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Para a garota que um dia brincou de escrever,
mas deixou esse sonho de lado e achou que não era capaz,
que não podia sonhar.
Nunca foi impossível.
Sumário
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Notas da autora
E, então, aqui estamos nós.
Se você leu Fair Play, sabe que o pequeno vislumbre da Emma,
filha da Kim e do Steve, não foi suficiente para deixar o coração de
vocês e o meu aquecido. Não, ela merecia sua história. E, a partir
de agora, você está prestes a mergulhar no último capítulo dessa
“mini saga”, duologia, ou como preferir chamar, cheia de metáforas
de esporte.
Caso você tenha caído de paraquedas aqui e não saiba do que eu
estou falando, talvez seja interessante deixar esse livro guardadinho
em seu dispositivo e ler o primeiro volume, Fair Play, para entender
melhor o que vai acontecer em End Game. Recomendo também ler
o conto Overtime, uma história de Fair Play, só para não perder o
costume.
Primeiros recados dados, então, vamos aos avisos.
É importante que você se atente ao fato de que há três pontos de
vista nesse livro. O presente, intercalando entre a Emma e o Colin, e
o passado, dando voz a Kim, mãe da Emma. Então, atente-se ao
detalhe. Brenda Kim Campbell McGlam é a mãe. Emma Kim
Campbell McGlam é a filha.
Dito isso, esse livro vai abordar de forma mais profunda a questão
de descendência e ascendência coreana. Kim tem descendência
porque sua mãe veio da Coreia do Sul, e Emma tem ascendência
por conta da mãe e da avó.
Esse livro contém cenas onde a Emma falará sobre o racismo
contra amarelos-asiáticos, portanto, saiba que as opiniões
expressadas por qualquer personagem não condizem com o que
penso. Não compactuo com nenhum desses pensamentos e foi feita
uma leitura sensível para abordá-lo da maneira mais correta
possível.
Esse livro também contém cenas de sexo explícito, consumo de
bebidas alcoólicas e há uma cena de assédio. Esse tema, em
momento algum, é tratado de forma romantizada. Se algum desses
tópicos for um gatilho para você, não prossiga a leitura. Sua saúde
mental deve estar sempre em primeiro lugar.
Por fim, recomendo fortemente a leitura desse livro acompanhado
da playlist, que você encontrará logo abaixo. É um verdadeiro sonho
compartilhar com vocês mais essa história.
Uma boa leitura. Com todo o meu amor,
Beatriz Garcia.
Prólogo
Você sabe que, apesar de ser a pessoa que fica na frente dos
palcos, eu adoro o backstage, não é mesmo, querida? Por isso,
acho interessante te contar que todas essas anotações são feitas
durante seu último ano de escola. A primeira eu escrevi no seu
primeiro dia de aula, ou também no último dia de ensino regular.
Como você cresceu rápido, Emma Kim!
Enquanto escrevo isso, seu pai acabou de levar você e Colin para
um evento da escola, uma festa para arrecadar dinheiro para algum
fundo escolar, o que sinceramente, nunca vou te dizer isso enquanto
não acabar a escola, mas concordo com você. Por que fazer uma
festa para arrecadar fundos, sendo que seu pai e eu pagamos uma
fortuna de mensalidade? Emma, você é perspicaz.
Mas, eventos me lembram festas, que me lembram faculdade. E
nada melhor do que essas próximas páginas serem sobre o tipo de
evento que você vai frequentar e muito nos próximos anos: festas
universitárias.
Como eu te disse anteriormente, nos primeiros dias de aula, eu
estava determinada a organizar meu tempo para estudos, ainda que
uma parte de mim também gostasse da ideia de curtir festas. Depois
da semana dos calouros, eu logo percebi que podia dar conta das
duas Kim dentro de mim: a que queria estudar e também a que
queria farrear. E vou dizer a você que deu muito certo.
Convenhamos que falar com você sobre cronogramas de estudo,
tirar boas notas, não deixar de entregar algum trabalho é perda de
tempo. Não porque você não vai me dar ouvidos, mas porque você
é excessivamente organizada com tudo isso, Emma. É um orgulho
ver que você leva tão a sério sua formação e, confia em mim, foi
delicioso ao longo dos anos comparecer a reuniões de pais e só
receber elogios a respeito da sua dedicação.
Por isso, acredito que, melhor do que falar sobre as dificuldades da
graduação, é muito mais legal comentar com você sobre diversão.
Porque a faculdade também é sobre isso.
A foto da página anterior, comigo segurando um copo vermelho, é
uma das primeiras que sua tia Heather tirou de mim, em nosso
primeiro ano. Lembro dessa festa com clareza, assim como lembro
de muitas outras. Como, por exemplo, a festa em que eu e seu pai
nos beijamos pela primeira vez, nunca vou me esquecer da
intensidade de nossos olhares e de como senti meu coração
disparar quando ele me beijou.
Apesar da história do seu pai e minha ter nascido em meio a música
alta e bebida barata, nesse momento, ao rememorar meu ano de
caloura, sou incapaz de não mencionar o primeiro garoto que beijei
na faculdade. Aconteceu algumas semanas depois do início das
aulas, em uma das primeiras festas que eu e sua tia Heather fomos,
depois de convencê-la na base da chantagem.
Como mencionei acima, nessa época eu estava começando a
aprender a conciliar a Kim festeira com a estudiosa. E querida,
acredite em mim quando digo que eu nem sempre fui essa pessoa
descolada, como você tanto gosta de brincar quando fala de mim.
Ainda que fosse uma jovem caloura com anos de aulas de
interpretação e teatro na bagagem, isso não significava de forma
alguma que eu sabia ou que dominava com maestria todas as
situações. Um exemplo claro disso é que eu era, de certa forma,
inexperiente quando o assunto eram garotos.
Na época, eu já havia dado alguns beijos e feito outras coisas, mas
eu não tinha muita atitude, essa é a verdade. Foi durante a
faculdade e, por consequência, pelo meu amadurecimento, que me
descobri uma garota de atitude e ganhei confiança em mim mesma.
Seu pai conheceu a versão da Kim já segura de si, mas nem
sempre foi assim. E gosto de pensar que essa mudança lenta e
gradual começou a acontecer de fato nessa festa, quando comecei
a entender a importância de ler os sinais.
Era uma quinta-feira à noite, eu teria aula no outro dia, mas estava
querendo me divertir um pouco. Combinei com Heather de nos
encontrarmos no campus, já que ela morava bem perto na época e
fomos a pé para a festa. Toda festa universitária é sempre a mesma
coisa: bebida barata, que em um dado momento você para de ligar
para o gosto ruim; corpos amontoados em espaços pequenos
demais e a mesma playlist, tocando quase sempre na mesma
ordem.
Nós adorávamos beber alguns shots de algum destilado e, depois,
passar a noite dançando. Na época, sua tia não gostava de vinho
igual agora, como você bem pode perceber quando ela chega
sempre acompanhada de um tinto ou rosé. Não, na época sua tia e
eu adorávamos beber tequila, então sempre começávamos a noite
assim e nessa festa não foi diferente.
Alguns shots depois, eu estava na pista de dança improvisada,
curtindo ao som de alguma música popular na época, e então, eu
avistei um cara. Ele tinha os cabelos ruivos e estava encostado na
parede conversando com alguns colegas. Vez ou outra eu captava
seu olhar e retribuía, eu podia sentir que ele tinha alguma intenção,
eu era meio boba na época, mas não a ponto de não perceber o
interesse dele.
E, apesar de parecer aquele tipo de história onde sabemos o que
vai dar, não aconteceu nada. Eu fui embora da festa sem beijar o
garoto ruivo e não me importei nem um pouco com isso.
Entretanto, se tem uma coisa que é engraçada nessa vida, Emma, é
o destino.
Durante a semana, enquanto eu começava a finalmente ter aulas de
verdade, leituras obrigatórias, professores enchendo nossa cabeça
de anotações, tarefas, encontros de grupos de estudos, tudo aquilo
que você muito provavelmente vai enfrentar, a festa já era passado.
Até uma certa manhã em que, parada na fila de uma das
lanchonetes do campus, eu avistei o tal garoto.
Nossos olhares se cruzaram e ele deu um sorriso singelo para mim
e, à luz do dia, ele era ainda mais bonito do que a imagem que eu
tinha dele. Dessa vez, ao invés de só ficar me encarando, ele
encurtou a distância que nos separava e se juntou a mim na fila.
Ainda lembro da nossa conversa.
— Ei!
— Oi. — Saudei-o levemente tímida.
— Eu te vi na festa de quinta-feira, não consegui me apresentar.
Meu nome é Thomas, mas Tom é melhor.
— Brenda Kim, mas Kim também é melhor. — Estendi minha mão
para ele e sorri fraquinho quando elas passaram mais tempo do que
o normal juntas.
— Kim... É lindo. Como você — as palavras escorregaram de forma
doce por seus lábios e minhas bochechas coraram. — Topa tomar
um café comigo?
— Se for um suco de laranja, eu prefiro.
Tom sorriu de uma maneira linda e lembro que na época, eu não
pude deixar de pensar que aquele era um dos caras mais lindos que
eu estava conhecendo.
Isso foi antes do seu pai, é claro.
Tom e eu perdemos o segundo horário de aulas naquele dia, mas eu
gastei bastante tempo beijando a boca dele em um canto afastado
entre os prédios em que estudávamos.
Emma, você sabe melhor do que ninguém que sou uma pessoa que
não tem papas na língua, mas falar detalhadamente sobre beijos
que não foram com o seu pai me parece estranho, então vou deixar
você imaginar o que aconteceu. Ou não, talvez você seja aqueles
filhos que não gostam de pensar que os pais fazem as mesmas
coisas que vocês. De qualquer forma, vou parar aqui.
Entretanto, como você vai perceber, tudo que estiver escrito nesse
caderno tem um propósito e esse texto não foge à regra.
Você vai ter muitas oportunidades, Emma, para fazer coisas assim.
Acredite em mim, você vai encantar muitos garotos (e garotas,
mesmo que não seja necessariamente a sua praia), com seu jeito
de ser. E não custa nada dar uma chance para o acaso.
Não vai te matar beijar um garoto e dias depois você se arrepender,
não vai te matar fazer sexo casual (desde que você se cuide), não
vai ser ruim dançar com um estranho numa festa.
Emma, a vida é muito curta. Não falo isso no sentido de morte, mas
no sentido de oportunidades, as coisas às vezes acontecem e não
damos o devido valor ou reconhecemos sua importância durante o
momento em que estamos vivendo.
Por isso, fica aqui a moral da história: aproveite sua vida! Seja feliz,
cometa loucuras e nunca se esqueça que estarei sempre aqui para
ouvir suas histórias, rir e vibrar com cada uma delas.
Se permita, Emma.
Capítulo 5
Sou o tipo de pessoa que anda com um livro na bolsa onde quer
que eu vá. Perdi as contas de quantas vezes fui a jantares chatos
com meus pais e simplesmente me enfiei em um canto escondido,
acompanhada de um bom livro e de histórias que me levassem para
outra realidade.
Gosto de livros de papel, mas confesso que os aparelhos digitais e
até mesmo o celular foram meus bons aliados ao longo dos anos.
Agora, na faculdade, por mais que eu tenha um iPad, notebook e
um ótimo telefone em mãos, se tenho a chance de explorar a
biblioteca e pegar livros emprestados, faço isso sem hesitar.
Nos últimos dias, tenho usado muitos livros grossos e levemente
desgastados para esconder meu rosto pelos corredores da
faculdade. Estou me escondendo de qualquer pessoa que passe
mais do que dois segundos me olhando, porque tenho medo de que
seja alguém me reconhecendo da festa na piscina.
Ou melhor dizendo: alguém que esteja me reconhecendo por conta
da dança constrangedora na bancada.
Depois que Colin me deixou em casa no sábado, após voltarmos do
hospital, tomei um banho para limpar todas as impurezas do corpo e
vesti um pijama confortável. E foi só quando me deitei que a
realidade me atingiu.
Eu não apenas tinha ingerido uma quantidade relativamente grande
de álcool, como também havia dado uns amassos na piscina com
Dylan e, não satisfeita, tinha dançado em cima da bancada da
cozinha para chamar sua atenção.
Sinceramente, o que tinha acontecido comigo e com a Emma
discreta que eu sempre fui?
Não me arrependo do beijo com Dylan, pelo contrário, me pego
pensando nele muitas vezes. Mas é também por conta de Dylan que
estou me escondendo na faculdade, com medo de que ele me ache
ridícula por conta da atitude ousada e eu tenha perdido minha
chance com ele.
— Ainda se escondendo atrás dos livros, Em?
A voz de Kath me desperta de meus devaneios e da leitura maçante
que estava me exigindo uma concentração fora do normal.
— Não... — respondo com pouca confiança na voz e Kath se senta
ao meu lado no gramado.
— Ninguém mais se lembra, Emma, confia em mim.
— É, mas eu lembro. E toda vez que a imagem me vem à cabeça...
— fecho os olhos como se tentasse reprimir os pensamentos. — Só
consigo pensar no papel de idiota que fiz perto de Dylan.
— Deixa disso. Todo mundo faz besteira, Em, e nós somos
calouras, está no nosso código de regras que é permitido fazer
bobeiras assim, sério. E outra, tem festa o tempo todo, sempre tem
alguém para passar uma vergonha nova e fazer outra ser
esquecida.
— Isso é uma forma de fazer com que eu me sinta melhor? — cerro
os olhos em sua direção.
— Acho que sim, você pode chamar isso de “discurso motivacional
sobre como lidar com seu ano de caloura”. — Kath coloca a língua
entre os dentes e ri.
Como minha amiga adora brincar comigo, decido devolver na
mesma moeda.
— Isso é culpa sua, se quer saber — ralho fingindo estar brava e
fecho o livro de forma dramática. — Se você não tivesse
desaparecido no meio da festa, eu teria ficado do seu lado e nada
disso teria acontecido. — Kath abre a boca surpresa, mas logo
percebe que eu estou brincando.
— Verdade. Mas se eu tivesse ficado do seu lado, gastaria meu
valioso tempo conversando sobre algum tema muito importante e
sério para uma festa e não teria transado. E entre transar e
conversar, entenda, amiga, que eu sempre vou preferir a primeira
opção.
— Traíra. — Retruco, empurrando minha amiga pelos ombros e
juntas começamos a rir.
— Mas, sabe, talvez fosse bom você fazer isso. — Pontua ela,
depois de conter as risadas.
— Isso o que?
— Transar, Em. — Kath fala mais baixo e se vira para me encarar.
— Não pense você que não reparei no seu “constrangimento” ao me
contar dos beijos que você e Dylan trocaram na piscina. Sei que
você não está se resguardando ou nada do tipo, mas pode ser legal
dar uma chance, de verdade, sabe? Não seria de todo ruim se
divertir um pouco.
— Eu sei. Tenho pensando nisso. É que eu sempre fui muito
retraída no colégio, não é como se todos os meus amigos fossem
descolados e saíssem se pegando o tempo todo. Isso aí era função
do Colin — pontuo.
— Isso só me prova mais uma vez que você estava no grupo errado
e que eu sou a adesão que faltava na sua vida. — Kath dá um
sorriso gentil.
— Quanto a isso eu não tenho dúvidas — afirmo e ela aperta minha
mão de forma gentil. — De qualquer forma, eu até estava
começando a considerar essa possibilidade, mas devo ter perdido a
chance com o único cara que demonstrou interesse — reviro os
olhos e volto a sentir vergonha novamente.
— Primeiro de tudo, ele não é o único cara que demonstrou
interesse, mas sim, o cara por quem você também teve interesse
mútuo. Segundo que isso é besteira, vai por mim, Dylan não deve
mais se lembrar da festa. Os play-offs começam essa semana, ele
deve estar com a cabeça no esporte.
— Desde quando você decorou o calendário dos jogos de futebol?
— Questiono minha amiga cruzando os braços sobre o peito e
segurando a risada.
— Quando os caras mais bonitos da faculdade estão no time, você
meio que se vê obrigada a entender sobre o cronograma dos
jogos... — Kath dá de ombros e continua. — Agora, voltando ao
assunto, esquece isso e bola pra frente, Em. Tem mais quatro anos
de faculdade para você passar vergonha — ela se levanta e
estende a mão para mim.
— Outro ponto do seu discurso motivacional que não deu muito
certo. Talvez seja melhor mudar sua palestra — afirmo enquanto
tomo sua mão e me levanto também, me abaixando em seguida
para recolher minha bolsa e livros.
— Essa frase faz parte do discurso conformista. No sentido de
“saiba que essa não será a primeira e única vez que você vai se
sentir envergonhada na faculdade”. Tem muitas outras situações
constrangedoras para acontecer, amiga. Meu repertório de
discursos é vasto, não me subestime.
Começo a rir novamente e, juntas, caminhamos abraçadas em
direção a uma das muitas lanchonetes da faculdade.
Emma, querida.
Às vezes, eu sinto que você virá até este caderno, por vezes, em
busca de respostas sábias sobre estudo, notas baixas ou sobre
como lidar com um trabalho em grupo onde ninguém está disposto a
ajudar. E, vai por mim, eu tenho conselhos para dar a você a
respeito disso.
Posso ter sido uma garota mais descolada, festeira e ter esse meu
jeito extrovertido, mas sempre amei estudar e tenho orgulho de ter
me formado em arte cênicas com um boletim de dar inveja em
qualquer universitário.
Mas, apesar de ter conselhos para dar a você a respeito desses
tópicos, também sinto que você detém muito mais respostas sobre
esses dilemas do que eu. Sei que a faculdade nos faz questionar
sobre nosso potencial, mas não deixe isso te abalar, você é incrível.
Sei disso desde que você era pequena. Conforme você foi
crescendo, seu pai e eu percebemos que você era muito mais
centrada do que nós dois juntos. Enquanto nós apostávamos sobre
qual seria o tipo de bilhete que receberíamos de professoras e
professores, relatando algo que você fez de errado na escola, você
nos enchia de boletins com notas azuis e elogios a sua disciplina
nos estudos.
Claro que, por conta da sua ascendência, tive que repreender
alguns comentários ruins ao longo da sua vida escolar, a respeito de
já esperarem de você esse tipo de comportamento mais regrado
pelo fato de “você ser oriental”.
É, eu imagino que você esteja revirando os olhos agora enquanto lê
essas palavras porque sabe exatamente sobre o que estou falando.
O racismo enraizado, não é mesmo?
Você é assim porque quer ser assim, e não por qualquer outro
motivo. Você nunca teve problemas em ter disciplina em tudo que se
propunha a fazer, fosse estudar, tentar aprender algum instrumento
musical (mesmo que não tenha dado muito certo), atividade física,
ou qualquer outra coisa. Tudo o que te desperte interesse, tem cem
por cento sua dedicação.
Então, se você estiver com dificuldades em alguma matéria e veio
até este caderno buscar respostas, continue a fazer o que sempre
fez. Continue estudando e dando seu melhor, seu pai e eu
confiamos em você de olhos fechados para isso.
Ainda assim, se precisar, me ligue e nós conversaremos a respeito.
O que quero dizer é que sinto que esse caderno precisa muito mais
ser seu guia para interações sociais do que outra coisa. Sei que
quando falamos de interação social, estamos falando também de
amizades, mas eu tenho para mim que esse não será um problema
para você.
A faculdade é um lugar ótimo para fazer amigos e estou baseando
essa suposição única e exclusivamente na minha experiência
pessoal. Tenho para mim, filha, que você vai encontrar sua Heather,
assim como eu, ou seu Nash, assim como seu pai. Aquele tipo de
amizade que vai ser seu alicerce para tudo.
E é claro que também estou falando de relações amorosas. Ainda
que você já tenha me contado por cima sobre alguns casos e beijos,
eu também sinto que será na faculdade que suas experiências
começarão de fato. E, dado toda a minha história, sinto que talvez
seja a hora de começar a falar sobre duas pessoas que você
conhece bem: seu pai e eu.
E falar do seu pai e não falar da faculdade é quase impossível.
Então, talvez seja a hora de imergir você mais a fundo na nossa
história que, por consequência, também é o começo da sua.
Existe uma coisa que eu só fui contar para o seu pai depois de
muito tempo juntos, mas que acho importante te falar porque
acredito que possa ajudar de alguma forma. Steve e eu só fomos
nos relacionar de fato em nosso último ano na Universidade de
Washington, e para muitas pessoas, é como se nós tivéssemos nos
conhecido só ali, quando sua tia morou com seu pai e o tio Nash na
mesma casa.
Mas a verdade é que eu conheci seu pai logo no primeiro ano de
faculdade.
Eu estava aprendendo a ser uma universitária, lidando com a vida
acadêmica e social ao mesmo tempo, e apesar de estar me saindo
bem, eu era muito mais parecida com você do que sua tia Heather
conta.
No primeiro ano, principalmente, eu era a garota que andava
sempre com um livro enfiado no rosto, focada em aprender mais
sobre o teatro, técnicas de encenação e sobre como me tornar uma
artista completa.
Eu me lembro com clareza do momento.
Era o horário de intervalo entre o primeiro período da manhã e os
corredores estavam lotados, eu tinha acabado de sair de uma aula
sobre introdução ao teatro e estava organizando meus textos na
minha bolsa, e então, alguém esbarrou em mim.
É, eu sei. Parece mentira, mas foi só o destino, Emma.
Seu pai derrubou os papéis que eu segurava, eu me abaixei para
recolher meus pertences e ele fez o mesmo.
— Não acho que seja certo fazer isso.
A voz do seu pai soou alta e eu levantei a cabeça para olhá-lo.
— O que disse?
E quando ele ergueu o rosto para me olhar, apontou para os fones
de ouvido e eu entendi que ele estava em uma ligação. O
movimento foi rápido: ele me ajudou a recolher os papéis, se
levantou e me olhou brevemente com aqueles olhos azuis e
murmurou um “desculpe”, me deixando sozinha no corredor.
Lembro que fiquei alguns instantes parada absorvendo a beleza
dele e os lindos olhos azuis. Me lembro que, na época, não
demorou muito para que eu descobrisse quem ele era. Seu pai tenta
esconder de você e do seu irmão as coisas que fazia no passado,
mas você já é grande o suficiente para saber que ele era um
pegador de mão cheia.
E vai por mim, Emma, você vai conhecer muitos caras assim. E sei
que eu devia falar para você ficar longe deles. E de verdade, se
puder ficar longe, não hesite. Mas uma vez, quando sua tia Heather
estava pirando por conta do seu tio, eu disse a ela uma frase que,
esses dias, ela me lembrou e perguntou se eu já havia partilhado
com você.
Então, aqui está um conselho sábio meu, segundo sua tia.
“Todo mundo tem um bad boy ao longo da vida, querida”. Seu tio
Nash era um e seu pai também, os dois eram sinônimo de problema
quando mais novos, mas no final das contas, eram ótimas pessoas.
Significa que todos são assim? Não. Então, como evitar quebrar a
cara? Se arriscando, Emma.
Sei que você deve estar se perguntando porque tenho falado tanto
isso, porque a maioria das coisas que escrevo neste caderno dizem
respeito a amor, a se permitir, a viver.
É que tenho o pressentimento de que você vai viver muitas
aventuras nesse âmbito. E não posso simplesmente achar que suas
experiências serão todas boas.
Não, Emma. Você vai quebrar a cara, não só uma vez, como mais
de uma.
Mas é importante que você não desista, filha. Não desista de um
trabalho porque ele está difícil, ou de um texto complexo. Não
desista de fazer novas amizades, não desista de dar uma chance
para o amor. Se permitir também é deixar que coisas não tão boas
aconteçam para que você possa adquirir experiência.
Capítulo 11
Minha avó materna, Jina, veio quando era jovem para os Estados
Unidos, seu grande sonho era viver no país que tanto ouvia falar na
TV e nos noticiários. Para uma mulher jovem sul-coreana em
meados dos anos sessenta e setenta, ela foi corajosa o suficiente
para desafiar os pais a permitirem que ela deixasse de lado a
chance de construir uma vida na Coreia do Sul, para se aventurar
em uma cultura, língua e país completamente diferentes da sua
realidade.
Admiro e respeito muito a história da minha avó, convivemos
bastante juntas e sofri muito com sua morte, assim como minha
mãe. Apesar disso, sou grata por tudo que ela me ensinou e pelo
orgulho que ela sempre teve de sua origem, de seu país.
Vovó Jina me ensinou desde ditados coreanos, crenças, um pouco
da língua e até comidas típicas — muitas das quais aprendi a amar
e outras que não gosto nem um pouco. Ela me contou também
sobre as dificuldades, as partes não tão boas assim de nascer em
um lugar completamente diferente dos Estados Unidos. Vovó era
uma mulher incrível.
E apesar de ser até certo ponto muito bem acostumada com os
hábitos culturais do ocidente, vovó tinha em certos pontos suas
limitações, como, por exemplo, não gostar nem um pouco de
tatuagens, cabelos tingidos, piercings por todo o corpo e coisas do
tipo.
Minha mãe escondeu durante anos a pequena tatuagem que tem na
região da clavícula. Chega a ser cômico, porque é algo simples e
sem nada de extraordinário, é só uma caligrafia fina escrita
“destemida”.
Nunca tive interesse em fazer mudanças corporais, tenho um furo
em cada orelha porque foi o mais próximo que cheguei de agulhas e
estou bem assim. Entretanto, ao me olhar no espelho antes de sair
de casa, eu não poderia estar mais feliz por, de certa forma,
decepcionar minha avó.
Quando Kath me mandou mensagem, na tarde de quinta-feira,
solicitando minha ajuda em casa, eu tinha certeza de que algo grave
estava acontecendo por conta do alarde. Ao chegar no seu quarto,
ela estava toda equipada com luvas, roupas velhas, duas toalhas
extras para eventuais sujeiras e pronta para uma “revolução capilar”,
nome dado por ela para o momento.
Com o cabelo castanho escuro ondulado, Kath decidiu descolorir um
pouco algumas mechas e pintá-las de roxo. No começo achei uma
maluquice completa, mas conforme seus fios ficavam claros, uma
vontade enorme me atingiu. Que mal teria afinal de contas?
Mandei uma mensagem para minha mãe perguntando o que ela
achava e recebi como resposta uma chamada de vídeo animada de
Kim Campbell querendo saber de que cor eu queria pintar.
Ela, como uma mãe normal e preocupada que é, perguntou para
Kath se ela saberia fazer direito a descoloração, questionou se eu
não queria ir em um salão para realizar o procedimento com um
profissional, mas depois de convencida, insistiu para que eu ligasse
para ela quando estivesse feito.
E então, depois de uma tarde inteira e boa parte da noite tingindo
meus cabelos, aqui estou um, em uma nova versão de mim mesma.
E que, particularmente, estou gostando e muito.
Assistir ao jogo foi bem legal, ver o time da minha faculdade ganhar
reviveu aquele espírito de torcedora que não era ativado há algum
tempo, principalmente quando ia ver tia Heather jogando nos
estádios. Trouxe aquele sentimento de fazer parte de algo e isso é
muito bom.
Mas, nenhuma sensação se comparou com o olhar de Dylan para
mim quando nos encontramos no final do jogo. Na saída dos
vestiários, ele foi um dos primeiros a deixar o complexo e pude jurar
ter sentido seu olhar queimar sobre mim. Desde então não nos
desgrudamos.
Trocamos alguns selinhos rápidos durante o caminho, nos
encontramos com Colin e seu amigo e colega de time, Johnny, e fui
aos céus e voltei ao ver Dylan me defender. Foi algo simples,
provavelmente ele nem percebeu a importância do momento, mas
colocar Colin no lugar foi incrível.
Reflito isso enquanto espero na fila do banheiro, aguardando
ansiosamente pela minha vez para que eu possa voltar para Dylan.
Quando a porta se abre, respiro aliviada e entro no banheiro me
apressando para fazer minhas necessidades. Termino tudo e
enquanto lavo as mãos, me olho no espelho, mais uma vez
satisfeita com a imagem que ele reflete, ajeito os fios loiros e sorrio
para meu reflexo.
Pronta para sair do banheiro, destranco a porta e me assusto ao dar
de cara com Colin.
— O que faz aqui? — Questiono.
— Preciso falar com você — responde, ao mesmo tempo que seu
corpo avança em minha direção, fazendo com que eu precise dar
alguns passos para trás. Ouço o baque da porta e cruzo os braços
irritada.
— O que de tão urgente e importante você precisa falar comigo,
Colin?
A luz do banheiro é fraca, mas consigo ver com clareza as
expressões dele. Ele nunca teve muita barba, mas agora, olhando
com atenção, vejo pequenos pontinhos pretos em seu maxilar.
Colin abre e fecha a boca algumas vezes e eu não consigo entender
seus gestos. Ele passa as mãos pelos fios castanhos dos cabelos e
seu bíceps contrai um pouco. Franzo a testa enquanto ainda nos
encaramos e ele morde a parte interna da bochecha.
— Não falei sobre a tia Kim e o cabelo de propósito, foi só uma
pergunta boba. — Sua frase soa como um pedido de desculpas e
me surpreendo.
— Está tudo bem — resmungo e dou de ombros, esperando que ele
diga mais coisas, mas ele permanece calado. O silêncio se estende
por alguns segundos e bufo. — Era só isso? Posso ir agora? — Me
coloco mais a sua frente e vejo que Colin não se afasta para que eu
saia do banheiro.
— Tome cuidado com o Dylan.
Absorvo suas palavras, mas não as compreendo. Essa, com
certeza, é a conversa mais estranha que Colin e eu já tivemos, não
que sejamos grandes comunicadores grande parte do tempo, mas
ele parece rodar em círculos para falar e não chega em um objetivo,
o que me irrita um pouco e me confunde.
— O que isso quer dizer?
— Ele não é muito... confiável. — Consigo ver Colin escolhendo as
palavras que vai usar. — E você não é muito esperta com relação a
garotos, então... — ele fala com naturalidade e sua falta de tato me
irrita.
— Não vou ficar aqui ouvindo ofensas gratuitas suas, Sullivan —
resmungo sem paciência andando em sua direção, encurtando
nossa distância.
Quando estendo minha mão para empurrar seu corpo, sinto os
dedos firmes de Colin segurarem meu punho, não há força, eles
apenas adornam meu pulso fino. E não sei por qual motivo sinto a
pele onde ele toca formigar.
— Estou falando sério, Emma.
— E eu também, Colin — respondo com a mesma firmeza na voz
que ele usa. — O que te faz afirmar que ele não é confiável? Ele
roubou algo seu? Foi pego no antidoping ou qualquer coisa do
gênero?
— Claro que não — a voz de Colin soa irritada e ele revira os olhos,
ainda com os dedos segurando meu pulso. — Ele só não é o tipo de
cara pra você.
— Tipo de cara para mim? — Minha voz sai aguda e me surpreendo
com a raiva que se aflora em meu interior. — E desde quando você
tem alguma coisa a ver com isso? Sinceramente, Colin, me deixe
em paz — balanço o braço para que ele me solte, e quando ele o
faz, afasto seu corpo para conseguir chegar até a porta.
Mas, diferente do que imagino, sou surpreendida ao sentir as duas
mãos de Colin em minha cintura, virando meu corpo novamente
para a frente do seu e sinto quando ele nos deixa muito próximos,
escorado na porta, me encurralando no espaço pequeno do
banheiro. Suas mãos seguram a parte da minha cintura que não
está coberta pela camiseta branca que estou usando.
O contato faz meu corpo entrar em chamas e minha cabeça correr
em direções opostas, porque, ao mesmo tempo em que uma parte
de mim gosta do seu toque, é Colin, e sentir essa sensação por
conta dele, por conta de seu contato, não faz o menor sentido.
Inspiro seu cheiro e me torno muito consciente de sua presença, do
calor de seu corpo, de como... De como Colin parece diferente. De
como tenho reagido a ele de muitas formas e em diferentes
ocasiões.
Porém, ao abrir a boca novamente, ele me lembra do porquê me
irrito com ele noventa por cento do tempo. As palavras que saem de
sua boca me tiram do sério.
— Estou falando sério, Emma. Você pode achar que o conhece,
mas está se enganando. Ele não quer nada sério. — Sinto seu rosto
próximo ao meu, ainda que nossa altura seja um abismo. Preciso
curvar o pescoço para trás para conseguir olhar seus olhos
castanhos e reprimo o arrepio que percorre meu corpo ao vê-lo tão
perto de mim.
— E o que isso tem a ver, Colin? Estou conhecendo Dylan e, se
quer saber, não me lembro de ter dito em algum momento que
queria algo sério. Sabe o que eu acho? Acho que você está irritado
porque, de repente, eu faço parte da sua bolha descolada de
amigos. Agora, ao invés deles estarem me ignorando pelos
corredores, estou chamando atenção deles. — Ergo meu queixo
para mostrar que não vou baixar a guarda e vejo que nossos rostos
estão muito próximos.
Próximos demais. E, novamente, minha imaginação me trai, ao
visualizar que essa curta distância seria facilmente quebrada se
Colin encostasse seus lábios nos meus. Afasto o pensamento
estranho e volto a escutá-lo.
— Você acha que estou preocupado com status? Qual é o seu
problema? — Sinto a raiva latente em sua voz.
— Qual é o seu problema? — Repito a pergunta. — O que deu em
você para deixar de aproveitar a festa e vir me aporrinhar com suas
besteiras? Isso não é do seu feitio.
— Estou tentando te alertar, estou tentando cuidar de você, Emma
Kim, mas se você não quer ouvir, foda-se. Não é problema meu.
Suas mãos, que seguravam minha cintura até segundos atrás, se
afastam rapidamente e no mesmo instante, meu corpo parece sentir
falta do seu toque, o que não faz nenhum sentido porque só quero
sair desse banheiro logo.
— Exatamente. Eu não sou um problema seu, Colin, então, me
deixe em paz — ralho brava e abro a porta, não me dando ao luxo
de ver se ele está atrás de mim.
Caminho a passos decididos pela festa e, no andar de baixo,
começo a procurar por Dylan. Há muitas pessoas, corpos de sobra
esbarrando em mim e começo a me sentir incomodada. Não vejo
Dylan em lugar nenhum e dura instantes, mas o pensamento me
passa pela cabeça.
Será que Colin está certo?
Quero dizer, Dylan e eu não temos nada sério, mas uma parte de
mim sabe que está esperando por um encontro de verdade e
torcendo para que ele esteja sentindo a mesma química e as
mesmas reações e sensações que eu.
“E se ele estiver certo? E se Dylan estiver apenas esperando o
momento perfeito para me humilhar, ou não esteja tão envolvido
como eu?”
Continuo andando enquanto esses pensamentos me passam pela
cabeça, o procuro com os olhos, mas não presto atenção de fato
nos rostos que encaro. De repente, a festa parece muito cheia e me
sinto claustrofóbica. Só quero ir para a parte de fora e respirar um
pouco.
Atravesso as pessoas não ligando para o fato de que nem ao menos
estou pedindo licença a elas, só estou as afastando com os braços.
Quando finalmente chego à parte do quintal, consigo respirar
melhor, a música e o falatório ainda são altos e vejo boa parte das
pessoas dentro da piscina e algumas em uma hidromassagem
pequena, que eu não fazia ideia que estava ali.
Olho ao redor para ver se encontro Kath, mas sei que é uma
tentativa em vão. Ela foi ao jogo com um cara novo que conheceu e
nós acabamos nos desencontrando, fiquei junto das garotas da
nossa sororidade mas, depois da partida, conforme havia
combinado com Dylan, esperei-o na saída do vestiário e me despedi
das minhas amigas.
Estou sozinha na festa, não tenho muito a quem recorrer. Pego o
celular do bolso da calça que estou usando, mas antes que comece
a digitar uma mensagem, sinto uma mão tocar minha cintura.
— Estava te procurando.
Olho para trás e vejo Dylan me olhar com um sorriso simpático nos
lábios e não sei por qual motivo, duvido de suas palavras.
— Estava mesmo? — Pergunto um pouco mais baixo. — Andei
quase a festa toda e não te encontrei.
— É que um colega do time me chamou pra uma partida de beer
pong e eu acabei me envolvendo com o jogo, imaginei que a fila do
banheiro estava grande por conta da sua demora e aproveitei.
Dylan parece sincero ao falar e respiro fundo ao perceber que deixei
as palavras de Colin me corromperem, estou duvidando das
intenções de Dylan. Mas, se ele não quisesse nada comigo, não
estaria me procurando.
— Ei — seu dedo levanta meu queixo para olhá-lo mais perto. —
Você está bem? Aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só... — minha voz soa fraca, mas decido que não vou
deixar a conversa estranha que tive há pouco me abalar. — Só um
pouco cansada da festa, sabe como é, música alta, falatório.
Ele sorri e afasta uma mecha do meu cabelo e, enquanto o admiro,
percebo pelo gesto dele que estou me preocupando à toa, não há
nada que me faça desconfiar de Dylan. Não há nada de errado na
forma como ele está me tratando, estou me divertindo com ele e não
há motivos para que eu desconfie de suas atitudes.
— Quer ir para algum lugar mais tranquilo? — Sua voz é quase uma
melodia suave, mas uma pequena fagulha me diz que essa também
pode ser uma pergunta com duplo sentido.
E, sinceramente, por que não aproveitar?
— Gosto dessa ideia.
Dylan sorri junto comigo e toma minha mão direita entrelaçando
nossos dedos. Deixo-o me conduzir pelo caminho dentro de casa e
enquanto passamos pelas pessoas, meus olhos são atraídos para
um canto da cozinha e vejo Colin se agarrando com uma garota.
A hipocrisia dele faz meu sangue ferver, pouco antes ele estava me
dizendo para ficar longe de um de seus colegas de time e
fraternidade porque ele não era confiável, e lá está ele, ficando com
uma garota sem o menor pudor. Nesse momento, me dou conta do
quão idiota a conversa foi.
Detenho meu olhar por mais tempo que o necessário na cena e
lembro das mãos de Colin em minha cintura. Sinto o rosto aquecer
com a lembrança, mas balanço a cabeça para afastar todo e
qualquer pensamento. Reviro os olhos depois de olhá-lo uma última
vez e decido esquecer de uma vez suas palavras, afinal de contas,
não é problema meu.
Dylan e eu chegamos à parte de fora da casa e suas intenções
ficam ainda mais claras quando ele começa a caminhar em direção
a sua fraternidade. A realidade me atinge de uma forma
assustadora, porque apesar de já ter feito algumas coisas, nunca
cheguei de fato a ir com um cara para seu quarto.
— Dylan — chamo-o puxando sua mão de leve. — Eu preciso te
dizer uma coisa.
— O que foi? — Ele me olha atentamente, esperando pelas
palavras.
Estamos em frente à sua casa e me sinto uma tola por ser ansiosa a
ponto de pará-lo no meio da calçada para dizer a ele as palavras
mais constrangedoras na vida de uma jovem universitária.
— Eu... Eu sou...
— Eu sei — me interrompe, e um sorriso se abre em seus lábios,
enquanto um vinco se forma em minha testa. — E não quero te
forçar a nada, sério. Podemos subir e ver um filme se você quiser,
não quero que pense que estou te trazendo aqui com segundas
intenções...
“Ouviu essas palavras, Colin?”, penso internamente, mas balanço a
cabeça novamente para afastar Colin da minha mente. Nunca dei
tanta atenção para suas palavras tolas, passei boa parte ignorando
suas provocações baratas, e agora, mesmo com Dylan me
confirmando de várias formas de que não estou sendo uma idiota,
não consigo deixar a conversa do banheiro de lado. Nada do que
aconteceu entre mim e Colin naqueles curtos minutos parece ser
passível de esquecimento para mim no momento.
As palavras duras, o toque de Colin em meu pulso, na minha
cintura, a forma como seu hálito estava próximo ao meu rosto...
“O que tem de errado comigo?”, repreendo a mim mesma e fico
constrangida ao ver que Dylan está me olhando e ainda esperando
uma resposta.
— Tudo bem, não é como se eu nunca tivesse feito nada, eu... eu
só achei que seria melhor te falar para... evitar muitas expectativas.
— Emms, não vou mentir para você e dizer que expectativas não
foram criadas. Sou um cara legal, mas você é linda demais para que
minha imaginação não crie algumas... imagens — pontua com uma
piscadela e uma risada nos lábios. — Mas vamos devagar, ok? No
seu tempo.
— Ok. — Respondo e dou um sorriso doce a ele, tendo ciência de
que minhas bochechas coraram um pouco.
— Então... Vamos? — Pergunta apontando para a casa à nossa
frente.
— Vamos.
Ele me guia até a porta da frente e vamos caminhando por dentro.
Enquanto subimos as escadas, não consigo deixar de ficar surpresa
com o silêncio. Realmente, todos ali devem estar fora e
aproveitando as festas espalhadas pelo campus.
E esse é mais um motivo que me prova que as intenções de Dylan
não são ruins, ele poderia ter ficado na festa, comemorando sua
primeira vitória por mais tempo, mas não se importou e nem ao
menos hesitou sugerir virmos para cá quando disse que estava
cansada.
Ele para em frente a uma porta e a abre devagar.
— Meu quarto pode estar um pouco bagunçado, espero que não se
importe.
Adentro o espaço e olho ao redor do quarto simples, mas que tem o
cheiro do perfume de Dylan. Decido deixar de lado minha timidez e
os receios que pairavam em minha cabeça minutos antes. Decido
também deixar a Emma de cabelos loiros e confiante, que saiu de
casa animada horas atrás, ganhar força novamente.
— Sei que falamos sobre ir devagar, mas... Isso não precisa incluir
tudo.
Os lábios dele se esticam em um sorriso malicioso e sei que ele
entendeu minhas palavras. Me puxando para a cama, ele se deita
primeiro e eu o acompanho, deixando de lado o frio na barriga que
toma conta de mim por me dar conta de que essa é a primeira vez
que estou realmente me deitando na cama de um cara.
— Que bom, porque eu quero muito te beijar.
E antes que meus pensamentos ganhem força novamente, deixo o
momento me levar e aceito os lábios de Dylan junto aos meus,
dando início a um beijo lento. A blusa que escolhi usar deixa minha
barriga exposta, o que é um convite para que ele repouse uma das
mãos ali.
E apesar de ser um momento quente, ao menos para mim, quando
sua mão me toca, não sinto metade do arrepio que me percorreu
quando Colin o fez no banheiro.
“Chega de pensar nele, Emma”, reprimo minha mente e tento me
concentrar no beijo de Dylan e nas sensações que me despertam.
Ainda que vez ou outra, minha cabeça me lembre do toque de Colin
Cooper Sullivan.
Capítulo 13
Saí com a sua tia Heather hoje. Depois dos dias malucos que tanto
eu quanto ela tivemos, cheios de obrigações e preocupações com
você e Colin, decidimos nos dar uma noite de folga.
O ano está passando rápido, sabemos que tanto você quanto Colin
estão preocupados com as aprovações e as tão sonhadas cartas
das faculdades. Claro que nem eu e nem sua tia diremos em voz
alta, mas nós também estamos preocupadas. Eu achei que havia
ficado ansiosa para receber a minha carta de aprovação, mas
esperar pela sua é bem pior.
Mas hoje, nós duas nos divertimos. Heather é minha melhor amiga e
você sabe disso, às vezes, eu até esqueço que só a conheci
durante a faculdade, parece que ela está na minha vida desde que
nasci, porque nossa conexão é espetacular. Sua bisavó acreditava
muito em conexões de outras vidas e com sua tia, às vezes, me
pego pensando que isso realmente deve existir.
Mas só estou citando tudo isso porque, hoje, rememoramos muito
os nossos anos de faculdade, relembramos a forma como nos
divertimos naquela época, as besteiras que fizemos e as coisas que
deixamos de aproveitar de alguma forma.
E então, eu cheguei em casa e seu pai me lembrou que, mais ou
menos nessa época, há alguns bons anos, ele e eu estávamos nos
conhecendo. Lembramos do nosso primeiro encontro. E apesar de
parte de mim querer muito deixar mais para frente essa memória, eu
sou uma romântica incurável, Emma. E não vejo a hora de ver você
vivenciar o seu primeiro encontro.
Sei que os filmes ainda nos bombardeiam com cenários incríveis de
primeiros encontros, cheios de surpresas e recheados de diálogos
fofos, hesitação na hora da despedida, mas a verdade é que, apesar
da vida imitar a arte ou vice-versa, não existe um primeiro encontro
perfeito.
Tenho certeza que você acha que conhece minha história e de seu
pai de cabo a rabo, mas há muitas nuances que não contei a você,
e que talvez nunca conte. Entretanto, algumas coisas eu posso
começar a revelar, como, por exemplo, o fato de que nosso primeiro
encontro só aconteceu por conta de um ronco alto de estômago.
Como eu já te contei, eu não botava muita fé no seu pai, parte de
mim nunca achou que nós pudéssemos evoluir para algo a mais.
Em contrapartida, o seu pai jura que sabia que ficaríamos juntos
para sempre no momento em que colocou os olhos azuis dele em
mim, no momento em que fomos apresentados oficialmente um ao
outro depois de um jogo de futebol na faculdade.
Seus tios já estavam um pouco envolvidos nessa época e, por
consequência, tanto eu quanto seu pai nos aproximamos. Eu queria
ficar com ele e não poupei esforços para que Steve me notasse na
dita noite em que nos beijamos pela primeira vez.
Não preciso dizer com todas as letras que, naquela noite, nós não
apenas nos beijamos, não é? Você já é grande o suficiente para
saber o que nós fizemos.
E quando eu acordei, no outro dia, deitada ao lado do seu pai, eu
tinha certeza que havia acabado. Nós tínhamos nos divertido muito,
mas ele não iria querer mais nada além disso. Lembro que fiquei
durante alguns minutos o olhando dormir e pensando que não
poderia haver homem mais bonito no mundo além dele.
Todos os caras perderam a graça para mim naquela manhã, Emma.
Eu só não admiti isso em voz alta ou mencionei o fato para seu pai.
Não naquele momento, pelo menos.
Porque eu achava que não podia me deixar sentir aquilo.
Então, ainda o olhando, afastei devagar uma mecha do cabelo dele
e levantei disposta a vestir minhas roupas e guardar aquele
momento como uma lembrança agradável da nossa noite.
Eu estava pronta para sair quando a voz grossa dele me chamou de
volta:
— Sai em um encontro comigo?
Ainda agora, ao me lembrar desse momento, um sorriso se esboça
em meus lábios. Quase duas décadas depois e eu ainda não
consigo controlar a empolgação latente que cresce em mim por
conta dessa memória e do amor que tenho pelo seu pai.
Mas, na época, eu virei incrédula para ele e ponderei suas palavras,
porque eu não era capaz de acreditar que ele estava falando sério.
— Não. — Respondi seca enquanto ainda vestia minha bota.
— Então ao menos tome um café comigo.
— Não estou com fome.
Mas a verdade era que eu estava faminta, e meu estômago fez
questão de me desmentir na cara dura, com um ronco alto que
preencheu o silêncio do quarto.
E então, seu pai riu e cruzou os braços sobre o peito, sorrindo
triunfante por saber que não haveria nenhuma outra desculpa para
fugir do seu convite.
— É só um café, amor.
E eu aceitei, rendida e disposta a dizer a mim mesma que aquela
seria a primeira e última vez, porque eu não queria me enganar, eu
não queria me iludir.
Nós tomamos café e passamos horas conversando, já naquele
primeiro dia. Fiz um esforço enorme para evitar sentir as famosas
borboletas no estômago, enquanto seu pai era o cara mais
atencioso do mundo comigo. Ignorando minhas respostas secas e a
minha falsa indiferença.
Quando ele me deixou em casa naquele dia, ele insistiu que
tínhamos tido um primeiro encontro. E me lembro de dizer que, se
ele achava que me levar em um encontro seria tão fácil assim,
estava tremendamente enganado.
Algum tempo depois, quando finalmente começamos a namorar, nós
realmente tivemos “um primeiro encontro” com todas as pompas: ele
me buscando em casa, todo arrumado e me levando para jantar em
um restaurante qualquer que aceitou nos atender no feriado de
Ação de Graças.
O que eu quero dizer com tudo isso é que, nem sempre será
perfeito, Emma. Eu torço para que seja, torço para que seu primeiro
encontro seja inesquecível, mas às vezes, a beleza das coisas está
nos pequenos detalhes. Talvez o primeiro não seja tão empolgante,
mas o segundo seja melhor, ou o terceiro e assim por diante.
Pode ser que seu primeiro encontro aconteça com o cara que vai
ser seu grande amor, assim como pode acontecer com o garoto
que, daqui a uns anos, você nem ao menos vai lembrar direito do
rosto. Seu primeiro encontro não precisa ser único só porque é o
primeiro, você pode ter vários deles e se divertir igualmente em
cada um.
A vida é feita de momentos, Emma, e cada um deles é único. Você
pode levantar todos os dias e ter a mesma rotina, mas nenhum dia
será igual ao anterior, porque pensamos coisas diferentes, vestimos
outras roupas, falamos com outras pessoas e, até mesmo, por mais
que façamos os mesmos caminhos, nunca pisamos nos mesmos
lugares.
Seja o primeiro encontro ou o décimo, faça todos os momentos da
sua vida serem especiais.
Capítulo 17
Emma está andando ao meu lado e o silêncio reina entre nós. Pedi
que ela me esperasse tomar um banho e, enquanto isso, ela avisou
a amiga, Kath, que nós iríamos sair para conversar. Porém, desde
que deixamos a academia onde eu treinava, não trocamos muitas
palavras, a não ser breves exclamações e murmúrios.
Apesar do nervosismo pela conversa que sei que teremos, uma
parte de mim está muito feliz e empolgada por Emma ter me
procurado. Passei todos os minutos desde a madrugada de sábado
pensando nela e, a essa altura, é impossível negar meus
sentimentos, é até mesmo tolice tentar dizer que não gosto dela.
Entretanto, ainda que a tenha salvado de Dylan na noite da festa, eu
não pretendia declarar meus sentimentos por ela naquele momento,
não era nem de longe o plano, simplesmente aconteceu, as
palavras escaparam. E o beijo depois, totalmente não planejado, me
pegou completamente de surpresa.
Fiquei todos esses dias ponderando se deveria procurá-la para
conversarmos a respeito, mas estava com medo, eu temi que sua
reação tivesse sido algo do calor do momento, ou por estar em
choque com o que havia acontecido.
Mas, agora, de frente para ela no café onde estamos, só consigo
pensar que talvez eu não seja o único a ter passado todos esses
dias pensando em nosso beijo, pensando sobre minha confissão.
Talvez eu não seja o único a perceber que tem algo a mais entre
nós.
— O que vão querer? — A atendente vem até a nossa mesa assim
que nos sentamos.
— Um café cortado, por favor — peço e olho para Emma esperando
que ela faça seu pedido.
— Um pumpkin spice com creme, por favor.
Sorrio ao ouvir seu pedido e a atendente anota rapidamente,
comentando que volta em breve. Maneio para ela em
agradecimento e, então, cruzo meus braços em cima da mesa,
tentando ficar mais próximo de Emma.
Ela está linda e é uma transição e tanto me tornar tão consciente de
sua beleza. O cabelo loiro está liso por seus ombros, as bochechas
estão levemente coradas e os lábios também um pouco vermelhos.
Talvez seja a cor natural deles, mas só consigo pensar o quanto
quero beijá-los novamente.
Os olhos castanhos de Emma brilham um pouco e, quando ela olha
para mim, me pergunto como pude deixar que esses pequenos
detalhes, como, por exemplo, a pintinha bem no final do queixo, não
me chamassem a atenção desde sempre. Quero beijar essa
pintinha, assim como quero enroscar seus cabelos em meus dedos.
Percebo que ela me observa atenta, como se tentasse decifrar o
que está se passando em minha cabeça e, evitando que meus
pensamentos declinem para caminhos tortuosos, decido parar de
fugir do assunto.
— Como você está? — Pergunto, sem dizer todas as palavras,
esperando que ela entenda, especificamente, sobre o que se refere
meu questionamento.
— Ótima, e você? — O sarcasmo dela é perceptível, e não consigo
evitar que uma risada escape dos meus lábios. Já que vamos jogar
assim, decido partir de uma vez para a ação.
— Bem... Pensando em você todos esses dias. — Sorrio e Emma
solta um riso fraco ao ouvir minhas palavras.
— Céus! Isso é muito mais estranho do que imaginei que seria. —
As bochechas ficam levemente mais rosadas e ela afasta uma
mecha do cabelo com a mão.
— Eu sei. É um sentimento novo para mim, mas é a verdade. —
comento com uma risadinha fraca. — Sei que não foi a melhor hora
para dizer aquelas palavras, mas... Aconteceu. — suspiro, tentando
ser o mais verdadeiro e franco com ela.
— Você não é o único sem saber como agir ou o que falar. Sua
confissão me pegou de surpresa, mas a minha ação também. O
lance do beijo... — suspira, e suas bochechas coram ainda mais. —
Não sei por onde começar para ser sincera. — Emma morde o lábio
inferior e ficamos em um breve silêncio, até a atendente quebrar
nosso contato e entregar nossos cafés.
— Vamos começar pela parte mais “fácil”, digamos assim — retomo
a conversa quando ficamos sozinhos novamente, e controlo minha
raiva ao fazer a próxima pergunta. — Aquele idiota te procurou em
algum momento? — Sinto minhas mãos se fecharem de raiva.
Dylan e eu não tivemos grandes encontros desde o incidente, eu
não o encontrei em casa desde então e Johnny me contou que
ouviu uma conversa sobre Dylan se mudar para os alojamentos, o
que me deixou levemente surpreso. Entretanto, não é apenas em
casa que nossos encontros acontecem.
Durante os treinos, nenhum de nós trocou uma palavra sobre o
incidente, ou mesmo sobre qualquer outra coisa. Sei que seu rosto
está melhor, mas não faço ideia de que desculpa ele usou para
explicar o hematoma ao treinador, afinal de contas, eu não fui
chamado em nenhum momento.
— Não — a voz de Emma sai baixa e me inclino para ouvi-la melhor.
— Bloqueei o número dele e dei um tempo nas minhas redes
sociais, então... Não tenho notícias.
— Ótimo. — Respondo, dando um gole no café.
— Como você sabia? — A pergunta me pega de surpresa e encaro
Emma. — Como você sabia que ele ia agir como um babaca? Como
sabia onde eu estava?
E é nesse momento que percebo que talvez, precise ferir Emma
mais uma vez. Não quero ter que fazer isso, mas ela precisa saber a
verdade, ela precisa saber que não foi apenas implicância da minha
parte, ou, mesmo agora, um ciúmes besta. Ela precisa saber que
Dylan não tinha nenhuma boa intenção com ela.
— Já conheci alguns “Dylans” ao longo da vida. Caras são babacas
quando querem — Emma estreita o olhar em minha direção e reviro
os olhos. — Eu sei, sou um cara, já tive minha cota de babaquice
quando mais novo.
— Só quando mais novo? — Questiona. — Não é porque nos
beijamos que vou ignorar seus “erros” ou “defeitos”. Você ainda é
bem petulante quando quer.
— Que seja. Depois podemos voltar o assunto para mim — dessa
vez, sou eu quem semicerro os olhos em sua direção. — Dylan tem
amigos babacas e não fica muito atrás, mas eu realmente tinha
motivos para desconfiar. Quando vocês ficaram, na primeira festa...
Ele veio conversar comigo — isso chama atenção de Emma e ela
passa a prestar ainda mais atenção em minhas palavras. — Ele
perguntou sobre você, perguntou se nós tínhamos nos envolvido
alguma vez e... Bom, se você era alguém que ele teria que se
esforçar ou não para... — não consigo completar as frases direito.
Não quero fazer isso e estou odiando cada minuto dessa conversa.
— Uau! Que babaca! — Emma dá um gole no café e deposita a
xícara na mesa. Ela me encara e sinto que ela está tentando
decifrar cada uma das minhas expressões. — Tem mais coisa, não
tem?
Respiro fundo novamente e esfrego as mãos nos cabelos,
desajeitando os fios, nunca pensei que teria que contar a uma
garota sobre uma aposta que envolvesse sexo. Pensar que uma
aposta como essa foi feita é tão ruim quanto ter que verbalizar
essas palavras em voz alta para Emma.
— Depois disso, eu passei a ficar de olho nele, não sentia a menor
confiança em Dylan, Emma, mas a gota d’água foi descobrir a
aposta que ele havia feito com Alex e outros garotos. Ele... — vejo
os olhos dela levemente marejados e dói muito mais do que eu
havia imaginado. — Eles apostaram sobre quanto tempo ele
demoraria para transar com você.
Falo as palavras com rapidez para tentar acabar com aquilo de uma
vez, e sinto meu coração doer ao ver os olhos de Emma se
fecharem e ela abaixar um pouco a cabeça. Sinto vontade de correr
para encontrar Dylan, Alex e o grupinho de babacas que
participaram dessa idiotice e esmagar a cara de cada um deles com
minhas mãos, ainda que eu odeie violência.
Posso não saber tudo sobre Emma, mas sei que ela sempre foi
muito reservada quando o assunto é relacionamento, sexo e coisas
do gênero. E a tensão em suas mãos em volta da xícara deixam
ainda mais claro o quanto ela está magoada.
Tudo que quero é sentar ao seu lado e trazê-la para o aconchego do
meu peito, afagar seus cabelos e dizer que estou aqui para o que
ela precisar. Toco sua mão com a minha e ela a afasta rapidamente.
— Baixinha...
— Por que você não me falou, Colin? — Pergunta, e vejo quando
morde o lábio inferior, como se tentasse segurar a raiva e as
lágrimas. — Por que você não me contou a verdade?
— Eu tentei te avisar, Emma, eu disse que não confiava nele, disse
para você não confiar nele, que ele não era o cara certo...
— Tentar me avisar me chamando de “idiota” ou falando que era tola
não é a melhor forma de avisar alguém. E não me venha com esse
papo de “não é o cara certo pra mim”, eu não sou tão boba como
você pensa, Colin. — Sua voz vem carregada de raiva e não
consigo evitar ficar irritado, mesmo que agora não seja a hora.
— Eu estava confuso, Emma. — Pontuo com a voz séria. — Eu não
tinha nenhuma prova concreta, estava começando a descobrir sobre
meus sentimentos e, toda vez que eu te procurava para
convesarmos, não era como se você estivesse cem por cento aberta
ao diálogo.
— Bom, é difícil não ter o pé atrás com alguém, quando essa
pessoa passou mais da metade da vida te irritando — ela ergue o
rosto ainda mais e seu queixo quadrado fica marcado por conta da
expressão firme.
— Posso ter sido um idiota com você boa parte da vida, mas eu
jamais faria isso. Não fui eu quem apostou sua virgindade com os
amigos.
Minhas palavras saem mais duras do que o necessário e me
arrependo na mesma hora. O rosto de Emma adquire uma
expressão de surpresa e choque, em segundos vejo a raiva
consumi-la e tenho vontade de bater minha cabeça na parede. Eu
não precisava verbalizar a verdade dessa forma, mas agora é tarde
demais.
— Baixinha... — tento tocar sua mão, mas ela está se levantando.
— Obrigada pela sensibilidade de um cavalo, idiota.
— Emma!
Eu a chamo, mas Emma se levanta brava e coloca a mochila nas
costas rapidamente, enquanto joga algumas notas na mesa e sai a
passos duros. Me viro para ir atrás dela, mas estou irritado tanto
comigo quanto com ela, de nada vai adiantar conversarmos de
cabeça quente.
Emma nem ao menos me deixou explicar que eu só soube da
aposta na noite do Halloween, não é como se eu houvesse
escondido esse segredo e esperado pelo pior acontecer.
Volto novamente à mesa e afundo a cabeça nos braços, tentando
pensar no que posso falar e fazer para reverter a situação. Meus
pensamentos confusos são interrompidos quando ouço o toque do
meu celular, pego-o rapidamente e vejo o nome da minha mãe no
visor, dou risada pelo timing dela, mas decido atender.
Conecto os fones de ouvido e arrasto o dedo pela tela aceitando a
chamada.
— Oi, filho. Como é bom ver seu rosto.
— Oi, mãe, é bom te ver também. Como você está?
— Bem, bem. — comenta com um sorrisinho escondido. — Tenho
uma novidade para te contar.
— Estou todo ouvidos — dou um gole em meu café e sorrio para a
tela.
— Recebi uma proposta para ser a técnica auxiliar do time de
Orlando.
— Finalmente! — Exclamo em voz alta e ela começa a rir. — Me
conte tudo! Como vai funcionar, quando você vai começar... Quero
todos os detalhes.
Mamãe começa a me contar sobre o novo emprego, uma proposta
que vinha sendo especulada desde o começo do ano e que ela
ponderava muito se deveria aceitar. Depois de passar boa parte da
vida dividindo seu tempo entre os gramados e a família, quando
Heather decidiu se aposentar, ela queria se dedicar a Freddie e a
vida pacata em casa.
Mas, tanto meu pai, quanto eu, tínhamos certeza de que ela não iria
aguentar muito tempo quieta. Sei que ela ama ficar com Freddie,
que ama estar em casa para receber meu pai depois do trabalho,
mas minha mãe é uma jogadora incrível e deixá-la fora dos campos
é um pedido quase impossível de ser realizado.
Por isso, quando ela me conta empolgada sobre assumir uma nova
posição dentro do time que tanto ama, não me surpreendo nem um
pouco com a notícia e sinto um orgulho imenso por ela.
— Você vai se sair bem, mãe! Nós todos acreditamos em você.
— Seu pai me falou a mesma coisa. Às vezes, parece que vocês
combinam os discursos — ela balança a cabeça e dou risada. —
Mas e você, estamos sem nos falar há uns dias, e essa ruga na sua
testa não me engana.
— Que ruga? — Pergunto fazendo algumas caretas no telefone e a
risada da minha mãe ecoa nos fones de ouvido.
— Essa ruguinha bem no centro da sua testa, que só aparece em
algumas situações: quando você estudava física até tarde da noite,
durante os jogos ou quando algo realmente está te incomodando.
Você sabe que estou aqui para ouvir o que quer que seja, não
sabe?
A voz doce da minha mãe, acompanhada do sorriso singelo dela
fazem com que eu quase me sinta em casa, nas muitas vezes em
que conversávamos até tarde da noite, ou nos jogos de futebol
americano no gramado de casa, um momento íntimo nosso.
Falar com ela não seria nada ruim, mamãe sempre foi incrível em
me dar conselhos. Entretanto, não sei se já estou preparado para
falar sobre Emma. A sobrinha favorita dela sempre é uma das
primeiras perguntas feitas nas ligações, não é como se eu estivesse
gostando de uma garota desconhecida.
Não sei o que ela, meu pai e meus tios vão pensar a respeito, nem
mesmo sei se vão descobrir a respeito de nós em algum momento.
Nem mesmo sei se Emma e eu somos um “nós”. Estou mais
confuso do que antes, quase sinto arrependimento por ter me
encontrado com ela hoje.
Opto por não dizer a verdade, mas decido usar outros artifícios para
pedir um conselho seu.
— Eu sei que posso conversar com você — afirmo e mexo nos
cabelos enquanto tento encontrar as palavras certas para abordar o
assunto. — É que tem um amigo meu que está com um problema
com uma pessoa.
— Um amigo, é? — minha mãe segura o riso e continua. — E essa
pessoa com quem ele está com problemas é uma garota?
— É, acho que sim. Ele não quis entrar muito em detalhes —
balanço a cabeça para evitar rir e minha mãe entende que não vou
dizer a verdade. Não vou dizer que o “amigo” em questão sou eu.
— Certo. E qual é o problema desse seu amigo?
— Ele descobriu umas coisas bem chatas que estavam fazendo
com essa... pessoa. — Engulo seco. — E ele tentou explicar para
ela a situação, mas a pessoa não entendeu da melhor maneira.
— Coisas chatas, tipo? Preciso de mais informações para tentar
ajudar — pergunta de modo sincero, numa tentativa de saber qual
melhor conselho ela pode me dar.
— Essa pessoa estava ficando com alguém e sendo enganada, era
passada para trás, sendo a única fiel na relação. A gota d’água foi
quando esse meu amigo viu essa pessoa sendo beijada à força. —
Decido não falar sobre a aposta porque, falar isso novamente em
voz alta parece ridículo e porque não sinto que posso contar algo
tão íntimo a respeito de Emma, mesmo que minha mãe não saiba
que estamos falando sobre ela.
— Nossa! Isso é bem sério — minha mãe comenta antes de dar um
gole em sua água. — Bom, que legal que esse seu amigo quer ser
sincero com essa pessoa, isso mostra que ele se importa com ela.
Mas, uma coisa que não entendi, por que ela não entendeu seu
amigo?
— Essa pessoa é muito cabeça dura! — A frase escapa dos meus
lábios e quase esqueço que, para minha mãe, mesmo que ela saiba
que estou falando de mim, ela não sabe que a outra pessoa da
história é Emma. — Quero dizer, essa pessoa é meio desconfiada
de tudo e todos, e está magoada. Acho que por isso ela nem tentou
ouvir meu amigo...
— Bom, se for algo recente... Talvez seja bom dar um tempo para
que essa pessoa possa absorver tudo, colocar os pensamentos no
lugar, sabe?
— É melhor que eles não conversem mais? — Pergunto para ver se
entendi direito seu conselho.
— Não! Eles com certeza devem conversar. Acredite em mim, seu
pai e eu somos a prova viva de que diálogo é essencial entre
qualquer ser humano — damos risadas porque sei o que ela quer
dizer com isso. — Você sabe pelas nossas histórias que seu pai e
eu poderíamos ter ficado juntos tempos antes se tivéssemos
sentado cinco muitos para conversar. O que quero dizer é que, às
vezes, falar as coisas no calor do momento não é bom. Esse seu
amigo contou todas essas coisas ruins para ela?
— Sim, e a reação não foi muito boa, ela... Quer dizer, essa pessoa,
não entendeu muito bem — respondo à minha mãe, mas é quase
como se estivesse explicando e elencando as razões para mim
mesmo.
— Então, tem uma coisa mais importante que esse seu amigo vai
ter que fazer — minha mãe enfatiza a palavra amigo e prossegue.
— Conquistar a confiança dessa pessoa. E, às vezes, um tempo
longe ajuda.
— Mas, quanto tempo? — Questiono, levemente desesperado. —
Quero dizer, eles já ficaram alguns dias sem conversar, e se a outra
pessoa achar que ele não está se esforçando?
— Sempre existe essa possibilidade, querido. Mas, aí, vai do seu
amigo ter tato e perceber quando é hora de deixar de lado a
distância e conversar. Pensar bem o que precisa ser dito também
costuma ajudar, planejar um pouco, huh? Assim como no esporte,
ensaiar uma jogada facilita sua execução, você sabe melhor do que
eu a respeito disso...
— É, você tem razão. — Fico alguns segundos em silêncio
absorvendo suas palavras e dou um último gole em meu café. —
Obrigado, mãe. Vou dar esse conselho para ele.
— Imagina, querido. Espero que esse seu amigo tenha sucesso em
falar com essa garota... ou melhor dizendo, pessoa.
Ela pisca para mim e damos uma risada cúmplice um para o outro.
Minha mãe é minha pessoa favorita no mundo e sempre levei muito
em consideração seus conselhos, e nesse caso, acredito que ela
esteja certa.
Falar com Emma agora só vai fazer com que nossas duas cabeças
quentes digam coisas erradas um ao outro, e não quero e nem
posso mais dizer palavras erradas para ela. Além disso, eu entendo
ela ter o pé atrás um pouco comigo, e de alguma forma, vou
precisar conquistar isso. Como eu ainda não sei, mas vou pensar a
respeito.
Encerro a chamada e fico mais um tempo sentado no café e
pensando em Emma, no beijo que tivemos ainda na academia. Suas
mãos em meus cabelos, espalmadas em meu peito, o calor que seu
corpo emanava.
Nunca pensei que poderia me apaixonar por Emma Kim, mas
aconteceu e o fato de precisar conquistá-la, de repente, se torna
não apenas um fato qualquer, mas sim uma necessidade.
Lembro das palavras do meu pai como se estivesse vivendo um
flashback. “Às vezes, ficamos tão deslumbrados com a facilidade
com que certas coisas vêm até nós, que não damos valor a
pequenos detalhes que parecem quase imperceptíveis”.
Emma Kim é meu detalhe. Passei quase a minha vida toda sem dar
atenção para a garota que estava ali desde sempre e, nesse
momento, só consigo pensar que minha felicidade só será completa
quando a tiver em meus braços. Quando puder chamar Emma Kim
de minha.
Capítulo 25
Bom dia, baixinha.
Não sei que horas você vai ler esse bilhete, mas, como você deve
saber, tenho jogo hoje. Você, melhor do que ninguém, sabe o
quanto eu amo futebol americano e que o esporte é a minha razão
de viver. Poucas vezes na vida — talvez eu consiga contar nos
dedos —, eu não tive vontade de jogar ou quis faltar a algum treino.
Hoje foi um desses dias.
A noite de ontem foi especial, Emma Kim. Enquanto escrevo esse
bilhete, não consigo parar de olhar para você, não consigo parar de
sorrir e muito menos sou capaz de evitar meu coração de disparar
ao lembrar de tudo que aconteceu.
Daria tudo para ficar aqui e passar o dia todo com você embaixo de
mim, em cima de mim, sentada em mim... De tantas formas
diferentes. Você me enlouquece, e agora, de um jeito totalmente
novo e muito mais fascinante do que antes.
Infelizmente, preciso ir nessa, ou vou me atrasar para o jogo. Mas,
queria propor duas coisas e aí você escolhe aquela que mais te
agradar. A primeira, é que tem uma camisa minha do time dobrada
na cadeira e se você quiser ir assistir ao jogo (caso ainda dê tempo),
vai ser incrível ver você usando meu número nas costas.
Minha mãe sempre amou ver meu pai, eu e Freddie com sua camisa
enquanto era jogadora de futebol, e acho que agora entendo o
sentimento. Vou adorar ver seu corpo coberto por ela com meu
nome estampado.
Mas, se você não quiser (e eu vou entender), você pode ficar
curtindo minha cama e me esperar chegar. Independentemente do
resultado de hoje, seja perdendo ou ganhando o jogo, só há uma
coisa que eu queira fazer e uma pessoa que eu queira ter ao meu
lado. E é você, Emma Kim.
Seja qual for sua escolha, vou aceitar. A única coisa que eu quero
de verdade é você. Quis você ontem, quero você hoje e te quero
amanhã.
Mas, se optar pela segunda opção, me espere nua, por favor ;)
Colin.
Dou um longo suspiro ao terminar de ler o bilhete e o grudo em meu
peito, tentando controlar o ritmo do meu coração, que bate de forma
acelerada.
Quem é esse Colin? E por que eu demorei tanto para conhecer esse
lado?
Olho mais uma vez para o papel, para acreditar que realmente
aquelas palavras estão escritas ali e, na sequência, me abaixo
rápido para pegar minha bolsa e visualizar meu celular, o jogo vai
começar em pouco mais de uma hora, mas se correr, talvez chegue
durante a entrada dos times.
Levanto rápido e visto novamente meu vestido jogado no quarto e a
calcinha, meus pés reclamam quando calço os saltos, mas só
preciso chegar ao outro lado da rua, então aguento firme. Há uma
chave na porta e eu a viro para destrancá-la, estou quase saindo
quando me lembro do elemento mais importante que estou
esquecendo.
Volto rápido para dentro e pego a camiseta de Colin na cadeira, com
um sorriso de orelha a orelha.
Filhote:
Quando eu tinha a sua idade, alguns bons anos atrás, seus avós,
tanto paternos quanto maternos, me levaram num sábado
ensolarado para o campus onde eu iria estudar e morar por quatro
anos. E depois, permanecer ainda mais um tempo como mestranda
e professora substituta. Na época, eu não fazia ideia de que o
destino iria me reservar tantas surpresas boas para os quatros anos
que viriam. Coisas incríveis tanto para mim quanto para seu pai.
Sua avó Kim me deu um caderno bem semelhante a esse que você
tem em mãos agora. Sei o que está pensando: se na minha época,
os cadernos já pareciam um objeto obsoleto, hoje então, imagino
que você esteja olhando para ele e se perguntando: “por que raios
minha mãe não usou algum aplicativo qualquer para deixar essas
anotações para mim?”.
Bom, porque, como diria suas duas avós, sua mãe é uma pessoa
“das antigas”. E descolada.
É incrível como nós sempre acabamos nos parecendo com nossos
pais depois de certa idade. Vai acontecer com você, eu garanto.
Mas, eu me lembro que, diferente de você, naquela época, minha
animação era muito mais voltada para os estudos do que para a
diversão, e eu não conseguia entender o porquê meus pais falavam
com tanta euforia sobre minha entrada na faculdade, como se a vida
fosse uma antes da graduação e outra diferente depois da
passagem pelo ensino superior.
Lembro que quando li as primeiras páginas que sua avó me deixou
escrita, eu sabia que iria viver coisas incríveis, mas não tinha fé
alguma de que seria algo tão transformador. Claro que com
transformador, eu estou querendo falar sobre me descobrir, sobre
trilhar meu caminho acadêmico e profissional... E sobre o seu pai.
Assim como para sua avó Kim, falar de faculdade para ela é
impossível sem lembrar do seu avô e da gravidez; para sua avó
Heather, é impossível deixar o futebol de lado e a história entre ela e
seu avô Nash também.
E para seu pai e eu, é impossível falar de faculdade sem citar a
nossa história de amor, que começou em meio a festas, jogos de
futebol americano da liga universitária e nossa tentativa falha de
continuarmos com nossas implicâncias de sempre. Nossa tentativa
falha em nos odiarmos.
Eu costumava não acreditar nessas baboseiras sobre caminhos
trilhados e pessoas que precisam se encontrar nessa vida, mas
depois do seu pai, foi impossível não me deixar levar pela ideia de
que, talvez, haja uma força maior que nos guie para os lugares
certos, nas horas certas e assim por diante.
Eu sei. Eu sou uma socióloga com doutorado e estou falando para
você que, simplesmente, sem mais nem menos, acredito em
destino.
É isso mesmo. Eu acredito.
E tudo bem ter um pouco de fé em coisas que não conseguimos
comprovar de verdade. Todavia, como tudo é possível, quem sabe
você não consiga desenvolver uma teoria genial que comprove
cientificamente eventos assim.
Entende o que quero dizer, querido? Dizer que você já sabe o que
será do seu futuro agora é não dar a chance para infinitas
possibilidades. Seu pai e eu jurávamos que seria uma tortura estar
na mesma faculdade depois de passarmos boa parte da vida
estudando juntos. Seu pai e eu tínhamos certeza de que nada além
da irritação latente entre um e o outro seria possível de se
manifestar entre nós.
Hoje, estamos levando você, nosso filho, para seu primeiro dia na
faculdade. Nós não só nos apaixonamos um pelo outro, como
também nos casamos. Seu pai tocou os negócios da família, abriu o
próprio escritório de arquitetura, expandindo ainda mais as
possibilidades, e eu, assumi um cargo permanente no departamento
de sociologia da Universidade da Flórida.
Juntos, construímos nossa casa de frente para o mar. A minha
paixão pessoal e a sua também.
Quando sua avó me deu um caderno como esse, ela recheou este
de fotos, pensamentos e textinhos que me ajudaram muito durante a
faculdade, principalmente no primeiro ano. Além disso, ela deixou
uma quantidade generosa de páginas em branco para que eu
escrevesse a minha história.
E eu, agora, passo a tradição para você.
Use essas folhas para anotar seus pensamentos, suas ideias,
fórmulas que seja, seus desejos, suas tristezas, angústias. Use para
desenhar, fazer colagens, encha com fotos, faça o que quiser com
ele, filhote. Porque, agora, é a sua vez de escrever essa história.
Assim como seus avós escreveram as deles, eu e seu pai
escrevemos a nossa, agora é seu momento.
Deixo nas próximas páginas algumas fotos da época para te inspirar
e o restante, é com você. Seja o protagonista da sua história, filho. E
nunca, jamais, em hipótese alguma, esqueça que seu pai e eu te
amamos mais do que qualquer coisa nesse mundo.
Feliz primeiro dia de faculdade. Sua vida nunca mais será a mesma.
Eu te amo, Ethan Ha-jun McGlam Sullivan. Até a lua... Ida e volta.
Mamãe.
Agradecimentos
Como é bom chegar até aqui!
Me sinto como uma competidora de natação no mar que, ao chegar
ao final, respira aliviada. É um percurso sinuoso escrever um livro.
Quisera eu que bastasse colocar palavras em um arquivo e jogar
para o mundo. É muito mais complexo que isso, mas a jornada fica
mais interessante quando se tem com quem contar.
End Game não estaria nas suas mãos se não fossem por algumas
pessoas mais do que especiais. E vamos a elas.
Milena e Clarissa: mil vezes obrigada! Mi, obrigada por terminar de
ler Fair Play e plantar a famosa “semente da discórdia” em minha
mente a respeito da Emma. Obrigada por se empolgar comigo
quando a imagem do Colin nasceu. Clarissa, obrigada por vibrar
com a mesma intensidade e mencionar que “um Steve como pai
ciumento” era tudo que nós precisávamos. Você estava certa.
Clarissa, obrigada também por revisar este livro. Nunca se esqueça
de que você é a minha revisora. Caique, amigo querido, obrigada
por dar vida graficamente a mais essa jornada. Que você possa
produzir muitas outras capas de livros meus.
Meu squad: Caroline Dias, Fernanda Martins, Laura Vitelli e Olivia
Ayres. O que seria de mim sem vocês? Obrigada por betarem essa
história, por se empolgarem com cada revelação como se fosse
uma grande novidade (ainda que, por baixo dos panos, vocês
sempre saibam de tudo). Obrigada pela honra de compartilharmos
uma amizade incrível e por dividirem comigo a escrita de vocês.
Obrigada, Tan, minha leitora sensível, por se apaixonar pela Emma,
se reconhecer nela em muitos momentos e por me ensinar tanto.
Foi enriquecedor, gratificante e maravilhoso dividir essa história com
você antes de todo mundo.
Felipe, meu amor e companheiro de vida. Obrigada por acreditar
nessa história mais do que eu muitas vezes. Sei que você não vai
ler esse livro, porque você não lê nenhum livro, mas não poderia
deixar de colocar você aqui e enfatizar sua importância na minha
vida. Te amo.
Aos meus amigos, principalmente, Alessandra, Ana, Eduardo,
Fernanda, Natália e Thais, por simplesmente acreditarem em mim.
Aos meus pais, que participam da construção dessas histórias todas
as vezes em que me perguntam “como está o trabalho?”. Ao Júnior
e sua incessante pergunta: “mas e o seu livro?”, me fazendo
acreditar que era possível sonhar. Ao Arthur, meu irmão, que me
deu uma aula e tanto a respeito de futebol americano.
Ao Guilherme, meu primo, que, por vezes, por conta das nossas
histórias de infância, me ajudou a lembrar que mesmo com
provocações, puxões de cabelo e apelidos bobos, havia amor.
Emma e Colin, de alguma forma e em algum grau, são um retrato
nosso de anos atrás.
E, por fim, e nunca menos importante, a você leitora e leitor que
chegou até aqui. Obrigada por acreditarem em mim, por pedirem por
outras histórias, por sempre me fazerem acreditar que minha
escrita, algo tão meu, também pode ser algo tão nosso. Obrigada
por se apaixonarem por essas histórias, personagens e playlists.
Espero que possamos estar sempre juntos.
Até a próxima!
Sobre mim
Nascida na Grande São Paulo, Beatriz formou-se em Letras pela
Universidade de São Paulo. Quando não está escrevendo, passa a maior
parte do tempo lendo, ouvindo música, vendo filmes e planejando viagens.
Não dispensa um café quentinho, shows e uma tarde com os amigos. Não
necessariamente nessa ordem. Atualmente mora na Suécia com o marido,
seu cachorro Baleia e passando muito frio.
Suas publicações incluem: Além de Mim, escrito juntamente com sua melhor
amiga e publicado pela Editora Sinna no primeiro semestre de 2021. Fair
Play, publicação independente lançado no segundo semestre de 2021 e
Overtime, uma história de Fair Play também em 2021.
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Laura Vitelli.