie se serviu de um
refrigerante da geladeira e se juntou a Harper na ilha, enquanto Luke
pegava uma cerveja.
Os olhos de Luke encontraram os de Harper.
— Sem intercorrências, você não diria, Luke? — Harper sorriu
inocentemente.
Ele se encostou no balcão e assentiu.
— Muito monótono. Mas estou com vontade de comer espetinhos de
peixe.
Sophie observou enquanto eles sorriam um para o outro.
— Então, Harp, qual é o plano? O que você vai fazer agora? — ela
perguntou, brincando com a lata.
— Por enquanto, o plano ainda é chegar à casa de Hannah e encontrar um
emprego temporário lá.
— Eu estava pensando...
— Soph. — Luke cruzou os braços.
— Me escute!
— O quê? O que está havendo? O que está acontecendo? — Harper olhou
de um irmão para o outro.
— Bem, tive uma ideia e acho que poderia ser vantajoso para ambas as
partes.
— Vantajoso para nós ou para você? — Luke bufou.
— Se você fechar sua boca por dez segundos, Cabeção, vou explicar.
— Crianças. Não me façam atravessar esta cozinha — Harper suspirou.
— Olha. Vou apenas falar de uma vez, e vocês dois podem decidir se
funcionaria ou não. Harper, você não tem dinheiro, emprego e casa própria.
— Quando você coloca dessa forma, não soa nada bem. — Harper torceu
o nariz.
— Luke, você acabou de me fazer esboçar um anúncio de emprego para
gerente, e se você não aparecer na casa da mamãe e do papai com Harper
amanhã, mamãe tem June Tyler de prontidão.
Luke bateu sua cerveja.
— A June Tyler que eu levei para o baile na sétima série? Que está recém-
divorciada e com quatro filhos?
Sophie assentiu.
— A mesma. Mamãe acha que se você já a namorou uma vez, sairia com
ela de novo.
— Cristo — Luke murmurou e pegou a cerveja novamente.
— Ei, eu disse a você que se não começasse a pelo menos fingir que
namora, mamãe iria resolver o problema por conta própria. Ela só quer que
você seja feliz.
Luke balançou a cabeça e olhou pela janela.
— Harper, me ajude aqui — implorou Sophie. — Meu irmão idiota pode
não ver o sentido disso, mas você vê, não é?
— Você está falando sobre eu fingir ser a namorada do Luke?
— Em troca de um emprego temporário e um lugar para morar.
— Quão temporário? — Harper considerou.
Luke estava olhando para ela com uma sobrancelha levantada.
— Não me diga que você está considerando isso.
— Estou começando a ficar ofendida com sua reação a mim como uma
namorada falsa.
Ele revirou os olhos.
— Não é você, Harper. É a ideia desse ato só porque minha família não
consegue lidar com a maneira como vivo minha vida.
— Uma novidade para você, irmão. Na semana passada, tive que impedir
a tia Syl de te inscrever em um site de namoro online. Ela até colocou um
nome de perfil que era algo como Dedos Mágicos.
— Merda.
Harper tentou abafar uma risada, mas só conseguiu tossir.
Sophie ergueu as mãos.
— Luke, eu os segurei o máximo que pude. Agora é com você.
— Quanto tempo exatamente se passou desde que você namorou, Luke?
— Harper interrompeu.
Luke olhou longamente para Sophie.
— Um tempo — disse ele.
Harper ficou quieta. Havia algo naquele olhar que a fez pensar que era
mais do que apenas uma mãe intrometida tentando casar um solteirão
convicto.
— Eu só pensei que essa situação poderia funcionar para vocês dois. —
Sophie caminhou até ele. — O que poderia dar errado, certo? E seria apenas
por um mês.
— O que acontece em um mês? — Harper perguntou.
— A unidade de Luke será reenviada. Eles têm uma missão de seis meses
no Afeganistão.
Harper sentiu seu estômago revirar. Ele seria convocado?
— Então, o que Harper faria no final do mês?
Sophie encolheu os ombros.
— Eu não sei. Vocês podem encenar uma briga épica de rompimento, ou
algo assim. — Ela se voltou para Harper. — Se você tivesse um mês para
fazer planos, estaria muito melhor do que dormir no sofá da sua amiga,
certo?
Harper encolheu os ombros evasivamente.
— Suponho que mais tempo signifique um plano melhor.
E mais tempo com Luke. Fingindo ser namorada dele. Isso significa que
teria a oportunidade de beijá-lo? Ela mordeu o lábio. Um lugar para ficar,
um emprego e um namorado falso incrivelmente gostoso por um mês? O
que poderia dar errado?
Luke passou a mão pelo rosto e depois pelos cabelos curtos.
— Tem alguma experiência em administração de escritório, Harper?
Capítulo 6
Faltam Quatro semanas…
— Você não tem que fazer isso, você sabe. — Luke agarrou o volante de
sua picape como se fosse o pescoço de alguém. Cinco minutos antes, eles
haviam parado na garagem de seus pais, uma faixa sinuosa de asfalto que
levava a uma charmosa casa de fazenda de dois andares com uma varanda
que envolvia os dois lados.
Harper mordeu o lábio para não sorrir.
— Luke, eles são sua família. Não podem ser tão ruins.
— Você vai ver.
Ela deu um tapinha em seu ombro.
— Vai ficar tudo bem, namorado. Ou devo começar a chamá-lo de algo
nojento, como docinho?
Ele fez uma careta.
— Pobre bebê, tudo vai acabar logo. Vamos entrar lá e acabar com isso. A
menos que você queira ficar por aqui e dar uns amassos.
— Você não sabe como eles são.
— Eles são maldosos?
Ele balançou sua cabeça.
— Mais como bem-intencionados. Obsessivos.
— Existem problemas piores do que uma família que te ama e quer que
você seja feliz — disse ela, arqueando uma sobrancelha.
— Eu sei disso. Só estou tendo problemas para pensar em algum agora.
Ela o beliscou.
— Achei que você fosse um cara grande, durão e viril. E aqui está você,
encolhido na entrada da garagem porque está com medo de uma pequena
reunião familiar.
— Eu não estou com medo.
— Me enganei. — Harper olhou pela janela e fez um barulho de galinha.
Ele suspirou e estendeu a mão para bagunçar o cabelo dela.
— Vamos, amor. Vamos acabar com essa festa.
— Amor? Sério? Isso é o melhor que você pode fazer?
Eles se aproximaram da casa por meio de uma passarela sinuosa. Ele
passou o braço em volta do ombro dela e a puxou para mais perto. Ele
cheirava a especiarias e serragem. Harper tentou reprimir a acelerada de seu
pulso. Era apenas um relacionamento falso. Nada para ficar fisicamente
animada. Eles estavam fazendo um favor um ao outro, não transando de
verdade.
— Pronta? — Ele sussurrou no ouvido dela.
Harper estava repentinamente nervosa.
— E se eles não gostarem de mim? — ela sussurrou de volta.
— Agora quem está com medo? Acredite em mim, você pode ter duas
cabeças e um registro criminal, e eles ainda gostarão de você.
— Por que eu sou incrível?
— Porque estou fingindo estar namorando você.
Harper bufou.
— Na verdade, isso me dá uma ideia — disse ele. — Se importa se nos
divertirmos um pouco com isso?
— Oh, já pensei nisso. Nós nos conhecemos online há duas semanas, na
internet — disse ela.
— Eu simplesmente não consegui dizer não para a sua foto de perfil de
topless. — Ele a guiou pela calçada.
— Não seja modesto. Aquela foto sua, com apenas um cinto de
ferramentas, foi espetacular.
Eles subiram para a ampla varanda da frente e Harper viu a cortina de
renda se mexer.
— Acho que eles estão nos observando — disse ela sem mover os lábios.
— Uh-huh — ele respondeu com um sorriso falso de forçar a mandíbula.
Luke empurrou a porta vermelha no estilo craftsman, sem bater, e
encontrou a família inteira, todos os oito, parados desajeitadamente no
saguão arejado.
— Oi, pessoal.
— Olá, querido. — Uma mulher, com um corte pixie e um suéter rosa
suave, se adiantou para beijar Luke na bochecha. — Estávamos apenas
verificando um rangido no chão.
— Aquele que está aqui há vinte anos?
A mulher o ignorou e estendeu as mãos para Harper.
— Você deve ser a Harper. Já que as maneiras de meu filho parecem tê-lo
abandonado, sou sua mãe, Claire. Este é o pai de Luke, Charlie — ela disse,
gesticulando para o homem alto de cabelos prateados na parte de trás do
bando. Charlie levantou a mão em uma saudação silenciosa.
— Nosso filho mais novo, James — Claire continuou, apontando para
uma versão um pouco mais jovem e mais magra de Luke, que estava
comendo uma maçã. Ele piscou para ela.
— Sophie, você conhece — Claire colocou as mãos nos ombros da filha,
e Harper ficou impressionada com a semelhança. Os cabelos escuros e tons
azeitonados. — E este é o marido dela, Ty Adler, e o filho deles, Josh.
— É bom ver você de novo, lutadora — Ty, em um moletom com capuz e
jeans, em vez de seu uniforme de policial, disse enquanto fazia cócegas em
seu pequeno filho que estava em seus ombros.
— Estes são o tio Stu e a tia Syl — Claire disse, acenando para o homem
bigodudo que Luke havia apontado no Remo’s na noite anterior e sua esposa
sorridente e esguia. — E eu acho que isso termina as apresentações.
— Oi, hum... todo mundo — disse Harper, acenando sem jeito. — Eu sou
Harper.
— Oi, Harper — eles responderam em uníssono.
Luke suspirou e pegou a mão de Harper, conduzindo-a através da
multidão. O chão, de fato, rangeu sob seus pés.
— Cheira bem aqui, mãe. O que temos para o almoço?
A multidão entrou na cozinha espaçosa atrás deles. Algo borbulhava na
extensão da ilha de granito. Claire deu um tapa na mão de Luke para longe
do prato de doce.
— Assado com vegetais e purê de batata. Estaremos prontos em cerca de
meia hora, então por que você não dá a Harper um grande tour e sai do meu
caminho? Harper, posso pegar para você uma taça de vinho?
— Estou bem, Sra. Garrison. Mas eu realmente gostaria dessa turnê.
— É Claire, por favor. E vocês dois vão em frente. Chamaremos quando o
almoço estiver pronto.
— Você finalmente vai me deixar levar uma garota para o meu quarto? Já
estava na hora. — Luke colocou as mãos nos ombros de Harper e a
empurrou de volta para o corredor.
— Desculpe — ele sussurrou em seu ouvido.
Ela gostou das cócegas provocadas pela respiração dele contra sua pele.
— Isso foi um pouco estranho.
— Estranho e sufocante. — Ele a guiou em direção às escadas.
A casa de fazenda era disposta em uma formação simples de quatro
quadrados no primeiro andar, com as duas salas à direita se abrindo uma
para a outra, para criar uma grande sala de reunião. Quadros cobriam as
paredes e superfícies planas, e havia uma mistura de antiguidades e
amenidades modernas. Era acolhedor.
Suas mãos deslizaram para os quadris dela quando ela começou a subir as
escadas. Ela se recostou no peito dele enquanto subiam.
— Se isso for demais, diga-me — disse ele. — Soph disse para convencê-
los.
— Eu não me importo — disse ela, com o pulso acelerado.
A escada se abria para uma espécie de corredor amplo, com um assento na
janela construído sobre pequenas estantes.
— Que ótima maneira de usar este espaço!
Harper se inclinou para olhar mais de perto. As prateleiras estavam cheias
de brochuras e álbuns de fotos, cada um cuidadosamente etiquetado com
um nome ou intervalo de ano.
Luke enfiou as mãos nos bolsos.
— Meu pai e eu construímos isso anos atrás, depois que mamãe ficou sem
espaço na sala.
— Posso olhar o Luke 01? — Harper tocou a lombada de um álbum de
linho azul marinho.
— Uh. Claro — Ele disse sem entusiasmo.
Harper não esperou que ele mudasse de ideia. Ela se sentou na almofada
grossa do assento da janela e começou a folhear.
— Você era muito adorável quando criança. — Ela olhou para uma foto
de Luke de três anos, tentando colocar o cinto de ferramentas do pai,
sorrindo de orgulho.
Ele se sentou ao lado dela e fez uma careta.
— Por que não olhamos o álbum da Soph...
— Nem pense nisso, Dedos Mágicos.
— Repita esse nome de novo e vou ter que matar você.
— Entendido, docinho — ela disse, sem se incomodar com a ameaça. —
Oh, olhe para o seu primeiro dia de jardim de infância! Essa mochila é
maior do que você.
Luke suspirou pesadamente e escondeu o rosto com as mãos.
Harper folheou a infância de Luke, parando para admirar suas habilidades
com madeira em uma casa de pássaros, quando era escoteiro. Nas páginas
do álbum, ele se transformou de um pré-adolescente desajeitado para um
adolescente atraente. Foi capturado cruzando triunfantemente a linha de
chegada em uma competição de corrida e sorrindo enquanto levava seu time
de futebol para fora do campo.
— Uau. Você deve ter quebrado muitos corações de garotas adolescentes.
— Tenho certeza de que você fez sua parte em impressionar os meninos.
— Eu era torta e desengonçada até os dezessete anos. Não foi
impressionante, foi deprimente.
— Eu gostaria de ver evidências fotográficas disso — ele brincou.
— Felizmente, não há evidências fotográficas da minha estranha
adolescência.
— Como isso é possível?
Seu sorriso desapareceu quando ela virou a página.
— Olhe para você no baile!
Harper puxou o álbum para mais perto e estudou Luke em um terno,
estoicamente olhando para a câmera em um fundo salpicado de cinza, uma
coroa espalhafatosa empoleirada em sua cabeça. Ele estava com o braço em
volta de uma morena esguia em um vestido prata cintilante, que combinava
perfeitamente com a tiara.
— Rei e rainha do baile? Você realmente teve uma vida de conto de fadas,
não é?
Luke puxou o álbum de suas mãos e fechou-o com força.
— Estamos atrasados na turnê. Deixe-me mostrar o andar de cima e, em
seguida, apresentarei as galinhas da mamãe.
— Hum, está bem.
Harper ficou confusa com a mudança repentina de humor. Ele meio que a
arrastou para longe do assento da janela em direção à primeira porta.
O rápido passeio pelo andar de cima revelou quartos espaçosos com muita
pouca desordem. O principal era um espaço ensolarado com uma banheira
com pés no banheiro. O quarto de Luke foi convertido em uma sala de
costura para sua mãe, e os outros dois quartos foram transformados em
quartos de hóspedes. Era uma casa arrumada, projetada em torno de uma
vida familiar agitada.
As galinhas caipiras no quintal eram o orgulho e a alegria de Claire. O
galinheiro que Charlie construiu era melhor do que a maioria dos
apartamentos de Harper.
Parecia um conto de fadas para Harper e a deixou se perguntando o que
fez Luke se distanciar de tudo isso.
***
Luke aceitou a cesta de pãezinhos de Harper e a passou para James à sua
direita. Ele geralmente não se importava tanto assim com as refeições
mensais de domingo de sua família, mas ter Harper com ele acrescentava
outra proporção.
Ele observou enquanto ela conversava com seu pai sobre jardinagem,
enquanto fazia caretas para seu sobrinho, que se recusava a comer seus
nabos. Ela parecia relaxada, mas ele sabia que ela não podia deixar de notar
os longos olhares de seus parentes.
Sob o microscópio.
Ele estava acostumado à análise minuciosa de sua família, já que ele
próprio estava sob ela há algum tempo. Mas imaginou que era mais
estranho para alguém não acostumado a isso.
Soph piscou para ele do outro lado da mesa e acenou sutilmente para
Harper. Luke entendeu a mensagem em alto e bom som. Era a primeira
refeição em família, em muito tempo, que ele não teve que sofrer com
arranjos de encontros mal disfarçados e tentativas casuais de discernir seu
estado mental.
Ele poderia estar ganhando tanto com esse acordo quanto Harper, ou pelo
menos mais do que esperava.
***
A família foi ao deck para comer fatias da torta de pêssego que Harper
trouxe do supermercado e sorvete de baunilha caseiro.
— Vá devagar com essa torta, mano — James provocou Luke. — Eu
quero que você dê algum tipo de trabalho no futebol, antes que eu destrua
você.
— Ooooooh — Sophie e Ty arrulharam provocativamente.
Harper deu uma risadinha.
— Não comece, Harper. Você é o árbitro — Luke avisou, tomando um
gole de cerveja.
— Eu quero jogar!
— Não. — Seu tom não deixou espaço para discussão. — Não do jeito
que você está.
Harper ficou amuada e deu outra mordida na torta.
Eles separaram os times, com Sophie e James para enfrentar Ty e Luke. A
ação do jogo rapidamente escalou de diversão casual para guerra total. A
competição, definitivamente, corria no sangue dos Garrison, Harper notou,
quando Luke fez James tropeçar depois que seu irmão “acidentalmente” o
chutou na canela.
Ela ficou de lado e apreciou o caos. Os jogadores tomaram cuidado perto
de Josh quando o menino perseguiu uma galinha pelo campo de jogo, e
ninguém piscou quando Sophie deu uma chave de braço em Ty para que
James pudesse correr pelo campo.
Distraída por Claire, perguntando se ela gostaria de um café, Harper não
viu o trem descarrilhado que eram Luke e James vindo em sua direção, após
uma longa bomba lançada por Ty, até que fosse tarde demais.
Luke pegou a bola no ar, e ela viu o segundo exato em que registrou que
ele estava prestes a esmagá-la.
Ele se virou no ar e a envolveu com um braço enquanto amortecia a queda
com o outro. Eles pousaram no meio da calçada, em um dos canteiros de
flores de Claire. Cercados por azaleias, Harper parou de se mover sob o
peso de Luke.
Com seus quadris pressionando os dele, ela se esqueceu de tudo sobre
hematomas e o chão embaixo dela.
— Eu continuo encontrando você assim — ele brincou, seu hálito quente
em seu rosto.
— É bom não estar inconsciente desta vez.
Ela viu a mudança sutil em seus olhos e prendeu a respiração quando ele
baixou a boca para mais perto da dela. Harper separou os lábios.
— Touchdown, tio Luke! — Josh se jogou nas costas de Luke.
***
Naquela noite, Harper olhou para o reflexo do espelho enquanto escovava
os dentes. Ela se perguntou se Luke mencionaria o “momento” deles, mas
ele simplesmente ficou de pé e voltou ao jogo, até que pararam por causa da
escuridão e eles se despediram para ir embora.
Claire envolveu Harper em um abraço gentil e disse que ela seria bem-
vinda a qualquer momento. Foi um ótimo dia com sua família.
Luke bateu na porta.
— Você está decente?
Harper cuspiu e enxaguou a boca.
— Sim. — Ela pegou a escova de cabelo enquanto Luke se juntava a ela
na pia.
— Gostei muito da sua família — disse ela, puxando o elástico do cabelo.
Luke deu de ombros, colocando pasta de dente na escova.
— Sim, eles não são ruins em pequenas doses.
— Não são ruins? — Ela passou a escova no cabelo. — Todo mundo se
dá bem. Sua mãe é uma cozinheira incrível. Não houve derramamento de
sangue na mesa. Estou começando a achar que você me enganou para entrar
nessa farsa, com uma história falsa sobre como eles são loucos.
— Não há nada falso sobre sua loucura. Eles apenas não mostraram para
você ainda — ele disse, começando a escovar.
— Talvez você apenas seja sensível demais e não consiga mais distinguir
o normal do louco — Harper ofereceu.
Luke olhou para ela pelo espelho, e ela riu.
— De qualquer forma, eu me diverti muito. Foi divertido passar um
tempo com todos; conversar, comer e importunar uns aos outros. Eu gostei
muito deles.
Luke enxaguou a boca e colocou a escova de dentes de volta no suporte.
— Eles gostaram de você. — Ele ficou quieto por um momento,
observando-a escovar seus longos cabelos diante do espelho, antes de
contorná-la para ir até a porta. Ele fez uma pausa. — Obrigado por fazer
isso.
— Não me agradeça ainda. Posso ser um desastre no escritório amanhã.
— Ela piscou. Ele deu um suspiro e saiu do banheiro.
Capítulo 7
Luke deu um gole no café que Harper preparou, enquanto estava lá fora se
preparando para correr, e olhou pela janela traseira. Ele acordou se sentindo
inquieto e culpou o fato de que fora a primeira vez que levara uma garota
para casa para conhecer seus pais, desde... nunca.
Era apenas um mês, ele lembrou a si mesmo. Então tudo voltaria ao
normal. Se outra missão contasse como normal.
Depois daquele momento com Harper sob ele, nas flores, tinha sido uma
noite sem dormir. Olhar para ela, ver a surpresa, a admiração em seus olhos,
parecia uma visão do que estava por vir. Coisas que não podiam acontecer.
Ele pensou em comprar um colchão inflável e dormir em um dos quartos
extras no andar de cima. Mas gostava de acordar com Harper grudada nele
e gostava de saber que ela estava segura. Sentir aquelas curvas suaves
contra ele estava trazendo de volta à vida sentimentos que ele pensava que
estavam mortos há muito tempo. Estava brincando com fogo, mas em
algum lugar dentro de si, ele não se importava.
Ele ouviu o rangido do balanço da varanda dos fundos e a avistou, com os
ombros curvados, balançando no silêncio do amanhecer.
Luke saiu para a varanda dos fundos. Harper ouviu sua aproximação e se
endireitou, passando a mão pelo rosto.
— Bom dia — disse ele, testando as águas.
— Dia — ela disse isso animadamente, mas não olhou para ele. — Só
estou começando cedo o meu primeiro dia de trabalho.
Ele não disse nada. Reconhecia uma mulher chorando quando via uma, e
se você contasse com Sophie, acontecia com frequência.
Ela saltou do balanço e tentou contorná-lo. Ele a bloqueou e colocou o
café no corrimão.
Harper deu um passo para o outro lado, e ele novamente a bloqueou
facilmente.
— Harper.
Ele colocou as mãos nos ombros dela, e quando ela ainda se recusou a
olhar para cima, ele cutucou seu queixo com os dedos.
As lágrimas em seus olhos cinzentos transbordaram, descendo por suas
bochechas assim que ela encontrou seu olhar.
— Merda. — Ele a puxou e apoiou o queixo em sua cabeça.
— Estou bem — ela murmurou contra seu peito nu.
— Uh-huh. — Ele a segurou um pouco mais apertado.
— Não é nada.
Pelo menos foi o que ele pensou que ela disse. Sua voz estava
abafada. Mas ela colocou os braços em volta da cintura dele.
— OK.
Ele a segurou assim, esfregando círculos suaves em suas costas, até que
sentiu sua respiração ficar mais profunda.
— Sabe, Harper, se você realmente não quer trabalhar para mim, não
precisa.
A provocação ajudou. Ela se inclinou para trás, olhando para ele com um
pequeno sorriso.
— Não é o trabalho. Pelo menos, ainda não. Quem sabe que tipo de
ambiente de trabalho você proporcionará? Eu estava apenas tendo um
momento, e agora acabou.
— Um momento?
Ela assentiu.
— E agora acabou? Simples assim?
Harper assentiu novamente.
— Você não precisa falar sobre algo... ou alguma coisa?
— Não. — Ela deu a ele outro sorriso triste.
— Como seu namorado falso, eu provavelmente deveria saber por que
está chateada.
Harper riu.
— Você é muito doce, e eu estou bem. Que tal um café da manhã?
Ela fez um movimento para passar por ele, mas ele a parou e agarrou seus
pulsos. Ela estava segurando uma foto na mão.
— O que é isso? — Ele pegou a foto dela e a estudou.
— Meus pais e eu.
Um querubim em miniatura, ela usava um vestido florido, empoleirada
em um banco entre um homem magro, cujo sorriso estava quase escondido
atrás do bigode, e uma loira deslumbrante em um vestido azul. Eles
estavam todos rindo.
— Você era uma criança muito fofa. Onde eles estão agora?
— Eles morreram há muito tempo.
Harper tirou a foto dele.
— Eu sinto muito. Há quanto tempo?
— Dezenove anos.
— Jesus, Harper. Eu sinto muito. O que aconteceu?
— Acidente de carro. Às vezes, eu ainda sinto muita falta
deles. Especialmente depois de passar um tempo com as famílias de outras
pessoas.
— Muitas pessoas choram depois de passar um tempo com minha família.
Ela o cutucou.
— Engraçadinho.
— Então, quem te criou?
— Muitas pessoas diferentes. Eu estive em um orfanato até ficar velha.
— Ficar velha?
— Quando você atinge os dezoito anos, se não foi adotado, está
oficialmente por conta própria.
— Você não tem família?
— Eu faço minha própria família. — Harper disse isso de forma brilhante
e sincera. — Agora, que tal eu fazer o café da manhã? Hoje é um grande
dia.
Ela colocou a mão em seu peito.
— Obrigado por ser legal comigo, Luke. — Harper ficou na ponta dos
pés, deu um beijo em sua bochecha e foi para a cozinha.
***
Luke desligou o tablet e jogou-o no assento ao lado. Ele deveria se
concentrar na tarefa em mãos. Mas, em vez de revisar o prazo para o quarto
extra dos Riggs, ele não conseguia parar de pensar em Harper.
Ele deu a ela um tour rápido pelo escritório e a deixou organizar seu
espaço de trabalho. Ele tinha uma lista de tarefas de escritório que planejava
dar a ela no dia seguinte, assim que ela se acomodasse. Depois da conversa
daquela manhã, queria aliviá-la no trabalho, não queria sobrecarregá-la.
Harper tinha se recuperado, tagarelando alegremente sobre seus planos
para um almoço no Common Grounds enquanto preparava omeletes e
torradas. Ele a deixou falar, interpondo respostas apropriadas, mas sua
mente estava fervilhando.
Ela não tinha ninguém. Não tinha ninguém desde os seis anos, o que
explicava muita coisa. Não admira que fosse um desastre ambulante. Ela
nunca teve uma família para mantê-la longe de problemas.
Ela deve ter estado no carro com seus pais. Deve ter sido aí que ela
conseguiu o braço e as costelas quebradas. Ela se lembrava disso?
Por quantos lares adotivos já havia passado? Com quem ela passava o
Natal?
Luke baixou a cabeça contra o encosto de cabeça. Sua própria família
poderia deixá-lo louco, mas não houve um dia em que não fosse grato por
eles.
Talvez fosse a hora de ele começar a agir assim novamente. Ele olhou no
relógio, tinha tempo suficiente antes da reunião da tarde para fazer algumas
paradas não programadas.
***
Luke empurrou a porta de tela da casa de seus pais.
— Mãe?
— Na cozinha. — A voz dela flutuou para ele com o cheiro de chocolate
recém assado.
— Eu não tinha certeza se você trabalhava hoje — disse ele, seguindo o
aroma pelo corredor.
Claire trabalhava meio período para o florista da cidade e frequentemente
era chamada para turnos extras.
Sua mãe se virou do forno, segurando um prato de vidro.
— Aquele maldito Pinterest. Eu vi uma receita de brownie cremoso e não
consegui me conter. Oh! — Ela olhou para as flores que ele segurava. —
De onde são essas?
Ele estendeu os lírios para ela.
— Mercado?
— Você me trouxe flores? — Ela colocou os brownies no balcão e pegou
o buquê. — Qual é a ocasião?
O choque e a alegria de sua mãe foram suficientes para fazê-lo se sentir
um pouco culpado, por não ter pensado em fazer isso antes.
— Nenhuma ocasião. Só as vi e pensei em você.
Claire enterrou o rosto nelas.
— Elas são lindas, Luke!
Ele coçou a nuca, envergonhado.
— Você quer ficar para o almoço? — Claire convidou.
— Não posso. — Luke checou seu relógio. — Vou buscar papai em
quinze minutos para o almoço, mas vou levar dois brownies.
— Contanto que um deles seja para Harper.
Luke sorriu.
— Vamos ver se ela ainda não correu gritando para as colinas, depois de
dar uma olhada nos últimos seis meses de papelada não preenchida.
— Nesse caso, vou embalar quatro brownies, e Harper pode decidir se
você vai receber algum. Ela é uma garota adorável, Luke. Eu realmente
gostei dela.
— Eu também.
E ele estava falando sério.
***
Charlie Garrison era um homem de ombros largos, que usava o cabelo
grisalho no mesmo estilo desde os anos 60. Em homenagem às altas
temperaturas da primavera, ele trocou seu pesado Carhartt por uma blusa
de flanela mais leve. Ele deslizou para a mesa em frente a Luke e empurrou
o menu para a beira da mesa, já que sempre pedia a mesma coisa. Ambos
pediam.
Luke aceitou da garçonete a xícara não pedida de café e sorriu enquanto
ela colocava uma Coca nas mãos de seu pai. Claire tinha para seu marido
pré-diabético uma regra estrita de proibição de refrigerante, que só era
quebrada na lanchonete.
— O de sempre, meninos? — Sandra perguntou, sem se preocupar em
puxar seu bloco de notas.
— Sim, senhora. — Charlie entregou-lhe os menus e ela piscou enquanto
se afastava.
Professora de música aposentada do ensino fundamental, Sandra era dona
da lanchonete e trabalhava no turno do almoço quatro dias por semana.
Luke se recostou, apoiando o braço na parte de trás da cabine.
— Eu me pergunto o que ela faria se nós pedíssemos algo diferente.
— Provavelmente nos traria o de sempre, de qualquer maneira. — Ele
tirou o canudo do copo e colocou-o sobre a mesa, antes de tomar um longo
gole. — Então, qual é a ocasião?
— Para o almoço?
— Faz algum tempo.
Luke acenou com a cabeça, brincando com sua caneca.
— Sim.
Tinha sido. O que anos atrás fora uma tradição semanal permanente, se
transformou em uma ocasião esporádica.
Sandra, misericordiosamente, chegou com a comida. Um sanduíche de
atum com batatas fritas para Charlie e um cheeseburger com bacon para
Luke.
— Posso trazer mais alguma coisa para vocês, meninos?
Charlie balançou a cabeça e pegou o ketchup.
— Não, senhora.
— Obrigado, Sandra — Luke disse, levantando o hambúrguer.
— Tudo bem, tente não causar muitos problemas — disse ela antes de ir
apressada para a próxima mesa.
Luke deu uma grande mordida no hambúrguer e observou seu pai comer
seu sanduíche.
— Como vai a renovação do porão?
Embora tecnicamente aposentado, seu pai ainda gostava de supervisionar
um punhado de projetos todos os anos. Seus vizinhos, os Nicklebees, os
contrataram para terminar o porão.
Charlie tomou um gole de Coca e pegou uma batata frita.
— Está indo bem. A fiação está terminada e o encanamento está quase
pronto.
— Eu vi sua anotação sobre eles adicionarem um balcão com pia — Luke
disse entre mordidas.
— Sim, dei uma cópia a Harper esta manhã, para que ela pudesse
atualizar a ordem de serviço e o orçamento.
Luke acenou com a cabeça e se perguntou quanto tempo levaria para seu
pai trazer Harper ao assunto.
— Então, o que você acha?
— Uma pia sempre é uma boa ideia.
— Muito engraçado. Quero dizer da Harper.
Seu pai seguia o credo de empresário das antigas, de manter suas opiniões
sob sigilo para não ofender os clientes. Mas ele era um homem justo e Luke
valorizava sua opinião.
Luke pegou uma batata frita do prato de Charlie.
— Garota legal.
— Sim, ela é. Você não acha que ela se mudou rápido demais?
— Filho, você poderia ir morar com o Frank irritadinho e eu ficaria
feliz. Você tem um timming perfeito. Sua mãe estava se preparando para
começar a ligar para suas primas e armar encontros para você.
Luke ficou pálido.
— Isso não é ilegal?
— Elas são, em sua maioria, de segundo e terceiro grau — Charlie
brincou. Ele sorriu, mostrando uma covinha igual a de Luke.
— Cristo. — Luke pegou seu café e se recostou.
— O amor de mãe é uma bênção e uma maldição — disse Charlie,
filosoficamente. — Ela só estava preocupada.
Luke passou a mão pela cabeça.
— Eu sei, e agradeço isso. Mas não há nada com que se preocupar. Estou
bem. Tudo está bem.
— Vou repassar isso para sua mãe. Ela gostou da Harper. Acha que ela é
exatamente o que você precisa.
— O quê? Caos mal controlado? — Os lábios de Luke se curvaram.
— “Uma lufada de ar fresco”, acredito que foi isso que ela disse.
— Ela é mais como um furacão.
— Ela, definitivamente, não é Karen.
Luke sentiu a pontada familiar com a menção do nome dela. Com o passar
dos anos, isso havia diminuído, mas a ferida ainda estava lá e nunca iria
embora.
— Não, ela não é.
— Isso não é uma coisa ruim. Karen nunca teria enfrentado Glenn.
Luke sorriu contra a vontade, lembrando-se da surpresa naqueles grandes
olhos cinzentos quando se abriram para encontrá-lo acima dela.
— Não, ela não teria.
— Você conseguiu os números da proposta da renovação da Broad Street?
Luke sabia que seu pai estava mudando de assunto de propósito, e ficou
grato.
— Eu juntei alguns números preliminares, mas nada sólido ainda.
— Bem, temos até segunda-feira para entregar a licitação. Talvez Harper
possa ajudá-lo no fim de semana.
Era estranho pensar que agora ele compartilhava seus fins de semana com
alguém, pelo menos temporariamente. Ele passou a valorizar sua solidão,
mas havia algo atraente em acordá-la pela manhã. Ainda se surpreendia ao
encontrá-la na cozinha, vasculhando a geladeira ou curvada sobre seu
laptop na sala da frente. Ela trouxe vida para a casa. Ele só não tinha certeza
se estava pronto para isso.
— Ela tem bastante trabalho no escritório. Tenho que ver se está
preparada para eu despejar outro projeto em cima dela.
Capítulo 8
Harper passou as mãos pelos cabelos, puxando-os apressadamente em um
nó bagunçado. Os arquivos de Luke estavam um desastre. Nada havia sido
atualizado no sistema nas últimas oito semanas. Havia pilhas de papelada
desorganizada por toda parte e o banco de dados era uma piada. Mas ela
amava um desafio.
O escritório ficava no segundo andar de um dos prédios de tijolos no
centro de Benevolence. Tinha tetos altos e enormes janelas em semicírculo
que filtravam a luz do sol sobre os pisos de madeira de tábuas largas e
marcadas.
Ela se encolheu sobre uma velha mesa de desenho que havia
reaproveitado como uma escrivaninha. Ela a colocou em um canto e a
inclinou para ter uma linha de visão do escritório de Luke. Não que ele
estivesse lá agora. E pela aparência das pilhas de papelada cobrindo todas
as superfícies planas, incluindo o chão, ele provavelmente não passava
muito tempo lá.
Harper moveu a pilha de arquivos, agora bem-organizada, para a borda da
mesa e pegou uma nova pilha. Ela gostava de estar aqui. Gostava de estar
cercada pelo trabalho de Luke. Quando ele disse que trabalhava em
construção, omitiu que dirigia uma empreiteira e construtora ridiculamente
bem-sucedida.
Vasculhando os arquivos, ela descobriu que tanto o banco na Second
Street quanto a extensa casa de fazenda nos arredores da cidade, que ela
admirava, eram projetos da Garrison.
Onde alguns homens não conseguiam parar de se gabar sobre todas as
pequenas realizações de seus dias, Luke era um cofre. Ele poderia impedir
um assalto a banco e fazer o parto de um bebê na hora do almoço, e a única
coisa que falaria era que tinha comido um sanduíche.
Isso só a fez querer arrancar informações dele.
Harper deu um pulo quando um saco de papel marrom pousou no teclado
à sua frente.
— Mamãe mandou lembranças — Luke disse atrás dela.
Harper saltou sobre a bolsa.
— O. Que. É. Isto? Não importa, não me diga. — Ela desembrulhou um
brownie e deu uma mordida. — Hum. Paraíso!
— Ela disse que você poderia compartilhar, se quisesse — ele insinuou.
Ela olhou para ele por cima do brownie.
— Vamos ver se você merece. Você salvou alguma velhinha do perigo?
— Não, mas também não coloquei nenhuma em perigo.
— Bom o suficiente para mim. — Ela entregou a ele um brownie.
Ela o observou desembrulhar e dar uma mordida.
— Como está o seu dia até agora, chefe?
— Não tão ruim. Só estou checando minha nova funcionária, certificando-
me de que ela não está pintando as unhas e cochilando às custas da
empresa.
Harper torceu o nariz para ele.
— Falando em trabalho, você deveria conhecer meu chefe. Estalador de
chicote.
Hum, Luke com um chicote. Isso era muito quente. Mais quente ainda se
ele estivesse sem camisa.
Alheio à sua fantasia, Luke olhou para a organização da mesa dela.
— Tem tudo o que você precisa aqui?
Ela se recostou na cadeira e deu outra mordida no brownie.
— Eu acho que posso sobreviver pelo próximo mês. E quando eu for
embora, você vai sentir minha falta.
— Veremos. — Ele disse isso com um sorriso.
Um tilintar estridente os interrompeu. Harper pegou seu celular da mesa e
gemeu.
Ela apertou “aceitar” com um golpe violento.
— Pare de me ligar — gritou ela ao telefone e desligou.
— Problema?
Harper revirou os olhos.
— É o “Não consigo manter o pau dentro das calças”.
Luke franziu a testa.
— Quantas vezes ele ligou para você?
Ela percorreu seu histórico de chamadas.
— Apenas vinte e três, desde sexta à noite.
— Ele está deixando mensagens de voz?
Harper adaptou um barítono ligeiramente arrastado.
— Oh, baby, eu quero você de volta. Tiffany não significa nada para
mim. Você sabe onde está minha camisa do Batman?
Seu telefone tocou novamente, e Luke o arrancou de suas mãos.
— Você quer que ele pare de ligar para você?
— Uh, sim! Como você vai fazer isso acontecer?
— Eu sou seu namorado de mentira. Eu tenho muitos poderes. — Luke se
afastou da mesa e atendeu o telefone.
Ele se afastou alguns passos, e Harper se esforçou para ouvir. Ele parou
em uma postura reta, a mão no quadril, olhando pela janela. Ele sempre era
muito intenso. Poder e controle eram as forças motrizes por trás de tudo o
que ele fazia.
Luke raramente dividia sua atenção, fazendo parecer que estava
totalmente focado na tarefa em mãos. Era esse foco que Harper sentia cada
vez que ele olhava para ela. Ela se sentia importante. Digna. Interessante.
E agora, o homem que a fazia se sentir importante, digna e interessante,
estava conversando com o homem que a tratara como substituível.
Luke desligou, voltou para perto de Harper e jogou o telefone para ela.
— Então? — ela perguntou.
— Ele não vai mais ligar para você, e vai mandar o seu último pagamento
aqui para o escritório.
Harper saltou da cadeira e gritou. Ela jogou os braços em volta do
pescoço dele e deu um beijo estalado em sua bochecha, saboreando a
sensação de sua barba por fazer sob seus lábios.
— Vou te levar para jantar com esse pagamento.
Suas mãos se acomodaram e seguraram em sua cintura.
— Você não acha que eu deveria pagar pelo nosso primeiro encontro?
— Um relacionamento não convencional exige comportamento não
convencional. Além disso, já dormimos juntos e você me trouxe brownies,
que sua mãe fez para mim. Estamos praticamente noivos.
Ele parecia nervoso novamente. Ela percebeu que ele queria recuar e ter
algum espaço entre eles. Harper gostava do fato de que era capaz de deixá-
lo um pouco desconfortável. Isso compensava parcialmente as borboletas
que se agitavam no seu estômago quando ele olhava para ela com aqueles
olhos cheios de alma.
— Veremos — disse ele, recuando. — Vou resolver um pouco da
papelada e sair de novo. Precisa de alguma coisa?
— Não. Eu estou bem.
E ela foi sincera. Observou Luke entrar em seu escritório e sorriu. Esta era
a vida dela agora, pelo menos pelo próximo mês. Um bom trabalho em um
ótimo escritório, com um chefe e colega de quarto tão bonito que não
conseguia parar de encará-lo.
Ela tentou se concentrar no trabalho, mas sentiu sua atenção ser atraída
para o escritório no canto. Ela tinha uma linha direta de visão para Luke em
sua mesa, franzindo a testa para a tela do computador, recostando-se na
cadeira para fazer uma ligação. A cada olhar ou dois, ela o encontrava já
olhando para ela. Talvez ele estivesse tão desconcertado com ela quanto ela
com ele? Cada vez que um deles pegava o outro olhando, a carranca de
Luke se aprofundava.
Depois de quase meia hora de rápidos olhares dissimulados mútuos, Luke
se afastou da mesa e pegou uma pilha de papéis e seu tablet.
— Estou saindo para uma reunião. Provavelmente não voltarei depois
disso.
— Ok, chefe, tenha um bom-dia — Harper sorriu. Ela tentou manter os
olhos no monitor, em vez de na bunda dele enquanto ele saía. Não foi fácil.
Harper teve quase mais uma hora de trabalho antes de ser interrompida
novamente.
Um homem, baixo e magro, com blusa de flanela azul entrou, com
suspensórios segurando suas calças de carpinteiro. Olhos azuis
envelhecidos a fitavam acima de uma barba crespa que era mais cinza do
que vermelha.
— Então, você é a garota que irritou a cidade inteira — disse ele,
cruzando os braços.
Harper ergueu as sobrancelhas.
— É uma cidade pequena. Tenho a sensação de que não é preciso muito
para irritá-la.
Ele semicerrou os olhos para ela.
— Pelo que ouvi, você deveria ter um metro e noventa. E deveria ser
ruiva.
— Desculpe desapontar.
— Eu gosto de ruivas. — Ele balançou a cabeça, claramente desapontado.
Harper não sabia como responder a isso.
— Não consigo decidir se você é estúpida ou maluca — disse ele,
inclinando-se contra os armários na parede.
— Existe um departamento de RH aqui, onde eu poderia reclamar de
você?
Ele bufou.
— Não seja tão sensível.
— Espere um minuto. Você ao menos trabalha aqui?
Ele bufou novamente.
— Eu trabalho aqui? Estou nesta empresa desde que Luke a iniciou, e
antes disso, trabalhei para Charlie.
— Tem um nome?
— Frank.
— Frank, eu sou Harper.
— Você se mudou com uma rapidez terrível, não acha?
— Para a casa dele ou para o escritório?
Porcaria. Três dias com Luke, e ela já estava respondendo perguntas com
perguntas.
— O que estou dizendo é que o chefe tinha seus motivos para aceitá-la,
dando-lhe um emprego. Não estou aqui para questionar seu julgamento, por
mais questionável que seja. Estou aqui para te avisar que se mexer com esta
empresa ou com aquela família, responderá a mim. Todos já passaram o
suficiente nos últimos anos, e não precisam de uma esquentadinha louca
chegando e bagunçando as coisas.
— Você acha que eu sou uma esquentadinha louca?
— Você abordou um homem com o dobro do seu tamanho, gritando como
uma banshee, não foi? Você tem um olho roxo do tamanho de um
punho. Além de fazer parte do time dos sem-teto da cidade.
— Talvez eu só tenha tido um dia ruim.
— Sim, bem, talvez sim. Só não pegue aquele dia ruim e desconte em
todo mundo por aqui. Esta é uma cidade legal, com pessoas legais. Então,
se você não estiver nessa para ficar, vá em frente.
— Você deve se preocupar muito com os Garrisons, para sentir que
precisa defendê-los de uma ameaça potencial como eu.
— Eles são decentes. Talvez você também seja decente. Mas eu não te
conheço. Eu conheço Luke e o resto deles. Então, se você for boa para eles
e ficar fora do meu caminho no trabalho, ficaremos bem.
— Muito justo, Frank. Vou manter isso em mente. E só para você saber, se
é bom no seu trabalho, não irrita os clientes ou vem até aqui para gritar
comigo todos os dias, ficaremos bem.
Ele acenou com a cabeça rapidamente.
— Justo. Estou de olho em você.
Ele fez uma pequena saudação e saiu pela porta.
Esta cidade era muito pequena.
Capítulo 9
Como combinado, o último pagamento de Harper chegou ao escritório. O
que quer que Luke tenha dito a Ted, deve tê-lo assustado o suficiente para
parar de ligar também, porque o telefone dela estava felizmente silencioso.
E como prometido, ela levou Luke para jantar.
Ela pesquisou restaurantes além das fronteiras de Benevolence, antes de
se decidir por uma churrascaria aconchegante a 24 quilômetros a leste. Não
haveria jantar tranquilo na cidade com a atenção que ela e Luke
despertavam.
Não era um encontro “de verdade”, lembrou a si mesma, mas isso não
significava que não pudesse fazer um pequeno esforço para estar
apresentável.
Harper manteve sua roupa casual com calça capri e blusa de gola V com
linhas em verde esmeralda. Ela acrescentou um pouco mais de cachos ao
cabelo, deixando-o solto sobre os ombros. Um olho levemente esfumaçado
e uma camada de brilho labial, e ela estava pronta para ir.
Ela checou seu reflexo no lavabo lá embaixo e percebeu que havia
esquecido de colocar os brincos. Voltou escada acima para o quarto, e
estava remexendo na gaveta quando Luke saiu do banheiro.
Vestindo apenas uma toalha.
Gotículas de água grudavam em seu peito. A tatuagem em seu braço,
como sempre, atraía a sua atenção. A toalha, pendurada indecentemente
baixa em seus quadris, mostrando seu abdômen esculpido.
O aro de prata que ela segurava escorregou por entre seus dedos e caiu no
chão.
— Eu... uh... — Ela se abaixou e pegou o brinco. — Hum. Desculpe.
Com as bochechas em chamas, ela saiu correndo do quarto, deixando
Luke sorrindo atrás dela.
Harper correu para a cozinha e enfiou o rosto no freezer para esfriar o
rubor, até ouvi-lo descer a escada. Ela fingiu encher e beber um copo
d’água e evitou o contato visual quando ele entrou na cozinha.
— Pronta para ir? — ele perguntou, deslizando as mãos nos bolsos da
calça jeans.
Ele estava vestindo jeans e uma camisa de botão cinza listrada, com as
mangas arregaçadas. Harper se perguntou se ele tinha acabado de enfiar a
mão no armário e as pegado, ou se ele, como ela, tinha passado por várias
opções. De qualquer maneira, ele parecia bom o suficiente para arrancar a
roupa bem aqui na cozinha.
— Claro, vamos.
Ela o levou para fora, para seu carro na garagem. Luke parou ao lado do
Beetle.
— Você quer que eu entre nisto?
— Eu o convidei para sair. Portanto, vou dirigir.
— OK. — Ele se acomodou no banco do passageiro com um sorriso
irônico. — Vamos começar esse encontro.
Harper sentiu uma vibração nervosa na barriga. Quando seu corpo iria se
lembrar que este não era um relacionamento real? Deveria parar de reagir
exageradamente aos estímulos de Luke Garrison. Ela suspirou e subiu atrás
do volante, tentando ignorar o quão perto estavam e o quão bem ele
cheirava. Ela deveria tê-lo deixado dirigir. O console central da picape de
Luke fornecia uma barreira melhor.
O Fusca começou com um tremor de tosse que fez Luke levantar as
sobrancelhas. Uma correia guinchou sob o capô por alguns segundos, antes
de Harper mudar de marcha.
— Jesus, o que há de errado com essa coisa?
— Não dê ouvidos a ele. — Harper deu um tapinha no volante. — Você é
perfeito do jeito que é.
— Querida, este carro é mais velho que você. Você não acha que é hora de
colocá-lo para descansar? Talvez conseguir algo menos parecido com uma
lata velha?
— Eu amo este carro. Só precisa de um pouco de manutenção, para a qual
estou economizando, e ele ficará como novo.
— Quantas vezes ele deixou você sentada na beira da estrada?
Harper aumentou o volume do rádio e sorriu.
— O quê? Eu não consigo ouvir você. O rádio está muito alto.
Ele balançou a cabeça e se mexeu no banco. O joelho dele roçou a mão
dela enquanto descansava na marcha. Nenhum dos dois fez esforço para se
mover.
Luke finalmente se inclinou e apertou o botão, desligando a música.
— Então, como vão as coisas no escritório?
Em apenas alguns dias, Harper causou um impacto significativo no
trabalho burocrático, mas havia muito mais a ser feito.
— Bom, até agora.
— Alguma área que você acha que precisamos melhorar ainda?
Harper olhou para ele, para ver se estava brincando.
— Você quer minha opinião?
— Você parece surpresa.
Ela tentou se lembrar da última vez que um cara havia pedido sua
opinião. Ted certamente nunca se interessou por ela, não no trabalho ou em
casa. Quando tentara falar com ele sobre a mudança de seu software de
contabilidade, ele disse a ela para não preocupar sua cabecinha bonita com
isso.
— Só estou lá há dois dias.
— Você é uma garota esperta. — Luke cutucou a perna dela, e Harper
rezou para ele não ver os arrepios que surgiam em todos os lugares com seu
toque. — Não se contenha. Você não vai machucar meus sentimentos.
Harper olhou para ele com desconfiança.
— Ok. — Ela pigarreou. — Existem algumas áreas que merecem alguma
atenção.
— Continue.
— Bem, seu software é bastante antigo. Acho que poderíamos encontrar
algum tipo de pacote integrado que substituiria seus sistemas de cálculo de
custos e faturamento de trabalho, além de seu banco de dados, por algo que
faça tudo. Portanto, você só precisaria inserir as alterações uma vez, em vez
de em dois ou três lugares diferentes. Não deve custar muito mais do que
está gastando agora, e você poderia realmente desenvolver um GRC.
— GRC?
— Sistema de gestão de relacionamento com o cliente. Digamos que
Frank está no local de trabalho e um cliente menciona que está pensando
em fazer um upgrade para granito nos banheiros. Frank pode pegar seu iPad
ou laptop e conectá-lo ao sistema para que avise ao escritório para definir o
preço da atualização. No dia seguinte, o preço e as opções estarão no GRC
e Frank poderá analisar isso com o cliente.
Luke acenou com a cabeça.
— Não é uma má ideia.
— É melhor do que Frank se esquecer de tudo e o cliente mudar de ideia e
ficar com a bancada normal.
— O que mais um GRC pode fazer?
Harper respirou fundo e passou pelo básico. Ela poderia dizer que ele
estava confuso, quando sua carranca se aprofundou.
— Pense nisso como um robô assistente — disse ela.
Luke acenou com a cabeça.
— Eu gosto de robôs.
— Então me fale sobre Frank. Qual é o problema dele?
Ela ajustou o visor contra o sol.
— Você quer dizer sobre ele estar tão irritado o tempo todo? — Luke
sorriu por trás dos óculos de sol. — É apenas parte de seu charme. Ele está
te dando problemas?
— Na verdade, não. Eu meio que gosto dele. Eu só estava curiosa. Ele
parece…
— Insubordinado? — ele forneceu.
— Bem, sim.
Luke suspirou.
— Frank e eu estamos juntos há muito tempo. Eu o conheço desde
criança. É um bom trabalhador, um dos melhores. Ele sabe mais sobre os
meandros deste negócio do que qualquer pessoa. Só que é um pé no saco.
Harper bufou.
— Como é trabalhar com seu pai?
Luke encolheu os ombros.
— É bom. — Harper olhou para ele incisivamente, esperando que ele
continuasse. — Ele dirigiu uma empreiteira por anos, e eu sempre soube
que queria construir. Então, cerca de dez anos atrás, decidimos tentar e
abrimos a empresa.
— Você é extremamente indiferente sobre isso.
Luke sorriu.
— Sobre o quê?
— Eu dei só uma olhada em sua contabilidade e alguns cheques
recebidos, e me parece que você é um construtor próspero, amigo — ela
brincou.
— Nós estamos bem. — Ele sorriu.
Harper revirou os olhos. Desde quando ela achava esse sorriso malicioso
sexy? Desde agora, aparentemente.
— Do jeito que você está tão ocupado, como ainda não tinha um
funcionário de administração no escritório em tempo integral?
Luke encolheu os ombros.
— Nós realmente começamos a crescer há cerca de três anos. E Beth,
você a encontrará amanhã, costumava ser ajudante de escritório em tempo
integral, até ter os gêmeos. Agora, ela está em tempo parcial e apenas faz a
contabilidade.
Harper diminuiu a velocidade e entrou em um estacionamento de
cascalho. Luke observou o celeiro reformado que dava para campos
gramados. O cheiro de bife pairava forte no ar.
— Lugar legal. O que te fez escolher?
Foi a vez de Harper sorrir.
— Achei que chamaríamos menos atenção aqui do que em Benevolence.
— Boa decisão.
— Você é algum tipo de solteiro famoso ou herói de sua cidade
natal? Todos parecem estar incrivelmente interessados em você.
Seu olhar se nivelou com o dela, mas em vez da risada que ela esperava,
viu uma frieza.
— As pessoas têm falado?
Harper inclinou a cabeça.
— Falado sobre o quê?
— Nada. — Seu comportamento mudou, e ele estendeu a mão para
apertar sua perna. — Vamos lá, vou deixar você me pagar o jantar.
A anfitriã, uma minúscula moça com óculos de armação escura e mechas
roxas no cabelo, os conduziu a uma mesa aconchegante de canto, ao lado de
uma janela com vista para o pasto e o lago. O sol estava começando a se pôr
atrás das árvores.
Luke olhou ao redor, para as paredes texturizadas de pedra e gesso e as
vigas grossas do teto.
— Lugar legal.
— Achei que você gostaria — disse Harper, pegando a lista de cervejas.
— Carne e um prédio bacana pareciam a maneira certa de dizer obrigada
por tudo.
— Você nunca vai parar de me agradecer?
— Você nunca vai parar de fazer coisas que merecem gratidão? — Ela
piscou os cílios.
— Espertinha — Luke sorriu.
Eles pediram cervejas e bifes, enquanto uma pequena banda se montava
na sala ao lado.
— Então me fale sobre você, Harper — disse Luke, esticando o braço no
encosto da cabine.
— Você está levando essa coisa de encontro muito a sério. O que você
quer saber?
A garçonete voltou com as cervejas, e Harper tomou um gole.
— Bem, nós estamos em um namoro falso, então eu deveria saber
algumas coisas sobre você. Tipo, quando é seu aniversário? Onde você
estudou? Como foi crescer sem pais? Por que você é do jeito que é?
Harper riu.
— São muitas perguntas.
Ela pegou a cerveja e a provou antes de colocá-la de volta na mesa.
Luke girou o copo antes de pegá-lo, degustando. Harper se perguntou se
ele bebeu propositalmente do mesmo lugar que ela.
— Eu acho você interessante.
— Parece que isso não é realmente um elogio.
— Eu também acho você inteligente, bonita, engraçada e corajosa. Mas
não consigo entender você. Como alguém, que passa por tudo o que você
passou, anda por aí com um constante sorriso no rosto?
— Você quer dizer por causa dos meus pais?
— Seus pais, o fogo, seu ex idiota. Sua resiliência é
impressionante. Como isso acontece?
— Não é muito impressionante, quando não há outra opção. O que eu
deveria fazer, ser toda “coitada de mim” pelo resto da vida? Eu ainda tenho
acesso ao mesmo nascer do sol que todo mundo tem, as mesmas 24 horas
por dia. E se não tirar vantagem dessas coisas, a culpa é minha, mesmo.
— Então o mundo é muito grande e bonito para ficar triste? — Ele estava
brincando com ela.
— Eu ainda posso estar triste, mas não tenho que chafurdar ou ignorar
completamente o bem que ainda está a minha espera. Isso é negligência e
um desperdício.
Luke ficou em silêncio por um momento, girando o copo na mesa.
— Além disso, já que você perguntou, meu aniversário é em três de
março. Fui para a Universidade de Maryland e me formei em
Administração. Estou na metade do meu MBA online. E crescer sem meus
pais foi difícil. A cada feriado, aniversário, formatura, estou sempre ciente
de que sinto falta de alguma coisa. De alguém.
Luke acenou com a cabeça.
— Cor favorita?
— Vermelho. Mas não um vermelho marrom ou rosado. Vermelho
sangue. Posso te fazer perguntas?
Luke balançou a cabeça.
— Vamos nos concentrar em você.
— Boa tentativa. Como foi crescer com os pais? E ter um irmão e uma
irmã?
— Caos. Você foi ao jantar de domingo.
Harper jogou o guardanapo nele.
— Estou falando sério!
— Eu também. — Mas ele cedeu. — Eu não sei. Às vezes, desejava estar
apenas sozinho, e outras vezes era grato por tê-los todos sobre mim. Somos
próximos. Às vezes, próximos demais. Mas cresci com meu pai em todos os
jogos de futebol. Assisti a todos os recitais de dança de Sophie. James e eu
passamos todo verão descalços e brincando no riacho, do amanhecer ao
anoitecer. Mamãe nos obrigava a sentar à mesa todas as noites. Às vezes,
era 16h30, e às vezes, não comíamos antes das 21h, mas estávamos todos lá
juntos.
Harper sorriu.
— Isso soa como eu sempre imaginei.
— Você nunca viveu com outras crianças?
— Claro, mas é diferente. Eu estava lá apenas temporariamente. Algumas
das casas tinham muitos filhos, então não havia tempo suficiente para
prestar atenção em todos nós. Outros tinham filhos biológicos ou adotivos
que seguiam rotinas e atividades estabelecidas, e isso prevalecia. Na
maioria das vezes, eu ficava perdida na confusão.
— E você queria mais.
Harper assentiu. Ela queria desesperadamente mais. Ainda queria.
— Você não?
— Às vezes.
Ela riu.
— Você gosta da sua vida tranquila e agradável.
Luke esboçou um sorriso.
— Não está muito quieto atualmente.
— Você está nervoso com a convocação?
Ele cortou um pãozinho e passou manteiga nele.
— Não.
— Você já esteve no Afeganistão antes?
— Sim.
— Temos um falante aqui.
— O que você viu naquele cara, o Ted?
Ele mudou de assunto sem nenhuma tentativa de sutileza, e Harper
decidiu dar-lhe um tempo. Mas precisava de um grande gole de cerveja.
— Ugh. Eu tenho me perguntado isso. Minha amiga Hannah me
avisou. Eu era nova no trabalho. O achei fofo, exceto pelo
cavanhaque. Parecia ser um bom chefe. E então ele começou a me trazer
café pela manhã. Enviar e-mails engraçados...
— Você é uma garota de corações e flores.
— Se por “corações e flores” você quer dizer uma romântica, então
sim. Eu ainda acredito que existe um cara lá fora que vai me surpreender e
viver feliz para sempre comigo.
Luke sorriu.
— O cavaleiro de armadura brilhante que cavalga para salvar o dia.
— Eu não sei sobre isso. Às vezes, você precisa salvar a si mesmo ou a
outra pessoa. Mas não me importaria de cavalgar para o pôr do sol com
alguém.
— Vocês, mulheres, e seu desejo por grandes gestos românticos.
Harper riu.
— Por favor, a única vez que uma mulher precisa de um grande gesto
romântico é quando ela não sabe que é amada.
— Eu não acredito nisso. E as garotas que escolhem seu próprio anel de
noivado de R$50.000 e exigem um casamento para 400 convidados?
— São coisas diferentes. Há uma diferença entre receber um grande gesto
romântico e exigir algo caro para ser o centro das atenções. Por um lado,
você tem alguém que quer ter certeza de que você sabe, sem sombra de
dúvida, o que ele sente por você. Por outro lado, algum pobre idiota está
apenas comprando uma periguete com presentes brilhantes e muita atenção.
— Uma periguete? Agora isso explica tudo. — Luke riu, e Harper se
animou ao ver sua covinha.
A garçonete voltou com a comida, e o assunto foi abandonado enquanto
comiam. Eles saborearam a refeição e conversaram um pouco sobre
trabalho, comida e Benevolence. Ela se sentiu relaxada, notavelmente,
considerando que a maior parte de seu tempo com Luke era gasto oscilando
entre extremos de nervosismo e luxúria.
Uma batalha constante que ela esperava que logo terminasse. Era
constrangedor que cada vez que o via sem camisa, tinha de se conter para
não lamber os lábios.
A banda no outro espaço mudou para uma melodia mais lenta. Harper se
engasgou quando os primeiros acordes de “Angel Eyes”, da Jeff Healey
Band, ecoaram pela sala.
— Eu amo essa música, Luke! Esta é minha canção de fantasia romântica
favorita de todos os tempos. Dança comigo?
— Fantasia romântica?
— Existem todos os tipos de fantasias, Luke. Romântica, orgástica...
— Ninguém está dançando.
— Quem se importa? Não conhecemos ninguém aqui. Qual é a pior coisa
que poderia acontecer?
— É assim que você toma decisões? “Qual é a pior coisa que poderia
acontecer?” — Ele imitou, atirando no ar um cabelo comprido imaginário.
Harper ignorou sua pergunta e puxou-o para fora da cabine em direção ao
chão na frente da banda. Ele estava certo. Ninguém mais estava dançando,
mas alguém sempre tinha que ser o primeiro.
O aperto de Luke a parou onde estava, e ele a puxou de volta aos seus
braços. Seus seios se apertando contra seu peito quente e sólido, suas bocas
a uma polegada de distância. As mãos de Luke espalharam-se em suas
costas, segurando-a contra ele.
— Você não está dançando — ele sussurrou.
Ela quase podia saborear suas palavras.
Harper mordeu o lábio para não morder o dele e passou os braços em seu
pescoço. Ela não teve que puxá-lo para mais perto. Ele veio de boa vontade.
Ele liderou, e ela o seguiu. Sua atenção estava em cada sensação que tocá-
lo acendia. Uma mão deslizou mais alto, para descansar suavemente sobre
suas costelas machucadas. A palma e o polegar dele abraçando intimamente
a curva de seu seio.
Ela sabia que ele podia sentir seu coração batendo forte, sabia que podia
ouvir sua respiração rápida.
Eles balançaram juntos, alheios a qualquer coisa, exceto à música e um ao
outro. Luke a puxou para mais perto. Ela podia sentir o comprimento dele
endurecendo contra ela.
— Pare de olhar para mim assim — ele rosnou.
— Assim como? — Sua voz estava sem fôlego.
— Como se você quisesse que eu tirasse sua roupa e provasse cada
centímetro do seu corpo.
Ela sentiu a dor ardente em seu íntimo aumentar para um latejar
constante. Ele era um louco leitor de mentes.
— Eu não estava pensando nisso — ela mentiu. — Eu estava pensando
em... sobremesa.
— Mentirosa.
Sua mão roçou seu seio no caminho para afastar suavemente o cabelo de
seu rosto. Ele sorriu quando ela deu um suspiro ofegante. Sua ereção se
contraiu contra ela, e ela sabia que não era a única pensando em...
sobremesa.
Ela não percebeu quando a música terminou, mas Luke, sim.
Com as mãos nos ombros dela, ele a empurrou um passo para trás,
quebrando o feitiço. As bochechas de Harper coraram. Ela tinha perdido
completamente a noção de seus arredores. Nem percebeu que outros casais
se juntaram a eles.
Luke manteve a mão na dela e a levou de volta para a mesa.
— Bem, isso foi uma fantasia — ela suspirou, voltando depressa para a
cabine, seu rosto ainda vermelho.
— Nós provavelmente deveríamos voltar. Começo o dia cedo, amanhã.
Seu tom era calmo, mas sua voz estava áspera. Havia algo acontecendo
sob a superfície, mas Harper não sabia o que era.
A conta estava esperando por eles, e quando Harper estendeu a mão para
pegá-la, Luke a arrancou de suas mãos.
— Isso não vai acontecer, querida.
— Eu te convidei para jantar. O prazer de pagar a conta é meu — disse
Harper, estendendo o braço sobre a mesa.
— Não. — Era uma recusa mais sólida do que as paredes de pedra que os
rodeavam.
— Luke... — ela tentou novamente.
— Harper. Não. Agora termine sua cerveja.
Ela franziu a testa para ele. Uma pequena reação física, e ele se
transformou em uma estátua.
***
Luke manteve a mão de Harper na sua e meio que a arrastou para o
estacionamento, onde o som dos grilos se propagava no ar frio. Ele a puxou
em direção à porta do passageiro do Beetle.
— Eu vou dirigir. — Ele a parou antes que ela abrisse a porta, colocando
a mão sobre a dela. — Olha, eu tenho que definir algo bem aqui.
Harper recostou-se no carro, e Luke enfiou as mãos nos bolsos.
— Isso não pode acontecer.
— O que exatamente não pode acontecer? — Ela parecia divertida.
Ele olhou para ela e constatou que ela o faria dizer isso.
— Não podemos complicar as coisas com sexo.
— O que há de tão complicado sobre sexo?
— Harper — ele rosnou.
— Desculpe. Por favor, continue. — Ela sorriu, e ele queria estrangulá-la.
— Não quero que você tenha a ideia errada e pense que vamos começar
um caso romântico...
Seus olhos se arregalaram.
— Quem disse alguma coisa sobre um caso ou relacionamento, que tenho
certeza de que é a sua maior preocupação? Você está indo embora. Eu estou
indo embora. Isso não significa que não goste de como me sinto quando
você me toca. Porque eu realmente gosto, e isso me faz pensar em como
seria.
— Como seria o quê?
Ele sabia que estava pisando em terreno muito instável. Ele já estava
muito perto dela, parecia nunca conseguir colocar distância entre eles.
Harper colocou os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para mais
perto, até que seus seios se esfregassem contra ele.
— Eu me pergunto como seria se nós nos beijássemos. — Sua voz era um
sussurro suave, lábios carnudos separados. Convidando-o para entrar.
Ele parou de respirar. Poderia tê-la empurrado para trás, dito a ela para
parar com isso. Ele devia ter feito isso, mas se manteve firme e a deixou
ficar na ponta dos pés para trazer aqueles lábios macios aos dele. Porque
não havia nada naquele momento que ele quisesse mais.
Seus olhos se fecharam, e ela deu um pequeno suspiro sexy.
Isso foi o suficiente para ele parar de lutar contra isso. Ele levou a mão ao
cabelo dela e puxou-o para trás para obter melhor acesso à sua doce
boca. Sua língua, corajosamente, acariciou seus lábios entreabertos,
encontrando a dela ansiosa por ele. Prová-la não fez nada para suavizar o
beijo. Sua boca esmagou a dela, e ele usou a língua para impulsionar uma e
outra vez, imitando os movimentos com seus quadris.
Os braços de Harper se apertaram ao redor de seu pescoço, e ele
rosnou. Suas mãos percorreram suas laterais sob o suéter apertado, e as
pontas dos dedos sentiram renda.
Ele sentiu antes de ver. O ligeiro estremecimento quando sua mão cruzou
sobre suas costelas doloridas.
Ele se afastou imediatamente. Amaldiçoando a si mesmo e talvez a ela
também, ele abriu a porta do passageiro e empurrou-a para o assento.
Dez minutos na estrada, seu pau ainda estava dolorosamente duro. Ele
quase a atacou no estacionamento. Se não tivesse visto aquele
estremecimento de dor quando pressionou muito forte contra seu lado, teria
encontrado uma maneira de transar com ela ali mesmo no
estacionamento. Sua falta de controle era humilhante. Ele esqueceu que ela
estava ferida. Esqueceu as regras que havia cuidadosamente traçado, o
plano que vinha seguindo há anos. Tudo isso foi pela janela, porque ele não
conseguia parar de tocá-la.
Ele não deveria estar tendo essa reação física a ela. Mas aqui estava ele,
andando com uma ereção nas calças cada vez que a via.
Inclinada sobre o balcão da cozinha em seu shortinho? Duro. Andando por
aí com sua camiseta branca com a qual ela ainda dormia? A camiseta branca
que não fazia nada para esconder seus seios perfeitos que imploravam por
suas mãos? E cada par de calcinhas sexy que ela usava por baixo? Muito
duro. Ele estava com medo de que ela alguma vez começasse a dormir com
algo que não fosse transparente, ou pior, que ela o fizesse.
Se ele estava a menos de um metro dela, estava duro pra caralho. Como
iria sobreviver a uma ereção de um mês? Talvez devesse consultar um
médico.
Ele era uma bomba-relógio. Se transasse com ela, havia uma boa chance
de matá-la. Ele queria acreditar que sua reação a ela era porque fazia muito
tempo. Mas ele sabia que era mentira. Havia algo em Harper que o atraía e
o mantinha fixado nela.
— Você está bravo? — Harper, com os lábios ainda carnudos e corados
por causa do seu ataque, perguntou do banco do passageiro.
Ele não respondeu, mas segurou o câmbio com um pouco mais de força.
— Eu sinto muito por ter te pressionado, Luke. Eu não queria te
chatear. Eu só queria saber como seria beijar você. Eu prometo ser mais
respeitosa com seus sentimentos.
Ela estava prometendo ser mais respeitosa com os sentimentos dele? Foi
ele quem a atacou como um adolescente raivoso.
— Harper...
— Eu realmente sinto muito.
Aqueles grandes olhos cinzentos estavam olhando para ele com
arrependimento.
— Do que exatamente você está arrependida?
— Por fazer você me beijar, quando você não queria. Achei que você se
sentia atraído por mim, como sou por você. Não me ocorreu que você não
era, e então eu praticamente comi seu rosto com minha
língua. Normalmente não tento devorar homens assim.
— Você acha que eu não estou atraído por você?
— Não é por isso que você me deu toda aquela conversa de “sem sexo”?
Luke conduziu o Beetle abruptamente e parou na beira da estrada.
— Harper, não é possível que eu me sinta mais fisicamente atraído por
você do que estou. É uma batalha constante de autocontrole para não
arrancar suas roupas e enterrar meu pau em você, apenas para senti-la gozar
em mim.
O queixo de Harper caiu.
— Vê? Esses são os tipos de pensamentos que passam pela minha cabeça
quando estou perto de você. Você me deixa duro e estúpido, e eu não gosto
disso.
— Mas se você me quer, e eu quero você, então por que...
— Querida, eu simplesmente não posso. Eu não estou... preparado. E
quando eu estiver, você será a primeira a saber. Mas simplesmente não
posso tirar meu foco do trabalho e da missão. Eu sei que se eu estivesse
dentro de você, perderia a porra do controle por completo, e isso não pode
acontecer. Eu simplesmente não tenho espaço na minha vida para você.
Harper finalmente fechou a boca e olhou para as mãos cruzadas no colo.
Luke se aproximou e pegou uma de suas mãos.
— Você é uma garota linda, doce e sexy, e alguém terá muita sorte de ser
fisgado por você. Simplesmente não pode ser eu. Então, eu apreciaria se
você começasse a usar parcas e essas merdas perto de mim, para que eu não
continue fantasiando sobre seu corpo sexy.
— Então você me quer, e estou me oferecendo sem compromisso, mas
você quer mais sua ordem e concentração?
Ele apertou a mão dela.
— Quando você coloca dessa forma, parece muito estúpido.
— Você é um homem complicado, Luke.
Capítulo 10
Faltam três semanas…
Luke mantinha distância dela no trabalho, e isso estava bom para
Harper. Ela se sentiu culpada por pressioná-lo e desapontada por Luke não
estar disposto a explorar a atração que ambos sentiam.
Ela ficou surpresa ao ver a picape dele na garagem, quando chegou em
casa. Se sentia como se o estivesse expulsando sem querer de sua própria
casa, então talvez isso fosse um bom sinal.
Harper entrou e levou as sacolas de compras do corredor até a
cozinha. Não havia sinal de Luke na casa, mas ela ouviu vozes vindo de
algum lugar.
Ela saiu pela porta dos fundos para a varanda e avistou Luke no final do
quintal. Ele estava com dois meninos, e todos tinham luvas de beisebol.
— Você tem que aumentar esse aperto quando joga, Robbie — Luke
instruiu o garoto mais alto, com cabelo castanho claro e desgrenhado. —
Aqui, deixa eu te mostrar.
Ela o observou demonstrar o controle e entregar a bola.
— Tente. — Luke correu de volta para seu lugar. — Vamos lá.
O garoto se aprontou e lançou uma curva perfeita, que acertou a luva de
Luke.
— Sim, cara! Você viu aquilo? — O menino gritou e correu para Luke.
— Agora, isso é uma curva — Luke riu. Eles bateram os punhos e Luke
jogou a bola de volta para ele. — Tente de novo. Vamos ver se não foi um
golpe de sorte.
Robbie voltou ao seu lugar e ajustou o controle da bola. Ele disparou
outro arremesso na luva de Luke.
— Eu, agora! Eu, agora! — O menino menor jogou a luva para o alto. —
Sr. Luke, eu quero jogar.
Luke repetiu o processo com o irmão mais novo. Ele não entendeu muito
bem, mas parecia orgulhoso de seu esforço.
— Sr. Luke, há uma senhora na sua varanda — disse Robbie, apontando
para Harper.
Harper acenou e desceu as escadas para o pátio. Luke a encontrou com os
meninos, Robbie ao seu lado e o mais jovem jogado por cima do ombro.
Deus, ele estava um gato. Estava vestindo jeans surrados, uma camiseta
branca justa e um boné de beisebol. Mas nada era mais sexy do que o
sorriso em seu rosto.
— Ei — ele disse, deixando o menino cair aos pés dela.
— Ei — ela riu quando ele se levantou em um ataque de risos.
— Harper, estes são meus amigos, Robbie e Henry. Eles são irmãos e
moram duas casas abaixo, com a Sra. Agosta.
A Sra. Agosta era dominicana e tinha quase setenta anos. Harper tinha
certeza de que ela não era a mãe dos meninos.
— Garotos, esta é minha amiga, Harper.
— Oi — Robbie disse, estendendo a mão. Ele tinha olhos verdes sérios e
um punhado de sardas no nariz.
— Muito prazer em conhecê-lo, Robbie. — Harper segurou sua mão. —
Oi, Henry.
Henry, uma versão em miniatura de seu irmão, acenou alegremente, e seu
sorriso mostrava que estava faltando um dente na frente.
— Robbie e Henry vão ficar aqui, enquanto a Sra. Agosta leva a irmã
deles ao médico.
— A meleca dela é verde. É nojento — Henry anunciou, jogando sua luva
no ar.
— Uau, isso é nojento — Harper concordou. — Vocês querem ficar para o
jantar?
— O que você irá comer? — Robbie perguntou.
Luke deu um tapinha na nuca dele.
— O quê? — Robbie perguntou. — Eu não quero ficar se for, tipo, fígado
e sobras.
Luke o envolveu em uma chave de braço.
— Você é um pequeno idiota — disse ele, despenteando o cabelo de
Robbie.
— Hambúrgueres, batata assada e salada. — Harper assinalou em seus
dedos. — Isso é melhor do que fígado e sobras?
— Bem, os hambúrgueres e a batata assada são — Robbie concordou.
— Eu amo batata assada — Henry gritou. Ele se lançou nas pernas de
Harper para um abraço rápido, antes de girar e apontar para o seu irmão. —
Está com você — ele gritou.
Os meninos partiram em um jogo de pega-pega intenso, deixando Harper
e Luke sozinhos no pátio.
— Me desculpe por isso. Eu deveria ter mandado uma mensagem para
avisá-la sobre a testosterona extra.
— É uma bela surpresa. Além disso, duas bocas extras vão mais longe no
pacote de oito hambúrgueres que eu trouxe para casa.
— Vou acender a grelha — ele sorriu. — Boa sorte para fazê-los comer
salada.
***
Harper convenceu-os a comer a salada, mas teve que prometer que cada
um escolheria um ingrediente, antes de concordarem. Harper escolheu
tomates. Robbie queria bacon. Henry decidiu por Cheetos.
— Podemos realmente fazer isso? — Robbie sussurrou sobre o balcão,
com preocupação.
Harper encolheu os ombros.
— Talvez eles tenham gosto de croutons?
Ela encarregou Henry de colocar os bolinhos de batata na assadeira e
Robbie de enxaguar a alface, enquanto ela fritava o bacon e cortava os
tomates.
— Você mora aqui com o Sr. Luke? — Henry perguntou, ajustando o
último bolinho.
— Eu moro.
— Você é casada?
— Não. Você é?
Henry franziu a testa.
— Não. Meninas são nojentas.
— Robbie, você acha que as meninas são nojentas? — Harper perguntou,
enquanto trazia a alface de volta para o balcão e a despejava em uma tigela
grande.
Ele encolheu os ombros.
— Algumas são ok, eu acho.
Harper pôs os bolinhos de batata no forno e ajustou o cronômetro.
— Então, a Sra. Agosta é sua avó? — ela perguntou aos meninos.
— Huh-uh. — Robbie balançou a cabeça. — Não somos nem parentes.
— Nós somos adotivos — Henry saltou, cuidadosamente colocando
Cheetos na alface.
— Eu também — disse Harper, adicionando os tomates e o bacon à
salada.
— Você é uma criança adotiva? — O interesse de Robbie foi despertado.
— Sim.
— O Sr. Luke é seu pai adotivo? — Henry perguntou.
Robbie revirou os olhos.
— Não, idiota, eles são namorado-namorada.
Harper não se incomodou em corrigi-lo. A verdade só iria confundi-los...
e a ela.
— Você conseguiu pais de verdade? — Henry se perguntou.
Harper balançou a cabeça.
— Não, eu não fui adotada, mas eu conheci muitas famílias legais.
— Sra. Agosta é legal. Ela está nos ensinando espanhol. Você acha que
seremos adotados?
Harper fez uma pausa no meio da salada. Luke, segurando um prato de
hambúrgueres, entrou pela porta dos fundos bem a tempo de ouvir a
pergunta de Henry.
Os meninos a observavam de perto, e ela sabia o que eles queriam. Ela
queria isso também. Às vezes, ainda queria. Esperança.
— Bem, você não é excessivamente fedorento — ela cutucou Henry na
barriga até que ele deu uma risadinha. — E é meio fofo. Você parece
agradável e não destruiu a casa do Sr. Luke ainda. Então, sim, você terá
uma família. E enquanto isso, ficará com a simpática Sra. Agosta,
aprendendo espanhol.
— Eu posso contar! — Henry anunciou. — Uno, dos, tres... — Ele contou
cada Cheeto ao colocá-los na salada.
— Os hambúrgueres estão prontos — Luke disse, finalmente se
aventurando além da porta.
— Maravilha — disse Robbie, farejando o ar. — Eu amo
hambúrgueres. Você tem ketchup e mostarda? Tem queijo?
Harper demorou a contar quatro pratos enquanto os meninos conversavam
com Luke. Ela esperava, para o bem deles, que houvesse uma família à
procura de três filhos.
***
Eles comeram no balcão de café da manhã, com os meninos sentados em
banquinhos e Harper e Luke de pé. Harper e as crianças trocaram histórias
engraçadas sobre um orfanato. A salada de Cheetos acabou por ser um
sucesso. Até Robbie limpou sua tigela.
Harper e Luke se deixaram convencer a ir tomar sorvete, antes de levar os
meninos para casa. A irmã deles, Ava, uma versão minúscula de cabelos
escuros de seus irmãos, estava dormindo profundamente no sofá quando
eles chegaram à casa da Sra. Agosta. Diagnosticada com uma sinusite, ela
ficaria boa em alguns dias. A Sra. Agosta agradeceu profusamente pela
ajuda e os mandou para casa com muffins de mirtilo frescos.
Eles caminharam para casa em silêncio, com o pôr do sol brilhando no
céu do oeste. Foi bom receber os meninos, Harper pensou, enquanto subia
os degraus da varanda. Sua conversa e energia encobriram a baixa vibração
de conflito que constantemente pairava entre ela e Luke.
Algo teria que mudar, e rápido.
— Você é muito boa com eles — Luke disse, sentando-se no degrau mais
alto.
Harper fez uma pausa e encostou-se à grade. Ela sabia o que ele estava
fazendo, mesmo que não soubesse. A atração entre eles só se fortalecia a
portas fechadas. Aqui fora era mais seguro.
— Você também. Bom treinamento com a bola curva.
Luke sorriu.
— Eles são crianças muito boas. — Ele tirou o boné e brincou com ele. —
Você estava sendo sincera? Que você acha que eles vão encontrar uma
família?
Harper se sentou ao lado dele e suspirou.
— São três crianças, e nenhuma delas é bebê. Vai ser difícil, mas
sim. Acho que aparecerá uma família que se apaixonará muito por
eles. Como não o fariam?
— Por que você acha que nunca foi adotada? — Ele estava olhando para
ela agora, e Harper manteve sua expressão neutra.
— Eu tinha sete anos quando fui para um orfanato. A maioria das adoções
é para bebês e crianças pequenas. As crianças mais velhas simplesmente
não conseguem competir com isso. Acho que algumas pessoas se
preocupam que os mais velhos estejam muito danificados.
Luke colocou o braço em volta dela.
— Você não está danificada.
Harper sorriu.
— Não, não estou agora. Mas eu estava naquela época. Você tem que ser
alguém muito especial para querer fazer algo como adoção. Mas eu, como
todas as crianças, somos resilientes. Algum dia, terei minha própria família
e tudo valerá a pena.
Luke apertou seu ombro.
— Você já pensou em ter filhos? — Harper perguntou.
Ele ficou em silêncio por um longo momento.
— Eu costumava pensar.
— Você sempre está sozinho?
Luke suspirou.
— Sim.
— Eu também.
Ele se inclinou e a beijou na bochecha.
— Você vai ter tudo o que deseja algum dia.
Ela baixou a cabeça em seu ombro.
— Até então, isso não é tão ruim.
Capítulo 11
Harper acordou cedo na manhã seguinte. Ela tinha dormido como uma
pedra, mais uma vez terminando nos braços de Luke em algum momento
durante a noite. E a ajudante de escritório, de meio período de Luke,
voltaria ao trabalho hoje.
Harper estava animada com a perspectiva de ter alguma companhia no
escritório e um par extra de mãos para ajudar a realizar o trabalho.
Pronta para um banho, Harper puxou a camiseta pela cabeça e a deixou
cair no chão ao lado de seu short. Luke saiu para uma corrida, uma das suas
longas. Ninguém iria testemunhar sua descida quase nua escada abaixo,
para pegar o novo sabonete líquido que ela havia deixado na sacola na
cozinha.
Ela sussurrou junto com Bruno Mars, cantando através de seus fones de
ouvido, e deu alguns passos escada abaixo. Ela pegou o sabonete líquido e,
já que estava na cozinha, decidiu se servir de um copo de suco para
desfrutar depois do banho.
Ela encontrou o suco atrás de um saco de salada mista e os bifes que Luke
iria grelhar para o jantar naquela noite. Em sua opinião, o conteúdo da
geladeira havia melhorado muito desde que se mudara. Harper ficou na
ponta dos pés para pegar um copo de plástico do armário. Droga. Não
conseguia alcançar.
Ela se colocou de joelhos no balcão e agarrou o copo. Assim que ela se
moveu para descer, alguém a agarrou.
Ela gritou alto o suficiente para que pudesse ouvir por cima da música
trovejando em seus ouvidos e deu uma cotovelada. Ela se debateu e chutou
ao ser arrancada da bancada. Seu calcanhar fez contato com uma perna e,
juntos, eles caíram em uma pilha.
Ela se arrastou para frente, lutando freneticamente. Uma mão agarrou seu
quadril e puxou um punhado do cós de sua calcinha. Ela gritou antes de
uma mão tapar sua boca.
Seus fones de ouvido foram arrancados.
— Jesus Cristo, Harper! Pare de chutar!
— Luke? — Harper tentou olhar por cima do ombro, e encontrou seu
rosto pairando sobre ela. — Oh, meu Deus! Você me assustou pra
caralho! Achei que você fosse um estuprador maluco.
— O que diabos você estava fazendo? Eu entro e você está sacudindo sua
bunda no balcão. — Ele estava gritando.
— Eu estava pegando um copo de suco — Harper gritou de volta. — Eu
pensei que você estava correndo.
— Eu estava — ele disse entredentes. — Eu tenho uma reunião cedo.
— Oh.
— Por que você não está de roupa?
Harper percebeu que seus seios nus estavam esmagados no chão da
cozinha e sua calcinha estava na metade das coxas.
— Oh, meu Deus! — Harper tentou se desvencilhar.
— Pelo amor de Deus, Harper, pare de se mexer.
— Apenas me deixe... Oh. — Ele estava duro. Ela o sentiu através do
short de ginástica incrivelmente fino, aninhado contra a junção de suas
coxas. — Luke?
— Só me dê um minuto — ele murmurou.
— Você parece bravo — ela sussurrou.
— Harper! — ele gritou o nome dela, e ela o sentiu se contorcer contra
ela. Ele suspirou. Sua respiração era uma brisa quente em seu pescoço. —
OK. Levante-se.
Ele se levantou do chão e a puxou pelo cotovelo. Harper começou a puxar
a calcinha de volta ao lugar com uma das mãos, enquanto tentava cobrir os
seios com a outra.
— Qual é o ponto, Harp? Já vi tudo. — Ele parecia irritado.
— Bem. — Ela deixou cair o braço e colocou as mãos na cintura. — Você
está bravo porque eu subi no balcão?
Seu olhar se moveu até o rosto dela e desceu novamente. Harper apertou a
mandíbula.
— Olhos aqui em cima, amigo.
— Sim, isso não vai acontecer.
— Por que você está tão chateado?
— Porra.
Ele a agarrou novamente pelo cós de sua calcinha e a puxou contra
ele. Eles ficaram assim, bocas separadas, por um segundo e depois
outro. Harper se moveu primeiro. Ela levou as mãos aos ombros
dele. Quando ele não se moveu, ela ficou na ponta dos pés e lentamente
levou seus lábios até os dele.
Sua boca, como o resto dele, estava tensa.
Suas mãos se moveram, espalhando-se por suas costas e puxando-a com
mais força enquanto sua boca se movia mais fundo. A cabeça de Harper se
inclinou para trás, para acomodar o ataque. Sua língua forçou sua boca a se
abrir mais, e ela se rendeu. Ele apreciou, e ela cravou os dedos em seus
ombros.
Ele a empurrou contra a geladeira, seus lábios nunca interrompendo o
contato. Harper deixou as mãos dela deslizarem sob sua blusa. Ele a ajudou
a puxá-la pela cabeça.
Seus mamilos endureceram contra sua pele quente. Ela podia sentir seu
coração batendo forte sob a tatuagem de fênix. O dela batia em um ritmo
correspondente ao dele.
Ela mordiscou seu lábio inferior, e ele inalou profundamente. Luke
deslizou as mãos pelas laterais dela para cobrir a parte inferior de seus
seios. Ela suspirou contra ele, e seus polegares roçaram seus bicos
sensíveis.
A delicada tortura a fez arder por ele. Ela deslizou a mão no cós do short
de malha e envolveu os dedos em torno de seu comprimento.
— Harper. — Foi meio gemido e meio aviso.
Ela acariciou sua ereção até a base espessa e de volta à ponta. Ele baixou
a testa na dela, tentando recuperar o fôlego. Suas mãos pararam em seus
seios.
Corajosamente, ela o acariciou novamente. Seus dedos se apertaram ao
redor de seus mamilos, puxando e provocando. Harper sentiu a umidade
pingar na ponta de seu pênis. Ela o esfregou contra o estômago, espalhando
a umidade em sua pele.
Luke abandonou um seio e trouxe as pontas dos dedos para o centro dela,
forçando suas coxas a se separarem com um joelho. Ele correu dois dedos
sobre o tecido úmido de sua calcinha, e Harper sentiu seu mundo ficar
cinza. Ela ansiava por aqueles dedos profundamente dentro dela, levando-a
ao êxtase.
Ele roçou pelo tecido, para frente e para trás, no ritmo das carícias de
Harper. Quando seu polegar roçou seu mamilo novamente, Harper pensou
que iria desmoronar.
Com um rosnado, Luke puxou o algodão para o lado e a segurou. Seus
dedos quentes pressionaram contra seu centro úmido. Ele puxou a perna
dela sobre o quadril, para lhe dar melhor acesso. Espalhada para ele, ela deu
boas-vindas à pressão de sua mão áspera.
Ele dobrou os joelhos, abaixando a boca para o seio.
Com o novo ângulo, Harper esfregou a ponta de seu pau contra seu
centro.
Ele sugou com uma intensidade que fez os joelhos de Harper
tremerem. Suas carícias se tornaram mais curtas e mais fortes,
pressionando-o contra seu sexo.
Tão perto. Apenas um centímetro abaixo e....
A campainha rompeu sua névoa.
As mãos de Luke congelaram em sua carne e então desapareceram
quando ele deu um passo para trás apressadamente. Ele praguejou,
reajustando o cós da bermuda para esconder a ereção.
— É o Frank. Ele vai comigo para a reunião. — Luke passou a mão no
rosto. — Merda.
Harper caiu contra o metal frio da geladeira, seu peito arfando enquanto
ela tentava recuperar o fôlego.
Ele a agarrou pelos ombros e encostou a testa na dela.
— Eu preciso que você vá lá para cima. Agora.
Harper assentiu, mas não se moveu. Ele suspirou e pegou sua blusa do
chão.
— Vamos, vamos cobrir você. — Colocando-a pela sua cabeça, ele a
desceu sobre seu torso. As cavas profundas pouco faziam para cobrir seus
seios, mas pelo menos seus mamilos estavam escondidos de vista.
Luke puxou sua calcinha de volta no lugar, e Harper estremeceu quando
seus dedos roçaram sua carne sensível.
Ele a agarrou pela nuca e a puxou para si. Ele parecia querer dizer algo,
mas em vez disso, deu-lhe um beijo forte na boca.
— Agora suba, antes que eu abra para Frank entrar.
Harper acenou com a cabeça e correu para as escadas na frente da casa,
tomando cuidado para não olhar para as luzes laterais, para ver se Frank
estava testemunhando sua caminhada da vergonha.
Luke esperou até que ela entrasse no quarto, antes de abrir a porta.
Ela ouviu Frank rir.
— Estou interrompendo, chefe?
***
O que diabos havia de errado com ele? Ele não tinha sido nada além de
claro com ela – e consigo mesmo – e era assim que se
comportava: arrancando-a do balcão da cozinha e praticamente jogando-a
contra a geladeira.
Ótimo, e agora ele estava duro novamente, como tinha estado a maior
parte do dia.
Ele estava evitando o escritório como uma praga, porque sabia que, assim
que a visse, iria querer fazer tudo de novo e mais. Frank estava tagarelando
ao lado dele sobre o trabalho, e ele não tinha ouvido uma palavra a respeito.
Agora ele iria ficar de pau duro toda vez que fosse na cozinha pegar uma
cerveja?
Era para ser um arranjo simples e descomplicado. Ele deu a ela um
emprego e um lugar para ficar, e ela desempenharia um papel. Mas
obviamente esse papel estava se complicando para os dois. Ele teria que
consertar as coisas. Definir limites.
Como deveria dormir ao lado dela esta noite, sem rasgar a camiseta
branca que ela vestia e enfiar o pau nela, agora que ele a provou?
— Você está me ouvindo? — Frank estava olhando para ele com
expectativa.
Luke rangeu os dentes.
— Basta lidar com isso, Frank. Eu tenho que ir.
— As mulheres te deixam estúpido — Frank avisou enquanto ele subia
em sua picape.
— Não é verdade — Luke murmurou baixinho, enquanto dava ré na
picape.
Agora, aonde diabos ele deveria ir? De jeito nenhum iria para o
escritório. Um olhar para ela, com aquelas curvas suaves e lábios doces, e
ele iria dobrá-la sobre sua mesa e...
— Puta que pariu.
Ele socou o volante. Frank estava certo. Harper estava deixando-o
estúpido. Ele nunca deveria tê-la deixado ficar. Deveria tê-la ajudado a
encontrar um pequeno apartamento agradável do outro lado da cidade, onde
ele nunca a veria dançando nua no balcão da cozinha.
E se Frank não tivesse interrompido esta manhã? E se tivesse apenas
rasgado sua calcinha e entrado em sua apertada, quente...
Suas mãos apertaram o volante enquanto seu pau ficava ainda mais
duro. Seu cérebro estava cheio de razões pelas quais era uma má ideia. Mas
seu corpo não estava interessado em ouvir nenhuma delas.
E se ele simplesmente parasse de pensar nisso? Deixasse acontecer? A
atração era obviamente mútua. Ele se lembrou do calor naqueles profundos
olhos cinza quando a tocou. A garota não poderia esconder nada se
quisesse. Esses olhos sempre a denunciariam.
Se ele cedesse, sabia que seria uma loucura do caralho. Apenas a maneira
como ela respondeu ao toque dele, como se ela o desejasse mais do que o
próprio oxigênio. Harper poderia lidar com isso, se fosse apenas sexo? Seria
apenas sexo?
Ele balançou a cabeça. Ela merecia algo melhor do que uma foda rápida e
casual.
E ele sabia, com uma certeza sombria, que quando estivesse dentro dela,
seria qualquer coisa, menos apenas sexo. Seria uma experiência intensa do
caralho, e ele não estava pronto para isso.
Mesmo que fosse apenas temporário. Ele estava indo embora logo, e isso
deveria ser motivo suficiente para manter o pau nas calças. Então, por que
diabos parecia uma razão ainda melhor não fazê-lo?
Ele nem era estúpido o suficiente para fingir que não a queria mais do que
sua própria respiração. Se ela morasse naquela casa com ele, dormisse na
cama ao lado dele, seria apenas uma questão de tempo antes que perdesse o
controle.
Mas, por enquanto, precisava de distância. E o banho mais longo e frio da
história da humanidade.
Capítulo 12
Harper tinha suas suspeitas de que Sophie era vidente. A mulher ligou
para ela segundos depois de ela entrar no escritório, para convidá-la para
almoçar.
— Eu só queria me atualizar e ver como as coisas estão indo com você... e
Luke.
Ela era nova na dinâmica familiar, mas tinha quase certeza de que Luke
ficaria chateado se contasse os detalhes de sua manhã para Sophie. Ela
sentiu seus mamilos endurecerem novamente ao pensar na boca de Luke
sobre ela, suas mãos percorrendo sua pele.
Ela soltou um suspiro lento. Se não se distraísse das imagens desta manhã,
que estavam permanentemente gravadas em seu cérebro, ela teria que pular
o almoço e ir para casa e colocar uma nova calcinha.
A porta do escritório se abriu. Harper mordeu o lábio e fez uma rápida
oração para que não fosse Luke. Ela não estava pronta para ver aquele rosto
perfeito ainda.
— Você deve ser Harper — gritou uma voz alegre.
Harper girou em sua cadeira. Uma ruiva curvilínea com um minúsculo
piercing no nariz entrou, segurando um gigantesco ramo de flores.
— Beth?
— Esta sou eu! — Ela colocou o vaso na mesa de Harper e estendeu a
mão. — Eu quero te abraçar, mas não queria que minha gratidão parecesse
excessiva e assustasse você.
Harper riu enquanto pegava a mão com unhas roxas de Beth.
— Tão ruim assim, hein?
Beth sacudiu sua massa de cachos ruivos e revirou os olhos.
— Você não tem ideia. Falo para Luke há um ano sobre a contratação de
um administrador em tempo integral. Ele só fica dizendo: “Vou fazer
isso”. E nunca faz.
— Deixe-me adivinhar, ele está...
— Ocupado — Beth terminou por ela. — Sim, esse é o Luke. Estou tão
feliz por você estar aqui, e já posso dizer que você é um ser humano normal
e bom, então não vou nem me preocupar sobre como isso vai funcionar com
você.
— Você estava esperando alguém com duas cabeças?
— Eu não tinha certeza do que esperar da mulher que finalmente
conquistou Luke Garrison. — Beth largou sua bolsa gigante no chão ao
lado de sua mesa e se jogou na cadeira. — Com esses solteirões, você
nunca pode dizer se eles serão surpreendidos por lindas e normais, como
você, ou se finalmente enlouquecerão de solidão e agarrarão a primeira
louca que vier em seu caminho.
— Eu poderia ser totalmente a louca e apenas estar escondendo isso para
atrair você a um sentimento de complacência — advertiu Harper.
— Isso é verdade — Beth disse, ligando o computador. — Talvez eu deva
devolver estas flores, até que você realmente as tenha merecido.
— Oh, antes que eu esqueça. Luke me disse que você é viciada em
cafeína, então fiz café extra e tem creme de baunilha francês na geladeira.
— Você ganhou as flores de volta — disse Beth, levantando-se e indo
direto para a cafeteira. — Eu não me importo se você é louca ou não. Você
é atenciosa e compreende meu amor profundo e duradouro pela
cafeína. Este é o início de uma bela amizade.
Harper riu e voltou para o computador. Beth seria uma boa distração dos
pensamentos que ela não precisava estar pensando agora. Como a sensação
do pau duro de Luke contra ela.
Droga.
***
Harper chegou ao café alguns minutos antes de Sophie, então se
acomodou com o menu e um chá gelado. Sophie quase desabou na cadeira
em frente a ela.
— Ai meu Deus, obrigada por almoçar comigo hoje. Josh está me
deixando louca — Ela disse, torcendo as mãos no ar. — Ele cortou o cabelo
com uma maldita tesoura de poda. Eu nem percebi, até que o peguei
tentando colocar as aparas de cabelo no prato do cachorro.
— E aqui eu pensei que a maternidade era feita apenas de momentos
etéreos de hora das historinhas e do cochilo.
— E raspando espaguete seco das pernas da mesa de jantar e tapando as
orelhas, porque seu filho está praticando para uma carreira na ópera —
acrescentou Sophie.
Harper sorriu em direção à sua bebida.
— Dia difícil, hein?
— Eu deveria ter pedido que você me encontrasse na loja de bebidas, para
que pudéssemos beber no almoço. Mas chega de falar de mim. Como está o
trabalho? Como é morar com Luke?
— É bom. Ainda estou trabalhando no acúmulo de papelada e na
atualização de tudo, mas gosto disso.
— Uh-huh. E como vai a vida em casa?
— É, uh, bom, também. É muito fácil conviver com Luke.
— Ouvi dizer que vocês dois foram pegos praticamente nus na cozinha,
esta manhã.
Harper se engasgou com o chá.
— Como você ouviu isso? — ela perguntou através do guardanapo de
papel.
Sophie sorriu.
— O Frank irritadinho tem uma boca maior do que Georgia Rae.
— Oh, meu Deus — Harper enterrou o rosto nas mãos.
— Você gosta dele?
— Frank? Não muito agora!
— Não! Ninguém gosta do Frank. Você gosta do Luke?
— Sophie, você é irmã dele. O que eu devo falar?
Sophie se recostou na cadeira e deu um sorriso de gato-que-comeu-um-
ninho-de-canário inteiro. O garçom interrompeu para pegar os pedidos, e
Harper aproveitou o tempo para tentar forçar o rubor de suas bochechas a
desaparecer.
— Você gosta dele — disse Sophie simplesmente.
— Claro que gosto dele, Soph. Como não gostar? Ele é inteligente,
atencioso, além de lindo, é bom para a sua família. Mas gostar um do outro
não faz parte do acordo. Só estarei aqui por um mês. Não quero complicar
nada.
— O que é complicado em gostar um do outro? — Sophie perguntou,
aceitando o refrigerante diet do garçom e bebendo profundamente. — Oh,
meu Deus, cafeína, eu te amo.
— Eu só não quero me apegar — Harper suspirou. — Isso não é real. É
por conveniência. Ele vai partir em breve, e eu irei seguir em frente.
— Então não haja razão para não aproveitar o que você tem agora —
Sophie insistiu. — Vocês dois são adultos com consentimento.
— Eu acho que sou um pouco mais consentida do que Luke.
Sophie riu.
— Meu irmão pode ser muito teimoso, em querer manter um plano para
tudo. Mas tenho fé em você. Você vai arrastá-lo para longe disso, e ele vai
ficar feliz. No último domingo, foi o mais relaxado que o vi em muito
tempo.
Harper animou-se.
— Sério?
— Você é exatamente o que ele precisa.
— E você é o diabólico ventríloquo que está fazendo tudo acontecer?
Sophie acenou para afastar as palavras.
— Tudo o que fiz foi colocar dois adultos saudáveis juntos em uma casa,
em um arranjo mutuamente benéfico. Eu tinha uma forte convicção de que
a natureza seguiria seu curso e, a julgar pelos olhos de Frank esta manhã, a
natureza está vencendo.
— Ei, eu sou totalmente a favor da natureza neste caso, mas não acho que
Luke seja tão receptivo. Não acho que ele queira... gostar de mim. Eu
simplesmente não consigo entendê-lo.
O garçom voltou com as refeições, e Sophie deu uma mordida no
sanduíche. Ela apontou para Harper.
— Você sabe a razão pela qual Luke estava no Remo’s, na semana
passada?
Harper balançou a cabeça. Não havia nada em Luke Garrison que dissesse
“sociável” na sexta à noite.
— Porque duas sextas-feiras atrás, eu tive alguns problemas com um
cliente que não queria ir embora. Felizmente, Ty foi me pegar depois do
meu turno e cuidou disso. Mas Luke apareceu na sexta-feira passada e se
plantou em uma banqueta a noite toda, só para ter certeza de que sua irmã
estava bem. Esse é o tipo de cara que ele é — Sophie disse, batendo a mão
no coração. — Eu amo tanto aquele menino que dói. Quero vê-lo feliz
novamente. E eu acho que você é o bilhete premiado.
— Por que ele está infeliz? — Harper perguntou, comendo sua salada. Ela
tinha visto, naqueles olhos castanhos, flashes de tristeza, de dor.
— Algumas coisas demoram mais para se superar do que outras, mas
chega um momento em que você ultrapassa a linha e nunca mais se
recupera. Acho que Luke está muito perto da linha.
— Superar o quê?
— Acho que seria melhor se ele mesmo contasse a você. — Ela mordeu
uma batata frita. — Então, como você acabou pelada na cozinha?
***
Harper tentou aproveitar o resto de seu almoço com Sophie, mas não
conseguiu se livrar da curiosidade. Mesmo quando voltou ao escritório, sua
cabeça estava cheia de perguntas. Qual era o segredo de Luke? O que ele
perdeu? Era por isso que morava em uma casa vazia? E o que esta manhã
significava?
Ela nunca quis algo assim antes. Desejou. Pensar nas mãos de Luke sobre
ela a deixou arrepiada, mesmo sob o sol brilhante da primavera que entrava
pelas janelas em arco do escritório.
Ela tentou se concentrar no que Beth estava dizendo sobre as contas a
receber, quando o ruído das botas de trabalho no piso de madeira roubou a
atenção de Harper.
— É bom ver você com algumas roupas, para variar. — Frank bufou e
passou por elas em direção ao escritório de Luke.
— Engraçadinho, Frank. — Ela lançou um olhar feio para as costas dele.
Beth riu.
— Ei.
Harper girou em sua cadeira. Luke, com as mãos enfiadas nos bolsos,
estava atrás dela.
— Ei. — Ela sentiu suas bochechas corarem. A última vez que ela o tinha
visto, sua mão estava envolvida em torno de seu latejante, duro...
— Oi, chefe — Beth falou.
— Beth. — Ele assentiu sem tirar os olhos de Harper. — Dê-nos um
minuto, sim?
— Agora mesmo. Tenho que ligar para minha sogra, de qualquer maneira,
e me certificar de que os gêmeos ainda não destruíram a casa. — Ela saiu
apressada do escritório e desceu as escadas.
Luke entrou e se encostou na mesa de Harper. Ela sentiu seus mamilos
enrijecerem e cruzou os braços apressadamente sobre o peito. Controle-se,
Harper, ela se advertiu.
— Como foi sua reunião esta manhã?
— Não foi uma distração suficiente — disse ele, encostando-se na mesa
dela.
Harper corou.
— Provavelmente teremos que conversar sobre isso.
Falar sobre isso? Ela preferia fazer algo sobre isso.
— Você só quer me dizer todos os motivos pelos quais isso é uma má
ideia.
— Não quero que você se machuque, Harper. Isso não vai a lugar
nenhum. Estou indo embora. Isso tudo é temporário.
— Você nunca tomou uma má decisão temporária antes? — ela perguntou
levemente.
Ele balançou sua cabeça.
— Eu nunca fui tentado antes.
— Que tal agora?
— Agora? — Ele estendeu a mão e passou o polegar sobre seu lábio
inferior. Ela abriu os lábios ao toque e o provou. — Estou muito tentado.
Ele se inclinou para ela, apoiando as mãos nos braços da cadeira. Seu
vestido de verão branco subiu mais alto em suas coxas. O olhar de Luke
travou com o dela, e ele correu a palma da mão calejada por dentro de sua
coxa.
Harper respirou fundo, trêmula, as mãos em um aperto mortal nos braços
da cadeira.
— Você entende por que isso é uma má ideia, Harper? — ele disse
calmamente. Seus dedos roçaram a borda de sua calcinha de algodão
branco.
Ela jurou que seu coração parou.
— Uma olhada para você, e tudo em que consigo pensar é estar dentro de
você. — As pontas dos dedos dele circularam vagarosamente suas dobras
sensíveis através da fina camada de tecido. — De como cheguei perto de
fazer você gozar hoje. De como seria te levar ao limite e sentir você gozar
no meu pau.
— Qualquer dia agora, chefe — Frank chamou do escritório de Luke.
Luke fechou as pernas de Harper e deu um beijo forte em sua boca.
— Conversamos depois.
Ele se virou e foi para seu escritório, deixando uma Harper mole e trêmula
atrás dele.
***
Harper ainda estava sentindo os tremores do que Luke havia dito a
ela. Ela passou boa parte do resto da tarde olhando fixamente para a
tela. Quando Luke saiu para ir para outro local de trabalho, o olhar ardente
que ele lançou a deixou sem fôlego.
De repente, ela não tinha tanta certeza de que poderia sobreviver ao sexo
com um homem como Luke. Se apenas o olhar dele tinha esse efeito sobre
ela, e se o resto de seu corpo fosse tão hábil quanto seus dedos, ela poderia
literalmente morrer em seus braços.
Era um risco que ela estava disposta a correr.
Beth assobiou quando Luke fechou a porta atrás dele.
— Que química. Achei que ele fosse comer você viva com os olhos.
Harper se abanou para disfarçar o rubor em suas bochechas.
— Ele é sempre assim?
Beth balançou a cabeça.
— De jeito nenhum. Esta é a primeira vez que vejo o vulcão Luke prestes
a entrar em erupção.
Isso colocou algumas visões quentes na cabeça de Harper. Luke estava
prestes a explodir. Oh, Deus. Ela ia ter danos cerebrais só de pensar.
Ele mandou uma mensagem assim que ela estava arrumando suas coisas
para ir para casa.
Luke: Trabalharei até tarde. Não espere acordada.
Harper sentiu uma mistura de decepção e alívio. Algum tempo para si
mesma provavelmente não faria mal. Ela foi para casa e ficou olhando para
a TV por vários minutos, antes de perceber que havia esquecido de ligá-la.
Agitada, ela se levantou e vagou pela casa. Era uma experiência nova, ter
tempo para passar como queria. O que ela queria? Uma imagem de Luke
flexionando a mandíbula, enquanto enfiava os dedos nela, respondeu
imediatamente a essa pergunta.
— Eu preciso conseguir um maldito hobby — Harper murmurou,
tentando ignorar a dor entre suas pernas. Um hobby que não envolvesse
ficar apenas pensando em Luke.
No final, ela fez uma lista de compras e um menu de jantar para o resto da
semana e foi ao supermercado. Ela guardou todos os mantimentos, fez um
sanduíche de pasta de amendoim com geleia e foi ler o livro que
comprou. Era um mistério de assassinato. Uma escolha melhor do que o
romance que escolhera inicialmente.
Com qualquer estímulo adicional, ela provavelmente montaria em Luke
durante o sono.
Ela finalmente adormeceu segurando o livro contra o peito e sonhando
com maníacos empunhando facas.
***
Quando ela acordou de manhã, a cama parecia vazia. O lado de Luke não
fora mexido.
Ela desceu correndo as escadas, ainda com a camiseta de Luke, e parou
abruptamente na porta da sala.
Seu corpo, de um metro e noventa, estava espremido no sofá, um braço
jogado sobre a cabeça e o outro pendurado sobre o braço de madeira. Ele
ainda estava com suas roupas.
— Luke?
Ele acordou imediatamente e tentou se sentar. Ele gemeu e esticou a
cãibra no pescoço.
— Você dormiu aqui?
Ele teve que virar todo o corpo para olhar para ela, porque sua cabeça não
girava em seu pescoço.
— Ai. Sim.
— Super confortável, hein?
— Dormi como uma pedra — ele mentiu.
— Devo realmente assustar você — Harper retrucou por cima do ombro,
enquanto ia para a cozinha.
Ela ignorou seu resmungo da sala de estar e se serviu de um pouco de
suco de laranja.
Luke se levantou do sofá e cambaleou pelo corredor, esticando os
músculos.
Ela serviu uma xícara de café e o entregou a ele.
— Não me venha com essa cara — ele disse, sua voz rouca de sono.
— Oh, você merece essa cara. Você não pode nem dormir na cama
comigo agora? Eu não vou te atacar.
Ele suspirou pesadamente e Harper revirou os olhos.
— Apenas beba seu café.
— Tenho que ir à base neste fim de semana, para algumas reuniões e
treinamentos. Você ficará bem aqui sozinha?
— Você não vai voltar esta noite?
Ele balançou a cabeça e deu um gole no café.
— Não. Estarei em casa amanhã à noite. Tarde da noite.
— OK. — Harper olhou para ele, esperando.
— OK. — Ele olhou para ela, ainda sexy como o inferno com o rosto
amassado do sono, e então assentiu. — Eu vou fazer uma mala.
Harper o observou sair e suspirou.
Capítulo 13
Ele estava sendo um grande covarde. Luke acelerou para a rodovia, sua
boca franzida. Quando seu comandante ligou ontem à tarde, sobre o
treinamento básico de atualização de combate, Luke sugeriu que sua equipe
de pré-mobilização se reunisse no sábado, para se preparar para o
treinamento de domingo. Ele não conseguiria enfrentar um fim de semana
sozinho com Harper. Poderia morrer com o fornecimento de sangue sendo
cortado de seu cérebro.
Ele pensou em dar um beijo de adeus nela, mas recuperou o juízo e
casualmente desejou a ela um bom fim de semana, em segurança, do outro
lado da ilha da cozinha.
Ele estava fazendo isso para o bem dela, disse a si mesmo. Ela não era o
tipo de garota que teria apenas uma aventura e depois seguiria em
frente. Harper merecia mais do que isso. Portanto, apenas manteria
distância dela pelo resto do mês, e eles se separariam como amigos.
Amigos que poderiam ter se beneficiado muito.
Ele bateu com as mãos no volante da picape.
— Controle-se, cara.
Concentre-se no trabalho e tudo mais ficará bem.
***
Harper decidiu, pelo menos, fingir ser produtiva e lavar a roupa
primeiro. Então, juntou todas as roupas sujas, toalhas e lençóis que
encontrou e desceu para o porão.
Não foi tão assustador quanto esperava. Pequenas janelas no nível do teto
circundavam o perímetro e permitiam que a luz da manhã se filtrasse. Como
prometido, uma lavadora e uma secadora ficavam no canto, ao lado de uma
pia de lavar roupa suja e uma bancada de serviço.
Harper largou o cesto cheio de roupa suja no chão e começou a primeira
leva. A modesta instalação não tinha a desordem usual de uma área de
lavanderia bem usada. Não havia meias sem par ou camisetas encolhidas e
esquecidas. Apenas detergente, água sanitária e lençóis secos.
Enquanto a lavadora ganhava vida, Harper inspecionava o resto do
porão. Como o resto da casa, estava vazio, exceto por algumas caixas e
sacolas de plástico.
Havia uma pequena sala com uma porta, provavelmente algum tipo de
armário de armazenamento, do outro lado da escada. Ela se perguntou se
estava cheio de anuários do colégio de Luke e lembranças da
infância. Harper tentou a maçaneta e descobriu que estava trancada.
A maçaneta era nova e com chave. Talvez seja onde ele guardava armas
de fogo. Ela não tinha notado nenhuma arma pela casa. Era mais do que
provável que ele as guardasse em segurança, trancadas a chave.
Harper passou o resto da manhã movimentando-se pela casa. Abriu as
janelas para deixar entrar a brisa fresca da primavera, enquanto varria o piso
de madeira e espanava a madeira. Ela dobrou e guardou duas levas de roupa
suja e refez a cama.
Estava varrendo as folhas acumuladas da frente da varanda de Luke,
fantasiando sobre o sanduíche de rosbife frio que ela iria fazer para o
almoço, quando alguém a chamou pelo nome.
Uma pequena morena estava parada no meio do caminho entre a calçada e
a varanda. Suas mãos estavam entrelaçadas com força na frente dela. Um
lenço floral colorido estava amarrado no pescoço.
— Lamento incomodá-la, mas Ty me disse onde poderia encontrar você.
Harper encostou a vassoura na grade.
— Gloria, certo?
A mulher acenou com a cabeça.
— Eu não tinha certeza de que você me reconheceria. Nós não fomos...
— Apresentadas formalmente? — Harper completou.
Gloria deu um pequeno sorriso.
— Exatamente. Espero que não se importe que eu passe por aqui.
— Claro que não! Você está me dando a desculpa perfeita para parar de
limpar. — Harper saiu da varanda. — Você tem tempo para entrar?
— Hum, claro. Tem certeza de que não se importa?
— Eu adoraria alguma companhia. Especialmente se você me disser que
ainda não almoçou, porque estou morrendo de fome.
— Oh, hum. Eu não sei se eu deveria...
— Por favor? Adoraria ter companhia — repetiu ela.
Harper já tinha visto isso antes. Quando o direito de uma pessoa de tomar
decisões é sistematicamente retirado dela por tanto tempo, era difícil
começar a fazer escolhas quando a liberdade de fazê-lo era devolvida. Ela
se virou e foi para a varanda.
— Entre.
Harper liderou o caminho de volta para a cozinha. Ela pegou dois pratos
do armário e os colocou na ilha.
— Você pode pegar o pão para mim? — Harper apontou para o pão no
balcão e se ocupou, desempacotando os ingredientes do sanduíche da
geladeira.
Ela entregou a Glória uma tábua de cortar e tomate maduro.
— Você se importaria de cortar isso?
Enquanto Gloria cortava com cuidado, Harper começou a fazer os
sanduíches.
— Rosbife está bom para você?
— Sim, mas você realmente não precisa ter todo esse trabalho.
Harper cobriu fatias de pão com maionese.
— Bem, você está ajudando. Então, o que a traz à residência sem mobília
de Luke?
A risada suave de Gloria flutuou pela cozinha
— É um pouco espartano.
— Não sei se ele é minimalista ou o quê.
— Fobia de se comprometer com algo?
— Mesmo quando se trata de móveis, ao que parece — Harper
concordou. Ela entregou a Gloria um prato com um sanduíche e um pouco
de picles. — Água ou refrigerante?
— Água, por favor.
Harper encheu dois copos de água gelada e juntou-se a Gloria na
ilha. Elas comeram lado a lado, em um silêncio amigável, por alguns
minutos.
— Harper, só queria agradecer a você — disse Gloria de repente.
— De nada, mas é apenas um sanduíche.
— Não só pelo sanduíche, que está muito bom, aliás. Por me ajudar com
Glenn no Remo’s. Estava acontecendo há tanto tempo, ou pelo menos,
deixei passar tanto tempo, que senti como se todos tivessem parado de me
ver. Demorei a ver a situação que ajudei a criar, mas ferir outra pessoa me
fez perceber que tinha que parar. E eu sinto muito por isso.
Harper traçou um dedo sobre os hematomas desbotados em seu rosto.
— Valeu a pena, se a ajudar a construir a vida que você deseja. Como
você está?
— Estou bem — Gloria empurrou seu picles em torno do prato. — Eu
vou ficar com minha mãe por enquanto. E prestei queixa.
Ela pegou seu sanduíche e deu outra mordida.
— Isso é muito corajoso da sua parte.
— Teria sido mais corajosa, se tivesse feito isso anos atrás.
— A vida passa muito rápido. Não há muito espaço para os poderia,
deveria — Harper disse, dando tapinhas em sua mão.
— Às vezes, só consigo pensar nisso. Como minha vida seria diferente se
eu tivesse feito faculdade ou nunca tivesse começado a namorar com ele.
Harper assentiu.
— Talvez agora você tenha essa chance. Ver como seria sua vida sem ele.
— É difícil. Eu realmente não tenho mais amigos. Acho que não é fácil
ser amigo de alguém que está sempre tomando decisões
erradas. Eventualmente, todos terão que decidir se vale ou não a pena
continuar tentando.
— Então, o que você vai fazer agora?
— Vou arrumar um emprego, encontrar um lugar para morar e fazer valer
a pena.
— Soa como um bom plano para mim. Posso fazer algo para ajudar?
— Quer ser minha amiga? Vou entender se a sua resposta for não,
considerando que levou um soco na cara por mim.
— Eu levei um soco no rosto, e isso me fez acordar olhando nos lindos
olhos de Luke Garrison. Acho que devo a você uma vida inteira de amizade.
Gloria riu.
— Eu estudei com Sophie e Luke. Ele é um bom homem.
— Sim, ele é — Harper assentiu.
Depois do almoço, ela acompanhou Gloria até a porta.
— Foi muito bom conhecê-la oficialmente — disse Gloria. — E mais uma
vez, para registro, obrigada e sinto muito.
— E, novamente, nenhum agradecimento ou desculpas são
necessárias. Eu planejo totalmente que sejamos melhores amigas, e
devemos jantar em breve — ela disse, abrindo a porta da frente.
— Alguém disse jantar? — uma voz masculina perguntou da varanda.
Um homem de peito largo, short e tênis de corrida deu um salto na
frente. Seu cabelo escuro e espesso, enrolado nas pontas, e um sorriso de
dentes brancos iluminando seu rosto.
Harper notou um tom rosado nas bochechas de Gloria.
— Oi, Aldo — ela disse timidamente.
Ele tirou os óculos de sol.
— Oi, Gloria. Como vai?
Ela corou ainda mais.
— Você deve ser Aldo, porque Gloria o chamou assim — disse Harper,
estendendo a mão.
— E você deve ser a famosa Harper. — Ele tinha um aperto forte e
quente. — Pensei em passar por aqui enquanto meu melhor amigo está fora
da cidade, para ver por que ele se esqueceu de dizer que tem uma namorada
que mora com ele.
— E ter certeza de que não sou algum tipo de psicopata?
— Você conhece o ditado. Irmãos não permitem que outros caras saiam
com psicopatas.
— Na verdade, não estou familiarizada com isso. Há algum tipo de teste
que preciso fazer?
— Por que não faço o teste no jantar? Segunda-feira. Aqui. Vou grelhar
hambúrgueres e cachorro-quente.
— Gloria, sinto que devo confirmar se este cavalheiro é realmente um
amigo de Luke, antes de concordar em deixá-lo cozinhar o jantar na casa
dele.
Gloria acenou com a cabeça.
— Ele é.
— Desde o ensino fundamental — Aldo acrescentou.
— Bom o suficiente para mim. 19 horas aqui, tudo bem para você,
Gloria?
Ela viu a hesitação no rosto de Gloria.
— Por favor, diga que você vai trazer sua torta de maçã. Serei seu escravo
para o resto da vida — Aldo implorou, pegando sua mão esguia.
Gloria mordeu o lábio.
— Vou trazer torta de maçã. — Ela se voltou para Harper. — Vejo você na
segunda, Harper.
— Até mais, Gloria — disse Aldo, encostando-se no batente da porta.
Ela passou apressada por ele, desceu a calçada, mas sorriu o caminho
todo.
— É bom ver o sorriso dela — disse ele. — Então, Harper, se esse é o seu
nome verdadeiro, fale-me sobre você.
— Quer entrar?
— Normalmente, não até eu saber se você é confiável. Mas estou a seis
quilômetros dos meus doze e preciso de um pouco de água.
Aldo era, de fato, o melhor amigo de Luke na escola primária, Harper
soube. Os dois passavam o verão juntos, jogavam futebol e, no último ano
do ensino médio, se inscreveram na Guarda juntos.
— Então, você conhece Gloria?
— Na verdade, acabei de conhecê-la oficialmente, quando ela passou por
aqui.
— Há rumores de que ela se mudou e está prestando queixa. — Ele
brincou com a garrafa de água que Harper lhe deu.
— Há rumores — Harper concordou, sorrindo inocentemente. — Há
quanto tempo você conhece Gloria?
— Desde sempre. Ela estava no segundo ano quando éramos
veteranos. Glenn já não era boa coisa na época.
— Sim, os anos não parecem tê-lo amadurecido.
— Ouvi dizer que você ganhou um olho roxo.
— Por favor. Você deveria ter visto o outro cara — Ela bufou.
— Gostaria de ter estado lá.
Harper ficou em silêncio e o deixou amuado.
— Então, há quanto tempo você está a fim da Gloria?
— Desde que a ouvi cantar no musical da escola.
Harper sorriu enquanto olhava para a água.
— Como o belo astro do futebol Aldo não conquistou a garota?
Ele balançou a cabeça.
— Eu nunca fiz a jogada.
— Talvez agora você possa fazer.
Aldo nivelou seu olhar no dela.
— Gosto da maneira como você pensa, Harper.
— Traga o seu melhor jogo para jantar na segunda-feira, Sport.
— “Sport”? Você está falando sério?
— Que comece o concurso de péssimos apelidos.
***
Naquela noite, depois de um jantar de sopa enlatada e um sanduíche,
seguido por fingir que assistia à TV, Harper se enrolou no travesseiro de
Luke na cama. Ela escolheu uma camisa que Luke estava usando, que
propositalmente não lavou com o resto da roupa, para que ainda pudesse
sentir seu cheiro. Tinha ido para a cama há uma hora e ainda estava olhando
para o teto.
Pensando. Nele. Na maneira como podia olhar para ela com aqueles olhos
que não deixavam nada escapar. Sua mandíbula, geralmente definida em
uma linha firme, estava perpetuamente coberta por uma sombra de barba. E
aquele corpo, músculos rígidos sob tatuagens, implorando a suas mãos
para...
Seu telefone sinalizou uma mensagem, da mesa de cabeceira, tirando-a de
sua fantasia.
Seu pulso disparou quando viu o nome de Luke na tela.
Luke: Teve um bom dia?
Ela iria com calma, decidiu.
Harper: Muito bom. Você?
Alguns segundos depois, ele respondeu.
Luke: Nada mal. Me preparando para dormir agora.
Harper: Espero que seja mais confortável do que seu sofá.
Ela incluiu um rosto piscando. Isso ainda era ir devagar, certo?
Luke: Engraçadinha. O que você ainda está fazendo acordada?
Harper: Pensando em você.
Um minuto se passou, e depois dois, antes de seu telefone tocar.
Luke: O mesmo aqui. Para uma namorada falsa, não consigo tirar você
da minha cabeça.
Harper fez sua melhor versão de uma dança feliz horizontal, e então
contou até trinta antes de responder.
Harper: O que você acha que isso significa?
Ela mordiscou a unha do polegar desde o momento em que clicou em
enviar, até que ele respondeu.
Luke: Significa que passei mais tempo lamentando minha decisão de ficar
longe de você, do que me convencendo a segui-la.
Harper: Então, não fique longe. Venha para o lado negro.
Luke: Fofo. Eu só não quero que você se machuque.
Harper: Nós dois sabemos que não há futuro. Qual é o problema de
aproveitar o presente?
A tela dela escureceu e depois desligou. Um minuto se passou no relógio
de cabeceira antes que, finalmente, outra mensagem chegasse.
Luke: Durma um pouco, querida. A vejo amanhã à noite.
Capítulo 14
Foi uma noite de sono agitada, com sonhos com Luke. No dia seguinte,
ela teve que arrastar seus pensamentos de volta ao presente, longe de todas
as coisas sobre Luke, a cada trinta segundos ou mais, enquanto vagava pela
casa.
Ela ainda não tinha tido notícias dele, quando espanou cada canto e fenda
do corrimão, limpou o interior das janelas do primeiro andar e terminou seu
livro de mistério e assassinato. Estava debatendo se deveria mandar uma
mensagem para ele, quando seu telefone tocou em sua mão.
— Diga-me que você não está ocupada, ficando nua com meu irmão hoje
— Sophie exigiu.
— Seu irmão está atualmente fora da cidade, me evitando, provavelmente
para se proteger do meu magnetismo incrível que derruba shorts esportivos
com um único olhar. Então, não.
Sophie bufou.
— Perfeito! Então você pode vir comigo.
— Aonde vamos? — Harper perguntou, abrindo a porta de trás e pisando
na varanda.
— É o Mergulho Anual Não Tão Polar de Benevolence no lago.
— Essas coisas não costumam ser no inverno?
— Eu vou te informar no caminho. Você vai participar, certo?
Um pouco de água fria provavelmente faria bem ao seu sangue quente,
decidiu Harper.
— Certo.
— Ótimo! Use o seu pior maiô.
Harper tinha apenas um, e ela não o usava há alguns anos. Esperava que
ainda servisse.
— Vou levar seu traje e buscá-la em meia hora.
— Traje? — Mas Sophie já tinha desligado.
Harper jogou o telefone no balcão e correu escada acima para encontrar
seu biquíni.
***
— Ok, então, quarenta e cinco anos atrás, alguns alunos do ensino médio
decidiram que seria divertido organizar um mergulho de água fria no Natal,
para beneficiar uma causa local. — Sophie começou sua explicação
enquanto saía da garagem. — Acho que foi uma família cuja casa pegou
fogo. De qualquer forma, eles estavam prontos para fazer isso quando o
lago congelou. Então, decidiram adiar até que a água descongelasse.
“Agora, todo ano, os moradores da cidade se reúnem em abril, se vestem
como se fosse Natal e pulam no lago. A causa deste ano é uma organização
sem fins lucrativos de leucemia e linfoma.”
— Isso é incrível — Harper riu. — Então, qual é a nossa fantasia?
Sophie estendeu o braço para o banco de trás e jogou um suéter em seu
colo. Harper o ergueu e riu. Garrison, Natal de 1987. Tinha renas
deformadas voando sobre colinas cobertas de neve.
— São da fase de tricô da mamãe. Ainda fazemos camisetas todos os
anos, mas agora as encomendamos online.
— Já estou me sentindo natalina. Então, quão fria está a água?
Sophie sorriu.
— Bem, não é dezembro, mas com certeza não está quente! Eles não
chamam o lago de Inferno Ártico à toa. As pessoas não entram de bom
grado na água até agosto. Eu trouxe um monte de toalhas velhas, no
entanto, eles distribuem doses depois e fazem uma fogueira. É muito
divertido.
Quando pararam no estacionamento, Harper ficou boquiaberta com o
número de carros que já estava lá.
— Parece que toda a cidade está aqui.
Sophie assentiu.
— Mais ou menos. James e Ty já deveriam estar aqui. Ty está de plantão
como salva-vidas policial. James fará o mergulho conosco.
— E quanto ao Luke?
Sophie balançou a cabeça.
— Ele nunca fez isso. Mesmo no colégio. Esse menino nasceu
adulto. Não sei se ele já teve um dia de diversão frívola em toda a sua vida.
Harper gritou quando um rosto se colou à janela.
— E então há meu irmão idiota, James aqui, que é o oposto — disse
Sophie, apontando para sua janela.
James abriu a porta de Harper.
— Vamos senhoras! O lago não espera por ninguém. — Ele estava
vestindo calção de banho e uma camiseta Garrison Christmas 1993 com um
Papai Noel lunático nela. Obviamente, ele era muito menor em 1993,
porque agora era mais um top. Ele tinha chifres de rena de plástico acesos
empoleirados em sua cabeça.
— Você está adorável, James — brincou Harper, saindo do carro.
James baixou os óculos escuros e piscou.
— Claro que estou. — Ele jogou um chapéu de Papai Noel na cabeça dela
e jogou um para Sophie. — Vista-se, mana.
Harper e Sophie tiraram os shorts e as camisetas e os jogaram no banco de
trás, antes de vestir os suéteres.
Harper ignorou o assobio baixo de James, quando teve um vislumbre de
seu biquíni branco. Mas Sophie deu um soco na nuca dele.
— Sem xavecar. Eu não quero ver Luke te derrubando no chão.
— Luke não está aqui para me bater — James sorriu.
Harper absorveu a loucura agitada. Realmente parecia que toda a cidade
de Benevolence tinha comparecido ao evento. Havia papais Noéis gordos e
elfos de orelhas pontudas misturando-se com pessoas vestidas com meias e
árvores de Natal. Havia até um grupo de homens de meia-idade, usando
sungas vermelhas e verdes. Ela também teve um vislumbre de Georgia Rae
em um moletom “Eu sou a Sra. Noel”.
James abriu caminho através da multidão, em direção ao lago.
— Com licença, senhora. Parece que você precisa de boca a boca. — Ty,
em uma camiseta regata de salva-vidas, shorts vermelhos e nariz pintado de
amarelo com protetor solar, se aproximou para dar um beijo fumegante em
Sophie.
— Senhora, parece que você precisa de um pouco de oxigênio. Posso
ajudar? — Um cara louro e musculoso, vestido como Ty e carregando uma
boia de resgate, caminhou até Harper.
Ty parou de beijar Sophie por tempo suficiente para socá-lo no braço.
— Boa tentativa, Linc. Esta é Harper, a namorada de Luke. Harper, este é
Lincoln Reed. Ele é o chefe dos bombeiros e o inimigo de colégio de Luke.
— Namorada, hein? Prazer em conhecê-la, Harper. — Linc estendeu sua
mão grande e Harper a pegou. Ele a puxou um passo mais perto. — Com
Luke ou não, me avise se precisar de ajuda.
Harper puxou a mão dela e riu.
— Prazer em conhecê-lo também, Linc. Mas estou respirando bem. Vocês
estão impressionantes — disse ela, apontando para suas fantasias.
— Levamos esse evento muito a sério, por isso vou ter que insistir que
você tome uma dose, antes de entrar na água — disse Linc, adotando uma
expressão séria.
— É puramente uma medida de precaução — concordou Ty solenemente.
— É melhor fazermos o que os salva-vidas dizem. — Sophie piscou para
Harper. — Mostre o caminho, rapazes.
Ty pegou Sophie e a jogou por cima do ombro e começou a abrir caminho
no meio da multidão, em direção a um bar improvisado de compensado
com um banner do Remo’s pendurado acima.
— Precisamos de doses pra já, bartender! — Ty disse, deixando Sophie de
pé na frente do bar.
Linc ofereceu o braço a Harper.
— Melhor corrermos, Raio de sol.
Harper revirou os olhos e segurou seu braço.
— Lidere o caminho.
O barman era Sheila, do Remo’s.
— Bem-vindas ao Lago Remo, senhoras. — Ela colocou uma garrafa de
uísque e uma garrafa de tequila no balcão. — O que vai ser?
— Oh, tequila, minha amiga malvada — Sophie suspirou.
Harper decidiu pelo uísque e Sheila serviu as doses em copos plásticos.
— Ok, as regras são que cada participante receba duas doses de
aquecimento. Não mais. Não haverá repetições do Puke Fest 2010. Você
pode as duas agora ou uma agora e uma mais tarde.
— Eu guardaria uma para mais tarde, Raio de Sol. — Linc encostou-se no
bar ao lado de Harper. — Você precisará de outra para reiniciar seu coração
do Inferno Ártico. Ou eu poderia fazer isso por você. — Ele flexionou seus
peitorais sob a blusa.
Harper bufou.
— Isso funciona com as senhoras de Benevolence?
— Como um encanto. Estou pensando em ampliar minha área de
cobertura. De onde você é?
— Você é ridículo — ela riu.
— Eu acho que você gosta de ridículo. — Ele empurrou seus óculos de
sol fluorescentes de plástico pelo nariz.
Na verdade, ela gostava de ser séria e taciturna. Mas um pouco de
inofensivo flerte com um toque ridículo não doía.
— Cavalheiros, vocês não irão tomar uma dose com a gente?
— Desculpe, Raio de Sol, estamos de plantão. Tenho que garantir que
ninguém se afogue ou tenha câimbra e precise ser levado e massageado
perto do fogo. Como estão suas panturrilhas? Alguma câimbra?
Aqui estava um homem lindo de sangue vermelho, parado na frente dela,
flertando descaradamente, e seu pulso ainda não tinha acelerado. Mas faça
Luke passar por sua mesa e entrar em seu escritório sem lhe dar uma
olhada, e ela se sentiria como se tivesse um martelo no peito. Não era justo.
Ela balançou a cabeça.
— Desculpe, sem câimbra aqui.
— Droga. Eu sou totalmente ótimo em massagem. — Linc se encostou no
bar e flexionou um bíceps. Harper olhou para o músculo protuberante. Sim,
nem uma vibração.
— Um brinde, Harp — anunciou Sophie, agarrando seu braço. — Para o
seu primeiro Mergulho Não Tão Polar de Benevolence.
— Tintin!
Elas bateram os copos de plástico e beberam suas doses. Harper se
engasgou com o calor que se espalhou por seu peito.
James reapareceu e colocou a mão no ombro dela.
— Vamos lá, quero estar na frente da multidão para que possamos ser os
primeiros a entrar, e os primeiros a sair.
Sophie deu um beijo estalado na bochecha de Ty.
— Mantenha todos seguros, Delegado Sexy.
— É isso aí, querida — disse ele, dando um tapa na bunda dela.
— Boa sorte, Raio de Sol — Linc disse com um sorriso. — Estarei por
perto, se precisar de ajuda.
James as agarrou pela mão e liderou o caminho através da multidão até o
lago arenoso. Uma fogueira crepitante já estava queimando forte com
voluntários dos bombeiros desempacotando grandes quantidades de
s’mores.
Um Papai Noel, com snorkel e nadadeiras, ocupou seu lugar ao lado de
Harper. Ele piscou para ela através de sua máscara.
— Prepare-se para um pouco de diversão glacial — disse ele ao redor do
bocal do snorkel.
— O quão frio está? — Harper perguntou a Sophie, estendendo o pé em
direção à água.
— Confie em mim, você não quer fazer isso. O segredo é entrar, dar meia-
volta e sair correndo o mais rápido que puder. Não pare por nada, ou você
pode realmente precisar do sexy salva vidas para trazê-la de volta à vida.
— Tão frio, hein?
A resposta de Sophie foi interrompida por um assobio estridente.
— Senhoras e senhores! Bem-vindos ao Quadragésimo Quinto Mergulho
Anual Não Tão Polar de Benevolence — Ty anunciou por meio de um
megafone de sua posição, em um posto de salva-vidas de madeira em frente
ao bar. — Linc e eu estamos aqui para garantir que nenhum de vocês se
afogue e/ou congele até a morte.
A multidão aplaudiu.
Linc ergueu sua boia vermelha do posto de salva-vidas perto do fogo.
— Lembrem-se das regras — gritou ele. — Entrem, saiam e não
afundem. Tentem não atropelar seus vizinhos — gritou ele. — Em suas
marcas, preparem-se, vão!
Linc e Ty sopraram seus apitos e a multidão avançou. Harper gritou
quando adagas de água gelada picaram suas pernas, mas ela continuou se
movendo. Ela correu até a água chegar no nível da barriga e gritou. Sophie
estava ao lado dela, agitando os braços.
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Ok, fora, fora, fora!
Elas se viraram e se esquivaram do caminho de pessoas que entravam, em
direção à praia arenosa. Elas estavam quase chegando, quando o Papai Noel
com snorkel à sua esquerda tropeçou em uma nadadeira. Ela estendeu a
mão para segurá-lo, mas os dois afundaram.
O frio roubou o fôlego de seu corpo. Seus músculos congelaram
instantaneamente, impedindo-a de alcançar a superfície. Ela se sentiu como
um cubo de gelo flutuando em um mar de água gelada. Mãos fortes
agarraram-na por baixo dos braços e puxaram-na para cima. Harper voltou
à superfície e passou a mão congelada no rosto. O Papai Noel Snorkel
estava de pé e puxando o seu traseiro para fora da água. Linc apareceu ao
lado dela, sorrindo de orelha a orelha.
— Vamos embora, Raio de Sol, antes que seus pés congelem no leito do
lago. — Ele a pegou e a tirou da água. Harper estava com muito frio para se
envergonhar e colocou os braços em volta do pescoço dele, aninhando-se no
calor de sua parte superior do corpo até que ele a depositou ao lado do fogo.
Os arrepios de Harper começaram imediatamente. Uma Sophie de lábios
azuis apareceu com uma fofa e gigante toalha.
— Oh, meu Deus, você afundou — disse ela, examinando o cabelo
molhado de Harper.
— Papai Noel com snorkel me derrubou — disse Harper, com os dentes
batendo.
— Ela vai ficar bem, só precisa se aquecer — Linc anunciou. — Tudo
bem, tire seu suéter.
Harper apertou os braços contra o peito, espremendo a água gelada do
tecido.
— O quê? Não!
— Eu não estou tentando deixar você nua. Ainda — Linc riu. — Você não
vai se aquecer com isso. Então, tire. — Ele apontou para o varal atrás deles,
que já estava cedendo com o peso das roupas molhadas de todos os outros.
Ainda não convencida, Harper balançou a cabeça, até que Linc assumiu e
com suas próprias mãos agarrou a bainha de seu suéter, puxando-o sobre
sua cabeça.
— Droga, Raio de Sol. Alguém deu um pontapé em você. — Ele a virou
de lado e passou a mão pelos hematomas que se desbotavam em suas
costelas e nas costas.
— Tire as mãos. — A ordem estalou como um chicote, e Harper enraizou
no lugar.
Ela não precisava se virar para saber quem disse isso.
Linc tomou seu doce tempo removendo as mãos de sua pele. Harper deu
um passo culpado para trás.
— Garrison — Linc assentiu. — Não achei que você estivesse aqui.
— Obviamente. — Luke puxou Harper para o seu lado. Seu calor a fez
abraçar mais forte. Ela estremeceu contra ele, e ele aumentou o seu aperto.
— Agora vá embora, chefe.
Linc sorriu.
— Eu iria, mas estou aqui para fazer cumprir as regras e, infelizmente,
você está quebrando uma agora. Estou certo, delegado?
Ty, com o braço em volta de Sophie, se colocou entre eles.
— Infelizmente, Luke, ele está certo. Você conhece a regra. — Ele ergueu
o megafone. — Sem espectadores, apenas mergulhadores — ele anunciou
na cara de Luke.
Luke olhou feio para o cunhado, mas era tarde demais. James e Sophie
sorriram quando a multidão começou a cantar.
— No lago! No lago!
Luke parecia que estava pronto para socar Linc e Ty no rosto.
Em vez disso, ele praguejou e soltou Harper.
— Acho que é melhor do que um banho frio — ele murmurou alto o
suficiente para Harper entender as palavras.
Ela apertou os lábios congelados para não rir.
***
Luke tirou as botas de trabalho, e a multidão aplaudiu.
Ele tirou a camiseta e a desceu pela cabeça de Harper, para cobri-la. Seus
seios pareciam que estavam prontos para sair dos pequenos triângulos
brancos de tecido. E se ele estava tendo esses pensamentos, então aquele
idiota do Linc também estava.
Ele desabotoou a calça jeans, e as mulheres na multidão
enlouqueceram. Harper ficou boquiaberta, enquanto Sophie e James riam
como duas hienas. Ele se despiu e ficou apenas com a cueca boxer, grato
por estar usado uma. Desde que Harper se mudou, ele passou mais tempo
tentando domar seu pau duro do que desde o início da puberdade.
Ele puxou Harper para si pela frente da camiseta e deu um beijo forte em
sua boca.
— Ele não tocará em você de novo — ele ordenou antes de seguir para a
água.
Eles o seguiram, aplaudindo e cantando enquanto ele marchava para a
beira da água. Ele fez uma pausa longa o suficiente para levantar o dedo
médio sobre o ombro, antes de mergulhar direto.
A multidão aplaudiu, e Harper juntou-se a eles. Luke saiu da água, gotas
de gelo escorrendo por seu corpo. Ele veio direto para ela e, sem diminuir o
ritmo, levantou-a, prendendo as pernas dela em sua cintura.
— As regras foram mantidas! — Ty anunciou no megafone. — Agora
alguém me faça um s’more.
Harper colocou os braços em volta do pescoço de Luke e deixou que ele a
carregasse para o bar lotado. Ele apertou sua bunda sob a camiseta, e seu
pênis ganhou vida contra ela.
— Como você pode ficar duro, depois de estar na água assim? — ela
sussurrou em seu ouvido.
— Querida, vai ser preciso mais do que um lago congelante para não me
deixar duro.
Ele a soltou e a deixou deslizar por seu corpo, antes de virá-la para ficar
de frente para o bar. Era verdade. Ele havia tentado a segurança da
distância, mas isso só o fez desejá-la mais. Sabia que estava ferrado. Pronto
ou não, ele não conseguia parar o que estava acontecendo entre eles.
Ele sinalizou para Sheila servir duas doses e pressionou-se contra
Harper. Ela sentiu sua ereção contra ela e pressionou de volta. Ele se
inclinou sobre ela, até que seus lábios encontraram seu ouvido.
— Você vai ter que me pegar uma toalha, ou então a cidade inteira verá o
quanto você me deixa duro. — Ele deslizou a mão sobre seu seio, pegando
seu mamilo duro. Harper estremeceu.
— Você parou de me evitar? — ela sussurrou.
Sheila deixou duas doses na frente deles e piscou para Harper antes de
passar a distribuir mais para a multidão.
— Querida, se eu achasse que havia a menor possibilidade de escaparmos
impunes, colocaria meu pau em você aqui e agora. — Ele empurrou seus
quadris contra ela para enfatizar. — Eu quase me convenci a manter minhas
mãos longe de você. E então, eu a vejo naquele biquíni, com as mãos
daquele idiota em você. — A mão dele deslizou para o outro seio.
— Não significou nada, Luke — sussurrou Harper.
— Quando eu tocar em você, vai significar alguma coisa. — Ele apertou
seu seio até que sentiu seu mamilo endurecer contra sua palma. — Agora
tome sua dose para que eu possa te levar para casa e desamarrar cada fio
desse biquíni.
Capítulo 15
Quando eles chegaram em casa, uma tempestade de primavera estava se
formando. Nuvens escuras rugiam no céu e uma forte chuva caiu,
encharcando-os novamente da picape para a casa.
Luke empurrou a porta e puxou Harper para dentro. Ela ainda usava a
camiseta dele enquanto ele usava apenas jeans. O resto de suas roupas
molhadas estava enrolado no saco plástico que ele carregava.
Ela não conseguia parar de olhar para ele no caminho para casa. Os
músculos de seu peito, as tatuagens. Ela estava a minutos de ter rédea solta
para tocar cada centímetro dele. Cada centímetro duro, sólido e esculpido
dele seria dela para tocar e saborear.
Sua mão permaneceu em seu quadril, seu toque queimando-a através do
algodão fino.
— Vou pegar algumas toalhas para nós, ok?
Harper assentiu. Talvez alguns segundos de intervalo a ajudassem a se
recompor. Ela nunca tinha ficado tão nervosa ou tão animada por estar com
alguém. Provavelmente era um erro. Ela cometera muitos, mas nunca quis
tanto cometer um antes.
Se ela não se acalmasse, teria um ataque cardíaco antes que ele a
tocasse. Água. Era disso que ela precisava. Um bom copo de água fria.
Ela correu para a cozinha escura e encheu um copo com água da
torneira. Talvez Luke quisesse uma cerveja. Ela abriu a geladeira e perdeu a
linha de pensamento quando ele entrou na cozinha.
A única iluminação do ambiente vinha da geladeira aberta. Luke a fechou
com um chute e foi em sua direção.
Encurralada contra o L dos armários, Harper não tinha para onde ir. Ele a
prendeu, apoiando as mãos na bancada de cada lado dela. A chuva batia na
janela acima da pia. Era o único som na casa.
Ele se aproximou. Um centímetro de seu rosto. Ela podia sentir a
respiração dele em seu cabelo, seu coração batendo de forma desigual. Isso
iria acontecer. Não havia nada que ela quisesse mais. E isso a assustava.
O e se voou para fora de sua cabeça quando Luke levou as mãos ao rosto
dela. Ele gentilmente empurrou o cabelo dela para trás, sobre os
ombros. Ele pousou a ponta dos dedos na nuca dela. Seus polegares
traçaram suavemente a linha de sua mandíbula, erguendo seu rosto em
direção ao dele.
— Eu não tenho camisinha — ele sussurrou.
— Estou tomando pílula — disse Harper, mudando de posição sob seu
toque.
Ela estava se afogando em seus olhos castanhos. Via necessidade, desejo e
algo mais profundo, como dor, neles. E isso a atingiu direto no
coração. Harper separou os lábios. Era um convite a satisfazer e ser saciada.
Suavemente, com reverência, Luke baixou a boca para a dela.
O trovão retumbou lá fora, na escuridão, e Harper o sentiu viajar através
dela.
Seus lábios eram quentes e macios enquanto se moviam contra os
dela. Ela suspirou e abriu a boca para ele. Ele moveu as mãos para segurar o
rosto dela, mudando o ângulo do beijo. A língua dele encontrou a dela, e
toda a gentileza se foi.
Ele tomou posse de sua boca de novo e de novo, até Harper perder o
fôlego. Suas mãos mergulharam em seu cabelo, tentando puxá-lo para mais
perto. Luke começou fazendo carícias com as mãos até suas coxas e subiu
de volta sob a camiseta até os quadris. Ele a ergueu sem esforço, e ela se viu
empoleirada na beira da bancada, a camisa amontoada em volta dos
quadris. Luke abriu as pernas dela e se colocou entre elas, nunca quebrando
o contato com sua boca.
Ela envolveu as pernas sobre os quadris dele e o puxou para mais perto.
— O que mudou? — ela sussurrou contra sua boca.
— Nada. — Sua voz estava rouca no silêncio da cozinha. — Eu só quero
você mais do que quero ficar longe de você.
Harper sentiu o comprimento duro de seu pau através da calça jeans. Sua
língua percorreu sua boca novamente, enquanto suas mãos subiam pelas
laterais do seu corpo e sob a camisa. Ela se sentiu estremecer quando a
exploração dele parou sob seus seios. Ela gemeu de novo e moveu os
quadris para esfregar seu pau duro contra o tecido úmido da parte de baixo
do biquíni.
Suas palmas ásperas deslizaram para cobrir ambos os seios, e Harper
respirou fundo. Ela queria mais. Tudo o que ele poderia dar a ela.
— Luke, por favor.
Seus polegares roçaram seus mamilos já doloridos, e a cabeça de Harper
caiu para trás contra o armário, quebrando o contato com sua boca.
Ele puxou a camisa até seus ombros, depois sobre a cabeça. Seus olhares
se detiveram enquanto ele puxava as tiras de seu pescoço. As tiras caíram
livres, mas as taças triangulares mantiveram sua posição por um
momento. O arfar de seus seios foi o suficiente para desalojar o tecido, e
enquanto o tecido se separava de sua pele, Harper ouviu algo próximo a um
rosnado subir da garganta de Luke. Ele estava tentando ser gentil, mas
podia sentir a besta pronta para se libertar.
Ela o queria livre. Queria-o selvagem.
Ela se apoiou em um braço e segurou o seio com a outra mão.
— Tome.
Ainda controlado, ele abaixou a cabeça lentamente, os olhos fixos em seu
rosto. Ela sabia que ele a estava questionando, sabia o quão importante o
controle era para ele.
— Tome tudo. — Ela o apertou com mais força com as coxas e se
inclinou para trás, para lhe dar acesso.
Aqueles lábios macios e habilidosos se fecharam sobre seu mamilo, e
Harper sentiu sua respiração sumir. Pequenos músculos delicados
pulsavam, exigindo serem acariciados. Ele gemeu enquanto a
chupava. Puxões fortes que davam tanto prazer quanto um toque de
dor. Sua mão se moveu para segurar seu outro seio. Ela podia sentir sua
ereção contra ela. Ele a queria. Ele precisava dela. Harper estendeu a mão
entre eles, para o cós da calça jeans. Usando os calcanhares, ela empurrou
suas calças e cueca por suas coxas, libertando seu pau duro.
Ela o agarrou com firmeza, e ele gemeu contra seu seio. Olhos fechados,
ele chupou seu mamilo com mais força, sua língua açoitando-o em um
ritmo feroz. Harper sentiu seu outro seio ansiar por sua boca.
Ela o acariciou com força, da base à ponta e de volta. Ele mordeu o
mamilo abusado. Um gemido escapou dela, e Luke soltou seu seio. Seu
mamilo estava rosado, vermelho e enrugado. A ponta se esticava em sua
direção como uma flor seguindo o sol. Ele moveu a boca para o outro pico e
recomeçou o ataque.
Sua língua começou a lamber, endurecendo seu mamilo
instantaneamente. Luke fechou a boca sobre ela e puxou
profundamente. Chupando. Ela nunca tinha sido tocada assim antes. Nunca
me sentira tão necessitada.
Harper sentiu a dor profunda entre suas coxas aumentar. Ela o acariciou
novamente, com mais força desta vez. Movendo a cabeça de seu pau para
que ficasse aninhado entre suas coxas. Era demais, mas ela não conseguia
parar. O calor contundente entre suas pernas e os puxões de sua boca
estavam construindo um orgasmo que ela temia. Isso iria despedaçá-la em
seus braços.
— Luke! Eu não consigo parar.
Foi um sussurro e um apelo. Seu braço apertou ao redor de sua cintura e
ele puxou seu mamilo com os dentes. No segundo que ele começou a
chupar novamente, ela esteve vagamente ciente de um raio de luz através da
janela, e se quebrou em milhões de pedaços. Ela acariciou com força o seu
pau, pressionando-o contra seu centro enquanto gozava e gozava e gozava.
Ele gemeu contra seu seio, ainda chupando, até que a pulsação entre suas
pernas diminuiu. Harper sentiu uma lágrima
escapar. Devastada. Desesperada. Havia muito poder nesta tempestade. Ela
não seria capaz de sobreviver a isso.
Luke se separou de seu seio e voltou para a sua boca. Suas mãos
agarraram seus quadris, e ele a ergueu do balcão. Harper colocou os braços
ao redor de seu pescoço e segurou-o como se sua vida dependesse disso,
enquanto sua língua entrava em sua boca em estocadas rápidas. Suas mãos
apertaram sua bunda, puxando-a contra seu pau, criando uma fricção úmida
que os fez suspirar um contra o outro.
Ele era enorme e estava latejante, e tudo o que Harper queria era ser
preenchida por ele. Seu coração estava batendo forte em seu peito, e ela
lutou para respirar enquanto mergulhava em seu beijo. Sentiu-se sendo
abaixada, e sabia que não iriam para a cama. Os azulejos frios serviriam.
Ela abriu bem as coxas para ele. Luke se afastou de sua boca e se ajoelhou
entre suas pernas. Ele desamarrou um lado da parte inferior do biquíni,
deixando seu pau grosso balançar contra os lábios de seu sexo. Ela elevou
mais os joelhos. Desnudando-se para ele.
Aqueles olhos castanhos estavam olhando para ela, e ela o viu tentando
recuperar o controle.
Quando ele não fez nenhum movimento, ela colocou a mão sobre seu
coração.
— Por favor, Luke.
Seu peito arfou uma vez sob o toque dela e sua mandíbula se apertou. Ele
agarrou seus joelhos, puxando-a para ele. A penetrou com uma força quase
violenta. Harper gritou de dor, de prazer. Ela estava cheia. Finalmente
cheia.
Luke grunhiu e fechou os olhos com força. Puxou e entrou de volta
nela. Ela sentiu seu saco pesado bater contra ela. Uma e outra vez, ele
entrou nela. Os rejuntes do azulejo raspavam suas costas. Ela sentiu um
latejar ao ser alargada cada vez que ele se embainhava nela. Mas não
ligou. Queria mais. Cada impulso, cada centímetro.
Ele a penetrou novamente, com violência mal controlada.
— Estou machucando você? — Ele murmurou as palavras com os dentes
cerrados. Preocupação guerreando com o desejo.
Ela sabia do que ele precisava.
— Sim. Eu quero mais.
Seus olhos escureceram.
— Eu não vou conseguir parar, se eu me soltar.
— Solte.
Ela deu-lhe um pequeno aperto ganancioso ao dizer isso. Seus olhos
ficaram instantaneamente vidrados, e ela soube que ganhara.
Ele entrou nela novamente e novamente, a velocidade acelerando para um
ritmo frenético. Harper sentiu seus seios tremerem a cada impulso. Ele era
impulsionado pela necessidade, e ela estava com ele no percurso. O ritmo
era tão furioso que ela só poderia aguentar o que ele lhe dava. Só podia se
agarrar e aproveitar.
Outro orgasmo estava se construindo dentro dela.
— Luke! — gritou seu nome. Ele mergulhou sobre ela, pressionando-a
contra o chão com seu peso, e continuou a entrar nela, grunhindo com cada
impulso feroz.
Isso a atingiu como um raio. Seu corpo inteiro se eletrizou quando o
orgasmo explodiu ao redor de seu grosso pau. Ele entrou nela, compassando
cada onda com um ritmo violento. Harper enterrou o rosto em seu ombro
nu. Não conseguia nem gritar enquanto as sensações brutais a destruíam.
Ele grunhiu novamente, um som primitivo. Ela sentiu a primeira onda
quente de seu sêmen entrar profundamente dentro dela. As últimas ondas de
seu orgasmo apertaram seu pau no próximo impulso. Ele ficou totalmente
afundado nela, empurrando ao máximo, enquanto gozava uma e outra
vez. E era o nome dela em seus lábios.
Capítulo 16
Eles finalmente conseguiram subir as escadas. Luke a carregou por cima
do ombro escada acima, mas o sono não estava em sua mente. Quando ele a
jogou nos lençóis amarrotados, já estava duro novamente.
Sob qual feitiço ela o prendeu? Estava quebrando as leis da biologia que
ele a quisesse tão ferozmente e tão cedo. Ela ainda estava cheia da prova do
orgasmo que o havia esvaziado de corpo e alma, e tudo o que queria fazer
era preenchê-la novamente. E de novo.
Ele sabia que a tinha machucado. Tinha sido muito rude com ela.
Onde estava seu controle? Enojou-o por ter se deixado levar daquele
jeito. Harper não tinha ideia de que era isso que se escondia sob a
superfície. Ele não tinha o direito de tomá-la assim.
— Eu posso sentir você me encarando — ela murmurou, olhos fechados,
esparramada sobre os lençóis.
Ele beliscou seu quadril.
— Eu não estou encarando. Só estou pensando.
Harper abriu um daqueles olhos cinzas, tempestuosos.
— Você é muito mais divertido quando não está pensando.
— Harper...
Ela tapou lhe a boca com a mão.
— Cale-se. Não estrague este momento para mim, com seu discurso idiota
de “Não podemos fazer isso”.
Ele puxou a mão dela para baixo.
— Para sua informação, não é idiota. Tenho trabalhado isso em um
PowerPoint.
Harper deu uma risadinha e rolou até que estava em cima dele. Seus seios
pressionados contra seu peito, suas coxas acariciando seu pau. Ele
instantaneamente ficou mais duro.
Ela inclinou a cabeça para o lado e passou os dedos preguiçosamente
pelos ombros e peito dele.
— Antes de você me dar qualquer discurso, vou viver a fantasia que tenho
tido desde que acordei e vi seu rosto.
As mãos de Luke deslizaram e seguraram sua bunda. Ele disse a si mesmo
que deveria parar de tocá-la agora, mas seu corpo não estava disposto a
acolher a ideia.
— Que fantasia é essa?
— Eu quero provar cada centímetro do seu corpo perfeito.
Ele ficou duro como pedra, e suas mãos se flexionaram em sua carne.
Ela silenciou qualquer discussão que ele pudesse iniciar com um beijo. A
língua dela deslizou em sua boca, uma provocação gentil. Ele a deixou
assumir o controle. Ela se libertou de sua boca e trilhou um caminho
delicado de beijos em sua mandíbula e garganta. Ela mordiscou a pele de
seu ombro e foi ainda mais para baixo.
Os lábios dela pararam sobre o coração dele.
Harper deslizou mais para baixo, sua língua saboreando seu estômago,
apreciando a sensação de seus músculos tensos tremendo sob seu ataque.
Ela descansou o rosto em sua coxa e passou a mão por sua outra perna,
parando logo abaixo de seu saco pesado. Ele podia sentir a respiração dela
sobre ele, e seu pau se contraiu com a necessidade.
Ele não queria que o gemido escapasse de sua garganta, mas escapou. E
assim que Harper ouviu, ela deu a ele um sorriso malicioso e o tomou em
sua boca. Era o paraíso e uma tortura ao mesmo tempo. A forma como a
boca quente dela envolvia a cabeça de seu pau foi o suficiente para enviá-lo
ao limite.
Ele lutou para se controlar quando ela o levou ao fundo da garganta,
acariciando-o com sua doce boca. Ele sentiu que estava lutando uma
batalha perdida.
— Calma, querida — ele sussurrou.
Ela não ouviu; o agarrou com firmeza e massageou seu comprimento com
a boca e a mão, bombeando-o cada vez mais forte.
Ele estava perigosamente perto, e quando ela usou a outra mão para
segurar suas bolas, ele quase gozou em sua boca bem ali.
— Já chega. — Puxando-a pelos cabelos, ele rolou o corpo para que fosse
Harper quem estivesse presa. — É a minha vez.
Ele demorou-se em seus seios, sugando e saboreando, até que Harper
estava se esfregando contra ele. Ele queria entrar nela, enchê-la e sentir
aquele calor escorregadio envolvendo seu pênis.
Mas, primeiro, ele queria prová-la.
Ele deslizou por seu corpo e separou seus joelhos.
— Querida. — Foi tudo o que ele conseguiu dizer enquanto ela estava
deitada embaixo dele, aberta. Pronta para dar a ele tudo o que quisesse.
Mas era ele quem daria. Ela gemeu no segundo que sua língua sondou
suas dobras suaves. Ele a lambeu e sentiu seu corpo ficar tenso como um
arco. Ele acariciou sua protuberância sensível com a língua e deslizou dois
dedos dentro dela. Ela já estava, ou ainda, molhada, e isso o deixou
louco. A maneira como ela respondia a ele era incrível. Como se tivesse
esperado sua vida inteira para ter suas mãos sobre ela.
Seus dedos empurraram em seu canal apertado, mais rápido. Ele não
conseguia o suficiente. Enterrou a língua em sua carne doce e quente e
flexionou os dedos profundamente dentro dela.
— Luke! — Foi um suspiro.
Ele podia sentir seus pequenos músculos gananciosos se contraírem em
torno de seus dedos.
— Isso mesmo, querida — ele sussurrou contra suas dobras escorregadias.
— Goze nos meus dedos.
Sua língua acariciou a parte mais sensível dela, e os quadris de Harper
balançaram contra sua boca. Ele sentiu os primeiros tremores de sua
liberação apertarem seus dedos.
— Linda.
Ela ainda estava gozando, quando ele substituiu seus dedos por seu
pênis. Ele se afundou nela em uma tentativa desesperada de sentir tudo de
novo. Ela estava tão apertada que precisou se conter para não gozar. Teve
que desacelerar. Ficar sob controle.
Harper ergueu os joelhos mais alto, mudando o ângulo para que pudesse
tomar cada centímetro dolorido dele. Ele a encheu com um impulso
calculado, e ela deu um pequeno gemido sexy.
— Querida, se você continuar fazendo barulhos assim, isso vai acabar
muito cedo — ele a advertiu, entredentes.
Ela não ouviu seu aviso ou não prestou atenção nele, porque um doce
gemido escapou de seus lábios, e isso o fez perder o controle. Ele se
libertou nela. Atingindo o fundo.
— Harper. — O nome dela foi quase um grito quando sentiu o clímax
agitando suas bolas. Seus olhos se abriram, e eles se olharam.
Seus olhos, vidrados de luxúria, se arregalaram assim que ele a sentiu
apertar ao redor dele.
— Luke — ela choramingou seu nome.
Ele aproveitou ao máximo e gozou violentamente dentro dela.
***
— Você está com sono? — ela sussurrou enquanto traçava as linhas em
seu braço e peito.
— Hum — Luke respondeu sem abrir os olhos.
— Você se sente como eu?
— Como você se sente, meu bem? — Ele rolou, puxando-a de volta
contra ele e acariciando seu cabelo.
— Eu não sei. — Ela suspirou, feliz, e se aconchegou mais. — Como se
fosse manhã de Natal e tudo o que eu sempre quis estivesse debaixo da
árvore.
— Eh, foi ok. Talvez mais como uma cesta de Páscoa ou um belo
piquenique no Dia do Trabalho.
Seu suspiro indignado foi seguido por uma cotovelada no estômago.
Ele passou os braços ao redor dela com mais força, sua risada suave
contra o ouvido. Aquecia seu coração ouvi-lo rir. Ela não ouvia o som com
frequência.
— Não houve nada de ok nisso! Nem finja que não sentiu a terra tremer,
idiota.
Ele riu novamente, um estrondo silencioso em seu peito.
— Eu quero ouvir você dizer isso, Luke.
Ele a colocou de costas, presa embaixo dele em menos de um segundo.
Ele emoldurou o rosto dela com as mãos.
— Querida, você e eu sabemos que foi algo especial. Mas não estou
surpreso. Soube, desde o segundo que te vi, no momento em que você abriu
esses lindos olhos cinzentos e olhou para mim, que eu precisava estar
dentro de você.
Ele puxou a mão dela até sua boca e deu um beijo em sua palma.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas você está na minha
cabeça e no meu sangue. Não tinha como não acontecer.
— Então por que você lutou contra isso?
Ele suspirou.
— Você não faz parte do plano. Você, seu corpo perfeito e esse sorriso
doce. Aqueles pequenos gemidos sensuais que você faz e me deixam tão
duro. Você é uma linda e caótica distração. Eu não gosto de me distrair.
Harper não tinha certeza se deveria se sentir lisonjeada ou ofendida, mas o
calor que inundou seu peito a fez se decidir.
— Você foi muito bom também — disse ela com um sorriso satisfeito. Ele
a beliscou, e ela gritou. — Então, só para ficar claro, como vamos passar o
resto do nosso mês? — ela perguntou.
Ele se abaixou até ela, os lábios pairando sobre os dela.
— Passar o máximo de tempo possível exatamente assim.
***
Como o que parecia ser seu novo hábito, Harper acordou envolta nos
braços de Luke. Mas, desta vez, ela não fez nenhum movimento para se
libertar. Em vez disso, se aconchegou mais profundamente, enterrando seu
sorriso sonolento na curva de seu braço. Ela podia dizer, pela luz que
filtrava através das janelas, que ainda era muito cedo para pensar em se
levantar. Seria necessário algo como um alerta vermelho para tirá-la dos
braços de Luke.
Ele se mexeu, acariciando seu cabelo.
— O sol está nascendo.
— Hum, bom dia.
Luke afastou o cabelo dela para trás e deu um beijo suave em seu
pescoço.
— Esta deve ser a melhor maneira já inventada de acordar — Harper
suspirou.
Sua risada foi suave.
— Odeio sair desta cama, mas tenho uma reunião mais cedo e quero
correr primeiro.
—Você é um adulto — Harper suspirou. — Eu provavelmente deveria me
levantar e pagar impostos ou limpar as calhas ou algo assim.
— Você fica aqui. Eu preciso que você descanse, para quando eu voltar
para casa esta tarde.
— Eu gosto de como isso soa.
Luke deu um beijo em seu ombro e deslizou para fora da cama.
— Durma um pouco mais, Raio de Sol.
Ela rolou e enterrou o rosto em seu travesseiro.
Harper não soube quanto tempo dormiu, antes de ser acordada por algo
que caiu em sua bunda com um baque sólido.
— Hummm. — Ela se virou e olhou para Luke com os olhos
apertados. Ele deixou cair um jornal na frente dela.
— Por que você está jogando notícias para mim?
— Porque você está nelas. — Ele ficou parado, com as mãos na cintura,
ao lado da cama.
Harper se sentou e abriu o jornal. Era a cobertura de primeira página do
Mergulho Não Tão Polar. Ela começava com uma imagem muito grande
dela sendo carregada para fora da água nos braços de Linc.
— Oh, droga.
— Sim. Isso não acontecerá novamente.
— Quase me afogar? Ou eu sendo carregada por um bombeiro forte?
Luke não riu. Ele cruzou os braços sobre o peito coberto por uma
camiseta suada.
— Você realmente não gosta dele, não é?
— Ele é um idiota. E não gosto das mãos de nenhum homem em você.
— Você está ficando territorial? Não vai fazer xixi em mim, vai? Porque
eu não iria gostar disso.
— Quando você está dormindo comigo, está dormindo apenas comigo.
Ela estendeu o braço e agarrou um punhado de sua camisa, puxando-o
para ela.
— Acontece que tenho a mesma regra. Então, digo o mesmo, Capitão.
Ele puxou o lençol para baixo e espalmou seu seio.
— Só para estarmos na mesma página. — Sua boca se fechou sobre a
dela, forçando sua cabeça para trás.
Quando ela gemeu, ele praguejou e se afastou.
— Droga, Harper. Você está tornando muito difícil eu ir para o trabalho.
Ela estendeu a mão para segurá-lo através do short.
— Sim, sim, eu estou.
Capítulo 17
Ela se esqueceu dos convidados do jantar, até que Gloria mandou uma
mensagem na segunda de manhã, perguntando se poderia levar mais alguma
coisa, além da torta de maçã. Harper entrou furtivamente no escritório de
Luke para dar a notícia.
— Ei. Quer almoçar? — ele perguntou, olhando por cima do monitor.
— Uh, sim, claro. Mas esqueci de dizer que vamos receber Gloria e Aldo
para jantar, esta noite.
Ele a olhou por um momento.
— Quando isso aconteceu? — ele perguntou.
— Sábado. Os dois passaram por lá, e esqueci de mencionar porque você
estava todo nu e me distraía, acabei de lembrar. De qualquer forma, vai ser
divertido, e Aldo disse que traria hambúrgueres e cachorros-quentes, e
Gloria vai trazer torta de maçã, então tudo que temos que fazer são alguns
acompanhamentos.
Luke suspirou e esfregou as mãos no rosto.
— Olha, eu não te conheço bem o suficiente para saber se está bravo ou
não. Então, se está bravo e não me diz, a culpa é sua, e provavelmente vou
continuar fazendo isso várias vezes, e irritando você todos os dias, sem
saber — Harper disse, torcendo as mãos.
— Eu não estou bravo. Estou… incomodado.
— A maneira como você falou, me faz pensar que não há diferença.
— Onde eles vão se sentar? Não tem móveis!
— Os dois já estiveram na sua casa antes, então não acho que estão
esperando que alguma mobília apareça magicamente.
Ele praguejou baixinho e se levantou da cadeira.
— Pegue sua bolsa e entre na picape.
— Para onde vamos?
— Comprar a porra dos móveis.
***
Seu humor não havia melhorado muito quando chegaram à loja. Ele havia
planejado persuadir Harper a sair mais cedo do trabalho, para passar a noite
inteira na cama. Em vez disso, ele foi emboscado em um jantar
estúpido. Estava tentando ficar com raiva dela, mas sabia que era sua
própria culpa. Foi ele quem concordou em deixá-la morar lá. E era ele que
tinha amigos intrometidos e que nunca se preocupou em comprar um
maldito sofá ou a porra de uma mesa.
Odiava fazer compras, mas era hora de pagar o preço.
— Oi, Luke! — Uma ruiva alegre, vestida com um terno azul royal,
cruzou o piso de ladrilhos brilhantes da loja de móveis. — Você deve ser
Harper — disse ela, acenando alegremente.
Luke revirou os olhos e enfiou os óculos de sol na gola da camiseta. Só
uma vez, seria bom ser anônimo nessa cidade.
— Harper, esta é Becky. Estudamos juntos no ensino médio. Becky, esta é
minha namorada, Harper.
Ele sabia que as últimas palavras saíram meio estranguladas, mas era o
menor dos problemas. A mãe dele tentou armar um encontro para ele e
Becky dois anos atrás, e ela aceitou de bom humor a sua rejeição, mas ele
se sentiu um pouco culpado. Felizmente, ela se casou com Bob, da Bob’s
Fine Furnishings.
— O que posso mostrar a vocês dois hoje?
Harper olhou para Luke e sorriu.
Ele suspirou.
— Precisamos de móveis para sala de estar e uma mesa de jantar. Para
hoje.
— Ótimo! Vamos começar. — Becky se virou e começou a abrir caminho
pelas mesinhas e poltronas reclináveis de couro.
Ele agarrou a mão de Harper e arrastou-a atrás de Becky.
Luke escolheu um sofá, uma namoradeira, duas poltronas, uma mesa de
centro e mesinhas de cabeceira combinando; um rack, quatro estantes feitas
à mão, que ficariam muito bem na segunda sala, que ele planejou
transformar em escritório, e uma mesa de jantar com oito malditas cadeiras.
A única diversão que teve com a viagem foi ver Harper ficar pálida a cada
vez que ele dizia a Becky para acrescentar algo à conta.
— Luke, você tem certeza de que precisamos de tudo isso? — ela
sussurrou enquanto Becky discutia os benefícios da impermeabilização dos
estofados.
— Foi você que convidou as pessoas sem termos lugar para nos sentar. É
melhor acabar com isso logo. — Ele passou um braço em volta do ombro
dela. — Você não queria móveis?
— É muito dinheiro — ela sibilou.
— Você viu as contas. Eu estou bem.
— Ainda não li tudo, e parece um grande investimento para apenas um
churrasco.
— Churrasco? — Luke praguejou. — Agora precisamos de uma maldita
mesa de piquenique.
Enquanto Becky fazia a nota da maior venda de sua carreira, Luke
esfregava os ombros de Harper. Ele sorriu com a tensão que sentiu
ali. Talvez fosse a hora de ter pena dela.
— Eu não estou bravo com você… não mais — ele murmurou em seu
ouvido.
Ela se recostou nele e ergueu os olhos.
— Eu ainda sinto muito. Não foi muito gentil da minha parte convidar
pessoas para sua casa sem falar com você.
— Talvez não seja tão horrível.
Harper sorriu.
— Vai ter cerveja, hambúrguer e salada de batata, se pudermos parar no
supermercado a caminho de casa.
— Mais compras? Sem comentários.
— Eu estava pensando. Agora que terá um sofá em casa, você poderia
ficar com a sua cama só para você, se quisesse.
Luke a beliscou.
— Querida, depois de ontem à noite, você tem sorte se eu deixar você sair
do quarto pelo resto do mês.
Ele podia ver o rubor descendo pelo pescoço dela.
Harper se virou e colocou os braços em volta do pescoço dele.
— Sabe, Gloria vai trazer torta de maçã caseira. Podemos comprar sorvete
de baunilha e calda de caramelo para acompanhar… ou para depois. — Ela
sorriu maliciosamente.
Talvez não fosse tão horrível, afinal.
Ele escondeu o sorriso com um suspiro.
— Você também pode encontrar algum tipo de mesa para o café da manhã
enquanto estivermos aqui, porque nunca mais voltaremos — sussurrou ele
para Harper.
Ela gentilmente saiu correndo com Becky a reboque, enquanto o próprio
Bob se apresentava para finalizar a compra.
— Você está pronto para voltar, filho?
Bob era vinte anos mais velho e se aposentou de uma carreira de trinta
anos na Guarda Nacional, antes de enfrentar o mundo da decoração.
— Sim, senhor.
— Dizem que você é um líder forte — disse ele, olhando por cima dos
óculos de leitura.
— Obrigado, senhor.
— Obrigado pelo seu serviço, filho. Esta é a primeira missão dela? — Ele
acenou com a cabeça para Harper e Becky, que estavam conversando,
olhando uma mesa da altura de um bar.
— É.
— Acha que ela vai aguentar?
— Aquela garota pode sobreviver a qualquer coisa. — Ela já sobreviveu e
iria lidar com a sua partida. E lidaria com o começo de uma nova vida, mais
uma vez.
***
O fogo na fogueira crepitava, lançando um brilho quente e bruxuleante ao
redor do quintal. Luke mudou de posição na nova cadeira Adirondack de
madeira.
Bob tinha adicionado quatro cadeiras com a compra da mesa de
piquenique e o resto da mobília. Assim que o cartão de crédito de Luke foi
liberado, Bob carregou tudo em uma picape e o entregou. Eles só tiveram
tempo de colocar tudo em ordem, cortar as etiquetas e colocar a salada de
batata e a macarrão nas tigelas antes que Aldo e Glória chegassem.
Aldo, o espertinho, acusou Luke de montar um ninho, agora que
finalmente convenceu uma mulher a tolerá-lo. Luke não achou graça da
piada, mas Harper deu uma boa risada.
Ela riu bastante, e era um som que o aquecia e que o fez perceber o quão
quieta sua vida havia se tornado. E que também o fez se perguntar por que
valorizava tanto o silêncio.
Tomou um gole de cerveja e a observou através das chamas, enquanto ela
e Gloria tentavam torrar marshmallows. A luz do fogo dourado dançava em
seu cabelo. Ela era linda e aquele sorriso, sua risada contagiante, apertava
algo bem lá fundo. Algo que se enraizava e tomava posse.
— Ei, garoto apaixonado, se você já cansou de olhar com essa cara
sonhadora para sua garota, minha garrafa está vazia. — Aldo balançou a
garrafa de cerveja. — É a sua vez de bancar o anfitrião.
Luke se levantou e pegou a garrafa de Aldo, antes de inclinar a cadeira de
seu amigo para o lado e jogá-lo no chão.
— Claro, sem problemas. Senhoras, querem que eu pegue alguma coisa?
Harper deu um pulo.
— Vou te ajudar — ela disse.
— Eu acho que consigo carregar algumas cervejas sozinho — Luke
brincou, segurando a porta de trás para ela. — Ou você está apenas tentando
me pegar sozinho?
Harper roçou nele quando passou.
— Sou multitarefa.
Ele fechou a porta com um pouco mais de força do que pretendia, na
pressa de colocar as mãos nela. Harper passou o dedo pelo peito dele até o
estômago. Ele estava duro antes mesmo que ela deslizasse para o topo de
sua calça jeans.
— Vou ajudar você a carregar cervejas, aproveitar um momento sozinhos,
e deixar Gloria e Aldo conversarem. — Ela afundou os dedos em sua
cintura.
— Não comece algo que você não pode terminar agora, querida — ele
avisou.
Harper deixou que ele a encostasse na geladeira. Viu a ansiedade nos
olhos dela e se perguntou se o mesmo estava refletido nos dele. Suas mãos
deslizaram sob seu moletom, os dedos correndo sobre a pele
impossivelmente macia. Sua boca pairou sobre a dela.
— As luzes estão acesas. Eles podem nos ver — sussurrou Harper. Os
olhos dela se fecharam, e ele sabia que ela o deixaria fazer qualquer coisa,
independente da audiência.
Sem dizer nada, ele a arrastou para a sala de jantar escura e quase
tropeçou na mesa que se esquecera de ter comprado. Ele a prendeu entre os
braços, contra a mesa.
— Acho que ganhei um beijo por esta noite.
Ele leu a luxúria quente em seu olhar.
— Acho que podemos começar com um beijo — disse ela, em um
sussurro ofegante.
Luke ficou onde estava e a deixou agir.
Ela colocou os braços em volta do seu pescoço e apertou-se contra ele, os
seios esfregando suavemente contra seu peito. Ela lentamente fechou a
distância entre seus lábios.
Ele estava determinado a manter isso divertido, suave. Mas assim que ela
mordeu seu lábio inferior, toda gentileza foi esquecida. Ele rosnou quando
ela chupou sua boca.
Luke agarrou a mão dela e a pressionou contra sua ereção.
— Livre-se deles, meu bem.
Ela riu contra sua boca, e ele quase a tomou na mesa. A maneira como ela
respondia a ele o deixava cada vez mais perto do limite.
Depois de outro beijo ardente, ele tirou as mãos dela de cima dele e deu
um passo para trás.
Ele suspirou.
— É melhor voltarmos para lá.
Harper lambeu seu lábio e suspirou.
— De quem foi a ideia de receber pessoas esta noite?
Ele deu um tapa na bunda dela e colocou as mãos em seus ombros. Ela
cheirava a luz do sol e fogo. Ele a guiou de volta para a cozinha.
— Se você terminou de me atacar, vou pegar as cervejas.
— Não pretendo terminar de atacá-lo tão cedo, Capitão. — Ela piscou
antes de espiar pela janela. Aldo ocupava a cadeira que ela desocupou e
estava sentado ao lado de Glória. Harper sorriu.
— Por que você está parecendo tão presunçosa? — Luke exigiu, vindo
por trás dela.
— Só estou espionando Aldo, para ver se ele teve coragem de dizer a
Gloria o quanto gosta dela.
— Aldo e Gloria? — Luke bufou. — Querida, o dia em que Aldo sossegar
é o dia em que o inferno congelará, os porcos voarão e eu me tornarei
vegetariano. Não tenha muitas esperanças.
— Vou aceitar essa aposta.
Luke deu um beijo em seu pescoço.
— Combinado. Quando Aldo e Glória se casarem, vou virar vegetariano.
Capítulo 18
Os convidados saíram tarde naquela noite, com Luke praticamente os
empurrando porta afora. Aldo estava na varanda da frente, oferecendo uma
carona para Glória, quando Luke fechou e trancou a porta da frente.
Harper estremeceu com o pensamento de que ele queria tanto tê-la
sozinha. Luke a empurrou contra a porta e a beijou com um calor que a
queimou.
— Vamos limpar a cozinha amanhã — ele decidiu.
Harper assentiu.
— Definitivamente.
— Chuveiro?
— Sim, por favor.
Ele a arrastou, rindo, escada acima até o banheiro, e abriu a torneira.
Luke puxou a camisa pela cabeça enquanto Harper fingia não
assistir. Quando ele deslizou a calça jeans por suas coxas musculosas, ela
umedeceu os lábios. Sua cueca agarrava-se à protuberância entre as pernas.
— O quê? — Ele demandou.
— Eu só estava me perguntando como é fisicamente possível para um ser
humano ser tão perfeitamente esculpido. — Ela deu um passo à frente, para
arrastar os dedos sobre o peito dele.
Luke sorriu e interrompeu o movimento da mão dela em sua pele.
— Eu estava me perguntando como é fisicamente possível você ainda
estar com todas as suas roupas.
Harper tirou o moletom e o jogou para ele. Seu short veio a seguir. No
segundo em que seu sutiã caiu no chão, Luke a estava arrastando para a
água fumegante.
Eles se acariciaram e brincaram, espalhando beijos molhados na pele
escorregadia.
Luke se moveu para trás dela e colocou o shampoo em sua mão. Harper o
deixou passar seus dedos fortes por seu cabelo, sob o jato de água.
Ele ergueu as mechas molhadas de suas costas, os lábios roçando sua
nuca. Arrepios surgiram mesmo com o calor da água.
Ela se virou em seus braços, deixando a cascata de água descer por suas
costas.
— Minha vez — ela disse, mordendo seu lábio inferior com os dentes.
Ele a deixou ensaboá-lo com o sabonete líquido. Harper demorou,
passando as mãos em seu peito e estômago. Seu pau se contraiu quanto
mais perto suas mãos chegavam. Ele baixou a testa para a dela.
— Meu bem, você me deixa louco.
Harper agarrou seu comprimento com a mão ensaboada.
— Vire. Coloque as mãos na parede — sussurrou ela.
Ele hesitou, e ela deslizou as mãos para baixo, para segurar seu pesado
saco.
— Por favor, Luke?
Quando ele finalmente fez o que ela pediu, ela caiu de joelhos sob o jato
do chuveiro.
— Harper.
Ela não se incomodou em esconder seu sorriso triunfante, antes de tomá-
lo na boca.
Luke praguejou e Harper deslizou os lábios ainda mais para baixo em seu
pau. Descansando as mãos em suas coxas, ela podia sentir a tensão
percorrendo seu corpo.
Ela gemeu e o sentiu ficar mais duro instantaneamente. Seus quadris
flexionaram, forçando-o mais fundo em sua boca. De novo e de novo. Ela
ansiosamente encontrou suas estocadas curtas e rápidas.
— Meu Deus, Harper.
Ele a agarrou pelos braços e a puxou para fora do chuveiro.
— Eu não quero gozar agora.
Pulando a parte da toalha, ele a pressionou contra a pia e usou o joelho
para abrir mais as pernas dela. Ele estendeu a mão e limpou o vapor de uma
parte do espelho.
— Eu quero ver você — disse ele, movendo os lábios contra a orelha dela,
os olhos nunca saindo dos dela no reflexo.
Ela estremeceu contra ele.
— Confie em mim.
Harper assentiu. Ela confiava. Algo bem dentro dela o reconhecia. O
conhecia.
Luke deslizou a mão lentamente por sua espinha, seguindo o rastro de
água de seu cabelo molhado, até a fenda entre sua bunda. Seus dedos
traçaram levemente o caminho da água, deslizando sobre seu ânus. Ela
ficou tensa.
— Eu nunca...
— Coloque as mãos no balcão. — Ele estendeu a mão e tirou mais água
de seu cabelo, e ela o sentiu escorrer pelas costas e pelas nádegas. Harper
fechou os olhos enquanto sua mão mais uma vez seguia a água.
— Abra seus olhos, querida — ele disse isso tão suavemente, tão
docemente, que Harper não conseguiu desobedecer.
Luke estendeu a mão para a frente, e ele segurou seu sexo, os dedos
pressionando seus lábios.
— Eu posso sentir o quanto está molhada para mim.
Seus dedos a abriram e encontraram o clitóris. Ele esfregou suavemente
com as pontas dos dedos. Um movimento circular suave.
Harper sentiu o calor se acumular entre suas pernas, o peso familiar no
seu ventre. Ela não tinha controle quando estava com ele. Sempre estava
molhada.
O olhar de Luke seguiu as trilhas de água de seu cabelo, enquanto faziam
um caminho preguiçoso para seu mamilo antes de pingar e pingar.
Com a outra mão, ele pegou uma das mãos dela e levou-a ao seio. Harper
apertou, e ela o ouviu exalar. Seus dedos ocupados pressionaram contra ela
em aprovação. Harper segurou seu seio e tentou se concentrar nos olhos de
Luke no espelho.
Ele estava ferozmente no controle, mas ainda explorando. Ela se
perguntou o quão longe ele iria. Até onde ela o deixaria ir.
Observando-a, Luke enfiou um dedo dentro dela. Harper sentiu seus
joelhos cederem, e ela se chocou contra ele. Seu pênis esfregava em seu
traseiro. Ele agarrou seu comprimento e bateu levemente contra suas costas.
Harper gemeu e moveu os dedos para puxar suavemente o mamilo. Luke
retirou o dedo e o substituiu por dois. Ele se inclinou sobre ela,
pressionando-a para frente, e ela teve que levar as duas mãos ao balcão para
firmá-los.
Luke alcançou seu outro seio, esfregando o polegar sobre seu mamilo
tenso. Tudo o que ele fazia com ela parecia, ao mesmo tempo, o paraíso e
uma tortura. Colocando os dedos totalmente dentro dela, ele os dobrou em
seguida.
— Eu vou assistir você gozar. — Ele sussurrou contra o cabelo dela.
Como se ela estivesse sob um feitiço, seu corpo obedeceu. Ele enfiou os
dedos nela novamente, e ela estremeceu, já no limite. Ele apertou seu seio e
pressionou seu pau contra sua fenda. Ela se sentiu apertar em torno de seus
dedos, enquanto a outra mão puxava seu mamilo. Harper caiu para a frente,
na pia, e deixou que as doces ondas a levassem.
Os olhos de Luke nunca deixaram os dela, e neles estava a posse.
Ela sentiu o último orgasmo deslizar por ela e se preparou, recuperando o
fôlego.
— Jesus, Luke — ela sussurrou sobre seu pulso acelerado. Seu corpo
parecia ter sido projetado para ele.
Ele retirou os dedos e os ergueu para ela. Ela podia ver a umidade neles, e
corou. Era um prazer sombrio.
Luke se recostou, ainda segurando seu seio, e moveu a mão para a parte
inferior das costas dela. Ela sentiu seu polegar pressionar contra o topo de
sua fenda, antes que seus dedos molhados viajassem ainda mais para baixo.
Ela respirou fundo quando os dedos dele encontraram seu ânus. Nunca
tinha sido tocada assim antes. Nunca esteve tão vulnerável. Luke fez uma
pausa, aplicando uma leve pressão com o dedo. Harper sentiu uma
necessidade, que nunca tinha conhecido, começar a crescer. Ela pressionou
suas costas contra ele, testando a sensação.
Ele sorriu sombriamente para o espelho e puxou seu mamilo
novamente. Rolando entre o indicador e o polegar, ele imitou os puxões de
sua boca sobre ele. Os lábios de Harper se separaram, e ela o sentiu
deslocar o peso do corpo. Seus dedos, muito lentamente, violaram sua
abertura, e ela arfou. Parecia errado. Parecia bom.
Ela podia ver a tensão em sua mandíbula, pelo espelho, e sabia que ele
estava lutando para se conter. Harper se moveu contra ele, incitando-o a ir
mais fundo. Lentamente, ele entrou em seu buraco, enchendo-a. Ele
estendeu a mão para o outro seio, esfregando a palma preguiçosamente
sobre o mamilo.
Seus dedos se retiraram e enfiaram uma e outra vez. Um ritmo lento e
intenso. Ela se sentia flexionar em direção a ele cada vez que ele se
retirava. Ela podia sentir a umidade se acumulando entre suas coxas e se
misturando com a água em sua pele.
Isso não era saudável, ter seu corpo precisando dele dessa forma.
Ele retirou os dedos, e ela o sentiu agarrar seu pau.
Luke deslizou a cabeça arredondada de seu pênis entre as pernas dela,
sondando suavemente. Ela encontrou seu olhar no espelho. Sua respiração
estava superficial. Ela engoliu em seco, desesperada para ser preenchida.
Ela sentiu a pressão quando sua larga cabeça violou seu sexo. Sentiu o
suspiro escapar de seus pulmões quando ele a invadiu. A cabeça de Harper
pendeu, mas ela nunca tirou os olhos dos dele no espelho. Esses olhos avelã
fixos nela, vendo cada canto de sua alma sombria. Ela estava exposta,
possuída.
— Luke — ela sussurrou. Tentou pressionar contra ele. Fazê-lo se mover.
Ele segurou seus quadris com as mãos ásperas. E permaneceram assim
pelo que pareceu uma eternidade. Ele puxou levemente, e Harper gemeu.
Foi todo o encorajamento que ele precisava para se enterrar nela. Ela gritou
em triunfo. Luke trouxe uma mão para provocar os lábios de seu sexo
separados.
Ele a preencheu de uma forma que nenhum homem jamais fez.
Ela não conseguiu recuperar o fôlego quando ele começou a se
mover. Seus dedos provocaram um ponto doce, e seu pau a esticava ao
máximo. Algo estava crescendo dentro dela. Era um prazer tão imponente,
ela sabia que não poderia sobreviver a isso.
Harper podia ver o suor se formando em sua testa, seu olhar ainda ardente
sobre ela. As estocadas estavam mais rápidas agora, e ele dava um gemido
baixo em cada uma. Ele gozaria. O simples fato de saber isso abriu uma
rachadura em sua parede. Luke segurou seu seio novamente, puxando seu
mamilo duro.
Aconteceu em um instante. A parede quebrou dentro dela no momento em
que Harper sentiu o primeiro estremecimento de liberação de Luke. Ele se
soltou dentro dela. Ela apertou seu pau e implodiu em um orgasmo
poderoso. Luke largou seu seio e agarrou seu queixo com a mão,
observando-a enquanto os dois desmoronavam.
***
— Onde você conseguiu isso? — Luke perguntou, preguiçosamente
correndo os dedos sobre as cicatrizes gêmeas no alto de seu quadril.
Harper estava deitada sobre ele, os dois nus na cama, em um coma pós-
orgástico. Ela encolheu os ombros e enterrou o rosto no peito dele. Ele a
colocou no colchão e se sentou.
Harper se aninhou com o rosto no travesseiro e o ignorou enquanto ele
estudava sua pele.
— Harper. — Ele cutucou sua nádega.
— Hum.
— Harper Sue Ellen Wilde.
Ela rolou para o lado.
— Esse, definitivamente, não é meu nome do meio.
— Não sei seu nome do meio, então tive que inventar um.
— Então você escolheu Sue Ellen?
— Pareceu se encaixar bem.
— É Lee, na verdade.
— Pais fãs de O Sol é Para Todos?
— Muito bem. — Ela arqueou uma sobrancelha.
— Não sou apenas um rosto bonito.
O olhar de Harper percorreu seu corpo nu.
— Oh, isso eu percebi.
— Ei, eu não sou um pedaço de carne, e fiz uma pergunta a você.
Harper suspirou e se apoiou no cotovelo.
— Por que você quer saber?
— Porque se parecem com queimaduras de cigarro.
— Bom olho.
Seu sangue congelou em um piscar de olhos.
— Quem fez isso? Foi aquele idiota do Ted?
Ela revirou os olhos.
— Não, não foi Ted. Foi há muito tempo. Não importa quem foi.
— O inferno que não. Alguém te queimou com a porra de um cigarro e
você está me dizendo que isso não importa?
Harper se sentou.
— Eu realmente não gosto de falar sobre isso.
— E eu não me importo. Diga quem fez isso.
Ele viu o tique no pequeno músculo da sua mandíbula e tentou
relaxar. Gritar com ela não era exatamente uma maneira inteligente de fazer
uma mulher se abrir. Ele estendeu a mão e apertou seu ombro.
— Querida, você pode confiar em mim.
— Por que isso importa tanto?
Porque você é importante. Ele parou o pensamento antes que se
transformasse em palavras. Palavras que não podiam ser retiradas. Merda.
— Não gosto de sentir que você está escondendo algo de mim. — Ele era
um hipócrita.
— Não estou escondendo nada, Luke. É apenas algo que nunca disse a
ninguém.
— Diga-me o que aconteceu.
Ela suspirou, e ele sabia que tinha vencido.
— Quando estava em um lar adotivo, eu morava com uma família muito
legal. Uma mãe, um pai, dois irmãos. Achei que eles poderiam me
adotar. Foi ótimo, até que engravidaram novamente e receberam uma oferta
de trabalho do outro lado do país. Fui transferida para outra casa. Essa nova
família não era tão boa.
Luke deitou-se na cama e puxou-a para o seu lado. Ele acariciou a pele
lisa de suas costas enquanto ela falava.
— Era um casal mais velho e tinha muitas crianças na casa. Alguns
adotivos, outros não. Eles estavam sempre gritando, as crianças sujas,
nunca havia comida suficiente.
Luke podia sentir sua frequência cardíaca aumentar e se forçou a manter o
toque suave.
— Depois de passar uma semana lá, a mãe foi embora e as coisas ficaram
feias rápido. O homem tinha um temperamento desagradável,
especialmente quando bebia. Em todos os dias de pagamento, todos nós
fazíamos tudo que pudéssemos para ficar fora do caminho dele. Mas
alguém sempre era notado. E uma ou duas vezes, fui eu.
Luke se sentiu mal do estômago.
— Quantos anos você tinha?
— Eu tinha doze anos. Era a mais velha da casa.
— Ele alguma vez fez alguma coisa... — Luke não conseguia pronunciar
as palavras sem se engasgar com elas.
— Sexual? Não, apenas abuso físico comum.
— O que aconteceu com ele?
— Cadeia.
— Ele ainda está lá? É algum tipo de ameaça para você?
— Ele ainda está lá.
Ele beijou o topo de sua cabeça e a abraçou, forçando-se a ser gentil,
quando a raiva pulsando em suas veias queria destruir algo.
— Obrigado por me contar, Harper.
Quando ela não respondeu, ele ergueu seu queixo.
— Eu sinto muito. Odeio que tenha acontecido isso com você.
— Eu também. Vamos falar sobre algo menos deprimente. Tipo, talvez
outro banho?
Capítulo 19
Faltam duas semanas…
Harper temia que sua confissão a Luke o fizesse vê-la como uma
mercadoria danificada ou, pior, que sentisse pena dela. No entanto, nada
diminuiu a necessidade um do outro. Eles passavam mais tempo na cama do
que fora dela. Ela esperava que a intensidade diminuísse, que não sofresse
tanto com a necessidade de tê-lo dentro dela. Que se acostumasse com a
visão de seu corpo nu. Não sentisse aquele aperto no peito quando ele dizia
seu nome.
Talvez fosse o fato de o seu tempo juntos estar acabando que alimentava a
intensidade. Seja lá o que fosse, sempre a deixava sem fôlego.
Ela observou Luke enquanto ele arrumava perfeitamente os preparativos
para sua partida. No trabalho, Frank e Charlie assumiriam tudo na ausência
de Luke. Eles já tinham feito isso antes, e Luke confiava nos dois.
Em casa, Luke contaria com James para manutenção e check-ins da
propriedade. Seu irmão também tinha acesso às contas de Luke e se
certificaria de que tudo seria pago. Enquanto Luke checava as contas no
débito automático, trocava o óleo da picape e do carro dela, e verificava o
nível do tanque de propano, Harper começou uma lista de coisas que
precisava fazer antes de partir.
Ela e Beth trabalharam longas horas, tentando colocar tudo no escritório
em dia e organizando a papelada.
— Graças a Deus você está aqui — Beth bufou enquanto puxava uma
enorme pilha de papéis para o triturador. — Caso contrário, eu teria ficado
arquivando toda essa porcaria.
Harper cambaleou atrás dela sob o peso de sua própria carga.
— Scanners. — Ela arquejou. — Melhor invenção de todos os tempos.
Com as duas trabalhando, conseguiram digitalizar os últimos oito meses
de papelada e faturas em um sistema online, cujo backup era diário. Daqui
para frente, toda a papelada seria feita eletronicamente e armazenada no
sistema. Mas isso ainda deixava todos os registros antigos da Garrison em
papel.
— Acho que deveríamos contratar um estagiário neste verão, para fazer
toda a digitalização e trituração. — Sem cerimônia, Beth soltou os papéis
em uma pilha, ao lado do triturador. — E para lavar nossos carros e pegar
nossos almoços.
Harper sentiu uma pequena pontada ao perceber que não estaria realmente
aqui neste verão. Quem saberia onde iria parar? Já havia passado da hora de
abordar o assunto com Luke.
Com apenas duas semanas até ele partir em serviço, ela precisava traçar
uma estratégia para uma saída elegante. Tinha toda a intenção de usar este
mês para arrumar o currículo e procurar emprego, mas passara a maior parte
do tempo trabalhando ou ficando nua.
Não sentia muito remorso por suas prioridades. No entanto, ela estava
perigosamente perto de se deixar levar por seu falso romance. Uma pequena
dose de realidade, por mais dolorosa que fosse, era um lembrete saudável
de onde precisava se concentrar.
Culpada, Harper pensou sobre o punhado de e-mails que sua amiga
Hannah lhe enviara, com ofertas de emprego em Fremont, que ela ainda não
tinha aberto.
Graças ao generoso salário que Luke estava lhe pagando e ao fato de ele
se recusar a deixá-la pagar o aluguel ou qualquer coisa da casa, sua
poupança estava sendo reconstruída e ela teria bastante para um depósito de
segurança e aluguel de um novo apartamento. E ainda teria um pouco de
sobra para alguns móveis.
Um pequeno lugar só dela seria uma boa coisa para se concentrar, quando
se tratava de superar Luke.
Harper suspirou e jogou seus arquivos no chão.
— Vamos almoçar antes de começarmos a triturar. Por minha conta.
***
Quando Luke voltou para casa, naquela tarde, ele encontrou Harper
empoleirada em uma banqueta, olhando para seu laptop. Harper ergueu o
rosto para um beijo, e ele teve um vislumbre da tela.
— Procurando um novo emprego no computador do seu chefe? Que
classe.
Harper torceu o nariz para ele e puxou-o para outro beijo.
— Muito engraçado. E, sim. — Ela voltou sua atenção para a tela. —
Também estou tentando descobrir como fazer com que esse cargo, que
estarei por apenas um mês, não pareça estranho em meu currículo.
Luke foi até a pia para servir dois copos d’água.
— Chame isso de um cargo de contrato de curto prazo.
— Deus. Você é um gênio. Não admira que eu queira entrar em suas
calças o tempo todo.
Ele imediatamente sentiu que estava ficando duro. Mantendo a ilha entre
eles, ele deslizou um copo para ela.
— Posso escrever uma carta de recomendação, se isso ajudar. — De onde
diabos tinha vindo isso?
Aqueles grandes olhos cinzentos se arregalaram de esperança. Sempre um
soco em seu estômago.
— Você está falando sério? Isso seria incrível!
Ótimo. Agora ele tinha que fazer isso, ou pareceria um idiota. Escrever
um e-mail era difícil para ele. Como iria colocar uma brilhante
recomendação no papel? Não que Harper não merecesse. Ela havia tomado
conta da bagunça que era o seu escritório e começado a empurrá-lo no
caminho do que seria uma operação eficiente em apenas duas semanas.
Talvez ele pudesse fazer Sophie escrever.
— Então, onde você está procurando emprego? — ele perguntou.
Harper tomou um gole d’água.
— Estou me concentrando no meu plano original de ir para Fremont. Não
é Benevolence, mas acho que estar perto de Hannah novamente seria bom.
— Você já pensou em ficar por aqui?
O que diabos havia de errado com ele? Nem sabia que estava pensando
nisso, antes de sair disparado de sua boca.
Harper se mexeu na cadeira e desviou o olhar dele para os armários.
— Uh, sim. Por cerca de um minuto, mas não acho que funcionaria.
Agora ele tinha que perguntar.
— Por quê? — Ele fingiu folhear a correspondência no balcão.
Ela pigarreou.
— Não quero dizer, porque você vai interpretar mal e entraria em pânico.
Luke decidiu apenas encará-la, até que ela cedesse. Levou cerca de trinta
segundos dela se contorcendo antes que ele ganhasse.
— Pensei em ficar, até perceber como seria topar com você e sua futura
namorada, e depois esposa, no supermercado, todas as semanas. Cada vez
que o visse, pensaria em como era estar com você, sabendo que agora outra
pessoa estaria com você dessa forma... — Ela estremeceu e balançou a
cabeça. — Não é assim que quero passar o resto da minha vida.
Seu interior se agitou com a ideia. Não dele com outra pessoa. Isso não
iria acontecer. Mas Harper seguiria em frente. Ela merecia seguir em
frente. Ele a veria pela cidade com um cara que a pediria em casamento. Ele
a veria com crianças em eventos esportivos. Eles se encontrariam no lago,
no verão, e seriam as mãos de outro idiota sortudo naquelas curvas
perfeitas.
Luke pousou o copo no granito com um estrondo. Harper deu um pulo.
— Viu? Eu disse que você não iria gostar. Não estou dizendo que estou
apaixonada por você, Luke. Eu só não gosto da ideia de você seguir em
frente.
Digo o mesmo, querida.
— Bom ponto. Ei, sua primeira correspondência.
— Ele jogou o envelope, com o nome dela escrito a mão, para ela. Harper
olhou para ele e franziu a testa.
— Apenas propaganda — disse ela, empurrando-o sob o laptop. — Então,
já que estamos no assunto de qualquer maneira, o que vamos contar à sua
família sobre minha partida?
— Eu realmente não tinha pensado nisso ainda.
Harper suspirou.
— Nem eu. Deixei você me distrair com esse seu corpo quente e nu.
— Oh, você quer dizer este corpo quente e nu?
Luke tirou a camisa, e estava puxando a dela pela cabeça antes que
pudesse dar uma gargalhada.
***
Na noite de quarta-feira, Harper foi para casa sem Luke. Ele estava em
um local de trabalho em algum lugar, resolvendo uma crise, tranquilizando
um cliente. Ela apreciava sua ética de trabalho. Nenhum problema era
pequeno demais para ele resolver, quando se tratava de fazer clientes e
funcionários se sentirem valorizados.
Naquela mesma manhã, Luke chamou seu mais novo funcionário para
uma reunião. John tinha dezoito anos, recém-saído do ensino médio, e era
muito promissor como um futuro carpinteiro de acabamento.
— Ouça, John, você precisa entender que só porque você tem um pouco
de dinheiro no bolso, isso não significa que pode fazer um monte de
merda. Você não precisa comprar uma picape de 90 mil, e com certeza não
precisa de uma TV de 60 polegadas para o porão dos seus pais. Quero que
você tenha sucesso, e estou aqui para ajudá-lo a chegar lá...
Harper sorriu para si mesma enquanto fazia cópias e ouvia do lado de fora
do escritório de Luke.
Ele realmente se importava com seu pessoal, fossem eles familiares,
amigos ou funcionários. Ele era o tipo de homem em quem se podia
confiar. Não apenas para ajudá-lo a sair de algum problema, mas para
protegê-lo de um, se ele pudesse.
Ela carregou a bolsa de volta para a cozinha e a jogou no balcão. Era uma
bela noite de primavera, e ela decidiu abrir todas as janelas da casa para
receber a brisa. Correu para o quarto, para vestir um short e uma camiseta, e
estava na escada, quando ouviu a batida na porta da frente.
— Claire! Oi! Entre. — Harper deu um passo para trás e acenou para a
mãe de Luke entrar.
Claire ergueu um recipiente de plástico com mini cheesecakes.
— Eu estava na vizinhança com isso e pensei em parar.
— Oh, meu Deus. Por eles, você pode até se mudar — Harper riu. —
Entre. Posso pegar algo para você beber? Água? Chá gelado?
— Chá gelado seria ótimo, obrigada. — Claire atravessou o corredor,
atrás de Harper, e chegou até a sala de jantar.
— Oh, ele finalmente comprou móveis!
Harper juntou-se a ela na porta.
— Foi esta semana. Eu acidentalmente convidei alguns amigos para
jantar, sem saber que Luke ficaria terrivelmente sensível por não ter lugares
para as pessoas se sentarem.
— Por tanto tempo estive esperando que o garoto transformasse esta casa
em um lar— Claire se virou para Harper. — Você, minha querida, merece
mais que meia dúzia de cheesecakes.
Depois de um rápido passeio para ver o resto da mobília nova, elas
tomaram o chá gelado na varanda dos fundos, para aproveitar a noite de
primavera.
Claire impulsionou os pés nas tábuas da varanda, e o balanço começou
um movimento suave.
— Eu tenho uma confissão a fazer. Não estava apenas na vizinhança com
as tortinhas.
— Não diga nada — disse Harper por cima da borda do copo.
— Luke chama isso de intromissão. Eu chamo de ser maternal — Ela
suspirou, passando a mão pelo curto cabelo escuro, com fios prateados. Era
também um gesto comum de Luke, o que fez Harper sorrir. — Ele pensa
que por ser um homem adulto, que seus assuntos são só seus. Mas ele não
entende o que é educar alguém para ser adulto. Você não para
simplesmente...
— De se preocupar?
Claire acenou com a cabeça.
— Exatamente. Ele tem trinta anos, e ainda sinto a necessidade de ter
certeza de que ele está bem. Aposto que seus pais também são assim.
Harper inclinou a cabeça.
— Eu imagino que seriam. Eles faleceram quando eu era muito jovem,
mas gosto de pensar que teriam um grande interesse em minha vida, se
ainda estivessem aqui.
— Oh, sinto muito ouvir isso, Harper. Eu não sabia! Por favor, me
desculpe por abrir minha boca gigante.
Harper riu.
— Está tudo bem. Foi há muito tempo.
— O tempo nem sempre cura todas as feridas — Claire disse, um pouco
tristemente. — Alguns nunca se recuperam da perda.
— Acho que alguns de nós simplesmente não reconhecem o quão valioso
é nosso tempo aqui. Como não deveríamos gastá-lo, lamentando nossa
perda, mas agradecendo nossas estrelas da sorte por termos alguém
maravilhoso em nossas vidas, não importando por quanto tempo.
— Então, Luke disse a você...
Claire foi interrompida pela porta de tela que se abriu.
Harper sentiu sua pulsação acelerar ao ver Luke. Seu jeans gasto estava
coberto de sujeira, e a camiseta, moldada em seu peito, tinha uma boa
quantidade de suor misturado com a sujeira. Até seu boné de beisebol tinha
manchas de suor. Ele parecia ter saído direto das páginas de um calendário
sexy de um trabalhador da construção civil.
— Senhoras. — Luke deu um beijo na testa de Harper e foi até a grade da
varanda, onde se inclinou.
— Eu estava na vizinhança e pensei em dar uma passada — Claire disse
inocentemente.
— Claro que estava, mãe. Você não está interrogando a pobre Harper,
está?
— Não, mas troquei os pés pelas mãos, já que você se esqueceu de me
dizer que os pais dela faleceram. Essas coisas não aconteceriam se você se
comunicasse. — Os enfeites prateados, pendurados em suas orelhas,
tilintavam com cada sílaba.
— Sim, mãe. — Luke revirou os olhos. — Então, você não estava
interrogando Harper?
— Eu não tinha feito isso, ainda. Sou uma interrogadora educada. Estava
apenas facilitando para Harper. — Claire piscou.
— Como anda o trabalho? — Luke perguntou. — Recebemos um
telefonema de Della hoje. Diz que querem fazer uma expansão.
Claire acenou com a cabeça.
— O negócio de flores está crescendo. Eu deveria ficar lá apenas dois dias
por semana, mas tenho sido chamada quase todas as sextas-feiras e alguns
sábados, para ajudar com os pedidos de casamento. Della e Fred estão
querendo contratar alguém em tempo integral, para eventualmente assumir
o cargo de gerente.
— Eles têm candidatos? — Harper perguntou.
— Você não está querendo desistir já, está? — Luke brincou.
Harper riu.
— Não, mas Gloria está procurando por algo.
— Gloria Parker? Bom para ela! — Claire acenou com a cabeça
rapidamente. — Já era hora de ela abrir as asas. Faça com que ela ligue para
a loja, e eu marcarei uma entrevista com Della.
— Isso seria bom! Muito obrigada.
— Ei, eu devo à garota que inspirou meu filho a arrumar uma namorada, a
contratar alguém para administrar o escritório e a comprar móveis mais do
que alguns mini cheesecakes.
— Cheesecakes? — Luke se animou.
***
Luke acompanhou a mãe até o carro, principalmente para se certificar de
que ela não encurralasse Harper e tentasse arrancar mais informações dela.
— Eu gosto da mobília nova — ela disse, tirando as chaves da bolsa. —
Está começando a parecer um lar.
— Mãe. — Luke não tentou esconder a exasperação de sua voz.
— Não me diga “Mãe”. Tenho permissão para verificar meus
filhos. Quarenta e sete horas de trabalho de parto dão às mães certos
privilégios.
— Pelo amor de...
— Eu realmente gosto dela, Luke. Você está sorrindo de novo. — Ela
levou a mão ao rosto dele. — Já faz muito tempo.
Ele resmungou, mas pegou a mão de sua mãe e beijou sua palma.
— Ela é uma boa garota, mãe. Eu gosto dela também. Agora podemos
parar de falar sobre minha vida amorosa?
Ela deu um beijo na bochecha dele.
— Bem. Agora vá levar sua garota para jantar. Ela merece isso.
Luke esperou até que sua mãe saísse da garagem, antes de pegar o
telefone celular. Seus pais gostavam de sua namorada, e isso era um
problema.
— Eu preciso de um conselho sorrateiro e dissimulado, então estou
ligando para você. — Luke caminhou pela calçada.
— É estranho que eu esteja lisonjeada? — perguntou Sophie.
— O que eu digo à mamãe e ao papai sobre a partida de Harper?
Josh gritou ao fundo.
— Está tudo bem por aí? — Luke perguntou.
— O quê? Oh, sim. Esse foi um grito feliz. Espere, deixe-me trancá-lo no
porão.
— Sophie!
— Estou brincando. Eu entrei na despensa. Preciso de silêncio para que
possa me concentrar nas mentiras que você contará aos nossos pais.
— Preciso lembrar a você que tudo isso foi ideia sua?
— Precisa que eu a lembre que você está desfrutando de toda esta coisa
que foi minha ideia?
— Touché. Agora me diga o que fazer.
— Bem, quando ela vai embora? Antes ou depois de você ir?
— Eu não sei. Depois?
— Você tem um cronograma?
— Nós realmente não conversamos sobre isso.
— Provavelmente faria mais sentido tê-la por perto um pouco, depois de
você ir embora, e então você não precisaria que James cuidasse da casa
imediatamente. Estou assumindo que você não quer que ambos pareçam
idiotas, certo?
— Você presume corretamente.
— Bem, então isso deve ser uma notícia boa, mas tão boa que tornará
menos triste dar a notícia.
— Não estou entendendo nada.
— Claro, você é um homem. Algo maravilhoso acontecendo com Harper
e ela precisando deixar a cidade. Como se ela tivesse conseguido um papel
em um filme ou conhecesse o homem dos seus sonhos.
— Eu deveria ser o homem dos seus sonhos.
— Estou apenas divagando aqui — disse Sophie com um suspiro. — Mas,
já que você disse isso, por que não pedir a ela para ficar?
— Esse não é o plano, Soph. E não é justo pedir a Harper que coloque sua
vida em espera por seis meses, para ver se isso pode se transformar em um
relacionamento.
— Está bem, está bem. Apenas descartando opções.
Capítulo 20
No dia seguinte, Luke e Aldo foram chamados na base, para o exame
médico padrão de pré-missão e algumas instruções. Antes de partir, Luke
deu um beijo de despedida em Harper e se empolgou. Quando parou na
frente da casa de Aldo, estava vinte minutos atrasado, e seu amigo estava
esperando na varanda da frente.
Quando Aldo escolheu a ampla casa estilo craftsman, em vez de uma das
novas casas na periferia da cidade, Luke não piscou. Uma casa de família
em um condomínio para um solteiro? Não era o que ele esperava de seu
amigo de batalha, mas havia muitas coisas que eles nunca discutiam. Não
era preciso.
— Estava na hora. — Aldo entrou no banco do passageiro e colocou o
cinto.
— Não estou tão atrasado.
— Não são necessárias explicações. Eu posso ver, pelo olhar estúpido em
seu rosto, por que você está atrasado.
— Você está falando merda.
Ele não estava. Luke sabia que estava andando por aí com uma expressão
estúpida no rosto, atualmente. E só esperava que ninguém mais notasse.
— Eu te conheço desde que salvei sua pele daquela surra, na primeira
série. Conheço a sua cara estúpida.
— Ainda defendo que poderia ter enfrentado aqueles caras sozinho. —
Luke se afastou do meio-fio.
— Havia três deles, e eram da quarta série.
— Bem, se você me auxiliou nessa situação, salvei sua bunda de se afogar
no lago quando tínhamos doze anos.
— Achei que o gelo aguentaria. — Aldo encolheu os ombros com um
sorriso de dentes brancos.
— Ficamos de castigo durante todo o mês de janeiro por causa disso.
— Nossas mães estavam tão irritadas. Então, o que Claire acha de
Harper?
Luke reprimiu um suspiro. Ele sabia que seu amigo não esperaria muito
para bisbilhotar. Às vezes, precisava se lembrar de não excluir a todos.
— Ela a ama. Acha que é exatamente o que eu preciso.
— E ela é?
— O que eu preciso é de paz e sossego. Harper é tudo, menos isso.
Aldo riu.
— Então, por que ela está aqui?
Luke deu de ombros ao pegar a via de acesso à rodovia.
— Começou como um favor. A garota não tinha para onde ir e nem como
chegar lá.
— E depois?
Luke pigarreou.
— Bem, você a conheceu.
— Sim. Acha que ela vai ficar?
Luke balançou a cabeça.
— Não. Ela tem coisas para fazer, lugares para ir. Seis meses é muito
tempo para pedir a alguém, que você acabou de conhecer, que espere.
— É muito tempo para pedir a alguém que espere, mas ela iria, você sabe.
— Eu não sei se eu gostaria que ela o fizesse.
— Porra nenhuma.
— Você beija sua mãe com essa boca?
— Onde você acha que eu aprendi?
Era verdade. Apesar de a Sra. Moretta ir à igreja todos os domingos, ela
tinha a boca de um marinheiro que se aposentou e começou uma nova
carreira de caminhoneiro. Ela nunca se esquivava de uma vigorosa palavra
de cinco letras quando a situação exigia.
— Por falar em mulheres, Harper parece pensar que você tem uma queda
por Gloria.
— Ela não está errada.
— Você tem uma queda por qualquer coisa com um belo par de pernas e
grandes olhos castanhos.
— Onde você acha que consegui meu tipo?
— Então, se você carrega isso desde o colégio, como Glenn ainda está
vivo?
— Eu me pergunto isso todos os dias. As missões tornaram mais fácil
pensar em outra coisa. Me deu algo em que me concentrar.
Luke sabia exatamente o que Aldo queria dizer.
Seu amigo se mexeu no assento.
— Eu tenho que dizer. Estou pensando em me aposentar. Esta é a número
quatro, e quero torná-la a última.
— Sério?
— Fazemos isso desde o colégio. São doze anos fazendo as malas, indo
embora e torcendo para voltarmos depois que o trabalho termina. Estou
pronto para parar. Quero dedicar mais tempo a alguns projetos de
engenharia. E então eu quero fazer de uma garota legal a próxima Sra.
Moretta.
— Jesus, Aldo. — Só de pensar nisso, Luke começou a suar. — Quando
diabos você decidiu tudo isso?
— Cerca de dez segundos depois que descobri que Gloria havia se
separado. Não me diga que você não está pronto para parar.
— É tudo o que eu tenho. A Guarda e minha empresa.
Aldo bufou.
— Você tem sua família e pode ficar com Harper também, se
quiser. Voltar para casa, para aquele rosto doce todos os dias e descobrir em
que problemas ela se meteu? Há algo pelo qual ansiar.
— Ela é um problema. Estou preocupado em soltá-la na natureza.
— Ela precisa de você.
— Ela precisa da porra dos pais dela, mas eles estão mortos. Ela não tem
família, apenas cicatrizes de todos aqueles anos em um orfanato.
Aldo praguejou baixinho.
— E você faria qualquer coisa para tornar isso melhor, mas simplesmente
não sabe como ajudar.
— Exatamente. — Luke suspirou. Claro que Aldo entendia. — O fato é
que eu simplesmente não tenho espaço na minha vida para ela.
— Você tem espaço; você só é cagão demais para fazer isso.
Luke se irritou. Embora Aldo, sua família e todos os outros estivessem
mais do que felizes em enfiar o nariz em seus assuntos, nenhum deles sabia
o que era ter tudo e depois perder. Ele sabia. E mal tinha sobrevivido. Não
haveria uma segunda chance.
***
Os exames foram bons, as instruções tediosas. Mas voltaram para casa em
um tempo decente, com uma imagem mais clara do que fariam no
Afeganistão. Normalmente, Luke sentia a vibração, uma vibração de
empolgação com a próxima missão, um novo projeto. Mas, desta vez, ele
apenas se sentiu desligando.
Tinha coisas para fazer em casa e no escritório. Mas estava cansado. Ele
estava acostumado a dormir pouco e muita cafeína ou adrenalina pura. Mas
as noites com Harper, sob e sobre ele, e enroscada nele, cobraram seu preço.
Luke não era do tipo que dormia muito. Talvez só precisasse relaxar com
a TV por uma hora, e então poderia voltar para a papelada e fazer as malas.
Ele acordou uma hora depois, com algo quente e pesado no colo.
Um grande cachorro cinza descansava a cabeça e pata robusta na perna de
Luke.
— Harper!
Ela apareceu na porta em segundos, o que significava que ela estava
pairando por perto.
— Antes que você fique bravo...
— Harper, por que há a porra de um cachorro no meu colo?
— Nós não temos que ficar com ela. Ela só precisa de um bom lugar para
ficar.
— Harper, por que há a porra de um cachorro no meu colo?
O cachorro resmungou em seu sono e se espreguiçou.
— Que raio de cachorro é esse?
— Ela é algum tipo de pit-bull-labrador-alguma coisa. Ela foi retirada do
dono por negligência, e só porque ela tem esse problema de pele e precisa
de remédios para o coração, o abrigo iria sacrificá-la.
— Isso ainda não responde por que há um cachorro no meu colo.
Sua voz foi alta o suficiente para acordar a besta desta vez. Um olho
injetado de sangue se abriu preguiçosamente e olhou para ele.
— Eu parei no supermercado, e uma mulher estava saindo da loja de
animais com ela. A propósito, o nome dela é Lola.
— Da mulher?
— Não! Da cachorra.
Ouvindo seu nome, a cadela virou sua enorme cabeça para Harper. Sua
cauda balançou duas vezes.
— De qualquer forma, o abrigo da cidade a aceitou, mas precisavam de
um lugar para ela ficar até que possam encontrar um lar adotivo, uma
semana no máximo, e ela olhou para mim com esses grandes olhos
melosos. E antes que percebesse, eu a estava colocando no carro. E eu sinto
muito. Por favor, não me odeie. Ou a Lola.
O rabo da cachorra balançou novamente.
— Harper, você não pode simplesmente trazer um cachorro para casa.
— Eu sei! Acho que ela me hipnotizou. Eu sinto muito.
Lola voltou a cabeça para Luke.
— Por que os olhos dela estão engraçados?
— É só uma pequena infecção. Pingaremos umas gotas três vezes ao dia.
A língua de Lola pendeu para fora de sua boca.
— Harper. Ela é enorme. Ela poderia engolir você inteira.
— Ela é um amor. Não há um único pingo de maldade em seu corpo.
Harper estava torcendo as mãos.
Lola rolou no colo de Luke, expondo a barriga.
— Uma semana?
— Sim.
***
Lola os treinou em questão de dias. Ela gentilmente os lembrava quando
era hora da refeição e do xixi. A casa sem cachorros de Luke logo incluiu
um grande estoque de brinquedos estridentes e ossos que Lola examinava
de hora em hora. E todas as noites, ela roncava ao pé da cama, com sua
enorme cabeça apoiada nos pés de Harper.
Harper fez o possível para garantir que ela mesma assumisse a maior parte
dos cuidados com a cachorra. Passeios, refeições, remédios. Ela até cortou
as unhas crescidas da pobrezinha.
Ela tentou minimizar a inconveniência de Luke, mas ainda se sentia
afrontada com seus suspiros sempre que Lola aparecia.
Todos os dias, ela se lembrava do quão generoso Luke tinha sido ao abrir
sua casa para ela e agora para Lola. A culpa e a gratidão a fizeram encher a
geladeira com todas as coisas favoritas dele e a tentar ser útil o tempo todo.
Ela tentava chegar em casa antes de Luke, à noite, para que pudesse
deixar Lola sair, mas ele sempre estava lá primeiro. Uma noite, ela voltou
para casa e encontrou Luke e os meninos tentando ensinar Lola a buscar a
bolinha. Lola não gostou, mas Henry era bom em perseguir todas as bolas
que Robbie jogava.
Mais tarde, quando acompanharam os meninos para casa, Lola nem
mesmo vacilou quando a pequena Ava se aproximou e sentou-se sobre
ela. Ela apenas bocejou e se permitiu ser esmagada e acariciada por dedos
pegajosos.
Nas primeiras manhãs, após Lola chegar, Luke perguntava sempre a
Harper se ela já tinha ouvido alguma resposta do abrigo sobre um lar
adotivo permanente.
Quando ele parou de perguntar e Lola começou a desaparecer escada
abaixo com Luke pela manhã, Harper suspeitou.
Na manhã seguinte, ela esperou na cama até Luke descer com
Lola. Quando ela ouviu a porta da frente fechar atrás dele, Harper afastou as
cobertas e desceu correndo.
Havia comida em sua tigela, mas nenhum sinal de Lola na
cozinha. Harper bisbilhotou o resto do primeiro andar e verificou o
quintal. Nada de Lola.
Ela pegou uma xícara de café e sentou-se na varanda da frente para
esperar.
Sua paciência foi recompensada dez minutos depois, ao ver Luke e Lola
dobrando a esquina, lado a lado. As pernas musculosas de Lola ocupavam a
calçada, enquanto sua língua pendia para o lado. O sorriso largo de Luke
combinava com o da sua companheira de corrida. Eles eram a felicidade em
movimento.
Ela viu a leve oscilação em seu passo no segundo em que a notou. Ele
cuidadosamente reorganizou suas feições para uma expressão impassível
quando chegaram à casa.
Harper tentou esconder seu sorriso por trás do café.
— Bom dia.
— Bom dia — Luke disse, exalando indiferença. Ele entregou a coleira de
Lola. — Ela, uh, tinha que sair, então eu a levei.
— Pelo quarteirão? — Harper perguntou inocentemente, acariciando as
laterais de Lola. Ela foi recompensada com uma grande lambida.
— Uh, sim. Pelo quarteirão.
Lola se sentou ao lado de Harper no degrau e se apoiou em seu braço.
— Você é muito mentiroso!
Luke ergueu as mãos.
— Ei, nós demos a volta no quarteirão. Mais ou menos.
— Você a tem levado para correr, e é por isso que ela está totalmente
exausta quando eu a levo para uma caminhada uma hora depois!
Ela poderia dizer que ele estava pesando suas opções por trás dos óculos
de sol.
Ele ergueu os braços.
— Pelo amor de Deus, olhe para ela! É enorme. Eu estava preocupado
que ela arrastasse você pelo quarteirão e derrubasse todo mundo.
— Então você saiu com ela primeiro, para ver se ela faria isso?
— Bem, sim. E para cansá-la, assim, se ela não se comportasse na coleira,
estaria, no mínimo, menos malcomportada.
— Isso é estranhamente doce e atencioso da sua parte.
— É difícil ficar com raiva de mim, não é? — A covinha voltou a
aparecer.
— Bem, sim, exceto pelo fato de que você está me fazendo sentir tão
culpada por trazê-la para sua casa, quando claramente ama tê-la por perto!
— Eu não diria que amo...
— Lucas Norbert Garrison!
— Charles, na verdade.
— Você a ama! Olhe para ela, com esses olhos grandes e estúpidos, e diga
que não. — Harper apertou o rosto de Lola nas mãos. — Olhe para o
papai. Faça-o se sentir um lixo por brincar com a mamãe. Você poderia ter
me contado, sabe. Deveria ter me contado.
— Me recuso a responder isso. Agora, se vocês, amáveis senhoras, não se
importam, vou terminar minha corrida, porque Lola só consegue aguentar
por uns dois quilômetros e meio.
Ele se inclinou, beijou Harper e se moveu para dar um beijo na cabeça de
Lola, mas ela se contorceu e enfiou a língua em sua boca.
— Neste segundo, posso dizer, honestamente, que não amo isso — disse
ele, enxugando o rosto com as costas da mão.
— Bem-feito para você, Norbert!
— Podemos ainda comer bife esta noite? — ele perguntou, recuando para
a calçada.
— Você sabia que eu tentaria te agradar! Você é tão...
— Os vizinhos não precisam que você termine essa frase — gritou ele, ao
virar para a calçada.
— Tudo bem, mas Lola fica com a metade do seu! — Harper esperou até
que ele estivesse fora de vista, antes de rir.
***
Luke evitou o escritório o dia todo, comunicando-se principalmente por
mensagem de texto e e-mail, mesmo depois que Harper o chamou de
covarde.
Ela foi para casa e levou Lola para uma caminhada rápida, antes de
começar o jantar. Harper estava ocupada, preparando os bifes, quando ouviu
a porta da frente. Ela atravessou o corredor para cumprimentar Luke, com
Lola andando devagar atrás dela.
— Olha quem decidiu enfrentar as consequências — Harper brincou.
Luke largou as chaves na mesa ao lado da porta e mudou de lado o
estranho pacote que estava segurando.
O pacote latiu.
— Nenhuma palavra. Ne-nhu-ma palavra — Luke murmurou.
Ele estava carregando um terrier desalinhado debaixo do braço, como
uma bola de futebol.
Harper mordeu o lábio para não rir.
Luke colocou o cachorro no chão. Ele tinha três pernas.
— Espere um segundo. Não deveríamos apresentá-los ou algo assim
primeiro? — Harper foi na direção de Lola.
— Bem. Lola, conheça o Max. Max, conheça Lola.
Max correu até Lola e a cheirou. Lola piscou, se virou e caminhou pelo
corredor. Max correu atrás dela em seus calcanhares.
— Eu só fui pegar os remédios de Lola, e tinha esse maldito
cachorro. Uma senhora estava tentando dá-lo, e eles não tinham lares
adotivos disponíveis, e se o levassem para o abrigo, ele provavelmente seria
sacrificado.
— Ele tem três pernas.
— E eles usariam isso contra ele. Ele não pode se defender.
Harper cobriu a boca para ele não ver seu sorriso, enquanto ele caminhava
pelo corredor em direção à cozinha.
— É apenas temporário — ele falou por cima do ombro. — Estamos
apenas ajudando.
— É apenas temporário — ela sussurrou, mesmo enquanto sentia seu
coração pular uma batida.
Capítulo 21
Eles descobriram que era mais fácil se acostumar com dois cães do que
com um. Max entrou sem problemas em suas vidas domésticas. Ele seguia
Luke como uma sombra e latia como um cachorro três vezes o seu
tamanho. De manhã, Luke corria com Lola enquanto Harper levava Max
para dar algumas voltas no quarteirão. À noite, ele dormia enrolado em uma
bola apertada contra Lola.
E cada vez que Harper entrava pela porta, os dois a cumprimentavam
como se tivesse passado décadas desde a última vez que a viram.
Lola corria pelo corredor com seu profundo latido enquanto Max saltava e
latia ao redor dela. No segundo em que a porta da frente se abria, eles
dedicavam a Harper – ou a Luke, ou ao carteiro – uma atenção
entusiasmada. Era bom ser recebida em casa por fãs que a adoravam.
Apenas algumas semanas atrás, ela não poderia imaginar sua vida
mudando tão drasticamente. Ela tinha um homem que adorava, uma casa
confortável, ótimos amigos e dois cachorros que a achavam melhor do que
bacon. Mesmo que fosse tudo temporário. Ela tentou não pensar no que
aconteceria em questão de dias. Luke teria partido da vida dela, ela teria
partido de Benevolence e outra pessoa abriria as enormes pilhas de
correspondência da Garrison Construções.
Harper abriu o envelope com um golpe eficiente do abridor de cartas. Só
Luke deixaria a correspondência do escritório fechada por semanas. Ela
chegou até o fim da pilha que ele havia escondido descuidadamente na
prateleira de seu escritório. Ela encontrou um punhado de cheques de
clientes enterrados na pilha. Depois de um sermão dela sobre a importância
de uma resposta rápida, Luke concordou em deixá-la lidar com toda a
correspondência a partir de agora.
Assim que terminasse com essa pilha, ela iria correr para o banco e fazer
os depósitos.
Um cheque flutuou para fora do envelope aberto em sua mesa. Ela o
pegou e olhou para ele. Este foi feito diretamente para Luke, no valor de...
Um suspiro estrangulado passou por seus lábios. Os joelhos de Harper se
dobraram e ela se deixou cair na cadeira.
Ela nunca tinha visto uma quantia tão alta em um cheque antes, e havia
mais três envelopes como este. Ela abriu todos e alinhou os cheques.
Pago a Lucas Garrison.
Ela sabia que estava encarando, boquiaberta, a superfície da mesa, mas
não podia evitar. Havia pouco mais de meio milhão de dólares nela. Sobre o
que era isso? Era legal?
Harper olhou para o escritório de Luke, onde ele estava em uma
teleconferência com um fornecedor. Ele estava jogado para trás em sua
cadeira, as botas de trabalho apoiadas na mesa. Nenhuma preocupação no
mundo. Ele não estava preocupado por ter quase a forçado a se apaixonar
por ele, apenas para chutá-la depois com o lembrete de que ele não poderia
nem mesmo ser honesto com ela sobre qualquer coisa.
Aquele bastardo sexy e contido era um milionário.
Ela pensou em sua reação carregada de culpa por sua compra de
móveis. Ele poderia ter mobiliado uma dúzia de casas com os cheques que
tinha em mãos. Qual diabos era o problema dele? Por que esperava que ela
revelasse seus segredos, há muito enterrados, quando ele nem conseguia
dizer: “A propósito, eu sou rico”.
Aproveitando a onda de raiva, ela agarrou os cheques e correu para a
porta fechada. Bateu com a palma da mão, segurando os cheques contra o
vidro.
— O que diabos é isso? — ela murmurou.
Luke tirou os pés da mesa e teve a boa graça de parecer
envergonhado. Ele deu de ombros e ergueu um dedo, sinalizando para ela
esperar. Mas ela estava cansada de esperar.
Harper largou os cheques no balcão do lado de fora do escritório e agarrou
a bolsa. Almoçaria cedo e demoraria, e ele teria que lidar com isso. Ela não
lhe devia uma explicação.
***
Luke a encontrou no balcão da lanchonete, olhando para o fundo de sua
caneca de café. Ele sentou-se no banquinho ao lado dela e girou para
encará-la. Percebeu que poderia acalmá-la em alguns minutos e talvez até
mesmo comer um lanche rápido. O tempo estava se tornando mais precioso
à medida que os dias finais para a missão passavam.
— Por que você está tão chateada por conta de alguns cheques?
Harper se virou para ele e lançou-lhe um olhar.
— É sobre isso que você pensa que é? Você bateu com a cabeça hoje?
— Parece que você está questionando minha inteligência — arriscou-se,
sinalizando para a garçonete lhe trazer um café.
— Parece que você está tentando bancar o idiota — rebateu Harper. —
Isso não é sobre os cheques. É sobre o que representam.
— Dinheiro?
— Vou arrancar seu traseiro perfeito desse banquinho.
Ela poderia realmente tentar.
— Porque eu não estou te contando sobre o dinheiro que você encontrou,
mexendo na minha correspondência?
— Sério? É assim que você quer lidar com isso? Me acusando de
bisbilhotar quando abri uma pilha de correspondência que você me deu para
abrir? Tente novamente.
Ela o pegou. Ele suspirou.
— Harper, não há nada em nosso acordo que diga que temos que contar
tudo um ao outro.
— Por que você é assim? O que há de errado com você? Por que não pode
simplesmente compartilhar coisas? Não é mais misterioso e sexy. É
doloroso.
— Por que é doloroso? Não escondi nada de você de propósito. O
dinheiro vem de uma patente que Aldo e eu temos sobre um sistema de
vigas projetadas. Não é grande coisa.
— O que é importante para mim é que eu me abro para você com todos os
detalhes sórdidos do meu passado, e você não pode nem compartilhar
coisas boas comigo. Por que diabos isso?
— Eu já disse, não sou o tipo de cara que gosta de corações e flores.
— Não estamos falando de corações e flores. Estamos falando sobre
intimidade. E você não pode simplesmente esperar que eu compartilhe
coisas com você, quando não tem intenção de se abrir comigo.
— Não sou assim, Harper. — Luke deu de ombros. — Olha, eu não sei o
que te dizer. Essas preocupações nem estão no meu radar. Não quando
tenho menos de duas semanas, antes de deixar minha casa e minha família
por seis meses.
— Essa é outra coisa sobre a qual você não vai falar.
— O quê? A missão? O que há para conversar? — Ele deixou que um
pouco de sua frustração transparecesse em seu tom. — Estou indo
embora. Fim da história.
— Não é o “fim da história”, e você sabe disso.
Ele a girou de lado no banquinho, para ficar de frente para ele, e manteve
as mãos em suas coxas.
— Veja. Você quer algo que eu não posso te dar. Acho que você está
entrando muito fundo em tudo isso. Você está tentando estabelecer um
relacionamento onde não pode haver um. Eu não compartilho. Não me abro
e falo sobre meus sentimentos ou o que estou pensando. E mesmo se o
fizesse, estou indo embora. Por seis meses. Não vai haver um “nós” quando
eu voltar. E estou começando a pensar que talvez não devesse haver um nós
agora.
— Você quer que eu vá embora? — Ela nivelou o olhar com o dele,
desafiando-o a dizer o que não disse em voz alta.
Ele suspirou.
— Não, eu não quero que você vá. — Ai. De onde veio tanta
honestidade? — Eu gosto de ter você por perto. Até gosto de ter os
cachorros por perto. Acho que nossa relação de trabalho é ótima. Mas talvez
seja hora de recuarmos na área mais... íntima.
— Sexo?
A garçonete fez uma pausa, com os olhos arregalados, enquanto colocava
a caneca de café na frente dele.
Luke esperou até que ela vagasse pelo balcão até o próximo cliente.
— Sim. Sexo — Ele disse calmamente. — Está começando a confundir a
situação. Vamos voltar a como as coisas estavam, pelo resto do
mês. Continue com o plano. Você está economizando dinheiro e procurando
emprego. Graças a você, estou conseguindo colocar o escritório em dia e
organizando as coisas para quando eu for embora. Podemos fazer isso
funcionar, Harper. Mas não complicando as coisas.
— Então, eu explico a você que me dói quando você esconde coisas de
mim, e sua solução é reduzir ainda mais nosso relacionamento para chefe-
empregada?
Por que as mulheres sempre tornam as coisas tão difíceis? Ele a estava
protegendo. Por que ela não conseguia ver isso?
— Harper, isso é para seu próprio bem.
— Então você está dizendo que está me protegendo dos meus próprios
sentimentos, tirando o sexo da questão.
Ela não parecia impressionada, mas Luke estava decidido. Talvez não
fossem apenas os sentimentos dela que ele queria proteger. Havia algo
sobre a naturalidade entre eles que o assustava pra caralho. Ele não queria ir
mais longe. Mais fundo.
— Estou dizendo que estamos complicando uma situação que não precisa
ser complicada. Vamos voltar ao plano.
— Ok.
Ele segurou suas pernas.
— Ok? — Ele esperava mais discussão.
— É a sua vida. Sua decisão.
Luke teve a nítida sensação de que estava sendo enganado.
— Você está bem em voltar ao plano?
— Sim. — Ela olhou fixamente para as mãos dele em suas pernas, até que
ele as removeu. Harper voltou sua atenção para o menu. — Vejo você de
volta ao trabalho.
— Que tal eu pagar um almoço para você? — Ele ofereceu. O especial do
dia parecia muito bom.
— Não, obrigada. Prefiro comer sozinha. — Ela fechou o menu. — Mas
vou colocar o seu café na minha conta. Você pode ir.
E assim, Luke foi dispensado.
***
Ele levou o combinado a sério e dormiu no sofá por duas noites, grato por
ser um milhão de vezes mais confortável que o de sua avó. No entanto,
ainda empalidecia em comparação com sua cama e Harper.
O que ele pensava que iria simplificar as coisas, acabou se tornando uma
complicação. Uma rocha dura. O fim de semana se transformou em uma
ereção de dois dias. Agora que seu corpo estava fora dos limites, ele a
queria ainda mais. Essas curvas doces o chamavam, exigindo sua atenção,
suas mãos.
Ele começou a evitá-la como o tio bêbado com quem ninguém quer falar
em uma reunião, depois que ele a encontrou curvada sobre a ilha da
cozinha, lendo uma revista, vestindo malditos shorts e um top. Ele se virou
tão rápido que bateu direto na geladeira.
E dane-se se ele não viu o sorriso em seu rosto antes de sair correndo da
sala. Ela tinha que estar brincando com ele. Parecia que suas saias estavam
ficando mais curtas, suas camisas mais apertadas e seu pau mais duro.
Ele estava puto o tempo todo. Um fato que Frank estava apontando no
momento.
— O que diabos está enfiado na sua bunda hoje?
— Só não estou com vontade de ouvir como outro cliente irritou você.
Frank bufou e jogou um pedaço de madeira na traseira de sua picape.
— Eu ia te dizer que a doutora ligou hoje, sobre aquela ampliação que ela
tem falado. Ela está pronta para a expansão. Mas já que você está sendo
uma vadia chorona, acho que vou pedir a Harper para colocar a visita no
calendário.
Luke bateu a tampa da caixa de ferramentas de sua picape. Quando
alguém como Frank o criticava, ele sabia que devia estar agindo como um
idiota.
— Desculpe, Frank. Eu só... — ele estava o quê? Duro, frustrado, agitado,
distraído inacreditavelmente por uma certa loira curvilínea que olhou
através dele, em vez de para ele, na cozinha esta manhã. — Estressado —
ele terminou, sem jeito.
— Estressado? Com o que diabos? Você já fez isso antes. Seu pai e eu
temos tudo sob controle.
— Não é o trabalho. — Luke usou um pouco de água de sua garrafa
térmica para limpar a poeira do drywall de suas mãos.
— Isso teria algo a ver com uma certa administradora de escritório, que
parece querer pular em você em um minuto e estrangulá-lo no próximo?
— Então não é só minha imaginação?
Frank suspirou e se encostou na picape.
— Filho, deixe-me lhe contar algo sobre as mulheres. Não as irrite em
nenhuma circunstância. Não vale a pena. Em primeiro lugar, você está
arriscando a vida por algo que provavelmente não importa. Meu
conselho? Se você a irritou, peça desculpas antes que ela transforme sua
vida em um inferno.
Foi a vez de Luke suspirar.
— Devo realmente seguir o conselho de um homem que nunca foi
casado?
— Não precisa pular do penhasco para saber que você morre quando
chegar no chão.
Capítulo 22
Falta uma semana…
Harper decidiu deixar Luke fazer o que queria e dar-lhe algum espaço
para ser estúpido, mas o idiota estava ficando muito tempo fora de sua
própria casa e tornando infelizes seus últimos dias em casa.
Quando ele mandou uma mensagem para ela, perguntando se poderia
voltar ao trabalho por uma hora ou mais naquela noite, para ajudar com
uma proposta, Harper decidiu acabar com a loucura.
Ela se vestiu para a guerra. A saia lápis, justa, terminava alguns
centímetros antes de ser modesta, e abotoou uma blusa de mangas curtas, de
um vermelho de arregalar os olhos. Ela desistiu do sutiã e colocou uma
calcinha preta simples. Sandálias altas de tiras completavam o pacote.
Secou o cabelo com um pouco mais de volume e pintou os olhos com um
esfumado e os lábios carnudos.
Harper deu a seu reflexo no espelho um aceno de cabeça e colocou seus
óculos de sol. Ela iria ganhar essa parada.
Fez questão de voltar ao escritório antes de Luke, e já estava digitando os
números com eficiência no sistema de contabilidade, quando o ouviu voltar.
Ela não se virou quando ele entrou, apenas continuou digitando.
Ele parou na mesa dela e colocou um saco de papel engordurado sobre
ela.
— Eu trouxe o jantar para você.
Harper se virou em sua cadeira, na direção dele.
— Obrigada, chefe. Muito gentil da sua parte.
Ele estava vestido com seu uniforme padrão, de jeans surrados e
camiseta. Ela se perguntou se seu coração sempre batia forte com a forma
como o algodão se agarrava ao peito e ombros dele.
Seus olhos imediatamente rastrearam a pele dela exposta abaixo do
pescoço. Ela soube o segundo que ele percebeu que ela não estava usando
sutiã. Um músculo da mandíbula flexionou.
Harper reprimiu um sorriso. Ela virou a cadeira para a mesa, para retomar
a digitação.
Luke ficou parado, limpou a garganta.
— Você está bonita.
— Oh, obrigada — Harper disse, animada. — Eu ia ver se Gloria queria
sair hoje à noite, depois que eu terminasse aqui.
— Sair — ele repetiu, calmamente.
— Sim, desestressar.
Harper apertou o botão de impressão na tela e se afastou da mesa.
— Com licença — ela disse enquanto passava por Luke.
— Pode sair daqui muito tarde — ele arriscou.
De costas para ele, Harper sorriu. Quem diria que a tortura poderia ser tão
divertida?
— Eu não me importo. Fico feliz em ajudá-lo a finalizar a
proposta. Droga, sem papel de novo.
Harper se curvou para verificar se havia papel embaixo do balcão.
— Luke? Você sabe onde está o papel?
Sem palavras, ele apareceu ao lado dela. Ele abriu o armário ao lado e se
ajoelhou. Harper se moveu, colocando deliberadamente seus seios em sua
linha direta de visão.
— Que bom, há outro pacote. — Ela passou por ele, roçando o seio em
seu braço.
Seus mamilos endureceram instantaneamente, e Luke saltou para trás
como se tivesse se queimado. Harper se abaixou, sentindo sua saia subir na
parte de trás, e pegou o papel.
— Obrigada — disse ela, levantando-se novamente. — Vou colocar papel
da impressora na lista de materiais de escritório.
Luke estava passando a mão na nuca. Harper viu a protuberância familiar
entre suas pernas e mordeu o interior da bochecha.
Ela desfilou de volta para a mesa, apreciando a provocação do tecido
sobre seus mamilos.
— Hum, por que você não me envia um e-mail com o rascunho que você
fez até agora, e eu lerei enquanto você come? — Luke fez a sugestão sem
olhar para ela.
— Parece bom.
Ela mordiscou o cheesesteak que ele trouxe, mas estava mais interessada
na maneira como o olhar dele a seguia, através do vidro do escritório.
Ela levou um minuto para verificar seu e-mail e viu que a entrevista de
emprego em Fremont havia sido confirmada para a semana seguinte. O
familiar burburinho de empolgação com um potencial novo começo não
apareceu desta vez. Na verdade, tudo o que ela realmente sentiu foi uma
bola de gelo se formando em seu estômago. Pela primeira vez na vida, o
apelo de um novo começo não estava lá.
Harper levou as mãos ao rosto e fechou os olhos. Não havia maneira de
contornar isto. Nenhuma maneira de sua vida atual continuar. Luke estava
indo embora e, mesmo que não estivesse, não havia espaço para ela em sua
vida.
— O que há de errado?
Harper saltou da cadeira ao ouvir a voz de Luke. Ele estava de pé do lado
de sua mesa, olhando para ela.
— Você me assustou! É isso que está errado. Jesus.
Ela colocou a mão sobre o coração, sabendo muito bem o verdadeiro
motivo de estar batendo forte. Porque ele estava muito perto dela.
— Mentirosa. O que há de errado?
— Eu estava pensando se seria difícil encontrar um apartamento que
permitisse cães.
Não era. Hannah já tinha marcado um encontro, para ver uma pequena
casa ao lado de um parque para cães.
— Você vai levar os cachorros?
— Bem, sim. Não acho que sua unidade permitiria que você os
levasse. Enfim, você quer alguma coisa? — Ela descruzou e cruzou as
pernas e sorriu quando ele deu um passo para trás.
— Uh. — Luke passou a mão na nuca. — Sim. Você pode dar uma olhada
em algumas palavras? Por favor.
— Claro — disse ela, levantando-se para segui-lo ao seu escritório. Ela
esperou até que ele se sentasse e então se inclinou sobre ele para olhar o
monitor. Ela o ouviu parar de respirar.
— Este texto aqui?
Luke acenou com a cabeça, mas permaneceu em silêncio.
— Você está preocupado por não estar claro o suficiente que a geotérmica
está incluída?
— Sim. Você realmente aprendeu muito em um período muito curto de
tempo.
— É fácil quando é interessante. E há muita coisa aqui que acho
interessante.
— Harper.
Seu tom de aviso imediatamente a fez recuar.
— Luke.
— Já conversamos sobre isso...
Ela se afastou dele.
— Conversamos sobre o quê? A: Eu estava falando sobre meu trabalho
aqui no escritório, capitão presunçoso. B: Nós não conversamos. Eu tentei,
e você se fechou e começou a dormir no sofá porque é totalmente maduro.
— E totalmente maduro é brincar comigo quando peço sua ajuda. Eu sei
que você está se vestindo assim de propósito.
— Nunca afirmei ser madura e, pelo menos, sou honesta sobre o que
quero.
— Você acha que não estou sendo honesto com você?
Ela nivelou seu olhar com o dele.
— É você quem está jogando aqui. Você faz parecer que está me
protegendo, quando é você que está tentando se proteger.
Ele começou a discutir, e então fechou a boca.
— Não dá para discutir com a verdade. Você é o único preocupado com o
quão intenso isso é. Você é quem está ficando com medo. Porque sente algo
e acha que tirar o sexo da questão vai fazer isso ir embora.
— Você entende por que não podemos fazer isso.
— Eu entendo que você não quer fazer isso — ela corrigiu.
— Harper. — Ele parecia exasperado. — Eu quero você. Estou duro
desde o segundo em que entrei aqui esta noite. Não há cenário que envolva
eu não querer você. — Ele passou a mão pelo braço dela, seu polegar
roçando a curva suave de seu seio. — Eu quero você mais do que deveria.
Harper encostou-se à mesa.
— Por que isso significa que temos que parar? Temos mais uma
semana. Não deveríamos estar aproveitando ao máximo?
— É difícil explicar logicamente o porque, quando você não está usando a
porra de um sutiã! — Ele estava gritando agora.
Ela levou as mãos aos quadris, e o tecido se abriu entre os dois botões
superiores.
— Você está pensando demais nisso.
— Não quero que nenhum de nós se apegue mais. E, sim, estou apegado
também.
Harper revirou os olhos e se afastou da mesa.
— Temos dez dias, e então você vai embora e eu vou embora. Não há
perigo de apego. Isso é tudo o que nos resta, e você está decidido a gastar
isso me punindo.
Ela se virou para sair do escritório, mas ele a segurou pelo braço antes que
desse um passo.
Ele a fez girar e se inclinar sobre a mesa em um piscar de olhos.
— Você me deixa louco — ele rosnou em seu ouvido.
— E você me irrita — ela argumentou, balançando os quadris contra os
dele, tentando conseguir algum espaço.
Sua ereção, dura como pedra, pressionou contra ela, empurrando-a contra
a mesa.
— Eu não posso lutar com você por mais tempo — ele avisou.
— Já estava na hora — ela o cortou.
Luke prendeu suas mãos atrás dela e empurrou sua saia até os
quadris. Quando ela ouviu o som de seu zíper, ficou instantaneamente
molhada. Não podia evitar.
Com seu joelho, ele forçou suas pernas a se abrirem mais e puxou sua
calcinha para baixo, por suas coxas. Aberta e pronta, ela gemeu. Com o
barulho, ela sentiu a pele lisa de seu pau balançar contra a parte de trás de
suas coxas. Segurando o membro grosso, ele guiou a ponta entre suas
pernas, esfregando-o contra suas dobras lisas.
— Você já está encharcada, querida.
Ele libertou seus braços apenas para agarrar a abertura de sua blusa e
puxar. Os primeiros três botões pularam na mesa e no chão.
Seus seios saíram para fora da camisa e em suas palmas à espera.
— É isso que você quer? — Ele apertou, esfregando as palmas das mãos
calejadas sobre as pontas sensíveis. — Eu te tocando? Eu dentro de
você? Eu fazendo você gozar uma e outra vez?
As pernas de Harper tremeram. Ele levou a mão ao cabelo dela e o
agarrou. Puxando-o para trás, ele agarrou seu pescoço com a outra mão.
— Isso é o que eu quero. Eu quero que você pegue toda a escuridão, toda
a dor, e transforme em algo lindo. Eu quero te preencher, te machucar, te
agradar. Dar tudo a você. Eu quero tanto que não consigo pensar em mais
nada. Pensar em nunca mais te tocar...
Ele passou a mão pelo pescoço dela para capturar um seio e puxou o
mamilo.
Harper ofegou, o pulso vibrando sob seus dedos.
— É isso que você quer?
Seus dedos puxaram o bico como uma boca. Ela gemeu novamente.
— Sim, Luke. Eu quero você. Eu quero tudo isso. — Foi um sussurro.
A mão dele deixou o cabelo dela abruptamente, e ela desabou sobre a
mesa.
— Cuidado com o que deseja, Harper.
O tecido úmido de sua calcinha se rasgou em dois, com um puxão
violento, e caiu no chão entre suas pernas. Sem barreiras, ela estava
completamente exposta. Luke guiou a cabeça grossa de seu pau até a junção
de suas coxas.
— Basta lembrar que você me pediu isso, eu só queria te
proteger. Encontre algo em que se apoiar.
Sem mais avisos, ele a penetrou com uma violência que ela nunca
experimentou. Não houve tempo para se ajustar ao seu tamanho. Seu
comprimento grosso entrou em seu corpo, penetrando-a. Ele mudou o
ângulo, e o último centímetro dele deslizou para seu interior.
Ela o sentiu bem fundo quando ele entrou completamente.
Com força bruta, ele começou a entrar nela. Suas mãos a envolveram,
agarrando seus seios. Elas trabalharam para acariciá-los, esticando e
puxando os mamilos, oferecendo intenso prazer com um pouco de dor.
Presa entre seus impulsos e a mesa, ela não podia fazer nada além de
aguentar. Tudo. Suas bolas pesadas batiam contra ela. Ele era muito grande,
o ritmo muito furioso.
Ele grunhia baixinho a cada estocada, e Harper sabia que ele estava
perdido nela. Não havia como pará-lo. Ela só poderia se submeter.
Seus pequenos músculos o apertavam em cada impulso. Um desejo tão
intenso, que alcançava seu coração, agarrava-se a ela. Ela queria tirar tudo
dele. As sombras, a escuridão, a dor.
Liberando seus seios, Luke segurou suas pernas. Uma mão escorregou
entre as coxas de Harper, separando suas dobras escorregadias para
acariciar onde ela precisava. Sua outra mão desceu por suas costas e ainda
mais abaixo, logo acima de onde seu pau a devastava. Ele sondou e
pressionou, e com um impulso rápido, entrou em seu canal apertado.
Completa em todos os sentidos. Harper gritou quando se apertou ao redor
dele, que liberou o primeiro jorro de sêmen quente profundamente em seu
útero. Seus dedos acariciaram seu clitóris, e ela se desfez.
Ela o ouviu gritar seu nome por cima do latejar em seus ouvidos. Ele o
falou de novo, mais suave agora, enquanto seu corpo ficava rígido e seu
pênis sacudia dentro dela. Ela podia sentir o calor fluido de seu orgasmo
enquanto continuava no clímax.
Seu corpo, molhado de suor, colapsou contra o dela na mesa. Ambos
estavam ofegando. Destruída, Harper sentiu a umidade em suas
bochechas. Que demônios ele escondia sob a superfície que doía tanto? Ela
podia sentir a sombra sobre o coração dele, e isso quebrou o dela.
***
— Harp, sinto muito, estou tentando me levantar, mas minhas pernas não
parecem estar firmes — ele murmurou contra a pele quente de suas costas.
Pela primeira vez, ele estava vazio. Sem sombras à espreita, sem
pensamentos para afastar. Apenas silencioso e quente.
Ele finalmente se forçou a se levantar e, acariciando as costas de Harper,
puxou-se lentamente. Ele observou enquanto uma umidade pegajosa descia
pela parte interna de suas coxas, evidência do quão forte ele gozou. Nunca
em sua vida fora assim. Ela afugentou a escuridão e o trouxe para a luz. Ele
sentiu algo se soltar em seu peito.
Ela ainda estava em silêncio. Ele nunca tinha visto Harper ficar tão quieta
por tanto tempo. Nem mesmo em seu sono.
— Harper. — Luke a puxou e lentamente a virou para encará-lo. Seus
joelhos se dobraram, e ele a segurou. Então ele viu as lágrimas.
— Oh, meu bem. Sinto muito. Eu sinto muito, porra. Eu te machuquei?
Ele a abraçou e a acariciou. Ela balançou a cabeça contra ele.
— Eu não te machuquei?
Ela balançou a cabeça novamente e se aconchegou mais perto dele. Ele a
ergueu e a carregou para o sofá de couro gasto, no canto.
— Eu assustei você?
Ela balançou a cabeça e colocou os braços ao redor dele.
Ele se sentou, embalando-a em seu colo.
— Me diga, querida. O que há de errado?
Harper ergueu a cabeça e segurou o rosto dele com as mãos.
— Eu acho que te amo — ela suspirou, em um lamento. — E não se
atreva a me dizer que é por isso que você não queria fazer sexo.
As mãos dele pararam em sua pele por um breve momento, antes de
retomar suas lentas carícias. Foi a vez dele de ficar em silêncio.
— Eu assustei você? — ela sussurrou contra seu pescoço.
Luke a apertou levemente.
— Talvez um pouco.
Harper sentou-se em seu colo.
— Isso é novo para mim. Não sei se gosto. — Ela parecia tão
desamparada, que Luke não pôde deixar de sorrir.
— Suponho que haja coisas piores.
— Realmente? Porque não consigo pensar em nenhuma neste exato
momento. Isso é realmente inconveniente. — Ela respirou fundo e sentou-
se novamente. — Oh, meu Deus! E se eu passar o resto da minha vida
sofrendo por um cara que conheci em Benevolence?
Luke a apertou novamente.
— Olha, Harper... — ele começou.
— Eu não disse as palavras para ouvir você dizê-las de volta. Sei que não
é algo que você sente por mim e não preciso ouvir os motivos. Eu só queria
que você soubesse.
— Harper, provavelmente deveríamos conversar. Mas, primeiro, vamos
encontrar algumas roupas para você, já que destruí a sua.
Eles comeram sanduíches, de pernas cruzadas no chão do escritório de
Luke. Ele havia arranjado uma camiseta da Garrison Construções e um
short de ginástica muito grande para Harper.
Ela esperou até que ele tivesse dado a última mordida no sanduíche de
peru com queijo.
— Então, vamos conversar.
Luke demorou a amassar o guardanapo e colocar o lixo de volta na sacola
de papel.
Ele respirou fundo.
— Há alguns anos, passei por uma fase difícil. Perdi algumas pessoas
próximas a mim e levei muito tempo para me recuperar.
— Pessoas em sua unidade?
Ele assentiu.
— E alguém em casa, logo depois.
— Alguém de quem você era próximo?
— Sim.
— Eu sinto muito, Luke. — Ela colocou a mão em seu joelho. — Nunca é
fácil perder alguém de quem você gosta, e é ainda pior quando é mais de
um.
Ele pensou em uma garotinha de sete anos, assustada, sem os pais, e
apertou sua mão.
— Foi uma época sombria.
— E é por isso que sua família...
— Me tortura com essa atenção bem-intencionada, mas autoritária?
— Como você se sente em relação a voltar em missão?
— Eu fui enviado para missões depois disso. Nunca é fácil. Mas é
necessário, e ajuda a superar os tempos difíceis.
— Você se sentiu responsável?
Ele respondeu sem hesitação.
— Sim. E eu ainda me sinto.
— Mesmo sabendo que não é sua culpa?
— Falha e responsabilidade não precisam estar relacionadas.
— E quanto à pessoa que você perdeu aqui?
— Perdê-la mudou as coisas para mim. Não vou passar por isso de novo.
Harper assentiu.
— OK.
— OK?
— Isso provavelmente não faz com que eu não ame você.
— Harper...
Ela tapou sua boca com a mão.
— Eu não preciso que você esclareça o assunto. Você não pode me amar
de volta. Você não quer estar em um relacionamento. Entendi.
— Sinto muito, Harper.
— Não sinta. Meus sentimentos por você não dependem dos seus por
mim. Eu gosto de você. Provavelmente te amo. Eu te acho um cara
incrível. Fim da história.
— Então, onde isso nos deixa?
— Aproveitando o resto da semana.
— Por que você iria querer, se não há esperanças a longo prazo?
— Você me conhece? O que na minha vida já foi a longo prazo? A vida é
muito curta para não se agarrar aos bons momentos enquanto eles duram.
— Você é uma mulher incrível, Harper Wilde.
Capítulo 23
Harper estava atrasada. Max se soltou da coleira, depois de avistar o
beagle correndo solto, três casas abaixo. Ela passou meia hora perseguindo-
os, devolveu o beagle a um Sr. e Sra. Scotts muito gratos e depois carregou
Max em um aperto mortal para casa.
Luke havia convocado uma reunião matinal com a equipe, e Harper queria
receber os últimos números com antecedência. Seu cabelo ainda estava
úmido do banho muito rápido, e ela tinha certeza de que havia perdido um
botão de sua blusa.
Não foi até que estava correndo para fora da porta da frente, procurando
suas chaves, que ela percebeu que elas e seu carro não estavam lá.
Luke fechou a porta, lutando para equilibrar uma caneca térmica e uma
pilha de papéis.
— Você vai comigo hoje.
— Onde está meu carro?
Luke começou a descer os degraus da varanda da frente.
— Está no conserto.
— Por que diabos meu carro está no conserto? — Ela o seguiu.
Ele suspirou e se virou para encará-la, então eles ficaram cara a cara.
— Pedi a Shorty para fazer alguns ajustes.
— Tudo estava funcionando bem — disse Harper, com um olhar
desconfiado.
— Besteira.
Ele falou tão calmamente, que não foi registrado por um segundo inteiro.
— Eu não vou deixar você com um carro que quase não funciona.
— Luke, isso não é problema seu.
Ele suspirou.
— Você é minha preocupação, e isso se estende a qualquer contêiner de
metal que você entra e dirige em alta velocidade.
Ela ficou igualmente comovida e irritada com seu gesto. Valia a pena
lutar, com apenas 72 horas restantes juntos? Ela suspirou.
— Quando estará pronto?
— Provavelmente amanhã, no final do dia.
— Dois dias? O que eles estão fazendo?
— Tudo o que for necessário. — Ele cortou sua resposta indignada com
um beijo forte na boca. — Agora entre na picape.
— Tudo bem, mas nem mesmo pense por um segundo que você pagará
por isso — ela gritou às suas costas.
— Picape, Harper — gritou ele por cima do ombro.
Ela subiu, bufando.
— Escute — Luke disse, deslizando a chave na ignição. — Quero você a
salvo quando eu não estiver aqui para ficar de olho. Eu me apeguei a você
estar viva e inteira.
— Você não acha que está sendo um pouco superprotetor? Especialmente
para alguém que basicamente terminará comigo em questão de horas. —
Eles voltaram para a rua.
— Podemos conversar sobre outra coisa por um minuto, e então você
pode voltar a reclamar?
Ela revirou os olhos e suspirou.
— Certamente.
— Eu a vi começar a fazer as malas na noite passada.
Ela começou mesmo. Eram apenas algumas roupas enfiadas em uma
bolsa e algumas caixas de bugigangas.
— Não queria deixar tudo para sexta-feira. Muito deprimente.
— Eu sei que você está planejando ir embora, e eu estava pensando que,
talvez, você pudesse ficar mais alguns dias. Depois que eu for embora.
Harper o encarou, mas o olhar dele estava fixo na estrada.
— Por quê?
— Pode ser um pouco difícil para minha família, se nós dois partirmos no
mesmo dia.
— Você ainda não disse a eles?
Ele balançou a cabeça.
— Eu não consegui pensar na maneira certa de fazer isso. Papai está
sempre querendo me contar sobre algo ótimo que você está fazendo no
escritório. Mamãe está sempre me empurrando assados para levar para
você.
— Isso é meio fofo.
— Sim, e vamos esmagar seus sonhos com a verdade.
— Então o que nós vamos fazer? Preciso desaparecer um dia, certo? —
Ela observou o limpo bairro passar pela janela e forçou o nó em sua
garganta a se soltar.
— Eu fiz algo que nunca faço e pedi o conselho de Sophie.
— De repente, estou intrigada.
— Eu disse a ela que não queria que nenhum de nós dois parecesse
idiotas.
— Boa decisão.
— Portanto, a solução dela é anunciar que você acabou de conseguir o
emprego dos seus sonhos em outro lugar e que estamos nos separando
como amigos.
Harper refletiu sobre isso.
— Quando vamos contar a eles?
— Eu estava pensando em fazer isso no jantar.
— Antes de partir?
— É isso, ou você conta a eles depois que eu entrar no ônibus.
— Isso não vai acontecer.
— Jantar, então.
Com seu futuro decidido, Harper se reclinou no encosto de cabeça e
tentou não pensar.
***
Harper tirou as ondas douradas de seu rosto e as prendeu com um grampo,
deixando o resto solto em seus ombros. Ela respirou fundo para se acalmar,
antes de começar a fazer a maquiagem. Queria parecer perfeita. Até
comprou um vestido novo.
O vestido de verão, branco, tinha um corpete justo com um decote
redondo e uma saia bufante que flutuava acima de suas pernas.
Era muito chique para o jantar, mas ela queria ser memorável.
— Harper. — A voz de Luke subiu as escadas. — Temos que ir, querida.
— Estou pronta — ela respondeu. Uma última olhada no espelho e outra
respiração profunda e disse a si mesma que estava pronta. Uma última
noite.
Ela desceu as escadas e se chocou com Luke quando ele virou a esquina
da sala de estar. Ele a segurou, as mãos em sua cintura.
— Olá, linda.
Sua voz era uma carícia. Uma que ela sentiria falta por muito tempo.
Ele estava vestido com calças cor de carvão e um suéter preto fino, que
caía como se tivesse sido derramado sobre ele. Perfeição. Harper passou as
mãos no peito dele, provocando um grunhido.
— Querida, se começarmos, vamos nos atrasar. — Ele passou a mão por
baixo do vestido, para acariciar suavemente a barreira de sua calcinha de
seda. — Muito.
— Eu não posso acreditar que este é o fim — ela sussurrou, traçando seu
peito levemente com os dedos, até os ombros.
Luke a encarou por um longo momento, levantando os polegares para
traçar um caminho suave ao longo de sua mandíbula e pescoço.
— Você está linda — disse ele finalmente.
— Eu queria ser memorável.
— Querida, demoraria mais do que todo o tempo do mundo para eu te
esquecer.
— Eu te amo, Luke.
Tanto que ela pensou que iria explodir dela. Amor e orgulho corriam por
suas veias, alimentando seu coração. Ele era o homem com quem ela
sempre sonhou.
Ele a puxou com força, apoiando o queixo no topo de sua cabeça.
— Vou sentir sua falta. — Havia uma ferocidade em sua voz que fez
Harper fechar os olhos para conter as lágrimas. Ela respirou fundo,
estremecendo.
— Tudo bem, Capitão. Vamos levá-lo para sua festa — Ela disse, dando
um passo para trás.
— Vamos com o seu carro. — Ele ergueu as chaves e as balançou na sua
frente.
— Está de volta? Yay! — Ela agarrou as chaves, que Luke segurava fora
de seu alcance.
— Está de volta — afirmou. — Mas você só pode tê-lo com uma
condição.
— Eu não vou ficar pelada. Já estamos atrasados.
Ele sorriu.
— Não essa condição. Você tem que prometer que vai cuidar dele. Trocar
o óleo regularmente. Não ignorar a luz de verificar o motor. Verificar os
fluidos e a pressão dos pneus.
— Sim, senhor. — Harper fez uma continência brusca. — Agora me dê!
Ele entregou-lhe as chaves e a seguiu para fora. Seu grito de alegria fez
Max atacar a janela da frente para latir ferozmente.
— Está tão limpo! E olhe! Eles consertaram o rasgo no teto. — A pintura,
trazida de volta à vida por uma cera profissional, brilhava com um azul
brilhante sob sol do final da tarde.
Harper sentou-se atrás do volante e acariciou amorosamente o painel.
— Esses medidores são novos?
Luke se inclinou na janela aberta do passageiro.
— Por que você não liga?
Harper obedeceu e bateu palmas quando o motor pegou na primeira
tentativa.
— Oh, meu Deus! Não há barulho algum. Shorty é um gênio!
Luke abriu a porta e sentou no banco do passageiro.
— Vou dizer a ele que você disse isso.
— Muito obrigada por consertá-lo, Luke! Isso vai me custar uma grande
quantidade do dinheiro para o meu apartamento e do fundo do sofá
confortável, mas eu nem me importo. Nunca esteve melhor que isso!
— Seu fundo está intacto. Isso é por minha conta. Considere um presente
de despedida.
Harper abriu a boca para discutir, mas Luke fechou a mão sobre ela.
— Antes de você começar a gritar, o último mês foi o melhor que tive
em... nem sei por quanto tempo. Você fez da minha casa um lar, arrumou o
caos no trabalho e me deu o que eu não sabia que precisava. Você. Portanto,
esta é minha maneira, muito pequena, de agradecer por me trazer de volta à
vida. Se eu pensasse por um segundo que me deixaria comprar um carro
novo, eu o teria feito. Mas eu conheço você.
Ele tirou a mão de sua boca.
— OK. Você pode gritar agora.
— Droga, Luke. Não consigo gritar agora.
— Você também não pode insistir em me pagar sem parecer uma idiota —
ele sorriu.
Maldita covinha sexy. A imagem perfeita. Ele sorrindo para ela, óculos de
aviador, aquele suéter macio que se agarrava a cada músculo. E o sol se
pondo atrás dele.
Era assim que ela sempre se lembraria dele.
Harper suspirou. Ela iria para o túmulo amando Luke Garrison sem
arrependimentos.
Ele deu um tapinha no painel.
— Agora que ganhei o concurso de presentes, vamos lá. Estou com fome.
Harper deu ré na garagem e engatou a primeira.
— É um motor novo?
***
O próprio Sr. Romanos os conduziu pelo restaurante até a salinha dos
fundos, reservada para ocasiões especiais.
Harper parou com Luke na porta e observou a cena caótica. Josh se
arrastou para baixo de uma mesa e Ty estava tentando convencê-lo a
sair. Sophie estava enchendo as taças de vinho. Charlie estava em uma
profunda discussão com Aldo e James, enquanto Claire e uma mulher baixa
e rechonchuda, com cabelos crespos grisalhos, estavam conversando.
— Essa é a mãe de Aldo, Sra. Moretta — Luke sussurrou em seu ouvido,
acenando na direção da mulher. Ela jogou a cabeça para trás em uma
gargalhada estrondosa. — Ela é agressiva, então tente não entrar em uma
discussão com ela.
Stu e Syl estavam tendo um desentendimento sobre a cesta de pãezinhos,
enquanto a garçonete de aparência cansada prometia trazer outra. Frank
sentou-se sozinho, tomando uma cerveja.
— Vou sentir falta disso — Luke suspirou, puxando-a para seu lado.
— Eu também — Harper assentiu. — Bem, podemos também aproveitar
ao máximo a nossa última noite.
Ele apertou sua cintura e piscou.
— Tio Stu, coloque o pão na mesa — ele ordenou quando entraram na
sala.
Os aplausos aumentaram, e eles foram cercados por abraços, apertos de
mão e tapas nas costas. Todo mundo estava falando ao mesmo tempo.
Josh colocou a cabeça para fora da mesa.
— Tio Luke! — A criança correu para seu tio, e Luke o pegou, jogando
seu sobrinho no ar.
— Tio Luke! Camu! — Josh apontou para a camiseta camuflada que
estava vestindo. — Igual você?
— Quando você voltar, ele terá o dobro do tamanho — provocou Ty. — O
garoto come sete quilos de macarrão com queijo por dia.
— Eu não duvido — Luke riu. Harper contornou a multidão até Sophie,
que lhe entregou uma taça de vinho.
— Aguentando firme?
Harper assentiu.
— Sim. — Ela observou Luke fazer malabarismos com Josh, para que ele
pudesse abraçar tia Syl. — Ele te contou o que fez com o meu carro?
Sophie revirou os olhos.
— Meu irmão já contou alguma coisa de bom grado a alguém?
— Bom ponto. — Harper riu e a informou.
— O grande molenga. — Sophie suspirou e piscou os olhos lacrimejantes.
— Ele te ama, você sabe. Ele protege você como se fosse da família.
— Eu sei que ele se importa comigo, mas não acho que ele está pronto
para a palavra com A. Eu, por outro lado... — Harper parou de falar e
tomou um gole de vinho.
— Eu sabia que você era exatamente o que ele precisava, e agora você
está indo embora também — Sophie fungou.
— Oh, meu Deus, não comece, ou isso vai me irritar, e então Luke vai
ficar puto com nós duas — Harper disse, piscando os olhos para lutar contra
as lágrimas que turvavam sua visão. — Por favor, me diga algo engraçado!
— No ano passado, mamãe levou Josh para dormir lá, para que Ty e eu
pudéssemos sair à noite. Em vez disso, ficamos em casa e bebemos uma
garrafa inteira de Kraken. Então pedimos uma pizza e apostei que ele não
atenderia a porta usando minhas calças de pijama rosa com gatinhos
nelas. Eu perdi.
Harper tapou a boca com a mão, mas era tarde demais. A risada já estava
explodindo. Ambas se dobraram de rir com histeria.
— Calças de gatinho rosa? — ela se engasgou.
Sophie, perdida em uma risada silenciosa, só conseguiu assentir.
— Senhoras, vou ter que prendê-las por perturbação pública? — Ty disse,
se aproximando.
Isso as fez explodir novamente, e Harper agarrou-se a Sophie para ficar de
pé.
— O que você fez com a minha garota, Ty? — Luke apareceu ao lado
dela, uma garrafa de cerveja na mão.
Harper enxugou as lágrimas de suas bochechas, grata por ter usado rímel
à prova d’água esta noite.
— Desculpe. Sophie estava apenas contando a história mais engraçada.
— Se você recuperou seu suprimento de oxigênio, vou apresentá-la à Sra.
Moretta.
Harper acenou com a cabeça e endireitou os ombros.
— Todos recuperados. Com licença, Soph, Sr. Gatinho. — Ela arranhou o
ar na frente de Ty enquanto passava.
Sophie começou a rir novamente.
— Droga, Soph. Por que você está revelando segredos? — Ty suspirou
atrás deles.
***
Eles finalmente conseguiram que todos se sentassem, por tempo suficiente
para a garçonete anotar o pedido do grupo. Quando as bebidas de todos
foram recarregadas, Charlie se levantou, o copo na mão. Luke apertou a
coxa de Harper por baixo da mesa.
— É tradição da família Garrison enviar nossos meninos com algumas
palavras de sabedoria. Luke, Aldo — Ele acenou com a cabeça para ambos
—, eu testemunhei vocês crescerem de crianças encrenqueiras para
adolescentes criadores de problemas. Agora vocês são homens adultos e
ocasionalmente ainda causam problemas.
Harper sorriu com a risada que se alastrou pela mesa.
— Mas eu não poderia estar mais orgulhoso de vocês dois. Vocês são bons
homens que lideram com o coração. Acreditam em lealdade, amizade,
família. Obrigado pelo seu serviço e voltem para casa em segurança. —
Charlie ergueu seu copo. — Saúde.
— Saúde — todos ecoaram, erguendo os copos.
Luke apertou a perna dela novamente e se levantou.
— Obrigado, pai. Gostaria apenas de salientar que aprendemos com você
a criar problemas. Não costumo fazer esse negócio de discursos, mas
gostaria de agradecer a todos pelo apoio. Para nós, ir nunca é fácil. Mas
acalma nossas mentes saber que todos terão uma folga de nós em
casa. Posso não dizer isso com frequência suficiente, mas agradeço a todos
vocês por tudo.
Luke colocou a mão no ombro de Harper.
— Muitos de vocês sabem que Harper tornou o período antes da missão
muito mais fácil para mim, no trabalho. Em casa, ela adotou cachorros e
comprou móveis e normalmente trazia muito caos. — O grupo riu.
— Nós conversamos muito sobre o que fazer com a minha partida e
decidimos que é melhor para nós dois se seguirmos caminhos separados.
Harper olhou para o colo dela e fingiu não ouvir os suspiros.
Sophie, à sua esquerda, cutucou-a por baixo da mesa com o pé.
— Harper estava a caminho de Fremont quando nos conhecemos. E é para
lá que ela vai, em uma ou duas semanas. Ela terá algumas oportunidades
com as quais está muito animada, e estou feliz por ela. Ela é uma ótima
garota.
Luke parou, sem jeito, e Harper deu uma espiada em volta da
mesa. Choque, decepção, confusão.
— Nossa, quando você se levantou, pensei que você fosse pedir a garota
em casamento — anunciou a sra. Moretta. Ninguém riu.
Capítulo 24
— Bem, isso foi terrivelmente doloroso — Luke disse enquanto fechava a
porta do motorista.
O jantar acabou. Felizmente, a maior parte do sentimento festivo havia
retornado no momento em que a sobremesa foi servida, após a bomba que
Luke soltou, mas tinha sido difícil por um momento. Harper deu um tapinha
em seu joelho.
— Você fez o que precisava ser feito.
— Você viu o rosto da minha mãe? Eu sinto como se tivesse chutado uma
ninhada de cachorrinhos — Ele gemeu.
Harper riu.
— Pobre bebê. Está tudo bem. Acabou, e você nunca mais terá que fazer
isso. Todos entendem que estamos bem com a decisão. Claro, talvez
pensem que somos covardes por não tentarmos mais, por Max e Lola.
Luke saiu do estacionamento do restaurante e foi para casa.
— Todos pensaram que eu iria pedi-la em casamento, e então tive que
destruir seus sonhos. — Ele suspirou, passando a mão pela cabeça. — Eu
me sinto um idiota.
— Se isso faz você se sentir melhor, pensei que você fosse pedir também.
— Muito engraçado, pestinha.
Harper riu e deu um tapinha em sua perna.
— Então, como se sente? — Luke perguntou, mudando de assunto.
— Sobre tudo isso?
Ele assentiu.
Harper suspirou.
— Culpada, triste, preocupada. Você nomeia, e eu o sinto. E quanto a
você?
Luke encolheu os ombros.
— Não sei. Eu me preocupo em empurrá-la porta afora e deixá-la aí
sozinha.
— Eu sou uma garota crescida, Luke.
— Eu sei que você é, mas isso não me impede de me preocupar com
você. Sempre há uma mistura de entusiasmo e ansiedade envolvida na
missão. Já fiz isso antes, então não se trata tanto do “desconhecido”, mas do
“conhecido”.
— Como? — Harper perguntou.
— Como crianças que nunca têm o suficiente para comer. Algumas das
pessoas nunca confiarão em nós. As tempestades de areia. A monotonia. O
perigo. Mas também há coisas boas. Minha unidade tem um forte vínculo
que vem de uma espécie de intenso sofrimento compartilhado.
— E você está no comando?
Luke acenou com a cabeça.
— Sim, sou o oficial comandante de nossa unidade de infantaria.
— Isso é muita pressão?
— Não quando todos nós trabalhamos juntos e fazemos o que devemos
fazer. Tenho um grande grupo de homens e mulheres que, na sua maioria,
tornam tudo mais fácil.
Harper assentiu.
— Como é voltar para casa? Parece que você está vivendo duas vidas
diferentes?
— Às vezes, parece mais fácil ir para a missão do que voltar para casa. Lá
acontecem coisas como levar um tiro e enfrentar decisões de vida ou morte
todos os dias, e aqui o mais difícil parece tentar decidir qual hambúrguer
pedir do menu. Sempre leva um pouco de tempo para lembrar que só
porque nossas famílias e amigos não estiveram na guerra, isso não significa
que a maneira como eles vivem suas vidas seja menos importante.
— Então, quando você chega em casa e alguém está pirando por ter
levado uma multa por excesso de velocidade...
— Exatamente — ele assentiu. — Até que você tenha enfrentado
situações extremas, é muito fácil dar tudo como certo e se preocupar com
essas coisas pequenas.
— Quando você chega em casa, como passa suas primeiras vinte e quatro
horas?
Luke sorriu.
— Eu durmo, na maior parte.
Harper riu.
— Então, você gostaria de passar suas últimas horas aqui?
A mão de Luke em seu joelho subiu mais alto, arrastando o tecido de seu
vestido com ele.
— Isso é uma dica?
Disposta a jogar, Harper afastou os joelhos. Seu vestido subiu alto o
suficiente para revelar sua calcinha de algodão branco.
— Você está tentando me distrair? — Luke brincou. Seu dedo arrastando
preguiçosamente sobre a borda do material.
Ele podia não a amar, mas a queria com uma intensidade que assustava os
dois. E isso era alguma coisa.
Harper enganchou as pernas de cada lado do assento. Era um convite.
— Você não sabe que é perigoso distrair o motorista? — Enquanto ele
falava, as pontas de seus dedos circundavam sua intimidade através do
algodão.
— Hum — murmurou Harper.
Luke puxou o tecido para o lado, desnudando-a para ele. Desta vez, seus
dedos encontraram a carne.
— Jesus, querida, você já está molhada.
Luke entrou na garagem, pneus cantando.
— Eu quero você lá dentro — ele ordenou.
Harper agarrou sua bolsa e saltou do carro, apressando-se na
caminhada. Quando se atrapalhou com as chaves na porta da frente, ele se
apertou contra ela. Harper se moveu para trás, para se esfregar nele.
Luke puxou a alça de seu vestido e deixou seus seios caírem livremente
em suas mãos. Harper empurrou a porta da frente e o arrastou pela soleira,
puxando a fivela do cinto.
Ele a girou para encará-lo e chutou a porta, fechando-a atrás dele.
Eles foram interrompidos por Lola e Max correndo pelo corredor, para
cumprimentá-los.
— Vou colocá-los no quintal. Me encontre lá em cima — ele sussurrou.
— Mas deixe o vestido. Eu vou despir você.
Com a pulsação descontrolada, Harper subiu as escadas de dois em
dois. Ela só teve tempo de tirar a presilha do cabelo e as sandálias, antes de
ouvir Luke subindo.
Quando ele apareceu na porta, seu coração deu um pulo no peito. Luke se
aproximou dela, puxando o suéter pela cabeça.
— Droga, você está duro — Harper suspirou.
— Meu bem, eu estava prestes a dizer a mesma coisa. — Suas mãos
estavam sobre ela agora, roçando os lados de seus seios nus. — Tenho
pensado em tirar este vestido de você desde que desceu com ele.
Seus dedos voaram para abrirem o cinto dele. Luke interrompeu o
movimento de suas mãos e desafivelou o cinto.
Depois levou as mãos ao rosto dela.
— Vou demorar com você esta noite.
Sem fôlego, Harper assentiu.
— Você é tão linda, Harper.
Seus dedos se arrastaram ao longo de sua mandíbula até a nuca. Luke
baixou a boca até a dela, e ela se entregou ao lento arder do fogo,
derretendo-se em seus braços.
Seus dedos queimaram caminhos ardentes por sua pele nua, acendendo os
nervos a cada carícia.
Ele parou na cintura dela e lentamente começou a baixar o vestido sobre
os quadris, pelas coxas, até formar uma pilha de tecido a seus pés.
Vestida apenas com sua calcinha, Harper se ajoelhou diante dele e
deslizou as calças por suas pernas musculosas.
De pé, apenas em cuecas boxer, ele era seu herói esculpido.
Ela alcançou o cós e pegou seu comprimento grosso em sua mão. A
cabeça já estava molhada. Harper puxou a cueca até as coxas. Inclinando-se
para ele, ela levou seus lábios à larga cabeça de seu pênis.
Seus dedos se cravaram em seu braço.
— Harper. — Ele não a impediu, mas seu corpo ficou tenso.
Ela abriu os lábios e lentamente o tomou em sua boca, centímetro a
centímetro.
Ele fez um ruído semelhante a um gemido, e Harper soube que o afetava
da maneira como ele a afetava. Testando, ela passou a língua em torno da
cabeça, sacudindo-a sobre a pequena fenda.
Sua recompensa foi uma gota de umidade salgada.
Ela lambeu a ponta.
— Meu Deus, Harper.
Foi todo o incentivo que precisava. Ela inclinou a boca sobre ele e para
baixo. Todo o caminho até o fundo de sua garganta. Seus quadris
flexionaram, levando-o mais longe em sua boca, e ela ofegou para respirar.
Ela envolveu a mão ao redor da base de seu pênis, e com a boca e os
dedos, começou um movimento agressivo.
Luke ergueu os quadris e colocou a mão no cabelo dela.
Harper chupou uma e outra vez.
— Querida. — Ela ouviu a necessidade, o medo em sua voz rouca.
Com a mão livre, Harper espalmou seu saco. Ela puxou e o acariciou em
um ritmo que combinava com sua boca.
O aperto dele em seu cabelo aumentou, e ela sabia que ele não tinha ideia
de que a estava machucando. Isso a fez se sentir poderosa, levando-o ao
limite assim.
Ele deu um passo para trás, seu pau saindo da boca de Harper.
— Estou muito perto — ele sussurrou. Luke a puxou para cima e a
afastou dele. Enquanto uma mão trabalhava no mamilo, a outra mão
mergulhou no cós de sua calcinha.
Harper gemeu, balançando os quadris contra os dele.
Ele respondeu a seu apelo silencioso penetrando-a lentamente com um
dedo. Harper recostou-se no peito dele e fechou os olhos. As estocadas
lentas e superficiais e os dedos ásperos puxando seu mamilo a desfizeram.
— Ponha as mãos na cama — ele ordenou baixinho.
Ela se curvou e se apoiou no colchão com as mãos. Seus seios caíram
pesadamente, os mamilos roçando a colcha macia.
A mão dele brevemente deixou seu seio para puxar sua calcinha e expô-
la. Ela sentiu os lábios dele e os dentes arranhando sua pele bem no alto de
sua bunda. Ainda acariciando-a pela frente, Luke deslizou outro dedo
dentro dela.
Sua ereção estava dura contra sua bunda, e ela podia sentir uma umidade
pegajosa se transferindo para sua pele.
— Luke — ela sussurrou.
Ele respondeu com outro golpe de seus dedos. Harper gritou ao atingir o
ponto mais sensível. Ele se retirou e levou as duas mãos aos seios dela. Lá
seus dedos rolaram e puxaram os mamilos.
Harper moveu seus quadris para trás e para cima, e suspirou quando sua
ereção se aninhou entre suas coxas.
— Por favor, Luke — ela implorou.
Ele a empurrou para a frente, na cama, e a rolou de costas. Harper dobrou
os joelhos e plantou os pés na beira do colchão para dar-lhe acesso total.
— Você me deixa louco. — Ele se ajoelhou no chão e puxou os quadris
dela em sua direção.
Quando ele pressionou a boca em sua calcinha, Harper ofegou e ergueu
seus quadris.
— Eu amo a maneira que você responde a mim. — Luke puxou o algodão
para o lado e plantou uma trilha de beijos do joelho até a parte interna da
coxa.
Ela sentiu sua respiração e estremeceu. Usando sua língua, Luke sondou
suavemente entre os lábios de seu sexo.
— Oh, meu Deus — ela sussurrou.
Sua língua acariciou sua protuberância sensível, e suas pernas
tremeram. As mãos de Harper fecharam-se ao lado do corpo. Sua língua
mágica lambeu o caminho para sua abertura e pressionou dentro dela. Ela se
arqueou contra sua boca.
— Lucas.
Ele substituiu sua língua pelos dedos e entrou nela enquanto sua boca se
movia de volta para suas dobras. Ele brincou e sondou enquanto seus dedos
entravam nela sem parar. Sua língua entrou em um ritmo constante e
intenso que a levou ao limite.
Harper lutou contra a urgência. Ela tentou se desvencilhar de seu aperto,
mas sua mão forçou seus quadris a ficarem imóveis.
A necessidade a esvaziou. Não havia mais nada dentro dela, exceto o
desejo de ser preenchida. Os dedos de Luke a penetraram novamente, e ela
imediatamente se fechou ao redor deles. Sua língua abria suas dobras e
acariciava seu clitóris. Ela se chocou contra ele, apertando seus dedos e
arqueando contra sua boca enquanto o orgasmo florescia em uma explosão
controlada.
Luke gemeu contra ela, seu desejo crescendo mais alto. Ele se abaixou
para acariciar seu pau contra sua abertura.
— Querida, eu preciso estar dentro de você. — Sua voz era áspera.
— Deixe-me montar você — ela sussurrou.
Ele subiu na cama e deitou-se de costas, ainda se acariciando. Harper
tirou-lhe a cueca pelas pernas. Luke a ajudou a descartar sua calcinha, antes
de levantá-la para se sentar escarranchada em sua grossa ereção.
Ela fez uma pausa, com sua entrada molhada circundando a cabeça de seu
pau.
— Eu te amo, Luke — ela sussurrou, observando seus olhos ficarem
vidrados enquanto lentamente se abaixava sobre ele. Centímetro por
centímetro, ela o acolheu em seu interior. Completamente preenchida, ela se
inclinou para frente, seus seios balançando logo acima da linha dura de seus
lábios.
Ele levou o bico de um seio à boca, e Harper começou a cavalgar com
movimentos lentos e profundos.
Luke colocou as mãos nos quadris dela para controlar o ritmo. Seu
comprimento grosso a esticou a um ponto que era quase doloroso. Seus
quadris se ergueram, e ele penetrou fundo.
Harper gemeu contra as sucções suaves de sua boca em seu seio. As
chupadas ecoaram nos músculos que delicadamente apertaram seu pau
tenso.
Ela empinou e montou nele, deliberadamente devagar. Seus olhares se
encontraram quando Harper definiu o ritmo.
— Sim — ele prolongou a palavra em uma longa expiração. — Deus, sim.
Cada movimento, cada golpe era uma expressão de amor.
Ele impulsionou os quadris mais uma vez e explodiu em um grito. Ela o
seguiu até o esquecimento.
Harper estava se afogando na escuridão entre eles, mas não tinha nenhum
desejo de se salvar. Este era um relacionamento que poderia destruir uma
alma. E tinha chegado ao fim.
Capítulo 25
A luz cinza da janela disse a Harper que ela ainda tinha tempo antes do
despertador, mas voltar a dormir não era uma opção. O dia que ela temia
estava aqui. Nunca mais iria acordar e se encontrar envolta nos braços de
Luke.
Muitas coisas terminariam hoje. Ela não estava pronta para deixar tudo
para trás, mas não era sua escolha.
Ela o estudou em seu sono, como fez em sua primeira manhã
juntos. Traçou com seus dedos a fênix sobre seu coração, silenciosamente
desejando que ele ficasse seguro, enquanto memorizava cada linha de seu
corpo.
Como ela deveria voltar para uma vida normal depois disso?
Os olhos de Luke se abriram. Olhos avelãs sonolentos olharam para ela.
Harper suspirou e colocou a mão em concha em seu rosto.
Luke beijou sua palma.
— Você está pronta?
— Não.
— Ainda estamos bem, certo?
Harper sorriu.
— Sim, estamos bem. Só vou sentir sua falta pelos próximos dez anos ou
mais.
Ele a puxou para si e colocou a cabeça dela sob seu queixo. Luke deu um
beijo doce no topo de sua cabeça e a abraçou até que seu alarme soasse.
***
Eles encontraram a família de Luke na base. O estacionamento estava
lotado de familiares se despedindo. Harper tentou não olhar para o ônibus
na frente deles. O ônibus que tiraria Luke Garrison de sua vida para sempre.
Não havia tempo a perder, a programação tinha que ser mantida.
Luke, vestido em seu uniforme, guardou sua mochila no ônibus e voltou
para eles. Harper o observou caminhar pela fila, abraçando e apertando as
mãos. Claire o puxou para um longo abraço.
— Volte para casa em segurança — ela ordenou.
— Não é sempre assim, mãe?
Ele apertou a mão de Charlie e deu um tapa nas costas de James.
— Não se esqueça de cortar minha grama, lacaio — lembrou ao irmão.
— Não se esqueça de voltar para casa, para me irritar pra caralho.
— Rapazes! — Claire os censurou.
Luke passou para Sophie e Josh, envolvendo os dois em um abraço de
urso.
— Se cuida, Soph — disse ele à irmã.
— Você também, tio Luke. Sentiremos sua falta. — Ela fungou, e Josh
deu um tapinha em seu rosto.
E então Luke estava parado na frente de Harper.
Ele segurou o rosto dela com as mãos e olhou em seus olhos.
— Obrigada, Harper. Por tudo.
Uma única lágrima escorreu por sua bochecha. Ela balançou a cabeça.
— Eu deveria estar agradecendo a você. Este foi o melhor mês da minha
vida.
— Diga-me mais uma vez.
— Eu te amo, Lucas Garrison, e é melhor você voltar para casa em
segurança para sua família, ou eu voltarei e chutarei sua bunda.
Ele sorriu.
— Essa é minha garota.
Ele colou os lábios nos dela e os manteve lá, suavemente, ternamente. Ela
podia sentir o gosto salgado de suas lágrimas nos lábios dele.
Luke se afastou lentamente e enxugou as lágrimas dela com os
polegares. Quando os lábios de Harper tremeram, ele a puxou com força.
— Pensarei em você — ele murmurou em seu ouvido. — Seja boazinha e
fique a salvo.
— O mesmo para você, Capitão.
Ele correu o polegar pelo lábio inferior dela e sorriu.
Quando ele se virou, Harper quase o agarrou. Ela não estava pronta para
isso, precisava de um pouco mais de tempo.
Ela o observou cruzar o estacionamento, onde o resto da unidade estava
formando uma fila para o ônibus. Estava orgulhosa, assustada e triste, tudo
ao mesmo tempo.
O braço de Sophie envolveu seu ombro, prendendo Harper no local.
— Vai ficar tudo bem, Harp — Mas sua voz vacilou também.
Claire deu um passo para o outro lado de Harper e colocou o braço em
volta da sua cintura.
— Todos nós vamos ficar bem. Juntos.
Harper acenou com a cabeça, os olhos nunca deixando a silhueta de Luke
indo embora. Ela sabia que não havia “juntos” em seu futuro. Ela era uma
estranha, não era da família.
Luke parou no degrau mais baixo do ônibus e se virou. Ele ergueu o braço
em um aceno.
Harper mandou um beijo para ele. Ela viu seus dedos se fecharem no ar e
sorriu.
***
Harper subiu no banco do motorista, onde Luke estivera sentado há
apenas uma hora, e fechou a porta. Escondeu por trás dos óculos de sol as
lágrimas que surgiam e acenou para a família de Luke, enquanto guiava a
picape para fora do estacionamento e de volta para a estrada.
Ele se fora. O homem que tinha seu coração estava para sempre fora de
sua vida, e se esperava que ela seguisse a vida como se tudo estivesse
normal. Como as pessoas que têm relacionamentos reais com crianças e
responsabilidades fazem isso? Acenar estoicamente enquanto seus
parceiros, suas rochas, seus corações os deixavam para viver outra
vida. Uma que nunca poderia ser totalmente compartilhada ou
compreendida.
Um soluço escapou dela, e ela parou no acostamento, sua visão nublada
com lágrimas que escaldavam seus olhos. A dor em seu peito se espalhou
para sua garganta.
Seu coração se partiu pelos homens e mulheres separados pela guerra e
pelo dever. O medo que se apoderava do coração de quem ficava em casa
nunca se dissipava totalmente. Pelo menos no caso deles, os que ficaram
para trás poderiam trabalhar para construir suas vidas e as vidas de suas
famílias, para que o homem ou a mulher que eles amavam pudessem voltar
para casa.
A vida de Harper, como ela havia se acostumado tão rapidamente, se
fora. Para nunca mais voltar. Mesmo depois que Luke voltasse. Ele não
voltaria para ela. Benevolence não seria mais sua casa.
Ela deixou que os soluços silenciosos percorressem seus ombros até que
sua cabeça se poiou no volante. Ela o amava.
Ela o amava agora e sabia, com certeza, que amaria Luke Garrison pelo
resto de sua vida.
Do console da picape, o telefone de Harper sinalizou uma mensagem.
Ela queria ignorar. Preferia chafurdar e chorar na beira da estrada o tempo
que fosse necessário para se sentir melhor. Não havia espaço para o mundo
exterior agora. Mas se desligar do mundo não era uma opção. Nunca fora
uma opção. Ela puxou o telefone do console e desbloqueou a tela. Era uma
mensagem de Luke.

Fique.
Capítulo 26
Harper transferiu a bandeja para a mão esquerda, para poder inserir o
pedido da mesa sete e fechar a mesa doze.
Ela evitou um bando de risonhos de 30 e poucos anos em seu caminho
para o banheiro feminino e acenou com a cabeça para o casal na mesa de
sinuca, que sinalizou outra rodada. Apressando-se para o final do bar, ela
começou a recarregar sua bandeja.
Era uma noite de sexta-feira movimentada. O clima quente de maio
tornava muito tentador passar a noite fora de casa. Parecia que uma grande
parte da população da cidade havia decidido que jantar e bebidas eram a
maneira de começar o fim de semana, mas Harper não se
importava. Quanto mais ocupada estivesse, melhor. Se ela continuasse em
movimento, sua mente ficaria quieta.
Mas a dor em seu peito? Bem, isso nunca a deixava por muito tempo.
Não com Luke Garrison a 11 mil quilômetros de distância, um mês após
sua missão de seis meses comandando a unidade da Guarda Nacional no
Afeganistão.
— O dinheiro vai ser bom esta noite, Harp. — Sophie piscou de sua
posição nas torneiras de chopp. — Em que tipo de tesouro gastaremos
nossas suadas gorjetas?
Harper enfiou as costas da camisa polo do Remo’s dentro da saia jeans,
antes de levantar a bandeja. Era o jogo favorito delas no trabalho.
— Tatuagens combinando, de unicórnio.
— Adoro!
Com a bandeja cheia de cerveja e a mente em Luke, Harper voltou à luta.
Um mês depois, ela ainda estava se acostumando a ter um relacionamento
muito real e à distância. Eles haviam planejado seguir caminhos distintos,
como amigos. Ela estava se preparando para lamentar o fim do
relacionamento enquanto forjava uma nova vida sozinha, mas uma palavra
mudou tudo.
Fique.
A mensagem havia chegado quando a realidade de dizer adeus a atingiu,
sentada em sua picape, chorando ao pensar em uma vida sem Luke. Suas
mãos tremiam tanto que ela mal conseguiu responder.
Harper: O quê???
Luke: Eu quero voltar para você. Fique.
Não foi um “Eu te amo”, mas era o suficiente. O texto dele havia aberto
caminho através de seu desespero, lhe dando esperança. Ele estava
oferecendo a ela uma vida e um futuro. Com ele.
Eles conversaram naquela noite, antes do voo. E a esperança floresceu em
seu peito.
— Entrei naquele ônibus e percebi que se você não estivesse aí quando eu
voltasse para casa, voltaria para a mesma existência. E não quero mais
apenas existir. Querida, eu sei que é pedir muito. Seis meses é muito tempo
para esperar, mas quero você aí — disse ele.
Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela assentia
silenciosamente.
— Luke, se há alguém por quem vale a pena esperar por seis meses, é
você.
— Penso o mesmo sobre você, querida.
Então ela ficou. Cancelou a entrevista em Fremont e desempacotou suas
caixas e malas. E na primeira noite sozinha na casa dele, ela enlouqueceu
completamente.
Saber que levaria seis longos meses, antes que sentisse o corpo duro de
Luke sobre ela, ou tivesse um rápido vislumbre daquela covinha, alimentou
seu desespero para encontrar uma distração.
Mas o quê?
Desde que se mudou para Benevolence, todo o seu foco estivera nele. O
corpo incrível de Luke, a casa de Luke, o trabalho de Luke. O corpo
realmente incrível de Luke.
Naquela primeira noite, ficou acordada no centro da cama, vestindo uma
das camisetas dele e olhando para o teto até o amanhecer. Pela primeira vez
na vida tinha estabilidade, um futuro, e simplesmente não sabia o que fazer
com isso.
Ela fez o possível para se manter ocupada.
Harper começou a tricotar. Até que perfurou o nó do dedo com a agulha
de tricô e sangrou em todo o sedoso fio de marfim que, de qualquer forma,
não parecia em nada com o padrão. O álbum de recortes foi o próximo. Até
que ela percebeu que não tinha nenhuma foto para montar um
scrapbook. Havia tantos adesivos e imagens que você poderia colar em uma
página, sem nenhuma foto real.
Finalmente, Sophie ficou com pena dela e ofereceu um turno semanal no
Remo’s, para tirar Harper de casa nas noites de sexta-feira. Sophie servia
como barwomen enquanto Harper usava sua experiência na faculdade e
servia mesas. As gorjetas eram boas e foi a maneira perfeita de conhecer os
moradores de Benevolence. Cedo ou tarde, todos apareciam no Remo’s para
jantar, beber ou conversar.
Claro, a maioria dos clientes sabia o nome dela antes mesmo de conhecê-
la.
Cidade pequena.
Luke não ficou entusiasmado, quando ela contou a ele em seu primeiro
chat por vídeo.
— Não, Harper. Absolutamente não — ele disse, seu tom cortante.
— Você está usando a voz de capitão em mim agora? — ela perguntou,
incrédula.
O olhar que ele lançou para ela através do computador a fez sorrir. Ele
respirou fundo e tentou outra abordagem.
— O que eu quis dizer é que realmente não gosto da ideia de você
fechando o Remo’s sozinha numa sexta à noite. É muito tarde, e se houver
problemas? Quem vai te ajudar? — Ela podia ver a frustração em seu
rosto.
— Luke, você não precisa se preocupar com isso.
— Eu odeio não estar por perto para te proteger.
— Não é seu trabalho me proteger.
— Sim, é. E eu levo isso muito a sério. Então, se algo acontecer com você,
vou ficar puto da vida.
— Eu te amo. Essa é a razão pela qual estou fazendo isso. Sinto tanto a
sua falta que dói respirar. Às vezes, não consigo dormir, porque tudo que
posso fazer é sentir esse buraco no meu coração. Essa mudança vai me
ajudar a manter minha mente longe da saudade.
Ele suspirou.
— Querida, eu também sinto sua falta. Cada vez que acordo e você não
está em meus braços, é como uma faca no estômago. Mas preciso que você
esteja segura. Prometa-me, Harper, que tomará todas as precauções.
Ela fez uma cruz no coração.
— Eu prometo. Ty pediu spray de pimenta para Sophie e para mim, e
pegamos uma carona com ele para o nosso turno. Além disso, Luke, todo
mundo sabe a quem pertencemos.
Harper deixou as cervejas e um refrigerante diet em uma mesa e correu de
volta para o bar, para entregar os pedidos de Reece e Dana na mesa de
sinuca.
Ela deu outra volta antes de voltar ao bar e avistar um rosto familiar.
Gloria estava sentada em uma banqueta, bebendo uma taça de vinho.
— Ei, Gloria — Harper acenou para a amiga. — É bom ver você aqui!
Um rubor delicado tingiu suas bochechas.
— Estou comemorando meu primeiro pagamento da Blooms.
Livre dos abusos de seu ex-namorado Glenn Diller, Gloria conseguiu um
emprego na floricultura local e estava economizando para ter seu próprio
apartamento.
— Bom para você! Claire disse que você está fazendo um ótimo trabalho
— Harper disse a ela, recarregando sua bandeja. A mãe de Luke, uma
eterna amante de plantas, trabalhava meio período na Blooms e vinha
elogiando Gloria.
— Obrigada. Eu realmente gosto de lá. — O rubor de Gloria aumentou.
— Hum, você falou com Luke?
Harper não conseguiu evitar o sorriso que tomou conta de seu rosto nem
se tentasse. Apenas a menção de seu nome fez a adrenalina correr no seu
sangue, como um formigamento rápido e elétrico.
Ela assentiu.
— Recebi um e-mail dele na quarta-feira e conversei com ele na semana
passada.
Gloria voltou o olhar para o copo enquanto girava a haste entre os dedos.
— Ele disse como está Aldo?
— Oooooooooh — Sophie murmurou atrás do bar. — Alguém tem uma
paixonite!
Gloria ficou ainda mais vermelha.
— Pare de mexer com ela! — Harper revirou os olhos. — Não ligue para
Sophie — disse à Gloria. — Ela pensa que é o Cupido.
— A propósito, de nada. — Sophie piscou para Harper.
Harper, definitivamente, tinha uma dívida de gratidão com Soph, por
colocá-la na cama de Luke naquela primeira noite. Não que ela pretendesse
inflar a cabeça da cunhada mais do que já estava.
— De qualquer forma — Harper olhou diretamente para Sophie —, Luke
mencionou que Aldo está organizando uma competição maluca de
treinamento com um grupo de pessoas da unidade. Lançamento de pneu,
escalada de corda. E prometeu enviar fotos por e-mail.
Gloria assentiu, mas permaneceu em silêncio.
— Eu poderia lhe dar o e-mail dele, se você quiser.
Isso fez Gloria erguer o olhar.
— Você não acha que seria... estranho?
Harper balançou a cabeça e ergueu a bandeja.
— Eu acho que vocês esperaram o suficiente. Não? — Ela se dirigiu para
a multidão e falou por cima do ombro. — Vou te dar o e-mail dele.
***
Naquela noite, Harper desabou na cama, exausta e sozinha. Nas sextas-
feiras, James, o irmão mais novo de Luke, levava Lola e Max para passar a
noite, para que ela não precisasse se preocupar com eles sozinhos na casa.
Ela sorriu, imaginando os cachorros espremidos entre ele e qualquer
garota solteira atraente com quem estivesse na cama. Assim como o irmão,
ele não gostava de compromissos. Porém, no caso de James, as garotas não
precisavam ser tão persuasivas quanto Harper havia sido.
Luke estava mudando? Pedir a ela para ficar parecia um grande
passo. Mas havia muitas coisas não ditas entre os dois. O que ele estava
escondendo? Havia paredes entre eles, e não apenas as que ele havia
construído no porão.
Harper não pôde deixar de se perguntar como as coisas seriam quando ele
voltasse para casa. Seria o mesmo velho ciclo de chegar perto demais
apenas para ser afastada? Ela virou o corpo e abraçou um
travesseiro. Dúvidas e preocupações invadiam sua mente nas horas calmas
da noite, especialmente quando não tinha notícias dele.
Eles conseguiam um telefonema ou um bate-papo por vídeo quase todas
as semanas e, naqueles preciosos minutos, tudo se tornava melhor. Apenas
ouvir sua voz, a meio mundo de distância, fazia seu corpo ganhar vida.
Desligar era um inferno.
Harper instituiu uma regra para si mesma. Não tinha permissão para
chorar ao telefone. Queria deixá-lo com um sentimento caloroso no peito
que o alegraria, e não uma culpa ou solidão que o atormentaria.
Depois de cada ligação, ela se permitia cinco minutos para chorar aquelas
lágrimas não derramadas e abraçar a fundo seu coração. E então, seguia a
vida.
Ela se enroscou no travesseiro. Hoje à noite, estava vestindo uma
camiseta da Garrison Construções que encontrou no escritório. Envolvida
no cheiro familiar, ela caiu em um sono profundo e sem sonhos.
Capítulo 27
Na manhã seguinte, Harper reservou algum tempo para trabalhar em seu
novo jardim. Charlie a ajudou a cultivar o solo, e Claire tinha saído para
comprar plantas com ela. Estava determinada a fazer esse hobby funcionar,
e não apenas porque gostava de abobrinha e tomates frescos. Droga, ela
queria acrescentar algo a esta casa que fosse só dela. Queria pertencer,
sentir-se em casa. Acrescentar algo tangível para a casa dos dois.
Harper levou as mãos enluvadas à parte inferior das costas e ergueu o
rosto para o céu. O sol da manhã tinha um toque de umidade. Um sinal
claro de que o verão estava chegando.
Da grade da varanda, o telefone sinalizou uma chamada recebida. Era o
toque de Luke. Correu pelo quintal como uma atleta olímpica e se lançou ao
telefone.
— Harper? — A voz de Luke soou através da conexão.
— Luke!
— Harper, você pode me ligar de volta?
— Sim. Eu tenho o número aqui. Dê-me dez segundos, ok?
— Rápido. Por favor. — Ele desligou.
Algo estava errado. O coração de Harper batia forte no peito, enquanto ela
corria para dentro para pegar o número na bolsa. Discou errado duas vezes,
antes de ser capaz de acalmar os dedos o suficiente para conseguir.
— Luke! Você está bem? Está machucado?
— Querida, estou bem. Mas Aldo... — A voz de Luke falhou no nome de
seu amigo.
Harper sentiu seu coração apertar.
— Aldo está muito ferido. Foi uma bomba caseira. Eles o trouxeram para
Bagram. Não sei como ele está agora.
Ela o ouviu respirar fundo. Ouviu a respiração presa em sua garganta.
— Oh, meu Deus, Luke. Querido, sinto muito.
Ele limpou a garganta, e ela sabia que ele estava guardando esse
sentimento lá no fundo, para não transparecer.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Estou bem. — Uma lágrima escorreu por sua bochecha, com a dor em
sua voz. — Está tudo bem aqui.
— Continue falando, Harp, por favor. Eu só quero ouvir sua voz.
— Os cães sentem sua falta. Continuo voltando para casa e encontrando
seu tênis de corrida na porta. Max e Lola vão para o armário todas as
manhãs e os carregam para lá.
Ela sabia que parecia que estava falando de forma entrecortada, mas
continuou. Contou a ele sobre a nova viatura de Ty e como venceram a
concorrência pelo restaurante grego.
— Isso é ótimo, Harp. Obrigado.
— Eu te amo, Luke.
Ela ouviu seu suspiro, sabia que ele precisava das palavras.
— Você pode me fazer um favor, querida?
— Qualquer coisa.
— Vá ficar com a senhora Moretta. Ela receberá uma ligação em
breve. Talvez levar a minha mãe.
— Absolutamente. Se eu souber de alguma coisa, envio um e-mail para
você, e você faz o mesmo. OK?
— Obrigado, Harper. Eu... não sei o que faria sem você.
— Qualquer coisa por você, Luke. Eu te amo muito.
— Sinto sua falta.
— Saudades de você também. Ligue assim que puder.
— Ligarei.
***
Luke desligou o telefone e o deixou cair no travesseiro ao lado. A cama
rangeu com o movimento.
Olhou com indiferença pela janela empoeirada, para as montanhas
cinzentas que surgiam logo além da base.
Precisava daquele vislumbre de casa que apenas Harper poderia lhe
dar. Precisava do lembrete de que havia uma vida esperando por ele, além
do calor empoeirado e seco do deserto que agora estava pintado de
vermelho com o sangue de seu amigo.
Pegou o laptop e abriu seu e-mail.
Luke achava que consertar o carro de Harper fora um bom presente de
despedida. Harper o derrotou nisso. Quando ele abriu seu e-mail pela
primeira vez no Afeganistão, viu que ela lhe havia enviado cerca de trinta
fotos. Muitas delas, não sabia que ela tinha tirado. Havia fotos dos dois, dos
cachorros, de sua família e de sua casa. Ela até incluiu alguns de seus
funcionários. Ele abria os arquivos quase todos os dias.
Hoje à noite, ele se demorou ao clicar em cada uma. Sua favorita era uma
que o jornal online tinha publicado. O jornal publicou a foto de Harper e
Linc saindo da água na primeira página, mas no álbum do fotógrafo do
evento, Harper havia encontrado uma foto dos dois no bar. Os braços de
Luke a envolviam por trás, puxando-a contra seu peito. Sua mão estava
espalmada em sua barriga, e ela estava olhando para ele por cima do
ombro. Os dois estavam rindo.
Ele amava aquela expressão. Os olhos de Harper estavam brilhantes e
suas bochechas coradas. Seu cabelo caía em ondas úmidas que
emolduravam seu rosto. Ele podia ver a excitação entre os dois e sentiu o
canto de sua boca se erguer com o feliz fato de que o fotógrafo não
conseguira capturar a ereção furiosa que pressionava contra ela naquele
exato momento.
Foi a noite de sua primeira vez juntos. A noite em que ele parou de lutar e
se deixou levar.
Ele manteve a imagem aberta e clicou na próxima.
O sorriso arrogante de Aldo encheu a tela. Harper deve tê-la tirado com
seu telefone. Era da noite que Aldo e Glória foram jantar. Aldo estava
cuidando da churrasqueira e discutindo com Luke sobre algo. Ambos
estavam sorrindo. Irmãos, mesmo que não seja de sangue.
Luke fechou o laptop.
Apoiou as mãos nos joelhos, os dedos se fechando no sangue seco e na
lama endurecida de seu uniforme.
Fechou os olhos e deixou as paredes de madeira de sua sala minúscula se
fecharem sobre ele.
Capítulo 28
A sra. Moretta morava em um chalé de dois andares, bem-arrumada, a três
quarteirões dos pais de Luke. A varanda da frente estava parcialmente
obscurecida por vasos coloridos transbordando petúnias.
Um bebedouro de beija-flor pendurado em uma viga.
Harper soltou a respiração que estava prendendo. Claire estendeu a mão
sobre o console e deu um tapinha no volante.
— Você é uma boa menina, Harper. Vamos ajudar uma amiga.
Elas estavam apenas na metade do caminho, quando a sra. Moretta
irrompeu pela porta da frente. Ela estava usando um chapéu de sol e uma
luva de jardinagem. Harper podia ver as lágrimas.
Claire subiu correndo pelos degraus, até sua amiga.
— Oh, Ina.
As duas mulheres se abraçaram na varanda.
— Muito obrigada por estarem aqui, Claire. Eles acabaram de ligar. Ele
está vivo.
— Graças a Deus por isso — Claire disse, abraçando-a com força.
— Harper. — Sra. Moretta soltou Claire e acenou com a cabeça em sua
direção. — Vamos entrar e tomar uma bebida.
Elas a deixaram guiá-las pelo caminho de volta, para uma cozinha
aconchegante com uma janela de estufa sobre a pia. A senhora Moretta fez
uma pausa, olhando para o quintal.
— Ele está em cirurgia. Eles acham que ele vai perder uma perna. Mas vai
viver.
Harper cobriu a boca com a mão e fechou os olhos. Aldo estava vivo, e
isso era o que importava. Ela se desculpou por um momento e mandou um
e-mail para Luke de seu telefone.
Para: lucas.c.garrison282@us.army.mil
De: harpwild@netlink.com
Assunto: Vivo!
Vivo e em cirurgia. Pode perder uma perna, mas espera-se que
sobreviva. Estamos com a Sra. M agora. Ela se mantém firme. Avisarei
você se descobrir mais alguma coisa. Eu te amo.
H.
Quando ela voltou para a cozinha, a Sra. Moretta e Claire estavam
conversando baixinho, na mesa da sala de jantar.
— A base disse que me mandarão para Dover quando Aldo chegar, e
depois irei com ele para Walter Reed. Eu saberei mais quando ele for
transferido para a Alemanha. — Ela suspirou e tirou a luva. — O que
faríamos sem nossos meninos, Claire?
— Não vamos ter que descobrir, Ina. — Claire apertou a mão de sua
amiga. — Aldo vai voltar para casa e ser o pé no saco de sempre.
— Lembra quando eles eram apenas meninos e brincavam no riacho,
durante o verão?
— Lembra quando acamparam no quintal, em uma barraca, e eu os
encontrei enrolados lado a lado no sofá, na manhã seguinte?
— Quando nossos meninos se transformaram em homens?
— Eles diriam que muito mais cedo do que eu tenha percebido.
A senhora Moretta fungou.
— Posso pegar uma bebida, Sra. Moretta? — Harper ofereceu. — Um
pouco de chá ou água?
— Harper, há uma caixa de Chardonnay barato na geladeira. Que tal você
pegar para nós três os maiores copos que encontrar, e vamos beber pelos
nossos meninos?
Foi na terceira viagem para abastecer os copos que Harper voltou para
encontrar Claire sussurrando para a Sra. Moretta.
— Ela é exatamente o que ele precisa...
— Harper, Claire está me distraindo com fofocas sobre você e seu
Luke. Ela parece pensar que você está fazendo a ele muito bem.
Harper sentiu o rubor subir às bochechas.
— Acho que é vice-versa.
— Eu gostaria que Aldo sossegasse. Esse menino não consegue se
concentrar em uma mulher por mais de um mês — ela suspirou.
— Talvez elas simplesmente não fossem o que ele queria? — Harper
ofereceu.
— Parece que você sabe de alguma coisa — Claire disse, erguendo e
descendo as sobrancelhas.
— Derrame — ordenou a sra. Moretta. — A fofoca, não o vinho.
Harper entregou os copos, derramando apenas algumas gotas nas bordas.
— Parecia haver alguma coisa entre Aldo e Gloria quando os convidamos
para jantar. E Aldo deu uma carona para ela.
— Hum — Claire e a Sra. Moretta disseram em uníssono.
— Pequena Gloria Parker — Claire disse. — Eu nunca teria adivinhado.
— Aldo também poder ter confessado que tem uma paixonite por ela
desde o colégio. Mas não posso confirmar nada sem a permissão da fonte
— acrescentou Harper.
— Não admira que ele odiasse tanto aquele idiota do Glenn — disse a sra.
Moretta, passando a mão pelo cabelo e encontrando o chapéu.
— Por que diabos vocês duas não me disseram que eu ainda estava
usando isso? Estava cuidando do jardim quando a base ligou. Estou uma
bagunça.
Ela arrancou o chapéu e jogou-o por cima do ombro, onde bateu em um
vazo de bronze cheio de flores de seda.
Claire e Harper riram.
No final, a caixa de vinho estava vazia, a pizza que pediram quase
acabada e Charlie teve que vir buscá-las.
— Estou muito grata a vocês duas por estarem aqui — disse a sra.
Moretta, ao envolver as duas em um abraço de urso. — Isso significa o
mundo para mim.
— Apenas nos mantenha atualizadas sobre o progresso de Aldo e quando
você irá. Nós ajudaremos de todas as maneiras que pudermos. Harper virá
amanhã para pegar seu carro, a menos que você tenha outra caixa de
Chardonnay aí, e então faremos isso de novo — Claire riu.
Charlie colocou a mão no ombro da sra. Moretta.
— Ele é um bom menino. E estará em casa são e salvo antes que você
perceba.
— Obrigada, Charlie. Harper, talvez você queira avisar Gloria? — Sra.
Moretta sugeriu com uma piscadela pronunciada.
— Eu direi a ela amanhã, depois que soubermos mais detalhes da cirurgia
— Harper prometeu.
Naquela noite, Harper deitou na cama com os dois cachorros e uma das
camisetas de Luke. Ela enterrou o rosto neles e deixou que todas as
lágrimas reprimidas viessem.
***
Na manhã seguinte, Harper, com uma ligeira ressaca, acordou com
notícias de Luke.
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Re: Vivo!
Harp, acabei de saber do Aldo. Ele passou por uma cirurgia e tiveram
que cortar a perna, abaixo do joelho. Ele ainda está inconsciente e os
médicos estão preocupados com infecção, mas acham que ele vai
sobreviver. Ele só precisa acordar. A equipe médica entrou em contato com
a Sra. Moretta, então ela já está informada. Você está bem?
Harper deu um rápido suspiro de alívio. Aldo estava vivo. E ele iria
acordar, porra. Não conseguia imaginar um cenário em que ele não o
fizesse.
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De: harpwild@netlink.com
Re: Vivo!
Não tem como ele não acordar. Portanto, nem pense nisso como uma
possibilidade. Aldo vai acordar, piscar para a enfermeira e pedir uma
cerveja gelada.
A Sra. Moretta é uma rocha e com uma tolerância incrível ao álcool. Ela
e sua mãe me deixaram comendo poeira, relembraram os bons velhos
tempos, até que seu pai teve que vir nos buscar.
Quando - e quero dizer quando - Aldo for transferido, a Guarda vai levar
a sra. Moretta para encontrá-lo em Dover e depois para Walter Reed.
Alguém mais ficou ferido? Você está bem? Estou pirando um pouco, mas
ouvir sua voz ajudou, e seu e-mail também. Estou preocupada com
você. Então é melhor você se cuidar, ou então farei algo drástico. Como
pintar de preto todos os acabamentos de madeira originais da casa. Sério,
eu preciso ver seu rosto.
Acho que você não poderia voltar para casa de licença apenas para vestir
algumas roupas, para que eu tenha algo para dormir que tenha o seu
cheiro? Não? Vou me contentar com uma chamada de vídeo. Eu te amo
tanto que dói.
H
PS: Aqui está uma foto de Max e Lola, curtindo a piscina para cães no
quintal, e outra do jardim. Essas coisas verdes são PLANTAS, não ERVAS.
Harper clicou em enviar e respirou fundo. Ela precisava contar a Glória
sobre Aldo. E, depois de ontem, os cães precisariam de uma boa e longa
caminhada. Além disso, ela queria pegar o carro e ver como a Sra. Moretta
estava.
Assobiou para os cachorros. Com as orelhas em pé, Lola disparou pelo
corredor até a cozinha, com Max logo atrás dela.
Eles dançaram ao redor da banqueta de Harper, antecipando um petisco,
atenção ou – ouse sonhar – a palavra com “P”.
Harper desceu do banquinho e acariciou suas cabeças.
— Ok, galera, vamos dar uma volta. — Ela aprendeu a soletrar a palavra
depois de perceber que Max tinha a tendência de ficar tão excitado que
urinava ao ouvir “Passear”.
Na porta da frente, ela pegou os óculos escuros e bolsa. No segundo em
que pegou as coleiras, o pandemônio de animais estourou.
— Pelo amor de Deus, fiquem quietos! — Harper disse, perseguindo o
pescoço de Max com a coleira. Lola se empinou até que Harper prendeu a
correia ao redor dela.
— Vamos ver a tia Gloria — disse Harper. Ela usaria a caminhada de seis
quarteirões até a casa da mãe de Gloria para descobrir como dar a notícia à
amiga.
Gloria atendeu a porta da casa de tijolos com um sorriso alegre.
— Harper! Esta é uma boa surpresa. — Ela se inclinou para acariciar a
enorme cabeça de Lola, enquanto Max empurrava seu corpo minúsculo
entre elas.
— Sim, eu também vejo você, Max! — Gloria deu uma risadinha e o
pegou no colo. — Você pode entrar ou está apenas de passagem?
Harper empurrou os óculos de sol para o alto da cabeça.
— Na verdade, tenho algumas novidades sobre Aldo. — Ela respirou
fundo e falou de uma vez — Ele está ferido, Gloria. Ele passou por uma
cirurgia, e os médicos estão esperançosos. Eles tiveram que tirar parte de
sua perna.
Ela observou o sangue sumir do rosto de Gloria.
— Aldo? — ela repetiu.
Harper assentiu e segurou o braço de Gloria.
— Ele vai ficar bem. Luke me mandou um e-mail esta manhã e disse que
a única preocupação da equipe de cirurgia no momento é uma infecção.
— Ela fez uma pausa, refletindo. — Ele ainda não acordou.
Gloria abraçou Max.
— Mas ele irá.
— Sim, ele vai.
Gloria exalou um suspiro trêmulo.
— Mandei um e-mail para ele na sexta à noite, depois que você me deu o
e-mail dele.
— Então ele terá algo para ler quando acordar — Harper sorriu. — Então,
por falar em Aldo, você se importaria de dar uma carona a mim e aos meus
dois cães fedorentos até a casa da Sra. Moretta? Eu deixei meu carro lá
ontem à noite e queria dar uma olhada nela.
Gloria olhou para seu short jeans e camiseta rosa.
Harper sorriu.
— Você está nervosa por conhecer a mãe dele?
— É a senhora Moretta! Ela é assustadora. Quem não ficaria nervosa em
conhecê-la? — Gloria disse, os olhos arregalados. — Oh, dane-se! Deixe-
me escovar meu cabelo e pegar alguns dos biscoitos que fiz esta manhã.
***
Foi melhor do que o esperado. A Sra. Moretta abriu a porta com o anúncio
de que Aldo estava acordado e, após saber que todos os outros na unidade
estavam bem, exigiu um cheeseburger.
Gloria se manteve firme sob a inquisição da sra. Moretta, que abordou
todas as facetas da vida dela, incluindo a fé religiosa, quantos filhos ela
planejava ter e todos os ingredientes de seus biscoitos de geleia.
Ao final do jogo de pergunta e resposta, Ina Moretta apenas pigarreou e
assentiu.
— Eu sinto que acabei de ser esmagada — disse Gloria, em estado de
choque.
— Acho que tudo correu bem — disse Harper, colocando os cachorros no
carro.
— Não sei dizer. Não tenho certeza. — Gloria se encostou na lateral do
carro.
— Ela guardou os biscoitos. Isso é definitivamente um bom sinal —
Harper ofereceu.
— O que foi aquele “huh” ali no final?
— Eu acho que é o selo de aprovação dela. Ela está reconhecendo que
você é mais do que boa o suficiente para o filho dela.
Gloria balançou a cabeça.
— Acho que vou para casa tirar uma soneca.
Capítulo 29
Harper pegou o telefone da mesa de centro ao primeiro toque do alerta da
chamada de vídeo. Ela se atrapalhou com os ícones, mas em segundos, viu
o rosto que estava sentindo falta.
— Oi, querida — Luke parecia exausto.
Fazia duas longas semanas desde que Aldo se machucou, e a relutância de
Luke em fazer uma videochamada dizia a Harper que ele não estava lidando
bem com isso. Ver seu rosto confirmou sua suspeita, e seu coração doeu por
ele.
— Olá, lindo. Como você está? — Harper se recostou no sofá, abraçando
um travesseiro.
— Estou bem. Como está minha garota?
— Eu sinto sua falta. — Ela lutou contra as lágrimas que brotaram. Vê-lo
intensificava tudo. — Estou preocupada com você.
Ele suspirou como quem leva o mundo nas costas.
— Querida, estou bem. Está tudo bem.
— Olha, eu sei que você não é muito falador. Mas não posso deixá-lo
pisar em falso e foder as coisas a meio mundo de distância, porque está
distraído por um senso equivocado de responsabilidade e culpa.
Ele piscou, sua boca abriu e fechou.
— Vejo que tenho sua atenção — disse Harper afetadamente.
— Eu diria que sim.
— Luke, você acha que há alguma maneira de Aldo culpar você pelo que
aconteceu?
Ele suspirou.
— Não.
— Na verdade, ele provavelmente já disse que você não é o culpado.
Luke desviou o olhar.
— Bem. Sim.
Era como tentar obter respostas de uma parede de tijolos... ou de pedras.
— Ótimo. Então você colocou a bomba caseira lá?
Ele revirou os olhos para ela.
— Não.
— Você disse a Aldo para passar por cima dela?
— Não.
— Você sabia que estava lá e não contou a ele?
— Não. Harper...
— Ainda não terminei. Então, logicamente, você pode concordar com
o resto do mundo que você não é o culpado.
Ele sentou-se ereto, sem se mover por alguns segundos.
— Isso não foi retórico?
— Luke, me dói ver você machucado assim. Não sei como te ajudar.
— Harper, meu bem, você não pode melhorar isso. Eu entendo o que você
está dizendo. Eu sei que não sou culpado. Mas me sinto responsável pelo
meu amigo. Sua vida e a vida de todos nesta unidade estão em minhas
mãos. Se eu não liderar com responsabilidade, pessoas podem se
machucar. Pessoas morrem.
— Aldo não morreu.
— Não, mas outros sim.
Os homens que ele perdera antes, Harper se lembrou.
— Perdi bons homens porque tínhamos informações ruins. Em última
análise, essa responsabilidade recai sobre meus ombros.
— Isso é besteira.
— Eu sou o culpado? Não. Mas sou o líder desta unidade, e isso me torna
responsável por tudo o que acontece dentro dela.
Foi a vez de Harper ficar em silêncio.
Seu suspiro foi pesado.
— Tudo que sei é que não consigo tirar o sangue da minha cabeça. Eu vi
acontecer e começamos a correr em direção à picape. Ele estava deitado na
porra de um rio de sangue.
Luke olhou para suas mãos como se visse a cena novamente. Harper
estremeceu.
— Eu pensei que ele estava morto. Achei que tivesse perdido meu melhor
amigo bem na minha frente. E isso me fez pensar em todos os outros que eu
perdi. Tudo o que tenho a perder e como isso pode ser levado em um piscar
de olhos. — Ele olhou-a.
Harper enxugou as lágrimas silenciosas que corriam por seu rosto e
desejou poder tocá-lo.
— Eu me senti impotente.
— Ele vai ficar bem.
— Ele teve muita sorte, Harper. Muitas vezes não é assim.
— Eu preciso saber que carregar esse peso sobre os ombros não vai te
fazer cometer algo estúpido.
— Como o quê?
— Eu sou nova nessa coisa militar, mas suponho que você tenha muitas
opções de escolha ruins, como se afastar de todo mundo, desenvolver um
problema com a bebida, ser descuidado.
Ele suspirou e sorriu um pouco.
— Não vou fazer nenhuma dessas coisas.
— Eu sei que você não vai. Só preciso ter certeza de que vai cuidar de si
mesmo. Eu preciso que volte para casa são e salvo.
— Farei tudo ao meu alcance para garantir que isso aconteça — Luke
disse a ela.
— Isso é tudo que eu peço. — Ela passou a mão sob os olhos. — Não está
no meio da noite aí?
Luke sorriu.
— É a única maneira de conseguir esse lugar só para mim. — Ele virou o
laptop, dando a ela uma visão de seu minúsculo quarto.
Foi a vez de Harper sorrir. Extremamente privado, em casa e na guerra.
— Bom, isso significa que você pode tirar a camisa para que eu possa
lamber minha tela.
Isso fez com que ele sorrisse de verdade, e até mesmo uma sugestão de
covinha apareceu.
— Querida, se um de nós vai tirar a camisa, será você.
— Bem, se você insiste. — Harper levantou a blusa e mostrou a ele.
Ela viu aqueles olhos castanhos escurecerem quando ele apertou a
mandíbula. Ela se perguntou se ele tinha alguma ideia de como era sexy.
— Você sabe que é tortura ser capaz de ver você e não te tocar? — Sua
voz era rouca, baixa.
Ela sentiu seu rubor aumentar.
— Eu sinto falta de suas mãos em mim. Eu me sinto tão vazia sem você
me tocando. Nós tínhamos pouco tempo antes. Mas quando você estava
dentro de mim, eu sentia como se todos os pedaços de mim estivessem
juntos novamente.
Ele rosnou.
— Querida, você não pode falar assim quando estou a 11 mil quilômetros
de distância. — Ele cruzou as mãos na nuca. — Deus, você me deixa duro,
mesmo através de uma merda de ligação de vídeo. Eu sinto muito a sua
falta.
Harper fechou os olhos e assentiu.
— O mesmo aqui, capitão.
— Toda vez que penso em foder você, vou para a academia. Vou precisar
aumentar o tamanho das camisas em breve. Meus pesos já subiram 6 quilos.
— Isso é sexy — Harper brincou. — Você vai dar a Aldo uma ótima
competição quando os dois chegarem em casa.
— Você soube quando ele voltará para casa?
Harper balançou a cabeça.
— Trocamos vários e-mails. Ele acha que será mais cedo do que
esperam. Ele mencionou Gloria para você?
— Eu só falei com ele duas vezes. Uma para garantir a mim que estava
vivo e que é melhor eu não ficar lamentando sobre isso, e a outra para me
mostrar uma foto de seu cirurgião na Alemanha, que se parecia com o
Wolverine do X-Men.
— Gloria mandou um e-mail para ele duas vezes e não teve resposta. Eu
perguntei a ele se tinha recebido, e ele me ignorou.
Luke encolheu os ombros.
— Tenho certeza de que ele tem muito em que pensar.
Harper tinha certeza também. E era isso que a preocupava.
— Mostre-me de novo — Luke ordenou.
— Mostrar o quê?
— Seus seios perfeitos.
Ela se perguntou se algum dia pararia de corar quando ele falava assim
com ela.
— Você tem certeza de que está sozinho?
— O sinal do wi-fi está forte o suficiente para chegar até os
alojamentos. Estou sozinho, querida. Mostre-me.
Sua voz estava tensa, mas ainda parecia cetim em sua pele. Harper
mordeu o lábio e puxou a regata para cima, sobre a cabeça, expondo os
seios para a tela.
— Nós vamos...
— Quieta — ele ordenou. — Eu quero que você faça exatamente o que eu
disser.
Harper assentiu, sem fôlego. Mesmo a milhares de quilômetros de
distância, ele poderia deixá-la molhada o suficiente para encharcar a
calcinha. Ela inclinou o telefone para que ele pudesse ver mais dela.
— Boa menina. Agora tire o short.
Ela encostou o telefone em uma das almofadas do sofá e se levantou,
tirando o short.
— Porra, querida — Luke suspirou, seu olhar colado na tela. Harper
passou o dedo pela borda da calcinha de algodão azul claro.
— Fique de joelhos no sofá. De frente para mim.
Ela voltou para a almofada, apoiando o peso nas mãos. Seus seios
penderam, e ela ansiava por sua boca em seus bicos sensíveis.
— Luke, eu quero ver você. — Foi um sussurro, mas se propagou por
quilômetros.
Ele parou por um momento e então Harper ouviu o som do velcro. Um
segundo depois, Luke tirou a camisa e inclinou a tela para baixo, e ela pôde
ver o que estava sentindo falta há semanas.
Mesmo agarrado pelo grande punho de Luke, seu pau parecia
enorme. Harper sentiu a dor bem no fundo de seu âmago começar a pulsar
de necessidade. Ela queria sentir sua ereção a penetrando, esticando suas
paredes enquanto a invadia.
— Eu daria qualquer coisa para estar dentro de você agora, Harper. — Ele
acariciou seu pau duro. — Eu quero que você se toque.
Ela hesitou.
— Vá em frente, querida. Finja que são minhas mãos em você.
Ela respirou fundo e levou a palma da mão aos seios. O rosnado vindo de
seu telefone disse a ela que Luke gostava do que via. Ela pegou o mamilo
entre o polegar e o indicador e puxou-o para baixo em um ritmo vagaroso
que combinava com as carícias de Luke.
— Querida... — O áudio estalou e ficou em silêncio, mas a transmissão de
vídeo permaneceu.
Harper apontou para a orelha dela.
— Não consigo ouvir você. Você pode me ouvir?
Luke apontou para sua orelha e balançou a cabeça. Mas sua outra mão
continuou segurando sua ereção. Compreendendo, Harper deslizou a mão
de volta para o seio. Ela acariciou e puxou o mamilo, fingindo que era a
boca de Luke brincando com ela.
Ela o viu aumentar o ritmo ligeiramente, perguntando-se se havia a gota
de umidade que tantas vezes aparecia na fenda da cabeça larga de seu
pau. Ela lambeu os lábios e deslizou a mão para dentro da calcinha.
Ela deveria estar se sentindo envergonhada. Não era uma
exibicionista. Mas naquele momento, tudo o que queria fazer era ver Luke
atingir o clímax em seu abdômen e peito esculpidos.
Seus lábios se separaram quando seus dedos encontraram a umidade
escorregadia entre suas dobras. Seu clitóris já estava doendo para ser
tocado. Harper mudou seu peso para trás e levou a mão livre ao outro
seio. Ela o apertou e viu os olhos de Luke se estreitarem. Seu punho
acariciava toda a extensão de seu pau enquanto ele se masturbava. Os dedos
de Harper circundaram seu clitóris em um ritmo frenético, uma corrida até o
fim.
Ela sentiu a necessidade de liberação dentro dela. E aumentou enquanto
enfiava seus dedos em seu canal úmido. Ela abriu a boca para dizer o nome
dele, e viu que ele estava com ela. O primeiro jato de esperma foi liberado
em seu estômago. Era o nome dela em seus lábios, quando um segundo e
um terceiro jato explodiram dele.
Ela se sentiu apertar em torno de seus dedos quando se juntou a ele.
Capítulo 30
Aldo Moretta estava voltando para casa.
Depois de quatro longas semanas em hospitais e clínicas, ele – e sua nova
perna protética sofisticada – estavam voltando para Benevolence.
De acordo com sua equipe de fisioterapia, ele iria ficar com sua mãe por
algumas semanas, antes que ela o soltasse na selva.
Harper esperou um dia inteiro e meio, antes de bater na porta da casa da
sra. Moretta, na hora do almoço. Ver Aldo em carne e osso acabaria com os
pesadelos que a atormentavam no último mês. Ela transferiu a sacola de
guloseimas para a outra mão e bateu na porta de tela. Mas o som foi
abafado por gritos.
— Pelo amor de Deus, mãe. Passei as últimas duas semanas com
você. Você está me deixando maluco.
— Essa é uma ótima maneira de falar com a mulher que largou tudo para
cuidar de você, porque não dava para evitar uma bomba — gritou Ina
Moretta.
— Você só jogou Candy Crush e gritava comigo se eu não ligasse a TV
em “The Price is Right” todos os dias — rugiu Aldo.
— Você não vai dirigir sozinho para a fisioterapia. Não me importa o
quão grande e durão você pensa que é. Então, pode ir andando. Vá em
frente e pegue uma carona. Veja se me importo. Eu não o criei para ser um
homem que grita com a própria mãe.
— Isso é exatamente quem você me criou para ser!
Harper desistiu de bater e entrou. Jogou a bolsa no chão e cobriu a boca
com as mãos.
— Ei!
Aldo entrou no foyer, vindo da sala de estar, e a sra. Moretta enfiou a
cabeça para fora da cozinha.
— Entre, já que invadiu a minha casa. Seus pais não lhe ensinaram boas
maneiras? — Sra. Moretta gritou.
— Eles morreram muito cedo, eu acho — disse Harper em um decibel ou
dois acima de seu tom de conversa habitual. A gritaria era contagiante.
Aldo a pegou de surpresa com um abraço de urso, deixando cair suas
muletas no chão. Harper o agarrou e o segurou para salvar sua vida. Ele
estava em casa, seguro e gritando com sua mãe. Era mais um passo na
direção do normal.
— Pegue suas malditas muletas! Você sabe que os médicos ainda não
querem que você ande sem ajuda! — A sra. Moretta continuou falando com
um sotaque italiano.
— Estou feliz que você esteja em casa. E vivo — Harper disse, seu rosto
esmagado no peito de Aldo.
— Eu vou me casar com você e te dar filhos, se você me tirar desta
casa. Tenho hora marcada com o fisioterapeuta em trinta minutos — disse
ele, dando um passo para trás.
Harper o olhou de cima a baixo. Ele estava vestido com shorts de
ginástica e uma camiseta. Sua nova perna protética esquerda, reluzente,
começava alguns centímetros abaixo do joelho e terminava em um tênis.
— Luke pode ter um problema com o primeiro, mas eu pagaria para ver o
segundo, então está combinado. Além disso, quero ver o que você pode
fazer com esse equipamento.
— Eu não posso fazer nada. Eles simplesmente não me deixam — Aldo
murmurou.
— Se você não fizer o que os médicos mandam, vai acabar bagunçando
mais a perna ou quebrando essa coisa — alertou a mãe, apontando para a
prótese.
Harper viu o vermelho nos olhos de Aldo e decidiu forçar uma trégua.
— Sra. Moretta, vou levar Aldo à consulta hoje. Precisa de alguma coisa
enquanto estamos fora?
A Sra. Moretta resmungou por um momento.
— Bem, acho que poderia aproveitar outra caixa de Chardonnay.
No carro, Aldo jogou as muletas no banco de trás e se sentou no banco do
passageiro. Ele baixou a cabeça contra o encosto e suspirou.
— Eu amo aquela mulher, mas juro por Deus, um dia desses um de nós
vai matar o outro.
Harper riu e mudou de marcha.
— Aquilo lá foi a Terceira Guerra Mundial.
— Isso é o que acontece quando você passa duas semanas seguidas de
merda com Ina Moretta. Acho que o objetivo dela é me deixar louco.
— Ouvi dizer que é para isso que servem as mães — disse Harper, dando
ré na entrada da garagem. — Aonde estamos indo?
Aldo a conduziu para fora da cidade, para o norte.
— A propósito, há um saco de guloseimas ali, atrás para você — ela disse
a ele.
Aldo girou em seu assento e agarrou a sacola de presente.
— Onde está o doce? — Ele demandou.
— Está no fundo. Eu pedi a opinião de Luke, então você pode agradecê-lo
muito por isso.
Ele puxou um pacote transparente.
— Novos fones de ouvido e um MP3 player?
— Está cheio de playlists para fisioterapia, e você também pode usar para
abafar a voz da sua mãe.
— Tampões de ouvido — disse ele, puxando o pequeno plug de plástico.
— Luke disse que sua mãe ronca.
— Como uma porra de uma empresa de lenhadores em uma convenção de
motosserras. O que é isso? Um bracelete?
— Sim, eu pensei que você pudesse começar a usar acessórios — Harper
brincou. — Não, é um daqueles monitores de frequência cardíaca com
contador de passos. É o que pessoas normais, que não correm meia
maratona nos fins de semana, usam para medir o condicionamento físico. E
já que, nas próximas duas semanas, você provavelmente não atingirá os
10km, achei que poderia usá-lo na fisioterapia. Também vai sincronizar
com o seu telefone.
— Isso é legal, Harpoon. Obrigado.
Ele parecia cansado, vazio. Mas estava em casa.
— Sério? Harpoon é o melhor que você pode fazer?
— Veremos onde o dia nos levará. — Aldo desembrulhou uma mini barra
de chocolate e colocou-a na boca.
***
A clínica ficava a vinte minutos de carro, ao norte da cidade. Aldo comeu
doces e olhou pensativo para fora da janela enquanto Harper ligava para
Beth, no escritório, para avisá-la que voltaria no final da tarde.
— Beth quer que eu te abrace por ela — disse Harper, desligando.
— Tenho a sensação de que vou receber muito disso. — Aldo não parecia
entusiasmado com a ideia.
— Eu sei que há uma certa morena linda que estaria disposta a entrar na
fila para te abraçar.
Aldo grunhiu.
— Você já conversou com a Gloria?
— Não.
— Importa-se de elaborar mais? Eu sinto que estou falando com Luke
aqui — Harper suspirou.
— Vire aqui — disse Aldo, apontando para um edifício de pedra branca, à
direita.
Harper entrou no estacionamento e parou na frente da entrada de vidro de
dois andares.
— Vou pegar suas muletas — disse ela a Aldo, puxando o freio de mão.
— Vou caminhar pelo estacionamento — disse ele, cruzando os braços
sobre o peito.
Harper encolheu os ombros.
— Ok.
Dois poderiam bancar o espertinho. Ela estacionou na última vaga no final
do estacionamento e desligou o carro. Ela tirou as muletas do banco de trás
e esperou até que Aldo se colocasse de pé.
— Coloque sua bunda aqui. — Ela entregou-lhe as muletas.
Ela viu o tique em sua mandíbula e esperou.
— Você pode entrar, se quiser — ele disse, finalmente, antes de contorná-
la e ir em direção à entrada da frente.
Harper pegou a bolsa do banco de trás e o seguiu.
Seu rosto não mostrava nenhum esforço quando chegaram à área de
recepção, mas havia pequenas gotas de suor se acumulando em seu rosto e
pescoço. Os nós dos seus dedos estavam brancos.
Zangado e se esforçando demais. Bem, ele era filho da Sra. Moretta. Era
de se esperar.
Eles esperaram em silêncio por alguns minutos, até que uma enfermeira,
com um uniforme floral alegre, os chamou de volta.
— Tenente Moretta, bem-vindo à fisioterapia. — Ela sorriu para ele. —
Eu sou Annalise. — Ela estendeu a mão para ele. Depois de juntar as
muletas, Aldo a apertou.
— Aldo.
Annalise voltou sua atenção para Harper.
— Eu sou Harper — ela disse, pegando a mão estendida.
— Obrigada por ter vindo — disse Annalize, liderando o caminho através
de mesas e máquinas de cardio. — É importante que a família se envolva na
recuperação.
— Somos apenas amigos — Aldo murmurou.
— Bem, sempre ajuda ter outro par de olhos e mãos — disse Annalise,
impassível. Ela apontou para uma cadeira ao lado de um conjunto de barras
paralelas. — Deixe-me ajustá-las para a sua altura, e o médico estará aqui
em breve.
Aldo olhou furioso para as barras, enquanto Harper tentava não pensar no
homem simpático e engraçado que deixou Benevolence não fazia muito
tempo.
— Tenente. — Um homem magro, de jaleco branco e óculos, se
aproximou. — Eu sou o Dr. Steers. Ouvi muito sobre você.
Aldo apertou a mão dele, mas não disse nada.
— Harper — ela se apresentou.
— Prazer em conhecê-la, Harper. Vamos começar? Tenente, Walter Reed
me deu seu arquivo, e você já impressionou nossa equipe. Estar onde você
está agora, um mês depois da lesão, é quase sobre-humano.
Harper viu o canto da boca de Aldo se erguer. Então, ele ainda estava ali
em algum lugar.
— Ele é incrível, não é? — Ela sorriu.
Dr. Steers sorriu para ela.
— Podemos entender a frustração do tenente com o ritmo da fisioterapia e
faremos o possível para criar um programa que o desafie em seu nível. Só
precisamos ter certeza de não estar exigindo muito do seu corpo, enquanto
você ainda está no início do processo de recuperação. Ok?
Aldo acenou com a cabeça.
— Então, vamos te levantar. Você sabe o que fazer. — O médico apontou
para as barras.
Aldo se levantou e entregou a Annalise suas muletas. Ele agarrou as
barras e caminhou, um pé na frente do outro, em direção ao Dr. Steers, que
o seguia em um banquinho com rodas.
— Parece bom — disse o médico, fazendo anotações. — Vá em frente e
volte.
Eles fizeram Aldo andar segurando as barras várias vezes, fazendo uma
breve pausa para fazer pequenos ajustes na prótese.
— Tenente, vamos tentar sem as barras.
Aldo deixou cair as mãos ao lado do corpo e caminhou em direção a
Annalise.
— Perfeito — disse Steers. — Seu andar parece ótimo.
Novamente, eles colocaram Aldo sem ajudantes para caminhar.
Seu rosto impassível não deu nenhum indício de esforço, mas sua
camiseta estava encharcada de suor.
— Vamos fazer uma pausa rápida para beber água e depois passar para
alguns dos exercícios de equilíbrio — sugeriu o Dr. Steers.
Aldo encolheu os ombros, mas deixou-se cair na cadeira ao lado de
Harper.
— Harper, há algumas garrafas de água no refrigerador, na parede
oposta. Você pode pegar para vocês dois?
— Certo. — Feliz por poder fazer algo, Harper correu até a geladeira e
pegou duas garrafas.
— Aqui — disse ela, estendendo uma para Aldo.
— Obrigado — disse ele, girando a tampa e tomando metade.
Ela resistiu ao desejo de esfregar seu ombro.
— Eu sei que o gasto de energia é frustrante. Normalmente, a mobilidade
com uma amputação abaixo do joelho consome até quarenta por cento mais
energia do que você está acostumado. É por isso que você sente que acabou
de terminar uma maratona. Pode parecer apenas alguns passos para você,
mas para o seu corpo, parece quase o dobro disso.
— Estou bem. E posso fazer mais — Aldo deu de ombros.
— Tenente, você está à altura do que falam — Annalise disse, reajustando
a altura da barra. — Você é uma fera.
— Quando posso começar a correr?
Dr. Steers olhou para ele por cima dos óculos.
— Vou fazer uma promessa que, na maioria dos casos, não consigo
cumprir. Em breve. Na verdade, acho que você seria um ótimo candidato
para uma prótese de corrida de fibra de carbono.
O aceno de Aldo foi rápido, mas Harper viu o brilho em seus olhos.
— Vamos prosseguir para um trabalho de equilíbrio.
Depois de mais uma hora de exercícios de equilíbrio e fortalecimento,
seguidos de estimulação elétrica e massagem, Aldo foi colocado em cima
da maca.
Annalise entregou a Harper uma pilha de papéis.
— Esses são exercícios para casa que realmente manterão o ritmo de sua
terapia. O tenente vai ter três consultas ambulatoriais por semana aqui, mas
se você puder ajudá-lo nos dias de folga e trabalhar com isso, ele verá mais
resultados e mais rapidamente.
Harper pegou os papéis.
— Com certeza.
— Ótimo! Então nos vemos na sexta-feira.
***
— Você não precisa ser minha nova companheira de fisioterapia — disse
Aldo, de volta ao carro.
— Eu não me importo. Mas vou entender se preferir que sua mãe leve
você.
Ele sorriu.
— Muito engraçado. Quer almoçar?
O estômago de Harper roncou.
— Mais do que tudo no mundo.
Eles passaram por um drive-thru, baixaram a capota do carro e
estacionaram em um parque ensolarado à beira-mar.
Harper devorou seu hambúrguer enquanto Aldo comia suas batatas fritas.
— Você conversou com Luke? — ela finalmente perguntou.
— Algumas vezes, mas não desde que cheguei em casa.
Harper esperou, ansiosa.
— Parece que ele está bem — disse Aldo.
— Ele está?
— Ele não me deixa agradecê-lo.
— Pelo quê?
Aldo se virou para olhar para ela.
— Ele não disse a você que arrastou minha bunda para fora de lá sob
disparos, enquanto ordenava a todos os outros que recuassem?
Harper deixou cair o cheeseburger em seu colo.
— Ele o quê?
Aldo praguejou.
— É tudo uma espécie de borrão vermelho para mim. Num segundo,
estava dirigindo por este trecho da estrada, e no próximo, estava caindo da
picape. Eu não conseguia ouvir ou sentir nada. Tudo o que eu sabia era que
não conseguia me mover. Pensei que estava morto. — Ele respirou fundo.
— Então, Luke estava sobre mim. Parecia gritar. Ele me arrastou para trás
de uma picape e usou meu cinto como torniquete. Eu desmaiei, mas eles me
disseram que ele me carregou sob o fogo cruzado, enquanto o resto dos
caras se protegiam.
— Por que diabos ele não me contou? — Harper disse, pegando o
refrigerante com violência desnecessária.
— Por que diabos ele não me deixa dizer obrigado?
Ela nivelou o olhar com o dele, e ele balançou a cabeça.
— Porque é o Luke — eles disseram em uníssono.
Pelo menos, Luke detinha as informações de forma igualitária.
— Vou escrever um e-mail em letras maiúsculas para ele, quando chegar
em casa esta noite — anunciou Harper.
— Enviarei a ele um cartão de agradecimento em letras maiúsculas.
— Então, por que você está evitando Gloria?
— Alguém já te disse que você é tenaz, Harpoon?
— Oh, não, você não disse. Eu moro com o Luke “Escorregadio”
Garrison. Não vou desanimar se você tentar transformar esse quiz de
perguntas e respostas em um jogo de apenas perguntas. Você não está mais
interessado nela? Seus sentimentos mudaram?
— Harper, olhe para mim. — Aldo apontou para a prótese. — Eu mal
consigo andar. Como vou tirá-la do chão, como ela merece?
— Ok, eu nem sei por onde começar com essa estupidez.
— Nenhuma palavra.
— Com certeza, algumas palavras. Em primeiro lugar, você acha que é
menos homem porque está com uma perna nova? É a coisa mais idiota que
já ouvi. E já ouvi muita merda estúpida. Sua perna não tem nada a ver com
o homem que você é. Sua atitude, por outro lado — ela o cutucou no peito
—, tem tudo a ver com isso. Essa porcaria de “coitadinho de mim, um
deficiente” não está te ajudando em nada. Cresça e seja a estrela do rock
que sempre foi.
— E em segundo lugar, Gloria não é uma flor frágil. Ela é engraçada e
inteligente, e está criando uma vida totalmente nova para si mesma. Uma da
qual você poderia fazer parte. Sabe o que seria incrível para ela? Um cara
que está disposto a ser vulnerável na frente dela. Alguém que precisa
dela. Você sabe o que isso faria para a confiança dela? Finalmente estar em
posição de ajudar outra pessoa?
Harper pegou um punhado de batatas fritas da caixa e entregou a ele.
— Ela cora toda vez que alguém diz seu nome e sobreviveu à Inquisição
da Sra. Moretta.
— Inquisição? Ah, merda.
— No final, sua mãe estava pedindo a receita de biscoito de geleia.
Aldo encostou a cabeça no assento.
— Isso é demais para aceitar.
— Coma seu hambúrguer. Você está fraco pela fome e estupidez.
Ele enfiou a mão na sacola, desembrulhou o hambúrguer e deu uma
mordida enorme.
Capítulo 31
Para: lucas.c.garrison282@us.army.mil
De: harpwild@netlink.com
Assunto: VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA COMIGO?
CARO LUKE,
VOCÊ VAI PERCEBER QUE ESTOU ESCREVENDO EM MAIÚSCULAS
PARA DEMONSTRAR O FATO DE QUE ESTOU GRITANDO COM
VOCÊ. COMO VOCÊ POSSIVELMENTE PODERIA ESQUECER DE ME
DIZER QUE SALVOU A VIDA DE ALDO, ENQUANTO ESTAVA EM UM
GRANDE PERIGO? VOCÊ PRECISARÁ LUTAR POR SUA VIDA
QUANDO CHEGAR EM CASA.
RESPEITOSAMENTE E COM RAIVA,
HARPER
***
Para: harpwild@netlink.com
De: lucas.c.garrison282@us.army.mil
Assunto: Filhotes e coisas fofas
Cara Harper,
Aceite as fotos de cachorros e gatinhos em anexo como uma tentativa de
distraí-la de sua raiva. Você não pode ficar com raiva de cachorrinhos
brincando. É contra o seu código genético.
Você fica linda quando está brava.
Luke
***
Para: lucas.c.garrison282@us.army.mil
De: harpwild@netlink.com
Re: Filhotes e coisas fofas
Fui hipnotizada pela fofura. Estou me sentindo muito menos
assassina. Talvez você deseje aproveitar esta oportunidade para explicar
por que não sentiu que eu precisava saber os detalhes do “incidente?”
Deixe-me dar alguns exemplos de maneiras que você poderia ter
abordado o assunto.
Você se vangloriando: Então, querida, eu totalmente arrasei salvando
vidas hoje e arrastei a bunda de Aldo para fora de um tiroteio depois que
ele foi parcialmente explodido. O que você fez hoje?
Você sendo sutil: Eu adoraria fazer uma chamada de vídeo com você esta
noite, mas estou realmente exausto. Desgastado de carregar meu melhor
amigo para fora de um campo de batalha com armas sendo
disparadas. Realmente, não foi grande coisa. Conte-me mais sobre seu
tricô.
Você normalmente: Aldo foi (insira a terminologia militar apropriada
aqui) por uma bomba caseira. Eu consegui chegar até ele e arrastá-lo para
fora do tiroteio, mas foi assustador. Estou com saudades e acho que você é
a mulher mais linda, incrível, gentil, inteligente e engraçada do universo.
Com amor,
Harper
***
Para: harpwild@netlink.com
De: lucas.c.garrison282@us.army.mil
Re: Filhotes e coisas fofas
Graças a Deus pelos cachorrinhos. A seguir, um pedido de desculpas
oficial.
Eu, Lucas Charles Norbert Garrison, lamento solenemente por não ter
fornecido fatos pertinentes a Harper Lee Sue Ellen Wilde, também
conhecida como “Namorada Gostosa”. O termo técnico e médico para o
meu estado mental era “surtando” e eu não tinha ideia de como colocar em
palavras o que aconteceu para não enlouquecer minha namorada
gostosa. O imediatismo da situação exigiu que eu colocasse mais energia
para descobrir se Aldo Moretta, daqui em diante conhecido como “Inútil
Quando Está Inconsciente”, estava vivo e continuaria assim, do que relatar
os detalhes vagos do acontecido. No entanto, eu juro fazer um trabalho
melhor de comunicar todas as coisas, incluindo aquelas importantes de
vida e morte, já que eu ficaria muito chateado se você não me contasse
algo assim.
Sinto falta do seu sorriso.
Luke
***
Para: lucas.c.garrison282@us.army.mil
De: harpwild@netlink.com
Re: Filhotes e coisas fofas
Desculpas aceitas. Considero esta briga por e-mail encerrada. Em anexo,
aceite uma foto dos meus seios como uma oferta de paz.
Capítulo 32
Harper suspirou e bufou até o terceiro andar, sob o peso de um
pufe. Chegando ao topo da escada, ela deu os passos finais para o novo
quarto de Gloria e desabou em cima do pufe no meio da sala de estar.
— Você vai estar em uma forma incrível, só de trazer compras para casa
— Harper arquejou. — Eu não posso acreditar que conseguimos trazer o
sofá até aqui nós mesmas.
Gloria riu da minúscula cozinha onde estava desempacotando um jogo de
jantar novinho em folha.
— Eu não posso acreditar que é meu — ela disse, com um suspiro feliz.
— Posso colocar algo no balcão, e ainda estará lá quando eu voltar. Posso
assistir o que quiser na TV. Posso ficar nua o dia todo se quiser!
Harper sentou-se e examinou o apartamento. Pisos de madeira com riscos,
um punhado de rachaduras no gesso. Mas a vista da rua principal de
Benevolence parecia saída direto de uma pintura. Gloria estava três andares
acima da Dawson’s Pizza, e a enorme janela em arco da sala dava para a
delegacia de polícia e o Common Grounds Café.
Ela estava a poucos passos do trabalho e do supermercado.
— Isso é muito perfeito — concordou Harper.
— Quer uma bebida? — Gloria ofereceu.
— Pelo amor de Deus, sim! Por favor! — A voz de Sophie foi abafada
pela caixa de itens de cozinha que estava levantando. Ela a jogou sem
cerimônia no meio do chão da cozinha e desabou em uma cadeira de jantar.
— Essa é literalmente a última. Tudo está aqui.
Harper deu um pulo e enfiou a mão na bolsa.
— Espere, Gloria! Largue a lata. Não podemos permitir que a primeira
bebida em sua própria casa seja um refrigerante diet. — Ela pegou a garrafa
gelada de champanhe que comprou na última viagem de carro entre a mãe
de Gloria e o novo apartamento.
— Nada é mais feliz do que o som do champanhe sendo aberto — disse
Sophie, batendo palmas. Harper despejou as bolhas em canecas de café e
serviu a elas.
— Eu gostaria de fazer um brinde — anunciou Gloria. — Muito obrigada
a vocês duas. Ser independente significa muito para mim, mas é ainda
melhor ter vocês como amigas com quem posso contar, se precisar.
— Own! Saúde — Harper disse, batendo sua caneca na de Gloria.
Sophie saiu logo depois, para resgatar Ty de Josh, que decidiu que era um
cachorro como Bitsy e só iria ao banheiro do lado de fora. Harper ficou por
perto para ajudar a desfazer as caixas.
— Eu realmente agradeço a ajuda — disse Gloria, empilhando os copos
cuidadosamente no armário ao lado da pia.
— Estou feliz em ajudar — disse Harper, tomando outro gole de
champanhe enquanto desenrolava os cabos do aparelho de DVD. — Tenho
certeza de que posso descobrir como instalar isso, para que você possa pelo
menos assistir a algum filme esta noite.
Ela correu para dar uma espiada atrás da TV.
Gloria saiu da cozinha e se sentou no sofá.
— Então, como está Aldo, desde que voltou para casa? — Ela abraçou
uma almofada amarela contra o peito.
Os dedos de Harper se atrapalharam com uma entrada.
— Ele está, uh, indo bem. Acho que a fisioterapia está ajudando
mentalmente. Fisicamente, ele é uma fera.
— Ele sempre foi — Gloria disse, um pouco triste.
Harper parou de mexer.
— Escute, Gloria, não sei exatamente qual é o problema dele, mas espero
que você saiba que é isso. Problema dele. Não tem nada a ver com você.
— Eu acho que tive minhas esperanças um pouco altas demais, de que
poderíamos ser algo juntos. Que eu poderia ser algo para ele.
—Opa! Vamos voltar essa fita agora mesmo. — Harper pegou a caneca e
sentou-se ao lado de Gloria. — Você não pode colocar seu valor nas mãos
de outra pessoa assim, mesmo se essas mãos estão te acariciando ou
machucando. Não importa. Seu valor vem de dentro. Se você significa algo
para ele ou não, não tem nada a ver com o quão valiosa você é.
Gloria suspirou e caiu para trás contra a almofada.
— Entendi. E acho que estou começando a acreditar. Sei que vou
ficar bem sem Aldo Moretta, mas, ainda assim, gostaria de pelo menos
tentar.
— Agora você está falando minha língua.
— É assim que você se sentia sobre Luke?
— É assim que eu ainda sinto sobre Luke. Sei que ficaria bem sem ele,
depois de um período de luto excepcionalmente longo, é claro. Mas eu
quero ser ótima com ele.
— Agora que posso riscar “conseguir apartamento” da minha lista, meu
próximo objetivo é ser ótima, não importa quem esteja na minha vida.
— É isso aí — Harper assentiu.
— Homens — disse Gloria, com sua caneca de champanhe.
— Nem me fale — Harper suspirou.
— Vamos pedir pizza.
— Essa é a melhor ideia que você já teve neste apartamento.
***
Nos três dias seguintes, Harper estava dolorida pelo resto de uma
vida. Duas dúzias de viagens por três lances de escada, carregando objetos
de peso variável, foram uma experiência reveladora.
Ela estava totalmente fora de forma.
Harper gemeu quando se curvou para pegar uma nova resma de papel para
a impressora.
— Você quer um pouco de ibuprofeno? — Beth ofereceu.
— Ugh. Não. Preciso sofrer as consequências do meu sedentarismo.
— Eu frequento a academia da Baker Street. É barata, limpa e tem muitos
equipamentos que não sei usar.
— Eu preciso fazer alguma coisa — Harper suspirou, arrastando os pés
pelo escritório. — Posso praticamente ouvir minhas artérias entupidas.
— Minha avó tem uma bengala que você pode pegar emprestada — disse
Frank, entrando no escritório.
Harper revirou os olhos para a risada de Beth.
— Obrigada por sua preocupação, Frank.
Ele balançou sua cabeça.
— Só estou tentando ser acolhedor.
— O que você está fazendo aqui? — Harper resmungou.
— Estou esperando você rastejar de volta para sua mesa, para que eu
possa revisar algumas das especificações da reforma da doutora.
Afundando-se na cadeira, ela gemeu, apenas parcialmente irritada.
Frank analisou os números da ampliação da Dra. Dunnigan à sua clínica,
que incluía uma nova sala de exames para diagnósticos por imagem, uma
cozinha e sala ampliadas.
— Nós examinamos a cerâmica — ele apontou para uma figura na
planilha. — O preço subiu um pouco, mas corresponde ao que ela já
tem. Portanto, estou propondo absorver o custo em vez de repassá-lo a
ela. Todo o resto está dentro ou abaixo do orçamento, então acho que
podemos ser um pouco generosos. Além disso, ela e seu parceiro estão
pensando em construir uma casa no próximo ano, e adivinhe qual nome está
no topo da lista?
— Ora, Garrison Construções, é claro. — Harper piscou.
Frank balançou a cabeça e enfiou as mãos nos bolsos.
— O que você precisa de mim?
— Sim ou não para absorver o custo.
Harper piscou. Frank estava pedindo sua permissão. Ela limpou a
garganta e pegou a calculadora.
— Sim — ela disse, olhando para o total. — É uma boa ideia, Frank.
Ele acenou com a cabeça rapidamente e juntou os papéis, antes de sair
pisando duro sem dizer uma palavra.
— Sobre o que foi tudo isso? — Harper perguntou, girando em sua
cadeira para que não tivesse que virar a cabeça para ver Beth.
— Eu não faço ideia. Nunca vi nada igual — disse ela, balançando a
cabeça.
Harper girou de volta para a tela. Talvez estivesse cansando Frank com
seu charme. Ou talvez Luke disse a ele para lidar com ela diretamente. Ou
talvez ela finalmente estivesse começando a se encaixar.
Se estava começando a se encaixar, não havia tempo para relaxar. Ela
continuaria a mostrar a Frank e a todos como levava a sério esse trabalho,
não importando como o tinha conseguido. Ela voltou ao trabalho com
energia renovada.
Poucos minutos antes do meio-dia, Charlie entrou.
— Eu estava procurando duas lindas damas para almoçar. — Ele estava
vestido com jeans e uma camisa polo da Garrison, o que significava que
tinha acabado de chegar de uma reunião com possíveis clientes.
— Acho que posso arranjar duas para você — Harper brincou. — Eu só
talvez precise ser carregada escada abaixo. Beth, você está dentro?
Beth já estava esperando na porta, segurando a bolsa.
— O quê? — ela encolheu os ombros. — Estou faminta.
Harper deu uma risadinha.
— Eu mesmo dirigirei. Vou levar Aldo para a fisioterapia, depois do
almoço.
Charlie as conduziu pela lanchonete, onde o cheiro de pão quente e café
pairavam em uma nuvem deliciosa.
Harper caminhou cautelosamente para a mesa, ao lado de Beth.
— Então, qual é a ocasião, Charlie?
— É terça-feira — disse ele, piscando para Sandra quando ela chegou
com seu refrigerante. — E eu estou com vontade de atum derretido.
— Parece que você tem dois encontros — disse Sandra. — Você deve ser
a infame Harper. Tenho pensado em ir ao Remo’s para ver você na sexta-
feira. Só não consegui ainda.
Harper riu.
— Eu deveria ter apenas convocado uma reunião municipal para me
apresentar.
— Da próxima vez você faz isso e nos poupará todo o trabalho de
persegui-la. Bem-vinda a Benevolence. O que posso trazer para vocês,
senhoras?
Eles pediram, e Harper se perguntou se ela algum dia se acostumaria com
as expectativas de uma cidade pequena.
— Você tem falado com Luke? — Charlie perguntou, tirando o canudo de
seu refrigerante.
— Gritei com ele por não nos contar sobre o resgate de Aldo. Ele disse
que vai tentar ligar para vocês esta semana.
— Meu filho, o herói silencioso.
— Eu me pergunto de onde ele puxou isso. — Harper ergueu as
sobrancelhas.
— Provavelmente de Claire — Charlie brincou. — Mas agora que
estamos falando sobre conversar, eu queria contar algo a você. Acabei de
voltar de uma reunião não oficial com possíveis clientes. É um jovem casal
com um terreno fora da cidade, perto da floresta. Eles estão procurando por
algo... único.
— Algo único no estilo de um abrigo militar, ou algo fofinho e diferente
de seus cinquenta vizinhos? — Beth perguntou.
— Mais ou menos. Vocês já ouviram falar de casas minúsculas?
Harper e Beth trocaram um olhar. Ambas estavam obcecadas com os
novos programas de TV sobre o assunto.
— Estamos familiarizadas — disse Harper casualmente.
— Bem, eles estão pensando em algo pequeno, e não minúsculo. Um
chalé com cerca de quarenta e sete metros quadrados, com geotérmica,
energia solar, todo o projeto ecológico, e mais todo esse armazenamento
embutido. Acho que seria um projeto muito interessante de se
conseguir. Mas não quero fazer isso, se o que eles procuram for uma caixa
com rodas de aparência ridícula.
Harper ergueu o dedo e pegou o telefone. Ela abriu o painel do Pinterest
de “Casas pequenas, mas adoráveis” e passou o telefone para Charlie.
— Algo como isto, talvez? — Ela deslizou a tela para ele, sabendo que ele
mal conseguia mexer no telefone. — Ou, que tal algo moderno como
esta? Dependendo do terreno, você pode construi-la de forma que toda a
frente fique exposta ao sul. Bom para a conta do aquecimento no inverno.
— Hã. Existe alguma maneira de você enviar essas fotos para mim por e-
mail ou algo assim?
Harper sorriu.
— Claro, sem problemas, Charlie.
— Então você acha que vale a pena tentar fechar esse projeto?
Harper e Beth assentiram vigorosamente.
— Casas como essas estão ficando cada vez mais populares. Não são para
todos, mas muitas pessoas estão realmente procurando por um luxo
reduzido.
Ela fez uma anotação mental para dizer a Claire para gravar alguns dos
episódios do programa de casas pequenas para Charlie.
Ele devolveu o telefone para Harper.
— Tudo bem, então. Vou levar isso em consideração e ver se consigo
fazer alguns esboços.
Capítulo 33
— Eu quero aprender a correr — Harper anunciou, saltando na ponta dos
pés. Aldo semicerrou os olhos no meio do alongamento.
— Por quê?
— Você e Luke correm. Eu o via sair de casa com o cérebro cheio de
merda e voltar de uma corrida sorrindo. Eu quero também. Além disso,
tenho comido muita pizza ultimamente, ajudei Gloria a se mudar e não
conseguia andar direito por três dias.
Aldo encolheu os ombros.
— Ok. Então corra até aquela árvore ali e volte.
— Isso não é muito longe. Eu quero correr quilômetros.
— Você não está pronta para correr quilômetros ainda, espertinha. Vou
verificar seu desempenho e dizer como melhorar. Além disso, para alguém
que se senta em uma mesa e come pizza o dia todo, essa árvore é longe o
suficiente.
Harper bufou.
— Você está sem uma parte da perna e já está trabalhando em corridas
lentas na esteira. Acho que consigo correr até a árvore e voltar com duas
pernas normais.
Aldo sorriu para ela.
— Pare de enrolar. Corra. Vou assistir e julgar sem piedade.
Harper mostrou a língua para ele e começou a correr em direção à árvore
na margem do lago. O parque era um de seus lugares favoritos em
Benevolence. Ela e Aldo vinham usando as trilhas quase todos os dias,
como um treinamento extra para ele e um pouco de exercício para ela.
Observar sua recuperação constante a fez avaliar sua própria
saúde. Especialmente depois de perceber que estava mais sem fôlego no
topo de uma colina do que Aldo com sua maldita perna biônica.
Ela, com certeza, era capaz de fazer isso. Ser saudável e ser forte. Agora
havia tempo para se concentrar no que seu futuro poderia ser. Mais saladas,
algumas corridas, talvez até um pouco de levantamento de peso, e quando
Luke voltasse para casa, ele encontraria uma mulher magricela com
objetivos e planos.
A árvore estava um pouco mais perto agora, embora ela se sentisse como
se tivesse corrido para sempre. Devia ser uma ilusão de ótica.
Sua respiração estava saindo em rajadas mais curtas agora, e suas pernas
pareciam mais pesadas. Oh, meu Deus. Ela estava correndo ladeira
abaixo. Teria que correr morro acima no caminho de volta.
Finalmente, a árvore apareceu na frente dela. Ela parou a poucos metros
de seu tronco e se abaixou, fingindo amarrar o sapato enquanto tentava
desesperadamente recuperar o fôlego.
— Vamos, Harp! — O grito de Aldo desceu a colina até ela.
— Por favor, não vomite. Por favor, não vomite — Ela cantou enquanto
subia em um ritmo muito mais lento.
Ela gritou quando uma dor aguda atingiu seu flanco.
Agarrando as costelas, finalmente cambaleou de volta ao início e desabou
ao lado de Aldo.
— Isso não foi tão ruim — ela arquejou.
Ele deu uma risadinha.
— Você parece um fumante de um maço por dia, Harp.
— Eu acho que tenho apendicite. Dói como uma cadela.
— Bem-vindo à sua primeira câimbra lateral.
— Câimbra lateral?
— Vamos. Ajude-me a levantar e direi todas as coisas que você fez de
errado.
— Como dizer que queria aprender a correr?
Eles trabalharam nos exercícios de Aldo e terminaram com uma
caminhada tranquila até a margem do lago.
— Então... como você está?
— Bem o suficiente para voltar para minha casa neste fim de semana. O
médico liberou.
— Você não vai sentir falta da sua mãe? — Harper brincou.
— Voltar para a minha casa é a única maneira de nós dois vivermos.
— Você está dormindo melhor? A dor ainda o mantém acordado?
Ele deu de ombros, e a pausa foi tão longa que Harper achou que não iria
responder.
— Às vezes, é como se minha mente não pudesse dizer a diferença entre o
que está acontecendo e o que aconteceu. É como um borrão entre o passado
e o presente e, às vezes, a única coisa que clareia minha cabeça é a dor —
disse Aldo.
— Talvez seja por isso que você força a fisioterapia além do limite?
— Talvez seja por isso que eu forço tudo além do limite.
***
O verão estava a todo vapor em Benevolence. Os fins de semana de
Harper eram cheios de churrascos, passeios com cães e corridas, o que
estava ficando um pouco menos doloroso. Depois que atingiu seu primeiro
quilômetro completo, Aldo comprou uma braçadeira para seu telefone
celular e baixou um programa de treinamento de 5 km para ela.
Ela ainda não estava atingindo o negócio de cérebro feliz depois da
corrida, mas o alívio que sentia quando cada corrida acabava era o
suficiente para mantê-la calçando os tênis quase todos os dias.
Seu último projeto foi arrumar a parte externa da casa de Luke. Ela havia
repintado o balaústre e o corrimão da varanda, e lentamente acrescentou
flores ao redor da vegetação existente.
Hoje ela iria enfrentar as plantas do lado da casa, que estavam começando
a subir pelo muro.
Ela vestiu shorts de ginástica e uma das velhas camisetas respingadas de
tinta de Luke, pegou um boné de beisebol e foi trabalhar.
As plantas provaram ser oponentes formidáveis, com raízes profundas e
longas, mas Harper gostava do trabalho físico.
O sol de verão provocou uma gota de suor em suas costas, e Harper
sentou-se sobre os calcanhares para fazer uma pausa para tomar água. Ela já
havia limpado mais da metade. Se conseguisse manter o ritmo, poderia
adubar no dia seguinte.
Ela se perguntou se Luke ficaria orgulhoso do cuidado que estava tendo
com sua casa. Queria que ele voltasse para um escritório e uma casa em
bom funcionamento.
No trabalho, ela terminou de converter todos os dados de clientes e
empregados para um novo sistema que se integrava ao software de
contabilidade, reduzindo a papelada para todos. Também convenceu Frank
e Charlie a realizar uma reunião mensal da equipe, onde todos, desde
supervisores a estagiários do ensino médio, participavam da discussão de
atualizações e bloqueios de projetos.
Em casa, a varanda foi pintada e decorada com vasos coloridos
transbordando de flores de verão. Com a ajuda de Claire e Sophie, a horta
no quintal estava realmente tomando forma. Lá dentro, havia mudado a
aparência suja da escada, e agora ela brilhava como nova.
Na semana passada, ela havia limpado todas as janelas por dentro e por
fora. Quase causou um ataque cardíaco em James quando ele veio cortar a
grama e a pegou ocupada, na escada que encontrou na garagem, limpando a
sujeira do vidro do segundo andar.
Ele começou a mostrar a ela que as janelas abriam por dentro, para
facilitar a limpeza sem escadas, e então enterrou a escada nos fundos da
garagem sob uma canoa e vários sacos de terra.
— Você não é uma desastrada — Luke disse uma vez. — Mas você atrai
problemas. — Ele deve ter transmitido essa mensagem a seu irmão.
As únicas janelas que restaram para limpar eram as do subsolo. Harper
passou os dedos pela sujeira do vidro mais próximo a ela. Parecia uma
sujeira de vários anos. Do outro lado do vidro, havia uma sacola de plástico
no nível da janela que mal conseguia ver.
Harper franziu a testa. Não se lembrava de nenhuma estante tão alta na
parede do porão.
A menos que…
Ela encontrara uma janela para o quarto secreto de Luke.
Rapidamente limpou mais sujeira e olhou através do vidro. A sala estava
vazia, exceto por um conjunto de prateleiras de metal com caixas e malas.
Harper sentou-se sobre os calcanhares. O que quer que Luke tivesse
naquele quarto trancado a chave era importante. Talvez uma mulher melhor
tivesse deixado para lá e respeitado seu espaço e segredos, mas uma mulher
melhor não estava lá. Harper estava.
A janela do porão não abria pelo lado de fora, então ela correu para dentro
para examinar a fechadura da porta.
Onde Luke guardaria a chave? Harper andou de um lado para o outro.
Ela voltou para cima, para a mesa da sala de estar, e pegou os dois
chaveiros da gaveta. Havia cerca de uma dúzia de chaves, da sua picape, as
chaves de casa e a do trabalho. Nenhuma estava rotulada como Sala Secreta
do Porão.
De volta ao andar de baixo, ela se demorou encaixando cada uma na
fechadura. Mas nenhuma abriu a porta. Na ponta dos pés, ela apalpou o
topo do batente da porta, mas não encontrou nada. Verificou a picape, no
console e no porta-luvas, e não encontrou nada.
Ela voltou para a cozinha, girando o chaveiro no dedo. Onde ele guardaria
a chave de algo que não queria acesso fácil? Deus, ela esperava que ele não
o tivesse enterrado em algum lugar.
Precisava de um segundo cérebro para ajudá-la. Harper pegou o telefone
celular e discou o número de Hannah.
— Ei, H! E aí? — A voz alegre de sua amiga sempre fazia Harper sorrir.
— Estou prestes a ficar totalmente louca aqui, e preciso falar, ou vou fazer
algo sobre isso.
— Ok, fale. Qual é o problema?
Harper rapidamente contou a Hannah sobre a situação.
— Então, em primeiro lugar, estou louca por precisar desesperadamente
saber o que há dentro? E em segundo lugar, até onde posso ir para conseguir
entrar sem agir como uma louca completa?
Hannah deu uma risadinha.
— Acho perfeitamente razoável querer saber o que está por trás da porta
número um. Mas eu não quebraria a parede de gesso, se eu fosse você. Eu
tentaria encontrar uma maneira minimamente invasiva de entrar
lá. Dependendo do que está nessas caixas, você pode não querer que ele
saiba que você as encontrou.
— Tenho certeza de que não são cadáveres ou brinquedos sexuais usados.
— Talvez ele seja apenas um colecionador e tenha cada boletim escolar
que já recebeu? — Hannah sugeriu.
— Eu sei que é algo grande. Algo com que ele não quer lidar. Ele
construiu paredes literais ao redor e trancou tudo.
— Então talvez ele não esteja escondendo algo, mas mantendo afastado
dele.
— É o que estou pensando também — concordou Harper.
— Talvez sejam montanhas de dinheiro?
Harper bufou.
— Ele já tem montanhas disso. Já experimentei todas as chaves dos
chaveiros e não tirei a sorte grande.
— Bem, se for algo com que não quer lidar, ele não colocaria em algo que
usa todos os dias, certo?
— Não, ele o colocaria em algum lugar onde não o veria o tempo todo. Eu
já te disse recentemente como você é superinteligente, Hanns?
— Não, mas tudo está perdoado, se você me contar o que encontrar!
— Pode deixar. Vou procurar em lugares que Luke não frequenta na casa.
— Vai ser muito decepcionante se for apenas um monte de papelada velha
de escritório.
— Não brinca.
Elas desligaram, e Harper tamborilou os dedos no balcão. Onde
estaria? Em algum lugar próximo, mas não visível.
Ela se animou. Com um palpite, ela subiu as escadas para o segundo
andar. Uma caminhada pelos três quartos vazios não revelou nada de
novo. Não havia mobília neles.
Harper parou na porta do quarto principal e deixou seus olhos o
percorrerem. A cômoda era usada quase todos os dias, assim como o
armário. A mesa sob a janela abrigava os equipamentos eletrônicos de Luke
quando não estavam em uso, e suas gavetas estreitas estavam praticamente
vazias.
Ela virou e olhou para a cama. A gaveta de sua mesinha de cabeceira
estava quase cheia de livros, revistas e uma caixa de lenços de papel. Mas a
dele? Ela não conseguia se lembrar de Luke abrindo a dele.
Harper abriu a gaveta. A princípio, parecia estar vazia, mas no fundo, algo
chamou sua atenção. Uma única chave prata.
Ela a pegou da gaveta e a ergueu. Será que era essa?
Harper desceu dois lances de escada até o porão e enfiou a chave na
fechadura. A maçaneta girou facilmente em sua mão, e ela a abriu.
A sala era comprida e estreita, com duas prateleiras encostadas na
parede. As caixas e malas não tinham etiqueta e pareciam intocadas por
anos. Seus dedos coçaram para mexer nas coisas, mas por onde
começar? Ela decidiu ser metódica e ir da esquerda para a direita,
começando pela prateleira mais distante.
Puxou a primeira caixa da prateleira de cima e sentou-se no chão com
ela. Continha alguns álbuns de fotos. O primeiro era identificado como
“Karen”, em uma letra cursiva rabiscada. Harper folheou, observando uma
criança com cara de querubim se transformar em uma jogadora de softball
desengonçada que se transformou em uma adolescente bonita. Fotos do
jardim de infância até o último ano eram intercaladas.
Era essa a garota que Luke havia perdido?
Harper pegou o próximo, um álbum de couro surrado e fino. Estava
rotulado em uma escrita feminina “Luke e Karen”. Harper sentiu o coração
disparar. Ela respirou fundo e abriu a primeira página.
Luke,
Esta é a nossa história. Eu queria dar isso a você antes de estarmos longe
um do outro, para que você sempre tenha um lembrete do quanto eu te
amo. Algum dia, talvez, nossos netos folheiem este álbum para ver onde
tudo começou.
Com amor, Karen.
Harper virou a página. Era uma foto de um Luke muito jovem, em um
smoking. Seu cabelo estava mais comprido, e o sorriso em seu rosto a fez
sorrir. Ele estava com o braço em volta de uma morena alta e magra, em um
vestido formal, verde esmeralda. Karen. Eles estavam usando coroas.
Rei e rainha do baile.
Eles eram um casal perfeito, sorrindo como se não houvesse uma
preocupação no mundo. Na página seguinte, havia uma foto de Luke em
seu uniforme de futebol americano, o capacete debaixo do braço. Um
sorriso descuidado em seu rosto enquanto ele sorria para outro jogador,
Aldo.
Harper sorriu. A amizade e lealdade eram profundas.
Havia um recorte de jornal com uma foto de Luke jogando o touchdown
da vitória e, em seguida, uma foto de Karen com o uniforme completo de
líder de torcida, aplaudindo de lado. Seus olhos azuis estavam focados no
campo.
Outra foto de Karen e Luke se abraçando depois de um jogo. Karen estava
com a jaqueta de Luke pendurada nos ombros.
Capitão do time de futebol e líder de torcida.
Eles devem ter sido como a realeza do ensino médio. Harper
suspirou. Luke parecia tão jovem e tão livre. Havia uma leveza sobre ele
nas fotos que tão raramente estava presente nele agora. Ela adorava vê-lo
assim. Enérgico. Feliz. Pronto para enfrentar o mundo.
Havia mais fotos. Baile de formatura, acampamentos, churrascos, fotos
com parentes. Karen com os Garrisons. Luke com Karen e sua mãe. Todos
pareciam tão felizes.
Na última foto, Luke e Karen estavam na frente e no centro, em seus
capelos e vestidos na formatura. Eles tinham olhos apenas um para o
outro. Sorrisos brilhantes para o futuro à frente deles.
Harper fechou o álbum e o segurou contra o peito. O que ela teria dado
para crescer assim. Ser jovem, apaixonada e animada com o futuro.
O que aconteceu com eles? Onde deu errado?
O próximo álbum era um livro pesado de marfim com letras douradas.
Os Garrisons.
Capítulo 34
Harper abriu o pesado álbum cor de marfim, com uma foto de tirar o
fôlego de Karen em um vestido de noiva. Mangas compridas em renda
alcançavam seus antebraços com um tecido transparente, cobrindo o decote
redondo do vestido. Seu cabelo castanho-avermelhado escuro estava preso
para trás, em um penteado clássico com um longo véu enfiado sob ele. Ela
carregava lírios.
Harper levou a mão à boca.
Luke sorria para Claire enquanto ela prendia sua flor na lapela.
Outra de Karen com Sophie e três outras mulheres em vestidos roxos
escuros, rindo enquanto uma daminha girava.
Luke no altar, com Aldo ao seu lado, seus olhos focados, calmos e firmes
no fundo da igreja. Karen caminhando pelo corredor, escoltada por sua
mãe. A cerimônia. O beijo. A saída feliz.
Harper largou o álbum com cuidado. Eles eram casados. Ele nunca havia
mencionado isso.
Ela queria parar. Processar tudo, mas havia muito mais. Outro
álbum. Uma lua de mel, um primeiro lar. Luke em seu uniforme da
Guarda. Sua primeira missão. Sua volta ao lar. Locais de trabalho, festas,
feriados. Segunda missão de Luke. E então nada.
Bem no fundo da caixa, havia duas alianças de casamento e um pequeno
anel de noivado de diamante. Ela gentilmente correu os dedos sobre o ouro
antes de colocá-los de volta na caixa. Harper recolocou cuidadosamente os
álbuns e colocou a caixa de volta em seu lugar na prateleira.
Ela continuou. As malas estavam cheias de roupas femininas. Um guarda-
roupa inteiro, bem guardado.
Uma caixa estava totalmente cheia de papéis. Uma certidão de
casamento. Recortes de jornais sobre anúncios de noivado e
casamento. Recortes de artigos escritos sobre a unidade de
Luke. Cartas. Cartões. Todo um relacionamento que cabia perfeitamente em
uma caixa.
Harper ergueu os olhos do chão e girou os ombros. Estava escuro
agora. Horas se passaram desde que abriu este mundo de caixas.
Ela deveria parar, mas ainda não tinha respostas. O que aconteceu com
Karen? Restava apenas uma caixa.
Bem no topo da caixa, estava uma carta aberta de Karen para Luke
enquanto ele estava na Alemanha.
Bem, meu querido,
Você vai voltar para uma vida muito diferente no próximo mês. Graças à
sua licença, há dois meses, parece que seremos uma família de três! Queria
ligar e dizer, para ouvir sua reação. Mas foi assim que minha mãe disse ao
meu pai que estava me esperando, então achei que era uma tradição
familiar digna de continuar. Você, meu caro Lucas Garrison, será papai em
outubro. Acho melhor começarmos a esvaziar o quarto de hóspedes, para
dar espaço para o nosso filho. Ainda não contei a ninguém. Será nosso
segredinho, até que você esteja em casa e possamos contar juntos para as
famílias. Você vai ser um pai incrível.
Amor,
Karen
Harper apertou a carta contra o peito. Luke era pai? Como poderia
ser? Não havia fotos. Ele nunca mencionou um filho ou filha.
Ela colocou a carta de volta no envelope e continuou a vasculhar.
Encontrou dois macacões minúsculos, cuidadosamente guardados em
sacolas de presentes achatadas. Um proclamava com orgulho “Que o Mimo
Comece” e outro “Eu tenho a melhor avó do mundo”. Deve ter sido como
Karen planejou contar às famílias.
Eles eram novos, as etiquetas ainda estavam neles. Nunca dado, nunca
usado.
O coração de Harper começou a bater forte. No fundo da caixa, encontrou
uma série de recortes de jornais de alguns anos atrás.
Mulher local morta em acidente a caminho de encontrar o marido
soldado.
Suas mãos tremiam enquanto ela lia.
BENEVOLENCE, MD - A residente local, Karen Garrison, foi morta
quando seu veículo cruzou a avenida central e foi atingida de
frente. Garrison estava a caminho para encontrar seu marido e soldado,
Lucas Garrison, cuja unidade da Guarda estava retornando de uma missão
de um ano na Alemanha.
Harper sentiu-se mal do estômago. Não era para menos.
Não era para menos.
Ela examinou o resto do artigo. Karen morreu no momento do impacto
em seu caminho para encontrar o resto dos Garrisons, para dar as boas-
vindas a Luke.
Lágrimas quentes desceram por suas bochechas.
Luke se sentia responsável, ela tinha certeza disso. Karen estava indo se
encontrar com ele.
A polícia não sabia por que seu carro cruzou a avenida central. Havia uma
foto tirada pelo jornal, do local do acidente. Uma bandeira de boas-vindas
ao lar estava amassada, logo após os destroços.
Ela pegou o resto dos artigos e leu todos, incluindo o obituário de Karen.
Mas, apesar de tudo, não havia menção ao bebê.
Luke escondeu isso de todos? Para protegê-los de mais perdas? Ele
enterrou tudo isso, guardando a culpa, a perda agonizante em seu
coração? Trancando tudo dentro dele?
Com cuidado, Harper recolocou todos os itens na caixa e devolveu-a para
a prateleira.
Ela se levantou, dolorida pelas horas sentada no chão de concreto. Saiu e
fechou a porta, mas não a trancou.
Ela estava compartilhando sua casa, sua vida, com outra mulher. Uma que
não merecia mais ser trancada.
Harper subiu as escadas para o primeiro andar, ligando as luzes
mecanicamente enquanto voltava para a cozinha. Os cachorros, que
estavam cochilando na sala de jantar, se lançaram atrás dela. Famintos e
inquietos. Ela os deixou sair primeiro e depois os alimentou com o
jantar. Enquanto comiam, Harper olhava para a escuridão.
Ela pegou o celular e, ignorando o punhado de mensagens de texto e
mensagens de voz, discou o número de Sophie.
— Ei, você pode vir aqui? Eu quero falar sobre Karen.
***
Sophie envolveu as mãos em torno do copo de chá gelado que Harper
colocou à sua frente. A condensação desceu para formar um anel na
superfície da mesa de piquenique.
Harper acendeu a fogueira antes de se sentar no banco oposto. Ela
observou os cachorros se revezando, perseguindo um ao outro no escuro,
com um galho.
— Então — ela disse.
— Então — Sophie ecoou.
Lola desistiu do jogo de perseguição e rolou de costas na grama ao lado
do pátio.
— Ele te contou?
— Não.
Sophie praguejou.
— Meu irmão, o idiota. Ele deveria ter te contado.
— Concordo. Então, por que não contou? — Harper puxou uma perna
para cima do banco e apoiou o queixo no joelho.
— Você conheceu Luke, ele não fala. Ele sempre foi assim – isolado,
quieto – até certo ponto. Mas depois do acidente, ele se fechou. Nunca o
ouvi dizer o nome dela, desde então. É quase como se ele quisesse fingir
que ela nunca existiu, mas talvez ele só queira ficar sozinho com sua dor.
— Você e Karen eram próximas?
Sophie assentiu.
— Não éramos melhores amigas nem nada, mais como uma
família. Nossas personalidades eram diferentes. Ela era muito pragmática e
calma. Meio rígida demais. Mas era calorosa e confiável. Nós nos dávamos
bem. Ela e Luke estiveram juntos por tanto tempo, ela já era da família
antes de ser oficialmente da família.
Harper assentiu.
— Eu vi as fotos do casamento.
— Ele as guardou? — Sophie se endireitou. — Eu me perguntava
isso. Após o funeral, deixei Luke sozinho por alguns dias. Quando fui vê-lo,
estava tudo embalado. Ele se mudou para cá logo em seguida. Mas nunca vi
um indício de Karen ou de sua vida juntos.
— Está tudo no porão. Ele encaixotou tudo, construiu paredes ao redor e
trancou a porta.
Sophie apoiou o queixo nas mãos e olhou para o chá.
— Tem algo mais forte?
Harper entrou e voltou com uma garrafa de Jack Daniels e duas latas de
Coca. — Algo como isso?
— Perfeito. — Levantando-se, Sophie esvaziou o chá de seu copo. Ela
repetiu o processo com o copo de Harper, antes de abrir a garrafa.
— Então, como você se sente sobre tudo isso?
— Acho que estou sentindo todos os sentimentos do mundo agora. Eu
nem sei o que deveria sentir neste momento. Estou arrasada por ele. Não
consigo imaginar uma perda dessa magnitude, especialmente nessa
situação.
Ela suspirou profundamente.
— Mas também estou zangada, ou desapontada, ou talvez com medo de
que ele tentou manter tudo para si mesmo. Quer dizer, não foi só ele que a
perdeu. Foram todos vocês. E, para completar tudo com um pouco de
egocentrismo, sinto uma tristeza egoísta por Luke ser o amor da minha
vida, mas ele já ter tido isso com outra pessoa. Alguém que é tão sagrado
para ele que não consegue nem falar sobre ela.
Harper deu um grande gole em sua bebida e se engasgou.
— Você se esqueceu de adicionar a Coca?
Sophie riu.
— Isto é um Jack com uma pequena dose de Coca.
— Então, eu sei o que aconteceu — disse ela, usando aspas no ar. — Mas
você poderia me dizer o que aconteceu? Tudo bem?
Sophie assentiu.
— Eu acho que você precisa saber. Já passou da hora de Luke ter segredos
e se esconder de todos nós. Lamento que você esteja ouvindo isso de mim,
e não dele.
Ela olhou para o céu noturno.
— O plano era que Karen se encontraria comigo, com meus pais e com
sua mãe, Joni, no local, cerca de meia hora antes de o ônibus de Luke
chegar. Ty estava trabalhando e, na época, tínhamos terminado. Karen
estava levando a faixa de boas-vindas ao lar. Eu tinha um monte de balões
de hélio no banco de trás do meu carro. Ela foi muito rígida sobre chegar
cedo, então, quando ela não apareceu, fiquei nervosa. Eu ouvi as sirenes e
sabia que algo estava errado. Com essa sensação de mal-estar na boca do
estômago.
— O ônibus estava entrando no estacionamento e meu telefone começou a
tocar. Era o Ty. Ele estava na cena. Ele me disse que ela estava morta. Eu
meio que desabei na calçada. Ty estava falando no meu ouvido, mas tudo
que ouvia era o sangue subindo à minha cabeça. Mamãe estava tentando me
levantar. Achava que estava tendo algum tipo de convulsão ou algo assim.
— E então, Luke desceu do ônibus. Ele tinha um sorriso de quilômetros
de largura no rosto, até que ele travou os olhos nos meus. — Sophie
respirou fundo enquanto as lágrimas brotavam.
— Juro por Deus, ele apenas olhou para mim e soube. Ele começou a
balançar a cabeça e a correr. Eu estava histérica e chorando. Ele me agarrou
pelos ombros. Ty ainda estava ao telefone. E tudo que pude dizer a Luke foi
“Karen”, e entreguei-lhe o telefone.
Harper estendeu a mão sobre a mesa e colocou-a sobre a de Sophie.
— Eu sinto muito, Soph.
— Eu nunca esquecerei seus olhos quando ele ouviu as palavras. A luz
morreu neles, e eu simplesmente continuei pensando que ele nunca mais
seria o mesmo depois disso.
— Eu acho que é por isso que o deixamos ficar isolado, se trancando e
nos mantendo à distância. A vida dele foi destruída na nossa frente, mas
estávamos muito gratos por ainda o termos conosco. Acho que eles estavam
pensando em começar uma família. Mantiveram tudo em segredo, mas eu
tinha a sensação de que eles começariam a “tentar” quando ele estivesse em
casa novamente.
— Você estava com medo de que ele... — Harper parou de falar. Ela não
conseguia nem terminar o pensamento, muito menos a frase.
— Eu não sei. Sinceramente, não sei. Ele não atendeu o telefone nem a
porta por dias. Ele mesmo cuidou de todos os planos do funeral e apenas
nos disse quando e onde estar.
— E quanto a Joni?
— Isso foi tão ruim quanto poderia. Karen era filha única de Joni, e eram
muito próximas. O pai de Karen fugiu quando ela era criança. Luke a
excluiu, como ao resto de nós, e ao lado do túmulo, Joni perdeu a
cabeça. Ela disse a Luke que era culpa dele que Karen não estava aqui. Que
ele escolheu seu país em vez de sua esposa, e era por isso que a família dela
se foi.
Harper levou as mãos à boca.
— Ele acreditou nela, não foi?
— Não posso dizer com certeza, porque ele nunca falou sobre isso, mas
sim. Acho que ele pensou que era o culpado.
— Ela estava soluçando e gritando “Você tirou minha família de
mim”. Ele apenas ficou lá e a abraçou. Como se fosse uma
penitência. Papai a afastou e a acalmou, e foi o fim de tudo. Ela nunca mais
falou com nenhum de nós. Ela mora fora da cidade, e ainda a vejo
ocasionalmente. Ela simplesmente se encolhe e vai na direção oposta
quando me vê. Como se eu fosse um lembrete doloroso demais.
— Como você lidou com isso? — Harper perguntou, dando outro gole de
Jack.
— Eu me casei com Ty. Estávamos terminando e voltando no típico estilo
de namorados do colégio. Começamos novamente naquele ponto. Eu estava
preocupada em estar perdendo o que mais havia por aí. Mas quando me
ligou naquele dia... ele veio para a casa depois do turno da noite, e ficamos
acordados a noite toda, conversando na varanda. Era como se nós dois
tivéssemos percebido como a vida era curta e como estávamos apenas
perdendo tempo. Ele me pediu em casamento um mês depois, e nos
casamos seis meses depois disso.
Ela se mexeu no banco.
— Parte de mim esperava que um grande casamento, cheio de amor e
felicidade, ajudasse a trazer Luke de volta à vida. Ele era o padrinho de
casamento e fez sua parte. Mas você olhava para ele e tudo o que via era um
buraco onde deveria estar seu coração.
— Às vezes, eu olho para Ty e me pergunto se é assim que eu seria, se
algo acontecesse com ele. Eu amo muito aquele homem. Ele é uma alma tão
boa, leal e de bom coração. E não tem medo de ficar no meu caminho e me
dizer quando estou sendo uma idiota. É um pai incrível e, às vezes, eu
mando um pequeno agradecimento para Karen porque, se não fosse por ela,
eu poderia ter continuado estúpida e teimosa e querendo ver o que mais
havia por aí, em vez de me agarrar ao que estava na minha frente.
Harper sorriu.
— Nunca ouvi você ficar tão piegas antes.
Sophie riu e enxugou uma lágrima perdida.
— Eu negarei se você compartilhar uma palavra disso!
— Você tem um bom coração, Sophie Garrison Adler.
— Não é nada comparado ao de Ty. Ou ao de Luke. De vez em quando,
você ainda pode ver um vislumbre dele.
Harper acenou com a cabeça e pensou em seu primeiro olhar para
ele. Aqueles calorosos olhos castanhos cheios de preocupação, enquanto ele
pairava sobre ela no estacionamento. Sim, ele ainda tinha um grande
coração ali. Estava atrás de uma porta trancada.
— Às vezes, vejo isso na maneira como ele olha para você — disse
Sophie, de repente.
— Sério?
— Eu não acho que ele sabe o que sente por você ou o quão profundo isso
é. Mas há uma razão pela qual ele pediu para você ficar. E não era para
cuidar da casa ou administrar o escritório. Ele olha para você com essa...
suavidade. E precisa de você.
Harper despejou mais refrigerante em seu copo. Ela queria que fosse
verdade. Mas o desejo pela segurança de ser amada a tornava tão
vulnerável.
— Parte meu coração saber que ele acredita ser o responsável pela morte
de Karen — disse ela, mudando de assunto.
Sophie assentiu e bebeu mais.
— Foi um acidente. Karen não cruzou a avenida central de propósito. O
outro motorista não bateu nela de propósito. Foi apenas um acidente
horrível. Não tem como culpar ninguém por isso.
— Mas Luke se culpou. Joni o culpou.
— Algumas pessoas simplesmente lidam com perdas desse jeito. E quanto
a você? Como você lida com a falta dos seus pais?
Harper encolheu os ombros.
— É diferente. Eu tinha sete anos. E depois de um longo tempo sem
entender, você é meio que forçada a aceitar e seguir em frente.
— Eu acho que uma criança de sete anos, aprendendo a lidar com a
situação, é mais difícil do que um adulto. Um adulto tem razão e
lógica. Eles podem entender o conceito de nunca mais ver alguém.
— Não há lógica por trás da morte e da perda — argumentou Harper. —
Tentar raciocinar pode levar você a alguns lugares bem sombrios.
Rancor. Culpa. Escondendo-se da dor, distraindo-se com trabalho, bebida,
sexo, compras.
— Você está certa. Ser adulto é uma merda.
— Vamos beber a isso. — Harper ergueu o copo para Sophie.
Capítulo 35
Ela estava apenas curiosa, Harper disse a si mesma. Era por isso que
estava se desviando para o cemitério, em vez de ir direto para casa. Sua
conversa com Sophie ainda pesava em seu coração.
Ela olhou para o pequeno buquê de flores silvestres que comprou na feira
de fazendeiros. Foi uma compra por impulso, enquanto ela esperava na fila
para pagar seus morangos. Afinal, não poderia ir de mãos vazias ao
encontro da mulher que ainda tinha o coração de Luke.
O cemitério era um trecho gramado de parque, a alguns quarteirões do
centro da cidade. Ela se lembrou de todas as vezes que ela e Luke passaram
de carro e se perguntou se ela não o teria visto olhando pela janela, para sua
esposa.
Esposa e mãe de seu filho.
Começar uma nova vida, uma família, apenas para ter tudo tirado de
você. O coração de Harper doeu por ele.
Ela estacionou o carro e desceu. Sabia a direção da sepultura graças a um
site mórbido, mas útil, dedicado a mapear cemitérios. Enquanto o verão
cobria Benevolence com um calor seco, a grama aqui permanecia
vibrantemente verde.
Harper vagou pelo caminho estreito de asfalto que rodeava o parque. Ela
virou à esquerda, na estátua do anjo alado, e encontrou um conjunto de
túmulos em uma encosta suave.
A lápide chamou sua atenção imediatamente. Reconheceu a escultura
antes de ver o nome. Era a tatuagem de Luke. A fênix que ele tinha sobre o
coração.
Ela ouviu os sons distantes de um cortador de grama e um avião em voo,
mas tudo o que viu foi a fênix.
Prendendo a respiração, ela se aproximou da pedra negra brilhante.
Karen Garrison
Esposa e filha amorosa.
Não havia menção da mãe amorosa que ela teria sido. De uma forma
trágica, ela levou seu segredo para o túmulo.
Harper deixou escapar o fôlego e ajoelhou-se cautelosamente na
grama. Ela se sentou sobre os calcanhares. Era um lugar lindo. A linha de
árvores às suas costas lançava sua sombra sobre as doze sepulturas que
decoravam o bosque.
Já havia um belo arranjo de flores coloridas, que estava começando a
secar, enfiado na urna de metal atrás da pedra.
Não parecia triste. Parecia... pacífico.
Harper brincou com o barbante em volta das flores silvestres e pigarreou.
— Eu não tenho certeza de como me apresentar ou se deveria — ela
começou. — Estou apaixonada pelo seu marido, então tenho certeza de que
isso não nos faria amigas, se você ainda estivesse aqui. Mas talvez, dadas as
circunstâncias, você concordaria com isso?
— Eu acho que você deve ter sido uma pessoa incrível. Acho Luke
incrível também. Vocês devem ter sido tão felizes juntos.
— Eu realmente não sei por que estou aqui. Ele não deveria estar tentando
mantê-la trancada. Não sei dizer se ele está tentando proteger a todos ou a si
mesmo.
— Me apaixonei por um homem que não consegue ser honesto comigo, e
não sei o que isso vai significar para nós quando ele voltar para casa.
Harper ficou sentada em silêncio por alguns momentos. Ela se inclinou
para frente e correu um dedo pela fênix. Sentia falta dele. Sentia tanto sua
falta que doía. Não sabia o que o futuro reservaria, mas agora sabia que o
queria em casa.
***
A semana de trabalho estava passando como um borrão. Harper descobriu
que, se ela se mantivesse ocupada, não teria muito tempo para se concentrar
na necessidade aguda logo abaixo da superfície. Só à noite ela não
conseguia bloquear a dor. Ela se pegou levantando-se cada vez mais cedo
pela manhã, para sair para uma corrida tranquila.
Como hoje.
Ainda faltavam horas para o calor de um dia de verão surgir, quando
amarrou os sapatos. Horas longe do trabalho, das palavras, das
pessoas. Agora só havia tempo para pensamentos e sonhos.
Ela escolheu uma rota diferente hoje, uma que serpenteava pelas ruas
ainda silenciosas da cidade. Harper finalmente encontrou aquele espaço
entre as batidas de seu pé onde a paz reinava.
Aldo ficou impressionado com o progresso dela, e ela com o dele. A
última rodada de modificações feitas em sua prótese pareceu realmente
ajudar. Seu andar era suave, e ele aumentava constantemente a intensidade
da fisioterapia. Ela ficou surpresa por não ter visto um progresso
semelhante entre ele e Gloria.
— Nem todo mundo é uma história de amor esperando para acontecer —
Luke brincou com ela na noite anterior, a 11 mil quilômetros de distância.
Ele estava sorrindo na tela, e Harper sabia que era um bom sinal. Depois
de Aldo, ela viu o cinza, as sombras, e sabia que ele estava lutando batalhas
não apenas fisicamente. Por mais forte que fosse, ele se alimentava das boas
novas em casa. Eles discutiam o trabalho em breves comentários, mas
Harper via sua expressão ganhar mais vida quando ela falava sobre a
casa. A última façanha de Aldo na fisioterapia, ou o novo ditado de Josh, ou
a nova receita de tofu que Claire experimentou em Charlie.
Ela não mencionou Karen ou sua viagem ao cemitério. Eles conversariam,
eventualmente. Cara a cara.
Foi com Karen em sua mente que Harper escolheu este caminho. Ela
parou para recuperar o fôlego em frente a um duplex arrumado de dois
andares. Meadow View, 417. A casa deles juntos. De Luke e Karen. Atrás
dessas paredes, eles prepararam o café da manhã, fizeram amor, discutiram
e planejaram uma família.
Ela não sabia o que esperava sentir, estando aqui. O que alguém deveria
sentir quando perseguia fantasmas?
Com as mãos nos quadris, ela caminhou pela calçada, olhando de vez em
quando para a casa. Luke já havia feito isso? Voltado ao lugar onde havia
morado? Visitado o cemitério onde só havia morte?
Harper sentiu algo. Uma presença. Um fantasma?
Mas era uma mulher. Carne e sangue. Assombrando a calçada. Elas se
estudaram a vários passos de distância. A figura esguia estava vestida
casualmente, com shorts e uma camiseta. Ela tinha o cabelo castanho com
mechas prateadas puxadas para trás, em um curto toco encaracolado.
Harper se sentiu como se tivesse sido pega em flagrante. Ela deu um
aceno desajeitado.
— Bom dia — ela cumprimentou.
A mulher simplesmente a olhou. Havia algo familiar em seu rosto. Isso a
lembrou de Karen. Harper sentiu seu coração parar de bater.
— Joni?
O rosto da mulher se transformou em uma máscara impassível.
— Então, você é ela — ela disse, seu tom suave, mas misturado com dor.
— Eu sou quem?
— A substituta de Luke para a minha filha.
Harper congelou onde estava.
— Joni, posso garantir que não há substituta para Karen.
— Não é o que parece para mim. O que parece para mim é que ele tentou
fingir que ela nunca existiu, até que encontrou alguém novo para ajudá-lo a
esquecer.
Harper foi em sua direção.
— Agora, espere um minuto...
— Eu espero há cinco anos. — Sua voz falhou. — Eu perdi minha família
por causa dele. Ele nunca a amou o suficiente. Seu país vinha primeiro, e
minha filha vinha em um distante segundo lugar. Ele vai fazer isso com
você também.
Harper podia ver as lágrimas agora. Ela balançou a cabeça.
— Acho que precisamos conversar.
***
Precisou de um pouco de persuasão e um pouco de pressão, mas Harper
fez Joni voltar para casa com ela. Elas voltaram a andar, a umidade do
verão provocando uma linha de suor nas costas de Harper.
— Como era a Karen?
Joni suspirou.
— Ela era tudo para mim. Seu pai nos deixou quando ela era muito
jovem. Ele simplesmente se levantou e foi embora um dia. Disse que não
queria mais ser marido e pai. Então, fomos apenas nós duas a partir dali.
O abandono doeu e ainda doía. Harper podia ouvir em seu tom.
— Karen era uma garota determinada e ambiciosa. Mesmo com oito anos,
tinha sua vida inteira planejada. Ela iria para a faculdade, para ser cientista,
e se casaria com um homem que seria “um bom pai”. Foi incrível vê-la
definir um objetivo e marchar em direção a isso até que o capturasse. —
Joni respirou fundo.
— E agora ela se foi. E ele finge que ela nunca existiu. Ele alguma vez a
amou? Se ele fez isso, como poderia ter se afastado dela, de nós, tão
facilmente?
Outro abandono.
Elas chegaram em casa, e Joni parou para observá-la.
— Karen teria adorado esta casa. Era apenas um ponto de referência. Eles
iriam ter um lar, uma família. Eles teriam tudo.
Harper a conduziu até a varanda.
— Você se dá bem com cães?
Joni suspirou.
— Claro que você tem um cachorro.
Harper abriu a porta da frente, e Lola e Max correram para cumprimentá-
las.
— Oh, olá — disse Joni, agachando-se para cumprimentar a massa de
línguas, patas e traseiros balançando.
— Deixe-me dar a eles algumas guloseimas e podemos descer para o
porão.
Harper correu pelo corredor até a cozinha e pegou um pacote de petiscos
de bacon. Ela sacudiu o pacote, e os cachorros correram pelo corredor em
sua direção.
— Bom cachorro. Ok, sente-se. Bom trabalho. Aqui está um para você e
outro para você.
Ela encontrou Joni olhando para a sala de jantar.
— Isso é tudo novo. Luke estava com tanta pressa de sair daquela
casa. Ele a vendeu por menos do que pagaram e vendeu ou deu todos os
móveis. Ele se livrou de tudo que eles possuíam, tudo que era dela.
— E você acha que ele fez isso porque queria seguir em frente?
— Não há outra explicação.
— Eu acho que pode haver. Acho que você está errada sobre Luke. Deixe-
me mostrar-lhe algo. — Harper abriu a porta do porão.
— Você não está me levando lá para me cortar em pedaços, para alimentar
os cachorros, está? Não estou pronta para ser uma daquelas pessoas
“desaparecidas que nunca mais se ouve fala” — disse Joni.
— Muito engraçado. Agora, deixe-me pegar meu machado enferrujado.
— Ha ha. — Mas ela seguiu Harper escada abaixo.
Harper parou do lado de fora da porta.
— Luke ainda está apaixonado por sua filha. Ele nunca parou de amá-la.
— O que ele te falou?
— Não é o que ele me disse. É o que eu encontrei. — Ela girou a
maçaneta e abriu a porta. — Continue. Você pode examinar tudo isso. Vou
fazer um café para nós.
Joni acenou com a cabeça, mas sua atenção estava no conteúdo da sala.
Harper deu privacidade a Joni e voltou para cima. Ela levou os cachorros
para o quintal enquanto o café ficava pronto.
Ela não sabia se estava fazendo a coisa certa. Mas passar anos acreditando
que o marido de sua filha havia deixado de lado sua memória e seguiu em
frente, sem pensar duas vezes? Uma mãe merecia saber a verdade.
Ela esperou mais meia hora antes de se aventurar de volta ao porão, com
uma bandeja de café, açúcar, creme e lenços de papel.
— Joni?
Ela a encontrou sentada de pernas cruzadas no chão, segurando um álbum
de fotos.
— Ele guardou tudo — ela sussurrou, em lágrimas.
Harper viu que a caixa com os macacões estava aberta. Ela colocou a
bandeja no chão e se sentou ao lado de Joni.
— Tudo. Cada peça de roupa, cada foto, cada recorte de jornal.
— Eles iam ter um bebê. — Joni passou o dedo por um dos
macacões. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente. — Eu ia ser
avó.
Harper entregou-lhe um lenço de papel.
— Não foi culpa dele — disse Joni, as lágrimas caindo livremente agora.
— Sempre soube que não era, mas quando pensei que ele tinha seguido em
frente... eu o culpei por isso. Foi fácil apontar o dedo. — Ela levou um
momento para enxugar os olhos com o lenço de papel. — No funeral. Oh,
Deus. As coisas que eu disse a ele. E ele manteve meu segredo. Ele sabia, e
nunca disse a ninguém.
— Seu segredo?
— Foi minha culpa — disse Joni, amassando o lenço de papel na mão. —
Karen morreu por minha causa.
Capítulo 36
— Foi um acidente — começou Harper.
Joni balançou a cabeça.
— Eu fui a razão de ela ter sofrido o acidente. Mandei uma mensagem
para ela, dizendo que estava atrasada. Ela estava lendo o texto quando...
quando aconteceu. A polícia me contou. Luke sabe.
— Joni — Harper colocou a mão em seu braço. — Não foi sua culpa.
— Se eu tivesse apenas esperado. Eu sabia que ela sempre checava o
telefone enquanto dirigia. Eu deveria saber que não deveria mandar
mensagens para ela.
Harper balançou a cabeça.
— Karen estava atrasada também. Você não poderia saber disso. Você não
a fez pegar o telefone. Você não fez o carro dela derrapar na outra
pista. Você não é a responsável.
— Duas pequenas palavras. “Estou atrasada”. Elas pareciam tão
importantes na época.
— Entre você e Luke e seu senso de responsabilidade equivocado... —
Harper balançou a cabeça. — Nenhum de vocês é o culpado. Nenhum de
vocês é responsável. Foi um acidente terrível. Nada do que você fez ou
deixou de fazer causou isso. Você tem que entender. E culpar a si mesmo
não está ajudando ninguém. É isso que Karen gostaria? As duas pessoas que
mais a amavam neste mundo desperdiçando o resto de suas vidas, se
culpando por sua morte?
Joni balançou a cabeça, limpando uma partícula imaginária de poeira do
álbum em seu colo.
— A culpa não cura nada. Aceitação e gratidão, sim.
— Como posso ser grata por minha filha estar morta?
— Você pode ser grata por ela ter vivido.
Joni balançou a cabeça lentamente.
— Faz sentido, mas como? Como você para de pensar na perda?
— Não é fácil, mas qual é a alternativa?
Joni olhou ao redor da sala.
— Entendi.
— Joni, não há tristeza e culpa no mundo que mudará o passado. O que
importa é o que você faz agora — Harper disse, mexendo açúcar em seu
café.
— Então, o que “agora” significa para vocês dois? — perguntou Joni. —
O Luke sabe que você sabe?
Harper balançou a cabeça.
— Não é uma conversa que possamos ter enquanto ele está fora. Não sei o
que isso significa para ele, para nós, para mim. Ele me diz que não pode me
amar. Eu não entendia o porquê antes. Agora que tenho um nome para ela,
não sei se posso viver em sua sombra — disse Harper.
— É isso que estamos fazendo?
— Talvez você tenha vivido na sombra da morte dela.
— É incrível o quanto se pode mudar em uma manhã. — Joni suspirou e
pegou uma caneca de café. — Só não sei como me livrar da culpa.
— Bem, talvez você possa começar deixando os Garrisons voltarem?
***
Eles começaram com o café da manhã no restaurante, com Charlie e
Claire. E deu esperança a Harper ver a forte amizade que eles tinham antes
começar a ser reconstruída.
Ela se perguntou o que Luke pensaria, se pudesse ver seus pais falando
sobre galinhas com sua sogra e, pela primeira vez, ficou feliz por ele não
estar presente.
Joni poderia estar pronta para um novo começo, mas não havia como
saber se Luke estaria pronto.
Ela decidiu tirar isso da cabeça. Não havia motivo para se preocupar com
o que não conseguia controlar. Ela ficara aliviada por voltar ao escritório na
segunda-feira e se distrair com o trabalho, e não com todos os motivos
pelos quais não deveria entrar em pânico sobre o que Karen e Joni
significariam para seu futuro com Luke.
Ela estava trabalhando na sua lista de tarefas, quando seu telefone de
mesa tocou.
— É melhor você mandar outra equipe aqui, porque estou quase largando
o trabalho — Frank berrou pelo telefone.
— Qual é o seu problema agora, Frank? — Harper perguntou, revirando
os olhos.
— Meu problema? Meu problema é que esse ajudante idiota não se
incomodou em aparecer para trabalhar hoje, e agora estou com um par de
mãos a menos para o drywall.
— Você chamá-lo de “ajudante idiota” tem alguma coisa a ver com ele
não aparecer? — ela perguntou suavemente.
— Basta trazer um par extra de mãos aqui, agora — ele rosnou e desligou.
Harper suspirou e desligou. Ela olhou a programação da semana em seu
computador. Todas as equipes estavam ocupadas. Eles conseguiram atingir
pontos críticos em vários projetos ao mesmo tempo e, embora isso fosse
bom para os resultados financeiros, tornava a logística complicada. Ligou
para alguns encarregados e obteve a resposta que sabia que eles dariam.
“Não posso dispensar ninguém até a próxima semana.”
Ela esfregou as mãos no rosto. Bem, espero que Frank não seja muito
exigente sobre o par de mãos que aparecer.
***
Ela saltou do carro no local de trabalho. Frank estava supervisionando a
adição de uma suíte nos fundos de um bangalô bonitinho para os
Delano. Garrison havia construído a casa dez anos antes, e agora que a mãe
do Sr. Delano estava ficando um pouco solitária, eles a queriam mais perto.
Harper havia estudado as plantas antes de deixar o escritório. O acréscimo
seria um grande quarto com uma área de estar ensolarada, banheiro e closet
de bom tamanho. Havia até uma varanda privada nos fundos, acessada por
um conjunto de portas francesas.
Ela puxou seu rabo de cavalo pela abertura de um boné de beisebol
Garrison e endireitou os ombros com severidade. Era hora de lidar com
Frank.
— O que diabos você está fazendo aqui? — ele perguntou de onde estava,
empunhando um lápis sobre uma placa de drywall em cavaletes.
— É bom ver você também, Frank. Eu sou seu par de mãos extras. E antes
que você comece a reclamar — Ela ergueu as mãos como um aviso —, eu
sou literalmente tudo o que você tem. Nenhuma das outras equipes pode
dispensar alguém.
Frank praguejou e revirou os olhos para o céu.
— Por que eu?
Harper o ignorou e olhou ao redor do anexo emoldurado. O isolamento
estava dentro, e o teto, felizmente, já estava seco. Novas janelas foram
instaladas, tornando todo o espaço claro e arejado.
— Este é um trabalho realmente bom, Frank — disse Harper, enfiando a
cabeça no banheiro.
— Claro que é um bom trabalho. Eu fiz isso. Por que todo mundo sempre
age com tanta surpresa? — ele resmungou.
Harper escondeu seu sorriso.
— Bem, se você é o melhor que vou conseguir, é melhor começarmos —
ele suspirou. — Quanto peso você consegue levantar?
Descobriram que não era muito, mas foi o suficiente para ajudar Frank a
levantar as paredes. Harper estava suando em minutos.
— Aposto que você está sentindo falta da sua mesa agora, hein? — ele riu
enquanto Harper bufava, tentando segurar uma placa de 2,5 metros no
lugar.
— Você pode martelar um pouco mais rápido? — ela ofegou.
— Isso é o que elas dizem — disse Frank, movendo agilmente a pistola de
pregos em torno da placa.
— Desculpe, mas foi uma piada que você acabou de fazer?
— Oh, agora não vá ficar puta por causa de uma piada “é o que elas
dizem”. Se você não entende uma piada, não deveria estar em um local de
trabalho.
Harper bufou e se afastou da parede.
— Eu não estou ofendida. Nunca ouvi você falar nada, além de lamentar e
reclamar. Uma piada de “isso é o que elas dizem” é bastante
impressionante.
O resto da manhã passou em um borrão de insultos e trabalho
pesado. Frank mostrou a Harper como cortar o drywall usando um esquadro
em T, o pé e uma faca.
— Nada mal — disse ele, esfregando a barba ruiva grisalha, enquanto
Harper triunfantemente partia uma placa ao meio. — Vamos colocar isso, e
então você pode me levar para almoçar.
Eles terminaram naquela tarde. Harper jogou a sobra no saco de lixo.
— Se você está pronto para ir, eu vou embora. Tenho algumas coisas para
pôr em dia no escritório.
Frank concordou.
— Acho que você se saiu bem hoje.
— Vou tomar isso como o elogio brilhante que você pretendia me dar.
— Ouvi dizer que você conversou com Joni Whitwood, neste fim de
semana.
— Você também ouviu o que eu comi no café da manhã? — Harper
revirou os olhos. — Sim. Encontrei Joni e conversamos.
— Como ela está?
Harper tentou avaliar, por sua expressão, qual era seu interesse no
assunto, mas não deu certo.
— Ela está bem. — Ela pendurou a bolsa no ombro.
— Ela passou por um momento difícil. Ela e Luke.
Harper assentiu.
— Parece que Luke está começando a lidar melhor, tendo você e tudo
mais. Seria bom se o mesmo pudesse ser dito sobre Joni.
— Você a conhece?
Ele olhou para a ponta das botas.
— Eu costumava conhecer. Há muito tempo.
Ela esperou que continuasse, mas ele voltou a verificar as placas de
drywall.
— Você vai precisar de ajuda amanhã? — Harper finalmente perguntou,
tirando as chaves da bolsa.
— Eu tenho tudo em ordem. Você pode voltar a sentar-se atrás de uma
mesa. — A grosseria estava lá, mas parecia mais suave de alguma forma.
— De nada, Frank. Estou feliz por ter ajudado também — ela brincou ao
sair pela porta.
Capítulo 37
O Quatro de Julho era um negócio ainda maior em Benevolence do que o
Mergulho Anual Não Tão Polar.
As festividades da cidade começaram pela manhã, com os 5km Vermelho,
Branco e Azul. Aldo a surpreendeu no dia anterior, com uma camiseta com
a bandeira americana e um squeeze de corrida.
— 5km? Não consigo fazer 5km!
— O cacete que não consegue. Se eu vou participar com essa estúpida
handbike, você irá correr comigo. — Ele se jogou no sofá.
Os terapeutas de Aldo deram uma dura nele por participar da corrida com
sua nova perna e, em vez disso, eles arrumaram uma handbike para ele,
daquelas que você usa as mãos para pedalar.
— Se você estiver passando vergonha como uma idiota do meu lado,
ninguém vai notar o velho Aldo Perna de Pau numa maldita bicicleta de
circo.
— Nem mesmo finja que está envergonhado. Você vai receber toda a
atenção — Harper cutucou-o no ombro.
— É meio difícil impressionar uma garota, agindo como se fosse um
deficiente.
— Basta tirar a camisa e ninguém vai se importar se você estiver
participando da corrida em um pônei. Você está tentando impressionar
alguma garota em particular?
Ele tomou um gole d’água.
— Talvez.
Agora eles estavam alinhados um ao lado do outro, na largada. Uma
enxurrada de pessoas veio apertar a mão de Aldo, abraçá-lo e agradecê-lo
por seu serviço. Ele lidou com a atenção graciosamente. Ela pensou sobre o
reservado Luke recebendo uma atenção como esta. Toda atenção bem-
intencionada após a morte de Karen deve tê-lo sufocado.
Mais corredores os cercaram na linha de largada, e o relógio marcou nove
horas. Harper colocou a mão sobre o coração palpitante.
— Estou tão nervosa! É normal ficar nervosa? — ela sibilou para Aldo.
— Não é nervosismo. É excitação.
O locutor da corrida interrompeu a conversa.
— Senhoras e senhores, levantem-se para o nosso Hino Nacional, cantado
por Peggy Anne Marsico.
Aldo desceu da bicicleta para ficar em posição de sentido, uma saudação
militar. Harper sentiu as lágrimas brotarem ao ver um homem, que tanto
deu por seu país, saudar a bandeira.
O que Luke e sua unidade fariam hoje para comemorar? Era apenas mais
um dia? Ou eles celebrariam como o resto da América?
Peggy começou a cantar e trouxe Harper de volta ao presente; ela era um
soprano incrível. Uma onda inteira de arrepios disparou por cada centímetro
de sua pele.
Ela ficou sob o sol de uma bela manhã de quatro de julho e se deleitou
com orgulho do homem que amava e de seu melhor amigo.
***
— Oh, meu Deus. Estou morrendo. Aldo, estou morrendo — Harper
arquejou.
— Se você não pudesse falar, eu ficaria preocupado.
— Você nem está sem fôlego — ela murmurou.
Ele sorriu para ela.
— Está tudo bem. Você está com um ótimo ritmo. — Ele acenou da
bicicleta para um grupo de crianças aplaudindo da garagem. Quase todo o
percurso estava ladeado por residentes de Benevolence. Harper podia ver a
casa da sra. Moretta, subindo à esquerda, mas ela não estava do lado de
fora.
— Onde está sua mãe?
— Linha de chegada, provavelmente.
— Está muito longe? Eu não acho que vou conseguir. Talvez eu espere
aqui. Você pode voltar e me pegar.
— Não seja tão dramática. Você está ouvindo a gritaria?
— Eu mal consigo ouvir nada com o chiado dos meus pulmões.
— Essa é a linha de chegada.
— Você está de brincadeira? Estamos quase terminando?
— Falta meio quilômetro.
— Sério? — Harper animou-se. — Então acho que posso conseguir.
— Eu sei que você pode. E eu também posso. — Ele empurrou a bicicleta
para a garagem de sua mãe.
Ela parou e se curvou para recuperar o fôlego.
— Aldo...
Ele se levantou com cuidado, abaixando-se para ajustar a perna.
— Antes mesmo de começar, eu falei com Steers. Meio quilômetro em
uma corrida lenta. Você está pronta para isso? Não vamos parar até a linha
de chegada.
— Vamos fazer isso!
Eles deixaram a garagem e voltaram à corrida. O andar de Aldo era suave.
— Você faz isso parecer tão fácil — Harper bufou.
— Acredite em mim, não é nada fácil. Mas é necessário.
Eles dobraram a próxima esquina juntos, e o nível de ruído explodiu. A
linha de chegada estava a dois quarteirões de distância, uma linha reta pela
Main Street Benevolence. A visão de Aldo correndo foi o suficiente para
criar um pandemônio bem-humorado.
— Eles devem pensar que você é algum tipo de herói por aqui — Harper
brincou.
Aldo apenas sorriu, e ela sabia que ele finalmente estava em
casa. Exultante, ela deixou que os aplausos da multidão a levassem até a
linha de chegada. Enquanto cruzavam, Aldo agarrou seu pulso e ergueu as
mãos unidas bem no alto.
O ímpeto levou Harper quase para os braços de dois veteranos mais
velhos em uniformes de gala, que distribuíam medalhas.
Os dois homens saudaram Aldo.
— Obrigado por seu serviço, Tenente.
Aldo fez uma saudação e recebeu a medalha.
— E aqui está uma para você, mocinha. — O homem mais baixo, com
óculos grossos e uma cabeça ainda mais espessa de cabelos brancos,
colocou uma medalha em volta de seu pescoço.
Agradecida, Harper não resistiu. Ela se inclinou e beijou-o na bochecha.
— Obrigada!
— Luke vai acabar comigo se souber que eu deixei você trocá-lo por
outro soldado — Aldo riu, arrastando-a em direção à água.
Eles foram interceptados pela Sra. Moretta e todo o clã Garrison.
— Você conseguiu! — Sophie se inclinou para abraçá-la. — Ugh, você
está suada e nojenta, mas estou orgulhosa de você!
Harper riu.
— Não acredito que deu certo! Acho que não vou conseguir me mexer
pelo resto do dia, mas valeu a pena!
— Você sabia que Aldo ia se livrar da bicicleta?
— Nem imaginava. Foi incrível!
— Tia Hawpa! — Josh, com um boné de beisebol e óculos escuros, se
atirou nas pernas dela. — Pra cima!
Ela o pegou e o acomodou em seu quadril.
— Olá, lindo. Você está se divertindo?
— Estamos indo para o desfile — ele anunciou alegremente. Josh deu um
tapinha no ombro dela. — Suada. Ewh!
Ela riu e deu-lhe um abraço antes de colocá-lo de volta no chão.
— Vá dizer a Aldo que ele fez um bom trabalho.
Josh correu até ele e se lançou nos braços de Aldo.
— Você está suado também!
Claire se aproximou, banana na mão.
— Aqui está, garota. Você vai precisar disso, depois de um final como
esse! Vocês dois colocaram a cidade inteira de pé.
Grata, Harper imediatamente engoliu a banana.
— Alguém tirou uma foto do Aldo na linha de chegada? Acho que Luke
adoraria ver.
Sophie ergueu o telefone.
— Apenas cerca de setecentas ou mais. Vou escolher as melhores e enviá-
las para você.
— Obrigado, Soph. — Harper sentou-se no meio-fio e recebeu o resto de
seus parabéns de uma posição sentada.
— Ei, Harper! Foi um belo final. — Gloria apareceu no meio da
multidão. Ela estava vestida com um short branco e uma regata azul
marinho, com uma linda faixa vermelha amarrada no seu cabelo escuro.
— Você está linda — disse Harper. — Eu te abraçaria, mas estragaria sua
linda roupa.
Gloria riu.
— Você pode me abraçar depois do banho. Eu queria ver se todos querem
sentar aqui comigo, no desfile. Você está precisando sentar, não é? — Ela
apontou para os degraus da frente. — O desfile vai passar por aqui.
— Isso seria ótimo, obrigada! A que horas começa?
— Começa depois da última pessoa concluir os 5km. Eles chamam isso
de conduzir o desfile. — Ela sorriu.
— Você tem espaço para mais um? Talvez dois? Minha mãe adora doces
de desfile.
Gloria saltou ao som da voz de Aldo, e Harper a viu endireitar os ombros
antes de se virar.
Ele havia tirado a camiseta e estava em toda a sua glória musculosa e
suada.
Harper tinha certeza de que o queixo de Gloria atingiu o cimento, antes
que ela se recuperasse com um educado:
— Oi, Aldo.
— Oi, Gloria. Você está linda e festiva.
As pontas das orelhas dela ficaram rosadas.
— Obrigada. Você parece bem.
Ele sorriu.
— Você se importa se eu me juntar a você no desfile?
— Claro, quero dizer, de modo nenhum. Quanto mais gente melhor.
— Ótimo. A vejo em breve. — Ele se afastou, e Gloria se abanou.
— Oh, meu Deus. O que acabou de acontecer? Eu desmaiei? — ela
perguntou.
Harper deu uma risadinha.
— Eu acho que este é o Aldo caindo na realidade e afastando todos os
obstáculos. Prepare-se para sair do chão.
— Eu não acho que estou pronta para isso. Ele não pode simplesmente
dizer olá para mim uma vez por semana, durante um ano ou mais, até que
eu me acostume a olhar para ele?
— Eu não acho que é assim que ele age. Você vai se casar em pouco
tempo.
Gloria deu um tapa de brincadeira no braço de Harper.
— Senhorita Harper!
Ela se virou ao som de seu nome e viu Robbie e Henry acenando para ela,
enquanto atravessavam a rua em sua direção. A Sra. Agosta, carregando
Ava, estava logo atrás deles.
— Senhorita Harper! Você conseguiu! — Robbie bateu na mão dela.
— Muito bem, Srta. Harper — Henry bateu o punho de no dela, e então
fez um barulho de explosão com um pouquinho de cuspe.
— Obrigada, rapazes. Vocês estão aqui para o desfile?
— Sim, estamos procurando assentos para que possamos ver os
caminhões de bombeiros e conseguir muitos doces — disse Henry.
— Parabéns, Harper — disse a Sra. Agosta. — Eu vejo você passando
correndo pela casa, algumas vezes por semana, e a cada dia você fica mais
rápida.
— Sim, você não parece mais que vai morrer — Robbie adicionou
prestativamente.
— Oh, que bom. Fico feliz — Harper riu.
— Você gostaria de se juntar a nós? Temos lugares privilegiados para o
desfile bem aqui — disse Gloria.
— Oh, cara! Nós podemos? — Henry largou sua cadeira dobrável infantil
na calçada, ao lado de Harper. — Isto é perfeito.
— Tem certeza de que não se importa com uma companhia muito
barulhenta e enérgica? — Sra. Agosta perguntou a Gloria.
— Quanto mais, melhor — Gloria insistiu e piscou para Harper. — Já que
temos uma boa multidão e alguns bons guardadores de lugares aqui, você
quer me ajudar a fazer um pouco de limonada e chá gelado?
— Posso ter meu próprio galão e você pode me carregar escada acima?
— Claro, por que não?
***
O desfile foi um grande sucesso. O último a finalizar os 5km foi um
veterano de 76 anos, carregando a bandeira americana, seguido pela banda
marcial do colégio tocando Stars and Stripes Forever.
A ação parou por tempo suficiente na linha de chegada, para que Aldo
colocasse a medalha de 5km no pescoço do homem e o saudasse. O
cavalheiro retribuiu a continência e depois abraçou Aldo, dando-lhe um
tapa nas costas, e a multidão começou a aplaudir.
Harper viu Gloria enxugar uma lágrima perdida enquanto aplaudia.
As crianças mantiveram Josh entretido, liberando Sophie para correr para
a rua, para dar um beijo em Ty quando ele passou na viatura com as luzes
acesas.
— A Srta. Sophie acabou de beijar aquele policial! — Henry gritou de
alegria.
Charlie, Claire, a Sra. Agosta, a Sra. Moretta e a mãe de Gloria, Sara,
colocaram as cadeiras no último degrau da entrada do prédio de Gloria e
desfrutaram de seus chás gelados e limonadas.
Harper tirou foto após foto e mandou por e-mail para Luke. Sentia muita
falta dele.
Seu telefone sinalizou um novo e-mail.
Para: harpwild@netlink.com
De: lucas.c.garrison282@us.army.mil
Re: desfile
Continue mandando as fotos, querida. Estou olhando para cada uma
delas. Sinto falta do seu lindo sorriso.
Amor,
Luke
Harper abraçou o telefone contra o peito e fungou.
— Own. — Sophie viu seus olhos lacrimejantes. — Sentindo falta dele?
— ela perguntou, passando um braço em volta dos ombros de Harper.
Ela assentiu.
— Sim. Muito.
— O que há de errado com a Srta. Harper? — Henry perguntou.
— Ela sente falta do Sr. Luke — Sophie disse a ele.
Henry deu um tapinha no braço dela.
— Tudo bem, Srta. Harper. Cuidaremos de você. Vamos levá-la ao parque
de diversões esta noite, para ver os fogos de artifício. Vai fazer você se
sentir melhor!
— Obrigado, parceiro. Isso é muito legal da sua parte — disse Harper,
surpreendendo-o com um abraço. Ele sorriu, mostrando um dente faltando
na frente, e correu de volta para seu principal local de coleta de doces.
A Sra. Agosta suspirou de sua posição elevada na varanda.
— Não acho que vou conseguir sobreviver a um parque de diversões e
fogos de artifício, depois de toda a agitação de hoje.
— Que tal se eu levasse as crianças ao parque esta noite? — Harper
perguntou. — Adoraria ter companhia extra para os fogos de artifício.
— Oh, querida, eu não poderia pedir isso a você.
— Eu amaria, e pense em como eles dormirão bem.
— É preciso se preocupar com assentos de carro, e Robbie é alérgico a
abelhas...
Harper podia sentir que ela estava vacilando.
— Vou levá-los para casa quinze minutos após os fogos de artifício e não
vou deixá-los beber refrigerante depois das sete.
— Se você tem certeza...
***
Ela sabia que precisaria de algumas manobras criativas para enfiar três
crianças e um carrinho em seu Volkswagen, então convidou Claire, Joni e
Gloria para se juntarem a ela. Com dois veículos e quatro adultos, Harper se
sentia razoavelmente confiante de que conseguiria passar a noite.
— Fogos de artifício! — Henry gritou enquanto corria em direção ao
parque.
— Calma, doidinho — Harper riu atrás dele.
— Fogu! — Ava, com seus óculos de sol rosa choque, gorjeou do
carrinho.
Robbie resgatou seu irmão e deu-lhe uma carona nas costas, de volta para
o grupo.
— Você é um bom irmão mais velho, Robbie — Claire disse, ajeitando
alegremente seu boné de beisebol.
Seu nariz sardento se enrugou.
— Eles são ok, eu acho. Quando não estão me incomodando o tempo
todo.
— Obbie, nas costas! — Ava estendeu os braços para o irmão.
Robbie revirou os olhos.
— Todo mundo sempre quer alguma coisa — ele suspirou.
— Muito sábio para sua idade, com certeza — Joni riu.
Eles fizeram uma votação com as crianças e fizeram o percurso pelo
parque, para ver tudo antes de escolher um lugar para ver os fogos de
artifício.
Gloria e Harper dividiram um bolo enquanto Robbie e Henry estavam na
barraca da pescaria.
— Sra. Agosta vai me matar, se as crianças voltarem para casa com peixes
— Harper gemeu.
Robbie gritou em vitória quando sua bola de pingue-pongue pousou em
um aquário.
— Porcaria. Parece que Max e Lola têm uma nova irmã.
Henry gritou e fez uma dança da vitória.
— Pelo amor de... Claire! Pare de dar dinheiro a eles! Joni! Não pense
que eu não estou vendo você dando a ele esse dólar!
— Acho que você vai comprar um aquário amanhã — brincou Gloria.
— Ria o quanto quiser, porque aí você vai ter muitos problemas —
Harper assentiu.
Aldo estava caminhando em direção a eles. Com a barba feita agora, ele
usava shorts cargo e sapatênis.... Seus óculos de aviador estavam enfiados
na gola de sua camiseta colada azul-marinho.
— Por que eu tenho essa reação a ele? — Gloria sussurrou, em
pânico. Ela colocou as mãos no rosto para esfriar as bochechas coradas.
— Apenas aproveite — sussurrou Harper. — Pergunte se ele quer assistir
aos fogos de artifício conosco. — Ela deu um pequeno empurrão em Gloria
e correu de volta para a barraca de pescaria, para lhes dar um pouco de
privacidade... e impedir que as diabólicas Claire e Joni dessem mais
dinheiro para as crianças.
***
Ao cair da noite, Aldo saiu para buscar uma rodada de limonada, para os
fogos de artifício. Eles permitiram que as crianças escolhessem um local no
campo aberto à beira do lago, onde estenderam cobertores e colocaram
cadeiras. Harper, aconchegando-se na sonolenta Ava, sorriu quando Aldo se
acomodou no cobertor ao lado de Gloria.
Robbie e Henry se revezaram para fazer perguntas a Aldo sobre sua nova
perna, enquanto Joni e Claire trocavam qualquer fofoca da cidade que se
espalhara desde o desfile. Harper notou que elas espreitavam Aldo e Gloria,
que estavam secretamente de mãos dadas, e sabia que provavelmente eram
o tema de especulação.
Não havia segredos que pudessem ser mantidos em Benevolence. Mais
cedo ou mais tarde, tudo era trazido à luz.
A primeira rajada de fogos de artifício iluminou o céu, e a multidão gritou
enquanto as cores cintilavam e tremeluziam antes de desaparecer.
Ava se contorceu para se sentar mais alto, e Harper estava preocupada que
ela pudesse chorar, mas a criança apontou para o céu com admiração.
— Boom — ela sussurrou.
— Boom. — Harper assentiu.
Capítulo 38
Para: harpwild@netlink.com
De: lucas.c.garrison282@us.army.mil
Assunto: De novo?
O que um cara tem que fazer para mantê-la longe de outros homens?
Em anexo estava uma foto de Harper beijando o homem distribuindo as
medalhas no fim da corrida.
Para: lucas.c.garrison282@us.army.mil
De: harpwild@netlink.com
Re: De novo?
Eu não estava beijando ninguém. Precisava de oxigênio, depois de
percorrer os meus primeiros 5km. Prefiro beijar esse cara aqui.
Ela anexou uma foto de Luke fazendo cara de peixe para Josh.
Para: harpwild@netlink.com
De: lucas.c.garrison282@us.army.mil
Re: De novo?
Ele parece incrível. Você, definitivamente, deveria ficar com ele.
Quando Harper checou seu e-mail, mais tarde naquele dia, recebeu uma
boa e inesperada notícia.
Para: harpwild@netlink.com
De: hannahnanner@mail.pro
Assunto: Saudades do seu rosto
Fiquei sem Harper por muito tempo. Estou começando a esquecer como é
o seu rosto. Então, se você estiver livre neste fim de semana, irei para
aí! Compre máscaras faciais e pizza, porque vamos ter festa do pijama!
Xoxo,
Hannah
Para: hannahnanner@mail.pro
De: harpwild@netlink.com
Re: Saudades do seu rosto
Você está falando sério?? Você não me provocaria com isso, não é? Não é
uma piada cruel?
Não destrua meu frágil coração,
Harper
Para: harpwild@netlink.com
De: hannahnanner@mail.pro
Re: Saudades do seu rosto
Minha mala já está pronta! Finn vai para a cabana com alguns amigos, e
é a oportunidade perfeita para eu conhecer todo mundo aí, dar uma olhada
na sua casa e abraçar seus cachorros. Finn promete ter dinheiro para a
fiança, se precisarmos. Vai ser incrível!
Com certeza iria.
***
Sexta-feira à noite, as amigas de Harper, novas e velhas, lotaram a
cozinha em seus pijamas de verão mais confortáveis para iniciar as
festividades com uma bebida.
Gloria examinava os cardápios, enquanto Sophie preparava margaritas no
liquidificador. Hannah estava ocupada, vasculhando a pilha de filmes no
balcão que cumpriam tudo que uma noite de garotas precisava: comédias
românticas emocionantes e alguns homens de sunga.
Harper deixou os cachorros saírem pela porta dos fundos, para brincar no
ar quente da noite.
— Então, que delícias sem gordura e sem calorias vamos pedir esta noite?
— Estávamos pensando em pizza e frango do Dawson’s — Sophie falou
sobre o barulho do liquidificador.
— E a sobremesa?
— Eu trouxe massa de biscoito — Gloria disse. — Podemos fazer
biscoitos ou comê-los crus.
— Melhor. Noite. De. Todas.
Harper suspirou em contentamento. Tentou se lembrar da última vez que
fez algo assim. A última vez que teve um grupo de amigas. Ela não
frequentou uma escola por tempo suficiente para fazer amizades
duradouras. Mas agora? Com as raízes que estava plantando, ela tinha
amigos, família e um futuro.
Sophie trouxe o jarro do liquidificador para a ilha e habilmente derramou
margarita em quatro copos de plástico rosa. Gloria acrescentou uma rodela
de limão, e Hannah colocou um canudo em cada copo.
— Um brinde, senhoras — disse Sophie, levantando sua bebida. — Para a
adorável Harper. Que ela saiba como todas nós temos sorte de conhecê-la.
— Para Harper — disseram eles em uníssono.
— Awn meninas! Minha vez. Para todas vocês. Obrigada por serem
minha família. Eu amo muito cada uma.
Elas brindaram e bebericaram.
— Eu aprovo você como uma barwoman — Hannah acenou para Sophie.
— Bem, vamos começar a festa — disse Harper, ligando para Dawson’s.
Com o pedido feito, Hannah segurou um filme em cada mão.
— Então, o que nós queremos? Homens de sunga ou comédia romântica?
Harper gemeu.
— Vocês têm homens de sunga à sua disposição. Não vamos me torturar
com isso, quando o meu está do outro lado do mundo.
— Oooh, vamos falar sobre meninos — disse Sophie, batendo palmas.
— Meu “menino” é seu irmão. Não é nojento? — Harper perguntou,
franzindo o nariz.
— Por esta noite, vou fingir que ele é irmão de outra pessoa.
— Na verdade, há um relacionamento pelo qual estou curiosa — Harper
sorriu. — Gloria, quais são as novidades sobre você e Aldo?
Gloria se engasgou com um gole de margarita.
— O que te faz pensar que há algo para contar? — ela perguntou
inocentemente.
— Eu tenho olhos e um cérebro — Harper brincou. — Vi a tensão sexual
durante os fogos de artifício do 4 de julho.
— Hum, Gloria Moretta. Soa muito bem. — Sophie assentiu.
Gloria corou muito.
— Você gosta dele! — Harper riu.
— Quem é esse Aldo, e ele é digno da Gloria? — Hannah exigiu.
— Aldo é um garanhão italiano musculoso que tem uma queda pela
Gloria desde o colégio — disse Harper.
— O melhor amigo de Luke, certo? É muito tempo para carregar uma
paixão — disse Hannah. — Você deve ser maravilhosa.
— Ela realmente é — Harper concordou.
— Gente — Gloria riu. — Ainda estou me acostumando com a ideia.
— A ideia de quê? — Sophie exigiu.
— De Aldo... e eu... namoro.
Harper gritou.
— Então é oficial?
Gloria sorriu e acenou com a cabeça.
— Oficial. Estou tentando ir devagar, mas cara, ele é intenso. — Ela se
abanou com o menu do Dawson.
— Eu não posso acreditar que nosso pequeno Aldo está finalmente
crescido — Sophie suspirou.
— Você tem alguma foto deste garanhão italiano? — Hannah perguntou.
Gloria corou novamente e acenou com a cabeça.
— Eu tenho algumas no meu telefone.
Elas juntaram suas cabeças sobre a tela, e Harper piscou para Sophie
enquanto Hannah assobiava sua apreciação pela forma masculina.
O telefone rosa choque de Sophie tocou na mesa.
— Falando em garanhões gostosos, é o meu marido. — Ela o levou para a
sala de jantar para atender.
Harper se abraçou. Felicidade por toda parte. A única coisa que faria tudo
melhorar, seria se Luke estivesse em casa, seguro.
Ele estaria aqui em alguns meses, e eles conversariam. E então, ela
saberia exatamente onde estavam. Ela sabia o que queria. O amor honesto e
mútuo que via Sophie e Hannah compartilharem com seus maridos. O tipo
que via florescer entre Aldo e Gloria. Ela realmente estaria disposta a se
contentar com menos do que isso?
Sophie voltou para a cozinha estendendo seu telefone para Harper. Ela
parecia preocupada.
— É Ty. Ele quer falar com você. Parece que está totalmente no modo
policial.
Harper ergueu as sobrancelhas e pegou o telefone.
— Ei, Ty, o que foi? Achei que você tivesse a noite de folga.
— Harper, me escute. Glenn pagou fiança e foi libertado hoje. Ele deveria
ir direto para a casa da mãe, mas não apareceu.
Seu estômago embrulhou.
— Você acha que ele viria até aqui?
— É mais provável que ele vá para a casa de Gloria, mas você ainda pode
ser um alvo.
Merda. Merda. Merda.
— Gloria está aqui comigo, e Soph e Hannah. Estávamos esperando a
comida, o que não tem qualquer relevância para a situação. Só estou
nervosa e vou calar a boca agora.
— Escute, vou dar uma passada na casa da Gloria e depois na mãe dela e
dar uma olhada. Eu te aviso se o encontrarmos. Apenas me faça um favor e
mantenha suas portas trancadas.
Harper engoliu em seco e desligou. Suas três amigas estavam olhando
para ela com expectativa.
— O que diabos está acontecendo? — Sophie exigiu.
— Glenn está livre. Ty acha que ele pode estar indo para a casa da Gloria.
— Oh, meu Deus — Gloria sussurrou, levando as pontas dos dedos à
boca.
— Vai ficar tudo bem. Ty está indo para a sua casa agora, para verificar as
coisas. A polícia sabe que ele está desaparecido e estão procurando. Ele não
vai chegar até você. Ninguém vai deixar isso acontecer.
Gloria respirou fundo e acenou com a cabeça.
— Acho que vou enviar uma mensagem de texto para Aldo e contar para
ele.
— Boa ideia — disse Sophie, acariciando sua mão.
Elas observaram enquanto ela ia para a sala de jantar. Os olhos de Sophie
encontraram os de Harper. Sua voz era baixa.
— Então, o que vai acontecer se Glenn não a encontrar em casa?
— Ele vai vir aqui.
— Merda — Hannah suspirou.
— Ty não acha que precisamos ficar com medo, mas talvez seja sua
maneira de tentar não nos preocupar. Ele me disse para trancar as
portas. Apenas no caso de ele aparecer.
A voz de Gloria soou suavemente na sala de jantar.
— Aldo deve ter ligado — Sophie sussurrou.
Harper assentiu.
— Não seria a pior coisa do mundo se Aldo aparecesse. Sophie, você
pode deixar os cachorros entrarem e trancar a porta? Vou checar a porta da
frente. Hannah, você pode verificar as janelas do primeiro andar. Tenho
certeza de que é apenas uma precaução. Mas acho que devemos estar
preparadas.
Ela pegou o telefone e ligou para a Sra. Agosta, só para saber se as
crianças estavam pegando vagalumes do lado de fora, e a fez prometer
manter todos dentro e trancar bem a porta.
— Provavelmente não é nada. Estamos apenas tomando precauções —
disse ela.
Provavelmente não era nada, Harper disse a si mesma quando
desligou. Elas provavelmente estavam apenas exagerando. As chances eram
de que Glenn tenha acabado bêbado e desmaiado em algum lugar longe
daqui.
Seus dedos tremiam enquanto girava a trava da porta da frente. Lola
trotou pelo corredor em sua direção, um rosnado rouco na garganta.
— Está tudo bem, querida. — Harper se abaixou para dar um tapinha no
corpo prateado de Lola. — Estamos a salvo.
A escuridão fora das janelas a deixava nervosa, então ela estendeu a mão
para acender as luzes da varanda.
E lá estava ele.
Capítulo 39
Glenn Diller olhou para ela através do vidro da janela lateral. As sombras
da noite fizeram seu rosto parecer ainda mais sinistro. O coração de Harper
saltou em sua garganta.
Antes que pudesse gritar um aviso para suas amigas, ele ergueu a
samambaia pendurada e jogou-a pela janela da sala de jantar.
— Todo mundo fora! Vá para a casa da Sra. Agosta. — Harper gritou
quando a perna grossa dele passou sobre o peitoril. Vidro esmagando sob
suas botas.
Lola rosnou baixo ao seu lado, seu pelo eriçado em um moicano pelas
costas.
— Bem, olhe quem está em casa. — Seus olhos estavam
excepcionalmente brilhantes.
Harper deu um passo para trás e rezou para que as meninas conseguissem
atravessar o quintal.
— Gloria se foi. Ela está segura e ligando para a polícia agora.
— Eu não estou aqui por ela. — Ele alcançou atrás dele e puxou uma faca
de caça. A luz da cozinha brilhou na lâmina de dez centímetros. Glenn deu
mais um passo em sua direção, e o rosnado de Lola se tornou mais alto.
— Você não vai correr? — Ele lambeu os lábios, e o estômago de Harper
embrulhou.
— Se eu correr, minha cachorra vai avançar na sua cara, e eu realmente
gosto deste tapete.
Como se estivesse em câmera lenta, Harper observou Glenn avançar. Ele
agarrou o braço dela em seu punho carnudo, enquanto Lola se agachava e
pulava, fechando a mandíbula em torno do antebraço da mão empunhando a
faca.
Ele gritou, e a faca caiu no chão. Glenn atirou Lola contra a parede. Ela
pousou com um baque surdo e um grito. Harper gritou e se lançou sobre
ele. Suas unhas arranharam seu rosto.
Ele a agarrou novamente, pegando-a pelo rabo de cavalo, e eles caíram no
chão. Harper engatinhou pegar a faca, mas ele a agarrou pelo tornozelo e a
puxou de volta. Seu corpo estendeu-se sobre o dela, esmagando-a no chão,
e ela viu a mão dele se fechar em torno do cabo da faca.
Ela ouviu mais gritos e mal reconheceu que vinham de sua própria
garganta, mas não estava com medo. Estava furiosa.
Harper jogou um cotovelo por cima do ombro e acertou o rosto dele, mas
ele não largou a faca.
De repente, parecia que todas as luzes da casa se acenderam, e Sophie e
Hannah invadiram o corredor. Sophie estava empunhando um taco de
beisebol. Harper não conseguia ver onde o primeiro golpe acertou, mas o
barulho satisfatório disse a ela que fora em algum lugar crucial.
Glenn uivou como um animal feroz e levou a faca ao rosto de Harper. Ela
congelou. A ponta da lâmina desceu por sua bochecha. Arranhou um
caminho raso em sua mandíbula, antes de parar contra a pele delicada de
sua garganta.
Ela sentiu seu sangue bombeando. Viu Lola tentar se levantar. Ouviu o
rosnado de Glenn em seu ouvido. Sentiu a lâmina picar sua pele. Não podia
ser assim que terminaria.
Em seguida, pés descalços estavam passando sobre a madeira e por ela, e
houve um barulho estridente. O peso de Glenn ficou mole em cima dela.
Todo mundo estava gritando ao mesmo tempo.
— Tire ele de cima de mim! — Harper gemeu. — Ele está me
esmagando.
Lola engatinhou até Harper e lambeu seu nariz.
— Minha doce menina — sussurrou Harper. O traseiro de Lola balançou.
Gloria e Hannah empurraram o peso morto de Glenn de cima dela, e
Harper pôde respirar novamente. Ela rolou de costas e olhou para o teto,
enquanto Lola acariciava sua orelha.
— Amarre-o! — Sophie ordenou. Hannah montou em Glenn e enrolou
fita adesiva em seus pulsos.
— Passe mais no braço dele — Gloria sugeriu, sua respiração saindo em
suspiros curtos.
Harper rolou para encará-la. Gloria estava encostada na escada em seu
short de pijama xadrez, segurando a frigideira de ferro fundido de Luke.
A primeira risada escapou, e não houve como pará-la.
Era contagiante. Suas amigas deslizaram para o chão em uma pilha solta,
tremendo de tanto rir, com a adrenalina.
Lola veio mancando, parando para lamber cada uma, assegurando-se de
que estavam todas bem.
A porta da frente explodiu de suas dobradiças e caiu no chão, errando
Sophie por pouco. Ty e Aldo passaram pela abertura. A arma de Ty sacada,
e Aldo parecia estar cuspindo fogo.
— Você poderia ter entrado pela janela — disse Harper.
Tudo ficou em silêncio por exatamente dois segundos, antes que as
meninas explodissem em ataques histéricos novamente.
***
A pizza chegou ao mesmo tempo que os policiais. Harper pegou a comida
e mandou o entregador buscar mais quatro pizzas, para alimentar toda a
companhia extra.
Entre a polícia, a pizza e os vizinhos, Harper sabia que a notícia estava em
toda a cidade agora.
Glenn foi mais uma vez algemado e levado para o hospital, pelo que
prometia ser uma concussão massiva.
Ninguém queria deixar Harper sozinha durante a noite, então Aldo e Ty
decidiram se juntar à festa do pijama, e uma hora depois, o namorado de
Hannah, Finn, chegou com seu saco de dormir e equipamento de pesca.
— Não posso deixar vocês, meninas, sozinhas por uma hora sem que
alguém seja preso — ele brincou, envolvendo as duas em um abraço de
urso.
Ty ligou para uma clínica veterinária da cidade vizinha, e uma das
veterinárias fez uma visita domiciliar de pijama para verificar Lola,
considerada a heroína da noite.
— Ela vai ficar dolorida por alguns dias, mas não há nada grave. Você é
uma garota durona, não é, querida?
Lola rolou de costas para mostrar a barriga, enquanto Max dançava em
círculos ao redor deles. O veterinário deu a Harper um frasco de analgésicos
e disse-lhe para manter Lola longe de qualquer atividade extenuante por
alguns dias.
Enquanto a polícia estava encerrando seus interrogatórios, Frank e uma
equipe completa de caras da Garrison apareceram com madeira compensada
para cobrir a porta e a janela quebrada.
— Estaremos de volta pela manhã, para fazer as medições e pedir um
novo vidro — disse Frank, enxugando as mãos em um guardanapo. —
Obrigado pela pizza. Tente não deixar mais nenhum maníaco entrar na casa.
Todos fizeram as ligações necessárias para os parentes apropriados,
informando-os de que estavam todos bem. Harper podia imaginar a história
se espalhando como um incêndio em Benevolence. Amanhã,
provavelmente, haveria paparazzi do jornal da escola no gramado.
Elas trocaram versões da invasão.
Quando Harper desligou sua ligação com Ty, ele correu para o
apartamento de Gloria. Não encontrando nada, ele enviou um oficial à casa
da mãe de Gloria e foi direto para a casa de Harper. Ele e Aldo pararam na
garagem ao mesmo tempo e correram para a porta, quando ouviram os
gritos.
Quando Harper gritou para que todos saíssem, Hannah conduziu o
pequeno Max para o porão, enquanto Sophie e Gloria corriam para pegar as
armas.
Elas convergiram no corredor para o ataque final. Gloria acertou Glenn
uma vez no rosto, nocauteando-o instantaneamente.
— Foi tão estranho. Era como se ele nem me visse — disse ela. — Ele
estava tão concentrado em você e naquela faca, Harper. — Ela estremeceu,
e Aldo a puxou para seu peito.
— Odeio dizer isso, mas Harper, você sabe o que tem que fazer — disse
Ty.
— Eu não quero — ela balançou a cabeça. — Ele vai pensar que é minha
culpa e vai ficar muito chateado.
— Eu não quero ouvir isso. Disque. Agora. — Ty entregou a Harper seu
telefone celular.
— São 2 da manhã aqui — ela tentou novamente.
— Boa tentativa. Lá são oito horas a mais. Ligue, ou eu ligarei, e você
sabe que isso vai irritá-lo ainda mais.
Resmungando, ela pegou o telefone e abriu o aplicativo de chamada de
vídeo. Ele gostaria de ver tudo, em vez de apenas acreditar na palavra
dela. Então ela poderia muito bem acabar com isso.
Luke respondeu imediatamente.
— Querida, o que há de errado?
— Como você sabe que algo está errado?
— São 2 da manhã.
Ty cruzou os braços, e Harper franziu a testa para ele. Ela saiu da sala de
estar e foi para a sala de jantar.
— Harper, por que tem gente na casa às 2 da manhã, e o que diabos
aconteceu com a nossa janela? Você está bem? Por que você tem um
curativo no queixo?
Harper levou os dedos ao queixo.
— Ok, então todos estão bem. Ninguém se machucou. Mas houve um
pequeno incidente aqui. Glenn saiu da prisão e invadiu a casa esta noite e
quebrou algumas coisas, até que Lola o mordeu e então Gloria o golpeou
com sua panela de ferro fundido.
O rosto de Luke ficou branco, e ela o viu respirar fundo para se acalmar.
— Todo mundo está bem. Lola foi examinada por um veterinário, e
nenhum de nós tem mais do que um arranhão.
Ele estava segurando o laptop com as duas mãos, e Harper estava
preocupada que ele estivesse prestes a quebrar o monitor.
— Ty — ela gritou por cima do ombro. — Eu acho que você precisa
acalmá-lo.
Ty, com cara de policial, pegou o telefone dela.
— Todo mundo está bem... — ele começou.
— O que diabos aconteceu aí?
Harper foi para o corredor e deixou Ty lidar com isso.
Assim que Luke parou de gritar, ela só ouviu trechos da conversa,
incluindo “faca” e “fita adesiva”.
A conversa durou vários minutos, e quando Harper viu Ty fazendo um
resumo dos danos à janela e à porta da frente, ela esperou que Luke
estivesse calmo o suficiente para conversar.
Ela enfiou a cabeça na sala de jantar.
— Ele está bem para falar comigo? — ela sussurrou.
Ty acenou com a cabeça.
— Vou passar para Harper agora. Por favor, não surte com ela. Ela teve
uma noite bastante difícil.
Harper pegou o telefone de volta.
Luke respirou fundo.
— Oi.
— Oi. Eu realmente sinto muito, Luke.
— Querida, você não fez nada para se desculpar. Você fez tudo
certo. Estou apenas tendo dificuldades com todos os e se.
— Lola e Gloria foram incríveis.
— Ty disse que aquele filho da puta colocou uma faca em sua garganta.
— Sua voz era de raiva controlada.
— É uma espécie de borrão.
— Eu poderia ter perdido você. — Dor e desamparo fizeram sua garganta
apertar, seu tom áspero.
— Não foi tão perto. Acho que ele estava apenas tentando me assustar.
Luke esfregou as mãos no rosto.
— Ok, aqui está o que vamos fazer. Você vai subir e tirar todas as peças
de roupa, para que eu possa ver por mim mesmo se você está
ferida. Depois, vamos falar sobre quantos caras armados colocarei na casa
até eu voltar.
Harper riu.
— Deus, eu sinto sua falta.
— Sim, você acha que estou brincando. Leve sua bunda para cima.
***
Na manhã seguinte, Harper não conseguia sentir suas pernas quando
acordou. Temendo brevemente uma paralisia, ela abriu os olhos e descobriu
que os culpados eram dois cães adormecidos envoltos na parte inferior de
seu corpo. A cãibra em seu pescoço lhe dizia que tinha sido uma péssima
ideia dormir no chão.
Ela se sentou e examinou a sala. Aldo e Gloria estavam dormindo de
conchinha no sofá. Ty e Sophie estavam espremidos na poltrona
reclinável. À sua direita, Hannah e Finn se aconchegaram sob o saco de
dormir. James estava esparramado aos pés dela, meio na cama de cachorro
de Lola.
Ele havia chegado às 3 da manhã, provavelmente depois que sua mãe
ligou para contar sobre a invasão.
Todo mundo estava seguro. O perigo da noite havia ficado para
trás. Harper estremeceu ao se lembrar do brilho da lâmina contra sua pele.
Ela estava segura agora. Com sua extensa família escolhida a dedo.
Harper desvencilhou-se de Max e Lola, que resmungaram no sono, e foi
na ponta dos pés para a cozinha.
Eram 8 da manhã, a hora perfeita para começar um gigantesco café da
manhã.
Tirou os pacotes de bacon do freezer e os jogou no micro-ondas para um
descongelamento rápido. Graças às galinhas de Claire, ela tinha duas dúzias
de ovos na geladeira.
Começou a fazer um bule cheio de café.
Ela estava feliz por Ty tê-la feito ligar para Luke. Só de ver seu rosto,
ouvir aquela voz familiar, a fez se sentir mais segura. Luke examinou seus
hematomas e arranhões, e ficou satisfeito por ela não estar escondendo um
ferimento com risco de vida. Ele a fez jurar que não teria nem mesmo uma
unha quebrada pelo resto do verão. Harper ficara feliz em prometer.
No momento em que a primeira agitação veio da sala de estar, o bacon
estava crocante em uma panela que não tinha sido usada para bater na
cabeça de um criminoso e o café estava pronto.
Era um novo dia.
Capítulo 40
Setembro, Outubro, Novembro…
— Estou impressionado, Harpinscher — Aldo assobiou por entre os
dentes, enquanto eles viravam uma esquina no caminho. — Há alguns
meses, você não conseguia correr a extensão de um campo de futebol, e
agora olhe para você.
Harper revirou os olhos com o apelido e lançou um olhar presunçoso por
cima do ombro.
— Eu poderia dizer o mesmo de você — ela brincou, apreciando o ritmo
que ele estabeleceu.
— Sim, mas sou um espécime físico perfeito. Fui projetado para correr,
não importa quantas pernas eu tenha. Você era uma batata de mesa que
dormia até tarde.
Ela arfou, sua respiração formando uma nuvem no ar fresco da manhã.
— Batata de mesa?
— Alguém que não assiste muita TV, mas passa o tempo todo sentado em
uma mesa.
— De onde você tira essas coisas?
Ele bateu com o dedo na têmpora.
— Está tudo aqui. Todos os segredos do universo.
— Vamos ver se esses segredos do universo ajudam você a se mover um
pouco mais rápido.
Ela acelerou o ritmo. Aldo estava certo. Alguns meses atrás, a ideia de
correr oito quilômetros antes das sete da manhã a faria puxar os travesseiros
sobre a cabeça. E agora, aqui estava ela, sentindo suas pernas ganharem
vida enquanto seus pés percorriam a superfície da pista de corrida.
Ela e Aldo iam ao parque uma vez por semana, juntos, para uma corrida
mais longa. O homem era uma máquina louca. Seus fisioterapeutas ficaram
emocionados com seu progresso, e seu coração se aqueceu com o fato de
que ela não via mais frustração revestindo seu belo rosto. O amor era o
motivador final.
Gloria e sua doçura genuína haviam feito maravilhas na depressão que
ameaçava envolvê-lo. A mulher provavelmente o salvou sozinha de
assassinar ou ser assassinado pela Sra. Moretta.
— Agora você está apenas se exibindo — Harper riu enquanto Aldo
passava rápido. — Não deixe sua perna cair — ela gritou atrás dele.
— Tenho que chegar lá antes do amanhecer!
Harper alongou seu passo e o alcançou na descida. Em um quilômetro, o
caminho arborizado se abria para o lago, com a visão perfeita do nascer do
sol. Era sua parte favorita do dia, quando ela podia ver aquelas cores
sangrando pelo céu nas águas do lago. Sentia como se o nascer do sol fosse
um presente de seus pais, dizendo que tudo ficaria bem. Essa vida era linda,
e seria uma loucura perder qualquer momento dela.
— Então, você está pronta para Luke voltar para casa? Na próxima
semana, certo? — Aldo perguntou em tom de conversa. A corrida não o
tinha cansado.
— Estou tentando não pensar muito nisso, só a cada meio segundo ou
mais — ela suspirou. — Não tínhamos muito tempo antes de ele partir, mas
ainda sinto como se tivesse perdido um membro, sem ofensa, nos últimos
seis meses. Estou animada e apavorada e tudo mais.
— Apavorada?
— Nosso relacionamento já dura sete meses. Em seis deles, ele estava do
outro lado do mundo. E se ele não gostar mais de mim? E se tudo for
diferente? E se eu não conseguir lidar com o motivo pelo qual ele não me
contou sobre Karen?
Aldo parou e colocou a mão em seu braço.
— O que há de errado? Você precisa de uma pausa?
Ele sorriu.
— Parece que preciso de uma pausa?
Sua pele morena brilhava com o esforço saudável. Seu moletom com
capuz da Guarda Nacional e calças de corrida cobriam todos os músculos
duros de seu corpo, cada centímetro ganho com trabalho árduo e dedicação.
— Não. Parece que você poderia correr uma meia maratona se quisesse.
— Certíssima. E pare de se preocupar. Vocês dois têm o que é preciso
para fazer isso.
— Eu te amo, Aldo.
A surpresa iluminou seus olhos.
— Não dessa forma. — Harper revirou os olhos. — Você é a coisa mais
próxima de um irmão que já tive, e eu te amo.
— Bem, merda. Também te amo, Harpinscher — disse ele, roucamente.
— Não diga isso só porque eu disse! — Ela deu um soco no braço dele.
Aldo prendeu sua cabeça e bagunçou seu cabelo.
— Eu não fiz isso, idiota. Você é a irmã mais nova que eu nunca quis.
Eles começaram a avançar, lentamente abrindo caminho de volta à
velocidade.
— Então, você planeja surpreender Luke quando ele voltar para casa?
Harper bufou.
— Você pode pensar em algo que ele odiaria mais? Não. Na verdade, ele
me disse que nem mesmo quer que eu o encontre no ônibus. Ele quer me
encontrar em casa.
— Você sabe por que ele quer assim.
Harper suspirou.
— Sim, mas ainda dói pensar nele voltando para casa sem ninguém para
encontrá-lo lá. Faz tanto tempo. Não quero perder o tempo que ele levaria
para dirigir para casa. Desde que ele me disse que voltaria para casa, cada
segundo parece meia hora. Eu só o quero aqui. Eu quero olhar em seus
olhos e...
Eles atravessaram o bosque assim que o sol começou a subir sobre as
árvores. Uma figura solitária, em uniforme, estava de frente para eles, de
costas para o nascer do sol espetacular.
— Não — sussurrou Harper, balançando a cabeça. O choque inundou seu
corpo. — Eu…
Ele abriu os braços, e Harper entrou em movimento, correndo em sua
direção.
Ele também estava correndo agora, e eles colidiram no ar. Luke a ajudou a
se levantar, apertando-a contra ele. Harper envolveu suas pernas em volta
de sua cintura e segurou seu rosto com as mãos.
— É realmente você? Você está realmente aqui?
Ela encarou os olhos castanhos, os cílios longos, as maçãs do rosto fortes,
a barba por fazer em sua mandíbula perfeita.
— Estou em casa, querida. — Sua voz era áspera e rouca.
Um soluço escapou dela, e então Luke a puxou. Sua boca encontrou a
dela em um beijo com uma necessidade frenética e posse. A lambida da
chama a varreu quando a língua de Luke encontrou a dela. Viva. Era assim
que ela se sentia com as mãos dele sobre ela.
Ela não conseguia respirar nada além de seu ar. Não queria mais
nada. Tinha tudo de que precisava neste momento.
Harper sentiu o gosto de sal e percebeu que eram suas próprias lágrimas.
Um gemido saiu do fundo de sua garganta, e Luke gemeu, lentamente se
afastando do beijo com o lábio inferior dela entre os dentes. Suas mãos se
fecharam em seu colarinho para mantê-lo perto. Seu aperto em sua bunda
aumentou.
Harper se moveu para beijá-lo novamente, mas o pigarro de uma garganta
a paralisou.
— Vocês estão arruinando minha visão de um nascer do sol perfeito —
brincou Aldo.
Luke deixou Harper deslizar por seu corpo, mas ele a manteve ancorada
ao seu lado.
— Você sabia e não disse uma maldita palavra! — Harper deu um tapa no
braço de Aldo.
Ele sorriu.
— Surpresa!
— Obrigado, cara — Luke disse, envolvendo seu amigo em um abraço de
um braço só.
Aldo deu um tapinha nas costas dele, um golpe que teria deixado Harper
de joelhos.
Com a garganta apertada, Harper deu um passo para trás e deu-lhes um
momento. O abraço de um braço se transformou em um abraço esmagador
de irmãos.
— Você está bem, Moretta. — Luke se afastou para bagunçar os cachos
escuros de Aldo.
— Eu me sinto bem. Dá uma olhada no equipamento — Aldo puxou a
perna da calça para mostrar sua prótese.
Harper viu o pomo de adão de Luke se mexer, e sabia que ele lutava com
a memória crua de seu amigo de infância em uma poça de seu próprio
sangue. Ele assentiu, mas nenhum som saiu.
— Ei — Aldo disse, dando um tapinha no ombro de Luke. — Eu estou
bem. Estou melhor do que bem.
A mandíbula de Luke cerrou-se, e ele trouxe o amigo para outro abraço
forte.
— Sinto muito, cara.
Aldo deu um tapa na nuca dele.
— Cale-se. Não há nada para se desculpar. Idiota.
Luke deu um empurrão brincalhão nele.
— Idiota.
Aldo cambaleou, agitando os braços. Luke estendeu a mão para firmá-lo,
preocupação em seus olhos.
— Paranoico! — Aldo sorriu, quicando na ponta dos pés. — Sólido como
uma rocha. Graças à sua garota.
Luke estendeu o braço para Harper, puxando-a de volta. Sua mão passou
por baixo da jaqueta e da regata para acariciar a parte inferior das costas
dela.
— Ela cuidou bem de você?
— Ela até me deu uma mulher.
Harper revirou os olhos.
— Não faça Gloria parecer uma prostituta!
Aldo consultou o relógio.
— Adoraria ficar e conversar, mas falando na minha mulher, ela está
esperando por mim. Isso dá a vocês dois cerca de quarenta e cinco minutos,
antes de terem que estar na lanchonete.
— Lanchonete? — Luke olhou para Harper.
O plano de Aldo atingiu Harper.
— Oh, você é bom! Alguém mais sabe?
Ele piscou.
— Não. — Ele jogou um molho de chaves para Luke. — Sua picape está
no estacionamento, do outro lado das árvores.
— Como você trouxe a picape dele aqui?
— Gloria e eu roubamos da garagem ontem à noite. Você tem um sono
profundo.
— Você vai vir com a gente? — Luke perguntou a Aldo, mas seus olhos
estavam em Harper.
— Não, Gloria está esperando com minha picape. O vejo em breve. Fico
feliz em ter você em casa, Luke. Até mais tarde, Harpinscher! — E com
isso, ele disparou em direção ao estacionamento.
***
Luke não perdeu tempo vendo seu amigo ir embora. Ele só tinha olhos
para Harper. Ele a puxou para seus braços. Seus cabelos loiros estavam
puxados para trás, em um rabo de cavalo alto. Ela estava coberta do
pescoço para baixo com roupa de ginástica colada e tênis para bloquear o
frio da manhã, e era a coisa mais sexy que ele já tinha visto.
Ele não tinha pensado em nada, além de ver aqueles olhos cinzas,
famintos, desde que recebeu sua dispensa. De alguma forma, ela estava
mais bonita do que quando ele partira. Fazia muito tempo desde que ficara
tão ansioso para voltar para casa.
Harper colocou os braços em volta do pescoço dele e olhou em seus
olhos.
— Eu não posso acreditar que você está aqui — ela disse finalmente.
— Sentiu minha falta, querida? — Ele a puxou para fora do caminho, por
entre as árvores e arbustos.
— Apenas a cada segundo dos últimos 189 dias. — Ela levou as mãos ao
rosto dele e passou os polegares na barba por fazer. — Como é possível
amar você ainda mais neste segundo do que antes de você partir?
Luke soltou a respiração que ele não sabia que estava prendendo. Era
alívio? As missões podiam mudar as pessoas de ambos os lados. O
pensamento de que ela não esperaria ou não o desejaria do jeito que ele a
queria, quando voltasse para casa, passou por sua cabeça algumas vezes,
nas longas e escuras horas da noite.
Houve muitas noites que se interpuseram entre ele e essas palavras.
Ele esmagou a boca na dela até que sentiu seus joelhos cederem.
— Eu preciso de você.
As palavras soaram ásperas para seus ouvidos, mas ele não conseguiu
suavizá-las. Ele estava duro como uma rocha por ela. As mãos dele
cruzaram o corpo dela, abrindo o zíper da jaqueta fina e puxando sua blusa
de manga comprida, para que pudessem percorrer sua pele. Seus seios
estavam presos por um sutiã esportivo.
— Como você tira isso? — ele rosnou contra sua boca.
A risada rouca de Harper o fez esquecer de ser gentil.
— Preciso de minhas mãos em você, Harper. Você confia em mim?
Ela recuou uma fração de centímetro, os olhos arregalados, mas
assentindo.
Luke puxou o canivete do bolso e arrancou o tecido de sua pele.
— Vou comprar um novo para você — ele murmurou, cortando o tecido
em dois. Ele jogou a faca no chão quando seus seios caíram em suas
palmas.
Ele ergueu sua carne macia e disse:
— Querida, não vamos chegar até a picape.
— Eu esperava que você dissesse isso — ela disse, espalhando beijos
famintos por sua garganta e puxando seu cinto.
Ele precisava estar dentro dela, senti-la perto dele. Queria ver os olhos
dela ficarem sonhadores enquanto se recuperava lentamente da sensação do
orgasmo.
Luke manteve suas mãos ocupadas e arrastou-a de volta para as
árvores. Ele arrancou a camisa e a jogou no chão musgoso. Em um único
movimento fluido, ele ergueu Harper e a deitou no chão. Ela ofegou em sua
boca, e ele ficou impossivelmente mais duro.
Seria um milagre se ele pudesse durar além do primeiro movimento. Luke
afastou a boca de Harper e se moveu mais para baixo. Ele deu um beijo em
seu esterno antes de voltar sua atenção para um seio perfeito.
— Eu sonhei com isso — ele sussurrou contra seu mamilo tenso, antes de
tomá-lo em sua boca. Ela se arqueou contra ele, e ele podia sentir seu calor
através das camadas que os separavam.
— Você está molhada para mim?
Ele já sabia a resposta, quase podia sentir enquanto pressionava seu pau
duro contra ela. Ele moveu-se para o outro seio e lambeu e chupou até que
seu mamilo ficou duro. Ela era tão sensível a ele. Um toque, uma prova, era
o suficiente. Ele capturou o pico tenso em sua boca e o massageou com a
língua até que ela gemeu seu nome.
Ele esperou tanto tempo para ouvir seu nome em seus lábios assim
novamente.
— Depois que eu começar, não vou conseguir parar, querida — ele
avisou.
— Por favor, Luke. Eu só quero você dentro de mim. Por favor.
Seu apelo sem fôlego o fez puxar o cós de náilon e agradecer a Deus pelo
velcro de suas calças. Livre, seu pau grosso esticou em direção ao calor de
Harper.
Ela se contorceu embaixo dele, tentando se livrar da calça justa. Com a
ajuda dele, ela se amontoou nos tornozelos, antes de conseguir tirar um
sapato.
Incapaz de esperar mais, Luke a empurrou contra o chão do bosque e
posicionou sua ereção em sua entrada molhada. Ele parou por um
segundo. Queria memorizar seu rosto. A necessidade devastadora. O desejo
que ela tinha de que ele a preenchesse, de levá-la ao limite. Ela pertencia a
ele.
Luke entrou nela com um golpe feroz. Harper reprimiu o seu grito no
ombro dele.
Ele finalmente estava em casa.
Ele não deu a ela a chance de se acostumar.
— Jesus, querida, você está tão apertada — ele grunhiu enquanto
empurrava dentro dela novamente. Todo o caminho, cada centímetro dele
foi cercado por ela. Uma e outra vez ele entrou nela, seu saco pesado
batendo contra ela. Ele já podia sentir a vibração de seus músculos. Ela
estava tão perto de desmoronar.
Ele se inclinou e tomou seu mamilo em sua boca, sugando forte o
suficiente para que soubesse que ela sentia prazer e dor. Suas estocadas
ficaram mais curtas, mais rápidas. Harper ergueu as pernas mais alto em
seus quadris.
Ele ouviu o estalo de galhos, o farfalhar de folhas, mas não importava. Os
olhos de Harper se arregalaram e ela virou a cabeça na direção da trilha a
poucos metros de distância, mas Luke colocou a mão em sua boca e voltou
seu olhar para ele.
Ele balançou a cabeça e continuou seu ataque, penetrando-a, mudando o
ângulo no último segundo. Os olhos de Harper ficaram vidrados quando ele
se chocou contra ela novamente, roçando o ponto mais profundo e sensível
em seu sexo. Era um pequeno grupo de corredores que passou trovejando
no caminho, mas tudo o que Harper viu foi Luke balbuciando a palavra
“goze”, enquanto a penetrava novamente. Seus músculos trêmulos
obedeceram, apertando-se contra ele enquanto ele se liberava dentro
dela. Ele esperou até parar os tremores, antes de desabar em cima dela, os
seios nus esmagados em seu peito.
Ela o abraçou com as pernas para mantê-lo dentro dela.
— Não me deixe — ela sussurrou.
— Nunca mais, querida.
Ele rolou para que ela ficasse em cima dele e acariciou qualquer pele nua
que suas mãos pudessem encontrar.
— Não sei se gosto de você correndo com outros homens vestida
assim. Lembre-me de pegar um moletom bem folgado.
— Eu corro com Aldo. Nem todo homem quer me arrastar para trás de
uma árvore e me devastar — ela brincou.
— Qualquer homem com um pau e meio cérebro teria esses pensamentos.
— Ele beliscou seu quadril enquanto a ajudava a colocar a calça de volta.
— Vamos para casa, para que possamos fazer isso pelo resto do dia. — Sua
voz estava rouca quando ele deu um beijo na parte plana de sua barriga.
— Vamos, mas primeiro temos que fazer uma parada. — Ela sorriu ao
pensar na surpresa que a família de Luke estava prestes a ter.
Capítulo 41
Eles empurraram a porta de vidro da lanchonete, e Harper avistou seu
grupo. Um café da manhã semanal tomou forma depois que Luke saiu em
missão. Os participantes variavam dependendo dos horários, mas hoje, eles
tiveram que reivindicar uma mesa e uma cabine para acomodar a multidão
do café da manhã.
— Desculpe, estou atrasada! Temos espaço para outro? — Harper disse
enquanto puxava Luke com ela.
Ela assistiu com prazer quando Claire virou para cumprimentá-la e
congelou. Um grito explodiu dos lábios de Sophie quando ela saiu
freneticamente da cabine, com um Ty estupefato segurando Josh. Claire
empurrou a cadeira para trás, quase fazendo Sophie tropeçar enquanto
lutavam para chegar primeiro a Luke.
Harper largou a mão de Luke e recuou enquanto as mulheres corriam para
ele.
— Pelo amor de Deus, você acabou de ver a garota dois dias atrás. O que
é toda essa... — Charlie se virou em sua cadeira para ver sobre o que era
toda a comoção.
Vendo sua esposa e filha envolvendo Luke, ele se levantou
lentamente. James entrou na briga para abraçar o irmão, e os clientes do
restaurante começaram a aplaudir.
Charlie colocou o braço em volta dos ombros de Harper.
— Boa surpresa, garota.
Ela envolveu um braço em volta da cintura dele.
— Eu não fazia ideia. Ele me surpreendeu no parque, durante a minha
corrida com Aldo, o Dissimulado. — Ela apontou o polegar na direção de
Aldo.
Aldo piscou de seu assento com Gloria sorrindo ao lado dele.
Charlie pigarreou e se inclinou.
— Você tem galhos e folhas no cabelo. — Ele piscou e foi até Luke,
deixando Harper penteando freneticamente seu rabo de cavalo.
Enxugando as lágrimas, Claire e Sophie recuaram e deixaram Luke e
Charlie terem seu momento.
— Papai. — Luke estendeu a mão.
— Filho. — Charlie pegou sua mão e puxou Luke para um abraço. —
Bem-vindo a casa.
Charlie soltou Luke, e Harper viu o choque ser registrado quando Luke
percebeu quem era a próxima pessoa na fila para cumprimentá-lo.
— Joni — Luke disse calmamente. Seu olhar voou para o rosto de Harper,
e ela viu uma guerra de emoções passar por ele.
— Oi, Luke — Joni disse calmamente. — Bem-vindo a casa. — Ela
respirou fundo e abriu os braços para abraçá-lo.
Harper fungou, e Claire colocou uma mão firme em seu ombro, enquanto
observavam Luke enrijecer ao toque de Joni, e então cuidadosamente
colocar os braços ao redor dela.
O olhar de Luke nunca deixou o rosto de Harper.
— Eu sinto muito — Joni sussurrou em seu ombro.
Harper apertou a mão de Claire.
— Por que vocês dois não conversam um minuto, e eu peço um café para
vocês, ok, Luke?
Luke afastou-se do abraço de Joni e se aproximou de Harper, segurando o
rosto dela suavemente com as mãos.
— Eu sinto muito — ele sussurrou para que somente ela pudesse ouvir.
Harper apertou os lábios e deu-lhe um aceno emocionado.
— Vá conversar. Estarei aqui quando você voltar.
Ele se inclinou como se fosse beijá-la e no último segundo mudou de
ideia. Ele deu um beijo casto na bochecha dela e se virou para segurar a
porta aberta para Joni.
Harper sentou-se com o resto do grupo e tentou ignorar a sensação de
aperto no estômago. Isso era o que precisava acontecer para os
dois. Independentemente do que significasse para ela, Joni e Luke
precisavam disso para seguir em frente.
Claire chamou sua atenção, exigindo saber por que ela tinha folhas no
cabelo.
***
Luke encolheu os ombros por causa do frio, nos degraus da lanchonete, e
enfiou as mãos nos bolsos. Era ele quem deveria fazer uma surpresa, mas
aqui estava ele, falando com a mãe de sua falecida esposa. Como seu
passado e presente colidiram enquanto ele estava fora? E o que diabos isso
significava para todos?
— Não fazia ideia de que você estava em casa — começou Joni. — Caso
contrário, eu teria dado espaço a você e sua família.
— Você é sempre bem-vinda, Joni — Luke disse, passando a mão na
nuca.
— Você provavelmente está se perguntando o que estou fazendo aqui com
sua família. — Ela esboçou um sorriso. — Pelo menos eu estaria, se
estivesse no seu lugar.
— O pensamento passou pela minha cabeça. — Ele sentiu sua boca se
levantar ligeiramente.
Joni respirou fundo, seus cachos castanhos dançando ao vento frio.
— Tudo começou há alguns meses, quando encontrei Harper. Quando eu
descobri quem ela era, eu disse umas coisas desagradáveis.
Luke ficou tenso e Joni ergueu as mãos.
— Não se preocupe, ela me esclareceu as coisas. Disse que eu estava
sendo estúpida, mas que, às vezes, a dor faz as pessoas fazerem coisas
estúpidas. E ela estava certa. Quando eu perdi Karen, quando nós perdemos
Karen, eu senti como se tivesse morrido naquele dia, também. Você tinha
sua família, seu negócio e a Guarda, mas ela era minha vida. Eu estava com
medo de que você fosse seguir em frente e esquecê-la. Que a vida dela, e a
minha, não significavam nada no grande esquema das coisas. Eu culpei
você. — Ela se engasgou com as últimas palavras, e Luke cruzou os braços,
mas não disse nada.
— Eu queria que fosse sua culpa, mas na verdade, foi minha.
—Joni, você estava certa em me culpar. Se eu não tivesse pedido a ela
para me encontrar...
Joni estava balançando a cabeça, as lágrimas ameaçando escapar.
— Eu mandei uma mensagem para ela, dizendo que estava atrasada. Ela
estava lendo meu texto quando cruzou a pista central. Fui eu. Foi minha
culpa.
A respiração de Luke saiu rápido, e ele balançou sua cabeça.
— Não é sua culpa. Foi um acidente.
— Quantas pessoas lhe disseram isso ao longo dos anos? E quantas vezes
isso fez você parar de se sentir culpado?
— Muitas. E zero. — Ele se recostou no corrimão. — Eu não culpo você,
Joni.
— Eu também não culpo você, Luke. Acho que nunca realmente o
culpei. Sinto muito pelo que disse no funeral. Sinto muito por excluir sua
família, quando tudo que eles tentaram fazer foi ajudar. E sinto muito por
dizer o que disse a Harper, embora ela tenha me dito que se eu pedisse
desculpas mais uma vez, ela iria me bater.
Luke esboçou um sorriso com isso.
— De qualquer forma, depois que Harper e eu conversamos, ela me
convidou para o jantar de domingo na casa de sua família e... bem, aqui
estamos. Eu vou entender se você não me quiser... por perto.
— Você é da família. — Ele disse isso, e foi realmente sincero.
Eles olharam pelo vidro da janela da lanchonete para seu pequeno grupo,
passando pratos de panquecas e ovos.
— Eu sei que, vindo de mim e com toda a nossa situação, isso pode soar
estranho, mas eu gosto de Harper. Muito.
Luke acenou com a cabeça. Sim, isso era estranho.
Ela colocou a mão em seu braço.
— Há mais uma coisa.
— Não tenho certeza se posso aguentar mais alguma coisa agora. — Luke
estava apenas brincando.
— Eu sabia sobre o bebê. Karen me contou e me fez jurar segredo. Eu só
queria que você soubesse que eu sei tudo o que você perdeu naquele dia.
***
Harper assistia ansiosamente pela janela. Pelo menos não houve gritos ou
ataques violentos. Isso tinha que ser um bom sinal.
Ela respirou fundo. Quando se arrastou para fora da cama esta manhã, não
tinha ideia do dia emocionante que enfrentaria.
Joni e Luke voltaram. Joni estava sorrindo, mas a expressão de Luke era
ilegível. Seu olhar se fixou no rosto de Harper. Ele se sentou ao lado dela,
mas em vez de puxá-la para o seu lado, manteve uma distância
cuidadosa. Ela desejou que eles estivessem sozinhos e voltou a atenção para
seus ovos.
Ele estava em casa, e era isso que importava. Eles acertariam todo o resto
depois.
A multidão feliz do café da manhã demorou-se com o café e
histórias. Todos estavam ansiosos para contar a Luke os últimos seis meses,
e ele ficou feliz em ouvir. Harper ouviu distraidamente e tentou não se
preocupar com todas as coisas que ela e Luke teriam que pôr em dia.
Joni saiu primeiro, para resolver uma lista de tarefas.
Luke estendeu a mão por baixo da mesa e segurou seu joelho. Harper
colocou a mão dela na dele e apertou. Seu toque fez seu corpo inteiro
vibrar.
— Vamos sair daqui — ele sussurrou em seu ouvido, os lábios roçando
sua carne sensível.
Capítulo 42
Casa. Luke havia pensado nesta casa e no que ela continha mais vezes do
que poderia contar nos últimos seis meses. A estrutura era a mesma, mas o
passar do tempo estava evidente nos pequenos detalhes.
Muita coisa aconteceu em seis meses, e não tinha certeza de como se
sentia sobre isso. Ele não tinha certeza de como as pessoas se sentiam sobre
isso. Harper estivera estranhamente quieta durante a volta para casa. Ele
não sabia como Joni havia entrado em cena, mas sabia o que
significava. Harper sabia sobre Karen.
O pânico que sentiu ao ver Joni e Harper juntas ainda não tinha
diminuído. Seus mundos colidiram, e ele não tinha certeza de quais seriam
as consequências. Ver Joni no café da manhã com sua família, com Harper,
o tinha atingido. Ele nunca esperou que esse relacionamento
ressurgisse. Estar perto dela era como ser puxado para o passado. As
palavras que ela disse no funeral de Karen ainda o afetavam. Suas palavras
eram seus pensamentos. E agora um pedido de desculpas? Joni não devia
nada a ele. Era ele quem devia as desculpas, a Joni e a Harper.
Ele tinha sido um idiota, pensando que poderia manter seu passado
separado. Harper não merecia saber por que ele nunca poderia lhe oferecer
mais? Tinha sido egoísta e estúpido pensar que poderia mantê-la no
escuro. E agora havia uma distância entre eles.
Ele tentou preparar seu pedido de desculpas no caminho para casa.
— Então, Joni?
Mas Harper não caiu nessa conversa.
— Sim. — Ela assentiu, e foi isso.
Pelo menos a casa ainda estava intacta.
Os canteiros de flores foram cuidadosamente aparados e escondidos sob
uma nova camada de húmus para o inverno. Harper tinha espalhado plantas
anuais coloridas entre a vegetação neste verão, enviando a ele uma foto de
seus esforços por semana. As abóboras e crisântemos que ela colocou para o
Halloween ainda flanqueavam a porta da frente. A nova porta da frente,
Luke percebeu, apertando a mandíbula.
Era uma réplica quase perfeita da original. Frank fizera um bom trabalho
em encontrar a pessoa certa. Mas era um lembrete do perigo do qual não
fora capaz de proteger Harper.
Harper girou a chave na fechadura e olhou por cima do ombro.
— Mal posso esperar para ver esse reencontro — Ela sorriu.
Ele puxou seu rabo de cavalo loiro, trazendo-a de volta para encará-lo.
— Beije-me primeiro.
Ela se demorou, se aproximando dele e enrolando os braços ao redor de
seu pescoço.
O aperto em seu cabelo aumentou, inclinando sua cabeça para trás. Sua
boca encontrou a dela, já se separando. Seus lábios se fundiram, unindo-os
com a respiração e o gosto de cada um, até que ele não pudesse dizer onde
ele terminava e ela começava. Ele invadiu sua boca, tomando o que mais
queria: sua rendição. Nunca se cansaria de seu sabor: doce com uma corda
que o atraía para ela todas as vezes.
No segundo em que sua boca se fechou sobre a dela, ele sentiu uma
corrente passar por eles. Necessidade igualada, e ele sabia, não importava o
que acontecesse, seus corpos ainda ansiavam um pelo outro. Não havia
como esconder. Não havia como negar.
Ele precisava de Harper Wilde como precisava de sua próxima respiração.
— Deus, eu senti sua falta. — Seus lábios se moveram sobre os dela.
Ela ficou em silêncio, mas seus dedos se cravaram em seu colarinho e o
seguraram.
Ele a saboreou novamente, e quando a sentiu tremer contra ele, se forçou
a recuar antes de rasgar a calça dela ali na varanda da frente, e então gemeu
com pesar.
— Para dentro, querida.
Ela suspirou e acenou com a cabeça.
— Cães, primeiro. Depois suba. — Ela se voltou para a porta. — Você
está pronto para um encontro molhado?
Harper estava sorrindo, mas havia frieza em seus olhos.
Era um desafio. Ele derrubaria aquela parede, tijolo por tijolo, até que
nada os separasse.
Talvez ele não pudesse amá-la do jeito que ela merecia, mas poderia dar a
ela todo o resto.
Harper abriu a porta para sete pernas em forma de caos. No segundo em
que Lola percebeu que ele estava ali, seus latidos animados transformaram-
se em gemidos e contorções. O rabo dela chicoteou com tanta força que
Luke temeu que arrancasse o lambril da parede. Ele caiu de joelhos e Lola
saltou, colocando as patas dianteiras em seus ombros para que pudesse
mordiscar seu nariz.
Max deu uma patada em suas costas, ganindo e sacudindo seu corpo
minúsculo. Luke agarrou o cachorrinho e o segurou contra o peito. Ele
bateu no peito de Lola.
— Ouvi dizer que você salvou a vida da mamãe, menina bonita.
Lola se desfez em arrepios de alegria. Ela se lançou em seus ombros
novamente, jogando-o de costas.
— Eu acho que eles sentiram sua falta — disse Harper, rindo baixinho.
— Senti falta deles. Quase tanto quanto eu senti sua falta. — Ele saiu de
debaixo da pilha de cachorros. — Eu preciso de um banho, depois das boas-
vindas.
Ele a puxou para si.
— Você vai para a cama comigo?
Ela se aninhou nele.
— Claro.
***
Luke deixou a água lavar seis meses de deserto, preocupação e exaustão.
Ele estava em casa, e era hora de começar a viver a vida novamente. Na
lanchonete, não podia tocar em Harper da maneira que precisava. Não com
Joni lá.
A culpa o esmagou. Como poderia estar com Harper, depois de
Karen? Ele descartou o pensamento. Ninguém poderia tomar o lugar de
Karen. Não deixaria isso acontecer. Mas ele ainda estava aqui, vivo. Isso
não contava alguma coisa?
Fechou a torneira e pegou uma toalha. Também era nova. Do tipo gigante
e fofa, capaz de secar um carro, não apenas o corpo humano.
Ele a enrolou na cintura e foi para o quarto.
Estava duro como uma rocha no meio segundo que levou para registrar
que Harper estava esperando por ele na cama. Ela havia descartado suas
roupas de corrida e estava usando um espartilho escuro e transparente, com
cetim e renda, que mal cobriam seus seios fartos.
— Venha aqui — disse ela, ficando de joelhos. Seu corpo obedeceu como
se estivesse enfeitiçado. Ele tirou a toalha e rastejou pelo colchão até ela.
— Você é tão linda, Harper — ele sussurrou quando sua boca encontrou a
dela. — Isso é novo. — Ele arrastou os dedos sobre a borda rendada.
— Comprei algumas coisas para quando você voltasse para casa.
Ele não podia dar a ela as palavras que ela mais queria ouvir, mas poderia
dar todas as outras que ela merecia ouvir.
— Eu pensei em você a cada segundo, querida. Não consegui chegar em
casa rápido o suficiente. — Sua boca se moveu sobre seus lábios,
mandíbula, até seu pescoço.
— Eu senti tanto sua falta.
Harper estremeceu. Seus dedos se cravaram em seus ombros.
— Eu te amo, Luke.
— Querida, não chore. — Seus polegares enxugaram as lágrimas que
escorreriam por suas bochechas lisas.
Ela piscou para afastar as lágrimas.
— Você ainda me quer?
Suas mãos pararam na pele dela.
— Harper — ele sussurrou. — Não há nada que eu queira mais.
Ela o empurrou para trás, até que ele pousou contra os travesseiros na
cabeceira da cama.
Harper deslizou seu corpo sobre o dele, a seda provocando sua
pele. Começou em sua mandíbula, correndo seus lábios macios até a
garganta. Ela beijou, mordiscou e lambeu seu peito, através de seu
abdômen. E então mais baixo.
O primeiro roçar dos lábios na cabeça de seu pênis quase o tirou da
cama. Seus quadris se flexionaram enquanto sua doce boca se fechava sobre
ele.
Ela o puxou para o fundo da garganta, e ele gemeu.
— Deus, querida.
Harper agarrou a base de seu grosso pau e massageou seu comprimento
com a mão, enquanto sua boca deslizava sobre ele uma e outra vez.
Ela gemeu, e a vibração quase o levou ao limite.
Luke colocou a mão em seu cabelo.
— Querida, assim não vou durar. Preciso estar dentro de você.
Harper o deixou arrastá-la por seu corpo até que ela encontrou sua
boca. Ele fez menção de rolar, mas ela apoiou as mãos em seus ombros.
— Fique assim — ela sussurrou, montando nele.
Ela estendeu a mão entre seus corpos e posicionou a larga cabeça de sua
ereção contra seu centro úmido. Suas mãos encontraram seus quadris e a
guiaram por seu comprimento. Centímetro por centímetro glorioso, ela o
tomou em seu interior até que ele estava totalmente envolto nela.
Luke lutou contra o desejo de ditar o ritmo e penetrá-la de uma vez.
— Faça durar, querida — ele sussurrou.
Ela colocou a mão em concha em seu rosto. Harper se levantou, suas
ondas douradas emoldurando seu rosto. Seus olhos se fecharam com força
enquanto ela definia um ritmo lento e sensual. Seu corpo estava mais
magro, mais forte do que antes. Ela parecia uma deusa cavalgando para a
batalha.
— Abra os olhos, Harper.
Aqueles olhos cinzas, vidrados de luxúria, se abriram quase
preguiçosamente. Ela sorriu quando ele se flexionou contra ela. Ele a
deixou montá-lo, perdendo-se no ritmo. O tempo parou enquanto a magia
do que ela o fazia sentir se espalhava por ele.
Ele se levantou e arrancou o tecido de seus seios. Seus mamilos já
estavam duros e tensos por ele. Ele colocou um em sua boca, puxando-o
com longas e profundas chupadas.
Sua respiração ofegante foi direto para seu pau. Ele sugou novamente,
desta vez com mais força, e a sentiu apertar ao redor dele. Sua própria
necessidade de liberação agitou-se profundamente em suas bolas.
— Luke.
— Deixe acontecer, querida.
Ele agarrou seus quadris com mais força e puxou-a para baixo em seu
pau, empurrando profundamente. Suas coxas se apertaram ao redor dele,
quando ele sentiu a primeira vibração de sua liberação em torno de seu
pau. Seus apertos famintos arrancaram o próprio orgasmo dele, e ele gozou
profundamente dentro dela, marcando-a por dentro.
Tremendo, Harper desabou em cima dele. Não importava quais palavras
seriam ditas ou não entre eles, essa conexão era inegável.
Ela o amava de corpo e alma quebrada.
— Devíamos conversar — ele murmurou contra seu ombro.
— Durma primeiro. Conversamos mais tarde.
Ele acariciou suas costas, enquanto lágrimas silenciosas caíram em seu
pescoço e ombro.
***
Quando Harper acordou, algumas horas depois, ela ainda estava
esparramada sobre Luke. Ele ainda estava dentro dela. E duro. Ela o apertou
por reflexo, enquanto tentava se livrar dele, mas o movimento o acordou.
Sem sair de dentro dela, ele os rolou. Ele manteve o rosto enterrado em
seu pescoço, enquanto se retirava parcialmente e então empurrava para
dentro dela.
Instantaneamente molhada, Harper dobrou os joelhos para tomar mais
dele.
Ele apertou a mão em seu seio nu, amassando-o, enquanto suas estocadas
vinham mais rápidas e mais fortes. Luke estabeleceu um ritmo frenético,
uma corrida para a liberação.
— Aperte-me, querida — Luke gemeu.
Harper se flexionou ao redor dele quando ele se chocou contra ela. Ele
grunhiu com cada impulso, e Harper podia sentir seu orgasmo crescendo
violentamente.
Luke empurrou dentro dela o mais rápido que podia, e ela sentiu o
primeiro jato de sua liberação. Isso a levou ao limite, enviando-a em uma
espiral atrás dele. Seu orgasmo ordenhou cada gota dele.
— Minha — ele sussurrou contra seu pescoço. — Minha.
***
Demorou mais uma hora para se livrar da cama e dos braços de Luke. Ele
a alcançou em seu sono, e ela deu um beijo em sua testa antes de puxar a
colcha sobre ele. Ela deu um tapinha na cama, dando a Lola e Max o sinal
de tudo bem. Lola se enrolou ao lado de Luke enquanto Max se acomodava
em seu peito.
Harper entrou no banheiro e abriu a torneira do chuveiro. Ela tirou o
espartilho e entrou na água.
Seu corpo estava dolorido pelo uso inesperado, mas isso a fez sorrir.
Luke estava em casa. Era um novo começo.
De volta ao quarto, Harper silenciosamente abriu as gavetas e pegou
roupas confortáveis antes de descer na ponta dos pés. A casa estava fria,
mas em vez de aumentar o aquecimento, ela acendeu a lareira a gás da sala
de estar. Enquanto a sala esquentava, ela foi até a cozinha e preparou um
bule de café.
Era um pouco cedo para o jantar, mas como haviam perdido o almoço,
Harper pegou o menu do Dawson e fez um pedido.
Quando Luke acordasse, eles comeriam e conversariam.
***
A campainha o acordou. Luke desceu as escadas com calças de pijama e
uma camiseta e seguiu o cheiro de pizza até a cozinha.
Harper, em leggings cobertas por meias de lã até a coxa, lançou-lhe seu
sorriso dourado. Seu suéter macio, da cor de mirtilos, pendia de um
ombro. O cabelo loiro estava amarrado em um nó no topo de sua cabeça,
deixando a curva graciosa de seu pescoço exposta.
— Olá, lindo. Quer um pouco de café?
— Como se eu quisesse minha próxima respiração.
Ela pegou uma caneca, e ele acariciou a pele delicada atrás de sua orelha.
— Está com fome? — sua voz estava ofegante.
Ele mordiscou seu pescoço.
— Sim.
— Lucas Garrison, se você me deixar um chupão...
Ele se afastou e deu um tapa na bunda dela. Sua bunda muito firme.
— Jesus, querida. Você malhou enquanto eu estava fora.
Harper riu e entregou-lhe a caneca.
— Eu entrei para uma academia. Tive que fazer algo, além de pensar em
você o dia todo.
— Aldo disse que você é uma fera nas trilhas.
Ela sorriu.
— Aprendi com o melhor — disse ela, tirando os pratos do armário.
— Como ele está?
Ela entregou os pratos e apontou para a caixa de pizza na ilha.
— Ele está indo muito bem. Fiquei um pouco preocupada, quando ele
voltou para casa. Parecia estar em um lugar muito escuro. Mas você
conhece Aldo. Quanto maior o desafio, com mais afinco ele vai tentar
superar.
Harper serviu-se de uma xícara de café e a cobriu com creme.
Luke abriu a caixa de pizza e sentiu o cheiro de pepperoni e pimenta
verde.
— Eu sonhava com essa pizza — ele suspirou. Jogou duas fatias em cada
prato.
Ela pegou os cafés e liderou o caminho para a sala.
— Isso é novo? — Luke perguntou, colocando os pratos na superfície da
mesa baixa e lustrosa, em frente à lareira que ele nunca tinha usado.
Harper sentou-se de pernas cruzadas em uma almofada de chão e pegou
seu prato.
— Encontrei em uma venda de garagem. Vinte dólares.
— Agradável. — Luke olhou ao redor da sala de estar. Novamente, as
estruturas eram as mesmas, mas agora havia almofadas coloridas e livros
nas prateleiras. Algumas velas decoravam superfícies planas ao redor da
sala.
Foi a primeira vez, em muito tempo, que ele voltara para uma casa
“diferente”. Normalmente, a única diferença na casa era a espessa camada
de poeira sobre tudo, que levava quase uma semana para limpar.
Levaria muito mais do que uma semana para descobrir todas as diferenças
sutis desta vez.
Ele tomou um gole de café e tirou uma fatia de pizza do prato.
— Então, Joni. — Harper deixou o nome de sua sogra pairando no ar
entre eles.
— Eu sinto que devo a você um grande pedido de desculpas, e não tenho
certeza por onde começar.
Ele suspirou. A culpa e a dor tão familiar fizeram a pizza entupir sua
garganta.
— Vamos começar com como você se sentiu ao vê-la esta manhã.
— Em pânico. — Luke balançou a cabeça. — Ela é a última pessoa que
eu esperava ver tomando café da manhã com minha família. Eu não sabia o
que isso significava. Para mim. Para você. Para ela. Ainda não sei.
— Eu não tive a intenção de jogá-la sobre você assim. Fiquei tão surpresa
de ver você em casa, que esqueci todo o resto.
Ele balançou a cabeça.
— É minha culpa ter escondido tudo isso de você.
— Por que você fez isso?
Luke olhou para o fogo. Como poderia colocar em palavras? Por que
tinha que manter tudo lá dentro? Apenas ouvir o nome dela ainda poderia
quebrá-lo.
— Eu estava fazendo tudo certo. Casei-me com a minha namorada do
colégio. Entrei para o exército. Comecei meu próprio negócio. Eu tinha um
plano. Sabia para onde estava indo. Estávamos conversando sobre comprar
uma casa. Começar uma família.
Ele engoliu em seco com a palavra. O bebê que ele nunca conheceu.
— Quando ela morreu... a maneira como ela morreu...
Harper pôs a mão em seu braço. Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu perdi tudo naquele dia. Meu passado, meu futuro. Meus planos. —
Ele limpou a garganta, na esperança de desalojar o nó. — Eu não sabia
como iria passar um dia sem ela, muito menos anos. Então, apenas me
concentrei em viver cada dia. Trabalhar duro. Manter tudo trancado. Um dia
de cada vez.
— Por que você não fala sobre ela? — A pizza de Harper estava
esquecida na frente dela.
Ele balançou a cabeça.
— Não sei como fazer isso sem sentir este buraco imenso. Eu não deveria
estar aqui. Era eu quem estava preparado para morrer. Você não vai em
missões sem fazer as pazes com essa possibilidade. Eu não estava
preparado para perder minha esposa.
Ele fez uma pausa. Parecia errado estar falando sobre sua esposa para sua
namorada. Ele não conseguia reconciliar seu passado e seu presente.
Harper se arrastou para seu colo, montando nele. Ela pressionou o rosto
em seu pescoço.
— Eu sinto muito, Luke.
Suas mãos deslizaram sob sua blusa para acariciar suas costas. Quando ele
a estava tocando, e ela estava em seus braços, a escuridão não era tão
intensa.
— Me desculpe, querida. Eu gostaria de poder te dar mais. Você merece
tudo, mas eu simplesmente não posso...
Harper colocou os braços em volta dos ombros dele e o abraçou com
força.
— Eu não quero mais. Eu quero isso. Eu quero você.
— Eu sou tão egoísta. Você merece alguém que irá se apaixonar
perdidamente por você. Casar-se com você e passar o resto da vida dando a
você tudo que sempre quis. Eu não posso te amar. Eu não posso amar
ninguém novamente. Mas eu quero você. Eu te quero tanto que parece que
qualquer momento sem você é vazio.
Ela suspirou contra seu pescoço.
— Eu te amo, Luke. O que isso significa para nós?
— Se você está pronta para isso, nós viveremos um dia de cada vez.
Capítulo 43
Harper decidiu não deixar que o fato de Luke não ter se aberto com ela
sobre o bebê a incomodasse. Joni fora uma surpresa grande o suficiente
para emboscá-lo, e isso desencadeou sua primeira e única conversa sobre
Karen. Ela considerou um grande progresso, e não havia necessidade de
apressá-lo, se ele não estivesse pronto para contar a história toda.
Ele ficava quieto às vezes, especialmente perto de Joni. Harper percebeu
que ele mantinha distância entre eles quando Joni estava por perto. Mas ela
esperava que ele fosse capaz de superar isso.
Ela começou a relaxar enquanto trabalhavam para estabelecer um novo
normal. Algumas das velhas rotinas permaneceram. Luke ainda corria com
Lola pela manhã, e a pulsação de Harper continuava a aumentar cada vez
que ela o via em qualquer estado de nudez... ou mesmo vestido.
Mas com um novo senso de estabilidade, vieram novas circunstâncias.
Harper manteve seu turno de sexta-feira no Remo’s, e Luke se tornou um
cliente regular. O café da manhã semanal dos Garrison continuou, agora
com todos os membros da família no mesmo fuso horário.
Durante os dias, eles trabalhavam em equipe no escritório. E à noite, eles
faziam amor com uma urgência que parecia nunca diminuir.
Ela o havia dado um grande tour pela vida para a qual ele estava
voltando. Ele admirou o trabalho da parede de gesso que ela e Frank
haviam feito no closet. Mas os beliches no quarto de hóspedes o fizeram
hesitar.
— Harper, nós temos filhos... e peixes?
— Surpresa! — ela brincou. — Não, eu fico com as crianças durante a
noite a cada duas semanas ou mais, para dar uma folga à Sra.
Agosta. Cansei de encher colchões de ar, então comprei isso do Bob’s. As
crianças ganharam os malditos peixes no parque, no Quatro de Julho, e eu
os mantive aqui, em vez de dar à Sra. Agosta mais uma coisa com que se
preocupar. Ava dorme na cama de casal do outro quarto. Ela a chama de
cama de menina grande.
Luke enfiou a cabeça no terceiro quarto e examinou as almofadas roxas e
o unicórnio de pelúcia.
— Você esteve ocupada. Alguma surpresa no terceiro andar?
Não havia nenhuma surpresa no terceiro andar, mas havia algumas em
outras áreas da vida. Com o sucesso da primeira casa pequena da Garrison
Construction, seu pai insistiu em continuar os encontros semanais de
almoço com Harper e Beth. E quem poderia esquecer a expressão no rosto
de Luke, quando ele apareceu em um local de trabalho para encontrar
Harper ajudando um Frank irritadinho com o drywall?
Em qualquer dia, ele chegava em casa e encontrava sua mãe ou tia Syl
tomando café na cozinha com Harper.
Foi Claire quem sugeriu que Harper e Luke fossem os anfitriões do Dia de
Ação de Graças, para celebrar o retorno de Luke. Harper se dedicou ao
planejamento. Ela tinha uma pasta inteira no Pinterest de acompanhamentos
de batata doce e comprou talheres para doze pessoas.
Luke apenas sorria e acenava com a cabeça toda vez que ela se lançava
em outro debate unilateral sobre os méritos das couves de Bruxelas assadas
no forno ou cranberries secas no recheio. Seria seu primeiro grande Dia de
Ação de Graças em família, e ela estava determinada a fazer tudo que
sempre sonhou.
Finalmente, o dia chegou. Harper se arrastou da cama às 4 da manhã e
começou a preparação. Ela faria deste o melhor Dia de Ação de Graças que
Luke tivera em muito tempo.
***
Ele estava perdido em um sonho. Vestido com seu uniforme, Luke estava
no ônibus, voltando para casa. Estimulado pela empolgação de seus
homens, ele estava contando os quilômetros até Benevolence. Até Karen.
Eles compartilhariam a novidade com a família hoje. Um novo bebê
Garrison.
E Luke tomara uma decisão. Deixaria a Guarda. Seu negócio estava
crescendo rápido o suficiente para exigir mais de sua atenção. E ele queria
ser o tipo de pai que Charlie tinha sido para ele. Presente. Envolvido.
O ônibus fez uma curva, e Luke pôde ver o estacionamento. Estava vendo
o local onde sua família estaria esperando.
Mas faltava alguém.
O ônibus freou com força. O impacto foi inevitável. Eles tombaram
violentamente para o lado, e Luke sentiu o estalo nauseante de metal moído
e vidro se estilhaçando profundamente em seus ossos.
Nos segundos que se seguiram à queda, um silêncio pesado pairou no
ar. Luke se arrastou pelos destroços, sobre cacos de vidro e metal retorcido.
Não havia nenhum movimento de dentro do ônibus, apenas ele e seu
desejo de sair.
Ele chutou uma janela e rastejou para o asfalto. A fumaça acre nublou
seus sentidos. Ainda assim, ele foi atraído para a frente.
O carro de Karen, o carro que eles planejavam trocar por um SUV, por
causa de sua família em crescimento, estava quase irreconhecível. A
extremidade dianteira fora esmagada contra a cabine. A fumaça subia dos
destroços. O para-brisa quebrado. O airbag instalado estava lentamente
ficando vermelho sob a cabeça loira que repousava sobre ele.
Espere. Isso não estava certo. Deviam ser as ondas castanhas de Karen no
volante. Não as mechas loiras de...
Luke correu para o carro. Suas mãos trêmulas alcançaram a janela
quebrada e a tocaram. A forma imóvel mudou, e ele viu seu rosto.
Seu belo rosto marcado por um corte na testa.
Harper.
Ele sabia com uma certeza doentia que nunca mais veria a luz naqueles
olhos cinzentos.
Ouviu gritos e sirenes, mas via apenas seu rosto sem vida.
Luke acordou com o coração disparado e se
despedaçando. Instintivamente, ele estendeu a mão para Harper. Ele se
sentia em carne viva com as garras do sonho ainda presas a ele. Precisava
do toque de Harper para afastar a escuridão. Mas a cama estava vazia.
Ele se sentou, pressionando os dedos na fênix sobre o coração
dolorido. Quando começou a precisar do toque dela para firmá-lo?
Era o problema que temia desde o início. Ele não tinha espaço em seu
coração para ninguém. As memórias de Karen ocupavam todo o espaço que
restava.
Não deveria se distrair de sua perda com outra pessoa. Como tinha
chegado a isso?
Luke pulou para fora da cama e levou um tempo sob a água escaldante do
chuveiro, na esperança de derreter o gelo em suas veias.
Quando desceu as escadas, a cozinha estava totalmente cheia. A
preparação da comida acontecia em todas as superfícies planas. Lola e Max
estavam felizes, lambendo um molho derramado perto do fogão.
Harper, com a luz da vida em seus olhos, passou por ele e deu um beijo
em sua bochecha.
— Bom dia, lindo. — Ela entregou a ele uma xícara de café e voltou para
o fogão. — Eu sei o que você está pensando, mas eu juro que vou limpar
tudo. Só quero que tudo seja perfeito.
— Quantas pessoas vão vir? Parece comida suficiente para alimentar uma
base militar.
— Doze para o almoço, e depois a Sra. Agosta traz as crianças para a
sobremesa.
Ele fez a matemática.
— Sra. Moretta, Aldo, Gloria. Quem é o número onze?
Harper abaixou a cabeça sobre a panela fumegante no fogão.
— Eu convidei a Joni. A irmã e o cunhado geralmente são os anfitriões,
mas este ano, eles estão na Carolina do Norte com o filho.
Claro que ela convidou Joni. A única mulher cuja presença o lembrava de
sua perda e de seu papel nela.
— Eu suponho que você tenha pensado em me perguntar primeiro — ele
retrucou.
Ele a viu estremecer com suas palavras. O cronômetro apitou, e ela
desviou de Max para tirar duas tortas do forno. Ela as colocou em
prateleiras no balcão e tirou as luvas térmicas.
— Eu sinto muito. Deveria ter perguntado a você primeiro.
Ela parecia arrependida, mas não era o suficiente.
— Esta ainda é minha casa, não é?
Harper cruzou os braços e encostou-se no balcão. Ela não revidou, e era
isso que ele queria. Uma boa briga, mas ela nem mesmo deu isso a ele.
— Eu sinto muito. Às vezes, não tenho certeza quando estou
ultrapassando os limites.
— Aqui está uma dica. Quando se trata da família, da minha casa ou do
meu negócio, a decisão é minha. — As palavras foram afiadas o suficiente
para tirar sangue.
Harper estreitou o olhar para ele.
— Entendido. Obrigada por esclarecer.
— Não acho que você queira mexer comigo agora. — Ele bateu a caneca
no balcão, fazendo o café espirrar pela borda.
— Não, eu não quero. Prefiro dar a você um ótimo feriado com sua
família em sua casa. — Ela deu as costas para ele e pegou a tábua para
cortar batatas.
— Eu estou indo correr — Luke anunciou e saiu, furioso.
***
Ele deixou o barulho dos seus pés no pavimento acalmar seu cérebro. Era
apenas um sonho, mas não conseguia se convencer de que não tinha sentido
tudo aquilo. Harper não era Karen. E esse era o problema.
Ele escolheu o caminho ao acaso, forçando a si mesmo. Ele se concentrou
na velocidade, em sua respiração. Casas com calçadas cheias passaram em
um borrão e deram lugar às vitrines fechadas da avenida principal. Ele
desceu uma rua e depois outra, até que os prédios foram substituídos por
árvores e lápides.
O cemitério. Claro que seu subconsciente o trouxera até Karen. Luke
diminuiu o ritmo e deixou que a fina faixa de asfalto a levasse até ela.
Havia uma pequena abóbora festiva apoiada no granito
preto. Provavelmente trabalho de Joni.
Joni.
Por mais que tentasse, não conseguia manter seu passado no passado. Ela
era uma lembrança constante da vida que ele teve. A vida que nunca teria de
volta. Ele não entendia seu relacionamento florescente com Harper. Ela
estava tentando substituir a filha que perdeu?
Ela não sabia que Karen era insubstituível?
Ele colocou a mão na pedra, quente do sol da manhã.
— Feliz Dia de Ação de Graças, Kare.
***
Ela se permitiu dez minutos entre os cronômetros para correr escada
acima e se trocar. Os Garrisons se mantiveram casual ao ponto de usar
calças de pijama para o feriado. Era uma tradição que ela, com certeza,
apoiava. Vestiu calças de ioga e um suéter macio com decote em V da cor
de cranberries.
Se ao menos Luke concordasse. Ela estava mais preocupada do que
gostaria de admitir. A raiva em seu tom, em seus olhos, a assustou e a
irritou. Se ele não estava disposto a falar sobre isso, como ela poderia
ajudar?
A campainha tocou ao mesmo tempo que o cronômetro do forno
tocou. Harper enxugou de seu rosto uma lágrima perdida, com um pano de
prato. Não cederia ao forte desejo que tinha de discutir com Luke
hoje. Talvez amanhã.
Não podia mais ignorar os silêncios periódicos e a distância que surgia
entre eles. Algo estava errado e precisava ser resolvido. Ela só esperava que
fosse algo consertável. Amava tanto aquele homem, que os sentimentos a
abalavam profundamente. E quando ele sofria, ela sofria.
Harper desligou o cronômetro, endireitou os ombros e deu as boas-vindas
à família de Luke em sua casa.
Eles entraram em massa: Claire, Charlie, James, Ty, Sophie e
Josh. Sentiram-se em casa na cozinha e na sala de estar, transportando e
roubando comida. Charlie ligou o jogo na TV, enquanto Josh e os cachorros
se revezavam, perseguindo um ao outro pela cozinha e pela sala de jantar.
Ela disse a todos que Luke estava correndo, para compensar os quinze
quilos de comida que planejava comer, e todos pareceram acreditar.
Quando Luke voltou, suado e exausto, Harper colocou um sorriso
brilhante no rosto e o evitou na cozinha. Ela queria apoiá-lo, e furá-lo com
um garfo de churrasco na frente de sua família não seria uma demonstração
de apoio.
Ela estava grata que suas saudações a todos pareciam genuínas. Ele
colocou Josh nos ombros e deu um beijo na bochecha de sua mãe. Ele falou
com Sophie a caminho para a geladeira, onde pegou cervejas para ele,
Charlie e James. Ty estava de plantão.
Luke evitou contato visual com ela, o que estava bom para Harper. Ela
deu um suspiro de alívio quando ele subiu para tomar banho novamente.
Joni chegou ao mesmo tempo que Gloria, Aldo e a sra. Moretta. Grata
pelo caos de uma casa cheia, Harper ficou na cozinha e dirigiu sua nova
equipe de ajudantes. Luke ficava principalmente na sala de estar, com todos
os outros.
Ela não sabia se ele a estava evitando ou a Joni. Ou, mais provavelmente,
ambas.
Ela o pegou olhando para ela uma vez. Joni entregou sua caçarola de
feijão verde e uma receita escrita à mão.
— Era da minha mãe — disse Joni com um sorriso sentimental. — Eu
gostaria que outra geração continuasse a tradição.
Surpresa, Harper a abraçou. Sua primeira receita de família durante as
suas primeiras férias em família. Ela viu Claire sorrindo para elas do outro
lado da ilha e sentiu outro olhar em sua direção. Luke estava parado na
porta, um olhar de choque em seu rosto.
Seus olhos se encontraram e se fixaram. Harper libertou Joni do abraço, e
Luke pegou outra cerveja da geladeira antes de sair correndo pelo corredor.
Ninguém mais pareceu notar a tensão. Nem mesmo durante o almoço,
quando Harper escolheu um assento na extremidade oposta a de Luke.
Enquanto todos repetiam pela segunda vez – e, nos casos de James e Ty,
terceira – Harper empurrava peru e purê de batatas pelo prato. Tudo tinha
gosto de amendoim coberto de molho para ela.
Luke também não tocou muito em seu prato, preferindo reabastecer sua
taça de vinho.
A conversa voava ao redor deles.
Gloria e Aldo se provocavam com garfadas de recheio, enquanto a sra.
Moretta e Sophie discutiam, bem-humoradas, sobre vegetais orgânicos.
— Quando Aldo estava crescendo, ele comeu todos os brócolis com
pesticidas que coloquei na frente dele e acabou tudo bem — disse a sra.
Moretta, em seu melhor suéter de peru sorridente.
Charlie e James se revezavam para entrar na sala de estar, para verificar o
placar do jogo.
Enquanto a ação ao redor da mesa diminuía, Joni, à esquerda de Claire,
pigarreou.
— Eu só queria agradecer a Harper e Luke por me convidar hoje. Tem
sido alguns anos difíceis, e significa tanto que vocês ainda me tratem como
uma família. É bom ser lembrada do que é realmente importante na vida, e
todos vocês fizeram isso por mim. Então, obrigada por isso. E feliz Dia de
Ação de Graças! — Ela ergueu a taça de vinho.
Todos ergueram suas taças de vinho.
— À família — disse Charlie, piscando para Harper.
— À família — todos ecoaram.
Aldo deu um tapinha nas costas de Harper e piscou para ela.
— Bom trabalho, Harp — sussurrou ele.
Ela lançou um olhar furtivo para Luke, que estava carrancudo com seu
copo vazio.
Capítulo 44
Eles decidiram deixar a louça para depois e comer um pouco da comida
vendo um amistoso jogo de futebol. Como acontecia com todos os jogos
dos Garrison, a diversão amigável rapidamente se transformou em uma
discussão.
Harper, Luke, Aldo e Gloria se enfrentaram no quintal contra Ty, Sophie e
James, enquanto todos os outros se agachavam na frente da TV para assistir
futebol ou adormecer.
Depois de algumas corridas vagarosas pelo “campo”, Harper sentiu seu
ânimo melhorar.
A salvo, fora do alcance da voz de Claire, os irmãos conversavam
alegremente. James marcou primeiro um touchdown, e Luke criticou a
defesa de Harper, então na próxima bomba longa que Ty lançou, Harper
estava pronta. Ela pulou nas costas de James e se segurou para salvar sua
vida enquanto ele pegava a bola.
Com a mão livre, James a girou para frente e a jogou por cima do
ombro. Ele decolou, desimpedido pelo peso extra, e não parou até que
estava na zona final, próxima ao jardim de Harper.
Ele a girou em círculos enquanto ela ria.
— Oh, meu Deus, me coloque no chão, ou eu vou vomitar em você — ela
arfou.
Mal seus pés tocaram o chão, Luke bateu em James como um ônibus
escolar em fuga. Ele empurrou seu irmão mais novo um passo para trás.
— Que diabos, cara? — James o empurrou de volta. No espaço de um
segundo, eles estavam lutando no chão.
— Luke! — O tom agudo de Harper não fez nada para separá-lo.
Sophie deu um tapa no peito de Ty.
— O que você está esperando, Sr. Lei e Ordem? Vá lá e acabe com isso.
— Soph, acabei de comer três pratos de peru. Eu não posso me curvar.
— Pelo amor de... — Aldo entrou na briga e arrastou Luke para longe de
James. — Pare com isso — ele ordenou, empurrando Luke para o pátio. —
Acalme-se antes de se tornar um grande idiota.
— Qual é o seu problema? — James parecia mais confuso do que irritado.
Harper cruzou os braços contra o frio de novembro.
— Ele bebeu. Muito — ela disse. — Eu não sei o que está acontecendo
com ele.
Sophie balançou a cabeça.
— É melhor você descobrir, antes que mamãe saiba disso. Ela vai querer
colocá-lo para fazer terapia.
— Isso é muito pior do que uma briga — disse Aldo.
Harper suspirou e cruzou o quintal até Luke. Ele estava sentado na mesa
de piquenique, examinando um corte nas costas da mão direita. Ele ficou
olhando enquanto um fio de sangue escorria de sua mão para o tijolo do
pátio.
— Venha para dentro. Vou limpar isso para você — ela disse, estendendo
a mão para ele.
Ele se afastou.
— Eu posso cuidar disso.
Harper se inclinou.
— Não seja um idiota. Você tem duas opções. Você pode subir comigo
agora para limpar isso, ou eu deixo Sophie dizer à sua mãe que você tentou
arrancar a cabeça do seu irmão no Dia de Ação de Graças, porque o time
dele estava vencendo o seu.
— Ele estava com as mãos em cima de você.
— Isso é besteira, e não vai ficar melhor com Claire. Vamos lá.
O músculo em sua mandíbula tensionou, mas ele se levantou e a seguiu
para dentro.
No banheiro do andar de cima, ela limpou delicadamente o corte com
água e sabão.
— Eu posso fazer isso sozinho — ele resmungou.
Harper o ignorou e colocou um pedaço de gaze sobre o ferimento.
— O quê? Então agora você está chateada comigo?
— Agora? É mais para ainda — ela disse friamente.
— Por que diabos você está chateada? Você conseguiu tudo o que queria.
Ele se levantou, elevando-se sobre ela. Com as mãos nos quadris, Harper
o enfrentou de frente.
— Não sei o que se passa nessa sua cabeça, mas acho que a cerveja e o
vinho não ajudaram. Estou chateada porque, mais uma vez, você não se dá
ao trabalho de falar comigo. O que está acontecendo com você? É sobre
voltar para casa? Joni? Eu? Não sou uma leitora de mentes.
Ela o cutucou no peito.
— Você está chateado com algo, e provavelmente é válido. Mas, em vez
de falar comigo sobre isso, você só quer mergulhar nisso e atacar. É por isso
que estou chateada.
Ela enxugou as mãos na toalha e jogou-a de volta no balcão.
— Então, encontre alguém para conversar ou encontre uma maneira de
lidar com isso. Não desconte nos outros.
Harper fez um movimento para passar por ele, mas se viu enjaulada
contra o lavabo e entre os braços de Luke.
Ela ergueu o queixo e o olhou nos olhos. Por um segundo, ela teve um
vislumbre de algo além da tristeza. E então se foi, e ele pressionou sua boca
na dela com uma necessidade tão intensa que roubou seu fôlego.
— Droga. Por que você faz isso comigo? — Luke perguntou enquanto
seus lábios percorriam seu rosto. Suas mãos correram sob seu suéter. Dedos
ocupados procurando o fecho da frente de seu sutiã e o abrindo.
Ele encheu as mãos com seus seios e trouxe sua boca para a dela.
Eles gemeram juntos.
Ele deslizou a mão no cós de sua calça de ioga, os dedos deslizando sobre
suas dobras lisas e em seu calor.
— Eu odeio o quanto eu quero você.
Seus dedos mergulharam em seu sexo apertado, e ela ofegou com a
invasão. Sua ereção implorava para ser liberada.
Ele entrou nela de novo e de novo, abrindo suas coxas com o joelho. Ela
queria ficar com raiva, mas seu corpo não se importava. Quando as mãos de
Luke estavam sobre ela, nada mais importava.
— Luke! — Seu gemido ofegante o trouxe de volta, e ele tirou os dedos
dela. Colocando sua testa na dela, ele tentou recuperar o fôlego.
— Por que você me deixa usá-la assim?
E com isso, ele se afastou e saiu.
Os joelhos de Harper tremeram e ela se segurou na pia para se
apoiar. Usá-la? Era isso que ele pensava que estava fazendo?
***
Passaram-se horas antes que todos fossem embora. Mas não antes de cada
prato, pote e tigela ficarem impecáveis e colocados de volta em seus
devidos lugares. Lola e Max cuidaram de qualquer limpeza do chão e se
serviram do prato secreto de peru que Charlie colocou sob a mesa da sala de
jantar para eles.
A noite havia caído, e Harper sentou-se com uma xícara de café na
cozinha, para lutar contra a exaustão de acordar cedo e de um dia cheio de
caos. Ela estava física e mentalmente exausta.
Luke parou de beber depois do encontro deles no andar de cima. Ele havia
se retirado para a sala, onde permaneceu, assistindo TV.
Quanto tempo ele conseguiria viver assim, antes de falar com ela sobre o
que estava acontecendo em sua cabeça?
Uma pilha de envelopes empurrada contra o balcão da cozinha chamou
sua atenção. A julgar pela altura da pilha, correspondia a vários dias de
correspondência. O desinteresse de Luke em abri-las era algo que não havia
mudado durante sua missão ou desde seu retorno.
Ela folheou a pilha, classificando à medida que avançava.
Os dedos de Harper pararam no envelope com uma letra tão familiar
quanto a dela. Segurou a carta com cuidado entre os dedos. Era sua
imaginação ou ela podia realmente sentir o ódio através do papel?
Tinha lido cada uma das cartas nos últimos anos. Às vezes, ela aumentava
sua bravura com uma grande taça de vinho. Às vezes, esperava até estar
bem e brava com outra coisa antes de abrir. Às vezes, se as coisas
estivessem bem, ela a guardava por algumas semanas antes de abrir.
Qualquer coisa para ajudar a construir um muro entre ela e a violência que
fervilhava na tinta. No entanto, o luxo de esperar dias ou semanas para ler
havia passado. Agora havia uma urgência conforme o tempo
passava. Algum dia, ela prometeu a si mesma, não sentiria nada além de
pena quando abrisse essas cartas. E algum dia, elas parariam.
Respirando fundo, rasgou o envelope. Era a usual folha pautada de
caderno. A letra rabiscada que ocupava toda a página.
Minha cara Harper,
Já se passaram muitos anos desde nosso tempo juntos. Por que você não
veio me ver? Está com medo? Eu penso em você frequentemente. Nunca
falta tempo aqui para pensar e planejar. Tenho tantos planos para você e
para mim. Como escolher por onde começar? Como irei impressionar você
com o preço desses últimos doze anos? Porque haverá um preço a pagar,
por tirar tanto da vida de um homem. O que você fez nesses anos? Seja o
que for, não será suficiente para cobrir o custo do que tirou de
mim. Suponho que ambos descobriremos em breve. Até dezembro.
Papai
Dezembro. Os anos finalmente diminuíram a um punhado de semanas e
dias. Ela subiu as escadas e puxou a caixa do fundo do armário. Abriu a
tampa e enfiou a carta na pasta com o resto.
Iria fazer uma cópia e enviá-la no dia seguinte. Melissa iria adicioná-la ao
seu próprio arquivo, mas não havia nada que qualquer uma delas pudesse
fazer agora. Não havia mais como estender sua permanência. Não dessa
vez.
Precisava contar a Luke. Não era mais apenas ela. Seu passado agora
afetaria os outros. Não havia como esconder isso dele sem colocá-lo em
perigo. E queria que ele soubesse. Era hora de parar de correr, de se
esconder.
Harper colocou a tampa na caixa e a deslizou de volta para seu lugar no
chão do armário. Desceu as escadas e parou perto da porta da sala de estar.
Capítulo 45
Luke fingiu não vê-la parada na porta e olhou fixamente para a tela, sem
expressão. Ele só queria que esse dia acabasse.
— Luke, posso falar com você sobre algo? É meio importante.
Ele olhou na direção dela, e ela entendeu como um ok.
— Algo aconteceu, e estou um pouco preocupada.
Ele apertou um botão no controle remoto, desligando a TV.
— Eu preciso falar com você sobre uma coisa também.
— Ok. Você primeiro. — Ela esperou onde estava.
— Isso não está funcionando — disse ele, seu tom curto.
— O que não está funcionando?
— Você aqui. Nós.
Ela ficou em silêncio, os olhos arregalados.
Ele se levantou e continuou:
— “É apenas uma noite. É apenas um mês. Estamos apenas nos
ajudando.” Você chegou e se apossou de tudo. Pensou que se me dissesse
que tudo era apenas temporário, eu deixaria passar. E talvez você estivesse
certa antes. Mas não vai funcionar mais.
Harper se encolheu.
— Luke, eu sinto muito. Eu nunca tive a intenção...
— Você construiu uma vida inteira em torno de um relacionamento que
não existe.
Ele viu o choque, a dor.
— Você sabe que existe. Isso não é algo que inventei na minha cabeça. Eu
te amo.
— Eu não te amo.
Ela deu um passo para trás, como se as palavras a machucassem
fisicamente.
— Terminamos aqui. — Ele se virou para sair da sala, mas Harper
agarrou seu braço.
— Isso é por causa da Karen? Eu sei que você se culpa. Mas não é sua
culpa.
— Não vamos discutir isso. Você não sabe de nada. — Ele tentou
encolher os ombros.
— Luke, eu sei sobre o bebê.
Ele congelou sob seu controle antes de se virar para ela.
— Eu deixei você entrar na minha casa, na minha vida, e é assim que
você me retribui? Invadindo minha privacidade? — Ele estava
fervendo. Não havia como se segurar agora.
— Eu sinto muito, Luke. Sinto muito por você ter perdido sua
família. Lamento que você se sinta responsável.
Seus olhos cinzentos se encheram de lágrimas, e ele se odiou por isso.
— Não me sinto responsável. Eu sou o responsável.
— Você não pode viver o resto da vida se culpando por um acidente que
não teve nada a ver com você.
— Ela estava indo para me trazer para casa. — Ele se virou e caminhou.
— Íamos contar a todos sobre o bebê. Você sabe como é isso? Antecipar o
momento mais feliz da sua vida, viver por ele durante semanas, apenas para
tê-lo destruído na sua frente? Eu desci do ônibus, e ela estava morrendo no
meio de metal destroçado. Nosso bebê morreu enquanto eu caminhava pelo
asfalto até onde minha família deveria estar. Eles morreram porque eu não
estava lá. Eles morreram porque eu voltei.
As lágrimas corriam por seu rosto agora. Ele olhou para ela com seu
cabelo dourado ensolarado, seu rosto de anjo.
Ela não era para ele. Ninguém era. Ele teve sua chance e estragou tudo.
— Você só está aqui porque ela se foi. — Ele sussurrou as palavras, o que
de alguma forma as tornou mais nítidas. — E você não pode tomar o lugar
dela. Não com Joni e não comigo.
Ela assentiu lentamente.
— Eu sei disso. Não estou tentando fazer isso.
— Você não deveria estar aqui. Eu não quero mais fazer isso. Não posso
fazer isso, Harper. Eu preciso que você vá.
Ela ficou lá, olhando para ele. Esperança e mágoa em seus olhos.
— Eu não posso olhar para você sem desejar que ela estivesse aqui.
A esperança morreu.
Ela baixou o olhar para os pés.
— Vou fazer uma mala e volto para pegar o resto das minhas coisas mais
tarde.
Ele não disse uma palavra quando ela saiu da sala, apenas se agarrou ao
batente da porta.
— Eu é que não deveria estar aqui — ele sussurrou para a escuridão.
***
No andar de cima, Harper fez o que fizera dezenas de vezes antes. Ela fez
uma mala.
O entorpecimento a engoliu, e estava grata por isso. Sabia que quando a
dor surgisse seria demais para suportar. Continue andando. Não
pense. Apenas faça isso. Vá para um lugar seguro e então… e então…
Ela enfiou alguns produtos de higiene pessoal e maquiagem em uma
pequena bolsa com zíper e apressadamente embalou algumas roupas e seu
tênis de corrida. Pegou o carregador do telefone da mesa de cabeceira.
Lola e Max seguiram cada movimento dela. Lola observava com aqueles
olhos tristes enquanto Max corria e choramingava. Eles sabiam que algo
estava errado.
Ela se ajoelhou para enterrar o rosto no pelo curto de Lola.
— Eu amo muito vocês. Obrigada por serem a minha família. Tenho que
ir, mas preciso que você cuide do papai. Ele precisa de você
agora. Portanto, cuide dele como você cuidava de mim quando ele não
estava por perto. OK? Eu prometo que vou descobrir como fazer isso
funcionar e voltarei para ver você.
Lola suspirou, e Max colocou as patas dianteiras em sua perna e latiu.
Harper fez o possível para engolir o nó na garganta.
***
Da porta, ele a observou com os cachorros, e seu estômago revirou. Ele a
estava expulsando, terminando as coisas. Enquanto estava destruindo a sua
vida, ela ainda estava preocupada em cuidar dele.
Ele não era bom para ela, e ela tinha que aprender isso.
Harper Wilde tinha que aprender a cuidar de si mesma. Ele passou a mão
pelo rosto. Deus, quem estaria lá para mantê-la segura, para lembrá-la de
carregar o telefone, abastecer ou trancar as portas à noite?
Ela era uma garota inteligente, doce e bonita. Não ficaria sozinha por
muito tempo.
Por apenas um segundo, ele se permitiu pensar nela com outro
homem. Suas mãos se fecharam em punhos. Ela seria amada, seria
cuidada. Era o que ela merecia.
Harper ergueu os olhos e, notando-o na porta, enxugou as lágrimas. Não
fez contato visual com ele, apenas fechou o zíper da bolsa e pendurou-a no
ombro.
Ela fez um último carinho nos cachorros. Ele viu o tremor em sua
mandíbula e observou com admiração enquanto ela se mantinha forte. Sua
garota de espírito livre tinha uma coluna vertebral de aço.
— Aqui — disse ele, segurando o telefone dela. — Eu não queria que
você esquecesse.
Sem dizer nada, ela o pegou e colocou no bolso de trás. Ela ainda não
tinha levantado o olhar para encontrar o dele, e ele estava quase
grato. Olhar para aqueles olhos cinzentos, como nuvens de tempestade,
poderia fazê-lo voltar atrás.
— Eu quero que você leve isso também. — Ele estendeu um rolo de
dinheiro.
Ela o ignorou e passou por ele, indo para o corredor. Ele a seguiu escada
abaixo.
— Harper, pegue o dinheiro. Eu não quero me preocupar com você
dormindo no carro ou...
Ela se virou para ele, ao pé da escada. Seus olhos se encontraram e,
naquele segundo, ele percebeu pela primeira vez que não tinha ideia do que
se passava na cabeça dela. Ela havia desligado a conexão, cortado laços
com ele.
Isso o feriu profundamente.
Mas era a coisa certa a fazer. Ele repetiu em sua cabeça. Apenas
supere. Como arrancar um band-aid. Um pouco de dor agora, em vez dos
anos de sofrimento que ele causaria, por não ser o homem que ela merecia.
— Por favor. Pegue. — Ele tentou colocá-lo na mão dela, mas ela deixou
as notas caírem no chão.
— Eu não sou mais sua preocupação — disse, categoricamente. Ela o
olhou nos olhos, como se mirasse direto no coração, virou e saiu pela porta
da frente, fechando-a suavemente atrás dela.
Luke a observou jogar a bolsa no banco de trás e subir ao volante. Não
olhou para a casa novamente. Apenas recuou e foi embora.
Ele entrou na sala e sentou-se no sofá, esperando sentir alívio. Mas havia
apenas um vazio corrosivo.
Para onde ela estava indo?
Por que ele não esperou até de manhã? Ele poderia tê-la ajudado a
encontrar um lugar, a levado até algum lugar. Agora, graças a ele, ela estava
vagando à noite.
Ele se levantou e começou a andar.
Tudo em que seu olhar pousava estava conectado a ela. A mobília. As
revistas e brochuras brilhantes sob a mesa de centro. A lã rosa framboesa,
pendurada ao lado da porta da frente. Ela tinha levado um casaco?
Ele puxou a lã do gancho e levou-a ao rosto. Tinha o cheiro dela. Luz do
sol e limões.
Não sentiu alívio. Ele se sentiu mal.
Talvez devesse embalar suas coisas para ela. Para que cada maldita coisa
em sua casa não o lembrasse dela.
***
Luke acordou no sofá com o amanhecer cinzento. Ambos os cães estavam
aconchegados contra ele. Ele ainda estava segurando a lã de Harper contra o
peito.
Finalmente cochilara apenas duas horas antes, depois de embalar as coisas
dela nas caixas cuidadosamente empilhadas na sala de jantar. Cada uma
rotulada como “Harper” e uma descrição do conteúdo.
Depois de meses aqui, ela ainda não tinha conseguido acumular mais de
uma dúzia de caixas de coisas. Ele lhe daria os móveis quando ela se
instalasse onde quer que fosse, e a maioria das coisas de cozinha que
apareceram em gavetas e armários enquanto ela estava aqui.
Ele olhou para a mesa de centro e viu a foto. Harper e seus pais. Ela a
havia deixado para trás, enfiada em uma caixa no armário. Ele a manteria
segura para ela, até que ela estivesse em algum lugar que pudesse chamar
de lar.
Luke esfregou a mão no peito. A dor ainda estava lá. Sua vida era
novamente sua. Ele estava livre para se concentrar em seu plano. Seu
objetivo. Não precisava se preocupar com mais ninguém.
Então, por que ele sentia como se estivesse sufocando?
Ele foi até a cozinha para pegar um café, mas a cafeteira estava vazia.
O silêncio era demais. Ele assobiou para os cachorros e os deixou sair
pela porta dos fundos.
A dor iria embora, disse a si mesmo, enquanto observava Max perseguir
Lola pelo jardim que não estava lá quando ele tinha ido embora.
Capítulo 46
Ele chegou ao escritório cedo o suficiente para que ninguém mais
estivesse lá. Seu olhar imediatamente foi para a mesa de Harper. Quando
isso aconteceu? Como era esse o primeiro lugar para onde olhava toda vez
que subia as escadas?
Merda. Ele teria que dizer a todos que estavam sem a administradora do
escritório. Haveria perguntas que ele não responderia. E mais papelada que
ele não arquivaria. Mas o espaço era seu novamente. Era o que ele queria.
Não era?
Luke esmagou os botões da cafeteira até que ela começou a funcionar. Ele
levou sua primeira caneca ao escritório e fechou a porta com um chute atrás
de si. Ele não tinha tempo de lidar com a visão de uma mesa vazia.
Estava ouvindo uma mensagem de voz pela terceira vez, porque não
parava de pensar, quando Frank entrou sem bater.
— Por que diabos sua porta está fechada?
— Porque eu a queria fechada.
Frank encolheu os ombros.
— OK. Próxima pergunta. Por que sua mulher está ligando para mim,
dizendo que está doente?
Luke se levantou antes de pensar melhor.
— Ela disse onde está?
Frank cruzou os braços.
— Não. Você não sabe onde ela está?
Luke ignorou a pergunta e afundou de volta na cadeira.
— Ela disse que estava doente?
Bem, pelo menos ela estava viva. Em algum lugar.
— Disse que não viria hoje, porque não estava se sentindo bem. Por que
você está ouvindo isso pela primeira vez? Por que ela simplesmente não
disse para você ela mesma?
— Harper não estará mais por aqui — Luke disse, rapidamente. — Deixe-
me fazer uma ligação e depois iremos para os Adams. — Ele voltou para o
telefone e começou a discar, dispensando Frank e sua expressão perplexa.
***
Harper acordou enrolada em uma bola em um quarto ensolarado. Ainda
estava vestida com as roupas da noite anterior. Não havia braços fortes em
volta dela. Nenhum cachorro a seus pés.
Estava sozinha.
Ela envolveu os dedos na borda da colcha e puxou-a sobre a
cabeça. Queria bloquear tudo. O sol. A dor. A solidão.
***
— O quê? — Luke não queria brigar com Sophie, mas já sabia por que ela
estava ligando. Sophie seria a primeira pessoa a quem Harper recorreria.
— Essa é uma boa saudação para sua irmã favorita.
Ele mudou o telefone para o outro ouvido.
— Desculpe. Do que você precisa?
— Apenas alguma notícia. Eu deveria encontrar Harper para almoçar, mas
ela não apareceu. E não está atendendo ao celular. Tentei o escritório, e eles
disseram que ela não foi hoje. Eu sei que estou apenas sendo boba, mas...
— Sophie parou.
Luke se lembrou de outra ocasião em que Sophie tentou entrar em contato
com alguém e não conseguiu encontrá-la. Todas as suas vidas mudaram
naquele dia. Não só a dele.
— Acho que Harper não te contou.
— Me contou o quê? Você a mandou para o spa durante o dia? Ela vai
adotar outro cachorro?
— Nós terminamos.
Ele estava pronto para puxar o telefone para longe de sua orelha, no caso
de um grito ensurdecedor. Mas houve apenas silêncio.
— Soph? Você está aí?
Mais silêncio. E então, finalmente, uma resposta sussurrada.
— Eu... eu não entendo. Vocês são tão...
— Simplesmente não estava funcionando. Queríamos coisas diferentes.
— As palavras obstruíram sua garganta.
— Você apenas... terminou? Onde ela está?
— Eu não sei. Ela partiu ontem à noite.
— Ela está bem? Quer dizer... Jesus, Luke. Eu sinto que levei um
soco. Não imaginava. Não consigo nem pensar em como ela está se
sentindo.
— É Harper. Claro que ela está bem. Passou por coisas piores do que uma
separação. Ela sempre cai em pé.
Sophie ficou quieta por um momento.
— Luke, ela amou você com tudo o que tinha. Esperou seis meses por
você. Ela não vai apenas cair de pé. E se você não vai tentar encontrá-la,
então eu irei.
Ele não estava disposto a admitir que passou os quarenta e cinco minutos
que reservou para o almoço dirigindo pela cidade, procurando o carro
dela. Só queria saber se ela estava segura. Isso era tudo.
— Acho que não temos nada com que nos preocupar.
— Você está preocupado. Eu posso ouvir no seu tom.
— Eu não tenho um tom.
— E se algo acontecer com ela? Nós dois sabemos que muita merda
acontece com pessoas boas. E com certeza sabemos que ela é um ímã para
problemas. E se ela for sequestrada tentando fazer check-in em um hotel?
Luke teria rido, se já não tivesse pensado nesse exato cenário. Ligou para
os dois hotéis da cidade naquela manhã, para ver se Harper estava neles.
— Ela ligou para Frank esta manhã e disse a ele que não viria hoje.
— E isso é bom o suficiente para você? “Ela ligou para Frank, então
agora não preciso me preocupar.” — Ele podia ouvir Sophie ficando com
raiva.
— Não, não é bom o suficiente para mim, Soph. Ela não atende o
telefone, não está no Facebook, Aldo e Glória não a viram. Achei que ela
teria ido para a sua casa ontem à noite. Sem ligar para a polícia, não sei
mais o que fazer.
— Por que você fez isso?
— Como você sabe que não foi Harper que terminou comigo?
— Porque Harper não é uma babaca que foge quando as coisas ficam
assustadoras.
— Eu não sou um covarde. Não estava funcionando mais. — Ele estava
gritando agora, mas não conseguia parar.
Sem se intimidar, Sophie gritou de volta.
— Sim, eu não consigo pensar em nenhum homem que iria querer uma
mulher que pensava que ele que pendurou as estrelas no maldito céu. Que
trabalhou duro para fazer de sua casa um lar, sem mencionar em organizar
sua vida profissional, para que pudesse se concentrar em algo diferente do
caos.
Luke praguejou.
— Você não entende.
— Oh, eu entendo. Eu só estou esperando você acordar e entender. Você
acabou de jogar fora algo que a maioria das pessoas apenas sonha em
ter. Não posso nem falar com você agora.
Ele podia imaginar sua irmã andando de um lado para o outro em
exasperação.
— Você vai procurar por ela?
— Por que você se importa?
— Apenas... Se você a encontrar, deixe-me saber que ela está segura.
Luke desligou o telefone e o jogou no banco do passageiro.
Olhou para a frente da casa. Os vasos de Harper para o verão foram
guardados na garagem e substituídos por cordões de guirlandas verdes. Ela
perguntara onde estavam as luzes de Natal. Ela nunca tinha tido luzes de
Natal antes.
Ele estava estacionado na garagem por dez minutos antes de Soph
ligar. Não conseguia se concentrar no trabalho, então voltou para casa. Mas
a ideia de colocar os pés lá dentro e enfrentar a pilha de caixas, todas as
evidências de Harper em sua vida, encaixotadas e guardadas como se nunca
tivesse estado lá, foi o suficiente para mantê-lo na picape.
Quando sua vida seria sua novamente?
Ele iria correr, decidiu. Uma corrida longa e fria para limpar sua mente.
***
Harper se mexeu com a batida na porta.
Quando ela a abriu, puxou as cobertas e dirigiu um sorriso aguado para a
mulher que carregava a bandeja.
— Fiz um chá com torradas para você — disse Joni, colocando a bandeja
na mesinha de cabeceira.
— Você não precisa se dar ao trabalho, Joni. Estou tão grata por você me
deixar ficar aqui.
Ela deu um tapinha na mão de Harper.
— É bom ter outra pessoa em casa.
— Mesmo que ela não saia da cama? — Harper tentou rir, mas saiu como
um soluço.
Joni entregou-lhe a forte caneca de chá.
Harper tomou um gole, e seus olhos se arregalaram quando o líquido
quente e meloso desceu por sua garganta ferida.
— Espero que não se importe que eu tenha colocado um pouco de uísque
nele. Sempre me fez sentir melhor.
Harper envolveu a caneca com as mãos e suspirou. Não haveria sensação
melhor. Havia apenas o agora e a dor.
— Este é um bom quarto — ela disse suavemente.
As paredes eram de um azul-esverdeado escuro, acentuado com estampas
do oceano. Um grande assento na janela dava para o quintal do confortável
prédio de dois andares.
— Obrigada. Costumava ser de Karen. Ela me ajudou a repintar quando
se mudou.
— Quando ela e... quando ela se casou? — Doía muito dizer o nome de
Luke.
Joni acenou com a cabeça, e ela se sentou na beira da cama.
— Você é uma garota amável, Harper. Tudo vai dar certo, no final.
Harper mordeu o lábio para lutar contra a iminente enxurrada de
lágrimas. Fungou fracamente e apertou a mão de Joni.
Joni olhou ao redor da sala.
— Você não é a única garota que chorou por Luke Garrison neste quarto.
— O fantasma de um sorriso brincou em seus lábios.
— Karen chorou por ele? Mas eles eram tão perfeitos juntos.
— Querida, ninguém é perfeito aos dezoito anos.
— Eles brigaram?
— Eles terminaram. — Joni acenou com a cabeça para os olhos
arregalados de Harper. — Luke terminou com Karen algumas semanas
antes da formatura. Ele estava entrando para o Exército e queria que Karen
fosse para a faculdade, mas ela queria se casar. Ele pensou que ela estava
jogando seu futuro fora e terminou as coisas.
— Como eles voltaram?
— Karen se matriculou na faculdade e saiu com Lincoln Reed. Ela e Luke
estavam juntos novamente na tarde seguinte.
— É por isso que ele não gosta de Linc?
— Oh, sempre houve uma rivalidade ali.
Harper se lembrou da reação de Luke ao ver Linc puxá-la para fora do
lago e o que aconteceu mais tarde naquela noite. Ela se sentiria assim
novamente? Desejada? Querida?
Agora ela apenas se sentia descartada.
— Dito isso, seu telefone está “explodindo”, como diriam vocês, jovens,
desde esta manhã.
Os olhos de Harper se arregalaram.
— Eu sinto muito. Deveria ter desligado.
— Não há problema algum. Mas pode haver algumas pessoas
preocupadas com você.
Harper balançou a cabeça e pigarreou.
— Eu simplesmente não posso. Ainda não.
— Há alguém que você quer que eu entre em contato? Só para dizer que
você está bem?
Harper começou a sacudir a cabeça.
— Eu não sei. Sinto que todos aqui pertencem a ele e não quero complicar
tudo. Não quero que ele pense que estou tentando...
— Virar todos contra ele, por ser um idiota? — Joni forneceu
prestativamente.
— Sim, isso. Exatamente isso. — Harper deu uma risada trêmula. — Não
quero que ninguém se sinta obrigado a escolher, porque esta é a casa dele e
estou apenas... de passagem. — Ela não conseguiu conter as lágrimas desta
vez.
Joni pegou o chá dela e entregou-lhe uma nova caixa de lenços de papel.
— Nunca pense nos relacionamentos que você construiu aqui apenas
como “passageiros”. Benevolence pertence a você tanto quanto a qualquer
outra pessoa, e todos temos sorte de tê-la aqui.
— Eu simplesmente o amo tanto — Harper fungou.
— Eu sei que sim, querida.
— E eu sinto muito por trazer tudo isso para a sua casa. Não deve ser fácil
para você lidar comigo, quando foi Karen quem o amou primeiro. E a única
razão pela qual estou aqui é porque ela não está. — Ela enterrou o rosto no
lenço amassado.
As sobrancelhas de Joni se ergueram.
— Harper Wilde. Estou surpresa com você. Você não vê isso? Karen a
trouxe aqui para Luke. Você é exatamente o que ele precisava para começar
a viver a vida novamente. — Ela dedilhou os pontos finos de uma colcha
azul brilhante. — Se há algo que enfureceria minha filha, seria ver as
pessoas que ela amava se recusando a viver e amar novamente. Eu estava
fazendo a mesma coisa. Escondida atrás da dor e da culpa, apenas tentando
me segurar ao passado. E, ao fazer isso, perdi muitos anos do presente. Mas
tudo está mudando agora. Não vou mais me esconder. E, eventualmente,
nem Luke irá.
Harper assentiu, mas sabia que já teria partido muito antes disso. Ela
estaria em outro emprego, em outra cidade distante. Teria outro círculo
casual de amigos que nunca poderiam preencher o vazio em seu coração,
onde a família deveria estar.
Talvez fosse seu destino sempre ser um pouco solitária. Estar sempre com
fome de amor.
— Você está exausta, coitadinha. Descanse e durma, conversaremos
novamente pela manhã.
Harper acenou com a cabeça, os ombros caídos.
— Que tal eu deixar Gloria saber que você está aqui? Então ninguém vai
se preocupar, ok?
Ela pegou o chá e o colocou em suas mãos frias.
— Ok. Por favor, diga que falarei com ela depois, quando estiver... pronta.
— Leve o tempo que precisar. Você é bem-vinda aqui pelo tempo que
quiser.
Os olhos de Harper se encheram de lágrimas.
— Obrigada, Joni — ela sussurrou.
Capítulo 47
Depois de três dias, Harper jurou que havia parado de chorar. Não parava
de sentir a dor, mas seu corpo tinha espremido cada gota d’água pelos
olhos, e agora mal funcionava com a desidratação.
Era hora de se levantar.
Se arrastou para fora do casulo ensolarado do quarto de Karen e foi para o
banheiro, onde fez o possível para se livrar da dor.
Enxugou o vapor do espelho com a mão e olhou nos olhos cinzentos
vazios.
— Apenas continue se movendo — ela sussurrou.
De volta ao quarto, ela vasculhou a bolsa e vestiu jeans e um moletom,
antes de descer descalça as escadas. Sophie e Gloria a visitaram no dia
anterior e trouxeram mais roupas. Harper nem queria imaginar como foi a
conversa de Sophie com Luke.
Sua cabeça doía, assim como seu coração. Mas ela estava de pé. Iria
sobreviver a isso. De alguma forma.
Ela encontrou um bilhete de Joni no balcão.
Realizando tarefas. Se você estiver lendo isso, por favor,
coma! Sanduíches na geladeira. Sorvete no freezer.
Ela ignorou a sugestão de comida e, em vez disso, pegou um copo d’água
antes de se sentar à mesa de jantar com seu telefone. Era hora de voltar ao
mundo.
Seu correio de voz estava cheio, e uma olhada nos números em seu
registro de chamadas indicou que Sophie tinha feito a maior parte das
ligações.
Outro punhado de Gloria, vários do trabalho e alguns de Aldo, Beth,
James, Claire e Hannah, que provavelmente não tinham ideia do que estava
acontecendo. Havia até duas do Frank irritadinho.
Ela acrescentou uma camada de culpa a tudo o mais que estava
sentindo. Tinha sido egoísta da parte dela se isolar e se fechar. Havia
preocupado seus amigos desnecessariamente, e devia a eles mais do que
isso.
Ela iria compensar.
Começando com a noite em que ela saiu da casa, havia duas mensagens
por dia dele. Ela não estava pronta para ouvir a voz dele ou sua forma de
pensar “Sinto muito, mas é assim que tem que ser”, então ela arquivou e
ouviu o resto.
Em seguida, leu as mensagens de texto e depois passou para os e-
mails. Havia muito trabalho para pôr em dia, e lidar com isso da casa de
Joni, em seu telefone, não ia dar certo.
Harper verificou a hora. Cinco da tarde de um domingo. O escritório
deveria estar vazio. Entraria lá e veria o progresso que poderia
fazer. Sozinha. Ela não devia isso a ele, ao resto da equipe lá. Ela os
colocaria de volta nos trilhos antes de seguir em frente.
A casa de Joni ficava mais longe do escritório do que estava acostumada,
e ela tornou a viagem desnecessariamente mais longa ao seguir um caminho
menos direto e que não passava pela casa dele. Ela poderia estar pronta para
rastejar para fora do casulo da cama, mas não significava que estava
interessada em derramar sal nas feridas recentes.
Deu um suspiro de alívio quando encontrou o escritório escuro e
trancado. Seguro.
Ela se trancou lá dentro e se encostou na porta. Recusando-se a olhar para
o escritório dele, Harper imediatamente decidiu mudar a posição de sua
mesa. Haveria um novo foco nos seus dias restantes aqui.
Satisfeita com a nova visão pela janela – de costas para o escritório vazio
– ela começou a trabalhar.
Havia algumas novas faturas para cadastrar e folha de pagamento para
revisar para os cheques da próxima semana. Ela estava trabalhando nos e-
mails de funcionários e clientes, quando seu telefone sinalizou uma
mensagem de texto.
Luke: Frank disse que você mandou um e-mail. Você está no
escritório? Podemos conversar?
Seu estômago embrulhou e ela colocou o telefone na gaveta. Como seria
capaz de olhar para ele, quando mal conseguia ler as palavras que ele
escrevia?
Ela tinha que deixar Benevolence. Não havia maneira de contornar
isso. Não poderia haver nenhum encontro com ele no Remo’s ou nas trilhas
de corrida. Ela não sobreviveria.
Ela sabia o que tinha que fazer.
Para: luke@garrisoncon.com
De: harper@garrisoncon.com
Assunto: Aviso de duas semanas
Aceite este e-mail como meu aviso de duas semanas. Vou deixar a
Garrison Construções em 15 de dezembro. Até essa data, pretendo começar
meus dias de trabalho às 18h.
Por favor, não esteja no escritório quando eu estiver aqui.
Ela apertou enviar, fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos.
— Continue se movendo — ela sussurrou para si mesma.
Seu telefone começou a tocar na gaveta. Ela abriu uma fresta e viu o
nome dele na tela. Harper fechou a gaveta e se levantou para andar. Parte
dela não queria nada mais do que ouvir sua voz dizendo seu nome, mas
sabia que a única maneira de passar por isso era sem nenhum contato.
O telefone de sua mesa tocou, e ela revirou os olhos. A única coisa que ele
poderia querer dizer a ela era que não a queria trabalhando por duas
semanas. Dane-se, Garrison. Isso não era sobre você. Ela tinha um trabalho
a fazer e pessoas dependiam dela.
O celular de Harper apitou. Uma nova mensagem de texto de Sophie.
Sophie: Você acabou de enviar um e-mail para o Luke? Ele se levantou
da mesa tão rápido que derrubou a água. Agora ele está andando de um
lado para o outro no jardim da mamãe, xingando e discando como um
louco.
Harper sentiu os lábios dela se curvarem um pouco.
Na hora, seu celular tocou novamente. Era ele. Ela clicou em ignorar e
mandou uma mensagem de volta para Sophie.
Harper: Acabei de enviar meu aviso de duas semanas. Tive a sensação de
que ele não estaria feliz por mais duas semanas comigo. Vou trabalhar à
noite até o dia 15.
Sophie respondeu imediatamente.
Sophie: Quase sinto pena do idiota. Parece um insone desgrenhado. Acho
que vejo alguns cabelos brancos. Mamãe teve que pedir a ele para passar
as beterrabas três vezes, antes de ele perceber que ela tinha pedido.
Harper suspirou e colocou o telefone de volta na gaveta. Ela não queria
pensar nele, muito menos em toda a família Garrison reunida ao redor da
mesa de jantar. Eles eram a coisa mais próxima de uma família que ela já
teve, e o círculo se fechou sem ela.
Talvez isso fosse tudo o que haveria para ela.
Ela voltou sua atenção para o computador e viu uma resposta de Luke.
Para: harper@garrisoncon.com
De: luke@garrisoncon.com
Se você não atender o telefone, vou aí agora.
E um outro.
Para: harper@garrisoncon.com
De: luke@garrisoncon.com
E se você for embora, vou aparecer na casa da Joni.
Harper apertou a mandíbula. Foi ele quem quis assim.
Para: luke@garrisoncon.com
De: harper@garrisoncon.com
Eu respeitei seus desejos. Eu espero que você respeite os meus. Eu não
quero conversar. Só vou ficar até o dia 15, para que você encontre um
substituto. E por mais que prefira não me ter aqui, você não sabe como
usar o novo sistema de folha de pagamento ou o banco de dados. Não
estarei no seu caminho, enquanto você ficar fora do escritório quando eu
estiver aqui à noite.
Ele respondeu em alguns minutos.
Para: harper@garrisoncon.com
De: luke@garrisoncon.com
Bem. Deixe-me, ou Frank, se preferir, saber o que você precisa. Você está
bem?
Harper decidiu não responder e voltou ao trabalho.
***
De sua picape, Luke olhou para a luz solitária na janela, desejando que
uma sombra aparecesse. Ele não sabia o que estava fazendo aqui. Saiu
correndo da mesa dos pais e, sem nem se despedir, dirigiu por cinco
minutos até o escritório onde sabia que ela estava.
Ele não a via há três dias.
Ela respondeu a ele. Depois que ele a ameaçou, é claro, mas pelo menos
ela respondeu. Estava viva e segura. E isso era o suficiente. Não era?
Ele olhou ao redor do estacionamento deserto. Por que estava
aqui? Terminou porque não suportava ver Harper jogando sua vida fora em
um relacionamento que nunca seria o que ela merecia.
E ainda assim, aqui estava ele, esperando por apenas um vislumbre dela
através da janela. Só queria ter certeza de que ela estava bem,
decidiu. Talvez, então, pudesse dormir.
Ele esfregou as mãos no rosto. A mulher estava fora de sua vida e ainda o
enlouquecia.
Era hora de recuperar alguma aparência de controle. Ele ligou a picape e
foi para casa.
***
Harper acordou sobressaltada apenas algumas horas depois de cair na
cama. Ela não saiu do escritório antes da meia-noite. Ficara surpresa com a
quantidade de trabalho que poderia realizar sem ser interrompida por
telefonemas e visitas.
E a presença de Luke.
Era uma manhã escura e cinzenta. As nuvens pareciam conter a promessa
de neve.
Não adiantava ficar deitada na cama, pensando ou fingindo que poderia
voltar a dormir. Harper se levantou e vestiu uma meia-calça e um casaco de
lã. Amarrou os tênis e saiu silenciosamente da casa. Ela pegou uma touca
felpuda e luvas amarelas do carro e correu para o asfalto.
Benevolence ainda estava dormindo a esta hora do amanhecer. Havia algo
de pacífico em estar totalmente sozinha.
Ela acertou o passo e mudou seu curso para entrar no parque, onde as
luzes da rua iluminavam vagamente o caminho ao redor do lago na
madrugada gelada.
Aldo ligou algumas vezes para saber se queria ir correr, mas ela sabia que
isso só complicaria as coisas entre ele e Luke. Luke precisava de sua vida
de volta, e isso incluía seus amigos também.
Ela balançou a cabeça. Concentre-se na respiração. Pare de
pensar. Esqueça-o.
Sua respiração formava nuvens brancas em um ritmo que combinava com
seus passos.
Era apenas ela e o ar frio da manhã. Nada mais.
Capítulo 48
Ele a viu como se seus pensamentos a tivessem conjurado na frente
dele. Um flash de cabelo loiro e moletom vermelho cereja, quando ela
cruzou o caminho cem metros na frente dele.
Luke tropeçou em seu passo e parou. Talvez sua mente, privada de sono,
estivesse pregando peças nele. Harper nunca estaria voluntariamente fora da
cama a esta hora. Principalmente depois de deixar o escritório tão tarde.
Talvez ele não fosse o único que não conseguia dormir.
Ele pensou em se virar e correr para casa. E então alcançá-la e
simplesmente correr ao lado dela. Não deveria sair sozinha a esta hora. Por
que ela não se preocupava com essas coisas?
Ele não se incomodou em se perguntar o porquê. Apenas voltou a correr e
virou à direita, onde planejava ir antes.
Ele a avistou no lago e tentou não notar que era o mesmo local onde ele a
surpreendeu quando voltou para casa, para ela, apenas algumas semanas
antes. Ela ficou parada, com os ombros curvados contra o frio, observando
o lento nascer do sol, que estava apenas começando a subir nas árvores,
tornando as nuvens acinzentadas em um tom rosado.
Ele parou na linha das árvores. Ela não queria vê-lo. E ele estava meio
com medo de que, se falasse com ela, acabaria pedindo-a para voltar para
casa.
Então ele ficou onde estava. Mesmo à distância, percebeu que ela estava
chorando. Seus ombros tremiam e ela ficava passando as mangas no rosto.
Ele sabia que era um idiota por colocá-la nisso. Não conseguia evitar, mas
se sentia bem e culpado ao mesmo tempo.
O sol irrompeu por entre as árvores, aquecendo as águas geladas do lago
com seu brilho rosado. Luke a observou endireitar os ombros e respirar
fundo, uma e outra vez, antes de voltar ao caminho e retomar a corrida. Seu
rabo de cavalo loiro balançava ritmicamente atrás dela.
Ele observou até que ela estivesse fora de vista, antes de se virar e correr
para casa.
***
Seu humor não melhorou quando chegou ao escritório e encontrou em sua
mesa uma cópia do anúncio recém-redigido para a vaga de administrador de
escritório e instruções sobre como usar o Craigslist.
Luke bateu com força sua caneca de café e mal resistiu à vontade de
amassar o papel e jogá-lo no lixo.
Ela estava apenas fazendo seu trabalho. Um trabalho em que ela
claramente se destacava, a julgar pelos lançamentos contábeis atualizados e
a folha de pagamento completa, aguardando sua aprovação.
Ele arrastou o anúncio da vaga para o fim da pilha e pegou uma pasta
chamada Bônus/Aumentos. Lá dentro, ele encontrou uma planilha bem-
organizada, detalhando o lucro projetado para o ano e duas análises de
valores de bônus em potencial e aumentos de taxas por hora.
Ela havia se lembrado de quando ele disse, de passagem, que queria olhar
os valores de fim de ano e ver o que poderia dar à equipe. Ele olhou pela
fileira de janelas atrás dele, observando enquanto os primeiros flocos de
neve começavam a cair.
Merda. O que iria fazer sem ela?
***
Naquela noite, quando Harper chegou ao trabalho, um latido familiar a
saudou. Lola correu até ela com Max indo atrás. Ela caiu de joelhos e
deixou os cachorros se mexerem e lamberem em cumprimentos. Lola tinha
um bilhete na coleira.
Achei que você poderia estar sentindo falta deles, tanto quanto eles
sentem sua falta. Você pode deixá-los em casa ou me enviar uma mensagem
quando sair, e eu irei buscá-los.
Luke
PS: Você está pronta para custódia compartilhada? Vamos conversar.
Harper avistou duas novas camas de cachorro sob sua mesa. Havia uma
cesta de brinquedos que já havia sido derrubada e mexida.
Ela entregou o bilhete a Lola, que prontamente o levou para a cama e o
rasgou. Custódia compartilhada? Ela não tinha pensado tão longe. Havia
acabado de presumir que, quando partisse, os cachorros iriam com ela.
Seriam como aqueles co-pais interurbanos que se encontram em um
estacionamento de fast food para trocar as crianças de um carro para outro,
sem dizer uma palavra civilizada? Ugh. Não. Ela não podia fazer
isso. Tinha que haver uma maneira melhor.
Ela mandou uma mensagem rápida para Luke.
Harper: Obrigada por deixar os cachorros. Vou terminar aqui à meia-
noite.
Ele respondeu imediatamente.
Luke: Eles sentem sua falta. Vou buscá-los depois que você sair.
Harper: Obrigada.
Ela empurrou o telefone na gaveta da mesa e voltou ao trabalho.
Era seu novo normal.
***
Harper empurrou seu carrinho para o mercado, aproveitando a lufada de
calor. A neve trouxe consigo um início de inverno, e ela não conseguia se
aquecer o suficiente. Mas isso provavelmente se devia ao bloco gigante de
gelo que outrora fora seu coração e ao fato de que seu casaco de inverno
ainda estava na casa de Luke.
Ela estava lutando contra a dor, mas o que havia além disso não parecia
valer a pena lutar ainda. Talvez um dia ela não sentisse como se seu sorriso
fosse pintado. Talvez, um dia, ela se lembrasse de como é rir. Talvez, um
dia, o buraco não fosse tão grande.
Por enquanto, tinha que fazer compras. Ela se ofereceu para ir fazer as
compras de Joni e até fez um show ao adicionar algumas coisas à lista para
si mesma. Finja até que pareça certo, esse era o lema dela. Bem, finja até
desmaiar exausta na cama. Ela se preocuparia em fazer isso mais tarde.
Harper navegou pela seção de produtos hortifrutigranjeiros, examinando
sem entusiasmo as bananas e nabos. Ela estava se aproximando da balança,
quando Georgia Rae a interceptou.
— Bem, olá, querida! É bom ver você por aí desde... bem, você sabe.
Ela sabia. Muito obrigada, Georgia Rae.
— Obrigada, Georgia Rae. Como vai você? Pronta para o Natal?
Harper se sentiu como um robô cuspindo amenidades mecanicamente. Ela
caminhou ao lado de Georgia Rae enquanto a mulher tagarelava,
balançando a cabeça e fazendo barulhos de “aham”. Elas contornaram o
corredor até encontrar Linc conversando com Sheila, que trabalhava no
Remo’s, e o vizinho de Luke, o Sr. Scott, perto do refrigerador de bebidas.
Todos gritaram uma saudação. Era por isso que fazer compras no
supermercado demorava uma eternidade em Benevolence. Você conhecia
literalmente todas as pessoas na loja e era obrigada a falar com cada uma
delas.
Por que ela não foi fazer compras fora da cidade?
Linc piscou para ela.
— Olá, raio de sol. Como está indo?
— Tudo indo — disse Harper, tentando soar firme, mas acabou saindo um
tanto melancólico.
Ela foi salva de novas interações por Peggy Ann. A caixa curvilínea
correu pelo corredor, agitando freneticamente as mãos.
— Lamento interromper — ela disse no sussurro mais alto possível. —,
mas Harper, você vai querer evitar quem acabou de entrar.
Harper sentiu seu estômago revirar.
Georgia Rae espiou pela esquina e arfou.
— Ele está aqui!
O pânico percorreu seu corpo. Aqui não. Ele não. Ela não podia vê-lo.
Enquanto Harper congelava no local, Georgia Rae assumiu o controle da
situação.
— Sr. Scotts, você e eu vamos interferir. Linc, você pega Harper aqui e a
esconde em algum lugar até que seja seguro. Sheila, você será a distração,
se ele chegar muito perto. Todo mundo se mexa! — Ela bateu palmas, e eles
se dispersaram.
Harper observou enquanto Peggy Ann corria de volta para seu caixa, e o
Sr. Scotts conduzia seu carrinho de camarão congelado e ração enlatada
para cães com Georgia Rae.
Ela permaneceu congelada durante a confusão de atividade, até que Linc a
pegou pelo braço e a arrastou para o refrigerador de bebidas.
— Espere! Meu carrinho — Ela sussurrou.
— Deixe isso — ele disse, fechando a porta atrás de si.
Harper colocou as mãos no rosto e se curvou para tentar recuperar o
fôlego.
— Você está bem? — Linc perguntou, colocando a mão larga em suas
costas.
— Se você me oferecer boca a boca agora, vou matar você.
Sua risada a fez se endireitar.
— Sinto muito — disse ele. — Eu não quero rir, mas eu acredito em
você. Parece que passou por um período ruim, mas está pronta para sacudir
a poeira.
— Isso é realmente legal — disse Harper com suspeita.
— Eu sou um cara legal — Linc insistiu.
Ela estremeceu. Entre a neve, o frio e o perigo de ficar cara a cara com o
homem que partiu seu coração, Harper achava que ela não conseguiria ficar
mais gelada.
— Venha aqui, antes de se transformar em um picolé. — Linc passou os
braços em volta dela e puxou-a para ele.
Ela resistiu por um segundo, mas o calor que vinha dele era muito
reconfortante. Harper tentou se segurar rigidamente contra ele, mas quando
ele empurrou a cabeça dela contra seu peito, ela desistiu de lutar e se deixou
ser abraçada.
— Você não vai começar a chorar, vai? — Linc perguntou.
Harper suspirou.
— Não, acho que posso me controlar.
— Bom. Vai ficar tudo bem, sabe?
— Sério? Você tem alguma bola de cristal mágica de bombeiro?
— Está mais para uma daquela bola 8.
Desta vez, ela riu um pouco. Soou estranho para seus ouvidos.
— O que sua bola oito mágica diz?
— Que você vai ficar bem. Você é forte e inteligente e fica muito, muito
bem de biquíni. Você não foi feita para uma vida de miséria e se esconder
em refrigeradores de cerveja.
— Essa é uma bola oito mágica estranhamente específica que você tem.
Linc segurou seus ombros e a fez olhar para ele.
— Você vai ficar bem. Você é uma lutadora. Isso conta, especialmente
quando a vida é uma merda.
— Obrigada, Linc. — O pequeno sorriso era genuíno.
— E se aquele idiota lá fora não descobrir que incrível você é, basta
passar pelo corpo de bombeiros e...
Harper tapou sua boca com a mão.
— Não estrague este momento comovente sendo grosseiro.
— Eu ia apenas dizer que vou deixar você deslizar pelo meu poste — ele
disse por entre os dedos dela.
Desta vez, a risada foi real.
— E o momento acabou.
Linc sorriu.
Eles congelaram quando a porta se abriu.
— Isso é ótimo, Georgia Rae, eu só vou pegar...
Luke parou no meio da frase, na porta do refrigerador. Seus olhos indo de
confusos para fúria em um piscar de olhos. Harper lutou para se libertar do
aperto de Linc, mas ele apenas a empurrou para trás dele.
— Garrison — disse Linc, seu tom mais frio do que o ar frio.
— Bem, você não perde tempo, não é? — Harper viu a mandíbula de
Luke se contrair quando ela espiou pelas costas de Linc.
— Eu não sei do que você está falando — Linc disse calmamente.
— Eu não estava falando com você.
Harper sentiu a dor se transformar em fúria em seu interior. Ela fez um
movimento para contornar Linc, mas ele já estava na metade do caminho
para a porta do refrigerador. Luke o encontrou no meio, e Harper gritou
quando o primeiro golpe foi dado.
Georgia Rae, o Sr. Scotts, Sheila e Peggy Ann estavam na porta,
boquiabertos.
— Ligue para Ty — gritou Harper, agarrando um braço que se debatia e
uma jaqueta. — Pare! Vocês dois.
Ela se colocou entre eles, Luke em sua frente e Linc em suas costas.
— Se você tocar nela novamente, eu...
Harper bateu com as mãos no peito de Luke.
— Cale-se! Apenas cale a boca! — Ela o empurrou para trás com todas as
suas forças. — Você não tem mais voz sobre quem me toca e quem não me
toca. Eu não pertenço mais a você. — Sua voz falhou, e ela se odiou por
isso.
Luke agarrou seus pulsos e trouxe seu olhar para seu rosto. As lágrimas
ameaçavam derramar em suas bochechas, e o tempo parou.
Seu lábio estava cortado, seus olhos selvagens. Ele não se barbeava há
dias. Ela podia ver a dor, a raiva. Mas ele não era dela para amar ou
curar. Ele era o homem que a descartou.
Ela soltou as mãos.
— Harp. — Era mágoa agora em seu tom.
— Não — ela sussurrou, olhando para o peito dele.
Ele fez um movimento em direção a ela, e ela deu um passo para trás,
erguendo as mãos.
— Ela disse não — disse Linc, puxando-a de volta.
— Fique fora disso, Reed. — Luke empurrou Linc, e eles se enroscaram
novamente, batendo em uma prateleira de pacotes de seis cervejas.
Dois caíram no chão e se espatifaram quando Harper saltou para fora do
caminho. Linc empurrou Luke contra a prateleira.
— Por que você tem que ser um idiota?
O punho de Luke acertou-o na mandíbula, e Harper gritou.
— Alguém, ajude!
Uma multidão se reuniu em frente ao refrigerador. Todas as portas foram
abertas para que os espectadores pudessem ver melhor.
— Droga, isso foi a cerveja que eles acabaram de quebrar — alguém
suspirou quando outro pacote de seis unidades caiu para sua morte
espumosa.
Harper se encolheu quando o punho de Linc acertou a cintura de
Luke. Eles iam bater um no outro até a morte. Harper agarrou o braço de
Linc enquanto puxava seu braço para bater em Luke novamente. Seu corpo
parecia leve enquanto ela era carregada pelo ar pelo impulso do golpe de
Linc.
Luke deu outro soco, e Harper sentiu a brisa passar por seu rosto. Ele
estava muito zangado. Ela não seria capaz de detê-lo.
Um braço a pegou pela cintura, arrastando-a para fora da briga.
Ty, de uniforme, a depositou na porta do refrigerador.
— Ty! Faça-os parar!
— Estou indo. Fique aqui.
Ty se jogou na briga com a forma prática de aplicação da lei. Em
segundos, ele foi capaz de parar Linc. Demorou um pouco mais com Luke,
que deu um soco furioso em seu cunhado. Ty encolheu os ombros e deu um
soco no queixo de Luke, fazendo-o recuar um passo.
— Não me faça esfolar você. Vou fazer isso e provavelmente vou gostar
— alertou.
Luke ergueu a mão em sinal de rendição.
— Apenas mantenha aquele idiota longe dela. — Ele lançou um olhar
para Harper. Um hematoma surgiu em seu queixo e sangue escorria de sua
boca. — Você está bem? — Aqueles olhos castanhos falavam muito.
Ela só conseguiu sacudir a cabeça e se virar.
— Harper — ele gritou atrás dela.
Insultá-la em um segundo e depois olhar para ela como se só quisesse
puxá-la para seus braços no próximo. Fazer amor com ela como se ele não
pudesse sobreviver sem ela e depois descartá-la como o lixo de ontem. Ela
não sobreviveria à espera dele descobrir o que realmente queria. Ele poderia
nunca saber.
— Posso confiar em vocês para não se matarem por alguns segundos?
— Ty perguntou antes de sair do refrigerador. — Georgia Rae, você se
importaria de ficar de olho nesses dois por mim?
Ty puxou Harper para o corredor de cereais.
— Tem certeza de que eles não vão brigar? — Harper ficou preocupada.
— Eles não ousariam brigar com Georgia Rae no meio deles. Ela terá suas
peles. Então, o que diabos aconteceu?
Harper o informou.
— Eu só estava tentando fazer as compras de Joni. Você sabe, fazer algo
de bom por ela, já que ela tem sido tão boa para mim. E não posso nem
fazer isso... — Ela se conteve antes de gritar de frustração. — Esta é a
primeira vez que o vejo desde que ele me pediu para ir embora, e é isso que
acontece.
— O cara é um idiota apaixonado por você, Harper.
— Acho que não, Ty. — Ela balançou a cabeça.
— Querida, eu conheço estupidez de amor quando vejo isso. Ele é apenas
mais estúpido do que a maioria.
— Em quantos problemas eles vão se meter? — ela perguntou, mudando
de assunto.
— Tenho que falar com a proprietária e ver se ela quer prestar
queixa. Faça-me um favor e fique aqui enquanto eu resolvo isso.
Quando Ty os tirou do refrigerador, Linc, exibindo o início de um
excelente olho roxo, piscou para ela. Luke começou a ir em sua direção,
mas Ty bateu com a mão no peito dele.
— Não vou deixar você fazer isso, Luke.
— Você não pode me impedir de falar com ela. — A raiva transbordava
para fora dele como eletricidade.
— Isso é exatamente o que estou fazendo, até que ela diga o
contrário. Agora fique aí e tente não bater em mais ninguém.
— Preciso lembrar que quando minha irmã terminou com você, fui eu
quem disse que ela estava sendo uma idiota?
— A diferença é que eu não estava invadindo um supermercado e batendo
na cara de alguém na época, e agora você é o idiota. Agora fique aí, cale a
boca e vamos resolver isso. — Ele disse isso tão amigavelmente que Harper
apenas piscou.
Luke ficou onde estava, mas não tirou os olhos dela. Ele enfiou as mãos
nos bolsos e ignorou a multidão que havia crescido para mais de uma dúzia
de pessoas. Emaranhados de carrinhos abandonados bloqueavam os
corredores, enquanto os clientes e funcionários da loja se misturavam em
torno das vitrines de caixas de sobremesa e abóbora enlatada. Linc
encostou-se em uma porta e conversava com uma garota bonita.
Harper fez o possível para olhar para todos os lugares, menos para o rosto
de Luke. Pareceu uma eternidade antes de Ty voltar.
— Ok, o negócio é o seguinte. Miz Valencio não apresentará queixa se
vocês concordarem com os termos a seguir. Um, vocês dividem o custo dos
nove pacotes de cerveja que quebraram desnecessariamente e limpam a
bagunça.
Linc encolheu os ombros para Luke. Luke revirou os olhos e acenou com
a cabeça.
— E dois, vocês terminam as compras da Harper e pagam pelas coisas
dela.
— Dê-me sua lista — Luke disse, estendendo a mão para ela.
— Ah, não. Ty, eles não precisam fazer isso. — Ela tinha absorventes na
lista.
— A decisão é da dona Valencio. Ela não quer que você saia de mãos
vazias porque esses dois “babacas têm testosterona demais”.
— Dê-me sua lista.
Ela estava sendo atraída para sua condenação, mas não conseguia ver uma
maneira de escapar disso. Harper se aproximou lentamente. Ela puxou a
lista do bolso de trás e segurou-a entre dois dedos, os olhos em sua mão. A
mão de Luke fechou sobre a dela e a puxou para mais perto.
— Harper.
Ele esperou até que ela olhou para ele.
— Eu sinto muito pelo que eu disse. Você está bem?
Ela assentiu lentamente, sem confiar em sua voz. Seu toque enviou um
calor que se espalhava por ela.
Com a mão livre, ele estendeu a mão e gentilmente afastou o cabelo de
seu rosto.
— Me desculpe se eu te assustei.
— Cristo, Garrison, mantenha suas mãos para você — disse Ty,
colocando-se entre eles. Ele pegou a lista de Harper e entregou-a. — Peggy
Ann está trazendo uma vassoura e um esfregão. Harper, por que você não
vai na loja ao lado e pega um café? Terminaremos aqui em uma hora.
Capítulo 49
— Eu estava literalmente tentando mantê-la aquecida aqui, você sabe —
Linc disse em tom de conversa, enquanto segurava a pá de lixo de tamanho
industrial.
Luke olhou para ele enquanto varria e permaneceu em silêncio.
— Só estou dizendo que não era como se estivéssemos nos beijando ou
fazendo sexo. Estávamos apenas conversando, e ela estava com frio.
— Sim. Certo. Só tendo uma conversa em uma geladeira em dezembro.
— Não me entenda mal — Linc continuou. — Ficaria feliz em conhecê-la
melhor. Quero dizer, olhe para ela.
Luke aumentou seu aperto na vassoura e fingiu que era o pescoço de Linc.
— Você não me deve uma explicação — ele rosnou.
Linc jogou o vidro quebrado na lata de lixo.
— Nós só estávamos aqui por sua causa, de qualquer maneira. Harper
nem quer ver você. Não sei como ela ainda está trabalhando para você.
— Ela está trabalhando à noite, então ela não precisa me ver.
— Você a deixou fazer isso?
— Harper não é o tipo de mulher que você “deixa” fazer qualquer coisa.
— Ela é forte — Linc riu. — E eu estava apenas lembrando-a disso,
quando você enfiou a cabeça no refrigerador e teve um chilique.
— Eu não tive um chilique.
— Lembro-me claramente de você batendo o pé.
— Se o fiz, foi porque estava tentando quebrar o seu. — Luke voltou a
varrer.
— Só me parece que é uma reação exagerada do homem que a deixou ir
embora. O que há com você em sempre tentar libertar suas mulheres? O que
você espera que elas façam? Fiquem sozinhas para sempre?
— Pelo amor de Deus, podemos apenas terminar isso em silêncio? Ty
ficará puto se eu quebrar seu rosto com esta vassoura.
***
Harper aproveitou a hora e, seguindo o conselho de Ty, pegou um café
com leite na cafeteria ao lado.
Agarrou a caneca em suas mãos e tentou pensar no lado bom. Não
começara a chorar, o que era uma vantagem. E não tinha implorado para ele
tocá-la mais uma vez, enorme vantagem. Infelizmente, ela tinha ido à loja
sem maquiagem e com o cabelo em um coque horrível. Se ela pudesse
escolher, Luke não a teria visto com uma aparência tão triste. Estaria
vestida para matar, e ele a teria visto de uma distância segura, não de perto e
pessoalmente em uma geladeira de cerveja. Ela não conseguia nem começar
a entender a reação de Luke ao vê-la com Linc.
Harper entrou sorrateiramente no banheiro minúsculo com paredes
negras, para passar brilho labial e soltar o cabelo bagunçado. Ela o moldou
em uma trança que pendia sobre um ombro.
No caminho de volta para a loja, ela pensou em apenas entrar no carro e ir
embora. Daria uma desculpa para Joni sobre as compras e se deitaria em
posição fetal por cerca de dez horas.
Mas ela era muito orgulhosa. Não o deixe vê-la sofrendo, ela se lembrou.
Harper os encontrou discutindo sobre como empacotar suas compras no
caixa de auto pagamento. Ela se encolheu quando viu Luke entregar a Linc
uma caixa de absorventes internos.
Deveria apenas ter optado pela posição fetal.
***
Luke a viu primeiro no meio da discussão com Linc sobre como ensacar
peitos de frango.
— Ei, luz do sol. Pegamos sacolas reutilizáveis para você — Linc
anunciou, sorrindo para Harper.
Luke queria socá-lo novamente, mas se contentou em lhe dar uma
cotovelada no estômago e depois enfiou as mãos nos bolsos. Era a única
maneira de ele ter certeza de que não iria alcançá-la e abraçá-la... ou
quebrar o nariz de Linc.
Olhar para ela ainda era um soco no estômago. Aqueles malditos olhos –
tempestuosos agora – estavam sombreados com olheiras. A luz estava
faltando neles. Ela estava mais magra, também, perceptível mesmo com ela
vestindo lã. Ele podia ver em suas bochechas.
Cansada. Vazia. E tudo o que ele queria fazer era preenchê-la. Mas havia
feito sua escolha. Sua cama estava vazia, sua casa silenciosa. E era assim
que precisava ser.
Quando ele abriu a porta da geladeira para escapar da conversa fiada de
Georgia Rae, ver Harper nos braços de Reed, sorrindo para ele... Seu
estômago ainda se agitava.
A reação, aquela fúria cega e ardente, o pegou de surpresa. Ele perdeu o
controle tão rapidamente, como se uma coleira tivesse se quebrado. Luke
não gostou que isso estivesse enroscado dentro dele, pronto para atacar.
E ele deu um golpe. Não apenas com os punhos. Ele machucou Harper
com sua acusação. Ele viu a dor de suas palavras registrada em seu rosto
pouco antes de Linc vir para ele. Ele não era nada sem seu controle. Mas ela
já o havia levado para além de seus limites, antes.
Não era culpa dela. A culpa recaía sobre seus ombros.
Ele devia a ela um pedido de desculpas. E outro por escrito. E enquanto
estava nisso, poderia se desculpar com Linc também, mas provavelmente
não. Mesmo se o homem tivesse razão. Ele deixou Harper ir embora. O que
esperava?
Ela não merecia ser feliz, ser amada, ter alguém a lembrando de usar um
maldito casaco quando nevasse?
— Onde está seu casaco? — Ele lamentou a aspereza no seu tom, mas não
foi capaz de se controlar, era normal com Harper.
Ela encolheu os ombros.
— Sua casa.
Junto com tudo o que ela possuía. Esperando.
— Eu vou levá-lo. Posso levar o resto das suas coisas.
Harper já estava balançando a cabeça.
— Joni não precisa...
A música “Bad Boys” tocou em seu telefone. Luke viu um lampejo de
puro pânico e observou enquanto os dedos dela tateavam a tela em sua
pressa em responder.
— Oi. Ei — ela disse, girando e se afastando, segurando o telefone contra
o ouvido.
— Não, eu não atendi. Eu me mudei. — Seus olhos dispararam para Luke
e se desviaram novamente. Ela baixou a voz. — Eu sei. Eu sinto muito. Foi
meio repentino.
Ela ouviu em silêncio por um momento, e ele jurou que cada grama de cor
sumiu de seu rosto.
— Ele está saindo? Quando? — Ela afundou em um banco estreito ao
lado da janela.
Ela mordeu o lábio e olhou em sua direção novamente, seu olhar se
afastando quando o viu olhando. Linc empurrou um saco de alface para ele.
— Continue, cara.
— Dê-me um minuto... e não me chame de cara.
— Bem. Continue, idiota.
Luke se aproximou de Harper, mas não conseguiu escutar muito. Ela
estava discutindo baixinho agora.
— Você não precisa vir aqui para brincar de guarda-costas. Posso me
proteger...
Depois de mais um minuto sussurrando, ela desligou e, sem dizer uma
palavra, saiu correndo da loja.
— Aonde ela está indo? — Linc exigiu, chegando ao lado de Luke. — Ela
esqueceu as compras.
***
Claro que ela não estava respondendo às mensagens dele. Frustrado, Luke
jogou o celular no banco do passageiro. Com sua dívida com Val’s
Groceries paga, ele se ofereceu para transportar os itens de Harper com ele
para que pudesse entregá-los pessoalmente.
Ele passaria pela casa primeiro para pegar o maldito casaco dela.
Não conseguia tirar de sua cabeça a reação dela ao misterioso
telefonema. Harper não era de ter medo de nada. Luke se preocupou com o
que teria causado uma reação como aquela.
Deixando as compras na picape, ele entrou e vasculhou as caixas até
encontrar um casaco de lã preto com cinto. Ele o segurou contra o rosto e
inalou seu perfume.
Sentindo-se patético, ele dobrou o casaco e o colocou na mesa da sala de
jantar. Iria embalar alguns suéteres para ela, para que ela não
congelasse. Ela deveria ter algum tipo de jaqueta de esqui também, ele
pensou. Os invernos de Maryland não eram exatamente amenos. Talvez
pudesse encontrar um decente no outlet...
Cristo, o que esta mulher fez com ele? Eles nem estavam mais juntos, e
aqui estava ele planejando a porra de ida às compras. Estava perdendo a
cabeça. Qualquer progresso que fez para acabar com os pensamentos sobre
ela foi perdido depois de hoje. Um olhar para ela, e ele estava de volta ao
início.
Ele jogou dois suéteres em cima do casaco na mesa. Já era o
bastante. Depois que descobrisse o que estava acontecendo com ela, levaria
suas coisas para o escritório para guardar, até que ela fosse embora.
Ele se lembrou da crescente pilha de correspondência na cozinha, que
ignorou durante toda a semana. Verificaria se havia algo para ela e então iria
para a casa de Joni. A veria uma última vez, certificar-se-ia de que ela
estava bem e depois a deixaria em paz para sempre.
Luke folheou a pilha, jogando propaganda na lata de reciclagem enquanto
caminhava. Havia dois envelopes endereçados a Harper.
Uma marca vermelha no primeiro chamou sua atenção. Serviço de Apoio
às Vítimas. Ele sentiu seu coração disparar. O segundo envelope era
endereçado a mão a Harper e tinha um pequeno carimbo de tinta no canto.
Enviado por uma prisão estadual.
Havia algo familiar naquele segundo envelope, algo que ele não
conseguia identificar. Não havia nome no endereço do remetente. Luke
pegou seu telefone e procurou o endereço online. Prisão Estadual de
Sussex.
Ele ligou para Harper. Quando a caixa postal dela respondeu, ele
praguejou e desligou.
Tamborilando os dedos no balcão, pesou as opções. De jeito nenhum ela
contaria a ele o que estava acontecendo. Mas se ela estava em perigo, ele
precisava saber.
— Foda-se. — Luke rasgou o envelope e puxou o pedaço da folha de
caderno de dentro. Uma fúria fria tomou conta dele e fez suas mãos
tremerem. Não havia nome. Apenas “Papai”.
Ele bateu a carta no balcão e começou a andar. Esta não poderia ser a
primeira carta. Devia haver outras...
Suas caixas. De volta à sala de jantar, Luke arrancou a tampa da caixa
denominada “Papelada”. Bem na frente havia uma pasta chamada Cartas
SCI. Dezenas de cartas foram abertas, arquivadas cronologicamente,
começando quando Harper tinha 18 anos. Luke resistiu ao impulso de jogar
a caixa inteira pela janela.
Esse filho da puta. Cada carta foi assinada com “Papai”. Ele acompanhou
cada movimento dela desde que havia saído do sistema de
adoção. Culpando-a por sua sentença. Deviam ser mais que as queimaduras
de cigarro. Este homem machucou Harper fisicamente até ser capturado e
depois passou anos tentando torturá-la psicologicamente.
Havia cinco outras cartas na caixa, enviadas para o seu endereço. Três
enquanto ele estava em missão. Mas a outra mais recente foi poucos dias
antes do Dia de Ação de Graças. Ela nunca disse uma palavra.
Exceto... ela havia tentado.
— Luke, posso falar com você sobre algo? É meio importante.
Ele estava sentado no sofá, irritado consigo mesmo, fingindo que o
problema era ela, e deu as costas para ela. Apenas deu as costas, porque
estava com raiva e com medo.
Ela vacilou, mas tentou prosseguir.
— Algo aconteceu e estou um pouco preocupada...
Ele a interrompeu e, a sangue frio, começou a tirá-la de sua vida. No
exato momento em que ela estava procurando por ajuda, ele a mandou
embora.
Ela tinha confiado nele, e ele tinha traído essa confiança em muitos
níveis. E agora, ela estava sozinha.
Ele passou a mão pelo rosto e se amaldiçoou. O que ele fez?
Ele precisava de um nome, e pensou na carta do Serviço de Apoio às
Vítimas. Bem, ele já havia aberto uma de suas cartas. Por que parar agora?
Era uma carta formal, declarando que, como vítima de Clive Perry, Harper
tinha o direito de estar ciente de que ele seria libertado da prisão em 18 de
dezembro, após ter cumprido sua pena completa.
Luke tirou o telefone do bolso e discou.
— Ei, temos um problema.
Capítulo 50
— Sabe, quando vi que era você, esperava que ligasse para se desculpar
— Ty falou lentamente, recostando-se na cadeira da escrivaninha. — Então,
quando você disse que tinha um problema, pensei que estava ligando para
me dizer que estava dirigindo por aí com o corpo de Linc na parte de trás da
picape.
Luke se mexeu na cadeira de visitantes de Ty. A delegacia cheirava a café
velho e livros velhos.
— Eu te devo desculpas e não matei ninguém. Ainda. — Ele largou a
pasta de Harper na mesa de Ty. — Harper está com problemas.
— Que tipo de problema?
Luke contou os detalhes que conhecia. Ty deu um assobio baixo quando
terminou.
— Parece que nossa garota está em uma situação ruim.
— Como podemos evitar que esse idiota saia?
— Eu vou dar uma olhada nisso. Mas, Luke, aos olhos da lei, esse cara,
Perry, cumpriu sua pena. — Ele leu a carta em cima do arquivo. — Que tal
você me dar algum tempo para procurar Harper e este filho da puta no
sistema? Eu quero ler essas cartas também. Por que você não vai buscar
cafés e me encontra aqui em meia hora?
— Só para você saber, esse cara nunca vai chegar perto dela. Não importa
o que aconteça.
— Eu entendo o que você está dizendo, e vamos chegar lá quando for
necessário. Agora vá pegar um café. Duas colheres de açúcar no meu.
Luke pegou um café e, como estava quase na hora do jantar, uma pizza. O
sol do fim da tarde se refletia nos pequenos montes de neve da rua
principal. Não havia nada mais etéreo do que Main Street de Benevolence
no Natal. Domingo, a cantoria começaria no parque perto da árvore de
Natal e percorreria os bairros antes de terminar no corpo de bombeiros, para
um chocolate quente e uma campanha de brinquedos e roupas. Equilibrando
o porta-copos em cima da caixa de pizza, Luke acenou uma saudação para
seu professor de matemática do colégio e sua esposa a caminho do
teatro. Ele acenou para Sheila do Remo’s quando ela assobiou para ele do
outro lado da rua.
Ninguém era um estranho aqui, não importava quantas vezes ele desejasse
ser. Caminhar pela rua idílica, sob as luzes nos flocos de neve e guirlandas
penduradas sobre qualquer coisa que ainda pudesse segurar, dava aos
residentes a sensação de que nada de ruim poderia acontecer aqui.
Mas coisas ruins aconteciam, mesmo em Benevolence. Luke só esperava
que pudesse evitar isso.
Quando voltou para a delegacia, foi saudado por uma lufada de ar quente
e silêncio. Alma, a esposa do xerife e atendente da delegacia, tinha ido para
casa, então Luke entrou e voltou para o escritório de Ty.
Ty estava desligando o telefone quando Luke entrou.
— Pizza, café e te dar um soco na cara? Deve ser meu dia de sorte.
Luke jogou a pizza na mesa e esfregou o queixo.
— Sim, sobre isso…
— O que tem?
Luke tirou o café do suporte e afundou na cadeira.
— Eu acho que te devo desculpas por agir como um idiota.
— Desculpas aceitas.
— Bem, isso foi fácil.
— Todos nós fazemos coisas estúpidas pelas mulheres que amamos. —
Ty não deu a ele chance de discutir. Ele simplesmente continuou com a fala
arrastada. — E por falar na mulher que você ama, recebi algumas
informações, e não acho que você vá gostar.
— O quê?
— Encontrei o arquivo do caso do Clive Perry. Foi muito ruim. Ele tinha
uma casa cheia de crianças que eram espancadas, estavam desnutridas e
sofriam de negligência. Harper viveu com ele por cerca de oito semanas. De
acordo com o relato, em uma noite, ele chegou em casa bêbado e começou
a gritar com um dos mais jovens, e Harper tirou os outros de casa e levou
para um vizinho, depois voltou para buscar o pequeno.
Luke apoiou as mãos nos joelhos.
— De qualquer forma, houve um confronto, e ela se colocou entre ele e o
menino e se manteve firme até que o marido do vizinho apareceu com uma
espingarda e encurralou Perry na cozinha. A polícia apareceu, e Harper
estava bastante espancada. Braço quebrado, cortes e hematomas. Levaram-
na para o hospital e descobriram que ela tinha costelas quebradas por causa
de uma surra anterior. Ela contou tudo a eles. Mandou-o para a prisão por
doze anos.
— Ela era apenas uma criança. — Luke se levantou para andar pelo
minúsculo escritório de Ty.
— Eu liguei para o oficial de investigação. Ele está aposentado agora, mas
eu o peguei em casa. Ele me deu o nome de uma policial novata que estava
na cena. Parece que ela se conectou a Harper, e as duas testemunharam em
cada uma de suas audiências de liberdade condicional.
— Você já falou com ela? Ela sabe que Harper é um alvo?
— Não sei. Eu estava prestes a fazer isso, quando você apareceu com
comida do Dawson’s. — Ele olhou para a caixa de pizza.
— Ligue primeiro, coma mais tarde.
— Estou fazendo nisso. — Ty acenou com a cabeça, pegando seu telefone
de mesa. — Enquanto estou discando, aqui está uma coisinha para alegrar o
seu dia. — Ele deslizou uma folha impressa sobre a mesa.
Luke pegou. Era uma notícia, de um ano e meio antes, sobre um incêndio
em um prédio na cidade. A imagem principal era de Harper, coberta de
cinzas e fuligem, carregando uma mulher idosa em sua camisola para fora
das chamas.
Luke beliscou a ponte do nariz enquanto sentia o que parecia um ataque
cardíaco.
— Cristo. Ela me disse que estava em casa quando o incêndio
começou. Não disse nada sobre arrastar as pessoas para fora do prédio.
— Duas pessoas e um gato — disse Ty, cobrindo o receptor.
Luke folheou a história enquanto Ty conversava com uma recepcionista
da delegacia de polícia.
Sua garota corajosa e selvagem. Pronta para qualquer desafio. Ele se
perguntou como ela se sentia em relação a Perry. Estava com
medo? Provavelmente estava planejando algo estúpido, como encontrá-lo
cara a cara.
O inferno que ela faria. Ele se certificaria de que ela nunca tivesse que
enfrentar aquele monstro novamente.
— Detetive Rameson? Aqui é o policial Adler, de Benevolence...
— Não, ela está bem, mas ela é a razão pela qual estou ligando. Estou
aqui com um... colega. — Ele lançou um olhar para Luke. — Você se
importa se eu colocá-la no viva-voz? Ótimo. — Ele apertou um botão no
telefone e desligou o receptor.
— Você está aí, detetive?
— Estou aqui. — Sua voz era revestida com um toque de sotaque de
Jersey. — O que está acontecendo em Benevolence?
— Clive Perry. Que tipo de ameaça ele será para Harper?
Luke a ouviu suspirar.
— Graças a Deus, ela finalmente decidiu contar a alguém. Estou há um
ano dizendo a ela: “Você tem que ter um plano”.
Luke bufou. Harper com um plano, sei.
— Eu posso dizer, por essa resposta, que você a conhece muito bem,
então. Você não é o idiota que deu o fora nela, não é? Deus, ela tem um
gosto horrível para homens.
Ty pigarreou.
— Eu não sou, mas meu colega é. Ele não é tão idiota quanto um babaca.
— Se você me perguntar, muitas vezes eles são o mesmo — disse
Rameson.
— Olha, nós só precisamos saber se esse Perry vai vir atrás dela quando
ele sair — Luke cortou.
— Você leu as cartas? — ela perguntou.
— Eu li todas. Ty aqui leu o suficiente para ligar para você.
— Aqui está a coisa. Esse idiota do Perry escreve para ela a cada dois
meses, desde que ela fez dezoito anos. Aonde quer que ela vá, ele a
encontra e as cartas começam de novo. Sempre a mesma merda: “Você me
deve, você vai pagar, blá, blá, blá.” O bom é que as cartas não caíram bem
para ele nas audiências de liberdade condicional. O ruim é que ele nunca a
ameaça diretamente. Ninguém vai considerá-lo uma ameaça séria, a menos
que ele seja mais específico, entende o que quero dizer?
— Qual é a sua opinião sobre ele? — perguntou Ty.
— Eu não sei muito. Eu mantive o olho nele, e os guardas locais me
mantêm atualizada ocasionalmente. Cortesia profissional. O cara está na
casa dos sessenta anos, e não nos vigorosos e saudáveis anos dos comerciais
de TV. Mais como “meu fígado está falhando e eu fumo dois maços por
dia” dos anos 60. Mas há algo sombrio sobre esse cara. Meu instinto me diz
que ele é um problema, mas não tenho como provar. Preciso de algo que
faça com que fique preso para sempre. Estou preocupada que não tenhamos
isso, até que ele saia e faça alguma merda com Harper.
— Isso não é uma opção — Luke rosnou.
— Nesse caso, eu concordo com o idiota. Mas eu não tenho nada agora.
Algo cintilou no limite da consciência de Luke e lentamente começou a
tomar forma.
— Ele está em Sussex, certo? — Luke perguntou.
— Sim, esteve lá durante toda a sentença.
— Ty, onde Glenn está cumprindo a pena?
— Filho da puta. — Os dedos de Ty voaram sobre o teclado. —
Superlotação no Condado e um reincidente? Sim.
— Você tem... alguma coisa?
— Há alguns meses, um cara local, que aguardava julgamento em Sussex
– agressão e violência doméstica – saiu sob fiança e apareceu na casa de
Harper com uma faca afiada muito grande e tentou destruir o lugar. Harper
e as meninas o derrubaram. Achamos que ele estava lá pela namorada e as
outras foram apenas danos colaterais.
— Maldição seja essa garota. Ela nunca mencionou nada. Você acha que
ele conhecia Perry?
— Estou pensando que deveríamos ter uma conversa com Glenn.
— Se importa se eu for junto? — perguntou Rameson.
— Contando com isso, Detetive.
***
Harper parou o carro próximo ao meio-fio e baixou a cabeça contra o
assento. Fechou os olhos e desejou que sua frequência cardíaca
diminuísse. O telefonema de Melissa a abalou justo quando já se sentia
vulnerável.
Quando se conheceram, Melissa era uma novata, e Harper era uma
menina de 12 anos assustada. A oficial Rameson, recém-chegada à
academia, com seu uniforme imaculado e coque assustadoramente perfeito,
selou a amizade delas com um chocolate quente e seu sotaque saído de
Jersey.
As coisas estavam um pouco diferentes agora. Melissa tinha se tornado
detetive em Baltimore, alguns anos atrás, e Harper era tudo, menos uma
criança assustada. Mas sua dinâmica não mudou muito. Melissa ainda
cuidava dela, não importando o quanto a Harper adulta protestasse. Juntas,
elas compareceram a todas as audiências de liberdade condicional e
testemunharam, enfrentando o monstro. Clive Perry nunca fora agraciado
com a liberdade condicional.
Em doze anos, ele não havia feito nada além de pousar seu olhar em
Harper. Ele a testemunhou ficando mais forte enquanto observava sua lenta
descida para a fragilidade. Ele não era mais uma ameaça física para ela,
tinha certeza disso. Mas não significava que não pudesse mais fazer algum
mal.
Ele a teria como alvo ou a alguém que ela amava? Ou era tudo um
jogo? Talvez ele decidisse fazer algo melhor com sua liberdade e...
O quê? Ele era um velho amargo e pervertido. Não havia remorso nem
esperança para o futuro. Ele morreria tendo vivido sua vida inteira
mergulhado em ódio e dor.
Uma vida perdida.
Bem, ela não desperdiçaria a dela. E não traria perigo para as pessoas de
quem gostava. Arrumaria suas coisas e seguiria em frente. Fremont não era
uma opção neste momento. Ele poderia encontrá-la lá e, com ela, Hannah.
Talvez ela fosse para o leste. Encontrar uma aconchegante cidade praiana
e ficar alguns meses. Não era muito, mas era um plano. Ela não estava
pronta para voltar para a casa de Joni ainda. Harper olhou sua bolsa de
ginástica no banco do passageiro. Poderia ficar em uma esteira na academia
até que estivesse pronta para rir de tudo.
Capítulo 51
Uma corrida na esteira resultou em meia hora malhando na academia e
depois em um banho rápido. Quando voltou para a casa de Joni, já estava
escuro e ela estava exausta. Luzes brilhavam através das janelas
congeladas, acenando para seu corpo cansado.
Harper entrou pela porta da frente e cheirou o ar, e seu nariz a guiou até a
cozinha.
— O que é esse cheiro incrível?
Joni ergueu os olhos da panela que estava cuidando no fogão e sorriu.
— Oh, só a canja de milho da minha avó com torradas frescas. Pegue uma
tigela — Ela disse, apontando para a ilha da cozinha, onde duas tigelas de
sopa esperavam para serem preenchidas.
— Se o sabor for tão bom quanto o cheiro, posso até chorar.
— Sim, e então você pode me dizer por que Luke entregou suas compras
aqui e depois lamentou quando descobriu que você não estava.
— Oh, meu Deus, as compras! — Harper levou a mão à testa. — Eu saí
sem elas!
— Não se preocupe. Elas foram entregues pessoalmente por Luke, que
também trouxe o seu casaco e alguns suéteres. Ele não parava de resmungar
sobre ser inverno e você andar por aí sem roupas.
Harper suspirou.
— Eu simplesmente não o entendo. Como ele pode dizer que não me ama
e não me quer por perto e então fazer tudo isso?
— Ele está com medo, Harper. Acho que você desperta nele sentimentos
que são maiores do que ele pode suportar.
— Não sei se isso me faz sentir melhor ou pior.
— Você pode imaginar quantas versões diferentes da história eu já ouvi,
então estou muito ansiosa para ouvir a sua. Luke estava com um belo
hematoma no queixo.
Harper cobriu o rosto com as mãos.
— Fui à academia e tentei correr até achar tudo engraçado, mas fiquei
muito cansada. Então, ainda estou chateada e envergonhada.
— Bem, por que você não pega a garrafa de vinho na geladeira, e vamos
beber até que tudo fique engraçado?
Harper obedeceu e pegou duas taças de vinho do armário. Ela encheu as
duas e entregou uma a Joni antes de abraçá-la.
— Você é a melhor, Joni. Agradeço muito, muito, muito tudo o que você
está fazendo por mim.
Joni retribuiu o abraço com força.
— Oh, querida, de nada. Agora vamos, vamos comer, beber e nos divertir.
Elas levaram a sopa para a sala de estar, onde o fogo crepitava na lareira,
e Harper contou a Joni sobre o incidente no mercado. Ela deixou de fora a
menção ao telefonema de Melissa.
— Eles estavam dando socos e batendo um no outro no
refrigerador. Havia vidro e cerveja por toda parte, e eles
continuaram. Graças a Deus por Ty. Ele acabou com tudo muito
rápido. Linc parou imediatamente, mas Luke continuava indo para cima
dele, aí Ty o socou bem no rosto. E então, todos nós tivemos que fazer a
caminhada da vergonha para fora do refrigerador e enfrentar metade da
cidade.
Harper ergueu os pés e sentou-se sobre eles, e tomou mais sopa.
— Foi a primeira vez que o vi desde... desde então.
— E ele encontra você nos braços de Linc, sorrindo para ele. Oh, isso é
muito bom — Joni riu.
— Ele pensou que estávamos saindo!
— Querida, é melhor que ele a veja nos braços de um bombeiro, lindo de
morrer, do que se lamentando em seu moletom com o cabelo “Vou tomar
banho na próxima semana”.
— Excelente ponto.
— Ele tinha que ver exatamente o que escolheu. Uma vida sem você.
— Foi tão difícil vê-lo. Eu simplesmente não consigo olhar para ele e não
amá-lo. Por que não posso simplesmente aceitar e seguir em frente com
elegância? Você sabe, como uma adulta de verdade?
Joni riu ao tomar o vinho.
— Harper, acho que você provou hoje que está lidando com isso com
mais maturidade do que ele. Você não deu um chilique que envolvesse a
polícia.
— Isso é verdade. Você acha que ele e Ty vão se reconciliar? Sinto que
causei muitos problemas para a família hoje.
Joni deu um tapinha em sua perna.
— Eles são homens. Tenho certeza de que já fizeram as pazes com cerveja
e churrasco.
— Você é tão sábia quando se trata de homens. Acha que vai voltar a sair
com alguém um dia?
— Acontece que eu tenho um jantar marcado, amanhã à noite.
— O quê? — Harper sentou-se tão rápido que quase derramou a sopa. —
Quem?
— Um cavalheiro chamado Frank Barry. Eu acredito que você deva
conhecê-lo. — Ela mexeu as sobrancelhas.
— Você e o Frank irritadinho? Como isso aconteceu?
— Bem, há muito tempo, Frank foi meu namorado na escola. Nós ficamos
juntos por pouco tempo, mas foi memorável.
— Você é a razão pela qual ele nunca se casou? — Harper ofegou.
Joni acenou com a mão.
— Eu duvido muito disso. Mas estou ansiosa para jantar com ele. Eu o
convidei, a propósito. Encontrei-o na lanchonete, quando fui buscar o
almoço hoje.
— Bom para você! O que vai vestir?
— Provavelmente algo quente, já que está muito frio.
— Bem pensado. Veja, correr atrás de paixões antigas é o que você faz em
Benevolence. Eu não posso ficar aqui. Luke não consegue nem olhar para
mim sem ficar todo destruído na frente de Georgia Rae, de todas as
pessoas. E eu não posso olhar para ele sem querer beijá-lo e lhe dar um tapa
até que perceba que idiota está sendo.
— Não deixe uma ida ruim ao supermercado afastá-la de Benevolence,
Harper.
Harper pegou a taça de vinho e deu um gole.
— Fico pensando que, se é assim que ele reage quando me vê com outro
homem, como vou me sentir ao vê-lo com outra pessoa? Eu não acho que
aguentaria. É o melhor. A distância vai nos curar. — Ela esperava.
— Eu gostaria que você ficasse.
— Eu gostaria de poder ficar também. Você acha que estaria disposta a vir
me visitar quando eu já tiver mudado?
— Eu adoraria, e prometo que irei. Especialmente se você se mudar para
algum lugar mais quente.
— Verei o que posso fazer. Irei embora no sábado.
Joni suspirou e colocou a mão em seu ombro.
— Eu realmente vou sentir sua falta, Harper.
— Eu vou sentir sua falta também. E não apenas pela comida e
vinho. Acho que devemos comprar um suéter para o seu encontro. Talvez
algo com um pequeno decote e que você possa cobrir com um lenço. Então,
se as coisas estiverem indo bem, você pode tirar o lenço.
Joni riu e serviu mais vinho para as duas.
***
Luke se apoiou na viatura de Ty. Sua raiva e frustração por ser mantido
fora da conversa com Glenn o mantiveram aquecido contra o ar gelado da
manhã e o olhar abaixo de zero que a detetive Rameson lançou em sua
direção.
Ele chutou o asfalto rachado.
Deveria estar lá, e não esperando na porra do estacionamento. Ele se
sentia inútil, e isso era novo para ele. Não foi fácil recuar e deixar outra
pessoa cuidar da situação. Uma que ele queria lidar sozinho, à sua
maneira. Deixe aquele filho da puta dar um passo na direção de Harper, isso
é tudo o que seria necessário.
Ele estava no comando, no controle. No trabalho, na Guarda. Era assim
que gostava. A responsabilidade era pesada, mas a alternativa era ficar
parado e esperar que outra pessoa fizesse o trabalho.
Ele tentou ligar para Harper novamente, depois que saiu da delegacia na
noite anterior. Mas tudo o que recebeu em troca foi uma mensagem
agradecendo por ter entregado os mantimentos e o casaco. Ela não
respondeu depois disso, e ele teve que se convencer a não dirigir até a casa
de Joni e arrastá-la de lá para falar com ele. No final, ele decidiu que seria
melhor cuidar do problema sem que ela soubesse.
Avistou Ty e Rameson quando saíram do prédio, e ele se afastou do carro
para ir ao encontro deles.
— E aí?
— Pegamos ele — disse Ty, batendo no capô.
— O que ele disse? Perry o mandou?
— Vocês querem tomar café da manhã e conversar sobre estratégias?
— Rameson perguntou, fechando o seu casaco.
Luke pressionou Ty no caminho para o restaurante.
— Nem pense em me fazer esperar até chegarmos lá.
— Sim, sim. Se fosse Soph, eu estaria com as cuecas pegando fogo
também — Ty suspirou. — Glenn cantou como um maldito soprano, assim
que Rameson disse que morreria na prisão como seu amigo Clive Perry.
— Ele nos disse que conheceu Perry na primeira semana que passou lá, e
assim que Perry descobriu que conhecia Harper, bem, eles se tornaram
simpáticos e íntimos. Diz que foi Perry quem deu à mãe dele o dinheiro da
fiança e prometeu mais do que isso depois que o trato fosse cumprido.
— Tudo o que ele tinha que fazer era cortar a garganta de Harper e
sussurrar o nome daquele filho da puta em seu ouvido enquanto ela morria.
A imagem passou pela mente de Luke antes que pudesse evitar. Ele levou
um segundo para bloqueá-la e recuperar o fôlego.
— Glenn jura que não iria matá-la de verdade, mas ele sentia que, pelo
menos, devia a Perry ser rude com ela. — Ty parou no estacionamento de
um prédio comprido e atarracado que prometia “Comida Caseira”
— Você está bem?
Luke queria enfiar o punho na janela da viatura e fingir que era o rosto de
Clive Perry. Ele queria sair pela porta e correr os 32 quilômetros até sua
casa, para encontrar Harper e envolvê-la em seus braços e prometer que
nada de ruim iria acontecer. Ela havia chegado a centímetros de ter sua vida
arrancada, e ele não estivera lá para salvá-la.
Desta vez, ele estaria.
— Estou bem. Vamos — Luke disse, tentando manter seu tom neutro.
Eles saíram do carro e encontraram Rameson na porta.
— Bem, eu posso ver pela sua expressão alegre que Adler aqui disse a
você o que temos.
— Perry não vai sair livre disso — Luke disparou.
— Sim, sim, cara durão. Entre, estou com fome — Rameson passou por
ele e entrou no restaurante.
Eles pediram café e ovos a uma garçonete que parecia ter 12 anos e
conversaram sobre estratégia.
— Tivemos um bom começo com Glenn contando isso. Ele vai
testemunhar para salvar a própria pele.
— O caso seria fechado permanentemente com uma confissão de Perry —
disse Rameson, mexendo um fluxo interminável de açúcar em seu café.
— Mas ele não irá falar com você — Luke disse.
— Não me diga, ele não irá — disse ela, olhando para ele. — No entanto,
um namorado irritado que tenta dizer que ele nunca vai chegar perto dela…
Luke sorriu sombriamente.
— Porque ele é um velho fraco e patético.
— Exatamente. — Ela sorriu. — Talvez você seja útil afinal, idiota.
Capítulo 52
Luke abriu a pesada porta de metal da entrada de visitantes da prisão e
entrou no vestíbulo apertado. Um guarda atrás do vidro apontou para o alto-
falante ao lado de Luke.
Ele se inclinou para frente.
— Estou aqui para ver Clive Perry. — Ele se sentia como se estivesse
pedindo ingressos de cinema.
— Alguma arma ou outro contrabando? — O guarda apontou para um
pôster listando, entre outras coisas, telefones celulares e drogas, e deslizou
uma prancheta pela abertura acima do balcão estreito.
— Não.
— Assine. — O tom do guarda era tão entediado quanto um aluno da
sétima série conjugando verbos.
Luke rabiscou sua assinatura em uma linha em branco e escreveu o nome
de Perry ao lado dela. Ele ficou surpreso que a caneta não se quebrou com a
força de sua mão.
— Passe por aquela porta através do detector de metais. A mesa de
visitantes fica à direita — disse o guarda, fazendo-o passar.
A próxima porta se abriu e Luke entrou em uma grande sala de espera. As
paredes de blocos foram pintadas de um cinza claro. Um punhado de
pessoas esperava em cadeiras de plástico em frente à mesa.
Depois de responder à pergunta sobre contrabando novamente, Luke
jogou seus óculos escuros, chaves e carteira na bandeja e passou pelo
detector de metais.
A mulher atrás da mesa de visitantes parecia mais uma avó alegre do que
um guarda de prisão.
Seu cabelo loiro grisalho estava puxado para trás em um coque, mas os
cachos crespos estavam explodindo para fora. Seu rosto redondo tinha
sardas espalhadas pelas bochechas e nariz.
— O que posso fazer por você, docinho? — Sua fala arrastada ecoou nas
montanhas da Virgínia Ocidental.
— Estou aqui para ver Clive Perry.
— Ok, vou precisar da sua carteira de motorista, por favor.
Ele a entregou e ela tirou uma cópia antes de devolvê-lo.
— Tudo bem, docinho, vá em frente e sente-se, e enviarei alguém para
trazer o Sr. Perry. Vamos colocá-lo em uma sala vazia.
Luke agradeceu e se sentou de frente para a mesa. Seus dedos
tamborilaram em silêncio em seu jeans.
Não importa o que aconteça, acabava hoje. A perseguição e a
manipulação de Perry, qualquer ameaça que ele representasse para Harper,
terminariam hoje. Não importa o que aconteça.
— Sr. Garrison?
Luke se aproximou da mesa.
— Colocamos você na sala B. Basta seguir Bill aqui, e o Sr. Perry chegará
em breve.
— Obrigado. — Ele seguiu Bill, um guarda com uma cabeleira branca,
que estava acima do peso em cerca de 45 quilos a mais.
A sala era um espaço encardido de três por três metros, com uma mesa
marcada, um cinzeiro que não era esvaziado há pelo menos uma semana e
duas cadeiras de plástico. As paredes foram revestidas com painéis de
madeira dos anos setenta.
Luke ignorou as cadeiras e ficou parado no canto, de frente para a porta,
para esperar.
Alguns minutos se passaram, antes que a porta se abrisse novamente. Era
Bill novamente, e atrás dele estava Perry.
Clive Perry poderia ter sido intimidante, mas uma vida inteira de escolhas
ruins o deixou encurvado e vazio. Ele tinha um metro e meio de altura, mas
seus ombros curvados o faziam parecer mais baixo. Seu cabelo grisalho
estava penteado e bem aparado.
As rugas em seu rosto eram profundas, fazendo-o parecer mais velho do
que seus 62 anos.
Não havia nada de notável no homem. Nada que gritasse “Psicopata
instável”. Exceto, talvez, os olhos. Um azul claro e aquoso. Havia um vazio
em seu olhar. Luke já tinha visto isso antes, nos olhos do inimigo. E uma
vez em seu próprio reflexo.
Perry agradeceu a Bill e se sentou à mesa. Dedos longos e nodosos,
manchados de amarelo, pegaram um cigarro.
Ele o acendeu e exalou uma nuvem de fumaça.
— O que posso fazer por você, Sr. Garrison?
Seja arrogante, Luke lembrou a si mesmo. O namorado arrogante e
superprotetor.
Ele sentou-se na cadeira em frente a Perry e enfiou os óculos de sol na
gola aberta da camisa.
— Você sabe quem eu sou? — Luke perguntou.
— Eu não tenho a menor ideia. — O sorriso pequeno e maldoso de Perry
mostrou dentes manchados pela idade.
— Vamos cortar o papo furado. Você acabou de assediar Harper.
— Tenho certeza de que não sei do que você está falando.
Luke tirou a carta do bolso e a deslizou pela mesa.
— Eu acho que você sabe.
O sorriso se alargou.
— Ah, minha carta.
— Cartas — Luke o corrigiu.
— Então, ela as leu. Eu não tinha certeza. Somos como amigos por
correspondência — disse Perry.
— Não. Você é algo como um perseguidor.
— Eu não represento nenhuma ameaça para ela.
Luke sorriu.
— Eu posso ver isso. — Ele se reclinou na cadeira.
— Eu cumpri minha pena, Sr. Garrison. Eu fui um prisioneiro modelo —
Ele disse, cruzando os dedos. — E não fiz ameaças específicas à sua
namorada.
— Você não tem coragem de fazer uma ameaça direta, muito menos de
executá-la.
— Aí está. Nada para se preocupar. Minha história com Harper é apenas
isso, história.
— Então por que você ainda escreve?
Perry abriu as mãos e encolheu os ombros.
— Talvez seja tão simples como não querer ser
esquecido. Desempenhamos papéis importantes na vida um do outro. Seria
uma pena esquecer isso.
— Você abusou de crianças sob seus cuidados. — Luke não precisou
adicionar repulsa em seu tom. Já estava lá.
— Como disse, eu cumpri minha pena. Aos olhos da lei, estou reabilitado.
— Perry tocou as bordas do envelope. — Diga-me, o que ela disse quando
abriu minha carta? Como ela recebeu minhas notícias?
E aí estava. A fome. Alimente-o apenas o suficiente.
— Ela me garante que você não é uma ameaça. Você é apenas um velho
louco e frágil que a culpa por seus próprios crimes.
— Ela tirou doze anos de mim — disse Perry, batendo a palma da mão na
mesa.
Luke agarrou a mesa.
— Você levantou suas mãos para aquelas crianças. Você bateu, os
negligenciou. Ninguém fez você abusar deles. Você merece ficar na prisão
pelo resto da vida, e se pensar por um segundo que vou deixá-lo chegar
perto de Harper quando for solto, você está ainda mais senil do que ela
pensa.
— Você está confiante de que pode protegê-la.
— Apenas tente passar por mim. Você aprenderá o que é o medo — Luke
disse calmamente. — Não vou descansar até que você esteja morto ou atrás
das grades pelo resto da vida.
— Você é terrivelmente arrogante em sua capacidade de proteger. Diga-
me, onde você estava quando aquele homem invadiu sua casa? Onde você
estava quando ele segurou a lâmina em sua garganta? Você estava lá para
protegê-la, então? — Ele lambeu os lábios finos.
— Como você sabe disso?
— Eu posso ter lido sobre isso no jornal — disse Perry, apagando o
cigarro. Ele ergueu o olhar para Luke. — Ou eu posso tê-lo enviado.
Luke se levantou tão rapidamente que a cadeira tombou. Ele colocou as
mãos sobre a mesa.
— Você está mentindo, porra.
— Oh. Você não sabia que Glenn e eu somos velhos amigos? Que
consegui libertá-lo em troca de um pequeno favor? É perigoso subestimar
seus inimigos, capitão.
— Isso não é verdade.
— Tudo o que ele precisava era a motivação da liberdade. Eu consegui o
dinheiro para a fiança e entreguei para a mãe dele.
— Você não tem nada. Você fez merda antes da prisão. De onde
conseguiu o dinheiro para a fiança de Glenn?
— A prisão é um excelente mercado para um empresário. Eu apenas
encontro uma necessidade e a preencho. Alguns querem drogas. Outros
precisam de itens com preços mais elevados que alimentem seus, digamos,
interesses singulares.
— Pornô infantil? — O interior de Luke se agitou.
Perry encolheu os ombros.
— O que quer que o cliente exija. Eu posso pegar e distribuir. Por uma
taxa.
— Você espera que eu acredite que você gastou 20 mil para enviar alguém
à minha casa para assustar a minha namorada?
— Claro que não. Enviei alguém à sua casa para matá-la.
Luke saltou sobre a mesa e agarrou Clive pelo macacão, puxando-o da
cadeira.
— Você falhou, idiota. Fale sobre os perigos de subestimar alguém. Você
ou seus lacaios nunca mais colocarão um dedo em Harper. Porque se você
tiver sorte o suficiente para passar por mim, ela vai derrubá-lo como fez
quando tinha doze anos.
Ele soltou Perry e se endireitou.
— Você não tem controle. Paciência. — Perry suspirou com desdém. —
Sem sutileza. Apenas força bruta.
— Oh, finesse é o que você chama de queimar uma menina de 12 anos
com um cigarro? Ou é contratar um bêbado de merda para fazer um
trabalho que você está fraco demais para realizar?
— Contratar Glenn foi um erro. Mas pelo menos tive o prazer de imaginá-
lo segurando a lâmina em sua garganta.
Luke bateu com o punho na mesa.
— Paciência é o que eu chamo de esperar meu tempo até que ela se sinta
segura. Finesse serei eu tirando tudo o que ela valoriza, um por um. Vou
começar pelos cachorros. E então, quando ela estiver sozinha, quando não
tiver mais nada, então eu vou tirar a vida dela.
Luke rosnou e lutou pelo controle. A luz maníaca naqueles olhos azuis
doentios o fez querer explodir. Esmagar o rosto do homem.
— Você nunca vai passar por mim, idiota. Você nunca vai sair daqui vivo.
— Luke manteve sua voz baixa.
— Você não tem nada a dizer sobre isso. Serei liberado. — Ele sorriu com
os lábios finos. — E quando eu for, vou acabar com a vida dela. E não há
nada que você possa fazer sobre isso.
O punho de Luke acertou o rosto de Perry. A cartilagem se partiu e o
homem caiu de joelhos.
A porta se abriu e a detetive Rameson entrou.
— Cristo, Garrison, pensei que você nunca faria isso. — Ela acenou com
a cabeça para o homem de terno à sua direita. — Temos o suficiente,
Detetive Willis?
O homem empurrou os óculos sobre o nariz e acenou com a cabeça:
— Oh, sim. Não tem como ele ver o lado de fora com isso.
— Você não tem provas! — Perry ficou de pé, ainda segurando o nariz. —
Estas salas não estão grampeadas!
Rameson caminhou até a mesa e tirou os óculos de sol da camisa de Luke.
— Você esteve preso aqui por muito tempo, idiota. A tecnologia está
avançando. Essas pequenas coisas gravam áudio e vídeo.
— Você não pode fazer isso! Você não pode me gravar sem um mandado!
— Ele estava gritando agora.
Rameson encolheu os ombros.
— Oh, você quer dizer este pequeno pedaço de papel aqui? Sabe o que
mais nós temos? Temos uma confissão completa de seu amigo Glenn
Diller. Conspiração para cometer assassinato leva, no máximo, 25
anos. Bem-vindo ao resto da sua vida.
Ela girou nos calcanhares e saiu da sala. Luke a seguiu e parou na porta.
— Você sabe o que ela realmente sente quando lê suas cartas? Pena.
Ele bateu a porta atrás de si, para bloquear os lamentos ferozes, e saiu
para a luz.
Capítulo 53
Luke ignorou a oferta de Melissa e Ty de um almoço comemorativo. Ele
também não podia enfrentar o escritório e, em vez disso, foi para casa. Ele
precisava ficar sozinho. Pensar no que aconteceu.
Ele desabou no sofá e foi imediatamente atacado pelos cães.
— Oh, meu Deus, pessoal. Me dá um tempo. Tive um dia difícil,
mantendo psicopatas doentes longe da mamãe.
Lola pulou em suas costas e Max lambeu seu rosto.
Uma batida na porta da frente interrompeu o ataque.
— Ei, você está em casa? — Aldo disse, entrando.
— Aqui — Luke respondeu.
Os cachorros pularam de cima de Luke para dançar ao redor de Aldo.
Ele se abaixou para acariciá-los.
— O que você está fazendo em casa, no meio do dia?
Luke se levantou.
— O que você está fazendo na minha casa, no meio do dia? E você quer
uma cerveja?
Aldo encolheu os ombros.
— Certo. Por que não? — Ele seguiu Luke até a cozinha.
— Então, a que devo o prazer? — Luke abriu a geladeira e tirou duas
cervejas.
Aldo abriu a tampa e deu um gole.
— Você provavelmente vai querer abrir a sua antes que eu diga o que
tenho a dizer.
Luke suspirou.
— Precisamos fazer isso agora?
Aldo balançou a cabeça.
— Sim. Então, qual é o seu problema?
— Eu não tenho um problema — Luke disse.
— Você tem um grande problema. — Ele apontou com o polegar para as
caixas com as coisas de Harper empilhadas na sala de jantar. — É isso que
você acha que Karen iria querer?
— Do que diabos você está falando?
— Você acha que Karen gostaria que você passasse a vida infeliz e
sozinho?
Luke sentiu sua mandíbula apertar.
— Eu não me importo se não devemos mencionar o nome dela perto do
pobre e delicado Luke. Você está sendo um imbecil e, como seu amigo, é
meu trabalho chutar o seu rabo quando você está sendo um idiota.
Por que todo mundo continuava chamando-o de idiota?
— Você não sabe do que está falando. — Luke enfiou um dedo no peito
de Aldo.
Aldo tirou a mão do caminho.
— Digamos que você tenha morrido. Você morto e Karen ainda viva. Que
tipo de vida você gostaria que ela tivesse sem você? Seu estúpido fantasma
ficaria feliz em vê-la se trancando longe de todos que a amam? Enterrando-
se no trabalho. Voltando para uma casa vazia todas as noites para reviver
sua miséria?
Luke se virou e colocou as mãos na cabeça.
— Claro que não.
— Então por que diabos você faria isso com Harper?
— Eu não fiz isso com Harper! Foi ela que construiu toda essa vida de
mentira...
— Mentira? Então ela não te ama? Ela não nos ama? Ela não ama essa
porra de cidade inteira?
— Claro que ela ama.
— Então por que você tirou isso dela? Por Karen? Por você?
Luke colocou as mãos na cintura.
— É uma história completamente diferente se você não a ama, Luke. Mas
se você a ama e jogou fora a vida que ela construiu para vocês dois, você é
um idiota.
Luke olhou para seus pés. Ele sentiu sua garganta apertar.
— É claro que eu a amo. Como eu não amaria? Só não sei como estar
com alguém que não seja Karen.
Aldo o agarrou em um abraço de urso e deu um tapa em suas costas.
— Você é um idiota estúpido.
— Aprendi observando você.
Aldo o soltou, mas manteve a mão no ombro de Luke.
— Não tem que ser um ou outro. Você sabia que Harp coloca flores no
túmulo de Karen todas as semanas?
— É Harper que está fazendo isso?
Ele assentiu.
— Você não está escolhendo entre elas ou substituindo Karen por
Harp. Você está autorizado a amar as duas. Como você acha que os pais têm
mais de um filho? Eles não amam apenas o primeiro.
— Eu simplesmente presumi que era o que meus pais fizeram — Luke
brincou.
— Não, se eles parassem em uma criança perfeita como a minha mãe fez,
então você estaria certo. O coração humano pode amar mais de uma
pessoa. Você ama seus pais, não é?
Luke acenou com a cabeça.
— Soph? Josh? James? Obviamente, você me ama. Caso contrário, você
não iria me idolatrar. Você tem espaço, e só porque você ama outra pessoa,
não significa que está esquecendo as anteriores.
— Obrigado, Moretta. Às vezes, você não é um idiota completo.
— Não há necessidade de ser um idiota, quando estou segurando meus
comentários sobre o quão assustador é você ter a vida de duas mulheres
encaixotadas em sua casa. Eu não queria esmagar seus sentimentos frágeis.
O olhar de Luke passou pelas caixas. Merda. Isso era assustador.
***
Luke parou a picape no meio-fio arborizado. O cemitério estava à sua
direita. Ele sempre estacionava aqui. A caminhada lenta de ida e volta para
o túmulo de Karen fazia parte do ritual, tanto quanto ele ficar parado em
silêncio sobre a lápide dela. Ele geralmente vinha à noite, quando as
chances de topar com outra pessoa eram mínimas.
Podia ver a lápide dali. Ela tinha uma visita.
Luke sentiu seu coração pular uma batida com o familiar flash de cabelo
loiro. Ela estava enrolada em um cachecol vermelho alegre, mas sem
casaco. Provavelmente esquecido no carro ou no escritório.
Ele observou Harper colocar algo cuidadosamente sobre a sepultura. Ela
estava ajoelhada, ombros curvados de frio.
A vulnerabilidade dela queimou em seu interior. Ele a machucou
propositalmente, por medo, e agora os dois estavam pagando o preço. Luke
segurou a maçaneta da porta. Mas um movimento de Harper chamou sua
atenção e o paralisou.
Ele a observou endireitar os ombros, beijar as pontas dos dedos e colocá-
los de leve na pedra. Luke sentiu seu coração quebrar em um milhão de
pedaços.
Harper levantou-se rapidamente e esticou as pernas antes de desaparecer.
Luke esperou um pouco antes de se aproximar do túmulo.
Havia um pequeno arranjo de ramos de pinheiro e azevinho, embrulhado
em uma fita quadriculada, apoiado no granito frio. Ele passou os dedos
sobre o K.
— Eu baguncei as coisas, não é? — Ele suspirou e apertou os olhos para
as nuvens espessas de dezembro. — Simplesmente não sou bom com a vida
sem você. Eu não sei o que fazer. As coisas eram muito... mais fáceis
quando você estava aqui. Harper não é fácil. Ela é um desastre ambulante.
Luke suspirou.
— Eu me preocupo. Ela é o tipo de pessoa que daria carona a um
assassino em série ou abriria a porta para um palhaço homicida. Ela é
volúvel e teimosa. Quando eu fui embora neste verão, pedi a James para
cortar a grama, porque eu estava com medo de que ela cortasse o pé com o
cortador de grama.
— Eu não entendo por que sinto essa atração por ela. Porque eu quero
estar perto dela. Porque não posso esperar para ouvir o que ela vai dizer. Ela
não é você. E eu te amo. Mas eu também a amo. E não sei se está tudo bem.
— Eu nem sei se está tudo bem falar com você sobre isso. Mas você é a
pessoa mais inteligente que conheço, e se alguém tiver a resposta, será
você.
Luke esfregou as mãos no rosto.
— Diga-me o que fazer, Karen.
— Ela provavelmente diria para você deixar de ser um idiota.
Luke pulou ao som da voz e se virou.
Joni estava parada com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco cinza-
carvão. Suas bochechas coradas do vento e do frio.
Durante anos, teve medo de encontrar Joni no túmulo de
Karen. Confronto em terreno sagrado. Não haveria nada a dizer para se
defender, porque ele era culpado de tudo o que ela o acusava.
O que ela diria agora, com duas mulheres entre eles? Os vivos e os
mortos.
— Oh, Luke — ela suspirou, movendo-se para ficar ao lado dele, para que
olhassem a lápide juntos. — Nós falhamos com nossa garota de muitas
maneiras.
— Eu não queria amar Harper. Eu tentei não amar.
— Não foi isso que eu quis dizer, idiota. Você realmente acha que Karen
gostaria que você vivesse sozinho pelo resto da vida?
— Quais eram as chances, Luke, de Harper aparecer aqui em
Benevolence? De jeito nenhum, isso foi uma coincidência. Ela foi feita para
você. Ela precisa de você. Para amá-la, protegê-la, ser sua família. E você
precisa dela.
— Sinto que estou virando as costas para Karen.
— Sendo feliz sem ela?
Luke assentiu e engoliu em seco.
— Esse é o maior presente que você poderia dar a ela. É a única coisa que
ela gostaria de você, de mim. Nós, vivendo uma vida cheia de amor e
felicidade e lembrando a sorte que temos de tê-la conhecido. E eu não sei
sobre você, mas estou cansada de decepcioná-la.
— Você acha que Karen gostaria de Harper?
— Quem você acha que a enviou para você, Luke? Harper foi escolhida
para você e entregue diretamente a você.
Ele olhou para seus pés e piscou para afastar a visão embaçada.
— Tenho tantas saudades dela.
Joni envolveu um braço em volta de sua cintura.
— Querido, Karen foi o amor de sua vida. Ambos sabemos disso. Mas
adivinha? Harper também é. Não dê as costas a este presente.
Luke a envolveu em um abraço, e eles ficaram em silêncio por longos
minutos, antes de Joni finalmente dar um tapinha nas costas dele.
— Vou deixar você conversar sobre as coisas com a nossa garota. Mas
não espere muito. Ela vai sair da cidade no sábado.
Seu coração parou. Benevolence sem Harper?
Ele balançou a cabeça e enxugou o rosto.
— Obrigado, Joni. Por tudo.
Ela sorriu.
— Você é um bom homem, Luke. Você fará a escolha certa.
Ele esperava que sim. Ele a observou entrar no carro e partir antes de se
ajoelhar na grama.
— Bem, você ouviu sua mãe. Então, estou dependendo de você para me
ajudar. Diga-me o que fazer, Karen.
O sol do fim da tarde rompeu as nuvens pesadas. Sua luz aqueceu o rosto
e o peito de Luke.
Ele quase deixou de ver. Foi apenas por um segundo, mas um raio de sol
se alongou e ficou exatamente na escultura da fênix na lápide.
Luke beijou a ponta dos dedos e jogou-os para a fênix.
— Obrigado — ele sussurrou.
Capítulo 54
Harper respirou fundo e bateu na porta do apartamento. Tirou as luvas e as
colocou no bolso.
A porta se abriu com uma risadinha.
Os olhos já brilhantes de Gloria se iluminaram. Ela estava vestindo uma
camiseta da Guarda de Aldo e legging. Seu cabelo escuro estava uma
bagunça desgrenhada.
— Harper! Que bela surpresa! Entre.
— Estou interrompendo?
Gloria riu e deu um passo para o lado, acenando para Harper entrar.
— Não, Aldo está na cozinha fazendo sanduíches de queijo grelhado e
tentando não queimar o lugar.
— Tem certeza de que não estou interrompendo?
Gloria riu novamente.
— Dez minutos antes, você teria estado. — Ela piscou.
Em vez de rir, Harper envolveu sua amiga em um abraço apertado.
— Estou tão feliz por você, Gloria. Eu realmente estou.
Gloria retribuiu o abraço.
— Eu também. Eu devo tudo a você, você sabe.
Harper a soltou.
— Não seja boba. Você trouxe a si mesma até aqui, a uma casa de verdade
com um homem sexy fazendo queijo grelhado para você. Você merece cada
pedacinho disso.
— Estou tão feliz, Harper. Nunca imaginei que a vida pudesse ser assim.
— Ela abraçou a camiseta de Aldo com mais força. — Chega disso. Posso
lhe oferecer um queijo grelhado meio queimado?
— É minha velha amiga Harpoon aí? — Aldo apareceu sem camisa.
Harper riu.
— Ei, cara. Faz um tempo que não o vejo.
— Quando voltaremos às trilhas? Tenho uma nova prótese que vai deixar
você comendo poeira.
— Legal. Na verdade, eu queria que vocês dois soubessem que eu estou,
uh... — Ela engoliu em seco. — Indo.
— Indo de férias? — Gloria perguntou, com a testa franzida.
— Indo para trilhas felizes? — Aldo ofereceu.
— Trilhas felizes. Ou apenas razoavelmente boas trilhas — Harper disse,
mantendo seu tom leve.
— Não é por causa da briga até a morte de Luke e Linc no supermercado,
é? — Gloria perguntou.
— Ouvi dizer que os dois foram banidos para sempre, depois de destruir o
corredor do pão — interrompeu Aldo. — Pães e bolos por todos os lugares.
Harper revirou os olhos.
— Bem, as fofocas de uma cidade pequena são uma coisa que não vou
sentir falta.
— Você está desistindo dele? — Gloria perguntou, seus olhos castanhos
como piscinas de compaixão.
— Eu estou. Pelo meu bem. Pelo dele. Não posso mudá-lo e também não
posso ficar aqui. — Não é seguro para nenhum de vocês se eu fizer isso, ela
acrescentou silenciosamente.
— Você tem amigos aqui — Gloria a lembrou.
— E eu sou muito grata por ter todos em minha vida. Mas Benevolence é
a casa de Luke, e eu ficar aqui será apenas um lembrete doloroso para nós
dois.
— Eu discordo de você, mas como seu amigo, apoio sua
decisão. Contanto que você prometa nos deixar visitá-la.
— Claro — disse Harper com um sorriso choroso.
— Então, aonde exatamente iremos visitá-la? — Aldo perguntou, com as
mãos na cintura, ainda segurando uma espátula.
— Eu não tenho certeza, ainda. Irei no sábado, então obviamente tenho
que ter um plano. Eu aviso você. — Ela mordeu o lábio. — Ouça, quando
eu disser onde estarei, você promete que não vai deixar ninguém saber?
— Com ninguém, você quer dizer Luke? — Aldo cruzou os braços.
Harper balançou a cabeça.
— Não. Qualquer pessoa que não precise saber. Como se um estranho te
perguntasse... ou algo assim. — Ela estava atrapalhando isso, fazendo uma
bagunça.
— Você está em apuros? — Gloria perguntou, demonstrando
preocupação.
— Está tudo bem. Eu só queria dizer a vocês dois pessoalmente. Vocês
têm sido tão bons amigos para mim. Eu realmente vou sentir falta dos dois.
— Sua voz falhou, mas ela lutou contra isso. — Eu amo muito vocês.
Gloria envolveu Harper em um abraço novamente.
— Eu gostaria de poder te convencer a ficar.
— Há espaço para mim aí? — Aldo agarrou as duas e apertou.
— Uma piada sobre um ménage à trois e vou te bater com essa espátula
— ameaçou Harper.
Gloria deu uma risadinha.
— Prometa que não vai desistir do amor.
— Eu prometo. — Harper assentiu. Essa pode ter sido a primeira mentira
que ela falou para a amiga.
***
Se dizer adeus a Gloria e Aldo foi difícil, dizer a Sophie estava provando
ser impossível. Ela não conseguia fazer a mulher desacelerar tempo
suficiente para lhe dar uma chance de emitir as palavras.
— Eu não sei, Sophie. Karaokê?
Harper agitou apaticamente o café na cozinha de Joni. Ela não tinha ido
ao Remo’s desde que desistiu de seus turnos de sexta-feira. Ela disse que era
porque estava trabalhando à noite no escritório, mas, na verdade, não queria
encarar a cidade.
— Oh, por favor, Harp. Você não acha que Luke iria aparecer
voluntariamente na noite de karaokê, acha? Estou preocupada com
você. Você precisa sair, se divertir um pouco. Esquecer as coisas por um
tempo.
Como se ela pudesse esquecer, Harper pensou ironicamente. As
coisas nunca sairiam de sua mente ou do que restou de seu coração.
— Como você conseguiu a noite de folga?
Sophie encolheu os ombros.
— Eu ganho uma sexta-feira de folga por mês. É isso. Está dentro?
Harper esfregou a mão sobre a dor que nunca deixava seu peito. Bem,
talvez servisse como uma espécie de adeus à sua cidade adotiva. Uma
última noite, no primeiro lugar em que se sentiu em casa. Ela contaria a
Sophie, então.
— Que horas você vai me buscar? — ela suspirou.
Sophie deu um grito e jogou os braços em volta de Harper.
— Você não vai se arrepender! Eu prometo! Vai ser uma noite
inesquecível.
— Cada noite com você é uma noite inesquecível.
— Isso é o que Ty diz. — Sophie ergueu as sobrancelhas.
— Por favor, não brinque sobre sexo com a mulher que está enfrentando
um período épico de seca, depois... — Como poderia até mesmo rotular o
que ela compartilhara com Luke?
— Querida, a maneira como vocês dois sempre se olharam, a
intensidade. Isso não vai embora. Especialmente com uma separação
temporária.
Por que parecia que todo mundo estava tendo mais dificuldade em se
desapegar do que ela?
— Soph, nós terminamos.
— Nunca.
— Pelo amor de Deus, podemos conversar sobre outra coisa?
— Que tal dizer que Frank veio trabalhar esta manhã assobiando uma
musiquinha alegre e não gritou com ninguém?
Harper sorriu.
— Sério? Joni certamente parecia estar com um humor mais alegre,
quando saiu para o trabalho esta manhã.
— Uma fonte bem posicionada os avistou no Remo’s, tomando bebidas
depois do jantar da noite passada, onde eles ficaram até quase fechar.
Harper bateu palmas.
— Já estava na hora! Eu perguntei a ela como foi esta manhã, e ela
realmente corou.
Sophie gritou.
— Eu amo o amor. Acho que a cidade inteira pegou o vírus este
ano. Gloria e Aldo, Joni e Frank, você e...
— Dá um tempo, Sophie, ou direi a Ty o que realmente aconteceu com
sua caneca de café favorita.
— Traidora.
— O que você vai fazer quando Josh tiver idade suficiente para perceber
que tem sido o bode expiatório da mamãe?
Sophie encolheu os ombros.
— Provavelmente terei outro bebê e colocarei a culpa toda sobre ele.
— Bom plano.
***
Harper deixou Sophie convencê-la a vestir o apertado suéter azul marinho
com gola redonda e calças skinny cinza.
— Por que vamos nos enfeitar para uma noite no Remo’s?
Sophie revirou os olhos.
— Não me arrumo desde a Páscoa. É hora de mostrar uma coisa... ou duas
a esta cidade. — Ela ajustou seus seios. Sophie se afastou do espelho e
olhou para o peito de Harper. — Se você ficar mais magra, vai começar a
perdê-los.
Harper cruzou os braços na frente dela.
— Pera aí, senhora. Tenho comido muito bem.
Sophie bufou.
— Okay, certo. Vamos comprar nachos e palitos de queijo esta noite, só
para você saber.
— O que você quiser, Soph — Harper suspirou.
O Remo’s estava lotado quando chegaram, mas encontraram uma mesa
vazia em frente ao palco. Era uma espécie de simetria bonita ter o início e o
fim de sua história acontecendo bem aqui. Uma espécie de encerramento.
— Tem certeza de que devemos nos sentar tão perto? — Harper
questionou, acima do som da música. — Quão boa é a noite de karaokê em
Benevolence?
— Não julgue, Garota da Cidade Grande. Temos algum talento nesta
cidade — Sophie brincou.
— Quanto talento se pode ter, já que esta é a primeira noite de karaokê
desde que me mudei para cá?
— Cale-se.
Sophie sinalizou para Hazel, o garçom, e pediu duas cervejas, nachos e
palitos de queijo, conforme prometido.
— Ouça, Soph, esta noite é por minha conta.
Sophie recusou com um gesto a oferta.
— Não seja ridícula. Estamos aqui para animá-la, e como podemos fazer
isso se deixarmos você pagar a conta?
— Estou falando sério — insistiu Harper. Ela suspirou. — Na verdade,
vou embora amanhã. Vou sacudir a poeira desta pequena cidade. — A piada
ficou presa em sua garganta.
— Do que você está falando? — Sophie se engasgou com as palavras. —
Você não pode ir! Você tem uma vida aqui. Você é da família!
Harper balançou a cabeça.
— Não mais, Soph. Dói muito estar aqui. E tenho certeza de que não é
confortável para o seu irmão me ter aqui. — Ela ainda se engasgava com o
nome dele.
Hazel voltou e misericordiosamente deixou duas cervejas na mesa.
— Harper, você não pode ir! — Sophie bateu com a mão na mesa. Harper
estendeu a mão para firmar as garrafas.
Sophie se recostou na cadeira, balançando a cabeça.
— Não. Não. Você não vai, porra.
Harper sorriu.
— Eu realmente vou sentir sua falta, sua aberração teimosa.
Sophie apertou a mandíbula, o que foi uma lembrança dolorosa de seu
irmão. Harper tinha visto aquele olhar com bastante frequência. Era o olhar
“Sem discussão, decisão tomada”.
— Eu não vou sentir sua falta porque você não vai a lugar nenhum. E
você é uma idiota estúpida por sequer considerar isso.
Harper revirou os olhos.
— Se você fizer beicinho, isso vai estragar a “melhor noite de todas”. Por
que está tão cheio aqui? — Olhando ao redor, ela notou que Remo’s estava
lotado. — Não acredito que o karaokê atraia esse tipo de multidão.
Hazel as interrompeu novamente com duas cestas de comida.
— Vocês duas querem pratos?
— Não, obrigada, Hazel — disse Sophie com um aceno. — Vamos apenas
pegar das cestas, com elegância. — Ela empurrou os nachos para Harper. —
Coma antes de definhar.
Harper revirou os olhos e provou um nacho. Seu estômago simplesmente
não estava curtindo. Às vezes, ela tinha medo de que, mesmo que seguisse
em frente, o buraco, a dor, nunca iria embora.
— Eu tenho que fazer xixi — anunciou Sophie, se erguendo de seu
assento. — Guarde alguns nachos para mim.
Harper observou sua amiga ziguezaguear pela multidão. Ela iria sentir
falta daquela mulher como se tivesse perdido um membro. A energia
ilimitada e a lealdade feroz de Sophie nunca seriam esquecidas. Ela
esperava que ainda pudessem ser amigas, mesmo à distância.
Harper mordiscou um palito de queijo e tentou não ficar deprimida, até
que Fred subiu ao palco.
— Senhoras e senhores, bem-vindos ao karaokê. Esta noite temos um
tema muito especial para vocês. Vamos ver se conseguem descobrir.
Ele saiu do palco sob o barulho e aplausos da multidão. Harper se
recostou na cadeira para assistir ao show.
As luzes diminuíram e, quando o primeiro grupo subiu ao palco, os olhos
de Harper se arregalaram.
— É o Frank? — ela sussurrou para ninguém em particular.
Com um novo corte de cabelo e a camisa mais limpa de botões da
Garrison, Frank estava acompanhado por Beth, tia Syl e Georgia
Rae. Todos usavam óculos escuros.
Ele pegou o microfone.
— Sim, tudo bem. Esta vai para uma amiga nossa muito querida, Srta.
Harper Wilde.
A multidão aplaudiu. Atordoada, Harper olhou de um lado para o outro. O
que estava acontecendo?
Não havia ninguém para perguntar, porque a multidão explodiu quando
Frank cantou os primeiros compassos de “With a Little Help from My
Friends”.
Ela sabia que estava boquiaberta, mas não conseguiu evitar. A voz rouca
de Frank era certamente diferente da dos Beatles, mas não era ruim. E
quando as mulheres se juntaram ao coro, seu coração se alegrou pela
primeira vez em semanas.
Frank deu um passo atrás para que as senhoras pudessem cantarolar em
uníssono.
Harper colocou a mão sobre o coração. Eles estavam dizendo a ela que a
amavam.
O sentimento era mútuo.
Ela se juntou ao resto da multidão com aplausos estrondosos, quando eles
saíram do palco. Uma por uma, as senhoras pararam em sua mesa para dar
um beijo em sua bochecha.
Frank foi o último da fila.
— Estou feliz que você seja minha amiga, garota — ele disse
rispidamente.
— Frank... — ela simplesmente não conseguia pronunciar as
palavras. Então o abraçou com força. Ele deu um tapinha nas costas dela,
sem jeito, e desapareceu assim que ela o soltou.
Fred estava de volta ao palco, pedindo silêncio.
— Vai ser uma noite à moda antiga, pessoal. Junte as mãos para o nosso
próximo ato, Sonny e Cher.
Harper arfou e colocou a mão sobre a boca enquanto Aldo e Gloria
subiram ao palco em camisetas tie-dye combinando.
De mãos dadas, eles se aproximaram do microfone.
— Obrigado, senhoras e senhores. Gloria e eu gostaríamos de dedicar essa
música à mulher a quem devemos tudo. Esta é para você, Harper.
— Amamos você — disse Gloria, mandando um beijo para Harper.
A música começou, e Aldo e Gloria dançaram juntos. Gloria começou
“I’ve Got You Babe” com uma voz cristalina.
— Oh, meu Deus — Harper riu.
Aldo cantou, Gloria jogou o cabelo no estilo Cher, e todo o bar cantarolou
e dançou.
Harper sentiu que seu sorriso iria dividir seu rosto.
Enquanto Aldo murmurava sobre usar seu anel, ele ergueu a mão de
Gloria, e um brilho distinto refletiu a luz. O coração de Harper explodiu
junto com a multidão.
Ela ficou cega de felicidade, enquanto Aldo e Gloria sorriam um para o
outro.
Ela podia imaginá-los de pé no altar, sorrindo um para o outro, e esperava
que pudesse estar lá para testemunhar tamanha felicidade.
Gloria saltou do palco, e Harper segurou a mão dela. O diamante brilhava
como os olhos de sua dona. Ela envolveu a pequena morena em um forte
abraço.
— Eu estou tão feliz por vocês dois.
— Não estaríamos aqui sem você, Harp — disse Aldo, aproximando-se
para um abraço.
— Então, esperamos que você concorde em ser nossa madrinha — disse
Gloria, juntando as mãos.
— Você está falando sério? — Harper gritou. — Oh! Eu ficaria honrada!
Gloria a abraçou novamente.
— Se importa se nos juntarmos a você?
— Por favor! Sophie desapareceu. Eu não posso acreditar que ela está
perdendo isso.
Uma terceira cadeira apareceu magicamente, e Gloria e Aldo se
amontoaram ao redor da pequena mesa.
— Esta é uma despedida incrível — ela sussurrou para Gloria.
Sua amiga sorriu, mas não disse nada.
Aldo comeu os nachos.
— Eu estava muito nervosa para jantar esta noite.
— Vocês foram ótimos.
— Espere até ver o próximo ato. — Gloria piscou.
Ela não teve que esperar muito. Eles já estavam subindo ao palco.
Os Garrisons e Joni.
Sophie estava na frente e no centro, com Claire e Joni a
flanqueando. Charlie, James, tio Stu e Ty se aglomeraram atrás deles. Todos
usavam suéteres de Natal feios que diziam “Natal dos Garrison”.
A batida funky dos anos 70 de “We Are Family” da Sister Sledge encheu
o bar. As mulheres se moveram em direção ao microfone, em uníssono.
Eles apontaram para Harper e cantaram para ela sobre família. Lágrimas
picaram em seus olhos e rapidamente se transformaram em risos quando os
homens se adiantaram para o refrão desafinado.
Do palco, Sophie jogou algo macio para ela. Harper o desdobrou para
revelar um suéter igual ao deles. Ela o abraçou contra o peito e murmurou:
— Obrigada.
Os Garrisons fizeram suas reverências sob fortes aplausos, e as pessoas
nas mesas da frente se esforçaram para abrir espaço para eles.
Charlie parou ao lado de Harper e colocou a mão em seu ombro.
— Você é da família, garota.
Claire se lançou para um abraço, dando a Harper alguns segundos
preciosos para se recompor.
— Obrigada — Harper disse, apertando Claire com mais força.
— Oh, querida, nós que te agradecemos.
— Eu? Por quê? Vocês me deram muito.
— E isso é o que você nos deu — Claire disse, apontando para o palco.
O coração de Harper se apertou. Luke estava sozinho em frente ao
microfone, as mãos nos bolsos.
Capítulo 55
Doía olhar para ele. O rosto perfeito, o corpo que era tão familiar. Agora
ele só era alguém que ela conhecia, e isso partiu seu coração de novo.
Ele estava olhando para ela, alheio a todos os outros no bar.
— Eu gostaria de dedicar essa música a uma das mulheres que tive a sorte
de amar nesta vida. Eu não mereço você, Harper, mas espero que você não
use isso contra mim, porque eu te amo com cada pedaço de mim.
A multidão assobiou e gritou, mas Harper não percebeu. Havia apenas
Luke parado ali, dizendo que a amava.
Ela mal conseguia vê-lo em meio às lágrimas.
Ele limpou a garganta, enquanto os primeiros compassos de “Angel Eyes”
tocavam. As mulheres na multidão ficaram maravilhadas. Harper levou as
mãos ao rosto. Ele era seu sonho se tornando realidade.
Ela observou Luke enquanto ele cantava as palavras que ela desejava
ouvir. Seu coração se encheu até parecer que ia explodir. Quando a última
nota da guitarra desapareceu, Luke estendeu a mão para ela. Harper se
levantou, mas a multidão era tão grande que não havia como chegar até
ele. Ty e James resolveram o problema. Eles a colocaram sobre a mesa, e
Luke a encontrou do outro lado, puxando-a e segurando-a contra ele, os pés
dela ficaram balançando no ar.
— Amo você, Harper, e cansei de me esconder. Você pode me perdoar?
As palavras falharam, mas ela conseguiu acenar com a cabeça, o que
continuou fazendo até sentir que sua cabeça iria explodir.
Luke sorriu para ela, sua covinha aparecendo. Ele a deixou deslizar um
pouco mais para baixo, para que seus lábios pudessem encontrar os dela em
uma promessa salgada e doce.
Nenhum deles percebeu o alvoroço da multidão, os olhos molhados ou a
maneira como os casais na plateia se aproximaram. Eles só tinham olhos
um para o outro.
***
Luke disse que não estava pronto para deixá-la ir para casa, então
deixaram o carro dela no Remo’s, e um círculo diferente se fechou.
Quando eles pararam na garagem, Harper agarrou seu braço com força.
— Luzes de Natal!
Toda a frente da casa estava coberta por luzes brancas. Velas acesas nas
janelas. Uma grinalda alegre adornava a porta da frente. A guirlanda verde
de Harper, na grade da varanda, estava enfeitada com mais luzes. Havia um
Papai Noel inflável gigante, acenando para a rua do jardim da frente.
— Você acendeu as luzes. — Harper não conseguia desviar os olhos do
espetáculo perfeito.
— Eu queria que você tivesse um Natal perfeito. Achei que mais é,
definitivamente, mais.
— Está perfeito. — Ela se virou e estendeu a mão para tocá-lo, mas
parou.
Ele balançou a cabeça e puxou-a para mais perto.
— Você não precisa ter medo, Harper. Você pode me tocar, eu não irei
embora de novo. — Seu aperto aumentou em seus braços. — E eu não vou
deixar você ir também. Devo muito a você, e o maior pedido de desculpas
do mundo é apenas parte disso. Vamos.
Eles saíram da picape e caminharam até a varanda da frente.
— Antes de entrarmos, preciso dizer algumas coisas.
Harper cruzou os braços contra o frio e assentiu.
— Ok.
Luke respirou fundo.
— Eu sinto muito por ter te afastado. Sinto muito por machucá-la de
propósito. Eu estava assustado. Até os ossos. Senti por você coisas que
nunca pensei que seria possível sentir novamente, e algumas coisas eram
completamente novas. Achei que, por amar você, estava sendo infiel a
Karen. Quando a perdi, pensei que fosse minha culpa ela ter morrido. Jurei
que nunca a esqueceria e nem o preço que ela pagou por minhas decisões.
Harper estendeu a mão para ele e a colocou sobre seu coração.
Ele cobriu a mão dela com a sua.
— Eu pensei que isso significava viver minha vida sozinho. Nunca mais
amar. Mas foi tão fácil amar você. Eu nem me lembro de nunca ter te
amado. Acho que te amei no segundo em que te vi se lançar em Glenn. Algo
em mim disse “ela finalmente está aqui”. Você é o que eu estava
esperando. A luz que me ajudou a atravessar a escuridão, e não estou
disposto a voltar para uma vida sem você.
Ele soltou um suspiro trêmulo.
— Eu sei que você não me deve nada e que, embora eu vá passar o resto
da minha vida tentando fazer as pazes com você, ainda não será o
suficiente. Eu sei de tudo isso, mas ainda estou pedindo que você, por favor,
me perdoe. Eu te amo. Eu a quero. Eu preciso de você. E eu sinto muito por
machucar você, amor.
Harper se lançou sobre ele. Ela pressionou o rosto coberto de lágrimas
contra o peito dele e apenas se permitiu cheirá-lo. Ele acariciou seus
cabelos e beijou sua testa.
— Eu sinto muito, Harper. Eu sou um idiota. Mas eu sou um idiota que te
ama mais do que tudo neste mundo.
— Eu te amo, Luke.
— Você me perdoa?
— Eu fiz isso há muito tempo.
Ele balançou a cabeça.
— Como diabos eu tive tanta sorte?
— Você pode não pensar assim quando eu te contar uma coisa — Harper
disse, recuando.
— Você pode me dizer qualquer coisa.
— Eu não posso ficar aqui.
— Por que diabos não? — Ele agarrou seus ombros.
— Não é seguro. Há coisas que você não sabe... — ela começou.
— Querida, você realmente acha que um homem de 62 anos, com
insuficiência hepática, pode passar por mim para chegar até você?
Harper deu um passo para trás.
— Como você... eu não entendo.
— Clive Perry nunca mais será uma ameaça para você. — Luke afastou
suavemente o cabelo do rosto dela. — Ele nunca chegará perto de
você. Nós nos certificamos disso.
— Nós?
— Melissa disse para ligar para ela amanhã.
— Oh, droga. Você está brincando comigo? Você conheceu Melissa?
— Oh, sim. Ela não ficou impressionada com o “idiota” que largou sua
amiga a princípio, mas estamos bem agora. Ele nunca vai ser liberto,
amor. E se você concordar com isso, amanhã vamos apresentar uma medida
restritiva com Ty, para que ele não possa lhe enviar mais cartas. Podemos
fazer isso depois de escolher uma árvore de Natal.
— Como...
— Eu te conto mais tarde, ok? — Ele a abraçou mais forte e enterrou o
rosto em seus cabelos. — Falei a verdade quando disse que não iria deixá-la
novamente. Aldo e eu nos aposentamos oficialmente.
— Oh, meu Deus, eu não acho que posso lidar fisicamente com mais
surpresas.
— Vamos entrar.
— Por quê? Há uma banda marcial e o cara da Publisher’s Clearing
House lá?
— Deus, senti falta da sua boca inteligente. — Ele colocou seus lábios
nos dela. — Vamos entrar. Você vai congelar até a morte, se eu começar a
tirar as suas roupas aqui.
Luke segurou a mão dela com força até que cruzaram a soleira. Ele fechou
a porta atrás deles e a puxou para os seus braços.
— É aqui que você pertence.
Ele a beijou no topo da cabeça e lentamente a virou.
Ela viu as fotos emolduradas na parede ao lado da porta.
Uma era da Karen, rindo ao sol. A outra, de Harper e seus pais.
— Você os enquadrou.
Sua respiração ficou presa na garganta. A foto que a seguiu de um lugar
para outro, cuidadosamente enfiada em um envelope, estava emoldurada e
pendurada na parede.
— Você está em casa, Harper.
— Luke. — Lágrimas nublaram sua visão, e ela se voltou para ele.
Mas ele não estava mais atrás dela.
Ele estava ajoelhado.
— Harper Wilde, não quero passar mais um dia da minha vida sem
você. Quero acordar com você abraçada a mim todas as manhãs. Quero que
você me empurre para fazer coisas que tenho medo. Eu quero fazer nossa
família crescer. Quero passar o resto da minha vida protegendo você de si
mesma e agradecendo às estrelas pela sorte, por você ter dirigido para o
leste, em vez de para o oeste. Seja minha esposa. Fique velha comigo.
Ele abriu a caixa de veludo para revelar um anel deslumbrante.
— É um anel com o símbolo do infinito, porque significa quanto tempo eu
quero ficar com você. E você tem que dizer sim, porque eu comprei na
cidade e todo mundo já sabe.
As lágrimas correram livremente por suas bochechas. Pela segunda vez
naquela noite, ela só conseguiu acenar com a cabeça em resposta.
— Eu realmente preciso que você diga isso, Harper — ele provocou.
Harper caiu de joelhos e para seus braços.
— Sim para tudo com você, Luke.
Epílogo
Harper aplaudiu com o resto da multidão, ao som de um estalar do taco, e
então riu quando percebeu que a criança em seus braços ainda estava
dormindo.
— Eu não posso acreditar que ela consegue dormir com isso — Harper
disse a Claire.
— Ela se sente segura. — Sua sogra sorriu. — E por que não iria? Veja o
que vocês dois fizeram por ela e seus irmãos. — Claire acenou com a
cabeça em direção ao home plate, onde Luke estava inclinado, tendo uma
conversa séria com Robbie, de 11 anos.
Harper baixou o nariz para o cabelo escuro e ralo de Ava.
— Acho que é mais o que eles fizeram por nós.
— Mãe! — Henry, com tênis desamarrados e uma camiseta manchada de
grama, correu até eles, parando um pouco antes de ir para a cadeira
dobrável de Harper.
— Henry! — Harper respondeu com o mesmo entusiasmo.
— Mãe, posso passar a noite na casa do Tyler? Posso, hein? Eu posso?
— Deixe-me checar com os pais dele, e se estiver tudo bem para eles, está
tudo bem para mim.
— Uhuuu! — Henry disparou novamente.
— O que diabos você e Luke vão fazer com quatro deles? — Claire riu.
Harper deu um tapinha na barriga ligeiramente arredondada.
— Vamos descobrir em cinco meses.
— É melhor você conseguir todo o descanso que puder, agora.
Harper riu.
— Joni e Frank vão ficar com as três crianças amanhã, para que possamos
ter uma noite tranquila.
— Bem, se for uma noite tranquila, pelo menos você não terá que tirar
folhas do cabelo — Claire brincou.
Harper corou.
— Oh, não tenha vergonha — Claire riu. — Os homens Garrison não são
conhecidos por serem hesitantes na cama.
— Ou em bosques... — Harper forneceu.
— Ou no estacionamento dos fundos da loja de ferragens.
— Claire! — Harper sibilou, fingindo cobrir os ouvidos da adormecida
Ava.
Elas ficaram em silêncio quando Robbie se aproximou da base com uma
arrogância que era algo apenas de Luke. Ele rebateu o primeiro arremesso,
uma bola alta. Mas Harper podia dizer, pela postura de seus ombros magros,
que ele tinha visto o sinal de Luke para rebater. O arremesso disparou em
direção a Robbie, e ele rebateu, acertando com um tinido satisfatório. A
bola fez um arco alto sobre o campo externo, e ele estava correndo para a
primeira base.
Harper e Claire torciam enquanto os camisas do time Garrison
contornavam as bases, Robbie marcando um home run para pular nos
braços de Luke.
A adoção foi finalizada duas semanas depois que eles descobriram que
estavam grávidos, mas Harper ainda tinha que se beliscar às vezes. Ela
tinha a vida com que sempre sonhou. Luke se certificou disso.
Não havia mais sombras entre eles. Um fato ilustrado pelo sol nascente
que Luke tatuou no peito ao redor da fênix. Ela sentiu seu olhar sobre ela
agora e ergueu o dela.
Ele caminhava em sua direção, com um sorriso no rosto. Ele apontou o
polegar por cima do ombro, onde Robbie estava comemorando seu home
run com o time.
— Bom aconselhamento — Harper gritou. Ela se levantou e entregou Ava
para Claire e encontrou seu marido na encosta da colina.
Ele levou as mãos à cintura dela e deu um beijo forte em sua boca.
— Oi, linda. Vamos para casa.
Nota da autora

Caro leitor,
Por onde começo? Escrevi este livro apenas para mim, depois de assistir
consecutivamente a vídeos de retornos de militares durante uma semana. Eu
não achava que alguém mais entenderia o que eu fiz com a história de
Harper e Luke, mas cara, eu estava incrivelmente errada. Nunca estive tão
feliz em toda minha vida por estar errada.
Espero que você tenha se apaixonado por esses dois tanto quanto
eu. Luke, Harper e Benevolence eram tão reais para mim que, quando
terminei o livro, senti como se tivesse me afastado dos meus melhores
amigos e não fosse voltar a vê-los todos os dias.
Ótimo, agora estou deprimida de novo. Se eu acabei de te deprimir,
recomendo pegar minha série Blue Moon para uma dose de calor e
alegria. Você vai querer se mudar para esta comunidade hippie intrometida
de uma pequena cidade ou ficar feliz por não morar nela e viver
indiretamente por meio dos personagens. Se procura ação e suspense
romântico, escolha o dueto Sinner & Saint. Quente, comovente e...
droga. Não consigo inventar outro adjetivo que rime! Talvez, felizes para
sempre?
Obrigado novamente por ler! Se você amou Finja que é minha, sinta-se à
vontade para deixar um comentário e me siga nas redes sociais. Eu juro que
sou superlegal e engraçada.
Xoxo,
Lucy
Quer mais histórias de Benevolence?

Confira a sinopse da história de Aldo e Gloria em Finalmente Minha:

Aldo Moretta sempre foi o herói. O mais forte, o mais rápido, o mais
corajoso. Lutou pelo país e construiu um negócio próspero em sua cidade
natal. Com amigos e família a não mais do que alguns quarteirões de
distância, havia apenas uma coisa que estava faltando: a garota certa.
Gloria Parker abandonou um relacionamento que quase lhe custou a vida.
Mas a vergonha a acompanha como uma sombra. Ela desperdiçara dez
longos anos com a pessoa errada.
Quando o homem certo volta para casa ferido e com cicatrizes, ela vê nele
uma alma gêmea. E enquanto Gloria reconstrói sua vida, ela se pergunta se
ainda é capaz de amar.
Eles encontrarão uma maneira de se curar juntos, ou as feridas os
impedirão de conquistar a felicidade que ambos desejam?
Sobre a autora

Lucy cresceu na zona rural da Pensilvânia com muito tempo disponível e


uma grande imaginação. Ela é a mais velha de três em uma família literária.
Os jantares costumavam ser passados em silêncio enquanto os membros da
família enfiavam o nariz nos livros. A paixão por escrever começou aos
cinco anos, quando ela ensinou o irmão a escrever o nome na porta do
banheiro.
Ela começou a escrever (no papel) na segunda série, primeiro sobre
peregrinos em Mayflower e, com o passar dos anos, passaram para ensaios,
artigos, blogs e, finalmente, livros.
Antes de se tornar uma escritora em tempo integral, Lucy fingia ser uma
adulta normal mantendo empregos que incluíam planejadora de eventos,
bartender, faz tudo em um jornal e instrutora de ioga.
Lucy e o Sr. Lucy gostam de passar o tempo com suas dez sobrinhas e
sobrinhos e estão determinados a aprender a navegar, para que um dia
possam viver em um veleiro no Caribe.
Copyright © 2018. Pretend you’re mine by Lucy Score.
Copyright da edição brasileira © 2021 L3 Book Publishing
Este livro foi negociado mediante acordo com a Bookcase Literary
Agency.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte do conteúdo deste livro pode ser reproduzida por qualquer
meio eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e
recuperação de informações, sem permissão da editora, exceto pelo uso de
breves citações em uma resenha literária.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares ou eventos são
produtos da imaginação do autor e usados de maneira fictícia. Qualquer
semelhança com pessoas, lugares ou eventos reais é mera coincidência.

Produção Editorial: Luiza Cintra e Alice Garcia


Tradução: Alice Garcia
Revisão: Lucilene Vieira
Diagramação: Maria Fernanda Araújo
Design de Capa: Gisele Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S423
Score, Lucy
Finja que é minha / Lucy Score;
Tradução Alice Garcia. - 1. ed. - Rio de Janeiro: L3 Book
Publishing, 2021.
463 p. (Benevolence : 1)

Título original: Pretend you’re mine


ISBN: 978-65-990980-8-6

1. Literatura Americana. 2. Ficção. 3. Romance Contemporâneo. 4.


Adulto. I. Score, Lucy. II.
Garcia, Alice. III. Título. IV. Série.
CDD: 813.54
Larissa Aguiar de Oliveira - Bibliotecária CRB - 007226
Sobre a editora

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Sua opinião é muito importante. Envie um email para


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Livro 01 - O Preço do Escândalo

Emily Stanton tem uma vida perfeita. Sua empresa mundialmente famosa
está pronta para alcançar um novo patamar com a abertura da venda de
ações e, para essa nova etapa, tudo precisa estar impecável, inclusive sua
imagem como CEO bilionária.
Mas um deslize momentâneo faz com que a imprensa a flagre sendo
algemada com acusações de posse de drogas, tudo por causa de um
encontro arranjado que ela nem queria ir. Agora, o conselho está furioso,
seu negócio que vale bilhões de dólares está em jogo, e há um homem nu
em sua banheira que afirma que fará todos os seus problemas
desaparecerem.
Charmoso, e feliz em quebrar as regras quando necessário, Derek Price
ganha a vida consertando os escândalos dos ricos e famosos. Ele nunca
mistura as coisas e nunca leva clientes para a cama. Até conhecer a
deslumbrante Emily Stanton. Derek prometeu a ela uma vitória e ofereceu
um suprimento vitalício de orgasmos como parte do acordo. Mas, se ele não
puder impedir seus inimigos, vai acabar perdendo muito mais do que
esperava.
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parar por aí, não? Já sou um clichê ambulante. O pai solteiro que
gosta da babá. Mas, calma, que piora. 3. Ela é minha cunhada.
Minha esposa morreu quando nossa filha era bebê, e Linnea era
apenas uma adolescente. Eu mal a conhecia. Quando meus sogros
insistem que ela se mude para Seattle para ser a babá, depois de
uma série de babás que não deram certo, acabo concordando, mas
com relutância. Eu não imaginava que ela seria uma loira gostosa
com curvas pecaminosas, lábios beijáveis e sorriso tímido. Linnea é
perfeita para minha filha – divertida, paciente e gentil. Ela pode ser
perfeita para mim também, mas não posso nem pensar nisso. Ela
precisa viver sua própria vida, não se envolver com um cara que já
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seguinte: eu não sou um cara mau. Mentir para Mia não fazia parte
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