Você está na página 1de 10

u ia

Gde Estudo
Oo

os testes
rar
Prepa
guês
Portu no
11.º a

Regista-te já!
Este é o código* deste livro.

Podes registá-lo através de qualquer um dos dispositivos:

Smart Book

Telemóvel PC
www.escolavirtual.pt

Consulta as condições de acesso disponíveis em www.escolavirtual.pt


*O código é exclusivo deste livro.
Parte I 3. Intenção persuasiva e exemplaridade 67
ÍNDICE
4. Crítica social e alegoria 70
Preparação ao longo do ano 5. Linguagem, estilo e estrutura 70
1. Como estudar Português 6 5.1. Discurso figurativo: alegoria, comparação
2. Testes de avaliação 9 e metáfora 70
3. Testes de Compreensão do Oral 10 5.2. Visão global do sermão e estrutura
4. Glossário de verbos de instrução 10 argumentativa 71
Exercício resolvido | Resolve tu! 72
Quadro-síntese 77
Parte II · Teoria e prática
Almeida Garrett,
1. Oralidade 12 Frei Luís de Sousa 78
1. Contextualização histórico-literária 78
Compreensão do Oral 13 1.1. Contexto político português 78
Discurso político 14 1.2. Origens e inovações do Romantismo 78
Exercício resolvido | Resolve tu! 15 2. Visão global da obra 79
Exposição sobre um tema 17 3. Recorte das personagens principais 80
Exercício resolvido | Resolve tu! 18 4. Dimensão patriótica e sua expressão
Debate 20 simbólica 81
Exercício resolvido | Resolve tu! 20 5. Sebastianismo: história e ficção 81
6. Dimensão trágica 82
Expressão Oral 22 7. Linguagem, estilo e estrutura 83
Exposição sobre um tema 23 Exercício resolvido | Resolve tu! 85
Exercício resolvido | Resolve tu! 23 Quadro-síntese 89
Apreciação crítica 25
Exercício resolvido | Resolve tu! 26 Alexandre Herculano,
Texto de opinião 28 Lendas e Narrativas, “A Abóbada” 90
Exercício resolvido | Resolve tu! 29 1. Imaginação histórica e sentimento nacional 90
Quadro-síntese (Compreensão do Oral, 2. Relações entre personagens 91
Expressão Oral) 31 3. Características do herói romântico 92
4. Linguagem, estilo e estrutura 92
2. Leitura 32 Exercício resolvido | Resolve tu! 93
Discurso político 34 Quadro-síntese 97
Exercício resolvido | Resolve tu! 34 Almeida Garrett,
Apreciação crítica 42 Viagens na Minha Terra 98
Exercício resolvido | Resolve tu! 42
Artigo de opinião 48 1. Deambulação geográfica e sentimento
Exercício resolvido | Resolve tu! 48 nacional 98
2. Dimensão reflexiva e crítica 98
3. Escrita 54 3. Visão global da obra 99
4. Representação da Natureza 99
Exposição sobre um tema 56
5. Personagens românticas
Exercício resolvido | Resolve tu! 56
(narrador, Carlos, Joaninha) 101
Apreciação crítica 58
6. Linguagem, estilo e estrutura 102
Exercício resolvido | Resolve tu! 58
6.1. Estruturação da obra 102
Texto de opinião 60
6.2. Coloquialidade e digressão 102
Exercício resolvido | Resolve tu! 60
6.3. Dimensão irónica 102
Quadro-síntese (Leitura e Escrita) 62
Exercício resolvido | Resolve tu! 103
Quadro-síntese 108
4. Educação Literária 63
Elementos constitutivos do texto narrativo, Camilo Castelo Branco,
dramático e poético 65 Amor de Perdição 109
1. Sugestão biográfica (Simão e narrador) 109
Padre António Vieira,
2. Visão global da obra 110
“Sermão de Santo António.
3. Relações entre personagens 111
Pregado na cidade de S. Luís 4. Herói romântico 111
do Maranhão, ano de 1654” 66 5. Amor-paixão 112
1. Contextualização histórico-literária 66 6. A obra como crónica da mudança social 112
2. Objetivos da eloquência 7. Linguagem, estilo e estrutura 112
(docere, delectare, movere) 67 Exercício resolvido | Resolve tu! 113
Quadro-síntese 118
Eça de Queirós 5. Gramática
ÍNDICE
166
Contextualização histórico-literária 119 1. O português: génese, variação
Os Maias 120 e mudança 167
1. Visão global da obra e estruturação: 1.1. Principais etapas da formação
título e subtítulo 120 e da evolução do português 167
2. Representação de espaços sociais 1.2. Fonética e fonologia 168
e crítica de costumes 121 1.3. Etimologia 169
3. Espaços e seu valor simbólico e emotivo 123 1.4. Geografia do português no mundo 169
4. Descrição do real e papel das sensações 124 Exercício resolvido | Resolve tu! 170
5. Representações do sentimento e da 2. Lexicologia 172
paixão: diversificação da intriga amorosa 125 Exercício resolvido | Resolve tu! 172
6. Características trágicas e complexidade 3. Classes de palavras 173
dos protagonistas 125 Exercício resolvido | Resolve tu! 174
7. Linguagem, estilo e estrutura 126 4. Formação de palavras 175
7.1. Pluralidade de ações 126 Exercício resolvido | Resolve tu! 175
7.2. Complexidade do tempo e do espaço 126 5. Constituintes da frase 176
7.3. Reprodução do discurso no discurso 126 Exercício resolvido | Resolve tu! 177
Exercício resolvido | Resolve tu! 127 6. Funções sintáticas 179
Quadro-síntese 137 6.1. Funções sintáticas ao nível da frase e
internas ao grupo verbal 179
A Ilustre Casa de Ramires 138 6.2. Funções sintáticas internas ao grupo
1. Visão global da obra da obra: nominal e adjetival 180
ação principal e novela 138 Exercício resolvido | Resolve tu! 180
2. Caracterização das personagens 7. Coordenação e subordinação 186
e complexidade do protagonista 140 Exercício resolvido | Resolve tu! 187
3. O microcosmos da aldeia como 8. Valores modais 192
representação de uma sociedade Exercício resolvido | Resolve tu! 193
em mutação 141 9. Texto e interação discursiva 195
4. Espaço e seu valor simbólico 141 9.1. Relações intratextuais 195
5. História e ficção: reescrita do passado 9.2. Coesão textual (lexical e gramatical) 195
e construção do presente 141 9.3. Registos de língua e atos de fala 197
6. Linguagem, estilo e estrutura 142 9.4. Dêixis 197
6.1. Pluralidade de ações 142 9.5. Modalidades de reprodução do discurso 198
6.2. Complexidade do tempo e do espaço 142 Exercício resolvido | Resolve tu! 199
6.3. Reprodução do discurso no discurso 143 10. Recursos expressivos 204
Exercício resolvido | Resolve tu! 143 Exercício resolvido | Resolve tu! 206
Quadro-síntese 148
Antero de Quental, Parte III · Testes de avaliação
Sonetos Completos 149 Teste de avaliação 1 – Padre António Vieira,
1. Angústia existencial 149 “Sermão de Santo António” 209
2. Configurações do Ideal 149 Teste de avaliação 2 – Almeida Garrett,
3. Linguagem, estilo e estrutura 150 Frei Luís de Sousa 214
Exercício resolvido | Resolve tu! 151
Teste de avaliação 3 – Almeida Garrett,
Quadro-síntese 154
Viagens na Minha Terra | Camilo Castelo
Cesário Verde, Cânticos do Realismo Branco, Amor de Perdição | Alexandre
(O Livro de Cesário Verde) 155 Herculano, “A Abóbada” 220
1. Representação da cidade e dos tipos Teste de avaliação 4 – Eça de Queirós,
sociais 155 Os Maias | A Ilustre Casa de Ramires 227
2. Deambulação e imaginação: Teste de avaliação 5 – Antero de Quental,
o observador ocidental 156 Sonetos Completos 234
3. Perceção sensorial e transfiguração
Teste de avaliação 6 – Cesário Verde,
poética do real 156
Cânticos do Realismo 240
4. Imaginário épico (em “O Sentimento
dum Ocidental”) 157
5. Linguagem, estilo e estrutura 158 Parte IV · Soluções 246
Exercício resolvido | Resolve tu! 159
Quadro-síntese 165
Educação Literária
TEORIA

4. Crítica social e alegoria


Os elogios feitos aos peixes pressupõem uma crítica aos homens, pela ausência

GESTP11 © Porto Editora


dessas virtudes. No entanto, a crítica social é sobretudo evidente e mais contun-
dente nos Capítulos IV e V, quando Vieira faz repreensões aos peixes, primeiro em
geral (Capítulo IV) e depois em particular (Capítulo V).
Mais uma vez, Santo António surge como modelo a seguir (exemplaridade), por
apresentar um comportamento contrário ao dos peixes referidos.

5. Linguagem, estilo e estrutura


5.1. Discurso figurativo: alegoria, comparação
e metáfora
O “Sermão de Santo António” é um discurso figurativo, na medida em que, através
da alegoria (representação simbólica), se aborda uma realidade abstrata. Assim:

• ao dirigir-se aos peixes, o Padre António Vieira quer,


na realidade, apelar aos homens;
• aolouvar os peixes, o orador pretende mostrar o
exemplo das virtudes a seguir, condenando, indireta-
mente, a ausência delas no ser humano;
Alegoria
• ao repreender os peixes, Vieira visa condenar os pe-
cados dos homens do Maranhão e, por extensão, os
pecados de todos os homens que maltratam os mais
fracos e indefesos, mostrando-se arrogantes, oportu-
nistas, vaidosos e hipócritas.

Por sua vez, a alegoria concretiza-se, muitas vezes, por meio de metáforas e de
comparações.

Vos estis sal terrae


Vós sois o sal da terra
Metáfora
Pregadores Doutrina Ouvintes

O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um


monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
Comparação
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma
brandura, a mesma mansidão.
VIEIRA, Padre António (2014). Sermão de Santo António.
Porto: Porto Editora [p. 56]

70
4
“Sermão de Santo António”

5.2. Visão global do sermão e estrutura


argumentativa
Vídeo
Estrutura Estrutura
Assunto
externa interna
Sabias que…
Exórdio tem origem • Conceito predicável – “Vos estis sal terrae”
Exórdio argumentação assente na metáfora
na palavra latina
“exordire”, que Capítulo Parte inicial, que inclui a • Elogio a Santo António – modelo de
significa começar? I apresentação do tema e a pregação a seguir pregar aos peixes
captação da atenção do auditório
• Invocação a Maria

• Estrutura do sermão
Notas Exposição
“dividirei, peixes, o vosso sermão em dois
❶ A estrutura clássica Referência ao assunto a
de um discurso
pontos: no primeiro louvar-vos-ei as
desenvolver e apresentação da
retórico inclui, de vossas virtudes, no segundo repreender-
sua divisão em partes
maneira geral, as ‑vos-ei os vossos vícios”
seguintes partes: Capítulo
exórdio, exposição, II
confirmação e
• Louvores em geral
peroração. −−“obediência”
❷ A exposição e a −−“ordem, quietação e atenção com que
confirmação ouvistes a palavra de Deus”
correspondem ao
desenvolvimento do
−−“prudência” (afastamento dos homens)
sermão.
❸ A peroração inclui • Louvores em particular
normalmente: a −−Peixe de Tobias: poder curativo
recapitulação (síntese
dos principais
Capítulo −−Rémora: força e poder
argumentos referidos), III −−Torpedo: energia
a amplificação (reforço Confirmação −−Quatro-olhos: capacidade de olhar para
de uma ideia em
cima e para baixo
GESTP11 © Porto Editora

sintonia com a tese


Apresentação de argumentos e
defendida) e a de exemplos que os sustentam
comoção (apelo ao • Repreensões em geral
auditório capaz de o Capítulo “Não só vos comeis uns aos outros, senão
emocionar).
IV que os grandes comem os pequenos.”
“ignorância e cegueira”

• Repreensões em particular
−−Roncadores: arrogância
Capítulo
−−Pegadores: oportunismo, parasitismo
V
−−Voadores: vaidade, ambição
−−Polvo: hipocrisia, traição

• Última advertência aos peixes


Capítulo Peroração Elogio final (comparação com os outros
VI Parte final animais e com o orador)
• Exortação – “Louvai, peixes, a Deus”

71
Educação Literária

Exercício 1. Lê com atenção o excerto do “Sermão de Santo António”.

resolvido
O sal da terra

GESTP11 © Porto Editora


“Vós”, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, “sois o sal da terra”; e
chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do
Conceito predicável sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa,
(citação bíblica, base de
todo o discurso)
havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta
• Capítulo I – Exórdio
5 corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. […]
Referências a Suposto pois que ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há de
Cristo e a Santo António fazer a este sal e que se há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal que não
salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet
• Argumentos de ultra, nisi ut mittatur foras, et conculcetur ab hominibus [Mt 5, 13]. Se o sal perder a
autoridade
10 substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há
Interrogações retóricas de fazer é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. […]
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se não deixa salgar,
Santo António que se lhe há de fazer? Este ponto não resolveu Cristo, Senhor nosso, no Evangelho;
mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que
exemplo a seguir 15 hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
Pregava Santo António em Itália, na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela
pregar aos peixes em
vez de pregar aos eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não
homens fazia fruto o Santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para
que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande
Repetição / oposição
20 António? […] Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina.
Anáfora Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas
Antítese vozes: “Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes.”
VIEIRA, Padre António (2014). Sermão de Santo António.
Porto: Porto Editora [pp. 5-7, com supressões].

1.1. Localiza o excerto na estrutura externa e interna da obra.


O excerto apresentado diz respeito ao primeiro capítulo do “Sermão de Santo
Atividade António”, que se inicia com a apresentação e explicitação do conceito
predicável – Vos estis sal terrae –, base de todo o sermão, correspondendo,
assim, ao Exórdio.
Dica
Primeiro, identifica as 1.2. Explicita a importância das referências a Cristo e a Santo António.
diferentes referências
a Cristo e a Santo Cristo e Santo António são argumentos de autoridade que o pregador
António; só depois
deves comentar a sua apresenta para persuadir os ouvintes da força da sua mensagem. Santo
importância.
António é também um exemplo a seguir, já que fornece a solução para a terra
que não se deixa salgar, situação com a qual o pregador se identifica.
Dica
Antes de responderes à 1.3. Comenta a expressividade das interrogações retóricas.
questão, sublinha no
texto as interrogações As interrogações retóricas que surgem ao longo do excerto servem para
retóricas.
captar a atenção dos ouvintes. São uma estratégia ao serviço da eloquência
e da intenção persuasiva do sermão.

72
4
“Sermão de Santo António”

1.4. Identifica e explicita o valor do(s) recurso(s) expressivo(s) presente(s) na linha


21: “Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar…”.
Esta passagem evidencia um paralelismo de construção, resultado da
repetição das formas verbais “Deixa” e “vai” (anáfora), cujo significado
é precisamente oposto (antítese), denotando uma mudança de
comportamento por parte de Santo António.

Resolve 1. Lê o excerto do “Sermão de Santo António” que se segue.

tu!
O leme da natureza humana
O leme da natureza humana é o alvedrio1; o piloto é a razão: mas quão poucas
vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porém,
tão desobediente e rebelde, mostrou a língua de António quanta força tinha, como
rémora, para domar e parar a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo
5 fortuna na nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que
também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua
de António, como rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem,
como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos,
embarcados na nau Vingança, com a artilharia abocada2 e os bota-fogos3 acesos,
10 corriam enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a

Notas vocabulares
rémora da língua de António lhes não detivesse a fúria, até que composta a ira e o
1 alvedrio: determinação ódio, com bandeiras de paz, se salvassem amigavelmente? Quantos, navegando na
da vontade nau Cobiça, sobrecarregada até às gáveas e aberta com o peso por todas as costuras,
2 abocada: apanhada incapaz de fugir, nem se defender, dariam nas mãos dos corsários com perda do que
com a boca
15 levavam e do que iam buscar, se a língua de António os não fizesse parar, como
3 bota-fogos: pedaços
de corda com alcatrão rémora, até que aliviados, da carga injusta, escapassem do perigo e tomassem porto?
com os quais se VIEIRA, Padre António (2014). Sermão de Santo António.
comunicava o fogo à
Porto: Porto Editora [p. 23].
pólvora dos canhões
antigos
1.1. Localiza o excerto na estrutura externa e interna da obra.

1.2. Mostra como o excerto apresentado constitui um exemplo do discurso figura-


tivo característico deste sermão.

1.3. Explicita o valor da enumeração presente ao longo do excerto.


GESTP11 © Porto Editora

73
Educação Literária

2. Lê um outro excerto da mesma obra.

Atividade As roncas do mar


É possível que, sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do

GESTP11 © Porto Editora


mar?! Se com uma linha de coser e um alfinete torcido vos pode pescar um aleijado,
porque haveis de roncar tanto? Mas por isso mesmo roncais. Dizei-me: o espadarte
porque não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca
Notas vocabulares 5 língua. Isto não é regra geral; mas é regra geral que Deus não quer roncadores, e que
1 Malco: servo do Sumo tem particular cuidado de abater e humilhar aos que muito roncam. S. Pedro, a
Sacerdote ao qual
S. Pedro cortou a orelha quem muito bem conheceram os vossos antepassados, tinha tão boa espada que ele
direita só avançou contra um exército inteiro de soldados romanos; e, se Cristo lha não
2 Tinha […] barbateado: mandara meter na bainha, eu vos prometo que havia de cortar mais orelhas que a
Tinha-se vangloriado de
10 de Malco1. Contudo, que lhe sucedeu naquela mesma noite? Tinha roncado e
3 fraqueassem:
fraquejassem barbateado2 Pedro que, se todos fraqueassem3, só ele havia de ser constante até
4 horto: Jardim das morrer, se fosse necessário; e foi tanto pelo contrário que só ele fraqueou mais que
Oliveiras todos, e bastou a voz de uma mulherzinha para o fazer tremer e negar. Antes disso
5 blasonar: vangloriar-se
já tinha fraqueado na mesma hora em que prometeu tanto de si. Disse-lhe Cristo no
de qualidades que não
se tem 15 horto4 que vigiasse, e vindo daí a pouco a ver se o fazia, achou-o dormindo com tal
descuido, que não só o acordou do sono, senão também do que tinha blasonado […].
O muito roncar antes da ocasião é sinal de dormir nela. Pois que vos parece, irmãos
roncadores? Se isto sucedeu ao maior pescador, que pode acontecer ao menor
peixe? Medi-vos, e logo vereis quão pouco fundamento tendes de blasonar5, nem
20 roncar.
VIEIRA, Padre António (2014). Sermão de Santo António.
Porto: Porto Editora [pp. 45-46, com supressões].

2.1. Integra o excerto na globalidade da obra.

2.2. Caracteriza o tipo humano simbolizado pelos peixes roncadores, tendo em


conta a crítica social subjacente à obra.

2.3. Refere a consequência do comportamento destes peixes.

2.4. Interpreta o recurso à apóstrofe nas linhas 17-18: “Pois que vos parece, irmãos
roncadores?”

74
Gramática
TEORIA

9.2.2. Coesão gramatical

GESTP11 © Porto Editora


Estes conteúdos Mecanismos que asseguram a coesão gramatical
relacionam-se com:
as classes de palavras • Anáfora – um pronome retoma o nome/expressão anterior (antecedente)
(páginas 173 e 174),
Ex.: Abri a porta e, de seguida, fechei-a.
a coordenação e a
subordinação (página • Catáfora – um pronome antecede o nome ou expressão a que se refere
186). Ex.: Essa é uma excelente narrativa, “A Abóbada”!
Referencial
• Correferência não anafórica – duas ou mais expressões têm o mesmo
referente, mas não dependem uma da outra para que o referente seja
identificado, dizendo-se, por isso, que são correferentes.
Ex.: Eça de Queirós / o autor de Os Maias
• Expressões adverbiais ou preposicionais com valor temporal
Vídeo Ex.: Ao amanhecer, levantei-me. De seguida, saí de casa.
• Ordenação correlativa de tempos verbais
Temporal
Ex.: Naquele dia, levantei-me cedo, mas só sairia de casa ao meio-dia.
• Conexões temporais (orações subordinadas adverbiais temporais)
Ex.: Quando amanheceu, levantei-me.
Atividade
• Ordenação das palavras e das funções sintáticas na frase
Ex.: Ofereci flores à minha mãe.
• Complementos exigidos pelo verbo/regências
Frásica
Ex.: Saí do aeroporto e fui para casa.
• Concordância (sujeito – predicado, determinante – nome…)
Ex.: As flores amarelas foram colocadas na jarra.
• Processos de coordenação e de subordinação
Interfrásica • Conectores discursivos (palavras ou expressões que sinalizam nexos/
conexões entre as partes de um texto)

Exemplos de conectores discursivos

Adição Ex.: e, adicionalmente, ainda, além disso, igualmente, também, de novo


Dica
Os conectores Contraste Ex.: mas, ainda assim, mesmo assim, apesar de, contudo, no entanto, porém
estabelecem ligações. Confirmação Ex.: efetivamente, com efeito, de facto, na verdade
Há situações em que os
conectores marcam Reformulação Ex.: isto é, ou seja, quer dizer, ou melhor, por outras palavras
especificamente:
• o início de partes do Exemplificação Ex.: por exemplo, em particular, especificamente, nomeadamente
texto – Em primeiro Explicação Ex.: assim, deste modo, por esta razão, pois
lugar… Em segundo
lugar, de seguida, Conclusão Ex.: portanto, por conseguinte, pois
seguidamente…
Por último, por fim, Consequência Ex.: consequentemente, em consequência
finalmente… Causa Ex.: uma vez que, porque, dado que, como, visto
• o fecho do texto – Em
síntese, sintetizando, Síntese Ex.: assim, em conclusão / resumo / síntese / suma
em suma,
para concluir, Alternativa Ex.: ou, em alternativa, alternativamente
concluindo, Tempo Ex.: quando, mal, apenas, enquanto, logo que, assim que, até que, antes de
em conclusão…
Espaço Ex.: ao centro, em cima, em baixo, num canto… aqui, ali, ao fundo
Finalidade Ex.: para, para que, a fim de, a fim de que
Comparação Ex.: mais… do que, menos… do que, assim como, bem como, como se

196
5
9. Texto e interação discursiva

9.3. Registos de língua e atos de fala


Ao analisar uma situação de comunicação, é necessário ter em conta:
• os registos de língua (grau de formalidade, relação hierárquica entre os parti-
Atividade

cipantes, modo oral ou escrito da interação);


• os diversos atos de fala.
Registos de língua Atos de fala

Registo formal Ato diretivo


Nota • Utilizado em situações formais, O locutor pretende que o ouvinte atue conforme a sua
Os atos de fala no modo oral ou escrito vontade.
relacionam-se com a
intenção comunicativa • Registo cuidado: correção Ex.: ordem, convite, pedido
de quem fala. Podem linguística, vocabulário rico, Ato assertivo
ser: assertivo e diversificado,
• diretos: a O locutor responsabiliza-se pela veracidade do que diz.
formas de tratamento formais
intencionalidade Ex.: asserção, constatação
comunicativa é Ex.: o senhor, Senhor Doutor
explícita; Ato expressivo
• indiretos: a Registo informal
O locutor expressa o seu estado de espírito.
intencionalidade • Utilizado em situações
comunicativa está Ex.: agradecimento, pedido de desculpas
informais, no modo oral ou
implícita no que se Ato compromissivo
diz. escrito
• Menor preocupação com a O locutor responsabiliza-se por uma ação futura.
linguagem: construções Ex.: promessa, ameaça
frásicas e vocabulário simples, Ato declarativo
formas de tratamento informais
O locutor, numa determinada posição social, cria uma
Ex.: tu, vocês
nova realidade.
Ex.: batismo, casamento, nomeação

9.4. Dêixis
Deíticos Marcas linguísticas
Nota
A palavra “dêixis”
significa ação de
Remetem para o • Formas de 1.ª e 2.ª pessoa (determinantes, pronomes,
mostrar/apontar. Deíticos enunciador e o flexão verbal)
pessoais destinatário • Vocativo
(EU-TU)
• Formas de tratamento
Remetem para o • Determinantes e pronomes demonstrativos
espaço em que • Advérbios e expressões que se referem ao lugar em que
Deíticos se fala se fala
espaciais (AQUI) Ex.: aqui, ali, acolá, cá, além, neste/nesse/naquele lugar
• Algum léxico:
Ex.: ir, vir, chegar, sair
Remetem para o • Advérbios e expressões que se referem ao tempo em que
tempo em que se fala
GESTP11 © Porto Editora

Deíticos
temporais se fala Ex.: agora, ontem, hoje, amanhã, já, neste momento
(AGORA) • Alguns tempos verbais: presente, pretérito, futuro

197

Você também pode gostar