Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Fogo... Alguma casa está queimando! Pensei enquanto corria pela rua
de pedras ladrilhadas da vila. Apesar do clima frio daquela noite de outono,
um suor de nervosismo escorria pelo meu corpo. O coque que prendia o
meu cabelo se desfez com a velocidade dos meus passos e agora os fios
dourados se agitavam ao redor do meu rosto durante a corrida.
O cheiro de fumaça ficava mais forte à medida que eu me aproximava
da rua da minha loja e o pânico começava a sufocar o meu peito. Algo de
errado está acontecendo... eu posso sentir! Corri o mais rápido que eu
pude, indo em direção à luz alaranjada que iluminava parte do céu escuro
da noite. Depois de mais alguns minutos de agonia, finalmente cheguei ao
local.
Como sempre, a minha intuição estava certa. Havia um incêndio
naquela rua e o estabelecimento em chamas era a minha loja de esculturas.
Porra! Não era difícil imaginar o estrago que o fogo poderia fazer em um
lugar repleto de peças de madeira. Está tudo perdido... tudo! Levei as mãos
à cabeça, enquanto absorvia o choque daquele momento. Como isso
aconteceu?
Vários moradores de Havengreen se reuniram na rua em frente à loja
e agora observavam o fogo queimar, assustados, sem saber o que fazer.
Nossa vila, ao pé da montanha, era pequena, não havia um corpo de
bombeiros aqui e até que o batalhão da cidade mais próxima chegasse tudo
já estaria reduzido a cinzas. Algumas almas caridosas até enchiam bacias
d’água no chafariz da praça que ficava na rua de trás e corriam para tentar
apagar o fogo, mas era tudo em vão. As chamas já estavam chegando ao
teto, não havia como contê-las.
Olhei ao meu redor à procura da minha parceira, mas não a encontrei.
Meu desespero aumentou. Porra, ela é a única pessoa, além de mim, que
tem uma cópia das chaves da loja. Será que ela está lá dentro? Caralho!
Sem pensar duas vezes respirei fundo — apesar do ar ali fora estar
enfumaçado — e corri em direção ao estabelecimento o mais rápido que
pude. As labaredas estavam ao redor da porta fechada, mas não me
importei. Se existe a menor possibilidade da minha mulher estar lá dentro
eu não hesitarei em salvá-la. Não posso perdê-la. Jamais conseguirei viver
sem ela...
CAPÍTULO 1
A vida decidiu que naquele dia eu iria pagar por todos os meus
pecados. Eu estava a meio quilômetro de casa quando a tempestade me
pegou. Uma chuva grossa e gelada caía em minha pele e eu tentava curvar
meu corpo o máximo que podia para evitar que a mulher em meus braços se
molhasse, infelizmente, não tive muito êxito. Precisei de muito esforço para
subir o restante da colina em meio ao vento e aos trovões até chegar na
planície onde estava localizada a minha cabana de madeira.
Quando abri a porta Hati veio me receber choramingando e
balançando a sua cauda. Ele não deixou passar despercebido que eu levei
outra pessoa para casa e começou a farejar a mulher no instante em que eu
coloquei o seu corpo molhado sobre o sofá — felizmente, o revestimento de
couro do móvel impediria que a água penetrasse na espuma.
Deixei a cabeça dela apoiada em uma almofada para garantir que
ficaria confortável e retirei com cuidado a mochila das suas costas,
colocando-a atrás do sofá — por sorte, a bolsa era de um tecido
impermeável então imaginei que o que estava lá dentro não teria molhado
com a chuva.
Enquanto eu encarava a intrusa, sentia a água escorrer pelo meu corpo
e pingar no chão de madeira, formando uma poça onde minhas botas
pisavam. Peguei um pano e comecei a secar a água empoçada na sala de
estar, enquanto tentava decidir o que faria com a mulher desacordada. Ela
precisaria de roupas secas, cobertores e eu estava torcendo para que o corte
em sua testa não fosse fundo o suficiente para precisar de pontos. Não seria
nada agradável costurá-la sem anestesia.
Quando terminei de secar a poça, Hati se pendurou no sofá com as
patas dianteiras e lambeu uma gota d’água que escorria pelo rosto da
mulher. Ele a farejou um pouco e depois se afastou. Meu cachorro não tinha
contato com muitas pessoas e eu fiquei aliviado por ele não estranhar a
nova visitante — se é que eu podia chamá-la assim. A coitada só estava
aqui porque a persegui montanha abaixo gritando feito um louco e isso
quase a matou.
Senti um arrepio em meu braço e fui até o quarto vestir alguma coisa
seca. Hati me seguiu até o cômodo e resolveu ficar por lá, deitado em sua
cama de pele perto da lareira. Poucos minutos depois, retornei à sala usando
uma blusa de flanela xadrez, calça de moletom preta e com uma toalha
branca enrolada em meu cabelo molhado. Embaixo do braço direito eu
trazia um cobertor, toalhas secas, um suéter de lã azul e uma calça cinza
com cadarço na cintura.
Quando parei em frente ao sofá e encarei a mulher que ainda estava
desacordada, senti um baque interno pelo que eu teria que fazer a seguir.
Trocar a roupa dela seria tortura, mas eu bem que merecia esse castigo pelo
que fiz. Ela não estaria aqui se eu não bancasse o idiota territorialista a
expulsando da minha montanha. Tudo que vai volta e eu já estou recebendo
a minha punição...
A mulher estava ferida por minha culpa e por mais que eu temesse o
que poderia acontecer caso ela ficasse muito tempo por perto eu pretendia
mantê-la aqui até que ela estivesse bem o suficiente para voltar para a vila
por conta própria. Não vou me perdoar se algo de ruim acontecer com essa
pequena deusa. Me abaixei em frente ao sofá em que ela estava e deixei as
roupas que eu trouxe no chão.
O céu estava desabando lá fora. Eu me sentia pior a cada segundo que
eu passava encarando aquele rosto perfeito que agora estava cheio de cortes
graças à minha estupidez. Em uma tentativa de me redimir eu iria limpar
suas feridas, fazer curativos e dar pontos em sua testa — caso fosse
necessário —, mas primeiro, precisava tirar aquelas roupas molhadas antes
que ela pegasse um resfriado. Certo, eu consigo... seja forte, Bear.
Respirei fundo e resolvi começar pelas botas de caminhada que ela
usava. Desfiz o nó do cadarço de seu pé direito e quando comecei a puxar o
calçado a mulher gritou de dor. Parei imediatamente o que eu estava
fazendo e fitei o seu rosto. Ela estava de olhos abertos, confusa, tentando
reconhecer o ambiente.
— Está sentindo alguma dor? — indaguei, preocupado. Se essa
garota quebrou o tornozelo a sua estadia aqui não será de dias, mas sim de
semanas.
— V-você — ela gaguejou, aterrorizada. Seu rosto ganhou uma
expressão de desespero enquanto ela me encarava de cima a baixo. — Por
favor, fique longe de mim!
— Ei... eu posso explicar. — Segurei em seus ombros para que ela se
acalmasse.
— Me solte! — gritou, desesperada, e me deu um tapa no rosto.
Afastei minhas mãos dela por reflexo. Na primeira oportunidade a
mulher se colocou de pé, mas caiu no segundo seguinte enquanto gemia
com dor. Ela levou uma das mãos até seu pé direito e xingou, agoniada.
— O que você fez comigo, seu imbecil?
— Eu não fiz nada... — Abaixei-me para tentar ajudá-la a voltar para
o sofá, mas levei outro tapa.
— Fique longe! — gritou. — SOCORRO!
Mesmo com o tornozelo ferido, a mulher deu um jeito de sair de perto
de mim, rastejando pelo chão em direção à porta. Ela estava desesperada
para fugir e eu não a culpava — depois da cena que eu fiz com o machado,
até eu sairia correndo se estivesse em seu lugar. Parece que vou ter trabalho
para consertar essa situação.
CAPÍTULO 6
Dez minutos se passaram desde que entrei no quarto. Acho que Freya
já teve tempo o suficiente para trocar de roupa.
Levantei da cama e fui até a minha cômoda. Apertei a beirada de
madeira do móvel na tentativa de dispersar toda a tensão que corria pelo
meu corpo. Passei os últimos minutos tentando ignorar o fato de que tinha
uma mulher gostosa pra cacete trocando de roupa na minha sala.
É claro que eu estava agitado, essa era a primeira vez em anos que eu
ficava tanto tempo perto de uma mulher. Freya era linda — de tirar o fôlego
— e a parte carnal do meu corpo não conseguia parar de desejá-la, mas eu
precisava me controlar. Teria que passar dias na sua companhia e não podia
nutrir esse tipo de pensamento por ela, precisava cortar isso pela raiz antes
que ficasse fora de controle.
Adotei uma postura rígida, respirei fundo e resolvi sair do quarto.
Hati se levantou da sua cama de peles e me seguiu. Quando virei no
corredor, avistei Freya no sofá terminando de abaixar o suéter de lã que eu
lhe dei — se eu saísse 10 segundos mais cedo teria uma visão encantadora
da pequena deusa com os seios de fora. Porra, eu não posso ficar pensando
assim! Tenho que manter o foco.
Quando cheguei na sala de estar, Freya logo percebeu a minha
presença e se remexeu no sofá, um pouco insegura. O corte em sua testa
não estava mais sangrando e o do seu nariz já estava começando a coagular.
Voltei a me sentir mal pelo que fiz a ela e dessa vez não consegui manter o
arrependimento apenas para mim.
— Sinto muito pelo que eu fiz — confessei.
No fundo, eu me sentia um pouco perdido. Nunca fui do tipo que
pedia desculpas, não sabia como me portar nessas situações.
Freya ficou surpresa com o que ouviu. Ela pensou por alguns
instantes e então fez um gesto para que eu me aproximasse. Obedeci e me
abaixei ao lado do sofá para prestar atenção no que ela iria dizer.
— Você perdeu o juízo? — Ela franziu o cenho e me deu um soco no
peito. — Assustar uma garota daquele jeito!
Sua mão estava prestes a esbofetear a minha cara quando eu a segurei.
Essa mulher é irritada e teimosa. Me pergunto se ela também se
comportaria desse jeito na cama ou se deixaria que eu a domasse... Porra,
Bear... foco!
Soltei a mão dela e fiquei de pé. Acabei deixando a raiva me dominar
porque a única coisa que eu sentia além disso era desejo — um desejo
crescente pela mulher que estava no meu sofá a menos de 3 horas.
— Foi você quem perdeu o juízo por subir na minha montanha —
disparei, irritado. — Você é louca, mulher!
Freya me mostrou seu dedo do meio e cruzou os braços diante do
peito. Ela virou o rosto na direção oposta em que eu estava, era nítido que
ficou irritada.
Resolvi deixá-la sozinha com os seus pensamentos e me abaixei para
pegar as roupas molhadas que ela deixou aos pés do sofá. Quando levantei a
pilha de tecidos, algumas gotas d’água caíram no chão junto com um
pequeno pedaço de pano rosa que Hati logo pegou para brincar. Levei um
tempo até perceber que aquilo na verdade era uma calcinha. Caralho, eu
não acredito nisso.
Com uma expressão irritada, me abaixei e tirei a calcinha da boca de
Hati antes que ele começasse a mordê-la. Segurei o tecido úmido com a
minha mão livre e olhei de soslaio para Freya. Fiquei aliviado ao perceber
que ela ainda estava com o rosto virado na direção oposta — provavelmente
não viu o que aconteceu com a sua roupa íntima.
Passei um tempo desviando o olhar entre a mulher no meu sofá e a
calcinha que estava em minha mão. Me peguei imaginando o quão pequena
Freya devia ser naquela parte do corpo para usar uma peça de roupa tão
delicada. Antes que eu pudesse me apegar completamente ao pensamento,
meu cérebro acendeu um sinal de alerta e me trouxe de volta a realidade.
Encarei Freya por mais um tempo e suspirei para aliviar a tensão em
meu corpo. Estou na seca há mais de cinco anos e agora tem uma mulher
gostosa no meu sofá, vestida com as minhas roupas e ela não está usando
calcinha. Porra... isso é tortura. Tortura!
Saí da sala em passos largos. Eu só queria ficar longe dela por um
tempo para tentar colocar minha cabeça no lugar. Entrei no meu pequeno
banheiro e comecei a colocar os tecidos molhados dentro do cesto de roupa
que ficava atrás da porta. Assim que a chuva desse uma trégua eu lavaria as
roupas de Freya para que estivessem limpas quando ela fosse vesti-las —
até lá, a mulher teria que usar as minhas calças de moletom e suéteres de lã.
Eu não me sentiria tão incomodado com isso se ela não ficasse
extremamente sexy com as minhas roupas.
Quando estendi a mão para jogar a calcinha dela no cesto, uma ideia
terrivelmente suja passou pela minha cabeça. Tentei relutar, mas no fim cedi
à tentação. Coloquei o tecido rosa de algodão contra o nariz, fechei os olhos
e inspirei profundamente o seu cheiro. Meu coração acelerou, meus
músculos se tensionaram e um gemido rouco escapou da minha garganta.
Porra, há quanto tempo eu não sentia o cheiro de uma boceta. O gosto de
Freya deve ser ainda melhor.
Apertei a calcinha com força quando me imaginei enterrando a língua
bem fundo no calor molhado do seu corpo. Visualizei ela segurando em
meus cabelos e fechando as pernas ao redor do meu rosto enquanto gemia o
meu nome... Porra. Meu pau doeu com necessidade. Afastei a roupa íntima
do meu rosto e olhei para baixo. Não fiquei surpreso quando vi o volume no
meio das minhas pernas. É isso que pensar demais faz comigo. Preciso
parar de fantasiar com Freya ou não vou conseguir voltar para aquela
sala.
Ela ficaria aqui pelas próximas semanas e eu não poderia passar todos
os dias agindo como um adolescente desesperado só porque estava perto de
uma mulher bonita. Tinha que manter a calma, me controlar. Para todos os
efeitos, Freya ainda era uma desconhecida e eu sabia que ela pensava o
mesmo ao meu respeito — é claro que ela também estava queimando de
raiva por causa do que eu fiz. Eu seria louco se ficasse divagando que
poderia acontecer algo entre nós durante o seu período de estadia em minha
cabana. Honestamente, acho que terei sorte se Freya apenas me perdoar
por fazer ela rolar montanha abaixo.
Com uma grande relutância, joguei a calcinha dentro do cesto de
roupas e coloquei uma toalha por cima dela para que eu não me sentisse
tentado a cheirar aquela peça íntima toda vez que entrasse no banheiro. Ter
Freya por perto seria uma tentação constante, mas eu teria que resistir. Já
passei por coisa pior e sobrevivi. Eu aguentaria duas semanas com sede sem
poder beber da fonte mais refrescante e tentadora que existia. Talvez, se eu
me lembrar do quanto uma pessoa pode fazer a outra sofrer eu abandone
esse pensamento idiota de desejar tê-la em meus braços. Não posso me
esquecer do motivo pelo qual me isolei nessa montanha.
— Bear? — Freya chamou, trazendo-me de volta à realidade. — Você
vai mesmo fazer o jantar ou me trouxe aqui para que eu morresse de fome?
— Estou indo — respondi, tenso. Também estou com fome, mas não é
de comida.
Fui até a pia, lavei o rosto com água gelada e encarei meu reflexo no
espelho. O meu banheiro não era muito grande, mas tinha espaço suficiente
para que uma ou duas pessoas se locomovessem ali dentro. Havia uma
banheira rústica de madeira que foi feita por mim, ao seu lado estava um
vaso sanitário e na frente dele a pia de porcelana com um espelho pregado
na porta de um pequeno armário de madeira onde eu guardava os produtos
de higiene pessoal.
Eu consigo passar um tempo na companhia daquela mulher... será
difícil e tentador, mas eu vou sobreviver.
Criei coragem e saí do banheiro. Entrei na sala que era dividida pela
cozinha fazendo o possível para não olhar na direção do sofá. Abri minha
pequena geladeira bege e peguei ingredientes para fazer uma sopa — algo
quente cairia bem nessa noite de chuva.
Enquanto eu cortava os legumes e temperava a carne, eu podia sentir
o olhar de Freya sobre mim. Foi difícil manter a compostura e agir
normalmente. Tive êxito em ignorá-la nos primeiros minutos, mas depois
não consegui resistir e virei o rosto na direção dela. A mulher arregalou os
olhos ao ser pega me encarando e direcionou a sua atenção para Hati, que
estava deitado aos pés do sofá.
Ao sentir o toque de Freya, Hati lambeu a mão dela e virou de barriga
para cima. A mulher sorriu e coçou o peito dele com uma das mãos. Foi a
primeira vez que eu tive inveja de um cachorro — queria eu estar deitado
enquanto a pequena deusa acariciava o meu corpo.
Hati balançava a cauda e mexia uma pata traseira enquanto Freya
fazia cócegas em sua barriga, estava claro que ele ficou contente com o
carinho. Parece que meu cachorro também gostou da nova visitante.
Bear retornou cerca de uma hora e meia depois, com uma sacola de
papel nas mãos. Ele me entregou a embalagem assim que passou pelo sofá e
eu agradeci.
— Era isso? — perguntou, na intenção de confirmar.
Enfiei a mão na sacola e tirei de lá uma cartela de comprimidos para a
cólica e uma caixa de absorventes internos. Não acredito que Bear também
se preocupou em trazer algo para a dor sem que eu tenha pedido... mais um
ponto para ele.
Eu estava prestes a parabenizá-lo em voz alta quando li na
embalagem que os absorventes eram do tamanho pequeno. Aquele tipo
servia para conter o fluxo de uma adolescente, mas não o de uma mulher
adulta.
— E então? — Bear insistiu em receber a resposta.
— Ah... eu agradeço pelo remédio, mas você comprou o absorvente
errado. — Direcionei lhe um sorriso amarelo.
— Errado? Impossível... — Bear franziu o cenho, confuso. — Está
escrito absorvente na caixa. — Ele gesticulou para a embalagem nas minhas
mãos.
Senti meu rosto queimar com vergonha ao ver que eu teria que
prolongar a minha explicação. Esse homem nunca teve namorada na vida?
— Bear... o tamanho está errado — suspirei, aflita. — Você terá que
trocar porque esses absorventes não vão servir para mim. O meu fluxo é
intenso, esses aqui não vão dar conta.
Bear arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços diante do peito.
— Vai me fazer descer a montanha de novo? Você só pode estar de
brincadeira, Freya — resmungou, aborrecido.
— Não tenho culpa se comprou o absorvente errado! — disparei.
— Ah, então a culpa é minha? — Gesticulou com as mãos para si. —
Como eu ia saber o tamanho da sua... — Bear se conteve e olhou
brevemente para o meio das minhas pernas, ele parecia envergonhado. —
Bom, eu pensei que fosse pequena... sua calcinha é pequena.
— Você não entendeu, não é assim que essas coisas funcionam e...
espera, como sabe o tamanho da minha calcinha? — alarmei-me.
Bear olhou de um lado para o outro e deu de ombros.
— Bom, eu a vi quando coloquei suas roupas molhadas para lavar
ontem à noite. — Ele estava estranhamente tenso. — Além disso, não
importa! Eu não tenho a obrigação de saber tudo sobre absorventes, já que
eu não tenho nenhuma mulher.
— Deve ser por isso que você é assim — disparei, incapaz de perder a
piada. — A falta de sexo acaba com o humor das pessoas. Devia procurar
companhia.
Pensar em Bear saindo com outras mulheres me deixou irritada.
Merda, o que é isso? Não posso sentir ciúmes de um cara que conheço há
menos de 24 horas. Tenho que controlar as minhas emoções!
Bear ficou em silêncio e me encarou de um jeito estranho por um
longo tempo. Seus olhos estavam em um tom grafite escuro que eu achei
absurdamente lindo. A cor pareceu se destacar em meio ao seu cabelo loiro
e pele pálida.
Enquanto eu divagava, a caixa de absorventes e a sacola de papel
foram tiradas das minhas mãos.
— Não quero ninguém na minha vida, eu não preciso de companhia
— ele disse, como um rosnado. — Volto logo.
— Ficarei aqui esperando. — Gesticulei para o sofá em que eu estava.
Bear deu as costas e caminhou relutantemente até a porta, levando
consigo o produto para fazer a troca. Antes que ele saísse da cabana, criei
coragem e gritei o tamanho certo do absorvente, para que não houvesse
erros dessa vez. O homem apenas assentiu e desapareceu do meu campo de
visão.
Tempos depois, Bear chegou na cabana visivelmente suado e sem
camisa. Sua blusa estava dobrada sobre o ombro e a jaqueta jeans amarrada
ao redor da cintura. Desviando minha atenção para as suas mãos, notei que
ele trazia uma sacola de papel onde eu esperava que dessa vez estivessem
os absorventes do tamanho certo.
Fiquei encarando o peitoral daquele homem enquanto ele caminhava
até mim. Ele parou em frente ao sofá e eu quase perdi o fôlego com a
proximidade que fiquei dos seus músculos. Não posso me culpar por isso,
estou há muito tempo sem um homem, acho que é normal ficar abalada por
um tanquinho à mostra.
— Só hoje eu desci a montanha mais vezes do que costumo descer em
um mês — resmungou, ao me entregar a sacola de papel.
Quando peguei o pacote, nossas mãos roçaram uma na outra e eu
senti o mesmo arrepio da noite passada. Desta vez, criei coragem e fitei os
seus olhos, ficando surpresa ao ver que Bear já me encarava fixamente. Sou
eu ou tem um clima rolando aqui?
— Obrigada, Bear — agradeci, completamente afetada pela situação.
— Você foi o meu salvador.
Bear sorriu com diversão e eu senti meu peito se aquecer.
— Engraçado, ontem você pensou que eu iria te matar e até me
chamou de assassino do machado — brincou. — Agora sou o seu herói?
— Não fique se achando por causa disso — fingi indiferença e tirei o
pacote das suas mãos.
Fiz um pequeno esforço e deixei de encarar o rosto de Bear para
conferir se o tamanho do absorvente estava correto.
— Vou ter que descer a montanha de novo? — perguntou, com um
leve tom de desespero na voz.
— Não. O tamanho está certo — respondi, enquanto lia a embalagem.
— Agora, se puder me levar até o banheiro...
Bear me ergueu em seus braços imediatamente, aconchegando o meu
corpo próximo ao seu peito. Um sorriso involuntário curvou a minha boca.
Eu me sentia animada por ficar tão perto daquele tórax grande e musculoso
— até conseguia sentir o cheiro de pinheiro cortado e suor que emanava da
sua pele. Era excitante.
Foi preciso muito esforço mental para controlar as minhas mãos e
impedir que elas tocassem Bear, enquanto ele me levava até o banheiro. Por
mais que eu estivesse inquieta para saber qual seria a sensação de acariciar
os seus músculos, deitar a cabeça naquele peito e inspirar o aroma da sua
pele com meu nariz roçando nela, eu sabia que não podia fazer aquilo. Bear
me acharia uma pervertida e eu não queria que ele pensasse isso de mim. O
homem não estava se comportando com segundas intenções comigo, então
não seria justo desrespeitá-lo com um avanço inesperado. Seria difícil, mas
eu teria que guardar os toques e carícias para a minha imaginação.
CAPÍTULO 11
— Odeio ter que dizer isso, Freya, mas só existe uma solução para te
manter aquecida essa noite. — Bear caminhou em passos largos até o sofá e
me pegou no colo.
Fiquei confusa quando ele começou a andar. Pensei que me levaria ao
banheiro para o último xixi da noite, mas ao invés disso Bear virou à
esquerda no corredor e entrou no seu quarto. Meu coração acelerou e eu
arregalei os olhos, assustada. O que estou fazendo aqui?
Bear me colocou em cima da cama, do lado da lareira que estava
acesa. Embora eu tenha me sentido mais aquecida, o meu corpo inteiro
entrou em estado de alerta.
— O que é isso?! — indaguei alarmada.
— Ficará mais aquecida se dormir aqui perto da lareira.
Arregalei os olhos quando vi o homem se sentar do outro lado da
cama e tirar as suas botas.
Mesmo que o meu tornozelo estivesse ruim, usei meus braços e a
perna que estava boa para afastar meu corpo o máximo que consegui, só
parei quando percebi que eu estava à beira do colchão. Eu podia até sentir
um certo interesse sexual por Bear, mas dormir na mesma cama com ele era
repentino demais.
— Não se preocupe. — Bear virou o rosto na minha direção. — Eu
prometo que não farei nada.
— Como vou saber que está falando a verdade?
— Se eu quisesse fazer algo de ruim com você, Freya, eu já teria
feito.
Fiquei em silêncio, pois não consegui encontrar nada para dizer
depois do que ouvi.
Bear suspirou e deitou-se no colchão. Minha respiração ficou
acelerada e o meu coração bateu tão forte que eu pensei que fosse rasgar o
meu peito.
— Prometo que não farei nada contra a sua vontade, Freya — ele
reforçou suas palavras, desta vez olhando no fundo dos meus olhos. —
Pode dormir tranquila.
— Tudo bem... — balbuciei em concordância, e forcei meu corpo a se
deitar também.
Se isso tivesse acontecido na semana passada, eu daria um jeito de
levantar da cama e rastejar para fora desse quarto, mas agora, pensar em
ficar deitada ao lado de Bear com nossos corpos tão próximos me deixava
excitada.
Quando apoiei minha cabeça no travesseiro, Bear forrou sobre nós um
cobertor quente e pesado, depois virou seu corpo para o outro lado e ficou
de costas para mim. Entendi aquilo como um sinal de que ele me daria mais
privacidade. No entanto, o espaço da cama não era muito favorável. Apenas
alguns centímetros de colchão separavam os nossos corpos e se eu me
afastasse mais um pouco, cairia no chão.
Resolvi virar para o lado oposto e ficar de costas para Bear, mas
quando fiz isso, meu bumbum roçou no dele. O homem grunhiu irritado,
mas não disse nada. Decidi ignorá-lo e fitei a lareira onde pedaços de lenha
queimavam deixando o quarto com um leve cheiro de madeira queimada.
Meus olhos se desviaram para longe do fogo e focaram na mesa de
cabeceira que havia ao lado da cama. Imediatamente reconheci o meu
caderno de desenhos que estava sobre ela e o meu coração gelou. Quando
foi que Bear encontrou o meu caderno? Droga... será que ele viu o desenho
que fiz dele sem camisa?
— Onde você encontrou o meu caderno? — Fiz o possível para não
deixar que a preocupação transparecesse em minha voz.
— Estava atrás do sofá, encontrei hoje de manhã enquanto você
dormia — respondeu, após um tempo de silêncio. — Guardei para entregar
depois que você acordasse, mas acabei esquecendo.
— Por acaso viu o que tem dentro dele? — Eu quis morder a língua
naquele instante, era óbvio que perguntas demais levantariam suspeitas.
— Não, eu não bisbilhotei o caderno. — Bear deu uma risada nasal
que eu só fui capaz de ouvir porque estava ao seu lado. — Agora fique em
silêncio e vá dormir. Eu quero esquecer que você está aqui do meu lado.
Meu coração pesou quando ouvi aquela frase. Bear estava voltando a
me desprezar? Uma lágrima desceu pelo meu olho e eu respirei fundo. Não
posso chorar aqui. Mesmo estando de costas, ele vai perceber.
— Por que você quer esquecer que estou aqui? — Fui incapaz de
conseguir manter aquela dúvida dentro de mim, a dor começava a rasgar o
meu peito.
— Porque é difícil ficar deitado com você. — Bear suspirou e se
remexeu na cama. Mesmo que eu não estivesse o encarando, sabia que ele
continuava de costas para mim porque o seu bumbum estava roçando no
meu. — É difícil me deitar com você apenas para dormir quando o que eu
queria de verdade era te foder bem forte até quebrar essa maldita cama!
Meu queixo caiu. Eu simplesmente não consegui acreditar no que
ouvi. Caralho! Bear sente esse tipo de atração por mim? Pensar nisso fez a
minha intimidade doer com desejo e eu me dei conta do quanto eu queria
aquilo também. Fiquei excitada e comecei a me perguntar se devia tentar
alguma investida com ele.
Antes que eu pudesse decidir qual seria o meu próximo passo, Bear se
levantou da cama. Quando virei o rosto em sua direção, o vi saindo do
quarto em passos largos sem ao menos olhar para trás. Com certeza ele
ficou envergonhado pelo que admitiu em voz alta.
Eu estava chocada demais para pensar em chamar Bear e pedir que
ele não se afastasse, também não tinha como eu me levantar e correr atrás
dele. Não havia outra saída a não ser ficar aqui esperando o homem voltar.
Inevitavelmente, comecei a divagar sobre como seria transar com
Bear. Será que ele é tão intenso na cama quanto o mocinho de
Desire&Seduction? O lado malicioso da minha mente me fez imaginar Bear
segurando o meu quadril com firmeza, assumindo o controle. Nossas peles
quentes e suadas se encontrando enquanto nos entregávamos ao prazer. Ele
estocando com força dentro de mim, me arrancando gemidos profundos e
desesperados. Fechei os olhos e me permiti mergulhar naquela fantasia
erótica. Acabei adormecendo e, naquela noite, sonhei que estava nos braços
de Bear. Ele me beijava e dizia que me amava...
Fui para a sala porque não conseguia aguentar ficar tão próximo de
Freya. Tudo que eu queria era mantê-la aquecida durante à noite, mas o tiro
saiu pela culatra e agora eu estava a ponto de perder o controle. Ainda não
conseguia acreditar no que falei em voz alta. Imagino o quanto ela ficou
perturbada com o que ouviu.
Quando me sentei no sofá, ofeguei ao sentir o aperto no interior da
minha calça, meu pau estava duro e eu sabia muito bem o motivo. Meus
sentimentos por Freya estavam indo longe demais, eu sequer conseguia
controlar as reações do meu corpo quando estava perto dela. Se a mulher
sorria, eu ficava excitado, se falasse comigo, eu sentia vontade de ouvir a
doce voz dela gemendo o meu nome. Eu estava fora de controle.
Fechei os olhos e respirei fundo, torcendo para que o tempo fizesse
aquela maldita ereção desaparecer, mas não deu certo. Só consegui
imaginar Freya ajoelhada na minha frente, sorrindo, enquanto segurava o
meu pau e dizia que iria me ajudar a dar um jeito naquele problema. Porra.
Eu não conseguia mais aguentar. Precisava aliviar aquele tesão
acumulado e se eu não fizesse isso aqui na sala, acabaria fazendo no quarto,
com Freya. Puxei o meu pau para fora da calça e o segurei em um aperto
firme. Há anos ele não ficava tão duro assim.
Era diferente quando eu estava sozinho, dificilmente eu me sentia
excitado. Agora que havia uma mulher gostosa pra cacete aqui na cabana, a
minha imaginação viajava e me fazia fantasiar com ela praticamente 24
horas por dia.
Eu sabia que não havia outro jeito de fazer aquela ereção desaparecer,
então comecei a me masturbar, bombeando para cima e para baixo de um
jeito bruto e rápido. Fechei os olhos e me imaginei fodendo Freya com a
mesma intensidade, imaginei como seria a sensação de estar dentro do seu
corpo, reivindicando aquela mulher. Um gemido rouco me escapou e eu
inclinei a cabeça para trás.
Aumentei o aperto da minha mão e tensionei o braço. Comecei a
bombear com mais força, os músculos das minhas pernas se contraíram e
então eu gozei. Abri os olhos no momento exato em que o sêmen jorrou
para fora do meu corpo e vi algumas gotas caírem no chão de madeira. O
restante do líquido esbranquiçado se espalhou pela base do meu pau e sujou
parte da minha calça.
Fiquei um tempo calado, respirando fundo enquanto recuperava o
fôlego. Minha mão direita estava melada com o meu gozo e eu só não temi
que Freya me visse naquele estado porque eu sabia que ela não podia se
levantar da cama sem a minha ajuda.
Depois que me senti mais disposto, levantei do sofá e fui para o
banheiro me lavar. Enquanto eu caminhava pelo corredor, não consegui
deixar de pensar no que fiz. Foi bom, mas eu não devia ter ultrapassado
esse limite. Nos últimos dias eu lutei para não cair na tentação e bater
punheta pensando em minha hóspede gostosa. Agora que cedi a essa
vontade, eu havia entrado em um caminho sem volta. Se antes eu desejava
Freya, agora eu percebi que precisava tê-la, eu precisava sentir o calor do
seu corpo tanto quanto precisava de ar para respirar.
CAPÍTULO 17
A luz do dia já estava indo embora, mas Bear ainda não tinha acabado
de cortar aquela maldita pilha de lenha. Eu me sentia entediada por passar
as últimas três horas sentada naquele cobertor sem ter nada para fazer.
Nunca senti tanta falta do meu celular e estava arrependida por não lembrar
de pedir que Bear trouxesse o meu carregador quando ele desceu até a vila
ontem.
Hati dormia tranquilamente ao meu lado e eu não quis acordá-lo,
então me distraí observando o ambiente ao meu redor. Notei que no lado
direito da varanda havia uma mesa com ferramentas e lixas que pareciam
ser específicas para trabalhos com madeira. Bear me disse que não é apenas
um lenhador, que ele também faz esculturas de madeira. Deve ser ali que
ele cria as peças.
No canto da parede, ao lado da porta, a uma curta distância de onde
eu estava, havia uma pequena escultura inacabada de um corvo — ele foi
esculpido do peito para cima, mas seus pés e cauda estavam incompletos.
Estiquei o meu braço e peguei a peça para vê-la mais de perto. A escultura
de madeira parecia ter sido deixada ali há tanto tempo que já estava ficando
empoeirada.
Passei o dedo sobre o peito da ave para tirar o pó que se acumulou
sobre a madeira. Embora a peça estivesse suja, eu pude perceber que as
partes esculpidas eram perfeitamente detalhadas — ele se preocupou até
mesmo em fazer as penas do animal. Nunca trabalhei com madeira, mas
imagino que deva ser extremamente difícil.
— Você tem talento — falei, enquanto olhava na direção de Bear.
Ele colocou o último pedaço de lenha sobre o tronco da árvore,
ergueu o machado no ar e então o abaixou, cortando a madeira ao meio. Sua
atenção se voltou para mim e depois para a escultura do corvo que eu
segurava na mão direita.
— Você acha? — indagou, enquanto limpava o suor da testa.
— Sim, ficou perfeito. As muletas que fez para mim também ficaram
perfeitas.
Bear sorriu e caminhou na minha direção. O machado ainda estava
em suas mãos e conforme ele andava seus músculos suados se tensionavam,
me causando um calor excitante que surgia no peito e se espalhava até o
meio das minhas pernas.
— Que bom que você gostou. — Bear me encarou com um olhar
doce e sincero. — Eu não faço mais esculturas então faz muito tempo que
ninguém elogia os meus trabalhos. Estou vivendo apenas da lenha que corto
e entrego para os moradores da vila uma vez por mês.
— Você desce a montanha apenas uma vez no mês? — fiquei
surpresa. — Como faz para comer? E se os mantimentos acabarem antes da
hora?
— Eu sempre compro tudo sobrando para não faltar. Não vou até a
vila com frequência, eu não consigo andar por lá desde que... — ele se
conteve, e suspirou. — É complicado, Freya.
Estiquei a mão que não segurava a escultura e acariciei o seu braço,
em uma tentativa de confortá-lo. Eu não sabia o que estava assombrando os
seus pensamentos, mas desejei que ele se sentisse melhor.
— Está tudo bem, não precisa falar sobre isso se você não quiser.
— Eu quero falar — seus músculos ficaram tensos —, mas ainda não
consigo me lembrar do acontecido sem sentir raiva ou dor.
— Não tem problema... fale quando se sentir melhor.
Bear sorriu, agradecido, e se abaixou ao meu lado. Seu movimento
fez Hati despertar do sono e sair do cobertor de pele, indo perambular pelo
gramado que havia na frente da cabana.
Fui pega de surpresa quando Bear puxou o meu rosto para perto e
plantou um beijo delicado em minha testa. Sua barba roçando em minha
pele me fez sorrir.
— Me desculpe por ter sido tão arrogante quando te conheci. — Ele
me olhou nos olhos. — Eu achei que seria melhor daquele jeito. Quando vi
você na cachoeira, o meu coração bateu mais forte e eu tive medo...
— Medo de quê? — Deixei uma risada escapar. Como um homem
desse tamanho pode ter medo de mim? Sou quase quarenta centímetros
mais baixa que ele.
— Eu tive medo de me apaixonar — confessou, com um meio
sorriso.
Mantive-me em silêncio, surpresa com a revelação. Nunca imaginei
que a arrogância de Bear, quando me conheceu, fosse apenas uma armadura
que ele construiu ao redor do seu coração porque estava com medo de se
apaixonar por mim. Caramba.
— No fim das contas, parece que não adiantou muito bancar o durão.
Quanto mais eu lutava contra esses sentimentos, mais eles vinham à tona...
Eu me apaixonei por você, Freya.
Um sorriso curvou a minha boca. Por um momento pensei que eu
estivesse alucinando, mas quando notei o jeito doce que Bear me olhava eu
percebi que as suas palavras eram reais. Ele realmente confessou que está
apaixonado por mim.
Fiquei tentada a beijá-lo. Aproximei o meu rosto do seu e ele também
fez o mesmo, meu coração começou a bater mais forte e a minha respiração
ficou acelerada. Nossos lábios estavam quase se tocando quando Hati
começou a latir.
Bear virou seu rosto na direção do cachorro e eu acabei beijando a sua
bochecha. Ele riu, mas depois ficou sério e observou com atenção a
paisagem que estava à nossa frente.
— É melhor entrarmos, Freya — aconselhou, sem desviar seus olhos
do cachorro que ainda latia na frente da cabana.
— Por quê? — indaguei, confusa.
Eu quase senti raiva de Hati por seus latidos terem atrapalhado o meu
momento com Bear.
— Hati não late para o nada. — Ele se colocou de pé, mantendo uma
postura rígida. — Provavelmente, está sentindo o cheiro de algum animal.
— Que tipo de animal?
— Não sei, talvez um urso. — Bear segurou em meus braços e me
puxou para cima. Quando fiquei de pé apoiada na perna esquerda, ele me
pegou no colo, aconchegando o meu corpo em seu peito suado.
— Já tem um urso bem aqui. — Eu ri e dei alguns tapinhas no
músculo do seu tórax, que tremeu com o meu toque.
Bear achou graça da piada, mas só por alguns segundos.
— Estamos em uma montanha, Freya. Existem ursos de verdade
aqui... e lobos — explicou, com a voz tensa.
Engoli em seco e olhei para Hati, que latia e encarava a parte de trás
do terreno. Céus... será que realmente tem um predador ali?
— Bear... o que faremos? — sussurrei, amedrontada.
— Nós entramos.
Bear caminhou em direção à porta e chamou Hati com um assovio. O
cachorro hesitou, mas no segundo chamado correu em nossa direção e
entrou na cabana.
Bear fechou a porta com o pé — já que suas mãos estavam ocupadas
me carregando. Ele me colocou no sofá e, em seguida, voltou para girar a
chave na fechadura e garantir que a porta estivesse bem trancada. Minhas
muletas foram deixadas do lado de fora, mas eu não me importaria de ter
esse homem me carregando por mais um tempo, então decidi não tocar no
assunto.
Só espero que esses animais selvagens da montanha não saibam abrir
portas. Enquanto eu estiver aqui dentro, na companhia de Bear, sei que
estarei segura.
CAPÍTULO 19
Quando ele rolou para o lado e o seu peso saiu de cima de mim, virei
na cama e deitei de barriga para cima. Fechei os olhos por um tempo e
quando os abri, surpreendi Bear me encarando com um sorriso no rosto.
Devolvi o seu sorriso e trocamos olhares silenciosos por um tempo. Nunca
fiquei tão satisfeita depois de transar. O homem realmente é tudo o que
disse ser e mais um pouco.
Bear interrompeu a nossa troca de olhares e encarou o seu membro,
ele tirou a camisinha que ainda estava usando e a jogou aos pés da cama.
Aquilo levantou uma questão que eu não consegui deixar guardada dentro
de mim.
— Bear? — chamei a sua atenção. — Como você tinha camisinha
aqui se não queria saber de ninguém na sua vida?
Ele pensou antes de responder e eu notei um leve rubor em seu rosto.
— Ah... era apenas por precaução.
Arqueei uma sobrancelha e controlei o riso.
— Apenas por precaução, sei... — Não resisti e dei um pequeno tapa
em seu peito.
Bear deixou uma risada escapar e me direcionou um olhar malicioso.
— Bom, tinha uma mulher linda e simpática debaixo do meu teto, foi
impossível não me sentir atraído por ela... Comprei as camisinhas para o
caso de, não sei, a paixão falar mais alto. — Era nítido que ele estava tendo
dificuldades para ser sincero, mas eu o parabenizei mentalmente por estar
começando a se abrir comigo.
Deitei minha cabeça em seu peito forte e suado. Bear suspirou e
deixou uma mão passear pelas minhas costas, seguindo a curva da minha
cintura e quadril. Fechei os olhos e sorri com a felicidade que senti naquele
momento.
Haviam muitas coisas sobre o passado desse homem que eu
desconhecia, mas, por enquanto, eu me contentava em ter a sua sinceridade
sobre a nossa relação, sobre essa chama que se ascendeu entre nós essa
noite. Se Bear for sincero quanto a isso e não esconder o que sente, o resto
eu deixarei passar. No momento, só quero ter esse homem perfeito e intenso
perto de mim.
CAPÍTULO 22
Uma semana se passou desde que eu decidi que iria reabrir a minha
loja. Freya e eu estávamos descendo até a vila todos os dias desde então,
para arrumar as coisas e deixar tudo pronto para o dia da inauguração.
Eu já não me sentia mais tão incomodado por voltar a conviver no
meio dos outros moradores de Havengreen. As lembranças ruins que eu
tinha meses atrás, pouco a pouco foram sendo substituídas por momentos
bons ao lado de Freya. Ela mudou minha vida para melhor.
A minha loja estava quase pronta para reabrir. Freya e eu passamos
três dias fazendo a limpeza do lugar e tirando toda a poeira que se
acumulou por lá nos últimos anos.
Hoje, eu estava transportando algumas ferramentas de trabalho que eu
iria precisar para voltar a fazer esculturas de madeira enquanto estivesse
tomando conta da loja. Como este era um trabalho que eu podia fazer
sozinho, deixei Freya na cabana da montanha pintando alguns quadros que
já seriam colocados para a venda quando a loja inaugurasse.
Eu estava voltando da padaria. Fui até lá para dizer à Sra. Ludwig que
a minha loja reabriria na próxima segunda. Agora, eu só precisava esperar
que ela e o delegado Müller se encarregassem de espalhar o boato pela vila.
Eu caminhava pela rua de paralelepípedos, com as mãos no bolso da
minha jaqueta verde-musgo, meu cabelo estava preso em um coque e um
vento frio soprava em meu pescoço naquela tarde nublada. Infelizmente, a
padaria ficava na mesma rua que a mercearia. Eu odiava passar por ali,
tanto que uma vez por mês pegava a minha caminhonete caindo aos
pedaços e ia comprar comida no mercado da cidade mais próxima, apenas
para não entrar na espelunca dos Herzog.
Bufei com irritação e caminhei apressadamente para passar o mais
rápido possível em frente à mercearia. Apesar da velocidade dos meus
passos, avistei pelo canto do olho uma pintura familiar na vitrine.
Olhei na direção da loja vi um dos quadros que Freya pintou, à mostra
na vitrine ao lado de mais três das suas pinturas. Franzi o cenho e me
aproximei. A cada passo que eu dava o meu coração ficava mais acelerado.
Quando parei em frente ao vidro, vi que os quadros estavam com etiquetas
de preços.
Como caralhos essas pinturas vieram parar aqui? Será que o
desgraçado do Sven comprou e estava revendendo? Ou será que os quadros
que Freya entregou na vila semana passada eram para cá? Que porra! Meu
sangue ferveu e antes que eu tivesse tempo de pensar com coerência, entrei
na mercearia enfurecido.
O sino da porta tocou, anunciando a minha chegada. Avistei o filho da
puta do Herzog caçula atrás do balcão, mexendo no celular. Ele ergueu o
olhar até mim e ficou visivelmente surpreso com a minha visita.
Caminhei em passos largos até o balcão, pronto para tirar satisfação
com o infeliz.
— Quem trouxe aqueles quadros que estão à venda na sua vitrine? —
exigi saber e não me preocupei em disfarçar a raiva em minha voz.
Sven Herzog arqueou as sobrancelhas, surpreso com o jeito que eu
falei.
— É a primeira vez que você entra aqui em cinco anos e já vem cheio
de marra? — o homem provocou.
Franzi o cenho.
— Quem trouxe os quadros? — desta vez, a minha voz saiu mais alta.
Sven não ficou afetado com a minha atitude, ao invés disso, ele sorriu
com deboche e me encarou de cima a baixo.
— Foi a nova pintora que se mudou para a vila — respondeu, com
ironia. — Provavelmente você conhece aquela gostosinha, já que ela está
dando para você...
— Filho da puta! — Puxei o homem pela gola da blusa e dei um soco
forte em seu rosto.
Ele arquejou e se soltou do meu aperto, cambaleando para trás e
levando as mãos até a boca. Quando ele as tirou, vi um corte em seu lábio
inferior e sangue escorrendo pelo seu queixo. Me senti satisfeito, mas a
minha mão ainda coçava para bater nele outra vez. Se eu estivesse com o
meu machado poderia arrancar a cabeça desse infeliz.
— Ficou doido? — Sven questionou, enquanto tentava conter o
sangramento.
— Se falar da minha mulher outra vez eu te mato! — Apontei um
dedo para ele. — Eu juro que te mato, Herzog!
O homem riu, apesar da boca ensanguentada.
Peguei uma lata de milho em conserva que estava na prateleira ao
meu lado e joguei na direção dele. Sven desviou, mas aquilo foi o suficiente
para dar o meu recado. Era melhor sair daqui antes que a minha raiva
ficasse maior e eu fizesse alguma besteira. Não poderei ficar com Freya se
eu for preso por assassinato.
Caminhei até o expositor da vitrine e tirei os três quadros dali,
ignorando os gritos de Sven ao fundo. Coloquei as pinturas de Freya
embaixo do braço e saí da mercearia.
— Isso não vai ficar assim, Bear! — ele gritou, mas não me dei ao
trabalho de olhar para trás.
A fúria queimava em minhas veias enquanto eu andava pela rua até a
entrada da vila onde deixei minha caminhonete estacionada. Eu pretendia
voltar para casa e ter uma conversa bem séria com Freya, ela tinha algumas
coisas para explicar.
CAPÍTULO 35
Fim.
Faz um tempo que eu queria escrever um romance com um boy
solitário que se isolou do mundo, assombrado pelas memórias do passado,
bruto por fora e mole por dentro. Eu também queria muito escrever algo
com uma vibe meio nórdica, um boy que parecia um viking... e foi assim
que surgiu o Bear! Não pude recusar quando a A. E. Gabriel me fez a
proposta de escrever histórias sobre homens da montanha, eu simplesmente
me joguei de cabeça na ideia! Muito obrigada pela oportunidade, Dri.
Foi maravilhoso passar tardes em Havengreen na companhia de Bear
e Freya, desenvolvendo o relacionamento deles e fazendo Bear superar seu
medo de abrir o coração para outra pessoa. Me diverti demais com a
história e esses dois personagens sempre estarão em meu coração.
Muito obrigada a você que leu esse livro até aqui. Te convido a
conhecer minhas outras histórias, caso você ainda não as conheça. Sei que
vai adorar!
Bruna Catein é uma escorpiana apaixonada por livros, videogames e chocolate. Nascida em
03/11/2000, ela cresceu em uma pequena área rural no interior do Rio de Janeiro e possui um carinho
muito grande pela natureza.
Bruna entrou no mundo literário em 2013 escrevendo fanfics e contos. Em maio de 2020 ela
resolveu se arriscar e escrever o seu primeiro romance intitulado “Desire – A Ilha do Desejo” que foi
lançado inicialmente no Wattpad e alcançou milhares de leituras logo nos primeiros meses. Hoje,
Bruna Catein é uma autora Best-Seller da Amazon e seus livros possuem milhões de leituras online.
Se você se apaixonou por Bear, eu te convido a dar uma passadinha no Alasca e conhecer Bocca
Hell, o lar do nosso outro Moutain Men: Kane. O quase quarentão gostoso de olhos glaciais vai
derreter o gelo da montanha na companhia da Hadassa, mais conhecida como a autora de romances
eróticos mundialmente famosa L. M. Mayer.
SINOPSE:
Hadassa Price era uma autora Best-Seller aos vinte e cinco anos. Escondida atrás de um pseudônimo
chamado L. M. Mayer, ela é mundialmente conhecida por seus livros eróticos que sempre estão em
alta no Twitter e Tiktok. Por trás da bilionária escritora existe Dass, uma solitária amante de um bom
vinho que, desde pequena, teve problemas consigo mesma, o que a fez se esconder atrás do seu alter
ego da promiscuidade: L. M. Mayer.
Com o fim da sua temporada de sucesso, Hadassa precisa entregar o último título mais aguardado por
seus fãs, antes que ela acabe.
Sem inspiração e diante dos feriados acalorados de Ações de Graças, alugar uma casa em uma
montanha isolada parece ser uma ótima ideia, mas, ao contrário do que pensa, ela não ficará sozinha
durante o rígido inverno de Bocca Hell, no Alasca.
Afinal, Dass vai ficar diante do seu próximo título de sucesso.
Treze anos mais velho, Kane Walker é um solteirão ricaço que vive isolado e, jamais, esperava
encontrar em sua cabana uma linda mulher cheia de curvas. Embora o primeiro encontro de ambos
não tenha sido nada amigável, Kane e Dass precisam se entender até que a neve fique baixa o
suficiente para que saiam.
Eles não esperavam, entretanto, que as coisas esquentassem tanto entre eles, fazendo a montanha
gelada pegar fogo.
Mas nada é tão simples assim, afinal ambos são de mundos diferentes. O bruto homem da montanha
sempre foi possessivo e ciumento sobre tudo o que lhe pertence e, com a jovem escritora, não será
diferente.
Dass não sabe, mas Kane não vai deixá-la ir.
Tudo sobre Dass desperta coisas que Kane jamais sentiu. O destino é capaz de conhecer desejos que
nós mesmos nem sabemos que existem, mas, talvez, isso não seja suficiente para mantê-los juntos.
Kane está disposto a passar por cima de qualquer coisa que cruze o seu caminho.
Instagram: @autorabrunacatein
Facebook: facebook.com/autorabrunacatein
TikTok: @autorabrunacatein