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Formação em Teologia

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PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS - PARTE I

Introdução

Faremos um panorama sobre o Novo Testamento, e um dos


primeiros questionamentos que vem à nossa mente é: " por que
precisamos analisar o contex to, e não ir direto ao ponto?" A questão
é, se não compreendemos a história e o contex to, não nos situamos.
Quando não conhecemos a história do tex to bíblico, corremos o risco
de não saber nos posicionar e ex trair suas verdades.

Quando falamos de Palestina, estamos falando de geografia +


história. O Antigo Testamento termina com Israel sendo dominada
pelos Persas, e o Novo Testamento surge com Israel sendo dominada
pelos Romanos. Este panorama se faz necessário porque entre um
período e outro ex iste um espaço de pelo menos 400 anos e para
entendermos o que aconteceu neste período. Ao criar este chão
histórico, isso irá afetar diretamente nossa espiritualidade e a nossa
consciência.

Períodos

Assim, temos quatro períodos na história nesses 400 anos que


temos de lacuna entre A.T e N.T:

• O primeiro período, como já citado, foi o dos Persas.


• O segundo período foi o dos Macabeus.
• O terceiro período foi dos Gregos.
• O quarto período foi dos Romanos.

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Cada um desses povos inseriu uma marca na forma do povo de


Deus pensar, seja uma marca positiva ou negativa, e compreender
essas marcas nos ajuda a entrar no Novo Testamento de forma mais
clara, identificando as marcas e tendo uma interpretação mais
precisa. Ex iste uma ex pressão bíblica que é muito interessante:

“ A plenitude dos tempos” , para que Jesus chegasse era


necessário a plenitude dos tempos, a ideia de completar um tempo.
Quando este ciclo se completa, Jesus pode vir, porque todas as
condições necessárias para que Jesus viesse estavam
concretizadas, estavam completas.

Persas / Assírios

O primeiro período que vamos trabalhar são os Persas. Quando


falamos de Persas, você precisa relacionar isso com os Assírios e com
a Babilônia. O Reino do norte foi conquistado pela Assíria em 722 a.C,
você verá este relato no livro de Reis. Os Persas tinham uma ideia de
dominação, então o que eles queriam fazer é construir uma unidade
e destruir a identidade do povo, então tudo que lembrasse a cultura,
os costumes, as festas, o idioma daquele povo, era vítima da
destruição dos persas.

NOTA PASTORAL: Quando o império Persa está tentando construir


uma unidade com este plano de apagar o passado, apagar a história,
apagar a memória. Precisamos reconhecer estes passos como uma
estratégia do inimigo em nossos tempos. Não se pode construir
unidade a qualquer custo. Unidade não tem a ver com atrapalhar ou
destruir a individualidade, a essência de cada um.

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Construir como os Persas fizeram não é uma boa alternativa, o


objetivo deles era que, uma vez que o povo não tinha identidade, eles
poderiam fazer o que quisessem, a ideia do povo samaritano vem
disso, então, eles começam a criar um povo mestiço para habitar
uma região, porém, sem uma pureza de linhagem ou melhor ainda,
falsificando ou enfraquecendo sua raiz de fé; isso é influência dos
persas.

Babilônia

A Babilônia toma a Assíria em 612 a.C. A partir daqui criamos um


novo vinculo, ou uma nova estratégia de dominação. Diferente dos
Assírios, a Babilônia tem uma outra relação com o povo judeu. Ela não
quer mais destruir, não quer apagar a memória, ela quer dominar, ela
quer tirar do Israelita o melhor que ele tiver para abençoar o próprio
Reino. Os Assírios dominavam por medo e pela força, já com a
Babilônia quer ex trair o máx imo que puderem dos judeus.

Os babilônios deram liberdade para o povo de Deus crescer, o


Judeu cresceu economicamente e de todas as formas. Os Judeus
eram um povo abençoado, começaram a crescer e ter
independência de influência e de economia muito grande, tanto é
que quando Ciro entra e toma o poder, muita gente não quis voltar
para Jerusalém, em 200 anos de história, apenas 50 mil Judeus
voltaram da Babilônia para Jerusalém.

O Império Babilônico só se manifestaria a quem agir de forma


direta contra o governo, quem for bonzinho e pagar os impostos
corretamente, viverá bem e livre.

Aqui a comunidade judaica se transforma em urbana e


comercial. A própria palavra “ judeu” nasce neste período Babilônico.

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Gregos

Aqui estamos falando de um período de 331 á 167 a.C. O nome


principal deste período é “ Alex andre O Grande” . Aqui temos uma
mudança de personagem e de política. É justamente por esse
domínio que a língua grega é difundida, eles criam uma língua
Universal, eles constroem estradas, o comércio é fortalecido e na
junção destes acontecimentos ex iste uma valorização do indivíduo
que nunca havia acontecido na história.

Os gregos desejam estabelecer uma forma de pensar, a Grécia é


o berço da filosofia, é o berço da civilização moderna. As nossas
origens vêm daqui. A partir de Alex andre que tenta implementar isso
na cabeça do indivíduo, começa acontecer então algumas questões
políticas.

Com a morte de Alex andre, o governo deste império grego, o


governo cai na mão dos seus principais generais: Ptolomeu, Seleuco
e Laomedon. Laomedon ficou com o império Sírio, Seleuco ficou com
a Babilônia e Ptolomeu ficou com o Egito. Ex iste agora um processo de
elenização, isso é assimilar o jeito grego de ser. Nós vamos ver em
todo o Novo Testamento a ideia de que o judeu estava sendo forçado,
ou levado pensar da forma grega. Ptolomeu e Seleuco se juntam
contra Laomedon e tomam a Síria, então a força grega se divide entre
dois generais, são eles que detém o domínio da Palestina.

Nós temos então essa rivalidade dos dois generais que tentam
disputar território, e então pedem ajuda para os romanos, aí Roma
acaba ‘’engolindo’’ os gregos. É muito importante percebermos
como estes dois impérios se juntam, o império Grego contribui com a
filosofia, com a forma de ser e o império Romano com a política, com
a força.

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No início do Novo Testamento, vemos Herodes chegar onde


chegou e essa é a história por trás dele, este é o pano de fundo.

Macabeus

Cabe aos Macabeus serem um ponto de resistência, porque


entendendo que a identidade do povo judeu é única e ex clusiva, eles
não podem ser um povo escravo, a escravidão não combina com a
identidade um povo que foi escolhido por Deus. Neste contex to de
resistência surge Judas, ele é um general. Ele começa a juntar um
grupo de pessoas e ter algumas conquistas nas cidades e este
avanço é tão notável que ele tem diversas vitórias contra este
opressor, após inúmeras batalhas eles conseguem uma certa
independência de nação, de política e durante um período muito
curto, Israel se afasta da dominação.

Havendo entre os próprios judeus intrigas, fazendo com que ao


invés de se unirem por liberdade, toda intriga chegou ao imperador e
chegando lá tudo isso se acabou. Eles foram aniquilados. Vemos
pessoas que percebem que estão sendo dominada, não se
satisfazem com isso, mas ao invés de resolver com base na fé e na
confiança de Deus, quer resolver no braço, na força. Quando
pensamos em Macabeus, nos vem duas características principais:
Um grupo de pessoas que está tentando resolver as coisas na força,
ou nos conchavos políticos.

Estes foram 4 períodos que deix am na história deste povo um


jeito de ser. Agora temos este ambiente onde Jesus viveu, onde Jesus
se relacionou com pessoas, este era o cenário, este era o ambiente
onde Jesus tinha que falar do amor, do Evangelho e do
arrependimento.

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PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS - PARTE II

Introdução

A seguir falaremos sobre o ambiente, as instituições e os


personagens que conversaram com Jesus. Quando olhamos para o
mapa (anex o à aula anterior) podemos história, vidas e pessoas.
Vale observar que quando falamos de Palestina, estamos falando de
terra, do território onde o povo de Deus sempre viveu e agora, nosso
objetivo é conhecer todo esse contex to.

Este é um povo que está tentando sobreviver dentro de uma


mudança muito dramática. Todo período de transição, de mudança
de vida, é um período de adaptação, de continuar sendo quem
somos, mas ao mesmo tempo aberto para as mudanças que
acontecem no mundo.

Quando falamos de plenitude de tempo ainda é necessário


resgatar algo da aula anterior, nesse momento da história, tem-se
estrada para ligar todos os lugares, assim, o povo possui mobilidade,
antes era muito difícil se locomover, mas depois que os Romanos
vieram, tudo se interliga, as estradas, a língua (grega) e o comércio,
que é onde as pessoas se conectam, compram e vendem, é uma vida
urbana. Temos então a interferência dos gregos tentando moldar o
pensamento do povo de Israel.

Sinagoga - Cenáculo

Era uma construção de dois, ou três andares. Funcionava como


um salão de festas e neste lugar as pessoas se reuniam para orar.
Mas a principal instituição cultural é a Sinagoga, ela nasce no

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cativeiro Babilônico, ela foi um evento muito importante na história,


pois apareceu em um tempo onde não ex istia um templo e o povo
estava longe de casa, então a sinagoga surgiu de um desejo do povo
de aprender a palavra de Deus e seus costumes, então passaram a
ex igir dos sacerdotes esse local.

A própria ideia de sinagoga no grego vem de reunião, de estar


todos juntos. Temos um grupo de adoradores que está tentando se
redescobrir. Ex iste uma estrutura nestes encontros, nesta reunião de
adoradores. Primeiro eles ouviam a lei, ex istia uma palavra de
ex plicação, uma palavra de ex ortação, depois se cantava/recitava
Salmos. Esta é a base da maioria da liturgia dos cultos das igrejas
cristãs.

No Antigo Testamento, sempre vemos um povo que se levanta e


cai, levanta e cai, por causa da idolatria. A sinagoga representa na
história do povo de Israel, um momento de virada, depois de todo o
sofrimento, é na sinagoga que os mestres irão aparecer, ensinando a
ler, dar ênfase no jejum, no sábado, na circuncisão, na pureza da
aliança, então é aqui que surge uma figura muito importante, a do
mestre.

Qual a diferença entre o mestre e o sacerdote? O mestre não


tinha necessidade de ser de linhagem sacerdotal, era alguém
habilitado a falar sobre a lei e ensinar, ele era o instrumento de aux ílio
para o povo dentro da sinagoga. Em muitas vezes, Jesus é chamado
de mestre, e quando as pessoas estão olhando para Jesus e
chamando-o de mestre, eles têm todo esse sentimento, pois quando
se olha para um mestre, sabemos quem ele é, e que ajudou de uma
vez por todas a acabar com a idolatria, pois sabiam qual era o efeito
da idolatria na vida do povo.

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Na sinagoga, temos um grupo de adoradores que se reúnem


para ouvir a lei, eles se concentram ali e desejam ouvir a lei, pois
sabem que se não guardarem a lei no coração, passarão por períodos
difíceis.

Depois desse período onde a palavra era ex plicada e ex istia a


ex ortação (no original, ex ortação tem a ver com encorajamento),
ex istia um momento onde eles recitavam e cantavam o Salmo,
aprendiam com essa linguagem a cantar com a alma. Essa estrutura
que vemos dentro da sinagoga é a base de toda a liturgia da maioria
das igrejas cristãs de hoje (com algumas variações, é claro), mas
desde a sinagoga, vemos o formato claro de culto que devemos
obedecer.

Inicialmente, a sinagoga seria provisória, mas começou a fazer


parte da vida do Judeu de forma tão definitiva, até mesmo com a
conquista do fim da idolatria, o Judeu nesse período era alguém que
não pensava mais na ideia de fazer uma imagem, construir um Deus
de algum material, então por essa conquista, a sinagoga ganha um
lugar permanente na história dos judeus. Hoje os Judeus continuam
se reunindo em sinagogas.

Sinédrio

A próx ima instituição é o sinédrio, ele veio com Esdras e Neemias,


eles fizeram uma reforma e levaram o povo a fazer um pacto de
aliança com Deus para viver o que eles entendiam que era a Lei de
Moisés, sendo assim, esse primeiro pacto foi a matriz do que
entendemos por sinédrio. Ele era uma suprema corte, onde se
legislava sobre a vida do Judeu, tinha um impacto muito forte, pois
era ali em que o Judeu era julgado.

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O sinédrio era presidido por um juiz/sumo sacerdote, e ele tinha


poder inclusive de pena de morte, era composto por 70 pessoas e todo
o Judeu, em qualquer lugar, era sujeito ao julgamento desta corte.
Mas qual é a importância disso para o tex to bíblico? É nesse lugar em
que Jesus entra e é julgado para ser sacrificado. Qual é a ironia? O
sinédrio foi construído para que o Judeu não se perdesse, mantivesse
sua fidelidade com Deus. E quando Jesus entra no Sinédrio, no lugar
que foi feito para que os Judeus não se perdessem do caminho, eles
condenaram o próprio caminho. Então essa ilustração mostra como
temos a tendência de, mesmo bem intencionados, nós perdermos
naquilo que temos de melhor.

O sinédrio e a sinagoga eram para ser lugares de bênção, mas


Jesus teve que brigar com esses dois lugares.

As vezes nossa tentativa de se manter no caminho não são


garantias de que não podemos nos perder, mesmo bem
intencionados. Boa intenção é importante, mas não resolve quando o
assunto é fé. Aquelas pessoas tinham um propósito nobre, mas não
conseguiram reconhecer o próprio caminho e tiraram o caminho.
Esta é a grande ironia do Sinédrio.

Os Samaritanos

Os samaritanos sempre foram olhados com péssimos olhos.


Chegou uma época em que os judeus oravam assim: “ Senhor,
obrigado por não ser mulher, obrigado por não ser escravo e obrigado
por não ser samaritano” . Para o judeu orar assim é porque acreditava
que ser samaritano era uma traição, algo ruim, eles chegam a ter
apelido de cães. Essa rivalidade mostra que ex istia uma separação e

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está separação ex istia pelo fato de ex istir uma mistura racial que
vem da época dos Persas.

As vezes somos tentados a pensar em segregação racial, mas a


preocupação de Esdras no Antigo Testamento é que não se pode
negociar quando o assunto é a essência da mensagem cristã, ou de
nossa relação com Deus. Nossa fé não é negociável.

Nós percebemos esta rivalidade, quando Zorobabel constrói o


templo nos livros de Ageu, Zacarias. Estes “ samaritanos” que foram
deix ados para trás porque não tinham esta identidade também
faziam parte dos inimigos.

Nós temos um personagem na história chamado Manassés que


começa a ter inveja do sumo sacerdote que era seu irmão e ele acaba
casando com alguém de Samaria, ele casa com a filha de Sambalate
e ele constrói um templo no monte Gerezim e ele se transforma no
sacerdote dos samaritanos. Este monte Gerezim é o que volta na
conversa da mulher samaritana com Jesus.

Este templo de Gerezim tem esta característica de pessoas que


se venderam porque queria status, porque não conhecem a
identidade. Quando o judeu olha para o samaritano, ele enx erga isso
com olhos terríveis.

Mas precisamos fazer uma distinção muito importante, uma


coisa é você entender que a nossa fé não é negociável, que
precisamos conhecer a essência disso e que não devemos abrir mão
disso. Só que em algum momento da história, essa consciência de
santidade se transformou em preconceito e o judeu não percebeu em

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que momento da história isso aconteceu. A coisa mais incrível e mais


positiva, pode ser tornar em algo incrivelmente maligna e ruim.

O zelo se tornou em falta de entendimento, o zelo se transformou


em perseguição.

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PALESTINA NOS TEMPOS DE JESUS - PARTE III

Introdução

A seguir discutiremos sobre os personagens que se ambientam


no cenário da época de Jesus. Nesse período havia alguns grupos
distintos, com características peculiares. São esses grupos o objeto
de estudo deste capítulo.

Os Fariseus

O primeiro grupo que vamos falar é o dos fariseus. Trata-se de


um grupo que nos chama a atenção por conta da conotação negativa
que esse povo carrega no nome, até mesmo por conta de Jesus tê-los
chamado de sepulcros caiados.

No entanto, nem todos os aspectos desse povo são negativos.


Neste capítulo, nós iremos entender que o problema dos fariseus
consistia em não compreender a mensagem do evangelho.

Mas, antes, vamos conhecer o contex to da época.

Helenização

Aqui temos o império grego e Romano, lembre-se que Roma vem


com a força e a Grécia com as ideias. Quando falamos de
Helenização, estamos falando de trazerum jeito de viver, de pensar
da Grécia e de Roma, deste império Greco-Romano e fazer com que
este jeito seja espalhado por todo o mundo. Isso significa que quando
os grego e romanos entram na história, essa difusão se torna muito
forte. O desejo dos gregos era imprimir uma filosofia de vida nas

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pessoas. Chegavam a colocar seus missionários para tentar fazer


uma lavagem cerebral, para que todos daquela época – inclusive
nossos personagens – pensassem como eles. Assim sendo, a
helenização se tornou muito forte em todo o mundo. É nesse cenário
que entram os fariseus, que se opuseram a essa ideia. Eles
simplesmente se recusam a pensar como os gregos, pois queriam
manter a postura de ser um povo que tem uma aliança com Yaveh. E
é dessa forma que eles passam a lutar, não somente com os gregos e
romanos, mas com os próprios judeus que acataram a cultura grega.
Os fariseus têm então uma tarefa muito difícil, que é não se
contaminar.

A origem do nome “ fariseu” vem do latim, “ pharisaeus” , que


significa: “ separado” . Da mesma forma, quando falamos em
santidade, seu significado é o mesmo. Assim, santo é aquele que é
separado, e as duas ideias estão apontando para a mesma direção:
ser separado do mundo e não resistir. Portanto, o fariseu é alguém
que quer ser santo. Trata-se de um grupo que não quer ser engolido
pelo sistema, mas está o tempo todo tentando sobreviver, sendo ele
mesmo.

Quem não está preocupado em preservar sua identidade


religiosa, nunca vai correr o risco de virar um fariseu.

Quando lemos o livro de Isaías, vemos que ele fala de um povo


remanescente, que sobreviveu à apostasia e à idolatria, e que sofreu
diversos traumas, permanecendo como um remanescente fiel. Esse
povo a quem Isaías se refere é o fariseu.

O fariseu comum daquela época dizia: Qualquer vida que não


honre a Deus, por mais segura, por mais próspera que seja, não vale
a pena!

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Compreendemos, então, que o fariseu não é um povo qualquer,


que viveu de qualquer forma. Eles vêm de um trajeto de vida
diferente, buscando viver de uma forma diferente do mundo.
Portanto, a ideia do fariseu é de alguém que está tentando viver
separado de um padrão contaminado de viver, de um padrão que ele
entende que não seja o certo.

Para entendermos melhor o perfil do fariseu, deix o o tex to de


Daniel 11:11 e 12. A história fala de Antíoco, que cometeu uma
abominação em lugar sagrado: colocou um porco sobre o altar. Uma
atitude dessas é inadmissível para um fariseu, que é quem se
posiciona, que não fica em cima do muro.

Assim sendo, o fariseu é alguém que quer ser uma pessoa


melhor. Mas ex iste um, porém: nessa tentativa de ser alguém melhor,
ele acaba se tornando alguém pior.

Não seria essa uma característica de muitos de nós?

Quando olhamos para as religiões, vemos que cada uma tem o


seu caminho para ir para o céu. O judeu, por ex emplo, acha que é
merecedor da salvação por ter sido fiel à lei. E assim vemos que todas
as religiões possuem um mesmo padrão: acham que estão
habilitados a ir para o céu por causa da obediência.

O fariseu inverte a lógica da santidade, pois quando falamos de


santidade na bíblia, temos duas lógicas: Primeiro nos tornamos
santos para ser justos, ou primeiro nos tornamos justos para ser
santos.

Na cabeça do fariseu a sua justiça é a base da sua santidade. No


Evangelho a justiça de Cristo na minha vida é a fonte, o motivo da
minha necessidade de desenvolver santidade.

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O cristianismo defende que o cristão vai para o céu


simplesmente pela graça de Jesus. Ele reconhece sua incapacidade
de obedecer, de fazer as coisas por ele mesmo que lhe desse direito à
salvação. O teólogo Jonathan Edwards diz que todas as nossas
tentativas, como seres humanos, são incapazes de nos manter longe
do inferno, na mesma medida que uma teia de aranha conseguiria
suportar a queda de uma pedra. Ou seja, todas as nossas obras de
justiça são totalmente incapazes de nos tirar do inferno. Mas também
vimos essa afirmação no livro de Isaías, ao dizer que “ todas as nossas
obras de justiça não passam de trapos de imundície” .

E onde fica o fariseu? Ele é aquele que acredita que sua salvação
acontece por causa de seus atos. Acredita que se for suficientemente
bom, ele terá a salvação.

Mas Jesus não nos ensina isso. E era justamente esse o embate
de Jesus contra o fariseu: mostrar que eles não entenderam a lei
como deveria, uma vez que a essência da lei é o próprio amor e a
própria graça.

Mas o que o fariseu faz para se manter distante do mundo? Ele


começa a criar um acúmulo de regras, com a ilusão de que, se seguir
tais regras em obediência, conseguirá agradar a Deus. Mas esses
costumes se desenvolvem de tal forma que ele garante a essência de
ser judeu, mas a paix ão interior é substituída por um comportamento
ex terior. E assim, a santidade do fariseu é baseada na sua justiça,
naquilo que ele acredita que seja certo.

E então ele cria regras para tudo: para não se contaminar, para
não errar etc.

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Mas ele faz tanta força para não ser um pecador e não se
contaminar, que cria uma camada rígida ao seu redor. E então vemos
que toda a tentativa de viver uma vida diferente está no seu ex terior;
o interior continua intacto.

A Bíblia chega a dizer que o fariseu é aquele que tem zelo, paix ão
zelosa, mas não tem entendimento. Portanto, o embate de Jesus com
o fariseu é para que ele compreenda que ainda não entendeu o
caminho.

Precisamos entender que o fariseu é a melhor que a religião


humana conseguiu produzir, o fariseu é o cara mais bem
intencionado, mais bem sucedido que o judaísmo produziu.

Quem é a melhor pessoa que a religião evangélica consegue


produzir hoje no mundo?

A identidade de um fariseu é revelada justamente pela inversão


da ideia do Evangelho. No evangelho ex iste uma sentença que é
radicalmente diferente de todas as religiões. Em outras religiões,
você obedece e porque você obedece, você é aceito. No evangelho
você é aceito e porque você foi aceito, por conta de Cristo, eu
obedeço. No coração de um fariseu a obediência se torna uma moeda
de troca, minha obediência que compra minha salvação.

Descobrimos que mesmo nossas melhores lutas, sem Jesus não


passam de fracasso. Toda luta por identidade que não se apoia em
Jesus, termina no mesmo lugar que os fariseus terminaram,
perdidos. O fariseu luta tanto para ser alguma coisa que se torna
nada.

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Os Saduceus

Eles eram visivelmente os inimigos número um dos fariseus. Ao


contrário dos fariseus, a maioria dos saduceus era de ricos e
poderosos. Nessa época, os sumos sacerdotes eram todos saduceus.
Eles faziam acordos políticos e econômicos o tempo todo. Viviam um
padrão de vida significantemente maior do que os compatriotas.

E, se de um lado o fariseu queria ser alguém melhor, de outro lado


o saduceu queria privilégios. Eles compravam cargos de sumo
sacerdote.

Os saduceus acreditavam numa vontade livre, mas não na


soberania de Deus. Só queriam privilégios. É o primeiro grupo que cai
na revolta de 66 a 70, na destruição do templo de Jerusalém, e não
sobrevive.

O ponto positivo nos saduceus é que eles davam valor ao tex to


muito mais do que qualquer coisa da tradição. Eles se gabavam por
serem o único grupo de pessoas que levavam a sério o que estava
escrito. Mas do que adianta levar a sério o que está escrito, se você
não vive o que está escrito? Isso também não serve para nada.

Um outro ponto, eles não acreditavam em ressurreição. Não


acreditavam em anjos, nem em demônios, ex iste uma mistura
estranha na cabeça deste grupo.

Os Herodianos

Eles olhavam para a família de Herodes e eles tinham um


sentimento messiânico com a família de Herodes. Você vê isso em
Mateus 22:16, Marcos 3:6 e Marcos 12:13.

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Os Zadoqueus

Eles são muito radicais, é a tradição escrita e deu. Não ex istia


negociação. Eles esperavam um certo mestre da justiça. Este grupo
tem uma pretensão mais religiosa de fato, uma ex pectativa de fé.

Os Essênios

Esses, não engoliam o sistema. Percebiam toda a corrupção dos


saduceus, tinham uma percepção de que a vida religiosa havia
tomado um rumo diferente.

Boa parte dos manuscritos que temos nós devemos aos


essênios.

A primeira corrente de Essênios juntou um grupo de mais ou


menos 4 mil pessoas que ficavam juntos protestando de forma
política contra o sistema religioso da época.

Eles se negavam a fazer parte do sistema religioso. No entanto,


Jesus veio e eles estavam tão concentrados em fugir do sistema que
não enx ergaram a Sua vinda; sequer notaram Jesus, que esteve o
tempo todo no meio deles.

Os Zelotes

Eram uma facção dentre os fariseus; queriam briga. Os zelotes


queriam pegar nas armas, conquistar o Império Romano, ansiavam
por uma revolução política. São causadores de 66 revoltas contra o
Império Romano e em nenhuma tiveram sucesso. Simão, um dos
apóstolos, fazia parte desse grupo.

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Na nossa atualidade, os zelotes são aqueles que tendem a ser


agressivos demais em face das diferenças. Em vez de misericórdia,
agem como um rolo compressor. São intolerantes.

Conclusão

Podemos observar que cada um desses personagens se parece


um pouco conosco. O fariseu era alguém que queria ser melhor, o
saduceu queria ter privilégios. Os essênios tinham uma percepção
muito desenvolvida, entendendo a corrupção do sistema e sem
querer fazer parte. Os zelotes queriam resolver tudo na força.

No entanto, Jesus fala com cada um deles, mostrando todos os


seus erros com íntima compaix ão. Da mesma forma, ao lermos o
tex to bíblico, que possamos entender tudo aquilo o que Jesus está
falando conosco.

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Os Evangelhos – Parte 1

Introdução

A partir daqui vamos aprender mais a respeito dos Evangelhos,


e as principais características de cada um deles. Especificamente
Mateus, Marcos e Lucas que chamamos de Evangelhos Sinóticos.

É muito comum que as pessoas façam certa confusão com


relação ao conteúdo dos Evangelhos. Precisamos atentar ao fato de
que todos eles falam sobre relatos da vida de Jesus, porém, cada um
à sua maneira. Para entendermos melhor, vamos fazer uma
analogia: imagine um pai que faz uma festa e convida todos os seus
filhos.

No dia seguinte, cada um irá contar a respeito da festa para seus


amigos. No entanto, é inevitável que nenhum deles conte os detalhes
de forma idêntica um ao outro. Isso, porque cada um tem o seu
próprio ângulo de visão, que é diferente do outro.

O que acontece nos Evangelhos é que cada escritor percebe


aquilo que foi testemunhado com características únicas, para que
todo cenário esteja bem construído eu preciso juntar as peças. A
seguir, vamos compreender as principais características de cada
um.

O livro de Marcos é considerado a fonte mais antiga, o livro mais


antigo dos evangelhos, 76% do material é encontrado em Mateus,
Marcos e Lucas, 3% do material de Marcos e Lucas são comum, você
também vê 3% de material inédito, só se encontra nestes livros, 18%
do material você verá em Marcos e Mateus. Ex iste 20% de
semelhança entre o livro de Lucas e Mateus e 25% de semelhança

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entre Mateus e Lucas. 10% de semelhança entre Marcos e Mateus e


35% do conteúdo de Lucas é inédito.

Nesta primeira parte, estudaremos o livro de Mateus.

Livro de Mateus

Começa com uma genealogia para nos situar na história. Essa


analogia é como se fosse um mapa, ela nos localiza na história. O livro
de Mateus é escrito para os judeus. Ex iste aquela preocupação de que
o judeu conheça a vida de Jesus, para que ele possa fazer uma
conex ão entre o que aprendeu na torá e o que Jesus nos ensinou
quando estava aqui. Trata-se de um livro litúrgico, didático,
doutrinário, escrito para combater o farisaísmo, visando trazer o
crescimento da igreja.

O período que este livro é escrito é entre 66 a 70 d.C.

Na mentalidade judaica nós temos o torá, que é identificado nos


5 primeiros livros da Bíblia. Além disso, temos a tradição oral que era
muito forte na época. O livro de Mateus, então, vem para cumprir um
objetivo: combater a tradição oral, o legalismo que está incutida nos
fariseus. E assim, este Evangelho mostra que a lei faz todo o sentido
(porque é de Deus), mas que essa tradição oral precisa ser quebrada,
pois, é justamente essa tradição que tem impedido que os fariseus e
outras pessoas entrem no reino dos céus.

Tradição oral é tudo aquilo que ouvimos de boca a boca. É todo o


conhecimento que é transmitido de pai para filho, nosso conjunto de
ex periência. Portanto, não é somente o fariseu que tem uma tradição
oral.

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O que Jesus questiona é a dependência que essas pessoas têm


de se basear em suas ex periências ou naquilo que é transmitido de
boca a boca. Ou seja, o povo não estava conseguindo conciliar
ex periência com o que está escrito na palavra.

Quando baseamos nossa fé na ex periência, podemos nos


perder. E Jesus está querendo minar essa tradição oral para que o
cerne da lei possa ser novamente entendido.

Não há problemas com as ex periências, pois todos nós devemos


ter nossas ex periências com Deus. O problema, é que chegou um
momento em que as ex periências passaram a ser um obstáculo para
as pessoas poderem entender e viver o Evangelho.

Vemos, então, no discurso de Jesus, a tentativa de mostrar a


diferença que havia entre a tradição oral e a lei. E assim podemos
dividir o livro de Mateus em um grupo de ensinamentos, tex tos e
sermões. Se olharmos ao longo do livro, todas as histórias acontecem
num período entre uma pregação e outra. É uma coletânea de
sermões.

Sermão do Monte

No capítulo 5 Mateus, nós temos o Sermão do Monte, uma


mensagem para ensinar o significado de felicidade, à luz da Bíblia. O
monte, olhando pra geografia de Israel, faz parte do dia a dia, mas
também era um lugar especial que contava a história da fé daquele
povo, os cultos, os ancestrais, a lei. Era também um lugar pra se
afastar do centro da cidade, um lugar de calma. E é esse lugar que
Jesus escolhe para falar sobre as características do que é ser uma
pessoa feliz, um bem-aventurado. Vejamos quais são elas:

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Formação em Teologia

Pobres de espírito: Essa palavra tem sido erroneamente mal


interpretada e até mesmo evitada. Ninguém quer ser pobre de
espírito. No entanto, Jesus nos diz que isso é felicidade. Mas, por quê?
Porque o pobre de espírito enx erga o que ele tem falta. E, porque ele
enx erga isso, é também capaz de depender de Deus. Ele olha para si
mesmo e enx ergar suas limitações, por isso pode ir até à cruz.

Mas observe que uma coisa é um pobre de espírito jejuando.


Outra coisa é alguém que não é pobre de espírito fazendo o mesmo. O
jejum é um ato de contrição de um pecador que reconhece seu estado
de pecado, e está em busca de misericórdia. Assim sendo, o jejum na
vida do pobre de espírito remete à ideia de que ele reconhece a sua
condição de pecador e, por isso, busca misericórdia. Dessa forma, o
jejum se torna uma auto percepção, uma conversa com Deus. Por
outro lado, quando a pessoa não tem essa percepção, ela acredita
que seja autossuficiente e, por isso, tem merecimento próprio de
alcançar benefícios da parte de Deus.

O pobre de espírito consegue entender muito bem a frase de


Isaías quando ele recebe o chamado: “ ai de mim que sou pecador” . E
assim compreendemos que a ex periência de santidade nunca
começa com “ ai de você” , começa com “ ai de mim” .

Fome e sede de justiça: Aqui Jesus não está se referindo à justiça


humana, mas à fome de justiça de Deus. E a justiça do Evangelho vem
pela fé.

Misericordiosos: Aqueles que enx ergam que a misericórdia é


uma necessidade do corpo e da alma das pessoas. Ser misericordioso
é ser alguém que enx erga a miséria no coração do outro e quer fazer
alguma coisa, quer ser benevolente.

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Formação em Teologia

Puros de coração: Quando a bíblia fala de pureza de coração ela


não está falando de uma pessoa que não tenha falta, a ideia de
pureza principalmente no pensamento hebraico é de algo que não
está dividido.

Pacificadores: Estes buscam a paz, são construtores de pontes,


trazem a realidade da paz para a vida das pessoas.

Perseguidos e maltratados...

O tempo todo, nós vivemos buscando felicidade. Por esse


motivo, faz-se necessário que nos concentremos sobre o que Jesus
nos ensina sobre as bem aventuranças.

Sermão da Seara

No capítulo 10 de Mateus, Jesus fala para os discípulos sobre a


necessidade de levar a mensagem, o propósito deles serem
discípulos.

Sermão da Praia

No capítulo 13 de Mateus, onde Jesus faz uma coletânea de


parábolas, do semeador, do tesouro, da rede, do joio.

Sermão da Cidade

No capítulo 18 de Mateus, onde ele fala de Jerusalém e


Cafarnaum e faz uma relação acerca do Reino dos Céus.

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Formação em Teologia

Sermão da Sinagoga

Neste discurso Jesus evidencia mais uma vez os costumes


religiosos, os líderes religiosos que acham que entenderam tudo
sobre a fé cristã.

Sermão Escatológico

No capítulo 24 de Mateus, neste sermão Jesus está pregando


para responder três perguntas, quando o templo será destruído, os
sinais da sua vinda futura e sobre qual o verdadeiro sinal do fim.

A nossa pregação precisa responder ou provocar inquietações,


ou promover este equilíbrio trazendo acalento as almas que estão
aflitas. Vamos estudar um pouco de cada sermão destes em nossas
aulas.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

OS EVANGELHOS - PARTE II

Introdução

Neste capítulo nós temos a continuação da ex plicação dos


sermões no livro de Mateus. Conforme visto anteriormente, Jesus
ensina aos discípulos o conceito das bem-aventuranças, no Sermão
do Monte.

Neste sermão Jesus termina falando sobre relacionamento,


sobre justiça e ensina estes primeiros cristãos a orar e também a
amar os inimigos.

Sermão da Seara

No capítulo 10 do livro de Mateus ex iste o sermão da Seara. Este é


um sermão específico, que foi feito apenas para os discípulos. Nesse
sermão Jesus está preparando, animando e fortalecendo cada um
deles. Você verá uma ex pressão que é muito característica deste
sermão que é o “ Não temas” .

Terceiro Sermão – Sermão da Praia

Este é um sermão que Jesus faz na praia, junto a uma coletânea


de parábolas, a fim de ensinar a multidão. A primeira parábola que
Ele usa é a do semeador.

• Parábola do Semeador: Jesus fala de quatro situações


diferentes, quando a semente é semeada.

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Formação em Teologia

1- A que cai à beira do caminho: A pessoa ouve, mas o


inimigo leva toda aquela ministração.

2- A que cai no meio das pedras: A pessoa recebe com


alegria o Evangelho, mas termina com angústia, que é
quando começa a perseguição da Palavra. 3- A que cai
no meio dos espinhos: A palavra entra, mas os cuidados
com esse mundo sufocam a mensagem do Evangelho.

4- As que são lançadas em solo fértil: Essas dão frutos a


Deus.

Por isso o sermão da praia nos traz uma lição muito valiosa: Não
é simplesmente uma questão de semear, é uma questão de florescer.
Semear é uma urgência e um mandamento para o cristão, mas o
controle sobre o florescer não está em nossas mãos. O nosso papel é
semear e semear, depois orar e o Senhor da ceara é que irá fazer
florescer.

• Parábola do Joio e do Trigo: Essa tem uma relação com a


parábola anterior. E qual é essa relação? São justamente
os solos que não conseguiram produzir a boa semente que
irão produzir o joio. Ou seja, o Evangelho que caiu naqueles
solos ruins, em vez de virar trigo, acaba virando joio. Isso
significa que as parábolas não estão desconectadas.

• Parábola do Grão de Mostarda e do Fermento: Duas


parábolas pequenas, mas servem para mostrar como o
Reino parece algo tão imperceptível, algo que não vai
vingar. Quando ele compara a realidade do Reino com
estas duas sementes, ele está dizendo que pode sim

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Formação em Teologia

parecer improvável, mas aquilo que é pequeno e


imperceptível se alastra e cresce.

• Parábola do Tesouro escondido, da Pérola e da Rede: Nota-


se que estamos falando de uma pregação que trata um
conjunto de parábolas. Nesta pregação Jesus usa muitas
analogias para tentar ex plicar algumas verdades
espirituais. Essas últimas parábolas estão se dando conta
de ex plicar o Reino. A ideia central que temos é: o Reino é
tão precioso que vale a pena dar tudo o que tenho, ou
deix ar tudo o que eu tenho para trás para ficar com o Reino.
É fundamental reconhecer o valor do Reino, porque se isso
não acontece nossa relação se quebra.

Sermão da Cidade

Jesus está falando sobre a necessidade de nascer de novo para


entrar no Reino. Ele fala sobre a característica para nascer de novo
que é ser humilde. Depois, Jesus conta a Parábola do Credor,
mostrando que, para fazer parte do reino, o perdão tem que fazer
parte da conduta, ética e estilo de vida.

Assim, para fazer parte do Reino, recebemos perdão e


precisamos perdoar. É impossível ser um cidadão do Reino sem viver
uma vida de humildade e perdão. Essas duas características são
inegociáveis.

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Formação em Teologia

Sermão da Sinagoga

Neste sermão, Jesus está combatendo os pensamentos dos


fariseus e escribas, principalmente quando eles colocam toda a sua
consciência na tradição oral, esquecendo a essência da lei.

Sermão Escatológico

Este livro fala de forma significativa sobre escatologia, que vem


da palavra “ eschaton” que significa “ as últimas coisas” . Assim
sendo, o Sermão Escatológico fala a respeito das últimas coisas.

Na época, Herodes estava promovendo uma grande reforma, e


os discípulos chamam a atenção de Jesus pela beleza do Templo. Ele
então diz que aquele local seria destruído, não restando pedra sobre
pedra. Feito isso, faz uma analogia entre os últimos acontecimentos
e as dores de um parto.

De acordo com Jesus, haverá uma primeira parte, que é o


Princípio das Dores. Ele as compara às contrações no final da
gravidez, quando também esse período será encurtando cada vez
mais. E assim, Jesus faz uma relação entre o princípio das dores como
sendo o princípio das contrações de uma mulher prestes a dar à luz.
Essa mulher é o mundo; o nascimento é a volta de Jesus.

Jesus então nos mostra vários sinais que indicam essas


contrações, evidenciados no princípio das dores. Note que esse é o
“ princípio das dores” , portanto, não é o fim, é apenas o começo. Veja
os sinais:

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Formação em Teologia

• Os falsos profetas: É a primeira contração de todas as


contrações.

• Guerras, rumores de guerras: Como já temos hoje em dia.

• Calamidades: Catástrofes naturais, pestes, tsunamis, aids


etc.

• Perseguição: Quando Jesus falou sobre perseguição, ele e


seus discípulos eram a minoria. Ele antecipou séculos da
história onde a perseguição seria muito mais forte.

• Evangelho sendo pregado por todo o mundo: O momento


em que o Evangelho chegar a todas as pessoas.

• Divisão familiar: Um pai entrega o seu filho porque ele se


converteu à fé cristã. Tempos em que irmão entrega irmão
dentro da própria família.

• Ódio generalizado contra os cristãos: Conforme esse ódio


contra o cristão aumenta, tem algo acontecendo.

À medida que observamos todos esses sinais se intensificando


nos dias de hoje, é possível entendermos que o final está cada vez
mais perto. Os sinais estão se intensificando.

O próx imo período que Jesus nos ensina no sermão é o período


da Grande Tribulação. Resumidamente, temos então:

• 1º período: Princípio das dores


• 2º período: Grande Tribulação

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Formação em Teologia

A Grande Tribulação é o período na história de maior sofrimento.


Nunca houve e nem haverá nada perecido. É um período onde as
coisas chegam ao seu limite ex tremo, um período único no sentido de
gravidade. Jesus fala que nesses dias haverá alguns escolhidos
(igreja). Por isso entendemos que ex iste parte da Igreja que vai estar
aqui nesse período.

Podemos concluir então que a grande tribulação é a


intensificação máx ima das dores do parto. O princípio das dores é
marcado pelos 7 sinais. Temos então o início da grande tribulação
que é marcado pelo aparecimento do abominável da desolação, que
é o anticristo. Depois disso, temos então a vinda de Jesus.

Fique vigilante, dói, mas ainda não é a hora. Esteja atento, mas
confiante.

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OS EVANGELHOS- PARTE III

Livro de Marcos

Vamos começar com o livro de Marcos, recomendo que você


pause sua aula e leia a introdução de Marcos capitulo 1. A introdução
de Marcos é uma introdução do próprio Evangelho, costumamos
dizer nos meios teológicos que Marcos escreveu o que Pedro pregou e
viveu.

Marcos é um pouco mais rude, mais jornalístico no sentido mais


simples de narrativas. Você verá no tex to de Marcos um certo reflex o
da personalidade do Apostolo Pedro naquilo que está escrito. Nós
vamos ver que todos os atos de Jesus têm um caráter muito didático.
Te aconselho para ver essa relação: Marcos 13:8 ao 17, 9 e 10 versículo
32.

Marcos coloca a dificuldade que os discípulos tinham de


aprender o que Jesus ensinava. Vamos perceber na narrativa que os
próprios apóstolos tiveram uma certa dificuldade de entender e
digerir tudo isso que Jesus falou com eles.

Vemos uma estrutura de proclamação que no grego chamamos


de “ k erigma” apostólico. Temos esse sentido de que esta
proclamação, este k erigma aponta para uma conversão. Marcos
será aquele que apresenta a postura de Jesus, ele tenta dizer o que
Jesus estava sentindo, pensando, Marcos tem este olhar, ele dá uma
riqueza de detalhes que não vemos nos outros Evangelhos.

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Formação em Teologia

Marcos sempre tenta narrar que os milagres de Jesus nunca


eram o fim, mas o meio para algo.

Abaix o temos um eix o de como a pregação de Pedro descrita em


Marcos está presente no livro de Atos:

Cristo morreu X Pelos nossos pecados e Ressuscitou ao terceiro dia.

Jesus Nazareno / Varão aprovado por Deus X Messias


Milagres / Sinais / Prodígios X Sinais Messiânicos
Crucificado X Obra redentora
Ressurreto X Glorificação
Ascensão X Ex altado a direita de Deus

O objetivo desta relação é você comparar a pregação de Pedro


com o livro de Atos.

Resumindo o livro de Marcos: Nós o encontramos chamando


Jesus de o Jesus Nazareno.

Nesse nome, podemos ter uma ênfase de sua identificação com


os homens: ele andou entre nós, sujou as sandálias, comeu conosco,
sentou à mesa, ouviu nosso choro. Ele é um Deus que entrou na
história e esteve entre nós.

Esse nome, portanto, traz uma ideia de prox imidade, mostrando


que o Deus que andou no nosso meio - e que estava aqui conosco o
tempo todo -, vem de Nazaré, tinha um endereço. E por intermédio de
Deus, realizou sinais e prodígios, atestando sua divindade.

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Formação em Teologia

Até mesmo a morte de Jesus não é vazia, pois trata-se de uma


obra de redenção.

Isso, porque enquanto está morrendo, Ele está consumando


nossa obra. Dessa forma, temos um Jesus Nazareno que morreu por
conta de uma obra pensada pelo pai.

E assim como morreu, Ele ressuscitou, fazendo-se o Cristo


ressurreto. É quando a morte encontra um adversário capaz de
sobrepujar. E ainda Jesus tem a chave da morte e do inferno; e a
morte não pode se governar por si própria porque foi vencida. A morte
deve submissão ao nosso Jesus.

E então vemos esse Jesus que, atestando sua vinda com sinais e
prodígios, revela sua obra de redenção vencendo a morte, sendo,
depois disso, glorificado. E depois da Sua ressurreição vem Sua
ascensão, quando Ele ascende aos céus e se assenta à destra de
Deus.

Livro de Lucas

O livro de Lucas possui uma introdução metodológica e


investigativa, ele é um livro apologético, que significa defesa. Ele
começa o capítulo 1 dizendo que fez uma apuração dos fatos. É
cuidadoso, defende o Evangelho contra uma série de heresias.

Nesse livro também encontramos muitos cânticos e uma


presença forte e maciça de mulheres. A ressurreição nesse livro
ganha uma ênfase destacada.

Enquanto Marcos era mais próx imo de Pedro, vemos


historicamente que Lucas era muito próx imo de Paulo.

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Formação em Teologia

Enquanto Mateus se preocupa com a entrada do reino, Lucas fala


da vida no reino. Lucas e Atos são escritos como um único livro, onde
vemos a ação do Espírito Santo de uma maneira muito forte. Por
conta disso, ex iste uma ex pressão muito presente no livro: “ cheio do
Espírito” .

Portanto, é onde encontramos vários personagens que foram


cheios do Espírito, a fim de cumprirem seus papéis. E assim, com a
leitura do Livro de Lucas, nós vamos concluir que fomos criados para
sermos cheios do Espírito Santo. E que, se não estivermos cheios d’Ele,
não vamos ocupar o lugar na história que Deus destinou a cada um
de nós. Assim sendo, essa é uma condição necessária para
chegarmos onde temos que chegar. Vamos conhecer alguns desses
personagens que foram cheios de Espírito Santo:

• João Batista: No capítulo 1, versículo 15, vemos o primeiro


personagem cheio do Espírito. Trata-se de João Batista,
que é cheio do Espírito Santo ainda no ventre da mãe. Isso
a marca para uma missão de converter a muitos da casa
de Israel.

• Maria: É o segundo personagem cheio do espírito que


encontramos. Ela recebe um grande milagre, que é gerar o
messias.

• Isabel: Cheia do Espírito Santo, reconhece Maria,


chamando-a de bendita entre as mulheres. Também
reconhece quem é o Messias e o louva.

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Formação em Teologia

• Zacarias: Ele profetizou, adorou a profecia como sendo um


movimento de estar cheio do Espírito Santo. Reconhece a
adoração como algo de quem é preenchido pelo Espírito
Santo.

• Simeão: Tinha um desejo de, antes de morrer, ver o


salvador chegar. Cheio do Espírito Santo, conseguiu
esperar o tempo de ver essa promessa chegar à sua vida.

• O Povo: Havia uma promessa de que Jesus nos batizaria no


Espírito Santo. Quando isso aconteceu na vida de algumas
pessoas nos livros de Lucas e Atos, vemos o quanto isso
marcou a vida de cada um deles.

• O Batismo de Jesus: Lucas também fala sobre o batismo de


Jesus como um ato marcado por esse encher do Espírito
Santo. Foi no momento de Seu batismo que se ouve uma
voz que diz: “ este é meu filho amado” . E assim vemos o
próprio Pai testemunhando do Filho.

• A Tentação: O Espírito Santo levou Jesus para ser tentado.


O próprio Espírito Santo, entendendo que o propósito de
Deus era revelar ao homem um Cristo aprovado, leva-o
para que ele seja tentado.

• Jesus: Jesus Cristo cheio do Espírito Santo ex ecuta o seu


ministério.

No livro de Lucas, portanto, vemos no ministério de Jesus a


marca de estar cheio do Espírito Santo – era assim, inclusive, que ele

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Formação em Teologia

ensinava na sinagoga. Da mesma forma, também vemos, por todo o


livro, o Espírito Santo enchendo as pessoas para cumprirem seu
papel na história.

Livro de João

Uma realidade distinta dos demais evangelhos. Ele começa


apresentando Jesus como sendo o verbo (Logus); Jesus é o Logus de
Deus. Podemos encontrar essa mesma palavra em várias
passagens, no original.

“ Por toda palavra (Rhema) frívola que sair da boca do


homem, esse homem dará conta [dessa palavra]
(Logus).” - Mt 12:36

“ Céus e terra passarão, mas a minha palavra (Logus)


não passará.” – Mt 24:35

Assim sendo, Logus era um conceito moral ao qual tanto o grego


quanto qualquer outro ser humano tinha que se adequar para viver
bem. João nos revela que a gente tem que se adequar ao verdadeiro
Logus, que não é o grego, mas sim, o próprio Jesus Cristo. Dessa
forma, João nos apresenta esse Logus,

Jesus Cristo, através de sinais escritos do capitulo 1 a 11 de João:

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Formação em Teologia

• Transformação da Água em Vinho: É o primeiro milagre de


Jesus. Significa que sair da condição da água para o vinho
é como sair do legalismo para cristianismo.

• Derrubar o templo e reconstruí-lo em 3 dias: Aponta para o


que Jesus irá fazer, a ressurreição.

• A Mulher Samaritana: Jesus, naquela conversa, está


abrindo a porta do Evangelho aos samaritanos, mostrando
que a cruz veio para desfazer a verdade.

• A cura do Paralitico: É um questionamento sobre a forma


como esperamos a cura.

• A Multiplicação dos Pães: Aqui vemos Jesus querendo


alimentar a todos.

• Comer carne e beber sangue: Fala sobre o digerir o


Evangelho, comer a carne, beber o sangue tem a ver com
você colocando para dentro aquilo que Jesus Cristo fez na
cruz para você.

• Ressureição de Lázaro: É nitidamente um aceno, uma


breve possibilidade de que assim como ele tem poder de
ressuscitar lazaro, ex iste poder suficiente Nele para que Ele
não seja vencido pela morte.

Concluímos, então, que o evangelho é aquilo que transforma o


ego do homem. E sem a transformação do ego, continuaremos presos
às nossas inclinações, às nossas paix ões. A importância de ler o

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Formação em Teologia

Evangelho é ser impactado pela mensagem única na história da


humanidade.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

ATOS DOS APÓSTOLOS - PARTE I

Introdução

A primeira ex plicação que damos ao livro de Atos é que ele é uma


continuação. O tex to tem uma continuidade entre o livro de Lucas e o
livro de Atos. Quando estudamos estes livros, estamos estudando um
bloco único. O autor destes livros é o mesmo, ou seja, Lucas.

Se estamos falando de atos, de ação, são atitudes de quem? O


ponto comum que podemos chegar é que na força do Espírito Santo
aqueles homens estão agindo. Quem está motivando a ação é o
Espírito Santo, mas é através da vida dos apóstolos.

No livro de Atos nós vemos a igreja surgir, nascer.

Dentro da tradição judaica, quando você tem 12 testemunhas é


uma referência a validar uma verdade, ou validar um
acontecimento. Ex iste na narrativa de Atos uma força jurídica de
validação. Estes homens viram o Cristo encarnado, viram este Cristo
ser morto e testemunharam que este Cristo ressuscitou.

O próx imo passo é entendermos o Querigma apostólico. Quando


falamos de Querigma, estamos falando de “ proclamação” . Nós
vemos isso no livro de Atos, de Marcos. Qual a proclamação
querigmática dos apóstolos?

Você verá um eix o dizendo que Jesus O Nazareno que fez


milagres, sinais e prodígios, que foi entregue, que foi preso, morto e
crucificado e ressurgiu dentre os mortos, está ex altado a direita de
Deus. Este é o eix o da proclamação, este eix o você vê também no livro
de Marcos através do discurso de Pedro.

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Formação em Teologia

Introdução de Atos

Quando chegamos no Capitulo 1:5 até o Capitulo 2:1, temos uma


introdução do livro, chamamos isso de prologo. Neste prologo ex iste
esta apresentação da comunidade, o que ela está proclamando.

Primeiro Bloco

Atos 2:2 a Atos 6:7,8

Nesse primeiro bloco, que vai até o capítulo 6:7,8, temos o


nascimento da comunidade da Igreja. Trata-se de uma comunidade
pneumática, do Espírito Santo, humanitária, que busca o bem-estar
e age em favor dos seus membros. É marcada pela proclamação da
verdade do Evangelho e pela força deste testemunho.

É importante observarmos que essa comunidade é


essencialmente judaica. Portanto, essa primeira igreja que nasce, é
composta de cristãos judeus, mostrando as características de judeus
convertidos.

Segundo Bloco

Atos 6:9 a Atos 9:31

Até o capítulo 9:31 nós temos o segundo bloco, que retrata uma
comunidade com um perfil diferenciado. Trata-se de uma igreja que
já não é mais essencialmente judaica, ex istem também os gentios.
Já começam a vir elementos ex ternos onde a força da tradição
judaica deix a de ser tão determinante. Aos poucos começa a haver

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Formação em Teologia

uma migração para uma comunidade onde o perfil racial do primeiro


bloco já não é dominante.

Marcas de Perseguição da Igreja

Logo no início da Igreja podemos observar uma marca de


perseguição. Temos a Igreja de Cristo sofrendo alguns tipos
diferentes de perseguição, por volta de 40 d.C. Vejamos quais são
elas.

• Perseguição Diplomática: Nesse período de perseguição


diplomática podemos perceber uma certa tolerância,
ainda que em estado de vigia. A comunidade cristã é
aceita, mas tem sobre ela uma atenção maior. Portanto,
ainda que haja essa aceitação, ainda ex iste uma tentativa
de controle, uma certa vigilância, um olhar mais atento e
desconfiado.

• Perseguição proibitiva: A perseguição diplomática dá


lugar a uma perseguição mais forte, que é a perseguição
proibitiva. Aqui, os apóstolos são presos e proibidos de
pregar o Evangelho; começam a ser coagidos, intimados a
se calar.

• Perseguição popular: Este é o terceiro nível de perseguição,


que é orquestrada pelos fariseus. Estes, passam a
identificar os apóstolos como hereges e começam a
perseguir essa comunidade que está nascendo.

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Formação em Teologia

Inclusive, é dessa revolta popular que surge a morte de Tiago, o


segundo crime realizado, após o crime do assassinato de Jesus.
Tiago é perseguido e morto no período onde os fariseus orquestram
uma verdadeira “ caça às brux as” na comunidade de Atos. Tudo isso
acontece sob coordenação de Herodes.

A tradição identifica ainda a morte de Pedro como consequência


desse processo (mais ou menos 60 d.C.). Depois disso temos também
a morte de Paulo. Portanto, trata-se de um período na história onde
esse fermento dos fariseus vai contagiar os romanos, que também
passam a perseguir os apóstolos.

Os Primeiros Aspectos do Nascimento da Igreja

A igreja nasce, então, como alternativa dos ex cluídos, porque ela


começa a ser perseguida. O fato é que seus 300 primeiros anos são
sob perseguição. A Igreja, portanto, não nasce com um núcleo social
de fácil acesso.

Muito pelo contrário, ela nasce como uma contracultura, uma


contramão, um gueto, uma alternativa àquela sociedade que
paulatinamente cercava os apóstolos e todos aqueles que
confessavam o nome de Cristo.

Organização da Igreja de Atos

É importante observarmos um aspecto importante da Igreja de


Atos, que é a forma como era organizada a sua liderança. Não é
necessariamente uma hierarquia (embora essa se construa no
decorrer do tempo). Trata-se de uma liderança planificada onde

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Formação em Teologia

temos uma diaconia. Surgem, então, os diáconos da Palavra e


diáconos da mesa.

Diácono é aquele que serve. Nós temos um episódio onde os


apóstolos percebem que as funções estão se atropelando, e então
chegam à conclusão de que não é bom deix arem a diaconia da
Palavra pela diaconia da mesa.

Os apóstolos entendiam que precisavam se dedicar à Palavra e


à oração e, portanto, precisavam levantar homens que fossem
cheios do Espírito Santo para a diaconia da mesa (servir a mesa).
Essa diaconia consistia em realizar tarefas como: supervisionar,
ajudar na organização da Igreja, abençoar a casa das viúvas e dos
órfãos etc. Esses diáconos são homens, na maioria, de origem grega.
Um deles é Estevão, que faz parte da primeira leva da diaconia da
mesa.

Muito se fala sobre a Igreja Primitiva, especulando como ela era.


E alguns chegam a dizer que a Igreja Primitiva é uma Igreja que tende
ao socialismo. No entanto, não ex istem referências com relação a
isso. Precisamos entender a sua lógica.

A igreja de Atos é uma comunidade que se reúne em torno de


Jesus Cristo e que reparte tudo segundo a necessidade de cada um.

1ª ideia: repartir;
2ª ideia: necessidade

A ideia central da Igreja Primitiva consiste em: Se meu próx imo


tem uma necessidade, significa que eu tenho uma possibilidade, a
igreja tem um dever.

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Formação em Teologia

Para melhor entendimento, vamos fazer uma ex emplificação.


Imagine que uma pessoa tenha necessidade de 1000 (moedas). Eu
tenho uma possibilidade de 100. A igreja, então, se organiza de acordo
com as possibilidades de cada um, para que a necessidade seja
cumprida. Isso não é um sistema político. É olhar para o próx imo e
entender que ele é alvo de nossa compaix ão.

Portanto, a Igreja Primitiva ajuda o próx imo de acordo com a


necessidade, e não com a possibilidade no sentido geral. A
possibilidade pessoal era respeitada, mas a necessidade não era
desprezada. Não ex iste nenhum outro grupo que pense na
necessidade com tanta compaix ão e responsabilidade. Vemos nessa
Igreja, a necessidade do próx imo sendo atendida em uma medida
real.

Na Igreja Primitiva eles tinham tudo em comum: essa é a ideia de


comunidade. O que tinham em comum é que a necessidade era
suprida. Eles não eram proibidos de ter propriedades. A ideia é que
eles resolviam a necessidade de uma forma coletiva sem destruir a
individualidade. Esse é o segredo da Igreja Primitiva.

Podemos ver que eles estavam tão cheios do Espírito Santo, que
foram uma comunidade que quebrou o poder de Mamom, o deus da
riqueza. E esse deus não teve vez na Igreja Primitiva porque a riqueza
não esteve à frente da misericórdia e compaix ão das pessoas.

Temos então o primeiro mártir: Estevão. Ele percebe o novo


momento da história, que era vivida em volta de Jesus. Percebe que
aquele sacrifício que entregavam no templo já não fazia tanto
sentido. Ele passa, então, a anunciar essas verdades, e acaba sendo
morto por isso, pois não aceitavam o que ele pregava sobre a nova
Igreja.

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Formação em Teologia

A Igreja Primitiva é aquela que persevera no partir do pão, na


comunhão e na doutrina dos apóstolos. Eles perseveravam em
comunhão, tendo tudo em comum no sentido de suprir a necessidade
do próx imo. Oravam juntos e perseveravam na doutrina = ensino. Ou
seja, a Igreja perseverava no ensino dos apóstolos.

Quando Jesus ensina a orar o pai nosso, a Igreja da época tinha


uma marca. Já a Igreja Primitiva orava diferente, porque a própria
Igreja já respondia o pão nosso. Um dos grandes milagres que eles
têm de diferente é que o “ pão nosso” era compartilhado pela própria
Igreja e a oração segue a vida numa direção de descobrir todas as
profundidades da riqueza do nosso Senhor.

Ex iste essa insistência em sua comunidade de ser um grupo de


pessoas que está sempre dividindo o pão? Ex iste uma insistência de
ser o grupo de pessoas que está sempre orando? Ou ex iste uma
insistência em ser o grupo de pessoas que está sempre aprendendo
e sendo transformado pela doutrina?

A verdadeira igreja precisa ter esta marca de perseverança


nestas três áreas.

Finalizando, o Pentecostes será o próx imo assunto da nossa


próx ima aula. Tem duas informações que quero que você guarde
agora para aguçar sua curiosidade para nossa próx ima aula.

Primeiro, quando falamos de Pentecostes, estamos falando de


um período de 50 dias depois da pascoa.
Segunda, Pentecostes é uma festa da colheita. O que se
comemora na festa da colheita?

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Formação em Teologia

Quero que você estude, pesquise e medite sobre isso para nossa
próx ima aula.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

ATOS DOS APÓSTOLOS - PARTE II

Pentecostes

O Pentecostes é a segunda festa no calendário judaico, ex istiam


vários nomes para a festa do Pentecostes, o primeiro deles era: A
festa da colheita (Êx odo 23:16), se colhia os grãos de trigo, cevada, era
uma festa agrícola. O segundo nome que você talvez encontre é: A
festa das semanas (Deuteronômio 34:22 – Números 28:25), são 50
dias após a páscoa, a festa começa colhendo os primeiros grãos de
cevadas e só termina quando os primeiros grãos de trigos estiverem
sendo colhidos. Temos também: A festa das primícias dos frutos, que
é uma festa marcada por uma oferta voluntária para celebrar os
primeiros frutos.

Para clarear sua mente, a primeira festa que temos no


calendário judaico é a Pascoa, 50 dias depois temos a festa da
colheita, ou das semanas e depois temos a última festa, dos
Tabernáculos, a Festa das Primícias está presente em todas estas
festas.

Quando falamos em Pentecostes, estamos falando em grego,


desde de 331 a.C. os gregos dominam tudo e no que eles dominam
tudo estes nomes hebraicos já não fazem mais sentido, porque quase
ninguém mais fala a língua hebraica. Então toda ex pressão hebraica
começa a precisar ser traduzida. Eles resumem todas as ex pressões
desta festa em uma ex pressão grega, Pentecostes.

A festa começa quando a foice corta as primeiras espigas


(Deuteronômio 16:19), depois deste primeiro evento ex iste uma
peregrinação ao local do culto, estas pessoas que estavam

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Formação em Teologia

trabalhando no campo vão para o templo, então acontece a santa


convocação, um momento de alegria, de ação de graças, as famílias
se reúnem para festejar, eles levam esta colheita e oferecem no
templo como oferta de gratidão a Deus.

Entretanto Pentecostes também tem um lado memorativo, com


o propósito de lembrar o que Deus fez, fazendo menção da libertação,
do deserto etc. Portanto, é uma festa de agradecimento.

No Antigo Testamento ex iste um paralelo com a Torre de Babel.


Onde vemos um grupo de homens querendo subir aos céus e a
estratégia de Deus para separá-los é confundi-los através das
línguas. Já em Atos ocorre o oposto, é através da confusão das
línguas que as pessoas são inseridas no Reino.

Então percebe-se que a mistura de línguas é um evento que


ocorre novamente, mas dessa vez com um novo significado, o
propósito é aprox imar e não afastar, pois abre espaço para que todo
mundo entenda e faça parte. Por este motivo, a maldição de Babel é
quebrada em Atos capítulo 2.

O primeiro milagre que podemos ver em pentecostes é do


Espírito Santo, de interpretar, que não ocorre apenas na língua, mas
também na audição pois agora as pessoas são capazes de ouvir o
que antes não compreendiam. Fato que é muito atual, pois hoje no dia
a dia, é visível os inúmeros problemas que as pessoas passam pelo
simples fato de não conseguirem interpretar o que os outros querem
dizer. Percebe-se então, em Atos 2 a possibilidade de interpretar a
vida de uma maneira mais autêntica.

Entender Atos 2 é acreditar que o Espírito Santo vai traduzir a


nossa vida, de um jeito que ela precisa ser traduzida para que assim
faça sentido a quem assiste. Primeiramente, o capítulo 2 de Atos

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Formação em Teologia

inicia dizendo que os apóstolos estavam reunidos para o dia de


Pentecoste. Naquele dia todos estavam reunidos por ocasião da festa
agrícola, mas além de uma celebração havia a atitude de adoração
e contrição.

Então no versículo 2 podemos ver que eles presenciaram duas


ex periências sobrenaturais durante suas orações. “ De repente veio
do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa
na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo,
que se separaram e pousaram sobre cada um deles.” – Atos 2:2,3.

Primeira Experiência Sobrenatural

Trata-se da ex periência da audição. Enquanto as pessoas


estavam reunidas esperando os acontecimentos da festa (comida,
confraternização etc.), estavam orando. Durante a oração veio sobre
eles um som, portanto, o primeiro milagre está acontecendo no
ouvido, no sentido da audição. Estão escutando algo sobrenatural:
“ som como de um vento forte” .

Segunda Experiência Sobrenatural

Foi a visão, pois eles viram línguas repartidas como de fogo


pousando sobre suas cabeças, conforme os Espírito Santo lhes
concedia que falassem. Por isso, entender a festa de Pentecostes irá
nos ajudar a entender o propósito de tudo.

É importante lembrar que em Jerusalém havia habitantes de


diversas localidades (versículo 5: " homens de todas as nações
debaix o do céu" ). Então o que atraia aquela multidão era o som: o
mesmo som que foi ouvido, primeiro pelos apóstolos, depois por

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Formação em Teologia

todos que estavam ali esperando pela festa. Então todos se juntaram
confusos para ver o que estava acontecendo e cada um ouvia em sua
própria língua.

Portanto, o Pentecoste tem que ser entendido como um


fenômeno de interpretação do Espírito Santo. Todos estão perplex os,
porque cada um ouve na sua língua (versículo 6: " ficaram muito
admirados porque cada um podia entender na sua própria língua o
que os seguidores de Jesus estavam dizendo" ) e se perguntavam
quem estaria falando. Observe que se tratava de um grupo de
pessoas simples, muitas sem estudo, sem condições e preparo pra
falar todas aquelas línguas, por este motivo ficam muito surpresos
com os sons que estavam ouvindo.

Ex istem três posições em nosso meio para interpretar o livro de


Atos:

1º GRUPO - Pessoas que defendem que são línguas humanas –


(Igrejas tradicionais)

2º GRUPO – Pessoas que defendem que são línguas de anjos –


(Maioria da igreja)

3º GRUPO – Pessoas que defendem 2 dons distintos: Um aparece em


Coríntios e um dom que aparece em Atos

Qual a semelhança desse dom de Atos com o dom de Coríntios a


que Paulo ex orta a Igreja? Qual relação tem esse dom que podemos
encontrar em Coríntios?

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Formação em Teologia

Façamos uma breve análise:

• Coríntios: O dom de línguas é usado na Igreja, e quem


manifesta esse dom está edificando a si mesmo. Ou
seja, o portador do dom edifica-se a si mesmo. Trata-
se de uma linguagem sobrenatural, que precisa ser
interpretada.

• Atos: É um acontecimento evangelístico, quem ouve é


edificado. O dom de línguas é repartido e as pessoas
estão falando de uma forma que todos entendem.

Trata-se de uma linguagem humana (guiada pelo Espírito), não


precisa de ninguém para interpretar.

Isso nos leva a entender que ex istem dons de línguas diferentes,


sendo que o Livro de Atos 2 fala de uma realidade e Coríntios fala de
outra. Um problema que ocorre quando falamos de Pentecostes, é
que algumas pessoas, mesmo lendo Atos, pensam em Coríntios.

Portanto precisamos estar atentos, para o fato de que, o que


acontece em Atos é radicalmente diferente do que acontece em
Coríntios. “ Tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e
árabes. Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa
própria língua!" – Atos 2:11

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Formação em Teologia

Boas Novas

Todos esses povos começaram a escutar de forma sobrenatural


a proclamação do Evangelho, as grandezas de Deus, as anunciando.
Eles estavam anunciando o Evangelho de um Cristo que morreu e
ressuscitou, portanto, pregando a verdade do Evangelho. “ Atônitos e
perplex os, todos perguntavam uns aos outros: Que significa isto?" –
Atos 2:12

Pedro começa a pregar e ex plicar o Evangelho. O resultado dessa


pregação são as primeiras conversões. “ Quando ouviram isso, os
seus corações ficaram aflitos, e eles perguntaram a Pedro e aos
outros apóstolos: " Irmãos, que faremos? Os que aceitaram a
mensagem foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de
cerca de três mil pessoas” . - Atos 2:37,41

Não podemos pensar em Pentecostes sem pensar em 3.000


almas que foram salvas. A festa de Pentecostes celebrava a colheita,
da mesma forma, naquele dia, reunidos para celebrar o Pentecostes,
mais uma vez as pessoas têm motivo para celebrar uma colheita: a
primeira grande colheita da Igreja, de 3.000 almas.

Por este motivo, em Atos 2 nota-se uma ênfase evangelística,


onde o dom de línguas tem o objetivo de alcançar almas. Já o dom de
línguas em Coríntios tem como objetivo edificar o Corpo de Cristo.
Isso precisa ficar muito claro, para que entendamos a diferença entre
um dom que nos empurra a fazer uma grande colheita e o dom que
ajuda a fortalecer o Corpo de Cristo. Infelizmente, muitos ainda
confundem esses dons, por isso precisamos caminhar algumas
milhas para compreendermos com mais profundidade o episódio de
Atos 2. Entendê-lo é de uma riqueza inestimável ao Evangelho.
Estamos falando de um tex to que nos leva a querer ser

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Formação em Teologia

verdadeiramente pescadores de almas, e que Atos 2 possa reacender


a nossa paix ão por ver o Reino de Deus se ex pandir.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

ATOS DOS APÓSTOLOS - PARTE III

Primeira Viagem Missionária

A 1ª viagem missionária vamos ver a partir do capitulo 12. O que


percebemos neste movimento é que eles vão levar a oferta de
Antioquia para Jerusalém. O Espírito revela que Paulo/Saulo e
Barnabé seriam os enviados pela igreja.

Esta viagem começa em Chipre, esta é a cidade natal de


Barnabé, fica a mais ou menos 24k m de Antioquia. Podemos colocar
este movimento de ser enviado em três eventos principais:

1º EVENTO: Durante esta viagem Paulo/Saulo evangeliza


Procônsul, uma pessoa que tem um valor político muito forte. Paulo
confronta o Simão/Mago.

2º EVENTO: Paulo vai a uma sinagoga.

3º EVENTO: Vemos em Listra uma pregação para uma grande


multidão.

Aqui você vê três características missionárias bem destacadas.


Em primeiro lugar a abordagem mais pessoal, em segundo lugar
levar o evangelho a lugares onde ele quer ser aprendido, em terceiro
lugar a multidões.

Nesta viagem Paulo e Barnabé levam Marcos para ajuda-los e


logo depois ele vira personagem de uma confusão.

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Formação em Teologia

A esta altura eles estão deix ando Salamina que é uma cidade
comercial no Chipre, atravessam toda a Ilha de Pafos, esta travessia
é cerca de 145k m.

Toda pregação de Paulo era acompanhada de sinal e


mensagem. Que tipo de sinal precisa acompanhar a verdadeira
pregação do Evangelho?

Antioquia da Psidia

A partir do capitulo 13 chegamos em Antioquia da Psidia e


atracam em Atalaia. Eles estão indo para o interior de Perge, o
próx imo cenário onde as coisas vão acontecendo. Marcos que era
parente de Barnabé, decide não ficar ali e ele volta para casa, o
motivo é desconhecido, mas como estamos fazendo esta relação, os
mais possíveis talvez seja o medo de bandidos que viviam naquela
região, outro muito defendido pelos teólogos é que Marcos estava
preocupado porque Paulo estava doente e ele considerou
imprudente continuarem a viagem.

Chegando em Perge a informação que temos é que era uma


colônia militar, mais estruturada. Eles começam a pregar nesta
província, o povo tem uma reação inicial favorável, pessoas
querendo ouvir e em contrapartida da mesma forma que ex istem
pessoas interessadas no que Paulo e Barnabé estão pregando, vai
haver muita inveja dos judeus.

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Formação em Teologia

Icônio

No capítulo 14 eles chegam a uma próx ima cidade: Icônio. Eles


gastam tempo neste lugar corrigindo falsos ensinos, trazendo mais
pessoas a fé e sofrem uma oposição como de costume.

Listra

A próx ima cidade é Listra e Derbe. Aqui nós vemos a cura de um


cox o, a tentativa de adorarem Paulo e Barnabé. Depois de saírem de
Listra fugidos por conta de uma tentativa de apedrejamento em
Paulo, Barnabé o leva para Derbe.

Quando chegamos no capitulo 14:21 ao 28, temos a volta para


casa, para a Antioquia da Síria. Eles prestam conta, testemunham o
que aconteceu.

Aqui temos uma lista das igrejas que foram abertas através
destas viagens de Paulo e Barnabé:

• Listra;
• Icônio;
• Antioquia da Psidia.

O Concilio

Paulo passou por muitas cidades, houveram muitas confusões,


pessoas que abriram portas e outras que fecharam e desta primeira
viagem já surge um debate, uma discussão de cristãos que veem do
judaísmo e cristãos que são gentios.

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Formação em Teologia

Eles começam a viver juntos, causando um certo atrito. A igreja


precisa fazer algo, pois a unidade está ameaçada, então chegamos
no capitulo 15 de Atos onde ex iste este concilio, uma acomodação
entre os judeus cristãos e os judeus gentios.

Uma das reivindicações dos judeus cristãos é que só o batismo


nas águas era pouco, precisava haver também a circuncisão.
Quando você chega no versículo 19,20 e 21 você vê o que este concilio
resolveu e Tiago que estava presidindo a reunião envia o resultado
em forma de carta para todas as igrejas da região.

A resolução desta reunião é que a salvação é uma verdade cristã


inegociável, chegamos no Evangelho pela fé e não por rituais, ou por
obediência qualquer.

Os primeiros 15 capítulos nós vemos uma igreja que não é mais


dependente da lei, mas que entra em conflito com esta tradição.

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ATOS DOS APÓSTOLOS - PARTE IV

Segunda Viagem Missionária

Quando falamos do livro de Atos, os 15 primeiros capítulos


mostrarão uma igreja gentílica, uma igreja que é livre da Lei, que
surge no ambiente que vemos em Atos.

Os últimos 13 capítulo vemos uma narrativa de uma ruptura,


ex iste um afastamento entre a igreja e a sinagoga. Nestes 15
primeiros capítulos nós vemos que eles ainda andam juntos, mas nos
13 capítulos restantes vemos que eles tomam caminhos diferentes.

A sinagoga se torna uma instituição ex clusivamente judaica e a


igreja deix a de estar tão vinculada a esta instituição.

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Formação em Teologia

Onde quer que Paulo fosse levar o Evangelho, ele passa


necessariamente nas sinagogas para falar com os judeus e quase
que invariavelmente ele recebia oposição. Por outro lado, nós
encontramos uma recepção calorosa por parte dos gentios.

Atos 16:6 e Atos 17:15, o ponto de partida é a igreja de Antioquia.


Nesta altura percebemos que o Evangelho vai tentar chegar na
Europa. O que gostaria que você percebesse nesta segunda viagem
missionária é como vemos as igrejas que são características do Novo
Testamento: Éfeso, Corinto, Tessalônica, Filipos.

Paulo sai de Antioquia, passa por Tarso onde é sua cidade natal,
passam por Filipo, Tessalônica, Bereia e aqui ex iste uma ex periencia
interessante, porque alguns judeus que tinham este costume de
olhar na lei, muitos deles se convertem.

Neste nascimento da igreja Paulo passava que estas igrejas


continuassem, pela providencia do Espírito Santo, pois nesta época
não havia como eles fix arem suas bases em um só lugar.

Minha ênfase é muito simples e muito pontual, o Espírito Santo


não é refém dos nossos planejamentos, mas isso não significa que
não devemos planejar.

Quando ele chega em Atenas e Éfeso, eles cruzam o mar,


chegando em Cesareia e voltando para Antioquia. Ele passa por
Jerusalém, tem contato com os apóstolos e volta para Antioquia, o
quartel general de onde ele saiu.

Vemos no versículo 13 do capitulo 16 em um sábado de manhã,


num período de oração, uma comerciante chamada Lídia na cidade
de Tiatira e ali você vê o nascimento de uma igreja.

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Do versículo 19 a 40 vemos o carcereiro Romano, vemos o


nascimento da igreja de Filipenses, uma cidade que era cosmopolita,
o nascimento da igreja Tessalônica. Essas igrejas nasceram quase
que do mesmo formato.

Em Atenas no capitulo 17 vemos Paulo indignado com a idolatria.


Mas a indignação dele, não faz com que ele parta para uma guerra
santa, a indignação dele vira proclamação do Evangelho.

No tempo de hoje, a sua indignação vira o que?

Todo o percurso que Paulo faz é fruto do entendimento de que a


Palavra de Deus precisa ser levada, ora por amor ao Evangelho, ora
por gratidão ao Evangelho e ora por indignação por ver que as coisas
estão fora do lugar.

Você verá tantas coisas nos tempos de hoje, porém se sua


indignação não está te movendo a proclamar o Evangelho, algo está
errado.

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Formação em Teologia

ATOS DOS APÓSTOLOS - PARTE V

Terceira Viagem Missionária de Paulo

No capítulo 19 até o capítulo 21:16, precisamente nos anos 53 a 57,


começamos a ver uma nova equipe da terceira viagem missionária
sendo formada: Paulo, Timóteo, Erasto, Sóprato, Aristarco e Gaio.

Agora Paulo vai sedimentando cada vez mais novas cidades,


plantando novas Igrejas. A missão na cabeça de Paulo é plantação de
igrejas. Em Atos 18:23 ele batiza 12 homens em Éfeso, sai de Antioquia
e visita as regiões da Galácia. Depois o tex to volta para Apolo, um
homem carismático com o dom da pregação que é ajudado por
Priscila e Áquila.

Paulo então vai para Corinto, onde encontramos a famosa


discussão: “ eu sou de Paulo, eu sou de Apolo” , por conta da chegada

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Formação em Teologia

de ambos a Corinto. Ali Paulo encontra alguns discípulos e o


Evangelho vai se estendendo. Mas nessa terceira viagem precisamos
destacar alguns detalhes importantes.

Em Atos 19:6-7 alguns homens recebem poder pela imposição


das mãos de Paulo. A palavra poder é fundamental, mas ao mesmo
tempo, vemos uma outra forte relação que é a do ensino. Paulo ficou
na escola de Tirano por 2 anos, onde ensinou durante esse período.

O resultado dessa viagem então é que o Evangelho foi ainda


mais propagado em vários lugares.

As Marcas do Processo Missionário de Paulo

Um fato comum em todo processo missionário do apóstolo Paulo


são duas marcas distintas: ensino e poder.

Ensino: Paulo gastava muito tempo ensinando, e suas pregações


tinham uma forte linha de ensino. Ele entrava nas sinagogas para
ensinar o Evangelho ao fariseu - a única forma de ensinar o
Evangelho para um fariseu era através da menção da lei.

Poder: Esse poder inicialmente cria uma resistência, faz com que
Paulo resista a coisas incalculáveis e insuportáveis.

No capítulo 21:17 até 26:32 ele é preso, depois vai para Roma.
Paulo sempre pensa em Roma, pois sabe que o final da sua
peregrinação vai terminar ali, onde é preso. Mas ao final do livro de
Atos, uma informação nos surpreendente: o Evangelho era pregado
sem impedimento algum.

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Formação em Teologia

Há quem acredite, ao ler essa citação, que Paulo estava em uma


situação confortável. Porém, ele já havia sido apedrejado, preso,
surrado e cada vez mais perseguido. Apesar de ter uma certa
liberdade, entrou em uma prisão domiciliar de onde não saiu mais. E
o final da vida de Paulo se dá dessa forma, no corredor da morte.

Essa afirmação é profética e de fé: nem o Império Romano, no


auge de sua força, nem após toda a tortura que foram capazes de
submeter Paulo e seus companheiros, nada disso foi impedimento
para que o Evangelho fosse pregado.

Mas isso não é uma afirmação de que as coisas estão liberadas,


mas sim, que não ex iste nenhuma força, império ou resistência que
seja capaz de deter o poder de testemunhar o que está sobre a vida
da Igreja. Por isso é tão importante entendermos que o poder que
recebemos do Espírito Santo é um poder que, em qualquer
circunstância, nos capacita a evangelizar, anunciar e profetizar sem
impedimento algum.

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Formação em Teologia

CARTAS PAULINAS - PARTE I

Introdução

O tema a partir de agora, são as cartas Paulinas. Nessas cartas,


Paulo tem uma importância significativa onde, seguramente, surge
no Novo Testamento para nos esclarecer sobre a fé cristã.
Começamos então com as cartas Paulinas, um conjunto de literatura
produzida pelo Apóstolo Paulo para edificação da igreja.

Para melhor nos contex tualizarmos, a carta era um acontecimento


ou meio de comunicação na época da Pax Romana (paz concedida
pelo Império Romano em todo o seu domínio). Então, a partir da Pax
Romana, a carta ganha um poder, uma amplitude para alcançar as
pessoas de diversas formas. Isso porque, a partir daquele momento,
elas podiam ir e chegar aos seus destinatários sem serem
ex traviadas por diversos fatores.

Em função de muitos acordos políticos e também de uma


dominação bélica, é nesse período em que Roma consegue
estabelecer essa paz que as cartas passam a funcionar como
comunicação oficial de cidade para cidade, de político para político,
e também possui uma característica comercial. Dessa forma, a carta
passa a ser um veículo de comunicação oficial, publica, um
documento, um meio de circulação de comunicação. É importante
lembrarmos que nessa época que não ex istia nenhum meio de
comunicação moderno como o rádio, por ex emplo.

Assim sendo, a carta é o que as pessoas tinham de mais


poderoso e de mais efetivo em termos de comunicação entre grupos

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Formação em Teologia

e cidades. Nesse contex to, surgem as cartas Paulinas. Vejamos a


diferença entre carta e epístola.

• Carta - uma espécie de correspondência pessoal.


• Epístola - alguma coisa um pouco mais elaborada, uma
obra literária.

Alguns autores dizem que as cartas Paulinas são uma mistura


entre carta – de conteúdo significativamente pessoal - e epístola,
com desenvolvimento literário, teológico e filosófico significativos.

Para melhor entendimento do que seja uma carta, a primeira


característica é que ela possui um remetente e um destinatário.
Depois ela apresenta um assunto específico, um problema, uma
questão a ser resolvida de cunho pessoal - ou em relação à própria
igreja. Além disso, a carta irá apresentar local e data.

Assim sendo, quando vamos ler uma Carta Paulina ou uma


Epístola, essas são as primeiras perguntas que precisamos fazer:
Quem está mandando? Quem está recebendo? Qual é o assunto?
Qual a data?

Fazer essa identificação é muito importante, uma vez que


estamos falando de um processo de comunicação, de uma
mensagem. Portanto, para um melhor entendimento da mesma,
precisamos entender também o seu veículo. Podemos ex emplificar
com o que acontece atualmente: se você manda recebe uma
mensagem de SMS e lê apenas um fragmento desse tex to, será muito
difícil de se contex tualizar a conversa inteira.

Assim sendo, essas são as primeiras perguntas que você deve


fazer e entender essa estrutura. É preciso entender qual é a
argumentação e o que o autor está querendo fazer nessa carta.

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Formação em Teologia

Observe que ele vai estar sempre argumentando dentro de uma


circunstância específica.

No momento em que alguém tem alguma coisa para resolver,


um problema prático que precisa ser resolvido, a carta vai chegar no
meio da comunidade ou no meio de um grupo específico, a fim de
resolver uma questão prática na fé cristã.

Então ela sempre cumpre um propósito de entrar nessa lacuna


de comunicação, como alguém que está chegando para resolver
uma tarefa teológica, uma prática Cristã que precisa ser resolvida,
renovada, reformada. Ela chega para resolver alguma circunstância
que começou a fazer com que o destinatário perdesse o foco.

Já na epístola nós temos mais ou menos a mesma estrutura, só


que esta argumentação é desenvolvida de uma forma um pouco
diferente, pois ex iste um pensamento teológico mais desenvolvido. É
por isso que podemos defender a ideia de que as cartas Paulinas são,
em parte, epístolas - por serem desenvolvidas como obra literária,
como teologia – e, em parte, correspondência – por trazerem um
caráter de prox imidade.

Então o primeiro passo é identificar de onde essa carta está saindo e


para onde está sendo direcionada. Quanto às cartas Paulinas,
podemos dividi-las em três grupos: cartas missionárias, cartas da
prisão e cartas missionárias.

Cartas Missionárias

Foram cartas produzidas nas viagens missionárias. Temos como


ex emplos de cartas missionárias I e II Tessalonicenses, I e II Coríntios
e também o livro de Romanos. Essas cartas possuem um caráter

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Formação em Teologia

essencialmente de soteriologia, ou seja, elas irão tratar, de uma


forma ou de outra, de salvação; terão uma ênfase para conversar
com esses grupos a quem estão sendo destinadas.

Vale lembrar que muitas cartas são circulares e não são


direcionadas especificamente para um grupo. No entanto, a partir de
um determinado momento, todas elas se transformam em cartas
circulares.

Então a ênfase e objetivo dessas cartas missionárias é falar


sobre salvação. A soteriologia dá conta da salvação. Então, nessas
cartas missionárias, nós conseguimos ver esse desenrolar, esse
anúncio da salvação, que é enfatizada por Paulo.

Cartas da Prisão

São cartas escritas por Paulo quando ele está na prisão.


Podemos encontrá-las em Filipenses, Efésios, Colossenses e Filemon.
Essas cartas têm um caráter diferente, um caráter cristológico.

Então se formos traçar um eix o que una as cartas missionárias,


teremos uma ideia de salvação. Se traçarmos um eix o que una as
cartas da prisão, podemos pensar em cristologia.

Precisamos entender que ex istia, na época, uma tendência


muito forte em diminuir a pessoa de Cristo, incluindo confusões sobre
quem Ele era. Dessa forma, o assunto ou a preocupação dessas
cartas, além de combater uma heresia, era também de apontar
quem é Cristo, ajudando a desfazer confusões que pudessem
aparecer ao longo do processo.

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Formação em Teologia

Cartas Pastorais

Nessas, podemos ver o cuidado de Paulo como um incentivo ao


Ministério. É o caso de I e II Timóteo e Tito. Essas cartas têm um tom
quase que paternalista, mas também com incentivo de formar e
estimular uma liderança. Podemos ver isso às cartas a Timóteo, que
tinham a intenção de estimular o seu ministério, a fim de que ele não
desanimasse e continuasse perseverando.

Podemos recapitular os três principais blocos da seguinte


maneira:

• Cartas missionárias - fruto das viagens que o apóstolo fez;


• Cartas da prisão - cristológicas cujo alvo é Cristo;
• Cartas pastorais – podemos chamar de eclesiologia, pois
irão resolver problemas locais da igreja, além da ênfase
ministerial.

Então, quando o Paulo está escrevendo as cartas pastorais, ele


está preocupado também em como estabelecer a liderança, está
pensando em algumas regras de convívio ou necessidades de
encaix e no dia-a-dia da Igreja. Então essas cartas são eclesiológicas
porque tentam responder ou respondem as demandas de uma igreja,
cujas questões estão acontecendo o tempo todo.

E sendo Paulo o apóstolo que está supervisionando uma


quantidade significativa de igrejas, as cartas pastorais têm o
objetivo de um supervisor que escreve aos seus supervisionados.
Tendo distinguindo esses três processos, vamos tentar pensar um
pouco mais em cada uma dessas cartas.

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Formação em Teologia

Tessalonicenses

Na carta aos Tessalonicenses é preciso entendermos o contex to,


pois fazer esse reconhecimento é importante para que a essência do
tex to seja respeitada. Sendo assim, ex iste uma questão teológica que
precisa ficar evidente em Tessalonicenses, que é a questão da
santidade. Se por um lado nós temos uma tendência ou um
movimento de idolatria e prostituição de várias formas, por outro
lado Paulo está preocupado com a santificação.

Conforme vimos, uma carta sempre vai defender um argumento


para resolver uma questão teológica ou prática na vida da igreja ou
de alguém. Dessa forma, Paulo está falando que a santificação é
diferente de “ porneia” – palavra que dá origem à palavra
“ pornografia” . Dentro daquela igreja, que se encontrava em
crescimento e buscando fortalecimento, essa distinção entre
santificação e pornografia precisava ficar mais clara. Podemos ver
isso claramente em I Tessalonicenses 4, onde vemos essa discussão
acontecendo de uma forma mais clara, quando Paulo diz que a
vontade de Deus é a santificação.

Muitas vezes nós nos perguntamos sobre qual seja a vontade de


Deus, mas, em alguns aspectos, isso é geral demais. No entanto, ao
longo de toda Bíblia, ela nos dá muitas referências de qual seja a
vontade de Deus: ele quer que sejamos santos. Não há como
duvidarmos dessa verdade, e em Tessalonicenses está claro que a
vontade de Deus é a Santificação. Por isso nós temos como saber de
antemão que vontade de Deus para nossas vidas é buscar ou
desenvolver a santificação.

Contrapondo a isso, temos a ideia de porneia, de prostituição, de


imoralidade. Então quando falamos em porneia, estamos falando de

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Formação em Teologia

prostituição, algo com um caráter sex ual que é o mais óbvio do tex to.
Mas essa palavra também traz um sentido de compra e venda, ou
seja, uma pessoa que se prostitui é alguém que está comprando e
vendendo amor. Dessa forma, se formos pensar no significado da
palavra, que é a pessoa que se prostitui? É aquela que compra e
vende amor.

➔ Nota Pastoral: Em nossa sociedade costumamos dizer que


prostituição é uma coisa muito distante de nós. Mas será que,
enquanto sociedade, nós não temos essa tendência a comprar e
vender amor? Será que isso realmente está tão distante de nós? E
ainda, se pensarmos em uma estrutura familiar, será que não há
mulheres tentando comprar o marido, comprar o amor do marido
com algum tipo de atitude? E será que homens também não tentam
comprar o amor?

Assim sendo, a prostituição tem uma ideia muito mais ampla e


muito mais assustadora, porque se começarmos a desenvolvê-la,
seja da forma que for, estaremos agindo contra a vontade de Deus e,
consequentemente, fugindo da santificação - que é a Sua vontade
para nossa vida.

Podemos considerar ainda que muitos homens compram seus


sacerdócios das suas mulheres, em uma atitude de negociata entre
compra e venda de amor. Prostituição é um assunto muito sério para
a Bíblia. Muitas vezes pensamos em santificação como
simplesmente abster-se de questões sex uais ilícitas. Isso realmente
é óbvio, mas o que muitas vezes não fica tão óbvio é que, à medida
que buscamos a santificação, o amor deix a de ser um produto de
compra e venda.

98
Formação em Teologia

Portanto, nós não negociamos amor, este é dádiva do pai. Amor


não é comércio, e quando temos essa mentalidade do mundo
entrando em nossa cabeça, a primeira referência que temos disso é
que começamos a querer comprar e vender amor.

Podemos ver essa mesma disputa sobre prostituição em


Colossenses, onde Paulo demonstra uma certa preocupação, pois
essa distinção ainda não está muito clara na mente dessa igreja.

Assim como a igreja busca o aperfeiçoamento, o mundo


também vai tentar se aperfeiçoar. E como se dá essa busca pelo
aperfeiçoamento? Paulo está falando que a forma como a Igreja se
aperfeiçoa é diferente da forma como o mundo o faz. O mundo se
aperfeiçoa em prostituição, em comprar e vender o desejo, em
comprar e vender o amor e o afeto. Enquanto isso, a igreja se
aperfeiçoa se separando para Deus.

Nessa comparação Paulo está, então, dizendo que a


santificação é diferente de prostituição, uma vez que são duas
buscas em caminhos distintos. A pessoa tem duas escolhas: ou
transformar-se em uma grande comerciante de amor e afins, ou ser
movida pelo Espírito Santo, uma pessoa que busca intimidade com
Deus.

E assim vemos uma igreja que está crescendo, vivendo


problemas dentro de uma comunidade, que precisa responder a
essas questões, que ainda não sabe se posicionar diante de toda uma
pressão cultural, e que muitas vezes se encontra perdida diante da
sociedade tessalônica.

Vale lembrar que a própria questão sex ual fazia parte do ritual
das religiões dessa sociedade, e essas também tinham como prática

99
Formação em Teologia

o ritual de comer e beber. E muitas vezes esse ritual era feito dentro
do templo.

No capítulo 4 podemos ver essa discussão que é muito


importante para esse livro. Paulo está fazendo a seguinte distinção:
“ naos” , que é o templo pagão é diferente da “ soma” , que é o nosso
corpo, o templo do Espírito Santo.

• Naos - as pessoas se santificam com comida, com bebida,


com sex o. Mora a prostituição.
• Soma - No templo do Espírito Santo, nosso corpo (soma), o
k urios (senhor) está dentro do nosso corpo. Não ex iste
espaço para a prostituição. Lugar de santidade.

E assim podemos ver essa preocupação que o apóstolo Paulo


demonstra, no intuito de que a igreja olhe para essas religiões e para
os diversos cultos que ex istem, e saiba se posicionar. E essa é uma
preocupação legítima de Paulo, uma vez que a mentalidade ex terna
começa a influenciar a forma como está igreja entende o seu culto.

As pessoas que frequentam esse templo começam a ter poder


pela prática e, na observação, os cristãos começam a ficar confusos.
Porém, Paulo diz que o nosso culto é diferente do deles. É onde
podemos perceber claramente esse movimento do apóstolo Paulo a
fim de diferenciar os cultos.

➔ Nota Pastoral: Em nossas canções, por ex emplo, continuamos


a ser influenciados por diversos cultos, por diversas práticas
religiosas e, muitas vezes, não temos esse discernimento de que
nossa santificação é diferente da santificação que ex iste do lado de
fora. Então, muitas vezes, a prostituição em nosso meio é entendida
como essa questão da imoralidade sex ual, sendo entendida também
como um comércio do amor. E, a partir do momento que o amor, a fé

100
Formação em Teologia

e a intimidade com Deus viram produtos de compra e venda,


estamos entendendo errado o cristianismo. Então, apenas como uma
breve reflex ão, pense na quantidade de canções que nós temos, hoje
em dia, que falam do EU como figura central em suas letras. Pense na
quantidade de canções que falam daquilo que EU estou sentindo, ou,
ainda, quantas músicas nós temos em que usamos a palavra NÓS.
Não acho que seja proibido cantarmos a respeito de nossos
sentimentos. Mas a grande preocupação é que, muitas vezes, o que
eu sinto se transforma em algo mais importante do que entronizar a
pessoa de Deus. E assim, o EU se torna a mensagem principal, e se
torna mais importante do que dizer: “ eu reconheço quem Tu és,
Senhor” . E isso significa que, assim como a igreja de Tessalonicenses,
nós também estamos sendo influenciados a praticar um culto onde a
santificação não é uma questão central.

No capítulo 4:9 Paulo continua falando sobre a Filadélfia e o amor


fraternal que faz parte da comunidade onde ele já vê esse amor
acontecendo. Já no versículo 13 ele fala daqueles que dormem. A
Igreja de Tessalonicenses tem muita gente confusa, perturbada e
triste, porque muitas pessoas morreram nesse período, deix ando-os
inconsoláveis. E então a palavra de Paulo era para eles soubessem
que aqueles que morreram com Jesus irão ressuscitar com Ele.

O intuito de Paulo com isso era de promover consolação: “ digam


isso para que eles fiquem consolados, para que haja consolação” . O
fato de que muitos naquela igreja não sabem o que acontece com os
mortos, faz com que isso se torne um problema, que começou a
aparecer trazendo tristeza às pessoas.

Portanto, são questões pontuais da vida da igreja que Paulo está


tentando remediar, trazendo uma palavra de sabedoria, uma direção
àquelas pessoas que estão tristes por não saberem o que acontece

101
Formação em Teologia

com seus mortos, e que não entendem que o nosso culto não pode ser
igual ao culto deles. Por isso, Paulo está entrando como apóstolo, a
fim de colocar as coisas no seu lugar.

E então, no capítulo 5:2, Paulo fala sobre a necessidade de


vigilância e sobre o dia do Senhor – emera k urios. Fala também da
nossa necessidade de estar atentos, pois não sabemos quando isso
vai acontecer.

Já no livro de Romanos, temos um verdadeiro tratado teológico,


onde Paulo começa a descortinar grandes verdades do Evangelho.

Sugestão pastoral: Estudar todo o livro de Romanos

Esse livro irá tratar das principais verdades e doutrinas do


Evangelho. Então, se você tem dúvidas sobre as doutrinas do
Evangelho, vai encontrar no livro de Romanos algumas palavras
como: santificação, justificação, reconciliação, graça, justiça etc.
Essas duas últimas (graça e justiça) possuem uma importância
significativa.

102
Formação em Teologia

103
Formação em Teologia

104
Formação em Teologia

CARTAS PAULINAS - PARTE II

Introdução

Agora iremos nos aprofundar mais no conteúdo das Cartas


Paulinas. Vamos falar um pouco sobre a primeira e segunda epístolas
de Coríntios. Conforme vimos anteriormente, a carta sempre vai
trazer um problema, e a argumentação de Paulo é uma solução que
ele está encontrando para o problema que ele está enx ergando
naquela na comunidade.

Sendo assim, qual é o problema que Paulo começa a identificar


na igreja de Coríntios? Quando falamos em Coríntios, imediatamente
nos vêm à mente aquela quantidade de tex tos que nos fazem pensar
sobre os dons. Essas citações são maravilhosas, mas quando Paulo
olha para Corinto, ele está identificando um problema que quer
resolver, e esse problema tem a ver com moralidade (porneia).

A seguir, alguns pontos que Paulo está querendo conversar com


essa igreja:

Porneia (I Cor 5:1-13)

O primeiro problema da imoralidade podemos encontrar em I


Coríntios 5: 1-13, um problema de litígio, uma disputa. Essa mesma
igreja, que é cheia de dons, também possui uma questão mal
resolvida, de querer fazer o que não se deve.

Aparentemente parece ser uma igreja tão espiritual, mas que,


ao mesmo tempo, de uma forma tão incoerente, acaba aceitando
certos tipos de relacionamento que são absolutamente imorais e

105
Formação em Teologia

indignos. Essa igreja, portanto, é marcada por uma profunda divisão:


de um lado, ex tremamente cheia de dons; de outro lado,
ex tremamente infantil em relação ao discernimento e à percepção
quanto à ética cristã, de como que a igreja deve viver, de como
devem se basear os nossos relacionamentos.

Litígio (I Cor 6:1-11)

Temos o problema da imoralidade, e no problema dessas


disputas de relacionamentos - que não são bem resolvidas –
podemos ver esse litígio acontecendo.

No capítulo 6:1-11 encontramos essa confusão, porque toda vez


pensamos em relacionamentos, percebemos que eles são a base do
cristianismo (nossa santidade se manifesta em relacionamentos).

Ou seja, nossa santidade não é algo que está parado em um


altar para que alguém contemple. Nossa santidade se manifesta e se
ex pressa na forma como lidamos com quem está ao nosso lado.
Portanto, nossa santidade se revela na forma como enx ergamos tudo
à nossa volta.

Corpo (I Cor 6:12-20)

Então Paulo continua tratando algumas questões, agora,


especificamente, a questão da nossa relação com o corpo: nós somos
corpo de Cristo, mas nós também temos um corpo. Qual é a forma
adequada de pensarmos nessa relação?

106
Formação em Teologia

Família (I Cor 7:1-40)

Aqui nós temos uma discussão do que Paulo está querendo


conversar com essa igreja, que é a relação familiar, as relações entre
homem e mulher.

Coisas Sacrificadas - Relações (I Cor 8:1-13)

O quinto ponto seriam as coisas sacrificadas: podemos comer


coisas sacrificadas ou não? E Paulo chama a atenção, pois, mais
importante do que comer ou não as coisas sacrificadas, ex iste um
problema ainda maior, que é a relação de quem está comendo com
quem não está comendo.

E assim Paulo gasta mais tempo para falar do que ele vai chamar
de fortes e fracos, porque tem a ver com a consciência que cada um
tem de fé e a sua percepção. E então Paulo tira a ênfase da comida e
a coloca nas relações. Ele está dizendo que o mais importante é como
estamos tratando nosso irmão que não come, ou como ele come.

Então Paulo fala das questões sacrificadas, o que a igreja deveria


fazer, e então ele se preocupa com essas relações. Essa problemática
entre as coisas sacrificadas será abordada em Coríntios 8:1-13.

Idolatria (I Cor 10:1-33)

Ele continua falando sobre idolatria. Aqui no Brasil, por ex emplo,


nós vemos muita relação de Cosme e Damião, na questão de poder
ou não comer. Então a ideia que Paulo está dizendo é: imagine que um
grupo de criança da sua igreja comeu porque os seus pais
autorizaram, e outro grupo de criança não comeu.

107
Formação em Teologia

E então Paulo chama a atenção que é por causa dessas duas


posturas que esses dois grupos estão se transformando em inimigos.
O primeiro ponto que Ele quer resolver, então, é desfazer a inimizade
entre os grupos, tratar da questão sacrificada, e recuperar a unidade,
trazendo a compreensão de quem nós somos como corpo de Cristo.

Embora tenhamos conhecimento de muitos assuntos


polêmicos, sabemos que não se constrói uma unidade destruindo, ou
melhor, não se constrói santidade destruindo a unidade. Esse, sim, é
um caminho muito difícil. John Stott nos fala que muitos, para
manter a unidade, abrem mão da santidade; e muitos, para manter
a santidade, abrem mão da unidade.

O que Paulo, então, está dizendo é que não se pode abrir mão
nem de um, nem de outro. Nosso caminho é um caminho mais difícil,
mais consistente, porém, que não abre mão da unidade tampouco da
santidade. Historicamente nós vamos ver diversos grupos que se
empenham em resolver esse problema que consiste em abrir mão de
um em detrimento de outro.

Véu (I Cor 11:1-16)

Depois temos a discussão sobre o uso ou não do véu.

Ceia (I Cor 11)

Aqui ele termina a última discussão falando sobre a ceia do


Senhor, ainda no capítulo 11.

De forma resumida, temos no primeiro bloco (1 e 2) Paulo falando


da relação da Igreja com a sociedade, bem como o cuidado que
devemos ter. O segundo bloco (3 e 4) ele está falando da família, o

108
Formação em Teologia

terceiro (5 e 6) ele fala de idolatria, e este último bloco (7 e 8) Paulo


fala de coisas relacionadas ao culto.

Assim sendo, podemos tentar sistematizar o livro de Coríntios


nessa narrativa, de Paulo tentando instruir a sua Igreja coerente em
relação à sociedade em como tratamos nossa família, no cuidado
para não cair no pecado da idolatria e da pureza do nosso culto, a fim
de que este não seja confundido com os cultos pagãos.

No livro de Coríntios, portanto, Paulo está sempre tentando


pensar e reconstruir a identidade das pessoas a quem essa carta está
chegando. E ela está falando primeiramente com quem? Vamos
entender.

A principal religião dessa cidade de Coríntios era a adoração à


Afrodite – a mesma deusa Astarote da Fenícia – que tem essa ideia
da sensualidade, da fertilidade. Dessa forma, o principal culto que
ex istia nessa cidade era em adoração à Afrodite. Nesse contex to,
iremos encontrar cerca de 1000 mulheres sacerdotisas, uma espécie
de prostitutas sagradas.

Essas sacerdotisas dedicadas à glória da deusa Afrodite. As


mulheres que ficam responsáveis nesse serviço vão ter a obrigação
de duas vezes por ano servir no templo de Afrodite. Inclusive, Paulo
também demonstra essa mesma preocupação como vimos em
Colossenses e Tessalonicenses.

O que acontece, então, é que a marca que essas mulheres


tinham que demonstrava que estavam em serviço, é a forma como
elas cortavam os cabelos e raspavam a cabeça. Portanto, quando
vemos essa discussão sobre como a mulher mantém o seu cabelo,
percebemos que essa questão foi trazida à nossa sociedade uma
maneira muito equivocada.

109
Formação em Teologia

A questão que Paulo aborda em Coríntios é que a mulher que


estava de cabelo cortado o raspado era aquela que estava em
serviço. Essa era a forma como eram reconhecidas as mulheres
sacerdotisas que iam para o templo como prostitutas sagradas em
memória à deusa Afrodite. Dessa forma, era possível olhar na rua e
identificar uma mulher de cabelo curto: se fosse cortado curto ou
raspado, já se sabia que ela estava em serviço. Portanto, essa era
uma identificação de uma prostituta sagrada.

Dessa maneira, fica claro que a preocupação de Paulo não é uma


questão estética, mas que as mulheres da igreja não fossem
confundidas com prostitutas. Sua preocupação, na verdade, era que
essas mulheres, servas de Deus, não fossem comparadas, na rua,
com mulheres que estão totalmente envolvidas com imoralidade e
idolatria.

Da mesma forma quando se fala para que elas fiquem em


silêncio, também ex iste essa preocupação cultural, uma vez que
eram justamente essas sacerdotisas que assumiram todo o culto. A
preocupação pastoral de Paulo, então, é simplesmente de distinção:
as mulheres cristãs são diferentes das prostitutas de Afrodite.

➔ Nota Pastoral: Testemunhe isso e tome cuidado para que não


confundam essas realidades na sua igreja. Leve isso a sério, tome
cuidado com essas aparências, a fim de que isso não se torne um
embaraço na vida da igreja.

Relação de Atos com Coríntios

Podemos ver uma relação muito forte entre Coríntios e Atos 18.
Fazendo essa relação, podemos identificar em Atos esse mesmo
ambiente que temos no livro de Coríntios.

110
Formação em Teologia

Para melhor entendimento, podemos relacionar algumas


leituras de tex to em conjunto, a fim de ajudar a identificar esses dois
livros e o paralelismo que pode ex istir entre os dois livros.

Assim sendo, procure fazer um paralelismo, harmonizando os


seguintes tex tos abaix o. Compare:

• Atos Versículo 4 x I Coríntios 7:18.


• Romanos 16:23 x I Coríntios 1: 26, 27

Na primeira comparação, temos Paulo em Atenas por um


período curto, mas também podemos ver uma relação entre Atos x
Coríntios. Em Romanos, na segunda comparação, podemos atestar a
estada de Paulo em Atenas. Paulo vai dar essa bronca na igreja, falar
sobre a postura que está equivocada e vai me relembrar o conceito
de santidade.

Gálatas Paulinas

O livro de Gálatas é uma carta destinada às igrejas da Galácia.


Logo na introdução, nos versículos 1 a 3, Paulo se refere aos que “ estão
comigo" . O que quer dizer que Paulo não estava sozinho quando
escreveu isso. Esse tex to, portanto, ex pressa o pensamento de uma
liderança, não apenas de uma pessoa.

Então, quando o Paulo menciona “ esses que estão comigo” isso


significa que o que o que ele está escrevendo é um reflex o. Depois ele
continua com uma saudação judaica, falando com judeus
convertidos. Logo após essa saudação, ele dá uma ex plicação Cristã,
seguindo depois para as ações de graças.

Para melhor compreensão, observe o tex to a seguir:

111
Formação em Teologia

" Paulo, apóstolo, não da parte dos homens, nem por


intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo,
e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos, e
todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos
pecados, para nos livrar do presente século mau,
segundo a vontade Deus, nosso Pai, a quem seja a glória
para todo o sempre. Amém." Gálatas 1:1-,5

Nesse tex to, podemos identificar os seguintes elementos:

• Quem está escrevendo? Paulo e os irmãos que estão com


ele.
• Saudação judaica: Graça a vós, e paz da parte de Deus
nosso Pai
• Ex plicação cristã: de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se
deu a si mesmo por nossos pecados.

Assim sendo, qual é a crítica, qual é o problema que está


acontecendo na igreja de Gálatas? A crítica que os judaizantes estão
dizendo é que Paulo está transformando o Evangelho da graça,
tornando-o fácil demais. Segundo eles, Paulo está inventando um
monte de coisas, e esses judaizantes que estão sempre tentando
pux ar o cristianismo para trás, porque não entendem que o
cristianismo é uma nova aliança, estão acusando o apóstolo Paulo de
ter transformado o Evangelho em alguma muito fácil.

Ex iste uma citação do pastor americano Tim K eller que fala que
o cristianismo é diferente de todas as religiões do mundo. As demais
religiões nos dizem para sermos “ bonzinhos” para irmos para o céu.

112
Formação em Teologia

Já o cristianismo diz que, primeiramente, é preciso que o homem seja


encontrado pela graça e misericórdia, para então ir ao céu.

A ideia central do cristianismo é que nossa salvação é


sustentada em Cristo, na graça, e que não chegamos à salvação por
mérito próprio. Então, porque os judeus ainda não entenderam a
pregação do apóstolo Paulo, começam a dizer que esse Evangelho
está ficando muito fácil, misturado, que a mensagem judaica é mais
consistente. Em outras palavras, é como se eles dissessem: “ nós até
acreditamos em Jesus Cristo, mas esse negócio não é assim como
Paulo está ensinando” .

Então Paulo vem para ex plicar o papel da lei e para que ela serve.
Ele começa a desenvolver a ideia de que a lei serve para
desmascarar, revelar que eu sou um pecador, e que a lei não veio
para trazer a salvação. E a ideia que Paulo vem trazer no livro de
Gálatas é o conceito de aio – uma espécie de babá ou tutor.

Mas o aio, ou tutor, cuida do filho de uma maneira severa e rígida,


até que esse filho atinja a maturidade de 18 anos, que é quando ele
está apto para receber sua herança. Dessa forma, Paulo está
comparando a lei a um aio, que traz o filho da Promessa com braços
rígidos até que ele possa enfim alcançar a promessa.

A lei nos traz a graça, evidencia nossos pecados, desmascara as


nossas pretensões. E então, uma vez perdidos, tomados pela
consciência da nossa limitação, só nos resta nos render e suplicar
pela misericórdia. E então, nesse momento, rendidos e
quebrantados, é que o cristianismo começa a crescer dentro de nós.
Quando vemos o livro de Gálatas, percebemos os contornos da
liberdade cristã, porque não somos regidos pela lei, embora nós a

113
Formação em Teologia

respeitamos. A lei evidencia o que fizemos e o que somos, porém,


somos regidos pela graça, pelo Evangelho e pelo Espírito Santo.

Alguns chegam a dizer que o livro de Gálatas é a Carta Magna da


liberdade cristã. Se quisermos pensar em liberdade, o livro de Gálatas
seguramente é o livro que vai nos ajudar a entender esse conceito.

A região da Galácia é onde hoje se encontra a Turquia. Boa parte


desses lugares que hoje vive grandes conflitos, como Síria e Turquia,
já foi palco de eventos tremendamente importantes na história do
Cristianismo. A Turquia, por ex emplo, foi palco de uma das igrejas
mais importantes da nossa história.

Muitos vão achar que esse tex to foi escrito antes do capítulo 15
de Atos, pois é no capítulo 15 que temos o concílio, a disputa entre
judeus e gentios, levantando questões do tipo: Tem que batizar para
ser crente? Tem que batizar e circuncidar? Qual a relação entre
Judaísmo e cristianismo? Não estava muito claro na cabeça de
gentios e judeus qual era o papel do judaísmo no cristianismo.

Então o Concílio vem para reafirmar, mais uma vez, que


salvação é obra de graça. E que não podemos forçar o gentil a entrar
nessa nova fé mediante a observância da lei. Ou seja, não é
observando a lei que ele irá se fazer uma nova criatura.

Então muitos acreditam então que o capítulo 15 de Atos, que é


onde acontece esse discurso, isso seja um tema anterior. Esse é um
dos motivos pelos quais essa reunião tem que acontecer: para
resolver problemas em Gálatas, que também foram resolvidos no
capítulo 15 de Atos. Basicamente temos a ideia de Evangelho verso
legalismo; Graça versos lei. E esse é o ponto central do livro de
Gálatas.

114
Formação em Teologia

Vamos traçar mais um paralelo com o livro de Atos para que


possamos perceber as relações. Compare:

• Atos 9:26-30 x Gálatas 1:18-24


• Atos 11:29-30 x Gálatas 2:1-10

Ao traçar esses paralelos, podemos contrastar que é o mesmo


ambiente. No segundo paralelo podemos ver essa disputa dos
judaizantes que estão sempre pux ando para um lado e os gregos que
estão ficando confusos. É esse cabo de guerra entre judaísmo porque
o judaísmo vai tentando pux ar esse novo cristianismo em direção à
lei. E lenta ou gradativamente o cristianismo vai se emancipando,
criando Independência em relação ao judaísmo.

Percebemos que eles estão andando lado a lado, ex iste uma


tendência de fusão. Os judeus querem fazer uma fusão, e então
temos Atos 15 e Gálatas, cuja proposta cristã não é fusão. Ou seja,
entende-se a origem do cristianismo, mas o cristianismo ganha
liberdade para seguir sua própria essência. Então vemos tratados
sobre a liberdade cristã, nossa autonomia como fé, como um sistema
dos nossos princípios, e o cristianismo se emancipando em relação a
todas as demais possibilidades de religião.

Cartas da Prisão

Temos as cartas da prisão, que são escritas a Colossenses,


Filemom, Filipenses e Efésios. Para melhor compreensão do contex to
histórico, vejamos a carta aos Colossenses.

• Colossenses

115
Formação em Teologia

Em Colossos nós vamos ver o culto à deusa Cibele. É um culto


cuja característica é o êx tase, que agrega a filosofia Pagã, com
judaísmo, mais cristianismo, enfim, tudo o que era novidade, cabia
nesse culto. Era como uma espécie de caldeirão de várias tendências,
onde cabia um pouquinho de cada coisa, cada ideia, mesmo o
intelectualismo, tudo se encaix ava dentro desse culto.

Paulo está dizendo que esse caldeirão de influências, que tem de


tudo para todos os gostos, não é igual ao culto a Cristo. E mais uma
vez nós o vemos preocupado em fazer a distinção entre o culto a
Cibele e o culto a Cristo.

Esse é o pano de fundo de Colossenses, e é uma carta escrita da


prisão, onde Paulo, mesmo preso, está preocupado com o
andamento da igreja. Sua prisão não faz com que ele perca o foco da
igreja, mas ele continua interessado em cuidar. Percebemos então
que, mesmo preso, Paulo ainda é pastor dessas igrejas, e ele ainda se
preocupa com a realidade das mesmas.

Ao longo dessas cartas da prisão podemos observar um tema


recorrente que é uma discussão cristológica: Qual o papel de Cristo e
qual é a Sua função na igreja? Por conta disso, essas cartas que
partem da prisão apresentam a Cristo como cabeça do cosmos,
como cabeça da igreja e como cabeça do homem. Isso é muito claro
em todas as cartas da prisão.

Além disso, também temos a ideia musical. Um bom ex emplo


disso é o episódio de Paulo e Silas na prisão em uma atitude de louvar
e engrandecer a Jesus Cristo e a Deus, apesar das dificuldades. Dessa
forma, nas cartas da prisão nós podemos ver esse mesmo
movimento de adoração. Podemos encontrar verdadeiros hinos
cristológicos, verdadeiras canções, que são canções que você canta,

116
Formação em Teologia

com melodias certamente baseadas nesses tex tos. Seguramente os


mais conhecidos desses hinos cristológicos nós vemos no livro de
Filipenses 2:6-11: a narrativa de Paulo (canção) de que Jesus se
esvazia e abre mão da Sua glória, assumindo forma de homem,
obedecendo até a morte de Cruz.

Podemos ver isso em diversas canções, com a estrutura de um


hino, de um de um louvor. Da mesma forma também temos esse hino
cristológico em Colossenses 1:15-20. Portanto, mesmo sendo cartas
da prisão, o louvor é uma questão muito significativa.

Temos ainda a tensão entre alegria da ex pansão do Evangelho e


a tristeza de um sofrimento pessoal. Todas as cartas da prisão vão
transmitir essa mesma ideia: a felicidade de Paulo por perceber que
o Evangelho está florescendo, mas ao mesmo tempo, de estar
passando por circunstâncias difíceis estando preso, vivendo
limitações - que é, inclusive, quando ele chega a falar sobre as
marcas que ele carrega.

• Efésios

Embora ex istam teorias de que essas cartas tenham sido


escritas em Roma, em Cesaréia ou em Jerusalém, a maior
probabilidade é que elas tenham sido escritas em Éfeso.

• Filipenses

Temos no livro de Filipenses mais uma carta da prisão. Talvez


uma das mais conhecidas, onde que ele repete várias vezes a
ex pressão: regozijai-vos. A ideia da alegria é interessante, porque ele
está encontrando alegria atrás das grades - às vezes queremos

117
Formação em Teologia

encontrar alegria nos lugares que não são ex atamente onde a


palavra de Deus nos demonstra.

Podemos ver então que Paulo pôde encontrar alegria depois de


surras, de prisões, de apedrejamento. E agora, mesmo atrás das
grades, apesar da dificuldade, do cansaço e de algumas angústias,
ele encontra a felicidade. O livro de Filipenses traz uma descoberta da
felicidade: posso todas as coisas naquele que me fortalece. Podemos
identificar essa frase como um sorriso de um preso, não a presunção
de um falastrão, mas de alguém que passou por todos os tipos de
circunstâncias e que, mesmo na prisão, consegue se alegrar no Deus
da sua salvação.

Filipenses é uma cidade importante, havia várias minas de ouro


e prata, era uma cidade estrategicamente importante para questões
militares, um ponto comercial importante. Então nós vamos ver um
paralelismo entre a carta aos Filipenses e o Capítulo 16 de Atos.
Compare:

• Filipenses x Atos 16

Como já vimos, a igreja de Filipenses começa com Paulo e


Timóteo orando, depois encontram Lídia, uma senhora comerciante.
Depois encontram uma serva que está possuída por espírito de
adivinhação, e depois têm um encontro com um carcereiro romano.

Então, dessas três famílias nasce uma igreja com um perfil


simples: uma senhora, uma escrava e um carcereiro romano. Essa é
a identidade da igreja de Filipenses, uma igreja que precisa ser
ministrada por uma alegria, sendo impactadas pela profunda obra
que o Espírito Santo, que irá trazer uma felicidade sobrenatural
incomparável na vida do apóstolo Paulo. Podemos ver humildade e

118
Formação em Teologia

gratidão, e então vemos que lágrimas podem andar juntas, de mãos


dadas com alegria; lágrimas não são empecilhos para alegria ou
felicidade cristã.

E então nós vemos o desenvolvimento desse tema de alegria e


unidade que não são destruídas por nenhum elemento humano.

Retomando, o objetivo de Paulo em Colossenses é combater as


heresias. Porque na cabeça de Colossenses eles pensam num Cristo
ou um fantasma que não tinha corpo ou numa outra versão de um
Cristo que só realmente habitou depois do batismo. Essas são duas
heresias sobre quem é Cristo. Portanto, podemos dizer que essas
cartas da prisão reforçam a identidade de Jesus, para que a igreja
não caia nesses mitos e nessas falsas doutrinas sobre a pessoa de
Jesus Cristo.

Cartas Pastorais

Depois então temos as cartas pastorais: I e II Timóteo e Tito. Nas


cartas a Timóteo, Paulo tem essa preocupação mais pessoal, a
ênfase eclesiológica de cuidar, e de como Timóteo vai estabelecer
uma nova liderança. Paulo ex orta Timóteo a cuidar mais de si
mesmo. A grande questão de Timóteo é que todo esse sofrimento que
o seu discipulador que Paulo sofre, isso funciona como um grande
dilema, como um desafio para o próprio Timóteo, uma vez que a
pessoa que o está ensinando está passando por diversas
dificuldades. Então Paulo vai desenvolver logo no início do livro de
Timóteo, que o plano da Redenção, a obra Redentora era propósito
para trazer consolação nos corações.

Paulo se sentia privilegiado por ser alguém que pregava o


Evangelho. E ele então estimula a Timóteo a sofrer com ele como

119
Formação em Teologia

soldado de Jesus, para que esses sofrimentos e essas dificuldades


não começassem a tomar o coração de Timóteo, a fim de esmorece-
lo e causar fraqueza na fé. Ao contrário, a intenção de Paulo era que
Timóteo pudesse se sentir fortalecido, uma vez que seu sofrimento
não é vão. A preocupação de Paulo com Timóteo, portanto, é que ele
entenda o que ex iste por trás de toda a luta que está sendo travada
em nome e do Evangelho.

A mesma relação de encorajamento nós podemos ver em Tito,


quando Paulo está colocando as coisas em seu lugar a fim de que a
igreja possa crescer de uma forma equilibrada, conhecendo os
verdadeiros ensinamentos do Senhor.

Encerramos aqui as cartas Paulinas - as cartas missionárias, as


cartas da prisão e as cartas pastorais. Espero que elas possam te
inspirar mais uma vez a se dedicar a esse Evangelho maravilhosos de
Jesus Cristo.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

CARTAS GERAIS - PARTE I

Introdução

São cartas encíclicas, ou seja, cartas que não são endereçadas


a igrejas ou pessoas individuais de forma específica.

Tiago

O livro de Tiago é uma Literatura de sabedoria, são instruções


para o viver diário. O conteúdo é menos doutrinário e mais prático, a
autoria é de Tiago, o meio irmão de Jesus.

Este é o livro mais controverso, pois algumas pessoas não veem


relação deste livro com os outros, chegando a acreditar que este
converge com as Cartas Paulinas. A realidade é que os contex tos são
diferentes.

Seus Leitores

As doze tribos que são da dispersão, judeus cristãos espalhados


pelo mundo gentio. Em Tiago, essa ex pressão significa: os judeus fora
da palestina ex cluem os gentios. Essa ex pressão reaparece em Pedro
e o significado, é o oposto no sentido que dispersão ganha um sentido
espiritual a igreja que está espalhada.

Propósito

Dar conselhos práticos, encorajar os que estavam sendo


oprimidos, corrigir tendências de conduta, confrontar os cristãos

123
Formação em Teologia

com a responsabilidade cristã. Dos 108 versículos, 54 são


imperativos, ou seja, são ordens. Ex emplos:

“ 16 Não vos enganeis, meus amados irmãos. [...] 22 E


tornai-vos cumpridores da palavra, e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.”

O conteúdo de Tiago traz a muitos uma grande confusão,


principalmente quando relacionam com Gálatas e Romanos. É muito
importante saber que Paulo e Tiago não estão combatendo um ao
outro, só estão em circunstâncias diferentes respondendo a questões
diferentes.

Paulo combatia judaizantes que queriam transformar o


evangelho em judaísmo e Tiago combatia a nominalistas que diziam
ser cristãos, mas não agiam como cristãos. Podemos afirmar, então,
que a luta de Tiago era:

• Combate a antinomianismo (ideia de estar contra a lei)

• Falha no viver prático (não na doutrina)

• Fé sem obras, a negação de estender a mão ao próx imo

• Palavras sem atos

• Censura a comportamentos inadequados

• Combate a ambição

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Formação em Teologia

• A relação com a riqueza, que o pobre nem o rico percam a


sua fé por causa de suas condições. (Ver Tiago 1: 9) " Para
tal, o pobre precisa focar na sua dignidade" , (Ver Tiago 1:
10) " porém o rico tem que olhar para a sua insignificância,
para não cair na soberba e lembrar que a sua riqueza é
proveniente da graça de Deus."

• Corrigir o tratamento depreciativo dado aos pobres

• E a cobiça sob a capa da religião (Ver Timóteo)

A estrutura do livro de Tiago é dividida em: verdade contrastada


contra hipocrisia (1: 2-18; 2: 26). Vida cristã ≠ falsidade e imitação. A
perseverança ex iste para resolver a deficiência que ex iste em nossa
vida, através do Espírito Santo.

O contraste entre realidade do evangelho e imitação é abordada


através dos seguintes temas:

• No caráter (1:2-18)

• Na adoração pública (1:19-27) Ouça e pratique. Se Deus se


manifestasse em todo seu esplendor na nossa presença,
ficaríamos emudecidos. Devemos aprender a ouvir mais
do que falar.

• No amor (2:1-13) Não fazer distinção das pessoas, o


Evangelho verdadeiro nos faz agir de tal forma que
tratamos todos de forma igual.

• Na fé (2:14- 26)

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Formação em Teologia

• Pretensiosos que querem ser mestres (3:1-18) Todos


querem ensinar, porém poucos aprenderam o que
deveriam ensinar.

• Realidade contra a imitação (1:2 – 2:26)

• Paciência como alvo (1: 2-8)

• Pobreza não é má riqueza não é vantajosa (1: 9-11) define


foco pro pobre e pro rico, para que não se percam na sua
condição.

• Recompensa da paciência (1 :12)

• Culpar a Deus não é desculpa para pecar (1:13-18)

Quanto ao Culto Público:

• Não é só falar, mas ouvir (1 :19 -21)

• Não é só ouvir, mas agir (1:22-25)

• Amor sem parcialidade (2 :1 – 13)

• Fé sem obras não tem valor (2:14-17)

Tiago revela a diferença entre os Mestres:

A. Sabedoria do mundo e seus frutos (3:14-16)

B. Sabedoria do céu e seus frutos (3:17-18)

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Formação em Teologia

Quantos aos prazeres:

• Prazeres como alvos da vida (4:1-10)

• Guerras e contendas vêm de prazeres como alvos da vida


(4:1,2)

• Os prazeres como alvos é uma forma de adultério (4:4)

• Não culpar os outros por causa da aflição (5:9)

Divisão: o mundo em oposição a Deus (4:1-5:20) Quem faz do


prazer o alvo principal da vida está em oposição a Deus. O prazer
como fim gera briga e é adultério espiritual. Veja por ex emplo, as
propagandas nos mais diversos meios de comunicação, elas
reduzem o ser humano a um objeto movido pelo prazer.

Atividades dentro da comunidade (5:7-20) Para essas


atividades vemos a necessidade de ser paciente com aqueles que
caminham mais devagar. Perseverar na oração e louvor, visitando os
doentes, com a confissão dos pecados, confesse aos seus irmãos,
abra seu coração, restaurando os inconstantes (5:13-20).

O livro de Tiago nos faz refletir sobre a prática do Evangelho.


Mostrando que o nosso amor não deve ser somente de palavras, mas
sim com obras. Uma fé real, vivendo o evangelho de forma que ele
atinja a mim e aos que estão ao meu redor.

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Formação em Teologia

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CARTAS GERAIS - PARTE II

I Pedro

Esperança é a palavra-chave. Pedro nos convoca a ter uma


esperança que atraem os outros, traz ex ortações e a ser paciente no
sofrimento.

“ 6 Nisso ex ultais, embora, no presente, por breve tempo,


se necessário, sejais contristados por várias provações, 7

para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito


mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado
por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação
de Jesus Cristo; [...] obtendo o fim da vossa fé: a
salvação da vossa alma.”

O livro de Hebreus também foi escrito para os que deviam buscar


a esperança. O livro de Rute também enfatiza este assunto, tal qual
também faz o Apocalipse. Diversos outros livros também têm esse
propósito de nos trazer esperança para saber se posicionar perante o
sofrimento. Dentre eles está I Pedro.

Salvação

A perseverança na Salvação: a chamada e a vocação do crente


(1:3; 2:10) Podemos encontrar a ex plicação doutrinária de Pedro,
comparando-a com a de Paulo, em:

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Formação em Teologia

• Salvação - Esperança do futuro (3-5), Paulo chama esta


Salvação de Glorificação.
• Salvação - O gozo do presente (6-9) Paulo chama esta
Salvação de Santificação.
• Salvação - A experiência do passado (10-12) Paulo chama
esta Salvação de Justificação.

Podemos afirmar que, fomos salvos no passado, pela


justificação, somos salvos no presente, pela santificação. Buscar
salvação é buscar a santidade. A salvação no futuro é a glorificação.

Submissão

Submissão: a conduta do crente (2:11; 3:12).

Somos um povo que sabe sobre submissão, que isto faz parte da
nossa essência. A base da nossa submissão é Jesus Cristo. O
sofrimento muitas vezes funciona como disciplina do crente, não que
isso seja um culto ao sofrimento, mas uma forma de aperfeiçoar o
caráter. (3:13; 5:11).

“ E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente


para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8: 28)

Não use o sofrimento como desculpa para praticar aquilo que é


mal, sempre temos que fazer o bem seja qual for a situação,
assemelhando-se a Deus. Este sofrimento está no mundo (3:13; 4:6),
na igreja (4:7; 5:7) e nos lugares celestiais (5:8-11).

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Formação em Teologia

II Pedro

Advertência contra as heresias é a chave do livro de II Pedro. Há


esse combate ao gnosticismo e demais heresias. A nominação Falsos
Mestres aparece de forma surpreendente em toda a Bíblia,
principalmente neste livro, nos alertando sobre a importância de
observar e guardar sobre falsos mestres, falsos ensinos e heresias.

Comparação entre Judas e II Pedro, ambos abordando sobre o


mesmo tema:

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Formação em Teologia

A preocupação desses livros é abordar estas heresias que


entram nas igrejas e confundem os ensinamentos. Podemos ver nas
seguintes citações o que a igreja enfrentava já naquela época:

• Negação de Cristo 2:1


• Desafio da autoridade apostólica 2:1-,10-12
• Corrupção moral 2:2
• Avareza 2:3,14,15
• Escárnio com respeito a volta de Cristo 3:1-16

No final das contas, temos pessoas que não entendem quem é


Cristo, desafiando as Escrituras, movidos pela compulsão de coisas
além da necessidade, descrentes da volta de Cristo.

Uma heresia que devemos conhecer pois ela pode estar presente
em nosso meio é o Gnosticismo. Fundamentado no conhecimento
através de uma Iluminação, o homem começa a questionar a
autoridade das Escrituras, alegando ter um conhecimento maior que
os dos apóstolos. Esses mestres gnósticos sempre reivindicam
autoridade para si se colocando em pé de igualdade com a palavra
de Deus.

Sugiro ao querido irmão que pesquise, estude, leia, pois ao longo


de toda história da igreja, o Gnosticismo tem sido um dos principais
inimigos, entra no meio da igreja com aspecto de uma grande
espiritualidade, se apresentam como profundos conhecedores das
coisas sobrenaturais, mas desprezam as verdades centrais do
evangelho, eles sempre estiveram entre nós.

Minha preocupação pastoral é: esteja atento, saiba quem eles


são, e principalmente saibam diferenciar o ensino falso do ensino
verdadeiro.

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Formação em Teologia

• Conhecimento verdadeiro 1:3-21

O conhecimento verdadeiro é o contrário do que os falsos


mestres ensinavam e é evidenciado da seguinte forma: Fé, Virtude,
Conhecimento, Domínio próprio, Perseverança, Piedade,
Fraternidade e Amor.

• Conhecimento falso 2:1-22

O conhecimento falso é evidenciado: Mestres falsos, seu caráter,


seu pecado, seu fim e os Ensinos falsos.

Judas

Forte semelhança com II Pedro.

Vemos que enquanto o livro de Efésios nos conta de uma batalha


interna e ex terna (dentro e fora de nós), onde a fé nos garante a
vitória, onde a fé nos protege na guerra. Judas nos conta de uma
batalha pela fé, não sobre o risco de perder a fé, mas sobre a
realidade da contaminação a luta para que a nossa fé não seja
distorcida pelos falsos mestres.

Sendo uma luta pela fé (interna) o livro de Judas denuncia os


falsos mestres (5-16) nos ex pondo uma luta urgente. Ele para de
escrever sobre salvação do evangelho (ou adia) para escrever sobre
essa luta sobre a fé, isso revela a urgência da batalha contra os falsos
ensinamentos. (Capítulo 1) Nos versículos 22 e 23, é evidenciado o

134
Formação em Teologia

cuidado a ter com as pessoas que estão confusas com a doutrina, de


forma que você as ex orte, sem ser contaminado.

I) Os falsos mestres:

Cruzam o limite entre ousadia e arrogância, de uma forma sutil,


assim, quando somos influenciados por eles, um dia lutamos com
ousadia depois sem perceber de sermos contaminados na nossa fé
lutamos com arrogância. Os Falsos mestres difamam o que não
entendem. Até no que é instintivo se corrompem.

Judas compara o ensino dessas pessoas com caminhos ruins.

II) Os caminhos dos falsos Mestres:

• Caminho de Caim: matar em vez de cuidar por causa da


Inveja. Oferta errada, intenção errada, culto distorcido.
• Caminho de Balaão: Ganância que faz com que se ame o
prêmio da injustiça. Ensinou como o inimigo, tinha que
fazer para o povo de Israel receber juízo de Deus, em outras
palavras, ensinou o inimigo a fazer o povo de Israel quebrar
a aliança.
• Caminho de Coré: rebelião.

III) Falsos mestres destruindo a festa ágape:

• São como rochas submersas, são um verdadeiro perigo


invisível para a navegação. A ideia é que quando eles se
instalam no meio do povo dificultando a vida cristã,
provocando verdadeiros acidentes da fé ou na fé.
• Nuvens vazias

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• Árvores sem frutos e arrancadas (dupla morte)


• Ondas fortes e sujas
• Estrelas errantes

De acordo com o teólogo Timothy K eller, o cristianismo é a única


religião a afirmar que você vai para o céu baseado na obra de Jesus
Cristo, permanecendo na aliança, em perfeita obediência sendo
alcançado pela graça de Jesus, com o coração transformado. Não
viva de qualquer forma, posicione-se perante os hereges que
menosprezam o Evangelho.

O Evangelho é capaz de transformar seu coração. Paul Washer


ilustra que, se alguém chegasse em sua casa completamente são de
suas faculdades e habilidades motoras, alegando que teria acabado
de sofrer um atropelamento por uma Scania, você não iria acreditar.
O mesmo ocorre com o Evangelho, ninguém que bata de frente com
ele, permanecerá a mesma pessoa.

É impossível ser encontrado por Deus e viver da mesma forma, o


Evangelho altera nossa natureza de tal forma que temos prazer em
obedecer, combatendo os falsos profetas que ousam deturpar o
Evangelho. Somos salvos pela graça de Jesus Cristo.

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Formação em Teologia

CARTAS GERAIS - PARTE III

I João

“ Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em


trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. [...] Se dissermos que
não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade
em nós. [...] Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e
a sua palavra não está em nós.” (I Jo 1: 6, 8, 10)

Se falarmos algo, precisamos ser coerentes. Os falsos mestres


estavam dizendo, mas não viviam de forma coerente com o que
diziam. Os falsos mestres estavam falando:

• Temos comunhão
• Não temos pecado nenhum na nossa natureza
• Não pecamos

Começando do terceiro argumento: dizer que não pecamos é


não conseguir se enx ergar no dia a dia, é não perceber o quanto
erramos por palavras, sentimentos, omissão e ações, dizer que não
peca é estar mergulhado numa terrível cegueira. Essas duas
afirmações, “ não pecamos” e “ não temos pecado na nossa
natureza” , João trata de uma forma bastante grave e dura.

Afirmações desses tipos nos tornam um tipo de pessoa que


chama Jesus de mentiroso ou invalidamos a eficácia e a utilidade da
cruz, é muito importante tomar cuidado com o que falamos com o

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Formação em Teologia

que ensinamos em nome de uma santidade superficial, estamos


deteriorando a mensagem do evangelho.

Ainda rebatendo os falsos ensinos, João ensina as ferramentas


que temos para saber se conhecemos a Deus:

• Guardar seus mandamentos: “ Os que guardam”


• Esses que guardam são os que amam: “ Os que amam”
• Os que guardam têm amor aperfeiçoado: “ Os que são
aperfeiçoados”

Em outras palavras, a pessoa que tem comunhão é alguém que


guarda os mandamentos, é aquele que a palavra está escrita em seu
coração como profetizou Jeremias, guarda no sentido de viver
baseado e guiado pela palavra ou como nos ensina Salmos 119,
“ guardei a tua palavra no meu coração pra eu não pecar contra ti” ou
ainda usando as palavras de Jesus, “ aquele que ouve essas palavras
e não pratica é semelhante a quem constrói a sua casa sobre a areia,
mas quem ouve essas palavras se as pratica é como constrói sua
casa sobre a rocha” . Guardar a palavra, é estar firmado sobre a
rocha, é estar preparado para resistir à tempestade, é sobre ter a
identidade certa, é sobre fazer parte de uma nova aliança.
Conhecemos nosso Pastor, conhecemos sua voz, conseguimos ouvi-
lo e vivemos guiados por Ele. Sua voz é uma bússola.

A prova de conhecer a Deus então é ser alguém que guarda o


Logus (Palavra), alguém que se aperfeiçoa em amor: “ Como
conhecer se não guarda a palavra? Como guardar o que não
conhecemos?” Os falsos mestres diziam que conheciam a Deus.

A conclusão é que o que os falsos mestres ensinavam era


mentira: Não guardavam palavra, não tinham testemunho vivo de
amor cristão, diziam que andavam na luz, “ Mas quem odeia seu

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Formação em Teologia

irmão e diz estar na luz, não saiu das trevas” . Pois Deus nos tira do
inferno e depois tira o inferno da gente, onde conseguimos a aprender
a amar o meu próx imo. Amando meu irmão, permaneço na luz e isto
é um desafio, por isso às vezes a luz se afasta de nós.

João ainda traz uma advertência grave, que os anticristos


(plural) saíram e ainda vão sair do nosso meio. (Ver I Jo 2: 18-19) De
qual meio João está falando? Da Igreja, tal qual a parábola do joio e
do trigo. Surgem, misturando as heresias no meio do povo de Deus.

Falsos ensinos descritos, comparando o Evangelho com as Epístolas


de João:

Mediante as comparações, podemos ver que esse embate


contra os falsos mestres e falsos ensinos já é descrito desde o

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Formação em Teologia

Evangelho de João. Diferenciar o verdadeiro do falso, basta saber que


o nosso Cristo, que morreu em carne, é dilacerado, pois não ex iste
remissão dos pecados sem este sacrifício. Os falsos profetas,
enfraquecem Cristo, deturpando a realidade, diminuindo a pessoa e
ex istência de Jesus Cristo.

A prova de filiação, a prova de que somos filhos: 2:29-5:12; Filhos


têm características do pai (2:29)

• Ser como Jesus


• Não continua no pecado 3:4-10
• Amar os irmãos morrer por eles 3:11-24
• Crer que Jesus Cristo é o filho de Deus

II João

Foca em:

• Cumprir o mandamento dado


• Conservar a fé
• Não receber mestres falsos

III João

Foca em:

• Oração por saúde


• Alegria e fidelidade
• Gratidão por ajuda missionária
• O caso negativo: Diótrefes
• O caso positivo: Demétrio

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CARTAS AOS HEBREUS - PARTE I

Introdução

Agora iremos abordar os dois principais segmentos do livro de


Hebreus. No primeiro, o autor enfatiza uma comparação entre Jesus
e outros personagens, mostrando Sua personalidade a qualquer um
deles. No segundo segmento, o autor faz uma relação de tipificação
de Jesus em Melquisedeque.

Nesse início de módulo, gostaria que você abrisse o livro de


Hebreus no capítulo 1 para podermos compreender melhor a sua
estrutura.

“ Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de


muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-
nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu
herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.”
Hebreus 1:1,2

O escritor começa dizendo que Deus falou aos pais, na


antiguidade, de maneiras variadas, mas que agora ex iste uma
ênfase na figura do filho. Então, se antes a ênfase eram os profetas,
agora o escritor de Hebreus começa fazendo uma abordagem
importante, a fim de entendermos toda essa carta. Assim, a ênfase é
que agora o Pai está falando ao seu povo por intermédio do Filho.
Vemos essa ênfase no Filho nos dois primeiros versículos.

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Formação em Teologia

Hebreus é o primeiro nome, ou nome mais antigo, que nós temos


do Povo de Deus. Temos então os que vêm nesse último período da
história depois de atravessar o ex ílio, que são os remanescentes,
identificados como judeus. Na verdade, bem antes de Israel nós
temos essa terminologia de Hebreus, um povo nômade, um povo que
andava mudando de lugar. Então, nessa época, o nome do Povo de
Deus era Hebreus.

Isso nos mostra a primeira identificação do povo para quem essa


carta está sendo enviada: para judeus cristãos que estão espalhados
por todo o Império Romano, que está tomando conta de todo o
mundo, inclusive do povo de Deus em Jerusalém. Precisamos
também nos lembrar de que os apóstolos ficam reunidos em
Jerusalém, quando começamos a ver uma perseguição e a igreja
começa a sair em várias direções. Só mesmo um grupo mais restrito,
dos Apóstolos, que fica.

Mas podemos observar, na igreja em Antioquia, um movimento


grande e crescente, após a perseguição de judeus, se espalhando
cada vez mais por todo o Império Romano. Então essa carta está
destinada a todo este povo que se espalhou, seja pela perseguição ou
porque já estava lá, sendo alcançado pelo Evangelho. A segunda
ideia que é importante entendermos é que ex iste um sentimento
comum que o escritor de Hebreus está tentando alcançar e
combater, que é um sentimento de desistência.

Ser cristão no Império Romano nesse momento se torna


arriscado. Há risco de morte, de confisco de bens, as pessoas estão
com medo de perder os seus bens, com medo de que seus laços
familiares sejam quebrados etc. Ex iste um pensamento que é latente
como pano de fundo do livro de Hebreus, que é aquela ideia fix a de
alguém que está querendo voltar para trás, de alguém que está

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Formação em Teologia

pensando em desistir, porque ficou complicado e porque as coisas


necessárias para sobreviver com essa nova fé cristã, estão se
tornando muito difíceis.

Não se sabe ao certo quem é o escritor do livro de Hebreus,


embora muitos digam ser Apolo, outros dizem ser Paulo, há quem
diga até mesmo que foi uma mulher que o escreveu. Embora não
saibamos ao certo quem escreveu esse livro, é visível que seu
pensamento é direcionado para combater uma ideia inicial: pessoas
confrontadas, principalmente por seus irmãos judeus, que têm o
constante pensamento de desistir de serem cristãos e voltar atrás,
achando que é mais seguro e mais confiável voltar a ser judeu.

O livro de Hebreus é fantástico e totalmente atual porque, em


algum momento de nossas vidas, nós também, por vezes, sempre
pensamos se não é melhor voltar atrás. Ex istem muitos pensamentos
que nos questionam o tempo inteiro: " será que a melhor alternativa
não seria deix ar a minha fé de lado e viver em paz, cuidando das
minhas coisas e estando em paz com a minha família?" . Este é um
pensamento que pode nos sugerir a ideia de que talvez a nossa fé em
Jesus Cristo não seja a prioridade e que, por isso, talvez seja melhor
realmente recuar.

➔ Nota Pastoral: Quero chamar atenção se caso você vá fazer


um trabalho evangelístico a qualquer grupo, sejam eles travestis,
mendigos, drogados ou quaisquer pessoas de todas as formas.
Gostaria de chamar sua atenção a observar que muitos deles
conhecem muito bem a Bíblia, alguns chegam a cantar um hino ou
ler um tex to. Muitos foram até mesmo líderes de igreja, outros têm até
mesmo um conhecimento profundo sobre toda a estrutura de igreja
e dizem ter ex periências. São pessoas que, em algum momento na
vida, não aguentaram e voltaram para trás. O livro de Hebreus é uma

147
Formação em Teologia

resposta para essas pessoas que estão pensando em voltar, se


sentindo ameaçadas. É quando o risco chega ao limite e precisamos
tomar uma decisão entre continuar seguindo a Jesus ou voltar para
trás.

Então o argumento do autor de Hebreus é dizer que o filho Jesus


Cristo é superior a qualquer coisa que eles viram ou viveram na
tradição e na fé antiga. O primeiro argumento, no primeiro capítulo,
Jesus é comparado aos anjos e ele é comparado de tal forma a fim de
que o motivo de nós permanecermos seja o entendimento de que
Cristo é maior do que qualquer coisa. É promover a consciência de
que Jesus Cristo é maior do que o risco, que o sofrimento, do que
qualquer religião que tenhamos ex perimentado no passado. Quando
isso virar, de fato, uma verdade, isso irá se transformar em uma
âncora: saber que Cristo está acima de tudo.

Quando nós somos confrontados pelo assédio, pela morte, pela


possibilidade de perder os bens, o que vai fazer com que
permaneçamos firmes é a segurança de que Cristo é maior. Nós não
sabemos o que vai acontecer com essas perseguições que temos em
vários lugares, como a Índia, China ou Norte da África. Vivemos em
um país onde não temos isso, mas fica a reflex ão se nossa fé é
suficientemente firme para permanecermos em tempos onde
pessoas que nos são importantes e de quem gostamos começarem a
nos perseguir. O livro de Hebreus tem essa resposta, e eu espero que
ela alcance seu coração.

Primeiro Segmento do Livro de Hebreus

Já no Capítulo primeiro o escritor de Hebreus começa a


comparar Jesus Cristo aos anjos. Ele faz essa comparação, pois os

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Formação em Teologia

anjos têm uma figura fundamental na religião judaica. O próprio


Estevão, no livro de Atos, antes de ser apedrejado em seu discurso,
reflete o pensamento judaico de que, no momento que Moisés
recebeu as leis, anjos estavam ali intermediando o processo.

O livro de Hebreus está repetindo a mesma ideia que faz o


pensamento judaico na história. No Antigo Testamento você irá
perceber que os anjos apareciam aos patriarcas, trazendo confiança
em momentos de crise. Então o judeu sabe que a sua fé é uma fé
diferente e segura, pois ex istem seres especiais que validam e
confirmam essa fé. Eles estão cientes de que os anjos são testemunho
de sua fé, que é verdadeira.

É nesse cenário que Jesus entra, como ponto de comparação do


escritor de Hebreus dizendo: “ eu sei que vocês têm na sua tradição,
essa ex periência com anjos; o próprio Jacó brigou com o anjo, então
os anjos estão presentes na história e na tradição de vocês” .

Então acontece como uma espécie de disputa onde o judeu


compara Jesus com os anjos: vamos ver quem dos dois é maior. Nos
dois primeiros capítulos de Hebreus nós vemos o escritor
questionando se os anjos podem ser adorados ou não. A resposta é
que Jesus é quem deve ser adorado.

A fim de validar alguns argumentos, o autor de Hebreus pega


alguns livros do Antigo Testamento que provam que Jesus pode ser
adorado, os anjos não. Jesus é o general, anjos são servos. Jesus é
eterno, os anjos têm um momento de criação.

Toda essa relação é necessária para mostrar que Cristo


realmente está acima. Para os judeus, o judaísmo era uma boa
religião, porque os anjos faziam parte e traziam segurança. Então o
escritor de Hebreus questiona o porquê de eles buscarem a

149
Formação em Teologia

segurança dos anjos, uma vez que agora eles têm a segurança de
Jesus.

E os primeiros capítulos vão se desenvolvendo nesse sentido, de


que Cristo é maior do que Moisés, que é uma figura importante, pois
foi quem troux e a lei. Porém, Jesus Cristo é superior a Moisés, e se
houver uma disputa entre os dois, certamente Jesus é o que ganha.
Se devemos honra a Moisés, muito mais a Jesus. E o autor de Hebreus
então alerta que, se houver a intenção de voltar atrás por conta dos
anjos e de Moisés, o povo estará voltando para algo que é
precariamente menor.

A mensagem de Hebreus é clara ainda em afirmar que, embora


haja muita coisa importante na fé e na tradição dos judeus, se eles
insistirem em conhecer a Cristo, isso será suficiente possa dar o
próx imo passo para insistir na sua caminhada. E se eles têm uma
revelação importante, em Jesus eles têm uma revelação ainda
maior.

Nos primeiros capítulos de Hebreus, então, o escritor está


colocando vários personagens na balança juntamente com Jesus,
para mostrar que Ele é maior. E então ele apresenta todos os
argumentos de tudo que o povo conhece, mostrando a superioridade
de Jesus. Mas embora isso seja fácil de entender na teoria, na prática
nem sempre o é. Porque uma coisa é entender e acreditar que Jesus
é acima de todas as coisas, mas no nosso dia-a-dia, com os nossos
problemas de enfermidade, problemas pessoais e financeiros, temos
a tendência de enx ergar com muita clareza esses problemas,
deix ando de enx ergar a importância de Jesus.

O escritor de Hebreus está falando que você pode estar


angustiado, pensando em olhar para trás, porque a vida está difícil,

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Formação em Teologia

porque está arriscado continuar mantendo a fé. E ainda, por vezes,


você está se sentindo tão terrivelmente impensado, que uma doença,
uma enfermidade uma dívida, um relacionamento quebrado acaba
tendo mais importância do que Jesus. Dessa forma, é mais fácil que
Jesus seja subtraído ou esquecido em seu coração, porque as
realidades e as dificuldades do mundo parecem ser mais reais do que
Ele.

Teoricamente isso é fácil de entender. Mas para que isso seja de


fato uma realidade, realmente Cristo precisa ser superior na minha
vida. Porque, do contrário, teremos sempre essa relação, tendo que
ser relembrado o tempo todo dessa proporção. De alguma forma o
Espírito Santo está conversando com a nossa alma dizendo: pese na
balança, alma; todas essas coisas que você pensa em olhar atrás e
colocar de lado. Jesus Cristo é maior do que os profetas, é maior do
que qualquer coisa que a gente possa imaginar. Esse é o argumento
do escritor de Hebreus.

Em Hebreus 1:4 Jesus recebe um nome mais ex celente do que os


anjos. No versículo 6 o escritor cita Deuteronômio. Ele sabe que está
falando com um judeu que é cristão, que tem conhecimento das
escrituras, então ele está pegando a escritura para convencer. Ex iste
um raciocínio lógico, uma coerência, uma tentativa de acalmar
pux ando pelo que o povo entende, pelo que o povo conhece.

Então, no Versículo 6, ele está fazendo uma analogia com


Deuteronômio 32:43, de quando Jesus nasceu como um homem, e
dizendo que os anjos os adorem. É importante perceber que o escritor
de Hebreus lança o argumento, mas faz uma relação do tex to, para
que o judeu perceba que aquilo já fora revelado.

151
Formação em Teologia

Ainda em Hebreus 1:7, ele faz menção de Salmos 104:4, com um


tex to que fala sobre ministros sendo tratados como fogo e vento; a
ideia de que Jesus é o Mestre e Senhor, e os anjos, apenas servos e
ministros. Podemos usar então isso como adjetivos. Da mesma forma
que o vento, a natureza o fogo ou qualquer outra coisa servem a Deus,
da mesma forma os anjos assim o fazem. Jesus é filho, é o Rei e os
anjos são servos; Jesus tem um Reino de equidade e justiça, os anjos
são espíritos ministradores que servem em benefício daqueles que
hão de ser salvos.

Vemos isso claramente no final do capítulo primeiro: Quem são


os anjos? São espíritos ministradores que servem em favor da igreja
e trabalham em nosso benefício. Então está estabelecida, de uma
forma bem clara, a superioridade de Jesus Cristo em relação aos
anjos.

Segundo Segmento do Livro de Hebreus

Nessa primeira parte que acabamos de estudar, vemos o autor


de Hebreus, em todo momento, fazendo uma comparação entre
Jesus e outros personagens, mostrando a Sua superioridade a
qualquer um deles.

Já no capítulo 7 podemos perceber que esse processo continua,


porém, entra agora um personagem importante Melquisedeque,
uma figura que temos muita pouca referência na palavra de Deus.
Também iremos ver a presença do gnosticismo.

O homem sempre percebeu uma necessidade de mediação,


uma vez que não se consegue chegar diante de Deus com suas
próprias pernas e com a nossa força. E então surge o gnosticismo,

152
Formação em Teologia

porém, desenvolvendo essa teoria da mediação de uma maneira


contrária à Palavra de Deus.

Quando falamos em Melquisedeque, estamos falando de


mediação, de sacerdócio. No gnosticismo eles acreditam em eons,
mais uma vez a figura dos anjos como seres espirituais. Eles sabem
que ex iste uma distância considerável entre Deus e o homem, e então
vem o questionamento de como chegar até Deus.

No gnosticismo ex istem níveis de eons, e a pessoa tem o seu


primeiro mediador, o seu primeiro nível espiritual. À medida que essa
pessoa vai evoluindo espiritualmente, ela vai aumentando o seu
nível espiritual. Os eons, então, são seres espirituais que têm o papel
de fazer esse trabalho de mediação. Na cabeça do gnosticismo os
eons são anjos, seres espirituais. E em cada novo nível de revelação,
um novo espírito ou um novo “ anjo” conecta esse homem com Deus.
E assim, no gnosticismo, eles entendem que é necessário sempre
estar evoluindo para chegar a Deus.

Podemos perceber que essa mediação de Cristo, na verdade, já


está estabelecida desde o Antigo Testamento, embora muitos
teólogos discordem disso. No entanto, é possível afirmar que Jesus
Cristo é a figura central de toda a Bíblia, e quando chegamos no
Capítulo 7, encontramos Melquisedeque, um sumo sacerdote que
não tem linhagem, que apareceu na história, e que temos
pouquíssimos dados sobre ele.

No argumento de Hebreus, Jesus é maior que os Levitas, que os


sacerdotes, que a antiga aliança; Jesus é aquele único que pode fazer
mediação entre Deus e o homem, preenchendo todo esse espaço de
maneira que não haja mais necessidades, como em muitas religiões.

153
Formação em Teologia

Um bom ex emplo disso é a própria Igreja Católica, que vê a


necessidade de ter santos ou mesmo Maria para fazerem essa
mediação. E o que se prega no livro de Hebreus é que Jesus é
suficiente e ex clusivo nesse papel de mediação, discordando o
condenando essa estrutura do gnosticismo e a necessidade de uma
evolução até chegar a Deus.

Os sacerdotes naquela época eram encarregados de cortar a


carne do animal para o sacrifício, limpar, tirar o sangue, oferecer,
enfim, são os sacerdotes os responsáveis por toda essa tarefa. No
entanto, se o sacerdócio desses homens consistia em tais
rudimentos, o sacrifício de Jesus tem um outro tipo, que está
tipificado e evidenciado no ministério de Melquisedeque. Isso porque
Melquisedeque não tem genealogia, ou seja, não tem pai, não tem
futuro, não é limitado pelo tempo. Ele não tem uma genealogia como
os demais sacerdotes, que eram obrigados a cumprir com as suas
funções sacerdotais ao completar 30 anos.

Diferente desses sacerdotes, Melquisedeque é um sumo


sacerdote sem genealogia, ele simplesmente apareceu na história, e
nem sabemos dizer de onde ele veio. E o que o escritor de Hebreus está
querendo dizer é que, Melquisedeque não tendo uma linhagem, uma
genealogia, ele está tipificando Jesus, o eterno. Melquisedeque então
faz parte de uma outra categoria de sumo sacerdote. Enquanto os
sacerdotes trabalhavam continuamente, o sumo sacerdote só
entrava no Santo dos santos uma vez por ano. Dessa forma, Jesus é,
então, mostrado em forma de parábola na pessoa de Melquisedeque.

Portanto, o que vemos no capítulo 7 é uma comparação entre


Melquisedeque e Jesus, mostrando que Jesus já era mediador
mesmo antes da lei, porque aqui estamos falando do encontro de
Abraão com Melquisedeque. A lei foi dada em Moisés, e Jesus já era a

154
Formação em Teologia

essência da mediação entre Deus e os homens mesmo antes de a lei


ser entregue. Porque quando o autor faz afirmação de que Jesus era
sacerdote da ordem de Melquisedeque, ele promove a ideia de que o
sacerdócio de Jesus é um sacerdócio eterno.

E o que é mais coerente, então? Voltar atrás para a religião dos


anjos? Voltar atrás para religião dos sacerdotes? Voltar atrás para
religião da velha aliança? Voltar atrás para aquilo que é provisório?
Voltar atrás daquilo que assombra? Voltar trás para antiga
mediação? O escritor de Hebreus está chamando a atenção para que
o homem não olhe para atrás, porque ex iste um mediador que é mais
perfeito. E se antes nós tínhamos um mediador no passado, o
mediador de agora é mais perfeito. Nós temos toda essa herança de
anjos, mas o que temos agora é incrivelmente mais especial.

Portanto, a única maneira não voltarmos atrás é entendendo a


dimensão e a profundidade de quem é Jesus Cristo. Quanto menos
nós entendermos essa verdade, mas nós vamos pensar em voltar
atrás. Quanto menos nós entendermos o significado e a força que
Jesus Cristo tem na vida de cada crente, mais a ideia de voltar atrás
irá tomar conta do nosso coração. Que Jesus Cristo cresça em seu
coração, e que essa ideia de desistir simplesmente desapareça.

155
Formação em Teologia

156
Formação em Teologia

157
Formação em Teologia

CARTAS AOS HEBREUS - PARTE II

Introdução

Nesta parte, continuaremos falando sobre Melquisedeque e


sobre a necessidade de não voltar atrás, principalmente quando o
nosso coração é tomado por pensamentos de desistência.

Recapitulando o que vimos anteriormente, o livro de Hebreus nos


traz uma reflex ão sobre não olharmos para trás, mostrando também
que Jesus Cristo é superior aos anjos ou qualquer outro homem.

“ Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus,


Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos
firmemente a nossa confissão. Porque não temos um
sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com
confiança ao trono da graça, para que possamos
alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos
ajudados em tempo oportuno.” Hebreus 4:14-16

Ex iste uma ilustração feita por Ed René esclarecendo sobre essa


questão do “ tempo oportuno” mencionado no versículo 16. Muitas
vezes nós confundimos esse tempo oportuno como sendo um tempo
em que surge alguma necessidade, fazendo com que venhamos a
procurar a Deus, que supre a nossa necessidade.

158
Formação em Teologia

Contexto

Se nós compreendermos o contex to de Hebreus, vamos perceber


que ele está apontando para outra direção. Na parte anterior do tex to
ex iste uma narrativa do que aconteceu com o povo que saiu da Terra
Prometida, e essa primeira geração se perde pela incredulidade e
porque, em algum momento, a fé não foi suficiente para que eles
continuassem a sua caminhada. Então, segundo René, o tempo
oportuno é um tempo onde a nossa fé está correndo o risco de ser
esmagada e pulverizada pelas circunstâncias.

O momento oportuno que nós lemos é o momento onde a


violência do dia a dia entra em choque com a nossa alma, nos
deix ando em uma situação embaraçosa e nos levando a repensar. E
o que o escritor de Hebreus está nos dizendo é que no tempo
oportuno, esse momento em que a nossa fé está correndo o risco de
ser achatada, quando parece não haver mais tempo para depois, é
que devemos buscar o Trono da Graça.

Ele diz ainda que no Trono da Graça podemos encontrar


misericórdia, a fim de não morrermos no deserto, como aquela
geração morreu. Então o Trono da Graça (essa palavra é muito
especial) não é lugar onde arrancamos as coisas, mas é um lugar
onde a gente recebe coisas que são dadas de uma forma graciosa; é
o lugar onde tudo o que ex iste é fruto de graça, da bondade
incomparável do nosso Senhor. Então é nesse tempo em que estamos
correndo um sério risco, que devemos buscar, com confiança, ao
Trono da Graça, a fim de encontrarmos misericórdia para continuar o
nosso caminho.

E isso tem tudo a ver com o sacerdócio de Melquisedeque, pois é


o sumo sacerdote Jesus Cristo quem ajuda a fazer essa mediação no

159
Formação em Teologia

Trono da Graça; é Ele o dono da misericórdia. Ainda no capítulo 7 ele


faz uma referência ao livro de Gênesis 14. Compare:

• Hebreus 7 x Gênesis 14 x Salmos 110:4

O escritor de Hebreus sempre faz uma comparação com o Antigo


Testamento para converter as pessoas que estão enfrentando esse
tempo oportuno, usando um argumento lógico: Quem é
Melquisedeque? Essa figura misteriosa é alguém que está fazendo
essa mediação.

Então vemos em Hebreus 7:6 Abraão encontrando


Melquisedeque. E assim temos a ideia de que o maior abençoa o
menor. No tex to Melquisedeque abençoou Abraão, mostrando que
ex iste alguém que está acima dele. Ex iste alguém que está acima de
toda lei de Moisés e esse alguém é tipificado pela figura desse sumo
sacerdote chamado Melquisedeque.

Se pensarmos em uma hierarquia, temos:

• Melquisedeque – maior do que Abraão


• Abraão – pai de Levi; pai do povo
• Levi – vem da descendência de Abraão; pai do
sacerdote
• Sacerdotes

O livro de Hebreus, então, está enfatizando a ideia de que ex iste


alguém que seja maior do que tudo isso. Melquisedeque é maior do
que Abraão, o pai da fé, alvo da promessa, pai da promessa; é maior
do que Levi, o pai do sacerdote; é também maior do que o sacerdote.
Portanto, é Melquisedeque quem está abençoando Abraão, e não o

160
Formação em Teologia

contrário. O tex to nos fala que Abraão está vindo de uma guerra
trazendo os despojos, e ele vai atrás de Melquisedeque para trazer o
dízimo.

Outra informação importante com relação ao que vemos nas


menções do dízimo, é que o livro de Hebreus deix a claro que o dízimo
é anterior à lei, ou seja, ele veio antes de a lei ex istir. Portanto, ele não
está simplesmente limitado à questão da lei. Porque muitos
argumentam que a lei foi superada pela nova aliança, então não
temos mais necessidade da dizimar. Embora tenha sido organizada
nesse tempo de Moisés, o dízimo é uma realidade que a já ex iste
desde os patriarcas. É uma realidade anterior à lei e ela sobrevive até
mesmo depois dela.

É importante que façamos uma consideração. Quando


pensamos nesse sacerdócio de alguém que é superior a Abraão, de
alguém que é superior a Levi, que é superior sacerdote, então, ao
olharmos para Melquisedeque, imaginamos que agora temos que
olhar para o futuro, para essa Nova Aliança que temos em Jesus.
Porque é só Jesus que vai dar conta de fazer essa mediação, nesse
tempo oportuno. Abraão não vai conseguir fazer isso, Levi não vai
conseguir, tampouco o sacerdote. Jesus é esse mediador que, no
tempo oportuno, nos ajuda a ir em frente é alcançar misericórdia.

Voltar atrás é deix ar a mediação de Jesus para retomar a


mediação e as figuras simbólicas. Em nosso meio evangélico, temos
um movimento de voltar para o passado para resgatar alguns
símbolos. Cuidado, se nós entendemos que Jesus é a revelação
plena, temos que olhar para frente. Jesus é o que temos de mais
perfeito em termos de revelação da parte de Deus, e precisamos
tomar cuidado ao olhar para trás. Precisamos tomar cuidado para
retornar os símbolos que têm menor poder importância e menor

161
Formação em Teologia

capacidade de nos ajudar no momento que precisamos encontrar


misericórdia no tempo oportuno.

Capítulo 8

Neste capítulo vamos encontrar uma afirmação muito forte:

“ O ponto principal do que estamos dizendo, é este:


Temos um sumo sacerdote tal, que se assentou nos céus
à direita do trono da Majestade, ministro do santuário, e
do verdadeiro tabernáculo, que o Senhor fundou, e não o
homem. Porque todo sumo sacerdote é constituído para
oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que
esse sumo sacerdote também tivesse alguma coisa que
oferecer. Ora, se ele estivesse na terra, nem seria
sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a
lei, os quais servem àquilo que é figura e sombra das
coisas celestiais, como Moisés foi divinamente avisado,
quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe
foi dito: Olha, faze conforme o modelo que no monte se te
mostrou. Mas agora alcançou ele ministério tanto mais
ex celente, quanto é mediador de um melhor pacto, o
qual está firmado sobre melhores promessas.” Hebreus
8:1-6

A primeira afirmação que encontramos no versículo 6 é que a


aliança que Jesus está trazendo é uma aliança superior. Significa que
a aliança que ex istia no Antigo Testamento com o povo agora

162
Formação em Teologia

encontra uma aliança que é superior em valor, em significado, em


possibilidades com seu povo. E nessa aliança do Novo Testamento
nós começamos a perceber uma outra realidade.

A segunda afirmação está no versículo 7, pois se aquela primeira


aliança tivesse sido sem defeito, nunca teria buscado lugar para uma
segunda. Mas então, será que a primeira aliança tinha defeito? A
questão é que ela era inconclusiva, temporária, e o que estamos
buscando é uma aliança que seja superior. Se a antiga fosse tão
perfeita e sem Retoques, como povo judeu pensava, para que seria
preciso uma segunda? Então o argumento de Hebreus para as
pessoas que estão pensando em desistir é que a aliança que eles
viveram, por mais que tenha sido uma aliança importante, agora dá
lugar para uma aliança que é superior, que aperfeiçoada, que vai,
enfim, atingir o objetivo.

Comparando as alianças, podemos diferenciar essa questão de


defeito e superioridade nos versículos 6 e 7.

163
Formação em Teologia

Se formos então comparar a primeira com a segunda aliança,


podemos perceber uma distinção muito grande. O que se ex igia na
primeira aliança não é ex atamente o que se ex ige na segunda.

Na primeira aliança temos um sacerdote que era homem, que


precisa, inclusive, entregar oferta pelos seus próprios pecados. Já na
segunda aliança o sacerdote é um Rei, o Rei dos reis, Senhor dos
senhores. Na primeira aliança temos as ofertas que eram feitas com
os animais; na segunda, a oferta era o próprio sacerdote, da ordem
de Melquisedeque, Jesus Cristo.

O Antigo Testamento já mostrava que essa primeira aliança não


ia dar conta, e isso vemos no livro de Jeremias (capítulo 11, versículo
8), quando ele afirma que Deus agora escreve a lei no coração e na
mente do Povo, não mais nas tábuas da lei, nas tábuas de pedra. Ele
fala ainda que Deus faria uma Nova Aliança, onde a lei estaria do lado
de dentro e não de fora, de uma tal forma, que ninguém iria precisar
falar para as gerações vindouras quem era Deus, porque essas
pessoas já iriam saber quem era Deus. Porque nessa Nova Aliança
que Jeremias está profetizando, a lei está gravada no coração, dentro
de nós.

Quem faz parte dessa primeira aliança é uma questão de


genética familiar, de linhagem, é o DNA que define quem está dentro
e quem está fora. Quem define a segunda aliança é a fé, a conversão.
Nessa primeira temos um símbolo da circuncisão, um símbolo
daquilo que Deus haveria de fazer no coração das pessoas. Já na
segunda aliança nós temos essa “ cirurgia” que acontece no coração
do convertido, que é essa regeneração que o Espírito Santo faz em
nossa vida.

164
Formação em Teologia

A primeira e a segunda alianças são separadas por um abismo.


E o que se requer dessa aliança? Na primeira o povo de Deus tem que
obedecer para fazer parte. E então as pessoas se esforçam em
obedecer para não ficarem de fora. Mas Paulo fala no livro de
Romanos que ninguém consegue cumprir a lei perfeitamente. Tanto
isso é verdade, que podemos ver no Antigo Testamento o povo
fracassando nessa tentativa de tentar obedecer. E por que
precisamos de uma Nova Aliança? Porque fica evidente, ao longo do
Antigo Testamento, que o povo fracassou em obedecer, em
permanecer no seu acordo com Deus. Porque na antiga aliança, a
parte do povo era obedecer, a parte de Deus era dar proteção, e
cumprir a promessa de lhes dar uma terra especial.

O que fica visível, então, é capacidade que o povo de Deus tinha


de obedecer, apesar da circuncisão, apesar da lei, apesar dos
sacerdotes e dos sacrifícios.

Então essa Nova Aliança é importante, porque agora a lei está


escrita do lado de dentro do coração nosso coração, que está
regenerado, ex iste a conversão. Então agora temos um Israel
espiritual, que é a própria Igreja de Jesus Cristo. Nessa Nova Aliança
a obediência não é o que está trazendo aqui, porque nós estamos
dentro dessa Aliança por conta da obediência do próprio Jesus Cristo.
O que nos garante como parte da Nova Aliança, portanto, é que Cristo
obedeceu até a morte, e morte de cruz. E porque Ele obedeceu
perfeitamente - porque a justiça é perfeita -, ele cumpriu o que
nenhum homem jamais conseguiu cumprir. Então, baseado na
obediência de Cristo, eu me alegro e me regozijo, porque agora é pelo
sangue do Cordeiro e pelo Seu sacrifício que eu posso fazer parte de
uma Nova Aliança. Essa possibilidade foi garantida pelo meu Sumo
Sacerdote.

165
Formação em Teologia

A obediência agora é uma é um segundo passo. Agora que


estamos na Nova Aliança, se começarmos a viver de qualquer forma,
temos que repensar se realmente estamos fazendo parte dela.
Porque, como profetizou Jeremias, a quem faz parte dessa Nova
Aliança, a lei tá escrito do lado de dentro. Por mais que saibamos que
a nossa obediência é tão limitada como a obediência do povo da
antiga aliança, ex iste prazer em buscar a Deus.

Então, se conseguimos viver de qualquer jeito e ir atrás de


qualquer coisa, isso significa que o nosso coração não clama por
aquilo que é justo e certo. Portanto, precisamos repensar se somos
cidadãos dessa Nova Aliança. Porque a Bíblia vai começar a nos
ex plicar que esse Segundo Pacto é um pacto que muda a nossa
essência e a forma de enx ergarmos a vida: somos cidadãos de um
reino espiritual.

Na primeira aliança, o sacrifício era feito anualmente. Todo ano


o povo entrava nesse ritual, rememorando os pecados, cumprindo
um protocolo onde cada ano o sumo sacerdote ia até o Santo dos
santos oferecer o sacrifício para perdão dos pecados. Já na Nova
Aliança ex iste uma afirmação poderosa, em que Deus simplesmente
não se lembra mais dos nossos pecados. Isso signifique que esses
pecados não precisam mais ser rememorados ano após ano, mas
agora, de uma forma definitiva, fomos separados do nosso pecado,
assim como o ocidente está separado do oriente. Temos o sacrifício
perfeito, pelo Sacerdote perfeito.

Outro ponto que podemos observar é que na primeira aliança


ex istia a festa da Páscoa. Na segunda nós temos a Ceia, que é mais
íntima, tem uma profundidade, lembra da última Ceia de Jesus Cristo
e abriga elementos que trazem com maior clareza o Seu sacrifício. A
primeira aliança fala, de uma forma geral, o que acontece na

166
Formação em Teologia

segunda. Porém, ela fala de uma forma temporária, onde também


vemos o fracasso do homem (em obedecer). Na segunda nós temos
o sucesso de Jesus Cristo, que é onde nos baseamos.

O crente é aquele que se baseia na capacidade que o nosso


Senhor teve de obedecer, se submeter e cumprir com seu propósito.
Ou seja, o crente não é aquele que alcança a graça pela sua própria
obediência, mas esta deve ser voltada a Cristo, o nosso modelo de fé
e entrega. Fica então visível a perfeição do Cordeiro que nos chama
para fazer parte dessa Nova Aliança.

Temos ainda uma diferença entre a primeira e a segunda


aliança onde, na primeira, vemos muito essa questão do sábado, que
significa o descanso, baseado na criação – Deus descansou no
sétimo dia. Já na Nova Aliança, o nosso descanso é com base na
ressurreição de Jesus Cristo. Porque Ele ressurgiu, porque Ele voltou
dos mortos, porque Ele voltou da morte, então agora o nosso
descanso é de quem sabe que a morte foi vencida, e baseado em
redenção.

Em Hebreus 8:13 o tex to diz que, uma vez tendo surgido uma Nova
Aliança, isso significa que a antiga está se tornando inadequada,
antiquada e obsoleta, incapaz de organizar a relação entre Deus e os
homens.

Além disso, na primeira aliança o homem receberia uma terra da


parte de Deus. Na segunda, o homem recebe a eternidade, a
paternidade de Deus e a filiação por intermédio de Jesus Cristo. Na
primeira aliança o homem só poderia fazer parte por meio de sua
própria obediência. Na segunda, o homem faz parte por causa da
obediência de Jesus Cristo, por uma questão de graça; por
consequência, nossa obediência entra fundamentalmente baseada

167
Formação em Teologia

em gratidão e consciência de que uma Aliança Superior foi escrita em


nossos corações.

A primeira aliança é precária, cumpre um objetivo, mas não dá


para o homem tudo que Deus deseja. Então ela é limitada, seu sentido
de “ defeito” tem a ver com essa ideia de limitação. A segunda aliança
revela toda sorte de bênçãos que o Senhor do Universo deseja para o
seu povo.

Então, quando paramos para fazer esse contraste, fica evidente,


na primeira aliança, as tábuas de pedra; na segunda aliança temos o
que está escrito nas tábuas do nosso coração. Na primeira temos os
sacrifícios de animais, na segunda temos o sacrifício do Cordeiro
Santo.

Capítulo 9

Neste capítulo o autor começa a desenrolar sobre os rituais


antigos, sobre o Tabernáculo. Todo esse livro é sempre construído em
cima de comparações: Jesus com anjos, Jesus com Moisés, Jesus
com os antigos sacerdotes, antiga e nova lei. Agora, no capítulo 9, nós
temos uma comparação entre os rituais, os tipos de culto que
ex istiam na antiga e na nova aliança, em uma perspectiva da
diferença entre o primeiro e o segundo Tabernáculo.

No antigo Tabernáculo nós temos um lugar de adoração que era


o átrio ex terior, onde as ofertas eram entregues e onde aconteciam
os sacrifícios. Depois tínhamos outras duas salas. A primeira era o
santo lugar, com um candeeiro de outro, uma mesa de ouro e um
incensário. A segunda sala era depois do véu, o santíssimo lugar,
com a Arca da Aliança e, dentro dela, as tábuas da lei e uma urna.
Dentro dessa urna havia ainda um pedaço do maná e também o

168
Formação em Teologia

bordão, o cajado de Arão. Essas duas salas eram, portanto, o Santo


lugar e o Santíssimo lugar.

Vamos ver ao longo da Bíblia que o sumo sacerdote não podia


entrar no Santíssimo lugar sem sangue. Ele entrava duas vezes: na
primeira ele matava um boi e aspergia o sangue em cima da tampa
do propiciatório. Sobre essa tampa ficava a arca com 2 querubins, os
guardiões da Glória de Deus; dentro dessa tampa do propiciatório
ficavam a arca e a urna.

O sumo sacerdote então, após matar o boi lá fora no átrio,


entrava no Santíssimo lugar e aspergia o sangue, primeiro pela
remissão dos seus pecados e de sua família. Depois ele saía, matava
um cordeiro e voltava fazendo a mesma coisa, só que, dessa vez, em
favor dos pecados das pessoas.

Essa é uma simbologia riquíssima, porque pouco sabemos sobre


o que era realmente feito no Santíssimo lugar. Pensando nesse
tabernáculo da antiga aliança nós vemos que ele entrava no
Santíssimo lugar anualmente para pedir perdão de pecados,
aspergindo aquele sangue para remissão de pecados. O ato do sumo
sacerdote no culto tem um papel central no culto. Nesse ato, ex iste
uma centralidade de reconhecimento de culpa, de perdão. O
Santíssimo lugar é um lugar tremendamente santo, e em um lugar
assim precisamos trabalhar com algumas ideias.

Primeiramente, o Santíssimo lugar é o lugar de reconhecimento


da diferença de quem é homem e quem é Deus. E quando se
reconhece essa distância, acontecem duas atitudes: suplicar perdão
e misericórdia e adorar. Embora hoje em dia muito se fale sobre o
Santíssimo lugar como o lugar de adoração, temos pouca habilidade
em compreender o fato de que papel do sumo sacerdote tem a ver

169
Formação em Teologia

com a aspersão que era feita para propiciação dos pecados. E não
podemos deix ar de lado a importância da figura desse sumo
sacerdote para o culto.

Nos versículos 9 e 10 vemos que a presença de Deus no novo


Tabernáculo não pôde ser evidenciada enquanto o antigo
Tabernáculo estava de pé, interditando o acesso ao novo e vivo
caminho. Percebemos, então, nos versículos 8 a 10 que, enquanto
essa forma de culto estava valendo e esse Tabernáculo da antiga lei
estava de pé, o caminho para Deus estava interditado.

Embora não haja referência, é possível pensar que antes da


ressurreição é possível que os sacerdotes tenham ficado costurando
o véu, que fora rasgado. Assim sendo, enquanto estivermos tentando
reparar essa estrutura, não entenderemos a realidade do novo e vivo
caminho. Enquanto estamos baseados em uma relação de Deus
através de nosso próprio mérito, no tipo de santidade e obras que nós
acreditamos ser as corretas, este antigo Tabernáculo continuará
sempre de pé. No entanto, é preciso que ele venha abaix o, a fim de
que se torne evidente o novo e vivo caminho. Isso é ilustrativo do que
Deus quer que aconteça hoje: um Tabernáculo espiritual, em uma
relação de intimidade com Ele, baseado em Cristo Jesus.

Em Hebreus 9:10 podemos refletir sobre uma afirmação também


bastante significativa. Todas essas ordenanças baseadas em
comida, bebida - sacrifício de matar os animais, ofertas de comida e
bebida – não têm o poder ou capacidade de aperfeiçoar, de
santificar. Essas coisas cumprem um papel ilustrativo do que ia
acontecer na Nova Aliança, mas são provisórias e não têm a
capacidade de alcançar a mente. Então, o que purifica, de fato, a
consciência no ser humano? Realmente não temos uma ferramenta,
um instrumento que realmente purifique a nossa consciência.

170
Formação em Teologia

Paulo em Colossenses 2 diz que essas coisas de “ não toques, não


proves, não manuseie” , não têm poder para enfrentar a
sensualidade. Essa é a mesma ideia do escritor de Hebreus. Somente
o culto que sabe que precisa render adoração, que sabe que precisa
pedir perdão é que pode alcançar o mais profundo do nosso ser para
haver transformação.

Minha preocupação Pastoral é que nós continuemos usando


elementos de uma antiga aliança e, por conta disso, a nossa
consciência continua pesada, cheia de culpa, nos mantendo
continuamente distantes de Deus. Os protocolos espirituais que nós
usamos parecem continuar sem efeito de gerar no nosso coração a
santidade. Parece que os protocolos nos quais tanto insistimos não
conseguem atingir em cheio a nossa consciência, a fim de que ela
tenha a paz de estar diante de um Deus puro, perfeito e verdadeiro. Se
nós erramos os protocolos, se erramos a aliança, por certo iremos
cair em uma armadilha poderosa, que é continuar com a nossa
consciência presa pelo peso do pecado.

171
Formação em Teologia

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Formação em Teologia

173
Formação em Teologia

CARTAS AOS HEBREUS- PARTE II

Introdução

Agora, finalizamos os estudos sobre o livro de Hebreus,


retomando o conceito da necessidade de não voltar atrás e
concluindo com um breve estudo dos heróis da fé.

Capítulo 10

No livro de Hebreus, embora toda argumentação seja teológica


e apele para o Antigo Testamento, ex iste um objetivo pastoral de
alcançar corações que precisam ser fortalecidos na fé e que
precisam que o entendimento floresça de tal forma, que Jesus Cristo
fique mais claro e mais transparente do que qualquer realidade
adversa da vida, a fim de que não sejamos tentados a voltar atrás.

“ Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a


imagem ex ata das coisas, não pode nunca, pelos
mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de
ano em ano, aperfeiçoar os que se chegam a Deus.” -
Hebreus 10:1

Conforme reflex ão feita anteriormente, se esse formato de culto


não tem capacidade de nos aperfeiçoar, o que poderia então fazê-lo?
A resposta está justamente no sangue, no sacrifício de Jesus, que é o
que purifica nossa consciência das obras mortas.

174
Formação em Teologia

“ Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre


os que estão sendo santificados.” - Hebreus 10:14

“ Doutra maneira, não teriam deix ado de ser oferecidos?


Pois tendo sido uma vez purificados os que prestavam o
culto, nunca mais teriam consciência de pecado.” -
Hebreus 10:2

Nessa antiga forma, a consciência do pecado continua sendo


algo que impede a caminhada.

“ Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação dos


pecados,” Hebreus 10:3

Nesse ato do sacerdote entrar no Santo dos santos para aspergir


o sangue em cima do propiciatório, esses pecados estão sendo
rememorados e a consciência não está sendo resolvida.

“ Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não


quiseste, mas um corpo me preparaste; não te deleitaste
em holocaustos e oblações pelo pecado. Então eu disse:
Eis-me aqui no rol do livro está escrito de mim para fazer,
ó Deus, a tua vontade. Tendo dito acima: Sacrifício e
ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não

175
Formação em Teologia

quiseste, nem neles te deleitaste os quais se oferecem


segundo a lei;” Hebreus 10:5-8

Percebemos, então, que é o próprio sacrifício de Jesus Cristo que


vai trazer essa purificação de obras mortas. Vemos isso nos
versículos 13 e 14, que é esse sangue que consegue alcançar a forma
definitiva para que ela não seja aprisionada pela convicção de culpa.
Quando falamos de culpa, mesmo aquelas pessoas que
aparentemente não sentem culpa ou remorso, a Bíblia nos garante
que, de alguma forma, todos têm essa consciência.

E mesmo para aqueles que estavam constantemente trazendo


sacrifícios, somente o sangue é o que realmente tem poder de
alcançar o mais profundo e nos promover a paz. Porque à medida que
a Palavra de Deus vai esclarecendo, vamos tendo mais convicção
dos nossos erros, dos nossos pecados, da nossa situação e de como
temos facilidade de nos distanciarmos de Deus.

Então nós vemos nos versículos 13 e 14 que é o sangue de Jesus


Cristo, através do Seu sacrifício, e essa essência da Nova Aliança que
conseguem alcançar o que nada e ninguém conseguiu alcançar. No
sangue temos a garantia de vida eterna, de remissão dos pecados e
a garantia de que, finalmente, nossa consciência pode ser acalmada,
tranquilizada, porque o sangue tem essa competência de purificar a
vida do crente.

Prosseguindo em Hebreus 10:19-25, nessa segunda parte nós


somos ex ortados a entrar com ousadia com um coração sincero
diante de Deus. Hoje em dia quando as pessoas falam em se
aprox imar d’Ele com um coração sincero, às vezes não fica tão
transparente, que esse ato é uma impossibilidade sem a mediação

176
Formação em Teologia

de Jesus Cristo. Porque, como pode um ser completamente perfeito,


puro e santo entrar em contato com alguém que é limitado, pecador,
provisório? Para melhor ilustrarmos, imaginemos um leão. Ele tem
seu instinto e, quando nos vê à sua frente, de nada adianta falarmos
com ele, agradando com palavras, porque o seu instinto vai fazer
com que, naturalmente, ele nos devore. Da mesma forma, a
santidade de Deus algo tão imensurável, que somente em estarmos
na Sua presença já seríamos natural e imediatamente fulminados
por essa santidade, tamanha desproporção entre a santidade de
Deus e a condição do homem.

E, mesmo agora, depois de já termos sido alcançados pela graça,


a única possibilidade de estarmos na presença de Deus diante desse
tremendo desnível é através da mediação de Jesus Cristo. Não é
simplesmente porque podemos chegar agora na presença de Deus,
porque Ele é bom, é amor e isso é fato. No entanto, pelo fato de ele
também ser tão perfeitamente Santo, isso de uma forma radical,
seria suficiente para fulminar qualquer ser humano. A santidade de
Deus é alguma coisa que vai além da nossa compreensão.

Assim sendo, a única possibilidade de nós termos acesso a Deus,


conforme nos garante o sangue de Jesus, e chegarmos diante d’Ele
sem sermos fulminados é através de Cristo. Um Deus tão santo não
permitiria uma aprox imação desse tipo. Para ilustrar, quando Moisés
estava recebendo as tábuas da lei, ninguém podia se aprox imar do
monte, tanto é que, se algum cachorro ou algum animal se
aprox imasse do Monte, seria apedrejado. Essa mesma ideia se repete
em Hebreus.

O que precisamos entender, então, é que essa manifestação da


Glória da santidade de Deus é alguma coisa tão além da nossa
compreensão que antes era impossível para o homem se aprox imar

177
Formação em Teologia

de d’Ele. Quando os sacerdotes entravam no Santo Lugar, todo o povo


ficava ao lado de fora, sem acesso, com o caminho interditado para
chegar na presença de Deus. Se antes era impossível por conta desse
desnível, como então um ser imperfeito como eu e você ousaria
chegar diante de um Deus tão absolutamente perfeito? Essa
disparidade de um Deus perfeitamente Santo e um homem pecador,
isso deveria ser mais visível e, claro, este encontro fatalmente
destruiria o homem.

Podemos ver essa reverência do judeu de forma bem clara.


Quando ele pega o tex to bíblico e lê o nome de Yaveh, ele não ousa
sequer pronunciar o nome de Deus que está escrito no pergaminho,
por entender a santidade. Esse homem, então, põe a mão na sua boca
e, em vez de dizer o nome de Deus, ele diz “ Adonai” , tamanha é a
consciência da Sua santidade.

Como, então, um homem pode chegar na presença de Deus e


permanecer vivo? Diante desse abismo que ex iste entre Deus e o
homem, esse novo e vivo caminho, Jesus Cristo, é a mediação de que
precisamos para garantir esse acesso. Porque, agora, a nossa
consciência é tratada de tal forma, que eu posso me encher de
confiança e entrar na presença de Deus.

No entanto, devemos nos atentar a ex tremos, no caso de


pessoas que têm uma consciência tão rasa, tão superficial, que
acreditam que estão em pé de igualdade com Deus e acham que
podem estar em contato com Ele e se fazem senhores do tempo. De
outro ex tremo temos aquelas pessoas que, de uma maneira
acanhada, acham que é impossível se aprox imar de Deus.

Esse capítulo 10 de Hebreus nos traz uma consciência nova de


que o judeu entendia e que a nossa geração precisa relembrar: voltar

178
Formação em Teologia

a entender o abismo que ex iste entre a santidade de Deus e o meu


pecado.

“ Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrarmos no


santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus,” – Hebreus 10:19

Quando ele fala em ousadia, está se referindo não ao ato de pedir


qualquer coisa, mas ousadia porque agora sabemos que, pelo
sangue de Jesus, agora temos acesso ao Pai. Da mesma forma que o
sumo sacerdote aspergia o sangue na tampa do propiciatório, assim
também, agora, podemos chegar na presença de Deus, com uma
ousadia que nada tem a ver com conquista de coisas, mas uma
ousadia que entende essa diferença.

Estamos falando da ousadia de que, agora, eu continuo


entendendo sobre a Santidade de Deus e que Ele é acima de todas as
coisas, mas tenho confiança de que eu não serei fulminado na Sua
presença. Portanto, vou com ousadia porque sei que o sangue de
Jesus que está sobre a minha vida me garante, de uma forma
confiante e ousada, que eu chegue na presença de Deus. No entanto,
com a mesma reverência e com mesmo temor que o sumo sacerdote
entrava no Santo lugar.

No Tabernáculo antigo, quando o sumo sacerdote entrava no


santíssimo lugar, ele tinha uma cordinha com sininhos em sua veste
sacerdotal para que ele fosse pux ado, caso estivesse em pecado ou
alguma coisa lhe acontecesse na presença de Deus. Ao pararem de
tocar os sinos, ele poderia ser pux ado para fora. Portanto, a ideia do
Santíssimo lugar é que este é um lugar ex cepcional.

179
Formação em Teologia

Então, quando no Versículo 19 e 20 somos estimulados a chegar


com ousadia e confiança, é esse tipo de ousadia que o escritor está
falando: não a ousadia de conquista, mas uma ousadia de quem
entendeu que não está entrando no Santo dos santos sem o sangue -
ninguém entra no Santo dos santos sem sangue.

Agora, tendo o sangue que foi derramado por Jesus estando


nesse novo e vivo caminho, sem véu, baseado nesse Sumo
Sacerdote, eu chego com coração verdadeiro, com plena certeza de
fé, conforme o tex to nos versículos 21 e 22.

“ E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,


cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira
certeza de fé; tendo o coração purificado da má
consciência, e o corpo lavado com água limpa,” –
Hebreus 10:21,22

É essa confiança de que agora o sangue de Jesus me garante


acesso. Retomando o ex emplo do leão, ninguém chegaria à sua
frente de qualquer jeito. Da mesma forma, ninguém pode chegar
diante do Deus soberano de qualquer forma; se não for pelo sangue
de Jesus, ninguém se sustenta na frente de Deus. Mas confiamos em
Jesus Cristo cheio de ousadia com convicção certeza de fé,
guardando a nossa confissão, a nossa convicção de fé. Agora
podemos chegar ao Trono de Deus para desenvolvermos um
relacionamento com uma Nova Aliança, de um povo que tem a sua
lei guardada no coração.

Vivemos em um tempo onde ex istem milhares de pessoas


desigrejadas, que uma vez quiseram andar para frente, mas agora

180
Formação em Teologia

voltaram atrás, abandonaram as igrejas, abandonaram as suas


comunidades por causa de diferenças e dificuldades. Por isso
precisamos compartilhar essa verdade que está na Bíblia.

“ E consideremo-nos uns aos outros, para nos


estimularmos ao amor e às boas obras, não
abandonando a nossa congregação, como é costume de
alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto
mais, quanto vedes que se vai aprox imando aquele dia.”
– Hebreus 10:24,25

No versículo 24 o tex to fala estimularmos as boas obras,


baseadas em amor. O escritor de Hebreus afirma que podemos ir com
confiança e ousadia para chegarmos diante da presença de Deus,
porque agora não precisamos ter medo de sermos fulminados pela
santidade de Deus. Agora somos garantidos com base nesse sangue
do Sacerdote. Depois de falar isso, ele aconselha que estimulemos o
nosso irmão nas boas obras, dando ainda um conselho no Versículo
25: toma cuidado para não deix ar de se congregar, como é de
costume de alguns.

➔ Nota Pastoral: Acabamos de ver que não temos desculpa para


deix ar de congregar. O escritor de Hebreus fala que nem os tempos
difíceis, onde estamos correndo o risco de que os nossos bens sejam
confiscados, que a nossa vida seja ceifada, dificuldade alguma seria
argumento para que deix ássemos de congregar com o corpo de
Cristo. Não use o argumento: Por que a igreja tem fariseu demais,
saduceus de menos, ou porque a dificuldade é grande. Não deix e de

181
Formação em Teologia

congregar. Assim diz a Palavra de Deus no versículo 25, que serve


para a nossa edificação.

“ Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois


de serdes iluminados, suportastes grande combate de
aflições; pois por um lado, fostes feitos espetáculo tanto
por vitupérios como por tribulações, e por outro vos
tornastes companheiros dos que assim foram tratados.”
– Hebreus 10:32,33

O escritor de Hebreus traz à memória os momentos de prova, os


momentos realmente difíceis que eles viveram logo após suas
conversões e de quando participaram de prisão de irmãos em Cristo.
Então ele lembra que eles conseguiram sobreviver àqueles
momentos difíceis e, por conta disso, também podem sobreviver a
esse momento atual, pois têm o Trono da Graça onde podem
encontrar misericórdia. O povo de Deus agora tem acesso ao Trono, e
sua nossa consciência não irá lhes acusar, tampouco Deus irá
destruí-los, porque o sangue de Jesus garante essa prox imidade.

➔ Nota Pastoral: Mais uma vez eu chamo atenção para o fato de


hoje haver pessoas tão obscurecidas na sua consciência, que não
entendem esse abismo entre a santidade de Deus e a nossa condição.
Só temos uma possibilidade de estarmos diante do nosso Pai: a
mediação de Cristo Jesus. Até mesmo hoje quando você ora, quando
você fecha os seus olhos e quando você inclina seus pensamentos
diante de Deus, lembre-se que essa oração que você faz é sustentada

182
Formação em Teologia

pela mediação. Por que aprendemos a orar em nome de Jesus?


Porque só nesse nome nós temos possibilidade de estar de joelho
diante de um Deus justo e verdadeiro. Que a nossa consciência não
fique obscurecida pelo nosso ego, pela nossa vaidade, ou pela nossa
presunção de santidade. Ainda hoje, o que nos sustenta na presença
do Pai é a mediação de Jesus Cristo, é o Seu sangue que nos garante
acesso à vida eterna e comunicação com o Pai. Sabemos que agora
podemos falar e sermos ouvidos. Porque uma coisa é ex istir um Deus
onipotente, onisciente, onipresente, Ele está em todos os lugares e
enx erga todas as coisas. Outra coisa é você ter acesso íntimo à Sua
presença. O acesso só é possível através da mediação. Então,
enquanto você ora, enquanto você busca a Deus, lembre-se de que o
que sustenta a sua oração não é a sua Santidade, não é a sua
obediência, não é a sua ex periência. O que sustenta a sua oração e o
seu acesso a Deus é mediação por Jesus Cristo, é o sangue do
Cordeiro sobre a sua vida.

Capítulo 11

Nesse capítulo nós temos a Galeria da Fé, que o escritor de


Hebreus vai falando de nossos grandes heróis que viveram pela fé e
com intensidade, deix ando um legado de testemunhos inigualável e
inestimável. E ele começa definindo a fé no Capítulo 11 Versículo 1.

“ Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se


esperam, e a prova das coisas que não se veem.” –
Hebreus 11:1

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Formação em Teologia

Ter fé é ter esperança em alguma coisa que ainda não vemos. Só


tem fé quem está esperando, é uma característica de pessoa
esperançosa, de quem está com convicção, é a esperança que o
caráter de Deus é tão perfeito que não vai falhar conosco. Quem tem
fé é alguém que olha para as circunstâncias e para o caráter de Deus
e opta pelo caráter de Deus, que é perfeito.

Muitas vezes pensamos em fé como aquela coisa de


conquistadores, de gente conquistando, mas fé não é questão
simplesmente de conquistar, porque a esperança não tem
necessariamente a ver com conquista. O conceito de fé é
tremendamente mais abrangente.

Às vezes ilustramos como ex emplo de fé a figura de Ayrton


Senna ganhando uma corrida, chegando e triunfando. Ou podemos
pensar em um time ganhando um campeonato importante, ou
mesmo alguém conquistando uma casa nova. Embora tudo isso seja
fé, o escritor de Hebreus está falando que a fé vai muito além disso. A
fé é uma esperança que invade e percorre todos os caminhos da vida.
É uma esperança que está presente em nossa vida não apenas
quando conquistamos. Mas é uma esperança que está conosco nos
momentos altos e baix os, em momentos tristes e alegres.

E então no Capítulo 11 podemos ver diferentes momentos e


pessoas que viveram por essa fé: “ Porque por ela os antigos
alcançaram bom testemunho.” – Hebreus 11:2

A primeira afirmação que temos no versículo 2 é que a fé é aquilo


que nos faz alcançar bom testemunho. Que bom testemunho é esse?
É aquele que Jesus Cristo dá ao nosso respeito, a justiça que foi
colocada sobre a nossa vida. Não em um testemunho baseado em
nós mesmos, nas nossas ações, mas um testemunho de que Jesus

184
Formação em Teologia

morreu por nós. Portanto, a fé é aquilo que faz com que alcancemos
esse testemunho que Jesus Cristo colocou naquela Cruz.

“ Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela


palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito
daquilo que se vê.” – Hebreus 11:3

Nesse versículo podemos ver que esse entendimento se refere à


criação. Ou seja, pela fé entendemos a criação, onde o visível é feito
daquilo que é invisível. Lembrando que a fé é a esperança de pessoas
em circunstâncias diversas. Fé é esperança para conquistar,
esperança para viver, esperança que o caráter de Deus é tão puro, tão
perfeito, que Ele não vai nos deix ar na mão.

“ Pela fé Abel ofereceu a Deus mais ex celente sacrifício


que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era
justo, dando Deus testemunho das suas oferendas, e por
meio dela depois de morto, ainda fala. Pela fé Enoque foi
trasladado para não ver a morte; e não foi achado,
porque Deus o trasladara; pois antes da sua trasladação
alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem
fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que
aquele que se aprox ima de Deus creia que ele ex iste, e
que é galardoador dos que o buscam. Pela fé Noé,
divinamente avisado das coisas que ainda não se viam,
sendo temente a Deus, preparou uma arca para o
salvamento da sua família; e por esta fé condenou o

185
Formação em Teologia

mundo, e tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a


fé.” – Hebreus 11:4-7

O tex to continua falando da fé de Abel, porque quem oferta


precisa ser marcado ou encharcado por uma esperança tal, que em
um movimento de ofertar ao próx imo, estejamos cheios de
esperança, que se transforma em uma ação concreta.

Pela fé Enoque foi transladado, Noé implementou um projeto que


ninguém acreditava. Então ter fé é muitas vezes insistir em projetos
que você vê e ninguém consegue ver. É obedecer quando todo mundo
está indo na contramão, quando todo mundo ridiculariza você por
conta da sua percepção, do seu projeto. Enquanto as pessoas olham
para esquerda e você olha em frente, porque pela fé consegue andar
na contramão. Fé não é simplesmente aquele momento onde você
alcança o seu prêmio, mas é o momento onde está andando na
direção onde outros não têm coragem de andar.

“ Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, saindo para


um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem
saber para onde ia. Pela fé peregrinou na terra da
promessa, como em terra estranha, habitando em
tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma
promessa; porque esperava a cidade que tem os
fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus.” –
Hebreus 1:8-10

186
Formação em Teologia

Pela fé Abraão foi chamado para um lugar que ele não sabia. Ter
fé é ter esperança para ir a lugares que ninguém conhece. Ter fé é ter
esperança é ter convicção de ir a lugares que não conhecemos, é
entrar em uma rua que temos que entrar pela esperança no caráter
do Cordeiro, porque sabemos que Ele vai nos sustentar. Quando
Abraão recebe a promessa, Deus manda que ele saia de sua terra, do
meio da tua parentela para ir a um lugar que Ele lhe mostraria. O que
Abraão faz é simplesmente dizer sim, embora não saiba o lugar
aonde vai chegar. E então, pela fé, parte para um lugar desconhecido.

Ter fé é ter coragem para ir para lugares que você ainda não
conhece. Ter fé não é simplesmente ficar em todos os lugares
conhecidos, mas é ter coragem para invadir e ex perimentar os
desconhecidos que Deus vai colocar na sua vida.

“ Pela fé, até a própria Sara recebeu a virtude de


conceber um filho, mesmo fora da idade, porquanto teve
por fiel aquele que lho havia prometido. Pelo que
também de um, e esse já amortecido, descenderam
tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a
areia inumerável que está na praia do mar.” – Hebreus
11:11,12

Aqui temos a fé para gerar filho em qualquer idade, que é um


grande desafio. Então ter fé é ter esperança. Pela fé os pais de Moisés
esconderam. Fé, portanto, não é simplesmente o momento de
mostrar, porque as vezes pela fé você vai ser obrigado a proteger, a
fugir. Fé é ter força pra lutar, mas às vezes é também ter força para

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Formação em Teologia

evitar a batalha; às vezes é subir uma montanha muito alta, mas às


vezes é ter discernimento para não subir.

Fé é ter coragem para correr na direção do inimigo, mas também


é ter coragem para correr na direção oposta a ele. Porque estamos
falando de esperança e a esperança precisa nos sustentar em todas
as circunstâncias, não só quando estamos conquistando coisas, mas
em momentos difíceis do dia a dia e quando não temos resposta.
Então, pela fé, os pais de Moisés esconderam, e só esconderam
porque tiveram fé.

Às vezes a fé vai te surpreender, porque é sempre um desafio


continuar tendo esperança. Enquanto várias famílias estavam
perdendo seus filhos, aquela família escondeu para continuar a ter
esperança de que Moisés não ia falecer e ser destruído por um Faraó.
Era essa coragem de continuar tendo esperança enquanto as outras
famílias estavam chorando o seu luto, de tomar uma atitude mesmo
sem entender. Fé é ter coragem e esperança de continuar
acreditando nas promessas de Deus, mesmo quando seu corpo já
está velho e cansado, e, mesmo assim, continua tendo esperança em
Cristo Jesus.

“ Pela fé Isaque abençoou Jacó e a Esaú, no tocante às


coisas futuras. Pela fé Jacó, quando estava para morrer,
abençoou cada um dos filhos de José, e adorou,
inclinado sobre a ex tremidade do seu bordão.” –
Hebreus 11:20,21

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Pela fé Isaque abençoou Jacó, então vemos que muitas vezes


pensamos em ter fé para sermos abençoados, mas precisamos ter fé
também para abençoar. Às vezes, perto da morte, nós somos
tentados a perder a esperança ou usar nossa fé na direção que nem
sempre faz tanto sentido biblicamente. Mas pela fé, enfrentando a
morte, Isaque pensa em abençoar a sua descendência.

Fé é ter força para continuar em pé, mas também é ter força para
ter que se ajoelhar. Fé é ter coragem para lutar, para ser curado, mas
também é necessária quando a cura não vem, a fim de
permanecermos em paz diante de um Deus, que é perfeito e que tem
uma vontade perfeita. Então precisamos ter fé para receber cura, e
também para não recebê-la. Porque quando não recebemos a cura,
também precisamos ter esperança de que Deus é bom.

Precisamos ter fé quando estamos vivendo, precisamos ter fé


para viver e também para morrer. Precisamos ter fé para derrubar as
muralhas de Jericó, para vencer os Golias da nossa vida, triunfar,
subir, voar, progredir alcançar. Mas também precisamos ter fé para
sermos serrados ao meio, para levar a mensagem do Evangelho.
Porque a fé é característica de quem tem esperança, mesmo quando
as coisas estão difíceis.

Para finalizar, o livro de Hebreus foi escrito para um grupo de


judeus cristãos que estavam pensando em olhar atrás, porque que o
risco da vida ficou tão forte, que o pensamento de regredir tomou
conta de boa parte deles. Por isso o capítulo 11 é muito importante
para entendermos o livro de Hebreus, pois ter fé é ministrar a
esperança para a pessoa que está do seu lado pensando em desistir.
Portanto, é preciso compartilhar que essa esperança em Jesus Cristo
é maior e que, por mais que essa dificuldade dos conflitos fragilize o
nosso coração, neste tempo oportuno onde o nosso coração parece

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Formação em Teologia

ser esmagado, e nossa fé destruída, chegamos com ousadia diante


do Deus que é perfeito.

Cheguemos, então, com ousadia ao Trono da Graça, para que


possamos encontrar a misericórdia a fim de nunca abandonarmos a
verdade mais maravilhosa que foi entregue ao ser humano: a
verdade da mensagem do Evangelho. Tenha fé para continuar, ter fé
é coisa de gente que continua tendo Esperança em Jesus Cristo. E que
essa esperança tome conta do seu coração.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

APOCALIPSE - PARTE I

Introdução

Neste primeiro momento, gostaria de iniciar este módulo com


uma breve conversa Pastoral, a fim de que possamos entender
melhor a essência desse livro que é tão importante para a fé cristã.
Precisamos entender a palavra-chave desse livro, o assunto que ele
aborda.

Quando fizemos a leitura do livro de Hebreus, percebemos que


ex iste uma série de livros na Bíblia que foram escritos para pessoas
que estavam passando tremendas dificuldades. Apocalipse não é
diferente. Mas, se tivéssemos que pensar em uma palavra-chave
para o livro de Apocalipse, pensaríamos na palavra “ esperança” . Ler
Apocalipse é pensar sobre esperança.

A palavra Apocalipse significa Revelação, essa é a ideia que está


se descortinando. E percebemos, ainda, que essa revelação está
necessariamente vinculada à esperança. A conversa sobre
Apocalipse é também uma conversa sobre escatologia, que significa
“ as últimas coisas” , ou seja, as últimas coisas que vão acontecer com
a igreja, com o mal, enfim, o livro de Apocalipse é o livro das últimas
palavras.

Para propor algo diferente, gostaria de basear-me no livro


“ Trovão Inverso” , de Eugene Peterson. Indico que você adquira esse
livro. Portanto, teremos uma conversa sobre Apocalipse a partir de
uma perspectiva diferente, pela ótica da esperança.

Primeiramente, precisamos entender Apocalipse como sendo


uma escrita pastoral. João é um pastor e teólogo, além de ser

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Formação em Teologia

também um poeta. É pastor porque vive em uma comunidade que


está vivendo um drama, e ele tem a responsabilidade de apascentar
várias pessoas, várias famílias que estão passando perseguições e
sendo espremidas e pelo Império Romano. Isso, porque nesse
primeiro século da Igreja Cristã, as coisas estão do realmente muito
complicadas, e sabemos que houve 300 anos de perseguição da
igreja, um longo período onde ela foi tremendamente massacrada.
Assim sendo, ler o livro de Apocalipse nos leva a entender que João é
um pastor, que estava tentando cuidar, encorajar as suas ovelhas,
preocupado em levar uma palavra de ex ortação a este grupo.

Mas João era também um teólogo. Embora essa palavra esteja


tão desgastada em nosso meio, o sentido de teólogo é alguém que
leva Deus a sério, que fala sobre Deus. Ele fala em um diálogo com a
sociedade, com o que está acontecendo, com um olhar para
comunidade, para a Bíblia e para o que está acontecendo, criando
pontes entre as Escrituras e a realidade objetiva. João, então, está
sendo teólogo porque está conseguindo enx ergar a sociedade dar-
lhe um diagnóstico, injetando anticorpos na sua comunidade.

E quando pensamos em João como poeta, devemos pensar que


um poeta é aquele que leva as palavras a sério. Se por um lado, o
pastor é aquele que leva as pessoas a sério, por outro lado, o poeta é
aquele que leva as palavras a sério. Ninguém lê uma poesia querendo
aumentar seu nível de informações ou com o objetivo de ter
conhecimento por conhecimento. Quando lemos uma poesia,
estamos atrás de uma ex periência. Assim sendo, ler Apocalipse é
também fazer essa leitura dentro de uma perspectiva poética. É ter
uma ex periência com um símbolo do futuro.

Portanto, é muito importante que nós nos deix emos impactar


por essa ex periência, com símbolos. Então, se estamos lendo o livro

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Formação em Teologia

de ler Apocalipse sem sermos impactados por toda essa estrutura de


um poeta, de um teólogo e de um pastor, está na hora de
repensarmos e fazermos uma nova leitura desse livro. A escatologia
que atinge o seu objetivo é uma escatologia que traz consolação. E se
assim não o fosse, seria uma péssima escatologia. Assim sendo, se
você leu o livro de Apocalipse ou escutou alguma ministração a
respeito e não se trabalhou a questão da consolação, então essa
leitura ou ministração perdeu o alvo.

Você pode até conhecer todas as teorias de Apocalipse e


defender sua posição com muita perícia, mas se não foi mergulhado,
se não foi tocado pela consolação que a escatologia pode trazer na
vida do crente, isso significa que é preciso recomeçar todo seu
processo. Escatologia, portanto, são as últimas coisas, é uma
conversa que João tem com a Igreja, que agora é ex tensiva a todos
nós. Essa conversa sobre as últimas coisas tem o intuito de trazer
esperança.

Temos então, João, um velho apóstolo preso, que chama o seu


rebanho, que o arrebanha e começa a conversar sobre as coisas que
irão acontecer. Ele faz isso como se fosse um pai em um leito,
chamando de filhos e conversando sobre a vida e o que está por
acontecer, em um tom absolutamente pastoral. Portanto, meu
desejo é que nossa conversa sobre Apocalipse, a consolação
encontre o seu coração.

Dentro da visão que Eugene Peterson está trazendo em seu livro,


podemos ver dois reinos brigando: o Reino dos Céus e o reino romano,
que é o símbolo do próprio mal. Temos, então, esses dois reinos em
combate feroz, e o que aquela igreja está vivendo é que o Reino de
Deus parece que está com os dias contados, como se viesse a ser

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Formação em Teologia

destruído pelo Império Romano. Essa é primeira perspectiva do que


eles estão vivendo naquele tempo.

Com todos os acontecimentos, de um Império Romano cada vez


mais cruel, cada vez mais feroz, que usava cristãos sendo queimados
como lanternas. A criatividade do Império Romano de ser cruel com
os cristãos eram algo realmente muito assustador.

É nesse cenário, da luta da igreja sendo esmagada e com a forte


sensação de que o império do mal vai vencer, que João chama a
Igreja e todas aquelas comunidades para ouvir sua mensagem. E
assim ele apresenta Apocalipse como que se fosse um filme, cheio de
sensações e realismo. Então esse poeta, esse pastor e teólogo chama
toda a comunidade para “ ex perimentar” essa leitura, com todas as
sensações que a obra lhes despertada, a fim de conhecer mais do que
está no coração do nosso Deus.

Portanto, fazer a leitura de Apocalipse é como se você estivesse


em uma grande sala de cinema escutando João ministrar. Trata-se
de uma leitura que tem cheiro, tato, audição, visão... Se você pegar o
livro de Apocalipse perceberá que ele começa com audição,
terminando com visão. Dessa forma, se tivéssemos que ilustrar a
leitura de Apocalipse, é como se estivéssemos assistindo um filme
não de 2D ou 3D, mas de “ 20D” , tamanha dimensão do realismo de
tais escritos.

É como se pudéssemos sentir o cheiro do enx ofre, ver a luz do mar


de cristal, a bacia... ouvir as vozes de anjos cantando, enfim, todos os
nossos sentidos vão sendo desafiados. O número, nesse livro, é como
a ex tensão do tato, então, quando as pessoas estão escutando
Apocalipse estão sentindo o paladar e todos os outros sentidos que

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Formação em Teologia

estão sendo desafiados, para que a mensagem de consolação os


atinja por inteiro.

Temos então as últimas palavras sobre as próprias Escrituras, e,


ao lermos vemos Apocalipse 1:11, precisamos entender que a
revelação não é para trazer informações por si só. Mas sim, para
trazer envolvimento com Deus.

Portanto, a decisão de trazer esse material de leitura para dar


embasamento à nossa aula, é porque a maioria das pessoas são
realmente peritas em falar sobre as teorias do Apocalipse. No então,
poucas delas conseguem desenvolver uma intimidade a partir do
tex to com segurança. O livro de Apocalipse tende a deix ar as pessoas
mais com medo do que esperançosas. Isso é sinal de que estamos
fazendo a leitura do tex to erroneamente. A revelação, então, visa
desenvolver uma intimidade com Deus.

Dessa forma, Apocalipse é um livro que conversa com todos os


nossos sentidos. Ele começa com a visão (Ap 1:3) e termina com
termina com audição (Ap 22:8). É, portanto, um livro que desafia a
nossa imaginação, pois o crente precisa ser imaginativo, uma vez
que Apocalipse nos convida a esse ex ercício de fé e imaginação, para
que, apesar de que tudo nos diz que seremos devorados por um
império maligno, creiamos que Dono do Reino é quem tem a palavra
final.

Apocalipse é um livro que fala sobre Cristo, os Evangelhos


apresentam Cristo, as Epístolas ensinam sobre Cristo, enfim, Ele a
Palavra Final em toda Bíblia, é o centro é o Trono. Em Apocalipse 1:12-
20 vamos começar a perceber quais são as últimas palavras que a
Bíblia tem para nos falar sobre Cristo.

197
Formação em Teologia

Início

Ele começa dando uma informação de algumas características


próprias de Jesus, de sua forma de viver, e então O encontramos
ceando com uma prostituta, almoçando com um cobrador de
impostos, “ desperdiçando” tempo abençoando crianças, enquanto
havia milhares de soldados romanos que precisavam ser ex pulsos de
Israel, porque o povo queria uma revolução. E continuamos vendo
Jesus curando fracassados sem importância, desprezando fariseus
e saduceus importantes, conversando como rei e agindo como
escravo, pregando com autoridade, mas vivendo como nômade.

Dessa forma, Jesus é apresentado em toda a Bíblica como essa


figura incompreensível para maioria das pessoas. Em Apocalipse,
começamos a enx ergar, ouvir e ser atingidos em nossos sentidos
com relação às últimas palavras que a Bíblia tem a falar sobre Jesus
Cristo.

Aqueles cristãos da segunda e terceira geração que tinham


contato com o Jesus histórico, corriam o risco de que se perdesse a
dimensão do Jesus Senhor dos senhores e Rei do Universo. João então
está criando um trabalho para que essas pessoas não perdesse a
dimensão de que Jesus Cristo é Rei e Soberano. Ele trabalha para as
pessoas não caiam na armadilha de diminuir Jesus Cristo.

Roupas

E então temos o primeiro desenho que são as roupas. Jesus


aparece vestido de determinada roupa. A ideia é que a roupa define a
função. Um bom ex emplo disso são os policiais, médicos,
bombeiros... todos eles são identificados pela roupa que usam. E

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Formação em Teologia

quando Jesus Cristo é apresentado, Ele tem uma roupa de sacerdote


então a função de Jesus está sendo definida: a função de sacerdote.

No latim a palavra “ sacerdote” tem a ideia de “ ponte” - como


pontífice, que é muito usado na igreja católica. Dessa forma, o
sacerdote é o mediador, é o que cria uma ponte. Então, quando Jesus
está sendo apresentado com roupa de sacerdote em Apocalipse,
podemos perceber uma clara identidade de alguém cuja função é
criar uma ponte entre a Igreja e o Pai.

Outras Expressões

Depois começam outras ex pressões tais como: cabeça e olhos,


cabelos brancos etc. Dessa forma, se temos a roupa que define a
função, quando falamos das características físicas (cabelo, olhos,
pés, mãos), temos a definição do caráter. Portanto, quando olhamos
as roupas, as ex pressões, as características físicas, todo esse
conjunto nos permite identificar uma pessoa. Quando olhamos para
Jesus, estamos também o identificando, e é isso o que João está
tentando fazer.

Ou seja, em cada novo elemento, João tem essa perspectiva de


apresentar e revelar o caráter de Cristo, seja nos cabelos brancos, ou
como alguém que tem ex periência, que purifica, aquele que dos
olhos saem fogo - não o fogo que consome, mas o que olha dentro de
você.

Fogo

Ainda falando sobre fogo, a Bíblia o apresenta de diversas


formas: a coluna de fogo no Antigo Testamento, a sarça ardente, a

199
Formação em Teologia

chama no altar, a fornalha dos amigos de Daniel. Portanto, o fogo


sempre traz uma ideia de purificação e Jesus, como sendo Aquele
que tem os olhos de fogo, traz uma ideia essencialmente daquele que
olha para dentro de nós, com um olhar purificador, que enx erga o que
ex iste dentro de nós.

Podemos então perceber que só o que não pode ser consumido é


que vai permanecer por toda eternidade. E se Jesus está nos olhando
com um olhar de fogo, é porque ex iste um projeto para que passemos
a eternidade ao seu lado. E só sobrevive à eternidade aquilo que foi
purificado; o que o fogo queima não tem peso de eternidade.
Portanto, se Jesus está nos olhando e purificando, isso é um ótimo
sinal de que essa eternidade e essa ligação estão sendo construídas
dentro do nosso coração.

Jesus Cristo ex ige pureza, por isso, essa força do fogo, pois estar
n’Ele ex ige pureza. Por isso, vemos vários tex tos da Bíblia nos ex ortam
a sermos santos: aparta-te da iniquidade, sede-se santo como Ele é
Santo, aparta-te da mentira, purifica os teus olhos e os teus lábios
etc. E assim o fogo arde em nós até que adoremos completamente,
esse fogo está nos purificando a fim de que possamos nos render e
viver em adoração. Ele queima nosso interior até que tudo que é
estranho seja rendido à vontade de Deus.

Portanto, precisamos ser queimados porque ex iste lix o, entulho


e muitos elementos que impedem nossa adoração. E só não vai mais
haver dor depois que o fogo houver consumido tudo de ruim em
nossa alma. Enquanto houver entulho dentro do nosso coração, o
fogo precisa continuar a consumir. Enquanto houver lix o dentro de
nós - coisas que não perdoamos, coisas que fizemos ou não – o fogo
precisa continuar consumindo. E os olhos de Jesus Cristo revelam
que Ele está olhando para nós, consumindo tudo aquilo que nos

200
Formação em Teologia

impede de viver uma vida de completa adoração. E a dor acompanha


esse processo, até que tudo seja consumido e que estejamos
totalmente transformados.

Voz

A próx ima informação que o tex to nos dá é da voz, quando a voz


de Jesus é, que é comparada ao som de muitas águas. Mas por que
essa comparação? Porque imagine um lugar onde o volume de água
é espantosamente grande, a conversa fica impossível. Da mesma
forma, quando Jesus está falando, o som de Sua voz tem poder
suficiente para calar ou inutilizar todas as outras conversas.

Peço que tenhamos mais ex periências em ouvir a voz do


Cordeiro dessa forma, como uma voz que silencia. O tempo todo
temos tanto barulho em nossa alma, que precisamos recuperar essa
ex periência de ter Jesus falando com voz de muitas águas
silenciando todas as outras vozes: da nossa ansiedade, do nosso
medo, das confusões etc. Quando Cristo, de fato, falar em juízo se
revelando, essa voz silencia todos os outros barulhos e ruídos. Por
isso a metáfora com o som das muitas águas, que todos que
escutarem a voz de Jesus, ficarão impressionados com o poder, com
a majestade, com a potência e com o Seu alcance. É dessa forma que
todo mundo que escuta a voz de Jesus Cristo vai ser impactado por
ela.

Havia em sua mão direita sete estrelas, e a ideia é de ferramenta.


Da mesma forma um soldado tem uma espada na mão, pronto para
lutar; o pastor tem um cajado e está preparado para o trabalho. E
essa ideia da mão direita tem a ação de trabalho. Ora, se soldado tem
a espada, o pastor tem um cajado, então significa que podemos fazer

201
Formação em Teologia

a seguinte comparação: quando Jesus Cristo está com essas sete


estrelas na Sua mão direita significa que Ele está vindo para reger,
dominar, governar o universo. É a imagem de que Jesus está
trabalhando, dominando as coisas.

O tex to de Hebreus diz que Cristo já tem todo o domínio em Suas


mãos, mas nós ainda não percebemos. E então vemos em Apocalipse
Jesus com Sete Estrelas na sua mão direita em uma atitude de que ele
já governa todo o universo. Vamos então começar a perceber este
governo de Cristo na história. Posteriormente o tex to irá continuar e
essas sete estrelas são relacionados com os sete anjos das sete
igrejas.

Igreja

A ideia básica é que Jesus governa a história, mas que ele vai
usar a igreja como instrumento de governo. A importância da igreja
na história nunca pode ser subestimada. E então essas últimas
palavras sobre Jesus Cristo trazem esses elementos visuais (cabeça,
olhos) e auditivos (voz de trovão) e toda essa série de elementos
como se fosse um filme em muitas dimensões.

Dessa forma, podemos ser tocados em nossos sentidos, para


que a imagem de Jesus Cristo, que reina o universo faça parte de
nossa vida. Para que quando virmos o Império Romano ou qualquer
império das trevas lutando contra igreja, os nossos sentidos sejam
tão afetados a ponto de que, por mais que eu veja um soldado
invadindo a igreja ou por mais que eu tenha notícias de alguma igreja
na cidade vizinha sendo destruída pelo Império Romano, os meus
sentidos tenham sido tão encharcados pelo governo de Cristo, que eu
me posicione com ousadia e esperança. A Palavra de Deus me segura

202
Formação em Teologia

que eu posso ter essa esperança, pois os meus sentidos foram


tocados e marcados de uma tal forma que eu sei que o meu Redentor
vive, que eu sei que qualquer Império que se levantar na história vai
ter o mesmo fim, seja o Império Romano seja o império da besta ou
qualquer outro.

Precisamos, ao ler o livro de Apocalipse, que os nossos sentidos


sejam ativados, tocados, sensibilizados, que o domínio de Cristo é
mais real e mais profundo de que ataque de um império maligno. Não
é diferente agora, que somos constantemente atacados por impérios
malignos e, mesmo que não saibamos dar o nome, nossa sensação
continua sendo a mesma: que a força do império maligno é tão
grande a ponto de nos fazer sumir na história, sem sabermos como
resistir.

Ler Apocalipse precisa que o nosso tato, audição e visão


comecem a receber essa ministração da Palavra de Deus de que Ele
já está com as estrelas na Sua mão, já está com as suas vestes de
sacerdote, está construindo Pontes onde não ex iste, está governando
e vai agir em favor da Sua Igreja.

E assim, as últimas palavras sobre Cristo nos trazem


consolação, nos ensinam a ter esperança, e as visões verdadeiras -
não as ilusões – são as que fazem as coisas acontecerem. Por mais
que o império maligno esteja atacando sua igreja, sua família ou sua
nação, você precisa entender que a visão verdadeira do senhorio de
Jesus Cristo faz com que as coisas aconteçam, porque Ele é o Senhor,
o Dono da história.

203
Formação em Teologia

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Formação em Teologia

205
Formação em Teologia

APOCALIPSE - PARTE II

Introdução

Continuamos com nosso estudo de Apocalipse, e gostaria de


lembrar que, por enquanto, a proposta é fugir desses principais
debates sobre arrebatamento, pois estamos dando foco à
construção de uma firme convicção sobre consolação e esperança.
Qualquer abordagem bíblica que, ao ler Apocalipse não construa
Consolação e esperança, se perdeu em algum momento.

Igreja

Anteriormente falamos sobre as últimas palavras sobre Cristo


como sendo aquele que tem as sete estrelas, porque ele já está com
as suas roupas de sacerdote para trabalhar e ele já está agindo com
autoridade, governando, apesar de que, aparentemente, o império
das trevas está avançando. Agora, a partir do capítulo 2 e 3, temos as
últimas palavras sobre a igreja. E é muito importante perceber o que
Jesus e o que o apóstolo João está sendo usado pelo Espírito Santo
para dizer as últimas palavras que temos para confortar e guiar o
povo de Deus.

O amor não ex iste no isolamento. Ao estarmos afastados dos


outros, vamos deformando a vida, transformando aquele sentimento
inicial em orgulho. Portanto, o amor precisa ser vivido dentro de uma
comunidade, pois quando nos afastamos do outro, aquele
sentimento que tinha tudo para ser bom, se transforma em orgulho e
vaidade. Da mesma forma, a esperança também não se desenvolve
no isolamento.

206
Formação em Teologia

Assim sendo, nós precisamos da comunidade porque, à medida


que eu me afasto da comunidade e aquela que era para ter
esperança para contagiar as pessoas vai virando semente de
fantasia. Porque a esperança é para a igreja e quem quer começar a
cultivar esperança sozinho, isso vai criando traço de ilusão, de
fantasia, uma roupa velha que ninguém mais pode vestir. Dessa
forma, a obediência é um caminho para a liberdade, a humildade é
nosso caminho para o prazer e a unidade é o caminho para
construção da nossa personalidade.

Portanto, as últimas palavras sobre a igreja são para que ela não
caia na armadilha de querer andar sozinha. Muitos são os nossos
desafios e precisamos saber ouvir. Ex istem dois fatos constantes no
tex to de Apocalipse: o Espírito que fala e, do outro lado, o povo que
ouve. Se formos ver em algumas narrativas Bíblicas, como os
próprios Evangelhos dizem, se nossos olhos nos escandalizarem ou
impedirem nosso relacionamento com Deus, devemos arrancá-los
fora. Ou seja, figurativamente, precisamos nos mutilar para
permanecer no Corpo em um relacionamento com Deus. Porém,
perceba que em nenhum lugar da Bíblia nós vamos encontrar
qualquer ex pressão que nos ex orte a tirar o nosso ouvido. Isso,
porque a Bíblia leva muito a sério a audição e a forma como ouvimos,
pois, o Espírito vai falar, e precisamos ouvir.

A Bíblia, portanto, dá ênfase ao povo que sabe ouvir, e se não


ex iste um povo que ouve, não ex iste Igreja – ela só ex iste se houver
um grupo de pessoas que está realmente ouvindo a Palavra e o
Espírito Santo. E as últimas palavras sobre a Igreja falam a respeito de
abrir os ouvidos para que os conselhos de Jesus Cristo possam entrar
em nosso coração.

207
Formação em Teologia

• Pausa para Leitura: A seguir, aconselho que você pare por


uns instantes e faça uma leitura nos seguintes tex tos:
Isaías 6:10; Isaías 50:4,5; Isaías 35:5 e Marcos 7:33.
Somente depois disso, continue ouvindo o nosso estudo.

Fazendo uma reflex ão sobre o que acabou de ler, você percebe


que o povo precisa ouvir. E assim ratificamos, mais uma vez, que não
ex iste Igreja se não ex istir um povo que ouve o Espírito Santo. Ele fala
e a Igreja ouve. Então, a forma como eu ouço determina a forma que
eu amo. Se pegarmos a Parábola do Semeador, vamos ter essa
referência de pessoas que recebem a mensagem do Evangelho. Essa
Parábola está diretamente ligada com a forma como eu ouço, ou
seja, à qualidade do meu ouvir: se é endurecido, se é impenetrável
(alguém fala e não entra porque estamos blindados e não
conseguimos escutar), se é superficial (um solo rochoso onde tudo
brota, mas não cria raízes, são pessoas que ouvem tudo, mas ex iste
confusão).

Portanto, a forma como ouvimos o Espírito, a Palavra e a


mensagem irá determinar a forma com que o Evangelho irá entrar
em nosso coração. Podemos ilustrar fazendo uma comparação com
o ouvido de erva daninha. É o tipo de ouvido que escuta tudo que é
barulhento e repetitivo, toma espaço na nossa alma na nossa mente,
no nosso coração, mas não damos espaço para verdade. É uma
confusão de sons, nós escutamos todos os barulhos, mas não
estamos preocupados em ouvir a verdade. Então a forma como
escutamos determina a forma com que eu ando.

208
Formação em Teologia

É por isso que sempre veremos ao longo de Apocalipse uma frase


que repete, como se fosse um ritmo constante: “ quem tem ouvidos,
ouça” ...“ quem tem ouvidos, ouça” . É impossível desenvolver fé, sem
ouvir. O Espírito Santo fala através da Palavra de Deus, Ele fala
através da história, por isso precisamos de uma igreja que saiba
ouvir. Nós sempre ocupamos o tempo da igreja fazendo atividades
com ótimas programações, mas se ela perde essa questão central
que é ouvir, a tendência é sucumbir e morrer.

Temos essa estrutura de Jesus conversando com essas igrejas


através do Apóstolo João que transmite essa mensagem aos anjos
da igreja, e nessa conversa com as igrejas vamos encontrar uma
afirmação, uma correção e uma promessa. O tex to começa dizendo
“ eu conheço as suas obras” . Se Ele está dizendo, significa que Ele sabe
quem nós somos. Por isso, não adianta se esforçar tentando ser o que
não somos. Isso é tão profundo, que deveria nos causar um
verdadeiro espanto e alegria, afinal, isso demonstra que Jesus
conhece cada centímetro que está dentro do nosso coração,
principalmente por Ele ser um Deus de misericórdia.

“ Eu conheço” significa que não temos direito de usar máscaras,


precisamos ter a coragem de tirar todas as nossas hipocrisias e
disfarces. Portanto, quando Jesus se aprox ima da Igreja, é com a
afirmação “ eu conheço vocês” , ou seja, “ eu sei quem são vocês” . E
nessa estrutura de afirmação x correção x promessa, Jesus primeiro
faz um elogio, Ele elogia as igrejas justamente por conhecer e saber o
que elas têm de positivo.

A Igreja de Éfeso, por ex emplo, é elogiada por ser incansável,


atenta. A Igreja de Esmirna é elogiada porque sofre com coragem,
mesmo sendo perseguida e sofrendo. A Igreja de Pérgamo é elogiado
porque tem uma ousadia para testemunhar nesses tempos onde o

209
Formação em Teologia

Império Romano está sendo cruel então é elogiada por uma ousadia
que Ele conhece. A Igreja de Tiatira é elogiada porque o crescimento é
evidente, o discipulado está sendo desenvolvido. Então Jesus se
dirige para todas essas igrejas dizendo: “ Eu conheço vocês, Eu sei o
que vocês têm de melhor” .

Mas, depois de elogiar, Jesus faz as repreensões. E então Ele usa


uma frase que pesa, que é como uma flecha: “ Eu tenho contra você” .
Primeiro Ele diz “ Eu te conheço” , e depois ele usa essa frase que, na
verdade, toda igreja precisa ouvir: “ Eu tenho contra você” . Em
qualquer tempo precisamos ouvir a voz do Senhor dizendo isso, a fim
de que sejamos renovados, restaurados e permanecendo em Cristo.

Para Éfeso, a acusação do Cordeiro é: “ Eu tenho contra vocês que


vocês abandonaram primeiro amor” . A igreja de Pérgamo era
indiferente aos ensinamentos de heresias, era uma igreja que tinha
sua parte boa, mas por outro lado, aceitava e compactuava com as
heresias sem questionamentos. Já Tiatira tolerava não a heresia,
mas a imoralidade. Laodiceia permitiu que o lux o, o glamour e a
riqueza substituíssem a vida no Espírito Santo. E essas são as
acusações de Jesus Cristo contra a Igreja.

É por esse motivo que a Igreja de hoje precisa escutar essa


acusação, porque faz todo o sentido para nós nos dias atuais, uma
vez que temos igrejas que permitem que o lux o e que a riqueza
substitua a ação do Espírito Santo, igrejas que, assim como a igreja
de Sardes, demonstram apatia, são igrejas apáticas, dormentes. Ou
outras que, como Tiatira, apesar de tudo o que se faz, tolera
imoralidade e ensinamentos de heresia ou que abandonam o amor.

Portanto, se quisermos fazer parte de uma Igreja saudável,


temos que ter coragem de perguntar ao Senhor: “ Meu Mestre, o que o

210
Formação em Teologia

Senhor tem contra mim?” . “ Eu tenho tolerado imoralidade, tenho


tolerado heresia, tenho me tornado uma Igreja apática?” , “ O que o
Senhor tem contra mim?” . Essa precisa ser nossa consciência,
porque as últimas palavras que Jesus tem para igreja é para que ela
entenda que Ele ainda é, e sempre foi Ele sempre foi o Dono da Igreja,
é Ele quem controla o seu rumo.

E depois que Jesus conheceu, elogiou e falou o que tem contra Ele
agora se detém nas promessas, porque esse é a forma com que o livro
está dizendo que Jesus está falando com sua com a sua igreja. E as
promessas estão relacionados à vida eterna. Para Éfeso, uma igreja
cujos frutos não alimentavam mais e que estava sendo destruída e
desnutrida pela falta de amor, Ele promete a Árvore da Vida.

Esmirna, que está sendo perseguida pela escravidão da morte,


recebe a promessa de uma coroa da vida. Pérgamo recebe a
promessa de Pedra Branca, ex iste essa relação com nome na Pedra
Branca que só quem a recebe, conhece. Para quem está sendo
ameaçado pela destruição da identidade, uma igreja que está
correndo o risco de ser quebrada na sua identidade, que a sua
identidade seja pulverizada. Essa igreja está recebendo a promessa
de receber um nome que não pode ser destruído, um nome
maravilhoso que é reflex o de uma intimidade única e ex clusiva entre
Cristo e a sua Igreja.

Tiatira, uma igreja que está correndo o risco de viver um eterno


anoitecer, recebe a promessa de receber a Estrela da Manhã, o eterno
amanhecer. A Igreja de Sardes, uma igreja que estava já
contaminada por não estar entendendo o reino, recebe a promessa
de receber vestes brancas e limpas.

211
Formação em Teologia

Filadélfia, uma igreja que também está sendo perseguida,


recebe a promessa de ser coluna do templo. Essa igreja que é
desprezada, invisível aos olhos de muitos, agora recebe a promessa
de ser um pilar, uma coluna do templo. E então, essa que é tida como
nada, recebe a promessa de ser fundamental.

A igreja de Laodicéia recebe a promessa de comer e reinar com


Cristo, porque uma igreja que não ouve, corre o risco de não se sentar
à mesa e de não se alimentar junto com Cordeiro. Cristo sempre tem
promessas, assim sendo, se a Igreja quer se relacionar com Ele, ela
precisa saber que Cristo, de fato, nos conhece e o que, de fato, Ele tem
contra nós - tenha certeza de que Ele tem coisas contra nós.

Precisamos também conhecer quais são as promessas que


alcançam o nosso ministério, a nossa vida, a nossa família, nossa
igreja (pessoas). E à medida que conhecemos esses três eix os, nosso
relacionamento com Cristo se fundamenta sobre uma verdade
indestrutível.

As últimas palavras que Jesus Cristo tem sobre a sua Igreja é que
Ele repreende e corrige aqueles a quem ama (Apocalipse 3:19)

Portanto, somos treinados a amar como a igreja de Éfeso, a


sofrer como a Igreja de Esmirna, a falar a verdade como a igreja de
Pérgamo, para sermos santos como a igreja de Tiatira, e autênticos
como a igreja de Sardes. Treinados também para cumprir nossa
missão, como a igreja de Filadélfia e treinados para adorar, como a
igreja de Laodicéia.

E assim estamos sendo treinados pelo Espírito Santo, mas,


sobretudo, precisamos manter os ouvir abertos para ouvir a Sua voz.
A igreja, precisa ter uma visão de encorajamento, de esperança. E
essa orientação nós precisamos receber de forma direta e sensata.

212
Formação em Teologia

Igreja é um lugar para ouvir o que estamos fazendo certo, portanto,


nossas igrejas precisam ser um lugar de afirmação. Ou seja, a sua
igreja precisa ser um lugar onde os pastores, os louvores a
comunidade aprendam e reflitam: " estamos fazendo isso certo" ?

A igreja também precisa ser um lugar de correção para dizer


aquilo estamos fazendo de errado. Nós precisamos desse momento
para crescer como igreja. Mas a igreja é lugar de ouvir as promessas,
ou seja, é lugar de motivação.

Temos então a igreja em três funções: como lugar de afirmação,


como lugar de correção e como lugar de motivação. Quando
escutamos as últimas palavras de Jesus Cristo, entendemos a
identidade de cada uma dessas funções.

A partir dos Capítulos 4 e 5 começamos a ouvir as últimas


palavras sobre adoração. Vemos que ex iste uma porta que separa o
povo do banquete. Jesus está à porta, convidando, ao lado de fora; a
igreja está ao lado de dentro. É como se fosse um convite a vir adorar.

Assim sendo, percebemos que Deus nos busca. Ele nos resgata e
nos convida para O adorarmos.

Então, no Capítulo 4:1, aparece uma porta, cujo primeiro


significado é de uma igreja que sabe adorar. A igreja abriu a porta, ou
seja, ela aceitou o convite para adoração. E, como resultado da
adoração, as outras coisas acontecem. É Jesus quem está batendo à
porta em Apocalipse, nos convidando para abrirmos.

Em nosso relacionamento com adoração não é diferente. Jesus


bate à porta do nosso coração e nos convida para vivermos
adorando. Note que adorar não é somente cantar, a palavra
" adoração" significa, literalmente, " serviço" , ou " beijar a mão" .

213
Formação em Teologia

Portanto, Jesus é aquele que nos convida para esse momento de


estarmos em adoração. E nessas últimas palavras sobre adoração
nós vemos um Trono, é o centro de um Reino. Isso significa que a
adoração é o momento onde ex iste a centralização da vida: todos
olham para o trono, todos olham para o rei.

A partir do Capítulo 4 começamos a ver que na adoração é o


lugar onde selos são abertos, onde a palavra é revelada, onde
começamos a conhecer a vontade de Deus na igreja e na história, e
também onde adoramos o criador, o redentor. E então terminamos
nossa adoração de uma forma simples, com um " amém" , um " assim
seja" , afirmando e reconhecendo o lugar da adoração. Portanto,
ex iste um Trono, ex iste um rei. E nós estamos vindo diante desse Rei
adorá-lo.

A Essência de Adoração

Quanto da nossa adoração nós usamos " eu" , e quanto da nossa


adoração usamos " Ele" : a Ele seja dada a honra, a Ele seja dada a
glória... Porque Ele é... Porque Ele vive... Porque Ele tem a chave da
morte em Suas mãos...Porque Ele... Para Ele?

214
Formação em Teologia

Quando começamos a perder a dimensão da adoração e


começamos a ser entronizados por aquilo que estamos sentindo, por
aquilo que estamos querendo, a adoração começa a se transformar
em uma idolatria, porque nosso ego começa a ficar evidente. Isso não
quer me dizer que não podemos cantar nenhuma música que tenha
o " eu" , mas nas últimas palavras sobre adoração, Apocalipse revela
que ex iste um Trono, portanto, um Rei que está assentado. A Ele deve
ser dada a honra, a glória eternamente. Estar diante do Rei, portanto,
significa simplesmente se render, parar de falar, e reconhecer quem
Ele é.

Uma igreja que adora é uma igreja que está imersa na realidade
do governo de Deus e na Sua redenção. A nossa adoração tem sido
ineficiente porque estamos mergulhados em nossos sentimentos,
em nossos problemas, naquilo que não conseguimos ver ou resolver.

E quando somos levados, pelo Espírito Santo, a mergulhar na


essência da adoração bíblica, nós mergulhamos em um Deus que
está com as sete estrelas na mão, governando a todos. Então nós
entramos na realidade do senhorio de Cristo na história, e
descobrimos que o que acontece na adoração também acontece na
história.

Portanto, você quer fazer parte da história? Aprenda a adorar


como Apocalipse nos ensina. Adoração é reconhecer que ex iste um
Trono e que nesse Trono está assentado Aquele que vive para
sempre, Aquele que tem olhos de fogo, cabelos brancos; o alfa, o
ômega, o primeiro, o último. Jesus Cristo é o motivo da nossa
adoração, da nossa vida, da nossa criação e da nossa redenção. Só
adora quem enx erga Jesus Cristo acima de todas as coisas.

215
Formação em Teologia

Que o Senhor te abençoe e te leve a adorar de uma forma que


você nunca achou que fosse possível. Lembre-se de que as últimas
palavras sobre adoração falam de um povo que não é abalado,
mesmo quando o império das trevas mais poderoso se levanta. Você
percebe que o mal é revelado de uma forma tão assustadora, ainda
assim pode cantar e celebrar, porque Jesus Cristo reina.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

APOCALIPSE - PARTE III

Introdução

Continuamos no livro de Apocalipse e esse primeiro momento é


um momento de reflex ão para conversarmos. Trata-se de um
conteúdo de tom pastoral, portanto, deix e sua caneta e caderno de
lado. Eu quero, na verdade, conversar ao seu coração, para que nós,
primeiramente, possamos entender que para conversar sobre
escatologia é necessariamente ter uma conversa sobre consolação e
sobre esperança.

Se formos estudar o livro de Apocalipse e não formos tocados por


essa mensagem de esperança e consolação, nós teremos
fracassado. Portanto, antes de conversarmos sobre o tex to e sobre
suas principais teorias, peço que você tenha paciência para que nós
não venhamos a perder o propósito essencial do livro de Apocalipse
que é ouvir.

Consolação

Conforme já conversamos anteriormente, o Espírito fala, o povo


ouve, e ouve sobre a consolação que ex iste em qualquer tempo,
inclusive em tempos difíceis. Porque, se naquela época nós tínhamos
o império romano e a figura das bestas, não é nenhum ex agero falar
sobre todo o ataque e toda crueldade que aquele período histórico
significou na vida da igreja.

A história nos conta que foram 300 anos de perseguição onde a


igreja foi caçada de todas as formas. E então, quando essas figuras
terríveis são escritas no livro de Apocalipse, isso não se trata de

219
Formação em Teologia

nenhum ex agero, foi uma circunstância realmente única. E sem


nenhum medo de errar podemos afirmar que, até hoje, não houve
nenhum período na história em que a igreja sofreu tanto quanto
naqueles 300 primeiros anos.

Nós sabemos que a Bíblia fala sobre a grande tribulação, que


será o período de maior sofrimento. Mas como a grande tribulação
ainda não chegou, nós não temos ainda um período na história que
se iguale ao que aconteceu com a igreja e ao risco que ela correu.
Sabemos que sempre haverá impérios que se levantem contra a
igreja para destruí-la, e quando um cai, outro se levanta.

Nesse início precisamos ter uma cautela, porque o livro de


Apocalipse precisa tocar em nosso coração, uma vez que são as
últimas palavras que temos no livro sagrado sobre vários temas: as
últimas palavras sobre Cristo, as últimas palavras sobre a igreja, as
últimas palavras sobre adoração, as últimas palavras sobre o mal.

Podemos ver os poderes das trevas nos capítulos 6 e 7 e também


nos capítulos 12 a 14, onde esses poderes se levantam no passado, no
presente ou no futuro. É muito importante perceber que boa parte dos
erros teológicos que nós vemos, é por não se saber situar Apocalipse
no tempo. Dessa forma, os erros teológicos acontecem ou porque
Apocalipse fica preso no passado, ou porque fica preso no presente
ou no futuro.

Objetivos

É importante sabermos que o livro de Apocalipse não tem essa


obrigação de respeitar o tempo nessas categorias que estamos
acostumados. Muito pelo contrário, pois o livro de Apocalipse

220
Formação em Teologia

atravessa presente passado e futuro em todas as direções. Ele


quebra o tempo, assim como Deus está fora do tempo.

O apóstolo João, movido pelo Espírito Santo, nos alerta para que
nós possamos observar e aprender com a perseguição que houve no
passado, a fim de que sejamos instruídos no futuro. E que tenhamos,
no presente, uma postura que o Espírito Santo quer trazer para a vida
da Igreja.

O apóstolo João está falando do futuro, não para que estejamos


presos a ele. Afinal, o que acontece com alguém que só olha para o
futuro? Fica ansioso. Ou, o que acontece a alguém que só pensa no
futuro 24 horas por dia? Essa pessoafica presa em uma nuvem de
ansiedade, que a torna incapaz de agir.

João não está falando do futuro para fiquemos conjecturando


sobre ele, mas para que tenhamos uma base sólida para viver o
nosso presente. Ou seja, não é conversar sobre apocalipse
simplesmente fazendo conjecturas sobre o futuro, sem aprender a
postura que o Espírito Santo está falando: Quem tem ouvidos ouça. E
a postura que o Espírito Santo está trazendo falando do fim da
história, é uma postura de aprender a viver com esperança no
presente.

Ao falar sobre o fim das coisas, Ele está nos ensinando a ser
perseverantes no dia de hoje. Ao falar sobre os acontecimentos
(guerras, bestas, batalhas, qual o final das coisas) é para que hoje, no
presente, nós sejamos uma Igreja a qual o maior império maligno não
roube nossa a paciência, perseverança, fé e esperança.

Assim sendo, Apocalipse é uma conversa sobre o futuro, não


para ficarmos presos ao futuro, mas para que o presente seja a nossa
ferramenta de estabelecer o Reino de Deus aqui, agora, hoje.

221
Formação em Teologia

E nós temos, nos capítulos 6, 7, 12 e 14 as últimas palavras sobre


o mal, sobre o império das trevas. Vemos então os selos sendo
abertos nos dando a ideia de que, enquanto estão sendo abertos, a
história está sendo colocada em ordem. Porque temos a sensação de
que a vida está fora de ordem, que as coisas estão fora de ordem.

Viver pela Fé

Temos então a ideia de que, quem vive pela fé, vive em conflito. E
se quiser viver pela fé, você precisa conhecer suficientemente desse
conflito, para poder continuar em paz. Você vive pela fé? Então vai
viver em conflito. Entenda a natureza desse conflito para você que
você seja uma pessoa guardada pela paz.

A guerra é uma condição humana, e o livro de Apocalipse está


descortinando essa guerra, e ser humano é estar em guerra. Os selos
são abertos e as histórias da guerra começam a ser descortinadas
diante dos nossos olhos e nós começamos a enx ergar.

Vemos então que nós temos em nosso favor um cavaleiro


chamado fiel everdadeiro. Em outro momento nós já fizemos a ideia
de que o nome desse cavaleiro fosse “ Logos” . Sendo assim, não
podemos fazer essa distinção entre logos e rhema, como vejo essa
tendência em muitas igrejas. O nome do cavaleiro em Apocalipse, no
original, fiel e verdadeiro é Logos. Portanto, quem é esse Cavalheiro?
Trata-se do próprio Jesus.

Guerra

Vemos que João já chamou Jesus de Logos no Capítulo 1 de seu


Evangelho, e agora, novamente, ele o faz em Apocalipse. Portanto,

222
Formação em Teologia

Jesus é o Cavaleiro que nos ajuda nessa batalha, nesse


enfrentamento contra o mal, nesse conflito que de quem está
inserido nessa terra e está vivendo.

Entretanto, a guerra pode receber o nome de competição, ou


seja, é essa cobiça que nós temos dentro do nosso coração, ao
desejar o bem dos nossos irmãos, de invejar a característica do
vizinho, de estar sempre contradizendo, de sempre estar buscando o
que não se pode ter. Essa guerra se revela dentro de nós de maneiras
diversas.

Em Tiago 4:1,2 ele nos questiona de onde vem essas guerras,


dando, em seguida, a resposta de que as mesmas vêm dos nossos
desejos. Ou seja, estamos em guerra por causa dos nossos desejos. E
nós podemos até fazer essa relação com o livro de Apocalipse.

O império das trevas usa nossos desejos. E quem leva o ser humano
para o inferno não é necessariamente Satanás, ele usa o nosso
pecado contra nós. Sendo assim, o que o inimigo tem para nos levar
ao inferno é o nosso desejo desenfreado, é o pecado que ex iste
escondido no coração do ser humano.

O fato é que ex iste essa cobiça desenfreada, pessoas famintas


por poder, a fome que se insinua em nosso coração de todas as
formas possíveis. E também vivemos em uma sociedade que glorifica
o padrão elevado de vida. Na verdade, o problema não é ser rico ou
pobre – já conversamos sobre isso no livro de Tiago.

Note que neste momento estou usando um tom totalmente


pastoral em nosso estudo, porque toda formação precisa ter uma
conversa de olho no olho, uma conversa ao pé do ouvido. E sim,
pastores, pregadores precisam ser treinados também com pessoas

223
Formação em Teologia

que lhe falem aos seus corações. O fato é que precisamos conhecer a
Palavra, mas o nosso coração precisa ser revelado.

Sendo assim, gostaria de fazer um questionamento: Quais são as


pessoas que você mais admira? Note que em nossa sociedade, as
pessoas a quem mais admiramos são aquelas que acumularam
coisas. Sendo assim, é até possível que você admire pessoas que
acumularam muito conhecimento, ou que acumularam viagens,
relacionamentos, várias mulheres, vários homens, poder, enfim,
simplesmente acumularam. E as pessoas que a sociedade vai olhar e
render continência ou prestar louvor, são aquelas que, ao longo dos
seus dias, conseguiram acumular.

Portanto, ao observar o mal e essa relação com o poder que os


impérios malignos estão usando, precisamos ter o discernimento de
que é a partir desse front que a maioria das batalhas começam,
dentro e fora do nosso coração.

Note que as pessoas que fracassaram em nossa sociedade são


aquelas que fracassaram em acumular coisas; fracassaram em
adquirir e acumular conhecimento; fracassaram em não ter
relacionamentos x , y, z; fracassaram em não conseguir dinheiro etc.
Então nossa sociedade faz um corte, uma divisão, conceituando que
sucesso é o sucesso das pessoas que acumularam. Por outro lado,
fracasso é o fracasso das pessoas que não conseguiram acumular.

A maioria das nossas cabeças está formatada para respeitar e


valorizar pessoas que conseguem acumular, seja o que for, no
entanto, gostaria de desafiá-lo a estudar, de fato, a Bíblia a tentar
encontrar algum momento em que Jesus Cristo faz reverência às
pessoas que acumulam – não há. Pois se o próprio Jesus Cristo é
quem nos fala para não ajuntar tesouros na terra.

224
Formação em Teologia

Portanto, o fracasso e o sucesso não podem ser medidos em


relação àquilo que acumulamos. Fracasso e sucesso, no reino dos
céus, é atribuído ao fato de se compartilhar ou não a vida que ex iste
em Cristo Jesus.

Assim sendo, precisamos reaprender a ser um tipo de pessoas


que sabem compartilhar vida, que sabe compartilhar conhecimento,
que sabe compartilhar até mesmo viagens, que saiba compartilhar
bens materiais, enfim, que saiba compartilhar! E isso não é nenhum
tipo de utopia de sistema político, mas estou falando de pessoas
recebem de Deus e que compartilham de Deus.

As últimas palavras que vemos na Bíblia é que o mal irá se


proliferar de tal forma, que as pessoas vão se tornar cada vez mais
gananciosas. E a principal estratégia de Satanás é agir através da
ganância das pessoas, dessa cobiça desenfreada em busca de
acumular mais do que precisam. Logo, o objetivo da batalha do Reino
é substituir cobiça por graça.

A igreja precisa ser a primeira defensora da ideia " eu não tenho


problema se você tem isso ou tem aquilo" . E seu coração precisa ser
dominado pela graça do Cordeiro, e não pela cobiça o império das
trevas. E assim vemos que os selos vão cada vez mais sendo abertos,
e eles revelam os sinais: a pestilência do cavalo amarelo, o aumento
das doenças. E então vemos, hoje, essa proliferação de doenças e
acontecimentos, como epidemias e doenças mortais.

Na abertura do 5o selo, no Capítulo 6: 9-11, nós vemos a


perseguição religiosa; no Capítulo 6:12-17, vemos as tragédias. E
então, diante de todo esse cenário de tragédias e perseguição
religiosa, diante desse embate entre dois reinos, como frear a
ganância?

225
Formação em Teologia

Todos esses selos são a consequência de uma batalha que vai


muito além do que imaginamos. É o reino das trevas lutando contra o
Reino do Cordeiro. E Apocalipse 6 termina com uma pergunta: quem
poderá suportar os selos, quem poderá suportar a abertura do resto
dos selos, ou quem poderá suportar a crueldade dessa batalha entre
dois reinos?

Essa pergunta parece pressupor a ideia de que ninguém poderá


suportar. No entanto, para nossa surpresa, o tex to nos revela que os
cristãos são as pessoas que conseguirão suportar tudo isso. A
surpresa é que Cristo, na vida da igreja, é quem vai fazer com que
esse povo consiga tal proeza.

No capítulo 7: 9 o tex to de apocalipse mostra uma multidão de


pessoas um número que não consegue se contar essas pessoas
vieram da grande tribulação um ex ército de pessoas que foram
marcadas pelo Cordeiro e que não sucumbiram no meio da batalha.

A pergunta que faço para a igreja de hoje é se nós já temos uma


igreja suficientemente forte para conseguir suportar, para fazer
parte desse grupo de pessoas que suportou a batalha, que conseguiu
permanecer firme durante essa guerra. Porque pessoas que estão
indo atrás de acumular coisas não vão suportar, não vão dar conta e
conseguir sobreviver nesse meio, quando essa guerra se acirrar. É só
pensar em uma guerra terrível e cruel. Mas se fazemos parte do reino,
a nossa perspectiva é outra.

A Marca da Besta

O capítulo 6 revela o conteúdo da história. O capítulo 7 revela o


verdadeiro povo de Deus e a proteção que eles recebem: eles são
selados. Podemos ver a menção dos selos em vários momentos e

226
Formação em Teologia

circunstâncias nos tex tos de Efésios 1:13,14; Efésios 4:30 e 1 Coríntios


1:21,22.

E esse selo revela algumas características que são


surpreendentes. Porque João começa a falar do nascimento de Jesus
Cristo, e ele tira aquele momento da história de Jesus na manjedoura,
cercado por pastores, José, Maria, magos que vão visitar. E então ele
tira esse momento da história e joga no universo, no cosmos. E ele
desenha espiritualmente o que está acontecendo quando Jesus
nasce. João fala isso levando a comunidade a ex perimentar a
história como se estivessem diante de um filme onde todos os
sentidos são afetados.

Podemos imaginar as cenas de quando aparece um dragão


tentando devorar o filho, ou aquele decreto que ordenava que
matassem todos os recém-nascidos. Então vemos o dragão que cai
e levanta de novo, e agora ataca a mãe, e vomita uma torrente de
água para tentar afogar.

O trabalho do dragão e da besta é enganar, intimidar. E quando


ele consegue intimidar e engana você, ele rouba a sua obediência. Ele
te assusta para que você não continue obedecendo. Ele te intimida,
para que você recue na sua posição de fé. E então ele leva a ilusão
para que você erre o caminho. O dragão é a figura de quem está o
tempo inteiro tentando tirar o povo do caminho. Será que isso vale a
pena?

Nas epístolas de João ele já tinha falado que os anticristos


(plural) saíram da igreja, a marca da besta é religiosa. Em Apocalipse
13:11 nós vamos ver que ele (o anticristo) dissimula ser como o
Cordeiro, ele tenta trazer o povo para si para adorá-lo usando

227
Formação em Teologia

milagres, usando o sobrenatural. Mas a ideia é que todo sobrenatural


é movido pelo comércio, ou seja, o sobrenatural é só um produto.

O 666 é uma marca comercial, mas é também é uma marca. Por


que 666? Porque 6 é o número da natureza do homem. No hebraico
eles usam muito o recurso da repetição para fix ar uma ideia. Assim
sendo, 666 é uma tentativa humana de espiritualidade, é uma
tentativa humana que fracassa. É esforço humano que não consegue
atingir a realidade em Cristo Jesus. É o homem tentando fazer religião
com as suas próprias mãos, é o homem fracassado na sua fé, porque
é uma fé vazia de Cristo e vazia de cruz; é o homem fracassando nas
suas orações, porque elas só atingem a sua própria cobiça e o seu
próprio engano; é o homem fracassado em crer, porque, ao tentar
crer, ele só consegue enx ergar a si mesmo. É o fracasso de não ser 777
- 7 é o número da perfeição, o número divino -, o esforço humano de
ser espiritual sem contar com a graça misericordiosa de Jesus Cristo.

Assim sendo, quando nós vemos a marca da besta, estamos


pensando essencialmente em homens que não dependem de Cristo
para tentar ser espirituais, e de homens que estão tentando
comercializar: comprar e vender e, obviamente, lucrar em nome da
Fé. Pensando nos dias de hoje, esse movimento sempre ex istiu,
sempre ex istiu a " besta" tentando vender o Evangelho. Nesse sentido,
é um movimento antigo, o espírito da besta sempre esteve - mas é
claro que o tex to vai apontar para o momento na história onde isso
vai ficar além do imaginável.

Vejo muitas pessoas com muito medo da marca da besta (666).


E nós vamos ver a relação da marca da besta com algo chamado
“ shema” , que vamos encontrar em Deuteronômio 6:8. Nesse tex to,
nós vamos ver que eles cortavam pequenos filetinhos para que a lei
fosse escrita e guardada. Eles enrolavam e colocavam pequenas

228
Formação em Teologia

cápsulas, e colocavam um couro nas costas da mão e também na


testa.

Nesse tex to de Deuteronômio, podemos ver que ex iste uma


marca, só que essa marca era shema, ex atamente com essa ideia de
mão e testa, só que era para guardar. E o shema tem essa referência
do " ouça" , para que o povo de Deus ouça a verdade, ouça o espírito,
ouça direção. Portanto, o shema é o “ ouça” que precisa ser marcado
na vida do povo de Deus. O 666 é a marca de quem não está ouvindo.

Então, antes de você pensar em qualquer coisa, você não vai


entender a marca da besta se não fizer essa relação: Shema, em Dt
6:8, é o " ouça, Israel, grave as palavras da aliança no seu coração, na
sua testa para que você esteja sempre na minha presença" . Por outro
lado, a marca da besta é o contrário do Shema, do ouça. É a marca de
quem não está ouvindo.

Por isso que, o tempo todo, as últimas palavras de Jesus para a


Igreja foi: " Quem tem ouvidos, ouça" . Logo, quem recebe a marca é
quem não está ouvindo a voz do Espírito.

Portanto, antes de pensar em qualquer tecnologia, o que


primeiro vai acontecer à pessoa que está prestes a se marcar, é que
ela não vai ouvir a voz do Espírito. Então, antes de se preocupar com
pormenores infindáveis, a minha preocupação pastoral contigo é
que você deix e seus ouvidos abertos.

Eu chego a dizer, com muita certeza, que quem estiver de


ouvidos abertos ao Espírito Santo não será marcado. Porque ex iste
essa relação, essa marca. Aqui, quem não estiver ouvindo e que
receber essa marca, desenvolve naturalmente uma religião de
consumo, que é comprar e vender.

229
Formação em Teologia

Dentro da aliança que nós temos em Jesus Cristo, o sucesso é


questão de compartilhar as verdades do Reino, compartilhar a vinda
do Cordeiro. Por outro lado, as pessoas marcadas pela besta são
aquelas que vão se tornar imitações baratas e vazias do evangelho,
que compram tudo o que podem para mostrar que Deus os abençoa,
e se curvam diante de todas as demonstrações de sucesso que esse
mundo pode dar.

O evangelho não é isso. A compra e venda de religião é a marca


da besta. Não podemos esquecer que a essência da marca não é
física, não é um objeto. E mesmo que ex ista um objeto ou um chip, se
você está prestando atenção só no objeto, você não entendeu a
marca. Pois a essência da marca é espiritual, é a marca de pessoas
que não conseguem mais ouvir o Espírito Santo, que estão escutando
a sua própria voz e que a besta está usando sua própria cobiça para
que sejam iludidas, enganadas e aprisionadas.

Nós podemos conversar isso de maneiras diferentes, mas a


minha preocupação pastoral é que possamos entender a natureza
da marca da besta. A natureza da sua marca é um esforço humano
de quem não quer se render, de quem não entendeu que o Evangelho
é baseado em graça.

Minha preocupação pastoral, então, é que nós possamos


entender que a marca da besta ex iste de uma forma que vai tão além
da nossa percepção, que podemos estar sendo marcados sem
perceber. Porque essa marca não começa ao lado de fora - o que
acontece ao lado de fora será uma consequência do que primeiro
acontece no lado de dentro.

Shema, ouça, povo! Quem tem ouvidos, ouça! A marca da besta


é a marca de pessoas que não estão mais ouvindo as Escrituras, de

230
Formação em Teologia

quem não está escutando mais o Espírito Santo falar, de pessoas que
realmente não entenderam que o Evangelho é questão de graça.

Podemos falar sobre diversas coisas sobre o livro de Apocalipse,


mas a Escatologia bíblica é uma Escatologia que fala de consolação.
E eu quero perguntar a você: na maioria das discussões sobre
Escatologia e Apocalipse (pré-milenismo, amilenismo, pós
tribulacionista), quanto isso tem produzido consolação em um povo
que está sendo atacado constantemente pelo império das trevas?
Pense nisso.

Eu clamo a Deus que o livro de Apocalipse gere em seu coração a


consolação e a esperança. A batalha é difícil, mas a vitória é nossa
pelo sangue de Jesus.

231
Formação em Teologia

232
Formação em Teologia

233
Formação em Teologia

APOCALIPSE - PARTE IV

Introdução

Aqui finalizamos a primeira sequência que tivemos de uma


conversa pastoral acerca do Apocalipse para, depois começarmos a
conversar sobre as principais direções de onde o tex to pode nos levar.

Daremos a ênfase na essência, esperança e consolação de que


não olhemos para o livro de Apocalipse como um livro que precisa ser
criptografado, ou decifrado até a última vírgula. Na verdade, esse
livro precisa ser uma ex periência de quem está olhando no mundo
espiritual a realidade da história, e que o Cordeiro está segredando
em nosso coração de que Ele é o vencedor da história, a qual Ele nos
convidou a participar.

Até agora nós vimos as últimas palavras que o livro traz desta
ex periência fantástica sobre a Igreja, sobre o próprio Cristo, sobre o
poder e sobre o mal. Nessa aula, estaremos vendo as últimas
palavras que este livro nos traz sobre a oração.

Nos Capítulos 8 e 9 nós veremos essas últimas palavras em uma


mistura entre visão e oração. Na abertura do sétimo selo temos um
momento de silêncio, quando as orações são ouvidas. Aparece um
anjo que vai à frente do altar com um incensário na mão. Esse anjo,
então, mistura essas orações que subiram juntamente com o
incenso. A ideia, portanto, é de que as orações se unem a um incenso.

234
Formação em Teologia

Orações

Isso nos leva à primeira reflex ão de que, mesmo as nossas


orações mais honradas e mais nobres, ou em tempos difíceis onde a
igreja está sendo perseguida pelo nosso inimigo mais cruel, ou até
quando nossa oração sai como um grito da nossa alma, até mesmo
essas orações precisam ser purificadas para tocar a presença do
Senhor, porque a santidade de Deus vai além de tudo que
imaginamos.

Assim sendo, essas orações de uma Igreja que está sendo


perseguida são misturadas com incenso, a fim de ser purificada. O
anjo, então, pega o fogo do altar, reforçando a ideia de purificação e
também a ideia de Espírito Santo.

Temos, portanto, uma mistura: oração, purificação do incenso e


o fogo do Espírito Santo. Essa ideia de purificação é muito forte, que
está presente tanto no Espírito Santo quanto no incenso. O anjo então
mistura tudo isso no incensário, como se fosse uma funda, e atira na
terra novamente essa mistura única: oração, purificação e fogo.

Quando esta mistura toca a terra, ouvem-se terremotos, trovões


e relâmpagos, conforme narrado em Apocalipse 8: 5. São as orações
de um povo que está clamando, vivendo esse tempo. Essas orações
que tocaram o altar e que são ouvidas e atendidas, agora, como fruto
dessas orações, surge esse trovão, que volta com um impacto na
terra - é a resposta da oração que atinge o seu propósito.

Então, mesmo depois do silêncio, mesmo depois dessa grande


batalha, precisamos nutrir em nosso coração essa esperança e
convicção de que as orações dos santos irão voltar como trovão, e a
oração da igreja irá voltar como terremoto. Dessa forma, o Senhor irá
cumprir na história aquilo que Ele tem para cumprir.

235
Formação em Teologia

Daí a nossa necessidade de continuar orando, de continuar


intercedendo, porque, em algum momento da história, a nossa
oração irá virar terremoto e trovão. E através desse trovão, Deus irá
cumprir e realizar a história através da oração do seu povo. A oração
é o momento que nós temos para fazer parte do governo de Deus na
história. Ou seja, de alguma forma, a oração transforma o mundo,
nos traz para dentro da história.

Sem a oração nós ficamos ex cluídos, como se fôssemos alguém


que está à beira do caminho. E então começamos a orar e entramos
no trilho do Espírito Santo, e participamos de um Deus que está
governando o mundo. Nesse momento, nos tornamos agentes. A
oração da igreja irá criar impacto sobre a terra para revelar à
vontade, o juízo e a santidade de Deus.

Quando esse anjo faz esse movimento de atirar, o tex to está nos
garantindo que a oração vai ter o impacto necessário, e esse impacto
será tremendo, único e poderoso, porque Deus age na história
através da oração do seu povo.

Exílio

João está ex ilado na ilha de Patmos, e o ex ílio é uma das piores


ex periências, pois é o lugar onde estamos fora do lugar onde
gostaríamos de estar. E eu penso que muitas vezes, na vida do crente
ou na nossa vida cristã, por um motivo ou outro, nós somos retirados
do lugar de onde gostaríamos de estar.

Nessa ex periência de ex ílio, Roma parece estar enviando uma


mensagem para João: " João, você é apóstolo de Cristo, mas quem
manda aqui sou eu" . Então esse ex ílio tem uma força de imposição:

236
Formação em Teologia

" você pode ser apóstolo em suas igrejas, mas aqui, nesse mundo,
quem manda é o Império Romano” .

É estando nesse ex ílio que ele ora e clama, porque essa oração é
a ferramenta que ele tem para consolar o coração e consolar a sua
comunidade, para fazer parte da história. É também a arma que ele
tem para mostrar que aquelas grades e aquele ex ílio não são
suficientes, que o Reino de Deus vai aparecer com tremenda força,
com raios, trovões e terremotos, e que nenhum império é capaz de se
sustentar de pé diante de Jesus Cristo.

A profecia do apóstolo João é regada sempre à oração, porque é


ela que ativa a nossa imaginação. Porque quando ex istem
problemas na área financeira, na área de saúde, na vida da igreja, em
questões familiares ou em qualquer área que seja, a oração é aquilo
que ativa a nossa imaginação. É quando nos deparamos com a
imagem de que ex iste esse império que está dominando toda nossa
vida e está nos ex ilando, nos tirando do lugar onde gostaríamos e
deveríamos estar. Nesse momento, o mundo e a vida estão dizendo:
quem manda aqui sou eu.

E quando nos retiramos para oração, somos introduzidos


novamente na realidade de que Deus é o Dono da história. E nós
percebemos que, por mais feroz que seja esse império que se levanta
contra nós, ele não irá sobreviver diante do Cordeiro. A oração é a
arma que nós temos de ativar a nossa percepção e a nossa
imaginação, porque todo império das trevas, em qualquer época da
história, vai tentar roubar toda a capacidade que a Igreja tem de
enx ergar que Cristo é soberano.

Todo império das trevas vai tentar minar as suas forças,


mostrando que a força, o domínio e o poder estão na mão do time

237
Formação em Teologia

adversário – é aquele marido que não se converte nunca, é aquele


irmãozinho que sempre dá problema e você começa a pensar que é
impossível acontecer qualquer coisa.

Em qualquer movimento do império das trevas ele sempre vai


tentar causar um impacto: “ isso é impossível” ou " quem manda aqui
sou eu” ou “ eu já decidi, o seu lugar é o ex ílio e você vai ficar preso aí
no seu canto" . E quando nós começamos a mergulhar nessa
atmosfera da oração, nossos olhos são abertos e passamos a
enx ergar a fragilidade de todo o reino que não seja o Reino do
Cordeiro.

Quando nós oramos, os olhos do nosso coração se abrem e nós


enx ergamos o Cordeiro Santo que tira o pecado do mundo, que
governa sobre todas as nações, que está acima de todo principado e
potestade. Quando a Bíblia fala sobre as últimas palavras de oração,
ela nos ensina a conversar com nossa alma.

Nós vemos no Capítulo 6:9-11 que o ser humano começa a orar:


" até quando?" Essa é a oração que sempre fazemos quando bate o
desespero, quando estamos sendo perseguidos pelo império do mal.
Esse império vai nos massacrando e nos apertando de tal forma que,
inevitavelmente, acabamos orando nessa direção: " Senhor, até
quando os meus inimigos conseguem tanto sucesso em frear o seu
reino?"

No entanto, esta oração de " até quando" , à medida que nos


deix amos contagiar por essa percepção espiritual, a oração ganha
esse sentido de que os selos são abertos, também à medida que a
vontade e o juízo de Deus estão sendo revelados. A oração do povo de

238
Formação em Teologia

Deus encontra o juízo de Deus. Nesse caso, nós vemos que o juízo de
Deus é resposta às orações do Seu povo.

Símbolos

No capítulo 10:1,2 nós temos dois símbolos muito fortes, quando


vemos as últimas palavras sobre a oração: os selos e as trombetas.
Nos selos nós vemos essa marca, o juízo de Deus sendo manifesto.
Nas trombetas estamos falando de anúncio, de proclamação.

Na história do Povo de Deus ex iste essa relação muito clara: o


cordeiro era desmembrado e era colocado fogo no altar. Mas o
cordeiro só poderia ser colocado sobre o altar depois que o sacerdote
oferecesse incenso nesse altar. Ou seja, as trombetas tocavam
depois que o cordeiro era colocado.

A ordem, portanto, é: primeiro o incenso (oração), depois a


continuação. Na mentalidade daquele povo, o toque da trombeta já
anunciava essa esperança, porque a trombeta é um prenúncio.

Fica evidente então, que quando aquele personagem do Novo


Testamento está naquela sala de cinema 20D imaginária, no
momento em que ele escuta João falando da trombeta, a sensação
que vem é que ela vai tocar.

Nesse momento o sacerdote está levando incenso e a oferta vai


ser recebida. Com isso, naturalmente, o coração daquela pessoa já
se enche de esperança. É ex atamente isso que nós vemos e sentimos
ao ler o livro de Apocalipse. Sugiro alguns tex tos: I Tessalonicenses
4:16, Mateus 24:31, Isaías 27:13.

Figurativamente, o incenso está sendo usado como figura de


oração. Pensar em trombetas é pensar em vitórias, em novos

239
Formação em Teologia

começos, pois ela toca anunciando que alguma coisa irá acontecer.
Portanto, o papel da trombeta é criar ex pectativa, e quando ela soa,
o povo fica com a melhor ex pectativa possível.

Então a oração na vida do crente, no sentido figurado, é que abre


os nossos ouvidos, inclusive, para começarmos a escutar o som da
trombeta tocando, dizendo que o tempo novo está chegando. Quem
não ora, não escuta a trombeta tocar; quem não ora, não percebe o
novo tempo chegando. Orar é se identificar com uma realidade
espiritual que está para além dos nossos olhos.

E nós vemos, depois das últimas palavras sobre a oração, as


últimas palavras sobre o testemunho, sobre o fato de testemunhar,
mesmo debaix o de tão acirrada competição. Vai aparecer então a
figura de Elias, e a questão aqui é que o papel da igreja é um papel de
testemunha. Nós não podemos transferir este esse papel de
testemunhas para ninguém, esse papel está confiado à igreja.

Céu

Nós vemos as últimas palavras sobre o céu, que é o lugar onde


vamos morar. Então a Bíblia traz a percepção desse Lar Celestial que
Deus nos preparou, e as últimas palavras sobre a salvação, que é
tudo isso que Deus está construindo para nós. Salvação tem a ver
com Deus construindo em nosso coração essa ponte perfeita que
atravessa o tempo.

Antes, nós éramos inimigos, agora somos amigos, e a história da


salvação é a história desse meio do caminho, enquanto estamos
sendo transformados dia após dia, glória após glória, no meio dessa
batalha épica contra dragões, bestas e tudo mais.

240
Formação em Teologia

O livro de Apocalipse traz a última capa, o último Capítulo de


uma história. E eu fico imaginando como você imagina terminar a
sua história. E como nós terminamos de ler uma história com um livro
onde, ao fim, você sai com aquela sensação de dever cumprido, de
que aquela história foi realmente impressionante. E quando
deveríamos fechar a última página da nossa Bíblia, a sensação que
deveria invadir o nosso coração é: o Cordeiro reina, e por isso eu tenho
paz.

As últimas palavras precisam reavivar em nosso coração uma


ex pectativa pelo som da trombeta. As últimas palavras desse livro
tão maravilhoso precisam trazer para o nosso coração tamanha
consolação, que quando fecharmos as suas páginas, tenhamos
vontade de levar Consolação a quem não tem.

Nós vivemos em um mundo repleto de ansiedade, de medo, de


maldade e violência, e receber a mensagem do Apocalipse é receber
esperança e consolação para compartilhar com essas pessoas. Se
faltar esperança na igreja, onde o mundo pode encontrar? Se faltar
consolo, onde o mundo pode achar consolação?

Particularmente, eu creio que o Espírito Santo preparou para nós


um livro espetacular para nos gerar esperança e consolação. Ore
para que, ao ler esse livro, isso seja verdade em sua vida.

Agradeço esses momentos de caminhada pastoral, e já o


convido para os próx imos capítulos para agora, enfim, podermos
conversar sobre o tex to, sobre as principais direções de
interpretações que temos ao longo da igreja. Mas quero pedir a você,
mais uma vez, que seu coração esteja devidamente aquecido no
consolo quem vem da parte de Jesus Cristo. Que Deus te abençoe.

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

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Formação em Teologia

APOCALIPSE - PARTE V

Introdução

Chegamos à segunda parte de nosso estudo sobre Apocalipse.


No primeiro grupo de estudos nós tivemos um tom pastoral, quando
eu pedi, inclusive, que você deix asse lápis a caneta de lado, a fim de
termos uma boa conversa. Dessa forma, nós pudemos conversar
melhor e entendemos que uma boa escatologia sempre vai falar de
consolação. Assim sendo, se começamos a reproduzir, pensar,
meditar sobre escatologia e ela não nos levar na direção de
esperança e consolação, significa que nós fracassamos.

Mas a partir de hoje faremos o contrário. Agora, já peço para que


você coloque o lápis, a caneta, o computador, Bíblia, e tudo que você
tiver a postos, para que nós possamos, a partir de agora, mergulhar
no tex to.

A primeira informação é que Apocalipse faz parte de um


conjunto de literatura comum ao povo judeu, que é a literatura
apocalíptica. É quase como se fosse um gênero literário, ao qual eles
estavam acostumados. Nós vemos isso em Daniel em até mesmo em
muitos outros livros que não estão incluídos no cânon.

Portanto, o povo judeu já tinha familiaridade com a linguagem


desse tipo de literatura. E como ela funcionava esse tipo de literatura?
Quando as coisas estavam complicadas e realmente difíceis, era
possível você escrever algum tipo de literatura para dar resposta
para o sofrimento do povo. Esse tipo de literatura sempre tenta
responder a essa condição humana, que está debaix o de ataque, do
sofrimento e da perseguição.

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Formação em Teologia

Veremos, então, dentro da Bíblia, os livros de Daniel, Apocalipse


e outros, como registros dessa literatura apocalíptica.

Assim sendo, toda essa literatura é escrita com esse propósito


de responder à essa mesma questão do sofrimento do povo. Temos
então duas formas comuns, as quais ainda podemos perceber nos
dias de hoje.

A primeira fórmula nos ensina: “ Fique tranquilo, você não vai


sofrer” . Temos também a segunda fórmula, que é possível
percebermos no que Jesus fala às igrejas, para que “ não temamos as
coisas que estamos prestes a sofrer” . Mas Ele nos capacita para
enfrentarmos esse sofrimento. Apocalipse, então, tem a ver com ela
essa preparação, esse revestimento para podermos enfrentar esses
dias terríveis.

Os Diferentes Métodos de Interpretação

O próx imo ponto que precisamos entender antes de chegar no


tex to são os métodos de interpretação, e eles são vários. Isso, porque
cada grupo vai olhar para esse tex to e entender uma realidade
diferente, de acordo com o que eles estão interpretando.

1º Grupo: Preterista

O primeiro grupo é o preterista. Como o nome está dizendo, ele


joga toda informação de Apocalipse para o passado, tudo já
aconteceu. Por ex emplo, algumas informações realmente têm a ver
com aquele período ex ato da história, no Império Romano. A própria
questão da marca da besta, se você consultar a história, e para isso
indico um livro chamado " história do cristianismo ilustrada" , de Justo

245
Formação em Teologia

González. E, mesmo entendendo que coisas já tenham acontecido no


passado, eles negam a possibilidade de que qualquer outro
acontecimento dessa natureza possa acontecer no futuro.

2º Grupo: Futurista

Ex iste a segunda linha que é a futurista, onde tudo que está no


livro de Apocalipse só vai acontecer em um futuro que ainda não
chegou. Trata-se do deslocamento do tex to para o futuro. Ou seja,
tudo é interpretado com base em coisas que ainda não aconteceram
e servem de referência para um futuro.

3º Grupo: Histórico

Para o grupo histórico, é como se o livro de Apocalipse fosse uma


narrativa da história do ser humano, do início até a sua consumação.
Nesse caso, o livro de Apocalipse narra uma história da vida do ser
humano.

4º Grupo: Filosófico Histórico

O próx imo método é o método filosófico histórico ou da filosofia


da história. Esse método defende a ideia é que o Apocalipse narra
uma guerra entre o bem e o mal. Assim sendo, é mais uma questão
filosófica e menos uma questão histórica. O plano de fundo histórico
é só para sustentar essa narrativa da guerra entre o bem e o mal.

246
Formação em Teologia

5º Grupo: Histórico Profético

Neste último método que é histórico profético, defende-se a


ideia de que Apocalipse seja uma história - ou tem uma relação com
a história -, além de ser um livro Profético. Isso significa que
Apocalipse se refere ao passado, ao presente e ao futuro.

Essa é a abordagem que proponho. Quando lemos o livro de


Apocalipse, a primeira pergunta é: “ Quando você escuta um
pregador ou um palestrante, como ele está enx ergando o tex to” ?

Entendemos que o livro de Apocalipse não consegue prender o


tempo. Ou seja, ele atravessa o tempo no passado, no presente e no
futuro. Ele fala ainda sobre essa batalha que nós vivemos em uma
dimensão que ex trapola as linhas do tempo. Assim sendo, pensar em
Apocalipse é pensar na revelação que Jesus Cristo deu ao seu
apóstolo João, uma revelação que rasga o tempo, que não está
limitada nem ao passado nem ao presente, nem ao futuro, mas
ex pande essa dimensão do tempo.

Capítulo 1: Jesus Cristo é o Centro de Apocalipse

Em Apocalipse 1:1, logo na introdução, já percebemos que Jesus


Cristo é o centro de todo o livro: “Revelação de Jesus Cristo, a qual
Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente
devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu
servo; o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus
Cristo, e de tudo o que tem visto”.

Portanto, a primeira informação que temos é que a revelação de


Jesus Cristo é destinada aos seus servos, mostrando também a
intervenção, Jesus entrando na história.

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Formação em Teologia

Em Apocalipse 1:3 temos mais uma informação importante:


“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta
profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o
tempo está próximo”.

Perceba que ex iste uma relação de promessa e bem-


aventurança com quem lê o livro de Apocalipse, ouve, pratica, e
guarda no seu coração assim sendo, feliz é quem lê Apocalipse, e
quem recebe essa revelação de Jesus Cristo em seu coração. Feliz é
aquele que sabe se posicionar diante desse livro tão importante.

Já em Apocalipse 1:4,5, nós temos uma saudação, onde João


saúda as igrejas que estão espalhadas na Ásia, e se apresenta.
Obviamente João era alguém conhecido nessa realidade no primeiro
século da Igreja.

248
Formação em Teologia

Voltando ao versículo 4, nós temos a saudação de João se


apresentando às igrejas. É possível que o livro fosse usado no culto,
na liturgia daquele grupo de cristãos desse primeiro século, até
mesmo porque que nós já conversamos bastante a respeito do
objetivo do tex to que é trazer a consolação.

Do versículo 11 a 17 temos uma abertura da visão: o que está


sendo revelado diante da visão inaugural de João?

Apocalipse 1:9: “ Eu, João, que também sou vosso irmão, e


companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo,
estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e
pelo testemunho de Jesus Cristo” .

Nesse tex to, João fala que está preso por obedecer a Palavra e o
testemunho. V 10,11 "Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e
ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: Eu
sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-
o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a
Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a
Laodicéia".

João Apóstolo está preso na Ilha de Patmos, e ele tem uma


revelação, uma visão, recebendo uma ordem. E isso o que ele está
vendo, ele precisa escrever e enviar às sete igrejas.

Então nós vemos um objetivo claro de que essa revelação era


para ser escrita, preservada e passada, a fim de poder alcançar o
coração da igreja. Portanto, esse é o objetivo da revelação.

• E como fica essa visão de acordo com cada método que


vimos?

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Formação em Teologia

Se você usar o método preterista, essas sete igrejas já ex istiram


e não tem nenhuma relação com o nosso presente. Se você usar o
método futurista essas igrejas não ex istiram, ou estão para o futuro.
É aí que nós vemos a fragilidade do método futurista, pois, se tudo
está no futuro, como podemos encaix ar a relação dessas igrejas?

Essa outra ideia do método histórico ou da filosofia história, nós


vemos outras pessoas que, em cada tempo, vão tentar posicionar
dentro da história cada tipo de igreja. Essa relação histórica é a
relação mais importante do tex to.

Acredito que sempre vão haver igrejas com características


parecidas com a de Sardes, Tiatira e Pérgamo. Portanto, essa
mensagem alcança a Igreja do Cordeiro em todo tempo, porque todo
tempo a igreja precisa ouvir o que o Espírito está dizendo.

João recebe a revelação que é para ser entregue para as sete


igrejas. E então O vimos com sete candelabros, que são essas sete
igrejas.

Nos versículos 18 e 19 João apresenta as primeiras palavras de


conforto que vem de Jesus, que nos conforta de uma maneira
interessante: Ele traz o conforto se apresentando como sendo o
primeiro e o último. A ideia é que ele limita. Ele começa e Ele termina.
Então o consolo de Jesus à sua igreja é Ele dizer que abriu a porta no
início da história, e ele fecha a porta no final da história.

Portanto, Jesus se apresenta como Aquele que vive, o vivente,


aquele que venceu a morte, que ressuscitou. E quando se apresenta,
tem um objetivo de trazer conforto ao coração daquela igreja que
está enfrentando todas aquelas dificuldades.

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Formação em Teologia

Então nós terminamos Capítulo 1 com essas saudações, com


essas primeiras palavras de conforto e Jesus Cristo se apresentando.

Capítulos 2 a 7: A Abertura dos Selos

Esses capítulos são a conversa, a narrativa ou o conselho de


Jesus com a igreja, ou seja, são as cartas à igreja. Eu gosto de pensar
no livro de Apocalipse como se fosse uma grande peça, constituída
em alguns atos. É tudo muito teatral, dramático, Ele vai narrando a
história de uma maneira muito poética, muito imaginativa, criativa.

Então nós vemos, nesse primeiro ato, Jesus proclamando a Sua


sabedoria. E vemos no Capítulo 4:11 que todas as coisas são feitas
para Ele. E assim, Jesus é revelado através do tex to:

“ Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder;


porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e
foram criadas” . - Apocalipse 4:11

Aqui, Jesus é mais uma vez apresentado como centro. E nos


capítulos 4 e 5 nós temos uma visão da corte Celestial. É como se
João, na sua visão, abrisse as portas do céu e nos dissesse como é
essa corte celestial, como se estivesse apresentando um filme, uma
peça de teatro. E então ele mostra esses personagens que habitam no
céu.

E quando João aponta para prestar corte Celestial nesses dois


capítulos, surge o primeiro drama, que é o drama do selo: ninguém

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Formação em Teologia

pode abrir, ninguém pode olhar e ninguém pode ler. E o anjo se


interpõe, se colocando na frente, bradando em alta voz.

E a reação de João ao anúncio é chorar, ficar comovido, porque a


ideia desse selo é que a nossa história está contida nele, a história do
sofrimento. Logo, poder ver esse selo aberto é ter a possibilidade de
que a história seja revelada, onde possamos fazer as perguntas que
nunca encontramos respostas.

Ver esse selo ser aberto é ter descortinado nosso entendimento


sobre onde a história do Cordeiro está nos levando, e o que podemos
esperar de todas essas tribulações e provações. Então o brado do
anjo encontra um grito da nossa alma.

Quando intercedemos e clamamos diante de Deus, buscando


muitas vezes respostas, o clamor do anjo é quem pode dar respostas
aos seres humanos. Eu imagino que o João é introduzido na Corte
Celestial no ex ato momento em que Jesus ascendeu aos céus.
Obviamente é uma representação, mas o tex to nos diz, em Atos, que
Ele conversou com os apóstolos e ascendeu aos céus. O tex to ainda
nos fala que Ele está agora à direita de Deus.

Então, o brado do anjo remonta a um período em que o céu está


se perguntando “ quem vai abrir os selos” , visto que nenhum anjo
pode abrir, olhar ou ler. Da mesma forma, não há ninguém na Terra
com essa habilidade.

E então cria-se uma ex pectativa sobre qual o ser que tem a


capacidade de abrir este livro, de abrir essa possibilidade, de contar
a história do ser humano de forma que essa história faça sentido em
meio ao sofrimento – coisa difícil é a nossa vida fazer sentido no meio
do sofrimento.

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Formação em Teologia

E a abertura dos selos traz esse impacto de uma vida que faz
sentido em qualquer tempo. O choro de João é o choro de qualquer
ser humano que anseia por respostas, de quando a vida precisa de
novas respostas. E então João é introduzido na Corte Celestial no
momento em que o Cordeiro assume o Seu Trono, e Ele se revela como
sendo Aquele digno de abrir o selo, para que a história continue ser
contada.

Nesse cenário nós vemos como a história vem se desenrolando,


caminhando, até que trava no ex ato momento em que ninguém tem
condição de abrir o selo. Mas quando o Cordeiro pega o livro ele
rompe o selo - pois Ele é digno de abrir o livro -, a mensagem que fica
é que Jesus está continuando a nossa história. Ou seja, ex iste uma
continuidade.

Vemos então as primeiras consequências desses selos abertos.


Vemos que, quando isso acontece, a realidade do sofrimento
humano começa a ser revelado. Curioso que quando os selos são
abertos nós vemos todo esse caus.

O conteúdo dos selos

Os selos são abertos, e então temos o significado de cada um


deles.

• Primeiro selo: vemos o símbolo de um cavalo que sai


vencedor para conquistar. Temos a ideia da conquista.
• Segundo selo: Clara ideia de guerra
• Terceiro selo: A fome Quarto selo: A morte.
• Quinto selo: Os heróis da fé, os mártires.
• Sexto selo: Uma pergunta – “ quem poderá sobreviver,
subsistir ao último dia?”

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Formação em Teologia

O sex to selo aponta, ao mesmo tempo, para o grande dia e para


a pergunta: “ Quem vai sobreviver?” E isso é curioso, pois ex iste tanta
ex pectativa para os selos serem abertos e, quando isso acontece, o
que nós encontramos? Vemos que os selos começam com conquista,
mas e os outros selos? O que eles estão revelando? Guerra, fome,
morte, martírio, um grito de espanto de quem poderá sobreviver.

Quando a história é aberta se revela algo que nos surpreende,


algo que está fora do nosso controle, mas algo que está no controle
do Senhor. Quando a vida é revelada, quando os selos são revelados,
nós parecemos não conseguir responder à questão do sofrimento
humano.

E então nós veremos um interlúdio no capítulo 7, marcando o fim


do primeiro ato. Então quero chamar a sua atenção a este primeiro
tex to de que, abrir e revelar a história, não significa que nós
entenderemos tudo. Quando Jesus abre os selos, nós ficamos na
ex pectativa de entender, Ele abre os selos, e o sentimento é de que
ainda não entendemos nada.

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APOCALIPSE - PARTE VI

Introdução

Continuando com os estudos de Apocalipse, damos a sequência


à abertura dos selos. Conforme vimos anteriormente, depois da
abertura dos primeiros selos nós temos um interlúdio no Capítulo 7,
uma pausa, um respiro. Essa pausa, entre o sex to e o sétimo selo, é
para dar conta do que acontece com o povo de Deus.

O tex to fala sobre os 144 mil, que são os selados, protegidos de


todo caos, pois, cada selo que é revelado, traz uma carga de
sofrimento incalculável. Portanto, essa pausa entre abertura do
sex to e sétimo selo, é para nos informar o que acontece com povo de
Deus no meio de todos esses desafios.

Dois Grupos de Pessoas

No Capítulo 7, vemos esse grupo de 144 mil que são protegidos, e


a ideia é eles terão essa proteção aqui na Terra. Vemos, então, que
ex istem duas coisas acontecendo:

• Ex istem 144 mil que são protegidos na terra, que recebem


um selo, uma marca na testa (capítulo 7). Se essa marca é
simbólica ou literal, é você quem decide, de acordo com a
sua interpretação. O mesmo questionamento se faz
quanto aos 144 mil judeus: esse número é literal ou é
simbólico? Vale lembrar que eu não sou judeu, e talvez
você não seja.

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Formação em Teologia

Assim sendo, esse número pode ser simbólico? Vamos pensar


com calma.

• A segunda informação é que ex iste uma grande multidão


no céu – o tex to não dá a quantidade deles em números.

Diante dessas duas informações, podemos observar um


contraste de dois grupos que temos aqui:

• Um grupo na terra, que é protegido com uma marca na


testa;
• Uma grande multidão no céu.

A pergunta que se faz quanto a essa multidão é de onde eles


estão vindo. A resposta que João tem a esse questionamento é que
essa grande multidão, que está no céu, vem da grande tribulação.

Assim sendo, se eu fizer tudo em ordem cronológica, surge o meu


primeiro problema: Primeiro virá a grande tribulação e depois as
pessoas serão seladas na terra?

Temos, portanto, dois grupos no Capítulo 7: um grupo de pessoas


na terra, protegidas e marcadas para não serem destruídas; o
segundo grupo que está nos céus, formado por uma grande multidão
e que vem da grande tribulação. Essa é a única informação que o
tex to nos dá, de forma que vamos nos atentar somente a isso.

A Abertura do Sétimo Selo

O tex to continua dizendo, no capítulo 7, que o sétimo selo é


aberto. Note que, depois que João faz essa pausa para falar sobre os

258
Formação em Teologia

dois grupos, o selo então é aberto. E o que acontece com o sétimo


selo?

Curiosamente, quando o sétimo selo é aberto, aparecem as sete


trombetas. Isso me remete à ideia daqueles presentes de amigo
oculto, onde colocamos várias embalagens para brincar com a
pessoa a quem você irá presentear, e então você tira a primeira caix a
e aparece outra, depois, e outra até chegar ao presente. Parece que o
tex to está sendo construído dessa maneira.

Foram abertos seis selos e, ao abrir o sétimo, surgiram as sete


trombetas. Esse momento do sétimo selo é um anúncio de uma
tragédia ainda maior. Note que o tex to está sempre falando desse
momento final, afinal, estamos falando de Apocalipse, o final as
coisas ao seu limite.

Assim sendo, quando o sétimo selo é aberto e as sete trombetas


são tocadas, isso é um anúncio da grande tragédia que a
humanidade está preste a sofrer, tragédia essa que é consequência
do pecado do ser humano. Tudo parece um grande ato, um grande
drama, um grande teatro dramático, que vai mostrando uma
calamidade atrás da outra, as dificuldades uma após da outra. A
forma como organizamos todos esses acontecimentos é a grande
questão.

Ex iste um paralelo que é perceptível, dos selos e das trombetas,


com as pragas do Egito. Ex iste aí uma conex ão, que analisaremos
mais para frente.
Outros Acontecimentos

No capítulo 10, o profeta é apresentado como aquele que recebe


o livro, que está se alimentando do livro, que tem um livro dentro de
si, e que, na sequência, revela as duas testemunhas.

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Formação em Teologia

No capítulo 11, vemos a consumação do Reinado de Cristo.

A fim de podermos visualizar a estrutura de Apocalipse,


precisamos pensar que o livro está dentro de uma estrutura de sete,
ou seja, tudo acontece de sete em sete. Note que, primeiro temos as
sete igrejas, depois temos os sete selos, depois as sete trombetas,
depois das trombetas temos os sete flagelos, depois as sete taças, as
sete palavras de justiça etc.

A pergunta que eu faço, portanto, é se esses acontecimentos


estão em uma ordem cronológica. Será que essa é uma ordem de
tempo, onde primeiro temos os sete selos, depois as sete trombetas,
depois os sete flagelos...?

Propostas de Atividade

A seguir, você verá um gráfico onde você poderá montar tabela,


em seu caderno ou computador, a fim de comparar cada um desses
acontecimentos, identificando, assim a relação entre os mesmos.

Um ex emplo de relação de acontecimentos é a semelhança que


ex iste entre as pragas do Antigo Testamento e a abertura do primeiro
selo. A provocação necessária em nosso estudo é questionar se tais
acontecimentos estão completamente dissociados um do outro, ou
se estamos falando de acontecimentos em ordem cronológica.

Portanto, sugiro que você construa uma tabela, fazendo uma


comparação entre cada uma dessas questões. Analise o que as sete
trombetas estão dizendo, ou os sete flagelos, enfim, analise o que
está acontecendo em cada uma dessas coisas.

Perceba que todos os fatos estão acontecendo dentro do mesmo


padrão, ou seja, de sete em sete. Assim, temos:

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Formação em Teologia

• 7 igrejas
• 7 selos
• 7 Trombetas
• 7 flagelos
• 7 taças
• 7 visões
• 7 palavras sobre justiça
• 7 revelações etc.

Diante disso, o que esses acontecimentos têm a ver uns com os


outros? Por isso você está recebendo essa proposta de ex ercício, a
fim de estimulá-lo a desenvolver uma melhor compreensão dos
fatos.

Por ex emplo, na abertura do primeiro selo temos o cavalo


branco. Enquanto isso, na primeira trombeta, temos fogo e sangue, a
saraiva. Portanto, temos aí uma relação com a praga do Egito. Temos
ainda a terça parte das árvores das ervas destruída.

No gráfico a seguir, temos quatro acontecimentos: os sete selos,


as sete trombetas, as sete taças e as sete visões. O campo dos selos
e das trombetas já está preenchido, mas, o que acontece com as sete
taças e as sete visões?

Assim sendo, complete o gráfico das partes faltantes, e comece


a comparar cada coluna, a fim de que você identifique as
semelhanças e as diferenças entre cada um desses grupos.

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Formação em Teologia

Observando o gráfico, note que no segundo selo nós temos o


cavalo vermelho, enquanto na segunda trombeta, vemos um monte
ardendo em fogo, sendo lançado na terra e caindo no mar.

No terceiro selo temos o cavalo preto que representa a fome,


enquanto na terceira trombeta temos uma estrela chamada absinto,
que cai destruindo a terça parte dos rios e fontes.

No quarto selo temos o cavalo amarelo, que junta morte, fome e


peste, enquanto na quarta trombeta é ferida e a terça parte do sol, a
lua e das estrelas para o dia não brilhar.

No quinto selo temos os mártires gritando e clamando: " até


quando Senhor? Até quando" ? Na quinta trombeta temos o abismo,
que é aberto liberando gafanhoto monstruoso, que tem a permissão
de, durante 5 meses, atormentar os homens. Inclusive, é nesse tex to
em que os homens vão querer morrer e não vão conseguir. E isso
define muita coisa, pois, se formos colocar em uma ordem
cronológica, esse acontecimento está antes ou depois da grande

262
Formação em Teologia

tribulação? Dependendo de como será sua interpretação, você terá


um resultado absurdamente diferente.

No sex to selo, vemos as pessoas se escondendo na rocha,


clamando e perguntando: " Quem pode subsistir ao grande dia do
Senhor?" Enquanto na sex ta trombeta, os quatro anjos são liberados,
anjos preparados para essa hora, que têm a incumbência de matar a
terça parte dos homens.

Observe, portanto que, as colunas de flagelos e taças no gráfico


estão em branco. Estes deverão ser preenchidos por você, a fim de
que você possa estabelecer uma relação entre os acontecimentos e
chegar a alguma conclusão.

• Vejamos um exemplo:

Como vemos no gráfico, a sex ta trombeta e o sex to selo estão


totalmente relacionados. Note que o sex to selo está falando do
momento em que os homens estão apavorados, querendo se
esconder porque percebem o dia do Senhor, se questionando sobre o
que vai acontecer. Da mesma forma, na sex ta trombeta, os quatro
anjos são preparados para esse dia, sendo liberados com
autorização de matar um terço dos homens. Note que esses
acontecimentos estão relacionados. Perceba que esse ataque dos
anjos na sex ta trombeta se encaix a com medo dos homens no sex to.

Portanto, se nós destruirmos o paralelismo do tex to, criaremos


uma sequência de tempo que o tex to não tá dizendo. E a forma de
como construímos esse paralelismo é difícil, não é tão simples. Essa
tabela está aí para você tentar encaix ar essas realidades distintas
que parece que, de alguma forma, estão falando do mesmo assunto,
diferenciando aqui ali em alguns aspectos: sete trombetas, sete

263
Formação em Teologia

flagelos, sete taças etc. Essa estrutura dos sete nós veremos ao longo
de todo tex to.

No gráfico você fará a comparação entre selos, trombetas,


flagelos e taças. Outros acontecimentos não foram colocados nos
gráficos, mas o tex to ainda dará informações acerca das sete
palavras de Justiça, sete visões (onde aparecerão a besta que saiu
do mar, a besta que saiu da terra) etc. Note que o tex to não foge, nem
por um instante, dessa estrutura de 7.

Portanto, quanto mais você conseguir comparar esses grupos,


melhor vai ficar o seu entendimento do tex to. Por último teremos
ainda as sete revelações sobre Jerusalém e a sua noiva.

Fazer esse gráfico é começar a enx ergar o livro de Apocalipse de


uma forma diferente. Essa é minha proposta: em vez de,
simplesmente, dizer qual é a teoria a qual eu acredito e qual é a
posição que eu defendo, estou convidando você a comparar os
acontecimentos e chegar a uma conclusão.

Essa proposta de atividade é para que você chegue a suas


próprias conclusões, e tenho certeza de que esse resultado será
bastante animado, e ajudará bastante você entender o livro de
Apocalipse de uma forma diferente. É claro que eu não quero que
você force uma comparação como se fosse uma questão absoluta.
Por ex emplo, a primeira igreja é a Igreja de Éfeso. Então a primeira
Igreja de Éfeso significa que está em primeiro na primeira trombeta.
Não é isso. Eu quero que você faça comparações para entender de
que forma isso tudo está sendo distribuído.

Perceba que o número 7 é um número simbólico na Bíblia, de tal


forma que ele passa a ideia daquilo que é divino e perfeito e, mais
ainda, passa uma ideia mais importante que é a ideia de completo.

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Formação em Teologia

Assim, pensar em sete igrejas é entender que essa mensagem chega


a igreja de uma forma completa, que os selos abrangem a história de
uma forma completa, portanto, a o tex to fala de revelação completa,
visão completa, justiça completa, sofrimento completo, anúncio
completo. E cada um desses fatos está revelando a vontade de Deus
de uma forma completa.

➔ O objetivo dessa proposta é que você consiga fazer uma


análise por si mesmo. Note que estou procurando não o induzir a
qualquer conclusão, mas estou dando espaço para que você
chegue às suas próprias conclusões por sua conta. Por isso,
estou me esforçando ao máx imo, medindo algumas palavras
que não deix e transparecer o que eu penso, a fim de que você
tenha a liberdade de fazer a sua comparação, aprofundando-se
no tex to de modo que possa chegar à sua conclusão.

A seguir, observe um gráfico comparando as principais ideias de


três acontecimentos: selos, trombetas e visões.

Com essa comparação, estou sugerindo que ex iste um


paralelismo, mas esse paralelo não é uma coisa tão óbvia. Veja que o
sex to selo está falando de um evento final, e a sétima trombeta é

265
Formação em Teologia

quem fala desse ato derradeiro. Assim, as guerras, a escassez, a


morte, os ataques alcançando a terra, mar, rios, os céus, tudo isso, de
uma forma, nos mostra que a destruição está se desenrolando.

Veja que nas trombetas toda a criação está debaix o de ataque,


tudo está em colapso. É esse evento de destruição que as trombetas
estão anunciando. Apesar disso, essa destruição aponta para o final
da guerra que é vencida pelo Cordeiro.

Na sétima trombeta, apesar de todo o caos e destruição, as


pessoas não se arrependeram (dureza de coração), portanto, o
mundo já não ex iste, pelo menos não da forma como pensamos (Ap
11:15,18)

Perceba que não conseguimos encaix ar os elementos


completamente, mas podemos ver os elementos se repetindo de
uma ordem que não conseguimos enx ergar com tanta clareza. Veja
que o mar é atacado na segunda trombeta, mas na primeira visão, a
besta sai do mar. Veja, então, que ex iste alguma coisa que está se
repetindo de uma maneira aleatória, mas que está falando de algo
que precisamos perceber.

Dentro do primeiro gráfico eu pedi para que você completasse os


flagelos e as taças, comparando-os com os selos e trombetas. Aqui,
nesta tabela, estou pegando os mesmos selos e as mesmas
trombetas para fazer uma comparação com as visões. Ex istem ainda
as palavras de justiça que também podem ser comparadas.

Portanto, faça todas essas comparações, estude, condense


tudo, e na próx ima aula, vamos tentar encaix ar tudo isso nas
palavras de Jesus, no sermão que Ele anuncia as últimas coisas.

266
Formação em Teologia

Aconselho que você tente equilibrar todas essas coisas,


gastando um tempo a fim de fazer essas conex ões para as próx imas
relações que faremos em nosso último capítulo sobre o Apocalipse.

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APOCALIPSE - PARTE VII

Introdução

Aqui finalizamos nosso estudo sobre o livro de Apocalipse.


Espero que você tenha conseguido relacionar os grupos de sete que
vimos anteriormente, e que tenha conseguido chegar às suas
conclusões.

É importante considerarmos que ex istem grupos com diferentes


posições escatológicas que irão divergir justamente por encaix ar
esses grupos de sete como se fosse uma ordem linear de tempo, uma
sucessão de coisas, enquanto outros vão tentar empilhar criando
paralelos. De qualquer forma, seja empilhando ou desenvolvendo um
raciocínio linear, nós vamos ter bastante dificuldade, independente
do caminho que escolhermos.

A minha proposta é que ex iste, sim, algum paralelismo. Mas isso


não significa que não ex ista uma sequência. Sendo assim, espero que
você tenha chegado às suas conclusões, porque agora precisamos
pegar essas nossas conclusões e encaix ar com as palavras de Jesus.
Abra a Bíblia em Lucas 21.

Estudo de Lucas 21

Antes, gostaria de observar que, até aqui, tive o máx imo de


cuidados sobre posicionamentos. Neste gráfico, no entanto, farei
algumas ponderações sobre o que creio que valha a pena
considerarmos.

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A frase que tenho sempre repetido é que uma boa escatologia


vai gerar consolação e esperança. Se ministrarmos sobre o livro de
Apocalipse e não tivermos esse impacto de esperança e consolação,
podemos dizer que fracassamos em nossa pregação. Mas creio que
você não irá fugir à responsabilidade de anunciar a palavra de Deus
e, quando o Espírito Santo der essa orientação, o livro de Apocalipse
irá cumprir o seu objetivo.

Em Lucas 21:5-9 temos a conversa de Jesus com seus discípulos,


quando Ele profetizou sobre a destruição do templo. Confira a seguir:

“ E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava


ornado de formosas pedras e dádivas, disse: Quanto a
estas coisas que vedes, dias virão em que não se deix ará
pedra sobre pedra, que não seja derrubada. E
perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando serão, pois,
estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para
acontecer? Disse então ele: Vede não vos enganem,
porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o
tempo está próx imo. Não vades, portanto, após eles. E,
quando ouvirdes de guerras e sedições, não vos
assusteis. Porque é necessário que isto aconteça
primeiro, mas o fim não será logo” .

Na continuação do tex to podemos ver a relação de tempo que


Jesus está fazendo da história. Os discípulos perguntaram quando
essas coisas iriam acontecer, e Jesus faz, então, uma ordem
cronológica. Portanto, as correntes teológicas têm que estar cientes,

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obedecendo a essa ordem cronológica de Jesus, senão, perderemos


o sentido.

Gráfico

A partir desse gráfico, vamos imaginar uma linha do tempo.

1. Temos, primeiro, a morte de Jesus na cruz.

2. Na sequência, temos a profecia de Jesus de que o templo será


destruído, não restando pedra sobre pedra (mais ou menos 70 d.C.).
Essa é uma referência dupla, em que, à medida que Jesus está
falando sobre a destruição do templo, ele está fazendo alusão a um
outro momento na história, que chama “ a grande tribulação” .

3. E então Jesus fala que, depois da destruição do templo, irá


acontecer uma série de sinais chamados de “ princípio das dores” . A
comparação é de uma mulher que está prestes a dar à luz na
gravidez, cujas contrações são associadas aos sinais: o primeiro
sinal é o aparecimento de falsos mestres. Depois temos as guerras e
rumores de guerras, fome, epidemia e perseguição. Note que, com
relação às doenças, nós já vemos muitas nos dias de hoje, como a
Chicungunha e Zika, por ex emplo. A tendência é que essas doenças
irão aumentar, e a cada dia teremos notícias de uma nova epidemia
do momento.

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Quanto à perseguição, teremos irmão contra irmão, pai contra


filho - no sentido de que um filho se converte encontrando resistência
por parte do pai, que luta por não aceitar que esse filho se converta
ao cristianismo. Essa é a ideia de divisão dentro da família por causa
do Evangelho.

E Jesus continua narrando uma sequência de sinais, conforme já


estudamos nas aulas sobre os Evangelhos. Aqui, neste gráfico,
estamos vendo apenas alguns deles, apenas para referência.

Observe que nessa narrativa de Jesus, Ele profetiza sobre a


destruição do templo e vai respondendo a vários questionamentos:

• Como vai acontecer o fim? O templo será destruído e,


depois, virá o princípio das dores.

• E como sabemos que estamos no princípio das dores?


Depois que o templo for destruindo, começa o princípio das
dores.

• E o que tem no princípio das dores? Os sinais das dores de


parto, cujas contrações vão aumentando cada vez mais,
diminuindo no intervalo. Isso significa que se lá no início o
aparecimento de falsos mestres era algo que acontecia
muito devagar, como uma contração delicada e quase
imperceptível, mas o tempo vai passando e essa
contração chamada falso mestre vai ficando cada vez
mais forte. Assim também com as guerras, que eram algo
mínimo no passado, enfim, tudo isso nos dá uma ideia de
que esses sinais tendem sempre a se intensificar, assim
como se intensificam os sinais de uma grávida.

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4. Então vemos, em outro momento, o aparecimento do


abominável – ou anticristo. Neste momento onde ele aparece,
inaugura-se um outro período que é um chamado de grande
tribulação (5). Jesus fala, de uma maneira clara, que nunca houve na
história um período igual a esse, de tamanho sofrimento, de
tamanha dor. Ele está falando que esse é o pior momento da história,
que nunca houve e nunca haverá outro período como esse, chamado
“ grande tribulação” , que é marcado pelo aparecimento do anticristo,
do abominável.

Esse período de sofrimento será breve, até porque, se não fosse


assim, ninguém sobreviveria. Terminando esse processo, temos,
então, a segunda vinda (6). Note que nessa narrativa dos momentos
na história, Jesus está sendo linear.

➔ Pergunta: Diante da linearidade dos acontecimentos, faço a


você a seguinte pergunta: De acordo com esse gráfico que
comparamos, em que período da história você encaix aria as
sete taças? E os sete selos, as sete trombetas, as sete visões ou
as sete palavras de justiça? Veja o gráfico e note que só ex istem
três períodos na história onde esses acontecimentos poderão
ser encaix ados: No princípio das dores, na grande tribulação ou
na segunda vinda. Onde, então, você poderá encaix á-los?

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Os Últimos Acontecimentos

Ex istem algumas questões que são muito importantes. A


primeira é sobre arrebatamento, a segunda, sobre o milênio, e temos
ainda uma terceira questão, que é a segunda vinda de Jesus
acontecendo em uma só vez, ou acontecendo por duas vezes.
Vejamos cada um deles:

O Milênio

Alguns grupos vão dizer que a segunda vinda de Jesus será


antes no milênio; outros grupos irão dizer que a segunda vinda
acontecerá depois Dele., Mas a questão não é essa. A questão é que
só ex istem duas possibilidades: ou o milênio está no período de
grande tribulação e princípio das dores (nesse caso, pode ter um
sentido figurado), ou o milênio está no final, depois da segunda vinda
de Jesus.

Portanto, faça sua aposta! Essa é a primeira decisão que eu peço


que você faça, que é encaix ar o milênio em algum período da história.
Se você entender que o milênio e literal, você terá que encaix ar mil
anos dentro do espaço do princípio das dores e da grande tribulação.
Ou, então, depois da segunda vinda de Jesus. Se você acreditar que o
milênio é no sentido figurado, da mesma forma, ele só poderá ser
encaix ado nessas duas posições - não há outra possibilidade.

O Arrebatamento

A segunda questão para resolvermos é sobre o arrebatamento,


que é o que causa grandes polêmicas, como os carros que ficarão

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desgovernados, etc. Mas a minha questão não é essa, você verá


minha questão é outra.

O fato é que boa parte das pessoas vão dizer que o


arrebatamento da igreja vai acontecer ex atamente no momento em
que o anticristo despontar. Ou seja, aparece o anticristo, e o
arrebatamento, então, acontece. Um segundo grupo acredita que o
arrebatamento acontece no meio da grande tribulação, como se
fosse um escape, as pessoas não estão mais aguentando, então
acontece o arrebatamento. E ex iste ainda um terceiro grupo de
pessoas, que acreditam que o arrebatamento acontece paralelo com
a segunda vinda.

Ao primeiro grupo, chamamos de pré-tribulacionista


(arrebatamento antes datribulação). Ao segundo grupo chamamos
de meio tribulacionistas (arrebatamento no meio da grande
tribulação) e temos ainda um terceiro grupo pós tribulacionista.

Uma ou duas vindas de Jesus?

Se você tomar os acontecimentos históricos como literais,


colocando um fato depois do outro, o resultado onde você vai chegar
é que surgirá outra grande tribulação. Consequentemente, surgirá
outra vinda de Jesus. Portanto, você verá pessoas que defendem que
a segunda vinda de Jesus acontecerá em dois tempos. Mas você verá
também pessoas que defendem a ideia que Cristo virá em um tempo
único – vale lembrar que estou deix ando todas as decisões para você.

Assim sendo, eu pergunto: Jesus voltará uma única vez


(segunda vinda), ou Ele voltará e retornará novamente (segunda e
terceira vinda)? Para as pessoas que acreditam na segunda

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possibilidade, acredito que haverá uma outra grande tribulação


antes dessa “ terceira” vinda.

No entanto, qual é a fragilidade desse argumento da vinda em


duas fases? Mesmo que haja outra grande tribulação - antes da
“ terceira” vinda -, Jesus já nos disse que a primeira será a pior de
todas. Isso, portanto, enfraquece o argumento de quem está
tentando colocar mais uma grande tribulação nos acontecimentos
históricos. Ora, se a grande tribulação é o pior momento da história,
ela não irá se repetir.

➔ Nota pastoral: Quero colocar um argumento para gerar uma


reflex ão: Imagine que a segunda vinda é o maior evento da
história que nós já vimos. Sugerir que Jesus vem dois tempos, é
o mesmo que sugerir que esse evento acontecerá em dois
momentos. Particularmente, penso que esse momento será
único, e que Jesus virá em uma vez – agora, sim, estou me
posicionando. Mas qual é a minha preocupação? Não é defender
uma tese de que Jesus virá uma ou duas vezes. A minha questão
é pastoral. Porque, imagine que Jesus venha apenas uma vez, e
você está esperando por uma segunda vez – certamente
estaríamos encrencados. Portanto, essa é uma questão prática,
pastoral. Porque isso pode acarretar em você esperar Jesus vir
duas vezes: se não conseguir subir na primeira chamada, você
então consegue na segunda chamada. Assim sendo, a minha
preocupação e a pergunta que faço para você é: “ Querido, e se
não houver segunda chamada?” . Então trabalhe, creia e viva
como se tivesse uma só. Se houver duas, amém, glória a Deus,
estamos no lucro. Mas, e se tiver só uma vinda? Nesse caso, só a
misericórdia do Senhor poderá ajudar.

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Ex istem duas questões que quero debater com você. A primeira


é se realmente ex iste espaço para duas vindas. É isso que o tex to está
dizendo? - eu já me posicionei a esse respeito. A segunda questão é
sobre o arrebatamento.

A maioria das pessoas diz que, quando o arrebatamento chegar,


os crentes que estiverem firmes com Jesus irão subir, mas os crentes
que não estiverem tão firmes ficarão.

Quanto a isso, ex iste um questionamento muito importante que


gostaria de levantar, fazendo um posicionamento como pastor: Você
está me sugerindo que, no pior momento da história da humanidade
(a grande tribulação), um sujeito que tem uma fé “ mais ou menos”
vai conseguir permanecer firme?

E aí vem a preocupação de pastor. Nós vemos tantas pessoas


que no dia-a-dia não estão dando conta, não conseguem, mas se
manter firmes na fé, cujo relacionamento com Deus foi deix ado de
lado. Mas ainda assim você está me dizendo que acredita que essas
pessoas, que não conseguem ficar de pé no dia que se chama hoje,
quando chegar a grande tribulação - o pior período da história - vão
conseguir sobreviver? A pergunta que faço a você é: Como isso é
possível? Com base em que você pode afirmar, seguramente, que
aqueles que têm meia fé podem sobreviver à grande tribulação?

Independentemente de seu posicionamento escatológico,


independentemente de onde na história você irá encaix ar o milênio,
isso não importa. Apenas ore, leia a Bíblia e faça sua interpretação.
Mas eu quero pedir para que você tome cuidado. Meu irmão, a ideia
de que pessoas cuja fé não está sadia, irão sobreviver à grande
tribulação é uma questão assustadora.

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Assim sendo, independentemente de seu posicionamento e de


sua interpretação quanto aos acontecimentos escatológicos, se
ex iste algo inquestionável é o que Jesus nos afirma, que se não fosse
por Ele mesmo, pela Sua própria misericórdia, nem os escolhidos
sobreviveriam. Ou seja, Jesus haverá de ter misericórdia, porque
esse tempo na história será um tempo insuportável até para crentes
de verdade.

Para ilustrar a ideia do que estamos falando, vou contar uma


história que aconteceu no Rio de Janeiro, e não se trata de uma
história inventada, mas real. Todos sabemos do alto nível de
violência que ex iste no Rio de Janeiro. Eu mesmo já sofri arrastão na
saída do Maracanã, dentro de ônibus, já perdi a conta de quantas
vezes fui assaltado, enfim, a violência daquela cidade é realmente
algo significativo.

Mas essa história se passou dentro de um ônibus, quando


entram alguns assaltantes armados rendendo a todos, tal qual a
cena de um filme, perguntando quem ali era crente. Alguns poucos se
levantaram. Nesse momento, os bandidos ordenaram que, se eles
não negassem a Deus, todos ali seriam mortos.

Diante da sentença, aqueles que se identificaram como crentes


começaram a recuar, um a um, dando desculpas, dizendo coisas do
tipo: “ na verdade eu não sou tão crente assim” . No entanto, restou
apenas um sujeito que se manteve firme em sua posição, se negando
a fazer o que os bandidos ex igiam. Ainda assim, ele continuou sendo
ameaçado várias vezes pelos bandidos que ameaçavam matá-lo.

Mas o jovem, naquele momento, respondeu: “ Eu sou cristão, Ele


é meu salvador e eu não posso negá-Lo” . Foi então que aqueles
bandidos cariocas disseram: “ Tranquilo ‘gente boa’, a gente não quer

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matar ninguém não. É que tem um parceiro nosso que está muito
doente, e a gente queria um crente de verdade para orar. Mas a gente
queria saber quem era crente de verdade e quem era crente de
mentira, por isso esse teatrinho aqui.” Para finalizar, aquele cristão
foi lá, e orou pelo amigo daqueles bandidos.

Mas, o que quero ilustrar com essa conversa? Mesmo hoje,


diante de tantas possibilidades, é visível a grande quantidade de
pessoas que parecem ter meia fé, e não conseguem manter-se em
pé. As pessoas que parecem ter uma meia conversão, não estão
andando com Cristo. As pessoas que parecem ter uma meia
sensibilidade à Palavra de Deus, não estão nas igrejas... Portanto,
cuidado ao supor que, neste período da grande tribulação, o “ meio
crente” terá condições de se manter firme.

Então eu quero dizer algo muito importante a você: só irá


sobreviver a esse período o crente por inteiro, o crente de verdade. Ou
seja, não importa qual será a sua interpretação quanto aos
acontecimentos finais, a única verdade do Apocalipse que não se
pode mudar é que meia fé não resolve nada: ou você tem fé inteira ou
você não tem fé nenhuma.

Podemos considerar toda a grandiosidade dessa batalha


espiritual final, de todo esse terror, dos gafanhotos, dos rios sendo
atacados, e de toda uma tragédia sobrenatural etc., mas eu quero te
convidar a repensar e a considerar em seu coração: meia fé não será
suficiente naqueles dias.

O meu pedido como pastor é que você fortaleça a fé do seu


coração, que você fortaleça fé das pessoas que estão ao seu redor,
porque o tempo está se cumprindo. Esses sinais do princípio da das
dores se intensificam cada vez mais.

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E cada vez mais falsos mestres aparecem, cada vez mais guerra,
mais fome, mais epidemias, mais perseguições, enfim, os sinais
estão cada vez mais intensos. Isso significa que o anticristo está à
porta.

Diante disso, meu clamor pastoral é: cuidado, não seja um meio


crente, não tenha meia fé. Talvez você não tenha tempo para
descobrir que você não conseguirá sobreviver à grande tribulação.
Mas eu tenho esperança de que uma fé verdadeira e genuína em
Jesus Cristo é suficiente para atravessarmos toda a história e
encontrarmos com nosso Senhor e Redentor.

E a pergunta que eu faço é: Qual o império que tem se levantado


contra a Igreja nos dias de hoje? Para entender a besta, precisamos
entender os impérios que se levantam contra a Igreja nos dias de
hoje. A besta que emerge do mar é visivelmente uma entidade que
presta reverência à besta da terra, que, por sua vez, presta
homenagem de uma falsa religião. E então um império maligno
qualquer, consegue gerar uma falsa religião, uma religião que não irá
gerar fé suficiente em seu coração.

Consolação, consolação, consolação! A fé que ex iste dentro do


seu coração é suficiente para te levar até Cristo Jesus? Não deix e que
nada, nem ninguém, roube a sua esperança, e, sobretudo, jamais
seja morno - porque a Bíblia diz que os mornos serão vomitados por
Deus.

Que o Espírito Santo aqueça o seu coração e fortaleça a sua fé.


Porque dias virão onde só a misericórdia do Senhor há de sustentar a
Sua Igreja. Que Deus te abençoe.

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