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1ª edição: 2023
Edição: Rodrigo Bibo
Autor: Rodrigo Bibo
Revisão: Vanessa Rodrigues
Capa: Caio Duarte

Este Ebook faz parte do programa de ensino da EBT - Escola Bibotalk de


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A GLOSSOLALIA NA TEOLOGIA E NA PRÁTICA PENTECOSTAL
BRASILEIRA

Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o
Espírito os capacitava. (NVI)1

A ideia central deste texto é a compreensão teológica pentecostal


brasileira acerca do falar em línguas. O evento narrado em Atos 2 no dia de
Pentecostes, quando houve uma efusão do Espírito Santo sobre os discípulos,
tendo como uma das manifestações o falar em outras línguas, fundamenta
diretamente a origem do nome do movimento e a forma como esse, ainda hoje,
crê e recebe o fenômeno das línguas.
Não foram os pentecostais que se intitularam dessa forma. Foi a partir de
1907 que algumas igrejas históricas rotularam aqueles que estavam tendo
experiências com o dom de línguas, curas, etc., com esse nome.2 Até então,
essas manifestações eram chamadas apenas de avivamentos e/ou movimentos
de determinado lugar, como o Avivamento de Zion ou o Movimento da Fé
Apostólica. Com a organização da Escola Bíblica Betel, o movimento ganhou
uma característica teológica distinta dos demais: a doutrina do batismo com o
Espírito Santo, tendo o falar em línguas como a evidência física inicial.
Essa experiência marcou o rumo do movimento pentecostal organizado,
inclusive no Brasil. Da chegada dos missionários suecos até a atualidade, o
pentecostalismo brasileiro, tendo como sua maior representante a Assembleia
de Deus, ainda preserva essa doutrina e entende o dom de línguas como o maior
dom concedido pelo Espírito Santo, dom este que possibilita ao fiel receber os
demais.
Porém, antes de analisar a glossolalia na teologia e na prática
pentecostais, é importante entendermos as mudanças hermenêuticas que

1 Todas as citações bíblicas serão da Nova Versão Internacional. Disponível em: <
http://www.irmaos.com/bibliaonline/> Acesso em: 03 mai. 2013.
2 ARAUJO, 2007, p. 553. Outra fonte afirma que o termo movimento pentecostal já tinha sido

cunhado por Parham em 1901 ao relatar o primeiro caso de línguas em sua escola. Cf. SYNAN,
2009, p. 67.
ocorreram no evangelicalismo mundial3 acerca do livro de Atos e que reforçaram
as bases da interpretação pentecostal, de certa forma.

1.1 As mudanças hermenêuticas e a relevância histórica de Atos

Na teologia pentecostal, só é possível falar no dom de línguas registrado


por Paulo em 1Coríntios 14 devido aos acontecimentos registrados a partir de
Atos 2, quando ocorre o derramamento do Espírito no dia de Pentecostes. Para
a hermenêutica pentecostal, os textos que falam do recebimento do Espírito
Santo no livro de Atos são textos normativos, modelos para a igreja de hoje, e
não acontecimentos isolados e excepcionais, como sugerem outras linhas de
interpretação.4 Para os pentecostais, o livro de Atos não contém apenas registros
históricos da igreja primitiva, mas também apresenta padrões a serem seguidos
em todas as eras da igreja.
A teologia pentecostal segue a tradição que atribui, tanto ao Evangelho
de Lucas como ao livro de Atos, um mesmo autor. Ainda que o autor não se
identifique em nenhum dos escritos, a semelhança no estilo literário, perspectiva
teológica e prefácio levaram a essa conclusão. Arrington afirmou que:

Há uma tradição bem estabelecida de que estes livros foram escritos pelo médico Lucas,
companheiro de viagem de Paulo. O testemunho mais antigo da autoria de Lucas
aparece no Cânon Muratoriano, uma lista de livros do Novo Testamento escritos em
cerca de 170 d.C. Semelhantemente, o O Prólogo Anti-Marcionista (c. 160-180 d.C.) que
foi anexado ao terceiro Evangelho em muitos manuscritos latinos, atesta a autoria lucana
da obra de dois volumes. [...] Irineu de Lião (c. 180 d.C.) também identifica Lucas como
companheiro de Paulo, seguidor do apóstolo e o autor do Evangelho e de Atos (Contra
Heresias). Outros pais da Igreja (como Clemente de Alexandria, Tertuliano e Eusébio)
defendem que Lucas é o autor.5

A posição pentecostal acerca da autoria lucana desses dois escritos


segue em conformidade com a postura tradicional defendida por muitos
pesquisadores cristãos. D.A. Carson, professor de Novo Testamento, afirmou
que até agora não se apresentou nenhum bom argumento para questionar a
autoria de Lucas nesses dois escritos. Disse ainda que o nome de Lucas não

3 Sobre o evangelicalismo e suas origens, consultar As origens do evangelicalismo Disponível


em: <http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/253/as-origens-do-evangelicalismo> Acesso em:
26 abr. 2016.
4 KIRSCHNER, 2003, p. 3-20.
5 ARRINGTON, 2003, p. 303.
seria associado aos escritos pelos antigos caso ele não os tivesse de fato
redigido. Além disso, aponta para o fato de que, em debates patrísticos, dava-se
muita ênfase à apostolicidade como critério para aceitação de livros no cânon,
de modo que, se o autor desses escritos fosse alguém desconhecido, “teria sido
muito mais provável que eles tivessem sido atribuídos a um apóstolo ou a alguém
como Marcos. Até onde sabemos, Lucas não foi um membro assim tão
destacado da igreja primitiva a ponto de, sem qualquer razão, obras como essa
serem atribuídas a ele.”6 No prefácio do Evangelho, o autor revela que não foi
testemunha ocular do ministério de Cristo, mas fez acuradas investigações. Isso
está em conformidade com o testemunho da tradição cristã acerca da autoria do
livro.
Marshall afirmou que existem evidências internas em Atos que apontam
para a autoria lucana: “Em primeiro lugar, há a evidência interna de Atos. Certas
passagens estão escritas na 1ª pessoa do plural, e a explicação mais plausível
delas é que provêm da pena dalgum companheiro de Paulo, e foram
incorporadas em Atos sem mudança de estilo, porque o autor dessa origem
documental foi o próprio autor do livro.”7
Se estas passagens formuladas na primeira pessoa do plural, em Atos,
forem provenientes do diário pessoal do autor, ele provavelmente foi colaborador
de Paulo em Trôade, presenciou a evangelização em Filipos e ali ficou quando
Paulo e Silas saíram da cidade. Depois foi com Paulo para Jerusalém,
presenciando os acontecimentos em Jerusalém e na Cesaréia a distância (ou
desempenhou outras tarefas) e voltou a participar da viagem para Roma
(inclusive esteve ao lado de Paulo durante a prisão).8 Entre os ajudantes de
Paulo, a tradição eclesiástica encontrou bons argumentos para afirmar que
somente Lucas, o médico (Cl 4.14), é o autor do terceiro evangelho e do livro de
Atos.9

6 CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 126.


7 MARSHALL, 2001, 43.
8 BOOR, 2003, p. 18.
9 KISTEMAKER, 2003, p. 40 afirmou ainda que: “Entre os ajudantes de Paulo encontravam-se

Timóteo, Silas, Tito, Demas, Crescente e Lucas, mas como autor de Atos, temos de eliminar
todos, exceto Lucas. Crescente é relativamente desconhecido (2Tm 4.10); Demas era
colaborador de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), porém abandonou-o mais tarde (2Tm 4.10). Apesar de
Tito ter acompanhado Paulo e Barnabé a Jerusalém e trabalhado nas igrejas de Corinto, Creta
e Dalmácia, parece não ter sido um dos companheiros de Paulo a quem o apóstolo menciona
nas saudações de suas epístolas. Os nomes de Silas e Timóteo são mencionados nas
passagens em que aparece “nós”, de Atos, porém ambos são mencionados na terceira pessoa.
A tradição pentecostal ancora-se, assim, nos escritos de Lucas para
construir sua teologia do batismo no Espírito Santo. O conceito de batismo no
Espírito Santo associado com o falar em outras línguas já encontrou diversos
oponentes hermenêuticos ao longo da sua história. Citam-se, aqui, argumentos
mais recentes. Em Stott, já na versão original do seu livro Batismo e Plenitude
do Espírito Santo, de 1964, encontramos um de seus princípios hermenêuticos
que afirma:

A revelação do propósito de Deus na Bíblia deve ser buscada preferencialmente nas


suas passagens didáticas, e não nas descritivas. Para ser mais preciso, devemos
procurá-la nos ensinos de Jesus e nos sermões e escritos dos apóstolos, e não nas
sessões puramente narrativas de Atos. O que a Escritura descreve como acontecido a
outros não precisa necessariamente acontecer conosco. 10

Com isso, Stott não quer afirmar que as passagens narrativas não
possuem valor, contudo sustenta que o descritivo só tem valor doutrinário se
interpretado pelo didático. Para exemplificar isso, ele cita as passagens em que
Paulo dá exemplos do tratamento de Deus para com Israel no deserto (1Co
10.11; Rm 15.4) e esses são exemplos de narrativas que são úteis para o ensino,
pois seu valor não está na descrição, mas na explicação. Aprende-se com essas
narrativas que Deus odeia a idolatria, a imoralidade, a murmuração. Entretanto,
se a igreja hoje cair no mesmo erro, como o povo de Deus no deserto, não quer
dizer que sofrerá as mesmas punições. Stott ainda exemplifica seu ponto citando
o caso de Ananias e Safira. Com essa narrativa, aprende-se que a mentira
desagrada muito a Deus, mas não é padrão do tratamento divino com o
mentiroso.11
Gordon Fee, teólogo pentecostal, em seu livro Entendes o que Lês? (em
coautoria com Douglas Stuart), caminha na mesma direção e propõe: “[...] a não
ser que a escritura explicitamente nos mande fazer alguma coisa, aquilo que é
meramente narrado ou descrito nunca pode funcionar como normativo”. 12
Já para outro teólogo pentecostal, William Menzies, a preocupação da
hermenêutica tradicional é legítima: “Como Fee observa, a menos que estejamos

Pelo processo de eliminação, chegamos à conclusão de que Lucas é a pessoa mais provável a
ter composto os livros a ele atribuídos”.
10 STOTT, 2007, p. 17. Aqui estamos usando a última edição lançada em língua portuguesa, mas

que preserva o pensamento original de Stott sobre o assunto, com alguns complementos como
podemos ver na nota seguinte.
11 STOTT, 2007, p. 18.
12 FEE, 2008, p. 91.
preparados para escolher os líderes da igreja por sorteio ou incentivar os
membros das igrejas a vender todas as suas posses, não podemos
simplesmente presumir que uma narrativa histórica específica forneça base para
uma teologia normativa.”13
No entanto, Menzies entende que essas posições são fruto do seu tempo.
Stott, Fee e outros firmaram essa postura, de certa forma, como uma resposta à
hermenêutica da escola de Tübingen, do século XIX, e outros teólogos do século
XX que, ancorados na crítica da redação, reduziram consideravelmente a
exatidão histórica de Atos, “que era basicamente o produto da mente fértil de um
novelista histórico com pouca ou nenhuma preocupação com as coisas
enfadonhas tais quais os fatos”.14 Menzies afirma:

A reação dos evangélicos tradicionais foi compreensivelmente negativa. Qualquer


ataque à confiabilidade histórica dos evangelhos e de Atos era um ataque aos próprios
fundamentos do cristianismo. Os tradicionais procuraram rebater ponto por ponto: os
escritores dos evangelhos não eram teólogos, eram historiadores. Nos círculos
tradicionais qualquer discussão sobre a motivação teológica dos escritores dos
evangelhos, e portanto o propósito teológico da narrativa deles, era emudecida. Os
evangelhos e Atos eram vistos como registros históricos, não narrativas que refletiam
preocupações teológicas de autoconsciência. 15

Foi em 1970, com a publicação do livro Luke: Historian and Theologian16


de I. Howard Marshall, que o cenário hermenêutico começou a mudar. A obra de
Marshall, professor de Novo Testamento e líder tradicional, teve forte impacto
sobre a hermenêutica tradicional e sedimentou o caráter teológico da narrativa
bíblica nessa linha interpretativa. Em seu livro, Marshall afirmou que Lucas
escreveu história com precisão e cuidado, e que Lucas-Atos representa história
com uma agenda teológica. Outros teóricos seguiram esse caminho e, com a
utilização sensata da crítica da redação, desenvolveram estudos acadêmicos
que deram equilíbrio à hermenêutica tradicional.17 Dessa forma, passou-se a
enxergar o caráter teológico das narrativas, percebendo que tanto os evangelhos
como Atos apresentam uma história com propósito teológico.
A próxima pergunta a ser respondida era sobre a forma ou o conteúdo
específico da teologia deles e se eles poderiam ser usados para fins didáticos.
E a resposta foi surgindo nos teóricos da hermenêutica bíblica. Menzies citou:

13 MENZIES; MENZIES, 2002, p. 47.


14 MARSHALL, 2001, p. 34.
15 MENZIES; MENZIES, 2002, p. 48.
16 Lucas: historiador e teólogo em tradução livre.
17 MENZIES; MENZIES, 2002, p. 50.
Já afirmamos que a narrativa quase sempre ensina mais indiretamente do que a literatura
didática sem se tornar menos normativa. Por isso, rejeitamos a máxima de Fee e Stuart
de que “a menos que as Escrituras explicitamente nos digam que devemos fazer algo, o
que é meramente narrado ou descrito nunca pode funcionar como norma.”18

Outro hermeneuta que corrobora essa ideia, legando caráter normativo


para as narrativas é Osborne em seu livro A Espiral Hermenêutica. No capítulo
sobre narrativas bíblicas, ele se posiciona contra a tendência de minimizar a
dimensão teológica das narrativas. Segundo ele, a narrativa não é tão direta
quanto o material didático, mas possui uma mensagem teológica que pede
interação com o leitor. Osborne afirmou:

É claro que nem todos os atos de fala na Escritura assumem a forma proposicional. De
fato, a narrativa bíblica frequentemente segue outra direção [...] Entretanto, o leitor deve
notar a contribuição positiva da crítica da redação, que demonstra o elo entre esse
mundo narrativo e as asserções teológicas pretendidas pelos autores individuais. Em
outras palavras, a trama e a estrutura da narrativa bíblica de fato funcionam nos níveis
de asserção bem como de mandamento e promessa.19

Dessa forma, as narrativas bíblicas ganharam peso na fundamentação


bíblica de doutrinas, exercício feito antes somente a partir de perícopes didáticas.
Wyckoff assinala que a relação entre a hermenêutica científica e a pragmática é
de tensões, e não de antíteses. Por isso, a prática de transferir a precedência
bíblica histórica em experiência normativa para a atualidade da igreja não pode
ser rejeitada sem maior consideração, apenas por incluir um elemento da
hermenêutica pragmática.20 Os teólogos pentecostais entendem que pelo fato
de toda a Escritura ser “inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2Tm 2.16),
certamente isso inclui as narrativas.
Assim, a pneumatologia pentecostal se ancora tanto nas narrativas de
Atos como nos ensinos de Paulo para fundamentar a sua experiência
pentecostal do falar em outras línguas. Ainda que os aspectos distintivos da
teologia pentecostal, principalmente a ênfase da glossolalia como sendo o
batismo no Espírito Santo uma experiência distinta da conversão, estejam
enraizados em Atos, sem esse escrito lucano não haveria uma teologia

18 KLEIN; BLOMBERG; HUBBARD; apud MENZIES, 2002, p. 50.


19 OSBORNE, 2009, p. 659.
20 HORTON, 1996, p. 443.
pentecostal plena. Menzies acredita que a própria doutrina do Espírito Santo não
é integral, se não considerada a contribuição de Lucas.21

1.2 Glossolalia em Atos e a fundamentação pentecostal

A expressão batismo no Espírito Santo não se encontra na Bíblia,


contudo, é “formada na fraseologia semelhante empregada pelos escritores
bíblicos”22, que utilizam a forma verbal em vez da forma substantivada. Os
sinóticos registraram o que João disse a respeito de Jesus: “Ele os batizará com
o Espírito Santo” (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16). Lucas utilizou a expressão em Atos
1.5, no discurso de Jesus: “Pois João batizou com água, mas dentro de poucos
dias vocês serão batizados com o Espírito Santo”. Também em Atos 11.6, Lucas
emprega essa terminologia ao narrar a experiência da casa de Cornélio.
Batismo no Espírito Santo é apenas uma variante de outras expressões
bíblicas para a mesma experiência com o Espírito, como salientou Horton:

Foi, de fato, um batismo [referindo-se a Atos 2], mas a Bíblia também diz que foi um
enchimento. “E todos foram cheios do Espírito Santo” (2.4). Foi um derramamento do
Espírito sobre eles, conforme profetizou Joel (2.28-32). Foi um recebimento (uma
aceitação ativa) de uma dádiva (2.38); um cair sobre (8.16; 10.44; 11.15); um
derramamento do dom (10.45); e uma vinda sobre (19.6). Com todos esses termos
empregados, é impossível supor que o batismo se refira a algo diferente de enchimento
ou plenitude, ou que a experiência pentecostal foi limitada ao dia de Pentecoste. Nem
devemos supor que a falta de uso da expressão “batismo no Espírito” nas epístolas é
relevante.23

Os pentecostais preferem a utilização da expressão batismo no Espírito


Santo devido ao fato de a linguagem derivar-se das declarações de Jesus e
também devido à metáfora que a palavra batismo sugere: o de estar imerso.
Assim, “ser batizado no Espírito Santo é ficar totalmente envolvido no Espírito
dinâmico do Deus vivo, e n’Ele saturado”.24
Para a teologia pentecostal, os relatos de Atos também são cruciais, pois
fundamentam a ideia de que o batismo no Espírito Santo é uma experiência
distinta da conversão. Antônio Gilberto afirma que igualar o batismo no Espírito

21 MENZIES; MENZIES, 2002, p. 52.


22 HORTON, 1996, p. 433.
23 HORTON, 1993, p. 151. Horton ainda afirma que nenhum termo isolado pode ressaltar todos

os aspectos do que aconteceu no dia de Pentecostes.


24 WIILIAMS, apud WYCKOFF, 1996, p. 434.
Santo à salvação é uma concepção errônea, visto que trechos de Atos mostram
o contrário, como, por exemplo, no próprio evento de Pentecostes, em que a
efusão do Espírito aconteceu com os discípulos.25
Os que negam a separabilidade argumentam que, se a experiência
nesses casos parece distinta porque dá a impressão de ser subsequente, isto se
deve ao momento histórico incomparável das etapas iniciais da igreja, isto é, os
acontecimentos como ocorreram em Atos não são a norma para a igreja. Os
pentecostais não acreditam dessa forma e defendem, com base na sua
interpretação dos acontecimentos em Atos, que a regeneração precede o
batismo no Espírito Santo.
Segue-se uma breve interpretação pentecostal destes textos em Atos.

1.2.1 Atos 2.1-13: A festa de Pentecostes


No dia de Pentecostes, os 120 que experimentaram o êxtase no Espírito
Santo já eram cristãos. Esse evento é o cumprimento da promessa feita por Deus
já no Antigo Testamento. Palma elenca duas passagens que para ele são
fundamentais na inauguração da era do Espírito, Ezequiel 36.25-27 e Joel 2.28-
29.
A promessa de Ezequiel está relacionada ao conceito de regeneração
apresentado por Jesus e Paulo. Dessa forma, não existe um cristão sem a ação
do Espírito Santo. Já a profecia de Joel é diferente. Palma afirmou:

Ela não fala sobre transformação interior, estilo de vida alterado ou a atuação interior do
Espírito Santo: em vez disso, o Senhor diz: “derramarei o meu Espírito Santo sobre toda
carne”. O resultado será muito dramático – os vasos profetizarão, terão sonhos e visões.
Essa profecia lembra um desejo muito intenso de Moisés: “Tomara que todo o povo do
Senhor fosse profeta, que o Senhor lhe desse o seu Espírito!” (Nm 11.29). [...] Na
profecia de Joel, o Espírito vem sobre o povo de Deus em primeiro lugar para dar-lhe o
poder de profetizar: isso é evidente quando Pedro cita Joel em seu discurso no dia de
Pentecostes (At 2.16-21). Nesse dia, os discípulos foram “cheios do Espírito Santo” (At
2.4); eles não foram regenerados por aquela experiência. 26

Assim, embasado em outros teólogos, entre eles I. H. Marshall, Palma


entendeu o evento de Atos 2 como paradigmático, o padrão dos posteriores
derramamentos do Espírito. Mas como explicar que o vento e o fogo não se

25 GILBERTO, 2008, 189-92. Antônio Gilberto é um teólogo pentecostal brasileiro


respeitadíssimo nas Assembleias de Deus no Brasil.
26 PALMA, 2002, p. 15-16.
repetiram nas demais experiências? Brandt explicou que o dom do Espírito Santo
ainda não tinha sido dado. Por isso, para a primeira ocorrência desse fenômeno,
os judeus precisariam de sinais externos que confirmassem que aquela era a
experiência prometida por Jesus, e para o judeu havia pelo menos três símbolos
do Espírito de Deus: óleo, vento e fogo. Desse modo, vento e fogo precisaram
estar presentes na primeira ocorrência para que os discípulos tivessem a
confirmação da legitimidade do evento dinamizante da igreja, ou seja, os dois
símbolos já conhecidos pelos judeus autenticaram a novidade, que foi o batismo
no Espírito Santo. Tendo certeza do recebimento do dom por causa dos
símbolos, eles não precisavam mais de provas externas para comprovações
futuras.27

1.2.2 Atos 8.14-20: Os samaritanos


O pentecostes samaritano é, para a teologia pentecostal, umas das
passagens bíblicas mais claras acerca da doutrina da subsequência, segundo a
qual o revestimento com o Espírito Santo é posterior à conversão28. Acerca dos
samaritanos, o texto afirma nos versículos 16 e 17: “pois o Espírito ainda não
havia descido sobre nenhum deles; tinham apenas sido batizados em nome do
Senhor Jesus. Então Pedro e João lhes impuseram as mãos e eles receberam
o Espírito Santo”. Os pentecostais entendem que Lucas não nega a ação do
Espírito no ato da conversão, ele só não a destaca. Salientam que as pessoas
tornam-se moradas do Espírito no momento da conversão (Rm 8.9; 1Co 6.19),
contudo, defendem que o batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta
da conversão, como bem frisa esse texto.29
Para Menzies, muitos teólogos tradicionais têm dificuldades em entender
a pneumatologia de Lucas porque a leem com os “óculos” da pneumatologia
paulina, em que a ação do Espírito está diretamente ligada à conversão. A
perspectiva lucana do Espírito é carismática e a de Paulo, soteriológica. Menzies
cita a tese de Stronstad: “Visto que o dom pentecostal em seu caráter é

27 BRANDT, 2005, p. 39-44.


28 Trataremos dessa compreensão doutrinária no tópico 1.2.6.
29 PALMA, 2002, p. 34-35.
carismático, e não soteriológico, ele deve ser distinto do dom do Espírito que
Paulo associa com a conversão-iniciação”.30
Segundo Menzies, alguns teólogos alegam que os samaritanos não eram
realmente cristãos antes de receberem o Espírito, o texto bíblico sugere que os
samaritanos apenas compreenderam a mensagem de Felipe no que tange ao
Messias e ao Seu reino. Na perspectiva deles, uma vez que “crer” (pisteuo), no
dativo, normalmente significa assentimento intelectual, e Lucas o emprega no
verso 12, “creram em Felipe”, ou seja, “acreditaram” (assentimento intelectual)
no discurso de Felipe sobre o tema da pregação, não receberam a fé genuína.
Menzies, no entanto, argumenta que não existe nada no texto que indique a
deficiência na pregação de Filipe ou que os samaritanos se equivocaram. Lucas
registra que Filipe saiu “pregando a Palavra” (evangelizomenoi ton logon). Visto
que “a Palavra” tem conteúdo querigmático (At 2.41; 6.2; 8.14), não tem por que
acreditar que os samaritanos não entenderam corretamente a pregação de
Filipe, até porque, se assim fosse, seria sensato, da parte dos apóstolos, uma
correção, fato que não ocorreu. Pelo contrário, o versículo 14 afirma que os
samaritanos receberam a Palavra de Deus. Menzies também afirma que Lucas
usa o verbo “crer” com dativo em outro lugar para designar a fé genuína em Deus
(16.34; 18.8), fora que, na conversão de Lídia, tem-se o crer na mensagem de
um evangelista como sinônimo de crer em Deus (At 16.14).31

1.2.3 Atos 9.17: Paulo e Ananias e Atos 10.44-48: Cornélio e sua casa
Teólogos pentecostais, como Palma e Stamps32, também analisaram
esse evento na vida de Paulo a partir da perspectiva de que ele recebeu o
Espírito Santo, nos moldes lucano, depois da conversão. Palma entendeu que a
imposição de mãos de Ananias sobre Paulo não foi para ele se converter, mas
ser cheio do Espírito Santo, afinal, em nenhum lugar a imposição de mãos é
usada para esse fim salvífico. Stamps comentou que a experiência de Paulo foi
semelhante à dos discípulos em Pentecostes, primeiro a salvação e depois a
plenitude do Espírito Santo.33

30 STRONSTAD apud MENZIES; MENZIES, 2002, p. 60.


31 MENZIES; MENZIES, 2002, p. 64-67.
32 Donald Stamps foi o editor chefe da Bíblia de Estudo Pentecostal, editada pela CPAD.
33 STAMPS, 1995, p. 1649.
Após anúncio de Pedro, Cornélio e sua casa creram em Jesus Cristo e
experimentaram na mesma ocasião a conversão e o batismo com o Espírito
Santo. Horton, Palma e Stamps defenderam a separabilidade das experiências,
conversão e batismo com o Espírito Santo, com base na terminologia que Lucas
usa nesse acontecimento. Expressões como: “o Espírito Santo desceu sobre
todos os que ouviam a mensagem” (v. 44); “o dom do Espírito Santo fosse
derramado” (v. 45 – ver também 11.16), são intercambiáveis com expressões
como “cheios do Espírito Santo” e “receber o Espírito”, utilizadas nos
acontecimentos de Pentecostes e em Samaria. E não usados por Lucas para
falar de conversão ou regeneração.34

1.2.5 Atos 19.1-7: Os homens de Éfeso


Os mesmos teólogos pentecostais citados acima, também afirmaram que,
quando Lucas se refere a esses homens como discípulos, estava falando de
discípulos de Jesus.

A palavra “discípulo” (do grego mathētēs) ocorre trinta vezes no livro de Atos. Tanto antes
quanto depois dessa passagem, a expressão sempre significa discípulos de Jesus. A
única exceção está em 9.25, onde a palavra é qualificada como “seus”, significando que
eles eram discípulos de Paulo. Não existe razão para que Lucas, em 19.1, tivesse se
desviado dessa consistente aplicação da palavra relacionada a discípulos de Jesus.35

Palma defende o conceito de que esses homens em Éfeso eram


discípulos de Jesus nos mesmos moldes que Apolo foi antes de ir à casa de
Priscila e Áquila. (At 18.24-28).
Acerca da pergunta de Paulo “Vocês receberam o Espírito Santo quando
creram?”, os pentecostais entendem que a intenção dessa era saber se eles já
tiveram a experiência com o Espírito Santo, comparável aos crentes de Samaria
e Cesaréia, visto que a expressão “recebendo o Espírito Santo” é utiliza também
naqueles contextos. Outro argumento a favor dessa ideia é que, no versículo
seis, a experiência que segue é igual aos outros contextos citados acima:
recebimento do dom pentecostal e a manifestação de outras línguas.36
Horton ainda traz o argumento gramatical. Afirma que o crer em grego é
um particípio passado, enquanto que receber é o verbo principal. Como o

34 PALMA, 2002, p. 40-41.; STAMPS, 1995, p. 1655.


35 PALMA, 2002, p. 42-43.
36 PALMA, 2002, p. 46-47.
particípio frequentemente revela o seu relacionamento com o verbo principal, o
fato de crer estar no passado significa que antecedia o receber. O texto
literalmente afirma: “tendo crido, recebestes?”.

Embora haja casos em que a ação do particípio aoristo esteja coincidentemente com
aquela de um verbo aoristo, essa não é uma concepção aceitável. A impressão dada por
Atos 19.2 é que, visto que esses discípulos alegavam ser crentes, o batismo com o
Espírito Santo deveria ser o passo seguinte, um passo distinto depois do ato de crer,
embora não necessariamente separado deste por longo período. 37

Dito isso, percebe-se que é com base nestas perícopes em Atos dos
Apóstolos que o movimento pentecostal brasileiro da Assembleia de Deus
ministério Belém constrói sua teologia do falar em línguas na atualidade. Cabe
ainda explicar de forma breve o conceito de subsequência e separabilidade no
contexto dessa doutrina pentecostal.

1.2.6 Síntese da doutrina da subsequência e separabilidade


Segundo os teólogos pentecostais, Horton, Palma e Gilberto, o fato de
Lucas descrever incidentes em que “partes” da experiência cristã acontecem
separadamente, divididas por um lapso de tempo, depõe em favor da doutrina
pentecostal da subsequência e separabilidade, isto é, o batismo com o Espírito
Santo é um acontecimento diferente da conversão. A subsequência não precisa
ser focada para se comprovar a separabilidade e a qualidade distintiva. Wyckoff
explica que “a subsequência enfatiza o segmento posterior no tempo ou na
ordem. A separabilidade refere-se à dessemelhança quanto à natureza e à
identidade. E a qualidade distintiva mostra as diferenças de caráter ou propósito,
ou de ambos”.38 Dessa forma, o conceito de subsequência não é absolutamente
crucial aos princípios da separabilidade e da qualidade distintiva. Os eventos
podem ser simultâneos, porém separáveis, como aconteceu na casa de
Cornélio. Wyckoff ainda usa como argumento as experiências da justificação,
regeneração e santificação que, mesmo ocorrendo ao mesmo tempo, são
distintivas em seu caráter e propósito e separáveis em sua natureza. Assim, o
pentecostal ainda adiciona o batismo com o Espírito Santo, que pode acontecer

37 HORTON, 1993, p. 175.


38 HORTON, 1996, p. 439.
junto a essas outras experiências, mas é uma obra separável e distinta do
Espírito no ser humano.
Dessa forma, tendo em vista que a hermenêutica pentecostal entende
Lucas-Atos como normativos para a igreja em todas as eras, os cristãos
hodiernos devem esperar o mesmo padrão de experiência.
A prática do dom de línguas no movimento pentecostal ao longo da sua
história reflete a sua teologia e como a igreja entendeu os textos bíblicos, por
isso, para ter-se a correta compreensão de como os pentecostais brasileiros
entenderam e praticaram o dom de línguas, faz-se necessário contar
brevemente a sua história, pois, como já dito acima, é na práxis que os
pentecostais forjaram a sua teologia, isto é, conforme foram experimentando as
manifestações espirituais em seus cultos e reuniões, interpretavam a partir da
experiência os textos bíblicos.

1.3 Glossolalia no início do movimento pentecostal

1.3.1 Charles F. Parham


Desde que se organizou como movimento em 1901 com a Escola Bíblica
Betel de Charles F. Parham, em Topeka, no Kansas39, o infante pentecostalismo
já se ancorava em Atos 2 para fundamentar biblicamente a experiência
glossolálica, que segundo registros já havia acontecido anteriormente em outros
lugares.40 O que aconteceu em Topeka no início de 1901, em um culto de
passagem de ano, foi que Parham orou com imposição de mãos sobre a aluna
Agnes Ozman e ela começou a falar outro idioma. Dias depois, ele e outros
alunos foram revestidos de poder e começaram a falar outras línguas. 41

39 SYNAN, 2009, p. 17ss.


40 O fim do século 19 é marcado por muitas experiências espirituais, entre elas glossolalia, estado
de júbilo, curas. Na década de 1870, dois evangelistas de renome experienciaram o já assim
chamado batismo no Espírito Santo, D.L. Moody e Charles Finney. ARAUJO, 2007, p. 590.
41 ARAUJO, 2007, p. 601.
“Naquelas reuniões, afirmou-se mais tarde, os alunos falaram 21 idiomas
conhecidos (por exemplo, sueco, russo, búlgaro, japonês, norueguês, francês,
húngaro, italiano e espanhol). De acordo com Parham, nenhum dos alunos havia
estudado os idiomas falados, e todos os casos foram confirmados como
autênticos por nativos daquelas línguas.”42
Foi estudando o livro de Atos que Parham concluiu: a evidência física43
do batismo com o Espírito Santo está no falar em línguas. Ele, inclusive, é
considerado o primeiro a defender essa teoria, que até hoje perdura na
hermenêutica pentecostal. Para ele, era a vontade de Deus que a igreja do seu
tempo voltasse aos moldes da igreja primitiva e assim vivesse a unidade cristã.
Por isso, em seu ministério, enfatizou a atualidade dos dons, das curas e das
línguas, que para Parham eram línguas humanas identificáveis. Se a igreja
quisesse viver a fé apostólica, precisaria rogar a Deus a atualidade das mesmas
manifestações espirituais ocorridas em Atos.44
As línguas tinham um papel fundamental nessa evangelização mundial.
Parham dizia que ao receber o batismo com o Espírito Santo, conforme Atos 2,
o fiel não perderia tempo aprendendo um novo idioma, podendo se dedicar assim
à evangelização daquele povo.

Com base nessa premissa, Parham fundou a Escola Bíblica Betel [...] Ele estabeleceu a
escola como centro de treinamento missionário, mas guardava silêncio a respeito de
suas conclusões sobre a função da xenolalia (línguas humanas identificáveis) em
missões. No entanto, Parham orientou seus 34 alunos com a teologia da Santidade e,
então, no fim de dezembro, desafiou-os a buscar verdadeira evidência do derramamento
espiritual do fim dos tempos. Estrategicamente, ele os direcionou para Atos capítulo 2,
onde o falar em línguas claramente acompanha o alvorecer do poder apostólico na Igreja
Primitiva.45

O avivamento em Topeka só reforçou o sentimento de missões mundiais


que já perpassava o movimento de santidade nos EUA na época. Parham
acreditava que o acontecimento em Atos 2 estava se repetindo e que a igreja
estava voltando a ser como a igreja primitiva, tanto que batizou seu movimento
de Fé Apostólica.

42 SYNAN, 2009, p. 66.


43 Por evidência física inicial os pentecostais brasileiros querem se referir à manifestação visível,
por meio dos órgãos da fala, do dom de línguas.
44 SYNAN, 2009, p. 64. ARAÚJO, 2007, p. 599.
45 ARAUJO, 2007, p. 601. O que está em itálico é acréscimo do pesquisador.
1.3.2 William J. Seymour
Como já dito acima, foi Parham quem lançou os fundamentos do
movimento pentecostal, contudo, o atual pentecostalismo brasileiro, no que diz
respeito à questão das línguas, identifica-se mais com o avivamento ocorrido a
partir de 1906 na Rua Azusa, em Los Angeles, liderado pelo pastor negro William
J. Seymour
Como aluno de Parham, Seymour também pregava o batismo no Espírito
Santo com base em Atos 2. Porém, as manifestações ocorridas no galpão da
Rua Azusa se diferenciavam das ocorridas na Escola Bíblica Betel. Em suas
primeiras pregações em Los Angeles, Seymour falou sobre a experiência do falar
em outras línguas até que manifestações carismáticas começaram a
acompanhar suas pregações. Seu ministério eclodiu quando se fixaram em um
galpão na Rua Azusa, número 312.
Os fenômenos que aconteceram nas reuniões começaram a correr os
Estados Unidos e a despertar o interesse de muitos cristãos e críticos. E foi nas
críticas que se começou a perceber uma das diferenças entre Seymour e
Parham.46 Se nas manifestações de línguas ocorridas no ministério de Parham,
em Topeka, tinha-se um fenômeno xenolálico, ou seja, as pessoas batizadas
com o Espírito Santo começavam a falar novas línguas, porém, idiomas
identificáveis, na Rua Azusa era diferente. Segundo o jornal Los Angeles Times,
que enviou um repórter para fazer uma cobertura dos cultos, nos momentos de
oração ouviam-se sons e gritos incompreensíveis.

O irmão de cor agarra com sua mão enorme uma Bíblia minúscula, e a intervalos lê uma
ou duas palavras – não mais. Depois de uma hora de exortações, os crentes são
convidados ao “culto de orações e testemunhos”. É então que o pandemônio tem início,
e os limites da razão são ultrapassados por aqueles que estão “cheios do espírito”, seja
lá o que isso significa. “Iu-u-pô gu-iu-iu, vem sobre blu-u-u-bu-idô”, grita uma velha
mammy de cor, num frenesi de ardor religioso. Balançando os braços freneticamente,
ela continua com sua estranha e interminável arenga. Poucas de suas palavras são
inteligíveis, e a maior parte de seu testemunho é composta da mais estapafúrdia mistura
de sílabas [...] uma mulher negra lançou-se ao solo e começou a gesticular
freneticamente até irromper numa oração de gorgolejos ininteligíveis”. 47

O que se pode perceber diante disso é que, em Azusa, o falar em línguas


não era necessariamente o falar um idioma conhecido (xenolalia), mas uma
língua estranha, ainda que existam relatos de pessoas que passaram pela

46 ARAUJO, 2007, p. 602-08.


47 SYNAN, 2009, p. 81-85.
experiência extática das línguas e falaram idiomas reconhecíveis.48 Inclusive, em
um dos casos, um jornalista estrangeiro, que fora mandado à Azusa para
registrar os acontecimentos, viu uma jovem contar o testemunho de como Deus
a tinha batizado no Espírito Santo, e naquele momento irrompeu em línguas.
Mais tarde, o repórter foi perguntar à moça onde ela havia aprendido a falar o
idioma do seu país e como sabia tantos detalhes de sua vida.49
A separação entre Seymour e Parham teve, entre outros motivos, como
racismo e busca pelo poder, a questão teológica das línguas. Parham descreveu
os cultos na Azusa como “êxtases, cair sob o poder, santos rolando [...] vozerio,
murmúrio [...] e dando vazão a sons sem significados e barulhos [...]”.50 Conforme
visto acima, para Parham, ser batizado no Espírito Santo era ser capacitado a
falar em outros idiomas para a evangelização do mundo. Seymour não pensava
diferente, mas línguas estranhas e desconhecidas eram aceitas como
decorrentes do mesmo revestimento de poder. 51
O avivamento da Rua Azusa influenciou o futuro do pentecostalismo. O
ministério em si nunca cresceu, mas foi o fermento para o crescimento do
movimento pentecostal ao redor do mundo. Os movimentos que se seguiram
depois da Azusa também tinham essa mistura de idiomas inidentificáveis e
identificáveis, entretanto, cada vez mais abordavam o dom de línguas como
oração no Espírito, intercessão e louvor por meio de línguas estranhas.52

1.4 Glossolalia na interpretação da Assembleia de Deus no Brasil

Foi com essa compreensão que o pentecostalismo chegou ao Brasil com


Daniel Berg e Gunnar Vingren. Em 2 de junho de 1911, a irmã Celina
Albuquerque foi batizada no Espírito Santo depois dos missionários terem

48 EPOS, 2002, p. 55.


49 SYNAN, 2009, p. 87.
50 ARAUJO, 2007, p. 781.
51 Mais tarde, Seymour também vai negar que o falar em línguas é a evidência inicial do batismo

no Espírito Santo. Dizia que “o batismo com o Espírito Santo e com fogo significava ser inundado
com o amor de Deus e poder para o serviço. O dom de línguas era um sinal que seguia esse
batismo”. Isto é, para Seymour, o crente poderia ser batizado no Espírito Santo sem falar em
línguas, recebendo esse dom posteriormente, caso buscasse. ARAUJO, 2007, p. 608.
52 ARAUJO, 2007, p. 923.
pregado a mensagem de Atos 2.53 Depois de estabelecida no Brasil, a
Assembleia de Deus passou a propagar suas doutrinas por meio de publicações,
e nelas se pode observar a interpretação dada ao falar em línguas.
Já em seu primeiro jornal oficial, o Boa Semente, criado em 1918, a
temática do batismo no Espírito Santo foi matéria frequente. Os editores viram a
necessidade de fundamentar a doutrina defendida pelos pentecostais frente às
igrejas tradicionais. No artigo O Batismo no Espírito Santo Segundo as
Escrituras, de 1923, o autor, não identificado na edição54, começou o texto
apontando para o fato de que muitos cristãos do seu tempo ignoravam esse tema
e, quando o abordavam, atribuíam-lhe outro significado. O autor afirmou que o
batismo no Espírito Santo é uma promessa de Jesus à igreja que se cumpriu no
dia de Pentecostes e que se estendeu ao longo dos séculos. Claramente, ele
reconheceu a conversão dos apóstolos antes da experiência extática, entretanto,
afirmou que “o Espírito Santo estava com eles, não neles”.55 Ainda que de
maneira embrionária, o artigo vai trazendo as teses apresentadas no tópico 1.2
dessa pesquisa.
Em outro artigo, na mesma edição, J. Lima traduziu um texto de Paul
Aenis56, no qual o autor defendeu a ideia de que negar o batismo no Espírito
Santo é loucura equivalente à negação de Jesus Cristo como Messias por parte
dos judeus. Ambos os textos nessa edição querem mostrar que, para a doutrina
pentecostal, o batismo no Espírito Santo não foi somente uma experiência para
os apóstolos, mas deve ser buscada pela igreja em todos os tempos.
Com a fusão do Boa Semente (com sede em Belém do Pará) e do Som
Alegre (com sede no Rio de Janeiro), outro periódico assembleiano surgiu em
1930: o Mensageiro da Paz, meio de comunicação fundamental nesse papel

53 CONDE, 2000, p. 30. É importante frisar que a irmã Celina não foi a primeira brasileira a falar
em línguas, segundo registros, o pastor batista Paulo Malaquias teve essa experiência extática
em 1908 em Ijuí (RS). Antes de Celina, também o irmão “Pedro Graudin teve a mesma
experiência em 1909, em Guaramirim (Bananal), Santa Catarina (Brasil); neste mesmo ano,
Karlis Andermanis, pastor da Igreja leto-batista de Rio Novo (Santa Catarina), recebeu o batismo
no Espírito Santo com o falar em línguas estranhas. Com a chegada do ítalo-americano Luigi
Francescon ao Brasil, houve batismos no Espírito Santo em Santo Antonio da Platina (PR), em
20 de abril de 1910, e em São Paulo, em 20 de junho de 1910, dando origem à Congregação
Cristã no Brasil”. Disponível em: <http://www.cpad.com.br/cemp/historia.php> Acesso em: 19 abr
2013.
54 BOA SEMENTE, 1923, p. 1.
55 BOA SEMENTE, 1923, p. 1.
56 AENIS, P. Cometeremos a loucura de rejeitarmos o Batismo com o Espírito Santo como os

judeus rejeitaram a Cristo? BOA SEMENTE, 1923, p. 3-4.


doutrinador na denominação. Em 1945, o jornal já estava com uma tiragem de
17.500 e, em 2012, girava em torno dos 150 mil exemplares.57 Como surgiu
antes das lições de Escola Bíblica Dominical, o Mensageiro da Paz foi sem
dúvida grande difusor da doutrina pentecostal. Nele, o tom apologético
permanece. O texto escrito pelo pastor Luiz Hygino de Souza fundamenta essa
experiência em Atos 2 e em 1Coríntios 14. Hygino afirmou que o Batismo no
Espírito Santo se manifesta tanto em línguas conhecidas (Atos 2) como em
línguas desconhecidas (1Co 14).58
Essa compreensão de Atos 2 como fundamento bíblico do batismo no
Espírito é perene na teologia pentecostal brasileira. Nota-se isso nas lições da
Escola Bíblica Dominical. Elienai Cabral, teólogo pentecostal da CPAD (Casa
Publicadora das Assembleias de Deus), comentou o tema do batismo com o
Espírito Santo em 2011. Em Atos 2, segundo esse autor, tem-se como evidência
física inicial do batismo no Espírito Santo o falar em línguas estranhas. Cabral
afirma: “O falar em línguas estranhas, seja como sinal, seja como dom, é uma
operação divina encontrada somente a partir de Atos 2. O falar em línguas como
sinal do batismo com o Espírito Santo teve seu início no dia de Pentecostes (At
2.4)”.59
Percebe-se também a constância dessa interpretação ao se analisar as
primeiras teologias sistemáticas utilizadas no Brasil pelos assembleianos. A
partir da década de 1950, encontram-se os mesmos conceitos anteriormente
apresentados. Segundo Pearlman, teólogo americano que exerceu muita
influência no Brasil a partir da década de 195060, esse revestimento de poder
descrito em Atos 2 e em outros capítulos é chamado de batismo no Espírito
Santo e tem, em todos os casos registrados em Atos, como evidência inicial, o
falar extático em uma língua que a pessoa desconhecia. Pearlman também
afirma o falar em línguas identificáveis e inidentificáveis.61 Ainda nessa direção,
caminha Eurico Bergstén, autor da primeira teologia sistemática produzida no

57 LIMA; WERNECK, 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-


52582012000100006&script=sci_arttext#nt05> Acesso em: 01 maio 2016.
58 SOUZA, 1931, p. 4.
59 CABRAL, 2011, segundo trimestre.
60 Seu livro Conhecendo as Doutrinas da Bíblia foi, por muito tempo, a teologia sistemática dos

obreiros brasileiros. ARAUJO, 2007, p. 559.


61 PEARLMAN, 2003, p. 195-200.
Brasil. Bergstén cita Atos 2 e 1Coríntios 14 sem fazer distinção alguma. Para ele,
ambos falam da mesma experiência carismática.62
Na teologia sistemática organizada por Stanley Horton, outra obra de
referência da teologia pentecostal, John Wyckoff afirma que o batismo no
Espírito Santo também está ancorado em Atos 2 como evento fundante e tem
como evidência inicial o falar em outras línguas.63 E David Lim, ao falar sobre os
dons espirituais, também não faz nenhuma diferença entre as línguas faladas
em Atos 2 e 1Coríntios 14.64
O posicionamento oficial das Assembleias de Deus no Brasil mantém o
mesmo conceito apresentado anteriormente, como consta no site oficial da Casa
Publicadora das Assembleias de Deus:

No Dia de Pentecostes (33 d.C.), quando o Espírito Santo veio sobre os discípulos, dez
dias após Jesus ter subido aos céus, eles começaram a demonstrar manifestações
miraculosas, incluindo línguas estranhas, discernimento de espíritos, profecias e dons
de curar. O evento se repetiu em Samaria, Damasco, Cesaréia e Éfeso (At 2.1-13; 8.14-
17; 9.17,18; 10.44-46; 19.1-7). Imediatamente depois do Dia de Pentecostes, os
discípulos começaram a espalhar o evangelho por todo o mundo conhecido. Portanto, o
Pentecostes foi o prelúdio, o início de outros Pentecostes que a história registra. 65

Fica evidente, diante de tudo o que já foi exposto, que, na interpretação


pentecostal, o fenômeno de Atos 2 é o batismo no Espírito Santo, que se
manifesta tanto em línguas existentes, como em línguas estranhas/espirituais.
Para os teólogos pentecostais, tanto Atos 2 (discípulos falam idiomas
identificáveis, estranhos somente para quem o fala), quanto 1Coríntios 14 (Paulo
fala do dom de línguas estranhas, isto é, uma língua espiritual que é somente
discernida e interpretada espiritualmente) tratam do mesmo fenômeno extático. 66
Desde Azusa, entende-se o falar em línguas como oração no Espírito,
intercessão e louvor,67 ou seja, no decorrer do desenvolvimento do
pentecostalismo, a xenolalia foi perdendo força na prática pentecostal. Cabral
afirma que o fato de em Atos 2 os discípulos terem falado línguas conhecidas
(desconhecidas para eles) foi uma concessão divina “a fim de que muitos

62 BERGSTÉN, 1999, p. 99.


63 HORTON, 1996, p. 431-62.
64 HORTON, 1996, p. 476. Também a Teologia Sistemática lançada pela CPAD em 2008

confirmou essa leitura de Atos 2. GILBERTO, 2008, 189-92.


65 A história do movimento Pentecostal. Disponível em: <
http://www.cpad.com.br/cemp/historia.php> Acesso em: 19 abr. 2013.
66 CABRAL, 2011, p. 23.
67 HORTON, 1996, p. 20.
pudessem crer em Jesus e receber a salvação [...]. Ainda que raro, esse
fenômeno repete-se segundo a soberania divina e em momentos em que se faz
necessário”.68 A posição de Cabral, condizente com a opinião oficial das
Assembleias de Deus no Brasil, reforça a posição de que atualmente o batismo
no Espírito Santo se manifesta ordinariamente com as línguas estranhas,
desconhecidas da humanidade.

Excurso 01 – A importância da glossolalia para a fé pentecostal


Em um dos últimos manifestos teológicos das Assembleias de Deus no
Brasil, o qual ficou conhecido como Carta de Campinas, produzido no fim de
2010, pode-se ler:

Precisamos resgatar nossos princípios pentecostais, conservando-se os bons costumes.


Esses princípios constituem-se no ensino do batismo com o Espírito com a evidência
física e inicial do falar em línguas, os dons espirituais, o compromisso com evangelização
e missões, a fé, a esperança e a proclamação do Retorno de Jesus Cristo, a adoração
espontânea (não mecânica) e verdadeiramente espiritual e a Bíblia como nossa regra de
fé e prática.69

A importância do falar em línguas é indiscutível para o pentecostalismo


clássico. Quando fala no batismo no Espírito Santo, a fé pentecostal admite que
o ser humano é tomado pelo poder sobrenatural divino, para assim ter uma
comunhão mais profunda com Ele.70 A Bíblia de Estudo Pentecostal, cujas
tiragens já ultrapassaram a marca de um milhão de exemplares,71 afirma que o
dom de falar em línguas tem pelo menos dois propósitos principais: a edificação
do indivíduo nas devoções particulares (1Co 14.4) e a edificação da comunidade,
quando, também pelo Espírito, as línguas são interpretadas e transmitidas a toda
congregação.72
Gilberto afirmou que o falar em línguas é falar/orar a Deus na dimensão
do Espírito Santo, em “linha direta” (1Co 14.2). E aponta ainda que o fiel batizado

68 CABRAL, 2011, p. 22-23.


69 Manifesto da reflexão Teológica Pentecostal das Assembleias de Deus no Brasil. Disponível
em:
<http://www.cpadnews.com.br/integra.php?s=12&i=4330>. Acesso em: 03 mai. 2013.
70 PEARLMAN, 1995, p. 21.
71 Disponível em: <http://www.editoracpad.com.br/institucional/integra-gerencia.php?s=2&i=8>

Acesso 10 jun. 2014.


72 STAMPS, 1995, p. 1631.
no Espírito Santo, além de ter sua fé edificada com esse dom, ganha mais
dinamismo e ousadia para falar as maravilhas de Deus (At 2.11).73
Outro ponto importante sobre a glossolalia na fé pentecostal é o senso de
igualdade e unidade que ela provoca. No culto pentecostal, pobres e ricos,
brancos e negros são cheios do mesmo Espírito, isso causa senso de pertença
e gera o engajamento com o movimento, prova disso é o crescimento dos
pentecostais no país, especificamente as Assembleias de Deus, que, de acordo
o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é a maior
corrente evangélica do País.74
Na experiência pentecostal, o fiel tem um encontro tão intenso com Deus,
manifesto nessas experiências extáticas do falar em línguas, danças no Espírito
etc., que não demora muito para ele ser um missionário. Tudo isso, muitas vezes,
sem a mediação de um sacerdote ou um clérigo. O indivíduo experimenta um
encontro com Deus de forma pessoal e direta.75
Assim, percebe-se a importância do batismo no Espírito Santo para o
movimento pentecostal. O dom de línguas, segundo os pentecostais, é uma
dádiva de Cristo ao seu corpo, e ainda que tenha sido suplantado em
determinados momentos da história, é um dom atual e vivo na igreja. O que
começou em Atos 2, até hoje motiva os cristãos pentecostais a pedirem e a
esperarem o revestimento do alto para testificarem o Evangelho e
experimentarem uma íntima comunhão com Deus. O batismo no Espírito Santo
é um chamado ao serviço, pois o que aconteceu com os 120 em Pentecostes foi
predito por Jesus em Atos 1.8: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo
descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a
Judéia e Samaria, e até os confins da terra”, e, nesse sentido, ser testemunha
de Cristo é o que deve marcar aquele que foi batizado no Espírito Santo, ensinam
os pentecostais.

73 GILBERTO, 2008, 189-92.


74 RITTO, Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ibge-populacao-catolica-encolhe-
no-brasil> Acesso 10 jun. 2014.
75 GUTIÉRREZ, 1996, p. 15-16.
Excurso 02 – O batismo com fogo

A expressão batismo com o Espírito Santo e com fogo nos casos de


Mateus e Lucas só aparece nos sinóticos no contexto da pregação de João
Batista. O contexto dessa pregação é o anúncio do Reino dos Céus e a
necessidade de arrependimento (mudança de mente) para ingresso nesse reino.
O termo grego metanóia utilizado pelos evangelistas designa a renúncia ao
pecado e uma volta à Deus.76

João anuncia o julgamento. A este respeito, na descrição dos sinóticos [...], João é, de
certo modo, pregador apocalíptico. Isto é, João prega um julgamento iminente, a
destruição dos que se opõem ao plano e a vontade de Deus, e oferece perdão para os
que buscam ser como ele prega. A mensagem de João tem o tom de urgência
apocalíptica. No evangelho, João simboliza um momento de grande alcance. Há um
ritmo escatologicamente acelerado em seu ministério e em sua mensagem. Sua
pregação sugere que algo impressionante está prestes a acontecer.77

A pregação de João é a preparação da vinda de Jesus, e os sinóticos


dizem isso a luz de Isaías 40, tornando sua pregação um evento profético,
instaurando, assim, um novo tempo para Israel. “A atuação de João [...] esteve
de acordo com os moldes da tradição profética. Anunciou que Deus estava
prestes a agir decisivamente na história para manifestar seu poder real.” 78 Isso
obviamente agitou toda a Judeia pois, logo em seguida, Deus havia suscitado
um novo profeta para declarar a sua vontade ao povo.
Na pregação de João, além do arrependimento como antecipação dessa
chegada do reino, eram necessários dois aspectos: o batismo com o Espírito
Santo e o com o fogo. Marcos menciona apenas o batismo com o Espírito.
Muitas interpretações tem sido sugeridas ao longo da história, levando a
muitos caminhos. Alguns sugerem que João anunciou somente o batismo com
fogo, o fogo purificador do juízo iminente, e que o Espírito é acréscimo da
comunidade cristã após Pentecostes. Outros sugerem que o pneuma nessa
sentença diz respeito não ao Espírito Santo, mas ao sopro fulminante do Messias
que destruiria seus inimigos (Is 11.3).
Outro ponto de vista, e que se encaixa melhor no contexto, é a de aquele
que estava por vir batizaria os justos com o Espírito Santo e os ímpios com fogo.

76 BÍBLIA de Jerusalém, 2004, p. 1706.


77 OVERMAN, 1999, p. 64.
78 LADD, 2003, p. 55.
Ainda que na concepção dos judeus o Messias não seria o concessor do Espírito,
“mas não há razão para que se negue a João um elemento novo na questão”79,
até porque Deus estava iniciando um novo tempo e que, de muitas maneiras,
estava sendo diferente da compreensão que o povo tinha na época. Mesmo
porque, o derramamento do Espírito é amplamente prometido no Antigo
Testamento (Is 44.3-5; 32.15; Ez 37.14) como o texto explorado na pregação de
Pedro no dia de Pentecostes (Joel 2.28-32).
Essa efusão do Espírito no Dia do Senhor, dia esse que simboliza o
julgamento de Deus sobre o pecado humano, fecha com a tônica da pregação
de João Batista, onde o Senhor virá salvar os que se arrependerem (batismo
com o Espírito Santo) e condenar os que permanecerem no erro (batismo com
fogo).
Se olharmos para a vida e obra de Cristo nessa perspectiva, veremos
como ela é cheiro de vida para uns e cheiro de morte para outros (2Co 2). Em
Cristo, o amor e a justiça de Deus tiram o ser humano da neutralidade, ou ele é
batizado com o Espírito, ou ele é batizado com fogo.
Assim, o batismo com fogo, à luz do contexto da pregação de João, é
anúncio de julgamento, como podemos depreender dos versículos anterior e
posterior: “O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não
der bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Mt 3.10; Lc 3.9) e “Ele traz a pá
em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a
palha com fogo que nunca se apaga.” (Mt 3.12; Lc 3.17). A partir de Mateus,
entende-se que parte desse discurso agressivo de João é direcionado aos
fariseus e saduceus, que apoiavam a sua salvação no fato de serem
descendentes de Abraão, pois os mestres rabínicos ensinavam que a todos os
descendentes de Abraão segundo a carne será dado o reino eterno, ainda que
sejam pecadores e desobedientes a Deus. Mas para João isso não se encaixa
no novo reino, “quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde
ele estava batizando, disse-lhes: “Raça de víboras! Quem lhes deu a ideia de
fugir da ira que se aproxima?”. Para um israelita, ser chamado de “ninhada de
serpentes” era arrasador, pois a velha serpente era sinônimo de mentira e poder

79 LADD, 2003, p. 56.


das trevas. João estava dizendo que não era a semente de Abraão que estava
no coração deles, mas a antiga maldição lançada por Deus sobre a serpente.80
Os fariseus tinham a firme convicção de que eram como a árvore plantada
junto à corrente de águas, que no devido tempo dá seu fruto (Sl 1). João afirma
o contrário, eles se assemelham a uma árvore infrutífera, tão imprestável, que a
madeira nem para fins domésticos serve, deve ser queimada pelo fogo. 81 Todo
ritualismo e legalismo dos fariseus e saduceus não era fruto de um coração
arrependido (Mt 3.882). Por isso o machado já está pronto. A piedade farisaica
também era convicta de que eles seriam o trigo recolhido ao celeiro, Batista
novamente diz o contrário e mais uma vez o fogo é utilizado como símbolo de
juízo.
Alguns autores entendem que o fogo nos versículos de Mateus 3.11 e
Lucas 3.16, pelo fato de estar em aposição com batismo com o Espírito Santo,
não tem o sentido de julgamento. Rienecker falou do fogo no v.16 como símbolo
do juízo misericordioso que purifica e limpa, como o fogo do ourives. Defendeu
a ideia afirmando que os israelitas estavam familiarizados com esse efeito
purificador do fogo.83 Morris afirmou que o contexto das passagens em análise
favorece um contexto de julgamento. Relatou, ainda, uma pesquisa que achou
nos Rolos do Mar Morto, uma passagem que se referia a um fogo escatológico
de julgamento. Contudo, Morris defendeu:

São as mesmas pessoas que são batizadas com o Espírito Santo que também são
batizadas com fogo (e os dois são governados por um único en em no grego). Parece
melhor entender que João está pensando nos aspectos positivos e negativos da
mensagem do Messias. Os que O aceitam serão purificados como pelo fogo (Ml 3.1) e
fortalecidos pelo Espírito Santo.84

Os autores pentecostais seguem essa linha, e alguns associam essa


passagem com a descida do Espírito em Pentecostes: “E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles”.85
Ainda que o fogo na Bíblia simbolize a glória de Deus (Ez 1), Sua presença
protetora (2Rs 6), Sua santidade (Dt 4), purificação (Zc 13), simboliza também

80 RIENECKER, 1994, p. 60.


81 RIENECKER, 1994, p. 63. LADD, 2003, p. 57.
82 “Deem fruto que mostre o arrependimento!” O aoristo do grego original significa que uma ação

completa e imediata deve ser realizada. TASKER, 1999, p. 40.


83 RIENECKER, 1994, p. 91.
84 MORRIS, 1999, p. 93-94.
85 SOUZA, 1987.
sua ira contra o pecado (Is 66).86 Dessa forma, não existe uma simbolismo fixo
para o fogo, sendo o contexto fator determinante para o seu significado.
Evans defendeu a ideia de que a utilização do fogo como símbolo de juízo
no v.17 “assegura-nos que o fogo no v. 16 tem o sentido de julgamento [...] João
Batista está dizendo que aqueles que estão prontos para receber o Messias
experimentarão o batismo com o Espírito Santo, mas os que o recusarem,
receberão batismo de fogo.”87 Mounce foi na mesma direção expondo a grande
frequência com que Mateus utiliza o fogo com símbolo de julgamento (5.22; 7.19;
13.40, 42; 18.8; 25.41).88
Retomando o versículo, “Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira,
juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se
apaga.” (Mt 3.12; Lc 3.17), torna-se ainda mais evidente o contexto de
julgamento divino mediante o fogo. O fato do fogo ser símbolo de juízo é
reforçado pela ideia de que Lucas, quando relembra esse tema em Atos, não
coloca o fogo, pois aqui é um discurso de Jesus direto aos seus discípulos. (At
1.4-15).
Independente de como se entende os batismos, seja o com fogo ou com
o Espírito, Paulo apresentou à comunidade de Corinto um caminho superior, e
ele deve ser o cerne em toda vida carismática.

3.5 O caminho superior

Paulo reconheceu, escrevendo aos coríntios, a importância dos carismas


na vida da igreja. Nos capítulos 12 e 14 da primeira carta, ele se deteve em
normatizar a compreensão e a aplicação dos dons espirituais, visto essa igreja
estar enfrentando problemas nessa área. Por isso, apresenta não um novo
carisma no capítulo 13, mas uma nova forma de viver, algo para além dos dons,
sem o qual a igreja não conseguirá viver como corpo de Cristo, a saber, o amor.
Sem o amor, todos os demais carismas devem ser julgados sem valor. Por isso
o crente deve seguir o amor e desejar os dons (1Co 14.1). Para Paulo, o amor é

86 MITCHEL fogo In: DOUGLAS, 1995, p. 634.


87 EVANS, 1996, p. 63.
88 MOUNCE, 1996, p. 34.
a essência da ética cristã e é motivado pela expressão máxima do amor de Deus
na morte sacrificial de Cristo.89
A centralidade do amor na teologia paulina se evidencia no fato de que
em todas as suas cartas a palavra amor e seus cognatos figuram com
proeminência. É mais comum Paulo usar a terminologia agapaō (com referência
ao amor em alto respeito ou apreço, 34 vezes), tanto para o amor divino como
para o humano, agapē ele usa 75 vezes e agapētos (alguém que é amado) 27
vezes. Paulo empregou o termo eleeō (misericórdia, demonstrar compaixão) e
seus cognatos 22 vezes e quase sempre aplicados a Deus. Outras palavras que
expressam amor também foram empregadas por Paulo, como phileō e seus
correspondentes, splanchna, etc, e algumas em sentido negativo, a respeito de
atitudes não cristãs: astorgos (sem amor ou afeição, 2 vezes);
philargyria/philargyros (amor ao dinheiro, uma vez cada); philautos (amante de
si mesmo, 1 vez) e philēdonos (amante do prazer, 1 vez).90
A expressão suprema de amor é o sacrifício de Cristo na cruz. Paulo
entedia que o centro do Evangelho é o amor salvífico de Deus manifestado em
Cristo: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
quando ainda éramos pecadores”, (Rm 5.8).

Para Paulo, ter um bom entendimento do amor salvífico de Deus manifestado em Cristo
é decisivo. Está no centro de toda teologia e toda ética cristãs verdadeiras e é importante
para a sensação de segurança do fiel (“nada poderá separar-nos do amor de Deus,
manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor”, Rm 8,31-39). Alcançar o perfeito
conhecimento desse amor é, então, um de seus mais fortes desejos e orações para seus
jovens convertidos (Ef 3,14-21). Na verdade, o irresistível sentido do amor de Cristo é
uma das principais forças propulsoras na vida de Paulo. 91

E isso só é possível porque o amor de Deus foi derramado em nossos


corações (Rm 5.5). Assim, estar em Cristo “fala da existência do crente na esfera
do amor de Deus. Quando eu estou ‘em Cristo’ ou Cristo ‘em mim’, este amor se
apoderou de mim, e me transforma a mim, uma pessoa crente, em pessoa
amorosa [...] O crente, como alguém que ama, é uma nova criação que acha sua
origem no amor de Cristo”.92

89 BROWN classificou o amor como o maior dos dons do Espírito. Como o amor é também dádiva
do Espírito, classifica-lo dessa maneira também é válida. BROWN, 2000, 120.
90 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
91 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
92 BROWN, 2000, 118-19.
Manifestar amor aos outros foi, para Paulo, a característica mais
importante da vida cristã. Todas as coisas devem ser feitas com amor
(1Co16.14). O amor é relacionado em primeiro lugar como “fruto do Espírito” e
deve ser buscado em primazia em relação as demais virtudes cristãs (Cl 3.14).
Todo o conceito paulino de santidade é dominado pelo amor, ele é o epítome e
a essência de toda lei moral do AT (Rm13.8-10; Gl 5.14) e, em linguagem
incomum para o apóstolo, Paulo falou do amor como “lei de Cristo” (Gl 6.2),
conforme a ênfase de Jesus na lei do amor.93
Mohrlang afirmou que um resumo das preocupações teológicas e éticas
de Paulo se encontra nas palavras fé e amor, que estão frequentemente ligadas
em seus escritos. “A referência à fé de seus leitores em Cristo e ao amor mútuo
muitas vezes ocorre nas passagens iniciais ação de graças de suas cartas e
sugere a importância desses dois conceitos em seu pensamento [..] Paulo
lembra aos gálatas que o que realmente conta não é a lei judaica, mas a ‘fé que
age pelo amor’ (Gl 5.6)”.94 Desse modo, assim como a fé em Cristo significa o
fim da lei judaica em sentido salvífico, o amor representa o cumprimento da lei
em sentido ético (Rm 10.4; 13.10).
Para Paulo, a comunhão entre os membros do corpo de Cristo só é
possível na vida em amor. Ele é quem une os diversos membros do corpo em
harmonia (Cl 2.2; 3.14) e unidade (Rm 12.10; 16.18; 1Co 1.10). Como “membros
uns dos outros”, os cristãos devem se preocupar com a edificação mútua. Por
isso: “A colocação do clássico discurso paulino a respeito do amor (1Co 13) no
meio de uma análise do uso dos dons carismáticos para a edificação da Igreja
mostra algo do papel do amor em seu modo de pensar. Para Paulo, o bem-estar
da comunidade é tão importante quanto o do indivíduo – e é por isso que o amor
desempenha um papel tão fundamental em seus escritos.”95
Como já explanado nessa pesquisa, o dom de línguas está no cerne dos
problemas relacionados a questão dos dons. Diante disso, Carson asseverou
que para Paulo: “não importa quão maravilhoso seja meu dom de línguas, sem
amor não sou nada mais que o metal que soa ou o prato que retine”.96 Ou seja,

93 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.


94 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
95 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
96 CARSON, 2013, p. 60.
manifestação carismática sem amor não faz sentido, por isso a ênfase de Paulo
em 1Coríntios 14 para que na assembleia só ocorresse manifestação das línguas
se houvesse interpretação, pois a transmissão de uma mensagem inteligível à
comunidade era sinal de preocupação com o irmão e irmã presente no culto, um
sinal de amor.
No início do capítulo 13, Paulo não reduz somente os dons do Espírito em
comparação ao amor, atos de filantropia e caridade também são citados. Isto é,
manifestações carismáticas ou obras de caridade não são atestados de
verdadeira espiritualidade se forem destituídos de amor.
Sobre esses três capítulos de 1Coríntios (12; 13 e 14), Carson afirmou:

No contexto dos três capítulos, o ponto do argumento de Paulo nesses versículos é claro.
No fundo, ele diz o seguinte: vocês que pensam que são tão espirituais por falarem em
línguas, vocês que provam sua grande capacitação pelo Espírito Santo ao exercer o dom
de profecia, todos vocês devem entender que deixaram de perceber o mais importante.
Em si mesmos, seus dons espirituais não atestam nada de espiritual sobre vocês. E
vocês que preferem atestar seu rico privilégio no Espírito Santo por meio de obras de
filantropia devem aprender que essa filantropia, à parte do amor cristão, não diz nada
sobre sua experiência com Deus. Vocês permanecem espiritualmente falidos, um nada
espiritual, se o amor não caracterizar o exercício de qualquer que seja o dom da graça
que Deus concedeu a vocês.97

Em 1Coríntios, ficou claro que o “amor é a força que conserva unida uma
comunidade cristã, e a edifica. Sem o amor, não é possível a comunhão e a vida
em conjunto.”98 Dons espirituais podem ser importantes para a comunidade de
fé, inclusive o de variedade de línguas, mas, sem a marca do amor, só geram
confusão. Gerou na comunidade de Corinto e até hoje divide a cristandade
ocidental. Talvez se a teologia pentecostal brasileira abrisse mão deste ponto
doutrinário, as línguas como sinal de uma segunda ou terceira bênção, boa parte
da barreira entre pentecostais e tradicionais ruiria. Com isso, não se quer
insinuar o abandono da doutrina, mas sua reformulação. Teólogos pentecostais,
como Fee, defenderam a experiência das línguas, mas desassociaram com o
batismo no Espírito Santo.

97 CARSON, 2013, p. 62.


98 BROWN, 2000, 120.
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