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Índice das metas curriculares Poetas contemporâneos
INDICE
Valor modal 22
Coesão e coerência textuais 24
Sequências textuais 26
Intertextualidade 28 Diálogo argumentativo 54
Dêixis 31 Debate 55
Reprodução do discurso no discurso 32 Discurso político 57
Reportagem e documentário 60
Anúncio publicitário 61
EDUCAÇÃO LITERÁRIA Artigo de divulgação científica 62
Fernando Pessoa Relato de viagem 64
Memórias 66
Fernando Pessoa, “Boiam leves, desatentos” 36
Diário 68
Bernardo Soares, Livro do Desassossego
(excerto) 37 Apreciação crítica 70
Contos
Maria Judite de Carvalho, “George” (excerto) 42
Mário de Carvalho, “Famílias desavindas”
(excerto) 43
r Za: 7
Gramática Página
CURRICULARES
Referir e caracterizar as principais etapas de formação do português. 6
livre.
Reconhecer e utilizar adequadamente diferentes verbos introdutores de 32:34
relato do discurso.
Identificar deíticos e respetivos referentes. 31
Z
42-48,
Analisar o ponto de vista das diferentes personagens.
51-52
Explicitar a forma como o texto está estruturado. 38-41
Estabelecer relações de sentido entre situações ou episódios. 40-42
Mobilizar os conhecimentos adquiridos sobre as características dos textos 36-48,
. poéticos e narrativos. 50-52
Ler e interpretar
textos literários. . o . . 36, 38-39,
(cont) Identificar e explicitar o valor dos recursos expressivos mencionados no 21 43-44
Programa. 46,50
Debate 55-56
Anúncio publicitário 61
Texto de opinião 76
Síntese 81
Leitura
Diário 68-69
Memórias 66-67
Explicitar, Apreciação crítica 70-72
em textos , TT
apresentados em Artigo de opinião 74-76
diversos suportes, | Artigo de divulgação científica 62-63
marcas dos
seguintes géneros: | Discurso político 58-59
TEXTO C TEXTO D
TEXTO E TEXTO F
b. diabolu > diaboo > diabo | Síncope do !> contração por crase (00 > 0)
c. macula > macla > maila > malya > malha síncope do u > vocalização do c > metátese do ie do |>
palatalização do grupo ly
d. macula > macla > macha > mancha síncope do u > palatalização do grupo consonântico cl
> nasalação do a
3. Identifica palavras divergentes que tenham tido origem nos étimos indicados. Em caso
de necessidade, consulta um dicionário.
a. adversu: avesso, adverso g. limpidu: limpo, límpido
3.1. Considerando o respetivo étimo, explicita o valor semântico das palavras identificadas na
alínea h.
espaço)
pICA língua árabe funcionou como substrato do português, o latim como estrato e as línguas
pré-latinas como superstratos.
V | d. Otexto mais antigo escrito em português que se conhece data de finais do século XII.
e. A passagem do português antigo para o português clássico deveu-se ao desaparecimento da
poesia galego-portuguesa, à construção da nacionalidade e à expansão ultramarina.
| F | f. Os principais crioulos de base portuguesa são falados no continente americano.
O Shutterstock.com
Lusofonia celebra a língua do mar e da gente
Como relembra [...] Gilvan Miiller de Oliveira [...], “o português é hoje língua
oficial "em 10 países”
Aos oito países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
juntam-sea Guiné Equatorial [ Jea China "mais exatamente a Região Administra-
tiva Especial de Macau (RAEM), “onde é cooficial ao lado do. mandarim até ao ano de
2049”,
A língua portuguesa “está presente na América, África, Europa e Ásia - nesta ordem
em termos demolinguísticos - e tem de 221 a 245 milhões de falantes como primeira ou
como segunda língua em variados graus de proficiência”.
Gilvan Miiller de Oliveira escreve ainda que “entre sete e nove milhões de falantes da
língua portuguesa estão nas. Diásporas rf]
A linguista cabo-verdiana Ondina Ferreira, por seu lado, atenta que hoje “de acordo
com o Observatório da Língua, a China, o Japão ea Índia entre outros, de-
senvolvem o ensino da língua portuguesa em larga escala, como língua de negócios. O seu
valor económico disparou” [...]
Outro facto é que o “fenómeno global queé o. futebol "tem aumentado (por parte
dos jornalistas não falantes do português) a procura desta Língua”.
“A língua portuguesa é hoje a mais falada no . Hemisfério Sul - ocupa o quarto lugar
entre as 20 línguas mais faladas no mundo. Se hoje somos 250 milhões que a falam, estima
o Observatório da Língua que num curto horizonte - tal é a expansão da língua portu-
guesa - em 2020, seremos 400 milhões de falantes.
ALMEIDA, Sara. “Lusofonia celebra a língua do mar e da gente” [Em linhaj.
Público, 27-07-2014 [Consult. em 12-10-2016, com supressões].
Lexicologia
1. Lêo texto.
1.3. Completa o quadro, identificando os étimos e o processo de formação das palavras indica-
das. Se necessário, consulta um dicionário.
3.1. Transcreve para o quadro as palavras que podem ser encaradas como arcaísmos e como
neologismos.
Arcaísmos Neologismos |
nu
“lucivelo] “escol” “downsizing) “delete” |
3.2. Explicita o ponto de vista defendido pelo autor, mostrando como a enumeração de ace-
ções sentidas como arcaicas e a referência a neologismos contribui para a construção do
sentido global do texto.
O autor crítica os empréstimos, pois estes levam ao empobrecimento lexical da língua e do próprio
DA
pensamento. As enumerações ilustram a riqueza lexical da língua portuguesa (“escol”, “gema” “nata”,
“conluio”, “maquinação”, “trama? “conspiração”) e contrastam com a pobreza semântica dos em-
” “ ” “ MM
10
Funções sintáticas
1. Lêo texto.
1.1
ada pelos seguintes constituintes.
Identifica a função sintática desempenh o
a. “Eu sou um outro” (1.1). Complemento diret
“o epítome das letras lusas [...] Bernardo Soares” (11. 10-13). Predicativo do sujeito
1. “das letras lusas e da nossa problemática identidade” (1.10). Complemento do nome
m. “reflexivo e melancólico” (1.11) Modificador restritivo do nome
11
Gramática
“tão bem fixado nessa obra-prima absoluta que é o inacabado (e inacabável) Livro do De-
b. Modificador restritivo do nome “gue estavam em estado mais frágil” (1. 4)...
12
Funções sintáticas
3.1. Ricardo Reis, nas suas odes, recorre frequentemente a inversões sintáticas. Sublinha as
que estão presentes na ode seguinte.
Da lâmpada noturna
Da lâmpada noturna
A chama estremece
E o quarto alto ondeia.
Os deuses concedem
Aos seus calmos crentes
Que nunca lhes trema
A chama da vida
Perturbando o aspeto
Do que está em roda,
Mas firme e esguiada
Como preciosa
E antiga pedra,
Guarde a sua calma
Beleza contínua.
ENCI2CAEP O Porto Editora
O Shutterstock.com
13
Gramática
sua calma firme e esguiada, como preciosa pedra antiga, guarde beleza contínua.
c. Sujeito simples (nome + modificador apositivo do nome) > Predicado (verbo + predicativo
do sujeito [adjetivo + complemento do adjetivo])
A ode, marcada por anástrofes, é difícil de compreender.
5. Lêa entrada de diário que Fernando Pessoa escreveu no dia 14 de março de 1913.
“que” - sujeito.
14
Frase complexa — Coordenação e subordinação
1. Lêo texto.
O incansável investigador
Houve muitos fenómenos da natureza que assombraram Da Vinci, mas pode-
mos destacar um que inflamou o seu espírito inventivo como engenheiro: o voo. [...]
Das suas múltiplas reflexões e tentativas, quase obsessivas, para criar uma má-
quina voadora, nasceu o Códice sobre o Voo dos Aves, um documento que ainda hoje
s surpreende os engenheiros aeronáuticos. Dividiu-o em quatro partes: o voo que se
efetua batendo as asas, o voo sem bater as asas, ao sabor do vento; o que há de
comum no voo de pássaros, morcegos, peixes voadores e insetos; e o voo artificial
através de um mecanismo. Chamavam-lhe especialmente a atenção os majestosos
abutres, que passou horas a observar. Para compreender como as aves voavam, ana-
10 lisou o seu centro de gravidade, a compressão do ar que se produz com o movimento
das asas, o equilíbrio...
E. S.”O incansável investigador”, Super Interessante, abril de 2016, pp. 76-78 [Com supressões].
b. “mas” (11. 1-2) “mas podemos destacar um” - oração coordenada adversativa
c. “para” (11.3-4) “para criar uma máquina voadora” - oração subordinada adverbial final
d. “que” (11.4-5) “que ainda hoje surpreende os engenheiros aeronáuticos” - oração subordinada
1.1.1. Identifica a função sintática desempenhada pelas orações identificadas nas alíneas
a. d.ef.
a. Modificador restritivo do nome. d. Modificador restritivo do nome. f. Complemento direto
1.2. Completa o quadro, transformando as orações finitas em não finitas equivalentes e vice-
-versa.
( N
Oração subordinada finita Oração subordinada não finita
15
Gramática
1.3. Assinala a única frase em que está presente uma oração subordinada adverbial concessiva.
(A) (x) Conquanto se interessasse muito por astronomia, Da Vinci dedicava-se também a
outras áreas.
(B) () Contanto que houvesse abutres nos ares, Da Vinci observava o céu.
(C) () Porquanto se interessava pelo voo das aves, Da Vinci escreveu um códice sobre
o assunto.
(D) () Da Vinci interessava-se por astronomia, assim como por tecnologia.
3 e .. . . .
2. Lêo texto.
Rádio portátil
s Embora transportável, o pequeno aparelho de telefonia
de J. M. McGuire não possuía bateria, por isso tinha de
estar ligado à corrente para funcionar.
“Grandes Invenções”, Visão História, n.º 36, julho de 2016, pp. 86-87
[Com supressões, adaptado].
2.2. Associa a cada oração (Coluna A) o nexo por ela introduzido relativamente à oração com
que se combina (Coluna B).
Coluna A Coluna B
a. “Apesar de algo estranhos”
(1. 2) 2 1. Finalidade
b. “Embora transportável” (1. 5) 2 Concessão
A mM 2. à
3. Explicação
c. - “por
“porii isso tinha
j de estar ligado
j à j corrente” “ (Il. (II. 6-7)
6-7 4 A. Condusão=
d. “para funcionar”
(1. 7) 1 5. Causa
2.3. Reescreve o texto, substituindo as conjunções/locuções conjuncionais por outras com sen-
tido equivalente.
No dia a dia, muitos aspetos dos “tempos modernos” começaram nos Anos 20. Ainda que algo estra-
nhos, estes aparelhos anunciavam uma autêntica revolução no quotidiano das classes médias e altas.
[..]
Rádio portátil
Apesar de transportável, o pequeno aparelho de telefonia de J. M. McGuire não possuía bateria, logo
16
Frase complexa - Coordenação e subordinação
3. Lêo texto.
A cem à hora
É sabido que, no poema de Álvaro de Campos Ao volante, este heterónimo de
Fernando Pessoa se analisa enquanto conduz um Chevrolet pela Estrada de Sintra...
Mas, relacionadas com esta composição, podem ser apontadas duas curiosidades,
nunca referidas. A primeira é que o poeta (pseudo)automobilista se abasteceu for-
s çosamente numa bomba de fornecimento Auto-Gazo, instalada pela petrolífera
americana Vacuum Oil Company, a futura Mobil. Com efeito, era esta a companhia
que detinha o monopólio do fornecimento de combustível, a ela se devendo tam-
bém a primeira grande campanha de sinalização nas estradas portuguesas, tradu-
zida na implantação de placas indicativas um pouco por todo o país. A segunda
10 curiosidade relacionada com o poema é que, tratando-se de uma obra escrita em
maio de 1928, Álvaro de Campos conduzia certamente pela esquerda.
"A cem à hora”, Visão História, n.º 36, julho de 2016, pp. 84-85.
e. adjetiva relativa restritiva não finita participial com a função sintática de modificador aposi-
tivo do nome
“traduzida na implantação de placas indicativas um pouco por todo o país” (Il. 8-9)
5. Transforma as duas frases simples numa frase complexa, estabelecendo entre elas os
nexos indicados.
Viajo. Reflito sobre a vida.
(Tempo Reflito sobre a vida enquanto viajo. Condição | Se viajar, reflito sobre a vida.
Causa Reflito sobre a vida, uma vez que viajo. Alternativa | Ou viajo ou reflito sobre a vida.
ENCI2CAEP O Porto Editora
Finalidade Viajo para refletir sobre a vida. Oposição | Viajo, mas não reflito sobre a vida.
Concessão Viajo, embora não reflita sobre a vida. Conclusão | Viajo, logo reflito sobre a vida.
| Consequência | Viajo tanto que reflito sobre a vida. Explicação | Viajo, pois reflito sobre a vida.
ENCI2ZCA FOZ
17
Gramática
1. Completa o quadro, identificando as formas que têm valor temporal em cada frase. Segue
o exemplo.
O AIVOTIONT
Advérbios/ .
= Verbos = Orações
Flexão verbal a: expressões .
auxiliares temporais
de tempo
,
PIONP OO
a. À Anafficou contente ao ficou (pretérito perfeito ao saber
saber que tinha ganho um | simples do indicativo); (não finita
prémio. tinha ganho (pretérito infinitiva)
mais-que-perfeito
composto do indicativo)
1.1. Analisa as mesmas frases, explicitando o tempo de referência e o valor temporal de cada
uma delas, de acordo com o exemplo.
as "
. . IP iori laçã
b. A Ana viveu em Paris. Momento da enunciação assado (anterioridade em relação ao
momento da enunciação)
Passado (anterioridade em relação ao
c. Dantes a Ana vivia em Paris. Momento da enunciação oa
momento da enunciação)
Jo . :— | Futuro (posterioridade em relação ao
d. A Ana vai viver em Paris. Momento da enunciação (p no ç
momento da enunciação)
e. A Ana viverá em Paris durante :— | Futuro (posterioridade em relação ao
. Momento da enunciação no
dois anos. momento da enunciação)
f. Daqui a três anos, a Ana já terá Futuro (posterioridade em relação ao
Momento da enunciação
regressado a Portugal. momento da enunciação)
18
Valor temporal
3. Lêo texto.
O Shutterstock.com
me dizer que o mundo seria melhor se houvesse pes-
soas como eu de dois em dois quilómetros quadrados!
Ainda eu me espantava com aqueles cálculos em qui-
lómetros, quando rematou, triste: “Amanhã escuso de
espreitar a rua, já estará em Lisboa...”
Vou ter saudades de Óbidos.
DACOSTA, Luísa (1992). Na Água do Tempo. Lisboa: Quimera, p. 66.
3.1. Completa o quadro, identificando as formas linguísticas utilizadas para localizar os aconte-
cimentos no tempo — passado, presente e futuro.
(C) () Entre “Ainda eu me espantava com aqueles cálculos em quilómetros”e “quando rema-
tou, triste” estabelece-se uma relação temporal de posterioridade.
(D) (x] Na última frase do texto, estabelece-se uma relação de posterioridade relativa-
mente ao momento da enunciação.
19
Gramática
Coluna A 1 ( Coluna B
a. “Vou pelas estradas do Oeste” (1.1) 2 1. Valor perfetivo
b. “as linhas onde caíram os soldados franceses”
(Il. 2-3) 1 2. Valor imperfetivo
c. “São como o amor e a morte. Levam-nos o espírito para outro lado.”(I1.5-6) | 3 3. Situação genérica
d. “Aforça de um festival literário está também nas escolhas humanas” (l.9-10) | 3 | 4. Situação habitual |
e. “Os escritores, tal como os generais, muitas vezes fazem as preparações
mais laboriosas” (II. 15-16)
20
Valor aspetual
2. Lêo texto.
CIPRIANO, Rita. “V.S. Naipaul:'Quero sempre acabar um livro. É como defino a minha carreira: acabo livros”
[Em linha]. Observador, 23-09-2016 [Consult. em 10-10-2016, com supressões].
21
Gramática
| Coluna A ( Coluna B
a. Ela pode chegar a qualquer momento. 1 1. Valor modal epistémico
b. É provável que ela chegue ainda hoje. 2. Valor modal deôntico
a
c. Creio que ela chegará esta manhã. | 3. Valor modal apreciativo |
CINDLOLDNIN|
O]
d. Felizmente, a mãe da Ana permitiu que a filha fosse viajar.
e. Compra já o bilhete de avião.
f. Peço-te que regresses imediatamente!
9. Lamento que tenhas de regressar
já a casa.
h. Preciso que regresses
já a casa.
|i. Que bom quejá chegaste!
2. Lêo texto.
22
Valor modal
4. Lêo texto.
O Shutterstock.com
de ficção inesquecíveis e marcantes. A primeira de
todas é, sem dúvida, Vinte Mil Léguas Submarinas,
um dos romances mais famosos do francês Júlio
5 Verne (1825-1905), um dos pioneiros da ficção cientí-
fica. Movido a eletricidade, o submarino Nautilus, concebido pelo enigmático capi-
tão Nemo, explora o fundo de todos os oceanos da terra.
Originalmente publicado em 1870 e por diversas vezes adaptada ao cinema e à
banda desenhada, é uma história de aventura, vingança e divulgação científica.
10 Numa das passagens mais curiosas, os protagonistas passeiam no fundo do mar uti-
lizando escafandros “pés de chumbo” mas autónomos e descobrem as ruínas da
lendária Atlântida a que se refere Platão.
MARTINS, Luís Almeida. “Nas profundezas oceânicas”, Visão História, n.º 37, setembro de 2016, p. 78.
23
Gramática
1. Lêo texto.
Coesão gramatical
referencial temporal frásica interfrásica
uso anafórico de uso de expressões concordância nome- recurso à coordenação e
un
pronomes: “a”, du“este”, com valor temporal: -adjetivo: “costa subordinação: “Se fosse
vd
“isso”, “que” “em 1929”, “hoje”... francesa”... [...] seria este” (11. 1-3)...
24
Coesão e coerência textuais
1.2.3.No segmento “o romance retrata a decadência que vem depois da riqueza” (11. 12-13), a
coerência textual é assegurada por uma relação lógica de
o princípio da contradição, mas faz-se uso de um recurso expressivo que consiste na oposição de
Pequena fábula
“Ah' disse o rato, “cada dia que passa, o mundo vai ficando mais estreito. No
princípio, era tão vasto que eu tinha medo, continuei a correr e fiquei contente por
finalmente ver, lá longe, muros à direita e à esquerda, mas estes extensos muros
aproximam-se tão rapidamente um do outro que eu me vejo confinado já ao último
s compartimento, e ali, ao canto, está a ratoeira para onde corro” “Só tens de mudar de
direção” disse o gato e devorou-o.
KAFKA, Franz (2016). Bestiário de Kafka. Lisboa: Bertrand, p. 137.
3.1. Analisa a forma como os princípios da relevância, não contradição e não tautologia são
explorados no texto, completando o esquema.
go
25
Gramática
Sequência dominante
Carvalhelhos, 24 de junho de 1956 - [...] Esta tarde, em
e Narrativa
Vilar, povoação serrana que visitei para ver uma tábua
bem bonita, porque só me apareciam velhas à porta Outras sequências
das casas, meti conversa com uma, a tirar nabos da e Dialogal (encaixada na
púcara. narrativa)
- Quantas viúvas há cá na terra?
e Descritiva (encaixada na
- Quarenta e duas.
narrativa)
- E viúvos?
- Três.
Espantado com semelhante desproporção, per-
guntei-lhe a causa.
- É que os homens são mais aflitos.
Sequência dominante
Coimbra, 24 de setembro de 1956 - Povo de almocre-
e Descritiva
ves da terra e do mar, de andarilhos, o nosso génio é
todo geográfico. Aqui, ali, além, acolá, atrás, à frente,
ao lado, adiante, abaixo, acima, no meio, são como
pegadas físicas duma peregrinação que se orienta.
Concretizamos o espaço que os outros abstraem. A
nossa própria língua é um astrolábio de localização.
TORGA, Miguel, Diário. Vols. | a VIII.
Lisboa: D. Quixote pp. 814, 825, 832 [Com supressões].
26
Sequências textuais
c d.
Descritiva (ver pág. 87) (ver pág. 87)
e f.
Argumentativa (ver pág. 87) (ver pág. 87)
2. Lêo texto.
2.1. Indica se as afirmações são verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas, no teu caderno.
27
Gramática
1. Lê os dois poemas.
w
Ela só, quando amena e marchetada meu nome no teu nome. E demorados
w
saía, dando ao mundo claridade, viu nossos olhos juntos nos segredos
viu apartar-se d'úa outra vontade, que em silêncio dissemos separados.
que nunca poderá ver-se apartada.
A clara madrugada em que parti.
Ela só viu as lágrimas em fio, 10 Só ela viu teu rosto olhando a estrada
que, de uns e outros olhos derivadas, por onde um automóvel se afastava.
se acrescentaram em grande e largo rio.
E viu que a pátria estava toda em ti.
Ela viu as palavras magoadas E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
que puderam tornar o fogo frio, que fez tão triste a clara madrugada.
e dar descanso às almas condenadas. ALEGRE, Manuel (1995). 30 Anos de Poesia.
Lisboa: Dom Quixote, pp. 176-177.
CAMÕES, Luís de (1994). Lírica Completa — II.
Porto: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p. 172.
1.1. Analisa a relação intertextual que se estabelece entre os dois poemas, associando a cada
segmento da coluna A um segmento da coluna B.
e n o
Coluna A Coluna B
28
Intertextualidade
2. Lê os dois poemas.
Duma certeza aguda, irracional, para que nada reste das impurezas da tarde.
Intensa como o ódio ou como a fome. Por fim, peneira um resto de ouro da areia
Depois, perto do fim, do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal. [...]
Agite-se um pendão Júdice, Nuno (2000). Poesia Reunida 1967-2000.
E toca-se o clarim. Lisboa: Dom Quixote, p. 600.
Serve-se morto.
um texto em concreto (como acontece com o poema “E alegre se fez triste” de Manuel Alegre).
Nestlé A Leiteira
A famosa marca La Laitére, da Nestlé, chega
agora a Portugal como franchise da Longa Vida. A
forte campanha de publicidade inclui anúncios tele-
visivos e em mupis, utilizando, como já acontecia na
s origem, o quadro do mesmo nome de Vermeer. [...]
Pintado em 1632, o quadro do pintor flamengo
mostra uma mulher pousando como leiteira num
quarto interior e vertendo o leite dum jarro para
outra vasilha. Em cima da mesa há pão inteiro e pão
Vermeer, A Leiteira, 1632
10 cortado.
ENCI2CAEP O Porto Editora
29
Gramática
a analogia entre duas realidades distintas (com o objetivo de valorizar o produto publicitado).
so
partilha O pe a
ço)
PLS LoPR
REU SeAd dd-
30
Dêixis
Deíticos pessoais
Deíticos espaciais
1.º pessoa 2.2 pessoa
| 1avinheta “quero” “Filipe” —
| 4a vinheta — “neste”
A /
1.2. Dado que remetem para o tempo da enunciação, as formas verbais presentes na tira tam-
bém têm valor deítico.
1.2.1. Transcreve da banda desenhada as formas verbais que apontam:
a. para o momento da enunciação quero; “é “há”
b. para um momento posteriorà enunciação. vão falar”
2. Natira seguinte, a forma de 3.º pessoa “Procuram”e a palavra “menina” têm valor deítico.
Explica porquê.
31
Gramática
A partida
Ordenei que trouxessem o meu cavalo dos estábulos. O criado não compreendeu as mi-
O dIVOTIONT
nhas ordens. Por isso fui eu próprio até aos estábulos, selei o meu cavalo e montei. Escutei,
à distância, o som de um trompete e perguntei ao criado o que significava. Ele não sabia
PIONPA OO
nada, nada ouvira. Frente ao portão, deteve-me e perguntou: “Onde vai o meu amo? “Não
5 sei, respondi. “Daqui para fora, vou-me embora, apenas. Daqui para fora, é só, só assim
conseguirei atingir o meu objetivo” “Então vossa senhoria sabe qual é o seu objetivo? per-
guntou ele. “Sim, retorqui. “Já te disse: daqui para fora - é esse o meu objetivo”
KAFKA, Franz (2004). Contos. Lisboa: Cavalo de Ferro/Grande Reportagem, p. 99.
para fora, é só, só assim conseguirei atingir o meu objetivo” (11. 5-6); “Então vossa senhoria sabe qual é o
seu objetivo?” (1. 6); “Sim” (1. 7); Já te disse: daqui para fora - é esseo meu objetivo.” (1. 7)
32
Reprodução do discurso no discurso
ausência de moral” como explicou a encenadora, que apresenta o seu primeiro es-
15 petáculo desde que dissolveu a companhia Teatro Bruto.
Agência Lusa. “Peça É Impossível Vivera partir de Kafka em estreia no Rivoli quinta-feira”
[Em linha]. Visão, 14-09-2015 [Consult. em 11-10-2016].
2.1. Indica a razão pela qual se privilegia o discurso direto como modo de reprodução de um
discurso noutro discurso.
O discurso direto tende a reproduzir o discurso original de forma fiel, conferindo à linguagem jorna-
Afonso da Maia, um inglês!..” (Il. 4-6), o discurso indireto livre articula o discurso do narrador e o
tradições nacionais).
ENCI2ZCA F03
33
Gramática
Coluna A 1 f( Coluna B
O dIVOTIONT
“As senhoras censuraram logo aquela rigidez: aí estava uma coisa 1. Verbo assertivo
s
PIONPA OO
-lhe então o bocadinho da soirée” (Cap. Ill)
E 3. Verbo diretivo
b. “Eusébio rosnou algumas palavras sobre os trens de Carlos, os nove
cavalos, o cocheiro inglês, os grooms...”(Cap.V) 4. Verbo com valor
. . A mM
4
das personagens intervenientes; sugere a forma como a poesia de Pessoa e de Camões é recebida
34
EDUCAÇÃO
LITERÁRIA
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa, “Boiam leves, desatentos”
Bernardo Soares, Livro do Desassossego (excerto)
Alberto Caeiro, “Acho tão natural que não se pense”
Ricardo Reis, “Uns, com os olhos postos no passado”
Álvaro de Campos, “Que noite serena!”
Fernando Pessoa, Mensagem, “D. Sebastião”
Contos
Maria Judite de Carvalho, “George” (excerto)
Mário de Carvalho, “Famílias desavindas” (excerto)
Poetas contemporâneos
Miguel Torga, “Retrato”
Jorge de Sena, “Camões dirige-se aos seus contemporâneos 4
José Saramago
O Ano da Morte de Ricardo Reis (excerto)
1. Lêo poema.
pensar. Os pensamentos são a realização que existe de um mundo que não é feito só de pensamentos.
36
Fernando Pessoa
Lamentos
Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram! O
que eu sinto quando penso no passado que tive no tempo real, quando choro sobre
o cadáver da vida da minha infância ida,... isso mesmo não atinge o fervor doloroso
e trémulo com que choro sobre não serem reais as figuras humildes dos meus so-
nhos, as próprias figuras secundárias que me recordo de ter visto uma só vez, por
acaso, na minha pseudovida, ao virar uma esquina da minha visionação, ao passar
por um portão numa rua que subi e percorri por esse sonho fora.
A raiva de a saudade não poder reavivar e reerguer nunca é tão lacrimosa contra
Deus, que criou impossibilidades, do que quando medito que os meus amigos de
sonho, com quem passei tantos detalhes de uma vida suposta, com quem tantas
conversas iluminadas, em cafés imaginários, tenho tido, não pertenceram, afinal, a
nenhum espaço onde pudessem ser, realmente, independente da minha consciên-
cia deles! Oh, o passado morto que eu trago comigo e nunca esteve senão comigo! As
flores do jardim da pequena casa de campo e que nunca existiu senão em mim. As
hortas, os pomares, o pinhal, da quinta que foi só um meu sonho! As minhas vilegia-
turas! supostas, os meus passeios por um campo que nunca existiu! As árvores de à
beira da estrada, os atalhos, as pedras, os camponeses que passam...
SOARES, Bernardo (2012). Livro do Desassossego. Lisboa: Assírio e Alvim, p. 125.
1. vilegiaturas: temporada que se passa fora de casa; tempo de descanso na praia, no campo ou em uma estância bal-
near.
embora este tenha consciência de que são produtos de um sonho, situado temporalmente no pas-
mória se trata de uma criação do seu próprio sonho e imaginário. O passado, só ele o conhece, pois só
37
Educação Literária
1. Lê o poema.
O sujeito poético ridiculariza o ato de pensar, rindo-se de quem pensa e achando natural que não se pense
(vv. 1-4). Contudo, por vezes, dá-se conta que ele próprio também pensa - “A perguntar-me coisas...” (v. 7).
3.1. Explicita o significado do verso “Que me importa isso a mim?” (v. 14).
O verso é marcado por uma interrogação retórica, que enfatiza o desprendimento e desprezo do su-
38
Fernando Pessoa
disciplina.
Filosofia epicurista: O ser humano realiza-se em cada instante vivido no presente (“Colhe / o dia porque
ENCI2CAEP O Porto Editora
és ele”, vv. 7-8), superando a angústia da ideia da brevidade da vida face ao tempo destruidor; o ser hu-
mano deve aproveitar o momento ao máximo sem ter medo da morte ou do destino.
39
Educação Literária
O dIVOTIODNT
Que noite serena!
PIONPI OO]
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar! a
O Shutterstock.com
Sossego de várias espécies,
A infância sem o futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
10 Etudo bom e a horas,
De um bem e de um a-horas próprio, hoje morto.
A recordação do passado agudiza a dor sentida, conduzindo ao desespero na parte final do poema.
40
Fernando Pessoa
D. Sebastião
Sperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
trofe, retrata-se D. Sebastião enquanto herói mítico, o salvador da pátria que ressurgirá um dia.
sonho eterno (v. 7). D. Sebastião, figura histórica, é conhecido pelo combate aos mouros em Alcácer Qui-
bir, onde perde a vida ou desaparece (vv. 1-2). No poema, adquire maior relevância o D. Sebastião mítico,
o herói que se apresenta como eterno e que, no final, garante o seu regresso (v. 8).
4. Fundamenta o tom messiânico que percorre o poema, atendendo ao tempo verbal utili-
zado no último verso.
As três associações de D. Sebastião a Deus expressam o tom messiânico do poema, que culmina com o
futuro do indicativo “regressarei”. O herói surge como eleito por Deus para uma existência enquanto sím-
bolo e mito (vv. 1-2). Manifesta-se como protegido por Deus (v. 6), gozando da capacidade de regressar.
sume uma componente divina e supera a lei dos homens, podendo regressar da morte).
41
Educação Literária
Trata-se da mesma pessoa em momentos distintos da sua existência. George ainda se encontra em plena
fase adulta, tendo expectativas e sonhos futuros. Georgina encontra-se na fase da velhice, já pouco espe-
42
Contos
Famílias desavindas
Após a consulta, muito à puridade, o Dr. Paulo
pedia aos clientes que passassem pelo homem do
semáforo e lhe dissessem: “Arrenego de ti, galego!”
Isto foi assim com Asdrúbal e, mais recentemente,
s com Paco. Há dias, vinha do almoço o Dr. Paulo com
uma trouxa de ovos na mão, e já trazia entredentes o
“arrenego” com que insultaria o semaforeiro,
quando aconteceu o acidente. Ao proceder a um
roubo por esticão, um jovem que vinha de mota teve
10 uns instantes de desequilíbrio, raspou por Paco e deixou-o estendido no asfalto. Era
grave. O Dr. Paulo largou ódios velhos, não quis saber de mais nada e dobrou-se
para o sinistrado:
- Isto, em matéria de lesões, elas podem ser provocadas por três espécies de ins-
trumentos: contundentes, cortantes, ou perfurantes.
15 Uma ambulância levou o Paco antes que o doutor tivesse entrado no capítulo
das “manchas de sangue”
Enganar-se-ia quem dissesse que o semáforo ficou abandonado. Uma figura de
bata branca está todos os dias naquela rua, do nascer ao pôr do Sol, a acionar o dis-
positivo, pedalando, pedalando, até à exaustão. É o Dr. Paulo cheio de remorsos, que
20 quer penitenciar-se, ser útil, enquanto o Paco não regressa.
CARVALHO, Mário (2014).“Famílias desavindas” in Contos Vagabundos.
Porto: Porto Editora, pp. 75-76.
clientes que insultassem o semaforeiro. Ele próprio arreliava constantemente Paco. Quando se apercebeu
-o ferido.
ENCI2CAEP O Porto Editora
necessários e enfadonhos.
43
Educação Literária
1. Lêo poema.
Retrato
O meu perfil é duro como o perfil do mundo,
salidade ao poeta; aspereza e endurecimento devido à intensidade do sofrimento e do esforço (v. 3); isola-
mento e hostilidade face ao mundo exterior (criação de um espaço secreto - “pomar? v. 4); riqueza e har-
3. Assinala a única alínea que não corresponde ao valor simbólico de “pomar” (v. 4).
(A) Espaço secreto, protegido dos outros.
(B) () Local de maturação do "fruto”/poema.
(C) () Local de isolamento e de desespero criativo.
(D) () Espaço de harmonia entre o Homem e o Universo.
4. Explicita a relação que se estabelece entre o sujeito poético e “quem passa na rua” (v. 7).
Há um distanciamento entre o sujeito poético e “quem passa na rua” (v. 7), que não capta o seu interior e
44
Poetas contemporâneos
Manual, p. 227
1. Lê o poema seguinte.
aos contemporâneos do sujeito poético, que parece não ver também reconhecido o seu valor.
Exemplo: Jorge de Sena tem noção da sua contemporaneidade, apercebendo-se que ainda não constitui
um autor do cânone literário e que não é devidamente reconhecido pelos restantes contemporâneos.
45
Educação Literária
Rapariga descalça
Chove. Uma rapariga desce a rua.
Os seus pés descalços são formosos.
São formosos e leves: o corpo alto
parte dali, e nunca se desprende.
O AIVOTIDNT
sensoriais; imagem de luz pura (v. 7). Aponta para a beleza, a inocência e o sonho.
PIONPT OO]
“formosos” (v. 2).
A rapariga é caracterizada como uma figura “descalça” (título) e com “formosos pés” (v. 10), alta (“corpo
alto”, v. 3), formando um todo harmonioso (vv. 3-4). Está alegre, pois canta, correndo apressada e veloz. A
audição, visão e do tato, criando uma sinestesia, tornando todo o cenário mais aprazível.
5. Mostra que todo o poema remete para os campos lexicais de alegria e de bem-estar.
Apesar do dia chuvoso, o vocabulário utilizado remete para situações de alegria e bem-estar: “formosos”,
» du “ vu vu » du
“leves”, “sabor do sol”, canta”, “jogo inocente de crianças”, “beijos”, “fragatas”, “voa”, “brisa”, “mar”, “branco”.
6. Relaciona a passagem da gaivota com a visão que o sujeito poético tem da rapariga.
A gaivota e a rapariga fundem-se na visão do sujeito poético, pois a rapariga no final do poema trans-
46
Poetas contemporâneos
Portugal
Ó Portugal, se fosses só três sílabas, o plumitivo ladrilhado de lindos adjetivos,
linda vista para o mar, a muda queixa amendoada
Minho verde, Algarve de cal, 15 duns olhos pestanítidos,
jerico rapando o espinhaço da terra, se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
s surdo e miudinho, o ferrugento cão asmático das praias,
moinho a braços com um vento o grilo engaiolado, a grila no lábio,
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, o calendário na parede, o emblema na lapela,
se fosses só o sal, o sol, o sul, 20 Ó Portugal, se fosses só três sílabas
o ladino pardal, de plástico, que era mais barato!
1 o manso boi coloquial, O'NEILL, Alexandre (2012). Poesia.
a rechinante sardinha, Lisboa: Assírio e Alvim, p. 211. ,
a desancada varina,
mem ç J at
: Il E: 1
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O Shutterstock.com
2. Maria Antónia Oliveira escreveu um ensaio sobre a poesia de Alexandre O'Neill, focando
o poema”Portugal”.
2.1. Completa a análise com as palavras/expressões indicadas.
Portugal
Este poema constitui [...] um curioso jogo com os efeitos da ironia.
Os primeiros versos são uma paródia ao imaginário típico de um Cartaz turístico
português Ainda que o discurso poético se distancie formalmente do discurso da pro-
paganda turística, eles aproximam-se semanticamente, e o cenário final é coinci-
dente: Portugal é. idílico , encantador, amigo. O mesmo efeito é obtido nos versos
“o ladino pardal, / o manso boi coloquial” também eles paródia ao imaginário do livro da ter-
ENCI2CAEP O Porto Editora
ceira classe que vigorou durante tantas gerações. A paródia é, portanto, baseada no literal.
Uma vez que o próprio imaginário parodiado é, já de si uma . caricatura "de Portugal,
basta descontextualizá-lo para que ele funcione eficazmente.
47
Educação Literária
OLIVEIRA, Maria Antónia (1992). A Tristeza Contentinha de Alexandre O'Neill. Lisboa: Caminho, pp. 48-49 [Com supressões].
48
Poetas contemporâneos
A ironia magoada vai esmorecendo ao longo das duas estrofes finais, até aos três
versos que encerram o poema, inequívocos e (sérios/jacasas). O oxi-
moro! “feira cabisbaixa” é a expressão condensada e intelectualizada do bem-estar/
mal-estar: a seus olhos, um mundo degradado concilia o (desejável/
inconciliável).
A visão crítica de Portugal que o poema parecia desenhar no início transforma-se,
afinal, numa autoagressão manifesta, concentrada no lexema “remorso”.
A Pátria não é só o ridículo e o absurdo: é ainda a convivência insuportável com a
imutabilidade do remorso. O andamento dos três versos é (frenético/
arrastado), o tom (triste e melancólico/efusivo) - eles exprimem a pun-
gente autocensura de um eco conflituoso que se afunda, sem força para sustentar a
máscara irónica. A consciência, que se não reconcilia consigo mesma, perde a imu-
nidade e a distância irónicas e, perplexa, confessa a derrota, que parece estender-se a
todos os portugueses. [...]
A poesia de Alexandre O'Neill “fala” incessante e redundantemente do quotidiano
pátrio, numa tentativa trocista, e que antecipadamente se sabe vá, de exorcismo e de
distanciamento. A relação dúplice de O'Neill com (apoesia/Portugal),
feita de sobranceria e de envolvimento atormentado, é comparável à de um depen-
dente que amaldiçoa e culpabiliza o vício que lhe traz prazer. Dependente da Pátria,
não se lhe põe a questão de lhe escapar, ou de a votar ao esquecimento.
ENCI2CAEP O Porto Editora
1. oximoro: variante da antítese que a intensifica, aproximando paradoxalmente dois termos que se excluem; tem uma
importante função expressiva, ajudando a conciliar palavras opostas e a definir conceitos de difícil explicação.
49
ENCIZCA FO4
Educação Literária
O dAVOTIONT
O poema
O poema vai e vem. E se demora
PIONPT ONO
não quer dizer que seja demorado
mas que tem como tudo a sua hora
e como tudo é sempre inesperado.
2. Divide o poema em duas partes lógicas, explicitando a ideia-chave de cada uma delas.
4.1. Identifica, exemplificando, o recurso expressivo que melhor descreve o ato de criação.
Antítese (“vai”/“vem) “espere”/“não se espera? »u vida”/“morte) “distraído” /atento) vu “vem”/“passa”)
5.1. Explicita o sentido do verso “Vem como o vento. E passa como o vento.” (v. 12).
O momento de criação é efémero, podendo a inspiração fluir e desaparecer repentinamente.
50
José Saramago
Um país encoberto
Agora que veio o tempo da Páscoa, o governo mandou distribuir por todo o país bodo
geral, assim reunindo a lembrança católica dos padecimentos e triunfos de Nosso Senhor às
satisfações temporárias do estômago protestativo. Os pobrezinhos fazem bicha nem sempre
paciente às portas das juntas de freguesia e das misericórdias, e já se fala que para os finais
s de maio se dará uma brilhante festa no campo do Jockey Club a favor dos sinistrados das
inundações do Ribatejo, esses infelizes que andam de fundilhos molhados há tantos meses,
formou-se a comissão patrocinadora com o que temos de melhor no highlife, senhoras e
senhores que são ornamento da nossa melhor sociedade, podemos avaliar pelos nomes,
qual deles o mais resplandecente em qualidades morais e bens de qualidade, Mayer Ulrich,
10 Perestrello, Lavradio, Estarreja, Daun e Lorena, Infante da Câmara, Alto Mearim, Mousinho
de Albuquerque, Roque de Pinho, Costa Macedo, Pina, Pombal, Seabra e Cunha, muita
sorte vão ter os ribatejanos se conseguirem aguentar a fome até maio. No entanto, os gover-
nos, por supremos que sejam, como este, perfeitíssimo, sofrem de males da vista cansada,
talvez da muita aplicação ao estudo, da pertinaz vigília e vigilância. [...] Lesse o governo com
15 atenção suficiente os jornais sobre os quais todas as manhãs, tardes e madrugadas mandou
passar zelosos olhares, peneirando outros conselhos e opiniões, e veria quão fácil é resolver
o problema da fome portuguesa, tanto a aguda como a crónica, a solução está aqui, no Bo-
vril, um frasco de Bovril a cada português, para as famílias numerosas o garrafão de cinco
litros, prato único, alimento universal, pancresto remédio, se o tivéssemos tomado a tempo
20 e horas não estávamos na pele e no osso, Dona Clotilde.
SARAMAGO, José (2016). O Ano da Morte de Ricardo Reis. Porto: Porto Editora, pp. 306-308 [Com supressões].
3. A fome era o problema português. Expõe as razões por que o governo não o resolvia e a
solução ironicamente apontada pelo narrador.
ENCI2CAEP O Porto Editora
O governo preocupava-se em demasia com a sua máquina propagandística e com as questões de vigilân-
cia, inclusive na imprensa escrita. Ironicamente, o narrador aponta como solução para a fome o produto
Bovril.
51
Educação Literária
rienciadas pelo povo. Povo: representa a exploração e a vida de sofrimento causada pelos poderosos; é um
elemento essencial à concretização do sonho do rei. Baltasar Sete-Sóis: representa o povo e é elemento
crucial na construção da passarola pela sua força e trabalho. Blimunda Sete-Luas: representa o povo e é
52
ORALIDADE
MENS
DIGA NR
Diálogo argumentativo
Debate
Discurso político
Reportagem e documentário
Anúncio publicitário
Artigo de divulgação científica
Relato de viagem
Memórias
Diário
Apreciação crítica
Artigo/Texto de opinião
Exposição sobre um tema
SJ tSsIS
Manual, pp. 338-339
O dIVOTIONT
PIONPA OO
François Truffaut, Os Quatrocentos Golpes (França, 1959)
[EM Pp
= 14 a E + 4
=.
di 1 1
Hj e As
Bruno de Almeida, Operação Outono (Portugal, 2012) Telmo Churro, Rei Inútil (Portugal, 2013)
Diálogo argumentativo
Filme selecionado:
Nome da personagem
Argumentos que
fundamentam o ponto de vista
54
Debate
Debate
citação do contexto em que o debate surge (bloqueios de trânsito em Lisboa pelos taxistas).
1.1.2. Completa o quadro, sintetizando os principais argumentos utilizados por cada uma
das partes envolvidas no debate.
Argumentos
Representante A criação de um contingente de táxis deve-se ao facto de se tratar de um
do Governo serviço público; as plataformas de transportes não são um serviço
público (logo não têm contingentes), mas devem ser regulamentadas
por meio de um decreto-lei; o governo não tem poder judicial para
poder terminar com as manifestações.
forma assertiva e combativa, sem tomar partido por nenhuma das partes.
55
Dá continuidade ao debate, refletindo com a turma sobre o lugar dos táxis e das platafor-
mas tecnológicas de transportes na sociedade atual.
Antes de iniciares o debate, reflete sobre o assunto, lendo o seguinte artigo.
56
Discurso político
O discurso do rei
Desde os cinco anos que Bertie (Colin Firth), Duque de York e segundo filho do
rei Jorge V de Inglaterra (Michael Gambon), sofre de gaguez, algo que sempre aba-
lou a sua autoestima. Depois do embaraçoso discurso de encerramento da Exposi-
ção do Império Britânico em Wembley, a 31 de outubro de 1925, Bertie, pressionado
s por Isabel (Helena Bonham Carter), futura rainha-mãe e sua esposa, começa a con-
sultar Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta da fala pouco convencional. Em
janeiro de 1936, o rei Jorge V morre e é o seu irmão Eduardo quem ascende ao trono
até, menos de um ano depois, abdicar por amor a uma americana divorciada em
favor de Bertie. Hesitante perante o peso da responsabilidade e obcecado em ser
1 monarca digno do reino, o novo rei apoia-se em Logue, que o ajuda a superar a
gaguez...
"O discurso do rei” [Em linha]. Público [Consult. em 13-10-2016].
57
Lê o discurso proferido pelo Ministro da Agricultura, a 26 de janeiro de 2016.
Começo por saudar todos os presentes e agradecer o convite que me foi endere-
çado para participar neste Seminário sobre Alterações Climáticas e Agricultura. Esta é
uma temática que nos deve interessar a todos, enquanto fenómeno com origem e im-
pacto de carácter global e um dos maiores desafios da humanidade. O Acordo de Paris
representa um passo importante no que se refere ao futuro do planeta e das novas ge-
rações. Este é o momento da viragem para garantir a subsistência do planeta, como o
conhecemos.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Nos impactos das alterações climáticas são especialmente relevantes, em Portugal,
as disponibilidades hídricas e a fragilidade das zonas costeiras.
O estado a que chegámos obriga-nos não só a apostas mais exigentes em medidas
de mitigação, mas também a defender o país dos efeitos irreversíveis das alterações
climáticas. Hoje, já não é possível pensar apenas em reduzir a emissão de Gases com
Efeito de Estufa. Temos que nos adaptar. As ações exigirão que a agricultura, tal como
as cidades e todos os setores económicos, se preparem para períodos mais ou menos
prolongados de escassez de água, intercalados com picos de precipitação intensa.
O desafio é enorme em termos de gestão deste recurso e todos somos chamados a
esta luta. [...]
20 Face aos eventos extremos e maior variabilidade climática, os principais fatores crí-
ticos são a disponibilidade de água e a capacidade de rega, a fertilidade do solo e a
prevenção da erosão.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Sublinho, assim, a importância da gestão racional da água em regadio, através da
25 instalação de sistemas mais eficientes de armazenamento, de transporte, de distribui-
ção e de aplicação. Os regadios devem, por isso, ser modernizados e integrarem redes
inovadoras de monitorização e controlo de perdas de água.
Permitam-me ainda destacar
que a maior eficiência de uso da
30 água deve ser associada à possibi-
lidade de aumentar a eficiência do
uso dos fertilizantes, diminuindo
desta forma as emissões de Gases
com Efeito de Estufa. Esta sinergia
35 entre adaptação e mitigação deve
ser promovida e intensificada,
indo ao encontro de uma política
integrada em matéria de altera- ;
ções climáticas. Taeyong Kang.“Seca” [Em linha]. Museu Virtual do Porto Cartoon
[Consult. em 15-10-2016].
58
Discurso político
40 Este aspeto torna-se, ainda, mais relevante quando os dados preliminares do in-
ventário nacional de emissões mostram uma subida das emissões provenientes do uso
de fertilizantes. [...]
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Termino dizendo que podem contar com o Ministério do Ambiente para que juntos
45 possamos prosseguir o caminho com vista à descarbonização profunda da economia.
Este é o desígnio estratégico do Governo. Este é o caminho que juntos queremos trilhar.
Temos apenas um planeta.
In Governo de Portugal [Em linha, consult. em 13-10-2016, com supressões].
Ministério do Ambiente e do Governo “com vista à descarbonização profunda da economia” (1. 45).
3.2.4.A expressão “a apostas mais exigentes em medidas de mitigação” (11. 12-13) remete para
(A) |X | a necessidade de contenção.
ENCI2CAEP O Porto Editora
59
Oralidade | Leitura | Escrita
montano.
Máscaras revelam tradições transmontanas (RTP Ensina)
Coluna A | Coluna B
a. Joaquim Pais de Brito | 1,4,5 7. A máscara instaura um universo num espaço social povoado
de personagens que provocam o riso e o medo.
b. António Tiza 3
2. As máscaras representam uma cerimónia de passagem,
<. Locutor 2 estando associadas à emancipação dos rapazes.
3. Com base nos documentos visionados, explicita as diferenças entre o género reportagem
e o género documentário.
Reportagem: variedade de temas, multiplicidade de intervenientes (locutor, Joaquim Pais de Brito, Antó-
nio Tiza), meios e pontos de vista (alternância da 1.2 e da 3.º pessoas), informação seletiva, relação entre
o todo (máscaras) e as partes (função social das máscaras em Trás-os-Montes; museus que expõem as
máscaras).
60
Anúncio publicitário
1.1. Faz uma análise comparativa dos dois anúncios, tendo em conta os seguintes aspetos:
Portugal — O País registo escrito (frases imagem (fotografia), grande eficácia, que
Mais Perto do curtas; verbos no música (ritmo rápido) e | decorre da articulação
Coração presente do linguagem verbal entre a linguagem verbal
indicativo e (variedade brasileira do | (exemplos diversificados
vocabulário português em registo e interessantes) e a
apreciativo; citações) | escrito) linguagem não verbal e
do ritmo rápido com que
a informação é
apresentada
modos indicativo,
conjuntivo e
imperativo)
61
Oralidade | Leitura | Escrita
O Shutterstock.com
1 tema de canais de transporte de água no
interior da haste. Introduzindo tensão elétrica,
a planta conseguiu conduzir eletricidade.
Por que motivo alguém, para além desta investigadora, desejaria criar uma planta
tão invulgar? Eleni acredita que esta tecnologia poderá produzir sensores capazes de
15 analisar e alterar a fisiologia da planta ao nível celular. Outra possibilidade será a gera-
ção de eletricidade a partir do processo de fotossíntese. Um dia, diz Eleni, “poderemos
ser capazes de ligar o telefone a uma planta”
SHEA, Rachel Hartigan. “Saiba como uma planta consegue conduzir eletricidade!” [Em linha].
National Geographic Portugal [Consult. em 15-10-2016].
(A) informativo.
(B) |X| persuasivo.
(C) expressivo.
(D) irónico.
62
O segmento textual inicial (destacado a negrito)
sintetiza a informação mais relevante do texto.
X | apresenta subjetivamente a ideia central do texto.
divulga informação acessória, mas complementar ao sentido do texto.
explicita as conclusões a que os cientistas chegaram.
A frase “A transformação não é tão inverosímil como possa parecer” (11. 1-2) tem uma
função de articulação pois
X | liga a informação apresentada no segmento inicial e no corpo do texto.
estabelece uma relação entre o título e a frase “O sistema vascular [...] cor-
rente” (11. 2-4).
explicita a relação entre a imagem (fotografia) e o texto verbal.
dá início à última parte do artigo.
Em termos globais, a informação apresentada ao longo do artigo
torna-se progressivamente mais simples.
X | é progressivamente mais complexa.
parte da apresentação dos resultados da investigação para o relato da expe-
riência levada a cabo pelos cientistas suecos.
parte do mais abstrato (saber científico) para o mais concreto (senso comum).
A interrogação retórica presente nas linhas 13-14 tem como função
introduzir os resultados da investigação.
X | conduzir à reflexão sobre a utilidade do estudo.
questionar os resultados obtidos.
expor o carácter absurdo da investigação.
A reprodução do discurso de Stavrinidou funciona como
argumento experiencial.
argumento histórico.
argumento proverbial.
X | argumento de autoridade.
Os principais universos de referência ativados pelo texto são
a botânica e a ficção científica.
a bioquímica e a zoologia.
a física quântica e a química.
X | a ciência e a tecnologia.
O carácter expositivo que caracteriza o artigo de divulgação científica em causa é
marcado linguisticamente
X | pelo predomínio de vocabulário técnico.
ENCI2CAEP O Porto Editora
63
Manual, p. 351
Lê o texto.
64
Seleciona a opção correta.
ENCIZCA F05
65
Oralidade | Leitura | Escrita
Memórias WianUal/pp3/2345
1. Lê o texto.
66
Seleciona a opção correta.
Os acontecimentos apresentados no texto são relatados
seguindo uma ordem cronológica, do mais antigo para o mais recente.
seguindo uma ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo.
de forma retrospetiva e englobante, sem referência ao presente.
X | segundo uma lógica associativa, articulando passado e presente.
As referências ao contexto social
estão ausentes do texto.
X | são feitas com recurso à ironia e a um tom jocoso.
têm como intenção o elogio da religião, das crenças sobrenaturais e do pro-
gresso tecnológico.
têm uma função exclusivamente ornamental.
A narratividade do texto está presente, sobretudo
X | no ato de narrar episódios passados, relacionados entre si.
no ato de refletir sobre os acontecimentos passados.
na prevalência da 1.2 pessoa e do discurso pessoal.
na organização do texto com base numa única sequência narrativa, com
princípio, meio e fim, sem ramificações secundárias.
67
Oralidade | Leitura | Escrita
1. Lêo texto.
68
Diário
Coluna A Coluna B
a. Quanto ao assunto, nesta entrada 1. conclui que a forma como Lisboa é atualmente
de diário, Saramago perspetivada por si se encontra num processo de
mutação e distanciamento.
b. De acordo com Saramago, a forma
como se encara a cidade em que se | 2 2. decorre de relações de ordem afetiva e
vive introspetiva.
c. No segundo parágrafo, o diarista 4 3. difere da forma como a mesma é encarada por si
próprio, devido às diferentes experiências de vida.
d. Para Saramago, a forma como
Lisboa é perspetivada por Fernando | 3 4. recorda o processo de escrita do romance
Pessoa O Ano da Morte de Ricardo Reis.
e. No último parágrafo, José 1 5. é visível nas formas de primeira pessoa do singular
Saramago (pronomes, determinantes e formas verbais).
f. O discurso pessoal que caracteriza 5 6. reflete sobre a oposição entre a cidade habitada
o género diário fisicamente e a cidade habitada na memória.
1.2. Mostra como a definição de diário abaixo se aplica ao texto que leste.
Diário
O diário distingue-se dos outros géneros autobiográficos em virtude de caracte-
rísticas técnico-compositivas próprias, com consequências ao nível da narração, da
constituição de uma imagem do eu, da temporalidade do discurso e até do estilo.
Num diário encontramos geralmente uma sucessão de notas datadas, que corres-
pondem a uma narração dita intercalada, ou seja, em que o registo dos factos narra-
dos alterna com a ocorrência desses mesmos factos. O diário resulta de uma escrita
reatada diariamente (ou periodicamente), fragmentária portanto, em que o eu se vai
constituindo por acrescento e sobreposição, surgindo-nos assim disperso ao sabor
dos dias e dos momentos. Contrariamente ao que sucede na autobiografia, em que
o narrador põe e dispõe de um conjunto de factos pode manipular numa narração
dita ulterior, no diário o sujeito contabiliza e regista, dia após dia, as suas alegrias e
desgostos, os resultados do seu trabalho, as suas descobertas, os seus amores e ami-
zades, as suas leituras, as suas experiências, enfim, tudo aquilo que molda uma per-
sonalidade e enche de sentido uma vida. A observância da ordem cronológica está,
pois, implícita no género diarístico, em que o recomeço da escrita acompanha a su-
cessão dos dias.
ROCHA, Clara (1997)."Diário”, in Biblos — Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa.
Lisboa/São Paulo: Verbo, pp. 99-100.
Texto que corresponde a um momento de uma sucessão de notas, em que o registo dos factos narrados
ENCI2CAEP O Porto Editora
alterna com a ocorrência desses mesmos factos; texto que consiste numa reflexão que parte de um ele-
mento do quotidiano (observação da cidade) e que culmina numa situação de introspeção, articulada
69
Manual, pp. 344-345
Operação Outono
Há uma mancha que macula o novo filme de Bruno de Al-
meida: ter o ator americano John Ventimiglia a interpretar
Humberto Delgado dobrado em português por Rogério Sa-
mora sem atenção à sincronia labial. Daí resulta a sensação de estar a ver um filme ita-
5 liano fajuto dos anos 1960 - e é impossível não sentir que talvez fosse exatamente isso
que Almeida quis fazer: dessacralizar um momento fulcral da história portuguesa sob a
forma de um exercício de género descomplexado recuperando um espírito de série B,
de um outro tempo e modo de fazer cinema. Operação Outono esbarra nas limitações
dos seus meios e na incapacidade de escolher um foco narrativo que sirva de “fio con-
10 dutor” à história (indecisa entre ser policial, filme de espionagem ou filme de tribunal e
alternando entre os três), com os atores a não terem “tempo de antena” suficiente para
desenhar as personagens. Não deixa de ser uma fita simpática, que escapa ao prover-
bial esquema televisivo de tanta reconstituição histórica made in Portugal.
Jorge Mourinha
70
Z
Fora essas debilidades técnicas, de que o “caso Ventimiglia” é exemplo supremo,
15 que dão ao filme um ar “tosco” que não é inteiramente desagradável mesmo se se per-
cebe que a imperfeição não é procurada (apenas não evitada), falta a Operação Outono
um centro forte, um olhar que una e implique com outro poder toda a diversidade - de
registos, de tons - de que ele é feito. Temos a sensação de estar perante uma “coleção de
cenas” umas que resultam bem, outras que nem tanto, uma decomposição da história
20 em episódios, em “vinhetas” onde o necessário se confunde com o acessório para dei-
xar a impressão de um filme “deslaçado” com demasiado “ar” mais esvoaçante do que
seria desejável. Há uma certa “democracia” no olhar de Bruno de Almeida, como se o
filme não fosse só sobre Delgado mas sobre toda a gente direta ou indiretamente ligada
ao caso (do assassino, Pedro Efe em impecável brutamontes, à viúva, Ana Padrão em
25 modo sequíssimo) - mas falta que esta “democracia” encontre o clique para se conver-
ter em “mosaico” consistente. Operação Outono vê-se bem por entre as suas debilida-
des, mas deixa um travo irremediável a frustração.
Luís Miguel Oliveira [Com supressões].
Operação Outono
Às tantas, é como se o filme se pusesse de acordo para se ver livre de Humberto Del-
gado, deixando-se invadir por um frenesim de burlesco tragicómico. E assim desapa-
rece, mais ou menos a meio, a personagem principal. Na verdade, assim desaparece um
foco de incómodo, até aí, de Operação Outono: a incompatibilidade entre corpo do ator
norte-americano John Ventimiglia e a voz portuguesa que lhe arranjaram. (Não é só
uma questão de sincronia ou falta dela na dobragem; é, sobretudo, o facto de aquele
corpo, a forma como o ator quer sugerir nele uma energia informe, ser boicotado por
uma voz desenhada, por um espartilho). Mas Humberto Delgado morre, e assistimos
com surpresa à forma como Bruno de Almeida orquestra as coisas nesse momento: em
direção a uma série de espasmos. A partir daí Operação Outono está mais à vontade não
para encontrar um centro mas para delirar com a ausência de centro. Tornando-se evi-
dente que o foco principal não é a personagem Humberto Delgado, que não há aqui
nada a “revelar” sobre uma conspiração, que isto não é um “thriller”. É uma comédia
humana, febril, pícara, com uma série de personagens que gravitavam à volta de Del-
gado a darem corpo ao país dos brandos costumes. Podemos sonhar, perante as fragili-
dades de Operação Outono, com o “grande filme que poderia ter sido” Em vez de la-
mentarmos, podemos constatar que por aquilo que é, já dá um pontapé apetecido nos
formatos “filme de época” “filme histórico” ou “thriller político”. [...] Quase todo o arse-
nal de pícaro é impecável - os atores, dos homens - mas às mulheres cabe a gravidade,
20 como uma reserva moral - e falamos de Ana Padrão, do silêncio da fabulosa Ana Pa-
drão, e daquela belíssima passagem dos olhos dela para o E Depois do Adeus de Paulo
ENCI2CAEP O Porto Editora
de Carvalho. Que filme poderia ter sido? Este é um daqueles casos em que a dúvida,
“Que raio de filme ele quis fazer?) estimula.
Vasco Câmara [Com supressões].
1
Oralidade | Leitura | Escrita
2.1. Faz uma análise comparativa das três críticas, completando a grelha.
Apreciações críticas
O dIVOTIONT
Texto A Texto B Texto €
Objeto da crítica Operação Outono (Bruno de Almeida, Portugal, 2012, Longa-metragem, Ficção, 92”.
BIONPI OO]
Elementos contextuais
Autor (identificação e Jorge Mourinha / crítico de Luís Miguel Oliveira / crítico Vasco Câmara / crítico de
papel social) cinema de cinema cinema
Conteúdo temático
Elementos descritos interpretação da personagem enredo, elenco, tipo de repre- elenco (com destaque para a in-
Humberto Delgado, enredo/fio sentação, fio condutor... terpretação da personagem
condutor, classificação/género... Humberto Delgado), fio condu-
tor...
Comentários | Positivos originalidade / não segue a ten- singularidade do elenco; abran- inovação quanto à classifica-
críticos dência atual das reconstituições gência da representação do ção/hibridez de género, repre-
históricas televisivas contexto histórico... sentação de Ana Padrão
Estrutura
Partes que constituem Texto constituído por um só Texto dividido em três partes Texto dividido em três partes
o texto parágrafo, dividido em duas - introdução (1. 1-4); - introdução (1. 2);
partes - aspetos negativos e - desenvolvimento (ll. 4-6); - desenvolvimento (ll. 2-23);
aspetos positivos... - conclusão (ll. 26-27)... - conclusão (ll. 23-24)...
Linguagem e estilo
Vocabulário técnico/ “dobrado em português” “elencoy “realizador” “filme, “personagem
. . . q Uns nd » - - vu pu, . ”
campo lexical de cinema | “sincronia facial) “filme” miscast”, “papel, principal; “ator; “thriller,
“ator” “interpretar” “série B” “teatralidade”.. “comédia? “filme de época”..
“foco narrativo; “policial”..
Linguagem valorativa “mancha que macula” “neteróclito; “não vai correr | “frenesim de burlesco
“ vu vu
(apreciativa ou ajuto) “esbarra) “limitações tão bem como podia ter tragicómico; uma série de
depreciativa) dos meios) “incapacidade” corrido) “miscast”... espasmos”...
2.2. Com base nas apreciações críticas feitas, infere a classificação que cada autor terá dado ao
filme (de uma a cinco estrelas).
EH A AGIA Adir
72
Apreciação crítica
3.1. Realiza as duas atividades propostas, tendo como objeto de apreciação os dois filmes (um
para a produção oral, outro para a produção escrita).
Produção - Treina a tua apresentação oral, tendo - Redige a tua apreciação crítica, tendo
em conta os aspetos verbais e não o cuidado de usar vocabulário
verbais (dicção, ritmo, postura). técnico (da área do cinema) e
Nota: Se gravares os teus treinos, linguagem valorativa (apreciativa ou
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73
Manual, pp. 346-347
Lê os dois textos de opinião, sobre a atribuição do Prémio Nobel da literatura a Bob Dylan.
74
Artigo/texto de opinião
TEXTO B
O Shutterstock.com
grande autor da literatura mundial que há outros críticos
académicos que se divertem a fazer pouco de Ricks. Mas a
verdade é que Ricks foi o primeiro a ter a coragem de reco-
nhecer o génio de Bob Dylan.
Dantes toda a literatura se dividia em categoriazinhas [...] - canções, contos, en-
saios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia. O júri do Nobel tem feito o enorme
favor de voltar a confundir tudo. No ano passado deu o prémio à jornalista Svetlana
Alexievich, uma grande escritora que utiliza as entrevistas como matéria-prima para
construir textos empolgantes sobre a condição humana.
Está fora de moda falar na eternidade, mas tanto Alexievich como Dylan serão
imortais. Escrever é escrever. Um mau poeta será sempre pior do que um bom jorna-
lista. Dylan é inegavelmente um grande escritor. A Academia Sueca está a usar o Pré-
20 mio Nobel para restaurar a literatura. Tomara que regresse à literatura oral. As histórias
que não são escritas também podem ser grandes e imortais.
A obra de Dylan - que é caoticamente desigual, havendo coisas terríveis ao lado de
obras-primas - é uma gloriosa coleção de todas as tradições literárias da humanidade,
desde os trovadores aos cantores de blues, desde os contos de fada às orações.
25 Finalmente temos um Nobel à altura de Dylan.
CARDOSO, Miguel Esteves. “Bob Nobel, nem menos” [Em linha]. Público [Consult. em 15-10-2016, com supressões].
1.1. Analisa os dois textos, identificando o ponto de vista de cada autor, bem como os argu-
mentos e os exemplos utilizados para fundamentar os pontos de vista adotados.
Texto A
e Ponto de vista: Bob Dylan é um músico, logo não lhe devia ter sido atribuído o Prémio Nobel da Li-
teratura.
e Argumentos: Bob Dylan é apreciado devido ao seu talento musical e não aos livros que escreveu; os
textos escritos em áreas artísticas não literárias (cinema, música) não devem ser considerados elegí-
veis para o Prémio Nobel da Literatura; mesmo que o comité do Nobel queira valorizar a literatura
presente na música, há músicos com mais qualidade lírica do que Bob Dylan.
e Exemplos: referência à atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015 a uma autora de não fic-
ENCI2CAEP O Porto Editora
ção (Svetlana Alexievich); referência a outras personalidades de áreas artísticas não literárias que
poderão receber o Nobel, se o critério do júri se mantiver (Quentin Tarantino, David Lynch, Enki
Bilal, Ursula LeGuin); referência a Cohen (músico com mais qualidade lírica do que Dylan).
75
Oralidade | Leitura | Escrita
Texto B
O dIVOTIDNT
e Ponto de vista: “Bob Dylan merece o prémio Nobel da literatura” (1. 3).
e Argumentos: Bob Dylan é autor de ensaios, ficção e poesia; de acordo com Ricks, Bob Dylan é um
PIONPI OO]
autor da literatura mundial; o júri do Nobel já não atribui o prémio de acordo com as “categoriazi-
nhas” tradicionais; “Dylan é inegavelmente um grande escritor” (1. 19), cuja obra recolhe as “as tradi-
ções literárias da humanidade” (1. 23).
e Exemplos: referência ao facto de Christopher Ricks ter elogiado o valor literário de Dylan; referência
à atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015 a Svetlana Alexievich; exemplificação das “cate-
goriazinhas” (“canções, contos, ensaios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia”, ll. 12-13) e das
2. Prepara e apresenta um texto de opinião oral sobre o mesmo tema - a atribuição do Pré-
mio Nobel da Literatura a Bob Dylan. Segue as etapas:
2.1. Pesquisa informação sobre: o trabalho de Bob Dylan e o Prémio Nobel da Literatura.
Nota: Para complementares os teus conhecimentos sobre estes dois temas, poderás realizar os exer-
cícios das páginas 77, 78e 81.
2.2. Com base na pesquisa feita, planifica o teu texto, sintetizando as ideias-chave a abordar nas
três partes que constituem o texto de opinião.
“Ideias-chave
3. Partindo da apresentação oral, redige um texto de opinião sobre o tema em causa (200 a
300 palavras), no teu caderno.
76
Manual, pp. 348-349
Lê o texto.
Retratos de um Nobel
Quando o autor escolhido pela Aca-
SVENSKA AKADEMIEN
demia Sueca recebe formalmente, em Et tr vd sm st
, . dem
q asober 997 1 dvorerretamenche
Estocolmo, a 10 de dezembro, o Prémio na
REL OBEL
Nobel de Literatura das mãos do Rei da ' den 17 nome st app itade
tetumentet bedudas qt
lhante ao que usavam os monges ilustradores dos livros medievais. Ainda recente-
mente, no Palácio da Ajuda, os visitantes da exposição “José Saramago - A Consis-
tência dos Sonhos” puderam apreciar o diploma que o Nobel português recebeu em
15 1998. A medalha, desenhada por Erik Lindberg e feita em ouro (de 18 e 24 quilates),
tem numa das faces a efígie de Alfred Nobel, com as suas datas de nascimento e
morte (1833-1896). Na outra, está representado um rapaz debaixo de um loureiro, a
escrever enquanto escuta uma musa que toca lira. Uma inscrição junto ao bordo da
medalha reproduz o verso 663 da sexta canção da Eneida de Virgílio: “Inventas vitam
20 juvat excoluisse per artes) qualquer coisa como: “Às invenções que melhoram a vida
através da arte” O valor monetário do prémio estabilizou há vários anos nos 10 mi-
lhões de coroas suecas (mais de um milhão de euros), mas o retorno financeiro é
muito superior, se contabilizarmos o aumento de vendas das obras do laureado e a
multiplicação de convites para conferências, por vezes muito bem pagas.
SILVA, José Mário. “Retratos de um Nobel! in Revista Ler, outubro de 2008.
Assinala as marcas do género exposição sobre um tema presentes no texto de José Mário
Silva, fundamentando a tua opção.
Variedade de temas Discurso pessoal (1.2 pessoa)
Multiplicidade de intervenientes X Carácter demonstrativo
Comentário crítico X Concisão e objetividade
Carácter apelativo Carácter persuasivo
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77
Oralidade | Leitura | Escrita
2. Ouve o texto António Egas Moniz, o Nobel português da medicina (disponível no sítio RTP
Ensina).
2.1. Este texto pode classificar-se como exposição sobre um tema? Justifica.
Este texto pode classificar-se como exposição sobre um tema, pois apresenta as marcas deste género
tema (explicita-se o seu percurso biográfico, salientando-se as descobertas na área da medicina que
levaram à atribuição do Nobel), concisão e objetividade (texto curto, sem marcas de subjetividade).
3.3. Redige uma exposição escrita sobre o mesmo tema (200 a 300 palavras).
78
Exposição sobre um tema
4. Planifica e escreve exposições sobre temas respeitantes às obras estudadas (entre 130 e
170 palavras).
Nota: Antes de planificares os teus textos, poderás consultar as sínteses das unidades do manual e os
textos do caderno Prepara-te para o Exame.
e Desde o início, mas com especial incidência na segunda parte (“Mar Português”), Mensagem faz a apolo-
gia de um passado português grandioso e heroico, revestindo-o de um carácter místico, na medida em
que o considera o tempo do cumprimento de uma missão determinada por Deus.
e À sintonia entre a vontade divina e o sonho humano funda uma atitude de incessante busca, represen-
tada pelo poder de chegar mais além, pela firmeza com que o Português (representado por diversos he-
róis) combate o medo e vitoriosamente reclama o domínio do mar e do mundo antes desconhecidos.
mento justificam a glorificação do povo que, com a sua ousadia e “esforço”, tornou “português” o “mar
sem fim”
E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o
nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu
mestre.
PESSOA, Fernando (1999). Correspondência — 1923-1935. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 343.
Redige uma exposição em que expliques como a poesia de Fernando Pessoa ortónimo se
afasta dos ensinamentos do mestre.
A poesia de Fernando Pessoa ortónimo afasta-se dos ensinamentos do mestre Caeiro em aspetos como a
símbolo; a revolta contra as leis da natureza; a atração pelo oculto; a preferência por formas poéticas tradi-
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Oralidade | Leitura | Escrita
Exercício € (Baseado na Prova Escrita de Português, 2013, 1.2 Fase - Época especial)
O Padre Bartolomeu de Gusmão tem curiosidade pelo conhecimento, bem como empenhamento no estudo e
na investigação, que o levam à Holanda e à Universidade de Coimbra; interesse pela observação da natureza,
que o conduz à idealização de uma máquina semelhante a um pássaro; crença na capacidade criativa do ser
humano, que lhe permite ter a certeza de que um dia o Homem voará; coragem de correr riscos, evidente no
desafio à Inquisição; perseverança, evidente nas diferentes tentativas de construir objetos capazes de voar;
Dotada de poderes sobrenaturais - a capacidade extraordinária de vidência (no interior dos corpos e debaixo
da passarola; recolhendo as duas mil vontades com as quais se encherão as esferas que farão voar a máquina.
[...] já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os
nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois
aí ficam, se de nós depende, Alcino, Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horá-
cio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião,
Tadeu, Ubaldo, Valério, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos repre-
sentados [...).
SARAMAGO, José. Op. cit. Cap. XIX, p. 266.
precárias condições de alojamento e de alimentação; a dureza das condições de trabalho, que chega a provo-
car a morte; o esforço extremo exigido pelas tarefas de uma obra gigantesca, destacando-se o transporte da
pedra (o carro que a transporta é comparado pelo narrador a uma “nau da Índia”, reforçando o carácter épico
deste empreendimento).
Lêo texto.
Ideias-chave:
ciais. Tal como recusou o Nobel, já havia recusado condecorações uma honra oficial e por
de Estado e recusaria o Prémio Lenine, se lho dessem. Numa frase considerar que os
que ficou célebre, resumiu a sua atitude dizendo que um escritor escritores devem evitar
deve evitar a todo o custo transformar-se numa instituição. A his-
a todo o custo
tória, no entanto, pode não ser assim tão linear, uma vez que Lars
transformar-se em
Gyllensten, um membro de longa data do comité Nobel, afirmou
na sua biografia que Sartre terá escrito uma carta à Academia instituições; segundo
Sueca, em 1975, em que garantia ter mudado de ideias quanto ao Gyllensten, Sartre terá
prémio, pelo menos no aspeto financeiro. Segundo Gyllensten, o mudado de ideias mais
20 comité indeferiu o pedido, alegando que a verba já tinha sido re- tarde, mas a Academia
investida no Instituto Nobel. A história de Pasternak é mais sim-
sueca indeferiu o seu
ples. A 25 de outubro de 1958, dois dias depois de ser premiado, o
pedido.
escritor russo enviou à Academia Sueca um telegrama que dizia:
“Imensamente grato, tocado, orgulhoso, espantado, desconcer- Pasternak recusou o
25 tado” Passados mais quatro dias, um segundo telegrama: “Tendo prémio por razões de
em conta o significado que este prémio teve na sociedade a que ordem política (para
pertenço, tenho de o recusar. Por favor não se ofendam com a
não perder a
minha recusa voluntária” Para bom entendedor, dois telegramas
nacionalidade
bastam. Se Pasternak fosse a Estocolmo receber o prémio, retirar-
soviética); mais tarde,
30 -lhe-iam a nacionalidade soviética e já não poderia voltar. Entre o
Nobel e a pátria, Pasternak escolheu a pátria. Em 1989, quase três a medalha seria
décadas após a sua morte, a medalha foi finalmente entregue ao entregue ao filho.
filho, Yevgeny, numa cerimónia na capital sueca em que o violon-
celista Mstislav Rostropovich tocou uma suite de]. S. Bach.
SILVA, José Mário. "Retratos de um Nobel” in Revista Ler, outubro de 2008.
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Faz uma síntese oral do texto, tendo o cuidado de o reduzir ao essencial por seleção crítica
das ideias-chave (mobilização de informação seletiva, conectores).
ENCIZCA F06
81
Redige uma síntese escrita do texto seguinte (entre 100 e 130 palavras). Segue as etapas:
lê integralmente o texto-fonte, para apreenderes o seu sentido global;
relê o texto, sublinhando as ideias-chave e os conectores que as ligam;
anota, ao lado do texto, tópicos que sintetizem as ideias-chave do mesmo;
redige a síntese do texto, reduzindo-o ao essencial por seleção crítica das ideias-chave (mobi-
lização de informação seletiva, uso de conectores);
pauta a escrita por gestos recorrentes de revisão e aperfeiçoamento.
O dIVOTIONT
Ideias-chave:
Discurso pronunciado por José Saramago no
* Associação do tema do dia 10 de dezembro de 1998 no banquete do
PIONPA OO
discurso ao Prémio Nobel
cumprimento dos 50 . .
Cumpriram-se hoje exata-
anos sobre a assinatura .
mente 50 anos sobre a assinatura
da Declaração Universal da Declaração Universal dos Di-
dos Direitos Humanos. reitos Humanos. Não têm faltado
e Corpo do discurso s comemorações à efeméride. Sa-
centrado na abordagem
bendo-se, porém, como a aten-
ção se cansa quando as circuns-
dos seguintes tópicos:
tâncias lhe pedem que se ocupe
- OS governos não têm
de assuntos sérios, não é arris-
feito o suficiente em 1 cado prever que o interesse pú-
prol dos direitos blico por esta questão comece a
humanos; diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses atos come-
- O progresso tecnológico
morativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algu-
mas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desa-
do ser humano . . : .
15 conselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.
contrasta com a sua Neste meio século não parece que os governos tenham feito
indiferença pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obri-
relativamente ao seu gados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a
semelhante; ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica huma-
- há vários responsáveis
20 nidade capaz
o
de enviar instrumentos
. na
a um planeta
.
para estudar
nas
a
composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões
ela situação, pelo facto . .
a de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao
de não cumprirem o
nosso próprio semelhante.
seu dever: os governos Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo
(em parte devido às 25 OS governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não
influências exercidas querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efetivamente go-
vernam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais
pelas empresas
cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o
multinacionais e . : : , =” x
que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a
pluricontinentais) e os 30 cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns
cidadãos, que devem
Síntese
direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que reivindicar os direitos
lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam humanos.
nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. .
. , . . e Agradecimento pelo
Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma
aa ATE a: ar Prémio Nobel à
35 veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos tam-
bém o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um Academia Sueca, aos
pouco melhor. agentes editoriais, aos
Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de outu- leitores e aos escritores
bro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à portugueses.
40 Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agra-
deci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus
leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores
portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é
por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um
as que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto,
mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto.
(397 palavras)
SARAMAGO, José. “Discurso pronunciado por José Saramago no dia 10 de dezembro de 1998
no banquete do Prémio Nobel”. [Em linha]. Fundação José Saramago [Consult. em 17-10-2016].
Textualização
ENCI2CAEP O Porto Editora
83
Gramática 1.3. a. Base (oneiros, 'sonho” + sufixo (-icas) — palavra
5. a.V.b. F- O inglês não integra as línguas românicas. 1.1. a. Complemento direto. b. Sujeito. c. Predicativo do
As principais línguas românicas são o português, o ga- sujeito. d. Complemento do nome. e. Comple-
lego, o castelhano, o provençal, o catalão, o italiano, o mento direto. f. Modificador restritivo do nome.
corso, o romeno, o rético, o sardo e o francês. c. F — A g. Complemento oblíquo. h. Modificador apositivo
língua árabe funcionou como superstrato do portu- do nome. i. Complemento do nome. j. Comple-
guês, o latim como estrato e as línguas pré-latinas mento direto. k. Predicativo do sujeito. |. Comple-
como substratos. d. V. e. V.f. F— Os principais crioulos mento do nome. m. Modificador restritivo do
de base portuguesa são falados nos continentes afri- nome. n. Modificador apositivo do nome. o. Modifi-
cano e asiático. cador restritivo do nome. p. Complemento do
6. oficial; Guiné Equatorial; China; mandarim; Diásporas; nome. q. Complemento indireto. r. Complemento
Japão; Índia; futebol; Hemisfério Sul. direto. s. Complemento do nome.
2.1. a. “diretora da Casa Fernando Pessoa” (|. 5). b. “parti-
Lexicologia (p.9) cular” (|. 1); “que estavam em estado mais frágil”
mu,
(l. 4); “mais frágil” (1. 4); “francês” (1. 7); “grande”
1.1. Campo lexical do sonho: “etapas oníricas” “cérebro”,
(I. 8); “que é muito lido e traduzido” (11. 8-9); “que per-
“fase REM do sono”, “recordações”, “neurotransmisso-
mite ver “como os interesses de Pessoa têm uma abran-
res [...] desativados”.
gência tão grande” (Il. 10-11); “tão grande” (l. 11).
1.2. Campo semântico: sono (estado normal de re- c. “da Incerteza” (título); “de Fernando Pessoa” (Il. 1-2);
pouso; estado de quem dorme; necessidade ou “da coleção” (1. 3); “da Casa Fernando Pessoa” (1. 5); “da
vontade de dormir; período durante o qual se biblioteca” (1. 6); “de apresentar ao público francês a fi-
dorme; inércia/indolência); sono reparador; sono gura de Pessoa como grande leitor” (Il. 6-8); “de Pes-
de pedra; sono dos justos; sono eterno; sono hiber- soa” (|. 7); “de aproximação aos textos de Pessoa”
nal; doença do sono; tirar o sono a alguém... (Il. 9-10); “de Pessoa” (Il. 9-10). d. “Festival da
84
Incerteza” (título); “a figura de Pessoa” (|. 7); “outra Frase complexa - Coordenação
possibilidade de aproximação aos textos de Pessoa” e subordinação (p. 15)
(Il. 9-10); “a diversidade de temas que permite ver
1.1. a. “que assombraram Da Vinci”- oração subordinada
“como os interesses de Pessoa têm uma abrangência
adjetiva relativa restritiva. b. “mas podemos destacar
tão grande” (Il. 10-11); “como os interesses de Pessoa
um” — oração coordenada adversativa. c. “para criar
têm uma abrangência tão grande”(1. 11); “uma abran-
uma máquina voadora”- oração subordinada adver-
gência tão grande” (Il. 11). Nota: Os constituintes
bial final. d. “que ainda hoje surpreende os engenhei-
“Pela primeira vez [...] em estado mais frágil” (11. 1-4) e
ros aeronáuticos”- oração subordinada adjetiva rela-
“Com a viagem da biblioteca [...] aos textos de Pes-
tiva restritiva. e. “Para compreender” — oração
soa” (Il. 6-10) também podem ser considerados
subordinada adverbial final. f. “como as aves voavam”
complemento direto de “disse” (l. 4) e “descreveu”
— oração subordinada substantiva completiva.
(I. 10), respetivamente. e. “à Lusa” (|. 4); “ao público
francês” (1. 7). f. “para fora de Portugal” (1. 2). g. “em 1.1.1. a. Modificador restritivo do nome. d. Modificador
estado mais frágil” (1. 4); “um autor que é muito lido e restritivo do nome. f. Complemento direto.
traduzido” (Il. 8-9); “muito lido e traduzido” (Il. 8-9);
1.2. a. para que criasse uma máquina voadora. b. efe-
“aqui” (|. 9); “dar outra possibilidade de aproximação
tuado. c. quando/sempre que se batem as asas.
aos textos de Pessoa” (Il. 9-10). h. “como grande leitor”
d. produzido com o movimento das asas.
(I1. 7-8).
1.3.(A)
2.2.1.(C)
2.1. “Apesar de [serem] algo estranhos” (l. 2); “Embora
2.2.2. (A)
[fosse] transportável” (1. 5).
3.1. “Da lâmpada noturna/ A chama estremece” (vv. 1-2);
2.2.a.2:;b.2.;c.4;d.1.
“o quarto alto ondeia” (v. 3); “calmos crentes” (v. 5);
“Que nunca lhes trema / A chama da vida” (vv. 6-7); 2.3. No dia a dia, muitos aspetos dos “tempos modernos”
“Mas firme e esguiada / Como preciosa / E antiga começaram nos Anos 20. Ainda que algo estranhos,
pedra, / Guarde a sua calma” (vv. 10-13); “Como pre- estes aparelhos anunciavam uma autêntica revolu-
ciosa / E antiga pedra” (vv. 10-11). ção no quotidiano das classes médias e altas. [...]
85
Condição — Se viajar, reflito sobre a vida. noite do FOLIO, o festival literário de Óbidos.” (II. 1-3).
Valor aspetual (p. 20) 1.2.2. (A) Causa (festas opulentas) > efeito (contratação
de oito criados para limpar tudo, após as festas).
1.1.a.2:;b.1,;c.3.;d.3,;;e.4.
1.2.3. (B) Consequência (decadência) > Causa (opulên-
1.2. Exemplo: Nos últimos meses tenho ido a Óbidos cia).
diariamente. 2.1. Apesar de as definições apresentadas assentarem
2.1. Exemplos: a.“O Nobel da Literatura fechou a primeira em informações contraditórias, não se desrespeita o
86
princípio da contradição, mas faz-se uso de um re- de contraste e de comparação. e. F — Todas as formas
curso expressivo que consiste na oposição de ideias verbais se encontram flexionadas no presente, ex-
contraditórias (oxímoro). ceto a última (“têm sido explorados”, que se encontra
3.1. Relevância: toda a informação apresentada se rela- conjugada no pretérito perfeito composto passivo
ciona com a resolução do conflito (o rato tenta livrar- do modo indicativo. f. F- O enunciado “que não têm
-se da morte, em vão). sido tão explorados no plano turístico como os caribe-
Não contradição: não se apresentam informações nhos” (Il. 15-16) não corresponde a uma situação ge-
logicamente incompatíveis; o gato apresenta uma nérica.
alternativa ao rato, que o livra da “ratoeira”, mas que
não o livra da morte. Intertextualidade (p. 28)
Não tautologia: não há informações redundantes (o
1.1.a.4;b.2;c.3.;d.6.
discurso do rato é ligeiramente repetitivo, denun-
ciando o seu estado de espírito confuso e angus- 2.1. A intertextualidade faz-se relativamente ao género
tiado). textual receita (de culinária) e não em relação a um
texto em concreto (como acontece com o poema”E
Sequências textuais (p. 26) alegre se fez triste” de Manuel Alegre).
87
3.1. Presente em “Uma tourada! Então o Sr. Afonso da Alberto Caeiro,
Maia preferia toiros a corridas de cavalos? O Sr. “Acho tão natural que não se pense” (p.38)
88
Álvaro de Campos, “Que noite serena!” (p.40) mais velho, Georgina, depois de ter abandonado Gi, o
seu“eu”adolescente.
2.1. O passado surge como suave e sereno (v. 5), mar-
cado pelo sossego (v. 6) e pela harmonia (v. 10); é 3. George prefere tratar as coisas de forma direta e fria,
sem meias-palavras ou expressões delicadas.
um passado “sentido”, sem lugar para o pensa-
mento (v. 8), um tempo de encantamento e des- 4. Trata-se da mesma pessoa em momentos distintos
contração. da sua existência. George ainda se encontra em plena
fase adulta, tendo expectativas e sonhos futuros.
2.2. O sujeito poético evidencia sentimentos de dor, so-
Georgina encontra-se na fase da velhice, já pouco es-
frimento e desconforto face ao momento presente.
perando do mundo, sendo guiada pela sensatez e
A recordação do passado agudiza a dor sentida,
pelas recordações do passado.
conduzindo ao desespero na parte final do poema.
3. D. Sebastião mítico apresenta-se como o protegido e 4. Enumeração e uso expressivo do adjetivo, que acen-
eleito por Deus (v. 6); e como aquele que configura o tuam a tendência do Dr. Paulo para os detalhes des-
sonho eterno (v. 7). D. Sebastião, figura histórica, é necessários e enfadonhos.
conhecido pelo combate aos mouros em Alcácer Qui-
bir, onde perde a vida ou desaparece (vv. 1-2). Miguel Torga, “Retrato” (p. 44)
No poema, adquire maior relevância o D. Sebastião 2. Os traços caracterizadores do sujeito poético são os
mítico, o herói que se apresenta como eterno e que, seguintes: dureza de um perfil a nível material (v. 3);
no final, garante o seu regresso (v. 8). semelhança com o “perfil do mundo” (v. 1), conferindo
universalidade ao poeta; aspereza e endurecimento
4. As três associações de D. Sebastião a Deus expressam
devido à intensidade do sofrimento e do esforço (v. 3);
o tom messiânico do poema, que culmina com o fu-
isolamento e hostilidade face ao mundo exterior (cria-
turo do indicativo “regressarei” O herói surge como
ção de um espaço secreto — “pomar”, v. 4); riqueza e
eleito por Deus para uma existência enquanto sím-
harmonia do mundo interior (“Lá dentro há frutos, há
bolo e mito (vv. 1-2). Manifesta-se como protegido
frescura”, v. 5).
por Deus (v. 6), gozando da capacidade de regressar.
3. (A)
5. Interrogação retórica, que reforça o carácter excecio- 4. Há um distanciamento entre o sujeito poético e “quem
nal de D. Sebastião enquanto figura mítica (que as- passa na rua” (v. 7), que não capta o seu interior e só vê
sume uma componente divina e supera a lei dos ho- a hostilidade e a dureza que o “eu” revela (vv. 8-9).
mens, podendo regressar da morte).
5.a.4;b.1.;€C.2.;d.3.
6. Estrutura estrófica: duas quadras.
Estrutura métrica: métrica irregular. Jorge de Sena, “Camões dirige-se
Estrutura rimática: rima cruzada; esquema rimático aos seus contemporâneos” (p. 45)
ABAB CDCD.
2. O “vós” pode referir-se quer aos contemporâneos de
Camões, que não o valorizaram devidamente, quer
ENCI2CAEP O Porto Editora
89
um autor do cânone literário e que não é devidamente 4. Os dois aspetos essenciais à escrita são o carácter ines-
90
abordados (através de perguntas), de forma as-
sertiva e combativa, sem tomar partido por ne-
nhuma das partes.
Resposta pessoal.
91
Documentário: variedade de temas, proximidade
com o real, informação seletiva e representativa
(tema e subtemas).
( D)
( B)
( )
>
( B)
O dAVOTIODNA
Portugal — O País Mais Perto do Coração: carácter
apelativo: registo escrito (frases curtas; verbos no autobiografia; memórias; História; historicidade; re-
presente do indicativo e vocabulário apreciativo; presentação; empírico.
BIOJPY OO]
citações); multimodalidade: imagem (fotografia),
música (ritmo rápido) e linguagem verbal (varie-
dade brasileira do português em registo escrito);
eficácia comunicativa e poder sugestivo: grande a.6:;b.2.;c.4:;d.3.;e. 1.;f.5.
eficácia, que decorre da articulação entre a lingua- Texto que corresponde a um momento de uma su-
gem verbal (exemplos diversificados e interessan- cessão de notas (datado de 2 de fevereiro de 1994),
tes) e a linguagem não verbal e do ritmo rápido em que o registo dos factos narrados alterna com a
com que a informação é apresentada. ocorrência desses mesmos factos; texto que con-
Portugal, um país de pessoas extraordinárias: ca- siste numa reflexão que parte de um elemento do
rácter apelativo: locução de um texto de opinião quotidiano (observação da cidade) e que culmina
(com características argumentativas e expositivas), numa situação de introspeção, articulada com o re-
marcada por um ritmo calmo e por entoações va- lato de experiências pessoais passadas em dois
riadas (declarativa, interrogativa, persuasiva — cf. tempos distintos (infância e momento em que es-
uso dos tempos dos modos indicativo, conjuntivo e creveu o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis) e
imperativo); multimodalidade: imagem (em movi- com a projeção num futuro próximo (último pará-
mento), música (ritmo calmo) e linguagem verbal; grafo).
eficácia comunicativa e poder sugestivo: eficácia
que decorre do tom reflexivo imprimido ao dis-
curso e da articulação entre a linguagem verbal
Objeto da crítica: Operação Outono (Bruno de Al-
(exemplos diversificados) e a linguagem não verbal
meida, Portugal, 2012, Longa-metragem, Ficção,
(imagem em movimento).
92).
Texto A
« Autor da crítica: Jorge Mourinha / crítico de ci-
nema.
ssea
mu, mu Mu,
cronia facial) “filme? “ator; “interpretar” “série By
92
mu,
“foco narrativo” “policial, filme de espionagem ou filme a descrever — ” um frenesim de burlesco tragi-
filme de tribunal” “desenhar as personagens” “fita”. cómico” (|. 2); desenvolvimento, com a descrição e
« Linguagem valorativa (depreciativa): “mancha exemplificação de aspetos negativos (Il. 2-22); con-
que macula” “fajuto) “esbarra; “limitações dos clusão (Il. 23-27), que sintetiza o ponto de vista do
mu
meios” “incapacidade” crítico, através de interrogações retóricas.
mu,
* Vocabulário técnico: “filme” “personagem princi-
Texto B mM,
pal! “ator; “thriller; “comédia” “filme de época”
* Autor da crítica: Luís Miguel Oliveira / crítico de ci-
“filme histórico? “thriller político”
nema.
« Linguagem valorativa (depreciativa): “frenesim de
Elementos descritos: enredo; elenco (com desta- mu,
burlesco tragicómico? “uma série de espasmos? “deli-
que para a interpretação da personagem Hum-
rar com a ausência de centro” “comédia humana, fe-
berto Delgado); tipo de representação (natura-
bril, picara”
lismo); fio condutor; diversidade de registos e tons;
* Linguagem valorativa (apreciativa): “dá um pon-
representação do contexto histórico. mui
tapé apetecido” “fabulosa” “belíssima”
* Comentários críticos positivos: singularidade do
elenco; abrangência da representação do contexto Todos os críticos classificaram o filme com duas es-
histórico (“como se o filme não fosse só sobre Del- trelas.
gado mas sobre toda a gente direta ou indiretamente
Resposta pessoal.
ligada ao caso”, |. 22-24).
* Comentários críticos negativos: má interpreta-
ção de Ventimiglia (desadequação do perfil do
ator, assincronia com o movimento dos lábios);
Texto A
debilidades técnicas que dão ao filme um ar
“tosco”; ausência de fio condutor; indistinção « Ponto de vista: Bob Dylan é um músico, logo não
entre o essencial e o acessório. lhe devia ter sido atribuído o Prémio Nobel da Lite-
« Estrutura: texto dividido em três partes — introdu- ratura.
ção, com a apresentação de um aspeto positivo * Argumentos: Bob Dylan é apreciado devido ao seu
(Il. 1-4); desenvolvimento, com a descrição e exem- talento musical e não aos livros que escreveu; os
plificação de aspetos negativos (Il. 4-26); conclusão textos escritos em áreas artísticas não literárias (ci-
(II. 26-27), que sintetiza o ponto de vista do crítico. nema, música) não devem ser considerados elegi-
«Vocabulário técnico: “elenco”
mu,
“realizador”
mu,
“mis- veis para o Prémio Nobel da Literatura; mesmo que
cast”, “papel” “teatralidade” “decomposição da histó- o comité do Nobel queira valorizar a literatura pre-
ria em episódios” sente na música, há músicos com mais qualidade
* Linguagem valorativa (depreciativa): “heteróclito” lírica do que Bob Dylan.
“não vai correr tão bem como podia ter corrido?
mu,
“mis- « Exemplos: referência à atribuição do Prémio Nobel
mM, mu,
cast”, “nunca cola à personagem” “apenas a espaços da Literatura em 2015 a uma autora de não ficção
tingido por alguma teatralidade” “ar «tosco»” “não é (Svetlana Alexievich); referência a outras personali-
inteiramente desagradável mesmo se se percebe que dades de áreas artísticas não literárias que poderão
a imperfeição não é procurada (apenas não evi- receber o Nobel, se o critério do júri se mantiver
mu
tada)! “«coleção de cenas»; “impecável brutamon- (Quentin Tarantino, David Lynch, Enki Bilal, Ursula
tes” “modo sequíssimo? “deixa um travo irremediável LeGuin); referência a Cohen (músico com mais qua-
a frustração” lidade lírica do que Dylan).
Texto C Texto B
« Autor da crítica: Vasco Câmara / crítico de cinema. * Ponto de vista: “Bob Dylan merece o prémio Nobel
« Elementos descritos: elenco (com destaque para a da literatura.” (1. 3).
interpretação da personagem Humberto Delgado), * Argumentos: Bob Dylan é autor de ensaios, ficção
fio condutor. e poesia; de acordo com Ricks, Bob Dylan é um
* Comentários críticos positivos: inovação quanto à autor da literatura mundial; o júri do Nobel já não
classificação/ hibridez de género; representação de atribui o prémio de acordo com as “categoriazi-
Ana Padrão. nhas” tradicionais; “Dylan é inegavelmente um
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* Comentários críticos negativos: má interpretação grande escritor”(|. 19), cuja obra recolhe as “as tradi-
de Ventimiglia (desadequação do perfil do ator, as- ções literárias da humanidade” (1. 23).
sincronia com o movimento dos lábios). « Exemplos: referência ao facto de Christopher Ricks
« Estrutura: texto dividido em três partes — introdu- ter elogiado o valor literário de Dylan; referência à
ção, com a apresentação do principal aspeto do atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2015
93
a uma autora de não ficção (Svetlana Alexievich); que o Português — representado por diversos heróis
levaram à atribuição do Nobel), concisão e objetivi- traordinária de vidência (no interior dos corpos e de-
dade (texto curto, sem marcas de subjetividade). baixo da terra) — Blimunda participa na concretização
do sonho de voar: inspecionando os materiais de
(Resposta pessoal.)
construção da passarola; recolhendo as duas mil von-
Exercício A (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi- tades com as quais se encherão as esferas que farão
cação da Prova Escrita de Português A, 2000, 2.º Fase) voar a máquina.
« Desde o início, mas com especial incidência na se-
gunda parte ("Mar Português”), Mensagem faz a apo- Exercício E (Tópicos retirados dos Critérios de Classifi-
logia de um passado português grandioso e heroico, cação da Prova Escrita de Português, 2012, 1.º Fase)
revestindo-o de um carácter místico, na medida em Os trabalhadores mantidos no anonimato conquis-
que o considera o tempo do cumprimento de uma tam o estatuto de heróis, graças ao sacrifício e ao so-
missão determinada por Deus. frimento que lhes foram impostos: o abandono, mui-
* À sintonia entre a vontade divina e o sonho humano tas vezes forçado, das suas terras, famílias e amigos;
funda uma atitude de incessante busca, representada as precárias condições de alojamento e de alimenta-
pelo poder de chegar mais além, pela firmeza com ção; a dureza das condições de trabalho, que chega a
94
provocar a morte; o esforço extremo exigido pelas Ideias-chave:
tarefas de uma obra gigantesca, destacando-se, por Discurso proferido por Saramago no Banquete do Pré-
exemplo, o transporte da pedra (o carro que a trans- mio Nobel em 1998, centrado nas seguintes ideias-
porta é comparado pelo narrador a uma “nau da -chave:
Índia”, assim reforçando o carácter épico deste em- « associação do tema do discurso ao cumprimento dos
preendimento). 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal
dos Direitos Humanos;
« corpo do discurso centrado na abordagem dos se-
guintes tópicos:
Ideias-chave: — Os governos não têm feito o suficiente em prol dos
Texto em que José Mário Silva explica o contexto e as direitos humanos;
razões que levaram Sartre e Pasternack a recusar o Pré- — o progresso tecnológico do ser humano contrasta
mio Nobel da Literatura: com a sua indiferença relativamente ao seu seme-
«em mais de cem edições do Prémio Nobel, apenas lhante;
Jean-Paul Sartre e Boris Pasternak recusaram o Pré- — há vários responsáveis pela situação, pelo facto de
mio Nobel da Literatura; não cumprirem o seu dever: os governos (em parte
« Sartre recusou o prémio por se tratar de uma honra devido às influências exercidas pelas empresas
oficial e por considerar que os escritores devem evi- multinacionais e pluricontinentais) e os cidadãos,
tar a todo o custo transformar-se em instituições; se- que devem reivindicar os direitos humanos;
ENCI2CAEP O Porto Editora
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