Você já se impressionou com a imagem de um ser humano
malnutrido. Se é uma criança, não te leva a chorar? Não causa tristeza saber tanto das privações que afetam a saúde física, a capacidade cognitiva?
Mas, por que é que nós não nos entristecemos quando nos deparamos com uma pessoa espiritualmente malnutrida?
Se pensarmos nas consequências da enfermidade espiritual,
ela é até mais séria, e deveria nos causar mais tristeza.
Mas a verdade é que poucos de nós ficam abatidos com o
baixo nível espiritual de pessoas ao nosso redor.
E isso não nos provoca inquietação e angústias!
Mas qual é o processo pelo qual amadurecemos
espiritualmente?
Talvez você ore pedindo crescimento pra Deus, mas acaba
criando expectativas imediatistas pra esse crescimento. Esquece que esse processo requer tempo e paciência. A verdade é que nós, queremos resultados rápidos, seja para emagrecer, pra tratar de enfermidades, pra subir na carreira.
Ninguém aceita uma dieta de três anos pra perder peso, ou
aguardar 20 anos na empresa para finalmente ter a chance de subir um degrau a mais, na escala administrativa.
Não temos paciência para tanta espera; queremos
resultados rápidos.
Mas a vida cristã não é assim.
E nosso desânimo, ansiedade e tropeços revelam a falta de
perseverança nesta jornada de crescimento.
J. I. Packer ilustra alguns erros comuns em relação a
busca do crescimento espiritual.
O 1º erro é pensar que o crescimento é sempre visível e
óbvio.
Embora a gente consiga detectar o crescimento na vida de
alguém quando vemos sua reação diante de uma crise ou demanda, ainda assim, o crescimento acontece no coração, um lugar inacessível a nós.
O 2º erro é pensar que o crescimento é sempre um processo
uniforme. Existe diferença de crescimento entre as pessoas (umas crescem de maneira mais rápida). E, diferença entre períodos na vida de uma mesma pessoa.
O 3º erro é pensar que o crescimento é automático para
pastores ou missionários.
Na verdade, criamos muita expectativa na “performance” e
na “imagem de espiritualidade” que esquecemos do processo que cada ser humano passa para crescer. Não é automático e pronto.
O 4º erro é pensar que o crescimento nos protege de dores e
angústias na vida cristã.
O sofrimento pessoal fazia parte da vida de Paulo (2Co 12.7-
10; Rm 9.1-3; 10.1; 2Co 11.23-28). Crescemos em meio aos sofrimentos neste mundo (sejam nossos ou do outro).
O 5º e último erro é pensar que o crescimento se dá
mediante o isolamento de situações desafiadoras, numa espécie de espírito monástico.
Evangélicos em geral, costumam pensar que uma vida
separada das atividades “do mundo” é sinônimo de santidade. E não é isso que a Bíblia nos ensina.
A falta de maturidade na vida de pessoas pode ser percebida
por nós. Mas muitas vezes não percebemos, ou reconhecemos, imaturidade em nós mesmos. Tem coisas que camuflam nossa imaturidade, nos dando a impressão de que não estamos tão mal espiritualmente, assim.
Por exemplo, pessoas que trabalham na igreja podem serem
levadas a trocar a busca contínua de conhecer mais a Deus, pelo ativismo. Acharem que já o suficiente.
Outras pessoas, como os cristãos de Corinto, achavam que
por terem certos dons espirituais, isso dava um certificado de maturidade a eles, e você que já leu a carta aos Coríntios sabe o quanto de trabalho o apóstolo Paulo teve com eles.
Maturidade também não é sinônimo de intelectualidade.
Pessoas simples, podem ser mais maduras espiritualmente do que pessoas que sabem muito, mas praticam pouco do que sabem. Esses três exemplos nos mostram que nossas atividades, dons e estudo, muitas vezes, são obstáculos para enxergar a nossa própria imaturidade espiritual.
Mas pior do que não reconhecer imaturidade, é não desejar
por crescer e amadurecer. (teleios, lit. “perfeito, maduro”; Fp 3.12- 16; Cl 1.28-29; Hb 6.1; Tg 1.4; Sl 42.1-2; 63.1).
Que triste é perder o apetite espiritual. Não é horrível ficar
sem apetite?
Perdemos o apetite quando perdemos a mente de
peregrino, e vemos crescer dentro de nós, as preocupações deste mundo, e ficamos menos incomodados com o pecado.
Muitas vezes rejeitamos os caminhos pelos quais Deus
costuma nos amadurecer. O próprio Senhor Jesus amadureceu mediante sofrimento (Hb 2.10; 5.8-9). A obediência, perfeita desde menino (Lc 2.51), e ele foi crescendo, fazendo a vontade do Pai, era a sua comida, o que o fortalecia (Jo 4.34).
Mas Jesus não foi só um modelo de maturidade, como
também morreu para que fôssemos tornados maduros (Hb 3.14).
Ah! Queridos, como temos necessidade de amadurecer!
Crescimento espiritual é uma necessidade da vida cristã.
Por quê? razões que demandam nosso crescimento:
1º Porque honramos o Senhor (Jo 15.8);
2º Damos prova de nosso novo nascimento (2Pe 1.5-11);
3º Adornamos a doutrina que professamos (Tt 2.10);
4º Somos fortalecidos em nossa segurança (1Jo 2.3-6; 5.13);
5º Preservamos a causa de Cristo de cair em vergonha (Fp 2.15; 1Pe 2.15), e muitas outras razões.
O crescimento revela o estado da nossa saúde espiritual.
Quando um cristão não cresce, alguma coisa está errada. (1Ts 4.1, 10)
Cristãos que não crescem estão doentes!
Crescimento é algo esperado nas Escrituras, pois onde há
vida há crescimento.
Cristãos são comparados ao amanhecer (a luz da aurora) que
vai brilhando mais e mais (Pv 4.18). Sempre há espaço para o crescimento. Nós não podemos cair na síndrome de Peter Pan, em que o seu prazer está em permanecer um menino pra sempre.
Pedro: uma história e um clamor por crescimento
O Novo Testamento ele tem várias chamadas ao crescimento
espiritual (1Co 3.6-7; Ef 2.21; 4.15; Cl 2.19; 1Tm 4.15); e o apóstolo Pedro, em particular, faz um clamor por crescimento espiritual em suas duas cartas (1Pe 2.1-3; 2Pe 3.18).
Crescimento espiritual é um tema muito importante pra ele.
Pedro sabia o quão desafiador é enfrentar este mundo mau,
e ele quer que seus leitores cresçam e amadureçam na fé pra suportarem a pressão e as perseguições desta sociedade anticristã.
A carta aos Hebreus nos mostra o cenário para a
preocupação do apóstolo Pedro, trazendo duas características da imaturidade.
1º O escritor de Hebreus nos alerta sobre a falta de
concentração e foco em Cristo (Hb 2.1; 3.1; 12.2-3) como próprios da infantilidade espiritual (Hb 5.11-13). Assim como crianças não conseguem prender a atenção naquilo que não lhes cativa o coração; Pedro sabia exatamente como somos inclinados a tirar nossos olhos de Cristo e colocá-los na força do vento (Mt 14.29-30). 2º Hebreus também alerta para a falta de discernimento própria dos infantis na fé (Hb 5.14), e Pedro se preocupa em despertar discernimento contra o falso ensino (2Pe 2).
Infelizmente, falta de foco em Cristo e falta de
discernimento são as marcas da maioria evangélica no Brasil, e estas marcam revelam nossa imaturidade espiritual!
Por isso, precisamos aprender com Pedro como
podemos crescer na graça e no conhecimento de Jesus.
Mas, Pedro não ensina sobre crescimento espiritual como
alguém que sempre foi maduro. Pelo contrário, ele também tem um histórico de infantilidade em sua história.
Há vários episódios nos evangelhos que mostra um
Pedro precipitado ou autoconfiante; ao longo desta série, nós vamos tratar de alguns desses episódios.
Às vezes Pedro (juntamente com os demais discípulos)
demonstrava temor, imprudência, orgulho, ira, a falta de entendimento.
Pedro inicialmente é imaturo.
Porém, após a ressurreição de Jesus e a descida do
Espírito, vemos um Pedro bem diferente. O Livro de Atos nos mostra seu crescimento em relação aos evangelhos.
Ele continua o líder que sempre toma as iniciativas, mas
agora com mais maturidade. (Gl 2.9). O Pedro que negou a Jesus nos evangelhos, enfrenta o sinédrio com coragem (At 4);
O Pedro que tentou dissuadir a Cristo do caminho de
sofrimento e morte, estava agora liderando os apóstolos à medida que eram presos e surrados por sua fé (At 5);
O Pedro que afastava crianças do Mestre e que não
conseguia entender por que samaritanos eram heróis nas histórias de Jesus, acabou pregando a Cornélio e tratando os não judeus como alvos das mesmas promessas que os judeus tinham (At 10).
O fato é que Pedro cresceu na graça e no conhecimento
de Jesus.
Nestas duas cartas o apóstolo ensina com maturidade.
Por diversas vezes, podemos ver como Pedro argumenta nas
suas cartas, a partir de sua própria experiência de crescimento.
É claro que, Pedro ainda tropeça, e carece de continuar
crescendo.
Temos o relato de Gálatas 2.11-14, onde Paulo repreende
Pedro, por seu temor de homens, em relação a sua relação com os judeus.
No entanto, crescimento é um processo, é lento, e às
vezes a caminhada tem alguns tropeços que nos ajudam a enxergar nossas fragilidades e a nossa carência do Senhor.
Pedro exorta seus leitores a crescerem (2Pe 3.18) com o verbo
no tempo presente, que na lingua grega significa crescer continuamente; Pedro sabia que nesta vida o crescimento não chega ao seu ponto mais alto.
Precisamos continuar crescendo.
Os evangelhos revelam um Pedro ainda imaturo, mas, além
disso, um Pedro que não se enxergava imaturo.
Lembra da passagem de Mateus 8.23-27, onde Jesus
acalma a tempestade e surpreende os discípulos que já o conheciam, mas não com profundidade.
A pequena fé de Pedro e dos demais discípulos foi revelada,
porque desconheciam o poder e a identidade daquele que controla o mar.
É interessante que, este milagre, assim como o de
multiplicar o pão, eram referências diretas ao Deus Libertador que conduziu o povo hebreu pelo deserto depois de abrir o Mar Vermelho.
A conclusão deveria ser de que Jesus é, o mesmo Deus
revelado no Antigo Testamento. A pergunta feita ao final dessa narrativa é (“Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?”) e é isto que aconteceu lá no deserto.
E a passagem de Mateus 14.22-33, que mostra Jesus
andando por sobre o mar.
Jesus demonstrou novamente seu controle sobre o mar,
desta vez, andando sobre ele. Pedro foi ter com Jesus numa expressão de fé magnífica, mas logo depois, passou a atentar pra força do vento e submergir.
Ainda assim, ele se revela um homem de pequena fé;
isto significa que ele ainda não conhecia Jesus plenamente,
o “Eu sou” diante dele (v. 27).
Sua iniciativa de andar por sobre o mar, revela uma
sensação de que estava pronto para desafios maiores, mas a sua fraqueza evidenciou a sua falta de maturidade.
Pedro ainda não tinha percebido o quanto lhe faltava
amadurecer.
Por isso o seu alerta nas suas cartas, provém de um discípulo
que sabe o que significa ser imaturo e não reconhecer a necessidade de amadurecer.
Por um bom tempo ele achou que não negaria a Cristo.
- - - Sua autoimagem era muito distorcida.- - -
Você sabia que: Não nos conhecemos tão bem quanto
achamos que nos conhecemos?
A nossa compreensão de nós mesmos se dá
proporcionalmente ao nosso conhecimento de Deus, como disse João Calvino, o reformador no início dos seus escritos nas Institutas da Religião Cristã. “Quanto mais eu conheço a Deus, melhor entendo o que significa ser criado à imagem de Deus. Além disso, entendo melhor a profundidade da condição de pecado na qual caí.”
Por isso, Tiago chama a Palavra de Deus de espelho (Tg
1.22-25), pois ela revela nossas imperfeições com a exatidão de um reflexo de nossa imagem no espelho.
Mas Deus não só nos mostra o que somos enquanto criados e
caídos, como também nos revela o significado de sermos remidos.
Parte do nosso crescimento se dá quando entendemos
melhor nossa nova identidade em Cristo.
Olhe comigo agora, para o Pedro que cresceu e ensina sobre
crescimento.
O passado foi destacado brevemente, mas olhar agora os três
aspectos do crescimento espiritual:
preâmbulo, característica e propósito.
Os preâmbulos do crescimento espiritual (novo
nascimento e despojamento do pecado)
O primeiro verso de 1 Pedro 2 apresenta duas características
que podemos chamar de preâmbulo, ou pré-requisitos do crescimento.
A primeira característica é o novo nascimento, que está
no contexto imediato dessa passagem (1.22-25), e o “portanto” (2.1) faz uma conexão a nova orientação ao que aconteceu no passado.
Há uma relação filial com Deus, que é o contexto tanto para
o nosso nascimento, quanto para o crescimento espiritual.
Bebês crescem naturalmente, e nascidos de novo também
devem crescer.
Quando éramos bebezinhos, ainda não dava pra saber
exatamente com quem iríamos parecer, mas na medida que vamos crescendo, as semelhanças com o pai, a mãe, ou outro familiar, vão ficando mais nítidas.
Da mesma forma, é quando crescemos que ficamos mais
parecidos com o nosso Pai Celeste (Mt 5.48; 1Pe 1.16).
E, pelo fato de o Filho mais velho ser idêntico ao Pai, o
objetivo é ficarmos idênticos ao nosso irmão mais velho, Jesus (Rm 8.29).
Mas Cristo é mais do que só o nosso modelo de
crescimento, ele é a fonte de nosso crescimento (a teologia paulina traduz essa ideia na frase tão repetida “em Cristo”).
Precisamos celebrar a conversão de pessoas a Jesus –
como nos diz em (Lc 15.7, 10, 32) -, mas devemos também nos alegrar com a purificação e a perseverança trabalhadas na vida de nossos irmãos em Cristo (3Jo 4; Fp 1.3-5; 1Ts 1.2- 5).
Porque, tanto a conversão como a santificação, se
referem à salvação. Não podemos cair no erro comum entre evangélicos, de valorizar a conversão chamando somente ela de salvação, como se a santificação também não fosse salvação.
A Primeira Carta de Pedro chama o alvo final do processo
santificador de “salvação” (1Pe 1.9; 2.2). Devemos ser crentes que se alegram tanto com a conversão como a santificação, que expressões de salvação!
A segunda característica que compõe o preâmbulo do
crescimento é o despojamento do pecado.
Por causa da nova identidade recebida em Cristo, os cristãos
a quem Pedro escreve, deveriam abandonar os pecados, os quais são inconsistentes com a nova identidade (1Pe 2.11), e voltar a ansiar por esse poder transformador da Palavra (2.1- 2).
Pedro “os exorta a viver uma vida que corresponda ao seu
nascimento”.
Essas realidades estão interligadas: a novidade de vida e
uma vida de abandono do pecado (Rm 6.1-4, 11-14).
A ênfase de Pedro em uma nova postura se repete duas
vezes, com a ideia de abandonar “toda” iniquidade, todo o pecado, no verso 1.
A nossa santidade deve ser como a do nosso Pai (1Pe 1.14-16),
Por isso que, o abandono do pecado está relacionado ao
crescimento espiritual.
Sinclair Ferguson escreve:
“Existe uma profunda correlação na vida cristã entre a consciência do pecado e a percepção da maravilha e do poder do evangelho”.
Somente pecadores é que enxergam sua necessidade de
salvação e a buscam;
Somente aqueles que percebem a profundidade e vilania do
seu pecado, é que desenvolvem desejos por santidade.
É o apóstolo Paulo maduro, que se considera o principal
dos pecadores (1Tm 1.15), não um neófito, um novo na fé.
A percepção de nosso pecado e de nossa pequenez é um
resultado de nos aproximarmos do Senhor.
Quando nosso pecado é percebido, isto é, sinal de que
estamos crescendo.
Pois não há crescimento sem arrependimento na mente
(consciência da transgressão da lei divina), nas emoções (tristeza por ofender a Deus) e na vontade (disposição em abandonar o pecado e trilhar nova direção).
J. I. Packer está tratando do progresso rumo à “pequenez
pessoal que permite a grandeza da graça de Cristo aparecer”. Ele diz que, o orgulho reflete ignorância sobre si mesmo; pois quando crescemos no conhecimento de nós mesmos, crescemos em humildade.
Um princípio muito importante que aparece nas
Escrituras: No Novo Testamento, o crescimento sempre acontece de forma comunitária.
Somos edificados como um só santuário (Ef 2.21), e
recebemos esse crescimento como corpo ligado ao cabeça
(Ef 4.15; Cl 2.19).
Não é por acaso que o Novo Testamento tem inúmeras
exortações mútuas e mandamentos com a expressão “uns aos outros”.
Precisamos prestar contas uns aos outros (início da
disciplina eclesiástica);
Encorajamo-nos uns aos outros em adoração;
Celebramos os sacramentos comunitariamente e;
Ouvimos a palavra como um corpo.
Sinclair Ferguson observa como o Senhor cria
“um povo exclusivamente seu” (Tt 2.14), não indivíduos
isolados.
Se somos edificados como um só templo, nossos
relacionamentos com outros cristãos são parte do desenvolvimento do edifício.
Nossos ministérios uns aos outros são imprescindíveis
para o crescimento, pois nossos dons não foram dados para o desenvolvimento próprio, e sim para o serviço do outro.
Afinal, pertencemos uns aos outros (Rm 12.5) e;
Precisamos uns dos outros para refletir a plenitude do
amor de Cristo (1Co 12.21). A maturidade espiritual, é a razão de ser dos nossos dons espirituais (Ef 4.11-16).
Esse texto de Efésios ensina que os ministérios centrais da
Palavra nos preparam para cada um de nós, exercitar o seu ministério, e com isso deixamos de ser infantes e crescemos no amor fraternal.
Não se pode crescer à parte do corpo de Cristo.
Por isso, faz todo sentido Pedro se referir a pecados que
rompem com a relação comunitária de amor fraternal (1.22).
Os pecados da igreja de Corinto por exemplo, revelam uma
infantilidade divisionista.
Paulo, porém, pede que apenas haja infantilidade na
malícia; no discernimento, porém, deve haver maturidade (1Co 14.20).
Porque Paulo gostaria tanto de vê-los amadurecidos é
que ele revela o pecado dos Coríntios de forma tão escancarada.
*** Se o crescimento se dá comunitariamente, então eu devo
preservar relacionamentos na igreja não porque eu gosto de ficar bem com as pessoas (temor de homens) ou fazer parte da igreja porque eu me encaixo nela (uma motivação egocêntrica, que procura “o molde ideal para mim e para a minha família”). Não! Devo preservar relacionamentos e fazer parte da igreja porque preciso do corpo para crescer, para me tornar mais parecido com Cristo.
Como Russell Moore destaca, o meu crescimento espiritual
tem mais a ver com o que a igreja faz do que com o que eu faço.”
A característica de quem cresce (aspira fortemente pela
Palavra)
Vamos falar da expressão “genuíno leite espiritual”. Pedro
estaria fazendo um jogo de palavras com o final do primeiro capítulo, e a expressão se refere à Palavra de Deus.
Pedro também espera que sejam zelosos para com a
qualidade daquilo que ouvem (uma certa dose de discernimento).
Pedro não está apenas fazendo um elogio à Palavra de Deus
(de que ela está livre de impureza e, por isso, não engana seus leitores), mas está pedindo que haja critério para não aceitar um leite adulterado.”
Deve ser uma palavra “pura” (não adulterada), que
realmente nutra para o crescimento.
Só crescemos espiritualmente com o ensino saudável da
Palavra!
É a Palavra que tem os nutrientes suficientes para o nosso
crescimento. Ao falar dos crentes, a serem como recém-nascidos que almejam leite, Pedro não os está reprovando como Paulo (1Co 3.1) ou o autor de Hebreus (Hb 5.12).
Pedro usa a metáfora apenas para ensinar que devem anelar
pela Palavra com o mesmo anseio e força com que bebês anelam e buscam por seu leite.
Com certeza, você já viu um bebê chorando com toda a força
de seus pulmões quando precisa de leite.
Os bebês recém-nascidos, agem como se a sua vida
dependesse unicamente desta refeição.
Assim também os cristãos devem mostrar seu desejo pela
Palavra de Deus.
Pedro usa a palavra traduzida como “desejai ardentemente”,
porque se trata de um anelo muito forte, um anseio por Deus (“suspira” em Sl 42.1; 84.2).
Assim como Provérbios está exortando os mais jovens a
desejarem a sabedoria (Pv 2.1-6), Pedro está encorajando seus leitores a desejarem as Escrituras com a força de quem busca sobreviver.
Por isso, a metáfora do bebê desejando leite é perfeita.
Pedro não está se referindo ao leite, tentando falar sobre o
“ensino elementar”, mas que eles precisam desejar este alimento, a Palavra, com a mesma força com que o bebê o faz.
Com frequência, a nossa busca por Deus, por Sua Palavra
está equivocada, mais relacionada a “como eu posso obedecer mais a Deus” em vez de “como Deus produz obediência em mim mediante a sua Palavra.”
Deus é quem produz o crescimento (1Co 3.6-7), e a
maneira dele fazer isso, é sempre por intermédio da sua Palavra (Ef 4.13-16).
É a Palavra aplicada pelo Espírito, que tem o poder para
iluminar nossa mente, tocar no mais íntimo das nossas afeições e atrair nossa vontade para se curvar diante dele.
Surge, então, a pergunta: como podemos desejar mais
esta Palavra?
Creio que a resposta é dupla:
1º comendo regularmente e comendo bem.
Comer regularmente diz respeito a alimentar-se da Palavra
mesmo quando não estamos “a fim” de fazer isso, pois gosto pela Bíblia é gosto adquirido; quanto mais você se alimenta dela, mais você a aprecia. O gosto por ela vem com o passar do tempo. Assim, não espere ter gosto por ela para então comê-la; adquira gosto se alimentando dela.
A 2ª orientação, de comer bem, diz respeito a se alimentar
do evangelho (o filé das Escrituras) para não fazer mau uso da Escritura.
Por exemplo, é possível alguém utilizar a Escritura na
pregação para promover moralismo triunfalista. Isso acontece quando exaltamos heróis bíblicos e encorajamos pessoas a imitá-los. Por mais que a Escritura tenha histórias de pessoas que incorporem virtudes cristas que devam ser imitadas, nossa ênfase em vida de santificação baseada em esforço revela um menosprezo (não intencional) da obra soberana do Espírito em nos habilitar.
Quando promovemos o moralismo triunfalista, fazemos
com que a santificação parece muito mais, uma obra nossa, do que uma obra divina; isso é moralismo.
Em segundo lugar, é possível alguém utilizar a Escritura na
pregação para promover o legalismo escravizante.
Esse é o ensino que foca apenas no aspecto proibitivo da
santificação; a Bíblia “proíbe isso e aquilo”.
A verdade é que o legalismo se reveste de roupagem bíblica.
O legalista gosta de falar de santificação, mais do que de
qualquer outro tópico. E a Bíblia realmente fala muito sobre fazer morrer a nossa natureza terrena (Rm 8.13; Cl 3.5; Ef 4.22-24). Porém, quando a privação não decorre de um amor maior capaz de superar nosso amor por coisas fúteis, qualquer esforço de nossa parte é legalismo.
Jerry Bridges afirma que,
“quando não compreendemos que o crescimento espiritual é
graça, as disciplinas espirituais se convertem em obrigações penosas que praticamos para manter o favor de Deus.” Por último, também é possível que a pregação utilize a Bíblia apenas tangencialmente, já que o tom que prevalece é o de misticismo subjetivo.
O místico ama falar que ele é sensível ao “toque” ou à
“voz” de Deus, como se fosse mais espiritual.
Certos encontros e movimentos parecem ser mais
espirituais porque promovem esse “toque de Deus.”
O místico se acha uma pessoa que tem o Espírito em
maior medida, acha que arrazoar em cima de princípios bíblicos é matar o Espírito.
Quem pensa que santificação acontece por intermédio de
experiências místicas não tem discernimento e está sujeito a espíritos enganadores (1Jo 4.1).
Por isso, devemos desejar o genuíno leite espiritual, o
qual de fato satisfaz.
Há muitos que utilizam as Escrituras, mas o que extraem
dela é Moralismo, legalismo ou misticismo; isso é “junk food”: não só não alimenta como faz mal.
O final do verso 2 diz que o propósito do crescimento vindo
do leite da Palavra é “salvação”.
Ele está se referindo ao completar da salvação, uma
perspectiva escatológica de “salvação” (futura). Isto significa que Pedro almeja nos ver atingindo o alvo. Esse é o desejo de todo bom pai para o seu filho, que ele atinja a maturidade, alcance o alvo. A “perfeita varonilidade” de Cristo. (Ef 4.13).
Porém, existe um deleite a mais que também é o objetivo
disso. Nos achegar à Palavra é sinônimo de nos achegar ao Senhor. O que experimentamos na Escritura é o próprio Senhor. Pedro cita o Salmo 34.8:
(“Provai... que o SENHOR é bom”) para relacionar a
experiência prévia da bondade do Senhor com o estímulo a continuar provando dessa bondade.
Já provamos da bondade do Senhor, e isso deve nos
estimular a ansiar por mais do próprio Senhor.
A bondade do Senhor é o estímulo para nossa santificação.
Buscar o Senhor não deve apenas ser apenas resultado de esforço, para que a santificação não nos pareça pesada, e nunca deleitosa. Em vez de apenas “Eu tenho de ler mais a Bíblia”, “Eu tenho de orar mais”, pois isso vira legalismo.
É o amor de Cristo que nos constrange a responder em
consagração (2Co 5.14-15). A única forma de crescermos é quando nossa devoção é nosso deleite (Sl 16.11). É assim que passamos a ler mais a Bíblia, orar mais, ter mais zelo por nossa devoção.