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Capítulo 1

INTRODUÇÃO ÀS
CARTAS PASTORAIS

Um representante de uma grande empresa de negócios,


ofereceu certa vez ao pastor de uma certa igreja, uma posição
de liderança nessa firma e um alto salário para combinar. O
pastor recusou a oferta, dizendo que o salário não era suficiente.
Por fim o representante voltou e lhe ofereceu mais dinheiro; no
entanto, quando o pastor recusou também a esta oferta, o repre-
sentante lhe perguntou porque o salário sendo tão alto, não
lhe seria suficiente. O pastor respondeu que a oferta de salário
estava boa, mas o trabalho era que não estava à altura. Ele consi-
derava que o trabalho que estava fazendo, era o trabalho mais
importante do mundo.

Os ministros estão fazendo o trabalho mais importante no


mundo. Nenhum negócio pode lidar com assuntos tão valiosos
como o da alma humana. Nenhum assunto na terra pode mesmo
se aproximar em importância dos assuntos eternos. É com assuntos

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

e almas eternos que os ministros lidam. Se você está envolvido


em qualquer tipo de ministério da igreja, então precisa estar na
verdade ocupado com um “grande trabalho”! Assim, você precisa
fazer tudo e aprender tudo o que puder, para fazer seu trabalho
tão bem quanto possível. As cartas pastorais foram escritas para
ajudar os ministros no seu trabalho. Espero que este curso lhe
dê um melhor entendimento sobre elas, para que possa aplicar
à sua situação, os princípios que elas ensinam.

POR QUE CARTAS PASTORAIS?

As cartas pastorais recebem esse nome porque, ao contrário


das outras cartas do Novo Testamento (com exceção de Filemom),
são escritas a pastores individuais, ao invés de às igrejas. É este
fator, dentre outros, que as tornam três dos livros mais inte-
ressantes, úteis e excitantes do Novo Testamento – e na verdade
de toda a Bíblia.

Embora as cartas pastorais sejam úteis para todos os cris-


tãos, elas são de uso muito especial para você, pastor ou líder,
ajudando-o a compreender e a realizar seu trabalho na igreja.
Tanto Timóteo quanto Tito, cujos nomes aparecem nas páginas
de título de sua Bíblia, eram pastores. Eles eram homens rela-
tivamente jovens, que enfrentavam muitos dos problemas que
você vai encontrar no seu ministério. Nestes três livros, Deus
nos deu respostas para muitas das perguntas e dificuldades que
enfrenta todo pastor. Reunidas, as cartas pastorais tornam-se
verdadeiramente num livro texto para um ministério agradável
a Deus e uma igreja saudável.

As cartas pastorais não são somente únicas, no sentido se


serem dirigidas a indivíduos, ao invés de a igrejas, mas também

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

quanto ao vocabulário que elas usam. Muitas das palavras que


aparecem nas cartas não aparecem em nenhum outro lugar
no Novo Testamento. Isto é parcialmente devido à natureza
distinta dos assuntos tratados: o ministério e a igreja. Paulo
lida com assuntos nas cartas pastorais, que ele não aborda em
nenhum outro lugar, ou o faz somente de passagem. Além disso,
Paulo escreveu estas cartas quase bem no final de sua vida, e
isto ajuda a explicar porque seu vocabulário tinha aumentado.
Paulo gostava de “inventar” palavras novas dele mesmo, algo
que a língua grega permitia em si mesma.

Esta discussão da linguagem das cartas pastorais é espe-


cialmente importante hoje. Certos estudiosos dizem que, como
tantas palavras nas cartas pastorais não ocorrem em outra
parte do Novo Testamento, Paulo não poderia ter escrito estas
cartas. Duas propostas foram feitas. Uns crêem que outra pessoa
tenha escrito as cartas. Outros pensam que alguém usou partes
de cartas que Paulo escreveu e misturou estes elementos com
suas próprias idéias para compor cartas que parecessem ter sido
escritas por Paulo.

À medida que respondemos à esta questão de autoria, preci-


samos ter em mente as considerações que acabamos de fazer, isto
é, de que Paulo escreveu esta carta na parte ulterior de sua vida,
e que nelas escreveu a respeito de assuntos diferentes. Também
precisamos lembrar que algumas das outras cartas de Paulo, acerca
da autoria das quais os estudiosos não questionam, contêm pala-
vras que não ocorrem noutro lugar. Consequentemente, o fato das
cartas pastorais terem palavras que não aparecem em outro lugar,
não deveria nos causar algum alarme.

Finalmente, precisamos ter em mente o fato das cartas


pastorais terem sido quase unanimemente aceitas pela igreja

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

através de toda sua história, até o princípio do século deze-


nove. Somente então, realmente alguns críticos expressaram
dúvidas acerca da autoria das cartas pastorais. Isso deveria
fazer-nos muito cautelosos acerca das dúvidas de alguns estudiosos
modernos e das razões que dão para suportar seus argumentos.

A RELAÇÃO DAS CARTAS PASTORAIS


COM O LIVRO DE ATOS

Ocasionalmente o mundo acadêmico histórico fica exci-


tado com a descoberta de um diário perdido ou de um manus-
crito pertencente a uma pessoa famosa ou importante. Imedia-
tamente, novos fatos são trazidos à luz acerca daquela pessoa,
e nova luz é lançada sobre sua vida. As cartas pastorais não são
descobertas novas; entretanto, um novo exame delas revelará
alguns fatos excitantes e pouco conhecidos sobre a vida do após-
tolo Paulo, e daqueles com quem trabalhava. Primeiramente,
vamos fazer algum “trabalho de detetive”.

Enquanto Paulo esteve aprisionado em Roma, escreveu


várias cartas. Em algumas delas ele expressa a esperança de que
será logo solto para poder visitar as pessoas interessadas. Em sua
carta a Filemom (algumas vezes colocada entre as cartas pasto-
rais por causa de sua natureza pessoal), ele expressa a esperança
de o visitar (Filemom 22). Da mesma maneira, em Filipenses
2:24, Paulo expressa a esperança de que poderá “brevemente ir”
ter com seus amigos lá em Filipos. Nenhuma destas cartas, nem
o livro de Atos nos dizem se Paulo realmente fez estas visitas.

O livro de Atos termina com Paulo na prisão, mas estas


outras cartas mostram que ele tinha esperança e mesmo expec-
tativa de ser solto. Atos termina antes que nos diga o que

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

aconteceu com Paulo, contudo haveria qualquer outra evidência


que nos possa dizer o que aconteceu com ele? Com esta pergunta em
mente, vamos ver algumas referências adicionais em outras cartas.

Em 1 Timóteo 1:3, Paulo está escrevendo a Timóteo. Aqui


o apóstolo lembra o jovem ministro que tinha instado para
que ele permanecesse em Éfeso. Conquanto pareça que Paulo
tivesse estado com Timóteo em Éfeso, Paulo também menciona
ter ido à Macedônia. Em Tito 1:5 encontramos uma referência
interessante quanto a Paulo ter estado em Creta, onde, nesse
caso, teria deixado Tito para trás para fazer algum trabalho.
Lendo adiante em Tito 3:12, achamos Paulo em Nicópolis onde
está esperando o inverno passar. O mais interessante é que geral-
mente se concorda que esses eventos não podem se encaixar na
estrutura histórica de Atos. A questão então se levanta: “Quando
essas coisas ocorreram?”

As perguntas adicionais levantadas pelos estudiosos são


estas: “Paulo foi solto no final de Atos?” e “Foi dessa feita que ele
fez essas visitas?”. A resposta que propomos para ambas perguntas,
como a maioria dos estudiosos da Bíblia evangélicos faz, é “Sim.”
Mas antes disso, haveria alguma evidência adicional da soltura
de Paulo? 2 Timóteo dá algumas pistas acerca desse assunto.

Em 2 Timóteo 1:16-17 encontramos Paulo uma vez mais em


Roma. Agora, no entanto, ele não está mais “na sua própria casa
alugada” onde tinha estado no fim de Atos, durante seu primeiro
aprisionamento em Roma. Ao contrário, ele estava na prisão. Agora
ele não estava mais esperando ser solto, como estivera fazendo na
ocasião anterior. Ao invés disso, está esperando morrer logo (2
Timóteo 4:6). O tempo é curto e assim, ele insta Timóteo a vir a
ter com ele antes que comece o inverno. Ele o faz assim porque se
Timóteo não o fizer, será tarde demais (2 Timóteo 4:21).

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

Toda a evidência sugere que Paulo tenha sido solto depois


do aprisionamento descrito em Atos. Então ele teria realizado
seu desejo de visitar os amigos a quem ele tinha escrito, e então
também teria conseguido visitar os lugares que são mencio-
nados em Tito. Além disso, 2 Timóteo menciona Tróia (4:13) e
Mileto (4:20), lugares que não se encaixam tampouco dentro da
narrativa de Atos. (Localize estes lugares em um mapa junto
com outros lugares a que nos referimos nesta lição.) Durante
a “Quinta Viagem Missionária” de Paulo, alguns crêem que ele
conseguiu alcançar a Espanha, que tinha expresso um desejo
de visitar, embora isso seja menos provável (Romanos 15:24).

Baseados na evidência que consideramos, podemos cons-


truir um sumário geral de eventos como se segue:
1. Paulo é solto em seguida aos eventos descritos
no final de Atos.
2. Ele faz as diversas visitas mencionadas nas
cartas pastorais, enviando a ambos, Timóteo
e Tito, em suas missões.
3. Paulo escreve 1 Timóteo e Tito.
4. Paulo é preso em algum lugar durante suas
viagens e escreve 2 Timóteo da prisão, como
sua última vontade e testamento.

Roma, Três Vendas, Praça de Ápio, Potéoli, Régio, Siracusa, Malta


Filipos, Neápolis Anfipolis, Tessalônica, Apolônia, Beréia, Atenas,
Corinto, Cencréia
Fenice, Laséia
Trôade, Mitilene, Éfeso, Mileto, Cnido, Pátara
Antioquia, Icônio, Listra, Derbe, Atália, Perge, Mirra, Pafos, Salamina
Antioquia, Selêucia, Sidon, Tiro, Ptolemaida, Cesaréia, Jerusalém

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

AS CARACTERÍSTICAS DE TIMÓTEO E TITO

Voltamo-nos agora desse fundo explicativo das cartas pasto-


rais para “assuntos pessoais”. Aqui veremos um retrato de perto
dos dois pastores que foram recipientes das cartas pastorais.

Quem Eram Timóteo e Tito?

A maioria dos cristãos sabe a respeito do apóstolo


Paulo, um ex-rabino, convertido na estrada de Damasco, que
depois desse encontro se tornou um escravo de Jesus Cristo
e um apóstolo para os gentios. Leram acerca desses eventos
que estão registrados em Atos e aludidos nas cartas dos após-
tolos, incluindo as cartas pastorais. Embora pouco seja dito
acerca de Timóteo e Tito em fontes bíblicas, um estudante
da Palavra pode formar uma imagem muito interessante
desses dois homens juntando as referências de Atos e por
inferência daquilo que Paulo lhes escreve. Assim o estudante
ganhará também algum discernimento sobre o caráter do
líder cristão modelo.

Tito

Tito não é mencionado em Atos, e portanto temos que coletar


nosso material a respeito dele, de outros livros do Novo Testa-
mento. De acordo com indicações encontradas nestes, ele tinha
se convertido sob o ministério de Paulo, pois Paulo o chama de
“meu verdadeiro filho”(Tito 1:4). Ele parece ter sido natural de
Antioquia da Síria. Ele aparece em Gálatas e 2 Coríntios como
auxiliar ou mão direita de Paulo. Era gentio e foi usado como
exemplo no estudo de casos na discussão sobre a circuncisão, de
acordo com Gálatas 2:1-10.

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

Paulo foi obviamente sábio ao escolher Tito, um gentio,


para ir com ele na ocorrência de um caso tão vital para os gentios.
Como pastor, você também será ajudado ao encontrar pessoas
para as tarefas que realmente se ajustam às mesmas e se rela-
cionam bem com a situação na qual irão trabalhar. Note que em
Atos os apóstolos escolheram pessoas com uma formação étnica
parecida, para lidar com o caso dos judeus helenistas. (Os nomes
gregos dos escolhidos mostram que gregos foram escolhidos para
a tarefa.) Deus trabalha muito freqüentemente de acordo com a
natureza e não contra a mesma. Claro que isso não é uma lei para
a qual não há exceções, pois Paulo era um judeu, a despeito de sua
missão entre os gentios; ao contrário, é uma norma que nos ajuda.

Timóteo

Timóteo era o discípulo e amigo mais íntimo de Paulo.


Paulo o chama de tanto “meu verdadeiro filho” como de “meu
querido filho” (1 Timóteo 1:23; 2 Timóteo 1:2) . Como Tito, ele era
um convertido, gerado pelo apóstolo Paulo, tendo se convertido
provavelmente na primeira viagem missionária de Paulo, em
Listra ou Derbe (Atos 14:6-7). Quando Paulo voltou a essas partes,
Timóteo tinha obtido uma reputação de fidelidade, e tinha boa
reputação dentre os irmãos lá. Como resultado, Paulo levou o
jovem consigo na sua viagem missionária (Atos 16:1-4).

Achamos uma questão prática importante aqui. Se


queremos saber com que uma pessoa se parece, nós nos bene-
ficiaremos em ouvir o que outros que o conhecem bem dizem a
respeito dele, os quais tiveram a oportunidade de ter acesso a ele
durante um certo período de tempo. Algum tempo passou entre
a primeira e segunda viagens missionárias, e durante esse tempo
Timóteo tinha dado prova do seu caráter. Muitos problemas

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

surgem nas igrejas porque os líderes colocam as pessoas em


posições de responsabilidade, sem considerar completamente
as referências quanto a seu caráter, dadas por pessoas confiá-
veis. Paulo disse, “A ninguém imponhas precipitadamente as
mãos,” referindo-se à ordenação e designação para um cargo
(1 Timóteo 5:22).

Comparação e Contraste Entre Timóteo e Tito

Tanto Timóteo como Tito eram protegidos do após-


tolo Paulo, jovens e talentosos, tendo Paulo enviado ambos a
realizar tarefas difíceis. Aqui aparece um princípio importante:
o do relacionamento. Não é suficiente que um líder em poten-
cial tenha dons e seja capacitado; ele precisa também ser leal e
digno de confiança. Ele não somente precisa ser leal a Cristo e ao
evangelho, mas pessoalmente também a você, o pastor. Se não
for assim, você poderá achar que esta pessoa está seguindo seu
próprio caminho aparte do que você estabeleceu. Paulo escolheu
pessoas que ele sabia que eram pessoalmente dedicadas a Cristo,
a ele e a seu ministério. Ele as conhecia. Da mesma maneira você
precisa conhecer as pessoas a quem você dá responsabilidades.

Havia também diferenças entre estes dois homens que


precisam ser observadas. Tito parece ter sido de uma disposição
mais firme ou forte do que a de Timóteo. Embora exorte Tito
à perseverança em sua carta endereçada a ele, Paulo tem mais
dificuldade ao fazê-lo com relação a Timóteo nas respectivas
cartas. Além disso, há indícios de que Timóteo seja mais do tipo
do indivíduo nervoso e tímido. Paulo o insta fortemente para
não se envergonhar de Paulo ou do evangelho. Ele também se
lembra das lágrimas de Timóteo quando o deixara pela última
vez (2 Timóteo 1:4).

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

Além disso, a correspondência de Paulo revela que Timóteo


sofria de uma saúde delicada e que tinha problemas estomacais,
que são indícios de um temperamento nervoso (1 Timóteo 5:23).
Paulo lembrou os Coríntios para que o deixassem à vontade e o
tranqüilizassem, quando viesse ter com eles (1 Coríntios 16:10-
11), o que indica que ele tinha um tipo de natureza reservada.
Desses vislumbres mais íntimos, parece que Timóteo não era
provavelmente do tipo de pessoa que teríamos escolhido para ser
o principal protegido de Paulo, a quem ele poderia confiar tanto!
Assim mesmo, Paulo tinha tanta confiança em Timóteo que lhe
delegara as tarefas mais difíceis em Tessalônica , Corinto e Éfeso
(1 Tessalonicenses 3:1-2; 1 Coríntios 4:17; 16:10; 1 Timóteo 1:3).

Três Conclusões

Por causa do material exposto, podemos agora focalizar


nossa atenção mais precisamente nesses dois irmãos. E ainda
mais, podemos tirar as seguintes conclusões:
1. Precisamos encaixar as pessoas nas tarefas
apropriadas a elas. Como Tito era de uma dispo-
sição mais forte do que a de Timóteo, Paulo o
enviou, ao invés de Timóteo, a Creta, onde as
pessoas eram de uma disposição notoriamente
difícil (Tito 1:12-13). Éfeso, onde Paulo enviou
Timóteo, não era menos difícil, mas exigia
mais um toque diplomático. Paulo julgou que
o caráter e experiência de Timóteo eram ideais
para esse tipo de missão pois, o apóstolo já o
tinha usado em comissão similar quando o
enviara a Corinto alguns anos antes.
2. Precisamos compreender que não importa
somente o que uma pessoa é em termos da

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

personalidade e da habilidade natural, mas


o que pode ser pela graça de Deus. Paulo via
em Timóteo o que ele poderia ser em Deus, isto
é, ele viu um potencial tremendo. Isso, afinal
de contas, era uma lição que Paulo aprendeu
ele mesmo somente através de sua fraquezas
pessoais (veja 2 Coríntios 1:8-11 e 12:7-10).
3. Uma terceira conclusão que se levanta desses
fatos é que você dificilmente será capaz de
levar sua gente mais longe em direção a Deus
do que tenha ido você mesmo. Todos os dons
espirituais no mundo, nunca tomarão o lugar
da piedade pessoal e da maturidade. É porque
o apóstolo Paulo sabia da força de Cristo em suas
próprias fraquezas e provações, que ele podia com
segurança encomendar e confiar outros a Ele.

AS TAREFAS DE TIMÓTEO E TITO

As tarefas que estavam diante de Timóteo e Tito eram


tanto positivas como negativas. Do lado positivo eles deveriam
estabelecer as igrejas sobre um fundamento firme, designando
líderes apropriados e ensinando o povo o que Deus esperava
dele. Do lado negativo, tinham que lidar com erros doutrinários
que estavam começando a se infiltrar nas igrejas.

Qual Era a Ameaça Apresentada?

Paulo se refere ao longo das três epístolas, a certos ensi-


nadores e erros doutrinários que estavam começando a afetar
as igrejas. Timóteo e Tito deveriam advertir contra seu falso

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

ensino e corrigir os abusos que haviam resultado de suas idéias


perniciosas. Você talvez possa se lembrar, de que o apóstolo
Paulo tinha avisado os anciãos de Éfeso de que isso ocorreria
(Atos 20:28-29).

O que as Cartas Pastorais Nos Mostram Sobre Ensinos Falsos?


A Natureza dos Falsos Ensinamentos

Para começar, podemos notar três pontos acerca da natu-


reza de ensinos falsos como se segue:

1. Sua Origem: Satanás. Paulo identificou Satanás como


o originador definitivo dos ensinos falsos que existiam. Em 1
Timóteo 4:1 o apóstolo falou dessas idéias como tendo sido origi-
nadas de “espíritos enganadores e coisas ensinadas por demônios.”
Precisamos nunca nos esquecer de que o diabo é um teólogo!
Ele conhece a Bíblia e pode citá-la como ele fez quando tentou
o Senhor Jesus em Mateus 4:6. Nessa ocasião ele citou de modo
distorcido as escrituras, fazendo-o fora do contexto. Muitos
dos falsos ensinos que prevalecem hoje, tais como aqueles dos
Testemunhas de Jeová, são de propósito baseadas na Bíblia.
No entanto, não é com qual freqüência uma pessoa cita a Bíblia
que importa, realmente, mas quão fielmente e precisamente
ela o faz. A resposta de Jesus e o método de Timóteo e Tito para
refutar esse erro eram de citar a escritura de modo correto: “Está
também escrito” (Mateus 4:7). Por isso todo líder de igreja precisa
ser capacitado a usar a Bíblia com competência. A maneira de
lidar com erros não é somente compreendê-los, mas também
conhecer bem nossas Bíblias.

2. Seus agentes: enganadores e enganados. 1 Timóteo 4:2


diz que os ensinos falsos vieram “pela hipocrisia de homens que

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência.”


Ser hipócrita é adotar uma máscara e agir de modo enganoso,
mostrando-se ser uma coisa, quando se é outra. Não somente
tinha essa gente enganado a outros, mas eles tinham se enga-
nado a si mesmos. Paulo faz um retrato dos homens que “caute-
rizaram” ou “marcaram” suas próprias consciências como com
um ferro em brasa. Isso provavelmente significa que ao ir contra
a verdade e próprias consciências, eles tinham na verdade
endurecido suas consciências como a pele fica endurecida pela
cauterização. Que advertência há aqui, para mantermos nossos
corações abertos à verdade e nossas consciências limpas! Essa
gente estava tomando vantagem de mulheres em suas casas,
como tantos mercadores da Palavra de Deus fazem hoje em dia
(2 Timóteo 3:6-9). Vocês, como pastores de Deus, são chamados
a guardar seu rebanho de lobos vestidos com roupagem de
ovelhas. Vocês precisam avisar sua gente para ter cuidado
com falsos mestres que estão batendo à porta, como o fez João
quando avisou às pessoas para que não convidassem os tais para
entrar (2 João 10-11).

3. Sua Substância: extremos no tocante à comida e ao


corpo. Um estudo de ensinos falsos é importante para você,
por duas razões. Por um lado, você vai aprender algo sobre a
natureza do falso ensinamento, que é comum à maioria, senão
a todos, os ensinos falsos. Por outro lado, alguns estudiosos
identificaram o ensino contra o qual Paulo está advertindo,
como um ensino falso chamado Gnosticismo que floresceu no
segundo século. Estes estudiosos concluem disso que como as
cartas pastorais foram escritas no primeiro século, não pode-
riam de modo algum ter sido escritas por Paulo e portanto elas
não seriam genuínas. Antes de nos endereçarmos a esta questão,

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

entretanto, vamos rever o que a Bíblia ensina a respeito do falso


ensino acerca das leis sobre alimentos.

Os Erros do Falso Ensino

Ao continuarmos, podemos fazer três observações gerais


sobre os erros do falso ensino como se segue:

1. Ele tornava as leis sobre alimentos uma coisa muito


importante. 1 Timóteo nos diz que aqueles que o ensinavam orde-
navam às pessoas para “se absterem de certos alimentos”. Este
ensino não era novo; era algo referido por Paulo em Colossenses
2:20-23. Lá, em referência a essas leis quanto aos alimentos, ele
diz “ Por que ... vos submeteis a regras tais como: não toques, não
proves, não manuseies?” Mais cedo ainda, ele tinha sido indagado
pelos Coríntios sobre comer certos alimentos (1 Coríntios 8).

O que podemos aprender deste problema que nos ajude hoje


em dia? Há duas coisas:

Primeiro, precisamos não pensar que obediência a leis alimen-


tares possa nos salvar. Tanto Jesus quanto Paulo nos mostram que
as leis quanto aos alimentos não podem contribuir de modo
algum para a nossa salvação. Em Marcos 7:14-23 Jesus mostrou
que é o que está em nossos corações e o que provém deles, que
nos torna impuros, não a comida. Marcos diz que, de acordo com
este ensinamento, Jesus declarou todos os alimentos “limpos”(v.
19). Paulo ensina o mesmo em Romanos 14:17, quando diz que
“... o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo.”

Segundo, precisamos ter consideração para com aqueles


que tem convicções genuínas sobre alimentos. Muitos cristãos

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

verdadeiros que crêem no evangelho e estão confiando em Jesus


para salvá-los, ainda tem convicções fortes sobre leis do Antigo
Testamento a respeito alimentos. Paulo diz, “... um crê que de
tudo se pode comer, e outro ... come legumes” (Romanos 14:2). Há
muitos vegetarianos no mundo hoje em dia, assim como haviam
muitos judeus ortodoxos no dia de Paulo. Esses judeus, embora
genuinamente salvos, não queriam comer carne de porco. Hoje
em dia, pode ser que alguns cristãos que antes foram hindus
sentem que deveriam permanecer vegetarianos e não comer
carne. Eles não estão dizendo que ser um vegetariano os salva;
é somente a maneira que eles vêem as coisas.

O que deveríamos fazer nesses casos? Paulo nos dá a


resposta: “O que nome não despreze o que não come; o que não
come não julgue o que come ...” ( Romanos 14:3). Também, “...
antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao
irmão.” (Romanos 14:13). Devemos não ofender outros pelo que
comemos; tampouco devemos tentar influenciá-los a nos seguir.
Se o fizermos, poderemos fazê-los desgarrar forçando-os a fazer
coisas a que suas consciências se opõem. O importante é não
ficar tão preso a questões de menor importância de modo a
perdemos a visão de Cristo e do evangelho.

2. Enfatizava aspectos da lei de pouca relevância. Paulo


diz a Timóteo: “Mas rejeita às fábulas profanas e de velhas” (1
Timóteo 4:7). Ele também diz a Timóteo que deve advertir certas
pessoas “... que não ensinem outra doutrina, nem se dêem a fábulas
ou a genealogias intermináveis...” (1 Timóteo 1:3,4). Paulo parece
estar falando acerca de certos mestres judeus, pois os descreve
como pessoas que querem “ser doutores da lei”(1 Timóteo 1:7).
Sabemos que os mestres judeus amavam elaborar bem e enfeitar
as estórias do Antigo Testamento. Parece que é sobre isso que

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

Paulo está falando. Esse fator judeu comum fica em vista de novo
em Tito 1:10, onde Paulo se refere aos falsos mestres em Creta
como “os da circuncisão.”

Podemos aprender das advertências de Paulo que os


ensinos falsos não necessariamente envolvem erros absolutos
sobre doutrinas importantes. Eles podem ser também um tipo
de pensamento que dá ênfase a coisas secundárias. O colocar a
ênfase em coisas de menor valor faz com que se esqueça as coisas
principais. Alguns hoje em dia se aprofundaram em genealo-
gias e estórias da Bíblia para mostrar que a Inglaterra ou algum
outro país teve sua origem em Israel ou é judaica por descen-
dência. Outros gastam horas a fio, computando as cronologias
e profecias da Bíblia, para predizer o tempo da segunda volta de
Cristo. Fazer tudo isso implica em ser culpado da mesma coisa,
isto é, de enfatizar coisas de menor ou de nenhuma importância.
A mesma acusação pode servir para aqueles que se apegam a
qualquer ponto secundário de doutrina, embora isso cause
divisões.

3. Seus defensores se apegavam aos extremos da negação


corporal ou da indulgência. O fato de que este ensino falso deveria
levar seus promotores a sustentar dois extremos opostos, parece
estranho, mas este não era o caso. Em 1 Timóteo 4:3 lemos que
os falsos mestres proibiam o povo de casar-se e mandavam se
abster de certas comidas. Chamamos este ensino de “ascetismo”,
um nome que significa a ênfase da auto-negação e o subjugar dos
apetites normais do corpo através de um tratamento severo. No
outro extremo havia aqueles que diziam, com efeito, “vale tudo.”
Paulo dá uma lista de vícios deste grupo em 2 Timóteo 3:2-5 onde
faz um resumo de sua condição, chamando-os de “mais amigos
de deleites do que amigos de Deus”(v.4).

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

Antes que tiremos nossas conclusões e as lições que pode-


ríamos aprender deste aspecto particular de seu ensino, vamos
parar por um momento para rever o que já observamos sobre
ensinos falsos. Depois poderemos prosseguir no assunto do Gnos-
ticismo, com o qual alguns estudiosos identificam estes ensinos.

Temos visto que a fonte de todos os ensinos falsos é o diabo,


e temos observado que podemos vencê-lo, usando apropriada-
mente a Palavra. Então aprendemos que os agentes são engana-
dores, e que eles mesmos enganam a si mesmos. Em substância,
o ensino falso dizia respeito a pontos de vista extremistas a
respeito de comida e do corpo, sobre os quais as pessoas têm
muitas vezes sentimentos sensíveis e convicções fortes. Além
disso, descobrimos que esses ensinos tendiam a fazer com que
se desse ênfase a coisas secundárias, muitas vezes lidando com
outras coisas além de questões doutrinárias. Ensinos falsos
tiram os olhos da pessoa de seu alvo primário, da verdade que
lhe é dada por Deus e este erro precisa ser evitado a todo custo.

A HERESIA GNÓSTICA

Nesta seção consideraremos brevemente os princípios


básicos do Gnosticismo. Também consideraremos seu efeito
sobre a igreja através da história.

A Idéia Básica do Gnosticismo

O problema básico que os gnósticos tentavam abordar


era este: “Se Deus é bom e fez o mundo, por que há tanto sofri-
mento e maldade ao redor de nós?” Este é um problema que,
cada pessoa capaz de pensar, tem que enfrentar. E embora haja

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

muitas coisas que possamos dizer em resposta a este problema,


não há respostas fáceis. Os gnósticos, entretanto, realmente
acharam uma resposta “fácil”. Eles simplesmente negaram que
Deus fez o mundo! Eles arrazoaram que o Criador do mundo, o
Deus do Antigo Testamento para eles, não era realmente o Deus
verdadeiro. Ao contrário ele era um “deus’’ menor que fez uma
tolice! Ele fez um erro, criando a matéria, que eles consideravam
essencialmente má. O “deus bom”, por outro lado, não estava
envolvido na criação deste mundo. Ele era “espírito” verdadeiro
e além do alcance de homens mortais; entretanto, havia um
ponto de contato com alguns homens, como explicarei em breve.

Porções do “deus bom” tinham ficado presas na matéria e


alguns homens tinham porções dessa natureza espiritual neles.
Como resultado, eles criam que a matéria era má, que só o espírito
era bom, e que alguns homens tinham essa natureza espiritual em
suas almas. Sua resposta ao problema do homem, portanto, era
fazer provisão de maneira que escapasse do mundo material no
qual ele estava enredado e voltasse ao deus verdadeiro de espírito.

Antes que andemos mais além, precisamos parar e notar


que essa crença de que a matéria e o corpo eram maus, levou
a duas ênfases bem diferentes. Alguns argumentavam que,
porque o corpo era mau, você deveria subjugá-lo e não grati-
ficar seus desejos de modo algum. Outros diziam o oposto, isto
é, que porque o corpo era mau, não importava o que você fizesse
com ele! Portanto, você poderia pecar quanto quisesse, porque
o corpo não tinha importância; era a alma, a parte espiritual,
que importava, não o corpo. Como dissemos, você encontrará
a ênfase ascética mencionada em 1 Timóteo 4:3 (“proibindo o
casamento, e ordenando a abstinência dos manjares”) e o oposto
em 2 Timóteo 3:4 (“amigos de deleites”).

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

“Salvação” Gnóstica

A idéia de salvação para os gnósticos era escapar do mundo


de miséria de volta para o “deus bom”. O problema básico era
como fazer a ponte entre esse deus e o mundo. É aqui que eles
trouxeram Jesus em cena. Jesus, eles ensinavam, foi enviado
pelo “deus bom”, do mundo do “espírito”, para levar os homens
de volta para o mundo espiritual. Ele fez isso, entretanto, não
morrendo por eles, mas iluminando-os e trazendo-os ao conhe-
cimento de sua natureza espiritual verdadeira. Como sua ênfase
era no conhecimento, ou gnose, da língua grega, aqueles que
mantinham essas crenças eram chamados de gnósticos.

Os gnósticos reivindicavam trazer as pessoas ao escla-


recimento através do conhecimento que pensavam ter sobre
a criação falha do mundo e do “deus bom”. Mas há ainda um
problema básico: se a matéria fosse má, como poderia Jesus ter
vindo em carne num corpo? Eles tinham outra resposta simples
para este problema: Ele não veio em carne. O que realmente
aconteceu, eles ensinavam, era que Jesus somente parecia ter
um corpo, quando de fato ele não tinha. Seu corpo era uma
ilusão. Tampouco, é claro, ele morreu na cruz! Eles usavam
uma explicação alternativa durante o período da igreja primi-
tiva para explicar suas crenças. Eles afirmavam que Jesus e
Cristo eram duas pessoas diferentes. O que aconteceu era que
o “espírito Cristo” na verdade possuía ou tomava conta do
Jesus humano (eles usualmente diziam que isso ocorreu em seu
batismo) e finalmente o abandonou na cruz.

Talvez você possa pensar que não seria necessário termos


dito todas as coisas anteriores acerca desse falso ensino. Contudo,
para você compreender certas partes do Novo Testamento e estar

33
AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

capacitado a lidar com a situação de hoje em dia, de fato você


precisa ter um bom apanhado de seus principais dogmas. Por
que razão? Porque há gente ao redor de nós hoje que tem idéias
quase idênticas às crenças que acabamos de descrever.

Gnósticos do Novo testamento e Gnósticos Modernos

Antes nesta lição, já mencionamos alguns estudiosos que


crêem que a heresia apontada nas cartas pastorais era uma
heresia da parte final do segundo século. Em seu ponto de vista,
portanto, Paulo não poderia ter escrito as cartas pastorais. A
pergunta que precisamos fazer é esta: “Encontramos outros
lugares no Novo testamento onde é feita referência a tipos de
erros similares?” Porque se encontrarmos, não somos obrigados
a aceitar a idéia de que o ensino sobre o qual foi falado nas cartas
pastorais é uma idéia “tardia”.

Vimos como os gnósticos tendiam ou a negar também a


Encarnação, ou a dizer que “Jesus” e “Cristo” eram duas pessoas
diferentes. Outro erro que surgiu das suas crenças, era a negação
de que Jesus era Deus. Este ensino andou mão a mão com a idéia
de que o “deus bom” era realmente inacessível e nunca teria
considerado tornar-se encarnado neste mundo material de
pecado, mal e tristeza.

Tendo isso em mente, considere a ênfase bíblica que se


segue sobre a encarnação e morte literais de Jesus, Sua divindade
(o fato de que Ele é Deus), e a identificação de Jesus como o Cristo.
1. Declaração da Encarnação e Morte de Jesus. As
seguintes escrituras apontam para a encarnação
e morte literais de Jesus. Leia cada texto cuidado-
samente para ver o que a Palavra de Deus tem a

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INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

dizer sobre estes dois pontos. Leia 1 Timóteo 3:16;


2:5-6; João 1:14-15; e 19:28-37. No versículo 35 João
enfatiza o que ele viu. Agora leia 1 João 1:1-2; 4:1-3;
e 5:6-8. Note a menção da água e do sangue, que
parece ser a maneira de João de chamar atenção
para tanto o nascimento quanto à morte de Jesus.
Seu evangelho e cartas enfatizam a humanidade
de Jesus, ao mesmo tempo que Sua divindade (veja
também Colossenses 2:9).
2. Identificação de “Jesus” com “Cristo”. Em 1 João 4:1-3,
João aponta claramente que ele via Jesus Cristo
como o Filho de Deus encarnado. João também
indica que a negação deste fato é evidência de
“outro” espírito, um não vindo de Deus.
3. Ênfase na Divindade de Jesus. As seguintes escri-
turas relatam o fato da divindade de Jesus: Colos-
senses 1:15-20; 2:9; João 1:1-2; e Tito 2:13.

Um dia enquanto andava pela estrada com um homem que


freqüentava uma igreja que eu estava pastoreando, não pude
evitar de captar a palavra “conhecimento” repetidamente em
sua conversa quando falava sobre o que cria. Isso fez-me sentir
um tanto incomodado. Depois de certo tempo meus temores se
confirmaram, quando descobri que estava seguindo as crenças
de uma heresia chamada Rosacrucianismo. Ele cria firmemente
que Jesus não era Deus; de fato ele cria que “Jesus” e “Cristo”
eram duas pessoas diferentes, e usava várias escrituras para
suportar seu ponto de vista. Não precisa dizer que, quando
ele pediu para ser tornar membro, não deixei que se tornasse
membro da igreja. Precisamos estar conscientes de que os gnós-
ticos modernos podem aparecer em nossas igrejas. Quando o

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AS CARTAS DE PAULO AOS PASTORES

fizerem, nós, como Timóteo e Tito, precisamos impedi-los de


ensinar doutrinas falsas ( 1 Timóteo 1:3).

Para refrear falsos mestres de ensinar e ganhar uma


posição em sua igreja, o pastor precisa:
1. reconhecer o erro;
2. saber o suficiente da sua Bíblia para poder detectar
ensinos falsos e corrigi-los; e
3. agir apropriadamente contra aqueles que estejam
se apegando ou tentando espalhar ensinos falsos
tanto dentro como fora da igreja.

Resumindo, então, a heresia gnóstica não deve ser conside-


rada simplesmente uma ocorrência do segundo século. O espírito
por trás desse ensino tem reaparecido, de uma forma ou de outra
através da história, para apelar à razão, ao orgulho e ao senso de
auto-suficiência do homem. Ao mesmo tempo que a tarjeta de
identificação do grupo possa mudar, as idéias fundamentais por
trás do erro gnóstico estão ainda aparentes no mundo.

AS CARTAS PASTORAIS:
A DEFESA DE DEUS CONTRA O ERRO

Tentamos descrever as condições sob as quais Paulo escreveu


suas cartas e o problema dos ensinos falsos que Timóteo e Tito
tinham que enfrentar. Deus apresenta uma defesa tripla nas três
cartas pastorais para se opor à ameaça do erro doutrinário.
1. Uma igreja saudável e sólida: Primeiro Timóteo.
Paulo escreve a Timóteo e descreve a igreja como
“o pilar e o fundamento da verdade.” Ele declara que
esta fundação sólida, como de uma rocha, precisa

36
INTRODUÇÃO ÀS CARTAS PASTORAIS

se opor às ondas de falsidade que estão irrompendo.


Paulo também diz a Timóteo como deveria ordenar
a igreja até que ele, Paulo, chegasse. Uma igreja
ordenada, então, era uma das defesas contra o erro.
2. Uma igreja piedosa: Tito. A segunda defesa contra
o erro era gente – gente que estava vivendo vidas
santas e íntegras. Idéias impuras inevitavelmente
levam a uma vida não santa e Paulo diz a Tito que
ensine as pessoas a “fazerem o ensino sobre Deus
nosso Salvador atrativo.” As vidas do povo de Deus
seriam uma defesa contra o erro, quando outros
vissem a beleza de suas vidas. Uma igreja piedosa,
então, era a segunda linha de defesa de Deus.
3. Um ministro diligente guardando o evangelho:
2 Timóteo. Os falsos mestres, como ladrões,
estavam buscando roubar a igreja do evangelho.
Paulo diz a Timóteo: “Guarda o bom depósito pelo
Espírito Santo que habita em nós.” (2 Timóteo 1:14).
2 Timóteo focaliza bastante no “tímido Timóteo”,
mas mostra a você como um ministro precisa ser.
Um soldado e pastor bravo e diligente, então, era
a terceira linha de defesa de Deus contra o erro.

Confiamos que esta introdução tenha lhe dado uma formação


básica para compreender a natureza, o propósito e o situação
no tempo das cartas pastorais. Esperamos que tenha servido
para realçar alguns dos problemas que confrontavam a igreja
do primeiro século.

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