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Índice
46 “O olhar é um pensamento”
“Chuva”
oOo
48 “Cólofon ou epitáfio”
Alexandre O'Neill
20 “Albertina' ou 'O inseto-insulto' ou Manuel Alegre
'O quotidiano recebido como mosca” 36 “O Poeta”
22 “Bome expressivo” 38 “As Palavras”
23 “Homem” 59 “Balada dos Aflitos”
24 “Guichê/1" 60 “Crónica de Abril [Segundo Fernão Lopes)”
26 “O Macaco” 62 “D. Sebastião”
27 “Mendigo com lugar cativo” 63 “Poemarma”
Questionário resolvido 69 “A Foice ea Pena” Questionário resolvido
Herberto Helder
36 “Não toques nos objetos imediatos” » Sugestões de resolução
ISBN 978-972-0-84812-3
Poetas contemporâneos no projeto Outras Expressões - outros poemas
Nuno Júdice
Jorge de Sena
Alexandre O'Neill
Patas
Jul (o Das Tantoje pose
Herberto Helder
Manual “nada pode ser mais complexo que um poema” [p. 196]
Ruy Belo
Manuel Alegre
Recursos genéricos .
| Nuno Júdice
12 | Jorge de Sena
20 | Alexandre O'Neill
28 | António Ramos Rosa
R ia Ds ig
“48 | Ruy Belo.
56| Manuel Alegre
66 | Luiza Neto Jorge
Nuno Júdice ,
OdZLAXTO
Poeta, ensaísta, ficcionista e professor na Universidade Nova de Lisboa (1949). O seu
livro de estreia, 4 Noção do Poema, é, no começo dos anos 70, um dos primeiros sinais
BIOUPa OUOT
de uma nova sensibilidade que então se define na poesia portuguesa, em contraste
com a tendência dominante do decénio anterior, [...] que, por caminhos diferentes, [...]
está absorvida com a palavra, a linguagem, o textual. Assiste-se, com os primeiros li-
vros de Nuno Júdice, a uma atitude mais liberta, mais solta perante a linguagem, a
uma recuperação do que se chamou a “tradição discursiva”, e a um interesse por
tudo o que [...] “devolva [o poema] para além dele”. A reabilitação do discursivo com-
preende também [...] a utilização de um verso invulgarmente longo, apontando para
uma indistinção entre poesia e prosa [...].
MARTINHO, Fernando J. B., 1997. “JÚDICE (Nuno]”. In Biblos - Enciclopédia Verbo
das Literaturas de Lingua Portuguesa. Vol. 2. (pp. 1300-1301] [adaptado]
Algumas obras: 4 Noção de Poema, 1972; Crítica Doméstica dos Paralelepípedos, 1973;
Nos Braços da Exígua Luz, 1976; A Partilha dos Mitos, 1982: As Regras da Perspetiva,
1990; Um Canto na Espessura do Tempo, 1992; Meditação Sobre Ruínas, 1994: Teoria
Geral do Sentimento, 1999; Linhas de Água, 2000; Rimas e Contas, 2000: Poesia Reunida
1967-2000, 2000; Pedro, Lembrando Inês, 2001; O Estado dos Campos, 2003; Geometria
Variável, 2005; A Matéria do Poema, 2008; O Breve Sentimento Eterno, 2008; Navegação
de Acaso, 2013; O Fruto da Gramática, 2014; A Convergência dos Ventos, 2015.
Chuva
Chove como sempre. E,
como sempre que chove,
as pessoas abrigam-se
(as que não estavam à
espera que chovesse);
w
ou abrem, simplesmente,
o chapéu de chuva - de
preferência com fecho
automático. Porque, quando
chove, todos temos de
5
Rise E
OEXPIZPC & Porto Editora
Convívio
A mulher da caixa espera que os últimos clientes
saiam para fechar a caixa. Faz contas de cabeça,
e não olha para a rua onde a neve permanece
sem que o céu faça alguma coisa para a levar
dali. A neve e a mulher da caixa juntam-se, assim,
en
Leitura | Compreensão
Es Explica em que medida o “eu” se sente diferente dos outros com os quais partilha
o espaço do “café” (v. 18).
Gramática
Relendo Camões
Vejo ainda coisas por dizer: em cada mudança
não somos já quem costumávamos; e quando mudamos,
é quem fomos que fica ainda por mudar. Um ser pode
ser tudo o que quisermos, se o tempo o deixar;
s mas não será outro se entre ontem e hoje
se não souber transformar: pois é o desejo,
mais do que a fortuna, que faz com que sejamos
amanhã o que hoje não esperamos ser; a não ser
que o amor nos prenda à sua sorte constante. Então,
w de dentro da alma, o sereno rosto procura novas
inquietações; o teu riso o desperta de entre dias
e estações, convidando-o para a vida que é assim:
feita de mudança, quando tudo vai ficar;
e insistindo em ser o que tinha de mudar.
JÚDICE, Nuno, 2003. O Estado dos Campos. Lisboa: Dom Quixote (p. 129) Júlio Pomar, Camões, sem data. Galeria de Arte do
Clube Nacional de Artes Plásticas, Lisboa
Leitura | Compreensão
a Atenta na passagem: “Um ser pode / ser tudo o que quisermos, se o tempo o deixar”
(uv. 3-4).
“or
nome o.
Imagem do mundo EB
É
3
5
Vejo o mundo. E ao ver as coisas do mundo, 3
m
5
Ex
Eê
com a sua realidade própria, vejo também
a diversidade que existe em cada coisa,
distinguindo-a, múltipla ou plural,
como se diz. No entanto, o que eu vejo
a
ut]
Acordar
Um dia, quando começa, parece igual aos
outros. A mesma luz que entra pela janela,
ruídos de obras e automóveis, vozes... Mas
o que nesse dia me falta é outra coisa: a tua
voz, a surpresa de cada instante que me dás,
a
3. Identifica o recurso expressivo presente nos dois últimos versos e explicita o seu valor.
Nos dois últimos versos do poema, a antítese coloca em confronto a importância que a
OEXPLZPC O Porto Editora
presença do ser amado tem na relação amorosa do sujeito poético e a aparente insignifi-
cância de que isso se reveste para quem observa de "fora”. A ligação sentimental é,
assim, “tudo” para os envolvidos, ainda que possa, externamente observando, parecer
“nada”.
Jorge de Sena g
Leitura | Compreensão
Identifica a alínea que, na tua opinião, introduz de forma mais expressiva o tema do
texto, justificando.
(A) [| A poesia contemporânea.
(B)[ | O dia de aniversário do poeta.
(C)[ | A mortalidade do poeta.
(D)( | Aimortalidade do poeta.
(E) |) As metáforas poéticas.
Es Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1,3., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.
Os trabalhos e os dias À
Sento-me à mesa como se a mesa fosse o mundo inteiro
e principio a escrever como se escrever fosse respirar
o amor que não se esvai enquanto os corpos sabem
de um caminho sem nada para o regresso da vida.
ca OIT LIXÃO
E os convivas que chegam intencionalmente sorriem
e só eu sei porque principiei a escrever no princípio do mundo
PIONPT OO
e desenhei uma rena para a caçar melhor
15 € falo da verdade, essa iguaria rara:
este papel, esta mesa, eu apreendendo o que escrevo.
SENA, Jorge de, 2010. “Coroa da Terra”. In Antologia Poética. Lisboa: Guimarães (p. 45)
[Ridge Compreensão
Gramática
Os paraísos artificiais
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Leitura | Compreensão
Humanidade
Na tarde calma e fria que circula
Leitura | Compreensão
SENA, Jorge de, 2010. “Pedra Filosofal” In Antologia Poética. Lisboa: Guimarães (p. 45)
Leitura | Compreensão
a Comenta a expressividade do recurso com que se inicia e com que termina a com-
posição.
OEXPI2ZPC & Porto Editora
OEXP12PC-02
Poetas contemporâneos
Cabeça Grande
Um dia o telúrico poeta
SENA, Jorge de, 2010. Dedicácias. 2.º ed. Lisboa: Guerra e Paz (p. 51) (1.2 ed.: 1999)
pie E
pç] | Compreensão
Ro
Quem a tem... NA
Ee
Não hei de morrer sem saber E gi
qual a cor da liberdade.
morrer sem saber” (w. 1, 8e 13), que são octossilábicos. A rima é interpolada e empare-
lhada nas sextilhas e os versos são brancos no dístico (rimando, contudo, com os das
estrofes seguintes].
Alexandre O'Neill *
ROCHA, Clara, 1999, “O'NEILL (Alexandre)”. In Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Lingua Portuguesa. Vol. 3. Lisboa: Verbo [pp. 1275-1276]
“Albertina” ou “O inseto-insulto” ou
“O quotidiano recebido como mosca”
O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstração, alguns minutos
Do nariz para o chão
s Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.
Alexandre O'Neill
Leitura | Compreensão
Bom e expressivo
Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.
G DATIAXIO
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
PIOUPI OO
e torce-lhes o pescoço,
RT R jap fasso]
Homem
INSOFRIDO TEMÍVEL ADAMADO PURO SAGAZ INTELIGENTÍSSIMO
MODESTO RARO CORDIAL EFICIENTE CRITERIOSO EQUILIBRADO
RUDE VIRTUOSO MESQUINHO CORAJOSO VELHO RONCEIRO ALTIVO
ROTUNDO VIL INCAPAZ TRABALHADOR IRRECUPERÁVEL CATITA
POPULAR ELOQUENTE MASCARADO FARROUPILHA GORDO HILA-
am
O'Neill, Alexandre, 2005. “Entre a cortina e a vidraça”. In Poesias Completas. 4.º ed.
Lisboa: Assírio & Alvim (p. 317) (1.º ed.: 2000)
Leitura | Compreensão
O Depois da leitura atenta do poema, identifica a classe a que pertencem todas as pala-
vras utilizadas [caso desconheças o significado de alguma, consulta um dicionário).
1.1. Relaciona a sua utilização com o título do texto.
Guichê /1
Quando o burocrata trabalha é pior do que quando destrabalha.
& DATITXIO
Antes quero esperar, aquém guichê, que ele discuta toda a bola ou pedal que
tem para discutir
TIOHPT 00
com os destrabalhadores dos seus colegas;
s antes quero esperar pelo meu burocrata
do que ter a desilusão de o ver trabalhar para mim mal eu chegue.
Isso custa-me pés e cotovelos, cáibras e suspiros, repentinos ódios vesgos,
projetos de cartas a diretores de vespertinos,
mas se o meu burocrata assomasse à copa do papel selado
1» e me convidasse, ato contínuo, a dizer ao que vinha pelo higiafone”,
da boca não me sairia um pedido, mas um regougo?,
e eu teria de ceder a vez
igarro que me queimasse a nuca.
preciso exercer a paciência e cultivar a doçura no canteiro do rosto,
15 enquanto o burocrata destrabalha.
Geralmente não serve de nada pigarrear ou dizer com voz-passadeira
“Fazmôbséquio”.
tar-se-iam, além guichê, as sobrancelhas de, pelo menos, três sujeitos.
Melhor será começar pelo globo que pende do teto
Ig !>
7» e que é um olho vazado sobrepujando? a cena.
Melhor será observar como a mosca dos tinteiros
nele pousa as patinhas escriturárias.
Depois (lição de coisas!) baixar os olhos para o calendário mural
e ver quantas cruzes a azul ainda faltam para liquidar o mês.
25 À seguir, circunvagar o olhar para ir enquadrar noutra parede
& um calendário perpétuo parado um mês atrás.
“Também aqui há zelo e desmazelo.
à Também aqui falta o tempo e sobra o tempo.
Por certo é o mantenedor” do calendário em dia 1. abertura na proteção
30 O que está a vir para estes lados. ade um gabinete;
Leitura | Compreensão
Es Apresenta uma justificação para o “regougo” (v. 11) do sujeito poético caso o “seu”
“burocrata assomasse à copa do papel selado” [v. 9) e o “convidasse, ato contínuo, a
dizer ao que vinha pelo higiafone” lv. 10).
Enumera as diferentes etapas sugeridas pelo sujeito poético para superar a prova
da espera no guichê.
Refere o efeito de sentido produzido pela anáfora e pelo paralelismo nos versos 27 e 28.
Elen ldes]
E Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.3., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.
O Macaco
(Valsa lisboeta)
(Comentário a desenhos de Júlio Pomar) 5
Nunca se sabe E
até que ponto 7
um macaco E
pode chegar Ê
na ânsia de
nos imitar
Dizem
alguns autores
ser o macaco
difícil de apanhar
— mas não
Em qualquer
mundana
reunião
num ombro
numa frase
num olhar
no jeito
“humanista”
de falar
aí temos
o macaco
a trabalhar
procurando
aproveitar
a confusão
Pessoalmente
sou de opinião
que o macaco
é fácil de caçar
até à mão.
O'Neill, Alexandre, 2005. “Poemas com Endereço”. In Poesias Completas.
42 ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 178-179) (1.º ed.: 2000)
Seg
Leitura | Compreensão
1. Refere o efeito de sentido produzido com o recurso ao neologismo “remorseando” tv. 3).
O neologismo contribui para realçar o carácter repetitivo da ação do “mendigo” refe-
rido no título do poema e descrito na primeira estrofe. A palavra destaca o contínuo togue
“da bengala a percutir o chão” (v 2), que lembra um código [Morse] destinado a sensibili-
zar os transeuntes, e sugere, igualmente, o (longo) tempo demorado pelos que se cru-
zam com ele a dar-lhe uma moeda.
2. Relaciona o conteúdo da segunda estrofe com a interrogação retórica com que ter-
mina o poema.
À segunda estrofe remete para os que, como o sujeito poético (que é parte do “nós”
em nome do qual fala), se revelam solidários com o mendigo, mas “a medo” [y 4), receo-
sos das “pragas” (v 8) de que serão alvo se não contribuírem. A referência à doação com
a hesitação de “desfazer o gesto” (v 4) confirma/justifica a perceção do mendigo de que
lida com “passarões” (v. 3), cuja fraternidade não é espontânea.
RIBEIRO, Cristina Almeida, 2001. “ROSA [António Ramos)”. In Biblos - Enciclopédia Verbo
das Literaturasde Lingua Portuguesa. Vol. 4. Lisboa: Verbo [pp. 995-997]
Algumas obras: O Grito Claro, 1958; Viagem Através duma Nebulosa, 1960: Voz Inicial,
19260; Sobre o Rosto da Terra, 1961; Ocupação do Espaço, 1963; A Construção do Corpo,
1969; Ciclo do Cavalo, 1975; Boca Incompleta, 1977; O Incêndio dos Aspetos, 1980;
Volante Verde, 1986; Acordes, 1989; Oásis Branco, 1991; Intacta Ferida, 1991; Noites
de Ninguém, 1997; A Imagem e o Desejo, 1998; O Princípio da Água, 2000; As Palavras,
2001; O Que Não Pode Ser Dito, 2003; Relâmpago de Nada, 2004; Passagens, 2004;
Génese seguido de Constelações, 2005; Horizonte a Ocidente, 2007; Em Torno do
Imponderável, 2012; Numa Folha, Leve e Livre, 2013.
ge Branco vazio
António Ramos Rosa
Poema
As palavras mais nuas
as mais tristes.
As palavras mais pobres
as que vejo
s sangrando na sombra e nos meus olhos.
Que alegria
8 elas sonham, q que outro dia,
para que rostos brilham?
Se reunissem
para uma alegria nova,
5 que o pequenino corpo Auguste Herbin, Composition, 1939.
o. Museu Coleção Berardo, Lisboa
de miséria
respirasse o ar livre,
a multidão dos pássaros escondidos,
a densidade das folhas, o silêncio
2» € um céu azul e fresco.
ROSA, António Ramos, 2014, “O Grito Claro”,
In Poesia Presente - Antologia. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 26)
iate DR jp o RE ]o
Gramática
Leitura | Compreensão
Es Explica o valor das comparações e metáforas associadas à palavra”, nos versos 22 e 29.
António Ramos Rosa
O funcionário cansado
À noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
em
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
w Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
A
Luigi Colombo Fillia, Paesaggio
tento escondê-la envergonhado
em
Es Refere o efeito de sentido produzido pela repetição da expressão “num quarto só”
lw. 7,9e 28).
Destaca o valor dos recursos expressivos presentes nos versos 1 e 27, relacio-
nando-os.
Poetas contemporâneos
1. voltas em espiral; 2. inchadas, orgulhosas; 3. conjuntos de pétalas de flor; coroas; 4. que não se pode anular, definitivo.
António Ramos Rosa
Escrita |:
na qual
Redige uma exposição bem estruturada, de duzentas a trezentas palavras,
apresentes as linhas de leitura dos poemas.
Planífica o teu texto, aplica-te na sua redação e revê-o atentamente.
2 BLOCO INFORMATIVO pp. 320-321
Antônio Ramos Rosa
EO LR a ssa
do deserto.
O meu canto eleva-se
entre as mandíbulas da morte.
O que eu desejo
vem depois de toda a esperança
e vai para o zero inaugural
como uma sílaba de silêncio ou de água.
ROSA, António Ramos, 2014. “Os Volúveis Diademas”
In Poesia Presente — Antologia. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 315)
Algumas obras: 4 Colher na Boca, 1961; Lugar, 1962; A Máquina Lírica, 1964; Húmus,
1967; O Bebedor Noturno, 1968; Vocação Animal, 1971; Cobra, 1977; O Corpo o Luxo a
Obra, 1978; Photomaton & Vox, 1979; Flash, 1980; A Plenos Pulmões, 1981; A Cabeca
entre as Mãos, 1982; As Magias, 1987; Última Ciência, 1988; Do Mundo, 1994; Doze Nós
Numa Corda: poemas mudados para português, 1997; Fonte, 1998; A Faca Não Corta o
Fogo - Súmula & Inédita, 2008; Servidões, 2013; A Morte Sem Mestre, 2014; Poemas
Canhotos, 2015; Letra Aberta, 2016.
Laranjas instantâneas
Laranjas instantâneas, defronte — e as íris ficam amarelas.
A visão da terra é uma obra cega. Mas as laranjas
atrás das costas, as mais
pesadas, as mais
s lentamente maduras, as laranjas que mais tempo demoram
a unir o dia à noite, que têm uma força maior em cima
das mesas, essas.
Operatórias. São laranjas ininterruptas trabalhando em imagens
as regiões ofuscantes da cabeça.
o Enriquecem o ofício sentado com um incêndio
quarto a quarto da alma. Enriquecem, devastam.
— Constelação ao vento avassalando a casa.
HELDER, Herberto, 2004, “Última Ciência”. In Ou o Poema Contínuo. Lisboa: Assírio & Alvim (p- 443-444)
Leitura | Compreensão
2.2. Interpreta a utilização do adjetivo “ininterruptas” [v. 8], no contexto em que ocorre.
O Poema
Apresenta uma interpretação do verso “E o poema cresce tomando tudo em seu re-
gaço.” [v. 14).
Gramática
1) Classifica como verdadeiras [V) ou falsas (F] as afirmações que se seguem e cor-
rige devidamente as que considerares falsas.
a.) O advérbio utilizado na primeira frase do poema desempenha a função sin-
tática de modificador.
b. || Os dois últimos versos da primeira estrofe apresentam um valor modal de
certeza.
c. || O sujeito da primeira oração do verso 6 é indeterminado.
d. | | A expressão “o silêncio”, usada no verso 12, desempenha a função sintática
de complemento direto.
e. | No contexto em que ocorrem, as palavras “violência” (v. 6], “sol” lv. 8), corpos”
(x. 9), “rios” (v. 11) e “folhas” [v. 12) integram o campo semântico de “mundo”
[v. 6).
f. || Os adjetivos presentes no verso 16 são modificadores apositivos do nome.
g.! | Os versos 21 e 22 são constituídos por uma frase simples, que integra um
verbo intransitivo.
h. | | Na evolução do étimo latino mensam para “mesa” [v. 17) intervieram os pro-
cessos fonológicos da apócope e da sincope.
|. | | Aconjunção “e” liga, nos versos 17 a 20, orações coordenadas.
j. |] O último verso do poema apresenta um valor aspetual genérico.
k.| | Arepetição de “o poema”, ao longo da composição, constitui um mecanismo
de coesão interfrásica.
O nome “regaço” Iv. 14] foi formado a partir do verbo “regacar” [sinónimo de “arrega-
OEXPI2PC O Porto Editora
car”).
2.1, Considerando a informação, identifica o processo de formação que está na
origem de “regaço”.
Poetas contemporâneos
Wassily Kandinsky,
Yellow-Red-Blue, 1925.
Musée Nationald' Art
Moderne, Paris
Herberto Helder
e as virilhas em chama.
É a minha vida. Mas essa criança
é tão brusca, tão brusca, ela destrói e aumenta
o meu coração.
«s No outono eu olhava as águas lentas,
ou as pistas deixadas na neve
de fevereiro, ou a cor feroz,
ou a arcada do céu com um silêncio completo.
Misturava-se o vinho dentro de mim, misturava-se
so a ciência da minha carne
o
pequena, e sonhar
estes imensos arcos que os séculos vão colocando
sob os astros — e se de tudo
a sua cabeça estremecer como numa loucura,
4 com altos picos em volta, com enormes faróis
S
sem nome —
6 será ainda que do meu sangue se erguem finas
[2]
Leitura | Compreensão
EE Relaciona a metáfora utilizada pelo sujeito poético na primeira estrofe com o as-
sunto do poema.
2.1, Apesenta uma interpretação das passagens em que o sujeito poético des-
creve “essa criança”:
a. “Essa criança tem boca, há tantas finas raízes / que sobem do meu sangue.”
[vv 17-18).
E A quinta estrofe introduz um cenário hipotético sobre o qual o sujeito poético re-
flete.
HELDER, Herberto, 2013. Servidões. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 73) Mário Cesariny, sem titulo, 1949.
Coleção particular
iai Rs
o fais To
E Interpreta:
(& Porto Editora
DATIAXTO
esquecimento. Uma vida distribuída
FIMIPa QUO 1
por solidão.
o
Sou fechado
como uma pedra pedríssima. Perdidíssima
da boca transata. Fechado
como uma. Pedra sem orelhas. Pedra una
reduzida a. Pedra.
a
sem orelhas, pedra sem boca. E que desce os dedos 2. Purificado, depurado,
E espera devagar.
Leitor que espera uma flor atravancada,
balouçando baixa
sobre. Mergulhados
Herberto Helder
40 filamentos no terror
devagar
E para quem volto. Muitas coisas sobre 7 para ti. Um livro que vai morrer depressa.
Uma coisa. Volto Depressa antes. Que a onda venha, a onda
uma exaltante morte de Deus. Auxiliado alague: A noite caída em cima de teus dedos.
auxiliar. O espírito, a pedra. De encontro à cor de encontro à. Paragem
40 Do poema. da cor. Este livro apertado nas estrelas
Leitor à minha frente. Vindo 7 da boca, estrelas.
o
O olhar é um pensamento
O olhar é um pensamento.
Tudo assalta tudo, e eu sou a imagem de tudo.
O dia roda o dorso e mostra as queimaduras,
a luz cambaleia,
a beleza é ameaçadora.
— Não posso escrever mais alto.
Transmitem-se, interiores, as formas.
HELDER, Herberto, 2004. “Do Mundo”. Joan Miró, Pintura (Mulher diante do
In Ou o Poema Contínuo. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 552) sol), 1950. Coleção particular
ei
Mt Rot aloe ET
HELDER, Herberto, 2013. Servidões. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 50-51)
Algumas obras: Aquele Grande Rio Eufrates, 1961: O Problema da Habitação - Alguns
Aspetos, 1962; Boca Bilingue, 1966; Na Senda da Poesia, 1969; Homem de Palavras,
1973; Transporte no Tempo, 1973; País Possível, 1973; A Margem da Alegria, 1974;
Toda
a Terra, 1976; Despeco-me da Terra da Alegria, 1977.
Colofon ou epitáfio
Trinta dias tem o mês
e muitas horas o dia
todo o tempo se lhe ia
em polir o seu poema
s a melhor coisa que fez
ele próprio coisa feita
tuy belo portugalês
Não seria mau rapaz
quem tão ao comprido jaz
o ruy belo, era uma vez
BELO, Ruy, 2004, “Primavera”. In Todos os Poemas 1.
2.º ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 362) (1.º ed.: 2000)
Leitura | Compreensão
Interpreta os versos:
“tudo isto não importa importam só
as mínimas e únicas palavras que ficam disto tudo
e tudo isto fixam [...]” [wy. 14-16].
6 Destaca a intencionalidade das expressões colocadas entre aspas nos dois últimos
OEXPI2PC & Porto Editora
versos do poema.
DEXP12PC-04
Poetas contemporâneos
é Refere o valor do advérbio conetivo “porém” (v. 12) no contexto em que surge.
8 Explicita a forma como o sujeito poético encara a relação entre a vida e a poesia.
Gramática
Exercício
Nos dias em que o vento anima a roupa
suspensa desta ou daquela janela
o meu olhar perdido não a poupa
e vai seguindo os movimentos dela
a Identifica os recursos expressivos presentes nos versos seguintes e refere o seu valor:
a. Aqui estou tristezas alegrias” (v. 5);
b. "Mosteiro dos jerónimos fachada / impassível ao vão vaivém humano” lw,. 13-14).
sunto do poema.
ja Do pole EE=(o]
BELO, Ruy, 2004. “Naus dos Corvos” In Todos os Poemas IT. 2.º ed. Lisboa: Assírio & Alvim
(p. 164) (1.º ed.: 2000)
Tiate Do Tools (o
Escrita q
Leitura | Compreensão
2. Explica a oposição estabelecida na segunda estrofe entre o “Eu” lv. 5]e “josé o homem
dos sonhos” [v. 8).
Na segunda quadra, o sujeito poético apresenta-se como alguém que “canta” (cele-
bra, elogia) “os pássaros e as árvores”, mas que, para isso, se sujeita aos limites los
constrangimentos formais] dos “versos”. Pelo contrário, “josé o homem dos sonhos”,
tal como é apresentado pelo “eu” lírico, é o poeta que “canta” livre e “sem condição”.
por corresponder a um nome “biblico” [v 13] [gue sugere a origem transcendente da poe-
sia, a qual, como se insinua no verso 9, nasce do que o homem “dispõe” a partir do que
“Deus põe”).
Manuel Alegre
Algumas obras: Praça da Canção, 1965; O Canto e as Armas, 1967; Um Barco para
Ítaca, 1971; Coisa Amar - Coisas do Mar, 1976; Atlântico, 1981; Com que Pena - Vinte
Poemas para Camões, 1992; Sonetos do Obscuro Qué, 1993; As Naus de Verde Pinho,
1996; Alentejo e Ninguém, 1996; Senhora das Tempestades, 1998; Doze Naus, 2007;
Nada Está Escrito, 2012: Bairro Ocidental, 2015.
1. praça pública das antigas cidades gregas, semelhante ao fórum romano. 2. Tópico temático; 3. Relativa ao som, fonética.
O Poeta
Ele aprendeu o preço exato da canção.
Seus pulsos estão abertos e a vossa boca bebeu
o sangue puro de uma vida.
Que mais quereis de um homem?
s Vós não podeis roubar-lhe esse luar na alma.
Vós não podeis mais nada. É um homem a cantar
um homem que sorriu aos tambores noturnos
dos vossos cárceres depois cantou
de pé no seu poema.
Manuel Alegre
Interpreta a repetição da expressão “Vós não podeis” [w. 5, 6, 13, 23 e 30), conside-
rando a oposição que se estabelece entre o “ele” [v. 1) e os outros.
3.1. Apresenta uma leitura do verso “Vós não podeis despir um homem que está
OEXPIZPC & Porto Editora
As Palavras
Palavras tantas vezes perseguidas
Leitura | Compreensão
Leitura | Compreensão
Aponta duas circunstâncias referidas no texto ilustrativas de que “este por certo
não é tempo de poesia” lv. 4].
& DATIAXITO
Crônica de Abril
BIOUPA QUO
(Segundo Fernão Lopes]
A rosa a espada o Tempo a lua cheia
entre Abril e Abril memória e ato
este oculto invisível coração.
E a trote dos cavalos os blindados
(quem me acorda no meio do meu sono?)
m
2 a falar uns com outros começavam Não sei se a História tem um fio se
o
ALEGRE, Manuel, 2000. “Atlântico” In Obra Poética. 2º ed. Lisboa: Dom Quixote (pp. 435-439) (1: ed.: 1999)
ti DR le Jesi=ipEtTo]
Editora
E
O O título do poema sugere duas linhas de leitura.
OEXPIZPC & Pori
D. Sebastião
Haverá sempre um porto por achar
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[1] Interpreta as definições de “D. Sebastião” apresentadas nos versos 5-6 e 13-14, no
contexto das estrofes em que surgem.
Poemarma
Que o poema tenha rodas motores alavancas
que seja máquina espetáculo cinema.
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.
3 DdTIAXHO
FIONPA 00d
Fernand Léger, Composition, 1953. Museu Coleção Berardo, Lisboa
e gire]
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A Foice e a Pena
Com outra que não pena arma trabalhas.
Se é minha a pena é tua a foice. Mas
se acaso são diferentes nossas armas
as penas são as mesmas e as batalhas.
o trabalho lhe tenha tirado a vontade, pois só desse modo, “juntando a foice à pena”,
poderá ultrapassar a sua “dor” [v 13), que será denunciada por aqueles que, como ele,
podem, através da sua pena” (v 14), falar da “foice” [u 14) e de quem com ela trabalha.
DEXPIZPC-D5
Luiza Neto Jorge E
Algumas obras: 4 Noite Vertebrada, 1960; Quarta Dimensão, 1961; Terra Imóvel,
1964: 0
Seu a Seu Tempo, 1966; Dezanove Recantos, 1969; Os Sítios Sitiados, 1973; A Lume,
1989.
O Poema (II)
Piso do poema
chão de areia
Digo na maneira
mais crua e mais
intensa
m
de medir o poema
pela medida inteira
o poema em milímetro
de madeira
ou se despedaça
a mão ateia
Eu, artífice
Atento agora ao traço,
corrijo o mais da matéria,
ergo a minha arte do poço
onde flutua.
JORGE, Luiza Neto, 2001. “Os Sítios Sitiados”. In poesia. 2.º ed. Lisboa: Assírio & Alvim (p. 135) (1.º ed.: 1993)
OEXPI2PC & Porto Editora
[Ria Rep)
e ess PELO)
Recanto 2
Viver, entretanto, é ver, ir vendo
e também ver inclui dormir
sem que nada se desfaça ou exclua
no interior dos sonhos.
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Gramática
E Identifica a função sintática desempenhada por “no comércio de viver” lv. 5).
en
são escrita tremida para nós,
mas não se lembrem doutores de erguer a voz
a dizer o que purga e o que molesta.
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Plagiadas arcadas:
Fernand Leger, Nature morte, 1914.
e o meu olhar margina In Les Soirées de Paris: recueil mensuel,
as águas, pródigas águas n.º 26-27, julho e agosto de 1914.
Biblioteca Nacional de França, Paris
2 que redemoinham após a seca.
S
1. jorram;
2. parte mais reservada e fundamental, âmago;
3. de nádegas formosas.
Escrita
Leitura | Compreensão
Encantatoria
3. Presente: "Não passam... os anos sobre ti” [v. 1]. Futuro: “viverás
Nuno Júdice
tivada, segundo os modelos clássicos, desde o Renascimento, que se 1.1, O facto de o sujeito poético aceitar esta situação faz com que ele
caracteriza pela eloguência, pela solenidade e pela elevação de es- sinta o desconforto próprio de quem tem de estar muitas horas em
tilo. Ao retomar o género, o poeta recupera uma forma poética da pé para ser atendido. [v. 7).
tradição literária para o tratamento da relação futura dos seus inter- 2. A verificar-se a hipótese levantada pelo sujeito poético, e face ao
locutores com a sua memória. insólito da situação de ser imediatamente atendido, ele apenas
Poetas contemporâneos
conseguiria resmungar e não produzir um discurso coerente, pois já “O funcionário cansado” (p. 31)
está habituado a aceitar os incómodos da espera. Subentende-se Leitura | Compreensão
que, caso as coisas funcionassem, isso causaria o seu descontenta- 1. A repetição da expressão “num quarto só” intensifica os sentimentos
ciada ao longo da composição. fechamento — hermetismo — do sujeito poético e/ou da sua poesia.
OEXPLZPG
2. a. À passagem remete para a capacidade de comunicação da “luminos-idade” (vv. 6-7]. A translineação efetuada desta forma per-
“criança”, da poesia inocente e pura que pulsa em “finas raízes” no mite a interpretação da palavra “luminos-idade”, associada a
Poetas contemporâneos
“candeia” (vv. 4 e 6), como luminosa idade, tempo luminoso “em meio são bento em vila do conde” [v. 2]. Introduz, pois, um reposicionamento
pertence aos locais onde está bem e onde “num momento tudo” tem 3. No primeiro terceto, o sujeito poético, através da intertextualidade
lv. 3). Confirmando a ideia de que só é português por ter nascido em com a poesia de Camões ["Endechas a Bárbora escrava”) refere q
Portugal e de que pertence aos sítios onde se vai estabelecendo seu cativeiro, a sua prisão, no período da ditadura, motivada pelo uso
(w. 29-30), o adjetivo “hóspede” é utilizado no título para o apresentar
da palavra [Pal auras por quem eu já fui cativo”), que o poder político
como mero frequentador da Terra toda, por onde deambula e onde,
queria “escrava”, submissa e sem voz.
em certos locais, se fixa temporariamente.
4. O último terceto marca uma posição final do sujeito poético relati-
2. Resposta pessoal, com destaque para o contraste entre as ambições
vamente ao que foi expresso: apesar de tudo poder ser levado, serão
do sujeito poético e a pequenez (física? moral?) do país em que nasceu.
as palavras a possibilitar a integridade.
3. É possível identificar no texto os seguintes recursos expressivos:
5. À composição poética é um soneto [duas quadras e dois tercetos).
- a anáfora, nos versos 2 e 3, que contribui para a apresentação do
Os versos decassilábicos apresentam rima interpolada e empare-
“único país” (v. 1] concebido pelo sujeito poético;
lhada nas quadras e cruzada nos tercetos, segundo o esquema rimá-
- a enumeração Ú O malmequera erva o pessegueiro em flor", v. 9), que tico:abba/abba/cbc/dbha.
associa o “país”, tal como preconizado pelo “eu”, ao espaço natural
e às suas características; Gramática
- a antítese, usada, por um lado, no verso 16, para destacar o carác- 1. Orações subordinadas adjetivas relativas restritivas, com função
ter imaterial da palavra “país” face ao concretismo das realidades sintática de modificador restritivo do nome.
que, afinal, o devem constituir, e, por outro, nos versos 17-18, para, 2. Pronome relativo.
através da alusãoà amizades conquistadas e perdidas, salientar a “Balada dos Aflitos” (p. 59)
instabilidade e a itinerância de quem se sente* peregrino e hóspede Leitura | Compreensão
sobre a terra”. 1. Os destinatários das palavras do sujeito poético são os seus com-
“Uma vez que já tudo se perdeu” [p. 54] patriotas, que apelida de “Irmãos”. São caracterizados como “desam-
Escrita parados” (v. 1), desorientados, sem luz para os guiar ['a luz que nos
1. Texto pessoal, respeitando as marcas do género. guiava já não guia”, v. 2), estando numa situação difícil [que passais
um mau bocado”, v. 7), sem capacidade para sonhar (“não tendes se-
Manuel Alegre quer a fantasia / de sonhar outro tempo e outro lado”, vv. 8-9], conside-
“O Poeta” (pp. 55-57) rados sem valia (“sem valor acrescentado”, v. 15] e a quem tudo se
Leitura | Compreensão recusa ['a quem é recusado”, v. 17]. São ainda caracterizados - in-
1. Ainterrogação retórica funciona como conclusão do sujeito poético cluindo-se nestas palavras também o sujeito poético - como “pros-
sobre a definição de poeta que apresentou nos versos anteriores: critos” [v. 21), “perdidos e cercados” [v. 22).
aquele que, tendo aprendido a “preço”, o custo da sua arte, está em 2. O sujeito poético condiciona, neste verso, a oportunidade da poe-
sofrimento, com “os pulsos abertos”, deles escorrendo “sangue puro”, sia, Uma vez que os seus interlocutores passam por grandes dificul-
a pura poesia que alimenta. dades e precisariam antes de alimento [ "gostaria de vos dar outros
2. O interlocutor do sujeito poético, o “Vós” a quem se dirige, corres- recados/ como pão e vinho”, vv. 5-6] e não conseguem encontrar
ponde a uma entidade coletiva repressora, à qual o “eu” afirma o poder forma de as ultrapassar, nem através do sonho (“não tendes sequera
do poeta e da poesia, sobre o qual essa entidade não pode agir ["Vós não fantasia / de sonhar outro tempo e outro lado”, vv. 8-9].
podeis mais nada”, vv. 6, 23, 30; “Nada podeis”, v. 12). Trata-se de uma 3. No texto poético, são claramente criticadas as difíceis condições
entidade de “cárceres” [v. 8, 28), “leis” [v. 10], “máscaras” (v. 10), “pala- em que vivem os cidadãos e a indiferença que o poder manifesta em
vras cheias de fantasmas” [v. 11] e “tribunais” (v. 20), que impõe o medo, relação às condições da sua existência, obcecado que está com a di-
3. A repetição da expressão "Vós não podeis”, ao longo da composi- mensão económica e afastado da necessária visão social.
ção, intensifica a posição de força moral e de coragem assurnida pelo 4. A poetização do real efetuada pelo sujeito poético articula, com fina
“ele” a quem se refere o sujeito poético, “um homem que sorriu aos ironia, a linguagem economicista do poder político “mercados”, vv, 3
tambores noturnos / dos vossos cárceres depois cantou / de pé no seu e 24; “mais-valia”, v. 6; “tudo se avalia”, v. 14: “valor acrescentado e
e “lvy. 7-9), por oposição aos outros, sintetizado no pronome v.15] e a linguagem do domínio religioso, mais ligada ao sentimento
» que, apesar do poder físico efetivo que detem, o vê repetida- popular ("Talvez Deus esteja a ser crucificado”, v. 13: “rogai por nós Se-
gente negado. nhora da Agonia”, v. 16; "Rogai por nós Senhora dos Aflitos”, v. 19]. Este
3.1. O verso reforça a impotência repressiva sobre o homem que já cruzamento concretiza a relação de forças incomparável entre o
está despojado de tudo aquilo que Lhe poderiam tirar, através de uma poder e a fé destes “Irmãos humanos tão desamparados” (v. 1).
metáfora que demonstra que o seu poder está naquilo que lhe não 5. O titulo remete para a concretização poética [balada] do seu con-
podem tirar: o canto. teúdo semântico - uma composição que apresenta a aflição das pes-
4. O retrato do poeta corresponde à do lutador incansável contra a dita- soas, uma aflição que tem de se socorrer do divino e da poesia, como
dura, pela força da sua poesia, das suas palavras e das suas ideias. tentativas de superação de um contexto de dificuldades económicas
“As palavras” [p. 58) às quais a economia não dá resposta,
Leitura | Compreensão “Crónica de Abril (Segundo Fernão Lopes)” (pp. 60-61]
1. Através da anáfora, associada ao paralelismo sintático, nos versos Leitura | Compreensão
1e 2, sugere-se a frequência dos maus-tratos de que são vítimas as 1.1. Ao longo do poema, cruzam-se os relatos do assassinato do
“palavras”, que, contudo, como a anáfora dos versos 3 e 4 realça, re- Conde de Andeiro por D. João, Mestre de Avis, e a aclamação deste,
sistem a esses ataques. Por meio da personificação, as “palavras” através da intertextualidade [citação ou alusão] com a Crónica de
são apresentadas como tendo vida própria, sendo “perseguidas” (v. 1), D. João |, de Fernão Lopes, e do golpe militar que esteve na base da
“violadas” [v. 2), não sabendo cantar 'ajoelhadas” lv. 3], e não se ren- revolução de 25 de Abril de 1974, por meio de passagens discursivas
dendo “mesmo se feridas” [v. 4). Esta personificação remete para a relativas a esse acontecimento. Ambos os relatos se concretizam em
OEXPIZPC & Porto Editora
força (por vezes, mesmo de conotação política) da palavra poética. progressão cronológica, interligando-se e fundindo-se as vozes poé-
2. À dimensão metafórica da segunda estrofe intensifica o sentido da tico-narrativas até ao clímax.
estrofe anterior, reforçando a ideia de que as palavras são a única 1.2. Os dois acontecimentos descritos remetem para momentos de
forma de combate, que, apesar de proibidas e vencidas, continuam a afirmação da independência e da liberdade nacional e de manifesta-
ferir, pela sua essência. ção da consciência coletiva na defesa do bem comum.
Poetas contemporâneos
“D. Sebastião” (p. 62) 2. Sensações auditivas — “passos soltos da gente que saiu [...]/no meu
“Acordar na rua do mundo” (p. 69) “Natureza morta com Bernardo Soares” [p. 71)
Leitura | Compreensão Escrita
1. O tema é o mundo contemporâneo do sujeito poético. 1. Texto pessoal, respeitando as marcas do género.