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...o destino dos indivíduos, não por uma reflexão filosófica à maneira dos gregos, mas
colhendo os frutos da experiência. É uma arte de viver bem e um sinal de boa
educação. Ensina o homem a se conformar à ordem do universo e deveria dar-lhe os
meios de ser feliz e prosperar.1
1
BÍBLIA SAGRADA, Língua Portuguesa, Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2008, 797.
2
LÉVÊQUE, 1983, p. 58. APUD MIES, Françoise. Bíblia e economia: servir a Deus ou ao dinheiro. São
Paulo: Loyola, 2007, p.18.
2
inspirado por Deus, mas a utilização dele pelo autor bíblico sim. Outrossim,
devemos lembrar que a preocupação com a vida, no Antigo Testamento, neste
período (anterior ao exílio), estava mais focada com o imediato. Ainda não
havia um entendimento mais claro com relação à eternidade. Este imediatismo
é mais marcante no livro de Provérbios, já nos livros de Jó e Eclesiastes há
uma preocupação maior em entender o que segue além desta vida. Isto em
especial, por sua edição ou finalização no período pós-exílico.
Um propósito claro nos livros sapienciais era o ensino. Isto foi bem
perceptível na versão Vulgata Latina, que denomina este grupo como livros
Didáticos. Que este material traz valiosas lições é inquestionável, mas nem
sempre é tão simples determinar exatamente como nos aproximar deles. Afinal,
eles “não dizem com clareza o que são: sabedoria, ensinamento, poesia ou só
escritos? Que são? De onde vieram? Que significam? Para que servem? Para
que estudá-los? Como revelam a Deus?”.3 Para buscar responder estas
questões é que se segue uma breve introdução de cada um destes livros.
O Livro de Jó
3
QUEIROZ, Antonio Celso. SABEDORIA e poesia do povo de Deus. São Paulo: Loyola, Rio de Janeiro:
Publicações CRB, 1993, p. 15.
4
BÍBLIA, 2008, p. 1409.
5
GUSSO, Antônio Renato. Os Livros poéticos e os da sabedoria,: introdução fundamental e auxílios
para a interpretação. Curitiba: AD Santos, 2012, p. 30.
3
6
GUSSO, 2012, p. 29.
7
BÍBLIA, 2008, p. 800.
4
ocorrido, pela pouca idade de Eliú. Todavia, embora tenham sido quatro
pessoas diferentes, o erro teológico foi o mesmo.
e amoroso e, ao mesmo tempo, que não acaba com o sofrimento que existe na
terra.”10 Na verdade o livro de Jó é uma Teodicéia.11 Quanto se atenta à
abertura, as cenas narradas nos capítulos 1 e 2, ocorrendo no céu, poderiam
ser vista como uma forma de julgamento. O detalhe surpreendente é que o réu
não é Jó, mas o próprio Deus. O que o inimigo está querendo “demonstrar” é
que Deus é injusto, que “compra” Seus fiéis. O que estaria “em jogo” não seria
a reação de Jó, simplesmente, mas o caráter do próprio de Deus.
Podemos dizer que a grande questão do livro é sobre quem Deus é.
Assim, é mais fácil compreender o diálogo de Deus com Jó. Nesta conversa
Deus não responde aos questionamentos de Jó “do porque ele estava
passando por tudo aquilo” (provavelmente esta resposta Jó nunca teve), a
ênfase no diálogo é a apresentação do próprio Deus. Isto Jó reconhece ao fim
do livro, que após tudo o que aconteceu ele realmente conheceu Deus: “Eu
tinha ouvido de ti com os ouvidos; mas, agora, te veem os meus olhos” (42.5).
O epílogo do livro começa a partir do verso 7 do capítulo 42, na forma de
narrativa.
Há uma linha de pensamento que coloca Jó não como um personagem
real, mas como a representação de um grupo.12 Este pensamento está inserido
na Teologia Liberal. Todavia, a própria Bíblia testifica da existência do homem
Jó (Cf Ez 14,14-20 e Tg 5,10s). Além disso, o próprio livro o apresenta como
um patriarca, alguém muito rico, com estrutura familiar e muita influência.
Provérbios
10
GUSSO, 2012, p. 32.
11
Não obstante um anacronismo, optamos em manter tal nomenclatura aqui, por descrever bem sua
finalidade.
12
ROSSI, 2011, p. 19.
6
que ele foi autor de “três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco”
(1 Rs 4.32).
Salomão é citado no capítulo 1,1, no início do capítulo 10, e no início
do cap. 25. Neste último há um acréscimo interessante: “Estes também são
provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de
Judá.” O próprio texto afirma que estes provérbios foram reunidos e registrados
após o período de Salomão. Tendo as declarações dos capítulos 10 e 25 em
vista, alguns teóricos afirmam que haveria duas coleções principais de
Salomão: a primeira, compreendendo os capítulos 10.1 ao 22.16 e a segunda
do 25 ao 29. A primeira é composta de 375 sentenças, já a segunda, por 128.
Mesmo que sejam apenas estas duas partes escritas por Salomão, envolvem
boa parte do livro. Estas duas partes, são compostas basicamente por Mashal,
uma das formas da literatura sapiencial mais antiga e mais simples.13 É uma
palavra hebraica que significa muito mais que apenas “provérbio”. Também
pode ser traduzida por “sentença, dito, adágio, dito de sabedoria, ditado,
canção satírica”.14 Ou ainda, como “cântico de zombaria [...] máxima, eemplo
[...] parábola ou discurso [...] alegoria, enigma [mostrando] uma multiplicidade
de significados”.15
Assim como os demais livros, o nome deste livro em hebraico vem da
primeira palavra, que se encontra no primeiro verso: Mishley (literalmente:
provérbios de).
A estrutura de Provérbios, por autoria seria a seguinte:
- Os capítulos 1 a 9 seriam como um prólogo, com aqui sentenças de
forma um pouco mais elaboradas.
- Os capítulos 10 a 22,16 seria todo de Salomão.
- O trecho que se inicia no cap. 22,17 e segue até o 24, seriam
discursos de alguns sábios, baseados em fonte egípcia, inclusive.
- Os capítulos 25 até 29 palavras de Salomão compiladas pelos
homens de Ezequias.
- O capítulo 30 é de Agur.
13
BÍBLIA, 2008, p. 1020.
14
KIRST, Nelson, et al. Diconário Hebraico-Português e Aramaico-Português. 20. ed. São Leopoldo:
Sinodal, Petrópolis: Vozes. 2007, p. 145.
15
GUSSO, 2012, p. 75s.
7
16
GUSSO, 2012, p. 373s.
17
BÍBLIA, 2008, p. 1021.
8
Eclesiastes
18
KIRST, 2007, p. 212.
19
GUSSO, 2012, p. 94.
20
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico. Rio de Janeiro: Casa Publicadora da Assembleia de Deus, 2002,
p. 540.
9
Neste verso temos o propósito do livro, mostrar que sem Deus a vida
fica vazia, sem sentido. Assim, tentar preenchê-la com outros itens ou objetivos
é inútil. E é exatamente isto que o autor faz ao longo do texto.
A estrutura da obre pode ser assim definida:
Introdução – Capítulo 1
Busca pelo prazer – 2.1-11
Busca pela sabedoria – 2.12-17
Busca por riquezas – 2.18 até 6.12
Reflexão sobre a vida do pregador – 7.1 ao 11.8
Conselhos – 11.9 ao 12.823
Conclusão- 12.9 a 14
21
HENRY, 2002, p. 540.
22
KIRST, 2007, p. 52.
23
GUSSO, 2012, p. 97.
10
Espero que esta visão geral sobre a poesia hebraica e os livros a elas
relacionados o tenha ajudado a entender melhor o texto Bíblico e possa ainda,
servir de auxílio em sua jornada de estudos na Palavra de nosso Deus. Assim
como as palavras de sabedoria são palavra voltadas para um viver diário mais
equilibrado, prático e feliz, diante de Deus, o nosso estudo teológico precisa
nos levar a uma aplicabilidade maior dos ensinos celestes. Que Deus nos livre
das discussões intermináveis e meramente elucubrativas. Que sejamos
cristãos cada vez mais engajados com as lutas do dia a dia, vislumbrando a
nossa adoração a Deus, através de nosso serviço ao próximo.
Um grande abraço a todos. Com os votos de uma vida bem sucedida,
sob os cuidados de nosso Deus.