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Formação em Teologia

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Panorama da bíblia

“ Toda a Escritura é divinamente inspirada por Deus, e


proveitosa para ensinar, para corrigir, para instruir em
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado em toda a boa obra.”

(2 Timóteo 3:16)

Perspectiva e Propósito

A mensagem central da Bíblia é o próprio Deus, revelando seu


amor à humanidade. Ela tem o propósito de revelá-lo, bem como Seu
caráter e princípios, além de ensinar o homem, e capacitá-lo para
um viver pleno - em sintonia com o plano divino e com a criação.

Identificação de autores, contexto e cultura

A Bíblia foi escrita ao longo de 35 gerações, por


aprox imadamente 1.500 anos, por autores diferentes, em lugares
diferentes. A Bíblia é muito mais do que um livro de histórias; é a
revelação dada por Deus ao ser humano. Dividida em dois grandes
blocos, a saber: Antigo Testamento e Novo Testamento. Também
chamada de “ Palavra” , é a ex pressão do coração de Deus. Uma
ferramenta divina, com o propósito de convidar o ser humano a ouvi-
lo.

Abaix o, um resumo das informações iniciais sobre a escrita


bíblica.

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• Aprox imadamente 35 gerações;

• Aprox imadamente 1.500 anos;

• Aprox imadamente 40 autores;

• 3 continentes diferentes (África, Ásia e Europa);

Vamos destacar os autores de acordo com as funções


desempenhadas. Trata-se de pessoas a quem Deus utilizou para
enviar sua mensagem.

AUTOR FUNÇÃO

Moisés Líder, Estadista

Amós Pastor de Ovelhas

Pedro Pescador

Lucas Médico

Davi, Salomão Reis

Paulo Rabino, Filósofo

Esdras Sacerdote

Neemias Funcionário Público

Note que um desempenha uma função completamente


diferente do outro. Um pescador é o oposto social de um rei. Isso
demonstra que Deus usava pessoas diferentes, de ambientes

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diversos, dando vários pontos de vista à Sua palavra. Ele atua em


todos os lugares, através de qualquer pessoa.

II Contexto Histórico

Medite sobre as seguintes citações.

“ Sobre o contex to histórico podemos dizer que ela não


foi escrita em ordem cronológica. Embora a
autoridade da Bíblia convirja sobre o tex to, e não sobre
os eventos que narra, ainda assim é de ex trema
importância ler a Bíblia à luz do período que se
origina” . 1

“ A história tem um significado teológico; a teologia


está baseada em eventos históricos” 2 Sendo assim a
história bíblica “ não é um registro objetivo dos
eventos puramente humanos. É um relato comovente
dos atos de Deus na história, conforme opera no
mundo para salvar seu povo. Em consequência ela é
teológica, profética, a história da aliança” . 3

Dillard, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento / Raymond B. Dillard,


1

Tremper Longman III - pg. 19


2
Op. cit pg. 18
3
Op. cit pg 21

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III Estilos Literários

Quais os estilos literários que podemos encontrar na Bíblia?

“ O Antigo Testamento contém pouco material técnico.


Na maior parte, seus conteúdos podem ser descritos
sob duas rubricas: narrativas e poemas” 4

Narrativas

A prosa bíblica se assemelha ao que chamamos de narração


literária, ou seja, em seu núcleo ex istem personagens, que agem em
determinado tempo, movimentando-se em um dado local. Está
presente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. A Bíblia é rica,
apresenta uma gama de estilos. Diferenciá-los é um caminho para
conhecê-los cada vez melhor e, assim, nos aprofundarmos na
revelação divina.

Poesia

• Concisão - A característica principal da poesia é ser sucinta


(ou sintética). A poesia diz muito com poucas palavras. É a
maneira literária mais rápida de causar impacto. Gera
meditação instantânea.

4
Op. cit pg 28

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“ O Senhor é meu pastor e nada me faltará” Salmos 23:


1

• Paralelismo - Corresponde às repetições. A poesia hebraica


contém elevada proporção de repetições. Vale ressaltar que
os versos paralelos não são estritamente idênticos: são
semelhantes, apesar de apresentarem diferenças. O
paralelismo não “ diz a mesma coisa usando palavras
diferentes” . O que é lido na segunda parte do paralelismo é um
complemento, uma agregação, ao pensamento da primeira
parte, de modo apreciável. Por ex emplo:

“ Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento


anuncia a obra de suas mãos” Salmos 19: 1

• Imagem - Ainda que as imagens sejam encontradas ao longo


da Bíblia, elas acontecem com mais frequência e intensidade
nas porções poéticas. A imagem contribui para a densidade
da poesia, pois, permite aos autores comunicar sua
mensagem usando poucas palavras. A imagem é um modo
indireto de falar ou escrever. Ao contrário da declaração
direta, uma imagem compara algo ou alguém com outra
coisa, ou outra pessoa. Repare no efeito da imagem a partir
deste ex emplo:

“ Eu te comparo, minha amada, a uma égua


aparelhada para uma das carruagens do Faraó” .
(Cântico dos Cânticos 1:9)

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O estilo literário é muito importante para os nossos estudos, pois


revela uma estratégia de leitura. Funcionam como um veículo
estratégico, por meio do qual o autor comunica sua mensagem ao
leitor. Assim, entendemos que o estilo literário também atua como
uma ferramenta de revelação. A escolha do gênero sinaliza ao leitor
como receber a mensagem.

Mesmo quando tratamos de tex tos proféticos, as narrativas e os


poemas são a base da escrita do Antigo Testamento. A totalidade da
Bíblia conta ainda com outros estilos, apresentados a seguir:

• Crônicas ou Narrativas - Um registro de fatos. Por meio desse


estilo, podemos constatar diversas análises sobre o tempo, o
local, o governo e povo da época relatada.

• Genealogia - Estilo intimamente ligado à história. Em alguns


momentos no enredo do povo bíblico, foi necessário citar a
árvore genealógica para entender algumas situações, como
entender quem era determinado personagem e a quem
estava ligado.

• Poesia - Os Salmos e os Cânticos são poesias. Foram cantados


e registrados sob diferentes contex tos históricos, por muitas
pessoas.

• Histórico - A Bíblia cita acontecimentos, fazendo uma


narrativa de situações passadas.

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• Profecias - São as palavras registradas com o propósito de


ex pressar uma intervenção dos céus. São revelações sobre o
futuro. Por ex emplo, no capítulo 9 de Isaías, é citado o
nascimento de Jesus há cerca de 700 anos antes de acontecer.

IV Evidências

A Bíblia foi escrita em múltiplos lugares, abrangendo diversos


contex tos históricos, tais quais desertos, vilarejos, prisões, palácios,
montanhas e metrópoles. Deus fala em todos esses lugares. Esses
lugares dão contex tos que são muito importantes para a melhor
interpretação da Palavra. As evidências bíblicas comprovam a sua
preciosidade. Evidências são fragmentos, que nos trazem respostas
essenciais ao nosso conhecimento bíblico. Podemos citar algumas:

• Unidade literária - A bíblia possui um eix o que está em


harmonia, apesar de ter sido escrita em diversos lugares e por
diversas pessoas;

• Profecias cumpridas - Ex istem palavras na bíblia que se


cumpriram precisamente, mesmo não tendo sido vistas por
seus profetas;

• Atualidade - Você lê a bíblia no ano passado e Deus falou com


você, você lê hoje e Deus fala com você. A bíblia é atual para os
episódios sociais e questões do nosso dia a dia;

• Efeito transformador - Você pode ler grandes obras, de


grandes pensadores, porém a bíblia possui, além de

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conhecimento, um efeito renovador. É capaz de mudar


histórias, contex to, pois ela apresenta um conteúdo
transformador;

• Preservação no tempo - A bíblia foi preservada e disseminada.


Atualmente é o livro mais lido, traduzido e vendido no mundo.
Resistiu a guerras, pestes, fome e deserto. Apesar de tudo,
ex iste hoje como antigamente.

“ Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha


voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele
cearei, e ele comigo.” (Apocalipse 3:20)

Muitas vezes usamos este tex to para várias ocasiões de


evangelismo. Mas João tinha como alvo um povo: a igreja.
Precisamos ex trair a essência, o contex to, por isso conservamos essa
visão sobre a Bíblia, sobre a Palavra.

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Bibliografia sugerida:

DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento


(Raymond B. Dillard, Tremper Longman III. Tradução: Sueli da Silva
Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006)

PINTO, Carlos Osvaldo. Foco no Antigo Testamento (Ed. Hagnos)

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Introdução ao antigo testamento

I Noção Geral

Para estudar a Bíblia, é necessário uma noção geral do que está


nela, para melhor entender o que Deus quer nos dizer em Sua Palavra.
Ao longo do curso teremos a oportunidade de mergulhar nos ensinos
e buscar essa noção. Sendo assim, o que faremos aqui é traçar um
mapa para ter uma dimensão do Antigo Testamento, que é o primeiro
tomo da Bíblia, possuindo trinta e nove (39) livros, os quais foram
escritos em hebraico (com alguns fragmentos em aramaico) e
divididos nestas categorias:

CATEGORIA NÚMERO DE LIVROS

Livros da Lei- Pentateuco Cinco (5) livros

Livros Históricos Doze (12) livros

Livros Poéticos Cinco (5) livros

Livros Proféticos Dezessete (17) livros

Cada uma dessas categorias requer um olhar específico e é de


suma importância lembrar das diferenças. Tenhamos em mente que
as categorias se evidenciam com base na intenção dos escritores e
nas características (estilo) de seus livros. Por ex emplo, nos livros
históricos é notável a intenção de narrar uma história enfatizando a
teologia, isto é, contar um fato enriquecendo-o com a presença de
Deus (o Antigo Testamento é marcado pelos relatos da aliança entre
Deus e Seu povo), logo, cada categoria terá atributos próprios.

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II Pentateuco

É o grupo dos cinco primeiros livros da Bíblia, chamado Livros da


Lei, respectivamente: Gênesis, Êx odo, Levítico, Números e
Deuteronômio. Foram escritos por Moisés e são conhecidos na bíblia
judaica como ‘’Torá’’. A lei ensina os princípios de Deus e coloca luz
sobre o povo para viver em sociedade; de imensa importância,
concedia ordem e sentido às relações humanas, com seu próx imo e
com seu Deus.

III Livros Poéticos

Também chamados Livros de Sabedoria, demandam mais


cuidado na análise e interpretação por conta da linguagem
metafórica e subjetividade. Marcado por tex tos mais artísticos e
afetivos, encontramos músicas, poesias, ditados e orações, muitos
deles pautados na conhecida poética hebraica dos paralelismos.
Contam os sentimentos, os acontecimentos e a liturgia do povo de
Israel. Dentro desse grupo, um dos mais conhecidos é o Livro de Jó,
que cronologicamente, foi o primeiro livro a ser escrito, e sua autoria
é atribuída a Moisés ou Salomão. Já o Livro dos Salmos é uma
coletânea de canções e possui vários autores, incluindo o rei Davi.

IV Livros Históricos

Relatam os eventos na história do povo hebreu, destacando suas


conquistas, fracassos e o início da monarquia. Nesse livro, podemos
perceber a ação de Deus junto ao povo judeu. A narrativa histórica
hebraica é marcadamente diferente de outros povos, a preocupação
dos hebreus era sempre falar da aliança com Deus, destacando-a

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por meio de linguagem concreta e do uso de imagens específicas à


sua cultura.

V Livros Proféticos

Com o foco nas mensagens, estão divididos em duas partes:


Profetas Maiores e Profetas Menores, esse nome se deve ao volume, e
não a importância, dos profetas em si. Pensar nos livros proféticos é
como pensar em uma coletânea de sermões. Mesmo havendo cinco
livros na categoria dos profetas maiores, esses foram escritos por
apenas quatro autores. Jeremias escreveu dois livros, um homônimo
e o chamado “ Lamentações de Jeremias” .

Dica: Em sua Bíblia de estudo, observe que, normalmente na primeira


página de cada livro, consta uma série de informações, como
contex to e intenção do autor, que podem aux iliar no entendimento do
Livro Sagrado. Enriqueça o seu conhecimento com essa prática.

VI Datação

Saber que as datas são aprox imadas e não ex atas, ajuda-nos a


compreender melhor esses livros. Há discordância entre os
estudiosos e suas linhas teológicas, mas verificamos dois padrões de
datação distintos:

Lunissolar

Era o sistema de datação mais antigo, no qual a lua e o sol


definem o calendário, sendo que os doze ciclos lunares somam 354
dias. Nesse sistema era estabelecida uma relação entre um

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acontecimento e outro, como, por ex emplo, uma guerra, uma


enchente, ou um determinado rei. Tal método é chamado de
cronologia relativa. A datação da cronologia Assíria é usada como
referência para entendermos, aprox imarmos ou traduzirmos as
datas para o padrão da datação atual. Um dos ex emplos desse
padrão de cronologia relativa se encontra no livro de Reis.

“ Quatrocentos e oitenta anos depois que os israelitas


saíram do Egito, no quarto ano do reinado de Salomão
em Israel, no mês de zive, o segundo mês, ele começou
a construir o templo do Senhor.” (1 Reis 6: 1)

Juliano

É o segundo sistema de datação, criado por Júlio César, baseia-


se num ano de 365 dias divididos em 12 meses de 28 a 31 dias.

Lembre-se: a datação ortodox a cristã tem o nascimento de Cristo


como referência, sendo assim, as datas das escrituras antes do
nascimento de Cristo aparecerão de forma decrescente. Veja o
ex emplo nas tabelas abaix o:

Não ex iste um método para datar com precisão. Quando


falamos sobre a queda, dilúvio e Babel, trata-se de eventos muito

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antigos que estão fora do calendário-padrão atual. O Pentateuco é o


local, na Bíblia, onde encontramos essas narrativas.

Após essas datas aprox imadas, vemos os patriarcas.

Quando chegamos por volta do ano de 1600, estudamos sobre a


escravidão no Egito:

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Depois do ano de 1300, segue-se a saída do povo (êx odo), o


deserto e a chegada à Canaã. Deste ponto até o final, já acontece a
produção dos livros poéticos.

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Lembre-se de sempre conferir as diferenças entre os sistemas de


datação.

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Logo após, o reino se divide. É a ruptura entre os reinos de Israel e


Judá.

Observação: O povo hebreu recebe pela primeira vez o Pentateuco


somente na chegada à Canaã. Embora os tex tos de Gênesis, Êx odo,
Levítico, Números e Deuteronômio, se refiram a um período anterior,
são lidos no momento histórico posterior. Atenção para este detalhe:
Uma coisa é entender que a lei foi dada ao povo no deserto, como
vemos em Êx odo 20, outra coisa é o Pentateuco, isto é, a compilação
dos livros. Só foram recebidos em formato escrito quando o povo
voltou do ex ílio. Em suma, eles conheciam a lei, conheciam a própria
história, mas não tinham um “ livro” . No tempo em que a lei foi dada
aos hebreus, o Pentateuco, como nós o conhecemos, ainda não
ex istia.

Observe na página a seguir o anex o com a figura que ilustra os


livros do Antigo Testamento:

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Bibliografia sugerida:

DOCK ERY, David S. Manual Bíblico Vida Nova (Editor Geral: David
S. Dockery. Tradução: Lucy Yamak ami)

FUCHS, Hans Udo. ROBINSON, Malk omes. (São Paulo: Edições Vida
Nova, 2001)

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Introdução ao novo testamento

O Novo Testamento narra a vida e a obra do Deus encarnado,


Jesus Cristo; o marco de um novo tempo para toda a humanidade. É
o surgimento do Evangelho, o início da dispensação da graça e da
Igreja, relata a evangelização dos povos do mundo através do
movimento apostólico e a grande revelação para o fim dos tempos.
Ter uma visão panorâmica é essencial para continuar se
aprofundando nos seus estudos. Dentro desse entendimento, vamos
agora ao Novo Testamento, o segundo tomo da Bíblia e que é
composto por vinte e sete (27) livros, sob a seguinte estrutura:

CATEGORIA NÚMERO DE LIVROS

Evangelhos Quatro (4) livros

Livros Históricos Um (1) livro

Cartas (Paulinas e Gerais) Vinte e uma (21) cartas

Livros Proféticos Um (1) livro

I Período intercanônico

Antes de nos aprofundarmos no estudo do Novo Testamento, é


importante saber que houve um intervalo entre os escritos do Antigo
e do Novo Testamento chamado de período intercanônico, que teve a
duração aprox imada de 430 anos. No último livro do Antigo
Testamento, Malaquias, através desse profeta, Deus ex orta Israel por
sua altivez e também cria a ex pectativa de um renovo da aliança
entre Deus e seu povo.

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II Língua

Embora o hebraico seja a língua do povo de Israel, era o


aramaico que se falava nos tempos de Jesus. O hebraico era um
“ idioma sagrado” , reservado para assuntos litúrgicos, como as
orações. Não era usado nas atividades sociais e comerciais comuns,
ademais, o Novo Testamento foi escrito em grego, que era o idioma
mundial corrente, usado no comércio do Mar Mediterrâneo.

Alex andre, o Grande (por volta de 360 a.C.), entendia que a


melhor forma de conquistar outra nação não era simplesmente
através do poderio militar, mas também através da cultura. O povo
conquistado militarmente precisava ser conquistado culturalmente,
assimilando a tradição do povo dominante. O império romano
replicava essa ideia de forma que os povos que eram dominados por
Roma, inevitavelmente, tinham contato com a língua do império. A
língua vernácula ainda era o latim, mas o próprio senado mantinha
seus discursos em grego, entendendo a importância da língua. Para
a ex pansão do cristianismo era estratégico ter seus tex tos em grego,
pois alcançariam mais pessoas e nações, até onde se estendesse o
império, se estenderia também a proclamação do evangelho. Por sua
força, o império romano absorveu a cultura e filosofia gregas.
Estima-se que por volta do ano 50 d.C o território alcançado era de 4
200 000 k m²

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O contex to histórico é muito importante para entender os livros


bíblicos. Como ex emplo do quanto a perspectiva cultural pode
enriquecer nosso entendimento, segue adiante, uma das possíveis
ex plicações para o “ peix e” como símbolo cristão:

Nos três primeiros séculos, os cristãos foram perseguidos pelo


império romano. Nesse contex to de perseguição, os cristãos
passaram a viver escondidos e criaram um modo de identificar outro
cristão, um deles desenhava um arco no chão ou em qualquer lugar
possível, se a outra pessoa entendesse e desenhasse outro arco,

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identificavam que ambos eram cristãos. Os dois arcos sobrepostos


formavam um peix e.

III Livros Sinóticos

A proposta dos sinóticos é ter diferentes livros contando


histórias iguais. Ex : Mateus, Marcos e Lucas. Eles não são idênticos,
mas contam as mesmas histórias, ex pressando percepções
diferentes. Os livros sinóticos são perspectivas distintas que nos
enriquecem. Segue abaix o um gráfico de semelhanças e diferenças:

Diferenças Coincidências

Mateus 42 58

Marcos 7 93

Lucas 59 41

IV Evangelho de Mateus

Ex istem algumas dúvidas sobre a autoria do livro, o debate é se


Mateus foi o próprio autor ou se ele foi a “ fonte” utilizada para o livro
ser escrito. O que sabemos é que Mateus foi um dos doze apóstolos
(Atos 1: 13) e um publicano (um sinônimo para coletor de impostos);
de acordo com Marcos 2:4, o livro foi escrito para cristãos judeus de
fala grega pois há mais de 100 citações ao Antigo Testamento,
promovendo uma transição para Novo Testamento - o escritor do
Evangelho de Mateus pressupõe que seu leitor esteja familiarizado
com o Antigo Testamento. Essas peculiaridades foram notadas pelo
teólogo Broadus David Hale, ele sugere a possibilidade de que a
palavra “ Leuin” , traduzida como “ Levi” em Marcos 2: 14 e Lucas 5: 27,

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seja mais bem ex pressa como “ levita” , indicando que Mateus


pertencesse à tribo de Levi, já que um Judeu ter dois nomes não era
impossível, mas pouco provável. Se essa posição estiver correta, isso
ex plicaria o fato de Mateus conhecer tão bem a tradição judaica e o
ambiente da cultura grega.

Data e propósito

Mateus foi escrito entre 65-75 d.C.

O Evangelho de Mateus mostra que seu alvo era o povo judeu, a


intenção do autor é demonstrar que Jesus é o Messias, o filho de Deus,
o verdadeiro Rei prometido por Deus e esperado pelo povo de Israel. O
tema do livro é o Reino dos Céus, e como os outros evangelhos, foi
escrito no momento de separação entre a igreja e a sinagoga. Nessa
separação ex istiam dois problemas, de um lado havia quem
estivesse usando a salvação pela graça como pretex to para viver
uma vida de promiscuidade, e do outro haviam os legalistas, que
impunham uma lista interminável de “ sim” e “ não” , como regras
para o viver diário. Mateus escreveu para combater os dois erros
gerados nesses ex tremos - o legalismo e o antinomismo. Ainda
podemos ressaltar o aspecto litúrgico do livro, escrito para preencher
as necessidades de adoração e leitura pública.

V Evangelho de Marcos

A maioria dos estudiosos afirma que esse é o livro mais antigo


dos quatro evangelhos, entende-se que Marcos é usado como fonte
para os outros evangelhos, tendo em vista que cerca de 95% do seu
conteúdo é usado por Lucas e Mateus (na contramão, apenas cerca

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de trinta versículos, dos 661 ex istentes no livro de Marcos, não


aparecem em Mateus e Lucas). O grego utilizado pelo autor é mais
rudimentar, em contraste aos evangelhos de Mateus e Lucas que
apresentam um grego mais refinado. Segundo Broadus David Hale,
“ Não se vai do bom ao pior” , assim justificando Marcos como o
evangelho mais antigo. Sua autoria é atribuída a João Marcos, filho
de Maria (não confundir com a mãe de Jesus), foi na casa de Maria
onde Pedro se abrigou depois de ter sido espancado na prisão e
conseguido fugir.

“ E, considerando ele nisto, foi à casa de Maria, mãe de


João, que tinha por sobrenome Marcos, onde muitos
estavam reunidos e oravam” . (Atos 12:12)

A prox imidade entre Marcos e Pedro, revelada nesse versículo, é


confirmada pelos pais da Igreja. Eusébio escreve que Marcos foi
intérprete de Pedro e que escreveu precisamente tudo o que lembrou,
mas não em ordem cronológica. Justino Mártir diz que o livro de
Marcos corresponde às memórias de Pedro. Clemente de Alex andria
afirma que Pedro ainda estava vivo quando Marcos escreveu e que
verificou a precisão da narrativa de Marcos. O autor do evangelho é o
mesmo personagem que Paulo e Barnabé levaram na chamada
“ primeira viagem missionária” (Atos 12: 25), pois era primo de
Barnabé.

“ Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes


saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé.

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Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se


ele for visitá-los, recebam-no.” (Colossenses 4:10)

(A versão Almeida Revista e Atualizada traz a palavra “ primo”


enquanto Almeida Corrigida e Fiel (mais antiga) traz a palavra
“ sobrinho” )

Na segunda viagem missionária, Barnabé quis levar Marcos


outra vez, mas Paulo não aceitou (Atos 15:39). No tex to de
Colossenses, citado anteriormente, Marcos é um dos cooperadores
do ministério de Paulo (Filemom 1: 24 confirma esse fato); em 2
Timóteo 4: 11 Paulo pede para Timóteo levar Marcos. Finalmente, a
passagem de I Pedro 5:12-13 relata que Marcos está com Pedro.

Data e Propósito

A datação e o local da escrita do livro de Marcos são alvo de


profundo debate e discordância, mas ousamos dizer que
provavelmente Marcos escreveu da Itália, em Roma, por volta do ano
65 d. C. De um lado, ex istia a necessidade do registro escrito do
evangelho, e do outro, se o livro foi escrito entre as mortes de Paulo e
Pedro, numa igreja perseguida surge a necessidade de uma
recompensa pela transmissão das boas-novas baseadas no
K erigma apostólico (mensagem pregada pelos apóstolos),
enfatizando a inauguração do Reino e a revelação do Filho do
Homem.

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VI Evangelho de Lucas

Lucas apresenta uma riqueza de vocabulário muito acima dos


outros evangelhos, sua gramática refinada e o estilo fazem crer que
o autor tinha o grego como língua materna e que seja considerado
por muitos como “ uma perfeita jóia grega” . O livro fala sobre alegria
como nenhum outro evangelho, dando ênfase ao Espírito Santo, além
de conferir proeminência às mulheres. Ainda é preciso destacar que
os livros de Lucas e Atos são dois volumes de uma única obra. Lucas
foi o companheiro de Paulo em suas viagens, chamado de “ o médico
amado” . Há referências sobre ele nos trechos a seguir:

“ Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e


traze-o, pois me é útil para o ministério.” (2 Timóteo
4:11)

“ Saúda-vos Lucas, o médico amado, e também


Demas.” (Colossenses 4:14)

“ Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus


cooperadores.” (Filemom 1:24)

Uma das evidências que mostra a parceria entre Lucas e Paulo é


a mudança para o pronome “ nós” por quatro secções em Atos. A
primeira em Atos 16:10-17, a segunda em Atos 20:5-1, a terceira em
Atos 21:1-18, e a quarta em Atos 27:1-28. Ao compararmos os
companheiros de Paulo, eliminando aqueles que são improváveis,

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nos certificamos tanto da autoria de Lucas quanto da parceria entre


ele e Paulo. Além disso, o conteúdo teológico aponta também nessa
direção, ex istem mais de 100 palavras que aparecem nos escritos
paulinos, que são encontradas apenas nos livros de Lucas e Atos, é
um número que não pode ser ignorado.

Ex iste um registro da tradição cristã, escrito por volta de 160-180


d. C. Tendo o objetivo de combater uma heresia chamada
Marcionismo, diz: “ Lucas é Sírio de Antioquia, um médico por
profissão, que foi discípulo dos apóstolos, e posteriormente
acompanhou Paulo até o seu martírio. Serviu ao Senhor sem cessar,
solteiro sem filhos, e dormiu com a idade de 84 anos na Beócia, cheio
do Espírito Santo.” ¹ Concluindo, o Evangelho de Lucas se distingue
pelo interesse nas relações pessoais entre pobres e ricos, judeus e
samaritanos.

Data e propósito

É datado por volta de 70 d.C. (depois de Cristo), quanto ao seu


propósito, o próprio início do livro nos oferece orientação,
primeiramente, tinha a intenção de dar certeza às pessoas daquela
comunidade, para que pudessem “ conhecer a verdade” ; em
segundo lugar, tinha a finalidade de apresentar um relato ordenado,
não em relação à cronologia dos eventos, mas especialmente sua
organização e estruturação da mensagem. No que diz respeito à
marcante divergência entre judeus e cristãos, Lucas visava
promover a comunhão entre os convertidos de origens distintas.
Finalmente, havia um problema enfrentado pelos cristãos de
segunda geração: a aparente demora na volta de Jesus - Lucas
escreve para que a “ consciência da parousia” (volta de Jesus) fosse
melhor compreendida.

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VII Evangelho de João

A simplicidade e a limitação do vocabulário em grego


contrastam com a profundidade teológica. De um lado se apresenta
a clareza marcante, ao passo que de outro uma infindável fonte de
sabedoria. Os críticos modernos tendem a serem bastante
resistentes em receberem o Apóstolo João como o autor do quarto
evangelho, apesar do tex to bíblico dizer: “ Houve um homem enviado
de Deus, cujo nome era João.” (João 1:6). Afirmam ser esse João algum
mártir da primeira geração de cristãos, entretanto, permanece a
tradição cristã de que o autor do Evangelho de João era judeu,
testemunha ocular de Jesus e era o próprio apóstolo. Por ter
participado da ceia e ser a única testemunha, entre os apóstolos, da
crucificação, esse evangelho nos revela a ocasião na qual Pedro
pergunta sobre o futuro do discípulo:

“ E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele


discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se
recostara também sobre o seu peito, e que dissera:
Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este,
disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe
Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que
te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre
os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de
morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria,
mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que
te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas
coisas e as escreveu; e sabemos que o seu
testemunho é verdadeiro” . (João 21: 21-24)

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Formação em Teologia

Afirmamos que a tradição cristã crê no testemunho do próprio


tex to, que diz que o autor é o mesmo discípulo amado.

Data e propósito

Foi escrito possivelmente na última ou penúltima década do


primeiro século, sendo o livro mais tardio. O próprio evangelho
declara o seu propósito de forma ex plícita:

“ Estes, porém, foram escritos para que creiais que


Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” . (João 20:31)

À época em que foi escrito, já começavam a surgir as primeiras


sementes do gnosticismo na sociedade da época. Embora também
seja dotado de narrativa histórica, o evangelho de João é
característico por sua intenção de combater o gnosticismo. Sendo
assim, era um livro com viés apologético, isto é, de defesa do
cristianismo. Ao mesmo tempo, tinha cunho evangelístico, visando
fortalecer a fé dos que já criam. As respostas teológicas oferecidas
por João, além de profundas, carregavam em si muito conhecimento
prático. Uma união completa de elementos teóricos densos e uma
linguagem tranqüila, voltada para o povo.

VIII Atos

É um livro histórico, e dos livros do Novo Testamento, Atos é o


único que visa apresentar uma narrativa dos fatos imediatamente

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Formação em Teologia

seguintes à morte e ressurreição de Cristo, os primeiros passos e


desafios. Se o evangelho prevê a igreja e as epístolas pressupõem a
Igreja, o livro de Atos faz uma ponte entre os evangelhos e as
epístolas. Sendo assim, esse livro foi escrito para descrever o
surgimento e o desenvolvimento da Igreja. A autoria, já mencionada,
cabe a Lucas, e foi escrito depois do evangelho, provavelmente na
década de 60 d.C.

Propósito

“ Uma narrativa de tudo que Jesus começou não só a fazer, mas


a ensinar” . A história apresentada em Atos não se reduz aos atos dos
apóstolos ou até mesmo aos atos da igreja. É preciso entender que as
ações e eventos narrados em Atos são necessariamente a
continuação das obras de Jesus, “ Lucas interpretou e escreveu sobre
os eventos para dar certeza a cada cristão daquela geração e, por
ex tensão, aos cristãos de todas as gerações, de que o movimento
cristão não resultou de especulações filosóficas humanas, de
interesse político, tão pouco de narrativas mitológicas ou lendas;
mas, de uma revelação do único Deus verdadeiro, demonstrando no
tempo e na história a iniciativa graciosa e amorosa de Deus em cada
etapa: seja na sua encarnação, no seu ministério, na sua morte, e na
ressurreição, a ex altação do Senhor Jesus Cristo” .

IX Cartas

Ao contrário do que se supõe, as cartas foram escritas antes dos


evangelhos. Os evangelhos foram escritos somente alguns anos
após o registro de todas as epístolas. As cartas foram escritas para
resolverem problemas teológicos, ou ainda questões práticas na

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Formação em Teologia

vida das comunidades que acabaram de nascer. Eram levadas ao


seu destinatário por alguém de confiança para que a carta pudesse
ser lida pela comunidade. Cartas eram usadas para a comunicação
comercial, oficial ou particular e também tiveram utilidade até
mesmo como uma espécie de anúncio público, “ cartas abertas” que
informavam ao público sobre itens dignos de nota.

Dois modelos se distinguiam: “ cartas genuínas” e as “ epístolas” .


A carta era pessoal e dirigida a uma pessoa em particular tratando
de uma questão específica, já as epístolas eram dispositivos
literários, tendo em vista uma audiência maior de leitores, sua
finalidade era ser publicada pois havia a intenção de que seus
argumentos fossem conhecidos - os tex tos bíblicos se enquadram
nas duas descrições. À época, o comum era uma média de 90
palavras, sendo que o normal das epístolas era por volta de 200
palavras. As cartas de Paulo tinham em média

1300 palavras; Filemom, a menor carta de Paulo, tem 335


palavras; Romanos, a maior, tem 7.101; Fica claro que as cartas de
Paulo eram endereçadas a pessoas e públicos específicos, mas a
universalidade e a profundidade de seus conteúdos fizeram com que
fossem consideradas verdadeiras composições literárias,
conhecidas como “ epístolas” .

Amanuenses

A maior parte das cartas foi escrita por escribas profissionais,


eles eram chamados “ amanuenses” , e cobravam pelo número de
linhas. De costume, a carta começava com o nome do remetente e
um título que o identificaria ao receptor, seguia uma saudação (os
judeus usavam “ paz” ). A carta era feita de papiro enrolado e escrita
com tinta de pouca qualidade, era necessário que o amanuense

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Formação em Teologia

usasse o tinteiro constantemente, e no fim do processo, o amanuense


cortaria o papiro no número equivalente ao de “ páginas” , depois
enrolaria e selaria com cera.

Cartas paulinas

As epístolas são divididas em dois grupos: Paulinas e Gerais,


sendo as primeiras escritas somente por Paulo e as últimas por
outros apóstolos. Vamos começar tratando das categorias entre as
próprias cartas paulinas. São treze (13) ao todo: Romanos, 1 e 2
Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e por último a epístola de Filemom.

Durante a segunda viagem missionária em Corinto, entre os


anos 49 e 52 d.C, Paulo escreveu I e II Tessalonicenses. No curso da
terceira viagem missionária, entre 52 a 56 d. C, quando se encontrava
em Éfeso, escreveu I Coríntios e a carta de II Coríntios foi escrita ainda
na terceira viagem missionária, quando estava na Macedônia.
Gálatas e Romanos escreveu estando na cidade grega de Corinto.

Durante o primeiro aprisionamento em Roma, por volta de 58-60


d. C, escreveu Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon; e as
epístolas pastorais, que são as duas cartas a Timóteo e uma a Tito,
foram escritas entre 62-65 d. C. Escreveu 1 Timóteo estando na
Macedônia e a carta a Tito pode ter sido redigida lá também (ou em
Corinto); por fim, 2 Timóteo foi escrita em Roma, pouco antes de sua
morte.

A carta aos Tessalonicenses é reconhecida por seu viés


escatológico, já as cartas da terceira viagem missionária, falam de
soteriologia (doutrina da salvação). Por sua vez, as cartas que Paulo
escreveu na prisão, ensinam sobre cristologia. Por uma questão

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Formação em Teologia

lógica e prática, as epístolas pastorais dão ênfase à eclesiologia


(ensinos sobre a igreja). Vale lembrar que muitas cartas tratam de
todas as doutrinas, a distinção é para fins de estudo e revela as
particularidades.

Cartas gerais

Como supracitado, foram escritas pelos outros apóstolos e são


oito (8) no total: Tiago; 1, 2 e 3 João; 1 e 2 Pedro; Judas; Hebreus. São
encíclicas, isto é, não foram endereçadas a uma igreja específica,
mas a todas as igrejas.

A epístola de Tiago é considerada literatura de sabedoria e


funciona no Novo Testamento como “ Provérbios” funciona no Antigo
Testamento.

Em I Pedro a palavra-chave é “ esperança” . Foi feita para os


cristãos que estiveram debaix o de pressão durante muito tempo e
ainda enfrentariam muitos desafios. Pedro ex orta aos seus leitores
que transformem suas esperanças em algo atraente para as pessoas
da sociedade em que vivem, dando conselhos práticos para ajudar
nas relações do dia a dia. Tanto em II Pedro quanto em Judas o
objetivo é a defesa da fé. Os autores se preocupam com os falsos
mestres, combatendo suas heresias e advertindo seus leitores do
engano e do estrago que estes produziam.

As epístolas joaninas também foram escritas com o propósito de


advertir os cristãos dos falsos mestres e suas heresias, que é um dos
sinais escatológicos, esses falsos mestres haviam sido membros da
igreja, mas são tratados como crentes ilegítimos e estão agrupados
debaix o do espírito do anticristo. As epístolas de João apresentam
quatro pontos em comum:

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Formação em Teologia

• Escatologia - A promessa da vinda de Jesus, a vida eterna, e o


dia do juízo como sendo atividade do próprio Cristo.

• Morte de Cristo - Apresentada como propiciatória, a morte de


Cristo é ensinada no evangelho de João para despertar a fé, ao
passo que nas epístolas foram escritas para aprofundar a
convicção do crente.

• Espírito Santo - É aquele que está presente no cristão. Nos


evangelhos o Espírito aparece, e nas epístolas é uma forma de
autenticar a ex periência da salvação.

• Centralidade de Cristo - No evangelho de João, Deus é


apresentado como Espírito ( O Espírito de Deus) enquanto na
epístola João se preocupa em apresentar Jesus Cristo como o
centro da nossa fé.

X Hebreus

O livro de Hebreus se diferencia dos demais livros da bíblia, tem


início como um tratado teológico, continua como um sermão e
termina como uma carta. O vocabulário se revela no melhor grego
literário do Novo Testamento e o conteúdo do tex to mostra que o
autor está bastante familiarizado tanto com o Antigo Testamento
quanto com a forma que era interpretada no primeiro século. A
autoria de Hebreus é alvo de muita especulação até os dias de hoje,
podendo ser Paulo, Lucas, Barnabé, Apolo ou Silvano, e, apesar de
muitas hipóteses, o consenso repousa na impossibilidade de
identificar o real autor.

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Formação em Teologia

Propósito

O livro foi escrito com o propósito de evangelizar Judeus não


convertidos, apresentando Jesus como o messias prometido de
Israel, além de advertir contra a apostasia e de ex ortar a maturidade
cristã.

XI Apocalipse

Encontramos três gêneros literários distintos em Apocalipse:


epístola, profecia e o próprio gênero apocalíptico. O Livro de
Apocalipse precisa ser visto como fonte de fé e motivação para os
cristãos na luta contra o sofrimento, pois o maior objetivo deste livro
é produzir “ esperança” no coração do cristão diante de desafios cada
vez maiores. A literatura apocalíptica pode ser considerada um
“ tratado para tempos difíceis” e surgiu em um momento onde a voz
profética estava escassa, com o propósito de dar direcionamento ao
povo. Buscava responder questões fundamentais, como o sofrimento
dos justos, e apontava para um tempo futuro onde Deus iria intervir
para julgar o mundo e estabelecer a justiça. É possível traçar
algumas características que diferenciam esse livro profético.

• Escatológica - por apontar para o futuro;

• Significação histórica - com o peso do sofrimento e da


perseguição, o Apocalipse mostra o significado da história e
sua direção.

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Formação em Teologia

• Defesa radical dos justos - Lembrando que estes eram, e


ainda são espremidos pelo sofrimento e perseguição, o livro é
uma resposta ao anseio dos escolhidos.

• Visões - são usadas como meio de revelação da mensagem.

• Simbolismo - ao invés do que o senso comum costuma


imaginar, o simbolismo em Apocalipse não tem o objetivo de
amedrontar o leitor, mas de ajudá-lo a compreender a obra
de Deus frente ao fim da história. O símbolo tanto serve ao fim
de ex pressar o significado de realidades espirituais, de forma
a serem mais facilmente assimiladas, quanto funciona como
barreira àqueles que não conhecem seus significados.

Ex istia naquela época um grupo chamado Concilia, formado de


oficiais romanos que andavam de cidade em cidade com o propósito
de promover o culto ao imperador. Dentre suas competências, esse
grupo ouvia as acusações feitas contra quem se recusava a dizer
“ César é Senhor” , esses eram levados para fazer a sua confissão em
público e sua resistência era punida com a morte. Durante esse
momento, localizado no primeiro século, vários templos foram
erguidos por todo o império, César Domiciano, ao se declarar a
personificação da deusa do império romano, foi o primeiro imperador
a forçar essas práticas de culto. João, movido pelo Espírito, escreve
às igrejas mostrando quem é o Senhor da História. Ele convocava o
povo de Deus a ter fé e esperança até o fim.

Não devemos perder de vista o tom profético do livro, as


profecias apontam para fatos reais que aconteceram no passado,
que estão se realizando no presente e que se realizarão no futuro, até

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Formação em Teologia

o fim da história. Esses eventos reais são descritos de maneira


simbólica, lembrando mais uma vez que essas profecias são dadas
por meio de linguagem simbólica, seria um erro terrível as interpretar
literalmente sem levar em conta seus profundos significados.

XII Datação

Depois do ano 50, as primeiras cartas que temos registro por


ordem cronológica são 1 e 2 Tessalonicenses. Logo depois veio
Gálatas, seguida de 1 e 2 Coríntios, continuando o registro veio
Romanos e, por fim, Tiago.

Na década de 60 vemos Efésios, Filipenses, Colossenses e


Filemom. Quando estamos chegando à década de 70 vemos 1 e 2
Timóteo e Tito; 1 e 2 Pedro aparecem ainda na década de 60, bem
como o livro de Hebreus.

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Formação em Teologia

Chegando à década de 70 temos o aparecimento do livro de Marcos,


seguido de Mateus, e no final da década de 70 registram-se Lucas e
Atos.

Na década de 80 vemos Judas, e na década de 90, Apocalipse,


João e às três epístolas de João.

Observe a próx ima figura que ilustra os livros do Novo Testamento:

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Lembre-se que as datas no período bíblico são alvos de profundo


debate, sempre havendo discordância entre os estudiosos e
historiadores. É ponto pacífico que sempre ocorrerão algumas
discrepâncias nas datas e justamente esse aparente problema
demonstra o valor histórico desses registros, a historicidade não é
uma ciência ex ata, como a matemática, nem por isso menos
verdadeira.

Notas:

1 - Citado em F.F. Bruce, The acts of the Apostle.

Bibliografia Sugerida:

HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento (Tradução de


Cláudio Vital de Souza- São Paulo: Hagnos,2001)

PRICE , Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ Randall Price e


H Wayne House; tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas
Nelson. 2020)

KLEIN, William W. HUBBARD JR, Robert L. BLOMBERG, Craig L (Tradução


Maurício Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017)

DOCKERY, David S. Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery;
tradução: Lucy Yamakami. Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. São Paulo:
Edições Vida Nova,2001)

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Formação em Teologia

Vida cristã: desenvolvimento - parte 01

I Desenvolvimento na Caminhada Cristã

Seja por inex periência, seja por conveniência ou mesmo por


dificuldades, muitos não dão a devida atenção ao desenvolvimento
prático de sua fé em Cristo, talvez porque tenha uma carga prática
maior do que teoria teológica, talvez por quaisquer motivos. Porém a
evolução da nossa espiritualidade é muito mais que leitura da bíblia
e oração, é sobre fazer essa leitura e oração desaguar em todos os
aspectos da vida para tornar-se um discípulo de Jesus, e essa é uma
matéria que não se pode ignorar. Sabendo disso, Cristo disponibilizou
seu Santo Espírito para que possamos crescer em graça, sabedoria,
santidade e caráter, e para que através do Evangelho consigamos
amar a Deus, através de Deus amar os outros e através dos outros ser
igreja; e unindo tudo isso, ganhar significado e propósito e perceber o
cotidiano se transformar em vida cristã.

II Início

A vida cristã tem dois lados, o lado de Deus e o lado do homem, e


ela começa no lado de Deus (na verdade, começou antes da
fundação do mundo), cujo papel é absoluto, na obra de Cristo, onde o
Senhor concedeu a salvação e assim nos proveu Sua parte do pacto
no processo de conversão (à vida cristã). Então, a parte concedida
por Deus na aliança é a parte que o ser humano não poderia realizar
para participar do Plano de Salvação - “ Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o Seu filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna.” (João 3:16).

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Formação em Teologia

Na outra ponta da aliança está o ser humano, que a partir de um


gesto de livre vontade, decide viver em obediência e fé, convertendo-
se a Cristo para ser totalmente dependente de Deus. O chamado do
Criador a essa conversão é para toda a humanidade, quando alguém
o atende dá-se início uma transformação que durará a vida toda,
tomará a vida inteira, começando no interior, para que, assim como
Jesus converteu água em vinho, esse mesmo Jesus converta nossa
natureza.

III O companheiro

A vida cristã não se limita apenas ao ato da conversão, que é, de


fato, a largada de uma longa corrida. Jesus afirmou que é o caminho,
a verdade e a vida; conhecer a Cristo, acreditar em seu sacrifício e
decidir viver com Ele, é a largada, para conhecer a verdade e sair da
escuridão. E, embora haja aflições (João 16:33) e o coração humano
seja enganoso (Jeremias 17:9), o Senhor intervém na caminhada
orientando nossos passos, por meio do Espírito Santo somos
atendidos em todo o trajeto, e por esse Espírito, podemos permanecer
no “ Caminho” , na certeza de que na pessoa do Espírito Santo, temos
um companheiro para cumprir o percurso e chegar ao destino.

“ Nos selou como sua propriedade e pôs o seu Espírito


em nossos corações como garantia do que está por
vir” . (2 Coríntios 1:22)

“ [...] quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito


eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus,

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Formação em Teologia

purificará a nossa consciência de atos que levam à


morte, para que sirvamos ao Deus vivo!” (Hebreus
9:14)

IV Práticas da vida cristã

Uma vez conhecida a verdade e traçado curso em direção à vida


eterna, é preciso dar passos firmes e certos ao longo do caminho, isso
pode aux iliar o crescimento e maturidade. O Espírito Santo atua no
homem como força motora, mas é responsabilidade do homem
caminhar e resistir às tentações no meio do caminho, não é tarefa
fácil, e envolve leitura bíblica e oração, para produzir uma vida
espiritual prática. Além disso, Deus é quem dá o crescimento, logo,
não há como crescer sem estar em contato com Ele - e é no diálogo
que temos esse contato, na oração, falamos, e na leitura da bíblia,
ouvimos - e a partir disso vamos sendo aperfeiçoados.

“ Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o


ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra” . (2 Timóteo 3:16, 17)

“ Com toda a oração e súplica orando em todo tempo


no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a
perseverança e súplica, por todos os santos.”
(Efésios 6: 18)

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Formação em Teologia

V Liberdade da Vida Cristã

Uma vida nova, livre de amarras e pecados, é a maior ex pressão


de liberdade que um cristão pode desfrutar. Essa liberdade é fruto da
maturidade e responsabilidade obtidas no relacionamento com Deus
e essa vida nova semeia um novo jeito de olhar, (re)agir,
compreender e sentir, enfim, um novo ser.

“ Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto,


permaneçam firmes e não se deix em submeter
novamente a um jugo de escravidão.” (Gálatas 5:1)

VI Consolidação

Consolidar, ou seja, cimentar a decisão pela vida cristã é um ato


simbolizado pelo selo do batismo, que é a forma de demonstrar
publicamente que agora caminha com Cristo, que terá sua vida cada
vez mais transformada e livre pelo poder do Espírito. Lembrando que
o batismo é a ex pressão ex terna de uma ação interna, isto é, a água
do batismo nos lava porque o sangue de Jesus nos limpou e ter essa
certeza pode consolidar nossa fé.

" Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado


em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus
pecados, e receberão o dom do Espírito Santo” . (Atos
2:28)

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Formação em Teologia

VII Família cristã

O batismo tem outro efeito público além de afirmar a fé em


Jesus, é a entrada na família espiritual de Deus, a igreja,
representada numa comunidade local de cristãos. Jesus definiu que
sua família é constituída de todos os que fazem a vontade do Pai,
onde Ele é o primogênito entre muitos irmãos. O “ recém-nascido”
terá na igreja (o Corpo de Cristo) uma família para compartilhar a
vida e uma fonte de abrigo, alimento e afeto.

“ Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que


está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe.”
(Mateus 12:50)

“ Não deix emos de reunir-nos como igreja, segundo o


costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos
outros, ainda mais quando vocês vêem que se
aprox ima o Dia.” (Hebreus 10: 25)

VIII Transformação contínua do caráter

É da natureza humana entrar em zonas de conforto, portanto, é


até esperado que a vida cristã, assimilada pela rotina, possa ficar
apática e fria. Porém, tendo em vista a importância da regularidade
da oração e leitura da Palavra, é muito importante não deix ar que a
vida cristã ganhe status de “ hábito entediante” , muito menos de
obrigação. A vida cristã em certa medida é um hábito, pois é
cultivada pelo poder de rotinas espirituais, a “ liturgia” , que é um
conjunto de práticas e princípios (oração, leitura e meditação nas
Escrituras, jejum, caridade) que emanam (d)a essência de Deus e

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Formação em Teologia

projetam o caráter de Cristo em nós. O aprimoramento do caráter


vem dessa forma litúrgica de encarar a vida.

“ No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do


seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais
estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos
que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados,
contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.
Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir
no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes,
tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça
da justiça; E calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar
todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete
da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;

“ Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica


no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e
súplica por todos os santos” (Efésios 6: 10-18, grifo
nosso)

IX Missão

Por último, e consequência dos anteriores, temos a missão, pois


todo aquele que busca viver em submissão a Deus, na verdade está
“ sob uma missão” . No Éden, em Gênesis, o ser humano recebeu a
ordem de cultivar o jardim e assim espalhar o Éden pela Terra.
Cultivar significa produzir cultura (daí a palavra “ agricultura” ),

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Formação em Teologia

portanto, a missão é buscar o Reino de Deus e levá-lo para a Terra e


aos outros, assim como outrora o Jardim foi cultivado pelo serviço
humilde do homem, que estava a cargo do cuidado das relações
humanas e da natureza. Hoje o jardim é o coração de cada pessoa e
novamente Deus chama o ser humano para “ cultivar e guardar” ,
semeando humildemente o Reino de Deus revelado em Jesus.

“ Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça,


e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”
(Mateus 6:33)

Bibliografia Sugerida:

Peter Singer, Vida Ética.

C.S. Lewis, Ética Para Viver Melhor.

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Vida cristã: fé em Cristo - parte 2

No capítulo anterior, vimos que a vida cristã tem seu início na


conversão. Por mais que seja um evento pontual dentro de uma
trajetória longa de vida, é de suma importância. A conversão diz
respeito à mudança de natureza de alguém e essa mudança não é
material ou biológica, mas espiritual. Quando Jesus disse que veio
para dar vida (João 10:10), Ele se referia à vida eterna, que transcende
nosso corpo de carne e osso e nossa própria mortalidade. Por ser um
aspecto distante de nossa realidade cotidiana, pouco a pouco
acabamos deix ando de lado esse aspecto da conversão. Por isso a
ação do Espírito Santo é tão importante, é Ele quem nos ministra a
natureza da conversão e nos aprox ima dessa nova natureza. A partir
de agora vamos tratar detalhadamente da conversão e os sinais que
a identificam.

I Conversão

Conversão está ligada, acima de tudo, com direção. Uma pessoa


nasce, cresce, e aprende, a partir da própria intuição e do ambiente
no qual vive, a ser humana. Ela tem um curso a seguir, e fica nesse
curso até se deparar com a Verdade, a qual tem o potencial de fazê-
la mudar completamente o curso. A conversão é o ato de decidir
mudar a rota, quando confrontado com a verdade única, na pessoa
de Cristo e na verdade do seu amor e sacrifício. No momento da
conversão, há uma alteração no percurso e a própria Bíblia usa a
imagem de uma caminhada para ex emplificar essa realidade:

“ Portanto, vede como andais...” (Efésios 5:15)

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Formação em Teologia

Tendo em vista que a conversão é uma completa mudança de


rota, e também uma transformação da natureza humana, é evidente
que esse evento será acompanhado de sinais que o caracterizam.
Destacamos dois nos próx imos tópicos a fim de buscar uma
ex plicação que sirva de ponto de referência para esse caminho novo.

II Fé em Jesus

Na vida de fé ex iste uma questão que somente pode ser resolvida


através do conhecimento da Palavra, a fim de que tenhamos paz na
alma pela confiança em Jesus, é necessário conhecê-lo para confiar,
e Ele se revela em seu Evangelho. Todavia, também é necessário
ampliar o conceito de fé, e para isso, vamos buscar um ponto de vista
teológico, porque a fé não é somente crer que Jesus morreu por nós,
mas a fé também passa pelo processo de conversão para se tornar
mais robusta e passar a ser o ato de confiar. Crer sem confiar é o risco
de ter uma vida cristã teórica e não ex perienciar a cristandade na
prática, que é a fé viva, em contínuo movimento e progressivo
crescimento.

Na tradição judaico-cristã, a noção de confiar se traduz no ato


do descanso. É como jogar-se sobre a cama após um árduo dia de
trabalho, sabendo que há tempo e possibilidade de dormir em paz
pois alguém cuida de tudo enquanto se repousa. A fé em Deus é
pacificadora. A fé é capaz de crescer no coração de toda pessoa
convertida, mas em quais situações a confiança se desenvolve? O
apóstolo Paulo ajuda a responder essa questão:

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“ Pelo qual também temos entrada pela fé a esta


graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na
esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas
também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que
a tribulação produz a paciência, e a paciência a
ex periência, e a ex periência a esperança.”
(Romanos 5: 2-4)

Nessa passagem inspiradora, o apóstolo admite que somente


por meio de lutas é que a fé é trabalhada no coração do cristão, o que
faz sentido, pois a necessidade de confiar em Deus surge diante de
incertezas e dificuldades, não fosse assim, não haveria motivo para
desenvolver a confiança. Sendo assim, a esperança e a confiança
não são meramente de que tudo vai dar certo, mas no amor de Deus,
independente do final, no amor de Deus. É isto que nos faz filhos de
Deus – confiamos em quem conhecemos, conhecemos em quem
temos crido, e normalmente, a pessoa em quem mais cremos é
aquela de quem “ nascemos” .

“ E a esperança não traz confusão, porquanto o amor


de Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5:5)

“ Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder


de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome.’’ (João 1:12)

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I Arrependimento

Arrependimento significa, recorrendo ao idioma original bíblico,


neste caso o grego, é possível chegar ao nível profundo da
mensagem do arrependimento. A palavra empregada é “ metanoia” :

Meta: transformação, mudança.

Noia: mentalidade, pensamento, entendimento.

Portanto, pensar que arrependimento é sinônimo de remorso


reduz drasticamente o sentido. Como se vê, os pensamentos são
maiores que os sentimentos, assim como a transformação vem pela
renovação da mente (Romanos 12:2). De fato, é da mudança dos
pensamentos que virão novos sentimentos e novas atitudes. Mudar o
pensamento é atacar o pecado pela raiz. A transformação radical da
mente é o caminho para a transformação da vida. Lembre-se que a
caminhada cristã sempre implica mudança de vida. Metanoia é uma
marca da conversão:

“ E não sede conformados com este mundo, mas sede


transformados pela renovação do vosso
entendimento, para que ex perimenteis qual seja a
boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.’’ Devemos
transformar nosso entendimento.” (Romanos 12:2)

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“ Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram


ensinados a despir-se do velho homem, que se
corrompe por desejos enganosos… ’’ (Efésios 2: 22)

Note que o comportamento cristão, conduzido pelos princípios


de Deus, é o maior efeito social da conversão. Uma pessoa que se
converte e continua vivendo a conversão, ou seja, uma vida de fé em
Cristo e de arrependimento, passa inevitavelmente a caminhar na
medida da perfeição de Cristo, em outras palavras, começa a
demonstrar, a partir de suas (re)ações, decisões e padrão de
comportamento, o Espírito Santo que habita em si, refletindo o
caráter de Cristo.

Por fim, é preciso ressaltar o lugar do homem e o lugar de Deus


na conversão, devemos ter cuidado para não gerar confusões. Não é
o arrependimento do pecado que gera salvação e fé em Cristo, mas é
a fé que gera o arrependimento. O homem não é capaz de produzir
arrependimento (metanoia) por conta própria, ele depende da fé que
é dada somente por Deus.

Enfatizamos que o arrependimento, para ser genuíno, deve ser


contínuo, pois o homem sempre possui dois caminhos à frente: seguir
a Cristo ou não seguir. Se optar por não seguir, ele volta ao seu
caminho prévio, onde não havia espaço para arrependimento. A fim
de continuar andando no caminho de Cristo, deve continuamente se
arrepender porque conversão não é um ato, mas sim, um processo
diário.

“ Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto


não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”
(Efésios 2:8,9)

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Formação em Teologia

Bibliografia sugerida:

SINGER, Peter. Vida ética

LEWIS, C.S. Ética para viver melhor

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Vida cristã: o amor de Deus - parte 3

I Buscando a Deus

Crescer no conhecimento de Deus não é apenas algo intelectual,


não é apenas estudar coisas. É mais. E por mais que o aprendizado da
teologia seja de imenso valor, enfatizamos que Deus não é um objeto
de estudo. Para entender Sua natureza é necessário saber quem é
como pessoa, porque se precisamos nos relacionar com pessoas
para conhecê-las, tanto mais para com o Eterno. Trata-se de uma
relação profunda e íntima com Deus e sabemos que a palavra
aliança, por si só, implica em dois lados. O amor de Deus chega ao ser
humano cujo papel é viver esse amor. Mas a verdade é que nós
jamais vamos alcançar o amor do Pai, é o amor dEle que nos alcança,
é Ele quem vem ao nosso encontro, ex pressa sua graça e nos cativa.
Deus sempre será aquele que fará o primeiro movimento no
relacionamento conosco.

A grande questão é que desde que o pecado passou a fazer parte


da vida humana, o homem tem buscado, sem sucesso, um amor
perfeito, que venha suprir todas as suas necessidades. Um grande
escritor já disse: “ Há no homem um vazio do tamanho de Deus” , e
desde a queda essa é a profunda condição humana, que é incapaz de
encontrar satisfação em si mesmo ou nas coisas do mundo. O grande
dilema humano é procurar um amor perfeito e infinito em pessoas
imperfeitas e coisas passageiras, todavia, apenas Deus é perfeito e
eterno.

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Formação em Teologia

II Carência e decepções

Muitas vezes acabamos buscando o amor em coisas, e a vida


começa a se tornar em uma disfunção muito grande. Mas o que
precisamos reconhecer é que nossa necessidade de amor não vai ser
suprida desta forma. Apenas o amor de Deus pode suprir a carência e
dar plenitude. Quando crianças, buscamos o amor dos nossos pais,
mas à medida que crescemos isso não é mais suficiente e buscamos
o amor de colegas de turma, amigos, romances até o fim da vida. Em
muitos casos as relações têm o prazo de validade determinado pelo
nível interesse ou pela vantagem(s) que produz e objetificam as
pessoas nessas relações carnais desumanas. Porém, a necessidade
de pertencer e ser amado fala mais alto, levando a mudanças de
comportamentos, temperamento, opiniões, gostos e tudo o mais que
for necessário para ser apto ao amor alheio, o que resulta em
frustração, decepção, desilusão e danos emocionais.

Pais, cônjuges, filhos, amigos, profissão, religião, futuro, as


ex pectativas que são colocadas em pessoas (e até mesmo em
animais de estimação), relações e sentimentos, coisas e
acontecimentos precisam ser refletidas e orientadas porque o não
cumprimento pode desapontar e criar amargura. A satisfação
idealizada não pode ser saciada na terra porque a plenitude habita
em Deus.

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Formação em Teologia

III Alcançando o amor perfeito

Frequentar uma igreja e participar de sua agenda são coisas


necessárias e um ótimo começo, mas o que Deus tem para nós vai
além. Religiosidade e teologia são véus que precisam ser
atravessados para se conhecer a Deus, pois é a intimidade do
convívio em amor que traz a vida abundante que Cristo prometeu, ou
seja, uma vida plena, harmoniosa, equilibrada, satisfeita e feliz. No
batismo de Jesus, antes dele iniciar seu ministério, Deus já o amava
e isso mostra que a obra de Jesus não é uma tentativa de conquistar
o amor do Pai, é uma resposta ao amor já recebido. A voz do céu se
referia a Jesus, mas também a todos aqueles que se tornaram filhos
a partir dEle, e esse amor não veio por mérito. Não foi algum ato que
deu orgulho a Deus e o compeliu a dizer essas palavras, foi assim com
Cristo, e passou a ser assim conosco, o amor perfeito que não
corrompe a identidade, antes a define, não distorce a personalidade,
antes a resgata. E apesar das falhas e pecados, se você é salvo por
Cristo é alvo do amor de Deus, e se ainda não é, Ele aguarda.

“ E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que


se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus
descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que
uma voz dos céus dizia: este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo.” (Mateus 3:16,17)

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Vida cristã: gratidão - parte 04

I Agradecer

Continuaremos falando sobre a importância do conhecimento


de Deus, tanto teológico quanto afetivo. Já entendemos que é Deus
quem vem ao nosso encontro, independente dos nossos erros,
porque Ele é amor e nos ama sem pedir nada em troca nem julgar
segundo os nossos pecados, Ele apenas ama pois Deus é amor (1 João
4:8), e a nossa resposta sempre deve ser a gratidão.

Numa oração, o rei Davi fala: " Senhor, o que nós podemos te dar?
Porque tudo vem das tuas mãos, nós apenas devolvemos o que o
Senhor nos deu." Essas palavras demonstram que não ex iste nada
que possamos oferecer a Deus pois o Seu amor é autossuficiente. Na
verdade, quando damos é porque já recebemos e não há como
retribuir. Podemos apenas agradecer com devoção por tudo aquilo
que Ele tem nos dado porque a gratidão, além de nos proteger da
amargura e do vitimismo, mostra que percebemos o cuidado de
Deus.

II Retribuir

Enquanto gratidão é reconhecer, retribuição é corresponder, isto


é, retribuir é agir em resposta. É importante lembrar que, mesmo
quando estamos retribuindo o amor que recebemos, estamos
ganhando porque Deus sempre se agrada ao ver seus filhos se
dedicando e buscando Sua presença. Outro fato é que nunca vamos
conseguir retribuir todo o amor que recebemos, mas Deus simplifica
as coisas, Ele não espera que eu dê algo a Ele, Deus se alegra e se

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Formação em Teologia

comove com o sentimento de gratidão dos seus filhos. Observe a


passagem do salmista.

“ Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há


em mim, bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha
alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de
seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas
iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades,
Que redime a tua vida da perdição; que te coroa de
benignidade e de misericórdia," (Salmos 103:1-4)

Essa passagem fala sobre a graça infinita de Deus sobre nossas


vidas. Ele nos cobre de bondade diariamente e nos olha sem
cobranças. Vemos aqui uma convocação para uma vida de gratidão,
não apenas momentos, mas um sentimento perene. Toda força que
possuímos, toda vitória que conquistamos, toda a vida que
desfrutamos, é graças a Deus, por isso devemos constantemente
agradecê-Lo.

Nota Pastoral

Uma vez, num banho, lembrei de uma época em que eu quase


não tinha água. Naquele momento me ajoelhei e agradeci a Deus por
ter me concedido uma água tão boa. Assim devemos agir, em
gratidão por todas as coisas, pequenas e grandes, que Deus nos dá.
Lembre-se: não há nada tão grande que Deus não possa fazer, e nada
tão pequeno que Deus não possa se importar.

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Formação em Teologia

O Senhor abomina orgulho, mas a gratidão aperfeiçoa nosso


relacionamento com Deus por mostrar que reconhecemos Sua graça
e amor, quanto antes se começa a ex ercitar a gratidão, mais motivos
para ser grato surgem. Desde as coisas grandes e notáveis até as
coisas mínimas e invisíveis. A gratidão retira do homem a
autossuficiência e o coloca sob a proposta do Pai, que é a
dependência total, humildade absoluta e o entendimento de que
tudo vem dEle.

III Convocações

Ainda na esteira do Salmo 103, notamos duas convocações já


nos primeiros versos.

• Primeira convocação: " bendize ó minha alma ao Senhor"

• Segunda convocação: " e tudo que há em mim, bendiga o


Seu santo nome"

Como alcançar a vida prática das palavras entoadas pelo


salmista? Gratidão vai além de louvores e orações. Com intuito de
responder esta questão, vamos a mais um tex to bíblico.

" Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus


em Cristo Jesus para convosco." 1 Tessalonicenses 5:
18

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Formação em Teologia

Dar graças em tudo se refere a uma forma de viver, agradecendo


quando as coisas vão bem e também quando vão mal. Tratando com
amor as pessoas que nos maltratam, pois o mandamento do Senhor
instrui que não devemos pagar o mal com o mal. Refletindo no fato de
que muitas vezes maltratamos a Deus, que nos aceita mesmo assim.
Por isso, devemos nos esforçar ao máx imo para tratar as pessoas
com esse mesmo amor. Quando agimos dessa forma,
ex perimentamos um novo padrão de vida.

• Terceira convocação: " e não te esqueças de nenhum só


dos teus benefícios"

Nunca devemos esquecer que nosso Deus sempre nos beneficia


e nEle não ex iste mal. O tex to ex orta para que nos lembremos dos
benefícios, pois a tendência humana é esquecer as bênçãos de Deus
e ao menor sinal ruim começamos a questionar Deus, como se só
passássemos por sofrimentos, esquecendo de todos os momentos
bons. Asafe, salmista e ministro do templo, no Salmo 73, ex pressa seu
descontentamento com a vida boa e despreocupada dos ímpios, ao
passo que os adoradores de Deus só passavam por dificuldades. Isso
aconteceu porque ele deix ou de se concentrar nas coisas boas que
aconteciam na sua vida, mas a gratidão só é verdadeira quando
inclui as coisas ruins:

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Formação em Teologia

"Sabemos que Deus age em todas as coisas para o


bem daqueles que o amam, dos que foram chamados
de acordo com o seu propósito." (Romanos 8:28)

IV Exercício

Faça uma lista de todos os benefícios na sua vida (família,


amigos, trabalho, salário, igreja, lazer, etc). A seguir, pense sobre a
medida de gratidão por cada item, e veja se a sua gratidão tem o
mesmo tamanho do benefício que cada um dos itens te proporciona.
Avalie-se e perceba o quanto você é (in)grato.

" Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara


todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da
perdição; que te coroa de benignidade e de
misericórdia, que farta a tua boca de bens, de sorte
que a tua mocidade se renova como a da águia."
Salmos 103: 3-5

Por vezes, pensamos que Deus está nos cobrando, mas Ele só
busca amar, por mais difíceis que sejam seus filhos, cobrança e culpa
são frutos da natureza humana e acusação, segundo as Escrituras,
vem do próprio satanás e não é da natureza do nosso Pai que,
curiosamente, no Antigo Testamento, é chamado de Pai apenas 8
vezes, enquanto no Novo Testamento é chamado de Pai 272 vezes.
Podemos buscar conhecer melhor nosso Pai, Ele nos conhece muito
bem.

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Formação em Teologia

“ Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso


respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de
mal, para vos dar o fim que esperais. Então me
invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E
buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes
com todo o vosso coração.” (Jeremias 29:11-13)

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Formação em Teologia

Bibliografia sugerida:

DUEWEL, Wesley L., Em chamas para Deus. (Editora Candeia.1994)

YANCEY, Philip D., Maravilhosa graça. (Editora Vida. 1997)

YANCEY, Philip D., O Jesus que eu nunca conheci. (Editora Vida.


2004)

YANCEY, Philip D., A Bíblia que Jesus lia. (Editora Vida. 2000)

CRABB, Larry, Chega de regras. (Editora Mundo Cristão. 2002)

JACOBSEN, Wayne, e COLEMAN, Dave, Porque você não quer mais ir à


igreja (Editora Sex tante. 2009)

K IVITZ, Ed René, Outra espiritualidade (Editora Mundo Cristão. 2006)

PARANAGUÁ, Glenio Fonseca. Religião – uma bandeira do inferno


(Editora Ide Ltda. 2007)

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Vida cristã: a paternidade de Deus - parte 5

I Relacionamento

Vamos dar início aos estudos lendo um dos salmos que


consideramos dos mais especiais, dentre tantos, a fim de abordar a
paternidade de Deus. Esse tex to, por si só, já desmistifica toda a ideia
medieval onde Deus era apresentado como um terrível juiz, cuja
atribuição era meramente condenar e punir. Infelizmente, em pleno
século XXI, essa noção distorcida continua sendo ensinada, gerando
um pensamento errôneo. Ademais, muitos líderes, por diversas
razões, também ministram, a partir desse entendimento, na vida dos
membros da igreja. Tal conceito equivocado acaba gerando um
efeito reverso, inibindo as pessoas de terem um relacionamento
aprofundado com Deus e não permitindo que Ele seja conhecido
como realmente é. Devemos romper estas barreiras para criar
vínculos reais com Ele, e para isso, é de ex trema importância ter a
visão acertada de Deus, no momento da leitura das escrituras. Ele é
um Pai de amor, bondade e misericórdia.

II Deus: Pai de amor e misericórdia que vai ao encontro de seus filhos

" Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em


mim, bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha
alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de
seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas
iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades, que
redime a tua vida da perdição; que te coroa de
benignidade e de misericórdia..." (Salmo 103:1-4)

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Formação em Teologia

Aqui podemos ver que Deus é o Pai de amor, que coroa os filhos
com sua graça, que vem ao seu encontro, mesmo que os seus filhos
não correspondam. Quando nos deix amos ser achados, surge uma
relação maravilhosa, a ex periência de uma aliança efetiva e,
principalmente, afetiva, o que faz com que Sua misericórdia perdure
por milhares de gerações, mas Seu juízo dure apenas um dia (Salmo
30:5). Deus é a essência do próprio amor e quer ex ercê-lo em nossas
vidas. Sendo assim, quando ler, orar ou qualquer ato relacionado a
Deus, saiba que está indo ao encontro de alguém que te ama
infinitamente e quer o melhor pra você mais que qualquer um. É
tempo de deix ar para trás o legalismo e abandonar a noção de que
Deus só abençoa mediante obediência temerosa e rigor absoluto.
Deus conhece nossas fragilidades e nos ama acima delas.

" Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos


recompensou segundo as nossas iniquidades." (Salmos 103:10) Deus
não nos trata como merecemos e nem atribui a nós o peso dos nossos
pecados, pois se assim fosse, muito provavelmente não estaríamos
aqui. De fato, Ele não age conosco por nossa medida. O Ser Perfeito
não vai agir à maneira do imperfeito, ex atamente porque Ele é sem
mácula, em sua plenitude é impossível para Deus realizar qualquer
coisa fora da perfeição, imperfeitos somos nós. Quando fazemos algo
que o desagrada e sentimos o peso de nossas ações, podemos até
pensar que é a mão dEle pesando, mas Deus não atua assim. É
imperativo lembrar que Deus não nos trata de acordo com o que
fazemos, mas conforme quem Ele é, lidando com todos a partir do
amor e da misericórdia. Ele não guarda ressentimentos; não tem uma
lista dos nossos erros, Ele não age assim, mas infelizmente, nós
agimos assim, e isso faz com que tratemos as pessoas da seguinte
maneira:

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Formação em Teologia

• Afastamento: evitar a pessoa, sem agressividade. De


todo jeito, isso implica ex cluí-la do convívio.

Anotamos com tristeza que, na história da Igreja, a descoberta


do pecado resultava em completa ex clusão do pecador da
congregação. Essas pessoas saíam feridas e traumatizadas, olhando
para o Senhor como um Deus de juízo que não perdoa. Tudo porque a
igreja da época não sabia lidar com essas coisas, ela ainda não
entendia que seu papel é restaurar vidas e ajudar as pessoas.

• Violência: é como os Fariseus agiam (apedrejando quem


pecava), agressões físicas, verbais e além.

No caso da mulher adúltera, Jesus disse " Quem nunca pecou que
atire a primeira pedra" , fazendo com que os que estavam ali
largassem as pedras. Importante lembrar que Jesus não apoiou o
pecado, porque Deus abomina o pecado. Todavia, Jesus revelou em
si a paternidade de Deus e devemos seguir Seu ex emplo, não tentar
prejudicar aqueles que nos decepcionam. Nosso problema é pôr
muitas ex pectativas sobre as pessoas, pensando que elas serão
sempre perfeitas, mas ninguém é.

Evitar pessoas por erros cometidos indica que você ainda se


alimenta de frustrações, isso não é diferente de pessoas que se
alimentam da raiva ou vitimização, intox icando as relações. O mais
grave de tudo é assumir a posição de juiz em causa própria. Deus quer
uma comunhão íntima e profunda, mas para isso

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Formação em Teologia

Ele não vai se alimentar das coisas ruins que fazemos, pois Ele é
perfeito, pleno e suficiente para que nada que façamos cause
afastamento.

É comprovado pela Psicologia que ex istem pessoas que sentem


prazer em manter a raiva e a frustração porque assim elas se sentem
mais “ empoderadas” na hora de tomarem decisões. Por vezes, Deus
se ira contra as atitudes dos homens, Ele tem poder para destruir
nossas vidas, mas não o faz, pois é diferente de nós.

III Deus, a justiça e a questão do pecado

Pecamos diariamente, muitas vezes sem perceber (e muitas


vezes de propósito), mas Deus é santo, e santidade não convive com
pecado. Com a finalidade de aplicar ao mesmo tempo, amor, justiça
e graça, Deus enviou Jesus Cristo para que toda nossa injustiça fosse
remida na pessoa do seu santo Filho.

IV Isaías

Um dos muitos tex tos bíblicos referenciando esse entendimento


encontra-se em Isaías 53, onde o profeta fala que Jesus tomou sobre
si nossas dores e enfermidades; o castigo que era para nós foi
depositado em Jesus; devido a todo juízo que caiu sobre Ele, nós
fomos sarados. Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, ou
seja, quem pagou e recebeu o juízo foi Jesus, moído por causa das
nossas iniquidades. Por Suas pisaduras fomos sarados e se hoje
desfrutamos a paz, é por causa dEle. Por isso que, em Cristo, feitos
filhos de Deus, podemos olhar para Ele de uma maneira diferente,
pois Deus nos vê filhos. Assim podemos desfrutar da Sua graça e
amor. Esse é o fundamento para que você não permita uma cultura

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Formação em Teologia

de julgamento e legalismo. Deus já julgou nossos pecados e agora


descansamos na Sua graça. Não por mérito nosso, mas por escolha
de Deus, nossos pecados foram apagados e essa é a graça de Deus
que recai sobre nossas vidas.

V Conclusão

Voltando ao tex to do início da lição, vemos que o salmista fala


que o amor de Deus por seus filhos, aqueles que querem conhecê-Lo
e que O temem, é como a distância da terra e do céu. É um amor sem
limites e maravilhoso.

“ Pois assim como o céu está elevado acima da terra,


assim é grande a sua misericórdia para com o que o
temem.” (Salmo 103:11)

O verso 12 fala que Ele afasta de nós os nossos pecados, assim


como o oriente do ocidente, não ex istindo barreiras que O impeçam
de abençoar. O verso seguinte fecha o salmo de maneira
maravilhosa, declarando que o Senhor é como um pai para seus
filhos, compassivo e misericordioso, um Deus de amor. Nenhuma
relação humana pode ser comparada com a relação de Deus com
cada um de nós.

Para Refletir:

Pense que você tem dois filhos, um é bagunceiro e o outro muito


organizado, um só tira notas baix as e o outro, notas altas. Nesse caso,

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Formação em Teologia

você amaria um mais do que o outro? Não, pois o amor será igual. Na
verdade, você vai dar ainda mais atenção para aquele que precisa de
mais ajuda. Tal é a natureza do amor. Não se ex pulsa um filho de casa
só porque ele reprovou na escola, ou teve uma atitude de raiva. O
amor humano é um reflex o longínquo do amor de Deus. Afinal, Deus
nos ama como um pai perfeito, e jamais rejeitará aqueles que
buscam a Sua presença. Por isso, quando for ter um momento com
Deus, enx ergue-O pelas lentes corretas, como a Bíblia O apresenta. É
importante lembrar que o plano de Deus não é somente para que
fiquemos cheios de amor até ex plodir. Devemos compartilhar desse
amor com outras pessoas para que alcance seu propósito.

" Se guardares os meus mandamentos, permanecereis


no meu amor; do mesmo modo que eu tenho
guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço
no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo
permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. O
meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos
outros, assim como eu vos amei." (João 15:10-
12)

Quando a grandeza do amor de Deus é compreendida, surge a


necessidade e o desejo de iniciar a tarefa de espalhar esse amor para
aqueles que mais precisam; sem julgamentos e méritos. Que
possamos enx ergar Deus de outra forma, livres do medo e culpa,
sabendo que somos completamente livres em Cristo Jesus, para
estar aberto a receber o amor deste Pai, que ama desde a eternidade.

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Formação em Teologia

Bibliografia sugerida:

DUEWEL, Wesley L. Em chamas para Deus (Editora Candeia. 1994)

YANCEY, Philip D. Maravilhosa graça (Editora Vida. 1997)

YANCEY, Philip D. O Jesus que eu nunca conheci. (Editora Vida. 2004)

YANCEY, Philip D. A Bíblia que Jesus lia. (Editora Vida. 2000)

CRABB, Larry. Chega de regras. (Editora Mundo Cristão. 2002)

JACOBSEN, Wayne, e COLEMAN, Dave. Por que você não quer ir mais
à igreja. (Editora Sex tante. 2009)

PARANAGUÁ, Glenio Fonseca. Religião- uma bandeira do inferno


(Editora Ide Ltda. 2007)

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Ética Cristã: Conceito - Parte I

Ética e Moral - Conceito

O primeiro passo para pensar em ética cristã é definir o


conceito de ética e moralidade. Ética é uma construção abstrata. É o
que ex iste no subsolo, é a raiz, constituída de nossos princípios e
valores. A ética fundamenta todo nosso crescimento. A ética é o
princípio que organiza tudo aquilo que a sucede. Enquanto a moral é
uma construção visível. Se a ética é a raiz, a moral é a árvore, o que
sobe, o que rompe o solo e aparece. A moral é demonstrada a partir
de nossa conduta nos relacionamentos em cada área da vida.

Um ex emplo complex o e perto de nós, brasileiros, é a


criminalização da moral. Se ex iste um padrão moral A, e um padrão
moral B, obviamente, tudo que não fizer parte de um padrão será
crime no outro. Por mais que discordemos, ética e moralmente, essa
criminalização da moral é muito perigosa em qualquer
sociedade. Falar de ética diz respeito à fundamentação de princípios,
isto é, aquilo que a regula. A moral, por sua vez, é prática; mostra em
ações quais são esses princípios e como surgem em nossas relações
cotidianas.

lI Uma Visão Histórica

Houve um momento da história ocidental no qual as leis morais


eram indiscutíveis. Durante muito tempo, o cristianismo serviu como
fornecedor de ideias para que o ocidente se organizasse de tal
maneira que, se você perguntasse a um ladrão o que era certo e
errado, ele saberia lhe dizer. Já que as leis morais eram indiscutíveis,
todo mundo se adequa a elas. Hoje a sociedade começa a entender

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Formação em Teologia

que, quando acontecem falhas, talvez não seja erro do ser humano,
mas dos sistemas, ou seja, as leis. No momento atual, o pensamento
humano não busca averiguar ou refletir sobre as falhas pessoais,
pelo contrário, passa a refletir sobre a validade das leis, se essas leis
são adequadas ou não. Vemos uma divisão clara, ex pressa em dois
eix os:

Eixo I

Sendo as leis imutáveis, quando ocorria um erro que causasse


sofrimento às pessoas, caberia a elas buscar algum tipo de
adaptação, em outras palavras, não havia nada de errado com as
leis, então não havia motivos para as modificar.

Eixo II

As leis podem mudar. É possível questionar a validade da lei.


Quando ex istem problemas, as pessoas deix am de buscar a causa
em si mesmas e transferem essa responsabilidade para a lei.

III Evitando extremos

Ao longo das nossas conversas, veremos que os dois sistemas


têm falhas porque (re)pensamos sobre qual a profundidade dessas
leis e qual é a relação das pessoas com a lei. É impossível resolver a
questão recorrendo somente a um desses eix os. É muito simples dizer
que o problema está na lei ou que o problema está somente nas
pessoas. A relação é mais complex a do que isso e o estudo da ética
fará com que a (nossa) vida cristã não caia nessas armadilhas.

De certa forma, a ética é o nosso esforço, nosso trabalho para


estabelecer aquilo que é certo e errado, mesmo para quem não é

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Formação em Teologia

religioso. Não importa se a pessoa acredita ou não em Deus, todos se


esforçam e trabalham por aquilo que acreditam ser certo. O
compromisso ético de cada um se trata de um esforço onde
estabelecemos o que é melhor e desejável.

Contrapondo a lei e a ética, a lei moral tem a ver com a


organização, isto é, a codificação dos interesses do indivíduo no
poder. O pensamento atual ensina que a moral surge quando um
grupo de pessoas organiza o que é mais interessante e estabelece um
padrão moral (de conduta). Esse conceito também encontra
algumas dificuldades.

lV Desafios na Ética

Em nosso caminho, entendemos que o ser humano é desafiado a


decidir. O livro “ Ética da Decisão” , de George W. Forell, ex plica que a
questão básica do porquê precisamos de ética é: o ser humano
decide o tempo todo. Antes de tomar as nossas decisões (com quem
casar, que emprego escolher, onde morar) ex iste uma ética que
normatiza as nossas escolhas. Essa ética pode ser consciente ou
inconsciente. Quanto mais você percebe sua ética, mais fica claro o
porquê de determinada decisão que você toma.

Alguns têm em comum o seguinte pensamento, dizendo que o


ocidente é cristão devido à grande influência da ética cristã. Eu
discordo desse pensamento. Não há como afirmar em absoluto que o
ocidente todo foi convertido ao Cristianismo. É muito incoerente
trazer isso como verdade. O que se pode afirmar com precisão é que
a ética cristã organizou e influenciou o ocidente de uma forma sem
precedentes na história da humanidade. A organização de estruturas

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Formação em Teologia

políticas, públicas e de família, foram organizadas a partir de uma


ética cristã.

V Ética Cristã Hoje

Ex iste um questionamento dessa ética, do porquê viver


subordinado a uma ética que não é nossa. A sociedade começa a
reivindicar outros padrões possíveis em relação à ética e por qual
razão eles decidem. Nesse mesmo aspecto, é muito comum
percebermos que a ética é privada, ou seja, em vez de ex istir uma
única ética religiosa, a ex emplo do judaísmo, do hinduísmo e do
budismo, ex iste um padrão central, o qual guia e normatiza a ética de
uma vida. Atualmente, temos a fragmentação da ética. Por ex emplo:
“ negócio é negócio” , isso significa que ex iste uma ética para ser
adotada nos negócios; “ política é política” , há uma ética da política
que não cabe em outra área; “ educação é educação” ; “ arte é arte” ,
etc.

Então, começamos a criar núcleos, nos quais só vale um sistema


de ética. Na vida privada, por ex emplo, quando eu vou para minha
casa, reina uma outra lógica, um outro tipo de perspectiva. Não ex iste
mais um fundamento que guia toda minha vida, pois em cada lugar
que vou, utilizo um tipo de ética que julgo ser mais conveniente,
desenvolvendo assim valores e regras particulares.

➔ Cuidado

A maior diferença entre o período anterior e o período atual é que


antes as coisas boas e ruins tinham essa ética, que era integradora e
organizava toda a vida. Agora possuímos uma ética fragmentada e,
consequentemente, uma fé fragmentada. A tendência atual é

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Formação em Teologia

separar as coisas em compartimentos. É muito importante entender


que a vida cristã precisa ser uma lente, uma forma com a qual vamos
enx ergar toda a nossa vida. Ser cristão significa olhar para todas as
coisas a partir de Jesus Cristo, a partir do evangelho e da mensagem
da cruz. Ser cristão significa ser definido por uma lógica ética que
trará a decisão e a defesa de determinadas coisas. Quanto mais frágil
for a nossa ética cristã, mais negativamente serão afetadas as
nossas decisões por outros conceitos. Muitas vezes acabaremos não
decidindo como cristãos, mas por qualquer outro meio ou padrão
ético. A questão básica em relação à vida cristã e a ética é,
justamente, reconhecer que a ética organiza e dá significado
orientador para saber onde iremos, é nossa bússola.

VI Fenômenos Modernos

Primeiro fenômeno:

Pessoas que frequentam uma igreja, mas não tem ética cristã,
ou seja, não tomam decisões a partir de valores cristãos. A vida
dessas pessoas não está organizada a partir desse conjunto de
significados cristãos. Para ela, esse conjunto de valores não nasce a
partir do Evangelho e da Cruz.

Segundo fenômeno:

Pessoas que não frequentam uma igreja, mas tem uma ética
cristã viva. Não é uma questão de serem cristãos ou não, estamos
abordando a ética. Essas pessoas não frequentam a igreja, mas
organizam sua vida a partir de uma raiz de pensamento cristã. São
aquelas pessoas que, ao vermos, comentamos: “ Fulano é tão

96
Formação em Teologia

bonzinho, só falta ser crente” . O que queremos dizer é que o Fulano


tem uma ética cristã. Ter uma ética cristã não é a mesma coisa que
ser um cristão, mas é uma matriz de pensamento que organiza a
vida.

Terceiro fenômeno:

A pessoa frequenta igreja, mas tem um sistema ético plural.


Hora ele decide como um ateu, hora ele decide como hindu, hora ele
decide como budista e hora ele decide como cristão. Apesar de muito
sincero, a ética dele é fragmentada.

É um prejuízo muito grande não entender a profundidade da


ética cristã e o quanto ela pode organizar a vida de uma maneira
simples, lógica e poderosa. De qualquer forma, o homem não escapa
da sua liberdade e, estando condenados a ser livres, somos
obrigados a decidir o tempo todo. Vários autores, em tempos
diferentes, irão dizer coisas parecidas, que não há um dia que
possamos escapar da nossa liberdade e da necessidade de enfrentar
inúmeras decisões.

➔ Nota Pastoral:

Onde estão fundamentadas as suas decisões? No que sente? No


que pensa? No que os outros mandam? Tudo isso revela a raiz das
nossas estruturas mais profundas de pensamento. Sócrates já dizia
que muitos cidadãos gentis de Atenas, que pareciam pessoas cultas
e letradas, quando questionadas do porquê agiam dessa forma e não
de outra, quando eram confrontados a ouvir o contraditório, não se
furtavam de perseguir e torturar, e até de matar. Pelo visto, aquelas
decisões que pareciam ser muito liberais, conscientes e

97
Formação em Teologia

benevolentes, quando ameaçadas, revelavam a verdadeira essência


ou seu verdadeiro padrão ético. Espero que ao longo deste estudo, os
seus padrões éticos sejam revelados e que você possa aprender que
a ética cristã é segura e saudável.

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Formação em Teologia

Bibliografia

George W. Forell, Ética De Decisão.

Peter Singer, Vida Ética. Este livro aborda uma questão mais atual e de forma
contemporânea, que tipo raciocínio está por trás das pessoas, que não representam
uma vida vegana somente com o tipo de alimentação, mas, também o que está por
trás do pensamento para que as pessoas decidam adotar certo estilo de vida.

Eugene H. Peterson, Sombra Da Planta Imprevisível. Uma investigação da


santidade vocacional. Autor muito bom. Quando trabalharmos o livro de
Apocalipse, usaremos outro livro desse mesmo autor que fala sobre ministério,
nossa vida cristã e nossa ética enquanto Ministério.

Jonathan Edwards, As Firmes Resoluções. Um pastor importante no grande


avivamento ocorrido por volta de 1700.

C.S. Lewis, Ética Para Viver Melhor.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Ética cristã: vocação, chamado e ministério - parte 2

I Desenvolvendo o chamado

Na presente aula, o segmento tratará de ética e ministério. Todo


cristão tem algum tipo de ministério. Vale ressaltar que a definição
de ministério não se reduz a algo a ser realizado dentro de quatro
paredes e todos possuem uma vocação.

O livro citado anteriormente, A Sombra Da Planta Imprevisível,


de Eugene Peterson, marca uma caminhada ministerial.
Sistematizando alguns pontos, iremos fazer uma relação entre a
ética e os princípios, que ajudarão a decidir em cada área da vida.

Peterson usa a história do profeta Jonas para nos fazer repensar


nossa vocação ministerial, para que a mesma não se corrompa. A
acusação de Peterson é que, muitas vezes, após receber o chamado,
criar consciência e iniciar o desenvolvimento da nossa vocação,
passamos a incorrer em desvios de caráter em meio à jornada - por
ex emplo, a aceitação de suborno. Falhas morais e éticas que nos
levam a abandonar a essência da fé e da vocação.

II O fracasso de Jonas

Jonas foi chamado para ser profeta em uma cidade chamada


Nínive, porém ele fugiu para Társis:

“ E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo:


levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque
a sua malícia subiu até a minha presença. Porém, Jonas se levantou

102
Formação em Teologia

para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope,


achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e
desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da
presença do Senhor.“ (Jonas 1:1-3)

Notamos dois movimentos ao analisar os versículos acima. O


primeiro indica a desobediência de Jonas, gerando seu fracasso. O
segundo movimento é muito interessante: mesmo quando foi um
profeta obediente, seu fracasso foi ainda maior, porque revelou
coisas no coração de Jonas que mostraram o quanto ele estava
distante de entender a misericórdia de Deus. Podemos resumir que
ele fracassou quando obedeceu e fracassou quando desobedeceu. É
muito importante que essa construção esteja visível.

III Társis e Nínive

Társis localizava-se na Espanha, provavelmente próx imo à


Estrada de Gibraltar, o lugar para o qual Jonas foge. Conforme
relatado na Bíblia, ele foi para longe da presença do Senhor. Ir para
longe da presença do Senhor nos faz entender que Jonas fugiu para
ter o controle. Se ele fosse para Nínive, as coisas teriam acontecido do
jeito que Deus planejou. Társis era um lugar onde Jonas teria controle
da situação, além de ser um local propício ao crescimento de seu
próprio orgulho. Em Nínive não haveria essa possibilidade.

Analisando o fundamento do chamado lugar de fuga,


entendemos que é um ambiente onde podemos ex ercer a nossa
vocação sem ter que tratar com Deus. Escolhemos esses lugares com
o intuito de fugir. O crescimento é aceitável e desejável, mas somente
dentro daquilo que desejamos, em nosso mundo particular e do
nosso jeito. Em última análise: sem estar debaix o da soberania de
Deus.

103
Formação em Teologia

O lugar onde desenvolver o ministério, a congregação, é muito


semelhante à Nínive em vários aspectos - um lugar de trabalho duro,
sem muita ex pectativa de sucesso ou, pelo menos, não como a
sociedade pensa. Peterson afirma:

“ O trabalho envolve rotina, limpar o curral e o


estábulo, limpar esterco, arrancar ervas daninhas e,
por conta das falsas ex pectativas dos vocacionados,
começar a viver cheio de ressentimento. Não era para
ser assim, Társis era melhor.”

Muitas vezes nos iludimos com o ministério. Chegamos à igreja


para pastorear, ao ministério infantil para cuidar ou ao ministério
jovem para ensinar. Enchemo-nos com tantas ex pectativas que, ao
nos deparamos com a realidade nos desapontamos. E assim,
desejamos ir para um lugar onde as coisas estarão sempre sob
controle. É normal optarmos por um ambiente de previsibilidade,
mas o fato é que quando chegamos à Nínive a vida será imprevisível.

Ainda encontramos por aí vários propagandistas e


marqueteiros, mentindo descaradamente nas congregações, sobre
a nossa vocação e ministério. Eles mentem por dinheiro, interesse
comercial e outros motivos escusos. Tentam fantasiar esse lugar no
qual vamos nos realizar no ministério e usam essas táticas para
vender uma ilusão. E se você for iludido, vai querer sair do lugar onde
realiza seu ministério. Não negamos que você cansará e se frustrará
muitas vezes, mas isso faz parte da caminhada. Se os marqueteiros
forem capazes de te convencer, você será desafiado a jogar ou
esvaziar sua vocação, procurando um lugar onde seja melhor
aproveitado e reconhecido. Infelizmente, os marqueteiros estão por

104
Formação em Teologia

aí e o lucro deles mora na sua frustração. A finalidade deles é que seu


aborrecimento seja tão grande que só lhe restará abandonar o lugar
da sua vocação (e não chegar à Nínive) e no fim das contas, você irá
para um lugar de mera aparência, vazio, mas encantador aos olhos.

O fato é: Nínive não é um lugar encantador, Társis é. Nínive é um


lugar onde você irá conviver com a realidade, contudo, é nesse lugar
que seu ministério florescerá. Quando se foge do seu lugar como
pastor, como líder, como ministro, você está fugindo da sua
santidade vocacional. Perceba essa ex pressão: santidade
vocacional. Se você não estiver ex ercitando o seu ministério de
maneira coerente com o evangelho, estará esvaziando o seu
propósito. Quando falamos de santidade vocacional, não
necessariamente nos referimos a alguém ex ercendo o ministério de
pastor, mas de alguém sendo profissional em qualquer profissão, em
qualquer área. O que o cristão precisa entender é que o nosso
trabalho é vocação, sendo remunerado ou não. Você é vocacionado
a trabalhar para Deus.

Nota Pastoral

Dia após dia, domingo após domingo, reunião após reunião,


muitas vezes estaremos animados, porém haverão dias em que as
pessoas estarão desanimadas. Chegará um momento em que você
estará ministrando a Palavra e as pessoas estarão atentas. Mas, de
repente, você perceberá que, em muitos dias, as pessoas parecerão
usar um controle remoto na mão, ligando e desligando a sua
ministração. Se você não tem consciência da vocação, por melhor
que seja a igreja onde trabalha, por melhor que seja esse grupo, você

105
Formação em Teologia

será tentado por um (res)sentimento de que as pessoas talvez não


estejam dando a atenção que você gostaria de receber.

Em Nínive você recebe um choque de realidade, as pessoas não


estão ali como você gostaria que elas estivessem, e, quando você
olhar para Nínive, pode até pensar: “ Pox a, mas não é essa igreja que
eu sempre sonhei pastorear, esse não é o ministério que eu sempre
sonhei” , e os agentes de viagem para Jope, para Társis, para
Espanha, para Roma, estarão à sua espera quando a sua frustração
falar mais alto, para que você abandone sua vocação.

IV Entendendo a Própria Vocação

No contex to de fuga virá a tempestade, é uma possibilidade. A


sua fuga estará arruinada, mas o seu ministério não. Na vida cristã e
ministerial, as tempestades virão. Essas ocasiões de dificuldade nos
levarão aos questionamentos. Entretanto, muitas vezes, Deus usa as
tempestades como estratégias para salvar a nossa vocação, porque
talvez estejamos fugindo do nosso propósito de produzir e trabalhar
para a Sua glória. Mais uma vez recorremos às palavras de Peterson:

" A maior parte daquilo que se passa por religião é


mera idolatria. Não se pode olhar para a totalidade da
igreja e pensar que tudo aquilo tem a ver com
cristianismo. A maior parte do que vemos é
autopromoção, orgulho, vaidade pessoal e disputa por
posição, ego. Isso é o mais comum."

106
Formação em Teologia

De fato, o evangelho é um milagre que acontece dentro desses


lugares. Em meio a tempestade, sua vocação será desafiada e
aperfeiçoada para que você perceba a diferença entre uma coisa e
outra; o que é um evangelho marcado por idolatria e o que é o
evangelho real e pleno. No momento de tempestades somos
desafiados a ter um discernimento mais apurado. Quando Jonas está
naquele navio, o comandante lhe diz: “ Vira, acorda! O que você está
fazendo aí, seu dorminhoco? Acorda! Cada um está olhando para o
seu deus. Você tem que acordar também e orar ao seu Deus!” É
engraçado que esse pedido nasce de alguém que é incrédulo, não de
alguém que confia em Deus. No meio da Tempestade teremos que
acordar do nosso sonho, do sono, da nossa ilusão, do nosso
ressentimento e invocar o nome de Deus.

“ E o mestre do navio chegou- se a ele, e disse-lhe: que


tens, dorminhoco? Levanta-te, clama ao teu Deus;
talvez assim ele se lembre de nós para que não
pereçamos.” (Jonas 1:6)

Nota pastoral

Há mais de 12 anos, na época em que eu li o livro A Sombra Da


Planta Imprevisível pela primeira vez, estava me preparando para o
ministério e percebi que muitas coisas me marcaram porque
entendia que o meu ministério pastoral passava por outras áreas. Eu
era o pastor de igreja que queria apascentar e levar a Palavra, mas
percebia que ex istiam outras vocações em mim, eu não sabia
administrá-las. Era como se tivesse que escolher entre uma e outra.
Pastor, músico e percebi-me escritor. Até o momento, escrevi três

107
Formação em Teologia

livros (estamos avaliando possibilidades de publicá-los no Instituto


Mundo Bíblico).

Por vezes, começamos a perceber como se fosse uma briga de


vocações dentro de nós, onde temos que escolher entre uma coisa e
outra. Reconhecemos, em meio às nossas tempestades, que a nossa
vocação nos levará por um caminho único. Assim, surgiu o
questionamento - Sou músico, pastor ou escritor? É comum nos
focarmos neste dilema de ser uma coisa ou outra. Hoje, eu percebo
que continuo sendo músico, escritor e cada vez mais, sou pastor. Em
nenhum momento perdi a essência e não foi necessário distorcer
minha identidade porque eu entendi que essas coisas foram dadas
por Deus. Foram as tempestades que me ajudaram a perceber o meu
DNA e vocação. Foi nas provações que o meu chamado ficou claro.
Antes das tormentas eu não conseguia enx ergar o quadro completo
e ser totalmente entregue e usado. Mas mesmo com dificuldade,
todas as vocações irão convergir para a glória de Deus. A grande
questão é: somente quando você está voltando para Nínive que você
encontrará o seu DNA de verdade. Em Társis você não descobre isso.
Mais uma vez Peterson impressiona:

“ Eu não quero ser mais um gerente de uma loja de


desconto religiosa, e eu não vou passar a minha vida
empacotando e vendendo Deus para consumidores
religiosos.”

Essa frase me fez tomar uma decisão - Não quero ser alguém que
vende fé. E quando falo sobre vender fé, estou sendo muito específico,
trata-se de vender alguma coisa que não temos. É impossível vender

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Formação em Teologia

a salvação, o milagre ou a cura. Concluindo, para ser pastor é preciso


tomar consciência da nossa limitação. Entender que o poder reside
no Evangelho e não em nós.

V Vivendo a Vocação

O próprio Peterson notou sua consciência pastoral ficar


burocrática. Enx ergou sua acomodação à vida da igreja. Ao invés de
ser um pastor que apascentava, edificava e alimentava o rebanho,
ele estava simplesmente resolvendo questões administrativas.
Portanto, Peterson convocou a liderança da igreja e falou o seguinte:

“ Quero estudar a palavra de Deus longa e cuidadosamente, para


que, quando me levantar diante de vocês para pregar e ensinar, faça
com ex atidão. Quero orar lenta e amorosamente, para que meu
relacionamento com Deus seja íntimo e honesto. Quero estar com
vocês com frequência, despreocupadamente, para podermos nos
identificar como companheiros íntimos do caminho da Cruz.”

Em sua conversa com a liderança, Peterson disse que do jeito que


as coisas estavam não seria possível ser pastor de verdade. Muitas
vezes, isso vai acontecer dentro da sua estrutura de igreja, onde a
última coisa que você irá conseguir ser é pastor, pois as atividades e
questões relacionadas a outros contex tos podem te levar a um
caminho no qual sua vocação não será vivida. Pastores têm diversas
linhas e ênfases, mas a questão é que você precisa estar atento,
sempre que o seu DNA for ameaçado, você precisa se posicionar
diante de Deus.

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Formação em Teologia

Corremos o risco de ver a nossa vocação escorrendo pelos dedos


porque a religião pode sofrer com uma mentalidade fast-food, esse
termo se refere a tudo que é instantâneo, tudo que é para ser
consumido muito rápido e sem análise, industrial e desumano, que
falta o toque humano artesanal e afetivo. Começamos a olhar para
as pessoas na igreja sem conseguir enx ergá-las. Da mesma forma
que um membro às vezes olha para a pregação do pastor como fast-
food, às vezes o pastor também olha para a ovelha do mesmo jeito.
Também pode surgir uma relação perniciosa entre ambos,
ex igências e ex pectativas antibíblicas. Somos desafiados a pensar
além desta lógica, do contrário, desejaremos fugir para Társis.

VI Um Olhar sobre as Igrejas

Alguém saindo da igreja pode ser uma fuga de Nínive para


Társis. Se você sair da igreja porque Deus está querendo te plantar em
um novo lugar e ministério, tudo bem. Por outro lado, se você está
saindo da igreja, a partir de seu olhar para Nínive e da quebra de
ex pectativas diante do que antes imaginava, repense! Muitas vezes,
as igrejas funcionam como se fossem estufas de plantas que
precisam ser bem cuidadas. Plantas que ainda não podem ser
colocadas no solo, porque receberam agrotóx icos, foram
acometidas por larvas, pragas e ervas daninhas. Em suma: sofreram
feridas. O trabalho do pastor e da igreja é cuidar dessas plantas, isto
é, das pessoas que ainda não podem ser plantadas “ fora da estufa” .

Em uma igreja madura ex istem várias pessoas que estão


plantadas em solo firme para florescer e frutificar. E as estufas são
necessárias porque nós precisamos de cuidado. Necessitamos
também ser enraizados nesse processo de cuidado e tratamento.
Somos desafiados a nos aperfeiçoarmos. Fugir pode ser uma opção,

110
Formação em Teologia

no entanto, precisamos estar atentos a qual é o motivo que nos faz


sair do nosso lugar. Vamos, voltamos e não percebemos quais são os
motivos reais que nos estão fazendo tomar esta ou aquela decisão.

Para Refletir

Qual é a ética das saídas e chegadas? Penso que a maioria das


pessoas não consegue ver. Ex istem muitas maneiras de sermos
religiosos sem nos submetermos a Deus, estarmos na igreja e nunca
obedecermos a Ele. Um lugar verdadeiro onde podemos desviar da
religiosidade vazia é o ventre da baleia, como Jonas. É lá que você vai
haver possibilidade de fé e submissão a Deus. Ao sair do ventre do
peix e, a nossa vocação nos leva de volta para Nínive, uma cidade que
está no mapa, tem poeira, pedras, pessoas, situações e
(im)possibilidades reais. O ser humano vocacionado somente viverá
essa plenitude quando conhecer as suas próprias fraquezas.

Nínive pode parecer um lugar sem graça à primeira vista, mas é


o melhor local para desenvolver a vocação. Depois de pregar para
Nínive, Jonas se volta para Deus e diz: “ Deus, não vai adiantar, porque
esse povo é duro. Eles não vão se arrepender.” Após a sua pregação,
Jonas sobe na montanha esperando ver Deus destruir todo mundo
porque ele acredita que ninguém se arrependerá. Ele sobe e assiste à
cidade toda se arrepender e o propósito de Deus se cumprir, isso o
deix a muito bravo e no meio do caminho, Deus faz surgir uma árvore
a fim de criar uma sombra, já que o próprio tex to informa o quanto o
sol era escaldante. Isso traz uma ideia fantástica: muitas vezes a
nossa ira é justamente contra a graça de Deus. E quando Deus nos
surpreende e faz o que não é óbvio, ficamos sem ar e a ira nos deix a
perplex os. Esse é um ótimo indicador de que alguma coisa está
errada. Nem sempre temos noção de onde vem o erro, de fora ou de

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Formação em Teologia

dentro (?). Toda vez que ficamos irados surge uma possibilidade de
perceberem que alguma coisa saiu do eix o, e de identificar, em nossa
vocação, em nossa vida cristã, o que está desandando.

A pergunta de Deus para Jonas é: “ Acaso é razoável, é


coerente?” E Jonas se defende: “ É claro.” Por meio dessa conversa, é
revelado que a graça de Deus, por vezes, confunde. Ravi Zacharias
ensina que quando a graça é mal-entendida, se transforma em outra
coisa, tal qual aconteceu com a parábola do filho pródigo. A graça de
Deus em relação ao filho pródigo é interpretada pelo filho mais velho,
transformada em inveja, frustração e ressentimento. Muitas vezes, a
graça de Deus vem, provoca e nos confronta. Somos levados a
entender que toda nossa vocação, e tudo que fizermos de nossa vida,
inclusive aos que estão à nossa volta, é consequência da graça
poderosa do Senhor. Uma verdadeira dádiva do bondoso Deus,
direcionada a cada um de nós. Pensar em ética no ministério faz com
que pastores e líderes decidam o que estão dispostos a fazer ou não.

Finalizamos com as seguintes reflex ões: Quais são as


prioridades do seu ministério? Quais são as resoluções mais
importantes que você tem como pastor, homem ou mulher de Deus?
Quais são os critérios que você usa para avaliar a sua vocação e
ministério? Ex amine a si mesmo e seja uma benção para Deus e Seu
reino.

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Formação em Teologia

Bibliografia sugerida:

EUGENIO, Person H. Sombra Da Planta Imprevisível. (Editora United Press janeiro


2001)

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Formação em Teologia

Ética cristã: piedade segundo Jonathan Edwards - parte 3

Entender a vida cristã é entender a piedade. Infelizmente essa


palavra foi perdendo o significado com o passar do tempo. O uso
comum que diz “ Tenha piedade de mim.” limita a piedade a um ato
de caridade ou pedido de desculpas, mas, quando a Bíblia usa a
palavra piedade, abrange todos os aspectos da vida cristã. Piedade
diz respeito à devoção, a busca das coisas espirituais, a busca por
tudo que envolve o reino de Deus. Piedade é a própria definição da
vida cristã, logo, quando usamos a ex pressão piedade, não estamos
falando em alguma caridade ou ato de benfeitoria, estamos
pensando justamente em vida cristã, em buscar a Deus, ter
intimidade e viver Seu propósito.

Em capítulos anteriores conversamos sobre os diferentes


princípios éticos e as formas pelas quais as matrizes de pensamento
impulsionam as nossas decisões. Na Bíblia, o livro de Provérbios é
constituído de máx imas, isto é, conceitos que alimentam de
sabedoria a nossa alma para tomarmos a decisão correta. Quando
nos referimos à piedade, contamos com um conjunto de significados
e doutrinas bíblicas que nos norteiam para sermos o que fomos
planejados para ser.

Dica: Assista às aulas “ Doutrinas da Salvação” , elas ajudarão a


capturar a essência da vida cristã e a entender que o Evangelho e a
obra de Cristo é que norteiam nossas decisões.

Vamos basear nosso estudo n’As Firmes Resoluções” , obra de


Jonathan Edwards, notável pastor que influencia gerações até os

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Formação em Teologia

dias de hoje. Pensaremos a vida cristã a partir de alguns livros para


aprox imar a realidade, ajudando a unir o conceito de vida cristã à
prática. No ex emplo desse pastor comum num lugar comum, esse
livro ajudará a analisar as decisões que ele tomou quando ainda
muito jovem e tinha o objetivo de que fossem como uma bússola para
a alma.

I Santidade

Santidade tem a ver com essência e afeta drasticamente o


relacionamento com a vida, os outros, comigo mesmo e com Deus.
Santidade não é um ritual ou um ato formal. Longe de ser um evento
ritualístico, de horas gastas orando, de quantos dons se dispõe e de
quantos livros foram lidos, a santidade é percebida nos
relacionamentos. A vida cristã precisa estar dominada por Deus e a
ética cristã debaix o senhorio de Cristo.

George Whitefield e Jonathan Edwards são os dois personagens


principais do primeiro grande avivamento (1700) depois da reforma
protestante (1500). O pai de Jonathan Edwards estudou na
universidade de Harvard e Edwards foi o terceiro reitor da
Universidade de Princeton, ficando lá por 5 meses e logo depois
faleceu. Esse avivamento impressiona pois não surge dentro de uma
igreja, mas a partir do ambiente universitário e afetou as igrejas, a
nação e, de certa forma, o mundo todo.

II Marcas da Obra do Espírito Santo

Em 1741 Edwards escreveu sobre as marcas da autêntica obra do


Espírito Santo. Vamos comparar o que ele disse em 1741 com o que se
pensa hoje:

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Formação em Teologia

1ª marca: aumentar a consideração por Jesus Cristo. Significa que


quando o Espírito Santo está trabalhando na vida de alguém, essa
pessoa passa a se importar mais com Jesus Cristo. Essa preocupação
e cuidado em viver para Cristo aumentam dentro do coração e não é
simplesmente uma questão religiosa, denominacional ou coisa
semelhante, Cristo se torna importante numa medida muito maior
em nós. Perguntando a muitos cristãos sobre a importância e lugar
de Cristo, a maioria responderá clichês como “ Ele é tudo para mim” ,
e obviamente essa resposta está certa, mas é preciso cuidado para
não cair no abismo entre discurso vazio e vida prática. Se Jesus Cristo
é importante precisa-se demonstrar. Isso é fundamental.

2ª marca: levar as pessoas a deix arem suas corrupções rumo ao


reino de Deus. A justiça de Deus traz a percepção de que ex iste
corrupção dentro de nós e que devemos estar constantemente
atentos a esse fato, buscando ser renovados pela graça do
evangelho.

3ª marca: fome das coisas de Deus. Referimo-nos especificamente à


Bíblia; fome de conhecer a Palavra.

4ª marca: as verdades do Evangelho começam a ser fundamentadas.


Deix am de ser uma coisa distante, com status de conto ou lenda, e
passam a ser real e nossa, ganhando um lugar vívido em nossa
mente e coração.

5ª marca: o amor pelas pessoas se torna cada vez mais profundo e


visível. Assim, o amor de Deus em nós leva a amar mais o próx imo(s).
Se o amor e o cuidado pelos outros diminuem, mas afirmamos que o
Espírito Santo está fazendo uma obra incrível em nós, estamos longe
da verdade.

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Formação em Teologia

Por volta do ano de 1900, parte da igreja começou a entender e


ensinar os dons como evidência do Espírito. Intimidade não tem a ver
com códigos, rituais ou habilidades, mas com o agir do Espírito Santo
em nós, e por consequência, enx ergamos os pequeninos do Senhor -
aqueles que estão nus, com fome e sede - e os suprimos. Quando se
começa a ver esses pequeninos, a intimidade com Deus começa a ser
real.

Lembrando nossa referência, As Firmes Resoluções, de Jonathan


Edwards, ele as escreve como se fossem uma marca, uma indicação.
Edwards quer saber para onde vai e entende que é necessário ter uma
referência para avaliar a própria vida. Ele busca um ponto de
comparação para ver se estamos fazendo, ou apenas falando, em
nome de Deus. Estamos no Caminho ou tomando algum atalho?
III Como foram escritas as Resoluções?

O desejo pelo foco nas coisas espirituais, que considerava


serem as mais importantes, o tornaram um dos maiores pensadores
da sua época. Jonathan Edwards buscava colocar todas as áreas da
sua vida sob o senhorio de Jesus e ansiava por santidade. Alertamos
novamente para a real definição de santidade, que se revela na
forma que nos relacionamos com a vida.

As resoluções de Edwards são verdadeiras diretrizes para a


autoavaliação, partindo de uma forte base bíblica, de onde tirava as
suas convicções, sentimentos e pensamentos, Edwards
compreendia a própria incapacidade e queria a santificação, mas
estava ciente de que não conseguiria gerá-la por suas próprias mãos
porque Deus é o agente da santificação. Vontade, decisão e esforço
são importantes, mas é Deus quem dá santidade.

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Formação em Teologia

Edwards entendia que tudo é obra da graça. Ele descobriu que as


ações de Deus estavam acima dos esforços dele. E até mesmo esse
esforço é a graça que produz em nós, e testemunha que tudo isso
acontecia na dependência do Espírito. O esforço não substitui a graça
e sem ela qualquer esforço é irrelevante. No século XXI é
compreensível que o esforço influencie diretamente nas conquistas.
Sabemos que sem esforço não conseguimos chegar a lugar nenhum.
Por outro lado, precisamos compreender que a base do esforço é
outra, graça. Se notarmos bem, perceberemos que há pessoas que se
esforçam e outras não; dentre as pessoas que se esforçam, veremos
que ex istem esforços que não dão em nada e os que prosperam. Há
trabalho que se transforma em vida, há trabalho que se multiplica.
Não somente referente ao sucesso profissional, mas na
transformação da realidade em algo bom e positivo.

IV O esforço na realidade do Brasil

Ao contrário do que muitas pessoas pensam e apesar de tantos


feriados, o Brasil tem uma das maiores cargas horárias de trabalho
no mundo. Apesar disso, o esforço do brasileiro nem sempre frutifica
e os resultados passam longe do lema na bandeira, “ Ordem e
Progresso” . Nem todo esforço alcança êx ito e Jonathan dizia que
ex iste uma peça que precisa se encaix ar ao esforço, essa peça é a
graça. Ele insistia que não podia fazer qualquer coisa sem ajuda de
Deus e não presumia ter habilidade de cumprir sozinho seus votos. Ele
buscava depender completamente do Espírito Santo:

“ Eu quero fazer, eu planejo fazer, eu intenciono fazer, mas, antes


de intencionar, saber que toda essa obra de santificação,

120
Formação em Teologia

conceituando de forma mais plena, é viver do jeito que Deus quer.


Santificar não tem a ver com movimento daquilo que acontece
ex clusivamente dentro da igreja. Santificação tem a ver com
movimento de viver em todos os lugares de forma que glorifique o
nome do Senhor.”

Segue uma breve citação do escrito de 1722:

“Quarta-feira, 2 de janeiro de 1722-23. Inerte. Descobri, por


ex periência própria, que mesmo fazendo resoluções e elaborando
tantas estratégias para cumpri-las, como nunca aconteceu antes,
tudo isso é nada e não tem propósito algum sem o mover do Espírito
de Deus. Se o Espírito de Deus deix asse de se manifestar em mim,
como ocorreu na semana passada, apesar de tudo o que faço, eu não
cresceria, mas definharia e desvaneceria miseravelmente.”

Uma coisa é tomar uma resolução, outra é manter essa


resolução. Outra coisa completamente diferente é tomar uma
resolução, mantê-la e ver essa resolução frutificando de maneira
adequada, glorificando a Deus. São elementos distintos: tomar
resolução, manter resolução e ver que essa resolução está
frutificando de maneira que glorifique a Deus. Observe o próx imo
trecho:

“Quarta-feira, 9 de Janeiro. Noite. Enganoso é o meu coração;


tomo uma firme resolução, mas tão cedo ela enfraquece. 15 de

121
Formação em Teologia

janeiro, Terça-feira. Ai de mim! Como declino rápido ou quão fraco,


quão instável, quão incapaz de fazer qualquer coisa sozinho.”

Esse trecho revela uma situação muito comum, quando


tomamos a decisão e sabemos que era a melhor opção. Passa um
tempo e percebemos que manter aquela resolução parece
impossível. A sua decisão, conscientemente, é o melhor que podia ser
feito, mas o dilema que surge é de que forma sustentar as decisões.
Atente para a primeira parte da citação, em 9 de janeiro. Edwards já
estava triste, sabia que não estava tão forte. Em 15 de Janeiro ainda
continuava triste porque o tempo está passando e ele percebe que
não consegue dar conta daquilo que tem de fazer, em outras
palavras, “ Decidi e agora?” . Muitos têm dificuldade de decidir, mas
ex iste outra dificuldade, manter a decisão. A graça precisa encontrar
tanto o esforço quanto as resoluções. Vamos pensar na tecnologia
como ex emplo: Um pensamento comum era de que quando a
tecnologia chegasse, a humanidade avançaria. Hoje presenciamos o
avanço tecnológico e percebemos que só a tecnologia não é
suficiente para resolver os problemas do mundo. Precisamos de
tecnologia, mas também de ética e caráter para que as pessoas
usem a tecnologia na solução de problemas pois só a tecnologia não
vai resolver os problemas (pelo contrário).

Em nossos esforços precisamos enx ergar que há algo anterior e


superior, mais poderoso que a realidade humana, a graça. Edwards
encontrou o mesmo problema que nós, tomamos uma decisão, mas
depois vem a apatia, uma fraqueza tamanha que faz com que
pareçamos pessoas completamente diferentes das que tomaram
aquela atitude no momento anterior.

122
Formação em Teologia

A partir daqui, usaremos os termos santidade, ética e vida cristã


como sinônimos. Vamos relacionar esses nomes para que isso
comece a fazer mais sentido. Dentro dessa estrutura de santidade, é
primordial a rendição completa a Deus e a anulação do senso de
propriedade. O centro do problema jaz na nossa rebeldia. Se Deus é o
ser perfeito do universo, se nós estivermos rendidos a Ele, seremos
levados aos melhores lugares possíveis, mas sem rendição pior será.
Edwards entendia algo essencial: “Não sou meu em nenhum aspecto;
a minha língua, minha fala, meu corpo, eu não sou meu.”

V A Prioridade de todas as Resoluções?

Ética cristã tem a ver com realizar todas as coisas para glorificar
a Deus. Temos que abrir a mente, dar glória a Deus não tem relação
com o ato do culto dentro da igreja, a glória a Deus é um movimento
muito mais completo e complex o. Pastor de uma igreja, Edwards
recebeu convites para pastorear as igrejas mais influentes da época,
mas ele entendeu que se fosse para uma dessas igrejas não daria
glória a Deus e acabou ensinando numa tribo indígena, entendendo
que naquele momento, a ação dele que mais glorificaria o nome do
Senhor era cuidar dos índios. É necessário perceber quais são as
nossas motivações e o porquê de continuarmos.

A Ética Cristã não é um objeto de trabalho, opinião ou


concepções, é viver para a glória do Pai. O ponto central da ética
cristã é o que nos move. Podemos ter razões secundárias e egoístas
ou podemos ser movidos em tudo para glória de Deus. Pense em cada
ação de sua vida para a glória de Deus: trabalhar, comer e beber,
viver e se relacionar. A ética cristã é marcada por um princípio: tudo
que fizer, faça para a glória de Deus:

123
Formação em Teologia

“Farei tudo que considerar ser o mais importante, para a glória


de Deus, resolvi fazer da Glória de Deus o sumo bônus, meu supremo
bem. Tudo que eu decidir fazer, eu decido fazer porque em última
instância, sei que isso irá glorificar o nome do Senhor.”

Bibliografia sugerida:

EDWARDS, Jonathan. As Firmes Resoluções.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

Princípios de um crente em Cristo: Piedade - Parte 4

I Ética e Piedade Pessoal

A palavra piedade precisa ser reinterpretada. Ela não significa


um ato de pena. Piedade é a vida devocional do cristão. No sentido
amplo da palavra, piedade é o modo de viver, se relacionar, falar, agir
e buscar a Deus. A pessoa piedosa demonstra com sua vida a
cosmovisão e ética cristãs. Para isso, Jonathan Edwards fez 70
resoluções, sabia que a alma humana facilmente perde o foco em
meio a convicções, sonhos, projetos e tudo mais. Edwards prometeu
para si mesmo não perder a direção e, às vezes, essas promessas são
as mais importantes, feitas a nós mesmos, pois ao falhar,
carregamos um peso imenso e perdemos a vida plena.

II 1ª Resolução de Edwards

As resoluções de Jonathan primavam a glória de Deus, e é


preciso abrir a mente quando se fala de glória, que não é uma
atividade ou movimento dentro do culto cristão. Glória é Deus em
primeiro plano até mesmo nas tarefas rotineiras. Digamos que um
pastor tem de aconselhar, ler, visitar, administrar. Há ex cesso de
tarefas e ele tem que decidir o que fazer em primeiro e o que pode ser
deix ado para depois - como numa emergência de hospital onde é
necessário escolher os pacientes prioritários. Edwards entendeu que
o prioritário é o que dá mais glória a Deus; e fazia a sua rotina e
agenda baseadas nessa premissa; sabia que “ antes da coroa havia
uma cruz” , tanto no ambiente religioso quanto fora dele. Até mesmo
campanhas publicitárias refletem isso, como um slogan da Nik e, “no
pain, no gain” (sem dor, sem ganho), mostrando que, se não há
esforço, não se alcança o objetivo.

127
Formação em Teologia

III Arrependimento

A vida cristã é marcada por decisões, é parte fundamental.


Edwards toma como resolução abandonar o pecado vivendo em
constante arrependimento. Uma missão difícil, pois, muitas vezes na
sociedade, isso é visto negativamente. Edwards entende que,
biblicamente, o arrependimento é um motor que permite chegar
mais longe, ao se perceber os erros. Em toda profissão e ramo de
atividade é notório quando algo não funciona bem. Olhamos e a
partir de nossa percepção dizemos: “ Isso não soou bem. Foi mau
ex ecutado” . Ao se olhar para dentro da alma é possível perceber
quando algo não está bom ou no lugar (sentimento, pensamento,
atitude) e carece de transformação. Segue um trecho das resoluções
de Edwards:

“ Resolvi que se eu cair e me tornar insensível de forma


a negligenciar qualquer parte destas resoluções,
arrepender-me-ei de todas as coisas das quais puder
me lembrar, quando recobrar a lucidez.”

Muitas vezes vamos sair da rota (resoluções) e no momento


posterior aos desvios, ao recobrar a lucidez, entendemos qual era a
melhor decisão. Edwards se compromete (consigo mesmo) a, com
esforço, retomar a direção. O mais importante é que ele sabe que o
evangelho está por trás dessa conduta, é o que o levará a agir.
Lembre-se das promessas que fez para você mesmo e quais delas
precisam ser cumpridas. Observe os fatos da perspectiva oposta e
pergunte-se: Quais dessas promessas talvez sejam tolas? O que
pode ser repensado?

128
Formação em Teologia

Edwards percebia que alguns pecados tinham origem no


temperamento e outros nos relacionamentos e estava
comprometido a ex aminar tudo em ambos. A partir daí a lucidez o
acometia para enfrentar a si mesmo (sempre a luta mais difícil e
necessária). E é muito mais do que simplesmente avaliar resultados,
quando se é cristão avalia-se, principalmente, a essência. Jesus
disse que “Pelos frutos vos conhecereis” (Mateus 7: 16), o crente é
aquele que precisa perceber o que está produzindo. De fato, enquanto
cristãos podemos produzir muito, porém, mais do que avaliar o fruto,
precisamos avaliar a (nossa) essência, regularmente, verificar do
que nós somos feitos, o que há dentro. Por definição, um cristão
sempre está avaliando, aperfeiçoando(se) e se arrependendo.

IV Reconhecendo o Pecado em Nós

Edwards entendia que - ele próprio, eu, você, nós e toda a


humanidade - fomos os causadores da Cruz. A responsabilidade é
definida pelo entendimento, a cruz é necessária porque ex iste algo
em nós que precisa ser reconsiderado, reordenado e refeito. Não
entender isso leva a uma forma superficial de vida. A cruz não é o
mesmo que autoflagelação, nem tem a ver com se mutilar ou se
destruir. Entender a cruz é perceber-se pecador, como Paulo afirma:

“ Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação,


que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1
Timóteo 1:15)

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Formação em Teologia

A consciência de olhar para o “ eu” e enx ergá-lo como pecador


age em nós para combater o orgulho humano natural. É comum ver
alguém caindo/pecando em alguma área e muitas vezes fala-se:
“ Não sei como essa pessoa consegue fazer isso, não sei como ele(a)
tem esse tipo de atitude” . Esses comentários revelam um ar de
superioridade em relação ao outro por conta do pecado alheio.
Edwards ia na contramão disso, quando via ou sabia de algo assim,
buscava os mesmos erros dentro de si mesmo e pedia perdão. Ele
imaginava que, de alguma maneira, o pecado do outro também era
seu. Logo, não ex ultava quando via alguém pecando, mas sondava o
seu coração humildemente.

Edwards mantinha o compromisso de enx ergar o próprio


progresso espiritual, não como uma conta bancária, mas perceber o
pecado. (Re)Avaliar, vez após vez, até alcançar uma essência limpa.
Isso é um elemento da piedade e parte de uma vida cristã ética.

“ Resolvi nunca ceder, o mínimo que seja para diminuir


a minha luta contra as minhas corrupções, por mais
malsucedido que eu venha ser.”

Para muita gente, o velho homem é uma questão estética e


comportamental – roupas, brincos, tatuagens, se fuma ou bebe. Mas
tais questões passam longe da verdade do velho homem. Deus
mostra a gravidade do pecado, no velho homem que, corrompe a
vida em desamor e a sabota. Pense: Se todos se amam, por que se
ferem tanto? Por que sempre ferimos pessoas que amamos? A
resposta é a nossa corrupção. E a solução é reconhecer, em
arrependimento.

130
Formação em Teologia

V O Tempo e a Eternidade

Nesse ponto, Princípio da Eternidade, Edwards ensina que o


tempo é precioso - americanos têm esse firme valor, visto no ditado
“ time is money!” (tempo é dinheiro).

“ Resolvi nunca perder um momento, mas aproveitar o


tempo da forma mais vantajosa que puder.”

Para Refletir:

Lembre-se da provocação anterior sobre a influência das éticas


na sociedade moderna porque muitos não sabem de onde esses
pensamentos vieram, mas vários nascem com Jonathan Edwards,
um dos responsáveis por trazer tais assuntos, profundamente
comprometido na causa cristã, brilhante intelectual – convidado à
reitoria da Universidade de Princeton. Ele conversa com sua
comunidade e consigo mesmo na intenção de discernir o que é
urgente e o que não é. É preciso aprender isso pois o nosso tempo
precisa ser usado estrategicamente para a glória de Deus.

“ Segunda-feira, 3 de fevereiro. Todas as coisas têm o mesmo


valor agora, do que teriam se eu estivesse no leito de enfermidade e,
em qualquer busca que eu estiver empreendendo, que essa questão
venha com frequência a minha mente: quanto valor eu daria a isso se
estivesse em meu leito de morte?”

Ele fazia essa reflex ão para perceber tanto o valor quanto o


tempo que daria para as coisas. Se eu tivesse no meu leito de morte,

131
Formação em Teologia

isso seria realmente uma coisa importante, seria indispensável?


Com esse raciocínio, ele tomava decisões.

Nota pastoral

Quem já ficou internado num hospital, em estado sensível, por


problemas de saúde, entende ex atamente essa ex periência - muitas
coisas simplesmente perdem a importância. Já tive algumas
ex periências nisso e digo: É assustador ver as coisas numa dimensão
de vida e de morte. Ganha-se perspectiva e perde-se sentido em
várias coisas, outras ganham sentido e a glória de Deus surge sobre
ambos.

Por conta desse conceito de eternidade, Edwards se dedicava


para administrar seu tempo da melhor maneira e evitar o desperdício
da vida. É triste quando um cristão tem a sensação de ter perdido sua
vida, pensando que ela não valeu à pena e não consegue aproveitar.
Quando isso acontece, fatalmente chegará o ponto de não conseguir
administrar o tempo e viver para glória a Deus.

VI Vivendo Plenamente

Edwards dizia:

“ 8 de julho de 1.723. Frequentemente ouço as pessoas idosas


dizerem como teriam vivido se pudessem voltar ao início de sua vida
novamente. Resolvi que viverei da forma como desejaria ter vivido no
caso de ter chegado a uma idade avançada.”

Edwards prometeu a si mesmo viver sem desperdiçar a vida no


que é menos importante. Pelo contrário, administrou seu tempo de

132
Formação em Teologia

tal modo que tudo fosse útil à glória de Deus, fizesse sentido, fosse
intenso e pleno. Essa questão/sensação de desperdício chega a todos
porque ninguém quer chegar à conclusão de que a vida não
compensou. Sobre isso, Edwards diz:

“ Resolvi que, enquanto viver, viverei com todas as minhas forças


e, para eu viver com todas as minhas forças, preciso ter disciplina, eu
preciso ter foco, eu preciso estar completo e no lugar. Se eu estou
aqui, eu preciso estar inteiro.”

Em nossa sociedade é comum não estar inteiro nas coisas, não


dar tudo que tem, não ser tudo o que pode. Sempre fragmentados.
Queremos tudo e não focamos em nada. Edwards promete viver com
todas as suas forças. É ex atamente essa a atitude do Cristão, até
mesmo as questões de alimentação e ex ercício eram consideradas.
Ele cortava lenha durante meia hora quase todos os dias, além de
caminhar e cavalgar porque entendia que o cuidado físico também
fazia parte, para estar inteiro e ter uma vida integral.

VII A Prática do Amor

Edwards resolveu se esforçar para demonstrar amor. Entende-


se que amor é uma coisa que flui naturalmente, é verdade, mas
muitas vezes precisamos nos esforçar para manifestar amor. Às
vezes esperamos que o outro tome a iniciativa. Edwards resolveu não
esperar os outros e amar primeiro sem esperar retribuição, se elas
quisessem devolver esse amor, seria apenas uma resolução delas.

Enfatizamos aqui o conceito do amor cristão. Biblicamente,


podemos fazer coro a Edwards, pois o amor não espera, em última
análise, não podemos ficar na ex pectativa do outro amar primeiro ou
de volta. Simplesmente amamos porque o amor é parte de nossa

133
Formação em Teologia

essência. Tal atitude nos faz pacificadores e não justiceiros, porque


enquanto aguardamos nasce em nós vontade de fazer justiça, mas
quando tomamos a decisão de amar primeiro, viemos com a paz, ou
seja, nos tornamos o tipo de pessoa que quer oferecer paz e não ex igir
justiça. Isso faz toda diferença, uma coisa é viver construindo pontes
de paz, outra coisa é viver como justiceiro. A ética cristã é uma ética
de pacificadores.

VIII Fidelidade a Deus

Para Edwards, a ética cristã passa pelo autoex ame profundo e


metódico, a tal ponto que ele ex aminava sua própria conversão. Será
que eu já me converti de verdade? Edwards tinha coragem de olhar
para si mesmo e (se) questionar: “ Eu sou convertido de verdade ou
isso que eu vivo é uma confusão, delírio, brincadeira, passatempo?”
Muitos cristãos não têm coragem e/ou honestidade para se avaliar:

“ Resolvi ex aminar cuidadosa e constantemente o que é isso em


mim, que me leva a duvidar de alguma maneira do amor de Deus e
direcionar todas as minhas forças a combater isso.”

Ele percebeu que em muitos momentos surgia alguma coisa em


seu coração que o compelia a duvidar do amor de Deus. Sendo assim,
Edwards resolveu que toda vez que sentisse ou pensasse isso, iria
lutar para entender de onde estava vindo e enquanto não entendesse
não se daria por satisfeito:

“ 18 De dezembro, 1.722. Hoje fiz a 35ª resolução. As razões pelas


quais questionam pouco interesse pelo amor e favor de Deus são: um
pouco, porque não consigo falar tão plenamente da minha
ex periência dessa obra preparatória de qual falam os teólogos; não
me lembro de ter ex perimentado a regeneração ex atamente por

134
Formação em Teologia

meio daquele espaço que os teólogos dizem que, em geral, são


tomados; não tenho sensibilidade suficiente para sentir as graças
cristãs, principalmente a fé. Temo que o que eu sinto seja apenas
afeições hipócritas e ex ternas, as quais tanto os homens perversos
podem sentir, como também os outros. O que sinto não parece estar
suficientemente no íntimo e ser pleno, sincero e genuíno, não parece
tão substancial e forjado em minha própria natureza de forma como
eu desejaria que fosse; porque às vezes sou culpado de pecados de
omissão e de comissão.”

Falta-nos ser sinceros assim. Edwards não está duvidando de


Deus, mas de si mesmo porque hoje duvidamos de tudo, menos de
nós mesmos. O cristão é marcado pela dúvida de si e a ética cristã é
marcada pelo ex ame da fé.

Abaix o segue as 70 resoluções de Jonathan Edwards. Elas são


apenas as decisões de um cristão que quer viver corretamente diante
do Senhor. Elas não estão à altura e nem têm o peso e a autoridade da
Palavra de Deus. A intenção é incentivá-lo a buscar em Deus suas
próprias resoluções.

IX Resoluções (1722-1723)

Por Jonathan Edwards

Estando ciente que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a


ajuda de Deus. Humildemente Lhe rogo que, através de Sua graça, me
capacite a cumprir fielmente estas resoluções, enquanto elas
estiverem dentro da Sua vontade, em nome de Jesus Cristo.

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Formação em Teologia

1. Resolvi que farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus e
para o meu próprio bem, proveito e agrado, durante todo tempo de
minha peregrinação, sem nunca levar em consideração o tempo que
isso ex igirá de mim, seja agora ou pela eternidade afora. Resolvi que
farei tudo o que sentir ser o meu dever e que traga benefícios para a
humanidade em geral, não importando quantas ou quão grandes
sejam as dificuldades que venha a enfrentar.

2. Resolvi permanecer na busca contínua de novas maneiras para


poder promover as resoluções acima mencionadas.

3. Resolvi arrepender-me, caso eu um dia me torne menos


responsável no tocante a estas resoluções, negligenciando uma
ínfima parte de qualquer uma delas e confessar cada falha
individualmente assim que cair em mim.

4. Resolvi, também, nunca negar alguma maneira ou coisa difícil,


seja no corpo ou na alma, menos ou mais, que leve à glorificação de
Deus; também não sofrê-la se tiver como evitá-la.

5. Resolvi jamais desperdiçar um só momento do meu tempo; pelo


contrário, sempre buscarei formas de torná-lo o mais proveitoso
possível.

6. Resolvi viver usando todas minhas forças enquanto vivo.

7. Resolvi jamais fazer alguma coisa que eu não faria, se soubesse que
estava vivendo a última hora da minha vida.

8. Resolvi ser a todos os níveis, tanto no falar como no fazer, como se


não houvesse ninguém mais vil que eu sobre a terra, como se eu
houvesse cometido esses mesmos pecados ou apenas sofresse das
mesmas debilidades e falhas que todos os outros; também nunca
permitirei que tomar conhecimento dos pecados dos outros me

136
Formação em Teologia

venha trazer algo mais que vergonha sobre mim mesmo e uma
oportunidade de poder confessar meus próprios pecados e miséria a
Deus.

9. Resolvi pensar e meditar bastante e em todas as ocasiões sobre


minha própria morte e sobre circunstâncias relacionadas com a
morte.

10. Resolvi, sempre que ex perimentar e sentir dor, relacioná-la com


as dores do martírio e também com as do inferno.

11. Resolvi que sempre que pense em qualquer enigma sobre a


salvação, fazer de tudo imediatamente para resolvê-lo e entendê-lo,
caso nenhuma circunstância me impeça de fazê-lo.

12. Resolvi, assim que sentir um mínimo de gratificação ou deleite de


orgulho, ou de vaidade, eliminá-lo de imediato.

13. Resolvi nunca cessar de buscar objetos precisos para minha


caridade e liberalidade.

14. Resolvi nunca fazer nada em forma de vingança.

15. Resolvi nunca sofrer nenhuma das menores manifestações de ira


vinda de seres irracionais.

16. Resolvi nunca falar mal de ninguém, de forma tal que afete a honra
da pessoa em questão, nem para mais, nem para menos honra, sob
nenhum pretex to ou circunstância, a não ser que possa promover
algum bem e que possa trazer um real benefício.

17. Resolvi viver de tal forma como se estivesse sempre vivendo o meu
último suspiro.

137
Formação em Teologia

18. Resolvi viver de tal forma, em todo o tempo, como vivo dentro dos
meus melhores padrões de santidade privada e daqueles momentos
que tenho maior clarividência sobre o conteúdo de todo o evangelho
e percepção do mundo vindouro.

19. Resolvi nunca fazer algo de que tenha receio de fazer uma hora
antes de soar a última trombeta.

20. Resolvi manter a mais restrita temperança em tudo que como e


tudo quanto bebo.

21. Resolvi nunca fazer algo que possa ser contado como justa
ocasião para desprezar ou mesmo pensar mal de alguém de quem se
me aperceba algum mal.

Resoluções 1 a 21 foram escritas em New Haven, em 1722

22. Resolvi esforçar-me para obter para mim mesmo todo bem
possível do mundo vindouro, tudo quanto me seja possível alcançar
de lá, com todo meu vigor em Deus – poder, vigor, veemência,
violência interior mesmo, tudo quanto me seja possível aplicar e
admoestar sobre mim, de qualquer maneira que me seja possível
pensar e aperceber-me.

23. Resolvi tomar ação deliberada e imediata sempre que me


aperceber que possa ser tomada para a glória de Deus e que possa
devolver a Deus Sua intenção original sobre nós, seu desígnio inicial
e Sua finalidade. Caso eu descubra, também, que em nada servirá à
glória de Deus ex clusivamente, repudiarei tal coisa e a terei como
uma evidente quebra da quarta resolução.

138
Formação em Teologia

24. Resolvi que, sempre que encetar e cair por um caminho de


concupiscência e mau, voltar atrás e achar sua origem em mim, tudo
quanto origina em mim tal coisa. Depois, encetar por uma via
cuidadosa e precisa de nunca mais tornar a fazer o mesmo e de orar
e lutar de joelhos e com todas as minhas forças contra as origens de
tais ocorrências.

25. Resolvi ex aminar sempre cuidadosamente e de forma constante


e precisa, qual a coisa em mim, que causa a mínima dúvida sobre o
verdadeiro amor de Deus para direcionar todas as minhas fortalezas
contra tal origem.

26. Resolvi abater tais coisas à medida que as veja abatendo minha
segurança.

27. Resolvi nunca omitir nada de livre vontade, a menos que essa
omissão traga glória a Deus; irei, então com frequência, rever todas
as minhas omissões.

28. Resolvi estudar as Escrituras de tal modo firme, preciso, constante


e frequente que me seja tornado possível e que me aperceba de mim
mesmo de que estou crescendo no conhecimento real das mesmas.

29. Resolvi nunca ter como uma oração ou petição, nem permitir que
passe por oração, algo que seja feito de tal maneira ou sob tais
circunstâncias que me possam privar de esperar que Deus me
atenda. Também não aceitarei como confissão algo que Deus não
possa aceitar como tal.

30. Resolvi ex tenuar-me e esforçar-me ao máx imo da minha


capacidade real para, a cada semana, ser levado a um patamar mais
real de meu ex ercício religioso, um patamar mais elevado de graça e
aceitação em Deus, do que tive na semana anterior.

139
Formação em Teologia

31. Resolvi nunca dizer nada que seja contra alguém, ex ceto quando
tal coisa se ache de pleno acordo com a mais elevada honorabilidade
evangélica e amor de Deus para com a sua humanidade, também de
pleno acordo com o grau mais elevado de humildade e sensibilidade
sobre meus próprios erros e falhas e de pleno acordo àquela regra de
ouro celestial; e, sempre que disser qualquer coisa contra alguém,
colocar isso mesmo mediante a luz desta resolução convictamente.

32. Resolvi que deverei ser estrita e firmemente fiel à minha


confiança, de forma que o provérbio 20:6, “ Mas, o homem fiel, quem
o achará?” não se torne nem mesmo parcialmente verdadeiro a meu
respeito.

33. Resolvi fazer tudo que poderei fazer para tornar a paz acessível,
possível de manter, de estabelecer, sempre que tal coisa nunca
possa interferir ou inferir contra outros valores maiores e de aspectos
mais relevantes. 26 de dezembro de 1722.

34. Resolvi nada falar que não seja inquestionavelmente verídico e


realmente verdadeiro em mim.

35. Resolvi que, sempre que me puser a questionar se cumpri todo


meu dever, de tal forma que minha serenidade e paz de espírito
sejam ligeiramente perturbadas através de tal procedimento,
colocá-lo diante de Deus e depois verificar como tal problema foi
resolvido. 18 de dezembro 1722.

36. Resolvi nunca dizer nada de mal sobre ninguém que seja, a menos
que algum bem particular nasça disso mesmo. 19 de dezembro de
1722.

37. Resolvi inquirir todas as noites, ao deitar-me, onde e em quais


circunstâncias fui negligente, que atos cometi e onde me pude negar

140
Formação em Teologia

a mim mesmo. Também farei o mesmo no fim de cada ano, mês e


semana. 22 e 26 de dezembro de 1722.

38. Resolvi nunca mais dizer nada, nem falar, sobre algo que seja
ridículo, esportivo ou questão de zombaria no dia do Senhor. Noite de
Sábado, 23 de dezembro de 1722.

39. Resolvi nunca fazer algo que possa questionar sobre sua lealdade
e conformidade à lei de Deus, para que eu possa mais tarde verificar
por mim se tal coisa me é lícito fazer ou não. A menos que a omissão
de questionar me seja tornada lícita.

40. Resolvi inquirir cada noite de minha ex istência, antes de


adormecer, se fiz as coisas da maneira mais aceitável que eu poderia
ter feito, em relação a comer e beber. 7 de janeiro de 1723.

41. Resolvi inquirir de mim mesmo no final de cada dia, de cada


semana, mês e ano, onde e em que áreas poderia haver feito melhor
e mais eficazmente. 11 de janeiro 1723.

42. Resolvi que, com frequência renovarei minha dedicação de mim


mesmo a Deus, o mesmo voto que fiz em meu batismo, o qual recebi
quando fui recebido na comunhão da igreja e o qual reassumo
solenemente neste dia 12 de janeiro, 1722-23.

43. Resolvi que a partir daqui, até que eu morra, nunca mais agirei
como se me pertencesse a mim mesmo de algum modo, mas
inteiramente e sobejamente pertencente a Deus, como se cada
momento de minha vida fosse um normal dia de culto a Deus.
Sábado, 12 de janeiro de 1723.

44. Resolvi que nenhuma área desta vida terá qualquer influência
sobre qualquer de minhas ações; apenas a área da vivência para
Deus. E que, também, nenhuma ação ou circunstância que seja

141
Formação em Teologia

distinta da religião, seja a que me leve a concretizar. 12 de janeiro de


1723.

45. Resolvi também que nenhum prazer ou deleite, dor, alegria ou


tristeza, nenhuma afeição natural, nem nenhuma das suas
circunstâncias correlacionadas, me seja permitido a não ser aquilo
que promova a piedade. 12 e 13 de janeiro e 1723.

46. Resolvi nunca mais permitir qualquer medida de qualquer forma


de inquietude e falta de vontade diante de minha mãe e pai. Resolvi
nunca mais sofrer qualquer de seus efeitos de vergonha, muito
menos alterações de minha voz, motivos e movimentos de meu olhar
e de ser especialmente vigilante acerca dessas coisas quando
relacionadas com alguém de minha família.

47. Resolvido a encetar tudo ao meu alcance para me negar tudo


quanto não seja simplesmente disposto e de acordo com uma paz
benévola, universalmente doce e meiga, repleta de quietude, hábil,
contente e satisfeita em si mesma, generosa, real, verdadeira,
simples e fácil, cheia de compaix ão, industriosa e empreendedora,
cheia de caridade real, equilibrada, que perdoa, formulada por um
temperamento sincero e transparente; e também farei tudo quanto
tal temperança e temperamento me levar a fazer. Ex aminarei e serei
severo e acutilante nesse ex ame cada semana se por acaso assim fiz
e pude fazer. Sábado de manhã, 5 Maio de 1723.

48. Resolvi a, constantemente e através da mais acutilante beleza de


caráter, empreender num escrutínio e ex ame minucioso e muito
severo, para constatar e olhar qual o estado real de toda a minha
alma, verificando por mim mesmo se realmente mantenho um
interesse genuíno e real por Cristo ou não; e que, quando eu morrer

142
Formação em Teologia

não tenha nada de que me arrepender a respeito de negligências


deste tipo. 26 de Maio de 1723.

49. Resolvi que tal coisa (de não ter afeto por Cristo) nunca aconteça,
se eu a puder evitar de alguma maneira.

50. Resolvi que sempre agirei de tal maneira que julgarei e pensarei
como o faria dentro do mundo vindouro apenas. 5 de julho de 1723.

51. Resolvi que, agirei de tal forma em todos os sentidos, como iria
desejar haver feito quando me achasse numa situação de
condenação eterna. 8 de julho de 1723

52. Eu, com muita frequência, ouço pessoas duma certa idade
avançada falarem como iriam viver suas vidas de novo caso lhes
fosse dada uma segunda oportunidade de a tornarem a viver. Eu
resolvi viver minha vida agora e já, tal qual eu fosse desejar vivê-la
caso me achasse em situação de desejar vivê-la de novo, como eles,
caso eu chegue a uma idade avançada como a sua. 8 de julho de 1723.

53. Resolvi apetrechar e aprimorar cada oportunidade, sempre que


me possa achar num estado de espírito sadio e alegremente
realizado, para me atirar sobre o Senhor Jesus numa re-entrega
também, para confiar Nele, consagrando-me a mim mesmo
inteiramente a Ele também nesse estado de espírito; que a partir dali
eu possa ex perimentar que estou seguro e assegurado, sabendo que
persisto a confiar no meu Redentor mesmo assim. 8 de Julho de 1723.

54. Resolvi tudo fazer como o faria caso já tivesse ex perimentado


toda a felicidade celestial e todos os tormentos do inferno. 8 de julho
de 1723

55. Sempre que ouvir falar algo sobre alguém que seja digno de
louvor e dignificante e o possa ser em mim também, resolvi tudo

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Formação em Teologia

encetar para conseguir o mesmo em mim e por mim. 8 de julho de


1723.

56. Resolvi nunca desistir de vencer por completo qualquer de


minhas veleidades corruptas que ainda possam ex istir, nem nunca
me tornar permissivo em relação ao mínimo de suas aparências e
sinais, nem tão pouco me desmotivar em nada caso me ache numa
senda de falta de sucesso nessa mesma luta.

57. Resolvi que, quando eu temer adversidades ou maus momentos,


irei ex aminar-me e ver se tal não se deve a: não ter cumprido todo
meu dever e cumprir a partir de então; e permitir que tudo o mais em
minha vida seja providencial para que eu possa apenas estar e
permanecer inteiramente absorvido e envolvido com meu dever e
meu pecado diante de Deus e dos homens. 9 de junho e 13 de julho de
1723.

58. Resolvi a não apenas ex tinguir nem que seja algum leve ar de
antipatia, simpatia fingida que encobre meu estado de espírito,
impaciência em conversação, mas também e antes pode ex primir
um verdadeiro estado de amor, alegria e bondade em todos os meus
aspectos de vida e conversação. 27 de maio e 13 de julho de 1723.

59. Resolvi que sempre que me achar consciente de provocações de


má natureza e de mau espírito que me esforçarei para antes
evidenciar o oposto disso mesmo, em boa natureza e maneira; sim,
que em tempos tais quais esses, manifestar a boa natureza de Deus,
achando, no entanto, que em algumas circunstâncias tal
comportamento me traga desvantagens e que, também, em
algumas outras circunstâncias, seja mesmo imprudente agir assim.
12 de Maio, 2 e 13 de Julho.

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Formação em Teologia

60. Resolvi que sempre que meus próprios


sentimentos comecem a comparecer minimamente desordenados,
sempre que, me tornar consciente da mais ligeira inquietude interior,
ou a mínima irregularidade ex terior, me submeterei de pronto a
mais estrita e minuciosa ex aminação e avaliação pessoal. 4 e 13 de
julho de 1723.

61. Resolvi que a falta de predisposição nunca me torne relax ado nas
coisas de Deus e que nunca consiga retirar minha atenção total de
estar plenamente fix ada e afix ada só em Deus, ex ista a desculpa que
ex istir para me tentar; tudo que a fala de predisposição me
instiga a fazer abre-me o caminho do oposto para fazer. 21 de maio e
13 de julho de 1723.

62. Resolvi a nunca fazer nada a não ser como dever; e, depois, de
acordo com Efésios 6:6-8, fazer tudo voluntariosamente e
alegremente como que para o Senhor e nunca para homem;
“ Sabendo que cada um, seja escravo, seja livre, receberá do Senhor
todo bem que fizer” . 25 de junho e 13 de julho 1723.

63. Supondo que nunca ex istiu nenhum indivíduo neste mundo, em


nenhuma época do tempo, que nunca haja vivido uma vida cristã
perfeita em todos os níveis e possibilidades, tendo o Cristianismo
sempre brilhante em todo o seu esplendor, e parecendo ex celente e
amável, mesmo sendo essa vida observada de qualquer ângulo
possível e sob qualquer pressão, eu resolvi agir como se pudesse
viver essa mesma vida, mesmo que tenha de me esforçar no máx imo
de todas as minhas capacidades inerentes e mesmo que fosse o
único em meu tempo. 14 de janeiro e 3 de julho de 1723.

64. Resolvi que quando ex perimentar em mim aqueles “ gemidos


inex primíveis” em Romanos 8:26, os quais o apóstolo menciona e dos

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Formação em Teologia

quais o salmista descreve como “ A minha alma se consome de


anelos por tuas ordenanças a todo o tempo” (Salmos 119:20) que os
promoverei também com todo vigor ex istente em mim e que não me
“ cansarei” (Isaías 40:31) no esforço de dar ex pressão a meus desejos
tornados profundos, nem me cansarei de repetir esses mesmos
pedidos e gemidos em mim, nem de o fazer numa seriedade
contínua. 23 De julho e 10 de agosto de 1723.

65. Resolvi que me tornarei ex ercitado em mim mesmo durante toda


a minha vida, com toda a franqueza que é possível, a sempre declarar
meus caminhos a Deus e abrir toda a minha alma a Ele: todos os meus
pecados, tentações, dificuldades, tristezas, medos, esperanças,
desejos e toda outra coisa sob qualquer circunstância. Tal como o Dr.
Manto diz em seu sermão nº. 27, baseado no Salmo 119. 26. De julho e
10 de agosto, 1723.

66. Resolvi que, sempre me esforçarei para manter e revelar todo o


lado benigno de todo semblante e modo de falar em todas as
circunstâncias de toda a minha vida e em qualquer tipo de
companhia, a menos que o dever de ser diferente ex ija de mim que
seja de outra maneira.

67. Resolvi que, depois de situações aflitivas, avaliarei em que


aspectos me tornei diferente por elas, em quais aspectos melhorei
meu ser e que bem me adveio através dessas mesmas situações.

68. Resolvi confessar abertamente tudo aquilo em que me acho


enfermo ou em pecado e também confessar todos os casos
abertamente diante de Deus e implorar a necessária
condescendência e ajuda dele até nos aspectos religiosos. 23 de julho
e 10 de agosto de 1723.

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69. Resolvi fazer tudo aquilo que, vendo outros fazerem, eu possa
haver desejado ter sido eu a fazê-lo. 11 de agosto de 1723.

70. Que haja sempre algo de benevolente toda vez que eu fale. 17 de
agosto, 1723.

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Referência:

Original: http://www.jonathanedwards.com/text/Personal/resolut.htm Tradução


livre: José Mateus (Portugal) Revisado por: Felipe Sabino de Araújo Neto.
Julho/2004

Bibliografia sugerida:

EDWARDS, Jonathan. As Firmes Resoluções.

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