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CURSO DE ECLESIOLOGIA

Prof. Rev. João França*.

INTRODUÇÃO:

Nos compete neste momento estudar sobre a natureza da Igreja, mas não apenas
sua natureza, há necessidade de compreendermos os poderes da igreja, suas ordenanças
ou sacramentos. Este assunto está inserido dentro do ramo da teologia cristã conhecido
como Eclesiologia.

I – O USO DO TERMO “IGREJA” NA BÍBLIA.

A palavra “igreja” é usada para traduzir o termo grego “ekklhsia” (ekklesia) no


Novo Testamento. No hebraico temos duas palavras, ou seja, dois termos são usados para
descrever a congregação do povo de Deus. O primeiro deles lh:*q(;)(kahal) e o segundo é hd:*[e
(‘edah). Existe uma distinção entre estes dois vocábulos hebraicos. O termo lh:*q(;)(kahal)
fala da congregação, da assembleia. Entretanto, o termo hd:*[e (‘edah) fala da congregação
enquanto assembleia ou não.

O termo grego “ekklhsia” traduz ambos os termos hebraicos já considerados; no


Novo Testamento existe um outro termo grego que é o vocábulo “sunagwgh,” (synagogê)
que nunca é usado para traduzir a palavra hebraica lh:*q(;)(kahal). Cabe uma informação
importantes ambos os termos gregos “ekklhsia” (ekklesia) e “sunagwgh,” (synagogê) são
usados no Novo Testamento para descrever uma assembleia secular ou sagrada.

II – A IGREJA CONFORME É APRESENTADA NAS ESCRITURAS


SAGRADAS.

A pergunta basilar que deve ser feita é: Como a Bíblia apresenta a ideia de Igreja?

*
O autor é Ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é pastor
na Igreja Presbiteriana de Riachão do Jacuípe – BA. Foi professor de Línguas Bíblicas (Hebraico e Grego)
no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – SPFB (Recife), também foi professor de
Hermenêutica, filosofia e Exegese de Atos no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (Patos –
PB), também foi professor de Filosofia e Ética na Faculdade Regional de Riachão do Jacuípe – BA.;
Atualmente é professor de Antigo Testamento no Instituto Teológico Reformado do Brasil (ITRB –
Petrolina) e professor de Hermenêutica no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – SPFB
(Rondônia). É também professor de Exegese do Antigo Testamento no Instituto Teológico Reformado do
Brasil-Angola (ITRBA).
1. O Corpo dos Fieis.

A Escritura apresenta a ideia de igreja como um ajuntamento dos fiéis que são ou
serão reunidos ao povo de Deus, esta parece ser a ideia de Mateus 16.18: “Também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela.” O termo igreja aqui neste texto está sendo usado para se
referir aos grupos dos crentes que estão unidos ou se unirão em torno de Cristo e sua
palavra.

2. O Grupo visível em todas partes do mundo [o que chamamos de igreja visível,


porém católica]

Na Escritura a inda vemos a igreja ser apresentada como uma comunidade visível
de crentes, e, em vários lugares, notemos isso em Atos 2.42,47: “E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. louvando a Deus e
contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia
a dia, os que iam sendo salvos.”

3. O Grupo dos Crentes Reunidos

A Escritura reconhece uma reunião de crentes para a adoração e oração como uma
igreja, mesmo quando não há ministério regular ordenado para isso, vemos um exemplo
claro sobre isso Atos 14.23: “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de
presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam
crido.”.

Outro dado que a Bíblia apresenta sobre a igreja é que a reunião de crentes em
seus lares é contemplada como igreja reunida, o texto de Romanos 16.3-5 confirma isso:

3
Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus, 4
os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto
lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos
gentios; 5 saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles.
Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo.
III – AS MARCAS DA IGREJA VERDADEIRA

Nos ocupa agora tratar das Marcas de uma Igreja Verdadeira. Isso cabe dentro do
aspecto da identidade da Igreja. A Confissão de Fé Belga em seu artigo 29 declara:

Cremos que se deve discernir diligentemente e com muito cuidado, pela


Palavra de Deus, qual é a verdadeira igreja, visto que todas as seitas, que
atualmente existem no mundo, se chamam igreja, mas sem razão. Não falamos
aqui dos hipócritas que, na igreja, se acham entre os sinceros fiéis; contudo,
não pertencem à igreja, embora sejam membros dela. Mas queremos dizer que
se deve distinguir o corpo e a comunhão da verdadeira igreja, de todas as seitas
que se dizem igreja. As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela
mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos
sacramentos como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica
para castigar os pecados. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra
de Deus, rejeitando todo o contrário a esta Palavra e reconhecendo Jesus Cristo
como o único Cabeça. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira
igreja; e a ninguém convém separar-se dela. Aqueles que pertencem à igreja
podem ser conhecidos pelas marcas dos cristãos, a saber: pela fé e pelo fato de
que eles, tendo aceitado Jesus Cristo como único Salvador, fogem do pecado
e seguem a justiça, amando Deus e seu próximo, não se desviando para a direita
nem para a esquerda e crucificando a carne, com as obras dela. Isto não quer
dizer, porém, que eles não têm ainda grande fraqueza, mas, pelo Espírito, a
combatem, em todos os dias de sua vida, e sempre recorre ao sangue, à morte,
ao sofrimento e à obediência do Senhor Jesus. NEle eles têm a remissão dos
pecados, pela fé. Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si
mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-
se ao jugo de Cristo. Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou
em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia
mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira
santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza
e a idolatria. É fácil conhecer estas duas igrejas e distingui-las uma da outra.1

Estas três características distintivas a respeito da verdadeira igreja tem se tornado


uma pedra de toque e emblema de reconhecimento a respeito da natureza da Igreja de
Cristo Jesus. Aqui se destacam três marcas importantes: (1) a Pregação; (2) Os
sacramentos; e, (3) a Disciplina Eclesiástica, consideremos cada uma destas marcas.

1. A Pregação da Palavra.

A Pregação da Palavra é a primeira marca da identidade da verdadeira igreja.


Sabemos que a pregação é muito importante na vida da igreja; alguém já disse: “A
pregação é uma interação viva que envolve Deus, o pregador e a congregação, e nenhuma
definição pode ter a pretensão de captar essa dinâmica”.2

A pregação expositiva da Palavra de Deus apresenta a saúde da Igreja. Neste


sentido quando se procura a identidade de uma verdadeira igreja deve olhar para o púlpito.
A pregação Reformada é expositiva em sua essência e experiencial em sua prática. O que
isto quere dizer? Quer dizer que a pregação “reformada experiencial usa a verdade da
Escritura para resplandecer a glória de Deus nas profundezas da alma, chamando as

1
BRÉS, Guido de; URSINUS, Zacarias. Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg. São Paulo: Cultura
Cristã, 2011, p.27.
2
ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica – O desenvolvimento e a entrega de Sermões Expositivos.
São Paulo: Shedd Publicações, 2002, p.21.
pessoas a viverem única e totalmente para Deus.”3 Neste sentido devemos imitar Cristo,
pois, ele foi um proclamador das boas novas, pois, ele foi “o primeiro pregador do
cristianismo”4 isto pode ser observado em Marcos 1.14: “Depois de João ter sido preso,
foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus,” ou ainda a declaração que
encontramos em Mateus 4.17: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. ” No culto cristão reformado a
pregação expositiva assume uma capital importância.

Tem havido dois modelos de pregação expositivas na Tradição Reformada no que


tange a apresentação da pregação à congregação:

a. Pregatio Lectio Continua: Consiste na exposição sequenciada de livros


inteiros da Bíblia.
b. Pregatio Lectio Selecta: É aquela pregação expositiva de textos das Escrituras
sem a necessidade de uma sequência.
2. A Administração dos Sacramentos.

A segunda característica de uma Igreja verdadeira está na administração dos


Sacramentos. Devemos lembrar que os sacramentos sempre estiveram presentes na Igreja
do Senhor Jesus Cristo (desde o Antigo Testamento); vale salientar que na tradição cristã
evangélica e reformada tem havido apenas dois sacramentos conforme instituídos pelo
Senhor: Batismo e Santa ceia (ou eucaristia). Os textos bíblicos que nos fornecem dados
para estes dois sacramentos são os que seguem: Atos 19.3-5; 1ª Co 11.17-33.
Consideremos, laconicamente estes sacramentos:

A) O Batismo Cristão:
1. Elemento: a água.
2. O Modo: Aspersão, Efusão, e imersão (considerando que o último modo é
praticados por igrejas imersionistas raramente uma igreja de tradição reformada
presbiteriana o praticará)
3. Os sujeitos: Adultos e crianças (as igrejas que batizam crianças são conhecidas
como pedobatistas – incluem-se aqui a nossa igreja)
B) A Santa Ceia ou Eucaristia:

3
BEEKE, Joel R. A Pregação Reformada. São José dos Campos – SP: Editora Fiel, 2019, p.35.
4
STOTT, John. Eu Creio na Pregação. São Paulo. Editora Vida, 2003, p.16-17.
1. Os elementos: Pão e Vinho (algumas igrejas presbiterianas usam o suco de uva;
porém, o fazem assim contrariando o ensino da Bíblia e o que rege o PL/IPB art.
17)
2. As visões sobre a Santa Ceia do Senhor:
a. Transubstanciação [a substância se transforma em outra – Catolicismo
Romano]
b. Consubstanciação [a substância se junta com o corpo de cristo –
Luteranismo]
c. Memorialismo [a substância é um simples memorial sem valor sacramental
– zwinglianismo]
d. Presença Real Espiritual [ cristo está presente de forma real, mas espiritual
– calvinismo, presbiterianismo]
3. O Exercício da Disciplina Bíblica.

A terceira característica de uma igreja verdadeira é a disciplina bíblica. A


disciplina visa manter a pureza da igreja. A identidade verdadeira de uma igreja bíblica
se evidencia pela aplicação da disciplina de forma correta, de forma bíblica. Os textos
que elucidam isso para nós são os seguintes: Mateus 18.15-17; 1ª Coríntios 5.4-5,13; 2ª
Tessalonicenses 3.6,14; Tito 3.10.

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