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. Classificação tipológica da obra: romance histórico, género introduzido por Alexandre Herculano em
Portugal, que tem como pano de fundo a construção do Mosteiro da Batalha (ou Mosteiro de Sta Maria da
Vitória), nos finais do século XIV, para celebrar a vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota.
Partindo desse facto histórico, o autor faz uma efabulação da história, reconstituindo o passado
através da imaginação do escritor.
. Alguns elementos dessa reconstituição são os seguintes: assunto nacional, fundado na História de
Portugal; personagens da História de Portugal, como D. João I, João das Regras ou Brites de Almeida, a
padeira de Aljubarrota; o sentimento anticastelhano; a religiosidade popular, através da representação
de um auto alegórico.
. Esta reconstituição pretende criar um sentimento nacional baseado nas condutas exemplares de heróis
do passado, como os seguintes: Mestre de Aviz ou D. João I – a exaltação das qualidades guerreiras dos
portugueses na batalha de Aljubarrota; Afonso Domingues versus Mestre Ouguet – a valorização das
qualidades dos portugueses em detrimento das dos estrangeiros; Brites de Almeida (padeira de
Aljubarrota) – valorização da independência; Frei Lourenço Lampreia – a presença do cristianismo.
RESUMO:
A história tem como centro a construção da abóbada do Mosteiro de Santa Maria da Vitória ou Mosteiro da
Batalha, que fixou a vitória dos portugueses aos castelhanos na Batalha de Aljubarrota. O arquiteto Afonso
Domingues lutou na guerra nas tropas do rei D. João I e, a pedido deste, projetou uma maravilhosa
abóbada para o mosteiro. Ele, porém, fica cego e, para completar a tarefa, el-rei demite Afonso Domingues
e contrata um arquiteto irlandês, Mestre Ouguet.
O arquiteto irlandês altera então o projeto da abóbada e esta acaba desabando. Após muitas desculpas do
rei, Afonso Domingues aceita o emprego de volta e acaba morrendo depois de três dias de jejum sob a
abóbada e de concluir que ela, construída da maneira como ele a projetara, não cairá. Ouguet, que o
tempo todo ria do velho cego, arrepende-se humildemente e torna-se admirador de Afonso Domingues. O
estrangeiro arrogante, portanto, acaba reconhecendo que o honrado português é que estava certo.
Estrutura Interna e Externa:
Introdução: O cego (Capítulo I)
Apresentação das personagens e da situação inicial – Afonso Domingues fora afastado da direção das
obras do Mosteiro da Batalha.
Assunto: chegada do povo ao Mosteiro da Batalha
Contextualização temporal da ação.
Caracterização física e psicológica de Afonso Domingues.
Diálogo entre dois frades em que se dão a conhecer os preparativos do auto.
Diálogo entre Afonso Domingues e Frei Lourenço Lampreia.
Comentário de Ana Margarida sobre a velhice.
Chegada do rei.
Mestre Ouguet e Afonso Domingues: mostra um certo desdém, traduzindo também uma certa rivalidade
profissional, por isso demonstra sempre a sua ironia e a sua hipocrisia em relação ao velho arquiteto.
Afonso Domingues e D. João I: Apesar da hierarquia, tinham uma relação baseada no respeito, admiração,
amizade do ressentimento por ter sido afastado das obras do «seu livro de pedra», Afonso Domingues
devota ao rei a admiração e a lealdade de um homem livre. Sente-se «desagravado» na sua honra ao ser-
lhe devolvida a responsabilidade pelo fecho
da abóbada da Casa do Capítulo, que entretanto tinha desabado.
D. João I e Mestre Ouguet: D. João I não aprecia a arrogância de Mestre Ouguet e repreende-o por ter
mudado os planos da construção da abóbada sem ter consultado Afonso Domingues, que considera o maior
arquitecto português.
João das Regras e o Condestável: João das Regras, homem de letras, mantém com D. Nuno Álvares, o
Condestável, alguma rivalidade por este não ser um homem letrado. Já o Condestável era, segundo o
narrador, um homem mais de obras do que de palavras.
Herói romântico / Mito do escritor romântico: Mestre Afonso Domingues representa em «A abóbada» o
herói tipicamente romântico, pois é a figura do velho português ferido na honra por ter sido desapossado do
encargo de construir a abóbada da Casa do Capítulo do Mosteiro de Aljubarrota. É um homem cego e
amargurado, inconformado, insubmisso, que se revolta contra esse facto, mas que aceita voltar à direção
das obras ao ser desagravado pelo rei. Mostrou o seu temperamento de homem inabalável nas suas
convicções quando jurou sentar-se durante três dias e três noites em jejum debaixo da abóbada que
reerguera. Não resistiu à provação, mas antes de morrer pôde afirmar: «A abóbada não caiu… a abóbada
não cairá!». Apesar de se sentir incompreendido, era um homem justo, persistente, um ser superior,
excecional.
Linguagem: Alexandre Herculano utiliza em geral frases longas e solenes tanto no discurso indireto como
no direto. As intervenções das personagens são, em geral, feitas de forma enfática, quase declamatória,
com um vocabulário por vezes arcaizante.
Comparação: «De repente toda aquela multidão se agitou, remoinhou pela igreja e principiou a borbulhar
pelo portal fora, como por bico de funil o líquido deitado por alto.» (Capítulo II)
Enumeração: «De repente toda aquela multidão se agitou, remoinhou pela igreja e principiou a borbulhar
pelo portal fora, como por bico de funil o líquido deitado por alto.» (Capítulo II)
Metáfora: «[…] aquela página do imenso livro de pedra a que os espíritos vulgares chamam simplesmente o
Mosteiro da Batalha» (Capítulo I)
Personificação: «[…] a idolatria começou seu arrazoado contra a Fé, queixando-se de que ela a pretendia
esbulhar da antiga posse em que estava de receber cultos de todo o género humano, […]» (Capítulo III)
Discurso direto e indireto: «Pediu-me que o mandasse chamar apenas fosseis chegado.» (Capítulo V)
«– […] e deste a teu tio Martim Vasques o meu recado? Senhor, sim! Envia-vos ele a dizer que tudo está
prestes.» (Capítulo V).