Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
º ano
Educação Literária
Lê os dois textos e as notas. Na resposta aos itens, tem em consideração ambos os textos.
CASTELO BRANCO, Camilo, 2015. Amor de Perdição. Porto: Porto Editora (p. 46)
20 – Senhor rei – disse o cego, erguendo a fronte, que até ali tivera curvada –, vós tendes um
cetro e uma espada; tendes cavaleiros e besteiros 7; tendes ouro e poder: Portugal é vosso, e
tudo quanto ele contém, salvo a liberdade de vossos vassalos: nesta nada mandais. Não!… vos
digo eu: não serei quem torne a erguer essa derrocada abóbada! Os vossos conselheiros
julgaram-me incapaz disso: agora eles que a alevantem.
25 As faces de D. João I tingiram-se do rubor do despeito8.
– Lembrai-vos, cavaleiro – disse ele –, de que falais com D. João I.
– Cuja coroa – acudiu o cego – lhe foi posta na cabeça por lanças, entre as quais reluzia o
ferro da que eu brandia. D. João I é assaz nobre e generoso, para não se esquecer de que
nessas lanças estava escrito: Os vassalos portugueses são livres.
30 – Mas – tornou el-rei – os vassalos que desobedecem aos mandados daquele em cuja casa
têm acostamento9 podem ser privados da sua moradia…
– Se dizeis isso pela que me destes, tirai-ma; que não vo-la pedi eu. Não morrerei de fome;
que um velho soldado de Aljubarrota achará sempre quem lhe esmole uma mealha 10; e quando
haja de morrer à míngua de todo humano socorro, bem pouco importa isso a quem vê
35 arrancarem-lhe, nas bordas da sepultura, aquilo por que trabalhou toda a vida: um nome
honrado e glorioso.
Dizendo isto, o velho levou a manga do gibão aos olhos baços e embebeu nela uma lágrima
mal sustida. El-rei sentiu a piedade coar-lhe no coração comprimido de despeito e dilatar-lho
Educação Literária
suavemente. Uma das dores de alma que, em vez de a lacerar 11, a consolam, é sem dúvida a
compaixão.
Educação Literária
40 – Vamos, bom cavaleiro – disse el-rei pondo-se em pé –, não haja entre nós doestos 12. O
arquiteto do Mosteiro de Santa Maria vale bem o seu fundador! Houve um dia em que nós
ambos fomos pelejadores13: eu tornei célebre o meu nome, a consciência mo diz, entre os
príncipes do Mundo, porque segui avante por campos de batalha; ela vos dirá, também, que a
vossa fama será perpétua, havendo trocado a espada pela pena com que traçastes o desenho
45 do grande monumento da independência e da glória desta terra. Rei dos homens do aceso
imaginar, não desprezeis o rei dos melhores cavaleiros, os cavaleiros portugueses!
1. o académico: Simão; 2. sezões: febres intensas, intensamente (figurado); 3. entumecidas: inchadas; 4. jornada: viagem; 5. frenesis: impaciências,
inquietações; 6. galas: trajes de cerimónia usados em dias festivos; 7. besteiros: soldados armados de bestas (armas); 8. despeito: ressentimento por
ofensa ou desconsideração; 9. acostamento: morada; 10. mealha: antiga moeda de cobre equivalente a meio ceitil; 11. lacerar: despedaçar, rasgar;
12. doestos: acusações, injúrias; 13. pelejadores: combatentes.
Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada.
1. Simão e Afonso Domingues apresentam características que permitem defini-los como heróis
românticos.
1.1. Explica o modo como uma dessas características, comum a ambas as personagens, se
manifesta em cada uma delas.
Na tua resposta, começa por identificar a característica comum às personagens.
Nos excertos transcritos, são utilizados recursos que contribuem para a expressividade do
discurso.
Assim, em «foi o primeiro conselho que lhe segredou a fúria do ódio» (ll. 7-8) está presente a
_____(a)_____ que contribui para o conhecimento _____(b)_____ da personagem.
No final do segundo excerto, a apóstrofe «Rei dos homens do aceso imaginar» (l. 45) integra
também uma perífrase, através da qual D. João I se refere aos _____(c)_____.
Sugestões de resolução