Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Igreja o Evangelho Visivel-Mark Dever
Igreja o Evangelho Visivel-Mark Dever
“Acredite: se você falar com meu amigo Mark Dever por mais de
cinco minutos, a igreja local aparecerá na conversa — não somente
porque ela é o foco de sua impressionante obra acadêmica, mas
também porque a igreja é, para Mark, o que era para Charles
Spurgeon, ‘o lugar mais querido da terra’. Por meio de muitas
discussões, Mark me ensinou muito sobre a igreja e, mesmo em áreas
que discordamos, tenho sido influenciado por sua paixão pela igreja.
Este livro lhe permite ter um diálogo semelhante com Mark, e não
tenho dúvida de que seu coração será estimulado com amor pela
igreja universal e por sua igreja em particular.”
C. J. Mahaney
Presidente, Sovereign Grace Ministries
“Há muito tempo, a igreja vem sofrendo por causa de sua falta de
atenção à eclesiologia. Felizmente, essa negligência deu lugar a uma
nova era de redescoberta, e Mark Dever tem sido um catalisador
decisivo para o resgate da eclesiologia bíblica. Neste livro, você
achará um entendimento cativante, fiel e verdadeiro sobre a igreja.
Mas fique atento: se você ler este livro, não ficará satisfeito até que
seja parte de uma igreja que está crescendo neste tipo de fidelidade e
vida.”
R. Albert Mohler Jr.
Presidente, The Southern Baptist Theological Seminary
IGREJA: o evangelho visível
Traduzido do original em inglês
The Church: The Gospel Made Visible
Copyright 2012© by Mark Dever
ISBN: 978-85-8132-303-9
Mike McKinley,
Greg Gilbert,
Michael Lawrence,
Aaron Menikoff,
Andy Davis,
David Platt,
Matt Chandler,
J. D. Greear
1 – A natureza da igreja
2 – Os atributos da igreja: única, santa, universal, apostólica
3 – As marcas da igreja
4 – A membresia da igreja
5 – O governo da igreja
6 – A disciplina da igreja
7 – O propósito da igreja
8 – A esperança da igreja
A Necessidade de Estudar a
Doutrina da Igreja
3. John Webster considerou como o povo de Deus é central à criação de Deus: “Da plenitude
e da perfeição ilimitada de sua vida, auto-originada como Pai, Filho e Espírito Santo, Deus
determina ser Deus na companhia de suas criaturas. Essa direção de Deus voltada às criaturas
tem origem eterna, no propósito do Pai. O Pai quer que ex nihilo venha à existência uma
contraparte criada para ter comunhão de amor, que é a vida íntima da Trindade santa. Esse
propósito é colocado em execução por Deus Filho, que é tanto o criador quanto o recriador
de criaturas, chamando-as à existência e chamando-as de volta à existência quando caíram
em alienação daquele único por quem e para quem elas foram criadas. E o propósito divino é
aperfeiçoado no Espírito. O Espírito completa as criaturas por sustentá-las na vida, dirigi-las
no percurso para que atinjam seu fim, que é a comunhão com o Pai, por meio do Filho, no
Espírito. A comunhão com Deus é, portanto, o mistério do qual o evangelho é a manifestação
explícita.” Ver John Webster, “On Evangelical Ecclesiology”, em Confessing God: Essays in
Christian Dogmatics II (New York: T&T Clark, 2005), 153.
4. James Montgomery Boice, Foundations of the Christian Faith (Downers Grove, IL: IVP;
rev. ed. 1986), 565.
5. Ver Jonathan Leeman, A Igreja e a Surpreendente Ofensa do Amor de Deus (São José dos
Campos, SP: Fiel, 2013), 18-20.
6. Cyprian, De Eccl. Cath.Unitate (Oxford: Clarendon, 1971), cap. 6.
7. Lumen Gentium, cap. 2, especialmente o parágrafo 16 (Austin Flannery, ed., Vatican
Council II [Northport, NY: Costello Publishing Co, 1981], 367-68).
8. John Stott, The Living Church (Downers Grove, IL: IVP, 2007), 19.
9. Jan Hus, De Ecclesia: The Church, trans. David Schley Schaff (New York: Charles
Scribner’s Sons, 1915), 1.
10. Daniel Akin, ed., A Theology for the Church (Nashville: B&H, 2007); ver cap. 13, “The
Church”, 766-856.
UMA INTRODUÇÃO INFORMAL
OBJEÇÕES
Entendo que muitos dos evangélicos contemporâneos podem não
aceitar a ideia de que a Bíblia nos diz como devemos organizar
nossas igrejas. Há poucas razões para isso. Muitos questionam,
explícita ou implicitamente, se a Bíblia realmente ensina esse assunto.
Entre a maioria dos evangélicos e até em seminários de nossos dias, é
sugerido que não há nenhum padrão consistente de governo no Novo
Testamento.12 (Se essa tem sido a sua suposição, pergunte a si mesmo
o que você faria se houvesse ensino sobre esse assunto na Bíblia.)
Outros ressaltam que a Escritura pode ser considerada “suficiente”
mesmo sem abordar especificamente cada questão que possa surgir
em nossa mente. Ou eles dizem que pessoas imaginam coisas e as
introduzem na Bíblia.
É claro que estes dois últimos pontos são verdadeiros. No entanto,
para verificarmos que a Escritura é “suficiente”, precisamos observar
que ela é suficiente para nos ajudar a fazer o que Deus quer que
façamos. E, na Bíblia, Deus demonstra que se importa realmente com
a organização e a estrutura da igreja local. Ele estabeleceu diferentes
tipos de pessoa na igreja, incluindo mestres e administradores (1
Coríntios 12.28). Parece que Deus está interessado na “boa ordem” da
igreja local (Colossenses 2.5). E chama as igrejas a considerarem
diligentemente a vida e a profissão de fé de seus membros (Mateus
18.15-17; 1 Coríntios 5; 1 João 4.1-3).
Outros podem rejeitar toda essa conversa, dizendo que ela não é
importante. Há quase uma impaciência para com qualquer coisa que
não é essencial. Muito frequentemente, crentes contemporâneos têm
apenas duas marchas em sua bicicleta teológica: essencial e
insignificante. Se algo não é essencial à salvação, isso é tratado como
insignificante e, portanto, descartável. Mas a Bíblia nos apresenta
várias questões que não são essenciais à salvação, porém, apesar
disso, são importantes, e até necessárias, em termos de obediência à
Palavra de Deus. Obedecer a essas questões produz bom fruto.
Questões de governo e organização se enquadram nesta categoria. Na
vida de uma igreja local, elas podem, às vezes, se tornar crucialmente
importantes para a saúde e a sobrevivência da igreja.
Uma última objeção a ser considerada pode ser apenas: “Ninguém
pensa nisso!” Mas esta objeção é historicamente infundada. Há muito
os cristãos têm pensado nessas questões, que constituem o motivo
porque denominações inteiras se chamam Presbiteriana,
Congregacional, Metodista ou Episcopal, designações que se referem
a como essas igrejas fazem as coisas. John Bunyan e Jonathan
Edwards, John Wesley e C. H. Spurgeon — todos eles acreditavam
que a Bíblia nos ensina como devemos organizar nossas igrejas.
Alguém poderia até dizer que a Nova Inglaterra foi fundada por causa
dessas questões, assim como foram as igrejas batistas. Muitos cristãos
antes de nós pensavam que essas questões são importantes porque as
viram na Bíblia.
Falando pela congregação em que sirvo, nossa igreja concorda, tal
como os cristãos que viveram antes de nós, incluindo os que
fundaram nossa congregação local nos anos 1870, que a Bíblia ensina
realmente essas questões. Cremos que tais questões são tão
importantes, que devemos considerar e estudar com atenção a
Escritura na esperança de acharmos algumas respostas sobre como
devemos organizar nossa vida em união na igreja local. Nosso alvo é
moldar a estrutura e as práticas de nossa igreja, em conformidade
com o ensino explícito e implícito da Escritura, achado em
mandamentos e exemplos.13
CONCLUSÃO
Para alguns, esta introdução foi muito profunda. Para outros, a
importância desse tema os atrairá às páginas seguintes e, por meio
delas, espera-se, às Escrituras e às reflexões de muitos outros que nos
precederam. Agora, basta dizer que esse tema é digno de ser
estudado. De fato, é muito mais importante do que muitos acham.
Minha esperança é que o leitor veja como a magnífica suficiência
das Escrituras nos liberta da tirania da mera opinião de homens. Deus
se revelou em sua Palavra. Ele está falando conosco, preparando-nos
para representá-lo hoje e vê-lo amanhã! Uma congregação de
membros nascidos de novo — cumprindo as responsabilidades que
Cristo lhes deu em sua Palavra, reunindo-se regularmente, guiados
por um corpo de presbíteros piedosos — é o quadro da igreja que
Deus nos dá em sua Palavra — a igreja que ele chama de sua “casa”,
comprada com seu próprio sangue (1 Timóteo 3.15; Atos 20.28; cf.
Marcos 3.31-35).
Finalmente, considere o que Deus está fazendo por meio da igreja.
Paulo disse: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se
torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Efésios 3.10-11). Isso é o que Deus está
fazendo! Portanto, o nosso interesse deve ser semelhante ao de Paulo
— “que a igreja revele e manifeste a glória de Deus, vindicando
assim o caráter de Deus contra toda a calúnia de esferas demoníacas,
a calúnia de que Deus não é digno de que vivamos por ele. Deus
confiou à sua igreja a glória de seu próprio nome”.16
Por amor ao seu nome, Deus nos conduz como seu exército
poderoso. Eis como um pastor expressou isso em 1589:
Este exército de santos é conduzido aqui na terra por estes oficiais, sob a direção
de seu glorioso imperador, Cristo, aquele Miguel vitorioso. Assim, o exército
avança nesta ordem celestial e arranjo gracioso contra todos os inimigos tanto
físicos quanto espirituais. Pacífico em si mesmo como Jerusalém, terrível para
eles como um exército com bandeiras, triunfante sobre a tirania deles com
paciência, sobre a crueldade deles com mansidão e sobre a própria morte com
morrer. Assim, por meio do sangue do Cordeiro imaculado e da palavra de seu
testemunho, eles são mais do que vencedores, esmagando a cabeça da serpente;
sim, por meio do poder da Palavra, eles têm poder para vencer Satanás, pisar
serpentes e escorpiões, destruir fortalezas e tudo que se levanta contra o próprio
Deus. As portas do inferno e todos os principados e poderes do mundo não
prevalecerão com esse exército.17
11. Considere os exemplos de Caim (Gn 4.5), Nadabe e Abiú (Lv 10.1; Nm 3.4) e Uzá (2 Sm
6.6-7). Deus condenou a adoração hipócrita de Israel (Am 5.21-23) e as celebrações erradas
dos cristãos de Corinto (1 Co 11.7).
12. Um exemplo disso que procede de uma geração anterior seria esta afirmação típica: “No
que concerne a ‘governo’, as raízes do Novo Testamento para os modelos episcopal,
presbiteriano e congregacional podem ser traçadas, mas não há uma ocorrência específica em
favor da predominância de qualquer deles”, Frank Stagg, “The New Testament Doctrine of
the Church”, The Theological Educator 12, no. 1 (Fall 1981): 48.
13. A questão de que exemplos devem ser seguidos é tanto importante como, às vezes,
imprecisa. Há uma pequena categoria de exemplos (e até mandamentos) intermediários que
eram temporais e situacionais (como saudar um ao outro com ósculo santo), mas, apesar
disso, incorporavam princípios maiores e permanentes. Discussão interminável pode ocorrer
sobre esses exemplos.
14. Como disse William Williams, professor de História e um dos fundadores da Igreja no
Shouthern Baptist Theological Seminary: “Estamos sob a obrigação de adotar aquele
governo que a sabedoria divina designou ser o mais adaptado à promoção dos objetivos da
igreja ou podemos nos sentir à vontade para mudá-lo ou substituí-lo por alguma outra, de
acordo com nossas opiniões de adequabilidade e conveniência?” (“Apostolic Church Polity”,
em Polity: Biblical Arguments on How to Conduct Church Life, ed. Mark Dever
[Washington, DC: Center for Church Reform, 2001], 546).
15. William Ames, Marrow of Divinity (1634: repr., Boston: United Church Press, 1968),
181.
16. Mark Ross, “An Address at PCA Convocation on Revival”.
17. Henry Barrow, “A True Description of the Visible Church”, reimpresso em Iain Murray,
ed., The Reformation of the Church: A Collection of Reformed and Puritan Documents on
Church Issues (Carlisle, PA: Banner of Truth Trust, 1965), 200-201.
1
A Natureza da Igreja
ENSINO EXPLÍCITO
Em um ponto especialmente baixo na degeneração moral de Israel, o
escritor de Juízes descreveu a nação como “o povo de Deus” (Juízes
20.2; ver 2 Samuel 14.13). A forma grega equivalente desta expressão
é usada pelo escritor de Hebreus para descrever o povo de Israel com
quem Moisés se identificou, em vez de se identificar com a família de
Faraó (Hebreus 11.25). E usou essa mesma expressão antes para se
referir aos cristãos (Hebreus 4.9). Pedro também a usou, dizendo aos
seus leitores: “Vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois
povo de Deus” (1 Pedro 2.10). E João Batista veio com a finalidade
de “habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lucas 1.17).
SIGNIFICADOS DE EKKLESIA
No Novo Testamento, a palavra igreja pode ser usada para descrever
tanto uma congregação local quanto todos os cristãos em todos os
lugares. No uso contemporâneo, a palavra é empregada também para
descrever prédios e denominações. Nestas últimas formas, a palavra
igreja não corresponde exatamente à palavra grega usada no Novo
Testamento.24
A palavra traduzida por “igreja” é ekklesia, que ocorre 114 vezes
no Novo Testamento.25 Nenhuma outra palavra grega é traduzida por
“igreja”. Porém ekklesia foi usada no tempo do Novo Testamento
para descrever mais do que os ajuntamentos de cristãos. A palavra era
usada frequentemente nas cidades gregas para se referir a assembleias
convocadas para a realização de tarefas específicas. Em Atos 7.38 e
Hebreus 2.12, ekklesia é usada para descrever assembleias do Antigo
Testamento. Lucas usou ekklesia três vezes para descrever o tumulto
que se reuniu no anfiteatro em Éfeso para tratar da questão
relacionada a Paulo (Atos 19.32, 39, 41). Os restantes 109 usos da
palavra no Novo Testamento se referem a uma assembleia cristã.
USOS DE EKKLESIA
Jesus Cristo fundou sua própria assembleia, sua própria igreja.26 De
acordo com o Evangelho de Mateus, Jesus foi o primeiro, no Novo
Testamento, que chamou seu povo de “minha igreja” (Mateus 16.18).
Assim como Adão deu nome à sua esposa, assim também Cristo deu
nome à igreja. No entanto, em seu ensino registrado, Jesus se referiu
apenas duas vezes à igreja (Mateus 16.18; 18.17). Visto que Jesus
entendia ser ele mesmo o Messias, suas referências à igreja
certamente contêm a ideia hebraica de qahal ou “assembleia”.27
Esperava-se que o Messias estabelecesse sua assembleia messiânica,
e, por isso, nos evangelhos, Cristo separa aqueles que são fiéis para
reconhecê-lo e segui-lo.
O livro de Atos dos Apóstolos se refere às reuniões locais
específicas com a palavra ekklesia,28 como as assembleias em
Jerusalém, Antioquia, Derbe, Listra e Éfeso. Essas igrejas se reuniram
e enviaram missionários (ver Atos 15.3). Lucas também citou Paulo
afirmando que a igreja havia sido comprada com o sangue do próprio
Deus (Atos 20.28).
Paulo se referiu frequentemente à igreja (ou igrejas) de Deus29 ou
à igreja (ou igrejas) de Cristo30. Ele identificou a si mesmo como
alguém que antes perseguia a igreja (Filipenses 3.6; ver 1 Coríntios
15.9). E seu ministério apostólico se centralizou em plantar igrejas e
edificá-las. As epístolas de Paulo (especialmente a de Corinto) estão
cheias de instruções para os primeiros cristãos sobre seu
comportamento nas assembleias. Por isso, um erudito comentou:
“Quando fala de ekklesia, Paulo pensa normalmente na assembleia
concreta daqueles que foram batizados num lugar específico (...).
Afirmações eclesiásticas que levam além do nível da assembleia local
são raras nas cartas de Paulo”31. Em Efésios e Colossenses, Paulo
relacionou e identificou Cristo intimamente com as igrejas (cf.
Efésios 2.20; 3.10-12; 4.15; Cl 1.17-18, 24; 2.10), particularmente
por usar a linguagem de marido/mulher e cabeça/corpo para descrever
o relacionamento de Cristo com a igreja (Colossenses 3.18-19;
Efésios 5.22-33).
EPÍSTOLAS GERAIS
O livro de Hebreus menciona uma única igreja (Hebreus 12.23),
referindo-se a uma assembleia terrena com um destino celestial32.
Tiago 5.14 se refere a uma igreja local e seus presbíteros. Tanto 2
João quanto 3 João retratam uma congregação específica e suas lutas
com falsos mestres e líderes. Exceto Paulo e Atos dos Apóstolos, o
livro de Apocalipse contém mais ocorrências de ekklesia do que
qualquer outro livro no Novo Testamento. Salvo Apocalipse 22.16,
todas essas ocorrências estão nos primeiros três capítulos. Nesses
capítulos iniciais, a palavra é usada 14 vezes em um formato
padronizado, ou para começar ou para concluir uma carta específica
dirigida a cada uma das sete igrejas33. E, em Apocalipse 22.16, Jesus
disse que enviou seu anjo “para vos testificar estas coisas às igrejas”.
Portanto, a mensagem deste livro, desde o capítulo 4 até o 22, é
destinada às igrejas locais.
18. Uma grande definição foi dada por Henry Barrow em 1589: “Esta igreja, enquanto
entendida universalmente, contém em si todos os que foram, são e serão eleitos de Deus.
Porém, sendo considerada mais particularmente, como a vemos neste mundo presente, ela
consiste numa companhia e comunhão de pessoas santas e fiéis reunidas em nome de Cristo
Jesus, seu único Rei, Sacerdote e Profeta, adorando-o corretamente, sendo governados
tranquila e pacificamente por seus oficiais e leis, mantendo a unidade da fé no vínculo de paz
e do amor não fingido” (Henry Barrow, “A True Description of the Visible Church”,
reimpresso em Iain Murray, ed., The Reformation of the Church: A Collection of Reformed
and Puritan Documents on Church Issues [Carlisle, PA: Banner of Truth Trust, 1965], 196).
Quanto a uma definição tipicamente batista da igreja, ver a definição dada pela Associação
de Charleston: “Uma igreja evangélica específica consiste numa companhia de santos
incorporados por um pacto especial em um corpo distinto, reunindo-se em um lugar, para o
gozo de comunhão uns com os outros e com Cristo, sua cabeça, em todas as suas instituições,
para edificação mútua e para a glória de Deus por meio do Espírito”, citado em Mark Dever,
“A Summary of Church Discipline”, Polity: Biblical Arguments in How to Conduct Church
Life (Washington, DC: Center for Church Reform [9Marks Ministries], 2001), 118.
19. Cf. Dt 4.10; At 7.38.
20. Esta distinção é fundamental para os dispensacionalistas.
21. Isto seria também semelhante à maneira como o escritor de Hebreus, em Hebreus 8,
parece considerar a profecia de Jeremias 31 concernente às casas de Judá e de Israel como
cumprida na igreja.
22. Ver George Eldon Ladd, The Gospel of the Kingdom (Grand Rapids: Eerdmans, 1959),
120. Quanto a pontos de vista contrários, ver a posição dispensacionalista tradicional
representada por John F. Walvoord, The Millenial Kingdom (Grand Rapids: Zondervan,
1959). Quanto à posição dispensacionalista progressiva, ver Craig Blaising e Darrell Bock,
eds., Dispensacionalism, Israel and the Church (Grand Rapids: Zondervan, 1992); e Robert
Saucy, The Case for Progressive Dispensacionalism (Grand Rapids: Zondervan, 1993).
Quanto à posição reformada, ver O. Palmer Robertson, The Israel of God (Phillipsburg:
P&R, 2000); e Robert Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith
(Nashville: Thomas Nelson, 1998), 503-44.
23. Edmund Clowney, The Church (Downers Grove, IL: IVP, 1995), 28. O livro de Clowney
é uma das melhores introduções publicadas sobre a doutrina da igreja.
24. William Tyndale traduziu regularmente ekklesia por “congregação”.
25. Três vezes em Mateus; 20 em Atos; 66 nos escritos de Paulo; uma vez em Hebreus; uma
vez em Tiago; três vezes em 3 João e 20 em Apocalipse.
26. Isto é contrário à influente posição expressa por Alfred Loisy, no início do século XX,
afirmando que “Jesus previu o reino, mas foi a igreja que veio” (Loisy, The Gospel and the
Chruch [repr.; Philadelphia, Fortress Press 1976], 166).
27. A Septuaginta traduz 77 vezes a palavra hebraica qahal pela palavra grega ekklesia.
28. A única exceção a isto pode ser Atos 9.31. Mas, visto que este uso é único, talvez isto
seja o resultado da única igreja de Jerusalém, que havia sido dispersa, ainda sendo referida
como uma unidade.
29. Por exemplo, 1 Co 1.2; 10,32; 11.16, 22; 15.9; 2 Co 1.1; Gl 1.13; 1 Ts 2.14; 2 Ts 1.4.
30. Por exemplo: Rm 16.16; Gl 1.22.
31. J. Roloff, “ἐκκλησία”, em Exegetical Dictionary of the New Testament, vol. 1, eds., Horst
Balz e Gerhard Schneider (Grand Rapids: Eerdmans, 1990), 412-13.
32. Hb 2.2 como uma referência a uma assembleia do Antigo Testamento foi mencionado
antes.
33. Ver Ap 2.1, 7, 8, 11, 12, 17, 18, 29; 3.1, 6, 7, 13, 14, 22.
34. Paul S. Minear, Images of the Church in the New Testament (Philadelphia: Westminster,
1960).
35. Avery Dulles, Models of the Church, 2nd ed. (New York: Image, 1987).
36. Este livro se refere aos fins e objetivos abrangentes de Deus para a igreja usando a
palavra “propósito”, e se refere ao subconjunto específico daquilo que se relaciona à igreja
sendo enviada ao mundo usando a palavra “missão”. Quanto a mais conteúdo sobre esta
distinção proveitosa, ver Kevin DeYoung e Greg Gilbert, Qual a Missão da Igreja? (São José
dos Campos, SP: Fiel, 2012), esp. 17-22.
37. Outra maneira de categorizarmos as várias figuras da igreja no Novo Testamento é
usarmos a estrutura tríplice do povo de Deus, do corpo de Cristo e da habitação do Espírito.
Assim o fazem Hans Kung, The Church, trad. Ray e Rosaleen Ockenden (Tunbridge Wells,
England: Search Press, 1968), 107-260; Dale Moody, The Word of Truth (Grand Rapids:
Eerdmans, 1981), 440-48; Clowney, The Church, 27-70; Millard Erickson, Christian
Theology, 2nd ed. (Grand Rapids: Baker, 1998), 1044-51.
38. George Eldon Ladd, A Theology of the New Testament, rev. ed. (Grand Rapids:
Eerdmans, 1993), 111. Cf. a crítica do teólogo católico romano Hans Kung quanto ao ensino
de sua igreja a respeito deste ponto em seu livro The Church, 92-93.
39. Quanto a um bom resumo sobre isto, ver Kevin DeYoung e Greg Gilbert, Qual a Missão
da Igreja? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2012), 151-83.
40. Cf. a pregação de Filipe em Atos 8.12 e a de Paulo em Atos 19.8 ou 28.23.
41. Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1938), 569.
42. George Eldon Ladd, “Kingdom of God”, em Evangelical Dictionary of Theology, 2nd
ed., ed. Walter Elwell (Grand Rapids: Baker, 2001), 611; cf. Berkhof, 568-70. Quanto a mais
comentários sobre as chaves, ver Jonathan Leeman, A Igreja e a Surpreendente Ofensa do
Amor de Deus (São José dos Campos, SP: Fiel, 2013), esp. 223-39.
2
ÚNICA
A igreja é única e tem de ser única porque Deus é único. Os cristãos
sempre foram caracterizados por sua unidade (Atos 4.32). A unidade
dos cristãos na igreja deve ser uma peculiaridade da igreja e, para o
mundo, um sinal que reflete a unidade do próprio Deus. Portanto,
divisões e conflitos são escândalos especialmente sérios. Paulo
escreveu aos efésios: “Há somente um corpo e um Espírito, como
também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um
só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o
qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Efésios
4.4-6). Em 1 Coríntios 1, Paulo argumentou em favor da unidade dos
cristãos baseado na unidade deles em Cristo. Em Romanos 12 e 1
Coríntios 12, Paulo ensinou que há somente um corpo. E, em Gálatas
3.7-28, Paulo disse que os cristãos são todos um em Cristo, apesar da
etnicidade. Ele também exortou a igreja de Filipos à unidade
(Filipenses 2.2). O ensino de Paulo reflete o ensino do próprio Cristo,
o ensino de que há um só rebanho (João 10.16). Por isso, Cristo rogou
que seus seguidores sejam um (João 17.21).
A igreja é uma só, embora dividida.44 Esta unidade não é visível
no nível organizacional; é uma realidade espiritual, que consiste na
comunhão de todos os crentes verdadeiros que compartilham do
Espírito Santo. Esta unidade se torna visível quando os crentes
compartilham o mesmo batismo, participam da mesma Ceia e anelam
compartilhar a mesma cidade celestial. A igreja experimenta esta
unidade na terra somente quando seus membros estão unidos na
verdade de Deus, conforme revelada na Escritura.
SANTA
UNIVERSAL
A igreja é universal e tem de ser universal porque Deus é o “Senhor
de toda a terra”49 e o “Rei das nações”50. A igreja é universal porque
se estende através do tempo e espaço. Entre esses quatro atributos,
somente a universalidade não se acha realmente no Novo Testamento.
Em vez disso, esta descrição é desenvolvida a partir da reflexão
posterior sobre a verdadeira igreja. “Católica” é antiga palavra usada
para descrever esse atributo. Entretanto, por causa da associação desta
palavra com a Igreja de Roma, “universalidade” é uma tradução
melhor da palavra grega katholicain, usada originalmente nos credos.
Universalidade não é o domínio de qualquer grupo de verdadeiros
cristãos. Na carta de Inácio de Antioquia aos esmirniotas, ele
escreveu: “Onde Jesus Cristo está, ali está a igreja universal”
(Esmirn. 8.2). A partir do século III, a palavra passou a ser usada
como sinônimo de “ortodoxo”, em oposição a “herético”, “cismático”
e “inovador”.51
Embora cada verdadeira igreja local seja parte dessa igreja
universal e uma igreja completa em si mesma, nenhuma igreja local
pode dizer que é a igreja universal. Portanto, os cristãos devem
exercer cuidado em suas suposições sobre a exatidão de doutrinas e
práticas que podem, de fato, ser peculiares ao seu próprio tempo e
lugar. Desde o ingresso inicial dos gentios na igreja do século I, esta
tem obedecido ao mandato de Cristo de propagar o evangelho a todas
as nações, para que seja finalmente composta de pessoas de todas as
nações. “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque
foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que
procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5.9). A
continuidade da igreja através do tempo e espaço a impede de ser
cativa de qualquer de seus segmentos. A igreja, em suas
manifestações local e universal, pertence a Cristo e somente a Cristo.
APOSTÓLICA
A igreja é apostólica e tem de ser apostólica porque está fundada
sobre a Palavra de Deus, dada por meio dos apóstolos, e se mantém
fiel a ela. No início do seu ministério público, Jesus “chamou a si os
seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o
nome de apóstolos” (Lucas 6.13). Perto do final de seu ministério,
Jesus orou “por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da
sua [dos apóstolos] palavra” (João 17.20). Desde os apóstolos até os
dias atuais, o evangelho que pregaram tem sido passado adiante. Tem
havido uma sucessão do ensino apostólico baseado Palavra de Deus.
Paulo disse aos cristãos efésios que eles tinham sido “edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo,
Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2.20). A sucessão que seguiu o
contexto desta fundação pode não ter envolvido uma transmissão de
pessoa a pessoa, mas tem havido uma sucessão de ensino fiel da
verdade. Escrevendo aos gálatas, Paulo enfatizou que a lealdade deles
à mensagem do evangelho que lhes entregara superava qualquer
lealdade prestada a ele pessoalmente (ver Gálatas 1.6-9).
O que isso significa para nós hoje, visto que os apóstolos não mais
existem? Alguns protestantes têm sido hesitantes em afirmar esse
atributo porque a Igreja Católica Romana interpreta isso como algo
vinculado à autoridade do bispo de Roma. No entanto, o ensino dos
apóstolos, e não a sua pessoa, é o foco desse atributo. Edmund
Clowney disse de forma sucinta: “Comprometer a autoridade da
Escritura é destruir o fundamento apostólico da igreja”.52 A
continuidade física de uma linha de bispos-pastores que remonta aos
apóstolos de Cristo é insignificante, se comparada com a
continuidade entre o ensino nas igrejas hoje e o ensino dos
apóstolos.53 Somente com o ensino dos apóstolos a igreja é “coluna e
baluarte da verdade”, como Paulo a descreveu para Timóteo (1
Timóteo 3.15).
Há muito tempo esses quatro atributos têm sido usados para
expressar o ensino da Bíblia sobre a igreja. Eles são os dons e os
deveres da igreja. Um teólogo resumiu:
A igreja já é uma só, mas precisa se tornar uma só mais visivelmente (...) em fé e
prática. A igreja já é santa em sua fonte e fundação, mas precisa esforçar-se para
produzir frutos de santidade em sua peregrinação no mundo. A igreja já é
universal, mas precisa buscar uma medida mais plena de universalidade para
assimilar os protestos válidos contra o abuso da igreja (...) à sua própria vida. A
igreja já é apostólica, mas precisa se tornar mais conscientemente apostólica, para
deixar que o evangelho reforme e, às vezes, até mude seus ritos e interpretações
costumeiros.54
43. Quanto a mais informações sobre o fundamento bíblico para estes quatro adjetivos, ver
Richard D. Phillips, Philip G. Ryken, Mark E. Dever, The Church: One, Holy, Catholic and
Apostolic (Phillipsburg: P&R, 2004). Cf. J. C. Ryle, Knots Untied, 10th ed. (London, 1885),
217-18; R. B. Kuiper, The Glorious Body of Christ (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1967),
41-72; Louis Berkhof, Systematic Theology, 4th ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1941), 572-
76. Várias eclesiologias têm sido estruturadas seguindo essas quatro características da igreja;
e.g., G. C. Berkouwer, The Church, trad. James E. Davidson (Grand Rapids: Eerdmans,
1976); Gabriel Fackre, The Church: Signs of the Spirit and Signs of the Time (Grand Rapids:
Eerdmans, 2007); e, parcialmente, Michael Horton, People and Place: a Covenant
Ecclesiology (Louisville: Westminster/John Knox, 2008). Em seu primeiro capítulo,
Berkouwer discutiu a relação dos quatro atributos clássicos com as marcas de uma verdadeira
igreja definidas pelos reformadores, especialmente pp. 7-17.
44. Ver Hans Kung, The Church, 320.
45. Lv 11.44-45; 19.2; 20.7; 1 Pe 1.14-16.
46. Rm 6.14; Fp 3.8-9.
47. John Calvin, Institutes of the Christian Religion, em Library of Christian Classics, vol.
xx, ed. John T. McNeill, trad. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster, 1960), IV.i.17.
48. Dt 14.2; 1 Co 5-6; 2 Co 6.14-7.1.
49. Js 3.11, 13; Sl 97.5; Mq 4.13; Zc 4.14; cf. Jr 23.24.
50. Ap 15.3.
51. Por exemplo ver Clemente de Alexandria, em Henry Bettenson, ed., The Early Christian
Fathers: A Selection from the Writings of the Fathers from St. Clement to St. Athanasius
(New York: Oxford University Press, 1956), 247. Quanto a discussão adicional, ver Mark
Dever, “A Catholic Church: Galatians 3.26-29”, em Richard D. Phillips, Philip G. Ryken e
Mark Dever, eds., The Church: One, Holy, Catholic and Apostolic (Phillipsburg, NJ: P&R,
2004), 71-72.
52. Clowney, The Church, 76.
53. Robert Reymond comentou sobre isto: “Assim como a verdadeira descendência de
Abraão são aqueles que andam na fé, sem consideração de sucessão linear, assim também a
igreja apostólica é aquela que anda na fé dos apóstolos, sem consideração da questão de
‘sucessão ininterrupta’” (New Systematic Theology, 844).
54. Donald Bloesch, The Church (Downers Grove: IVP, 2002), 103.
3
As Marcas da Igreja
55. Quanto a uma interessante comparação da função dos quatro atributos clássicos (unidade,
santidade, universalidade, apostolicidade) e às duas marcas de uma verdadeira igreja, ver
Kung, The Church, 267-69.
56. A linguagem de “marcas” é a expressão clássica usada para considerarmos aquelas
características que distinguem uma igreja verdadeira de uma igreja falsa. Usei a palavra
“marcas” de uma maneira diferente, mais popular em meus livros Nove Marcas de Uma
Igreja Saudável (São José dos Campos, SP: Fiel, 2007) e O que É Uma Igreja Saudável?
(São José dos Campos, SP: Fiel, 2009). Nesses livros, “marcas” se referem a características
que fazem distinção entre igrejas verdadeiras que são mais saudáveis e aquelas que não o
são. Quanto a mais informações sobre esse assunto, ver a “Introdução” em Nove Marcas de
Uma Igreja Saudável.
57. Por exemplo: 2 Cr 15.12; Is 44.6-8; Jo 17.3; 1 Co 8.5-6; Tg 2.19.
58. O mais antigo uso existente do vocábulo sacramentum para descrever tanto o Batismo
como a Ceia do Senhor é o de Tertuliano. Parece que ele usou esse vocábulo para significar
não tanto um “mistério” (ver a tradução da Vulgata, de Jerônimo, em Ef 1.9; 3.3; 5.32) e sim
um “juramento”, como um soldado juraria ao ser iniciado no serviço militar. Agradeço a
Gordon Hugenberger por compartilhar um pouco de sua pesquisa sobre este ponto. Louis
Berkhof definiu um sacramento como uma ordenança (Systematic Theology, 617).
59. “Deve ser considerado um princípio inflexível que os sacramentos tenham o mesmo
ofício da Palavra de Deus: oferecer-nos e apresentar-nos Cristo e, nele, os tesouros da graça
celestial. Mas não têm valor ou proveito algum se não forem recebidos pela fé” (Calvin,
Institutes, IV.xiv.17).
60. Mt 3.15-16; Mc 1.9; Lc 3.21; Jo 1.29-34; Mt 28.19.
61. Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-20; 1 Co 11.17-34.
62. κυριακὸν δεὶπνον.
63. “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que ele venha” (1 Co 11.26).
64. Os corpos organizados de seguidores confessos de Cristo que rejeitam deliberadamente
estas práticas são os quacres e o Exército de Salvação. Poderíamos dizer que muitas
congregações evangélicas contemporâneas, se avaliadas por frequência ou por entendimento,
negligenciam na prática o Batismo ou a Ceia do Senhor.
65. O Concílio de Trento determinou finalmente sete como o número de sacramentos que os
fiéis católicos romanos deveriam aceitar. Os outros cinco, com suas bases bíblicas, são a
confirmação (At 8.17; 14.22; 19.6; Hb 6.2), a confissão (Tg 5.16), a ordenação (1 Tm 4.14; 2
Tm 1.6), o casamento (Ef 5.32) e a extrema unção (Tig 5.14). Ver parágrafo 113, em
Catechism of the Catholic Chruch, em Libreria Editrice Vaticana (Liguori: Liguori
Publications, 1994). Calvino rejeitou, com profundidade, essas sete práticas adicionais como
sacramentos (Institutes, IV.xix). Berkouwer concluiu sua consideração sobre os cinco “extra”
sacramentos católicos romanos por afirmar cordialmente que “esta breve revisão dos cinco
sacramentos especiais deixa claro que a teologia católica romana fixa o número dos
sacramentos baseando-se em sua visão de que eles constituem uma série de atos
sobrenaturais que infundem graça sobrenatural a toda a vida, desde o começo até ao fim, e
não em um fundamento de exegese bíblica indubitável” (G. C. Berkouwer, The Sacraments,
trans. Hugo Bekker [Grand Rapids: Eerdmans, 1969], 36).
66. A teologia católica romana moderna tem falado de toda a igreja como sendo um
sacramento. Por exemplo, “a igreja, em Cristo, é na natureza de sacramento — um sinal e
instrumento, a saber, de comunhão com Deus e de unidade entre todos os homens”
(“Dogmatic Constitution of the Church”, em Vatican Council II, Austin Flannery ed.,
[Northport, NY: Costello Pub. Co., 1975], 350).
67. Por exemplo, o Artigo 26 dos 39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra.
68. Ver John L. Dagg, Treatise on Church Order (1858; repr. Harrisonburg: Gano Books,
1982), 226-32. Dagg formulou cinco argumentos contra tomarmos o mandamento de lavar os
pés uns dos outros como uma ordenança permanente para a igreja.
69. O autor está em dívida para com Ligon Duncan por essa distinção cuidadosa e útil.
70. O Antigo Testamento contém muitas lavagens cerimoniais (ver Hb 9.10). Paulo usou a
figura de batismo para explicar a submersão do povo de Israel na lei de Deus (1 Co 10.1-2).
João Batista distinguiu seu batismo do de Jesus (Jo 1.24-27, 33; cf. Lc 3.3). Paulo também
explicou a diferença em Éfeso (At 19.1-6). Jesus ensinou que seus discípulos seriam
batizados com o Espírito Santo (At 1.5). Jesus se referiu metaforicamente à sua própria morte
como um batismo (Lc 12.50). E, entre os cristãos de Corinto, havia até a prática de batismo
em favor de mortos (1 Co 15.29). Quanto a mais informações sobre o pano de fundo
histórico do batismo no século I, ver Gregory R. Beasley-Murray, Baptism in the New
Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1962), 1-92.
71. Ver F. M. Buhler, Baptism, Three Aspects: Archeological, Historical, Biblical, trans. W.
P. Bauman (Dundas, Ontario, Canada: Joshua Press, 2004).
72. βαπτίζειν.
73. Tomás de Aquino escreveu: “No sacramento do batismo, a água é colocada em uso para a
lavagem do corpo, e isso significa a lavagem interior dos pecados. Ora, a lavagem pode ser
feita com água não apenas por imersão, mas também por aspersão ou derramamento. E,
portanto, embora seja mais seguro batizar por imersão, porque esta é a forma mais comum, o
batismo pode ser conferido por aspersão ou também por derramamento, de acordo com
Ezequiel 36.25: ‘Então, aspergirei água pura sobre vós (...)’. E isso especialmente em casos
de urgência; ou porque há um grande número de pessoas a serem batizadas, como foi
evidentemente o caso em Atos 2 e 4, em que lemos que num dia três mil pessoas creram e no
outro, cinco mil; ou por haver somente um pequeno suprimento de água; ou por fragilidade
do ministro, que não pode sustentar o candidato ao batismo; ou por fragilidade do candidato,
cuja vida poderia ficar em perigo pela imersão. Temos, portanto, de concluir que a imersão
não é necessária para o batismo”, Summa Theológica (CD-ROM: AGES Software, 1997),
Questão 66, Resposta 7. João Calvino reconheceu a antiguidade da imersão, mas não a sua
necessidade para o batismo válido: “Quer a pessoa que está sendo batizada seja imergida
totalmente, quer seja duas ou três vezes ou seja apenas aspergida com água lançada — esses
detalhes não são importantes, mas devem ser opcionais para as igrejas, de acordo com a
diversidade de países. No entanto, a palavra ‘batizar’ significa imergir, e é claro que o rito de
imersão era observado na igreja antiga” (Institutes, IV.xv.19). Quanto a uma consideração
luterana da questão, ver David P. Scaer, Baptism (St. Louis: The Luther Academy, 1999), 91-
101.
74. βαπτίζω.
75. Por exemplo, no capítulo 7 da Didaquê (que data mais provavelmente da última parte do
século I ou do começo do século II), lemos: “Ora, concernente ao batismo (βαπτίσματος),
batizem assim: depois de haverem revisto todas estas coisas, batizem ‘em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo’, em água corrente (ζῶτι). Mas, se não tiverem água corrente,
batizem em alguma outra água; e, se não puderem batizar em água fria, façam-no em água
aquecida. Mas, se não tiverem nem uma nem outra, derramem (ἐκχεον) água na cabeça três
vezes ‘em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo’” (The Didache, em The Apostolic
Fathers, 2nd ed., trans. J. B. Lightfoot e J. R. Harmer [1891; repr. Grand Rapids: Baker,
1992], 258-59). A Didaquê não é a Escritura e não é, de modo algum, normativa para a
prática dos cristãos hoje. Porém é lexicalmente significativo o fato de que, neste documento,
do século I ou II, os cristãos de fala grega podiam se referir a ἐκχεον como um βαπτίσματος
(batismo).
76. Uma das mais recentes defesas em favor de derramar como batismo argumenta que
Romanos 6.3-6, Hebreus 9.10-10, Tito 3.5-6 e Ezequiel 36.25-26 demonstram que o batismo
simboliza o derramamento do Espírito Santo em conexão com o cristão ser lavado dos
pecados como parte da união com Cristo, nenhuma das quais requer a imersão e qualquer
delas pode ter sido significado normalmente por derramar (ver Joseph Pipa, “The Mode of
Baptism”, em The Case for Covenantal Infant Baptism, ed. Gregg Strawbridge [Phillipsburg:
P&R, 2003], 112-26. Argumentar demais sobre a imersão produz argumentos como o de
Pipa, que são talvez argumentações exageradas na direção oposta (ou seja, em favor de
derramamento ou de aspersão). Não discutimos que βαπτίζειν significa “lavar” total e
completamente, pelo menos quando usado para propósitos simbólicos. Quanto a uma defesa
recente de imersão, ver Tom Wells, Does Baptism Means Immersion? (Laurel, MS: Audubon
Press, 200); cf. Wayne Grudem, Systematic Theology (Grand Rapids: IVP, 1994), 967-68.
Quanto a um exemplo de uma defesa histórica de imersão, ver John Gill, A Body of Doctrinal
and Practical Divinity, nova edição (London: Matthews & Leigh Co, 1839), 909-14. Os
debates denominacionais do século XIX tiveram milhares de páginas publicadas que
investigavam cada lado da controvérsia; por exemplo, John L. Dagg, Church Order, 21-65.
77. Millard Erickson, Christian Theology, 1113-14; cf. o comentário de Robert Saucy:
“Parece que o significado básico do batismo, ou seja, a identificação com Cristo e sua obra
salvadora, poderia, se necessário, ser significado por outro modo que não fosse a imersão,
como a igreja primitiva apresentou. No entanto, a evidência aponta para a imersão como a
prática padrão nas igrejas do Novo Testamento e o modo que significa mais plenamente a
salvação cristã” (The Church in God’s Program [Chicago: Moody, 1972] 212-213).
78. Se o batismo fosse essencial para a salvação, Paulo nunca poderia ter dito que “não me
enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho” (1 Co 1.17).
79. Esse testemunho deve acontecer no contexto de uma comunidade de crentes, os quais têm
a responsabilidade de testar a credibilidade da profissão.
80. Herman Bavinck, Reformed Dogmatics: Holy Spirit, Church and New Creation, vol. 4
(Grand Rapids: baker Academics, 2008), 521.
81. ἐπὶ τῷ ὀνόματι Ἰησοῦ Χρστοῦ εἰς ἄφεσιν τῶν ἁμαρτιῶν ὑμῶν.
82. Berkhof, Systematic Theology, 632; cf. seus comentários sobre os recipientes apropriados
da Ceia do Senhor, p. 657.
83. Calvin, Institutes, IV.xv.13.
84. Quanto a uma defesa do batismo infantil com base numa perspectiva luterana, ver A.
Andrew Das, Baptized into God’s Family: The Doctrine of Infant Baptism for Today, 2nd ed.
(Milwaukee: Northwestern Publishing House, 2008).
85. Stephen J. Wellum ofereceu uma discussão especialmente proveitosa sobre a
continuidade e descontinuidade entre a velha e a nova aliança com respeito ao batismo. Ele
reconheceu as forças do argumento tradicional da teologia da aliança para o batismo infantil,
mas também observou como teólogos da aliança podem comprimir o texto bíblico para
fazerem suas afirmações teológicas. Ver seu capítulo “Baptism and the Relationship Between
the Covenants”, em Believer’s Baptism: Sign of the New Covenant in Christ, ed. Thomas R.
Schreiner e Shawn D. Wright (Nashville: B&H Academic, 2006), 97-161.
86. Paul K. Jewett, Infant Baptism and the Covenant of Grace (Grand Rapids: Eerdmans,
1978), 228; cf. Fred Malone, The Baptism of Disciples Alone: A Covenantal Argument for
Credobaptism Versus Paedobaptism (Cape Coral, Fl: Founders, 2003).
87. David Wright (What Has Infant Baptism Done to Baptism? [Carlisle, UK: Paternoster,
2005]), ele mesmo um pedobatista, fez uma contribuição interessante a esta discussão por
criticar os efeitos do batismo infantil tão difundido.
88. Cf. Hb 10.22.
89. Quanto a uma consideração sucinta, mas completa, das questões bíblicas, históricas,
teológicas e práticas relacionadas à Ceia do Senhor, ver Robert Letham, The Lord’s Supper
(Phillipsburg, NJ; P&R, 2001); e Thomas R. Schreiner e Matheus R. Crawford, The Lord’s
Supper: Remembering and Proclaming Christ Until He Comes (Nashville: B&H, 2010).
Alguns manuscritos omitem as palavras no evangelho de Lucas.
90. Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-38; Jo 13.1-17.
91. Ver Êxodo 12; cf. Êx 24.8. D. A. Carson (Matthew, em Expositor’s Bible Commentary,
vol. 8, ed. Frank E. Gaebelein [Grand Rapids: Zondervan, 1984], 528-32) concluiu que a
última ceia foi uma refeição de Páscoa.
92. Carson, Matthew, 536.
93. 1 Co 11.26.
94. As primeiras indicações sobre a forma de observância da Ceia do Senhor se acham em
fontes do final do século I — e início do século II — A Didaquê, 1 Clemente e Epístola de
Inácio aos Esmirniotas.
95. Berkhof, Systematic Theology, 657.
4
A Membresia da Igreja
RESPONSABILIDADES E DEVERES DA
CONGREGAÇÃO COMO UM TODO
No Novo Testamento, as congregações locais entendiam que tinham
responsabilidades específicas que não podiam ser delegadas a grupos
de fora. A congregação local era responsável por garantir que um
ministro da Palavra qualificado pregasse para eles, porque isso estava
em seu poder.131 A congregação era, em última análise, responsável
por assegurar que os convertidos fossem batizados e a Ceia do Senhor
fosse devidamente administrada àqueles que davam evidência
confiável de regeneração. E a congregação era responsável por
proteger e definir a membresia de uma igreja, tanto na admissão
como na exclusão de membros.132 Por isso, Paulo atribuiu essas
responsabilidades à congregação em Corinto (cf. 1 Coríntios 5.1-13 e
2 Coríntios 2.1-11).
Toda a congregação é também responsável pela administração fiel
dos dons que lhe foram confiados. O maior dentre esses é o
evangelho, que deve ser pregado no próprio edifício da igreja, na
cidade e ao redor do mundo. Finalmente, a congregação é responsável
por garantir que a mensagem do evangelho chegue a essas diferentes
esferas (ver Gálatas 1.6-9, Filipenses 1.5, Colossenses 1.3-4, 1
Tessalonicenses 1.8).
As responsabilidades da congregação não podem ser delegadas.
Embora a congregação possa substituir o julgamento de um corpo de
líderes — dentro ou fora de seu número — a responsabilidade que ela
possui é inescapável. Assim como as pessoas que pagavam aos falsos
mestres foram ameaçadas com o juízo de Deus, juntamente com os
próprios mestres (2 Timóteo 4.1-5), também a igreja em Corinto,
juntamente com os membros que haviam pecado, foi considerada
responsável (1 Coríntios 5.1-13). E, do mesmo modo que a igreja
tencionada em Mateus 18.15-20 foi considerada responsável, segundo
Cristo, por excluir o impenitente, também as congregações de hoje
não se podem evadir de sua responsabilidade diante de Deus para
cumprir seu dever biblicamente atribuído.
Que outro grupo está tão obrigado a adorar a Deus como aqueles
que foram não somente criados, mas também redimidos? Que grupo
está tão interessado pela tarefa de proclamar a Palavra de Deus e de
evangelização como aqueles que foram eles mesmos salvos por
ouvirem a Palavra? Que grupo estará tão envolvido em tornar visíveis
os sinais — no batismo e na Ceia do Senhor — da obra salvadora de
Deus em Cristo? Desde o ministério da Palavra ao gerenciamento dos
negócios da igreja, que outro grupo está tão incumbido de
responsabilidade como a igreja de Jesus Cristo?133
96. A sinagoga dos Libertos, em Atos 6.9, os fariseus e os saduceus; várias cortes, concílios e
associações. No Antigo Testamento, havia membros de irmandades de guerreiros (e.g., os
trinta homens de Davi — 2 Sm 23.8-39) ou de profetas.
97. Rm 6.12-19; 7.23; 12.4-5; 1 Co 6.15; 12.12-27; Ef 4.16; Tg 3.6; 4.1.
98. Rm 12.5.
99. Por exemplo, At 9.41; 12.1; 15.3, 22; Ef 2.19; 3.6; 4.25; 5.30; Cl 2.19; 3.15; 3 Jo 9.
100. Quanto ao ensino sobre os deveres de membros de igreja elaborados por Benjamin
Keach, Benjamin Griffith, Charleston Association, Samuel Jones, W. B. Johnson, Joseph S.
Baker e Eleazar Savage, ver Mark Dever, ed. Polity: Biblical Arguments on How to Conduct
Church Life (Washington, DC: Center for Church Reform, 2001), 65-69.103-5, 125-26, 148-
51, 221-22, 276-79, 510-11.
101. Quanto a mais informações sobre membresia de igreja, ver 9Marks Ejournal on Church
Membership (May-June 2011); http://www.9marks.org/ejournal/church-membership-
holding-body-together; acesso em 20 de junho de 2011. Cf. Ben Merkle e John Hammett,
eds., Those Who Must Give an Account: A Study of Church Membership and Church
Discipline (Nashville: B&H, 2011).
102. Erickson, Theology, 1058. Quanto a um estudo cuidadoso desse assunto nas epístolas de
Paulo, ver James Samra, Being Conformed to Christ in Community: A Study of Maturity,
Maturation and the Local Church in the Undisputed Pauline Epistles (London: T&T Clark,
2006), especialmente pp. 133-70.
103. Hb 10.25; cf. Sl 84.4, 10; At 2.42.
104. Jo 13.34-35; 15.12-17; Rm 12.9-10; 13.8-10; Gl 5.15; 6.10; Ef 1.15; 1 Pe 1.22; 2.17;
3.8; 4.8; 1 Jo 3.16; 4.7-12; cf. Sl 133.
105. 1 Co 12.13-27.
106. Samuel Jones, Treatise of Church Discipline (1805), em Polity: Biblical Arguments on
How to Conduct Church Life, ed. Mark Dever (Washington, DC: Center for Church Reform,
2001), 150; cf. 2 Co 12.20; 1 Tm 5.13; 6.4; Tg 4.11.
107. Rm 12.16; 14.19; 1 Co 13.7; 2 Co 12.20; Ef 4.3-6; Fp 2.3; 1 T 5.13; 2 Ts 3.11; Tg 3.18;
4.11.
108. Rm 15.6; 1 Co 1.10-11; Ef 4.5, 13; Fp 2.2; cf. Sf 3.9.
109. Fp 1.27.
110. Pv 17.14; Mt 5.9; 1 Co 10.32; 11.16; 2 Co 13.11; Fp 2.1-3.
111. Rm 12.15; cf. Jó 2.11; Is 63.9; 1 Co 12.26; Gl 6.2; 1 Ts 5.14; Hb 4.15; 12.3.
112. Mt 25.40; Jo 12.8; At 15.36; Rm 12.13; 15.26; 1 Co 16.1-2; Gl 2.10; 6.10; Hb 13.16; Tg
1.27; 1 Jo 3.17; cf. Dt 15.7-8, 11.
113. Rm 15.14; Gl 6.1-2; Fp 2.3-4; 2 Ts 3.15; Hb 12.15; cf. Lv 19.17; Sl 141.5.
114. 1 Co 14.12-26; Ef 2.21-22; 4.12-29; 1 Ts 5.11; 1 Pe 4.10; 2 Pe 3.18.
115. Mt 18.21-22; Mc 11.25; Rm 15.1; Gl 6.2; Cl 3.12.
116. 1 Co 6.1-7.
117. Ef 6.18; Tg 5.16.
118. Rm 16.17; 1 Tm 6.3-5; Tt 3.10; 2 Jo 10-11.
119. Mt 20.26-27; Rm 12.10-16; Tg 2.1-13.
120. Fp 1.27; Jd 3.
121. Fp 2.1-18.
122. 1 Co 4.1.
123. Fp 2.29; 1 Ts 5.12-13.
124. Do mesmo modo como os apóstolos eram considerados representantes de Cristo (Lc
10.16; cf. 1 Co 16.10).
125. 1 Pe 5.1-3.
126. Hb 13.17, 22; 1 Tm 5.17-19.
127. 1 Co 4.16; 11.1; Fp 3.17; Hb 13.7.
128. A palavra “honorários” usada em 1 Timóteo 5.17 possui uma evidente conotação
financeira; cf. At 6.4; 1 Co 9.7-14; Gl 6.6.
129. Ef 6.18-20; Cl 4.3-4; 2 Ts 3.1; Hb 13.18-19.
130. 2 Co 5.20.
131. Vemos isso por inferência de Gálatas 1.8, 2 Timóteo 4.3 e Judas 3-4.
132. Mt 18.17. Note o envolvimento de toda a igreja com a corte final e os executores da
disciplina.
133. Um bom exemplo disso está nos detalhes de Atos 15. Comentando Atos 15.4, Jürgen
Roloff escreveu que “toda a assembleia congregacional em Jerusalém constituía seu próprio
corpo de governo, que deve ser distinguido dos apóstolos e dos presbíteros como um corpo
governante que liderava a igreja. O decreto apostólico, concluído por eles, é determinado por
toda a assembleia congregacional.” (J. Rollof, “ἐκκλησία”, em Exegitical Dictionary of the
New Testament, vol. 1, eds. Horst Balz e Gerhard Schneider [Grand Rapids: Eerdmans,
1990], 413-14).
5
O Governo da Igreja
CONGREGACIONALISMO
A responsabilidade fundamental diante de Deus pela manutenção de
todos os aspectos de sua adoração pública pertence à congregação.
Em resolver disputas entre os cristãos (Mateus 18.15-17; Atos 6.1-5),
em estabelecer a doutrina correta (Gálatas 1.8; 2 Timóteo 4.3), ou em
admitir e excluir membros (2 Coríntios 2.6-8; 1 Coríntios 5.1-13), a
congregação local tem o dever e a obrigação de promover a
continuação de um testemunho fiel do evangelho. Nenhum corpo fora
de toda a congregação tem esse mesmo grau de responsabilidade.
Embora os líderes numa congregação tenham suas responsabilidades
especiais diante de Deus, até a menor das congregações — que toma
sobre si mesma a tarefa de prover e ouvir a pregação regular da
Palavra de Deus, bem como de praticar o batismo e a Ceia do Senhor
—, toma necessariamente sobre si mesma a responsabilidade pela
prática correta de membresia e disciplina, mesmo sobre aqueles que
são chamados para serem seus líderes.134
Embora as congregações possam errar e, de fato, errem no
cumprimento dessas responsabilidades, a responsabilidade não deixa
de lhes pertencer. Nenhum outro corpo, dentro ou fora da igreja local,
pode remover de maneira definitiva essas obrigações e deveres da
congregação como um todo. Tolerância de ensino errado
(especialmente em relação ao evangelho), negligência do batismo ou
da Ceia do Senhor e descuido em admitir ou excluir membros são de
responsabilidade da congregação local.135
LIDERANÇA NA IGREJA
Como acontece com qualquer grupo de pessoas, a igreja precisa ser
liderada. Universal e localmente, “o cabeça” e supremo pastor da
igreja é Cristo.136 Cristo não estabeleceu qualquer tipo de estrutura de
liderança, explícita ou implícita, para a igreja universal durante a sua
missão terrena. Portanto, entre as congregações de cristãos, os
relacionamentos são puramente voluntários em natureza.137 Antes de
nos voltarmos para os ofícios específicos estabelecidos para a igreja
no Novo Testamento, cinco princípios bíblicos dessa liderança devem
ser considerados em relação àqueles que servem na liderança.
Os líderes de igreja devem ser explicitamente qualificados. Nem
todos os cristãos são qualificados para servir como líderes ou
supervisores na igreja. Em Atos 20.17-38, 1 Timóteo 3.1-13, Tito 1.5-
9 e 1 Pedro 5.1-4, características são estabelecidas para pastores e
presbíteros do rebanho. Peculiar ante tais qualificações é a exigência
de que os que servem como supervisores sejam aptos “para
ensinar”.138 Além disso, como representantes de Cristo, os presbíteros
ou ministros têm uma obrigação especial de refletir o caráter de
Cristo. Esse caráter inclui um cuidado pelo rebanho, uma prontidão
em servir, uma falta de cobiça por dinheiro, uma recusa de dominar o
rebanho, uma vida exemplar, inculpabilidade, ser marido de uma só
mulher139 e habilidade de cuidar bem de sua própria casa. Um
ministro não é autoritário, irritável ou dado a muito vinho. E um
ministro não deve ser violento ou disposto a obter ganho desonesto.
Por essas e outras maneiras listadas nas Escrituras, o líder da
congregação deve ser explicitamente qualificado.
Os líderes de igreja devem ser respeitáveis para os de fora da
igreja. Aqueles que lideram a igreja não devem ser homens que
trazem infâmia ao evangelho, mas homens cujas vidas elevam o
evangelho como a gloriosa luz de esperança e verdade no mundo. O
amor de Deus pelo mundo brilha mais claramente por meio de vidas
puras. Para que toda a igreja seja orientada em direção aos seus
propósitos, a interação de seus líderes com as autoridades, seus
vizinhos e seus empregadores devem recomendar o evangelho a eles.
Paulo disse que os bispos não devem ser amantes de dinheiro (1
Timóteo 3.3) e sim amantes de estranhos (que é o significado da
palavra “hospitaleiro” no versículo 2). A fim de representar fielmente
o Senhor da igreja, os líderes de igreja devem ter vidas centradas em
Deus e centradas nos outros.
Os líderes de igreja também devem possuir um senso agudo de
prestação de contas, sabendo que estão, eles mesmos, debaixo de
autoridade. Sua vida como líderes públicos os deixa expostos à
reprovação e à correção pública.140 Os pastores do rebanho devem
compreender que são mordomos e não senhores. Portanto, servem
como pastores do rebanho de Deus, que estão debaixo da autoridade,
sujeitos ao governo de Deus. Isso inclui a compreensão de uma
prestação de contas final a Cristo. Tiago afirmou que os mestres serão
julgados mais rigorosamente no final,141 enquanto o autor de Hebreus
prometeu que os líderes de igreja prestarão contas a Deus por sua
obra.142 Como John Brown disse a um de seus alunos de ministério
recém-ordenado numa pequena congregação:
Conheço a vaidade de seu coração e sei que você se sentirá desanimado pelo fato
de que sua congregação é muito pequena, em comparação com as congregações
dos irmãos ao seu redor, mas se assegure, com base na palavra de um homem
experiente, de que, quando tiver de prestar contas deles ao Senhor Jesus Cristo,
no tribunal de julgamento, você achará que teve o suficiente.143
OFICIAIS
As Escrituras estipulam dois oficiais específicos na congregação
local: diáconos e presbíteros.150
DIÁCONOS
Nas traduções modernas do Novo Testamento, a palavra diakonos é
usualmente traduzida por “servo”, às vezes por “ministro” e, em
determinadas ocasiões, por “diácono”. A palavra pode se referir a
serviço em geral,151 a governantes em particular152 e a cuidar de
necessidades físicas.153 Mulheres servem dessa maneira no Novo
Testamento.154 Anjos servem dessa maneira.155 Às vezes a palavra se
refere especificamente a servir à mesa,156 e, embora esse serviço
fosse desprezado no mundo romano, Jesus o considerou de modo
diferente. Ele disse: “Se alguém me serve [diaconeō], siga-me, e,
onde eu estou, ali estará também o meu servo [diaconos]. E, se
alguém me servir [diaconeō], o Pai o honrará” (João 12.26). Outra
vez, Jesus disse: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o
que vos sirva [diaconeō]” (Mateus 20.26). E que “o maior dentre vós
será vosso servo [diaconos]” (Mateus 23.11).
Jesus se apresentou a si mesmo como um tipo de diácono.157 Os
cristãos são apresentados como diáconos de Cristo ou do seu
evangelho. Os apóstolos são retratados do mesmo modo (Atos 6.1-7);
e foi dessa maneira que Paulo se referiu a si mesmo e àqueles que
trabalhavam com ele.158 Ele se referiu especialmente a si mesmo
como um diácono entre os gentios, o grupo específico ao qual ele fora
chamado a servir.159 Paulo chamou Timóteo de um diácono de
Cristo,160 e Pedro disse que os profetas do Antigo Testamento eram
diáconos para os cristãos.161 Anjos são chamados diáconos.162 Até
Satanás tem seus diáconos.163
O retrato mais claro do ofício de diácono na prática está em Atos
6, em que os primeiros diáconos foram estabelecidos. Embasados no
relato, três aspectos do ministério de diácono podem ser notados.164
Primeiramente, os diáconos devem cuidar de necessidades físicas.
Algumas viúvas cristãs “estavam sendo esquecidas na distribuição
diária” (Atos 6.1). Em Atos 6.2, os apóstolos caracterizaram esse
serviço como “servir às mesas” ou, literalmente, “diaconizar as
mesas”. Cuidar de pessoas, especialmente de outros membros da
congregação, contribui não somente para o bem-estar físico, mas
também para o bem-estar espiritual. Encoraja os recebedores desse
cuidado, materializa o cuidado de Deus e age como um testemunho
para os de fora da igreja. E Jesus disse: “Esta é a maneira como o
mundo saberá que vocês são meus discípulos, pelo amor que têm uns
pelos outros”.165 O cuidado físico apresentado em Atos 6 demonstra
esse tipo de amor semelhante ao de Cristo.
Por trás do cuidado físico, há um segundo aspecto da obra de um
diácono, um aspecto que beneficia não somente aqueles que estão em
necessidade, mas também todo o corpo: os diáconos devem se
esforçar pela unidade do corpo. Por cuidarem daquelas viúvas, os
diáconos ajudaram a tornar a distribuição de alimento mais equitativa
entre as viúvas. Isso foi importante porque a negligência física estava
causando desarmonia espiritual no corpo (Atos 6.1). Um grupo de
cristãos reclamava de outro, e parece que foi isso que chamou a
atenção dos apóstolos. Eles não estavam apenas interessados em
corrigir um problema no ministério de benevolência da igreja.
Queriam impedir a ruptura entre dois grupos étnicos. Os diáconos
foram designados como os retentores de choque para o corpo.
O terceiro aspecto, os diáconos foram instituídos para apoiar o
ministério dos apóstolos. Em Atos 6.3, os apóstolos reconhecem que
o cuidar de necessidades físicas é uma responsabilidade da igreja. Em
algum sentido, eles mesmos tinham essa responsabilidade. Contudo,
conforme a passagem em Atos 6.3, eles decidiram confiar essa
responsabilidade a outro grupo de pessoas da igreja. Portanto, os
diáconos não estavam apenas ajudando as viúvas e a igreja como um
todo, estavam também apoiando os líderes cuja principal obrigação
era outra. Por meio de seu ministério às viúvas, os diáconos apoiaram
os mestres da Palavra em seu ministério. Nesse sentido, os diáconos
são fundamentalmente encorajadores e apoiadores do ministério dos
presbíteros.
Esse papel de servo se tornou um ofício regular nas congregações
cristãs. No tempo em que Paulo escreveu sua primeira carta a
Timóteo, instruiu Timóteo sobre as qualificações para o que se
tornara o ofício formal de diácono. Quando a lista de qualidades,
apresentada por Paulo em 1 Timóteo 3.8-13, é combinada com as
qualidades dos indivíduos selecionados em Atos 6, torna-se evidente
que os diáconos devem ser conhecidos como pessoas cheias do
Espírito Santo. Eles atendem às necessidades físicas, porém seu
ministério é um ministério espiritual. Os diáconos devem ser
conhecidos como pessoas cheias de sabedoria. Devem ser escolhidos
pela congregação com a plena confiança dela. Devem assumir
espontânea e diligentemente a responsabilidade pelas necessidades de
seu ministério específico. Devem ser sinceros, dignos de respeito, não
dados a muito vinho, não interessados em ganho desonesto e, com
uma consciência pura, firmes nas profundas verdades da fé. Os
diáconos devem ser servos testados e aprovados enquanto marido de
uma única mulher. E devem ser indivíduos que governam bem seus
próprios filhos e família.
PRESBÍTEROS
Além do ofício de diácono, o Novo Testamento estipula o ofício de
pastor, presbítero ou bispo. Fundamentalmente, o presbítero é um
ministro da Palavra. A raiz presbeut166ocorre 76 vezes no Novo
Testamento. Nove dessas ocorrências se referem a pessoas de idade
avançada167 e quatro se referem aos ancestrais da nação hebraica.168
João usou a palavra presbuteros 12 vezes em Apocalipse para se
referir aos anciãos celestiais.169 Essa palavra também se refere 29
vezes aos líderes judeus, não sacerdotes, no Sinédrio ou nas
sinagogas locais (todas nos evangelhos e em Atos). Os vinte usos
restantes se referem aos presbíteros nas igrejas: na igreja em
Jerusalém;170 em Listra; Icônio e Antioquia;171 em Éfeso;172 nas
cidades de Creta;173 e outras referências gerais.174 O apóstolo João se
referiu a si mesmo duas vezes como “o presbítero”.175 Os judeus dos
dias de Jesus tinham membros leigos do Sinédrio, em Jerusalém, que
eram chamados presbíteros. As sinagogas locais também tinham
grupos de homens governantes chamados presbíteros.
No Novo Testamento, as palavras “presbítero”, “pastor” e “bispo”
são usadas de modo intercambiável no contexto de ofícios da igreja
local.176 Isso pode ser visto mais claramente em Atos 20, que relata o
encontro de Paulo com os “presbíteros”177 da igreja de Éfeso (Atos
20.17), quando ele os chamou. Paulo disse aos presbíteros: “Atendei
por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos,178 para pastoreardes179 a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue” (Atos 20.28). Em Efésios 4.11,
Paulo disse que Cristo “concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. A
palavra que Paulo usou para expressar a ideia de “pastor” é
poimen.180 De modo semelhante, em 1 Pedro 5.1-2, Pedro se dirigiu
aos presbíteros lhes dizendo que pastoreassem [de novo, esse é o
verbo] o rebanho de Deus, servindo como supervisores ou bispos. Em
1 Pedro 2.25, Jesus é chamado o “Pastor e Bispo da vossa alma”. A
raiz da palavra traduzida por “bispo” nesse versículo (episkop)181
ocorre 11 vezes no Novo Testamento. Em Tito 1.5-9, Paulo
apresentou uma lista de qualificações para um ofício específico
semelhante àquele que havia apresentado em 1 Timóteo 3.1-7. Em
ambas as passagens, o oficial descrito é chamado episkopos, ou seja,
um bispo ou supervisor. Todavia, em Tito 1.5, Paulo também disse
que deixara Tito em Creta a fim de garantir que houvesse
presbuterous em cada cidade. Depois, em Tito 1.7, se referiu à
mesma pessoa como um episkopos. É evidente que as referências no
Novo Testamento demonstram intercambiáveis presbíteros, pastores e
bispos ou supervisores no contexto de oficiais na igreja local.182
Paulo descreveu as qualificações para o ofício de presbítero em 1
Timóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9. O presbítero deve ser inculpável,
irrepreensível, não autoritário, temperante, autocontrolado,
hospitaleiro, apto para ensinar, não dado a muito vinho, não violento,
porém gentil, inimigo de contendas, de boa reputação (em especial
entre os de fora), correto, santo e disciplinado. O presbítero é esposo
de uma só mulher, não ama o dinheiro, não é buscador de ganho
desonesto, é bom governante de sua própria casa (seus filhos lhe
obedecem) e não é um recém-convertido. Ele ama o que é bom,
sustenta firmemente o evangelho e é pronto para servir.183
Todas as qualificações listadas aqui são repetidas em outras
passagens da Escritura como aplicáveis a todos os cristãos, exceto a
de não ser um recém-convertido e a de ser apto para ensinar. A
essência do ofício de presbítero se encontra em ensinar — garantindo
que a Palavra de Deus seja bem entendida. Esse ministério de ensino
se mostraria no compromisso com essa tarefa entre os membros de
uma congregação. Qualquer homem que serve como presbítero deve
ter uma compreensão mais do que regular dos ensinos básicos do
evangelho, bem como das grandes verdades da Escritura,
especialmente aquelas que estão sob ataque em seus dias. Um
presbítero deve ter igualmente uma compreensão firme daquelas
verdades que distinguem sua própria congregação de outras (por
exemplo, o batismo, no caso dos batistas). E deve ser um exemplo de
cuidado e interesse por toda a congregação.
As qualificações de ser “esposo de uma só mulher” e governar
“bem a própria casa” não significam que um presbítero tem de ser
casado ou ter filhos.184 Em vez disso, parece que Paulo supôs que a
maioria dos homens seriam casados e teriam filhos e que essas
relações familiares proveriam uma base natural para avaliar a
capacidade de liderança de um homem. Paulo também supôs que os
presbíteros seriam homens. Inerente à criação, Paulo argumentou em
1 Timóteo 2.12-14, existe uma ordem divina que impede uma mulher
de ser chamada a ensinar ou exercer “autoridade de homem” na
igreja.185
Pluralidade de presbíteros. Uma discussão comum sobre os
presbíteros no Novo Testamento é se cada igreja local era governada
por apenas um ou vários presbíteros.
Antes de Jesus estabelecer a igreja, as cidades dos judeus na
Palestina eram acostumadas a serem governadas por vários anciãos.
Por isso, como vemos em Lucas 7.3, o centurião, para pedir ajuda em
seu favor, enviou até Jesus alguns anciãos da comunidade judaica em
Cafarnaum. Deuteronômio também se refere a vários anciãos no
contexto de seu papel como líderes de cidade, quer isso envolvesse
receber pessoas em cidades de refúgio, resolver assassinatos ou lidar
com filhos rebeldes (19.12; 21.1-9; 18-21). As sinagogas judaicas
seguiam igualmente um padrão de liderança plural. Surgidas durante
o exílio na Babilônia, as sinagogas funcionavam como a congregação
civil ou religiosa para ensinar a lei de Deus e, por consequência,
liderar a comunidade. Eram necessários dez homens adultos para o
estabelecimento de uma sinagoga para adoração pública. Vários
ofícios facilitavam a obra das sinagogas, incluindo o ofício de chefe
da sinagoga.186
A evidência sugere que as igrejas no Novo Testamento eram
lideradas, geralmente, por mais de um presbítero. No Novo
Testamento, cinco autores se referem a este ofício num total de 20
vezes.
Tiago, Pedro, Paulo e Lucas também se referiram ao ofício de
presbítero na igreja, e cada um deles presumiu uma pluralidade de
presbíteros.187 Tiago instruiu seus leitores cristãos a chamarem “os
presbíteros [plural] da igreja [singular]” para orarem por alguém que
estivesse doente (Tiago 5.14). Pedro escreveu como um presbítero
aos “presbíteros [plural] que há entre vós”(1 Pedro 5.1-5). A menos
que Pedro estivesse dizendo: “De um ancião para outros anciãos”, ele
presumia uma pluralidade de presbíteros existente em cada igreja.
Paulo saudou os “bispos” (plural) da igreja em Filipos (Filipenses
1.1). E exortou os presbíteros (plural) da igreja em Éfeso a
pastorearem o rebanho (singular) para o qual Deus os chamara (Atos
20.28). Escrevendo a Timóteo e Tito, Paulo mencionou novamente
presbíteros no plural. E lembrou a Timóteo do grupo de presbíteros
que havia imposto as mãos sobre ele (1 Timóteo 4.14). Pouco depois,
Paulo se referiu a presbíteros (plural) que dirigiam as coisas da igreja
(Timóteo 5.17). E depois ele se referiu a acusações — não contra o
“presbítero” —, mas contra um “presbítero” (Timóteo 5.19;
presbuterou, sem o artigo), que seria coerente com a suposição de que
Timóteo tinha vários presbíteros em sua única congregação.
Paulo também deixou Tito em Creta para constituir “presbíteros”
(plural) “em cada cidade” (Tito 1.5), significando de novo que Paulo
tencionava que cada igreja em Creta tivesse uma pluralidade de
presbíteros. Por fim, a narrativa de Lucas em Atos dá evidência de
pluralidade de presbíteros em cada igreja local. A igreja (singular) em
Éfeso tinha vários presbíteros (Atos 20.17). E, no fim de sua primeira
viagem missionária, Paulo e Barnabé promoveram, “em cada igreja
[singular], a eleição de presbíteros [plural]” (Atos 14.23). E
referência aos presbíteros da igreja em Jerusalém ocorre sempre no
plural.188 Portanto, a evidência direta no Novo Testamento indica que
a prática comum e esperada era ter uma pluralidade de presbíteros em
cada igreja local.189
Pastor principal? Outra questão que surge naturalmente nestes
dias é se o Novo Testamento apoia a posição de um pastor principal.
Embora nenhuma evidência direta do Novo Testamento aponte para
essa distinção, quatro sugestões podem ser achadas quanto a um
ministro da Palavra principal entre os presbíteros, até nas primeiras
congregações. Primeiramente, alguns homens no Novo Testamento,
como Tito e Timóteo, se moviam de um lugar para outro, mas
serviam como presbíteros. Outros homens teriam permanecido em um
único lugar, talvez como os homens constituídos por Tito em cada
cidade (Tito 1.5). Em outras palavras, Timóteo estabeleceu um
precedente por vir de fora da comunidade para agir num papel de
liderança, embora outros líderes já estivessem no lugar.
Aparentemente, os que vinham de fora não eram impedidos de se
unir-se a uma comunidade para assumirem responsabilidades
primárias de ensino.
Em segundo, alguns homens eram sustentados financeiramente
para o trabalho de tempo integral com o rebanho,190 enquanto outros
permaneciam em sua vocação e realizavam simultaneamente sua obra
como presbíteros. Paulo fez isso frequentemente quando estabeleceu
o evangelho em uma nova região. Poderia cada presbítero nas
congregações cristãs das cidades de Creta ter sido sustentado
totalmente?
Em terceiro, Paulo escreveu apenas a Timóteo dando instruções
para a igreja em Éfeso, embora o livro de Atos aponte claramente
para uma pluralidade de presbíteros naquela igreja. Aparentemente,
Timóteo desempenhava um papel singular entre eles.
Finalmente, Jesus dirigiu suas cartas às sete igrejas, em
Apocalipse 2 e 3, falando ao “anjo” ou “mensageiro” (singular) de
cada uma daquelas igrejas.
Nenhum desses exemplos apresenta uma ordem explícita, mas
descrevem a prática comum de separar pelo menos um indivíduo
dentre os presbíteros potencialmente de fora da comunidade da
congregação, apoiando esse indivíduo e dando-lhe a responsabilidade
principal de ensino na igreja. No entanto, o pregador ou pastor é
fundamentalmente um dos presbíteros de sua congregação.
Trabalhando ao lado desse pastor principal, a pluralidade de
presbíteros tanto lhe ajuda quanto ajuda a igreja a completar os dons
do pastor, compensar suas deficiências, suplementar seu julgamento e
criar apoio na congregação para as decisões, deixando os presbíteros
menos expostos a críticas injustas. Uma pluralidade também torna a
liderança mais fixa e permanente, proporcionando uma continuidade
mais madura. Estimula a igreja a assumir mais responsabilidade pelo
crescimento espiritual de seus membros e contribui para torná-la
menos dependente de seus empregados. À medida que os presbíteros
lideram e os diáconos servem, a congregação é preparada para viver o
testemunho que Deus tenciona que sua igreja seja.
Governo de presbíteros ou liderança de presbíteros? Duas igrejas
que têm pluralidade de presbíteros podem ser bem diferentes. Quem
pode servir como presbítero? Como eles são organizados? Por quanto
tempo devem servir? Devem ser reconhecidos por qualquer grupo
fora da igreja local? Qual é a sua autoridade no aspecto individual? E
que autoridade está apenas no presbitério como um todo? As decisões
são tomadas por consenso, unanimidade ou maioria? E, acima de
tudo, qual é o papel e a autoridade relativa deles para com a
congregação?
Alguns cristãos argumentam que o presbítero é chamado a
governar ou dirigir os afazeres da igreja local, baseados em passagens
como 1 Timóteo 5.17, Tito 1.7 e Hebreus 13.7, 17. A
responsabilidade da congregação, eles dizem, é se submeter a eles,
apenas e sempre.191 Essa posição é chamada governo de presbíteros.
Defensores do governo de presbíteros não afirmam, é claro, que o
presbitério sempre está certo; dizem apenas que é responsabilidade de
Deus avaliá-los e julgá-los. Os presbíteros são chamados a ensinar e
liderar; a congregação a se submeter e seguir.
Outros cristãos consideram as passagens sobre as
responsabilidades da liderança dos presbíteros e dizem que a
Escritura também dá certas responsabilidades à congregação como
um todo. Recorrem às mesmas passagens mencionadas antes,
passagens que afirmam a supervisão da congregação em questões de
membresia (2 Coríntios 2.6-7), disciplina (Mateus 18.15-20) e
pregação correta do evangelho (Gálatas 1.7-8; 2 Timóteo 4.3). A
responsabilidade final da congregação não contradiz ou anula a
liderança geral dos presbíteros, mas provê uma oportunidade para
confirmá-la, quando é correta, e impedi-la, quando está errada. Essa
posição é chamada liderança de presbíteros.
Em lugar de ver um pastor principal como alguém que está em
competição com um grupo de presbíteros ou os presbíteros e a
congregação em disputa sobre os limites de autoridade e
responsabilidade, esta última posição, que é a minha posição, defende
que eles podem trabalhar muito bem juntos. A congregação
reconhece e se submete aos presbíteros. Nas questões que são
importantes e claras, os presbíteros e a congregação devem concordar
normalmente; e, quando não concordam, a autoridade da congregação
é final. Nas questões que são menos claras, a congregação deve
confiar nos presbíteros e acompanhá-los, crendo na obra providencial
de Deus por meio deles. Igrejas sempre se beneficiam ao delinearem
com clareza as responsabilidades e as obrigações de cada um e ao
concordarem com isso.
Embora os membros de uma igreja devam concordar quanto a
suas próprias estruturas de autoridade, igrejas com diferentes formas
de governo podem ser parceiras em várias áreas. A discordância na
forma de governo pode impedir a parceria na implantação da igreja,
mas não impede a parceria na comunhão pastoral, educação,
evangelização, tradução da Bíblia ou vários ministérios sociais.
Certamente, nunca é apropriado igrejas perderem suas afeições para
com outras por causa de diferenças na forma de governo. Numa igreja
local saudável, um governo bíblico trará paz à congregação, assim
como à comunhão dessa congregação com outras igrejas evangélicas.
134. 1 Tm 5.19-20. Quanto a mais informações sobre congregacionalismo, ver Mark Dever,
Refletindo a Glória de Deus (São José dos Campos: Fiel, 2008), 51-65.
135. Muito da evidência disto no Novo Testamento está em passagens que abordam igrejas
negligenciando esses deveres.
136. Ef 4.1-16; Hb 13.20; 1 Pe 5.4.
137. Esta natureza voluntária dos relacionamentos entre congregações não significa que as
decisões tomadas em referência às relações de uma congregação com outra são questões
indiferentes.
138. 1 Tm 3.2.
139. Isso não significa nunca ter divorciado, mas, antes, ser fiel à sua mulher. Não há
nenhuma razão convincente para crermos que Paulo tinha em mente divórcio ou adultério
anterior à conversão, como ele não considerou, em nenhuma outra passagem, que alguém
seria desqualificado devido a outros pecados anteriores à conversão como mentira,
assassinato ou blasfêmia.
140. 1 Tm 5.19-20.
141. Tg 3.1.
142. Hb 13.17.
143. Citado por Alexander Grossat em Works of Richard Sibbes, ed. Alexander Grossart
(1862-1864; repr. Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1979), 294.
144. 1 Pe 5.4.
145. 3 Jo 9; 1 Co 1-3.
146. 1 Tm 3.1.
147. Rm 12.8.
148. 1 Tm 5.17.
149. ἠγουμένοις — Hb 13.17, 24.
150. Ver Mark Dever, Refletindo a Glória de Deus (São José dos Campos: Fiel, 2008), 18-
47. Quanto a uma consideração mais ampla e mais cuidadosa desses dois ofícios, ver
Benjamin L. Merkle, 40 Questions About Elders and Deacons (Grand Rapids: Kregel, 2008).
151. At 1.17, 25; 19.22; Rm 12.7; 1 Co 12.5; 16.15; Ef 4.12; Cl 4.17; 2 Tm 1.18; Fm 13; Hb
6.10; 1 Pe 4.10-11; Ap 2.19.
152. Rm 13.4.
153. Mt 25.44; At 11.29; 12.25; Rm 15.25, 31; 2 Co 8.4, 19-20; 9.1, 12-13; 11.8.
154. Mt 8.15 [Mc 1.31; Lc 4.39]; Mt 27.55 [Mc 15.41; cf. Lc 8.3]; Lc 10.40; Jo 12.2; Rm
16.1.
155. Mt 4.11 [Mc 1.13].
156. Mt 22.13; Lc 10.40; 17.8; Jo 2.5, 9; 12.2.
157. Mt 20.28 [Mc 10.45; Lc 22.26-27; cf. Jo 13]; Lc 12.37; Rm 15.8.
158. At 20.24; 1 Co 3.5; 2 Co 3.3, 6-9; 4.1; 5.18; 6.3-4; 11.23; Ef 3.7; Cl 1.23; 1 Tm 1.12; 2
Tm 4.11.
159. At 21.19; Rm 11.13.
160. 1 Tm 4.6; 2 Tm 4.5.
161. 1 Pe 1.12.
162. Hb 1.14.
163. 2 Co 11.15; Gl 2.17.
164. Agradeço a Buddy Gray, um pastor em Birmingham (Alabama), por destacar isso no
texto para mim.
165. João 13.35 — tradução do autor.
166. πρεσβύτ.
167. Lc 1.18; 15.25; Jo 8.9; At 2.17; 1 Tm 5.1, 2; Tt 2.2, 3; Fm 9.
168. Mt 15.2; Mc 7.3, 5; Hb 11.2.
169. Ap 4.4, 10; 5.5, 6, 8, 11, 14; 7.11, 13; 11.16; 14.3; 19.4.
170. At 11.30; 15.2, 4, 6, 22, 23; 16.4; 21.18.
171. At 14.21, 23.
172. At 20.17.
173. Tt 1.5.
174. 1 Tm 5.17, 19; Tg 5.14; 1 Pe 5.1, 5.
175. 2 Jo 1; 3 Jo 1.
176. Ver Benjamin L. Merkle, The Elder and Overseer: One Office in the Early Church
(New York: Peter Lang, 2003).
177. πρεσβυτέρους.
178. ἐπισκοπους.
179. ποιμαίνειν.
180. ποιμήν.
181. ἐπίσκοπ.
182. Assim concluiu R. B. C. Howell, pastor da First Baptist Church em Nashville
(Tennesse): “Os únicos oficiais designados por Deus para pregar e administrar as ordenanças,
e cuja comissão chegou até nossos tempos, são chamados, indiferentemente, anciãos, bispos
e presbíteros; e todos esses nomes, quando se referem ao ofício, transmitem a mesma ideia”
(R. B. C. Howell, “Ministerial Ordination”, em The Baptist Preacher, ed. Henry Keeling
[Richmond: H. K. Ellyson, 1847], 137.
183. Quanto a essa última qualidade, ver 1 Pe 5.2.
184. Pareceria estranho se qualquer qualificação para presbítero excluísse o próprio Paulo de
servir como um presbítero.
185. Muito material útil sobre esse assunto tem sido publicado pelo Council on Biblical
Manhood and Womanhood. Ver John Piper e Wayne Grudem, eds., Recovering Biblical
Manhood and Womanhood (Wheaton, IL: Crossway, 1991); e Wayne Grudem e Dennis
Rainey, eds., Pastoral Leadership for Manhood and Womanhood (Wheaton, IL: Crossway,
2002).
186. Exemplos de chefes de sinagoga mencionados no Novo Testamento são Jairo, em
Marcos 5.22 (vários chefes); Atos 13.15 (plural); Crispo em Atos 18.8 (singular).
187. Somente João se referiu ao ofício exclusivamente no singular. Ele se referiu a si mesmo
como “o presbítero” em sua segunda e terceira carta (2 João 1; 3 João 1). Aparentemente,
João era conhecido por esse título. Supondo que ele tenha escrito a pessoas de fora de sua
própria congregação, o título pode ter sugerido tanto um ofício quanto seu reconhecimento
amplo.
188. At 11.30; 15.2, 4, 6, 22-23; 16.4; 21.18.
189. O anglicano erudito e missiologista pioneiro, Roland Allen, chegou a esta mesma
conclusão: “Paulo não se contentava em ordenar apenas um presbítero para cada igreja. Em
cada lugar, ele ordenava vários. Isso garantia que toda a autoridade não ficasse concentrada
nas mãos de um único homem” (Roland Allen, Missionary Methods: St. Paul’s or Ours?
[London: Robert Scott, 1912] 138-39]).
190. Por exemplo, Fp 4.15-18, 1 Tm 5.17-18. O termo “com especialidade” em 1 Timóteo
5.17 seria melhor traduzido por “quero dizer”. Paulo estava reafirmando e esclarecendo aqui,
como o fez quando usou a mesma palavra em 4.10. Paulo não estava defendendo uma classe
separada de presbíteros que não ensinavam e apenas governavam.
191. Um exemplo dessa posição, publicado recentemente, é Ted Bigelow, The Titus Mandate
(publicado pelo próprio autor, 2011).
6
A Disciplina da Igreja
NOVO TESTAMENTO
No Novo Testamento, a igreja também deve exercer disciplina porque
uma expectativa de santidade permanece sobre o povo de Deus.
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo
aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em
todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque
eu sou santo”.199 A igreja foi fundada por Cristo, e seu sucesso foi
prometido e garantido por ele mesmo.200 Ele está comprometido em
formar santidade em seu povo por meio do seu Espírito.
O Espírito de Cristo usa o grupo local de crentes para formar e
manter a santidade especial do povo de Deus, em parte por meio do
exercício da disciplina da igreja. Aquele que escreve aos Hebreus
lembrou aos cristãos a importância da disciplina na vida cristã.201
Parte dessa disciplina ocorre por meio da interação de pessoas,
quando um membro do corpo de Cristo se importa com o outro. Por
isso, Paulo escreveu aos cristãos gálatas: “Irmãos, se alguém for
surpreendido em alguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com
espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.
Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo”.202
Ele também advertiu os tessalonicenses nestes termos:
Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de
todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós
recebestes (...) Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta
epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado.
Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.203
MATEUS 18
Esse conceito de disciplina da igreja, que pode culminar na exclusão
da igreja, se originou no ensino do próprio Cristo. Em Mateus 18,
Jesus ensinou sobre a natureza de segui-lo, instruindo sobre o amor
que busca o perdido e a misericórdia para com os outros. No mesmo
contexto, ele também explicou o que deve ser feito quando um de
seus seguidores peca contra outro:
Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a
igreja, considera-o como gentio e publicano.205
1 CORÍNTIOS 5
Talvez o texto mais citado sobre a prática da excomunhão ou
disciplina eclesiástica seja 1 Coríntios 5. Nessa passagem, Paulo
dirigiu especificamente toda a congregação a expulsar de entre eles
“o malfeitor” (1 Coríntios 5.13). Paulo tomou tais palavras de
Deuteronômio, em que o Senhor instruiu seu povo por meio de
Moisés a expulsar aqueles que adoravam outros deuses, davam falso
testemunho, praticavam sexo pré-marital, adultério ou certos tipos de
escravidão.207 No antigo Israel, essa exclusão pode ter sido realizada
por meio da pena capital. Em sua exortação à congregação em
Corinto, Paulo queria dizer apenas que o ofensor devia ser excluído
da comunidade, à semelhança do mandamento de Jesus em Mateus
18.17, para que o pecador impenitente fosse tratado como um gentio
ou publicano. Embora o ofensor afirmasse ser um cristão, sua
afirmação não tinha credibilidade por causa de sua evidente falta de
arrependimento. Esse julgamento dentro da igreja é realmente uma
parte da obra da igreja, disse Paulo: “Pois com que direito haveria eu
de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?”208. “Sim” é a
resposta que Paulo pressupôs para esta segunda pergunta retórica.
A natureza da exclusão que Paulo ordenou é excomunhão, que
significa, tipicamente, excluir da comunhão (a Ceia do Senhor) as
partes em questão. Em essência, isto é uma remoção da membresia da
igreja. Enquanto outras situações disciplinares podem exigir uma
abordagem gradual, algo como um advertência seguida de suspensão
temporária de certos privilégios da membresia, Paulo não
contemplava nenhum passo intermediário em 1 Coríntios 5. A ofensa
foi horrorosa e pública, e a resposta da igreja precisava ser
igualmente pública e decisiva.209 Por isso, Paulo levou a
excomunhão, nessa circunstância, além da mera negação da Ceia do
Senhor ao impenitente. Ele escreveu: “Agora, vos escrevo que não
vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou
avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com
esse tal, nem ainda comais”.210 Paulo reagiu fortemente porque a vida
do pecador impenitente se contrastava tão claramente com sua
afirmação de ser um cristão. Se a igreja permitisse que ele
permanecesse na membresia, estaria confirmando a afirmação dele e,
ao mesmo tempo, dando ao mundo um retrato profundamente
distorcido do que um cristão é. O pecado original pertencia ao casal
que o cometeu. Mas o pecado que suscitou a ira e o tom severo de
Paulo foi a inatividade da igreja. O fracasso deles em agir foi
potencialmente desastroso para seu testemunho do evangelho, o que
é, em si mesmo, um pecado sério. A disciplina da igreja realizada
corretamente pode levar um pecador ao arrependimento, mas sempre
apresentará fielmente o evangelho para a comunidade
circunvizinha.211
Finalmente, a disciplina da igreja deve ser praticada a fim de levar
pecadores ao arrependimento, ser uma advertência para outros
membros da igreja, trazer saúde a toda a congregação, ser um
testemunho coletivo para o mundo e, em última análise, para glória de
Deus, quando seu povo manifesta seu caráter de amor santo.212
192. Êx 33.14-16.
193. Lv 19.1-2; cf. 11.44-45; 20.26.
194. Gordon J. Wenham, The Book of Leviticus, New International Commentary on the Old
Testament (Grand Rapids: Eerdman, 1979), 19-20.
195. Cf. Lv 11-15, 18.
196. Lv 17.10; 20.3-5.
197. Cf. Êx 30.38; Lv 7.20-21; Nm 15.30-31.
198. Ez 20.13-14.
199. 1 Pe 1.14-16 (citando Lv 11.44-45; 19.2; 20.7).
200. Mt 16.17-19.
201. Hb 12.1-14.
202. Gl 6.1-2.
203. 2 Ts 3.6, 14-15; cf. 1 Tm 1.20; 5.19-20.
204. Tt 3.10.
205. Mt 18.15-17.
206. Por exemplo, “que o autor de tal infâmia seja (...) entregue a Satanás para a destruição
da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]” (1 Co 5.5).
207. Dt 17.7; 19.19; 22.21, 24; 24.7.
208. 1 Co 5.12.
209. Tradicionalmente, os cristãos têm feito uma distinção entre ofensas públicas e privadas.
Ofensas públicas são tratadas com o conselho de Paulo em 1 Coríntios 5, segundo o qual
nenhuma censura privada precede a censura pública. As ofensas privadas são tratadas com as
palavras de Jesus em Mateus 18, segundo as quais uma série de apelos privados são feitos
antes de ser trazido à atenção pública. Quanto a mais informações sobre essa distinção, ver P.
H. Mell e Eleazar Savage (entre outros) no seu ensino reimpresso em Polity: Biblical
Arguments on How to Conduct Chruch Life, ed. Mark Dever (Washington, DC: Center for
Church Reform, 2001, 422-26, 485-86, 520. Cf. Jonathan Leeman, Church Discipline: How
the Church Protects the Name of Jesus (Wheaton, IL: Crossway, 2012), cap. 3.
210. 1 Co 5.11.
211. “Acautele-se de uma ambição por membros: um pequeno grupo de discípulos bem
instruídos e sinceros é muito mais valioso para a causa de Cristo do que uma multidão
heterogênea e indistinta do mundo em espírito e vida” (H. Harvey, The Pastor: His Duties
and Qualfications [Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1879], 66).
212. Ver Mt 5.16; 1 Pe 2.12.
7
O Propósito da Igreja
PREGAÇÃO E ADORAÇÃO
A adoração coletiva de Deus acontece no contexto da
congregação reunida, enquanto a adoração individual de Deus ocorre
no contexto da vida diária de uma pessoa. Moldar e estimular tanto a
adoração coletiva quanto a individual são aspectos significativos do
propósito da igreja.
ADORAÇÃO INDIVIDUAL
Além de promover e regular a adoração coletiva de Deus pela
congregação, o propósito de missão da igreja inclui fomentar a
adoração a Deus por parte dos indivíduos. A adoração não acontece
somente nos cultos e reuniões públicos. Deve acontecer no viver
diário do cristão. Por isso, Paulo exortou aos cristãos de Roma:
“Apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional”.234 Teologia vivenciada em ação
e obediência responsáveis é adoração a Deus. Quando realizados com
fé, todos os deveres da vida cristã, ordenados na Escritura, são meios
de adorar a Deus. “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em
ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai”.235 Adorar a Deus é o objetivo supremo da igreja cristã, quer seja
considerada universal ou localmente, ou na vida individual dos seus
membros.
EVANGELIZAÇÃO
Outro propósito da igreja local é levar a Palavra de Deus aos de fora
da igreja.239 Jesus ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que
vos tenho ordenado”.240 Ele também lhes disse que o perdão dos
pecados seria pregado em seu nome, “começando de Jerusalém”.241
“Sereis minhas testemunhas”, disse-lhes Jesus, “tanto em Jerusalém
como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos
1.8).
Oportunidades para ministrarmos aos outros surgem naturalmente
na vizinhança e na cidade onde vive uma congregação. As boas novas
se propagam mais naturalmente não só onde a congregação realiza
suas reuniões, mas também onde seus membros espalhados vivem
seus dias de semana. A vida deles deve ser conhecida pelos amigos,
vizinhos e colegas não cristãos. O testemunho deles deve ser
melhorado enquanto todos os de fora observam constantemente a
conduta deles.
MISSÕES
O propósito exterior da igreja não está limitado a evangelizar a
própria cidade onde a congregação vive. As orações e os planos de
uma congregação devem se estender para além de restritos horizontes
de familiaridade. O mandamento de Jesus para irmos até “aos confins
da terra” nos lembra que Cristo é Senhor sobre tudo, que ele ama
todos e nos chamará à prestação de contas no grande dia. Portanto, os
cristãos de hoje têm a responsabilidade de levar o evangelho a todo o
mundo. Essa responsabilidade não é apenas do cristão individual, mas
também das congregações. Os cristãos juntos podem compartilhar
sabedoria, experiência, sustento financeiro, orações e vocações, e
direcionar tudo isso para o propósito comum de tornar o nome de
Deus conhecido entre as nações.
Em muitas igrejas hoje, esse propósito exterior pode exigir
reestruturar a vida de modo que os membros da congregação
interajam naturalmente com populações de nãos cristãos em áreas
metropolitanas. Em todas as igrejas, esse propósito exterior significa
orar e planejar para enviar recursos e pessoas àqueles grupos de
indivíduos que ainda não ouviram o evangelho de Jesus Cristo.
Testemunhar a glória de Deus sendo proclamada ao redor do globo no
coração de todo o seu povo deve ser o alvo e propósito de toda igreja
local.
213. Entre as passagens importantes que servem como um pano de fundo para o que Deus
está fazendo com seu povo, há as seguintes: Êx 19.5-6; Mc 13.10; 14.9; Mt 28.16-20; Lc
4.16-21; 24.44-49; Jo 20.21; At 1.8; Ef 3.10-11.
214. David Peterson, Engaging with God (Downers Grove: IVP, 1992), 20. Cf. a definição
mais extensa de D. A. Carson, em D. A. Carson, ed., Worship by the Book (Grand Rapids:
Zondervan, 2002), 30.
215. J. L. Duncan, “Foundations for Biblically Directed Worship”, em Give Praise to God: A
Vision for Reforming Worship, ed. P. G. Ryken, D. W. H. Thomas e J. L. Duncan III
(Phillipsburg: P&R, 2003), 65. Um forte argumento pode também ser elaborado a respeito da
contribuição financeira como um elemento de adoração pública por causa das instruções de
Paulo à igreja de Corinto (1 Co 16.1-2; 2 Co 9.6-7). Os primeiros cristãos contribuíam
benevolentemente para os necessitados (cf. Mt 5.42; 6.3; Lc 6.38; 21.1-4; At 4.34-35; 11.29;
20.35; Rm 12.8). O que é incerto é a associação desse ato de adoração cristã com o
ajuntamento público da igreja.
216. 1 Tm 4.13; ver o ministério de Esdras de leitura pública da lei (Nm 8).
217. 2 Tm 4.2.
218. Mt 26.30; Mc 14.26.
219. Ef 5.19-20; cf. Cl 3.16.
220. Ap 5.9-14.
221. Mt 6.7-15; Lc 11.1-4.
222. Tg 5.16; cf. Ef 6.18; Fp 4.6; Cl 4.2; 1 Ts 5.17; 1 Tm 2.8; Tg 5.13.
223. At 2.42; cf. 1.14; 4.24-31; 12.5, 12.
224. Êx 20.2-4; Dt 5.6-10. Esses mandamentos foram transgredidos muitas vezes durante a
época do Antigo Testamento; ver, por exemplo, Lv 10.1-3; Dt 4.2; 12.32; 1 Sm 15.22; 2 Sm
6; Jr 19.5; 32.35. Todas estas histórias (Nadabe e Abiu, Saul e Uzá) mostram que a intenção
correta não é, por si mesma, suficiente para a adoração correta.
225. Mt 15.1-4.
226. 1 Co 11-14.
227. Quanto a mais informações sobre o princípio regulador, ver os primeiros dois capítulos
em Ryken, Thomas e Duncan, Give Praise to God, e a introdução de D. A. Carson em seu
livro Worship by the Book.
228. Cf. At 2.46; 4.31; 5.42; 16.13; Rm 16.5.
229. Mt 28.1-2; Mc 16.2-5; Lc 24.1-3; Jo 20.1.
230. Mt 28.8-10; Jo 20.13-19; cf. Lc 24.13-15.
231. At 20.7; 1 Co 16.1-2.
232. Ap 1.10.
233. Didaquê 14:1 (ver Apostolic Constitutions 7:30:1); Inácio, Magnesianos 9.1; Evangelho
de Pedro 35, 50. Ver R. J. Bauckham, “The Lord’s Day” e “Sabbath and Sunday in the Post-
Apostolic Church”, em D. A. Carson, ed., From Sabbath to Lord’s Day: A Biblical,
Historical and Theological Investigation (Grand Rapids: Zondervan, 1982), 221-98.
234. Rm 12.1.
235. Cl 3.17; cf. 1 Co 10.31.
236. Ef 4.15-16.
237. Hb 10.24-25.
238. 1 Coríntios contém todos esses temas.
239. “A missão da igreja é ir ao mundo e fazer discípulos, proclamando o evangelho de Jesus
Cristo, no poder do Espírito, e reunindo esses discípulos em igrejas, para que eles adorem o
Senhor e obedeçam aos seus mandamentos, agora e na eternidade, para a glória de Deus, o
Pai” (Kevin DeYoung e Greg Gilbert, Qual a Missão da Igreja? [São José dos Campos: Fiel,
2012], 82).
240. Mt 28.19-20.
241. Lc 24.47.
242. Por exemplo, veja a argumentação do Senhor em favor das pragas em Êxodo 9-12.
243. Ez 36.22-23; cf. Is 48.8-11.
244. Ef 3.10-11.
245. Charles Bridges, The Christian Ministry (1830; repr. Edinburgh: Banner of Truth,
1980), 1. Cf. a magnífica afirmação de J. L. Reynolds: “Quando Cristo disse, na sala de
julgamento de Herodes, as notáveis palavras ‘Eu sou um rei’, ele pronunciou um sentimento
carregado de poder e dignidade indescritíveis. Seus inimigos puderam zombaram de suas
pretensões e escarnecer de sua afirmação, por apresentarem-no com uma coroa de espinhos,
um caniço e um manto de púrpura e por pregarem-no na cruz; mas, aos olhos de inteligências
não caídas, ele era um rei. Um poder mais elevado presidia aquela cerimônia zombeteira e
converteu-a numa coroação real. Aquela coroa de espinhos era, de fato, o diadema de um
império; aquele manto de púrpura era a insígnia de realeza; aquele caniço frágil era o
símbolo de poder irrestrito; e aquela cruz, o trono de domínio que nunca acabará” (J. L.
Reynolds, “Church Polity, of the Kingdom of Christ”, em Polity: Biblical Arguments on How
to Conduct Church Life, ed. Mark Dever [Washington, DC: Center for Chruch Reform,
2001], 298). “É como se a igreja fosse um palco no qual Deus tem apresentado o grande
drama de redenção, um espetáculo de vida real no qual se mostra como aqueles que se
rebelaram contra Deus e arruinaram seu universo são agora trazidos de volta à harmonia com
ele, tornando-se, em lugar de rebeldes, agentes de renovação e restauração” (James
Montgomery Boice, Foundations of the Christian Fatih [rev. ed., Downers Grove: IVP,
1986], 565-66).
8
A Esperança da Igreja
246. James Bannerman distingue cuidadosamente a igreja local do crente individual (James
Bannerman, The Church of Christ, vol. 1 [repr. Edinburgh: Banner of Truth, 1960), 3).
247. At 1.8; Gl 6.10. Pastores e teólogos protestantes como Jonathan Edwards e C. H.
Spurgeon se referiram de uma forma geral à “espiritualidade da igreja”. Quando usada por
esses autores, a expressão é quase equivalente à pureza e santidade da igreja. Mas a
expressão recebeu também um significado mais técnico no contexto de conversas sobre
estabelecimento e compromisso político, especialmente entre os presbiterianos do Sul, como
J. H. Thornwell e R. L. Dabney. Aqui, a expressão “espiritualidade da igreja” se refere à
necessidade de manter em foco os interesses apropriados da igreja e evitar o mundanismo.
Por exemplo, a igreja não deve se preocupar com os negócios do Estado, dizem os defensores
da espiritualidade da igreja. E deve guardar sua pureza por sua própria autoridade, em vez de
pedir ao Estado que a proteja (ver R. L. Dabney, Lectures in Theology, 4th ed. [Richmond:
Presb. Committee of Publication, 1890], 873-87). Afinal de contas, os defensores da
“espiritualidade da igreja” formularam uma conexão entre as autoridades distintas da igreja e
do Estado e os focos distintos da igreja e do Estado. “A igreja tem a função de ensinar aos
homens o caminho para o céu e ajudá-los a andar nesse caminho. O Estado tem o dever de
proteger cada cidadão no gozo de seus direitos temporais. A igreja não tem castigos e
penalidades civis a impor, porque Cristo não deu à igreja nenhuma dessas coisas e porque
elas não têm qualquer relevância na consecução do objetivo da igreja — uma crença genuína
na verdade salvadora. (Ver Jo 18.36; 2 Co 10.4)” (Dabney, Lectures in Theology, 874-75).
Dois principais proponentes dessa doutrina foram Stuart Robinson, The Church of God
(Philadelphia: Joseph M. Wilson, 1858), esp. 84-93, e Thomas E. Pack, Notes on
Ecclesiology (Richamond: Presbyterian Committee of Publication, 1893), esp. 119-55. Em
oposição à ideia de que essa era uma doutrina unicamente dos sulistas, ver o comentário de
Charles Hodge na tribuna da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana em 1861: “A doutrina
de nossa igreja sobre esse assunto é que o Estado não tem nenhuma autoridade nas questões
puramente espirituais e que a igreja não tem nenhuma autoridade nas questões puramente
seculares ou civis. O fato de que seus domínios, em alguns casos, sobrepõem um ao outro
(...) é realmente verdadeiro (...). No entanto, essas duas instituições são distintas, e suas
responsabilidades e deveres diferentes” (“The General Assembly”, Biblical Repertory and
Princeton Review 33 [1861], 557; ver 561); cf. J. H. Thornwell, Colleted Writings of James
Henley Thornwell, vol. 4 (1875; repr. Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1974), 448-51; B.
M. Palmer, Life and Letters of James Henley Thornwell (1875; repr. Edinburgh: Banner of
Truth Trust, 1974), 501. À semelhança das ideias de “soberania de esfera”, de Abraham
Kuyper, a espiritualidade da igreja, neste uso mais refinado, restringe os interesses da igreja
às questões do evangelho e às questões relacionadas diretamente com o evangelho. Cf.
Calvino, Institutas, II.xv.3-4; IV.xx.1. Outras questões (como o interesse por educação,
política e ministérios de misericórdia para os não membros da igreja) são interesses
apropriados que os cristãos devem ter, mas a própria igreja não é a estrutura para lidarmos
com essas coisas. Elas são os interesses apropriados dos cristãos em escolas, governo e
outras estruturas da sociedade. De fato, se alguns desses interesses chegam a ser o foco da
igreja, podem distrair potencialmente a igreja de sua única e principal responsabilidade: viver
e proclamar o evangelho. Um resumo muito útil dessa discussão do século XIX pode ser
achado em Daryl G. Hart, Recovering Mother Kirk (Grand Rapids: Baker, 2003), 51-65;
David VanDrunen, Natural Law and the Two Kingdoms: A Study in the Development of
Reformed Social Thought (Grand Rapids: Eerdmans, 2010), 247-67; cf. Preston D. Graham
Jr., A Kingdom Not of This World: Stuart Robinson’s Struggle to Distinguish the Sacred from
the Secular During the Civil War (Macon, GA: Mercer University Press, 2002). Quanto a
uma abordagem contemporânea das implicações disso, ver Brian Habig e Les Newsom, The
Enduring Community: Embracing the Priority of the Church (Jackson, MS: Reformed
University Press, 2001).
248. O evangelho é, falando corretamente, pregado e não feito (embora as ações dos
indivíduos possam, certamente, afirmá-lo; ver João 13.34-35 [até nessa passagem, o amor
cristão recíproco aponta para o evangelho!]). O ministério social realizado pela igreja deve
ser de modo autoconsciente abraçado com a esperança, oração e desígnio de compartilhar o
evangelho. J. Gresham Machen escreveu que “na era apostólica os benefícios materiais
nunca foram valorizados por si mesmos, nunca foram considerados substitutos para as coisas
espirituais. Precisamos aprender essa lição. Melhoria social, embora importante, não é
suficiente; dever ser sempre suplementada com o dom inefável de Deus” (J. Gresham
Machen, ed. John Cook, New Testament, 345-46).
249. Ver Pv 19.17; 21.3; Lc 10.25-37; At 9.36; Hb 13.1-3; Tg 1.27.
250. John Wesley “começou o ano de 1785 gastando cinco dias a andar pela cidade de
Londres, frequentemente com o tornozelo afundado da lama e na neve derretida, para
implorar por 200 libras, que empregou na compra de roupas para os pobres. Ele visitava os
necessitados em suas próprias casas, ‘para ver com os próprios olhos quais eram as
necessidades deles e como poderiam ser eficazmente aliviadas’”. Ele tinha 81 anos! (L.
Tyerman, Life and Times of Wesley [New Yoork: Harper & Bros., 1872], III.458).
251. “Evangelização é o ministério mais básico e radical possível a um ser humano” (Tim
Keller, “The Gospel and the Poor”, Themelios 33, no. 3 [December 2008]: 17).
252. Considere as preocupações de Deus evidenciadas em Isaías 1.10-17. Deus se preocupa
com o comportamento social daqueles que não fazem parte do povo especial da aliança. As
igrejas cristãs em áreas prósperas devem advertir suas congregações sobre os perigos de
acumular riquezas. No decorrer da história, muitos cristãos leram a Bíblia como se
suspeitassem da riqueza mais do que os cristãos modernos parecem suspeitar. Desde
Agostinho até Wesley, muitos escreveram eloquentemente sobre a perigosa gravidade da
riqueza e sobre a atração mundana que ela pode exercer nos cristãos. Esse ensino não precisa
ser contrário ao planejamento financeiro cuidadoso, mas deve causar mais vigilância, mais
cautela e até suspeita da riqueza. Nova atenção deveria ser dada a passagens preventivas
como Mt 6.21, Lc 12.34, 1 Tm 6.17-19 e Tg 5.1-6. De acordo com a Bíblia, a riqueza pode
ser espiritualmente mais perigosa do que a pobreza.
253. Note os avanços culturais que aconteceram na linhagem de Caim — edificar uma
cidade, criar rebanhos, música e produção de artefatos de metal (ver Gn 4.17, 20-22).
254. Muitos textos que parecem promover a ideia de assumirmos a responsabilidade pelo
bem-estar físico de nossa própria comunidade (cf. Mq 6.8; Mt 25; Gl 6; 1 Jo 3) são a respeito
de nossa caridade para com os membros da comunidade da aliança — crentes, em vez de
membros não cristãos da comunidade mais ampla.
255. Mt 25.34-40; At 6.1-6; Gl 6.2, 10; Tg 2.15-16; 1 Jo 3.17-19.
256. Cf. 2 Ts 3.10; 1 Tm 5.3-16.
257. John Murray, “The Relation of Church and State”, em Collected Writings of John
Murray, vol. 1 (Banner of Truth, 1976), 255.
258. Ver Robert Wuthnow, Acts of Compassion (Princeton, NJ: Princeton University Press,
1993). Embora John Wesley tenha lamentado a tentação da riqueza, ele deu testemunho
eloquente do poder do evangelho para mudar de maneira prática a vida de uma pessoa. Ele
fez esta observação em 1878: “Receio que, onde as riquezas têm aumentado (...) a essência
da religião, a mente que havia em Cristo, tem diminuído na mesma proporção. Portanto, não
vejo como é possível que, na natureza das coisas, qualquer avivamento da verdadeira religião
possa continuar por muito tempo. Pois a religião deve produzir necessariamente trabalho e
frugalidade; e esses só podem produzir riquezas. Entretanto, à medida que as riquezas
aumentam, aumenta o orgulho, a ira e o amor do mundo em todas as suas ramificações.
Como, então, é possível que o metodismo, ou seja, a religião do coração, embora floresça
agora como uma árvore vigorosa, continue nesse estado? Os metodistas em todos os lugares
se tornam diligentes e frugais; consequentemente, eles aumentam em possessões. Por isso,
eles aumentam proporcionalmente em orgulho, no desejo da carne, do desejo dos olhos e na
soberba da vida. Assim, embora a forma de religião permaneça, o espírito está definhando
rapidamente. Há um meio de impedirmos isto? Este contínuo declínio da religião pura? Não
devemos proibir as pessoas de serem diligentes e frugais; devemos exortar todos os cristãos a
ganharem tudo que puderem e a economizarem tudo que puderem; isto é, em essência, ficar
rico! De que maneira, então, pergunto de novo, podemos nos proteger para que nosso
dinheiro não nos afunde nas profundezas do inferno? Há apenas uma maneira debaixo do
céu; e não há outra. Se aqueles que ganharem tudo que puderem e economizarem tudo que
puderem derem, igualmente, tudo que puderem, então, quanto mais eles ganharem, tanto
mais eles crescerão na graça e tanto mais tesouros acumularão no céu” (Tyerman, vol. III,
520).
259. Ver Journal for the Scientific Study of Religion 37, no. 3 (September 1998); também
Robert Wuthnow, Acts of Compassion.
260. Ver Sl 102.26; Is 13.10; 34.4; 51.6, 16; 65.17; 66.22; Mt 5.18; 24.29, 35; 1 Co 7.31; 2
Pe 3.10-13. 1 Jo 2.17; Ap 6.12-14; 21.1.
261. Ef 2.10; 1 Ts 5.24.
9
DICOTOMIAS IMPORTANTES
VISÍVEL OU INVISÍVEL?
As congregações de cristãos, ou igrejas locais mencionadas no Novo
Testamento, são exemplos de igrejas visíveis. Deus planejou que a
igreja seja um testemunho visível e evidente dele para o mundo
espectador. Mas visível é a única maneira pela qual a igreja pode ser
descrita? Afinal de contas, Jesus afirmou que o joio têm sido semeado
em meio ao trigo, porém os dois serão separados no último dia
(Mateus 13.24-30). Podemos também falar da igreja invisível, ou seja,
a igreja como Deus a vê ou como ela aparecerá no último dia. A
igreja invisível é a igreja formada de todos os verdadeiros crentes,
quer estejam ou não na igreja visível, excluindo aqueles que, na igreja
visível, não são genuinamente convertidos.
Historicamente, os protestantes têm defendido a distinção entre a
igreja visível e a invisível. A distinção tem sido usada para explicar a
ausência de unidade visível em favor da qual Cristo orou em João 17.
Por sua natureza, a igreja invisível é unida; a igreja visível é,
infelizmente, mista e dividida. Embora não seja exato dizer que a
ideia da igreja invisível começou com a Reforma Protestante, visto
que a ideia pode ser achada em Wycliffe, Hus e até Agostinho, os
reformadores protestantes fizeram uso particular da ideia.262 Não há
duas igrejas separadas, uma visível e uma invisível; esses são dois
aspectos da igreja verdadeira.263
LOCAL OU UNIVERSAL?
Outra dicotomia que possui uma história significativa de
consideração teológica na igreja é a distinção feita entre a igreja local
e a igreja universal. Essa igreja que é formada de todos os cristãos de
toda a História é a igreja universal.264 Embora a igreja universal
nunca tenha sido reunida, um dia ela o será. E os cristãos do presente
são considerados por Deus como parte desse corpo eleito. Por outro
lado, a igreja local é apenas a assembleia local de cristãos. Com uma
possível exceção (o interessante uso de Lucas em Atos 9.31), a
palavra igreja no Novo Testamento sempre se refere a uma
congregação local (a grande maioria de usos) ou à igreja universal
(algumas poucas passagens).265 No decorrer da história, os cristãos
têm aceitado o fato de que esses dois usos se acham no Novo
Testamento. Entretanto, duas disputas importantes têm sido travadas
quanto a essa dicotomia.
A primeira — e mais importante para a igreja ao redor do mundo
— tem sido a disputa sobre se há uma ordem e uma forma de governo
prescritas para a igreja universal, como há para a igreja local. A Igreja
Católica Romana sustenta que uma ordem universal existe. A Igreja
Ortodoxa Grega e muitos grupos protestantes sustentam que
estruturas têm se desenvolvido (como assembleias nacionais,
convenções, arcebispos, etc.), que são permitidas e úteis, embora não
ordenadas na Escritura. Por outro lado, congregacionalistas, como os
batistas, têm sustentado que o Novo Testamento não prescreve
nenhuma estrutura para a igreja universal. Entende-se que toda a
cooperação entre igrejas deve ser voluntária e consensual.
Uma segunda controvérsia de interesse particular para os cristãos
batistas envolve a questão de se alguém pode se referir legitimamente
a alguma coisa como uma igreja, uma vez que uma ordem ou
estrutura não foi estabelecida para ela na Escritura. Ironicamente,
alguns batistas do século XIX e seus herdeiros concordam com este
aspecto do pensamento católico romano — de que a igreja invisível
não existe à parte de uma estrutura visível dada por Deus. E chegam à
conclusão de que a igreja universal nunca é discutida no Novo
Testamento. Essa controvérsia ficou conhecida como
“Landmarkismo”, nome oriundo de Provérbios 22.28: “Não removas
os marcos antigos que puseram teus pais”. Este foi o texto do sermão
de J. M. Pendleton e a base do livro de J. R. Graves, Old
Landmarkism: What Is It? (Velho Landmarkismo: O que é?),
publicado em 1854. Esse livro se tornou um manifesto para o
movimento e exerceu grande influência entre os batistas em partes
dos Estados Unidos.266
MILITANTE OU TRIUNFANTE?
Outra dicotomia que tem sido usada para descrever diferentes
aspectos da igreja é a igreja militante e a igreja triunfante.267 A igreja
militante se refere aos cristãos que estão vivos agora e que, portanto,
permanecem engajados em lutar contra o mundo, a carne e o diabo.268
A igreja triunfante se refere aos cristãos que estão agora no céu,
removidos do combate da guerra espiritual e totalmente vitoriosos.269
A Igreja Católica Romana também fala da igreja sofredora, que, para
eles, significa a igreja que está agora na terra e também aqueles que
são redimidos, mas ainda estão sendo purificados no purgatório.
VERDADEIRO OU FALSO?
O tópico da igreja se tornou o foco de debate teológico formal na
Reforma. Aqui, como em muito do desenvolvimento teológico da
igreja, a questão de como distinguir o verdadeiro do falso levou a
uma definição clara do verdadeiro.
Antes do século XVI, a igreja era mais admitida do que discutida.
Era considerada um meio de graça, uma realidade que existia e uma
pressuposição para o restante da teologia. A teologia católica romana
se refere comumente ao “mistério da igreja”, pelo qual quer significar
a inexaurível e imponderável profundeza dessa realidade da igreja.
Assim, na Vulgata, Efésios 5.32 se refere à união de Cristo com sua
igreja como um “sacramento” ou mistério. Em termos práticos, a
Igreja de Roma argumentava que ela era a verdadeira igreja visível,
de acordo com a sucessão de Pedro, por meio do bispo de Roma [o
papa], baseada nas palavras de Jesus dirigidas a Pedro em Mateus
16.17-19.
Com o advento da Reforma, a discussão sobre a natureza da igreja
se tornou inevitável. Para os reformadores protestantes, “Não a
suposta cadeira de Pedro, mas o ensino de Pedro era a marca real de
apostolicidade. A Reforma tornou o evangelho, e não a organização
eclesiástica, o teste da verdadeira igreja”.270 Calvino criticou as
afirmações de Roma no sentido de ser a verdadeira igreja com base
na sucessão apostólica: “Especialmente na organização da igreja,
nada é mais absurdo do que acomodar a sucessão somente em
pessoas, excluindo o ensino”.271 Crendo que os atributos da igreja
(única, santa, universal e apostólica) haviam se tornado insuficientes
para fazer distinção entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, a
Reforma introduziu as notae ecclesiae, as marcas da igreja: a
pregação correta da Palavra de Deus e a administração correta das
ordenanças.
Começando com a Reforma, os protestantes têm crido que uma
igreja local deve ser considerada como verdadeira igreja, quando a
Palavra de Deus é pregada de modo correto e as ordenanças de Cristo
são seguidas de modo correto.272 A pregação correta da Palavra de
Deus é a disciplina formativa que molda a igreja (em contraste com a
disciplina corretiva, que inclui medidas como a excomunhão). O
ministério da Palavra é, portanto, central e definidor. A maneira de
distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa é perguntar
se a adoração pública da igreja consiste na pregação correta da
Palavra de Deus e na administração correta das ordenanças. Se ambas
estão presentes, achou-se uma verdadeira igreja.273 A Palavra, sendo
corretamente ensinada, deve levar a igreja a administrar corretamente
as ordenanças de Cristo (o que também implicaria que a disciplina
está sendo exercida).274
UNIDADE DA IGREJA
(ORGANIZACIONAL OU ORGÂNICA?)
Intimamente relacionada à ideia da universalidade da igreja, está a
ideia da unidade da igreja. Na igreja primitiva, os cristãos
apresentavam sua unidade como um baluarte contra hereges e
cismáticos. Todavia, excomunhões mútuas sobre questões como
nestorianismo, monofisismo ou supremacia papal romperam a
unidade visível da igreja. Posteriormente, a igreja se dividiu durante a
Reforma por causa do entendimento protestante acerca do evangelho
e de seu método de entender o evangelho — por meio da Escritura
clara (transparente) e suficiente, e não pela mediação da igreja. Os
católicos romanos têm insistido numa unidade visível da igreja. Os
protestantes têm insistido na primazia de uma unidade de espírito e
doutrina.
SURGIMENTO DE DENOMINAÇÕES
Denominações, como as conhecemos hoje, surgiram, em sua maioria,
no século XVII, embora suas raízes sejam anteriores. Os protestantes
não viram a divisão da igreja com leviandade, mas os princípios
protestantes da autoridade e clareza da Escritura lhes deram garantia,
ou até exigiram, a sua separação do ensino falso. Como disse
Calvino: “Não reconhecemos nenhuma unidade, senão em Cristo;
nenhuma caridade da qual ele não seja o vínculo; e (...) portanto, o
principal objetivo em preservar a caridade é mantermos a fé sagrada e
inteira”.275 Isso significava que os reformadores reconheciam que o
custo da unidade ao preço da verdade era um péssimo negócio.
Divisão correta deveria ser preferida a uma unidade corrompida. Por
essas razões, vários grupos no continente europeu labutaram livres do
controle de igrejas estabelecidas e começaram a seguir seu próprio
entendimento de fidelidade às Escrituras.
A maioria das denominações conhecidas popularmente nos
Estados Unidos hoje se desenvolveram inicialmente no Reino Unido.
Presbiterianismo, congregacionalismo e crença no batismo de crentes
são todos derivados da Inglaterra da rainha Elizabeth I (1558-1603).
No entanto, o governo inglês não tolerou quaisquer congregações fora
da igreja estabelecida até o final do século XVII, quase 100 anos
depois. Denominações podem ter solidificado divisões na igreja,
contudo também aliviaram a consciência angustiada de muitos
cristãos zelosos no século XVII. Liberdade para se reunirem e
adorarem de acordo com sua própria consciência foi um passo
fundamental no desenvolvimento de denominações como as que
conhecemos hoje.
As três “denominações antigas”, como são chamadas, eram os
presbiterianos, os congregacionalistas e os batistas. A essas três,
somaram-se os episcopais estabelecidos e a denominação do século
XVIII, os metodistas, para formar o panorama religioso da América
primitiva, nascido na Inglaterra. Quando outros grupos étnicos foram
acrescentados, como as igrejas holandesas e francesas reformadas ou
os grupos luteranos e escandinavos, a América se tornou o principal
laboratório para muitas denominações de igrejas cristãs coexistirem.
Esses agrupamentos de igrejas mantiveram seus distintivos
doutrinários e práticos, e novos grupos surgiram desde então. Muitas
famílias de igreja surgem de um conflito por pureza. Isto foi
verdadeiro na Inglaterra nos séculos XVI e XVII. Quando questões
do evangelho eram resolvidas, assuntos secundários, porém
importantes, acerca do governo da igreja e da disciplina levavam à
separação de congregações de batistas, congregacionalistas e
presbiterianos. Defensores e oponentes da escravidão dividiram
grandes denominações. Muitas divisões entre os herdeiros de Wesley
e discordâncias doutrinárias entre os presbiterianos aumentaram as
divisões denominacionais do século XIX. O surgimento de
incredulidade religiosa moderna nas principais denominações
protestantes no início do século XX, na América, levou a outra
erupção de congregações e denominações que se separaram de grupos
mais velhos e formaram grupos mais novos, mais puros.276
As próprias convicções doutrinárias e a importância vinculada a
elas têm sido as bases tanto para unidade quanto para divisão entre os
cristãos. Em resumo, o surgimento de denominações diferentes
representa o desejo por fidelidade na pureza e não na unidade
visível.277 Toda congregação decide que os membros devem
compartilhar das crenças e das práticas , antes de, com boa
consciência, experimentarem e expressarem unidade entre si.
262. João Calvino, Institutas, IV.I.7; cf. o catecismo de Benjamin Keach, Perguntas 105 e
106, reimpresso em Tom J. Nettles, Teaching Truth, Training Hearts (Amityville, NY:
Calvary, 1998).
263. “Dizemos que esta igreja é invisível porque ela é essencialmente espiritual e, em sua
essência espiritual, não pode ser discernida pelo olho físico; e porque é impossível
determinar infalivelmente quem pertence e quem não pertence a ela” (Berkhof, Systematic
Theology, 566-67); cf. Confissão de Westminster, cap. 25.
264. Por exemplo, em Mateus 16.18, Jesus estava se referindo não a uma igreja local, mas à
igreja universal como a “minha igreja”.
265. Sobre Atos 9.31, ver os comentários de F. F. Bruce, em Acts, em NICNT, ed. F. F.
Bruce (Grand Rapids: Eerdmans, 1983), 208-9; cf. A. H. Strong, Systematic Theology
(Valley Forge: Judson, 1907).
266. Pode-se ter uma ideia da seriedade da controvérsia quando se nota que o “Abstract of
Principles” de Basil Manly Jr., escrito em 1859 para o Southern Baptist Theological
Seminary não contém nenhuma afirmação da existência da igreja universal — uma questão
que não teria sido controversa entre os batistas duas ou três décadas antes. Quanto a uma
consideração cuidadosa das afirmações exegéticas e teológicas do landmarkismo, ver John
Thornbury, The Doctrine of the Church: A Baptist View (Pasadena, TX: Pilgrim Publications,
1971) e James A. Patterson, James Robinson Graves: Staking the Boundaries of Baptist
Identity (Nashville: B&H, 2012).
267. Essa linguagem pode ser encontrada em Tomás de Aquino e Wycliffe.
268. Ver a consideração puritana clássica sobre a natureza militante da vida da igreja neste
mundo, escrita por William Gurnall, The Christian in Complete Armor (1662-65; repr.
Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1964).
269. Ver Berkhof, Systematic Theology, 565.
270. Clowney, The Church, 101.
271. Calvino, Institutas, IV.ii.3; ver a edição de 1536 em II.29.
272. Exemplos disto podem ser achados em Iain Murray, ed., Documents for the Reformation
of the Church (Edinburgh: Banner of Truth, 1965), 15-23.
273. Deve ser notado que igrejas verdadeiras podem ser divididas entre aquelas que são
regulares e aquelas que são irregulares, ou seja, entre aquelas que estão de acordo com a
regra (regula) e aquelas que não estão. Assim, várias igrejas protestantes podem reconhecer
umas às outras como igrejas verdadeiras, mas irregulares (dependendo de suas diferenças em
questões como forma de governo, o modo e os sujeitos apropriados do batismo).
274. Esse entendimento da natureza da igreja verdadeira levou a mudanças nas estruturas
físicas das igrejas, mudanças no culto (mais tempo para o canto congregacional, para o
sermão) e mudanças no papel do ministro. Ele deixou de ser um sacerdote que oferecia
sacrifícios para ser um ministro da Palavra e um pastor das pessoas.
275. João Calvino, em seu prefácio a Psychopannychia, em Selected Works of John Calvin:
Tracts and Letters, vol. 3, ed. e trad. Henry Beveridge e Jules Bonnet (1851; repr. Grand
Rapids: Baker, 1983), 416.
276. Quanto a um texto clássico que explica e defende esta ideia de “separação bíblica”, ver
Ernest Pickering, Biblical Separation: The Struggle for a Pure Church (Schaumburg, IL:
Regular Baptist Press, 1979). Duas críticas instrutivas de evangelicalismo sobre esses pontos
são Iain Murray, Evangelicalism Divided: A Record of the Crucial Change in the Years 1950
to 2000 (Edinburgh: Banner of Truth, 2000); e Rolland McCune, Promise Unfulfilled: The
Failed Strategy of Modern Evangelicalism (Greenville, SC: Ambassador International,
2004). Quanto a uma perspectiva anglicana sobre alguns desses mesmos temas, ver Michael
B. Thompson, When Should We Divide? (Cambridge, UK: Grove Books, 2004).
277. “Porque a unidade referida no Novo Testamento não é, a fim de preservar a fé, algo que
pode existir sem consideração à pureza doutrinária” (Iain Murray, Evangelicalism Divided
[Edinburgh: Banner of Truth Trust, 2000], 140).
10
QUAKERS E SALVACIONISTAS
Outros grupos, como os Quakers e o Exército de Salvação, têm
sustentado que nenhuma ordenança ritual deve ser observada hoje,
nem mesmo o Batismo e a Ceia do Senhor. Eles ensinam que essas
ações eram apenas para os primeiros crentes e que nunca foram
planejadas para servir como observâncias contínuas da igreja. O que
deve continuar, porém, são as realidades espirituais de descer à nova
vida em Cristo e de ter comunhão com Deus que agora veio. Ambas
as realidades eram significadas pelo batismo e pela Ceia do Senhor.
Falando sobre George Fox, o fundador dos Quakers, Rufus Jones
escreveu:
Sua casa de adoração era destituída de tudo, exceto cadeiras. Não tinha santuário,
porque a shekina deveria estar no coração daqueles que o adoravam. Não tinha
altar, porque Deus não precisa de nenhum apaziguamento, visto que ele mesmo
fez o sacrifício pelo pecado. Não tinha fonte batismal, porque o batismo era, em
sua crença, não mais do que a imersão na vida do Pai, do Filho e do Espírito
Santo — um descer ao significado da morte de Cristo e um subir em novidade de
vida com ele. Não havia mesa de comunhão, porque ele acreditava que a
verdadeira comunhão consistia na participação direta do pão espiritual da alma —
o Cristo vivo.279
BATISMO
Historicamente, os batistas nunca estiveram em perigo de ignorar as
ordenanças de Cristo. Desde o nome até à prática, os batistas têm sido
moldados por um entendimento específico do batismo. Todavia, não
foi a prática de batizar crentes professos que motivou controvérsia
entre denominações diferentes. Em vez disso, o batismo de infantes
tem causado muitos dos debates e divisões na história de igrejas
cristãs.
A CEIA DO SENHOR
O batismo não foi a única ordenança cercada por controvérsia na
história da igreja. A Ceia do Senhor, em sua natureza e efeitos, tem
sido interpretada de maneiras diferentes. Essas interpretações
diferentes têm ajudado a distinguir a teologia católica romana da
teologia protestante e têm, igualmente, levado a diferenças entre os
protestantes. Em seu âmago, a discussão tem se focado na pergunta
“Qual é a relação de Cristo com a sua Ceia?”.
TRANSUBSTANCIAÇÃO
Desenvolvida plenamente por Tomás de Aquino e confirmada no
Quarto Concílio de Latrão (1215), a doutrina da transubstanciação
descreve a Ceia do Senhor como uma reapresentação do sacrifício de
Cristo. Aquino argumentou que, na celebração da eucaristia, a
substância do pão se transforma no corpo físico de Cristo, enquanto a
substância do vinho, no sangue físico de Cristo.295 Por que, então, o
pão e o vinho não mudam de aparência? A resposta de Aquino
dependeu de uma distinção filosófica, extraída de Aristóteles, entre o
acidente, ou a forma exterior, e a substância, a essência interior, de
uma coisa. Somente a substância do pão e do vinho muda, disse
Aquino, por isso, a palavra “transubstanciação”. Os acidentes,
aquelas características que afetam a percepção humana, permanecem
inalteráveis.
A eucaristia é entendida como sendo um “sacrifício não
sangrento” real e eficaz. Todos que dele participam, exceto aqueles
que cometeram pecado mortal, recebem graça de Deus. O simples
testemunhar a missa vale como um ato participativo digno dessa
graça. Muito frequentemente, os comungantes recebem a hóstia
sagrada, que é entendida como o corpo transubstanciado de Cristo.
Desde o Vaticano II (1962-65), pessoas leigas têm recebido, muitas
vezes, permissão para participar do cálice. Os proponentes da
transubstanciação aplicam frequentemente as promessas de Cristo
feitas em João 6.53-57 à Ceia do Senhor, embora ele ainda não
tivesse estabelecido a própria Ceia.296
CONSUBSTANCIAÇÃO
A consubstanciação nega a transformação literal e substancial do pão
e do vinho na essência de Cristo, mas propõe que o corpo e o sangue
de Cristo se unam com (“con” é prefixo de origem latina que significa
“com”) a substância do pão e do vinho na mesa do Senhor. Teólogos
luteranos têm descrito o corpo e o sangue de Cristo como “em, com e
sob” o pão e o vinho físicos.297 Como o Pequeno Catecismo de
Lutero ensina, “O que é o sacramento do altar? É o verdadeiro corpo
e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, instituídos pelo próprio Cristo
sob o pão e o vinho, para nós, cristãos, comermos e bebermos”.298 O
ponto de vista de Lutero lhe permitiu continuar mantendo uma
profunda reverência para com os elementos (e não devemos jamais
subestimar o efeito da piedade popular na teologia), enquanto
também o livrava de um problema lógico do ponto de vista da Igreja
de Roma, ou seja, que algo parece ser o que não é (seus acidentes e
substâncias não se harmonizam). Esta doutrina da consubstanciação
continua a ser o ensino dos teólogos luteranos.299
PRESENÇA ESPIRITUAL
João Calvino ensinava que Cristo está realmente presente nessa Ceia,
mas sua presença não é física, como os católicos romanos e os
luteranos ensinavam, mas espiritual.300 Essa presença espiritual é
percebida e desfrutada pela fé, não pelos sensos físicos. Sem a fé, a
Ceia não é eficaz. De acordo com esse entendimento, “em troca de
uma reivindicação pessoal e posse atual de toda esta riqueza [em
Cristo], os crentes expressam fé em Cristo como Salvador e lhe
prometem obediência como Senhor e Rei”.301 Como diz a Confissão
de Westminster, o corpo e o sangue de Cristo estão “realmente, mas
espiritualmente, presentes à fé dos crentes”. Eles “recebem e se
alimentam real e verdadeiramente, mas não carnal e corporalmente, e
sim espiritualmente, de Cristo crucificado e todos os benefícios de
sua morte”.302
MEMORIAL
Dos quatro pontos de vista sobre a Ceia do Senhor detalhados aqui,
somente a Ceia como memorial é universalmente aceita. Defensores
das outras três posições vão além da Ceia como memorial, mas
nenhuma delas nega que este seja um aspecto da Ceia do Senhor.
Paulo foi inequívoco: “Todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1
Coríntios 11.26). Por isso, não é surpreendente que a linguagem de
memorial seja frequentemente encontrada na história da igreja, desde
Clemente de Alexandria a Orígenes, desde Cirilo de Jerusalém a João
Crisóstomo. Até Agostinho usava frequentemente essa linguagem.
Esse ponto de vista chegou à preeminência na Reforma, juntamente
com a negação da presença física de Cristo na Ceia.
Ulrich Zwinglio ensinava que a Ceia do Senhor é uma
representação do sacrifício de Cristo, porém apenas no sentido
simbólico de proclamá-la novamente.303 Zwinglio apontava as
palavras de Paulo em 1 Coríntios 11.24-26 como o testemunho
bíblico mais claro a respeito de como a Ceia do Senhor deve ser
entendida. Desde Zwinglio, muitos protestantes, incluindo a maioria
dos batistas, têm adotado este entendimento de memorial, primeiro
porque é indiscutivelmente bíblico e, segundo, porque eventualmente
evita qualquer sugestão de sacramentalismo da posição católica
romana. Portanto, os batistas têm usado, historicamente, uma
linguagem tão rica a respeito da presença de Cristo na Ceia do Senhor
àqueles que vêm pela fé, que pouca diferença é perceptível entre a
posição deles e a ideia reformada da presença espiritual de Cristo.304
278. Igrejas Ortodoxas Orientais são, ainda hoje, menos uniformes em estabelecer um
número específico de sacramentos.
279. Rufus Jones, “Introduction”, em Geoge Fox, an Autobiography, ed. R. Jones (London:
Headley Bros., 1904), 22.
280. Nota: esse grupo não deve ser confundido com os Batistas Regulares, no Brasil.
281. Ver H. Dorgan, “Foot-Washing, Baptist Practice of”, em Dictionary of Baptists in
America, ed. Bill J. Leonard (Downers Grove: IVP, 1994), 119-20.
282. Uma das mais equilibradas e cuidadosas considerações sobre a origem e o
desenvolvimento histórico do batismo infantil é a obra de David F. Wright, Infant Baptism in
Historical Perspective: Collected Studies (Carlisle, UK: Paternoster, 2007). Quanto a uma
compilação e comentário sobre muitos dos primeiros registros escritos a respeito do batismo
infantil, ver Hendrick Stander e Johannes Louw, Baptism in the Early Church (Leeds,
England: Reformation Today Trust, 2004).
283. William Wall (1647-1728), The History of Infant Baptism (London: J. Downing et al.,
1705). Joachim Jeremias, Infant Baptism in the First Four Centuries, trad., David Cairns
(London: SCM Press, 1960). Michael Horton disse que, “por volta do século II, a literatura
está repleta de referências à prática [de batismo infantil]” (Horton, The Christian Faith
[Grand Rapids: Zondervan, 2011], 797). O presente autor não tem visto nenhuma evidência
convincente dessa afirmação. Ver, também, Kurt Aland, Did the Early Church Baptize
Infants?, trad. G. R. Beasley-Murray (London: SCM Press, 1961); contra Aland, Joachim
Jeremias, The Origins of Infant Baptism: A Further Reply to Kurt Aland (Naperville: A. R.
Allenson, 1963). Aland sustentava a interessante posição de que crianças devem ser
batizadas hoje, embora, ele admitia, não exista nenhuma evidência para o batismo infantil
antes do século III. Quanto a uma consideração cuidadosa da evidência procedente dos cinco
primeiros séculos, ver Steve McKinion, “Baptism in the Patristic Writings”, em Believer’s
Baptism: Sign of the New Covenant in Christ (Nashville: B&H, 2006), 163-88.
284. Jewett, Infant Baptism, 21.
285. Ver Homílias sobre Lucas (XIV), Homílias sobre Levítico (VIII) e Comentário sobre
Romanos (V), de Orígenes. Cipriano também defendia o batismo de infantes na idade mais
nova possível (ver “Epistle LVIII”, em Ante-Nicene Fathers, vol. 5, ed. Alexander Roberts e
James Donaldson [1886], 353-54). Sua ação foi confirmada por um concílio de 66 pastores
em Cartago em 253.
286. Mesmo aqui, David Wright sugeriu que o batismo infantil pode não ter se tornado a
norma em prática até ao século VI (D. F. Wright, “At What Ages Were People Baptized in
the Early Centuries?”, Studia Patristica, vol. XXX, ed. E. A. Livingstone [Leuven: Peeters,
1997], 389-94). Quanto a uma revisão da evidência concernente à data mais antiga de
batismo infantil, ver Jewett, Infant Baptism, 13-14. Cf. Peter Leithart, “Infant Baptism in
History: An Unfinished Tragicomedy”, em Strawbridge, ed., Covenantal Infant Baptism,
246-61; David Wright, Infant Baptism in Historical Perspective (Carlisle, UK: Paternoster,
2007). Quanto a um fascinante resumo das ruínas arqueológicas de práticas batismais na
igreja primitiva, ver F. M. Buhler, Baptism, trad. W. P. Bauman (Dundas, Ontario, Canada:
Joshua Press, 2004).
287. Ver William Estep, The Anabaptist Story (Nashville: Broadman, 1963).
288. As reformas magisteriais foram aquelas reformas em que as igrejas politicamente
estabelecidas foram reformadas pelas autoridades políticas (por exemplo, a luterana, a
anglicana, a calvinista). Obtiveram seu nome da palavra latina magister, que significa
“senhor” ou “oficial”. Portanto, os outros reformadores (principalmente os anabatistas) foram
referidos como reformadores não magisteriais, significando que eles não tinham o respaldo
ou apoio do governo.
289. Isto foi tão verdadeiro que os anabatistas e os batistas, no decorrer dos séculos XVI e
XVII, precisaram, repetidas vezes, repudiar o anarquismo.
290. Quando pressionados em conversa sobre as declarações luteranas históricas que
afirmam a necessidade e o poder salvador do batismo e como tais declarações podem ser
harmonizadas com a justificação somente pela fé, alguns teólogos luteranos disseram
recentemente a este autor que uma pessoa pode ser salva sem o batismo, mas não pode ser
salva sem a fé.
291. Ver John Theodore Muller, Christian Dogmatics (St. Louis: Concordia, 1955), 494-95.
292. Ver Calvino, Institutas, IV.xiv.6.
293. A Confissão Belga (artigo 33) diz que o batismo e a Ceia do Senhor “são sinais e selos
visíveis de uma coisa invisível, por meio dos quais Deus opera em nós pelo poder do seu
Espírito”. Cf. Charles Hodge, Systematic Theology, vol. 3 (1871; repr. Grand Rapids:
Eerdmans, 1952), 582.
294. Wayne Grudem, Systematic Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1994), 980-81.
295. Aquino, Summa Theologica, parte 3, perguntas 75-77.
296. Joseph Pohle, The Sacraments: A Dogmatic Treatise, vol. 2, ed. Arthur Preuss (St.
Louis: B. Herder, 1942), 25.
297. Ver Mueller, Christian Dogmatics, 510.
298. Cf. Confissão de Augsburg, Artigo X.
299. Ver, por exemplo, Muller, Christian Dogmatics, 509-20.
300. Calvino, Institutas, IV.xvii.9-12. Cf. Berkhof, Systematic Theology, 653-54. Calvino
recebeu críticas sérias quanto a esse ponto da parte de teólogos reformados posteriores como
William Cunningham, Charles Hodge e Robert Lewis Dabney.
301. Erickson, Christian Theology, 1127.
302. Confissão de Fé de Westminster, XXIX.vii.
303. Cf. Strong, Systematic Theology, 538-43. Charles Hodge viu pouca diferença entre
Zwinglio e Calvino quanto a esse ponto (Hodge, Systematic Theology, vol. 3, 626-31). O
presente autor concorda com Hodge.
304. De fato, Wayne Grudem apresenta esses dois pontos de vista juntos como o ponto de
vista do “Resto do Protestantismo”, em sua obra Systematic Theology, 995-96. Cf. Ligon
Duncan, “True Communion with Christ: Calvin, Westminster and Consensus on the Lord’s
Supper”, em The Westminster Confession into the 21st Century, vol. 2 (Rosshire, Scotland:
Christian Focus, 2003), 429-75; W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, 3dr ed., ed. Alan W.
Gomes (Phillipsburg: P&R, 2003), 814; cf. o teólogo luterano Mueller, Christian Dogmatics,
509. “O ensino de Calvino não era senão uma forma polida do ensino grotesco de Zwinglio,
expresso em frases que o tornavam muito próximo da terminologia luterana, tão próximo
quanto possível” (F. Bente, citado em Mueller, Christian Dogmatics, 514).
305. Spurgeon ecoou a ênfase da Segunda Confissão Londrina (1689; cap. 30, parágrafo 7):
“Recebedores dignos, participando exteriormente dos elementos visíveis desta ordenança,
recebem interiormente, pela fé, real e verdadeiramente, mas não carnal e corporalmente, e
sim espiritualmente, e se alimentam de Cristo crucificado e de todos os benefícios de sua
morte; estando o corpo e o sangue de Cristo, não corporal ou carnalmente, mas
espiritualmente presentes à fé dos crentes, nesta ordenança, assim como os elementos estão
presentes aos seus sensos exteriores”. Nesta confissão, os ministros batistas adotaram a
linguagem completa da Confissão de Westminster (de 1646; cap. 29, parágrafo 7), exceto por
mudarem a palavra “sacramento” por “ordenança” e omitirem a descrição de como o corpo
de Cristo não está corporalmente presente “em, com ou sob o pão e o vinho”.
306. Ver Peter Naylor, Calvinism, Communion and the Baptists: A Study of English
Calvinistic Baptists from the Late 1660s to the Early 1800s, em Studies in the Baptist History
and Thought (Carlisle, UK: Paternoster, 2003). A defesa clássica da posição dos batistas do
Sul foi escrita em 1846 por R. B. C. Howell, que na época era pastor da Second Baptist
Church em Richmond (Virginia) e, depois, pastor da First Baptist Church em Nashville
(Tennessee). Howell articulou uma posição não landmarkista de comunhão fechada, que
ainda é instrutiva para os batistas hoje, os quais se perguntam por que devem excluir os
pseudobatistas da membresia ou da participação na Ceia do Senhor. Ver Howell, The Terms
of Communion at the Lord’s Table (Philadelphia: American Baptist Publication Society,
1846). Há uma vasta quantidade de literatura batista do século XIX sobre os termos corretos
para admissão à mesa do Senhor que seriam um campo proveitoso de estudo para cristãos
contemporâneos que desejam entender melhor a membresia de igreja.
307. Somada a essa exigência de ser batizado, há naturalmente a exigência de que o crente
autoconfesso seja membro regular de outra congregação evangélica que também lhe permite
participar da Ceia do Senhor. Este tipo de comunhão infrequente leva em conta o que tem
sido chamado de “comunhão ocasional”, respeitando a membresia e a disciplina de outras
congregações.
11
A História da Organização da
Igreja
MEMBRESIA
PRÁTICA BATISTA
Visto que o Novo Testamento restringe o batismo aos crentes, os
batistas têm concluído que a membresia da igreja tem de ser
restringida a indivíduos que fizeram uma profissão de fé crível. A
profissão de fé deve incluir submeter-se ao batismo de crente e
tornar-se responsável a uma congregação local específica com a qual
o crente professo tem comunhão regularmente. Estas conclusões
levaram tanto os anabatistas europeus, no século XVI, quanto vários
outros separatistas ingleses, nos séculos XVI e XVII, a se separarem
de igrejas estabelecidas. Eles adotaram uma igreja “congregada”, que
era uma ideia revolucionária. Nem todos nascidos em certa área
geográfica, eles diziam, devem ser batizados e confirmados na
membresia da igreja. Em lugar disso, as congregações devem ser
compostas dos fiéis que se reúnem voluntariamente com base em sua
própria profissão de fé, desejosos de se unirem com outros na mesma
área e formar uma congregação cristã.
FORMAS DE GOVERNO
Um segundo aspecto da vida da igreja que tem se desenvolvido no
decorrer de sua história é o seu governo ou organização. Todo grupo
precisa determinar como será governado. Igrejas também precisam ter
procedimentos para determinar quem é e quem não é um membro e
quem é a corte de governo terreno, sob a autoridade de Deus, que
dará liderança, resolverá controvérsias e assim por diante.
BISPOS
Uma das primeiras respostas à questão de quem deve governar foi “o
bispo”. Como demonstramos antes, a palavra “bispo” (episkopos) é
usada no Novo Testamento em correlação com as palavras que
significam presbítero e pastor. As afirmações no Novo Testamento
que ressaltam a autoridade dos líderes da igreja (cf. Hebreus 13.7, 17;
1 Pedro 5.2) apontam para o pastor como aquele que possui
responsabilidade e autoridade na igreja. No século II, os pastores de
cidades importantes tinham autoridade acumulada, às vezes incluindo
autoridade sobre igrejas em áreas próximas e recém-evangelizadas.315
Desde o segundo até o quarto século, a diocese (tirada da palavra
latina que significava um distrito na administração civil dos romanos)
se desenvolveu como uma área eclesiástica que tinha um único bispo
como seu chefe. Embora seus deveres e responsabilidades variem, os
bispos são reconhecidos nesse sentido por muitas igrejas, incluindo
Ortodoxa Oriental, Igreja Católica Romana, igrejas luteranas, igrejas
anglicanas e igrejas metodistas. As igrejas Ortodoxa Oriental e
Católica Romana consideram esse ofício como estabelecido por Deus.
Por outro lado, as igrejas luteranas, anglicanas e metodistas
reconhecem o ofício apenas como útil e conveniente. Nos últimos
dois séculos, muitas igrejas episcopais democratizaram suas
estruturas, até submetendo os bispos às decisões feitas por corpos
representantes de clero e leigos. Ao mesmo tempo, grupos de
congregações em muitos círculos pentecostais e carismáticos
começaram a reconhecer autoridade extracongregacional para alguns
bispos. Todas as “redes apostólicas” se desenvolveram em torno de
ministérios de indivíduos específicos.
O PAPA
A Igreja Católica Romana é distinta de outras comunidades cristãs
por sua submissão e dependência em relação ao bispo de Roma, o
papa. Embora papa (papas) fosse uma maneira comum de se dirigir a
alguns bispos na igreja primitiva, seu uso se tornou cada vez mais
restrito ao bispo de Roma entre os séculos VI e VIII, especialmente
no Ocidente. Roma, a antiga capital do Império Romano, foi
considerada o bispado principal e central. As igrejas do Oriente e do
Ocidente romperam a comunhão em 1054, por causa da insistência da
igreja do Ocidente (e especialmente de Gregório VII) em que o bispo
de Roma fosse reconhecido como o chefe supremo da igreja
universal. A igreja ocidental afirmava (e ainda afirma) que Cristo
declarara Pedro como o primeiro entre iguais e o principal dos
apóstolos com base na confissão de Pedro (Mateus 16.16-19). Depois,
Pedro se tornou o bispo de Roma, e aqueles que o sucederam
herdaram sua autoridade. Assim, a Igreja Católica Romana reconhece
o papa como vigário de Cristo, o cabeça da igreja na terra, com a
autoridade de ratificar e, assim, definir a tradição.
PRESBITERIANISMO
Com o advento da Reforma Protestante, um novo interesse acerca da
estrutura da igreja foi mostrado no ensino da Bíblia. Foi redescoberta
a evidência do Novo Testamento em favor da pluralidade de
presbíteros (citada antes). E grupos de ministros (chamados
consistórios) foram introduzidos como substitutos apropriados para os
bispos nos cantões suíços que estavam adotando a Reforma no
começo e em meados do século XVI. Seguindo a obra de Heinrich
Bullinger, em Zurique, e de João Calvino, em Genebra, outros
começaram a se organizar de acordo com um sistema presbiteriano.
Congregações reformadas surgiram na Holanda, Escócia, Hungria,
Alemanha, Polônia e França. Na Escócia, John Knox assumiu o
desafio de reformar a igreja estabelecida de uma nação inteira
conforme as linhas desse sistema que julgou ser bíblico. A
Assembleia Geral nacional se tornou o árbitro final reconhecido na
Igreja da Escócia. Thomas Cartwright, em Cambridge, começou a
ensinar o presbiterianismo em 1570, em suas palestras sobre o livro
de Atos.
Embora o presbiterianismo tenha sido uma força poderosa para
reformar a igreja estabelecida na Inglaterra durante o século XVII, ele
nunca se tornou a forma de governo da Igreja da Inglaterra. Estruturas
presbiterianas vieram para os Estados Unidos com os colonos
europeus procedentes da Escócia e da Holanda, onde floresceram.
Também floresceram ao redor do mundo, desde a Coréia até a África.
A maioria dos grupos presbiterianos são estruturados por conexões.
Nos Estados Unidos, a assembleia geral (nacional) de qualquer grupo
presbiteriano funciona geralmente como o árbitro final de questões
eclesiásticas, com sínodos e/ou presbitérios regionais, que governam
abaixo deles, e com sessões (conselhos de presbíteros) de uma
congregação local abaixo dos regionais.316 Algumas igrejas
independentes são presbiterianas no mesmo sentido de serem
governadas por um conselho de presbíteros, mas não têm nenhuma
corte de apelação fora dos próprios presbíteros da congregação. Os
presbiterianos ensinam geralmente que os princípios de sua
organização, não as particularidades, são ensinados na Escritura.317
DESENVOLVIMENTO DO CONGREGACIONALISMO
No tempo da Reforma, as igrejas que eram reunidas não por um
governante ou magistrado, e sim pelas convicções compartilhadas de
cristãos individuais, começaram a se organizar, reconhecendo a si
mesmas como a autoridade terrena final em questões religiosas.
No início da Reforma, Martinho Lutero defendeu fortemente o
reconhecimento da responsabilidade da congregação em determinar
quem deveria pregar regularmente a Palavra de Deus para eles.
Arrazoando a partir de várias passagens da Escritura — como João
10.4-8, sobre o conhecimento das ovelhas; em Mateus 7.15,
advertindo as ovelhas quanto aos falsos mestres, como se pudessem
fazer algo a respeito deles; e em Atos 6.1-6, sobre o padrão de eleger
diáconos — Lutero concluiu que uma assembleia ou congregação
cristã tem o direito e o poder de julgar todo ensino, bem como de
chamar, designar, instituir e demitir mestres, estabelecidos e
provados pela Escritura318, assim ele intitulou um panfleto em 1523.
Na Inglaterra, defensores de uma forma de governo
congregacional surgiram nos anos 1580. As obras A Treatise on
Reformation Without Tarryng for Any (1582), de Robert Brown, e A
True Description out of the World of God of the Visible Church
(1589), de Henry Barrow, expuseram uma doutrina de forma de
governo que não dependia de estruturas acima da igreja local. Nos
anos 1630, quando muitos cristãos começaram a considerar
incorrigíveis as estruturas da Igreja da Inglaterra, o
congregacionalismo conseguiu novos e importantes defensores.
John Cotton, John Owen e Thomas Goodwin defendiam “a
maneira congregacional”. Em 1658, a Declaração de Savoy (uma
adaptação da Confissão de Westminster) expôs princípios
congregacionais de governo de igreja.319 No tempo da Revolução
Americana, dois entre cada cinco cristãos nas colônias americanas
estavam em algum tipo de igreja congregacional, congregacionalista
ou batista. Hoje, muitas igrejas independentes são congregacionais
em estrutura. Igrejas batistas são também congregacionais. Essas
igrejas congregacionais têm-se unido voluntariamente em associações
locais e uniões ou convenções nacionais.
DISCIPLINA ECLESIÁSTICA
Os dados históricos sobre a vida da igreja logo depois do período
do Novo Testamento são intermitentes e parciais. Afinal de contas, a
igreja era um grupo pequeno e, às vezes, ilegal. Fontes escritas se
multiplicaram grandemente depois que a igreja cristã foi legalizada
em todo o império, no reinado de Constantino. Nos mil e duzentos
anos entre Constantino e a Reforma Protestantes, a disciplina
eclesiástica, por excomunhão individual ou por interdito (reter os
sacramentos da população ou de uma entidade política), foi usada
frequentemente mais para proteger os interesses da igreja corporativa
contra as reivindicações do Estado do que para guardar os cristãos do
pecado e proteger o testemunho do evangelho.
Quando os líderes da Reforma começaram a resgatar um
entendimento mais bíblico da pregação e da administração das
ordenanças como as duas marcas de uma verdadeira igreja, houve
também o resgate da disciplina eclesiástica como uma marca
consequente. A prática correta da disciplina eclesiástica estava
implícita na administração correta das ordenanças. Afinal de contas,
se distinguir a igreja do mundo é uma função das ordenanças, a
disciplina se torna o mecanismo que reforça esse mandato. A
disciplina eclesiástica correta se tornou tão importante que começou a
ser apresentada como uma terceira marca de uma verdadeira igreja.320
O Artigo 29 da Confissão Belga (1561) afirmava:
As marcas pelas quais a verdadeira igreja é conhecida são estas: se a doutrina
pura do evangelho é pregada ali; se a igreja mantém a administração pura das
ordenanças, conforme instituídas por Cristo; se a disciplina eclesiástica é exercida
em punir o pecado; em resumo, se todas as coisas são realizadas de acordo com a
pura Palavra de Deus, se todas as coisas contrárias são rejeitadas, e se Jesus
Cristo é reconhecido como o único “cabeça” da igreja.321
308. Escrevendo em 112 a.C., Plínio referiu-se aos cristãos fazendo certas promessas morais
uns aos outros. Esses pactos eram também praticados pelos seguidores de John Hus. Ver
Charles W. Deweese, Baptist Church Covenants (Nashville: Broadman, 1990), 19-23.
309. Dewesse, Baptist Church Covenants, viii.
310. Ver Daniel L. Akin, “An Expositional Analysis of the Schleitheim Confession”, CTR
no. 2 (Spring 1988): 345-70.
311. Deweese sugeriu vários fatores que levaram ao declínio no uso de pactos de igreja entre
os batistas na América (Baptist Church Covenants, 88-91).
312. Coleções padrões de confissões de fé batistas foram reunidas por W. J. McGlothlin,
Baptist Confessions of Faith (Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1911); e
William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith (Valley Forge, PA: Judson Press, 1959).
Quanto a uma defesa do uso de confissões entre os batistas, ver Reynolds, Church Polity,
334-42.
313. Por exemplo, a Segunda Confissão Londrina (1689), a Confissão de New Hampshire
(1833) e a Mensagem e Fé Batista (1925, 1963, 2000).
314. Reynolds, Church Polity, 340.
315. Um bom exemplo disso seria a autoridade que Inácio tinha como bispo. Ele defendia
que essa autoridade pertencia legitimamente ao bispo.
316. Uma excelente e concisa explicação do governo presbiteriano se acha em Sean Michael
Lucas, What Is Church Government? (Phillipsburg, NJ: P&R, 2009).
317. Quanto a uma exceção à postura geral deles, ver Robert Raymond, “The Presbytery-Led
Church: Presbyterian Church Government”, em Chad Brand e R.Staton Norman, eds.,
Perspectives on Church Government: Five Views of Church Polity (Nashville: B&H, 2004),
87-138.
318. Luther’s Works, vol. 39, trad. Eric W. e Ruth C. Gritsch (Philadelphia: Fortress, 1970),
301-14.
319. Na seção sobre “A Instituição da Igreja”, anexado à Declaração de Fé, os teólogos de
Savoy afirmaram: “IV. A cada uma dessas igrejas, reunidas de acordo com seu pensamento
declarado em sua Palavra, ele tem dado e instituído todo esse poder e autoridade, necessários
para que realizem essa ordem em adoração e disciplina e para que observem com
mandamentos e regras, na direção da aplicação e da execução devidas e corretas desse poder.
V. Estas igrejas específicas designadas pela autoridade de Cristo e dotadas com o poder dele
para os fins já expressos são, cada uma delas, quanto a esses fins, o lugar desse poder que ele
se agrada em comunicar aos santos neste mundo, para que, como tais, eles o recebam
imediatamente dele mesmo. VI. Além dessas igrejas específicas, não há, instituída por Cristo,
qualquer igreja mais extensiva ou católica dotada de poder para a administração das
ordenanças dele ou para o exercício de qualquer autoridade em seu nome” (A. G. Matthews,
ed., The Savoy Declaration of Faith and Order 1658 [London: Independent Press, 1959),
121-22). Esse entendimento contradiria aquelas organizações “mais extensivas” — como a
autoridade central de uma igreja que tem múltiplas congregações — da mesma maneira que
tencionava contradizer as reivindicações episcopais e presbiterianas de exercerem a
autoridade de Cristo fora e acima da congregação local? Quanto a um estudo cuidadoso e
detalhado dos debates nesse tempo a respeito das chaves de autoridade que Cristo confiou a
sua igreja, ver Hunter Powell, “The Dissenting Brethren and the Power of the Keys, 1640-
1644” (Dissertação de Ph.D não publicada; Cambridge University, 2011). Powell concluiu
que a defesa do congregacionalismo mais significativa do século XVII foi a obra de John
Cotton de 1644, The Keys of the Kingdom of Heaven. (Quanto a uma edição moderna desta
obra de Cotton, ver Larzer Ziff, ed., John Cotton on the Churches of New England
[Cambridge: Harvard University Press, 1968] 71-164.) Quanto a uma análise moderna desta
obra de Cotton, ver Powell, “Dissenting Brethren”, caps. 4-5. Quanto a uma crítica
congregacionalista à forma de governo escocesa e presbiteriana de Samuel Rutherford, ver
Thomas Hooker, A Survey of Summe of Church-Discipline (1648). Talvez a explicação e
defesa mais abrangente do congregacionalismo deste período seja Thomas Goodwin, The
Right Order and Government of the Churches of Christ (1696).
320. Quanto a um exemplo de uma abordagem popular moderna, ver D. Martyn-Lloyd Jones,
The Church and the Last Things, vol. 3, Great Doctrines of the Bible (Wheaton, IL:
Crossway, 1998), 13-18.
321. Cf. a Confissão Escocesa, Artigo 18: “A verdadeira pregação da Palavra de Deus (...) a
correta administração das ordenanças de Cristo Jesus (...) a disciplina eclesiástica aplicada
corretamente”.
322. Clowney, Church, 101. Nesse livro, Clowney tem um bom resumo das marcas da igreja
consideradas bíblica e historicamente, no contexto de questões atuais de igreja versus
ministérios para eclesiásticos (ver pp. 99-115).
323. Greg Wills, Democratic Religion: Freedom, Authority and Church Discipline in the
Baptist South 1785-1900 (New York: Oxford University Press, 1997), 22.
324. Ibid., 119.
325. Ibid., 9. Cf. “A disciplina eclesiástica pressupunha uma dicotomia evidente entre as
normas da sociedade e o reino de Deus. Quanto mais os evangélicos purificavam a
sociedade, tanto menos sentiam a necessidade de uma disciplina que separava a igreja do
mundo” (Wills, Democratic Religion, 10). “Ativismo se tornou a virtude suprema da piedade
batista no século XX” (Wills, Democratic Religion, 133). Quanto a um registro do declínio,
ver Stephen Haines, “Southern Baptist Church Discipline, 1880-1939”, Baptist History and
Heritage, vol. XX, no. 2 (April 1985): 14-27.
326. John L. Dagg, A Treatise on Church Order (Charleston, SC: Southern Baptist
Publications Society, 1858), 274.
327. Cf. Josef Nordenhaug, “Baptists and Regenerate Church Membership”, R&E, vol. LX,
no. 2 (Spring 1963): 135-48; e James Leo Garrett Jr., Baptist Church Discipline (Nashville:
Broadman, 1962).
328. H. E. Dana, Manual of Ecclesiology (Kansas City, KS: Central Seminary Press, 1944),
244.
12
A CENTRALIDADE DA PREGAÇÃO
O centro e a fonte da vida de uma congregação é a Palavra de
Deus. As promessas de Deus para seu povo, na Escritura, criam e
sustentam seu povo. Portanto, a congregação é responsável por
garantir, tanto quanto estiver em seu poder, que a Palavra de Deus
seja pregada em suas reuniões regulares.
No século XVI, a centralidade da Palavra de Deus havia sido
substituída pelos sacramentos, especialmente pelo sacramento da
eucaristia. Em face dessa distorção quase universal, os reformadores
retornaram corretamente às Escrituras para achar um cânon, ou
padrão, com base no qual poderiam medir o ensino da Igreja de
Roma. Em 1539, Martinho Lutero escreveu: “A Palavra de Deus não
pode existir sem o povo de Deus, e, no sentido oposto, o povo de
Deus não pode existir sem a Palavra de Deus”.329 O papel central
desempenhado pela Palavra de Deus na igreja do Novo Testamento
(cf. Atos 20.40-47; 2 Timóteo 4.2) foi resgatado nos ensinos e na vida
dos reformadores protestantes. “A igreja não é um grupo de pessoas
que está à procura de uma filosofia de vida compatível com as
condições modernas, e sim um corpo vivo que está sendo moldado
pelo ensino dos apóstolos. Manter-se resolutamente leal a este ensino
é uma das principais marcas da igreja autêntica”.330
Se as Escrituras são “a palavra da vida” (Filipenses 2.16), elas
devem tanto gerar quanto regular a vida da igreja. Os cristãos se
reúnem em congregações para ouvir aquele que está no lugar de Deus
para dar sua Palavra ao seu povo. Por meio da pregação, os cristãos
chegam a conhecer e entender a Deus e sua Palavra. É uma Palavra
para a qual os cristãos nada contribuem, senão ouvindo e atentando.
Um sermão cristão é, até em seu método, uma figura da graça de
Deus. Visto que a fé vem pelo ouvir (Romanos 10.17), ouvir a
Palavra de Deus, em vez de assistir à missa, é apropriadamente
colocado no centro da assembleia pública da congregação. Os cristãos
confiam na Palavra de Deus, por isso a pregação tem de ser central. E
a pregação que mais exemplifica isso é a pregação expositiva — a
pregação na qual o assunto da passagem da Escritura é o assunto da
mensagem. A Escritura tanto é plena de autoridade quanto suficiente,
e isso deve ser evidente nas reuniões cristãs.
A VISIBILIDADE DA IGREJA
A redescoberta protestante da verdade bíblica da justificação
somente pela fé foi uma redescoberta do evangelho bíblico.331
Quando as congregações protestantes substituíram o ritualismo
sacramental por pregação do evangelho, os sacramentos (ou
ordenanças) assumiram outro propósito — distinguir a igreja do
mundo e prover uma representação visível da mensagem do
evangelho aceita pela fé. Como resultado, a igreja se tornou definida
não por indivíduos que eram batizados e assistiam à missa, e sim por
indivíduos que criam pessoalmente nas promessas anunciadas no
batismo e na Ceia do Senhor, e que, portanto, participavam desses
ritos. Até os protestantes que praticavam o batismo infantil não
ensinavam que o batismo produzia a salvação. Ensinavam que o
batismo refletia a salvação e que a salvação aconteceria somente se a
pessoa batizada cresse, antes ou depois de seu batismo. Portanto, a fé
se tornou a essência do que separava a igreja do mundo. Essa fé
assumia forma visível nas ordenanças. Assim, a igreja é, como James
Bannerman a descreveu, “um testemunho exterior e público de Deus
na terra”.332
O papel da fé em distinguir a igreja visível do mundo torna a
igreja protestante o que ela é. A fé mostra-se a si mesma inicialmente
na submissão do crente ao batismo e, depois, repetidamente, em sua
participação na Ceia do Senhor. Embora a obediência e a submissão à
igreja visível também fossem enfatizadas na Igreja Católica Romana,
as igrejas protestantes eram marcadas pelos adeptos que expressavam
fé pessoal em Cristo, sem o qual o batismo e a Ceia do Senhor seriam
inúteis.
O impulso protestante para colocar a fé no centro das ordenanças
se mostrou de muitas maneiras, desde a presença de muitos
movimentos batistas até a adoção por parte de Jonathan Edwards,
ministro da América colonial, da comunhão apenas de crentes.
Em resumo, o cristianismo exige uma crença consciente no
evangelho. Quando a Palavra de Deus autoritária é ensinada, ela deve
ser recebida e crida conscientemente. Essa confiança, ou fé, é o que
distingue o povo de Deus, que fez uma confissão inicial no batismo e
faz uma confissão contínua por meio da participação na Ceia do
Senhor. Quando a suficiência da Escritura e a necessidade de fé em
praticar as ordenanças são afirmadas, torna-se claro que uma igreja
biblicamente fiel é uma igreja protestante.
329. Martinho Lutero, “On the Councils and the Church”, trad. Charles M. Jacobs, Luther’s
Works, vol. 41 (Philadelphia: Frotress Press, 1966), 150.
330. Thomas Oden, Classic Christianity (New York: HarperOne, 1992), 752. Edmund
Cloney disse: “Deus não está apenas presente no meio de seu povo. Ele fala. O ministério da
Palavra de Deus no culto faz parte da solenidade da ocasião. Solenidade não significa falta de
alegria, porque a Palavra evoca o louvor. No entanto, a autoridade da Palavra do Senhor
permanece central ao culto cristão” (Clowney, “The Biblical Theology of the Church”, em
The Church in the Bible and the World, ed. D. A. Carson [Grand Rapids: Baker, 1987], 22).
331. Quanto a uma breve, exata e edificante narrativa da Reforma Protestante, incluindo sua
relação com a doutrina da igreja, ver Michael Reeves, The Unquenchable Flames (Nashville:
B&H, 2009).
332. James Bannerman, The Chruch of Christ, vol. 1 (repr. Edinburgh: Banner of Truth,
1960), 1.
13
333. Isto foi assim porque a jurisdição política coincidia em parte com a jurisdição
eclesiástica (com exceções para grupos como imigrante ou judeus).
334. Geoff Surratt et. al., eds., Muti-site Church Revolution: Being One Church in Many
Locations (Grand Rapids: Zondervan, 2006), 18.
335. Estou usando a expressão vários cultos — não no sentido de toda a congregação reunida
mais do que uma vez, como às 9h da manhã e, de novo, às 7h da noite, mas no sentido de
reuniões nas quais somente apenas parte da membresia está reunida, como se fosse toda a
igreja. Este caso acontece quando igrejas oferecem diversos cultos, como às 9h e às 11h da
manhã, e incentivam os membros a escolherem um dos cultos para frequentarem.
336. Quanto a uma crítica completa, e graciosa, ver Thomas White e John M. Yeats,
Franchising McChurch: Feeding Our Obsession with Easy Christianity (Colorado Springs,
CO: David C. Cook, 2009).
337. Com ausências ocasionais, é claro.
338. W. B. Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, fez uma observação
que, embora pareça controversa hoje, foi aceita prontamente quando foi feita e por um século
depois: “O termo igreja indica uma igreja, um corpo do povo do Senhor, reunido junto em
um lugar, e não várias congregações que formam uma igreja” (Johnson, “The Gospel
Developed”, em Polity: Biblical Arguments on How to Conduct Church Life, ed. Mark Dever
[Washington, DC: Center for Church Reform, 2001], 171).
339. “A razão primária para a origem do [culto no domingo] deve ter sido a necessidade dos
cristãos por um tempo de adoração distintivamente cristã. A necessidade de algum tempo
regular de culto deve ser distinguida claramente das possíveis razões para a escolha do
domingo em lugar de qualquer outro dia. A escolha de um dia da semana é inteiramente
natural em um contexto judaico, e qualquer coisa menos frequente não teria satisfeito à
necessidade (...). Foi a necessidade por um tempo regular e frequente de culto cristão que
levou à escolha de um dia da semana” (R. J. Bauckham, “The Lord’s Day, em From Sabbath
to Lord’s Day, ed., D. A. Carson [Grand Rapids: Zondervan, 1982], 238).
340. Plínio, Epístola X.xcvi, citado em Henry Bettenson, ed., Documents of the Christian
Church (Oxford: Oxford University Press, 1943), 4.
341. Didaquê, XIV.
342. Justino Mártir, Apologia, I.lxvi.
343. Hipólito, Tradição Apostólica, I.ii.
344. Ver W. B. Johnson, “Gospel Developed”, 235-36.
345. É justo questionarmos se a popularidade de igrejas que se reúnem em vários lugares
estimula inconscientemente os cristãos ao consumismo e à passividade, porque veem suas
igrejas apenas como uma provedora de serviços, e não como uma família reunida numa única
congregação para trabalharem, aprenderem, amarem e servirem juntos?
346. Em última análise, a igreja se reúne pela ação do Espírito de Deus. Como Lucas
escreveu sobre a igreja primitiva: “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os
que iam sendo salvos” (Atos 2.47). Mas Deus não é o único em atividade na igreja local.
Essa ação divina tem como resultado a resposta humana. Como afirma a Confissão de Fé de
New Hampshire, o arrependimento e a crença são as “graças indispensáveis operadas em
nosso coração pelo Espírito Santo de Deus” (Artigo 8).
347. Ver Jonathan Leeman, Church Membership: How the World Knows Who Represents
Jesus (Wheaton, IL: Crossway, 2012).
348. Isso parece estar claramente implícito nas palavras de Paulo aos coríntios em 2
Coríntios 2.6-7. Quanto a mais informações sobre isso, ver Jonathan Leeman, Church
Discipline: How the Church Protects the Name of Jesus (Wheaton, IL: Crossway, 2012).
14
LOCAL E UNIVERSAL
Uma igreja congregacional reconhece a congregação como a corte
terrena final de apelação em questões de disputa. Realizam-se
reuniões de membros em que decisões são tomadas por votação.
Naturalmente, precisa-se de um grau de consenso mais elevado do
que em igrejas que têm outras formas de governo. Mais
responsabilidade reside em cada membro, assim como mais
autoridade. Como Jonathan Leeman argumentou de modo tão claro e
cuidadoso: “Mesmo com todas as suas imperfeições, a igreja
representa Jesus na terra”.349
RELAÇÕES DENOMINACIONAIS
Conexões voluntárias de congregações como a Convenção Batista do
Sul, as Igrejas Batistas da América e a Convenção Batista Nacional
há muito se estabeleceram na consciência americana como
denominações. Muitas, se não a maioria das outras denominações,
são igrejas conectadas cujas decisões finais em questões de doutrina e
disciplina não podem ser tomadas por assembleias locais, mas
precisam ser decididas por assembleias, cortes ou bispados regionais,
nacionais ou até internacionais. No entanto, denominações de igrejas
congregacionais são bem diferentes de outras denominações.350
Pode-se falar no singular da Igreja Presbiteriana nos Estados
Unidos da América ou da Igreja Metodista Unida, de uma maneira
que não se pode falar corretamente da Igreja Batista Nacional ou da
Igreja Batista do Sul. Embora se entenda comumente o que essas
expressões significam, elas revelam uma ignorância sobre a natureza
das igrejas que tencionam descrever. Ainda que os membros de uma
igreja local manifestem, às vezes, grande “lealdade tribal” à sua
denominação, eles são apenas membros de igrejas locais que
cooperam de modo voluntário, mas nunca de modo obrigatório, com
associações regionais e nacionais. Suas congregações não precisam
continuar se filiando a qualquer convenção específica para
continuarem sendo uma igreja verdadeira.
349. Jonathan Leeman, A Igreja e a Surpreendente Ofensa do Amor de Deus (São José dos
Campos, SP: Fiel, 2013), 240.
350. A tradição Batista do Livre Arbítrio tem uma história de mais coneccionalismo do que a
maioria dos outros batistas na América. Ver J. Matthew Pinson, Free Will Baptists & Church
Government (Nashville: National Association of Free Will Baptists, 2008).
351. Stanton Norman abordou a tensão atual dos batistas do Sul entre congregacionalismo e
liderança em seu livro The Baptist Way: Distinctives of a Baptist Church (Nashville: B&H,
2005), 101-10.
352. Ver Phil Newton, Pastoreando a Igreja de Deus: Redescobrindo o Modelo Bíblico de
Presbitério na Igreja (São José dos Campos, SP: Fiel, 2007); Benjamin L. Merkle, Why
Elders? A Biblical and Practical Guide for Church Members (Grand Rapids: Kregel, 2009);
Daniel Evans e Joseph Godwin Jr., Elder Governance: Insights into Making the Transition
(Eugene, OR: Resource Publications, 2011).
353. Por exemplo, Brand e Norman, Pespectives on Church Government.
354. Quanto a uma reflexão sobre “as chaves”, ver Jonathan Leeman, A Igreja e a
Surpreendente Ofensa do Amor de Deus (São José dos Campos, SP: Fiel, 2013), cap. 4.
355. Uma qualificação óbvia dessa afirmação é que o tempo de uma igreja começar e
terminar pode trazer consigo circunstâncias excepcionais que exigem procedimentos
temporais em que um ou mais desses aspectos de liderança não são realizados
completamente.
15
EXIGÊNCIAS
A ideia de que ser membro de uma igreja local deveria exigir apenas
a profissão de fé em Cristo é uma ideia que tanto é comum quanto
destrutiva para a vida e o testemunho da igreja. Historicamente, os
batistas têm compreendido que qualquer profissão de fé deve ser
provada e julgada como confiável. Afinal de contas, uma profissão de
fé salvadora inclui arrependimento. Uma vida cristã será revelada ou
não pela participação no batismo e na Ceia do Senhor, mas também
por assistência regular às reuniões da congregação e uma submissão à
sua disciplina. Isso inclui orar regularmente em favor da congregação
e dar o dízimo. Toda congregação tem a responsabilidade de decidir
que padrões de membresia são apropriados para a sua igreja.367
RELAÇÃO DOS FILHOS COM A IGREJA
Uma das áreas que mais necessita de reconsideração nas igrejas
contemporâneas é a relação dos filhos de membros da igreja com a
própria igreja. Em congregações não batistas, essa relação começa
com o batismo infantil e é completada usualmente com a confirmação
por volta dos 12 anos. Em igrejas batistas, os filhos eram
tradicionalmente reconhecidos como tendo um papel importante.
Eram considerados como os objetos de toda a afeição natural, mas
eram também reconhecidos como confiados, de modo especial, a
famílias cristãs para treinamento no Senhor. É claro que conversões
poderiam ocorrer em idades tenras, mas, em geral, se pensava que era
mais sábio protelar o batismo até que a maturidade provasse a
realidade de sua conversão.368 Os primeiros batistas entendiam que
era necessário tempo para verem a profissão cristã sendo vivenciada,
especialmente naqueles que ainda não eram adultos.369 Muitos
cristãos, na antiguidade e ao redor do mundo hoje, praticam
regularmente um período de espera após a profissão de fé como um
meio de evidenciar sua realidade.370 Parece haver pouca dúvida de
que, pelo menos em igrejas Batistas do Sul, o último século viu um
aumento considerável de nominalismo, enquanto a idade média de
batismo diminuiu. Parece provável que as duas estatísticas estão
relacionadas.
Além disso, preocupações com falsos batismos (levando a um
número crescente de rebatismos) não devem ser limitadas aos efeitos
adversos que uma igreja local sofre, quando pagãos são recebidos em
sua membresia e chamados santos, por mais sérios que sejam tais
efeitos.371 Os efeitos eternos causados por pastores e igrejas que dão
falsa segurança de salvação a incrédulos são graves e desestimulam a
pessoa. Em alguns casos, há grande necessidade de sabedoria para
mantermos equilíbrio entre os interesses, às vezes conflitantes, de
encorajamento e de cautela saudável.
363. Se isso fosse entendido amplamente entre os membros, as congregações seriam capazes
de considerar atentamente a delicada questão da relação entre os filhos dos membros da
igreja e a própria igreja.
364. Quanto a mais informações sobre por que um crente deve se unir a uma igreja, ver Jim
Samra, The Gift of a Church (Grand Rapids: Zondervan, 2010).
365. Quanto a mais informações sobre esse assunto, ver Mark Dever, 9 Marcas de Uma
Igreja Saudável (São José dos Campos, SP: Fiel, 2007); também Mark Dever, Refletindo a
Glória de Deus (São José dos Campos, SP: Fiel, 2008); Mark Dever, “Regaining Meaningful
Membership”, em Restoring Integrity in Baptists Churches, ed. Thomas White, Jason
Duesing e Malcolm Yarnell (Grand Rapids: Kregel, 2008), 45-61.
366. Ver Byron Straughn, “For the Parachurch: Know the Difference Between Families and
Soccer Teams”, http://www.9marks.org/ejournal/parachurch-know-difference-between-
families-soccer-teams, acesso em 28 de julho de 2011.
367. Um guia proveitoso para isso é Thabiti Anyabwile, O que É um Membro de Igreja
Saudável (São José dos Campos, SP: Fiel, 2010). Anyabwile explicou que um membro de
igreja saudável é um ouvinte de mensagens expositivas, um teólogo bíblico, saturado com o
evangelho, genuinamente convertido, um evangelista bíblico, um membro comprometido,
que busca disciplina, um discípulo que cresce, um seguidor humilde e que guerreia com
oração.
368. Muito trabalho histórico precisa ser feito nesta área, mas os seguintes fatos são
sugestivos. Considere os notáveis ministros batistas dos séculos XVIII e XIX. John Gill foi
criado num lar batista e foi batizado aos 19 anos, em 1716 (a apenas três semanas de seu
vigésimo aniversário). Samuel Medley foi criado num lar batista e foi batizado aos 22 anos,
em dezembro de 1760. Richard Furman foi criado num lar não cristão e foi batizado aos 17
anos, em 1772. John Dagg foi batizado em Middleburg (Virginia) aos 18 anos, na primavera
de 1812. J. Newton Brown foi batizado em Hudson (New York) aos 14 anos, em 1817. J. M.
Pendleton foi batizado perto de Pembroke (Kentucky) aos 18 anos, em 1829. P. H. Mell foi
criado num lar fortemente cristão e foi batizado aos 18 anos, em 1832 (de acordo com sua
biografia escrita por seu filho). J. R. Graves foi criado num lar fortemente cristão e foi
batizado aos 15 anos, em 1835 (de acordo com a biografia de O. L. Hailey). Sylvanus
Dryden Phelps (autor do hino “Something for Thee”) foi criado num lar cristão e foi batizado
aos 22 anos, em 1833 (de acordo com a Baptist Encyclopedia, de William Cathcart). John A.
Broadus foi criado num lar fortemente cristão e foi batizado aos 16 anos, em 1843 (de acordo
com a biografia de A. T. Robertson). Charles Fenton James foi batizado em 1864 aos 20
anos, nas trincheiras perto de Petersburg (Virginia), enquanto era um soldado confederado
(ver George B. Taylor, Virginia Baptist Ministers, 38). C. H. Spurgeon batizou dois de seus
filhos quando tinham 18 anos (ver Dallimore, Spurgeon, 181). John R. Sampey foi criado
num lar cristão e foi batizado aos 13 anos, em 1877 (de acordo com sua Memoirs, 7). Ele já
havia trabalhado na propriedade rural de seu pai. E. Y. Mullins foi criado no lar de um pastor
batista no Texas e foi batizado aos 20 anos, em 1880. Todos esses pastores já tinham seu
emprego quando foram batizados. H. Wheeler Robinson foi criado por uma mãe cristã em
Northampton (Inglaterra) e foi batizado aos 16 anos, em 1888.
Essa demora ainda é típica entre a maioria dos batistas na África, Europa e outros países
além-mar. Por exemplo, considere a prática na França: “Colocado no meio do culto, ele [o
batismo] serve como a peça central do culto. O batismo na França tende a acontecer em idade
posterior — aos 16 para os mais novos — e os candidatos sempre dão testemunho antes de
serem batizados. Embora essas tradições e práticas pareçam estranhas, o resultado é uma fé
vibrante e dinâmica que coloca os batistas à margem do movimento evangélico na França e
na Europa” (C. Frank Thomas, em Why I Am a Baptist, ed. Cecil P. Staton Jr. [Macon, GA;
Smyth & Helwys, 1999], 170).
369. Ver Dennis Gunderson, Your Child’s Profession of Faith (Amityville, NY: Calvary,
1994); e Jim Eliff, Childhood Conversions (Parkville: Christian Communicator Worldwide,
1997).
370. Ver Hippolytus, On the Apostolic Tradition, trad. Alistair Stewart-Sykes (Crestwood,
NY: SVS Press, 2001), 103.
371. Ver P. B. Jones et al., “A Study of Adults Baptized in Southern Baptist Churches,
1993”, Research Report, January 1995 (Atlanta: Home Mission Board).
372. Eugene Kennedy e Sara Charles, Authority: The Most Misunderstood Idea in America
(New York, Free Press, 1997), 1.
373. C. J. Mahaney, Humildade: Verdadeira Grandeza (São José dos Campos, SP: Fiel,
2008) é um excelente recurso para se considerar a natureza e o cultivo da humildade cristã
que deve caracterizar uma igreja e seus pastores.
374. Quanto a um tratado excelente sobre essa doutrina, ver Timothy George, “The
Priesthood of All Believers and the Quest for Theological Integrity”, CTR 3, no. 2 (1989):
283-94.
375. Ver Mark Noll, A History of Christianity in the United States and Canada (Grand
Rapids: Eerdmans, 1992), 513.
376. Ver Grudem e Rainey, Pastoral Leadership. Deve ser notado que liderança
genuinamente bíblica é consensual, não coerciva, e se preocupa com guiar e servir, e não
“dominar” os outros com orgulho. Se questões mais seculares de poder forem levantadas,
deve ser lembrado que na maioria das igrejas as mulheres constituem a maior parte dos
membros; por isso, mulheres deveriam se organizar como mulheres (juntamente com homens
que concordassem com elas) em qualquer tempo e mudar sua prática de igreja, se ficassem
convencidas de que as posições descritas neste capítulo e praticadas tradicionalmente pelos
cristãos estão erradas.
377. Um bom curso de estudo para os líderes de igreja local entenderem e se moverem em
direção a esse ponto de vista mais orgânico da igreja pode ser os seguintes quatro livros,
nesta ordem: Joseph Bayly, The Gospel Blimp (Chicago: David C. Cook, 2002); Robert
Coleman, The Master Plan of Evangelism (Grand Rapids: Fleming H. Revell, 1963); Colin
Marshal e Tony Paine, The Trellis and the Vine (Youngston, OH: Matthias Media, 2009); e
Mark Dever e Paul Alexander, Deliberadamente Igreja (São José dos Campos, SP: Fiel,
2008).
378. Examinando o estado das igrejas no século XIX, John L. Dagg escreveu: “Muito do que
existia, e existe agora, entre os seguidores professos de Cristo não pode ser contemplado por
uma pessoa que o ama sinceramente sem profunda tristeza” (John L. Dagg, A Treatise on
Church Order [Southern Baptist Publication Society, 1858], 11). Um século e meio depois,
John Piper refletiu sobre o inquietante estado de muitas igrejas contemporâneas: “A injustiça,
a perseguição, o sofrimento e as realidades infernais no mundo hoje são muitas, tão grandes e
tão próximas, que não posso deixar de pensar que, em sua alma, as pessoas estão anelando
por algo inabalável, grande, arraigado, estável e eterno. Portanto, acho que brincar com
pequenas esquetes tolas e estilos animados para fazer os visitantes se sentirem bem na igreja,
nos domingos de manhã, está em desarmonia com o que é importante na vida (...) duvido que
um ethos religioso com tal sentimento de entretenimento possa realmente sobreviver por
muitas décadas” (Counted Righteous in Christ [Wheaton, IL: Crossway, 2002], 22-23).
379. Mark Dever, “The Priesthood of All Beleivers: Reconsidering Every Member
Ministry”, em The Compromised Church, ed. John H. Armstrong (Wheaton, IL: Crossway,
1998), 85-116.
380. Quanto a uma crítica de uma tendência popular de homogeneidade nas igrejas, ver
Kevin DeYoung e Ted Kluck, Why We’re Not Emergent (By Two Guys Who Should Be)
(Chicago: Moody, 2008).
381. Quanto a uma boa explanação eclesiológica da natureza diversa da igreja local — suas
raízes bíblicas, sua importância teológica e desenvolvimentos práticos — ver Bruce Milne,
Dynamic Diversity: Bridging Class, Age, Race and Gender in the Church (Downers Grove,
IL: IVP, 2006).
382. Entretanto, deve ser notado com admiração que esse idoso pregador do rádio anunciou
que a era da igreja foi sucedida pela “era do rádio”. Ver J. Ligon Duncan e Mark Talbot,
Should We Leave Our Churches? A Biblical Response to Harold Camping (Phillipsburg:
P&R, 2004).
383. Quanto a um relato fascinante da influência de práticas de negócios nas igrejas, ver John
Hardin, “Retailing Religion: Business Promotionalism in American Christian Churches in the
Twentieth Century” (Dissertação de Ph.D não publicada, University of Maryland, 2011).
384. Ver Guy Prentiss Waters, The Federal Vision and Covenant Theology (Phillipsburg, NJ:
P&R, 2006).
385. Infelizmente, muitos dos que defendem esta posição, embora se vejam como
protestantes, estão adotando a posição católica romana nos debates da época da Reforma
sobre a apostolicidade de certas práticas e doutrinas. Interesse pelos ensinos dos pais da
igreja não é algo novo entre os evangélicos. Era proeminente na obra de Martinho Lutero,
João Calvino, Thomas Cranmer, John Jewel e outros reformadores na Europa. Mas hoje os
disputantes não têm a experiência dos reformadores de haverem vivido numa Igreja Católica
Romana que não era desafiada pelas Escrituras e carregada de séculos de acréscimos
doutrinários, acréscimos que não haviam sido examinados atentamente à luz do ensino
apostólico.
386. Quanto a instruções práticas sobre como realizar disciplina eclesiástica, ver Jay Adams,
Handbook of Church Discipline (Grand Rapids: Ministry Resources Library, 1986); e Mark
Dever, em Polity: Arguments on How to Conduct Church Life (Washington, DC: Center for
Church Reform, 2001).
387. Dagg, Treatise on Church Order, 12.
Sua igreja é saudável? O Ministério 9Marcas existe para equipar
líderes de igreja com uma visão bíblica e com recursos práticos a fim
de refletirem a glória de Deus às nações através de igrejas saudáveis.
Para alcançar tal objetivo, focamos em nove marcas que
demonstram a saúde de uma igreja, mas que são normalmente
ignoradas. Buscamos promover um entendimento bíblico sobre: (1)
Pregação Expositiva, (2) Teologia Bíblica, (3) Evangelho, (4)
Conversão, (5) Evangelismo, (6) Membresia de Igreja, (7) Disciplina
Eclesiástica, (8) Discipulado e (9) Liderança de Igreja.
www.facebook.com/9Marcas
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecendo
conteúdo fiel às Escrituras através de conferências, cursos teológicos,
literatura, ministério Adote um Pastor e conteúdo online gratuito.
Disponibilizamos em nosso site centenas de recursos, como
vídeos de pregações e conferências, artigos, e-books, audiolivros,
blog e muito mais. Lá também é possível assinar nosso informativo e
se tornar parte da comunidade Fiel, recebendo acesso a esses e outros
materiais, além de promoções exclusivas.
www.ministeriofiel.com.br