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Surrealismo

A arte surrealista rompe com a busca pelo sentido nas representações. É o


surreal: aquilo que está para além do real, que é mais que o real porque
transcende a compreensão racional e relaciona-se com a mente
inconsciente, com o imaginário e o absurdo.

Um dos maiores nomes do Surrealismo, René Magritte (1898-1969-belga) foi


o criador de telas memoráveis que intrigam os observadores até os dias de
hoje.

Apesar de ser mais conhecido pela sua obra-prima A Traição das


Imagens (1929), Magritte foi a mente genial por trás de uma série
de obras brilhantes.
1. A Traição das Imagens (1929)

A legenda explicativa, escrita com uma letra escolar, faz


o observador questionar a fronteira da arte e do real.
A palavra cachimbo não designa um cachimbo real, essa
é uma constatação que parece óbvia, mas que foi
levantada com muita propriedade pelo pintor belga.

Trata-se de uma imagem revolucionária no mundo das artes, não foi por acaso que
a obra foi alvo de muita polémica quando divulgada.
Segundo o próprio pintor:
«O famoso cachimbo. Como as pessoas me censuraram! Contudo, diga-me,
você pode preenchê-lo? Claro que não, é uma mera representação.
Caso tivesse escrito no quadro: “Isto é um cachimbo” – teria mentido.»
2. Golconda (1953)
Os homens representados como gotas de
chuva intrigam o observador.
Praticamente idênticos, não é possível
perceber bem se eles deambularam do
chão ou se se desprenderam do céu.
Apesar de terem feições semelhantes, ao
observar-se de perto vemos como os
homens são distintos entre si, induzindo o
espetador a participar de um jogo de
observação de semelhanças e diferenças.

Todos os homens usam sobretudos negros


e chapéus de coco, o pano de fundo é um
prédio vulgar do subúrbio, também com
janelas iguais e um céu azul na parte
superior da tela. A tela levanta
questionamentos sobre a individualidade e
sobre a identidade de grupo: até que
ponto os sujeitos são autónomos ou se se
comportam de acordo com a multidão?
Uma curiosidade sobre o nome do quadro:
Golconda é uma cidade em ruínas (mais precisamente uma fortaleza próxima
de Hyderabad) situada na Índia, famosa pelo comércio de diamantes.
Muita gente pergunta porque Magritte deu o nome dessa cidade à sua tela.
Alguns teóricos da arte sugerem que a posição dos homens de chapéus de
coco assemelha-se à estrutura do diamante.
3. Os Amantes (1928)
Pode-se dizer que a tela “Os Amantes” é, no
mínimo, perturbadora e intrigante. No centro do
quadro está um casal aparentemente
apaixonado com o rosto coberto.
Bastante próximos, beijam-se, embora estejam
com a boca tapada. Não conseguimos ver a
identidade dos amantes e só podemos distinguir
o sexo de cada um pela roupa que vestem.
Uma dúvida paira no ar:
De quem eles escondem o rosto? Um do outro?
Do espetador? Dos possíveis parceiros oficiais?
Os véus seriam uma forma metafórica de
afirmar que o amor é cego?

Assim, como muitas obras surrealistas, “Os


Amantes” encerra mais perguntas do que
respostas e, por esse mesmo motivo, cativa o
observador.
4. Decalcomania (1966)
O nome do quadro faz referência a uma estratégia
de pintura. A decalcomania é a técnica de
pressionar uma folha de papel sobre uma superfície
pintada e removê-la.

Na tela Magritte faz justamente uso da técnica


incitando um jogo com a ilustração do homem de
costas voltadas para o público.

Parece que o protagonista anónimo foi retirado do


plano da direita, tendo sido deslocado para o plano
da esquerda, deixando a memória do seu corpo, o
seu contorno, registado como uma espécie de
janela de onde se pode ver o horizonte.
5. Perspicácia (1936)
Na tela “Perspicácia”, o protagonista, um pintor,
está a desenhar um pássaro numa tela, pousada num
cavalete, enquanto observa um ovo disposto sobre a
mesa ao lado.

Na imagem intrigante é como se o artista pudesse, a


partir do ovo, adiantar o que viria no futuro (o
pássaro).

O pintor, sentado, com o pincel na mão direita e a


paleta na esquerda, fita compenetrado o ovo
encarando-o como uma possibilidade de futuro.
O artista é o único que vê aquilo que ninguém mais
vê: enquanto todos encaram um ovo, o artista prevê
o que será dele amanhã. Antevisão do futuro.
6.“A Reprodução Interdita” (1937)
Um homem diante do espelho, com um livro em cima da
mesa do seu lado direito, a luz do dia entra pela janela
do lado esquerdo. Até então, pela descrição, poderíamos
dizer que se tratava de uma pintura convencional e não
de uma obra surrealista.

O que foge ao normal na pintura, “A Reprodução


Interdita”, é o fato do espelho não reproduzir a imagem
do protagonista mas duplicá-la: ao invés de vermos o
homem de frente assistimos à sua silhueta de costas.

É curioso que o espelho faz o que era suposto em relação


a todo o resto da paisagem: ele reflete com perfeição a
bancada e o livro que está posicionado em cima dela.
O homem, no entanto, não obedece às leis da lógica e
permanece anónimo, confundindo o espetador. Está a
esconder a cara, porque não quer ser visto, identificado?
René Magritte era famoso por não divulgar as suas próprias
interpretações relativas ao trabalho que desenvolvia, de
modo que só podemos usar as nossas próprias ideias e
sentimentos para obter uma resposta, uma interpretação
das suas obras.

Império da Luz
7. A Persistência da Memória (1904-1989)
Salvador Dali, pintor espanhol, conhecido pelo seu
trabalho surrealista.
Pintado em 1931, “A Persistência da Memória” é
provavelmente a obra mais famosa do surrealismo. O
complexo quadro é cheio de simbolismo e fala sobre a
passagem do tempo e sobre a construção da nossa
memória.
Os relógios derretidos, distorcidos, simbolizam um tempo
que passa de uma forma distinta, diferente dos relógios
convencionais.
O quadro mistura elementos da natureza (como a árvore)
com elementos da vida urbana (como os relógios).

Criada pelo espanhol Salvador Dalí, em menos de cinco


horas, a obra faz parte desde 1934 do Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque. Consta que Dalí, numa noite
qualquer, não quis ir ao cinema com a mulher e os amigos.
Foi durante esse período, que ficou em casa sozinho, que
teria pintado “A Persistência da Memória”.

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