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Introdução
A vida cristã muitas vezes se assemelha à vida comum e orgânica de qualquer ser
humano. Frequentemente encontramos, por exemplo, os dilemas dos cristãos ilustrados por
metáforas da vida humana cotidiana, e com a maturidade cristã não é diferente.
Ainda que essa não seja a única forma de percebermos o tema da maturidade cristã
em desenvolvimento no texto bíblico, a carta aos Hebreus é enfática justamente dessa
forma ao lidar com o tema:
11
Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de
explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender.
12
Embora a esta altura já devessem ser mestres, precisam de
alguém que ensine a vocês novamente os princípios
elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e
não de alimento sólido! 13Quem se alimenta de leite ainda é
criança e não tem experiência no ensino da justiça. 14Mas o
alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício
constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem
quanto o mal. (Hebreus 5:11-14).
A repreensão do autor é deferida de modo duro aos cristãos receptores da carta pois
eles “se tornaram lentos para aprender”. Eles ainda precisavam de leite, “e não de alimento
sólido”, e isso soava incrivelmente perigoso para o emissor desta carta, de modo que sua
advertência para esses crentes encontra seu ápice no contexto de apostasia. A
argumentação teológica é que quem recebe de Deus sua graça e suas bênçãos deve
crescer com elas. De modo prático, estes crentes deveriam dar frutos que comprovariam
seu crescimento em relação ao conhecimento fundamental da fé que obtiveram, de tal
modo que avançassem para um outro nível de conhecimento de Cristo. Caso contrário,
estariam em sérios apuros (Hb 6:1-8).
Ainda que a carta aos Hebreus encontre tom mais ameno sobre essa questão da
maturidade no mesmo capítulo (Hb 6:9-12), a mistura de convicção, expectativa e alertas
em relação à fé destes crentes (não apenas entre os capítulos 5 e 6, mas ao longo de toda
a carta) mostra-nos a importância de que eles crescessem e se tornassem maduros em
Jesus - importância em nível de necessidade.
1. Vontade de Deus claramente revelada
Assim como um filho nasce e ao longo do tempo cresce se desenvolvendo em força
física, estatura e conhecimento das coisas naturais, assim também deve ser todo o cristão
nascido da água e do Espírito (Jo 3:3). O objetivo maior do Senhor após o novo nascimento
de seus filhos é que estes cresçam e através da graça alcancem a maturidade cristã, pois
isso significa que estamos nos apropriando da promessa de salvação em Jesus (1Pe 2:2).
Então cabe a nós como povo de Deus ter esse objetivo como prioridade. Devemos ter a
mesma intenção do apóstolo Paulo quando disse: “[… ]para que eu possa alcançar
aquilo para o qual fui alcançado por Jesus Cristo” (Ef 4:13).
● Romanos 8:28-30: Nesta passagem o apóstolo Paulo descreve que o maior objetivo
da majestosa providência de Deus é tornar-nos como (“conforme”) Jesus. Este é um
caso de formulação teológica que presume um avanço em nossa fé em Cristo, e
aponta explicitamente a vontade de Deus sobre a nossa condição atual e futura,
quando nesta segunda teremos um status bem mais glorioso e assemelhado ao
nosso Salvador. Além disso, a maneira como o apóstolo redige esses três versículos
sugere que tudo em toda a criação é orquestrado por Deus para que nos
assemelhemos à Jesus.
● 1ª Coríntios 3:1-3: Aqui Paulo revela sua frustração aos coríntios pois estes
estavam vivendo ainda em carnalidade, mesmo após as instruções do apóstolo. Eles
deveriam digerir “alimento sólido”, mas ainda precisavam de leite por permanecerem
como “crianças em Cristo” devido ao pecado que coabitava entre eles.
● Gálatas 4:19: Paulo chama os gálatas de “filhos” nessa passagem, indicando seu
nível de relação com esses crentes e a autenticidade da fé destas pessoas em
Jesus, e com isso o apóstolo afirma com bastante propriedade a respeito de seu
maior objetivo para com eles: que Cristo seja “formado” neles. Isso demonstra que
ainda deve existir algum avanço na espiritualidade cristã destes crentes em Jesus
em caráter de necessidade, afinal, Paulo estava “sofrendo dores de parto” para
alcançar esse objetivo.
● Efésios 4:13-15: Neste texto percebemos de modo um pouco mais sistemático a
importância que Deus dá ao nosso crescimento. Essa passagem esclarece que o
Senhor “designou” ofícios com o intuito de sermos levados à maturidade, numa
organização complementar e estrategicamente definida para sermos protegidos dos
erros e ventos de doutrina.
Deveríamos estar preocupados com a maturidade espiritual, e deveríamos dar a ela o lugar
que lhe é devido em nossos corações, em nossas considerações, tal qual ela
evidentemente ocupa no coração do próprio Senhor, conforme vemos nas Escrituras.
“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava
como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”. 1
Coríntios 13:11
Crianças perdem o interesse muito rápido e se interessam somente por aquilo que
as satisfazem, vão ao encontro das pessoas que tem algo de interesse para elas. Só
pensam em si mesmas. Usam muitos pronomes possessivos: meu brinquedo, meu pai,
minha comida. Essas são também as características dos cristãos recém convertidos e
cristãos meninos que param de se desenvolver. Algo muito diferente do comportamento
cristão maduro: “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos
interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Fl 2:4-5).
“Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se
tornaram lentos para aprender” (Hb 5:11).
O autor da carta aos Hebreu estava advertindo aqueles crentes que pelo tempo já
decorrido já deveriam ter seguido para um nível superior de conhecimento, e os adverte
contra a apostasia. O autor tinha muitas coisas a dizer, porém, estes crentes que já
deveriam ser mestres se tornaram lentos para aprender. No grego a palavra “nothros”
significa preguiçosos, descuidados. Ou seja, eles ficaram com “preguiça a de ouvir e
aprender”. Esses crentes hebreus regrediram, eles “se tornaram lentos para aprender” e
voltaram à infância depois de terem crescido um pouco, e não saíram da fase do alicerce.
Muitos cristãos param o seu progresso na maturidade, não conseguem mais evoluir e ficam
preguiçosos e até mesmo ociosos. Dizem apenas que a fé é o bastante. Vejamos o que o
Apóstolo Pedro escreveu:
A vontade cristã é por determinação baseada naquilo que Deus em seu firme
propósito já determinou. A inclinação, os desejos e a própria vontade devem ser
amadurecidos em Deus. Quando o apóstolo Paulo escreveu “Então não sei o que devo
escolher. Estou cercado pelos dois lados, pois quero muito deixar esta vida e estar com
Cristo, o que é bem melhor. Porém, por causa de vocês, é muito mais necessário que eu
continue a viver. E, como estou certo disso, sei que continuarei vivendo e ficarei com todos
vocês para ajudá-los a progredirem e a terem a alegria que vem da fé” (Fl. 1:21-27). A
vontade de Paulo era a de estar com Cristo, porém entendia que deveria estar ainda que
em prisões neste corpo mortal para ajudar os irmãos a progredirem na fé. Seguir crescendo
na vontade de Deus nos eleva à maturidade da vida cristã e nos faz ser reconhecidos como
família de Deus, estabelecendo a relação divina que recebemos pela fé. “Pois quem faz a
vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12:50).
Nenhuma criança espiritual, que está fora do seu tempo, quando a sua infância já deveria
ter terminado, pode entrar no propósito Divino, e esta é a razão porque há tremenda ênfase
colocada sobre a tragédia da imaturidade, quando deveria ser diferente, e sobre a
necessidade da maturidade. É na maturidade que a herança é possuída, que ocorre o
empossamento dos filhos, que se dá a sujeição do mundo vindouro. Daí a necessidade para
caminharmos para o pleno crescimento. O governo é importante para Deus, e é o total
significado da graça nos santos.
Benção Crente imaturo Crente maduro
Nas finanças Apenas deseja obter mais. Deseja doar mais do que
receber (At 20:35).
1
O termo “teologia bíblica” aqui refere-se à disciplina de teologia que é complementar à teologia
sistemática, e trata-se do estudo do texto bíblico em seu desenvolvimento narrativo, com foco na
hermenêutica e exegese dos temas canônicos.
mostra-se como parte conjunta (ou paralela) e essencial para a redenção do cosmos2 (cf.
Rm 8:12-25).
Com isso, temos essa matéria como item essencial para o povo de Deus por conta
de seu significado (pessoas assemelhadas em sua inteireza à pessoa de Jesus como
objetivo e resultado da vontade do Senhor) e sua significância (a restauração da
humanidade no segundo Adão à sua imagem e semelhança como prerrogativa de redenção
da criação à sua originalidade (cf. Rm 5:14 e 1Co 15:15, Rm 8:12-25, 2Pe 3:10-13),
dando-nos um senso rigorosamente diferente e importante sobre “crescer em Jesus”.
2
Cosmos refere-se comumente ao universo, e nos estudos teológicos geralmente é o termo usado
para mencionar a criação ou toda a existência criada por Deus.