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Aula 1 - Deus deseja que todos os

seus filhos se tornem maduros


Módulo 1: Significado e significância bíblicos da maturidade cristã
(agosto-setembro)

Introdução
A vida cristã muitas vezes se assemelha à vida comum e orgânica de qualquer ser
humano. Frequentemente encontramos, por exemplo, os dilemas dos cristãos ilustrados por
metáforas da vida humana cotidiana, e com a maturidade cristã não é diferente.

Ainda que essa não seja a única forma de percebermos o tema da maturidade cristã
em desenvolvimento no texto bíblico, a carta aos Hebreus é enfática justamente dessa
forma ao lidar com o tema:

11
Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de
explicar, porque vocês se tornaram lentos para aprender.
12
Embora a esta altura já devessem ser mestres, precisam de
alguém que ensine a vocês novamente os princípios
elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e
não de alimento sólido! 13Quem se alimenta de leite ainda é
criança e não tem experiência no ensino da justiça. 14Mas o
alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício
constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem
quanto o mal. (Hebreus 5:11-14).

A repreensão do autor é deferida de modo duro aos cristãos receptores da carta pois
eles “se tornaram lentos para aprender”. Eles ainda precisavam de leite, “e não de alimento
sólido”, e isso soava incrivelmente perigoso para o emissor desta carta, de modo que sua
advertência para esses crentes encontra seu ápice no contexto de apostasia. A
argumentação teológica é que quem recebe de Deus sua graça e suas bênçãos deve
crescer com elas. De modo prático, estes crentes deveriam dar frutos que comprovariam
seu crescimento em relação ao conhecimento fundamental da fé que obtiveram, de tal
modo que avançassem para um outro nível de conhecimento de Cristo. Caso contrário,
estariam em sérios apuros (Hb 6:1-8).

Ainda que a carta aos Hebreus encontre tom mais ameno sobre essa questão da
maturidade no mesmo capítulo (Hb 6:9-12), a mistura de convicção, expectativa e alertas
em relação à fé destes crentes (não apenas entre os capítulos 5 e 6, mas ao longo de toda
a carta) mostra-nos a importância de que eles crescessem e se tornassem maduros em
Jesus - importância em nível de necessidade.
1. Vontade de Deus claramente revelada
Assim como um filho nasce e ao longo do tempo cresce se desenvolvendo em força
física, estatura e conhecimento das coisas naturais, assim também deve ser todo o cristão
nascido da água e do Espírito (Jo 3:3). O objetivo maior do Senhor após o novo nascimento
de seus filhos é que estes cresçam e através da graça alcancem a maturidade cristã, pois
isso significa que estamos nos apropriando da promessa de salvação em Jesus (1Pe 2:2).
Então cabe a nós como povo de Deus ter esse objetivo como prioridade. Devemos ter a
mesma intenção do apóstolo Paulo quando disse: “[… ]para que eu possa alcançar
aquilo para o qual fui alcançado por Jesus Cristo” (Ef 4:13).

A necessidade de maturidade cristã é facilmente percebida em todo o Novo


Testamento. Às vezes o tema é ilustrado, como vimos na introdução, na comparação entre
uma criança e um adulto, por vezes o percebemos numa fraseologia mais teológica, e em
outros casos parece mas se tratar de perseverança (tema sempre presente no texto bíblico
ao pensarmos em maturidade e crescimento cristão). Confira algumas breves descrições de
algumas passagens importantes para o entendimento correto da maturidade cristã nas
Escrituras:

● Romanos 8:28-30: Nesta passagem o apóstolo Paulo descreve que o maior objetivo
da majestosa providência de Deus é tornar-nos como (“conforme”) Jesus. Este é um
caso de formulação teológica que presume um avanço em nossa fé em Cristo, e
aponta explicitamente a vontade de Deus sobre a nossa condição atual e futura,
quando nesta segunda teremos um status bem mais glorioso e assemelhado ao
nosso Salvador. Além disso, a maneira como o apóstolo redige esses três versículos
sugere que tudo em toda a criação é orquestrado por Deus para que nos
assemelhemos à Jesus.

● 1ª Coríntios 3:1-3: Aqui Paulo revela sua frustração aos coríntios pois estes
estavam vivendo ainda em carnalidade, mesmo após as instruções do apóstolo. Eles
deveriam digerir “alimento sólido”, mas ainda precisavam de leite por permanecerem
como “crianças em Cristo” devido ao pecado que coabitava entre eles.

● 2º Coríntios 3:18: Diferentemente da passagem anterior, aqui Paulo se regozija no


fato da segunda aliança trazer uma transformação real do povo de Deus à imagem
do seu Senhor, uma vez que agora não há mais véu e o entendimento é dado pelo
Espírito por meio de Jesus. Não há nada aqui de ordenança à maturidade, mas
muito do significado da maturidade cristã - aqueles que vislumbram e conhecem a
Jesus tornam-se mais e mais parecidos com Ele.

● Gálatas 4:19: Paulo chama os gálatas de “filhos” nessa passagem, indicando seu
nível de relação com esses crentes e a autenticidade da fé destas pessoas em
Jesus, e com isso o apóstolo afirma com bastante propriedade a respeito de seu
maior objetivo para com eles: que Cristo seja “formado” neles. Isso demonstra que
ainda deve existir algum avanço na espiritualidade cristã destes crentes em Jesus
em caráter de necessidade, afinal, Paulo estava “sofrendo dores de parto” para
alcançar esse objetivo.
● Efésios 4:13-15: Neste texto percebemos de modo um pouco mais sistemático a
importância que Deus dá ao nosso crescimento. Essa passagem esclarece que o
Senhor “designou” ofícios com o intuito de sermos levados à maturidade, numa
organização complementar e estrategicamente definida para sermos protegidos dos
erros e ventos de doutrina.

Deveríamos estar preocupados com a maturidade espiritual, e deveríamos dar a ela o lugar
que lhe é devido em nossos corações, em nossas considerações, tal qual ela
evidentemente ocupa no coração do próprio Senhor, conforme vemos nas Escrituras.

1. O que é maturidade espiritual?


A maturidade é o processo em que uma criança sai de sua fase infantil ou imatura e
caminha para a fase adulta. A maturidade cristã é quando após nosso novo nascimento
decidimos sair da fase infantil, e caminhamos na busca da fase espiritual adulta, deixando
de pensar e agir como meninos. Assim escreveu o Apóstolo Paulo:

“Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava
como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino”. 1
Coríntios 13:11

Desenvolver-se espiritualmente é um desafio à vida cristã; tal desafio consiste em


deixar a fase carnal (1Cor. 3:1) e caminhar para ter a mentalidade de Cristo, sendo
transformados com glória cada vez maior através da sua palavra pelo poder do Espírito
Santo (cf. 2Pe 2:2).

2. Fase infantil, a marca da carnalidade.


Você já deve ter conversado com um bebe e já deve ter percebido algumas
características. Aqui pensaremos em duas delas:

2.1 - Um bebe não consegue manter a concentração por muito tempo.

Crianças perdem o interesse muito rápido e se interessam somente por aquilo que
as satisfazem, vão ao encontro das pessoas que tem algo de interesse para elas. Só
pensam em si mesmas. Usam muitos pronomes possessivos: meu brinquedo, meu pai,
minha comida. Essas são também as características dos cristãos recém convertidos e
cristãos meninos que param de se desenvolver. Algo muito diferente do comportamento
cristão maduro: “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos
interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus” (Fl 2:4-5).

2.2. Uma criança se preocupa apenas com coisas básicas e simplistas.

“Quanto a isso, temos muito que dizer, coisas difíceis de explicar, porque vocês se
tornaram lentos para aprender” (Hb 5:11).
O autor da carta aos Hebreu estava advertindo aqueles crentes que pelo tempo já
decorrido já deveriam ter seguido para um nível superior de conhecimento, e os adverte
contra a apostasia. O autor tinha muitas coisas a dizer, porém, estes crentes que já
deveriam ser mestres se tornaram lentos para aprender. No grego a palavra “nothros”
significa preguiçosos, descuidados. Ou seja, eles ficaram com “preguiça a de ouvir e
aprender”. Esses crentes hebreus regrediram, eles “se tornaram lentos para aprender” e
voltaram à infância depois de terem crescido um pouco, e não saíram da fase do alicerce.
Muitos cristãos param o seu progresso na maturidade, não conseguem mais evoluir e ficam
preguiçosos e até mesmo ociosos. Dizem apenas que a fé é o bastante. Vejamos o que o
Apóstolo Pedro escreveu:

“5Por isso mesmo, empenhem-se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o


conhecimento; 6ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à
perseverança a piedade; 7à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor. 8Porque, se
essas qualidades existirem e estiverem crescendo em sua vida, elas impedirão que vocês,
no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam inoperantes e improdutivos.
(2Pe 1:5-8).

3. Por que crescer ou amadurecer?

3.1. Para ter um relacionamento mais profundo com Deus

Quando falamos de um relacionamento mais profundo com Deus, este


relacionamento deve fluir inteiramente das Escrituras, e devemos fazê-lo enquanto
caminhamos com Cristo. A razão disso é simples. Poderíamos afirmar resumidamente que
o cristão maduro é aquele que mantém um relacionamento correto com o Senhor Jesus..

O cristão imatura mantêm apenas dois tipos de relacionamento com Deus: 1) um


relacionamento judicial conforme descrito em Romanos 5:1: “Tendo sido justificados pela fé,
temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo por meio de quem obtivemos
acesso pela fé a esta graça” - este tipo de relacionamento se assemelha ao relacionamento
de um pai com um filho, onde o filho vive sob a tutela do pai, e informe às partes da relação
sobre suas obrigações. O outro tipo de relacionamento é o vital, e o encontramos descrito
em textos como João 6:47, João 15:4 e outros. Em suma, neste tipo de relacionamento o
mesmo é mantido pelo cristão com Deus pois sabe que sem o Senhor ele não pode viver,
significando assim uma relação mais baseada na necessidade. O cristão, porém, deve
avançar no crescimento em outros dois tipos de relacionamento.

3.1.1 Relacionamento Volitivo (Descrever o relacionamento de vontade)

O relacionamento de Cristo com o Pai enquanto homem era totalmente pautada na


vontade do Pai em todas as suas formas. Ele mesmo disse: “A minha vontade é fazer a
vontade daquele que me enviou” (Jo 4:34).

A vontade cristã é por determinação baseada naquilo que Deus em seu firme
propósito já determinou. A inclinação, os desejos e a própria vontade devem ser
amadurecidos em Deus. Quando o apóstolo Paulo escreveu “Então não sei o que devo
escolher. Estou cercado pelos dois lados, pois quero muito deixar esta vida e estar com
Cristo, o que é bem melhor. Porém, por causa de vocês, é muito mais necessário que eu
continue a viver. E, como estou certo disso, sei que continuarei vivendo e ficarei com todos
vocês para ajudá-los a progredirem e a terem a alegria que vem da fé” (Fl. 1:21-27). A
vontade de Paulo era a de estar com Cristo, porém entendia que deveria estar ainda que
em prisões neste corpo mortal para ajudar os irmãos a progredirem na fé. Seguir crescendo
na vontade de Deus nos eleva à maturidade da vida cristã e nos faz ser reconhecidos como
família de Deus, estabelecendo a relação divina que recebemos pela fé. “Pois quem faz a
vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12:50).

O caminho da oração nos direciona a descobrirmos e permanecermos na vontade


do Pai, essa forma de se relacionar não pode ser de forma nenhuma negligenciada pelos
cristãos de hoje. A igreja descrita em atos tinha uma perseverança na doutrina dos
apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 1:14; 2:42, 12:15; 13:3) não por
mera obrigação, antes por prazer - isto é, a igreja se satisfazia na vontade de Deus, e por
isso fazia dela a sua própria vontade (Cl 3:2-5).

3.1.2 Relacionamento Intelectual (Descrever relacionamento de Intelecto)

O relacionamento intelectual se baseia naquilo que conhecemos de Deus, ainda que


com nossas mentes limitadas nós devemos seguir amadurecendo no conhecimento de
Cristo de Jesus. 2Pe. 3:18. Através das escrituras em continua revelação do Espirito santos
o crente tem a sua mente em crescimento e sua vida espiritual sendo manifestada em sua
frutificação (2 Cor. 9:10), em seu amor (1 Ts 3:12) e caminhando para a perfeição. (Hb. 6:1).
Esse tipo de relacionamento deve ser exercitado na leitura e estudo das escrituras.

3.2. Para usufruirmos de bençãos mais excelentes em Deus

“Portanto, deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos para a


maturidade [...] Pois a terra que absorve a chuva que cai frequentemente, e dá
colheita proveitosa àqueles que a cultivam, receba a bênção de Deus.” (Hb 6:1,7)

Nenhuma criança espiritual, que está fora do seu tempo, quando a sua infância já deveria
ter terminado, pode entrar no propósito Divino, e esta é a razão porque há tremenda ênfase
colocada sobre a tragédia da imaturidade, quando deveria ser diferente, e sobre a
necessidade da maturidade. É na maturidade que a herança é possuída, que ocorre o
empossamento dos filhos, que se dá a sujeição do mundo vindouro. Daí a necessidade para
caminharmos para o pleno crescimento. O governo é importante para Deus, e é o total
significado da graça nos santos.
Benção Crente imaturo Crente maduro

Na comunidade (igreja) Vive igreja o mínimo Vive e serve a igreja (a


possível, atendendo aos comunidade) com paciência
cultos e rotinas e alegria, das mais variadas
convencionais. formas possíveis (Cl 1:9-14)

No mundo Vive como se estivesse Encontra satisfação na


apenas sobrevivendo e Criação de Deus, mesmo
apenas encontra desgraça sabendo que o mundo jaz
na Criação. no maligno. Afinal,
sobretudo, o mundo (e toda
a criação) é para a glória de
Deus (1Co 10:31).

Na família Cada um quer os seus Cada um deseja servir os


próprios desejos. desejos dos outros (Ef
5:22-32).

Nas finanças Apenas deseja obter mais. Deseja doar mais do que
receber (At 20:35).

4. Implicações do desejo de Deus de fazer o seu povo


maduro em Cristo
Ao entendermos a maturidade cristã como um desejo prescritivo de Deus para o seu
povo, temos aqui uma responsabilidade ainda maior. Afinal, isso já não se trata de tema
passível de diferentes opiniões teológicas, não permite devaneios filosóficos, muito menos
admite um tratamento secundário ou menos importante - a maturidade cristã trata-se, em
sentido muito significativo, da vontade de Deus para o seu povo.
Se sermos maduros em Jesus é aquilo que devemos tanto almejar com a renovação
da nossa mente “para que [sejamos] capazes de experimentar e comprovar a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2), devemos fazer assim como Cristo fazia:
nos alimentar (experimentar e comprovar) da vontade do Pai (v. Jo 4:34). Sermos maduros
em Cristo torna-se, assim, questão vital. Por isso, suas implicações são para nós dignas de
primeira importância, e com certeza itens cruciais para os crentes em Jesus. Afinal, uma
abordagem correta de teologia bíblica1 nos levará a entender que o plano de Deus de
redimir toda a sua criação do pecado pelo sacrifício de Jesus culmina, invariavelmente, na
salvação e maturidade do seu povo. De tal forma que esse aperfeiçoamento para levar
todos os que crêem em Jesus à sua semelhança (cf. Rm 8:28-30, Fl 3:12, Hb 12:2)

1
O termo “teologia bíblica” aqui refere-se à disciplina de teologia que é complementar à teologia
sistemática, e trata-se do estudo do texto bíblico em seu desenvolvimento narrativo, com foco na
hermenêutica e exegese dos temas canônicos.
mostra-se como parte conjunta (ou paralela) e essencial para a redenção do cosmos2 (cf.
Rm 8:12-25).
Com isso, temos essa matéria como item essencial para o povo de Deus por conta
de seu significado (pessoas assemelhadas em sua inteireza à pessoa de Jesus como
objetivo e resultado da vontade do Senhor) e sua significância (a restauração da
humanidade no segundo Adão à sua imagem e semelhança como prerrogativa de redenção
da criação à sua originalidade (cf. Rm 5:14 e 1Co 15:15, Rm 8:12-25, 2Pe 3:10-13),
dando-nos um senso rigorosamente diferente e importante sobre “crescer em Jesus”.

5. Um olhar atento à essa necessidade


A maturidade cristã representa uma necessidade que, infelizmente, podemos
negligenciar com alguma facilidade, e que se torna ainda mais agravante ao percebermos a
ênfase que o texto bíblico dá à este tema.
No título dessa aula afirmamos que ser maduro em Jesus é um desejo de Deus, e
ao longo dela nós vimos que Ele deixa claro nas Escrituras essa sua vontade. Tamanha é
essa clareza que Deus estabelece recursos, e prescreve ações e práticas para que nos
tornemos maduros em Cristo. Entender quais são esses recursos e ações prescritas nos
ajudarão a compreender a dimensão das implicações desse desejo de Deus para com o
seu povo, e nos darão direcionamentos e força suficientes para buscarmos essa vontade de
Deus tão crucial para a igreja. Veremos ainda como os primeiros cristãos lideram com o
desafio de se tornarem maduros em Jesus, e entenderemos os impactos mais abrangentes
desse desejo de Deus com o objetivo de encararmos esse desejo do Senhor como ele quer
- como matéria de suma importância em nossas vidas.

2
Cosmos refere-se comumente ao universo, e nos estudos teológicos geralmente é o termo usado
para mencionar a criação ou toda a existência criada por Deus.

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