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O Caderno de Atividades - versão do Professor inclui a

resolução dos exercícios nos espaços de resposta, para


facilitar o trabalho de correção.

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pasmtiTE OS OUNENTOS DE AUTOR

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Os prejudicados somos todos nós.
Índice das metas curriculares Poetas contemporâneos
INDICE

Miguel Torga, “Retrato” 44


Jorge de Sena, “Camões dirige-se aos seus
GRAMÁTICA
contemporâneos” 45
Português — Génese, variação e mudança Eugénio de Andrade, “Rapariga descalça” 46
Lexicologia Alexandre O'Neill, “Portugal” 47
Funções sintáticas Manuel Alegre, “O poema” 50
Frase complexa — Coordenação e
subordinação 15
José Saramago
Valor temporal 18 O Ano da Morte de Ricardo Reis (excerto) 51
Valor aspetual 20 Memorial do Convento (excerto) 52

Valor modal 22
Coesão e coerência textuais 24
Sequências textuais 26
Intertextualidade 28 Diálogo argumentativo 54
Dêixis 31 Debate 55
Reprodução do discurso no discurso 32 Discurso político 57
Reportagem e documentário 60
Anúncio publicitário 61
EDUCAÇÃO LITERÁRIA Artigo de divulgação científica 62
Fernando Pessoa Relato de viagem 64
Memórias 66
Fernando Pessoa, “Boiam leves, desatentos” 36
Diário 68
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
(excerto) 37 Apreciação crítica 70

Alberto Caeiro,” Acho tão natural que Artigo/Texto de opinião 74


não se pense” 38 Exposição sobre um tema 77
Ricardo Reis, “Uns, com os olhos postos Síntese 81
no passado” 39
Álvaro de Campos, “Que noite serena!” 40
84
Fernando Pessoa, Mensagem, "D. Sebastião” 41

Contos
Maria Judite de Carvalho, “George” (excerto) 42
Mário de Carvalho, “Famílias desavindas”
(excerto) 43
r Za: 7
Gramática Página
CURRICULARES
Referir e caracterizar as principais etapas de formação do português. 6

Reconhecer o elenco das principais línguas românicas. 8

Explicitar processos fonológicos que ocorrem na evolução do português. 7

Identificar étimos de palavras. 7,9

Reconhecer valores semânticos de palavras considerando o respetivo étimo. 7

Relacionar significados de palavras divergentes. 7

Identificar palavras convergentes.

Identificar funções sintáticas indicadas no Programa. 11-14

Identificar orações coordenadas. 15-17

Identificar orações subordinadas. 15-17

Consolidar os Identificar oração subordinante. 15-17


conhecimentos nidir e classif -
METAS

gramaticais Dividir e classificar orações. 15-17

adquiridos nos Identificar arcaísmos. 10


anos anteriores.
Identificar neologismos. 10

Reconhecer o campo semântico de uma palavra. 9

Explicitar constituintes de campos lexicais. 9


Relacionar a construção de campos lexicais com o tema dominante do 946
DAS

texto e com a respetiva intencionalidade comunicativa. '


Identificar processos irregulares de formação de palavras. 9
Analisar o significado de palavras considerando o processo de formação. 9
Identificar e interpretar discurso direto, discurso indireto e discurso indireto 32:34
INDICE

livre.
Reconhecer e utilizar adequadamente diferentes verbos introdutores de 32:34
relato do discurso.
Identificar deíticos e respetivos referentes. 31
Z

Demonstrar, em textos, a existência de coerência textual. 24-25

Distinguir mecanismos de construção da coesão textual. 24-25

Identificar marcas das sequências textuais. 26-27

Identificar e interpretar manifestações de intertextualidade. 28-30

Identificar e interpretar formas de expressão do tempo. 18-19

Distinguir relações de ordem cronológica. 18-19

Distinguir valores aspetuais. 20-21

Identificar e caracterizar diferentes modalidades. 22-23


Educação Literária
28-29,
Ler textos literários portugueses do século XX, de diferentes géneros. 36-48,
50-52
. a os . . 28-29,
. Identificar temas, ideias principais, pontos de vista e universos de 36-48
Ler e interpretar referência, justificando. !
textos literários. 50-52
pa 36-48,
Fazer inferências, fundamentando. 50-52

42-48,
Analisar o ponto de vista das diferentes personagens.
51-52
Explicitar a forma como o texto está estruturado. 38-41
Estabelecer relações de sentido entre situações ou episódios. 40-42
Mobilizar os conhecimentos adquiridos sobre as características dos textos 36-48,
. poéticos e narrativos. 50-52
Ler e interpretar
textos literários. . o . . 36, 38-39,
(cont) Identificar e explicitar o valor dos recursos expressivos mencionados no 21 43-44
Programa. 46,50

Escrever exposições (entre 130 e 170 palavras) sobre temas respeitantes


às obras estudadas, de acordo com um plano previamente elaborado pelo 79-80
aluno.
Oralidade
Diálogo argumentativo 54

Debate 55-56

Explicitar, em Discurso político 57

E Exposição sobre um tema 78


marcas dos
seguintes géneros: | Reportagem 60
Documentário 60

Anúncio publicitário 61

Texto de opinião 76

Produzir os Exposição sobre um tema 78


seguintes géneros
de texto: Apreciação crítica 73

Síntese 81
Leitura
Diário 68-69

Memórias 66-67
Explicitar, Apreciação crítica 70-72
em textos , TT
apresentados em Artigo de opinião 74-76
diversos suportes, | Artigo de divulgação científica 62-63
marcas dos
seguintes géneros: | Discurso político 58-59

Exposição sobre um tema 77

Relato de viagem 64-65


Escrita
Exposição sobre um tema 78-80
Escrever textos TI
variados, Apreciação crítica 73
respeitando E Texto de opinião 76
marcas do género:
Síntese 82-83
GRAMÁTICA

Português - Génese, variação e mudança


RS do)
Pote TE]
Funções sintáticas
Frase complexa - Coordenação e subordinação
Valor temporal
Valor aspetual
Valor modal
Coesão e coerência textuais
Sequências textuais
Intertextualidade
Dêixis
Reprodução do discurso no discurso
GRAMÁTICA

Português - Génese, variação e mudança Manual, pp. 354-357

1. Preenche o friso, ordenando cronologicamente os textos A a F.

Português antigo Português clássico Português contemporâneo

Texto (C |] (E) [D]) (8) (E) (A)


TEXTO A TEXTO B

BIONPT ONO] O dIVOTIONAT


O bagageiro levanta o boné e agra- A primeira cousa que me desedifica,
dece, o táxi arranca, o motorista quer que peixes, de vós, é que vos comeis uns aos
lhe digam, Para onde, e esta pergunta, tão outros. Grande escândalo é este, mas a
simples, tão natural, tão adequada à cir- circunstância o faz ainda maior. Não só
cunstância e ao lugar, apanha despreve- vos comeis uns aos outros, senão que os
nido o viajante, como se ter comprado a grandes comem os pequenos.
passagem no Rio de Janeiro tivesse sido e VIEIRA, António (2014). Sermão de Santo António.

pudesse continuar a ser resposta para


º B. Porto: Porto Editora, p. 31.

todas as questões [...].


SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo
Reis. Porto: Porto Editora, p. 14.

TEXTO C TEXTO D

Aa velha quisera trobar Entre estes penedos


quand'em Toledo fiquei desta vez; que daqui parecem,
e veo-me Orraca López rogar verdes ervas crecem,
e disso-m'assi: - Por Deus que vos fez, altos arvoredos.
nom trobedes a nulha velh'aqui Vai destes rochedos
ca cuidarám que trobades a mim. água com que as flores
COTOM, Afonso Anes.“A úa velha d'outras são regadas
quisera trobar” [Em linha]. Cantigas Medievais Galego
que matam d' amores.
Portuguesas [Consult. em 04-01-2016, com supressões].
CAMÕES, Luís de (1994). Lírica Completa — |. Porto:
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p. 100.

TEXTO E TEXTO F

O Page do Meestre que estava aa Os Maias eram uma antiga família da


porta, como lhe disserom que fosse pela Beira, sempre pouco numerosa, sem li-
vila segundo já era percebido, começou nhas colaterais, sem parentelas - e agora
d'ir rijamente a galope em cima do cavalo reduzida a dois varões, o senhor da casa,
em que estava, dizendo altas vozes, braa- Afonso da Maia, um velho já, quase um
dando pela rua: antepassado, mais idoso que o século, e
- Matom o Meestre! matom o Meestre seu neto Carlos que estudava medicina
nos Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre em Coimbra.
que matam! QUEIRÓS, Eça de (2015). Os Maias. Porto: Porto
Editora, p. 6.
LOPES, Fernão (1980). Crónica de D. João | (textos
escolhidos). Lisboa: Seara Nova/Comunicação, p. 95.
Português — Génese, variação e mudança

2. Identifica os processos fonológicos ocorridos na evolução das palavras indicadas:


a. plaga > praa > praia síncope do g > epêntese do i

b. diabolu > diaboo > diabo | Síncope do !> contração por crase (00 > 0)

c. macula > macla > maila > malya > malha síncope do u > vocalização do c > metátese do ie do |>

palatalização do grupo ly

d. macula > macla > macha > mancha síncope do u > palatalização do grupo consonântico cl

> nasalação do a

2.1. Tendo em conta a origem e a forma, classifica malha e mancha.


Palavras divergentes

3. Identifica palavras divergentes que tenham tido origem nos étimos indicados. Em caso
de necessidade, consulta um dicionário.
a. adversu: avesso, adverso g. limpidu: limpo, límpido

b. coagulare: coalhar, coagular h. nave; nau, nave

c. cogitare: cuidar, cogitar i. nitidy: nédio, nítido

d. duplu: dobro, duplo j. plumbu: chumbo, plúmbeo


e. flamma: chama, flama (de inflamável) k. particula: partilha, partícula

f. frigidu: frio, frígido I. recitare: rezar recitar

3.1. Considerando o respetivo étimo, explicita o valor semântico das palavras identificadas na
alínea h.

nave - étimo latino que significa 'navio'


nau - embarcação de grande porte e de longo curso

nave - veículo apto para explorar o espaço e para


fazer viagens entre planetas (veículo que navega no

espaço)

4. Identifica os étimos que deram origem às seguintes palavras convergentes. Se necessá-


rio, consulta um dicionário.
a. litigare > lido (verbo lidar) b.. granu- > grão (nome)
legere > lido (verbo ler) grande- > grão (adjetivo)
ENCI2CAEP O Porto Editora

4.1. Constrói frases em que uses as palavras convergentes, distinguindo-lhes o sentido.


a. Eulido com a situação. / O livro está completamente lido.

b. Havia um incomodativo grão de areia no sapato. / Não conheço o grão-duque do Luxemburgo.


Gramática

5. Indica se as afirmações são verdadeiras ou falsas.

PIONPI ONO O dAVOTIONT


a. A adoção das estruturas romanas (língua, direito, religião...) pelos povos locais designa-se
V a
romanização.
E b. As principais línguas românicas são o português, o galego, o castelhano, o provençal, o catalão,
o italiano, o corso, o romeno e o inglês.

pICA língua árabe funcionou como substrato do português, o latim como estrato e as línguas
pré-latinas como superstratos.
V | d. Otexto mais antigo escrito em português que se conhece data de finais do século XII.
e. A passagem do português antigo para o português clássico deveu-se ao desaparecimento da
poesia galego-portuguesa, à construção da nacionalidade e à expansão ultramarina.
| F | f. Os principais crioulos de base portuguesa são falados no continente americano.

6. Completa o texto com as palavras/expressões:

* China - Diásporas - Guiné Equatorial -Índia | -mandarim


- Oficial - futebol « Hemisfério Sul * Japão

O Shutterstock.com
Lusofonia celebra a língua do mar e da gente
Como relembra [...] Gilvan Miiller de Oliveira [...], “o português é hoje língua
oficial "em 10 países”
Aos oito países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
juntam-sea Guiné Equatorial [ Jea China "mais exatamente a Região Administra-
tiva Especial de Macau (RAEM), “onde é cooficial ao lado do. mandarim até ao ano de
2049”,
A língua portuguesa “está presente na América, África, Europa e Ásia - nesta ordem
em termos demolinguísticos - e tem de 221 a 245 milhões de falantes como primeira ou
como segunda língua em variados graus de proficiência”.
Gilvan Miiller de Oliveira escreve ainda que “entre sete e nove milhões de falantes da
língua portuguesa estão nas. Diásporas rf]
A linguista cabo-verdiana Ondina Ferreira, por seu lado, atenta que hoje “de acordo
com o Observatório da Língua, a China, o Japão ea Índia entre outros, de-
senvolvem o ensino da língua portuguesa em larga escala, como língua de negócios. O seu
valor económico disparou” [...]
Outro facto é que o “fenómeno global queé o. futebol "tem aumentado (por parte
dos jornalistas não falantes do português) a procura desta Língua”.
“A língua portuguesa é hoje a mais falada no . Hemisfério Sul - ocupa o quarto lugar
entre as 20 línguas mais faladas no mundo. Se hoje somos 250 milhões que a falam, estima
o Observatório da Língua que num curto horizonte - tal é a expansão da língua portu-
guesa - em 2020, seremos 400 milhões de falantes.
ALMEIDA, Sara. “Lusofonia celebra a língua do mar e da gente” [Em linhaj.
Público, 27-07-2014 [Consult. em 12-10-2016, com supressões].
Lexicologia

Lexicologia Manual, pp. 357-358

1. Lêo texto.

Para que serve sonhar?


Durante as etapas oníricas', o cérebro apaga ou suaviza as emoções dolorosas ou
desagradáveis. É o que se depreende de um estudo da Universidade da Califórnia
publicado na revista Current Biology. Os autores comprovaram, com recurso à resso-
nância magnética, que, enquanto atravessamos a fase REM? do sono, as recordações
s são perspetivadas, relacionadas e integradas, e tudo isso num estado mental em que
os neurotransmissores do stress [...] permanecem temporariamente desativados.
E.S.“Truques de sonho” [Em linha. Super Interessante, n.º 167, março de 2012
[Consult. em 04-10-2016, com supressões].

1. oníricas: referentes ao sonho. 2. REM: Rapid eyes movement.

1.1. Identifica o campo lexical predominante, identificando os seus constituintes.


vu
Sonho: “etapas oníricas”, “cérebro”, “fase REM do sono”, “recordações”, “neurotransmissores”..

1.2. Exemplifica a amplitude do campo semântico de sono.


Sono, sono reparador, sono de pedra, sono dos justos, sono eterno, sono hibernal, doença do sono...

1.3. Completa o quadro, identificando os étimos e o processo de formação das palavras indica-
das. Se necessário, consulta um dicionário.

Constituintes(s) Processo de formação


"a. “oníricas"(.1) oneiros + -icas derivada por sufixação
b. “desagradáveis”(1. 2) des- + agradáveis derivada por prefixação
c. “estudo” (1.2) estud- + -o derivação não afixal
d. “REM” (1.4) Rapid eyes movement acrónimo
e. “neurotransmissores”(1. 6) neuro- + transmissores composto morfológico
U f. “stress” (1.6) stress empréstimo

2. Tendo em conta os processos de formação de palavras, identifica o intruso em cada alí-


nea, justificando.
a. metro — otorrino — Zé — heli — setora intruso: setora - amálgama (senhora + doutora) entre

truncações (metro[politano], otorrino[laringologista], [Jos]Zé, helilcóptero])

b. televisão - telemóvel - telebanco intruso: telemóvel - amálgama (tele[fone] + móvel) entre


ENCI2CAEP O Porto Editora

compostos morfológicos (tele+visão, tele+banco)

c. ping-pong - tic-tac - vaivém intruso: vaivém - composto morfossintático entre onomatopeias

d. TIR= NIF— NIB


— VIP — FBI: intruso: FBI - sigla entre acrónimos
Gramática

3. Lê um excerto do artigo de opinião


“O provincianismo na língua”.

BIONPA OMOd O dIAVOTIONT


O provincianismo na língua
Perante cada palavra estrangeira ou formada com
base numa palavra estrangeira, pergunte-se: “Acrescenta
ela algum significado que não exista na nossa língua
noutras palavras?” Se surge uma realidade nova, precisa-
« Ny s mos de uma palavra nova ou de uma anterior tomada de
: empréstimo. Antes de haver futebol, não poderia haver a
MANUEL MATOS MONTEIRO
palavra, o mesmo sucedendo com televisão ou piza. Mas
antes de haver o francesismo “abajur” existia já o “quebra-luz” (temos ainda “luci-
velo”), que é exatamente o mesmo. O problema é o sem-número de palavras que
10 nada acrescentam a palavras anteriores do nosso idioma.
Vejamos alguns exemplos de uma lista de milhares. Quem emprega hodierna-
mente “escol” “sema! “nata” rendidos que estamos ao galicismo “elite”? Leia-se Fer-
nando Pessoa, em O Provincianismo Português: “[A] camada alta, que vulgarmente
se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão,
15 por elite” [...) Sabem os jornalistas que antes do moderninho anglicismo “evento”
(saco em que cabe tudo) não se sentia falta de vocábulo para descrever aconteci-
mentos, iniciativas, certames, atividades, exposições, mostras, espetáculos? Resul-
tado: o afunilamento da língua e, com ele, o afunilamento do pensamento. [...] Que
acrescenta o francês nuance a “cambiante” “matiz' “subtileza” “coloração” “tonali-
20 dade”? Ou o omnipresente “complô” (quase sempre escrito em francês - complot -,
até em dicionários!) a “conluio” “maquinação” “trama? “conspiração”? Nada. En-
contramos algum “caso de êxito” hoje? Nenhum. São todos “casos de sucesso” O
us
êxito” foi vassourado.
E com este downsizing da língua, fazemos delete ao pensamento.
MONTEIRO, Manuel Matos.“O provincianismo na língua” [Em linha]. Público, 31-08-2016 [Com supressões].

3.1. Transcreve para o quadro as palavras que podem ser encaradas como arcaísmos e como
neologismos.

Arcaísmos Neologismos |
nu
“lucivelo] “escol” “downsizing) “delete” |

3.2. Explicita o ponto de vista defendido pelo autor, mostrando como a enumeração de ace-
ções sentidas como arcaicas e a referência a neologismos contribui para a construção do
sentido global do texto.
O autor crítica os empréstimos, pois estes levam ao empobrecimento lexical da língua e do próprio
DA
pensamento. As enumerações ilustram a riqueza lexical da língua portuguesa (“escol”, “gema” “nata”,

“conluio”, “maquinação”, “trama? “conspiração”) e contrastam com a pobreza semântica dos em-
” “ ” “ MM

préstimos (“downsizing”, “delete”.

10
Funções sintáticas

Funções sintáticas Manual, pp. 363-365

1. Lêo texto.

Fernando Pessoa (1888-1935)


“Eu sou um outro” escreveu Rimbaud. “Contenho multidões; exclamava
Whitman. Fernando Pessoa fundiu as duas ideias: foi outros, muitos outros, uma
multidão de outros. O poeta secreto, empregado de escritório com uma arca de tex-
tos quase infinita em casa, modernista da geração de Orpheu, não se limitou a in-
ventar os heterónimos; antes criou para si mesmo uma literatura inteira. Talvez por
isso, houve poucos escritores portugueses que se tenham abrigado à sua sombra,
que é dizer também à sombra de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis.
Por muito que paire sobre nós, dominadora, a obra de Pessoa é tão excecional, tão
fulgurantemente única, que não deixou discípulos ou epígonos. No estrangeiro, tor-
nou-se entretanto o epítome das letras lusas e da nossa problemática identidade,
bem como do nosso imobilismo reflexivo e melancólico, tão bem fixado nessa obra-
-prima absoluta que é o inacabado (e inacabável) Livro do Desassossego, de Ber-
nardo Soares.
O que nos ensinou: o milagre da heteronímia (através da qual antecipou as frag-
mentações e desdobramentos da pós-modernidade).
SILVA, José Mário (2008).“Fernando Pessoa (1888-1935)”,
in Os 50 Autores mais Influentes do Século XX (Suplemento da revista Ler, abril de 2008).

1.1
ada pelos seguintes constituintes.
Identifica a função sintática desempenh o
a. “Eu sou um outro” (1.1). Complemento diret

b. “Whitman” (1.2). Sujeito

c. “outros, muitos outros, uma multidão de outros” (11.2-3) Predicativo do sujeito

d. “de Orpheu” (1.4) Complemento do nome

e. “poucos escritores portugueses que se tenham abrigado à sua sombra” (1. 6)


Complemento direto

“que se tenham abrigado à sua sombra” (1.6). Modificador restritivo do nome


=

“à sua sombra” (1.6). Complemento oblíquo


a

“dominadora” (1.8) Modificador apositivo do nome

“de Pessoa” (1.8) Complemento do nome

“discípulos eepigonos” (1.9). Complemento direto


ENCI2CAEP O Porto Editora

“o epítome das letras lusas [...] Bernardo Soares” (11. 10-13). Predicativo do sujeito
1. “das letras lusas e da nossa problemática identidade” (1.10). Complemento do nome
m. “reflexivo e melancólico” (1.11) Modificador restritivo do nome

11
Gramática

“tão bem fixado nessa obra-prima absoluta que é o inacabado (e inacabável) Livro do De-

PIONPI ONO O JIVOTIONT


3
sassossego, de Bernardo Soares”(11. 11-13). Modificador apositivo do nome
“que é o inacabado (e inacabável) Livro do Desassossego, de Bernardo Soares” (1. 11-13)
o
Modificador restritivo do nome

p. “de Bernardo Soares” (1. 12-13). Complemento do nome


q. “nos” (1.14) Complemento indireto

r. “Oque” (1.14) Complemento direto

s. “da pós-modernidade” (1.15). Complemento do nome

2. Lêo texto de apresentação de um espetáculo de marionetas inspirado em Fernando Pes-


soa, produzido pelo grupo teatral Limite Zero.

Fernando Pessoa inspira Festival


da Incerteza em Paris
Pela primeira vez, a biblioteca particular de Fernando
Pessoa viajou “em bloco” para fora de Portugal, com 800
dos 1200 títulos da coleção, uma vez que “não viajaram os
livros que estavam em estado mais frágil) disse à Lusa
Clara Riso, diretora da Casa Fernando Pessoa.
“Com a viagem da biblioteca, há a possibilidade de
pe 27X
apresentar ao público francês a figura de Pessoa como Caricatura
de Fernando
grande leitor. Sendo um autor que é muito lido e tradu- Pessoa por Almada Negreiros
zido, estar aqui a biblioteca é dar outra possibilidade de aproximação aos textos de
Pessoa) descreveu a responsável, sublinhando a diversidade de temas que permite
ver “como os interesses de Pessoa têm uma abrangência tão grande”
“Fernando Pessoa inspira Festival da Incerteza em Paris” [Em linhal.
Sapo24 [Consult. em 04-10-2016].

2.1 Transcreve do texto um constituinte que desempenhe as funções sintáticas indicadas.


a. Modificador apositivo do nome “diretora da Casa Fernando Pessoa” (1. 5)...

b. Modificador restritivo do nome “gue estavam em estado mais frágil” (1. 4)...

c. Complemento do nome “da Incerteza” (título)...

d. Complemento direto “Festival da Incerteza” (título)...

e. Complemento indireto. 4Lusa” (. 4)...


f. Complemento oblíquo “para fora de Portugal” (1. 2)...

g. Predicativo do sujeito . em estado mais frágil” (. 4)...


h. Predicativo do complemento direto. como grande leitor” (ll. 7-8)...

12
Funções sintáticas

2.2. Assinala a opção correta.

2.2.1. O sujeito da oração “estar aqui a biblioteca” (1.9) classifica-se como


(A) () sujeito (nulo) subentendido.
(B) () sujeito (nulo) indeterminado.
(C) (x) sujeito simples.
(D) [ | sujeito composto.
2.2.2. A frase em que está presente um complemento do adjetivo é
(A) (x) Inspirado em Fernando Pessoa, o Festival da Incerteza decorre em Paris.
(B) ( ) A responsável pelo Festival sublinha o interesse da biblioteca de Pessoa.
(C) [ ) A figura de Pessoa como grande leitor vai ser conhecida no Festival.
(D) () Os interesses de Pessoa têm uma grande abrangência.

3. A ordem normal dos elementos frásicos em português é a seguinte:

- Sujeito —> verbo —S complementos (—> modificadores)


* Nome — complemento do nome
* Nome — modificador do nome

3.1. Ricardo Reis, nas suas odes, recorre frequentemente a inversões sintáticas. Sublinha as
que estão presentes na ode seguinte.

Da lâmpada noturna
Da lâmpada noturna
A chama estremece
E o quarto alto ondeia.

Os deuses concedem
Aos seus calmos crentes
Que nunca lhes trema
A chama da vida
Perturbando o aspeto
Do que está em roda,
Mas firme e esguiada
Como preciosa
E antiga pedra,
Guarde a sua calma
Beleza contínua.
ENCI2CAEP O Porto Editora

REIS, Ricardo (2000), Poesias.


Lisboa: Assírio & Alvim, pp. 48-49.

O Shutterstock.com

13
Gramática

3.2. Reescreve a ode, organizando as frases pela ordem normal.


A chama da lâmpada noturna estremece e ondeia o quarto alto. Os deuses concedem aos seus cren-

PIONPT ONO O dAVOTIONA


tes calmos que a chama da vida nunca lhes trema, perturbando o aspeto do que está em roda, mas a

sua calma firme e esguiada, como preciosa pedra antiga, guarde beleza contínua.

3.3. Identifica o recurso expressivo a que as inversões sintáticas dão origem.


Anástrofe

4. Escreve frases que contenham as estruturas sintáticas indicadas.


a. Sujeito simples (nome + complemento do nome) > Vocativo > Predicado (verbo + comple-
mento agente da passiva + modificador do grupo verbal)
As odes de Ricardo Reis, caros colegas, são lidas pelos leitores com atenção.

b. Sujeito composto > Predicado (verbo + complemento direto + predicativo do complemento


direto)
Leitores e críticos consideram Fernando Pessoa um poeta complexo.

c. Sujeito simples (nome + modificador apositivo do nome) > Predicado (verbo + predicativo
do sujeito [adjetivo + complemento do adjetivo])
A ode, marcada por anástrofes, é difícil de compreender.

5. Lêa entrada de diário que Fernando Pessoa escreveu no dia 14 de março de 1913.

Diário de Fernando Pessoa


Vim para baixo às9, para o escritório do
Mayer. Fui ao do Lavado depois, onde es-
crevi uma carta. - De noite na Brasileira
com Corado[?). Saí com ele, falando
5 sobre vários assuntos num passeio longo,
que foi até a Alcântara e volta.
PESSOA, Fernando [Em linha]. Arquivo Pessoa.
[Consult. em 10-09-2016].

5.1. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados.


“para baixo” - complemento oblíquo;

“às 9” - modificador (do grupo verbal);

“do Lavado” - complemento do nome (nome elidido: “escritório”);

“onde escrevi uma carta” - modificador apositivo do nome;

“sobre vários assuntos” - complemento oblíquo;

“que” - sujeito.

14
Frase complexa — Coordenação e subordinação

Frase complexa - Coordenação e subordinação


Manual, pp. 366-368

1. Lêo texto.

O incansável investigador
Houve muitos fenómenos da natureza que assombraram Da Vinci, mas pode-
mos destacar um que inflamou o seu espírito inventivo como engenheiro: o voo. [...]
Das suas múltiplas reflexões e tentativas, quase obsessivas, para criar uma má-
quina voadora, nasceu o Códice sobre o Voo dos Aves, um documento que ainda hoje
s surpreende os engenheiros aeronáuticos. Dividiu-o em quatro partes: o voo que se
efetua batendo as asas, o voo sem bater as asas, ao sabor do vento; o que há de
comum no voo de pássaros, morcegos, peixes voadores e insetos; e o voo artificial
através de um mecanismo. Chamavam-lhe especialmente a atenção os majestosos
abutres, que passou horas a observar. Para compreender como as aves voavam, ana-
10 lisou o seu centro de gravidade, a compressão do ar que se produz com o movimento
das asas, o equilíbrio...

E. S.”O incansável investigador”, Super Interessante, abril de 2016, pp. 76-78 [Com supressões].

1.1. Transcreve e classifica a oração iniciada por:


a. “que” (1.1) “que assombraram Da Vinci” - oração subordinada adjetiva relativa restritiva

b. “mas” (11. 1-2) “mas podemos destacar um” - oração coordenada adversativa

c. “para” (11.3-4) “para criar uma máquina voadora” - oração subordinada adverbial final

d. “que” (11.4-5) “que ainda hoje surpreende os engenheiros aeronáuticos” - oração subordinada

adjetiva relativa restritiva

e. “Para” (1.9) “Para compreender” - oração subordinada adverbial final

£. “como” (1.9) “como as aves voavam” - oração subordinada substantiva completiva

1.1.1. Identifica a função sintática desempenhada pelas orações identificadas nas alíneas
a. d.ef.
a. Modificador restritivo do nome. d. Modificador restritivo do nome. f. Complemento direto

1.2. Completa o quadro, transformando as orações finitas em não finitas equivalentes e vice-
-versa.

( N
Oração subordinada finita Oração subordinada não finita

“para criar uma máquina voadora”


(Il. 3-4) a. para que criasse uma máquina voadora
ENCI2CAEP O Porto Editora

b. efetuado “que se efetua” (Il. 5-6)

“batendo as asas”(1. 6) €. quando/sempre que se batem as asas


d. produzido com o movimento das asas “que se produz com o movimento das asas” (11. 10-11)

15
Gramática

1.3. Assinala a única frase em que está presente uma oração subordinada adverbial concessiva.
(A) (x) Conquanto se interessasse muito por astronomia, Da Vinci dedicava-se também a
outras áreas.
(B) () Contanto que houvesse abutres nos ares, Da Vinci observava o céu.
(C) () Porquanto se interessava pelo voo das aves, Da Vinci escreveu um códice sobre
o assunto.
(D) () Da Vinci interessava-se por astronomia, assim como por tecnologia.
3 e .. . . .

2. Lêo texto.

BIONPA ONO O dIVOTIONT


Grandes invenções
No dia a dia, muitos aspetos dos “tempos modernos” começaram nos Anos
20. Apesar de algo estranhos, estes aparelhos anunciavam uma autêntica
revolução no quotidiano das classes médias e altas. [...]

Rádio portátil
s Embora transportável, o pequeno aparelho de telefonia
de J. M. McGuire não possuía bateria, por isso tinha de
estar ligado à corrente para funcionar.
“Grandes Invenções”, Visão História, n.º 36, julho de 2016, pp. 86-87
[Com supressões, adaptado].

2.1. Identifica as duas elipses de formas verbais presentes no texto.


“Apesar de [serem] algo estranhos” (1. 2); “Embora [fosse] transportável” (1. 5).

2.2. Associa a cada oração (Coluna A) o nexo por ela introduzido relativamente à oração com
que se combina (Coluna B).

Coluna A Coluna B
a. “Apesar de algo estranhos”
(1. 2) 2 1. Finalidade
b. “Embora transportável” (1. 5) 2 Concessão
A mM 2. à

3. Explicação
c. - “por
“porii isso tinha
j de estar ligado
j à j corrente” “ (Il. (II. 6-7)
6-7 4 A. Condusão=

d. “para funcionar”
(1. 7) 1 5. Causa

2.3. Reescreve o texto, substituindo as conjunções/locuções conjuncionais por outras com sen-
tido equivalente.
No dia a dia, muitos aspetos dos “tempos modernos” começaram nos Anos 20. Ainda que algo estra-

nhos, estes aparelhos anunciavam uma autêntica revolução no quotidiano das classes médias e altas.

[..]
Rádio portátil

Apesar de transportável, o pequeno aparelho de telefonia de J. M. McGuire não possuía bateria, logo

tinha de estar ligado à corrente para que funcionasse.

16
Frase complexa - Coordenação e subordinação

3. Lêo texto.

A cem à hora
É sabido que, no poema de Álvaro de Campos Ao volante, este heterónimo de
Fernando Pessoa se analisa enquanto conduz um Chevrolet pela Estrada de Sintra...
Mas, relacionadas com esta composição, podem ser apontadas duas curiosidades,
nunca referidas. A primeira é que o poeta (pseudo)automobilista se abasteceu for-
s çosamente numa bomba de fornecimento Auto-Gazo, instalada pela petrolífera
americana Vacuum Oil Company, a futura Mobil. Com efeito, era esta a companhia
que detinha o monopólio do fornecimento de combustível, a ela se devendo tam-
bém a primeira grande campanha de sinalização nas estradas portuguesas, tradu-
zida na implantação de placas indicativas um pouco por todo o país. A segunda
10 curiosidade relacionada com o poema é que, tratando-se de uma obra escrita em
maio de 1928, Álvaro de Campos conduzia certamente pela esquerda.
"A cem à hora”, Visão História, n.º 36, julho de 2016, pp. 84-85.

4. Transcreve do texto uma oração subordinada:


a. substantiva completiva com a função sintática de sujeito
“que, no poema de Álvaro de Campos Ao volante, este heterónimo de Fernando Pessoa se analisa” (1. 1-2)

b. substantiva completiva com a função sintática de predicativo do sujeito


“que [...] Álvaro de Campos conduzia certamente pela esquerda” (11. 10-11)

c. adverbial temporal com a função sintática de modificador do grupo verbal


“enquanto conduz um Chevrolet pela Estrada de Sintra...” (1.2)

d. adjetiva relativa restritiva com a função sintática de modificador restritivo do nome


“que detinha o monopólio do fornecimento de combustível” (1. 7)

e. adjetiva relativa restritiva não finita participial com a função sintática de modificador aposi-
tivo do nome
“traduzida na implantação de placas indicativas um pouco por todo o país” (Il. 8-9)

5. Transforma as duas frases simples numa frase complexa, estabelecendo entre elas os
nexos indicados.
Viajo. Reflito sobre a vida.

(Tempo Reflito sobre a vida enquanto viajo. Condição | Se viajar, reflito sobre a vida.

Causa Reflito sobre a vida, uma vez que viajo. Alternativa | Ou viajo ou reflito sobre a vida.
ENCI2CAEP O Porto Editora

Finalidade Viajo para refletir sobre a vida. Oposição | Viajo, mas não reflito sobre a vida.

Concessão Viajo, embora não reflita sobre a vida. Conclusão | Viajo, logo reflito sobre a vida.
| Consequência | Viajo tanto que reflito sobre a vida. Explicação | Viajo, pois reflito sobre a vida.

ENCI2ZCA FOZ
17
Gramática

Valor temporal Manual, 369

1. Completa o quadro, identificando as formas que têm valor temporal em cada frase. Segue
o exemplo.

O AIVOTIONT
Advérbios/ .
= Verbos = Orações
Flexão verbal a: expressões .
auxiliares temporais
de tempo
,

PIONP OO
a. À Anafficou contente ao ficou (pretérito perfeito ao saber
saber que tinha ganho um | simples do indicativo); (não finita
prémio. tinha ganho (pretérito infinitiva)
mais-que-perfeito
composto do indicativo)

b. A Ana viveu em Paris. viveu (pretérito perfeito


simples do indicativo)
c. Dantes a Ana vivia em Paris. | vívia (pretérito imperfeito Dantes
do indicativo)

d. A Ana vai viver em Paris. vai + infinitivo

e. A Ana viverá em Paris viverá (futuro simples durante dois


durante dois anos. do indicativo) anos

f. Daquiatrêsanos,a Anajá | terá regressado (futuro Daqui a três


terá regressado a Portugal. | composto do indicativo) anos;

g. A Ana ficou contente ficou, soube (pretérito uando


quando soube que ia perfeito simples do ia + infinitivo Do
regressar a Portugal. indicativo)
h. Atualmente, a Ana vive em | | vive (presente do
. doq Atualmente
Paris. indicativo)
A. A

1.1. Analisa as mesmas frases, explicitando o tempo de referência e o valor temporal de cada
uma delas, de acordo com o exemplo.
as "

Tempo de referência Valor temporal


,
a. A Anaficou contente ao saber que | A Ana ficou contente | Passado (anterioridade em relação ao
tinha ganho um prémio. tempo de referência)

. . IP iori laçã
b. A Ana viveu em Paris. Momento da enunciação assado (anterioridade em relação ao
momento da enunciação)
Passado (anterioridade em relação ao
c. Dantes a Ana vivia em Paris. Momento da enunciação oa
momento da enunciação)
Jo . :— | Futuro (posterioridade em relação ao
d. A Ana vai viver em Paris. Momento da enunciação (p no ç
momento da enunciação)
e. A Ana viverá em Paris durante :— | Futuro (posterioridade em relação ao
. Momento da enunciação no
dois anos. momento da enunciação)
f. Daqui a três anos, a Ana já terá Futuro (posterioridade em relação ao
Momento da enunciação
regressado a Portugal. momento da enunciação)

g. A Ana ficou contente quando Passado (posterioridade em relação ao


. A Ana ficou contente
soube que ia regressar a Portugal. tempo de referência)

18
Valor temporal

2. Identifica o tipo de relação temporal existente entre os acontecimentos representados


nas frases (anterioridade, simultaneidade, posterioridade).
a. Quando eu cheguei a casa, a Ana já tinha saído. Anterioridade
b. Depois de eu sair de casa, a Ana chegou. . Posterioridade
c. A Ana chegou a casa quando eu saí. Simultaneidade
d. Eu cheguei a casa às vinte horas; a Ana sairia de seguida. . Posterioridade
e. Daqui a duas horas, a Ana já terá regressado. Posterioridade
f. A Ana regressou há duas horas. Anterioridade
g. A Ana regressa daqui a duas horas. . Posterioridade
h. A Ana regressará daqui a duas horas. Posterioridade

3. Lêo texto.

Diário de Luísa Dacosta


22 de janeiro

Fui despedir-me. O mestre arranjou coragem para

O Shutterstock.com
me dizer que o mundo seria melhor se houvesse pes-
soas como eu de dois em dois quilómetros quadrados!
Ainda eu me espantava com aqueles cálculos em qui-
lómetros, quando rematou, triste: “Amanhã escuso de
espreitar a rua, já estará em Lisboa...”
Vou ter saudades de Óbidos.
DACOSTA, Luísa (1992). Na Água do Tempo. Lisboa: Quimera, p. 66.

3.1. Completa o quadro, identificando as formas linguísticas utilizadas para localizar os aconte-
cimentos no tempo — passado, presente e futuro.

Passado Presente Futuro


Flexão verbal Ex.: “arranjou” — “escuso”

Verbos auxiliares — — “Vou” (ter)

Advérbios com valor temporal “Ainda” — “amanhã! “já”

Orações temporais “quando rematou” — —

3.2. Assinala a afirmação verdadeira.


(A) () Todas as frases do texto têm como tempo de referência o momento da enunciação.
(B) () No contexto em que surge, a forma verbal “seria” tem valor temporal.
ENCI2CAEP O Porto Editora

(C) () Entre “Ainda eu me espantava com aqueles cálculos em quilómetros”e “quando rema-
tou, triste” estabelece-se uma relação temporal de posterioridade.
(D) (x] Na última frase do texto, estabelece-se uma relação de posterioridade relativa-
mente ao momento da enunciação.

19
Gramática

Valor aspetual p. 369


Manual,

1. Lêo artigo de opinião.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


Para Óbidos, seja como for
Vou pelas estradas do Oeste e vejo pás elétricas de moinhos gigantes, montanhas
de caixotes de pera-rocha, escarpas ventosas, as linhas onde caíram os soldados
franceses e, finalmente, aquele castelinho de Óbidos, deitado como um gato num
móvel alto. Sigo de carro e lembro-me que os meios de transporte são pilares da lite-
s ratura. Comboios, aviões, automóveis, bicicletas ou carroças têm de aparecer. São
como o amor e a morte. Levam-nos o espírito para outro lado. Eu vou a Óbidos. Subo
a pé a Rua Direita, casas que parecem feitas de massa de pão, igrejas de batata-doce,
fontes de chocolate, chego à tenda dos autores e vejo o escritor V. S. Naipul a sair
numa cadeira de rodas. A força de um festival literário está também nas escolhas
10 humanas, na informal delicadeza ao receber todos os convidados, e admiro a forma
doce, comovente, como o Tobias desliza a cadeira do Nobel da Literatura, deslo-
cando no ar aquele chapéu claro de Naipul, cortado à faca. [...] Subo e desço as ruas,
mastigo bolinhos, ouço música. Vim a uma praça forte, um castelo junto do Atlân-
tico, para falar dos meus livros e do que quiser. Lembro-me de Robert Walser, outro
15 que nunca estava parado, e da novela O Passeio. Vai a andar e lembra-se: “Os escrito-
res, tal como os generais, muitas vezes fazem as preparações mais laboriosas antes
de se atreverem a marchar para o ataque e iniciar a batalha, ou, por outras palavras,
atirarem o seu artigo, ou livro, para o mercado livreiro, uma ação que funciona como
um desafio e, como tal, estimula fortes contra-ataques. Os livros atraem discussões,
2» e estas às vezes terminam numa tal fúria que o livro tem de morrer e o seu escritor
desesperar com a sua vida” Não desesperem, faltam vários dias de Folio, em Óbidos.
Há várias formas de lá chegar.
MARTINS, Rui. “Para Óbidos, seja como for” [Em linhal. Diário de Notícias, 30-09-2016
[Consult. em 10-10-2016, com supressões].

1.1. Associa a cada enunciado o valor aspetual que lhe é inerente.

Coluna A 1 ( Coluna B
a. “Vou pelas estradas do Oeste” (1.1) 2 1. Valor perfetivo
b. “as linhas onde caíram os soldados franceses”
(Il. 2-3) 1 2. Valor imperfetivo
c. “São como o amor e a morte. Levam-nos o espírito para outro lado.”(I1.5-6) | 3 3. Situação genérica
d. “Aforça de um festival literário está também nas escolhas humanas” (l.9-10) | 3 | 4. Situação habitual |
e. “Os escritores, tal como os generais, muitas vezes fazem as preparações
mais laboriosas” (II. 15-16)

1.2. Reescreve o enunciado Vou a Óbidos, conferindo-lhe um valor iterativo.


Exemplo: Nos últimos meses, tenho ido a Óbidos diariamente.

20
Valor aspetual

2. Lêo texto.

V.S. Naipaul:“Quero sempre acabar um livro.


É como defino a minha carreira: acabo livros”
O Nobel da Literatura fechou a primeira " E ] ”
noite do FOLIO, o festival literário de Óbi-
dos. Numa entrevista conduzida por José
Mário Silva, Naipaul falou do sofrimento
que muitas vezes a escrita envolve. [...]

Com 84 anos, V.S. Naipaul é uma espécie


de lobo do mar solitário, com muitas histó- gs. k
rias e pensamentos que prefere guardar só o
para si. Com uma vontade cada vez maior de escrever, nos tempos livres costuma ler
os grandes clássicos. Na mesa de cabeceira tem agora Virgílio e Horácio, “que gosta
de ler em latim para manter a mente ativa, como fez questão de contar à audiência
Nadira Naipaul, mulher do escritor, depois de se ter sentado à beira do palco para
ajudar o marido a responder às questões colocadas pelo público. [...]
Para V.S. Naipaul, um dos grandes “mistérios da escrita” é o processo de escolher
um tema para ser retratado nas páginas de um livro. E também o mais difícil porque
não se pode ser um escritor “e não ter nada do que falar” “Escolher o tema é metade
do trabalho” explicou. [...]
Questionado sobre o porquê de escrever sempre sobre personagens isoladas -
outsiders -, o autor disse ter percebido, há já vários anos, que é esse o seu tema. “É o
20 material com que lido, mas estou disposto a lidar com ele desta forma porque, se
pensar demasiado sobre isso, vou sempre dizer mais qualquer coisa” Sobre o facto
de os países de que fala nos seus livros serem sempre imaginários e não reais, expli-
cou que “para tornar um país real, é preciso estudar história, geografia” “Não quero
fazer isso, nunca quis fazer isso.”

CIPRIANO, Rita. “V.S. Naipaul:'Quero sempre acabar um livro. É como defino a minha carreira: acabo livros”
[Em linha]. Observador, 23-09-2016 [Consult. em 10-10-2016, com supressões].

2.1. Transcreve enunciados que transmitam os seguintes valores aspetuais:

l Entrada Valor perfetivo a. “O Nobel da Literatura fechou a primeira noite” (1.1)


(11. 1-5) Situação habitual | b. “que muitas vezes a escrita envolve” (1.5)

1.º Parágrafo | Situação habitual | c. “costuma ler os grandes clássicos” (11.9-10)


(II. 6-13) Valor imperfetivo | d. “Na mesa de cabeceira tem agora Virgílio e Horácio” (1.10)
2.º Parágrafo | Situação genérica | e. “Escolher o tema é metade do trabalho” (1. 16-17)
ENCI2CAEP O Porto Editora

(11. 14-17) Valor perfetivo f. “explicou” (1. 17)


3.º Parágrafo Situação iterativa . “o porquê de escrever sempre” (1. 18)
(I1. 18-24) Situação genérica « “para tornar um país real [...] geografia” (1. 23)

21
Gramática

Valor modal Manual, p. 369

1. Associa a cada enunciado o valor modal correspondente.

| Coluna A ( Coluna B
a. Ela pode chegar a qualquer momento. 1 1. Valor modal epistémico
b. É provável que ela chegue ainda hoje. 2. Valor modal deôntico

a
c. Creio que ela chegará esta manhã. | 3. Valor modal apreciativo |

CINDLOLDNIN|
O]
d. Felizmente, a mãe da Ana permitiu que a filha fosse viajar.
e. Compra já o bilhete de avião.
f. Peço-te que regresses imediatamente!
9. Lamento que tenhas de regressar
já a casa.
h. Preciso que regresses
já a casa.
|i. Que bom quejá chegaste!

2. Lêo texto.

PIONPT 0J1Od O dIVOTIDNA


Navegar é preciso
É conhecida a frase latina “Navigare necesse est” - navegar é preciso - glosada em
poemas e canções. Durante séculos, sem transportes terrestres nem estradas dignas
desse nome, a ligação entre pontos afastados do planeta era preferencialmente feita
por mar. O tema da viagem marítima é inesgotável, com a associação a naufrágios,
s tesouros, dramas e aventura em geral. [...] Só nas costas portuguesas estão docu-
mentados 6 mil naufrágios.
"Navegar é preciso” Visão História, n.º 37, setembro de 2016, p. 1 [Com supressões].

2.1. Identifica o valor modal intrínseco aos enunciados seguintes:


a. “navegar é preciso” (1.1) Valor deôntico (obrigação)

b. “O tema da viagem marítima é inesgotável” (1.4). Valor epistémico (certeza)


c. Agrada-me que o tema da viagem marítima seja inesgotável... Valor apreciativo

3. Considera o seguinte enunciado: Vais viajar?


3.1. Reescreve-o, imprimindo-lhe os seguintes valores modais:
a. Valor epistémico - dúvida. Creio que vais viajar.
b. Valor epistémico - certeza. Sei que vais viajar.
c. Valor deôntico - permissão. Podes viajar.
d. Valor deôntico - proibição. Não viajes!
e. Valor apreciativo - contentamento Felizmente, vais viajar.

22
Valor modal

4. Lêo texto.

Nas profundezas oceânicas


O fundo dos mares é também cenário de histórias

O Shutterstock.com
de ficção inesquecíveis e marcantes. A primeira de
todas é, sem dúvida, Vinte Mil Léguas Submarinas,
um dos romances mais famosos do francês Júlio
5 Verne (1825-1905), um dos pioneiros da ficção cientí-
fica. Movido a eletricidade, o submarino Nautilus, concebido pelo enigmático capi-
tão Nemo, explora o fundo de todos os oceanos da terra.
Originalmente publicado em 1870 e por diversas vezes adaptada ao cinema e à
banda desenhada, é uma história de aventura, vingança e divulgação científica.
10 Numa das passagens mais curiosas, os protagonistas passeiam no fundo do mar uti-
lizando escafandros “pés de chumbo” mas autónomos e descobrem as ruínas da
lendária Atlântida a que se refere Platão.
MARTINS, Luís Almeida. “Nas profundezas oceânicas”, Visão História, n.º 37, setembro de 2016, p. 78.

4.1. Assinala a opção correta.


4.1.1. O texto é marcado pela veiculação de valores modais
(A) [| |epistémicos (dúvida).
(B) [x] apreciativos.
(C) | | deônticos (permissão).
(D) ||| deônticos (obrigação).
4.1.2. O enunciado Os alunos devem ler as Vinte Mil Léguas Submarinas amanhã. pode ser
interpretado como tendo
(A) (x] um valor deôntico ou um valor epistémico de possibilidade.
(B) [| um valor exclusivamente deôntico.
(C) ( ) um valor exclusivamente epistémico de possibilidade.
(D) () um valor epistémico de certeza ou de probabilidade.
4.1.3. Em Explora já o fundo do mar! a modalidade deôntica é concretizada
(A) () pelo verbo auxiliar com valor modal.
(B) [x] pelo modo verbal.
(C) ( ) pela frase de tipo exclamativo.
(D) () pelo advérbio com valor temporal.
4.1.4. O único enunciado que veicula um valor epistémico de possibilidade é

(A) (x) Para passear no fundo do mar, podes usar escafandro.


ENCI2CAEP O Porto Editora

(B) [ ] Para passear no fundo do mar, deves usar escafandro.


(C) ( ) Para passear no fundo do mar, tens de usar escafandro.
(D) | | Para passear no fundo do mar, não tens de usar escafandro.

23
Gramática

Coesão e coerência textuais Manual, pp. 370-371

1. Lêo texto.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


O Grande Gatsby
De F. Scott Fitzgerald (1925) OR Ejsce RCE

Se fosse preciso um romance para estabelecer um


paralelo entre a crise económica do início do século XXI
e a do século XX, seria este.
HEM
À euforia do crescimento do pós-guerra - refletida no
s uso generalizado de eletricidade e de automóvel ou na
escolha das cidades como lugar para viver - segue-se o
crash da bolsa, em 1929. E O Grande Gatsby, escrito por
Scott Fitzgerald a ver o mar, na costa francesa, é isso tudo.
Primeiro o enriquecimento baseado numa mentira, de-
1 pois a opulência das festas em Long Island, que obrigavam a contratação de oito
criados para limpar tudo no dia seguinte, e um triste fim, repleto de traições. Tal
como se poderia escrever hoje, o romance retrata a decadência que vem depois da
riqueza - e os efeitos perversos de uma desigual distribuição da riqueza.
NERY, Isabel. “Mortos, feridos e 'glamour”, Visão História, n.º 36, julho de 2016, p. 97.

1.1. Identifica os mecanismos de coesão textual presentes no texto, completando o quadro


com exemplos textuais.

Coesão gramatical
referencial temporal frásica interfrásica
uso anafórico de uso de expressões concordância nome- recurso à coordenação e
un
pronomes: “a”, du“este”, com valor temporal: -adjetivo: “costa subordinação: “Se fosse
vd
“isso”, “que” “em 1929”, “hoje”... francesa”... [...] seria este” (11. 1-3)...

1.2. Assinala a opção correta, exemplificando a tua resposta no caderno.


1.2.1. Ao longo do texto, a coesão lexical é assegurada
(A) () pela substituição por antónimos e sinónimos.
(B) [x] pela reiteração e pela substituição por sinónimos.
(C) ( ) pela reiteração e pela substituição por sinónimos e por hipónimos.
(D) (1) pela reiteração e pela substituição de holónimos por merónimos.
1.2.2.No segmento “depois a opulência das festas em Long Island, que obrigavam a contrata-
ção de oito criados para limpar tudo no dia seguinte” (I1.9-11), a coerência textual é asse-
gurada por uma relação lógica de
(A) [X] causa > efeito. (C) [| | todo > parte.
(B) | | classe > elemento. (D) (1) genérico > específico.

24
Coesão e coerência textuais

1.2.3.No segmento “o romance retrata a decadência que vem depois da riqueza” (11. 12-13), a
coerência textual é assegurada por uma relação lógica de

(A) || causa > consequência. (C) [| classe > elemento.


(B) (X] consequência > causa. (D) | | elemento > classe.

2. Lêo início de um soneto de Luís de Camões.

Amor é fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
CAMÕES, Luís de (1994). Rimas. Coimbra: Almedina, p. 119.

2.1. Demonstra que este texto é coerente.


Apesar de as definições apresentadas assentarem em informações contraditórias, não se desrespeita

o princípio da contradição, mas faz-se uso de um recurso expressivo que consiste na oposição de

ideias contraditórias (oxímoro).

3. Lêo conto”Pequena fábula”, de Kafka.

Pequena fábula
“Ah' disse o rato, “cada dia que passa, o mundo vai ficando mais estreito. No
princípio, era tão vasto que eu tinha medo, continuei a correr e fiquei contente por
finalmente ver, lá longe, muros à direita e à esquerda, mas estes extensos muros
aproximam-se tão rapidamente um do outro que eu me vejo confinado já ao último
s compartimento, e ali, ao canto, está a ratoeira para onde corro” “Só tens de mudar de
direção” disse o gato e devorou-o.
KAFKA, Franz (2016). Bestiário de Kafka. Lisboa: Bertrand, p. 137.

3.1. Analisa a forma como os princípios da relevância, não contradição e não tautologia são
explorados no texto, completando o esquema.
go

| “Pequena fábula”- Kafka


1
)
( N M " e
Relevância Não contradição Não tautologia
Toda a informação Não se apresentam Não há informações
apresentada se relaciona informações logicamente redundantes (o discurso do
ENCI2CAEP O Porto Editora

com a resolução do conflito incompatíveis; o gato rato é ligeiramente repetitivo,


(o rato tenta livrar-se da apresenta uma alternativa ao denunciando o seu estado de
morte, em vão). rato, que o livra da “ratoeira”, espírito confuso e
mas que não o livra da morte. angustiado).
A 4 A 4 A +

25
Gramática

Sequências textuais Manual, p. 372

1. Lê os três excertos do Diário VIll de Miguel Torga e delimita, na margem, as sequências


textuais neles presentes. Segue o exemplo.

PIONPT ONO] O dIVOTIONT


Coimbra, 15 de novembro de 1955 - Expliquei-lhe: Sequência dominante
* argumentativa
- Já reparou nas árvores do teatro? São de papelão,
como sabe. Ora suponha que numa dessas florestas Outras sequências
º dialogal (em quea
simuladas do palco aparecia de repente um casta-
argumentativa se encaixa)
nheiro autêntico, um pinheiro a escorrer resina...
* descritivas (encaixadas na
Seria o pânico, evidentemente. Pois é o que acontece argumentativa)
entre nós. Os atores que representam a comédia da
vida portuguesa atual são homens postiços, a fingir; e
quando por acaso surge na ribalta um fulano verda-
deiro, a ressumar seiva e realidade, é preciso eliminar
o absurdo de qualquer maneira.

Sequência dominante
Carvalhelhos, 24 de junho de 1956 - [...] Esta tarde, em
e Narrativa
Vilar, povoação serrana que visitei para ver uma tábua
bem bonita, porque só me apareciam velhas à porta Outras sequências
das casas, meti conversa com uma, a tirar nabos da e Dialogal (encaixada na
púcara. narrativa)
- Quantas viúvas há cá na terra?
e Descritiva (encaixada na
- Quarenta e duas.
narrativa)
- E viúvos?
- Três.
Espantado com semelhante desproporção, per-
guntei-lhe a causa.
- É que os homens são mais aflitos.

Sequência dominante
Coimbra, 24 de setembro de 1956 - Povo de almocre-
e Descritiva
ves da terra e do mar, de andarilhos, o nosso génio é
todo geográfico. Aqui, ali, além, acolá, atrás, à frente,
ao lado, adiante, abaixo, acima, no meio, são como
pegadas físicas duma peregrinação que se orienta.
Concretizamos o espaço que os outros abstraem. A
nossa própria língua é um astrolábio de localização.
TORGA, Miguel, Diário. Vols. | a VIII.
Lisboa: D. Quixote pp. 814, 825, 832 [Com supressões].

26
Sequências textuais

1.1. Identifica, exemplificando, as marcas das sequências identificadas.

( Sequência Fases/Etapas Marcas linguísticas ])


a b.
Narrativa (ver pág. 87) (ver pág. 87)

c d.
Descritiva (ver pág. 87) (ver pág. 87)

e f.
Argumentativa (ver pág. 87) (ver pág. 87)

2. Lêo texto.

Porque é que o mar das Caraíbas é turquesa?


As intensas tonalidades de azul das águas
caribenhas estão relacionadas com a sua lim-
pidez e profundidade e com as leis da física a
que a luz obedece.
5 As moléculas de água absorvem de forma
seletiva os diferentes comprimentos de onda
do espetro visível. As ondas com frequências
próximas do vermelho são rapidamente ab-
sorvidas; por isso, a água possui tons azulados, complementares dos avermelhados.
10 As frequências azuis podem viajar muitos metros ao longo das águas límpidas e pro-
fundas do Caribe e a sua dispersão produz o efeito turquesa.
As partículas orgânicas em suspensão também influenciam a cor, pois disper-
sam a luz azul.
Todavia, esse turquesa magnético não é exclusivo das Caraíbas. Outras regiões
15 do mundo exibem mares tingidos da mesma cor, que não têm sido tão explorados
no plano turístico como os caribenhos.
Super Interessante, Perguntas & Respostas 2011/2012 [Em linha; consult. em 11-10-2016].

2.1. Indica se as afirmações são verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas, no teu caderno.

F | a. Otexto está estruturado com base numa sequência textual argumentativa.

F | b. Oterceiro parágrafo integra uma sequência narrativa.


c. O segmento “das águas límpidas e profundas do Caribe” corresponde a uma sequência
descritiva.
ENCI2CAEP O Porto Editora

F | d. Noúltimo parágrafo estão presentes nexos de adição e de conclusão.

F | e. Todas as formas verbais se encontram flexionadas no presente.

F | f. Todos os enunciados do texto correspondem a situações genéricas.

27
Gramática

Intertextualidade Manual, p. 371

1. Lê os dois poemas.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


Aquela triste e E alegre se fez triste
leda madrugada
Aquela clara madrugada que
Aquela triste e leda madrugada, viu lágrimas correrem no teu rosto
cheia toda de mágoa e de piedade, e alegre se fez triste como se
enquanto houver no mundo saudade chovesse de repente em pleno agosto.
quero que seja sempre celebrada.
Ela só viu meus dedos nos teus dedos

w
Ela só, quando amena e marchetada meu nome no teu nome. E demorados
w

saía, dando ao mundo claridade, viu nossos olhos juntos nos segredos
viu apartar-se d'úa outra vontade, que em silêncio dissemos separados.
que nunca poderá ver-se apartada.
A clara madrugada em que parti.
Ela só viu as lágrimas em fio, 10 Só ela viu teu rosto olhando a estrada
que, de uns e outros olhos derivadas, por onde um automóvel se afastava.
se acrescentaram em grande e largo rio.
E viu que a pátria estava toda em ti.
Ela viu as palavras magoadas E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
que puderam tornar o fogo frio, que fez tão triste a clara madrugada.
e dar descanso às almas condenadas. ALEGRE, Manuel (1995). 30 Anos de Poesia.
Lisboa: Dom Quixote, pp. 176-177.
CAMÕES, Luís de (1994). Lírica Completa — II.
Porto: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p. 172.

1.1. Analisa a relação intertextual que se estabelece entre os dois poemas, associando a cada
segmento da coluna A um segmento da coluna B.
e n o
Coluna A Coluna B

a. Entre os poemas « pragmático e morfológico.


estabelece-se uma relação | 4 « semântico e estilístico.
de intertextualidade,
- é parcialmente distinta,
já que no poema de Manuel
b. A intertextualidade é
Alegre o tema da partida adquire contornos patrióticos.
visível, sobretudo, ao nível
« na medida em que o poema"E alegre se fez triste”
c. A temática apresentada recupera elementos do soneto camoniano.
nos dois poemas
« na medida em que o soneto “Aquela triste e leda
d. O universo de referência
madrugada” recupera elementos do poema de Alegre.
presente nos dois poemas | 6
é distinto, .« dado que a alusão ao contexto histórico-político está
presente apenas no poema de Alegre.
. pois a representação do contexto sociocultural está
presente apenas no poema de Camões.

28
Intertextualidade

2. Lê os dois poemas.

Receita para fazer Receita para fazer o azul


um herói
Se quiseres fazer azul,
Toma-se um homem, pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
Feito de nada, como nós, que possas levar ao lume do horizonte;
E em tamanho natural. depois mexe o azul com um resto de vermelho
Embebe-se-lhe a carne, da madrugada, até que ele se desfaça;
Lentamente, despeja tudo num bacio bem limpo,
w

Duma certeza aguda, irracional, para que nada reste das impurezas da tarde.
Intensa como o ódio ou como a fome. Por fim, peneira um resto de ouro da areia
Depois, perto do fim, do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal. [...]
Agite-se um pendão Júdice, Nuno (2000). Poesia Reunida 1967-2000.
E toca-se o clarim. Lisboa: Dom Quixote, p. 600.

Serve-se morto.

FERREIRA, Reinaldo (2009). Poemas Portugueses.


Antologia da Poesia Portuguesa do séc. XIII.
Porto: Porto Editora, p. 1415.

2.1. Interpreta o sentido da seguinte afirmação:


Os poemas estabelecem uma relação de intertextualidade com um género textual.
A intertextualidade faz-se relativamente ao género textual receita (de culinária) e não em relação a

um texto em concreto (como acontece com o poema “E alegre se fez triste” de Manuel Alegre).

3. Lê o artigo de opinião “Nestlé A Leiteira”, em que se aborda a questão da intertextuali-


dade no âmbito da publicidade.

Nestlé A Leiteira
A famosa marca La Laitére, da Nestlé, chega
agora a Portugal como franchise da Longa Vida. A
forte campanha de publicidade inclui anúncios tele-
visivos e em mupis, utilizando, como já acontecia na
s origem, o quadro do mesmo nome de Vermeer. [...]
Pintado em 1632, o quadro do pintor flamengo
mostra uma mulher pousando como leiteira num
quarto interior e vertendo o leite dum jarro para
outra vasilha. Em cima da mesa há pão inteiro e pão
Vermeer, A Leiteira, 1632
10 cortado.
ENCI2CAEP O Porto Editora

A marca e a campanha apropriam-se diretamente do quadro de Vermeer, da


própria obra de arte. Não é preciso o observador conhecer o quadro ou o nome do

29
Gramática

PIONPA OMOd O AIVOTIONT


autor. A referência intertextual valida-se por se saber, pelo anúncio de TV, que se re-
corre a uma obra antiga, uma imagem parada, um tempo de outro tempo, para
transformar esse referente do antigamente num produto do nosso tempo, da nossa
indústria, dos nossos supermercados, de marcas que milhões conhecem (Nestlé e
Longa Vida).
Além da sua qualidade estética (ou por causa dela), a cena do quadro, transfor-
mada em imagens nossas, atuais, é hoje muito evocativa, representando uma su-
20 posta simplicidade de outros tempos: o quadro respira a naturalidade dos produtos
da sociedade rural, o artesanato, a manufatura. A pintura empresta essas caracterís-
ticas à realidade contrária, implícita aos produtos: complexidade dos tempos atuais,
carácter artificial dos produtos da sociedade urbana, indústria, produção em série.
No mundo atual, não há leiteiras, como a que levava o leite a casa dos meus pais
25 nos anos 60. A distância entre o consumidor e a vaca é imensa. Na verdade, a vaca
não existe na comunicação da maioria dos laticínios, incluindo estes. A indústria
prefere relevar na publicidade o carácter industrial, a marca, a embalagem, os sabo-
res, a higiene, a saúde e bem-estar. A leiteira de Vermeer remete para um passado
mítico, que o consumidor imagina, mas como um mito: faltam na imaginação as
30 doenças, a falta de higiene, de conservação, de mistura de sabores, sobrando sonhos
de natureza, sabor autêntico e à antiga, uma antiguidade no tempo como garantia
de qualidade comprovada.
TORRES, Eduardo Cintra. “Nestlé A Leiteira” [Em linhal.
Jornal de Negócios, 22-09-2009 [Consult. em 11-10-2016, com supressões].

3.1. Com base no texto, explicita a função da intertextualidade no anúncio publicitário.


Função persuasiva - levando à evocação da realidade representada na pintura original e potenciando

a analogia entre duas realidades distintas (com o objetivo de valorizar o produto publicitado).

3.2. Observa o anúncio publicitário.

so
partilha O pe a
ço)
PLS LoPR
REU SeAd dd-

3.2.1. Identifica as relações intertextuais sugeridas pelo anúncio publicitário.


Estabelecem-se dois tipos de relações intertextuais - com o quadro A Leiteira (Vermeer) e

com a expressão idiomática “Amor à primeira vista”

30
Dêixis

Dêixis Manual, p. 373

1. Lê atira de banda desenhada.

VEPRESSA, FILIPE: VIDA EM MARTE/ 7. INTENSO BOMBARDEA- a) VN


NÃO QUERO PERDER AS NÃO E ESPANTOSO MENTO AÉREO NO VIETNAME ESPANTOSO É AINDA
Noricus mapao. DE HAVER VIDA NOUTROS DONORTE. NAÇÕES UNIDAS: HAVER. VIDA NESTE
END UU DE PLANETAS ?

QUINO (2000). O Mundo de Mafalda. Lisboa: Bertrand, p. 81.

1.1. Completa a tabela com os deíticos presentes nas vinhetas 1 e 4 da tira.

Deíticos pessoais
Deíticos espaciais
1.º pessoa 2.2 pessoa
| 1avinheta “quero” “Filipe” —
| 4a vinheta — “neste”
A /

1.2. Dado que remetem para o tempo da enunciação, as formas verbais presentes na tira tam-
bém têm valor deítico.
1.2.1. Transcreve da banda desenhada as formas verbais que apontam:
a. para o momento da enunciação quero; “é “há”
b. para um momento posteriorà enunciação. vão falar”

2. Natira seguinte, a forma de 3.º pessoa “Procuram”e a palavra “menina” têm valor deítico.
Explica porquê.

NÃO, MENINA, SEMPRE A MESMA


ENCI2CAEP O Porto Editora

QUINO, Op. cit, p. 394.


Embora sejam formas de 3.º pessoa, “Procuram” e “menina” têm valor deítico, já que são formas respeitosas

presentes num diálogo entre um “tu” (menina) e o “vós/vocês”.

31
Gramática

Reprodução do discurso no discurso Manual p.373

1. Lêo conto”A partida”, de Franz Kafka.

A partida
Ordenei que trouxessem o meu cavalo dos estábulos. O criado não compreendeu as mi-

O dIVOTIONT
nhas ordens. Por isso fui eu próprio até aos estábulos, selei o meu cavalo e montei. Escutei,
à distância, o som de um trompete e perguntei ao criado o que significava. Ele não sabia

PIONPA OO
nada, nada ouvira. Frente ao portão, deteve-me e perguntou: “Onde vai o meu amo? “Não
5 sei, respondi. “Daqui para fora, vou-me embora, apenas. Daqui para fora, é só, só assim
conseguirei atingir o meu objetivo” “Então vossa senhoria sabe qual é o seu objetivo? per-
guntou ele. “Sim, retorqui. “Já te disse: daqui para fora - é esse o meu objetivo”
KAFKA, Franz (2004). Contos. Lisboa: Cavalo de Ferro/Grande Reportagem, p. 99.

1.1. Identifica as modalidades de reprodução do discurso presentes no conto, exemplificando.


Discurso indireto: “que trouxessem o meu cavalo dos estábulos” (1. 1); “o que significava” (1. 3)
Discurso direto: “Onde vai o meu amo?”, “Não sei”; “Daqui para fora, vou-me embora, apenas. Daqui

para fora, é só, só assim conseguirei atingir o meu objetivo” (11. 5-6); “Então vossa senhoria sabe qual é o

seu objetivo?” (1. 6); “Sim” (1. 7); Já te disse: daqui para fora - é esseo meu objetivo.” (1. 7)

1.2. Assinala os verbos utilizados para introduzir o discurso reproduzido.


3 U pu »u pu
“Ordenei) “perguntei” “perguntou” “respondi! “perguntou” “retorqui) “disse”

2. Lêo artigo jornalístico.

Peça É Impossível Viver a partir de Kafka


em estreia no Rivoli quinta-feira O Shutterstock.com

O Teatro Municipal Rivoli, no Porto, recebe esta


quinta-feira a estreia da peça É Impossível Viver, uma
adaptação de Ana Luena de um conto nunca editado
de Franz Kafka e interpretado pelos atores João Lagarto
s e Sérgio Praia.
Aos jornalistas, na sequência de um ensaio de im-
prensa, a encenadora Ana Luena referiu que o espetáculo,
tal como o conto que lhe serve de base, “não possui uma nar-
rativa linear, mas acaba por tocar em diversos temas que têm a
10 ver com o indivíduo e com questões de identidade”.
Além dos conflitos individuais com que as personagens se deparam, a peça re-
flete igualmente sobre temas que têm a ver com “a humanidade, a guerra e com
questões que ainda hoje acontecem” tudo isto numa “paisagem onde impera a

32
Reprodução do discurso no discurso

ausência de moral” como explicou a encenadora, que apresenta o seu primeiro es-
15 petáculo desde que dissolveu a companhia Teatro Bruto.
Agência Lusa. “Peça É Impossível Vivera partir de Kafka em estreia no Rivoli quinta-feira”
[Em linha]. Visão, 14-09-2015 [Consult. em 11-10-2016].

2.1. Indica a razão pela qual se privilegia o discurso direto como modo de reprodução de um
discurso noutro discurso.
O discurso direto tende a reproduzir o discurso original de forma fiel, conferindo à linguagem jorna-

lística um tom de fidedignidade e de factualidade (nas notícias predomina a apresentação de factos).

3. Lêo texto, retirado do romance Os Maias, de Eça de Queirós.

Touradas em vez de corridas


O velho sorriu, amaciando o seu gato.
- O verdadeiro patriotismo, talvez - disse ele -
seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada.
Dâmaso levou as mãos à cabeça. Uma tourada!
Então o Sr. Afonso da Maia preferia toiros a corridas
de cavalos? O Sr. Afonso da Maia, um inglês!...
- Um simples beirão, Sr. Salcede, um simples
beirão, e que faz gosto nisso; se habitei a Inglaterra é
que o meu rei, que era então, me pôs fora do meu
país... Pois é verdade, tenho esse fraco português,
prefiro touros. Cada raça possui o seu sport próprio, e o nosso é o touro: o touro com
muito sol, ar de dia santo, água fresca, e foguetes... Mas sabe o Sr. Salcede qual é a
vantagem da tourada? É ser uma grande escola de força, de coragem e de destreza...
Em Portugal não há instituição que tenha uma importância igual à tourada de curio-
sos. E acredite uma coisa: é que se nesta triste geração moderna ainda há em Lisboa
uns rapazes com certo músculo, a espinha direita, e capazes de dar um bom soco,
deve-se isso ao touro e à tourada de curiosos...
QUEIRÓS, Eça (2015). Os Maias. Porto: Porto Editora, p. 319.

3.1. Identifica e comenta a expressividade do discurso indireto livre.


Presente em “Uma tourada! Então o Sr. Afonso da Maia preferia toiros a corridas de cavalos? O Sr.

Afonso da Maia, um inglês!..” (Il. 4-6), o discurso indireto livre articula o discurso do narrador e o

discurso de Dâmaso, conferindo maior vivacidade à narrativa e contribuindo para a caracterização

da personagem em causa (ridicularização devido à imitação servil do estrangeiro e ao desprezo pelas


ENCI2CAEP O Porto Editora

tradições nacionais).

ENCI2ZCA F03
33
Gramática

4. Analisa o modo como o discurso é proferido em alguns excertos de Os Maias, associando


a cada exemplo (Coluna A) a classificação do verbo introdutor do discurso nele presente
(Coluna B).

Coluna A 1 f( Coluna B

O dIVOTIONT
“As senhoras censuraram logo aquela rigidez: aí estava uma coisa 1. Verbo assertivo
s

incompreensível; o avô deixava-lhe fazer todos os horrores, e recusava- | 2


2. Verbo expressivo

PIONPA OO
-lhe então o bocadinho da soirée” (Cap. Ill)
E 3. Verbo diretivo
b. “Eusébio rosnou algumas palavras sobre os trens de Carlos, os nove
cavalos, o cocheiro inglês, os grooms...”(Cap.V) 4. Verbo com valor
. . A mM
4

” ; BNVUUE > metafórico


c. “Carlos lamentava também que uma existência de solteirões lhes 5 ———
impedisse, a ele e ao avô, de receberem senhoras.” (Cap. VII) 5. Verbo que descreve
- foneticamente o ato
d. “Craft recomendou que, se houvesse novidade, lhe mandassem um 3 de fala
telegrama” (Cap. IX) e

e. “— Tenho um pressentimento de desgraça - balbuciou ele aterrado:” 5


(Cap. IX)

f. “O Sr. Palma, muito lentamente, afiançou que o Eusébio lhe falara


apenas em nome do Dâmaso!” (Cap. XV)

5. Lê um excerto do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Reis, Pessoa e Camões


Marcenda descia entre os canteiros sem flores, Ricardo Reis subiu ao seu encon-
tro, Estava a falar sozinho, perguntou ela, Sim, de certa maneira, dizia uns versos es-
critos por um amigo meu que morreu há uns meses, talvez conheça, Como se cha-
maya ele, Fernando Pessoa, Tenho uma vaga ideia do nome, mas não me lembro de
s alguma vez ter lido, Entre o que vivo e a vida, entre quem estou e sou, durmo numa
descida, descida em que não vou, Foram esses os versos que esteve a dizer, Foram,
Podiam ter sido feitos por mim, se entendi bem, são tão simples, Tem razão, qual-
quer pessoa os poderia ter feito, Mas teve de vir essa pessoa para os fazer, É como
todas as coisas, as más e as boas, sempre precisam de gente que as faça, olhe o caso
10 dos Lusíadas, já pensou que não teríamos Lusíadas se não tivéssemos tido Camões,
é capaz de imaginar que Portugal seria o nosso sem Camões e sem Lusíadas, Parece
um jogo, uma adivinha, Nada seria mais sério, se verdadeiramente pensássemos
nisso [...).
SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo Reis. Porto: Porto Editora, p. 211.

5.1. Explicita o valor expressivo do diálogo entre Ricardo Reis e Marcenda.


Introduz o registo oral, imprimindo vivacidade e dramatismo à narrativa; produz um efeito de real,
devido ao tom oralizante e à verosimilhança da conversa; contribui para a caracterização psicológica

das personagens intervenientes; sugere a forma como a poesia de Pessoa e de Camões é recebida

pelos leitores comuns.

34
EDUCAÇÃO
LITERÁRIA

Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, “Boiam leves, desatentos”
Bernardo Soares, Livro do Desassossego (excerto)
Alberto Caeiro, “Acho tão natural que não se pense”
Ricardo Reis, “Uns, com os olhos postos no passado”
Álvaro de Campos, “Que noite serena!”
Fernando Pessoa, Mensagem, “D. Sebastião”

Contos
Maria Judite de Carvalho, “George” (excerto)
Mário de Carvalho, “Famílias desavindas” (excerto)

Poetas contemporâneos
Miguel Torga, “Retrato”
Jorge de Sena, “Camões dirige-se aos seus contemporâneos 4

Eugénio de Andrade, “Rapariga descalça”


Alexandre O'Neill, “Portugal”
Manuel Alegre, “O poema”

José Saramago
O Ano da Morte de Ricardo Reis (excerto)

Memorial do Convento (excerto)


EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Fernando Pessoa, ”“Boiam leves, desatentos nr


Manual, p.47

1. Lêo poema.

PIONPT OUOd O dAVOTIDNT


Boiam leves, desatentos
Boiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
s Do corpo morto das águas.

Boiam como folhas mortas


À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
10 Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio, Ê anão rd Golconda, 1953


Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio
Não sei se para, se flui;
15 Não sei se existe ou se dói.

PESSOA, Fernando (2005). Poesias (1918-1930)


(ed. M.P. da Silva, A. M. Freitas, M. Dine). Lisboa: Assírio & Alvim, p. 363.

2. Caracteriza o cenário em que emergem os pensamentos do sujeito poético.


O sujeito poético apresenta um cenário morto, parado no tempo, confrontando-se com o absurdo de o

pensar. Os pensamentos são a realização que existe de um mundo que não é feito só de pensamentos.

2.1. Identifica o(s) recurso(s) expressivo(s) utilizados na construção do cenário.


Comparações, construções anafóricas, uso expressivo do adjetivo e personificação

3. Assinala a opção correta.


3.1. Na segunda quintilha, o sujeito poético esclarece que os pensamentos
(A) (x) são inconsequentes, irreais e absurdos.
(B) () intervêm no mundo de forma consistente.
(C) não são devaneios sonhadores.
(D) (1) têm força e autonomia para alterar o mundo.

4. Integra o poema numa das temáticas de Pessoa ortónimo. Justifica.


Dor de pensar: ato de pensar como estado contemplativo (“Não sei se existe ou se dói.”, v. 15); aceitação do

destino absurdo do ser humano

36
Fernando Pessoa

Bernardo Soares, Livro do Desassossego (excerto) Manual, p. 68

1. Lêo excerto de um fragmento da obra O Livro do Desassossego.

Lamentos
Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram! O
que eu sinto quando penso no passado que tive no tempo real, quando choro sobre
o cadáver da vida da minha infância ida,... isso mesmo não atinge o fervor doloroso
e trémulo com que choro sobre não serem reais as figuras humildes dos meus so-
nhos, as próprias figuras secundárias que me recordo de ter visto uma só vez, por
acaso, na minha pseudovida, ao virar uma esquina da minha visionação, ao passar
por um portão numa rua que subi e percorri por esse sonho fora.
A raiva de a saudade não poder reavivar e reerguer nunca é tão lacrimosa contra
Deus, que criou impossibilidades, do que quando medito que os meus amigos de
sonho, com quem passei tantos detalhes de uma vida suposta, com quem tantas
conversas iluminadas, em cafés imaginários, tenho tido, não pertenceram, afinal, a
nenhum espaço onde pudessem ser, realmente, independente da minha consciên-
cia deles! Oh, o passado morto que eu trago comigo e nunca esteve senão comigo! As
flores do jardim da pequena casa de campo e que nunca existiu senão em mim. As
hortas, os pomares, o pinhal, da quinta que foi só um meu sonho! As minhas vilegia-
turas! supostas, os meus passeios por um campo que nunca existiu! As árvores de à
beira da estrada, os atalhos, as pedras, os camponeses que passam...
SOARES, Bernardo (2012). Livro do Desassossego. Lisboa: Assírio e Alvim, p. 125.

1. vilegiaturas: temporada que se passa fora de casa; tempo de descanso na praia, no campo ou em uma estância bal-
near.

2. O excerto foca as paisagens e vivências interiores de Bernardo Soares.

2.1. Indica as características dessas paisagens e vivências, situando-as no tempo.


Trata-se de paisagens e vivências imaginadas, irreais, que se tornaram vivas para Bernardo Soares,

embora este tenha consciência de que são produtos de um sonho, situado temporalmente no pas-

sado, numa vida imaginária.

3. Argumenta sobre a veracidade ou falsidade das seguintes afirmações:


a. O interior de Bernardo Soares configura um passado imaginado.
A afirmação é verdadeira, pois Bernardo Soares está consciente de que tudo o que relembra como me-

mória se trata de uma criação do seu próprio sonho e imaginário. O passado, só ele o conhece, pois só

ele o imaginou e todos os seus sonhos lhe pertencem.


ENCI2CAEP O Porto Editora

b. Bernardo Soares afirma que viveu uma “pseudovida”.


A afirmação é verdadeira, na medida em que todas as memórias de Bernardo Soares resultaram não de

ações reais, mas de situações imaginadas / criações fictícias.

37
Educação Literária

Alberto Caeiro, “Acho tão natural que não se pense”


Manual, pp. 110-111

1. Lê o poema.

Acho tão natural que não se pense

PIONPA ONO O dAVOTIONT


XXXIV a

Acho tão natural que não se pense


Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...

Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...

Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
20 E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
CAEIRO, Alberto (2001). Poesia (ed. F. C. Martins; R. Zenith). Lisboa: Assírio & Alvim, p. 70.

Carateriza o sujeito poético, de acordo com as duas primeiras estrofes.


M

O sujeito poético ridiculariza o ato de pensar, rindo-se de quem pensa e achando natural que não se pense

(vv. 1-4). Contudo, por vezes, dá-se conta que ele próprio também pensa - “A perguntar-me coisas...” (v. 7).

Relê a última estrofe.


m

3.1. Explicita o significado do verso “Que me importa isso a mim?” (v. 14).
O verso é marcado por uma interrogação retórica, que enfatiza o desprendimento e desprezo do su-

jeito poético face ao ato de pensar, assim como o seu distanciamento.

3.2. Analisa a função do verso final enquanto conclusão do texto.


O verso final reitera a negação do sujeito poético face ao ato de pensar, pois o não pensar traz-lhe a
4,
plenitude, a totalidade e o universo - “tenho a Terra e o Céu” (v. 20).

38
Fernando Pessoa

Ricardo Reis, “Uns, com os olhos postos no passado”


Manual, pp. 110-111

1. Lê a ode de Ricardo Reis.

Uns, com os olhos postos no passado


Uns, com os olhos postos no passado,
Veem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, veem
O que não pode ver-se.

s Porque tão longe ir pôr o que está perto -


O dia real que vemos? No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
REIS, Ricardo (2000). Poesia (ed. M. P. da Silva). Lisboa: Assírio & Alvim, p. 134.

2. Divide o poema em três partes lógicas, completando a tabela e elencando sucintamente


as ideias principais de cada uma delas, no teu caderno.

[ 1aparte-vv.1- 4... 22parte-vv. 2 - 7... 3.2parte-vv. 7 - 8... J

3. Foca a tua atenção na linguagem e no estilo do poema.


3.1. Identifica o recurso presente em “Uns, com os olhos postos no passado, [...] Os mesmos olhos
no futuro” (vv. 1 e 3), comentando a sua expressividade.
Antítese, que traduz a impossibilidade e o engano em que se encontram os que vivem de memórias,

recordações e ilusões futuras.

3.2. Transcreve do texto a metáfora que traduz a defesa do “carpe diem”.


“Colhe / O dia, porque és ele.” (vv. 7-8)

3.3. Comenta a expressividade do presente do indicativo ao longo do poema.


Enfatiza o “carpe diem” e traduz o ideal epicurista do fruir o momento presente com moderação e

disciplina.

4. Identifica os aspetos da filosofia estoica e epicurista presentes no texto, exemplificando.


Filosofia estoica: A morte é certa e nada pode contrariar o destino; o esforço humano não altera o inevitá-

vel (“No mesmo hausto / Em que vivemos, morreremos”, vv. 6-7).

Filosofia epicurista: O ser humano realiza-se em cada instante vivido no presente (“Colhe / o dia porque
ENCI2CAEP O Porto Editora

és ele”, vv. 7-8), superando a angústia da ideia da brevidade da vida face ao tempo destruidor; o ser hu-

mano deve aproveitar o momento ao máximo sem ter medo da morte ou do destino.

39
Educação Literária

Álvaro de Campos, “Que noite serena!” Manual pp-ti-t2

1. Lêo poema “Que noite serena!” de Álvaro de Campos.

Que noite serena!

O dIVOTIODNT
Que noite serena!

PIONPI OO]
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar! a

s Suave, todo o passado - o que foi aqui de Lisboa - me surge...


O terceiro andar das tias, o sossego de outrora, e

O Shutterstock.com
Sossego de várias espécies,
A infância sem o futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
10 Etudo bom e a horas,
De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.

Meu Deus, que fiz eu da vida?

Que noite serena!


Que lindo luar!
15 Que linda barquinha
Bailando no mar!

Quem é que cantava isso?


Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
20 E dói, dói, dói...

Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.


CAMPOS, Álvaro de (2002). Poesia (ed. Teresa Rita Lopes). Lisboa: Assírio & Alvim, p. 477.

Neste poema, o sujeito poético evoca o passado.


M

2.1. Refere os traços caracterizadores desse passado, exemplificando.


O passado surge como suave e sereno (v. 5), marcado pelo sossego (v. 6) e pela harmonia (v. 10); é um
passado “sentido”, sem lugar para o pensamento (v. 8), um tempo de encantamento e descontração.

2.2. Analisa os sentimentos do sujeito poético, relativamente ao presente.


O sujeito poético evidencia sentimentos de dor, sofrimento e desconforto face ao momento presente.

A recordação do passado agudiza a dor sentida, conduzindo ao desespero na parte final do poema.

3. Os quatro primeiros versos são de uma cantiga, retomada no verso 13.


3.1. Explica a sua função no poema.
Os primeiros quatro versos da cantiga conduzem o sujeito poético à recordação da infância passada.

A retoma da cantiga no v. 13 funciona como um lamento face a um passado e felicidade perdidos.

40
Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, Mensagem, “D. Sebastião” | mana,piss

1. Lêo poema”D. Sebastião” integrado na terceira parte da Mensagem.

D. Sebastião
Sperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.

s Que importa o areal e a morte e a desventura


Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
Salvador Dali, Enigma do Desejo, 1929
PESSOA, Fernando (2002). Mensagem. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 71.

2. Divide o poema em partes lógicas, fundamentando as tuas opções.


A primeira estrofe refere-se à figura histórica que morreu na Batalha de Alcácer Quibir. Na segunda es-

trofe, retrata-se D. Sebastião enquanto herói mítico, o salvador da pátria que ressurgirá um dia.

3. Distingue, com recurso a exemplos, o D. Sebastião mítico do D. Sebastião histórico, indi-


cando qual destas figuras se destaca no poema.
D. Sebastião mítico apresenta-se como o protegido e eleito por Deus (v. 6) e como aquele que configura o

sonho eterno (v. 7). D. Sebastião, figura histórica, é conhecido pelo combate aos mouros em Alcácer Qui-

bir, onde perde a vida ou desaparece (vv. 1-2). No poema, adquire maior relevância o D. Sebastião mítico,
o herói que se apresenta como eterno e que, no final, garante o seu regresso (v. 8).

4. Fundamenta o tom messiânico que percorre o poema, atendendo ao tempo verbal utili-
zado no último verso.
As três associações de D. Sebastião a Deus expressam o tom messiânico do poema, que culmina com o
futuro do indicativo “regressarei”. O herói surge como eleito por Deus para uma existência enquanto sím-

bolo e mito (vv. 1-2). Manifesta-se como protegido por Deus (v. 6), gozando da capacidade de regressar.

5. Explicita o valor do recurso expressivo utilizado nos versos 5 e 6.


Interrogação retórica, que reforça o carácter excecional de D. Sebastião enquanto figura mítica (que as-

sume uma componente divina e supera a lei dos homens, podendo regressar da morte).

6. Analisa formalmente o poema, completando o quadro.


ENCI2CAEP O Porto Editora

[ Estrutura estrófica Estrutura métrica Estrutura rimática ]

duas quadras métrica irregular rima cruzada


q 8 esquema rimático ABAB CDCD

41
Educação Literária

Maria Judite de Carvalho, “George” (excerto) ttanuaipo.roam

1. Lêo texto, extraído do conto “George”, de Maria Judite de Carvalho.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


George
Agora está à janela a ver o comboio fugir de dantes, perder para todo o sempre
árvores e casas da sua juventude, perder mesmo a mulher gorda, da passagem de
nível, será a mesma ou uma filha ou uma neta igual a ela? Árvores, casas e mulher
acabam agora mesmo de morrer, deram o último suspiro, adeus. [...]
5 À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa,
olha-a atentamente. De idade não, George detesta eufemismos, mesmo só pensa-
dos, uma mulher velha. Tem as mãos enrugadas sobre uma carteira preta, cara, tal-
vez italiana, italiana, sim, tem a certeza. A velha sorri de si para consigo, ou então
partiu para qualquer lugar e deixou o sorriso como quem deixa um guarda-chuva
19 esquecido numa sala de espera. O seu sorriso não tem nada a ver com o de Gi - por
que havia de ter? -, são como o dia e a noite. Uma velha de cabelos pintados de
acaju, de rosto pintado de vários tons de rosa, é certo que discretamente mas sem
grande perfeição. A boca, por exemplo, está um pouco esborratada. [...]
- Verá que há de passar, tudo passa. Amanhã é sempre outro dia. Só há uma
15 coisa, um crime, que ninguém nos perdoa, nada a fazer. Mas isso ainda está longe,
muito longe, para quê pensar nisso? Ainda ninguém a acusa, ainda ninguém a con-
dena. Que idade tem?
- Quarenta e cinco anos. Porquê?
- É muito nova - afirma. - Muito nova.
20 - Sinto-me velha, às vezes.
- É normal. Eu tenho quase 70 anos. Como estava a chorar, pensei...
CARVALHO, Maria Judite de (2015). George e Seta Despedida.
Porto: Porto Editora, pp. 17-20 [Com supressões].

2. Localiza o excerto na estrutura interna da narrativa a que pertence.


O excerto pertence à parte final do conto, ao momento em que George se confronta com o seu “eu” mais

velho, Georgina, depois de ter abandonado Gi, o seu “eu” adolescente.

3. Explica o sentido da expressão “George detesta eufemismos” (1. 6).


George prefere tratar as coisas de forma direta e fria, sem meias-palavras ou expressões delicadas.

4. Explicita o significado da afirmação:


As duas figuras femininas constituem um todo em fases distintas da existência humana.

Trata-se da mesma pessoa em momentos distintos da sua existência. George ainda se encontra em plena

fase adulta, tendo expectativas e sonhos futuros. Georgina encontra-se na fase da velhice, já pouco espe-

rando do mundo, sendo guiada pela sensatez e pelas recordações do passado.

42
Contos

Mário de Carvalho, “Famílias desavindas” (excerto)


Manual, pp. 172-173

1. Lêo final do conto “Famílias desavindas”, de Mário de Carvalho.

Famílias desavindas
Após a consulta, muito à puridade, o Dr. Paulo
pedia aos clientes que passassem pelo homem do
semáforo e lhe dissessem: “Arrenego de ti, galego!”
Isto foi assim com Asdrúbal e, mais recentemente,
s com Paco. Há dias, vinha do almoço o Dr. Paulo com
uma trouxa de ovos na mão, e já trazia entredentes o
“arrenego” com que insultaria o semaforeiro,
quando aconteceu o acidente. Ao proceder a um
roubo por esticão, um jovem que vinha de mota teve
10 uns instantes de desequilíbrio, raspou por Paco e deixou-o estendido no asfalto. Era
grave. O Dr. Paulo largou ódios velhos, não quis saber de mais nada e dobrou-se
para o sinistrado:
- Isto, em matéria de lesões, elas podem ser provocadas por três espécies de ins-
trumentos: contundentes, cortantes, ou perfurantes.
15 Uma ambulância levou o Paco antes que o doutor tivesse entrado no capítulo
das “manchas de sangue”
Enganar-se-ia quem dissesse que o semáforo ficou abandonado. Uma figura de
bata branca está todos os dias naquela rua, do nascer ao pôr do Sol, a acionar o dis-
positivo, pedalando, pedalando, até à exaustão. É o Dr. Paulo cheio de remorsos, que
20 quer penitenciar-se, ser útil, enquanto o Paco não regressa.
CARVALHO, Mário (2014).“Famílias desavindas” in Contos Vagabundos.
Porto: Porto Editora, pp. 75-76.

2. Caracteriza o Dr. Paulo, atendendo às suas atitudes.


O Dr. Paulo sempre estivera em conflito com os semaforeiros, sendo capaz de, em segredo, pedir aos seus

clientes que insultassem o semaforeiro. Ele próprio arreliava constantemente Paco. Quando se apercebeu

do ferimento, mostrou-se solidário, auxiliando o semaforeiro e substituindo-o.

3. Identifica e relata o acontecimento que veio alterar as rotinas quotidianas do médico e do


semaforeiro.
Um jovem, que assaltara uma senhora por esticão, desequilibrou-se na sua moto e atingiu Paco, deixando-

-o ferido.
ENCI2CAEP O Porto Editora

4. Identifica os recursos expressivos presentes no excerto sublinhado no texto, salientando


de que forma contribuem para a caracterização do médico.
Enumeração e uso expressivo do adjetivo, que acentuam a capacidade do Dr. Paulo para os detalhes des-

necessários e enfadonhos.

43
Educação Literária

Miguel Torga, “Retrato” Manual p.226

1. Lêo poema.

Retrato
O meu perfil é duro como o perfil do mundo,

PIONPT 0JIOd O dIVOTIDNA


Quem adivinha nele a graça da poesia?
Pedra talhada a pico e sofrimento,
É um mundo hostil à volta do pomar.
s Lá dentro há frutos, há frescura, há quanto
Faz um poema doce e desejado;
Mas quem passa na rua
Nem sequer sonha que do outro lado
A paisagem da vida continua.
TORGA, Miguel (1999). Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, p. 447.

2. Identifica os traços caracterizadores do sujeito poético.


Dureza de um perfil a nível material (v. 3); semelhança com o “perfil do mundo” (v. 1), conferindo univer-

salidade ao poeta; aspereza e endurecimento devido à intensidade do sofrimento e do esforço (v. 3); isola-

mento e hostilidade face ao mundo exterior (criação de um espaço secreto - “pomar? v. 4); riqueza e har-

monia do mundo interior (v. 5).

3. Assinala a única alínea que não corresponde ao valor simbólico de “pomar” (v. 4).
(A) Espaço secreto, protegido dos outros.
(B) () Local de maturação do "fruto”/poema.
(C) () Local de isolamento e de desespero criativo.
(D) () Espaço de harmonia entre o Homem e o Universo.

4. Explicita a relação que se estabelece entre o sujeito poético e “quem passa na rua” (v. 7).
Há um distanciamento entre o sujeito poético e “quem passa na rua” (v. 7), que não capta o seu interior e

só vê a hostilidade e a dureza que o “eu” revela (vv. 8-9).

5. Forma frases adequadas ao sentido do poema, associando a cada segmento da coluna A


um segmento da coluna B.
e ' "
Coluna A Coluna B
a. A comparação presente em “O meu perfil , 1. produzem efeitos rítmicos e reforçam a autocarac-
é duro como o perfil do mundo” (v. 1) terização do “eu” vs. o desconhecimento dos outros.
b. As repetições com valor anafórico, em “há | 2. aludem ao universo interior do sujeito poético, à
frutos, há frescura, há quanto...” (v.5) sua arte poética e ao telurismo.
As metáforas * » urutos” e 4 3. potencia a caracterização do sujeito poético e da
c. As metáforas “pomar” “frutos” e “frescura” | 2 sua criação.

d. O uso expressivo do adjetivo ao longo do 4. estabelece uma relação de equivalência entre o


poema poeta e o todo, salientando a dureza de perfis.

44
Poetas contemporâneos

Jorge de Sena, “Camões dirige-se aos seus contemporâneos vm

Manual, p. 227
1. Lê o poema seguinte.

Camões dirige-se aos seus contemporâneos


Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
s nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
10 suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
15 terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
20 até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há de ser buscado,
para passar por meu. E para os outros ladrões,
25 iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

SENA, Jorge (1978). Poesia Il. Lisboa: Moraes Editores, p. 99.

2. Clarifica a ambiguidade do “vós” relativa aos “contemporâneos”.


O “vós” pode referir-se quer aos contemporâneos de Camões, que não o valorizaram devidamente, quer

aos contemporâneos do sujeito poético, que parece não ver também reconhecido o seu valor.

3. Com base no poema, confirma a veracidade da seguinte afirmação:


ENCI2CAEP O Porto Editora

Jorge de Sena tem noção da sua contemporaneidade.

Exemplo: Jorge de Sena tem noção da sua contemporaneidade, apercebendo-se que ainda não constitui

um autor do cânone literário e que não é devidamente reconhecido pelos restantes contemporâneos.

45
Educação Literária

Eugénio de Andrade, “Rapariga descalça” Manual


p. 228

1. Lêo poema seguinte, de Eugénio de Andrade.

Rapariga descalça
Chove. Uma rapariga desce a rua.
Os seus pés descalços são formosos.
São formosos e leves: o corpo alto
parte dali, e nunca se desprende.

s A chuva em abril tem o sabor do sol:


cada gota recente canta na folhagem.
O dia é um jogo inocente de luzes,
de crianças ou beijos, de fragatas.

Uma gaivota passa nos meus olhos.


1 Earapariga - os seus formosos pés -
canta, corre, voa, é brisa, ao ver
o mar tão próximo e tão branco.

ANDRADE, Eugénio (2012). As Palavras Interditas. Até Amanhã.


Porto: Porto Editora, p. 55.

2. Descreve o cenário por onde se desloca a rapariga de “pés descalços”.


Desloca-se em dia chuvoso mas ameno de primavera (vv. 1, 5); dia que suscita diferentes experiências

O AIVOTIDNT
sensoriais; imagem de luz pura (v. 7). Aponta para a beleza, a inocência e o sonho.

3. Caracteriza a rapariga descrita, explicitando a intencionalidade da repetição do adjetivo

PIONPT OO]
“formosos” (v. 2).
A rapariga é caracterizada como uma figura “descalça” (título) e com “formosos pés” (v. 10), alta (“corpo
alto”, v. 3), formando um todo harmonioso (vv. 3-4). Está alegre, pois canta, correndo apressada e veloz. A

repetição do adjetivo “formosos” enfatiza a beleza da mulher “descalça”.

4. Identifica as sensações sugeridas na segunda quadra, comentando a sua expressividade.


A segunda quadra sugere sensações gustativas (“o sabor do sol”, v. 5), que se fundem com os sentidos da

audição, visão e do tato, criando uma sinestesia, tornando todo o cenário mais aprazível.

5. Mostra que todo o poema remete para os campos lexicais de alegria e de bem-estar.
Apesar do dia chuvoso, o vocabulário utilizado remete para situações de alegria e bem-estar: “formosos”,
» du “ vu vu » du
“leves”, “sabor do sol”, canta”, “jogo inocente de crianças”, “beijos”, “fragatas”, “voa”, “brisa”, “mar”, “branco”.

6. Relaciona a passagem da gaivota com a visão que o sujeito poético tem da rapariga.
A gaivota e a rapariga fundem-se na visão do sujeito poético, pois a rapariga no final do poema trans-

forma-se em algo etéreo com corpo alado, que voa e é “brisa”

46
Poetas contemporâneos

Alexandre O'Neill, “Portugal” Manual, p. 229

1. Lê o início do poema, de Alexandre O'Neill.

Portugal
Ó Portugal, se fosses só três sílabas, o plumitivo ladrilhado de lindos adjetivos,
linda vista para o mar, a muda queixa amendoada
Minho verde, Algarve de cal, 15 duns olhos pestanítidos,
jerico rapando o espinhaço da terra, se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
s surdo e miudinho, o ferrugento cão asmático das praias,
moinho a braços com um vento o grilo engaiolado, a grila no lábio,
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, o calendário na parede, o emblema na lapela,
se fosses só o sal, o sol, o sul, 20 Ó Portugal, se fosses só três sílabas
o ladino pardal, de plástico, que era mais barato!
1 o manso boi coloquial, O'NEILL, Alexandre (2012). Poesia.
a rechinante sardinha, Lisboa: Assírio e Alvim, p. 211. ,

a desancada varina,

mem ç J at
: Il E: 1

/ Wa

O Shutterstock.com

2. Maria Antónia Oliveira escreveu um ensaio sobre a poesia de Alexandre O'Neill, focando
o poema”Portugal”.
2.1. Completa a análise com as palavras/expressões indicadas.

* “o ladino pardal, /o manso boi coloquial” - Cartaz turístico português


- caricatura - idílico

Portugal
Este poema constitui [...] um curioso jogo com os efeitos da ironia.
Os primeiros versos são uma paródia ao imaginário típico de um Cartaz turístico
português Ainda que o discurso poético se distancie formalmente do discurso da pro-
paganda turística, eles aproximam-se semanticamente, e o cenário final é coinci-
dente: Portugal é. idílico , encantador, amigo. O mesmo efeito é obtido nos versos
“o ladino pardal, / o manso boi coloquial” também eles paródia ao imaginário do livro da ter-
ENCI2CAEP O Porto Editora

ceira classe que vigorou durante tantas gerações. A paródia é, portanto, baseada no literal.
Uma vez que o próprio imaginário parodiado é, já de si uma . caricatura "de Portugal,
basta descontextualizá-lo para que ele funcione eficazmente.

47
Educação Literária

PIONPA OMOd O AIVOTIONT


- autoparódia - incompleta * leitor irónico - pátria
- cáustica - ironia * lúdico - prosaico
- cumplicidade - ironicamente - paródia - ternurento

É aqui que intervém decisivamente a. ironia tanto como processo de estranha-


mento, por parte do autor, como no desvendar do carácter parodístico pelo leitor: só o
leitorirónico “semelhante ao autor, tem acesso imediato ao nível da paródia, ultrapas-
sando o literal do discurso. A ironia é, deste modo, o motor da paródia: o subtexto (ou,
se quisermos, o teor do discurso matriz) não sofre perturbação; a subversão parodística
situa-se ao nível semântico-pragmático, sendo relevantes os papéis desempenhados pelo
contexto, pelo recetor e sua cumplicidade com o emissor.
As dimensões lúdica e irónica da. paródia (versos 2 a 10) estendem-se aos ver-
sos seguintes. Quando abandona a paródia, o poema compraz-se ainda no lúdico
“olhos pestanítidos”, “a cegarrega do estio, dos estilos”, “o grilo engaiolado, a grila no lábio”
são brincadeiras linguísticas bem frequentes em Alexandre O'Neill.
Misto de irónico e de. termurento o olhar sobre Portugal revela-se-nos bem distante
das imagens grotesca ou absurda a que O'Neill nos habitua. Aqui, é a irrealidade idílica, a
pátria fora do tempo e despovoada de gente, reduzida a uma paisagem preenchida
com símbolos e pormenores pitorescos. Tal imagem é. incompleta - “Ó Portugal, se fosses
só..” — inverosímil e irrisória. A estrofe termina numa espécie de autoparódia delirante:
o primeiro verso é retomado, e, em vez da descrição bucólica que se lhe segue no início,
é ironicamente completado: “ó portugal, se fosses só três sílabas / de plástico que era mais
barato!” É o desabar no lado. Prosaico da realidade, o emergir de uma ironia explícita
e definitivamente. cáustica

OLIVEIRA, Maria Antónia (1992). A Tristeza Contentinha de Alexandre O'Neill. Lisboa: Caminho, pp. 48-49 [Com supressões].

Lê, agora, as duas últimas estrofes do poema.


E

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,


rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há “papo de anjo” que seja o meu derriço,
25 galo que cante a cores na minha prateleira,
O Shutterstock.com

alvura arrendada para o meu devaneio,


bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,


golpe até ao osso, fome sem entretém,
30 perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
O'NEILL, Alexandre, Op. cit. p. 211.

48
Poetas contemporâneos

4. Completa o ensaio de Maria Antónia Oliveira, com as expressões corretas.

A segunda estrofe do poema é peremtória na recusa do imaginário simbólico por-


tuguês, que só lhe causa (comodidade/incomodidade) e estranheza:
não se pode amar um-ideal/uma caricatura.
O que seria, inicialmente, uma interpelação a Portugal, volve-se numa interpelação
(aos-seus contemporâneos/a ele mesmo). Na (penúltima/
última) estrofe, o desajustamento entre o eu e a Pátria é exaustivamente explicitado
numa sucessão de (comparações/metáforas) em que a ciência da ex-
pressão serve a violência (eontida/incontrolada):

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,


golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós ...

A ironia magoada vai esmorecendo ao longo das duas estrofes finais, até aos três
versos que encerram o poema, inequívocos e (sérios/jacasas). O oxi-
moro! “feira cabisbaixa” é a expressão condensada e intelectualizada do bem-estar/
mal-estar: a seus olhos, um mundo degradado concilia o (desejável/
inconciliável).
A visão crítica de Portugal que o poema parecia desenhar no início transforma-se,
afinal, numa autoagressão manifesta, concentrada no lexema “remorso”.
A Pátria não é só o ridículo e o absurdo: é ainda a convivência insuportável com a
imutabilidade do remorso. O andamento dos três versos é (frenético/
arrastado), o tom (triste e melancólico/efusivo) - eles exprimem a pun-
gente autocensura de um eco conflituoso que se afunda, sem força para sustentar a
máscara irónica. A consciência, que se não reconcilia consigo mesma, perde a imu-
nidade e a distância irónicas e, perplexa, confessa a derrota, que parece estender-se a
todos os portugueses. [...]
A poesia de Alexandre O'Neill “fala” incessante e redundantemente do quotidiano
pátrio, numa tentativa trocista, e que antecipadamente se sabe vá, de exorcismo e de
distanciamento. A relação dúplice de O'Neill com (apoesia/Portugal),
feita de sobranceria e de envolvimento atormentado, é comparável à de um depen-
dente que amaldiçoa e culpabiliza o vício que lhe traz prazer. Dependente da Pátria,
não se lhe põe a questão de lhe escapar, ou de a votar ao esquecimento.
ENCI2CAEP O Porto Editora

OLIVEIRA, Maria Antónia, Op. cit., pp. 50-51 [Com supressões].

1. oximoro: variante da antítese que a intensifica, aproximando paradoxalmente dois termos que se excluem; tem uma
importante função expressiva, ajudando a conciliar palavras opostas e a definir conceitos de difícil explicação.

49
ENCIZCA FO4
Educação Literária

Manuel Alegre, “O poema” Manual


p. 230

1. Lêo poema seguinte.

O dAVOTIONT
O poema
O poema vai e vem. E se demora

PIONPT ONO
não quer dizer que seja demorado
mas que tem como tudo a sua hora
e como tudo é sempre inesperado.

5 Por muito que se espere não se espera.


Por mais que se construa é acaso e sorte.
Às vezes quando vem já foi ou era.
Porque assim é a vida. E assim a morte.

Por isso mesmo quando distraído


10 ninguém como o poeta é tão atento.
Ele sabe que de súbito há um sentido.
Vem como o vento. E passa como o vento.
. fo Eru
ALEGRE, Manuel (2007). Doze Naus. Lisboa: Dom Quixote, p. 83. Marc Chagall, O Poeta
/ Três e meia, 1911

2. Divide o poema em duas partes lógicas, explicitando a ideia-chave de cada uma delas.

1.º parte 2.2 parte


| Delimitação | estrofesle2 estrofe 3
caracterização do poema e da sua postura do poeta face ao momento de criação
Ideia(s)-chave
origem conhecimento intrínseco do poema e da sua arte

3. Identifica o tema do poema, justificando.


O tema do poema é a arte poética, pois todo o texto se reporta à arte de criar um poema, desde o apareci-

mento das emoções até ao momento chave da criação.

4. Refere duas condições essenciais à escrita de um poema.


Os dois aspetos essenciais à escrita são o carácter inesperado do poema e a atenção do poeta.

4.1. Identifica, exemplificando, o recurso expressivo que melhor descreve o ato de criação.
Antítese (“vai”/“vem) “espere”/“não se espera? »u vida”/“morte) “distraído” /atento) vu “vem”/“passa”)

5. Explicita a conceção de poeta apresentada no texto.


O poeta é descrito como um ser atento e paciente, delicado e sensível, que sente o momento de inspiração

para o ato da criação poética.

5.1. Explicita o sentido do verso “Vem como o vento. E passa como o vento.” (v. 12).
O momento de criação é efémero, podendo a inspiração fluir e desaparecer repentinamente.

50
José Saramago

O Ano da Morte de Ricardo Reis (excerto) Manual, pp. 279-282

1. Lê o texto abaixo, retirado do romance O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Um país encoberto
Agora que veio o tempo da Páscoa, o governo mandou distribuir por todo o país bodo
geral, assim reunindo a lembrança católica dos padecimentos e triunfos de Nosso Senhor às
satisfações temporárias do estômago protestativo. Os pobrezinhos fazem bicha nem sempre
paciente às portas das juntas de freguesia e das misericórdias, e já se fala que para os finais
s de maio se dará uma brilhante festa no campo do Jockey Club a favor dos sinistrados das
inundações do Ribatejo, esses infelizes que andam de fundilhos molhados há tantos meses,
formou-se a comissão patrocinadora com o que temos de melhor no highlife, senhoras e
senhores que são ornamento da nossa melhor sociedade, podemos avaliar pelos nomes,
qual deles o mais resplandecente em qualidades morais e bens de qualidade, Mayer Ulrich,
10 Perestrello, Lavradio, Estarreja, Daun e Lorena, Infante da Câmara, Alto Mearim, Mousinho
de Albuquerque, Roque de Pinho, Costa Macedo, Pina, Pombal, Seabra e Cunha, muita
sorte vão ter os ribatejanos se conseguirem aguentar a fome até maio. No entanto, os gover-
nos, por supremos que sejam, como este, perfeitíssimo, sofrem de males da vista cansada,
talvez da muita aplicação ao estudo, da pertinaz vigília e vigilância. [...] Lesse o governo com
15 atenção suficiente os jornais sobre os quais todas as manhãs, tardes e madrugadas mandou
passar zelosos olhares, peneirando outros conselhos e opiniões, e veria quão fácil é resolver
o problema da fome portuguesa, tanto a aguda como a crónica, a solução está aqui, no Bo-
vril, um frasco de Bovril a cada português, para as famílias numerosas o garrafão de cinco
litros, prato único, alimento universal, pancresto remédio, se o tivéssemos tomado a tempo
20 e horas não estávamos na pele e no osso, Dona Clotilde.

SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo Reis. Porto: Porto Editora, pp. 306-308 [Com supressões].

2. Completa o quadro, identificando as formas de propaganda política utilizadas pelo Es-


tado Novo e analisando a postura do narrador relativamente a elas.

Formas de propaganda política


Identificação Postura do narrador
Bodo nacional no tempo da Postura interventiva e crítica (“Os pobrezinhos fazem bicha nem
Páscoa sempre paciente às portas das juntas de freguesia e das misericórdias”,
11. 3-4)
Festa a favor dos sinistrados das | Postura interventiva e crítica (“muita sorte vão ter os ribatejanos se
inundações do Ribatejo em maio | conseguirem aguentar a fome até maio”, 11. 11-12)

3. A fome era o problema português. Expõe as razões por que o governo não o resolvia e a
solução ironicamente apontada pelo narrador.
ENCI2CAEP O Porto Editora

O governo preocupava-se em demasia com a sua máquina propagandística e com as questões de vigilân-

cia, inclusive na imprensa escrita. Ironicamente, o narrador aponta como solução para a fome o produto
Bovril.

51
Educação Literária

Memorial do Convento (excerto) Manual, pp.327-330

1. Lê o excerto da obra Memorial do Convento, que se reporta ao dia seguinte à bênção da


primeira pedra.

BIONPT ONO] O dAVOTIONAT


Aparências e presságios (Capítulo XII)
[...] Ao outro dia, depois de el-rei partir para a corte, deitou-se abaixo a igreja
sem ajuda do vento, apenas chovia água que Deus a dava, puseram-se a um lado as
tábuas e os mastros para necessidades menos reais, andaimes, por exemplo, ou ta-
rimbas, ou beliches, ou mesa de comer, ou rastos de tamancos [...). Para os caboucos
s alagados tornaram a descer os homens porque nem em todos os lugares se alcan-
çara a fundura requerida, sua majestade não viu tudo, e apenas disse, por outras
palavras, quando entrava no coche que o levaria, Agora despachem-se com isto, há
mais de seis anos que fiz o voto, não estou para andar com os franciscanos à perna
todo o tempo, então o nosso convento, por causa do dinheiro não sejam os atrasos,
10 gasta-se o que for preciso. Mas em Lisboa dirá o guarda-livros a el-rei, Saiba vossa
real majestade que na inauguração do convento de Mafra se gastaram, números re-
dondos, duzentos mil cruzados, e el-rei respondeu, Põe na conta, disse-o porque
ainda estamos no princípio da obra, um dia virá em que quereremos saber, Afinal,
quanto terá custado aquilo, e ninguém dará satisfação dos dinheiros gastos, nem
15 faturas, nem recibos, nem boletins de registo de importação, sem falar de mortes e
sacrifícios, que esses são baratos.
Quando o tempo levantou, passada uma semana, partiram Baltasar Sete-Sóis e
Blimunda Sete-Luas para Lisboa, na vida tem cada um sua fábrica, estes ficam aqui
a levantar paredes, nós vamos a tecer vimes, arames e ferros, e também a recolher
20 vontades, para que com tudo junto nos levantemos, que os homens são anjos nasci-
dos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer, isso
mesmo fizemos com o cérebro, se a ele fizemos, a elas faremos, adeus minha mãe,
adeus meu pai.
SARAMAGO, José (2016). Memorial do Convento. Porto: Porto Editora, pp. 147-148 [Com supressões].

2. Indica as linhas de ação do romance presentes neste excerto.


Duas linhas de ação: construção do Convento de Mafra (concretização do sonho de D. João V), construção

da passarola (sonho do Padre Bartolomeu de Gusmão).

3. Identifica as personagens presentes neste excerto, explicando as suas funções.


D. João V: representa o poder, a riqueza e a superioridade, por contraste com a dureza e dificuldade expe-

rienciadas pelo povo. Povo: representa a exploração e a vida de sofrimento causada pelos poderosos; é um

elemento essencial à concretização do sonho do rei. Baltasar Sete-Sóis: representa o povo e é elemento

crucial na construção da passarola pela sua força e trabalho. Blimunda Sete-Luas: representa o povo e é

quem vê e recolhe as vontades essenciais para o voo da passarola.

52
ORALIDADE
MENS
DIGA NR

Diálogo argumentativo
Debate
Discurso político
Reportagem e documentário
Anúncio publicitário
Artigo de divulgação científica
Relato de viagem
Memórias
Diário
Apreciação crítica
Artigo/Texto de opinião
Exposição sobre um tema
SJ tSsIS
Manual, pp. 338-339

Os filmes seguintes integram a lista de filmes de referência do Plano Nacional de Cinema


para o Ensino Secundário.

O dIVOTIONT
PIONPA OO
François Truffaut, Os Quatrocentos Golpes (França, 1959)

[EM Pp

= 14 a E + 4
=.

di 1 1
Hj e As

Bruno de Almeida, Operação Outono (Portugal, 2012) Telmo Churro, Rei Inútil (Portugal, 2013)

Visiona atentamente um desses filmes e seleciona um diálogo argumentativo entre duas


ou três personagens.
Analisa o diálogo argumentativo selecionado, preenchendo a grelha a seguir apresentada.

Diálogo argumentativo
Filme selecionado:

Localização do diálogo: do minuto ao minuto

Nome da personagem

Ponto de vista defendido

Argumentos que
fundamentam o ponto de vista

Exemplos que ilustram


os argumentos

54
Debate

Debate

1. Visiona atentamente o debate do programa Prós e Contras intitulado Os táxis e as novas


plataformas de transportes - minutos 0:01-21:00 e 29:44-34:18 (Nota: o programa encontra-
-se disponível no sítio da RTP).
1.1. O debate é introduzido por uma apresentação do tema, feita pela moderadora, Fátima de
Campos Ferreira.

1.1.1. Identifica os tópicos referidos na introdução.


Apresentação do tema (os taxistas querem um contingente para os carros de aluguer ao ser-
viço das plataformas tecnológicas; o governo responde que a lei da concorrência não o per-

mite; o confronto entre governo e taxistas permanece); identificação dos intervenientes no

debate (governo, taxistas, representantes das plataformas tecnológicas de transportes); expli-

citação do contexto em que o debate surge (bloqueios de trânsito em Lisboa pelos taxistas).

1.1.2. Completa o quadro, sintetizando os principais argumentos utilizados por cada uma
das partes envolvidas no debate.

Argumentos
Representante A criação de um contingente de táxis deve-se ao facto de se tratar de um
do Governo serviço público; as plataformas de transportes não são um serviço
público (logo não têm contingentes), mas devem ser regulamentadas
por meio de um decreto-lei; o governo não tem poder judicial para
poder terminar com as manifestações.

Representantes Os protestos dos taxistas não prevaricam a lei, pois seguem a


dos taxistas Constituição da República; os taxistas trabalham de forma legal, ao
contrário dos trabalhadores das plataformas tecnológicas; os taxistas
são favoráveis à inovação tecnológica e à regulamentação do setor; não
há nenhum interesse público relevante que justifique a existência de
dois tipos de viaturas para o mesmo serviço (transporte de pessoas).

Representante O transporte flexível ajusta-se às necessidades do dia a dia; as


da Defesa do plataformas permitem a afirmação de soluções alternativas; as
Consumidor plataformas trouxeram inovação; as empresas de táxis devem
modernizar-se; é necessário acautelar os direitos dos taxistas.

Representantes As plataformas tecnológicas respeitam o direito ao protesto e lamentam


das plataformas os incidentes ocorridos; as plataformas estão disponíveis para discutir a
regulamentação do setor; as plataformas tecnológicas cumprem todas
de transportes
as obrigações fiscais do setor.

1.1.3. Analisa o papel da moderadora ao longo do debate.


ENCI2CAEP O Porto Editora

A moderadora conduz o debate, dando a palavra aos intervenientes de forma equitativa,

introduzindo e conduzindo os assuntos que vão sendo abordados (através de perguntas), de

forma assertiva e combativa, sem tomar partido por nenhuma das partes.

55
Dá continuidade ao debate, refletindo com a turma sobre o lugar dos táxis e das platafor-
mas tecnológicas de transportes na sociedade atual.
Antes de iniciares o debate, reflete sobre o assunto, lendo o seguinte artigo.

BIONPA ONO O dIVOTIONT


À primeira vista não se percebe bem que grande novidade traz a Uber. A empresa
faz o mesmo que os táxis tradicionais sempre fizeram: transportam pessoas de um lado
para o outro num automóvel. A diferença parece estar na qualidade do serviço: adapta-
ção aos meios digitais de comunicação, carros de qualidade, condutores bem-educa-
dos, preços mais baixos (mas não tabelados e que aumentam quando a procura au-
menta), delicadezas do tipo envio de fatura por e-mail, seleção musical à escolha do
cliente. Quem sente a diferença é o consumidor, tratado com delicadeza e inteligência.
Sabe-se que os motoristas da Uber ganham mal, nunca têm qualquer vínculo labo-
ral sólido com a empresa e estão obrigados a sorrir mesmo que se sintam tratados
como escravos. Parece que isto se chama “economia de partilha”: a Uber na verdade é
só, e acima de tudo, uma plataforma digital de comunicação entre clientes e motoris-
tas. Estes, note-se, usam a sua própria viatura. Já o mundo do táxi tradicional é regu-
lado, com licenças a terem de ser obtidas, vigilância fiscal, contratos de trabalho, des-
contos para a Segurança Social - e por isso é um serviço mais caro. Como até agora tem
funcionado em monopólio, os motoristas podem dar-se ao luxo de não cuidar das via-
turas e serem mal-educados.
Esquematizando: de um lado há um negócio que trata melhor os trabalhadores do
que os consumidores (os táxis convencionais); do outro, um mundo que trata melhor
os consumidores do que os trabalhadores (a Uber). Talvez nesta fase seja necessário
20 defender princípios que são tão elementares que nem deveriam ter de ser recordados:
deveres iguais para todos, designadamente na sua relação com o Estado (credenciação,
fisco, etc.). E uma perspetiva, a adotar pelos taxistas tradicionais, de que não vale a
pena agarrar o vento com as mãos.
Este conflito é apenas a manifestação de um outro muito mais vasto, entre um
25 mundo regulado e um mundo desregulado. Convém que se perceba uma coisa: no dia
em que o mundo desregulado da Uber esmagar o mundo regulado dos táxis tradicio-
nais, então tornar-se-á monopolista. E aí os consumidores voltarão a ser os perdedores,
como hoje são perante o monopólio das formas convencionais de gerir o negócio.
É uma guerra feroz em que a moderação e o bom senso já parecem práticas radicais
30 - e na verdade são-no cada vez mais. Mas se ser moderado pode agora ser radical, não
é garantidamente excêntrico. Convém que os consumidores se lembrem de que eles
próprios são trabalhadores. Belos táxis de nada servem se vivermos numa selva.
HENRIQUES, João Pedro. “De que servem belos táxis no meio da selva?” [Em linha].
Diário de Notícias, 13-01-2016 [Consult. em 13-10-2016].

Participa ativamente no debate:


apresentando o teu ponto de vista sobre o assunto e recorrendo a argumentos e exem-
plos pertinentes e adequados;
respeitando o princípio de cortesia.

56
Discurso político

Discurso político Manual p.353

1. Lê a sinopse do filme O discurso do rei (Tom Hopper, 2010).

O discurso do rei
Desde os cinco anos que Bertie (Colin Firth), Duque de York e segundo filho do
rei Jorge V de Inglaterra (Michael Gambon), sofre de gaguez, algo que sempre aba-
lou a sua autoestima. Depois do embaraçoso discurso de encerramento da Exposi-
ção do Império Britânico em Wembley, a 31 de outubro de 1925, Bertie, pressionado
s por Isabel (Helena Bonham Carter), futura rainha-mãe e sua esposa, começa a con-
sultar Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta da fala pouco convencional. Em
janeiro de 1936, o rei Jorge V morre e é o seu irmão Eduardo quem ascende ao trono
até, menos de um ano depois, abdicar por amor a uma americana divorciada em
favor de Bertie. Hesitante perante o peso da responsabilidade e obcecado em ser
1 monarca digno do reino, o novo rei apoia-se em Logue, que o ajuda a superar a
gaguez...
"O discurso do rei” [Em linha]. Público [Consult. em 13-10-2016].

2. O filme integra dois discursos políticos, um no início, outro no final.


2.1. Visiona-os e analisa-os comparativamente, focando a evolução da forma de discursar do
protagonista.

Discurso inicial Discurso final

estrutura tripartida, constituída por


uma parte introdutória
interpelação do p público),) pelopelo
(interpelaç
Estrutura ,
. impercetível desenvolvimento (contextualização
do discurso oa
da situação e apelo ao povo) e por
uma parte conclusiva (pedido de
ajuda a Deus)
Desempenho o país foi forçado a entrar num
de Bertie . conflito; o povo deve reagir e aderir
Ideias-chave |. no . .
. impercetíveis à causa do rei para manter a ordem
do discurso a . ,
civilizada no mundo; a causa é
encomendada a Deus
Dicção marcada pela gaguez marcada pela superação da gaguez
ENCI2CAEP O Porto Editora

marcada pela insegurança, pela he-


Postura JOCA CAP 5 sp —
sitação e pelo medo
= PRO: desilusão, embaraço, devido à inca- | audição atenta do discurso;
Reação do público . , . .
pacidade do líder/futuro rei aplauso, no final

57
Lê o discurso proferido pelo Ministro da Agricultura, a 26 de janeiro de 2016.

PIONPA OO] O dIVOTIONT


Discurso político
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Começo por saudar todos os presentes e agradecer o convite que me foi endere-
çado para participar neste Seminário sobre Alterações Climáticas e Agricultura. Esta é
uma temática que nos deve interessar a todos, enquanto fenómeno com origem e im-
pacto de carácter global e um dos maiores desafios da humanidade. O Acordo de Paris
representa um passo importante no que se refere ao futuro do planeta e das novas ge-
rações. Este é o momento da viragem para garantir a subsistência do planeta, como o
conhecemos.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Nos impactos das alterações climáticas são especialmente relevantes, em Portugal,
as disponibilidades hídricas e a fragilidade das zonas costeiras.
O estado a que chegámos obriga-nos não só a apostas mais exigentes em medidas
de mitigação, mas também a defender o país dos efeitos irreversíveis das alterações
climáticas. Hoje, já não é possível pensar apenas em reduzir a emissão de Gases com
Efeito de Estufa. Temos que nos adaptar. As ações exigirão que a agricultura, tal como
as cidades e todos os setores económicos, se preparem para períodos mais ou menos
prolongados de escassez de água, intercalados com picos de precipitação intensa.
O desafio é enorme em termos de gestão deste recurso e todos somos chamados a
esta luta. [...]
20 Face aos eventos extremos e maior variabilidade climática, os principais fatores crí-
ticos são a disponibilidade de água e a capacidade de rega, a fertilidade do solo e a
prevenção da erosão.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Sublinho, assim, a importância da gestão racional da água em regadio, através da
25 instalação de sistemas mais eficientes de armazenamento, de transporte, de distribui-
ção e de aplicação. Os regadios devem, por isso, ser modernizados e integrarem redes
inovadoras de monitorização e controlo de perdas de água.
Permitam-me ainda destacar
que a maior eficiência de uso da
30 água deve ser associada à possibi-
lidade de aumentar a eficiência do
uso dos fertilizantes, diminuindo
desta forma as emissões de Gases
com Efeito de Estufa. Esta sinergia
35 entre adaptação e mitigação deve
ser promovida e intensificada,
indo ao encontro de uma política
integrada em matéria de altera- ;
ções climáticas. Taeyong Kang.“Seca” [Em linha]. Museu Virtual do Porto Cartoon
[Consult. em 15-10-2016].

58
Discurso político

40 Este aspeto torna-se, ainda, mais relevante quando os dados preliminares do in-
ventário nacional de emissões mostram uma subida das emissões provenientes do uso
de fertilizantes. [...]
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Termino dizendo que podem contar com o Ministério do Ambiente para que juntos
45 possamos prosseguir o caminho com vista à descarbonização profunda da economia.
Este é o desígnio estratégico do Governo. Este é o caminho que juntos queremos trilhar.
Temos apenas um planeta.
In Governo de Portugal [Em linha, consult. em 13-10-2016, com supressões].

3.1. Divide o texto em três partes lógicas, fundamentando a tua opção.


1.º parte (Il. 1-8) - saudação do público e contextualização do tema a abordar; 2.º parte (Il. 9-42) -
apresentação de propostas de medidas a tomar; 3.º parte (Il. 43-47) - síntese da intenção do

Ministério do Ambiente e do Governo “com vista à descarbonização profunda da economia” (1. 45).

3.2. Seleciona a opção correta.

3.2.1. A referência ao Acordo de Paris tem em vista


(A) |X | a contextualização do tema a abordar.
(B) a introdução de um contra-argumento.
(C) a crítica ao comportamento das novas gerações.
(D) o elogio das entidades envolvidas na concretização desse Acordo.
3.2.2. A expressão “Minhas Senhoras e Meus Senhores” não tem como função
(A) marcar o plano do texto, introduzindo um novo tópico.
(B) interpelar os destinatários, implicando-os no discurso.
(C) captar a atenção do público, fazendo-o aderir à causa apresentada.
(D) |X| censurar o comportamento desatento do auditório.
3.2.3.0 discurso é marcado por um estilo
(A) |X formal, com recurso a vocabulário técnico.
(B) informal, com recurso a vocabulário coloquial.
(C) elaborado, marcado por uma intenção estética.
(D) espontâneo, marcado por uma intenção persuasiva.

3.2.4.A expressão “a apostas mais exigentes em medidas de mitigação” (11. 12-13) remete para
(A) |X | a necessidade de contenção.
ENCI2CAEP O Porto Editora

(B) o apelo à suspensão de medidas de contenção.


(C) a necessidade de punição dos incumpridores.
(D) o aumento da carga fiscal com vista à redução da emissão de Gases com
Efeito de Estufa.

59
Oralidade | Leitura | Escrita

Reportagem e documentário Manual,


p. 352

1. Visiona a reportagem “Máscaras que reve-

BIONPA ONO O dIVOTIONT


lam tradições transmontanas” (disponível no
sítio RTP Ensina).
1.1. Sintetiza o assunto abordado na reporta-
gem.
Apresentação de informação sobre a impor-

tância social das máscaras no nordeste trans-

montano.
Máscaras revelam tradições transmontanas (RTP Ensina)

1.2. Associa a cada interveniente a informação por ele transmitida.

Coluna A | Coluna B
a. Joaquim Pais de Brito | 1,4,5 7. A máscara instaura um universo num espaço social povoado
de personagens que provocam o riso e o medo.
b. António Tiza 3
2. As máscaras representam uma cerimónia de passagem,
<. Locutor 2 estando associadas à emancipação dos rapazes.

3. As máscaras são construídas por artesãos que


desempenharam o papel de caretos.

4. As máscaras transmontanas refletem o controlo dos rituais


por parte das populações, em articulação com a Igreja.

5. Quando estão mascarados, os rapazes tímidos desinibem-se.

2. Visiona, agora, o trailer do documentário


“No domínio dos tempos” (disponível na In-
ternet).
2.1. Enumera os temas e subtemas abordados
no documentário.
Tema principal: Caretos de Podence; Subte-

mas: Igreja e tradição pagã; crítica social (re-

gime salazarista e sua influência).


Trailer do documentário No domínio dos tempos, de Vítor Salvado

3. Com base nos documentos visionados, explicita as diferenças entre o género reportagem
e o género documentário.
Reportagem: variedade de temas, multiplicidade de intervenientes (locutor, Joaquim Pais de Brito, Antó-

nio Tiza), meios e pontos de vista (alternância da 1.2 e da 3.º pessoas), informação seletiva, relação entre

o todo (máscaras) e as partes (função social das máscaras em Trás-os-Montes; museus que expõem as

máscaras).

Documentário: variedade de temas, proximidade com o real, informação seletiva e representativa.

60
Anúncio publicitário

Anúncio publicitário Manual, p. 353

1. Visiona os seguintes anúncios de divulgação de Portugal (disponíveis na Internet).

Portugal — O País Mais Perto do Coração Portugal, um país de pessoas extraordinárias

1.1. Faz uma análise comparativa dos dois anúncios, tendo em conta os seguintes aspetos:

" Carácter apelativo Multimodalidade Eficácia comunicativa e


(tempos e modos (conjugação de poder sugestivo
verbais, entoação) diferentes linguagens e
recursos expressivos,
verbais e não verbais)

Portugal — O País registo escrito (frases imagem (fotografia), grande eficácia, que
Mais Perto do curtas; verbos no música (ritmo rápido) e | decorre da articulação
Coração presente do linguagem verbal entre a linguagem verbal
indicativo e (variedade brasileira do | (exemplos diversificados
vocabulário português em registo e interessantes) e a
apreciativo; citações) | escrito) linguagem não verbal e
do ritmo rápido com que
a informação é
apresentada

Portugal, um país locução de um texto imagem (em eficácia que decorre do


de pessoas de opinião (com movimento), música tom reflexivo imprimido
extraordinárias características (ritmo calmo) e ao discurso e da
argumentativas e linguagem verbal articulação entre a
expositivas), marcada linguagem verbal
por um ritmo calmo e (exemplos diversificados)
por entoações e a linguagem não verbal
variadas (declarativa, (imagem em movimento)
interrogativa,
persuasiva - cf. uso
dos tempos dos
ENCI2CAEP O Porto Editora

modos indicativo,
conjuntivo e
imperativo)

61
Oralidade | Leitura | Escrita

Artigo de divulgação científica Manual, p.351

1. Lêo artigo de divulgação científica.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


Saiba como uma planta consegue conduzir eletricidade!
Cientistas na Suécia compraram rosas vulgares e eletrificaram-nas,
introduzindo-lhes circuitos nos tecidos vivos.

Texto Rachel Hartigan Shea

A transformação não é tão inverosímil


como possa parecer. O sistema vascular da
planta transmite sinais químicos tal como os
circuitos eletrónicos transmitem corrente. Para
5 fundir os dois, a equipa da física Eleni Stavrini-
dou colocou um caule cortado de uma rosa
numa solução de polímero dissolvido. Absor-
vido, o polímero reorganizou-se num fio elé-
trico que se estendeu através do xilema, o sis-

O Shutterstock.com
1 tema de canais de transporte de água no
interior da haste. Introduzindo tensão elétrica,
a planta conseguiu conduzir eletricidade.
Por que motivo alguém, para além desta investigadora, desejaria criar uma planta
tão invulgar? Eleni acredita que esta tecnologia poderá produzir sensores capazes de
15 analisar e alterar a fisiologia da planta ao nível celular. Outra possibilidade será a gera-
ção de eletricidade a partir do processo de fotossíntese. Um dia, diz Eleni, “poderemos
ser capazes de ligar o telefone a uma planta”
SHEA, Rachel Hartigan. “Saiba como uma planta consegue conduzir eletricidade!” [Em linha].
National Geographic Portugal [Consult. em 15-10-2016].

1.1. Seleciona a opção correta.

1.1.1. O texto tem como principal intenção comunicativa

(A) fazer uma apreciação crítica de um acontecimento científico.


(B) fazer uma exposição sobre o tema da eletricidade.
(C) |x divulgar ao público em geral uma experiência científica recente.
(D) ridicularizar a experiência dos cientistas suecos.

1.1.2. O título do texto é marcado por um tom predominantemente

(A) informativo.
(B) |X| persuasivo.
(C) expressivo.
(D) irónico.

62
O segmento textual inicial (destacado a negrito)
sintetiza a informação mais relevante do texto.
X | apresenta subjetivamente a ideia central do texto.
divulga informação acessória, mas complementar ao sentido do texto.
explicita as conclusões a que os cientistas chegaram.
A frase “A transformação não é tão inverosímil como possa parecer” (11. 1-2) tem uma
função de articulação pois
X | liga a informação apresentada no segmento inicial e no corpo do texto.
estabelece uma relação entre o título e a frase “O sistema vascular [...] cor-
rente” (11. 2-4).
explicita a relação entre a imagem (fotografia) e o texto verbal.
dá início à última parte do artigo.
Em termos globais, a informação apresentada ao longo do artigo
torna-se progressivamente mais simples.
X | é progressivamente mais complexa.
parte da apresentação dos resultados da investigação para o relato da expe-
riência levada a cabo pelos cientistas suecos.
parte do mais abstrato (saber científico) para o mais concreto (senso comum).
A interrogação retórica presente nas linhas 13-14 tem como função
introduzir os resultados da investigação.
X | conduzir à reflexão sobre a utilidade do estudo.
questionar os resultados obtidos.
expor o carácter absurdo da investigação.
A reprodução do discurso de Stavrinidou funciona como
argumento experiencial.
argumento histórico.
argumento proverbial.
X | argumento de autoridade.
Os principais universos de referência ativados pelo texto são
a botânica e a ficção científica.
a bioquímica e a zoologia.
a física quântica e a química.
X | a ciência e a tecnologia.
O carácter expositivo que caracteriza o artigo de divulgação científica em causa é
marcado linguisticamente
X | pelo predomínio de vocabulário técnico.
ENCI2CAEP O Porto Editora

pela presença de linguagem apreciativa.


pelo uso da interrogação retórica.
pela utilização de conectores com valor argumentativo.

63
Manual, p. 351

Lê o texto.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


Dentro do segredo
Cedo, na madrugada desse dia, em Pyongyang, fiz a
mala a pensar que, de certeza, iria ser examinada ao deta-
lhe. Na véspera, tinham-me assustado com a descrição do José Luís Peixoto
rigor com que as bagagens eram revistadas à saída do país.
Além disso, eu sabia que, se um fiscal quer encontrar
algo com que implicar, não precisa de procurar muito e
encontra sempre. É assim em qualquer parte do mundo.
Quem fiscaliza tem demasiado poder nos olhos. Se disser
que viu, ninguém pode contradizê-lo.
Esse receio, ali, era multiplicado por um número des-
conhecido. Eu estava na Coreia do Norte.
Depois, o guarda olhou para mim e, em inglês, disse:
Camera.
A minha pele cobriu-se de uma camada fina de eletricidade durante o tempo
necessário para levar a mão ao bolso do casaco e lhe estender a máquina fotográfica.
Eu sempre soube que havia a possibilidade de quererem ver a máquina. Tinha sido
avisado mil vezes, mas, ao longo do tempo, tinha acabado por fotografar muito mais do
que era permitido. Era fácil e tentador fazê-lo: a minha máquina era pequena e silen-
ciosa.
20 Tive o cuidado de deixá-la de modo a que, quando fosse ligada, começasse a ver-se
uma sequência de fotografias legítimas, consentidas e encorajadas pelos guias, tiradas
na véspera, junto de um monumento em Pyongyang. Mas eu sabia que, se continuasse
a ver, o guarda acabaria por encontrar muitas que não tinham sido autorizadas, tiradas
às escondidas, ao mesmo tempo que a guia dizia:
25 No pictures, please.
Aquilo que eu não sabia era quais poderiam ser as consequências se o guarda apa-
nhasse essas fotografias. E não saber era muito pior do que saber porque, assim, aca-
bava por imaginar. E eu estava na Coreia do Norte.
A respiração. No silêncio, na presença íntima que partilhávamos naquele compar-
30 timento apertado, tive medo que o meu coração se ouvisse a bater. Dentro de mim, esse
era o único som que se ouvia.
O guarda segurou a máquina com as duas mãos, ligou-a com a ponta do dedo. No-
tava-se que estava habituado a mexer em aparelhos como aquele. E começou a passar
as fotografias uma a uma, sem pressa.
O seu rosto refletia as cores luminosas do ecrã.
PEIXOTO, José Luís (2012). Dentro do Segredo — Uma Viagem à Coreia do Norte. Lisboa: Quetzal, pp. 17-18.

64
Seleciona a opção correta.

O assunto do texto é o relato, por parte de José Luís Peixoto,


de uma experiência passada na Coreia do Sul.
X | do início de uma operação de fiscalização por um guarda coreano.
de um processo de suborno a um guarda coreano, para que este não lhe
confiscasse a máquina fotográfica.
de uma situação de revista rigorosa da bagagem à entrada da Coreia do Norte.
O tempo verbal predominante ao longo de relato é
o presente do indicativo.
X | o pretérito perfeito simples do indicativo.
o pretérito imperfeito do indicativo.
o pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
No primeiro e no segundo parágrafos relatam-se acontecimentos ocorridos
num só dia.
em dois dias pertencentes a diferentes épocas.
X | em dois dias seguidos.
entre o amanhecer de um dia e o anoitecer do dia seguinte.
Os acontecimentos referidos em “se um fiscal quer encontrar algo com que implicar,
não precisa de procurar muito e encontra sempre” (Il. 5-7) apontam para uma situação
ocorrida num passado distante.
ocorrida num passado recente.
X | intemporal / genérica.
ocorrida no momento da enunciação.
A metáfora presente em “Quem fiscaliza tem demasiado poder nos olhos.”(|. 8) alude
à acuidade de visão.
à perspicácia de quem fiscaliza.
X | à possibilidade de abuso de autoridade.
ao zelo dos fiscais.
O único segmento em que prevalece apenas a dimensão descritiva é
“Eu sempre soube que havia a possibilidade de quererem ver a máquina.” (1.16)
“No pictures, please” (1. 25)
“E começou a passar as fotografias uma a uma, sem pressa.” (Il. 33-34)
X | “O seu rosto refletia as cores luminosas do ecrã.” (1. 35)
O discurso pessoal é marcado pela prevalência
da articulação entre a dimensão narrativa e a dimensão descritiva.
ENCI2CAEP O Porto Editora

de adjetivos e de advérbios com valor expressivo.


X | da primeira pessoa.
de deíticos espaciais.

ENCIZCA F05
65
Oralidade | Leitura | Escrita

Memórias WianUal/pp3/2345

1. Lê o texto.

A minha avó Isabel

A minha avó Isabel não acreditava em bruxas, mas

tIONPI OO] O dIVOTIONT


não me espantaria se alguma vez tentasse voar numa
vassoura, porque passou a sua existência a praticar fenó-
menos paranormais e a tentar comunicar com o Além,
atividade que naquela época a Igreja católica via com
muito maus olhos. De algum modo a boa senhora arran-
jou as coisas de forma a atrair forças misteriosas que mo-
viam a mesa nas suas sessões de espiritismo. Essa mesa
está hoje em minha casa, depois de ter dado a volta ao fl
mundo várias vezes, seguindo o meu padrasto na sua ISABEL bo
carreira diplomática, e de se ter perdido durante os anos ALLENDE
do exílio. A minha mãe recuperou-a mediante um golpe
de astúcia e enviou-ma de avião para a Califórnia. Teria
O MEU PAÍS <.
INVENTADO
sido mais barato mandar um elefante, porque se trata de
um pesado móvel espanhol de madeira talhada, com um
formidável pé no centro, formado por quatro leões fero-
zes. São precisos três homens para a levantar. Não sei
qual era o truque da minha avó para fazê-la dançar pela sala empurrada suavemente pelo
seu dedo indicador. Esta senhora convenceu a sua descendência que depois de morrer viria
20 de visita quando a chamassem e suponho que manteve a promessa.
Não presumo que o seu fantasma, ou qualquer outro, me acompanhe todos os dias - su-
ponho que terá assuntos mais importantes a tratar -, mas agrada-me a ideia de que esteja
disposto a acudir em caso de necessidade imperiosa.
Essa boa mulher afirmava que todos possuímos poderes psíquicos, mas, como não os
25 praticamos, eles atrofiam-se - como os músculos - e acabam por desaparecer. Devo deixar
claro que as suas experiências parapsicológicas nunca foram uma atividade macabra, nada
de salas escuras, candelabros mortuários nem música de órgão, como na Transilvânia. A
telepatia, a capacidade de mover objetos sem lhes tocar, a clarividência ou a comunicação
com as almas do Além sucediam a qualquer hora do dia e do modo mais casual. Por exem-
30 plo, a minha avó não confiava nos telefones, que no Chile foram um desastre até se inventar
o telemóvel, pelo que usava a telepatia para ditar receitas de tarte de maçã às três irmãs
Morla, suas compinchas da Irmandade Branca, que viviam do outro lado da cidade. Nunca
se comprovou se o método funcionava porque as quatro eram péssimas cozinheiras.
ALLENDE, Isabel (2003). O Meu País Inventado. Porto: Porto Editora, pp. 84-85.

66
Seleciona a opção correta.
Os acontecimentos apresentados no texto são relatados
seguindo uma ordem cronológica, do mais antigo para o mais recente.
seguindo uma ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo.
de forma retrospetiva e englobante, sem referência ao presente.
X | segundo uma lógica associativa, articulando passado e presente.
As referências ao contexto social
estão ausentes do texto.
X | são feitas com recurso à ironia e a um tom jocoso.
têm como intenção o elogio da religião, das crenças sobrenaturais e do pro-
gresso tecnológico.
têm uma função exclusivamente ornamental.
A narratividade do texto está presente, sobretudo
X | no ato de narrar episódios passados, relacionados entre si.
no ato de refletir sobre os acontecimentos passados.
na prevalência da 1.2 pessoa e do discurso pessoal.
na organização do texto com base numa única sequência narrativa, com
princípio, meio e fim, sem ramificações secundárias.

A forma verbal “viria”(1. 19) é utilizada para localizar um acontecimento


ocorrido num momento passado, antes de outro também passado.
X | ocorrido num momento passado, depois de outro também passado.
iniciado no passado, mas que se prolonga até ao presente.
ocorrido num momento posterior ao momento da escrita do texto.

Reflete sobre as características do género memórias, completando o texto seguinte com


as palavras autobiografia, empírico, História, historicidade, memórias, representação.

Ora, o que justifica a empresa memorialística é precisamente a indignação de


um sujeito acerca do papel que desempenhou na história. Ao contrário do Eu da
autobiografia o Eu das memórias é uma figura pública que não se pertence,
por pertencer aos outros e à História [...].
Outra das consequências da historicidade go sujeito tem a ver no modo pe-
culiar como no género memorialístico se joga a relação entre a referencialidade e a
representação ou entre os planos empírico e ficcional. Sendo da esfera do
ENCI2CAEP O Porto Editora

público, os factos que sustentam o relato são passíveis de verificação.


ROCHA, Clara (2006). “Memorialismo” in Biblos — Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa.
Lisboa/São Paulo: Verbo, pp. 627-628 [Com supressões].

67
Oralidade | Leitura | Escrita

Diário Manual, pp. 340-341

1. Lêo texto.

PIONPI ONO] O dAVOTIONAT


Cadernos de Lanzarote
2 de fevereiro [de 1994]

Não me lembro de ter lido alguma vez acerca


dos motivos profundos que nos levam a amar a
uma cidade mais do que a outras e não raro con-
tra outras. Sem falar dos casos de amor à primeira
vista (assim foi Siena, mal nela entrei), que em
geral não resistem à ação conjunta do tempo e da
repetição, creio que o amor por uma cidade se
faz de coisas ínfimas, de razões obscuras, uma
rua, uma fonte, uma sombra. No interior da
grande cidade de todos está a cidade pequena
em que realmente vivemos.
Habitamos fisicamente um espaço, mas, sen-
timentalmente, habitamos uma memória.
Quando precisei de descrever o último ano da
vida de Ricardo Reis, tive de voltar atrás cin-
quenta anos na minha vida para imaginar, a par-
tir das minhas recordações daquele tempo, a Lisboa que teria sido a de Fernando
Pessoa, sabendo de antemão que em pouquíssimo poderiam coincidir duas ideias
de cidade tão diferentes; a do adolescente que eu fui, fechado na sua condição social
20 e na sua timidez, e a do poeta lúcido e genial que frequentava, como seu direito de
natureza, as regiões mais altas do espírito. A minha Lisboa foi sempre uma Lisboa de
bairros pobres, quando muito remediados, e se as circunstâncias me levaram, mais
tarde, a viver noutros ambientes, a memória mais grata e mais ciosamente defen-
dida foi sempre a da Lisboa dos meus primeiros anos, a Lisboa da gente de pouco ter
25 e muito sentir, ainda rural nos costumes e na ideia que fazia do mundo.
Hoje, aqui tão longe, apercebo-me de que a imagem da Lisboa do presente se vai
distanciando aos poucos de mim, vai-se tornando memória de uma memória, e pre-
vejo, embora saiba que nunca serei nela um estranho, que chegará um dia em que
percorrerei as suas ruas com a curiosidade perplexa de um viajante a quem tivessem
30 descrito uma cidade que deveria reconhecer logo, e que se encontra, não precisa-
mente como uma cidade diferente, mas com a impressão de estar perante um
enigma que terá de resolver se não se quiser tornar a partir de alma triste e mãos
vazias.
SARAMAGO, José (2016). Cadernos de Lanzarote Il. Porto: Porto Editora, pp. 30-32.

68
Diário

1.1. Forma afirmações verdadeiras, associando a cada segmento da coluna A um segmento da


coluna B.

Coluna A Coluna B

a. Quanto ao assunto, nesta entrada 1. conclui que a forma como Lisboa é atualmente
de diário, Saramago perspetivada por si se encontra num processo de
mutação e distanciamento.
b. De acordo com Saramago, a forma
como se encara a cidade em que se | 2 2. decorre de relações de ordem afetiva e
vive introspetiva.
c. No segundo parágrafo, o diarista 4 3. difere da forma como a mesma é encarada por si
próprio, devido às diferentes experiências de vida.
d. Para Saramago, a forma como
Lisboa é perspetivada por Fernando | 3 4. recorda o processo de escrita do romance
Pessoa O Ano da Morte de Ricardo Reis.
e. No último parágrafo, José 1 5. é visível nas formas de primeira pessoa do singular
Saramago (pronomes, determinantes e formas verbais).

f. O discurso pessoal que caracteriza 5 6. reflete sobre a oposição entre a cidade habitada
o género diário fisicamente e a cidade habitada na memória.

1.2. Mostra como a definição de diário abaixo se aplica ao texto que leste.

Diário
O diário distingue-se dos outros géneros autobiográficos em virtude de caracte-
rísticas técnico-compositivas próprias, com consequências ao nível da narração, da
constituição de uma imagem do eu, da temporalidade do discurso e até do estilo.
Num diário encontramos geralmente uma sucessão de notas datadas, que corres-
pondem a uma narração dita intercalada, ou seja, em que o registo dos factos narra-
dos alterna com a ocorrência desses mesmos factos. O diário resulta de uma escrita
reatada diariamente (ou periodicamente), fragmentária portanto, em que o eu se vai
constituindo por acrescento e sobreposição, surgindo-nos assim disperso ao sabor
dos dias e dos momentos. Contrariamente ao que sucede na autobiografia, em que
o narrador põe e dispõe de um conjunto de factos pode manipular numa narração
dita ulterior, no diário o sujeito contabiliza e regista, dia após dia, as suas alegrias e
desgostos, os resultados do seu trabalho, as suas descobertas, os seus amores e ami-
zades, as suas leituras, as suas experiências, enfim, tudo aquilo que molda uma per-
sonalidade e enche de sentido uma vida. A observância da ordem cronológica está,
pois, implícita no género diarístico, em que o recomeço da escrita acompanha a su-
cessão dos dias.
ROCHA, Clara (1997)."Diário”, in Biblos — Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa.
Lisboa/São Paulo: Verbo, pp. 99-100.

Texto que corresponde a um momento de uma sucessão de notas, em que o registo dos factos narrados
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alterna com a ocorrência desses mesmos factos; texto que consiste numa reflexão que parte de um ele-

mento do quotidiano (observação da cidade) e que culmina numa situação de introspeção, articulada

com o relato de experiências pessoais... [ver, na pág. 92, solução completa]

69
Manual, pp. 344-345

Visiona o filme Operação Outono (um dos filmes que integra a

vIONPA OO] O dIVOTIONT


lista de referência do Plano Nacional de Cinema para o Ensino
Secundário).

Lê três críticas sobre o filme, publicadas no Público [Em linhal.

Operação Outono
Há uma mancha que macula o novo filme de Bruno de Al-
meida: ter o ator americano John Ventimiglia a interpretar
Humberto Delgado dobrado em português por Rogério Sa-
mora sem atenção à sincronia labial. Daí resulta a sensação de estar a ver um filme ita-
5 liano fajuto dos anos 1960 - e é impossível não sentir que talvez fosse exatamente isso
que Almeida quis fazer: dessacralizar um momento fulcral da história portuguesa sob a
forma de um exercício de género descomplexado recuperando um espírito de série B,
de um outro tempo e modo de fazer cinema. Operação Outono esbarra nas limitações
dos seus meios e na incapacidade de escolher um foco narrativo que sirva de “fio con-
10 dutor” à história (indecisa entre ser policial, filme de espionagem ou filme de tribunal e
alternando entre os três), com os atores a não terem “tempo de antena” suficiente para
desenhar as personagens. Não deixa de ser uma fita simpática, que escapa ao prover-
bial esquema televisivo de tanta reconstituição histórica made in Portugal.
Jorge Mourinha

O general sem voz


O elenco heteróclito - que inclui, por exemplo, Camané como guarda-fronteiriço, e
o realizador José Nascimento como Barbieri Cardoso - é uma das singularidades desta
Operação Outono, reconstituição dos acontecimentos que conduziram (e que se segui-
ram) à morte do General Humberto Delgado. É pelo elenco, no entanto, que muito de-
5 pressa temos a sensação de que o filme de Bruno de Almeida não vai correr tão bem
como podia ter corrido: John Ventimiglia é um miscast no papel de Delgado, com um à
vontade nova-iorquino que parece que nunca cola à personagem, agravado por uma
dobragem (todos os diálogos do General precisam de dobragem em português) que
deixa as suas falas em total assincronia com o movimento dos lábios. |...]
10 Mas não é evidentemente esse o trabalho do filme, que quer e persegue um natura-
lismo muito mais legível, apenas a espaços tingido por alguma teatralidade (o monó-
logo de Diogo Dória ao espelho, qual Travis Bickle...) ou encenação processual (as au-
diências com os ex-pides, já depois do 25 de Abril).

70
Z
Fora essas debilidades técnicas, de que o “caso Ventimiglia” é exemplo supremo,
15 que dão ao filme um ar “tosco” que não é inteiramente desagradável mesmo se se per-
cebe que a imperfeição não é procurada (apenas não evitada), falta a Operação Outono
um centro forte, um olhar que una e implique com outro poder toda a diversidade - de
registos, de tons - de que ele é feito. Temos a sensação de estar perante uma “coleção de
cenas” umas que resultam bem, outras que nem tanto, uma decomposição da história
20 em episódios, em “vinhetas” onde o necessário se confunde com o acessório para dei-
xar a impressão de um filme “deslaçado” com demasiado “ar” mais esvoaçante do que
seria desejável. Há uma certa “democracia” no olhar de Bruno de Almeida, como se o
filme não fosse só sobre Delgado mas sobre toda a gente direta ou indiretamente ligada
ao caso (do assassino, Pedro Efe em impecável brutamontes, à viúva, Ana Padrão em
25 modo sequíssimo) - mas falta que esta “democracia” encontre o clique para se conver-
ter em “mosaico” consistente. Operação Outono vê-se bem por entre as suas debilida-
des, mas deixa um travo irremediável a frustração.
Luís Miguel Oliveira [Com supressões].

Operação Outono
Às tantas, é como se o filme se pusesse de acordo para se ver livre de Humberto Del-
gado, deixando-se invadir por um frenesim de burlesco tragicómico. E assim desapa-
rece, mais ou menos a meio, a personagem principal. Na verdade, assim desaparece um
foco de incómodo, até aí, de Operação Outono: a incompatibilidade entre corpo do ator
norte-americano John Ventimiglia e a voz portuguesa que lhe arranjaram. (Não é só
uma questão de sincronia ou falta dela na dobragem; é, sobretudo, o facto de aquele
corpo, a forma como o ator quer sugerir nele uma energia informe, ser boicotado por
uma voz desenhada, por um espartilho). Mas Humberto Delgado morre, e assistimos
com surpresa à forma como Bruno de Almeida orquestra as coisas nesse momento: em
direção a uma série de espasmos. A partir daí Operação Outono está mais à vontade não
para encontrar um centro mas para delirar com a ausência de centro. Tornando-se evi-
dente que o foco principal não é a personagem Humberto Delgado, que não há aqui
nada a “revelar” sobre uma conspiração, que isto não é um “thriller”. É uma comédia
humana, febril, pícara, com uma série de personagens que gravitavam à volta de Del-
gado a darem corpo ao país dos brandos costumes. Podemos sonhar, perante as fragili-
dades de Operação Outono, com o “grande filme que poderia ter sido” Em vez de la-
mentarmos, podemos constatar que por aquilo que é, já dá um pontapé apetecido nos
formatos “filme de época” “filme histórico” ou “thriller político”. [...] Quase todo o arse-
nal de pícaro é impecável - os atores, dos homens - mas às mulheres cabe a gravidade,
20 como uma reserva moral - e falamos de Ana Padrão, do silêncio da fabulosa Ana Pa-
drão, e daquela belíssima passagem dos olhos dela para o E Depois do Adeus de Paulo
ENCI2CAEP O Porto Editora

de Carvalho. Que filme poderia ter sido? Este é um daqueles casos em que a dúvida,
“Que raio de filme ele quis fazer?) estimula.
Vasco Câmara [Com supressões].

1
Oralidade | Leitura | Escrita

2.1. Faz uma análise comparativa das três críticas, completando a grelha.

Apreciações críticas

O dIVOTIONT
Texto A Texto B Texto €

Objeto da crítica Operação Outono (Bruno de Almeida, Portugal, 2012, Longa-metragem, Ficção, 92”.

BIONPI OO]
Elementos contextuais

Autor (identificação e Jorge Mourinha / crítico de Luís Miguel Oliveira / crítico Vasco Câmara / crítico de
papel social) cinema de cinema cinema

Conteúdo temático

Elementos descritos interpretação da personagem enredo, elenco, tipo de repre- elenco (com destaque para a in-
Humberto Delgado, enredo/fio sentação, fio condutor... terpretação da personagem
condutor, classificação/género... Humberto Delgado), fio condu-
tor...

Comentários | Positivos originalidade / não segue a ten- singularidade do elenco; abran- inovação quanto à classifica-
críticos dência atual das reconstituições gência da representação do ção/hibridez de género, repre-
históricas televisivas contexto histórico... sentação de Ana Padrão

Negativos má interpretação da persona- má interpretação de Ventimi- má interpretação de Ventimiglia


gem Humberto Delgado... glia, debilidades técnicas, au-|...
sência de fio condutor...

Estrutura

Partes que constituem Texto constituído por um só Texto dividido em três partes Texto dividido em três partes
o texto parágrafo, dividido em duas - introdução (1. 1-4); - introdução (1. 2);
partes - aspetos negativos e - desenvolvimento (ll. 4-6); - desenvolvimento (ll. 2-23);
aspetos positivos... - conclusão (ll. 26-27)... - conclusão (ll. 23-24)...

Linguagem e estilo
Vocabulário técnico/ “dobrado em português” “elencoy “realizador” “filme, “personagem
. . . q Uns nd » - - vu pu, . ”
campo lexical de cinema | “sincronia facial) “filme” miscast”, “papel, principal; “ator; “thriller,
“ator” “interpretar” “série B” “teatralidade”.. “comédia? “filme de época”..
“foco narrativo; “policial”..

Linguagem valorativa “mancha que macula” “neteróclito; “não vai correr | “frenesim de burlesco
“ vu vu
(apreciativa ou ajuto) “esbarra) “limitações tão bem como podia ter tragicómico; uma série de
depreciativa) dos meios) “incapacidade” corrido) “miscast”... espasmos”...

[ver, na pp. 92-93 solução completa]

2.2. Com base nas apreciações críticas feitas, infere a classificação que cada autor terá dado ao
filme (de uma a cinco estrelas).

Jorge Mourinha Luís Miguel Oliveira Vasco Câmara ]

EH A AGIA Adir
72
Apreciação crítica

3. Coloca-te, agora, no papel de crítico de cinema. Visiona os seguintes filmes, pertencentes


à lista de referência do Plano Nacional de Cinema.

Balada de um Batráquio Lingo


Leonor Teles | Portugal, 2016 Daniel Roque | Portugal, 2015
Curta-metragem, Documentário, 11' Curta-metragem, Animação, 10'30”

Sinopse - Num contexto social con- Sinopse - A história de Manuel, um


creto, o filme intervém no espaço real indivíduo que para ultrapassar a soli-
da vida portuguesa e reflete sobre dão e o desprezo dos outros se vai co-
comportamentos xenófobos e racis- nectando às redes sociais para arran-
tas. jar alguma companhia. Contudo,
rapidamente vai perceber que amigos
online, likes e selfies não trazem felici-
dade.

Plano Nacional de Cinema, Lista de Filmes de referência.


Ano letivo 2016-2017, p. 14.

3.1. Realiza as duas atividades propostas, tendo como objeto de apreciação os dois filmes (um
para a produção oral, outro para a produção escrita).

Apreciação crítica oral Apreciação crítica escrita

Planificação - Pesquisa, na internet e em revistas da especialidade, informação sobre o filme


(artigos jornalísticos, críticas de cinema....).
- Planifica o teu texto, sintetizando, por tópicos, os aspetos a abordar na
introdução, no desenvolvimento e na conclusão. Todos os aspetos descritos
devem ser exemplificados.

Produção - Treina a tua apresentação oral, tendo - Redige a tua apreciação crítica, tendo
em conta os aspetos verbais e não o cuidado de usar vocabulário
verbais (dicção, ritmo, postura). técnico (da área do cinema) e
Nota: Se gravares os teus treinos, linguagem valorativa (apreciativa ou
ENCI2CAEP O Porto Editora

poderás analisar a tua prestação e depreciativa, consoante o caso).


melhorá-la progressivamente. - À medida que escreves, vai relendo e
- Apresenta o teu texto à turma. aperfeiçoando o teu trabalho.

73
Manual, pp. 346-347

Lê os dois textos de opinião, sobre a atribuição do Prémio Nobel da literatura a Bob Dylan.

PIONPA ONO] O dIAVOTIONT


Porque a entrega do Nobel da Literatura a Bob Dylan não é
séria
Bob Dylan escreve canções. Fá-las principalmente baseando-se nas letras e na Ií-
rica das mesmas. A poesia que está por detrás da música é tanta como a presente em
textos que não estão na base de uma canção, e nesse sentido são ambos textos literá-
rios. Também editou um livro de ficção e uma parte da sua autobiografia mas, apesar
de tudo, apreciamos Dylan ao ouvi-lo. Por mais edições das suas letras em formato de
livro que existam, o músico americano acaba por continuar a ser isso, um músico.
Falava-se que o Comité Nobel não atribuía prémios a não-ficção e fê-lo o ano pas-
sado, com Svetlana Alexievich. Este ano decide ir ainda mais longe, comunicando ao
mundo que a música também é literatura. Para quando o Nobel para o Quentin Taran-
tino, David Lynch, Enki Bilal ou Ursula LeGuin?
Pode argumentar-se que tudo o que é escrito é literatura. Mas há textos que são
mais do que isso, que são música, que são cinema. Isso não faz deles menos bons,
menos literários, mas transporta-os para fora desse contexto e enquadra-os mais nou-
tras áreas artísticas. E se Dylan é um poeta por ser letrista, num prémio onde pratica-
mente não há poetas premiados, é difícil não arranjar um mais merecedor de ganhar
um Nobel... Parece-me relevante perguntar-vos se acham que, caso existisse um Nobel
para a Música, o Nobel da Literatura teria sido atribuído a Dylan.
É interessante que o comité queira dar atenção à literatura presente na música,
mas, depois de cumprido este desígnio, ao entregar o prémio a Dylan, será que mais
20 alguma vez irá presentear um músico com este prémio? São imensos os músicos com
excelente qualidade lírica, alguns provavelmente até melhores nessa área que Dylan
(cof cof Cohen). Não merecerão esses agora receber também o prémio, em posteriores
edições? Só o futuro dirá se tal acontecerá.
Mas, acima de tudo, para mim, o ponto-chave é principalmente este: Dylan tem,
25 certamente, mérito literário, mas tem-no mais na música e, no campo literário, há
quem tenha bem mais que ele. Não é preciso ir à música para encontrar alguém mere-
cedor deste prémio, há uns quantos que o merecem tendo passado a vida inteira a es-
crever somente livros. Além disso, alguma coisa está mal quando, após a atribuição de
um prémio Nobel da Literatura, todo o teu feed de Facebook está cheio de músicas.
30 Um prémio que se quer sério, como o Nobel, devia servir para distinguir os melho-
res (independentemente de quotas de raça, nacionalidade, ou género literário), não
para enviar statements ao mundo, e, este ano, o comité, mais que para o mérito de
Dylan, parece ter querido apontar atenções para a presença literária na música.
DUARTE, Miguel Fernandes. “Porque a entrega do Nobel da Literatura a Bob Dylan não é séria”,
in Comunidade, Cultura e Arte, 13-10-2016 [Consult. em 17-10-2016].

74
Artigo/texto de opinião

TEXTO B

Bob Nobel, nem menos


Dylan inventou um mundo cheio de personagens, his-
tórias e encantamentos, denúncias, crenças e fantasmas.
Bob Dylan merece o prémio Nobel da literatura. Bob
Dylan escreve ensaios, ficção e poesia há mais de meio sé-
culo. Inventou um mundo cheio de personagens, histórias e
encantamentos, denúncias, crenças e fantasmas.
Desde que Christopher Ricks defendeu Dylan como um

O Shutterstock.com
grande autor da literatura mundial que há outros críticos
académicos que se divertem a fazer pouco de Ricks. Mas a
verdade é que Ricks foi o primeiro a ter a coragem de reco-
nhecer o génio de Bob Dylan.
Dantes toda a literatura se dividia em categoriazinhas [...] - canções, contos, en-
saios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia. O júri do Nobel tem feito o enorme
favor de voltar a confundir tudo. No ano passado deu o prémio à jornalista Svetlana
Alexievich, uma grande escritora que utiliza as entrevistas como matéria-prima para
construir textos empolgantes sobre a condição humana.
Está fora de moda falar na eternidade, mas tanto Alexievich como Dylan serão
imortais. Escrever é escrever. Um mau poeta será sempre pior do que um bom jorna-
lista. Dylan é inegavelmente um grande escritor. A Academia Sueca está a usar o Pré-
20 mio Nobel para restaurar a literatura. Tomara que regresse à literatura oral. As histórias
que não são escritas também podem ser grandes e imortais.
A obra de Dylan - que é caoticamente desigual, havendo coisas terríveis ao lado de
obras-primas - é uma gloriosa coleção de todas as tradições literárias da humanidade,
desde os trovadores aos cantores de blues, desde os contos de fada às orações.
25 Finalmente temos um Nobel à altura de Dylan.
CARDOSO, Miguel Esteves. “Bob Nobel, nem menos” [Em linha]. Público [Consult. em 15-10-2016, com supressões].

1.1. Analisa os dois textos, identificando o ponto de vista de cada autor, bem como os argu-
mentos e os exemplos utilizados para fundamentar os pontos de vista adotados.
Texto A

e Ponto de vista: Bob Dylan é um músico, logo não lhe devia ter sido atribuído o Prémio Nobel da Li-

teratura.

e Argumentos: Bob Dylan é apreciado devido ao seu talento musical e não aos livros que escreveu; os
textos escritos em áreas artísticas não literárias (cinema, música) não devem ser considerados elegí-

veis para o Prémio Nobel da Literatura; mesmo que o comité do Nobel queira valorizar a literatura

presente na música, há músicos com mais qualidade lírica do que Bob Dylan.

e Exemplos: referência à atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015 a uma autora de não fic-
ENCI2CAEP O Porto Editora

ção (Svetlana Alexievich); referência a outras personalidades de áreas artísticas não literárias que

poderão receber o Nobel, se o critério do júri se mantiver (Quentin Tarantino, David Lynch, Enki

Bilal, Ursula LeGuin); referência a Cohen (músico com mais qualidade lírica do que Dylan).

75
Oralidade | Leitura | Escrita

Texto B

O dIVOTIDNT
e Ponto de vista: “Bob Dylan merece o prémio Nobel da literatura” (1. 3).

e Argumentos: Bob Dylan é autor de ensaios, ficção e poesia; de acordo com Ricks, Bob Dylan é um

PIONPI OO]
autor da literatura mundial; o júri do Nobel já não atribui o prémio de acordo com as “categoriazi-

nhas” tradicionais; “Dylan é inegavelmente um grande escritor” (1. 19), cuja obra recolhe as “as tradi-
ções literárias da humanidade” (1. 23).

e Exemplos: referência ao facto de Christopher Ricks ter elogiado o valor literário de Dylan; referência

à atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015 a Svetlana Alexievich; exemplificação das “cate-

goriazinhas” (“canções, contos, ensaios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia”, ll. 12-13) e das

“tradições literárias da humanidade”, perspetivadas diacronicamente...

2. Prepara e apresenta um texto de opinião oral sobre o mesmo tema - a atribuição do Pré-
mio Nobel da Literatura a Bob Dylan. Segue as etapas:
2.1. Pesquisa informação sobre: o trabalho de Bob Dylan e o Prémio Nobel da Literatura.
Nota: Para complementares os teus conhecimentos sobre estes dois temas, poderás realizar os exer-
cícios das páginas 77, 78e 81.

2.2. Com base na pesquisa feita, planifica o teu texto, sintetizando as ideias-chave a abordar nas
três partes que constituem o texto de opinião.

“Ideias-chave

Introdução Ponto de vista a defender


[cerca de 1 minuto]

Desenvolvimento Fundamentação do ponto de vista


lentre3a4 1.º argumento (seguido de exemplo)
minutos]
* Argumento:
- Exemplo:
2.º argumento (seguido de exemplo)
* Argumento:
- Exemplo:

Conclusão Reforço/síntese do ponto de vista defendido


[cerca de 1 minuto]

2.3. Apresenta o teu texto de opinião à turma.


2.4. Ouve os comentários dos teus colegas relativamente ao teu desempenho.

3. Partindo da apresentação oral, redige um texto de opinião sobre o tema em causa (200 a
300 palavras), no teu caderno.

76
Manual, pp. 348-349

Lê o texto.

Retratos de um Nobel
Quando o autor escolhido pela Aca-
SVENSKA AKADEMIEN
demia Sueca recebe formalmente, em Et tr vd sm st
, . dem
q asober 997 1 dvorerretamenche
Estocolmo, a 10 de dezembro, o Prémio na
REL OBEL
Nobel de Literatura das mãos do Rei da ' den 17 nome st app itade
tetumentet bedudas qt

s Suécia, são três os objetos que lhe são ad ei


entregues: um diploma, uma medalha e D N3 FO
um documento que confirma o valor “gm medeta pelas ct
5. Vo. Solyd quotas malta
ad uppeattar
monetário do prémio. : de uai voçe
O diploma é, em si mesmo, uma
10 obra de arte, concebida por calígrafos
que escrevem num pergaminho TT Diploma de Dario Fo (Prémio Nobel da Literatura, 1997)

lhante ao que usavam os monges ilustradores dos livros medievais. Ainda recente-
mente, no Palácio da Ajuda, os visitantes da exposição “José Saramago - A Consis-
tência dos Sonhos” puderam apreciar o diploma que o Nobel português recebeu em
15 1998. A medalha, desenhada por Erik Lindberg e feita em ouro (de 18 e 24 quilates),
tem numa das faces a efígie de Alfred Nobel, com as suas datas de nascimento e
morte (1833-1896). Na outra, está representado um rapaz debaixo de um loureiro, a
escrever enquanto escuta uma musa que toca lira. Uma inscrição junto ao bordo da
medalha reproduz o verso 663 da sexta canção da Eneida de Virgílio: “Inventas vitam
20 juvat excoluisse per artes) qualquer coisa como: “Às invenções que melhoram a vida
através da arte” O valor monetário do prémio estabilizou há vários anos nos 10 mi-
lhões de coroas suecas (mais de um milhão de euros), mas o retorno financeiro é
muito superior, se contabilizarmos o aumento de vendas das obras do laureado e a
multiplicação de convites para conferências, por vezes muito bem pagas.
SILVA, José Mário. “Retratos de um Nobel! in Revista Ler, outubro de 2008.

Assinala as marcas do género exposição sobre um tema presentes no texto de José Mário
Silva, fundamentando a tua opção.
Variedade de temas Discurso pessoal (1.2 pessoa)
Multiplicidade de intervenientes X Carácter demonstrativo
Comentário crítico X Concisão e objetividade
Carácter apelativo Carácter persuasivo
ENCI2CAEP O Porto Editora

[ver resposta na pág. 93]

77
Oralidade | Leitura | Escrita

2. Ouve o texto António Egas Moniz, o Nobel português da medicina (disponível no sítio RTP
Ensina).
2.1. Este texto pode classificar-se como exposição sobre um tema? Justifica.
Este texto pode classificar-se como exposição sobre um tema, pois apresenta as marcas deste género

textual: carácter demonstrativo (a informação mais complexa é explicada), elucidação evidente do

tema (explicita-se o seu percurso biográfico, salientando-se as descobertas na área da medicina que

levaram à atribuição do Nobel), concisão e objetividade (texto curto, sem marcas de subjetividade).

3. No sítio RTP Ensina está disponível uma crono-

PIONPT OJOd O dIVOTIDNA


logia em que se apresentam os mais notáveis
nomes dos Prémios Nobel.
3.1. Analisa a cronologia e seleciona um desses
nomes.
3.2. Prepara e apresenta à turma uma exposição
oral sobre a personalidade que selecionaste,
focando os seguintes aspetos:

Personalidade Dados gerais (nome, data de nascimento e de morte, nacionalidade):


selecionada

Síntese do Percurso académico e profissional:


percurso
biográfico

Motivo pelo qual | Área do Nobel:


recebeu o Nobel
Explicitação do motivo por que recebeu o Nobel:

3.3. Redige uma exposição escrita sobre o mesmo tema (200 a 300 palavras).

78
Exposição sobre um tema

4. Planifica e escreve exposições sobre temas respeitantes às obras estudadas (entre 130 e
170 palavras).
Nota: Antes de planificares os teus textos, poderás consultar as sínteses das unidades do manual e os
textos do caderno Prepara-te para o Exame.

Exercício A (Baseado na Prova Escrita de Português A, 2000, 2.2 Fase)


Redige uma exposição a partir da afirmação seguinte:

A Mensagem é também um elogio do Português, desvendador e dominador de mun-


dos.
COELHO, Jacinto do Prado (1998). Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa (11.2 edição). Lisboa: Verbo, p. 52.

e Desde o início, mas com especial incidência na segunda parte (“Mar Português”), Mensagem faz a apolo-
gia de um passado português grandioso e heroico, revestindo-o de um carácter místico, na medida em
que o considera o tempo do cumprimento de uma missão determinada por Deus.

e À sintonia entre a vontade divina e o sonho humano funda uma atitude de incessante busca, represen-

tada pelo poder de chegar mais além, pela firmeza com que o Português (representado por diversos he-

róis) combate o medo e vitoriosamente reclama o domínio do mar e do mundo antes desconhecidos.

e A persistência no cumprimento da sua missão, a capacidade de enfrentar os riscos e de aceitar o sofri-

mento justificam a glorificação do povo que, com a sua ousadia e “esforço”, tornou “português” o “mar

sem fim”

Exercício B (Baseado na Prova Escrita de Português, 2012, Época Especial)


Lê o excerto seguinte da carta sobre a génese dos heterónimos, enviada por Fernando
Pessoa a Adolfo Casais Monteiro em 13 de janeiro de 1935.

E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o
nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu
mestre.
PESSOA, Fernando (1999). Correspondência — 1923-1935. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 343.

Redige uma exposição em que expliques como a poesia de Fernando Pessoa ortónimo se
afasta dos ensinamentos do mestre.

A poesia de Fernando Pessoa ortónimo afasta-se dos ensinamentos do mestre Caeiro em aspetos como a

sobrevalorização do pensamento; a excessiva subjetividade; a desconfiança nos sentidos; a consciência

aguda da passagem do tempo; o medo da morte; os sentimentos de tédio e de insatisfação; o recurso ao

símbolo; a revolta contra as leis da natureza; a atração pelo oculto; a preferência por formas poéticas tradi-
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cionais (quadra, redondilha, rima...).

79
Oralidade | Leitura | Escrita

Exercício € (Baseado na Prova Escrita de Português, 2013, 1.2 Fase - Época especial)

BIONPA OMOd O dIVOTIONT


Fazendo apelo à tua experiência de leitura do romance Memorial do Convento, de José Sara-
mago, explica em que medida os traços de carácter do Padre Bartolomeu de Gusmão o impe-
lem à construção da passarola, fundamentando a tua exposição em dois exemplos.

O Padre Bartolomeu de Gusmão tem curiosidade pelo conhecimento, bem como empenhamento no estudo e

na investigação, que o levam à Holanda e à Universidade de Coimbra; interesse pela observação da natureza,
que o conduz à idealização de uma máquina semelhante a um pássaro; crença na capacidade criativa do ser

humano, que lhe permite ter a certeza de que um dia o Homem voará; coragem de correr riscos, evidente no

desafio à Inquisição; perseverança, evidente nas diferentes tentativas de construir objetos capazes de voar;

reconhecimento do valor da cooperação, patente na atribuição de tarefas a Baltasar e a Blimunda.

[ver solução completa na pág. 94]

Exercício D (Baseado na Prova Escrita de Português, 2010, 1.2 Fase)

Explicita a importância de Blimunda na consecução do sonho de voar, em Memorial do Con-


vento, de José Saramago, fazendo referências pertinentes à obra.

Dotada de poderes sobrenaturais - a capacidade extraordinária de vidência (no interior dos corpos e debaixo

da terra) - Blimunda participa na concretização do sonho de voar: inspecionando os materiais de construção

da passarola; recolhendo as duas mil vontades com as quais se encherão as esferas que farão voar a máquina.

Exercício E (Baseado na Prova Escrita de Português, 2012, 1.2 Fase)

[...] já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os
nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois
aí ficam, se de nós depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horá-
cio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião,
Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos repre-
sentados [...).
SARAMAGO, José. Op. cit. Cap. XIX, p. 266.

Os trabalhadores da construção do Convento assumem o estatuto de heróis no romance


Memorial do Convento. Explica o modo como esses trabalhadores conquistam este estatuto,
fundamentando a sua exposição em dois exemplos significativos.

Os trabalhadores mantidos no anonimato conquistam o estatuto de heróis, graças ao sacrifício e ao sofri-


mento que lhes foram impostos: o abandono, muitas vezes forçado, das suas terras, famílias e amigos; as

precárias condições de alojamento e de alimentação; a dureza das condições de trabalho, que chega a provo-

car a morte; o esforço extremo exigido pelas tarefas de uma obra gigantesca, destacando-se o transporte da

pedra (o carro que a transporta é comparado pelo narrador a uma “nau da Índia”, reforçando o carácter épico

deste empreendimento).

[ver solução completa na pág. 94]


80
Manual, p. 350

Lêo texto.

Ideias-chave:

Os que recusaram o Prémio Nobel


e Em mais de cem
Nas mais de cem edições do prémio, apenas se registam duas
edições do Prémio
recusas: a de Jean-Paul Sartre e a de Boris Pasternak. Em 1964, o
Nobel, apenas Jean-
filósofo existencialista francês foi o escolhido pela Academia
Sueca “pelo seu trabalho que, sendo rico em ideias e animado -Paul Sartre e Boris
pelo espírito da liberdade e a busca da verdade, exerceu uma Pasternak recusaram
enorme influência no nosso tempo” Depois de recusar o prémio o Prémio Nobel da
alegando razões pessoais, o escândalo foi tão grande que Sartre se
Literatura.
viu forçado a publicar um artigo no Le Figaro (a 23 de outubro),
Sartre recusou o
em que explicava que a sua conceção do lugar de um escritor na
sociedade não lhe permitia aceitar qualquer tipo de honras ofi- prémio por se tratar de

ciais. Tal como recusou o Nobel, já havia recusado condecorações uma honra oficial e por
de Estado e recusaria o Prémio Lenine, se lho dessem. Numa frase considerar que os
que ficou célebre, resumiu a sua atitude dizendo que um escritor escritores devem evitar
deve evitar a todo o custo transformar-se numa instituição. A his-
a todo o custo
tória, no entanto, pode não ser assim tão linear, uma vez que Lars
transformar-se em
Gyllensten, um membro de longa data do comité Nobel, afirmou
na sua biografia que Sartre terá escrito uma carta à Academia instituições; segundo

Sueca, em 1975, em que garantia ter mudado de ideias quanto ao Gyllensten, Sartre terá
prémio, pelo menos no aspeto financeiro. Segundo Gyllensten, o mudado de ideias mais
20 comité indeferiu o pedido, alegando que a verba já tinha sido re- tarde, mas a Academia
investida no Instituto Nobel. A história de Pasternak é mais sim-
sueca indeferiu o seu
ples. A 25 de outubro de 1958, dois dias depois de ser premiado, o
pedido.
escritor russo enviou à Academia Sueca um telegrama que dizia:
“Imensamente grato, tocado, orgulhoso, espantado, desconcer- Pasternak recusou o
25 tado” Passados mais quatro dias, um segundo telegrama: “Tendo prémio por razões de
em conta o significado que este prémio teve na sociedade a que ordem política (para
pertenço, tenho de o recusar. Por favor não se ofendam com a
não perder a
minha recusa voluntária” Para bom entendedor, dois telegramas
nacionalidade
bastam. Se Pasternak fosse a Estocolmo receber o prémio, retirar-
soviética); mais tarde,
30 -lhe-iam a nacionalidade soviética e já não poderia voltar. Entre o
Nobel e a pátria, Pasternak escolheu a pátria. Em 1989, quase três a medalha seria

décadas após a sua morte, a medalha foi finalmente entregue ao entregue ao filho.
filho, Yevgeny, numa cerimónia na capital sueca em que o violon-
celista Mstislav Rostropovich tocou uma suite de]. S. Bach.
SILVA, José Mário. "Retratos de um Nobel” in Revista Ler, outubro de 2008.
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Faz uma síntese oral do texto, tendo o cuidado de o reduzir ao essencial por seleção crítica
das ideias-chave (mobilização de informação seletiva, conectores).

ENCIZCA F06
81
Redige uma síntese escrita do texto seguinte (entre 100 e 130 palavras). Segue as etapas:
lê integralmente o texto-fonte, para apreenderes o seu sentido global;
relê o texto, sublinhando as ideias-chave e os conectores que as ligam;
anota, ao lado do texto, tópicos que sintetizem as ideias-chave do mesmo;
redige a síntese do texto, reduzindo-o ao essencial por seleção crítica das ideias-chave (mobi-
lização de informação seletiva, uso de conectores);
pauta a escrita por gestos recorrentes de revisão e aperfeiçoamento.

O dIVOTIONT
Ideias-chave:
Discurso pronunciado por José Saramago no
* Associação do tema do dia 10 de dezembro de 1998 no banquete do

PIONPA OO
discurso ao Prémio Nobel
cumprimento dos 50 . .
Cumpriram-se hoje exata-
anos sobre a assinatura .
mente 50 anos sobre a assinatura
da Declaração Universal da Declaração Universal dos Di-
dos Direitos Humanos. reitos Humanos. Não têm faltado
e Corpo do discurso s comemorações à efeméride. Sa-
centrado na abordagem
bendo-se, porém, como a aten-
ção se cansa quando as circuns-
dos seguintes tópicos:
tâncias lhe pedem que se ocupe
- OS governos não têm
de assuntos sérios, não é arris-
feito o suficiente em 1 cado prever que o interesse pú-
prol dos direitos blico por esta questão comece a
humanos; diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses atos come-
- O progresso tecnológico
morativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algu-
mas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desa-
do ser humano . . : .
15 conselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.
contrasta com a sua Neste meio século não parece que os governos tenham feito
indiferença pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obri-
relativamente ao seu gados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a
semelhante; ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica huma-
- há vários responsáveis
20 nidade capaz
o
de enviar instrumentos
. na
a um planeta
.
para estudar
nas
a
composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões
ela situação, pelo facto . .
a de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao
de não cumprirem o
nosso próprio semelhante.
seu dever: os governos Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo
(em parte devido às 25 OS governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não
influências exercidas querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efetivamente go-
vernam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais
pelas empresas
cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o
multinacionais e . : : , =” x
que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a
pluricontinentais) e os 30 cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns
cidadãos, que devem
Síntese

direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que reivindicar os direitos
lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam humanos.
nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. .
. , . . e Agradecimento pelo
Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma
aa ATE a: ar Prémio Nobel à
35 veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos tam-
bém o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um Academia Sueca, aos
pouco melhor. agentes editoriais, aos
Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de outu- leitores e aos escritores
bro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à portugueses.
40 Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agra-
deci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus
leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores
portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é
por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um
as que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto,
mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto.
(397 palavras)

SARAMAGO, José. “Discurso pronunciado por José Saramago no dia 10 de dezembro de 1998
no banquete do Prémio Nobel”. [Em linha]. Fundação José Saramago [Consult. em 17-10-2016].

Textualização
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83
Gramática 1.3. a. Base (oneiros, 'sonho” + sufixo (-icas) — palavra

BIONPA OUOJ O dAVOTIONT


derivada por sufixação.
Português - Génese, variação e mudança (p.6) b. Prefixo (des-) + base (agradáveis) — palavra deri-
vada por prefixação.
1. E D,B.FA.
c. Base (estud-) + sufixo (-0) — derivação não afixal.
2. a. Síncope do g > epêntese do i. d. Iniciais de três palavras (rapid eyes movement) —
b. Síncope do | > contração por crase (00 > 0). acrónimo (em português); empréstimo.
c. Síncope do u > vocalização do c > metátese do i e e. Radical (neuro-) + palavra (transmissores) — com-
do | > palatalização do grupo |y. posto morfológico.
d. Síncope do u > palatalização do grupo consonân- f. Palavra (stress) - empréstimo.
tico cl [> nasalação do al. 2. a. setora: amálgama (senhora + doutora) entre trunca-
2.1. Palavras divergentes. ções (metrolpolitano], otorrinollaringologista], LosjZé,
helilcóptero)). b. telemóvel: amálgama (telelfone] +
3. a. avesso, adverso. b. coalhar, coagular. c. cuidar, cogi-
móvel) entre compostos morfológicos (tele+visão,
tar. d. dobro, duplo. e. chama, flama (de inflamável).
tele+banco). c. vaivém: composto morfossintático
f. frio, frígido. g. limpo, límpido. h. nau, nave. i. nédio,
entre onomatopeias. d. FBI: sigla entre acrónimos.
nítido. j. chumbo, plúmbeo. k. partilha, partícula.
mu,
I. rezar, recitar. 3.1. Arcaísmos: “lucivelo” “escol”.
Neologismos:
ologismos: “d “downsizing”,
g”, “delete”.
“delete”.
3.1. nave - étimo latino que significa navio; nau — em-
barcação de grande porte e de longo curso; nave 3.2. O autor critica a entrada de empréstimos na língua
— veículo apto para explorar o espaço e para fazer portuguesa, considerando que estes levam ao em-
viagens entre planetas (veículo que navega no pobrecimento lexical da língua e, consequente-
espaço). mente, do próprio pensamento. As enumerações de
4. a. litigare (litigar, disputar, combater) / legere (ler). aceções ilustram a riqueza lexical da língua portu-
mu, mu, mo
b. granu (grão, fruto, semente) / grande- (grão, guesa (“escol” “gema” “nata”; “conluio; “maquina-
grande). ção” “trama? “conspiração”, e contrastam com a po-
breza semântica dos empréstimos (“downsizing”
4.1. Exemplos: a. Eu lido com a situação. / O livro está “delete”.
completamente lido. b. Havia um incomodativo
grão de areia no sapato. / Não conheço o grão-du-
que do Luxemburgo.
Funções sintáticas (p. 11)

5. a.V.b. F- O inglês não integra as línguas românicas. 1.1. a. Complemento direto. b. Sujeito. c. Predicativo do
As principais línguas românicas são o português, o ga- sujeito. d. Complemento do nome. e. Comple-
lego, o castelhano, o provençal, o catalão, o italiano, o mento direto. f. Modificador restritivo do nome.
corso, o romeno, o rético, o sardo e o francês. c. F — A g. Complemento oblíquo. h. Modificador apositivo
língua árabe funcionou como superstrato do portu- do nome. i. Complemento do nome. j. Comple-
guês, o latim como estrato e as línguas pré-latinas mento direto. k. Predicativo do sujeito. |. Comple-
como substratos. d. V. e. V.f. F— Os principais crioulos mento do nome. m. Modificador restritivo do
de base portuguesa são falados nos continentes afri- nome. n. Modificador apositivo do nome. o. Modifi-
cano e asiático. cador restritivo do nome. p. Complemento do
6. oficial; Guiné Equatorial; China; mandarim; Diásporas; nome. q. Complemento indireto. r. Complemento
Japão; Índia; futebol; Hemisfério Sul. direto. s. Complemento do nome.
2.1. a. “diretora da Casa Fernando Pessoa” (|. 5). b. “parti-
Lexicologia (p.9) cular” (|. 1); “que estavam em estado mais frágil”
mu,
(l. 4); “mais frágil” (1. 4); “francês” (1. 7); “grande”
1.1. Campo lexical do sonho: “etapas oníricas” “cérebro”,
(I. 8); “que é muito lido e traduzido” (11. 8-9); “que per-
“fase REM do sono”, “recordações”, “neurotransmisso-
mite ver “como os interesses de Pessoa têm uma abran-
res [...] desativados”.
gência tão grande” (Il. 10-11); “tão grande” (l. 11).
1.2. Campo semântico: sono (estado normal de re- c. “da Incerteza” (título); “de Fernando Pessoa” (Il. 1-2);
pouso; estado de quem dorme; necessidade ou “da coleção” (1. 3); “da Casa Fernando Pessoa” (1. 5); “da
vontade de dormir; período durante o qual se biblioteca” (1. 6); “de apresentar ao público francês a fi-
dorme; inércia/indolência); sono reparador; sono gura de Pessoa como grande leitor” (Il. 6-8); “de Pes-
de pedra; sono dos justos; sono eterno; sono hiber- soa” (|. 7); “de aproximação aos textos de Pessoa”
nal; doença do sono; tirar o sono a alguém... (Il. 9-10); “de Pessoa” (Il. 9-10). d. “Festival da

84
Incerteza” (título); “a figura de Pessoa” (|. 7); “outra Frase complexa - Coordenação
possibilidade de aproximação aos textos de Pessoa” e subordinação (p. 15)
(Il. 9-10); “a diversidade de temas que permite ver
1.1. a. “que assombraram Da Vinci”- oração subordinada
“como os interesses de Pessoa têm uma abrangência
adjetiva relativa restritiva. b. “mas podemos destacar
tão grande” (Il. 10-11); “como os interesses de Pessoa
um” — oração coordenada adversativa. c. “para criar
têm uma abrangência tão grande”(1. 11); “uma abran-
uma máquina voadora”- oração subordinada adver-
gência tão grande” (Il. 11). Nota: Os constituintes
bial final. d. “que ainda hoje surpreende os engenhei-
“Pela primeira vez [...] em estado mais frágil” (11. 1-4) e
ros aeronáuticos”- oração subordinada adjetiva rela-
“Com a viagem da biblioteca [...] aos textos de Pes-
tiva restritiva. e. “Para compreender” — oração
soa” (Il. 6-10) também podem ser considerados
subordinada adverbial final. f. “como as aves voavam”
complemento direto de “disse” (l. 4) e “descreveu”
— oração subordinada substantiva completiva.
(I. 10), respetivamente. e. “à Lusa” (|. 4); “ao público
francês” (1. 7). f. “para fora de Portugal” (1. 2). g. “em 1.1.1. a. Modificador restritivo do nome. d. Modificador
estado mais frágil” (1. 4); “um autor que é muito lido e restritivo do nome. f. Complemento direto.
traduzido” (Il. 8-9); “muito lido e traduzido” (Il. 8-9);
1.2. a. para que criasse uma máquina voadora. b. efe-
“aqui” (|. 9); “dar outra possibilidade de aproximação
tuado. c. quando/sempre que se batem as asas.
aos textos de Pessoa” (Il. 9-10). h. “como grande leitor”
d. produzido com o movimento das asas.
(I1. 7-8).
1.3.(A)
2.2.1.(C)
2.1. “Apesar de [serem] algo estranhos” (l. 2); “Embora
2.2.2. (A)
[fosse] transportável” (1. 5).
3.1. “Da lâmpada noturna/ A chama estremece” (vv. 1-2);
2.2.a.2:;b.2.;c.4;d.1.
“o quarto alto ondeia” (v. 3); “calmos crentes” (v. 5);
“Que nunca lhes trema / A chama da vida” (vv. 6-7); 2.3. No dia a dia, muitos aspetos dos “tempos modernos”
“Mas firme e esguiada / Como preciosa / E antiga começaram nos Anos 20. Ainda que algo estranhos,
pedra, / Guarde a sua calma” (vv. 10-13); “Como pre- estes aparelhos anunciavam uma autêntica revolu-
ciosa / E antiga pedra” (vv. 10-11). ção no quotidiano das classes médias e altas. [...]

3.2. A chama da lâmpada noturna estremece e ondeia o Rádio portátil


quarto alto. Os deuses concedem aos seus crentes Apesar de transportável, o pequeno aparelho de tele-
calmos que a chama da vida nunca lhes trema, per- fonia de J. M. McGuire não possuía bateria, logo tinha
turbando o aspeto do que está em roda, mas a sua de estar ligado à corrente para que funcionasse.
calma firme e esguiada, como preciosa pedra an- “Por isso” é uma locução adverbial conectiva que
tiga, guarde beleza contínua. pode ser substituída pela conjunção “logo”.

3.3. Anástrofe. 4. a. “que, no poema de Álvaro de Campos Ao volante,


este heterónimo de Fernando Pessoa se analisa”
4. Exemplos:
(II. 1-2); b. “que o poeta (pseudo)automobilista se abas-
a. As odes de Ricardo Reis, caros colegas, são lidas
teceu forçosamente numa bomba de fornecimento
pelos leitores com atenção.
Auto-Gazo” (Il. 4-5); “que [...] Álvaro de Campos condu-
b. Leitores e críticos consideram Fernando Pessoa um
zia certamente pela esquerda” (Il. 10-11); c. “enquanto
poeta complexo.
conduz um Chevrolet pela Estrada de Sintra...” (|. 2);
c. A ode, marcada por anástrofes, é difícil de com-
d. “que detinha o monopólio do fornecimento de com-
preender.
bustível” (1. 7); e. “traduzida na implantação de placas
1. “para baixo”- complemento oblíquo; “às 9” - modi- indicativas um pouco por todo o país” (Il. 8-9).
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ficador (do grupo verbal); “do Lavado” — comple-


5. Exemplos:
mento do nome (nome elidido: “escritório”, “onde
escrevi uma carta”- modificador apositivo do nome; Tempo — Sempre/todas as vezes que/quando viajo, re-
“sobre vários assuntos” - complemento oblíquo; flito sobre a vida. / Reflito sobre a vida enquanto viajo.

que” — sujeito. Causa -— Reflito sobre a vida, uma vez que/porque viajo.
Finalidade — Viajo para/a fim de refletir sobre a vida.
Concessão — Ainda que/embora/por mais que viaje,
não reflito sobre a vida. Viajo, embora não reflita
sobre a vida.
Consequência — Viajo tanto que reflito sobre a vida.

85
Condição — Se viajar, reflito sobre a vida. noite do FOLIO, o festival literário de Óbidos.” (II. 1-3).

BIONPA OUOJ O dAVOTIONT


Alternativa — Ou viajo ou reflito sobre a vida. b. “que muitas vezes a escrita envolve” (|. 5). c. “nos tem-
Oposição — Viajo, mas não reflito sobre a vida. pos livres costuma ler os grandes clássicos” (Il. 9-10).
Conclusão — Viajo, logo reflito sobre a vida. d. “Na mesa de cabeceira tem agora Virgílio e Horácio”
Explicação — Viajo, pois reflito sobre a vida. (1. 10). e. “Escolher o tema é metade do trabalho.” (Il. 16-
-17). f. “explicou” (|. 17). g. “o porquê de escrever sem-
Valor temporal (p. 18) pre” (1. 18). h. “para tornar um país real, é preciso estu-
dar história, geografia” (1. 23).
1. b. Flexão verbal — viveu (pretérito perfeito simples do
indicativo). c. Flexão verbal — vivia (pretérito imperfeito
do indicativo); advérbio com valor temporal — Dantes. Valor modal (p. 22)
d. Verbo auxiliar — vai + infinitivo. e. Flexão verbal — vi-
1.a.1,;b.1,;c.1,;d.3.;6.2;f.2:9.3.;h.2,i.3.
verá (futuro simples do indicativo); expressão de
tempo — durante dois anos. f. Flexão verbal — terá re- 2.1. a. Valor deôntico (obrigação). b. Valor epistémico
gressado (futuro composto do indicativo); advérbio e (certeza). c. Valor apreciativo.
expressão de tempo — Daqui a três anos; já. g. Flexão
3.1. a. Creio que vais viajar. b. Sei que vais viajar.
verbal — ficou, soube (pretérito perfeito simples do indi-
c. Podes viajar. d. Não viajes! e. Felizmente, vais via-
cativo); verbo auxiliar — ia + infinitivo; oração temporal
jar.
— quando soube. h. Flexão verbal — vive (presente do
indicativo); advérbio de tempo — Atualmente. 4.1.1. (B)
1.1. b. Momento da enunciação; passado (anterioridade 4.1.2.(A)
em relação ao momento da enunciação). c. Mo-
4.1.3. (B)
mento da enunciação; passado (anterioridade em
relação ao momento da enunciação). d. Momento 4.1.4. (A)
da enunciação; futuro (posterioridade em relação ao
momento da enunciação). e. Momento da enuncia-
Coesão e coerência textuais (p. 24)
ção; futuro (posterioridade em relação ao momento
da enunciação). f Momento da enunciação; Daqui [a 1.1. Coesão gramatical referencial — uso anafórico de
três anos]; futuro (posterioridade em relação ao mo- pronomes: “a” (I. 3), “este” (1. 3), “isso” (Il. 8), “que”
mento da enunciação; anterioridade em relação a (1.10).
Daqui a três anos). g. A Ana ficou contente; passado Coesão gramatical temporal — uso de expressões
(posterioridade em relação ao tempo de referência). com valor temporal: “em 1929” (1. 7), “no dia seguinte”
2. a. Anterioridade. b. Posterioridade. c. Simultaneidade. (1. 11), “hoje” (l. 12); utilização correlativa de tempos
d. Posterioridade. e. Posterioridade. f. Anterioridade. verbais: “Se fosse... seria” (Il. 1-3); “retrata... vem”
9. Posterioridade. h. Posterioridade. (1. 12).
Coesão gramatical frásica - concordância sujeito-
mu,
3.1. Passado: Flexão verbal — “Fui despedir-me? “arran- -verbo e nome-adjetivo: “o romance retrata” (1. 12),
jou” “espantava” “rematou”, advérbio com valor
“costa francesa” (|. 8).
temporal — “Ainda” (em articulação com o pretérito Coesão gramatical interfrásica — recurso à coorde-
imperfeito); oração temporal —“quando rematou”. nação e à subordinação: “Se fosse preciso um romance
Presente: Não se aplica. para estabelecer um paralelo entre a crise económica
Futuro: Flexão verbal — “escuso” (presente com valor do início do século XXI e a do século XX, seria este”
de futuro, por estar correlacionado com o advérbio
(Il. 1-3); uso de advérbios conectivos para articular
“Amanhã” “estará”; advérbio com valor temporal — frases (“Primeiro... depois”, |. 9-10).
“Amanhã”, “já” (em articulação com “amanhã”;
yr
verbo auxiliar — “vou [ter]”. 1.2.1. (B) Reiteração (“romance”, |1. 1 e 12; “século”, |l.2 e
3; “riqueza”, |. 13) e pela substituição por sinóni-
3.2. (D) mos (“opulência”/ “riqueza”, |. 10 e 13).

Valor aspetual (p. 20) 1.2.2. (A) Causa (festas opulentas) > efeito (contratação
de oito criados para limpar tudo, após as festas).
1.1.a.2:;b.1,;c.3.;d.3,;;e.4.
1.2.3. (B) Consequência (decadência) > Causa (opulên-
1.2. Exemplo: Nos últimos meses tenho ido a Óbidos cia).
diariamente. 2.1. Apesar de as definições apresentadas assentarem
2.1. Exemplos: a.“O Nobel da Literatura fechou a primeira em informações contraditórias, não se desrespeita o

86
princípio da contradição, mas faz-se uso de um re- de contraste e de comparação. e. F — Todas as formas
curso expressivo que consiste na oposição de ideias verbais se encontram flexionadas no presente, ex-
contraditórias (oxímoro). ceto a última (“têm sido explorados”, que se encontra
3.1. Relevância: toda a informação apresentada se rela- conjugada no pretérito perfeito composto passivo
ciona com a resolução do conflito (o rato tenta livrar- do modo indicativo. f. F- O enunciado “que não têm
-se da morte, em vão). sido tão explorados no plano turístico como os caribe-
Não contradição: não se apresentam informações nhos” (Il. 15-16) não corresponde a uma situação ge-
logicamente incompatíveis; o gato apresenta uma nérica.
alternativa ao rato, que o livra da “ratoeira”, mas que
não o livra da morte. Intertextualidade (p. 28)
Não tautologia: não há informações redundantes (o
1.1.a.4;b.2;c.3.;d.6.
discurso do rato é ligeiramente repetitivo, denun-
ciando o seu estado de espírito confuso e angus- 2.1. A intertextualidade faz-se relativamente ao género
tiado). textual receita (de culinária) e não em relação a um
texto em concreto (como acontece com o poema”E
Sequências textuais (p. 26) alegre se fez triste” de Manuel Alegre).

3.1. Função persuasiva — levando à evocação da reali-


1. Segundo excerto: sequência predominante — narra-
dade representada na pintura original e poten-
tiva; outras sequências — dialogal (encaixada na nar-
ciando a analogia entre duas realidades distintas
rativa); descritiva (encaixada na narrativa).
(com o objetivo de valorizar o produto publicitado).
Terceiro excerto: sequência predominante — descri-
tiva. 3.2.1. Estabelecem-se dois tipos de relações intertex-
1.1. a. Situação inicial (“Esta tarde, em Vilar [...] nabos da tuais — com o quadro A Leiteira (Vermeer) e com a
púcara:), complicação > ação > resolução ("- Quan- expressão idiomática “Amorà primeira vista”.
tas viúvas [...] mais aflitos.”. b. Verbos que indicam
ações, flexionados no pretérito perfeito simples (“vi- Dêixis (p.31)
sitei” “meti conversa? “perguntei”; localizadores tem-
porais e espaciais (“Esta tarde, em Vilar”). c. Identifica- 1.1. 1.2 vinheta: “quero” (deítico pessoal de 1.2 pessoa);
ção e descrição das partes que constituem o todo “Filipe” (deítico pessoal de 2.2 pessoa).
mM,
('castanheiro autêntico” “pinheiro a escorrer resina” 4.2 vinheta: “neste” (deítico espacial).
“tábua bem bonita” “génio [...] geográfico”; localiza- 1.2.1. a. “quero”, “é”, “há”.
ção no espaço e no tempo (“Esta tarde, em Vilar” b. “vão falar”.
“Aqui, ali, além, acolá, atrás, à frente, ao lado, adiante,
2. Embora sejam formas de 3.2 pessoa, “Procuram” e
abaixo, acima, no meio” e relacionamento com ou-
“menina” têm valor deítico, já que são formas respei-
tras entidades, através da comparação (“como pega-
tosas presentes num diálogo entre um “tu” (menina)
das fisicas duma peregrinação que se orienta” e da
eo “vós/vocês”.
metáfora (“A nossa própria língua é um astrolábio de
localização... d. Predomínio de nomes e adjetivos
Reprodução do discurso no discurso (p.32)
('castanheiro autêntico” “tábua [...] bonita” “génio
[...] geográfico”; verbos que caracterizam proprie- 1.1. Discurso indireto: “que trouxessem o meu cavalo
mun
dades e qualidades (“são? “é”, localizadores tempo-
dos estábulos” (1. 1); “o que significava” (1. 3).
rais e espaciais (“Esta tarde, em Vilar” “Aqui, ali, além,
Discurso direto: “Onde vai o meu amo?! “Não sei”;
acolá, atrás, à frente, ao lado, adiante, abaixo, acima,
“Daqui para fora, vou-me embora, apenas. Daqui para
no meio”. e. Tese + dados (“Já reparou nas árvores do
fora, é só, só assim conseguirei atingir o meu objetivo”
teatro? [...] Seria o pânico, evidentemente. conclu-
(II. 4-6). “Então vossa senhoria sabe qual é o seu obje-
são (“Pois é o que acontece [...] o absurdo de qualquer
tivo?” (1. 6); “Sim” (1. 7); “Já te disse: daqui para fora — é
maneira.” f. Presente com valor genérico (“é “repre-
esse o meu objetivo.” (1. 7).
sentam? são”, presença de conector que articula a
tese e a conclusão (“Pois”). 1.2. “Ordenei” “perguntei; “perguntou” “respondi” “per-
guntou? “retorqui” “disse”.
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2.1. a. F— O texto está estruturado com base numa se-


quência textual explicativa. b. F — O texto não integra 2.1. O discurso direto tende a reproduzir o discurso ori-
nenhuma sequência narrativa. c. V. d. F — No terceiro ginal de forma fiel, conferindo à linguagem jornalís-
parágrafo estão presentes nexos de adição e de con- tica um tom de fidedignidade e de factualidade
clusão. / No último parágrafo estão presentes nexos (nas notícias predomina a apresentação de factos).

87
3.1. Presente em “Uma tourada! Então o Sr. Afonso da Alberto Caeiro,
Maia preferia toiros a corridas de cavalos? O Sr. “Acho tão natural que não se pense” (p.38)

PIONPA OMOd O dIVOTIONA


Afonso da Maia, um inglês!.. .” (II. 4-6), o discurso in-
direto livre articula o discurso do narrador e o dis- 2. O sujeito poético ridiculariza o ato de pensar, rindo-se
curso de Dâmaso, conferindo maior vivacidade à de quem pensa e achando natural que não se pense
narrativa e contribuindo para a caracterização da (vv. 1-4). Contudo, por vezes, dá-se conta que ele pró-
personagem em causa (ridicularização devido à prio também pensa — “A perguntar-me coisas...” (v. 7).
imitação servil do estrangeiro e ao desprezo pelas 3.1. O verso é marcado por uma interrogação retórica,
tradições nacionais). que enfatiza o desprendimento e desprezo do su-
4. a. 2. ('censuravam”; b. 4. (“rosnou”; c. 2 (“lamen- jeito poético face ao ato de pensar, assim como o
tava”); d. 3. (“recomendou”); e. 5. (“balbuciou”); f. 1. seu distanciamento.
(“afiançou”. 3.2. O verso final reitera a negação do sujeito poético
5.1. Introduz o registo oral, imprimindo vivacidade e face ao ato de pensar, pois o não pensar traz-lhe a
dramatismo à narrativa; produz um efeito de real, totalidade e o universo — “tenho a Terra e o Céu”
devido ao tom oralizante e à verosimilhança da (v. 20).
conversa; contribui para a caracterização psicoló-
gica das personagens intervenientes (Ricardo Reis e Ricardo Reis,
Marcenda); sugere a forma como a poesia de Pes- “Uns, com os olhos postos no passado” (p.39)
soa e de Camões é recebida pelos leitores comuns.
2.1.2 parte — vv. 1-4: o sujeito poético caracteriza dois
tipos de pessoas — as que sofrem com o passado e as
que pensam em demasia no futuro, afirmando que
Educação Literária
uns e outros não têm capacidade para aproveitar o
Fernando Pessoa,
momento presente e criticando os que vivem das re-
“Boiam leves, desatentos” (p. 36)
cordações do passado ou das imaginações de um fu-
2. O sujeito poético apresenta um cenário morto, parado turo que é incerto. 2.º parte — vv. 5 -7: O sujeito poé-
no tempo, confrontando-se com o absurdo de o pensar. tico afirma que o presente é a única certeza,
Os pensamentos são a realização que existe de um defendendo a vivência do momento numa perspetiva
mundo que não é feito só de pensamentos. epicurista e recusando a memória e o antecipar do fu-
2.1. Comparações, construções anafóricas, uso expres- turo. Reconhecendo a efemeridade da vida, o sujeito
sivo do adjetivo e personificação. poético refere que o nosso destino é a morte que é
inevitável. 3.2 parte — vv. 7-8: O sujeito poético acon-
3.1. (A)
selha o destinatário a aproveitar o momento presente,
4. Dor de pensar: o ato de pensar é um estado contem-
pois a vida é breve e efémera.
plativo “Não sei se existe ou se dói.” (v. 15); aceitação do
destino absurdo do ser humano. 3.1. Antítese, que traduz a impossibilidade e o engano
em que se encontram os que vivem de memórias,
Bernardo Soares, recordações e ilusões futuras.
Livro do Desassossego (excerto) (p.37) 3.2. “Colhe/ O dia, porque és ele” (vv. 7-8).
2.1. Trata-se de paisagens e vivências imaginadas, irreais, 3.3. Enfatiza o “carpe diem”e traduz o ideal epicurista do
que se tornaram vivas para Bernardo Soares, em- fruir o momento presente com moderação e disci-
bora este tenha consciência de que são produtos de plina.
um sonho, situado temporalmente no passado,
4. Filosofia estoica: A morte é certa e nada pode con-
numa vida imaginária.
trariar o destino; o esforço humano não altera o inevi-
3. a. À afirmação é verdadeira, pois Bernardo Soares
tável (“No mesmo hausto / Em que vivemos, morrere-
está consciente de que tudo o que relembra como
mos, vv. 6-7).
memória se trata de uma criação do seu próprio sonho
e imaginário. O passado, só ele o conhece, pois só ele o Filosofia epicurista: O ser humano realiza-se em
imaginou e todos os seus sonhos lhe pertencem. b. A cada instante vivido no presente (“Colhe/ 0 dia por-
afirmação é verdadeira, na medida em que todas as que és ele”, vv. 7-8), superando a angústia da ideia da
memórias de Bernardo Soares resultaram não de brevidade da vida face ao tempo destruidor; o ser hu-
ações reais, mas de situações imaginadas / criações mano deve aproveitar o momento ao máximo sem
fictícias. ter medo da morte ou do destino.

88
Álvaro de Campos, “Que noite serena!” (p.40) mais velho, Georgina, depois de ter abandonado Gi, o
seu“eu”adolescente.
2.1. O passado surge como suave e sereno (v. 5), mar-
cado pelo sossego (v. 6) e pela harmonia (v. 10); é 3. George prefere tratar as coisas de forma direta e fria,
sem meias-palavras ou expressões delicadas.
um passado “sentido”, sem lugar para o pensa-
mento (v. 8), um tempo de encantamento e des- 4. Trata-se da mesma pessoa em momentos distintos
contração. da sua existência. George ainda se encontra em plena
fase adulta, tendo expectativas e sonhos futuros.
2.2. O sujeito poético evidencia sentimentos de dor, so-
Georgina encontra-se na fase da velhice, já pouco es-
frimento e desconforto face ao momento presente.
perando do mundo, sendo guiada pela sensatez e
A recordação do passado agudiza a dor sentida,
pelas recordações do passado.
conduzindo ao desespero na parte final do poema.

3.1. Os primeiros quatro versos da cantiga conduzem o


Mário de Carvalho
sujeito poético à recordação da infância passada. A
“Famílias desavindas” (excerto) (p. 43)
retoma da cantiga no v. 13 funciona como um la-
mento face a um passado e felicidade perdidos. 2. O Dr. Paulo sempre estivera em conflito com os sema-
foreiros, sendo capaz de, em segredo, pedir aos seus
Fernando Pessoa, Mensagem, clientes que insultassem o semaforeiro. Ele próprio
arreliava constantemente Paco. Quando se aperce-
“D. Sebastião” (p.41)
beu do ferimento, mostrou-se solidário, auxiliando o
2. A primeira estrofe refere-se à figura histórica que semaforeiro e substituindo-o.
morreu na Batalha de Alcácer Quibir. Na segunda es- 3. Um jovem, que assaltara uma senhora por esticão, de-
trofe, retrata-se D. Sebastião enquanto herói mítico, o sequilibrou-se na sua moto e atingiu Paco, deixando-o
salvador da pátria que ressurgirá um dia. ferido.

3. D. Sebastião mítico apresenta-se como o protegido e 4. Enumeração e uso expressivo do adjetivo, que acen-
eleito por Deus (v. 6); e como aquele que configura o tuam a tendência do Dr. Paulo para os detalhes des-
sonho eterno (v. 7). D. Sebastião, figura histórica, é necessários e enfadonhos.
conhecido pelo combate aos mouros em Alcácer Qui-
bir, onde perde a vida ou desaparece (vv. 1-2). Miguel Torga, “Retrato” (p. 44)
No poema, adquire maior relevância o D. Sebastião 2. Os traços caracterizadores do sujeito poético são os
mítico, o herói que se apresenta como eterno e que, seguintes: dureza de um perfil a nível material (v. 3);
no final, garante o seu regresso (v. 8). semelhança com o “perfil do mundo” (v. 1), conferindo
universalidade ao poeta; aspereza e endurecimento
4. As três associações de D. Sebastião a Deus expressam
devido à intensidade do sofrimento e do esforço (v. 3);
o tom messiânico do poema, que culmina com o fu-
isolamento e hostilidade face ao mundo exterior (cria-
turo do indicativo “regressarei” O herói surge como
ção de um espaço secreto — “pomar”, v. 4); riqueza e
eleito por Deus para uma existência enquanto sím-
harmonia do mundo interior (“Lá dentro há frutos, há
bolo e mito (vv. 1-2). Manifesta-se como protegido
frescura”, v. 5).
por Deus (v. 6), gozando da capacidade de regressar.
3. (A)
5. Interrogação retórica, que reforça o carácter excecio- 4. Há um distanciamento entre o sujeito poético e “quem
nal de D. Sebastião enquanto figura mítica (que as- passa na rua” (v. 7), que não capta o seu interior e só vê
sume uma componente divina e supera a lei dos ho- a hostilidade e a dureza que o “eu” revela (vv. 8-9).
mens, podendo regressar da morte).
5.a.4;b.1.;€C.2.;d.3.
6. Estrutura estrófica: duas quadras.
Estrutura métrica: métrica irregular. Jorge de Sena, “Camões dirige-se
Estrutura rimática: rima cruzada; esquema rimático aos seus contemporâneos” (p. 45)
ABAB CDCD.
2. O “vós” pode referir-se quer aos contemporâneos de
Camões, que não o valorizaram devidamente, quer
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Maria Judite de Carvalho


aos contemporâneos do sujeito poético, que parece
“George” (excerto) (p. 42)
não ver também reconhecido o seu valor.
2. O excerto pertence à parte final do conto, ao mo- 3. Exemplo: Jorge de Sena tem noção da sua contempo-
mento em que George se confronta com o seu “eu” raneidade, apercebendo-se que ainda não constitui

89
um autor do cânone literário e que não é devidamente 4. Os dois aspetos essenciais à escrita são o carácter ines-

BIONPA OUOJ O dAVOTIONT


reconhecido pelos restantes contemporâneos. perado do poema e a atenção do poeta.

4.1. O recurso expressivo é a antítese (“vai”/ “vem!
Eugénio de Andrade, mM
“espere"/"não se espera” “vida"/morte” “distraído"/
“Rapariga descalça” (p.46) VA
atento” “vem"/passa”.
2. O cenário apresenta as seguintes características: dia 5. O poeta é descrito como um ser atento e paciente,
chuvoso mas ameno de primavera (vv. 1, 5); dia que delicado e sensível, que sente o momento de inspira-
suscita diferentes experiências sensoriais; imagem de
ção para o ato da criação poética.
luz pura (v. 7). Aponta para a beleza, a inocência e o
sonho. 5.1. O momento de criação é breve e efémero, podendo
a inspiração fluir e desaparecer repentinamente.
3. A rapariga é caracterizada como uma figura “des-
calça” (título) e com “formosos pés” (v. 10), alta (“corpo
alto”, v. 3), formando um todo harmonioso (vv. 3-4). José Saramago
Está alegre, pois canta, correndo apressada e veloz. A O Ano da Morte de Ricardo Reis (excerto) (p.51)
repetição do adjetivo “formosos” enfatiza a beleza da
2. 1.3 forma de atuação política:
mulher “descalça”.
Identificação — bodo nacional no tempo da Páscoa.
4. A segunda quadra sugere sensações gustativas (“o Postura do narrador - postura interventiva e crítica
sabor do sol”, v. 5), que se fundem com os sentidos da (“Os pobrezinhos fazem bicha nem sempre paciente
audição, visão e tato, criando uma sinestesia, tor-
às portas das juntas de freguesia e das misericórdias”,
nando todo o cenário mais aprazível e aquele dia
II. 3-4).
mais encantador.
2.º forma de atuação política:
5. Apesar do dia chuvoso, o vocabulário utilizado remete Identificação — festa a favor dos sinistrados das inun-

para situações de alegria e bem-estar: “formosos”
VM) u Mu mr
dações do Ribatejo em maio. Postura do narrador —
“leves? “sabor do sol” “canta” “jogo inocente de crianças”
mu mu,
postura interventiva e crítica (“muita sorte vão ter os ri-
“beijos” “fragatas” “voa” “brisa” “mar” “branco”
batejanos se conseguirem aguentar a fome até maio”,
6. A gaivota e a rapariga fundem-se na visão do sujeito 11. 11-12).
poético, pois a rapariga no final do poema transforma-
-se em algo etéreo com corpo alado, que voa e é 3. O governo preocupava-se em demasia com a sua má-
“brisa” quina propagandística e com as questões de vigilân-
cia, inclusive na imprensa escrita. Ironicamente, o
narrador aponta como solução para a fome o pro-
Alexandre O'Neill, “Portugal” (p. 47)
duto Bovril.
2.1. cartaz turístico português; idílico; “o ladino pardal, /o
manso boi coloquial”; caricatura; ironia; leitor irónico;
Memorial do Convento (excerto) (p.52)
cumplicidade; paródia; lúdico; ternurento; pátria;
incompleta; autoparódia; ironicamente; prosaico;
2. Duas linhas de ação: construção do Convento de
cáustica.
Mafra (concretização do sonho de D. João V); constru-
4. incomodidade; uma caricatura; a ele mesmo; última; ção da passarola (sonho do Padre Bartolomeu de
metáforas; incontrolada; sérios; mal-estar; inconciliá-
Gusmão);
vel; arrastado; triste e melancólico; Portugal.
3. D. João V: representa o poder, a riqueza e a superiori-
dade, por contraste com a dureza e dificuldade expe-
Manuel Alegre, “O poema” (p.50)
rienciadas pelo povo.
2. 1.2 parte: Delimitação: estrofes 1 e 2; Ideia(s)-chave: Povo: representa a exploração e a vida de sofrimento
caracterização do poema e da sua origem. causada pelos poderosos; é um elemento essencial à
2.2 parte: Delimitação: estrofe 3; Ideia(s)-chave: pos- concretização do sonho do rei.
tura do poeta face ao momento de criação; conheci- Baltasar Sete-Sóis: representa o povo e é elemento
mento intrínseco do poema e da sua arte. crucial na construção da passarola pela sua força e tra-
3. O tema do poema é a arte poética, pois todo o texto balho.
se reporta à arte de criar um poema, desde o apareci- Blimunda Sete-Luas: representa o povo e é quem vê e
mento das emoções até ao momento chave da cria- recolhe as vontades essenciais para o voo da passa-
ção. rola.

90
abordados (através de perguntas), de forma as-
sertiva e combativa, sem tomar partido por ne-
nhuma das partes.

Resposta pessoal. Resposta pessoal.

Resposta pessoal.

Discurso inicial: estrutura do discurso — impercetí-


vel: ideias-chave — impercetíveis; dicção — marcada
Apresentação do tema (os taxistas querem um
pela gaguez; postura — marcada pela insegurança,
contingente para os carros de aluguer ao serviço
pela hesitação e pelo medo; reação do público —
das plataformas tecnológicas; o governo res-
desilusão, embaraço, devido à incapacidade do
ponde que a lei da concorrência não o permite; o
líder/futuro rei.
confronto entre governo e taxistas permanece);
Discurso final: estrutura do discurso — estrutura tri-
identificação dos intervenientes no debate (go-
partida, constituída por uma parte introdutória (in-
verno, taxistas, representantes das plataformas
terpelação do público), pelo desenvolvimento (con-
tecnológicas de transportes); explicitação do con-
texto em que o debate surge (bloqueios de trân- textualização da situação e apelo ao povo) e por
sito em Lisboa pelos taxistas). uma parte conclusiva (pedido de ajuda a Deus);
ideias-chave — o país foi forçado a entrar num con-
Representante do Governo — A criação de um flito; o povo deve reagir e aderir à causa do rei para
contingente de táxis deve-se ao facto de se tratar manter a ordem civilizada no mundo; a causa é en-
de um serviço público; as plataformas de trans-
comendada a Deus; dicção — marcada pela supera-
portes não são um serviço público (logo não têm
ção da gaguez; reação do público — audição atenta
contingentes), mas devem ser regulamentadas
do discurso; aplauso, no final.
por meio de um decreto-lei; o governo não tem
poder judicial para poder terminar com as mani- 1.2 parte (Il. 1-8) — saudação do público e contex-
festações. tualização do tema a abordar; 2.2 parte (Il. 9-42) —
Representantes dos taxistas - Os protestos dos apresentação de propostas de medidas a tomar;
taxistas não prevaricam a lei, pois seguem a Cons- 3.º parte (Il. 43-47) — síntese da intenção do Minis-
tituição da República; os taxistas trabalham de tério do Ambiente e do Governo “com vista à des-
forma legal, ao contrário dos trabalhadores das carbonização profunda da economia” (1. 45).
plataformas tecnológicas; os taxistas são favorá-
veis à inovação tecnológica e à regulamentação
do setor; não há nenhum interesse público rele-
vante que justifique a existência de dois tipos de
viaturas para o mesmo serviço (transporte de pes-
soas).
Representante da Defesa do Consumidor — O
transporte flexível ajusta-se às necessidades do
dia a dia; as plataformas permitem a afirmação de
soluções alternativas; as plataformas trouxeram Apresentação de informação sobre a importância
inovação; as empresas de táxis devem moderni- social das máscaras no nordeste transmontano.
zar-se; é necessário acautelar os direitos dos taxis-
a. 1,,4.,5;b.3.;€.2.
tas.
Representantes das plataformas de transportes Tema principal: Caretos de Podence; subtemas:
— As plataformas tecnológicas respeitam o direito Igreja e tradição pagá; crítica social (regime salaza-
ao protesto e lamentam os incidentes ocorridos; rista e sua influência).
as plataformas estão disponíveis para discutir a Reportagem: variedade de temas, multiplicidade de
regulamentação do setor; as plataformas tecnoló-
intervenientes (locutor, Joaquim Pais de Brito, Antó-
gicas cumprem todas as obrigações fiscais do
ENCI2CAEP O Porto Editora

nio Tiza), meios e pontos de vista (alternância da 1.2 e


setor.
da 3.2 pessoas), informação seletiva, relação entre o
A moderadora conduz o debate, dando a palavra todo (máscaras) e as partes (função social das másca-
aos intervenientes de forma equitativa, introdu- ras em Trás-os-Montes; museus que expõem as más-
zindo e conduzindo os assuntos que vão sendo caras).

91
Documentário: variedade de temas, proximidade
com o real, informação seletiva e representativa
(tema e subtemas).
( D)
( B)
( )

>
( B)

O dAVOTIODNA
Portugal — O País Mais Perto do Coração: carácter
apelativo: registo escrito (frases curtas; verbos no autobiografia; memórias; História; historicidade; re-
presente do indicativo e vocabulário apreciativo; presentação; empírico.

BIOJPY OO]
citações); multimodalidade: imagem (fotografia),
música (ritmo rápido) e linguagem verbal (varie-
dade brasileira do português em registo escrito);
eficácia comunicativa e poder sugestivo: grande a.6:;b.2.;c.4:;d.3.;e. 1.;f.5.
eficácia, que decorre da articulação entre a lingua- Texto que corresponde a um momento de uma su-
gem verbal (exemplos diversificados e interessan- cessão de notas (datado de 2 de fevereiro de 1994),
tes) e a linguagem não verbal e do ritmo rápido em que o registo dos factos narrados alterna com a
com que a informação é apresentada. ocorrência desses mesmos factos; texto que con-

Portugal, um país de pessoas extraordinárias: ca- siste numa reflexão que parte de um elemento do
rácter apelativo: locução de um texto de opinião quotidiano (observação da cidade) e que culmina
(com características argumentativas e expositivas), numa situação de introspeção, articulada com o re-
marcada por um ritmo calmo e por entoações va- lato de experiências pessoais passadas em dois
riadas (declarativa, interrogativa, persuasiva — cf. tempos distintos (infância e momento em que es-
uso dos tempos dos modos indicativo, conjuntivo e creveu o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis) e
imperativo); multimodalidade: imagem (em movi- com a projeção num futuro próximo (último pará-
mento), música (ritmo calmo) e linguagem verbal; grafo).
eficácia comunicativa e poder sugestivo: eficácia
que decorre do tom reflexivo imprimido ao dis-
curso e da articulação entre a linguagem verbal
Objeto da crítica: Operação Outono (Bruno de Al-
(exemplos diversificados) e a linguagem não verbal
meida, Portugal, 2012, Longa-metragem, Ficção,
(imagem em movimento).
92).

Texto A
« Autor da crítica: Jorge Mourinha / crítico de ci-
nema.
ssea

« Elementos descritos: interpretação da persona-


gem Humberto Delgado; enredo / fio condutor
(“momento fulcral da história portuguesa”), classifi-
cação / género (“policial, filme de espionagem ou
filme de tribunal”); personagens.
* Comentários críticos positivos: originalidade /
sos

não segue a tendência atual das reconstituições


históricas televisivas.
« Comentários críticos negativos: má interpretação
da personagem Humberto Delgado (desadequa-
ção do ator, assincronia com o movimento dos lá-
bios); “limitações dos meios”, “incapacidade de esco-
lher um foco narrativo”; indefinição quanto à
Asas
oones

classificação / hibridez de género; desvalorização


da categoria personagem.
« Estrutura: texto constituído por um só parágrafo,
Q

dividido em duas partes — aspetos negativos (Il. 4-5,


8-12) e aspetos positivos (Il. 6-8, 12-13).
sa

« Vocabulário técnico: “dobrado em português” “sin-


e]
OQ

mu, mu Mu,
cronia facial) “filme? “ator; “interpretar” “série By

92
mu,
“foco narrativo” “policial, filme de espionagem ou filme a descrever — ” um frenesim de burlesco tragi-
filme de tribunal” “desenhar as personagens” “fita”. cómico” (|. 2); desenvolvimento, com a descrição e
« Linguagem valorativa (depreciativa): “mancha exemplificação de aspetos negativos (Il. 2-22); con-
que macula” “fajuto) “esbarra; “limitações dos clusão (Il. 23-27), que sintetiza o ponto de vista do
mu
meios” “incapacidade” crítico, através de interrogações retóricas.
mu,
* Vocabulário técnico: “filme” “personagem princi-
Texto B mM,
pal! “ator; “thriller; “comédia” “filme de época”
* Autor da crítica: Luís Miguel Oliveira / crítico de ci-
“filme histórico? “thriller político”
nema.
« Linguagem valorativa (depreciativa): “frenesim de
Elementos descritos: enredo; elenco (com desta- mu,
burlesco tragicómico? “uma série de espasmos? “deli-
que para a interpretação da personagem Hum-
rar com a ausência de centro” “comédia humana, fe-
berto Delgado); tipo de representação (natura-
bril, picara”
lismo); fio condutor; diversidade de registos e tons;
* Linguagem valorativa (apreciativa): “dá um pon-
representação do contexto histórico. mui
tapé apetecido” “fabulosa” “belíssima”
* Comentários críticos positivos: singularidade do
elenco; abrangência da representação do contexto Todos os críticos classificaram o filme com duas es-
histórico (“como se o filme não fosse só sobre Del- trelas.
gado mas sobre toda a gente direta ou indiretamente
Resposta pessoal.
ligada ao caso”, |. 22-24).
* Comentários críticos negativos: má interpreta-
ção de Ventimiglia (desadequação do perfil do
ator, assincronia com o movimento dos lábios);
Texto A
debilidades técnicas que dão ao filme um ar
“tosco”; ausência de fio condutor; indistinção « Ponto de vista: Bob Dylan é um músico, logo não
entre o essencial e o acessório. lhe devia ter sido atribuído o Prémio Nobel da Lite-
« Estrutura: texto dividido em três partes — introdu- ratura.
ção, com a apresentação de um aspeto positivo * Argumentos: Bob Dylan é apreciado devido ao seu
(Il. 1-4); desenvolvimento, com a descrição e exem- talento musical e não aos livros que escreveu; os
plificação de aspetos negativos (Il. 4-26); conclusão textos escritos em áreas artísticas não literárias (ci-
(II. 26-27), que sintetiza o ponto de vista do crítico. nema, música) não devem ser considerados elegi-
«Vocabulário técnico: “elenco”
mu,
“realizador”
mu,
“mis- veis para o Prémio Nobel da Literatura; mesmo que
cast”, “papel” “teatralidade” “decomposição da histó- o comité do Nobel queira valorizar a literatura pre-
ria em episódios” sente na música, há músicos com mais qualidade
* Linguagem valorativa (depreciativa): “heteróclito” lírica do que Bob Dylan.
“não vai correr tão bem como podia ter corrido?
mu,
“mis- « Exemplos: referência à atribuição do Prémio Nobel
mM, mu,
cast”, “nunca cola à personagem” “apenas a espaços da Literatura em 2015 a uma autora de não ficção
tingido por alguma teatralidade” “ar «tosco»” “não é (Svetlana Alexievich); referência a outras personali-

inteiramente desagradável mesmo se se percebe que dades de áreas artísticas não literárias que poderão
a imperfeição não é procurada (apenas não evi- receber o Nobel, se o critério do júri se mantiver
mu
tada)! “«coleção de cenas»; “impecável brutamon- (Quentin Tarantino, David Lynch, Enki Bilal, Ursula
tes” “modo sequíssimo? “deixa um travo irremediável LeGuin); referência a Cohen (músico com mais qua-
a frustração” lidade lírica do que Dylan).

Texto C Texto B
« Autor da crítica: Vasco Câmara / crítico de cinema. * Ponto de vista: “Bob Dylan merece o prémio Nobel
« Elementos descritos: elenco (com destaque para a da literatura.” (1. 3).
interpretação da personagem Humberto Delgado), * Argumentos: Bob Dylan é autor de ensaios, ficção
fio condutor. e poesia; de acordo com Ricks, Bob Dylan é um
* Comentários críticos positivos: inovação quanto à autor da literatura mundial; o júri do Nobel já não
classificação/ hibridez de género; representação de atribui o prémio de acordo com as “categoriazi-
Ana Padrão. nhas” tradicionais; “Dylan é inegavelmente um
ENCI2CAEP O Porto Editora

* Comentários críticos negativos: má interpretação grande escritor”(|. 19), cuja obra recolhe as “as tradi-
de Ventimiglia (desadequação do perfil do ator, as- ções literárias da humanidade” (1. 23).
sincronia com o movimento dos lábios). « Exemplos: referência ao facto de Christopher Ricks
« Estrutura: texto dividido em três partes — introdu- ter elogiado o valor literário de Dylan; referência à
ção, com a apresentação do principal aspeto do atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015

93
a uma autora de não ficção (Svetlana Alexievich); que o Português — representado por diversos heróis

BIONPA OUOJ O dAVOTIONT


exemplificação das “categoriazinhas” ('canções, — combate o medo e vitoriosamente reclama o domí-
contos, ensaios, reportagens, ficções, peças teatrais, nio do mar e do mundo antes desconhecidos.
poesia”, |l. 12-13); exemplificação das “tradições lite- « À persistência no cumprimento da sua missão, a capa-
rárias da humanidade”, perspetivadas diacronica- cidade de enfrentar os riscos e de aceitar o sofrimento
mente (“desde os trovadores aos cantores de blues, justificam a glorificação do povo que, com a sua ousa-
desde os contos de fada às orações:”, |. 24). dia e “esforço” tornou “português”o “mar sem fim”.
Resposta pessoal. Exercício B (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi-
cação da Prova Escrita de Português, 2012, Época Espe-
Resposta pessoal.
cial)

A poesia de Fernando Pessoa ortónimo afasta-se dos


ensinamentos do mestre Caeiro em aspetos como a
(F), (6) sobrevalorização do pensamento; a excessiva subjeti-
O carácter demonstrativo está presente no facto de a vidade; a desconfiança nos sentidos; a consciência
informação ser apresentada de forma gradual (no aguda da passagem do tempo; o medo da morte; os
primeiro parágrafo apresentam-se os três objetos sentimentos de tédio e de insatisfação; o recurso ao
entregues à personalidade que recebe o Nobel; no símbolo; a revolta contra as leis da natureza; a atração
segundo parágrafo apresenta-se informação porme- pelo oculto; a preferência por formas poéticas tradi-
norizada sobre cada um dos objetos), com recurso a cionais (quadra, redondilha, rima...)
explicações (ex.: “semelhante ao que usavam os mon-
Exercício C (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi-
ges ilustradores dos livros medievais”, |l. 11-12) e a
cação da Prova Escrita de Português, 2013, 1.2 Fase —
exemplos (“Ainda recentemente, no Palácio da Ajuda,
Época especial)
os visitantes da exposição “José Saramago — A Consis-
O Padre Bartolomeu de Gusmão tem curiosidade pelo
tência dos Sonhos” puderam apreciar o diploma que o
conhecimento, bem como empenhamento no estudo
Nobel português recebeu em 1998, 11. 12-15).
e na investigação, que o levam à Holanda e à Universi-
A concisão é visível quer no tamanho do texto (bas-
dade de Coimbra; interesse pela observação da natu-
tante curto), quer no carácter seletivo da informação
reza, que o conduz à idealização de uma máquina se-
apresentada (sem fugas ao tema); a objetividade
melhante a um pássaro; crença na capacidade criativa
está presente em todo o texto (não há marcas de 1.2
do ser humano, que lhe permite ter a certeza de que
pessoa; há ligeiras marcas de modalização aprecia-
um dia o Homem voará; coragem de correr riscos, evi-
tiva apenas na última frase do texto — cf. advérbios
dente no desafio à Inquisição; perseverança, evidente
de modo e de intensidade e grau).
nas diferentes tentativas de construir objetos capazes
Este texto pode classificar-se como exposição sobre de voar; reconhecimento do valor da cooperação, pa-
um tema, pois apresenta as marcas deste género tente na atribuição de tarefas a Baltasar e a Blimunda.
textual: carácter demonstrativo (a informação mais
Exercício D (Tópicos retirados dos Critérios de Classi-
complexa é explicada), elucidação evidente do
ficação da Prova Escrita de Português, 2010, 1.2 Fase)
tema (explicita-se o seu percurso biográfico, salien-
tando-se as descobertas na área da medicina que Dotada de poderes sobrenaturais — a capacidade ex-

levaram à atribuição do Nobel), concisão e objetivi- traordinária de vidência (no interior dos corpos e de-
dade (texto curto, sem marcas de subjetividade). baixo da terra) — Blimunda participa na concretização
do sonho de voar: inspecionando os materiais de
(Resposta pessoal.)
construção da passarola; recolhendo as duas mil von-
Exercício A (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi- tades com as quais se encherão as esferas que farão
cação da Prova Escrita de Português A, 2000, 2.º Fase) voar a máquina.
« Desde o início, mas com especial incidência na se-
gunda parte ("Mar Português”), Mensagem faz a apo- Exercício E (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi-
logia de um passado português grandioso e heroico, cação da Prova Escrita de Português, 2012, 1.º Fase)
revestindo-o de um carácter místico, na medida em Os trabalhadores mantidos no anonimato conquis-
que o considera o tempo do cumprimento de uma tam o estatuto de heróis, graças ao sacrifício e ao so-
missão determinada por Deus. frimento que lhes foram impostos: o abandono, mui-
* À sintonia entre a vontade divina e o sonho humano tas vezes forçado, das suas terras, famílias e amigos;
funda uma atitude de incessante busca, representada as precárias condições de alojamento e de alimenta-
pelo poder de chegar mais além, pela firmeza com ção; a dureza das condições de trabalho, que chega a

94
provocar a morte; o esforço extremo exigido pelas Ideias-chave:
tarefas de uma obra gigantesca, destacando-se, por Discurso proferido por Saramago no Banquete do Pré-
exemplo, o transporte da pedra (o carro que a trans- mio Nobel em 1998, centrado nas seguintes ideias-
porta é comparado pelo narrador a uma “nau da -chave:
Índia”, assim reforçando o carácter épico deste em- « associação do tema do discurso ao cumprimento dos
preendimento). 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal
dos Direitos Humanos;
« corpo do discurso centrado na abordagem dos se-
guintes tópicos:
Ideias-chave: — Os governos não têm feito o suficiente em prol dos
Texto em que José Mário Silva explica o contexto e as direitos humanos;
razões que levaram Sartre e Pasternack a recusar o Pré- — o progresso tecnológico do ser humano contrasta
mio Nobel da Literatura: com a sua indiferença relativamente ao seu seme-
«em mais de cem edições do Prémio Nobel, apenas lhante;
Jean-Paul Sartre e Boris Pasternak recusaram o Pré- — há vários responsáveis pela situação, pelo facto de
mio Nobel da Literatura; não cumprirem o seu dever: os governos (em parte
« Sartre recusou o prémio por se tratar de uma honra devido às influências exercidas pelas empresas
oficial e por considerar que os escritores devem evi- multinacionais e pluricontinentais) e os cidadãos,
tar a todo o custo transformar-se em instituições; se- que devem reivindicar os direitos humanos;
ENCI2CAEP O Porto Editora

gundo Gyllensten, Sartre terá mudado de ideias mais


tarde, mas a Academia sueca indeferiu o seu pedido; « agradecimento pelo Prémio Nobel à Academia
« Pasternak recusou o prémio por razões de ordem po- Sueca, aos agentes editoriais, aos leitores e aos es-
lítica (para não perder a nacionalidade soviética); critores portugueses.
mais tarde, a medalha seria entregue ao filho.

95

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