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É claro que quanto maior for o apego dos nossos líderes às doutrinas cristãs, quanto
maior for o vigor de sua piedade cristã e quanto maior for sua capacidade de aplicar o
ensinamento bíblico às circunstâncias da vida, mais nítida é a possibilidade de que
tomem decisões sábias e governem bem a igreja de Cristo. Mas é importante termos
sempre em mente que não há denominações cristãs perfeitas.
Isso é necessário não apenas para exercitar nossa humildade e despertar o interesse pelo
estudo rigoroso da Escritura, mas também para nos permitir uma comunhão cristã mais
saudável com nossos irmãos de outras denominações cristãs. Embora existam muitas
denominações, a igreja de Cristo é composta por todos aqueles que professam sua fé em
Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal.
Conclusão
De acordo com a teologia reformada, nenhuma voz, na igreja de Cristo, pode se elevar
acima da Escritura Sagrada, inspirada pelo Espírito Santo para conduzi-la a toda verdade.
Cristo é o cabeça da igreja, e ele a governa segundo os preceitos estabelecidos na
Escritura. Nenhum líder, nenhuma denominação cristã, nenhum concílio, nenhum
costume, nenhuma tradição tem valor normativo para a igreja cristã. Só a Escritura.
Aplicação
Você já reparou como as pessoas, em geral, têm tratado a Escritura nos tempos pós-
modernos em que vivemos? Quando a Escritura diz alguma coisa com a qual não
concordam, as pessoas simplesmente dizem que os tempos mudaram. Com isso,
abandonam o ensino bíblico e seguem seu próprio caminho. À luz da lição de hoje, como
você deve reagir a essa tendência?
Boa leitura
A Inspiração e Autoridade da Bíblia, de Benjamin Warfield e A Inspiração e Inerrância
das Escrituras, de Hermisten M. P. Costa. Ambos da Editora Cultura Cristã.
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.
Introdução
Ao longo da história cristã, é comum encontrarmos várias modalidades de “Cristo mais
alguma coisa”. O ensino bíblico é muito claro: nossa salvação depende inteiramente da
obra de Cristo realizada em nosso lugar. Ele foi nosso substituto, recebeu uma morte que
era nossa para que, por ele, tivéssemos vida em seu nome. Mas a natureza humana não
se sente muito confortável em ter de depender de alguém, não é verdade? É por esse
desejo humano de autonomia que a história cristã vem registrando a criatividade humana
em acrescentar alguma coisa (algo feito pelo ser humano para que ele tenha uma
participação “razoável” em sua própria salvação) à pessoa e obra de Cristo. Na lição de
hoje, veremos três dessas coisas: as penitências, o dízimo e as atividades eclesiásticas.
Esse elaborado sistema penitencial era usado para manter a disciplina na igreja e para
expiar, mesmo que parcialmente, os pecados cometidos depois do batismo. O problema é
que, se os pecados são parcialmente expiados pelos atos penitenciais, então Cristo expia
apenas uma parte dos pecados e, consequentemente, concede apenas uma parte da
salvação, sendo a outra parte uma obra humana. Assim, a salvação seria resultado de um
trabalho em conjunto realizado por Deus, em Cristo, e o ser humano, em seu zelo por se
penitenciar e expiar, ainda que parcialmente, seus próprios pecados.
A teologia reformada insiste que a salvação não é uma obra realizada em parte por Jesus
e em parte pelo pecador. A salvação e tudo o que está diretamente ligado a ela (como o
perdão de pecados, por exemplo) é obra exclusiva de Deus.
Pedro é claro ao afirmar: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual
se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu
não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos” (At 4.11-12).
É triste e vergonhoso perceber como a prática romana das indulgências não apenas
entrou, mas foi aperfeiçoada no meio evangélico. Os vendedores de indulgências da
Idade Média trocavam a salvação ou a redução das penas no purgatório por dinheiro. Os
modernos comerciantes da fé vendem não apenas a salvação (sobre a qual pouco se fala
nos cultos voltados à prosperidade, mais interessados nas bênçãos terrenas), mas
também relíquias “poderosas”, como fios de barba dos apóstolos, o manto de Elias (esse
profeta devia ter muitos mantos, pois são vendidos em toda parte), pedaços da arca de
Noé, da arca da aliança e até da cruz de Cristo.
Engana-se quem pensa que esse é o ponto mais alto a que pode chegar a criatividade
humana. Insatisfeitos com a venda da salvação e de relíquias religiosas, os mercadores da
fé começaram a vender até mesmo orações e visitas a enfermos e idosos.
O que é mais alarmante em tudo isso é que muitos cristãos não percebem o quanto isso
fere a supremacia da obra de Cristo. O poder cristão não vem de relíquias de qualquer
espécie, mas de Cristo, que é o Senhor e cabeça da igreja. É somente quando
permanecemos ligados à videira que obtemos a seiva que nos alimenta e revigora.
Somente quando estamos ligados à videira podemos dar fruto. Esse é o ensino do próprio
Jesus (Jo 15.5).
O mesmo acontece com a venda de orações. Jesus é quem intercede por nós (Rm 8.34).
Ele é o único Mediador entre nós e Deus (1Tm 2.5) e, como nosso sumo sacerdote eterno,
vive sempre para interceder por nós (Hb 7.25). É ele mesmo quem ensina: “Pedi, e dar-
se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7). E, certamente, quando
Paulo orientou os crentes gálatas a levar as cargas uns dos outros (Gl 6.2), esperava que
isso fosse feito gratuitamente.
É correto e bom participar dos cultos. Isso deve ser encorajado em todas as igrejas: “Não
deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;” (Hb 10.25). Quando
participamos do culto público, Deus fala conosco nos cânticos, na leitura da Palavra e na
pregação. Somos edificados e consolados quando adoramos a Deus pela mediação de seu
Filho por tudo o que ele é, fez e fará por nós.
É claro que os cristãos devem ter prazer nos cultos, sabendo que esse é um momento
especial de comunhão com Deus. O problema surge quando reduzimos a vida cristã à
participação em uma enxurrada de atividades eclesiásticas. Vida cristã não é o mesmo
que participação em atividades eclesiásticas diárias. Vida cristã é comunhão com Deus
pela mediação de Cristo.
Além dessa concepção equivocada de vida cristã, a ênfase exagerada que muitos líderes
costumam dar à participação descontrolada em atividades eclesiásticas acaba produzindo
dois resultados colaterais muito negativos.
O primeiro é ocupar o único horário que muitos irmãos têm para descansar da labuta
diária. Muitos irmãos trabalham o dia todo e chegam em casa exaustos. Reservar uma
noite por semana para participar de um culto não faria mal. No entanto, reservar todas
as noites para participar de atividades eclesiásticas é algo que poderá trazer, cedo ou
tarde, resultados danosos à sua saúde. Lembre-se de que cuidar da saúde faz parte da
mordomia cristã. Além disso, esse é justamente o único momento que muitos irmãos têm
para manter a convivência familiar. Os membros da família saem cedo de casa, passam o
dia todo fora, trabalhando ou estudando, e só se encontram à noite. O que acontecerá,
em médio prazo, se eles forem privados desse convívio familiar?
O segundo é ainda pior que o primeiro, pois envolve o ensino bíblico da suficiência de
Cristo para a salvação. Devido à grande ênfase dada à participação em atividades
eclesiásticas, muitos cristãos assimilam a ideia de que estar presente ao maior número
possível de atividades é algo que está diretamente associado à salvação. Isso está errado.
Ninguém é salvo por participar de atividades eclesiásticas, mas por ter Cristo como seu
Salvador pessoal.
Conclusão
Cristo mais isso, Cristo mais aquilo. Os diversos “apêndices” que o ser humano acrescenta
a Cristo não mudam a realidade: somos inteiramente dependentes de Jesus para nossa
salvação. Nada há que possamos fazer para obtê-la e só a recebemos porque Cristo fez
por nós tudo o que era necessário. Até mesmo a fé com que nos apropriamos dessa
salvação é fruto da sua graça. Somos inteiramente dependentes dele. Para salientar em
nosso coração essa dependência, a teologia reformada sempre afirmou, com muito vigor:
Só Cristo!
Aplicação
Em que você tem colocado o seu coração? Em Cristo ou em algum dos “apêndices”
modernos? Examine agora a sua fé e veja em que você tem crido para sua salvação. Se
for em algum “apêndice” ou mesmo em “Cristo mais alguma coisa”, livre-se disso e creia
somente em Jesus Cristo para sua salvação.
Boa leitura
Por que Cristo sofreu e morreu? O assunto central na morte de Jesus não é a sua causa,
mas seu significado – o significado de Deus. John Piper trata desse tema em A Paixão de
Cristo, publicado pela Editora Cultura Cristã. Ele reuniu cinquenta razões retiradas do
Novo Testamento. Não cinquenta causas, mas cinquenta propósitos – em resposta à mais
importante pergunta que cada um deve enfrentar: o que Deus fez por pecadores como
nós ao enviar seu Filho para morrer?
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.
Sola Fide
A doutrina da fé em oposição à institucionalização morta e à salvação
pelas obras
Texto básico: Habacuque 2.1-4
Leitura diária
D – Tg 1.19-27 – A fé em ação
S – Rm 6.23 – O que realmente merecemos
T – Sl 103.1-22 – Não segundo os nossos pecados
Q – Ef 2.1-10 – Pela graça mediante a fé
Q – Rm 1.16-17 – A salvação do que crê
S – Is 1.10-20 – A fé secularizada
S – Ap 2.1-7 – A igreja secularizada
Introdução
Sola fide é uma das bandeiras defendidas pela teologia reformada desde seu nascedouro.
Todos os reformadores se levantaram vigorosamente contra a doutrina da salvação pelas
obras, ou pelos méritos, ou da colaboração com Deus na salvação. Todos eles, desde o
início de seu ministério reformado, afirmaram que a fé é o único instrumento que Deus
nos dá para nos apossarmos da salvação que ele concede graciosamente. Mas essa não foi
a única frente na qual os reformadores tiveram que defender a doutrina da fé. Eles
também tiveram que sustentá-la em oposição ao formalismo religioso e à secularização
da fé.
I. Pela fé, não pelas obras
Muitas doutrinas sustentadas pela igreja romana estavam em aberto desacordo com o
ensino da Escritura e houve muita controvérsia sobre muitos temas importantíssimos para
a teologia cristã. No entanto, o estopim da Reforma está diretamente relacionado à
forma como nos apropriamos da salvação. Na lição passada, vimos uma das formas pelas
quais a pessoa podia se apropriar da salvação, segundo a crença romana: pelas
indulgências. Também vimos que essa crença não se harmoniza com o ensino bíblico
sobre a salvação, motivo pelo qual os reformadores fizeram questão de sustentar: sola
gratia. A salvação é somente pela graça.
Havia, porém, uma forte doutrina romana que afirmava que a salvação era obtida por
merecimento. Na medida em que a pessoa ia acumulando mérito diante de Deus, sua
salvação ia ficando mais próxima. Mesmo que a pessoa não tivesse mérito suficiente para
obter a salvação, esse mérito seria levado em conta para abreviar sua passagem pelo
purgatório. O modo como o merecimento aumentava era pela prática de boas obras.
Entre essas obras estavam as ações de caridade e a piedade religiosa.
As ações de caridade
Não há dúvida de que a ação em favor do necessitado é uma parte importante da religião
cristã (Tg 1.27; 1Jo 3.17). A teologia reformada não negligencia a importância do socorro
ao necessitado e entende que não prestar esse socorro seria negligenciar o claro ensino
da Escritura. No entanto, ela rejeita a associação desse dever cristão com a aquisição da
salvação.
A piedade religiosa
Outra forma de boa obra é a piedade religiosa: frequência às atividades da igreja, prática
de orações diárias, devoção aos santos, ajuda ao sacerdote e envolvimento com o
calendário eclesiástico, etc. A intensidade e a frequência com que uma pessoa expressa
sua religião era vista como um meio de se obter a salvação. A teologia reformada
defende o compromisso do cristão com a comunidade cristã da qual faz parte e ensina a
importância do cumprimento dos deveres cristãos. No entanto, entende que atribuir valor
salvífico a isso é ir longe demais.
Mas se não somos salvos pelas indulgências (como vimos na lição anterior), nem pela
prática da caridade, nem pela piedade religiosa, nem por qualquer mérito que
porventura pudermos imaginar ter, como nos apropriamos da salvação oferecida por
Deus? Pela fé (cf. Ef 2.8; Rm 1.17).
É pela fé que nos apropriamos do sacrifício que Jesus realizou na cruz em nosso lugar. A
salvação é concedida graciosamente a todo aquele que crê (Jo 3.16).Quando entendemos
que não temos mérito nenhum diante de Deus, que tudo o que fazemos sempre será
manchado pelo pecado e que somos incapazes, por nós mesmos, de obter nossa salvação,
nos refugiamos em Deus e encontramos abrigo seguro. O Catecismo Menor de
Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça
salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é
oferecido no Evangelho”.
II. Muito mais do que o formalismo
Outra controvérsia a respeito da fé se refere à própria natureza da fé. É comum as
pessoas imaginarem que fé e formalismo religioso são a mesma coisa. Esse erro foi
cometido na Idade Média, quando as pessoas viam um homem frequente aos trabalhos da
igreja e zeloso no cumprimento de seus deveres religiosos e imaginavam: “Aí está um
homem de fé”. No entanto, por mais importante que seja o zelo religioso, a fé é muito
mais do que isso. Não devemos desprezar o valor da participação nos cultos e no
cumprimento dos deveres religiosos, mas viver pela fé é muito mais do que a prática de
atitudes religiosas. Viver pela fé é viver em obediência a palavra do Senhor, é ter
comunhão com Deus, é zelar pela vida cristã, é ter motivos e objetivos nobres aos olhos
do Senhor.
O que é mais triste nessa história é que esse erro não foi cometido somente na Idade
Média. Ele é cometido hoje, inclusive entre os protestantes. Viver pela fé é muito mais
do que vestir uma roupa bonita para participar de um culto, muito mais do que se
esforçar para estar presente em inúmeras atividades eclesiásticas, muito mais do que
levantar a mão e gritar aleluia. Viver pela fé é refletir a luz de Cristo neste mundo mal e
confuso em que vivemos, é dar um testemunho fiel de Jesus Cristo, é demonstrar ao
mundo, externamente, a mudança que o Espírito Santo realizou dentro de você e a
diferença que Cristo faz na sua vida.
III. A fé secularizada
Outro problema com o qual nos deparamos atualmente é o da secularização da fé. Esse é
o nome que se dá à fé que é de tal modo influenciada pelos valores e posturas deste
mundo caído que acaba ficando irreconhecível. O fenômeno da secularização da fé se
apresenta em duas formas distintas: o formalismo religioso e o ateísmo cristão.
O formalismo religioso
Nesta forma de secularização, os aspectos externos da prática religiosa são preservados,
mas seu conteúdo espiritual é esvaziado. A pessoa continua frequentando os trabalhos da
igreja, mantendo suas amizades evangélicas e todo um aspecto de piedade, mas seu
coração está vazio e longe de Deus.
A Escritura menciona vários casos desse tipo, mas há dois que são emblemáticos. O
primeiro, que já fizemos breve menção, é quando Deus condena o formalismo religioso
vazio dos judeus no tempo do profeta Isaías: “De que me serve a mim a multidão de
vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de
animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de
bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os
maus átrios?” (Is 1.11-12). O povo mantinha sua prática religiosa, mas todo o seu
conteúdo espiritual havia se perdido. Suas ofertas tinham se tornado vãs, suas orações
não eram ouvidas pelo Senhor e seu culto causava desprazer em Deus.
A igreja de Éfeso foi muito abençoada. Ela foi pastoreada por nada menos que dois
apóstolos e quatro evangelistas de grande influência. Que grande privilégio. No entanto,
quando João, preso na ilha de Patmos, escreveu a carta à igreja de Éfeso (Ap 2.1-7), pelo
menos 30 anos já tinham se passado desde a chegada de Paulo ali. Os primeiros
convertidos já tinham uma boa jornada cristã e uma nova geração de crentes havia
surgido. Os primeiros cristãos de Éfeso tinham sido edificados na fé e tinham cumprido
seu papel de candeeiros do mundo, apresentando seu Senhor a uma nova geração, mas
essa nova geração não tinha o mesmo vigor espiritual da primeira. A fé estava em perigo.
Porém, tanto para os judeus do tempo de Isaías quanto para os crentes de Éfeso havia
uma esperança: arrependimento e fé.
O ateísmo cristão
A segunda forma pela qual o fenômeno da secularização da fé pode ser percebido é por
meio do que podemos chamar de ateísmo cristão. Se no formalismo os aspectos externos
da fé podiam ser vistos, no ateísmo cristão nem mesmo esses aspectos externos podem
ser vistos com facilidade. Não há mais frequência regular aos cultos, apenas visitas
esporádicas totalmente desprovidas de compromisso com a causa do evangelho (ou nem
isso); o comportamento social em nada difere do comportamento de um não regenerado
e a Bíblia se transformou em amuleto cuidadosamente guardado no fundo de uma gaveta,
de onde só sai em momentos de crise, para ser agarrada e beijada de modo supersticioso,
geralmente com lágrimas.
Para as duas situações, a teologia reformada apresenta mais uma bandeira dos
reformadores: sola fide. Só a fé. Devemos, nos lembrar, contudo, que não há mérito
humano na fé. A fé é graça que se materializa em obediência a Deus.
Conclusão
Secularização da fé, formalismo religioso, salvação pelas obras. Nada disso pertence à
natureza da fé, da salvação e da vida cristã. A teologia reformada, com sua ênfase na
doutrina da fé, convida a igreja de Cristo a olhar para além das circunstâncias religiosas
em que vive e manter com Cristo, pela fé, uma doce e estreita comunhão que produz
vida eterna e abundante.
Aplicação
Você consegue explicar com suas palavras o que é a secularização da fé? Consegue
identificar pelo menos cinco caminhos pelos quais essa secularização penetra na igreja e
abate o vigor espiritual dos cristãos?
Boa leitura
A Editora Cultura Cristã publicou bons livros sobre o tema: O Evangelho da Graça, James
M. Boice, Verdades do Evangelho x Mentiras pagãs, Peter Jones, Interpretando o Novo
Testamento: Tiago, Augustus N. Lopes, Justificação pela fé Somente, John MacArthur Jr.
e outros autores.
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.
Sola Gratia
A graça de Deus em oposição à doutrina de méritos e às indulgências
Texto básico: Efésios 2.8-9
Leitura diária
D – Tg 3.1-2 – Tropeçamos em muitas coisas
S – 1Jo 1.5-10 – Todos temos pecados
T – Tg 2.1-13 – Se tropeçar em um só ponto…
Q – Ef 2.1-3 – Mortos em delitos e pecados
Q – 1Co 6-14 – Discernimento espiritual
S – 2Co 4.1-6 – O evangelho encoberto
S – At 26.16-18 – A ação da graça
Introdução
A doutrina da salvação pela graça foi fundamental para o restabelecimento da doutrina
bíblica no tempo da Reforma. Essa doutrina sempre incomodou o ser humano. Ele sempre
se sentiu desconfortável em saber que sua salvação não depende de si mesmo, mas
exclusivamente de Deus, que a concede graciosamente, não por mérito. Gostamos de
tomar nossos assuntos em nossas próprias mãos. É por isso que essa doutrina nos
incomoda tanto. Sempre foi assim, como os intermináveis debates sobre o tema ao longo
da história deixam bem claro. Na Idade Média, porém, o abandono dessa doutrina
alcançou seu ponto mais alto. Seu resgate foi feito pela teologia reformada.
I. Missas em favor dos mortos
Na medida em que a igreja foi se distanciando da simplicidade dos tempos apostólicos,
em que os cristãos “partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com
alegria e singeleza de coração” (At 2.46), a Ceia do Senhor foi adquirindo uma
interpretação cada vez mais requintada. Na mesma medida em que a simplicidade do
evangelho foi sendo perdida, uma ampla variedade de cerimônias foi sendo
acrescentada.
Inicialmente, as pessoas que participavam da Ceia tinham que se preparar para ela
apenas por meio de um autoexame, como orienta o apóstolo Paulo (1Co 11.28). Com o
passar do tempo, essa preparação começou a envolver o lavar das mãos e das roupas. No
começo, cada participante pegava seu bocado de pão com as próprias mãos. Depois,
passou a ser servido em um pano de linho ou em um pires de ouro. Mais tarde, no século
11, passou a ser servido diretamente na boca do participante, que aguardava de joelhos
diante do altar. O pão consagrado era servido não apenas na igreja, mas também nas
casas, às pessoas que estavam às portas da morte, como “alimento para a jornada”, e
passou a ser considerado útil para evitar desastres e pestes e para obter benefícios e
bênçãos.
A partir daí, o passo seguinte foi estender a eficácia da Ceia do Senhor não somente aos
vivos, mas também aos mortos. A essa altura, o costume pagão de fazer ofertas por
parentes mortos e orar por sua alma no aniversário de sua morte já havia se estabelecido
na crença popular. Quando a doutrina do purgatório foi estabelecida pelo papa Gregório,
o Grande, a Ceia passou a ser interpretada como uma oferta do próprio corpo e sangue
de Cristo em favor do parente morto. Logo se tornou uma crença estabelecida que a
missa realizada em favor de pessoas mortas podia reduzir as penitências e punições
temporais, não apenas aos vivos, mas também aos mortos, aliviando sua pena no
purgatório.
Observe como há um entrelaçamento de erros aqui. Primeiro, há o desvirtuamento da
Ceia do Senhor, que deixa de ser vista como um meio de graça e passa a ser vista como
uma cerimônia religiosa cada vez mais elaborada; depois, ela começa a ser servida às
pessoas que estavam às portas da morte como uma espécie de alimento para sua
jornada; depois, o pão começa a ser visto como uma espécie de amuleto religioso capaz
de prevenir pestes e tragédias; a seguir, há o sincretismo da fé cristã com religiões
pagãs, o que gera a contaminação dos costumes religiosos do povo; surge, então, a
doutrina do purgatório; por fim, a Ceia (e a missa da qual faz parte) passa a ser
concebida como tendo importantes efeitos espirituais não apenas para os que
participavam dela, mas também para os mortos, em memória de quem as missas eram
realizadas. Um erro doutrinário nunca vem sozinho. Ele sempre produz outro ou foi
produzido por outro: “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7).
Diante de tudo isso, a teologia reformada anuncia, com vigor e alegria: Sola
gratia! Somente a graça salva. Somos salvos não por missas realizadas em nossa
memória, nem por sacramentos ministrados a entes queridos, mas pela graça soberana do
Senhor.
II. A compra da salvação
Na medida em que o evangelho era anunciado, as pessoas iam se convertendo e sendo
discipuladas e batizadas. Isso provocava uma mudança de postura e de hábitos em grande
parte dos convertidos, que vinham de religiões politeístas e tinham costumes que não se
harmonizavam com a fé cristã. É claro que não se podia esperar que os crentes parassem
de cometer pecados depois de terem sido batizados. Os próprios apóstolos haviam
ensinado isso muito claramente (cf. Tg 3.2; 1Jo 1.8).
Com o passar do tempo, os cristãos começaram a tomar uma posição diferente com
relação aos pecados menores. A crença geral era que eles podiam expiar tais pecados,
tomando algumas atitudes, enquanto o sacrifício de Cristo ficava “reservado” aos
pecados mais graves. Embora esses pecados menores fossem inevitáveis, o crente, em
contraste com o incrédulo, tinha a vantagem de ser um membro da igreja e poder apagar
pessoalmente esses pecados, recebendo pacientemente a punição estabelecida para eles,
por meio da confissão pública ou particular ou pela prática de boas obras (jejuns,
esmolas e orações). Isso deu origem às doutrinas católicas romanas da penitência e da
confissão auricular.
Havia, porém, uma forma muito mais fácil de a pessoa cumprir, total ou parcialmente,
suas penitências. A associação dessas três doutrinas (penitências, confissão auricular e
purgatório) deu origem à crença de que o tempo da penitência podia ser abreviado e a
própria penitência podia ser reduzida se caso o cristão demonstrasse sincero e profundo
arrependimento. A partir daí, desenvolveu-se o costume segundo o qual os bispos
perdoavam parte da punição ou transformavam uma penitência severa em uma
penitência mais leve em favor daqueles que se mostravam zelosos em seu exercício
penitencial.
A partir do século 11, porém, esse relaxamento da penitência assumiu a forma de que
toda pessoa que cumprisse certa condição (como participar de uma guerra contra os
mouros, de uma cruzada ou pagar para que alguém fizesse isso em seu lugar, por
exemplo) podia obter perdão parcial ou total (indulgência) de seus pecados, o que
reduzia ou eliminava a penitência. Dessa época em diante, com a cooperação do papado,
as indulgências se tornaram tão numerosas que, finalmente, foram mais elaboradas e se
tornaram uma importante fonte de renda. Sua aquisição foi facilitada e, por fim, as
condições sob as quais podiam ser obtidas foram destituídas de toda seriedade.
No entanto, deve ser observado que esse erro de comercialização da fé não ficou restrito
aos tempos medievais. Ele está presente hoje, mas, desta vez, entre os evangélicos.
Atualmente, temos visto uma ênfase exacerbada em uma doutrina sobre o dízimo que
não tem fundamento na Escritura, segundo a qual o cristão é orientado a dar cada vez
mais para receber bênçãos cada vez maiores de Deus. Os católicos medievais vendiam o
perdão; muitos evangélicos modernos vendem bênçãos terrenas. Apesar dessa diferença,
o princípio é o mesmo: benefícios concedidos por Deus em troca de dinheiro dado à
igreja. A ambos os grupos, a teologia reformada afirma: Sola gratia!
III. Opondo-se à doutrina dos méritos
Antes de falar sobre a salvação graciosa de Deus, precisamos compreender o motivo pelo
qual precisamos de salvação e porque não podemos ser salvos pelos nossos próprios
méritos e esforços, mas somente pela graça de Deus. Para tanto é necessário que
atentemos para a doutrina bíblica sobre o alcance e os efeitos do pecado, conhecida
como depravação total.
Essa doutrina expressa o ensino bíblico de que o homem está morto em seus delitos e
pecados (Ef 2.1-2). Isso não significa que todos os homens sejam igualmente maus, nem
que o homem é tão mal quanto poderia ser, alcançando, assim, o ápice da maldade.
Também não significa que o homem esteja completamente destituído de toda e qualquer
virtude, nem que a natureza humana seja má em si mesma. Essa doutrina ensina que,
uma vez que o homem segue o curso do pecado (Ef 2.1-2), ele está completamente
sujeito ao pecado, tendo motivações pecaminosas, inclinações pecaminosas, facilidade
para pecar, está espiritualmente morto e, por isso, é incapaz de fazer ou querer
qualquer coisa que o conduza à salvação, bem como é totalmente incapaz de merecer a
salvação mediante suas próprias obras.
O homem não regenerado, que chamaremos de homem natural, pode, pela aplicação da
graça comum de Deus, amar sua família e ser um bom cidadão, cultivando elevadas
virtudes e valores morais, tais como a honestidade, a justiça, a bondade, a coragem, etc.
No entanto, nada disso está isento da mancha do pecado. Essa mancha está em nossa
própria natureza e, por isso, tudo o que fazemos é imperfeito. O que é imperfeito não
pode merecer o perdão perfeito de Deus.
Somos todos pecadores e nosso salário, isto é, a recompensa natural por nossos méritos,
é a morte (Rm 3.23; 6.23). Para recebermos vida, é preciso que Deus aja conosco de
modo que vá além dos nossos méritos, dando-nos aquilo que não merecemos. É
justamente esse favor que recebemos de Deus sem merecer que se chama “graça”. A
salvação, segundo a Escritura e a teologia reformada, não é fundamentada nos méritos
humanos, mas na graça de Deus.
A natureza humana não é má em si mesma, isto é, em essência, porque foi criada por
Deus e vista por ele mesmo como sendo muito boa (Gn 1.31). Contudo sua atual
condição é de total corrupção ocasionada pelo pecado. Sendo essa corrupção uma
condição da natureza humana, está além de seu poder mudá-la. Isso só pode ser feito
pela obra regeneradora de Deus na vida do pecador.
Paulo, escrevendo aos Efésios, dá mais um bom motivo pelo qual o homem natural é
incapaz de obter a salvação por seus próprios méritos. Ele diz que Deus “vos deu vida,
estando vós mortos em seus delitos e pecados” (Ef 2.1). Um cadáver nada pode fazer
neste mundo, nem mesmo em seu próprio favor, no intuito de tirá-lo da morte. O mesmo
acontece quando uma pessoa está espiritualmente morta. Ela é totalmente incapaz de
fazer ou mesmo de querer qualquer coisa, mesmo que seja para que ela saia da morte.
Por tudo isso, o ser humano é totalmente incapaz de, por si mesmo, livrar-se de seu
pecado e dos efeitos que o pecado produz em sua vida, inclusive no que diz respeito à
salvação. Diante dessa realidade, sua única possibilidade de salvação está na graça de
Deus.
Devemos enfatizar, contudo, que a graça de Deus tem um outro lado, que com
frequência nos esquecemos: a obra sacrificial de Cristo. É um erro lamentável julgar toda
a verdade considerando apenas a parte que nos compete do todo. A graça de Deus se
evidencia nas obras da Trindade. O Pacto da Graça, por meio do qual somos salvos, foi
Pacto de Obras para Cristo. A nossa salvação é muito cara, custou o precioso sangue de
Cristo (1Pe 1.18-20/At 20.28; 1Co 6.20). Isso longe de apontar para o suposto valor
inerente de nossas almas, revela o amor gracioso de Deus que confere valor a nós.
Conclusão
A doutrina das indulgências e a prática da realização de missas em favor dos mortos
deram grande vigor à doutrina de salvação com base em méritos humanos. Essa doutrina
colocou em xeque a doutrina da salvação pela graça, retomada por Lutero e enfatizada
fervorosamente pela teologia reformada. Nada de méritos humanos para a salvação.
Nada de colaboração com Deus para a salvação. Somos salvos pela graça. Sola gratia.
Aplicação
Para ter uma boa ideia do efeito devastador causado pela cobrança de indulgências na
Idade Média, assista ao filme Lutero. Você consegue perceber algum reflexo dessa
prática medieval na igreja contemporânea?
Boa leitura
A graça de Deus é um dos temas mais importantes de toda a Escritura. Para conhecer
mais sobre o tema, sugerimos a leitura de três livros publicados pela Editora Cultura
Cristã: Salvos pela graça, de Anthony Hoekema, Graça que transforma, de Jerry Bridges,
e Cristo e a cruz, de Alderi M. Souza e Hermisten M. P. Costa.
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmen
A teologia reformada admite que muitos irmãos do passado se destacaram pela sua vida
cristã, mas, ao mesmo tempo, insiste em afirmar que somente Deus deve ser adorado.
Veremos, também, formas evangélicas de canonização e endeusamento de pessoas e
aprenderemos a nos posicionar diante desse fenômeno pós-moderno com sabedoria e
firmeza.
Concessão de bênçãos
De acordo com a teologia católica romana, os santos são nossos mediadores diante de
Deus e, assim, podem obter benefícios temporais e espirituais para nós não somente por
suas orações, mas também por seus méritos. Por serem puros, merecem ter seus pedidos
atendidos por Deus. A Escritura afirma que é Deus “quem a todos dá vida, respiração e
tudo mais” (At 17.25). É Deus quem faz vir a chuva “sobre justos e injustos” (Mt 5.45). O
salmo 104 é um longo louvor a Deus por ser o Criador e o Sustentador de tudo o que
existe. Quem concede bênçãos é Deus, não outro.
Há, no Antigo Testamento, o relato de que certo homem, ao ser sepultado, foi jogado às
pressas sobre os ossos de Eliseu e, ao tocá-los, ressuscitou. Este acontecimento é
eventualmente usado por aqueles que creem no poder das relíquias, mas o fato é que
nem antes nem depois do milagre os ossos de Eliseu foram adorados nem seu túmulo foi
transformado em centro de peregrinação religiosa.
Há, ainda, outra forma de adoração proibida na Escritura. Além de proibir a adoração de
qualquer ser além de Deus, a Escritura também proíbe a adoração de Deus por meio de
qualquer representação (Dt 5.8-9).
Na Escritura, todas as imagens feitas para a adoração algum deus são chamadas de
ídolos. Isso acontece, por exemplo, com o bezerro de ouro (At 7.41), com o ídolo de Mica
(Jz 17.3-4) e com os ídolos de Jeroboão (1Rs 12.28). Portanto, quando uma pessoa diz
que, curvando-se a uma imagem ou dirigindo a ela orações, está, na verdade, curvando-
se diante de Deus e dirigindo suas orações a ele, essa pessoa está relatando uma prática
totalmente estranha à Escritura.
Há quem tente usar os querubins que ficavam sobre a arca da aliança e a serpente de
bronze como fundamento para o uso de imagens. No entanto, há que se observar que
nem o querubim nem a serpente de bronze foram adorados. Deus, de fato, disse que
falaria a Moisés do meio dos querubins (Êx 25.22), mas em nenhum lugar ele ordena que
Moisés os adore. Aliás, eles ficavam fora da vista do povo, sobre a arca, no Santo dos
Santos. Quanto à serpente de bronze, ela foi completamente destruída pelo piedoso rei
Ezequias justamente porque os judeus começaram a adorá-la (2Rs 18.4).
No mundo evangélico, uma imensa multidão de pessoas tem sido atraída por pastores que
agem como heróis religiosos, canalizando para si mesmos uma atenção que deveria ser
direcionada a Jesus, o único Salvador e Cabeça da igreja. Nesses movimentos, o líder se
apresenta como revestido de autoridade espiritual máxima, pronto para solucionar
problemas, curar enfermos, expulsar legiões de demônios, dar ordens e receber
recompensas em nome de Cristo.
Essa postura personalista deixa em segundo plano a pessoa de Cristo, que é quem
verdadeiramente soluciona, abençoa, cura, restaura, enfim, quem verdadeiramente age
como Senhor da igreja e sumo sacerdote eterno. Uma coisa é o pastor ser fiel, ter um
ministério abençoado e frutífero e levar a igreja a glorificar a Cristo, reconhecendo nele
a fonte de todo o bem e de toda a vida. Outra coisa é o pastor apontar para si mesmo,
confiando em sua eloquência e em suas aptidões para arrastar multidões. A igreja é de
Cristo e tudo o que se faz nela deve redundar em glórias a Cristo, a mais ninguém.
Outro problema visto nesses grupos evangélicos é o uso de “relíquias evangélicas”: copo
de água em cima do rádio, toalhinha santa, sal grosso, água do rio Jordão, lascas da arca
de Noé, pregos da cruz, manto de Elias, etc. Tudo isso são relíquias modernas que
chamam para si uma atenção que só devia ser dada a Cristo. Quem cura e abençoa não é
a água barrenta do rio Jordão ou a água cristalina de uma fonte borbulhante; não é o sal
grosso nem o sal refinado; não é o manto de Elias nem de Pedro; quem cura e abençoa,
conforme a sua vontade soberana e benfazeja, é Jesus Cristo, o único Mediador da nova
aliança, o único Salvador, o único Autor da vida.
Aplicação pessoal
Como se manifesta o moderno “culto evangélico às relíquias”? Que atitude devemos
tomar quando temos esse comportamento diante de nós?
[1] Extraído e condensado de John Piper, Alegrem-se os povos, publicado por esta
editora.
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.