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1ª edição: 2023
Edição: Rodrigo Bibo
Autor: Rodrigo Bibo
Revisão: Vanessa Rodrigues
Capa: Caio Duarte
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o
Espírito os capacitava. (NVI)1
1 Todas as citações bíblicas serão da Nova Versão Internacional. Disponível em: <
http://www.irmaos.com/bibliaonline/> Acesso em: 03 mai. 2013.
2 ARAUJO, 2007, p. 553. Outra fonte afirma que o termo movimento pentecostal já tinha sido
cunhado por Parham em 1901 ao relatar o primeiro caso de línguas em sua escola. Cf. SYNAN,
2009, p. 67.
ocorreram no evangelicalismo mundial3 acerca do livro de Atos e que reforçaram
as bases da interpretação pentecostal, de certa forma.
Há uma tradição bem estabelecida de que estes livros foram escritos pelo médico Lucas,
companheiro de viagem de Paulo. O testemunho mais antigo da autoria de Lucas
aparece no Cânon Muratoriano, uma lista de livros do Novo Testamento escritos em
cerca de 170 d.C. Semelhantemente, o O Prólogo Anti-Marcionista (c. 160-180 d.C.) que
foi anexado ao terceiro Evangelho em muitos manuscritos latinos, atesta a autoria lucana
da obra de dois volumes. [...] Irineu de Lião (c. 180 d.C.) também identifica Lucas como
companheiro de Paulo, seguidor do apóstolo e o autor do Evangelho e de Atos (Contra
Heresias). Outros pais da Igreja (como Clemente de Alexandria, Tertuliano e Eusébio)
defendem que Lucas é o autor.5
Timóteo, Silas, Tito, Demas, Crescente e Lucas, mas como autor de Atos, temos de eliminar
todos, exceto Lucas. Crescente é relativamente desconhecido (2Tm 4.10); Demas era
colaborador de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), porém abandonou-o mais tarde (2Tm 4.10). Apesar de
Tito ter acompanhado Paulo e Barnabé a Jerusalém e trabalhado nas igrejas de Corinto, Creta
e Dalmácia, parece não ter sido um dos companheiros de Paulo a quem o apóstolo menciona
nas saudações de suas epístolas. Os nomes de Silas e Timóteo são mencionados nas
passagens em que aparece “nós”, de Atos, porém ambos são mencionados na terceira pessoa.
A tradição pentecostal ancora-se, assim, nos escritos de Lucas para
construir sua teologia do batismo no Espírito Santo. O conceito de batismo no
Espírito Santo associado com o falar em outras línguas já encontrou diversos
oponentes hermenêuticos ao longo da sua história. Citam-se, aqui, argumentos
mais recentes. Em Stott, já na versão original do seu livro Batismo e Plenitude
do Espírito Santo, de 1964, encontramos um de seus princípios hermenêuticos
que afirma:
Com isso, Stott não quer afirmar que as passagens narrativas não
possuem valor, contudo sustenta que o descritivo só tem valor doutrinário se
interpretado pelo didático. Para exemplificar isso, ele cita as passagens em que
Paulo dá exemplos do tratamento de Deus para com Israel no deserto (1Co
10.11; Rm 15.4) e esses são exemplos de narrativas que são úteis para o ensino,
pois seu valor não está na descrição, mas na explicação. Aprende-se com essas
narrativas que Deus odeia a idolatria, a imoralidade, a murmuração. Entretanto,
se a igreja hoje cair no mesmo erro, como o povo de Deus no deserto, não quer
dizer que sofrerá as mesmas punições. Stott ainda exemplifica seu ponto citando
o caso de Ananias e Safira. Com essa narrativa, aprende-se que a mentira
desagrada muito a Deus, mas não é padrão do tratamento divino com o
mentiroso.11
Gordon Fee, teólogo pentecostal, em seu livro Entendes o que Lês? (em
coautoria com Douglas Stuart), caminha na mesma direção e propõe: “[...] a não
ser que a escritura explicitamente nos mande fazer alguma coisa, aquilo que é
meramente narrado ou descrito nunca pode funcionar como normativo”. 12
Já para outro teólogo pentecostal, William Menzies, a preocupação da
hermenêutica tradicional é legítima: “Como Fee observa, a menos que estejamos
Pelo processo de eliminação, chegamos à conclusão de que Lucas é a pessoa mais provável a
ter composto os livros a ele atribuídos”.
10 STOTT, 2007, p. 17. Aqui estamos usando a última edição lançada em língua portuguesa, mas
que preserva o pensamento original de Stott sobre o assunto, com alguns complementos como
podemos ver na nota seguinte.
11 STOTT, 2007, p. 18.
12 FEE, 2008, p. 91.
preparados para escolher os líderes da igreja por sorteio ou incentivar os
membros das igrejas a vender todas as suas posses, não podemos
simplesmente presumir que uma narrativa histórica específica forneça base para
uma teologia normativa.”13
No entanto, Menzies entende que essas posições são fruto do seu tempo.
Stott, Fee e outros firmaram essa postura, de certa forma, como uma resposta à
hermenêutica da escola de Tübingen, do século XIX, e outros teólogos do século
XX que, ancorados na crítica da redação, reduziram consideravelmente a
exatidão histórica de Atos, “que era basicamente o produto da mente fértil de um
novelista histórico com pouca ou nenhuma preocupação com as coisas
enfadonhas tais quais os fatos”.14 Menzies afirma:
É claro que nem todos os atos de fala na Escritura assumem a forma proposicional. De
fato, a narrativa bíblica frequentemente segue outra direção [...] Entretanto, o leitor deve
notar a contribuição positiva da crítica da redação, que demonstra o elo entre esse
mundo narrativo e as asserções teológicas pretendidas pelos autores individuais. Em
outras palavras, a trama e a estrutura da narrativa bíblica de fato funcionam nos níveis
de asserção bem como de mandamento e promessa.19
Foi, de fato, um batismo [referindo-se a Atos 2], mas a Bíblia também diz que foi um
enchimento. “E todos foram cheios do Espírito Santo” (2.4). Foi um derramamento do
Espírito sobre eles, conforme profetizou Joel (2.28-32). Foi um recebimento (uma
aceitação ativa) de uma dádiva (2.38); um cair sobre (8.16; 10.44; 11.15); um
derramamento do dom (10.45); e uma vinda sobre (19.6). Com todos esses termos
empregados, é impossível supor que o batismo se refira a algo diferente de enchimento
ou plenitude, ou que a experiência pentecostal foi limitada ao dia de Pentecoste. Nem
devemos supor que a falta de uso da expressão “batismo no Espírito” nas epístolas é
relevante.23
Ela não fala sobre transformação interior, estilo de vida alterado ou a atuação interior do
Espírito Santo: em vez disso, o Senhor diz: “derramarei o meu Espírito Santo sobre toda
carne”. O resultado será muito dramático – os vasos profetizarão, terão sonhos e visões.
Essa profecia lembra um desejo muito intenso de Moisés: “Tomara que todo o povo do
Senhor fosse profeta, que o Senhor lhe desse o seu Espírito!” (Nm 11.29). [...] Na
profecia de Joel, o Espírito vem sobre o povo de Deus em primeiro lugar para dar-lhe o
poder de profetizar: isso é evidente quando Pedro cita Joel em seu discurso no dia de
Pentecostes (At 2.16-21). Nesse dia, os discípulos foram “cheios do Espírito Santo” (At
2.4); eles não foram regenerados por aquela experiência. 26
1.2.3 Atos 9.17: Paulo e Ananias e Atos 10.44-48: Cornélio e sua casa
Teólogos pentecostais, como Palma e Stamps32, também analisaram
esse evento na vida de Paulo a partir da perspectiva de que ele recebeu o
Espírito Santo, nos moldes lucano, depois da conversão. Palma entendeu que a
imposição de mãos de Ananias sobre Paulo não foi para ele se converter, mas
ser cheio do Espírito Santo, afinal, em nenhum lugar a imposição de mãos é
usada para esse fim salvífico. Stamps comentou que a experiência de Paulo foi
semelhante à dos discípulos em Pentecostes, primeiro a salvação e depois a
plenitude do Espírito Santo.33
A palavra “discípulo” (do grego mathētēs) ocorre trinta vezes no livro de Atos. Tanto antes
quanto depois dessa passagem, a expressão sempre significa discípulos de Jesus. A
única exceção está em 9.25, onde a palavra é qualificada como “seus”, significando que
eles eram discípulos de Paulo. Não existe razão para que Lucas, em 19.1, tivesse se
desviado dessa consistente aplicação da palavra relacionada a discípulos de Jesus.35
Embora haja casos em que a ação do particípio aoristo esteja coincidentemente com
aquela de um verbo aoristo, essa não é uma concepção aceitável. A impressão dada por
Atos 19.2 é que, visto que esses discípulos alegavam ser crentes, o batismo com o
Espírito Santo deveria ser o passo seguinte, um passo distinto depois do ato de crer,
embora não necessariamente separado deste por longo período. 37
Dito isso, percebe-se que é com base nestas perícopes em Atos dos
Apóstolos que o movimento pentecostal brasileiro da Assembleia de Deus
ministério Belém constrói sua teologia do falar em línguas na atualidade. Cabe
ainda explicar de forma breve o conceito de subsequência e separabilidade no
contexto dessa doutrina pentecostal.
Com base nessa premissa, Parham fundou a Escola Bíblica Betel [...] Ele estabeleceu a
escola como centro de treinamento missionário, mas guardava silêncio a respeito de
suas conclusões sobre a função da xenolalia (línguas humanas identificáveis) em
missões. No entanto, Parham orientou seus 34 alunos com a teologia da Santidade e,
então, no fim de dezembro, desafiou-os a buscar verdadeira evidência do derramamento
espiritual do fim dos tempos. Estrategicamente, ele os direcionou para Atos capítulo 2,
onde o falar em línguas claramente acompanha o alvorecer do poder apostólico na Igreja
Primitiva.45
O irmão de cor agarra com sua mão enorme uma Bíblia minúscula, e a intervalos lê uma
ou duas palavras – não mais. Depois de uma hora de exortações, os crentes são
convidados ao “culto de orações e testemunhos”. É então que o pandemônio tem início,
e os limites da razão são ultrapassados por aqueles que estão “cheios do espírito”, seja
lá o que isso significa. “Iu-u-pô gu-iu-iu, vem sobre blu-u-u-bu-idô”, grita uma velha
mammy de cor, num frenesi de ardor religioso. Balançando os braços freneticamente,
ela continua com sua estranha e interminável arenga. Poucas de suas palavras são
inteligíveis, e a maior parte de seu testemunho é composta da mais estapafúrdia mistura
de sílabas [...] uma mulher negra lançou-se ao solo e começou a gesticular
freneticamente até irromper numa oração de gorgolejos ininteligíveis”. 47
no Espírito Santo. Dizia que “o batismo com o Espírito Santo e com fogo significava ser inundado
com o amor de Deus e poder para o serviço. O dom de línguas era um sinal que seguia esse
batismo”. Isto é, para Seymour, o crente poderia ser batizado no Espírito Santo sem falar em
línguas, recebendo esse dom posteriormente, caso buscasse. ARAUJO, 2007, p. 608.
52 ARAUJO, 2007, p. 923.
pregado a mensagem de Atos 2.53 Depois de estabelecida no Brasil, a
Assembleia de Deus passou a propagar suas doutrinas por meio de publicações,
e nelas se pode observar a interpretação dada ao falar em línguas.
Já em seu primeiro jornal oficial, o Boa Semente, criado em 1918, a
temática do batismo no Espírito Santo foi matéria frequente. Os editores viram a
necessidade de fundamentar a doutrina defendida pelos pentecostais frente às
igrejas tradicionais. No artigo O Batismo no Espírito Santo Segundo as
Escrituras, de 1923, o autor, não identificado na edição54, começou o texto
apontando para o fato de que muitos cristãos do seu tempo ignoravam esse tema
e, quando o abordavam, atribuíam-lhe outro significado. O autor afirmou que o
batismo no Espírito Santo é uma promessa de Jesus à igreja que se cumpriu no
dia de Pentecostes e que se estendeu ao longo dos séculos. Claramente, ele
reconheceu a conversão dos apóstolos antes da experiência extática, entretanto,
afirmou que “o Espírito Santo estava com eles, não neles”.55 Ainda que de
maneira embrionária, o artigo vai trazendo as teses apresentadas no tópico 1.2
dessa pesquisa.
Em outro artigo, na mesma edição, J. Lima traduziu um texto de Paul
Aenis56, no qual o autor defendeu a ideia de que negar o batismo no Espírito
Santo é loucura equivalente à negação de Jesus Cristo como Messias por parte
dos judeus. Ambos os textos nessa edição querem mostrar que, para a doutrina
pentecostal, o batismo no Espírito Santo não foi somente uma experiência para
os apóstolos, mas deve ser buscada pela igreja em todos os tempos.
Com a fusão do Boa Semente (com sede em Belém do Pará) e do Som
Alegre (com sede no Rio de Janeiro), outro periódico assembleiano surgiu em
1930: o Mensageiro da Paz, meio de comunicação fundamental nesse papel
53 CONDE, 2000, p. 30. É importante frisar que a irmã Celina não foi a primeira brasileira a falar
em línguas, segundo registros, o pastor batista Paulo Malaquias teve essa experiência extática
em 1908 em Ijuí (RS). Antes de Celina, também o irmão “Pedro Graudin teve a mesma
experiência em 1909, em Guaramirim (Bananal), Santa Catarina (Brasil); neste mesmo ano,
Karlis Andermanis, pastor da Igreja leto-batista de Rio Novo (Santa Catarina), recebeu o batismo
no Espírito Santo com o falar em línguas estranhas. Com a chegada do ítalo-americano Luigi
Francescon ao Brasil, houve batismos no Espírito Santo em Santo Antonio da Platina (PR), em
20 de abril de 1910, e em São Paulo, em 20 de junho de 1910, dando origem à Congregação
Cristã no Brasil”. Disponível em: <http://www.cpad.com.br/cemp/historia.php> Acesso em: 19 abr
2013.
54 BOA SEMENTE, 1923, p. 1.
55 BOA SEMENTE, 1923, p. 1.
56 AENIS, P. Cometeremos a loucura de rejeitarmos o Batismo com o Espírito Santo como os
No Dia de Pentecostes (33 d.C.), quando o Espírito Santo veio sobre os discípulos, dez
dias após Jesus ter subido aos céus, eles começaram a demonstrar manifestações
miraculosas, incluindo línguas estranhas, discernimento de espíritos, profecias e dons
de curar. O evento se repetiu em Samaria, Damasco, Cesaréia e Éfeso (At 2.1-13; 8.14-
17; 9.17,18; 10.44-46; 19.1-7). Imediatamente depois do Dia de Pentecostes, os
discípulos começaram a espalhar o evangelho por todo o mundo conhecido. Portanto, o
Pentecostes foi o prelúdio, o início de outros Pentecostes que a história registra. 65
João anuncia o julgamento. A este respeito, na descrição dos sinóticos [...], João é, de
certo modo, pregador apocalíptico. Isto é, João prega um julgamento iminente, a
destruição dos que se opõem ao plano e a vontade de Deus, e oferece perdão para os
que buscam ser como ele prega. A mensagem de João tem o tom de urgência
apocalíptica. No evangelho, João simboliza um momento de grande alcance. Há um
ritmo escatologicamente acelerado em seu ministério e em sua mensagem. Sua
pregação sugere que algo impressionante está prestes a acontecer.77
São as mesmas pessoas que são batizadas com o Espírito Santo que também são
batizadas com fogo (e os dois são governados por um único en em no grego). Parece
melhor entender que João está pensando nos aspectos positivos e negativos da
mensagem do Messias. Os que O aceitam serão purificados como pelo fogo (Ml 3.1) e
fortalecidos pelo Espírito Santo.84
Para Paulo, ter um bom entendimento do amor salvífico de Deus manifestado em Cristo
é decisivo. Está no centro de toda teologia e toda ética cristãs verdadeiras e é importante
para a sensação de segurança do fiel (“nada poderá separar-nos do amor de Deus,
manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor”, Rm 8,31-39). Alcançar o perfeito
conhecimento desse amor é, então, um de seus mais fortes desejos e orações para seus
jovens convertidos (Ef 3,14-21). Na verdade, o irresistível sentido do amor de Cristo é
uma das principais forças propulsoras na vida de Paulo. 91
89 BROWN classificou o amor como o maior dos dons do Espírito. Como o amor é também dádiva
do Espírito, classifica-lo dessa maneira também é válida. BROWN, 2000, 120.
90 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
91 MOHRLANG, 2008, p. 66-70.
92 BROWN, 2000, 118-19.
Manifestar amor aos outros foi, para Paulo, a característica mais
importante da vida cristã. Todas as coisas devem ser feitas com amor
(1Co16.14). O amor é relacionado em primeiro lugar como “fruto do Espírito” e
deve ser buscado em primazia em relação as demais virtudes cristãs (Cl 3.14).
Todo o conceito paulino de santidade é dominado pelo amor, ele é o epítome e
a essência de toda lei moral do AT (Rm13.8-10; Gl 5.14) e, em linguagem
incomum para o apóstolo, Paulo falou do amor como “lei de Cristo” (Gl 6.2),
conforme a ênfase de Jesus na lei do amor.93
Mohrlang afirmou que um resumo das preocupações teológicas e éticas
de Paulo se encontra nas palavras fé e amor, que estão frequentemente ligadas
em seus escritos. “A referência à fé de seus leitores em Cristo e ao amor mútuo
muitas vezes ocorre nas passagens iniciais ação de graças de suas cartas e
sugere a importância desses dois conceitos em seu pensamento [..] Paulo
lembra aos gálatas que o que realmente conta não é a lei judaica, mas a ‘fé que
age pelo amor’ (Gl 5.6)”.94 Desse modo, assim como a fé em Cristo significa o
fim da lei judaica em sentido salvífico, o amor representa o cumprimento da lei
em sentido ético (Rm 10.4; 13.10).
Para Paulo, a comunhão entre os membros do corpo de Cristo só é
possível na vida em amor. Ele é quem une os diversos membros do corpo em
harmonia (Cl 2.2; 3.14) e unidade (Rm 12.10; 16.18; 1Co 1.10). Como “membros
uns dos outros”, os cristãos devem se preocupar com a edificação mútua. Por
isso: “A colocação do clássico discurso paulino a respeito do amor (1Co 13) no
meio de uma análise do uso dos dons carismáticos para a edificação da Igreja
mostra algo do papel do amor em seu modo de pensar. Para Paulo, o bem-estar
da comunidade é tão importante quanto o do indivíduo – e é por isso que o amor
desempenha um papel tão fundamental em seus escritos.”95
Como já explanado nessa pesquisa, o dom de línguas está no cerne dos
problemas relacionados a questão dos dons. Diante disso, Carson asseverou
que para Paulo: “não importa quão maravilhoso seja meu dom de línguas, sem
amor não sou nada mais que o metal que soa ou o prato que retine”.96 Ou seja,
No contexto dos três capítulos, o ponto do argumento de Paulo nesses versículos é claro.
No fundo, ele diz o seguinte: vocês que pensam que são tão espirituais por falarem em
línguas, vocês que provam sua grande capacitação pelo Espírito Santo ao exercer o dom
de profecia, todos vocês devem entender que deixaram de perceber o mais importante.
Em si mesmos, seus dons espirituais não atestam nada de espiritual sobre vocês. E
vocês que preferem atestar seu rico privilégio no Espírito Santo por meio de obras de
filantropia devem aprender que essa filantropia, à parte do amor cristão, não diz nada
sobre sua experiência com Deus. Vocês permanecem espiritualmente falidos, um nada
espiritual, se o amor não caracterizar o exercício de qualquer que seja o dom da graça
que Deus concedeu a vocês.97
Em 1Coríntios, ficou claro que o “amor é a força que conserva unida uma
comunidade cristã, e a edifica. Sem o amor, não é possível a comunhão e a vida
em conjunto.”98 Dons espirituais podem ser importantes para a comunidade de
fé, inclusive o de variedade de línguas, mas, sem a marca do amor, só geram
confusão. Gerou na comunidade de Corinto e até hoje divide a cristandade
ocidental. Talvez se a teologia pentecostal brasileira abrisse mão deste ponto
doutrinário, as línguas como sinal de uma segunda ou terceira bênção, boa parte
da barreira entre pentecostais e tradicionais ruiria. Com isso, não se quer
insinuar o abandono da doutrina, mas sua reformulação. Teólogos pentecostais,
como Fee, defenderam a experiência das línguas, mas desassociaram com o
batismo no Espírito Santo.