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GRÁTIS CD-ROM

A U LA S P R O N T A S EM P O W E R PO IN T ,
R E S U M O S E M O D E L O S D E P R O V A S.
V__________________________ _

Wayne Grudem
TEOLQGIA
SISTEMÁTICA
ATUAL E EXAUSTIVA
N O V A E D I Ç Ã O C O M Í N D I C E S

V1DA1M0VA
47
0 Governo da Igreja
Como deve a igreja ser governada? Como devem ser escolhidos
os oficiais da igreja? Devem-se ordenar mulheres ao pastorado?

E x p l ic a ç ã o e b a s e b íb l ic a
A s igrejas hoje têm muitas diferentes formas de governo. A Igreja Católica Romana
tem um govemo mundial sob a autoridade do papa. As igrejas episcopais têm bispos com
autoridade regional e, acima deles, arcebispos. As igrejas presbiterianas dão autoridade
regional aos presbitérios e autoridade nacional aos concílios. Todavia, as igrejas batistas
e muitas outras igrejas independentes não têm uma autoridade oficial de governo além
da congregação local, e a filiação a outras denominações é voluntária.
Nas igrejas locais os batistas geralmente têm um único pastor com um grupo de
diáconos, mas algumas têm também um grupo de presbíteros. Os presbiterianos têm um
grupo de presbíteros, e os episcopais, uma comissão de leigos. Outras igrejas têm apenas
um conselho paroquial.
Há um padrão neotestamentário de govemo para a igreja? Há uma forma de govemo
que deve ser preferida a outra? Este capítulo trata dessas questões.
Entretanto, de início deve-se dizer que a forma de governo da igreja não é uma
doutrina central como a trindade, a divindade de Cristo, a expiação vicária, ou a autori­
dade das Escrituras. Embora eu creia, após examinar os dados do Novo Testamento, que
uma forma particular de govemo seja preferível a outras, todas elas têm prós e contras.
E a história da igreja atesta que formas diferentes têm funcionado muito bem por séculos.
Além disso, enquanto alguns aspectos do governo da igreja são razoavelmente claros no
Novo Testamento, outros (tais como a forma de escolha dos oficiais da igreja) são menos
claros, principalmente porque os dados do Novo Testamento sobre eles não são conclu­
sivos, e assim nossas conclusões a partir deles são mais incertas. Dessa maneira, parece-
me que deve haver espaço para divergência amigável entre os cristãos evangélicos sobre
essa questão, na esperança de que uma compreensão mais profunda seja alcançada. E
também parece que os cristãos individualmente - embora possam ter preferência por um
ou por outro sistema e queiram em certas ocasiões argumentar bastante em favor de um
sistema em detrimento de outro - devem, não obstante, estar dispostos a viver e a
ministrar em qualquer um dos muitos diferentes sistemas protestantes de governo
eclesiástico nos quais possam estar eventualmente inseridos.
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(47) O Governo da Igreja
Todavia, não estou afirmando que esta é uma questão inteiramente sem importância.
Nessa área, como em outras, uma igreja pode ser mais pura ou menos pura. Se há no Novo
Testamento regras para alguns aspectos do governo da igreja, então haverá conseqüências
negativas em nossas igrejas se as desrespeitarmos, mesmo que não possamos prever no
momento todas as conseqüências. Portanto, os cristãos certamente têm liberdade de falar
e de escrever sobre esse assunto para levar a igreja a uma pureza cada vez maior.
Neste capítulo daremos primeiro um panorama dos dados do Novo Testamento a
respeito dos oficiais da igreja, especialmente o apóstolo, o presbítero e o diácono. Depois
perguntaremos como os oficiais da igreja devem ser escolhidos. Em seguida examina­
remos duas questões polêmicas: qual forma de governo eclesiástico está mais próxima do
padrão - se é que há algum - do Novo Testamento? E, finalmente, podem as mulheres
atuar como oficiais na igreja?

A. Os OFICIAIS DA IGREJA
Para os propósitos deste capítulo, usaremos a seguinte definição: um oficial da igreja é
alguém publicamente reconhecido como detentor do direito e da responsabilidade de desempenhar
certasfunções para o benefício de toda a igreja.
Segundo essa definição, presbíteros e diáconos seriam considerados oficiais na igreja,
bem como o pastor (se esse for um ofício distinto). O tesoureiro e o moderador também
seriam oficiais (esses títulos podem variar de igreja para igreja). Todas essas pessoas
tiveram reconhecimento público, geralmente em um culto no qual foram “empossados”
ou “ordenados” em um ofício. De fato, eles precisam de reconhecimento público para dar
conta de suas responsabilidades: por exemplo, não seria apropriado que se perguntasse
a cada semana quem recolheria a oferta e a depositaria no banco, ou que várias pessoas
argumentassem que tinham sido encarregadas dessa atividade em uma mesma semana.
O funcionamento adequado da igreja exige que alguém seja reconhecido como tendo
determinada responsabilidade. Da mesma forma, o pastor encarregado do ensino da
Bíblia a cada manhã de domingo deve ser reconhecido como detentor do direito e da
responsabilidade de fazer isso (pelo menos, em muitas formas de governo da igreja). Se
não fosse assim, muitas pessoas poderiam preparar sermões e todas reivindicariam o
direito de pregar, e em alguns domingos ninguém estaria preparado para isso. Da mesma
forma, para que imite os presbíteros e busque os seus conselhos, o povo precisa saber
quem são esses presbíteros.
Em contraste com isso, muitas outras pessoas exercem dons na igreja, mas não
dizemos que elas têm um “ofício”, porque não precisam de reconhecimento público oficial
para que seus dons sejam utilizados. Aqueles que têm dom de “socorros” (veja ICo 12.28),
ou dom de fé poderosa, ou dom de “discernir espíritos” (ICo 12.10), ou dom de exortação
ou de contribuição (Rm 12.8), não necessitam de reconhecimento público para atuar
efetivamente na igreja.
No texto a seguir veremos que o Novo Testamento discute um ofício que estava
limitado ao tempo quando a igreja primitiva foi fundada (o ofício de apóstolo), e dois
outros que continuaram por toda a história da igreja (os ofícios de presbítero e diácono).

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(47) A Doutrina da Igreja
1. Apóstolos. No início deste livro vimos que os apóstolos do Novo Testamento tinham
um tipo singular de autoridade na igreja primitiva: autoridade para falar e escrever
palavras que eram “palavras de Deus” em sentido absoluto. Não acreditar neles ou
desobedecer a eles era o mesmo que não crer em Deus e desobedecer a Deus. Os após­
tolos, portanto, tinham autoridade para escrever palavras que se tornaram palavras da
Bíblia.1 Este fato por si só nos sugere que havia algo de singular no ofício de apóstolo, e
não esperaríamos que ele continuasse hoje, porque atualmente ninguém pode acrescentar
palavras à Bíblia e tê-las na conta de palavras de Deus ou como parte das Escrituras.2
Além disso, os dados do Novo Testamento sobre as qualificações e sobre a identidade
de um apóstolo também nos levam a concluir que o ofício era único e limitado ao
primeiro século e que não devemos esperar por mais apóstolos hoje.3 Veremos isso
quando fizermos as seguintes perguntas: Quais eram os requisitos para alguém ser
apóstolo? Quem foram os apóstolos? Quantos apóstolos houve? Há apóstolos hoje?
Desde o início deve ficar claro que as respostas para essas perguntas depende do que
se quer dizer com a palavra apóstolo. Hoje alguns usam a palavra apóstolo em um sentido
muito amplo para se referir a um fundador de igrejas eficaz ou a um missionário pioneiro
de destaque (por exemplo, “William Carey foi um apóstolo para a índia”). Se usássemos
a palavra nesse sentido amplo, todos concordariam que há apóstolos ainda hoje - porque
certamente temos missionários atuantes e fundadores de igrejas.
O próprio Novo Testamento possui três versículos nos quais a palavra apóstolo (gr.
apostolos) é usada em um sentido amplo, não para se referir a qualquer ofício específico
na igreja, mas simplesmente com o sentido de “mensageiro”. Em Filipenses 2.25, Paulo
chama Epafrodito “vosso mensageiro (apostolos) e vosso auxiliar nas minhas necessidades”;
em 2Coríntios 8.23, Paulo refere-se àqueles que acompanharam a oferta que ele estava
levando parajerusalém como “mensageiros [apostoloi] das igrejas”; e em João 13.16,Jesus
diz: “... nem é o enviado [apostolos] maior do que aquele que o enviou”.
Mas há outro sentido para a palavra apóstolo. Com freqüência muito maior no Novo
Testamento refere-se a um ofício especial, “apóstolo deJesus Cristo”. Nesse sentido estrito
do termo, não há mais apóstolos hoje, e não devemos esperar mais nenhum apóstolo. A
razão disso baseia-se no que o Novo Testamento diz sobre as qualificações de um apóstolo
e sobre quem foram eles.
a. As qualificações de um apóstolo. As duas qualificações de um apóstolo eram:
(1) ter visto Jesus Cristo após a ressurreição (ser testemunha ocular da ressurreição) e (2)
ter sido especificamente comissionado por Cristo como seu apóstolo.4
O fato de que um apóstolo tinha de ter visto o Senhor ressurreto é indicado em Atos
1.22, onde Pedro diz que o substituto de Judas deve “se tomar testemunha conosco de sua
ressurreição”. Além disso foi “aos apóstolos que escolhera” que “depois de ter padecido
se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta
dias” (At 1.2-3; cf. 4.33).
Paulo dá muita importância ao fato de que ele cumpriu esse requisito, mesmo que de
forma incomum (Cristo apareceu-lhe em uma visão na estrada de Damasco e o designou
apóstolo: At 9.5-6; 26.15-18). Quando defendeu seu apostolado, afirmou: “Depois foi visto
por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por

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(47) O Govemo da Igreja
mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que
mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo” (ICo 15.7-9).
Esses versículos indicam que só podia ser apóstolo alguém que tivesse visto Jesus após
a ressurreição.
A segunda qualificação, uma designação específica dada por Cristo, é também
evidente em muitas passagens. Primeiro, mesmo que o termo apóstolo não seja comum nos
evangelhos, os doze discípulos são chamados apóstolos especificamente em um contexto
onde Jesus os comissiona, “enviando-os” para pregar em seu nome.
Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhesjesus autoridade sobre espíritos
imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças, e enfermidades. Ora
os nomes dos doze apóstolos são estes [...] A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as
seguintes instruções: “... à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino
dos céus” (Mt 10.1-7).
Da mesma forma, Jesus comissiona seus apóstolos em um sentido especial para serem
suas “testemunhas [...] até aos confins da terra” (At 1.8). E, escolhendo outro apóstolo para
substituirJudas, os onze apóstolos não chamaram a responsabilidade para si mesmos, mas
oraram e pediram ao Cristo que subira ao céu que fizesse a indicação:
“Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido,
para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qualjudas se transviou...”.
E os lançaram em sortes, vindo a sorte a recair sobre Matias, sendo-lhe então
votado lugar com os onze apóstolos (At 1.24-26).
Paulo mesmo insiste que o próprio Cristo o designou apóstolo. Ele conta como, na
estrada de Damasco, Jesus disse que o estava designando como apóstolo dos gentios: “...
porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha [...] livrando-te do povo
e dos gentios, para os quais eu te envio” (At 26.16-17). Ele, mais tarde, afirma que foi
especificamente designado por Cristo como apóstolo (veja Rm 1.1; G1 1.1; ITm 1.12; 2.7;
2Tm 1.11).
b. Quem eram os apóstolos? O grupo inicial contava com doze - os onze discípulos
originais que continuaram após a morte de Judas, e Matias, que o substituiu: “E os
lançaram em sortes, vindo a sorte a recair sobre Matias, sendo-lhe então votado lugar com os
onze apóstolof (At 1.26). Tão importante era esse grupo original de doze apóstolos, os
membros fundadores do ofício apostólico, que lemos que seus nomes estão escritos nos
fundamentos da cidade celestial, a nova Jerusalém: “A muralha da cidade tinha doze
fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21.14).
Poderíamos, à primeira vista, pensar que tal grupo nunca deveria ser expandido, de
modo que ninguém pudesse ser acrescentado a ele. Mas Paulo claramente alega ser
também um apóstolo. E Atos 14.14 chama a Bamabé e Paulo apóstolos: “Porém, ouvindo
isto, os apóstolos Bamabé e Paulo...”. Assim, com Barnabé e Paulo são catorze os “apóstolos
dejesus Cristo”.5

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Depois, Tiago, o irmão dejesus (que não era um dos doze discípulos originais), parece
ser chamado apóstolo em Gálatas 1.19: Paulo conta como, quando foi ajerusalém, ele não
viu “outro dos apóstolos senão a Tiago, o irmão do Senhor.”6 Ainda em Gálatas 2.9, Tiago
é classificado com Pedro ejoão como “coluna” da igreja de Jerusalém. E em Atos 15.13-
21, Tiago, juntam ente com Pedro, exerce uma significativa função de liderança no
Concilio de Jerusalém, função apropriada ao ofício de apóstolo. Além disso, Quando alista
as aparições dejesus, Paulo prontamente coloca Tiago com os apóstolos:
Depois foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, foi visto também
por mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor de todos
os apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado um apóstolo, pois persegui
a igreja de Deus (ICo 15.7-9).
Por fim, o fato de Paulo escrever uma carta do Novo Testamento que traz o seu nome
também está inteiramente de acordo com a autoridade que ele tinha para escrever
palavras que eram palavras de Deus. Todas essas considerações combinam-se para
mostrar que Tiago, o irmão do Senhor, também foi comissionado por Cristo como apósto­
lo. Teríamos então, quinze “apóstolos dejesus Cristo” (os doze mais Barnabé, Paulo e
Tiago).
Houve outros apóstolos além desses quinze? Pode ter havido alguns outros, embora
saibamos pouco ou nada sobre eles e não tenhamos certeza de que de fato existiram
outros. Outras pessoas, é claro, tinham visto Jesus após a ressurreição (“Depois foi visto
por mais de quinhentos irmãos de uma só vez,” ICo 15.6). Desse grande número é possí­
vel que Cristo tenha designado alguns outros como apóstolos - mas é também possível
que não o tenha feito. Os dados não são suficientes para decidir a questão.
Romanos 16.7 diz: “Saudai a Andrônico e aJúnias, meus parentes e companheiros de
prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim”. Como há
diversos problemas de tradução nesse versículo, não se pode chegar a nenhuma conclusão
decisiva. “Notáveis” pode também ser traduzido por “notados pelos (apóstolos)”. “Júnias”
(nome de homem) pode ser traduzido por “Júnia” (nome de mulher).7 “Apóstolos” aqui
pode significar o ofício “apóstolos dejesus Cristo”, mas pode significar simplesmente
“mensageiros” (o sentido mais amplo que a palavra tem em Fp 2.25; 2Co 8.23;Jo 13.16).
Os versículos não trazem dados suficientes que nos permitam chegar a uma conclusão.
Outros nomes têm sido sugeridos como apóstolos. Silas (Silvano) e, algumas vezes,
Timóteo são mencionados, por causa de ITessalonicenses 2.7: “Embora pudéssemos como
enviados (apóstolos) de Cristo, exigir de vós ...”. Será que Paulo inclui Silas e Timóteo aqui,
já que a carta começa com “Paulo, Silvano e Timóteo” (ITs 1.1)?
Não é provável que Paulo esteja incluindo Timóteo por duas razões:
(1) Apenas cinco versículos antes ele diz: “... apesar de maltratados e ultrajados em
Filipos, como é de vosso conhecimento” (ITs 2.2), numa alusão aos açoites e à prisão
sofridos somente por Paulo e Silas, não por Timóteo (At 16.19). Assim, o “pudéssemos”
no versículo 6 não parece incluir todos os mencionados no primeiro versículo (Paulo,
Silvano e Timóteo). A carta, em geral, é de Paulo, Silas e Timóteo. Mas Paulo sabe que
os leitores entenderão naturalmente quem são os citados na expressão “nós”, quando não

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inclui os três em algumas partes da carta. Ele não especifica: “nos, isto é, Silas e eu, fomos
maltratados ...”, porque os tessalonicenses sabiam de quem ele estava falando.
O mesmo acontece em 1Tessalonicenses 3.1-2, onde o “nós” certamente não pode
incluir Timóteo:
Pelo que, não podendo suportar mais o cuidado por vós, pareceu-nos bem ficar
sozinhos em Atenas; e enviamos nosso irmão Timóteo, ministro de Deus no evangelho
de Cristo, para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e exortar-vos (ITs 3.1-2).
Neste caso, o “nós” refere-se ou a Paulo e Silas, ou só a Paulo (veja At 17.14-15; 18.5).
Aparentemente Silas e Timóteo tinham ido ao encontro de Paulo em Atenas “o mais
depressa possível” (At 17.15) - embora Lucas não mencione a chegada deles em Atenas
- e Paulo os havia mandado de volta a Tessalônica para ajudar a igreja de lá (At 18.5).
E muito provável que “pareceu-nos bem ficar sozinhos em Atenas” (ITs 3.1) se refira
só a Paulo, tanto porque ele retoma o argumento no versículo 5 com o “eu”, pronome no
singular (“já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado de
vossa fé”), como porque não teria sentido falar de extrema solidão em Atenas, se Silas
estivesse com ele.8 De fato, em 2.18, “nós” significa “eu”, porque ele diz: “Por isso,
quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo
Satanás nos barrou o caminho”. Aparentemente ele usa “nós” com mais freqüência nessa
epístola como uma forma cortês de incluir Silas e Timóteo, que tinham passado muito
tempo na igreja de Tessalônica. Mas os tessalonicenses não teriam tido dúvida sobre
quem, de fato, estava encarregado dessa grande missão aos gentios e de qual autoridade
apostólica a carta principalmente (ou exclusivamente) dependia.
Assim é bem provável que Silas fosse um apóstolo e que 1Tessalonicenses 2.7 indique
isso. Ele era membro destacado da igreja emjerusalém (At 15.22) e podia bem ter visto
Jesus após a ressurreição e assim ter sido designado apóstolo. Mas não podemos ter
certeza disso.
Entretanto, com Timóteo a questão é diferente. Assim como ele é excluído do “nós”
de ITessalonicenses 2.2 (e 3.1-2), parece que é excluído também do nós de lTessa-
lonicenses 2.7. Além do mais, sendo natural de Listra (At 16.1-3), e tendo aprendido sobre
Cristo com sua avó e com sua mãe (2Tm 1.15), parece impossível que pudesse ter estado
emjerusalém antes do Pentecostes e tivesse visto o Senhor ressurreto, crido nele e, então,
repentinamente designado apóstolo. Ademais, Paulo, ao dirigir suas cartas, sempre reserva
zelosamente para si o título de apóstolo, nunca permitindo que seja aplicado a Timóteo ou a
outros de seus companheiros de viagem (veja 2Co 1.1; Cl 1.1: Paulo, apóstolo de Cristo
Jesus ... e o irmão Timóteo”; e Fp 1.1: “Paulo e Timóteo, servos de Cristojesus”). Assim,
Timóteo, por mais importante que fosse sua função, não poderia ser corretamente consi­
derado um dos apóstolos.
Isso nos deixa um grupo limitado, mas de número incerto, cujos membros detinham
o ofício de “apóstolos dejesus Cristo”. Parece ter havido pelo menos quinze, talvez
dezesseis, ou até outros que não foram registrados no Novo Testamento.
Todavia parece bastante certo que não houve nenhum apóstolo designado depois de
Paulo. Quando alista as manifestações do Cristo ressurreto, ele enfatiza a forma incomum

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com que Cristo lhe apareceu e liga isso à afirmação de que essa foi a “última” aparição e
que ele mesmo é de fato o menor dos apóstolos, indigno de ser assim chamado.
E apareceu a Cefas [Pedro] e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de
quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém
alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos
e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim [...] Porque eu sou o menor dos
apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo (ICo 15.5-9).
c. Resumo. A palavra apóstolo pode ser usada em um sentido amplo ou restrito. Em
sentido amplo ela significa “mensageiro” ou “missionário pioneiro”. Mas em sentido
restrito, que é o mais comum no Novo Testamento, refere-se a um ofício específico,
“apóstolo dejesus Cristo”. Esses apóstolos tinham autoridade única para fundar e liderar
a igreja primitiva e podiam falar e escrever a palavra de Deus. Muitas de suas palavras
escritas tornaram-se as Escrituras do Novo Testamento.
Para se qualificar como apóstolo era preciso: (1) ter visto com os próprios olhos o
Cristo ressurreto e (2) ter sido designado apóstolo pelo próprio Cristo. Houve um número
limitado de apóstolos, talvez quinze ou dezesseis, ou alguns mais - o Novo Testamento
não é explícito sobre o número. Aos primeiros doze (os onze e Matias) foram acrescen­
tados Bamabé e Paulo, e muito provavelmente Tiago, talvez Silas, e talvez até Andrônico
e Júnias ou outros não citados pelo nome. Parece que nenhum apóstolo foi designado
depois de Paulo, e, certamente, já que ninguém hoje pode preencher o requisito de ter
visto o Cristo ressurreto com os próprios olhos, não há apóstolos hoje.9 Em lugar de
apóstolos vivos, presentes na igreja para ensinar-lhe e governá-la, temos os escritos dos
apóstolos nos livros do Novo Testamento, o qual desempenha para a igreja de hoje as
funções de ensino absolutamente autorizado e de governo desempenhadas pelos próprios
apóstolos na época do início da igreja.
Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e
evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde
quem lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de “apóstolo”.
E digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja - Atanásio,
Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield - assumiu o título de “apóstolo” ou
permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir
a si o título “apóstolo”, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho
impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na
igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter.
2. Presbíteros (pastores / bispos)
a. Pluralidade de presbíteros, padrão em todas as igrejas do Novo Testamento.
O próximo ofício a ser considerado é o de “presbítero”. Embora se argumente que havia
diferentes formas de governo eclesiástico no Novo Testamento,10 um panorama dos textos
pertinentes mostra que o oposto é verdadeiro: há um padrão bastante coerente de vários
presbíteros como o principal grupo de liderança das igrejas neotestamentárias. Por exemplo,
em Atos 14.23 lemos: “E promovendo-lhes em cada igreja a eleição de presbíteros,11
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depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido”. Isso
aconteceu na primeira viagem missionária de Paulo, quando retornava pelas cidades de
Listra, Icônio e Antioquia, e indica que o procedimento normal de Paulo desde sua
primeira viagem missionária era estabelecer um grupo de presbíteros em cada igreja que
fundava. Sabemos que Paulo também estabeleceu presbíteros na igreja de Éfeso, porque
lemos: “De Mileto mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20.17). Além
disso, os assistentes apostolares de Paulo aparentemente foram instruídos a fazer o mesmo,
pois Paulo escreveu a Tito: “Por esta causa te deixei em Creta para que pusesses em ordem
as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituíssespresbíteros, conforme te prescrevi”
(Tt 1.5). Logo após de fundada uma igreja, repetidamente vemos presbíteros sendo
estabelecidos no ofício, “em cada cidade” em que havia uma igreja. E Paulo lembra a
Timóteo do tempo quando recebeu a “imposição das mãos do presbitério” (ITm 4.14).
Tiago escreve: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor” (5.14). E um texto
muito importante, porque a epístola de Tiago é uma carta geral, escrita para muitas igrejas,
para todos os crentes dispersos, a quem Tiago caracteriza como “as doze tribos que se
encontram na Dispersão” (Tg 1.1). Isso indica que Tiago esperava que houvesse presbí­
teros em todas as igrejas neotestamentárias para as quais sua epístola geral era dirigida - ou seja,
em todas as igrejas que existiam naquele tempo.
O mesmo se pode concluir de 1Pedro. Pedro escreve: “Rogo, pois, aos presbíteros que
há entre vós [...] Pastoreai o rebanho de Deus...” (IPe 5.1-2). 1Pedro também é uma
epístola geral, escrita para dezenas de igrejas espalhadas por quatro províncias romanas
na Ásia Menor (veja IPe 1.1, Bitínia e Ponto constituíam uma província romana). Longe
de esperar diferentes tipos de govemo eclesiástico quando escrevia (por volta de 62 d.C.,
mais de 30 anos depois do Pentecostes), Pedro pressupõe que todas aquelas igrejas,
fundadas por Paulo ou por outros, predominantemente gentias ou judaicas, ou mescladas
em sua formação, tinham presbíteros em sua direção. Além disso, havia presbíteros na
igreja dejemsalém (At 11.30; 15.2) e, mesmo que a palavra “presbíterof não seja usada,
há uma pluralidade de líderes na congregação para a qual a Epístola aos Hebreus é
dirigida, porque o autor diz: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles...”
(Hb 13.17).
Duas importantes conclusões podem ser tiradas desse panorama de dados do Novo
Testamento. Primeiro, nenhum texto sugere que qualquer igreja, não importa quão
pequena, tivesse só um presbítero. O padrão coerente do Novo Testamento é a plura­
lidade de presbíteros “em cada igreja” (At 14.23) e “em cada cidade” (Tt 1.5).12 Segundo,
não vemos uma diversidade de formas de govemo eclesiástico no Novo Testamento, mas
um padrão único e coerente, segundo o qual toda igreja tinha presbíteros que a dirigiam
e zelavam por ela (At 20.28; Hb 13.17; IPe 5.2-3).
b. Outros títulos dos presbíteros: pastores ou bispos. Presbíteros também são
chamados “pastores” ou “bispos” no Novo Testamento. A palavra menos usada (pelo
menos na forma substantiva) é pastor (gr. poimên). Pode surpreender-nos descobrir que
essa palavra, que se tomou tão comum, só ocorra, referindo-se a um oficial da igreja, uma
vez no Novo Testamento. Em Efésios 4.11, Paulo escreve: “E ele mesmo concedeu uns
para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para pastores e
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(47) A Doutrina da Igreja
mestres”. O versículo provavelmente seria mais bem traduzido por “pastores-mestres”
(um grupo) e não “pastores e mestres” (sugerindo dois grupos) por causa da construção
grega (embora nem todo estudioso da área de Novo Testamento concorde com a tradu­
ção).13 A associação com o ensino sugere que esses pastores eram alguns presbíteros (ou
talvez todos) que se encarregavam do ensino, porque um dos requisitos do presbítero era
ser “apto para ensinar” (ITm 3.12).
Embora o substantivo pastor (poimên) não seja usado para referir-se aos oficiais da
igreja no Novo Testamento,14 o verbo relacionado que significa “agir como um pastor (de
ovelhas)” (gr. poimainõ) é aplicado aos presbíteros no discurso de Paulo aos presbíteros
de Efeso. Ele lhes diz que devem “pastorear a igreja de Deus” (At 20.28, traduzindo literal­
mente o verbo poimainõ) e se refere no mesmo versículo ao povo de Deus como “todo
o rebanho”, usando outro substantivo relacionado (poimnion) que significa “rebanho de
ovelhas”. Assim, Paulo exorta diretamente esses presbíteros efésios a agir como “pastores”.
O mesmo verbo é usado em 1Pedro 5.2 onde Pedro diz aos presbíteros que devem
“pastorear (poimainõ) o rebanho de Deus, que é vossa responsabilidade” (tradução do
autor). Dois versículos depois,Jesus é chamado “o supremo pastor” (gr. archipoimên, IPe
5.4), sugerindo claramente que Pedro também via os presbíteros como “pastores” na
igreja. Portanto, embora o substantivo pastor seja usado uma só vez referindo-se aos
presbíteros, o verbo relacionado (pastorear) é usado duas vezes em passagens que explici­
tamente identificam a tarefa de pastorear com o ofício de presbítero.
Outro termo usado para referir-se a presbítero no Novo Testamento é a palavra grega
episkopos, diferentemente traduzida como “bispo”, dependendo da passagem e da
tradução. Mas essa palavra também parece muito claramente ser outro termo equivalente
a presbíteros no Novo Testamento. Por exemplo, quando Paulo chama os presbíteros da
igreja de Éfeso (At 20.17), diz a eles: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual
o Espírito Santo vos constituiu bispos”(gr. episkopos; At 20.28). Paulo prontamente refere-
se a esses presbíteros efésios como “bispos”.
Em ITimóteo 3.1-2, Paulo escreve: “se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível...” Devemos lembrar que
Paulo está escrevendo a Timóteo, que está em Éfeso (veja ITimóteo 1.3, “permaneces
ainda em Éfeso”), e já sabemos com base em Atos 20 que há presbíteros ali (At 20.17-38).
Além disso em ITimóteo 5.17, vemos que presbíteros dirigiam a igreja em Éfeso quando
Timóteo estava lá, porque Paulo diz: “Devem ser considerados merecedores de dobrados
honorários os presbíteros que presidem bem”. Ora, os “bispos” em ITimóteo 3.1-2 também
devem liderar a igreja em Éfeso porque um dos requisitos é “que governe bem a sua
própria casa [...] pois se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja
de Deus?” (ITm 3.4-5). Assim parece que “bispo” é simplesmente outro termo sinônimo
de “presbítero”, já que esses “bispos” têm a mesma função dos presbíteros em outras
passagens dessa epístola e em Atos 20.
Em Tito 1.5, Paulo diz a Tito que em cada cidade constituísse presbíteros, e apresenta
alguns requisitos; ele começa dizendo: “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreen­
sível como despenseiro de Deus”. Aqui, novamente, ele usa a palavra bispo referindo-se
aos presbíteros que Tito deveria constituir, dando outra indicação de que os termos
presbíteros e bispo eram sinônimos.

766
(47) O Governo da Igreja
Por fim, em Filipenses 1.1, Paulo escreve: "... a todos os santos em Cristojesus,
inclusive bispos e diáconos, que vivem em Filipos”. Aqui parece correto pensar que bispos
é outro nome equivalente a “presbíteros”, porque certamente havia presbíteros em Filipos,
já que o costume de Paulo era estabelecer presbíteros em cada igreja (veja At 14.23). E
se havia presbíteros liderando a igreja de Filipos, é impensável que Paulo, escrevendo à
igreja, destacaria bispos e diáconos - mas não presbíteros. Portanto, com “bispos e
diáconos” Paulo devia querer dizer o mesmo que “presbíteros e diáconos”.15 Embora em
algumas partes da igreja, do segundo século em diante, a palavra bispo tenha sido usada
para referir-se a um indivíduo com autoridade sobre diversas igrejas, este é um desdobra­
mento posterior do termo e não é encontrado no Novo Testamento.
c. As funções dos presbíteros. Uma das principais funções dos presbíteros é dirigir
as igrejas do Novo Testamento. Em ITimóteo 5.17 lemos: “Devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem”. Antes, na mesma
epístola, Paulo diz que o bispo (ou presbítero) “deve governar bem a sua própria casa [...]
pois, como cuidará da igreja de Deus?” (ITm 3.4-5).
Pedro também indica uma função de liderança para presbíteros quando os exorta em
1Pedro 5.2-5:
Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas
espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa
vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tor-
nando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar,
recebereis a imarcescível coroa da glória. Rogo igualmente aos jovens: sede
submissos aos que são mais velhos (IPe 5.2-5).
O fato de que eles devem atuar como pastores do rebanho de Deus e de que não
devem dominar pela força (isto é, liderar de modo ríspido ou opressor) sugere que os
presbíteros tem função de liderança e de governo nas igrejas para as quais Pedro está
escrevendo. Isso se coaduna com sua ordem de que especialmente os que são mais jovens
devem “ser submissos aos que são mais velhos (presbíteros)” (v. 5).16
Embora Hebreus 13.17 não mencione presbíteros, certamente havia alguns oficiais
com autoridade para liderança na igreja, porque o autor diz: Obedecei aos vossos guias e sede
submissos para com eles..”. Desde que o Novo Testamento não dá nenhuma indicação de
quaisquer outros oficiais na igreja com esse tipo de autoridade, é razoável concluir que
a comunidade deve submeter-se e obedecer aos seus presbíteros. (Aliás, essa conclusão
também é coerente com a descrição das responsabilidades que Paulo dá aos efésios em
At 20.28).
Além da responsabilidade de liderança, parece que os presbíteros também tinham
responsabilidade de ensino nas igrejas do Novo Testamento. Em Efésios 4.11, os presbíteros
são mencionados com “pastores-mestres” (ou em uma tradução alternativa, pastores vistos
como muito próximos a mestres). E, em ITimóteo 3.2, um bispo (presbítero) “deve ser apto
para ensinar”. Ademais, em ITimóteo 5.17, Paulo diz: “Devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especia­
lidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. Aqui Paulo parece pressupor que haja
767
(47) A Doutrina da Igreja
um grupo especial de presbíteros que “se afadigam na palavra e no ensino”. Isso significa,
no mínimo, que alguns presbíteros dedicam mais tempo às atividades de pregação e de
ensino, e pode até significar que alguns “se afadigam” no sentido de ganhar a vida com
a pregação e o ensino. O mesmo se pode concluir de Tito, onde Paulo diz que um presbí­
tero deve ser “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder
tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt 1.9).17
Os presbíteros, então, tinham a responsabilidade de dirigir e ensinar nas igrejas do
Novo Testamento.
d. Q ualificações dos p resb íteros. Quando Paulo alista as qualificações dos
presbíteros, é importante o fato de ele juntar requisitos concernentes a traços do caráter
e atitudes íntimas com requisitos que não podem ser preenchidos em curto espaço de
tempo, senão em um período de muitos anos de vida cristã fiel:
“E necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher,
temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho,
não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe
bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se
alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não
seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do
diabo” (ITm 3.2-7).
Qualificações semelhantes, mas expressas em outras palavras, aparecem em Tito
1.6-9, onde Paulo diz que Tito deve designar presbíteros em cada cidade:
“... alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos
crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é
indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não
arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe
ganância; antes hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha
domínio de si, apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha
poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contra­
dizem” (Tt 1.6-9).
Aqueles que escolhem presbíteros nas igrejas de hoje fariam bem se analisassem os
candidatos à luz dessas qualificações e procurassem esses traços de caráter e padrões de
vida piedosa e não realizações terrenas, fama ou sucesso. Especialmente nas sociedades
industriais ocidentais, parece haver uma tendência de pensar que o sucesso no mundo
dos negócios (ou no direito, na medicina ou no govemo) é uma indicação de competência
ao ofício de presbítero, mas não é esse o ensino do Novo Testamento, que nos lembra de
que os presbíteros devem ser “exemplos para o rebanho” na vida; isso certamente inclui
a relação pessoal com Deus pela leitura da Bíblia, pela oração e pela adoração. Assim
como Paulo podia dizer: “Sede meus imitadores, como eu também sou de Cristo” (ICo 11.1;
cf. 2Tm 3.10-11) e assim como podia ordenar a Timóteo: "... torna-te padrão dos fiéis, na

768
(47) O Govemo da Igreja
palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (ITm 4.12) e também dizer a Tito:
“Toma-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino mostra integridade, reverência,
linguagem sadia e irrepreensível” (Tt 2.7), assim também deve ser o padrão na vida de
cada líder eclesiástico hoje. Não é opcional que a vida deles seja um exemplo para os
outros seguirem; trata-se de uma exigência.
e. Q ue significa “esposo de um a só m ulher”? A qualificação esposo de uma só
mulher” (ITm 3.2; Tt 1.6) tem sido entendida de diferentes formas. Alguns pensam que
exclui do ofício de presbítero aqueles que, tendo-se divorciado, casaram-se com outra
mulher, porque, neste caso, seriam marido de duas mulheres. Mas essa não parece ser
uma interpretação correta desses versículos. Uma interpretação melhor é que Paulo estava
proibindo um polígamo (alguém que tem mais de uma esposa ao mesmo tempo) de ser
presbítero. Há vários motivos para essa interpretação: (1) Todas as outras qualificações
alistadas por Paulo referem-se ao estado presente de um homem, não a toda sua vida
passada. Por exemplo, ITimóteo 3.1-7 não significa “aquele que nunca foi violento”, mas
“aquele que não / violento agora, mas gentil”. Não significa “aquele que nunca foi amante
do dinheiro”, mas “aquele que não / amante do dinheiro agora”. Não significa “aquele que
sempre foi irrepreensível”, mas aquele que aagora é irrepreensível”. Se estendêssemos essas
qualificações à vida pregressa das pessoas, excluiríamos quase todos que se tornaram
cristãos quando adultos, porque é duvidoso que qualquer não cristão preenchesse esse
requisitos.
(2) Caso quisesse, Paulo poderia ter dito “casado só uma vez”, mas não o fez.18 (3) Não
impedimos viúvos que se casaram de novo de serem presbíteros, mas deveríamos, se
entendêssemos a frase como “casado só uma vez”. As qualificações para presbíteros são
todas baseadas no caráter moral e espiritual, e nada há na Bíblia que dê a entender que
um viúvo que se casou de novo seja moral ou espiritualmente inferior.19 (4) A poligamia
era possível no primeiro século. Embora não fosse comum, ela era praticada, especial­
mente entre os judeus. O historiador judeu Josefo diz: “Porque é nosso costume antigo
ter diversas esposas ao mesmo tempo”.20 A legislação rabínica também regulamentava
costumes de herança e outros aspectos de poligamia.21
Portanto, é melhor entender que “esposo de uma só mulher” proíbe que polígamos
assumam o ofício de presbítero. Os versículos citados em nada relacionam divórcio e
novo casamento com qualificações para o ofício da igreja.
f. A ordenação pública de presbíteros. Em relação com a discussão acerca dos
presbíteros, Paulo diz: A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (ITm 5.22).
Embora o contexto não especifique um processo de seleção de presbíteros, todo o
contexto imediatamente anterior (ITm 5.17-21) trata de presbíteros; e a imposição de mãos
seria uma cerimônia para separar alguém para o ofício de presbítero (observe a imposição
de mãos para ordenar ou estabelecer pessoas em certos ofícios e tarefas em At 6.6; 13.3;
ITm 4.14). Portanto, a consagração de presbítero parece a possibilidade mais provável
para a ação que Paulo tem em mente. Nesse caso ele estaria dizendo: “A ninguém
consagre precipitadamente como presbítero”. Isso seria coerente com um processo por
onde os diáconos devem ser “primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irre­
preensíveis, exerçam o diaconato” (ITm 3.10). Embora ordenasse presbíteros logo após
769
(47) A Doutrina da Igreja
o estabelecimento de cada igreja (At 14.23), aqui Paulo adverte que tais indicações não
devem ser apressadas, para que não se cometam enganos. E, em todo o processo, a igreja
deve ser cuidadosa para não julgar como o mundo julga, porque “o homem vê o exterior,
porém o S e n h o r , o coração” (ISm 16.7; cf. 2Co 5.16). Essa necessidade de avaliação da
condição espiritual ficou também evidente quando os apóstolos encorajaram a igreja em
Jerusalém a escolher “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos
quais encarregaremos deste serviço” (At 6.3). Entre os escolhidos encontrava-se “Estêvão,
homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6.5).
Devemos observar também que a indicação de presbíteros nas primeiras igrejas de
Paulo era acompanhada por “oração e jejum”, talvez em ligação com o processo de
escolha dos presbíteros. (Observe o exemplo dejesus, que “retirou-se ao monte a fim de
orar, e passou a noite orando a Deus” antes de escolher seus doze discípulos [Lc 6.12-
13].)“
3. Diáconos. A palavra diácono é tradução da palavra grega diakonos, que é o termo
comum que se traduz por “servo”, quando usado em contextos não eclesiásticos.
Os diáconos são claramente mencionados em Filipenses 1.1: “... a todos os santos em
Cristojesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos”. Mas não há especificação
de sua função, só a indicação de que são diferentes dos bispos (presbíteros). Os diáconos
também são mencionados em ITimóteo 3.8-13 em uma passagem mais extensa:
“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma
só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância,
conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primei­
ramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato.
Da mesma sorte, quanto a mulheres [ou “esposas”; a palavra grega pode ter um
desses significado], é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, tem-
perantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher, e governe bem
seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam
para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristojesus” (ITm
3.8-13).
A função dos diáconos não é expressa aqui, mas as qualificações sugerem algumas
funções. Por exemplo, parecem ter tido alguma responsabilidade no cuidado com as
finanças da igreja, já que tinham de ser “não cobiçosos de sórdida ganância” (v. 8). Talvez
tivessem alguma função administrativa em outras atividades da igreja também, porque
deviam governar bem seus filhos e sua própria casa (v. 12). Podem ter também atendido
às necessidades físicas dos que eram da igreja ou da comunidade que necessitavam de
ajuda (veja abaixo a discussão sobre Atos 6). Além disso, se o versículo 11 fala de suas
esposas (e creio que fala), é provável que também estivessem envolvidos em algum tipo
de visitação de porta em porta e em aconselhamento, pois as esposas não devem ser
“maldizentes”. Não seria bom para os diáconos se suas esposas (que sem dúvida estariam
envolvidas na oração e no aconselhamento com os diáconos) espalhassem assuntos confi­
denciais na igreja. Mas isso são só sugestões de possíveis áreas de responsabilidade indica­
das nessa passagem.
770
(47) O Govemo da Igreja
O substantivo diácono não é usado em Atos 6.1-6, mas um verbo relacionado (gr.
diakoneõ, “servir”) aparece no versículo 2: “Não é razoável que nós abandonemos a
palavra de Deus para servir as mesas”. Aqui, os apóstolos que dirigiam a igreja de Jerusa­
lém acharam necessário delegar algumas responsabilidades administrativas a outros.
Nesse caso, as responsabilidades incluíam a distribuição de alimentos para viúvas em
necessidade. Parece apropriado pensar nesses sete homens como “diáconos”, embora o
nome diácono talvez não lhes tenha sido atribuído quando começaram seu trabalho,
porque suas tarefas harmonizam-se com as responsabilidades dos diáconos sugeridas em
ITimóteo 3.8-12.
Há outros textos pelos quais é difícil saber se o Novo Testamento está falando de um
diácono como oficial da igreja ou se está simplesmente usando a palavra para referir-se
a “servo em um sentido geral. Esta é a dificuldade em Romanos 16.1, onde Febe é
chamada uma “serva”, ou uma “diaconisa” ou um “diácono” (esse tipo de substantivo
grego tem a mesma forma no masculino e no feminino, de forma que é só uma questão
de qual palavra é mais apropriada na língua receptora) da igreja em Cencréia. Pelo fato
de uma das exigências de Paulo para os diáconos ser que eles fossem “marido de uma só
mulher” (ITm 3.12), a tradução “serva” parece preferível em Romanos 16.1 (diakonos tem
esse sentido em Rm 13.4; 15.8; e ICo 3.5).23 Em geral, os versículos sobre diáconos
mostram que eles tiveram o ofício de servir a igreja reconhecido sob várias formas. Atos
6.1-6 sugere que eles tinham alguma responsabilidade, mas estavam, não obstante, sob
a autoridade dos que dirigiam a igreja.
Importa observar que em nenhum outro lugar do Novo Testamento os diáconos têm
autoridade de liderança sobre a igreja, como têm os presbíteros, nem se exige dos
diáconos que sejam capazes de ensinar a Bíblia ou a sã doutrina.
4. Outros cargos? Em algumas igrejas hoje, há outros cargos, tais como tesoureiro,
moderador (alguém com responsabilidade de presidir as reuniões administrativas da
igreja), ou curador (em algumas formas de governo da igreja, alguém legalmente
responsável pelas propriedades da igreja). Além disso, igrejas com uma equipe de direção
com mais de um membro assalariado podem ter nessa equipe membros (tais como
ministro de música, diretor de educação, conselheiro de jovens, etc.) “publicamente
reconhecidos como detentores do direito e da responsabilidade de desempenhar certas
funções na igreja” e que assim se encaixam em nossa definição de oficial da igreja,
podendo até serem pagos para desempenhar tais funções em tempo integral, mas que
podem não ser presbíteros nem diáconos na igreja.
Não parece haver algum motivo para dizer que esses não devem ser ofícios na igreja
também, mesmo que todos possam ser provavelmente colocados na categoria de
presbítero ou diácono (a maioria dos mencionados acima podem ser diáconos com
responsabilidades específicas; o moderador pode também ser um presbítero que preside
as reuniões administrativas da igreja). Não obstante, se esses ou outros ofícios equivalentes
mostram-se proveitosos para o funcionamento da igreja, não parece haver razão para não
serem estabelecidos. Todavia, se são estabelecidos, é necessário verificar se não ofuscam
a importância dos ofícios especificamente mencionados na Bíblia. Se aqueles que têm
cargos não mencionados na Bíblia obtêm significativa influência e autoridade, torna-se
muito menos provável que os membros da igreja ou os próprios oficiais que ocupam esses
771
(47) A Doutrina da Igreja
cargos procurem na Bíblia e nela encontrem descrições detalhadas de como eles devem
agir ou de como devem ser escolhidos. Isso tenderia a diminuir a autoridade efetiva da
Bíblia no govemo da igreja na área de liderança eclesiástica.

B. C o m o dev em s e r e s c o lh id o s o s o fic ia is d a ig r e ja ?
Existem duas práticas principais no processo de seleção dos oficiais da igreja - a
escolha feita por uma autoridade superior e a que se faz pela congregação local. A Igreja
Católica Romana tem seus oficiais indicados por uma autoridade superior: o papa indica
cardeais e bispos, e os bispos indicam sacerdotes para as paróquias locais. Essa é uma
“hierarquia”, ou sistema de governo por sacerdócio,24 distinto dos leigos na igreja. Esse
sistema indica uma linha ininterrupta de descendência que começa com Cristo e os
apóstolos e alega que o sacerdócio atual é o representante de Cristo na igreja. Embora a
Igreja Anglicana (Igreja Episcopal, nos Estados Unidos) não se submeta ao domínio de
um papa nem tenha cardeais, ela possui algumas semelhanças com o sistema hierárquico
da Igreja Católica Romana, já que é dirigida por bispos e arcebispos, e os membros de
seu clero são considerados sacerdotes. Ela também alega estar na linha de sucessão direta
a partir dos apóstolos, e os sacerdotes e bispos são indicados por uma autoridade superior,
de fora da paróquia local.25
Diferentemente desse sistema de indicação por uma autoridade superior, na maioria
dos outros grupos protestantes os oficiais são escolhidos pela igreja local, ou por algum
grupo dentro da igreja local, mesmo que a forma da igreja possa variar de maneiras
significativas (veja abaixo). Já que essa é uma área em que não há um texto bíblico
absolutamente decisivo, devemos ser tolerantes diante de certa diversidade sobre o
assunto entre os evangélicos. Entretanto, há muitas razões que indicam ser mais
apropriado que os oficiais da igreja (tais como presbítero e diácono, incluindo certamente
o “pastor”) devam ser escolhidos, ou pelo menos confirmados e reconhecidos de alguma
forma, por toda a congregação:
(1) No Novo Testamento há diversas ocasiões em que os oficiais foram, aparen­
temente, escolhidos por toda a congregação. Em Atos 6.3 os apóstolos não escolhem, eles
mesmos, os sete primeiros diáconos (se os considerarmos diáconos), mas dizem a toda a
igreja: “... escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de
sabedoria, aos quais encarregaremos desse serviço”. A seleção inicial desses homens foi
feita por toda a congregação. Quando um substituto de Judas foi escolhido para ser
contado entre os apóstolos, toda a congregação de cento e vinte pessoas (veja At 1.15) fez a
escolha inicial de dois, dos quais o Senhor mesmo indicou qual ele designaria: “Então,
propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias” (At 1.23). No fim
do Concilio de Jerusalém toda a igreja tomou parte com os apóstolos e presbíteros na
escolha de representantes que transmitissem as decisões para outras igrejas, porque a
escolha e o envio foram feitos pelos apóstolos e presbíteros “com toda a igreja” (At 15.22;
cf. “chegados a pleno acordo”, v. 25). Além disso, quando algumas das igrejas mandaram
por meio de Paulo uma oferta para a igreja de Jerusalém , mandaram também um
representante para acompanhar Paulo, alguém que, segundo Paulo, “foi também eleito
pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça” (2Co 8.19).26

772
(47) O Governo da Igreja
Pode-se argumentar que Paulo e Bamabé “nomearam” presbíteros em cada igreja (At
14.23), e Paulo também disse a Tito que ele devia constituir presbíteros em cada cidade
(Tt 1.5). Isso não se parece mais com o sistema católico romano ou anglicano do que com
o sistema de escolha congregacional? Todavia, mesmo esses versículos não implicam
necessariamente que os apóstolos faziam sozinhos a escolha, mas podem certamente
incluir consulta congregacional e até aprovação, antes que uma nomeação ou ordenação
oficial fosse feita (como na nomeação em Atos 6.3-6). A palavra “designar” (nomear) pode
também significar “ordenar”.27
(2) Outra razão para a participação da congregação na seleção de oficiais da igreja é
que no Novo Testamento, geralmente, a autoridade final do governo parece basear-se não
em algum grupo fora da igreja ou dentro dela, mas na igreja como um todo. O passo final
da disciplina da igreja antes da excomunhão é “dizê-lo à igreja” (Mt 18.17). A excomunhão
ou o ato de excluir alguém da comunhão da igreja é feita quando toda a igreja está “reuni­
da” (ICo 5.4), sendo, portanto, feita por toda a congregação. Outra consideração que
sugere isso, mas não é conclusiva, é o fato de que as epístolas não são dirigidas aos
presbíteros ou a um grupo de líderes dentro das igrejas, mas são todas escritas para as
igrejas, e toda a igreja é encorajada a ler, e se espera que dê atenção a elas (Rm 1.7; ICo
1.2; 2Co 1.1; cf. 2Co 1.3; Cl 4.16; ITm 4.13). Isso significa que os apóstolos se relacionavam
diretamente com as congregações e não com as congregações por meio dos oficiais.
Há alguns motivos práticos que podem ser mencionados:
(3) Se a congregação seleciona os oficiais da igreja, há mais prestação de contas para
a congregação. Paulo assumiu algum nível de prestação de contas quando estipulou que
“duas ou três testemunhas” podiam apresentar uma acusação contra um presbítero (ITm
5.19). Essa prestação de contas dá-nos uma salvaguarda adicional contra as tentações de
pecar e contra o desejo excessivo de poder.28
(4) Historicamente as falsas doutrinas parecem com freqüência ser adotadas em
primeiro lugar pelos teólogos da igreja, depois pelos pastores, e por fim pelos leigos
informados, que diariamente lêem a Bíblia e caminham com o Senhor. Portanto, se a lide­
rança começa a desviar-se na doutrina ou na conduta, e não há eleição pela congregação,
então a igreja como um todo não tem meios práticos de controlar a situação e revertê-
la. Mas se os oficiais são eleitos pela igreja então se estabelece um sistema em que até a
autoridade na direção da igreja tem o dever de prestar contas à igreja como um todo.
(5) O governo funciona melhor quando tem a aprovação dos governados (cf. no
Antigo Testamento, em Êx 4.29-31; ISm 7.5-6; 10.24; 2Sm 2.4; lRs 1.39-40; observe o
engano de Roboão em lRs 12.1, 15).
Esses fatores combinam-se para indicar que embora a Bíblia não ordene explicita­
mente um sistema específico de escolha dos oficiais da igreja, parece muito sábio ter um
sistema no qual toda a igreja tenha um papel expressivo na seleção e no reconhecimento
dos oficiais da igreja - talvez através do voto da congregação ou por algum outro processo
pelo qual o reconhecimento congregacional seja exigido antes que os oficiais da igreja
possam assumir o cargo.29
Será que há algo mais a ser dito sobre o processo de escolha de oficiais? Algumas
outras restrições da congregação contra o abuso de autoridade podem ser estabelecidas
no próprio processo de seleção. Há espaço para uma ampla variedade de posturas aqui,

773
(47) A Doutrina da Igreja
mas providências tais como eleição para mandatos limitados, exigência de um ano de
licença obrigatória de tempos em tempos (exceto para membros do pastorado de tempo
integral que sejam presbíteros), exigência de confirmação periódica da eleição e provi­
dências no processo de nomeação por meio das quais as nomeações possam ser feitas
pelos membros da congregação (mesmo que a maioria das nomeações venha dos próprios
presbíteros), tudo isso forneceria outras medidas de prestação de contas para a con­
gregação sem prejuízo de qualquer aspecto essencial da autoridade na liderança da
congregação, uma vez que os presbíteros estejam eleitos.
Esses fatores também proporcionariam argumentos contra a autoperpetuação de um
grupo de presbíteros que não esteja sujeito a eleições ou a reconfirmação periódica pela
congregação; mas novamente deve ser dito que na Bíblia não se encontra nenhuma
diretriz especifica, e há espaço para uma variedade de posturas nessa questão.

C . F o r m a s d e g o v e r n o e c l e siá st ic o
Na discussão das formas de governo eclesiástico há uma sobreposição com as seções
anteriores sobre o método de escolha de oficiais, cuja seleção constitui um aspecto muito
importante da autoridade na igreja. Diferentes filosofias de govemo eclesiástico refletiram
em diferentes métodos de escolha dos oficiais da igreja, como explicado acima.
Isso fica evidente no fato de que as formas de governo da igreja podem ser divididas
em três grandes categorias, que podemos chamar de “episcopal”, “presbiteriana” e
“congregacional”. As formas episcopais têm um governo exercido por uma categoria
distinta de oficiais da igreja considerada um sacerdócio, e a autoridade final para a tomada
de decisões encontra-se fora da igreja local.30 O sistema da Igreja Episcopal é o principal
representante desse tipo de govemo entre os protestantes. As formas presbiterianas têm um
governo de presbíteros, alguns dos quais têm autoridade não só sobre suas congregações
locais, mas também, através do presbitério e da assembléia geral,31 sobre todas as igrejas
de uma região e, daí, na denominação como um todo. Todas as formas congregacionais de
govemo da igreja têm uma autoridade final baseada na congregação local, embora se
percam vários graus de independência através da filiação denominacional e a forma real
de govemo possa variar consideravelmente. Examinaremos cada uma dessas formas na
discussão que se segue.
1. Episcopal
No sistema episcopal, um arcebispo tem autoridade sobre muitos bispos. Estes, por
sua vez, têm autoridade sobre uma “diocese”, o que significa simplesmente igrejas sob a
jurisdição de um bispo. O oficial encarregado de uma paróquia local é um reitor (ou
algumas vezes um vigário que é um “assistente” ou alguém que substitui um reitor).
Arcebispos, bispos e reitores eclesiásticos são sacerdotes, já que todos foram em certa
ocasião ordenados para o sacerdócio episcopal (mas, na prática, o reitor eclesiástico é mais
freqüentemente chamado sacerdote).32

774
(47) O Govemo da Igreja
|Arcebispõ |Arcebis£^

[Rehorj [kdtorj | Reitor| [Rejtor| | Reitor| [keitor| |Reitorj [kdtorj | Reitor| [Reitor| [Reitorj [íldtorj

I Igreja I Hgrejal | Igreja 11 Igreja | [igreja] | Igreja | | Igreja | pgrejã] | Igreja | [ Igreja | [igrejãl | Igreja |

GOVERNO EPISCOPAL
Figura 47.1
O argumento em favor do sistema episcopal não é que este se encontre no Novo
Testamento, mas que é resultado natural do desenvolvimento da igreja iniciado no Novo
Testamento, não sendo por este proibido. E. A. Litton escreve: “Nenhuma ordem de
bispos diocesanos aparece no Novo Testamento”, mas imediatamente acrescenta:
“Os dados favorecem a suposição de que o episcopado originou-se da própria
igreja por um processo natural e foi sancionado por SãoJoão, o último sobrevivente
dos apóstolos. O presbitério, quando reunido para deliberações, naturalmente
elegia um presidente para manter a ordem; de início, temporariamente, mas com
o tempo com autoridade permanente [...] Assim, é provável que no início um
episcopado informal tenha surgido em cada igreja, à medida que os apóstolos
foram sendo retirados um por um [...] o ofício foi assumindo importância cada vez
maior e investido de maiores poderes”.33
Além disso, já que o ofício de bispo e a correspondente estrutura de govemo da Igreja
Episcopal são tanto históricos como benéficos, Litton argum enta que devem ser
preservados. Por fim, o benefício da sucessão apostólica é visto como forte argumento em
favor do sistema episcopal. Litton diz: “Os apóstolos são o primeiro elo da cadeia e não
há motivo para que uma sucessão referente ao chamado externo não deva prosseguir de
tempos em tempos, em que o corpo existente de ministros transmite a autoridade oficial
aos seus sucessores, e estes, mais tarde, por sua vez, aos seus”.34
Mas há argumentos contrários que podem ser apresentados nessa questão. (1) E
sugestivo o fato de que o ofício de “bispo” não é distinto no Novo Testamento, mas
simplesmente um sinônimo da palavra “presbítero”, como o próprio Litton admite.35 Não
há no Novo Testamento bispo no singular, mas bispos, sempre no plural. Isso não deve
ser visto como um fato meramente acidental, pois mesmo entre os apóstolos Jesus não
deixou um com autoridade sobre os outros, mas sim um grupo de doze que tinham igual
autoridade de governo (e aos quais outros foram depois acrescentados, tais como Paulo).
Embora alguns apóstolos como Pedro, Tiago e Paulo tivessem proeminência no grupo,
eles não detinham nenhum tipo de autoridade maior que os outros; Pedro chegou mesmo
a ser repreendido por Paulo em Antioquia (G1 2.1 l).3fi Isso pode bem refletir a sabedoria
de Cristo de precaver o abuso de poder que inevitavelmente acontece quando qualquer
ser humano tem excesso de poder sem o necessário controle ou supervisão por parte de
775
(47) A Doutrina da Igreja
outros. Assim como Jesus deixou uma pluralidade de apóstolos com a autoridade
(humana) definitiva na igreja primitiva, também os apóstolos sempre estabeleceram uma
pluralidade de presbíteros em cada igreja, nunca deixando só uma pessoa com a auto­
ridade de liderança.
(2) A teoria de que um grupo de bispos foi estabelecido para substituir um grupo de
apóstolos não é ensinada no Novo Testamento, nem há implicação de continuidade física
necessária ou de uma ordenação através da imposição de mãos por aqueles ordenados
em uma cadeia ininterrupta de sucessão desde os apóstolos. Por exemplo, em Atos 14.3,
não foram os apóstolos em Jerusalém que ordenaram Paulo e Barnabé, mas o povo da
igreja em Antioquia, que lhes impôs as mãos e os enviou. De fato há bem poucos sinais
de que os apóstolos tinham alguma preocupação com uma linha de sucessão. Timóteo
não foi ordenado por Paulo, mas também por um “concilio de presbíteros” (ITm 4.14),
ainda que Paulo pudesse estar também incluído (veja 2Tm 1.6). Mais importante ainda
é ver que a ordenação é, em última instância, do próprio Senhor (At 20.28; ICo 12.28;
Ef 4.11), e nada há na natureza da “ordenação” (quando vista simplesmente como
reconhecimento público de um ofício) que exija que ela seja feita somente por aqueles
previamente ordenados em sucessão física dos apóstolos. Se Deus chamou um presbítero,
ele deve ser reconhecido e nenhuma questão sobre sucessão física precisa ser levantada.
Ademais, se a igreja local está convencida de que deve eleger presbíteros (veja a discussão
acima), parece apropriado que a igreja que elegeu o presbítero - e não um bispo de fora
- seja o grupo que confere reconhecimento externo à eleição, dando posse à pessoa no
cargo ou ordenando o pastor.37
(3) Mesmo que possa ser argumentado que o desenvolvimento de um sistema episco­
pal com bispos únicos com autoridade sobre diversas igrejas foi algo benéfico na igreja
primitiva pode-se também argumentar que o que houve foi um desvio do padrão,
resultado de uma insatisfação humana com o sistema de eleição de presbíteros locais
estabelecido pelos apóstolos, que aparentemente havia funcionado muito bem de 30 a
100 A.D., em toda a igreja neotestamentária. Mas a avaliação que se fizer dos dados
históricos dependerá, é claro, da avaliação dos argumentos iniciais favoráveis e contrários
ao sistema episcopal.
2. Presbiteriano
Nesse sistema cada igreja local elege presbíteros para um conselho (P na figura 47.2
significa presbítero, e a linha pontilhada indica que toda a congregação elege os presbí­
teros). O pastor da igreja é um dos presbíteros no conselho, com a mesma autoridade dos
outros presbíteros. Esse conselho tem autoridade para dirigir a igreja local. Entretanto,
os membros do conselho (os presbíteros) são também membros de um presbitério que
tem autoridade sobre diversas igrejas locais em uma região. Esse presbitério consiste de
alguns ou de todos os presbíteros das igrejas locais sobre as quais ele tem autoridade. Além
disso, alguns dos membros do presbitério são membros da Assembléia Geral (ou Supremo
Concilio), que normalmente tem autoridade sobre todas as igrejas presbiterianas em uma
região ou país.38

776
(47) O Governo da Igreja

GOVERNO PRESBITERIANO
Figura 47.2
Os argumentos em favor do sistema presbiteriano são os seguintes: (1) aqueles que
têm sabedoria e dons para o presbitério devem ser chamados para usar sua sabedoria no
governo de mais de uma igreja local, e (2) uma liderança nacional (ou até mundial) da
igreja mostra a unidade do corpo de Cristo. Além disso, (3) tal sistema é capaz de evitar
muito mais efetivamente que uma congregação caia em erro doutrinário do que qualquer
associação voluntária de igrejas.39
O sistema presbiteriano esquematizado acima tem muitos partidários entre os cristãos
evangélicos de hoje, e certamente funciona bem em muitos casos. Entretanto, algumas
objeções podem ser apresentadas contra esse sistema: (1) em nenhuma passagem da
Bíblia os presbíteros possuem autoridade regularmente estabelecida que se estenda além
da igreja local. O padrão é, pelo contrário, que os presbíteros são ordenados nas igrejas
locais e sobre elas têm autoridade. Contra essa afirmação menciona-se freqüentemente
o Concilio dejerusalém em Atos 15, mas devemos observar que esse concilio aconteceu
em Jerusalém por causa da presença dos apóstolos. Aparentemente os presbíteros e os
apóstolos em Jerusalém, com representantes de Antioquia (At 15.3), buscaram juntos a
sabedoria de Deus sobre a questão em debate e parece ter havido alguma consulta a toda
a igreja também, porque lemos na conclusão da discussão: “Então pareceu bem aos
apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens entre eles, enviá-los,
juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia” (At 15.22). (Se essa narrativa apóia o
governo regional de presbíteros, ela dá base para um governo regional exercido por todas
as congregações!) Tal situação com os presbíteros dejerusalém não é um bom modelo
para defender um sistema em que os presbíteros têm autoridade sobre várias igrejas locais:
a igreja dejerusalém não convocou todos os presbíteros dajudéia, de Samaria e da
Galiléia e pediu um encontro do “presbitério judaico” ou uma “assembléia geral”. Embora
os apóstolos emjerusalém certamente tivessem autoridade sobre todas as igrejas, não há
indicação de que os presbitérios por si mesmos, mesmo na igreja dejerusalém, tivessem
tal autoridade. E certamente não há nenhum modelo no Novo Testamento de presbíteros
exercendo autoridade sobre diversas igrejas locais.40
(2) Esse sistema, na prática, resulta em muito litígio formal, em que disputas doutri­
nárias se travam ano após ano até chegarem ao nível da Assembléia Geral (Supremo
Concilio). Pergunta-se se essa deve ser a característica da igreja de Cristo - talvez sim, mas
777
(47) A Doutrina da Igreja
parece a este autor que esse sistema estimula tais litígios muito mais do que é necessário
ou edificante para o corpo de Cristo
(3) O poder efetivo de governo parece, na prática, ser levado para muito longe do
controle final dos leigos da igreja. Embora Berkhof, que defende esse sistema de govemo,
afirme muito claramente que “o poder da igreja reside fundamentalmente no corpo gover­
nante da igreja local”,41 ele também admite que “quanto mais geral a Assembléia mais
distante ela fica do povo”.42 Assim, o sistema é muito difícil de ser revertido quando
começa a funcionar de modo errado, já que os leigos, que não são presbíteros, não têm
voto no conselho, nem no presbitério, nem na assembléia geral, e a estrutura de govemo
da igreja está mais distante deles do que em outros sistemas.
(4) Embora em alguns casos seja verdade que uma denominação doutrinariamente
sã com um sistema presbiteriano pode evitar que uma igreja local se desvie da doutrina,
na realidade o contrário é o que acontece com relativa freqüência: a liderança nacional
de uma denominação presbiteriana adota uma falsa doutrina e exerce grande pressão
sobre as igrejas locais para se conformarem a ela.
(5) Ainda que o sistema presbiteriano represente de certa forma a unidade nacional
ou até mundial da igreja de Cristo, tal unidade pode ser mostrada de outras formas que
não através desse sistema de governo. As igrejas com formas de governo mais puramente
congregacionais têm associações voluntárias que manifestam essa unidade. De fato, essas
associações envolvem todos os membros das igrejas, não só os presbíteros ou o clero, como
no sistema presbiteriano. O encontro nacional de uma denominação batista, por exemplo,
em que grande número de ministros e leigos (não necessariamente presbíteros ou diáco­
nos, mas representantes de suas igrejas) se reúnem em comunhão, pode ser visto como
uma demonstração da unidade do corpo de Cristo melhor do que uma assembléia geral
presbiteriana, em que só os presbíteros estão presentes.
3. Congregacional
Um único presbítero (ou pastor). Podemos agora considerar cinco variações de
govemo congregacional para a igreja. A primeira, atualmente mais comum entre as igrejas
batistas nos Estados Unidos, é de “um único presbítero”. Nesse tipo de governo o pastor
é considerado o único presbítero na igreja, e há um grupo de diáconos que atuam sob sua
autoridade e lhe dão apoio (na figura 47.3, D significa diácono).
" i _________
I Pastor I
* DDDDDD
Corpo Diaconal
nn igreja

GOVERNO DE UM ÚNICO PRESBÍTERO (ÚNICO PASTOR)


Figura 47.3
778
(47) O Governo da Igreja
Nesse sistema a congregação elege o pastor e também os diáconos. A autoridade que
o pastor tem varia de igreja para igreja e geralmente vai aumentando à medida que o
pastor permanece na igreja. Geralmente entende-se que a autoridade do corpo de diáco­
nos é meramente consultiva. Na forma em que esse sistema geralmente funciona, princi­
palmente nas igrejas menores, muitas decisões devem ser tomadas pela congregação
como um todo.
Os argumentos em favor desse sistema são claramente apresentados na teologia
sistemática de A. H. Strong, obra amplamente usada em círculos batistas.43 Strong
apresenta os seguintes argumentos:
(1) O Novo Testamento não exige uma pluralidade de presbíteros; o modelo de plura­
lidade encontrada no Novo Testamento deve-se ao tamanho das igrejas naquele tempo.
Ele diz:
Em algumas igrejas do Novo Testamento parece ter havido uma pluralidade de
presbíteros. [...] Não há, entretanto, evidências de que o número de presbíteros
fosse uniforme ou de que a pluralidade que freqüentemente existia se devesse a
qualquer outra causa além do tamanho das igrejas das quais esse presbíteros
cuidavam. O exemplo do Novo Testamento, mesmo que permita a multiplicação
de pastores assistentes conforme a necessidade, não requer um presbitério de
vários membros em todos os casos.44
Nessa citação Strong mostra que considerava os pastores sempre contratados por uma
grande igreja como presbíteros também, de forma que esse sistema podia se expandir para
além de um único presbítero/pastor e incluir presbíteros/pastores. Mas a distinção crucial
é que a autoridade de governo do ofício de presbítero é detida só pelo pastor (ou pastores) pro­
fissional da igreja e não é compartilhada por nenhum de seus leigos. E devemos entender
que, na prática, a vasta maioria das igrejas que segue esse modelo hoje são igrejas
relativamente pequenas com um só pastor; portanto, na realidade isso geralmente se toma
uma forma de governo de presbítero único.45
(2) Strong acrescenta que “Tiago era o pastor ou o presidente da igreja emjerusalém”
e cita Atos 12.17, 20.18 e Gálatas 2.12 para mostrar que essa liderança de Tiago era um
padrão que podia então ser imitado por outras igrejas.
(3) Strong observa que algumas passagens têm “bispo” no singular mas “diácono” no
plural, indicando algo equivalente a essa forma de governo batista comum. Uma tradução
literal do texto grego mostra um artigo definido singular modificando “bispo” em dois
versículos: “O bispo, portanto, deve ser sem reprovação” (ITm 3.2, tradução literal) e “o
bispo deve ser sem mancha” (Tt 1.7, tradução literal), mas em contraste com isso lemos:
“... quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis...” (ITm 3.8).
(4) Por fim, o “anjo da igreja” de Apocalipse 2.1, 8, 12, 18; 3.1, 7, 14, segundo Strong,
“é mais bem interpretado como o pastor da igreja; e, se isso está correto, é claro que cada
igreja tinha, não muitos pastores, mas apenas um”.46
(5) Outro argumento, não de Strong, é encontrado na literatura recente sobre o
crescimento da igreja. O argumento é que as igrejas precisam de um pastor único, que
seja um líder forte, para crescer rapidamente.47

779
(47) A Doutrina da Igreja
Novamente deve ser dito que essa forma de governo de presbítero único tem
funcionado também com muito sucesso nas igrejas evangélicas. Entretanto pode haver
objeções aos argumentos apresentados por Strong e por outros.
(1) Parece incoerente argumentar que o Novo Testamento não tem uma prescrição
clara de que todas as igrejas devem ter uma pluralidade de presbíteros, uma vez que as
passagens sobre as suas qualificações em ITimóteo 3.1-7 e Tito 1.5-7 são usadas como
requisitos bíblicos para oficiais da igreja hoje. Como podem as igrejas dizer que as
qualificações para presbítero encontradas nesses versículos são ordenadas para nós hoje,
mas o sistema plural de presbítero que está no mesmo versículo não o é, mas foi exigido
só naquele tempo e naquela sociedade? Mesmo que se argumentasse que são mandamen­
tos escritos somente para situações particulares de Efeso e de Creta, muito do Novo
Testamento consiste de mandamentos apostólicos escritos para igrejas específicas sobre
como elas deviam se conduzir. Contudo, não dizemos por causa disso que estamos livres
para desobedecer a essas instruções em outras partes das epístolas. De fato, ITimóteo e
Tito nos dão muito material sobre a conduta da igreja local, material que todas as igrejas
fiéis procuram seguir. Além disso, parece bastante insensato ignorar um modelo claro do
Novo Testamento que vigorava para todas as igrejas para as quais temos evidências no
tempo que o Novo Testamento foi escrito. Se o Novo Testamento nos mostra que
nenhuma igreja tinha um presbítero único (“em cada igreja”, At 14.23; “em cada cidade”,
Tt 1.5; “chame os presbíteros da igreja”, Tg 5.14; “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre
vós”, IPe 5.1), não parece convincente dizer que igrejas menores tinham um só presbítero.
Mesmo quando Paulo acabava de fundar uma igreja, em sua primeira viagem missionária,
eram nomeados presbíteros “em cada cidade” (At 14.23). E cada cidade da ilha de Creta
devia ter presbíteros, não importa quão grande ou pequena fosse a igreja.
Além disso, há uma incoerência no argumento de Strong quando ele diz que as
grandes igrejas eram as que tinham mais de um presbítero, porque ele afirma que “o anjo
da igreja em Efeso” (Ap 2.1) era um pastor único, de acordo com o modelo batista comum.
Todavia a igreja de Éfeso naquele tempo era excepcionalmente grande: Paulo, ao fundar
aquela igreja, ficou três anos lá (At 20.31), tempo durante o qual “todos os habitantes da
Ásia ouviram a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos” (At 19.10). A população
de Éfeso naquele tempo era de mais de 250.000 pessoas.48
Podemos perguntar por que deveríamos seguir Strong e adotar como norma um
modelo de govemo eclesiástico que não se encontra em nenhum lugar do Novo Testamento
e rejeitar um modelo visto em todo lugar no Novo Testamento.
(2) Tiago pode bem ter agido como moderador ou presidente na igreja de Jerusalém,
porque todas as igrejas tinham algum tipo de líder assim designado para dirigir as
reuniões. Mas isso não implica que ele fosse o “pastor” da igreja emjerusalém no sentido
de “presbítero único”. De fato, Atos 15.2 mostra que havia presbíteros (plural) na igreja
de Jerusalém, e o próprio Tiago era contado provavelmente entre os apóstolos (veja G1
1.19) e não entre os presbíteros.
(3) Em ITimóteo 3.2 e Tito 1.7, o artigo definido no grego, que modifica “bispo”,
mostra simplesmente que Paulo está falando de qualificações gerais aplicadas a qualquer
exemplo.49 De fato, nos dois casos que Strong cita sabemos que havia presbíteros (plural)
nas igrejas envolvidas. ITimóteo 3.2 foi escrito para Timóteo em Éfeso, e Atos 20.17 nos
mostra que havia presbíteros na igreja de Éfeso. E mesmo em ITimóteo, Paulo escreve:
780
(47) O Governo da Igreja
“Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários ospresbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (ITm 5.17). Com
respeito a Tito 1.7 precisamos apenas ver o versículo 5, onde Paulo ordena explicitamente
que Tito constituísse “presbíteros em cada cidade”.
(4) Os anjos das sete igrejas da Ásia, em Apocalipse 2-3, são uma evidência incomum
e bastante fraca para o modelo de presbítero único. “Ao anjo da igreja em Éfeso” (Ap 2.1)
dificilmente significa que havia só um presbítero naquela igreja, já que sabemos que havia
“presbíterof nessa igreja, que, aliás, era muito grande (At 20.17). A palavra “anjo” usada
na saudação às sete igrejas em Apocalipse 2-3 pode designar simplesmente um mensa­
geiro especial para cada igreja, talvez até um mensageiro humano que levava para cada
igreja o quejoão escrevia,50 ou podia representar “o espírito predominante da igreja” em
vez da direção oficial da congregação,51 ou pode até ser uma mera referência a um anjo
que possui uma responsabilidade especial sobre uma congregação. Mesmo que repre­
sentasse um diretor presidente de algum tipo em cada congregação, não se indica que esse
“anjo” tinha alguma autoridade de liderança, ou quaisquer funções equivalentes ao pastor
único de hoje ou ao “presbítero” nas igrejas do Novo Testamento. Essa passagem não
oferece dados suficientes para desprezarmos os claros sinais de todo o Novo Testamento
que apontam uma pluralidade de presbíteros em cada igreja, até mesmo na igreja de
Efeso.
É interessante notar que todas as passagens citadas por Strong (At 15,Jerusalém; ITm
3.2, Éfeso; Tt 1.7, Creta; Ap 2-3, as sete igrejas, incluindo Éfeso) falam de situações nas
quais o próprio Novo Testamento aponta muito claramente uma pluralidade de presbíte­
ros na liderança das igrejas mencionadas.
(5) O argumento dos estudos de crescimento da igreja na realidade não provam que a
liderança de um único pastor seja necessária, pelo menos por três razões: (a) não devemos
rejeitar um modelo baseado na Bíblia e adotar outro só porque nos dizem que esse outro
parece funcionar na produção de grandes igrejas - nosso dever aqui, como em tudo na vida,
deve ser antes obedecer às Escrituras tanto quanto pudermos e esperar que Deus dê a devida
bênção como ele quiser, (b) Há muitas igrejas grandes dirigidas por mais de um presbítero
(tanto igrejas presbiterianas como independentes), de forma que o argumento das conside­
rações pragmáticas não é conclusivo, (c) C. Peter Wagner admite que líderes fortes podem
ser encontrados em várias formas de governo de igreja,52 e devemos concordar que um
sistema de pluralidade de presbíteros no qual todos têm igual autoridade não impede que
um deles (por exemplo, o pastor) funcione como um tipo de “primeiro entre iguais” e tenha
um papel de liderança mais expressivo entre esses presbíteros.
(6) Um problema prático comum com um sistema de “presbítero único” é o excesso
de concentração de poder em uma pessoa ou o excesso de exigências impostas a ela. Em
qualquer caso, as tentações são muito grandes e um grau menor de prestação de contas
muito provavelmente produz uma tentação maior. Como foi mencionado, o padrão no
Novo Testamento, até mesmo com os apóstolos, nunca foi de concentração de poder de
liderança nas mãos de um único indivíduo.
Aqui se deve notar que na realidade a idéia de governo por “um só presbítero” não
tem mais apoio do Novo Testamento que a idéia de “um só bispo” (episcopal). Ambas
parecem ser tentativas de justificar o que aconteceu na história da igreja, e não conclusões
surgidas de um estudo indutivo do próprio Novo Testamento.
781
(47) A Doutrina da Igreja
(7) Por último deve ser notado que na prática real o sistema de “presbítero único”
pode ser mudado e funcionar mais como um govemo de “pluralidade de presbíteros”, com
a diferença de que aqueles que servem como presbíteros são chamados “diáconos”. Isso
aconteceria se os diáconos dividissem a real autoridade de govemo com o pastor, e este
e os outros diáconos se considerassem obrigados a prestar contas ao corpo diaconal como
um todo. O sistema, então, começa a aparecer como na figura 47.4.

DDDD Pastor DD
Corpo Diaconal

Igreja
O PASTOR E OS DIÁCONOS PODEM GOVERN AR JUNTOS E ASSIM FUNCIONAR
COMO UM GOVERNO DE VÁRIOS PRESBÍTEROS
Figura 47.4
O problema com essa organização é que ela não aplica a terminologia bíblica às
funções que as pessoas estão exercendo, porque “diáconos no Novo Testamento nunca
tiveram autoridade de governo ou ensino na igreja. O resultado em tal situação é que o
povo da igreja (tanto diáconos como os outros membros) não conseguirá ler e aplicar as
passagens bíblicas acerca dos presbíteros aos que estão defato trabalhando como presbíteros.
Conseqüentemente essas passagens perdem a relevância direta que devem ter na igreja.
Nesse caso, no entanto, o problema pode ser resolvido mudando-se o nome “diácono”
para “presbítero” e considerando o pastor um presbítero igual aos outros.
b. Pluralidade de presbíteros na igreja local. Há algum tipo de governo ecle­
siástico que preserve o modelo neotestamentário de pluralidade de presbíteros e que evite
a expansão da autoridade destes para fora da igreja local? Embora não seja distintivo de
nenhuma denominação atual, um sistema assim existe em muitas congregações. Usando
as conclusões sobre esse ponto a partir dos dados do Novo Testamento, eu sugeriria a figu­
ra 47.5 como um possível modelo.

GOVERNO DE VÁRIOS PRESBÍTEROS NA IGREJA LOCAL


Figura 47.5
(47) O Governo da Igreja
Em tal sistema os presbíteros dirigem a igreja e têm autoridade para dirigi-la,
autoridade que lhes foi conferida pelo próprio Cristo, o cabeça da igreja, e pelo Espírito
Santo (At 20.28; Hb 13.17). Nesse sistema de governo, há sempre mais de um presbítero
- fato que distingue essa forma do sistema de “presbítero único” discutida acima. Em uma
congregação moderna, o “pastor” (ou “pastor titular”) seria um dos presbíteros nesse
sistema. Ele não tem autoridade sobre eles nem trabalha para eles como empregado. Tem
uma função um pouco diferente, da qual se ocupa em tempo integral na “pregação e
ensino” (ITm 5-17), e desse trabalho deriva parte ou toda a sua renda (ITm 5.18). Ele
também pode freqüentemente assumir uma função de liderança (por exemplo, de diretor)
entre os presbíteros, que combina com o seu papel de líder na congregação, mas tal
função de liderança entre os presbíteros não é necessária no sistema. Além disso, o pastor
tem, geralmente, considerável autoridade para tomar decisões e exercer liderança em
muitas áreas de responsabilidade delegadas a ele pelo presbitério. Tal sistema permite ao
pastor exercer uma forte liderança na igreja e ainda ter a mesma autoridade de governo
que os outros presbíteros.
A força desse sistema de governo vê-se no fato de que o pastor não tem autoridade
própria sobre a congregação; essa autoridade pertence coletivamente ao grupo inteiro de
presbíteros (que pode ser chamado de presbitério). Além disso, o próprio pastor, como
qualquer presbítero, está sujeito à autoridade do presbitério como um todo. Isso pode ser
de grande beneficio para evitar que o pastor cometa erros e para prestar apoio na adver­
sidade, protegendo-o ainda de ataques e de oposição.53
Devem-se impor limitações à autoridade dos presbíteros em tal sistema? Na seção
anterior, que trata das formas de escolha dos oficiais da igreja, diversos motivos foram
apresentados para que se tenha um “mecanismo” que imponha restrições aos oficiais de
uma igreja.54 Aqueles argumentos também são úteis aqui para indicar que, embora os
presbíteros tenham uma autoridade substancial sobre a igreja, essa autoridade não pode
ser ilimitada. Exemplos de tais limitações podem ser sugeridas: (1) eles podem ser eleitos
e não vitalícios; (2) eles podem ter mandatos específicos com um ano obrigatório de
licença do presbitério (exceto para pastores, cujas responsabilidades de liderança exigem
continua atuação como presbíteros); (3) pode-se exigir que algumas questões muito
importantes sejam levadas ao conjunto da igreja, para aprovação. Quanto a esse terceiro
ponto, a aprovação congregacional é uma exigência bíblica para a aplicação de disciplina
por parte da igreja, em Mateus 18.17, e para a excomunhão em ICoríntios 5.4. O princípio
da eleição congregacional dos presbíteros implicaria que a decisão de contratar qualquer
pastor também teria de ser aprovada pelo conjunto da congregação. Novas e importantes
diretrizes no ministério da igreja que requeiram apoio congregacional em larga escala
podem ser levadas à igreja para serem aprovadas. Por fim, parece que seria sábio pedir
aprovação congregacional para decisões financeiras de grande porte, tais como o
orçamento anual, a decisão de comprar uma propriedade, ou a decisão de emprestar
dinheiro para a igreja (se é que isto alguma vez foi feito), simplesmente porque se pedirá
a toda a igreja que oferte generosamente para que esses compromissos possam ser
saldados.55
De fato, os motivos para impor limites à autoridade dos oficiais da igreja podem
parecer tão fortes que nos levem a pensar que todas as decisões e toda a autoridade devem
partir da congregação. (Algumas igrejas têm adotado um sistema de democracia quase
783
(47) A Doutrina da Igreja
pura, na qual tudo deve ser aprovado pela congregação.) Entretanto, essa conclusão
despreza a riqueza de dados do Novo Testamento acerca da clara autoridade de govemo
e liderança dada aos presbíteros nas igrejas neotestamentárias. Portanto, mesmo que seja
importante ter algumas restrições reconhecidas sobre a autoridade dos presbíteros e deixar
a autoridade última com a congregação, ainda é necessário, se quisermos nos manter fiéis
ao modelo do Novo Testamento, ter um alto nível de autoridade conferido aos próprios
presbíteros.56
Eu rotulo esse sistema de “pluralidade local de presbíteros” para distingui-lo de um
sistema presbiteriano em que os presbíteros, reunidos em nível de presbitério ou de
assembléia geral, têm autoridade sobre mais do que suas congregações locais. Mas em
tal sistema de presbíteros locais eleitos, pode haver alguma associação mais ampla com
igrejas além da congregação local? Sim, sem dúvida. Mesmo que igrejas partidárias desse
sistema possam querer continuar inteiramente independentes, a maioria desejará entrar
em associações voluntárias com outras igrejas de convicções semelhantes, para facilitar
a comunhão e somar recursos para a atividade missionária (e talvez para outras coisas,
tais como acampamentos, publicações, educação teológica, etc.). Entretanto, a única
autoridade que associações maiores teriam sobre a congregação local seria a autoridade
de excluir uma igreja específica da associação, não a autoridade de interferir em seus
problemas particulares.
c. Junta. As três formas restantes de govemo eclesiástico congregacional não são
comumente usadas, mas são às vezes encontradas em igrejas evangélicas. A primeira é
modelada a partir do exemplo de uma empresa moderna, em que a diretoria contrata um
executivo que tem então autoridade de dirigir os negócios conforme achar melhor. Essa
forma de govemo também pode ser chamada de estrutura “você trabalha para nós”. Ei-
la representada na figura 47.6.

►| Junta |
--
Pas;tor |

Igreja

MODELO DE GOVERNO ECLESIÁSTICO EXERCIDO POR UMAJUNTA


Figura 47.6
Em favor dessa estrutura pode ser argumentado que esse sistema de fato funciona
bem nos negócios de hoje. Todavia, não há precedente de tal forma de governo ecle­
siástico no Novo Testamento nem apoio para ela. Trata-se apenas do resultado da tentativa
de dirigir a igreja como uma empresa da atualidade, em que se vê o pastor não como um
líder espiritual, mas apenas como um funcionário pago.
784
(47) O Governo da Igreja
Outras objeções a essa estrutura são o fato de que ela impede que o pastor compartilhe
a autoridade da direção que lhe cabe, já que ele deve levar a efeito com eficácia suas
responsabilidades de liderança. Além disso, os membros de uma junta também são
membros da igreja sobre a qual espera-se que o pastor tenha alguma autoridade, a qual,
porém estará seriamente comprometida se os líderes da igreja são, na verdade, os chefes
do pastor.
d. Democracia absoluta. Essa posição, que leva o governo eclesiástico congre­
gacional às últimas conseqüências, pode ser representada pela figura 47.7.
Em tal sistema tudo precisa ser levado às reuniões da congregação. O resultado é que
as decisões são discutidas com freqüência de maneira interminável, e, à medida que a
igreja cresce, tomar decisões torna-se quase impossível. Embora tal estrutura sem dúvida
faça justiça a alguns textos já citados com respeito à necessidade de a autoridade
governante final estar na congregação como um todo, ela não é fiel ao modelo neotes-
tamentário de líderes reconhecidos e designados detentores de verdadeira autoridade
para dirigir a igreja na maioria das vezes.

Igreja

GOVERNO DEMOCRÁTICO ABSOLUTO


Figura 47.7
e. “Sem governo, mas dirigida pelo Espírito Santo”. Algumas igrejas, parti­
cularmente igrejas muito recentes, com tendências místicas ou extremamente pietistas,
funcionam com um governo eclesiástico semelhante à figura. 47.8

SEM GOVERNO, MAS DIRIGIDA PELO ESPÍRITO SANTO


Figura 47.8
Nesse caso, a igreja nega a necessidade de qualquer forma de governo; o governo
depende inteiramente dos membros da igreja, sensíveis à direção do Espírito Santo na
vida; as decisões são geralmente tomadas por consenso. Essa forma de governo nunca
dura muito tempo. Não só deixa de ser fiel ao modelo neotestamentário de presbíteros
designados com a autoridade de governo na igreja, mas também é sujeita ao mau uso, pois
sentimentos subjetivos acabarão prevalecendo no processo de tomar decisões em vez de
predominarem a sabedoria e a razão.
785
(47) A Doutrina da Igreja
4. Conclusões. Precisa ficar bem claro, na conclusão dessa discussão do governo
eclesiástico, que a forma de govemo adotada por uma igreja não é uma questão fundamental
de doutrina. Os cristãos têm vivido muito bem e ministrado com muita eficácia dentro dos
mais diversos tipos de sistema de govemo, e em cada um desses sistemas mencionados há
muitos que são evangélicos de fato. Além disso, alguns tipos diferentes de sistemas de
govemo eclesiástico parecem funcionar muito bem. Onde existam fraquezas aparentemente
inerentes à estrutura governante, os indivíduos ali geralmente reconhecem tais fraquezas
e procuram compensá-las de todas as formas permitidas pelo sistema.
Todavia, uma igreja pode ser mais pura ou menos pura nesse questão, como também
em outras áreas. A medida que somos convencidos pelas Escrituras com respeito a vários
aspectos de governo eclesiástico, devemos prosseguir orando e trabalhando por uma
pureza maior da igreja visível também nessa questão.

D . D evem a s m u lh er es ser m in is t r a s d a ig r e ja ?
A maioria das teologias sistemáticas não inclui uma seção sobre poderem ou não as
mulheres ser ministras da igreja, porque em toda a história da igreja o pressuposto é que,
com bem poucas exceções, apenas os homens podem ser pastores ou atuar como
presbíteros de uma igreja.57 Nos últimos anos, porém, surgiu uma grande polêmica no
mundo evangélico: podem as mulheres, assim como os homens, ser pastoras? Podem elas
participar de todos os cargos da igreja? Abordei essa questão mais extensamente em outra
obra,58 mas um breve resumo do assunto pode ser apresentado aqui.
Precisamos afirmar de início que a narrativa da criação de Gênesis 1.27 vê homens e
mulheres igualmente criados à imagem de Deus. Portanto, homens e mulheres têm valor igual
para Deus, e devem ser vistos como de valor absolutamente igual para nós e para a igreja
enquanto pessoas. Além disso, a Bíblia garante a homens e mulheres igual acesso a todas
as bênçãos da salvação (veja At 2.17-18; G1 3.28).59 Isso é notavelmente afirmado no
elevado respeito e dignidade quejesus dispensou às mulheres em seu ministério terreno.60
Precisamos também admitir que as igrejas evangélicas muitas vezes têm falhado em
reconhecer a plena igualdade entre homens e mulheres, e assim têm falhado em
considerar as mulheres iguais em valor aos homens. O resultado foi uma trágica falta de
reconhecimento de que Deus freqüentemente concede às mulheres dons iguais ou
maiores do que os dos homens, falta de incentivo para que as mulheres tenham plena e
livre participação nos diversos ministérios da igreja e falta de reconhecimento pleno da
sabedoria que Deus concedeu às mulheres com respeito às decisões importantes da vida
da igreja. Se a polêmica atual sobre o papel da mulher na igreja puder resultar na
erradicação de alguns desses abusos do passado, a igreja será então grandemente
beneficiada.
Todavia, permanece a questão: devem as mulheres ser pastoras ou presbíteras de uma
igreja? (Ou ainda, devem elas desempenhar o papel de um presbítero numa igreja que
adota uma forma de govemo alternativa?) Minha própria conclusão sobre essa questão
é que a Bíblia não permite que as mulheres atuem na função de pastor ou de presbítero
de uma igreja. Essa é também a conclusão da grande maioria das igrejas em diversas
sociedades através da história. As razões que me parecem ser mais convincentes na
resposta a essa questão são as seguintes:
786
(47) O Governo da Igreja
1. ITimóteo 2.11-14. O único texto bíblico que aborda a questão mais diretamente
é ITimóteo 2.11-14:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine, nem exerça autoridade de homem (sobre o homem - nviJ; esteja, porém, em
silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido,
mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.
Paulo fala aqui sobre a igreja reunida (veja os v. 8-9). Em tal cenário, ele afirma: E não
permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem” (v. 12). Essas eram
as funções dos presbíteros da igreja e especialmente dos que conhecemos como pastores
na igreja atual.61 São especificamente essas funções singulares de um presbítero que Paulo
proíbe que as mulheres exerçam na igreja.62
Diversas objeções têm sido levantadas contra essa posição:63
a) Tem se afirmado que esse texto aplica-se somente a uma situação específica
abordada por Paulo, provavelmente referindo-se a mulheres que estavam ensinando
doutrina herética na igreja de Éfeso. Mas tal objeção não convence, já que o texto de
ITimóteo não afirma claramente que as mulheres estavam de fato ensinando doutrinas
falsas. (ITimóteo 5.13 cita mulheres fofoqueiras, mas não menciona doutrina falsa.) Além
do mais, Paulo não ordena simplesmente que certas mulheres que estão ensinando
doutrina falsa estejam em silêncio, mas diz: E não permito que a mulher ensine, nem
exerça autoridade sobre o homem”. E finalmente, a razÃo que Paulo dá para tal proibição
não é a proposta na referida objeção, mas uma razão muito diferente: a situação de Adão
e Eva antes da queda e antes que houvesse pecado no mundo (veja o v. 13), e o modo
como ocorreu uma inversão de papéis masculinos e femininos na ocasião da queda (veja
o v. 14). Essas razões não estão limitadas a uma situação da igreja de Éfeso, mas aplicam-
se de modo geral à masculinidade e à feminilidade.
b) Outra objeção levantada afirma que Paulo fez tal proibição porque as mulheres não
tinham boa formação educacional no primeiro século e, portanto, não estavam qualifi­
cadas para exercer papéis de ensino e de governo na igreja. Todavia, Paulo não apresenta
a falta de instrução como razão para dizer que as mulheres não podem “ensinar nem [...]
exercer autoridade sobre o homem”; antes, aponta para a criação (v. 13-14). É precário
o argumento baseado em uma razão que Paulo não apresentou em vez de baseá-lo na
razão que ele de fato apresentou.
c) Além do mais, tal objeção entende mal os fatos reais da igreja e do mundo antigo.
A educação formal não era exigida da liderança da igreja do Novo Testamento nas
Escrituras, pois vários apóstolos não tiveram instrução bíblica formal (veja At 4.13). Por
outro lado, a capacidade básica de ler e de estudar as Escrituras podia ser adquirida tanto
por homens como por mulheres (observe At 18.26; Rm 16.1; ITm 2.11; Tt 2.3-4). Havia
muitas mulheres bem instruídas no mundo antigo, particularmente num centro cultural
como Éfeso.64
Finalmente, os que assim argumentam são às vezes incoerentes pelo fato de mostra­
rem em outros textos que as mulheres tinham uma posição de liderança na igreja antiga,
como no caso de Priscila. Isso é especialmente relevante para ITimóteo 2, porque Paulo
estava escrevendo para Éfeso (ITm 1.3), que era a igreja de Priscila e de Aqüila (veja At
787
(47) A Doutrina da Igreja
18.18-19, 21). Foi exatamente na igreja de Éfeso que Priscila aprendeu sobre a Bíblia o
suficiente para ajudar a instruir Apoio no ano 51 A.D. (At 18.26). Depois, ela prova­
velmente estudou com o próprio Paulo por mais três anos enquanto ele permaneceu em
Éfeso ensinando “todo o desígnio de Deus” (At 20.27; cf. v. 31; também ICo 16.19). Sem
dúvida, muitas outras mulheres de Éfeso seguiram seu exemplo e também aprenderam
com Paulo. Embora eles tenham ido para Roma mais tarde, encontramos Aqüila e Priscila
de novo em Éfeso, no final da vida de Paulo (2Tm 4.19), por volta de 67 A.D.. Portanto,
é provável que estavam em Éfeso no ano 65, por volta da ocasião em que Paulo escreveu
ITimóteo (cerca de catorze anos depois de Priscila ter ajudado a instruir Apoio). No entanto,
Paulo não permitiu nem que a culta Priscila ou qualquer outra mulher bem instruída de
Éfeso ensinasse os homens na assembléia pública da igreja. A razão não era falta de
instrução, mas sim a ordem da criação que Deus estabeleceu entre homens e mulheres.
2. ICoríntios 14.33b-36. De modo semelhante, Paulo afirma:
Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas,
porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o
determina. Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu
próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja. Porventura,
a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós
outros? (ICo 14.33b-36)
Nesse trecho Paulo não pode estar proibindo todo discurso público das mulheres na
igreja, pois ele claramente lhes permite que orem e profetizem na igreja em ICoríntios
11.5. Portanto, é melhor entender esse texto como uma referência à avaliação e julga­
mento orais das profecias na congregação (veja o v. 29: “Tratando-se de profetas, falem
apenas dois ou três, e os outros julguem”). Ainda que Paulo permita às mulheres falar e
profetizar nas reuniões da igreja, não lhes permite falar, avaliando ou criticando as
profecias dadas à igreja, pois isso seria uma função de autoridade com respeito a toda a
igreja.65 Essa interpretação do texto depende de nossa posição sobre o dom de profecia
na época do Novo Testamento, isto é, que a profecia não envolve ensino bíblico com
autoridade, nem palavras de Deus equivalentes às das Escrituras, mas sim o relatar de algo
que Deus traz de modo espontâneo à mente.66 Desse modo, os ensinos de Paulo são muito
coerentes em ICoríntios 14 e em ITimóteo 2: em ambos os casos ele está preocupado em
preservar a liderança masculina no ensino e no governo da igreja.67
3. ITimóteo 3.1-7 e Tito 1.5-9. Tanto ITimóteo 3.1-7 como Tito 1.5-9 pressupõem
que os presbíteros são homens. Um presbítero (ou bispo) deve ser “esposo de uma só
mulher” (ITm 3.2; também em Tt 1.6), e dele se exige que “governe bem a própria casa,
criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito” (ITm 3.4).
Alguns podem fazer a objeção de que tais orientações foram dadas apenas para a
situação cultural do mundo antigo, quando as mulheres não tinham boa instrução, mas
a mesma resposta dada acima com respeito a ITimóteo 2 se aplicaria também nesse caso.

788
(47) O Governo da Igreja
4. A relação entre família e igreja. O Novo Testamento faz freqüentes relações
entre a vida da família e a vida da igreja. Paulo diz: "... se alguém não sabe governar a
própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (ITm 3.5). Ele diz a Timóteo: “Não
repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às
mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (ITm 5.1-2).
Diversas outras passagens poderiam ser citadas, mas o relacionamento próximo entre a
família e a igreja deve ficar claro.
Por causa dessa relação, é inevitável que os modelos de liderança na família reflitam
os modelos de liderança na igreja, e vice-versa. E muito apropriado que, à medida que
homens piedosos cumprem suas responsabilidades de liderança na família, devem
também cumprir responsabilidades de liderança na igreja. De modo inverso, se modelos
de liderança femininos forem estabelecidos na igreja, trarão inevitavelmente pressão na
direção de uma liderança feminina maior e da abdicação da liderança masculina na
família.68
5. O exemplo dos apóstolos. Embora os apóstolos não sejam equivalentes aos
presbíteros nas igrejas locais, ainda assim é importante reconhecer quejesus estabeleceu
um modelo de liderança masculina na igreja quando designou doze homens como
apóstolos. Simplesmente não é verdade que as mulheres têm igual acesso a todos os ofícios
na igreja, pois Jesus, o cabeça da igreja, é um homem. E os doze apóstolos que se assen­
tarão nos dozes tronos para julgar as doze tribos de Israel (veja Mt 19.28), cujos nomes
estão escritos nos fundamentos da cidade celestial (Ap 21.14), são todos homens. Portanto,
não haverá padronização eterna de papéis iguais para homens e mulheres em todos os níveis de
autoridade na igreja. Ao contrário, há um modelo de liderança masculina nos supremos
papéis de autoridade na igreja, modelo que será evidente para todos os cristãos por toda
a eternidade.
Uma objeção levantada contra esse argumento é a alegação de que a cultura daquela
época não permitiria quejesus escolhesse seis homens e seis mulheres, ou ainda seis casais,
como apóstolos, e que essa foi a razão por que ele assim não procedeu. Todavia, tal
objeção impugna a integridade e a coragem dejesus. Ele não temia desobedecer a normas
sociais quando um princípio moral estava em vista: ele criticou os fariseus publicamente,
curou no sábado, purificou o templo, falou com uma mulher samaritana, comeu com
publicanos e pecadores e comeu sem lavar as mãos.69 Se tivesse desejado estabelecer um
princípio de igual acesso para homens e mulheres à liderança da igreja, Jesus certamente
o teria feito, apesar da oposição cultural, se esse fosse o modelo que ele desejava estabe­
lecer em sua igreja. Mas ele não o fez.70
Outra objeção a tal argumento afirma que, se isso é verdade, apenas judeus podem
ser líderes de nossas igrejas, visto que todos os doze apóstolos também eram judeus. Mas
tal objeção não é convincente por deixar de reconhecer que a igreja era inteiramente
judaica no início. Isso aconteceu porque o plano de Deus era trazer salvação através dos
judeus, o que levou a doze apóstolos judeus. No entanto, nas páginas do Novo Testamento,
vemos que a igreja logo expandiu-se e incluiu os gentios (Mt 28.19; Ef 2.16), e os gentios
logo tornaram-se presbíteros e líderes na igreja neotestamentária. Um gentio (Lucas)
escreveu dois livros do Novo Testamento (Lucas e Atos), e diversos gentios como Tito e
Epafrodito foram auxiliares e cooperadores da obra apostólica de Paulo. De fato, Deus
789
(47) A Doutrina da Igreja
havia revelado progressivamente desde a época de Abraão (Gn 12.3; 17.5) que fazia parte
de seu plano incluir finalmente gentios sem conta entre os que constituem seu povo.
Portanto, ser judeu não era a mesma coisa que ser homem com respeito aos apóstolos.
A igreja começou inteiramente judaica, mas logo tornou-se judaica e gentílica também.
Mas a igreja não começou inteiramente masculina e somente mais tarde veio a incluir
mulheres. Os seguidores de Cristo eram homens e mulheres desde o princípio, e tanto homens
como mulheres estavam presentes no início da igreja no Pentecostes. Por isso, essa objeção
também não convence.
6. A história da liderança e ensino masculinos por toda a Bíblia. As vezes os
que se opõem a essa posição aqui apresentada afirmam que tudo está baseado apenas em
um único texto, ITimóteo 2. Diversos argumentos relacionados mostram que não é esse
o caso, mas há outro argumento que pode ser elaborado: por toda a história da Bíblia,
de Gênesis a Apocalipse, há um modelo coerente de liderança masculina no povo de
Deus. Embora apareçam exemplos eventuais de mulheres em posição de liderança no
governo, como rainhas (Atalia reinou como única monarca em 2Reis 11.1-20, mas dificil­
mente seria um exemplo a ser imitado) e juízas (veja o caso de Débora em Juizes 4-5), e
ainda que haja eventualmente profetisas como Débora e Hulda (vejajuízes 4-5 e 2Reis
22.14-20), devemos observar que são raras exceções em circunstâncias incomuns. Elas
aconteceram em meio a um modelo geral de liderança masculina no ensino e no govemo
e, como tais, dificilmente servem de padrão para o ofício da igreja do Novo Testamento.71
Além disso, não há um só exemplo em toda a Bíblia de uma mulher realizando o tipo de ensino
bíblico congregacional que se espera de pastores/presbíteros na igreja do Novo Testamento. No Antigo
Testamento eram os sacerdotes os responsáveis por ensinar o povo, e o sacerdócio era ex­
clusivamente masculino; além disso, até as profetisas Débora e Hulda profetizavam ape­
nas de maneira privada, e não publicamente para um grupo de pessoas.72
7. A história da igreja. Como mencionamos acima, o padrão geral de toda a história
da igreja é que o ofício de pastor/presbítero (ou seu equivalente) tem sido reservado aos
homens. Embora isso não prove conclusivamente que tal posição é correta, deve ser uma
razão para séria reflexão sobre o assunto antes de declararmos apressadamente que a
igreja inteira através da história estava errada sobre a questão.73
8. Objeções. Numerosas objeções têm sido levantadas contra a posição aqui esbo­
çada, das quais algumas poucas podem ser tratadas a essa altura.74 Argumenta-se que o
ministério deve ser determinado pelos dons e não pelo gênero. Em resposta, precisa ser dito que
os dons espirituais têm de ser usados dentro das orientações dadas nas Escrituras. O
Espírito Santo que concede dons espirituais é o mesmo Espírito Santo que inspirou a
Bíblia e não quer que utilizemos os dons em desobediência às suas palavras.
Outra objeção afirma que se Deus de fato chamou uma mulher ao pastorado, ela não deve
ser impedida de assumi-lo. A resposta a tal objeção é semelhante àquela que acabamos de
dar: uma alegação individual de ter recebido um chamado de Deus sempre precisa ser
provada pelas palavras de Deus nas Escrituras. Se a Bíblia ensina que Deus quer que
apenas os homens tenham a responsabilidade principal do governo e do ensino, relativa
ao pastorado, a implicação é que a Bíblia também ensina que Deus não chama mulheres
790
(47) O Govemo da Igreja
para serem pastoras. No entanto, devemos acrescentar que muitas vezes o que uma mulher
discerne como chamado divino para o pastorado pode ser de fato um chamado para um
ministério cristão de tempo integral e não para tornar-se pastora/presbítera de uma igreja.
Na verdade, existem muitas oportunidades para um ministério de tempo integral na igreja
local e outros lugares, além do de pastor-mestre/presbítero - por exemplo, um cargo na
equipe ministerial da igreja na área de aconselhamento, no ministério com mulheres, na
educação cristã, no trabalho com crianças, bem como na área de música e adoração,
ministério com universitários, evangelização, ajuda aos necessitados e responsabilidades
administrativas que não envolvem atuar no papel de govemo sobre toda a igreja, que
pertence ao presbítero.75 A lista de ministérios pode ainda ser ampliada, pois não devemos
impor restrições se a Bíblia não as impõe, mas antes permitir e incentivar a plena e livre
participação das mulheres bem como dos homens em todas essas outras áreas ministeriais.
Mais uma objeção feita é que a ênfase do Novo Testamento é colocada sobre a liderança
que serve; por isso, não deveríamos nos preocupar tanto com a autoridade, pois essa é uma
preocupação mais pagã do que cristã. O próprio Jesus é o modelo do líder-servo, embora
tenha autoridade —e grande autoridade! Ele é o Senhor das nossas vidas e da igreja. Por
analogia, os presbíteros devem seguir seu exemplo de líder-servo (veja IPe 5.1-5); porém,
isso não significa que devam deixar de governar com autoridade, quando a Bíblia der a eles
tal responsabilidade (veja ITm 5.17; Hb 13.17; IPe 5.5. Veja também a discussão sobre a
autoridade dos presbíteros nas p. 767-769).
Alguns argumentam que, assim como a igreja finalmente reconheceu que a escravidão
era errada, também a igreja de hoje deve reconhecer que a liderança masculina está errado,
sendo uma tradição cultural ultrapassada que deve ser descartada. Essa objeção, porém, deixa
de reconhecer a diferença entre a instituição cultural temporária da escravidão, que Deus
certamente não estabeleceu na criação, e a existência de uma diferença de papéis entre
homens e mulheres no casamento (e, por implicação, na relações no contexto da igreja), que
Deus estabeleceu na criação. As sementes para a destruição da escravidão foram lançadas
no Novo Testamento (veja Fm 16; Ef 6.9; Cl 4.1; ITm 6.1-2), mas nenhuma semente foi
lançada para destruir o casamento e as diferenças entre homem e mulher, conforme foram
criados. Além do mais, a objeção pode ser invertida: é provável que os cristãos que
defenderam a escravidão no século XIX sejam um paralelo mais próximo das feministas
evangélicas que hoje usam argumentos tirados da Bíblia para justificar uma conformidade
às pressões extremamente fortes da sociedade contemporânea (naquela época, em favor da
escravidão e hoje, em favor do pastorado feminino).
As vezes argumenta-se que Priscila e Aqüila juntos falaram a Apoio, expondo-lhe “com
mais exatidão o caminho de Deus” (At 18.26). Isso é verdade, e é uma prova útil que mostra
que a discussão informal das Escrituras feita juntamente por homens e mulheres é aprovada
pelo Novo Testamento; e nisso homens e mulheres tinham papel significativo na ajuda mútua
na compreensão das Escrituras. Uma vez mais, um exemplo como esse acautela-nos de
proibir o que não é proibido pela Bíblia, mas não derruba o princípio de que o papel
publicamente reconhecido de governar e ensinar na igreja restringe-se aos homens. Priscila
não estava fazendo nada contrário a essa restrição.
As vezes faz-se a objeção de que é incoerente permitir que mulheres votem nas igrejas
que possuem governo congregacional, mas não permitir que sirvam como presbíteras.
Todavia, a autoridade da igreja como um todo não é a mesma coisa que a autoridade dada
791
(47) A Doutrina da Igreja
a indivíduos específicos na igreja. Quando afirmamos que a igreja como um todo tem
autoridade, não queremos dizer que cada pessoa, homem ou mulher, na igreja tem a
autoridade de falar ou de agir em nome da igreja. Portanto, o gênero, como parte da
personalidade do indivíduo, não é importante para as decisões conjuntas da igreja.
Outro meio de expressar isso é afirmar que a única questão que estamos levantando
nessa seção é de poder a mulher ser ou não uma oficial da igreja, e especificamente se ela
pode ser pastora da igreja. No sistema congregacional, pelo qual os pastores são escolhidos
pela igreja, é evidente para todos da igreja que os pastores (presbíteros) têm um tipo de
autoridade delegada que os outros membros da igreja não possuem, ainda que eles tenham
votado naquela pessoa anteriormente. E o mesmo que acontece em todos os sistemas de
governo em que os oficiais são eleitos: uma vez que o presidente dos Estados Unidos ou
o prefeito de uma cidade é eleito, ele tem a autoridade delegada sobre o povo que o elegeu,
e tal autoridade é maior do que a de qualquer indivíduo que tenha votado.76
A esta altura, também é adequado reconhecer que Deus tem dado muito percepção e
sabedoria tanto a mulheres como a homens, e quaisquer líderes de igreja que negligenciarem
usar da sabedoria feminina estarão agindo de forma insensata. Portanto, qualquer grupo de
presbíteros ou de líderes que tomam decisões que atingem toda a igreja deve com freqüência
definir procedimentos por meio dos quais a sabedoria e a percepção dos outros membros
da igreja, especialmente a sabedoria e percepção feminina e masculina, possam servir de
auxílio para tomar boas decisões.
9. Que dizer dos outros cargos da igreja? Toda a discussão feita até aqui focalizou
a questão de a mulher dever ou não atuar como pastora ou presbítera da igreja. Mas que
dizer dos outros cargos?
O ensino bíblico sobre o ofício diaconal é muito menos discutido do que o ensino so­
bre o ofício pastoral,77 e o que está envolvido no ofício diaconal varia consideravelmente
de igreja para igreja. Se os diáconos estão de fato atuando como presbíteros e são a mais
alta autoridade governante na igreja local, os argumentos apresentados acima contra o
pastorado feminino se aplicariam diretamente a tal situação, e concluir-se-ia que as
Escrituras não permitem que as mulheres sejam diaconisas nesse sentido. Por outro lado,
se os diáconos têm apenas a responsabilidade administrativa delegada para certos aspectos
do ministério da igreja, parece não haver nenhuma boa razão para impedir que as mulheres
atuem como diaconisas. Com respeito à questão das mulheres serem diaconisas em
ITimóteo 3.8-13, não parece a este autor que esse texto permita que as mulheres sejam
diaconisas da maneira como se define diácono naquela situação, mas há uma diferença
expressiva de posições entre os evangélicos sobre a interpretação dessa passagem bíblica,78
e em comparação com o presbítero é muito mais difícil saber exata-mente quais as funções
de um diácono naquela época.7!)
Com respeito aos outros cargos, como o de tesoureiro, por exemplo, ou outro cargo,
como o de ministro de jovens, conselheiro, ministro de crianças, etc., a única pergunta a
ser feita é se tais cargos envolvem as funções de governo e de ensino reservadas aos
presbíteros (pastores) no Novo Testamento. Se não for esse o caso, todos esses cargos estarão
abertos tanto para mulheres como para homens, pois temos de ter cuidado de não proibir
o que o Novo Testamento não proíbe.

792
(47) O Govemo da Igreja
N o ta s
1. Veja no capítulo 3, p. 33-36, e no 4, p. 46-47, discussões sobre a autoridade dos apóstolos.
2. Veja no capítulo 3, p. 36-40, uma discussão sobre o encerramento do cânon do Novo
Testamento.
3. O material que vai deste ponto até o final da divisão A.l.c foi extraído de Wayne Grudem,
The Gift ofProphecy in the New Testament and Today (Eastbourne, U.K.: Kingsway, and Westchester,
111.: Crossway, 1988), p. 269-76, e é usado com permissão.
4. Essas duas qualificações são discutidas com detalhes no ensaio clássico dej. B. Lightfoot,
“The Name and Office of an Apostle”, em seu comentário, The Epistle of St. Paul to the Galatians
(inicialmente publicado em 1865; reimpr. Grand Rapids: Zondervan, 1957), p. 92-101; veja
também K. H. Rengstorf, “apostolos”, TDNT, 1:398-447.
5. Se os escritos dos apóstolos foram aceitos como Escrituras, pode-se perguntar por que o
documento extrabíblico chamado Epístola de Bamabé não foi incluído nas Escrituras. A resposta,
conforme a opinião quase unânime dos eruditos, baseia-se no fato de que ela não foi escrita por
Barnabé, mas por algum cristão desconhecido que viveu provavelmente em Alexandria, entre
70 e 100 A.D. A epístola afirma que muito do que vemos no Antigo Testamento, inclusive
sacrifícios de animais, grande parte da lei mosaica, e a construção de um templo material, foram
erros contrários à vontade de Deus (veja ODCC, p. 134). (Texto e tradução para o inglês de
Kirsopp Lake, The Apostolic Fathers [Cambridge, Mass.: Harvard University Press, e Londres:
Heinemann, 1970], 1:335-409).
6. Não é necessário traduzir assim, incluindo Tiago entre os apóstolos (a Niv diz: “Não vi
nenhum dos outros apóstolos - somente Tiago, o irmão do Senhor”). Todavia a tradução “senão
a Tiago, o irmão do Senhor” parece claramente preferível, porque (1) a frase grega é ei mê, que
normalmente significa “senão, exceto” (BAGD, p. 22, 8a), e na grande maioria dos textos do
Novo Testamento designa algo que é parte do grupo anteriormente citado, do qual é “uma
exceção”; e (2) no contexto de Gálatas 1.18, não faria muito sentido Paulo dizer que quando foi
ajerusalém, ele viu Pedro e ninguém mais além de Tiago - ou Pedro, e nenhum outro líder de
igreja além de Tiago - pois ele ficou por lá “quinze dias” (G1 1.18). Portanto, ele de fato quis dizer
que viu Pedro e nenhum outro apóstolo além de Tiago. No entanto, isso coloca Tiago com os
apóstolos. Veja a discussão em E. D. Burton, The Epistle of Galatians, ICC (Edimburgo: T. & T.
Clark, 1920), p. 60. (Burton afirma: “ei mê significa aqui, como sempre antes de um substantivo,
‘senão, exceto’ ” [ibid.].)
7. Veja uma ampla discussão sobre se se deve traduzir o termo por “Júnia” ou por ‘Júnias”
em John Piper e Wayne Grudem, eds. Recovering Biblical Manhood and Womanhood (Wheaton:
Crossway, 1991), p. 79-81, 214, 221-22 [publicado no Brasil pela Editora Fiel sob o título Homem
eMulher]. Alguns têm argumentado quejúnias era um nome comum de mulher na antiga Grécia,
mas isso está errado, pelo menos conforme os escritos da literatura grega: Uma busca por
computador de 2889 escritores gregos da antigüidade, abrangendo treze séculos (do século nono
a.C. ao quinto A.D.) revelou apenas dois exemplos de Júnias como nome de mulher, uma vez
em Plutarco (c. 50-120 A.D.) e uma vez em Crisóstomo, um dos pais da igreja (347-407 A.D.),
que se referia aJúnias como uma mulher em um sermão sobre Romanos 16.7. O termo também
não é comum como nome masculino, já que tal busca encontrou apenas um exemplo de Júnias
como nome de homem em Epifânio (315-403), bispo de Salimis em Chipre, que se refere ajúnias
em Romanos 16.7, afirmando que ele se tornou bispo de Apaméia, na Síria (Lista dos Discípulos
125.19-20; essa citação é a mais importante, já que Epifânio tinha mais informações sobre Júnias).
O texto latino de Orígenes, também pai da igreja, (252 A.D.) refere-se igualmente ajúnias em
Romanos 16.7 como homem (J. P. Migne, Patrologica Graeca, vol. 14, col. 1289). Portanto, os dados

793
(47) A Doutrina da Igreja
disponíveis dão algum apoio à posição de que Júnias era homem, mas as informações são tão
escassas que não podem ser conclusivas.
8. Veja a discussão em Leon Morris, The First and Second Epistles to the Thessalonians, NIC
(Grand Rapids: Eerdmans, 1959), p. 98-99. Morris afirma: “O costume nessa epístola difere um
pouco do costume das epístolas paulinas em geral. O plural é usado quase sempre, embora na
maioria de suas cartas Paulo prefira o singular” (p. 98; cf. 46-47). Morris considera que o plural
aqui se refere ao próprio Paulo.
9. Alguém pode fazer a objeção de que Cristo poderia aparecer para alguém hoje e
designar tal pessoa como apóstolo. Mas o aspecto de fundamento presente no ofício de apóstolo
(Ef 2.20; Ap 21.4) e o fato de que Paulo vê a si mesmo como o último a quem Cristo apareceu
e designou como apóstolo (“e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um
nascido fora de tempo”, ICo 15.8) indicam que isso não acontecerá. Além do mais, o propósito
de Deus na história da redenção parece ter sido designar apóstolos apenas no início da era da
igreja (veja Ef 2.20).
Outra objeção feita contra a idéia de que não há apóstolos hoje, que procede especificamente
de alguns do movimento carismático, é o argumento de que o “ministério quíntuplo” de Ef 4.11
deve permanecer até os dias de hoje, e assim devemos ter (1) apóstolos, (2) profetas, (3)
evangelistas, (4) pastores e (5) mestres, já que Paulo afirma que Cristo “concedeu uns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef
4.11).
Todavia, Ef 4.11 fala de um evento ocorrido de uma vez por todas no passado (observe o
aoristo kai edõken, “e concedeu quando Cristo subiu aos céus (v. 8-10) e então no Pentecostes
derramou os primeiros dons sobre a igreja, concedendo-lhe apóstolos, profetas, evangelistas e
pastores-mestres (ou pastores e mestres). Não sepode concluir com base nesse versículo apenas se Cristo
haveria de conceder a outras pessoas tais ofícios posteriormente, mas isso deve ser decidido com
apoio de outros ensinos do Novo Testamento sobre a natureza de tais ofícios estabelecidos e se
era de esperar que eles continuassem. De fato, vemos que houve muitos profetas, evangelistas
e pastores-mestres estabelecidos por Cristo por toda parte na igreja primitiva, mas houve apenas
mais um apóstolo depois da época do início da igreja (Paulo, o que veio “depois de todos”, em
circunstâncias extraordinárias na estrada de Damasco).
10. Veja, por exemplo, Millard Erickson, Christian Theology, p. 1084.
11. A palavra traduzida por “presbítero” no Novo Testamento é a palavra grega presbyteros,
também usada em outros contextos em que significa apenas uma pessoa mais velha.
12. Alguns têm sugerido que talvez houvesse um presbítero em toda igreja que se reunia
nas casas de uma cidade e que todos os presbíteros dessas diferentes igrejas constituíam o
conjunto de presbíteros que Tito deveria designar em cada cidade. Se isso for verdade, talvez
se possa achar aqui algum apoio à idéia de um pastor (“presbítero”) para cada igreja.
Em resposta a essa sugestão, devemos observar que tal teoria não apresenta provas que a
sustentem, pois nenhum versículo do Novo Testamento deixa transparecer a idéia de que havia
um presbítero em cada igreja que se reunia numa casa. Como prova para apoiar tal idéia, essa
sugestão está na mesma categoria da seguinte declaração: “Talvez todos os presbíteros de Creta
fossem cegos do olho esquerdo”. Naturalmente, os estudiosos podem dizer “talvez” para
qualquer coisa para a qual não haja provas, mas tais declarações não devem ter nenhum peso
em nossa tentativa de determinar que modelo de governo eclesiástico havia de fato no primeiro
século.
13. A frase “outros para pastores e mestres” tem um artigo definido precedendo os dois
substantivos unidos por kai (“e”), construção que em grego sempre indica que os dois
substantivos são vistos pelo autor como unidos de alguma forma. Essa construção é usada com
freqüência onde dois substantivos se referem à mesma pessoa ou à mesma coisa, mas às vezes
794
(47) O Govemo da Igreja
é usada referindo-se a dois grupos ou pessoas diferentes vistos como unidade. De qualquer forma,
a frase coloca juntos “pastores” e “mestres” mais do que quaisquer outros títulos.
14. Usada várias vezes, porém, para referir-se a um “pastor” que cuida de suas ovelhas.
15. Mesmo o erudito anglicanoj. B. Lightfoot afirma: “É agora fato geralmente reconhecido
pelos teólogos de todas as opiniões mais variadas que na linguagem do Novo Testamento o
mesmo oficial da igreja é chamado indiferentemente de ‘bispo’ (episkopos) e de ‘presbítero’
(presbyteros)” (St. Paul’s Epistle to the Philippians [Grand Rapids: Zondervan, 1953; publicado
inicialmente em 1868], p. 95; nas p. 95-99 Lightfoot discute os dados que sustentam essa
conclusão).
16 . Veja uma defesa da posição de que os oficiais da igreja e não apenas os mais velhos estão
em vista em 1Pedro 5.5 em Wayne Grudem, The First Epistle of Peter, p. 192-93.
17. Paulo nunca disse que todos os presbíteros podem ensinar publicamente ou pregar
sermões para a congregação, e seria razoável pensar que um “mestre apto” poderia ser alguém
capaz de explicar a Palavra de Deus pessoalmente. Assim, talvez nem todos os presbíteros são
chamados ao ensino público - talvez nem todos tenham dons de ensino daquele modo específico.
O que fica claro aqui é que Paulo quer garantir que os presbíteros tenham uma compreensão
madura e saudável das Escrituras e possam explicá-las para os outros.
18. A expressão grega traduzida por “casado uma só vez” seria hapax gegamêmenos, usando
o termo “uma só vez” (hapax) mais um particípio perfeito, dando o sentido “casado uma só vez
e permanecendo no estado resultante do casamento”. (Tal construção é encontrada, por exemplo,
em Hb 10.2, e uma construção semelhante aparece em Hb 9.26. Expressões semelhantes com
verbos no aoristo acham-se em Hb 6.4; 9.28 e Jd 3.)
Outro modo que Paulo poderia ter usado para expressar a idéia de casado uma só vez seria
um particípio perfeito de ginomai, isto é, “tendo sido marido de uma só mulher” (gegonos mias
gynaikos andra). Esta é, de fato, a força das exigências feitas às viúvas em ITimóteo 5.9, “tenha
sido esposa de um só marido” (a força do particípio perfeito gegonuia vem da frase anterior, e
todas as qualificações das viúvas alistadas em ITimóteo 5.9-10 falam da história pregressa da
vida delas). Mas em ITimóteo 3.2 e em Tito 1.6 o sentido é diferente, porque as formas do
presente de eimi (“ser”) são usadas (literalmente): “É necessário, portanto, que o bispo seja
irrepreensível, esposo de uma só mulher...”
19. Alguns intérpretes da igreja primitiva tentaram excluir do ofício eclesiástico os viúvos
que se casaram de novo (veja, por exemplo, Apostolic Constitutions 2.2; 6.17 [terceiro ou quarto
século A.D.] e Apostolic Canons 17 [quarto ou quinto século A.D.], mas tais afirmações não refletem
uma perspectiva bíblica e sim um falso asceticismo que sustentava ser o celibato em geral
superior ao casamento. (Tais textos podem ser encontrados na série Ante-Nicene Fathers, 7:396,
457 e 501.)
Todavia, Crisóstomo (morto em 407 A.D.) entendeu que ITimóteo 3.2 proibia a poligamia
e não outro casamento após a viuvez ou o divórcio (veja suas Homilies sobre ITimóteo 3.2).
20. Josefo, Antigüidades 17.14; em 17.19 ele relaciona as nove mulheres casadas ao mesmo
tempo com o rei Herodes.
21. Veja a Mishná, Yebamoth 4.11; Ketuboth 10.1, 4, 5; Sanhedrin 2.4; Kerithoth 3.7; Kiddushin
2.7; Bechoroth 8.4. Outra prova da poligamia judaica está emjustino Mártir, Diálogo com Trifo, cap.
134. Provas da prática poligâmica entre não judeus não se encontram tão facilmente, mas são
indicadas por Heródoto (morto em 420 a.C.) 1.135; 4.155; 2Mac 4.30 (cerca de 170 a.C.);
Tertuliano, Apologia 46.
22. Não discutimos o ofício de Timóteo e de Tito na parte sobre apóstolos nem na de
presbíteros. A razão é que Timóteo e Tito, juntamente com alguns outros cooperadores de Paulo,
não são apóstolos, mas também não são presbíteros nem diáconos. Parece-me que se encaixam
na categoria incomum que podemos chamar de “assistentes apostolares”, pois tinham certa
795
(47) A Doutrina da Igreja
autoridade delegada dos apóstolos para supervisionar as primeiras igrejas, enquanto estas se
formavam. Já que hoje não há apóstolos vivos aos quais pessoas como eles deviam prestar contas
e de quem derivavam sua autoridade, não devemos esperar também nenhum assistente apostolar
na igreja de hoje.
23. Alguns argumentam que ITimóteo 3.11 refere-se a diaconisas: “Da mesma sorte, quanto
a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em
tudo”. No entanto, se Timóteo e a igreja de Efeso sabiam que as mulheres podiam ser diaconisas,
parece muito estranho que Paulo tenha acrescentado um versículo separado para falar especifica­
mente sobre as diaconisas, sem especificar nada mais a respeito delas do que teria sido necessário
se o versículo nem sequer estivesse lá. Além disso, pareceria muito estranho que Paulo encaixasse
apenas um versículo sobre diaconisas no meio de cinco versículos (três antes e dois depois) a
respeito de diáconos. Por outro lado, um verso que se referisse às esposas dos diáconos no meio
de uma lista de qualificações de diáconos seria muito apropriado: em outros textos Paulo inclui
conduta familiar como um aspecto das exigências relacionadas a um ofício eclesiástico (ITm 3.2,
4-5). É verdade que Paulo diz apenas “as esposas” em vez de “suas esposas”, mas o grego com
freqüência omite pronomes possessivos quando a pessoa mencionada (irmão, irmã, pai, mãe,
etc.) tem um relacionamento óbvio com a pessoa citada no contexto imediato.
Quanto a duas posições a respeito do versículo e duas posições sobre as mulheres deverem
ou não ser diaconisas nos dias de hoje, veja Thomas Schreiner, “The Valuable Ministries of
Women in the Context of Male Leadership: A Survey of Old and New Testament Examples and
Teaching”, Recovering Biblical Manhood and Womanhood, ed.John Piper e Wayne Grudem
(Wheaton, 111.: Crossway, 1991), p. 213-14, 219-21, e a p. 505, n. 13 [publicado no Brasil pela
Editora Fiel sob o título Homem e Mulher]\ e no mesmo livro, George W. Knight III, “The Family
and the Church: How Should Biblical Manhood and Womanhood Work Out in Practice?” p.
353-54.
24. A palavra hierarquia significa “governo de sacerdotes” e é derivada dos termos gregos
equivalentes a “sacerdote” (hierus) e “governo” (archê).
25. A Igreja Metodista nos Estados Unidos designa o clero local por intermédio dos bispos
e assemelha-se à Igreja Episcopal, de onde se originou.
26. E claro que o representante da igreja pode ter sido designado somente pelos oficiais da
igreja, mas não há nenhuma afirmação que dê base para isso: Paulo diz apenas que ele foi “eleito
pelas igrejas” e certamente não menciona nenhuma autoridade superior fora das igrejas.
27. Veja o BAGD, p. 881.
28. Essa situação, porém, tem também um potencial de uso inadequado, se alguns poucos
membros exercerem tanta influência que venham a evitar que o pastor lide com o pecado na
vida deles próprios.
29. Quando menciono o voto congregacional não tenho em mente a idéia de eleição
competitiva, tal como vemos na política secular. Ele pode implicar apenas a necessidade de que
o voto da congregação ratifique os candidatos já indicados por um grupo maduro da igreja (como
os líderes presentes), ou uma eleição feita por toda a igreja, ou ainda outros processos. As
Escrituras nada falam sobre o processo em si; portanto, Deus decidiu deixar a questão para ser
decidida pela sabedoria de cada igreja em seu próprio contexto.
30. A Igreja Católica Romana também possui um governo exercido por um sacerdócio, e
é, portanto, “episcopal” em sua forma de governo. As vezes uma forma de governo episcopal
é chamada governo “hierárquico”, especialmente quando se refere à Igreja Católica Romana.
31. Nota dos Editores: Também chamado Supremo Concilio no caso do presbiterianismo
brasileiro (veja Berkhof, Teologia Sistemática [Campinas: Luz para o Caminho, 1990], p. 593).
32. Todavia, os episcopais entendem que a palavra sacerdote é equivalente ao termo presbyter
(termo grego traduzido por “presbítero”), enquanto os católicos romanos entendem a palavra
796
(47) O Governo da Igreja
sacerdote de modo diferente, relacionando-a ao sacerdócio do Antigo Testamento, em seu dever
de oferecer sacrifícios e de representar o povo diante de Deus, e Deus diante do povo.
33. Edward Arthur Litton, Introduction to Dogmatic Theology, ed. por Philip E. Hughes
(Londres: James Clarke, 1960; publicada inicialmente em 2 volumes, 1882, 1892), p. 401.
34. Ibid., p. 390.
35. Ibid., p. 400.
36. Os católicos romanos argumentam que Pedro tinha maior autoridade do que os outros
apóstolos desde o princípio, mas a evidência do Novo Testamento não sustenta essa idéia. (Sobre
o “poder das chaves” em Mateus 16.19, veja o capítulo 46, divisão B.)
37. Os episcopais, que favorecem a escolha dos oficiais por meio de um bispo, naturalmente
não concordariam com a premissa dessa última consideração.
38. Na Igreja Cristã Reformada, a forma de governo é semelhante ao sistema presbiteriano,
mas os nomes dos corpos governantes são diferentes: os presbíteros em uma igreja local formam
o consistório (em vez de conselho), o corpo governante regional é chamado classe (em vez de
presbitério), e a assembléia governante nacional é chamada sínodo (em vez de assembléia geral).
39. Uma defesa mais completa do sistema presbiteriano de governo da igreja encontra-se
em Louis Berkhof, Systematic Theology, p. 581-92 (publicado em português por Luz para o
Caminho sob o título Teologia Sistemática [veja p. 583-597]).
40. Por outro lado, defensores do sistema presbiteriano poderiam responder que em nenhum
texto do Novo Testamento encontramos um exemplo de igreja independente- cada igreja do Novo
Testamento está sujeita à autoridade mundial dos apóstolos. Naturalmente, quem defende a
independência das igrejas pode responder que não temos apóstolos hoje para exercer tal
autoridade. No entanto, se procurarmos um modelo no Novo Testamento, permanecerá o fato
de que não encontramos igrejas independentes, e esperaríamos que algo em vez de nada substituísse
o governo dos apóstolos. Isso me parece indicar que algum tipo de autoridade denominacional
sobre as igrejas locais ainda é apropriado (ainda que isso assuma formas variadas nas mais
diversas denominações).
41. Berkhof, Systematic Theology, p. 584 (publicada em português por Luz para o Caminho
sob o título Teologia Sistemática).
42. Ibid., p. 591.
43. A. H. Strong, Systematic Theology (Valley Forge, Pa.:Judson Press, 1907), p. 914-17. Strong
foi presidente do Rochester Theological Seminary de 1872 a 1912.
44. Ibid., p. 915-16.
45. Outro teólogo batista, Millard Erickson, apóia a alegação de Strong de que o Novo
Testamento não exige uma pluralidade de presbíteros em uma igreja. Ele afirma que os exemplos
de presbíteros do Novo Testamento são “passagens descritivas” que falam de uma ordem
eclesiástica já existente, mas que “não se ordena às igrejas que adotem uma forma particular de
ordem eclesiástica” (Christian Theology, p. 1084). Ademais, Erickson não vê nenhum modelo de
governo eclesiástico no Novo Testamento, mas afirma: “Em vez disso, pode muito bem ter
havido ampla variedade de modelos de governo. Cada igreja adotava um modelo adequado para
sua própria situação” (ibid.).
46. Strong, Systematic Theology, p. 916.
47. Veja, por exemplo, C. Peter Wagner, Leading Your Church to Growth (Ventura, Calif.: Regal,
1984). Ele afirma: “O principal argumento desse livro é que para que as igrejas maximizem seu
potencial de crescimento, elas precisam de pastores que sejam líderes fortes [...] Não cometam
erros aqui: isso é uma regra” (p. 73). O livro está cheio de historietas e pronunciamentos escritos
por especialistas em crescimento da igreja dizendo ao leitor que a liderança firme de um único
pastor é essencial ao crescimento expressivo de igrejas.

797
(47) A Doutrina da Igreja
48. Robert H. Mounce, The Book ofRevelation, NIC (Grand Rapids: Eerdmans, 1977), p. 85.
49. Em termos de gramática grega, o uso do artigo definido aqui é mais bem entendido como
“genérico”, definido como um uso do artigo “para escolher um indivíduo normal ou represen­
tativo” (MHT 3, p. 180). O uso que Paulo fez do singular era natural depois de ter dito: “Se alguém
aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (ITm 3.1), ou “alguém que seja irrepreensível...”
(Tt 1.6).
50. A palavra angelos [“anjo”] em Ap 2.1 et al. pode significar não apenas “anjo”, mas
também simplesmente “mensageiro”.
51. Veja Robert Mounce, The Book of Revelation, p. 85.
52. Wagner afirma a certa altura que um pastor pode ser um líder forte em uma variedade
de tipos de governo eclesiástico (Leading Your Church to Growth, p. 94-95). Portanto, não é correto
tomar seu estudo como argumento para apoiar uma forma de governo baseada em um único
líder.
53. Se a igreja tem mais de um pastor remunerado por seu trabalho, esses pastores auxiliares
ou adjuntos podem ser ou não vistos como presbíteros (dependendo da qualificação de cada
membro do quadro da igreja e da política desta), mas em qualquer caso seria de todo coerente
com essa forma de governo haver pastores auxiliares que prestassem contas ao pastor titular em
seu trabalho diário, e o pastor titular faria o mesmo ao grupo de presbíteros com respeito à sua
supervisão da atividade dos outros pastores.
54. Os argumentos apresentados nos pontos 1-5 da divisão B para restringir a autoridade
dos oficiais da igreja podem ser resumidos assim: (1) Os oficiais da igreja no Novo Testamento
eram aparentemente escolhidos por toda a congregação. (2) A autoridade governante final nas
igrejas neotestamentárias parece estar sobre a igreja toda. (3) A prestação de contas a toda a igreja
é uma proteção contra a tentação de pecar. (4) Algum grau de controle exercido por toda a igreja
é uma salvaguarda para que a liderança não caia em erro doutrinário. (5) O governo funciona
melhor com o consentimento dos governados. Além disso, há ainda outra razão para restringir
a autoridade dos oficiais da igreja: (6) Reunidas, a doutrina da clareza das Escrituras (veja o
capítulo 6) e a doutrina do sacerdócio de todos os crentes (pela qual o Novo Testamento afirma
que todos os cristãos têm acesso ao trono de Deus em oração e, como membros, compartilham
de um “sacerdócio real” [1Pedro 2.9; cf. Hb 10.19-25; 12.22-24]) indicam que todos os cristãos
tem a mesma capacidade de interpretar as Escrituras e alguma responsabilidade de buscar a
sabedoria de Deus para aplicá-la na vida. Todos têm acesso direto a Deus para buscar a sua
vontade. O Novo Testamento não dá espaço para uma classe especial de cristãos que têm um
acesso maior a Deus do que os outros. Portanto, é correto incluir todos os crentes na tomada
de algumas decisões cruciais na igreja. “Na multidão de conselheiros há segurança” (Pv 11.14).
55. Deve ser observado que um sistema de governo eclesiástico de um grupo de presbíteros
que se perpetua no poder em vez de um presbítero eleito pela igreja seria muito semelhante a
tal sistema, mas não seria tão amplo na imposição de limites à autoridade nas mãos dos
presbíteros. Tal igreja pode ainda criar um mecanismo por meio do qual a igreja possa afastar
presbíteros que se desviem de sua fidelidade às Escrituras.
56. Quando esse tipo de sistema funciona em uma igreja grande, é importante que a maioria
dos presbíteros não seja constituída de pastores contratados. A razão é que os pastores contratados
estão muitas vezes sujeitos ao pastor principal em todo o trabalho que fazem na igreja (ele
normalmente os contrata e os demite, estabelece-lhes o salário e eles lhe prestam contas).
Portanto, se a maioria dos presbíteros consistir de pastores contratados, a dinâmica interpessoal
aí envolvida tornará impossível ao pastor principal sujeitar-se à autoridade dos presbíteros
enquanto grupo, e o sistema de fato funcionará (ainda que um pouco disfarçado) como um
governo de “um único pastor” e não de um grupo de presbíteros.

798
(47) O Governo da Igreja
Alguém pode argumentar que em um igreja grande os membros da igreja que trabalham
em tempo integral sabem o suficiente da vida da igreja para serem presbíteros eficazes, mas esse
argumento não convence: o governo de grupos que não estão intimamente envolvidos nas
atividades diárias daqueles a quem governam funciona bem em muitas outras atividades, como
no caso de faculdades, seminários, escolas, firmas, e até no caso do governo de um estado ou
de um país. Todos esses corpos governantes apresentam políticas a serem cumpridas e dão
orientação a administradores de tempo integral, sendo capazes de obter informações detalhadas
sobre situações específicas quando surgem as necessidades. (Reconheço que todos estes sistemas
podem funcionar mal, mas minha ênfase é apenas que eles podem funcionar muito bem se as
pessoas certas estiverem na posição de liderança.)
57. Veja William Weinrich, “Women in the History of the Church: Learned and Holy, But
Not Pastors”, in Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to Evangelical Feminism,
ed. John Piper and Wayne Grudem (Wheaton, 111.: Crossway, 1991), p. 263-79 (publicado no
Brasil pela Editora Fiel sob o título Homem e Mulher). Veja também Ruth A. Tucker e Walter L.
Liefeld, Daughters of the Church: Women and Ministry from the New Testament Times to the Present
(Grand Rapids: Zondervan, 1987).
58. Veja Recovering Biblical Manhood and Womanhood, ed.John Piper and Wayne Grudem. A
posição que tomo nos parágrafos seguintes é coerente com a “Declaração de Danvers” publicada
em 1988 pelo Council on Biblical Manhood and Womanhood, P. O. Box 317, Wheaton, IL,
60189, EUA.
59. Veja também Raymond C. Ortlund,Jr., “Male-Female Equality and Male Headship: Gn
1-3”, em Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. 95-112.
60. Vejajames A. Borland, “Women in the Life and Teachings ofjesus”, em Recovering Biblical
Manhood and Womanhood, p. 113-23.
61. Veja a discussão na divisão A.2.c com respeito às funções de governo dos presbíteros
de uma igreja.
62. Veja uma abordagem mais extensa desse texto em Douglas Moo, “What Does It Mean
Not to Teach or Have Authority Over Men?: 1 Tim. 2.11-15”, em Recovering Biblical Manhood and
Womanhood, p. 179-93.
63. Declarações mais completas dessas objeções encontram-se em Gilbert Bilezikian. Beyond
Sex Roles. 2d ed. Grand Rapids: Baker, 1985; Mary Evans, A Mulher na Bíblia. São Paulo: ABU;
Patricia Gundry. Neither Slave nor Free: Helping Women Answer the Call to Church Leadership. San
Francisco: Harper and Row, 1987; Alvera Mickelsen, ed. Mulheres no Ministério. São Paulo:
Mundo Cristão (vários ensaios de diversos autores, sendo a maioria favorável ao ministério
pastoral feminino); ainda Besancon Spencer. Beyond the Curse: Women Called to Ministry. Nashville:
Thomas Nelson, 1985.
64. Veja Piper e Grudem, Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. 82.
65. Veja uma discussão mais completa da questão em D. A. Carson, ‘“Silent in the Churches’:
On the Role of Women in ICo 14.33b-36”, em Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p.
140-153. Veja também Wayne Grudem, The Gift ofProphecy in the New Testament and Today, p. 217-
24; e também Wayne Grudem, “Prophecy - Yes, but Teaching - No: Paul’s Consistent Advocacy
of Women’s Participation Without Governing Authority”,JETS ‘òO/1 (Março de 1987), p. 11-23.
66. Tal posição sobre o dom de profecia é explicada mais plenamente no capítulo 53,
divisão A.
67. Uma objeção evangélica recente a essa conclusão de ICoríntios 14.33-36 é simplesmente
afirmar que esses versículos não foram escritos por Paulo e não pertencem ao texto de ICoríntios,
não sendo portanto considerados Escritura com autoridade para nós hoje: veja Gordon Fee, The
First Epistle to the Corinthians, p. 699-708. A essência do argumento de Fee é que é impossível
harmonizar esse texto com ICoríntios 11.5, em que Paulo permite claramente às mulheres falar
799
(47) A Doutrina da Igreja
na igreja. (Ele também dá muito valor ao fato de que os v. 34-35 aparecem no final de ICoríntios
14 em alguns manuscritos antigos.) Fee, porém, não considera adequadamente a posição aqui
apresentada, isto é, que Paulo está apenas proibindo as mulheres de exercer a tarefa de autorida­
de de julgar profecias na igreja reunida. A posição de Fee é surpreendente à luz do fato de que
nenhum manuscrito de ICoríntios omite esses versículos. (Os poucos manuscritos que colocam
o trecho no final do capítulo 14 são muito menos confiáveis e possuem muitas variações também
em outros textos de ICoríntios.)
68. Veja discussão mais aprofundada sobre o assunto em Vem Poythress, “The Church as
Family: Why Male Leadership in the Family Requires Male Leadership in the Church,” em
Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. 233-47.
69. Esse argumento e o seguinte procedem de James Borland, “Women in the Life and
Teachings ofJesus”, em Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. 120-22.
70. Com respeito a “Júnia” ou “Júnias” em Romanos 16.7, veja a divisão A.l.b.
71. Uma discussão mais profunda desses exemplos de narrativas está em Thomas R.
Schreiner, “The Valuable Ministries of Women in the Context of Male Leadership: A Survey
of Old and New Testament Examples and Teaching”, em Recovering Biblical Manhood and
Womanhood, p. 209-24. Com referência à Débora em particular, precisamos reconhecer que os
acontecimentos históricos narrados em todo o livro de Juizes exigem muito cuidado na inter­
pretação antes que admitamos que possam ser tidos como modelos a serem imitados. Débora
era diferente dos demais profetas (homens), pelo fato de não ter profetizado publicamente, mas
apenas de modo privado (Jz 4.6-7); e, embora Deus tenha trazido bênçãos por intermédio dela,
é interessante notar que não há nenhuma afirmação explícita de que o Senhor a levantou como
profetisa, o que a diferencia dos outros juizes principais como Otoniel (3.9); Eúde (3.15), Gideão
(6.14), Jefté (11.29) e Sansão (13.25; 14.6), para os quais há uma afirmação explícita do chamado
de Deus.
72. Veja a nota anterior. Com respeito ao fato de que as mulheres podiam profetizar nas
igrejas do Novo Testamento, veja a discussão na divisão D.2.
73. Veja a nota 57. Alguns livros recentes têm enfatizado a negligenciada contribuição das
mulheres à igreja através da história. Veja especialmente Ruth Tucker e Walter Liefeld, Daughters
of the Church, obra que é um tesouro de informações e acrescenta boa bibliografia. Todavia,
nenhum desses estudos desbanca a clara conclusão de que a grande maioria das igrejas através
da história não aceitou mulheres como pastoras.
74. Veja uma discussão aprofundada em Recovering Biblical Manhood and Womanhood, esp. p.
60-92. Afirmações mais completas das objeções aqui relacionadas podem ser encontradas nos
seguintes livros: Gilbert Bilezikian. Beyond Sex Roles. 2nd ed. Grand Rapids: Baker, 1985; Mary
Evans, A Mulher na Bíblia. São Paulo: ABU; Patricia Gundry. Neither Slave nor Free: Helping Women
Answer the Call to Church Leadership. San Francisco: Harper and Row, 1987; Alvera Mickelsen,
ed. Mulheres no Ministério. São Paulo: Mundo Cristão (vários ensaios de diversos autores, sendo
a maioria favorável ao ministério pastoral feminino); ainda Besancon Spencer. Beyond the Curse:
Women Called to Ministry. Nashville: Thomas Nelson, 1985.
75. Veja uma discussão aprofundada em Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. 54-59.
76. Veja na divisão B os argumentos em favor da participação de toda a congregação em
algumas decisões na igreja, especialmente no ocasião da escolha dos oficiais da igreja.
77. Veja na divisão A.3 uma discussão sobre o ofício diaconal.
78. Veja mais informações na nota 23.
79. Observe que Atos 6.3 também exige que apenas homens (gr. anêr) sejam escolhidos
como os primeiros diáconos (se entendermos que o texto fala do diaconato).

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