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Teste de avaliação de Português, 11.

º Ano
(Aluno ao abrigo do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro)

Unidade 3 Alexandre Herculano, A Abóbada


Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.
Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Deves riscar aquilo que pretendes que não seja classificado.
Para cada resposta, identifica o grupo e o item.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responderes, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final dos mesmos.

GRUPO I (100 PONTOS)

A
Lê o texto a seguir transcrito.
Neste momento entrava o velho arquiteto, agarrado ao braço de Álvaro Vaz de Almada, que o veio
guiando para o topo da desmesurada banca de carvalho, à roda da qual se travara o diálogo que acima
transcrevemos.
— Dom donzel, onde é que está el-rei? — dizia Afonso Domingues ao pajem, caminhando com
5 passos incertos ao longo do vasto aposento.
D. João I, que ouvira a pergunta, respondeu em vez do pajem:
— Agora nenhum rei está aqui, mas sim o Mestre de Avis, o vosso antigo capitão, nobre cavaleiro de
Aljubarrota.
— Beijo-vos as mãos, senhor rei, por vos lembrardes ainda de um velho homem de armas que para
10 nada presta hoje. Vede o que de mim mandais; porque, de vossa ordem, aqui me trouxe este bom
donzel.
— Queria ver-vos e falar-vos; que de coração vos estimo, honrado e sabedor arquiteto do Mosteiro
de Santa Maria.
— Arquiteto do Mosteiro de Santa Maria, já o não sou: vossa mercê me tirou esse encargo; sabedor,
15 nunca o fui, pelo menos muitos assim o creem, e alguns o dizem. Dos títulos que me dais só me cabe
hoje o de honrado; que esse, mercê de Deus, é meu, e fora infâmia roubá-lo a quem já não pode pegar
em um montante para defendê-lo.
— Sei, meu bom cavaleiro, que estais mui torvado comigo por dar a outrem o cargo de mestre das
obras do mosteiro: nisso cria eu fazer-vos assinalada mercê. Mas, venhamos ao ponto: sabeis que a
20 abóbada do Capítulo desabou ontem à noite?
— Sabia-o, senhor, antes do caso suceder.
— Como é isso possível?!
— Porque todos os dias perguntava a alguns desses poucos obreiros portugueses que aí restam
como ia a feitura da casa capitular. No desenho dela pusera eu todo o cabedal de meu fraco engenho, e
25 este aposento era a obra-prima de minha imaginação. Por eles soube que a traça primitiva fora alte-
rada e que a juntura das pedras era feita por modo diverso do que eu tinha apontado. Profetizei-lhes
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então o que havia de acontecer. E — acrescentou o velho, com um sorriso amargo — muito fez já o meu
sucessor em por tal arte lhe pôr o remate que não desabasse antes das vinte e quatro horas.
— E tínheis vós por certo que, se vossa traça se houvera seguido, essa desmesurada abóbada não
30 viria a terra?
— Se estes olhos não tivessem feito com que eu fosse posto de banda como uma carta de testa-
mento antiga, que se atira, por inútil, para o fundo de uma arca, a pedra do fecho dessa abóbada não
teria de vir esmigalhar-se no pavimento antes de sobre ela pesarem muitos séculos; mas os de vosso
conselho julgaram que um cego para nada podia prestar.
35 — Pois, se ousais levar a cabo vosso desenho, eu ordeno que o façais, e desde já vos nomeio de
novo mestre das obras do mosteiro e David Ouguet vos obedecerá.
— Senhor rei — disse o cego, erguendo a fronte, que até ali tivera curvada —, vós tendes um cetro e
uma espada; tendes cavaleiros e besteiros; tendes ouro e poder: Portugal é vosso, e tudo quanto ele
contém, salvo a liberdade de vossos vassalos: nesta nada mandais. Não!… vos digo eu: não serei quem
40 torne a erguer essa derrocada abóbada! Os vossos conselheiros julgaram-me incapaz disso: agora eles
que a alevantem.
HERCULANO, Alexandre (2014). A Abóbada. Porto: Porto Editora [pp. 57-60]

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Indica as personagens intervenientes no diálogo. (20 pontos)

2. Identifica as duas relações que se estabelecem entre as personagens. (20 pontos)

3. Explicita o significado da expressão sublinhada no excerto seguinte. (20 pontos)

“E — acrescentou o velho, com um sorriso amargo — muito fez já o meu


sucessor em por tal arte lhe pôr o remate que não desabasse antes das vinte e
quatro horas.” (ll. 27-28)

B
Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem.
4. Completa o texto com as palavras indicadas. (40 pontos)

A Abóbada é uma ____a._____ (narrativa/tragédia/epopeia) em que se exalta o


patriotismo. A atestá-lo estão a referência à edificação do Mosteiro ____b.____
(de Aljubarrota/da Batalha/dos Jerónimos), a Batalha _____c._____ (do
Salado/de Aljubarrota/ de Alcácer Quibir), a aclamação _____d._____ (do mestre
de Avis/de D. Afonso Henriques/de D. João V) como rei de Portugal e o
nacionalismo – valorização da cultura ____e._____ (espanhola/francesa/
portuguesa).

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G R U P O II (50 PONTOS)

Lê o texto seguinte.

O dia em que as Capelas Imperfeitas ruíram


Dois remates de pináculo com 100 quilogramas cada, um da fachada do
portal principal, outro da fachada da porta lateral, caíram do Mosteiro de Santa
Maria da Vitória, na Batalha, pondo em risco o valor do Monumento como
Monumento Mundial pela UNESCO.
5 Um sinal de que aquilo que as Capelas Imperfeitas significam já nada tem a
ver com o Portugal do século XXI.
A simples notícia de estragos no Mosteiro da Batalha é o suficiente para gelar a
consciência de qualquer português que conheça o peso que o edifício tem na cons-
ciência coletiva. O Monumento é uma afirmação em pedra da II Dinastia e a sua
10 construção, que se seguiu à vitória de D. Nuno Álvares Pereira em Aljubarrota, pro-
longou-se por gerações e que permanece ainda hoje por terminar nas Capelas
Imperfeitas, um testamento em vida do monarca D. Duarte I.
Poucos países se podem dar ao luxo de ter na sua História monumentos que ma-
terializem a história da Nação como um plano concebido e idealizado. Monumentos
15 que justificam e ampliam os fundamentos da nacionalidade. O Convento
de Cristo, em Tomar, o Mosteiro da Batalha, em Aljubarrota, e o binómio Convento
de Mafra-Baixa Pombalina são os três exemplos maiores de uma comunidade que se
soube reinventar e conceber futuros maiores para uma Nação e uma Europa de-
masiado preocupadas com a sobrevivência diária.
20 D. Duarte ficou conhecido por ter escrito vários tratados de Ética e Moral num
período da história europeia onde esta parecia escassear. As suas obras dirigiam-se à
nobreza nascente que, amiúde, misturava o seu interesse particular com o bem
geral. O Panteão que mandou construir para si no Mosteiro da Batalha é um testa-
mento vivo da grandeza intelectual do monarca e um símbolo maior da Identidade
25 portuguesa, pois a sua não conclusão (daí serem “imperfeitas”) representa o senti-
mento nacional de um projeto que ficou por acabar: tema encontrado com frequên-
cia em Fernando Pessoa e que fundamenta o messianismo pessoano.
O Panteão é um octógono (tal como a Charola do Convento de Cristo em Tomar)
que mais não é do que a estilização da rosa, que, na Idade Média, simbolizava Re-
30 nascimento, que pode ser igualmente encontrada (mais uma vez estilizada) na Cruz
da Ordem de Cristo ao centro com uma cruz branca. Mesmo Lisboa, construída em
função do dia 24 de junho (nascimento de S. João Baptista) justifica (debate que não
caberia num post) que ser-se português, longe de ser uma questão de sangue, reli-
gião ou território, é um ato de consciência, um processo de identificação com um
35 projeto que ultrapassa as gerações e as fronteiras territoriais.
A importância das Capelas é indiscutível no seio da Identidade Nacional; já mais
discutível é a relevância concreta desta no presente e futuro de Portugal do século
XXI. […]
Quando cai uma pedra do Mosteiro da Batalha, não é um pedregulho que cai
40 mas sim um sinal de 8 séculos e 22 gerações que se levantam perante o imenso ridí-
culo que se apossou de nós.
Estará a rosácea das Capelas Imperfeitas a colapsar?

RGS, O Manto do rei [em linha, consult. 30-01-2016, com supressões]

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1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção
escolhida.
1.1. O texto adota o género textual (5 pontos)
a. exposição sobre um tema.
b. apreciação crítica.
c. artigo de opinião.
1.2. Ao longo do texto aborda-se como tema predominante (5 pontos)
a. a viagem.
b. o nacionalismo.
c. a religião.
1.3. Na expressão “O Monumento é uma afirmação em pedra da II Dinastia” (l. 9), está
presente uma (5 pontos)
a. metáfora.
b. personificação.
c. comparação.

1.4. No segundo parágrafo, estabelece-se uma relação (5 pontos)


a. de analogia entre Portugal e outros países.
b. de oposição entre Portugal e os outros países.
c. de contraste entre o Convento de Cristo, o Convento de Mafra e o Mosteiro da Batalha.
1.5. Para o autor do texto, o tema do messianismo (5 pontos)
a. está presente na literatura e na arquitetura.
b. opõe-se ao tema do nacionalismo.
c. carece de fundamentação teórica consistente.
1.6. A informação apresentada entre parêntesis nas linhas 32 e 33 remete para (5 pontos)
a. o tema do texto.
b. o contexto de produção do texto.
c. a estrutura interna do texto.
1.7. No contexto em que surge, o constituinte “com a sobrevivência diária.” (l. 19)
desempenha a função sintática de (5 pontos)
a. complemento do adjetivo.
b. modificador restritivo do nome.
c. complemento do nome.

2. Responde aos itens apresentados.


2.1. Explicita o processo de coesão lexical que ocorre na expressão sublinhada. (5 pontos)

“Quando cai uma pedra do Mosteiro da Batalha, não é um


pedregulho que cai mas sim um sinal de 8 séculos e 22 gerações
que se levantam perante o imenso ridículo que se apossou de
nós.” (ll. 39-41)

2.2. Transcreve a oração subordinada presente na frase seguinte. (10 pontos)


“As suas obras dirigiam-se à nobreza nascente que, amiúde, misturava
o seu interesse particular com o bem geral.” (ll. 21-23)

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G R U P O III (50 PONTOS)

1. Redige um texto de opinião sobre a situação representada no cartoon apresentado abaixo.


O teu texto deverá conter um mínimo de cem e um máximo de duzentas palavras e
respeitar as seguintes características:
• explicitação de um ponto de vista;
• clareza dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos.

Alessandro Gatti, “Janela”, Museu Virtual do Cartoon

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