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UM CHAMADO AO CRESCIMENTO ESPIRITUAL

(1PE 2.1-3; ΜΤ 8.23-27; 14.22-33)

Procuram-se cristãos maduros

Você já se impressionou com a imagem de um ser humano


malnutrido. Se é uma criança, não te leva a chorar? Não
causa tristeza saber tanto das privações que afetam a saúde
física, a capacidade cognitiva?

Mas, por que é que nós não nos entristecemos quando nos
deparamos com uma pessoa espiritualmente malnutrida?

Se pensarmos nas consequências da enfermidade espiritual,


ela é até mais séria, e deveria nos causar mais tristeza.

Mas a verdade é que poucos de nós ficam abatidos com o


baixo nível espiritual de pessoas ao nosso redor.

E isso não nos provoca inquietação e angústias!

Mas qual é o processo pelo qual amadurecemos


espiritualmente?

Talvez você ore pedindo crescimento pra Deus, mas acaba


criando expectativas imediatistas pra esse crescimento.
Esquece que esse processo requer tempo e paciência.
A verdade é que nós, queremos resultados rápidos, seja para
emagrecer, pra tratar de enfermidades, pra subir na
carreira.

Ninguém aceita uma dieta de três anos pra perder peso, ou


aguardar 20 anos na empresa para finalmente ter a chance
de subir um degrau a mais, na escala administrativa.

Não temos paciência para tanta espera; queremos


resultados rápidos.

Mas a vida cristã não é assim.

E nosso desânimo, ansiedade e tropeços revelam a falta de


perseverança nesta jornada de crescimento.

J. I. Packer ilustra alguns erros comuns em relação a


busca do crescimento espiritual.

O 1º erro é pensar que o crescimento é sempre visível e


óbvio.

Embora a gente consiga detectar o crescimento na vida de


alguém quando vemos sua reação diante de uma crise ou
demanda, ainda assim, o crescimento acontece no coração,
um lugar inacessível a nós.

O 2º erro é pensar que o crescimento é sempre um processo


uniforme.
Existe diferença de crescimento entre as pessoas (umas
crescem de maneira mais rápida). E, diferença entre
períodos na vida de uma mesma pessoa.

O 3º erro é pensar que o crescimento é automático para


pastores ou missionários.

Na verdade, criamos muita expectativa na “performance” e


na “imagem de espiritualidade” que esquecemos do
processo que cada ser humano passa para crescer. Não é
automático e pronto.

O 4º erro é pensar que o crescimento nos protege de dores e


angústias na vida cristã.

O sofrimento pessoal fazia parte da vida de Paulo (2Co 12.7-


10; Rm 9.1-3; 10.1; 2Co 11.23-28). Crescemos em meio aos
sofrimentos neste mundo (sejam nossos ou do outro).

O 5º e último erro é pensar que o crescimento se dá


mediante o isolamento de situações desafiadoras, numa
espécie de espírito monástico.

Evangélicos em geral, costumam pensar que uma vida


separada das atividades “do mundo” é sinônimo de
santidade. E não é isso que a Bíblia nos ensina.

A falta de maturidade na vida de pessoas pode ser percebida


por nós. Mas muitas vezes não percebemos, ou
reconhecemos, imaturidade em nós mesmos.
Tem coisas que camuflam nossa imaturidade, nos dando a
impressão de que não estamos tão mal espiritualmente,
assim.

Por exemplo, pessoas que trabalham na igreja podem serem


levadas a trocar a busca contínua de conhecer mais a Deus,
pelo ativismo. Acharem que já o suficiente.

Outras pessoas, como os cristãos de Corinto, achavam que


por terem certos dons espirituais, isso dava um certificado
de maturidade a eles, e você que já leu a carta aos Coríntios
sabe o quanto de trabalho o apóstolo Paulo teve com eles.

Maturidade também não é sinônimo de intelectualidade.


Pessoas simples, podem ser mais maduras espiritualmente
do que pessoas que sabem muito, mas praticam pouco do
que sabem. Esses três exemplos nos mostram que nossas
atividades, dons e estudo, muitas vezes, são obstáculos para
enxergar a nossa própria imaturidade espiritual.

Mas pior do que não reconhecer imaturidade, é não desejar


por crescer e amadurecer. (teleios, lit. “perfeito, maduro”; Fp 3.12-
16; Cl 1.28-29; Hb 6.1; Tg 1.4; Sl 42.1-2; 63.1).

Que triste é perder o apetite espiritual. Não é horrível ficar


sem apetite?

Perdemos o apetite quando perdemos a mente de


peregrino, e vemos crescer dentro de nós, as preocupações
deste mundo, e ficamos menos incomodados com o pecado.

Muitas vezes rejeitamos os caminhos pelos quais Deus


costuma nos amadurecer. O próprio Senhor Jesus
amadureceu mediante sofrimento (Hb 2.10; 5.8-9).
A obediência, perfeita desde menino (Lc 2.51), e ele foi
crescendo, fazendo a vontade do Pai, era a sua comida, o que
o fortalecia (Jo 4.34).

Mas Jesus não foi só um modelo de maturidade, como


também morreu para que fôssemos tornados maduros (Hb
3.14).

Ah! Queridos, como temos necessidade de amadurecer!

Crescimento espiritual é uma necessidade da vida cristã.

Por quê? razões que demandam nosso crescimento:

1º Porque honramos o Senhor (Jo 15.8);

2º Damos prova de nosso novo nascimento (2Pe 1.5-11);

3º Adornamos a doutrina que professamos (Tt 2.10);

4º Somos fortalecidos em nossa segurança (1Jo 2.3-6; 5.13);


5º Preservamos a causa de Cristo de cair em vergonha (Fp
2.15; 1Pe 2.15), e muitas outras razões.

O crescimento revela o estado da nossa saúde espiritual.


Quando um cristão não cresce, alguma coisa está errada. (1Ts
4.1, 10)

Cristãos que não crescem estão doentes!

Crescimento é algo esperado nas Escrituras, pois onde há


vida há crescimento.

Cristãos são comparados ao amanhecer (a luz da aurora) que


vai brilhando mais e mais (Pv 4.18). Sempre há espaço para o
crescimento.
Nós não podemos cair na síndrome de Peter Pan, em que o
seu prazer está em permanecer um menino pra sempre.

Pedro: uma história e um clamor por crescimento

O Novo Testamento ele tem várias chamadas ao crescimento


espiritual (1Co 3.6-7; Ef 2.21; 4.15; Cl 2.19; 1Tm 4.15); e o
apóstolo Pedro, em particular, faz um clamor por
crescimento espiritual em suas duas cartas (1Pe 2.1-3; 2Pe
3.18).

Crescimento espiritual é um tema muito importante pra ele.

Pedro sabia o quão desafiador é enfrentar este mundo mau,


e ele quer que seus leitores cresçam e amadureçam na fé pra
suportarem a pressão e as perseguições desta sociedade
anticristã.

A carta aos Hebreus nos mostra o cenário para a


preocupação do apóstolo Pedro, trazendo duas
características da imaturidade.

1º O escritor de Hebreus nos alerta sobre a falta de


concentração e foco em Cristo (Hb 2.1; 3.1; 12.2-3) como
próprios da infantilidade espiritual (Hb 5.11-13). Assim
como crianças não conseguem prender a atenção naquilo
que não lhes cativa o coração; Pedro sabia exatamente como
somos inclinados a tirar nossos olhos de Cristo e colocá-los
na força do vento (Mt 14.29-30).
2º Hebreus também alerta para a falta de discernimento
própria dos infantis na fé (Hb 5.14), e Pedro se preocupa
em despertar discernimento contra o falso ensino (2Pe
2).

Infelizmente, falta de foco em Cristo e falta de


discernimento são as marcas da maioria evangélica no
Brasil, e estas marcam revelam nossa imaturidade
espiritual!

Por isso, precisamos aprender com Pedro como


podemos crescer na graça e no conhecimento de Jesus.

Mas, Pedro não ensina sobre crescimento espiritual como


alguém que sempre foi maduro. Pelo contrário, ele também
tem um histórico de infantilidade em sua história.

Há vários episódios nos evangelhos que mostra um


Pedro precipitado ou autoconfiante; ao longo desta série,
nós vamos tratar de alguns desses episódios.

Às vezes Pedro (juntamente com os demais discípulos)


demonstrava temor, imprudência, orgulho, ira, a falta de
entendimento.

Pedro inicialmente é imaturo.

Porém, após a ressurreição de Jesus e a descida do


Espírito, vemos um Pedro bem diferente. O Livro de Atos
nos mostra seu crescimento em relação aos evangelhos.

Ele continua o líder que sempre toma as iniciativas, mas


agora com mais maturidade. (Gl 2.9).
O Pedro que negou a Jesus nos evangelhos, enfrenta o
sinédrio com coragem (At 4);

O Pedro que tentou dissuadir a Cristo do caminho de


sofrimento e morte, estava agora liderando os apóstolos à
medida que eram presos e surrados por sua fé (At 5);

O Pedro que afastava crianças do Mestre e que não


conseguia entender por que samaritanos eram heróis nas
histórias de Jesus, acabou pregando a Cornélio e tratando os
não judeus como alvos das mesmas promessas que os judeus
tinham (At 10).

O fato é que Pedro cresceu na graça e no conhecimento


de Jesus.

Nestas duas cartas o apóstolo ensina com maturidade.

Por diversas vezes, podemos ver como Pedro argumenta nas


suas cartas, a partir de sua própria experiência de
crescimento.

É claro que, Pedro ainda tropeça, e carece de continuar


crescendo.

Temos o relato de Gálatas 2.11-14, onde Paulo repreende


Pedro, por seu temor de homens, em relação a sua relação
com os judeus.

No entanto, crescimento é um processo, é lento, e às


vezes a caminhada tem alguns tropeços que nos ajudam a
enxergar nossas fragilidades e a nossa carência do Senhor.

Pedro exorta seus leitores a crescerem (2Pe 3.18) com o verbo


no tempo presente, que na lingua grega significa crescer
continuamente; Pedro sabia que nesta vida o crescimento
não chega ao seu ponto mais alto.

Precisamos continuar crescendo.

Os evangelhos revelam um Pedro ainda imaturo, mas, além


disso, um Pedro que não se enxergava imaturo.

Lembra da passagem de Mateus 8.23-27, onde Jesus


acalma a tempestade e surpreende os discípulos que já o
conheciam, mas não com profundidade.

A pequena fé de Pedro e dos demais discípulos foi revelada,


porque desconheciam o poder e a identidade daquele que
controla o mar.

É interessante que, este milagre, assim como o de


multiplicar o pão, eram referências diretas ao Deus
Libertador que conduziu o povo hebreu pelo deserto
depois de abrir o Mar Vermelho.

A conclusão deveria ser de que Jesus é, o mesmo Deus


revelado no Antigo Testamento. A pergunta feita ao final
dessa narrativa é (“Quem é este que até os ventos e o mar lhe
obedecem?”) e é isto que aconteceu lá no deserto.

E a passagem de Mateus 14.22-33, que mostra Jesus


andando por sobre o mar.

Jesus demonstrou novamente seu controle sobre o mar,


desta vez, andando sobre ele.
Pedro foi ter com Jesus numa expressão de fé magnífica,
mas logo depois, passou a atentar pra força do vento e
submergir.

Ainda assim, ele se revela um homem de pequena fé;

isto significa que ele ainda não conhecia Jesus plenamente,


o “Eu sou” diante dele (v. 27).

Sua iniciativa de andar por sobre o mar, revela uma


sensação de que estava pronto para desafios maiores, mas a
sua fraqueza evidenciou a sua falta de maturidade.

Pedro ainda não tinha percebido o quanto lhe faltava


amadurecer.

Por isso o seu alerta nas suas cartas, provém de um discípulo


que sabe o que significa ser imaturo e não reconhecer a
necessidade de amadurecer.

Por um bom tempo ele achou que não negaria a Cristo.

- - - Sua autoimagem era muito distorcida.- - -

Você sabia que: Não nos conhecemos tão bem quanto


achamos que nos conhecemos?

A nossa compreensão de nós mesmos se dá


proporcionalmente ao nosso conhecimento de Deus, como
disse João Calvino, o reformador no início dos seus
escritos nas Institutas da Religião Cristã.
“Quanto mais eu conheço a Deus, melhor entendo o que
significa ser criado à imagem de Deus. Além disso, entendo
melhor a profundidade da condição de pecado na qual caí.”

Por isso, Tiago chama a Palavra de Deus de espelho (Tg


1.22-25), pois ela revela nossas imperfeições com a exatidão
de um reflexo de nossa imagem no espelho.

Mas Deus não só nos mostra o que somos enquanto criados e


caídos, como também nos revela o significado de sermos
remidos.

Parte do nosso crescimento se dá quando entendemos


melhor nossa nova identidade em Cristo.

Olhe comigo agora, para o Pedro que cresceu e ensina sobre


crescimento.

O passado foi destacado brevemente, mas olhar agora os três


aspectos do crescimento espiritual:

preâmbulo, característica e propósito.

Os preâmbulos do crescimento espiritual (novo


nascimento e despojamento do pecado)

O primeiro verso de 1 Pedro 2 apresenta duas características


que podemos chamar de preâmbulo, ou pré-requisitos do
crescimento.

A primeira característica é o novo nascimento, que está


no contexto imediato dessa passagem (1.22-25),
e o “portanto” (2.1) faz uma conexão a nova orientação ao
que aconteceu no passado.

Há uma relação filial com Deus, que é o contexto tanto para


o nosso nascimento, quanto para o crescimento espiritual.

Bebês crescem naturalmente, e nascidos de novo também


devem crescer.

Quando éramos bebezinhos, ainda não dava pra saber


exatamente com quem iríamos parecer, mas na medida que
vamos crescendo, as semelhanças com o pai, a mãe, ou
outro familiar, vão ficando mais nítidas.

Da mesma forma, é quando crescemos que ficamos mais


parecidos com o nosso Pai Celeste (Mt 5.48; 1Pe 1.16).

E, pelo fato de o Filho mais velho ser idêntico ao Pai, o


objetivo é ficarmos idênticos ao nosso irmão mais velho,
Jesus (Rm 8.29).

Mas Cristo é mais do que só o nosso modelo de


crescimento, ele é a fonte de nosso crescimento (a teologia
paulina traduz essa ideia na frase tão repetida “em Cristo”).

Precisamos celebrar a conversão de pessoas a Jesus –


como nos diz em (Lc 15.7, 10, 32) -, mas devemos também nos
alegrar com a purificação e a perseverança trabalhadas
na vida de nossos irmãos em Cristo (3Jo 4; Fp 1.3-5; 1Ts 1.2-
5).

Porque, tanto a conversão como a santificação, se


referem à salvação.
Não podemos cair no erro comum entre evangélicos, de
valorizar a conversão chamando somente ela de salvação,
como se a santificação também não fosse salvação.

A Primeira Carta de Pedro chama o alvo final do processo


santificador de “salvação” (1Pe 1.9; 2.2). Devemos ser
crentes que se alegram tanto com a conversão como a
santificação, que expressões de salvação!

A segunda característica que compõe o preâmbulo do


crescimento é o despojamento do pecado.

Por causa da nova identidade recebida em Cristo, os cristãos


a quem Pedro escreve, deveriam abandonar os pecados, os
quais são inconsistentes com a nova identidade (1Pe 2.11), e
voltar a ansiar por esse poder transformador da Palavra (2.1-
2).

Pedro “os exorta a viver uma vida que corresponda ao seu


nascimento”.

Essas realidades estão interligadas: a novidade de vida e


uma vida de abandono do pecado (Rm 6.1-4, 11-14).

A ênfase de Pedro em uma nova postura se repete duas


vezes, com a ideia de abandonar “toda” iniquidade, todo o
pecado, no verso 1.

A nossa santidade deve ser como a do nosso Pai (1Pe 1.14-16),

Por isso que, o abandono do pecado está relacionado ao


crescimento espiritual.

Sinclair Ferguson escreve:


“Existe uma profunda correlação na vida cristã entre a
consciência do pecado e a percepção da maravilha e do poder
do evangelho”.

Somente pecadores é que enxergam sua necessidade de


salvação e a buscam;

Somente aqueles que percebem a profundidade e vilania do


seu pecado, é que desenvolvem desejos por santidade.

É o apóstolo Paulo maduro, que se considera o principal


dos pecadores (1Tm 1.15), não um neófito, um novo na fé.

A percepção de nosso pecado e de nossa pequenez é um


resultado de nos aproximarmos do Senhor.

Quando nosso pecado é percebido, isto é, sinal de que


estamos crescendo.

Pois não há crescimento sem arrependimento na mente


(consciência da transgressão da lei divina), nas emoções
(tristeza por ofender a Deus) e na vontade (disposição em
abandonar o pecado e trilhar nova direção).

J. I. Packer está tratando do progresso rumo à “pequenez


pessoal que permite a grandeza da graça de Cristo
aparecer”. Ele diz que, o orgulho reflete ignorância sobre
si mesmo; pois quando crescemos no conhecimento de nós
mesmos, crescemos em humildade.

Um princípio muito importante que aparece nas


Escrituras:
No Novo Testamento, o crescimento sempre acontece de
forma comunitária.

Somos edificados como um só santuário (Ef 2.21), e

recebemos esse crescimento como corpo ligado ao cabeça


(Ef 4.15; Cl 2.19).

Não é por acaso que o Novo Testamento tem inúmeras


exortações mútuas e mandamentos com a expressão “uns
aos outros”.

Precisamos prestar contas uns aos outros (início da


disciplina eclesiástica);

Encorajamo-nos uns aos outros em adoração;

Celebramos os sacramentos comunitariamente e;

Ouvimos a palavra como um corpo.

Sinclair Ferguson observa como o Senhor cria

“um povo exclusivamente seu” (Tt 2.14), não indivíduos


isolados.

Se somos edificados como um só templo, nossos


relacionamentos com outros cristãos são parte do
desenvolvimento do edifício.

Nossos ministérios uns aos outros são imprescindíveis


para o crescimento, pois nossos dons não foram dados para
o desenvolvimento próprio, e sim para o serviço do outro.

Afinal, pertencemos uns aos outros (Rm 12.5) e;

Precisamos uns dos outros para refletir a plenitude do


amor de Cristo (1Co 12.21).
A maturidade espiritual, é a razão de ser dos nossos
dons espirituais (Ef 4.11-16).

Esse texto de Efésios ensina que os ministérios centrais da


Palavra nos preparam para cada um de nós, exercitar o seu
ministério, e com isso deixamos de ser infantes e
crescemos no amor fraternal.

Não se pode crescer à parte do corpo de Cristo.

Por isso, faz todo sentido Pedro se referir a pecados que


rompem com a relação comunitária de amor fraternal
(1.22).

Os pecados da igreja de Corinto por exemplo, revelam uma


infantilidade divisionista.

Paulo, porém, pede que apenas haja infantilidade na


malícia; no discernimento, porém, deve haver maturidade
(1Co 14.20).

Porque Paulo gostaria tanto de vê-los amadurecidos é


que ele revela o pecado dos Coríntios de forma tão
escancarada.

*** Se o crescimento se dá comunitariamente, então eu devo


preservar relacionamentos na igreja não porque eu gosto
de ficar bem com as pessoas (temor de homens) ou fazer parte
da igreja porque eu me encaixo nela (uma motivação
egocêntrica, que procura “o molde ideal para mim e para a
minha família”). Não!
Devo preservar relacionamentos e fazer parte da igreja
porque preciso do corpo para crescer, para me tornar
mais parecido com Cristo.

Como Russell Moore destaca, o meu crescimento espiritual


tem mais a ver com o que a igreja faz do que com o que eu
faço.”

A característica de quem cresce (aspira fortemente pela


Palavra)

Vamos falar da expressão “genuíno leite espiritual”. Pedro


estaria fazendo um jogo de palavras com o final do primeiro
capítulo, e a expressão se refere à Palavra de Deus.

Pedro também espera que sejam zelosos para com a


qualidade daquilo que ouvem (uma certa dose de
discernimento).

Pedro não está apenas fazendo um elogio à Palavra de Deus


(de que ela está livre de impureza e, por isso, não engana
seus leitores), mas está pedindo que haja critério para não
aceitar um leite adulterado.”

Deve ser uma palavra “pura” (não adulterada), que


realmente nutra para o crescimento.

Só crescemos espiritualmente com o ensino saudável da


Palavra!

É a Palavra que tem os nutrientes suficientes para o nosso


crescimento.
Ao falar dos crentes, a serem como recém-nascidos que
almejam leite, Pedro não os está reprovando como Paulo
(1Co 3.1) ou o autor de Hebreus (Hb 5.12).

Pedro usa a metáfora apenas para ensinar que devem anelar


pela Palavra com o mesmo anseio e força com que bebês
anelam e buscam por seu leite.

Com certeza, você já viu um bebê chorando com toda a força


de seus pulmões quando precisa de leite.

Os bebês recém-nascidos, agem como se a sua vida


dependesse unicamente desta refeição.

Assim também os cristãos devem mostrar seu desejo pela


Palavra de Deus.

Pedro usa a palavra traduzida como “desejai ardentemente”,


porque se trata de um anelo muito forte, um anseio por
Deus (“suspira” em Sl 42.1; 84.2).

Assim como Provérbios está exortando os mais jovens a


desejarem a sabedoria (Pv 2.1-6), Pedro está encorajando
seus leitores a desejarem as Escrituras com a força de
quem busca sobreviver.

Por isso, a metáfora do bebê desejando leite é perfeita.

Pedro não está se referindo ao leite, tentando falar sobre o


“ensino elementar”, mas que eles precisam desejar este
alimento, a Palavra, com a mesma força com que o bebê o
faz.

Com frequência, a nossa busca por Deus, por Sua Palavra


está equivocada, mais relacionada a “como eu posso
obedecer mais a Deus” em vez de “como Deus produz
obediência em mim mediante a sua Palavra.”

Deus é quem produz o crescimento (1Co 3.6-7), e a


maneira dele fazer isso, é sempre por intermédio da sua
Palavra (Ef 4.13-16).

É a Palavra aplicada pelo Espírito, que tem o poder para


iluminar nossa mente, tocar no mais íntimo das nossas
afeições e atrair nossa vontade para se curvar diante dele.

Surge, então, a pergunta: como podemos desejar mais


esta Palavra?

Creio que a resposta é dupla:

1º comendo regularmente e comendo bem.

Comer regularmente diz respeito a alimentar-se da Palavra


mesmo quando não estamos “a fim” de fazer isso, pois gosto
pela Bíblia é gosto adquirido; quanto mais você se
alimenta dela, mais você a aprecia. O gosto por ela vem
com o passar do tempo. Assim, não espere ter gosto por ela
para então comê-la; adquira gosto se alimentando dela.

A 2ª orientação, de comer bem, diz respeito a se alimentar


do evangelho (o filé das Escrituras) para não fazer mau uso
da Escritura.

Por exemplo, é possível alguém utilizar a Escritura na


pregação para promover moralismo triunfalista.
Isso acontece quando exaltamos heróis bíblicos e
encorajamos pessoas a imitá-los. Por mais que a Escritura
tenha histórias de pessoas que incorporem virtudes cristas
que devam ser imitadas, nossa ênfase em vida de
santificação baseada em esforço revela um menosprezo
(não intencional) da obra soberana do Espírito em nos
habilitar.

Quando promovemos o moralismo triunfalista, fazemos


com que a santificação parece muito mais, uma obra nossa,
do que uma obra divina; isso é moralismo.

Em segundo lugar, é possível alguém utilizar a Escritura na


pregação para promover o legalismo escravizante.

Esse é o ensino que foca apenas no aspecto proibitivo da


santificação; a Bíblia “proíbe isso e aquilo”.

A verdade é que o legalismo se reveste de roupagem bíblica.

O legalista gosta de falar de santificação, mais do que de


qualquer outro tópico. E a Bíblia realmente fala muito sobre
fazer morrer a nossa natureza terrena (Rm 8.13; Cl 3.5; Ef
4.22-24). Porém, quando a privação não decorre de um amor
maior capaz de superar nosso amor por coisas fúteis,
qualquer esforço de nossa parte é legalismo.

Jerry Bridges afirma que,

“quando não compreendemos que o crescimento espiritual é


graça, as disciplinas espirituais se convertem em obrigações
penosas que praticamos para manter o favor de Deus.”
Por último, também é possível que a pregação utilize a
Bíblia apenas tangencialmente, já que o tom que prevalece é
o de misticismo subjetivo.

O místico ama falar que ele é sensível ao “toque” ou à


“voz” de Deus, como se fosse mais espiritual.

Certos encontros e movimentos parecem ser mais


espirituais porque promovem esse “toque de Deus.”

O místico se acha uma pessoa que tem o Espírito em


maior medida, acha que arrazoar em cima de princípios
bíblicos é matar o Espírito.

Quem pensa que santificação acontece por intermédio de


experiências místicas não tem discernimento e está sujeito a
espíritos enganadores (1Jo 4.1).

Por isso, devemos desejar o genuíno leite espiritual, o


qual de fato satisfaz.

Há muitos que utilizam as Escrituras, mas o que extraem


dela é Moralismo, legalismo ou misticismo; isso é “junk
food”: não só não alimenta como faz mal.

O final do verso 2 diz que o propósito do crescimento vindo


do leite da Palavra é “salvação”.

Ele está se referindo ao completar da salvação, uma


perspectiva escatológica de “salvação” (futura).
Isto significa que Pedro almeja nos ver atingindo o alvo.
Esse é o desejo de todo bom pai para o seu filho, que ele
atinja a maturidade, alcance o alvo. A “perfeita
varonilidade” de Cristo. (Ef 4.13).

Porém, existe um deleite a mais que também é o objetivo


disso. Nos achegar à Palavra é sinônimo de nos achegar
ao Senhor. O que experimentamos na Escritura é o próprio
Senhor. Pedro cita o Salmo 34.8:

(“Provai... que o SENHOR é bom”) para relacionar a


experiência prévia da bondade do Senhor com o estímulo a
continuar provando dessa bondade.

Já provamos da bondade do Senhor, e isso deve nos


estimular a ansiar por mais do próprio Senhor.

A bondade do Senhor é o estímulo para nossa santificação.


Buscar o Senhor não deve apenas ser apenas resultado de
esforço, para que a santificação não nos pareça pesada, e
nunca deleitosa. Em vez de apenas “Eu tenho de ler mais a
Bíblia”, “Eu tenho de orar mais”, pois isso vira legalismo.

É o amor de Cristo que nos constrange a responder em


consagração (2Co 5.14-15). A única forma de crescermos é
quando nossa devoção é nosso deleite (Sl 16.11). É assim que
passamos a ler mais a Bíblia, orar mais, ter mais zelo por
nossa devoção.

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