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Diagramação
Katherine Salles (Crédito especial: Pixabay)
Revisão e Preparação de Texto
Ana Roen
Livro Digital
1ª Edição
Aline Damasceno
Todos os direitos reservados © Aline Damasceno.
É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte
desta obra, qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou intangível,
incluindo fotocópia – sem autorização por escrito do autor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e
locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum
período da história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer
semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
Índice
Sinopse
Agradecimentos
Nota
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Bônus Um
Bônus Dois
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Sobre a autora
Sinopse
Reencontro + grumpy x sunshine invertido + casal gato e rato
que uma mulher poderia querer em um homem. Pena que ele era o babaca,
cachorro, arruaceiro que implicava com ela na época da escola, chamando-a
pelo apelido que mais detestava: Laranjinha.
Apesar de ele dizer que agora é um homem sério, que deixou de ser
aquele playboy, para Iandra o tempo não mudou o milionário em nada, pois,
embora mais velho e sexy — algo que ela nunca admitiria em voz alta —,
ele continuava a provocá-la com seus comentários maliciosos e,
ela que era um cara diferente. Iandra, uma mocinha ferida em outros
relacionamentos, só desejava nunca mais olhar para a cara dele. Mas esses
dois opostos nem imaginavam que acabariam unidos pelas travessuras de
garganta. É doloroso constatar que mais um livro foi escrito e você não está
aqui para lê-lo, mãe. Tenho certeza de que você iria amar cada travessura do
Charlie, iria achar o Derek “excitante”, e iria adorar a Laranjinha. Mãe,
você faz tanta falta em tudo! Queria muito que você estivesse aqui. Tenho
saudades do seu abraço, do seu cheiro, da sua risada, dos seus comentários.
O tempo não tornou mais fácil, pelo contrário, parece que a cada dia fica
mais difícil encarar essa dura realidade. Eu te amo, mãe! Nosso amor será
apoio, seus abraços de consolo, sem o seu amor. Obrigada por tirar um
tempo na sua vida corrida para betar a minha história, ouvir meus desabafos
sobre o processo de escrita, e dizer que, no fim, ficará tudo bem. Eu te amo,
irmã.
Fadinha Ana, eu não tenho palavras para agradecer por mais uma vez
você “cuidar” da minha obra com tanto amor. Você e o Pedro são um
grande presente que a vida me deu. Obrigada demais por estarem no meu
cotidiano, mesmo estando do outro lado da cidade. Ana, nossa conexão é
profunda, de almas. Te amo, amiga.
que acompanham a difícil jornada que está sendo tudo, que sempre têm uma
não sabem o quanto a proximidade que tenho com vocês é importante para
Elisângela, Dri, Vânia, Thais A., Jennifer, Ellen, Caroline C., Mônia,
Karol, Roseane, Nay, Rose, Adriana, Edi, Beeh, Sirleni, Kaká, Jéssica
Luiza, Vanessa, Paulinha, Fabi, Elisangêla, Juhh, Thamy, Sueli, Lizzi,
Cami, Kelly, Naiane, Vera, Isis, Ariane, Naira, Ariane, Fátima, Fernanda e
Eliaci.
acompanha o meu trabalho, que deixa seus comentários nos meus posts ou
Cachorro do Meu Vizinho não é uma história “enemies to lovers”, mas, sim,
Columbus – Ohio
Quinze anos atrás
irritante, também.
Nos três anos que estudávamos na mesma sala, já que Derek havia
reprovado uma vez, sem razão alguma, além do seu próprio prazer
Não sei se me sentia aliviada pelo fato dos seus colegas, igualmente
dúzias de mim.
Coloquei uma mecha ruiva que tinha caído sobre o meu rosto e estava
nem mesmo havia deixado eu dizer uma única palavra para me defender
daquele absurdo todo e ter tomado minha prova junto com a dele.
daquele infame alcançou meus ouvidos, indicando que ele estava próximo
de mim.
Cerrei os dentes, sentindo dor pela intensidade da minha mordida.
nos lábios, com toda a atenção focada em mim, era compreensível porque
todas as meninas da escola pareciam sonhar acordadas com ele, querendo
uma chance ou um beijo de Derek.
O que não era o meu caso, claro, mas, mesmo que eu o detestasse
com todas as minhas forças, não podia negar que ele era bonito.
matemática.
— Calma, Laranjinha — segurou-me por um dos ombros, me virando
na sua direção, gesto que fez com que o caderno que eu segurava caísse ao
chão —, não precisa ficar com tanta raiva de mim assim.
Olhei para a mão dele, que ainda permanecia sobre mim, com
desgosto.
— Me solte, Derek! — ordenei. — Não te dei permissão para
Ah, ele era um bad boy valentão nas horas vagas. Desprezível!
Ergueu as mãos em um gesto como se pedisse paz, o que era tarde
e voltei a caminhar. Mas a voz dele fez com que a idiota que eu era parasse:
— Laranjinha?
Respirei fundo.
Virei-me para ele e, jogando a cabeça para trás, não contive a risada
gargalhasse ainda mais. Algumas pessoas que passavam nos olhavam com
curiosidade, cochichando entre si, tentando compreender o motivo pelo qual
com garrafa.
Derek era muito tolo em achar que eu iria a uma festa onde rolaria
bebidas e sabe-se lá mais o quê. Se me chamassem de careta, que seja…
— Posso passar na sua casa para te buscar com meu carro. Se não
dele para enfatizar a minha fala. — Depois de hoje, você é o último garoto
com quem eu sairia, independente para onde for.
Escutei alguém murmurar um: “Ela é louca por rejeitá-lo”, seguido de
muito pela minha recusa, o que eu tinha certeza de que era puro fingimento.
Derek era manipulador, fazia de tudo para conseguir o que queria, a prova
viva disso era a sua lábia para não ser reprovado em algumas matérias.
Dei de ombros. Além de que abrigava sérias dúvidas que poderíamos
Antes mesmo que pudesse virar, fomos cercados pelos amigos deles,
que riam.
Não sei o porquê, mas me senti acuada, porém tentei me manter
— E aí, cara…
Chad cumprimentou-o com um gesto das mãos, sendo seguido pelos
Chad gargalhou chamando ainda mais a atenção das pessoas para nós,
em especial para mim. Quis que um buraco se abrisse sobre meus pés e me
tragasse.
certeza de que eu fiz mais do que o certo em dizer não para aquele idiota.
— Eu sabia que você era um babaca, mas não imaginei que fosse
moveu nenhum centímetro, mas minha irritação com ele não conhecia
estrangulá-lo.
Quando cheguei em casa no fim daquele dia, foi com certo alívio e
alegria que recebi a notícia de que o meu pai tinha sido transferido para
mesmo quando tive que me despedir dos meus amigos que tanto amava!
Capítulo
“cortejando”, já que, todos os dias, Max dava a ela uma rosa que colhia do
seu jardim. Eu achava o gesto extremamente fofo e romântico, então torcia
— Sei, sim — falei, divertida, embora fizesse muito tempo que não
me sentia daquela forma. Mas não estava ali para ficar refletindo sobre a
minha vida amorosa, mas, sim, a dela. — Uma expectativa que deixa um
friozinho delicioso na barriga — completei.
por me pedir tal coisa. — Tenho uma penteadeira que quase não uso lá.
— Okay.
— Meus braços que não estão prestando para nada — comentei, rindo
do meu próprio comentário, seguindo a instrução dela.
Deu uma risadinha, mas depois fez uma careta para mim.
trabalhando demais, Iandra. Você tem apenas vinte e sete anos, era para
estar se divertindo, saindo com os amigos, não na frente do seu laptop o dia
inteiro.
mesmo era provar para os meus colegas, principalmente Alec, que sempre
cochichou pelas minhas costas de que eu não era apta o suficiente para estar
à frente de grandes projetos publicitários, que sou capaz. A campanha que
maternal, de uma forma que fez com que eu sentisse falta da minha avó
paterna, que sempre tinha um carinho gostoso para oferecer —, mas, ainda
assim, sinto que você precisa cuidar melhor de si mesma. O trabalho é um
bom refúgio, mas você não pode se esconder nele para sempre.
— Verdade. — Respirei fundo e dei um meio sorriso. — Mas vamos
ao que interessa, não quero que você faça Max esperar. Já escolheu a roupa
que vai usar?
passarelas.
Sorri ainda mais.
— Perfeita! — Incentivei-a.
Não me recordava de quanto tempo eu não ria de algo tão banal, mas
entre as gracinhas minhas e dela, que fazia um monte de poses, nunca havia
mexerico.
— Do quê?
por terem desistido de negociá-la — falei —, afinal faz meses que estava
disponível para compra e não se teve uma proposta sequer.
— Isso é verdade. — Suspirou.
— Tomara que não sejam muito barulhentos — refleti em voz alta,
tempos depois, encontrando um único ponto negativo disso tudo.
Tinha pessoas que não conseguiam respeitar o próximo de maneira
achasse inapropriada para sua idade, o que era uma grande bobagem. Não é
porque ela tinha passado dos sessenta que não poderia achar alguém
atraente.
Relembrei da vez que ela disse que um dos nossos vizinhos tinha
— Sei lá.
Franzi o cenho.
— Ele é tão badalado assim?
que eu poderia ter escondido dela tal coisa, já que consideramos uma à
outra como confidentes, tanto de coisas boas quanto de ruins.
— Jura?
— Sim.
— Você nem sabe se ele irá com a minha cara, Ruth — a interrompi
novamente, não verbalizando o que realmente pensava, que se ele fosse
momento.
gloss nos lábios finos, que pareceram mais avolumados pelo batom.
Acomodando-se melhor na cadeira da penteadeira, abriu os olhos e
reconhecesse.
Sorri, satisfeita.
Ela não precisava proferir uma única palavra para eu saber que havia
amado. O seu rosto corado estava todo iluminado e o sorriso que tinha era
indicativo disso.
Ruth não parecia uma mulher frágil, mas, sim, uma “loba” no ápice
da vida e da sensualidade.
— Como estou?
— Sabe que está mais do que maravilhosa.
palavras.
Rimos.
agradá-lo.
— Vou me cuidar.
Dei outro beijo nela e a abracei. Ela fez um gesto de negação com a
cabeça, provavelmente se dando por vencida.
cheio de melodrama.
Rindo, dando um último tchauzinho, caminhei em direção a minha
casa.
era bonito ou não, mas principalmente se ele era bacana, extrovertido, gentil
e verdadeiro.
Foi a minha vez de emitir um som baixinho ao colocar a chave na
fechadura e girar a maçaneta, mas não sem antes culpar Ruth por ter
incitado a minha curiosidade, algo que faria de tudo para não me deixar
levar.
retrucou em um tom doce que eu sabia que não era nada inocente.
Fiz uma careta.
— É… — Inconscientemente, toquei uma mecha do meu cabelo.
— Ok, Ru.
— Não fique até tarde.
— Tentarei. — Fui honesta.
que era só passar com um algodão que tudo sairia sem muito esforço da
parte dela. Nos despedimos outra vez, e eu fiquei olhando para a tela do
aparelho sem de fato a enxergar. Só sai daquele transe quando o badalar dos
o que foi um erro, pois queimou as pontas dos meus dedos. Infelizmente
quem disse que “Os tolos vão aonde os anjos temem ir[4]” tinha razão até
que corriqueiro, estava duvidando da minha sanidade. Por quê? Não tinha
ideia.
Fazia alguns dias que ele havia se mudado e nunca o tinha visto
pessoalmente, para decepção de Ruth, que parecia louca para saber mais
sobre ele, embora nesse curto espaço de tempo não duvidasse de que Mary
um. Talvez eu estivesse usando outra vez o trabalho como desculpa, era
muito mais fácil.
Suspirei, olhando para o meu computador em cima da bancada,
pensando no trabalho que tinha que fazer ainda hoje.
— Mais tarde — falei para mim mesma.
Não usaria minha profissão mais uma vez como justificativa para não
ir conhecer meu novo vizinho. O que de ruim poderia acontecer? Descobrir
que ele não passava de um mal-educado?
— Tola!
Não mais prestei atenção no que ele falava, pois fiquei presa no
apelido sem graça que pensei que nunca mais iria escutar alguém
pronunciando. Deveria estar tendo um sonho, ou melhor, um pesadelo,
acordada. Mas a razão da minha mente ter evocado Derek depois de tantos
anos me era uma incógnita. Dizendo a mim mesma que eu estava
imaginando coisas e que eu devia ter escutado errado, aprumei-me, girei em
direção a porta e encarei o meu vizinho.
Segurei a vasilha cheia de cookies com mais força do que era
necessário ao contemplar os cabelos pretos cortados em um penteado
moderno, em que o topo era mais comprido do que as laterais, os olhos
negros emoldurados por sobrancelhas grossas, o bigode e a barba que o
deixavam ainda mais másculo.
Sexy!
Mas era o maldito sorriso de canto que tinha em seus lábios que não
me deixava nenhuma dúvida de que, por mais que eu quisesse, eu não estava
imaginando coisas.
Meu novo vizinho era o Derek Sommerfeld!
Gemi baixinho, completamente incrédula. Por que de dentre tantos
homens que existiam no mundo, tinha que ser justamente ele? Ou era carma,
ou eu que era a pessoa mais azarada do mundo.
— Laranjinha? — insistiu.
— Por que não estaria? — devolvi a pergunta em tom defensivo.
deveria ouvir mais a minha intuição. Eu deveria ter passado longe daquela
porta. Com certeza teria evitado problemas. Sem dúvidas, Derek seria um
a superstições.
— Ainda continua linda quando fica brava, Laranjinha. — A voz
grossa soou aveludada, aduladora, mas não era nada se comparada ao olhar
de Derek.
Ele analisou cada pedaço do meu corpo, lenta e maliciosamente, e, de
uma maneira não tão boa, percebi que ele aprovava o que via.
Canalha! Se ele achava que assim iria conseguir algo de mim, estava
completamente errado.
A cada segundo daquele escrutínio, eu ficava com mais raiva.
Então por que diante daquela olhada de Derek minhas pernas ficaram
levemente bambas e meu coração bateu mais forte no peito? Ignorei aquela
bruscamente.
Ele arqueou a sobrancelha negra e, colocando-se sobre os calcanhares,
Riu, som que ecoou em meus ouvidos junto com o barulho do rabo do
cachorro sapeca batendo contra a madeira do assoalho enquanto continuava
sentir pequena, ainda que não fosse baixa com os meus um metro e setenta.
impediu.
— Que bom para você. — Fui sarcástica.
Poderia dizer que não, porém seria ainda mais infantil do que Derek ao
negar.
Cachorro safado! Não sei por que estava perdendo meu tempo com
ele.
—, hoje não sou muito fã de ser assediado dessa forma. Para ser sincero,
abomino.
da minha parte, mas não podia acreditar que um homem bonito como Derek,
para não dizer outras palavras que realmente faziam jus a ele, mas que nunca
eu gargalhei.
— Me surpreende bastante porque ele tem medo de desconhecidos.
— Entendo…
— Deve ter sofrido maus tratos antes de ser adotado…
inocência, deixou uma beijoca em meus lábios antes que pudesse afastá-lo.
— Cachorro safado — falei, rindo, ao mesmo tempo que balançava a
cabeça, fazendo com que meus cabelos ficassem mais em desordem. — Mas
eu te perdoo por isso.
Merda! O homem que Derek havia se tornado era mil vezes mais
sedutor do que aquele garoto que conheci, de um jeito que eu sequer poderia
imaginar. Esse pensamento é um completo absurdo, eu sei, mas o mais
os poucos passos que separavam nossas casas. Foi só quando fechei a porta
atrás de mim, girando a chave na tranca, que me senti mais segura e deixei
Quando ela deu as costas para mim, foi instintivo olhar para a bunda
da Laranjinha, bem como sentir a boca secar com o desejo que me acometeu.
Era redonda, grande em proporção ao corpo pequeno e delgado, e
Iandra sempre foi uma menina linda na minha visão, apesar de que na
época da escola ela era um pouco magricela, quase sem nenhuma curva. Mas
crescida, ela estava gostosa pra caralho!
E as sardas que a Laranjinha tinha, porra, sempre tinham despertado a
minha curiosidade, morria de vontade de descobrir se elas cobriam todo o
acreditar nisso.
Maneei a cabeça quando o latido de Charlie me fez sair do transe que
estava. Fitei o cachorro, que me encarava com a língua para fora, como se
estivesse com sede, e que sacudia a cauda vigorosamente.
— Vamos para dentro, amigão — estalei os dedos da minha mão livre,
o chamando para entrar —, antes que eu continue passando mais vergonha
ficando parado na porta feito um idiota, babando.
Virei as costas e Charlie me seguiu, trotando para dentro de casa,
batendo o rabo. Fechei a porta atrás de nós.
— Seu cachorro safado — falei com Charlie ao recordar da interação
da Laranjinha com o cachorro.
perdição. Pena que a dona delas não parece muito disposta a ter seus lábios
deslizando contra os meus...
Fiz uma careta quando o cachorro emitiu um som estranho, parecendo
rir de mim.
— Pelo contrário, Laranjinha parece mais do que propensa a usar sua
boca para falar mal de mim. Ou me xingar. — Olhei para o animal. — Você
ri de mim, né, seu meliante?
Um choramingar saiu pela boquinha de Charlie e eu acariciei o topo da
sua cabeça, grato pela lealdade masculina que compartilhávamos.
— Quem sabe um dia… — Dei de ombros. — Nunca se sabe, não é
mesmo?
Ele ergueu uma patinha para mim, um gesto raro da parte dele, e eu a
segurei, como se fechássemos um negócio.
— O que me resta é saborear o presente de “boas-vindas” que ganhei
daquela fujona…
Balancei a vasilha, atraindo a atenção do cachorro, que pelo visto tinha
Não sei por que, mas minha voz soou mais animada do que deveria, e
eu sabia que o meu irmão não era tolo para não perceber.
— Caramba, Derek, e você ainda fica feliz por isso? Ela te detestava!
— E ainda parece me detestar — confessei. — Mas você sabe que não
— Hmmm. Mas se tiver chance, tenho certeza que irá querer saber
Não iria me dar o trabalho de negar sua afirmação, porque não podia
mentir e dizer que não fiquei atraído, até demais para o meu gosto, pelo
corpo dela, pela sua boca, pela sua voz e pelos seus cabelos alaranjados
como o pôr do sol. E eu sempre me senti atraído pelo seu jeito briguento e
também ácido. Ela era um contraste à minha personalidade. Talvez fosse isso
que me impelia a ela.
— Você sempre foi fissurado nela, Derek. Só era babaca demais e não
sabia lidar com a rejeição.
analisei detidamente. Porém, nesse momento, não poderia dizer que era uma
obsessão, era só a curiosidade de um homem perante uma mulher gostosa
pra cacete. Posso não ser o cachorro de outrora, mas tinha dois olhos que
viam muito bem, além de um pau que, apesar de há muito tempo não ser
meu irmão.
— Pelo menos ela é solteira, mano? — Marshall tirou-me do transe
— Não posso dizer que nós dois tivemos uma conversa de verdade,
não ainda.
— É.
Passei a mão pelos meus cabelos lisos, consciente que provavelmente
Ele bufou.
— Mas por que me ligou? — questionei depois que ficamos em
aulas, mas na terça teremos uma reunião em que sua participação será
necessária.
Como eu não era muito bom com números, parte do patrimônio que eu
havia herdado era administrado pelo meu irmão, que não apenas fiscalizava,
mas também o multiplicava, fazendo com que ganhasse ainda mais dinheiro,
e eu dava graças por isso. Ele era muito bom no que fazia e eu confiava
barriga que se tornava cada vez mais pesada, com os pés e mãos inchadas, e
como ele não poderia estar mais ansioso para a chegada de Devon. Confesso
que eu também mal podia esperar para segurar o meu sobrinho nos braços.
Seria o titio mais babão do planeta, tanto que sorri abobado enquanto Shall
— Claro.
— Preciso desligar, mano. Boa tarde e até mais.
— Para você também — respondi, antes de encerrar a ligação.
meus ouvidos.
Eu deveria estar completamente maluco para tomar a empolgação do
meu cachorro como um bom presságio para mim e a minha vizinha, mulher
que tinha milhares de razões para nunca mais olhar para a minha cara.
Capítulo
chegando atrasada para uma reunião importante com um cliente, o que seria
imperdoável se eu quisesse conseguir a minha promoção.
Joguei o celular de qualquer jeito dentro da bolsa e a coloquei sobre
meus ombros. Saí e tranquei a porta atrás de mim. Mal havia dado três
passos no pequeno jardim frontal da minha casa quando escutei o som de
batendo na minha calça, e em seguida ele parou para sentar à minha frente.
Incrédula, olhei para baixo e não vi apenas as marcas deixadas na camurça,
mas duas manchas de uma substância que parecia terra. Notei que o focinho
do cachorro também estava coberto com a mesma cor avermelhada. Lama!
fúria que era direcionada apenas para o homem, já que nunca iria culpar o
cachorro por aquela bagunça, virei-me na sua direção e o encarei.
Para minha maior desgraça, antes que eu olhasse diretamente para o
rosto dele, que tinha aquele sorriso cretino que eu detestava, deixei que meu
olhar percorresse seu corpo definido, principalmente os braços fortes. Era
impressão minha ou ele estava mais bonito do que há três dias?
Os olhos escuros de Derek brilharam, revelando que tinha gostado e
muito do meu deslize.
Cretino convencido! Como se eu estivesse desesperada o suficiente
para querer algo com um babaca como ele. Fora que nunca iria para cama
com um cara que não conheço, e não começaria com aquele em específico.
— Pareço estar tendo um bom dia para você? — Cuspi a pergunta,
apegando-me à raiva que sentia por ele, e apontei para a minha calça suja
pelo cachorro.
— Eu estava dando banho nele e Charlie saiu correndo — justificou-
se.
— Banho na terra? — Apontei para os pelos antes brancos e agora
avermelhados do cachorro, que tinha uma carinha inocente. — A terra da
minha horta?
Sabia que não deveria estar perdendo meu tempo discutindo com
aquele imbecil, principalmente quando precisava trocar de roupa, porém
estremecer.
— Laranjinha?
— Sim, Derek? — Minha voz saiu rouca, para minha consternação.
Tentando aparentar uma calma que contradizia o reboliço ridículo em
meu interior, voltei para ele, dando-me conta que o rosto dele estava muito
próximo do meu, embora não tanto para definir a proximidade como uma
invasão do meu espaço pessoal.
— Posso te levar, se quiser, Iandra — disse depois de vários segundos
após eu ter feito a pergunta.
— Não quero te dar trabalho. — A ideia de ficar confinada em um
carro com Derek, mesmo que por meia hora, me deixava nervosa de formas
inexplicáveis.
Ele fez uma careta.
— Então deixe-me pagar um táxi para você — sua voz não escondeu a
pontinha de ressentimento com a minha primeira recusa.
Achei um pouco de graça. Era eu quem deveria me ressentir por tudo
que ele havia me causado no passado, o que incluía a calça que eu mais
gostava e que ele estragou ao pregar um chiclete na cadeira que eu usava.
— Não é necessário, obrigada. — Forcei-me a adotar um tom gentil.
Poderia falar que eu tinha dinheiro para tal, ser grossa, porém me contive.
— Você está péssima, filha! — Foi a primeira coisa que Ruth disse em
um tom preocupado quando a garçonete se afastou para pegar nossos
pedidos.
Mas ela não precisava concluir sua fala. Desde que a minha amiga
havia conhecido meu vizinho há cinco dias em um mercado, ela não parava
de falar as inúmeras qualidades dele, principalmente quando Derek havia
sido gentil com ela ao ajudá-la, pegando alguns itens na prateleira mais alta.
Desde então, todos os dias Ruth dissertava sobre quão lindo e charmoso ele
era, e que, se ela tivesse minha idade, não hesitaria em dar em cima dele.
Mesmo que eu tenha contado a ela o quanto aquele imbecil tinha aprontado
comigo, a única coisa que ela tinha dito era que passado era passado e que
todos mudavam.
— Nem minha avó fazia milchbrötchens tão gostosos quando esses da
Gargalhamos.
— Pode pedir sua geleia que tanto quer, Iandra, não irei te julgar.
— Um pote da sua melhor geleia para mim, Lana. — Não tinha porque
fingir que não queria.
— Pode deixar.
Piscou para nós e se virou, fazendo com que nós duas ríssemos.
— E então? — A senhorinha questionou depois de tomar mais um
gole do seu chá.
— O quê? — Tinha perdido o fio da meada enquanto comia um pouco
mais do pãozinho.
— O que Derek fez para que você o culpe outra vez? — Fez uma
pausa e provocou-me, lembrando da vez que ele me pagou o táxi, e que
também havia arrumado a bagunça que o cachorrinho tinha feito na minha
horta. — Foi um cavalheiro outra vez?
Balancei a cabeça em negativa, fazendo com que meus cabelos presos
em um rabo de cavalo balançassem, e agradeci a Lana quando ela pousou
monólogo.
— Sei — disse a palavra arrastadamente, cheia de sotaque. — Falando
nisso, ele está vindo na nossa direção.
Não precisei de confirmação, pois a expressão contente da minha
amiga confirmava que era mesmo quem eu menos queria ver. Ainda assim,
estava consciente que o meu coração se acelerava.
— Senhora Ludwig… — Ele cumprimentou Ruth, e vi que o rosto
dela ficava corado.
— Ruth, por favor.
— Só se você me chamar de Derek — falou em um tom que muitos
poderiam considerar charmoso, e eu não precisava ser adivinha para saber
que ele tinha aquele sorriso cretino nos lábios. Com certeza se achava mais
do que irresistível.
— Claro, Derek. — Ruth deu uma risadinha.
— Laranjinha — sussurrou o apelido odioso.
— Boa tarde, Derek. — Cumprimentei-o educadamente e me virei
para ele, com uma cara de paisagem, erguendo um pouco o meu rosto para
encará-lo.
negros, que me fitavam com uma intensidade de roubar o meu fôlego, ou, se
ele fosse outra pessoa, de molhar a minha calcinha.
— Infelizmente, sim.
Não queria que ela falasse da minha vida amorosa que, por problemas
de confiança, estava praticamente morta, pelo menos não com aquele
fundo, ela conhecia minha vontade de encontrar uma pessoa bacana, sincera,
alguém com quem eu possa formar uma família sem me ver presa em um
pareceu incomodada com o fato. — Você está certa em ter outros projetos e
objetivos. Eu mesmo tenho os meus…
Tenho que confessar que senti uma leve curiosidade para saber mais
sobre aquele homem e os planos que havia feito para si mesmo, porém as
palavras a seguir fizeram com que eu sufocasse todo o interesse que poderia
ter nele: — Mas isso não a impede de ter outros tipos de prazeres,
Laranjinha. — Seu tom foi malicioso, cheio de provocação, embora fosse
vergonha. Mas eu não deixaria isso barato. Contrariando o meu caos interior,
peguei a minha xícara e tomei um longo gole do meu chá frio.
— Quer que peça uma água, Iandra? — Meu vizinho falou em um tom
que era uma mistura de preocupação e ternura.
o maxilar.
— Não quer se sentar, Derek? — Ruth, que nos encarava com
curiosidade, insistiu.
Definitivamente, não queria que ele se juntasse a nós. Primeiro, porque
corporal me dizia que aquele canalha tinha ciência de que ele mexia comigo.
mundo.
— Agradeço o convite, Ruth. — Piscou para a mulher e ela deu uma
— Então vou nessa. Prazer revê-la, gracinha. — Pegou a mão que ela
estendeu para ele e deixou um beijo no dorso, fazendo minha melhor amiga
carregando um saco de papel, mas não sem antes dar um tchau para mim e
para Ruth.
— Você deveria ser mais doce com ele, Iandra — ralhou comigo. —
Ele é um amor de rapaz.
Dei de ombros.
meu fôlego.
— Bobagem! — Peguei o último pãozinho e tive que me conter para
não o passar no pote de geleia. — Não duvido nada que aquele safado
desnuda com os olhos qualquer uma, conheço esse tipo.
— Não irei para cama com ele, por mais que você ache que eu precise
“sair mais”, “namorar” ou “beijar”... — briguei suavemente com ela,
minha vida nada amorosa na frente daquele babaca, podíamos muito bem
falar da dela.
— Você não me dará escolha, não é mesmo? — Deu um suspiro de
resignação.
Não contive uma risada estridente, chamando a atenção para nós. Se fosse
possível, Ruth ficou ainda mais vermelha.
— E então?
— Nós nos “envolvemos” — falou tão baixo que quase não a escutei.
— Foi muito bom. — Deu outro suspiro, só que, dessa vez, era
sonhador. — Não tinha ideia de que poderia ser tão prazeroso. Com o meu
dedos suavemente, enquanto sentia meu coração se apertar por ela não ter
conhecido isso antes. Era uma realidade amarga de muitas mulheres da
geração dela, onde o egoísmo reinava. Apesar que, se pensar bem, homens
que só pensavam em si mesmo não era algo tão raro assim, já tive algumas
experiências bem ruins nesse sentido.
— E eu quero mais — confessou. — Desejo sentir aquele calor
novamente.
Sorri.
— Fico feliz por você, querida.
— Sei que sim, filha. Mas temo que tenha sido ruim para ele…
— Por que diz isso? Ele fez alguma coisa que deu a entender isso?
Balançou a cabeça em negativa.
— Não, não, Max não poderia ter sido mais perfeito comigo, mais
doce. — Fez uma pausa e pareceu tristonha. — Acho que é mais coisa da
minha cabeça. É impossível não me sentir insegura comigo mesma, com o
meu desempenho.
— Você é uma mulher linda, Ruth. Tem um corpo maravilhoso para a
geleias.
— Claro. — Sorriu, antes de ir atender outra mesa.
Enquanto esperava, olhei para fora e foi inevitável não contemplar um
casal de mais ou menos a minha idade que passeava de mãos dadas em
outra pessoa, afinal fazia mais de seis meses do meu término e meu ex
Pinóquio parecia estar mais do que feliz com outra mulher — coitada dela
que deveria estar sendo enganada. Porém, de alguma forma, a perspectiva de
entanto acabei descobrindo que era melhor pensar na minha vida amorosa
fracassada, pois minha mente ridícula não parava de pensar em Derek e no
seu olhar ardente, que era capaz de deixar qualquer uma de pernas bambas e
ofegante. Infelizmente, até mesmo eu.
Capítulo
Não esperava que ela estivesse ali, afinal, todos — ou quase todos —
Alec, meu principal concorrente, como seu queridinho, porém nunca pareceu
tão agressiva.
— Claro, senhora — forcei-me a respondê-la —, mas, ainda assim,
sempre buscarei fazer o meu melhor. — Sorri amarelo.
— Sei… — Não escondeu sem desdém. — Não irei te atrapalhar mais.
— Não o fez, asseguro — menti.
— Claro.
gemido que veio lá de dentro minutos depois, que deixava mais do que claro
que eles eram amantes. Tive pena da esposa do homem.
Balancei a cabeça em negativa e tentei colocar toda a minha atenção
no projeto à minha frente.
Quando os barulhos ficaram constrangedores demais, sentindo a
irritação me invadindo, decidi salvar meus arquivos na nuvem e desliguei o
computador. Peguei minha bolsa e me ergui, indo em direção ao elevador.
Tinha cansado de ouvir a transa repugnante dos dois.
Todo o meu piso — que graças a Deus não era carpete — estava sujo
de terra, provavelmente proveniente da minha horta. Também estava tomado
por pedaços de papel higiênico, que formava praticamente uma linha-guia
em direção ao meu lavabo, e por penas e espumas das minhas almofadas,
que foram completamente destruídas. Tudo estava uma zona.
Instantaneamente, minhas mãos foram à cintura e eu fechei os olhos,
soltando um gemido, ao mesmo que torcia para que tudo não passasse de um
pesadelo, porém sabia que não era.
Respirei fundo, pedindo aos céus por paciência, embora já há muito
ela estivesse esgotada. Eu não merecia mais essa, não quando minutos atrás
estava sonhando acordada com meu banho.
Abrindo as minhas pálpebras, voltei a encarar o cachorro branco com
rosto caramelo, cujo focinho estava imundo. Charlie latiu para mim, antes de
mostrar a língua e abanar o rabo, como se eu estivesse brincando com ele.
Várias penas voaram com a lufada de ar.
— Como você entrou aqui, mocinho? — questionei, não fazendo a
mínima ideia de como ele havia conseguido essa façanha.
Me aproximei daquele meliante canino, que deitou com a barriga para
cima, esperando que eu fizesse carinho nele, mas não faria. Parei de frente
para ele.
— Eu não vou limpar essa bagunça, Charlie — falei para o cãozinho,
mão livre para apoiar melhor Charlie, que balançava o rabo animadamente.
— A que devo a honra da sua presença? — Seu tom tornou-se
malicioso. — E a de Charlie?
Não consegui responder perante aquele sorriso cretino, que fazia com
conter a minha vontade de inspirar fundo outra vez para sentir o perfume que
exalava dele.
Como se fosse consciente daquilo que causava em mim, mesmo que
vista de seu rosto, mas, para minha indignação e também descontrole, fiz o
que não devia: olhei para seu peitoral, que eu já sabia ser definido e forte,
que, insanamente, tive vontade de tocar com as pontas dos dedos, até
alcançar a região da pelve e…
secou, e o revoltante disso tudo era que não tive forças para desviar o meu
olhar daquela indecência.
Quem atendia uma porta estando seminu? Mas deveria ter esperado
algo assim daquele cachorro desavergonhado. Além de idiota, Derek era um
exibicionista.
Continuei encarando aquela região, esquecendo de tudo e de todos,
percebendo que o volume no meio das suas pernas crescia sob o meu
escrutínio. Isso era ultrajante!
gostaria.
o pousei no chão.
— Assim está melhor, Laranjinha — falou em meio a risada, mas logo
ele se recompôs, ficando sério. — Gosto quando coloca sua língua ferina em
ação. Pergunto se algum dia terei o prazer de escutar algo bom sobre mim
parte que ainda parecia rígida. Controlei-me para não ficar olhando ali para
baixo, porém parecia demais para os meus nervos dominados pela raiva. —
— Você é inacreditável!
Deu de ombros e outra vez acompanhei a linha dos seus gestos.
veio até aqui para se convidar para o meu banho, não é mesmo? Ainda mais
tendo Charlie no colo. — Apontou para o cachorro, que, ao ouvir seu nome,
latiu.
Que audácia!
ele fez. — Estou aqui pelo que ele fez. Ou melhor, pelo que você deixou ele
fazer.
dentro de casa.
— Hey, calma aí, Laranjinha. — Ergueu as mãos em defesa. — Até
então, para mim, ele estava dormindo na caminha dele aqui dentro de casa.
O cachorro latiu e a respiração de Charlie pareceu ficar ofegante, sua
mas não tive tempo de falar nada, nem mesmo de alfinetar o meu vizinho.
Nem sabia se conseguiria.
demoradamente cada curva sutil do seu corpo esbelto, que parecia despertar
não apenas um desejo avassalador em mim, o que fazia meu coração bater
descompassado e meu sangue ferver, mas também o pior em meu ser.
Eu estava me comportando como um grande babaca, provocando-a,
dizendo coisas que não deveria escapar pelos meus lábios. Ter atendido a
campainha seminu foi algo repugnante da minha parte. Não tinha intimidade
para tal, não ainda. Desse jeito, toda a minha tentativa de me aproximar, de
conhecê-la de verdade, de explorar a atração que sentia por ela, que ainda
era somente física, estava indo para o ralo.
culpa, a minha meia-ereção era a prova viva disso. Ela poderia dizer que era
indiferente a mim, mas o modo como seus olhos percorreram cada
centímetro da minha pele nua e a linguagem corporal dela me disseram que
ela gostou e muito do que viu. Laranjinha não tinha conseguido disfarçar o
desejo em seu olhar, muito menos quando umedeceu os lábios ao olhar para
o meu pau, assim como não conseguia esconder agora.
— Você não vai dizer nada? — bufou.
Cruzou os braços na frente do corpo, ressaltando ainda mais o busto
dela, e bateu os pés no chão, impaciente. Tive que segurar a minha vontade
de apertar aquele narizinho empinado arrogantemente, da mesma maneira
que senti de beijar aqueles lábios atrevidos curvados em uma careta.
Dei de ombros.
— Não queria que eu limpasse a bagunça que Charlie fez? — Apontei
para o cachorro, que latiu ao ouvir o seu nome. Deixaria para pensar sobre o
comportamento estranho dele depois. — É isso que eu farei.
— Vestido desse jeito? — cuspiu.
Balançou a cabeça em negativa vigorosamente, e eu vi os olhos verdes
dela cintilarem com fúria.
— Assim como, Laranjinha? — Provoquei-a, fazendo-me de
desentendido.
De alguma forma, senti um prazer perverso em fazê-la dizer em voz
alta que eu estava praticamente pelado.
agachou para acariciá-lo. Pela segunda vez naquele dia, senti inveja do meu
cachorro. Ele aprontava, mas mesmo assim ganhava os afagos daquela
deusa. A vida era injusta.
— Sabia que é um look bastante impróprio para se ir na casa de
alguém? Não que você seja bem-vindo, é claro, porque está longe de ser. —
Seu tom foi ácido.
— Consigo pensar em várias circunstâncias bem razoáveis para visitar
alguém assim. — Minha voz soou rouca.
Imaginei Iandra me convidando para a casa dela, no meio da noite,
completamente sedenta por mim, e eu a saciaria com o maior prazer, a noite
e a madrugada inteira.
Ela grunhiu, desgostosa.
— Tem medo que eu deixe a toalha cair, Laranjinha? Que ela
escorregue sem querer? — Ignorei seu temperamento e a aticei. — Ou no
fundo, no fundo, está com medo de gostar do meu… Você sabe… — Fiz um
gesto com a mão, apontando para a minha pelve —,... do meu pacote.
Para minha surpresa, Iandra jogou a cabeça para trás e riu. Gargalhou
tão alto que feriu os meus ouvidos. Charlie se agitou, provavelmente ficando
curioso. Latiu e deu patadas no ar.
Não sei quanto tempo ela permaneceu rindo, mas foi tempo suficiente
para machucar o meu ego. Não via graça nenhuma na risada dela.
— O que foi? — perguntei, ressabiado.
— Você é o último homem pela qual eu teria interesse na face da
Terra, Derek — falou em meio à risada.
Escutar aquilo pela segunda vez doeu, doeu muito, ainda mais quando
ela era a única mulher que havia despertado meu interesse nos últimos
meses.
— Que pena. — Emiti um muxoxo falso.
Engoli minha vontade de dizer que eu não apostava muito nisso e me
muni de autoconfiança. Meu lado malévolo estava mais do que tentado a
provar que ela estava errada.
— Se já cansou de ser ridículo — mostrou a porta —, saia.
— Me mandando embora? — Sorri de orelha a orelha.
— Você não vai se livrar tão fácil assim, Derek — disse, aproximando-
se de mim. Apontou um dedo em minha direção e começou a me cutucar.
Achei graça dela parecer tão irritadiça, porém minha diversão morreu
quando o calor de pele contra pele começou a se espalhar por todo o meu
peitoral, mexendo comigo de maneiras inimagináveis. Os pelos dos meus
braços se arrepiaram e minhas pernas ficaram ligeiramente bambas quando
ela ergueu o rosto e me fitou com seus olhos verdes arregalados. Meu
coração ficou acelerado e a respiração, ofegante.
Nada mais pareceu existir enquanto nós nos encarávamos fixamente,
com a ponta do dedo dela no meu peito, nem mesmo o cachorro, que
trançava entre nós, dando cabeçadas, querendo atenção. Não sei como não
encurtei ainda mais a distância entre nós e segurei o seu rosto, puxando-o em
direção ao meu. Como não toquei seus lábios entreabertos, sedutores, com a
minha boca, degustando-a, confirmando se ela era tão gostosa quanto
parecia. Como não acariciei a sua pele sedosa… Talvez o modo como me
fitava já fosse o suficiente para me embriagar.
Porém aquele momento intenso e visceral foi curto demais, logo
Iandra pareceu recobrar a razão e se afastou de mim, dando alguns passos
para trás.
O Derek que tinha sido impelido a provocá-la foi esquecido e
substituído por aquele considerado monótono, careta.
— Por favor, vista-se e venha limpar essa bagunça — disse com a voz
sóbria. — Creio que você terá que ajudar o Charlie.
O bichinho lamuriou.
— Mas fui eu quem piorou tudo, não é mesmo, Charlie?
segunda vez e, para piorar, entrar na casa dela e fazer aquela bagunça,
estragando as coisas?
Sabendo que seria seguido, cruzei a distância das duas casas e entrei
evaporado.
Foi um grande erro tocá-lo, porém, furiosa por ele tentar fugir da
tarefa de limpar a sujeira, suas palavras irritantes fazendo com que a minha
pele esquentasse, eu não tinha pensado em mais nada então o cutuquei. Mas
agora eu sabia que não deveria ter me deixado levar pela irracionalidade,
nem pelos desejos do meu subconsciente. Tinha que admitir que desejava
tocar a pele nua de Derek, não que eu pudesse considerar um cutucão como
uma carícia. Ainda assim, foi uma falha, devia ter me controlado, porque a
sensação eletrizante parecia ter ficado impregnada em mim.
senti mais no controle para enfrentar Derek. Ouvi a minha barriga roncar
com fome, então desci as escadas rapidamente e fui preparar no micro-ondas
alguma das quiches de legumes e queijo que Ruth havia preparado e me
dado. Quando ia dar a primeira mordida, a campainha tocou.
Derek!
Um pequeno rebuliço agitou o meu interior e eu larguei o garfo sobre
o balcão. Respirando fundo, buscando controlar aquele redemoinho
descabido, caminhei até a porta e a abri. Meu coração deu um salto. Ele
poderia não estar seminu, porém estava igualmente bonito e sedutor.
— Você voltou mesmo — murmurei algo extremamente besta e
também insultante.
meu corpo, não queria sentir nenhuma centelha de desejo por ele.
— Aceita? — Tentei retratar minha falta de educação por não ter
oferecido um pedaço antes de voltar a comer, usando isso mais como uma
barreira de segurança. — Foi Ruth quem fez. Ela tem uma mão maravilhosa
para salgados.
— No momento não, agradeço — falou suavemente antes de voltar a
mataria se soubesse que você não chegou a provar uma de suas quiches.
não adotar um tom terno ao falar sobre a mulher que tinha me acolhido tão
bem no pior momento da minha vida.
verdadeira. Estive ao lado dela quando havia ficado doente, e quando ela
estava em pedaços com a morte de uma irmã.
número, e conexões verdadeiras estão cada vez mais raras. A maioria das
relações costumam ser unilaterais.
O olhar dele ficou ainda mais intenso, e, outra vez, fui tomada por
várias sensações.
quiche.
— Mas quem sou eu para julgar. — Seu tom era de pura diversão ao
— Você não pode estar falando sério — falei depois de beber um gole
do meu suco até então esquecido. — Se me lembro bem, não havia ninguém
indiferença.
— Sua língua ferina destrói o meu ego, Laranjinha.
por Charlie, aqueles feitos por Derek ao varrer o chão e pelo meu mastigar.
atenção? — perguntei mais por educação do que por qualquer outra coisa.
Ele não era uma visita e não tinha obrigação de fazer sala para ele.
relaxar mais.
Minha sobrancelha se elevou.
melancolia nele. — Assim como você sabe muito pouco sobre o meu caráter,
fizesse pensar ao contrário, pois essa discussão não iria levar nenhum de nós
dois a lugar nenhum.
por hoje. O seu sofá é melhor que uma empresa especializada use os
produtos certos para não manchar. Só removi o excesso. Pedirei que alguém
venha cuidar disso amanhã.
— Agradeço, Derek.
Não havia necessidade de apontar que ele pagaria muito caro por isso,
pois, para ele, o valor provavelmente era irrisório. Ainda que ele morasse
naquele bairro, que estava longe de ser um dos preferidos até mesmo da
classe média alta, acreditava que o meu vizinho tinha muito mais recursos do
que as revistas falavam.
separava. Derek nunca me pareceu tão sério e grave. — Por que sou um
milionário mimado e playboy, que sempre teve dúzias de empregados para
não falo em tom de crítica, mas, sim, de admiração. Essa parte da minha casa
nunca esteve tão limpa.
Laranjinha.
— Tenho certeza que você tem coisas mais importantes para fazer do
queimar.
Sorriu de canto, de uma forma devassa.
a cozinha.
Enquanto eu pegava as tortas no freezer, escutei Derek conversar
baixinho com Charlie, e não contive um sorriso.
— Aqui está. — Estendi para ele uma vasilha, e minhas mãos
Por mais que tivesse minhas desconfianças de que ele era um galinha
“discreto”, não tinha o direito de questioná-lo, porém tinha sido mais forte
do que eu. Estranhamente, algo dentro de mim desejou que a resposta fosse
negativa, ainda que provavelmente eu não fosse acreditar nela.
— Não sei por que perco meu tempo com você, cachorro… — cuspi.
— A resposta é não, Laranjinha — proferiu suavemente. — Digamos
patinhas da frente nas minhas pernas, e olhou-me com aqueles olhos pidões
e enormes.
— E então?
— Vocês jogam sujo. — Soprei alguns fios de cabelo que caíram sobre
meus olhos.
— Somos uma boa dupla — comentou, vitorioso.
— Muito, por sinal — bufei.
— Temos um jantar sábado?
Assenti em confirmação.
— Obrigado, Laranjinha. — Pareceu animado, mais do que imaginei
ser prudente. Deveria desconfiar desse entusiasmo todo.
— Se é só isso, tenho trabalho a fazer — esquivei-me.
se fosse um animal fujão, e fechei a porta atrás de mim. Encostei meu corpo
contra a superfície de madeira e fechei os olhos ao passo que um suspiro
escapava pelos meus lábios.
eu soube, ela estava feliz com um homem quarenta anos mais velho, que a
bancava da maneira que queria.
— Você gosta da Iandra, não é mesmo? — sussurrei a pergunta.
Charlie latiu e, girando o meu pescoço, percebi um arremedo de
— Sim — continuei aquele diálogo absurdo indo até a pia para lavar a
faca e também os aipos e comecei a cortá-los. — Não é porque eu a acho
interessante e sexy, e que parece que ela sente certa atração por mim, que
Senti minha boca secar com a visão, que era muito mais fascinante do
que esperava. E, mesmo que não devesse e tivesse dito a mim mesmo que eu
deveria ir com calma, foi impossível não me imaginar explorando cada
manchinha encantadora com os meus lábios e língua. Inspirei fundo e um
cheiro suave de frutas cítricas invadiu minhas narinas. Combinava e muito
com a Laranjinha, e para ser mais perfeito, só faltava ser de laranja.
— Boa noite, Derek — disse em um tom reprovador e se ergueu.
Pego em flagrante, fitei o seu rosto, percebendo a sobrancelha
arqueada para mim. Não me passou despercebido que ela usava uma leve
maquiagem e que seus lábios cheios brilhavam pelo gloss. O pensamento de
que ela havia se arrumado para mim me assolou, mas logo descartei a ideia.
Era sonhar demais. Mas isso não me impediu de sentir-me abobado. Ela
estava linda.
— Boa noite, Laranjinha. — Minha voz soou rouca. — Fico feliz que
tenha vindo.
— Vim pelo “Charlie” — falou.
— Imagino que sim. — Dei um sorriso para ela, ignorando a pontada
que suas palavras me fizeram sentir. Era esperar demais que dissesse que
tinha vindo por mim. — Entre, por favor.
Charlie latiu, reforçando o convite, e eu dei um passo para o lado,
fazendo um gesto cavalheiresco para que ela passasse pela porta.
minha visão, você está mais do que perfeita, não poderia estar mais linda.
Duvido que não fique bonita usando qualquer coisa.
“Até mesmo sem nada.” — completei em pensamentos, ao passo que
me xingava também.
Droga! Temia não conseguir dissimular o desejo que ela me fazia
sentir apenas por estar na minha frente.
— Até parece. — Bufou, mas me surpreendeu quando usou um tom de
brincadeira ao continuar: — Isso que você não me viu usando meus
moletons relaxados. E nunca verá, seria dar material demais ao inimigo.
Riu baixinho ao se erguer e uma gargalhada saiu pelos meus lábios.
Charlie latiu animadamente.
Colocou os sapatos na estante da entrada.
— Bem, trouxe vinho para nós — comentou o óbvio e estendeu a
garrafa para mim —, não gosto de chegar de mãos vazias.
— Não era necessário. — Forcei a minha voz sair neutra, não
demonstrando a ela o quanto tudo em mim reagia àquele mero roçar de
dedos.
Deu de ombros, mas não me passou despercebido que a Laranjinha
pareceu tensa ao morder os lábios. Ela mal sabia o quanto ficava provocante
assim.
Engoli em seco.
— Provavelmente deve estar longe dos seus padrões de qualidade —
comentou.
— Pode não parecer, Laranjinha, mas não sou tão esnobe. — Sorri. —
trançando entre as pernas dela. — Tenho que admitir que estou um pouco
atrasado com os preparativos do jantar. Na verdade, perdi um pouco a hora
porque estava lendo. Mas irei preparar uma tábua de frios para nós como
entrada.
— Uau! Que cômodo mais lindo! — Virei-me para ela assim que
pronunciou essas palavras e a expressão maravilhada dela roubou parte do
presuntos e outras coisas que ela poderia gostar. — Não sei nada sobre
decoração, só de funcionalidade. E como estava com pressa para me mudar,
nela.
Sorri de orelha a orelha com o interesse dela em mim.
aquela acidez dela, soube que não era destinado a mim, pois ela sorria... para
mim.
Porra, o sorriso dela me foi como um coice e meu sangue se agitou nas
veias. E, sem nenhuma dúvida, eu deveria estar com uma expressão bobona
vinho, que faria com que ela me considerasse esnobe, tomei um gole do
líquido espesso e algumas notas de cranberry impregnaram meu paladar.
estarem prontas.
sua taça. — Acho que, no momento, não há palavra melhor para me definir.
— Por conta do seu emprego? — Seus lábios se entreabriram de
surpresa.
— Como?
todos os petiscos nela. — Não descansei enquanto não obtive o meu título de
— Mas juro para você que fui o primeiro da turma. — Fiz uma pausa
dramática e sua sobrancelha se arqueou no automático. — E com honras.
— Sério? Vou fingir que acredito, Derek. — Seu tom era cheio de
diversão.
— Não precisa fingir, sei que na época da escola você bem que
gostava de recebê-los — respondi sua pergunta com uma provocação —, e
brilho malicioso em seus olhos. — Apesar de ser outro idiota, sempre fui a
fim do Jason.
Fiz uma cara de choque e levei a mão ao peito, como se ela tivesse me
causado dor, e Charlie, fiel, foi ao meu socorro.
formaram em seus olhos. O cachorro, atento aos sons, começou a latir, suas
limpado. Ainda demoraria uns vinte minutos para ficar pronto. Tinha que
correr para fazer a salada.
conspirador.
— Mesmo?
— É a sua oportunidade de ouro, Laranjinha. — Adotei uma voz falsa
— Meu tipo?
Fitei o rosto de Iandra e balancei a cabeça em negativa, me
aproximando da ilha. Nossos olhares ficaram presos um no outro.
— Está enganada, Laranjinha. — Minha voz era rouca, ao mesmo
Riu e eu relaxei.
— Esqueci de perguntar, você tem alguma alergia, a nozes por
exemplo?
— Não, felizmente não, do contrário minha vida teria sido terrível sem
silêncio era apenas quebrado por Charlie, que latia, andava de um lado para
o outro e emitia barulhos parecendo de deleite com as carícias realizadas por
Iandra.
porque só tinha fixado residência em Nova York por causa da minha ex. —
Não que eu possa dizer que eu era um “animal festeiro”. E, de alguma
forma, senti falta de ficar próximo do meu irmão. Shall vai ser papai, sabia
disso?
cheio de malícia.
Meu cachorro grunhiu e pude imaginar que ele havia passado a pata no
focinho, pois Iandra voltou a soltar um resmungo.
— Sou uma cantora profissional de karaokê, sabia?
contemplei o seu rosto corado pela risada e também pela bebida alcóolica,
completamente admirado pelo brilho que havia em seus olhos. Ela estava
relaxada e, se fosse honesto comigo mesmo, ainda mais linda na minha
visão. Ela cintilava. Suas sardinhas ficaram ainda mais ressaltadas, tornando-
as fascinantes.
Meu coração bateu mais forte por pensar que tinha sido eu quem a
perfume dela.
— Maravilhoso — murmurou, levando mais uma garfada de salada
aos lábios, mastigando lentamente.
vinho para mim e para ela; teria que abrir outra garrafa muito em breve. —
Infelizmente, não consigo mais tirar um tempo para maratonar todas que eu
gostaria. Fora que tento conciliar meu tempo de lazer com outras coisas,
como ler meus romances policiais, ter umas partidas de golfe com o meu
irmão…
Fez uma cara engraçada enquanto mastigava.
— Que foi, Laranjinha?
— Estou apenas surpresa que você joga algo tão…
quase que um convite para tombar meu corpo sobre a mesa e cruzar a
distância que separavam nossas bocas, deixando-nos levar pelo desejo que
era latente, mesmo que ela negasse, porém não o fiz, pelo contrário, removi
minha mão, sentindo a perda imediata do calor dela. Lutei contra a vontade
de tocá-la outra vez, então segurei o garfo e comi um pouco mais da salada.
— Estou apenas brincando com você, Laranjinha — minha voz soou
extremamente rouca quando terminei de mastigar —, mas não posso negar
que as pessoas que frequentam o nosso clube em sua maioria são arrogantes
a minha glande com círculos morosos, que acabariam por espalhar meu
líquido por toda a minha ponta.
A imagem era tão forte, sexy, que senti meu pênis endurecer, da
mesma forma que tinha ficado ereto perante o escrutínio dela.
cada hole in one[8] nosso. Então, uma vez ao mês, eu e meu irmão tentamos
mostrar as nossas habilidades em homenagem à vovó.
Sorriu e, para minha surpresa, foi a vez dela de tocar a minha mão,
acariciando o meu dorso suavemente. Vi compreensão em seus olhos e
Charlie latiu debaixo da mesa enquanto Iandra ria da minha cena para
lá de teatral, em que fingi chorar, levando a mão no peito como se eu
estivesse sentindo dor.
— Quem não — falou em meio à gargalhada. — Tanto que faz anos
que não assisto um. Da última vez, recordo-me que passei a madrugada
inteira chorando enquanto me afundava em um pote de sorvete… Se
importa?
— Do quê? — Franzi o cenho.
gemido.
Iandra suspirou baixinho antes de pegar mais uma. Não escondi minha
diversão, somente o desejo que sentia ao escutar seus sons baixinhos e vê-la
lamber os dedos sem nenhuma cerimônia. Respirei fundo, buscando
controlar aqueles sentimentos voláteis, dizendo a mim mesmo que tinha que
parar de ficar tendo pensamentos eróticos com qualquer movimento daquela
mulher.
— Nunca comi uma torta tão saborosa, Derek — falou depois de
morder um último pedaço da sobremesa. Eu não vi o tempo passar enquanto
ríamos e conversávamos sobre filmes e assuntos banais. — Essa massa é dos
deuses.
— Encontrei a receita nas coisas da minha avó. — Fiz uma pausa. —
Como é receita de família, não posso passar.
— Que pena — fez um som de muxoxo —, estava prestes a pedir.
que segurar o riso ao encarar sua expressão, que era um arremedo de careta.
— Essa é a sua tática de conquista?
— Não custa nada tentar conquistá-la pelo estômago. — Arreganhei os
dentes, como se fosse um predador e ela emitiu uma risadinha. — Quer mais
um pedaço?
— Não, obrigada — fez um gesto com a mão —, não aguento mais
nenhuma garfada sequer.
adotado.
— Nossa, já está tarde — falou ao olhar no relógio de pulso e se
erguer. — Perdi completamente a noção de tempo.
Aproximou-se de mim, parando na minha frente.
— Eu também — sussurrei.
— Acho que vou nessa — murmurou e eu senti uma onda de decepção
me invadindo. — Você deve estar cansado depois de preparar esse banquete.
pela sensação de que eu havia estragado tudo com ela, outra vez.
Capítulo
curva do meu pescoço ou o topo dos meus seios enquanto suas mãos grandes
e fortes me tocavam indecorosamente.
Balancei a cabeça, forçando-me a não me deixar levar por essas
fantasias mais do que absurdas de se ter com o meu vizinho, porém a
recordação dos vários momentos de tensão sexual durante aquele jantar, dos
olhares lascivos de Derek sobre mim, tornava ainda mais difícil de mitigar
aqueles pensamentos impróprios e de afastar as sensações perturbadoras que
se espalhavam pelo meu corpo.
— Droga, Iandra — falei baixinho para mim mesma —, você é mais
forte do que isso.
Sou uma idiota por desejá-lo, mesmo que Derek estivesse com certeza
mentindo descaradamente, mil vezes burra por não ter aprendido a minha
lição duramente ministrada por ex-namorados e ficantes igualmente
cachorros.
No entanto, mesmo estando ciente do meu papel de palhaça, aqui
estava eu com as pernas ainda bambas e prestes a emitir um suspiro por
causa de Derek Sommerfeld, o que era mais patético.
precisava de pelos menos uma caneca fumegante de café, o que faria com
que eu encarasse o trabalho que havia pela frente.
Atingir o meu objetivo na empresa deveria ser o meu foco, não o fato
de imaginar qual seria a sensação de ter os lábios de Derek sobre algumas
partes do meu corpo.
Depois de colocar a cápsula na máquina, sentei-me na ilha e batuquei
meus dedos no tampo enquanto aguardava, e esse tempo ocioso fez com que
vários flashes da noite surgissem diante dos meus olhos, porém nada podia
fazer, parecia inevitável. Ignorei o sentimento de que estava me
Sorri ao ler as palavras erradas e frases incompletas, faltando algo, e
rapidamente respondi com um “Já estou em casa”. Sabia que ela não
hesitaria em me ligar, e assim ela o fez.
— Mas já? — falou em um tom de voz muxoxo e eu não contive uma
risada baixa, imaginando que ela fazia uma careta.
Tinha me esquecido o quanto a senhorinha estava mais ansiosa do que
eu pelo jantar. Se fosse honesta comigo mesma, até algumas horas atrás, eu
estava hesitante se deveria ou não ter ido, porém ela me azucrinou tanto que
acabei cedendo. Sem dúvidas, uma partezinha de mim tinha que agradecer a
ela por insistir, dizendo que seria muito feio eu inventar uma desculpa de
última hora. Na verdade, Ruth havia me ameaçado, dizendo que não iria
falar comigo por uma semana se eu não fosse aquele jantar.
— Não são nem onze horas da noite — continuou naquele timbre
decepcionado.
pensamentos.
Como sabia que ela não descansaria enquanto não contasse o que
eu sabia que ela estava deixando-se levar pela sua imaginação romântica,
confirmado pelas suas palavras seguintes: — Quem sabe…
Gargalhamos.
— Isso não significa que você não possa ser…
— Passei dessa fase há muito tempo, Ruth — falei em tom divertido.
— Se fosse na época da faculdade...
— Serei uma boa vizinha. — Foi a única coisa que prometi a ela.
Tinha que ser racional por nós duas e cortar qualquer esperança que ela
mesmo?
— Não.
Fico feliz que tenha se divertido, Iandra, mas vou desligar, estou morrendo
de dor de cabeça, embora tenha me esquecido disso por alguns momentos.
Achei graça do seu esquecimento.
partes para não fazer com que a senhorinha romântica imaginasse coisas que
não ocorreriam entre nós. Não estava em um livro para viver um romance
com o meu vizinho gostoso, e eu não seria mais uma na lista de mulheres
que ele levou para a cama, lista que Derek Sommerfeld começou ainda na
desejos, e não cederia aos impulsos do meu corpo que, de alguma forma
insana, parecia atraído pelo dele.
madrugada inteira de trabalho pela frente, mas, para o meu desespero, toda a
minha concentração foi roubada por um par de olhos negros brilhantes, um
cheiro nauseante do seu perfume caro. — Pelo que fiquei sabendo, nenhuma
dizia, porém havia algo em seu olhar que fez com que eu temesse que ele
estivesse certo.
— Sim. — Seu sorriso ficou maior. — E adivinha quem estará à frente
da campanha da Lemon?
Gargalhou ao citar a principal empresa agenciada por nós. Eu tinha
que admitir que ser a responsável por pensar a divulgação do novo produto
deles — que ainda era um segredo para todos — seria um sonho para mim e
alavancaria ainda mais a minha carreira.
— Você? — Forcei-me a perguntar, ainda que soubesse a resposta.
Assentiu.
frangalhos.
— Importa?
— Não, de fato, não.
enquanto fazia uma prece para que fosse mentira, mas algo dentro de mim
sabia que, infelizmente, não era um pesadelo.
Não conseguiria minha sonhada promoção e veria aquele babaca se
dando bem.
atenção.
Estava ferida e magoada demais por nem ao menos saber o porquê de
eu estar sendo demitida daquela maneira tão fria, depois de quase dois anos
dedicados à empresa. Estava prestes a chorar.
ouvidos.
— Não te falei? — Alec gracejou, gargalhando.
Eu apenas passei por ele, esbarrando em seus ombros, como se fosse
aquele objetivo, e isso fez com que eu chorasse ainda mais. Me sentia vazia,
sem perspectiva.
Capítulo
— Não imaginava que até aqui você iria ser tão careta, Derek —
Frederick zombou ao tomar um longo gole da sua cerveja e os outros
gargalharam, porém não dei a mínima por ser o alvo dos gracejos dele. —
Até parece o meu avô.
— Se eu me recordo, ele é muito mais animado do que esse daí — um
outro professor falou e apontou para mim. — Não é ele que está pegando
uma novinha?
— Ele mesmo — cuspiu Frederick e os caras riram novamente, mas,
dessa vez, não contive a minha risada, por mais que soubesse que estava
fora.
— Quem sabe da próxima — falou ao se sentar, convencido,
apontando para o próprio peito. — Ninguém resiste ao Brad aqui.
Mais risadas. Pelo menos ele não era um filho da puta por insistir.
— Porra, essa é gostosa — Fred sussurrou tempos depois, e vi que
praticamente todos os caras se voltaram na mesma direção.
— Demais.
— Acho que vou tentar minha sorte — Brad disse em um tom lascivo.
Mesmo que não estivesse interessado na tal mulher, já que eu estava
Merda! Ela estava bêbada, e muito bêbada, já que quase caiu ao dar
um giro, esbarrando em um pirralho no processo, que aproveitou o contato
para ajudá-la a ficar de pé. Sorte do homem que ele não se aproveitou dela,
pois eu era capaz de arrebentar a cara dele. Sem pensar muito, erguendo-me
em um salto, peguei minha carteira e joguei algumas notas de cem dólares
em cima da mesa.
— Que isso, cara? — Fred segurou o meu braço. — Estava só
brincando em relação a conta.
— E eu falei que ia chegar nela primeiro — Brad resmungou.
Me desfazendo do toque de Frederik, não respondi nenhum dos dois,
apesar que estava ciente de que seria questionado por isso depois, e apenas
caminhei em direção a Iandra, que continuava a rebolar, jogando a cabeça
para trás, ao passo que sentia a minha tensão aumentar a cada passo que eu
dava.
Não tinha ideia de como ela iria reagir a minha presença, ainda mais
quando estava determinado a levá-la embora dali. Provavelmente ela não me
seguiria de boa vontade, pois conhecendo-a, ela me xingaria até que minha
orelha ardesse, mas minha consciência não me deixaria em paz se eu fosse
embora sem ela, deixando-a naquele estado, que eu tinha quase certeza de
que Iandra se lamentaria depois. Nunca a deixaria sozinha e vulnerável onde
ela não estava em seu juízo perfeito, essa frase me deu a certeza. Para a
minha decepção, a Laranjinha ácida que eu conhecia nunca diria algo assim
para mim espontaneamente, por mais que eu fosse adorar vê-la implorar pelo
meu corpo, pelo meu toque e pelos meus beijos.
seus lábios. Porém, para o meu desespero, ela segurou-me pelos quadris e
trouxe-me de encontro à sua pelve. Trinquei os dentes.
Outra vez, sem esperar resposta, tentou roçar sua boca na minha,
porém a impedi, colocando um dedo sobre os seus lábios.
que ela estivesse sóbria e quisesse realmente o meu beijo tanto quanto eu
queria o dela.
— Oh!
Deu uma risadinha e seus olhos brilharam, antes de levar a mão à
— Então não há razão pela qual nós não podemos nos beijar, Derek…
— disse com uma voz pastosa, e fitou os meus lábios com cobiça. Aquilo
— Você?
Cruzou os braços na frente do corpo, ressaltando seu busto pequeno.
Desviei minha atenção dos seus seios para o seu rosto, a tempo de vê-la
soprar uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto.
outra vez.
cambaleou com o seu movimento. Tomando uma liberdade que não deveria,
envolvi seus quadris para firmá-la para que ela não corresse o risco de ir ao
chão. Laranjinha aproveitou para agarrar-se a mim, e seus seios, a cada vez
que desequilibrava, roçavam no meu peitoral. Ignorando as sensações
repreenderia a Laranjinha na minha frente por algo tão banal e que poderia
acontecer com qualquer um. — Ela perdeu a comanda. Que podemos fazer
nesse caso?
— A casa cobra uma taxa para cobrir eventuais despesas, senhor —
perdi.
— Entendi. — Pareceu mais conformada.
poder abrir a porta para ela. De alguma forma, me senti aliviado com o fato
dela não relutar em entrar. Inclinei-me sobre ela, para passar o cinto de
segurança pelo seu corpo, e por alguns segundos nos fitamos, nossos rostos
ficando próximos um do outro, tanto que pude sentir sua respiração quente
sobre a minha pele. Aprumei-me rápido antes que fizéssemos algo que nos
arrependêssemos.
— Você deveria me deixar dirigir esse carro algum dia, Derek. Acho
que nunca estive em um veículo tão luxuoso. — Comentou quando dei
partida. Com o canto do olho, a vi deslizar um dedo sobre o painel, mas logo
voltei total atenção ao trânsito. Ainda que a via OH-315S não estivesse
carregada devido o horário, todo cuidado era pouco.
— Só me pedir, doçura — falei ternamente.
um elogio, mesmo que talvez não quisesse ter dito, para tirar-me do eixo e
fazer com que um sorriso babaca e arrogante surgisse em meus lábios.
Merda! Isso me excitou.
— Mesmo? — Minha voz soou rouca depois de alguns instantes em
Empurrando a porta com o pé, a abri e usei a lateral do meu corpo para
escancará-la ainda mais. Um latido ecoou nos meus ouvidos e isso foi o
suficiente para que a mulher no meu colo voltasse a falar comigo: — O quê?
— Parecia aturdida, e enlaçou o meu pescoço com um braço, como se
cachorro roçando na minha perna antes de ter as suas patas sobre mim; sem
dúvidas estava curioso com a situação toda.
— Eu gosto de Charlie — murmurou.
que era perante aquela mulher, que estava a ponto de chorar de novo, acabei
concordando, mesmo que tivesse certeza que a minha consciência me
martirizaria depois. De alguma forma, tinha que dar graças por Iandra não
cobrar o beijo que tinha prometido a ela.
dormi também.
Capítulo
minhas pálpebras.
Queria desesperadamente voltar a aquele torpor gostoso que havia me
lábios e eu escutei sons que, embora fossem baixos, eram absorvidos como
gritos pela minha mente.
Recebi uma patada e logo senti algo subindo em cima de mim e
estava seca.
minha face.
Não respondi.
familiares que me dariam a sensação de que pelo menos uma coisa não
estava fora de lugar, porém não reconheci as paredes pintadas de cinza
chumbo, muito menos o local. Uma onda de pânico me invadiu e eu
finalmente pousei os olhos sobre Derek.
Sentado em uma cadeira num canto com um livro na mão, ele tinha
momento senti que minha pulsação acelerava por vê-lo assim, porém acabei
alguma vez tive uma dor tão intensa quanto essa, misturada com tontura.
uma pausa, seu sorriso cachorro ficando ainda maior. — Acha que fiquei
sexy com eles? Gostoso?
Era uma provocação, e o brilho nos olhos dele revelava que ele não
pelos meus lábios, ainda mais quando me encarava com uma expressão
safada por trás dos óculos que davam a ele uma aparência mais séria. Derek
O encarei, confusa.
— Do que está falando?
— Digamos que você admitiu sua atração por mim, não só com
palavras, mas também com atitudes. — Fez um gesto tirando importância
as mágoas, que foi seguido de vários outros, porém foi a recordação borrada
de eu tentar beijá-lo e agarrá-lo que fez com que eu quisesse que o chão me
tragasse, fazendo com que eu sumisse. Não tinha direito de fazer o que
tinha feito, agindo de maneira mais do que abominável com Derek, mesmo
era para eu aprender a não ultrapassar limites, não só do meu próprio corpo,
mas também o do espaço dos outros.
los contra os meus. Ele continuou a falar, dessa vez, em um tom rouco,
aproximando mais seu rosto do meu, enquanto seus olhos escuros
dor de cabeça.
Piscou para mim antes de virar as coisas e me deixar sozinha no
bastante sóbria para um homem de trinta anos como ele — voltei a cabeça
vísceras se revirarem e o desânimo, que tanto quis sufocar, caiu sobre mim
com toda a sua força. A tristeza só foi mitigada um pouco quando escutei o
direção, pulando com agilidade sobre a cama para depois parar no meu
colo.
horta.
passos de Derek. Meu olhar foi direto para a porta, expectante. Meu coração
bateu mais forte ao ver o homem entrar carregando uma bandeja, que não
só continha o chá e os remédios, mas várias outras coisas. Ruth, sem dúvida
nenhuma, acharia extremamente romântico aquele gesto de cuidado e
do que preocupada comigo, por eu não ter mandado uma mensagem de boa
tom divertido, tão contraditório ao seu tom sedutor que, por um momento,
trabalho, ainda mais quando eu já exigi tanto. Eu acho que ainda não
agradeci por me trazer para casa, ou melhor, para a sua, que é um lugar mil
vezes mais seguro do que o bar.
abriu um sorriso suave. — Pode não parecer, mas, assim como o Charlie,
risco quando fiquei tão bêbada. Havia muitos que aproveitariam de uma
pessoa em estado vulnerável para cometer maldades e, tendo em vista o
quanto eu não tinha nenhum controle sobre mim mesma e das minhas
camisinha, poderia até ser induzida a não a usar, o que seria imperdoável
para mim. Tremi só de pensar nisso e que poderia ter acontecido algo até
pior.
Pude perceber pela expressão triste e distante dele que Derek também
tão gentil, tão doce. Mas, estranhamente, mesmo que eu não conhecesse
Deu uma risada baixa, mas subitamente parou; devo ter feito uma
careta de dor.
— Beba, te fará bem. — Apontou para o caneco com um líquido que
vontade apertar.
— Onde é o banheiro? — questionei, um pouco aflita.
mim, latindo.
estilo. Igual ao quarto, era austero e elegante. Senti uma onda de alívio me
invadir ao sentir a minha bexiga esvaziar, eu suspirei por não ter feito ainda
mais merda como urinar nas calças.
O xixi não parecia acabar nunca! Assim que terminei, fechei a minha
calça e, após dar descarga, me voltei novamente para a pia. Fiz uma careta
ao olhar para os meus cabelos desgrenhados, as enormes bolsas roxas sob
mais limpa, mas sabia que só um banho demorado de banheira com vários
sais e óleos me ajudaria.
realmente louco por sentir atração por isso, e ainda dizer palavras altamente
eróticas para aquele trapo de mulher. E eu mil vezes mais fora do meu juízo
para o meu centro. E, quanto mais eu me deixava levar por elas, mais calor
eu sentia.
Droga!
com que eu quisesse sair correndo e nunca mais ficasse frente a frente com
ele. Talvez realmente fizesse isso. Mas obriguei-me a não fugir e resolvi
escovar meus dentes. Joguei uma água na cara também, buscando aparentar
o meu caso — brinquei com ele. Automaticamente, meu olhar recaiu sobre
o homem, que se encontrava confortavelmente sentado na sua poltrona,
como se fosse um sultão esperando que sua concubina o servisse. Senti-me
mortificada ao pensar em mim naquele papel e apenas completei: — E um
chá também.
Sob o olhar avaliativo de Derek, que me percorria de cima a baixo,
amarga demais.
— Tem mel e açúcar na bandeja para adoçar. Já que não sabia das
acontecendo comigo?
— E então? — indagou, parecendo sério, depois de permanecermos
Uma dor me invadiu ao lembrar que tudo aquilo que fiz, que toda a
minha dedicação, todas as minhas noites insones tinham sido em vão, e que
teria que recomeçar tudo outra vez. Teria que encontrar forças para tal.
melhorar o sabor, e resolvi abrir o jogo com o meu vizinho, ele merecia
isso. Fora que era uma pergunta completamente inocente para se recusar a
responder, além da preocupação evidente em seus olhos escuros.
— Você deve se lembrar que eu disse que não havia nada mais que eu
desejava no mundo do que a minha promoção — comecei, sentindo as
lágrimas se formar em meus olhos.
— Sim, Laranjinha…
— Ela não veio, pelo contrário, eu fui demitida, Derek. — Uma
risada estridente, escapou pelos meus lábios, o que aumentou a minha dor.
minha cabeça, plantando um beijo nos meus cabelos. — Você é uma das
pessoas mais inteligentes que conheci. Com o passar do tempo, eles vão
perceber que perderam uma excelente profissional.
— É somente a verdade.
Seu braço puxou-me mais de encontro a ele, colando a lateral dos
nossos corpos ainda mais, porém não protestei, apenas respirei fundo,
— Apesar de Columbus não ser uma cidade tão pequena assim, não
posso dizer que é cheio de oportunidades na minha área. — Fui sensata. —
Talvez eu tenha que me mudar daqui.
Não te vejo falando dos seus negócios somente para se gabar. Tanto você
quanto seu irmão parecem ser bem discretos sobre os seus investimentos,
empresas e fortunas. — Fui sincera, recordando-me de que, apesar da mídia
— Entendo.
Mil ideias passaram pela minha cabeça, principalmente ao recordar o
quão a empresa pouco explorou o seu potencial em termos de publicidade.
— E quero que a pessoa que esteja a frente dessas ações seja você. —
Seu tom tinha um quê de empolgação e expectativa, o que fez com que eu
parasse instantaneamente com a minha mutilação mental.
— Não era eu quem estava chorando e que enchi a cara por ter sido
substituída por um parente?
— É difer…— interrompi-o, colocando um dedo em seus lábios, não
oportunidade dessas, que sem dúvida nenhuma seria um sonho, mas não
seria honesto. Você não conhece o meu trabalho, meu currículo. Me
contratar seria dar um tiro no escuro, ainda mais para um cargo que nem
mesmo sabe se estou apta. Fora que deve ter alguém…
— Não, não conheço ninguém que se destaque a esse ponto, Iandra.
— Se for o que você realmente quer, juro que não mexerei nenhum
pauzinho. — Arqueei uma sobrancelha e ele ergueu as mãos em um gesto
de redenção. — Nem eu e nem Marshall participaremos do processo de
seleção.
— Mesmo?
— Sim, Senhorita Difícil.
quero esperar nem mais um minuto para tomar banho. Não sei se consigo
aguentar mais esse cheiro horroroso.
— É, está difícil mesmo.
vocês demais e está mesmo na hora de voltar para a minha casa — falei, me
erguendo da cama.
— Não irei insistir para que fique mais, Laranjinha. — Ignorei o tom
cruzados em frente ao corpo, em uma postura que achava que ele fazia só
para se exibir. E conseguia, pois saí e fiquei parada ali na entrada da casa,
observando as linhas que delineavam sua força, perdendo o ar com a
lembrança de que eles estiveram me abraçando. Peguei-me imaginando
mais, Laranjinha.
— Eu…
— Diga tchau para Iandra, Charlie. — Interrompeu-me, mas o mais
um pouco achatada, tinha carne para pegar. Corri em direção a minha casa,
como se estivesse fugindo de um demônio, quando a imagem das minhas
ouvi assim que Ruth abriu a porta da sua casa para mim.
Era uma repetição, já que a minha melhor amiga havia falado a
mesma coisa por telefone, porém estava ciente de que por muito tempo
ainda a ouviria bater na mesma tecla, mas não me importava. Estava grata
demais por ela ter tanto carinho por mim ao ponto de ralhar mil vezes
comigo, me perguntando o que eu tinha na cabeça para me embebedar
daquele jeito, e também por perder o sono por minha causa pela
preocupação, como se fosse minha mãe.
— Te liguei várias vezes, mandei mensagem...
Suspirou profundamente.
— Eu sei, me desculpe — reiterei baixinho, ao ver a sua expressão
fato. — Você sabe que gosto muito desses momentos “mãe e filha”.
Não contive um sorriso para ela.
— Assim está melhor. — Apertou a minha bochecha. — Mas não
pense que irá me enrolar. Quero saber cada detalhe de como você foi parar
na cama de Derek e o quão doce ele foi.
Suspirou, apaixonada, e eu apenas maneei a cabeça, conformada. Era
óbvio que Ruth não iria se contentar com o resumo que fiz por telefone. E
eu contei tudo enquanto comíamos bolinhos e maratonávamos alguns
filmes. Acabei saindo de lá bem tarde da noite, com a ameaça de que se eu
não enviasse meu currículo para a empresa de Derek, a doce senhorinha
ficaria dois meses sem olhar na minha cara. E esse era um risco que ela
sabia que eu não iria querer correr.
Capítulo
— O que foi aquilo no bar, cara? Quem era ela? — Mal entrei no meu
gabinete, Fred apareceu, começando a me interrogar.
porta.
Porra! Era pedir demais que eles não me questionassem sobre aquilo?
O rosto curioso de Frederik dizia que sim.
ouvi-lo falar de Iandra daquela maneira. Não que a Laranjinha não fosse
gostosa, ela era e muito, mas ouvir da boca de outro homem o quanto ela
era sexy e que o corpo dela era lindo fez com que eu enxergasse tudo
vermelho. Continuei calado, mas ele insistiu.
— Cara, quem era aquela mulher que você saiu arrastando da pista
era minha, mas na verdade ela não era. Ainda não, uma voz malévola
merda!
faria isso.
o que fazer para ficar perdendo o meu tempo fofocando sobre a minha vida.
— Sim.
— Mentiroso!
— Nada.
— O modo como você…
— Deu para ver. — Riu, o que me fez ficar ainda mais irritado com
ele.
— Não tem uma aula para preparar, não? — Fui sarcástico. — Uma
pesquisa para fazer, algum trabalho para corrigir?
— Agora sei que sim. — Ele gargalhou alto, ferindo meus ouvidos.
— Te garanto que minha noite foi melhor que a sua. — Fiz uma
— Será?
— Tá. — Ergueu as duas mãos e deu passos para trás, indo em
direção a porta. — Vou deixar você em paz, mano. Está com um mau
humor terrível.
antes que eu pudesse pegar meu porta-canetas e jogar nele, de tão irritado
que me deixou, ele saiu do meu gabinete, fechando a porta atrás de si.
É, o dia prometia ser longo, muito longo…
Capítulo
informações gerais.
— Compreendo.
de destaque.
que nenhum deles pôde, na gestão anterior, expressar suas opiniões, exercer
boca do meu estômago. Sabia que era um sentimento irracional, ainda mais
quando eu não faria nada além de compartilhar a notícia com Derek de que
conosco.
Mentirosa! Não convidará apenas por educação! E algo dentro de
você espera que ele não recuse seu convite. Esse pensamento ecoou na
minha cabeça e eu o empurrei para o fundo da minha mente. Estava ciente
que me eram tão conhecidos, e que, nesses quase dois meses em que ele
morava ali com o seu dono, de alguma forma estava aprendendo a amar. Ele
poderia não ser o meu mascote, mas foram várias as vezes que o cachorro
adentrou a minha casa pela portinha que havia nos fundos, pedindo por
a voz brincalhona de Derek. — Acho que ele nunca fez tanta festa desse
jeito para alguém que não fosse você.
— Por que nos amamos, não é mesmo, querido? — Puxei as
bochechinhas dele suavemente, formando um sorriso.
longamente para o torso dele, que estava desnudo, o que não era uma
novidade, já que ele gostava de ficar sem camisa em casa. Pela expressão
do meu vizinho, soube que ele não tinha falado aquilo para me provocar.
Derek parecia considerar a ideia absurdamente atraente.
— Não por isso, Iandra. — A voz de Derek soou rouca e ele segurou
quero que você se sinta desconfortável com o meu toque, com as minhas
feito meu coração disparar no peito, porém não cometeria a burrice de dar
um sexo bom.
tempo em silêncio, em que, por mais que eu tentasse negar, a tensão sexual
Mas ele tinha que destruir o clima ameno, me dando uma piscadela de
um olho só e abrindo aquele sorriso que era capaz de fazer a minha
estrutura estremecer.
Cachorro safado!
— Você não poderia ter essa certeza toda, Derek — forcei-me a dizer.
Deveria ter confiado em mim e nos meus instintos logo de cara, Laranjinha.
Nunca falho!
Arqueei a sobrancelha, mas não insisti naquele assunto, que não nos
— De toda forma, Derek, agradeço por você ter me falado sobre essa
oportunidade. — Voltei a usar um tom animado. — Eu estou
peito.
Ri, fazendo com que ele gargalhasse também e o animalzinho, que até
— Que pena.
“ribeye”[9] deles.
Derek. E não podia negar que era igualmente fofo, principalmente quando
meu horror, soou bem apaixonado aos meus ouvidos. Usando de tato, ele
não teceu nenhum comentário, porém seus olhos revelavam que não passou
despercebido e que tinha gostado de saber que eu não era imune a ele.
— Você e Ruth vão juntas? Posso dar uma carona para as duas. —
da última vez.
Jogou a cabeça para trás e gargalhou, fazendo com que eu risse
Dei de ombros.
me disse que você tinha chance com ela. — Foi a minha vez de piscar.
— Quem sabe ela tem uma amiga solteira. — Coçou a barba rala,
olhando fixamente para mim, deixando claras suas intenções, mas não iria
cair no jogo dele.
engano, Ruth me disse que a Mariele está solteira. Acho que ela só tem
oitenta anos.
Fez uma careta de desgosto e passou uma mão pelo peitoral desnudo.
de mim mesma, chegando à conclusão que não havia por que recusar a
oferta.
— Então podemos sair daqui sete e meia, o que acha?
— Claro.
Antes que pudéssemos dizer qualquer outra coisa, tomamos um susto
quando Charlie apareceu carregando na boca a panelinha dele de comida, a
batendo na porta.
— Ele está sempre com fome. — Derek fez um muxoxo. — Faz nem
uma hora que ele comeu biscoitos.
— Não vamos deixá-lo esperando mais. Vou indo, eu estou doida para
remover esses sapatos. — Apontei para os bicos finos.
O olhar dele recaiu nos meus pés por alguns segundos, antes de voltar
vai precisar.
Fez um barulhinho e eu encarei o animal através do espelho, o
dois, rapidamente alcançando a entrada. Meu coração batia com tanta força
e minhas mãos estavam tão suadas que eu quis rir da minha cara. Abri a
necessitava.
Escutando o barulho na casa ao lado, todo o meu foco se voltou
aqueles olhos verdes, ressaltados por algo que não tinha capacidade de
ainda mais gostosa. E eu tive a certeza que um dia teria que beijar a boca
daquela mulher, mesmo que fosse a última coisa que fizesse na vida.
— Boa noite, Derek — falou ao se aproximar.
Porra! Eu deveria estar babando, pois ela ergueu uma sobrancelha
para mim e eu fiquei sem jeito por ser pego em flagrante.
clima.
de verdade.
Eu não parava de olhar abobado para aquela mulher, de sorrir quando
falava dela. Marshall tinha me dito que já era para mim, mesmo que
certo.
arriados.
— Uma cantada bem ruim, diga-se de passagem. — Enrugou
defendendo-me.
O arquear de sobrancelha demonstrava descrença.
— Vamos? Ruth disse que eles já estão lá nos aguardando.
Fiz sinal para que fosse na frente, então começou a andar em direção
a garagem. Educadamente, eu a segui, mas olhando de modo nada
minhas fantasias com aquela mulher, que já não eram poucas e me faziam
correr direto para o banheiro, onde eu ligava o chuveiro para abafar os sons
que escapavam pelos meus lábios quando eu rodeava meu pau e me
ereção. Não que seria uma novidade para mim se isso acontecesse, já que
Iandra me deixava em constante estado de excitação simplesmente pelo fato
carro e pisei no acelerador. — Mas falei que eles não precisavam nos
esperar, para já podiam pedir os aperitivos.
— Entendi.
outra vez ao saber que Iandra não era imune a mim, que a atração era
recíproca. Presunçosamente, eu sabia que essa tensão só terminaria de uma
— Sério?
— Por que a surpresa, Laranjinha? — provoquei-a.
— Imaginava que seu estilo fosse outro. Rock ou música eletrônica.
percorresse, mesmo que a intenção não tenha sido com cunho sexual. No
entanto, havia uma intimidade imensa naquele ato, que infelizmente foi
nós dos meus dedos ficarem brancos, lutando contra mim mesmo para não
parar o carro e trazer de volta a sua mão para o meu corpo. Sem medo, sem
emocional.
A risada alta dela ecoou por todo o carro e eu soube que era uma
pilhéria.
— Você precisava ver a sua expressão.
aticei-a.
Bufou, e foi a minha vez de rir.
prazer.
o refrão com a sua voz desafinada, que doía nos ouvidos. Concluí que feria
as mulheres continuavam a conversar entre si, estendo a mão para ele, que a
pegou.
— Você parece muito diferente, Derek. — Sorriu. — Menos rebelde.
costas.
por lá.
— Depois da faculdade, morei um tempo em Nova York. Faz dois
por você estar de volta. Você e Marshall são muito queridos para mim.
Agora deixe-me cumprimentar essa menina linda, a razão dessa pequena
comemoração.
Sorrindo, Iandra cumprimentou Max com um beijo no rosto e
me curiosa.
sentar.
Tomando a iniciativa, puxei a cadeira para a Laranjinha se acomodar
roçando no braço de Iandra, e aquele pequeno contato foi como atear fogo
em mim. Quando se movimentou, voltou a encostar em mim. Nos
— Então é você o bonitão que tem feito a Ruth suspirar por aí? —
infelizmente para o meu pobre coração, me disseram que não tenho mais
nenhuma chance.
Max gargalhou, levando na esportiva.
quanto o deles parecia ser. Mesmo que o meu último namoro tenha me
ferido, e de certa forma tenha sido desleal e abusivo, não havia perdido as
esperanças.
— Mas felizmente, Iandra me disse que você tem uma amiga para me
apresentar e que está disponível para um encontro — continuei a
brincadeira.
— Mesmo? — Os olhos da mulher mais velha cintilaram, animados.
— Posso saber quem?
— Derek — a Laranjinha disse em um tom de aviso.
entredentes.
Virei-me para ela, que tinha o cenho franzido de desgosto.
Movimentando meus ombros, dei um sorriso lascivo.
gesto.
— Obrigada a vocês — Laranjinha falou suavemente e as nossas
quatros taças começaram a bater umas contra as outras. — Eu realmente
mesmo.
— Realmente a comida daqui é divina — Laranjinha comentou
tempos depois. Nossos braços se encostaram novamente quando fomos nos
— Não vai dizer que não gosta de ser chamada de sereia? — Iandra
provocou a amiga, que ficou extremamente vermelha.
Temi que Ruth estivesse tendo um ataque na mesa.
encantos.
Ela deu uma risadinha. Com o canto do olho, percebi que Iandra
olhava carinhosamente para os dois, parecendo emocionada.
— Te entendo, Ruth — falei ao terminar de mastigar, tentando
quebrar um pouco do clima que havia ficado no ar.
— Mesmo? — Ela demonstrou curiosidade.
não vimos o tempo passar. Não pude negar que me divertia bastante,
principalmente diante dos comentários ácidos e inteligentes de Laranjinha.
Porra, estava cada vez mais fascinado por essa mulher, tanto que não queria
que aquela noite acabasse, pois poderia ficar várias horas ali conversando,
rindo, provocando a todos, e ela principalmente a mim.
Com Iandra, me descobria livre para ser eu mesmo, sem rótulos.
Apesar das cotoveladas e suas respostas ácidas, Iandra não chegava a ser
tóxica, ou abusiva, nem mesmo manipuladora. Como no nosso primeiro
jantar, percebia que havia uma mulher doce, carinhosa, amiga e leal por
própria comemoração.
Era um pensamento conservador, mas claramente ele tinha sido
moldado em uma outra época. Não que muitos dos seus contemporâneos
bancar o “cavalheiro”.
— Ficará muito caro, Max. — Iandra fez um gesto negativo. — Não
posso aceitar tal coisa.
risadinha.
— Não sou a sua dama, Derek — Laranjinha retrucou, franzindo o
cenho para mim.
mas a risadinha de Ruth me indicava que talvez não tenha sido tão bem-
sucedido assim.
Laranjinha não teceu mais nenhum comentário e, a pedido de Ruth,
carranca ao perceber que muitos homens viraram para olhá-la, e percebi que
admiravam principalmente a bunda tentadora. Não tínhamos nenhum
envolvimento, mas, ainda assim, eu senti um ciúme irritante. Assustou-me
perceber o nível de possessividade que nutria por ela, ainda mais quando eu
sempre fui bastante tranquilo em relação a esse aspecto de um
relacionamento. Mas, como dizem por aí, tudo tem uma primeira vez.
para dar de gorjeta. — Não fui muito gentil com ela no passado.
— Sei. — Foi a vez de Max pagar e agradecer ao garçom. — Você
realmente foi um adolescente problemático, lembro bem disso.
— Lê revistas de fofocas?
— É um bom passatempo para um velho como eu, assim como a
pescaria. Temos que combinar de irmos pescar algum dia.
— Okay.
Ergui-me e a segui. Outra vez, a comi com os olhos, e quis rosnar
para os homens que faziam o mesmo.
sua recusa. Não via nada de ruim na ideia de andar de mãos dadas com ela
em um lugar apenas iluminado pelas estrelas e uns poucos postes,
principalmente gostei muito da parte de darmos uns “beijinhos”. Seria
cutucou.
— Claro que não — concordei com ela, mas podíamos pegar um
caminho diferente, o que não seria constrangedor para ninguém.
— Desculpe, Ru.
— Está tudo bem. — Laranjinha interveio. — Se divirta, querida.
Despedimo-nos com abraços, beijos e apertos de mão e, tomando a
— Oi?
— Quer dirigir? — Joguei a chave para ela, que a pegou por reflexo.
Olhou-me atônita.
havia deixado o jantar ainda mais divertido. Ele tinha uma personalidade
olhar dele ficou ainda mais intenso, sua expressão séria. Respirei fundo, e o
boca em um selinho. Era um toque suave, mas que foi capaz de me deixar
seus lábios nos meus, moldando-os, testando o nosso encaixe, que parecia
derreter contra o assento de couro. Como eu agradecia por não estar de pé...
Se aqueles selinhos provocavam aquelas fagulhas, meu corpo todo já
antecipava o que sentiria no momento em que sua língua mergulhasse em
Aquele beijo urgente, que roubava o nosso fôlego, não parecia aplacar
o fogo irracional que nos consumia. Acariciei o seu couro cabeludo e o
provoquei ao lamber o céu da sua boca. Derek grunhiu, um som que me fez
estremecer, ao passo que o calor se tornava cada vez mais intenso. Seus
Usou a ponta dos dedos para fazer com que eu o encarasse. Deveria
me afastar outra vez, porém eu havia perdido as minhas forças. Notei que o
cenho.
— Sim — falei baixo.
— Por desejar fazer isso há muito tempo. — Começou a acariciar
meus lábios com o polegar, que formigaram, ansiando por sentir sua calidez
outra vez. — Desde que a reencontrei. Sabia que querer provar o gosto da
sua boca foi algo que me manteve acordado em algumas noites?
nos beijado.
Interrompeu o contato imediatamente ao ouvir as minhas palavras,
olhos.
precisava fazê-lo compreender porque nós não podíamos ter nada um com o
outro —, meu último namorado teve a cara de pau de esconder de mim, em
quase um ano de namoro, que ele tinha um filho. Que tipo de mau-caráter é
mim, mentiras ...— Não disfarcei o meu rancor. — Isso foi a pedra que
sacramentou a minha desconfiança. Tenho tentado lidar com esses
conheceu, Iandra. Não sou mais o galinha ou cachorro, chame como quiser,
que posso ver que você imagina que ainda sou. Tento não brincar com os
sentimentos do outro, nem mesmo enganar — disse seriamente. — Há anos
eu passei da fase de ter casos de uma noite. — Fez uma pausa, parecendo
relacionamento sério.
Não respondi, porque uma vozinha sussurrava na minha cabeça que o
fato de Derek dizer que ele estava em uma vibe mais “sossegada” era
apenas uma artimanha para me levar para cama.
sexo. Deveria me jogar sem pensar muito, me divertir, porém tentei uma
Foi natural para mim emitir uma gargalhada. Tinha que agradecer a
ele por dar leveza a um assunto difícil e espinhoso para mim.
havia me contado, mesmo que não quisesse saber. Me disse que ele havia
sido traído e que tinha sido bastante magoado pela ex. Porém, isso não
impedia que alguém que foi ferido não acabasse machucando outra pessoa.
Talvez um pedaço de mim ainda o julgava pelo que tinha acontecido no
era cedo. Cedo demais para ter certeza de que ele não me magoaria. Cedo
também entregar o meu corpo, para que, no fim, eu não me arrependa até
mesmo de deixá-lo me beijar, de me tocar…
Laranjinha — sussurrou.
Seus dedos procuraram os meus. Permiti que ele os entrelaçasse e os
apertasse suavemente.
ainda mais quando nós nos reencontramos há menos de dois meses, mas me
parece inevitável. Sei que não acredita em mim, já que algumas vezes me
personalidade, sua força e obstinação, seu humor ácido que eu bem mereci.
mim.
— Não posso negar que me sinto atraído pelo seu corpo, que eu quero
tocá-lo, beijá-lo, que eu quero fazer amor com você. — Seu tom soou
fui tragada por uma onda de calor que tornava a minha respiração mais
pressionar.
— Derek… — murmurei.
isso que respeito o fato de você precisar de um tempo para assimilar tudo.
Que precisamos de mais dias para nos conhecermos melhor, para que você
aceite meus beijos e meu corpo sem nenhum arrependimento.
mais aquele idiota, que não irei mentir para você como os outros fizeram —
pediu quando eu não disse nada. — Quero que você entenda que pode
confiar em mim e no meu desejo de ter algo sério com você, e que saiba que
trabalhava contra mim, emitindo vários sinais vermelhos. Tentei buscar nos
olhos do meu vizinho se estava brincando comigo, mas a única coisa que
Derek riu, batendo a cabeça contra o encosto do banco. Sorri por ele
com Ruth. O calor dos seus lábios úmidos se espalhou pela minha pele.
— Conquistador — murmurei.
— Cavalheiro. — A comissura dos seus lábios se ergueu, cheias de
diversão. — É diferente.
sozinha essa noite, para refletir sobre tudo, e também pensar na minha
carreira.
— Tudo bem. — Não escondeu a decepção. — Outra noite então?
Escutei alguns latidos abafados de Charlie, ele deve ter nos ouvido.
— Então é isso. — Colocou as mãos no bolso e ficou me encarando.
— Parabéns por ter conseguido a vaga e obrigado por ter me incluído na
pequena comemoração.
— Imagina, eu que tenho que te agradecer. Tenha uma boa noite,
Derek.
— Você também. Nos falamos por mensagem?
Concordei com a cabeça. Peguei minha chave dentro da bolsa para
abrir a porta.
— Laranjinha?
— Sim? — Virei-me com rapidez.
— Posso?
negociação e, depois de ter dado uma aula pela manhã, eu estava exausto.
Não que fosse algo comum a minha participação nesses encontros, mas, vez
compadeci dele.
sufocasse.
Estremeci.
quase duas semanas em que conversamos sobre nós dentro do meu carro,
muito mais para sabermos um do outro. Mas tinha que confessar que não
negar que aquele diabinho a fazia rir com suas lambidas, patadas e latidos
fora de hora.
Um friozinho surgiu no meu estômago, melhor, parecia que várias
meus lábios: — Por mais que tenha sido bastante difícil para mim não a
tocar, nem beijar sua boca, não passar os meus dedos naqueles fios macios,
não poder inspirar o perfume diretamente da sua pele... Porra, Marshall, não
sabe o quanto estou ficando insano com isso.
dela, um iraniano conservador, que veio com a sua família para tentar uma
vida melhor nos Estados Unidos há décadas atrás, a aceitar que um homem
Sorri.
— Eu também não me arrependo — sussurrei. — A cada dia que
passa, eu fico mais apaixonado pela Laranjinha, pela mulher fantástica e
sorriso torto. — Estou na torcida para que ela seja a pessoa certa para você.
— De alguma forma, sinto que ela é. — Provavelmente eu tinha uma
expressão abobalhada na face. — Caralho, se eu fosse Laranjinha teria
gargalhada também.
— O sonho da vovó era ver nós dois casados — Shall falou em um
verdade, realizar a vontade dela, por que o novo Derek, aquele que precisou
se tornar homem de uma hora para a outra, que largou a vida de playboy,
deixando de jogar a vida fora com bebidas e más companhias, passou a
desejar se assentar e compartilhar a vida com alguém. Porém, não foi
possível, não tivemos tempo. Ela não viu nenhum de nós casando, tendo
filhos... Charlie não contava para ela.
tocando.
— Não vai atender? — Apontei para o aparelho.
— Certo. — Pareceu contrariado, mas tirou o telefone do gancho. —
Sim?
— Não muito, mas ainda me dará uma bela dor de cabeça. — Sua voz
soou fria. Nesse momento, ele não era mais o meu irmão, mas, sim, o
empresário. — Mas não é nada com que você deva se preocupar. Não é
sobre nenhuma das empresas que pertencem ao rol dos seus investimentos.
Deixou sua cadeira e veio me dar um meio abraço. Dei vários tapas
— Não, mas…
— Só sugeri porque funcionou para mim. — Suavizou o tom. —
— Verdade.
Não tive tempo para falar mais nada, pois toda a sua atenção estava
Acenei em despedida para ele, mas acho que não viu, então tomei o
essas sensações em mim, algo que nunca havia sentido antes e que, apesar
de ser uma experiência nova, não era desagradável. Fiquei ainda mais
determinado em aproveitá-la ao máximo.
Capítulo
falando.
— Não sabe o quanto me alivia saber que não odiou. — Segurando a
alça da cesta, deixei um beijo em seu rosto, que automaticamente ela tinha
virado para mim, como se já esperasse.
corriam no gramado.
— Não será necessário chegar a esse ponto — disse ela enquanto eu
abria a cesta para tirar uma toalha lá de dentro. — Seria um exagero. Daqui a
pouco você vem com a ideia de fechar o parque inteiro para nós.
— Não é que gostei disso? — provoquei-a, estendendo o tecido sobre
a grama. — Pena que não pensei nisso antes. Seria bem romântico e
impressionável.
— Derek! — repreendeu-me, crispando os lábios.
Gargalhei.
— Não tenho culpa de ter gostado e muito da sua sugestão — meu tom
era empolgado —, eu me tornaria o homem do ano pelo meu romantismo.
A careta dela foi cômica. Ela se sentou, colocando o buquê ao lado.
Inconscientemente, acariciou as pétalas. Engoli um gemido baixinho ao
imaginá-la usando a ponta do dedo para acariciar-me. Droga.
— No futuro, me lembre de guardar minhas ideias só para mim —
falou acidamente.
Emiti um muxoxo, e comecei a remover as coisas de dentro da cesta.
— Lembrarei — murmurei. — Ou não.
— Derek! — Deu outro gritinho de indignação.
Abri a garrafa de vinho com o abridor eletrônico.
— Me acompanha? — Servi uma taça e estiquei para ela.
perdendo a pouca força que ainda me restava para resistir e não colocar tudo
a perder.
Abracei-a com mais força e fechei os olhos para não cometer uma
besteira.
— Sou obrigado a discordar. — Minha voz saiu rouca e fiz uma careta
de zombaria quando finalmente retruquei. — Duvido muito que você diria
isso depois de provar o “vinho” que eu e Shall tentamos fazer uma vez.
— Vocês eram crianças?
— Pré-adolescentes... melhor, eu era, já que meu irmão é quatro anos
mais velho. Mas imagine uma bebida horrível pra caramba. Não sei como
vovó não passou mal depois de tomar um cálice.
— Era tão ruim assim? — Ela parecia risonha.
— Além de aguado. Parecia que estávamos bebendo vinagre.
— Eca. — O narizinho dela se franziu. — Até perdi a vontade de
beber esse.
Contrariando a fala, levou a sua taça à boca e tomou um gole
generoso.
Suprimi uma risada. Fincando um palito em uma fatia de salame, levei
aos lábios dela, que não hesitou em morder um pedaço, então comi o
restante.
que teve de última hora, o que exigiu que ela fizesse várias modificações na
pesquisa de público que seria feita com algumas crianças em breve.
totalmente enfeitiçado.
Estava tão envolvido naquele encontro, que não tinha muito de
Iandra ainda era muito frágil se comparada a mim, mas perfeita para se
encaixar em meus braços.
movimentos quando uma nova melodia lenta e bem romântica ecoou. Ela
pousou o topo da cabeça debaixo do meu queixo, abraçando-me de volta.
importar, não quando estávamos tão próximos, que podíamos sentir o calor
um do outro, com as estrelas lançando sua luz sobre nossas cabeças e nossos
outro. Não havia nada além daquela conexão que crepitava entre nós, bem
como a percepção do que causávamos um no outro.
— Derek?
Seus lábios se entreabriram, convidando-me a prová-los outra vez.
por toda a linha da coluna, pelas curvas suaves do seu quadril e cintura.
Sentia a excitação correr velozmente pelas minhas veias, e só o fato de estar
meu desejo por ela. Não me recordava se alguma vez nos últimos tempos já
tinha tido tanta dificuldade assim para lidar com os impulsos do meu corpo.
Ou talvez fosse apenas aquela mulher de cabelos ruivos, como o fogo, que
despertava aquele desespero em mim. Ela me queimava, me incinerava, me
marcava com o seu beijo abrasador e com o calor das suas palmas tocando
os músculos dos meus braços.
Apertei-a ainda mais, e quando meus lábios deslizaram pelos dela, ela
enlaçou o meu pescoço e me puxou, aproximando nossos corpos ainda mais.
Suspirou e tomou a iniciativa, usando a ponta da língua para fazer com que
eu abrisse mais meus lábios para ela. Faminto pela minha Laranjinha, deixei
que ela mergulhasse na minha boca, tocasse cada cantinho, explorando-me
com calma enquanto tomava cuidado para que nossos dentes não se
chocassem. Com outro grunhido, infiltrei meus dedos nos seus cabelos soltos
e, segurando-a pela nuca, ajudei-a com o nosso encaixe, deliciando-me ao
quanto estava louco por ela, mas a salva de palmas, indicando o fim da
apresentação, me trouxe para a realidade de onde estávamos e que, um
lábios entreabertos, plantei um beijo na sua testa, fazendo com que ela
olhasse para mim. Mesmo na penumbra, não vi arrependimento na sua
expressão, o que me deu algum alívio, um conforto que nem sabia que
precisava.
— Sim.
com ela, até que seu corpo ficasse debaixo do meu, e eu capturasse
novamente seus lábios em um beijo exigente que nos deixasse bambos e
ofegantes.
A abracei, prendendo-a com força contra mim, meus braços parecendo
curioso para descobrir todas as suas reações a mim, porém apenas deslizei
— Não — falou baixinho, e foi a minha vez de tremer quando ela usou
o indicador para traçar a linha do meu pescoço. Meu pomo de Adão subiu e
desceu com o engolir em seco. — Desde que você seja apenas safado e
meu corpo.
— Eu tenho toda a intenção de ser safado e cachorro, Laranjinha —
outra.
Encarou-me por um bom tempo e, mesmo na penumbra, pude perceber
construir algo mais sólido. Sabia que apenas desejo não conseguia sustentar
uma relação, mas estava certo de que queria algo mais sério com ela.
— Acho que daqui alguns minutos o parque está fechando —
expressão pensativa, para logo sorrir. — Será que, com algumas ligações, eu
consigo fazer com que mantenham o parque aberto?
— Deus, isso de novo, Derek? Não! — Bufou, exasperada.
sou muito fã daquele filme, nem do humor, e muito menos do mocinho, que
está longe de fazer com que a gente suspire, apesar que, tenho que
reconhecer, as atitudes dele não são de todas ruins.
Fiz uma careta.
— Eu não preciso copiar nada. É apenas o que sinto.
— Que brega, Derek. — Fez uma pausa, infiltrando seus dedos nos
meus cabelos curtos. Supunha que seus olhos verdes brilhavam. — Mas eu
gosto desse seu lado cheio de breguice.
— Acho que já te falei que você ainda não viu nada?
— Hm.
iniciativa pela segunda vez, mesmo que ainda estivesse insegura em relação
a nós dois.
— Temos que ir. — Ela estava ofegante.
— Tá. — Soltei-a a contragosto e começamos a recolher as coisas,
e perverso surgiu em meus lábios, ao passo que várias imagens lascivas que
envolviam beijos, toques e corpos nus invadiam a minha mente.
— Hey, calma lá, cachorro. — Fez um som de reprovação. — Estava
— Que seria?
— Titanic, versão estendida. Que tal?
— Deus! — soltou — Vamos logo, antes que eu desista.
Gargalhando, apressei-me em dobrar a toalha, melhor, embolei-a de
poltrona, nem mesmo da mulher que estava alojada em meus braços, sua
cabeça apoiada no meu peito. Olhei para a face delicada, admirando as
sardinhas que salpicavam sua pele, encontrando os olhos dela fechados e
seus lábios, um pouco mais vermelhos do que o normal pelos beijos que
havíamos trocados não só durante a nossa volta mas também naquele mesmo
sofá, entreabertos.
Engoli uma risada enquanto a contemplava. Ela havia dormido. De
E foi com aquela visão dela que, mesmo sem jeito, acabei pegando no sono
também.
Capítulo
A dor da ausência era como uma faca cravada no meu peito e, mesmo
que tenha se passado três anos, saber que minha vovó não estava mais aqui
para comemorar outro ano de vida jogando golfe me dilacerava. Por mais
que eu e Shall tentássemos ressignificar essa data, mantendo aquela tradição,
que havia sido quebrada pelos vários tratamentos seguidos contra o câncer,
era extremamente difícil não desabar, não me fechar dentro de mim mesmo.
Posicionando os meus pés corretamente, balancei o meu braço e,
imprimindo mais força do que necessário, fiz com que a cabeça do taco
transfigurado pela dor. — Eu não estou a fim de jogar também. Nós dois
estamos envergonhando a vovó a cada tacada.
Anui em concordância, guardando o taco na bolsa enquanto o Shall
pegava a bola e o tee.
— Será que um dia irá parar de doer tanto? — murmurei, olhando para
mas Mathy fez o papel de mãe. Vovó era a nossa mãe no sentido completo
da palavra, então acho que será uma ferida que nunca se fechará.
Não respondi, apenas respirei fundo, sentindo uma onda de aflição,
angústia e vazio me invadir. Eu não conseguia lidar com aquela dor
pungente, que tinha a capacidade de adormecer por algum tempo,
provas e trabalhos.
— Não precisa passar o dia sozinho, sofrendo em silêncio, como nos
últimos dois anos. — continuou quando não respondi, e eu observei sua
expressão pensativa. — Sabe que não é culpa sua, não é?
Dei um sorriso amargo em resposta. Já havíamos tido essa conversa
antes e ela não levava a lugar nenhum. Poderia não ter sido minha culpa,
mas poderia ter agido de outra maneira. Tinha sido um grande filho da puta,
um revoltadinho, e não dei o apoio inicial que ela precisava. Talvez fosse por
isso que eu sentia aquela dor enorme, pois junto com ela vinha a culpa e o
remorso.
Meu irmão balançou a cabeça, parecendo ficar frustrado consigo
mesmo, e voltou a tocar o meu ombro, deixando tapinhas.
— Temos um ao outro — não insistiu no assunto, indo por outro
caminho. — E Sybill disse que você tem a amizade dela também.
Realmente agradeci por Shall não dizer o velho clichê “ela não
gostaria que você se culpasse”, pois estava mais do que ciente de que se
estivesse viva, Mathy teria me dado uns puxões de orelha. Quis rir com o
pensamento.
— Eu sei que tenho vocês dois e que são a minha família —
murmurei, saindo do carrinho.
Coloquei a bolsa com os tacos nas minhas costas, e vi meu irmão
deixar o veículo também, pegando suas coisas.
— E sou bastante grato por ter vocês.
— O contrário também é verdadeiro, principalmente para minha
esposa — falou baixo, suspirando profundamente, quando parou na minha
frente. — E então? Vamos?
— Infelizmente não posso, mano…
Balancei a cabeça em negativa, sentindo-me desanimado com o dia
que tinha pela frente. Tudo o que eu desejava era que o tempo passasse
rápido, como se isso pudesse mitigar a tristeza e a angústia.
— Tenho duas aulas para dar no final da tarde e uma pilha de resenhas
críticas para corrigir e lançar no diário de notas — completei. — Só irei
tomar uma ducha rápida no vestiário e vou direto para a faculdade.
Shall fez uma careta.
— Uma pena.
— Infelizmente, faz parte da vida adulta. — Dei um sorriso sem graça,
— Tudo bem.
Foi a vez de ele concordar e, com uma última despedida, se afastou de
mim. Eu fiquei parado no lugar, observando-o, até que ele sumisse do campo
da minha visão. Suspirei dolorosamente, pela milésima vez no dia, e passei
uma mão pelos cabelos curtos enquanto meus dedos automaticamente
buscavam meu aparelho celular no bolso da calça e abria uma foto minha
com Charlie e Laranjinha, que parecia exalar alegria.
Suprimindo a vontade de ser afagado por ela, encontrando consolo em
seus braços, caminhei para o vestiário. Minha vontade não prevaleceria.
próxima aula.
Mais burburinho, porém não dei importância se meus alunos gostavam
ou não.
Estava esgotado demais e tudo o que mais queria era ir para casa, ou
melhor, para casa da Laranjinha, e abraçá-la com força, tentando fazer com
dispensados.
Alguns mais do que depressa deixaram a sala sem dizer uma palavra
guardar minhas coisas na pasta e olhei para o meu colega, que entrou na sala
agora vazia.
— Sim?
— Está péssimo, cara. — Fez uma careta ao se aproximar de mim.
— Mesmo?
— E azedo.
hoje.
— Claro. — Fez uma pausa. — Quer tomar uma cerveja? Jogar
passo.
— Okay. — Ergueu as duas mãos. — Vou te deixar em paz.
— Valeu! — murmurei.
— Deve ser o seu papai que veio para te buscar, Charlie — tagarelei
com o animalzinho, que trançava nas minhas pernas enquanto eu caminhava
em direção a porta. —Convenhamos, você passa mais tempo aqui do que na
Dei uma risada com o comentário mais do que real. Quase tropeçando
no animalzinho, alcancei a porta, sentindo um pequeno formigamento de
antecipação por vê-lo, mesmo que tivéssemos almoçado juntos ontem em
um restaurante próximo do meu trabalho. Não podia mentir que também
estava ansiosa pelo beijo, que agora ele sempre me dava. Ainda não
tínhamos feito sexo, mas só em fantasiar deixava minhas pernas bambas. O
pensamento fez com que os meus membros automaticamente amolecessem.
Minha alegria, bem como o desejo, morreu ao ver a expressão
devastada dele.
Não tive tempo de questioná-lo, pois seus braços, como duas barras de
ferro, me envolveram em um abraço forte em que pude sentir sua dor e
aflição. O gesto rápido dele fez com que Charlie latisse, provavelmente
assustado com a reação do dono. Sentindo meu coração doer por Derek,
— Obrigado, amigão.
Charlie latiu, parecendo responder.
— Você me espera? — questionou-me, parecendo outra vez inseguro.
Meu coração se apertou por ele achar que eu iria virar as costas
quando tudo nele pedia silenciosamente por carinho, abraços e afagos, mas
não iria criticá-lo por isso.
— Claro — falei suavemente e, ficando nas pontas dos pés, deixei um
selinho nos lábios dele, o único lugar do rosto que não tinha sido atacado
pelo cachorro.
Suspirou pesadamente e, com um bichinho doce balançando a cauda
em seu colo, seguiu para sua casa.
momento, mas minha expressão deve ter deixado evidente meu desconcerto,
pois ele deu um sorriso amargo, repleto de dor.
— Você deve estar enojada de mim por ter virado as costas para ela —
disse com amargura.
— Eu… — Ia retrucar, mas ele me silenciou, pousando um dedo sobre
os meus lábios.
— Sou um grande bosta. — Respirou fundo e passou a mão livre pelos
cabelos. — Não precisa me dizer nada, Iandra, estou completamente ciente
disso.
Abracei a lateral do seu corpo, querendo oferecer algum conforto a ele.
Derek não me rejeitou, apenas se colou em mim ainda mais.
— O que fez você mudar? — Fiz a pergunta quando o silêncio, apenas
quebrado pelos roncos de Charlie, que dormia na sua poltrona favorita,
pareceu me sufocar.
— O fato de Chad, meu melhor amigo desde os tempos da escola,
dirigir bêbado e quase matar uma pessoa no processo. — Torceu os lábios,
perceber o que estava fazendo com a minha vida. Eu teria que ter aprendido
uma lição e amadurecido quando soube que minha avó estava doente, não
Ficamos em silêncio.
— Pelo menos, você enxergou enquanto não era tarde demais. —
Ele assentiu.
— Não, não fracassou. — Fui sincera com ele, dizendo coisas que,
talvez fossem dolorosas de escutar, mas eram a verdade: — Não que eu não
ache que poderia ter feito as coisas de maneira diferente, não eximo você
disso, mas poderia ter ignorado seus erros e continuado a ser o playboy
para ele.
Me encarando com os olhos ainda tomados pelas lágrimas, pousou a
dado a minha pela do meu pai, mas ele não iria querer isso. Por mais
doloroso que seja, eles desejariam que seguíssemos em frente e, de algum
pedi, tentando adotar um tom de diversão, mas minha voz saiu fraca.
Sentia que ele já havia falado demais e não queria aumentar a sua dor,
não naquele dia difícil. Sabia que algum dia ele acabaria falando sobre como
foi o tratamento, que sem dúvida, seria ainda mais doloroso de se escutar.
as façanhas da avó. — Não quero ficar sozinho, mesmo que já seja outro dia.
Vi que ele estava inseguro, como se ainda houvesse a possibilidade de
eu rejeitá-lo por conta do seu passado, e também com certo medo de voltar à
estaca zero comigo. De alguma forma, a preocupação dele era tocante, mas
tinha fundamento. Mal ele sabia que, ao falar dessa forma, nossa conexão
pareceu-me ainda mais forte. Era um voto de confiança enorme e igualmente
— Tanto faz — sua voz era baixa —, desde que você esteja comigo.
dormir conosco.
— Então vamos.
Estendi a mão para ele que a pegou, entrelaçando os dedos nos meus, e
levei-o até o meu quarto. Mesmo que não fôssemos fazer nada além de
dormir juntinhos, já que nenhum de nós dois estava no clima para isso, um
calor se formou em meu ventre, simplesmente com a perspectiva de dormir e
acordar com ele em uma cama que, agora que eu pensava, era pequena
demais para nós dois e que nos deixaria em uma posição ainda mais íntima.
Uma tolice pensar assim, já que os beijos e toques que já havíamos trocado
eram quentes e abrasadores, algo muito mais íntimos.
próprio rabo. Ri, sentando-me no colchão, tentando não pensar muito no fato
de que as roupas que estava vestindo eram desconfortáveis para dormir e que
eu deveria trocá-las por uma camisola. Repassei na mente as peças que havia
na minha gaveta e todas ou pareciam transparentes demais ou cavadas
demais. Amaldiçoei-me por não ter pensado em adquirir uma peça de
Não que ver Derek seminu fosse uma novidade para mim, na verdade,
perdi as contas de quantas vezes ele havia ficado com o tórax desnudo na
uma mesa. Eu então pude ver os músculos bem talhados parecerem tensos,
não com desejo, mas, sim, pelo cansaço físico e mental que sentia. A
— Não por isso, Derek, você faria a mesma coisa por mim — disse
uma verdade que, de alguma forma, me assustou, pois era real mesmo que eu
pois o cansaço o venceu. Logo não mais havia o homem perturbado pela dor,
mas apenas o Derek de sempre, o Derek que eu estava aprendendo a amar.
Capítulo
cozinha, sentindo a fome apertar. Assim que parei em frente a geladeira para
pegar os ingredientes para preparar um sanduíche, franzi o cenho, ao escutar
um som estranho.
Girei o pescoço e encontrei Charlie segurando algo em sua boca e se
contorcendo, as duas patas dianteiras arranhando a madeira, tentando passar
seu corpinho pela portinha. Claramente ele estava agarrado, a passagem, que
já era pequena para ele, parecia ainda mais estreita, já que ele vinha
engordando de tanto comer biscoitos caninos. Me questionei, por alguns
latiu. — Iandra vai parar de te dar biscoitos se souber que você anda
pegando as roupas dela, ainda mais se você estragou a peça.
Passou a pata sobre o focinho, soltando um som baixinho.
— É bom que esteja envergonhado mesmo, amigão — continuei no
mesmo tom —, e que você não faça mais isso!
Ainda mantendo contato visual com o meliante, curvei-me para pegar
a peça embolada, amarrotada e também um pouco babada. Estiquei-a para
ver se os dentes não tinham deixado nenhum furo e senti que meu coração
disparou furiosamente no peito, bombeando sangue para o meu pau,
enquanto eu era atingido por uma onda de calor. Não era uma blusa, mas
uma camisola, angelical pela cor, mas extremamente devassa pelo decote
cavado e rendado, bem como pela saia, que provavelmente deixaria metade
da bunda redonda dela de fora.
Fechei os olhos e fui bombardeado por imagens dela usando aquela
peça sexy pra caralho enquanto me olhava com aqueles olhos verdes
repletos de luxúria, mordiscando os lábios em um convite que eu não
hesitaria em aceitar.
Gemi alto, sentindo minha ereção pressionar o tecido da calça de
moletom.
Quis cheirar a peça que provavelmente tinha estado no seu corpo,
porém não o fiz, já que não sabia por onde Charlie havia passado com ele.
Falando nele, abri os olhos e encarei meu algoz.
— Você é um grande amigo, hein? — cuspi.
Ele tombou a cabeça, parecendo confuso.
— Isso — estiquei a camisola na direção dele —, vai me foder ainda
mais. Como se eu precisasse de mais um incentivo para desejá-la.
Bufei.
— Porra! — Forcei-me a caminhar e coloquei a peça sobre o balcão da
cozinha. Charlie me seguiu.
Olhei o meu amigo traidor de quatro patas.
— Você merece ficar sem seus petiscos por uma semana — fingi-me
de bravo.
Ele latiu a menção de ficar seus biscoitinhos. Essa era uma palavra que
temesse ser feliz, conselho que eu não tinha seguido. Minha melhor amiga
me fez ver que esse medo estava me paralisando, e que, no final das contas,
a insegurança sempre estaria ali, mesmo que Derek nunca tenha me dado
razão para tal.
mais.
Ao fundo, escutei o latido de Charlie, mas, dessa vez, ele não foi até
mim.
Derek não me obedeceu e me levou para um tour por todos os
cômodos. Logo, entrávamos no seu quarto, depois no banheiro da suíte,
voltando em seguida para o quarto, então ele me soltou. Em meio a visão
nublada pelas lágrimas, vi sua expressão tomada por uma espécie de tristeza.
— Você viu alguma mulher aqui, Iandra? — perguntou em um tom
ferido.
Fiz que não com a cabeça e, passando a mão pelo rosto, dei alguns
passos para trás, até que o meu corpo ficasse colado à porta do quarto,
finalmente reagindo, colocando uma distância entre nós.
Porém, ele não parecia concordar com isso e, com duas passadas,
aproximou-se de mim, nossos corpos ficando a apenas algumas polegadas de
distância, tão próximos, que senti a respiração dele no meu pescoço quando
se curvou para me encarar.
Traguei em seco ao olhar para os olhos negros, que não escondiam o
quanto ele parecia ferido.
— Acha mesmo que sou tão sem caráter para transar com outra mulher
enquanto me envolvia emocionalmente com você? — Insistiu naquele
em Derek, mas meu corpo se rebelou contra mim, pois queria tocá-lo, ainda
que não fosse uma boa ideia, já que ele parecia tão selvagem, como se
estivesse prestes a me devorar.
Derek, para o meu deleite, segurou o meu rosto, fazendo com que eu o
Fiquei excitada de ter pele contra pele, o seu calor irradiando pelo meu
corpo.
controlar o desejo que sinto por você, mas não sou. Na verdade, acho que
nunca fui, Laranjinha…
— Porra, estou louco por você, Laranjinha. — Sua voz estava rouca.
— Eu preciso do seu toque, anseio pelos seus beijos, queimo pelo seu corpo
e por te ter todos os dias, todas as horas, a cada minuto e segundo. Eu sonho
— Eu desejo tanto você, Iandra, que estou disposto a passar por cima
da sua desconfiança, das inseguranças e dos medos que me machucam,
crua, que me fez sentir uma tola. — Deus, mulher, estou completamente
apaixonado por você. Intensamente, de maneira visceral.
contato.
Eu não costumava ser tão passiva, mas deixei que ele me dominasse
daquela vez.
Com um gemido abafado, abri minha boca para ele, e sua língua
sabor que não podia negar que estava ficando cada vez mais viciada e que
também me atormentava todos os dias, impregnava a minha boca e sentidos.
consegui imaginar como seria ter os pelos dele raspando no interior das
minhas coxas enquanto seus lábios devoravam o meu sexo.
meio ao encontro de bocas e que pareciam ainda mais escuros com o prazer,
com que eu brincasse com o céu da sua boca ao passar a ponta da língua pela
região.
maneira que eu nunca tinha feito antes, impressionada com a força da sua
musculatura. Sorri em meio ao beijo quando o meu homem estremeceu
contra mim ao sentir meus dedos deslizarem pela sua lombar até infiltrar-se
para dentro da boxer.
cueca estava úmido, como se um simples roçar fosse capaz de fazê-lo gozar.
Gememos juntos quando sua boca quente e gostosa deslizou dos meus lábios
trabalhava em mim, suas mãos, que antes acariciavam meu rosto, desceram e
foram deslizando pela lateral do meu corpo, acariciando meus mamilos,
apalpar.
chiar, voltando a apoiar minhas mãos na porta quando ele deu dois passos
para trás. Sem cerimônia, seus olhos passearam lentamente pelo decote da
minha camisola, pelos meus mamilos, até alcançar as minhas coxas
desnudas. Retribuí o gesto, pois eu também não hesitei em deixar que meu
olhar percorresse o peitoral que subia e descia com a respiração acelerada, o
abdômen trincado, a boxer, cujo volume me deixou com a boca seca, e as
pegada bruta, o que fez com que eu mordesse os lábios com força. Não
esperava que Derek fosse tão selvagem, tão másculo, e constatar isso me fez
querer explorar o seu lado irracional e rude. Estremeci ao pensar nas
inúmeras possibilidades de extravasarmos essa selvageria, com o seu corpo
me dominava.
Suas palmas quentes passando pela minha pele nua faziam com que eu
me contorcesse embaixo dele, afoita por sentir seus dedos estimulando
aquele ponto dolorido que pulsava por alívio, porém Derek não tinha pressa
desejo.
— Como eu quis ter você assim — disse com a voz rouca ao
aproximar o nariz do meu pescoço e inspirar fundo. — Caralho, essa
sardinha aqui é tão linda!
ser punida.
Arqueei a sobrancelha para ele, desafiando-o, e, com um rugido,
passando um braço pelas minhas costas, ergueu o meu tronco. Com a mão
— Perfeita!
Baixou um pouco a cabeça indo em direção ao bico do meu seio, e eu
pensei que iria convulsionar quando senti seus lábios roçarem suavemente
naquele pontinho, plantando um beijo.
sardas que sempre achei feio, mas que pelo jeito o fascinou. — Não quero
que você me atrapalhe.
Ele me amarrou a cabeceira da cama, me deixando em uma posição
vulnerável. Ainda assim, parecendo ter vida própria, meu corpo arqueou
apertado assim.
Movi-me, constatando que ele falava a verdade. Se quisesse, não seria
difícil me soltar.
— Não sabia que era um dominador, nem mesmo um praticante de
choramingos, por querer também tocá-lo. Senti meu canal retraindo com a
espiral de desejo que me consumia. Quis chorar com a ternura presente em
cada beijo que ele deixava em minha têmpora, bochecha e nariz. Eu via o
carinho em seus olhos, sentia o amor naquele pousar suave de sua boca em
garganta. Ele me fazia sentir preciosa, uma mulher sexy, mas também doce e
apaixonante. Deixando a minha boca, Derek fez o que prometeu,
percorrendo cada centímetro de pele, me permitindo enxergar minhas sardas
de uma outra forma, como algo bonito. Me peguei movendo meus pulsos,
querendo livrá-los para tocá-lo da mesma maneira que ele me tocava, mas
seus olhos me pediam que eu continuasse a sua mercê.
A carícia feita pelos dentes, boca e barba se tornava mais ousada à
medida que seu corpo ia deslizando para baixo. Fechando os olhos, eu elevei
meu tronco quando seus lábios se fecharam com força no meu seio. Ouvindo
o meu suspiro, começou a sugar aquele ponto rígido, alternando o ritmo da
sucção na mesma medida que seus dedos apertavam o outro mamilo,
ignorou o meu sexo, que pulsava afoito, querendo receber seus lábios e
língua em meu clitóris, e foi dar atenção para os meus pés, os beijando e
massageando.
Com alguns pequenos puxões, livrei-me da amarra frágil, que descobri
que foi feita com a minha camisola, provando que ele era péssimo na arte da
dominação.
— Que foi? — Beijando os meus dedinhos dos pés enquanto sua mão
pressionava com pressão o meu calcanhar, fitou-me com os olhos divertidos.
Continuou a me acariciar.
— Hm. — Deixou outros beijos ali. — E o que você quer que eu faça,
gostosa?
Sem esperar uma resposta, que eu não me sentia capaz de dar,
líquido aos lábios e lambê-lo. A cena completamente erótica fez com que
tudo em mim contraísse e o desejo voltasse a se acumular com mais força no
meu baixo-ventre.
— Deliciosa! — murmurou em um tom rouco, que provocou calafrios
camisinha para não dar ar, a deslizei pelo seu pênis até alcançar a base. —
Isso exigirá um bom tempo na cama, no sofá, no banheiro… na cozinha,
contra a parede… — Fiz uma pausa e apontei para um móvel atrás dele — ...
na mesinha onde você trabalha.
Chamas arderam em seus olhos com as minhas sugestões e o sorriso
cachorro dele ficou ainda maior.
— Um tempo que não tenho dúvidas de que vou adorar passar — disse
em um tom faminto, cheio de promessas que, com certeza, eu iria cobrar.
Não tive mais tempo de pensar, pois, usando uma coxa para abrir-me
para ele, enquanto suas mãos se ajeitavam entre a minha nádega e o colchão,
enterrando seus dedos nas polpas com pressão, Derek ajustou seu pênis na
minha fenda e, erguendo-me para ele, fez com que eu o recebesse dentro de
mim, mas com uma lentidão que me deixou consciente de todos os meus
músculos se esticando para acomodá-lo, bem como da grossura de seu
membro.
Nos encaramos, aumentando a intimidade do ato. O contentamento
de seu cabelo, que grudou no rosto dela com o suor, para o lado.
pareceu extrapolar as barreiras físicas dos corpos e do ato sexual, indo mais
além. Era emocional, de alma. Mesmo agora, enquanto estávamos nos
recuperando do torpor, eu sentia várias emoções percorrerem o meu peito,
que iam desde a euforia, a ternura e completude.
Também era algo repleto de carinho, paixão e, de alguma forma, amor,
sentimento que não tinha dúvidas de que iria crescer com força e
extrapolaria quem eu era. Não havia mentido quando disse que estava
loucamente apaixonado pela mulher que estava debaixo de mim.
Acariciei seu rosto, deixando vários beijinhos nas sardinhas,
acentuadas pelo corar do esforço, e enterrei meu rosto nos seus cabelos,
pau de dentro dela e rolei para o lado, o que arrancou um resmungo dela, o
que me fez gargalhar, novamente dominado pela excitação. Removendo
rapidamente a camisinha, dando um nó nela, coloquei-a sobre o móvel de
as pontas dos dedos, começou a traçar círculos lentos pelo meu peitoral, uma
carícia fodidamente maravilhosa.
Perdi completamente o fôlego ao fitar os lábios cheios, que sorriam
provocantemente para mim, e também os olhos verdes, que pareciam ficar
uma tonalidade mais clara quando satisfeitos. Suspirei uma, duas, três,
acabei perdendo as contas, diante do toque lento e também sensual,
relembrando o que tinha sentido durante a nossa primeira vez.
Gargalhei alto ao pensar que era algo que logo iria remediar e,
eufórico, cruzei a distância que separavam nossas bocas. A puxei para mais
perto de mim com a mão espalmada na sua lombar, então capturei seus
lábios em um beijo mais romântico e apaixonado, moldando-os, usando a
língua para devotá-la da maneira que ela merecia ser tratada.
— Hum — deixou vários selinhos em minha boca e eu emiti um
muxoxo quando colocou uma distância entre nós, mas logo senti meu corpo
voltar a estremecer por Laranjinha retomar as carícias, dessa vez, descendo
pelo meu abdômen, parecendo contando os gominhos. — Por que estava
rindo?
— Estava imaginando como será a nossa próxima vez — confessei,
abrindo um sorriso lento para ela, que arqueou a sobrancelha para mim.
— Quem disse que teremos uma próxima, Derek?
Seus dedos voltaram a subir pelo meu corpo, e ela excitou a pequena
protuberância do meu mamilo, dificultando a minha capacidade de
raciocínio.
— Pensei que tinha me superado quando fiz você gritar meu nome —
principalmente por ela ter as suas dúvidas e inseguranças, mas, ainda assim,
não consegui me conter. Me martirizaria, noite e dia, se mantivesse trancado
aquele anseio, aquele desejo que consumia minha alma e meu coração. —
Quer ser a minha namorada?
Seus olhos se arregalaram, sua respiração ficou mais acelerada e,
mesmo em meio a hesitação da sua expressão, eu percebi que ela analisava o
meu pedido.
— Afinal, você tem que fazer de mim um homem decente, Laranjinha.
— Adotei um tom de brincadeira. — Não vá achando que pode usar o meu
corpo quando bem entender e quando desejar. Eu estou velho, sou careta e
também um viciado em compromissos sérios. — Fiz uma pausa dramática,
levando a mão ao meu peito. — Fora que, o que os meus vizinhos pensarão
de mim ao ver uma mulher invadindo a minha casa todas as manhãs, tardes e
noites?
— Deus! — Deu um tapinha nos meus ombros, rindo. — Eles não
pensarão nada!
— Não posso correr o risco. — Fiz outra pausa. — Eu já te disse que
sou um cara viciado em dormir de conchinha?
— Não precisamos estar namorando para dormimos de conchinha,
Derek — falou, maliciosa, provocando-me.
seu corpo bem-feito ao meu, levando-me outra vez aos meus próprios
limites.
seu corpo contra o meu, com o seu calor. E, sem demora, eu tinha Laranjinha
embaixo de mim como uma hora atrás, e estava pronto para fazer amor com
abobada, porque não dizer apaixonada. Fazia pouco mais de uma semana
que tinha aceitado o seu pedido, e eu não poderia estar mais contente por ter
concordado em ser sua mulher. Derek vinha se provando tão carinhoso,
gentil, meloso, e eu estava adorando ser paparicada por ele, bem como
dormir quase todos os dias de conchinha com ele após cairmos exaustos no
colchão. Tudo no corpo um do outro era uma novidade, e nós não nos
cansávamos de explorar os pontos que nos davam prazer. Quis rir do fato de
que alguns dias atrás eu tive que passar várias camadas de corretivo e base
para disfarçar as olheiras pela noite insone, a qual passei em cima e também
embaixo do corpo de Derek.
anelar direito.
— Não sabia que se usava anel durante o namoro. — Ela voltou a
suspirar, e eu desviei o meu olhar para o rosto dela.
Os olhos azuis brilhavam, risonhos. E mesmo que esperado, uma
emoção me dominou ao perceber que Ruth parecia extremamente contente
por mim, faltando só dar pulinhos de alegria.
— Nem eu, Ru — confessei. — É a primeira vez que ganho um
desses.
— O que torna esse menino ainda mais maravilhoso — continuou, e
mais alta.
— Deixe só Max ouvir que você está falando que ele não é o melhor
partido da região — a provoquei.
Ela teve a decência de corar.
— O segundo melhor, então — falou baixinho.
— Talvez — comentei. Inconscientemente, brinquei com o anel,
girando-o em meu dedo. — Quem diria que acabaria me apaixonando por
aquele playboy irritante que implicava comigo por tudo…
— Te garanto que não foi por ele, filha. — Foi a vez de ela dar uma
Senti a ansiedade por ver Derek substituir o medo do que iriam pensar
de mim, e, com borboletas no estômago e o coração descompassado,
sorrindo como uma tola, fui atender a porta. Mal a abri e senti seus braços
fortes me envolverem em um abraço quente, colando-nos.
— Senti falta de você, amor.
Minha resposta saiu estrangulada quando os lábios macios cobriram os
meus em um beijo que era pura sofreguidão, cheio de desejo e impaciência,
como se fizesse vários dias, não apenas algumas horas, que ele não me
beijava, e sentindo as mãos dele deslizarem pelas minhas costas até alcançar
a minha bunda, apertando a polpa, eu descobri que estava tão afoita quanto
Derek. Deixando mordidinhas no lábio superior, segurando-o pela nuca,
aprofundei nosso contato com a língua, sentindo-me derreter contra sua
boca. Suspiramos em uníssono quando nossos sexos se friccionaram, o jeans
oferecendo ainda mais atrito.
— Temos tempo — falou com a voz ofegante contra o meu ouvido,
antes de tomar o lóbulo entre os dentes e puxar-me mais de encontro ao seu
pênis, que começava a crescer.
— Infelizmente, não. —Ele ergueu o rosto para me fitar.
— Não?
— Ruth está aqui.
Sorri com o olhar de pena que ele me lançou e dei uns tapinhas no seu
rosto, procurando animá-lo.
— À noite, serei toda sua, Derek — ronronei, deslizando um dedo pelo
seu pescoço. — Para o que você quiser.
Os olhos negros cintilaram, não escondendo seu desejo, nem mesmo a
antecipação que corria pelas suas veias. A ânsia que havia nele tornou-se
minha, pois eu não tive nenhuma dúvida de que Derek iria fazer o que
quisesse do meu corpo, o que me daria muito prazer. Ele era um homem
criativo na cama, embora nem todas as “nossas” tentativas funcionassem e
terminavam com nós dois rindo.
— Vamos entrar? — O tom dele era rouco. — Tenho que
cumprimentar minha maior fã e também minha segunda maior aliada.
Enquanto ria com a lembrança dele concluindo que tanto Ruth quanto
Charlie haviam o ajudado a me conquistar, agindo como grandes cupidos,
Derek me virou, dando um tapa estalado na minha bunda para me apressar.
Fechou a porta. Dei uma reboladinha para provocá-lo e o palavrão que saiu
mim, mas sem me dar aquilo que meu corpo passara a ansiar, e eu voltei a
calá-lo com a minha boca, dominada pela urgência que Derek me suscitava.
Mordi os lábios dele, selvagemente, no momento em que seus dedos fizeram
movimentos delicados próximos a entrada da minha vagina, em um ponto
que fazia com que minha mente ficasse em branco e eu fosse guiada apenas
pelo desejo.
Sentindo minhas paredes internas se contraírem, meu clitóris pulsar
pela insatisfação de não ter sido estimulado ainda, meu corpo inteiro ficando
mole contra o banco, passei a arquear os quadris contra os dedos de Derek,
que alternava entre carícias circulares no meu ponto G, penetrações e
movimentos com as pontas dos dois dedos, estimulando vários músculos e
locais sensíveis, que ele já conhecia das nossas últimas experiências.
— Deus! — Blasfemei baixinho quando um terceiro dedo dele me
invadiu com força. Derek começou a entrar e sair pelo meu canal, que se
contraía ainda mais a cada investida, ficando cada vez mais tensos.
Meu namorado riu, aumentando a intensidade dos seus movimentos.
quebrar, sensação que se tornou ainda mais forte quando Derek imprimiu
mais pressão aos seus movimentos.
ponto de prazer tornando-se ainda mais precisos, rápidos, fazendo com que
eu fechasse minhas pernas, prendendo a sua mão naquele ponto. Ele seguiu
com aquele ritmo alucinante até que eu sentisse minha vista embaçar, meu
coração acelerar, quase saindo pela boca, e meu corpo todo convulsionou
com o orgasmo que roubou o restante das minhas forças. Com a boca ainda
na minha, ele tragava todos os sons que eu emitia em meio ao êxtase.
carícias, que prolongaram aquele torpor até que um suspiro baixo, satisfeito,
escapasse dos meus lábios.
cretino.
mas dessa vez, apaixonado e cheio de ternura. Uma buzina fez com que eu
interrompesse o contato das línguas, dando-me conta de onde estávamos. A
— Temos que repetir isso outras vezes — pareceu pensar em voz alta.
— Derek!
— Que foi? — Encarou-me e fitou a minha calça aberta. Fechei as
minhas pernas instintivamente perante o seu olhar predador. — Foi bom. —
Encarei o homem que tinha falado que eu estava “linda”, achando que se ele
não era louco, provavelmente precisava dos seus óculos em outras ocasiões
Deu uma risada, o que me deixou irritada, irritação que ficou maior ao
ver que ele parecia quase impecável. Só a camisa levemente amarrotada o
denunciava.
retorno.
— Derek, você não viu a placa?
— Eu vi.
— E então? — Bufei.
Lewis Center e achar algum lugar para você se trocar, ou tomar banho.
— Okay.
declaração.
— Obrigada, amor.
— Bobo!
— Você sabe que eu sou um bobão.
Dando a mão para ele, senti-me agradecida por Derek ter me feito
relaxar, fazendo com que eu me esquecesse das minhas inseguranças. Me
sofá creme, cujo rosto estava emoldurado por um hijab[14] esmeralda que
risada quando ela fez uma careta de desagrado, para logo depois tocar o
ventre abaulado com uma ternura que só uma mãe que ama muito o seu bebê
poderia ter. — Mas, no fim, todos os incômodos valerão a pena quando eu
puder olhar o rostinho de Devon e tê-lo em meus braços.
— Será a melhor mãe que eu conheço, querida — Marshall falou,
uma devoção extrema por ela. E a recíproca era verdadeira, pois Sybill tinha
aquele mesmo olhar apaixonado para ele.
Encabulada, desviei meu olhar e fitei meu namorado, percebendo que
Não sabe o quanto estava curiosa para te conhecer, Iandra, ainda mais depois
de Derek ter falado tanto sobre você.
— Obrigada, Sybill. — Coloquei uma mecha atrás da orelha e olhei
para meu homem, que ainda continuava a me olhar. Não resisti em deixar
um comentário ácido, cheio de malícia: — Espero que tenha falado muito
bem de mim, senão serei obrigada a tomar providências severas.
— Claro que sim, doçura, por quem me tomas? — Derek fez uma
careta engraçada e nós três rimos da sua cara. — Eu só tenho coisas boas
para falar de você.
volumosa, já que a cultura à qual ela pertencia não tinha por hábito
cumprimentar pessoas desconhecidas com toques, abraços, ou beijos.
Retribuí, abraçando-a de volta, e ela deixou um beijo em cada lado da minha
face.
— Somos irmãs agora, então não precisa ter medo de me abraçar ou
tocar — falou em um tom doce, me encarando com os olhos amendoados
extremamente gentis. Devo ter transmitido meu assombro a ela.
Assenti, concordando.
— E espero que sejamos irmãs por muito tempo — continuou. Foi
impossível conter a minha própria emoção por ser tão bem-recebida por ela.
Me sentia tola, mas meus olhos lacrimejaram.
— Eu também. — Sorri.
— Acho que nos daremos bem. — Piscou para mim, dando um passo
para trás. Depois de ser cumprimentada por Derek com um beijo na testa, foi
abraçada pelo marido, que pousou as duas mãos na sua barriga,
protetoramente. — Ainda mais se você for mesma ácida, como Derek disse
que você é.
— Derek! — Bati o pé no chão e, ouvindo as gargalhadas, me virei
para ele. — Não acredito que você disse isso! Eu queria causar uma boa
impressão!
— Acho que você acabou de falhar, Laranjinha — soou divertido,
ser versada em vários assuntos e ser tão humana ao ajudar várias ONGs que
prestavam apoio a estrangeiros na América. Sentime uma tola por ter tido
receio dela não gostar de mim, ainda mais ao descobrir que sua
personalidade, apesar da rigidez com que foi criada, era tão forte quanto a
minha. O casamento com Marshall permitiu que, em partes, ela se soltasse
das amarras severas impostas pelo pai, permitindo que ela fosse mais livre,
que ela falasse com um homem de igual para igual, não um ser subserviente,
embora ela continuasse a seguir fielmente suas crenças.
Nossos homens nos encontraram rindo, quando nós duas concluímos
que os irmãos Sommerfelds pareciam atraídos por mulheres impossíveis e,
principalmente, difíceis.
Capítulo
acabando de acordar, cheio de remela nos olhos, ele parecia pronto para
começar o dia, vestido com uma roupa social justa, que o deixava sexy,
principalmente quando usava seus óculos.
Caralho, aquele homem faria qualquer mulher querer despi-lo. Senti
uma onda de ciúmes com o pensamento, porém logo o sentimento se
abrandou ao lembrar que a recíproca era verdadeira, que Derek era tão
ciumento e até mesmo mais possessivo quanto eu, mas não ao ponto de me
sufocar.
— Estou sentindo falta de você — continuou.
— Sim — menti.
Gargalhou baixinho.
— Descarada. — Seu tom era malicioso. — Você é safada demais para
que eu acredite nisso.
Mordi os lábios, provocativamente, e Derek gemeu.
— Não tenho como negar, amor — sussurrei a última palavra,
consciente de que ele gostava de ser chamado assim.
passando a mão nos cabelos. — Preciso desligar, e acho que você também
tem que levantar, senão vai acabar se atrasando.
Olhei para o relógio na mesa de cabeceira, percebendo que era o
tempo de tomar um banho, cuidar de Charlie e comer alguma coisa.
Outro som frustrado me deixou. Queria poder continuar conversando
com ele vários minutos a mais.
— Bom dia, doçura. — Piscou para mim.
— Boa apresentação, amor. — Mandei beijos para a câmera e ele
sorriu.
— Obrigado.
— Até mais tarde, então?
— Sim, com toda a certeza do mundo, Laranjinha. — Mandou vários
beijos antes de desligar.
Suspirei, abobada, e me ergui da cama, indo direto para o chuveiro. A
água morna fez com que meus músculos relaxassem e o restante da
sonolência se dissipasse. Coloquei um terninho e apliquei uma fina camada
de maquiagem antes de deixar meu quarto.
— Charlie? — Comecei a chamá-lo enquanto descia as escadas,
esperando que ele me encontrasse no meio do caminho, porém o cachorro
nem ao menos latiu.
Sentindo que havia algo de errado com o animalzinho, desci correndo
toalha e voltar logo para a sala. Encontrei Charlie parado no mesmo lugar. O
enrolei no tecido felpudo, e o som que ele soltou quando o peguei no colo
Eu torcia para que o pequeno, que choramingava no meu colo, ficasse bem e
que voltasse a ser o animal serelepe de sempre.
o seu filho de quatro patas havia ficado doente. Quis sucumbir ao desespero.
Enquanto fazia o cadastro do animalzinho, duelei comigo mesma se deveria
ou não mandar uma mensagem para ele agora, interrompendo sua
esperar, ainda mais por ele não poder fazer nada no momento.
Fiquei com a sensação amarga na boca de que tinha tomado o caminho
alívio. Os minutos, que não deveriam ter sido nem quinze, pareceram horas
na minha percepção, ainda mais quando ele voltou a vomitar.
consultório.
— O que está acontecendo com o pequeno? — questionou suavemente
possível. Falei do desânimo por ficar longe do seu dono, das cápsulas
mastigadas, e a forma que eu o encontrei hoje. Vez ou outra, tive que parar
para ordenar meus pensamentos. Ela escutava com atenção, digitando algo
— Okay.
— Quer se despedir dele?
Assenti.
— Fique bem, querido, por favor.— Deixei um beijo no focinho. — Te
até a recepção.
Uma bigorna pesada se instaurou em meus ombros no momento em
vísceras.
— Derek? — Atendeu com a voz baixa, o que aumentou a minha
aflição.
Começou a chorar.
— Você está me deixando nervoso, amor. — Sei que não deveria estar
no peito diminuir, mas não tanto, já que o fato dele precisar de cuidados
médicos não pressagiar algo bom.
— E a culpa é minha — repetiu tão baixo, que quase não a escutei.
— Não entendi, amor — sussurrei, externando a minha confusão.
Não era porque ela havia ficado responsável por cuidar do
animalzinho que isso faria dela a causadora do que quer que fosse que tinha
levado Charlie ao veterinário.
— Sem querer, deixei a porta da despensa aberta — continuou naquele
mesmo tom baixo, soluçando, o que me partia a alma. — E Charlie acabou
por conta de anemia e outras doenças. Ele estava muito doente e magro.
— Sinto ouvir isso.
— Eu sei que sente, doçura. — Fui doce. — Por isso acredito que no
fim tudo não passará de um susto.
— Assim eu espero. — Respirou fundo e ficou alguns segundos em
silêncio. —Vou deixar você voltar para o seu evento. Desculpa, sei o quanto
estava empolgado com a palestra desta tarde. Te ligo mais tarde, ok?
Também preciso ir trabalhar.
— Não tem problema, amor — sussurrei.
Era uma verdade, nada além do bem-estar dela e de Charlie me
importavam.
Eu a amo. Essa constatação fez com que eu respondesse mecanicamente sua
despedida, e a última coisa que escutei antes dela desligar foi um “me
desculpe” que não deu tempo para que eu respondesse. Suspirei fundo.
Eu amava aquela mulher com todas as minhas forças. O sentimento
poderia ter se dado rapidamente, em menos de seis meses — estávamos a
quase dois juntos —, porém era algo profundo, vindo do fundo da minha
alma.
Intenso e visceral eram palavras fortes, mas que não conseguiriam
descrever esse amor que nutria por ela, que era sentido e vivido
incondicionalmente, diariamente, a cada pulsar do meu coração, que estava
presente na ânsia que eu sentia pelos seus beijos, pelo seu sorriso, pelo seu
corpo, por acordar todos os dias e querer que a primeira coisa que eu olhasse
fosse ela. Pelo desespero em ouvir sua voz e, principalmente nesse
momento, poder abraçá-la e consolá-la, arrancando a dor e a culpa que
sentia.
Olhei para a foto que era o descanso de tela do meu celular: eu dando
um beijo na bochecha de uma Laranjinha sorridente, que estava com os
olhos fechados, enquanto Charlie deixava uma lambida no outro lado da face
dela. E eu soube o que tinha que fazer.
Capítulo
ao soro, alheio a minha presença, sem balançar o rabinho para mim, partiu
ainda mais meu coração. Infelizmente, havia ocorrido um episódio de
vômito, apesar de estar medicado.
Esperar era uma verdadeira tortura.
Apoiei minha testa sobre a mesa e lutei com a minha tendência para a
negatividade. Deveria acreditar nas palavras da médica e até mesmo nas de
Derek, apesar de ter certeza que o conhecimento dele era praticamente nulo
sobre o assunto. Ele poderia não me culpar, ter sido bastante amável, porém
eu não seria complacente comigo mesma.
Não acreditava que Ruth tinha pegado a estrada, já que ela estava na
fazenda de Max somente para me abraçar, mesmo eu falando que não havia
necessidade. Isso seria típico dela, mas não podia negar, eu precisava
— Só às vezes?
Os olhos dele cintilaram.
— Bem, acho que sim — murmurou.
Foi a minha vez de rir em meio ao choro.
— Eu amo a mulher que você se tornou — continuou em voz suave,
cheia de carinho, ternura e principalmente amor. — Amo sua personalidade,
seu sorriso, sua risada, seus olhos, sua pele, seu cheiro, seus olhos, o calor da
sua pele, a sensação do seu toque... E amo muito suas sardinhas…
Gargalhei outra vez. Derek parecia um pouco trêmulo, tanto que se
apoiou nos meus ombros para se firmar. De alguma forma, isso fez com que
sentisse que as minhas pernas parecessem ser feitas de gelatina. Não me
recordava se alguma vez um homem tinha ficado tão bambo e emocionado
ao se declarar para mim.
— Porra, eu te amo com força, Laranjinha. Sinto que essas palavras
não são boas o suficiente para expressar aquilo que pouco a pouco você
construiu dentro de mim. Droga, não foi assim que pensei em me declarar…
Sorri com os palavrões e por ele ter pensado em fazer um discurso.
Acariciei os cabelos dele, incentivando-o a prosseguir. Estava nas nuvens,
abobada. Suspirando também.
— E é por te amar demais, que me incomoda muito ver você
sofrendo… — Antes que ele pudesse continuar, um som ecoou nos meus
ouvidos, porém eu queria continuar escutando suas palavras, doces que
enchiam meu coração de alegria. — Não vai atender?
— Deve ser da clínica. — A razão me voltou e, sentindo a urgência me
invadir, bem como a pontada de medo, peguei o aparelho do bolso da calça.
— Okay — Derek pareceu um pouco tenso, mas se controlou.
— Boa noite, falo com a senhorita Iandra? — perguntou uma voz
masculina do outro lado da linha.
— Sim, é ela — minha voz soou trêmula.
— Aqui é o médico plantonista da Animal, estou ligando para informar
sobre o estado clínico do paciente Charlie. Você está ocupada?
— Não, pode falar. — Derek me olhava fixamente, observando cada
reação minha.
— Depois da sua visita à tarde, o paciente não apresentou mais
nenhuma ocorrência de vômito e ele está estável, embora ainda prostrado.
Meu suspiro de alívio foi audível; Derek sorriu.
— Os resultados da ultrassonografia veterinária confirmou uma
pequena inflamação no estomagozinho. Não foram detectadas verminoses, o
nível de cortisol no sangue dele não demonstrou nenhuma alteração e
mim. E não tenho dúvidas de que irá voltar para nós — disse, convicto —,
para o seu papai apaixonado e para a mamãe que é o amor da vida do pai
dele.
— Amor da sua vida? — Sorrindo, ergui meu rosto em direção ao
dele.
— Sim, eu amo você, Iandra — falou baixinho, seus olhos voltando a
brilhar com amor, desejo e ternura. — Não peço que você diga em voz alta
que me ama também, mas o homem louco por você, que quer estar cada
minuto do seu dia com você, o apaixonado que existe dentro de mim, torce
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, seus lábios baixaram sob os
meus e eu abri minha boca para receber sua língua em meu interior, em um
beijo que celebrava aquele amor. Era terno e doce, e fez com que eu chorasse
de novo.
— Hm.
Seus braços eram como barras de ferro prendendo minha cintura.
— Então por que está chorando, Laranjinha? — Seu tom foi sério
dessa vez.
que merece.
uníssono.
— Será que você conseguirá um dia me amar, Laranjinha? —
precipitado demais.
— Deus, mulher!
os meus, sua língua enroscou na minha, até que nós dois ficássemos sem
fôlego, nossa testa colada uma à outra para recuperarmos o ar.
para casa e que pudéssemos voltar a ser uma “família” feliz. Derek virava e
mexia falava que eu era a “mamãe” de Charlie, mas quando tinha falado pela
primeira vez, meses atrás, eu achava que era uma provocação para me irritar,
mas descobri que para meu namorado não era brincadeira, agora entendi
disso.
Ele havia emagrecido por ter ficado quase três dias apenas no soro.
Pelo menos os olhos caramelos estavam mais vivos, brilhantes.
tratamento em casa.
— E então, doutora? — perguntei, continuando a receber lambidas do
um pouco decepcionado.
— Mas como ele já voltou a comer normalmente, acredito que ele
nutricionista, pois, apesar da gastrite dele não ser crônica, serão necessárias
também a consulta de retorno dele para a semana que vem. Mas se ele
apresentar qualquer um dos sintomas que listei, tragam-no o mais rápido
com a conta.
sexy para o meu intento naquela manhã e pisquei os olhos tentando pelo
E, por mais que essa pessoa fosse seu namorado, isso não dava o direito de
você tocá-lo assim, e vice e versa. Porém, tivemos uma conversa séria sobre
isso, e ele me fez compreender que, no nosso caso, eu teria o consentimento
dele em qualquer circunstância, já que eu realizaria seu “fetiche”. Porém,
Derek nunca de fato deixou-me acordá-lo da maneira que sonhava, pois
sempre que eu pensava em realizar seus desejos, ele abria os olhos antes.
Confirmando que tinha tempo no relógio na mesinha de cabeceira, fitei
meu namorado, que parecia um anjo dormindo, apesar que ele não tinha
nada de angelical, estava mais para um devasso, o meu “devasso”, que
parecia tão insaciável quanto eu. Ele parecia estar em um sono profundo,
provavelmente pelo cansaço de ficar até meia-noite lançando notas dos
trabalhos dos alunos dele no sistema, e também por ter me feito gozar duas
ou três vezes depois disso. Senti uma leve ardência no meu sexo com as
lembranças da madrugada. Tinha pedido para que ele fosse um pouco mais
forte e ele tinha me atendido.
Me movimentei com cuidado no colchão, e aproximei-me mais dele
para ver se Derek iria acabar com a “brincadeira”. Não acordou. Ótimo.
Contendo a vontade de acariciar o peitoral rígido, que subia em uma
cadência lenta, deixei que meu olhar o devorasse até pousar no seu pênis
que, apesar de não estar tão rígido, não poderia falar que estava mole.
Voltando a olhar para seu rosto, lentamente, deslizei pelo colchão até que
meu rosto ficasse próximo a pelve dele. Antes de dar a Derek o que tanto
queria, apesar de achar que naquele momento ele não deveria querer nada,
senti o coração começar a ficar acelerado e a boca secar com a expectativa
de envolver seu membro com a minha boca. Com a ponta do dedo, comecei
a trilhar suavemente toda a extensão do seu pênis, percorrendo da glande até
a base. Observei a reação dele. Não acordou.
Ouvi um som rouco, abafado, até mesmo distante, porém o ignorei por
completo, não queria acordar daquele sonho erótico e vívido que deixava a
minha carne rígida, pulsante. Estava completamente preso nas sensações
provocadas pela pressão suave exercida pelos dedos finos, habilidosos, que
pareciam conhecer bem os pontos que faziam com que eu ficasse mais ereto.
Depois de sentir a ponta de um dedo brincando com a minha glande, recebi
um pequeno aperto nas minhas bolas, o que fez com que uma corrente de
prazer percorresse o meu corpo, então me movimentei.
cabeça do meu pênis, e eu senti um espasmo percorrer cada uma das minhas
extremidades. Outro gemido se fez escutar, dessa vez mais alto, gutural.
Soube que não estava sonhando quando, ainda dominado pelo torpor
sensual e da sonolência, abrindo os olhos, olhei para baixo e vi minha
— Bom dia, amor — murmurou com uma voz malditamente sexy, que
arrancou de mim um chiado baixo, principalmente quando voltou a deslizar
sua língua por todo meu comprimento.
cabelos espalhados pelo colchão. Minha mulher começou a sugar meu pau
lentamente, em um ritmo que deixou a minha mente em branco com o
desejo.
— Caralho! — sussurrei entre dentes, puxando os fios com um pouco
mais de força no momento que ela aumentou a pressão exercida.
Grunhi, agitado, quando ela diminuiu a cadência, brincando com a
minha excitação, deixando cada terminação nervosa do meu corpo agitada.
O sangue parecia correr como um rio em minhas veias, acumulando na parte
que ela estimulava, parecendo tornar tudo mais sensível.
que eu recuperasse as minhas forças. Fiz com que ela se deitasse na cama e
montei em cima dela.
Iandra deu uma risada baixa, sexy, ao se mover debaixo de mim,
roçando meu pau meio-mole na sua vagina. Segurando meu rosto com as
duas mãos, deixou um selinho na minha boca.
— Bom dia, Derek — repetiu.
— Estou tendo mais do que um bom dia. — Beijei a ponta do seu
nariz.
— Mesmo?
— Muito mesmo. — Minha voz estava rouca. — E estou disposto a
continuar tendo.
Dando um sorriso lascivo e demonstrando o quanto eu estava
“disposto”, passei uma mão entre nossos corpos e comecei a acariciar o
ventre dela, deslizando até alcançar os pelos úmidos, prova da sua excitação,
e tocá-la.
— Preciso ir tomar banho. — Deixou uns tapinhas nos meus ombros.
— Vou me atrasar pro trabalho senão for agora. Se é que já não estou
atrasada.
senhorita Donovan.
Arqueou a sobrancelha, em uma indagação muda.
para o lado.
Ela aproveitou para se levantar, e eu fiquei olhando para as nádegas
empinadas quando deu as costas para mim. Senti meu pênis crescer com a
ideia de ter a bunda dela batendo contra a minha pelve, enquanto ela usava o
sua nova alimentação desde que ele teve gastrite, que coloquei na sua
vasilha. Quando Iandra apareceu, infelizmente, ela estava muito vestida para
o meu gosto, mas não me deixou levá-la para o quarto novamente e despi-la.
Capítulo
assunto, não?
Eu que não sabia por que ainda pedia aquilo. — Eu e ela estamos juntos há
um bom tempo e você ainda continua solteirão.
— Talvez eu esteja esperando para resgatar a “minha donzela bêbada”
— disse em tom de brincadeira.
— Torço para isso acontecer logo. — Roguei a praga, não escondendo
Fiz uma pausa ao vê-lo desviar o olhar e pousá-lo em uma das alunas
dele. Se não me engano, era uma das cheerleaders mais populares da
universidade. Frederik começou a sorrir, porém se conteve.
Estranhei a reação dele, e sendo mais forte do que eu, comecei a
provocá-lo, mesmo sabendo que, por questões éticas, ele não deveria estar de
olho em uma aluna.
— O assunto “relacionamento” está te colocando nervoso?
quem estava em trabalho de parto, mas, no lugar do meu irmão, acredito que
estaria tão perturbado quanto, ainda mais que era o primeiro filho.
— A caminho do Riverside Methodist — murmurou.
— Eu encontro vocês lá, Shall.
— Obrigado, mano. — Desligou a ligação.
Fiquei olhando para a tela do celular meio aparvalhado, até que,
reagindo, escrevi uma mensagem rápida para Laranjinha, contando a
novidade e passando o endereço, já que, nessa hora, ela devia estar em
reunião e não me atenderia.
Guardando o aparelho no bolso, voltei para onde Fred estava. Ele
mexia no seu celular.
— Está tudo bem, cara? Você está parecendo exaltado.
— Meu sobrinho. — sorri de orelha a orelha. — Ele está a caminho.
— Que notícia boa, Derek!
— Estou indo para o hospital. — Peguei as minhas coisas.
— E a prova que você ia aplicar?
engraçada a manchete que falava sobre a mulher misteriosa que estava aos
beijos com o ricaço Derek Sommerfeld. Iandra não iria gostar nada quando
visse isso.
Fechei a revista e coloquei-a junto com as outras em uma mesinha na
sala de espera privativa, que meu irmão havia alugado para a família, já que,
além da mãe de Syll, somente Shall assistiria o parto, o que gerou um
pequeno desentendimento com o iraniano por ele entender que o parto era
um momento exclusivamente feminino. Admirei a diplomacia do meu irmão
em lidar com o sogro, mesmo em meio a ansiedade e nervosismo.
Ergui-me e fui abraçar a minha namorada, que carregava alguns balões
e um buquê com pequenas margaridinhas e rosas. Não havia pensado nisso,
não trouxe nenhum presente.
— Vim o mais rápido que pude. — Deu um sorriso fraco, parecendo
sem graça. — Nunca fiquei tanto tempo longe do meu celular, mas, hoje, as
coisas estavam bastante corridas. Só vi a mensagem praticamente agora.
— Não se preocupe. — Deixei um beijo em sua testa. — O importante
é que você veio para dar o seu apoio.
Os olhos verdes brilharam.
— Ela já está na sala de parto? — questionou suavemente. — Essas
coisas demoram por conta da dilatação — Syll foi levada para a sala há
alguns minutos. — Respirei fundo .— Para desespero de Shall, ela só
informou a ele quando as contrações estavam com intervalos muito curtos.
— Entendi.
Sentou-se.
— Quer que eu pegue algo para você comer ou beber, amor? —
ofereci.
— Não precisa, Derek, obrigada.
— Hm.
Colocando os presentes na mesinha do lado do sofá, sentei próximo a
minha mulher e automaticamente nossos dedos se entrelaçaram.
— Você um dia se imagina, assim? — murmurou a pergunta depois de
permanecermos em silêncio por vários minutos, a ausência de som sendo
apenas quebrada pelas sirenes de ambulâncias chegando e saindo.
— Assim como? — Encarei o rosto dela, que estava voltado para mim.
Ela tinha um ar sonhador, ao mesmo tempo que parecia emocionada.
— Filhos, Derek. — Brincou com a minha mão.
Eu confesso que fiquei surpreso com a pergunta. Ainda não tínhamos,
em nenhum momento, falado sobre essa possibilidade. Acho que, no fundo,
temíamos assustar um ao outro, pois ter uma criança era dar um outro passo,
mesmo que fosse em um futuro longínquo. Meu coração começou a acelerar.
— Um dia você gostaria de ser pai?
comentei, sonhador.
estivéssemos, mas não me importei. — Eu não vou parir tantos filhos assim!
— Então já aceitou ser a mãe dos meus filhos? — Soei malicioso,
— Não tenho dúvidas que iremos amar todos eles — ergueu a minha
mão, deixando um beijo suave no meu dorso.
que ele era grande, não concordava. Confesso que fiquei com medo de pegar
no colo.
Tinha sido uma longa espera até que Devon viesse ao mundo, mas a
alegria silenciosa que havia no quarto, presente na face de uma mãe exausta,
que tinha uma longa recuperação do puerpério pela frente, e na do pai que
acariciava o rosto da esposa, era contagiante. Até mesmo o avô, que parecia
um homem emburrado, soltou um grito de alegria ao saber que o neto tinha
latido e patas arranhando a minha porta pela parte de dentro, algo que não
era nenhuma surpresa, embora devesse temer o fato de o animalzinho ter
aprontado alguma. De vez em quando, ele deixava um rastro de papel picado
e terra no meu chão. Até mesmo já encontrei uma lagartixa morta, o que fez
com que eu gritasse e muito.
— Já vai, menino sapeca — murmurei.
Abrindo a porta, não contive um sorriso quando Charlie ficou em pé
nas duas patas, balançando o rabo freneticamente, como se me ver fosse a
melhor coisa que ele já tinha visto.
Latiu.
— Obrigada pela recepção. — Abaixei-me para deixar um beijo no
focinho dele depois de colocar minha bolsa e chave sobre o aparador. — Eu
também senti sua falta, querido.
Acariciando os pelos macios e bastante cheirosos, pelo banho que
Derek havia dado nele ontem, gargalhei quando o animalzinho lambeu o
meu rosto, principalmente o nariz, fazendo cócegas.
— Agora chega, Charlie — disse depois de brincar com ele por uns
instantes. — Estou morrendo de fome.
que Derek havia segurado as mechas desse jeito. Fiquei levemente irritada
pelo meu namorado parecer imune a nossa proximidade. Colocando os fios
de lado, pegou o colar dos meus dedos e deslizou a correntinha contra o meu
pescoço. Os pelos da minha nuca se arrepiaram ao sentir seus dedos tocarem
a região sensível enquanto encaixava o fecho, demorando mais do que era
necessário na minha opinião. Não havia dúvidas que eu estava ruborizada,
ainda mais por ele me provocar na frente dos nossos convidados. Ele iria se
ver comigo mais tarde.
— Pronto, Laranjinha — falou em um tom divertido e eu bufei.
Com uma risada baixa, irritando-me mais ainda, virou-me em seus
braços com agilidade e deu um selinho em meus lábios. Seus olhos negros
eram pura diversão.
— Feliz aniversário, amor. — Acariciou a minha face. — Gostou da
surpresa?
Pareceu um pouco inseguro, e isso fez com que minha leve irritação se
dissipasse.
— Bobo!
Deixei alguns tapas no seu ombro.
— E ainda tem mais uma surpresa. — Sua voz era séria, o que não
combinava muito com o clima comemorativo.
mesmo Charlie tinha ficado quieto, fazendo com que uma fina camada de
suor frio cobrisse a minha pele.
Jurava que os únicos sons que ouvia eram das respirações e do meu
coração, que parecia que a qualquer momento iria sair pela boca.
em mim.
caixinha de veludo em sua mão, o que não me fez mais ter dúvidas daquilo
que ele estava prestes a fazer.
etapas…
Escutei a risada grossa de Marshall sendo seguida de um aí, Sybill
ser, da minha alma, e isso faz com que eu queira ainda mais apressar as
coisas. — Seu tom rouco me tocou e não consegui segurar mais o choro. —
Sei que, por morarmos a dois passos de distância, já compartilhamos vários
diamantes encravados nele. — Quer se casar com um homem que será sua
cadelinha, ou melhor, seu cachorro, até o último suspiro?
— Deus, essa foi péssima, Derek. — Minha voz saiu esganiçada, mas,
ainda assim, as lágrimas tornaram-se mais intensas diante das suas palavras.
— Quer ser a esposa de um homem que fará você sorrir todos os dias
com suas cantadas horríveis e piadas ainda piores? — insistiu.
“excêntricos”.
— Obrigado, amor. — Gargalhou também, mas logo desabou em
um fungar em meio à barulheira de sons, mas não precisei olhar para saber
tornou exigente quando ele me apertou contra si, sua língua devorando a
minha.
que mais me tocou foi o “bem-vinda a família, irmã” dito por Syll em meio a
um abraço apertado.
do mundo.
Bônus
— Deus!
Começou a gargalhar alto e, tomado pela exaltação, felicidade e amor,
abraçou-me com força, quase que me esmagando, porém eu ria tanto que
chegava a doer, pela reação linda dele. Seu rosto molhava os meus ombros
enquanto chorava, soluçando. Acariciei seus cabelos, deixando-me levar
pelas minhas emoções.
— Não acredito que vou ser pai, Laranjinha — disse com voz
embargada pelo choro. — Diz para mim que não é mentira.
— Trouxe outro teste para confirmar se não é um falso-positivo, mas
acho difícil, pois não estou tomando nenhum remédio.
Derek voltou a rir e, deslocando o braço para baixo, na região das
minhas nádegas, ergueu-me no alto. Segurei seus ombros.
— Derek! — Dei um gritinho quando ele começou a me girar.
Não sei quantas voltas meu marido havia dado, só sei que uma onda de
enjoo me invadiu.
comigo, pois os enjoos e o inchaço tinham sido terríveis para ela. Porém,
olhar para os rostinhos chorosos quando eles nasceram foram as imagens
mais lindas que eu tinha visto.
Sim, eu tinha desgramado a chorar durante os dois partos, tanto que,
para a minha vergonha, minha esposa precisou me consolar e acalmar, e não
o contrário.
— Espera seu primo subir antes de ir, Devon — alertei.
Não escutei a resposta do meu sobrinho, pois o gritinho da minha filha
ecoou no ar. Em meio a risada dela, ouvi os latidos de Charlie quando seus
Sem esperar resposta, o meu filho correu pela grama e o priminho dele
o seguiu, junto com Charlie, que trotou atrás deles, latindo e balançando o
rabo, achando que estavam brincando com ele.
— Cuidado com Charlie — avisei ao pegar Loren no colo. Eu e
Marshall fomos atrás deles.
As crianças soltarem um “Tá bom”, porém não foi necessário, pois o
cachorro, esperto, colocou-se a uma distância segura, deitando-se no chão
com a língua para fora.
Logo os dois estavam pegando impulso no brinquedo e riam. Coloquei
minha menina no balancinho do canto, passando a trava de segurança, e
empurrei-a suavemente.
— Temos sorte, não é mesmo? — Meu irmão fez uma pergunta que
parecia retórica, que quase não escutei em meio a gritos, risadas e as
conversas das crianças.
— Sim, somos — concordei.
Usei as duas mãos para aparar o balanço e voltar a empurrar. Loren fez
um som alto de deleite.
— Conseguimos construir famílias lindas, Shall — fiz uma pausa,
apenas para adotar um tom malicioso: — ou melhor, estamos construindo…
Gargalhou, eufórico, com a recordação de que em breve ele seria pai
de gêmeos e eu teria mais um filho. Acabei rindo também.
— Sem correr. — Marshall foi atrás deles, pois sabia que com a
perspectiva de comer suas guloseimas, eles não iriam obedecer.
a mesa.
Enquanto eu seguia as duas, mais uma vez, sem cansar de ser
Sinopse: Solteirão convicto e CEO da maior companhia do ramo de
empresa do avô, ele queria mais do que nunca que Estebán tirasse o seu
avô só daria ao empresário o que tanto almejava se ele lhe desse um outro
herdeiro.
Um filho, definitivamente, não estava em seus planos.
pressionado a ter um bebê. Mas um plano surge em sua mente ao ouvir que
a menina que viu crescer, a sua melhor amiga de infância, desejava ser mãe.
Não havia mulher mais perfeita para gerar o seu filho, já que Sofia era
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da sua carreira, venceu oitenta e oito torneios criados pela LPGA - Ladies Professional
Golf Association —, além de outros dez títulos. Considerada a jogadora da década pela
Golf Magazine, em 1988.
[8] Acertar o buraco em uma única tacada.
[9] Corte proveniente da costela de Angus (de animais com até 18 meses) que é
preparado depois de ser maturado por vinte um dias e cozinhado em fogo alto para
torná-lo mais suculento. É um clássico da culinária argentina e também bastante
popular nos Estados Unidos.
[10] Molho de origem francesa feito de maionese, anchovas, especiarias, mostarda,