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EPÍSTOLAS PASTORAIS
1.Destinatários
1.1 Timóteo
Timóteo era filho de um gentio e de uma cristã judia de Listra. Quando
veio a Listra na sua segunda viagem missionária, Paulo conseguiu levar
Timóteo como seu colaborador. Descobriu logo que Timóteo era um homem
especialmente capacitado por Deus e extremamente confiável. Por isso Paulo
vez por outra lhe delegava missões especiais. Também nas épocas em que
Paulo estava na prisão, Timóteo continuava leal a ele. Isso rendeu a Timóteo a
alta estima do apóstolo.
1.2 Tito
Tito não é mencionado na lista dos colaboradores de Paulo em Atos. O
que sabemos dele vem da observação sobre ele em Gálatas 2.1-3. Desse texto
concluímos que ele era cristão judeu, aceito como tal na igreja primitiva em
Jerusalém. Paulo via nisso que a sua missão aos gentios tinha sido
reconhecida pelos apóstolos em Jerusalém. Tito também recebeu tarefas
especiais. Várias vezes Paulo o enviou a Corinto para ajudar a clarear as
coisas na situação tão difícil daquela igreja. Ele foi bem-sucedido.
Evidentemente pertencia ao círculo mais íntimo dos colaboradores do apóstolo.
2. Autor
Do final do século II até o início do século XIX, as Cartas Pastorais eram
consideradas da autoria paulina. Antes do final do século II não há certeza,
porque Marcion não as menciona no seu cânon. Isso tem peso especial porque
Marcion era seguidor convicto de Paulo. Será que ele não considerou essas
cartas como paulinas? Não temos informações sobre isso. Somente no final do
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século II descobrimos num outro índice do NT, no Cânon Muratóri, as Cartas
Pastorais como cartas de Paulo. Elas são assim denominadas por Irineu e
Tertuliano. Desde o início do século XIX começam a surgir dúvidas quanto à
autoria dessas cartas pelo apóstolo Paulo. Em 1804 J. E. C. Schmidt externa
as suas dúvidas sobre a autenticidade de 1 Timóteo, e Schleiermacher
contesta a autenticidade dessa carta em 1807. Eichhorn expande isso para
todas as Cartas Pastorais em 1812. Em 1835 F. C. Baur afirma que essas
cartas foram textos escritos no século II em protesto contra o gnosticismo.
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Tito cuidando da igreja para organizá-la de acordo com os princípios do
apóstolo. Atos omite isso. A segunda carta a Timóteo vem da prisão em Roma
sob condições muito difíceis, que não combinam com a descrição da prisão em
Roma no livro de Atos. Da mesma forma, os detalhes do capítulo quatro de 2
Timóteo dificilmente podem ser harmonizados com o relato de Atos. Mas esses
detalhes são tão pormenorizados que dificilmente podem ser reconstruídos de
outras cartas de Paulo e tampouco podem ser considerados pura invenção.
Poderia ser que a igreja antiga tinha razão, quando relatava que Paulo
conseguiu escapar da prisão em Roma e concretizar o seu plano de
evangelizar a Espanha, até que foi preso novamente e então executado?
Entretanto, isso não é ainda argumento contra a autoria paulina das Pastorais,
pois possivelmente temos, nas Cartas Pastorais, indicações sobre a situação
histórica após a primeira vez que Paulo esteve na prisão em Roma até os dias
imediatamente antes do seu martírio. Essa suposição é apoiada pela primeira
carta de Clemente, que relata que “ele ensinou justiça a todo o mundo e
avançou até o extremo ocidente” Da mesma forma o Cânon Muratóri
pressupõe a viagem do apóstolo para a Espanha. Nesse caso, é preciso
admitir que antes da viagem para a Espanha, Paulo ainda tenha ido ao oriente
mais uma vez, como pressupõem as Cartas Pastorais.
3.4 Teologia
Também na teologia defendida nas Cartas Pastorais haveria uma
diferença significativa em relação à teologia de Paulo. Nessas cartas o evento
da salvação estaria descrito com termos que não aparecem em outras cartas
de Paulo. Por exemplo, a manifestação da graça salvadora de Deus; a
manifestação da benignidade de Deus e do seu amor por todos os homens; a
manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus; a
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imortalidade de Deus; Jesus Cristo que destruiu o poder da morte e que trouxe
à luz a vida e a imortalidade mediante o evangelho. Mais exemplos poderiam
ser citados. Também a experiência cristã teria conotações diferentes aqui: se
nas outras cartas de Paulo o mais importante era a prática da fé no sentido da
confiança em Jesus Cristo, nas Pastorais o mais importante seria o conteúdo
correto da fé, ou o ensino correto. O mais importante aqui seria a piedade, o
ensino correto, boas obras e uma vida correta na sociedade. A dinâmica dos
primeiro anos do cristianismo teria dado lugar à tradição. Somando todos esses
argumentos, parece inevitável concluirmos que as Cartas Pastorais não podem
ter sido escritas pelo apóstolo Paulo. Essa conclusão é tida como resultado
definitivo na ciência da introdução ao NT.
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impossíveis. Em geral, os exegetas que contestam a autoria apostólica, não
entram em detalhes nessas questões, pois lhes seria muito difícil explicá-las.
4.4 Teologia
As supostas diferenças teológicas entre as Cartas Pastorais e as outras
cartas de Paulo também não são consistentes quando submetidas a uma
análise mais profunda. A manifestação da graça de Deus por meio de Jesus
Cristo como fundamento de todo o ensino cristão pode ser achado aqui, como
em todas as cartas de Paulo. Quando trata da fé, o autor enfatiza mais a
formulação à qual se chegara naquela época, mesmo que Paulo já tivesse
argumentado de forma semelhante anteriormente em outras cartas. Isso é
compreensível, quando refletirmos sobre o fato de que o ministério do apóstolo
estava chegando ao fim e ele precisava delegá-lo ao seu discípulo. Mesmo em
vista do relacionamento dos cristãos com o Estado romano é possível descobrir
declarações semelhantes na carta de Romanos. O desenvolvimento do Estado
romano em inimigo da Igreja de Jesus Cristo, como é descrito em Apocalipse
ainda não está à vista.
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convincente como argumento contra a autoria apostólica. Condições das
igrejas e teologia não são fundamentalmente diferentes desses elementos nas
outras cartas de Paulo. Fato é que se pode concluir que o apóstolo Paulo
escreveu as Cartas Pastorais com a participação de um secretário,
provavelmente após o primeiro aprisionamento em Roma.
6.2 II Timóteo
Essa carta tem características diferentes da primeira. É uma comovente
carta pastoral que não contém orientações para a vida da igreja. Temos a
impressão de que o apóstolo já vê o fim do seu ministério e agora quer
transmitir ao seu colaborador as coisas que, em vista da sua morte, lhe são
mais importantes. Em suma, é um testamento espiritual que tem importância
somente para o seu primeiro receptor. A carta é recomendada a todo pregador
do evangelho, que nas horas de reflexão solitária quer prestar contas a si
mesmo e tenta ouvir a avaliação de Deus sobre o seu ministério. Esse
pregador encontrará nessa carta orientações muito valiosas que o encorajarão
a se concentrar naquilo que realmente é importante e, talvez, levá-lo a
correções no seu comportamento. O estilo pessoal da carta é inconfundível. As
informações compartilhadas no capítulo 4 são surpreendentemente concretas e
reais. Os pedidos pela capa e pelos pergaminhos são compreensíveis para um
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preso que é também teólogo. Em nenhuma outra carta do NT temos uma visão
tão boa sobre o relacionamento do apóstolo com um de seus melhores
colaboradores.
6.3 Tito
Essa carta trata de temas eclesiásticos semelhantes observados em
1Timóteo, mesmo que de forma abreviada. Falta-lhe, entretanto, o calor
humano das cartas a Timóteo. Essa carta tem as características de um escrito
oficial. O que chama a atenção nessa carta são as profissões e declarações de
fé sobre a encarnação de Jesus Cristo. Uma característica especial também é
a orientação sobre a atitude do cristão em relação ao Estado. A carta se
assemelha mais a um escrito oficial do que as outras duas cartas pastorais.