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Edição do Professor

Novos PORTUGUÊS 1

3URȃVVLRQDLV Ana
Catarino Isabel
Castiajo Maria
José Peixoto

De acordo com
Novo Programa
12 PROJETO DE LEITURA 14 PARA COMEÇAR

MÓDULO 1

1. POESIA TROVADORESCA
18 PARA CONTEXTUALIZAR 19 PARA INICIAR 22 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


22 “A poesia trovadoresca” 20 Exposição sobre um tema
22 “Cantiga” “Feiras medievais”

23 “Os agentes difusores da 21 Apreciação crítica


poesia trovadoresca” “Pela liberdade na Idade Média”
CANTIGAS DE AMOR

28 “Quer’eu em maneira de
proençal”, Dom Dinis 24 “A figura feminina nas 26 Exposição sobre um tema
cantigas de amor” “A sociedade portuguesa do século XIII”
30 “Se eu pudesse desamar”,
Pero da Ponte 33 Apreciação crítica
“O poder, talvez”
30 “Que soidade de mha senhor
ei”, Dom Dinis

CANTIGAS DE AMIGO

36 “Ai flores, ai flores do verde


pino”, Dom Dinis 34 ”Cantigas de amigo” e 42 Artigo de divulgação científica
“Paralelismo” “Amor: cria dependência como
37 “Nom chegou, madr’, o meu uma droga, mas sabe bem
amigo”, Dom Dinis 35 “Refrão”
como o chocolate”
38 “Bailemos nós já todas tres, ai
amigas”, Airas Nunes
39 “Ondas do mar de
Vigo”, Martim
Codax
40 “Poys nossas madres van a San
Simon”, Pero Viviaez
40 “Sedia-m’ eu na ermida de San
Simión”, Mendinho

CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

52 “Roi Queimado morreu com


amor”, Pero Garcia Burgalês 50 “Cantigas de escárnio e 48 “Vídeos na Internet”
maldizer”
53 “Ai, dona fea, foste-vos
queixar”, Joam Garcia de 51 “Cantigas de escárnio” e
Guilhade “Cantigas de maldizer”
54 “Foi um dia Lopo
jograr”, Martim
Soares

58 PARA SABER 59 PARA VERIFICAR 60 PARA RECUPERAR

2
3
ÍNDICE

ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

19 COMPREENSÃO DO ORAL
Reportagem
“Viagem Medieval em Terra
de Santa Maria”

24 EXPRESSÃO ORAL 27 Exposição sobre um tema 31 Formação de palavras


Arte de Trovar – relação texto Divertimentos característicos
vs. 31 Conectores
da Idade Média
imagem 31 Subordinação
29 Exposição sobre um tema
32 ORALIDADE/EDUCAÇÃO LITERÁRIA Poema “Namoro”
Apresentação Oral/Tópico
de Programa
Canção de Paulo Gonzo e Olavo
Bilac

41 ORALIDADE/EDUCAÇÃO LITERÁRIA 41, Étimo


Apresentação Oral/Tópico 55
de Programa Funções sintáticas
41 Pronome pessoal
Cantiga “Poys nossas madres
a San
van Simon”
a San eae
Simon” imagem
a imagem 49, em adjacência verbal
Festas
do concelho
Festas de
do concelho de 55
Gondomar
Gondomar

49 Exposição sobre um tema


4 Exposição 49 Formação de palavras
Virtudes e riscos do uso do
9 s 55 Classe de palavras
e
Facebook
55 Funções sintáticas
55 Conector
49, Referente
55 Subordinação
55

APRENDER / APLICAR
44 Evolução do português
61 PARA AVALIAR 56 Fonética e fonologia / etimologia
MÓDULO 1
2. FERNÃO LOPES
CRÓNICA DE D. JOÃO I (Excertos da 1.a parte)
66 PARA CONTEXTUALIZAR 67 PARA INICIAR 69 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


Crónica de D. João I 75 “Fernão Lopes e a Crónica de D. João I” 69 Exposição sobre um tema
D. João I
76 Capítulo 11 (excerto)
72 Exposição sobre um tema
82 Capítulo 115 (excerto)
“A maior das vitórias”
84 Capítulo 148 (excerto)

94 PARA CONTEXTUALIZAR 95 PARA INICIAR 96 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


Farsa de Inês Pereira 97 “A sátira e o ideal de ordem” x11p8osEição sobre um tema
“A verdade das relações”
98PARA
86 (A vida
SABERde solteira de Inês – 97 “Farsa
87 PARA e auto – natureza e
VERIFICAR 88 PARA RECUPERAR
excerto 1) estrutura da obra” 129 Apreciação crítica
“Um homem, uma mulher
104 (A carta de Pero
e um tribunal”
Marques – excerto 2)
110 (Os judeus casamenteiros

MÓDULO
112
2
– excerto 3)
(Apresentação do Escudeiro e

1.
casamento de Inês –
GIL VICENTE
excerto 4)
FARSA DE INÊS PEREIRA
115 (A vida de casada de
67 EXPRESSÃO ORAL
Inês – excerto 5) 7e0se Sínt 77 Processos fonológicos
Pesquisa a partir de
“Fernão Lopes – o
124 (Inêsimagens
livre para novos
historiador” Como escrever
amores – excerto 6)
uma síntese
68 COMPREENSÃO DO ORAL
73 Síntese
“Fernão Lopes – vida e
obra” A maior das vitórias”

68 EXPRESSÃO ORAL 74 Exposição sobre um tema


130 PARA SABER 132 PARA VERIFICAR
D. João I 134 PARA RECUPERAR
Síntese
“Fernão Lopes – vida e
obra”
74 COMPREENSÃO DO ORAL
“Conta-me História”, RTP
APRENDER / APLICAR

78 Funções sintáticas I

89 PARA AVALIAR

4
ORALIDADE ESCRITA

GRAMÁTICA ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

95 EXPRESSÃO ORAL 114 Síntese 101, Conectores


Adequação de imagens à do conteúdo do excerto 119
obra de Gil Vicente Processos fonológicos
4,
101
Farsa de Inês Pereira
96 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO 107, 119 Funções sintáticas
ORAL 120 Apreciação
crítica
Documentário Como escrever uma 107 Classe de palavras
“Grandes livros - Gil Vicente” apreciação crítica
119 Subordinação
96 EXPRESSÃO ORAL 121 Apreciação crítica
Síntese a partir de uma imagem
de uma entrevista
128 EXPRESSÃO ORAL
Apreciação crítica de APRENDER / APLICAR
prancha de BD vs. obra em
estudo 102 Lexicologia: campo semântico
e campo lexical
108 Lexicologia: arcaísmos
e neologismos
122 Processos irregulares de
formação de palavras

135 PARA AVALIAR

5
MÓDULO 2
2. LUÍS VAZ DE CAMÕES
RIMAS
138 PARA CONTEXTUALIZAR 139 PARA INICIAR 140 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


Rimas 140 “Lírica tradicional e renascentista”

REPRESENTAÇÃO DA AMADA

142
“Ondados fios d’ouro reluzente” 141 “Petrarquismo em Camões: influência
143 e originalidade”
“Um mover d’olhos, brando e
144
piadoso” “Descalça vai para a
146
fonte” “Endechas”

A EXPERIÊNCIA AMOROSA E A REFLEXÃO SOBRE O AMOR

149
“Quem ora soubesse” 148 “A tensão amorosa em Camões”
150
“Tanto de meu estado me
acho incerto”

A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA

152
“Alegres campos, verdes arvoredos” 151 “Locus amoenus”
153
“Aquela triste e leda

madrugada
A REFLEXÃO SOBRE A VIDA PESSOAL

155 “O dia em que eu nasci,


moura e pereça” 154 Camões: a época, o
homem e o poeta”

O TEMA DA MUDANÇA E DO DESCONCERTO

157
“Correm turvas as águas deste 156 “A lírica camoniana” 161 Apreciação crítica
158 “Um justo entre as Nações”
rio” “Mudam-se os tempos,
164 Exposição
160 mudam-se “Os pintores descobrem a realidade”
as vontades”

160 “Que me quereis, perpétuas


saüdades?”

“Os bons vi sempre passar”

6
166 PARA SABER 168 PARA VERIFICAR 169 PARA RECUPERAR

ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

7
139 COMPREENSÃO DO ORAL
Documentário
sobre Luís de Camões

145 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO 147 Exposição sobre um 1u4b5ordSinação


ORAL tema
Áudio “Garota de Ipanema”, Representação da mulher
145 Classe de palavras
Tom Jobim e Vinicius de na lírica camoniana
Moraes
147
COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
Apreciação crítica
Áudio “Endechas”, Sérgio
Godinho

159 COMPREENSÃO DO ORAL f1e57rentRee


Anúncio publicitário
157 Funções sintáticas

APRENDER / APLICAR

162 Funções sintáticas II

170 PARA AVALIAR


MÓDULO 3
1. LUÍS VAZ DE CAMÕES
OS LUSÍADAS
174 PARA CONTEXTUALIZAR 175 PARA INICIAR 177 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


180 Canto I, ests. 1 a 3 177 “Origem e valor 2o0d6e dAivrtuilggação
Imaginário épico – Proposição simbólico do termo científica
‘lusíadas’” “Explorando Vénus”
181 Canto I, ests. 4 a 5 177 “A génese de Os Lusíadas” 214 Exposição sobre um
Imaginário épico – Invocação tema
178 “Poema épico “Exploradores oceânicos”
182 Canto I, ests. 6 a 18 Estruturação interna e externa
Imaginário épico – Dedicatória de Os Lusíadas”

186 Canto I, ests. 105 e 195 “Simbologia da Ilha dos Amores”


106 Reflexões do
poeta 215 O conteúdo de cada canto
(A fragilidade da vida humana)
187 Canto V, ests. 92 a
100 Reflexões do
poeta
(O desprezo pelas artes)
189 Canto VII, ests. 78 a 87
Reflexões do poeta
(Lamentações de teor
autobiográfico)

194 Canto VIII, ests. 96 a


99 Reflexões do
poeta
(O poder do vil dinheiro)
196 Canto IX, ests. 52, 53 e 66
a 70 Imaginário épico
(A Ilha dos Amores)

198 Canto IX, ests. 88 a


95 Imaginário
épico e Reflexões
do poeta (A
imortalidade)
200 Canto X, ests. 75 a 91
Imaginário épico
(A máquina do Mundo)

207 Canto X, ests. 145 a 156


Reflexões do poeta
(Lamentações do poeta)

218 PARA CONSOLIDAR 220 PARA VERIFICAR 222 PARA RECUPERAR

8
175 EXPRESSÃO ORAL 185 Reescrita de texto 185, 199, Funções sintáticas
Leitura de imagens (sinonímia/economia lexical) 202, 210

176 COMPREENSÃO DO ORAL 203 Exposição sobre um tema 185, 210 Campo lexical/Campo semântico
Documentário Os Descobrimentos
“Grandes Livros − Os 185 Classe de palavras
Lusíadas” 210 Exposição sobre um tema
181 As qualidades bélicas e 191 Conector
COMPREENSÃO DO ORAL literárias de Luís de Camões
Áudio 191, Coordenação/Subordinação
210,
Tema “Contentores”, Xutos
214
e Pontapés
186 199, Tempo e modo verbal
COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
202
Áudio
Apreciação crítica de uma 202 Referente
211 canção
210 Processos fonológicos
COMPREENSÃO DO ORAL
Reportagem
“World of Discoveries”

APRENDER / APLICAR

192
Frase complexa: coordenação
204
Frase complexa: subordinação

Orações subordinadas
adverbiais
212
Orações subordinadas
substantivas e adjetivas

224 PARA AVALIAR


2. HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA
“AS TERRÍVEIS AVENTURAS DE JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO (1565)”
228 PARA CONTEXTUALIZAR 229 PARA INICIAR 232 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA


233 “Antecedentes − missão de Jorge 232 “A História Trágico-Marítima” 231 Exposição sobre um tema
de Albuquerque Coelho”(Excerto “A carreira da Índia”
1) 237 “A nau”
235 “Partida” (Excerto 2) 240 Apreciação crítica
“Sucessos e naufrágios
238 “Encontro com os corsários” das naus portuguesas“
(Excerto 3)
241 Exposição sobre um tema
242 “Tempestade” (Excerto 4) “As viagens dos Descobrimentos”
244 “Regresso a Lisboa” (Excerto 5) 248 Relato de viagem
“Dois anos a pedalar…”

254 PARA CONSOLIDAR 255 PARA VERIFICAR 256 PARA RECUPERAR

BLOCO INFORMATIVO
I – GRAMÁTICA (Sistematização)

260 Classes de palavras


267 Verbo
· Formas finitas e formas não finitas; modos e tempos
· Verbos regulares / irregulares
· Conjugações verbais
· Verbos defetivos (pessoais e unipessoais)
269 Pronome pessoal em adjacência verbal – regras de
utilização
271 Funções sintáticas
274 Frases ativas e passivas
275 Discurso direto e indireto
277 Processos de coordenação e de subordinação entre
orações
277 Contacto de línguas
· Substrato
· Superstrato
278 Palavras convergentes e
278 divergentes Processos fonológicos
· Inserção
· Supressão
· Alteração
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

COMPREENSÃO DO ORAL 234, Funções sintáticas


241 Síntese
Documentário 239,
As viagens dos Descobrimentos
“História Trágico-Marítima – os naufrágios do Império” 247
243 Apreciação crítica
Quadro de William Turner Subordinação
234,
EXPRESSÃO ORAL 245 Texto lacunar 239,
Comparação do “Poema da malta das naus” com o documentário 247 Apreciação crítica 247
(imagem)

239, 249 Tempo e modo verbal


COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
Relação
246temática 245
Canção (“Fado português”) e História Trágico-Marítima Classe de palavras
245
Relações semânticas
246
Campo lexical

257 PARA AVALIAR APRENDER / APLICAR

250 Geografia do português no mundo

279 Arcaísmos e neologismos


280 Formação de palavras
· Derivação
· Composição
281 Processos irregulares de formação de
palavras
281 Palavras monossémicas e polissémicas
282 Campo semântico e lexical
282 Relações semânticas

283 II – GÉNEROS TEXTUAIS

284 III – RECURSOS EXPRESSIVOS

285 IV – NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

286 V – TEXTO DRAMÁTICO

287 Domínios de Referência, Objetivos e Descritores de Desempenho – 10.° Ano


11
PROJETO INDIVIDUAL DE
LEITURA Segue-se uma breve abordagem de três obras propostas no programa de Português
para o PIL (Projeto Individual de Leitura). Depois de as ler, preencha a ficha-
modelo apresenta- da na página seguinte.

Os da minha rua

D iz o autor que são estórias…


E, de facto, são. São a história da sua infância e princípio da
adolescência, a história da sua Luanda, a história da sua Rua Fernão
Mendes Pinto…
ONDJAKI
1977
Estórias onde vivem amigos que se oferecem para almoçar lá em casa e
beber Fanta, irmãs que partilham óculos, familiares próximos e outros nem
tanto, cães aconchegados de mimos e outros repudiados, piscinas especiais,
carnavais tra- dicionais, festivais da canção, telenovelas brasileiras na
televisão mais linda do mundo!…
Tudo isto numa escrita inicialmente simples, que depois cresce ao mesmo
rit- mo que o seu autor.
2
Capitães da areia

S ão meninos abandonados, órfãos, vítimas da


fome, da miséria, da doença e do preconceito.
Meninos que são obrigados a crescer à força para
JORG
sobreviver. E, como sobreviver é difícil nas ruas da
E Baía, tornam-se marginais, num bando temido,
AMA
DO che- fiado por Pedro Bala, que rouba e inquieta os
1912- respeitáveis da cidade. Um bando feito
2001
de carências, de ausências, de sonhos, de afetos…
Enfim, um bando feito de crianças que nunca o
foram, mas que o são, por vezes, num velho
carrossel multicolor, tão desamparado como
eles!

Robinson Crusoé

P ublicado em 1719, este romance relata, na


primeira pessoa, as venturas e desventu- ras de
Robinson, um náufrago que sobrevive durante
DANI
cerca de três décadas numa
EL ilha remota e desconhecida dos Trópicos.
DEFO
E De início, completamente só, Robinson debate-
1660 se com sérias dificuldades na luta pela
-
1731
sobrevivência. Até que numa sexta-feira encontra
uma estranha personagem…
É
uma
narrativ
a
empolg
ante,
com
selvage
ns,
canibais
e uma
fauna
flora
desco-
nhecida
s
Velho
Mundo.
É
confront
o
duas
civilizaç
ões:
do
coloniza
dor
impe-
rialista
e a
coloniza
do frágil
e
facilmen
te
escraviz
ado.
Mas
também
uma
história
de
coopera
ção
de
descob
erta
outro.
FICHA
FICHA DE DE LEITURA/APRECIAÇÃO
LEITURA/APRECIAÇÃO CRÍTICACRÍTICA
DA OBRADA

SOBRE
SOBRE
OO AUTOR
AUTOR
E A A SUA
E
ESCRITA
SUA
ESCRITA

Título:
Título:
Editora/ano da edição:
edição:
Estrutura: divisãoem
Estrutura: divisão em capítulos
SOBRE
SOBRE capítulos
A Sim. Quantos?
Sim.
SELECIONADA
OBRA Quantos?
Não.
Não.
Características da obra e registo discursivo:
discursivo:

Tema:
Tema:
Acontecimentos principais:
principais:
SOBRE
SOBRE
A HISTÓRIA,
A AÇÃO,
AÇÃO,
OSOS
EVENTOS
OCORRIDOS
EVENTOS
OCORRIDOS
Outros acontecimentos:
acontecimentos:

O espaço:
SOBRE
SOBRE espaço:
O ESPAÇO
EO
TEMPO
(lugares e O tempo:
características
(lugares e tempo:
principais)
principais)

Protagonista(s):
Protagonista(s):
Caracterização do(s) protagonista(s):
SOBRE
SOBRE protagonista(s):
AS Outras personagens:
PERSONAGENS
PERSONAGENS Outras
Narrador:
E/OU personagens:
Narrador: para a compreensão da obra:
Relevância
O NARRADOR
Relevância para a compreensão da
obra:

Descrição sucinta da obra:


obra:
APRECIAÇÃO
APRECIAÇÃO
CRÍTICA
CRÍTICA
Comentário crítico:

13
PAR A C O M E Ç A R
C O M P R E E N S Ã O DO OR AL

Visione uma primeira vez um vídeo sobre um projeto destinado a estudantes.

1.
1. Complete as seguintes afirmações.

1.1 O filme é uma pequena reportagem exibida pela a. sobre o


b. .

1.2 O programa decorrerá na cidade de a. e terá a duração de b.


dias.

1.3 Os países envolvidos neste intercâmbio são: a. , Noruega, b. ,


c. e d. , além de Portugal.

Monção recebe alunos de 5 países 1.4 Na peça jornalística são destacadas as estudantes a. ,
europeus no âmbito do projeto Comenius uma aluna portuguesa, e b. , uma aluna c.
.

2. Escolha a opção que completa melhor o sentido da frase.


PROFE S SOR

2.1 Considerando o conteúdo da reportagem, o projeto envolve

Vídeo
[A] as escolas e as autarquias.
“Monção recebe alunos [B] o Ministério da Educação e o presidente da Câmara.
de 5 países europeus
no âmbito do projeto [C] os alunos e os professores.
Comenius”
[D] toda a comunidade de uma certa região.
Compreensão do oral
2.2 Durante o período de duração do programa, os participantes ficam alojados em
1.1 a. Alto Minho TV; b. [A] hotéis pagos por eles.
Projeto Comenius
1.2 a. Monção; b. sete [B] casa dos seus correspondentes.
1.3 a. Chipre; b. Finlândia
c. Polónia; d. Croácia [C] habitações destinadas ao turismo.
1.4 a. Adriana; b. Olga; [D] casas alugadas para esse fim específico.
c. polaca
2.1 [D] 2.3 O conhecimento do país, da região e da sua cultura far-se-á através
2.2 [B]
2.3 [C] [A] da participação em palestras e do visionamento de filmes e documentários.
3. Promoção da aprendizagem [B] do visionamento de documentários e da frequência de aulas.
da língua inglesa; construção
de novas amizades, a nível [C] da frequência de aulas, de atividades diversas e visitas pelo Alto Minho.
pessoal.
[D] da realização de atividades diversas e visitas pelo Alto Minho.
Expressão oral

Visione uma segunda vez o vídeo.


1. Resposta de
caráter pessoal.
Contudo, 3. Enumere os argumentos apresentados pelos alunos para incentivar este tipo
os alunos podem referir de atividade.
os seguintes aspetos:
enriquecimento ao nível
pessoal, pois conhece-se
outras culturas, outras
pessoas; fazem-se novas E X P R E S SÃO OR AL
amizades; aprende-se línguas
em situação real; pode-se
viajar, sem preocupações com 1. Recupere o conteúdo do vídeo visionado e expresse a sua opinião, num
alojamento, sentindo-se discurso de 2-3 minutos, sobre o contributo deste tipo de atividades para
o jovem mais amparado,
porque acolhido. reconhecimento de culturas diferentes da nossa.

14
LEITUR A

Leia atentamente um excerto de uma reportagem sobre o Ensino Profissional.

Ensino Profissional: o sistema


e os novos desafios
Por Anabela Pato

Encontro desvendou as competências do ensino profissional e os obstáculos ultrapassados até ao momento

O que é que o mercado de trabalho procura


hoje em dia? Esta é questão base que qualquer
profissional deve colocar a si próprio atualmente,
quando enfrenta pela primeira vez o mercado de
trabalho. Para além da vocação,
5 vontade, competência e capacidade de trabalho, há

um fator central em todo este processo: a


formação.
Uma realidade que cruza cada vez mais com a
crescen- te exigência por parte das empresas ao nível
do recruta- mento.
10 Este foi o alerta emitido aos cerca de 200 jovens

alunos, professores e diretores de escolas públicas


e de escolas profissionais, que marcaram presença Com um reforço das competências qualificativas,
na Conferência “Ensino Profissional: Competências para além das quantitativas, hoje o ensino
do futuro”, levada a cabo pelo jornal “Região de profissional aposta cada vez mais em adequar o
Leiria”, no auditório da Escola desenho curricular proposto aos jovens, às empresas e
15 Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria.
às necessidades do tecido eco-
Com índices de empregabilidade muito elevados, 30 nómico e social. Esta é a opinião dos quatro oradores.
como foi afirmado pelos quatro oradores Para Ana Penim, administradora delegada do Instituto
intervenientes na con- ferência, o ensino profissional de Ne- gócios e Vendas, as escolas profissionais
público e privado tem sido, ao longo dos anos, alvo de públicas e priva- das devem centrar as suas
evoluções e inovações, princi- atenções nos alunos e estes, por sua vez, devem ter
20 palmente desde há quatro anos. Fundado em 1889, o
a noção de que “no mercado atual
ensi- no profissional foi “o protagonista da 35 não basta parecê-lo, temos de sê-lo.”
mudança”, como frisa José Luís Presa, presidente da
in www.gustaveeiffel.pt/Downloads/eventos/
Associação Nacional de Escolas Profissionais, uma vez J_Leiria-Reportagem.pdf (texto adaptado,
que esta “alternativa ao sistema regular de ensino” consultado em dezembro de 2016).
sempre contou com o apoio de
25 atores locais, como autarquias e sindicatos.

1. Selecione a opção correta, de acordo com o sentido do texto.

1.1 O texto é uma reportagem porque


[A] está disposto graficamente em duas colunas.
[B] transmite a opinião de quem escreve.
[C] noticia um acontecimento, apresentando testemunhos de intervenientes.
15
P oe s i a T r o v a d o r e s c a

1.2 A utilização de aspas na linha 13 deve-se


P R O F E S SO R [A] à reprodução das falas de um dos oradores.

1. [B] ao título de um artigo publicado pelo jornal “Região de Leiria”.


[C] à designação da conferência promovida pelo jornal “Região de Leiria”.
Leitura

1.1 [C] 1.3 Os quatro oradores intervenientes partilham a opinião de que


1.2 [C] [A] a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria tem índices de
1.3 [B] empre- gabilidade muito elevados.
1.4 [A]
[B] os índices de empregabilidade são muito elevados nas escolas profissionais.
Gramática
[C] o ensino profissional público tem índices de empregabilidade mais
1.1 eleva- dos que o ensino profissional privado.
a. Complemento direto.
b. Complemento
agente da passiva.
1.4 O ensino profissional aposta essencialmente
c.Sujeito.
d. Predicativo do sujeito.
[A] na adequação do ensino às necessidades do mercado de trabalho.
e. Complemento oblíquo. [B] na preparação dos alunos para apoiar as autarquias e os sindicatos.
1.2 Oração
subordinada adverbial [C] no reforço da quantidade de matérias a lecionar.
causal.
1.3 Pretérito
perfeito composto do
indicativo.
GR A M Á T I C A
1.4 Palavra derivada
por sufixação.
1. Tenha em atenção as seguintes passagens textuais selecionadas do texto.
a. “Esta é a questão base que qualquer profissional deve colocar a si
Escrita
próprio atualmente, quando enfrenta pela primeira vez o mercado de
Resposta de caráter trabalho.” (ll. 2-4)
pessoal, contudo os alunos
podem referir os seguintes b. “como foi afirmado pelos quatro oradores intervenientes na conferência.” (ll. 16-18)
aspetos:
Introdução: a escola é c. “o ensino profissional público e privado tem sido, ao longo dos anos,
um instrumento alvo de inovações e evoluções, principalmente desde há quatro anos.”
privilegiado na promoção
pessoal, social e (ll. 18-20)
profissional.
d. “Fundado em 1889, o ensino profissional foi o protagonista da mudança.” (ll. 20-21)
Desenvolvimento: contacto
com pessoas de todas as e. “uma vez que esta ‘alternativa ao sistema regular sempre contou com o
classes sociais, aprendizagem
de vários valores, entre apoio de atores locais’” (ll. 23-25)
os quais os de cidadania;
desenvolvimento de 1.1 Indique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas.
competências e aquisição de
habilitações para o exercício
de uma profissão no futuro.
1.2 Classifique a oração da alínea e.
Conclusão: pelo exposto,
a escola torna-nos pessoas 1.3 Indique o tempo e o modo da forma verbal “tem sido” (l. 18) .
mais conscientes, mais
bem formadas e melhores 1.4 Designe o processo de formação da palavra “atualmente” (l. 3) .
cidadãos.

ESCRITA

Para uns, a escola é mal-amada; para outros, é uma fonte de saber e permite a
abertu- ra de janelas para o mundo.

Elabore um texto, de 100 a 140 palavras, exprimindo a sua opinião sobre a


importância da escola para a formação dos jovens. Deve respeitar a seguinte
estrutura tripartida:
• introdução − apresentação sucinta do tema e da posição assumida;
• desenvolvimento − defesa da posição por meio de apresentação de duas razões;
• conclusão – fecho do texto e considerações finais.
16
MÓDULO

1
1. Poesia Trovadoresca
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Poesia trovadoresca
• Cantigas de amor
• Cantigas de amigo
• Cantigas de escárnio e maldizer
Leitura
Exposição sobre um
tema Apreciação crítica
Artigo de divulgação científica
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
Evolução do português [Aprender/Aplicar]
Fonética e fonologia/etimologia [Aprender/Aplicar]
• Formação de palavras
• Conectores
• Subordinação
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Referente
• Processos fonológicos
• Étimo
• Pronome pessoal em adjacência verbal
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

476 1096 1143 1261 1308 1325


Queda do Império Concessão do condado Fundação Nascimento do Transferência da Morte
Romano Portucalense a Henrique da nacionalidade rei poeta D. Universidade para de D. Dinis
no Ocidente – de Borgonha por Afonso portuguesa Dinis Coimbra
início da Idade VI de Leão e Castela
Média

Os valores culturais da Idade Média Elaborado a partir de Maria de Lurdes Rosa, "Sagrado, devoções,
religiosidade", in José Mattoso (dir.), História da vida privada em Portugal,
Idade Média, vol. I, coordenação de Bernardo Vasconcelos
• A cultura na Idade Média cingia-se a um grupo e Sousa, Lisboa, Temas e Debates, 2011, p. 376.
social privilegiado: o clero.
• A minoria clerical controlava a produção e a
reprodu- ção de texto escrito, geralmente de teor
religioso: Bíblia e as
5 obras de Santo Agostinho.

• Os membros do clero mais categorizados


viajavam bas- tante (sobretudo nos séculos XIII e XIV),
comunicando em latim, que era língua da escrita,
sendo utilizada em várias nações.
Elaborado a partir de José Mattoso, O essencial sobre a
cultura medieval portuguesa: séculos XI a XIV,
Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda,
1985, p. 3.

A religião na sociedade medieval


• A Igreja montou e geriu aquilo a que
poderíamos cha- mar uma visão do mundo
exclusivamente confessional.
• A religião confundia-se com a própria sociedade,
es- tando presente na esfera pública (procissões) e
privada (ora-
5 tório privado e o convento de clausura).

• A prática cristã dominava todas as fases da


vida: do nascimento, marcado pelo batismo, até à
morte.
• O mundo do Além estava sempre presente:
quer nas orações pelos mortos quer nos pedidos de
intercessão aos
10 santos.
A nação portuguesa e a - pela peste negra, que dizimou grande parte da
popula- ção adulta, originando um salto de gerações;
evolução da língua - pelas guerras de D. Fernando e de D. João I com Castela,
15 que perturbaram o equilíbrio político.
• Alguns autores separam o galego
do português muito cedo, por altura da • A nobreza da primeira dinastia, que tinha ajudado
fundação do reino de Portugal, enquanto D. Afonso Henriques a fundar o reino e a governá-lo
outros defendem que essas línguas constituem durante séculos, toma o partido de D. Beatriz, filha de
uma única até aos nossos dias. D. Fernando, o que resultou na perda da guerra e do
5 • Os trovadores – galegos, portugueses e castelhanos – poder.
escreviam todos na mesma língua, artificial,
20
• Uma nova nobreza, que recebe terras e poder económico.
e não neces- sariamente a que cada um • Lisboa torna-se a capital do país, perdendo o
falava. Trata-se de uma língua literária, norte do país a sua influência.
usada pelos poetas. • A língua portuguesa atinge o fim do seu
• A separação definitiva entre o galego e o período de formação e de crescimento.
português Elaborado a partir de Ivo Castro, Introdução a
10 ocorreu a partir do século XV.
história português [2004], 2.a ed., revista e muito ampliada,
Lisboa, Colibri,
• O processo de evolução da língua foi 2006, pp. 76-77.
influenciado:

18
PARA INICIAR

C OMPREENSÃO DO OR AL

Visione e escute atentamente um excerto de uma reportagem transmitida pela


SIC.

1. Tendo em conta a informação recolhida, selecione a opção correta.

1.1 A peça jornalística refere-se a uma situação que


[A] já aconteceu.
Viagem Medieval
[B] está a acontecer. em Terra
de Santa Maria
[C] vai acontecer.
PROFE S SOR
1.2 A situação retratada diz respeito a uma manifestação
[A] cultural.
Vídeo
[B] social.
“Viagem Medieval
[C] militar. em Terra de Santa Maria”

1.3 A peça jornalística foca Oralidade


1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 1.7
[A] as várias atividades que o evento proporciona.
[B] a comparação entre este evento e outro do mesmo género. 1.1 [B]; 1.2 [A]; 1.3 [C]
2
[C] um acontecimento específico do evento. a. F – Todos os anos a
viagem medieval destaca
um reinado diferente.
Proceda, agora, a um segundo visionamento da reportagem. b. F – O acampamento
foi cedido por D. Afonso IV.
João da Maia era o
2. Registe como verdadeiras ou falsas as afirmações seguintes. Corrija as falsas. responsável pelo
a. A Viagem Medieval em Santa Maria da Feira é um acontecimento que, acampamento.
c.V
anual- mente, reconstitui o reinado de D. Afonso IV. d. V
e. F – Há voluntários,
b. Um dos acontecimentos retratados nesta Viagem Medieval diz respeito como o caso da
ao acampamento cedido por João da Maia a um conjunto de fidalgos e de entrevistada, que
participam pela primeira vez
militares. no espetáculo.
f.V
c. Durante o espetáculo, assiste-se à simulação de um ataque ao
3.
acampamento conduzido por mercenários. a. jornalístico
b. informar
d. O assalto ao acampamento tem-se revelado como um dos pontos altos c.atualidade
da Via- gem Medieval. d. profunda
e. local
e. Os voluntários têm, todos eles, grande experiência de participação nestes f.depoimentos
espe- táculo. g. intervenientes

f. Apesar de voluntários, estes intervenientes tiveram formação técnica.

3. Sistematize as marcas próprias deste género jornalístico, selecionando a


opção que lhe permite obtê-las.
A reportagem é um género a. (jornalístico/literário), cuja finalidade é
b. (deleitar/informar) o público sobre um acontecimento do(a) c.
(atua- lidade/passado) com interesse mediático. Trata, normalmente, a
informação de uma for- ma mais d.
(superficial/profunda), cobrindo um evento e. (local/interna-
cional), recorrendo a f. (depoimentos/memórias) de vários g. (escritores/
intervenientes).

BLOCO INFORMATIVO – p. 283


19
P oe s i a T r o v a d o r e s c a

LEITUR A
Leia o texto a seguir apresentado.

Feiras medievais
As feiras medievais correspondiam a uma das
institui- ções mais curiosas do período medieval; a
sua função económica consistia fundamentalmente na
localização, em prazos e termos determinados, de
produtores, consu-
5 midores e distribuidores, corrigindo assim a falta de
comu- nicações fáceis e rápidas.
Quase todas as feiras se realizavam em épocas
relacio- nadas com festas da Igreja: no local onde se
faziam existia uma paz especial, a paz de feira, que
proibia toda a dispu-
10 ta ou vingança, ou todo o ato de hostilidade, sob penas
severas em caso de transgressão.
A primeira menção duma feira portuguesa Feira medieval de Lendit, in Grandes Crónicas de França, Jean Fouquet,
século XIV.
nitidamen- te diferente do mercado local é a que
20 Entre os privilégios que mais favoreceram o
vem registada no Foral de Castelo Mendo, de 1229,
desenvol- vimento das feiras, cumpre mencionar o
e que se realizava
que isentava os feirantes do pagamento de direitos
15 três vezes no ano e durante oito dias de cada vez.
fiscais (portagens e costumagens). Às que
Todos os que a ela acorressem, tanto nacionais como
usufruíam desta regalia deu-se o nome de feiras
estrangei- ros, teriam segurança desde oito dias antes
francas.
até oito dias depois da feira, na ida e na volta, contra
in http://concelho-sernancelhe.planetaclix.pt/Feira_Aquilinia-
qualquer respon- sabilidade civil ou criminal que
na-2004-03.html (adaptado, consultado em fevereiro de
pesasse sobre eles. 2017).

1. Selecione a opção correta.


P R O F E S SO R
1.1 O objetivo principal deste texto é
Leitura
7.1; 7.2; 7.4; [A] transmitir informação. [C] expressar uma opinião.
8.1
[B] apresentar um ponto de vista. [D] apresentar um conjunto de sugestões.
1.1 [A]
1.2 [C] 1.2 O texto é predominantemente
1.3 [D]
1.4 [C] [A] narrativo. [C] expositivo.
1.5 [D]
[B] argumentativo. [D] conversacional.

1.3 O texto apresenta marcas de


[A] discurso pessoal. [C] clareza e subjetividade.
[B] lirismo. [D] clareza e objetividade.

1.4 O texto apresenta uma linguagem predominantemente


[A] conotativa. [C] denotativa.
[B] metafórica. [D] simbólica.

1.5 Pelas características atrás identificadas, podemos concluir que estamos perante
[A] uma síntese. [C] um texto de opinião.
[B] um texto de apreciação crítica. [D] um texto expositivo.

20
LEITUR A
Leia o texto de apreciação crítica abaixo e responda, de seguida, aos itens
apresen- tados.

Pela liberdade, na Idade Média 1


trevas, escuridão; estado
de completa ignorância
2
afirmar ou crer em algo
O Nome
Nome da deUmberto
Rosa,de
daRosa, Umberto Eco,
Eco, Lisboa:
Lisboa Difel,
Difel,2004,
2004,506
506 como sendo verdadeiro e
pp. pp. indiscutível
Este foi o romance que deu a 10

conhecer Umberto Eco ao grande O


público, constituin- do um enorme êxito
de vendas em Portugal desde que foi t
publicado pela primeira vez, e
5 e continua ainda a ser uma obra m
bastante popular. E não é de espantar: a
escrito com imenso humor, o romance
dá-nos a conhe- cer de uma forma c
expressiva o que era viver num mosteiro e
medieval. n
t
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a
l

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e apresenta-se c
s como um livro o
t 20 de detetives: n
u uma série de h
d misteriosas e
o mortes c
afetam um i
e mosteiro e o m
protagonista e
d tem por n
e missão t
descobrir a o
e verdade, um
n pouco ao –
s estilo de t
i Sherlock o
n Holmes. […] d
o Entretanto, o o
, leitor fica s
a preso da e
l primeira à s
i última página, t
v precisamente e
r para saber s
e como se e
resolve o l
c mistério. […] e
i A m
r imaginação e
c fervilhante n
u do autor t
acaba por
l o
vezes por
a ser s
ç labiríntica, f
ã levando a a
o que z
25 quase se e
d perca o fio da m
o história. Mas
conhecimento. [Numa época] mergulhada a bondosa d
em obscurantismo1 durante séculos, os relação do e
mos- teiros cristãos constituíam fortalezas protagonista s
onde o conhecimento era preservado com com o seu t
imensas dificuldades. Dado a inexistência discípu- lo, a e
da imprensa, os livros tinham de ser sua defesa da
copiados à mão por racionalidade r
15 monges dedicados; em consequência, os livros eram como límpida e sem o
bastante raros e de difícil acesso. […] Evidentemente, potencialme cedências, a m
havia outros obstáculos à livre circulação do nte oposição ao a
conhecimento, na Idade Média, além do problema perigoso. O dogmatismo n
tecnológico de não existir ainda a imprensa. Um dos romance de que procurava c
mais impor- tantes, tema central deste livro, era o Umberto fazer paralisar e
dogmatismo2 religioso, que encarava o conhecimento Eco o
uma experiência inesquecível. encarava o f
conhecimento, a
como z
Desidério Murcho, in http://criticanarede.com/lds_nomedarosa.html potencialmen e
(consultado em janeiro de 2015, adaptado). te perigoso. r
2. “os p
mosteiros a
cristãos r
constituía a
1. O autor deste artigo faz uma apreciação crítica l
m
de uma obra. Complete os tópicos que se seguem fortalezas s
PRO a
com dados do texto. FE S
onde o
conhecime r
a. Titulo da obra e autor S OR nto era o
preservad c
b. Época e local onde decorre a ação L o”; “os o
e livros n
c. Duas características da época retratada i tinham de h
t ser e
u copiados à c
1. O Nome da Rosa revela o papel do clero na i
r mão por
reprodução de livros e na divulgação de a monges m
conhecimento. Comprove a afirmação com dedicados”; e
“dogmatismo n
exemplos textuais. 7
que t
.
procurava o
1

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. 21
2
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b.
Idade
Média,
mosteir
o
mediev
al.
c.Os livros eram
raros e
de difícil
acesso;
inexistência
da
imprensa;
falta de
circulação do
conheciment
o,
dogmatism
o religioso,
que
P oe s i a T r o v a d o r e s c a PARA DESENVOLVER

PROFE S SOR
INFORMAR
Leitura/Educação
Literária
8.1; 15.1
Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta na página seguinte.

TEXTO A
Apresentação
Poesia trovadoresca A poesia trovadoresca
– Contextualização
histórico-literária • A poesia galego-portuguesa é um marco relevante na Idade Média
Europeia.

• Está compilada em três grandes cancioneiros profanos – Cancioneiro da


Ajuda
(CA); Cancioneiro da Biblioteca Nacional (CBN) e Cancioneiro da Vaticana (CV).

• É, inicialmente, da autoria dos trovadores (trobadors) provençais,


que adotam como língua literária a língua d’oc, sendo Guilherme, IX Duque
da Aquitania e VII Conde de Poitiers (1071-1127), o primeiro trovador
de que há notícia.

• Nascida na corte requintada da Provença (sul de França), é a poesia da


fin’amors
(um amor puro, idealizado e fiel).

• Espalha-se pela Europa, para as cortes do Norte da França,


Inglaterra, Sicília, Itá- lia, Alemanha, atravessa os Pirenéus, fixa-se na
Catalunha e no reino de Aragão e atinge a região galego-portuguesa
(século XII), onde se encontra e entrecruza com uma poesia indígena
(nativa).

• É do encontro de duas linhas poéticas, uma estrangeira, refletida


nos cantares de amor, a outra peninsular (indígena), espelhada nas
cantigas de amigo (e também nas cantigas de natureza satírica), que
resultam as composições reu- nidas nos três cancioneiros profanos
referidos acima.
Elaborado com base em Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura
portuguesa. A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo,
1998, pp. 99-100.

TEXTO B
Cantiga
Manuscrito
do Cancioneiro da Ajuda, séc • O termo cantiga é de uso geral na Arte de Trovar do Cancioneiro da
XIII. Bibliote- ca Nacional de Lisboa, utilizando-se também o termo cantar com
o mesmo significado.

• As cantigas ou cantares são composições constituídas por letra e


música, es- tando estas interligadas.

• Apresentam quatro tipos de classificação (géneros): cantigas de


amor e can- tigas de amigo, de conteúdo amoroso, e cantigas de
escárnio e cantigas de maldizer, de conteúdo satírico e burlesco.
Elaborado com base em Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e
coord.), Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, trad.

22
J pp. 132-133.
o
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1
9
9
3
,

23
TEXTO C
Os agentes difusores da poesia trovadoresca
Trovadores, jograis e jogralesas ou soldadeiras dão vida à arte de trobar,
princi- palmente nas cortes e nas casas dos grandes senhores, mas também
na praça, para um público mais vasto e de outra condição social.
• O trovador é um nobre que compõe os seus textos e que apenas
os executa por um prazer pessoal ou por um ato de galanteria para
com as damas.
• O jogral é executante, difusor de textos alheios e próprios.
• A jogralesa trabalha ao lado do jogral, dançando e cantando, ao
som de instru- mentos por ele tangidos, ou tocando ela própria.
Elaborado a partir de Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura
portuguesa. A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo,
1998, pp. 102-103.

1. Associe cada elemento da coluna A ao da coluna B que lhe completa o


sentido. PROF E S SOR

Coluna A Coluna B 1.
[A] A lírica trovadoresca [1] acompanhava o jogral, executando [A] – [3]
um instrumento e dançando. [B] – [5]
[B] Esta arte de trovar, posteriormente, [2] cantavam e tocavam em [C] –
praças públicas, para o [9]
[C] O cantar de amor provençal povo. [D] – [7]
[E] –
[D] O trovador, de origem nobre, [3] teve origem na Provença. [10]
[F] – [8]
[E] O jogral [4] abordam o tema do amor.
[G] –
[5] espalhou-se pelas cortes e [12]
[F] As cantigas características da lírica [H] – [4]
grandes casas senhoriais
trovadoresca [I] – [11]
europeias.
[G] A cantiga de amigo [J] – [1]
[6] é francês (da Provença).
[k] – [6]
[H] Os cantares de amor e de amigo [7] compunha a letra e a música [L] –
das cantigas que também [13]
[I] A sátira e a crítica a executava. [M] – [2]
costumes e personagens
[8] encontram-se reunidas em
três cancioneiros profanos. 2.
[J] A jogralesa
à semelhança da
[9] chegou, finalmente, ao noroeste
[K] O primeiro trovador de que há registo peninsular no século XII. cantiga de c. ,
[L] O público a quem se destinavam [10]tocava, acompanhando o trovador. que, no entanto,
estas composições poéticas é de origem d. .
[11] estão presentes nas cantigas
[M] Para além das cortes e das casas de escárnio e de maldizer. Já as cantigas de
senhoriais, os trovadores e os
jograis [12] é de origem peninsular. e. e de maldizer
[13] é a nobreza. são de conteúdo
f.
g. .

2. Complete as seguintes frases.


A cantiga de amigo é de origem a. e o seu conteúdo é de tema b. ,
a. peninsular/indígena
b. amoroso
c.amor
d. provençal
e. escárnio
f.satírico
g. peninsular/indígena
P oe s i a T r o v a d o r e s c a

E X P R E S S ÃO OR AL

Observe a imagem apresentada e leia, de seguida, o trecho de Arte de Trovar.

P R O F E S SOR
E porque algunas cantigas i ha em que falam eles […]
Oralidade
1.1; 1.4; 4.1; 4.2; 4.3;
é bem de entenderdes se som d’amor […]
5.3; 5.4 CBN, Arte de Trovar, IV, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa. A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editori

1. Os alunos podem
focar vários aspetos:
–presença de uma
jogralesa, de um jogral:
ambiente cortês, palaciano, a
execução musical de uma Iluminura do cancioneiro da
cantiga; um nobre que ajuda (nobre, bailadeira com
assiste ao “concerto”; castanholas, jogral com saltério
–cantiga de amor. trapezoidal).

1. Exponha, agora, oralmente, num discurso de 2-3 minutos:


• três aspetos presentes na imagem que se relacionem com as características da
poe- sia trovadoresca (vide pp. 22-23);
• o tipo de cantiga que poderia estar a ser interpretada.

INFORMAR

Leia atentamente o texto que se segue e responda ao questionário da página seguinte.

A figura feminina nas cantigas de amor


No centro desta manifestação cultural poético-musical, e logo desde a
primeira metade do século XIII […], o lugar de destaque é ocupado por uma
mulher à qual são atribuídas as mais altas qualidades […]. Com efeito, a
mulher cantada pelo trovador é apenas a “senhor fremosa”, a de “melhor
falar e parecer”, a de “melhor
5 semelhar”, a “senhor ben talhada”, ou, nos casos mais palavrosos, a de “bon

prez1, bem falar, bon sen2 e parecer” e também a “mais mansa e de mui
melhor doairo3 e melhor talhada”. Simples constatação de uma
sobrevalorização onde a pobreza do vocabulário é notória […].
Perante a figura de uma mulher assim delineada, o trovador coloca-se numa
10 postura submissa, semelhante à do vassalo perante o seu senhor […].

Definidas à partida as respetivas posições, o homem dá largas à sua voz


cantando o seu esta- do de infelicidade amorosa, iniciado no momento em
que a viu pela primeira vez e prolongado pelos sinais da não
1
virtude, honra
2
senso, razão,
correspondência por parte da dama, temendo que ela o repudie e obrigue a
juízo afastar-se assim que se inteirar da sua inclinação
elegância, graça 15 amorosa, e desejando por fim apenas ficar junto dela para a ver, para lhe
3

falar, ou tão-somente ouvir a sua voz.


António Resende de Oliveira, O trovador galego-português e o seu mundo,
Lisboa, Editorial Notícias, 2001, pp. 23-24.

24
Cantigas de amor

1. Complete as frases, estabelecendo as relações corretas entre os elementos da


PROF E S SOR
co- luna A e os da coluna B.
Leitura/Educação
Literária
7.1; 7.4; 8.1; 8.2; 15.1; 16.1
Coluna A Coluna B
[A] Com a expressão “manifestação [1] que os trovadores são formalmente 1.
cultural poético-musical” (l. 1), o pouco originais na construção do [A] – [4]
enunciador refere-se retrato feminino. [B] – [5]
[B] A mulher elogiada nas cantigas de [2] de não ser correspondido pela [C] –[3]
amor amada, contentando-se apenas em [D] – [6]
[C] Com a expressão “melhor falar estar na sua presença. [E] – [1]
e parecer” (l. 4), [F] – [2]
[3] o trovador caracteriza a mulher
[D] Ao descrever a dama com a como sendo culta e bela. 2.
expressão “bon sen” (l. 6), a. amoroso
[4] à cantiga de amor.
[E] Ao mencionar “a pobreza do vocabulário”, b. mulher
(ll. 7-8), o enunciador pretende realçar [5] é a “senhor” e pertence à nobreza. c.indiferença
[F] A partir do segundo parágrafo, o d. submisso
[6] o trovador valoriza as qualidades e. vassalo
autor pretende salientar o facto de,
morais da figura feminina. f.angustiado/atormentado
na cantiga de amor, o sujeito
g. correspondência
poético ter receio
h. senhor
i.dama
2. Complete o quadro abaixo, tendo em conta a informação veiculada pelo texto j. idealizada
lido e a atividade anterior. k. qualidades
l.psicológicas

Cantigas de Amor

Principais Caracterização Caracterização


linhas temáticas do sujeito poético da figura feminina

• Sofriment É d. , É uma i. altiva,a


o a. com um distante,extremamente
causado pela visão da comportamento te j. , a quem sãoão
b. , pela sua semelhante ao de um atribuídas as m aisis
c. ou pela
e. face ao altas k. físicas,
s,
possibilidade de rejeição. seu senhor, totalmente l. e soci ais.
is
• Elogio dependente da
superlativado da amada e que, por
amada. isso, vive
f.
,
temendo a não
g. amorosa
ou a indiferença da
sua “h. ”.
P ao de sr ei aATnrtoóvnaidooVr ei es icraa

ESCRITA

TEXTO EXPOSITIVO (EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA)


Leia o seguinte texto e atente nas passagens destacadas e nas ideias-chave.

Título
Delimita o tema com A sociedade portuguesa no século XIII
objetividade.
A sociedade portuguesa do século XIII é formada por três grupos, com
1.O Parágrafo
Introdução direitos e deveres diferentes: a nobreza, o clero (grupos privilegiados) e o
Identificação e povo, o grupo mais desfavorecido, que executava todo o tipo de trabalho e
caracterização do objeto.
pagava impostos.
2.O Parágrafo
Desenvolvimento A nobreza tinha sobretudo funções guerreiras. Participava com os seus exércitos
Nobreza (tópico 1): 5 na Reconquista, ao lado do rei, recebendo em troca rendas e terras.
Atividade dominante.
O senhorio era pois a propriedade de um nobre na qual viviam
camponeses livres e servos. […] O senhor tinha grandes poderes sobre
3.O Parágrafo –
Nobreza quem vivia no senho- rio: cobrar impostos, fazer justiça, ter um exército
Direitos e privilégios; privado... Quando não estava em guerra, o senhor nobre dedicava-se a dirigir
atividades lúdicas
(desportivas e culturais). o senhorio e a praticar exercícios físicos
10 e militares. Organizava festas e convívios onde, para além do banquete, se
4.O Parágrafo
tocava, cantava e dançava. Estas festas eram animadas por trovadores e
Clero (tópico 2) jograis. Jogava-se xadrez, cartas e dados.
Função principal, direitos
e privilégios. Tal como a nobreza, o clero era um grupo social privilegiado. Tinha a
função de prestar assistência religiosa às populações. Tinha grandes
propriedades que lhe
5.O Parágrafo 15 haviam sido doadas pelo rei ou por particulares e não pagava impostos. Tal
Clero
A vida nas ordens como a nobreza, exercia a justiça e cobrava impostos a quem vivia nas
religiosas e outras suas terras. […]
funções (didáticas,
culturais, médicas No mosteiro, para além de cumprirem as regras impostas pela ordem a
e bélicas).
que per- tenciam, os monges dedicavam-se ao ensino, à cópia e feitura de
livros, à assistên- cia a doentes e peregrinos. Em algumas ordens religiosas,
6.O Parágrafo
os monges dedicavam-se
Povo (tópico 3)
Atividade principal, 20 também ao trabalho agrícola nas terras do mosteiro. Noutras, eram militares,
deveres, formas tendo combatido contra os Mouros.
e condições de vida
precárias. A maioria dos camponeses vivia nos senhorios, trabalhava muitas horas,
de sol a sol, e de forma muito dura. Do que estes produziam, uma grande
7.O Parágrafo parte era entregue ao senhor, como renda. Deviam ainda prestar-lhe outros
Povo serviços, como a reparação
Atividades religiosas
e lúdicas em que
25 das muralhas do castelo, próximo do qual viviam, em aldeias. Moravam em
participava ativamente casas pequenas, de madeira ou pedra, com chão de terra batida e telhados
ou como assistente.
de colmo. Estas casas tinham apenas uma divisão. […]
Enquanto trabalhavam, também cantavam. Celebravam-se em todo o país
8.O Parágrafo as grandes festas religiosas que incluíam o repicar dos sinos, as procissões, as
Conclusão feiras,
Hierarquização da
sociedade medieval
30 as refeições coletivas e os bailes. Depois da missa, ou da procissão, dançava-
e a influência da guerra se e cantava-se nos terreiros das igrejas onde também se realizavam vendas.
nesta organização Por vezes, a plebe podia assistir a alguns espetáculos que os nobres
social.
organizavam. Os mais frequentes eram as competições militares.
Concluímos assim que, durante o século XIII, a sociedade portuguesa se encon-
35 trava dividida em classes, que possuíam mais ou menos privilégios. Esta
hierarqui- zação condicionou as ocupações e os divertimentos dos diferentes
grupos, tido a guerra e as expedições militares uma forte influência nesta
tendo estruturação.
in http://hgp5.blogs.sapo.pt/998.html (texto adaptado, consultado em dezembro de 2016).

26
P oe sia T r o v ador e s c a Cantigas de amor
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês

O texto expositivo assume um caráter demonstrativo, configurando uma PROFE S SOR


elucidação/ explicação sobre um(a) tema/ideia, apresentando objetividade e
concisão. Sugestões de filmes,
cuja intriga se passa na
Para escrever um texto deste género, deverá atentar em algumas orientações nas época medieval:
três fases essenciais: (1) fase preparatória, (2) fase da redação e (3) fase da O reino dos céus, Ridley Scott;
Robin Hood, Ridley Scott;
revisão. O Físico, Philipp Stölzl;
O Nome da Rosa, Jean-
-Jacques-Annaud.
COMO ESCREVER UM TEXTO EXPOSITIVO

1. Fase preparatória
Guiões de visionamento
• escolher um tema sobre o qual exista informação pertinente, de modo a de filmes
selecionar um aspeto específico;
Escrita
• pesquisar informação e selecionar adequadamente fontes, considerando o seu 10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
grau de confiabilidade, como por exemplo livros e textos críticos de autores com 12.4
provas dadas, jornais e revistas com credibilidade;
Tópicos de resposta:
• colocar notas nas fontes usadas bem como registar as datas e as estatísticas
Introdução:
para comprovar os dados e anotar os dados bibliográficos; -Localização temporal
da Idade Média (séculos V
• selecionar os aspetos a contemplar no texto; a XV).
• planificar o texto, organizando os tópicos selecionados. -Estratificação social –
divisão da sociedade
em classes, que
2. Fase da redação apresentavam
bastantes diferenças ao nível
• identificar o assunto/a ideia que vai ser explorada, no primeiro parágrafo; das atividades lúdicas.
• organizar sequencialmente os dados recolhidos e selecionados; Desenvolvimento:
-Nobreza: torneios, caça,
• exemplificar/justificar os aspetos registados; festas nos castelos
com a presença de
• empregar corretamente os conectores do discurso; músicos e
dançarinos, serões na corte.
• indicar corretamente as citações e/ou as fontes utilizadas. -Clero: participava em
muitas das atividades
3. Fase da revisão lúdicas da nobreza.
-Povo: a dança, a música,
• ler o texto elaborado para perceção da sua coerência interna e coesão romarias e festas populares.
textual; Conclusão: A importância
• corrigir gralhas ao nível da ortografia, da acentuação e da pontuação; dos divertimentos na
organização da sociedade
• verificar a contemplação das orientações fornecidas (se as houver), medieval: acentuação
da estratificação social,
nomeadamente ao nível do número de palavras requerido. contribuição para o
conhecimento da cultura e
da forma de viver
ESCREVER UM TEXTO EXPOSITIVO medievais.

Desde sempre, o ser humano procurou formas de se divertir.


Proceda a uma pesquisa e redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, no
qual exponha os diferentes tipos de divertimentos característicos da Idade Média.
Siga o plano orientador que se apresenta.
• Introdução – contextualização temporal da Idade Média e breve
caracterização deste período.
• Desenvolvimento – demonstração dos diferentes tipos de divertimentos
associa- dos às diferentes classes sociais e a sua importância na organização
da sociedade medieval.
• Conclusão – síntese das principais ideias.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
27
P oe sia T r o v ador e s c a
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

FIXAÇÃO DE TEXTO
As composições Leia a cantiga de amor de autoria do rei D. Dinis.
poéticas têm como
fixação de texto:
Elsa Gonçalves Quer'eu em maneira de proençal
(apresentação crítica,
seleção, notas Quer’eu em maneira de DOM DINIS
e sugestões para análise 1261-1325
literária) proençal1 fazer agora um
Para além de ter
e Maria Ana Ramos cantar2 d’amor, reinado durante 46 anos,
(critérios de transcrição, e querrei3 muit’i4 loar5 mia senhor6 foi o poe- ta medieval
nota linguística mais fecundo. Temos
e glossário), A lírica a que7 prez8 nem fremosura nom fal9, hoje conhecimen- to de
galegO-PORTUGUEsa, 5 nem bondade; e mais vos direi 137 cantigas da sua
Lisboa, Editorial autoria: 73 de amor, 54
Comunicação, 1983. ém10; tanto a fez Deus comprida de amigo e 10 de
Excetuam-se as de bem11 que mais que todas las do maldizer.
composições das mundo val.
páginas 30 (cantiga B),
37 e 40, que têm como
fixação de texto: Ca12 mia senhor quizo13 Deus fazer
Mercedes Brea tal, quando a fez, que a fez
(coord.); Lírica
profana galego- sabedor14
-PORTUGUEsa, vols. I e II, 10 de todo bem e de mui gram
Santiago de
Compostela, Xunta de
valor, e com tod’est[o]15 é mui
Galicia, 1996. comunal16 ali u deve17; er18 deu-lhi
bom sém19, e desi20 nom lhi fez
pouco de bem
quando nom quis que lh’outra foss’igual.

15 Ca em mia senhor nunca Deus pôs


PROFE S SOR
mal, mais21 pôs i prez e beldad’e
Educação Literária loor22
14.2; 14.3; 14.4; 14.7; e falar mui bem, e riir
14.8; 15.1; 16.1
melhor que outra molher;
1. O elogio da dama à
desi é leal
maneira provençal "e muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
querrei muit'i 20 possa compridamente 23 no seu

bem falar, ca nom á, tra-lo24 seu


bem, al25.
Dom Dinis, B 520/V 123.
loar mia senhor" (v. 3). g. sensata − “er deu-lhi bom sém" (v. 12).
2. Características físicas: 3. O trovador evidencia as qualidades morais da mulher, como forma de a destacar
a. bela − “mais pôs i de todas as outras e de a apresentar como muito superior a ele próprio.
prez e beldad’e loor”
(v. 16).
Características
psicológicas:
b. honrada − “a que
prez […] nom fal” (v. 4).
c. bondosa − “a que prez
nem fremosura nom fal, /
nem bondade”
(vv. 4-5). d. virtuosa −
“tanto a fez Deus comprida
de bem” (v. 6). e. valorosa
− “e de mui gram valor” (v.
10). f. sociável
− “e com tod’est[o] é mui
comunal / ali u deve” (vv. 11-
12).
28
1
em à qual, a quem; 8 virtude, honra, mérito; 9 falta; 10 dela, isto é, da “mia senhor”; 11 tanto a feZ Deus
man comprida de bem: Deus fê-la perfeita; 12 porque; 13 quis; 14 sabedora; 15 e com tod'est[o]: e apesar
eira de tudo isto; 16 sociável, afável; 17 ali u deve: quando deve [sê-lo]; 18 também, ainda; 19 juízo,
de senso; 20 desi: além disso; 21 mas; 22 louvor; 23 perfeitamente, cabalmente;
pro 24
além de; 25 outra coisa.
enç
al: à
1. Identifique o tema desta cantiga, apresentando o verso que o indica explicitamente.
man
eira
2. Apresente os atributos da mulher celebrada nesta cantiga, completando a
dos
pro
tabela seguinte.
ven Características físicas Características psicológicas
çais;
2 Formosa — "a que […] nem fremosura nom b. e.
cant fal"
iga; a. c. f.
3

d. g.
que
rerei
; 4 3. Indique o tipo de características destacadas pelo trovador, justificando a sua intenção.
aí,
nela
,
isto
é,
na
cant
iga;
5

louv
ar; 6
mia
senh
or:
for
ma
com
um
com
que
o
trov
ador
se
dirig
e à
mul
her
ama
da.
No
gala
ico-
port
ugu
ês,
era
um
a
pala
vra
unif
orm
e; 7
a
que:

29
Cantigas de amor

4. Complete o texto abaixo com os vocábulos propostos, de modo a dar conta de


PROF E S SOR
uma breve análise da presente cantiga.
4.
a. morais
divinização psicológico ideal superioridade b. comparação
morais• Deus perfeita comparação enumeração c. enumeração
d. ideal
e. psicológico
O trovador evidencia as qualidades a. da mulher, utilizando para isso vários f. perfeita
g. superioridade
recursos expressivos, tais como a b. , a hipérbole, “tanto a fez Deus comprida h. Deus
de bem / que mais que todas las do mundo val.” (vv. 6-7), e a c. ,“… prez e i. divinização
beldad’e loor” (v. 16). Assim, é clara a sobrevalorização da amada não só por ser
Escrita
descrita como a mulher d. quer a nível físico quer a nível e. , mas 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4
também como a dama mais f. entre todas as existentes no mundo,
característica explicitada no final de cada cobla: “que mais que todas las do Proposta de resolução:
mundo val”; “quando nom quis que lh’outra foss’igual”; “ca nom a, tra-lo seu O sujeito poético enviou à
sua amada um cartão
bem, al”. tipografado, com duas
respostas possíveis (não e
A referência a Deus é outra forma de destacar a g. da mulher, cuja sim). Como não resultou,
perfei- ção depende da vontade de h. . Por essa razão, todos os seus insistiu, enviando recado
por intermediário (a Zefa do
atributos são apresentados como uma dádiva divina, o que contribui para a Sete), em que suplicava o
sua i. . amor da amada. Também
procurou a avó Chica, uma
conceituada feiticeira, para
ESCRITA que fizesse um feitiço “bem
forte e seguro”;
no entanto, o feitiço
1. Leia atentamente as seguintes estrofes do poema “Namoro”, de Viriato Cruz, falhou. Enfim, a amada
que dão conta de um amor não correspondido na época atual. negou sempre o seu pedido,
chegando mesmo a troçar
do sujeito poético, em
[…] conversa com
as amigas, no baile.
Mandei-lhe um cartão Esperei-a de tarde, à porta da fábrica, (80 palavras)
que o Maninjo ofertei-lhe um colar e um anel e um
tipografou: broche, paguei-lhe doces na calçada da
"Por ti sofre o meu coração" Missão, ficamos num banco do largo da
Num canto – sim, noutro canto – não Estátua,
5 E ela o canto do não dobrou. 20 afaguei-lhe as mãos...

falei-lhe de amor... e ela disse que


Mandei-lhe um recado pela Zefa do não.
Sete pedindo rogando de joelhos no
chão […]
pela Senhora do Cabo, pela Santa E para me distrair
Ifigénia, me desse a ventura do seu levaram-me ao baile do sô
namoro... Januário mas ela lá estava num
10 E ela disse que não. canto a rir
25 contando o meu caso às moças mais

Levei à avó Chica, quimbanda1 de lindas do bairro operário.


fama a areia da marca que o seu […]
pé deixou
Viriato Cruz, No reino de Caliban
para que fizesse um feitiço forte e
II, Antologia panorâmica de poesia africana de expressão
seguro que nela nascesse um amor portuguesa, vol. 2, Lisboa, Seara Nova, 1976.
como o meu...
15 E o feitiço falhou.
1.1 Escreva um pequeno texto expositivo de 70 a 100 palavras. Observa os
tópicos e a estrutura apresentados.
1
o que tem todo
conhecimento do mundo
• introdução – indicação do tema; astral, inclusive da magia
• desenvolvimento – enumeração de três estratégias implementadas pelo negra, e que pode ajudar a
sujeito poético para conquistar a sua amada; a reação da jovem ao seu fazer o bem.
pedido e a atitu- de da jovem no baile;
• conclusão – referência ao modo como terminou a relação amorosa.
P oe sia T r o v ador e s c a
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as duas cantigas apresentadas.

CANTIGA A
Se eu pudesse desamar
Se eu pudesse desamar
a quem me sempre
desamou, e pudess’algum
mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
5 Assi me vingaria eu,
se eu podesse coita1 dar,
a quem me sempre coita deu.

Mais sol nom2 posso eu E por esto: e por isto, e por causa disto; 4 durmo;
3

5
desampare, abandone; 6 ou, ao menos; 7 estorvar, perturbar; 8
pelo
enganar meu coraçom que
menos; 9 pensar; 10 lastimo-me, lamento-me
m’enganou,
10 por quanto me fez PROFE S SOR

desejar a quem me
nunca desejou.
E per esto3 nom dormio4 eu,
porque nom poss’eu coita
dar, a quem me sempre
coita deu.

15 Mais rog’a Deus que


desampar5 a quem m’assi
desamparou, vel6 que
podess’eu destorvar7
a quem me sempre
destorvou. E logo dormiria
eu,
20 se eu podesse coita dar,
a quem me sempre coita deu.

Vel8 que ousass’eu


preguntar a quem me
nunca preguntou por que
me fez em si cuidar9,
25 pois ela nunca em mim
cuidou. E por esto lazeiro10
eu,
porque nom poss'eu coita
dar, a quem me sempre
coita deu.
Pero da Ponte, A 289/B 980/V
567.

1
sofrimento causado pelo amor; 2
sol nom: nem
mesmo;
30
Cedo; ca8 pero9 mi nunca fez
bem10, se a nom vir, nom me posso
guardar11 d’ensandecer12 ou morrer
CANTIGA B com pesar13;
10 e porque ela tod’em poder tem,
Que soidade de mha senhor ei rogu’eu a Deus que end’a o poder
Que soidade1 de que mh a leixe, se lhi prouguer, veer
mha senhor ei2
quando me Cedo; ca tal fez nostro senhor,
nembra3 d’ela qual de quantas outras no mundo som
a vi, e que me 15 nom lhi fez par14, a la minha fe15,
nembra que bem nom; e poi-la fez das melhores
a oi4 falar; e por melhor, rogu’eu a Deus que end’a o
quanto bem d’ela poder
sei, que mh a leixe, se lhi prouguer, veer
5 rogu’eu a Deus que
end’a o poder5, que Cedo; ca tal a quizo16 Deus fazer,
mh a leixe6, se lhi 20 que se a nom vir, nom posso viver.
prouguer7, veer Dom Dinis, B 526/V 119.

1
saudade; 2 tenho; 3 lembra; 4 ouvi; 5 que end'a o poder: que tem
Áudio – “Se eu pudesse desamar” poder para isso; 6 deixe; 7 prouver, agradar; 8 porque; 9 mas; 10
Áudio – “Que soidade de mha senhor nunca feZ bem: nunca correspondeu ao meu amor; 11 deixar; 12
ei” enlouquecer; 13 desgosto; 14 igual; 15 a la minha fe: por minha fé; 16
quis.

31
Cantigas de amor

1. Proceda à análise temática e estilística das duas cantigas de amor, orientando-


PROF E S SOR
se pelos tópicos do quadro seguinte.
Ed. Literária/Gramática
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
"Se eu pudesse desamar" "Que soidade de mha senhor ei" 14.9; 16.1; 18,4
1. Cantiga A
a. Desejo de vingança
por parte do sujeito lírico
Assunto a. a. em relação à sua “senhor”
pelo facto de ela lhe
causar um enorme
sofrimento amoroso (coita
de amor). b. A amada
mostra-se fria e
Caracterização indiferente em relação ao
b. b. sujeito lírico.
da amada
c.O sujeito lírico revela
angústia, dor, desilusão e,
ao mesmo tempo, um
sentimento de revolta pela
Estado de forma como a sua “senhor”
interage com ele.
espírito do c. c. d. O sujeito poético
sujeito lírico manifesta vontade de se
vingar do sofrimento que
lhe foi infligido pela amada,
retribuindo-lhe a mesma dor
Atitude do que ele sente.
e. Personificação: “meu
sujeito lírico d. d. coraçom que m’enganou”;
face à amada repetição com variação na
palavra de rima:
“desamar/ desamou”.
Cantiga B
Recursos a. Anseio do
expressivos mais e. e. sujeito lírico em ver a
significativos amada (saudade), sem a
qual não consegue viver.
b. A amada é
caracterizada como sendo
eloquente e poderosa; a
melhor de todas as
GR A M Á T I C A existentes. c. O sujeito lírico
revela estar
completamente
1. Na cantiga A, considere as palavras “desamar” (v. 1) e “desampar” (v. 15) . apaixonado, dependente
da amada e
1.1 Identifique o prefixo de ambas as palavras e explicite o seu valor. desesperado, por causa
das saudades que sente
dela. d. Apesar de ter
2. Classifique as seguintes palavras quanto ao processo de formação e identifique consciência da não
correspondência amorosa por
a(s) respetiva(s) forma(s) de base, seguindo o modelo abaixo. parte da sua “senhor”, o
sujeito poético manifesta
Modelo: desamar – palavra derivada por prefixação; forma de base: "amar". vontade de a ver, já que,
sem ela, acredita que irá
a. desamparado enlouquecer ou morrer por
b. enlouquecer amor. e. Repetição (vv. 2-3);
hipérbole e comparação
c. pesaroso (vv. 14-15); anáfora: “Cedo; ca”
nas estrofes 2 e 3.
d. pinga-amor
Gramática
e. invulgar 18.4; 19.6; 19.7
1.1 Prefixo
“des”. valor de
3. Indique o valor dos conectores sublinhados nos seguintes versos. negação.
2. a. palavra
“Se eu pudesse desamar / a quem sempre desamou”; “E per esto nom dormio derivada por prefixação;
eu, / porque não poss’eu coita dar, / a quem me sempre coita deu.”; “Que forma de base “amparado”
(há mais hipóteses,
soidade de mha senhor ei / quando me nembra d ‘ela qual a vi,” dependentes da forma de
base); b. palavra derivada por parassíntese; forma de base “louco”; c. palavra derivada
por sufixação; forma de base “pesar”; d. palavra composta (palavra + palavra); formas de base “pinga” e
“amor”;
e. palavra derivada por prefixação; forma de base “vulgar”.
P oe s i a T r o v a d o r e
sca

PROFE S SOR 4. Transforme as frases simples que se seguem em complexas, utilizando o


conector indicado entre parênteses e fazendo as alterações necessárias.
3. Se: valor
condicional; porque: valor a. O trovador pede ajuda a Deus. Deus mostrar-lhe-á a sua amada. (se)
causal; quando: valor
temporal. b. O trovador lembra-se da beleza da sua amada. O trovador sente muitas
4. a. Se o trovador pedir saudades da sua amada. (quando)
ajuda a Deus, Este mostrar-
lhe-á sua amada. b. c. O trovador revela a sua coita amorosa. A sua “senhor” não corresponde aos
Quando o trovador se seus sentimentos. (porque)
lembra da beleza da sua
amada, sente saudades dela. d. A “senhor” das cantigas de amor é uma mulher inacessível. O trovador exprime
c. O trovador revela a sua o seu amor por ela. (embora)
coita amorosa porque a
sua “senhor” não
corresponde aos seus
sentimentos. d. Embora a
5. Classifique as orações subordinadas nas frases seguintes.
“senhor” das cantigas de a. Caso o sujeito poético não veja a sua amada, enlouquecerá.
amor seja uma mulher
inacessível, b. Como o trovador se considerava um vassalo da sua “senhor”, era visível nas
o trovador exprime o seu amor
por ela. cantigas de amor a superioridade da mulher.
5. a. Caso o sujeito c. Apesar de as cantigas de amor galaico-portuguesas se aproximarem das
poético não veja a sua
amada – subordinada proven- çais, há entre elas aspetos distintos.
adverbial condicional. b.
Como o trovador se
considerava um vassalo da 6. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados:
sua “senhor” – subordinada
adverbial causal. a. “a quem me sempre desamou” (v. 2)
c.Apesar de as cantigas
de amor galaico- b. “e pudesse algum mal buscar” (v. 3)
portuguesas se
aproximarem das provençais c. “meu coraçom que m’enganou” (v. 9)
–subordinada
adverbial concessiva. d. “E logo dormiria eu” (v. 19)
6. a. Complemento direto; BLOCO INFORMATIVO – pp. 280-281,
b. Complemento direto; 264, 277, 271-273
c. Sujeiro; d. Sujeito.

Oralidade/Educação
Literária
1.5; 5.3; 6.1; 15.4;
16.2
1. cantiga de amor da época medieval, ao nível do conteúdo, continua atual.
a. Quando amanheces, logo
no ar, / Se agita a luz sem
querer"; "o dia vem
devagar, / Para
te ver"; "joia de luz / entre
as mulheres"; b. "E já
rendido, ver-te chegar";
"Onde eu queria entrar um
dia, / P’ra me
perder"; "Ardo em ciúme
desse jardim"; "Por minha
cruz";
c. “jardins proibidos”; "Desse
outro mundo só teu".
1.1.
Os alunos devem referir:
semelhanças temáticas entre
a canção “Jardins Proibidos”
e as cantigas de amor da
lírica trovadoresca, se
atendermos às expressões
acima transcritas, que
remetem para o elogio
superlativado
da mulher amada, para a
sua inacessibilidade e para a
coita amorosa, isto é, o
sofrimento amoroso do
sujeito poético. No fundo, a
32
Cantigas de amor
te a canção interpretada por Paulo Gonzo e
OR A L I D A D E / E D U C A Ç Ã O L I T EOlavo
R Á R I Bilac,
A dois “trovadores” do nosso
tempo, e selecione:
1. O
u a. duas expressões que revelem o elogio
ç super- lativado da mulher amada;
a b. duas expressões que evidenciem o
estado de espírito do sujeito poético;
a c. uma expressão que sugira a
t inacessibilidade da mulher amada.
e
1.1 Com base na informação presente nas alíneas anteriores e no Proibidos”
estudo feito
n “Jardins
sobre a cantiga de amor, faça uma apresentação oral (5 a 7 minutos)
t
sobre os seguin- tes aspetos:
a
m • a relevância da cantiga de amor medieval no mundo contemporâneo;
e • as semelhanças existentes entre o tema musical apresentado e este
n tipo de cantiga.

Link
“Jardins proibidos”

33
LEITUR A

Leia o seguinte texto referente a um concerto de um outro cantor português,


Pedro Abrunhosa, e responda às seguintes questões.

O poder, talvez
Por Valdemar Cruz

[…] Fui ao Coliseu na noite do passado sábado.


Sala a abarrotar de gente, tal como na véspera e na
quinta-feira e tal como se prevê que aconteça no
próximo sábado no MEO Arena em Lisboa.
5 Durante quase três horas e meia, Abrunhosa, por

vezes na companhia de mais dezassete pessoas,


entre músicos e cantores, fez uma arrasadora
demonstração de como o profissionalismo sem mundos estanques e não é possível viver numa
concessões, associado a uma pode- rosa e rara redoma, alheio aos dilemas e dramas
qualidade artística e estética, pode transformar contemporâneos.
10 um palco no mais sedutor e improvável dos locais de
Num desses breves instantes resolveu pegar de
culto, onde o olhar se derrama e o espanto se frente no modo como pode ser construído o futuro a
materializa. partir de tão
Quem se deteve apenas no espaço cénico terá 30 duro presente. Por isso optou por falar do silêncio. O
perdido parte relevante do que de essencial se passava silêncio enquanto forma de desistência. O silêncio
na sala duran- te aquela celebração acompanhada por enquanto proces- so de desencanto. O silêncio como
muita gente a viver metáfora do medo.
15 dias sofridos, gente marcada pelos perigosos desafios
[…] Abrunhosa quis esconjurar o silêncio reinante na
do quotidiano, gente condicionada por ferretes inomináveis. socie- dade. As vozes caladas têm de fazer-se ouvir, até
Ainda assim houve festa. Percebeu-se o brilho em tantos porque o si-
olhares. Foi contagiante a adrenalina descarregada. Houve 35 lêncio gera o caos, disse. A frase tem impacto, é
gritos imensos feitos metáforas de instantâneas provocatória, mas nem será o mais importante no
libertações interiores. contexto de uma canção na qual se fala de bombas em
20 Pedro conhece os anseios e angústias do público.
Belfast e Beirute, de mortos na Palestina e feridos em
Antes de mais por serem cidadãos do seu próprio país Israel, ou fascistas em Berlim e Moscovo. Para quem ouvir
em sofrimento. Como já há muito demonstrou não lhe para lá da superfície, não será difícil perceber
interessar o estéril debate pela forma, ou da estética 40 que o que está em causa […] é, […] talvez, poder. E
pela estética, o músico não se exime de, nos seus quem o exerce. E o modo como o exerce. […]
concertos, num espaço que é,
http://leitor.expresso.pt/library/expressodiario/05-02-2015
25 antes de mais, de celebração musical, mostrar como (consultado em fevereiro de 2015).
não há

1. Tratando-se de uma apreciação crítica, o seu autor parte da apresentação do


P R O F E S S OR
ob- jeto apreciado (um concerto), fazendo, depois, um comentário crítico do
mesmo.
Leitura
Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto.
[A] O autor considera o espetáculo de Pedro Abrunhosa no Coliseu uma valorizando a
demons- tração de profissionalismo e um momento de qualidade fora palavra e a
de comum. mensagem oculta
que deve ser
[B] O autor evidencia a forma como o artista amaldiçoa o silêncio, entendida na
letra de uma canção. 7.1; 7.4; 8.1

[C] O autor descreve a reação emotiva do público e o envolvimento dos 1. [D]; [A]; [C]; [E]; [B]
espetácu- los do cantor na realidade social.
[D] O autor apresenta o objeto que vai ser alvo da sua apreciação crítica.

[E] O autor destaca o momento em que o cantor se refere ao silêncio como


uma forma de evidenciar a desilusão e o medo.
INFORMAR

Leia os tópicos abaixo, a tabela e os textos e resolva a atividade proposta.

TEXTO A
Cantigas de amigo
•A cantiga de amigo é tematicamente semelhante à cantiga de amor –
em ambas o argumento essencial é, de facto, o amor não correspondido,
causa de so- frimento, de desconforto e, consequentemente, de lamento.
•A cantiga de amigo distingue-se da cantiga de amor a vários níveis,
como se pode verificar no quadro abaixo.

Aspetos
Cantiga de amigo Cantiga de amor
distintivos
Sujeito de Feminino: quando o poeta trovador Masculino: quando o
enunciação finge que é a mulher a expor as suas poeta fala de si mesmo
próprias penas (de acordo com a (de acordo com a Arte de
Arte de Trovar). Trovar).
Condição social É uma jovem do povo, a donzela, “uma É nobre, a requintada
da mulher dona virgo” (virgem), aparentemente “senhor”, aristocraticamente
e respetiva simples e ingénua, sinceramente esquiva, distante,
caracterização apaixonada, vulnerável (frágil) a indiferente ao sofrimento
qualquer
desilusão, mas sempre pronta a defender do sujeito poético.
e a lutar pelo seu amor.

Ambiente em Ambiente natural marítimo ou Ambiente cortês


que se move o rural: o mar, as árvores, a fonte, o
sujeito poético cervo (veado),
o papagaio.
Destinatário A própria natureza é testemunha do A dona é o destinatário
da confissão sofrimento amoroso, interagindo, por vezes, preferencial do cantar
do sofrimento com a própria donzela. sofrido do sujeito poético.
amoroso O amigo é muitas vezes o recetor da
(confidentes) donzela, podendo dialogar com ela.
A mãe e as amigas confidentes são
também interlocutores da jovem.

TEXTO B
Paralelismo
• É um princípio estruturante dos textos poéticos, típico da poesia ao
gosto po- pular, em que se repetem segmentos textuais ou elementos
temáticos.
• A grande maioria das cantigas de amigo (também muitas cantigas de
amor, de escárnio e de maldizer) apresenta estruturas paralelísticas, ocorrendo
repetição lite- ral (repetem os mesmos versos) ou sinonímica (apresentam
expressões ou termos de significado equivalente) de um ou mais versos de
cada estrofe.
Elaborado com base em Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra,
Lisboa, Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.
Cantigas de amigo

TEXTO C
Refrão
As marcas gráficas que distinguem o
início do refrão nos manuscritos da lírica
galego-por- tuguesa parecem revelar a
importância que era atribuída ao refrão como
elemento estruturante,
5 quando a lírica galego-portuguesa foi
arquiva- da por escrito. Sendo uma parte
da cantiga que se repete, o refrão aparece,
nos testemunhos referidos, abreviado a partir
da segunda estrofe. […]
10 Do ponto de vista da versificação, o refrão

é vulgarmente definido como um conjunto


de versos com autonomia rimática que se
repete integralmente no fim de cada
estrofe, com um número de versos inferior
ao do corpo da es-
15 trofe e cuja medida silábica é igual à dos

res- tantes versos da cobla. […] "Em gram coita, senhor", Dom
Relativamente aos géneros, o refrão é Dinis, B 506/V 89, Manuscrito do
Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
mais frequente entre as cantigas de amigo
(443-87,8%) do que entre as cantigas de amor
(380-52,4%) ou
20 entre as satíricas (134-31%).

Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),


Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa,
trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.

Atente no texto A
P R O F E S S OR
1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as
falsas. Leitura / Educação
Literária
a. A cantiga de amigo e a cantiga de amor partilham o mesmo sujeito de 7.1; 7.4; 8.1; 14.8; 16.1
enuncia- ção.
b. Tanto a cantiga de amigo como a de amor desenvolvem o tema do 1.
sofrimento amoroso.
c. A donzela presente nas cantigas de amigo pertence a uma classe social cada estrofe.
elevada.
d. O sujeito poético presente na cantiga de amigo pode ser caracterizado pela
sua ingenuidade e pela paixão que sente pelo amigo.
e. Nas cantigas de amigo, a paisagem natural, para além de cenário onde a
donzela se move, é também sua confidente.
f. As cantigas de amigo não apresentam paralelismo literal.
g. O refrão é uma estrutura paralelística frequente nas cantigas de amigo.
h. O refrão é um conjunto de versos que se repete parcialmente a meio de
35
P oe s i a T r o v a d o r e
s c a a.F – Na cantiga de amigo, o
sujeito é do sexo feminino; na de amor é do sexo masculino.
b.V
c.F – É uma jovem do povo.
d.V
e.V
f.F – A maior parte das cantigas de amigo apresenta paralelismo literal.
g.V
h.F – O refrão repete-se integralmente no fim de cada estrofe.

36
Variedade do sentimento amoroso – Relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue.

Ai flores, ai flores do verde pino

− Ai flores, ai flores do verde [− Vós me preguntades polo voss’amigo,


pino1, se sabedes2 novas3 do meu e eu bem vos digo que é san’6 vivo:
amigo! 15 Ai Deus, e u é?]
Ai Deus, e u é4?

Ai flores, ai flores do verde ramo, Vós me preguntades polo


5 se sabedes novas do meu amado! voss’amado, e eu bem vos digo
PROFE S SOR Ai Deus, e u é? que é viv’e sano.
Ai Deus, e u é?
Educação Literária Se sabedes novas do meu amigo,
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.6; 14.7; 14.8; 14.9; aquel que mentiu do que pôs5 E eu bem vos digo que é san’e vivo
15.1; 16.1 comigo! 20 e seera vosc’ant’o prazo
1. O sujeito da Ai Deus, e u é? saído7. Ai Deus, e u é?
enunciação dirige-se
angustiadamente às “flores
de verde pino” para saber 10 Se sabedes novas do meu amado, E eu bem vos digo que é viv’e
novas do seu amigo que aquel que mentiu do que mi á sano e seera vosc’ant’o prazo
tarda em chegar. Estas
respondem-lhe que ele jurado! passado.
está bem e que em breve Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
estará junto dela.
2. A primeira parte é Dom Dinis, B 568/V 171.
constituída pelas quatro
primeiras estrofes, nas
quais a donzela interroga 1 pinheiro; 2 sabeis (subentende-se dizei-me antes de sabedes); 3 notícias; 4 e u é: e onde está?;
“as flores do verde pino”, 5 combinou; 6 são, saudável; 7 terminado.
no sentido de saber se elas
têm notícias do seu amigo;
a segunda parte
corresponde às restantes
estrofes, onde consta a
resposta dada pela
Natureza, que a sossega,
pois o seu amigo está
vivo e em breve
estará junto dela.
3. Além da desilusão, é
evidente a angústia e o
desespero da donzela
perante a possibilidade de
o amigo faltar ao encontro
combinado.
4. A Natureza funciona
como interlocutora
confidente do sujeito
lírico.
5. A nível estrutural
surge, por exemplo, a
repetição de “ Ai
flores, ai flores do verde pino”/ 1º verso da terceira. O refrão também é um exemplo de
“Ai flores, ai flores do verde paralelismo.
ramo” (em que se substitui
“pino” por “ramo”); Também
temos repetição dos versos
2 e 5, com a substituição
de “amigo” por “amado”. Há
ainda a repetição integral do
2º verso da primeira
estrofe que é o
1. Exponha o assunto
da cantiga,
identificando as
vozes nela
presentes.

2. Proceda à divisão
da cantiga em duas
partes,
justificando.

3. Descreva o estado
de espírito do
sujeito poético.

4. Refira o papel
desempenhado
pela Natureza.

5. Retire da cantiga
um exemplo de
paralelismo.
Confidência amorosa

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo apresentada.

Nom chegou, madr’, o meu amigo


Nom chegou, madr’1, o meu
amigo, e oj’est o prazo saido2.
Ai madre, moiro3 d’amor!

Nom chegou, madr’, o meu amado,


5 e oj’est o prazo passado.
Ai madre, moiro d’ amor!

E oj’est o prazo saido,


por que mentio o desmentido4.
Ai madre, moiro d’amor!

10 E oj’est o prazo passado,


por que mentio o perjurado5.
Ai madre, moiro d’amor!
1
mãe
2
Por que mentio o desmentido, e oj'est o prAZO saido: e hoje

pesa-mi6, pois per si é falido7. termina o prazo


3
morro
15 Ai madre, moiro d’amor!
4
falso, mentiroso
5
falso
Por que mentio o perjurado, 6
causa-me pena, desgosto
pesa-mi, pois mentio a seu 7
pois per si é falido: pois faltou PROFE S SOR
grado8. por sua livre vontade
8
a seu grado: por sua
Ai madre, moiro d’amor!
vontade, por gosto
Dom Dinis, B 566/V Áudio
169.
“Nom chegou, madr’,
o meu amigo”
1. Assinale os versos da cantiga que contêm as informações presentes nas afirma-
Educação Literária
ções seguintes. 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.7; 14.9; 15.1; 16.1
a. Presença de um vocativo que remete para o interlocutor e confidente do
sujeito poético.
1.
b. Expressão repetida de um sentimento amoroso intenso vivido pelo sujeito lírico. a. Versos 1, 4 ou refrão
b. Refrão (v.3)
c. Constatação, por parte do sujeito da enunciação, do incumprimento da c.vv. 1 e 2
d. vv. 8 e 11
promessa do amigo. e. v. 14
d. Apresentação do amigo como falso e mentiroso. 2. O sujeito poético
confidencia à sua mãe o
e. Desilusão da donzela face à possibilidade de o seu sentimento não ser amor que sente pelo seu
amigo e a sua desilusão pelo
correspon- dido. facto de aquele ter faltado
ao encontro combinado,
2. Exponha o assunto da cantiga. sentindo
a donzela que ele o fez de
3. Transcreva o refrão desta composição poética. forma deliberada, o que
poderá revelar que não é
correspondida.
4. Identifique o recetor do sujeito poético.
3. “Ai madre, moiro d’amor!”
4. O recetor é a mãe.
Variedade do sentimento amoroso

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo abaixo apresentada da autoria de Airas Nunes.

Bailemos nós já todas tres, ai amigas


Bailemos nós já todas tres, ai
amigas, so1 aquestas2 avelaneiras
frolidas3,
e quem for velida4 como nós,
velidas, se amigo amar,
5 so aquestas avelaneiras frolidas

verra5 bailar.

Bailemos nós já todas tres, ai


irmanas, so aqueste ramo destas
avelanas6,
e quem for louçana7 como nós, louçanas,
10 se amigo amar,
so aqueste8 ramo destas avelanas
verra bailar.
nós” (v. 3)
d. “quem bem parecer como nós parecemos” (v. 15)
PROFE S SOR

Áudio
“Bailemos nós já todas
tres, ai amigas”

Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.7; 14.9; 15.1; 16.1

1. A cantiga remete para


um cenário primaveril, de
festa e dança, que é
visível nas “avelaneiras
frolidas”
(v. 2), e em expressões
como “Bailemos” (v. 1) e
“verra bailar” (v. 6).
2. O sujeito poético, a
donzela, dirige-se às
amigas.
3. A donzela está
extremamente feliz, porque
está apaixonada (“Bailemos
nós já todas três, ai
amigas (…) se amigo
amar”, vv. 1-4), daí o
convite à celebração do
amor, através da dança (“se
amigo amar, / so aquestas
avelaneiras frolidas /
verra bailar.”, vv. 4-6).
4.
a. Bailemos (v. 1)
b. “se amigo amar” (v. 4)
c.“quem for velida como
P ramo frolido bailemos,
o 15 e quem bem parecer como nós
r parecemos, se amigo amar,
so aqueste ramo so’l10 que nós
D bailemos verra bailar.
e Airas Nunes, clérigo, B 879/V 462.
u
s 1
sob, debaixo de; 2 estas; 3 floridas; 4 bela, formosa; 5 virá; 6 avelãs; 7 louçã, bela; 8 este
, 9
mentre (= enquanto) nom faZEMOS al (= não fazemos outra coisa); 10 so’l que: sob o qual.

a
i 1. A cantiga remete para um ambiente festivo, de dança, na primavera.
Justifi- que esta afirmação, recorrendo a elementos textuais.
a
m 2. Identifique o destinatário do sujeito lírico.
i
g 3. Apresente dois traços caracterizadores do sujeito poético,
a fundamentando a sua resposta com expressões textuais pertinentes.
s
, 4. Preencha os espaços com os termos ou expressões adequadas ao sentido
do texto.
m O convite à dança está expresso na forma verbal a. “ ” ,
e
conjuntivo usado com valor exortativo (incitador). Mas essa participação no
n
t baile implica uma condição – estar apaixonada – como se comprova no
r verso b. “ ” . As donzelas são
’ apresentadas como sendo belas e atraentes, como se pode verificar nas
a
expressões c. “ ” e d. “ ”.
l

n
o
m

f
a
z
e
m
o
s
9

s
o

a
q
u
e
s
t
e
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo da autoria de Martim Codax.

Ondas do mar de Vigo


Ondas do mar1 de Vigo,
MARTIM CODAX
se vistes meu amigo?
Séc. XIII
E ai Deus, se verra2 Trata-se provavelmente de um jogral galego, ativo
cedo! em meados ou no terceiro quartel do século XIII.
Embora seja um dos dois únicos autores
presentes nos can- cioneiros medievais cujas
Ondas do mar levado3, composições se conserva- ram igualmente num
manuscrito individual, o desig- nado Pergaminho
5 se vistes meu amado?
Vindel, onde vêm acompanhadas da respetiva
E ai Deus, se verra notação musical (o outro dos autores sendo D.
cedo! Dinis), nada se sabe de concreto sobre a sua
biografia. O seu apelido parece excluir a hipótese
de um estatuto social elevado. Seria pois um
Se vistes meu amigo, jogral ou segrel, muito possivelmente ligado a Vigo,
localidade repetidamente cantada nas suas
o4 por que5 eu sospiro? composições.
E ai Deus, se verra
cedo!

10 Se vistes meu amado,


por que ei6 gram coidado7? 1
ria, baía;2 virá, voltará;
E ai Deus, se verra cedo!
3
mar levado: mar bravo, mar
encapelado; 4 aquele; 5 quem;
Martim Codax, B 1278/V 884/PV 6
tenho; 7 preocupação.
1.

1. Complete o texto, de modo a obter uma breve análise da cantiga “Ondas do


mar de Vigo”, selecionando, entre as palavras propostas, as que são
adequadas.

mãe refrão donzela angústia interrogativas


Deus exclamativas paralelística amigo Natureza

Esta cantiga de amigo é, quanto à sua estrutura, a. , pois, para além


da existência de refrão, o segundo verso da primeira cobla é igual ao primeiro da
terceira. O sujeito lírico, a b. , faz da c. sua PROF E S SOR
confidente e confessa-lhe a sua extrema d. perante a ausência do e.
. Áudio
As frases f. acentuam o desespero da jovem, assim como as
exclamativas
presentes no g. . É nesse momento que ela também evoca h. “Ondas do mar de Vigo”

, pois está desesperada. Educação Literária


14.2; 14.3; 14.4; 14.8

1.
a. paralelística
b.donzela
c.Natureza

39
P oe s i a T r o v a d o r e
sca
d.angústia g.refrão
e. amigo h.Deus
f.interrogativas

Pergaminho de Vindel, n.o 1.

40
Confidência amorosa – relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as cantigas de amigo abaixo apresentadas e responda ao questionário da


página seguinte.
CANTIGA
A

Poys nossas madres van a San


Simon CANTIGA B

Poys nossas madres1 van a San Sedia-m’eu na ermida de San Simión


Simon de Val de Prados candeas Sedia-m’eu1 na ermida de San Simión
queymar2, nos, as meninhas3, e cercaron-mi-as ondas que grandes son.
punhemus4 d’andar con nossas Eu atendend’2o meu amigu'! E verrá?
madres, e elas enton
5 queymen candeas por nós e por ssy Estando na ermida, ant’3o altar,
e nos meninhas, baylaremos hy5. 5 cercaron-mi-as ondas grandes do mar.

Eu atenden[d’o meu amigu'! E verrá?]


Nossus amigus todus lá
hiran6 por nos veer, e E cercaron-mi-as ondas que grandes
andaremos nos son: non ei4 [i]5 barqueiro nen
bayland’ant’eles, fremosas, en cos7, remador.
10 e nossas madres, poys que alá
8
Eu [atendend’o meu amigu'! E verrá?]
van, queymen candeas por nos e
por ssy, e nos meninhas [baylaremos 10 E cercaron-mi-as ondas do alto
hy]. mar: non ei [i] barqueiro nen sei
remar. Eu aten[dend’o meu amigu'! E
Nossus amigus hiran por verrá?]
cousir9 como baylamus, e
poderan veer Non ei i barqueiro nen remador:
15 baylar moças de...bon parecer; morrerei [eu], fremosa, no mar maior.6
e nossas madres, poys lá queren hir, 15 Eu aten[dend’o meu amigu'! E verrá?]
queymen candeas por nós e por ssy
e nos meninhas [baylaremos hy]. Non ei [i] barqueiro nen sei
Pero Viviaez, B 735/V 336. remar: morrerei eu, fremosa, no
alto mar. Eu [atendend’o meu
1
mães; 2 acender velas em cumprimento de promessa feita; 3 amigu'! E verrá?]
meninas;
4
tratemos; 5 aí; 6 irão; 7 sem manto, em corpo bem feito; 8 lá; 9 Mendinho, B 852/V 438.
ver.

1
Sedia-m’eu: Estava eu; 2 esperando; 3 diante; 4 tenho; 5 aqui; 6 alto.

PROFE S SOR

Áudio
“Poys nossas madres
van a San Simon”
Áudio
“Sedia-m’eu na ermida
de San Simión”
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza
P R O F E S S OR
1. Proceda à análise das duas cantigas e preencha o quadro seguinte.
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 15.1;
"Poys nossas madres van "Sedia-m’eu na ermida 16.1; 16.2
a San Simon" de San Simión" 1. “Poys nossas
madres van a San
Assunto a. a. Simon”
a. A donzela
incentiva as amigas a
Estado de espírito acompanharem as mães a
do sujeito lírico
b. b. San Simon de Val de
Prados, como pretexto para
verem os amigos e
poderem dançar,
Relação com o amigo c. c. mostrando--se perante eles.
b. A donzela está
entusiasmada porque
aquele será um meio para
estar com o seu amado.
c.O entusiasmo
demonstrado pela donzela
GR A M Á T I C A evidencia uma possível
correspondência amorosa
Atente na cantiga A. ou, pelo menos,
uma relação que ela sente
como possível, na medida
1. Identifique a função sintática desempenhada por “de bon parecer” em “moças em que acredita que a
dança possa funcionar
de bon parecer”(v. 15). como um instrumento de
sedução.
“Sedia-m’eu na ermida de
Atente na cantiga B. San Simión”
a. A donzela
espera ansiosamente pelo
2. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes sublinhados. amado na igreja de San
Simión, até que as ondas a
a. “e cercaron-mi-as ondas que grandes son.” (v. 2)
cercam e a deixam num
estado de desespero por
b. “Eu atendend'o meu amigu'”. (v. 3) temer morrer afogada,
c. “morrerei [eu], fremosa, no mar maior.” (v. 14) já que não tem ninguém
que a socorra, o que
evidencia também o seu
receio de
3. Refira duas palavras do português moderno que integram o mesmo elemento que o amigo não
eti- mológico que “Sedia” (v. 1). chegue a comparecer ao
BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-273, 280- encontro marcado.
281 b. Inicialmente,
a donzela manifesta estar
apaixonada e ansiosa por
ver o amigo; depois

ntação oral (5 a 7 minutos) sobre os aspetos comuns entre a cantiga A e a imagem, no que se re- fere ao caráter profano e religioso das romarias na Ida

expressa aflição e
desespero quando se
apercebe dos perigos que
enfrenta e,
simultaneamente, desilusão
pelo atraso do amado, o
que pode ser indicativo da
41
P oe s i a T r o v a d o r e
sca
sua não comparência.
c.Apesar de a donzela se mostrar apaixonada, é
evidente alguma insegurança em relação ao seu amado, já que o seu tardar a faz duvidar do seu amor, ao
mesmo tempo em que a coloca numa situação de perigo.

Gramática 17.4; 18.1


1. Modificador do nome restritivo.
2. a. Sujeito.
b. Complemento direto.
c. Modificador do grupo verbal.
3. Sede, sediado, sedentário.

Oral
idad
BLO e/E
CO duc
INFO açã
RMA o
TIVO Lit
– p. erá
283 ria
1.4;
5.3;
6.2;
15.4

42
LEITUR A

O amor é o tema central das cantigas estudadas até ao momento.


Leia, a propósito desse sentimento, o seguinte artigo de divulgação científica.

Amor: cria dependência como uma droga, mas sabe


bem como o chocolate
Por Nicolau Ferreira

A maravilhosa máquina cerebral destrói a mitologia básica, é mais do que isso", disse Ortigue, citada pelo jornal
do amor? Ainda não, talvez nunca. Mas já se sabe britânico The Independent. "O amor inclui emoções básicas e
muito: as re- giões ativadas quando vemos a pessoa de emo-
quem gostamos ou os químicos libertados. E é tudo 35 ções complexas, motivações direcionadas para objetivos,
verdade: o estômago imagens do corpo, cognição e apreciação."
5 apertado, o coração acelerado, o vício, a intensidade

do pri- meiro ano de relação. O amor é a droga. […]


A base neurológica do amor romântico é o título
insosso de um artigo científico publicado em 2000, que
se propu- nha pela primeira vez olhar para o cérebro de
17 pessoas e
10 ver quais as áreas que ficavam luminosas perante

fotogra- fias dos seus amados. […]


Os observados eram analisados enquanto viam
fotogra- fias dos seus mais-que-tudo que iam passando
entre foto- grafias de amigos do mesmo sexo que o/a
companheiro/a.
15 No cérebro, a afluência especial de oxigénio a

determina- das regiões era registada pela máquina e


denunciava pela primeira vez as redes complexas
associadas ao amor e que permitem alguém dizer
palavras como "verdadeiramente", "profundamente" ou
"loucamente" num contexto piroso,
20 mas completamente justificável com um "deixa lá,

ele/ela está apaixonado/a".


Sabe-se hoje que existem 12 regiões do cérebro
que são recrutadas quando pensamos na pessoa que
amamos. Stephanie Ortigue, uma investigadora da
Universidade de
25 Siracusa, nos Estados Unidos, analisou com colegas a

escassa bibliografia sobre a deteção destas regiões e


verificou que existem diferenças quando se sente o amor
de paixão, e quan- do se sente o amor incondicional (o
sentimento que se tem re- lativo a pessoas doentes, por
exemplo) e o amor maternal. […]
30 As imagens por ressonância magnética mostram que

o amor é complexo. "Apesar de muitas teorias da


emoção terem incluído o amor como uma emoção
As setas de Cupido, c. 1882, Perrault Leon Jean Basile (1832-
1908).

Não à dor, sim ao vício


Uma equipa de investigadores da
Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos, percebeu que os circuitos ativados no
cérebro quando estamos apaixonados têm se-
40 melhanças com os ativados quando sentimos
dor e tentou perceber se existe uma ligação
entre eles.
A equipa dos Estados Unidos pegou em
voluntários que estavam a namorar há menos
de um ano e procurou perce- ber o que é que
a observação de fotografias dos parceiros
45 fazia quando sentiam uma dor causada por
uma madeira aquecida que os cientistas lhes
colocavam na mão.
Cantigas de amigo

O que os investigadores descobriram é que a perceção reportagem da Esquire, Fisher responde a esta pergunta da dor era reduzida quand
50 dos locais-chave [medidos através de ressonância mag- para comê-lo, continuo a sentir alegria." Há outra coisa que nética] é o nucleus a

publicado sobre esta descoberta na revista Public Library


55 of Science One, que saiu em 2010.

Como um bolo de choc


[…] Dito isto, a questão que pode

1. Selecione a opção que completa corretamente as afirmações.

1.1 Neste texto, o seu autor


[A] apresenta a sua opinião em relação ao poder do amor sobre as PROFE S SOR
pessoas.
Oralidade (p. 41)
[B] divulga os resultados de uma investigação neurológica do amor.
Sugestão de tópicos
[C] expõe os resultados de uma investigação sobre doenças de resposta:
neurológicas. As romarias da atualidade
não são assim tão diferentes
das da Idade Média.
1.2 A investigadora Stephanie Ortigue chegou à conclusão de que o nosso Na cantiga, as jovens iam
cérebro dançar, ver os amigos
(caráter profano), as mães
[A] reage da mesma forma a todos os tipos de amor. iam pagar promessas,
queimar velas e orar
[B] deteta doze tipos diferentes de reações amorosas. (caráter religioso).
A organização das
[C] reage de forma diferente ao amor paixão e ao amor maternal. festas do concelho de
Gondomar apresenta a
romaria à N.a S.a
1.3 Uma equipa de investigadores americanos concluiu que do Rosário (caráter
religioso) e a Feira das
[A] o amor provoca uma dor semelhante à produzida por uma Nozes (caráter profano),
queimadura. onde todos podem fazer
compras e conviver.
[B] os circuitos ativados no cérebro pela dor e pelo amor são idênticos. A acompanhar as atividades
religiosas estão sempre as de
[C] os voluntários observados não sentiram dor ao ver as fotos dos seus caráter mais lúdico.
par- ceiros.
Leitura
1.4 Na última parte do texto afirma-se que 7.2; 7.3; 7.6; 8.1

[A] o amor continua a surpreender, apesar das investigações científicas


1.1 [B]
de- senvolvidas. 1.2 [C]
[B] amar é como apreciar um bolo de chocolate, pois os ingredientes 1.3 [B]
são idênticos. 1.4 [A]
2. A, E e F
[C] compreender a base neurológica do amor acaba com a infelicidade
amorosa.

2. Selecione, das marcas a seguir apresentadas, aquelas que estão presentes no


texto.
43
A. Hierarquiazação B. Predomínio da primeira C. Comentário crítico.
das ideias. pessoa.

D. Dimensão narrativa. E. Explicitação de fontes. F. Caráter expositivo.

44
P oe s i a T r o v a d o r e s
ca Evolução do português
APRENDER
LEITUR A

A RAOUMTOADNEIZMAOÇRÃAOLIDADE composto per Gil Vicente por contemplação da


sere-
níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado
per O la t im e r a a lí ng u a d o s h a b it a n t es d o
seu m a n da d o a o p o d er o s o p r ín c i p e e m
L ác i o , o n d e s e lo ca li za v a R o m a. N o e n ta n t o ,
u i a l t o r e i d o m M a n u e l, p r im e ir o d e P or -
e n q u a n to l ín gu a v iv a, não era usado da mesma forma por todos os
t u g a l d e st e n o m e .
romanos. Assim, era
possível identificar variedades:
Ca.oomlaetnimçavauldgeacrl–aruamçãloateimarfgaulamdoene
tdoivdearsiofibcraad.oP,
rinimteegriaranmdoecnatrea,cnteorípsrteicsaesnmteaiasuptoo-, se fegpuurlaareqsu;
e, no ponto que acabamos de espirar, chegamos sùpitamente a um rio,bo.
oqluaatlimpecrláfsosriçcao h–auvteilmizaodsodpeopr aesscsraitroermes
luamtinodsecdoomuosCbícaetéroisoquuVeirgníalioqueeelnespinoardtoo
estão,nascsieliscceot1la, su. m deles passa pera o paraíso e o outro pera o
Inferno: os quais batéNios steécmulocaIdII aa.uCm., osseuromararaniozs
ninaicpiarroaam: oa doocuPpaarçaãíosodaumPenAínnsjou,laeIboédriocaIne
faerrnomo aunmi- azarrçaãioz dinofseprnovaol sequume aCí
oemncpoanntrhaerairmo,. acabando por impor o latim vulgar como língua de
comunicação a ser usada pelos povos vencidos. No entanto, o latim clássico continuava
a ser Outiplirziamdoeircoomenotraellíoncguutaordaé
i g reja , d a a d m i ni st r aç ã oa,
u m F i d al g o q u e c h e g dcoamciêunmciaPeajneo,
squmeolshteeirloesv,aonudme rcaobnotinmuuoui caosmerpernidsoineadũoa. cadeira
de espaldas. E começa o ArrAIZ do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DO LATIM AO GALEGO-PORTUGUÊS

Substratos da Península Ibérica


São os idiomas falados pelos povos que habitaram a península antes da invasão
romana (Celtas, Iberos, Fenícios, Gregos) e que foram absorvidos pelo latim, deixando
neste vestígios, ou seja, certos termos linguísticos. O quadro abaixo apresenta dois dos
substratos mais im- portantes da língua portuguesa:

Substratos Termos linguísticos Áreas


Celta camisa, cerveja, carro, caminho, vassalo, lousa, bétula
diversificadas
Grego evangelho, pedagogia, homogéneo, Cristo*
PROFE S SOR * Alguns destes termos já tinham sido absorvidos pelo latim, antes de os romanos invadirem a Península Ibérica,
como é o caso de “evangelho” e “Cristo”.
Considerando que algumas
definições de superstrato
(cf., por exemplo, Dicionário Superstratos da Península Ibérica
Terminológico, dt.dgidc.
min-edu.pt) referem ou O latim vigorou como língua oficial da Península Ibérica até ao século V, altura em que
sugerem uma situação
de substituição linguística, se deram as invasões germânicas, em 409. A estas seguiram-se as invasões árabes, em 711,
há autores que falam e ambos os acontecimentos acabaram por ter impacto na situação linguística da Península.
de adstrato para se
referirem ao árabe. Embora os germanos e os árabes não tenham conseguido impor a sua cultura nem a
Substratos Termos linguísticos Áreas
sua língua, legaram novas palavras ao idioma que então se falava.
Germânico guerra, orgulho, dardo, elmo, luva, escanção atividade guerreira
a agricultura, a indústria,
alambique, alecrim, açúcar, alfinete, arroz, as ciências e as artes,
Árabe
azeitona, azulejo, xarope o comércio ou a
administração
Os franceses também tiveram algum impacto na evolução da língua, devido à
sua in- fluência nas cortes dos primeiros reis da primeira dinastia e ao impacto da
poesia provençal.

O PORTUGUÊS ANTIGO (SÉCULOS XII-XV)

É possível, neste período, detetar duas fases na evolução da língua portuguesa:


a.A fase mais remota do português corresponde à fase do galego-português
(ou ga- laico-português), idioma progressivamente formado no noroeste
peninsular e que a Reconquista do território expandiu para sul; aparece
registada na poesia trovadores- ca e em documentos oficiais e particulares da
época, por exemplo, O Testamento de
D. Afonso II, datado com segurança de 1214.
b.A partir de meados do século XIV, com o movimento de Reconquista até sul
do ter- ritório português, assistiu-se a uma evolução gradativa da língua, que
terminaria com a separação do galego-português em dois idiomas (galego e
português). Para essa cisão, foram determinantes vários fatores, a saber:
• a separação política entre Portugal e a Galiza;
• o contacto com populações ao longo do repovoamento do centro e sul do
território implicou transformações linguísticas que não se verificaram no
norte;
• a mudança da corte portuguesa para Lisboa;
• a influência prestigiante da Universidade (ora em Lisboa ora em Coimbra)
e dos mos- teiros de Alcobaça e de Santa Cruz de Coimbra, que ditavam já, de
certa forma, o bem falar e o bem escrever.

O PORTUGUÊS CLÁSSICO (SÉCULOS -


XVI XVIII )

Durante este período, assistiu-se a uma considerável latinização e inovação da


língua portuguesa, particularmente no domínio lexical, por vários motivos:
• com o Renascimento dá-se a recuperação do latim clássico e surgem novas palavras
por via erudita;
• Camões (entre outros autores), com a sua obra, contribui para o processo
da enrique- cimento da língua;
• surgem publicações que pretendem fixar e regulamentar a língua portuguesa: em 1536,
nasce a primeira gramática portuguesa, de Fernão de Oliveira;
• os Descobrimentos trazem o conhecimento de outros povos, costumes,
paisagens e produtos exóticos, o que implica a introdução de vocabulário para
designar novas rea- lidades;
• Luís António Verney, no século XVIII, luta pelo ensino do português nas escolas, em opo-
sição ao ensino do latim.
Por outro lado, a expansão ultramarina permitiu que a língua se alastrasse por
vários con- tinentes e que se viesse a tornar a língua nacional e/ou oficial de países
como o Brasil, Angola ou Moçambique.

45
Evolução do português
APRENDER

O PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO (A PARTIR DO SÉCULO XIX)

A partir do século XIX, o português continuou a evoluir, devido aos seguintes fatores:
• a criação de gramáticas e dicionários intensifica-se;
• a criação literária de alguns escritores, como Eça de Queirós ou Fernando
Pessoa, con- tribui para o enriquecimento da língua;
• os progressos industriais e agrícolas têm um grande impacto, com a criação de
termos
Para mais informações sobre capazes de referir as novas realidades: neologismos e empréstimos – galicismos
a evolução do português, (do francês) e anglicismos (do inglês);
consultar, por exemplo:
• Ivo Castro, Introdução
• os meios de comunicação começam a exercer um papel de relevo na uniformização
à história do português. (2004), e
2.a ed., revista e muito divulgação da língua.
ampliada, Lisboa, Colibri,
2006.
• Ivo Castro (dir.), História
da língua portuguesa em linha,
Centro Virtual Camões, APLICAR
2002-2004.
URL: http://cvc.instituto- .
camoes. pt/hlp/index1.html 1. Selecione a opção correta.
• Esperança Cardeira, O
essencial sobre a história do 1.1 A romanização é um processo que consiste na
português, Lisboa, Editorial
Caminho, 2006. [A] imposição do latim clássico nas regiões conquistadas pelos romanos.
[B] reconquista do sul da Península Ibérica pelos romanos.
[C] assimilação da cultura e da língua latina pelos povos vencidos pelos romanos.

1.2 O latim clássico


[A] está na base da formação da língua portuguesa.
[B] é a variedade linguística utilizada pela população culta.
[C] não é usado por nenhuma classe social da Península Ibérica.

1.3 Os substratos da língua portuguesa são termos


[A] linguísticos que os povos invasores do século VIII impuseram aos
falantes da língua latina.
[B] linguísticos usados pelos povos nativos antes da chegada dos
romanos e que se infiltraram no latim.
[C] gregos que se integraram no galaico-português aquando da
reconquista cristã.

1.4 O celta é um idioma que


[A] é substrato da língua portuguesa.
[B] é superstrato da língua portuguesa.
[C] foi absorvido pelo árabe.
APLICAR

1.5 As invasões germânicas e árabes contribuíram para a formação do português


com
[A] termos específicos de certas áreas de atividade.
[B] vocabulário muito diversificado, pertencente a certas profissões.
PROF E S SOR
[C] vocabulário específico relacionado com a atividade guerreira.
Gramática
1.6 Superstratos são as línguas faladas 17.1; 17.2; 17.5

[A] pelas pessoas mais cultas, que as impunham às restantes. 1.


[B] pelos povos nativos, e que deixaram vestígios no latim vulgar.
1.1 [A]
[C] pelos povos invasores que deixaram marcas na idioma dominante. 1.2 [B]
1.3 [B]
1.7 O português antigo 1.4 [A]
[A] é o latim vulgar trazido pelos romanos. 1.5 [A]
1.6 [C]
[B] é o português falado a sul de Portugal no século XII. 1.7 [C]
[C] é, numa primeira fase, o galaico-português. 1.8 [B]
1.9 [A]
1.8 A universidade e alguns mosteiros 1.10 [A]
1.11 [C]
[A] contribuíram para evolução do latim clássico.
1.12 [B]
[B] contribuíram para a separação do português do galego.
[C] não tiveram nenhum impacto na evolução do português.

1.9 A partir do século XVI, a descoberta de novas paisagens e o contacto com


outras culturas implicaram
[A] o aparecimento de novos termos na língua portuguesa.
[B] a introdução de novas línguas que se impuseram ao português.
[C] um retrocesso no desenvolvimento da língua portuguesa.

1.10 Com a recuperação do latim clássico nas artes e nas ciências,


[A] formaram-se novas palavras na língua portuguesa.
[B] a língua portuguesa sofreu um enorme empobrecimento.
[C] o povo português começou a falar latim.

1.11 No século XIX, “nasce” o português contemporâneo, como consequência


de vários fatores, entre os quais se destacam
[A] a criação literária de Camões.
[B] o aparecimento da primeira gramática portuguesa.
[C] o desenvolvimento industrial do país.

1.12 Os empréstimos no século XIX são


[A] neologismos criados a partir da língua portuguesa.
[B] palavras estrangeiras introduzidas no português.
[C] neologismos criados a partir do francês.

47
P oe s i a T r o v a d o r e
sca

LEITUR A

Leia a letra de uma cantiga apresentada no programa da RTP 1 Estado de Graça.

Vídeos na Internet
É coisa linda esta moda afinal
De publicar videozinhos de cariz
anormal Duas miúdas em modo
animal
Aos chutos e pontapés, na peixeirada total
5 Gravaram no telemóvel – só visto…

Mais tarde é bom recordar


A chapadinha, joelhadazinha
Estado de Graça, RTP
Depois no Facebook há gente a
“likar” Aquela brincadeira, “rasca” e
rasteira
10 A pancada agora vai aleijar

[Refrão]
O português é engraçado
Anda à porrada em qualquer
PROFE S SOR
lado O português é distraído
Facilmente é atingido
Vídeo 15 O português é prémio
“Estado de Graça, RTP” Nobel A gravar com o
Leitura
telemóvel Pra mais tarde
7.1; 7.2; 7.4; 9.2 publicar
Só pra ver o que é que a coisa vai dar.
1.1 [A]; 1.2 [B].
2. Para além de se
censurarem hábitos
Anda pr’aí a maior comoção
violentos dos 20 O país revoltou-se contra esta agressão
portugueses, é
sobretudo criticada a
Na Internet e em todas as televisões
tendência atual para se Aquelas duas pitinhas a puxar dos
expor tudo o que se faz nas
redes sociais,
galões Gravaram no telemóvel – só
nomeadamente no visto…
Facebook, ainda que os vídeos Mais tarde irão lamentar
partilhados possam transmitir
uma imagem muito negativa 25 Serem parvinhas, serem tolinhas
dos seus protagonistas. De
tal forma isto acontece
A malta do “iutubas” vai comentar.
que chega mesmo a Há gente tão parvinha, tão mal-
colocar-se a hipótese educadinha. Na prisão é que elas devem
de, no futuro, ser mais
fácil condenar os ficar.
criminosos, porque eles
próprios acabarão por
fazer prova da sua Vai ser mais fácil apanhar malandrões
culpabilidade 30 E atirá-los a todos para as nossas prisões
através destas redes sociais.
Gravando os crimes com um simples telefone
Publicar na Internet e “soprar no trombone”

Pois estas duas araras – só


visto… Quiseram logo mostrar
35 Um crime gravado e
Cantigas de escárnio e maldizer
e e tão ceguinha, tão burra e tapadinha Faz
s o mal e logo o quer partilhar…
c
Letra e música de Gimba
a
r
r
a
p
a
c
h
a
d
o

E
m

p
l
e
n
o

F
a
c
e
b
o
o
k
,

s
ó

c
o
m
e
n
t
a
r
H
á

g
e
n
t
1. Selecione a opção que completa corretamente cada afirmação. P R O F E S S OR
1.1 O propósito da cantiga é
Gramática
17.4
[A] criticar.

[B] elogiar. 1.1 A palavra


provém do verbo inglês
[C] informar. like.
1.2 Trata-
[D] narrar. se de um
empréstimo.
1.2 Esse efeito é conseguido sobretudo através da 1.3 O termo
significa “gostar de”.
[A] metáfora. 2.1 “malandrões”
[B] ironia. 2.2 Justifica-se
pelo facto de a forma
[C] antítese. verbal surgir no infinitivo,
terminando em -r.
[D] aliteração. Quando assim é, o pronome
pessoal em adjacência verbal
implica a apócope do -r,
2. Explicite as críticas apresentadas ao longo da cantiga. assumindo o pronome
a forma “-los”.

Escrita
10.2; 11.1; 12.1; 12.2;
12.3; 12.4; 13.1
GR A M Á T I C A
Proposta de escrita:
Parágrafo 1: forma de
1. Preste atenção à palavra “likar” (v. 8).
comunicação tecnológica,
1.1 Identifique a origem do termo. fácil e atrativa, que possibilita
comunicação à distância.
1.2 Classifique a palavra, tendo em conta a sua origem. Parágrafo 2: o caráter
misterioso proporcionado
1.3 Explicite o significado do termo. por esta forma de
comunicação seduz os
mais jovens,
2. Atente nos versos “Vai ser mais fácil apanhar malandrões / E atirá-los a todos que fazem
para as nossas prisões” (vv. 29-30). “amizades” com
pessoas que não
2.1 Identifique o referente da forma pronominal “-los”. correspondem ao perfil que
apresentam;
2.2 Justifique a forma do pronome pessoal “os”, nesta situação. – a exposição de
fotografias pode ser
prejudicial, pois outros
BLOCO INFORMATIVO – pp. 280-281, 269- terão acesso a elas
e poderão manipulá-las;
270
– indicar dados da
vida pessoal (morada,
escola, emprego,
aniversários) pode ser
prejudicial, principalmente
ESCRITA quando se trata de
crianças que são um alvo
fácil para pedófilos.
Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre os riscos do uso da rede Parágrafo 3: a nossa
social Facebook, seguindo, para isso, o plano abaixo apresentado. exposição a um público
vasto e desconhecido é
sempre perigosa, porque
• Parágrafo 1 – Apresentação sumária das características do Facebook. nem sempre se sabe quem
está do outro
• Parágrafo 2 – Três riscos inerentes ao uso do Facebook e cuidados a lado.
ter.
• Parágrafo 3 – Síntese dos principais aspetos referidos.

49
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 26-27

50
INFORMAR

A par da poesia lírica trovadoresca, no Noroeste da Península, foi também


cultivada a poesia satírica, de natureza autóctone.

Leia os tópicos abaixo e os excertos da Arte de Trovar, que a este propósito se


pro- põem, e resolva a atividade apresentada na página seguinte.

Cantigas de escárnio e maldizer

• Na lírica galego-portuguesa, a sátira presente


nas cantigas de escárnio e maldizer é dirigida a
personagens representantes das diversas categorias
socioprofissio- nais, atingindo todos os graus da
hierarquia social:
5 – do papa ao simples freire (monge) ou freira;

– do cavaleiro ao ricome (rico-homem);


– do infançon ao escudeiro;
– do jogral ao trobador.
O rei é a única figura que não é alvo de qualquer sá-
10 tira ou crítica.

• Nas cantigas da lírica galego-portuguesa, a


sátira política e social é conduzida a nível pessoal
com acu- sações de:
– covardia;
15 – traição;

– avareza;
– incapacidade.
• Para além das críticas de caráter pessoal,
são vários os aspetos/assuntos satirizados nestas
cantigas:
20 – os relativos a acontecimentos históricos;

– os costumes sociais (em particular, os que se


Trovadores perante o Rei e a sua
ligam com a decadência da nobreza);
– a polémica literária (em que se aponta no trovador
Corte, século VIII, Escola escarnecido a falta de respeito pelas regras de bem trovar);
Alemã. 25
– a paródia da própria cantiga de amor, do amor cortês (“brinca-se” com
o so- frimento amoroso – a coita de amor – e com o retrato da figura
feminina).
• Com estas cantigas, pretende-se criar efeitos cómicos, geradores do
riso, recorrendo o trovador a vários recursos expressivos:
– ironia;
30
– termos obscenos (em textos mais ferozes);
– diminutivos e aumentativos grosseiros;
– equívoco (jogos de palavras que têm dois sentidos);
– metáforas.
• Muitas destas cantigas apresentam estrutura narrativa, relatando um
peque-
35
no episódio pitoresco e cómico, saído do quotidiano.
•Estas cantigas têm um importantíssimo valor documental para o
conheci- mento da língua e da sociedade da época.
Anna Ferrari,
“Cantiga de
escarnho e
maldizer”, in
José Augusto
Cardoso
Bernardes et al.
(dir.), Biblos:
Enciclopédia
Verbo das
Literaturas de
Língua
Portuguesa,
Lisboa,
Editorial
Verbo, 1995,
pp. 970-974
(adaptado).
Cantigas de escárnio

Cantigas d’escarneo som aquelas que os trobadores fazem querendo dizer


mal d’algu~e ~elas, e diz~e-lho per palavras cubertas que hajã dous
entendimentos pera lhe-lo nõ entenderem… ligeiramente.
CBN, Arte de Trovar, V, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.

Cantigas de maldizer

Cantigas de maldizer som aquelas que faz~e os trobadores […] descubertamente,


~e elas entrã palavras a que querem dizer mal e nõ haver outro entendimento
senõ aquel que querem dizer chaamente e outrossi as todas fazem dizer
[…].
CBN, Arte de Trovar, VI, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.

1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as


falsas.
a. Nas cantigas de escárnio e maldizer, o trovador critica todas as
categorias so- ciais.
b. São vários os aspetos satirizados nestas cantigas, sendo alguns de P R O F E S S OR
caráter mais pessoal e outros relacionados com costumes, feitos históricos
e a própria arte de bem trovar. Educação Literária
7.2; 7.4; 8.1; 15.1; 16.1
c. As cantigas de conteúdo satírico apresentam palavras ofensivas quando se
pre- tende criticar ferozmente alguém ou um acontecimento. 1.

d. As cantigas de escárnio e maldizer também fazem uma paródia ao amor 2.4 Entre os vários
cortês. temas satirizados
destaca-se a
e. Os aumentativos e os diminutivos empregues nestas produções poéticas
crítica à
têm sempre um valor apreciativo.
artificialidade dos
f. Um dos recursos expressivos frequentes nestas cantigas é a ironia. senti- mentos
g. Algumas composições satíricas apresentam narratividade, pois verifica-se es- demonstrados na
sencialmente a expressão de estados de espírito do “eu”, na primeira cantiga de
pessoa. (amigo/amor).

h. As cantigas de maldizer distinguem-se das de escárnio pelo facto de,


nas pri- meiras, se criticar direta e claramente o alvo visado.

2. Selecione, dos termos indicados entre parênteses, aquele que se adequa às


infor- mações fornecidas pelo texto.

2.1 A poesia satírica galego-portuguesa teve origem (provençal/autóctone).

2.2 Os trovadores galego-portugueses manifestam preferência pelo caráter


(particular/geral) das cantigas de maldizer.

2.3 Nas cantigas de escárnio, a crítica era feita de forma (velada/direta).


a. F – Exceto o Rei.
b. V
c.V
d. V
e. F – Têm sempre valor depreciativo.
f.V
g. F – Algumas composições satíricas apresentam narratividade, pois relatam um episódio,
servindo-se das categorias da narrativa.
h. V
2.1 autóctone
2.2 particular
2.3 velada
2.4 amor
A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga apresentada.

Roi Queimado morreu com


amor
Roi Queimado1 morreu com
amor em seus cantares, par
Santa Maria, por ũa dona que 1
trovador com quem Pero
Garcia Burgalês conviveu e
gram bem queria2; e, por se que compôs algumas
meter por mais trobador, cantigas de amor, usando
5 por que lh’ela non quis[o] bem frequentemente o tópico aqui
satirizado
fazer, feze-s'el em seus cantares 2
que gram bem queria: por
morrer, mais3 resurgiu depois, ao quem tinha grande amor
tercer dia. 3
mas
4
isto
Esto fez el por ũa sa senhor
4 5
que quer gram bem: por quem
tem grande amor
que quer gram bem5; e mais vos ém6
diria:
6
acerca disso

10 por que cuida7 que faz i maestria8,


7
pensa
8
que fAZ i maestria: que faz
enos cantares que faz, á sabor9 versos com engenho, como se
de morrer i10 e des i d'ar fosse um mestre
viver11; esto faz el, que x'12o 9
á sabor: tem desejo, vontade
pode fazer, 10
nesse momento
mais outr'omem per rem nono faria. e des i d'ar viver: e em
11

seguida de voltar a viver


12
x’: mero reforço de
15E nom á13 já de sa morte pavor, expressão, intraduzível no
se nom, sa morte mais la português atual
temeria, mais sabe bem, per sa 13
tem
sabedoria, que viverá, des
14
des quando morto for: desde
o momento em que
PROFE S quando morto for14; morrer
SO R e faz-[s'] em seu cantar morte 15
aceitar
prender15, 16
des i ar vive: volta
20 des i ar vive16: vedes que poder seguidamente a viver
Áudio que lhi Deus deu, − mais queno
cuidaria!

E se mi Deus a min desse


poder qual oj'el á, pois morrer,
de viver, já mais morte nunca
[eu] temeria.
Pero Garcia Burgalês, B 1380/V
988.
“Roi Queimado morreu [C] – [1]
com amor” [D] – [5]
[E] – [4]
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7; 2. O sujeito poético critica o artificialismo do "morrer
15.1; 16.1 de amor", que "Roi Queimado" demonstra nas suas cantigas, bem como a má qualidade da sua poesia.

1.
[A] – [2]
[B] – [3]
1. Associe os tópicos
de análise (coluna
A) às expressões
transcritas do
poema (coluna B).

2. Refira, por palavras Coluna A Coluna B


suas, os dois aspetos
criticados no trovador [A] Identificação do alvo da sátira. [1] “mais resurgiu depois, ao
"Roi Queimado". [B] Verso revelador dos exageros do amor cortês. tercer dia”,

[C] Expressão irónica denunciadora do [2] “Roi Queimado”


artificialismo do “morrer de amor”, pela
alusão a uma situação inverosímil. [3] “feze-s'el em seus
cantares morrer”
[D] Sátira à presunção de Roi Queimado
por se considerar bom trovador. [4] “já mais morte nunca
[E] Ironia do sujeito poético ao afirmar não [eu] temeria”
recear a morte, se ele fosse abençoado por
[5] “por que cuida que faz
Deus, como Rei Queimado. mestria”
Cantigas de escárnio e maldizer

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue.

Ai, dona fea, fostes-vos queixar f. O trovador traça


o retrato físico e
Ai, dona fea, fostes-vos queixar psicológico da
que vos nunca louv[o] em meu senhora.
cantar; mais1 ora2 quero fazer um
cantar 2. Estabeleça uma
em que vos loarei3 toda via4; comparação entre a
cantiga analisada e a
5 e vedes como vos quero
anterior, no que se refe-
loar5: dona fea, velha e
re ao objeto de crítica.
sandia6!

Dona fea, se Deus mi perdom,


pois avedes7 [a] tam8 gram coraçom9
que vos eu loe10, em esta
razom11
10 vos quero já loar toda
via; e vedes qual sera a
loaçom12:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei13


em meu trobar, pero14 muito trobei;
15 mais ora já um bom cantar farei,

em que vos loarei toda via;


e direi-vos como vos
loarei: dona fea, velha
e sandia!
Joam Garcia de Guilhade, B 1485/V 1097.

1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas. De seguida,


corrija as afirmações falsas.
a. O destinatário da sátira nesta cantiga é uma mulher do povo.
b. A senhora queixa-se de o trovador lhe ter chamado “velha, feia e
sandia”.
c. A composição poética elogia o amor cortês.
d. A ironia é um dos recursos expressivos utilizados nesta cantiga.
e. O trovador é pouco experiente na arte de trovar.
P oe s i a T r o v a d o r e
1
mass c a
2
agora 1.
3
louvarei a.F – É uma dama da
nobreza, como se confirma
4
de qualquer modo
pela forma de tratamento
5
louvar empregue na apóstrofe
6
louca, maluca “Dona fea”.
7
tendes b.F – A senhora queixa-se
de o trovador nunca lhe
8
tão ter feito um cantar de
9
desejo, vontade amor.
10
louve c.F – A composição
poética satiriza o amor
11
em esta razom: por este motivo cortês.
12
louvor, elogio d.V
13
louvei e.F – O trovador é
14
ainda que experiente na arte de
trovar, como está
evidenciado em “pero
muito trobei” (v. 14).
f.V
2. Ambas as cantigas
P R O F E S S OR satirizam os códigos
convencionais do amor cortês.
Em “Roi Queimado” critica-se
o artificialismo do “morrer
Áudio por amor” expresso pelos
“Ai, dona fea, fostes-vos queixar” trovadores e em “Dona fea,
foste-vos queixar”, criticam-se
os elogios estereotipados que
Educação Literária 14.1; 14.2; 14.3; 14.4; eram dirigidos às mulheres
15.1; 16.1 nas cantigas de amor.

53
P oe s i a T r o v a d o r e
sca
Cantigas de escárnio e maldizer – A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga a seguir apresentada.


Áudio
“Foi um dia Lopo jograr”

Educação Literária
Foi um dia Lopo jograr
14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
14.8; 15.1; 16.1 Foi um dia Lopo jograr1
a cas2 d’um infançom3
1. a. “um dia” (v. 1) cantar e mandou-lh' ele por
b. “cas d’um infançom” (v. dom4 dar tres couces na
2)
c.“Lopo jograr” (v. 1)
garganta;
5 e foi-lh’escass’ a meu cuidar ,
5 6
e “infançom” (v. 2)
d. “Foi […] a cas d’um segundo com’el canta.
infançom cantar / e
mandou-lh’ele
por dom dar / tres couces Escasso foi o infançom
na garganta” (vv. 1-4)
em seus couces partir
e. “Foi-lh’escasso’a
meu cuidar” (v. 5) entom, ca7 nom deu a
2. Um dia, o jogral Lopo Lop[o] entom
foi cantar a casa de um
10 mais de tres na garganta;
fidalgo, mas este não
gostou da forma como e mais merece o
ele cantou e mandou dar-
lhe três couces na jograrom8, segundo
garganta como forma de com’ el canta.
pagamento. Na opinião
do sujeito poético, foram Martim Soares, B 1366/V 974.
poucos os couces, já que
merecia muitos mais, tão
mau era o seu cantar. 1
jogral; 2 casa; 3 fidalgo de categoria inferior; 4 como
3. pagamento; 5 e foi-lh'escass': e foi forreta; 6 a meu cuidar:
a. V na minha opinião; 7 pois; 8 mau jogral.
b. F –O rei não era
alvo da sátira dos
trovadores.
1. A sátira, nesta cantiga, constrói-se a partir de uma estrutura narrativa.
c.F – São de origem
autóctone mas sofreram Complete a tabela com expressões do texto que exemplificam as categorias da
influências da narrativa apresentadas.
sátira provençal.
d. V
Tempo Espaço Personagens Ação Narrador
e. V
f.F – Era um dos
a. b. c. d. e.
temas das cantigas de
escárnio e maldizer.
g. F – Apresentam
críticas a determinadas
categorias
socioprofissionais,
2. Apresente sinteticamente o episódio narrado nesta cantiga. Comece o seu
especificamente hábitos texto por “ Um dia…”.
ou
vícios de certas
personagens. 3. Relembre o estudo das cantigas de escárnio e maldizer e assinale as
afirmações como verdadeiras ou falsas. Corrija as afirmações falsas.
a. As cantigas de escárnio e maldizer satirizam, direta ou indiretamente, algo
ou alguém.
b. Entre os vários comportamentos satirizados pelos trovadores, encontrava-se
a crítica à governação do rei.
c. As cantigas de escárnio e maldizer são de origem autóctone, não tendo
sofrido influências da sátira provençal.

54
d. A dimensão satírica das cantigas de escárnio e maldizer confere-lhes
grande valor documental.
e. Um dos recursos utilizados nas cantigas de escárnio é o “equívoco” ou I

“jogo du- plo”. p


2
f. A sátira ao amor cortês era o principal tema das cantigas de escárnio e 271-273, 269-270, 277
maldizer.
g. As cantigas de escárnio e de maldizer apresentam elogios a determinadas
cate- gorias profissionais.

GR A M Á T I C A

1. Preencha o quadro seguinte, retirando da cantiga os exemplos solicitados.

Determinante
Nome Nome Pronome Quantificador
artigo Preposição
próprio comum pessoal numeral
indefinido

a. b. c. d. e. f.

2. Sabendo que o vocábulo “cas” é a forma arcaica de “casa”, apresente três


outras pa- lavras do português moderno que integrem o mesmo elemento
etimológico.

3. Atente nas seguintes frases.


a. O amor cortês era frequentemente satirizado pelos trovadores nas cantigas de
mal- dizer.
b. As cantigas de escárnio e maldizer abarcam um vastíssimo leque de
personagens.
c. Os comportamentos quotidianos eram alvo da sátira dos trovadores.
d. A poesia satírica parodia o amor cortês, enquanto a cantiga de amor o
enaltece.
e. Quando se fala dos trovadores galaico-portugueses, destaca-se o seu gosto
pela sátira pessoal.

3.1 Indique a função sintática dos constituintes sublinhados.

3.2 Reescreva a frase b., pronominalizando o complemento direto.

3.3 Indique o valor lógico do conector “enquanto” (frase d.).

3.4 Indique o referente do pronome pessoal “o” na frase d.

3.5 Divida e classifique as orações na frase e.


PROFE S SOR

Gramática 18.1; 18.4

1. a. “um”
b. “Lopo”
c.“cas”, “infançom”, “dom”, “couces”, “garganta”, “jograrom”
d. "en”, “por”
e. “lhe”, “ele”
f. “três”
2. Caseiro, casario, casebre.
3.1 a. Complemento agente da passiva.
c.Predicativo do sujeito.
d. Complemento direto.
e. Complemento direto.
3.2 As cantigas de escárnio e maldizer abarcam-no.
3.3 Valor de oposição.
3.4 “o amor cortês”.
3.5 “Quando se fala dos trovadores galaico-
-portugueses” – oração subordinada adverbial temporal; “destaca-se o seu gosto pela sátira pessoal.” – oração
subordinante.
Fonética e fonologia / etimologia
APRENDER

FONÉTICA E FONOLOGIA
Ao longo dos séculos de evolução da língua portuguesa foram ocorrendo
alterações em termos fonéticos e fonológicos, ou seja, no que aos sons e fonemas diz
respeito. Estas alterações resultam de fatores diversos, como a tendência para a
diminuição do esforço articulatório (a que por vezes se chama “lei do menor
esforço”) ou a influência de uns vo- cábulos sobre os outros (analogia).
Quanto à sua forma, é possível distinguir três tipos de processos fonológicos:
1
A assimilação pode ser os de inserção, os de supressão e os de alteração de unidades.
regressiva, quando uma
unidade fónica se aproxima
articulatoriamente de uma
a. Processos fonológicos de inserção
que se lhe segue;
progressiva, quando a
relação das duas unidades Prótese Adição de uma unidade fónica no início da INDA- > ainda
se inverte; completa, sempre palavra.
que as duas unidades fónicas Epêntese Adição de uma unidade fónica no interior da HUMILE- > humilde
se tornam exatamente palavra.
iguais; incompleta, quando a
assimilação não é total e as Paragoge Adição de uma unidade fónica no fim da ANTE > antes
duas unidades fónicas apenas palavra.
se tornam mais
semelhantes.
2
São palatais as consoantes
b.Processos fonológicos de supressão
/‫ݕ‬/ (cf. chuva), /‫ݤ‬/ (cf. janela),
/‫ݠ‬/ (cf. filho) e /݄/ (cf. ninho).

Nota: A passagem de u
para o no final de palavra
representa uma alteração
apenas gráfica, pois o som
representado mantém-se.

56
Aférese Queda de uma unidade fónica no início da alá (port. antigo)> lá
palavra.
Síncope Queda de uma unidade fónica no meio da MALU- > mau
palavra.
Apócope Queda de uma unidade fónica no fim da AMARE > amar
palavra.

c.Processos fonológicos de alteração

Alteração de uma unidade fónica por influência de outra, ou seja, duas


Assimilação unidades fónicas diferentes tornam-se mais semelhantes ou iguais porque IPSE > esse
uma se aproxima articulatoriamente da outra1.
Processo exatamente inverso à assimilação, ou seja, duas unidades iguais
Dissimilação LILIU- > lírio
ou com características semelhantes distanciam-se articulatoriamente.
Transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua
Sonorização PIETATE- > piedade
correspondente sonora (nestes casos, /b/, /d/, /g/).
Tipo de assimilação que acontece quando uma unidade ou sequência ganha
Palatalização FLAMMA- > chama
uma articulação palatal (assim se formam as consoantes palatais do
português)2.
Metátese Troca de posição de unidades mínimas ou sílabas no interior de uma palavra. SEMPER > sempre
Transformação de uma consoante em vogal (depois de outra vogal, esta unidade
Vocalização OCTO > oito
realiza-se como semivogal).
Crase Contração de duas vogais numa só. TIBI > tii > ti
Contração Transformação em ditongo de uma sequência de duas vogais em hiato,
Sinérese LEGE- > lee > lei
pela semivocalização (transformação em semivogal) de uma delas.
Enfraquecimento de uma vogal em posição átona. Na atualidade, no português europeu, esse fenómeno é
Redução
observável quando comparamos formas como casa/casebre, em que uma mesma vogal surge com diferentes
vocálica
timbres, consoante se encontra em sílaba tónica (casa) ou em sílaba átona (casebre).

57
ETIMOLOGIA

Étimos – palavras (ou radicais) que estão na base das palavras portuguesas. A
etimolo- gia é a ciência que estuda a origem e a evolução das palavras.

Palavras divergentes Palavras convergentes


e, apesar de provenientes do mesmo étimo,
Palavras
apresentam
que, apesar
formasde
diferentes
derivarememde
português.
étimos diferentes, apresentam a mesma forma em português.
Ex.: SANU-são (‘saudável’)
ai SANCTU-são (‘santo’)

APLICAR PROF E S SOR

1. Identifique os processos fonológicos operados na evolução das palavras Gramática


17.3; 17.4; 17.5; 17.6; 17.7
apresen- tadas.
1.
a. FENESTRA- > feestra > festra > h. OCULU- > oclo > olho a. síncope, crase,
metátese.
fresta
i. MULTU- > muito b. sonorização.
b. SECRETU- > segredo c.síncope, assimilação.
j. PLENU- > cheo > d. síncope, epêntese.
c. PERSONA- > persoa > pessoa cheio e. apócope, síncope.
f.síncope, crase.
d. CENA- > cea > ceia k. MATERIA- > madeira g. síncope
, prótese,
e. CRUDELE- > crudel > cruel l. NOCTE- > noite palatalização.
h. síncope, palatalização.
f. PEDE- > pee > pé m. SOLES > soes > sóis i.vocalização.
j. síncope,
g. SPECULU- > speclu > espelho palatalização,
epêntese.
k. sonorização,
metátese.
l.vocalização.
2. Identifique o processo fonológico que a comparação das palavras a. síncope, sinérese.
“mala”/“maleta” e 2. Redução vocálica. Existe
um enfraquecimento
“porta”/“portão” nos mostra. da mesma vogal
(representada por <a> e <o>,
3. Atente nas seguintes frases. respetivamente), em posição
átona.
a. O rio era um dos elementos da Natureza presentes nas cantigas de amigo. 3.1 Trata-se de palavras
convergentes já que, apesar
b. Rio-me com algumas cantigas de escárnio e maldizer. de apresentarem a mesma
forma, provêm de étimos
3.1 Tendo em conta o significado dos vocábulos sublinhados, classifique-os quanto diferentes: a. RIVU- (> rio);
ao étimo de que provêm. Confirme a sua resposta através da consulta de um b. RIDERE (> rir).
dicionário. 4. e 4.1
[A] matriarcal – sistema
em que a mulher, mãe,
4. Tendo em conta o seu sentido, selecione, da lista de palavras apresentada, aparece como figura
aquelas que apresentam um constituinte que provém do étimo latino MATER central.
(‘mãe’). [C] maternidade – estado
de quem é mãe (também
[A] Matriarcal. [C] Maternidade. [E] Matricida. local onde as mulheres dão
à luz).
[B] Matrimónio. [D] Matrícula. [F] Matreira. [E] matricida – homicídio
da mãe.
4.1 Explicite o significado de cada uma das palavras selecionadas, tendo em 5.
conta o étimo de que provêm. a. fraterno,
fratricida,
fraternidade, frade.
5. Apresente duas palavras que contenham constituintes que integram cada um b. agricultura, agrário,
dos étimos listados abaixo.
a. FRATER (‘irmão’). d. CIVIS (‘cidadão’).
c. URBS (‘cidade’).
b. AGROS (‘campo’).
agrícola, agricultor.
c. urbano,
urbanização,
urbanismo.
d. civil, cívico,
civilização, civismo.
PAR A S A B E R Poesia Trovadoresca

POESIA LÍRICA

Cantigas de amor Cantigas de amigo

Origem • provençal • autóctone

Sujeito de
• trovador • a “amiga” (a donzela)
enunciação

Objeto • a dona (a “senhor”) • o amigo

Características
• ser divinizado, quase • ser terrestre,
da figura
inatingível, da aristocracia de cariz
feminina
essencialmente popular

Características • vassalo • apaixonado


da figura • submisso • ausente
masculina • sofredor • mentiroso

• doméstico
• palaciano • familiar
Ambiente
• cortês • rural
• marítimo

• artificial • simples
Essência • convencional • espontânea
• aristocrática • popular

• a paixão pelo amigo


• a saudade
• elogio da mulher amada • a incerteza e a
Tema
• a coita amorosa insegurança na relação
• os arrufos de amor
• o ciúme

POESIA SATÍRICA

Subgéneros Características Intenção crítica

Cantigas • sátira dissimulada,


• sátira política
de dúbia e encoberta
escárnio • crítica de costumes
Cantigas • paródia do amor cortês
• sátira direta, mordaz e
de maldizer
explícita

58
PAR A V E R I F I C A R

Verifique os seus conhecimentos após a leitura e a análise de várias cantigas da


poesia trovadoresca galaico-portuguesa.
PROF E S SOR

1. Identifique as afirmações verdadeiras e as falsas. De seguida, transforme as Educação Literária


afir- mações falsas em afirmações verdadeiras. 14.3; 14.8; 15.1; 16.1

a. Nas cantigas de amor, o sujeito de enunciação é a donzela apaixonada.


1.
b Um dos temas mais frequentes nas cantigas de amor é a coita amorosa. a. F –O sujeito de
enunciação é o trovador
c. Na primeira cantiga de amor trovadoresca apresentada nesta unidade, a enamorado.
b.V;
mulher surge sobrevalorizada. c.V
d.F – A presença da
d. Nas cantigas de amor é recorrente a referência à Natureza. Natureza surge de forma
e. Em geral, a mulher celebrada nas cantigas de amor é de um estatuto social recorrente nas cantigas
de amigo e não nas de
ele- vado. amor.
e. V
f. A correspondência amorosa entre o sujeito lírico e a mulher enamorada é f.F – É recorrente
recor- rente nas cantigas de amor. assistirmos à dor do sujeito
lírico quer por não ser
g. Por serem de natureza mais popular, as cantigas de amor apresentam correspondido em termos
amorosos quer pela mulher
recorren- temente uma estrutura paralelística. amada se mostrar
h. Nas cantigas de amor, o sentimento expresso pelo trovador é indiferente em relação a
si.
convencional e pouco natural. g.F – São as cantigas
de amigo que
i. A donzela, nas cantigas de amigo, tem como única confidente a mãe. apresentam uma
natureza mais popular e
j. É frequente assistirmos, nas cantigas de amigo, à angústia da donzela frequentemente uma
motivada pela ausência do amigo. estrutura paralelística.
h.V
k. Nas cantigas de amigo, é comum a donzela apresentar traços de i.F – Além da mãe,
existem outras
simplicidade e ingenuidade. confidentes como as
l. As cantigas de amigo refletem um ambiente mais familiar do que as amigas ou a Natureza.
j. V
cantigas de amor. k. V
m. A mulher representada nas cantigas de amigo é mais artificial do que a l.V
m. F – A mulher
mulher celebrada nas cantigas de amor. representada nas cantigas
de amigo é mais
n. Ao contrário das cantigas de amor, nas cantigas de amigo há sempre espontânea e menos
correspon- dência amorosa. artificial do que a mulher
celebrada nas cantigas de
o. O sentimento amoroso é o tema central das cantigas de amigo e de amor.
amor. n.F – Apesar de em
algumas cantigas de amigo
p. Um dos temas mais recorrentes nas cantigas de escárnio e maldizer é a ser evidente a
correspondência amorosa,
celebra- ção da mulher amada. em muitas outras
q. As cantigas de maldizer distinguem-se das de escárnio pelo facto de nas assistimos
à desilusão da donzela em
primeiras se fazer referência direta e ostensiva ao alvo visado. relação ao objeto do seu amor.
o.V
r. Um dos recursos expressivos mais recorrentes nas cantigas de escárnio e p.F – As cantigas de
maldizer é a ironia. escárnio e maldizer têm
como objetivo a sátira,
s. Num grande número de cantigas de escárnio e maldizer, assiste-se a uma pelo que não se
encontram nelas temas
paródia ao amor cortês. como o da celebração da
mulher amada. Aliás,
existem cantigas em que se
satiriza o excesso de
convencionalismo presente
nas cantigas de amor, no
que toca à descrição da
mulher amada.
q.V
r. V
s. V
PAR A RE C U P E R AR

Relembre o estudo da poesia trovadoresca e realize as atividades seguintes.

P R O F E S SO R
1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B que completam
ade- quadamente o seu sentido.

Apresentação
Galeria de imagens
Coluna A Coluna B
Apresentação
Síntese da Unidade [A] A cantiga de amigo [1] são marcas formais associadas às cantigas de
e a cantiga de amor amigo.
Teste interativo
Poesia trovadoresca [2] critica todos as categorias socioprofissionais,
[B] Paralelismo e refrão
exceto o rei.
Educação Literária 14.3; 14.4; [3] desenvolvem ambas a temática do sofrimento
14.7; 16.1 [C] Na poesia satírica, o
amoroso, embora difiram no que se refere ao
trovador
1. emissor.
[A] – [3] [D] O amor cortês também [4] satiriza algo ou alguém, recorrendo a
[B] – [1] “palabras cubertas”, ou seja, à ironia e a
[C] – [2] [E] Na cantiga de escárnio,
jogos de palavras.
[D] – [5] o enunciador
[5] é objeto de crítica, quer ao nível da linguagem,
[E] – [4]
quer relativamente à forma como o trovador
2.
a. trovador
b. senhor 2. Complete os espaços com as palavras adequadas, selecionando-as entre as
c.morais
d. coita pro- postas abaixo.
e. indiferente
f.poder
g. morrer indiferente, sensível, morrer, senhor, morais, coita, hipérbole, poder, trovador
h. hipérbole
3.
a. “porque está Na cantiga de amor, o emissor é o a. , que expressa o seu amor pela
angustiada com a ausência
do amigo.” – oração sua b.“ ”, caracterizada como “fremosa”, “de “bom prez”, “mui comunal”,
subordinada adverbial
causal; reunindo as qualidades físicas, c. e sociais.
b. “Quando não recebe
notícias do seu amigo” – Na relação que se estabelece entre o trovador e a sua dama, aquele revela a sua
oração subordinada
adverbial temporal; d. amorosa porque a mulher é muitas vezes e. aos seus
c.“Embora a ‘senhor’ seja
descrita como uma mulher
sentimentos. O homem submete-se ao seu f. , de tal forma que
perfeita”– oração prefere
subordinada adverbial
concessiva; “que ela é cruel” g. a viver sem o seu amor. Por isso, a h. é um dos recursos
– oração subordinada
substantiva completiva. expressivos de que o trovador se serve para exprimir o seu sofrimento pela
3.1. a. Predicativo do sujeito;
b. Modificador e indiferença da dama.
sujeito simples,
respetivamente;
3. Identifique e classifique as orações subordinadas nas frases que se seguem.
c. Modificador e
complemento direto, a. A donzela desabafa com a mãe porque está angustiada com a ausência do amigo.
respetivamente.
b. Quando não recebe notícias do seu amigo, a donzela fica desesperada e impaciente.

c. Embora a “senhor” seja descrita como uma mulher perfeita, o trovador sabe
que ela é cruel.
3.1 Identifique as funções sintáticas dos constituintes sublinhados nas frases
ante- riores.

60
A lm ei da G LIAR Poesia Trovadoresca
P A R A
a rr et t GRUPO I
A V A
Leia a cantiga que se v d’amor.
segue. e
Nuno
er Fernan
Vi eu, mia : dez
Torneol
madr’, andar e ,B
m 645/V
Vi eu, mia oi 246.
madr’1, ro
-
andar as
m
barcas eno e
mar: d’
e moiro-me2 d’amor. a
m
Foi eu, madre, veer or
.
5 as barcas eno ler :
3

e moiro-me d’amor.
E
n
As
o
barcas n
[e]no o
mar e a
foi-las c
aguard h
ar4: ei
e moiro-me d’amor. i6,
2
0

10 As [
barca o
s eno ]
ler e
q
foi- u
las e
atend
er5: p
e moiro-me d’amor. o
r
E foi- m
las e
u
aguard
ar e m
non o a
pud’ l
achar: v
15 e moiro-me d’amor. i
:
E foi- e
las m
oi
atend
ro
er e -
non o m
pudi e
o seu sofrimento p se ter
PROFE S amoroso e a sua o apaixonado,
desilusão pelo facto de r quando
SOR
não ter encontrado o seu
amigo. Revela ainda remorsos
1. Comprove que a composição poética é uma afirma: “[o]
Apr que por meu
1
cantiga de amigo, apresentando duas mal vi:”. (v.
esen
mi taçã características ao nível do conteúdo que 20).
4. a. No
nh o fundamentem a sua resposta. verso “Vi
a Solu eu, mia
m ções madr’,
ãe Fich 2. Proceda à divisão do texto em duas partes lógicas, andar” está
2
a de explicitando o assunto de cada uma delas. presente a
m Aval apóstrofe
or iaçã “madre”,
ro o 3. Caracterize, fundamentando, o estado de espírito como
- do sujeito poético. forma de
m realçar o
e GR interlocutor e
3 UP 4. Identifique os recursos expressivos presentes nos confidente da
donzela –
pr O I versos abaixo indicados, comentando a sua a mãe.
aia
4 Educaç expressividade. b. Em “e
moiro-me
es ão a. “Vi eu, mia madr’, andar”. (v. 1) b. “e moiro- d’amor.” é
per Literári evidente a
me d’amor.” (v. 3)
ar a 14.2; hipérbole que
5 14.3;
14.4; serve para
es 14.7; 5. Proceda à análise formal da cantiga, atendendo ao realçar o
per 14.8; número e tipo de estrofes, ao seu esquema sofrimento
ar 14.9 amoroso de
6
rimático e à classificação das rimas. que a
aí donzela
1. padece.
rat 5. A cantiga
a- é composta
se por sete
de dísticos e um
um refrão
a monóstico,
ca segundo o
nti esquema
ga rimático: aa’R
de / bb’R/ a’a’’R/
am b’b’’R/ a’’aR/
igo b’’bR/ cc’R/
, dd’R. As rimas
vis são todas
to emparelhada
qu s.
eo
suj
eit
o
de
en 61
un
cia
çã

um
a
do
nz
ela
qu
e
la
me
nta
à
su
a

e
(co
nfi
den
te)
a
aus
ênc
A lm ei da G LIAR Poesia Trovadoresca
P A R A
a rr et t GRUPO II
A V A
Leia
atentamente o
texto
Por Hélia
Correia
A Língua
Portugues
a
Ela não esqueceu nunca o tempo em que era uma
1
artifícios; 2 camponesinha descarada que dançava debaixo de
prostração, doçura;
aveleiras em flor. Ri facilmente e, ao menor pretexto,
3
descuido; 4
frescura, pujança; tira os sapatos, prende as saias com a mão, parte
5
decai, corrompe(- outra vez ao encontro da sua natureza que aceita mal a
se). convenção e os arrebiques1. Tem o latim por pai, é cer-
5 to, mas um pai com barba vagabunda, alheio à higiene e

às declinações. Herdou das mouras uma certa languidez2,


essa demora no olhar que indica a predispo- sição para o
descuido nos pormenores mais práticos da vida.
Atravessou-a o es- pírito dos Celtas. Está visto que
haveria de nascer versejante e com algum defeito de
maneiras. Creio eu que, como em todas as moçoilas, lhe
resulta o desleixo3
10 em sedução. […]

Mesmo no grande épico lusíada, vemos Camões a rir


daquele marinheiro, Ve- loso de seu nome, que desceu
em muito menos tempo do que o tinha subido um
outeiro que escondia nativos assanhados. Por efeitos de
história e crescimento, civilizou-se um pouco, entrou na
corte, fez vénia às muitas modas chegadas do
15 estrangeiro. […]

Grandes amores teve ela com Mestre Gil Vicente e


foi esse um enlace sem igual na duração e na
intensidade, e, mais, em nunca um do outro se
enjoarem, antes encherem de apalpões e viço4 as
deprimidas salas palacianas. […]
Saiu para além do mar com os marinheiros, mas não entendeu
nada do Im-
20 pério. O que quis foi dançar e misturar-se. Enquanto

eles degolavam e ofen- diam, ela deitou-se na frescura


das palhotas e gerou promissoras combinações da
espécie. Enquanto a missa e a lei teimavam no latim,
ela, a menina do desca- ramento, espalhava as filhas
pelo mundo fora, numa alegre e opulenta semen- teira.
Abriu os braços a fonemas e a deuses que eram até
então estrangeiros e
25 hostis mas nela se deixaram docemente fundir.

Enquanto a nobreza degenera5, por secagem do


sangue e doçarias, a nossa mocetona continua trocando
afeto em terras de África e Brasil, tomando e ofere-
cendo, e outro não é o segredo da sua juventude.
Menininha que eu vi nas mãos do Mia Couto, a rir da
b o camponesas do Português.
r [B] o lirismo trovadoresco, nomeadamente as cantigas
i p de amigo.
n e
[C] a origem latina da língua portuguesa.
c l
a o
d s
e
i a
62
r r
a e
s
q
u a
e b
a
e i
r x
a o
.
u 30 Menininha
m que disse
a estar bem e
estar feliz.
f in
l https://ci
berduvid
o as.iscte-
riul.pt/out
ros/antol
ogia/me
r nina-e-
o moca-/6
16
d
(consulta
a do em
n janeiro
de
d 2017).

1.

1.1

[A]
1.2 Com a frase “Atravessou-a o espírito dos Celtas” (ll. 7-8), Hélia Correia faz
referência a
[A] um substrato da língua portuguesa.
[B] um superstrato do Português. P R O F E S S OR
[A]
[C] uma língua posterior ao galaico-português. GRUPO II

Leitura
1.3 No primeiro parágrafo, a autora pretende, através da personificação,
evidenciar

[B] [

[C]

1.4
[

1
[A] enumeração das qualidades da 7.1; 7.2; 7.6;
nobreza. 8.1

[B] personificação da língua portuguesa. 1.1 [B]


1.2 [A]
[C] enumeração das trocas comerciais 1.3 [A]
entre África e o Brasil. 1.4 [C]
1.5 [C]
1.6 [B]
1.7 Na frase “Enquanto eles degolavam e
1.7 [A]
ofendiam” (ll. 20-21), existe um pronome 1.8 [C]
[A] pessoal que é sujeito simples. 1.9 [B]

[B] indefinido que é sujeito G


indeterminado. r
a
[C] pessoal que é sujeito composto. m
á
t
1.8 O conector “Enquanto” (l. 20) é uma conjunção i
subordinativa c
a
[A] causal.
1
[B] final. 8
.
[C] temporal. 1

2.1 Sujei
1.9 Em “ela deitou-se na frescura das palhotas” (l. to
21), as expressões sublinhadas cor- respondem subentendido
respetivamente “ela”.
2.2 Com
[A] ao complemento direto e ao paração.
complemento indireto. 2.3 Com
plemento
[B] ao complemento direto e ao
direto.
complemento oblíquo.
[D] ao complemento indireto e ao
complemento oblíquo.

63
A lm ei da G LIAR Poesia Trovadoresca
P A R A
a rr et t
A V A PROFE S 2. Responda aos itens apresentados.

SOR GRUPO 2.1 Indique e classifique o sujeito sintático da frase “Tem o latim por
pai” (l. 4).
III
2.2 Identifique o recurso expressivo presente em “como em todas as
Escrita moçoilas” (l. 9).
10.1; 11.1; 12.1;
12.2; 12.3;
2.3 Refira a função sintática desempenhada por “Grandes
12.4; 13.1
amores”, presente no início do terceiro parágrafo.
Proposta de
resolução: G
Introdução: R
origem da cantiga
de amigo
U
associada P
aos primórdios da O
nossa
nacionalidade, num
contexto cultural e I
social muito I
diferente do da I
atualidade.
Desenvolvimento
: Redija um texto expositivo, de 150 a 250 palavras, numa
Parágrafo 1 linguagem clara, objetiva e precisa, onde apresente as
–Motivos da principais diferenças entre as relações amorosas retrata- das
infelicidade
amorosa da na poesia trovadoresca e as vividas pelos jovens na
donzela – atualidade.
ausência do
amigo devido à
guerra; não Para isso, comece por completar o seguinte plano de texto,
correspondência
amorosa.
elaborando os tópicos relativos a cada uma das partes.
–Dificuldades · Introdução: as relações amorosas na Idade Média e no século XXI.
de comunicação
com o amado, o · Desenvolvimento: parágrafo 1 - …
que leva à
confidência parágrafo 2 - …
amorosa com a – …
Natureza, a mãe
e as amigas. · Conclusão: fecho do texto, sintetizando os principais aspetos
Parágrafo 2 referidos.
–Facilidade de
comunicação na
atualidade –
telemóvel, redes
sociais, que
encurtam as
distâncias.
–Locais de
encontros
amorosos
diferenciados: as
fontes, as
romarias, os bailes
da Idade Média por
oposição aos
espaços partilhados
pelos jovens de hoje
em dia (escola,
festas,
discotecas…) e
aos locais de
encontro virtuais.
Conclusão: as
relações amorosas
estão sujeitas às
condicionantes
específicas da época
histórica.
64
MÓDULO

2. Fernão Lopes
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Crónica de D. João I
•Excertos dos capítulos 11, 115 e 148 da 1.a Parte
Leitura
Exposição sobre um tema
Escrita
Síntese
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Documentário [Comprensão do Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Gramática
Sintaxe [Aprender/Aplicar]
•Processos fonológicos
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1380-90 1383-85 1443 1453 1460


Nascimento do Crise política portuguesa Redação Queda do Império Morte de Fernão
cronista Fernão Lopes da Crónica de Romano no Oriente Lopes
1385 — Aclamação de D.
El-Rei D. João I – fim da Idade
João I como rei de Portugal
por Fernão Média
/ Lopes
Batalha de Aljubarrota

A Idade Média, o seu “historiador” Fernão Lopes e a evolução da língua portuguesa.

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que ocorrem
nes- ta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.

A nação portuguesa reino e a governá-lo durante séculos, toma o partido de D.


Beatriz, filha de D. Fernando, rainha de Castela e herdeira legítima
e a evolução da língua
do
• A separação definitiva entre o galego e o 15 trono, o que resultou na perda da guerra e do poder.

português ocorreu a partir do século XV, período em


que se deram gran- des alterações sociais e políticas.
• O processo de evolução da língua foi
influenciado:
5 – pela peste negra que dizimou provavelmente grande

parte da população adulta, originando um salto de


gerações;
– pelas guerras entre D. Fernando e de D. João I de
Castela, que perturbaram o equilíbrio político;
– pela mudança da corte para Lisboa que se torna a
capital
10 do país.

A crise dinástica e uma nova


dinastia apoiada por uma nobreza
renovada
•A nobreza da primeira dinastia, que tinha
ajudado
D. Afonso Henriques e os seus descentes a fundar o
66
• Uma nova nobreza, constituída por
burgueses nobilita- dos ou por filhos segundos
das casas nobres, que recebem terras e poder
económico, e que se instala no centro e no sul
do país, sucede à anterior.
Elaborado a partir de Ivo Castro,
Introdução à história do português [2004],
2.a ed., revista e muito ampliada,
Lisboa, Colibri, 2006, pp. 76-77.

Fernão Lopes, um
intérprete fiel da
mudança política
• Ao chegar a crise de 1385, o povo
português estava já na posse de uma
consciência da sua própria identidade, rea-
gindo, por isso, violentamente contra a
ameaça de absorção por parte de outro
Estado (Castela).
5 • Fernão Lopes compreendeu perfeitamente o signifi-

cado dos acontecimentos que envolveram


essa tomada de consciência e elegeu o povo
como protagonista da Cró- nica de D. João I.
Elaborado a partir de Maria Leonor Carvalhão
Buescu, Apontamentos de Literatura Portuguesa,
Porto, Porto Editora, 1993, p. 38.
PARA INICIAR

E X P R E S SÃO OR AL

Observe as imagens apresentadas.


LEGENDA DAS IMAGENS

A. D. João I de PORTUGal,
c. 1435, Museu Nacional
de Arte Antiga.
B. Dom NUNO Álvares Pereira,
c. 1841, Charles Legrand
(primeira metade do
século XIX), Biblioteca
Nacional de Portugal.
C. Fernão Lopes (pormenor),
Painéis de São Vicente
de Fora, c. 1470, Nuno
Gonçalves, Museu Nacional
de Arte Antiga.
D. A Batalha de
ALJUBARRota, Jean de
Wavrim (séc. XV),
A D. João I, Mestre de Avis. Crónicas de Inglaterra,
c. 1470-1480.
E. Cerco de Lisboa (1384),
Crónicas de Jean
D Batalha de Aljubarrota. Froissart, séc. XV.

NOTA AO ALUNO
Quando se faz uma
pesquisa, convém que
a informação a que
se tem acesso prime
pela qualidade, pelo
que é premente que
haja espírito crítico
na seleção das fontes.
B Nuno Álvares Pereira. Assim, não só é
importante recorrer
a obras ou sítios de
Internet fidedignos como
também é necessário
confrontar a informação
obtida com outras fontes,
de modo a assegurar
a sua autenticidade.
A título de exemplo,
para o trabalho que se
propõe, sugerem-se as
seguintes fontes:
•Giulia Lanciani
e Giuseppe Tavani
(coor.), Dicionário
da
C Fernão E Cerco de
literATURa medieval
Lopes. galega e PORTUGUEsa,
Lisboa.
Lisboa, Editorial
Caminho, 1993,
pp. 180-182 [Crónica
Realize, em grupo, uma pesquisa, numa enciclopédia, num manual de História, várias imagens.
na In- ternet ou noutro suporte, sobre a individualidade ou o acontecimento
retratado em cada uma das imagens (cada grupo debruçar-se-á sobre uma
imagem).

1. Apresente à turma, em 2-3 minutos, uma síntese das informações recolhidas


e mais pertinentes.

2. Discuta, em trabalho de pares, a relação que se pode estabelecer entre as


de D. João II] e pp. 271- •Fundação Batalha
-274 [Fernão Lopes]. de Aljubarrota, disponível
•Teresa Amado, Fernão Lopes, contador de História, Lisboa, Editorial Estampa, 1991. em http://www.
fundacao-aljubarrota.pt/

67
PARA DESENVOLVER
F ernão L ope s

C O M P R E E N S Ã O DO OR AL

Proceda à audição atenta de um registo áudio sobre Fernão Lopes.

1. Com base no conteúdo das colunas A e B, forme nove afirmações verdadeiras


sobre a vida e obra do autor.
P R O F E S SOR

Oralidade
1.6; 2.1; 2.2; 3.1; 3.2;
4.1;
4.2; 5.2; 5.3; 6.2; 6.3 Coluna A Coluna B
Expressão Oral (p. [A] Esteve ao serviço do reino [1] foi escrivão dos livros de D. João I.
67) 1. e 2.
português durante dois reinados e
A imagem C representa [2] a assessorar o infante D. Fernando,
Fernão Lopes, autor da uma regência, respetivamente,
como “escrivão da puridade”.
Crónica de D. João I,
sobre o respetivo monarca [B] É autor [3] das Crónica de D. Pedro, Crónica
(imagem A), que foi
aclamado rei de Portugal
de D. Fernando e Crónica de D. João I.
[C] A sua vida pública está
depois da morte de D. [4] surge pela primeira vez como
Fernando e durante documentada a partir de 1418, tabelião-
a crise de 1383-1385. Nessa
mesma crónica, são episódios [D] Em 1419 -geral do reino.
como o do cerco de Lisboa
[5] o de D. João I, o de D. Duarte e
(imagem E), levado a cabo [E] A partir de 1422, dedicou-se também a do infante D. Pedro.
pelos castelhanos, bem como
o da Batalha de
Aljubarrota (imagem D), [6] é uma das fontes
[F] Em 1437
no qual se destaca a fundamentais da biografia
figura de D. Nuno Álvares
Pereira (imagem B), [G] Em 1454, foi substituído nas de Fernão Lopes.
mentor da estratégia que suas funções [7] quando foi primeiramente
conduziu os portugueses
à vitória e que, durante toda nomeado guarda das escrituras do
[H] A carta datada de 1434, da
a crise, esteve ao lado Tombo, como escrivão dos livros do
de D. João, Mestre de Avis. responsabilidade de D. Duarte,
infante D. Duarte.
[I] Nessa mesma carta, o rei D. [8] por Gomes Eanes de Zurara,
Duarte concede ao cronista 14 talvez por doença ou velhice.
Vídeo mil reais [9] para que escreva as crónicas dos
Fernão Lopes – vida e obra
reis da primeira dinastia
1.
[A] – [5]
[B] – [3]
[C] – [7]
[D] – [1]
[E] – [2]
[F] – [4] E X P R E S S ÃO OR AL
[G] – [8]
[H] – [6] Sintetize, oralmente, em 2-3 minutos, os
[I] – [9]
aspetos mais significativos da vida e da obra
de Fernão Lopes, baseando-se nas informações
recolhidas no documento áudio e no exercício
realizado an- teriormente.

Planifique o seu texto numa perspetiva cronológica.

68
Crónica d'El-
Rei
D.
João
I
com
ilumi
nura
da
vista
de
Lisb
oa
do
sécul
o
XV,
Torr
e do
Tom
bo.
Crónica de D. João I

LEITUR A

D. João I é figura central da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.

Leia o texto seguinte, que apresenta alguns aspetos biográficos deste monarca
portu- guês. Responda, depois, aos itens propostos.
P R O F E S S OR

D. João I Leitura
7.1; 7.4; 7.6; 8.1
Educação Literária
16.1

a.
No ano de 1357 nasce D. João, mais um filho ilegítimo do infante D. Pedro. 1357 e 1413 (14 de agosto).
b. Filho ilegítimo do infante
Ascende, ain- da criança, a Mestre de Avis e, liderando a ordem e frequentando a
D. Pedro.
corte, atravessará os governos de seu pai e de seu irmão D. Fernando. Após a c. Mestre de Avis,
morte deste monarca (1383), os acontecimentos precipitam-se e diversas forças regedor e defensor do
reino e rei de Portugal.
sociais guindam-no1 a um protagonismo d. 1385.
5 político que fará dele regedor e defensor do reino e, finalmente, rei de Portugal, nas e. Em 1387, com D.
Cortes de Coimbra de 1385. Desde logo, com os apoios certos e tendo como braço Filipa de Lencastre.
f.Guerra com Castela,
armado Nuno Álvares Pereira, vai submetendo opositores e combatendo os assinatura da paz em
Castelhanos, dentro e fora do reino, numa sequência de guerras que só cessarão com 1411, conquista de
Ceuta.
a assinatura de paz em 1411. Então, nascida que já era uma vasta prole2 do seu g. Justo, vitorioso,
casamento com D. Filipa de Lencastre em 1387, devoto e culto.
10 e consolidada uma corte, D. João governará apoiando-se na sua linhagem e em fiéis

vassa- los. Conquista Ceuta em 1415, uma vitória sobre os infiéis que lhe garante
fama em toda a cristandade. […]
D. João morre a 14 de agosto de 1413, ao fim de um longo reinado de 48 anos,
e foi se- pultado no Mosteiro da Batalha, marco real e simbólico da sua vitória
real. Consagra-se
15 em mito de rei guerreiro fundador de uma nova dinastia, que na visibilidade da Capela do

Fundador, panteão fúnebre de Avis, se projeta em memória aristocrática de uma 1


conduzem-no, dão-lhe
prestigia- da linhagem e de uma realeza sacralizada. As metamorfoses3 iniciais da 2
descendência
ascensão política do Mestre suscitaram diferentes e contraditórias leituras de 3
mudanças, etapas
historiadores, mais luminosas umas, mais sombrias outras. Já como monarca, D. João
veio a acolher e a recolher, para
20 além da morte, uma “boa memória” de rei justo, vitorioso, devoto e culto, que pela

voz dos povos foi proclamado pai dos Portugueses.

Maria Helena da Cruz Coelho, D. João I, "Reis de Portugal", Círculo de Leitores, 2005, texto da
contracapa.

1. Construa o retrato de D. João I, preenchendo a tabela seguinte com


informações retiradas do texto.

Feitos
Nascimento Início do
Ascendência Títulos Casamento guerreiros e Qualidades
e morte reinado
políticos
a. b. c. d. e. f. g.

69
F ernão L ope s

ESCRITA

SÍNTESE

Leia atentamente o texto que se segue.

Fernão Lopes – o historiador


Fernão Lopes é, ainda hoje, muitas vezes imaginado como o “pai” da
1.O Parágrafo historiogra- fia portuguesa. Já Lindley Cintra demonstrou, porém, que esta
O pai da
historiografia
nasceu no reinado de
portuguesa é o conde D. Dinis (isto é, na 1.a metade do século XIV), em resultado de um notável
D. Pedro de Barcelos esforço de imitação da historiografia castelhana, e tem no conde D. Pedro de
(Livro de Linhagens e 5
Crónica de 1344), apesar Barcelos o autor dos seus primeiros textos fundamentais: o Livro de Linhagens
de muitos crerem ser e a Crónica de 1344. Cerca de três quartos de século mais tarde, Lopes
Fernão Lopes. Este segue
a tradição (Crónica de
inscreve-se nesta tradição, sendo aliás a Crónica de 1419 um excelente
1419), mas provocará testemunho dessa realidade. Com ele, consolidar-se-á uma nova fase na
uma evolução na nossa evolução da nossa historiografia: aquela que garante a transição do estilo do
historiografia, que se 10
tornará mais complexa, “memorial” ou do “cronicão” para o estado de “crónica”. A simples anotação do
de narrativa ordenada acontecimento, por vezes apenas conhecido pela tradição oral e registado sem
cronologicamente, mais
rigorosa e baseada em
demasiada preocupação de rigor, cede definitivamente o lugar a uma narrativa
fontes diversificadas. orde- nada (diacronicamente), de estrutura e apresentação internas muito mais
2.O Parágrafo complexas e apurada no manuseamento de materiais informativos muito
A situação profissional 15 diversificados.
do cronista –
conservador durante 36 Creio […] que ao estilo de trabalho e à própria conceção de história de
anos da Torre do Tombo
Fernão Lopes não será manifestamente estranha a sua condição profissional. [...]
– permitiu-lhe o acesso
a muitos e A sua contribuição mais importante para o desenvolvimento da historiografia na
diversificados Europa deve em grande parte atribuir-se ao estreito contacto que manteve
documentos.
com a Torre do Tombo, do qual foi conservador durante 36 anos […] [e daí] a
3.O Parágrafo reconhecida utilização, pelo cronista, de uma vasta gama de documentos
20
Recorreu a fontes
diversas: as narrativas, [...].
as de natureza
diplomática e Em primeiro lugar, e inevitavelmente, as fontes narrativas, [...] o grande
arquivística e a um alimento das Crónicas. [...] A par das fontes narrativas, Fernão Lopes utilizou
conjunto de outros
também [...] fontes de naturEZA diplomática e arquivística. [...] Por fim, parece-me
testemunhos (memórias
dispersas, informações
25 ser pertinente agrupar num terceiro bloco um conjunto de outros testemunhos [...]
orais, entre outros). nomeadamente, memó- rias dispersas [...], informações orais, elementos
4.O Parágrafo lendários e tradicionais, representa- ções artísticas e até epitáfios.
É um escritor ao serviço
do poder e, por isso, [...] Fernão Lopes é um escritor ao serviço do poder e dele inteiramente
tem de ser útil para os
que o remuneravam.
dependente, do ponto de vista económico e profissional. [...] Quer isto dizer
30
que a própria existência do escritor só se justificava em função da utilidade de que
5.O Parágrafo este se pudesse revestir para o meio que o acolhia e remunerava. [...]
A sua principal missão
consistia em justificar Lopes pretendeu, sobretudo, justificar os acontecimentos verificados em
os acontecimentos
ocorridos entre 1383-- Portugal em 1383-1385, tanto no plano das suas ocorrências específicas como (e
1385 e legitimar o fundamental- mente) no das grandes decisões dali decorrentes. Com isso,
poder vigente na
primeira metade do 35
visava, bem entendido, legitimar o comando político vigente na primeira
séc. XV. metade do século XV! [...]
6.O Parágrafo
É a pedido de D. Duarte e Competiu a Fernão Lopes, cerca de meio século depois (e, recorde-se, por
do Infante D. Pedro que o enco- menda expressa de D. Duarte, mais tarde confirmada pelo infante D.
cronista transforma em Pedro), transfor- mar em legítimo o ilegítimo.
legítimo o ilegítimo.
João Gouveia Monteiro, Fernão Lopes, texto e contexto,
Coimbra, Minerva, 1988, pp. 85-88 e 114-
116 (adaptado).
70
F er não L ope Crónica de D. João I
s

Recorde os passos para elaborar uma síntese, tendo em conta as três fases
essenciais: fase preparatória, fase da redação e fase da revisão.

COMO ESCREVER UMA SÍNTESE

1.Fase preparatória
• ler para apreender a estrutura e o sentido global do texto;
• sublinhar as ideias/os factos essenciais e subjacentes à progressão textual
(eliminan- do repetições, pormenores, exemplificações, …);
• selecionar vocabulário ou expressões-chave;
• assinalar conectores ou articuladores que ligam frases entre si,
estabelecendo rela- ções de semelhança, de contraste/oposição, de
anterioridade ou de posterioridade, causa, etc.;
• registar, à margem do texto, a ideia central de cada parágrafo.

2. Fase da redação
• utilizar uma linguagem própria;
• respeitar as ideias do texto, não obrigatoriamente pela ordem de apresentação;
• evitar a colagem ao texto de partida;
• eliminar pormenores desnecessários;
• substituir sequências textuais por outras mais económicas;
• inserir juízos de valor, comentários.

Exemplificação

Fernão Lopes,
Fernão Lopes,não
nãosendo
sendoo opai
paidadahistoriografia
historiografiaPortuguesa, muito contribuiu
Portuguesa ri para para ela.
ela.
Efetivamente, é com o Conde de Barcelos Livro (Livrodede Linhagens)
) quequesta nasce.
ce Contu-
do,(Lopes,
Lopes, embora
emborasiga
sigaa atradição,
tradição,provocará
p ovocaráLinhagens
umauma naContu
evolução
evolução na ss historiografia,
nossa fia, que
quetornará
tornará
se se maismaiscomplexa
complexa
na construção
na construção
narrativanarrativa
(obedecendo(obedecendo
à cronologia),
à c mais
o g a
rigorosa,
rigorosa
porque baseada em fontes diversificadas: as narrativas, as de natureza diplomática e
arqui baseada em fontes d versificadas as narrativas as de nature d p o
5 porque arqu
-vística
vísticae eoutros testemunhos.
outros testemunhos. TerTer
exercido funções
exercido na Torre
funções do Tombo
na Torre facilitou-lhe
do Tombo l t c osso
acesso
a essas fontes.
essas fontes.Porém,
Porém,nãonãoé é cronista
cronista isento
isento poispoestá
s está ao serviço
ao serviço de D.deDuarte
D Du ete doe fa
tinfante
D. Fernando, que o incumbiram de legitimar o poder vigente, consequente dos
acontecimen
D. Fernando, que o incumbiram de legitimar o poder vigente consequente -
tos ocorridos
dos entre 1383-
ac tos ocorridos entre 1383-1385).
1385). (111
1 pall ra
palavras)

3. Fase da revisão
• verificar a articulação lógica das ideias (coerência) e a
gramaticalidade da escrita (coesão);
• corrigir falhas ao nível da ortografia, da acentuação, da pontuação, da
sintaxe e da seleção do vocabulário;
• respeitar a extensão textual indicada, normalmente correspondente a um
quarto do texto de partida, ou seja, um texto de 400 palavras poderá originar
uma síntese de 100.
71
F er não L ope
s
LEITUR A

Leia o texto de natureza expositiva a seguir apresentado, no qual se retoma a


questão da crise dinástica em Portugal descrita por Fernão Lopes, e responda às
questões da página seguinte.

A maior das
vitórias Por Luís Almeida Martins

por Nuno Álvares Pereira, um elemento da pequena


no- breza, amigo do Mestre de Avis, e na altura
nomeado
25 Condestável, ou seja, comandante supremo das
tropas. Entretanto, outro exército castelhano
cercava Lisboa, que se defendeu como pôde. Uma
terceira invasão en- trou pela Beira Alta, mas foi
travada em julho de 1385 perto de Trancoso.
30 As coisas estavam a correr bem para as cores
nacio- nais. E pode mesmo falar-se de cores
nacionais, porque nessa altura já o Mestre de Avis
fora aclamado rei de Por- tugal nas Cortes de
Coimbra, com o nome de D. João I. […] Mas se a
revolução de 1383, um verdadeiro movi-

Batalha de Aljubarrota, Jean de Wavrin (séc. XV), in deci- diu invadir Portugal para se apoderar do trono a que
Crónicas de Inglaterra, c. 1470-1480.
se
20 achava com direito. Um exército entrou pela fronteira do
O casamento, em 1383, da filha única de D.
Alentejo, mas, a 6 de abril de 1384, foi derrotado em
Fernando, “O Formoso”, com o rei Juan I de
Atoleiros (Portalegre) pelos portugueses comandados
Castela pôs em perigo a independência de Portugal.
Com efeito, quando nesse mesmo ano o soberano
português morreu, o castelhano
5 achou-se com direitos à coroa do nosso país − e

legal- mente tinha razão.


Foi então que, enquanto a maior parte da
nobreza lusa apoiava o pretendente estrangeiro, a
burguesia e o povo se revoltaram, pois não queriam
ser governados
10 por um castelhano. Existia já então um claro

sentimen- to nacional. Houve, assim, um


levantamento popular em Lisboa e gerou-se uma
grande confusão de norte a sul. Sob a orientação
da burguesia mercantil, D. João, o Mestre da ordem
de Avis, foi eleito nas ruas Regedor e
15 Defensor do Reino, e uma das primeiras coisas que

fez foi assassinar o Conde de Andeiro, amante da


rainha viúva Leonor Teles e partidário dos
castelhanos.
E foi no meio disto tudo que Juan de Castela
72
Crónica de D. João I
35 mento social da burguesia e do povo,
unidos contra a nobreza, fora bem
sucedida, a guerra contra Castela estava
longe de se encontrar ganha.
No verão de 1385, Juan I de Castela
entrou pessoal- mente em Portugal à
cabeça de um grande exército de
40 32 mil homens. Toda a nobreza do seu

país fazia parte dele e muitos cavaleiros


franceses (aliados de Castela) também.
[...] Os invasores traziam consigo 16
canhões, coisa que por cá nunca se vira.
Ao encontro dessa imponente máquina de guerra
45 partiu uma pequena hoste portuguesa de

6 mil ho- mens, comandada por Nuno


Álvares Pereira. [...]
Ao terem conhecimento de que os
invasores se encontravam perto de Leiria,
os nossos resolveram en- trincheirar-se
num terreno que lhes pareceu adequado
50 para travar batalha. Era um planaltozinho

próximo de Aljubarrota, e ali cavaram uns


buracos-armadilha (as covas de lobo). Os
castelhanos acharam preferível con- tornar
o planalto e lançar o ataque num ponto
onde o declive era menos acentuado.
Mas era exatamente o
55 que os portugueses esperavam:
alteraram o seu posi- cionamento e,
aproveitando as defesas construídas
durante a noite, aguardaram a pé firme
o impetuoso ataque da cavalaria inimiga,
lançado quando o sol já declinava.

73
A batalha resolveu-se numa hora e saldou-se pela importunado
derrota dos 60
pelacastelhanos
ambição expansionista
e dos franceses,
de Castela
que debanda-
e se pôde ram
dedicar
em em
desordem.
paz à sua
Muitos
própria
fu
Visão,
Portugal garantiu assim a independência, com D. João I edição online, 26 de dezembro de 2011 (adaptado, consultado em dezembro de 201
65 no trono. Foi graças a esta vitória que Portugal deixou de ser

1. Selecione a alternativa que completa corretamente o sentido de cada P R O F E S SO R


afirmação.
Leitura
1.1 O assunto que domina o texto relaciona-se com
[A] a crise política vivida em Portugal no século XIV. 7.1; 7.4; 7.6; 8.1

[B] o casamento da filha de D. Fernando, D. Beatriz. 1.1 [A]


1.2 [C]
[C] o sentimento popular após a morte de D.
1.3 [B]
Fernando.
1.4 [A]
[D] a crónica de Fernão Lopes sobre Leonor Teles.
Escrita
1.2 A invasão de Portugal pelo rei de Castela estava 11.1; 12.1; 12.3; 12.4
fundamentada
Luís Martins refere que
[A] na legitimidade do sucessor português. o casamento de D.
Beatriz com o rei de
[B] no sentimento nacional de independência. Castela, que se
considerava herdeiro da
[C] na legitimidade conferida pelo casamento. coroa portuguesa, ameaçou
a independência de
[D] na vontade dos portugueses e dos castelhanos. Portugal. Porém, enquanto
parte da nobreza lusitana
o apoiava,
1.3 O pretendente castelhano ao trono português era apoiado o povo e a burguesia
revoltaram-se contra
[A] pela nobreza e pela burguesia. a governação castelhana,
com várias subversões
[B] por parte da nobreza lusitana. em todo o país. O Mestre
de Avis, sob orientação da
[C] pelo povo e pela burguesia. burguesia, empreendeu o
assassinato
[D] por todos os burgueses castelhanos. do conde Andeiro. Neste clima,
D. Juan invadiu Portugal
1.4 A ideia defendida pelo autor no final do texto é a para se apoderar do trono,
mas foi derrotado em
de que Atoleiros pelos portugueses
liderados por Nuno Álvares.
[A] o dia 14 de agosto deveria ser feriado nacional. Entretanto, outro exército
castelhano invadia Lisboa e
[B] devemos a D. João I a nossa independência. uma terceira invasão iniciou-
se pela Beira Alta.
[C] teria sido preferível a vitória dos castelhanos. A guerra estava longe
do fim. Então, D. Juan
[D] sem a vitória lusa não haveria Descobrimentos. invadiu
Portugal com um forte exército.
Para o travar, um grupo de
portugueses, comandando por
Nuno Álvares, dirigiu-se para
Leiria, fixando-se num planalto
ESCRITA próximo de Aljubarrota,
e reprimiu o ataque inimigo.
Deste modo, os portugueses
garantiram a independência.
Sintetize o texto anterior em cerca de 150 palavras. (148 palavras)
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 70-71
PROFE S SOR castelhano.

Link BLOCO INFORMATIVO – p. 283


"Conta-me História" MANUAL – pp. 26-27

Oralidade
1.1; 1.4

1.
a. V
b. F – D. Fernando já
tinha morrido na altura da
batalha de Aljubarrota,
cujos principais
protagonistas foram D.
João, Mestre de Avis, e
Nuno Álvares Pereira.
c.V
d. F – Foi durante toda
a primeira dinastia que isso
aconteceu.
e. F –Entre D.
Fernando e D. João
de Castela.
f.F – A sua avó.
g. F – Por ser amante do
Conde Andeiro.
h. F – Havia também a
possibilidade de ascender
ao trono o infante D. João
de
Portugal, o outro meio-irmão
de D. Fernando e que se
revelava como o herdeiro mais
legítimo por ser filho de
D. Inês de Castro, ao
passo que D. João, Mestre
de Avis, era fruto de uma
relação de
D. Pedro com a aia,
Teresa Lourenço.
i.V
j. V
k. F – Parte da
nobreza apoiava D.
Leonor Teles, apesar de
a sua regência colocar
em causa a
independência nacional.
l.F – Havia também uma
parte da nobreza
portuguesa que apoiava D.
João.
m. V
n. F –Inicialmente o
Mestre de Avis hesitou,
perante o plano traçado
por Álvaro Pais, mas,
depois, acabou por aceitá-lo.

Escrita
10.2; 11.1; 12.1;
12.2; 12.3; 12.4; 13.1

Tópicos:
Introdução: Crise de 1383-
-85, identificada como uma
crise dinástica, dado que
Portugal estava sem
sucessor ao trono e na
iminência de vir a ser
governado por um rei
C O M P R E E N SConta-Me História,
à O DO OR AL da RTP, sobre a fase
da História retratada por Fernão Lopes na
Crónica de D. João I.
V
i 1. Assinale como verdadeiras ou falsas as
s afirmações seguintes. Corrija as falsas.
i
o a. A batalha de Aljubarrota surge na
se- quência da crise política de 1383-
n
1385.
e
b. Um dos protagonistas da batalha
e de Aljubarrota foi o rei D. Conta-me História, RTP
Fernando.
e c. A crise política portuguesa é também fruto da crise social e económica
s que de- flagrava na Europa.
c
d. É sobretudo no reinado de D. Fernando que Portugal atinge crescimento em
u
ter- mos geográficos, económicos e demográficos.
t
e e. Na sequência das guerras fernandinas, foi assinado o Tratado de Salvaterra
de Ma- gos entre D. Fernando e Henrique II de Castela.
a f. Em caso de morte de D. Fernando, e se o príncipe herdeiro não tivesse
t ainda ida- de suficiente para assumir o trono, ficaria como regente de
e Portugal a sua mãe.
n
g. O povo odiava D. Leonor Teles sobretudo pelos maus conselhos dados a
t
D. Fer- nando nas questões políticas que envolviam Portugal e Castela.
a
m h. D. João, Mestre de Avis, revela-se como a única alternativa legítima ao
e Tratado de Salvaterra de Magos.
n i. O infante D. João de Portugal fugiu para Espanha, depois de ter assassinado
t a mu- lher, na expectativa de aceder ao trono.
e
j. O povo acreditava que D. Leonor Teles estava envolvida no assassinato da irmã.
u k. Parte na nobreza apoioava D. Leonor Teles por considerar que esta
m asseguraria a independência nacional.
l. Os únicos apoiantes do Mestre de Avis eram oriundos do povo.
e
x m. D. Nuno Álvares Pereira assume-se como o paradigma das virtudes da arte militar.
c n. Álvaro Pais apresentou o seu plano ao Mestre de Avis e este aprovou-o
e de ime- diato.
r
t
o
ESCRITA
d
o Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, baseando-se nas informações
re- colhidas a partir do visionamento do documentário. Siga as seguintes
p orientações.
r
• Introdução: identificação do assunto.
o
g • Desenvolvimento: − duas causas da crise dinástica;
r − movimentações em prol do rei castelhano e do Mestre de Avis.
a • Conclusão: solução encontrada pela fação apoiante do Mestre.
m
a
INFORMAR
f. Fernão
Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta. Lopes também
destaca no
povo a sua
agressividade.
Fernão Lopes e a Crónica de D. João I
• Fernão Lopes é o autor da primeira e segunda partes da
Crónica de D. João I.
• Nestas duas partes, assiste-se ao protagonismo da “comunal
gente”, a arraia miúda, ou seja, toda a população que, nas ruas e praças das
cidades, se agita, se manifesta ruidosamente, sempre com extrema liberdade
de linguagem e de atitu-
5 des, a favor da causa nacional, sendo, no entanto, por vezes, manipulada.

•Os sacrifícios desse povo unido são engrandecidos pelo cronista,


sobretudo nos capítulo 148, em que se relata o cerco de Lisboa,
confundindo-se a população com a própria cidade. No entanto, Fernão Lopes
não se inibe de relatar também a crueldade de uma multidão enfurecida
noutros capítulos.
10
• Para além das ruas e adros da cidade, os espaços interiores (câmaras do
paço real e dos castelos) também são cenário dos acontecimentos relatados, de
jogos de conveniências pessoais e da ânsia de poder de D. Leonor Teles.
•Fernão Lopes, não se limitando apenas ao relato de feitos guerreiros,
apre- senta-nos, nesta crónica, uma larga visão de conjunto da época, em
páginas em-
15
polgantes, que exibem o realismo visualista de uma reportagem, pois o
narrador situa-se no próprio momento em que ocorrem os factos que narra.
O recurso a diversas sensações (visual e auditiva, principalmente) também
contribui para esse realismo descritivo.
• O cronista dá vida a essas personagens, com a reconstituição de
diálogos que
20
as caracterizam indiretamente, e revela também a sua subjetividade ao
longo da narração dos factos, tecendo comentários, fazendo juízos de valor,
recorrendo a frases exclamativas e interrogações retóricas.
Maria Ema Tarracha Ferreira, Crónicas de Fernão Lopes, 2.a ed.,Lisboa,
Ulisseia, 1988, p. 13 e pp. 30-36 (adaptado).

1. Selecione das seguintes afirmações as que são falsas e proceda à sua correção.
a. Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes relata apenas as batalhas
travadas pela conquista da independência nacional.
b. A força popular assume, nesta crónica, um lugar de destaque no desenrolar
dos acontecimentos.
c. O modo de narrar deste cronista é monótono e fantasista.
d. A caracterização das personagens envolvidas na ação é feita apenas pelo
narra- dor.
e. O cronista, enquanto narrador, adota sempre uma perspetiva objetiva
sobre o que relata.
PROF E S SOR

Desenvolvimento: Duas causas da crise: morte de


D. Fernando sem deixar sucessor, estando a sua filha casada com D. João de Castela; regência
entregue a D. Leonor Teles, viúva de
D. Fernando e amante do conde Andeiro, que apoiava a causa castelhana.
Movimentações em prol do rei castelhano e do Mestre de Avis: uma parte da nobreza apoiava a rainha
D. Leonor Teles; o povo e alguns nobres colocaram-se do lado do Mestre de Avis, que tinha como
apoiantes Álvaro Pais, chanceler-mor do falecido rei
D. Fernando e Nuno Álvares Pereira.
Conclusão: Solução encontrada: matar o conde Andeiro, movimentado o povo para a defesa do Mestre,
anunciando o contrário – era o conde que matava o Mestre.

Leitura 7.2; 7.4

1
a. F – Relata outros factos, tais como o fervor do povo (agitação) nas ruas, os seus sacrifícios e as intrigas
no paço.
c.F – É empolgante, vivo, sendo realista, com recurso a sensações diversificadas no relato dos factos.
d. F – Existem diálogos, em discurso direto, que caracterizam também as personagens.
e. F – O cronista tece comentários pessoais, expressa sentimentos, emoções e juízos de
valor através de frases exclamativas.
F ernão L ope s
Afirmação da consciência coletiva | Atores (individuais e coletivos)

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o excerto do capítulo 11 da Crónica de D. João I* e responda às questões que se seguem.

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e


como aló foi Alvoro Paaez1 e muitas gentes com ele.
15
desejo; 16 como forom: logo que chegaram; 17 arrombassem; 18 alguns deles; 19
traidor;
20
adúltera; alusão a D. Leonor Teles; 21 insistiam; 22 insultos

* FIXAÇÃO DE TEXTO
Fernão Lopes, in
Teresa Amado
(apresentação
crítica), Crónica de
D. João I de Fernão
Lopes
(textos escolhidos),
ed. revista, Lisboa,
Editorial Comunicação,
1992 [1980].

1
burguês bastante rico,
padrasto de João das Regras,
que fora chanceler-mor dos
reis D. Pedro e D. Fernando;
abandonou este cargo com o
pretexto de doença; mas,
segundo Fernão Lopes,
ter-se-ia afastado da corte,
envergonhado com a
desonra de D. Fernando,
ocasionada pelo licencioso
comportamento
da rainha; tornou-se o
chefe da insurreição de
1383;
2
quando; 3 combinado;
4
alvoraçavom-se nas voontades:
revoltavam-se; 5 depressa;
6
parte da armadura que
defendia a cabeça; 7
porque; 8 em lugar de; 9
onde; 10 não parava; 11 lá ;
12
não faltava; 13 Conde
João Fernandes
Andeiro, nobre galego, amante
da rainha e por ela
nomeado conde de Ourém;
14
todos feitos duũ coraçom:
todos animados pela
mesma coragem;
76
O Page do achava dizendo:
Meestre que – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-
estava aa porta, Rei dom Pedro.
como2 lhe 15 E assi braadavom el e o Page indo pela rua.

disserom que Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que
fosse pela vila matavom o Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe
segundo já era este ficara em logo8 de marido, se moverom todos com mão armada,
percebido3, correndo a pressa pera u9 deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e
começou d’ir escusar morte. Alvoro Paaez nom
rijamente a 20 quedava
10
d’ir pera alá11, braadando a todos:
galope em cima – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem
do cavalo em por quê! A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha
que estava, cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares
dizendo altas escusos, desejando cada uũ de seer o primeiro; e preguntando uũs aos
vozes, outros quem matava o Meestre,
braadando pela 25 nom minguava
12
quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez13,
rua: per mandado da Rainha.
– Matom o Meestre! E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom14 com talente15 de o
matom o Meestre nos vingar, como forom16 aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que
Paaços da Rainha! chegassem, com espantosas palavras começarom de dizer:
Acorree ao Mees- 30 – U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
5 tre que matam!
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que
E assi chegou a casa certefica- vom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas,
d’Alvoro Paaez que era
dizendo que as bri- tassem17 pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre,
dali grande espaço.
ou que cousa era aquela. Deles18 braadavom por lenha, e que veesse lume
As gentes
pera poerem fogo aos Paaços,
que esto
35 e queimar o treedor e a aleivos20. Outros se aficavom21 pedindo escaadas
19
ouviam, saiam
pera sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o
aa rua veer que
arroido atam grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem
cousa era; e
determinavom neũa cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços,
começando de
mas ainda arredor deles per u homeũs e molheres podiam estar. Ũas
falar u~us com
viinham com feixes de lenha, outras
os outros,
40 tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços
alvoraçavom-se
com ela, dizendo muitos doestos22 contra a Rainha.
nas voontades4,
De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde
e começavom de
Joam Fernandez morto; mas isto nom queria neuũ creer, dizendo:
tomar armas
cada uũ como
melhor e mais
asinha5 podia.
Alvoro Paaez
que es-
10 tava prestes e

armado com ũa
coifa6 na cabeça
segundo usança
daquel tempo,
cavalgou logo a
pressa em cima
du~u cavalo que
anos havia que
nom cavalgara; e
todos seus
aliados com ele,
braadando a
quaes quer que
77
Crónica de D. João I

– Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos. espaço.


45 Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que
cada vez se acendia mais, disserom que fosse sua mercee23 de se mostrar
I
aaquelas gentes, doutra guisa poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o 2
fogo, e entrando assi den- tro per força, nom lhe poderiam depois tolher24
de fazer o que quisessem.
Ali se mostrou o Meestre a ũa grande janela que viinha sobre a rua onde 1. Identifique os processos fonológicos
estava ocorridos na evolução
das seguintes palavras:
50 Alvoro Paaez e a mais força de gente, e disse:

– Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças! a. "Meestre" (l. 1) > mestre
E tanta era a torvaçam25 deles, e assi tiinham já em creença que o
Meestre era morto, que taes havia i que aperfiavom26 que nom era aquele; c. "preguntando"
(l. 24) >
porem conhecen- do-o todos claramente, houverom gram prazer quando o
perguntando
virom, e deziam uũs
b. "Acorree" (l. 4) >
55 contra os outros:
acorrei
– Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo
(l. 37) > nenhuma
a alei- vosa com ele! Creedes em Deos , ainda lhe há de viinr alguũ mal per
27

ela!. Oolhae e veede que maldade tam grande, mandarom-no chamar onde
ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa! já nos
matou uũ senhor, e agora nos
60 queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d’acabar por estas cousas

que faz.
E sem duvida se eles entrarom dentro28, nom se escusara a Rainha de
morte, e fora maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem
escapar. O Meestre estava aa janela, e todos oolhavom contra ele
dizendo:
– Ó Senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que
vos
65 guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá

mais. E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo.


Veendo el es- tonce29 que neũa duvida tiinha em sua segurança, deceo
afundo30 e cavalgou com
os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer.

1. Explique a importância do “Page do Meestre” no desenrolar da ação.

2. Refira os argumentos apresentados por Álvaro Pais para legitimar a defesa do


Mestre.

3. Aponte o responsável pela morte do Mestre, na opinião do povo.

4. Caracterize a Rainha aos olhos do povo, justificando a opinião deste último.

5. Descreva a reação do povo ao aparecimento do Mestre à janela.

6. Complete o texto com expressões textuais que comprovem o afunilamento do


rmina num espaço limitado, inacessível ao povo, uma d. , onde o Mestre faz a sua aparição, como se de um santo se tratasse. Fernão Lopes parece assu
23
que fosse sua mercee:
que se dignasse sua mercê ( = o Mestre)
24
impedir
25
perturbação
26
juravam
27
tão certo como Deus existir
28
se eles entrarom dentro: se eles tivessem entrado
29
então
30
abaixo

PROFE S SOR

Educação Literária 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;


14.7; 15.1; 15.2; 16.1

1.O facto de o pajem entrar em cena, exclamando


que matavam o Mestre, fez desenrolar todos os acontecimentos.
Na verdade, a mensagem por si proferida mobilizou todo o povo de Lisboa e impeliu-o a sair à rua.
As suas palavras fizeram também despertar na população um sentimento de revolta e de grande
animosidade em relação àqueles que se assumiam como os protagonistas da tentativa de
assassinato do Mestre de Avis. Por isso, o povo muniu-se de armas e,
apressadamente e em magote,
dirigiu-se aos paços da rainha.
Funções sintáticas I
APRENDER
LEITUR A

FUANUÇTÕOEDSESMINOTRÁATLIICDAADSE composto per Gil Vicente por


contemplação da sere- níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa
seu mandado
senhora, ao poderoso
e representado príncipe e ui alto rei dom Manuel, primeiro de
per
Funções sintáticas Por- Exemplos
PROFE S SOR m tugal deste nome.
SUJEITO
2. Álvaro Pais relembrou Comença a declaração e argumentoa obra. Primeiramente, no presente
que o Mestre era filho de Função sintática desempenhada por um
um rei –
d se fegura que, no ponto que auto, de espirar, chegamos
constituinte que comanda a
o rei D. Pedro – e declarou acabamos rio, o qual per força sùpitamente a um m um de dous
não haver qualquer razão que concordância verbal.
havemos de passar e estão, scilicet1, batéis a que naquele porto raíso e o
justificasse a sua morte. Pode ser desempenhada por
3. O povo atribuía a um deles passa pera o p batéis tem outro pera o Inferno: os quais o do
– um grupo nominal (a.); a. Fernão Lopes foi um grande escritor.
responsabilidade ao conde cada um seu arraiz na proa: arraiz Paraíso
– uma oração subordinada
um Anjo, e o do Inferno um
b.É evidente que Fernão Lopes é um
João Fernandes, que
estaria a cumprir a infernal e um Companheiro.
substantiva completiva (b.); grande escritor.
vontade da rainha.
– uma oração subordinada substantiva c. Quem já leu Fernão Lopes conhece o
4. O povo não tinha O primeiro entrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um
uma opinião muito relativa (c.). seu estilo.
favorável em relação à rabo mui comprido e ũa cadeira de as. E começa o ArrAIZ do Inferno ante
Esses constituintes podem ser substituídos
rainha, pois considerava-a espald o Fidalgo venha.
responsável – pelos pronomes pessoais eu, tu, ele, ela,
pelo que estava a você, nós, vós, eles, elas, vocês (a’. e
acontecer: “dizendo
c’.); a’. Ele foi um grande
muitos doestos contra a
rainha”, Era ainda opinião – pelo pronome demonstrativo invariável escritor. c’. Ele conhece o
generalizada que esta era isso, quando se trata de uma oração seu estilo.
uma mulher adúltera
e traidora: “Ó, que mal fez! subordinada substantiva completiva b’.vIisdseonétee.
Pois que matou o treedor (b’.).
do Conde, que nom matou
logo a aleivosa com ele!” (ll. O sujeito pode ser
56-57), pelo que se – simples, quando é constituído apenas d. Os historiadores procuram sempre a
desejava a sua morte: “E
sem duvida, se eles por um grupo nominal ou oracional verdade. / Quem lê Fernão Lopes fica
entrarom dentro, nom se (d.); encantando com a vivacidade do
escusara a Rainha de
– composto, quando é constituído por mais discurso.
morte…” (l. 61).
5. Quando o Mestre do que um grupo nominal ou oracional e.O Mestre de Avis e D. Nuno Álvares
surgiu à janela, no início, (e.); Pereira
houve quem duvidasse foram figuras relevantes na crise
dessa realidade. No – nulo, quando não existe
dinástica.
entanto, e depois de o realização lexical (f.).
reconhecerem, todos se f.[-] Conheço a Crónica de D. João I.
regozijaram pelo facto
de ele estar vivo e PREDICADO
lamentaram aquilo que Função sintática desempenhada por um
acreditavam ser uma
traição da rainha.
grupo verbal, que inclui obrigatoriamente,
6. além de um verbo ou complexo verbal, os
a. “ruas principaes” respetivos complementos (a. e b.) ou a. O povo acorreu ao Paço.
b. “logares escusos”
c.“Paaços” (da Rainha) predicativos (c.). b.Os populares queriam a salvação
d. “grande janela” Pode também incluir o modificador (do do mestre a todo o custo.
grupo verbal) (b.). c.A crise de 1383-85 é um período muito
Gramática importante.
17.3
VOCATIVO
1.
a. crase É uma função sintática que ocorre em
b. sinérese contextos de chamamento (frases
c. imperativas, exclamativas, interrogativas).
d. epêntese
metátese

78
Funções sintáticas Exemplos

COMPLEMENTO DIRETO
É uma função sintática interna ao
predicado, cujo constituinte é selecionado
por um verbo transitivo direto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo nominal (a.); a. O povo aclamou o Mestre de Avis.
– uma oração subordinada b.O povo pensava que o Mestre tinha
substantiva completiva (b.); sido alvo de traição.
– uma oração subordinada substantiva c. O povo viu à janela do Paço quem
relativa (c.). tanto desejava.
Quando o complemento direto se
apresenta sob a forma de um grupo
nominal, pode ser substituído pelos
pronomes pessoais me, te, se, o, a, nos, a’. O povo aclamou-o.
vos, se, os, as (a’.)
Quando é um grupo oracional, pode ser
substituído pelo pronome demonstrativo b’. O povo pensava isso.
invariável isso, em posição pós-verbal, (b’.) ou b’’. O povo pensava-o.
por o (b’’.).
COMPLEMENTO INDIRETO
É uma função sintática interna ao
predicado, cujo constituinte é selecionado
por um verbo transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por um grupo
preposicional, geralmente introduzido pela
preposição a, simples ou contraída (a.). a. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu
Pode ser substituído pelos pronomes a
pessoais D. João de Castela.
me, te, lhe, nos, vos, lhes (a’.) a’. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu-
lhe.
COMPLEMENTO OBLÍQUO
É uma função sintática interna ao
predicado, cujo constituinte é selecionado
por um verbo transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo preposicional (a.); a. O povo confiava no Mestre de Avis.
– um grupo adverbial (b.). b.Saído de Castela, D. João
chegou rapidamente aqui.
COMPLEMENTO AGENTE DA PASSIVA
É uma função sintática de uma frase
passiva, cujo constituinte se inicia pela
preposição por, simples ou contraída,
e que corresponde ao sujeito da frase ativa a. A morte do Conde Andeiro foi
(a.). engendrada
por Álvaro Pais.
Funções sintáticas
APRENDER
LEITUR A

AUTO DE MORALIDADE
Funções sintáticascomposto per Vicente por contemplação
Exemplos da
Gil níssima e muito católica rainha dona sere- ossa senhora, e
Lianor,
seu n PREDICATIVO
mandado ao poderoso príncipe e mui
DO SUJEITO rei dom Manuel,
representado per primeiro de
alto tugal
É uma deste
função nome.
sintática interna ao predicado, Por-
a. Fernão Lopes foi guarda-
cujo constituinte é selecionado por um verbo mor da Torre do Tombo.
Comença
copulativo 1
a declaração
. Pode e argumento
ser desempenhada por da b.As suas crónicas ficaram célebres.
São exemplos de verbos (a.);no ponto que acabamos Primeiramente, no é dopresente
1
obra.
– um se fegura
grupo que,
nominal c.A leitura da sua obra
copulativos: ser, estar, ficar,
parecer, permanecer, tornar-se, de– um
espgrupo
rio, adjetival
o qual (b.);
per força havemos de auto, irar,
maior interesse. chegamos
revelar-se, ... passar em um
– um grupo (c.); um deles passa sùpitamente
estão, scilicet1,
preposicional d. O trabalho doaJoão
umsobre
deo autor
dous
pera
– umo grupo
paraíso tem cada um seu arraizbatéis
batéis(d.).
adverbial ficouque
bem.naquele porto e o
na proa: o do PaMODIFICADOR
arraiz infernal e um outro pera o Inferno: os quais
Companheiro.
É uma função sintática não selecionada por raíso
a. Os um Anjo, e o do Inferno
portugueses
Em termos gráficos, nenhum núcleo, seja verbal seja oracional um derrotaram os castelhanos
o modificador de nome O primeiro entrelocutor é um Fidalgo que ch
(frásico). na batalha de Aljubarrota.
apositivo distingue-se rabo mui comprido e ũa cadeira de espaldas. E c
do restritivo por surgir Pode ser desempenhada por b.Eles lutaram corajosamente.
separado por vírgulas. o –Fidalgo
um grupovenha.
preposicional (a.); c.Sempre que o Mestre de Avis o
– um grupo adverbial (b.); pediu, o povo português
– uma oração subordinada adverbial (c.). combateu.
Em início de frase ou entre constituintes d. O mestre de Avis, nos Paços da
obrigatórios, isola-se geralmente por vírgula (c. e Rainha, foi apoiado pelo povo.
d.).
MODIFICADOR DO NOME RESTRITIVO
É uma função sintática não selecionada pelo
nome que o antecede ou precede, restringindo a a. A cidade de Lisboa foi cercada
referência desse nome. pelos castelhanos.
Pode ser desempenhada por b.Os textos mais antigos dão-
– um grupo preposicional (a.); nos uma visão elogiosa dos
– um grupo adjetival que estabelece concordância reis portugueses.
com o nome (b.); c.As crónicas que Fernão Lopes
– uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva escreveu retratam o povo como
(c.). um
verdadeiro herói.
MODIFICADOR DO NOME APOSITIVO
É uma função sintática não selecionada pelo nome
que o antecede ou precede, acrescentando-lhe a. O povo, em alvoroço, revelou-
informação acessória. Surge isolado por vírgula(s), se partidário da causa do
parênteses ou travessões. mestre.
Pode ser desempenhada por b.O povo – emocionado e grato
– um grupo preposicional (a.); – deu vivas ao rei.
– um grupo adjetival que estabelece concordância c.Fernão Lopes, cronista do
com o nome (b.); reino, viveu entre os séculos
– um grupo nominal (c.); XIV e XV.
– uma oração subordinada adjetiva relativa d.A população de Lisboa, que

80
APLICAR

1. Associe a coluna A à coluna B de modo a indicar a função sintática dos


constituintes sublinhados em cada frase. P R O F E S SO R

Coluna A Coluna B Gramática


18.1
[A] D. Leonor Teles e todos os presentes
ficaram estupefactos com a morte do 1.
[1] Complemento direto [A]–[5]; [B]–[3]; [C]–[4];
Conde Andeiro.
[D]–[3]; [E]–[4]; [F]–[2];
[G]–[1]; [H]–[5]; [I]–[2]
[B] Toda a cidade se manifestou contra D. Leonor.
2.
a. “Com a fome” –
[C] Por causa do cerco, houve muita fome em [2] Complemento indireto modificador do grupo verbal;
Lisboa. “difíceis” – modificador do
nome restritivo, "em
[D] D. João de Castela enviou tropas para Lisboa" – modificador do
Portugal. grupo verbal;
[3] Complemento oblíquo b. “cabecilha da
[E] Depois da morte do Conde Andeiro, revolução” – modificador
começou a insurreição. do nome apositivo; c.
“que os reis
de Portugal e de Castela
[F] O povo pedia ao Mestre que não o assinaram” – modificador
abandonasse. [4 Modificador do nome restritivo, "não" –
modificador do grupo verbal.
[G] Durante o cerco de Lisboa, homens e
3.
mulheres defenderam a cidade de várias a. “O povo” – sujeito;
maneiras. “dirigiu-se aos paços da
[5] Predicativo do sujeito rainha” – predicado; “aos
[H] Muitas das pessoas cercadas pelas
paços
muralhas estavam esfomeadas. da rainha” – compl. oblíquo;
“da rainha” – modificador
[I] Durante a Batalha de Aljubarrota, D. do nome restritivo.
b. “D. Leonor Teles,
2. Identifique os modificadores existentes nas frases que se seguem. mãe de Beatriz” – sujeito;
“mãe de D. Beatriz” –
a. Com a fome, viveram-se tempos difíceis em Lisboa. modificador
do nome apositivo; “governou
b. Álvaro Pais, cabecilha da revolução, pedia ao povo que acorresse ao Portugal” – predicado;
Mestre. “Portugal” – compl. direto.
c. “O povo de Lisboa” –
c. O acordo que os reis de Portugal e de Castela assinaram não agradava ao sujeito; “de Lisboa” –
povo. modificador
do nome restritivo;
“permaneceu cercado durante
3. Identifique as funções sintáticas exercidas pelos constituintes das seguintes meses” – predicado; “cercado”
– predicativo do sujeito;
frases. “durante meses” –
modificador do grupo
a. O povo dirigiu-se aos paços da rainha. verbal.
b. D. Leonor Teles, mãe de D. Beatriz, governou Portugal. d. “Efetivamente” –
modificador; “D. João” –
c. O povo de Lisboa permaneceu cercado durante meses. sujeito; “ordenou às tropas
que combatessem” –
d. Efetivamente, D. João ordenou às tropas que combatessem. predicado;
às tropas – compl. indireto;
e. Infeliz, o povo procurava em Deus algum conforto. que combatessem – compl.
direto.
3.1 Reescreva as frases que incluam complementos diretos ou indiretos e e. “Infeliz” – modificador
substi- tua-os pelo respetivo pronome. do nome apositivo; “o
povo” – sujeito;
“procurava
em Deus algum conforto”
– predicado; “em Deus –
compl. oblíquo; “algum
conforto” – compl. direto.
3.1
b. D. Leonor Teles,
mãe de D. Beatriz,
governou-o.
d. Efetivamente, D. João ordenou-lho.
e. Infeliz, o povo procurava-o em Deus.
F ernão L ope s
Afirmação da consciência coletiva

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o seguinte excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I e responda à


questão apresentada na página seguinte.

Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando


el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.
23
designados; 24
avivavom-se os corações deles: sentiam-se mais corajosos; 25
operários; 26
folga; 27
onde

1
palavras, ditos; 2
alusão ao capítulo
anterior, onde se
descreve o soberbo
acampamento do rei de
Castela, que se estendia de
Santos até Campolide e
outros lugares em volta; 3
inimigos; 4 coragem;
5
logo que; 6 lezírias (terras
que ficam na margem do
rio); 7 abastecimento; 8
refugiaram-
-se; 9 aprouve, agradou;
10
e alguns; 11 em direção a;
12
aí; 13 que poseram todo o seu:
que puseram em segurança
os seus haveres; 14
necessidade;
15
reparação, fortificação;
16
armas que disparavam
setas a grandes
distâncias;
17
abundância; 18 setas grandes;
19
de boa categoria social,
burgueses; 20 quadrelas,
lanços de muralha onde
se colocavam os vigias;
21
quando; 22 apressadamente;
82
Nem uũ Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e
falamento deve
1
outras cousas de que fezerom grande açalma- mento7; e colherom-se8
mais vizinho dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres e filhos, e cousas que
seer deste tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles a que prougue9 de
capitulo que o fazer; e deles10 passarom o Tejo com seus gaados e bestas
havees ouvido2, 15 e o que levar poderom, e se forom contra11 Setuval, e pera Palmela; outros
que poermos ficarom na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i12 houve que poserom
logo aqui todo o seu13, e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz.
brevemente de Os muros todos da cidade nom haviam mingua14 de boom
que guisa repairamento15; e em seteenta e sete torres que ela teem a redor de si,
estava a cidade, forom feitos fortes cara-
jazendo el-Rei 20 manchões de madeira, os quaes eram bem fornecidos d’escudos e lanças e
de Castela dardos e beestas de torno16, e doutras maneiras com grande avondança17 de
sobr’ela; e per muitos vira- tões18. […]
que modo E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a
poinha em si guarda dos muros pelos fidalgos e cidadãos honrados19; aos quaes derom
guarda o certas quadrilhas20
Meestre, e as 25 e beesteiros e home~es d´armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada
gentes que quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como21 cada
dentro eram, por uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente22 corriam pera ela.
nom receber […]
dano de seus E nom soomente os que eram assiinados23 em cada logar pera defensom,
e~migos3; e o mas ainda as outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras
esforço e torres, avi-
fouteza4 que
30 vavom-se os corações deles24; e os mesteiraes25 dando folgança26 a seus
5 contra eles mostravom, oficios, logo todos com armas corriam rijamente pera u27 diziam que os
em quanto assi esteve Castelãos mos- travom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes,
cercada. com muitas trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e
Onde sabee semelhantes armas, mostrando
que como5 o fouteza contra seus e~migos.
Meestre e os
da cidade
souberom a
viinda del-Rei
de Castela, e
esperarom seu
grande e
poderoso cerco,
logo foi
ordenado de
reco- lherem
pera a cidade
os mais
mantiimentos
que haver
podessem, assi
de pam e
carnes, come
quaes quer
outras cousas.
E iam-se muitos
aas liziras6 em
barcas
10 e batees, depois

que Santarem
esteve por
83
35 Nom curavom28 entom do texto que diz: “Que mais ajuda a egreja o
reino com suas orações, que os cavaleiros com as armas”; nom se guardava 28
não se importavam;
29
disposição da Igreja;
ali a degratal29: “Clerici arma portantes”30, aos quaes segundo dereito nom 30
“clérigos
convem de tomar ar- mas, posto que seja pera defensom da terra; mas empunhando armas”;
clerigos e frades, especialmente da Trindade, logo eram nos muros, com 31
não obstante
as melhores que haver podiam. […] 32
visitava;
40 E nom embargando31 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial
33
soldados que faltavam à
chamada, rebeldes
cui- dado da guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve 34
diligentes, rápidos
sono, reque- ria32 per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas 35
preparativos
acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre consigo levava.
Nom havia i neuũs revees33 dos que haviam de velar, nem tal a que
esqueceesse cousa do que lhe fosse en-
45 comendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe mandavom, de guisa

que, a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava


avondança de trigosos34 executores. […]
Ó que fremosa cousa era de veer! Uũ tam alto e poderoso senhor como
el-Rei de Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per
terra, postas em
50 tam grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi

guarnecida contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos35 por sua
guarda e defensom! Em tanto que diziam os que o virom, que tam
fremoso cerco de cidade nom era
em memoria d’home~es que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo. P R O F E S S OR

Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.7; 15.1; 15.2; 16.1
1. Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto,
indi- cando as linhas que justificam essa seriação.
1.
[A] O esforço e o envolvimento do Mestre são realçados pelo facto de este
dormir pouco e de vigiar constantemente as defesas da cidade.
[B] Entre os portugueses, uns associaram-se à defesa da cidade, outros
coloca- ram-se ao lado do inimigo.
[D] (ll. 1-5)
[C] O Mestre tinha a função de assegurar que todas as medidas tomadas
[E] (ll. 6-17)
para a proteção da cidade estavam a ser executadas.
[B] (ll. 18-22)
[D] Fernão Lopes refere que se vai debruçar sobre a situação vivida na [C] (ll.23-27)
cidade de Lisboa aquando do cerco castelhano. [H] (ll. 28-34)
[G] (ll. 35-39)
[E] O cronista enuncia os procedimentos adotados pela população para se [A] (ll. 40-47)
pre- caver do cerco, nomeadamente a recolha de mantimentos para o [F] (ll. 48-53)
interior das muralhas.
[F] Apesar de ser inerente a um historiador a procura pela verdade dos
factos e tanto quanto possível ser objetivo, Fernão Lopes não se coíbe
de expres- sar a sua opinião quando traça o paralelo entre a força
castelhana e a força portuguesa.
[G] Os próprios membros do clero davam mostras de uma consciência
coletiva, dirigindo-se às muralhas e pegando em armas, o que ia
contra a lei da Igreja.
[H] A consciência coletiva é explorada no texto sobretudo pela forma como se
des- taca o envolvimento de cada uma das classes sociais no
desempenho das suas funções.
F ernão L ope s
Afirmação da consciência coletiva

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o excerto seguinte do capítulo 148 da Crónica de D. João I.

Das tribulações que Lixboa padecia per mingua 1 de mantiimentos.


1
falta
2
porque
3
antiga medida para Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e
líquidos tam caro que as pobres gentes nom podiam chegar a ele; ca2 valia o
4
bolbos
alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareenta soldos; e a canada3
5
melaço cristalizado
6
onde
do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i
7
viviam deles (dos que, ainda que dessem por uũ pam
porcos) 5 ũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam de
8
negociantes de gado bagaço d’azeitona, e dos queijos4 das malvas e raizes d’ervas, e doutras
9
passando fome
10
fome
desacostumadas cousas, pouco amigas da natureza; e taes i havia que se
mantiinham em alféloa5.
No logar u6 costumavom vender o triigo, andavom homee~s e moços esgaravatan-
do a terra; e se achavom alguũs grãos de triigo, metiam-nos na boca sem teendo
10 outro mantiimento; outros se fartavom d’ervas, e beviam tanta agua, que

achavom mortos home~es e cachopos jazer inchados nas praças e em outros


logares.
Das carnes, isso meesmo, havia em ela grande mingua; e se alguũs
criavom porcos, mantiinham-se em eles7; e pequena posta de porco, valia
cinco e seis li- vras que era ũa dobra castelãa; e a galinha, quareenta
soldos; e a duzia dos ovos,
15 doze soldos; e se almogávares tragiam alguũs bois, valia cada uũ sateenta
8

livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e
seis livras; e a cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres per mingua
de dinheiro, nom co- miam carne e padeciam mal; e começarom de comer
as carnes das bestas, e nom soomente os pobres e minguados, mas grandes
pessoas da cidade, lazerando9,
20 nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame , bem mostravom
10

seus encubertos padecimentos. Andavom os moços de tres e de quatro anos


pedindo pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas
madres, e muitos nom tiinham outra cousa que lhe dar senom lagrimas que
com eles choravom que era triste cousa de veer; e se lhes davom tamanho
pam come ũa noz, haviam-no
25 por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham crianças a seus peitos per
Crónica de D. João I

mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom


podiam, choravom ameúde sobr’ eles a morte ante que os a morte privasse
da vida. Muitos esguardavom as prezes11 alheas com chorosos olhos, por
comprir o que a piedade manda, e nom teendo de que lhes acorrer, caíam
em dobrada tristeza. 11
preces
30 Toda a cidade era dada a nojo , chea de mezquinhas querelas, sem neuũ
12
12
tristeza, aborrecimento
prazer que i houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros 13
preocupado
havendo doo dos atribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e 14
contudo
mezquinho o coraçom cuidoso13 nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, 15
inimigos
veede que fariam aqueles que as continua- damente tam presentes tiinham?
16
está
17
em al departir: falar sobre outra
Pero14 com todo esto, quando repicavom, neuũ nom coisa
~
35 mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus emigos . Esforçavom-se
15
18
ficados os geolhos: ajoelhados
uũs 19
queixavam
por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava 20
misérias
21
conforto de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces firmando-se de todo nas peores
cousas que fortuna em esto podia
razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see16 a door, assi obrar: só pensando nos
uũs homee~s falando com outros, nom podiam em al departir17 senom em maiores males que naquelas
na mingua que cada uũ padecia. circunstâncias lhe podiam
40 Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a acontecer

Deos devotamente por o estado da cidade! E ficados os geolhos18,


beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas prezes nom
eram compridas! Uũs cho- ravom antre si, mal-dizendo seus dias, queixando-
se por que tanto viviam, como se dissessem com o Profeta: “Ora veesse a
morte ante do tempo, e a terra cobrisse
45 nossas faces, pera nom veermos tantos males!” Assi que rogavom a morte

que os levasse, dizendo que melhor lhe fora morrer, que lhe seerem cada dia
renovados desvairados padecimentos. Outros se querelavom19 a seus amigos,
dizendo que fo- rom desaventuirada gente, que se ante nom derom a el-Rei
de Castela que cada dia padecer novas mizquiindades20, firmando-se de todo
nas peores cousas que fortu-
50 na em esto podia obrar .
21
PROF E S SOR
Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas
d’ouvir taes novas; e veendo estes males a que acorrer nom podiam, Educação Literária
14.2; 14.3; 14.5; 14.7;
çarravom suas ore- lhas do rumor do poboo. 15.1; 15.2; 16.1
Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer
alguũs
~
55 home es e molheres, que tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que

as entom passarom, como há da vida aa morte?

1. Preencha a seguinte Situação dos base


tabela com mantimentos na do
na leitura cidade
excerto.
a. 1.
a. escassez de bens como trigo, milho, vinho, carne; os alimentos que existiam eram muito caros e difíceis
de obter. b. sofredora. c. forte perante oCaracterização geral
inimigo (esquecendo da população
a fome). d. solidária durante o cerco
no sofrimento. e. crente em Deus. f. desejosa da morte.
g. arrependida da adesão
b. à causa de D. João I
c. elementos do povo). h.
(alguns
ciente da gravidade da
d. situação,
mas consciente de
e. nada
poder fazer, tentava ignorar
f. os rumores. i. compreende o
g. desespero do povo decorrente
das necessidades por que
Reação do Mestre passava; refere a humanidade
do Mestre ao apontar a sua dor
h.
perante os lamentos do
Ponto de vista do cronista povo.
85
i.
PAR A S A B E R Crónica de D. João I

CRÓNICA DE D. JOÃO I

1.a parte – Pré-Aljubarrota 2.a parte – Pós-Aljubarrota

Narração dos acontecimentos desde a Narração dos acontecimentos ocorridos


morte do rei D. Fernando até à aclamação durante o reinado de D. João I.
de D. João como rei.

ATORES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

D. Leonor Teles De cariz dramático, revela ser determinada, persistente, dominadora, indomável, astuciosa e adúltera.

Conde Andeiro Assume a ameaça castelhana sobre a integridade nacional, acabando por funcionar como “bode-
-expiatório” para se desencadear a revolução.

Rei de Castela Representa a força de Castela, mostrando-se orgulhoso, ambicioso e calculista.

Álvaro Pais Apresenta-se como chefe da insurreição de 1383 e mentor do assassinato do Conde Andeiro.
Revela-se astuto, determinado e destemido.

D. João, Manifesta-se como um homem vulgar, que tem dúvidas e hesitações e que chega a cometer
Mestre de Avis erros. No entanto, é também o líder das multidões, o homem que assume a sua missão e que se
mostra ambicioso, revelando, por isso, um cariz realista.

Nuno Álvares Pereira Revela-se como um herói com um forte pendor místico. A par da sua faceta espiritual e do virtuosismo
que o rege, distingue-se pela sua determinação, coragem, perspicácia e lealdade.

Apresenta-se como a força gregária, animada de uma vontade definida e coletiva, representada,
Povo por isso, em expressões como “todos postos sob um mesmo cuidado”, “todos animados de uma só
vontade”, “enquanto a cidade soube”. Apesar de ignorante, supersticioso e, por vezes, até cruel,
revela-se como a força motora da revolução e, por isso, aquela que mais padece, resiste e se
afirma.

P R O F E S SO R AFIRMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA COLETIVA

A insurreição que se opera em Portugal em 1383, ainda que tenha sido


Apresentação encabe- çada por Álvaro Pais, um dos burgueses mais influentes do reino, só
Galeria de
imagens vinga porque foi apoiada pelo povo.
Apresentação É, efetivamente, a plebe que, colocando em causa a validade da sucessão
Síntese da di- nástica por não reconhecer legitimidade ao rei de Castela para assumir a
Unidade regência de Portugal, empurra o Mestre de Avis para a revolução.
Teste interativo É, pois, esta consciência da identidade nacional, este sentimento
Fernão Lopes
patriótico ge- neroso e esta ligação à terra, em detrimento da eleição régia,
que faz do povo o protagonista da insurreição que culminou com o triunfo
da vontade popular.
PAR A V E R I F I C A R

Verifique os seus conhecimentos após a leitura e a análise dos excertos da Crónica PROF E S SOR
de D. João I, de Fernão Lopes.
Educação Literária

1.
1. Identifique as afirmações verdadeiras e as afirmações falsas. Corrija as falsas. a. F – A Crónica de D.
João I debruça-se sobre a
a. A Crónica de D. João I, escrita por Fernão Lopes, debruça-se sobre a ascensão e reinado do
ascensão e o reinado do infante D. João de Portugal, filho de D. Pedro e de Mestre de Avis, filho de D.
Pedro e de uma aia,
D. Inês de Castro. Teresa Lourenço.
b. V
b. A Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, surge como uma forma de c.V
legitimar a coroação do Mestre de Avis como rei. d. V
e. F – A insurreição
c. A crise de 1383-1385, que se viveu em Portugal, assume sobretudo inicia-se com a morte do
contornos políticos. Conde Andeiro.
f.V
d. D. Leonor Teles é uma das figuras principais relacionadas com a crise de g. V
1383- h. F –O povo
-1385. regozijou-se com o
facto de o Mestre de
Avis estar vivo e apoiou
e. A insurreição inicia-se com a morte de D. Fernando, perpetrada por D. João, o assassinato do Conde
Mestre de Avis, e idealizada por Álvaro Pais. Andeiro.
i.V
f. O homicídio do amante de D. Leonor Teles surge como resposta à j. F –Apesar de o Mestre
ameaça cas- telhana que pairava sobre a coroa portuguesa. de Avis não ser um
sucessor legítimo ao
trono, o povo apoiava-o
g. Os protagonistas do assassinato ocorrido nos paços da rainha por reconhecer nele a
manipularam o povo, de modo a garantir o seu apoio. única garantia da
independência nacional.
h. O povo regozijou-se com o facto de o Mestre de Avis estar vivo, mas k. V
condenou a morte do Conde Andeiro. l.F – Foram os
castelhanos que puseram
cerco à cidade de Lisboa,
i. A questão da sucessão ao trono português colocou em confronto os como forma de dissuadir
sentimentos do povo e as ambições de uma parte da nobreza. o Mestre de Avis dos
seus propósitos.
j. O povo apoiava D. Leonor Teles por reconhecer nela a garantia da m. F – Apesar de se
independência nacional e por considerar que o Mestre de Avis não era terem preparado antes
um sucessor legítimo ao trono. do cerco,
a determinada altura, e dada
a sua duração, as
k. A chegada do rei de Castela a Portugal deve-se a D. Leonor Teles. necessidades do povo,
sobretudo em termos
alimentares, passaram
l. Como forma de retaliar a invasão castelhana, D. João, Mestre de Avis, pôs a ser muitas.
cerco à cidade de Lisboa. n. F – O Mestre soube
de antemão que os
m. Durante o cerco de Lisboa, as necessidades foram residuais porque castelhanos tencionavam
aqueles que se mantiveram dentro das muralhas da cidade se prepararam cercar Lisboa e, por isso,
deu ordens para as
convenien- temente. pessoas se abastecerem e
protegerem.
n. O cerco de Lisboa ocorreu de forma inesperada, sem que ninguém o. V
estivesse a contar com isso.

o. O povo apresenta-se como a força motora e impulsionadora da revolta


ocorrida por questões dinásticas.

87
PAR A RE C U P E R AR Crónica de D. João I

1. Complete o texto com as palavras propostas.

• legitimando • nação • exclamações • povo •


historiador • D. João I
• verdade • independência • atribulações • escritor • história
Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes retratou, como nenhum outro cronista, a
cri- se de 1383-85, procurando a a. dos factos. A função de guarda-mor
da Torre do Tombo permitiu-lhe o b. a documentos importantes da
nossa
c. .
O cronista destaca o mestre de Avis, futuro d. , e. a sua
elei- ção após a morte de D. Fernando. Mas é o f. quem sai enaltecido, ao
revelar a consciência de uma g. prestes a perder a h. .
PROFE S SOR
Tal como um i. , Fernão Lopes convida-nos a “esguardar como se
1. a. verdade
estivés- semos presentes”, e leva-nos até às j. do cerco de Lisboa. Apesar da
b. acesso
c.história impar- cialidade pretendida, o narrador emociona-se com as descrições que faz,
d. D. João I servindo-se das
e. legitimando
f.povo
k. e das interrogações retóricas.
g. nação Concluindo, Fernão Lopes não foi só um l. que fixou um momento
h. independência
fulcral da nossa história, mas sobretudo um notável m. , atento ao pormenor e
i.repórter
j. atribulações ao visualismo descritivo ao longo da narração.
k. exclamações
l.historiador 2. Indique todos os processos fonológicos que ocorreram na evolução das
m. escritor seguintes palavras.
a. Filiam > filha
Gramática
2. a. apócope do b. Sabedes > sabeis
“m” / palatalização
c. Amicum > amigo
b. síncope do “d”/
sinérese; d. nocte > noite
c.apócope do
“m”/
sonorização 3. Associe cada elemento da coluna A ao único elemento da coluna B que lhe corres-
d. vocalização ponde, de modo a identificar a função sintática destacada em cada frase.z
3.
Coluna A Coluna B
[A] – [2]
[B] – [3] [A] Quando o povo soube que matavam o Mestre, acorreu
[1] Complemento direto
[C] – [1] logo ao paço.
[D] – [1]
[B] Álvaro Pais foi astucioso na sua estratégia. [2] Modificador
[E] – [6]
[F] – [4] [C] Embora o Mestre de Avis hesitasse, acabou por
[G] – [5] aceitar a ideia do amigo. [3] Predicativo do
sujeito
[D] Todos queriam saber se o Mestre estava vivo.
[4] Complemento
[E] Quem cercou Lisboa foi D. João de Castela. indireto
[F] Os habitantes de Lisboa pediram ao Mestre [5] Complemento
que os protegesse. oblíquo
[G] Mal os sinos repicavam, todos se dirigiam logo para a [6] Sujeito
muralha.
A lm ei da G LIAR Crónica de D. João I
P A R A
a rr et t duas ou tres
A V A G vezes, ataa
R lançarem fora
U 25 as mancebas
P mundairas9 e
O Judeus e outras
semelhantes,
I
dizendo que pois
taes pessoas
Leia o excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I e
responda às questões. nom eram pera
pelejar, que
nom gastassem
Das tribulações que Lixboa padecia per os mantiimentos
mingua de mantiimentos.
aos defen-
sores; mas isto
Estando a cidade assi cercada na maneira que já
nom
ouvistes, gastavom-se os mantiimentos cada vez
aproveitava
mais, por as muitas gentes que em ela havia, assi
cousa que
dos que se colherom dentro, do termo1, de home~es
muito
aldeãos com molheres e filhos, come dos que veerom
prestasse.
na frota do Porto; e alguũs se tremetiam2 aas vezes
Os Castelãos
em ba-
aa primeira10
5 tees e passavom de noite escusamente contra as
prazia-lhe com
partes de Ribatejo, e metendo-se em alguũs esteiros,
eles, e davom-
ali carregavom de triigo que já achavom prestes, per
lhe de comer e
recados que ante mandavom. E partiam de noite
aco- lhimento;
remando mui rijamente, e algũas galees quando os
depois veendo
sentiam viinr remando, isso meesmo remavom a
que esto era
pressa sobre eles; e os batees por lhe fugir, e elas por
com fame, por
os tomar, eram postos em grande trabalho.
gastar mais a
10 Os que esperavom por tal triigo andavom per a
cidade, fez
ribeira3 da parte de Exobregas, aguardando quando 30 el-Rei tal
veesse, e os que velavom, se viiam as galees remar ordenança que
contra lá, repicavom logo por lhe acorrerem. Os da n~euũ de dentro
cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e fosse recebido em
tomavom as armas e saía muita gente, e defendiam- seu arreal, mas que
nos aas beestas4 se compria, ferindo-se aas vezes dũa todos fossem
parte e doutra; porem nunca foi vez que5 lançados fora; e
15 tomassem alguũ, salvo ũa que6 certos batees estavom os que se ir nom
em Ribatejo com triigo, e forom descubertos per uũ quisessem, que
homem natural d’Almadãa, e tomados per os Castelãos; os açoutassem e
e el foi depois tomado e preso e arrastado, e fezessem tornar
decepado e enforcado. E posto que tal triigo algũa pera a cidade; e
ajuda fezesse, era tam pouco e tam raramente, que esto lhes era
houvera mester de grave de fazer,
o multiplicar como fez Jesu Cristo aos pães, com que tornarem per
fartou os cinco mil home~es. força pera tal
20 Em esto gastou-se a cidade assi apertadamente, que
logar, onde
as pubricas esmolas co- meçarom desfalecer7, e neũa chorando não
geeraçom de pobres achava quem lhe dar pam; de esperavom de
guisa que a perda comum vencendo de todo a seer recebidos;
piedade, e veendo a gram mingua dos mantiimentos, e taes i havia
estabelecerom deitar fora as gentes minguadas8 e que de seu
nom per- teencentes pera defensom; e esto foi feito
grado se ela havia”, ll. 1-2).
PROFE
2. A principal dificuldade era o ataque dos castelhanos aos barcos 1
zona de Lisboa; 2
saíam da que transportavam o trigo. arriscavam;
cidade, e 3. A comparação salienta a falta de alimentos vivida na cidade, 3
pela margem; 4
de tal forma que só um milagre, como o da multiplicação dos
se iam Apres pães, poderia pôr fim à fome. com tiros de besta;
pera o
5
entaç 4. Para fazer face à escassez de alimentos, o povo de Lisboa porem nunca foi
começou a expulsar de dentro das muralhas aqueles que não VEZ que: nunca
arreal, ão
Soluçõ acrescentavam nada à defesa da cidade, como as prostitutas e os aconteceu que; 6
querendo judeus. salvo ũa que:
es
ante de Ficha 5. Os castelhanos, inicialmente, acolhiam as pessoas que eram exceto, quando…; 7
expulsas, pensando que saíam por iniciativa própria, querendo
todo seer de
aliar-se a Castela.
escassear; 8

Avaliaç miseráveis, 9
35 cativos, ão prostitutas; 10
ao
que assi
princípio
perecerem
G
morrendo R
de fame. U
P
O 1. Releia o primeiro parágrafo do excerto.
Refira uma consequência que o cerco
I castelhano trouxe à cidade de Lisboa, fun-
Educação
damentado a sua resposta com uma
Literária expressão textual.
14.3; 14.4;
14.7; 15.1;
15.2; 16.1;
17.3; 18.1;
19.7

1. 89
entro
das
mura
lhas
recolh
eu-se
muita
gente
vinda
de
todos
os
locais
da
capit
al
ainda
do
Porto
,
que
causo
u
uma
gran
de
escas
sez
de
alime
ntos
(“gas
tavo
m-se
os
manti
iment
os
cada
vez
mais,
por
as
muita
s
gente
s
que
A lm ei da G LIAR Crónica de D. João I
P A R A
a rr et t 2. Indique a principal dificuldade sentida pela
A V A população durante o transporte do tri- go para
dentro das muralhas.

3. Comente o sentido da comparação “como fez Jesu


Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil
homee~s.” (l. 19).

4. Releia o terceiro parágrafo do texto e enuncie a


medida tomada para fazer face à escassez de
alimentos.

5. Indique por que razão, inicialmente, os


castelhanos ficavam contentes com a ex- pulsão de
algumas pessoas de dentro das muralhas.

GRUPO II

Leia o texto e responda ao que lhe é solicitado.

A grandeza de Fernão Lopes


Mas não basta saber criticar as fontes para ser
um historiador. O melhor his- toriador, conforme
hoje o conhecemos, será aquele que compreender
os mais complexos fatores de uma dada sociedade
em transformação, determinar a cada passo a
importância relativa de cada um deles, de maneira
a poder dar-nos dessa
5 sociedade, não uma faceta, mas uma visão de conjunto.

Também sob este aspeto a literatura medieval


não nos oferece verdadeiros historiadores.
Normalmente, os cronistas medievos estão ligados a
uma corte real ou senhorial, a um convento, a um
grupo social aristocrático ou governante, e
apenas relatam os acontecimentos
que interessam
10 a esse restrito meio em

que parece resumir-se


para eles uma nação
inteira ou até todo o
universo. Tra-
balhando geralmente
para cortes de
cavaleiros, a história
aparece através deles
como uma série de
feitos de cavalaria,
torneios, aventuras de
reis ou
15 grandes senhores,
intrigas palacianas. A
grande massa da
Em
frag-
20

25

de
bodas
palacianas.
um
30

Lisboa

90
mesteirais, que largam o trabalho para organizar “uniões” na rua, participar P R O F E S S OR
em comícios populares, pegar em armas quando é a ocasião; vemos
alfaiates, tanoei- ros, camponeses salientar-se porque falam em nome de GRUPO II
grandes agrupamentos que adquirem vontade própria; vemos gente de
Leitura
trabalho arrebanhada à força nas 8.1
35 aldeias, para as galés que o rei D. Fernando envia contra a esquadra 1. S
castelhana; vemos “povos do reino” assediando os castelos, derrubando-lhes 1. e
1.1 [A]
as muralhas, que uma longa opressão tinha calado. […] l
1.2 [C]
A grandeza de Fernão Lopes como historiador consiste, principalmente, 1.3 [C]
e
nes- ta visão multifacetada que abrange os aspetos sociais da vida nacional c
e que lhe i
40 permitiu transmitir-nos o fresco global de uma época, em vez de simples o
nar- rativas de aventuras individuais vistas segundo a ideologia n
e
cavaleiresca, como as que nos apresentam outros cronistas medievos.
Graças a esta superioridade de visão, possuímos hoje um precioso relato de
conjunto da grande crise social que marcou em Portugal a passagem da a
Idade Média para os tempos modernos.
a
António José Saraiva e Óscar Lopes, História da
Literatura Portuguesa, 17.a ed., Porto, Porto Editora, 2010, l
pp. 124-127. t
e
r
n
a
t
i
v
a

q
u
e

c
o
m
p
l
e
t
a

c
o
r
r
e
t
a
m
e
n
t
e
cada afirmação, considerando a
globalidade do texto.
1.1 Um bom historiador, nos tempos modernos, será aquele capaz de
[A] apresentar uma visão global da sociedade.
[B] apresentar uma imagem detalhada dos indivíduos que a compõem.
[C] centrar-se nas figuras mais representativas dessa sociedade.
[D] interpretar corretamente as fontes de que dispõe sobre essa
sociedade.
1.2 Os historiadores medievais
[A] centravam-se nas grandes preocupações e nos ideais de uma
sociedade.
[B] realizavam o seu trabalho de forma autónoma e independente.
[C] apresentavam uma imagem sectária da história.
[D] apresentavam uma visão global da história.
1.3 No panorama medieval, Fernão Lopes
[A] assume um papel
preponderante, à imagem
de outros cronistas do seu
tempo.
[B] sobressai por conferir especial relevo aos heróis individuais.
[C] contrasta por introduzir a força do elemento coletivo.
[D] contrasta por apresentar
uma visão fragmentária
da sociedade portu-
guesa.

91
A lm ei da G LIAR Crónica de D. João I
P A R A
descreveu as ações empreendidas pelo povo de Lisboa, que se une para a defesa da Pátria,
a rr et t revelando
A V A PROFE S SOR a consciência coletiva que começava a desenhar-se na época representada.
A sua obra dá-nos, assim, uma visão de conjunto de um período fulcral da nossa história,
Gr que marcou a
a passagem da Idade Média para a modernidade.
m (114 palavras)
át
ic
a
17
.3
;
18
.1

2.
a. F –
Complemento
agente da passiva.
b. V
c. F – “O melhor
historiador” é o
sujeito.
d. F –
“palaciana” é
derivada por
sufixação.
e. F – É
complemento
oblíquo.
f.V
3.
3.1. Sujei
to simples.
3.2. Adje
tivo
qualificativo.
3.3. “visã
o
multifacetada”.

GRUPO III

Escrita
11.1; 12.1; 12.3;
12.4; 13.1

Síntese
O texto salienta
a grandeza de
Fernão Lopes
enquanto
cronista,
distinguindo-o dos
outros autores
medievais, que
relataram
apenas
acontecimentos
íntimos da
corte, pois estavam
ao serviço de um rei
ou de um nobre.
Não são, por isso,
verdadeiros
historiadores,
desconhecendo o
que era a nação
fora do ambiente
palaciano.
Fernão Lopes, pelo
contrário, sem
deixar de retratar
a vida da corte,
f e grande massa da nação, os interesses e os ideais
2. A a r que impelem a quase totalidade dos homens são por
s l d estes cronistas des- conhecidos ou
s s a incompreendidos.” (ll. 15-18), é complemento
i a d oblíquo.
n s e b. Na passagem de “vita” para “vida” ocorreu a sonorização.
a , i
l r c. Em “O melhor historiador […] será aquele que
e a compreender os mais complexos fatores…” (ll. 1-3), o
t
s sujeito da frase é “aquele”.
r
a a . d. A palavra “palacianas” (l. 15) é derivada por prefixação.
s n a. A e. Na frase “A grandeza de Fernão Lopes como
s historiador consiste, principalmen- te, nesta visão
a f e multifacetada” (ll. 38-39), o constituinte sublinhado é
f o x complemento indireto.
i r p
r f. O último parágrafo textual inicia-se com um conector de valor
m r causal.
m a e
a n s
ç 3. Responda aos itens apresentados.
d s
õ o 3.1 Identifique a função sintática desempenhada pelo
ã
e constituinte sublinhado em “desempenha um papel
o
s a preponderante a movimentação das grandes forças co-
s letivas e anónimas”. (ll. 24-26).
s
q u 3.2 Indique a classe de palavras a que pertence o vocábulo
u a b sublinhado em “A grandeza de Fernão Lopes como
e f l historiador consiste, principalmente, nesta visão
i i multifa- cetada”. (ll. 38-39).
s r n 3.3 Indique o referente do elemento sublinhado em “que
e m h lhe permitiu transmitir-nos o fresco global de uma
a a época” (ll. 39-40).
s ç d
e õ a
g e G
u s n R
e a U
m f P
a O
f
c l r
o s I
a I
m a s I
o s e
Faça a síntese do texto presente no grupo II em
v e “ cerca de 100 palavras. (Não se esqueça de
e m A
r empregar, sempre que possível, vocabulário
d a próprio.)
a f
d i
e r
i m
r a
a ç
s õ
e
o s
u
v
92
MÓDULO

2
1. Gil Vicente
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Farsa de Inês Pereira
Leitura
Exposição sobre um
tema Apreciação crítica
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão/Expressão Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Apreciação crítica
Gramática
Lexicologia: campo semântico e campo lexical
[Aprender/Aplicar] Lexologia: arcaísmos e neologismos
[Aprender/Aplicar] Processos irregulares de formação de
palavras [Aprender/Aplicar]
• Conectores
• Processos fonológicos
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Subordinação
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1465 1495 1498 1500 1521 1536 1539


Data
Aclamação Chegada Descoberta Aclamação Estabelecimento Início da atividade
provável do
de D. Manuel de do Brasil de D. João da Inquisição em do Santo Ofício,
nascimento
I como rei de Vasco da por Pedro III como rei Portugal em Portugal
de Gil
Portugal Gama à Álvares de Portugal Data provável da
Vicente
India Cabral morte de Gil Vicente

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender esta época, bem como
Gil Vicente, autor que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

O Fim da Idade Média e o Literatura em Portugal, uma perspetiva didática. Época medieval e época
clássica,
Humanismo vol. I, Porto, Areal Editores, 2004, p. 109.

Séculos XV e XVI
• Verifica-se neste período, a nível europeu, a
desintegra- ção do sistema feudal, acompanhada de um
grande surto de desenvolvimento económico
(crescimento da produção artesanal e agrícola;
desenvolvimento do comércio; criação
5 das primeiras manufaturas; indícios de industrialização).

• Este desenvolvimento é favorecido pelos


descobrimen- tos ibéricos, o que também contribui para
o desfazer das conceções medievais sobre o universo.
• Surgem novos métodos de investigação,
baseados na
10 observação e na experiência, o que implica uma rutura

com o pensamento pedagógico e filosófico de base


escolástica.
• A invenção da imprensa, em meados do século
XV, por Guttenberg, veio permitir uma mais fácil
circulação e divul- gação das ideias e das notícias e o
acesso à cultura por
15 parte de um número cada vez maior de intelectuais de
origem burguesa.
Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais, História da

94
Gil Vicente
• Nasceu no reinado de Afonso V,
testemunhou as lutas políticas do reinado de
D. João II, a descoberta da costa africa- na, a
chegada de Vasco da Gama à Índia, o fausto do
reinado de D. Manuel, as perseguições
sangrentas aos cristãos-novos
5 e o estabelecimento da Inquisição em Portugal.

• Inspirou-o o espírito crítico e realista


característico da burguesia, que se traduziu na
crítica atrevida aos vícios sociais.
• Foi, durante 35 anos, nas cortes de D.
Manuel I e D. João III, uma espécie de
organizador dos espetáculos palacianos,
10 tendo alguma liberdade de expressão.

• Alcançou na corte uma situação de


prestígio, que lhe per- mitiu certas liberdades e
audácias, de acordo com o ambiente
intelectual renovador e agitado que se vivia.
• Soube aproveitar essa situação para uma crítica
atrevi-
15 díssima a diversos vícios da nobreza e do clero,

tendo aparen- temente o acordo do rei.


Elaborado a partir de António José Saraiva (apresentação e
leitura),
Teatro de Gil Vicente, Lisboa, Dinalivro, ed. revista, 1988, pp.
9-12.
PARA INICIAR

E X P R E S SÃO OR AL PROF E S SOR

Legenda das imagens


Observe atentamente a sequência de imagens que se A. Barco de Vasco da
apresenta. Gama (pormenor), 1880,
Ernesto Casanova.
B. Iluminura
medieval, séc. XV,
Bibliothèque
Boulogne-sur-mer.
C. O Juízo Final
(pormenor), 1535-1541,
Miguel Ângelo, Capela
Sistina, Vaticano.
D. Tributo a Gil Vicente,
Jardim dos Poetas,
Oeiras.
E. Diabo, Frade e
Florença, Auto da Barca
do Inferno,
representação no Museu
dos Jerónimos.
F. Amantes, c. 1740, Pieter
Jan van Reysschoot (1702-
1776),
A B Yale Center of British Art,
Paul Mellon Collection, EUA.

Oralidade
5.1; 5.2; 5.3;
6.1; 6.2; 6.3

1. As imagens B, C,
D e E associam-se à
obra Auto da Barca do
Inferno,
uma vez que representam,
respetivamente,
(B) os Cavaleiros, únicas
C D personagens que embarcam
na barca do Paraíso;
(C)a punição “no outro
mundo” (em virtude dos
maus comportamentos na
vida terrena); (D) as
barcas
e os barqueiros − o Anjo
e o Diabo; (E) a
personagem Frade que se
faz acompanhar da sua
moça Florença.
As imagens A e F relacionam-
-se com o Auto da Índia:
(A) a nau simbolizará
a viagem do marido da Ama;
E F (F) imagem que poderá
aludir à temática central
da obra − o adultério
cometido pelas
1. No 9.o ano, contactou com uma obra de Gil Vicente. Selecione as imagens que · a adequação de
se recursos verbais
poderão associar à obra estudada, justificando a sua escolha. e não verbais:
postura, tom de
2. Considere as imagens C e F. Escolha uma delas e proponha uma justificação voz, articulação
para a sua adequação à obra estudada, atendendo à intenção do dramaturgo. e
Estruture o seu discurso, tendo em atenção: expressividade.
· a organização pertinente das ideias;
· a extensão temporal (2-3 minutos);
· o vocabulário diversificado e cuidado;
mulheres cujos maridos integravam as expedições marítimas. abandono das
2. Resposta de caráter pessoal. No entanto, o aluno deve referir a pertinência mulheres e a sua repercussão
da imagem em função da intenção do autor: nos valores morais, visível,
·em C, referente ao Auto por exemplo, no tema do
da Barca do Inferno, criticar e modificar o comportamento humano, fazendo apelo adultério.
à ideia da punição;
·em F, Auto da Índia, chamar a atenção para algumas das consequências das expedições: o

95
Gil Vic ent e
PARA DESENVOLVER

PROFE S SOR C O M P R E E N S Ã O / E X P R E S S ÃO OR AL

1. Visualize e escute atentamente um


Apresentação
“O teatro vicentino”
primeiro excerto fílmico relativo a
Gil Vicente e à sua obra, retirado da
Vídeo
Excerto fílmico relativo série televisiva Grandes Livros.
a Gil Vicente Identifique como verdadeiras ou
Áudio falsas as afirmações que se seguem.
“A Pretexto”
Corrija as falsas.
Oralidade a. No topo do Teatro Nacional D. Ma-
1.1; 1.4; 2.1; 2.2; 3.1; Gil Vicente,
3.2; ria II existe uma estátua de Gil Vicente devido
Grandesao facto
Livros, RTPde este ter
5.1; 5.2; 5.3; 6.1; 6.2; nascido na capital de Portugal.
6.3
b. A obra vicentina bem como o seu autor foram recuperados na era
1. romântica, no- meadamente por Almeida Garrett, em virtude do seu relevo
a. F – A estátua é e interesse literário.
justificada com o facto de
Gil Vicente ser,
popularmente, conhecido
c. A intimidade de Gil Vicente com os membros da coroa permitiu-lhe
como o “pai” do teatro entrar no quarto da jovem mãe de D. João III para apadrinhar o recém-
português. nascido príncipe.
b. V
c. F – O dramaturgo vai d. O dramaturgo quinhentista viveu na corte cerca de 35 anos, onde escreveu,
ao quarto da princesa para
a distrair e representar en- cenou e/ou dramatizou as suas obras, protegido pela rainha D.
o Monólogo do Vaqueiro. Leonor.
d. V
e. F – Não segue o e. A obra de Gil Vicente estende-se de 1502 a 1536 e engloba comédias, farsas
rumo das manifestações e mora- lidades, seguindo, assim, o rumo das manifestações teatrais
teatrais anteriores; pelo
contrário, rompe com a precedentes.
tradição.
f. V f. O autor português desempenhava as funções de Mestre da Retórica da
g. V Represen- tação, pelo que não só escrevia e representava as suas obras
2. a. As datas relativas como também tinha a função de organizar as festas reais que servissem
às obras vicentinas
situam- para celebrar efemérides.
-se entre 1502 e 1536. b.
Em 35 anos, Gil Vicente g. A obra do dramaturgo foi editada em 1562 e, posteriormente, em 1586.
terá produzido cerca de Contudo, o autor deixara de ser referenciado desde 1536 até 1834.
cinquenta peças. c. Os
responsáveis pela
compilação da obra 2. Na primeira emissão de A Pretexto (9 de outubro de 2012), programa de
vicentina foram os seus entrevistas da RUC – Rádio Universidade de Coimbra −, o tema foi Gil Vicente.
filhos, que editaram um
livro com as suas peças. d. Como convidado, o professor José Augusto Cardoso Bernardes, especialista em
Gil Vicente não só escrevia estudos vicentinos, falou sobre aquele autor e a sua obra, comentando
as peças como também as
encenava, ajudava igualmente uma entrevista a Ricardo Araújo Pereira no Programa Nós e os
a representar e, posteriormente, Clássicos (SIC Notícias, maio de 2011) sobre o teatro de Gil Vicente.
as reescrevia para compilar
em livro. e. Nas obras Escute a entrevista e recolha informação relativa aos tópicos que se apresentam,
vicentinas, surgem temas completando a tabela.
como a morte, a vida, a
astúcia, a honestidade
e o tratamento de Datas balizadoras da produção vicentina a.
diferentes ideais
humanos. f. O teatro Número de peças teatrais produzidas por Gil Vicente b.
vicentino é uma caricatura
do século XVI e as suas
figuras funcionam como Responsáveis pela compilação da obra vicentina c.
caricaturas que não se
devem generalizar, mas que Atividades desempenhadas por Gil Vicente relacionadas com
visam tipos de homens d.
as peças teatrais da sua autoria
existentes, como
é o caso do fidalgo, no
Auto da Barca do Dois temas tratados na obra vicentina e.
Inferno.
Relações entre o teatro de Gil Vicente e a sociedade da f.
96 época
BLOCO INFORMATIVO
2.1 Com base nas informações recolhidas no exercício anterior, elabore,

p. 283
oralmente, entre 2 a 3 minutos, uma síntese dos principais aspetos
focados na entrevista.

97
INFORMAR Auto de moralidade

Leia a informação seguinte e os tópicos abaixo sobre a sátira vicentina e responda


ao solicitado. Elaborado a partir de António José Saraiva e
Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa,
17.a ed., Porto, Porto Editora, 2010, pp. 194-197
Tendo como datas possíveis de nascimento e morte, respetivamente, 1465 e (adaptado).
1536, Gil Vicente situa-se num período de transição entre as eras medieval e
renascentis- ta. Assim, é provável que a sua obra reflita especificidades de uma 1. Defina, por palavras
e de outra época. Se, por um lado, apresenta aspetos medievais, suas, personagem-tipo,
nomeadamente no que se refere à forma e a certos temas, sobretudo apresentando
ligados à preponderância da religião na vida do ser humano, por outro lado, exemplos.
apresenta uma visão crítica da sociedade e uma cons- ciência dos problemas sociais
característicos da época.

TEXTO A
A sátira e o ideal de ordem
• A sátira, para Gil Vicente, é uma forma de compreender a desordem
e a confusão que imperam na sociedade quinhentista, não sendo poupado
nenhum grupo social.
•Além de personagens individuais, o autor também ridiculariza defeitos
hu- manos generalizados.
• São várias as personagens-tipo ridicularizadas, representando os vários
es- tratos/grupos sociais: o povo miúdo, os pretensiosos, os famintos, os
Escudeiros versejadores de trovas, tocadores de viola, frades, clérigos e os
ermitões foliões e debochados.
Elaborado a partir de José Augusto Cardoso Bernardes, História crítica da literatura
portuguesa. Humanismo e Realismo, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo,
1999, pp. 139-141.

TEXTO B
Farsa e auto – natureza e estrutura da obra
Características
• Na forma simples, reduz-se a um episódio cómico
colhido no quotidiano, na vida de uma personagem
típica.
• Numa forma mais complexa, como é o caso da
Farsa de Inês
Farsa Pereira, é uma história mais completa (com princípio,
meio e fim).
• Pode partir de um dito popular que funciona como
argumento
para a ação. No caso da Farsa de Inês Pereira, o argumento
é “an- tes quero burro que me leve que cavalo que me
derrube”.
• Os diálogos e as ações sucedem-se sem transição, não
havendo
preocupação com a unidade de tempo.
• Tem um ensinamento religioso e um objetivo

Farsa de Inês Pereira


P R O F E S SO R

Leitura 7.2; 7.5; 8.1


Ed. Literária 14.3; 14.4; 16.1

1.
São personagens que apresentam comportamentos e elementos característicos representativos de
determinada classe social
ou profissional. Podem representar também vícios ou defeitos humanos muito generalizados. Os
exemplos referidos no textos são
o Escudeiro, os frades, os clérigos em geral
e os Ermitões.
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens

PROFE S SOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Gil Vicente é considerado uma das mais importantes figuras do teatro português.
Apresentação Criou cerca de 50 peças, desde 1502 até 1536, data da representação da última
Texto dramático
que se conhece.

Leia a obra Farsa de Inês Pereira, representada em 1523, na corte de D. João III.
*FIXAÇÃO DE TEXTO
António José Saraiva
(apresentação A Farsa de Inês Pereira*
e leitura), Teatro
de Gil Vicente, Lisboa,
[1523]
Dinalivro, ed. revista,
1988, pp. 163-204. [Auto] Feito por Gil Vicente, representado ao muito alto e mui poderoso Rei
D. João o terceiro no seu convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII.
*NOTAS
António José Saraiva, O seu argumento é um exemplo comum que dizem: mais quero asno que
op. cit., e outros. me leve que cavalo que me derrube.
As figuras são as seguintes: Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pero
Marques; dous Judeus (um chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com
um seu Moço; um Ermitão.

Entra logo Inês Pereira, e finge que está lavrando só


em casa, e canta esta cantiga:

Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
que hará cuando no os viere?1

(Falado):
Inês Renego deste lavrar 1
“quem, vendo-vos pena e morre, o que fará quando vos não vir?”; 2
e do primeiro que o usou! arranjo de vida; 3 de estar sempre no mesmo sítio; 4 alegram-se;
5 Ò diabo que o eu divertem-se; 5 sou; 6 macaca; 7 alusão à alegria de Maria Madalena
dou, que tão mao é quando soube da ressurreição de Cristo.
d'aturar!
Ó Jesu! que enfadamento,
e que raiva, e que
tormento, que cegueira, e
que canseira!
10 Eu hei-de buscar
maneira d'algum outro
aviamento.2

Coitada, assi hei-de estar


encerrada nesta casa
como panela sem asa
15 que sempre está num
lugar? E assi hão-de ser
logrados dous dias
amargurados,
que eu possa durar
viva? E assi hei-de
estar cativa
20 em poder de desfiados?
98
Farsa de Inês Pereira

Antes o darei ao diabo


que lavrar mais nem pontada.
Já tenho a vida cansada
de jazer sempre dum cabo.3
25 Todas folgam4 e
eu não, todas
vêm e todas
vão onde
querem, senão
eu. Hui! e que
pecado é o
meu, ou que
dôr de coração?

30 Esta vida é mais


que morta. São5
eu coruja ou
corujo, ou são5
algum caramujo
que não sai
senão à porta?
E quando me dão algum dia
35 licença, como
a bugia6, que
possa estar à
janela, é já
mais que a
Madanela
quando achou
a aleluía.7

99
Vem a Mãe, e, não na achando lavrando, DIZ: Mãe E como? Tamanho é o
Lia. mal? Tamanho? Eu to
Logo eu adevinhei direi:
40 lá na missa onde eu
estava, como a minha vinha agora pereli14
Inês lavrava a tarefa que 85 ò redor da minha vinha,
lhe eu dei... Acaba esse e um clérigo, mana minha,
travesseiro! pardeos15, lançou mão de
Hui! naceo-te algum unheiro? mi16. Não me podia valer.
45 Ou cuidas que é dia santo? Diz que havia de saber
Inês Praza a Deos que algum 90 se era eu fêmea se macho.
quebranto me tire de cativeiro. Mãe Hui! Seria algum
muchacho que brincava
Mãe Toda tu estás aquela…8 Lia. Jesu!
por prazer?
que me eu encomendo!
Choram-te os filhos por Quanta cousa que se faz!12
Lia. Si, muchacho sobejava…
pão?
75 Mãe LianorEra um zote
Vaz, quetamanhouço!...
é isso?
17
50 Inês Prouvesse a Deos! Que já é
95 E eu andava
Lia. Venho no retouço,
eu, mana, amarela13? Mãe Mais
rezão de eu não estar tão
singela9. ruivatão rouca
que umaque não falava.
panela! Lia. Não sei como
Quando
tenho siso! o vi pegar comigo
Mãe Olhade lá o mao
que me
Jesu, achei
Jesu, que naquele
farei?
pesar…10 Como queres
perigo:
Não sei se me vá a el-Rei, se me vá
tu casar com fama de 80
100 – Assolverei!
ao Cardeal. − Não assolverás!
preguiçosa?
– Tomarei! − Não tomarás!
55 Inês Mas eu, mãe, são
– Jesu! Homem! que hás
aguçosa11 e vós dais-vos contigo? −
de vagar.
–Irmã, eu t’assolverei
Ora espera, assi
Mãe c’o breviairo de
vejamos. Inês Quem já visse Braga.18
esse prazer! Mãe Cal'te, que 105 –Que breviairo, ou que praga!
poderá ser, Que não quero! Aque d'el-Rei!
60 que «ante a Páscoa vem os –
Ramos.» Quando vio revolta a
Não te apresses tu, Inês. voda,19 foi e esfarrapou-
«Maior é o ano que o me toda
mês»: quando te não o cabeção da camisa.
precatares, virão maridos Mãe Assi me fez dessa
a pares, 110 guisa20 outro, no tempo
65 e filhos de três em três. da poda.

InêsQuero-m'ora alevantar.
Folgo mais de falar nisso
− assim Deos me dê o
paraíso, − mil vezes que não
lavrar.
70 Isto não sei que o
faz... Mãe Aqui vem Lianor
Vaz. Inês E ela vem-se
benzendo...

[entra Lianor VAZ]


8
Hoje dir-se-ia “lá estás tu…”; 9 sozinha,
solteira; 10
“vejam que
desgraça…”(ironia); 11
diligente; 12
como
podem acontecer certas coisas ; 13

pálida; 14
por ali; 15
interjeição “por
Deus”; 16
agarrou-
-me; 17
era um bruto de tal tamanho; 18

em Braga foi impresso o Breviário;


Bracarense em 1494; 19
quando viu
estragados os seus planos; 20
maneira.
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens

PROFE S SOR Lia. Si, agora, ieramá!21


Também eu me ria cá
Educação Literária das cousas que me
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.9 dizia:
chamava-me «luz do dia».
1. As didascálias apresentam 120 – que
do «Nunca teu
o mês”(vv. 60 olho
e 62). verá!» –
Inês e as ações que ela 4. Inês só tem um desejo – casar o
desempenha. Se estivera
mais rapidamente depossível:
maneira “Praza a Deos
2.1 Inês não aceita nem […]
semcativeiro” e “Prouvesse
ser rouca, a Deos! […] tão
bradara
gosta das tarefas singela” (vv. 46-47
domésticas, eeu. Mas logo o demo
50-51).
concretamente de bordar; me deu cadarrão e
não lhe agrada também ter
de permanecer em casa 125 peitogueira,22 cócegas e
(como era usual no século cor de rir,23
XVI), uma vez que isso
constituía, para
e coxa pera fugir,
a personagem, uma e fraca pera vencer.
espécie de cativeiro e
tornava a vida enfadonha.
Porém pude-me valer
Lamenta, ainda, o facto de sem me ninguém
outras raparigas da sua acudir...
idade se divertirem,
enquanto ela tem de 130 O demo, e não pode al
permanecer “cativa” em
casa. ser, se chantou24 no
2.2 O monólogo Mãe corpo dele. Mana,
funciona como um conhecia-t’ele?
desabafo e um lamento
caracterizadores da Lia. Mas queria-me conhecer!
personagem. Mãe Vistes vós tamanho mal?
2.3 Inês é uma jovem, 135 Lia. Eu me irei ao Cardeal,
em idade de casar,
revoltada com a sua e far-lhe-ei assi mesura
condição social e com e contar-lhe-ei a
todas as tarefas e
comportamentos exigidos aventura que achei no
pela sua situação. A meu olival.
avaliar pelo seu
comportamento, Mãe Não estás tu arranhada,
não é muito diligente. Assim, 140 de te carpir, nas
sentindo-se cansada da
vida que é obrigada a levar, Lia. queixadas.25 Eu tenho as
anseia libertar-se por meio do unhas cortadas e mais
casamento. (vv. 7-11):
“Ó Jesu! que enfadamento, estou tosquiada.26
/[…] E mais pera que era
/ d'algum outro aviamento.”)
3. A Mãe, de forma 145 isso? E mais pera que é
irónica, condena o facto o siso?
de Inês ter abandonado o E mais no meo da
bordado, uma das
incumbências que lhe
requesta27 veo um homem
deixara: “logo […] lhe eu de ~ua besta,28
dei…”; “naceo-te algum
unheiro?"(vv. 39-44).
que em vê-lo vi o paraiso.
Por esta razão, afirma E soltou-me porque
que a filha é preguiçosa
e que, devido a essa
vinha, bem contra sua
fama, terá dificuldades 150 vontade.
em encontrar Porém, a falar verdade,
marido. A Mãe procura
ainda convencer a filha de já eu andava
que os pretendentes não cansadinha. Não me
tardarão em aparecer e de
que a vida de casada não é o valia rogar,
que esta pensa, pois nem me valia chamar:
rapidamente aparecerão os
filhos. Por tudo isto, – Isto não revela nada...
aconselha-a a não ter – Tu nam vês que são casada?
pressa “que («ante a
Páscoa vem os Ramos»” e
“Maior é o ano

100
Farsa de Inês Pereira

cortado; 27 contenda; 28 um
homem que conduzia um
animal de carga; 29 Vasco de
Fois era alferes-mor da Ordem
de Cristo; 30 subentende-se o
termo “sova”; 31 bondosa; 32
comprometida; 33 agrada.

Mãe Deras-lhe, má hora, boa,


e mordera-lo na coroa.
165 Lia. Assi! Fora excomungada!
Não lhe dera um
empuxão, porque são
maviosa,31 que é cousa
maravilhosa.
170 E esta é a concrusão.
Leixemos isto! Eu venho
com grande amor que
tenho, porque diz o exemplo
antigo que amiga e bom
amigo
mais aquenta que o bom
lenho.
175 Inês está concertada
pera casar com
Mãe alguém? Até 'gora com
ninguém não é ela
Lia. embaraçada.32 Em
180 nome do anjo bento
eu vos trago um
Inês casamento. Filha, não
se vos praz.33
E quando, Lianor Vaz?

21
interjeição “em
má hora”; 22

catarro e tosse;
23
vontade de rir;
24
pôs-se; meteu-
se; 25 alusão a um
costume
medieval,
segundo o qual a
mulher forçada
devia carpir-se
arranhando a
face; 26 cabelo

10
1
Lia. Já vos trago aviamento.34 Lia. Nesta carta que aqui vem PROF E S SOR
195 pera vós, filha, d'amores,
Inês Porém, não hei-de casar veredes vós, minhas 5.1 Lianor Vaz veio a
casa de Inês, com o
flores, objetivo de lhe apresentar
185 senão com homem avisado.35 a descrição que ele tem. uma proposta de
casamento: traz uma carta
Ainda que pobre e pelado, Inês Mostrai-ma cá, quero ver. de um pretendente à mão de
seja discreto em falar, Lia. Tomai. E sabedes vós ler? Inês (vv. 194-197).
5.2 Inês mostra-se
que assi o tenho assentado. 200 Mãe Hui! ela sabe latim, pouco recetiva e
Lia. Eu vos trago um bom e gramáteca, e alfaqui37 desconfiada, ao contrário
marido, de sua Mãe e de Lianor,
190 e tudo quanto ela quer! que estão muito
rico, honrado, conhecido.
Inês Primeiro eu hei-de saber se é parvo, entusiasmadas com o
34
arranjo de vida; 35 discreto; 36 “diz que vos aceita pretendente. A atitude
se sabido. sem dote”; 37 a Mãe pretende mostrar que a filha de Inês justifica-se pelo
é culta. facto de já ter em mente
um modelo de homem
bem definido, que poderá
não corresponder à
proposta de Lianor. Por
esta razão, ainda que a
alcoviteira
1. Identifique a funcionalidade das didascálias iniciais. o caracterize como “um
bom marido, / rico, honrado,
2. A farsa tem início com um monólogo de Inês Pereira. conhecido / […] que em
camisa vos quer” (vv. 189-
2.1 Enuncie os aspetos do quotidiano da personagem que lhe desagradam. 191), Inês quer primeiro
saber como ele é,
2.2 Explicite a funcionalidade deste monólogo. mostrando interesse em
ler a carta que ele lhe
2.3 Apresente três traços caracterizadores desta personagem a partir das suas enviou (v. 198).
6. vv. 184-188
pala- vras. 7.
a. Comparação. A jovem
3. Apresente as críticas e os conselhos expressos pela Mãe de Inês a partir do compara-se a uma panela
verso 39. sem asa, aludindo, desta
forma, ao facto de não ter
ainda casado.
4. Identifique o desejo expresso por Inês ao longo do diálogo com a sua Mãe. b. Ironia. A mãe de Inês
zomba da pressa da filha
5. Uma nova personagem junta-se às anteriores. em casar, afirmando, de
modo irónico, que o facto
5.1 Refira o objetivo da vinda desta personagem a casa de Inês. de se encontrar ainda
solteira é uma desgraça.
5.2 Compare o grau de entusiasmo de Inês ao de Lianor Vaz, relativamente à
proposta desta última. Gramática
17.3
6. Transcreva os versos que melhor definem o modelo de homem de Inês Pereira.
1.1 Valor de oposição
7. Identifique os recursos presentes nos seguintes versos, analisando a sua (conector adversativo)
expressi- vidade no texto. 1.2 Estabelece um
contraste entre o modelo
a. “assi hei-de estar / encerrada nesta casa / como panela sem asa”. (vv. 12-14)
de homem que Inês tem
em mente e o que lhe
b. “Olhade lá o mao pesar...” (v. 52) apresentam.
2.
a. apócope de “s”
b. metátese
c.assimilação
d. epêntese de “i”

GR AMÁTICA

1. Releia os versos “Porém, não hei-de casar / senão com homem avisado”( vv. 184-185).
1.1 Indique o valor lógico do articulador inicial.
1.2 Apresente uma explicação para a sua utilização.

2. Identifique o(s) processo(s) fonológico(s) ocorrido(s) em cada um dos casos


apresentados de seguida.
a. Jesus > Jesu (v. 73) c. pera > para (v. 143)

b. BREVIARIU- > breviairo (v. 103) d. meo > meio (v. 145)

BLOCO INFORMATIVO – pp. 261, 278-279


Lexicologia: campo semântico e campo lexical
APRENDER

De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), “O léxico de uma língua inclui não
ape- nas o conjunto de palavras efetivamente atestadas num determinado contexto
mas tam- bém as que já não são usadas, as neológicas e todas as que os processos
de construção de palavras da língua permitem criar”.

CAMPO LEXICAL
É o conjunto de palavras associadas, pelo seu significado, a um determinado
domínio conceptual.

palco animais

personagem
m ator ribeiro flor

TEATRO NATUREZA

ponto
e
encenador planície montanhas

cena arbusto

CAMPO SEMÂNTICO
É o conjunto de significados, ou aceções, que uma palavra assume, em função do
contexto em que ocorre, quer surja isolada ou integrada numa expressão, como se
pode verificar nos exemplos:

1. Campo semântico de “pé”.


a. O João rematou com o pé direito.
b. Quando chega tarde a casa, o João entra com pés de lã.
c. Seria difícil medir um campo de futebol em pés.

2. Campo semântico de “cabeça”.


a. A Teresa acordou com dores de cabeça.
b. A prima da Maria tem boa cabeça para os estudos.
c. O António é o cabeça da lista A, candidata à Associação de Estudantes.
d. Vi um rebanho com trezentas cabeças de gado.
e. É necessário enfrentar as situações de cabeça erguida!

102
APLICAR

1. Considere as seguintes frases.


a. Aos domingos, gosto de passear junto ao mar e observar os peixinhos, as
algas, os barcos, as ondas e a suavidade da areia.
b. O Manuel, como tem dificuldades em andar, apoia-se num pau.
c. Comprei uma mesa nova em pau de carvalho.
d. Coloquei na mochila, para levar para a escola, gramáticas, livros, canetas e
até um dicionário.
e. No fim da frase, deves colocar um ponto.
f. Gosto de macarrão, mas deve estar no ponto.
g. A tia do Pedro nunca dá ponto sem nó.
h. Acabei de separar o meu vestuário para a próxima estação, mas preciso
de com- prar uma saia, duas camisas, meias, um gorro e, talvez, um
sobretudo.
PROF E S SOR
1.1 Distinga aquelas em que ocorrem palavras pertencentes ao mesmo campo
Gramática
lexical. 19.3; 19.4

1.2 Transcreva as palavras e os respetivos campos lexicais. 1.1 a., d. e h.


1.2 a. mar – peixinhos,
1.3 Preencha a tabela, agrupando as frases em que a mesma palavra aparece algas, barcos, ondas,
com sentidos diferentes, seguindo as instruções. areia
d. escola − mochila,
gramáticas, livros,
canetas, dicionário
A. B. C. D. E. h. vestuário – saia,
camisas, meias, gorro,
Frases em Significado Significado Campo sobretudo
Palavra "denotativo" "lexical" ou 1.3. A.1. Pau A.2. Ponto
que ocorre que adquire C.1. b. cajado, bordão,
ou "conotativo" "semântico"
bengala
b. ___________ b. ___________ _____________ c. madeira
1. _____________ b. e c. C.2. e. sinal de
c. ___________ c. ___________ _____________ pontuação
f. no momento certo
e. ___________ e. ___________ _____________ da cozedura
g. ser interesseiro; ter
2. _____________ e., f. e g. f. ___________ conotativo _____________ segundas intenções
D.1. b. denotativo
g. ___________ g. ___________ _____________ c. denotativo
D.2. e. denotativo
g. conotativo
E.1. e E.2. campo semântico
2. Construa os campos lexicais dos seguintes vocábulos. 2.
a. casa, apartamento,
a. Habitação. cabana, tenda, …
b. flores, ninhos, sol,
b. Primavera. verde, verdejante, …
c. ator, cenário,
c. Cinema. duplo, personagem,
guião, …
3. Redija um par de frases para cada palavra dada, utilizando-a em contexto e 3.
a. O noivo colocou o anel
com significados diferentes. na mão esquerda. / O
ladrão praticou um
a. Mão. assalto à mão armada.
b. Ilha. b. Nunca visitei a Ilha do
Pico. / O António, da turma
c. Braço. B, é uma ilha, não convive
com ninguém.
c. Os jogadores de
futebol não podem jogar
à bola com o braço. / Um braço de rio entrando pela floresta embeleza a paisagem.
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Continue a ler a Farsa de Inês Pereira.

Lê Inês Pereira a carta: presente. Veremos se


sois contente
«Senhora amiga Inês Pereira, que casemos na boa
Pero Marques, vosso amigo, hora.»
205 que ora estou na nossa Inês Des que nasci até
aldea mesmo na vossa agora não vi tal vilão
mercea m'encomendo1. E com'este,
mais digo, digo que nem tanto fora de mão5!
benza-vos Deos, que vos
fez de tão bom jeito.
210 Bom prazer e bom
proveito veja vossa mãe
de vós.
E de mi também assi,

ainda que eu vos


vi est'outro dia
folgar
215 e não quisestes bailar
nem cantar presente mi...»
Inês Na voda de seu avô,
ou onde me viu ora
ele? Lianor Vaz, este
é ele?
Lia. Lede a carta sem dó,
2
220

que inda eu são contente dele.

Prossegue Inês Pereira a carta:

«Nem cantar presente mi.


Pois Deos sabe a
rebentinha3 que me
fizestes então.
225 Ora, Inês, que hajais benção
de vosso pai e a minha,
que venha isto a
concrusão.
E rogo-vos como
amiga, que samicas
230 vós sereis4, que de
parte me faleis
antes que outrem vo-lo
diga. E, se não fiais de
mi,
esteja vossa mãe aí
235 e Lianor Vaz de
104
240 Lia. Não queirais ser tão
senhora. Casa, filha, que
te preste,
não percas a ocasião.
Queres casar a prazer
no tempo d'agora, Inês?
245 Antes casa em que te pês,6
que não é tempo
d'escolher. Sempre eu
ouvi dizer:
«ou seja sapo ou sapinho,
250 ou marido ou maridinho,
tenha o que houver
mister.»7
Este é o certo caminho.

Mãe Pardeus, amiga, essa é ela!8


Mata o cavalo de sela
e bom é o asno que me leva.
255 Lia. Filha, «no chão de Couce
quem não poder andar,
choute.»9 E: «mais quero eu
quem m'adore de quem faça
com que chore.» Chamá-lo-
ei, Inês?
260 Inês Si.
Venha e veja-me a mi.
Quero ver, quando me
vir, se perderá o
presumir logo em
265 chegando aqui, pera
me fartar de rir.
Mãe Touca-te10 bem, se vier,
pois que pera casar
anda.
Inês Essa é boa
demanda!
270 Cerimónias há
mister
homem que tal carta
manda?
Eu o estou cá pintando:
sabeis, mãe, que eu adivinho?
Deve ser um vilãozinho…
Ei-lo, se vem penteando:
275 será com algum ancinho?

1
recomendo-me a vossa mercê; 2

4
sem vos agastardes; fúria;
3

talvez; 5 nem tão disparatado; 6 casa


mesmo contrariada; 7 tenha o que
necessário for; 8 essa é que é a
verdade; 9 “quem não puder ter o
que deseja, contente-se com o que
tem”; 10 arranja-te.

105
Parece moça de bem,
Aqui vem Pero Marques, vestido como filho de e eu de bem, er16 também.
lavra- dor rico, com um gabão AZUL deitado ao Ora vós ide lá vendo
ombro, com o capelo por diante, e vem DIZENDO: se lhe vem milhor
ninguém,17
Pero Homem que vai onde eu 315 a segundo o que eu
vou não se deve de entendo.
correr.11
Ria embora quem quiser,
que eu em meu siso
estou.
280 Não sei onde mora
aqui... olhai que
m’esquece a mi! Eu creo
que nesta rua... Esta
parreira é sua.
Já conheço que é aqui.
Chega Pero Marques aonde elas estão, e DIZ:
285 Pero Digo que esteis muito embora.
Folguei ora de vir cá...
Eu vos escrevi de lá
ũa cartinha, senhora...
Assi que… e de maneira...
290 Mãe Tomai aquela cadeira.

Pero E que val aqui ũa destas?


12

Inês (Ó Jesu! que João das bestas!


Olhai aquela canseira!)

Assentou-se com as costas pera elas, e DIZ:


Eu cuido que não estou bem...
295 Mãe Como vos chamam, amigo?

Pero Eu Pero Marques me digo,


como meu pai que Deos
tem. Faleceo, perdoe-lhe
Deos, que fora bem
escusado,
300 e ficamos dous eréos.13
Perém meu é o mor
gado.14
Mãe De morgado é vosso estado?
Isso veria dos céos!

Pero Mais gado tenho já quanto,


305 e o mor de todo o gado,
digo maior algum tanto.
E desejo ser casado,
prouguesse15 ao Espírito Santo,
com Inês, que eu me
espanto
310 quem me fez seu
namorado.
Farsa de Inês Pereira
Pereira, afirmando que, assim, naquela confusão, o presente
Cuido que lhe trago aqui vinha fresco; 24 Pero Marques não percebe a ironia e afirma
que, pelo contrário, as peras vinham “quentes”; 25 deixou; 26
peras da minha pereira... não vá alguém fazer co- mentários; 27 “vejam o atrevimento
Hão-de estar na deste galante” (ironia).
derradeira.18
Tende ora, Inês, per i.19
320 Inês E isso hei-de ter na mão?
Pero Deitai as peas20 no chão.

Inês As perlas21 pera enfiar…


Três chocalhos e um
novelo... E as peas no
325 capelo...22
E as peras? Onde estão?
Pero Nunca tal me aconteceu!
Algum rapaz m'as comeu...
que as meti no capelo,
e ficou aqui o novelo,
330 e o pentem não se perdeu.
Pois trazia-as de boa mente...
Inês Fresco vinha aí o presente
com folhinhas borrifadas!23
Pero Não que elas vinham
335 chentadas cá em fundo no
mais quente.24
Vossa mãe foi-se? Ora
bem... Sós nos leixou25 ela
assi?...
Cant’eu quero-me ir daqui,
não diga algum demo
alguém...26
340 Inês Vós que me havíeis de
dizer? Nem ninguém que há-
de dizer?
(O galante despejado!27)
Pero Se eu fora já casado,
d’outra arte havia de
345 ser,
como homem de bom recato.
Inês (Quão desviado este está!
Todos andam por caçar
suas damas sem casar,
e este... tomade-o lá!)

11
não se deve envergonhar; 12
“para que serve uma coisa
13
destas?”; herdeiros; herdei a maior parte do gado (a
14

mãe julga que ele disse “morgado”); 15 prouvesse


(agradasse); 16 partícula de refor- ço; 17 “se alguém está
melhor para ela do que eu”; 18 no fundo; 19 “segurai aí,
Inês”; 20 cordas para prender os animais; 21 contas de vidro
de enfiar; 22 capuz do gabão; 23 réplica irónica de Inês
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

350 Pero Vossa mãe é lá no muro?


Inês Minha mãe eu vos
seguro que ela venha cá
dormir.
Pero Pois, senhora, eu quero-me ir
antes que venha o escuro.
355 Inês E não cureis mais de vir.

Pero Virá cá Lianor Vaz,


veremos que lhe dizeis...
Inês Homem, não aporfieis,
28

que não quero nem me praz.


360 Ide casar a Cascais.
Pero Não vos anojarei mais,
ainda que saiba estalar;29
e prometo não casar
até que vós não queirais.
[Pero vai-se, DIZENDO]
365 (Estas vos são elas a vós:
anda homem a gastar
calçado, e quando cuida
que é aviado,
escarnefucham30 de vós!
Não sei se fica lá a pea...
370 Pardeus! Bom ia eu à aldeia!)
[voltando atrás]
Senhora, cá fica o fato?31
Inês Olhai se o levou o gato...
Pero Inda não tendes candea?
32

Ponho per cajo33 que


alguém
375 vem como eu vim agora,
e vos acha só a tal hora:
parece-vos que será
bem?
Ficai-vos ora com Deos:
çarrai a porta sobre vós
380 com vossa candeazinha.
E sicais34 sereis vós
minha:
entonces veremos nós...

[Vai-se Pero Marques e DIZ] Inês Pereira


Inês Pessoa conheço eu
que levara outro caminho...
385 Casai lá com um
vilãozinho, mais covarde
que um judeu!
Se fora outro homem agora, e me topara a tal hora,
estando assi às escuras,
390 falara-me mil doçuras, ainda que mais não fora...

[torna a Mãe e DIZ]


Mãe Pero Marques foi-se já?
Inês Pera que era ele aqui?
Mãe E não t'agrada ele a ti?
395 Inês Vá-se muitieramá!35
Que sempre disse e direi:
mãe, eu me não casarei
senão com homem
discreto,36 e assi vo-lo
400 prometo
ou antes o leixarei.
Que seja homem mal
feito, feo, pobre, sem
feição, como tiver
descrição,
405 não lhe quero mais
proveito.
E saiba tanger viola,
e coma eu pão e
cebola. Siquer ũa
canteguinha! Discreto,
feito em farinha, porque
isto me degola.37
410 Mãe Sempre tu hás-de bailar,
e sempre ele há-de
tanger? Se não tiveres
que comer, o tanger te
há-de fartar?
Inês Cada louco com sua
415 teima. Com ũa borda de
boleima38 e ũa vez
d'água fria,
não quero mais cada dia.
Mãe Como às vezes isso
queima!
E que é desses escudeiros?
420 Inês Eu falei ontem ali
que passarão por aqui
os judeus casamenteiros
e hão-de vir logo aqui.

28
Não teimeis; 29 saiba que vou sofrer; 30 33
suponhamos; 34 se por ventura; 35 em má
escarnecem; 31 “fato” é uma palavra do
hora; 36 qualidade do que possui as virtudes
vocabulário dos pastores que designa os
palacianas (saber, educação, finura, etc.); 37 é
objetos de uso pessoal; 32 candeia (Pero
disso que eu gosto; sou doida por isso; 38 um
espanta-se por ser escuro e Inês não ter
bocado de bolo.
acendido “uma luz”;
Farsa de Inês Pereira

1. Assinale as afirmações verdadeiras e as falsas, considerando a carta de Pero


Marques. De seguida, corrija as afirmações falsas.
a. Pela leitura da carta, o pretendente aparenta ser um homem delicado e
distinto.
PROF E S SOR
b. Inês era uma desconhecida para o abastado lavrador.
c. Pero Marques mostra preocupações com a reputação de Inês.
Áudio
d. À medida que a jovem vai lendo a carta, vai crescendo o interesse por Pero
Marques.
e. Após a leitura da carta, Inês acede, finalmente, a que sua Mãe chame o “Inês Pereira lê a carta”
candidato a marido.
Educação Literária
f. Lianor Vaz e a Mãe utilizam uma linguagem proverbial para 14.3; 1 4.4; 14.7; 15.1
apresentarem uma opinião favorável ao casamento de Inês com Pero
1.
Marques.
g. Com a expressão “Cerimónias há mister / homem que tal carta manda?”
(vv. 268- B
-269),
Inês está a ser irónica, pois não vê necessidade de se vestir L
conveniente- mente para receber um pretendente tão pouco cortês. O
C
h. A chegada de Pero Marques provoca o cómico na peça. O

i. Pero Marques oferece a Inês as peras que trazia no capelo.


I
j. O marido ideal, para Inês, deve ser rico, discreto e ter a educação de N
quem fre- quenta os ambientes palacianos. F

k. A Mãe revela-se uma mulher sensata e experiente, aconselhando Inês a O

esperar pelos judeus casamenteiros. R


M
A
GR A M Á T I C A T
I
1. Releia os seguintes versos. V

a. “Senhora, cá fica o fato?” (v. 371) O


pp. 271-273 e 260-264
b. “parece-vos que será bem?” (v. 377)

c. "entonces veremos nós...” (v. 382)

d. “E não t’agrada ele a ti?” (v. 394)

e. “e assi vo-lo prometo” (v. 399)

f. “Eu falei ontem ali” (v. 420)


g. “que passarão por aqui” / os judeus casamenteiros”
(vv. 421-422)

1.1 Indique a função sintática dos


elementos sublinhados.
1.2 Identifique, nas frases, as seguintes
classes de palavras:
a. verbos no presente do indicativo;
b. nomes;
c. pronomes;
d. conjunções;
e. determinantes.
f. advérbios.
107
a. F – Aparenta ser um camponês rude e mesmo algo tonto.
b. F – O pretendente assegura que vira Inês num baile.
c.V
d. F – A Inês não agrada o tom da carta nem os comentários que Pero faz sobre um possível
encontro e futuro casamento.
e. F – Quem chama o candidato é Lianor Vaz.
f.V
g. V
h. V
i.F – Pero Marques não encontra as peras, que trazia, aconchegadas e quentinhas, no fundo do
saco.
j. F – O marido ideal para Inês pode não ser rico, desde que seja discreto e tenha a
educação de quem frequenta os ambientes palacianos.
K. F – A Mãe aconselha Inês a ser prudente, não se deixando levar por frivolidades
(vv. 410-413).

Gramática 18.1

1.1
a. Vocativo
b. Complemento indireto; predicativo do sujeito
c.Sujeito simples
d. Complemento indireto
e. Complemento direto
f.Modificador
g. Complemento oblíquo; sujeito simples
1.2
a. fica, parece, agrada, prometo
b. senhora, fato, judeus
c.vos, nós, te, ele, ti, lo, eu
d. que, e
e. o, os
f.cá, bem, entonces (então), assi (assim), ontem, ali, aqui

108
Lexicologia: arcaísmos e neologismos
APRENDER

A língua está em constante evolução: umas palavras modificam-se, ocorrendo


evolu- ção fonética; outras caem em desuso (arcaísmos); e outras surgem de
novo (neolo- gismos).

Observe o seguinte quadro, em que se encontram sistematizados estes dois conceitos.

Definição Exemplos

Arcaísmos
São termos de uso corrente num a. “O demo, e não pode al
determinado período na história da ser…” (‘outra coisa’)
língua, que acabam por cair em b. “E rogo-vos como amiga, que samicas
desuso posteriormente. vós sereis.”
O texto literário é uma fonte (‘talvez’, ‘porventura’)
documental privilegiada da existência c. “e ficamos dous
desses vocábulos, como se pode éreos” (‘herdeiros’)
comprovar com a Farsa de Inês Pereira.

Neologismos
São novos termos que surgem na língua a. “Eurocéticos não perturbarão
• devido à evolução nas áreas o Parlamento Europeu”
científica, tecnológica ou política […] José María Gil-Robles falou ao DN
(a.); sobre as suas expectativas em relação
às eleições europeias. Desvaloriza o
impacto que um elevado número de
eurodeputados eurocéticos, populistas e
extremistas possa vir a ter no
funcionamento da eurocâmara.
DN, edição online (acedido em fevereiro
de 2017).

• no domínio literário, criados por


escritores, com intenções expressivas ou b. “Mas, para espantação e reza, meu
estilísticas (b.). pai golfinhou-se entre as ondas…”;
“[…] um esticão na linha me indicava a
presença de um peixe namordiscando
o anzol…”
Mia Couto, Mar me quer, 13.a ed., Lisboa,
Editorial Caminho, 2013.
Podem formar-se através de formas
diferentes a partir da exploração de
c. “Microsoft quer ‘ativar’ Portugal e
recursos já existentes na língua e/ou
no Porto já há 18 vagas por
através dos diferentes processos de
preencher
formação de palavras (regulares e
irregulares) como é o caso da extensão Ativar Portugal é o nome e o objetivo
semântica (c.). da iniciativa da Microsoft que se
propõe criar dois mil postos de
trabalho até ao final do ano. O portal
online arranca esta quarta-
-feira. […] A entrada no mercado
pode estar mais perto e o processo
pode passar apenas pela colocação do
currículo na plataforma online.”
Jornalismo Porto Net (jpn), edição online
(acedido em fevereiro de 2017).
APLICAR

1. Considere os seguintes versos de uma cantiga de amigo da autoria de Dom Dinis.


Levantou-s’a velida
Levantou-s’alva,
E vai lavar camisas
1.1 Evidencie os termos que atualmente constituem arcaísmos.
1.2 Reescreva os versos, substituindo os termos arcaicos identificados em 1.1 por
ter- mos atuais que lhes correspondam.

2. Releia agora estes versos da Farsa de Inês Pereira (vv. 194-199).

Lia. Nesta carta que aqui vem Inês Mostrai-ma cá, quero
ver. pera vós, filha, d'amores, Lia. Tomai. E sabedes vós
ler? veredes vós, minhas flores,
a descrição que ele tem.

2.1 Reescreva-os, substituindo as formas verbais arcaicas aí presentes pelas


corres- pondentes atuais.

3. Leia atentamente os seguintes trechos.

A.

primeiro-ministro
O prime assegurou
o-ministro as r u hohoje que o programa
g de assdestência
assistência
estáestá
encerrado,
encerrado,
estando a ser negoc
negociada
ada com
c a "troika"
ika" aa fforma
m lt de
apassar
ultrapassar
a alteração
a alteração
ditada
ditada
pelo
pelo
acórdão do Tribunal
acórdão do TribunalConstitucional,
Consti ona pa e seja entregue
para que t e ue a aúltima
última "tranche
"tranche" da da
ajuda
ajuda financeira
financeira.
D , diç o onlin
line (acedido emfevereiro
(acedido em fevereirode de 2017).
N edição e 2017).
B.

Os astrónomos
astrónomosdescobriram
descob um pplaneta rochosoqquepesa
pesa17
17vezes
vezes mais
mais do
do que a Terra
e teTerra
temoodobro
dobrododotamanho
tamanho e estão oagora
a a a çbraços com
desafio de explica
o desafio comocomo
de explicar e
se terá
terá formado.
formado. […]"mega-Terra"
[…] Esta Esta "mega-Te
já eraá conhecida,
h i mas ainda
n a não
nãottinha
nha sido
sido possíve
possível PROF E S SOR
avaliar-
ava
-lhe ar-
o
Gramática
-tamanho.
he tama ho 19.1; 19.2; 19.6
is o ,edição onlin
Visã onl n − 33 de
de jjunho
ho ede
2014
2014(acedido
(acedidoem
emfevereiro
fevereiro de
o 2017).
edição e 2017).
1.1 e 1.2 “velida”: bela,
formosa; “alva”: alvorada,
C. madrugada.
2.1 “veredes”: vereis;
As meninas
men naspassavam
passavam[…].
[ Nós
. s ficávamos
ficá s ono muro,
o os olhos trincando
trincando as sombras
as sombras femea- “sabedes”: sabeis.
femea 3.1
meninas. Nosso futebol era ali,
a na mesa de de
matmatraquilhos
l do Bar Viriato.
do Bar Viriato.
[…] Era […]
al que
Era ali
vibra- A. “troika” e
que
vamvibra
as nossas
as nossasmultidões
multidõesquando
qua oa apequena
p u bo bola edemadei a escorrecaía
madeira escorrecaía no
no buraco
buraco dada “tranche”:
baliza.
baliza economia/política
B. “mega-Terra”:
MiaCout
Mia Couto, “Odia
, “O dia em
q que
f zifuzilaram o guarda-redes
ar m guarda-redes da minha
da minha equipa” ciência/ astronomia
equipa”, inCron , Lisboa,
cand , Lisboa
Cronicand Caminho,2006.
Caminho, C. “femeameninas"
o 2006. e "escorrecaía": literatura
3.1 Faça o levantamento dos neologismos em cada texto, indicando a área em 3.2
A. "troika": entidade
que aqui são usados. externa; "tranche":
prestação
3.2 Indique uma palavra ou expressão com significado equivalente ao dos B. "mega-Terra": Terra gigante
vocábulos que destacou nos textos A. e B.. 3.3 “femeameninas”: fêmea
e menina(s); “escorrecaía”:
3.3 Decomponha os neologismos do texto C., indicando as palavras que os escorregava e caía.
originaram.
109
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia atentamente o seguinte trecho da obra em análise, no qual os Judeus


casamentei- ros dão novas a Inês da sua busca por um pretendente discreto.
cavalheiro
Aqui entram os Judeus casamenteiros, cha- mados,
um Latão, e outro Vidal e DIZ Latão:
Lat. Ou de cá!
425 Inês Quem está lá?
Vid. Nome del Deu, aqui somos! Lat. Não

sabeis quão longe fomos! Vid. Corremos


a iramá.
Este e eu.
430 Lat. Eu, e este...
Vid. Pola lama e polo pó, que era
pera haver dó,
com chuiva, sol e Nordeste. Foi a
coisa de maneira,
435 tal friura e tal canseira, que trago
as tripas maçadas. Assi me fadem
boas fadas que me saltou
caganeira!
Pera vossa mercê ver
440 o que nos encomendou
Lat. O que nos encomendou será
se hoiver de ser.
Todo este mundo é fadiga… Vós
dixestes, filha amiga,
445 que vos buscássemos logo...
Vid. E logo pujemos fogo ...
1

Lat. Cala-te!

Vid. Não queres que diga? Não


sou eu também do jogo?
450 Lat. Não fui eu também contigo? Tu e eu
não somos eu?
Tu judeu e eu judeu,
não somos massa dum trigo?
Vid. Si somos. Juro al Deu!

455 Lat. Leixa-me falar.

Vid. Já calo.
Senhora, há já três dias…
logo nos apressámos Lat. Falas-lhe tu ou eu falo? Ora
1

2
diz o ditado dize o que dizias:
3
Há um músico João de
460 que foste, que fomos, que ias
Badajoz na corte de D. João
III buscá-lo, esgaravatá-lo…
4
escapou-se-nos da mão
Vid. Vós, amor, quereis marido mui
5
músico espanhol ao serviço
da corte portuguesa discreto, e de viola?
6
que anda sempre ocupado Lat. Esta moça não é tola,
7
e se preza de ser um 465 que quer casar per sentido…
Vid. Judeu, queres-me
leixar?
Lat. Leixo, não quero
falar.
Vid. Buscamo-lo...

Lat. Demo
foi logo!
470 Crede que o vosso
rogo vencerá o Tejo
o mar.
Eu cuido que falo e
calo... Calo eu agora
ou não?
475 Ou falo se vem à mão?
Não digas que não te falo.
Inês Jesu! Guarde-me ora Deos!
Não falará um de vós?
Já queria saber isso...
Mãe Que siso, Inês, que siso
480 tens debaixo desses véos...
Inês Diz o exemplo da velha:
«o que não haveis de
comer leixai-o a outrem
mexer.»
Mãe Eu não sei quem
t'aconselha...
485 Inês Enfim, que novas trazeis?
Vid. O marido que
quereis, de viola e
dessa sorte,
não no há senão na corte
que cá não no achareis.
490 Falámos a
Badajoz3,
músico, discreto, solteiro.
Este fora o verdadeiro,
mas soltou-se-nos da noz. 4
Fomos a Vilhacastim5
495 e falou-nos em latim:
– «Vinde cá daqui a ũa
hora, E trazei-me essa
senhora.»
Inês Tudo é nada, enfim?

Vid. Esperai, aguardai ora!


500 Soubemos dum escudeiro
de feição d'atafoneiro6
que virá logo essora,
que fala... e com’ora
fala! Estrugirá esta
505 sala.
E tange... e com’ora tange!
Alcança quanto abrange,
e se preza bem da gala.7
Farsa de Inês Pereira

Vem o Escudeiro, com seu Moço, que Escudeiro [falando para o Criado]
lhe trAZ ũa viola, e DIZ, falando só:
535 Olha cá, Fernando, eu
Se esta senhora é tal vou ver a com que hei-de
como os judeus ma gabaram, casar. Avisa-te que hás-
510 certo os anjos a de estar sem barrete
pintaram, e não pode onde eu estou.
ser i al. Moço (Como a Rei! Corpo de mi!
10

Diz que os olhos com que 540 Mui bem vai isso assi...)
via eram de Santa Luzia, Esc. E se cuspir, pola
cabelos, da Madanela... ventura, põe-lhe o pé e
515 Se ela fosse donzela, faz mesura.
tudo essoutro Moço (Ainda eu isso não vi!)
passaria…8
E se me vires mentir,
Esc. PROF E S SOR
Moça de vila será ela
545 gabando-me de privado,11
com sinalzinho postiço,
está tu dissimulado, Educação Literária
e sarnosa no toutiço, 14.2; 14.5; 14.9
ou sai-te lá fora a
520 como burra de Castela.
rir. Isto te aviso
Eu, assi como chegar, 1. Os judeus
daqui, faze-o por desempenham a função de
cumpre-me bem atentar casamenteiros e
amor de mi.
se é garrida, se aparentam ser desonestos
550 Moço Porém, senhor, digo eu e astutos, pois pretendem
honesta, porque o convencer Inês e a Mãe
que mau calçado é o
milhor da festa da
meu pera estas vistas dificuldade da busca realizada
525 é achar siso e calar. para encontrar um marido
assi.
para a jovem.
Mãe [falando para Inês] Esc.Que farei, que o sapateiro 2. Os judeus
exageram na descrição que
não tem solas, nem tem fazem da busca, fazendo
Se este escudeiro há-de
pele? crer que o caminho
vir e é homem de percorrido foi longo (v.
555 Moço Çapatos me daria ele, 427), que sofreram as
discrição, hás-te de pôr
se me vós désseis dinheiro... agruras das variações
em feição, meteorológicas
Esc. Eu o haverei agora. (vv. 431-433) e que essa
e falar pouco e não rir.
busca foi minuciosa (vv. 460-
E mais, Inês, não muito E mais, calças te prometo.
530 461). Por outro lado,
olhar, e muito chão o Moço (Homem que não tem nem exageram também

menear,9 preto12,
560 casa muito na má hora.)
por que te julguem por muda, as qualidades
para influenciardoInês
pretendente,
para que
porque a moça 8
o sentido destes versos parece ser “fosse ela esta o aceite (vv. 499-507).
sesuda é ũa perla donzela (virgem) e o resto não teria importância”; 3. Antes de conhecer
pera amar.
9
mostrar- Inês, o Escudeiro parece
-se modesta e humilde nos gestos; 10 interjeição cético, pois duvida das
qualidades de noiva, mas
que significa espanto e irritação; 11 de ser
mostra-se cauteloso
íntimo do rei; 12 moeda de cobre. com a forma
de agir no encontro. Durante
1. Apresente três traços caracterizadores dos judeus que contribuam para a répli- cas do Moço.
carica- tura destas personagens.
5. Indique, explicitando
2. Destaque os versos em que se hiperbolizam as dificuldades da busca efetuada o seu sentido, o
pe- los dois casamenteiros. recurso expressivo
presente na expressão
3. Trace o retrato do Escudeiro, nos dois momentos, atendendo ao seu monólogo “Homem que não tem
e ao diálogo com o Moço. nem preto” (v. 559).
BLOCO INFORMATIVO – p. 284

4. Refira a intencionalidade do autor com os versos parentéticos presentes nas


11
1
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
o diálogo, revela o seu caráter dissimulado quando adverte
Caracterização
o Moço paradas
nãopersonagens | Relações
o corrigir nem mostrarentre personagens
admiração se o |vir
Representação do quotidiano
mentir ou fazer-se | Dimensão
passar por aquilo satírica
que não é.
4. Os versos parentéticos refletem o pensamento do Moço e pretendem criticar/ denunciar o
comportamento do Escudeiro, quer quanto aos seus modos quer no que se refere ao facto de este
tentar aparentar ser rico.
5. Metonímia. Significando “preto” apenas moeda de cobre, o Moço usa a expressão para se
referir à falta de dinheiro e de bens materiais por parte do Escudeiro.

11
2
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia, de forma dialogada e expressiva, o excerto textual em que o Escudeiro se


apresenta a Inês e esta o recebe como marido.

Chega o Escudeiro onde está Inês Pereira, e alevantam-se todos, e


faZEM suas mesuras, e DIZ o Escudeiro: Moço, que estás lá
olhando?
Moço Que manda Vossa Mercê?
Antes que mais diga 600 Esc. Que venhas cá.
agora, Deus vos salve, Moço Pera quê?
fresca rosa, e vos dê por Esc. Pera fazeres o que
minha esposa, mando!
por mulher e por senhora. Moço Logo vou.
565 Que bem vejo (O diabo me tomou:
nesse ar, nesse despejo, 605 tirar-me de João Montês
mui graciosa donzela, por servir um tavanês3,
que vós sois, minha alma, mor doudo que Deos
criou!)
aquela que eu busco e que
Esc. Fui despedir um rapaz
desejo.
por tomar este
570 Obrou bem a Natureza 610 ladrão, que valia
em vos dar tal Perpinhão.
condição que amais a Moço!
discrição muito mais Moço Que vos praz?
que a riqueza. Esc. A viola.
575 Bem parece Moço (Oh como ficará tola,
que a discrição merece 615 se não fosse casar
gozar vossa fermosura, ante c’o mais çáfio4
que é tal que, de bargante
ventura, outra tal não que coma pão e cebola!)
s’acontece.1
Ei-la aqui bem
Senhora, eu me contento temperada, não tendes
580 receber-vos como estais: que temperar.
625 Esc. E quando queres partir?
se vós vos não 620 Esc. Faria bem de ta quebrar
Moço Ante que venha o inverno
contentais, o vosso
porque vós não dais
contentamento
governo pera vos ninguém
pode falecer, nô mais.2
PROFE S SOR servir.
Lat. (Como fala!
Educação Literária 585 Vid. Mas ela como se cala!
14.1; 14.2; 14.3; 14.5 Não dormes tu que te farte?
Esc.
Tem atento o ouvido...
630 Moço No chão, e o telhado por manta...
Este há-de ser seu
E çarra-se-m’a garganta
marido, segundo a coisa
1
não há beleza como a
com fome.
s'abala).
vossa Esc. Isso tem arte...5
2
o vosso contentamento
Esc. Eu não tenho mais de Moço Vós sempre zombais assi.
é a única qualidade que
pode faltar-vos 590 meu, somente ser 635 Esc. Oh que boas vozes tem
3
estouvado comprador esta viola aqui!
4
rude; bronco; vadio do Marichal, meu senhor, Leixa-me casar a
5
isso arranja-se
e são escudeiro seu. mi, depois eu te farei
Sei bem ler, bem.
Mãe Agora vos digo eu
640 que Inês está no paraíso!
Inês Que tendes de ver c’o
isso? Todo o mal há-de
ser meu. Podeis topar um
Mãe Quanta doudice! rabugento,
Inês Como é seca a desmazelado, baboso,
645 velhice! Leixai-me 680 descancarrado,8 brigoso,
ouvir e folgar, medroso, carapatento.
que não me hei-de Este escudeiro, aosadas,9
contentar de casar com onde se derem pancadas,
parvoíce. ele as há-de levar
685 boas, senão apanhar.
Pode ser maior
Nele tendes boas fadas.
riqueza que um
homem avisado?
Mãe Quero rir com toda a
650 Mãe Muitas vezes, mal
mágua destes teus
pecado,6
casamenteiros! Nunca vi
é milhor boa simpreza.
Lat. Ora oivi, e oivireis. 690 judeus ferreiros aturar
Escudeiro, cantareis tão bem a frágoa.10
Não te é milhor, mal por
algũa boa cantadela.
mal,
655 Namorai esta donzela
Inês, um bom oficial,11
e esta cantiga direis:
que te ganhe nessa praça,
Canta o Judeu 695 que é um escravo de
graça, e casarás com
Canas do amor, canas
teu igual?
canas do amor.
Polo longo de um rio Lat. Senhora, perdei cuidado:
660 canaval vi florido, o que há-de ser, há-de
canas do amor. ser; e ninguém pode
tolher
Canta o Escudeiro o romance de «Mal o que está determinado.
me quieren en Castilla», e DIZ Vidal: 700 Vid. Assi diz Rabi Zarão.
Mãe Inês, guar’-te de rascão!12
Vid.Latão, já o sono é Escudeiro queres tu?!
comigo. Como oivo Inês Jesu, nome de Jesu!
cantar guaiado,7 que não Quão fora sois de feição!13
vai esfandagado...
665 Lat. Esse é o demo qu’eu digo!
705 Já minha mãe adevinha...14
Viste cantar dona Sol: Houvestes por vaidade
Pelo mar vai a vela casar à vossa vontade?
vela vai pelo mar? Eu quero casar à minha.
Mãe Casa, filha, muit’embora.
Filha Inês, assi vivais 710 Esc. Dai-me essa mão senhora.
670 que tomeis esse Inês Senhor, de mui boa
senhor escudeiro mente.
cantador Esc. Per palavras de presente
e caçador de vos recebo desd’agora.
pardais, sabedor,
revolvedor, falador, Nome de Deos, assi
gracejador
675 afoitado pola mão,
e sabe de gavião...
Tomai-o por meu 6
infelizmente; 7 cantar nostálgico ou lamentoso;
amor. 8
descarado; 9 interjeição que significa admiração;
10
desempenharem bem as suas funções; 11
artífice; 12 vadio; 13 sois tão pouco razoável; 14 já
minha mãe se põe a adivinhar; a fazer agouros.
como responde a Inês “Ó esposa não
faleis, / que casar é cativeiro” (vv. 741- Inês Eu, aqui diante Deos,
742). Faz-se uma pequena festa na qual
participam alguns amigos. Findo o 720 Inês Pereira, recebo a vós, Brás
casamento, da Mata, sem demanda como a
os noivos ficam sozinhos,
Santa Igreja manda
Lat. Juro al Deu! Aí somos nós!

Os Judeus ambos
15
os judeus felicitam Inês
Alça manim, dona, ò dono, ha.
pelo seu casamento
16
Sê bem-vinda, Luzia 725 Arrea espeçulá.15 Bento o
17
outra ocasião Deu de Jacob,
fórmula de despedida bento o Deu que a Faraó
18

19
depressa; cedo
espantou e espantará.
Bento o Deu de Abraão
PROFE S SOR
730 benta a terra de Canão. Para
Escrita bem sejais casados!
11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4; Dai-nos cá senhos ducados.
13.1
Mãe Amenhã vol-os darão.

Proposta de síntese: Pois assi é, bem será


1. 735 que não passe isto assi.
a. Na réplica inicial,
o Escudeiro mostra-se muito Eu quero chegar ali chamar
galante, tecendo vários meus amigos cá, e cantarão de
elogios a Inês: compara-a
a uma rosa e chama- terreiro.
lhe “graciosa Esc. Oh! quem me fora solteiro!
donzela”,
afirmando que casará com ela 740 Inês Já vós vos arrependeis?
de imediato. Enuncia,
Esc. Ó esposa não faleis, que
de seguida, as suas
próprias características e casar é cativeiro.
os seus dons (saber ler,
tanger viola…). Aqui vem a Mãe com certas moças e
b. Perante o Moço, mancebos pera fAZERem a festa, e DIZ ũa delas,
mostra-se arrogante e,
durante este diálogo, per nome LUZIA:
confirma-se, de novo, a
sua pobreza e a sua Inês por teu bem te seja!
fanfarronice.
Oh! que esposo e que alegria!
c.É também neste ponto
que a Mãe se mostra 745 Inês Venhas embora, Luzia,16
pouco convencida das e cedo t’eu assi veja.
qualidades do noivo de
Inês e questiona Mãe Ora vai tu ali, Inês,
o trabalho dos judeus. e bailareis três por
Estes, por sua vez, são
também críticos três.
relativamente ao caráter Fer. Tu connosco, Luzia,
e atributos de Brás da
Mata. Apesar de tudo, 750 aqui, e a desposada
mesmo contra a vontade ali,
da Mãe,
Inês e o Escudeiro decidem ora vede qual direis.
casar-se.
d. O Escudeiro revela
mudanças de comportamento,
pois mostra desagrado
quando a Mãe prepara uma
festa para comemorar a
união e no modo ríspido
Cantam todos a cantiga que en el alma;
se segue: sola va y gritos dava.
M E, acabando de cantar e bailar,
al DIZ Fernando:
fer
760 Ora, senhores honrados,
id
ficai com vossa
a
mercê,
va
e nosso Senhor vos dê
la
com que vivais
ga
765 descansados Isto foi assi

agora,
a
mas melhor será
en
outr’hora.17
a
Perdoai pelo presente:
m
foi pouco e de boa mente.
or
Com vossa mercê, Senhora...18
ad
a, Luz. Ficai com Deos, desposados,
so 770 com prazer e com saúde,
la va y e sempre Ele vos ajude
gritos com que sejais bem
dava. 755 logrados.
A Mãe Ficai com Deos, filha
las minha, não virei cá tão
orillas de 775 asinha.19
un rio la A minha benção hajais.
garça Esta casa em que ficais
tenia el vos dou, e vou-me à
nido; casinha.
ballester Senhor filho e senhor
o la ha meu, pois que já Inês é
herido 780 vossa, vossa mulher e
esposa,
encomendo-vo-la eu.
E, pois que des que
nasceo a outrem não
conheceo, senão a vós,
785 por senhor, que lhe
tenhais muito amor,
que amado sejais no céo.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

ESCRITA
depois de terem sido 1. Sintetize o conteúdo deste excerto, num texto correto e coerente, contendo
abençoados pela Mãe, que
vai viver para outra casa. entre 150 e 200 palavras, contemplando os seguintes aspetos:
(176 palavras) a. réplica inicial do Escudeiro; c. comentários dos judeus e da Mãe;
b. diálogo entre o Escudeiro e o Moço; d. mudanças no comportamento do Escudeiro.
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o
Vieir a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia agora o excerto relativo à vida de casada de Inês


Pereira.
Pode ser maior
Ida a Mãe, fica Inês Pereira e o Escudeiro. E senta-
aviso, maior
-se Inês Pereira a lavrar, e canta esta cantiga:
descrição e siso
que guardar eu meu tisouro?
Si no os huviera mirado
Não sois vós, mulher, meu
ouro?
no penara, 825 Que mal faço em guardar isso?
pero tampoco os mirara
Vós não haveis de mandar
O Escudeiro, vendo cantar a Inês Pereira, em casa somente um
mui agastado lhe DIZ: pelo. Se eu disser: – isto é
novelo – havei-lo de
790 Vós cantais, Inês confirmar.
Pereira? Em vodas 830 E mais quando eu vier
m'andáveis vós? de fora, haveis de
Juro ao Corpo de Deos tremer; e cousa que
que esta seja a vós digais não vos há-
derradeira! Se vos eu de valer mais que
vejo cantar, aquilo que eu quiser.
795 eu vos farei assoviar…
[para o criado]
Inês Bofé , senhor meu
1

marido, se vós disso 835 Moço, às Partes


sois servido, bem o d'Além3 me vou fazer
posso eu escusar. cavaleiro.
Esc. Mas é bem que o escuseis, Moço (Se vós tivésseis
800 e outras cousas que não dinheiro. não seria
digo! Inês Porque bradais vós senão bem...)
comigo? Esc. Será bem que vos Esc. Tu hás-de ficar aqui.

caleis. 840 Olha, por amor de


E mais, sereis avisada mi, o que faz tua
que não me respondais nada, senhora:
805 em que2 ponha fogo a tudo, porque o fechá-la-ás sempre de fora.
homem sesudo traz a mulher [para Inês]
sopeada.
Moço Vós,
Com lavrai, ficaivós
o que me per i.
leixais
Vós não haveis de falar 845 não comerei eu
com homem, nem mulher que Esc. galinhas... Vai-te tu per
810 seja nem somente ir à igreja essas vinhas, que diabo
não vos quero eu Moço queres mais?
leixar. já vos preguei Olhai, olhai! Como rima!
as janelas, 850 Esc.
4
E depois de ida a
por que vos não ponhais nelas. vendima?
Apanha desse rabisco.5
Estareis aqui encerrada Moço Pesar hora de São Pisco!
815 nesta casa, tão fechada Convidarei minha prima...
como freira d'Oudivelas.
E o rabisco acabado,
Inês Que pecado foi o meu? ir-me-ei espojar às
eiras?
Farsa de Inês Pereira

1
exclamação que pode significar ‘na verdade’; 2 mesmo que;
3
Marrocos; 4 (por antífrase ) que disparate!; 5 restos da vindima.

115
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o
VCaracterização
ieir a das personagens | Relações entre personagens E sempre ouvi dizer
que homem que isto fizer
855 Esc. Vai-te per essas figueiras, nunca mata drago em vale,
e farta-te, desmazelado! 890 nem mouro que chamem Ale: e
Moço Assi? assi deve de ser.

Esc. Pois que 6


os rendimentos (em sentido irónico); 7
cruel, desapiedado;
cuidavas? E depois 8
sede forte; 9 devoção.
virão as favas.
860 Conheces túbaras de terra?
Moço I-vos vós, embora, à guerra,
que eu vos guardarei
oitavas6...

Ido o Escudeiro, DIZ o Moço:

Senhora, o que ele


mandou não posso
menos fazer.
865 Inês Pois que te dá de

comer, faze o que


t’encomendou.
Moço Vós fartai-vos de
lavrar, eu me vou
desenfadar com essas
moças lá fora.
870 Vós perdoai-me, senhora,
porque vos hei-de
fechar.

Aqui fica Inês Pereira só, fechada, lavrando e can-


tando esta cantiga:

Quem bem tem e mal escolhe


por mal que lhe venha não s'anoje.

Renego da discrição,
875 comendo ò demo o aviso,
que sempre cuidei que
nisso estava a boa
condição.
Cuidei que fossem cavaleiros,
fidalgos e escudeiros,
880 não cheos de
desvarios, e em suas
casas macios, e na
guerra lastimeiros7.

Vede que cavalarias,


vede que já mouros
mata
885 quem sua mulher mal
trata sem lhe dar de paz
um dia!
11
6
Farsa de Inês Pereira
E isto que quer dizer?
«E não vos maravilheis
Juro em todo meu de cousa que o mundo
sentido que se faça,
solteira me vejo, 925 que sempre nos
assi como eu embaraça
desejo, com cousas. Sabei que
895 que eu saiba escolher indo
vosso marido fugindo
marido, a boa fé, sem
da batalha pera a vila,
mal engano, pacífico
a mea légua de Arzila,
todo ano,
e que ande a meu 930 o matou um mouro
Moço pastor».
mandar. Havia
Oh meu amo e meu
m'eu de vingar
senhor!
900 deste mal e deste dano!

Entra o Moço com ũa carta de ArZILA,


e DIZ:

Esta carta vem


d’Além, creo que é
de meu senhor.
Inês Mostrai cá, meu
guarda-mor, veremos
o que i vem.

Lê o sobrescrito.

905 «À mui prezada


senhora Inês Pereira
da Grã,
a senhora minha irmã».
De meu irmão... Venha
embora!
Moço Vosso irmão está em Arzila?
910 Apostarei que i vem
nova de meu senhor
também.
Inês Já ele partio de Tavila?
Moço Há três meses que é
passado.
Inês Aqui virá logo recado
915 se lhe vai bem, ou que faz.
Moço Bem pequena é a carta
assás!
Inês Carta de homem avisado…

Lê Inês Pereira a carta, a qual DIZ:

«Muito honrada irmã,


esforçai o coração8
920 e tomai por devação9
de querer o que Deus
quer.»
11
7
Inês Dai-me vós cá essa Guardar de cavaleirão,
chave, e i buscar vossa barbudo, repetenado10,
vida. que em figura de
Moço Oh que triste despedida!
avisado é malino e
935 Inês Mas que nova tão suave!
sotrancão11.
Desatado é o nó. 945 Agora quero
Se eu por ele ponho tomar, pera boa
dó, o diabo me vida gozar,
arrebente! Pera mim um muito manso marido.
era valente, Não no quero já sabido,
940 e matou-o um mouro pois tão caro há-de
só! custar.

10
manhoso; 11
hipócrita.

1. Complete o esquema seguinte, considerando o excerto lido.

Comportamento do Escudeiro e de Inês durante o casamento:

A. O Escudeiro mostra-se B. Inês não percebe a


razão do
“encarceramento”, mas

Após a partida do Escudeiro para o Norte de África,

PROFE S SOR
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7
C. Inês é vigiada pelo . Inês cumpre as indicações do
seu marido. Contudo,
1.
. A. arrogante e
mesquinho, desprezando o
papel de Inês enquanto
mulher; tranca as janelas
e impõe-lhe regras
de comportamento. Manifesta
a intenção de se fazer
D. A chegada de uma carta anuncia a morte do Escudeiro, quando cavaleiro no Norte de
África.
. B. aceita as regras
impostas e não manifesta
intenções de se livrar do
casamento.
C. Moço. […]
escrupulosamente […]
mostra-se agastada com a
situação e tece
E. A morte do Escudeiro origina .
considerações sobre o
modelo de marido que
agora deseja.
D. fugia
cobardemente do
campo de batalha.
E. a libertação de Inês.
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a

LEITUR A

Se no passado o papel da mulher no casamento era sobretudo passivo, nos tempos


mais recentes, a situação alterou-se, uma vez que o sexo feminino tem também
outras prioridades, nomeadamente a carreira profissional.

Leia atentamente o texto, no qual se problematiza a temática do casamento, e


res- ponda às questões apresentadas.

A verdade das relações


Por Júlia Serrão

Nada ficou como antes depois de


as mulheres terem conquistado o
mercado de trabalho, da invenção do
casamen- to por amor e de o universo
feminino ter
5 passado a reivindicar o desejo e o

prazer sexual. A partir destes


acontecimentos, a dinâmica das
relações amorosas mudou e o tipo de
relacionamento entre homem e
mulher, no casamento, ficou mais equi-
10 librado – extingue-se a fórmula que

fun- cionou durante séculos, onde eles Casal de velhos, estátua exposta em Vigeland Park
tinham o poder, mandavam, e elas and Museum, Oslo, Noruega.
obedeciam. […] A dinâmica de
relacionamento está in- timamente
ligada às motivações do amor
15 e estas continuam a ser múltiplas e complexas, apesar de o casamento assentar

no novo paradigma do respeito mútuo entre as duas pessoas. […].


“O amor é muita coisa diferente para pessoas diferentes”, observa Rita Duarte,
psicote- rapeuta e mediadora familiar. […]
Para a psicoterapeuta, a grande diferença entre as uniões atuais e as de há 30 ou 40
20 anos “tem a ver essencialmente com a capacidade com que uma pessoa se desliga da

outra. […]” Não existem os constrangimentos que existiam antigamente, pelo que o
fim de uma relação passou por vezes a ser muito banal. “As pessoas não aceitam
numa relação as suas divergências nem o facto de, em alguns momentos, a mesma
pessoa que desencadeia nelas os sentimentos mais intensos e positivos as levar
também a sentir emoções muito contrárias
25 ao amor, como a repulsa. Ficam muito aflitas com isto que sentem e começam a criar

ava- liações negativas do outro, quando o problema é apenas de comunicação entre


os dois”, diz.
Antigamente também não havia negociação possível. Mas o fim das relações era
menos precipitado, independentemente de ser desejável. Alguns terapeutas dizem
que se passou mesmo de um extremo ao outro: de aguentar tudo, até que a morte
nos separe, ao pôr fim
30 à relação ao primeiro conflito. E explicam, como Augusto Cury, em Mulheres

Inteligentes Relações Saudáveis (Pergaminho): “Não há casais perfeitos, a não ser que
estejam separados ou a morar em continentes diferentes, portanto, se duas pessoas
11
8
moram debaixo do mes- mo teto, é impossível não terem áreas de atrito.”

11
9
PROFE S SOR

Leitura
7.2; 7.4; 8.1; 9.1
utro neste aspeto, é muito importante.
ro está lá para elas, ao nível da compreensão emocional. Os homens já não representam “a segurança, nomeadamente material.
1. A Já não são
mudança de a coluna ver
atitude
estão desta economia no passado nunca passava pela mulher, era o homem que a fazia, que ditava as regras também neste perante
campo. o
E delas não se esper
casamento,
nomeadamente no
mens têm medo disso, assegura Rita Duarte. “Sentem-se mesmo ameaçados com o poder que elas têm.” que se refere ao
prazer;
a independência económica
e o casamento por amor.
2. As relações mais
distantes temporalmente
aconteciam por
conveniência, duravam
mais, uma vez que a
relutância em pôr fim ao
relacionamento era maior,
em virtude da falta de
independência económica
da mulher e da submissão
à vontade do homem, o
que não acontece no
presente. No entanto,
atualmente,
o fim das relações também
1. Indique as causas das mudanças comportamentais patentes nos é mais rápido do que o
desejável (apesar do
relacionamentos amorosos contemporâneos. casamento por amor), em
virtude da falta de paciência
2. Caracterize, comparando, as uniões mais recentes e as que “funcionaram” e de comunicação.
durante séculos. 3. A afirmação evidencia
a autoridade e a
supremacia do homem na
3. Explique o sentido da afirmação “Antigamente também não havia negociação relação matrimonial,
pos- sível” (l. 27). remetendo também para
uma sociedade
4. Associe as seguintes afirmações do texto a factos do casamento de Inês predominantemente
patriarcal.
Pereira com o Escudeiro.
4.
a. “Antigamente também não havia negociação possível.” (l. 27) a. A arrogância do
Escudeiro e o modo como
b. “Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho.” (l. 34) “aniquila” a vontade de
Inês.
c. “De qualquer forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela b. Inês casa com o
mu- lher, era o homem que a fazia, que ditava as regras também neste Escudeiro, procurando
obter assim
campo.” (ll. 40-42) a emancipação e a ascensão
social.
d. “E delas não se esperava que dessem opinião, nem que manifestassem c.e d. Novamente a
qualquer necessidade.” (ll. 42-43) atitude do Escudeiro,
nomeadamente na seguinte
réplica “Vós não haveis de
GR A M Á T I C A mandar / em casa
somente um pelo. / Se eu
disser: – isto é novelo – / havei-
1. Atente nos seguintes excertos. -lo de confirmar.” (vv. 826-829)

a. “Nada ficou como antes depois de as mulheres terem conquistado o Gramática


mercado de trabalho”. (ll. 1-3) 18.1; 18.4

b. “… extingue-se a fórmula que funcionou durante séculos”. (ll. 10-11)


1.1
c. “se duas pessoas moram debaixo do mesmo teto, é impossível não terem a. Oração
áreas de atrito.” (ll. 32-33) subordinada
(adverbial) temporal
1.1 Classifique a oração subordinada presente em cada uma das frases. b. Oração subordinada
(adjetiva) relativa (restritiva)
1.2 Substitua o conector “se” na frase c. por “caso” e reescreva a frase, c.Oração subordinada
procedendo às alterações necessárias. (adverbial)
condicional
1.3 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte “Nada” na frase a. 1.2 Caso duas pessoas
Farsa de Inês Pereira
morem debaixo do mesmo teto, …
1.3 Sujeito (simples)

BLOCO INFORMATIVO –
pp. 277, 271-273
PG ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a

ESCRITA

APRECIAÇÃO CRÍTICA
Um texto de apreciação crítica centra-se na apreciação de um filme, de um livro,
de uma peça de teatro, de uma obra de arte, etc. Para tal, expõe informação
significa- tiva, encadeada logicamente, sobre o objeto visado e associa-lhe um
comentário críti- co, orientado numa perspetiva positiva ou negativa. Apresenta,
ainda, uma descrição sucinta e um comentário crítico sobre o tema/objeto em
causa.

Leia atentamente o texto e atente na sua estrutura destacada na margem.

TÍTULO
com recurso
à adjetivação para Um jantar envenenado
captar a atenção.

INTRODUÇÃO
Um romance que veio
sucinta e clara, da Holanda e que enerva
mas que desafia o
leitor.
o leitor até ao desespero.
O Jantar é um dos livros mais bem su-
5 cedidos da literatura holandesa
recente. Trezentas páginas sobre um
encontro entre dois casais para
mascararem as más ações dos filhos.
DESENVOLVIMENTO Baseado num facto verídico, o
onde se faz a assassinato de uma sem-abrigo em
descrição resumida
do objeto
10 Barcelona, o autor decide
(a obra literária) e se escalpelizar1 as relações conjugais,
apresenta o conteúdo
como argumento para familiares, sociais e fazer uma
valorizar o romance avaliação psiquiátrica do estado da
em apreciação,
recorrendo a um civilização em que vivemos. Vai daí,
vocabulário Herman Koch expõe todos os podres
valorativo, como se
percebe pelo verbo
15 dos casais, as verdadeiras
“escalpelizar” ou pela personalidades do quarteto; a
expressão “Tudo sem
grandes contemplações”, manipulação dos filhos, bem como
no qual é visível o dos empregados e clientes do
juízo de valor do autor
do artigo.
restaurante. Tudo sem grandes
contem-
plações. Conforme os casais vão sendo expostos, o leitor vai-se vendo ao espelho,
20 reconhece-se, revê amigos e conhecidos, pensa no modo como educa os filhos

e, lá para o final, já admite que gostaria de aplicar um bom golpe de judo e


deixar atordoado quem o irrita.
Este é um livro em que os sentimentos dos leitores são manipulados tal é o
modo como Herman Koch utiliza as personagens e, sem o poder evitar, cria
uma interação
CONCLUSÃO 25 com os leitores. Tanto que a dado momento o leitor tem todo o direito a
que confirma o sucesso
do romance, como é sentir-se ultrajado e irritado por causa daquilo que vai acontecendo no
comprovado pela sua romance. Pode sentir vontade de rasgar as páginas, mas não o pode fazer
tradução em várias
porque ficaria sem saber o final.
Herman Koch nem sempre foi escritor. Antes, representou vários papéis em
séries de televisão e escreveu contos, até que o sucesso deste romance o
tornou famoso 30 e foi traduzido em mais de duas dezenas de línguas.
línguas. João Céu e Silva, in DN (Artes), edição online de 21 de julho de 2015
1
aprofundar. (consultado em fevereiro de 2017).

120
Farsa de Inês Pereira

COMO ESCREVER UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA


• Apresentar um conteúdo informativo, mas incluir apreciações pessoais.
• Recorrer à argumentação e respetiva exemplificação para fundamentar a
perspetiva e persuadir o público leitor.
• Utilizar uma linguagem valorativa (negativa ou positiva), mas clara.
• Organizar o texto numa estrutura tripartida.

Introdução:
• apresentação sucinta e valorativa do objeto, com recurso a linguagem
expressiva de- nunciadora da posição pessoal.

Desenvolvimento:
• informações sobre o objeto, seu conteúdo, características (físicas ou outras);
• comentário crítico valorativo;
• apresentação dos argumentos que sustentam a opinião crítica.

Conclusão:
• síntese da informação mais
importante.
P R O F E S S OR

Escrita
ESCREVER UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA
1. Observe atentamente o se- 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4;
13.1
guinte quadro de um pintor
francês, representante do
1.
movimento impressionista. O quadro O Almoço no Barco,
de Pierre-Auguste Renoir, é
um belo exemplo da pintura
impressionista.
Este quadro apresenta-
nos, em pinceladas ricas em
cores vivas, um almoço
alegre, sugerido também
pelas
expressões das
personagens. É um
ambiente burguês,
característico do século
XIX, como se confirma pelo
Pierre-Auguste Renoir, O Almoço no Barco, óleo sobre vestuário e pela presença de
tela, 1881, the Phillips collection, um mimoso cãozinho.
Washington, USA. Os alimentos dispersos,
entre os quais se
destacam, no centro da
tela, quatro garrafas de um
bom vinho, certamente
Elabore um texto de apreciação crítica, com 100 a 140 palavras, baseando-se na textual.
ima-
gem e nos tópicos abaixo elencados: c. Utilização de
vocabulário
a. Estrutura tripartida do texto: adequado e
• Introdução: descrição sucinta do objeto (autor, obra, movimento diversificado.
estético).
• Desenvolvimento:
– ambiente retratado e sua relação com a época de produção da obra;
– adequação do título ao conteúdo representado;
– cores e elementos dominantes;
– aspetos que suscitaram o seu interesse e respetiva justificação.
• Conclusão: retoma e reforço da posição pessoal, assumida na introdução.
b. Redação clara e objetiva, respeitando os mecanismos de coesão e coerência
francês, contribuem também convívio
para a criação desse ambiente descontraído. É, talvez, domingo, daí o passeio da pequena
de barco e a presença burguesia de
de uma paisagem natural, oitocentos.
em harmonia com o elemento humano. É de realçar (138 palavras)
a descontração dos dois jovens de braços nus, traduzida também na sua postura.
Efetivamente, Renoir soube captar, com brancos e ocres consistentes, os joviais momentos de

121
v Processos irregulares de formação de palavras
APRENDER

O léxico de uma língua refere-se ao conjunto de palavras, ou unidades de sentido,


que dela fazem parte. Por vezes, torna-se necessário criar novas palavras, o que pode
ser alcançado através de processos regulares (derivação e composição) ou através de
processos irregulares, como os que a seguir se apresentam.

Designação Definição Exemplo

Criação de um vocábulo • A FENPROF é uma


através da junção de letras ou entidade sindical que
Acrónimo de sílabas de um grupo de representa
palavras, relativas à mesma os professores.
realidade. Pronuncia-se como • Sabes elucidar-me
uma só palavra. sobre o que são os PALOP?

• O meu irmão é mais novo


Criação de uma palavra a partir do que eu; ainda estuda na
da redução de um grupo de EB1 da minha rua.
Sigla
palavras às suas iniciais. Cada
letra pronuncia-se • A GNR tomou
separadamente. conta da ocorrência.

Processo de transferência • Se retirarmos os


de uma palavra de uma lobos do seu habitat,
Empréstimo língua para outra, com ou podem tornar-se
sem adaptações às violentos.
características formais da • Ouvi dizer que o
língua recetora. chocolate é um inibidor do
stresse.

• Julgo que o meu


Criação de novos sentidos para
computador tem uma
Extensão uma palavra já existente na
avaria, uma vez que se
semântica língua que, contudo, não perde
abrem diversas janelas
o(s) significado(s) anterior(es).
sempre que tento
navegar. Será um
problema do rato?

Criação de um termo que • A Joana colocou uma


se caracteriza pela eliminação foto nova no Facebook.
Truncação
de parte da palavra de que
deriva. • Nunca tive nega a
Português.

• Muitos internautas
comunicam exclusivamente
Criação de uma palavra a através das redes sociais.
Amálgama partir da junção de partes
de duas • A informática
ou mais palavras. continua a ser uma área na
qual abundam as
possibilidades de emprego.

122
APLICAR

1. Leia os seguintes trechos.

A.

Samuel Silva, 26 de março de 2014

Na maioria dos Estados-membros na UE, há mais jovens a viverem com os pais


agora do que em 2007, ano a que se reportava a anterior publicação da European
Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions [...].
Visão, edição online, 3 de junho de 2014 (consultado em junho de 2014).

B.

As línguas mais faladas na rede


No início do século, metade dos utilizadores da Internet comunicavam em Inglês.
Agora, a rede é cada vez mais poliglota […].
Visão, edição n.o 1126, 2 de outubro de 2014, p. 20.

C.
PROF E S SOR
Os problemas que, no último mês, têm afetado os tribunais, por via das falhas na
plata- forma informática Citius, vão agravar a falta de confiança na Justiça, prevê o
Gramática
presidente do Supremo Tribunal de Justiça. 19.6; 19.7
Público, edição online, 3 de outubro de 2014 (consultado em outubro de 2014).
1.1 e 1.2

D.
Processo
Palavra
A Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN (que, em inglês, é NATO: North de formação
Atlantic Treaty Organization), é uma instituição militar criada durante o contexto inicial da UE Sigla
Guerra Fria […]. Internet Empréstimo

mundoeducacao.com/geografia/otan.htm (consultado em fevereiro de 2017, adaptado). RedeExtensão semântica

Plataforma
Extensão semântica
1.1 Retire, dos textos, os vocábulos que configuram processos irregulares de
formação de palavras. Informática Amálgama

1.2 Associe cada um dos vocábulos ao respetivo processo de formação. OTAN/NATO Acrónimo

2. Atente nas seguintes frases 2.1 Todas se formaram por


extensão semântica.
a. O pai abriu o Portal do Cidadão e acedeu à informação que pretendia.
2.2
b. A mãe comprou uma máscara hidratante para as extensões da minha irmã. a. O pai fechou o portal
que dá para o quintal.
c. A bateria do portátil acabou, mas ainda consegui salvar o documento. b. Em minha casa há
várias extensões
2.1 Identifique o processo de formação das palavras sublinhadas. telefónicas;
A extensão deste campo de
2.2 Construa uma frase para cada palavra sublinhada, exemplificativa do seu jogos é invulgar.
signifi- cado de base. c.O médico salvou a jovem
de morte certa.

123
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Morto o Escudeiro, Inês está livre para novos amores.

Leia a passagem textual em que Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento
com Pero Marques e tome conhecimento do que sucede de seguida.

Aqui vem Lianor VAZ, e finge Inês Pereira estar seja. Quero tomar por esposo
chorando, e DIZ Lianor VAZ: quem se tenha por ditoso
980 de cada vez que me veja. Por
950 Como estais, Inês Pereira?
Lia.
usar de siso mero2, asno que
Inês Muito triste, Lianor Vaz.
me leve quero, e não cavalo
Lia. Que fareis ao que Deos
folão3.
faz? Inês Casei por minha
Antes lebre que leão,
canseira. Lia. Se ficastes
985 antes lavrador que Nero.
prenhe basta.
955 Inês Bem quisera eu dele casta,

mas não quis minha


ventura.
Lia. Filha, não tomeis
tristura, que a morte a
todos gasta.
O que havedes de fazer?...
960 Casade-vos, filha minha.
Inês Jesu, Jesu! Tão
asinha? Isso me
haveis de dizer?
Quem perdeo um tal
marido, tão discreto e tão
sabido,
965 e tão amigo de minha vida?
Lia. Dai isso por
esquecido, e buscai
outra guarida.
Pero Marques tem, que
herdou, fazenda de mil
cruzados.
970 Mas vós quereis avisados...
Inês Não! Já esse tempo
passou. Sobre quantos
mestres são experiência
dá lição.
Lia. Pois tendes esse saber,
975 querei ora a quem vos
quer, dai ò demo a
opinião.
Vai Lianor VAZ por Pero Marques, e fica Inês
Pereira só, DIZENDO:
Andar1! Pero Marques
124
Vem Lianor VAZ Com Pero Marques e DIZ
Lianor VAZ:
No mais
cerimónias agora;
abraçai Inês
Pereira
por mulher e por parceira.
Pero Há homem empacho, má
990 ora,4 quant’a dizer abraçar…
Depois que a eu usar
entonces poderá ser.
Inês (Não lhe quero mais
saber, já me quero
contentar...)
995 Lia. Ora dai-me essa mão
cá. Sabeis as
palavras, si?
Pero Ensinaram-mas a mi,
perém esquecem-me já...
Lia. Ora dizei como digo.
1000 Pero E tendes vós aqui trigo
pera nos jeitar por cima?5
Lia. Inda é cedo... Como rima!6
Pero Soma, vós casais comigo,

e eu com vosco,
1005 pardelhas!7 Não compre
aqui mais falar.
E quando vos eu negar
que me cortem as orelhas.
Lia. Vou-me, ficai-vos embora.
Inês Marido, sairei eu agora,
1010 que há muito que não saí?
Pero Si, mulher, saí-vos i,
qu’eu me irei pera fora.
Inês Marido, não digo isso.

Pero Pois que dizeis vós mulher?


1015 Inês Ir folgar onde eu quiser.
Pero I onde quiserdes ir,
vinde quando quiserdes vir
estai quando quiserdes estar.
Com que podeis vós folgar
1020 qu’eu não deva consentir?
1
adiante; 2 para proceder com todo o juízo; 3 fogoso; 4 sente-
se um homem atrapalhado, que diabo!; 5 alusão a um antigo
costume de lançar grãos de trigo sobre os noivos; 6 que
disparate; 7 (o mesmo que pardeos) interjeição “por Deus!”.
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

Vem um Ermitão a pedir esmola, que em moço lhe


InêsOlhai cá, marido amigo,
quis bem, e DIZ:
1065 eu tenho por devação
dar esmola a um
Señores, por caridad
ermitão. E não vades
dad limosna8 al
vós comigo.
dolorido, ermitaño de
Pero I-vos embora ,
9
Cupido
mulher, não tenho lá
para siempre en soledad.
que fazer.
1025 Pues su siervo soy
nacido, por exemplo,
[Inês fala a sós com o Ermitão]
me meti en su santo
templo ermitaño en pobre
ermita, fabricada de 1070 Inês Tomai a esmola, padre, lá,
infinita pois que Deos vos trouxe
1030 tristeza en que contemplo, aqui.
Erm. Sea por amor de mi

adonde rezo mis vuesa buena caridad.


horas y mis dias, y
mis años, Deo gratias, mi señora!
mis servicios y mis daños, 1075 La limosna mata el
donde tu, mi alma, lloras, pecado, pero vos tenéis
1035 el fin de tantos engaños. cuidado
Y acabando de matarme cada hora.
las horas, todas llorando, Deveis saber,
tomo las cuentas una y para merced me hazer
una, con que tomó a la 1080 que por vos soy
Fortuna ermitaño. Y aun más os
1040 cuenta del mal en que ando, desengaño: que
esperanças de os ver me
hizieron vestir tal paño.
sin esperar paga alguna.
8
esmola; 9 em boa hora.
Y ansi sin
esperanza de cobrar
lo merecido,
sirvo alli mis dias Cupido
1045 con tanto amor sin
mudanza, que soy su
santo escogido.
Ó señores,
los que bien os va
d'amores, dad limosna al
sin holgura,
1050 que habita en sierra
escura, uno de los
amadores
que tuvo menos ventura.

Y rogaré al Dios de mi,


en quien mis sentidos traigo,
1055 que recibais mejor
pago de lo que yo
recebi
Farsa de Inês Pereira
en esta vida que hago.
Y rezaré
con gran devoción y fe,
1060 que Dios os libre
d’engaño, que esso me
hizo hermitaño, y pera
siempre seré,
pues para siempre es mi daño.

125
GP ai ld Vr ei cAe n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

Inês Jesu, Jesu! Manas Pero Que quereis, minha


1085 minhas! Sois vós aquele Inês mulher? Que houvésseis
que um dia em casa de por prazer de irmos lá
minha tia em romaria.
me mandastes camarinhas,
e quando aprendia a lavrar 1115 Pero Seja logo, sem deter.
mandáveis-me tanta cousinha? Inês Este caminho é comprido...
1090 Eu era ainda Inesinha, Contai ũa estória, marido.
não vos queria falar. Pero Bofá12 que me praz,
mulher.
InêsSabeis vós o
Erm.Señora, tengoos servido, que eu queria?
y vos a mi despreciado;
hazed que el tiempo
pasado
1095 no se cuente por perdido.
Inês Padre, mui bem vos
entendo… Ò demo vos
encomendo, que bem
sabeis vós pedir! Eu
determino lá d'ir
1100 à ermida, Deos querendo.

Erm. E quando?
Inês I-vos, meu
santo, que eu irei um dia
destes muito cedo, muito
prestes.
1105 Erm. Señora yo me voy en tanto.

[Inês torna para Pero Marques]

Inês Em tudo é boa a concrusão.


Marido, aquele
ermitão é um anjinho
de Deos...
Pero Corregê-vos esses véos,
10

1110 e ponde-vos em feição.11


126
Farsa de Inês Pereira

Inês Passemos primeiro o rio. Põe-se Inês Pereira às costas


1120 Descalçai-vos. do marido, e diz:
Pero E pois como?
Marido, assi me levade.
Inês E levar-me-eis no ombro, não me corte a
1125 Pero Ides à vossa vontade?
madre13 o frio.
Inês Como estar no paraíso!

Pero Muito folgo eu com isso.

Inês Esperade, ora


10
esperade!
componde esses véus; 11 para parecer bonita; 12 interjeição (na verdade); 13
Olhai14 que
útero; pôr.
1130 lousas aquelas,
pera poer14 as talhas nelas!
Pero Quereis que as leve?

Inês Si.
Ua aqui e outra aqui.
Oh como folgo com elas!

1135 Cantemos, marido, quereis?


Pero Eu não saberei entoar…
Inês Pois eu hei só de
cantar E vós me
respondereis cada vez
que eu acabar:

127
PROFE S SOR
Canta Inês Pereira: Inês Bem sabedes vós marido
quanto vos quero. Educação Literária
14.5; 14.7; 14.11; 15.1
Marido cuco me levades. Sempre fostes percebido 1.
E mais duas lousas. pera cervo. a. vv. 950-976
b. Preparada para casar
Pero Pois assi se fAZEM as cousas. 1155 Agora vos tomou o demo novamente, seja com quem for,
com duas lousas. pois aprendeu a lição.
c. vv. 977-985
Inês Bem sabedes vós, marido, Pero Pois assi se fAZEM as cousas. d. Astuta, reconhecendo no
1145 quanto vos amo: Ermitão um antigo
namorado e vendo nele a
sempre fostes percebido15 E assi se vão, e se acaba o dito possibilidade de gozar a
pera gamo.16 Auto. liberdade de que havia
estado privada durante
o casamento com o Escudeiro.
Carregado ides, noss'amo, e. Lisonjeiro, mas mantendo o
com duas lousas. caráter rude que o caracteriza.
15
sempre tivestes inclinação; 16 o cervo, ou f. vv. 986-1008
1150 Pero Pois assi se fAZEM as gamo, é como o cuco: um símbolo do g. Imbecil, tonto, carrega a
cousas. marido traído. mulher às costas sem
perceber que esta está a
pensar traí-lo.
2.
1. Complete o seguinte quadro procedendo à caracterização das personagens Inês
a. satírica (crítica)
Pereira e Pero Marques. b. cerimónia
c.questionar
d. linguagem (caráter)
Momento presente Versos e. Inês
Personagem Caracterização
no excerto exemplificativos f.significado
Dissimulada, falsamente g. cómica
No diálogo com 3. O argumento
Inês pesarosa com a morte a.
Lianor Vaz ilustra, metaforicamente, o
do escudeiro.
percurso de Inês Pereira, que
No monólogo Inês b. c. compreendeu que o marido
que mais favorece os seus
No diálogo com intentos será o boçal, que
Inês d. vv. 1070-1105
o ermitão não impede a satisfação
dos seus desejos (o asno),
Durante a cerimónia e
Pero Marques e. f.
de casamento não o cortês, que se tornou
um obstáculo à sua forma
Imbecil, disposto
de ser (o cavalo). Perversa,
Quando fica a sós a satisfazer todos Inês acaba por tornar o
Pero Marques vv. 1009-1121
com Inês os desejos de Inês, argumento literalmente
sem perceber a real, obrigando o marido a
astúcia dela. assumir o papel de asno,
carregando-a.
Quando
Pero Marques g. vv. 1122-1157
cumpre o
desejo de Inês

2. Um dos artifícios a que Gil Vicente recorre para a caracterização das


personagens, nomeadamente, Pero Marques, é o cómico.
Preencha o texto seguinte, selecionando, entre as palavras abaixo propostas, as
ade- quadas, de modo a confirmar o recurso a este artifício e a(s) sua(s)
intencionalida- de(s).
cómica cerimónia significado questionar
afirmar Inês satírica linguagem noivo

O cómico está ao serviço de uma intenção a. e moralizadora. Pero Marques


comporta-se de modo cómico durante a b. do casamento,
demonstrando a sua preocupação em seguir todos os rituais, ao c.
se não há trigo para festejar o
casamento; o cómico de d. aparece nas suas réplicas e nas de e. ,
uma vez que Pero não percebe o f. das palavras ditas pela esposa (vv.
1009-
-1013). Por outro lado, a visão do lavrador carregando Inês às costas, para
atravessar o rio, é também uma situação g. .

3. Relacione o final da farsa com o argumento “mais quero asno que me leve que
cavalo que me derrube”, explorando os seus significados.
E X P R E S S ÃO OR AL
P R O F E S SOR
Observe atentamente a página de banda desenhada que se segue, retirada de uma
Oralidade
5.1; 5.3; 6.1; 6.2; 15.7
edição da Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia.

1. A banda
desenhada
representa o
momento
do diálogo entre mãe e
filha, após esta ter
rejeitado Pero Marques.
2. O ilustrador
consegue destacar a
preguiça e o caráter
sonhador de Inês
associando-a sempre
à
cama. O olhar da jovem
nas primeira e terceira
vinhetas é também
revelador desse lado
fantasioso.

Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia, Lisboa, Bertrand Editora, 2006, p. 34.

1. Contextualize o conteúdo desta prancha de BD relativamente à progressão da


nar- rativa e à estrutura da obra.

2. Demonstre como, ao longo da prancha, o ilustrador realça o caráter indolente


e fantasioso de Inês.
LEITUR A
P R O F E S S OR
Leia atentamente o seguinte texto de apreciação
Leitura
crítica.
7.1; 7.4; 7.6
1.

Um homem, uma mulher e um tribunal O filme israelita Gett:


O Processo de Viviane Amsalem
que trata de um divórcio difícil
para a mulher envolvida.
2. “Um espantoso
Depois da sua apresentação na Mostra de Cinema e Cultura Ju- retrato íntimo de um
divórcio que acabou por se
daica, Gett: O Processo de Viviane Amsalem chega às salas… transformar no centro de
Um espantoso retrato íntimo de um divórcio que acabou por um debate
na sociedade israelita.”
se transformar no centro de um debate na sociedade israelita. (ll. 2-4); “Há qualquer coisa
de simultaneamente
enigmático e deslumbrante
5 Há qualquer coisa de simultaneamente quando um filme consegue
enigmático e deslumbrante quando um colocar em cena uma
particularíssima situação (…)
fil- me consegue colocar em cena uma gerando um efeito universal
particu- laríssima situação, enraizada num e universalista”. (ll. 5-11)
universo cultural específico,
simbolicamente muito
10 distante do nosso, gerando um efeito

univer- sal e universalista. Gett: O


Processo de Vivia- ne Amsalem é um
desses filmes — o relato minucioso,
minuciosamente obsessivo, de
um caso de divórcio em Israel, capaz de desencadear ondas de choque em qualquer espe-
15 tador de sensibilidade realmente disponível […].

A situação envolve um invulgar dramatismo. Tudo se passa em torno de


Viviane Amsalem e do marido Elisha. De facto, eles já não vivem juntos há três
anos — e durante esse período, a mulher tem insistido para que o marido lhe
conceda o divórcio. E é disso mesmo que se trata: sem a concessão do homem, o
divórcio não pode ser decretado, uma
20 vez que a tradição (legislativa e religiosa) confere ao marido o poder único de

aceitar ou não a consumação do divórcio.


Há outra maneira de descrever esta dinâmica: tudo se concentra no espaço do
Tribunal Rabínico, a ponto de Gett ser um filme que vive a partir de uma radical
teatralidade. […]
A realização dos irmãos Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz — sendo também Ronit
25 Elkabetz a notável intérprete de Viviane — sabe estar atenta às mais delicadas

manifesta- ções das emoções humanas, ao mesmo tempo expondo o modo como
um "banal" divór- cio pode envolver o peso de toda uma imensa herança histórica.
Por alguma razão, Gett: O Processo de Viviane Amsalem se transformou num
verdadeiro fenómeno de debate no interior da sociedade israelita.

in http://www.rtp.pt/cinemax/?t=um-homem-uma-mulher-e-um-tribunal.rtp&article=12041&vi-
sual=2&layout=35&tm=52 (adaptado, consultado em maio de 2017).

1. Identifique o objeto comentado e apreciado.

2. Destaque duas expressões reveladoras da subjetividade (opinião) do autor do


ar- tigo sobre o filme que funcionem como argumentos.
PAR A S A B E R Farsa de Inês Pereira

RELAÇÕES ENTRE AS
PERSONAGENS E SUA
IMPORTÂNCIA EM CADA FASE
DA VIDA DE
2.
INÊS 3.
Inês viúva e casada
Inês casada com o Escudeiro
com Pero Marques
1. Apresen
tação
Inês Solteira
Preguiçosa;
As suas intenções são
voluntariosa; “Farsa
anseiade Maliciosa e adúltera;
Pereira: Fases goradas; é oprimida pelo
pela libertação através desrespeita o marido
Inês da Escudeiro; sofredora.
do casamento. ingénuo.
vida de

Inês”

131
Amiga e
Desaprova o casamento
conselheira; alerta
com o Escudeiro, mas
Mãe a filha para os
aceita-o; desaparece de
problemas que terá
cena no final da cerimónia
se casar com um
do casamento.
homem “discreto”.

Apresenta a Inês um
Lianor Vaz bom marido, que
esta, contudo,
rejeita.

Honesto, mas rude.


Embora puro de
Pero Marques
sentimentos, é tosco,
rústico; é rejeitado
por Inês.

Apresentam a Inês
Judeus um homem, Brás da
Mata, que
corresponde
ao perfil desejado.

Homem de duplo Intolerante e repressor; vai


Escudeiro caráter; antes de combater no Norte de África,
casar, mostra-se onde morre cobardemente.
adulador e simpático.

É sinal exterior
de aparente
bem- Fiel mandatário do amo, mantém
Moço -estar financeiro Inês presa, enquanto este
do Escudeiro; combate
desempenha uma no Norte de África.
função crítica e
irónica relativamente
ao seu amo.
Ermitão

130
Reapresenta Pero Marques a Inês,
e esta aceita-o, em virtude do
fracasso do seu casamento
anterior.

Mantém a simplicidade; meio


tonto, acede a cumprir todos os
desejos da esposa, incluindo
carregá-la até junto do Ermitão.

Representa os falsos religiosos;


será o objeto do adultério de
Inês.

131
REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO E DIMENSÃO SATÍRICA

Quem é criticado e porquê?


PROFE S SOR
-se de um retrato da sociedade do século XVI, que aparece ilustrada através de personagens que representam tipos (estratos) sociais, surgem:
que, cansadas da vida rotineira e vazia, ansiavam a libertação através do casamento;
e aconselha a filha a casar com um homem de posses; Apresentação
eiros fanfarrões e pobretanas, mas com atributos de homem da corte; Galeria de imagens
ores e pastores com a sua ingenuidade e a sua simplicidade;
Apresentação
eiras no seu "ofício" de arranjar casamentos;
Síntese da Unidade
gananciosos e falsos;
través do padre que “atacou” Lianor Vaz e do Ermitão com quem Inês se vai encontrar no final).

Quem é Inês Pereira?

olteira que pretende ascender socialmente através do casamento. Para além disso, recusa o perfil de mulher doméstica da época, representado pela sua mãe. Mas…
nagens, cujo comportamento corresponde, de forma geral, ao das classes sociais ou tipos que representam, Inês apresenta alguma evolução;
ação da monótona vida doméstica através do casamento, casando com o escudeiro Brás da Mata, o que veio a revelar-se desastroso para si e para a sua ambição;
a lição e, mudando a opinião e a postura iniciais, aceita o casamento com Pero Marques;
em feminina quem “toma as rédeas” da vida conjugal;
génuo do marido, que não se apercebe da traição.

SÁTIRA ATRAVÉS DO CÓMICO

Como “a rir se castigam os costumes”, Gil Vicente recorre a artifícios, tais como a
ironia e o cómico, que contribuem para acentuar alguns traços das personagens a
criticar.

Tipos de cómico

De caráter Aparece sobretudo nas personagens Pero Marques e Escudeiro.

Verifica-se, entre outros momentos, quando Pero Marques;


• se apresenta a Inês e não sabe para que serve uma cadeira;
De situação
• tenta encontrar no barrete as peras que trazia de presente a
Inês;
• transporta às costas a mulher e duas lousas, na cena final.

De linguagem Visível na linguagem dos judeus casamenteiros ou na


linguagem de Pero Marques.
PAR A V E R I F I C A R Farsa de Inês Pereira

Após a leitura da Farsa de Inês Pereira, verifique o grau de conhecimento


que possui sobre a obra.

1. Selecione a opção mais correta ou mais completa.


1.1 No primeiro quadro, surge Inês Pereira que, enquanto a Mãe está na missa,
[A] se encontra secretamente com um aldeão, seu namorado.
[B] se lamenta de forma agastada da sua sorte e da sua vida de solteira.
[C] recebe Lianor Vaz, rogando-lhe que lhe arranje um marido.
[D] sai de casa para bailar com as amigas numa romaria.
1.2 Quando a Mãe chega da missa, esta
[A] lisonjeia Inês ao ver o bordado que ela terminou.
[B] recrimina a filha, por ela ter saído com as amigas.
[C] aconselha Inês a ser mais diligente, se quer arranjar marido.
[D] zanga-se por a jovem ter recebido em casa um pretendente.
1.3 Lianor Vaz, a alcoviteira, entra em casa de Inês,
[A] assegurando que um clérigo se tentou aproveitar dela.
[B] bendizendo os frades por serem bons conselheiros e muito humanos.
[C] lamentando-se do caminho percorrido para dar notícias de um
pretendente a Inês.
[D] apresentando-se muito cansada, uma vez que acabara de lavrar a sua vinha.
1.4 O motivo da visita de Lianor Vaz é
[A] trazer informações sobre um escudeiro que quer encontrar-se com Inês.
[B] trazer uma carta de Pero Marques, que pretende casar-se com a jovem.
[C] saber a opinião de Inês sobre o Escudeiro seu pretendente.
[D] concertar com a mãe da jovem os pormenores sobre o casamento da filha.
1.5 Após a leitura da carta de Pero Marques, Inês
[A] decide aceitar a proposta de casamento.
[B] recusa a proposta de casamento do pretendente.
[C] interroga Lianor Vaz sobre os bens e a fortuna do aldeão.
[D] aceita encontrar-se com o aldeão, mesmo não gostando do teor da carta.
1.6 A visita e o comportamento do filho do lavrador provocam em Inês
[A] agrado e simpatia, uma vez que se tratava de um jovem bem parecido.
[B] troça e desconsideração, já que o lavrador era desajeitado e bastante saloio.
[C] pena e amizade, pois, embora sem modos, o jovem era muito discreto.
[D] alegria e afeição, dado tratar-se de um jovem rico e bonito, ideal para marido.
1.7 O marido ideal, para Inês, deve
[A] ter educação e finura, saber tanger viola, ainda que seja pobre.
[B] possuir as qualidades de um homem da corte e ser rico.
[C] possuir bens e ser um bom cavaleiro.
[D] ser pobre, mas honrado.

133
PROF E S SOR
1.8 O homem que a jovem pretende e aceita para marido
[A] é galego, chama-se Brás da Mata e foi-lhe apresentado por duas
amigas. Teste interativo
“Gil Vicente”
[B] foi-lhe apresentado por dois judeus casamenteiros e chama-se
Vilhacastim. Educação Literária
[C] foi encontrado pelos judeus casamenteiros e é o escudeiro Brás da 14.3; 14.4 ; 14.7
Mata. 1.1 [B]
1.2 [C]
[D] é o fidalgo e músico de nome Badajoz. 1.3 [A]
1.4 [B]
2. Complete o texto, selecionando a opção que lhe permite recuperar o 1.5 [D]
1.6 [B]
conteúdo informativo da vida de Inês durante o casamento com Brás da Mata. 1.7 [A]
1.8 [C]
Antes do casamento, o Escudeiro fanfarrão, que tinha a. (muitos/poucos) ha-
veres, tece inúmeros b. (reparos/elogios) à donzela. A mãe de Inês, perspicaz,
2.
faz considerações c. (agradáveis/negativas) sobre o pretendente. A boda acaba a. poucos
por se realizar na presença de alguns amigos. b. elogios
c. negativas
Após o casamento, o d. (rude/simpático) marido encerra Inês em casa, d. rude
fechan- do todas as e. (janelas/arcas), antes de partir para o Norte de f. e. janelas
(África/ Portugal), para onde vai combater. f. África
g. irmão
Certo dia, a jovem recebe uma carta de seu g. (irmão/pai), anunciando h. cobarde
a morte do h. (esforçado/cobarde) escudeiro. A notícia deixa Inês muito i. aliviada
i. (entristecida/aliviada) com o desfecho do seu casamento. 3.
a. F –Recebe a
3. Após a morte do Escudeiro, segue-se uma nova fase na vida de visita de Lianor
Vaz.
Inês. Assinale as afirmações como verdadeiras ou falsas e corrija b. V
as falsas. c. F – Na presença de
Lianor Vaz somente.
a. Inês Pereira recebe a visita da Mãe e finge-se pesarosa com a morte de d. F – Rude e pacóvio.
Brás da Mata. e. F – Pero Marques
incentiva Inês Pereira a sair e
b. Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento com Pero Marques. a divertir-se.
f. F – Sugere um
c. O casamento realiza-se sem demoras perante a Mãe, Lianor Vaz, Fernando e encontro amoroso entre
Luzia. ambos.
g. V
d. Ao longo de toda a cerimónia, são feitas várias sugestões sobre o caráter
h. V
delicado e culto do abastado aldeão.
4.
e. Após a boda, a jovem confessa a Pero Marques que gostava de sair e folgar, a. Antes de casar,
Inês mostra-se muito
o que não é bem aceite pelo novo marido. exigente
f. Entretanto, um ermitão, antigo pretendente de Inês, visita-a e pede-lhe em relação aos
pretendentes, não
uma es- mola. aceitando Pero Marques
que, embora seja um
g. Perante o desejo da mulher, de ir em romaria à ermida onde está o santo lavrador abastado, não tem
ermitão, Pero Marques, marido dedicado, prontifica-se a levá-la, para que maneiras.
b. Durante o casamento
possa cumprir a sua devoção. com o Escudeiro, em
h. Ao longo do percurso entoam uma cantiga onde se refere a traição de que o virtude
do comportamento arrogante
lavra- dor está a ser alvo. e castrador deste, vê-se
obrigada a permanecer
trancada em casa, sem poder
4. Avalie o comportamento de Inês em cada uma das três fases da sua vida. ter contacto com o exterior.
c. Casada com Pero
a. Antes de casar. Marques, Inês mostra-se
b. Durante o casamento com o Escudeiro. altiva e traidora e, de certa
forma, vinga-se
c. Casada com Pero Marques. do sofrimento que lhe
fora causado pelo primeiro
marido, traindo o atual.
PAR
C O NAS O A RP E R TítuloFarsa de Inês Pereira
REL ICD U
AR
PR
OF E X P R E S SÃO OR AL
E S
SO
R

quando se dirige para o encontro adúltero com o ermitão.

Apresentaç
Educação literária 1.
ão
a. V
Galeria de b. F – Muitas liberdades de escrita.
imagens c.F – Todas as classes sociais.
Apresentaç d. F – Num episódio profano/ do quotidiano.
ão e. F – Pertencente ao povo.
f.V
Síntese da
g. F – Desleal, cobarde e egoísta.
Unidade
h. F – Inês é também personagem modelada, que apresenta evolução.
Teste i.V
interativo j. F – Que está dividido em quadros.
Farsa de Inês 2.
Pereira a. Escudeiro, Brás da Mata
b. Pero Marques
c.Inês Pereira
Expressão d. Mãe
oral e. Lianor Vaz
1. f.Judeus casamenteiros
Itens a g. Ermitão
consid h. Moço
erar
na
respos
ta:
–primeiro
casamento
de Inês
Pereira com o
escudeiro
(“cavalo” que
a derruba);
–v
id
a
d
e
c
a
s
a
d
a
e
n
cl
a
u
s
u
r
a
d
a
;
–segundo
casamento,
após morte do
escudeiro, com
Pero Marques
(“o asno” que a
leva), domínio
de Inês
Pereira;
–perversidade
da personagem
que obriga o
marido a
carregá-
-la às costas,
1. is e e Média e o Renasci- mento.
E quero n b. O dramaturgo adquiriu na corte uma
x asno t situação de prestígio que lhe permitiu
p que me e to- das as liberdades de escrita.
o leve
n que c. As peças de Gil Vicente criticam exclusivamente as
s
classes sociais mais baixas.
h cavalo i
a que me t d. A Farsa de Inês Pereira baseia-se num episódio
, derrub u religioso.
e” e o a e. A jovem, pertencente à nobreza, idealiza
e assunto - um casamento que lhe permite emanci-
m da s par-se.
Farsa e f. Pero Marques é subserviente, simplório e
d de Inês deselegante.
o Pereira n
i . g. O escudeiro é leal, valente e generoso.
u
s m h. Todas as personagens da farsa são estáticas e, por
isso, personagens-tipo.
EDUCAÇÃO
m p i. Os apartes proferidos pelos judeus
LITERÁRIA
i e casamenteiros e pelo Moço ajudam a
n r carac- terizar o Escudeiro.
1. Tendo
u í
em j. A Farsa de Inês Pereira é um texto dramático que
t o
conside está dividido em atos e cenas.
o d
ração o
s o
estudo 2. Associe cada uma das afirmações que se seguem a uma
,
de Gil personagem da obra.
Vicente d
a a. Representante dos fidalgos pelintras que
e da e
pretende obter vantagens económicas
Farsa
r através do casamento com Inês.
de Inês t
e b. Homem rude, simples, disposto a satisfazer todos os
Pereira r
l caprichos de Inês.
, a
a
indique n c. Jovem que pretende, através do casamento,
ç
se as s libertar-se da vida rotineira das mulhe- res
ã
afirmaç i do seu tempo.
o
ões que ç d. Mulher do povo, sensata, que aconselha
se ã Inês, mas, abdicando da sua autoridade,
e
seguem o deixa-a fazer as suas próprias escolhas.
n
são
t e. Mulher do povo que desempenha uma função
verdad e
r vulgar na época: a de arranjar marido para
eiras n
e as raparigas casadoiras.
ou t
falsas. r f. Personagens estereotipadas, interesseiras e
o
Corrija e astutas, que desempenham a função de
as medianeiros entre o Escudeiro e Inês.
p
falsas a g. Personagem que simboliza a liberdade
r
sem conquistada por Inês com o seu casamento
o
recorre I com Pero Marques.
v
r à d
é h. Personagem secundária que ajuda a
negativ a
r caracterizar o Escudeiro e provoca o cómico
a. d
b na peça.
i a. G
o i
l
“ v
M i
a c
134
A lm e id a G LIAR Farsa de Inês
P AR A
a rr et t
Pereira PROF E S SOR

A V A Leia o A
GRUPO I seguinte e
excerto, ã
S
transcri õ
to da F
d
Farsa a
de Inês a
Pereira.
Em caso
de
necessid
ade,
consulte
as notas
apresen
tadas.

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m n
i logo
b
é c de
a
m Inês
a que
d
a o antec
i e- de
r d
o i este
es da cumprir a tarefa. Diz, p
no entanto, o contrário, r
Mãe, de forma irónica, para e
funda mostrar a sua g
experiência e a sua u
menta autoridade. (Há também i
ndo a ironia na estrofe ç
respos seguinte). a
4. A penúltima fala e
ta reforça a caracterização ref
com de Inês como insensata e re
leviana, acentuando o seu ar
eleme a
objetivo de casar para
ntos poder mudar de vida su
(“assi a
textua ân
Deos me dê o paraíso”,
is. v. 30), achando que si
essa situação seria bem a
3. Transcr melhor que ficar em e
eva do casa a “lavrar”, tarefa m
que lhe desagrada. ca
texto sa
um 5. Esta
r.
personagem não tem
exempl nome próprio, pois é
o da uma personagem-tipo
ironia que representa todas
as mães.
empre É a voz da experiência, da
gue razão, aconselhando a
pela filha a seguir
o caminho que lhe parece o
Mãe e mais correto. Neste excerto,
expliq a Mãe pretende chamar a
ue-o. atenção de Inês para a sua

4. Explici
te o 135
sentid
o da
penúlti
ma
fala de
Inês.
5. Apres
ente
uma
razão
para o
facto
de Gil
Vicent
e não
ter
atribuí
do à
person
agem
da
Mãe
um
nome
própri
o,
justifi
cando
a sua
respos
ta
com
A lm ei da G LIAR Farsa de Inês Pereira
P A R A
a rr et t PROFE
GRUPO II
A V A S SO R
1. Atente nas
GRUPO seguintes frases.

II
Gram das mulheres do seu tempo.
ática Presa em casa pelo primeiro marido, acaba por se vingar no segundo casamento,
18.1; cometendo adultério, com um ermitão, o que também constitui crítica social aos membros
18.4; do clero, que não levavam a vida regrada que a sua vocação exigia.
17.5 Com Lianor Vaz e os dois judeus, Gil Vicente expõe uma situação social bastante frequente
na época: muitos casamentos eram arranjados por terceiros, profissionais
1. 1 casamenteiros, daí a presença da alcoviteira e dos dois judeus que desempenham
a. Modificador essa função.
b. Modificad Verificamos, assim, como esta farsa é um excelente testemunho duma época, em certos
or do nome aspetos, distante da nossa.
apositivo; (149 palavras)
complemento
indireto
c.Complemento
oblíquo
d. Complem
ento agente
da passiva
e. Complemento
indireto
f.Predicativo
do sujeito;
complemento
oblíquo
g. Modifica
dor de nome
restritivo
h. Predicado
1.2
[A] – [2]; [B] – [4];
[C] – [3];
[D] – [1]; [E] – [5];
[F] – [3]
2. Campo lexical
3. proposta
(casamento);
inicialmente,
embora

GRUPO III

Escrita
10.2; 11.2; 12.1;
12.2; 12.3;
12.4; 13.1

Proposta de
escrita:
A Farsa de Inês
Pereira retrata o
quotidiano de uma
jovem
do povo, mas
remediada, que
pretende
ascender
socialmente. De
um forma
divertida, mas
com objetivo
moral, Gil
Vicente relata-
nos os dois
casamentos de
Inês, que vê no
matrimónio a
possibilidade de
se libertar da
vida rotineira de
solteira, típica
a. A vida m estidas de um padre, quando se dirigia para casa de
pro que a Inês.
tag leva
oni e g. Inês Pereira acaba por casar com o escudeiro Brás da
sta a Mata, que lhe vai proporcionar uma vida muito infeliz.
sonh
Inê l
a h. Embora recuse inicialmente a proposta de casamento
s c
Per que com Pero Marques, Inês aca- ba por casar com ele.
só o o
eir 1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos
a mari v
sur do i constituintes sublinha- dos.
ge, ideal t 1.2 Classifique as orações presentes na coluna A, retiradas
nu a e das frases acima, assina- lando o número que lhes
m liber i
mo corresponde na coluna B.
tará. r
nól Coluna A Coluna B
ogo d. O a
ini prim , [A] “que lhe permita emancipar-se.” [1] Oração subordinada adverbial
cial eiro 2. Indique a relação semântica
temporal que se estabelece entre as
pret [B] “que só o marido ideal a libertará.”
,a q palavras “casamento”, “noivo”,
[2] Oração “noiva”, adjetiva
subordinada “cerimónia” e
ma ende [C] “que fora vítima das “alianças”.
u relativa restritiva
ldi nte investidas de um padre.”
zer de e [3]nome
3. Retire da frase h. um Oraçãocomum,
subordinada
um adjetiva
advérbio e uma conjunção.
a [D] “quando se dirigia para casa de relativa explicativa
Inês Inês.”
sua é- f [4] Oração subordinada substantiva
[E] “Embora recuse inicialmente a
G
vid lhe completiva R
a. o proposta de casamento com Pero
apre r Marques” U
[5] Oração subordinada adverbial
b. A sent a concessiva P
[F] “que lhe vai proporcionar uma
jov ado O
vida muito infeliz.”
em por
, Lian v
I
per or í
I
ten Vaz. t I
cen i
e. Pero
te m A FARSA é um género do modo dramático com
Marq
ao a
ues, características satíricas que, retratando o quotidiano,
pov
o pretende pôr em relevo problemas sociais.
o,
alde d Num texto expositivo, entre 120 a 150 palavras, comprove a
ide
ão, a
aliz veracidade da afirmação anterior, relacionando-a:
prop s
a
õe • com episódios do quotidiano da vida de Inês;
um
casa • com a função de Lianor Vaz e dos Judeus.
cas i
men
am n Dê uma estrutura tripartida ao seu texto (introdução, desenvolvimento,
to a
ent v conclusão).
Inês,
o
mas
qu
esta
e 136
recu
lhe
sa.
per
mit f. L
a i
em a
anc n
ipa o
r-
r
se.
c. Inê V
s
a
rev
z
olt
a-
se é
co
m u
a
MÓDULO

2
2. Luís de Camões, Rimas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Rimas
· A representação da amada
· A experiência amorosa e reflexão sobre o amor
· A representação da Natureza
· A reflexão sobre a vida pessoal
· O tema da mudança e do desconcerto
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um
tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Anúncio publicitário [Compreensão do Oral]
Gramática
· Subordinação
· Classes de palavras
· Funções sintáticas
· Referente
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
Gil Vic ent e
PARA CONTEXTUALIZAR

1304
1374 1521 1524/25 1536 1547 1553 1580 1595
Nascimento Data da Aclamação Data provável Publicação da Partida Embarque Data provável Publicação
de Francesco morte de do D. João do Grammatica de Luís de Luís da morte de póstuma de
Petrarca Francesco III como rei nascimento da Lingoagem de de Luís Vaz de Rimas, de Luís
(Arezzo, Petrarca de Portugal de Luís Vaz Portuguesa, por Camões Camões Camões Vaz de Camões
Itália) (Arquà, Itália) de Camões Fernão de para Ceuta para Goa (10 de
Oliveira junho)

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que


ocor- rem nesta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.

Humanismo, Classicismo e
Renascimento
Classicismo e Renascimento
Humanismo
• O Classicismo é o conjunto de princípios ou
• Dá-se o nome de Humanismo ao conjunto de de regras desenvolvido pelos artistas renascentistas que
conceções próprias dos humanistas, ou seja, daqueles procuram imi- tar os modelos da Antiguidade Clássica
intelectuais e ar- tistas que (greco-latinos) e os italianos quatrocentistas herdeiros
– exaltavam o Homem como ser pensante, dotado das conceções estéticas
5 de livre-arbítrio; Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais, História da Literatura em
Portugal, uma perspetiva didática. Época Medieval e época clássica, vol.
– fomentavam a investigação livre nos vários
1, Porto, Areal Editores, 2004, p. 111.
domí- nios da ciência;
– criticavam as tradições e as instituições, como
a Igreja, combatendo a Escolástica, que
consideravam
10 atrofiadora do desenvolvimento do espírito;
– preconizavam uma educação integral, do
corpo, da mente, do espírito – Mens sana in
corpore sano.
• Os humanistas e os homens do Renascimento
desenvol- veram a medicina e a anatomia e aprenderam
a conhecer
15 melhor o Universo.

• Os artistas criaram um corpo teórico relativo às


conce- ções artísticas, designado de Classicismo.

138
5 de Petrarca.
• Esses princípios são os seguintes:
– mimese: a necessidade de imitação
de modelos, neste caso greco-latinos e
italianos;
– intemporalidade do belo;
10 – obediência às regras próprias de cada
género literá- rio ou de cada modalidade;
– gosto pela perfeição;
– gosto pela clareza e simplicidade;
– ideia de equilíbrio;
15 – finalidade moral da literatura, devendo
a poesia simul- taneamente provocar prazer
espiritual no leitor e ser-lhe útil.
• O Renascimento, porque decorrente
do Humanismo, foi uma época
“antropocêntrica”, afastando-se das conceções
teocêntricas medievais, tornando-se o ser
humano a “medida
20 de todas as coisas”.

Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais,


História da Literatura em Portugal, uma perspetiva
didática. Época Medieval e época clássica, vol. 1,
Porto, Areal Editores, 2004, pp. 112-113.
PARA INICIAR

C O M P R E E N S Ã O DO OR PROFE S SOR
AL

Visualize e escute atentamente o excerto fílmico relativo à vida e obra de Luís


Vaz de Camões. Link
"Quem és tu,
Luís Vaz?"
1. Complete cada alínea da coluna A com a opção correta da coluna B.
Oralidade
1.1; 1.4
Coluna A Coluna B
1.
[A] As visitas de estado a Portugal [1] porque é do protocolo prestar [A] – [1]
começam todas no Mosteiro dos homenagem a Camões. [B] – [2]
[C] – [1]
Jerónimos, [2] porque o primeiro-ministro valoriza [D] – [1]
este monumento nacional. [E] – [2]
[F] – [2]
[B] Há poucos dados sobre a [G] – [1]
vida do poeta nacional, [1] porque muitos documentos [H] – [1]
[I] – [1]
desapareceram no mar. [J] – [2]
[2] logo, é necessário viajar no tempo
[C] Na época em que o poeta nasceu, até à sociedade quinhentista.

[1] a maior parte do planeta era português.


[2] o Brasil ainda não tinha sido descoberto.
[D] É provável que Luís de Camões
tenha nascido em Lisboa [1] e tenha conhecido bem os bairros da
cidade.
[2] mas tenha abandonado imediatamente
[E] O pai do poeta, Simão Vaz de a capital.
Camões, possível parente de
[1] casou com Ana de Sá, em Santarém.
Vasco da Gama,
[2] morreu ao serviço do rei de Portugal.
[F] Pela leitura parcial do soneto “O
dia em que nasci moura e [1] terá sido repleta de oportunidades e
alegrias.
pereça”, pode concluir-se que a
[2] terá sido extremamente conturbada.
vida de Camões
[1] cidade de origem romana.
[G] Há a possibilidade de Camões
[2] cidade de origem galega.
ter tido ascendentes de origem
galega em Chaves, [1] que o poeta tenha estado alojado.
[2] que o poeta tenha nascido.
[H] São muitos os lugares em [1] ser um homem instruído e muito culto.
Portugal em que se assume [2] escrever sobre o rio Mondego,
quando visitava o tio.
[I] A possibilidade de Camões ter
vivido em Coimbra justifica-se [1] que tinha uma profunda erudição,
pelo facto de o poeta sendo principalmente conhecido nas
casas nobres da Europa.
[2] que revelava um conhecimento
[J] Não há dúvida de que o príncipe
profundo da literatura clássica e dos
dos poetas portugueses era um
homens
homem
de letras italianos.
139
PARA DESENVOLVER
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

P R O F E S SOR INFORMAR
Leitura
7.1; 7.4; 8.1 Leia os seguintes tópicos e resolva a atividade proposta abaixo.
Educação Literária
14.8; 14.10; 16.1 Lírica tradicional e renascentista
[A] – [2]
Medida velha Medida nova
[B] – [4]
[C] – [1] • Poesia lírica tradicional ou poesia • Sá de Miranda introduz em Portugal
[D] – [3] em redondilha, existente nos a medida nova, ou seja, o decassílabo,
[E] – [6] cancioneiros peninsulares ao longo do formas fixas, como o soneto, e uma série
século XV e grande parte do século XVI. de subgéneros líricos, como a elegia ou a
• Medida que se mantém, écloga.
continuando • A introdução destas novidades
a ser usada pelos poetas do século “representava
XVI, em alternância com o verso o abraçar dos ideais do
decassilábico. humanismo, a redescoberta dos
Construído a partir de José Augusto Antigos, a cultura do
Cardoso Bernardes, "Medida velha", in Renascimento, em suma”.
Vítor Aguiar e Silva (coord.), Dicionário
Construído a partir de Maria Vitalina Leal
de Luís de Camões, Alfragide, Editorial
de Matos, "Sá de Miranda", in Vítor Aguiar e
Caminho, 2011, p. 579.
Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões,
• As composições poéticas Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 887-888.
denominadas redondilhas apresentam • Soneto: forma fixa constituída
versos de cinco sílabas métricas por catorze versos decassilábicos,
(redondilha menor ou pentassílabo) ou distribuídos em duas quadras e dois
sete sílabas métricas (redondilha maior tercetos. As duas primeiras apresentam
ou heptassílabo) e podem ter as rimas emparelhadas e interpoladas,
seguintes denominações: segundo o esquema abba/abba; os
– vilancete: com mote1 de dois ou três segundos apresentam maiores
versos (geralmente heptassílabos) e uma possibilidades combinatórias, destacando-se
glosa2 de uma ou duas estrofes os esquemas do tipo cde/cde e cdc/dcd.
1
estrofe curta introdutora (normalmente sétimas);
do assunto do poema • No soneto privilegia-se a expressão
– cantiga: com mote de quatro versos e lírica da
2
estrofe que se segue ao
mote e que desenvolve o
uma glosa de uma ou mais estrofes (de experiência vivencial de um emissor.
tema neste apresentado 8, 9 ou 10 versos); • Na produção sonetista
– esparsa: composta por uma única camoniana toma-se como tema
estrofe (de 8 a 10 versos); principal o Amor,
– trovas ou endechas: sem mote, com representado nas suas mais diversas
uma ou mais estrofes (quadras ou formas e manifestações.
oitavas). Elaborado a partir de Micaela
Ramon, "Sonetos", in vítor Aguiar e
Silva (coord.), Dicionário de Luís de
Camões, Alfragide,
Caminho, 2011, p. 905.

1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B, de forma a


comple- tar as afirmações de acordo com as informações fornecidas pelos
textos.

140
Coluna A Coluna B
[A] As formas poéticas da medida [1] por Sá de Miranda.
velha apresentam
[2] versos em redondilha maior e
[B] Apesar da introdução do verso menor.
decassilábico, os poetas de
Quinhentos continuaram [3] por duas quadras e dois tercetos,
[C] O soneto petrarquista foi introduzido em compostos por versos decassilábicos.
Portugal [4] a usar o verso tradicional.
[D] O soneto é uma forma fixa constituída [5] por um mote e glosas.

[E] No soneto, os tercetos apresentam [6] esquemas rimáticos variáveis.


[7] sempre o mesmo esquema rimático.

141
Rimas
A representação da amada

INFORMAR PROF E S SOR

Leitura
Leia os tópicos relativos à temática "a representação da amada" e resolva a 7.1; 7.4; 8.1
atividade proposta. Educação Literária
14.3; 14.4; 14.7; 15.1; 16.1

Petrarquismo em Camões: influência e originalidade a. F – A construção


do retrato feminino na lírica
camoniana baseia-se
também na tradição
Influência de Petrarca Originalidade de Camões
literária.
• b. V
Na lírica camoniana, a construção • Contrariamente às amadas
c.V
do retrato da mulher está associada à metafísicas, Camões pinta a jovem da d. F – Nos
ausência desse mesmo objeto amado, lírica tradicional, inserida num ambiente poemas de índole
ou seja, o sujeito poético descreve o petrarquista, Camões
concreto, referindo o vestuário (tipo e evidencia o retrato
que imagina e não o que vê (amadas cores), o brilho e cores do cabelo, a físico
metafísicas). e psicológico da mulher.
fita do cabelo, formando um desenho e. V
• Como o desejo não se realiza, porque gracioso, com cor, luz e movimento, como f.F – Camões viajou por
o objeto está ausente, a figura da amada se confirma em “Descalça vai para a vários continentes, onde
conheceu diferentes tipos
fica “pintada” no sofrimento do sujeito fonte” (ver página 144). de beleza feminina, que
poético, sendo a causa desse mesmo retrata na sua poesia.
• Quebrando os códigos do g. V
sofrimento.
petrarquismo, Camões pinta também a
• O retrato feminino idealizado beleza da mulher de tez (pele) negra,
(física e psicologicamente) é feito com que terá conhecido nas suas viagens
cores suaves: a pele muito clara, os olhos intercontinentais – “Aquela cativa”
claros, o cabelo louro, o “honesto riso” (ver página 146).
num rosto suavemente iluminado, breve
luz que dá cor ao amor.

Elaborado a partir de Helena Langrouva, “Camões e as artes”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 113.

1. Indique se as afirmações são verdadeiras ou falsas, procedendo à correção das


falsas.
a. A construção do retrato feminino na lírica camoniana baseia-se apenas
em pa- drões de beleza de influência petrarquista.
ebt.raOtor idealizado da mulher leva ao sofrimento do sujeito poético por
não poder alcançar o objeto do seu amor.
c. A mulher petrarquista é um ser belo e inatingível.
d. Nos poemas de índole petrarquista, Camões evidencia apenas o retrato
físico da mulher.
“eD. eEsmcalça vai para a fonte”, Camões afasta-se do modelo
petrarquista, pelo visualismo do retrato presente nas cores do
vestuário da jovem.
f. Camões viajou por vários continentes, mas essas viagens não
influenciaram a representação da mulher na sua poesia.
g. A originalidade da poesia de Camões revela-se na sua capacidade de
cantar diferentes tipos de beleza feminina.
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada

PROFE S SOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.8; Propõe-se o estudo das Rimas, de Luís de Camões, de acordo com as linhas
14.9; 14.10; 15.1; 16.1 temáticas. O primeiro tema em análise é a representação da amada.

1.1
a. “sobre as rosas Ondados fios d’ouro reluzente
estendidos”
b. Olhos Ondados fios d’ouro
c.Brilho do olhar
d. “perlas” reluzente, que agora da mão
e. Lábios bela recolhidos, agora sobre as
f.Cor viva dos lábios
1.2 Metáfora.
rosas estendidos, fazeis que sua
2.1 O sujeito poético beleza s’acrecente;
evidencia a serenidade, a
honestidade,
a delicadeza e a 5 olhos, que vos moveis tão
timidez da mulher docemente, em mil divinos raios
amada.
encendidos,
3. A composição tem duas
quadras e dois tercetos, se de cá me levais alma e
com versos decassilábicos sentidos, que fôra, se de vós não
(“On/da/
dos/fi/os/d’ou/ro/re/lu/ zen/ fôra ausente?
[te]”).

Honesto riso, que entre a mor fineza


10 de perlas e corais nasce e parece,
se n’alma em doces ecos não o ouvisse!

S’imaginando só tanta beleza


de si, em nova glória, a alma
s’esquece, que fará quando a vir? Ah!
quem a visse!
Luís de Camões, Rimas. Texto
estabelecido e prefaciado por Álvaro J.
da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
2005 [1994], p. 164.

1. Na descrição da mulher apresentada no poema, o sujeito poético associa a sua


beleza a elementos naturais.

1.1 Preencha o quadro, de forma a completar o retrato.

Significado da associação
Partes do corpo Elementos naturais entre as partes do corpo
e os elementos naturais
Cabelos Ouro (“fios d'ouro reluzente”) O louro e o brilho dos
cabelos
Faces a. Tom rosado das faces
b. “mil divinos raios encendidos” c.
Dentes d. Dentes brancos/perfeitos
e. "corais" f.

1.2 Identifique o recurso expressivo que permite estabelecer a relação entre a


beleza da mulher e os elementos naturais.

2. Além das características físicas realçadas no texto, o sujeito poético salienta


tam- bém traços psicológicos da mulher amada.
142
2.1 Refira dois desses traços, fundamentando a sua resposta com versos do poema.

3. Comprove que esta composição poética é formalmente um soneto.

143
EDUCAÇÃO LITERÁRIA P R O F E S SO R

Um mover d’olhos, brando e Áudio


piadoso
Um mover d’olhos, brando e piadoso, “Um mover d’olhos,
brando e piadoso”
sem ver de quê; um riso brando e
honesto, quási forçado; um doce e Educação Literária
humilde gesto1, de qualquer alegria 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.9; 16.2
duvidoso;
1. Trata-se de uma mulher
5 um despejo2 quieto e discreta, humilde, doce, pura
e calma.
vergonhoso; um repouso3
2.
gravíssimo e modesto; ũa pura a. psicológica
bondade, manifesto b. qualidades
c.celeste
indício da alma, limpo e gracioso; d. indefinido
e. retrato
3. Trata-se de uma
um encolhido ousar; ũa brandura;
antítese.
10 um medo sem ter culpa; um ar 4. O soneto pode
sereno; um longo e obediente dividir-se em dois
momentos: um primeiro, dos
sofrimento; versos 1 ao 11, no qual se
apresenta uma
enumeração das
esta foi a celeste fermosura características psicológicas
da minha Circe4, e o mágico veneno da mulher; um segundo, dos
versos 12 ao 14, que se
que pôde transformar meu pensamento. centra nos efeitos da
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro beleza feminina no sujeito
lírico.
J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 161.
5. No soneto
“Ondados fios d’ouro
reluzente”, o sujeito lírico
1
rosto; 2 desembaraço, ousadia; 3 tranquilidade; 4 na mitologia grega, Circe era uma feiticeira, destaca sobretudo
especia- lista em venenos. a beleza física da
mulher, enquanto neste
realça a sua perfeição
1. Apresente, por palavras suas, cinco características da mulher descrita no moral.
poema. Não obstante, em ambas
as composições poéticas,
a mulher é uma figura
2. Preencha o texto seguinte, selecionando dos vocábulos propostos os indefinida, incorpórea, quase
divina, que se encontra
adequados, tendo em conta a informação presente no soneto. distante do sujeito lírico.

física indefinido psicológica retrato


celeste• definido• qualidades

O sujeito lírico realça uma beleza a. , destacando b. morais da


mulher (“despejo quieto e vergonhoso”, v. 5; “encolhido ousar”, v. 9). Trata-se de uma
mu- lher divina, quase inumana, o que justifica a utilização do adjetivo c. “
” para a designar. O recurso ao determinante artigo d. favorece a
imprecisão do e. e parece sugerir uma mulher
imaginada, idealizada.

3. Identifique o recurso expressivo que se estabelece entre as expressões


“celeste fermosura” (v. 12) e “Circe” (v. 13).

4. Divida o soneto em dois momentos, apresentando o assunto de cada um deles.


Rimas

5. Estabeleça uma relação entre esta composição poética e o soneto “Ondados


fios d’ouro reluzente” (p. 142), destacando uma diferença e uma semelhança
existentes entre eles.
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a
A representação da amada

PROFE S SOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.8;
14.9; 15.1; 16.1; 16.2 Descalça vai para a
fonte
1. Trata-se de um
vilancete, dado ser
constituído por mote de três
a este mote:
versos e duas glosas de
sete. Os versos são
redondilha maior. Descalça vai para a
2. Leanor é uma mulher fonte Leanor pela
do mundo rural, verdura;
pertencente ao povo, como
se comprova pela atividade Vai fermosa e não
descrita no mote – vai segura.
descalça buscar água à
fonte – e pelo seu
vestuário descrito na VOLTAS
primeira volta.
3.
a. verde Leva na cabeça o
b. rural/campestre/primave pote, o testo nas mãos
ril
c.prata de prata, cinta de fina
d. ouro escarlata1, saínho2 de
e. beleza
f.brancura chamalote3,
g. petrarquista 5 traz a vasquinha de cote ,
4
h. vermelho
1
cor vermelha viva,
i.contrasta mais branca que a neve tecido que tem essa
j. atrai pura; vai fermosa, e não cor
k. sujeito poético veste sem mangas de
segura.
2

4. O sujeito lírico formato redondo e sem


destaca, por meio de
abas
uma metáfora (“chove Descobre a touca a
nela graça tanta”,
3
tecido de lã ou
v. 12), a perfeição e a beleza garganta, cabelos d’ouro o pelo, geralmente
da mulher, concluindo que trançado, com seda
esta acrescenta beleza à 4
casaco curto e muito justo
própria formosura, 10 fita de cor d’encarnado,
ultrapassando ao corpo, de uso diário
tão linda que o mundo
o próprio modelo, a própria
essência de beleza. espanta; chove nela graça
tanta
que dá graça à
fermosura; vai fermosa,
e não segura.
5. A jovem exibe a sua acentuando-se na
beleza, mas esta formosura descrição da segunda a sua sensualidade: “coisa mais linda / Mais cheia de graça / É ela, a menina […] Num doce balanço […]
traz-lhe insegurança, uma Moça do corpo
vez que ela está mais dourado / Do sol de Ipanema / O seu balançado / É mais que um poema / É a coisa mais linda / que eu já vi passar!”.
exposta aos olhos daqueles
por quem passa, ou seja,
ao amor.

Oralidade
1.5; 2.2; 4.1; 4.2; 5.1;
5.3; 6.2

Vídeo
"Garota de Ipanema"

1./2.
a. Ambas as
mulheres são dotadas
de grande beleza,
L Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 55-56.
u
í
s
1. Classifique o poema, justificando com três características formais do mesmo.
d
e
2. Partindo do mote e da primeira volta, refira a condição social de Leanor.

C 3. Complete o texto que se segue, de acordo com a informação presente no poema.


a
m
No poema, estão presentes várias cores: o a. dos caminhos percorridos
õ por Leanor, que remete para um espaço b. , fértil, e simultaneamente nos
e
sugere a juventude de donzela; as cores da c. e do d.
s
, , ambas associadas ao caráter superior, invulgar, da
e. da jovem; a f. da neve, associada, por um
R
i
lado, à cor da pele, característica da mulher descrita ao modo g. , e, por
m ou- tro, a um traço psicológico – a sua pureza; e o h.
a (“escarlata”), cor forte, viva, que i. com as outras cores e que
s
. permite uma leitura mais erótica do poema. Leanor é jovem, bela, pura, mas
sensual, e j. o olhar daqueles por quem passa,
T
e
nomeadamente o do k. .
x
t 4. Interprete o significado da expressão “chove nela graça tanta / que dá graça à
o fer- mosura” (vv. 12-13).

e 5. Apresente uma proposta de interpretação para o verso “vai fermosa, e não segura”
s
(vv. 7 e 14).
t
a
b
e
l
e
c
i
d
o

p
r
e
f
a
c
i
a
d
o

p
o
r

Á
l
v
a
r
o
J
.

d
a

C
o
s
t
a
Rimas

C O M P R E E N S Ã O / E X P R E S S ÃO OR AL PROF E S SOR

b. A mulher que
1. Ouça atentamente o tema musical “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e passa a caminho do
Vinicius de Moraes, e estabeleça uma comparação entre a canção e o mar provoca no sujeito
poético o mesmo efeito
vilancete “Descalça vai para a fonte” (p. 144), no que diz respeito que provoca Leanor a
caminho da fonte:
a. à descrição da mulher que passa; ambas captam a atenção
b. aos efeitos que essa passagem provoca no sujeito poético; do “eu”
lírico, provocando o amor e
c. aos recursos expressivos usados na descrição da figura feminina. a criação poética (no
primeiro caso, a redondilha
camoniana e, no segundo,
2. Ouça uma segunda vez a canção e recolha expressões que comprovem essa a canção: “O seu
com- paração. balançado / É mais que um
poema”; “Ah, se ela soubesse
/ Que quando ela passa /
3. Apresente à turma, numa breve exposição (dois a três minutos), as suas conclusões. O mundo sorrindo / Se
enche de graça / E fica
mais lindo / Por causa do
amor”). No caso da canção,
GR A M Á T I C A “a moça de corpo dourado”
provoca também um
sentimento de nostalgia
1. Atente nos seguintes versos pertencentes à canção anterior. no “eu” lírico, que se
apercebe da sua solidão e,
“Ah, se ela soubesse implicitamente, manifesta o
desejo de a ter por
Que, quando ela companhia: “Ah, porque estou
passa, O mundo, tão sozinho! / Ah, porque
tudo é tão triste! / Ah, a
sorrindo, beleza que existe […] Que
Se enche de também passa
sozinha!”.
graça E fica mais c.À semelhança do
lindo Por causa vilancete camoniano,
também na canção
do amor! encontramos a hipérbole,
Olha que coisa mais a personificação (“O Mundo,
sorrindo, / se enche de
linda, Mais cheia de graça”), a adjetivação
graça no grau superlativo (“É a
coisa mais linda / Que eu já
É ela, a menina vi passar!” e a comparação (“O
Que vem e que seu balançado /
É mais que um poema”).
passa Num doce 3. Resposta de caráter
balanço pessoal. No entanto, os alunos
podem referir os seguintes
[A] caminho do mar!” aspetos:
–o tema da mulher que
passa e que prende o olhar
1.1 Retire do excerto uma oração de quem a vê passar é
uma constante na
a. subordinada temporal; literatura e nas artes, em
geral;
b. subordinada condicional; –a hiperbolização da
c. subordinada adjetiva relativa restritiva; beleza feminina é uma
realidade intemporal,
d. coordenada copulativa. assim como o amor que a
mulher provoca no sujeito
1.2 Classifique a oração sublinhada em“Olha que coisa mais linda, / Mais cheia de que a observa;
gra- ça / É ela…” –a forma de ver o mundo
e a vida é muito mais
1.3 Preencha o seguinte quadro com palavras retiradas dos versos acima. positiva,
quando somos presenteados
com a beleza e o amor.
Nomes (5) Conjugações (4) Pronomes (3) Adjetivos (3)

145
BLOCO INFORMATIVO – pp. 277, 260-266

146
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Gramática
18.2; 18.4
Endechas1
1.1 a. “quando ela passa”;
b. “se ela soubesse”; c. a ~ua cativa2 com quem andava d’amores
“Que vem”; d. “E fica mais na Índia, chamada Bárbora
lindo / Por causa do amor”.
1.2 Oração Aquela cativa,
subordinada
substantiva que me tem
completiva. cativo, porque
1.3 Nomes: mundo;
graça; amor; coisa; menina;
nela vivo
balanço; caminho; mar; já não quer que viva.
Conjunções: Se (v. 1); que
5 Eu nunca vi rosa
(v. 2); quando; e;
Pronomes: ela; se (v. 4); em suaves molhos,
que (v. 10); Adjetivos: lindo;
linda; cheia; doce.
que para meus
olhos fosse mais
Educação Literária fermosa.
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.8; 15.1; 16.1
Nem no campo flores,
a. V
10 nem no céu estrelas,
b. F – O sujeito me parecem belas
poético considera-se um como os meus
cativo, pois está preso aos
encantos da mulher amores. Rosto
amada. singular,
c.F – Os olhos da
mulher narrada são olhos sossegados,
pretos. 15 pretos e cansados,
d. V
mas não de
e. F – A mulher retratada
foge aos padrões de beleza da matar.
época renascentista, por ser
negra e ter os cabelos ~
pretos.
U a graça viva,
f.F – O sujeito poético que neles lhe mora,
Retrato de uma escrava africana, c. 1580,
traça o
retrato físico da mulher, para ser senhora amansa;
mas também são realçados
traços psicológicos, como 20 de quem é cativa. 35 nela enfim descansa toda a minha pena.
a serenidade. Pretos os cabelos, Esta é a cativa
g. F – A neve contrasta
com a cor negra da pele da
onde o povo vão que me tem cativo, e, pois nela vivo,
mulher, e gostaria até de perde opinião 40 é força que viva.
mudar a sua cor.
que os louros são
h. V
i.F – Na última oitava, a
belos.
palavra "pena" refere-se ao
instrumento de escrita, 25 Pretidão de
mas indica também
sofrimento ou dor. Amor, tão doce a
j. F – O poema figura, que a neve
apresenta versos com
redondilha menor.
lhe jura que
trocara a cor.
Leda3 mansidão
30 que o siso acompanha;

bem parece estranha,


mas bárbora não.

Presença serena
que a tormenta
A
n
n
i
b
a
l
e 1

c
C o
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a si
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B e
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o ri
t s
h t
e e
r 2
escrava
s 3
alegre
,

L
e
e
d Luís de Camões, Rimas.
s Texto
, estabelecido e
prefaciado por
I Álvaro J. da
n Costa Pimpão,
g Coimbra,
l Almedina, 2005
a [1994], pp. 89-
t 90.
e
r
r
a
.
Rimas

1. Após a leitura do poema, assinale as seguintes afirmações como verdadeiras


P R O F E S S OR
ou fal- sas. Corrija as falsas sem recorrer à negativa.
a. Na primeira estrofe, o termo “cativa” remete para a condição social da
mulher retratada. Oralidade
1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 4.2; 5.1;
5.3; 6.1; 6.2; 6.3
b. O sujeito poético considera-se um cativo, pois está preso na Índia.
c. Os olhos da mulher retratada são verdes como os campos.
d. Na segunda estrofe, o poeta serve-se da hipérbole para realçar as Áudio + Link
“Endechas a Bárbara
característi- cas excecionais da mulher amada. Escrava”
e. A mulher retratada corresponde aos padrões de beleza física da época Resposta de caráter pessoal.
renascen- tista. No entanto, o aluno poderá
referir-se ao ritmo lento
f. O sujeito poético traça apenas o retrato físico da mulher. a sugerir sentimentos
de saudade, dor, tristeza,
g. A neve (quarta estrofe) surge associada por semelhança à cor da pele de que vão ao encontro da
definição de “Endechas”.
Bárbara.
h. Na utilização do adjetivo “bárbora” (quarta estrofe) há um jogo de Escrita
palavras com o nome próprio da mulher amada. 10.1; 10.2; 11.1; 12.1; 12.2;
12.3; 12.4; 13.1
i. Na última oitava, a palavra “pena” refere-se apenas ao instrumento de
Proposta de resolução:
escrita.
Na sua obra, Camões
j. O poema apresenta versos em redondilha maior. descreve a mulher segundo
o modelo petrarquista –
loira, de pele clara e olhar
luminoso, características
C O M P R E E N S Ã O / E X P R E S S ÃO OR AL que se associam à
serenidade e à doçura do
retrato. Poemas como
“Ondados fios de ouro
Acompanhe a leitura do poema com a audição reluzente” ou “Descalça
da interpretação de Sérgio Godinho. vai para a fonte” traduzem
este tipo de beleza.
Faça, em 2-3 minutos, uma apresentação Contudo, Camões não
é apenas um seguidor
crítica sobre os aspetos a seguir apresentados. de modelos clássicos.
• Caracterização do ritmo e da melodia da música. Pela sua experiência,
canta os diferentes tipos
• Relação entre ritmo/melodia e de beleza feminina. Em
“Endechas a Bárbara
designação da composição escrava” descreve uma
poética/conteúdo. mulher de pele negra,

• Expressão da opinião pessoal sobre a lingua-


gem musical produzida por Sérgio cabelos e olhos escuros, uma
ÁUDIO “cativa que o tem cativo”.
Godinho. Sérgio Godinho
Concluindo, foi um poeta
"Endechas a
que soube conjugar os ideais
Bárbara escrava" renascentistas com as suas
vivências, realizando uma
ESCRITA obra ímpar que prima pela
beleza e originalidade.

Redija um texto expositivo sobre a representação da mulher na lírica


camoniana, ten- do em conta os poemas estudados. O seu texto deverá ter entre
100 e 120 palavras e apresentar uma estrutura tripartida: introdução,
desenvolvimento, conclusão.

Organize a informação, de acordo com os seguintes tópicos:


• referência ao retrato da mulher segundo o modelo petrarquista;
• representação de outros tipos de beleza feminina/afastamento do modelo petrarquista;
• exemplos de textos significativos da representação da amada;

147
• destaque para a originalidade e singularidade da obra lírica de Camões.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283


MANUAL – pp. 26-27

148
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor

PROFE S SOR
INFORMAR
Educação Literária
14.3;14.4; 14.7; 15.1; Leia os tópicos seguintes e resolva a atividade proposta.
16.1
Leitura
7.1; 7.4; 8.1
A tensão amorosa em Camões
[A] – [6] • Presença constante na lírica e no teatro (também pontualmente em
[B] – [5]
Os Lusíadas), o Amor é talvez o tema de maior alcance significativo na obra de
[C] – [1]
[D] – [3]
Camões, sendo fonte de tensão, de conflito interior.
[E] – [4] • Ao contrário do que sucede com Petrarca, Camões oculta
[F] – [2] frequentemente a iden- tidade da amada, o que permite duas interpretações
possíveis:
- uma leitura biográfica, segundo a qual a vida do poeta estaria
codificada na sua poesia lírica, cabendo a um leitor mais especializado
interpretar as pistas que permitiriam descobrir a identidade de uma
mulher real;
- uma leitura não-biográfica, que se baseia num subtil jogo de códigos
poéti- co-literários, que Camões domina na perfeição, não sendo a mulher
real o mais importante na escrita literária, mas sim o Amor e os
fenómenos a ele ligados.
• Há que entender a função do Amor, em grande parte da lírica
camoniana, como dinâmica-motriz do próprio ato de escrever. O Amor é, por
assim dizer, o combustível que põe a máquina da escrita em ação.
• Uma fonte de tensão que surge na poesia de Camões é a
desproporcionalidade de sentimentos vividos pelo amador e pela amada, o que
implica que a vivência do amor, longe de ser uma experiência alegre e feliz, é
constantemente descrita como sendo algo de doloroso.
Elaborado a partir de Frederico Lourenço, “Amor”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 25-26.

1. Associe os elementos da coluna A aos da coluna B, de modo a obter


afirmações verdadeiras.

Coluna A Coluna B
[A] O Amor assume na lírica camoniana [1] muitos dos poemas de Camões
[B] A mulher amada e idealizada na terem cariz autobiográfico.
poesia de Camões [2] frequentemente descrito como sendo
[C] Há uma teoria que aponta para o uma experiência dolorosa.
facto de [3] na origem da criação literária.
[D] A mulher amada e, por [4] o sujeito poético não ser
consequência, o Amor estão correspondido com a mesma
[E] O sofrimento amoroso é decorrente intensidade pela amada.
do facto de [5] raramente é identificada pelo
poeta.
[F] Assim, o Amor na lírica camoniana é
[6] um papel preponderante.
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA P R O F E S S OR

Educação Literária
Leia expressivamento os textos. 14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.9

Quem ora soubesse 1.1


Nomes: lavrador;
a este mote: terra; abrolhos; rês;
erva; grão
Verbos: nace; semeasse;
Quem ora colhia; apanhasse; pace;
soubesse onde o trabalhava
Amor nace, que o 1.2 A recorrência a termos
do campo lexical de
semeasse! agricultura permite
VOLTAS
comparar o ato de semear
e colher, próprio do
lavrador, ao conceito de
amor e seus efeitos que o
sujeito
D’Amor e seus 15 Com quanto perdi, poético enuncia. Este
afirma que, tal como um
danos me fiz lavrador; trabalhava em vão; lavrador lança a semente
semeava amor se semeei grão, à terra para colher depois
o que semeia, também o
e colhia enganos; grande dor colhi. homem semeia
5 não vi, em meus anos, Amor nunca vi o Amor, mas colhe apenas
desilusões e enganos.
homem que apanhasse 20 que muito durasse, 2. O sujeito
o que semeasse. que não magoasse. poético afirma que nunca
viu “homem que apanhasse
Luís de Camões, Rimas. / o que semeasse” (vv. 6-
Vi terra florida Texto estabelecido e prefaciado por 7), o que remete para
uma generalização dos efeitos
de lindos abrolhos1, Álvaro J. da Costa Pimpão,
negativos do Amor. Afirma
Coimbra, Almedina, 2005 [1994],
10 lindos pera os olhos, pp. 88-89.
também que nunca viu Amor
“que muito durasse, / que
duros para a vida; não magoasse” (vv. 20-21),
exemplificando os efeitos
deste sentimento com o seu
mas a rês2 perdida próprio testemunho.
que tal erva pace 1
planta espinhosa
3. A composição poética
é um vilancete, constituído
em forte hora nace. 2
qualquer por um mote de três
quadrúpede versos e pelas voltas (ou
glosas), de sete
1. Ao longo do texto, o sujeito poético recorre a termos do campo lexical de 3. Classifique a
agricultura. composição poética
e analise a sua
1.1 Faça o levantamento desses termos e insira-os no quadro seguinte, de acordo métrica.
com a classe a que pertencem.

Nomes Verbos

1.2 Justifique a recorrência a este campo lexical.

2. Demonstre que o conceito de amor e seus efeitos, referidos ao longo do


poema, se aplicam ao sujeito poético e aos homens em geral. Fundamente a
sua resposta com citações pertinentes.

149
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi
oeversos
sV i ecada.
i r a Os versos têm 5 sílabas métricas,
designando-se de redondilha menor.

BLOCO INFORMATIVO – p. 282

150
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Áudio Tanto de meu estado me acho incerto


“Tanto de meu estado
me acho incerto” Tanto de meu estado me acho
Educação Literária incerto, que em vivo ardor tremendo
14.1; 14.2; 14.3; 14.4; estou de frio; sem causa, juntamente
14.6; 14.8; 14.10
choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

1.1
a. “frio” 5 É tudo quanto sinto, um desconcerto;
b. “choro”
c.“nada aperto” da alma um fogo me sai, da vista
d. “espero” um rio; agora espero, agora
e. “acerto”
f.“Estando em terra” desconfio,
g. “em mil anos não agora desvario, agora acerto.
posso achar ũ’hora”
1.2 O sujeito poético
afirma estar dominado Estando em terra, chego ao Céu
por sentimentos/estados voando,
contraditórios, tanto eufóricos
como disfóricos. Sente-se 10 nũ’hora acho mil anos, e é de jeito
ora alegre ora triste, ora que em mil anos não posso achar ũ’hora.
acompanhado ora solitário,
ora confiante ora desconfiado,
ora desvairado ora alinhado Se me pergunta alguém porque assi
(atinado).
1.3 A causa do seu
ando, respondo que não sei; porém
estado de espírito suspeito Retrato de moça com véu, c. 1515,
encontra-se no facto de
ele ter visto uma
que só porque vos vi, minha Senhora. Rafael (1483-1520), Palácio de
“Senhora”, o que desencadeou Pitti, Florença.
o sentimento amoroso e os
Luís de Camões, Rimas. Texto
estados contraditórios.
estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa
2. A primeira parte Pimpão, Coimbra,
corresponde às duas
Almedina, 2005 [1994], p. 118.
quadras
e ao primeiro terceto,
na qual o “eu” descreve 1. O sujeito poético descreve neste poema um estado de espírito contraditório.
os seus sentimentos
contraditórios. 1.1 Transcreva das três primeiras estrofes as palavras ou expressões que se opõem
A segunda parte integra às seguintes.
o último terceto, momento
em que se evidencia a causa a. “ardor” (v. 2)
do estado
de espírito do sujeito b. “rio” (v. 3)
poético.
3. Trata-se de um c. “o mundo todo abarco” (v. 4)
soneto, constituído por
duas quadras e dois
d. “desconfio” (v. 7)
tercetos, com rima e. “desvario” (v. 8)
interpolada e emparelhada
nas quadras e f. “chego ao Céu” (v. 9)
interpolada nos tercetos,
e com versos g. “nu~ 'ora acho mil anos” (v. 10)
decassilábicos (10 sílabas
métricas). 1.2 De acordo com o registo que fez no exercício anterior, trace o retrato
psicológico do sujeito poético.
1.3 Identifique a causa dos sentimentos experienciados pelo “eu” lírico, tendo
em conta a última estrofe.

2. Proponha uma divisão do poema em duas partes, justificando a sua opção.

3. Faça a análise formal do poema, classificando o tipo de estrofes, a métrica e o


tipo de rima.
A representação da Natureza

INFORMAR P R O F E S S OR

Educação Literária
Leia o seguinte texto. 14.3; 14.7; 15.1; 16.1
Leitura
7.1; 7.3; 8.1; 8.2
Locus amoenus
Expressão latina que designa a paisagem ideal, sempre presente na poesia 1.
a. É a paisagem ideal,
amo- rosa em geral e, com maior incidência, na poesia bucólica1. Desde a sempre presente na poesia
Antiguidade Clássica que o termo locus amoenus nos remete para a descrição da amorosa. É uma Natureza
harmoniosa,
Natureza e para um conjunto de elementos específicos: o campo fresco e fresca, primaveril, de céu azul,
verdejante, com um vasto fértil, que não se ressente
da passagem do tempo.
5 arvoredo e flores coloridas, cujo doce odor se espalha com a brisa. A
Os animais estão
vegetação é den- sa mas constantemente renovada, dada a grande fertilidade perfeitamente integrados
e em comunhão com ela.
do terreno, e a passa- gem do tempo não conduz à destruição da paisagem, o
b. É uma paisagem
que, de acordo com Lanciani e Tavani (1993) é metafórico da infância que natural (campestre ou
nunca se perde. Ouve-se o suave som da água do riacho a saltar nas pedras florestal), com vegetação
densa e verdejante e
ou a brotar de uma fonte, onde os animais vão abundante em água.
10 beber. Há borboletas policromáticas esvoaçando, assim como aves diversas
2
c.Campo fresco e
verdejante, vasto
(nor- malmente rouxinóis ou pardais), que abrilhantam o céu azul. Esta arvoredo, flores coloridas,
natureza mágica é conducente3 ao amor, ao encantamento sensorial e brisa, vegetação densa e
espiritual do Homem, que se integra na perfeição em tal plenitude4, marcada renovada, água
do riacho, fonte, animais,
pela harmonia e homogeneidade. Enfim, estamos perante um paraíso borboletas policromáticas,
terrestre, onde se enquadra o ser humano que aves diversas (rouxinóis,
pardais), céu azul.
15 busca a satisfação pela simplicidade. […]
d. Espaço
Também Camões (1524-1580), que prima5 pela descrição pormenorizada propício ao amor –
“natureza mágica
da paisagem amena, deixa transparecer nas suas obras a preferência pelo [...] conducente ao amor, ao
tópico (v. soneto como “Alegres campos, verdes arvoredos”, in Rimas), o que encantamento sensorial e
espiritual do Homem” (ll. 11-12).
se verifica na sua idealização de mulher, que aparece intrinsecamente
e. Simboliza a
relacionada com o locus infância que nunca se
20 amoenus (v. “Um mover d’olhos brando e piadoso”). perde e o paraíso perdido
onde o Homem se
Carlos Ceia, s.v. “Locus amoenus”, in Carlos Ceia (coord.), E-dicionário de termos enquadra, procurando os
literários. Disponível em http://www.edtl.com.pt (consultado em janeiro prazeres simples – “satisfação
de 2015). pela simplicidade” (l. 15).

1
pastoril, campestre; 2 de várias cores; 3 que conduz, que leva a; 4 grandeza, felicidade;
5
se evidencia.

1. Preencha o quadro com informação retirada do texto.

Definição de “locus amoenus”

a.

Tipo de paisagem privilegiada Elementos naturais destacados

b. c.

Relação “locus amoenus”/amor Simbologia do “locus amoenus”

d. e.
A representação da Natureza

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.8; 15.1 Leia os textos que se seguem sobre a representação da Natureza na lírica camoniana.

1. São referidos os
campos, os arvoredos,
as águas, Alegres campos, verdes arvoredos
os montes e os penedos.
A descrição destes Alegres campos, verdes arvoredos,
elementos cria um ambiente
harmonioso e belo (locus claras e frescas águas de cristal,
amoenus). que em vós debuxais ao natural,
2. Os adjetivos
estão ao serviço da discorrendo da altura dos rochedos;
descrição
da Natureza e, uma vez
que se encontram
5 silvestres montes, ásperos
antepostos ao nome, penedos, compostos em concerto
sugerem uma ideia de
descrição subjetiva.
desigual, sabei que, sem licença
3. Os interlocutores de meu mal,
do sujeito lírico são já não podeis fazer meus olhos ledos.
todos os elementos da
Natureza referidos nos
cinco versos iniciais. A E, pois me já não vedes como vistes,
apóstrofe aponta para a
sua identificação. 10 não me alegrem verduras
4. Dirigindo-se aos deleitosas, nem águas que
elementos da Natureza, o
sujeito afirma “me já não
correndo alegres vêm.
vedes como
vistes” (v. 9). O contraste
entre o pretérito perfeito do
Semearei em vós lembranças tristes,
indicativo (vistes) e o regando-vos com lágrimas saudosas,
presente do indicativo e nascerão saudades de meu bem.
(vedes) marca a diferença
entre um estado de Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e
felicidade passado e a prefaciado por Álvaro da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005
tristeza do presente. Por [1994], p. 123.
essa razão, também afirma
“já não podeis fazer meus
olhos ledos” (v. 8),
indiciando, através do uso 1. Identifique os elementos da Natureza contemplados no poema, referindo o
do presente do indicativo, tipo de ambiente que a sua descrição cria.
que é no momento atual
que a felicidade lhe é
impossível. 2. Mencione a classe de palavras que contribui para a descrição da Natureza,
5.1 Descrição valorativa, comen- tando os efeitos produzidos pela sua localização na frase.
eufórica (harmoniosa e alegre)
da Natureza associada 3. Assinale o(s) interlocutor(es) do sujeito lírico, referindo o recurso expressivo
ao passado do “eu”
b. Tristeza que se associa à sua identificação.
c.A tristeza vai-se
instalando no sujeito 4. Com base nas segunda e terceira estrofes, refira a importância da flexão
poético, o que se
denuncia já na adjetivação verbal para a caracterização dos sentimentos do sujeito lírico em dois tempos
disfórica dos “montes” distintos.
e “penedos”; a alegria
da Natureza já não influencia 5. Um ambiente negativo vai, gradualmente, substituindo a serenidade e a
o “eu”
d. Tristeza alegria que se percecionam na primeira quadra.
e. Dominado pela
tristeza, 5.1 Complete o esquema com os dados necessários para a explicitação dessa gradação.
o sujeito lírico exercerá a
sua negatividade sobre a
Natureza, semeando nela
os seus infortúnios e
regando-a com
lágrimas de saudade
Domínios Descrição/
Estrofes Sentimentos
de referência explicação

1.a quadra Natureza Alegria a.

2.a quadra Natureza


b. c.
e 1.o terceto EU
EU
2.o terceto d. e.
Natureza
EDUCAÇÃO LITERÁRIA P R O F E S S OR

Educação Literária
Aquela triste e leda madrugada 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 15.1

Aquela triste e leda madrugada,


cheia toda de mágoa e de
Áudio
piedade, enquanto houver no “Aquela triste e leda
mundo saüdade quero que seja madrugada”
sempre celebrada. 1.
5 Ela só, quando amena e [A] – [2]
marchetada1 saía, dando ao mundo [B] – [5]
claridade, [C] – [1]
[D] – [9]
viu apartar-se2 d’ũa outra
[E] – [3]
vontade, que nunca poderá ver-se
[F] – [8]
apartada. [G] – [6]

Ela só viu as lágrimas em fio,


10 que d’uns e d’outros olhos derivadas
s’acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras


magoadas que puderam tornar
o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas. Paisagem com rebanho (pormenor), c. 1638,
Luís de Camões, Rimas. Texto Rubens (1577-1640), The National Gallery,
estabelecido e prefaciado por Álvaro J. Londres.
da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
2005 [1994], p. 157.

1
matizada; 2 afastar-se, separar-se.

1. Faça corresponder as frases da coluna A às da coluna B, de modo a obter


afirma- ções verdadeiras sobre o soneto acima transcrito.

Coluna A Coluna B

[A] Este soneto abre com uma [1] funciona como justificação do desejo
antítese e pode dividir-se expresso anteriormente.

[2] em dois momentos.


[B] O primeiro momento, correspondente
à primeira quadra, [3] recorrendo, sobretudo, à sensação
visual, presente no pretérito perfeito
[C] O segundo momento, referente simples do indicativo do verbo ver
às restantes estrofes, (“viu”).

[D] O sujeito lírico centra-se no momento [4] o sujeito poético e a mulher amada.
passado, em que a madrugada
personificada [5] refere-se ao presente do sujeito
poético e expressa o seu desejo
para o futuro.
[E] O “eu” poético personifica a
Natureza, [6] através de uma hipérbole – “as
lágrimas em fio […] s’acrescentaram
[F] A antítese presente em “triste e
em grande e largo rio” – e de um
leda” permite estabelecer um
paradoxo.
contraste entre
[7] se despediu dos amantes.
[G] O sofrimento vivido no
momento da separação é [8] a beleza e a alegria da
expresso Natureza e o sofrimento do
A reflexão sobre a vida pessoal

INFORMAR

Leia o seguinte texto, no qual o autor faz uma análise do ambiente vivido no
século XVI, para, dessa forma, justificar a natureza humana de Camões.

Camões: a época, o homem e o poeta


Luís de Camões nasceu e viveu em século de partidas e viagens; fossem
*
Ovídio, poeta latino por terra os caminhos que a paragens distantes conduziam, fossem as rotas
(Sulmona, 43 a. C. – Tomes,
hoje Constanta, Roménia, 17 do mar que a longes terras iam levando: caravelas que buscavam aventura,
ou 18 d. C.). Autor favorito fortuna ou fama; estudantes que buscavam, na Europa, novos saberes. O
dos inícios do Império, graças
aos seus poemas ligeiros,
desconcerto melan-
eróticos ou mitológicos 5 cólico tão característico do homem português tinha, pois, condições propícias
(A Arte de Amar, As Heroídes, ao seu desenvolvimento.
METAMORFOSES, Os Fastos),
foi banido por uma razão À medida que o fim de século se aproxima (e Camões viveu esses anos),
misteriosa, morrendo exilado, uma imagem de caos vai-se instalando; a vida não passa de uma prisão e é,
apesar das súplicas das suas
últimas elegias (Os Tristes,
toda ela, no fim de contas, um desterro. Forçoso é reconhecer, ao cabo de
Os Pônticos). um percurso que
Nova Enciclopédia Larousse, Círculo 10 vem desde a Idade Média, com o pessimismo sofredor da ausência a
de Leitores, vol. 17, p.
5238. animar o nosso lirismo, que essa visão angustiada e angustiante tão típica
dos derradeiros anos de Quinhentos não é, de todo em todo, novidade.
Acontece, no entanto, que Luís de Camões vai bem mais longe no
desacerto (ou desencontro, se se preferir) das suas raízes. Perdido em meio
de um labirinto,
15 ora de espelhos, ora de trevas, Camões acaba por tornar-se o mais

primoroso her- deiro do lirismo medieval, no que ao canto da saudade e do


PROFE S SOR amor ausente diz res- peito e, ao mesmo tempo (e talvez por isso mesmo),
Educação Literária
o primeiro grande imitador, em Portugal, do poeta desterrado por
14.3; 14.7; 15.1; 16.1 excelência, o poeta latino Ovídio*.
Leitura
7.1; 7.4; 8.1; 8.2
É certo que o percurso biográfico do nosso poeta, marcado por múltiplas parti-
20 das, viagens diversificadas, longas ausências, foi particularmente propício à

1. adesão aos temas ovidianos; mas o seu apego ao “mal de ausência”


a. terrestres (expressão camoniana, da elegia Aquela que de amor descomedido) não resulta
b. marítimas
c.fortuna apenas de circunstâncias biográficas; é, de algum modo, o reflexo desse fim
d. fama de século português, quando o homem, onde quer que estivesse, se
e. conhecimento
f.pessimismo entreolhava ensimesmado e construía, para si
g. prisão 25 mesmo, uma espécie de consciência de cidadãos de parte incerta.
h. biográficas
i.saudade José Augusto Cardoso Bernardes, História crítica da literatura
portuguesa. Humanismo e Renascimento, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, 1999,
pp. 418-419.

1. Complete o seguinte esquema.


Ambiente quinhentista

1.o parágrafo
Marcado por viagens a. e b. , à procura de aventura, c. , e d. , e. .

2.o parágrafo
Propício ao desconcerto do homem português, no final do século, e prolongando uma mentalidade medieval, acen
3.o e 4.o parágrafos
Assim, Camões, não só por circunstâncias h. , revela o seu desacerto, cantando
a i. e o amor ausente.
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A reflexão sobre a vida pessoal foi também uma temática cantada nos poemas
de Camões.

O dia em que eu nasci, moura e pereça


O dia em que eu nasci, moura e
pereça1, não o queira jamais o tempo
dar,
não torne mais ao mundo, e, se
tornar, eclipse nesse passo o sol
padeça.

5 A luz lhe falte, o sol se [lhe]


escureça, mostre o mundo sinais de
se acabar, nasçam-lhe monstros,
sangue chova o ar, a mãe ao próprio
filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,


10 as lágrimas no rosto, a côr perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,


que este dia deitou ao mundo a vida Dulle Griet, 1564, Pieter
Bruegel, o Velho (c. 1525-69),
mais desgraçada que jamais se viu! Museum Mayer
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e van der Berg, Antuérpia. PROFE S SOR
prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005
[1994], p. 182. Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
14.9
1
morra.

quadra.
1. Atente na primeira quadra. 4.3 Identifique o
1.1 Refira o desejo expresso pelo sujeito lírico, caracterizando o seu estado de recurso expressivo
espírito. presente no último
verso, justificando
1.2 Faça o levantamento de expressões que comprovem o tom disfórico
empregue. o seu em- prego.

2. Considere as segunda e terceira estrofes.


2.1 Comprove a criação por parte do “eu” lírico de um ambiente apocalítico
(fim do mundo), justificando as suas afirmações com expressões textuais.

3. Comente as reações dos seres humanos perante esse ambiente desejado pelo
“eu”.

4. Atente agora no último terceto.


4.1 Identifique o interlocutor do sujeito poético, referindo o recurso expressivo
em- pregue.
4.2 Comprove com o levantamento de expressões que esta estrofe apresenta o
moti- vo pelo qual o “eu” lírico formulou o desejo expresso na primeira
155
1.1 O sujeito lírico exprime o desejo de que o dia do seu nascimento desapareça, não se
tornando a repetir. Esta aspiração permite caracterizar o sujeito,
destacando-o pela negativa, como um ser sofredor
e martirizado.
1.2 As palavras que exprimem o tom disfórico são “moura”, “pereça”, “eclipse” e “padeça”.
2.1 O “eu” lírico refere um conjunto de elementos apocalíticos, como o eclipse do sol (“o sol se
[lhe] escureça”,
v. 5), o aparecimento de monstros ("nasçam-lhe monstros”, v. 7), a chuva de sangue (“sangue chova
o ar”,
v. 7), o não reconhecimento dos filhos pelas próprias mães (“a mãe ao próprio filho não conheça”, v.
8).

156
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a
O te m aA drae fml euxdã ao nsçoaberedao vdiedsacopne scseor taol

PROFE S SOR
INFORMAR
3. O sujeito deseja que as
pessoas fiquem pasmadas Leia os tópicos que se seguem e resolva a atividade proposta abaixo.
perante a sucessão de
acontecimentos, acreditando
que o mundo está à beira do A lírica camoniana
fim, o que será uma forma de
realçar a tragédia que este • A lírica de Camões revela um sujeito poético que, perante o
associa à sua vida e à
revolta que sente.
decurso da vida, reflete sobre o tempo e a mudança, temas característicos
4.1 O sujeito dirige-se à da época renascentista. Vemos também um “eu” que analisa o
“gente temerosa”, desconcerto que vê dentro e fora de si. A desordem social e psicológica, o
identificando o seu
interlocutor por meio de absurdo do mundo e a existência, invencível, do mal, embora funcione
uma apóstrofe. sempre como causa de espanto e de revolta, conjuga-se com o destino que
4.2. “que este dia subjuga e esmaga.
deitou ao mundo a
vida / mais Elaborado a partir de Poesia Lírica, Luís de Camões, seleção e
desgraçada que jamais se introdução por Isabel Pascoal, Biblioteca Ulisseia de Autores
viu!” (vv. 13-14) Portugueses, p. 34.
4.3 O final do poema
é marcado pela hipérbole,
como forma de intensificação • Sujeito à implacável mecânica do tempo – que tudo vai mudando e
do caráter excecional do poeta
e do seu destino trágico.
destruindo – o mundo aparece, sob olhar da melancolia camoniana, como
um lugar absurdo e injusto onde o mal triunfa tantas vezes sobre o bem.
Educação Literária •O poeta assume uma posição de um cada vez maior isolamento
14.3; 15.1; 16.1
Leitura perante os outros, manifestando um insistente desânimo face ao decurso
7.1; 7.2; 7.3; 8.1 da sua vida.
•O isolamento do poeta reforça a noção sempre muito viva da sua firme
1.1 passagem; desordem
sin- gularidade: a melancolia que o faz sofrer como vítima de um destino cruel e
1.2 superior
1.3 solitário
fatal, que desde sempre parece tê-lo marcado e para o qual contribuiu um
1.4 implacável conjunto de diversos fatores, alguns involuntários, mas outros dependendo dos
1.5 falhas seus erros.
• O caráter excecional deste destino torna-se um dos grandes
tópicos de melan- colia camoniana, mostrando alguém fortemente desiludido
com as provações a que foi sujeito ao longo dos anos.
Elaborado a partir de Fernando Pinto do Amaral, “Melancolia”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 585.

1. Selecione, dos termos indicados entre parênteses, o que se adequa às


informações fornecidas pelos textos.
1.1 A lírica camoniana apresenta uma reflexão sobre a (passagem/estagnação)
do tempo e sobre a (ordem/desordem) que o sujeito poético vê dentro e
fora de si.
1.2 A ideia de desconcerto presente na lírica camoniana dá-nos uma visão do
mundo em que o mal é (superior/inferior) ao bem.
1.3 Perante a consciência da passagem do tempo, o poeta torna-se um ser
cada vez mais (solidário/solitário).

1.4 O poeta considera-se vítima de um destino (generoso/implacável) para o


qual contribuíram fatores externos e internos.
1.5 A melancolia que caracteriza a lírica camoniana advém de fatores
externos ao poeta, mas também das (falhas/virtudes) que
caracterizaram a sua vida.
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFE S SOR

Educação Literária
Leia, agora, as Rimas relativas ao tema da mudança e do 14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
desconcerto. 14.9

1.1 Esta ideia processa-se


Correm turvas as águas deste rio por meio da referência
indireta às estações do ano,
Correm turvas as águas deste rio, sinalizadas pelas águas
turvas (inverno), pelos
que as do Céu e as do monte as campos de flores
enturbaram; os campos florecidos se (primavera), pelos campos
secos (verão) e pelo
secaram, frio (outono).
intratável se fez o vale, e frio. 1.2 Na quadra, o pretérito
5 Passou o verão, passou o ardente perfeito permite marcar as
ações passadas ("enturbaram",
estio1, ũas cousas por outras se "secaram", "fez"). Já o
trocaram; presente do indicativo
aponta para
os fementidos2 Fados3 já deixaram a estação atual,
do mundo o regimento, ou contribuindo para a noção
da passagem do tempo.
desvario4. 1.3 Estes versos
1
verão reiteram a ideia da
Tem o tempo sua ordem já sabida;
2
falsos passagem do tempo
expressa na primeira quadra,
10 o mundo, não; mas anda tão
3
destinos
associando-a, aqui, ao tópico
4
vv. 7-8: já entregaram da mudança inerente à
confuso, que parece que dele Deus
o governo do mundo / passagem das diferentes
se esquece. dos homens à loucura estações.
5
natureza e costume 2. O primeiro verso
do terceto aponta para a
Casos, opiniões, natura e transformação, natural que
uso5 fazem que nos pareça o tempo opera na
Natureza; os dois versos
desta vida que se seguem
que não há nela mais que o que transportam-nos
parece.
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por 1. Identifique os
Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 168.
referentes dos
pronomes sublinhados
na seguinte
transcrição:
1. Na segunda estrofe, o sujeito lírico dá conta da passagem do tempo. “que as do Céu e as do
monte as enturbaram”
1.1 Explicite como se processa esta ideia, relacionando-a com a primeira (v. 2).
estrofe.
1.1 Refira a função
1.2 Analise a importância dos tempos verbais ao serviço da expressão desta ideia. sintática desses
1.3 Relacione os dois primeiros versos desta quadra com o conteúdo da primeira. pronomes.

2. Explicite o conteúdo do primeiro terceto, considerando as realidades BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-272
evidenciadas e os elementos linguísticos.
2.1 Interprete a referência à figura de Deus nesta estrofe.

3. Identifique o recurso expressivo ao serviço da ilustração da desordem


verificada no mundo.

4. Relacione o conteúdo do poema com o tema da mudança e do desconcerto.

GR A M Á T I C A

157
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
para a realidade humana
O tema
e osda mudança
seus e do desconcerto
comportamentos. Veja-se o advérbio de negação (“não”) a estabelecer a oposição
(reforçada pelo conector “mas”) entre a ordem natural das coisas e os comportamentos humanos.
2.1 Deus é referido como o garante da ordem do mundo. Desta forma, o sujeito julga que a
desordem que se verifica no mundo só poderá ficar a dever-
-se a um possível esquecimento por parte desse ser superior.
3. O recurso expressivo
é a enumeração, presente
no primeiro verso do segundo terceto – "Casos, opiniões, natura e uso".
4. A mudança verifica-se na alteração cíclica da Natureza, em que tudo se transforma;
o desconcerto decorre da confusão humana.

Gramática 18.1

1. As duas primeiras ocorrências − “águas”; a terceira ocorrência – “as águas deste rio”.
1.1 Complemento direto

158
PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Áudio Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


“Mudam-se os tempos,
mudam-se as Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades” vontades, muda-se o ser, muda-se a
Educação confiança;
Literária 14.2; 14.3; todo o mundo é composto de mudança,
14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 14.10 tomando sempre novas qualidades.

1.
a. mudança
b. três 5 Contìnuamente vemos novidades,
c.quatro diferentes em tudo da
d. duas
e. negativa esperança;
f.o último do mal ficam as mágoas na lembrança,
g. Natureza
h. terceto e do bem (se algum houve), as
i.outra mudança faz de saüdades.
mor espanto
j. que não se muda já
como soía O tempo cobre o chão de verde
k. tempo
l.as mágoas
manto,
m. e do bem (se algum 10 que já coberto foi de neve fria,
houve), as saüdades
n. antítese
e, em mim, converte em choro o doce
2. Trata-se de um
canto.
soneto, composto por
duas quadras e dois
tercetos, constituídos por
E, afora1 este mudar-se cada
versos decassilábicos dia, outra mudança faz de mor2
(Mu/dam/-s(e) os/tem/pos,/ A tempestade, séc. XVII, Rubens (1577-1640),
mu/dam/-s(e) as/von/ta/
espanto, que não se muda já
Ashmolean Museum, Universidade de
[des]). A rima é interpolada como soía3. Oxford.
e emparelhada nas Luís de Camões, Rimas. Texto
quadras e
estabelecido e prefaciado por Álvaro J.
da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
2005 [1994], p. 162.

1
além de; 2 maior; 3 costumava.
cruzada nos tercetos, segundo 1. Complete o seguinte texto, com palavras suas e/ou expressões do poema, de modo
o esquema: abba/abba /cdc/ a obter uma breve análise do mesmo.
dcd.
Este poema tem como tema a a. e pode dividir-se em três
momentos. O primeiro, correspondente à primeira estrofe, integra a apresentação e a
afirmação de um mundo em constante transformação, como se pode verificar nos
versos b. e c. . O segundo momento,
correspondente às d. estrofes seguintes, constitui a constatação do sujeito
relativamente à forma como a mudança se opera, sen- do, para o ser humano,
geralmente e. , como atestam os três primeiros versos da segunda
estrofe e o f. do primeiro terceto. Pelo contrário, na g. , a
mu- dança é cíclica e confunde-se com renovação, como se comprova com os dois
primeiros versos do primeiro h. . Por fim, o terceiro momento é
introduzido pela conjunção copulativa “e” que inicia o último terceto. Aqui, o “eu”
lírico conclui que o próprio processo de mudança sofre os efeitos de mudança – i.
“ / j. ”.
O sujeito poético também é afetado pela mudança, consequente da
passagem do k. , que lhe deixa o passado na
memória, sejam as lembranças tristes, (associadas aos factos negativos l.“ ”)
sejam as saudades dos factos positivos (m.“ ”).
Assim, no poema explora-se a n. (“verde manto” / “neve fria”; “choro”
/ “doce canto”) para descrever o contraste entre o caráter cíclico e renovador da
mudança na Natureza e a degradação que a mesma traz ao ser humano – a
perda do passado, o envelhecimento.
2. Classifique o poema, justificando a sua resposta com a análise formal do
mesmo (estrofes, métrica, esquema rimático e tipo de rima).
C O M P R E E N S Ã O DO OR AL PROFE S SOR

Antes de proceder ao visionamento de


um anúncio publicitário da Portugal Vídeo
"Portugal Telecom"
Telecom, deve ler as atividades que se
propõem, de forma a melhor selecionar Oralidade
1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 1.7
a informação.

1. Uma das características dos anúncios 1.1 A linguagem visual


(movimento) e a sonora
publicitários é a multimodalidade, (fundo musical, declamação
ou seja, o recurso a diferentes de um poema de Luís de
Camões).
linguagens.
1.2 Despertar
1.1 Comprove, com dois exemplos, o Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Portugal Telecom interesse e curiosidade
no recetor,
as- peto destacado. levando-o a comprar o
produto ou a reforçar a
1.2 Refira o principal objetivo da conjugação dessas linguagens. imagem/ideia que tem de
uma marca.
2. Identifique, justificando, o público a quem se destina o produto publicitado. 2. O produto destina-
se a um público
3. Os elementos paratextuais funcionam como um complemento do texto generalista que tem
principal. necessidade
de comunicar entre si.
3.1 Indique aquele que confirma a ideia da mudança, da evolução temporal. 3.1 Um cronómetro,
localizado na parte inferior
3.2 Evidencie de que forma se pretende passar uma imagem de inovação e de direita, que dá conta da
bom serviço prestado aos clientes. evolução dos
tempos, desde 1551 (meados
do século XVI, época em que
4. Considere o slogan do produto divulgado: viveu Camões) até 2005, ano
em que foi apresentado este
anúncio.
3.2 Por um lado, a
presença de objetos
“Inovar,
InovarMudar,
MudareMelhorar
hr – é a nossa
ssa tradição tecnológicos que melhor
permitem a
tradição.” comunicação; por outro,
a alegria, a familiaridade,
a boa disposição e o
4.1 Confirme a intenção da empresa, contida no slogan e sugerida em alguns ritmo
que perpassa pelas pessoas.
elemen- tos visionados. 4.1
Inovar – a rede
móvel das
telecomunicações;
a comunicação em movimento.
Mudar – as
crianças a brincar
e os jovens
a dançar; a
celebração de um
matrimónio e a
cumplicidade de um
casal idoso.
Melhorar – atenuar
as saudades pelo uso
das telecomunicações.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.9
Leia os poemas apresentados e responda ao que é solicitado.
1.
a. Soneto TEXTO A TEXTO B
b. Versos decassilábicos
c.Uso da 1ª pessoa( “quis”) Que me quereis, Os bons vi sempre passar
d. Redondilha maior
(sete sílabas perpétuas saüdades?
métricas) sua ao desconcerto do mundo
e. Medida velha, Que me quereis, perpétuas
redondilha (corrente
tradicional) saüdades? Com que esperança ainda Os bons vi sempre
f.Uso da 1ª pessoa ( m'enganais? Que o tempo que se vai passar no mundo graves
“vi”; "mim")
g. Desconcerto do não torna mais, e se torna, não tormentos; e, para mais
mundo tornam as idades. m'espantar,
2. Os responsáveis os maus vi sempre nadar
pela situação atual
5 em mar de contentamentos.
vivida pelo 5 Razão é já, ó anos!, que vos
sujeito poético são o Destino Cuidando alcançar assim
(Sorte/Fortuna) e o Tempo, vades, porque estes tão ligeiros que
que não permitem que ele passais, nem todos para um1 gosto o bem tão mal
atinja um estado de felicidade, ordenado,
retirando-lhe qualquer são iguais, nem sempre são
esperança de ser feliz. conformes as vontades. fui mau, mas fui
3. A experiência do “eu” castigado: Assi que, só
surge como oposição para mim
àquilo que acontece aos Aquilo a que já quis é tão
10 anda o Mundo concertado.
outros, que não são mudado
castigados pelos seus
erros. Para ele, o
10 que quási é outra cousa; porque os Luís de Camões, Rimas. Texto
desconcerto não funcionou, dias têm o primeiro gosto já estabelecido e prefaciado por Álvaro J.
pois errou mas não foi da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
premiado, mas sim, pelo danado2. 2005 [1994], p. 102.
contrário, castigado.
4. Os dois textos
remetem para um Esperanças de novas alegrias
descontentamento,
uma vez que o sujeito não mas deixa a Fortuna e o Tempo 1
o mesmo; 2 estragado.
poético, pela sua errado,
experiência de que do contentamento são espias.
vida, conclui que qualquer
esperança é enganadora, Luís de Camões, Rimas. Texto
porque o tempo tudo destrói,
estabelecido e prefaciado por Álvaro J.
e que o mundo em que vive
tem os valores invertidos. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina,
2005 [1994], p. 170.

1. Analise o tema e a forma dos dois textos, completando o quadro seguinte.

Texto A Texto B

Classificação da composição a. Esparsa

Classificação da métrica b. d.
Clássico, medida
Estilo (lírica camoniana) nova (corrente e.
renascentista)

Marcas de um discurso pessoal c. f.

Tema A mudança g.

2. Identifique, no texto A, os responsáveis pela situação atual vivida pelo sujeito


poé- tico.

3. Justifique a introdução da experiência pessoal do “eu” no texto B.

4. Demonstre que as duas composições poéticas revelam um descontentamento


do sujeito poético face ao mundo em que vive.
LEITUR A PROFE S SOR

Leitura
O desconcerto do mundo e as injustiças que lhe são inerentes manifestam-se em
todas as épocas, mesmo em pleno século XX, numa Europa mais esclarecida. 2. Refira duas
consequências pessoais
Leia o texto a propósito do filme que exalta um homem que tentou consertar e da sua ação
concertar o seu mundo e responda, de seguida, aos itens apresentados. humanitária.

3. Esclareça o sentido do
último período textual.
Um justo entre as Nações
Na tradução do hebraico, o justo é
um não-judeu merecedor do paraíso.
Atualmente, o estado de Israel
re- fere-se assim às personalidades
(góis/
5 gentios) que arriscaram as suas

pró- prias vidas durante o


Holocausto, para salvar judeus do
extermínio perpetrado pelo nazismo.
[…] O caso de Aristides de Sousa
10 Mendes é ainda hoje paradigmático:

de cônsul em Bordéus a refugiado no


pró-
prio país (recebendo o auxílio da assistência judaica internacional, para
sobreviver a uma perseguição política conduzida por Salazar), diz-se que
morreu em Lisboa com um hábito franciscano (por não ter sequer um fato
próprio).
15 Em filme e com o título Aristides de Sousa Mendes – o Cônsul de Bordéus (dirigido

por João Correa e Francisco Manso), divulga-se a condição deste grande


homem (que assinou, contra a ordem de Salazar e a famigerada1 Circular 14,
mais de trinta mil vistos, para que tantas vidas judaicas pudessem chegar a
Portugal, oriundas da Europa invadida por Hitler e salvas da perseguição
nazi).
20 Numa narrativa que foca o percurso de um maestro judeu (Aaron

Apelman) – o qual acaba por reencontrar uma irmã que julgava morta –
ativam-se várias se- quências fílmicas em analepse, para que se conheça a
ação grandiosa do que é também conhecido como o Schindler português.
Entre o percurso do maestro e o da irmã Esther sobressai o sucesso da
liberdade,
25 do reencontro, da reunião. E no seio deste há Aristides de Sousa Mendes, tal

como a música, a harmonizar o que, no universo, possa ser o maior de todos


os desconcer- tos: o esquecimento e a aniquilação do ser humano,
independentemente de credo, sexo e raça.
in http://carruagem23.blogspot.pt/2012/11/um-justo-entre-as-nacoes.html
(texto adaptado, consultado em maio de 2017).

1. Explicite de que modo Aristides de Sousa Mendes contribuiu para o combate


à injustiça e à desigualdade.
7.2; 7.3; 8.1

1.O cônsul de Bordéus, através do seu cargo diplomático, conseguiu salvar mais de trinta mil
judeus que fugiam
a Hitler, pois assinou os vistos que permitiram a sua saída
de França e a entrada em Portugal.
2.Foi perseguido pelo regime salazarista, tornando-se um refugiado no próprio país; viveu e
morreu na pobreza.
3.Entre os dois irmãos que escapam à fúria de Hitler, Aristides de Sousa Mendes surge
como um ser harmonioso, que se compara à música, arte que consegue (re)conciliar todos
os desconcertos (as
desarmonias) e vencer todas as desigualdades.

1
célebre, conhecida.
Funções sintáticas II
APRENDER

Funções sintáticas Exemplos

PREDICATIVO DO COMPLEMENTO DIRETO


Função sintática desempenhada por
um constituinte selecionado por um
verbo transitivo-predicativo (considerar,
a.Os portugueses consideram
achar, nomear, eleger, julgar…)
Camões um grande
Pode ser desempenhada por
escritor.
– um grupo nominal (a.);
b. Os alunos acham
– um grupo adjetival (b.);
a obra vicentina
– um grupo preposicional (c.).
divertida.
c.Considero esta adaptação
teatral de muito mau
gosto.

COMPLEMENTO DO NOME
Função sintática interna a outra,
desempenhada por um constituinte
selecionado pelo nome, situado à sua
direita. a. A revolta estudantil
Pode ser desempenhada por foi importante.
– um grupo adjetival (a.); b. A hipótese de irmos à visita
– um grupo preposicional oracional (b.); de estudo agrada-me mais.
– um grupo preposicional não oracional (c.). c. A fotografia da turma
Só alguns nomes selecionam o está espetacular.
complemento do nome, a saber:
– nomes deverbais, ou seja, formados a
partir de verbos transitivos: visita (visitar),
construção (construir), estudo (estudar), análise d. A análise da lírica camoniana
(analisar)… (d.); não é fácil.
– nomes que indicam graus de parentesco: e.O pai do Pedro é um leitor
pai, mãe, filho, neto… (e.); assíduo de Camões.
– nomes icónicos, ou seja, nomes
relacionados com representações da
f.A estátua de Camões
realidade: pintura, fotografia, desenho, apresenta proporções
escultura, esboço… (f.); guerreiras.
– nomes epistémicos, isto é, relativos ao
conhecimento, que indicam conceitos e g. A possibilidade de tirar
ideias: hipótese, probabilidade, ideia, uma positiva no teste é
necessidade, possibilidade… (g.). enorme.

COMPLEMENTO DO ADJETIVO
É uma função sintática interna a
outra, desempenhada por um
constituinte selecionado pelo a.O António ficou responsável
adjetivo. por apresentar oralmente a
Pode ser desempenhada por obra do projeto de leitura.
– um grupo preposicional oracional (a.); b. A Maria ficou satisfeita
– um grupo preposicional não oracional (b.); com os resultados do teste.

162
PROF E S SOR
APLICAR
Gramática
18.1
1. Estabeleça uma relação entre os elementos da coluna A e os da coluna B, de
forma a classificar as funções sintáticas dos constituintes sublinhados. 1.
a
Coluna B í
[A] Uma parte substancial da população
e
portuguesa vê Camões a
poeta de eleição. c
[B] O poeta ficou fascinado u
mulher de pele escura. o
[C] A beleza de Bárbara distancia- s
se do modelo petrarquista. g
[D] Maria elegeu o soneto camoniano m
dia em que nasci moura e
o mais triste. n
[E] A obra lírica de Camões o
conjugação s
da medida velha com a medida nova
b
[F] A estética literária renascentista i
considerava fundamental
imitar a Natureza.
h
a
[G] Como consequência do intelectualism
derivado do predomínio da razão, od
escritor clássico ficava o
de um rigoroso código de regras n
fixas. ã
[H] Por vezes, o poeta traçava o retratoo
de uma Natureza sombria c
Coluna A
r
e
p
[1] Complemento do adjetivo o
n
d
e
a
u
m
[2] Complemento do nome c
m
p
e
m
e
[3] Predicativo do complemento n
direto o
d
o
n
o
m
e
2. Indique a
[A] No século XVI, desenvolveu-se um grande [A] – [3]
[B] – [1]
interesse pelo Homem.
[C] – [2]
[B] A mensagem trazida pelos descobridores era a [D] – [3]
da diversidade de raças e culturas. [E] – [2]
[F] – [3]
[C] Na época de D. João III, desenvolveram-se [G] – [1]
grandes estudos humanísticos. [H] – [2]

[D] A dura vida de soldado proporcionou a 2. [C]


Camões um enriquecimento espiritual. 3.
a. Complemento
3. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos do adjetivo
constituintes sublinhados. b. Complemento
do nome
a. Sabe-se que Camões terá estudado em Coimbra e que também c. Complemento
do nome
era dado aos amores. d. Complemento
do adjetivo
b. Supõe-se que Luís de Camões tenha tido uma
relação com a irmã de D. João III, a infanta D.
Maria.
c. Muita gente guarda na memória a ideia de
Camões a salvar Os Lusíadas a nado.
d. Estou convencida de que vai ser muito
interessante rever Os Lusíadas.
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

LEITUR A

O Renascimento e uma nova visão do Homem no mundo manifestaram-se não só


na literatura mas em todas as artes, nomeadamente na pintura.

Leia o texto expositivo e responda, de seguida, aos itens apresentados.

Os pintores descobrem a realidade


Na Antiguidade, a pintura era vista como um ofício, o que era comum a
todas as artes. Os mestres-pintores recebiam encomendas de personalidades
importan- tes ou mesmo de instituições, e tinham de executar quadros num
tempo limitado, com conteúdos predefinidos e destinados a um fim
predeterminado. Somente há
5 cerca de 700 anos é que os pintores começaram a lutar pela liberdade

(criativa) de dar uma finalidade própria aos quadros – ou seja, de lhes


emprestar um conteúdo que não se limitasse somente ao motivo
principal.
Nessa época, por volta da viragem do século XIII-XIV, os artistas
superaram as formas pictóricas medievais e desenvolveram uma forma de
representação em
10 perspetiva que ainda hoje influencia os nossos hábitos de ver imagens. O

leque de temas de arte, outrora reduzido às representações de teor sacro,


foi-se alargando à medida que aumentava o interesse pelo mundo profano,
levando a que novos temas fossem introduzidos nas Belas Artes.
Lentamente, os artistas começaram a libertar-se da sua condição de
artesãos, de modo a poderem exprimir as suas
15 ideias como artistas livres.

Esta nova conceção, que se anunciava, teve origem nas numerosas


mudanças de todos os domínios da vida, que, ao fim da Idade Média,
contribuíram para mo- dificar a visão do mundo e a postura intelectual. As
inúmeras relações comerciais e a intensa troca de mercadorias – sobretudo
no Norte de Itália – trouxeram rique-
20 za, prosperidade e crescimento às cidades. O crescimento económico leva a

que a burguesia, que se começava a formar nas cidades, se aperceba das


suas capa-
cidades. Artesãos e comerciantes, orgulhosos
dos seus ofícios, começavam a dar valor
aos seus próprios méritos, reconhecendo que
era
25 possível extrair lucros do seu trabalho.

As pessoas deixavam pouco a pouco de


se ver como parte de um todo, começando a
dar mais importância ao indivíduo.
Continuava a acreditar-se que o mundo era
plano, porém 30 esta crença, tal como o
próprio mundo, tor- nara-se num desafio.
As pessoas deixavam de confiar somente na
religião e na sabedoria controlada pelo clero.
Levantavam questões, querendo investigar

164
tudo. Audazes navega-
35 dores partiam para o desconhecido com

o intuito de conhecer as lacunas dos


mapas e de encontrar tesouros em países
estranhos, contribuindo para aumentar a
prosperida-
de e a riqueza das suas pátrias. Para levar a
São Francisco de Assis a pregar aos pássaros, Giotto di Bondone,
século XIII, Louvre, Paris.

165
Rimas

40 cabo assuas viagens, necessitavam de ciências e técnicas mais orientadas


P R O F E S S OR
para o mundo profano. Muitas das invenções da época, como por exemplo o
relógio, os mapas e uma série de aparelhos mecânicos deixam transparecer Leitura
7.2; 8.1
claramente essa necessidade.
À medida que os homens se iam interessando cada vez mais pelo mundo que
1.1 [C]
45 os rodeava, começava-se a recorrer a um realismo até aí pouco usual na
1.2 [A]
pintura. Esta nova visão do mundo encontra-se documentada pela primeira 1.3 [B]
1.4 [D]
vez nos qua-
dros do pintor italiano Giotto do Bondone. 4. Clarifique a
“Os pintores descobrem a realidade”, in Anna-Carola Kraube, História da
importância das
Pintura, Do Renascimento aos nossos dias, Colónia, Konemann, 2001 (edição navegações para
portuguesa). o
desenvolvimento
das sociedades.

5. Comente a
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das afirmações seguinte
seguintes. afirmação “[…]
1.1 Na Antiguidade, a pintura era vista como os artistas
começaram a
[A] uma forma de expressão dos sentimentos dos mestres-pintores.
libertar-se […],
[B] uma maneira de imortalizar a liberdade criativa do autor. de modo a
poderem
[C] um trabalho como outro qualquer.
exprimir as suas
[D] uma ocupação destinada só a senhores ricos. ideias como
1.2 A evolução no modo de encarar a arte deveu-se essencialmente à artistas livres.”
(ll. 13-15).
[A] mudança de mentalidades ocorrida nos inícios do século XIV.

[B] revolta dos mestres-pintores.

[C] necessidade de alargar o âmbito e os temas dos quadros


produzidos.

[D] influência do clero na educação da burguesia.


1.3 O progresso que se verificou nos finais da Idade Média refletiu-se também na
arte da pintura,
[A] que passou a representar temas sagrados.

[B] cujo teor se tornou progressivamente mais realista.

[C] que passou a ser associada a comerciantes e artesãos ricos.

[D] o que não foi bem aceite pelo clero.


1.4 No contexto em que surge, o termo “Audazes” (l. 34) pode ser substituído
por
[A] receosos.

[B] perigosos.

[C] nervosos.

[D] corajosos.

2. Enuncie duas diferenças entre a pintura da Antiguidade e a do Renascimento.

3. Explicite as mudanças que permitiram a evolução da pintura.


2. Na Antiguidade, a pintura era encarada como qualquer outro trabalho e era executada por
artesãos, sob encomenda. Por seu lado, a pintura renascentista passou a ser vista como a expressão do
modo de sentir do seu criador
e diversificou a temática, incluindo aspetos profanos, não se limitando apenas aos de caráter sagrado.
3. As mudanças verificaram-
-se em diversos domínios. Por um lado, o desenvolvimento social e económico − as trocas comerciais e a
ascensão da burguesia − que possibilitou
o crescimento das cidades, e, por outro lado, o facto de se começar a dar mais importância ao
indivíduo.
4 As navegações permitiram
o desenvolvimento ou
o aperfeiçoamento de determinadas ciências e técnicas, necessárias à consecução das Descobertas. Por
outro lado, o crescente desvendar do mundo influenciou o modo de pensar e de agir do ser humano, o
que suscitou mudanças sociais que se refletiram nas artes em geral.
5. A liberdade a que se faz referência na afirmação é a liberdade do artista e não do homem.
Anteriormente, o pintor executava uma tela, segundo a vontade de quem a encomendava. A partir do
Renascimento, passou a poder representar-se e a representar a sua maneira de ver o mundo; passou, portanto, a
dispor de liberdade criativa.
PAR A S A B E R Rimas
P R O F E S SO R

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA
Apresentação
Galeria de Renascimento, Humanismo e Classicismo
imagens
• nova conceção do Homem e do Mundo
Apresentação
Síntese da • privilégio da razão e da experiência
Unidade
• sobreposição do antropocentrismo ao teocentrismo medieval
Teste interativo
Rimas • crença no saber do Homem e na sua experiência
• recuperação dos clássicos por influência de Dante e Petrarca (nos temas,
nas formas e na mitologia)
• coexistência de formas medievais e renascentistas na literatura

TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES

A representação da amada A representação da Natureza

• por influência petrarquista, surge a • espaço alegre, tranquilo, sereno, propício


imagem de uma mulher: ao amor (locus amoenus);
− angélica, um ser divino, de pele e cabelos • espelho da alma do poeta,
claros, elementos físicos reveladores das refletindo os seus sentimentos;
qualidades da alma; • confidente, testemunha da dor
− com um poder transformador da provocada pela ausência/separação da
Natureza e do Homem; amada;
• do contacto com outras culturas, nasce • espaço onde o "eu" pode
um novo conceito de beleza feminina, distante do projetar os seus sentimentos
de Petrarca (pele e cabelos escuros), capaz de negativos.
provocar fascínio e tranquilidade no amador.

A experiência amorosa
A reflexão sobre a vida pessoal
e a reflexão sobre o
amor

• poeta dividido entre a fascinação do amor • o poeta reflete sobre:


espiritual e a atração de um amor carnal, entre − o Destino (que nunca lhe foi favorável);
a mulher que admira e a que deseja;
− os erros que cometeu;
• à luz do petrarquismo, a ausência da
− o amor (fracassado).
mulher amada é ocasião de purificação
amorosa; no entanto, por vezes, essa situação
origina sofrimento, saudade
e ânsia de reencontro físico;
• o poder transformador do amor e os
seus efeitos contraditórios.

166
TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES (cont.)

O tema do desconcerto O tema da mudança

• reflexão sobre o desconcerto do • consciente da irreversibilidade do


mundo, ao nível social e moral. Assim, tempo, o poeta reflete sobre:
este resulta: − a renovação cíclica da Natureza;
− da errada distribuição dos prémios e − a mudança da vida e das coisas.
dos castigos (os maus são
galardoados,
os bons severamente castigados);
− dos contrastes entre a
“opulência” e a “miséria”;
− do crescente interesse dos
homens por valores materiais.

LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA DA POESIA LÍRICA CAMONIANA

Estilo Estrutura Linguagem

• engenhoso (a medida • redondilha • recurso a


velha menor (5 sílabas construções curtas a
– redondilhas) métricas) ou glosar um mote, com
maior uma linguagem sóbria,
(7 sílabas métricas): mas engenhosa,
− com mote: servindo-
-se de:
vilancete
− jogos de palavras;
cantiga
− trocadilhos;
− sem mote:
− antíteses;
esparsa
− (…)
trova ou endecha

• soneto
• clássico (a (2 quadras e 2 tercetos)
medida nova – verso • uso da
decassilábico) linguagem ao
serviço da:
− descrição;
− reflexão;
− confissão;
• presença
diversificada de
recursos expressivos,
com predomínio para
a linguagem figurada
(metáforas, hipérboles, …)
e a sonoridade
(aliteração);
• recurso a
vocabulário e frases
de influência
latinizante.
PAR A V E R I F I C A R Rimas

Verifique os seus conhecimentos sobre a lírica camoniana.

Leia com atenção os dois textos que se apresentam e, de seguida, responda ao que é solicitado.

PROFE S SOR TEXTO A TEXTO B


a este mote alheio: Enquanto quis Fortuna que tivesse
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.8; 15.1;
Vós, Senhora, tudo tendes,
16.1; 16.2 Enquanto quis Fortuna que
senão que tendes os olhos
tivesse esperança de algum
verdes.
contentamento, o gosto de um
Teste interativo suave pensamento me fez que
"Luís de Camões – VOLTAS
Rimas" seus efeitos escrevesse.
Dotou em vós Natureza
1.
a. Texto B 5 o sumo da perfeição, 5 Porém, temendo Amor que aviso
b. vv. 1-6 que, o que em vós é desse minha escritura a algum juízo
c.Texto A
d. vv. 1-2; 3-4 senão, é em outras isento, escureceu-me o engenho co
gentileza: tormento, para que seus enganos não
o verde não se despreza, dissesse.
que, agora que vós o
tendes, Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
10 são belos os olhos verdes. 10 a diversas vontades! Quando
lerdes num breve livro casos tão
Ouro e azul é a milhor diversos,
cor por que a gente se
perde; mas, a graça verdades puras são, e não
desse verde defeitos... E sabei que, segundo o
15 tira a graça a toda a cor. amor tiverdes, tereis o
Fica agora sendo a flor entendimento de meus versos!
a cor que nos olhos tendes, Luís de Camões, Rimas.
porque são vossos... e verdes! Texto estabelecido por A. J. Costa Pimpão,
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 117.
Luís de Camões,
Rimas. Texto estabelecido por A. J. Costa
Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994],
pp. 12-13.

1. Selecione no(s) poema(s) elementos textuais que comprovem as temáticas elencadas.

Apresentação de dois elementos


Temáticas TEXTOS (A/B)
textuais comprovativos

(1) A experiência amorosa


a. b.
e a reflexão sobre o amor

(2) A representação da amada c. d.

168
PAR A RE C U P E R Rimas
AR
P
R
EDUCAÇÃO LITERÁRIA O
F
1. Insira no quadro abaixo os tópicos E
seguintes, relacionados com a lírica S
S
camoniana e com a época em que o poeta O
viveu. R

E
a. Nova conceção do Homem e do Mundo; d
b. Privilégio da razão e da experiência; u
c. Estilo engenhoso assente na medida c
velha (redondilhas); d. Soneto, a
composição poética composta por versos ç
decassilábicos; e. Vilancete, composição ã
explorada por Camões adaptada às diversas o
temáticas; f. Presença de locus amoenus, em
L
consonân- cia ou dissonância com o estado
i
de espírito do “eu” lírico; g. Reflexão sobre
t
a desordem e a injustiça, ao nível moral e e
social; h. Consciência da irreversibilidade do r
tempo no ser humano e a mudança cíclica da á
Natureza; i. Mulher descrita como súmula da r
perfeição moral e física; j. Valorização do i
poder transformador do amor e os seus a
efeitos contra- ditórios; k. Poeta enquanto
ser predestinado à infelicidade. 1
.
Humani
smo: a.;
Corrente tradicional b.
Humanismo Corrente
(formas)
tradicion
al:
(formas
): c.; e.
Representação Corrente
Representação da amada
da Natureza renascentista:
(formas): d.
R
e
p
r
Tema da mudança Tema do desconcerto e
s
e
n
t
a
ç
GR A M Á T I C A ã
o

d
a

N
a
t
u
r
e
z
a
:
f. a es o príncipe dos poetas, uma
Representação da amada: s
i. Experiência amorosa e p vez que são sensíveis às
reflexão sobre o amor: e temáticas exploradas nos seus
j. t
Tema da o poemas.
mudança: h. s
Tema do
1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos
desconcerto: g. e
constituintes sublinhados.
Reflexão sobre l
a vida pessoal: 1.2 Indique o valor lógico do conector presente nessa frase.
e
k. n
c ESCRITA
Gramática a
1.1 Sujeito simples; d
predicativo do o Num texto de apreciação
complemento direto; s crítica, entre 80 e 100
complemento do n
adjetivo. a palavras, apresente o poema
1.2 Valor causal. i de Ca- mões de que mais
n
s
gostou, recorrendo a uma
Escrita
Resposta de caráter tr linguagem clara e valorativa e
pessoal, dependendo u focando os seguintes aspetos:
do poema que ç
o aluno escolher. ã • atualidade do poema selecionado;
Terá, no entanto, o
. • tema(s) explorado(s);
de obedecer aos
• um ou dois versos da sua preferência e respetiva
1. Atente na frase seguinte: justificação;
• dois recursos expressivos significativos utilizados no
M desenvolvimento temático;
u
• classificação da composição poética e análise formal da
i mesma.
t
o
s

p
o
r
t
u
g
u
e
s
e
s

c
o
n
s
i
d
e
r
a
m

C
a
m
õ
A lm ei da G LIAR Rimas
P A R A
a rr et t GRUPO I
A V A
PROFE S SOR
Leia o poema de Camões a seguir transcrito e responda às questões que
se seguem.

Apresent
Eu cantei já,
ação
Soluções e agora vou
Ficha de chorando o
Avaliação tempo que
cantei tão
GRUPO I confiado;
Educação
parece que
Literária no canto já
14.2; 14.3;
14.4; 14.6;
passado
14.10 se estavam minhas lágrimas criando.

5 Cantei; mas se alguém me pergunta: – Quando?


– Não sei; que também nisso fui enganado.
É tão triste este
meu presente
estado que o
passado, por
ledo1, estou
julgando.
1.
a. V
Fizeram-me cantar, manhosamente,
b. F –
Os 10 contentamentos não,
terceto mas confianças;
s cantava, mas já era
apresen
tam ao som dos ferros2.
rima
interpo De quem me queixarei,
lada.
c. F – 10
que tudo mente? Mas
sílabas eu que culpa ponho às
métricas
1
esperanças onde a
(decassílabos
contente, Fortuna injusta é mais
).
d. V feliz; que os erros?
e. V
Luís de Camões, Rimas, Coimbra, Almedina,
f.V
2005, p. 171.
2. No presente,
o sujeito poético
sente-se infeliz,
por saber que as
suas esperanças
foram frustradas e
que todos o
enganaram ( “e
agora vou
chorando”, v. 1); “É amargurado (“parece que no canto já passado / se estavam minha lágrimas criando”, vv. 3-
tão triste este meu 4).
presente estado”, 3. O sujeito poético cantava, sentia-se feliz, mas já estava a ser preparada a sua amargura
v. 7 ). No passado, futura.
o “eu” vivia feliz, 4. O sujeito poético sente
mas estava ser dificuldades em queixar-se de alguém porque toda a gente mente e a vida é toda ela feita de
enganado e, nesse enganos. Assim sente-se profundamente só.
passado, estavam a 5. A Fortuna (ou Destino) está personificada, daí a utilização da maiúscula.
ser criadas as O sujeito poético afirma
condições para o que ela é a maior responsável pelo seu estado atual, mais do que qualquer erro que tenha
seu presente cometido.
2
d n b. Os tercetos apresentam rima cruzada.
ref
erê a e c. Os versos contêm sete sílabas métricas (redondilha maior).
nci d g
a
e a d. Em todos os versos deste poema a última sílaba
às não é contabilizada para a métrica do verso.
gra i t
des r i e. O último verso do poema tem quinze sílabas gramaticais.
da
pris a v f. Com os travessões, nos versos 5 e 6, o sujeito poético reproduz
ão s a um discurso direto.
de
Go
.
a, o 2. O sujeito poético reflete sobre a sua vida e estabelece
a. Este
ond u uma oposição entre passado e presente. Caracterize o
eo texto
poe de sujeito poético nessas duas etapas da sua vida, funda-
ta f Camõ mentando a resposta com citações textuais.
est es
eve a
apres 3. Justifique a utilização da adversativa “mas” no verso 11:
pro l
vav enta “cantava, mas já era ao som dos ferros.”
elm s
uma
ent a form 4. Explicite o sentido da interrogação no verso 12.
e s
pre a
, 5. Justifique a maiusculização da palavra “Fortuna” no
so clássi
ou ca. último verso do poema, expli- citando a sua importância
a no percurso de vida do sujeito poético.
pris c
ão o
amor r
osa
(amo r
r). i 170
g
1. I i
n n
d d
i o
q
u a
e s

s f
e a
l
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s a
s
a
f s
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m
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õ c
e o
s r
-
s
ã r
o e
r
v
e à
r
P R O F E S S OR

GRUPO II GRUPO II C .
l
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s )
s
i 1
f
i
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u
e

a
s 2

o
r
a
ç
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s

s
e
g
u
i
n
t
e
s
.

q
u
e

c
a
n
t 3
e
i

t
ã
o

c
o
n

a
d
o

v
minhas lágrimas a destes textos G
criando” (vv 3-4). no contexto da r c c
a “
literatura o
p
3.1 Indique a função nacional. m n p
sintática de “minhas á s
t 4
lágrimas”. • conclusão: e r
i
reforço das ideias c p
3.2 Classifique os c
principais e apelo ao u i
a
termos sublinhados estudo da lírica t .
1
quanto às classe e camoniana. 8 i 4
subclasse v a
.
d
gramaticais. 1 a
p
; . s
1 2.
4. Atente no seguinte .
8
verso: Fizeram-me r 5
.
e (
cantar, manhosamente” 4
d 6
( v. 9). ;
1 i “
c (
4.1 Indique o tempo e o 9

. a
modo em que se t 7
1
encontra a forma ; i
verbal sublinhada. 1 v G
9 o I
4.2 Indique o processo .
de formação da 4 d E
palavra ; o 1
1 1
“manhosamente”. 1
9
. s 1
5. Transcreva do poema um 7 u
exemplo de arcaísmo. j
C
e
1.1 u
6. Retire do texto duas i s
Sub t
palavras do campo d
o o r
lexical de “lágrimas”. r . T
d 3.1 d
i Suj s
GRUPO n e e
a i C
d t t
a o e
Elabore um texto de adj . p
etiv v
apreciação crítica, entre 3.2 a
a “
120 e 180 palavras, que rela e
q e
pudesse ser in- cluído no tiva u a
rest e
jornal da escola, sobre a p
riti ” q
poesia lírica de Camões. va. s
1.2 – e
O texto deve ter uma S v
estrutura tripartida, de u c c
b o t
acordo com o seguinte e
o n
plano: j o
r s
u
•introdução: d n t
apresentação do objeto i ç g
n ã H
apreciado: autor, época, o d
a
tipo de composições d q
o
(medida velha e medida a s
u E
nova) e principais r
b
temas; a o m
d r m
• desenvolviment v d d
o: apreciação crítica i o
e
n p
da lírica camoniana – r c
a
b m
– importância t
i i i
destas a v a
l a a
Natureza, a mudança, o v
desconcerto do mundo e o i
da sua própria vida. E nós, s
neste século XXI, tão i
tecnológico, tão disperso, t
primeiro estranhamos, mas a
depois de percebermos essas r
tantas emoções, acabamos .
por as entranhar em nós, (180
porque, enfim, é da nossa pala
condição humana que o vras)
poeta fala.
É bem certo que a obra, em
muitos aspetos, espelha a
vida do seu criador, que esteve
em três dos quatro cantos
do mundo. Mas essa obra
é também espelho de uma
glória do país passada, que
já se sentia decair, dum
mundo desconcertado e duma
língua em mudança.
Por tudo isto, a lírica
camoniana é um precioso
testemunho do passado
e um marco na literatura
portuguesa, que se deve

171
MÓDULO

3
1. Luís de Camões, Os Lusíadas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Os Lusíadas
• Imaginário épico
• Reflexões do poeta
• Linguagem, estilo e estrutura
Leitura
Artigo de divulgação científica
Exposição sobre um tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
• Funções sintáticas
• Campo lexical/Campo semântico
• Coordenação/Subordinação
• Processos fonológicos
• Referente
• Tempo e modo verbal
• Conector
• Classe de palavras
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
L u í s de C a m õ e PARA CONTEXTUALIZAR
s
Contextualização

1524/1525 1553 1568 1572 1578 1579/1580


Data provável
Embarque de Subida Publicação Desaparecimento Data provável
do nascimento
Camões para o de D. de Os de D. Sebastião da morte de
de Luís de Lusíadas
Oriente Sebastião ao na batalha de Luís de Camões
Camões
trono Alcácer Quibir (10 de junho)
de Portugal (4 de agosto)

Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como a
obra que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

Contexto socioeconómico do século Renascimento


XVI
• Identifica-se com a recuperação da cultura
• O século de Quinhentos deve ser encarado como greco-latina e dos valores que lhe são inerentes (em
o cul- minar de um processo transformativo que incidiu oposição à cultura e aos valores da Escolástica
sobre as mais diversas áreas. Medieval).
• A burguesia comercial, em ascensão, que se foi • É um fenómeno sociocultural datável da segunda meta-
apro- 5 de do século XV e situado essencialmente no espaço
5 priando de diversos e importantes meios económicos, político que corresponde à república italiana, de onde
come- ça a fazer ceder a sociedade rigidamente irradiou depois para toda a Europa.
hierarquizada. Elaborado a partir de José Augusto Cardoso
• As Universidades, fundadas sob a proteção do Bernardes, “Renascimento”, in Vítor Aguiar e
poder régio e eclesiástico, começam a ver ameaçado o Silva (coord.),
seu mono- pólio de construtoras do saber.
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
10 • Com a emergência do poder absoluto do monarca, Editorial Caminho, 2011, p. 839.
o espaço palaciano é objeto de valorização
sociopolítica e cultural.
• As cortes europeias começam a ter uma A epopeia
intensa vida
artística e cultural, à semelhança das italianas de Veneza e História Crítica da Literatura Portuguesa, Humanismo e
de Renascimento, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 13-18.
15
Florença, sobretudo.
• Embora no século XVI tivessem proliferado as
atividades mercantis, outras áreas da vida,
nomeadamente a cultural, sofreram também grande
incremento.
Elaborado a partir de José Augusto Cardoso
Bernardes,
• As epopeias são narrativas de fundo as dificul-
histórico em que se registam poeticamente as 5 dades através das quais se afirmou triunfalmente a sua
tradições e os ideais de um grupo étnico sob a perso- nalidade.
forma de aventuras de um ou alguns heróis. Elaborado a partir de António José Saraiva, Luís de
• Normalmente têm um herói central e narram Camões – estudo e antologia, 3.a ed., Lisboa, Livraria Bertrand,
1980, p. 119.

174
PARA INICIAR

Observe atentamente a sequéncia de imagens proposta.

,Ind ia..

A Mapa da viagem a Tndia

0rali.dade

1. (B) Infante D. Henrique;

\. Identifi.que as figuras representadas nas imagens B, I) e F.

z. proponha uma reIa§âo entre as imageñs B, ñ, D e E..


com and au.a exp edi§ao a
India,
3. Refira-se ao papel da figura.representada na imagem B na eimpresaedos Descobri- '9FH r99N ii FH9Nt0 F0j9td@.0
mentos.. p elo Infante D. Henrique,
e C amâe s per.pe tuau.-a.

c. Articule as imagens D e E com a A.

s. Relacione Lui's de .Camoes e a sua obra com a viagem tra§ada na imagém A.


LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a

C O M P R E E N S Ã O DO OR AL

1. Proceda ao visionamento de excertos de um documentário sobre Luís de


Camões e selecione as opções que correspondem ao conteúdo informativo do
documento.

Camões e Os Lusíadas
Os Lusíadas, A data de celebração do aniversário da(o) a. (morte/nascimento) de Luís
Grandes Livros, RTP
de Camões é 10 de b. (julho/junho). É oficialmente o dia de Portugal.
Muitos são os portugueses que c. (sabem/não sabem) as primeiras
PROFE S
SO R estâncias de Os Lusíadas, mas só alguns conhecem a obra.
5 Ver alguém a ler Os Lusíadas num espaço público convoca a ideia de
d. (estudo/saber) ou de dever a cumprir. É um livro e. (difícil/fácil)
Vídeo
e tem sido usado como projeto de construção da identidade nacional.
"Documentário
sobre Luís de Camões
e Os Lusíadas" Em diferentes contextos, Camões foi considerado um símbolo f. (nacional/

Oralidade e Os Lusíadas uma das obras-primas da literatura g.


internacional) (nacional/
1.1; 1.4 10 mundial). Esta obra é tanto um canto de h. (exaltação/crítica) como de
Educação Literária
16.1; 16.2 i. (decadência/crise).

Os Lusíadas foram publicados em 1572, no final de um século j. (previsível/


1.
a. morte prodigioso).A ação acompanha a k. (histórica/fatídica) viagem realiza-
b. junho da por l. (Vasco da Gama/Bartolomeu Dias) à m. (Índia/China) em
c.sabem 15 n. (1498/1497). Ao mesmo tempo descreve a grande aventura dos
d. estudo
o. (portugueses/espanhóis) desde o(a) p. (declínio/fundação) da nacionalidade.
e. difícil
f.nacional
Camões escreve setenta e tal anos depois disso ter sucedido, e Portugal
g. mundial
h. exaltação mudara entretanto, estando agora a empalidecer.
i.crise
j. prodigioso No século q. (XVI/XV), o mundo era literalmente dos r. (espanhóis/
k. histórica 20 portugueses).O avanço científico e tecnológico deste povo sustentava s. (fabu-
l.Vasco da Gama losas/quiméricas) ilusões de t. (grandeza/fraqueza). Garcia de Horta afirmava que,
m. Índia
n. 1497 naquela época, se sabia mais em um u. (dia/ano) pelos portugueses do
o. portugueses que em v. (cem/duzentos) anos pelos romanos.
p. fundação
q. XVI Neste contexto, era natural w. (criticar/celebrar) em literatura os feitos na-
r. portugueses 25 cionais. Os portugueses tinham-se afirmado como nação imperial, mas
s. fabulosas
faltava à língua portuguesa idêntico prestígio no plano t.
t.grandeza
u. dia (nacional/internacional). E o poema épico representava o mais
v. cem alto desígnio a que uma língua poderia aspirar. A epopeia estava no topo
w. celebrar do cânone dos géneros literários, juntamente com a y. (tragédia/comédia). Era
x. internacional
y. tragédia muito importante, porque seria a forma mais
z. prestigiosa 30 z. (prestigiosa/fastidiosa) de a literatura poder enaltecer os feitos dos portugueses.

Outros poetas tentaram a escrita de uma epopeia em português, mas apenas


Camões foi capaz de levar a bom porto este projeto nacional.
Contudo, há uma ironia amarga nisto: do homem de quem herdamos uma
história pouco ou nada sabemos da sua própria história. Sobre a vida de Camões
35 são mais os mitos que circulam do que os factos comprovados.
176
PARA DESENVOLVER

INFORMAR

Efetue a leitura da informação apresentada a seguir.

Origem e valor simbólico do termo "lusíadas"

Origem / século Valor simbólico P R O F E S SO R

• Surge no século XVI. • Corresponde ao desejo de


• Deriva de Lusus (“Luso”) mediante individualizar – em termos de
Link
o sufixo grego -iades (“descendente”) e identidade – um povo que se distinguia
“A primeira edição
significa etimologicamente “descendentes dos restantes (o termo pertence a André de Os Lusíadas”
do Luso”. de Resende, segundo o estudo de
Carolina Michaëlis, Américo Costa Sugestão metodológica:
Ramalho e Sebastião Pinho). aceda ao portal ensina.rtp.pt
e passe o vídeo “A primeira
Adaptado de Virgínia Soares Pereira, "Lusíadas", in Vítor Aguiar e Silva (coord.), edição de Os Lusíadas” para
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 489-490. introdução deste conteúdo
temático
(http://ensina.rtp.pt/artigo/
primeira-edicao-dos-lusiadas/)

A génese de Os Lusíadas Leitura


7.1; 7.2; 8.1
Educação Literária
Porquê uma Como se destinava a cantar os feitos excecionais, era 14.3; 14.4; 14.6; 14.7;
epopeia? necessário um tratamento literário também excecional. 11.11; 15.1; 15.2; 16.1

• Proposição 1. Lusíadas
Estrutura interna • Invocação significa
“descendentes de
da epopeia • Dedicatória Luso”, ou seja
• Narração (in medias res) portugueses.
2. Por um lado, as
descobertas portuguesas
• Elevado, grandiloquente; recurso a latinismos e dos séculos XV
helenismos. e XVI ofereciam matéria
para o canto, na medida
Estilo • Recurso a factos e figuras da Antiguidade e da mitologia. em que
• Inserção de episódios de tonalidade diferente (bucólicos, constituíam feitos
excecionais. Por outro lado,
elegíacos, eróticos, cómicos), para evitar a monotonia da era uma forma de valorizar
tensão épica. a língua e o povo
Destaque para as finalidades cívicas do heroísmo e para a nobreza português.
Herói 3. A epopeia
das causas que o herói – que, no caso de Os Lusíadas, é coletivo –
camoniana inicia-se com
serve. a Proposição, a Invocação
• Valorização do povo português. e a Dedicatória, e a ação
Intenção começa in medias res. O
• Intenção também pedagógica. estilo é elevado,
grandiloquente, com utilização
de latinismos e helenismos (do
Elaborado com base em Maria Vitalina Leal de Matos, "Os Lusíadas", Grego), com o aproveitamento
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, frequente de factos e de
pp. 492-494. figuras da História antiga
e da mitologia clássica,
com recurso a episódios de
tonalidade diferente.

Considere a informação apresentada.

1. Explicite o significado do termo "lusíadas".


2. Demonstre a necessidade da existência de uma epopeia em Portugal.
3. Apresente a estrutura interna e o estilo da epopeia camoniana.
17
7
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a

INFORMAR

PROFE S SOR
Poema épico
Educação Literária
14.3; 14.6; 14.7; 14.11;
Estruturação externa e interna de Os Lusíadas
15.1; 15.2; 16.1

1. Epopeia é uma Os Lusíadas são um poema épico, género narrativo que remonta, na
narrativa em verso, de cultura ocidental, à antiga Grécia, com Homero, e a Roma, com
feitos históricos e Origens Virgílio.
sublimes, levados a cabo
por um ou vários heróis.
e Destina-se a “cantar”, celebrar feitos grandiosos, reais ou fictícios,
objeto praticados por heróis fora do comum, em verso e num estilo
2. (1) Plano da viagem de
Vasco da Gama à Índia, em (poema épico) “elevado”; os heróis, reais ou mais frequentemente míticos, têm
que se narram os feitos normalmente representatividade coletiva, exprimindo valores,
gloriosos dos navegantes sonhos e capacidade de realização do povo ou grupo étnico a
portugueses; que pertencem.
(2) Plano da História de
Portugal (narração de O poema épico Os Lusíadas está dividido em 10 cantos e todas as
acontecimentos passados e
apresentação de profecias); Estrutura estrofes são oitavas (de 10 sílabas métricas), segundo o esquema
(3) Plano dos deuses externa rimático abababcc; no total, 1102 estrofes, numa média de 110 por
(imaginário mitológico pagão). canto, havendo cantos mais longos, como o III e o X, e cantos mais
3. É o plano das curtos.
considerações e reflexões
do poeta, Na Introdução, apresenta também uma Dedicatória e, na
de natureza filosófica, Conclusão, o poeta faz um apelo. Nos dois casos, tem como recetor
sociológica, política
Estrutura o rei que então governava e preparava uma ação militar contra
e autobiográfica.
interna Marrocos, D. Sebastião.
4. Os narradores são
Vasco e Paulo da Gama, No final, quando este já é rei, Camões aconselha-o no sentido de bem
mas também uma Ninfa reinar e de conduzir o seu povo, que agora se encontra num período
e Tétis, que apresentam de crise, definido como “austera, apagada e vil tristeza”.
os factos históricos sob
a forma de profecias. Os Lusíadas integram quatro planos:
• o da viagem – ação central – de Vasco da Gama em
busca da Índia, realizada em 1497-98;
• o da História de Portugal – ação secundária – narrada por
narradores participantes, Vasco da Gama, Paulo da Gama, e,
Planos em relação aos acontecimentos posteriores à viagem e anteriores
narrativos a 1572, por deuses, com relevo para uma Ninfa e para Tétis, sob
a forma de profecias;
• o dos deuses, do imaginário mitológico pagão – que se
articula com a narração da ação central, sendo os deuses agentes
motores, como
oponentes desta ação (no caso de Baco, que funciona, de certo
modo, como a voz dos povos orientais, mas também de Neptuno
e outras divindades do mar), ou como adjuvantes (Vénus,
sobretudo, e Júpiter, a seu pedido);

Plano das • um plano não narrativo, constituído por considerações e


considerações reflexões filosóficas, sociológicas, políticas, autobiográficas do
do poeta poeta e autor-
-narrador Luís de Camões.
Adaptado de Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal – uma perspetiva didática.
Época medieval e época clássica, vol. I, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 152-153.

Considere a informação anterior e responda às seguintes questões.

1. Baseando-se no primeiro tópico, defina, por palavras suas, epopeia.

2. Indique os três planos narrativos existentes n’Os Lusíadas, referindo o assunto respetivo.

3. Diga em que consiste o único plano não narrativo.


Os Lusíadas
4. Identifique os narradores do plano da História de Portugal.
Contextualização

Considere a informação recolhida nas páginas 177 e 178.

1. Complete cada alínea da coluna A com a opção correta da


P R O F E S SO R
coluna B.

Educação Literária 14.3; 14.6;


Coluna A Coluna B 14.7; 14.11;
[1] na viagem de descoberta do caminho marítimo 15.1; 15.2; 16.1
[A] A introdução de Os Lusíadas para a Índia.
integra 1.
[2] narradores humanos e mitológicos.
[B] O plano da viagem,
[3] após as reflexões do poeta.
ação central, articula-
se [4] a Proposição, a Invocação e a Dedicatória.

[C] No plano da História surgem [5] de peripécias ou acontecimentos que


ocorrem durante a viagem.
[D] O plano da viagem centra-se [6] com o plano mitológico.

[E] As intervenções do [7] da necessidade de este se lamentar.


poeta resultam

2.
Complete o
seguinte
esquema.

Os Lusíadas

Estrutura externa Estrutura interna


PLANO f.

10 cantos PROPOSIÇÃO
PLA
1102 estrofes
8816 versos (dispostos
em decassílabos heroicos) a.
REFLEXÕES g.
b.
3.
Ob
ser
ve
de
no
vo
o
es
qu
e
m
a
rel
ati
vo
à
179
[A] – [4]
[B] – [6]
[C] – [2]
[D] – [1]
[E] – [5]
2. a. Invocação
b. Dedicatória
c.Narração
d. da viagem
e. dos deuses
f.da História de Portugal
g. do poeta
3. Nos planos da viagem e da História de
Portugal,
cujo herói é o povo luso, isto é, os portugueses.

180
Os Lusíadas

FIXAÇÃO DE
TEXTO EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Luís de Camões, Os LUSÍADAS
(leitura, prefácio e notas de
A. Costa Pimpão), 4.a ed.,
Lisboa, Instituto Camões – Leia as estâncias 1 a 3, relativas à Proposição, atentando particularmente no
Ministério dos Negócios
Estrangeiros, 2000.
caráter épico, e resolva as atividades propostas.
NOTAS
Luís de Camões, Os LUSÍADAS
(edição organizada por Emanuel
Proposição
Paulo Ramos), Porto,
Porto Editora, 1997.
1 3
PROFE S SOR As armas e os Barões Cessem do sábio Grego3 e do
assinalados Que da Ocidental Troiano4 As navegações grandes que
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.6; praia Lusitana fizeram; Cale-se de Alexandro5 e
14.9; 14.11 Por mares nunca de antes de Trajano6
navegados Passaram ainda além da A fama das vitórias que tiveram;
1. Plano da viagem de Que eu canto o peito ilustre
Vasco da Gama: “As
Taprobana1, Em perigos e guerras
armas e os Barões esforçados Lusitano7, A quem Neptuno8 e Marte9
assinalados / Que da obedeceram. Cesse tudo o que a
Ocidental praia Lusitana /
Mais do que prometia a força
Por mares nunca de antes humana, E entre gente remota Musa antiga10 canta, Que outro valor
navegados / Passaram ainda mais alto se alevanta.
além da Taprobana, / Em
edificaram
perigos e guerras esforçados” Novo Reino, que tanto
(est. 1, vv. 1-5); Plano da sublimaram;

2
E também as memórias gloriosas
História de Portugal:
“as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando
Daqueles
Reis que foram dilatando / A A Fé, o Império, e as terras viciosas2 1
extremo sul da Ásia; 2 pagãs; 3 herói
Fé, o Império” (est. 2, vv. 1-
3); Plano dos deuses ou De África e de Ásia andaram Ulisses, na Odisseia de Homero; 4 herói Eneias,
na Eneida de Virgílio; 5 Alexandre Magno; 6
mitológico: “A quem devastando, E aqueles que por obras
Neptuno e Marte imperador romano de origem espanhola; 7 o
obedeceram” (est. 3, valerosas valor do povo português;
v. 6); Plano das reflexões Se vão da lei da Morte libertando, 8
deus do mar; 9 deus da guerra; 10
do poeta: “Cantando
espalharei por toda parte, /
Cantando espalharei por toda parte, metonímia: Musa por poesia. Para os
Se a tanto me ajudar o Se a tanto me ajudar o engenho e antigos, a Musa da epopeia e da eloquência
engenho e arte” era Calíope.
(est. 2, vv. 7-8).
arte.
2. “Que eu canto o peito
ilustre Lusitano” (est. 3, v. 4. Com a referência a heróis lendários, como Ulisses
5); sinédoque. e Eneias, e a imperadores da Antiguidade, Camões
3.1 “Mais do que prometia estabelece uma comparação entre eles e os portugueses, que ele diz serem superiores. Por isso, o
a força humana” (est. 1, v. 6); canto (as epopeias da Antiguidade) que exalta esses heróis passados deve ser esquecido, pois
“Se vão da lei da Morte “outro valor mais alto se alevanta”, isto é, o povo luso.
libertando” (est. 2, v. 6); “A
quem Neptuno e Marte
obedeceram” (est. 3, v. 6).
3.2 Os portugueses,
corajosos e persistentes,
venceram o mar,
passando por muitos
perigos naturais e travando
guerras difíceis em África
e
na Ásia. Dilataram,
assim, o império e
espalharam a fé cristã.
Vencendo, com obras
valerosas, as forças da
Natureza e os homens,
tornam-se imortais e merecem
o estatuto de deuses.
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a
CantooI –quadro
1. Preencha Imaginário Épico
seguinte com
expressões textuais,
tendo em conta os
quatro planos que
constituem a estrutura
interna de Os
Lusíadas.

MATÉRIA ÉPICA
Plano da viagem Plano da História
de Vasco da Gama de Portugal

2. Indique o verso em que


se apresenta
sucintamente o herói
que será cantado na
epopeia camoniana,
identificando o recurso
expressivo presente
nesse verso.

3. Na Proposição, Camões
aponta já para a
mitificação do herói
coletivo, ou seja, do
povo português.
3.1 Retire do texto três versos
reveladores dessa mitificação.
3.2 Refira, por palavras
suas, os feitos
gloriosos que
justificam a
“divinização” dos
por- tugueses.

4. Justifique a referência
que é feita na estância
3 a Eneias, a Ulisses, a
Alexandre Magno e a
Trajano.
C O M P R E E N S Ã O DO OR AL PROFE S SOR

Proceda à audição do tema musical “Contentores”, dos Xutos e Pontapés e


estabeleça aproximações entre o conteúdo da Proposição e o da canção, Link
completando a tabela.
"Xutos e pontapés –
Contentores"
Aspetos focados Os Lusíadas "Contentores"
Oralidade
Local de partida “da Ocidental praia Lusitana” a. 1.1; 1.4; 1.5; 2.1; 2.2
“pelo espaço
Percurso efetuado “Por mares nunca de antes navegados” a. "a cidade natal"
fundo”
b. "voo noturno"
Condições da viagem “Em perigos e guerras esforçados” b. c."para outro mundo"
Destino “entre gente remota” c. d. "planeta distante"

Expressões valorativas “Mais do que prometia a força humana” d. Educação Literária


14.3; 14.4; 14.7; 15.1;
“voltam a zero 16.1; 16.2
Objetivo “edificaram / Novo Reino, que tanto num planeta
sublimaram” distante” 1. O poeta
argumenta com o serviço
prestado às Ninfas,
dada a sua dedicação à poesia,
EDUCAÇÃO LITERÁRIA e com a grandiosidade dos
feitos da famosa gente
que deve ser reconhecida
Leia, agora, as estâncias relativas à universalmente e ter um canto
grandioso e sublime que
Invocação. os iguale.
2. Por exemplo,
Invocação "Gente vossa, que a Marte
tanto ajuda"
5 (est. 5, v. 6).
4 Dai-me ũa fúria grande e sonorosa5, 3. Uso do vocativo
E vós, Tágides1 minhas, pois criado E não de agreste avena ou frauta (“Tágides minhas”), da 2.a
pessoa do plural (“vós”) e
Tendes em mi um novo engenho ruda6, Mas de tuba canora e do imperativo (“Dai-me”).
ardente, Se sempre em verso humilde belicosa7, 4. A presença deste
celebrado Foi de mi vosso rio elemento corresponde ao
Que o peito acende8 e a cor ao gesto momento a partir do qual
alegremente, muda; Dai-me igual canto aos feitos se marcará a diferença
Dai-me agora um som alto e relativamente aos
da famosa Gente vossa, que a Marte escritores anteriores.
sublimado, Um estilo grandíloco e tanto ajuda;
corrente2, Que se espalhe e se cante no
Por que de vossas águas Febo3 universo, Se tão sublime preço
ordene Que não tenham enveja às de cabe em verso.
Hipocrene4.

1
ninfas do Tejo; 2 canto elevado e fluente; 3 Apolo, deus do sol e da poesia; 4 fonte que transformaria
em poeta quem das suas águas bebesse; 5 inspiração, delírio; 6 flauta de pastor (poesia bucólica); 7

trombeta clamorosa e guerreira, ou seja, inspiração épica; inflama o ânimo.


8

1. Apresente os argumentos usados pelo poeta para obter o favor das Tágides.

2. Saliente os vocábulos ou expressões que remetem para a grandiosidade e o


espíri- to guerreiro do povo lusitano.

3. Comprove, com dois elementos linguísticos pertinentes, a existência de uma


invo- cação.

18
1
4. Explique a funcionalidade do elemento "agora" (est. 4, v. 5) neste passo da
epo- peia.

182
PROFE S SOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as estâncias 6 a 18, relativas à Dedicatória, e resolva, depois, as atividades


Áudio
"Dedicatória"
propostas.

Dedicatória
6
E vós, ó bem nascida 9
segurança1 Da Lusitana Inclinai por um pouco a majestade
antiga liberdade, Que nesse tenro gesto vos
E não menos certíssima contemplo, Que já se mostra qual
esperança De aumento da pequena na inteira idade,
Cristandade; Vós, ó novo temor da Quando subindo ireis ao eterno
Maura lança,2 Maravilha fatal3 da templo;12 Os olhos da real
nossa idade,4 benignidade
Dada ao mundo por Deus, que todo o Ponde no chão: vereis um novo
mande, Pera do mundo a Deus dar parte exemplo De amor dos pátrios feitos
grande; valerosos, Em versos divulgado
numerosos.

7
Vós, tenro e novo ramo florecente 10
De ũa árvore, de Cristo5 mais Vereis amor da pátria, não movido
amada Que nenhua nascida no De prémio vil, mas alto e quási
Ocidente, eterno; Que não é prémio vil ser
Cesárea6 ou Cristianíssima7 chamada conhecido Por um pregão do ninho
(Vede-o no vosso escudo, que meu paterno. Ouvi: vereis o nome
presente Vos amostra a vitória8 já engrandecido
passada, Daqueles de quem sois senhor
Na qual vos deu por armas e superno,13 E julgareis qual é mais
deixou As que Ele pera si na Cruz excelente,
tomou); Se ser do mundo Rei, se de tal gente.

8
Vós, poderoso Rei, cujo alto
Império O Sol, logo em nascendo,
vê primeiro, Vê-o também no meio
do Hemisfério, E quando dece o
deixa derradeiro; Vós, que
esperamos jugo e vitupério9 Do
torpe Ismaelita10 cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:11

1
D. Sebastião − penhor da independência de Portugal; 2 exército dos Mouros; 3 determinada pelo destino;
4
época, tempo5 árvore genealógica, linhagem dos reis de Portugal; 6 dos imperadores da Alemanha; 7 dos reis da
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a
Canto I – ImaginárioFrança;
Épico 8 a que se seguiu à batalha de Ourique, a partir da qual se acrescentaram cinco escudos à cruz já usada
nas nossas armas; 9 domínio e injúrias; 10
turcos; 11
Ganges; 12
templo da fama eterna; 13
superior.
Os Lusíadas

11
Ouvi, que não vereis com vãs
façanhas, Fantásticas, fingidas,
mentirosas, Louvar os vossos, como
nas estranhas Musas, de
engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte14 e o vão
Rugeiro15 E Orlando,16 inda que fora
verdadeiro.

12
Por estes vos darei um Nuno17
fero, Que fez ao Rei e ao Reino tal
serviço,
Um Egas18 e um Dom Fuas,19 que de
Homero A cítara par’eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares20 dar-vos
quero Os Doze de Inglaterra e o seu
Magriço;21 Dou-vos também aquele
ilustre Gama,22 Que para si de Eneias
toma a fama.

13
Pois se a troco de Carlos,23 Rei de
França, Ou de César,24 quereis igual
memória, Vede o primeiro Afonso,25
cuja lança Escura faz qualquer
estranha glória;
E aquele26 que a seu Reino a
segurança Deixou, com a grande e
próspera vitória; Outro Joane,27
invicto cavaleiro;
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro.

14
Nem deixarão meus versos
esquecidos Aqueles que nos Reinos
lá da Aurora28 Se fizeram por armas
tão subidos, Vossa bandeira
sempre vencedora:
Um Pacheco29 fortíssimo e os temidos
Almeidas,30 por quem sempre o Tejo
chora, Albuquerque terríbil, Castro
forte,31
E outros em quem poder não teve a morte.

14
personagem de Orlando Enamorado, de Boiardo, poeta italiano do séc. XV; 15 personagem de
Orlando Furioso, de Ariosto, poeta italiano do séc. XVI; 16 palavra italiana correspondente à francesa
183
Roland, herói da Chanson de Roland, poema do fim do séc. XI 17 Nuno Álvares Pereira; 18 Egas Moniz;
19
D. Fuas Roupinho;
20
doze nobres companheiros de Carlos Magno; 21 doze cavaleiros portugueses que, no reinado de D.
João I, teriam ido a Inglaterra combater e entre os quais se encontrava um tal Magriço; 22 Vasco da
Gama; 23 Carlos Magno; 24 Caio Júlio César, general e político romano; 25 D. Afonso Henriques; 26
D. João I; 27 D. João II;
28
no Oriente; 29 Duarte Pacheco Pereira, defensor de Cochim; 30 D. Francisco de Almeida (primeiro
vice-rei da Índia) e seu filho D. Lourenço. Ambos foram mortos em combate por inimigos de
Portugal; 31 D. João de Castro, que reagiu virilmente quando lhe anunciaram a morte de seu
filho, D. Fernando.

184
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a
Canto I – Imaginário Épico
15
E, enquanto eu estes canto − e a vós não
posso, Sublime Rei, que não me atrevo a
tanto −, Tomai as rédeas vós do Reino
vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido
canto. Comecem a sentir o peso
grosso32 (Que polo mundo todo
faça espanto) De exércitos e
feitos singulares,33
De África as terras e do Oriente os mares.
b. movimento
c.Rei 16
d. O Sol, logo em nascendo Em vós os olhos tem o
e. Vê-o também no meio do
Hemisfério Mouro frio,34 Em quem vê
f.E quando dece o deixa seu exício35 afigurado; Só
derradeiro
4. O poeta apresenta um com vos ver, o bárbaro
Gentio Mostra o pescoço ao
PROFE S SOR jugo já inclinado; Tétis36
todo o cerúleo37 senhorio38
Educação
Literária Tem pera vós por dote
14.2; 14.3; aparelhado,39 Que,
14.6; 14.7;
14.8; 14.9; afeiçoada ao gesto40 belo e
15.3 tenro, Deseja de comprar-
vos pera genro.
1.
a. Louvor ao Rei
D. Sebastião 17
b. 9-14
c. 15-17 Em vós se vêm,41 da Olímpica
d. Conclusão morada,42 Dos dous avós43 as
e reforço do
primeiro almas cá famosas; Ũa, na
apelo paz angélica dourada,
2.1 São
utilizadas
Outra, pelas batalhas
diversas sanguinosas. Em vós
apóstrofes,
sempre iniciadas
esperam ver-se renovada
pela segunda Sua memória e obras
pessoa do plural
do pronome
valerosas;
pessoal, E lá vos têm lugar, no fim
anaforicamente
repetida nas
da idade,44 No templo da
estâncias 6 e 7, suprema Eternidade.
versos 1 e 2.
2.2 O poeta
descreve o Rei
como defensor
18
da liberdade da Mas, enquanto este tempo
pátria,
continuador da
passa lento De regerdes os
dilatação da fé povos, que o desejam, Dai
e do império,
temido pelos
vós favor ao novo
infiéis e atrevimento,45
descendente de
linhagem
Pera que estes meus versos
amada por vossos sejam, E vereis ir
Cristo.
cortando o salso argento46
3.
a. personificaç Os vossos Argonautas,47 por
ão que vejam Que são vistos
de e senhorio = mar); 39 está
x i aprestado, a referir); 44 vida; 45 a sua nova
vó t m aprontado; 40 rosto; epopeia;
s e p 41
veem; 42 céu; 46
salgado e prata,
no r ér 43
o paterno, D. respetivamente; as ondas de
m io João III, e o prata; 47 navegantes gregos
m í ( materno, o que, na nau Argo, foram à
ar n C Imperador Cólquida, comandados por
i er Carlos V (os Jasão, em busca do velo
ira úl
o dois avós de de ouro que um dragão
do , eo D. Sebastião, a quem o poeta se guardava.
, conjunto de 1. Complete o quadro seguinte, procedendo à divisão do texto em
E r elementos
quatro partes lógicas.
u constitutivos da
co Partes
matéria épica que Estâncias Assunto
í
st n se encontram ao
u a serviço da 1.a 6-8 a.
persuação do Rei:
m o louvor aos 2.a b. Apelo ao Rei e apresentação dos argumentos que o
ai- c heróis
fundamentam
vo o portugueses; a
m anulação dos3.a c. Incitamento ao Rei
s p feitos fictícios
já l cantados em4.a 18 d.
a e epopeias da
Antiguidade,
se t
substituídos
a
r pelos feitos reais
3
; dos portugueses;
in 2
a superação dos
vo 3 heróis reais da
ca g
6 Antiguidade
pelos heróis
do r
portugueses.
. a d
n e
d u
e s
; a

3
d
o

i m
n a
c r
o ;
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p 3
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4
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a r
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o d
r o
a
d
m
o
a
;
r
3
;
5
3

8
Os Lusíadas

2. Atente nas estâncias 6 e 7.


PROFE S SOR
2.1 Identifique dois recursos expressivos utilizados para interpelar diretamente o
Rei, ilustrando-os com expressões textuais. 5. O poeta pretende incitar
o Rei a desenvolver feitos
2.2 Apresente três elogios feitos a D. Sebastião nessas estâncias. nunca praticados, de forma
a poder produzir matéria
para um novo canto, que
3. Considere agora a estância 8 e complete o texto, de modo a evidenciar a pretende levar a
imponên- cia do império português e do jovem monarca. cabo.

Nesta estância, através de uma a. , Camões mostra-nos que o Sol, com Gramática
o seu aparente b. , passa por todas as regiões dominadas pelo povo 18.1; 19.4
lusitano e “vê” a grandeza do império e do c. .
Primeiro, vê o Oriente – d.“ ”; depois, a Europa e África – e.“ ” 1. Sujeito (simples).
2. a. lexical.
; por fim, o continente novo – f.“ ”.
3. Valor de fim ou finalidade.
4. Considerando as estâncias 9 a 14, apresente os elementos constitutivos da
maté- ria épica convocados como argumentos para persuadir o Rei. Escrita
18.1; 10.4; 13.1
5. Atente nas estâncias 15 a 17 e explicite o incitamento dirigido a D. Sebastião,
Por um lado, n’ Os
referin- do a intenção do poeta. Lusíadas, Camões propõe-
se exaltar o valor dos
portugueses, sobretudo
no projeto dos
Descobrimentos, que
GR A M Á T I C A constitui o tema
fundamental do poema.
Por outro lado,
1. Indique a função sintática do grupo “o Mouro frio” (est. 16, v. 1) . dá-nos como exemplo
o venerabilíssimo Velho
2. Selecione a opção que completa adequadamente a afirmação seguinte. do Restelo, que o
condena. Cabe que
2.1 Os vocábulos “Olímpica”, “almas” e “angélica” fazem parte do mesmo perguntemos, por isso
mesmo, qual é
campo verdadeiramente o seu
objetivo: o da
[A] lexical; exaltação ou o da
condenação?
[B] semântico. (57 palavras)

3. Refira o valor lógico da locução “Pera que” (est. 18, v. 4).

ESCRITA

Reescreva o excerto procedendo à supressão ou à substituição dos segmentos


subli- nhados por outros mais económicos.

Por um lado, no seu canto épico, Camões propõe-se exaltar o valor dos
seus conterrâneos, muito principalmente na grande empresa levada a cabo
por eles e que deu novos mundos ao mundo, que constitui o tema
fundamental do poema. Por outro lado, dá-nos como modelo de uma
sabedoria magnânima, de grande experiência e de elevada honradez o
venerabilíssimo Velho do Restelo, que con- dena o próprio feito que a
epopeia camoniana se propõe cantar. Cabe que pergun- temos, por isso
mesmo, qual é verdadeiramente o objetivo que é pretendido pelo autor: o
da exaltação, ou o da condenação? (96
palavras)
BLOCO INFORMATIVO –
pp. 271-273, 282, 265

185
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Reflexões do Poeta

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Educação Literária
14.2; 14.4; 14.9 No final do canto I, depois de os portugueses terem caído numa cilada montada
por Baco, o poeta tece a sua primeira reflexão, relativa à fragilidade da vida
1.1 O poeta inicia a sua
reflexão no verso 5 da humana, ou seja, do Homem, “um bicho da terra tão pequeno”.
estância 105.
1.2 A frase Leia as estâncias e responda depois às questões.
exclamativa (complexa)
e as afirmações
valorativas (“grandes”,
“gravíssimos”, “nunca 105 106
certo”, “esperança”, “pouca
segurança”) comprovam o
caráter subjetivo e reflexivo O recado que trazem é de amigos, No mar tanta tormenta e tanto dano,
deste momento textual e Mas debaxo o veneno vem coberto, Tantas vezes a morte apercebida1!
denunciam o tom de
lamento por parte do Que os pensamentos eram de Na terra tanta guerra, tanto engano,
poeta. inimigos, Segundo foi o engano Tanta necessidade2 avorrecida!
2.1 Nos primeiros 4
versos da estância 106, o descoberto. Onde pode acolher-se um fraco
poeta faz referência à Ó grandes e gravíssimos perigos, humano, Onde terá segura a curta
tormenta e às
dificuldades com que os Ó caminho de vida nunca vida,
portugueses se certo, Que3 não se arme e se indigne o Céu
depararam,
tanto no mar como na terra. Que aonde a gente põe sua sereno Contra um bicho da terra tão
2.2 A reflexão de esperança Tenha a vida tão pouca pequeno?
Camões não se centra segurança!
apenas nas dificuldades
vividas pelos marinheiros
portugueses,
antes incide sobre a suavidade melódica que sugere a fragilidade de Inês, em particular, e a do ser humano, em geral, criando também
própria condição humana. um ambiente introspetivo, característico dos momentos de reflexão.
Refletindo sobre esta
realidade, o poeta indigna-
se com a pequenez
humana e a sua
fragilidade face a todas as
adversidades que tem de
suportar.
2.3 Com a metáfora
“bicho da terra tão
pequeno”, Camões refere-
se ao ser humano em geral
e pretende colocar em
evidência a sua pequenez,
a sua insignificância e a
sua incapacidade perante
forças mais poderosas e
superiores.

Oralidade
1.1; 1.3; 1.4; 2.1; 6.1

Resposta de caráter pessoal,


mas o aluno pode focar
os seguintes aspetos: a
estância 106 serve de
introdução aos amores
trágicos de Inês de Castro,
também ela um ser frágil,
que sucumbe ao poder
despótico e cruel do
Amor;
a melodia doce, num ritmo
lento, adequa-se ao lamento
do poeta, à saudade de Inês,
à sua falsa segurança; a
viola, o violino, a flauta e
o oboé contribuem para a
1
iminente; 2 conjunto o caráter subjetivo e emotivo dessa reflexão.
de necessidades a que
temos de nos sujeitar; 3

conjunção
2. Considere as estâncias 105 e 106.
subordinativa 2.1 Comprove que os portugueses se depararam com várias dificuldades.
consecutiva, ainda que
o “tão”, antes de 2.2 Explicite o conteúdo da interrogação presente nos últimos quatro versos
“segura”, esteja da es- tância 106.
omisso.
2.3 Identifique o recurso expressivo presente no último verso da estância 106,
esclare- cendo o seu sentido.
1. Atente na
estância 105.
C O M P R E E N S Ã O / E X P R E S S ÃO OR AL
1.1 Identifique o
verso em que
o poeta inicia Ouça atentamente o tema musical do grupo galego Milladoiro e, em 2 a 3 minutos,
a sua faça uma breve apreciação crítica da canção, considerando os seguintes aspetos:
reflexão.
• adequação do conteúdo das estâncias retiradas do episódio lírico de Inês
1.2 A de Castro ao conteúdo da estância 106 do canto I;
s
• adequação do arranjo musical (melodia, ritmo, instrumentos
si
selecionados) à letra da canção.
n
a Estruture a sua resposta, recorrendo a conectores adequados e a um vocabulário
l valorativo (apreciativo ou depreciativo).
e
o
s
e
l
e
m
e
n
t
o
s
li
n
g
u
ís
ti
c
o
s
q
u
e
a
p
o
n
t
a
m

p
a
r
a
Os Lusíadas
Canto V – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFE S SOR

As reflexões do poeta continuam no canto V, agora versando o desprezo que os


portugueses têm pelas artes e a sua incapacidade para responder ao ideal de Link
homem renascentista − aquele que consegue aliar as artes e as letras. “Milladoiro – Inês”

92
Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados1!
Qualquer nobre2 trabalha que3 em
memória Vença ou iguale os grandes já
passados.
As envejas da ilustre e alheia
história Fazem mil vezes feitos
sublimados. Quem valorosas
obras exercita, Louvor alheio muito
o esperta e incita.

93
Não tinha em tanto os feitos
gloriosos De Aquiles, Alexandro, na
peleja, Quanto de quem o canta os
numerosos4 Versos: isso só louva,
isso deseja.
Os troféus5 de Milcíades, famosos,
Temístocles despertam só de
enveja; E diz que nada tanto o
deleitava Como a voz que seus
feitos celebrava. Luís de Camões, 1885, Severo da Ponte.

94
Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Que essas navegações que o mundo
canta Não merecem tamanha glória e
fama Como a sua, que o Céu e a Terra
espanta. Si; mas aquele Herói que
estima e ama Com dões, mercês,
favores e honra tanta A lira
Mantuana6, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.

95 deixava António por Glafira11).


Dá a terra Lusitana Cipiões,
Césares, Alexandros, e dá Augustos;
Mas não lhe dá contudo aqueles dões7
Cuja falta os faz duros e robustos.
Octávio, entre as maiores
opressões, Compunha versos
doutos e venustos8 (Não dirá Fúlvia9,
certo10, que é mentira, Quando a

187
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
96 a Mas, nũa mão a pena e noutra a
Vai César sojugando toda França lança, Igualava de Cícero a
E as eloquência.
armas O que de Cipião se sabe e alcança
não lhe É nas comédias grande
impedem experiência. Lia Alexandro a
a ciência; Homero de maneira Que sempre
se lhe sabe à cabeceira.

1
celebrados; 2 qualquer pessoa que seja nobre; 3 para que; 4 harmoniosos; 5 triunfos; 6 Virgílio; 7 aquelas qualidades; 8 graciosos;
9
terceira mulher de António; 10
certamente; 11
Gláfira, amante de António.
Canto V – Reflexões do Poeta

97 99
Enfim, não houve forte Capitão Às Musas agardeça o nosso Gama
Que não fosse também douto e O muito amor da pátria, que as
ciente, Da Lácia12, Grega ou obriga A dar aos seus,15 na lira,
Bárbara nação, Senão da nome e fama De toda a ilustre e
Portuguesa tão somente. bélica fadiga;
Sem vergonha o não digo: que a Que ele, nem quem na estirpe seu se
razão De algum não ser por versos chama, Calíope não tem por tão amiga
excelente É não se ver prezado o Nem as filhas do Tejo,16 que
verso e rima, deixassem As telas d’ouro fino e que
Porque quem não sabe arte, não na o cantassem.
estima.13
100
98
Porque o amor fraterno17 e puro
Por isso, e não por falta de natura, gosto De dar a todo o Lusitano
Não há também Virgílios nem feito
Homeros; Nem haverá, se este Seu18 louvor, é somente o pros[s]uposto
costume dura, Das Tágides gentis, e seu respeito.
Pios Eneias nem Aquiles feros. Porém não deixe, enfim, de ter
Mas o pior de tudo é que a disposto Ninguém a grandes obras
ventura Tão ásperos os fez e tão sempre o peito:19 Que, por esta ou por
austeros, outra qualquer via, Não perderá seu
Tão rudos e de engenho tão preço e sua valia.
remisso,14 Que a muitos lhe dá pouco
ou nada disso.

12
do Lácio, Latina; 13
não a estima; 14
acanhado, boto; 15
à família de Vasco da Gama ou aos portugueses,
consoante as interpretações; 16
Tágides; 17
de irmão (as Tágides são aqui consideradas irmãs dos portugueses); 18

devido; 19
vontade.

PROFE S SOR imortalizada através da arte.


b. V
c.V
Educação Literária
d. F – Os heróis lusitanos igualam algumas figuras históricas da Antiguidade em força e valentia, mas não no amor às
14.2; 14.6; 14.7;
artes.
14.9
e. F – O poeta sente tristeza e constrangimento por os bravos portugueses não se assemelharem aos heróis gregos e
romanos, no que se refere ao apreço pelas artes.
1. f.V
a. F – O poeta começa
g. F – Estas estâncias inserem-se no plano das reflexões do poeta.
por referir que a glória
dos feitos próprios é digna 2.
de ser a. compara
b. heróis
188
Os Lusíadas
c.Antiguidade
d. guerreiro
e. desprezavam
f.lamento 1. Assinale, as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.

a. O poeta começa por referir que a glória dos feitos dos nossos
antepassados é digna de ser imortalizada através da arte.

b. Seguidamente, refere que os heróis se alegravam quando ouviam os seus


feitos celebrados em poesia.

c. De acordo com o conteúdo da estância 94, as epopeias greco-romanas


são me- nos importantes do que a portuguesa.

d. Os heróis lusitanos igualam algumas figuras históricas da Antiguidade em


força, valentia e amor às artes.

e. O poeta sente tristeza e constrangimento por não ter conhecido os


capitães da Lácia e da nação Grega.

f. Na penúltima estância faz-se referência ao desamor dos portugueses pela poesia.

g. Estas estâncias inserem-se no plano da História de Portugal.

2. Complete o texto de modo a obter uma síntese das reflexões do poeta


presentes nestas estâncias.
O poeta a. os portugueses aos b. da c. e
conclui que estes aliavam a arte ao espírito d. , enquanto os
lusitanos e. as artes, o que provoca o f. do poeta.

189
Canto VII – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Depois de refletir, no canto VI, sobre o verdadeiro valor da fama e da glória, no


canto VII o poeta intervém de novo para, na estância 2, elogiar o espírito de
cruzada dos portugueses. Mas, a partir da estância 78, surge um conjunto de
lamentações de teor autobiográfico, que leva Camões a invocar as Ninfas para
que possa engrandecer no seu canto aqueles que o merecem.

78 cercassem,
Um ramo na mão tinha... Mas, ó Senão que aqueles que eu cantando andava Tal prémio de meus
cego, Eu, que cometo,1 insano e versos me tornassem:9 A troco dos descansos que esperava,
temerário, Sem vós, Ninfas do Tejo2 Das capelas10 de louro que me honrassem, Trabalhos nunca
e do Mondego, Por caminho tão usados me inventaram, Com que em tão duro estado me
árduo, longo e vário! deitaram.
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão
contrário Que, se não me ajudais, hei
grande medo Que o meu fraco batel
se alague cedo.

79
Olhai que há tanto tempo que,
cantando O vosso Tejo e os vossos
Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos
danos: Agora o mar, agora
experimentando Os perigos
Mavórcios3 inumanos,
Qual Cánace,4 que à morte se
condena, Nũa mão sempre a espada e
noutra a pena;

80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios5 alheios
degradado; Agora, da esperança
já adquirida,
De novo mais que nunca
derribado; Agora, às costas6
escapando7 a vida, Que dum fio
pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-
se Que pera o Rei Judaico8
acrecentar-se.

81
E ainda, Ninfas minhas, não
bastava Que tamanhas misérias me
mões naufragara)
7
salvando
8
Ezequias, a quem Jeová
concedeu quinze dias de
vida, após o dia em que
deveria morrer
9
dessem
10
coroas (destinadas a glorificar
os Poetas)

Camões e as tágides, 1885, Columbano


Bordalo Pinheiro (1894), Museu
Grão Vasco, Viseu.

1
me atrevo
2
Tágides
3
de Marte, da guerra
4
nome de rapariga
5
regiões
6

n
a
s
c
o
s
t
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(
j
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d
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q
u
a
i
s
C
a
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a
Canto VII – Reflexões do Poeta

82
11
grandes senhores de
Portugal Vede, Ninfas, que engenhos de
12
dê senhores11 O vosso Tejo cria
13
inconstante valerosos,
14
Proteu, guardador do gado Que assi sabem prezar, com tais
de Neptuno, célebre pelas favores, A quem os faz, cantando,
suas metamorfoses
gloriosos!
15
Musas
Que exemplos a futuros
escritores, Pera espertar
engenhos curiosos, Pera porem
as cousas em memória Que
merecerem ter eterna glória!

83
Pois logo, em tantos males, é
forçado Que só vosso favor me
não faleça, Principalmente aqui,
que sou chegado Onde feitos
diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.

84
Nem creiais, Ninfas, não, que a fama
desse12 A quem ao bem comum e do seu
Rei Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes
exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;

85
Nenhum que use de seu poder
bastante Pera servir a seu desejo
feio,
E que, por comprazer ao vulgo
errante,13 Se muda em mais figuras
que Proteio.14
Nem, Camenas,15 também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave,
veio, Por contentar o Rei, no ofício
novo,
A despir e roubar o pobre povo!
Os Lusíadas

190
Os Lusíadas

86 87 PROF E S SOR
Nem quem acha que é justo e que é Aqueles sós direi que aventuraram
direito Guardar-se a lei do Rei Educação Literária
Por seu Deus, por seu Rei, a amada
severamente, 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
vida, Onde,18 perdendo-a, em fama a 14.9
E não acha que é justo e bom
dilataram, Tão bem de suas obras
respeito Que se pague o suor da
merecida. 1.
servil gente; a. (6), est. 84-85
Apolo e as Musas, que me b. (2), est. 79, vv. 5-6
Nem quem sempre, com pouco experto16
acompanharam, Me dobrarão a fúria c. (9), est. 87, vv. 5-8
peito, Razões aprende, e cuida que é d. (3), est. 80, vv. 1-6
concedida, e. (7), est. 86, vv. 1-8
prudente,
Enquanto eu tomo alento, descansado, f. (8), est. 87, vv. 1-4
Pera taxar, com mão rapace e g. (1), est. 78, vv. 2-8
Por tornar ao trabalho, mais folgado.
escassa, Os trabalhos alheios que
não passa.17
agora.
16
experimentado; 17
sofre (não passa = não avalia com justiça); 18
pelo que.
b. Os
opress
1. Ordene as seguintes frases, de modo a reconstruir a ordem sequencial do
ores
conteúdo do texto e identificando as estâncias e os versos correspondentes.
serão
Estâncias banido
Assunto
(versos) s do
a. O poeta recusa cantar homens sem escrúpulos, movidos pelos seu
seus interesses pessoais e pela sua enorme ambição e refere a canto,
falta de reconhecimento pelo trabalho. visto /
b. O poeta refere as dificuldades por que passou: as viagens por /
marítimas e a guerra. uma
c. O poeta assume, de novo, o desalento e o cansaço, o que vez
faz com que conte com o apoio do deus da música e da que
poesia, de modo a conseguir terminar a sua obra com mais põem
ânimo. os seus
d. Camões menciona também os problemas económicos por interes
que passou, o desterro, as desilusões e o naufrágio. ses à
e. Também condena os que se escudam nas leis (mas que frente
não cumprem com os direitos dos mais desfavorecidos) e do
os que exploram os mais necessitados. bem
comu
f. Camões exaltará aqueles que se colocam ao serviço de Deus e
do Rei abdicando dos seus interesses pessoais. m.

g. Camões inicia uma nova reflexão, de caráter autobiográfico,


pedindo auxílio às musas para que possa prosseguir o seu
canto, pois receia não o conseguir.
h. Camões prossegue interpelando as musas, num tom irónico
cuja intenção é a de criticar aqueles que desprezam os seus
versos.
i. Luís de Camões afirma também que a falta de
reconhecimento do seu trabalho enquanto poeta funciona, na
sua perspetiva, como desmotivação para futuros escritores.

GR A M Á T I C A

1. Selecione o conector que melhor se adequa às frases a seguir apresentadas e


clas- sifique as orações que eles introduzem.
a. O poeta pede ajuda às Ninfas para que / para / porque o engenho não lhe falte

19
1
h. (4), est. 82, vv. 1-4
i. (5), est. 82, v. 5-8

Gramática 18.4

1.
a. para que; oração subordinada adverbial final.
b. uma vez que; oração subordinada adverbial causal.

BLOCO INFORMATIVO – pp. 264-265; 277

192
v A frase complexa: coordenação
APRENDER

FRASE COMPLEXA
A frase complexa é aquela que apresenta mais do que um verbo principal ou
copulativo, ou seja, trata-se de uma frase com mais do que uma oração, podendo
obter-se pelo recurso à coordenação e/ou à subordinação.

COORDENAÇÃO
Ao nível da frase complexa, a coordenação é um processo de combinação de duas ou
mais frases equivalentes. Por isso, a oração coordenada está contida numa frase
complexa, não mantendo uma relação de subordinação sintática com a(s) frase(s)
ou oração(ões) com que se combina. Distingue-se, tipicamente, das orações
subordinadas por não poder ser anteposta.
As orações coordenadas podem ser:

Assindéticas
Orações coordenadas justapostas, sem recurso a conjunções/locuções
conjuncionais. Ex.: Os navegadores sacrificaram-se; não se pouparam a
esforços; foram grandiosos.

Sindéticas
Orações coordenadas ligadas por conjunções/locuções conjuncionais.
Ex.: As Ninfas ficaram fascinadas e convidaram os nautas portugueses.

Estas orações estabelecem entre si relações semânticas expressas pelas conjunções ou


locuções coordenativas que as unem, tal como se sistematiza na tabela seguinte:

Conjunções/locuções
Designação Sentido Exemplificação
conjuncionais coordenativas

e, nem, nem…
Copulativa/ nem, não só… mas •Camões não só usou a pena como também
Adição
aditiva também, não só… usou a espada.
como (também),
tanto… como

Oposição, •Camões foi renascentista, mas deve muito aos


Adversativa mas
contraste modelos clássicos.

ou, ou… ou, Alternativa,


•Camões ora criticava os homens ambiciosos ora
Disjuntiva outra
ora… ora elogiava os defensores do Rei.
possibilidade

•O poema épico camoniano relata factos


Conclusiva logo Conclusão
extraordinários, logo todos devem conhecê-lo.

•Camões sentia-se pouco valorizado, pois


Justificação,
Explicativa pois realçou, por diversas vezes, a importância da
explicação
união da espada e das letras.
APLICAR
PROF E S SOR
1. Indique quais as frases simples do conjunto seguinte.
Gramática
[A] Os heróis camonianos são homens de carne e osso que se lançaram na 18.2; 18.3
aven- tura marítima.
[B] Quase todos os cantos de Os Lusíadas apresentam considerações do 1. [B]; [C]
2.
poeta sobre diversos temas. a. logo
[C] As reflexões do poeta são suscitadas por acontecimentos narrados em b. mas
c.ou/nem
mo- mentos anteriores. d. pois
e. não só... como
[D] O poeta, numa das suas reflexões, lamenta que os portugueses não 2.1
apreciem a arte. a. conclusiva
b. adversativa
c.disjuntiva / copulativa
2. Complete as frases seguintes, usando a conjunção/locução conjuncional d. explicativa
coordena- tiva adequada. e. copulativa
3.1 [C]
a. Os marinheiros passaram por vários sacrifícios, devem ser recompensados. 3.2 [B]
b. Camões sente-se desprotegido, não desiste do seu canto. 3.3 [D]
4.
c. Nenhum poeta anterior a Camões escreveu uma epopeia teve a ousadia a. A poesia camoniana
é sublime, mas a
de o tentar. leitura de Os Lusíadas é
d. Pensa-se que Camões não terá sido reconhecido, morreu pobre e só. exigente para o leitor.
b. O poeta afasta-se
e. Segundo o épico português, os seus contemporâneos desprezavam as dos homens do seu
tempo, pois prefere
artes ignoravam o seu trabalho poético. associar-se a Apolo e às
Musas.
2.1 Classifique as orações coordenadas obtidas.

3. Identifique a opção que completa adequadamente cada afirmação seguinte.


3.1 A frase Vénus recompensa os portugueses e oferece-lhes um banquete na Ilha
dos Amores. integra uma oração coordenada
[A] adversativa. [C] copulativa.
[B] disjuntiva. [D] explicativa.
3.2 A conjunção “e”, em Os marinheiros sofreram várias adversidades e nunca se
lamen- taram., no contexto, tem valor
[A] aditivo. [C] conclusivo.
[B] adversativo. [D] explicativo.
3.3 A oração sublinhada em Os navegadores partiram de livre vontade ou foram
obriga- dos a embarcar? classifica-se como
[A] coordenada adversativa. [C] coordenada copulativa.
[B] subordinada causal. [D] coordenada disjuntiva.

4. Una os dois pares de frases, recorrendo à conjunção ou locução conjuncional


coordena- tiva adequada, fazendo as alterações necessárias.
a. A poesia camoniana é sublime. A leitura de Os Lusíadas é exigente para o
leitor.
b. O poeta afasta-se dos homens do seu tempo. Este prefere associar-se a Apolo e às
Musas.

193
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
aCanto VIII – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

As reflexões do poeta prosseguem no canto VIII, agora sobre o vil poder do


dinheiro, que corrompe quer os ricos quer os pobres. Leia-as expressivamente.

96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe
descobre; Que não se fia já do
cobiçoso Regedor, corrompido e
pouco nobre. Veja agora o juízo
curioso
Quanto no rico, assi como no
pobre, Pode o vil interesse e
sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

97
A Polidoro1 mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
e iludir pelo
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha2 de Acriso3 a
chuva d’ouro; Pode tanto em
Tarpeia4 avaro vício Que, a
PROFE S SOR troco do metal luzente e
louro, Entrega aos inimigos a
Educação Literária alta torre,
14.1; 14.2; 14.3; 14.4
Do qual quási5 afogada em pago
1. Os primeiros quatro
morre.
versos apresentam uma
estrutura narrativa, pelo
predomínio
98
da terceira pessoa ( “se Este6 rende munidas7
deixa”) e pelo relato das
ações da personagem
fortalezas; Faz trédoros e
Vasco da Gama. Os falsos os amigos; Este a
restantes versos iniciam a
reflexão, o que se verifica
mais nobres faz fazer
pela utilização da primeira vilezas, E entrega
pessoa do plural (“nos Capitães aos inimigos;
obriga”), um “eu” coletivo
no qual o próprio poeta se Este corrompe virginais
inclui. purezas,
2. O poeta
apresenta como Sem temer de honra ou fama
exemplos do efeito alguns perigos; Este deprava às
corruptor do dinheiro figuras
mitológicas e da Antiguidade vezes as ciências,
que traíram (“Entrega aos Os juízos cegando e as
inimigos a alta torre”),
mataram "A Polidoro mata
consciências.
o rei Treício”) e
enganaram (“Com a filha
de Acriso a chuva d’ouro”)
99
para alcançarem riqueza, Este interpreta mais que
fama ou poder.
sutilmente Os textos; este
3. O poeta conclui a sua
reflexão com a constatação faz e desfaz leis;
de que até os elementos do Este causa os perjúrios
clero, que se dedicam a
Deus, se deixam corromper entre a gente E mil vezes
Os Lusíadas
tiranos 1
filho de Príamo, rei de Troia. Para
a sob as joias e os escudos
5
como que
torna os salvá-lo, quando a cidade estava 6
ouro
Reis. prestes a cair em 7
bem fortificadas
Até os poder dos Gregos, o soberano 8
“os que só a Deus […] /
mandou-o com ouro ao rei da Trácia,
que só a Se dedicam” − os
que, todavia, se apoderou do metal e
Deus sacerdotes (perífrase)
matou o jovem 9
aspeto exterior
omnipoten 2
Dánae
te Se 3
Soberano de Argos (na Grécia), que,
dedicam8, para anular a profecia de um
oráculo − a sua morte por um neto
mil vezes
–, prendeu a filha Dánae numa
ouvireis torre. Júpiter, porém, sob a forma
Que corrompe de chuva de ouro, introduziu-se na
este torre e tornou-a mãe de Perseu, que
veio a assassinar Acrísio
encantador, e 4
rapariga romana que, na esperança
ilude; Mas não de obter anéis de ouro dos Sabinos,
sem cor9, que sitiavam Roma, lhes abriu as
contudo, de portas da cidade. Os inimigos,
virtude! porém, não a pouparam, esmagando-
poder do ouro. No entanto, 1. Delimite na estância 96 um momento narrativo e um momento reflexivo, justificando.
conseguem disfarçar esta
atração pela riqueza sob uma 2. Retire das estâncias 97 e 98 três exemplos do poder corruptor do dinheiro.
capa de falsa virtude.
3. Explique o sentido dos quatro últimos versos da estância 99.
INFORMAR PROF E S SOR

Leia as informações a seguir apresentadas e responda às


questões.
Leitura
7.1; 7.2; 8.1
Educação Literária
14.3; 14.4; 15.1; 15.2;
16.1
Simbologia da Ilha dos Amores
A. A Ilha dos Amores tem início na estância
18 do Canto IX e prolonga-se até à estância 143 o título de “heróis esclarecidos” e serão acolhidos
do Canto X, ocupando, por conseguinte, cerca de na “Ilha de Vénus”.
vinte por cento da totalidade do poema; representa F.Concluída a narrativa profética da Ninfa e
a apoteose e a conclu- são da aventura marítima termi- nado o banquete, Tétis culmina a glorificação
da epopeia. dos nau- tas lusitanos ao anunciar a Vasco da
B. A narrativa erótica do episódio da “Ilha Gama e aos seus companheiros que a “Sapiência
dos Amo- res” atinge o clímax na estância 87 do Suprema” (Deus) lhes concedia o singular favor
Canto IX, porque a estância 88 inicia já a transição de poderem ver com “olhos corporais” os
para a simbologia de- senvolvida nas estâncias 89 segredos da “grande máquina do Mundo”, de modo
e seguintes. a contemplarem o que “a vã ciência / dos er-
C. As ninfas, Tétis, a “Ilha angélica pintada” rados e míseros mortais” não podia ver.
e os seus deleites significam as honras, os prémios, G.Tétis, Vasco da Gama e os nautas lusos
os triunfos e a glória concedidos aos heróis que, subiram, simbolicamente, um monte coberto de
pelas suas obras valorosas e pelos seus sacrifícios, mato “árduo, difícil, duro a humano trato” — a
mereceram subir ao Olimpo, “sobre as asas ascensão neste terre- no inóspito é uma alegoria
ínclitas da Fama”. do esforço e do trabalho ne- cessários para
D. As estâncias finais do Canto IX (92-95), alcançar o conhecimento — e no cume do monte
que cons- tituem uma veemente apóstrofe exortativa contemplaram um globo translúcido que re-
endereçada a destinatários nomeados pronominal e presentava um “transunto”, isto é, uma cópia ou
verbalmente, apresentam os detentores do poder ima- gem da “grande máquina do Mundo”, descrita
político, os conse- lheiros do rei, os responsáveis segundo
pela administração pú- blica e os cavaleiros e o sistema geocêntrico de Ptolomeu.
homens de armas e explicitam os valores éticos e H. Tétis, na sua longa exposição, descreve e
políticos configuradores da utopia: a reprovação da mos- tra, além dos espaços celestes, as diversas
ociosidade, a condenação da cobiça e da tirania, a regiões do mundo, desde a África e a Índia até ao
administração de leis justas e estáveis que Japão e ao Brasil, onde decorrerão “os futuros
protejam os súbditos mais frágeis e pobres, o feitos” lusitanos, engran- decendo o reino e
destemor bélico contra os inimigos da Igreja de difundindo a fé de Cristo.
Cristo, o serviço leal prestado ao rei, quer com o I.As derradeiras palavras de Tétis retomam o
aconselhamento bem ponderado quer com as tema originário e nuclear do episódio da “Ilha dos
armas rutilantes. Amores”: a união amorosa das ninfas e dos
E. O reino ficará, assim, mais poderoso e mais navegadores.
rico, o monarca ganhará glória, os seus Elaborado a partir de Vítor Aguiar e Silva, "Ilha dos
Amores", in Vitor Aguiar e Silva (coord.), Dicionário de
servidores na go- vernação, na justiça e nas Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 437 e
armas hão de fruir riquezas merecidas e honras 441-443.
ilustres e, acima de tudo, receberão

PROFE S SOR

2. Refira, a partir do
tópico D, os
destinatários de
Camões e os aspetos
em que estes são
1. Identifique os tópicos que remetem para o valor simbólico do episódio da “Ilha
condenados/criticados
dos Amores”.
195
. 1. B, C, G, H.
2. O poeta dirige-se a
3. Indique os tópicos que remetem para o elogio dos nautas portugueses. destinatários concretos,
“os detentores do
poder político, os
conselheiros do rei, os
responsáveis pela
administração pública e
os cavaleiros e
homens de armas”,
com o intuito de
reprovar e condenar a
ociosidade, a cobiça e a tirania,
reclamando a proteção dos
"súbditos mais frágeis e
pobres”.
3. C, E, F, G, H.
Os Lusíadas
Canto IX — Imaginário Épico

PROFE S SOR
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.5
Neste canto IX, e no conjunto de estâncias apresentadas, também é possível
1.1 Ao contrário do que percecionar a matéria épica.
sucede, não são as naus
que se acercam da ilha, Leia-as atentamente e responda depois às questões.
mas é ela que se
aproxima, trazida de longe
por Vénus e que a coloca na
direção dos marinheiros, 52
de forma a assegurar-se que De longe a Ilha viram, fresca e bela,
seria avistada por eles.
Que Vénus pelas ondas lha levava
1
Vénus
1.2 A sensação visual está
presente nas formas
2
tornou
(Bem como o vento leva branca
verbais “viram”, “levava”, 3
quando
“enxergava”, “movia”, vela) Pera onde a forte armada se
“Pintou” e nos adjetivos
4
logo que
enxergava;
“bela”, “branca”, “Curva”, 5
mãe de Apolo
“quieta”, “ruivas”. Que, por que não passassem, sem que 6
Apolo
1.3 Dupla adjetivação nela Tomassem porto, como desejava, 7
Diana
(“Curva e quieta”) e Pera onde as naus navegam a
personificação 8
enfeitou
(“quieta”). movia A Acidália1, que tudo, 9
Vénus (que teria nascido
enfim, podia. junto da ilha de Citera)

53
Mas firme a fez2 e imóbil, como3 viu
Que era dos Nautas vista e
demandada, Qual ficou Delos, tanto
que4 pariu Latona5 Febo6 e a Deusa à
caça usada7. Pera lá logo a proa o
mar abriu,
Onde a costa fazia ũa enseada
Curva e quieta, cuja branca
areia Pintou8 de ruivas conchas
Citereia9.

[…]
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r
a

196
Os Lusíadas

66 69
Mas os fortes mancebos10, que na Dá Veloso, espantado, um grande grito:
praia Punham os pés, de terra
− «Senhores, caça estranha (disse) é
cobiçosos11
esta! Se inda dura o Gentio antigo
(Que não há nenhum deles que não
rito,
saia), De acharem caça agreste
A Deusas é sagrada16 esta floresta.
desejosos,
Mais descobrimos do que humano
Não cuidam que, sem laço ou redes,
esprito Desejou nunca, e bem se
caia Caça naqueles montes
manifesta
deleitosos,
Que são grandes as cousas e excelentes
Tão suave, doméstica e
Que o mundo encobre aos homens imprudentes 17.
benina, Qual ferida lha tinha
já Ericina12.
70
«Sigamos estas Deusas e vejamos
67
Se fantásticas são, se
Alguns, que em espingardas e nas
verdadeiras.» Isto dito, veloces
bestas13 Pera ferir os cervos, se
mais que gamos, Se lançam a
fiavam,
correr pelas ribeiras.
Pelos sombrios matos e
Fugindo as Ninfas vão por entre os
florestas Determinadamente se
ramos, Mas, mais industriosas18 que
lançavam;
ligeiras, Pouco e pouco, sorrindo e
Outros, nas sombras, que de as altas
gritos dando, Se deixam ir dos galgos
sestas Defendem a verdura,
alcançando.
passeavam
Ao longo da água, que, suave e
queda, Por alvas pedras corre à 10
jovens; 11
cheios de cobiça; 12
Vénus (por ter um templo no
praia leda.
monte Erix, na Sicília); 13
arma para lançar flechas; 14
variegada;
de cores ou matizes variadas; 15
mulheres; 16
consagrada; 17

68
ignorantes; 18
astutas.
Começam de enxergar
subitamente, Por entre verdes
ramos, várias cores, Cores de
quem a vista julga e sente Que PROFE S SOR
não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente14, 2.1 Os "mancebos",
chegados a terra,
Que mais incita a força dos preparam-se para caçar,
amores, De que se vestem as daí alguns levarem
espingardas e bestas.
humanas rosas15, Fazendo-se por 2.2 Uns preparam-se
arte mais fermosas. para caçar (est. 67, vv. 1-4);
outros,

1. Releia as estâncias 52 e 53.


1.1 Refira os aspetos que conferem a esta ilha um caráter de excecionalidade. 2.2 Comprove que os
marinheiros
1.2 Retire das estâncias expressões que remetem para o predomínio da
exploram a ilha de
sensação visual na descrição da ilha.
formas diferentes.
1.3 Identifique o(s) recurso(s) expressivo(s) presente(s) na expressão “enseada /
2.3 Diga que outra
Cur- va e quieta” (est. 53, vv. 6-7). realidade vem
captar a atenção
2. Atente nas estâncias 66, 67 e 68. dos jovens
2.1 Explicite o motivo por que os “mancebos” recorrem às armas. marinheiros.

197
3. A utilização do discurso direto intromete-se na descrição. mais saudosos das
delícias da terra,
3.1 Identifique o locutor desse discurso. passeiam ao longo dos
cursos de água (est. 67,
3.2 Mostre que neste passo do episódio se prepara a divinização do herói. vv. 5-8).
2.3 Os jovens marinheiros
acabam por avistar vultos
de mulheres – “as humanas
rosas” (est. 68, v. 7).
3.1 O locutor desse
discurso é Veloso, um dos
marinheiros portugueses.
3.2 Inicia-se aqui a
consideração do caráter
excecional dos heróis
portugueses, uma vez que,
com a perseguição das
Ninfas, tem início um
convívio que
só seria possível no
plano extraterreno,
espaço até
onde os nautas ascenderam.
Deste modo, processa-se a sua
divinização.

198
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a
Canto IX — Imaginário Épico e Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Apresenta-se agora um novo conjunto de estâncias do canto IX, onde, para além
da matéria épica, são visíveis novas reflexões do poeta, incitando à ação todos
os que pretendem alcançar a imortalidade e revelando o modo de o conseguir.

Leia-as atentamente e resolva, depois, as atividades propostas.

88
Assi a fermosa e a forte
companhia O dia quási todo
estão passando Nũa alma,1
doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando.
Porque dos feitos grandes, da
ousadia Forte e famosa, o mundo está
guardando O prémio lá no fim, bem
merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.

89
Que as Ninfas do Oceano, tão
fermosas, Tétis2 e a Ilha angélica
pintada,
Outra cousa não é que as
deleitosas Honras que a vida
fazem sublimada. Aquelas
preminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e
maravilha,3 Estes são os deleites
desta Ilha.

90
Que as imortalidades que fingia4
A antiguidade, que os Ilustres ama,
Lá no estelante5 Olimpo, a quem
subia Sobre as asas ínclitas da
Fama,
Por obras valerosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se
chama Caminho da virtude, alto e
fragoso,6 Mas, no fim, doce, alegre
e deleitoso,

91
Não eram senão prémios que
reparte, Por feitos imortais e
soberanos,
O mundo cos varões que esforço e
arte Divinos os fizeram, sendo
humanos. Que Júpiter, Mercúrio,
Febo7 e Marte, Eneas e Quirino8 e os
dous Tebanos,9 Ceres, Palas e Juno
com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.

1
reconfortante, santa; 2 deusa do mar, esposa do Oceano; 3

admiração 4 inventava; 5 constelado; 6 pedregoso; 7 Apolo; 8

Rómulo; 9 Hércules e Baco.


Os Lusíadas

92 94
Mas a Fama, trombeta de obras tais, Ou dai na paz as leis iguais,14
Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos constantes, Que aos grandes não dêem o
De Deuses, Semideuses, Imortais, dos pequenos,15 Ou vos vesti nas armas
Indígetes,10 Heróicos e de Magnos.11 rutilantes,
Por isso, ó vós que as famas Contra a lei dos imigos
estimais, Se quiserdes no mundo Sarracenos: Fareis os Reinos
ser tamanhos, Despertai já do sono grandes e possantes, E todos tereis
do ócio ignavo,12 Que o ânimo, de mais e nenhum menos: Possuireis
livre, faz escravo. riquezas merecidas,
Com as honras que ilustram tanto as vidas.
93
E ponde na cobiça um freio duro, 95
E na ambição também, que E fareis claro16 o Rei que tanto
indignamente Tomais mil vezes, e no amais, Agora cos conselhos bem
torpe e escuro Vício da tirania infame cuidados, Agora co as espadas,
e urgente,13 que imortais
Porque essas honras vãs, esse ouro Vos farão, como os vossos já
puro, Verdadeiro valor não dão à passados.17 Impossibilidades não
gente: Milhor é merecê-los sem os façais,
ter, Que quem quis, sempre pôde; e
Que possuí-los sem os merecer. numerados18 Sereis entre os Heróis
esclarecidos
E nesta «Ilha de Vénus» recebidos.

10
homens ilustres, venerados como divindades, após a morte; 11 grandes − qualificativo romano de todos os deuses, exceto de Júpiter
(maximus);
12
indolente; 13 que oprime; 14 equitativas; 15 aquilo que é dos humildes; 16 ilustre; 17 antepassados; 18 mencionados.

1. Ligue os elementos da coluna A aos da coluna B, de modo a obter uma síntese


do conteúdo das estâncias lidas. PROF E S SOR

Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
Coluna A Coluna B 15.1; 15.2
[1] dependem da grandiosidade e das obras
[A] O encontro com as ninfas
dos seus súbditos. 1.
[2] são difíceis de obter, mas, quando atingidas, [A] – [4]
[B] Além deste prémio, o mundo
trazem felicidade e satisfação. [B] – [6]
[C] Coroas de louro e [3] a serem justos e a sobressaírem na luta [C] – [5]
palma, honras e glória contra os infiéis. [D] – [2]
[E] – [8]
[D] A fama e a virtude [4] constitui uma recompensa pelos feitos
grandiosos dos portugueses. [F] – [7]
[G] – [3]
[E] O poeta aconselha os
[5] constituem os deleites dos portugueses na [H] – [1]
que querem atingir a
ilha.
fama
[6] reserva outras recompensas aos Gramática
[F] A tirania e a cobiça nautas portugueses. 18.1
[7] devem ser controladas por aqueles que
[G] O poeta aconselha ainda aos 1. Identifique o modo
pretendem ser reconhecidos como
que pretendem ser verbal usado na
grandiosos.
distinguidos apresentação dos
[8] a despertarem da ociosidade e a
conselhos e refira o
[H] O valor e a glória do Rei perseguirem com perseverança o seu
seu valor.
GR AMÁTICA 2. Identifique as funções
199
sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados em “E ponde na 1. Os verbos usados
cobiça um freio duro” (est. 93, v. 1). na apresentação dos
conselhos estão no modo
imperativo, que é
utilizado com valor
exortativo.
2. “na cobiça” –
complemento oblíquo;
“um freio duro” –
complemento direto.

200
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X — Imaginário Épico

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A matéria épica não se esgotou no canto IX. Também no canto X, o último, esta
pode ser percecionada, destacando-se a excecionalidade dos navegadores
portugueses e, em particular, do seu supremo representante, Vasco da Gama.

75
79
Despois que a corporal necessidade
Uniforme13, perfeito, em si sustido,
Se satisfez do mantimento nobre,
Qual, enfim, o Arquetipo14 que o
E na harmonia e doce
criou. Vendo o Gama este globo,
suavidade Viram os altos feitos
comovido De espanto e de desejo
que descobre, Tétis1, de graça
ali ficou.
ornada e gravidade, Pera que
Diz-lhe a Deusa: − «O transunto15, reduzido
com mais alta glória dobre As
Em pequeno volume, aqui te dou
festas deste alegre e claro2 dia,
Do Mundo aos olhos teus, pera que
Pera o felice Gama assi dizia:
vejas Por onde vás e irás e o que
desejas.
76
− «Faz-te mercê, barão, a
80
Sapiência Suprema3 de, cos olhos
«Vês aqui a grande máquina do
corporais, Veres o que não pode
Mundo, Etérea e elemental16, que
a vã ciência Dos errados4 e
fabricada
míseros mortais.5
Assi foi do Saber, alto e profundo,
Sigue-me firme e forte, com
Que é sem princípio e meta
prudência, Por este monte espesso,
limitada17. Quem cerca em derredor
tu cos mais.» Assi lhe diz e o guia
este rotundo Globo e sua
por um mato Árduo, difícil, duro a
superfícia tão limada,
humano trato.
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o
entende, Que18 a tanto o engenho humano
77
não se estende.
Não andam muito que6 no erguido
cume Se acharam, onde um campo se
81
esmaltava De esmeraldas, rubis, tais
«Este orbe que, primeiro, vai cercando
que presume
Os outros mais pequenos que em si
A vista que divino chão pisava.
tem, Que está com luz tão clara
Aqui um globo vêm7 no ar, que o
radiando
lume8 Claríssimo por ele penetrava,
Que a vista cega e a mente vil
De modo que o seu centro está
também, Empíreo19 se nomeia, onde
evidente, Como a sua superfícia,
logrando20 Puras almas estão
claramente.
daquele Bem
78 Tamanho, que ele só se entende e
Qual a matéria seja não se enxerga, alcança, De quem não há no mundo
Mas enxerga-se bem que está semelhança.
composto
De vários orbes,9 que a Divina verga10
Compôs, e um centro a todos só tem toda a parte Começa e acaba, enfim, por divina arte,
posto. Volvendo,11 ora se abaxe, agora se
erga,12 Nunca s’ergue ou se abaxa, e um
mesmo rosto Por toda a parte tem; e em
1
deusa do mar, esposa do Oceano; 2
ilustre, digno de perene lembrança; 3
Deus (um dos atributos divinos é a
omnisciência); 4 que se enganam; 5 os
homens; 6 quando; 7 veem; 8 luz
(começa a descrição do Cosmos,
segundo o sistema de Ptolomeu); 9
esferas ou céus que, na conceção
ptolomaica, se encontravam a seguir
às esferas do Ar e do Fogo,
concêntricas, com a Terra no centro;
10
o Poder de Deus; 11 girando; 12 ora
se abaixa ora se ergue (em relação
ao plano do horizonte); 13

homogénea, por ser esférica a


superfície; 14 modelo = Deus; 15 cópia
(“reduzido / Em pequeno volume” =
em miniatura); 16 formada pelos
quatro elementos: terra, água, ar e
fogo; 17 perífrase para Deus (v. 3 e v. 4);
18
conjunção subordinativa causal; 19
paraíso cristão; 20 usufruindo.
Os Lusíadas

1. Explique os dois primeiros versos da estância 75.


P R O F E S S OR

2. Na estância seguinte, verifica-se o recurso ao discurso


direto.
Áudio
2.1 Identifique o locutor desse discurso.
2.2 Refira a intencionalidade do discurso utilizado por esse emissor. “Canto X, 75-91”

Educação Literária
3. Depois do pedido da deusa, ambos se dirigem para um monte. 14.2; 14.3; 14.4; 14.7
3.1 Descreva o percurso efetuado antes da chegada ao cume.
1. Depois que a fome
3.2 Indique o que é mostrado a Gama nesse local. foi saciada.
2.1 O locutor desse
3.3 Associe as características do percurso ao que é mostrado a Gama, discurso é Tétis.
evidenciando as intenções do poeta. 2.2 Tétis pretende que
Gama a siga para lhe
3.4 Justifique o facto de este episódio contribuir para a divinização dos mostrar aquilo que os
marinheiros. olhos humanos não
podem ver.
3.1 Seguiram por um
“monte espesso” e a
deusa guiou-o por um
mato difícil para o ser
humano, até chegarem
ao cimo de um monte.
EDUCAÇÃO LITERÁRIA 3.2 Neste local é
mostrado a Gama um globo
no ar, formado por vários
círculos, por onde uma luz
A descrição do Universo prossegue e Vasco da Gama continua a assimilar as penetrava, o qual é
informa- ções que Tétis lhe transmite. designado por “máquina
do Mundo”.
3.3 Todo o percurso é
apresentado como uma
metáfora do caminho
para
82 84 a Fama e para a Glória.
Assim, as dificuldades do
«Aqui, só verdadeiros, gloriosos «Quer logo7 aqui a pintura que caminho percorrido por Gama
Divos1 estão, porque eu, Saturno2 e Jano,3 varia8 Agora deleitando, ora sugerem as dificuldades dos
trabalhos associados às
Júpiter, Juno,4 fomos fabulosos, ensinando, Dar-lhe9 nomes que a novas conquistas. A
Fingidos de mortal e cego antiga Poesia A seus Deuses já maravilha do que é dado a
observar a Gama associa-
engano. Só pera fazer versos dera, tabulando; Que os Anjos de se à recompensa
deleitosos Servimos; e, se mais o celeste companhia destinada aos homens
no final do caminho da
trato humano Deuses o sacro verso10 está Fama e da Glória.
Nos pode dar, é só que o nome chamando, Nem nega que esse nome 3.4 Este episódio
nosso Nestas estrelas pôs o preminente Também aos maus se dá, contribui para a
divinização dos
engenho vosso. mas falsamente. marinheiros, na medida
em que é concedido a Gama
o dom da omnisciência e do
83 85 saber que só aos deuses é
«E também, porque a santa «Enfim que o Sumo Deus, que por permitido.

Providência, Que em Júpiter aqui se segundas Causas obra no Mundo, tudo


representa, manda.
Por espíritos mil que têm E tornando a contar-te das
prudência Governa o Mundo todo profundas Obras da Mão Divina
que sustenta (Ensina-lo5 a veneranda, Debaxo deste círculo
profética ciência,6 onde as mundas11 Almas divinas
Em muitos dos exemplos que apresenta); gozam, que12 não anda, Outro corre,
Os que são bons, guiando, favorecem, tão leve e tão ligeiro
Os maus, em quanto podem, nos Que não se enxerga: é o Móbile
empecem; primeiro.
201
1
santos (da Santa Madre Igreja); 2 filho do Céu e da Terra; 3 filho de Apolo, representado com duas caras,
simbolizando a sua capacidade de adivinhar o passado e o futuro; 4 esposa de Júpiter; 5 ensina-no-lo; 6 sagrada
escritura; 7 portanto; 8 pintura que varia: poesia; 9 aos outros; 10 texto da Sagrada Escritura; 11 puras, limpas; 12 tem
por antecedente "círculo".

202
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a
Canto X — Imaginário Épico

86 87
«Com este rapto13 e grande «Olha estoutro debaxo, que esmaltado
movimento Vão todos os que dentro De corpos lisos anda e radiantes,
tem no seio; Por obra deste, o Sol, Que também nele tem curso
andando a tento,14 O dia e noite faz, ordenado E nos seus axes17 correm
com curso alheio.15 Debaxo deste cintilantes.
leve,16 anda outro lento, Tão lento e Bem vês como se veste e faz
sojugado a duro freio, ornado Co largo Cinto d’ouro,18 que
Que enquanto Febo, de luz nunca estelantes Animais doze traz
escasso, Duzentos cursos faz, dá ele afigurados,19 Apousentos de
um passo. Febo20 limitados.

88
«Olha por outras partes a pintura
Que as Estrelas fulgentes vão fazendo:21
Olha a Carreta,22 atenta a
Cinosura,23
Andrómeda e seu pai,24 e o Drago25
horrendo; Vê de Cassiopeia a formosura
E do Orionte26 o gesto turbulento27;
Olha o Cisne morrendo28 que
suspira, A Lebre e os Cães, a Nau e
a doce Lira.29

13
movimento giratório; 14 com regularidade; 15 com movimento
que não é, propriamente, devido ao sol, mas ao "Móbile primei-
PROFE S SOR ro"; 16 levemente; 17 eixos; 18 Cinto d’ouro: o Zodíaco; 19 estelantes /
Animais DOZE trAZ afigurados: doze constelações; 20 Apousentos de
Educação Literária Febo: os doze signos (Febo = Apolo); 21 figuras que as estrelas
14.2; 14.3; 14.4; 14.9 pare- cem formar no céu (= constelações); 22 Ursa Maior; 23 Ursa
1. Esse espaço está Menor; 24 Cefeu; 25 Dragão; 26 Orião ou Orion; 27 que traz chuvas e
reservado para os santos.
tempes- tades; 28 ao morrer; 29 nomes de constelações (os que
2. A afirmação reduz
estão escritos com maiúscula nos versos 7 e 8).
os deuses ao seu verdadeiro
papel. Estes são seres que
resultam da imaginação
humana, e que, na verdade,
não têm consistência.
Os deuses apenas servem 1. Identifique para quem está reservado o espaço a que Tétis se refere na estância 82.
para dar o nome às
estrelas. Esta afirmação
contribui para o relevo dado à 2. Explicite a intenção da afirmação “fomos fabulosos, / Fingidos de mortal e
divinização dos marinheiros, cego engano” (est. 82, vv. 3-4).
que, sendo seres de carne e
osso, ultrapassam os
deuses, que não passam 3. Indique quem é favorecido e quem é desfavorecido pela santa Providência, de
de meras ficções. acor- do com o conteúdo da estância 83.
3. Os favorecidos são os
bons e os desfavorecidos 4. Identifique, justificando, o recurso expressivo presente nos versos“que
são os maus.
esmaltado / De corpos lisos anda e radiantes” (est. 87, vv. 1-2).
4. Anástrofe, dado
que a ordem correta
deveria ser: “que anda
esmaltado de corpos
lisos e radiantes”.

Gramática indireto.
18.1 1.1 Este pronome refere-se a Vasco da Gama.
1. Complemento 2. O complexo verbal sugere continuidade, duração.
GR AMÁTICA

1. Indique a função
sintática do
pronome te, em
“contar-te” (est.
85, v. 3).

1.1 Identifique a
quem se
refere o
pronome.

2. Explicite o valor
do complexo
verbal “vão
fazendo” (est. 88, v.
2).

BLOCO INFORMATIVO
pp. 271-273,
Os Lusíadas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A descrição e disposição das divindades são feitas por Tétis, que explicita
também as razões dessa ordenação. Aí se percebe a dimensão épica associada
aos feitos das várias entidades convocadas.

89 91
«Debaxo deste grande Firmamento, «Neste centro, pousada dos humanos,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo; Que não sòmente, ousados, se contentam
Júpiter logo faz o movimento, De sofrerem da terra firme os danos,
E Marte abaxo, bélico inimigo; Mas inda o mar instábil
O claro Olho do céu, no quarto exprimentam, Verás as várias partes,
assento, E Vénus, que os amores que os insanos Mares dividem, onde
traz consigo; Mercúrio, de se apousentam Várias nações que
eloquência soberana1; Com três mandam vários Reis, Vários
rostos2, debaxo vai Diana3. costumes seus e várias leis7.

90
«Em todos estes orbes, diferente
1
do verso 1 ao verso 7 enumeram-se os sete céus a que o
poeta já se referira em outros cantos
Curso verás, nuns grave e noutros
4
2
Lua Cheia, Quarto Crescente e Quarto Minguante (a Lua Nova é
leve5; Ora fogem do Centro praticamente invisível)
longamente6,
3
Lua
Ora da Terra estão caminho PROFE S SOR
4
lento
breve, Bem como quis o Padre 5
rápido
Educação Literária
omnipotente, Que o fogo fez e o 6
a grande
14.2; 14.4; 14.9
distância
ar, o vento e neve, 7
religiões
Os quais verás que jazem mais a 1. Marte é considerado
"bélico inimigo" porque ele
dentro E tem co Mar a Terra por é o deus da guerra.
seu centro. 2. Anáfora.
1. Apresente a razão para a designação de Marte como “bélico inimigo” (est. 89, v. 4). BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 26-27
2. Identifique o recurso expressivo presente nos versos 3 e 4 da estância 90.

3. Indique a quem se refere Tétis com a expressão “o Padre omnipotente” (est. 90, v.

5).

ESCRITA

Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre os Descobrimentos,


conside- rando os tópicos apresentados:

• Ao nível do conteúdo: identificação do tema; perigos e obstáculos encontrados;


vanta- gens e desvantagens decorrentes da iniciativa.

• Ao nível da estruturação do discurso e da correção linguística: seleção e


diversifica- ção vocabular e de conectores; obediência às regras da não contradição
e da progressão; marcação de períodos e de parágrafos; correção ao nível da
ortografia, da pontuação e da acentuação.

203
3. Tétis refere-se a Deus, que criou o Céu e a Terra.

Escrita
11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 13.1

Resposta de caráter pessoal, no entanto os alunos podem desenvolver os seguintes aspetos:


A nível dos perigos e dos obstáculos – as doenças dos marinheiros, a fome, os fenómenos
climatéricos/ atmosféricos, as ciladas;
a nível das vantagens decorrentes da iniciativa – o desenvolvimento das ciências
náuticas/geográficas, o conhecimento do mundo
e dos seus habitantes, o desenvolvimento económico do país; a nível das desvantagens causadas –
a desertificação da pátria (no que concerne a homens), o adultério, a sobrecarga sobre as mulheres e
o desamparo dos filhos.

204
mais/menos … do que, qual (de po is de “ ta l” ), qu an t o (d e p oi s
A f ra s e c o m p l e x a : s u
d e “t a n t o” ), ta n to/tão … como, bem como, como s
bo rdin a ç ão
APRENDER

SUBORDINAÇÃO
Processo de combinação de duas ou mais orações em que uma delas, a
subordinada, está sintaticamente dependente de outra, a subordinante.

Oração subordinante1 Oração subordinada


Constituinte que inclui um verbo principal ou copulativo, podendo conter É a que desempenha uma função sintática
ainda elementos com função de sujeito, de complemento e/ou de na frase complexa em que se encontra.
modificador.

1
Há elementos subordinantes
De acordo com o tipo de função sintática que desempenham, as orações
que não são oracionais, como subordinadas classificam-se como substantivas, adjetivas ou adverbiais.
acontece, normalmente, com os
anteceden- tes das orações
subordinadas adje- tivas
Orações subordinadas adverbiais
relativas.
Desempenham a função sintática de modificador e devem ser destacadas por
vírgula(s) quando antecedem a subordinante ou são intercaladas.

Têm grande mobilidade na frase, exceto no caso das comparativas e das


consecutivas, e expressam diferentes valores semânticos, que determinam a sua
classificação. Assim, uma oração subordinada pode ser:

Conjunções/locuções
Classificação Sentido Exemplificação
conjuncionais subordinativas
porque, que, como, dado, Indica a razão, a causa, o motivo •Como o perigo
Causal dado que, uma vez que, visto ou a justificação da situação espreitava
que, pois, já que expressa na subordinante. constantemente, os
nautas estavam atentos.
Expressa uma comparação,
mais/menos… do que, qual contendo o segundo elemento da
(depois de “tal”), quanto comparação estabelecida com o
conteúdo •Vasco da Gama falou como
Comparativa (depois de “tanto”),
da subordinante. um douto capitão falaria.
tanto/tão… como, bem como,
como, como se, As subordinadas comparativas podem
que nem corresponder a construções elípticas,
nas quais o grupo verbal é elidido.
embora, conquanto que, Apresenta uma ideia ou um •Camões prosseguirá o
Concessiva ainda que, mesmo que/se, facto que contrasta com o seu canto, mesmo que
posto que, se bem que, por expresso na subordinante. o Rei o ignore.
mais/menos que
Apresenta a condição ou hipótese •Caso as Ninfas o ajudem,
se, caso, desde que, contanto
Condicional exigida para a realização da situação Camões produzirá um
que, salvo se, a menos que, a
expressa na subordinante. canto superior aos da
não ser que
Antiguidade.
•A aventura foi tão
tão/tanto… que, a ponto Expressa o efeito ou a
Consecutiva grandiosa que deu
de, de tal modo… que consequência do que é dito na
origem a um poema
subordinante.
épico.
para, para que, com a •Vénus conduziu os
Refere o propósito, a
finalidade/ o objetivo de, de portugueses até à Ilha com
Final intenção ou a finalidade da
modo a/que, o objetivo de os
de forma a que, a fim de recompensar pelo seu
(que), de maneira a (que) ação expressa na
esforço.
subordinante.
quando, enquanto, apenas,
•Os marinheiros foram
mal, logo que, depois de/que, Cria uma referência temporal à luz da
surpreendidos por uma
Temporal antes de/ que, até que, sempre qual a ação expressa na subordinante
enorme tempestade,
que, todas as vezes que, agora deve ser interpretada.
enquanto navegavam no
que, cada vez que, assim que
mar.
e, que nem…

APLICAR P R O F E S S OR

1. Expanda as frases seguintes, introduzindo-lhes uma oração subordinada Gramática


18.2; 18.4; 18.5
adverbial do tipo indicado entre parênteses.
1.
a. , os marinheiros ficaram eufóricos. (temporal)
a. Quando chegaram à Índia,
b. Camões foi um grande poeta, . (concessiva) b. embora tivesse
vivido na pobreza.
c. O épico português só terminaria o seu canto, . (condicional)
c.se o rei o escutasse.
d. Vasco da Gama fica no navio . (final) d. para que os nativos não
o façam, de novo, prisioneiro.
e. O susto do capitão português foi tão grande . (consecutiva) e. que passou a
duvidar de tudo.
f. Há quem veja em Os Lusíadas uma epopeia de imitação, . (causal)
f.dado ter semelhanças
g. Os quatro planos estruturais de Os Lusíadas estão organizados . (comparativa) com as epopeias da
Antiguidade.
g. como se fossem uma
2. Identifique e classifique a oração subordinada adverbial presente em cada peça de joalharia, com
uma das frases. várias incrustrações.
2.
a. Os marinheiros divertiram-se tanto na Ilha que ficaram maravilhados. a. "que ficaram
maravilhados" −
b. Vasco da Gama ordenou o adiamento da partida, uma vez que as condições subordinada adverbial
clima- térias não eram favoráveis à navegação. consecutiva.
b. "uma vez que as
c. Os navegadores aportariam em Melinde desde que a agitação marítima o condições climatérias não
permi- tisse. eram favoráveis à
navegação" − subordinada
d. Logo que chegaram à Ilha dos Amores, as Ninfas disfarçaram-se de adverbial causal.
caçadores. c."desde que a
agitação marítima o
e. Ainda que o medo fosse grande, Vasco da Gama enfrentou o Adamastor. permitisse" −
subordinada adverbial
condicional.
3. Leia atentamente as duas frases a seguir apresentadas. d. "Logo que chegaram à
Ilha dos Amores" −
a. O rei de Melinde receberia os portugueses desde que eles fossem subordinada adverbial
desarmados. temporal.
e. "Ainda que o medo
b. A chegada do Catual era desejada desde que ele demonstrara vontade de visitar fosse grande" −
as naus. subordinada adverbial
concessiva.
3.1 Selecione a alternativa que corresponde à situação de subordinação 3.1 [C]
anterior. 4.
a. Camões seguiu o
[A] As orações anteriores são subordinadas condicionais. modelo greco-latino
embora tivesse procedido
[B] As duas orações são subordinadas adverbiais condicionais. a algumas adaptações.
b. Camões teria
[C] A oração da alínea a. é subordinada adverbial condicional e a da b. é desistido da epopeia se o
temporal. rei se mostrasse
indiferente.
c.Vasco da Gama vacilou
4. Transforme as frases simples em frases complexas, considerando o exemplo uma vez que o rei de
dado e recorrendo a orações subordinadas adverbiais. Melinde fizera um pedido
estranho.
d. Quando anoiteceu, o
· No Renascimento, revitaliza-se o género épico. rei de Melinde abandonou
· Quando surge o Renascimento, revitaliza-se o género épico. a nau do capitão.

a. Camões seguiu o modelo greco-latino com algumas adaptações.


b. Camões teria desistido da epopeia perante a indiferença do rei.

205
c. Vasco da Gama vacilou com o pedido estranho do rei de Melinde.
d. Ao cair da noite, o rei de Melinde abandonou a nau do capitão.

206
Os Lusíadas

LEITUR A

A viagem foi e é potenciadora de descobertas e de conhecimento. E se o mar foi


des- vendado na época clássica, na era moderna a preocupação centra-se
também na des- coberta do espaço.

Leia o artigo de divulgação científica que a seguir se apresenta e responda,


depois, às questões.

Explorando Vénus
Desde 2006 que a sonda Venus Express nos envia dados fascinantes sobre o planeta conhecido como “estrela da manhã” ou “da tarde”.
rfície do planeta. A ESA con- trola a sonda a partir do centro de operações da missão em Darmstadt, na Alemanha. Durante a órbita, uma an-
SA perto de Madrid, Espanha, é utilizada para as comunicações. A sonda recolhe dados quando se encontra sobre o polo norte de Vénus, arma- zena-os

omo de Baikonur, no Cazaquistão, a Venus Express orbita Vénus há quase oito anos. Uma órbita leva cerca de 24 horas a completar e o ponto máximo d

5
e atividade geoló- gica recente em Vénus – que ainda poderá estar a de- correr. Também detetou raios na atmosfera e possibilitou a criação de mapas

p. 56.

10

1. Indique o tema do artigo e o momento em que é apresentado no texto.


PROFE S SOR
2. Relacione o meio de publicação com as referências concretas e científicas do texto.
Leitura
7.1; 7.3; 7.4; 7.5; 7.6;
8.1; 8.2 3. Justifique o recurso a construções sintáticas simples e objetivas, tendo em
conta os destinatários da publicação onde surge este artigo.
1. O tema é a
exploração do planeta 4. Exemplifique o recurso a algum vocabulário específico e técnico.
Vénus, e surge
apresentado no título e 5. Comprove que existe uma hierarquização das ideias e uma progressão textual.
no parágrafo
destacado (parágrafo
inicial). 6. Refira uma possível vantagem da investigação espacial para a humanidade.
2. A revista Quero
Saber, como o próprio 7. Selecione, entre os pares de palavras, as que lhe permitem completar
título indica, aborda corretamen- te a definição do género textual explorado.
questões de várias áreas
do saber e dá conta de um
conjunto de novidades/
Um artigo de divulgação científica é um género textual que assume um
descobertas, como é o caráter b. (argumentativo/expositivo), com informação c. (ge-
caso da exploração deste
planeta. nérica/seletiva), onde impera a d. (desordenação/hierarquização) das
3. Tratando-se de uma ideias, e. (o rigor/a suposição) e a f. (subjetividade/objetivida-
publicação destinada ao
de). O vocabulário deve ser g. (polissémico/monossémico) e a sintaxe
público em geral, tem,
obviamente, de permitir h. (simples/complexa).
a todos os leitores
aceder e compreender o
conteúdo do artigo. BLOCO INFORMATIVO – p. 283
Canto X – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROF E S SOR

4. Termos como
Na última intervenção, que fecha a epopeia, assiste-se à lamentação do poeta “sonda”, “cosmódromo”,
“órbita”, “venusiana”,
por cantar a gente surda e endurecida e por a Pátria se encontrar envolta “atividade geológica” ou
numa apa- gada e vil tristeza. “mapas meteorológicos”
fazem parte de áreas
Por isso, o poeta refere os sacrifícios a que os portugueses serão capazes de se específicas do saber, pelo
sujei- tar pelo rei, exortando D. Sebastião à realização de novos feitos, e que não são usados com
comprometendo-se a enaltecê-lo no seu canto. frequência nosso quotidiano.
5. A hierarquização é
visível na forma como se
parte do geral para o
particular: o autor começa
por apresentar
o tema; de seguida, fala
do envio da sonda e
descreve
a sua utilidade, exemplificando
com a sua atividade no
planeta; termina com a
referência de alguns dados
fornecidos pela sonda.
6. Por exemplo, quanto mais
o Homem conhecer mais
poderá expandir-se e
aumentar a sua possibilidade
de sobrevivência.
7.
a. expositivo
b. seletiva
c.hierarquização
d. o rigor
e. objetividade
f.monossémico
g. simples

Dũa austera3, apagada e vil tristeza


145
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira
tenho Destemperada1 e a voz
enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que
venho Cantar a gente surda e
endurecida.
O favor2 com que mais se acende o
engenho Não no dá a pátria, não, que
está metida
No gosto da cobiça e na rudeza

207
levanta de contino
146 A ter pera trabalhos ledo o rosto.
E não sei por que Por isso vós, ó Rei, que por
influxo de divino
Destino Não tem Conselho4 estais no régio sólio5 posto,
um ledo orgulho e Olhai que sois (e vede as outras
geral gosto, Que gentes) Senhor só6 de vassalos
os ânimos excelentes.

1
desafinada; 2 aplauso; 3 sombria; 4 divino / Conselho: providência de Deus; 5 trono (de Portugal); 6
único.

208
Canto X – Reflexões do Poeta

147 Glória vã não pretende nem dinheiro.


Olhai que7 ledos vão, por várias
vias, Quais rompentes liões e
bravos touros, Dando os corpos a
fomes e vigias8,
A ferro, a fogo, a setas e
pelouros, A quentes regiões, a
plagas9 frias,
A golpes de Idolátras10 e de
Mouros, A perigos incógnitos do
mundo,
A naufrágios, a pexes, ao profundo11.

148
Por vos servir, a tudo aparelhados12;
De vós tão longe, sempre obedientes;
A quaisquer vossos ásperos
mandados, Sem dar reposta, prontos
e contentes. Só com saber que são
de vós olhados, Demónios infernais,
negros e ardentes, Cometerão13
convosco, e não duvido Que
vencedor vos façam, não vencido.

149
Favorecei-os logo, e alegrai-os
Com a presença e leda
humanidade14; De rigorosas leis
desalivai-os15,
Que assi se abre o caminho à
santidade16. Os mais exprimentados
levantai-os,
Se, com a experiência, têm bondade17
Pera vosso conselho, pois que
sabem
O como, o quando, e onde as cousas
cabem.

150
Todos favorecei em seus
ofícios, Segundo têm das vidas
o talento; Tenham Religiosos
exercícios18
De rogarem, por vosso regimento19,
Com jejuns, disciplina, pelos vícios
Comuns; toda ambição terão por vento,
Que o bom Religioso verdadeiro
151 Ingleses, Possam dizer que são pera
Os Cavaleiros mandados,24 Mais que pera mandar,
tende em muita os Portugueses. Tomai conselho só
estima, Pois com d’exprimentados, Que viram largos
seu sangue anos, largos meses, Que, posto que
intrépido e em cientes muito cabe, Mais em
fervente particular o experto sabe.
Estendem não
sòmente a Lei de 153
cima,20 Mas inda De Formião,25 filósofo elegante,
vosso Império Vereis como Anibal
preminente. escarnecia, Quando das artes
Pois aqueles bélicas, diante Dele, com larga
que a tão voz tratava e lia.26 A disciplina
remoto clima militar prestante
Vos vão servir, Não se aprende, Senhor, na fantasia,
com passo Sonhando, imaginando ou estudando,
diligente21, Dous Senão vendo, tratando e pelejando.
inimigos
vencem: uns, os 154
vivos,22 Mas eu que falo, humilde, baxo e
E (o que é mais) os trabalhos rudo, De vós não conhecido nem
excessivos. sonhado? Da boca dos pequenos
sei, contudo, Que o louvor sai às
152 vezes acabado.27 Nem me falta na
Fazei, Senhor, vida honesto estudo, Com longa
que nunca os experiência misturado,
admirados Nem engenho28, que aqui vereis
Alemães, presente, Cousas que juntas se acham
Galos,23 Ítalos e raramente.

7
quão; 8 vigílias; 9 território; 10
que adora ídolos; 11
abismo da morte; 12
preparados; 13
acometerão; 14
benevolência; 15
aliviai-os; 16
veneração
(dos súbditos); 17
capacidade, competência; 18
Religiosos exercícios: práticas de devoção; 19
reinado; 20
religião cristã (de cima = do Céu); 21

zeloso, cui- dadoso; 22


os homens; 23
Franceses; 24
para (serem) mandados 25
filósofo grego que, em Éfeso, dissertou perante Aníbal
acerca da arte de com- bater; o general cartaginês, naturalmente, só pôde notar desacertos naquele saber teórico; 26
expunha
pomposamente; 27
perfeito; 28
talento.
155 29
afeito, habituado; 30 falta;
Pera servir-vos, braço às armas 31
merecimento; 32 sábia;
feito29, Pera cantar-vos, mente às 33
profetiza; 34 uma das três Górgonas
Musas dada; Só me falece30 ser a − que tornava de pedra aqueles
vós aceito, que a contemplassem; 35 Atlas,
De quem virtude31 deve ser prezada. em
Se me isto o Céu concede, e o vosso Marrocos; 36 cabo Espartel, a oeste
peito Dina empresa tomar de ser de Tânger; Tarudante, capital de
37

cantada, Como a pres[s]aga32 mente uma província marroquina; 38

asseguro; em vós se veja / Sem à


39
vaticina33 Olhando a vossa inclinação
dita de
divina,
Aquiles ter enveja: em vós possa
rever- se sem invejar a glória de
156 Aquiles (que, cantado na Ilíada, era
Ou fazendo que, mais que a de invejado, por este motivo, por
Medusa,34 A vista vossa tema o monte Alexandre).
Atlante35,
Ou rompendo nos campos de
Ampelusa36 Os muros de Marrocos e A El-Rei D. Sebastião, 1973, PROFE S SOR
Trudante37, João Cutileiro (1937- ),
Lagos. Educação Literária
A minha já estimada e leda Musa 14.2; 14.3; 14.6; 14.7;
Fico38 que em todo o mundo de vós 14.9
cante, De sorte que Alexandro em vós 1. Plano mitológico e plano
do poeta, como se vê pela
se veja, Sem à dita de Aquiles ter referência às musas, pela
enveja.39 utilização da primeira
1. O regresso à Pátria origina nova reflexão do poeta.
Anástrofe
Distinga, na estância 145, dois dos quatro planos de Os Lusíadas, justificando.
5. Atendendo ao
2. Justifique a exortação ao “Rei” que se verifica na estância 146.
conteúdo da
2.1 Evidencie três marcas linguísticas associadas ao apelo do poeta. estância 156 e
consultando a
3. Nesta última reflexão, surgem sentimentos contraditórios, relacionados ora
nota 39, indique
com o desalento ora com o orgulho e a esperança.
o valor lógico do
Proceda ao levantamento dos factos que suscitam esta duplicidade de
sentimentos. conector “De
sorte que” (v. 7).
4. Complete o quadro que se segue, baseando-se nas estâncias apresentadas
e/ou nos versos selecionados.

Recurso expressivo Exemplos textuais


“Não no dá a pátria, não, que está metida / No gosto da
Metonímia
cobiça e na rudeza” (est. 145, vv. 6-7)
a. “ó Rei” (est. 146, v. 5)
Comparação b.
“A ferro, a fogo, a setas e pelouros, / […] a pexes, ao
c.
profundo.”
(est. 147, vv. 4-8)
“Só com saber que são de vós olhados, / Demónios
d.
infernais, negros e ardentes, / Cometerão convosco […]”
(est. 148, vv. 5-7)

Metáfora e.
“Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, / De vós não
f.
conhecido nem sonhado?” (est. 154, vv. 1-2)
Personificação “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5)
pessoa gramatical e pelas lamentações do poeta.
2. A exortação deve-se
ao facto de o poeta pensar que o rei, apesar de dever alegrar-se por ter tão bons vassalos, ainda não agiu
em conformidade.
2.1 Uso do vocativo,
do pronome pessoal “vós”,
da segunda pessoa e da forma verbal na mesma pessoa e no imperativo (“Olhai”).
3. O desalento resulta da indiferença dos portugueses face ao seu canto, afirmando o poeta
que a Pátria está envolta
numa “austera, apagada e vil tristeza” (est. 145, v. 8);
o orgulho e a esperança devem-se à consciência do seu talento e ao facto de os portugueses
continuarem a lutar pelo rei, que o poeta espera venha a reconhecer todos os que o merecem
e o engrandecem.
4. a. Apóstrofe; b. “Quais rompentes liões e bravos touros” (est. 147, v. 2);
c. Enumeração ou aliteração;
d. Hipérbole; e. “Pois com seu sangue intrépido e fervente” (est. 151, v. 2); f. Interrogação
retórica, tripla adjetivação;
g. “A vista vossa tema o monte Atlante” (est. 156, v. 2).
5. Valor final ou de finalidade.
PROFE S SOR
GR AMÁTICA
Gramática
17.3; 18.1; 18.3; 18.4 1. Indique o nome do processo fonológico verificado nas palavras selecionadas,
1. considerando a grafia atual.
a. epêntese
b. epêntese
Palavras exemplificativas
c.prótese Processo fonológico
2. Grafia anterior Grafia atual
a. Coordenada pexes (est. 147, v. 8) peixes a.
copulativa
b. Subordinada reposta (est. 148, v. 4) resposta b.
adverbial condicional
c.Subordinada inda (est. 151, v. 4) ainda c.
adverbial comparativa
d. Coordenada disjuntiva
2.1 2. Classifique as orações seguintes.
a. “os” − complemento a. “e alegrai-os / Com a presença e leda humanidade” (est. 149, vv. 1-2)
direto
b. “me” − b. “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5)
complemento indireto
c. “Como a pres[s]aga mente vaticina” (est. 155, v. 7)
2.2 “a pres[s]aga mente”.
2.3 Modificador do d. “Ou rompendo nos campos de Ampelusa / Os muros de Marrocos e Trudante”
nome restritivo. (est. 156, vv. 3-4)
3. Campo lexical.
2.1 Indique as funções sintáticas de “os” (alínea a.) e de “me” (alínea b.)
Escrita 2.2 Identifique o sujeito da frase da alínea c.
10.2; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
13.1 2.3 Refira a função sintática do segmento “de Marrocos e Trudante” (alínea d.)
O aluno poderá desenvolver os
seguintes tópicos: 3. Identifique a relação semântica existente entre os vocábulos “Cavaleiros” (est. 151, v.
–O poeta Luís Vaz de 1), “inimigos” (est. 151, v. 7), “militar” (est. 153, v. 5) e “armas” (est. 155, v. 1).
Camões viveu no século
XVI, tendo nascido por
volta de 1525
e morrido em 1579 ou 1580. ESCRITA
–Este período foi
influenciado pelo
Humanismo e pelo
Renascimento, o que se Apresente, num texto expositivo de 120 a 150 palavras, as qualidades literárias
vai refletir na vida e na e bélicas do poeta, baseando-se nas estâncias 154 e 155 e nos conhecimentos
obra do poeta.
–Influenciado pelos valores
adquiridos.
renascentistas, o poeta
acaba por congregar em si
as duas grandes
Apresente as ideias de forma fundamentada e objetiva, encadeando-as lógica e
características sequen- cialmente, e atentando na correção linguística e ortográfica.
do Homem renascentista,
sintetizadas num verso da
sua obra – “nũa mão Planifique o seu texto, obedecendo à seguinte estrutura.
sempre a espada e noutra a
pena” –, o que se pode •Introdução – Identificação do autor; breve referência à época em que viveu.
comprovar pelo conteúdo
das estâncias 154 (vv. 5- •Desenvolvimento – (…).
8) e 155 (vv. 1-4).
•Conclusão – Confirmação das ideias transmitidas nas estâncias referidas e nos
aspe- tos avançados no desenvolvimento.

BLOCO INFORMATIVO –
pp. 278-279, 277, 282, 283
MANUAL – pp. 26-27
C O M P R E E N S Ã O DO OR AL

Até aqui viajou pelo mundo através das palavras do poeta Luís de Camões.
Agora, irá contactar com outra forma de conhecer a época dos
Descobrimentos.

Acompanhe atentamente uma reportagem, com cerca de cinco minutos,


sobre o World of Discoveries, uma iniciativa que convida a embarcar numa
viagem até aos Descobrimentos, e resolva depois as atividades.

1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, atendendo


ao que viu e ouviu. De seguida, corrija as falsas.
a. O museu e parque temático World of Discoveries recria os
Descobrimentos portugueses.
b. O empreendimento é da responsabilidade do Ministério da Cultura. World of Discoveries,
Vozlocal.

c. O primeiro interveniente na reportagem afirma nunca ter saído de


Portugal.
d. Segundo a diretora deste espaço, o museu sediou-se no Porto
porque aquele local estava abandonado.
e. O espaço onde está implementado o World of Discoveries já foi um PROF E S SOR
dos mais importantes estaleiros dos séculos XV e XVI.
Oralidade
f. Três das naus da armada de Vasco da Gama foram construídas nos 1.3; 1.5; 2.1;
6.1
estalei- ros da Alfândega.
g. Os primeiros visitantes foram recebidos num ambiente alusivo à época
qui- nhentista. Vídeo
"World of Discoveries"
h. Neste espaço existem vinte áreas temáticas, preenchidas por
tecnologias multimédia, hologramas e muito mais. 1.
a. V
i. O espaço tem uma dupla vertente – interativa e tecnológica – e a b. F–O
empreendimento é da
criação de um cenário à escala real. responsabilidade do
empresário Mário Ferreira.
j. As pessoas são convidadas a viajar no tempo e a viver uma c.V
experiência inesquecível. d. F – O museu
sediou-se no Porto porque
k. Os visitantes podem ver, num ecrã gigante, a verdadeira viagem foi aí que nasceu o Infante
D. Henrique.
realizada pelos navegadores portugueses. e. V
f.F – Três das naus da
l. O Norte de África e o Cabo das Tormentas são dois dos pontos armada de Vasco da Gama
pelos quais os visitantes podem passar. foram construídas nos
estaleiros
m. Territórios como a China, Japão, Macau, Timor e Brasil podem ser de Miragaia.
g. V
visitados virtualmente. h. V
i.V
n. Na opinião dos entrevistados, a visita é fatigante e, por isso, só j. V
deverá ser feita por jovens. k. F – Os
visitantes podem
o. O espaço é único, lúdico e dinâmico. experimentar a
verdadeira viagem
p. O preço mais alto do bilhete de ingresso neste espaço é de 11 realizada pelos
navegadores portugueses.
euros. l.V
m. V
q. O custo do investimento rondou os 11 milhões de euros e o valor n. F – Na
estimado de visitantes é de 300 mil, no primeiro ano. opinião dos
entrevistados, a visita
é deslumbrante e, por
isso, obrigatória.
o. V
p. F – O preço mais alto é de 14 euros.
q. F – O custo do investimento rondou os 8 milhões de euros.
mais/menos … do que, qual
(de po is de “ ta l” ), q ua nt o ( d ep o is de “ ta n to ”) , ta nt o / t ão …
O ra ç õ e s s u b o r d i n a d a s s u b s t a n t i v a s
co m o, b e m co m o, como s
e a d j e t iv a s
APRENDER

Orações subordinadas substantivas


Podem ser:

• Completivas − frequentemente introduzidas por uma conjunção completiva,


podem de- sempenhar as funções sintáticas de sujeito, de complemento de um verbo,
de complemen- to de um nome ou de complemento de um adjetivo.

• Relativas − introduzidas por uma forma relativa que não tem antecedente,
podem de- sempenhar as funções sintáticas de sujeito, de complemento direto, de
complemento indi- reto, de complemento oblíquo, de predicativo do sujeito ou de
modificador do grupo verbal.

Designação da oração Elementos


Sentido/Exemplificação
subordinada substantiva de ligação
Completa o sentido de
a. outra oração
•Creio que Camões superou os épicos da Antiguidade.
Completiva •conjunções •Perguntou-lhe se reconhecia o valor dos seus súbditos.
Funciona como sujeito, subordinativas
•Ele pediu para D. Sebastião aceitar o seu poema.
complemento do verbo, completivas:
b. um nome
do nome ou de um adjetivo que, se, para
•Camões tinha a certeza de que não era compreendido.
c. um adjetivo
•Camões estava convicto de que os seus conselhos eram
importantes.
Relativa •pronomes Introduzida por um relativo que não retoma um antecedente
Funciona como sujeito, relativos:
complemento direto, indireto, quem, (o) •Quem cantou os feitos dos portugueses merece todo o respeito.
oblíquo, predicativo do sujeito que •O Catual não era quem parecia ser.
ou modificador (do grupo •Os marinheiros foram onde havia mantimentos.
verbal) •advérbio relativo:
onde

Orações subordinadas adjetivas


São introduzidas por um pronome, determinante, quantificador ou advérbio relativo
que re- toma um antecedente. Desempenham, frequentemente, a função sintática de
modificador do nome, restritivo ou apositivo.

Designação da oração
Elementos de ligação Sentido/Exemplificação
subordinada adjetiva
•pronomes relativos: Introduzida por um relativo que retoma um referente
que, quem antecedente. Fornece informação adicional sobre o
(invariáveis), o qual constituinte que modifica.
Relativa explicativa (variável em género •Luís de Camões, que escreveu poesia lírica, dedicou-se
e número) também à escrita de uma epopeia.
•determinante relativo: Nota: estas frases vêm sempre entre vírgulas

212
cujo (variável em
género e número) Introduzida por um relativo que retoma um
Relativa restritiva antecedente. Restringe a referência do constituinte
•quantificador relativo:
que modifica.
quanto (variável em
género e número) •Li todos as estrofes que apresentam as reflexões do poeta.
•advérbio relativo: onde

213
e, que nem…

APLICAR PROF E S SOR

Atente nas frases seguintes. Gramática


18.1; 18.2; 18.4; 18.5
a. É provável que Camões tenha sofrido vários infortúnios.
1.1 [A]
b. O poeta cumpriu todos os requisitos que a epopeia exige.
1.2 [D]
c. O território onde Gama foi acolhido situava-se na costa oriental africana. 1.3 [B]
d. Quem se dedicava ao exercício das armas e das letras era considerado um 1.4 [C]
2.
verdadei- ro homem renascentista.
a. “que Luís de Camões
nasceu em Constância” −
1. Registe a única opção que permite obter uma afirmação verdadeira. oração subordinada
substantiva completiva
1.1 A frase a. integra uma oração subordinada
b. "Quem sempre
[A] substantiva completiva. sofreu várias desditas”
− oração subordinada
[B] adjetiva relativa restritiva. substantiva relativa
c. “que tinham ao seu
[C] adjetiva relativa explicativa. alcance” − oração
subordinada adjetiva
[D] adverbial causal. relativa restritiva
1.2 O conector sublinhado em “que a epopeia exige” (alínea b.) introduz uma d. “a quem as seguiu” −
oração subordinada
oração subordinada substantiva relativa
[A] adverbial consecutiva. e. “que sobrevoavam
as naus” − oração subordinada
[B] substantiva completiva. adjetiva relativa explicativa
f. “que os
[C] substantiva relativa. portugueses
desprezavam as artes”
[D] adjetiva relativa restritiva. − oração
subordinada
1.3 Na frase c. o advérbio relativo “onde” retoma o antecendente, e a oração substantiva completiva
subordi- nada por ele iniciada designa-se de 3.
[A] substantiva relativa. a. Complemento direto
b. Sujeito
[B] adjetiva relativa restritiva. c. Modificador do
nome restritivo
[C] substantiva completiva.
d. Complemento indireto
[D] adverbial causal. e. Modificador do
nome apositivo
1.4 A frase d. integra uma oração subordinante e uma oração subordinada f. Complemento do adjetivo
[A] substantiva completiva. [C] substantiva relativa. consciente

[B] adjetiva relativa restritiva. [D] adverbial consecutiva.

2. Identifique e classifique as orações subordinadas das frases seguintes.


a. Pensa-se que Luís de Camões nasceu em Constância.
b. Quem sempre sofreu várias desditas não é feliz.
c. Os marinheiros usaram as armas que tinham ao seu alcance.
d. As musas ofereceram uma coroa de louros a quem as seguiu.
e. Os portugueses ficaram espantados com a flora da Ilha e com as aves, que
sobre- voavam as naus.
f. Camões estava consciente de que os portugueses desprezavam as artes.

3. Identifique a função sintática desempenhada por cada uma das orações


subordi- nadas identificadas em 2.
LPua ídsr ed eA nC taómnõi oe s V i e i r a

PROFE S SOR
LEITUR A
Leitura
7.6; 8.1 Os navegadores portugueses conquistaram o mar. Todavia, as profundezas deste
elemen- to estão ainda por descobrir.
1. A comparação diz
respeito ao nível de
conhecimentos que se possui
sobre a superfície da
Lua e as profundezas do mar,
concluindo-se que se sabe alcançar a imortalidade, devendo, para isso, recusar a tirania e lutar contra os sarracenos, pois só deste modo se alcançarão
mais sobre a superfície do as verdadeiras honras e o direito a serem recebidos na ilha de Vénus.
satélite natural da Terra (Lua).
2. O desejo terá surgido
após ter sido imaginado o
primeiro submarino, por
um estalajadeiro inglês.
3. O estudo das
profundezas do mar pode
ajudar cientistas e
exploradores “a conhecer
melhor a superfície do
nosso planeta” (l. 12),
nomeadamente ao nível do
estudo das placas
tectónicas, contribuindo para
prevenir “terramotos
e tsunamis” (l. 14).
4. O texto
apresenta uma
linguagem objetiva,
denotativa, um caráter
demonstrativo e
conciso.

Gramática
18.4

Trata-se de uma oração


subordinada adjetiva
relativa restritiva.

“O conteúdo de cada conto”


(pp. 215-217)
1.
a. Reflexão a
propósito do
desprezo a que os
portugueses votam as artes
e da incapacidade destes
em aliar as armas às
letras.
b. Na estância 2, surge
nova intervenção do poeta a
elogiar o espírito de
cruzada dos portugueses.
Na estância 78, o poeta
invoca as Ninfas do Tejo e
do Mondego e lamenta
a situação em que se
encontra, tendo já sido vítima
de vários infortúnios.
Critica os opressores e
aqueles que não prezam quem
os canta, afugentando assim
outros escritores. Por isso,
pede o favor das Ninfas para
que, no seu canto, enalteça
apenas os que o mereçam.
c.As reflexões centram-se
no incitamento à ação
daqueles que pretendem

214
Explorad como as de ir ao espaço. Mas quando a natureza nos coloca problemas, nós
ripostamos com soluções tecnológicas.

ores
5 O primeiro submarino terá sido imaginado em 1580 por um estalajadeiro inglês, ao

refle- tir sobre as propriedades da flutuabilidade e da deslocação da água. A partir

oceânico daí, o princípio de levar seres humanos desde o nível do mar até às regiões mais
profundas conhecidas dos oceanos numa cabina pressurizada evoluiu para uma
indústria colossal, essencial para cien- tistas, militares e exploradores.
s 10 Mas quais as vantagens de mergulhar tão fundo e o que há para ver? Estudar o

fundo do mar e as suas características geológicas e topográficas em determinadas


ESTAS INCRÍVEIS
PROEZAS DA regiões pode ajudar a conhecer melhor a superfície do nosso planeta. Os cientistas
ENGENHARIA que estudam as placas tectónicas podem aprender muito com as fossas oceânicas,
APROXIMAM-NOS DAS
PROFUNDEZAS DOS adquirindo conhecimentos que podem conduzir a avanços nos sistemas de alerta
MARES. para terramotos e tsunamis.
15 Da mesma forma, o estudo da matéria em decomposição recolhida no fundo
O
oceânico pode ajudar-nos a saber mais sobre a forma como o carbono circula sobre
que jaz
os ecossistemas e é armazenado nos oceanos, o que pode influenciar o nosso
no
conhecimento das alterações climáticas.
fundo
Regra geral, um submersível é um pequeno veículo subaquático tripulado mas não total-
do
20 mente autónomo como um submarino. Um dos mais famosos e há mais tempo em
mar?
serviço é o Alvin, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (IOWH), no
Esta é
Massachusetts (EUA) − o primeiro do seu género capaz de transportar passageiros.
uma
Para explorar as profundezas oceânicas também existem os ROV (de Remotely
questã
Operated Vehicle), ou veículos operados remotamente; equipados com câmaras e
o que
ferramentas para
nos
25 captar imagens e recolher amostras, podem ser controlados a partir de um navio à superfície.
fascina
Quero Saber, n.o 52, janeiro de 2015, p. 54.

década
s.
1. No primeiro parágrafo do texto estabelece-se uma
Sabem comparação. Clarifique-a.
os mais
sobre a 2. Indique o momento a partir do qual se criaram os princípios que poderiam
superfí levar os seres humanos às profundezas do mar.
cie da
3. Mencione os aspetos positivos decorrentes do estudo do mar.
Lua do
que 4. Identifique três características do texto expositivo aqui presentes.
sobre
os GR A M Á T I C A
oceano
s Classifique a oração “que estudam as placas tectónicas” (ll. 12-13) .
profund
os do
nosso
planeta
, pois
as
limitaç
ões de
uma
desloc
ação
ao
fundo
do mar
são
tantas

215
O conteúdo de cada canto

INFORMAR

O conteúdo de cada canto


Leia, atentamente, a síntese e a cronologia dos acontecimentos em Os Lusíadas.

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA


1498

No Canto I surge a Proposição, a Invocação e a Dedicatória. A partir da


estância 19, dá-se início à narração, no momento em que a armada
portuguesa se encontra no oceano Índico. A narração é logo interrompida na Reflexão acerca
estância 20, dando-se início ao Consílio dos deuses do Olimpo. Assim, dos perigos a que
CANTO I percebe-se que, a par do plano da viagem, surge o plano dos deuses. os frágeis humanos
(106 estâncias) Após a decisão favorável ao prosseguimento da viagem, os lusos estão sujeitos, não
continuam e navegam até à Ilha de Moçambique, onde contavam ser bem conseguindo encontrar
recebidos. Mas, por intervenção de Baco, acabam por cair numa cilada da segurança.
qual saem com a ajuda de Vénus. Deste modo, chegam a Mombaça.
O canto termina com a primeira reflexão do poeta.

Prossegue a narração com o relato da entrada de dois portugueses em


Mombaça, a convite do rei, os quais, ao regressarem, trazem recado de
amigos, porque foram enganados por Baco. Porém, Vénus e as Nereides
intervêm e afastam as naus do perigoso porto.
Após a descoberta da armadilha, o falso piloto mouro põe-se em fuga e
CANTO II Vasco da Gama agradece a proteção da divina guarda.
(113 estâncias)
Vénus pede auxílio ao pai Júpiter, que envia Mercúrio, seu mensageiro, para
indicar a Vasco da Gama, em sonhos, o caminho a seguir para encontrar
terra amiga.
Os nautas portugueses partem, então, de Mombaça e dirigem-se para
Melinde, onde são bem recebidos, e Vasco da Gama é convidado pelo rei a
contar a história da sua gente.
SÉCULO II a. C. a SÉCULO XIV

O poeta pede inspiração a Calíope para dar conta do que Vasco da Gama
narrara ao rei e, em analepse encaixada, o capitão português vai descrever a
situação geo- gráfica da Europa, bem como a origem e a afirmação da
nacionalidade, incluin- do neste relato as batalhas de S. Mamede e as de
Ourique, a ação de Egas Moniz, o pedido de auxílio para o marido, por parte
CANTO III de Maria ao pai, D. Afonso IV, facto que constitui o episódio lírico designado
(143 estâncias) de “Formosíssima Maria”.
Exalta-se o heroísmo de D. Afonso IV, destacando-o como herói da batalha
do Sa- lado (1.o episódio) e de outros monarcas portugueses, como Afonso
III e D. Dinis.
A partir da estância 119, o poeta detém-se na história de amor de Pedro e
Inês, surgindo o 2.o episódio lírico, o de Inês de Castro. Termina o canto com a
referência ao caráter brando de D. Fernando.
SÉCULO XV e 1497

Vasco da Gama prossegue o relato da História de Portugal ao rei de Melinde,


falan- do-lhe da morte de D. Fernando e da ascensão ao trono do novo rei,
D. João, não sem antes explicar o perigo que D. Leonor representava para a
nação portuguesa, dada a sua ligação a Castela. Integra também o discurso
CANTO IV de incitamento de Nuno Álvares Pereira, bem como a descrição da
(104 estâncias) preparação e da batalha de Aljubarrota (3.o episódio), a conquista de Ceuta,
não esquecendo D. Duarte, D. Afonso V, D. João II e o sonho profético de D.
Manuel I, que vai confiar a Vasco da Gama a descoberta do caminho
marítimo para a Índia.
Inclui ainda as despedidas em Belém e apresenta o 4.o episódio, o do Velho do
Os Lusíadas
Res- telo, considerado simbólico e profético.
PL ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O conteúdo de cada canto

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA

1498

Continua a narração de Gama ao rei de Melinde, dando conta, agora, dos


acon- tecimentos relativos à viagem, desde Lisboa até Melinde, descrevendo a
travessia marítima e os incidentes ocorridos, nomeadamente o fogo-de-
Santelmo e a trom- ba marítima. Insere ainda um episódio breve (o 5.o),
relativo à aventura de Fernão Veloso, o marinheiro que, com os nativos, se a.
aventurou na mata. Prossegue o relato da viagem para destacar o 6.o episódio,
o do Adamastor, ocorrido aquando da pas- sagem pelo Cabo das Tormentas.
CANTO V A viagem prossegue até à terra que designaram de Bons Sinais, onde foram
(100 estâncias) bem re- cebidos e ergueram um padrão. Contudo, a alegria cede lugar à
desventura quando se veem assolados pelo escorbuto, doença fatal para quem
a apanhava, como foi o caso de alguns companheiros.
Partiram de novo procurando terra mais firme, tendo chegado a Moçambique,
onde se depararam com a falsidade, e, só depois, a Melinde, onde se
encontram no mo- mento.
O canto termina com nova reflexão.

Neste canto, destaca-se a festa de despedida em Melinde, de onde a armada


parte, depois de abastecida, em direção à Índia, retomando-se, assim, a
viagem.
Assiste-se a nova intervenção de Baco, que desce ao palácio de Neptuno,
Comentário acerca
pedindo-lhe que convoque os Deuses do mar, e é Tritão que, a seu mando, o
do verdadeiro
vai fazer.
valor da fama e da
CANTO VI Dá-se o 2.o Consílio, do qual saem ações que visam impedir os portugueses de glória,
(99 estâncias) che- garem à Índia, nomeadamente a dos ventos repugnantes, enviados enumerando o que deve
por Éolo. ser recusado e o que
Como os navegadores vinham cansados e ensonados, começam a contar deve ser considerado
histórias para não adormecer. Deste modo, surge o 7.o episódio − os doze para se alcançarem
de Inglaterra. honras imortais.
Enquanto os marinheiros ouvem a narrativa de Veloso, os ventos crescem e
come- çam a destruir velas e mastros, instalando-se uma terrível tempestade,
que leva Vasco da Gama a fazer uma prece à “Divina Guarda”.
De novo, as Ninfas amorosas, enviadas por Vénus, vão abrandar os ventos
furiosos e impor a bonança, o que faz com que Vasco da Gama agradeça a
Deus o seu auxílio.
A fechar o canto, surge novo comentário do poeta.
Os navegadores chegam à Índia (Calecute) e, mais próximos da nova terra, os
lusos veem chegar pequenas embarcações de pescadores que os conduzem à
cidade de Calecute. Segue-se a descrição dessa terra, que fica entre os rios b.
Indo e Ganges, e cujo senhor se chama Samorim.
CANTO VII
Aí, é enviado um português a terra, que vai ser acompanhado por
(87 estâncias)
Monçaide, que visita, depois, a frota portuguesa.
Vasco da Gama desembarca e é recebido pelo Catual, o regedor do reino. Este
fala com o capitão português, que, posteriormente, é recebido pelo Samorim,
que o aloja a ele e à comitiva portuguesa.
O Catual vai depois visitar as naus lusitanas e vai ser recebido por Paulo
da Gama. A partir da estância 78, o poeta intervém de novo.
Os Lusíadas

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA

Ao observar as bandeiras ostentadas no barco onde fora recebido, o Catual


detém-
-se nas figuras aí representadas, querendo saber de quem se trata.
Paulo da Gama satisfaz a curiosidade do Catual e vai falar de várias figuras, Reflexão que se
CANTO VIII desde Luso e Viriato até D. Duarte de Meneses, acrescentando que muitos prende com o poder do
(99 estâncias) outros poderiam ser lembrados, mas a falta de luz já tal não permitia. dinheiro, que tanto a
O Catual regressa a terra e, por influência de Baco, os indianos vão acreditar pobres como a ricos
que os portugueses estavam ali para os aniquilar. Por isso, surge o propósito corrompe.
de destruir a frota portuguesa e Gama é feito prisioneiro do Catual. Este só
vai ser libertado a troco de mercadorias.
Este resgate desencadeia nova reflexão do poeta.
Ultrapassadas as dificuldades que encontraram na Índia e ajudados por
Monçaide a não cair de novo em armadilhas, os portugueses encetam a
viagem de regresso à pátria.
Vénus quer recompensar os navegadores portugueses e dar-lhes o repouso e a
glória que estes mereciam; por isso, prepara-lhes, no meio do oceano, uma c.
ilha, onde as Ninfas os aguardarão com danças e afetos, contando a deusa
protetora com a ajuda de seu filho Cupido.
CANTO IX
As divindades vão trabalhar para, com um manjar deleitoso, receberem os
(95 estâncias)
marinhei- ros. Estes avistam de longe a ilha que Vénus lhes levava e que depois
imobilizou para que aí desembarcassem. Surge, assim, a ilha dos Amores.
Assiste-se, ainda neste canto, à exortação de Veloso, ao relato da aventura de
Lio- nardo, à confraternização e aos casamentos entre as Ninfas e os nautas
lusitanos, simbolizando a divinização dos heróis.
Vasco da Gama visita o palácio de Tétis e, posteriormente, é explicado ao
leitor o sentido alegórico da ilha – a recompensa ou o prémio pelos trabalhos
já passados.
No fim do canto e da
epopeia, o poeta
Ainda na ilha, os nautas vão ser presenteados com um banquete oferecido refere o seu
por Tétis e as restantes Ninfas. desânimo por
Uma deusa vai prever a vinda de outras armadas e as dificuldades que irão “cantar a gente
en- contrar, mas é interrompida pelo poeta, que faz uma invocação a surda e endurecida”
Calíope, para que o seu gosto pela escrita não esmoreça devido ao peso da e por
idade ou ao seu infortúnio. a pátria estar
CANTO X
envolta na cobiça e
(156 estâncias) A Ninfa prossegue com a sua profecia acerca das conquistas futuras dos
na tristeza; enumera
portu- gueses.
as sevícias
Para terminar os festejos, Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um a que os portugueses
monte, onde se encontra um globo, a que a deusa chama “máquina do são capazes de se
Mundo”. Aqui, indica-lhe os lugares onde os portugueses farão grandes submeter para servir
feitos. o rei e exorta D.
Tétis despede-se dos portugueses e estes regressam à pátria. Sebastião a realizar
novos feitos,
oferecendo-se para
mostrar ao mundo a
grandeza do
monarca, através do
seu canto.
PROF E S SOR

1. Complete os espaços da coluna da direita (alíneas a., b. e c.), recuperando o


1. Proposta de
conteú- do das reflexões do poeta que se encontram em falta. resolução na página
214.

217
PAR A S Os Lusíadas
ABER
PROFE S
SO R
Observe e leia os esquemas desta dupla página para
obter uma visão global da epo- peia camoniana.
Apresent
ação
Síntese OS LUSÍADAS
da
Unidade

Apresent
ação
Galeria
de
imagens

Epopeia

Narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um herói, neste caso


coletivo

ESTRUTURA INTERNA

M
PROPOSIÇÃO (I, 1 a 3)
o
m
e
n
t
o

e
m

q
u
e

p
o
e
t
a

d
á

c
o
n
t
a

d
o

s
e
u

p
ropósito ou

INTRODUÇÃO
Pedido de
inspiração
endereçado
às Tágides
INVOCAÇÃO (I, 4 e 5)
(existem
outras
invocações
nos cantos
III, VII e X)

Oferta do poema a D. Sebastião,


DEDICATÓRIA (I, 6 a 18)
ainda futuro rei; termina com um apelo

PLANO DA VIAGEM
DESENVOLVIMENTO AÇÃO CENTRAL
(de Vasco da Gama à Índia)
144)

Acompanha,
PLANO
Fragilidade da vida humana (I) em paralelo,
DOS DEUSES OU MITOLÓGICO
a ação central

Desprezo dos portugueses pelas


artes (V) AÇÃO SECUNDÁRIA
PLANO DA
(encaixada
Verdadeiro valor da fama e da HISTÓRIA DE PORTUGAL
na ação
glória (VI) central)

Lamentações por ser vítima


de vários infortúnios (VII) PLANO DAS REFLEXÕES
DO POETA INTERDEPENDÊNCIA
(sobretudo no fim dos As reflexões
cantos, o poeta tece surgem em
considerações sobre vários consequência de
assuntos, como se vê à acontecimentos
Verdadeiras formas de esquerda) relatados
alcançar a fama e o heroísmo anteriormente,
(IX) e que suscitam as
Retoma do tema do desprezo considerações que
pela arte e nova exortação ao o poeta faz
rei (X)

Desencanto do poeta
CONCLUSÃO e exortação final a D. Sebastião
(X, 145 a 156)

O vil poder do ouro, fonte


de corrupção e de perjúrio
(VIII)
NARRADORES

O POETA (I, II, VI, VII, VIII, IX, X)

VASCO DA GAMA (III, IV, V)

PAULO DA GAMA (VIII)

FERNÃO VELOSO (VI, "Doze de Inglaterra")

IMAGINÁRIO ÉPICO

Matéria Épica Sublimidade do canto Mitificação do herói

Divinização dos
navegadores, alcançada
Feitos históricos e viagem Celebração de feitos grandiosos pela união com as Ninfas;
estes atingem
a imortalidade

10 cantos

1102 estrofes

ESTRUTURA EXTERNA Oitavas (estrofes de 8 versos)

Decassílabos (10 sílabas métricas)

Rima cruzada e emparelhada


(nos 6 primeiros e nos 2 últimos, respetivamente)

LINGUAGEM E ESTILO

Combinação de uma língua culta latinizante


com a língua tradicional, oral. A primeira é
Estilisticamente, abundam perífrases e metonímias,
visível nos
metáforas, comparações, paralelismos, simetrias,
discursos onde predomina um vocabulário erudito,
personificações, antíteses, imagens dos campos
construções alatinadas, onde se inverte a
lexicais da natureza, da navegação e da ciência
ordem das palavras. A segunda verifica-se na
náutica, da guerra e das atividades bélicas,
utilização de uma linguagem oral, com recurso a
das cores e da visualidade.
aforismos, como "melhor é merecê-los sem os
ter, que possui-los sem os merecer".

219
PAR A V E R I F I C A R Os Lusíadas

Verifique as suas aprendizagens sobre a obra épica camoniana, resolvendo as


tarefas propostas.

1. Selecione a opção que completa corretamente cada afirmação.

1.1 Camões terá tido como fonte(s) inspiradora(s)


[A] as epopeias da Antiguidade e outros textos históricos anteriores.
[B] a sua experiência pessoal, adquirida na viagem de Vasco da Gama.
[C] os relatos das experiências dos navegadores seus contemporâneos.
[D] a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.

1.2 Na epopeia camoniana verifica-se a existência de


[A] vários planos narrativos, com destaque para o dos deuses ou mitológico.
[B] três planos narrativos e as reflexões do poeta, no final de alguns cantos.
[C] duas ações, relativas aos deuses pagãos e aos deuses cristãos.
[D] uma ação central, a da História de Portugal, e uma secundária, a do Poeta.

1.3 Ao nível da estrutura externa, a obra apresenta


[A] catorze cantos e estrofes de sete versos decassilábicos.
[B] oito cantos, com uma distribuição equitativa de estrofes.
[C] dez cantos, com oitavas de dez sílabas métricas.
[D] quatro partes: Proposição, Invocação, Dedicatória e Reflexões.

1.4 No canto I surge(m)


[A] o relato da viagem ao rei de Melinde e a intervenção dos deuses.
[B] a Proposição, a Invocação, a Dedicatória e o início da Narração.
[C] a descrição da chegada a Calecute e a receção do rei de Melinde.
[D] o Consílio dos deuses no Olimpo e o dos deuses marinhos.

1.5 Os planos narrativos encontram-se organizados da seguinte forma:


[A] plano dos deuses, com plano da viagem encaixado, seguido do
plano da História de Portugal.
[B] plano da História de Portugal, onde se encaixa o da viagem e o dos deuses.
[C] plano da História de Portugal, seguido, em paralelo, pelo plano dos
deuses, onde se encaixa o da viagem.
[D] plano da viagem, em alternância com o dos deuses, encaixando-se
o da História de Portugal na ação central.

1.6 Na “ínsula divina”, os portugueses são


[A] perseguidos por animais ferozes.
[B] conduzidos a um fosso profundo.
[C] presenteados pelas Ninfas.
[D] convidados a ir ao cume de um monte.
1.7 O episódio da Ilha dos Amores tem um caráter simbólico porque
[A] representa o mundo do maravilhoso.
[B] ilustra a mitologia d’Os Lusíadas.
[C] remete para a recompensa dada aos nautas.
[D] sugere o mundo do onírico.

2. Ordene as considerações do poeta, atendendo à sua disposição na epopeia.


[A] Reflexões acerca do desprezo a que os portugueses lançam a arte, em
particu- lar a poesia.
[B] Considerações acerca da fragilidade do ser humano e dos perigos a que PROF E S SOR
este está sujeito.
[C] Lamentações do poeta por estar submetido a vários infortúnios e não ser
Teste interativo
reco- nhecido. Camões – Os Lusíadas
[D] Comentários acerca da(s) forma(s) de obter a verdadeira glória e a fama,
Educação Literária
real- çando o que não deve ser usado para as obter. 14.3; 14.7; 15.1; 15.3
[E] Lamentos do poeta por cantar a gente “surda e endurecida”, dado não ser 1.1 [A]
1.2 [B]
re- conhecido, e exortação ao rei D. Sebastião para que erga de novo a 1.3 [C]
nação, con- cretizando novos feitos. 1.4 [B]
1.5 [D]
[F] Considerações sobre a forma de os humanos alcançarem a imortalidade, 1.6 [C]
exor- tando à ação aqueles que querem ver os seus nomes 1.7 [C]
2. [B] – [A] – [D] – [C] – [F] – [E]
imortalizados.
3.
a. F – A “máquina do
Mundo” é revelada por
3. Indique se as afirmações são verdadeiras ou falsas. Corrija as afirmações Tétis
a Vasco da Gama.
falsas. b. V
a. A “máquina do Mundo” é revelada por Vasco da Gama aos marinheiros. c.V
d. F – Em Os Lusíadas o
b. Os planos presentes em Os Lusíadas apresentam-se interligados. poeta recorre também
à descrição e ao lirismo.
c. A união entre as Ninfas e os nautas simboliza a imortalidade alcançada e. V
f.F – Camões revela
pelos seus feitos. subserviência perante o
rei
d. Em Os Lusíadas, o poeta recorre unicamente à narração. D. Sebastião.
g. F – Os aspetos
e. No canto VII, assiste-se a lamentações do poeta suscitadas pela negativos da conduta
evocação das suas vivências. dos seus compatriotas
são criticados pelo poeta.
f. Camões revela alguma arrogância perante o rei D. Sebastião. h. V
i.F – Os
g. Os aspetos negativos da conduta dos seus compatriotas são omitidos acontecimentos
pelo poeta. relatados em Os
Lusíadas baseiam-se
h. O lirismo presente em Os Lusíadas resulta do intenso dramatismo também
nos factos concretos e
evidenciado pelo poeta. nas experiências pessoais
do autor.
i. Os acontecimentos relatados em Os Lusíadas são única e exclusivamente
fruto da imaginação do poeta.

221
PAR A RE C U P E R AR
PROFE S
SO R EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Complete o texto.
Apresentação
Galeria de imagens Os Lusíadas é uma a. do século XVI, escrita por Luís de Camões, e
Apresentação segue os modelos greco-b. . A obra, quanto à sua estrutura c. ,
Síntese da Unidade está dividida em d. e. , constituídos por um número variável
Teste interativo de
Os Lusíadas
f. (estâncias de oito versos). Os versos são todos g. .
Educação Literária Quanto à estrutura h. , a epopeia camoniana divide-se em
i. partes: a Proposição, a j. , a k. e
1. a Narração. Há ainda a considerar quatro l.
a. epopeia
b. latinos
estruturais, a saber: o m. da n. , o plano o.
c.externa , o plano da História de Portugal e o plano das p. do
d. dez
e. cantos
q. .
f.oitavas
g. decassílabos 2. Faça corresponder as ideias da coluna A às passagens da epopeia camoniana pre-
h. interna sentes na coluna B.
i.quatro
j. Invocação
k. Dedicatória Coluna A Coluna B
l.planos
m. plano [1] “Vai César sojugando toda a França /
n. viagem E as armas não lhe impedem a
o. mitológico [A] O poeta reflete sobre a ciência; / Mas, numa mão a pena e
p. reflexões/consideraçõ fragilidade humana.
es noutra a lança,”
q. poeta
[2] “Sem vergonha o não digo, que a
2. razão / […] É não se ver prezado o
[A] – [6] verso e a rima, / Porque quem não
[B] – [1] [B] O herói, à boa maneira clássica, sabe arte, não na estima.”
[C] – [2] deve ser completo: guerreiro e
[D] – [5] dotado culturalmente. [3] “Nas naus estar se deixa, […] / Que
não se fia já do cobiçoso / Regedor,
[E] – [4]
corrompido e pouco nobre. […] Veja
[F] – [3]
agora o juízo curioso / Quanto no
rico, assi como
[C] Os portugueses, na sua opinião, no pobre, / Pode o vil interesse e
desprezam as artes e as letras. sede immiga / Do dinheiro, que a tudo
obriga.”
[4] “No mais, Musa, no mais, que a Lira
tenho / Destemperada e a voz
[D] O poeta tece considerações de enrouquecida, /
caráter autobiográfico, criticando E não do canto, mas de ver que
aqueles que o perseguiam em vez de venho / Cantar a gente surda e
valorizarem os seus serviços à endurecida. /
pátria. O favor com que mais se
acende o engenho / Não no dá
a Pátria […]”
[E] O poeta sente-se cansado, não
[5] “[…] Mas, ó cego, / Eu, que cometo, […]
de cantar, mas de constatar que
Por caminho tão árduo, longo e vários
não é escutado nem
[…] / […] há tanto tempo que […] /
recompensado.
A Fortuna me traz peregrinando […]
Não bastava / Que tamanhas misérias
me cercassem, / […] aqueles que eu
cantando andava […] / Trabalhos
[F] Camões reflete sobre o poder do
nunca usados me inventaram […]”
ouro, capaz de corromper todos os
homens. [6] “Oh! Grandes e gravíssimos perigos,
/ Oh! Caminho da vida nunca certo, /
Que, aonde a gente põe a sua
GR AMÁTICA • os tons
predominantes.
1. Leia com atenção as seguintes frases.
a. Pensa-se que os navegadores, que eram muito esforçados, trouxeram glória ao
país.
b. Quando regressaram da Índia, os nautas pareciam extenuados.
c. O marinheiro e o Adamastor tiveram uma conversa longa.
d. O povo ofereceu gentilmente uma recompensa a Vasco da Gama.
e. A Índia foi explorada há alguns séculos pelos nossos antepassados.
f. A descoberta do caminho marítimo para a Índia constitui um passo
essencial na construção do Império.
1.1 Indique a função sintática dos segmentos sublinhados em cada frase.
1.2 Reescreva as frases c. e d., pronominalizando os segmentos em que tal seja
possível.
1.3 Indique em que voz (ativa ou passiva) se encontram as frases d. e e.
1.4 Reescreva as frases d. e e., transformando a frase ativa em passiva ou a voz
passi- va em ativa.

2. Considere as frases abaixo apresentadas.


a. Se os portugueses não tivessem chegado à Índia, o Oriente seria
desconhecido.
b. Asseguro-vos que nunca tinha havido heróis tão corajosos.
c. Os nautas eram tão aventureiros que não temeram os perigos do mar.
2.1 Classifique a oração sublinhada em cada frase.
2.2 Indique em que tempo se encontram as formas verbais destacadas a negrito
nas frases a. e b.

ESCRITA

Observe a imagem.

Hylas and the Nymphs, 1896, John William Waterhouse,


Galeria de Arte de Manchester, Inglaterra.

Num texto expositivo (80 a 120 palavras), associe a imagem a um momento


concreto do episódio da Ilha dos Amores, focando os seguintes aspetos:
• local onde se passa a ação;
• personagens intervenientes;
223
PROFE S SOR

Gramática 1.1
a. "que eram muito esforçados"
– modificador do nome apositivo; "ao país" – complemento indireto
b. "da Índia"– complemento oblíquo, "extenuados" – predicativo do sujeito
c. "O marinheiro e o Adamastor"
– sujeito (composto); "longa" – modificador do nome restritivo
d. "uma recompensa" – complemento direto; "a Vasco da Gama" – complemento indireto;
e. "pelos nossos antepassados" – complemento agente da passiva
f. "do caminho marítimo para a Índia" – complemento do nome; "essencial" – modificador do nome
restritivo; "do Império" – complemento do nome
1.2 c. Eles tiveram-na. d. Ele ofereceu-lha gentilmente.
1.3 d. voz ativa; e. voz passiva.
1.4 d. Uma recompensa foi gentilmente oferecida a Vasco da Gama pelo povo.
e. Os nossos antepassados exploraram a Índia há alguns séculos.
2.1 a. Oração subordinada (adverbial) condicional;
b. Oração subordinada (substantiva) completiva;
c. Oração subordinada (adverbial) consecutiva.
2.2 a. Pretérito-mais-
-que-perfeito composto do conjuntivo; b. Pretérito mais-
-que-perfeito composto do indicativo.

Escrita
Este quadro poderia representar um dos marinheiros (se ignorarmos o vestuário do jovem), que se
encanta com a beleza das
jovens a banharem-se num dos regatos da ilha. Inicia-se, então, um convívio amistoso.
Os olhares das jovens são sedutores e todas requisitam a atenção do homem. A água, os tons
castanhos e os verdes sugerem um local fresco e sombrio, convidativo aos jogos amorosos.
As flores amarelas nos cabelos das ninfas realçam
o seu tom castanho arruivado, que contrasta com a pele cor da neve, pintada assim
à maneira petrarquista. (90 palavras)
A lm ei da G LIAR Os Lusíadas
P A R A
a rr et t PROFE S SOR
A V A G
GRUPO I
Educação
R
Literária U
14.2; 14.3; P
14.4; 14.5; O

Leia com atenção as estâncias seguintes.


14.9; 15.3 10
8
1. As estâncias
selecionadas Vós, poderoso Rei, cujo Vereis amor da pátria, não movido
pertencem à alto Império O Sol, logo De prémio vil, mas alto
Dedicatória,
momento em em nascendo, vê primeiro, e quási eterno; Que
que o poeta vai Vê-o também no meio do não é prémio vil ser
dedicar o seu
poema Hemisfério, E quando conhecido Por um
a D. Sebastião, dece o deixa pregão do ninho meu
referindo
também a derradeiro; Vós, que paterno. Ouvi: vereis
proeminência esperamos jugo e o nome engrandecido
em termos
geográficos vitupério1 Do torpe Daqueles de quem sois
do reino que o 2
Ismaelita cavaleiro, senhor superno5, E
monarca
lidera, como Do Turco Oriental e do julgareis qual é mais
se pode Gentio excelente,
comprovar Que inda bebe o licor do
em “Vós,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
poderoso Rei, santo Rio3:
cujo alto
Império / O
11
Sol, logo em 9 Ouvi, que não vereis
nascendo, vê Inclinai por um pouco a
primeiro” (est.
com vãs façanhas,
8, vv. 1-2) e majestade Que nesse Fantásticas, fingidas,
ainda em tenro gesto vos
“Inclinai por
mentirosas, Louvar os
um pouco a contemplo, Que já se vossos, como nas
majestade / Que mostra qual na inteira estranhas Musas, de
nesse tenro gesto
vos contemplo” idade, engrandecer-se
(est. 9, vv. 1-2). Quando subindo ireis ao desejosas: As
2. O rei D. eterno templo4; Os olhos
Sebastião é verdadeiras vossas são
caracterizado da real benignidade tamanhas Que excedem
como muito Ponde no chão: vereis um
jovem (“Que as sonhadas, fabulosas,
nesse tenro novo exemplo De amor dos Que excedem Rodamonte6 e
gesto vos pátrios feitos valerosos,
contemplo”, est. o vão Rugeiro7 E Orlando8,
9, v. 2), mas Em versos divulgado inda que fora verdadeiro.
muito corajoso e numerosos.
capaz de Luís de Camões, Os Lusíadas (Canto
causar terror
I)
aos mouros
(“Vós, que
esperamos jugo e
vitupério / Do torpe
Ismaelita cavaleiro,
/ Do Turco
Oriental e do
Gentio”, est. 8,
vv. 5-7). É
bondoso (“Os
olhos da real
benignidade / Ponde no
chão […]”, est. 9, ireis ao eterno templo”,
vv. 5-6) e digno est. 9, v. 4).
de alcançar 3. O poeta pede ao rei que se digne a olhar para a sua obra, pois nela verá o
eterna glória engrandecimento da pátria, pelos feitos realizados pelo povo luso.
(“Quando subindo
4. O poeta recorre a várias formas verbais no imperativo (“Inclinai”; “Ponde”; “Ouvi”), pois está
a ar os
form [nossos
1
domínio e alavra italiana correspondente à francesa Roland, herói
ular feitos] (est. injúrias da Chanson de Roland, poema do fim do séc. XI
um 11, vv. 1- 2
turcos
pedid 3), mas 3
Ganges
oa verá
D. apenas as 4
templo da
Seba “Que excedem fama eterna 1. Insira, de forma justificada, as estâncias selecionadas na
stião as sonhadas, 5
superior estrutura interna do poe- ma épico.
: fabulosas, /
que Que excedem
6
personagem de
este Rodamonte e Orlando 2. Apresente três traços caracterizadores do destinatário do
prest o vão Enamorado, de
e Rugeiro” (est. Boiardo, poeta
poeta, comprovando a sua resposta com elementos
aten 11, vv. 6-7). italiano do séc. textuais.
ção à XV
epop 3. Explicite o pedido formulado pelo poeta nos quatro últimos versos da
eia
7
personagem de
que Orlando Furioso, estância 9.
lhe é de Ariosto,
dedic poeta italiano 4. Comente o recurso às formas verbais no imperativo, identificando-as.
ada e do séc. XVI
que
enalt
8
5. Justifique a excecionalidade do canto do poeta,
ece o p recorrendo a duas expressões tex- tuais pertinentes.
povo
que
gove 224
rna.
5. O

cant
o do
poet

supe
rior,
dado
base
ar-se
em
feito
s
conc
reto
se
reais
: “Em
verso
s
divul
gado
nume
rosos

(est.
9, v.
8).
Por
isso,
o
poet
a
afirm
a
que
o rei
não
verá
“com
vãs
façan
has,
/
Fant
ástic
as,
fingi
das,
ment
irosa
s, /
Louv
GRUPO II

Museu interativo e parque temático


dedicado aos Descobrimentos abriu no Porto
Os Descobrimentos têm parque temático
A encenação e interação de atores com os
recente- mente inaugurado no Porto. O Infante D.
visitan- tes procuram fazer desta visita uma
Henrique dá as boas vindas a quem chega ao World 20
experiência ines- quecível. Fomos surpreendidos por
of Discoveries, o museu interativo que é também
um “marinheiro” que acabou por nos convidar a
uma experiência
visitar a sua nau, onde é possível, entre outras
5 sobre a glória dos portugueses nos séculos XVI e
5
coisas, experimentar a réplica de uma cama a
XVII. O espaço recria, à escala real, alguns bordo e perceber como era apertado e pequeno o
episódios histó- ricos permitindo visualizar aquilo 25
espaço disponível. Mas há também fidal- gos,
que habitualmente nos chega através de livros. donzelas e ilustres personagens a circular pelo
Com recurso a suportes tecnologicamente espaço. Passando a área de estaleiro naval,
avançados e à interação com ato- entra-se naquela que será a grande “viagem” do
10 res vestidos à época pretende-se suscitar o interesse
10
visitante. Con-
dos visitantes pelos Descobrimentos portugueses. 30 vidado a embarcar numa réplica de uma caravela,
30
A viagem começa em ambiente de exposição,
dá início a uma volta ao mundo que tem partida
com réplicas de embarcações da época e
da me- dieval Lisboa, onde se pode avistar a
instrumentos de navegação. Para continuar a
Torre de Belém ainda em construção, com
saber mais sobre a ma-
passagem pelo Norte de África, cabo das
15 téria, os visitantes são convidados a interagir com
15
Tormentas, Moçambique, floresta
os suportes tecnológicos instalados, como os 35 equatorial, Índia, Timor, Japão, China e Brasil. Os
35
globos 4D que desvendam a evolução da
ce- nários são detalhados e com passagens
cartografia ou os pai- néis interativos que
interessantes, como as cortinas de fumo com
exploram o contexto sociocultural envolvente.
projeção de imagens ou a onda gigante que
envolve estes marinheiros de água doce. […]
http://canelaehortela.com/world-of-descoveries (consultado em fevereiro de 2017).

1. Depois de ler o texto, selecione a alternativa que completa corretamente PROFE S SOR
cada afir- mação.

1.1 O parque temático agora inaugurado no Porto


Apresentação
[A] poderá substituir o que se lê em livros. Solução Ficha
de Avaliação
[B] recria alguns factos/acontecimentos históricos.
[C] relembra a história apenas com recurso a tecnologias.

1.2 A experiência será inolvidável graças à


[A] visita que as pessoas fazem às naus.
[B] cartografia e aos painéis interativos expostos.
[C] encenação e à interação entre atores e visitantes.
225
A lm ei da G LIAR Os Lusíadas
P A R A
plano na praia
a rr et t PROFE S SOR (o vermelho e os dourados no vestuário indiciam o estatuto social), seguidos do povo; Vasco da
A V A Gama
é o último a embarcar, despedindo-se de Portugal; as naus com as velas preparadas para
GRUPO II
receber
Le o vento, algumas nuvens num céu azul, o mar calmo (indício de boa viagem);
it a cruz de oito pontas, símbolo da Ordem de Cristo, representante da fé cristã. Tudo denuncia
ur um país em expansão, o início de um império.
a
8.
1
1.1 [B]
1.2 [C]
1.3 [A]

Gramá
tica
18.1;
18.4

2. Sujeito
composto.
3.
a. Complement
o indireto
b. Complement
o do nome
c.Modificador
(do grupo
verbal)
d. Complem
ento agente da
passiva
4.
a. Oração
subordinada
(adverbial)
final
b. Oração
subordinada
(adjetiva) relativa
(restritiva)
5. Campo lexical.
6. “os globos
4D”.

GRUPO III

Escrita
11.1; 11.2;
12.1; 12.2;
12.4; 13.1

Resposta de
caráter
pessoal,
contudo os
alunos
devem referir
os seguintes
tópicos: o
momento da
partida de
Lisboa
(Restelo);
a despedida
festiva, com
pompa e
circunstância;
a nobreza e
o clero em
primeiro
1.3 A ujeito o os portugueses” (l. 11)
vis do n c. “em ambiente de exposição” (l. 12)
ita primeir st
ao o it d. “por um ‘marinheiro’” (l. 22)
s período ui 4. Classifique as seguintes orações.
dif do
n
er texto. a. “Para continuar a saber mais” (l. 14)
en t
tes 3. I e b. “que tem partida da medieval Lisboa” (ll. 31-32)

ter d s
rit e a 5. Identifique a relação semântica existente entre “onda”, “marinheiro”
óri b e “caravela”.
n
os t ai 6. Indique o referente do pronome sublinhado em “que
co i x
nq desvendam a evolução da car- tografia” (l. 17).
f o
uis
i a
ta
q p G
do
u r R
s
e U
pel e
P
os s
O
po a e
rtu n- I
gu ta
f I
es d
u I
es
n o
faz
-se ç s. Observe a imagem.
ã a. “a
[A] embarcand
o que
o numa
m
réplica
s che
uma
ga
caravela i
ao
que n Wo
por t rld
recriados. á
of
[B] através t Dis
dramatizaç i cov
ões c eri
preparadas a es”
pelos (l. 3)
atores.
d b. “do
[C] pela e s A partida de Vasco da Gama para a Índia, 1900, Alfredo Roque
manipulaçã s visi Gameiro, Biblioteca Nacional de Portugal
o das tan
e
várias tes Num texto de apreciação crítica (100 a 140 palavras), associe a
tecnologias m pel imagem a um momento con- creto de Os Lusíadas, recorrendo a
disponibiliz p os uma linguagem valorativa e focando os seguintes aspetos:
adas. e Des
n • local onde se passa a ação;
cob
2. C h rim • personagens intervenientes;
l a ent • tons predominantes;
a d • estrutura tripartida do texto.
s
a
s
i
f p 226
i e
q l
u o
e s
o
s
c
MÓDULO

3
2. História Trágico-Marítima
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Capítulo V, "As terríveis aventuras de
Jorge de Albuquerque Coelho"
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um
tema Relato de viagem
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Gramática
Geografia do português no mundo [Aprender/Aplicar]
• Funções sintáticas
• Subordinação
• Tempos e modos verbais
• Relações semânticas
• Classe de palavras
• Campo lexical
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1539 1565 1578 1596 1735-36


Nascimento
Embarque de Jorge Partida de Jorge Falecimento de Jorge Publicação dos primeiros volumes
de Jorge de
de Albuquerque de Albuquerque de Albuquerque da História Trágico-Marítima
Albuquerque Coelho
Coelho para Portugal Coelho com D. Coelho no reinado de D. João V
Início da atividade na nau “Santo Sebastião para
do Santo Ofício em António” Alcácer Quibir
Portugal
Desaparecimento
de D. Sebastião
na Batalha de
Alcácer Quibir

Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como na
obra que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

Os Os relatos de naufrágios
naufrágios
• Jorge de Albuquerque Coelho embarcou para http://epl.di.uminho.pt/~ritafaria/MEC/
instanciaConceito.php?conc=Biografia&id=97.
Portugal no navio “Santo António”, e a sua Viagem foi
uma das mais tormentosas que pode imaginar-se, tanto
que a descrição dessa infeliz travessia figura na
história marítima.
5 • A fome afligia os míseros náufragos e foram

necessárias
a constância e a coragem de Jorge de Albuquerque para
evi- tar muitos atos de desespero. Navegando ao
acaso e sem probabilidade alguma de chegar a um porto
qualquer, foi qua- se por milagre que conseguiram chegar
à costa portuguesa.
10 • Foram acolhidos com muita curiosidade e compaixão,

e razão havia para isso, porque nunca mais tão horrível


drama se passará sobre as águas do mar.
• Em 1578, Jorge de Albuquerque foi encarregado, no
exér-
cito que D. Sebastião levou à fatal expedição africana,
15 do comando duma coluna de cavalaria.

• O rei Filipe II, desejando cativar homem de tanta


fama, ofereceu-lhe auxílio para poder manter a província
americana de que era donatário e Jorge de Albuquerque
aceitou. Porém, não voltou ao Brasil, fazendo-se
representar pelo filho Duarte,
20 quando este chegou à idade própria. Ficou em Portugal,

onde morreu, provavelmente, nos princípios do século XVII,


uma vez que em 1596 ainda estava vivo.
Elaborado a partir de
• De cariz narrativo, a Viagem ocupa
lugar obrigatório e im- portante na expressão
literária de todos os tempos e de todos os • A viagem era oficialmente justificada como
povos. estando ao ser- viço de Deus; por isso, os relatos de
• N’Os Lusíadas já estão presentes os perigos e os naufrágios baseavam-se na conexão causal entre Culpa e
erros da Castigo.
5 Viagem, começando a desenhar-se a contraluz • A estrutura narrativa destes relatos obedece a um registo
elegíaca1 que há de marcar os relatos de 5 experiencial, sendo ou não o narrador personagem
naufrágios reunidos na série da “História Trágico- participante na história que assume uma matriz
Marítima”. verosímil ou fantástica.
Construído a partir de José Augusto Cardoso Bernardes, Construído a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
História crítica da literatura portuguesa. Humanismo e Renascimento, História crítica da literatura portuguesa. Humanismo e Renascimento,
vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 293-294, 296. vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 297-298.

1
“contraluz elegíaca” – face negativa dos Descobrimentos.

228
PARA INICIAR

C OMPREENSÃO DO OR AL

Visione, com atenção, um excerto do documentário da RTP, intitulado


His- tória Trágico-Marítima – os naufrágios do Império. A autoria e a
apresenta- ção do programa são do historiador Fernando Rosas.

1. Complete os tópicos das partes A e B com a informação recolhida no


do- cumentário. História Trágico-Marítima –
os naufrágios do Império, RTP

A. Expansão marítima

Séculos em que ocorreu a.

Principais rotas b.

Consequências negativas da expansão c.

Principais mercadorias transportadas d.

B.Naufrágio da nau “Nossa Senhora dos Mártires”

Local de partida da nau a.

Local do naufrágio b.

Causa do naufrágio c.

Mercadoria que se espalha pelo rios e pelas d.


praias
Número de corpos que aparecem na praia e.

Quantidade de mercadoria afundada f. PROF E S SOR

2. Assinale a única causa do elevado número de naufrágios das naus da carreira


da Índia, entre os séculos XVI e XVIII, que não é referida neste documentário. Link
História Trágico-
a. Deficiente preparação das naus. -Marítima – os
naufrágios do Império
b. Carga excessiva das naus.
Oralidade
c. Partida com condições meteorológicas desfavoráveis. 1.3; 1.4; 1.5; 1.7; 2.1
d. Ataque dos corsários.
A
e. Inexperiência de alguns marinheiros.
1. a. XVI a XVIII
b. Asiática e brasileira
3. Das afirmações seguintes, indique as que correspondem às características do c.Naufrágios,
do- cumentário, patentes no excerto que acabou de visionar. perdas humanas e
materiais
a. O documentário é um género ficcional. d. Pimenta, ouro,
diamantes, escravos
b. O documentário parte sempre de dados factuais. B
c. O documentário apresenta um caráter autoral, traduzindo a opinião/visão a. Índia
b. Esporão rochoso do
do seu autor sobre o tema abordado. forte de S. Julião da
Barra
d. O documentário integra múltiplas linguagens, de modo a configurar uma c.Tempestade
visão global do tema tratado. d. Pimenta
e. 200
e. O documentário tem uma finalidade estética. f. 20 000 toneladas
2. d. Ataque dos corsários.
f. O documentário tem uma finalidade informativa.
3. b., c., d., f.
229
História Trágico-Marítima

E X P R E S SÃ O OR AL

Resolva oralmente as atividades propostas, após a leitura do poema.

Poema da malta das


naus
25 Tremi no escuro da
Lancei ao mar um madeiro, selva, alambique de
espetei-lhe um pau e um suores. Estendi na areia
lençol. e na relva mulheres de
Com palpite marinheiro todas as cores.
medi a altura do sol.
Moldei as chaves do mundo
5 Deu-me o vento de feição, 30 a que outros chamaram seu,
levou-me ao cabo do mas quem mergulhou no fundo
mundo. Pelote1 de Do sonho, esse, fui eu.
vagabundo, rebotalho de
gibão2.

Dormi no dorso das vagas, O meu sabor é


10 pasmei na orla das diferente. Provo-me e
praias, arreneguei, roguei saibo-me a sal.
pragas, mordi peloiros3 e 35 Não se nasce

zagaias4. impunemente nas praias


de Portugal.
Chamusquei o pelo hirsuto, António Gedeão, Teatro do Mundo, Coimbra,
P R O F E S SOR tive o corpo em chagas Atlântida Editora, 1958.
vivas,
Oralidade 15 estalaram-me as
3.2; 4.2; 5.1; 5.3
gengivas, apodreci de
1. escorbuto.
a. Tanto o documentário
como o poema retratam o Com a mão direita benzi-
período dos
Descobrimentos. me, com a direita esganei.
b. As dificuldades Mil vezes no chão, bati-
comuns são a pobreza, a me,
guerra e as doenças.
20 outras mil me levantei.
c.Mar revolto, vagas
altas, condições propícias a
1
vestuário de grandes abas
contrair doenças.
2
colete esfarrapado
Meu riso de dentes
d. Necessidade de
3
bala
se recomendarem a podres ecoou nas sete 4
lança
Deus e esperar a sua partidas.
ajuda.
Fundei cidades e vidas,
e. O documentário
remete para a realidade, rompi as arcas e os
enquanto o texto odres.
poético sugere
o imaginário.
1. Estabeleça uma comparação entre este poema e o documentário que visionou,
identificando:
a. a época referida/aludida;
b. as dificuldades comuns;
c. as condições atmosféricas/climatéricas;
d. os aspetos religiosos;
e. a associação à realidade/ficção dos dois documentos.

230
“As terríveis aventuras de Jorge de
Albuquerque Coelho ( 1565)”

LEITUR A

Leia atentamente o seguinte texto expositivo.

A carreira da Índia
Em 1592, partiu de Goa a nau “Chagas”, capitaneada por Francisco de Melo,
tendo por mestre Manoel Dias e por piloto João da Cunha. Cedo se juntou a
1
«”bisalhos” de pedraria» -
bolsinha onde se traziam
outras duas naus vindas de Cochim – a “Santo Alberto” (capitão Julião de
pedrarias ou preciosidades
Faria Cerveira) e a “Nossa Senhora da Nazareth” (capitão Braz Correia). As três 2
tempestade
vinham carregadas em 3
costa alta e escarpada
5 excesso, como era uso na carreira da Índia, tanto de mercadorias valiosas,
4
passar o inverno
5
aliviar a carga do navio
como os famosos “bisalhos” de pedraria1, como de fidalgos, pessoas nobres e 6
partes constituintes e
gente do povo. O atraso na partida, o excesso de carga e a tormenta2 materiais usados nas
encontrada ao largo do cabo da Boa Esperança obrigaram à separação da embarcações
frota à arriba3 da “Chagas” a Moçambique, onde teve de invernar4. A “Santo
Alberto” não foi tão afortunada e
10 viu abrir-se-lhe o costado, entrando tanta água que nem o alijamento de
5

parte da carga nem a evacuação da água com bombas, baldes e barris


conseguiram impedir que o navio se afundasse cada vez mais. A tripulação
acabou por fazê-la enca- lhar na costa, num naufrágio tornado célebre por
uma narrativa de João Baptista Lavanha.
15 Algo de semelhante aconteceu com a “Nazareth”. Por gozar de

reputação de grande navegabilidade e ter uma tripulação capaz e


experimentada, tinha sido muito procurada pelos passageiros de retorno ao
Reino. Demasiadas pessoas via- javam nela, com o consequente excesso de
mercadorias. Sobrevindo-lhe um tem- poral, a nau abriu pelas “picas e
delgados da proa, desfazendo-se-lhe as ligações
20 em vários locais, saindo a estopa e o calafate do cavername ”, o que
6

ocasionou a entrada de água. Com grande custo, a tripulação conseguiu chegar


a Moçambique, onde encalhou, procedendo à descarga das mercadorias.
Os sobreviventes da “Santo Alberto”, os passageiros da “Nazareth” e a
maior parte da sua carga foram então acolhidos a bordo da “Chagas”, a
PROF E S SOR
única sobreviven-
25 te da armada de 1592. O excesso de carga e de passageiros (mais de 270 Leitura
7.1; 8.1
escravos e 130 portugueses) era tal que parte do convés ficava por vezes
submersa, o que levava a que a nau, ainda no porto, fizesse já água.
Apesar deste contratempo, a embarcação conseguiu dobrar o cabo, 3. Indique o destino
tendo, po- rém, a tripulação que alijar parte da mercadoria. final de cada uma
30 Entre seguir para a ilha de Santa Helena, como era habitual, ou para
das naus.
Luanda, o capitão optou pela última hipótese, devendo-se tal escolha à
interdição da ida a Santa Helena por regimento do rei Filipe II “por lhe
constar estar a ilha infestada de corsários ingleses”.
Visão História, Naufrágios e Tesouros, A grande aventura dos mares, n.o 37, setembro 2016, p.
54

1. O texto descreve as dificuldades vividas pela tripulação de uma armada que


fazia a carreira da Índia.
1.1 Indique o nome de cada uma das naus que compunham a armada.
1.2 Refira os locais de partida das naus.
2. Ao longo da viagem, a armada enfrentou várias dificuldades.
2.1 Apresente dois exemplos dessas dificuldades.
3. A “Santo Alberto”
1.1 As naus chamam-se “Chagas”, “Santo Alberto” e “Nossa Senhora de Nazareth”. e a “Nazareth”
1.2 A “Chagas” partiu de Goa e as outras duas de Cochim, na Índia. encalharam ao largo
do cabo da Boa
2.1 As naus enfrentaram vários problemas, entre eles o excesso de mercadorias Esperança; a “Chagas”
e de pessoas e a tempestade (tormenta) vivida ao largo conseguiu dobrar
do cabo da Boa Esperança, que obrigou à separação da armada. o cabo e aportou em Luanda.

231
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
PARA DESENVOLVER
As aventuras e desventuras dos
Descobrimentos
INFORMAR

A História Trágico-Marítima
Em pleno reinado de D. João V, ainda sob o influxo de uma cultura tardo-
barroca, Bernardo Gomes de Brito publica em Lisboa − oficina da
Congregação do Oratório, 1735-1736 − os dois primeiros volumes (previam-se
mais três) de uma antologia de naufrágios, sucessivamente reeditada até aos
nossos dias e intitulada História Trá-
5 gico-Marítima, em que se escrevem chronologicamente os Naufragios que tiveraõ
as Naos de Portugal, depois que se POZ em exercicio a Navegação da India.
Recolhendo e ordenando cronologicamente uma dúzia de relatos de naufrágios
ocorridos sobre- tudo na longa e difícil “carreira da Índia”, a obra do erudito
setecentista reafirmava o interesse histórico-literário, a notável popularidade e o
sucesso editorial dessas
10 relações de viagens atribuladas e desastres marítimos. […]

Num misto de crónica e de reportagem jornalística ante litteram − “relatos


quase jornalísticos” (João Gaspar Simões) −, normalmente assinadas por
autores mais ou menos conhecidos, as relações de naufrágio conheceram uma
enorme circulação editorial e desencadearam apreciáveis sentimentos de
Frontispício da Historia Trágico- comoção universal. Num to-
-Marítima, Lisboa, 1735.
15 pos recorrente, implícita ou expressamente, a vivacidade e o dramatismo dos
1

PROFE S SOR rela- tos transmitia a constante ideia de realismo dramático e cinético2, face à
novelística da época e mesmo à tradicional literatura de viagens, ora mais
factual ora mais dada a mirabilia3. […]
Os relatos de naufrágios que acompanharam a época das grandes descobertas
PowerPoint®
20 expressam a funesta ruína de vidas e destruição de fazendas, inaugurando
História Trágico-Marítima
− Contextualização uma literatura de perda, centrada na dimensão mais negra e trágica desse
histórico-literária período áureo da História de Portugal − a da devastação e da ruína de
Leitura homens e de bens no “mar português”. Já a partir de finais de Quinhentos, a
8.1; 8.2 imagem do naufrágio expressava um profundo sentimento de crise e de
Educação Literária
14.3; 14.7; 15.1; 16.1 declínio; e a trágica estatística dos desastres
25 da carreira da Índia, bem como alguns relatos cronísticos, são por si só

1. bem elo- quentes.


a. História Trágico-Marítima José Cândido de Oliveira Martins, “História trágico-marítima”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
b. Bernardo Gomes de Brito Dicionário de Luís de Camões. Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 410-412.
c.Dois
d. Reinado de D. 1
tema; 2 relativo a movimento; 3
coisas admiráveis ou maravilhas.
João V (1735-1736)
e. “em que se
escrevem
1. Selecione a informação mais relevante para dar resposta aos seguintes tópicos.
chronologicamente os
Naufragios que tiveraõ Título da antologia a.
as Naos de Portugal,
depois que se poz em
exercicio a Navegação da
Responsável pela sua publicação b.
India” (ll. 5-6)
Número de volumes publicados c.
f.“misto de crónica e de
reportagem jornalística” (l. Data de publicação d.
11)
g. “da devastação e da Conteúdo da obra e.
ruína de homens e de bens
no «mar português» (ll. Género literário f.
22-23)
h. “profundo Realidade(s) retratada(s) g.
sentimento de crise e de
declínio” (l. 24) Sentimento(s) despertado(s) h.
232
35
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
d
Os excertos que se apresentam pertencem ao capítulo V da História Trágico- e
Marítima − narrativas de naufrágios da época dos Descobrimentos*, “As terríveis s
aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho”, uma adaptação de António Sérgio. o
l
EXCERTO 1 d
a
Antecedentes – missão de Jorge de Albuquerque
d
Coelho o
Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em s
capitanias, cada uma concedida a um donatário. A de Pernambuco, uma das e
que primeiro se povoaram e que logo alcançou grande importância, coube a d
um fidalgo de reto es- pírito, nobre, perseverante, trabalhador, que tinha por e
nome Duarte Coelho. Parece c
5 que dispunha de consideráveis recursos e é de supor que esses seus haveres
ri
fos- sem o resultado de trabalhos longos que passou em África e no Oriente. a
Alcançada a mercê real, transferiu-se logo para o Brasil, acompanhado de d
muitos dos seus parentes. Sob a sua hábil administração, a capitania o
prosperou. Passados alguns anos, resolveu vir até à metrópole, a fim de s
angariar colonos novos e contratar s
10 industriais competentes com que pudesse desenvolver a sua empresa.
e
Confiou a um seu cunhado, Jerónimo de Albuquerque, o governo da u
capitania, e embarcou acompanhado de seus filhos: Duarte Coelho de s
Albuquerque e Jorge de Albuquer- que Coelho, que tivera de sua mulher, ,
Dona Brites de Albuquerque. q
Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em u
que a e
15 rainha Dona Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a a
me- noridade do seu neto, chegou nova do Brasil, e especialmente de li
Pernambuco, de que a maior parte das tribos indígenas se levantara ali m
contra os portugueses, pondo cerco aos principais lugares daquela colónia e
de Pernambuco. n
Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro t
da a
20 capitania, a fosse sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria v
utilíssi- ma a companhia e ajuda de seu irmão, Jorge de Albuquerque a
Coelho, suplicou à rainha regente que lhe desse ordem de o acompanhar; ,
e assim ela fez. v
Chegou em 1560 a Pernambuco, não e
contando mais de vinte anos de idade; e, s
havendo chamado ti
25 a conselho alguns padres da Companhia de a
Jesus e várias personagens entre as principais e
da terra, assentou-se entre todos, ponderado c
lance, que se elegesse por chefe militar da a
capitania a Jorge de Albuquerque Coelho, o l
qual, como lhe disseram ç
30 que cumpria ao bem público o aceitar ele e a
servir tal cargo, o aceitou, e se aventurou, e v
se esforçou muitíssimo, correndo risco de perder a
a vida no zeloso cumprimento dos seus deveres. à
Começou o ataque aos inimigos naquele mesmo “As terríveis s de Jorge de Albuquerque
aventuras
ano de 1560, com tropa u
a custa. *FIXAÇÃO DE TEXTO
História Trágico-
-Marítima – narrativa
de NAUFRÁGIOS da época
dos Descobrimentos
(adaptação de António
Sérgio e ilustrações
de André Letria),
Lisboa, Sá da Costa
Editora, edição
Expresso, 2008.

233
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

PROFE S SOR Prosseguiu nas operações de guerra através de montes e de desertos,


durante ve- rões e durante invernos, de noite e de dia, passando grandíssimos
Educação Literária trabalhos, sendo ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.6; 14.7; 15.2; 16.1 combatendo a pé e a cavalo.
40 Frequentemente, não tinham mais que para comer do que os caranguejos do
1. [C] – [A] – [D] – [G] – [B] – mato que encontravam, cozinhados de farinha de pau e fruta selvagem
[J] – [E] – [F] – [H] – [I]
daqueles campos. Quando acampavam, faziam os escravos choupanas de
Gramática
palma, em que se agasalhava toda a tropa. Com estes cuidados que sempre
18.4 tinha e com as boas palavras que lhes dizia, consolava e contentava a sua
gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria
1. 45 logo sobre a mais próxima e a tomava assim com facilidade, por não terem
a. Complemento indireto
tempo de se fazerem prestes.
b. Complemento oblíquo
Com esta diligência e brevidade, pacificou em cinco anos a capitania.
c.Sujeito
2. a. Oração
Quando chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que
subordinada adjetiva duas léguas pela terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim
relativa restritiva.
daquele tempo, po-
b. Oração subordinada
substantiva completiva. 50 diam ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao logo da costa, − as que
tinha a capitania no seu âmbito.
Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e
pacíficos com pedirem paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole
na nau “Santo António”, na qual viagem se deram os casos que nesta
narrativa se contêm.

1. Ordene as afirmações seguintes, de acordo com a lógica sequencial do texto.


[A] A capitania de Pernambuco foi atribuída a Duarte Coelho, um nobre fidalgo
que enriqueceu à custa do seu trabalho em África e no Oriente.
[B] Após a morte de Duarte Coelho, Dona Catarina ordenou ao herdeiro da
capita- nia que a fosse socorrer, pois estava a ser ameaçada pelos
indígenas.
[C] No reinado de D. João III, o Brasil estava dividido em capitanias.
[D] A capitania de Pernambuco prosperou durante a governação de Duarte Coelho.
[E] Jorge de Albuquerque Coelho assumiu a chefia militar da capitania de Pernambuco.
[F] Jorge de Albuquerque Coelho era um jovem aventureiro, lutador, corajoso
e cumpridor dos seus deveres.
[G] A partida de Duarte Coelho para a Metrópole levou à entrega da capitania
a seu cunhado.
[H] Sob o comando militar de Jorge de Albuquerque Coelho, a capitania de
Per- nambuco alcançou a paz e alargou o seu território.
[I] Jorge de Albuquerque Coelho embarcou para a Metrópole após a pacificação
da capitania.
[J] Duarte de Albuquerque Coelho pediu ajuda a seu irmão Jorge de
Albuquerque Coelho para governar a capitania.

GR AMÁTICA

BLOCO INFORMATIVO –

235
pp. 271-273, 277
1. Identifique as funções sintáticas dos constituintes sublinhados.
a. “A de Pernambuco […] coube a um fidalgo de reto espírito” (ll. 2-4)
b. “Parece que dispunha de consideráveis recursos” (ll. 4-5)

c. “faziam os escravos choupanas de palma” (l. 42)

2. Classifique as orações.
a. “que passou em África e no Oriente” (l. 6)

b. “que lhe desse ordem de o acompanhar” (l. 22)

234
“As terríveis aventuras de
Jorge de Albuquerque Coelho (
1565)”

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A viagem de Jorge de Albuquerque Coelho até Portugal anuncia-se desastrosa logo


desde a sua partida.

EXCERTO 2

Partida
Carregada a nau de muita fazenda no belo porto de Olinda, deu à
vela com o vento em popa a 16 de maio de 65. Não eram ainda bem saídos
da barra quando se acalmou o vento com que partiram; logo depois se lhes
tornou contrário, os levou de través e os atirou para um baixo, onde
permaneceram por quatro marés e se
5 viram em risco de se perderem, o que lhes teria sem dúvida acontecido se

fossem então os mares mais grossos.


Acudiram-lhes com presteza muitos batéis, que lograram salvar a gente
toda e a maior parte da carregação. Porém, nem assim descarregada se
desencalhou, pelo que decidiram cortar os mastros; então, nadou e saiu
dos baixos.
10 Tornada a nau ao porto da vila, foi examinada por oficiais para verem se

po- deria seguir viagem; e, por acharem que não recebera dano que a
impossibilitasse para a navegação, se tornou a preparar e a carregar.
Vários amigos de Albuquerque Coelho, vendo que ele pensava em
reembarcar na nau, quiseram dissuadi-lo de tal proceder pelos maus
princípios que já tivera;
15 mas nem ele, nem os demais passageiros quiseram dar ouvidos a tais

prognósti- cos, e tornaram a embarcar na “Santo António”, que largou enfim


da vila de Olinda a 29 de junho de 65.
Cinco dias depois da largada mudou o vento de maneira súbita,
tornando-se tão contrário e de tal violência que trataram de alijar1 fazenda
ao mar, por isso que
20 a nau lhes mareava mal, pela muita carga com que dali partira. Pela tarde
2

piorou ainda e o casco3 abriu água. Davam à bomba continuamente, às seis


mil zoncha- duras4 entre noite e dia. Pouco depois, um pé de vento
quebrou o gurupés5.
Finalmente, já nos doze graus de latitude norte, o vento acalmou.
Andaram dezanove dias em calmarias, acompanhadas de trovoadas.
Resolveram, então, de-
25 mandar uma das ilhas de Cabo Verde, em cuja latitude se encontravam para
6

tira- rem a água que no navio entrava e repararem a avaria do gurupés.


A 29 de julho, não estando já longe de uma das ilhas, deram vista de
uma nau e de uma zabra7 de franceses. Estes seguiram a “Santo António” e
às três horas da noite estavam tão perto que vieram à fala com a nossa
gente, intimando-a a que
30 se rendesse. Mas entendendo então da nossa nau que se estava aparelhando

para defender-se, não ousaram acometê-la durante a noite, e deixaram-se


andar na sua esteira, para tentarem abordá-la pela madrugada.
Na antemanhã, porém, caiu uma trovoada muito forte, que os obrigou a
apar- tarem-se uns dos outros, sem que pudessem ver-se na cerração.
35 No dia seguinte, 31 de julho, tentaram enfim demandar a ilha. Quando

estavam já perto, o vento começou a soprar da terra, e muito rijo. Tiveram


por isso de de- sistir, apesar da muita água que então faziam.
Correram assim até 37 graus (latitude norte). Deviam achar-se bastante
para oeste, porque a nau, com os ventos contrários, abatera muito. (Nesse
tempo, ain-
40 da só se calculava a latitude, pela altura da estrela polar ou pela altura
meridiana do Sol; a longitude não se calculava, e apenas se estimava pelo
caminho andado, imperfeitissimamente).
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

Então, durante uma semana, foram outra vez as calmarias, − dias de


repouso físico relativo, passados na monotonia de um balanço lento,
sonolento, que im-
45 pacientava.

No dia 29 de agosto começou a soprar uma brisa larga, animadora e


próspera. O plano, agora, era demandar o arquipélago dos Açores, para ver
se numa das ilhas se consertava a nau, e se tapava, finalmente, a muita
água que ela estava fazendo. Já por esse tempo se passava muita fome e
muita sede; e, sabendo Jorge de
50 Albuquerque Coelho a necessidade dos tripulantes e dos passageiros, e que

não havia na nau mais mantimentos que o que ele trazia para si e para os
seus criados, mandou colocar tudo adiante de todos e repartiu mui
irmãmente pela companhia, sem nada pretender para si próprio, se bem que
toda a gente lho quis pagar por lhe valer muito. Tudo o generoso fidalgo
recusou: com o que ficaram todos mui
55 contentes e se sustentaram por espaço de alguns dias.

No entanto, levantaram-se grandes brigas e discórdias entre marinheiros


e passageiros; mas Jorge de Albuquerque, sabedor do caso, interveio, − e lá
os foi acalmando e pondo em paz.

1
tirar ou deitar fora; 2 andava, governava; 3 parte do navio que assenta na água; 4
operação de levantar o zoncho ou o êmbolo da bomba do navio, para fazer subir a
água; 5 mastro colocado na extremidade da proa, para diante, formando com a
horizontal um ângulo de 30 a 40 graus; 6 procurar; 7 embarcação pequena.

1. Complete a síntese do excerto com os conectores adequados e os marcadores


temporais em falta.
No dia 16 de maio de 1565, a nau “Santo António” partiu carregada da vila de Olinda.
a. , devido a ventos contrários, foi arrastada para um baixio, onde
perma- neceu durante b. , tendo voltado, depois, a terra para ser
re- parada. O reembarque deu-se a 29 de junho de 1565, c. mui-
PROFE S
tos amigos de Albuquerque Coelho o terem aconselhado a não partir, dado o
SO R
estado da embarcação.
Escrita d. depois, a violência dos ventos obrigou os
12.3
marinhei- ros a alijar e rompeu o casco da nau, e.
começou a deixar entrar água. Quando o vento amainou,
1. a. Porém seguiu-se um período de dezanove dias de calmaria, após o qual os
b. dois dias
navegadores tentaram chegar a Cabo Verde, f. preten- diam reparar a nau.
c.apesar de
d. Cinco dias g. , avista- ram uma
e. que embarcação de corsários franceses e prepararam-se para se defenderem.
f.onde
g. A 29 de
h. , uma tempestade afastou as embarcações e os
julho france- ses desistiram do ataque. i. , na manhã seguinte, a nau
h. No entanto portuguesa conti- nuou a sua rota, rumo a Cabo Verde. j.
i.Assim
j. Contudo , os ventos contrários não permiti- ram a aproximação
l.a 29 de à ilha e os marinheiros desistiram do seu objetivo. Seguiu-se uma semana de
agosto calmaria, até que, l. , se levantaram ventos
m. Mas
n. que favoráveis e os navegadores decidiram rumar aos Açores para ten- tarem
novamente consertar a nau.
Com todas estas atribulações, a fome e a sede atingiram a tripulação.
m. Jorge de Albuquerque Coelho, com a sua bondade e sabedoria,
repar- tiu os seus alimentos por todos, ao mesmo tempo que tentava acalmar
a s discórdias
n. surgiam devido à escassez de alimentos e ao cansaço.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

236
“As terríveis aventuras de
Jorge de Albuquerque Coelho (
1565)”

INFORMAR PROF E S SOR

Leitura
As embarcações portuguesas foram de importância determinante para a época 7.1; 8.1
dos Descobrimentos.
Observe a imagem e leia o texto, no sentido de identificar algumas 1. Barco de alto bordo,
características das naus p rtuguesas espaçoso e lento, com
ortuguesas. três cobertas e velas
quadradas no mastro
principal.

Esquema (desenho técnico de nau), Páginas da História, manual de História 8.° ano, Porto,
Edições ASA, 2014, pp. 28-29.

A nau
A nau é um barco de alto bordo, relativamente curto, espaçoso e lento,
com lota- ção de 500 a 1000 toneladas, com três cobertas, velas quadradas 1
a maior vela do mastro da
no mastro principal e no traquete1, e triangulares no de mezena2: em meados proa (parte dianteira do
do século XVI é também introduzida uma vela quadrada no mastro posterior e barco) 2 mastro mais próximo
faz a sua aparição o mastro de da ré do navio (parte traseira
do barco)
5 contramezena3. É a embarcação por excelência, com o casco erguido à popa e 3
mastro do navio oposto ao da
à proa a formar dois “castelos”, sendo o primeiro destinado ao alojamento dos mezena
passageiros ricos.
Giulia Lanciani, Sucessos e naufrágios das naus portuguesas,
Lisboa, Caminho, 1997, pp. 34-35.

1. Refira três características das naus portuguesas.

237
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

O caráter de Jorge de Albuquerque Coelho é constantemente posto à prova.

EXCERTO 3

Encontro com os corsários


A 3 de setembro, navegando eles em demanda das ilhas, alcançou-os
uma nau de corsários franceses, bem artilhada e consertada, como
costumavam. Vendo o piloto, o mestre e os demais tripulantes da “Santo
António” que não iam em esta- do de se defenderem, pois mais artilharia
não havia a bordo que um falcão1 e um
5 só berço (afora as armas que o Albuquerque trazia, para si e para os seus
2

criados) determinaram de se render. Jorge de Albuquerque, porém, opôs-se


a isso com a maior firmeza. Não! por Deus, não! Não permitisse Nosso
Senhor que uma nau em que vinha ele se rendesse jamais sem combater,
tanto quanto possível! Dispu- sessem todos ao que lhes cumpria, e
ajudassem-no na resistência: pois somente
10 com o berço e com o falcão tinha ele esperança que se defenderiam!

Só sete homens, contudo, se lhe ofereceram para o acompanhar; e com


esses sete, e contra o parecer de todos os demais, se pôs às bombardas
com a nau fran- cesa, às arcabuzadas3, aos tiros de flecha, determinado e
enérgico. Durou esta luta quase três dias, sem ousarem os franceses abordar os
nossos pela dura resistência
15 que neles achavam, apesar de os combatentes serem tão poucos e de não

haver senão o berço e o falcão, aos quais Jorge de Albuquerque pessoalmente


carregava, bordeava, punha fogo, por não vir na viagem bombardeiro, ou
quem soubesse fazê-lo tão bem como ele.
Ora, vendo o piloto, o mestre, os marinheiros, que havia perto de três dias que
20 andavam eles neste trabalho; que recebiam os nossos muito dano dos tiros

dis- parados pelos franceses, e que já lhes ia faltando a pólvora, − pediram


ao fidalgo e aos que o ajudavam que consentissem enfim na rendição, pois
lhes era impos- sível o prosseguir na defesa: não fossem causa de os
matarem a todos, ou de os meterem no fundo! Responderam a isto os
combatentes que estavam decididos a
25 não se renderem enquanto capazes para pelejar. Os outros, vendo-os assim

deter- minados, deram de súbito com as velas em baixo, e começaram a


bradar para os franceses: entrassem, entrassem na nau, que se lhes
rendia!
Os que combatiam, indignados, quiseram matar o piloto
e o mestre, pelo ato de fraqueza a que forçavam todos; não
tardou,
30 porém, que subissem e entrassem dezassete franceses,
armados de espadas, de broquéis, de pistoletes, e alguns deles
com alabar- das. Num instante se assenhoriaram da nau.
Verificando a maneira como vinha
esta, perguntaram com que artilharia e
que mu-
35 nições se haviam defendido tantos dias,

e o número dos homens que combatiam.


Res- ponderam-lhes que só Jorge de
Albuquerque fizera tudo, para o
carregarem a ele com toda
238
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque

a culpa. Ouvindo isto, dirigiu-se o capitão dos franceses a Jorge de


Albuquerque 3. Classifique a oração
40 Coelho com o rosto soberbo e melancólico, e disse-lhe assim:
“que consentissem
enfim na rendição” (l.
− Que coração temerário é o teu, homem, que tentaste a defesa 22).
desta nau tendo tão poucos petrechos de guerra, contra a nossa, que vem
tão armada, e que traz seis dezenas de arcabuzeiros?
Ao que respondeu o Albuquerque Coelho, bem seguro de si:
45 − Nisso podes ver que infeliz fui eu, em me embarcar em nau tão

despreparada para a guerra; que se viera aparelhada como cumpria, ou


trouxera o que a tua traz de sobejo, creio que tivéramos, tu e eu, estados
diferentíssimos em que estamos. Aliás, a boa fortuna que tivestes,
agradece-a à traição desses meus companhei- ros – o mestre, o piloto, os
marujos, − que se declararam contra mim: pois se me
50 houvessem ajudado, como me ajudaram estes amigos, não estarias aqui

como vencedor, nem eu como vencido.


Contraveio o capitão francês:
−Não te desconsoles, amigo: é isto fortuna da guerra, que hoje favorece
uns, amanhã outros. Pelo bom soldado que tu és, far-te-ei muito boa
companhia e
55 àqueles que te ajudaram a combater: que tudo merece quem faz o que

deve, cum- prindo a obrigação da sua pessoa.

1
pequena peça de artilharia; 2 peça de artilharia curta; 3
inflamar a pólvora.

1. Releia o primeiro parágrafo.


1.1 Descreva por palavras suas a nau dos corsários franceses.
1.2 Refira o argumento apresentado por Jorge de Albuquerque para não se render
aos corsários franceses.

2. Caracterize Jorge de Albuquerque a partir do seu comportamento perante o


ata- que dos corsários, descrito no segundo parágrafo.

3. Justifique a atitude do capitão francês em relação a Jorge de Albuquerque,


presen- te no último parágrafo.

4. Apresente dois exemplos deste excerto que contribuam para o relato das
aventu- ras e desventuras dos Descobrimentos.

GR A M Á T I C A

1. Releia o último parágrafo do texto.


1.1 Indique a expressão que desempenha a função sintática de vocativo.
1.2 Transcreva a oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
1.3 Retire um exemplo de uma forma verbal no futuro do indicativo.

2. Indique a função sintática dos pronomes nos segmentos:


a. “alcançou-os uma nau” (l. 1)
b. “Responderam-lhes que só Jorge de Albuquerque” (ll. 36-37)

240
P R O F E S S OR

Educação Literária 14.1; 14.2; 14.3; 14.4;


14.5; 14.6; 14.7; 15.1;
15.2; 16.1

1.1 A nau dos corsários franceses apresentava-se bem artilhada e em bom estado,
o que era costume nestas embarcações estrangeiras.
1.2 Jorge de Albuquerque não aceitava a rendição sem combater, mesmo que os
seus meios de defesa fossem
escassos em relação às armas da nau francesa.
2.Jorge de Albuquerque revela uma grande coragem, altruísmo e dedicação à causa que
defende.
3.O capitão dos franceses louva a atitude de Jorge de Albuquerque, pela forma como combateu
e defendeu
a nau, não o considerando um vencido, mas um inimigo digno de respeito. Por isso, promete tratá-lo
com a consideração que merece.
4.Ao longo deste excerto, a tripulação da “Santo
António” debate-se com vários problemas, entre eles
o estado deplorável da nau, sem artilharia suficiente para se defender; o ataque que sofreu por
parte dos corsários, bem mais apetrechados que os portugueses, e ainda a traição de alguns
elementos da tripulação.

Gramática 18.1; 18.4

1.1 “amigo” (l. 53).


1.2 “que hoje favorece uns, amanhã outros” (ll. 53-54).
1.3 “far-te-ei” (l. 54).
2.
a.Complemento direto
b.Complemento indireto
3. Oração subordinada substantiva completiva.

BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-273, 267-268

239
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
PROFE S SOR
LEITUR A
Leitura
7.3; 7.6; 8.1; 8.2
A celebração dos 500 Anos dos Descobrimentos Portugueses, bem como a opção
1. O estudo pela temática dos Oceanos para o Ano Internacional de 1998 – ambas combinadas na
Sucessos e
naufrágios das naus
Exposição Mundial de Lisboa, Expo' 98 – incentivou a publicação de vários
portuguesas, de Giulia estudos/livros relacionados histórica e literariamente com estes temas. Um desses
Lanciani. estudos foi Sucessos e naufrágios das naus portuguesas, publicado em 1997, da
2. “sedutora temática” (l.
2); “útil e alargada
autoria de Giulia Lanciani, professora de Lín- gua e Literatura Portuguesa na
antologia” (ll. 22-23); Universidade de Roma.
“pressupõe um
aturado labor” (ll. 35-36);
“esta importante obra” (ll. Leia um excerto da apreciação crítica a esta publicação e responda às questões.
40-41); “uma referência
obrigatória” (l. 44).
3. A obra é uma
referência obrigatória
para quem
se dedica à Literatura Sucessos e naufrágios das naus portuguesas
de Naufrágios (ll. 43-
45).

A obra [Sucessos e naufrágios das naus portuguesas, modelar "Relação da mui notável perda do Galeão
de Giulia Lanciani] centra-se na sedutora temática Grande S. João...", mais conhecida como Naufrágio
dos relatos de naufrágios dos séculos XVI e XVII, de Sepúlveda; até à breve "Relação do sucesso que
coligidos por Bernardo Gomes de Brito nos dois teve o patacho chamado N. Sra. da Candelária...". […]
volumes da His- Por con-
5 tória Trágico-Marítima (Lisboa, 1735-36), um dos
30 seguinte, tem o mérito de ser a primeira e única
mais belos monumentos da anónima epopeia edição deste importante relato de naufrágio.
negra da Lite- ratura Portuguesa. […] Procurando su- perar os compreensíveis erros das
[N]a primeira parte, a autora […] começa por sucessivas edições dos relatos de naufrágios,
refle- tir sobre as razões explicativas de um género originalmente publicados em populares folhetos de
peculiar cordel pelos séculos XVI e XVII,
10 da literatura de viagens (relato de naufrágio) e
35 esta publicação de Giulia Lanciani pressupõe um
suas funções moralizantes, didascálicas ou atura- do labor em bibliotecas e arquivos nacionais
educativas, mas também ideológicas ou e estran- geiros, como se depreende, aliás, do
civilizadoras; discorre, depois, sobre a "matriz aparato crítico do trabalho da professora italiana.
literária" das narrativas de naufrágio, assinalando Numa época de redescoberta do valor literário e cul-
os procedimentos que configura o modelo 40 tural da Literatura de Viagens e de Naufrágios, […]
15 narrativo dos relatos de naufrágio; por fim, esta importante obra de Giulia Lanciani apresenta-
explicita o modelo narrativo dos relatos de se a um público vasto, com destaque para
naufrágio, enumeran- do, critica e professores e alunos do ensino secundário e
exemplificadamente cada uma das partes ou superior. Constitui-se, assim, como uma referência
unidades fundamentais, com suas variantes: ante- obrigatória no âmbito peculiar da
cedentes – partida – tempestade – naufrágio e 45 cativante Literatura de Naufrágios, que comporta
arriba- hoje uma vasta bibliografia crítica e cujo profundo
20 da – peregrinação / ou (sequência alternativa)
e alegó- rico simbolismo, em forma de retórica da
ataque corsário – captura – impiedade dos inimigos decadência pátria, atravessa praticamente toda a
– retorno. A segunda parte, constituída por uma Literatura Portu- guesa, desde a Renascença até à
útil e alargada antologia (pp. 181-562), edita oito contemporaneidade.
relatos de naufrágio, em integral e cuidada
J. Cândido Martins, in http://alfarrabio.di.uminho.pt/
transcrição textual. Os textos são (adaptado, consultado em fevereiro de 2017).
25 retirados da História Trágico-Marítima, a começar pela
1. Identifique o objeto em apreciação.

2. Destaque três expressões reveladoras da opinião do autor do artigo acerca do


ob- jeto em causa.

3. Apresente um argumento que, segundo o autor, justifica a importância da


obra de Giulia Lanciani.
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque

LEITUR A

As viagens dos Descobrimentos


Ao longo do século XIV, toda a Europa atravessava uma grave
crise económica. Portugal não era exceção. Todos os grupos
sociais pro- curavam expandir-se em busca de uma nova vida,
mas a paz com Castela cedo definiu as fronteiras portuguesas. No
entanto, o contacto Redija, em 100 a 130
palavras, a síntese do
5 com o mar fez-nos um povo de marinheiros e pescadores,
texto.
atraídos pelo desconhecido. A situação geográfica de Portugal, a
sudoeste da Europa, com a sua faixa litoral voltada para o
Atlântico e com uma costa recortada com bons portos, era
propícia à navegação. O país voltou-se para o mar, Portugal
lançou-se na Expansão Marítima.
10 Na época, já se faziam viagens pelos portos de Inglaterra, França,
Flandres, Norte de África (Navegação de Cabotagem) e desde tempos
muito antigos que se navegava no Mediterrâneo. Verificavam-se, ainda,
grandes progressos na construção naval e na ciência náutica, graças à
presença, entre nós, de marinheiros genoveses e catalães.
15 Nas primeiras viagens, realizadas com barcas, navegava-se junto à costa e

os marinheiros não tinham grande dificuldade de orientação.


Utilizavam-se as cartas náuticas, onde se escolhia o destino, seguia-se o
roteiro da viagem e mantinha-se o rumo com a agulha de marear
(bússola).
A arte de navegar não era muito diferente da utilizada pelos marinheiros
do
20 Mediterrâneo.

No entanto, o espírito aventureiro, corajoso e destemido do povo


português fez com que as viagens fossem cada vez mais longe, avançando
em mares ignorados. Sem cartas nem roteiros que orientassem os pilotos,
era necessário contornar com cuidado os promontórios, observar os ventos,
os abrigos e prestar atenção ao
25 quebrar das ondas, para se evitarem os baixios.

Nas viagens de exploração, a tarefa essencial que competia aos


marinheiros era a de colherem todas as informações sobre o oceano
navegado e os lugares que visitavam.
Assim se atualizavam os roteiros e se passavam as informações aos
cartógra-
30 fos, que melhoravam o rigor das cartas. Destas novas se aproveitavam

aqueles que repetissem as mesmas navegações.


Até ao final da Idade Média, os conhecimentos geográficos eram poucos
e esta- vam envolvidos em imensas lendas. Acreditava-se que a Terra era
um disco plano que pairava no espaço, circulando à sua volta os outros
corpos celestes, como
35 a Lua, o Sol e as estrelas visíveis no céu (Teoria Geocêntrica). O Cabo

Bojador tinha fama de horrores. Ficava a caminho da região equatorial,


junto a um imenso de- serto. Não se sabia se o mundo acabaria ali.
Helena Maria Teixeira et alii, in http://www.prof2000.pt/users/hjco/Descoweb/Pg000400.htm
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017).

1. Identifique o tema do texto.


241
Mapa do Mundo de Ptolomeu, in Claudii Ptolomaei Alexandrini (1467).
PROF E S SOR

Leitura P R O F E S SO R 7.1
1. O texto refere-se às navegações, àquilo que as motivou, bem como ao alargamento de
conhecimentos que as viagens marítimas proporcionaram.

Escrita 11.1; 13.1


Ao longo do século XIV, a Europa atravessava uma grave crise económica e, por isso, aspirava-se
a uma nova vida. A situação geográfica de Portugal, com uma vasta costa com bons portos, era
propícia à navegação. Assim, os portugueses voltaram-se para o mar, começando a Expansão Marítima.
A necessidade e o espírito aventureiro dos lusos reclamavam novas paragens, mas eram necessários
grandes progressos na construção naval e na ciência náutica.
Eram também essenciais as viagens de exploração, dado permitirem informações sobre os oceanos e
os territórios visitados.
Deste modo, procedia-se à atualização dos roteiros, que facilitavam o progresso da cartografia e
auxiliavam os que navegavam de novo por estas paragens. Tudo isto contribuiu para aumentar
os conhecimentos geográficos e desmistificar lendas e mitos criados durante a Idade Média. (128
palavras)

242
A viagem de Jorge de Albuquerque Coelho na nau “Santo António” enfrenta mais
um dos muitos obstáculos, desta vez a Natureza em fúria.

EXCERTO 4

Tempestade
Às dez, escureceu por completo, parecia noite. O negro mar, em redor,
1
lufada
todo se cobria de espumas brancas; o estrondo era tanto, − do mar e do
2
fazendo estrondo
3
a mais baixa e maior vela vento, − que uns aos outros se não ouviam.
redonda do mastro de proa Nisto, levanta-se de lá uma vaga altíssima, toda negra por baixo, coroada de
5 espumas; e, dando na proa com um borbotão de vento, galga sobre ela, a
4
longa peça de madeira que 1

se coloca horizontalmente submer- ge, e arrasa. Estrondeando e partindo, leva o mastro do traquete3 com
2
sobre os mastros, para nela
se prenderem as velas
a sua verga4 e enxárcia; leva a cevadeira5, o castelo de proa, as âncoras;
5
venda que pendia de uma estilhaça a ponte, o batel, o beque6, arrebatando pessoas, mantimentos,
verga atravessada no pipas. Tudo se quebra e lá vai no escuro. A nau, até o mastro grande, fica
gurupés rasa e submersa, e mais de meia
6
parte mais avançada da
10 hora debaixo de água.
proa
7
vela latina do mastro de ré Os sobreviventes, que se arrastavam pávidos, confluem a um padre
8
atirados, arremessados que se acha a bordo e atropela as rezas e as confissões. Um relâmpago
9
pavimento ou andar do risca, ilumina a treva: veem-se todos de joelhos, com as mãos no ar, a pedir
navio
misericórdia e a cla- mar por Deus.
10
brilhavam intensamente,
15 Jorge de Albuquerque, como de costume, falava aos outros para lhes dar
ameaçavam
11
o lado de onde sopra o cora- gem. Confiassem em Deus, − e ao mesmo tempo fossem dando à
vento bomba, esgotan- do a água que invadira o convés. Enquanto houver vida –
12
tempestade no mar
dizia-lhes – trabalhem todos por a conservar. E se Deus dispusesse por
outra forma, tivessem paciência ante os seus decretos: somente Ele sabe
o que nos é melhor.
20 Com estas palavras os persuadia à faina. Deram à bomba, com imensa

dificul- dade de se aguentarem de pé, e esgotaram a água.


Mas outro vagalhão se lançou sobre a nau. Cobrindo o convés,
arrebatou o mastro grande, verga, vela, enxárcias, camarotes, borda; levou o
mastro da meze- na7 com o aparelho todo, uma parte da popa, e também um
dos franceses dos de
25 maior jerarquia. Os portugueses que trabalhavam na bomba foram logo

arrojados8 aqui e além; cobertos pelo mar, todos se convenceram de que se


afogariam. Le- vantaram-se aos poucos, queixando-se este de que partira
um braço, aquele uma perna. Ficou tudo mergulhado por algum tempo; e o
mar, depois, dava ainda pelos joelhos dos desgraçados. Mandou Albuquerque
alguém à coberta9, para ver a água
30 que nela entrava. Só lhe faltavam três palmos para chegar acima, e a encher

de todo. Fuzilavam10 relâmpagos; a força do vento, a imensidade das ondas,


aterra- vam os ânimos; a água que entrava vinha cheia de areia. Jorge de
Albuquerque, apesar de tudo, consolava os tristes, afirmando-lhes a
esperança de se saírem daquilo.
35 O mastro grande, quando caiu, ficou preso na enxárcia; por debaixo de

água, passara para a banda de barlavento11; e de aí, jogado na vaga, dava


choques horrí- veis de encontro ao costado, que tremia todo com som
cavernoso. Enfim, vieram uns mares que o levaram para longe, e de mais
esse tormento se viram livres.
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Passados três dias, em que continuamente se deu à bomba, começou enfim a
40 bonançar a procela12.
1. Indique duas sensações presentes no primeiro parágrafo, referindo a sua
PROFESSOR
importân- cia para o ambiente de tempestade descrito.
Educação Literária
2. Refira duas características de Jorge de Albuquerque neste momento da 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
viagem, fundamentando a sua resposta com expressões textuais. 14.6; 14.7; 15.1; 15.2

3. Transcreva do segundo período do sexto parágrafo um exemplo de enumeração 1. No primeiro parágrafo


e comente a sua expressividade. estão presentes a sensação
visual (“escureceu por
completo, parecia noite”, l.
1)
ESCRITA e a sensação auditiva (“o
estrondo era tanto”, l. 2).
Estas sensações contribuem
para criar um ambiente
Observe o seguinte quadro. tempestuoso, medonho, que
aterrorizava a tripulação.
2. Jorge de
Albuquerque, perante o
ambiente de medo vivido,
mostrava-se solidário com
a tripulação (“falava aos
outros para lhes dar coragem”,
ll. 15-16) e determinado
(“Enquanto houver vida – dizia-
-lhes – trabalhem todos
por a conservar”, ll. 17-
18).
3. “arrebatou o mastro
grande, verga, vela,
enxárcias, camarotes, borda”
(ll. 22-23) – a enumeração
exprime a violência da
tempestade que assolou a
nau, atingindo todas as
partes da embarcação, que
não resistiram à força das
ondas e do vento.

q
u
a
d
Tempestad o
e- a
Naufrágio, i
1823,
William m
Turner a
(1775- O
1851),
The
t
British x
Museum, o
Inglaterr
a.
d
e
e
Elabore um á
texto de o
apreciação b
crítica, de e
130 a 180 d
palavras, e
sobre o e
a um plano prévio, apresentando uma estrutura s f
Escrita enfrenta e
tripartida. 11.1; 12.1; dos p
12.2; 12.3; pelas s
· Introdução: identificação do quadro, do autor e 12.4; 13.1 naus -
da época. portugue e
Tópicos a p
sas do
· Desenvolvimento: abordar: tempo n
–Quadro de das o
– descrição sucinta do objeto, organizada do William Descober s
geral para o particular (elementos da Turrner, tas e da .
pintor
composição e seu simbolismo… ), integrando os inglês do
elementos observados; século XIX;
retratando
– cores e espaço; uma B
tempestade
– situação e articulação com a obra em análise; .
–Em primeiro
– apreciação pessoal (valorativa ou depreciativa), plano,
associando o quadro ao tema/ as- sunto dos a violência
textos abordados neste módulo (viagens, das águas e
do vento
perigos do mar…). expressa
pela forma
· Conclusão: síntese das principais ideias e reforço das ondas,
da apreciação. pela cor
(negro,
verde-
escuro, cinza,
branco da
espuma) e
pela
indefinição
entre céu e
mar.
–Em
segundo
plano,
as
embarca
ções
“perdidas
” no
emaranh
ado das
ondas,
frágeis
perante
a força
da
tempest
ade.
–Tela que
retrata, de
forma
muito
realista, a
força dos
elemento
s da
Natureza
, perante
a
fragilidad
e das
embarcaç
ões da
época do
pintor, o
que a
aproxima
da
descrição
dos
problema
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Depois de tantas aventuras e desventuras, eis que se avizinha a Pátria amada.

EXCERTO 5

Regresso a Lisboa
Mais três dias se passaram assim, no trabalho contínuo de dar à
bomba. A 2 de outubro, entre a neblina, pareceu-lhes divisar arrumação de
terra. Cerca do meio-
-dia, dissipou-se a névoa. Maravilha! Deus louvado! Era a serra de Sintra! Lá
5 esta- va, ao cimo das rochas, a própria casa da Senhora da Pena!

[…]
Ao outro dia, 3 de outubro, amanheceram chegados ao cabo da Roca; e
indo já a nau para dar à costa, passou perto uma caravela, que se dirigia
para a Pederneira. Suplicaram-lhe socorro; pagar-lho-iam bem. – Que Jesus
10 lhes valesse, responde- ram eles; nada, não queriam perder tempo na sua

viagem… E seguiram avante, sem nenhum dó.


Pouco depois, felizmente, avistaram uma barca pequenina, que navegava
para a Atouguia. Começaram a bradar-lhes, de joelhos, que lhes valessem,
e es- tando a barca a um tiro de berço, logo lhes acudiu com muita
15 pressa.

Vinha a bordo dessa barca um Rodrigo Álvares de Atouguia, mestre e


senhorio dela, e uns parentes e amigos seus. Todos começaram a esforçar
os da nau. Não temessem nada; não os desamparariam, ainda que com
risco de se perderem eles próprios. Não desejavam por isso prémio
algum.
Vendo o estado em que estavam os da nau, ficaram atónitos. Logo lhes
deram pão, água e frutas, que para si traziam.
20 O senhorio da barca, tanto que acabou de lhes dar de comer, passou-lhes um

cabo de reboque com que afastaram a nau da rocha e a foram trazendo ao


longo da costa até à baía de Cascais, aonde chegaram pelo sol-posto.
Acorreram botes, em que se meteram; uns desembarcaram ali em Cascais;
outros só em Belém tomaram terra.
A nau, durante a noite, ficou amarrada à poupa da barca, por não ter âncora
acudiu com muita pressa.” (ll. 11-13).
d. Estado faminto da tripulação.
e. Estado deplorável da nau.

PROFE S SOR

Educação Literária
14.4; 14.5; 14.7

1. a. “Maravilha! Deus
louvado! Era a serra de
Sintra!” (l. 3)
b. “passou perto uma
caravela […] não queriam
perder tempo na sua
viagem… E seguiram
avante, sem nenhum dó.”
(ll. 7-10)
c.“avistaram uma barca
pequenina […] logo lhes
244
25 com viam posta.
que
fundea 1. Partindo da leitura deste excerto final da História Trágico-Marítima, complete o qua-
sse. dro abaixo, com os factos ou com as expressões que ilustram as aventuras e desventu-
No dia ras dos Descobrimentos, aquando do regresso da tripulação da nau “Santo António”.
seguin
te, o Aventuras e desventuras dos Descobrimentos
cardea Factos Exemplificação textual
l Entusiasmo e agradecimento pelo regresso. a.
infante Abandono por parte dos
b.
D. “grandes” que os veem chegar.
Henriq Acolhimento por parte dos “pequenos”
c.
que os veem chegar.
ue,
d. “Logo lhes deram pão, água e frutas” (ll. 18-
que 19)
govern “espantando-se do destroço em que a
e.
ava o viam posta.” (ll. 27-28)
Reino,
fez
expedi
r uma
galé
que a
fosse
trazen
do
pelo
rio
acima.
Funde
ou a
nau,
finalm
ente,
diante
da
igreja
de S.
Paulo,
onde
numer
osa
gente
a foi
visitar,
espan-
tando-
se do
destro
ço em
que a
245
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque

GR AMÁTICA

1. Indique os vários tipos de embarcações referidos no excerto.


PROFE S SOR
1.1 Refira a relação semântica entre o termo “embarcações” e as palavras que
indicou. Gramática
19.3; 19.6
2. Complete a grelha com palavras ou expressões associadas ao termo navegar,
reti- radas do texto, de acordo com o exemplo. 1. Caravela,
barca, nau, bote, galé.
Nome Verbo 1.1 Relação de
hiperonímia/ hiponímia:
Nau Dar à bomba embarcações – hiperónimo;
caravela, barca, nau, bote,
a. a. galé – hipónimos.
b. b. 2. Nome:
a. Caravela
c. c.
b. Viagem
d. d. c.Barca
d. Mestre
3. A palavra navegar surge no texto com o significado de viajar por mar, mas Verbo:
pode adquirir outros sentidos, de acordo com o contexto em que surge. a. Dar à costa
b. Desembarcaram
Interprete o significado da palavra nas frases abaixo, associando-a à definição c.Tomaram terra
cor- reta. d. Fundeasse
3.
a. Os jovens passam muito tempo a navegar na Internet.
a. 3
b. Como não estudam nada, andam completamente a navegar. b. 1
c.4
c. Quem se aventura em terras desconhecidas arrisca-se a navegar em águas d. 2
turvas.
d. Navegar no espaço poderá ser uma opção turística ainda no nosso
século.
Escrita
12.4
1. andar sem rumo 2. viajar no espaço
3. utilizar (a Internet)4. meter-se em sarilhos, perder-se 1.1 a. casco
b. velas
c.enxárcias
BLOCO INFORMATIVO – p. 282 d. mastro
ESCRITA e. leme
f.convés
1. A nau “Santo António” partiu do Brasil carregada de mercadoria, rumo a
Portugal. Mas ao longo da viagem foram vários os perigos que enfrentou.
1.1 Complete os espaços em branco com os termos abaixo indicados, que
correspon- dem às diferentes partes de uma nau (consulte a informação
da página 237).

• convés • velas • mastro • enxárcias • casco •


leme
O vento arrastou a nau para um baixio, o que fez com que o a. abris-
se e a água entrasse. As fortes rajadas de vento rasgaram as b. , as
c. partiram, o d. quebrou. O e. ficou pendurado
só por um ferro e não era possível conduzir a nau com ele naquele estado. Os
mari- nheiros sofriam muito com todos estes perigos e com a fome que surgia
após tanto tempo no mar. Alguns caíam no f. da nau sem
força para se levantarem.
PH iasdt ór er i aA Tnrtáógni cioo- MVai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

PROF E S SOR
C O M P R E E N S Ã O / E X P R E S SÃO OR AL
Leitura / Ed. Literária
9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
1. Ouça atentamente o poema de José Régio, interpretado pelo grupo musical
2 1.2; 22.1
Lin k The Gift no seu álbum “Amália Hoje”, e complete-o com os vocábulos em
“Amália Hoje – Fado
1. P1.ºoCrthuegguaêdsa” ao falta.
cais; 2.º Barca do Diabo; 3.º
Barca do Anjo;
4.º BaOrcraaldiodaDdiaebo. Fado Português
2. O F1i.d3a;l3go.2m;
4o.s1t;r4a.-2s;e5.1; O Fado nasceu um dia, “Mãe, adeus. Adeus, Maria.
arrog5a.n3t;e6e.1a;l6ti.v2o; quando o vento mal m. bem no teu sentido
, 6.3 desprezando o Diabo e
a sua b a rc . bulia e o céu o mar n. aqui te o. uma jura:
1. a . am
A s u a atitude está
u r a da prolongava, que ou te p. à sacristia,
r e l a c i o n ada com os na a. dum b. , 25 q. foi Deus que foi
b . v e l e i ro
símbolos
q u e t r a z c o n sigo 5 no peito dum c. servido dar-me no mar
(ac cadeira,
. m a r in h e i ro
o P a j em e o manto),
d. t a m an h a que, estando triste, cantava, sepultura.”
que
c a r a c te r izam o
e . m do
Fidalgo o n te
que, estando triste, cantava.
p o n to d e vista social
f. f lo ere ps e s s o a l
(nobreza)
Ora eis que embora outro
g. f r u t a s
(vaidoso e com um s e
h .
“Ai, que lindeza d. , dia, quando o vento nem
n t i m e n t de
c e g u in h o meu chão, meu e. , meu bulia
superioridade
r e l a t iv amente aos
i. f r á g il vale, e o céu o mar prolongava,
restantes). 10 de folhas, f. , g. de oiro,
j. lábio 30 à proa de outro veleiro
k. beijos vê se vês terras de Espanha, velava outro marinheiro
l.beija
m. Guarda areias de Portugal, que, estando triste, cantava,
n. que olhar h. de choro.” que, estando triste, cantava.
o. faço
p. levo José Régio, Poemas de Deus e do Diabo,
q. ou Na boca de um marinheiro Famalicão, Quasi Edições, 2016.
2. a. A parte final do
15 do i. barco veleiro,
capítulo V da História
Trágico-Marítima articula- morrendo a canção
se com este
poema, na medida em magoada, diz o pungir dos
que os marinheiros da desejos
História Trágico-Marítima
estariam desejosos por do j. a queimar de k.
regressar a que l. o ar, e mais nada,
casa, saudosos de
20 que beija o ar, e mais nada.
reencontrar aqueles que
amam, tal como se
encontra o marinheiro
deste poema. Por outro
lado, já junto à costa de
Portugal, esteve perto o
naufrágio da nau “Santo
António”. Ora,
a ideia de morte também
está, de certo modo, (“cantava”).
presente
no poema de José c. As aspas introduzem
Régio, nos últimos três o discurso direto, ou seja, a canção/o fado que
versos da penúltima o marinheiro estaria a cantar.
estrofe.
b Existe uma estrutura
narrativa, pois apresenta-se
uma personagem, que é
caracterizada (“que,
estando triste, cantava”),
havendo
localização espácio-temporal
da ação (“um dia”; “na
amurada dum veleiro”) e o
recurso ao pretérito perfeito
do indicativo (“nasceu”),
alternado com
o pretérito imperfeito
246
“As terríveis aventuras de
Jorge de Albuquerque Coelho (
1565)”

2. Faça, , observando os seguintes aspetos:


oralm a. relação entre o conteúdo deste poema e o“Regresso a Lisboa”, parte final do
ente, capítulo V da História Trágico-Marítima.
em 2-
3 b. existência de uma estrutura narrativa;
minut c. recurso às aspas;
os, d. existência de uma paisagem idealizada.
uma
síntes GR A M Á T I C A
e do
conte
údo
do
1. Construa um campo lexical de “navegação”, tendo em conta a última estrofe
poema
do poe- ma.

BLOCO INFORMATIVO – pp. 282, 277,


271-273

247
2. Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação. PROFE S SOR
2.1 O segmento sublinhado em “O Fado nasceu um dia / quando o vento mal
bulia” d. A pLaeisiatguerma
/éEidde.aLliiztaedraária
(vv. 1-2) corresponde à oração
atrav9és.3d;o9r.e5c;
u9r.s7o; 1à2.1; 20.4;
[A] subordinada adverbial temporal. metá2fo1r.2a;“2fr2u.t1as de
oiro”, pois o ouro confere
[B] subordinante. um caráter de
excecionalidade,
[C] subordinada adverbial causal. 2du1..etº1.opBºsrC
a.ehrca
ceiogsaidadaeoacoasisf;r
[D] subordinada adverbial condicional. RB aemrc eatbdeoot;Anjo;
do Di a a3m.º 4. º
b é m p a r a o p
2.2 Os termos sublinhados em “Mãe, adeus. Adeus, Maria.” (v. 21) desempenham a aBraarícsao dpoerDdiiadboo.
.
fun- ção sintática de 2. O Fidalgo mos
Gramática
[A] sujeito e vocativo, respetivamente. 18.1; 18.4; 19.5
[B] sujeito e complemento indireto, respetivamente.
1. vento, céu,
[C] vocativo. mar, proa, veleiro,
marinheiro
[D] complemento direto e complemento indireto, respetivamente. 2.1 [B]
2.3 No segmento “dar-me no mar sepultura” (v. 26), o pronome desempenha a 2.2 [C]
função sintática de 2.3 [D]

[A] sujeito. Escrita


10.2; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
[B] predicativo do sujeito. 12.4; 12.5; 13.1

[C] complemento direto.


Resposta de caráter pessoal.
[D] complemento indireto. No entanto, o aluno poderá
focar os seguintes aspetos:
a sequência em fila de
mulheres de joelhos (como
ESCRITA se estivessem numa atitude
de súplica) junto aos homens
que amam e que partem;
Faça uma apreciação crítica, de a limitação do contacto
130 a 150 palavras, da fotografia, (eles enclausurados na
embarcação, elas no
tendo em consideração os seguin- exterior); a fotografia a
tes aspetos: preto e branco que se
adequa a um ambiente de
· descrição sucinta do objeto, dolorosa despedida; ao
contrário do poema, que
partindo do primeiro plano nos
(ele- mentos observados, remete para um regresso
postura das personagens, desejado, queimando a boca
do marinheiro dos beijos que
sentimentos expressos, cor… ele não dá, aqui as bocas
); queimam dos beijos que
dão, mas que poderão ser
· apreciação pessoal (valorativa os últimos, porque uma
viagem por mar poderá não
ou depreciativa), associando ter regresso, como quase
a imagem ao tema do poema sucedeu com a nau “Santo
António”.
de José Régio e aos textos
aborda- dos neste módulo
(desventuras das viagens);
· correção sintática e linguística;
· diversificação vocabular.

Soldados americanos despedindo-se antes da partida


para o Egito, 1963, autor desconhecido.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
LEITUR A

Leia o texto e responda, de seguida, aos itens apresentados.

Dois anos a pedalar…

[…] Alguém nos perguntava, em tom de balanço, como têm sido estes
dois anos de vida vividos ao máximo. Respondemos que o “máximo” que
vivemos é pouco convencional, porque é um “máximo” feito de “mínimos”,
com o essencial – que
já é bastante – de comida, roupa, abrigo.
5 […] No total já lá vão 15 países percorridos, com cerca de 18

000 euros gastos, o que dá uma média de 12 euros por dia,


por pessoa, […] e podíamos continuar aqui a desdobrar
números, mas mate- mática nunca foi o meu forte e na
ciência dos números não cabe a ciência do que vai cá dentro
e, por tal, passemos a outros resu-
10 mos…

Por exemplo, à simbiose que ocorre nas 1427 horas passadas


em cima das bicicletas – em que nós e as nossas máquinas
Samos,
Grécia.
nos trans-
formamos num só, numa espécie de Eduardo mãos de tesoura a quem cresceram
duas rodas como extensão das pernas – o nosso corpo, […] a nossa mente, a
nossa
15 bicicleta uma só entidade. Se alguma não está bem as outras têm de trabalhar em
overtime para compensar. […]
Dos quinze países por onde passámos, […] muito mais do que o
espaço que os seus carimbos ocupam nos nossos passaportes, contam
sobretudo os carim- bos incontáveis das amizades e dos gestos de
generosidade alheia que ficam
20 nas nossas memórias e nas nossas saudades… dos encontros e dos
reencontros, do derrubar de ideias preconcebidas que nos fazem pensar que
o mundo é a preto e branco quando o mundo é uma paleta de cores
infinitas, cheias de nuances. […] Celebrámos os dois anos no Irão, onde o
frio, o azul dos mil e um ladrilhos das mesquitas, assim como a
generosidade das suas gentes, nos têm preenchido
25 os dias. Esta é não só uma união geográfica que nos afaga os antagonismos,

mas, sobretudo, uma que nos desperta para o facto de que as diferenças e a
diversida- de, afinal, são o que de melhor vamos criando e deixando no
mundo como seres humanos.
Nos poucos contratempos que enfrentámos, porque nem tudo são alegrias ou
30 facilidades, destacamos a saga financeira e logística dos vistos e as suas

limita- ções temporais que nos encurtaram a estadia e as pedaladas em


alguns países que desejávamos ter percorrido na sua totalidade. […] O meu
joelho a precisar de descanso e a ensinar-me a lição de que para receber
também é importante dar e que uns alongamentos no final do dia se
calhar não eram má ideia. Ou o frio do
35 inverno iraniano a travar-nos as pedaladas rumo a casa e a obrigar-nos a ir

buscar motivação extra para seguir, resistindo à tentação de nos enfiarmos


no próximo voo com destino às praias quentes e paradisíacas da Birmânia –
m s os contra- tempos são, neste contexto, apenas ínfimos detalhes que nos
a fazem repensar as nossas opções e reajustar planos. […]
Joana Oliveira e Nuno Pedrosa,
in http://globonautas.net/dois-anos-a-pedalar/
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017).
parágrafo.
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação. 3. Atente na forma verbal
1.1 Segundo os globonautas, os recursos de que dispõem “obrigar-nos” (l. 35).

[A] não são os suficientes. 3.1 Escreva-a no


futuro simples do
[B] ainda que parcos são os suficientes. indicativo.
[C] não incluem o vestuário. 3.2 Identifique a função
sintática
[D] são sobretudo roupa e comida.
desempenhada pelo
1.2 Quando se trata de fazer o balanço dos dois anos de viagem, os autores do pronome pessoal
relato sublinhado.
[A] destacam o dinheiro gasto e os quilómetros percorridos. BLOCO INFORMATIVO – pp. 266-267

[B] afirmam que o mais importante é terem viajado juntos por 15


países.
[C] asseguram que mais importante do que o dinheiro gasto ou os
países percorridos são os ganhos em termos pessoais.
[D] dão igual importância aos ganhos em termos pessoais e aos gastos
efetuados.
1.3 Do relato lido, destaca-se como importante a ideia dos globonautas de
que
[A] a viagem contribuiu para mudar a opinião que tinham sobre o mundo.

[B] o mundo é, afinal, aquilo que eles imaginavam que fosse.

[C] percorrer tantos países serviu para confirmar que a diversidade


não é uma das características do globo.
[D] durante a viagem descobriram que o mundo é a preto e branco.
1.4 Segundo os autores do relato, as adversidades são
[A] pequenos pormenores, mas já os levaram quase a desistir da
viagem.
[B] muito desmotivadoras, embora nunca os tenham levado a desistir.

[C] frequentes e muito desmotivadoras.

[D] pequenos pormenores solucionados, após redefinição de projetos.

2. Responda de forma correta e contextualizada.


2.1 Explicite o que os viajantes consideram como mais importante nas suas
viagens.
2.2 Demonstre que as situações burocráticas e o tempo atmosférico
influenciaram a viagem dos globonautas.
2.3 Clarifique o significado da expressão inglesa "overtime" (l. 16) .
2.4 Explique por que consideram eles que “o mundo é uma paleta de cores
infinitas, cheias de nuances” (l. 22).
2.5 Exemplifique as marcas de género: discurso pessoal e dimensão narrativa.

GR A M Á T I C A

1. Indique o tempo e o modo da forma verbal “têm sido” (l. 1) .

2. Reescreva, na primeira pessoa do singular, o primeiro período do último


PROFE S SOR

Leitura
7.1; 7.2; 7.4; 8.1; 9.1

1.1 [B]
1.2 [C]
1.3 [A]
1.4 [D]
2.1 O mais importante são os ganhos em termos de amizade e de convivência, além da
perceção da verdadeira realidade no que se refere
à diversidade étnica existente no nosso planeta.
2.2 Os problemas legais com os vistos e o tempo meteorológico obrigaram os globonautas a
permanecerem menos tempo do que desejariam em alguns países e a não poder visitá-los na sua
globalidade.
2.3. Overtime, neste contexto, significa sobrecarga de esforço e de tempo nas situações em que
a bicicleta ou a pessoa não se encontra em perfeitas condições
(mecânicas ou físicas, respetivamente).
2.4 A expressão poderá significar que as diferenças étnicas e as diversidades morfológicas dos
países
contribuem para tornar mundo harmonioso e colorido, em vez de monótono
e “cinzento”.
2.5 As marcas de género podem ser exemplificadas com os seguintes segmentos textuais:
Discurso pessoal – “Dos quinze países por onde passámos”
(l. 17); “Nos poucos contratempos que enfrentámos” (l. 29); Dimensão narrativa – “Alguém nos
perguntava […] de comida, roupa, abrigo.” (ll. 1-4)

Gramática 18.1

1. Pretérito perfeito composto do indicativo.


2. Nos poucos contratempos que enfrentei, porque
nem tudo são alegrias ou facilidades, destaco a saga financeira e logística dos vistos e as suas
limitações temporais que me encurtaram a estadia e as pedaladas em alguns países que desejava
ter percorrido na sua totalidade.
3.1 obrigar-nos-á.
3.2 Complemento direto.
v Geografia do português no mundo
APRENDER

Como se pode ver pelo mapa abaixo apresentado, o português encontra-se espalhado
por vários continentes.
O português europeu corresponde àquele que é falado em Portugal continental, na
Madei- ra e nos Açores. O português não europeu refere-se ao uso da língua
portuguesa em países situados em outros continentes, como é o caso do Brasil e
dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). A título de curiosidade,
acrescente-se que, recentemente, o português foi decretado, a par do francês e do
espanhol, língua oficial na Guiné Equatorial.

PROFE S SOR

Apresentação
Português europeu
e Português não europeu
(variedade brasileira
e variedade africana)
Documento
Mapa – Português,
língua oficial no mundo

Gramática
17.8; 17.9

“Português – Língua Oficial no Mundo”, in Gramática do Português


(coord. Eduardo Raposo), vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 72-73.

A par da língua oficial portuguesa, muitos países utilizam crioulos, que nasceram da
ne- cessidade urgente de comunicação entre falantes com línguas maternas distintas.
A colo- nização e a língua portuguesa (do povo colonizador) está na origem dos
crioulos de base portuguesa que possuem um léxico que pertence maioritariamente
ao português, ainda que a estrutura gramatical seja a da língua indígena. No quadro
abaixo, apresentam-se os principais crioulos de base portuguesa.

dois grupos de crioulos: Na Ásia, os crioulos de base portuguesa desapareceram quase todos ou estão em vias de desaparecimento. Conside- ram
ertencem a este grupo os criou-
Indo-portugueses
los de Cabo Verde(situam-se
e da Guiné-Bissau;
na Índia). são os mais antigos que se conhecem).
né (pertencem a este grupo Malaio-portugueses (localizam-se na Malásia, em algumas ilhas da Indonésia e em Timor).
Príncipe). Sino-portugueses (são os crioulos de Macau e Hong Kong).

250
APRENDER

O português no mundo – especificidades


sintáticas e morfossintáticas
Português Europeu Português do Brasil Português de África

• Pronomes pessoais em • Pronomes pessoais em • Colocação diferenciada do


posição pós-verbal – Passa- colocação pré-verbal – Me pronome pessoal – Me passa o livro.
me o livro. Você senta-se aí! passa o livro. Ele diz que você senta-se aí.
(recurso a hífen) Você se senta aí! • Pronome pessoal com
• Pronome pessoal com • Pronome pessoal com função função de complemento indireto,
função de complemento direto – de sujeito, usado como usado como complemento direto –
Eu avistei-o. complemento direto – Eu avistei-lhe.
Eu avistei ele. • Supressão da preposição que
antecede o complemento indireto –
Entregou
os amigos a bola.
• Recurso ao verbo haver a • Recurso ao verbo fazer a
anteceder expressões temporais – anteceder expressões temporais –
Ele está em Londres há dois Ele está em Londres faz dois
anos. anos.
• Uso de artigo antes de • Ausência de artigo antes de
possessivo – possessivo –
A tua mãe já chegou. Tua mãe já chegou.
• Seleção do conjuntivo em certas • Seleção do indicativo em certas
orações subordinadas – Foi pena que orações subordinadas – Foi pena
ele não chegasse a tempo! que ele não chegou a tempo!
• Recurso à 2.a pessoa do • Recurso à 3.a pessoa do singular
singular e/ou ao pronome pessoal e/ou
tu em contextos informais – Tu ao pronome pessoal você em • Uso do infinitivo pessoal
vais ao cinema? contextos informais – Você vai no em frases completivas – Os
• Uso do infinitivo impessoal em cinema? alunos preferem brincarem nos
frases completivas – Os alunos corredores.
preferem brincar nos corredores. • Seleção do indicativo
• Seleção do conjuntivo com com talvez e embora – Talvez
talvez ele vem.
e embora – Talvez ele venha.

• Complexos verbais com recurso


a infinitivo precedido da preposição a • Complexos verbais com
– recurso ao gerúndio – A mãe está
• Alteração no uso de
A mãe está a fazer o jantar. fazendo o jantar.
preposições que antecedem
• Preposições que antecedem complemento do verbo – Ela foi no
complemento do verbo – Ela foi ao • Alteração no uso de teatro. Ele volta em casa.
teatro. Ele volta para casa. preposições que antecedem
• Utilização transitiva direta de
complemento do verbo – Ela foi
verbos transitivos indiretos – Todos
no teatro.
protestaram a iniciativa.
• Utilização transitiva de
verbos intransitivos – Estava
disposto a evoluir a aldeia.

Há ainda uma grande variação no que diz respeito ao léxico, por influência das
línguas nativas, assim como na fonética, sendo mais acentuada a diferença entre
o Português do Brasil e a variante europeia, do que entre esta e as variantes
africanas.
Geografia do português no mundo

APLICAR

Os três textos seguintes são ilustrativos de três variedades do português: o texto A


con- tém a variedade africana (português de Angola), o texto B a variedade
africana (portu- guês de Moçambique) e o texto C a variedade do português do
Brasil.

TEXTO A
O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho,
depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos
doutros mais-velhos que vinham fazer confusão na nossa rua.
O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma. Ao meio-
5 -dia e quinze, o Jika tocava à campainha.

– O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António.


– Sim, tá.
– Chama só, faz favor.
Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia.
10 – Mô Jika, comé?
– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.
– Diz.
– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
– Deixinda ir perguntar à minha mãe.
15 Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase sempre a

mi- nha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou muita
gente que já estava combinada para o almoço.
Ondjaki, Os da minha rua, Editorial Caminho, 4.a edição, 2007 (pp. 13-14).

TEXTO B
Filha de cantineiros portugueses, Meninita sempre fora moça comedida. Na
pe- numbra da loja, ela atendia os negros como se fossem sombras de
outros, reais viventes. A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se
adoçava em polpa açucrosa. A sede se inventa é para a miragem de águas.
Pois nas redondezas não viviam ou-
5 tros brancos, únicos a quem ela entregaria seus açucares.

A família Pacheco se pioneirara na adez Shiperapera, onde mesmo os


negros originários escasseavam. […]
Dona Esmeralda, a esposa, se angustiava vendo o crescer da filha. […]
Adoentada, a moça deixou de atender ao balcão. Substituiu-a o moço
Massoco,
10 cresceram simpatias na loja. Meninita se internou em seu quarto, emigrada

da vida, exilada dos outros. Massoco, ao fim do dia, se apresentava, em


solene tristeza. Che- gou a pedir:
– Peço licença ir lá ver a patroinha…
Mia Couto, Contos do nascer da terra, “A filha da solidão”, Editorial Caminho, 8.a edição (pp. 49-52).

252
j. “Mas valia-lhe
APLICAR
também a
simpatia de
TEXTO C
quanta mãe de
Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do família o via, […]
negro, seu mais ardente admirador: na sua porta,
– Uma história zorreta, seu Grande – seus olhos brilhavam. […] pedindo um
E volveu os olhos para as páginas do livro. João Grande acendeu um pouco de comida
cigarro ba- e pousada por
5 rato, ofereceu outro em silêncio ao Professor e ficou fumando de cócoras, uma noite.” (texto
como que guardando a leitura do outro. Pelo trapiche ia um rumor de risadas, C, ll. 10-12)
de conversas, de gritos. João Grande distinguia bem a voz do Sem-Pernas,
estrídula e fanhosa. O Sem-
-Pernas falava alto, ria muito. Era o espião do grupo, aquele que sabia se
meter na casa de uma família uma semana, passando por um bom menino
perdido dos pais
10 na imensidão agressiva da cidade. Coxo, o defeito físico valera-lhe o apelido.

Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, humilde e


tristonho, na sua porta, pedindo um pouco de comida e pousada por uma
noite.
Jorge Amado, Capitães da areia, Herdeiros de Jorge Amado e Leya SA, 2009 (p.
32).

1. Retire dos textos expressões que ilustrem as seguintes especificidades


linguísticas.
a. Utilização de pronomes/determinantes da 3.a pessoa para designar o
interlocutor.
b. Alteração ou supressão da preposição que antecede complementos do
verbo.
c. Utilização do pronome pessoal lhe/lhes com função de complemento
direto.
d. Pronome pessoal em posição pré-verbal.
e. Emprego do gerúndio em complexos verbais.
f. Ausência de artigo definido antes de determinante possessivo.

2. Reescreva as seguintes passagens de acordo com as regras do português


europeu.
a. “Nós até às vezes lhe protegíamos doutros” (texto A, l. 2)

b. “– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.” (texto A, l. 11)


c. “– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?” (texto A, l. 13)

d. “A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se adoçava” (texto B, l. 3)


e. “Meninita se internou em seu quarto, emigrada da vida” (texto B, l. 10)
f. “– Peço licença ir lá ver a patroinha…” (texto B, l. 13)

g. “bateu a mão descarnada no ombro do negro, seu mais ardente admirador”


(texto C, ll. 1-2)

h. “seus olhos brilhavam.” (texto C, l. 3)


i. “e ficou fumando de cócoras” (texto C, l. 5)
P R O F E S SO R

Gramática 17.2; 17.4; 17.5

1. a. “seu Grande” (texto C – l. 3)


b. “vinham fazer confusão na nossa rua” (texto A – l. 3); “Peço licença ir lá ver” (texto B – l. 13); “bateu
a mão descarnada no ombro” (texto C – l. 1); “na sua porta” (texto C – l. 12)
c.“até às vezes lhe protegíamos doutros” (texto A – l. 2).
d. “vinha te perguntar” (texto A – l. 11), “queres me convidar” (texto A – l. 13); “A miúda se ia
fazendo ao corpo” (texto B –
l. 3), “o fruto se adoçava” (texto B – l. 3), “A sede se inventa” (texto B – l. 4), “se angustiava” (texto B –
l. 8), “Meninita se internou” (texto B – l. 10); “aquele que sabia se meter
na casa” (texto C – ll. 8-9)
e. “e ficou fumando de cócoras” (texto C – l. 5), “o via, humilde e tristonho, na sua porta, pedindo um
pouco de comida” (texto C – ll. 11-12)
f. “ela entregaria seus açucares” (texto B – l. 5), “internou em seu quarto” (texto B – l. 10); “seu
mais ardente admirador” (texto C – l. 2)
2. a. Nós às vezes até
o protegíamos doutros.
b. Ndalu, vinha perguntar-te uma coisa.
c.Hoje num (não) me queres convidar para almoçar em tua casa?
d. A miúda ia-se fazendo ao corpo – o fruto adoçava-se.
e. Meninita internou-se no seu quarto, emigrada da vida.
f.Peço licença para ir lá ver a patroinha.
g. bateu com a mão descarnada no ombro do negro, o seu mais ardente admirador
h. Os seus olhos brilhavam.
i.e ficou a fumar de cócoras
j. Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe
de família o via […] à sua porta a pedir um pouco de comida
e pousada por uma noite.
PAR A S A B E R "As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"

A História Trágico-Marítima é uma antologia de naufrágios, uma espécie de anti-


-epopeia dos descobrimentos, publicada por Bernardo Gomes de Brito, em 1735-
1736. O capítulo V dessa coletânea é dedicado ao naufrágio por que passou Jorge
de Albuquerque Coelho.

A EPOPEIA DE JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO


Estrutura Assunto
Núcleos narrativos dos relatos Aspetos focados
de naufrágios e
acontecimentos
•Exposição do contexto sociopolítico – colonização do Brasil (rainha
Dona Catarina).
1. Antecedentes: antes da partida •Apresentação do herói (determinação, coragem, liderança eficaz,
para a metrópole e ainda em resistência, solidariedade, bondade, disciplina, honradez e espírito de
Pernambuco sacrifício).
•Lutas travadas com os inimigos (gentios) das terras.
2. Partida: primeira tentativa •Lutas contra as adversidades da Natureza (ventos contrários e
de embarque rumo a Portugal estragos na nau).
•Destruição de partes da nau.

Antes da tempestade •Alagamento da embarcação.


(as atribulações que •Falta de alimentos.
acometeram a nau •Lutas entre os sobreviventes.
“Santo António”) •Tentativa de saque/pilhagem por corsários franceses.
•Traição de uma parte da tripulação.
•Adensamento das condições climatéricas – tormenta (ventos
3. A viagem fortes, relâmpagos impetuosos, vagas enormes).
A tempestade
•Perda/destruição do leme, mastro, vergas, enxárcias, amarras,
âncoras, batel e mantimentos.
•A calmaria/a bonança.
•Saque da nau “Santo António” e abandono por parte dos corsários
Depois da
franceses.
tempestade
•Prosseguimento da viagem à deriva, com os equipamentos
destruídos, ao rumo do vento e do mar.
•Indiferença e desumanidade da tripulação de uma outra caravela que
não os socorre.
4. O regresso
•Salvamento por parte de uma pequena embarcação.
•Chegada a Lisboa.

5. A peregrinação •Romaria a Nossa Senhora da Luz em agradecimento pela salvação.

Dimensão religiosa presente no episódio

Os constantes apelos à ajuda divina/à misericórdia de Nosso Senhor:


Durante a viagem
•Uns, ajoelhados, pediam a Deus que os livrasse do perigo.
•Outros, junto de um padre, escutavam e rezavam.
•As permanentes palavras de fé divina proferidas por Jorge de Albuquerque
Coelho.
Após o retorno
•A ida, em romaria, com alguns companheiros, a Nossa Senhora da Luz.

254
“As terr í vei s avent u ras d e J o r ge d e A lb u q u e r q u e Co e
P A R A V E R I FI C
l ho ( 1565) ”
A R
PROFE S SOR

Após a leitura e a análise do relato de naufrágio “As terríveis aventuras de Jorge


de Albuquerque Coelho”, verifique os seus conhecimentos. Apresentação
Galeria de imagens
1. Identifique as afirmações verdadeiras e as falsas. Corrija as falsas. Síntese da Unidade
a. A História Trágico-Marítima é uma compilação das aventuras de Jorge de Teste interativo
História Trágico-Marítima
Albu- querque Coelho.
(Cap. V)
b. O capítulo V da História Trágico-Marítima assume a vivacidade e o
dramatismo característicos dos relatos de naufrágios. Educação Literária
14.3; 14.4; 14.5; 14.7;
c. O naufrágio narrado no capítulo V situa-se na segunda metade do século 15.1; 15.2; 15.3; 16.1
XIV, aquando da colonização do Brasil.
1. a. F – É uma
d. Jorge de Albuquerque Coelho apresenta-se, logo de início, como um compilação de naufrágios
sofridos por embarcações
indivíduo aventureiro, lutador e zeloso dos seus deveres. portuguesas após a
e. Jorge de Albuquerque Coelho foi responsável pela paz na capitania de viagem marítima de
Vasco da Gama à
Pernam- buco. India.
b. V
f. A nau “Santo António” foi assaltada por corsários franceses, mal se fez ao c.F – Situa-se no século XVI.
mar, atrasando assim a sua partida para Lisboa. d. V
e. V
g. Ainda no início da viagem, quando vieram as calmarias, a tripulação já f.F – Foi acometida por
ventos fortes que
passava fome e sede. provocaram a entrada de
h. Quando corsários franceses tentaram saquear a embarcação de Jorge de água e partiram
o gurupés. A tripulação
Albu- querque Coelho, este rendeu-se de imediato, para poupar as vidas também teve de se
dos homens que o acompanhavam. libertar da carga excessiva
que a nau levava.
i. Quer a nau francesa quer a “Santo António” estavam bem apetrechadas g. V
h. F – Jorge de
para poderem resistir à batalha que travaram. Albuquerque Coelho
resistiu e lutou,
j. O capitão dos franceses elogiou o caráter guerreiro e destemido de acompanhado apenas por
Jorge de Albuquerque Coelho. sete homens, até que a
tripulação, à rebelião, se
k. A tempestade que assolou a nau causou danos materiais elevadíssimos e a rendeu.
perda de vidas humanas. i.F – As duas naus
estavam em situação de
l. Quando o desânimo se apossou do capitão Jorge de Albuquerque desequilíbrio: a nau francesa
apresentava-se bem armada
Coelho, foi a tripulação quem o encorajou. e em boas condições; a
“Santo António” precisava
m. Graças ao ânimo e ao encorajamento de Jorge de Albuquerque Coelho, a de consertos e não tinha
tripu- lação resistiu à tempestade, dando à bomba durante dois dias. artilharia suficiente
para vencer o inimigo.
n. A dimensão religiosa está presente ao longo do relato, com a evocação j. V
k. V
a Deus em momentos difíceis e na descrição de Jorge de Albuquerque l.F – Foi precisamente
Coelho. o contrário que sucedeu:
Jorge de Albuquerque Coelho
o. A tripulação da embarcação que ajudou os sobreviventes da “Santo é quem encoraja a tripulação
António” a chegarem a Belém revelou um acentuado espírito cristão, desesperada e sem mais força,
para continuar a lutar contra
partilhando o que tinha. os elementos da Natureza.
m. F – A tripulação
deu à bomba durante
três dias.
n. V
o. V
PAR A RE C U P E R AR

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Ordene as seguintes afirmações, de forma a reconstituir a cronologia dos


aconte- cimentos relatados no capítulo V da História Trágico-Marítima.
[A] Jorge de Albuquerque Coelho partiu da vila de Olinda, no Brasil, depois de
uma primeira tentativa falhada, a 29 de junho de 1565.
[B] Jorge de Albuquerque Coelho assumiu o comando militar da capitania de
PROFE S SOR
Per- nambuco, tendo conseguido pacificá-la.
Educação Literária [C] O capitão dos franceses elogiou a atitude de Jorge de Albuquerque
1. [B] – [A] – [D] – [F] – [K] Coelho e tratou-o com respeito.
– [C] –
[E] – [I] – [H] – [J] – [G] [D] A 29 de julho os marinheiros avistaram uma nau e uma pequena
embarcação fran- cesas, que os perseguiram, desistindo de os atacar devido
Leitura/Escrita
1. a uma forte trovoada.
a. 1 [E] Já com os franceses a bordo, a nau “Santo António” foi assolada por uma
b. 2 tem- pestade que destruiu grande parte das suas estruturas.
c.3
d. 2 [F] A 3 de setembro foram atacados por uma nau de corsários franceses, bem artilhada.
e. 2 [G] A nau “Santo António” encalhou, tendo sido visitada por muitos curiosos,
f.3 que se espantaram com o seu estado deplorável.
g. 4
h. 1 [H] A 2 de outubro, a tripulação avistou a serra de Sintra.
[I] Passados três dias, a tempestade acalmou e a nau “Santo António”
prosseguiu viagem, apesar do estado deplorável em que se encontrava.
[J] A nau “Santo António” foi acolhida pelos homens que navegavam numa
barca de pequenas dimensões.
[K] Jorge de Albuquerque Coelho tentou resistir ao ataque dos franceses, mas
uma parte da tripulação opôs-se a esta resistência.

LEITUR A/ESCRITA

1. Ao longo deste módulo contactou com vários géneros textuais.


Associe cada um dos géneros, indicados abaixo, às suas características,
apresen- tadas nas afirmações que se seguem.

1.Exposição sobre um tema 2. Apreciação crítica 3. Síntese 4. Relato de viagem

a. Texto que assume um caráter demonstrativo, apresentando uma elucidação


so- bre um tema ou uma ideia.
b. Género textual que se centra na apreciação de um objeto (livro, filme…).
c. Registo que seleciona as ideias essenciais de um texto-fonte.
d. Texto que apresenta um comentário crítico do objeto visado, numa
perspetiva positiva ou negativa.
e. Texto que recorre à argumentação para fundamentar uma perspetiva.
f. Registo que deve evitar a colagem ao texto-fonte.
g. Texto onde existe um discurso pessoal e uma dimensão narrativa e descritiva.
h. Texto objetivo e revelador de conhecimentos sobre o tema ou a ideia apresentada.

256
História Trágico-Marítima
P A R A LIAR
A lm ei da G

a rr et t GRUPO I 9
desanimar.
A V A
Leia atentamente o seguinte excerto do capítulo V da
História Trágico-Marítima, referente à descrição da
tempestade que assolou a nau “Santo António”.
1. Identifiqu
e as
Então, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo sensações
depois rondar ao sudoeste. Pouco tardou que soprasse presentes
em fúria, zunindo1 nas enxárcias2, turbilhonando3 nu- no
vens, rendilhando espumas, açoitando no escuro primeiro
os vagalhões roncantes. parágrafo
Alija!4 Alija! Alija carga! Alija! Alijaram tudo que na e
coberta havia, e debaixo comente
5 da ponte. Como enfunasse ainda mais o tempo,
5
a sua
trataram de alijar os mastaréus6 das gáveas7, e todas expres-
as caixas que cada um trazia. Para que não fosse isto sividade.
pesado a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque
2. Refira as
Coelho a primeira de todas que se lança- ram ao mar,
ações
na qual ele trazia os seus vestidos e outros objetos
empreend
de importância.
idas pela
E, parecendo que não bastava isto, arrojaram para
tripulação
as águas a artilharia, com
da nau
10 muitas caixas que continham açúcar, e numerosos
“Santo
fardos de algodão.
António”
Um mar mais violento desmanchou o leme.
para
Atravessou-se a nau aos escar- céus8, e não foi
enfren-
possível desviá-la para a fazer tornar a correr em tar a
popa. tempesta
Quase todos, então, se sentiram descoroçoar9. Jorge de.
de Albuquerque, vendo-os assim, começou a falar-
lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que 3. Caracteriz
bus- e Jorge
15 cassem meio com que se pudesse enfim governar a de
nau. Ajoelharam os outros, e pediram a Deus que os Albuquerq
livrasse do perigo. ue
Já a este tempo, que seriam nove horas da manhã, Coelho,
o navio dos corsários fran- ceses se não avistava; – e fundamen
tando a
os Franceses que estavam na “Santo António” vendo
sua
a tormenta desencadeada, o leme desmanchado,
resposta
atravessada a nau, o rumor que
com ex-
20 fazia toda a gente, – chegavam-se aos nossos em
pressões
tom amigo e cumpriam tudo que lhes mandavam,
textuais.
como se fossem cativos dos Portugueses, e não os
corsários e roubadores. 4. Justifique
História Trágico-Marítima, “As terríveis aventuras de a alusão a
Jorge de Albuquerque Deus nesta
Coelho”, Sá da Costa Editora, passagem
adaptação de António Sérgio, da obra.
pp. 134-135.
5. Explicite
a atitude
1
produzindo som agudo e sibilante; 2 conjunto de cabos fixos, dos
que seguram o mastro; 3 formando turbilhão; 4 alivia a carga; 5 franceses
tornasse mais bojuda a vela; 6 pequeno mastro suplementar; 7
que
velas do mastro grande; 8 encapelamento e ruído das ondas;
estavam
na uindo para o caráter realista da descrição. (“Jorge de
2. Para enfrentar a tempestade, a tripulação teve de alijar, Albuquerque,
nau, vendo-os
PROFE Sassim,
SOR
lançando ao mar parte da carga, começando por bens menos
descr PROFE necessários, como as caixas com vestuário e outros pertences, passando, começou a
depois, a lançar para a água falar-lhes para
ita SO R Leitura / Ed. Literária
lhes dar ânimo,
a artilharia e caixas com açúcar e algodão. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
no e ordenou a
3. Jorge de Albuquerque Coelho revela-se um bom líder, sendo 21.2; 22.1
últim alguns que
ele o primeiro a desfazer-se dos seus bens, para dar o exemplo, buscassem
o Apre mostrando que era necessário alijar (“Para que não fosse
isto pesado a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque Coelho a 1. 1.º Chegadameio com2.º
ao cais; que
parág sent se pudesse
Barca do Diabo; 3.º Barca do
primeira de todas que se lançaram ao mar, na qual ele trazia os seus enfim governar
ação vestidos e outros objetos de importância.”, (ll. 6-8). Anjo;
rafo Solu 4.º Barca do aDiabo.
nau.”, (ll. 13-
Mostra-se também um homem generoso e solidário com a tripulação
do ções 15)
2. O Fidalgo mos
excer Fich
to. a de
Aval
iaçã
o 257

GR
UP
OI
Educaçã
o
Literári
a
14.4;
14.5

1.
o
pri
mei
ro
par
ágr
afo,
te
mo
s
sen
saç
ão
vis
ual

ndil
han
do
esp
um
as
e
sen
saç
ão
aud
itiv
a

vag
alh
ões
ron
can
tes

que
exp
rim
em
o
am
bie
nte
tem
pes
tuo
so,
con
trib
"As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"
P A R A LIAR
A lm ei da G

a rr et t GRUPO II
A V A
Leia o texto com atenção.

19.3

2.1 Oração subordinada substantiva completiva.


2.2 Complemento agente da passiva.
2.3 “Esse formidável promontório, no fundo de África”.
2.4 Adjetivo qualificativo.
2.5 Campo semântico.

PROFE S SOR

4. Os
marinheiros, num
ato de desespero
e sem meios para
enfrentar a
tempestade,
recorrem a Deus
para os ajudar,
ajoelhando e
orando, pois Ele
era o único que os
podia auxiliar em
situação tão
extrema.
5. Os franceses
que estavam na
nau
encontravam-se
com medo, tal
como os
portugueses,
esquecendo-se da
sua posição de
atacantes, para
pensar apenas na
sua sobrevivência.
Por isso,
acatavam as
ordens dos
portugueses,
mostrando-se
amigos e
solidários e
colaborando para
que a nau
resistisse à
intempérie.

GRUPO II
Leitura
7.1; 7.4; 7.6;
8.1

1.1 [C]
1.2 [B]
1.3 [C]
1.4 [A]
1.5 [B]

Gramá
tica
18.1;
18.4;
A m a longo de ge- rações.
perg u c Visitamos outros países e ficamos a saber que os
unta i e nossos dogmas e mitos valem tanto como os deles.
era t i […]
se o t 10 Esse formidável promontório, no fundo de África, é

eu a um ponto de referência im- pressionante quer para os


não t r que o alcançam por terra quer para os que o contornam
senti e por mar. Aliás, recordo a minha desilusão quando o
a m o visitei pela primeira vez, por encontrar um dia de mar
orgul p s calmo e translúcido, de céu cristalino e brisa suave, que
ho o nada fazia supor ser ali o lugar do mito do Adamastor.
quan d Mas em visitas seguintes,
do t o 15 as coisas cósmicas alinharam-se de maneira a poder

cheg e g assistir a tempestades bru- tais de mar e vento sobre


ava m m o cabo que por nós foi pela primeira vez dobrado.
ao a A pergunta era se eu sentia orgulho. De ser português
cabo e s no cabo da Boa Esperança. Não. Passaram muitos
da s séculos. O que eu não consigo deixar de sentir é uma
Boa t e perplexidade incomodada. Onde foram parar esses
Espe a homens que estavam na van-
- o 20 guarda do seu tempo? Onde foram parar o arrojo e a

ranç c s antevidência da raça que soube dar novos mundos ao


a. o mundo? O meu incómodo é ainda maior, se viro as
Orgu n m costas ao cabo e regresso à cidade, talvez a mais
lho s i cenográfica e apetecível de todas as cidades fora da
de e t Europa, e penso que podia ser uma cidade de
ser q o ascendência por- tuguesa, mas que simplesmente
port u s deixámos que os holandeses ficassem com ela.
uguê ê 25 A Cidade do Cabo, Cape Town, a “Taverna dos Mares”.

s. n p Na realidade, para contornar África, não basta


H c r dobrar o cape of Good Hope, há outro mais a sul e que
esite i o marca, esse sim, o final do continente: o cabo Agulhas.
i. a p […]
Vou : a
Gonçalo Cadilhe, “Qualquer coisa nos lugares”,
ser g in Visão, edição online, 19 de junho de 2013 (consultado em fevereiro de 2017).
franc a a
o ou d d
q o 1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das
não? afirmações.
Dou u s
i 1.1 O texto de Gonçalo Cadilhe é
uma
resp - n [A] uma exposição sobre a expansão portuguesa.
osta 5 re-se um a
[B] uma apreciação crítica sobre a Cidade do Cabo.
de certo
relativismo p [C] um relato de viagem.
circu
. á [D] uma síntese de um texto de outro autor.
nstâ
F t
ncia 1.2 Viajar durante muito tempo tem, segundo o autor, consequências
i r
e como
c i
vaga [A] o esquecimento de locais que deveriam ficar na memória.
a a
, ou
[B] a relativização da importância de certos locais.
entr
d a [C] a perceção de que afinal valeu a pena fazer aquela
o na
i o viagem.
ques
f
tão [D] a valorização da terra ou país que deixámos para trás.
í
fund
c
o?
i
Viaja
l
r por 258
1.3 Considerando o conteúdo das linhas 12 a 16, o viajante ter-se-á deparado PROFE
PROF SE SOR
S SOR
com
III / Ed. Literária[C]
Leitura
GRUPO
[A] o gigante Adamastor no local visitado. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
Escrita
21.2; 22.1
[B] o promontório como um local de visita obrigatório.
1. 1.º Chegada ao cais; 2.º
[
Barca do Diabo; 3.º Barca do
Anjo;
4.º Barca do Diabo.
2. O Fidalgo mos

[D] [

1
1.4

2
que a função sintática do constituinte 10.2; 11.1; e nto,
11.2; 12.1; m meio
sublinhado em “por nós foi pela pri- meira 12.2; b destas
vez dobrado” (l. 16). 12.4; 13.1 a adversi
r dades,
2.3 Identifique o referente do pronome “o” em c o
A História a altruís
“quando o visitei” (l. 12). Trágico- ç mo
2.4 Classifique o termo “translúcido” Marítima, ã de Jorge
(l. 13)
no o de
quanto à classe de palavras. capítulo Albuque
V, rque,
2.5 Identifique a relação que se estabelece entre e
retrata que
m
os vários sentidos da palavra terra as tenta
nas seguintes frases: aventura encoraj
se e ar os
desventu s
a. O marinheiro gritou “Terra à vista!” t
marinh
ras eiros.
da nau a
b. O lavrador trabalha a terra. d
Esta
“Santo obra
c. Ele é muito terra a terra. António”, o dá-nos
capitanea uma
da por d visão
Jorge de e trágica
G Albuquerq p das
R ue Coelho, l aventur
que o as
U embarca r vividas
P no Brasil, á pela
O rumo a v tripulaç
Portugal, e ão
carregada l naus
I de gente e . que,
I de durante
mercadori vários
I a.
D
séculos,
e
Ao longo da fizeram
s
Redija um texto expositivo, de 120 a 150 viagem,
t a
a carreira
palavras, sobre as aventuras e desventuras da tripulação
a
c da
expansão portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII, enfrenta e
a
partindo da leitura do capítulo V da História várias Brasil,
-
adversida para
Trágico-Marítima. s
des. Luta trazer
e
O texto deve apresentar uma estrutura tripartida, contra para
,
uma forte metrópo
de acordo com as orientações que se seguem. tempestad le
e, que n riquezas
• Introdução: Integração da História quase o das
Trágico-Marítima (capítulo V) na destrói a colónia
fase expansio- nista portuguesa. nau, e e s.
contra o n (148
• Desenvolvimento: As ataque t palavra
dos a s)
aventuras e desventuras corsários
marítimas vividas pela franceses,
bem
tripulação da nau “Santo armadilhad
António”. os,
contrastan
• Conclusão: Síntese das principais do com a 259
ideias. fraca
artilharia
da nau
portuguesa
. Estas
duas
situações
deixam a
tripulação
da “Santo
António”
em grande
penúria,
pois perde
grande
parte
da carga e tem de
navegar
numa
Bloco informativo BL OC O I N F O R M ATIVO
I – GRAMÁTICA (SISTEMATIZAÇÃO)

Os conteúdos gramaticais aqui sistematizados têm como referência o Dicionário


Terminológico (http://dt.dge.mec.pt/) e seguem a hierarquia e a nomenclatura
apresentadas nas Metas Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário (para o 10.o
ano de escolaridade). Alguns deles foram já apresentados, sistematizados e
exercitados ao longo das unidades que fazem parte deste Manual, por isso
serão aqui apenas referenciados.

CLASSES DE PALAVRAS

Classes Subclasses Características

Nome próprio1: Os nomes têm por 1


Lisboa foi o
designa referentes entidades com local de onde
uma entidade existência real ou partiu a
individualizada, imaginária. armada de
única. Apresentam características Vasco da Gama.
Nome semânticas (dado 2
As sereias
Nome comum2:
não designa designarem entidades), confraternizaram
necessariamente morfológicas (porque com os
um referente variam em número, e marinheiros.
único. alguns em género e grau) 3
A fauna e a
e ainda sintáticas (uma
Nome comum flora das
vez que são o núcleo do
coletivo3: regiões
grupo nominal, podendo
designa, no descobertas
ser antecedidos de
singular, um maravilhara
determinantes ou de
conjunto de seres m os
quantificadores).
ou entidades do navegadores
mesmo tipo. .

Exprimem ordem ou • O
sucessão. Ocupam, primeiro livro
Numeral geralmente, uma de Gil Vicente
posição pré-nominal, foi um
podendo ser sucesso.
antecedidos por • O décimo canto de Os
determinantes. Lusíadas
Correspondem à é o mais longo.
classe tradicional
dos numerais
ordinais.

A
d Exprimem uma • A bandeira branca
j qualidade ou simboliza a paz.
e propriedade do nome. • Vasco da Gama foi um
ti Qualifi Ocupam, geralmente, sublime
v cativo uma posição pós- navegador.
o nominal, embora
• Paulo da Gama era um
alguns ocorram quer à homem
esquerda quer à grande.
direita, originando,
todavia, valores
semânticos diferentes.
Variam em número e
alguns em grau; quando
biformes, variam em
género.
do
Adv 1
h edicaram-se águas muito
gra Al
érbi e bastante à devagar.
u gu
os n poesia.
dos ns
que t 2
Pero Marques
Q
Advérb adj es
con i ficou muito
u eti • Não
trib cri s triste com a
a
Valores vos gosto das
ue to t decisão de
n
semânt e cantigas
m re a Inês.
t adv de
i co s s
érb qu
3
Algumas escárnio e
d m
ios. in embarcações maldizer.
a info d cruzavam as
d rma
e ção Adv
sob érb Advérbios que se 1
Fizeram o
e re io utilizam em resposta trabalho de
qua que Afirmação a interrogativas pares
g nti con globais1 ou como proposto?
r dad trib modificador de um Sim.
a e ui constituinte2, 2
Eles fizeram o
u ou par contribuindo para trabalho de
gra a asserir ou reforçar grupo, sim, e
u. rev o valor afirmativo ainda o
Pod ert de um enunciado. apresentaram
em er na aula.
oco o
rrer val
N or
inte
e de
rna
g ver
me 260
a da
ç nte
ao de
ã
pre de
o
dic um
ado a
1 fra
ou se
co afir
mo ma
mo tiv
difi a
ou
cad
par
or
a
de
neg
gru ar
pos um
adj con
etiv stit
ais uin
ou te.
adv
erbi
ais
.
Alg
uns
des
tes
adv
érbi
os
são
utili
zad
os
par
a
for
maç
ão
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

Advérbios que modificam, incluindo • Todos os alunos


Inclusão o constituinte num conjunto. participaram,
até o Pedro, que não costuma.

Advérbios que permitem realçar o • Fernão Lopes


constituinte que modificam, excluindo- escreveu só uma crónica
Exclusão o de um conjunto. Podem modificar sobre D. João I.
cada um dos grupos constituintes de • Apenas o Miguel leu os
uma frase. textos todos.

Advérbios que evidenciam uma ideia • Provavelmente,


Dúvida de incerteza, indecisão ou hesitação. Camões terá escrito muito
mais rimas.
Advérbios que remetem para a • Eis o poema de que te
Advérbio Designação indicação de algo ou alguém. falei!
Valores semânticos
(continuação) Advérbios que, habitualmente, podem 1
Os marinheiros comiam mal
ser modificadores de predicado1, da porque não havia comida.
frase2 ou, ocasionalmente, predicativos 2
Infelizmente, não havia fruta.
Modo do sujeito3. 3
Depois de Inês Pereira ter
recusado a proposta de
casamento de Pero Marques,
este ficou mal.
Advérbios que geralmente são • Outrora, as navegações
Tempo modificadores. pareciam eternas.

Advérbios que podem ser 1


Vasco da Gama parou ali.
Lugar complementos oblíquos1, predicativos 2
O povo ficou ali.
do sujeito2 3
Os marinheiros descansaram ali.
ou modificadores3.
Advérbios que identificam o • Quando procurou ela o
constituinte interrogado numa Escudeiro?
Interrogativo construção interrogativa, sendo • Como pensava Inês
substituíveis por grupos adverbiais resolver isso?
ou preposicionais.
• Porquê voltar a acreditar
nela?

Advérbios que estabelecem nexos 1


O Escudeiro entrou em casa.
entre frases1 ou constituintes da Depois, procurou Inês.
frase2, nomeadamente relações 2
Gostei da poesia
de consequência3, de contraste4 trovadoresca,
ou de ordenação5. concretamente das cantigas
Distinguem-se de conjunções com de amor.
valor idêntico por poderem, por 3
Inês era demasiado sonhadora,
exemplo, ocorrer entre o sujeito e
assim, acabou por perder
Conectivo o predicado6 (no caso das orações
oportunidades.
Advérbio subordinadas relativas1).
4
O Pedro não estudou a lírica
Funções
camoniana; o Rui, porém, fez
um trabalho espetacular.
5
Primeiramente, estudámos as
cantigas de amigo, depois as
de amor.
6
Pero Marques foi rejeitado por Inês
e o bom homem, todavia, não
desistiu.
Advérbio que introduz uma oração 1
A casa onde morava o
subordinada relativa, permitindo identificar Ermitão ficava distante da
uma relação com o nome antecedente aldeia.
Relativo (no caso das orações subordinadas 2
Ela sabia onde ela morava.
relativas1). Introduz também orações
relativas sem antecedente (orações
subordinadas substantivas relativas2).
261
Bloco informativo

Classes Valores Exemplos

• locati • à esquerda, de fora, de


vo longe, em cima, ...
Locução adverbial • à noitinha, desde cedo, por agora, …
• tempor
São constituídas por duas ou mais palavras e • de bom grado, por acaso, à pressa, …
al
têm comportamento e classificação iguais • de modo algum, de
• modo
aos maneira nenhuma, …
de um advérbio, apresentando os mesmos • negaç
valores ão
semânticos.
• quantidade • no mínimo, de mais, tão pouco, …
e grau
• de facto, na verdade, sem dúvida, …
• afirmação

Classes
Subclasses Características Exemplificação

Antepõem-se ao nome1−2, 1
O marinheiro de verde está doente.
contribuindo para a sua leitura 2
Um poeta que se preze alia a
Artigo
genérica ou indefinida. arte e as letras.
• Definido: O artigo indefinido nunca
o, a, os, as antecede um nome próprio nem
• Indefinido: coocorre com os quantificadores
um, uma, uns, todos e ambos.
umas Os artigos definidos e indefinidos
surgem, muitas vezes, contraídos com
as preposições a, de, em e por: ao
(a+o), à (a+a), da (de+a), num
(em+um),
pela (por+a).

Variam em género e número. Têm 1


Este trovador sabe trovar.
valor deítico ou anafórico, 2
Este seu poema está bem bonito.
contribuindo para a construção da
referência do nome que precede
3
Todo este estudo não foi em vão.
Demonstrativo
tendo em conta a sua relação de
este(s), esta(s), esse(s),
proximidade ou distância.
essa(s), aquele(s), aquela(s)
Não podem coocorrer com o
artigo1, e, em caso de
coocorrência com o
Determinante determinante possessivo, este precede-
os obrigatoriamente2. Podem ser
precedidos de certos 1
O meu poema ficou bem.
quantificadores3. 2
Este meu irmão tira-me do sério!
Possessivo Variam em pessoa, género e
3
Meus meninos, venham cá.
meu(s), minha(s), número e em contextos 4
O poeta saiu com a musa,
teu(s), tua(s), seu(s), definidos. sua amada, para lhe confessar
sua(s), São obrigatoriamente precedidos o seu amor.
nosso(s), nossa(s), por um artigo definido1 ou por
vosso(s), vossa(s)
5
Todos os seus
um determinante demonstrativo2,
marinheiros marearam
exceto quando têm a função
arduamente.
de vocativos3 ou de modificadores
apositivos4. Podem ser precedidos 6
Um marinheiro seu não faria isso.
de certos quantificadores5. Em
contextos indefinidos, ocorrem em
posição pós-
-nominal6.

certo(s), certa(s),
Variam em género e número e
outro(s), outra(s)
são utilizados em contextos em
Indefinido que se assume que o referente
do nome que precedem não artigos indefinidos por poderem 1
Certos navegadores assumiram
corresponde a coocorrer com estes2.
comportamentos incorretos.
informação específica ou
identificada1. Distinguem-se dos
2
[Uns] certos marinheiros fizeram
disparates.

262
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

Varia em género e número • Os textos cujos autores


Relativo e estabelece a ligação entre o foram selecionados são
cujo(s), nome seu antecedente e a oração muito bons.
cuja(s) relativa que introduz.
Determinante
(continuação)
Precedem um nome em
construções interrogativas, • Que ilhas viram?
Interrogativo permitindo a identificação do
que, qual, constituinte interrogado. • Qual caminho devemos seguir?
quais

Pessoal
Variam em pessoa e número, e 1
Inês viu-se no espelho.
• Formas tónicas: eu, alguns variam em género. 2
O trovador e a sua
tu, você, ele/ela, nós, vós, As formas átonas ocorrem adjacentes “senhor” encontraram-se
vocês, eles/elas, mim, ti, ao verbo (à esquerda do verbo − em na ermida.
si próclise −, à direita − em ênclise −,
ou ainda no interior das formas de
3
Dorme-se mal no convés da nau.
• Formas átonas:
me, te, o, a, lhe, nos, futuro do indicativo e condicional − 4
Dizem-se coisas estranhas sobre
vos, os, as, lhes, se em mesóclise); as restantes Camões.
são formas tónicas.
1- São formas de contração
5
O Escudeiro porta-se mal.
do pronome pessoal As formas da variante átona do
tónico com a preposição pronome pessoal se podem assumir
com as seguintes: comigo, diferentes valores: reflexividade1 e
contigo, connosco, reciprocidade2; podem ser usados
convosco, consigo como marcadores
de indefinição do sujeito (valor
2 - São formas de contração impessoal – ocorrendo exclusivamente
de dois pronomes na terceira pessoa3), estratégia de
pessoais passivização (valor passivo – só na
as formas mo(s)/ma(s) terceira pessoa4) ou podem constituir
(contração de me e parte integrante do verbo (valor
o(s)/a(s)), to(s)/ta(s) inerente5).
(contração de te
e o(s)/a(s)), lho(s)/lha(s)
(contração de lhe
e o(s)/a(s))

Pronome
Demonstrativo Variam em género e número e 1
Este pajem é um
• Formas tónicas variáveis :1 têm um valor deítico ou ignorante e aquele
este(s), esta(s), anafórico. também.
esse(s), essa(s), Estabelecem a sua referência 2
Isto incomoda-me.
aquele(s), aquela(s) tendo em conta a relação de
proximidade ou de distância em
3
Ele comprou um livro e
• Formas tónicas relação a um participante do leu-o rapidamente.
invariáveis2: discurso 4
Ele disse que viu um gigante.
isto, isso, aquilo ou a um antecedente textual. / Ele disse-o.
• Formas átonas3: o(s),
a(s)
• Forma átona invariável4:
o (usada na substituição
de constituintes
oracionais)

Possessivo del Vários


• Um e(s possuidores:
possuidor: ), nosso(s),
meu(s), del nossa(s)
minha(s), a(s vosso(s),
teu(s), tua(s) ) vossa(s)
seu(s), sua(s) •
Variam em pessoa, género e número e têm um ou a um antecedente tomado
• Os poemas de Camões
valor deítico ou anafórico, referindo-se, como possuidor,
são fantásticos! E os
tipicamente, respetivamente.
vossos?
a um participante do discurso São geralmente precedidos de
artigo definido.

263
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

Indefinido Alguns admitem variação em 1


Alguém surgiu do mar.
• Formas invariáveis : 1 género e número, quando 1
Eles comeram tudo.
alguém, ninguém, tudo, correspondentes
ao uso pronominal de um
1
Ninguém lhe revelou o segredo.
nada, algo, outrem
quantificador ou de um 2
Todos foram ao banquete.
• Formas variáveis2: determinante indefinido.
algum(a), alguns, algumas,
2
Vós levastes muitos mantimentos,
Referem uma terceira pessoa ou
nenhum(a), nenhuns, mas eu só trouxe alguns.
uma quantidade indeterminadas.
Pronome nenhumas, outro(a)(s),
(continuação) muito(a)(s), pouco(a)(s),
todo(a)(s), vário(a)(s),
tanto(a)(s)

Relativo Ocorrem no início das orações 1


Trouxe-vos os frutos aos quais
• Variáveis : o qual, os
1 relativas. Podem remeter para um me referi ontem.
quais, a qual, as quais constituinte anterior, quando possuem 2
Indico-vos a rota que
• Invariáveis2: (o) que, antecedente. deveis seguir.
quem
1
Li duas cantigas de amigo de
Expressam uma quantidade numérica D. Dinis.
inteira precisa (numeral cardinal1), 2
Leste o dobro das
um múltiplo de uma quantidade minhas cantigas.
Quantificador (numeral multiplicativo2), ou uma
Numeral fração precisa de uma quantidade
3
Ele leu metade das tuas cantigas.
(numeral fracionário3). Os
quantificadores numerais fracionários e
multiplicativos são, muitas vezes,
locuções (metade de, dobro de,
etc.).

Conjunções
Ligam elementos com igual valor 1
A donzela não se encontrou
coordenativas
sintático, sejam palavras6 ou com o amigo nem viu a mãe.
• copulativas1: e, nem grupos de palavras numa só 2
As donzelas foram à romaria,
• adversativas2: mas oração, sejam orações diferentes mas não viram os amigos.
mas equivalentes sintaticamente e 3
A mãe tinha o papel de
• disjuntivas3: ou independentes umas das outras. confidente ou assumia-se como
• conclusivas4: logo conselheira.
4
A jovem chegou atrasada, logo
• explicativas5: pois, que
não viu o amigo.
5
Penso que a jovem ficou triste, pois
ela estava a chorar.
6
A donzela e a mãe foram à romaria.

que
Conjunções Introduzem orações subordinadas
(antecedido de tão, tanto…)
Conjunção subordinativas que desempenham uma função sintática
• finais7: para…
− Substantivas relativamente à subordinante.
• temporais8:
completivas1: que, se, apenas, enquanto, quando,
para mal…
− Adverbiais
• causais2:
porque, como…
• comparativa
s3: como,
conforme…
• concessivas4:
embora,
malgrado…
• condicionais5:
se, caso…
• consecutivas6:
1
A jovem perguntou à Como amigas. 6
Procurou-o com tanto fervor
mãe estava 3
Ela fez tudo como lhe explicaram. que acabou por o avistar.
se podia sair com as triste, 7
Inês arranjou-se para receber
amigas.
4
O Escudeiro era fanfarrão,
procurou o Escudeiro.
embora não tivesse tostão.
2 as
5
Ficaria feliz caso visse o amigo.
8
Mal chegou, sentou-se.

264
Bloco informativo

Locuções conjuncionais

São constituídas por duas ou mais palavras cujo valor semântico se associa ao das conjunções
coordenativas ou subordinativas.

• copulativas: não só… mas/como também; nem… nem; tanto… como


Coordenativas
• disjuntivas: ou… ou; já… já; ora… ora

• causais: visto que; dado que; uma vez que; atendendo a que; dado que
• comparativas: bem como; assim como; tal… qual; tão/tanto… como; mais… (do) que
• concessivas: se bem que; ainda que; nem que; não obstante
Subordinativas • condicionais: salvo se; desde que; sem que; exceto se; contanto que; a não ser que
• consecutivas: de modo que; de maneira que; de forma que
• finais: para que; a fim de/que; com a finalidade de
• temporais: antes de/que; logo que; agora que; cada vez que; até que; assim que; …

Palavra invariável que exige sempre ser complementada 1


O trovador foi para onde a dama
por: uma oração1, um grupo nominal2, um grupo iria. 2
Contra a força não há
adverbial3.
resistência. 3
O falso piloto
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para,
perante, por, segundo, sem, sob, sobre, trás espreitou por
Preposição detrás do capitão.
As preposições a, de, por e em podem ocorrer contraídas
com artigos (definidos e indefinidos), determinantes e • Pero Marques falou à alcoviteira.
pronomes demonstrativos, advérbios, … • O capitão ordenou
aos nativos que saíssem
dali.
• Camões interessou-se pelas artes.
• O Catual viu Paulo da Gama na nau.
Locuções prepositivas
São formadas tipicamente por um advérbio ou um nome seguido de uma preposição ou por um
advérbio no meio de duas preposições.
Exs.: apesar de; junto a; além de; em redor de; perto de; defronte a/de; por causa de; em vez de; antes de; para
com; …

Interjeição

Não estabelece relações sintáticas com outras palavras e tem uma função exclusivamente emotiva.
O valor de cada interjeição depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou
enunciador.
Interjeições Locuções interjetivas Valores semânticos
oh!; ah!; eia! que bom! muito bem! Alegria
eia!; vamos!; coragem!; upa! vamos lá! toca a andar! Incitamento/encorajamento
bravo!; viva!; boa!; apoiado!; fixe!; bis!; muito bem! é assim mesmo! Aplauso
eia!
ai!; ui!; Jesus!; credo! valha-nos Deus! ai Jesus! ai que aflição! Aflição, dor, tristeza, terror
atenção!; cuidado!; oh! Advertência ou repreensão
ó!; pst!; olá!; eh!; socorro! ó da guarda! ó senhor! Chamamento, invocação
oh!; oxalá!; tomara! quem me dera! Deus queira! se Deus quiser! Desejo
hum! Dúvida
ah!; oh!; hi!; ena!; caramba!; diabo!; credo!;
essa é boa! não é possível! não acredito! essa Espanto ou surpresa
chi!; puxa!; bolas!
agora!
265
Bloco informativo

Interjeições (cont.)
Locuções interjetivas (cont.) Valores semânticos (cont.)

bolas!; irra!; fogo!; arre!; mau! Impaciência, irritação


ora bolas!; raios partam; mau,
ou aborrecimento
irra!; homessa!; apre!; ora!
mau! ora essa!; nem pensar! Indignação
chega!; basta!; alto!
Interrupção ou suspensão
silêncio!; caluda!; fora!; rua!; alto!;
fora daqui!; toca a andar!; em Ordem
chega! paciência!; pronto!
frente! que remédio!; é a vida!; Resignação
olá!; adeus!
deixa lá! Saudação
psiu!; silêncio!; caluda!
ora viva!; boa noite!; bem haja!; bons olhos o Silêncio
vejam!; toca a calar!

Classe − VERBO

Subclasses Características Exemplificação

Intransitivo Dividem-se em várias 1


Pero Marques desmaiou.
• Não seleciona complementos1. subclasses, de acordo com as 2
Camões escreveu Os Lusíadas.
Transitivo direto suas restrições de seleção. Camões escreveu-os.
• Seleciona um sujeito e um 3
Camões respondeu à jovem.
complemento com a função Camões respondeu-lhe.
sintática de complemento direto2.
4
Vasco da Gama foi até à Índia.
Transitivo indireto
• Seleciona um sujeito e um
5
Camões dedicou o
complemento indireto3 ou poema a D. Sebastião.
oblíquo4. Camões dedicou-lhe o poema.
Verbo Transitivo direto e indireto
6
Inês levou o marido até à
principal • Seleciona um sujeito e dois ermida. Inês levou-o até à
complementos: um complemento ermida.
direto e outro complemento 7
Tétis considerava
indireto5 ou oblíquo6, não sendo os Portugueses dignos de
este último pronominalizável. uma epopeia.
Transitivo-predicativo
• Seleciona um complemento
direto e um predicativo do
complemento direto7. São
exemplos deste tipo de
verbo: achar, considerar, julgar,
nomear, eleger, declarar, chamar,
supor, ter (por), tratar (por).

• Seleciona um predicativo do Ocorre numa frase em que existe • Este poema é fácil.
Verbo sujeito. São exemplos deste tipo um constituinte com a função
copulativo de verbo: ser, estar, ficar, sintática de sujeito e outro com a
continuar, parecer, permanecer, função sintática de predicativo do
tornar-se, revelar-se. sujeito.

• São exemplos deste tipo de Coocorre com um verbo principal, 1


Os navegadores tinham avistado
verbo: posicionando-se antes dele. A a ilha.
ser, ter, haver, estar, dever, estrutura da frase (nomeadamente 2
A ilha foi avistada
poder. a seleção pelos navegadores.
de sujeito e de complementos) é
Verbo 3
Os alunos podiam fazer
feita pelo verbo principal e não pelo
auxiliar um esforço maior.
auxiliar. O verbo auxiliar é usado na
formação de tempos compostos1 4
O poeta está a pedir
(ter/haver), em construções passivas2 inspiração às Musas.
(ser), podendo, ainda, contribuir
para veicular valores modais3 (dever,
poder) ou aspetuais4 (estar).
266
Bloco informativo

Verbo
Palavra que exprime processos ou estados e os situa no tempo. Apresenta diferentes formas, que
variam quer em função de valores de pessoa e número quer atendendo a valores de modo e
tempo. Estas for- mas podem ser simples ou compostas, como pode ver na tabela seguinte.

Modo Tempo Exemplificação


Presente vou, vais, vai, vamos, ides, vão
Pretérito imperfeito ia, ias, ia, íamos, íeis, iam

Pretérito simples fui, foste, foi, fomos, fostes, foram


perfeito composto tenho ido, tens ido, tem ido, temos ido, tendes ido,
têm ido
Indicativo
Pretérito simples fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram
mais-que- tinha ido, tinhas ido, tinha ido, tínhamos ido, tínheis ido,
-perfeito composto
tinham ido
simples irei, irás, irá, iremos, ireis, irão
Futuro terei ido, terás ido, terá ido, teremos ido, tereis
composto
ido, terão ido
Formas
Presente vá, vás, vá, vamos, vades, vão
finitas
Pretérito imperfeito fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem
tenha ido, tenhas ido, tenha ido, tenhamos
Pretérito perfeito composto
ido, tenhais ido, tenham ido
Conjuntivo Pretérito tivesse ido, tivesses ido, tivesse ido, tivéssemos ido,
mais-que-perfeito composto tivésseis ido, tivessem ido
simples for, fores, for, formos, fordes, forem
Futuro tiver ido, tiveres ido, tiver ido, tivermos ido, tiverdes ido,
composto
tiverem ido
simples iria, irias, iria, iríamos, iríeis, iriam
Condicional teria ido, terias ido, teria ido, teríamos ido, teríeis ido,
composto
teriam ido
Imperativo Presente vai, ide
simples ir, ires, ir, irmos, irdes, irem
Pessoal
composto ter ido, teres ido, ter ido, termos ido, terdes ido,
Infinitivo terem ido
simples ir
Formas Impessoal
composto ter ido
não
finitas simples indo
Gerúndio
composto tendo ido
Particípio ido

267
Bloco informativo

Verbos regulares / irregulares


Quanto à flexão, os verbos podem ser regulares ou irregulares. Os primeiros mantêm a forma do
radical e os sufixos típicos de flexão em toda a conjugação; os segundos apresentam variação da
forma do radi- cal e/ou dos sufixos de flexão.

Exs.:
Verbo regular: falo / falava / falei / falara / falarei / fale / falasse /
falaria… Verbo irregular: faço / fazia / fiz / fizera / farei / faça /
fizesse / faria…

Existem, em português, vários outros verbos que apresentam alterações no radical, sendo, assim,
irregu- lares. Alguns exemplos são: aprazer / caber / crer / dar / dizer / estar / fazer / ir / ler /
haver / poder / pôr / querer / rir / ser / saber / ter / trazer / ver / vir.

Conjugações verbais
Existem três conjugações em português, que se identificam pela vogal temática:

• tema em -a (1.a conjugação: falar)

• tema em -e (2.a conjugação: receber)

• tema em -i (3.a conjugação: fingir)

Verbos defetivos (impessoais e unipessoais)


Um verbo defetivo é aquele que não apresenta todas as formais flexionadas possíveis.

Verbos como abolir, adequar, aturdir, banir, bramir, colorir, demolir, doer, demolir, esculpir, exaurir,
explodir, extorquir, falir, fulgir, florescer, precaver, puir, reaver, remir, retorquir, ruir não apresentam todas
as formas número-pessoais e modo-temporais.

Os verbos defetivos podem ser:

• Impessoais
Os que apresentam apenas formas no infinitivo e na 3.a pessoa do singular, ocorrendo,
normalmente, em frases sem sujeito, como é o caso daqueles que exprimem fenómenos da
Natureza (chover, trovejar, ventar). O verbo haver é, também, impessoal, quando significa
existir.

• Unipessoais
Os que apresentam apenas formas no infinitivo e na 3.a pessoa do singular e do plural, como é o
caso dos que indicam vozes de animais, como cacarejar, chilrear, ladrar, ganir, mugir, miar,
uivar, zumbir, …

268
Ex.:
Ningué
m
PRONOME PESSOAL EM ADJACÊNCIA VERBAL − REGRAS DE UTILIZAÇÃO perceb
eu a
estânci
As formas átonas (tais como o, a, os, as, nos, vos, lhe, lhes) ocorrem em adjacência verbal, ou a 106.
seja, junto ao verbo, desempenhando a função de complemento direto ou de complemento
indireto. Ningué
ma
perceb
Colocação do pronome pessoal átono eu.

1. Tradicionalmente, o pronome surge em posição pós-verbal − ênclise.


Ex.: O falso piloto enganou o capitão português. O falso piloto enganou-o.

• Nesta posição, os pronomes o, a, os, as podem sofrer alterações, se a forma verbal


terminar em -r,
-s ou -z. Neste caso, estas consoantes desaparecem e os pronomes tomam as formas
-lo(s), -la(s).
Ex.: O marinheiro fez o trabalho todo. O marinheiro fê-lo todo.

• Se a forma verbal terminar em -ns, passa a -m, quando seguida de pronome átono
o, a, os, as, e os pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
Ex.: Tu tens o meu livro. Tu tem-lo.

• Quando a forma verbal termina em ditongo nasal (-am, -õe, -ão), os mesmos
pronomes assumem as formas -no(s), -na(s).
Exs.: Os marinheiros comiam peixe cru. Os marinheiros comiam-no.
Veloso põe a arma ao ombro. Veloso põe-na ao ombro.

2. Quando ocorrem com formas verbais do futuro do indicativo e do condicional, os pronomes


átonos são colocados no interior dessa forma verbal − mesóclise.
Exs.: Camões dedicará o seu poema a D. Sebastião. Camões dedicá-lo-á a D.
Sebastião. Ele dedicaria os seus versos a outros mecenas. Ele dedicá-los-ia a
outros mecenas.

3. O pronome átono desloca-se para antes do verbo – próclise – em construções frásicas


como as seguintes:

a. Frases de polaridade negativa.


Exs.: Ele nunca revelou o segredo. Ele nunca o revelou.
Paulo da Gama não içou a bandeira. Paulo da Gama não a içou.

b. Frases com conjunções coordenativas com um elemento de polaridade negativa (não


só… mas também; nem… nem; etc.) e conjunções coordenativas disjuntivas (ou… ou;
etc.).
Exs.: Camões não só elogiou o monarca como também lhe ofereceu o poema.
Camões não só o elogiou como também lhe ofereceu o poema.
Ou alguém ajuda o poeta ou ele se perde. Ou alguém o ajuda ou ele se perde.

c. Frases com quantificadores como todo(s), toda(s), tudo, qualquer, quaisquer, ambos,
bastante, muito(s), muita(s), pouco(s), pouca(s).
Ex.: Todos os portugueses aclamaram o poeta. Todos os portugueses o aclamaram.

d. Frases com pronomes indefinidos como alguém, ninguém.


Bloco informativo

269
Bloco informativo

e. Frases em que o verbo é antecedido de advérbios como mal, sempre, ainda, já, apenas, só,
talvez, aqui, …
Ex.: Ainda li este poema ontem. Ainda o li ontem.

f. Orações introduzidas por uma conjunção subordinativa.


Exs.: Os alunos dizem que leram um artigo de apreciação crítica Os alunos dizem
que o leram. Diz-me quando vais comprar o livro recomendado. Diz-me quando o
vais comprar. A professora disse para lermos o livro. A professora disse para
o lermos.

g. Orações relativas.
Exs.: O trovador que elogiou a sua “senhor” foi criticado. O trovador que a elogiou foi criticado.
Quem defendeu o trovador foi a sua “senhor”. Quem o defendeu foi a sua ‘senhor’.

h. Frases ou orações iniciadas por um pronome relativo1, um pronome ou advérbio


interrogativo2. Exs.: Quem narrou a História de Portugal ao rei de Melinde? 1
Quem a
narrou foi Vasco da Gama.
Quem protegeu os portugueses? 2 Quem os
3
protegeu? Onde puseste o material? Onde o
puseste?

i. Frases de tipo exclamativo nas quais se manifestem emoções ou desejos1 ou aquelas em


que o falante constrói frases com determinada intencionalidade, destacando certos
constituintes e desviando-os da ordem padrão2.
Exs.: Oxalá percebas os poemas todos! / 1Oxalá os percebas todos!
Que Nossa Senhora proteja os marinheiros! / 2Que Nossa Senhora os proteja!

4. Colocação do pronome pessoal átono em complexos verbais.


a. Nos complexos verbais com os auxiliares dos tempos compostos (ter e haver) e o
auxiliar da passiva (ser), o pronome é colocado à direita do verbo auxiliar.
Exs.: Gama tinha aconselhado calma aos marinheiros. Gama tinha-lhes
aconselhado calma. O poema é oferecido pelo poeta aos leitores. O poema é-lhes
oferecido pelo poeta.

b. Pode ocorrer antes do complexo verbal quando algum elemento requer a


próclise. Ex.: Ninguém quis ler em voz alta o poema. Ninguém o quis
ler em voz alta.

c. Nos complexos verbais com auxiliares como começar a, acabar de, estar a, andar a, o
pronome ocorre depois do verbo principal.
Ex.: Estou a apreciar este soneto camoniano. Estou a apreciá-lo.
270
Bloco informativo

FUNÇÕES SINTÁTICAS

Sujeito
Função sintática desempenhada pelo constituinte da frase que controla a concordância verbal. O
constituinte que exerce a função de sujeito pode ser um grupo nominal, substituível pelos pronomes
pessoais eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas, ou um constituinte oracional, encontrando-se, por
norma, em posição pré-verbal.

Expresso − sujeito com realização lexical. Pode Nulo − em português, o sujeito diz-se "nulo"
ser: porque não tem realização lexical obrigatória.
Pode ser:
• Simples
Ex.: Gil Vicente escreveu farsas. (grupo nominal) • Subentendido
Quem lê aprende. (oração)
Ex.: Lemos várias estrofes de Os Lusíadas.
• Composto (depreende-se da forma verbal − Nós)

Ex.: Gil Vicente e Camões são autores do séc. • Indeterminado


XVI.
(coordenação de grupos nominais) Ex.: Dizem que a poesia é difícil.
(alguém diz)
Quem leu e quem pesquisou aprendeu.
(duas orações ou mais)
Vocativo

Função sintática desempenhada por um constituinte que não controla a concordância verbal e que serve
apenas para interpelar ou chamar o interlocutor, surgindo em frases de tipo imperativo1, interrogativo2 ou
exclamativo3.
Exs.: 1 Veloso, não faça isso.
2
Minha senhora, estais a ouvir-me?
3
Ó Tágides, é tão grande o meu infortúnio!
Predicado

Função sintática desempenhada pelo grupo verbal. Pode corresponder só ao verbo ou ao verbo com os seus
respetivos complementos e/ou predicativos requeridos, e ainda os modificadores do grupo verbal. Assim,
temos:
• Predicado — só com verbo ou grupo verbal (por norma, quando o verbo é intransitivo)
Ex.: A donzela sorriu.
• Predicado — verbo + complementos e/ou predicativos e
modificadores
Ex.: Tétis conduziu a ilha dos amores até aos nautas
portugueses.
Complemento direto

Função sintática selecionada por verbos transitivos diretos, transitivos diretos e indiretos ou transitivos-
predicativos, sendo exercida por grupos nominais (GN) ou constituintes oracionais. Os GN que exercem esta
função são prono- minalizáveis pelos pronomes pessoais o, a, os, as1, e os constituintes oracionais são
substituíveis pelos pronomes demonstrativos invariáveis isto, isso, aquilo2.
Exs.: 1Este soneto evidencia a complexidade da poesia. / Este soneto evidencia-a.
2
O poeta pedia que o rei o escutasse. / O poeta pedia aquilo.

Complemento indireto

Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte
sin- tático que exerce a função de complemento indireto é introduzido pela preposição a e

271
Bloco informativo

Complemento oblíquo

indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte sintático que exerce a função de complemento oblíquo é introduzido por uma preposição, podendo assumir um v

Complemento agente da passiva

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo direto conjugado na passiva, tendo como auxiliar o verbo se
Ex.: Os navegadores portugueses foram salvos por Vénus.

272
Predicativo do sujeito

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo copulativo que atribui uma propriedade ao sujeito.
Exs.: Os navegadores andavam em aflição durante as tempestades.
Vasco da Gama permaneceu na nau. As Ninfas pareciam umas sereias.

Predicativo do complemento direto

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo-predicativo que atribui uma propriedade ao complemento dir
Exs.: Acho a poesia trovadoresca complicada.
Os romanos elegeram Vénus (como) deusa do amor.
O rei D. Manuel I nomeou Vasco da Gama (como) comandante da expedição à Índia.

Modificador

or um constituinte de uso facultativo. Acrescenta informação sobre o constituinte que modifica e pode ser eliminado sem que a frase se torne agramatical.
uma frase/oração1 ou sobre o grupo verbal. Neste último caso, a função do modificador (do grupo verbal) pode ser desempenhada por uma oração subordinada2, por u
a Gama foi traído por um falso piloto.
ando já estavam exaustos. Como se sentiam cansados, os marinheiros pediram silêncio. 3 Os navegadores seguiram as Ninfas com emoção.
r.
Bloco informativo

Funções sintáticas internas ao grupo


nominal
Complemento do nome

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um nome e que lhe completa a
referência. Corresponde geralmente a um grupo preposicional, a uma oração introduzida por uma
preposição ou a um grupo adjetival.
Requerem complemento os:
• nomes de graus de parentesco1
• nomes de profissões que derivam de outros nomes2 (guia, condutor, …)
• nomes icónicos3 (gravura, fotografia, …)
• nomes epistémicos4 (hipótese, desejos,…)
• numerais fracionários e multiplicativos5 (o dobro, o terço, …)
• nomes que derivam de verbos6 (construção, pesca, …)

Exs.:
1
O pai de Camões era cortesão.
2
O guia dos navegadores era de Melinde.
3
A gravura do monarca estava desbotada.
4
O desejo de chegar a terra animava os
marinheiros.
5
A viagem custou o dobro do previsto.
6
A pesca da baleia pôs a espécie emComplemento
perigo. do adjetivo

tica exercida por um constituinte selecionado por um adjetivo e que ocorre normalmente à direita desse adjetivo, sendo, habitualmente, um grupo preposicional.
inheiros ficaram satisfeitos com a recompensa da Ilha dos Amores.
es estavam desejosos de encontrar terra amiga.

Modificador do nome

o ser por ele selecionado. Pode ser:


ue modifica. Pode configurar-se num grupo adjetival1, num grupo preposicional2, numa oração adjetiva relativa3, numa oração subordinada final4.
nome que modifica. É obrigatoriamente delimitado por vírgula(s), e pode estar configurado num grupo nominal5, num grupo adjetival6 ou num grupo preposicional7, ma

.
entos.

273
Bloco informativo

FRASES ATIVAS E PASSIVAS

Formas Explicação Exemplos

A frase é ativa quando apresenta um grupo verbal


constituído por um verbo principal transitivo direto,
Ativa • Os alunos leem partes de Os
transitivo direto e indireto ou transitivo-predicativo,
Lusíadas.
podendo ser antecedido ou não de verbo auxiliar.

A frase é passiva quando apresenta um grupo verbal


constituído por um verbo principal no particípio passado,
antecedido pelo verbo auxiliar ser. Na transformação da
frase ativa para a frase passiva: • Partes de Os Lusíadas são
Passiva
– o complemento direto da frase ativa é lidas pelos alunos.
transformado no sujeito da frase passiva;
– o sujeito da frase ativa, se for realizado,
transforma-se em complemento agente da
passiva.

Pelo exposto, percebe-se que, pelas posições relativas distintas que ocupam os constituintes que
exer- cem a função de sujeito nas respetivas frases, o uso de uma ou outra forma permitirá
pôr em relevo aspetos particulares da informação que a frase veicula, tal como traduz o
esquema seguinte:

Aquele trovador escreveu cantigas de amigo e de amor. frase ativa

sujeito verbo principal complemento direto

Cantigas de amigo e de amor foram escritas por aquele trovador. frase passiva

sujeito verbo aux. ser + verbo principal (particípio) compl. agente da passiva

Atenção: pode ser construída uma frase passiva sem recurso ao verbo auxiliar ser, utilizando-se o
pro- nome pessoal se. O complemento agente da passiva pode também não estar
expresso.

Exs.: As caravelas construíram-se pouco a pouco.


As caravelas foram construídas a pouco e pouco.

Nota: Convém não esquecer que, ao transformar uma frase ativa em passiva, o verbo auxiliar da
pas- siva (ser) terá de ficar no mesmo tempo e modo em que se encontrava o verbo principal da
frase ativa e este terá de ser colocado no particípio passado, concordando em género e em
número com o novo sujeito da passiva.

274
Bloco informativo

DISCURSO DIRETO E INDIRETO


Rep

Na e
letra
faci
No t
espe

Este


Discurso direto

Form
orig
Nes
resu
intr
Discurso indireto verb
as f

As alterações mais comuns são


apresentadas na tabela da página
seguinte.
275
Bloco informativo

Transformações operadas na passagem do discurso direto


para o discurso indireto Exemplificação

Discurso direto Discurso indireto Discurso direto

1.a e 2.a pessoas 3.a pessoa Em que áreas há melhores e piores


notas
eu, tu, nós, vós, me, nos ele(s), ela(s), o(s), a(s), lhe(s) Emília Lemos, presidente da
Associação de Professores de
meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), nosso(s), Geografia, adianta: "Onde surgem
seu(s), sua(s), dele(s), dela(s)
nossa(s), vosso(s) mais problemas é nas perguntas
abertas, de desenvolvimento, quer
este(s), esta(s), isto, esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s), aquilo devido à formulação quer ao elevado
isso grau de dificuldade de interpretação
e de domínio da escrita científica."
aqui, cá, aí, ali, lá, acolá ali, lá, naquele lugar, naquele sítio Miguel Barros, da Associação
de Professores de História, sublinha:
naquele momento, imediatamente, "Com este novo modelo de exame,
agora, neste momento, já, hoje, ontem,
naquele dia, na véspera, no dia anterior, mais fechado e que inclui itens de
amanhã, logo
no dia seguinte, depois seleção, como a escolha múltipla,
ordenação
complemento indireto do verbo ou associação, verificamos que os
vocativo
introdutor do discurso alunos demonstram mais
dificuldades."
João Paulo Leal, da Sociedade
Portuguesa de Química, acusa o
IAVE (Instituto de Avaliação
frase interrogativa direta oração subordinada substantiva
Educativa):
completiva
"As médias são muito baixas porque os
responsáveis pelos exames assim o
querem. Não houve, até hoje, vontade
de mudar.
Suspeito que haja uma vontade deliberada
de afastar os alunos desta área de ensino."
In Visão, n.o 1132, 13 a 19 de novembro de 2014, pp. 58-66
(texto adaptado e com supressões).

verbos vir e trazer verbos ir e levar Discurso indireto

presente do indicativo pretérito imperfeito Emília Lemos, presidente da


Associação de Professores de
Geografia, adiantou que onde
pretérito perfeito do indicativo pretérito mais-que-perfeito do indicativo surgiam mais problemas era
nas perguntas abertas, de desenvolvimento,
quer devido à formulação quer ao elevado
futuro do indicativo condicional grau de dificuldade de interpretação
e de domínio da escrita
científica. Miguel Barros, da
presente do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo
Associação de
Professores de História, sublinhou
futuro do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo que com aquele novo modelo de
exame, mais
fechado e que incluía itens de seleção,
como a escolha múltipla, ordenação ou
associação, verificavam que os alunos
demonstravam mais dificuldades.
pretérito imperfeito do conjuntivo ou João Paulo Leal, da Sociedade
imperativo
infinitivo impessoal (precedido de Portuguesa de Química, acusou o IAVE,
para) referindo que
as médias eram muito baixas porque os
responsáveis pelos exames assim o
queriam. Não tinha havido/houvera, até
àquele momento, vontade de mudar.
Suspeitava que houvesse uma vontade
deliberada de afastar os alunos daquela
área de ensino.

Nota: As transformações apresentadas no quadro ocorrem quando o verbo introdutor do discurso


indireto se encontra no passado (cf. verbos sublinhados).

276
Bloco informativo

PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES

Sistematizam-se em seguida os processos de coordenação e de subordinação.

Coordenação

• copulativa − Fernão Lopes viveu no século XIV e escreveu várias crónicas.


• adversativ − Gostei das cantigas de amigo, mas não gostei das de amor.
a
− Leia a farsa ou visione a adaptação teatral.
• disjuntiva
− Já li o Auto da Feira, logo tenho de fazer a ficha de leitura.
• conclusiva
– Recordo-me desta personagem, pois já vi o filme.
• explicativa
Subordinação

Oração subordinante − Oração da qual depende(m) a(s) subordinada(s).


Orações subordinadas adverbiais
• causal − Li Os Lusíadas porque adoro a poesia épica.
• comparativ − Gostei tanto das redondilhas como gostei dos sonetos.
a
− Vi o filme embora tenha gostado mais do livro.
• concessiva
− Se fizerem resumos, perceberão melhor a matéria.
• condiciona
− Leste tão depressa que não consegui perceber o tema.
l
− Depois de conhecermos a literatura medieval, compreendemos melhor a época.
• consecutiv
a − Fui visitar o novo museu para conhecer melhor os Descobrimentos.
• temporal
• final
Orações subordinadas adjetivas relativas
• restritiva − Os sonetos que Camões escreveu são decassilábicos.
• explicativa − Esta redondilha, que retrata uma escrava, é sugestiva.
Orações subordinadas substantivas
• completiva – Perguntei-te se já leste o livro.
• relativa − Quem ler a obra vai perceber melhor.

CONTACTO DE LÍNGUAS

Recorde-se que a língua portuguesa deriva fundamentalmente do latim. Contudo, também sofreu a
*NOTA
in- fluência das línguas de substrato e de superstrato. Num caso
e noutro, o
termo é por
Substrato* vezes usado para
designar
Língua que desaparece após contacto com a língua de um povo invasor/colonizador, aí deixando, o conjunto dos
referidos vestígios
no en- tanto, alguns vestígios. Por exemplo, antes do latim, foram faladas, na Península Ibérica, linguísticos.
outras línguas, existindo, portanto, atualmente, em português, palavras de origem celta e
ibera.
277
Superstrato*
Língua de um povo invasor/colonizador que acaba por desaparecer, mas que deixa marcas na do
povo in- vadido/colonizado. Na história do português, esse foi o caso dos idiomas trazidos pelos
germanos e pelos árabes, que chegaram à Península nos séculos V e VIII, respetivamente.
Bloco informativo

PALAVRAS CONVERGENTES E DIVERGENTES

Para se falar de palavras convergentes e divergentes é fundamental saber o que se entende


por ÉTIMO. O étimo é uma "palavra da qual deriva, diacronicamente, outra palavra", segundo o
dicionário terminológico (DT online — dt.dge.mec.pt).

Palavras convergentes
Palavras que apresentam a mesma forma, embora provenham de étimos diferentes, dando origem
a pa- lavras homónimas. São exemplos de palavras convergentes:
*NOTA
A forma rio RIVU- FILU-
pressupõe
uma forma
reconstituída, rio* (nome e verbo) fio (nome e verbo)
*RIDO

RIDEO FIDO

VANU- SUNT

vão (nome ou adj. e verbo) são (verbo, nome ou adjetivo = santo)

VADUNT SANCTU-

Palavras divergentes
Palavras que apresentam formas diferentes, apesar de terem o mesmo étimo. São exemplos de
palavras divergentes:

mácula parábola solitário

MACULA- PARABOLA- SOLITARIU-

mancha, mágoa palavra solteiro

PROFE S SOR PROCESSOS FONOLÓGICOS


A grafia não reflete
necessariamente todas as
alterações fónicas, pelo Recorda-se que as alterações/modificações que a língua sofreu podem resultar de processos
que podemos ter grafias
conservadoras, que não
fono- lógicos. Tradicionalmente, consideram-se três grandes tipos de processos fonológicos,
deixam transparecer que ocor- rem por INSERÇÃO, SUPRESSÃO e ALTERAÇÃO (na qualidade ou na posição) de
mudanças que já
ocorreram na língua. unidades fónicas.

Inserção
• Prótese − acrescento de uma unidade fónica no início da palavra: SPECULU- > espelho
• Epêntese − acrescento de uma unidade fónica no interior da palavra: HUMILE- > humilde
• Paragoge − acrescento de uma unidade fónica no fim da palavra: ANTE > antes

278
Bloco informativo

Supressão
• Aférese − queda de uma unidade fónica no início da palavra: HOROLOGIU- > relógio
• Síncope − queda de uma unidade fónica no interior da palavra: GENERU- > genro
• Apócope − queda de uma unidade fónica no fim da palavra: CRUCE- > cruz

Alteração
• Assimilação − aproximação de unidades fónicas: NOSTRU- > nosso
• Dissimilação − diferenciação de unidades fónicas: nembrar (forma arcaica) > lembrar
• Sonorização − transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/,
/k/) na sua corres- pondente sonora (neste caso, /b/, /d/, /g/): PIETATE- >
piedade
• Palatalização − passagem a palatal de uma unidade ou sequência que o não é originalmente:
FLAMMA- > chama
• Vocalização − transformação de uma consoante em vogal: OCTO > oito
(note-se que, seguindo outra vogal, a unidade que resulta da transformação da
consoan- te funciona como semivogal)
• Crase − fusão ou contração de duas vogais numa só: LEGERE > leer > ler
• Sinérese − transformação em ditongo de uma sequência formada por duas
vogais contíguas (por semivocalização de uma delas): EGO > eo > eu
• Metátese − deslocação, no interior da palavra, de unidades mínimas ou de sílabas: SEMPER > sempre
• Redução vocálica − enfraquecimento de uma vogal em posição átona: casa / casinha

ARCAÍSMOS E NEOLOGISMOS

Arcaísmos
São palavras ou expressões que deixam de ser comummente utilizadas pela comunidade e que, por
isso, passam a considerar-se antiquadas. É o caso de coita, forma antiga para referir “sofrimento”,
“infelicidade”.

Neologismos
São palavras novas ou novas associações de forma e sentido que resultam, fundamentalmente, da
neces- sidade de renovação do léxico. Assim, o neologismo tanto pode resultar da atribuição
de um novo sen- tido a uma palavra já existente, como acontece com alguns termos da área da
informática (rato, sítio, portal, navegar, …), como pode decorrer da atuação dos diferentes
processos de formação de pala- vras (cf. europeizar, aerogerador, eurodeputado). Também do
contacto com outras línguas pode resultar a integração de novo vocabulário (empréstimos).
279
Bloco informativo

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

O léxico de uma língua é formado por todos os constituintes morfológicos portadores de


significado. Dele fazem parte não apenas as palavras do vocabulário atual mas também as
palavras que já não se usam e todas as que podem ser criadas através de processos regulares
(derivação e composição) ou através de processos irregulares.

Palavra − item lexical que pertence a uma dada classe, com um significado identificável.

Palavra simples − palavra formada por um único radical, sem afixos derivacionais, mas podendo
exibir afixos flexionais.
Palavra complexa − palavra formada por derivação (contém um radical e pelo menos um afixo
deriva- cional) ou por composição (constituída por mais de um radical ou
por duas ou mais palavras).
Base − constituinte morfológico que contém o significado lexical (exclui os afixos) e a partir do
qual se formam novas palavras.

Derivação não-afixal
Processo de formação de palavras que gera nomes deverbais, acrescentando
marcas de flexão nominal a um radical verbal.
Exs.: troc- troca;
troco abraç-
(sem junção de abraço
afixos)
Conversão
Processo de formação de palavras, também chamado derivação imprópria,
que procede à integração de uma dada unidade lexical numa nova classe de
palavras por via sintática, sem que se verifique qualquer alteração formal.
Exs.: olhar verbo olhar nome
Estás a olhar para mim. Tem um olhar penetrante.

Prefixação
Consiste na adição de um prefixo a uma base.
DERIVAÇÃO
Exs.: desinteresse; macroestrutura; bissexual

Sufixação
Consiste na adição de um sufixo a uma base.

AFIXAL Exs.: cozinheiro; caçada

Processo morfológico que Prefixação e sufixação


consiste na associação
Consiste na adição de um prefixo e de um sufixo a uma base.
de um afixo a uma
forma base Exs.: in>condicional>mente
incondicionalmente

Parassíntese
Processo morfológico de formação de verbos a partir de nomes ou de adjetivos e que
consiste na adição simultânea de um prefixo e de um sufixo a uma base.
Exs.: a[padrinh]ar; a[podr]ecer
280
Bloco informativo

Processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra
Exs.: [agr]+ i +[cultura] = agricultura; [lus] + o +[descendente]= luso-descendente;
[psic]+ o +[pata] = psicopata

MORFOLÓGICA

COMPOSIÇÃO
sso de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, o que tem conseq
surdo-mudo; guarda-chuva; Via Láctea
MORFOSSINTÁTICA

PROCESSOS IRREGULARES DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Designação Definição

Criação de um vocábulo através da junção de letras ou sílabas de um grupo de palavras, que se


Acrónimo pronunciam como uma só palavra.
Ex.: ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações)

Criação de uma palavra a partir das iniciais de um grupo de palavras.


Sigla
Exs.: SCP (Sporting Clube de Portugal) / FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia)

Processo de transferência de uma palavra de uma língua para outra, com ou sem adaptações às características
Empréstimo formais da língua recetora.
Ex.: dossiê (do francês dossier)

Criação de novos sentidos para uma palavra já existente na língua que, contudo, não perde o(s) significado(s)
Extensão semântica anterior(es).
Ex.: rato (aplicado à informática como comando manual do computador)

Criação de um termo que se caracteriza pela eliminação de parte da palavra de que deriva.
Truncação
Ex.: metro (metropolitano)

Criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras.


Amálgama
Ex.: informática (informação + automática)

PALAVRAS MONOSSÉMICAS E POLISSÉMICAS

Palavras monossémicas
Palavras que têm um só significado. Predominam nos contexto em que surgem, havendo, todavia, um elo
textos científicos, dado que neles se procura veicular uma comum nesses múltiplos sentidos. Veja-se, por exemplo, o
mensa- gem objetiva, que deve ser entendida de modo termo pé, que pode surgir como:
igual por to- dos os leitores. Exemplos são os termos: • parte do corpo Dói-me o pé.
cartografia, biologia, caligrafia. • parte inferior de uma mesa, de uma
carteira ou de um banco Levanta aí o pé da
Palavras polissémicas cadeira.
Palavras que apresentam uma propriedade semântica que • sinónimo de zaragata ou
lhes permite apresentar vários significados, de acordo zanga Ele fez um pé-de-
com o -vento.
• posição oposta à de
estar sentado Põe-te de pé.
281
Bloco informativo

CAMPO SEMÂNTICO E LEXICAL

Campo semântico
Conjunto de significados que uma palavra pode ter, dependendo dos contextos em que ocorre. O
campo semântico de mar integra os significados que em situações distintas o nome adquire:

Exs.: Andava um mar de gente na baixa.


Nem tudo é um mar de rosas.

Campo lexical
Reporta-se ao conjunto de palavras que, pelo seu significado, se associam a um determinado
conceito ou ideia. Por exemplo, ao campo lexical de escola, associam-se palavras como:
professores, alunos, corredores, salas de aula, carteiras, quadros, cadeiras, …

RELAÇÕES SEMÂNTICAS

As palavras estabelecem relações semânticas entre elas, que podem ser de vários tipos. Assim,
temos relações de:

Semelhança/oposição
• Sinonímia − relação de equivalência de significado entre duas ou mais palavras.
Exs.: bonito/lindo; carro/automóvel; pão/carcaça.

• Antonímia − relação semântica de oposição entre duas ou mais palavras.


Exs.: dia/noite; subir/descer; rápido/lento.

Hierarquia: hiperonímia e hiponímia

Trata-se de uma relação hierárquica de inclusão.

• Hiperónimo − sentido mais genérico. Ex.: peixe


• Hipónimo − sentido mais específico. Exs.: pescada, carapau, sardinha, robalo, …
Como se vê, o hipónimo mantém com o hiperónimo traços semânticos comuns. Por isso, as
espécies de peixes elencadas são hipónimos do hiperónimo peixe, e vice-versa.

Todo/parte: holonímia/meronímia

Trata-se de uma relação de hierarquia semântica entre palavras.

• Holónimo − refere o todo, a unidade. Ex.: carro


• Merónino − refere uma parte dessa unidade.
Exs.: chassis, volante, assentos, guarda-lamas, para-choques, …
Assim, os merónimos correspondem a partes do todo, neste caso o holónimo carro, e este integra
todos os elementos referidos, designados de merónimos.

282
II – GÉNEROS
Bloco informativo
TEXTUAIS

Géneros Definição e marcas Domínios


Género textual que faz a apresentação de Uso de uma linguagem apelativa.
publicitário

um determinado objeto/assunto Oralidade


Recurso a frases interrogativas e
Anúncio

evidenciando o seu interesse e as suas (Compreensão


características. exclamativas. Uso de recursos expressivos. do Oral)
Possui um caráter apelativo e recorre a Utilização de neologismos.
múltiplas linguagens (verbal, não verbal).
Encadeamento lógico dos tópicos abordados.
Apreciação crítica

Recurso a mecanismos de coesão − conectores,


Texto onde se faz a apreciação valorativa de Oralidade
deíticos, ...
um determinado objeto (livro, disco, (Expressão Oral)
Uso de uma linguagem valorativa.
exposição, …), observando-se, sob uma Leitura
perspetiva crítica, as suas características, Utilização expressiva da pontuação e
Escrita
funcionalidades e interesse. da linguagem.
Predomínio dos nomes e dos adjetivos.

Texto expositivo sobre um determinado Uso de uma linguagem clara, objetiva e


Artigo de divulgação

aspeto de uma área do saber com o específica de uma determinada área.


objetivo de divulgação. Utilização de frases declarativas. Leitura
científica

Caracteriza-se pelo rigor, pela objetividade Hierarquização das ideias e explicitação


e pela informação seletiva e criteriosa. das fontes.

Texto que faz a apresentação de um Recurso a variedade de tema, cobertura de


um tema ou acontecimento.
Documentário

determinado assunto/tema colhido


da realidade e tratado sob uma Presença do discurso direto e indireto. Oralidade
determinada perspetiva. (Compreensão
Diversidade de registos (objetivos/subjetivos). do Oral)
Veicula informação criteriosa e seletiva Emprego de mecanismos de coesão e de recursos
com um fim didático. verbais e não verbais.

Encadeamento lógico dos tópicos abordados.


Recurso a mecanismos de coesão − conectores,
Exposição sobre um

Texto de caráter demonstrativo onde se deíticos, …


disserta de forma clara e fundamentada Leitura
sobre um determinado tema, mobilizando Uso de uma linguagem clara,
tema

objetiva e denotativa. Escrita


informação relevante sobre o assunto.
Predomínio dos nomes e dos verbos e das
frases declarativas.

Texto predominantemente narrativo e Predomínio do discurso de primeira


descritivo, versando uma variedade de
Relato de viagem

pessoa. Uso de uma linguagem


temas, onde se registam as impressões do
emissor acerca de lugares visitados. valorativa. Leitura
Prevalece o discurso pessoal e, Utilização expressiva da pontuação e
portanto, subjetivo. da linguagem.
Predomínio dos nomes e dos adjetivos.

Peça jornalística que se caracteriza pela Uso de uma linguagem objetiva e


Oralidade
Reportagem

multiplicidade de temas abordados e de clara. Recurso ao discurso direto e (Compreensão


intervenientes, o que implica a diversidade do Oral)
de pontos de vista e a veiculação de indireto. Recurso à subjetividade
informação ampla e seletiva. do autor.
Utilização da primeira e da terceira pessoas.
Texto que se caracteriza pela condensação Encadeamento lógico dos tópicos abordados.

283
I I I − R E C U R S OS EXPRESSIVOS
B l oc o in fo rm a ti vo

Adjetivação – utilização expressiva e recorrente da classe dos adjetivos. “Um mover d’olhos, brando e piadoso”
(Luís de Camões,
Rimas)

Alegoria – série de metáforas arrojadas que vão além do sentido aparente ou Diabo Mal
literal e que têm como objetivo último clarificar, tornando mais Serafim Bem
concretas, determinadas realidades abstratas e espirituais. (Gil Vicente, Auto da
Feira)

Aliteração – repetição sucessiva de um tipo de sons consonânticos. “A fermosura desta fresca serra”
(Luís de Camões,
Rimas)

Anáfora – repetição de uma palavra ou expressão no início de versos ou de frases “Faz serras floridas, / faz claras as fontes”
sucessivos(as). (Luís de Camões,
Rimas)

Anástrofe – alteração da ordem natural das palavras na frase. “Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já
inclinado”
(Luís de Camões, Os
Lusíadas)

Antítese – aproximação de duas ideias opostas ou contraditórias. “e os batéis por lhe fugir, e elas por os tomar”
(Fernão Lopes, Crónica de D.
João I)

Apóstrofe – interpelação, chamamento do recetor a quem é destinado o “E vós, Tágides minhas, […]”
discurso. (Luís de Camões, Os
Lusíadas)

Comparação – relação de realidades, colocadas em paralelo, por meio de um “Quer’eu em maneira de proençal / fazer
termo comparativo ou verbos como parecer, lembrar, sugerir, agora um cantar d’amor”
entre outros. (Dom Dinis)

Enumeração – apresentação sucessiva de elementos, frequentemente da mesma “[…] agora espero, agora desconfio; / agora desvario,
categoria gramatical ou com o mesmo tipo de estruturação. agora acerto.”
(Luís de Camões,
Rimas)

Eufemismo – atenuação na transmissão de uma ideia ou realidade “Alma minha gentil, que te partiste / tão cedo
excessiva, semanticamente negativa. desta vida, descontente”
(Luís de Camões,
Rimas)

Hipérbole – utilização de termos excessivos para efeito de exagero da “Farei que amor a todos avivente, / pintando
realidade. mil segredos delicados […]”
(Luís de Camões,
Rimas)

Interrogação retórica – questão que se formula não para obter resposta, mas “Hui! e que pecado é o meu, / ou que dôr de
para coração?”
melhor orientar/realçar a ideia a transmitir. (Gil Vicente, Farsa de Inês
Pereira)

Ironia – expressão de palavra/ideia polemicamente orientada para “Roi Queimado morreu com amor […] / mais
conclusão diferente daquilo que é o sentido literalmente resurgiu depois, ao tercer dia”.
proferido. (Pero Garcia Burgalês)

Metáfora – reconstrução, por analogia, do significado normal de uma “Ondados fios de ouro reluzente”
palavra (Luís de Camões,
ou expressão, aproximando-o ou associando-o a um campo Rimas)
semântico distinto.
Metonímia – referência a uma realidade através de outra que lhe é próxima “Não no dá a pátria, não, que está metida / No
(por exemplo, a causa pelo efeito, o escritor pela obra, o produto pela gosto da cobiça e na rudeza”
matéria, e vice-versa). (Luís de Camões, Os
Lusíadas)

Perífrase – utilização de uma expressão composta por vários termos em “[…] no amigo / Curral de Quem governa o
vez da possibilidade de utilizar uma só palavra. Céu rotundo”
(Luís de Camões, Os
Lusíadas)

Personificação – atribuição de sentimentos, ações ou ideias próprias do ser “– Ai flores, ai flores do verde pino”
humano a objetos ou elementos da Natureza. (Dom Dinis)
Pleonasmo – reforço da mesma ideia, através da utilização intencional de “Vi, claramente visto, o lume vivo.”
palavras ou expressões com o mesmo sentido. (Luís de Camões, Os
Lusíadas)

Sinédoque – expressão da parte pelo todo, do singular pelo plural, do “Que da Ocidental praia Lusitana” (= Portugal)
abstrato pelo concreto, e vice-versa. (Luís de Camões, Os
Lusíadas)

284
IV − NOÇÕES DE Bloco informativo
VERSIFICAÇÃO
Os textos poéticos em
verso evidenciam um
Aspetos técnicos e versificatórios conjunto de aspetos
técnicos versificatórios
a da última palavra do verso, considerando-se ainda a elisão de sons vocálicos quando pronunciados numa só emissão sistematizados no
quadro abaixo.

ílabas métricas “Ho/nes/to/ ri/so/, que en/tre a/ mor/ fi/ne/za” (Luís de Camões, Rimas) — 10 sílabas métricas
N Métrica
O
abo (duas); trissílabo (três); tetrassílabo (quatro); pentassílabo ou redondilha menor (cinco); hexassílabo (seis); heptassílabo ou redondilha maior (sete); octossílabo (oit

V
E
R
S
O

Acento silábico verso agudo (oxítono ou masculino); verso grave (paroxítono ou feminino); ou verso esdrúxulo
(proparoxítono)

verso binário (dois segmentos com uma pausa); verso ternário (três segmentos com duas pausas);
Ritmo verso quaternário (quatro segmentos com três pausas)

Classificação da estrofe pelo número de versos: monóstico (um); dístico (dois); terceto (três);
Número
quadra (quatro); quintilha (cinco); sextilha (seis); sétima (sete); oitava (oito); nona (nove); décima
de versos
(dez);
irregular (mais de dez)
Rima interna – a correspondência de sons verifica-se no interior dos versos:
“irei beber a luz e o amanhecer” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Rima de sons finais, ou rima externa


• emparelhada (rima de sons em pares - aa, bb, cc, ...);
• interpolada ou intercalada (um tipo de som final intercala outro diferente – abca);
• cruzada (sons alternam entre versos ímpares e pares – ababaca);

Rima encadeada – a última palavra de um verso rima com o meio do verso seguinte:
"Eu sou a que no mundo anda perdida, / Eu sou a que na vida não tem norte" (Florbela
Espanca)
Consoante (rimam vogais e consoantes)
Toante (rimam só as vogais tónicas)
Esquema rimático

Em função da correspondência de sons

Tipo de rima

Em função da classe gramatical das palavras


Rica (a rima incide em unidades pertencentes a classes de palavras
diferentes)
Pobre (a rima incide em unidades que pertencem à mesma
classe de palavras)

285
N
A

E
S
T
R
O
F
E
V − O TEXTO DRAMÁTICO
Bloco informativo

O texto dramático apresenta uma estrutura dialogal, através da qual progride a intriga ou ação
dramática, destinando-se, prioritariamente, à representação.

Observe o conjunto de elementos que o integram e que permitem distingui-lo de outros textos.

ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM O TEXTO DRAMÁTICO

•Corresponde aos atos de fala das personagens (as réplicas), pelas quais se dá a progressão dramática.
• Integra os acontecimentos, situações ou ações experienciados pelas personagens, que surgem
contextualizados num determinado espaço e num determinado tempo.
Texto principal
• Desenvolve-se, fundamentalmente, em diálogo (interação estabelecida pelas personagens
intervenientes), podendo também surgir o monólogo (expressões associadas à exteriorização de reflexões ou
pensamentos da personagem) ou os apartes (interação direta entre a personagem e o leitor/espetador).

• Corresponde ao conjunto de didascálicas (parte do texto marcada graficamente por outro tipo de
letra – e/ou – por parênteses).
• Representa as indicações cénicas fornecidas pelo dramaturgo, nas quais se encontram informações
imprescindíveis à representação do texto principal.
• Integra informações dirigidas às personagens, ao encenador, aos atores, aos técnicos e figurinistas,
Texto como, por exemplo:
secundário – identificação das personagens;
– caracterização física e psicológica dos interlocutores;
– indicações sobre o modo como as falas devem ser proferidas;
– registo de aspetos paraverbais (movimentação, expressões corporais e faciais, tom de voz, gestos);
– caracterização do espaço e do tempo, da intensidade e focalização da iluminação, da disposição dos objetos
em cena, vários aspetos a contemplar na representação.

A estrutura do texto dramático pode ainda ser percecionada por outras características, normalmente
asso- ciadas à sua segmentação e tradicionalmente relacionadas com os seguintes aspetos.

ESTRUTURA TRADICIONAL DO TEXTO DRAMÁTICO

Associa-se à mudança de cenário ou aos momentos cruciais do desenvolvimento da ação


ATO
dramática.

CENA Corresponde à entrada ou à saída de personagens.

286
Metas Curriculares

Domínios de Referência, Objetivos e Descritores de Desempenho – 10.° ano

Oralidade 3. Explicitar a estrutura do texto: organização


interna.
1. Interpretar textos orais de diferentes géneros.
1. Identificar o tema dominante, justificando.
2.Explicitar a estrutura do texto.
3. Distinguir informação subjetiva de informação
objetiva.
4.Fazer inferências.
5. Distinguir diferentes intenções comunicativas.
6.Verificar a adequação e a expressividade dos recursos
verbais e não verbais.
7. Explicitar, em função do texto, marcas dos
seguintes géneros: reportagem, documentário, anúncio
publicitário.
2.Registar e tratar a informação.
1. Tomar notas, organizando-as.
2.Registar em tópicos, sequencialmente, a informação
relevante.
3.Planificar intervenções orais.
1. Pesquisar e selecionar informação.
2. Planificar o texto oral, elaborando tópicos de
suporte à inter- venção.
4.Participar oportuna e construtivamente em situações de
intera- ção oral.
1. Respeitar o princípio de cortesia: formas de
tratamento e re- gistos de língua.
2. Utilizar adequadamente recursos verbais e não
verbais: pos- tura, tom de voz, articulação, ritmo, entoação,
expressividade.
5.Produzir textos orais com correção e pertinência.
1. Produzir textos seguindo tópicos fornecidos.
2.Produzir textos seguindo tópicos elaborados
autonomamente.
3. Produzir textos linguisticamente corretos, com
diversificação do vocabulário e das estruturas utilizadas.
6.Produzir textos orais de diferentes géneros e com
diferentes finalidades.
1. Produzir os seguintes géneros de texto: síntese e
apreciação crítica.
2.Respeitar as marcas de género do texto a produzir.
3. Respeitar as seguintes extensões temporais:
síntese – 1 a 3 minutos; apreciação crítica – 2 a 4
minutos.

Leitura
7. Ler e interpretar textos de diferentes géneros e graus de
com- plexidade.
1. Identificar o tema dominante, justificando.
2.Fazer inferências, fundamentando.
c) definir tópicos e organizá-los de acordo com o género
4.Explicitar o sentido global do texto, fundamentando. de texto a produzir.
5. Relacionar aspetos paratextuais com o conteúdo do 11. Escrever textos de diferentes géneros e finalidades.
texto.
1. Escrever textos variados, respeitando as marcas
6. Explicitar, em textos apresentados em diversos do género: síntese, exposição sobre um tema e
suportes, marcas dos seguintes géneros: relato de viagem, apreciação crítica.
artigo de divulgação científica, exposição sobre um
12. Redigir textos com coerência e correção linguística.
tema e apreciação crítica.
1. Respeitar o tema.
8.Utilizar procedimentos adequados ao registo e ao
2.Mobilizar informação adequada ao tema.
tratamento da informação.
1. Selecionar criteriosamente informação relevante. 3. Redigir um texto estruturado, que reflita uma
planificação, evidenciando um bom domínio dos
2. Elaborar tópicos que sistematizem as ideias-
mecanismos de coesão textual com marcação correta
chave do texto, organizando-os sequencialmente.
de parágrafos e utilização adequada de conectores.
9.Ler para apreciar criticamente textos variados.
4.Mobilizar adequadamente recursos da língua: uso correto
1. Exprimir pontos de vista suscitados por leituras do registo de língua, vocabulário adequado ao tema,
diversas, fun- damentando. correção na acentuação, na ortografia, na sintaxe e na
2. Analisar a função de diferentes suportes em pontuação.
contextos espe- cíficos de leitura. 5. Observar os princípios do trabalho intelectual:
identificação das fontes utilizadas; cumprimento das
normas de citação; uso de notas de rodapé; elaboração
Escrita
da bibliografia.
10. Planificar a escrita de textos. 6.Explorar as virtualidades das tecnologias de informação
1. Pesquisar informação pertinente. na produção, na revisão e na edição do texto.
2.Elaborar planos: 13. Rever os textos escritos.
a) estabelecer objetivos; 1. Pautar a escrita do texto por gestos recorrentes
de revisão e aperfeiçoamento, tendo em vista a qualidade
b) pesquisar e selecionar informação pertinente;
do produto final.

287
Metas Curriculares

Educação Literária 16. Situar obras literárias em função de grandes marcos


históricos e culturais.
14. Ler e interpretar textos literários. 1. Reconhecer a contextualização histórico-literária
1. Ler expressivamente em voz alta textos literários, após nos casos previstos no Programa.
prepa- ração da leitura. 2. Comparar diferentes textos no que diz respeito
2. Ler textos literários portugueses de diferentes géneros, a temas, ideias e valores.
per- tencentes aos séculos XII a XVI.
3. Identificar temas, ideias principais, pontos de vista e
Gramática
univer- sos de referência, justificando.
4.Fazer inferências, fundamentando. 17. Conhecer a origem e a evolução do português.
5.Analisar o ponto de vista das diferentes personagens. 1. Referir e caracterizar as principais etapas de
6.Explicitar a estrutura do texto: organização interna. formação do português.

7. Estabelecer relações de sentido 2.Reconhecer o elenco das principais línguas românicas.

a) entre as diversas partes constitutivas de um texto; 3. Explicitar processos fonológicos que ocorrem na
evolução do português.
b) entre características e pontos de vista das
personagens. 4.Identificar étimos de palavras.
8.Identificar características do texto poético no que diz 5. Reconhecer valores semânticos de palavras
respei- to a: considerando o respetivo étimo.
a) estrofe (dístico, terceto, quadra, oitava); 6.Relacionar significados de palavras divergentes.
b) métrica (redondilha maior e redondilha menor; 7. Identificar palavras convergentes.
decassílabo); 8.Reconhecer a distribuição geográfica do português no
c) rima (emparelhada, cruzada, interpolada); mun- do: português europeu; português não europeu.
d) paralelismo (cantigas de amigo); 9. Reconhecer a distribuição geográfica dos
e) refrão. principais crioulos de base portuguesa.
9. Identificar e explicitar o valor dos recursos expressivos 18. Explicitar aspetos essenciais da sintaxe do
português.
men- cionados no Programa.
1. Identificar funções sintáticas indicadas no
10. Identificar características do soneto.
Programa.
11. Reconhecer e caracterizar textos quanto ao género
2.Dividir e classificar orações.
literário: epopeia e auto ou farsa.
3. Identificar orações coordenadas.
15. Apreciar textos literários.
4.Identificar orações subordinadas.
1. Reconhecer valores culturais, éticos e estéticos
manifestados nos textos. 5. Identificar oração subordinante.

2. Valorizar uma obra enquanto objeto simbólico, no 19. Explicitar aspetos essenciais da lexicologia do português.
plano do imaginário individual e coletivo. 1. Identificar arcaísmos.
3. Expressar pontos de vista suscitados pelos textos lidos, 2.Identificar neologismos.
fun- damentando. 3. Reconhecer o campo semântico de uma palavra.
4.Fazer apresentações orais (5 a 7 minutos) sobre obras, 4.Explicitar constituintes de campos lexicais.
partes de obras ou tópicos do Programa.
5. Relacionar a construção de campos lexicais
5. Escrever exposições (entre 120 e 150 palavras) sobre com o tema do- minante do texto e com a respetiva
temas respeitantes às obras estudadas, seguindo tópicos intencionalidade comu- nicativa.
forneci- dos.
6.Identificar processos irregulares de formação de palavras.
6.Ler uma ou duas obras do Projeto de Leitura
7. Analisar o significado de palavras considerando
relacionando-
o processo de formação.
-a(s) com conteúdos programáticos de diferentes
domínios.
7. Analisar recriações de obras literárias do Programa,
com re- curso a diferentes linguagens (por exemplo,
música, teatro, cinema, adaptações a séries de TV),
estabelecendo compa- rações pertinentes.

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