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Nehemias Santos

DISCIPLINA – 12

ECLESIOLOGIA
A Doutrina da Igreja

1a Edição @ Setembro/2018
São Paulo _ SP

Fazendo Missões com Aquilo que Temos

Nehemias Santos
Eternamente um Doulos de Cristo
Índice

01 – A DOUTRINA DA IGREJA...................................... 57
Teologia Elementar – E.H BRANCOFT
02 – A IGREJA E O SEU FUNDAMENTO.................... 71
Teologia Sistemática Pentecostal – GEREMIAS
DO COUTO
03 – COMPROMISSOS DA IGREJA............................... 81
Teologia Para Pentecostais – WALTER BRUNELLI
04 – AS ORDENANÇAS BÍBLICAS ..............................107
As Grandes Doutrinas Da Bíblia – RAIMUNDO
DE OLIVEIRA
05 – A MISSÃO DA IGREJA ..........................................113
As Verdades Centrais da Nossa Fé - CLAUDIONOR
CORREA DE ANDRADE

BIBLIOGRAFIA...................................................................119
UNIDADE – I

ECLESIOLOGIA
A Doutrina da Igreja

E. H. Brancoft
Teologia Elementar

Doulos Nehemias Santos

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BRANCOFT, E.H – em sua obra TEOLOGIA ELEMEN-
TAR, Páginas 280 a 288 – discorre sobre o TEMA:

1 – DOUTRINA DA IGREJA
O ensino das Escrituras acerca da Igreja é tão claro e
positivo quanto o que diz respeito a qualquer outra dou-
trina; contudo, a concepção dos homens, mesmo de cris-
tãos professos, sobre o assunto, parece ser muito inde-
finida, e vago. Isso sem dúvida se deve ao fato de que,
segundo o emprego humano, o termo “ Igreja” tem nu-
merosos e variados significados, é empregado para dis-
tinguir as pessoas religiosas das não religiosas, é usado
denominacional-mente, a fim de discriminar entre grupos
organizados, como: Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista
ou Igreja Católica Romana, é usado em relação a edifí-
cios, designando um local de reunião em que os cristãos
se reúnem para adorar. Essa terminologia, e outros usos
um tanto semelhantes, tendem a obscurecer a verdadeira
significação do vocábulo. Quando, entretanto, chegamos
ao uso bíblico do termo, verificamos que essa indefinição
desaparece.

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A. Seu Significado.
A palavra portuguesa “igreja” é tradução do termo
grego “eclesia”, que significa “chamados para fora”. É
vocábulo que era usado para designar uma assembléia
ou congregação que fosse convocada para diversos pro-
pósitos. O significado desse termo, segundo empregado
no Novo Testamento, é duplo. Refere-se àqueles que são
chamados para fora, dentre as nações, ao nome de Cristo,
para constituírem a Igreja, o Corpo de Cristo. Nesse senti-
do, a Igreja é um organismo. Refere-se ainda aos que são
chamados dentre uma determinada comunidade a fim de
obedecer aos princípios e preceitos de Cristo encontrados
no Novo Testamento, na qualidade de grupo de cristãos.
Nesse sentido, a igreja é uma organização.

I. Na qualidade de organismo.
A Igreja é o corpo místico de Cristo, do qual Ele é a
Cabeça viva e do qual os crentes regenerados são os mem-
bros. I Co 12.12,13 — Porque, assim como o corpo é um, e
tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,
constituem um só corpo, assim também com respeito a
Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós somos batiza-
dos em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escra-
vos, quer livre. A todos nós, foi dado beber de um só Es-
pírito. V. A. — Ef 1.22,23. V. T. — Ef 3.4-6.
A Igreja, assim considerada na qualidade de organismo
é, segundo Atos 15.14, “um povo para o seu nome”, o qual
Deus está atualmente tirando dentre os gentios Esta é a
dispensação da eleição e seleção divinas, cujo objetivo é a
formação do Corpo de Cristo, destinado a ser Sua Esposa.

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II. Na qualidade de organização.
Uma igreja local é um grupo de crentes batizados, reu-
nidos pelo Espírito Santo com o propósito de obedecer
aos princípios e preceitos da palavra de Deus. At 16.5 —
Assim as igrejas eram fortalecidas na fé e aumentavam
em número dia a dia. V. A. — At 2.41,42.
“No Novo Testamento, a Igreja é uma organização ex-
tremamente simples. Todos quantos sejam capazes de se
render a Jesus Cristo e que realmente o fazem, aceitando-
-O como Salvador e obedecendo-Lhe como Senhor, têm
o direito de ser membros. E todos os membros estão no
mesmo nível. Não há obstáculos para admissão por dife-
renças de raça, sexo, idade, posição econômica ou cultu-
ral. Em Jesus Cristo não há nem judeu nem gentio, nem
grego nem bárbaro, nem homem nem mulher, nem escra-
vo nem livre. A igreja administra seus próprios negócios.
Não se inclina a qualquer autoridade terrena superior a si
mesmo. Jesus Cristo é Seu exclusivo legislador. O Novo
Testamento é seu código, porém a igreja administra as leis
que lhe foram divinamente transmitidas. Exerce discipli-
na sobre seus membros que de algum modo estejam an-
dando desordenadamente. De conformidade com o Novo
Testamento, a igreja tem apenas duas espécies de oficiais:
bispos ou pastores, cujo dever é ministrar nas cousas espi-
rituais, apascentando o rebanho de Deus; e diáconos, que
foram estabelecidos para cuidar dos assuntos temporais
da igreja.” — Goodchild.
A Igreja, quer considerada em seu aspecto mais amplo,
como organismo e que inclui todos os crentes cristãos au-
tênticos, chamados de todas as nações entre o primeiro e

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o segundo advento de Cristo; quer considerada em seu
aspecto local, como organização, que inclui os crentes de
determinada comunidade, não deve ser identificada nem
com o Reino de Deus nem com o Reino dos Céus. O Reino
de Deus é aquela esfera ou terreno em que a soberania
de Deus é reconhecida e em que Sua vontade é obede-
cida, inclusive anjos não-caídos e os homens redimidos
de todos os séculos. A Igreja, entretanto, inclui apenas os
homens na atual dispensação, sendo, assim, apenas uma
parte do Reino de Deus.
O Reino dos Céus tem um tríplice aspecto, conforme
apresentado no Novo Testamento: Primeiro, seu estado
durante os dias de João Batista e de Cristo, ao ser ofe-
recido a Israel. Naquele tempo o Reino dos Céus estava
“próximo”, na Pessoa de seu Rei. Segundo, aparece em
seu “estado de mistério”, segundo apresentado nas pará-
bolas do capítulo treze de Mateus. Ali, o Reino dos Céus
inclui toda a esfera da profissão cristã, sendo sinônimo a
cristandade. Terceiro, o seu aspecto profético, estabeleci-
do nos ensinos de Jesus Cristo e de outros escritores do
Novo Testamento. O único terreno comum entre a Igreja
e o Reino dos Céus é aquilo que é real na profissão de fé,
incluído em seu atual aspecto. Desse modo, a Igreja está
dentro dos limites do Reino dos Céus, na aplicação atual
do termo.
D. D. — A Igreja, na qualidade de organismo, inclui
todos os crentes regenerados, tirados de todo o mundo
entre o primeiro e o segundo advento de Cristo; ao passo
que, como organização, abrange os crentes locais, unidos
para o serviço de Cristo, em qualquer assembleia cristã.

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B. Sua Realidade, Conforme Apresentada.
I. Em Tipos e Símbolos.
1. O corpo com seus membros.
Rm 12.4,5 — Porque, assim como num só corpo temos
muitos membros, mas nem todos os membros têm a mes-
ma função; assim também nós, conquanto muitos, somos
um só corpo em Cristo, e membros uns dos outros. V. A.
— 1 Co 12.12-27; Cl 1.18. O apóstolo Paulo recebeu um
duplo ministério, referente ao Evangelho e à Igreja. Esses
dois aspectos são inseparavelmente ligados, e Paulo rece-
beu uma ideia sobre ambos por ocasião de sua conversão.
Cristo, em Sua glória, fazia parte da visão salvadora que
foi concedida à Paulo. O Evangelho, assim recebido, iden-
tificava o pecador redimido com seu Senhor e Salvador.
A mensagem foi: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
Paulo perseguia aos cristãos e não a Cristo; mas nessa oca-
sião ele aprendeu que os cristãos estão unidos com Cristo
e Cristo com eles.
“Quando nosso Senhor falou dos mistérios do Reino
dos Céus, em Mateus 13, disse: ‘Publicarei cousas ocultas
desde a criação’. O apóstolo Paulo refere-se frequente-
mente aos mistérios que foram desvendados. Ele relem-
bra a seus leitores de Éfeso que já antes havia mencionado
esse mistério, em poucas palavras. Em seguida falou do
‘mistério de Cristo’. Que vem a ser? Não se refere mera-
mente à Igreja, na qualidade de corpo de Cristo, e, sim,
ao próprio Cristo. Esse mistério do Cristo ressurreto, que
possui um corpo composto de crentes judeus e gentios, c
o mistério, o qual, em épocas passadas, não fora revelado

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aos filhos dos homens. A igreja, no conselho de Deus, já
existia desde antes da fundação do mundo; mas Ele per-
mitiu que as eras se fossem escoando até que achou por
bem torrá-la conhecida.” — Gaebelein.
A analogia da cabeça e do corpo, que ilustra Cristo e a
Igreja em suas mútuas relações, é muito feliz. Assim como
a cabeça funciona através do corpo e seus membros, as-
sim Cristo funciona através da Igreja e de seus membros.
Assim como existe mútua dependência entre a cabeça e o
corpo, igualmente existe entre Cristo e Sua Igreja. Cristo
depende da Igreja por tê-la escolhido como meio de ex-
pressar-se e realizar Seus propósitos. A Igreja depende de
Cristo para dEle receber sabedoria e orientação nessa rea-
lização. Cristo depende da Igreja para desempenhai Seu
trabalho. A Igreja depende de Cristo para dEle receber o
poder para efetuá-lo. Assim como os membros do corpo
são mutuamente essenciais a esse corpo e à sua cabeça, se-
melhantemente o são os membros da Igreja: mutuamente
essenciais uns aos outros e a Jesus Cristo.
2. A esposa em relação a seu esposo.
2 Co 11.2 — Porque zelo por vós com zelo de Deus; vis-
to que vos tenho preparado para vos apresentar como vir-
gem pura a um só esposo, que é Cristo. V. A — Ef 5.31,32;
Ap 19.7.

(1) Adão e Eva — Gn 2.18,21-24.


(2) Isaque e Rebeca — Gn 24.61-67.
(3) José e Asenate — Gn 41.45.

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A Igreja é, atualmente, o Corpo de Cristo em proces-
so de formação e, quando ela estiver completa, ser-lhe-á
apresentada como Esposa; por enquanto somente o pedi-
do de noivado foi efetuado. Aguarda cumprimento futu-
ro a celebração da “ceia das bodas do Cordeiro”.
“Poderá ser levantada a seguinte objeção à aplicação
das duas figuras, ‘corpo’ e ‘esposa’, à mesma entidade es-
piritual: uma vez que o Novo Testamento chama a Igreja
de ‘corpo de Cristo’ (1 Co 12.12-27), como pode chamar
o mesmo povo de ‘esposa do Cordeiro’, pois a ‘esposa’
não pode ser o ‘corpo’ do próprio esposo. Contudo, está
de perfeito acordo com a Bíblia, pois tanto no Antigo (Gn
2.21-24) como no Novo (Ef 5.28-32) Testamentos, não obs-
tante serem marido e mulher pessoas distintas, são consi-
derados como formando ‘uma carne’. Não há, portanto,
incoerência na aplicação das duas metáforas à mesma re-
lação existente entre Cristo e Sua Igreja. Na qualidade de
Corpo, a Igreja participa da vida de Cristo que é a cabeça;
na qualidade de Esposa, participará eternamente de Seu
amor.” — S. S. Tim
3. O Templo com seu alicerce e suas pedras.
Ef 2.21,22 — No qual todo edifício, bem ajustado, cres-
ce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também
vós juntamente estais sendo edificados para habitação de
Deus no Espírito. V. A. — 1 Pe 2.4-6. A significação sim-
bólica e profética do templo, é quádrupla. É típica do pró-
prio céu, isto é, do santuário não feito por mãos humanas
(Hb 9.24). É típica do corpo do crente, que é o santuário
ou templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). É típica lia Igreja,

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que está sendo edificada para habitação de Deus no Espí-
rito (Ef 2.21,22; 1 Co 3.16). Nessa analogia, os crentes in-
dividuais são representados como pedras de construção
que, unidas umas às outras, constituem “casa espiritual”
e “templo santo no Senhor”. O templo é também típico do
corpo físico de Cristo (Jo 2.19-21).

II. Nas declarações proféticas.


1. A promessa da Igreja.
M t 16.16-18 — Respondendo Simão Pedro, disse: Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então Jesus lhe afirmou:
Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi came
e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus.
Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não pre-
valecerão contra ela. A Igreja não existiu enquanto Cristo
estava sobre a terra. Na ocasião em que as palavras acima
foram proferidas, a Igreja ainda era fato futuro. Jesus mes-
mo disse: “... edificarei a minha igreja...”. Era um fato da
profecia, e não da história, por ocasião da morte de Cristo.
2. A instrução prévia para a Igreja.
Mt 18.15-20 (ver especialmente o vers. 17) — E, se ele
não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também
a igreja, considera-o como gentio e publicano.
Nesta passagem temos instruções dadas à Igreja antes
mesmo que ela viesse a existir, a fim de que, quando fos-
se estabelecida, contasse com instruções para orientá-la
em certas questões fundamentais de disciplina. A Igreja
referida é, indubitavelmente, o corpo de Cristo; porém,

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o corpo de Cristo funcionando através do corpo de cren-
tes em determinada comunidade. Maiores informações e
instruções concernentes à Igreja, as quais Jesus prometeu
seriam fornecidas pelo Espírito Santo, podem ser encon-
tradas nas epístolas (Jo 16.12-14).

III. Sua missão.


I. Constituir um lugar de habitação para Deus.
Ef 2.20-22 — Edificados sobre o fundamento dos após-
tolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para
santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós junta-
mente estais sendo edificados para habitação de Deus no
Espírito.

II. Dar testemunho da verdade.


I Tm 3.15 — Para que se eu tardar, fiques ciente de
como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do
Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.
III. Tornar conhecida a multiforme sabedoria de Deus.
Ef 3.10 — Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria
de Deus se torne conhecida agora dos principados e po-
testades nos lugares celestiais.

IV. Dar eterna glória a Deus.


Ef 3.20,21 — Ora, àquele que é poderoso para fazer infi-
nitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos,

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conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a gló-
ria, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações para
todo o sempre. Amém.

V. Edificar seus membros.


Ef 4.11-13 — E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edi-
ficação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus,
à perfeita varonilidade, à medida da estrutura da plenitu-
de de Cristo.

VI. Disciplinar seus membros.


Mt 18.15-17 — Se teu irmão pecar, vai argui-lo entre ti
e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém,
não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas,
para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas
toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o
à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja o considera
como gentio e publicano. V. A. — I Co 5.1-5,9-13.

VII. Evangelizar o mundo.


Mt 28.18-20 — Jesus, aproximando-se, falou-lhes, di-
zendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, bati-

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zando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito San-
to; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a
consumação do século.
“O propósito para o qual existe uma igreja é o traba-
lho missionário. Tire-se de uma igreja a ideia missioná-
ria, e ter-se-á uma vida sem objetivo, uma árvore estéril,
uma casa vazia sobre cuja porta está escrito “icabode”.
Limite-se o Evangelho em seu escopo ou poder, e arran-
car-se-lhe-á o próprio coração. Cristo viveu e morreu a
favor de todos os homens. A incumbência da Igreja é
torná-lo conhecido de todos. Nossa religião cristã gira em
torno de dois eixos: “Vem” e “Vai”. Todos que aceitam
o convite que diz “Vem” devem ouvir, imediatamente,
a ordem imperativa que diz “Vai”. Essa é a roda motriz
da maquinaria de uma igreja ou denominação. Pare-se
essa roda e a maquinaria ficará imóvel e inútil. Essa é a
autoridade da educação cristã. Colégios e seminários
foram fundados para preparar os homens para o “Vai”.
Quando deixam de funcionar assim, devem ser ou
revitalizados ou enterrados.” — MacDaniel. D. D. — A
missão da Igreja é glorificar a Deus conquistando almas
para Cristo, edificando-as em Cristo, e enviando-as por
Cristo.

BIBLIOGRAFIA – BRANCOFT, E.H – TEOLOGIA ELEMEN-


TAR, Páginas 280 a 152, Imprensa Batista Regular.

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UNIDADE – II

ECLESIOLOGIA
A Doutrina da Igreja

A Igreja e o Seu Fundamento

Geremias do Couto
Teologia Sistemática Pentecostal

Doulos Nehemias Santos

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DO COUTO, Geremias – em sua obra conjunta intitula-
da TEOLOGIA SISTEMÁTICA PENTECOSTAL, Páginas
386 – 389 discorre sobre o assunto a seguir:

A IGREJA E O SEU FUNDAMENTO


Como projeto de Deus que veio à existência mediante
a encarnação de Cristo, a Igreja é retrata na Bíblia como
uma obra em edificação. Esse rico simbolismo aponta
para a necessidade de um fundamento, sem o qual ne-
nhuma construção é capaz de ser erguida em condições
de se manter de pé ou suportar a ação do tempo em suas
estruturas (M t 7.24-27).
A mídia, vez ou outra, veicula notícias de prédios que
ruíram por terem fracos alicerces e estruturas inadequa-
das. Não tivesse a Igreja um fundamento inabalável, teria
também o mesmo fim, pois os fortes ventos das tempes-
tades sempre sopraram contra ela, e estes serão cada vez
mais violentos à medida que se aproxima o fim dos tem-
pos. O texto de Mateus 16.13-18 trata com especial clareza
da questão do fundamento:
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe,
interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os

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homens ser O Filho do Homem? E eles disseram: Uns,
João Batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos
profetas. Disse-lhe ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E
Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és O Cristo, O Fi-
lho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-
-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e
sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.
Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não pre-
valecerão contra ela”.
Como núcleo da Igreja incipiente, os discípulos foram
preparados por Cristo para serem as colunas de sustenta-
ção apostólica do cristianismo bíblico. Eles teriam a res-
ponsabilidade ímpar de iniciar a construção desse grande
edifício. Chegara, portanto, o momento supremo em que
se descortinaria para a História o projeto concebido na
mente de Deus. Com esse propósito, o Mestre inicia uma
reflexão e lhes faz uma pergunta questionadora: “Quem
dizem os homens ser o Filho do Homem?” (v. 13).
Uma pergunta questionadora.
À primeira vista, numa leitura menos teológica, tem-
se a impressão de que o Senhor está em processo de au-
toafirmação, buscando, por isso, o reconhecimento da
opinião pública. N o entanto, à medida que se aprofunda
o diálogo, verifica-se que foi apenas o ponto de partida
para chegar ao cerne da questão: o fundamento da Igreja
nascente.
É óbvio que a pergunta enseja, de início, a oportunidade
de os discípulos mostrarem o que pensava a opinião
pública. Aqui há uma descoberta interessante, que serve

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de lição para o dia-a-dia: as percepções sobre a vida
variam de pessoa para pessoa e podem ser classificadas
em níveis distintos. São fatores diversos — internos e
externos — que determinam essa variação.
A avaliação apresentada pelos discípulos reflete essa
realidade. Não obstante a clareza da mensagem pregada
pelo Senhor, o máximo que as respostas indicam é uma
percepção equivocada que situa Cristo ao nível dos pro-
fetas do Antigo Testamento (v. 14). Os judeus não tinham
ainda percebido a sua messianidade.
Uma resposta reveladora.
E provável que até mesmo os discípulos ainda nutris-
sem dúvidas sobre o caráter messiânico do advento de
Cristo. Talvez tivessem uma percepção parecida com a da
opinião pública. Neste ponto crucial, o Senhor restringe o
campo de sua pesquisa e lhes faz a pergunta decisiva: “E
vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15).
Da resposta dependeriam os passos seguintes.
Contudo, o que se percebe do texto de Mateus 16, num
aparente hiato entre os versículos 15 e 16, é a retração do
grupo. A percepção externa já cristalizada, como se Cristo
fosse apenas um profeta, não favorece uma posição clara.
Essa ênfase é proposital porque, atualmente, em diversos
casos, a percepção quanto à posição da Igreja de Cristo é
conduzida pelo que os outros pensam e dizem a respeito,
e não pelo que a Bíblia revela.
Todavia, no exato momento em que os discípulos se
encontram aparentemente perplexos, diante da inquiri-
dora pergunta, entra em cena a revelação sobrenatural.
Pedro, tomado pelo Espírito Santo, torna-se o porta-voz

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do grupo e declara: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(v. 16). Aqui está o reconhecimento implícito da messia-
nidade de Jesus, pedra de toque do arcabouço teológico
que dá vida à Igreja. O Cristo da História, que viveu na
dimensão humana como enviado do Pai, incorporava em
si mesmo toda a plenitude da divindade (Cl 2.9). Esse é o
sentido da revelação dada por Deus a Pedro. Tirar, por-
tanto, doutrina do fundamento eclesiástico da centralida-
de da pregação é deixar a Igreja anômala e sem consistên-
cia bíblica.
Uma declaração conclusiva.
Chega-se, agora, ao ponto de tensão sobre quem seria o
fundamento da Igreja. Inicialmente, o Senhor esclarece a
origem da revelação: não foi fruto da percepção humana
equivocada (carne e sangue: mas resultado da ação direta
de Deus, mediante o Espírito Santo no coração de Pedro
(v. 17). Em segundo lugar, através de um recurso estilís-
tico, no grego, estabelece de forma precisa que o funda-
mento da ekkesia está na confissão do apóstolo (v. 18).
Cristo cita duas palavras da mesma raiz, mas com sig-
nificados diferentes, que expressam a dimensão exata da
revelação. A primeira, petros (o nome do discípulo), sig-
nifica “um fragmento de pedra”. A segunda, petra, tra-
duz-se como “rocha inamovível”.
Está claro que o Senhor, ao mesmo tempo em que re-
conhecera a sensibilidade espiritual de Pedro como um
fragmento de pedra, deixou também estabelecido que a
Igreja está edificada sobre a Pedra inamovível — Cristo,
o Filho do Deus vivo —, que se constituiu na confissão
pública do apóstolo.

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O Senhor foi mais além, ao declarar a completa vitória
da Igreja sobre as portas do inferno. Tal afirmativa revela
a plena autoridade de Cristo para cumprir cabalmente o
plano divino concernente ao mundo, segundo a Palavra
de Deus. Por outro lado, fosse Pedro o tal fundamento, ou
qualquer outro dos discípulos, a Igreja não teria resisti-
do aos fortes vendavais que sopraram sobre ela ao longo
da História, e nem suportaria os ventos que hoje tentam
desviá-la da rota (Ap 3.10).
Cristo, o fundamento inamovível da Igreja.
Uma regra áurea de interpretação bíblica determina
que não se pode interpretar o texto isoladamente, sem
levar em consideração o contexto. Portanto, considera-se
como doutrina aquela que desfruta de respaldo em toda a
Bíblia. Não é o caso do dogma romanista que situa Pedro
como fundamento da Igreja. Senão, vejamos:
1) O livro de Atos dos Apóstolos, que narra os primei-
ros passos da Igreja, em nenhum momento deixa trans-
parecer a idéia de que Pedro é o fundamento da ekklesia.
Nos primeiros treze capítulos, aparece tomando várias
iniciativas, mas a partir daí, com exceção do capítulo 15,
que trata do Concilio de Jerusalém (no qual ele desponta
no mesmo nível dos demais apóstolos), sai de cena.
2) Desde o momento em que Jerusalém começa a entrar
em declínio político, antes da diáspora do ano 70, Deus se
move através das circunstâncias para transferir o núcleo
da Igreja das fronteiras judaicas para outro local estratégi-
co. E assim que nasce a obra em Antioquia. A Bíblia iden-
tifica os personagens principais dessa fase como crentes

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anônimos, dispersos pela perseguição, e cita Barnabé e
Paulo em fase posterior. A liderança de Pedro sequer é
mencionada (At 11. 19-26).
3) Nenhuma das Epístolas faz alusão a Pedro como
alguém que estivesse ocupando posição de proeminên-
cia. Nem mesmo a que foi escrita por Paulo aos Romanos
o destaca. E pelo menos em uma ocasião sofre críticas
de Paulo, em razão de sua atitude dissimulada no seu
relacionamento com os gentios (G1 2 .1 1-I5). Houvesse
Pedro sido nomeado pelo Senhor o fundamento da Igreja,
o Novo Testamento cuidaria de registrar, com detalhes,
os fatos que apontassem nessa direção.
Vejamos, também, como se posiciona o Novo Testa-
mento em relação a Cristo como o fundamento da Igreja.
Paulo, em I Coríntios, é enfático: “Porque ninguém pode
pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual
é Jesus Cristo” (3.11). O apóstolo segue a mesma linha da
declaração reveladora no ato da confissão de Pedro.
Mas é possível que algum crítico possa pôr em dúvida
a sua afirmação, alegando tratar-se de rivalidade entre ele
e Pedro. Fosse dessa forma, ter-se-ia de Pedro outro posi-
cionamento.
Entretanto, o apóstolo Pedro reitera a mesma posição
de Paulo. Em Atos 4 .1 1 e I Pedro 2.4-7, ele não reivin-
dica qualquer pretensão papista; antes, apresenta Cristo
como a pedra principal de esquina. Esta expressão denota
a ideia de centralidade no alicerce de uma construção e
está em sintonia com a teologia paulina. E tanto que Paulo
faz uso da mesma linguagem em Efésios 2.19-22:

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“Assim já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que
Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual todo
o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Se-
nhor; no qual também vós juntamente sois edificados
para morada de Deus no Espírito”.
Assim sendo, o Novo Testamento ratifica a doutrina
que sustenta a posição de Cristo como o fundamento eter-
no e inabalável da Igreja, que, a partir de sua inauguração
no dia de Pentecostes, iniciou a sua peregrinação pelos
caminhos da História.

BIBLIOGRAFIA – DO COUTO, Geremias – TEOLOGIA SIS-


TEMÁTICA PENTECOSTAL – Páginas 386 a 389 – Editora
CPAD.

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UNIDADE – III

ECLESIOLOGIA
A Doutrina da Igreja

Compromissos da Igreja

Walter Brunelli
Teologia Para Pentecostais

Doulos Nehemias Santos

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BRUNELLI, Walter – em sua obra intitulada TEOLO-
GIA para PENTECOSTAIS – Páginas 63 – 80, discorre so-
bre o seguinte assunto:

COMPROMISSOS DA IGREJA
O apóstolo Paulo tinha um extraordinário poder de
síntese. Com poucas palavras, ele conseguia dizer muitas
coisas. O texto de Tito 2.11-15 é uma prova disso. Paulo
fala do poder e dos efeitos da graça manifesta: que ela traz
salvação, como ela nos educa a vivermos neste mundo
presente sóbria (bem com nós mesmos), justa (bem com
os outros) e piamente (bem com Deus). Fala da esperança
da Igreja, do preço que foi pago e da Igreja como “(...)
povo seu especial, zeloso de boas obras”. A Igreja de Cris-
to tem um compromisso voltado para três direções: para
cima, para dentro e para fora. Isso quer dizer que a Igreja
tem um compromisso com o céu, consigo mesma e com o
mundo.
Para cima
Assim como Israel, no passado, tinha um compromisso
com a adoração, o povo de Deus na terra tem o mesmo
compromisso de viver com os olhos voltados para cima

81
(Cl 3.1,2). O relacionamento da Igreja com o Trono de
Deus deve ser contínuo e sempre numa via de duas mãos,
cumprindo os propósitos a seguir.
Glorificar a Deus
Deus criou o homem para o louvor da Sua glória, mas
os homens não compreendem isso. Somente pela Igreja é
que o ser humano ganha consciência desse dever e, por
meio dela, ele é treinado para prestar a Deus a glorifica-
ção almejada (Rm 15.5-11; Ef 1.5,6,12,14; 3.21; 2 Ts 1.12).
Invocar a Deus
A Igreja depende inteiramente de Deus; por isso, a sua
relação de intimidade com Ele, por meio da oração, deve
ser constante (1 Ts 5.17; Cl 1.9). Do Trono de Deus emana
toda a nossa capacitação para realizar a obra de Deus em
todas as suas direções (Cl 4.2-4). Quando os crentes enten-
derem que os embates, as lutas, as dificuldades são resol-
vidas por meio da oração, as discussões e os falatórios que
geram maiores contendas serão substituídos pela mani-
festação do poder de Deus (At 4.18,31). Na obra de Deus,
os critérios para a execução de qualquer tarefa são de or-
dem espiritual. A Igreja é o Corpo místico de Cristo. Nem
tudo o que é válido na administração de uma empresa é
aplicável na administração da Igreja de Cristo (1 Pe 4.11).
A missão da Igreja está em atender aos propósitos do céu.
Adorar a Deus
Em primeira instância, adorar é “servir”, mas a com-
preensão que se tem do termo é a de uma homenagem
prestada a Deus por quem Ele é, e isso normalmente
se dá por meio de cântico, oração e palavras de afeto, e

82
também por gestos, como prostrar-se (Gn 17.3; Ap 1.17),
ajoelhar-se (1 Rs 8.54) e inclinar a cabeça (Êx 34.8).
O termo latino é composto de ad (“à”) e os, oris (“boca”).
Adorar é “aplicar a mão à boca”; “beijar a mão”. Os gran-
des personagens do Antigo Testamento erigiram altares
de adoração a Deus em reconhecimento à grandeza, à
majestade, ao poder, à santidade, à justiça, à bondade, à
providência, ao favor, enfim, a tudo quanto Deus é e re-
presenta. A adoração é sempre um ato exclusivo a Deus,
jamais pode ser desviada para um objeto ou a uma perso-
nalidade humana, por mais ilustre que seja, daí o porquê
de a idolatria ser abominável nas Escrituras (Êx 20.4,5).
O povo israelita aprendeu desde cedo a adorar a Deus.
Os cultos no tabernáculo — mais tarde, no templo —, as
festividades religiosas, como Páscoa, Pentecostes * e Ta-
bernáculo, eram obrigatórias a toda a nação, a guarda do
Sábado e os sacrifícios compunham a forma de adoração,
além dos cânticos e das orações acompanhados por movi-
mentos físicos, como balançar a cabeça.
Associamos frequentemente o termo adoração ao culto
a Deus, embora sabendo que ele tem um sentido muito
mais abrangente, porque diz respeito a tudo o que se faz
no serviço a Deus. A adoração tem diferentes empregos,
tanto na religião dos hebreus como na cultura helênica,
sendo empregada por Jesus no diálogo que Ele teve com
a mulher samaritana à beira do poço de Jacó (Jo 4.23).
Os termos originais empregados para adoração aju-
dam-nos a compreendê-la melhor em suas respectivas
situações, como: ‫תריב‬, segad, “prostrar-se”, “inclinar-
-se”, “prestar homenagem” (Dn 2.46; 3 .5 ,6 ,7 ,1 0 ,1 1
,1 2 ,1 5 ,1 8 ,2 8 ); abad, “servir” (2 Rs 10.19-23); ‫ךנקזת‬0‫וה‬,

83
.shachah, “inclinar-se” (Gn 22.5; 24.26,52; Êx 4.31; Dt
8.19); no grego, θρησκεία, threskeia, “observância re-
ligiosa” (Cl 2.18); λατρεύειν, letreuein, “serviço” (At
7.42; 24.14); προσκυνήω, proskineo, “beijar a mão” (Mt
2.2,8,11; 4.9,10; 8.2; 9.18; 14.33; 15.25; 18.26). Fundamen-
talmente, o termo adoração quer dizer “serviço”, daí o
porquê de, na língua inglesa, o termo empregado para
o culto a Deus ser service e, na língua espana, servido.
Atualmente, a palavra adoração foi puxada e superva-
lorizada pelos músicos responsáveis por dirigirem o
momento de cânticos, geralmente acompanhados de
bandas eletrônicas. Esse momento é também conhecido
como momento de louvor.
A adoração tem como finalidade principal a “glorifica-
ção” de Deus. Adorar é glorificar a Deus por quem Ele é.
Adorar a Deus é um ato de reconhecimento da grandeza
infinita de Deus e, ao mesmo tempo, da nossa pequenez
diante dele. É Isaías ouvindo o cântico dos Serafins, di-
zendo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda
a terra está cheia da sua glória” e, ao mesmo tempo, bra-
dando: “Ai de mim, que vou perecendo! (...)” (Is 6.3,5).
Adoração é ouvir o cântico dos 24 anciãos diante do tro-
no, os quais entoam o cântico da redenção: “E cantavam
um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e
de abrir os seus selos, porque foste morto e com teu san-
gue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua
e povo e nação” (Ap 5.9).
Entendendo ser a adoração todo serviço prestado a
Deus e à Sua obra, precisamos considerar toda a abran-
gência do termo, estendendo suas implicações para além
do momento do culto propriamente dito. O serviço dos

84
sacerdotes no tabernáculo seguia uma ordem determi-
nada por Deus. Não era espontâneo. O modelo do culto
fora todo preordenado por Deus no Sinai. Porém, antes
daquele tempo, já se praticava o culto a Deus em caráter
informal.
Em Gênesis, Caim teve a iniciativa de oferecer a Deus
um culto, sendo seguido por seu irmão Abel. Deus acei-
tou um culto e rejeitou o outro, logo o de quem que teve
a iniciativa: Caim. A razão da não aceitação do culto de
Caim não é explicada, por isso, não se pode dizer que
a rejeição do seu culto ocorreu por ele ter oferecido um
culto sem sangue pelo fato de que a lição do sangue fora
aprendida por seu pai, quando o próprio Deus matou um
animal para fazer vestes para o primeiro casal (Gn 3.21).
Certamente, o problema estava no coração de Caim. “Se
bem fizeres, não haverá aceitação para ti?” — questionou
Deus. Caberia a Caim, então, perguntar: “Senhor, mostra-
-me onde errei e agirei de modo correto”, porém o seu
semblante se descaiu, porque ele estava mal por dentro
(Gn 4.7).
No caso dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú, o culto foi
marcado pela inovação. Puseram fogo estranho no altar
quando já havia um fogo permanente que servia de pira
para acender tudo o que levava fogo no tabernáculo, po-
rém eles quiseram inovar. Deus não aceitou aquele culto,
e ambos foram mortos (Lv 10.2). Desse modo, vemos dois
cultos, um em que alguém quis competir, e outro em que
alguém quis inovar. Ambos foram reprovados por Deus,
e, em ambos, houve morte. É verdade que se trata de algo
ocorrido há muito tempo antes de nós, lá no Antigo Tes-
tamento. Os tempos hoje são outros, e isso basta para que

85
nos acomodemos nas nossas próprias opiniões, como se o
tempo mudasse tanto assim as coisas sagradas e também
o pensamento de um Deus santo a respeito do culto que
Ele espera receber!
Estamos no tempo do Novo Testamento, onde muitas
coisas mudaram. Mas, até que ponto podemos pressupor
que as mudanças tornaram o culto sem regras, sem pa-
râmetros e à mercê da vontade dos adoradores para que
façam as coisas como querem? No culto estabelecido por
Deus, não havia diversão, havia temor e preparo para que
não houvesse morte. Se, no dia do Yom Kipur, o sumo sa-
cerdote entrasse no Santo dos Santos com algum pecado
não confessado, ele podia morrer ali dentro, por isso, ha-
via precaução: uma corda amarrada na cintura ou no pé
e sinetes que tilintavam no entorno das suas vestes, para
que desse sinal de movimento. O silêncio seria indício de
que o sacerdote havia morrido. Aquilo era serviço sério
diante de Deus.
O culto do Novo Testamento
Chegamos ao tempo do Novo Testamento, onde não
há mais templo, não há sacerdotes devidamente para-
mentados nem sacrifícios. Tudo foi substituído por Jesus,
que fez a obra completa por todos nós ao morrer na cruz
do Calvário.
O que isso significa? Que o culto a Deus, a partir de
Jesus, foi banalizado? A saída de alguns componentes tor-
nou tudo mais simples e digno de improvisação ou será
que regras também foram impostas para ele? E, se foram,
quais são elas?
O Novo Testamento difere do Antigo Testamento em
muitas coisas, é verdade. A vida era regrada pelo código

86
do Sinai, ou seja, as 613 leis ou mandamentos, para tor-
narem-se didáticos ao povo da antiga aliança, foram re-
sumidos em Dez Mandamentos. Assim, qualquer judeu
que compreendesse a importância do decálogo divino e o
praticasse estaria automaticamente enquadrado em todo
o conjunto das leis, fossem as leis morais (civis), fossem as
leis cerimoniais (religiosas).
O Novo Testamento conta com uma nova ética, que
não se restringe ao cumprimento de uma lista de obriga-
ções, mas a um princípio: o amor. Assim, a ética do Novo
Testamento é uma ética de princípio: o princípio do amor.
Jesus resumiu ainda toda a lei ao amor (Mt 22.36-40). Por
que, então, Deus já não estipulou o amor no Antigo Tes-
tamento como Jesus fez? Ora, essa regra vem de lá, mas
aquele povo não era capaz de amar. O amor tornou-se
possível a partir de Jesus, e João explica: “Nós o amamos
porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Essa é uma
tarefa do Espírito Santo, mas o Espírito Santo ainda não
havia sido dado (Jo 7.39).
O amor, portanto, tornou-se o corolário da fé cristã. O
fato de o amor ser espontâneo, não constrangido por re-
gras, não quer dizer que ele seja um sentimento român-
tico, variável e contingente. Pelo contrário, o amor busca
fazer o bem, e isso demanda sacrifício de quem o pratica.
A base do amor está estabelecida na imagem de Deus pos-
ta no homem pelo Criador. Mas, uma vez sendo receptá-
culo do amor de Deus, como um vaso dotado do Espírito
Santo, cabe ao salvo saber comportar-se retamente, sem
leviandade, para com Deus e com o próximo. O que isso
tem a ver com a adoração? Tudo, porque a adoração, em-
bora não sujeita às mesmas regras do Antigo Testamento,
não decorre de uma espontaneidade irracional e divertida,

87
mas de um coração cheio de amor e, ao mesmo tempo,
reverente para com Deus.
A adoração deve ser feita em Espírito
O povo do antigo pacto não tinha essa experiência. O
Espírito Santo ainda não havia sido dado (Jo 7.38). Tudo
o que se fazia era prescrito pelo código mosaico. Depois
que o Espírito Santo veio para ficar — assim que Jesus re-
tornou para o céu (Jo 16.7) —, Ele passou a dirigir a Igreja
na terra. Jesus disse que a adoração que agrada a Deus
deve ser feita em Espírito. Será que a mulher samaritana
entendeu isso? Certamente não, mas Jesus falou mesmo
assim, por dois motivos:
Primeiro, para desmistificar o entendimento antigo de
que a adoração estaria circunscrita a um território demar-
cado para esse fim, fosse o templo dos judeus em Jerusa-
lém, fosse o templo dos samaritanos no monte Gerizim, e
isso só seria possível pela ação do Espírito Santo.
Segundo, como convertida, não levaria muito tempo
até que ela experimentasse essa presença, assim que Fili-
pe visitasse a sua cidade e levasse para lá a mensagem do
evangelho, e os samaritanos recebessem o Espírito Santo,
assim como os judeus o receberam (At 8.5; 15.8).
A adoração em Espírito sugere algo bem mais eleva-
do do que costumamos ver na maioria dos nossos cultos.
As emoções da alma, expressadas pelo som de um cân-
tico alegre, em nada diferem das emoções que qualquer
pessoa pode expressar ao som de uma música profana. O
homem é um ser emocional, porém, a emoção é relativa.
Ela é coisa do coração, e a Bíblia nos adverte: “Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9). Ora,
então, não há emoção na adoração que se faz em Espírito?

88
Sim, há, mas é preciso estabelecer a distinção: a adoração
em Espírito envolve emoção, mas a emoção no culto nem
sempre expressa adoração em Espírito, principalmente
quando os “adoradores” se utilizam daquele momento
para um espetáculo à parte, puxando para si os holofotes.
É preciso haver discernimento para que a glória devida a
Deus não seja roubada pela vaidade humana. Na verda-
deira adoração, há quebrantamento de espírito, há arre-
pendimento, há conserto e há entrega, assim como ocor-
reu com Isaías (Is 6.1-8).
Em verdade
Outra expressão usada pelo Senhor Jesus na Sua fala
com a samaritana foi a de que a adoração deveria ser feita
em verdade. O que significa isso? Que haveria adoração
mentirosa? Isso é o que, certamente, a recíproca da afir-
mação sugere. Jesus tanto podia estar falando da adora-
ção prestada aos ídolos — prática comum entre os povos
pagãos do passado, mas que também se tornou comum
numa ala da própria cristandade —, como Ele podia estar
falando do culto de adoração prestado não Àquele que é
digno de ser adorado, mas de um culto à personalidade,
que serve para alimentar a vaidade dos grandes “astros
da música evangélica do mundo de hoje”. Essa expressão
usada por Jesus encontra ainda outros desdobramentos
nos cultos em que pessoas se reúnem em busca de bene-
fícios pessoais e nunca para oferecerem ao Deus santo,
justo, majestoso, todo-poderoso, onipotente, onipresen-
te e onisciente, um culto de glorificação, exaltação, em
plena consciência de que são pequenas, mortais, peca-
doras e até mesmo indignas daquele ato. É a bondade do
Filho que torna dignos todos quantos de coração aberto,
achegam-se a Ele.

89
O esforço cristão
Segundo a Igreja Católica, a adoração — entendida
como a “santa missa” — é sempre um ato de sacrifício,
porque nela sempre se celebra a eucaristia (a Ceia do Se-
nhor), embora o povo não tenha acesso aos elementos. O
culto como sacrifício, entretanto, deve ser entendido pe-
los crentes em Jesus como ato de santificação, conforme o
apóstolo Paulo recomenda: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela
compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sa-
crifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional” (Rm 12.1).
O culto cristão, por mais apresentável que seja, com
uma música muito bem ensaiada e um sermão bem ela-
borado, não terá o menor sentido diante de Deus se os
adoradores não estiverem espiritualmente bem diante
dele. O sacrifício vivo — ao contrário do sacrifício do An-
tigo Testamento, em que o animal era morto — implica a
mortificação da carne e o fortalecimento do Espírito, para
que Deus dele se agrade e o receba. A isso Paulo chama
de “culto inteligente”, porque é feito com compreensão, e
não na propensão das emoções (Rm 12.1).
O significado da adoração
Estamos tratando aqui da adoração como ato de culto a
Deus. A adoração somente é possível a Deus. Não há mais
ninguém, em todo o universo, que pode ser enquadrado
nela. Satanás evocou para si esse direito já desde um pas-
sado remoto, quando se elevou, dizendo: “Eu subirei ao
céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono,
e, no monte da congregação, me assentarei da banda dos
lados do Norte” (Is 14.13). Essa exaltação resultou na sua
queda, mas ele não desistiu do seu sonho. No expediente

90
que teve com o Filho de Deus, no cume de um monte,
depois de mostrar-lhe todos os reinos do mundo, reivin-
dicou novamente esse sonho: “E disse-lhe: Tudo isto te
darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4.9). A resposta de
Jesus ecoa pelo universo: “Então, disse-lhe Jesus: Vai-te,
Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, ado-
rarás e só a ele servirás” (Mt 4.10). Portanto, a adoração é
devida somente a Deus e a ninguém mais!
Isso seria óbvio se não presenciássemos pessoas vai-
dosas que se utilizam do ambiente do culto para extra-
vasar suas emoções carnais e, ao mesmo tempo, valer-se
do ensejo para um espetáculo pessoal. Lamentavelmen-
te, temos observado em cultos — muitos dos quais já
denominados shows com artistas evangélicos — o mes-
mo que fazem os artistas do mundo secular, os quais se
exibem em gestos sensuais, com movimentos corporais
atraindo a atenção do público totalmente para si. O que
se observa é diversão, e não quebrantamento e arrependi-
mento de pecado. No final do espetáculo, o artista está à
disposição dos fãs para dar autógrafos e para uma sessão
de fotos, sem contar que, para tais eventos, são cobradas
verdadeiras fortunas.
Certamente, Paulo não pensava assim. Quando es-
creveu aos coríntios, disse o que poderia acontecer num
culto ordeiro e reverente a Deus, onde o Espírito Santo
tem total liberdade de agir. Estando presente um indou-
to,31 ficará convencido e também será julgado por todos
e, por fim, render-se-á aos pés de Cristo, porque “os se-
gredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançan-
do-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que
Deus está verdadeiramente entre vós” (1 Co 14.24,25).
É verdade que há, nesses cultos de hoje, pessoas que se

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convertem também, mas será que é do modo como real-
mente se espera?
Minha declaração neste ponto, reconheço, não é nada
simpática nem mesmo popular, mas estamos refletindo
sobre o modelo bíblico de culto. Podemos dizer que está
bem? Certamente, alguns poderão achar que sim. Então,
prosseguiremos com a pergunta:
Será que está do jeito que agrada a Deus? Para obter
essa resposta, basta considerar o propósito do apóstolo
Paulo ao escrever a porção de 1 Coríntios 14. Ele não está
falando exatamente do modelo de culto extravagante em
que haja exibicionismo corporal nos chamados shows
evangélicos, mas está tratando de um culto pentecostal,
com todo o barulho e manifestações a que nós estamos
bem acostumados.
Por que não temos coragem de entrar com seriedade na
leitura desse texto e considerar cada ponto nele proposto?
Será que o apóstolo Paulo teve alguma recaída espiritual
ao escrevê-lo? Será que foi possuído por algum espírito
formalista que deu origem à liturgia das igrejas reforma-
das? O fato é que ele ganhou inimigos na igreja de Corin-
to por causa dessa primeira carta: “Porque as suas cartas,
dizem, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fra-
ca, e a palavra, desprezível. Pense o tal isto: quais somos
na palavra por cartas, estando ausentes, tais seremos tam-
bém por obra, estando presentes” (2 Co 10.10,11).
A igreja mais pentecostal de todas reagiu à instrução
apostólica de estabelecer ordem na liturgia. Mas é preciso
pôr em destaque a palavra mais dura do apóstolo neste
texto: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reco-
nheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do

92
Senhor” (1 Co 14.37). Portanto, não se trata de implicân-
cia do apóstolo, mas de “mandamento do Senhor”. O que
fazer com essa palavra? Será ela o grande “desmancha
prazeres” dos pentecostais?
Honestamente, como pentecostais que somos, teme-
mos pelo esfriamento da igreja se levarmos ao pé da letra
algumas exigências bíblicas, tal como essa, mas não temos
opção, caso realmente estejamos comprometidos com o
Senhor e com a Sua santa Palavra. Como entender e aten-
der a tal exigência? Prestando atenção à nossa cultura,
especialmente nós, que somos latinos e, por natureza, ba-
rulhentos e um tanto extravagantes. Trata-se mais de uma
questão cultural do que doutrinária para nós. A doutrina
pentecostal, conforme a esposamos, é bíblica, e não há o
que discutir, mas a cultura e a educação latina precisam
ser ajustadas ao padrão bíblico nesse sentido.
A regra número 1 é pensar que, quando oferecemos
culto a Deus, não é Ele quem tem de adaptar-se ao nosso
gosto, mas nós ao dele. Assim, não é Deus quem tem de
entender-nos e aceitar-nos como somos, mas nós é quem
devemos ajustar-nos aos Seus padrões. O culto é para Ele,
então, que seja como Ele quer. É como entrar num restau-
rante e pedir o cardápio antes da refeição. O garçom terá
de servir o que pedimos, de acordo com o cardápio, e não
o prato que ele decidir que iremos comer. Deus sabe o que
quer e o que espera de nós!
Louvor
Os cultos são marcados pelo louvor, principalmente
pelos cânticos. O louvor expressa ação de graças: “Louvai
ao Senhor! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no
firmamento do seu poder” (SI 150.1). O livro dos Salmos
é rico em louvores.
93
O apóstolo Paulo dá uma boa razão para os crentes
serem cheios do Espírito Santo: o culto a Deus. “E não
vos embriagueis com o vinho em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito, falando entre vós com Salmos, e
hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao
Senhor no vosso coração” (Ef 5.18,19).
Há uma distinção entre a adoração e o louvor: enquan-
to, pelo louvor, expressa-se gratidão e reconhecimento a
Deus pelo que Ele faz, na adoração, expressa-se reconhe-
cimento a Deus por quem Ele é. No ato de louvor, que
expressa gratidão, está incluso o ofertório. “Ninguém
aparecerá vazio diante de mim” (Êx 34.20).
Dízimos
Depois de dois mil anos de história, parte da igreja
evangélica ainda debate a questão dos dízimos por não
a entender como parte da doutrina cristã. Alguns se re-
belam contra ela, seja por questão de pura avareza, seja
por não conseguir enxergá-la claramente no Novo Testa-
mento. Seria mesmo o dízimo do Novo Testamento ou
estaria restrito ao Antigo? Há apenas dois registros nos
Evangelhos de Jesus falando sobre o dízimo (Mt 23.23; Lc
11; 42; 18.9-14). Contudo, a fala de Jesus sobre o dízimo
não o desmerece, antes, trata-o, não como algo que seria
interrompido a partir da entrada do Novo Testamento,
mas como algo presente. Portanto, o Seu testemunho so-
bre o dízimo é importante.
O conhecido e recorrente texto de Malaquias 3.10,
“trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja
mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim,
diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas
do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela

94
vos advenha a maior abastança”, é tido pelos cessacionis-
tas do dízimo como reivindicação da Lei, nada tendo com
a graça. Entretanto, o dízimo também precede à Lei.
Não há relato histórico sobre se os crentes de Jerusa-
lém eram ou não dizimistas. O pequeno grupo de quase
120 pessoas ganhou três mil pessoas num só dia. Por se-
rem judeus, todos conheciam suficientemente a doutrina
do dízimo e, por certo, praticavam-na no templo. Teriam
eles mudado a direção ou continuaram a entregá-lo no
templo, para o sustento dos levitas? De acordo com Atos
21.20, percebe-se que os primeiros cristãos não se sepa-
raram imediatamente do judaísmo, mesmo porque não
havia campanha nesse sentido. Os crentes compartilha-
vam o que possuíam, uns com os outros, tendo tudo em
comum, e, assim, todas as necessidades da Igreja eram
supridas (At 2.44).
O sentimento de amor, aliado à expectativa da iminen-
te volta de Cristo, encorajou-os a abrir mão facilmente do
que possuíam, gerando, com isso, um empobrecimento
geral, tendo de depender da ajuda generosa de outras
igrejas para sobreviver (At 11.27-30; G12.10; 2 Co 8,9). No
Antigo Testamento, temos não apenas exemplo da prática
do dízimo quanto à sua regra e destino.
O primeiro caso é o de Abrão entregando o dízimo dos
despojos a Melquisedeque (Gn 14.20). O segundo exem-
plo é o compromisso de Jacó com Deus, quando caminha-
va para Padã-Arã em busca de uma esposa. Ele se com-
prometeu com Deus a entregar o dízimo de tudo quanto
ganhasse (Gn 28.22). Quando o rei Ezequias reformou o
templo e o culto, o povo atendeu à ordem de dar os dízi-
mos para o sustento dos sacerdotes e levitas (2 Cr 31.4-6).

95
Na reforma promovida por Neemias, ocorreu o mesmo
(Ne 10.37-39).
Como a casa de Deus estava em Jerusalém e era o
único lugar onde o povo deveria entregar os dízimos,
os habitantes do Norte não tinham como empreender via-
gem tão longa. Para facilitar a entrega do dízimo, Deus
deu um prazo de três anos, quando os dízimos acumula-
dos deveriam ser entregues (Dt 26.12).
Costuma-se dizer que os dízimos eram os impostos
pagos ao governo, o que é puro engano. Os dízimos ser-
viam para o sustento dos sacerdotes e levitas. Se os ju-
deus entendessem os dízimos como impostos quando o
Império Romano assumiu controle do país, eles não mais
continuariam a dar os dízimos no templo, mas entrega-
riam tudo nas mãos do imperador romano. Jesus deixou
clara esta distinção quando inquirido acerca do tributo a
César: “É lícito dar tributo a César ou não? E, entendendo
ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-
-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E,
respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes, então:
Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de
Deus” (Lc 20.22-25).
Quanto ao Novo Testamento, por que Paulo não fala
dos dízimos? O Dr. Richard Sturz tem um palpite: Embo-
ra Paulo não escreva sobre dízimos, isso pode ter várias
razões. Talvez o dí- zimo fosse praticado comumente por
todas as igrejas, e, assim, não havia problema específico
para comentar. Pode ser também que tenha sido suplan-
tado por ofertas que excediam o dízimo, como certamen-
te ocorreu em Jerusalém. Outra possibilidade é que as
doações fossem inteiramente voluntárias, voltadas para

96
ministérios específicos, como no caso das viagens mis-
sionárias de Paulo (Fp 4.10), ou necessidades específicas,
como a fome em Jerusalém (At 11.27-30). Depois, também
havia ofertas especiais levantadas para ocasiões especiais,
tais como a que Paulo levantou para os pobres em Jerusa-
lém (2 Co 8.9).
A melhor maneira de compreendermos o dízimo na
era da graça é voltando-nos para a experiência do nosso
Pai Abraão. O patriarca foi informado de que uma liga de
cinco nações, lideradas por Quedorlaomer, havia captu-
rado os reis de quatro nações, sendo uma delas Sodoma,
cidade onde habitava Ló, e Ló, seu sobrinho, estava em
poder dos inimigos. Abrão, levando consigo 318 homens
que lhe serviam, perseguiu os vencedores até encontrá-
-los e derrotá-los. Como era de praxe, o vencedor tomava
o povo e, como despojo, os bens pertencentes ao inimigo.
Abraão salvou o sobrinho e os quatro reis.
No caminho de volta, surge um personagem misterio-
so: Melquisedeque34, rei de Salém, sacerdote do Deus Al-
tíssimo, trazendo consigo pão e vinho (Gn 14.18). Ele o
abençoa, e, por sua vez, Abrão lhe entrega o dízimo de
tudo quanto havia amealhado.
Há algumas peculiaridades sobre esse encontro que o
autor de Hebreus apresenta: a primeira é que o seu nome
é “rei de justiça”, - ‫ קלצמלכי‬, Melk Tzedeque; a segunda é
também rei de paz, porque é rei de Salém, do hebraico
‫םשל‬, shalém, que é “paz”. Sua genealogia é desconhecida,
não tem data de aniversário nem fim de dias, é semelhan-
te ao Filho de Deus, que permanece sacerdote para sem-
pre (Hb 7.1-3).

97
O escritor sagrado baseou-se no que acerca de Melqui-
sedeque está registrado na profecia messiânica do livro
dos Salmos: “Jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és
sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque!”
(SI 110.4). Em seguida, o autor de Hebreus manda os lei-
tores considerarem quem é esse Melquisedeque (Hb 7.4).
Mas ele prossegue dizendo que até mesmo a descendên-
cia de Abraão (os filhos de Levi) entregou o dízimo a Me-
lquisedeque (Hb 7.5,6).
A ilação feita pelo autor é a de que Melquisedeque é
a figura do próprio Cristo, e que todos, até mesmo os do
passado, entregavam os dízimos para Ele. E ele vai ain-
da além: “E aqui certamente tomam dízimos homens que
morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive”
(Hb 7.8). Ora, quem é Aquele de quem se testifica que
vive senão Aquele que foi morto? Desse modo, vale dizer
que o dízimo era dado no Antigo Testamento como uma
antecipação do Novo, porque, embora, materialmente, o
dinheiro do dízimo circule na terra, espiritualmente, é en-
tregue a Jesus.
Outro fato curioso é que a sua importância, segundo a
narrativa de Gênesis, é a de que se equipara à Ceia do Se-
nhor. Melquisedeque entrou com os elementos típicos da
Ceia, pão e vinho, e Abrão entrou com o dízimo. Mais um
fato ainda curioso é que quem entregou o dízimo àquele
que é a figura de Cristo foi o nosso pai na fé, logo, de-
vemos dar prosseguimento a esse ato, como prenunciado
em Levi, figura dos seus descendentes.
É lícito ao crente administrar o seu dízimo?
É comum encontrar-se crentes que administram seu
próprio dízimo, fragmentando-o em parte para a sua

98
igreja, parte para ajudar um missionário e parte para
uma obra social. Em Israel, os dízimos tinham um só
destino: a casa do tesouro, e a razão era: “Para que haja
mantimento na minha casa, diz o Senhor (...)”. Se todo
crente administrar seu próprio dízimo, ele causará
grandes prejuízos à casa de Deus, impedindo-a de fazer
progresso e até mesmo de manter-se, além do que, não
é honesto. Seria o mesmo que uma pessoa comer uma
farta comida num restaurante de luxo e pagar a conta no
açougue. O crente deve ser recíproco na igreja onde ele
é membro, porque ali ele é alimentado pela Palavra de
Deus e assistido pelo seu pastor.
O compromisso da Igreja para dentro
A Igreja de Cristo vem sendo edificada a cada dia. Ela
cresce de duas maneiras: em quantidade e em qualidade.
Quanto mais almas ela ganha, maior quantidade de pes-
soas reúne.
Mas, se a Igreja crescesse apenas em quantidade, e não
em qualidade, não passaria de um grande ajuntamento
de pessoas, portando todos os defeitos do velho homem e
completamente alheia à vida de Deus. A Igreja do Senhor,
tendo como fonte de poder o Espírito Santo, como meio
de revelação a Bíblia Sagrada e como guias do rebanho
os pastores, promove internamente a edificação, o cresci-
mento, a comunhão e a santificação dos crentes.
Promove o ensino
Todo crente tem o dever de conhecer a Palavra de Deus.
“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais não conhe-
cendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
Muitos crentes querem somente as músicas; outros, so-
mente emoções, mas a nossa solidez espiritual provém da

99
Palavra de Deus. Jesus não abria mão da Palavra de Deus.
É ela que amolda e aperfeiçoa 0 nosso caráter cristão.
Promove o crescimento
O início da vida cristã é ilustrado na figura de um bebê.
Jesus fala da conversão como novo nascimento (Jo 3.1-7).
Outra vez, Ele diz que quem não se fizer como criança
de maneira alguma entrará no Reino de Deus (Mc 10.15).
Mas a Bíblia também cobra dos crentes o amadurecimen-
to (1 Co 3.1-3; Hb 5.12-14). A Igreja de Cristo tem como
missão promover o crescimento espiritual de cada salvo
(Ef 4.15; Cl 2.7; 2 Pe 3.18; 1 Co 14.26).
Promove comunhão
A comunhão do salvo se dá em dois sentidos: verti-
cal (com Deus) e horizontal (com os irmãos): “O que vi-
mos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também
tenhais A comunhão do salvo se dá em dois sentidos:
vertical (com Deus) e horizontal (com os irmãos): “O que
vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também
tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o
Pai e com o Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1.3). A palavra grega
κοινωνία, koinonia, “comunhão”, significa “companhei-
rismo, participação, contribuição, comungar as mesmas
idéias”. Comunhão envolve o mesmo pensar, o mesmo
sentir e o mesmo querer (1 Co 1.10; 1 Jo 1.3,7; At 2.42; 2 Co
13.13). A comunhão encontra a sua mais alta expressão na
celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11.16,17).
A Igreja é formada por pessoas diferentes, e, portanto,
não é estranho que aconteçam problemas no relaciona-
mento pessoal. Entretanto, tais problemas devem servir
de matéria-prima para o exercício da tolerância, do amor

100
e do perdão. A comunhão entre os irmãos gera um re-
lacionamento que se aprimora a cada dia (Fp 2.3,4; Rm
15.2,7). “É a comunhão de uns com os outros que torna a
igreja tão diferente em qualidade de todas as sociedades
humanas.”
Promovendo a santificação
Deus é santo, portanto, o padrão de vida destinado ao
Seu povo é o de santidade (1 Pe 1.16). Ninguém jamais
conseguirá atingir um nível ideal de santificação fora da
Igreja do Senhor.
A Igreja é santa (Ef 5.27), e os que a ela pertencem são
chamados santos (Fp 4.21,22; Cl 1.1,2; Hb 3.1). A santifi-
cação implica separação do mundo e do pecado. A Igreja
de Cristo não apenas prega a santificação, mas também
cria condição para que cada um dos seus membros en-
contre força para praticá-la. Ninguém jamais verá o Se-
nhor se não se identificar com Ele na Sua natureza santa
(Hb 12.14), e o meio de cultivar esse estilo de vida é por
meio da Sua Igreja, que tem, como missão, promover a
santificação.
O compromisso da Igreja para fora
A Igreja de Cristo tem uma missão no mundo, como
revela o próprio termo Igreja — assembleia dos que são
chamados para fora —, indicando uma ação que ocorre
fora das suas portas. Há uma tendência à acomodação nas
igrejas. Os crentes sempre esperam ver Jesus salvando as
pessoas nos cultos, mas a maioria nem ao menos se dá ao
trabalho de convidar pessoas descrentes para participa-
rem deles.

101
Deus revela, desde Gênesis, Sua intenção de redenção
da humanidade. Quando chamou Abrão, disse-lhe: “E
abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que
te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias
da terra” (Gn 12.3). Os profetas do passado lembravam o
povo de Deus de que ele havia sido constituído para levar
“luz” às nações: “(...) Também te dei para luz dos gentios,
para seres a minha salvação até à extremidade da terra”
(Is 49.6).
Todos os povos da terra são conclamados a louvar a
Deus (SI 67), e não somente Israel. Como propriedade
particular de Deus, Israel foi incumbida de servir de in-
termediária entre Deus e as nações (Dt 7.6; Êx 19.5,6), mas
falhou na sua missão. A Igreja substituiu Israel na sua
missão de reino sacerdotal, nação santa e povo adquirido:
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilho-
sa luz” (1 Pe 2.9).
A grande comissão
Antes de despedir-se da terra, Jesus deu uma ordem
expressa aos Seus discípulos, para que eles levassem as
boas-novas de salvação a todo o mundo (Mc 16.15; Mt
28.18- 20; Jo 20.21; Lc 24.46,47). Embora saibamos que nem
todos serão salvos, cada pessoa deve, ao menos uma vez
na vida, ter conhecimento da grande salvação preparada
por Deus, por intermédio de Seu Filho. A única maneira
de saber isso é por meio da Igreja. Foi dada a ela essa in-
cumbência, e, se a Igreja não cumprir tal tarefa, ninguém
mais a fará (2 Co 5.19,20a).

102
A Igreja tem a missão de pregar e ela sabe fazer isso
muito bem. Há excelentes pregadores, com mensagens
fortes, que atingem o coração dos pecadores. Essas men-
sagens, entretanto, estão sendo pregadas mais dentro das
igrejas do que fora delas. Jesus mandou-nos pregar para
os pecadores onde eles estão: espalhados pelo mundo.
Jesus chama os Seus seguidores de discípulos, portanto,
isso é o que nós todos somos: discípulos. Quem se recusa
a aprender não é discípulo. Discípulos fazem discípulos.
O mundo precisa compreender a mensagem do evan-
gelho por meio do ensino. Jesus disse: “Portanto, ide, en-
sinai todas as nações (...) ensinando-os a guardar todas as
coisas que eu vos tenho mandado (...)” (Mt 28.19,20).
Se a mensagem da salvação não for compreendida pela
Igreja, os crentes nem sequer poderão ufanar-se de serem
salvos, porque não existe a menor possibilidade de um
salvo não saber que é salvo, nem mesmo de não entender
a grandeza de uma salvação, que é eterna. Assim, a mis-
são de pregar e ensinar uma mensagem tão grande não
podería servir para menos do que o mundo todo. Byron
D. Klaus diz:
Como o evangelho pode ser suficientemente fidedigno
e poderoso, a ponto de levar as pessoas a crerem que um
homem pendurado na cruz realmente tem a derradeira
palavra nos assuntos humanos? Sem dúvida, a única res-
posta, a única hermenêutica, é uma congregação que crê
nisso e que vive à altura de sua fé (Fp 2.15,16).
Juntamente com a pregação e o ensino vem o testemu-
nho. A pregação e o ensino devem ser confirmados pelo

103
testemunho de vida. O mundo espera o melhor dos cren-
tes. Quando algo de estranho ocorre entre nós, até mesmo
a imprensa se mobiliza para criticar-nos. Isso acontece
porque o mundo espera ver coerência entre o que prega-
mos e o que vivemos (Mt 5.13-16; Fp 2.14,15).

BIBLIOGRAFIA - BRUNELLI, Water – TEOLOGIA PARA


PENTECOSTAIS – Uma Teologia Expandida – Volume 4,
Páginas 63 a 80 – Editora CENTRAL GOSPEL – Rio de Ja-
neiro 2016.

104
UNIDADE – IV

ECLESIOLOGIA
A Doutrina da Igreja

As Grandes Doutrinas da Bíblia


Raimundo de Oliveira
As Ordenanças Bíblicas

As Verdades Centrais da Nossa Fé


Claudionor Correa de Andrade
A Missão da Igreja

Doulos Nehemias Santos

105
OLIVEIRA, de Raimundo em sua obra intitulada AS
GRANDES DOUTRINAS DA BIBLIA – Páginas 209 á 211
discorre sobre o seguinte assunto:

1 – AS ORDENANÇAS DA IGREJA
Apesar de possuir ordenanças, a Igreja não faz do ri-
tualismo a sua alma e a sua vida. A essência do cristia-
nismo é um novo relacionamento entre o homem e Deus,
através do novo nascimento operado pelo Espírito Santo
e pela Palavra de Deus. São duas as principais ordenanças
dadas pelo Senhor Jesus Cristo à sua Igreja: o batismo em
água, e a celebração da Santa Ceia do Senhor.
1. O Batismo em Água
O termo “batizar” comum ente significa mergulhar
ou imergir. Apesar de indefinida a origem da prática ba-
tismal e da razão porque foi adotada pela Igreja cristã, a
sua prática se faz algo imperioso quando analisadas as
seguintes palavras de Jesus: “Portanto ide, ensinai todas
as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do
Espírito Santo” (Mt 28.19).

107
a) A Fórmula do Batismo
Os inimigos da doutrina trinitária, com frequência, se
insurgem contra a fórmula batismal dada por Jesus em
Mateus 28.19. Por exemplo, citam o apóstolo Pedro dizen-
do: “... cada um de vós seja batizado em nome de Jesus”
(At 2.38), para erroneamente afirmarem que a forma ba-
tismal bíblica é “em nome de Jesus”, e não “em nome do
Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Um escritor cristão
do II Século põe fim à questão quanto à forma batismal
cristã, quando escreve: “Agora, concernente ao batismo,
batizai assim: havendo ensinado todas as coisas, batiza
em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, em água
viva (corrente). E se não tiveres água viva, batiza em ou-
tra água; e se não podes em água fria, então em água mor-
na. Mas se não tiveres nem uma nem outra, derrama água
três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho e
do Espírito Santo” (Conhecendo as Doutrinas da Bíblia –
Editora Vida – Pág.22).
b) O propósito do Batismo
Uma vez que só o salvo pode ser batizado, o batismo
não tem como finalidade a salvação do batizando. O ato
do batismo se constitui num testemunho público de que
aquele que a ele se submete foi regenerado pela fé em Je-
sus Cristo. Assim, pelo batismo, o novo crente dá prova
de haver morrido para o mundo, estando pronto para ser
sepultado e ressuscitado para uma nova vida em Cristo.
No entanto, devemos compreender que se o crente, por
uma circunstância inesperada, vier a morrer antes de ser
batizado em água, a sua posição de salvo continua inal-
terada (Lc 23.42,43). Em circunstâncias normais, uma vez

108
que o batismo não se constitui uma opção, mas uma or-
denação divina, todos os que crêem devem ser batizados.
2. A Ceia do Senhor
O Senhor Jesus Cristo começou o seu ministério terre-
no pelo batismo no Jordão, e o encerrou com a celebração
da Ceia no Cenáculo. Ambos os fatos destacam o valor da
Ceia do Senhor para a vida dos crentes hoje em dia.
a) O Propósito da Ceia
A Santa Ceia do Senhor tem por finalidade anunciar a
nova Aliança (Mt 26.26-28), e se constitui um memorial,
conforme ordem expressa do próprio Jesus (Lc 23.19). É
uma lição objetiva que expõe os dois fundamentos do
Evangelho: Primeiro: A encarnação: Ao partir do pão,
ouvimos o apóstolo João a dizer: “E o verbo se fez carne
e habitou entre nós” (Jo 1.14). Segundo: A expiação: As
bênçãos incluídas na encarnação nos são concedidas me-
diante a morte de Cristo. O simbolismo do pão partido
é que o Pão deve ser quebrantado na morte, a fim de ser
distribuído entre os espiritualmente famintos. O vinho
derramado nos diz que o sangue de Cristo, o qual é a sua
vida, deve ser derramado na morte, a fim de que seu po-
der purificador e vivificante possa ser outorgado às almas
necessitadas. Os elementos usados na Ceia (o pão e o vi-
nho) nos lembram que pela fé podemos ser participantes
da natureza de Cristo, isto é, ter “comunhão com ele”. Ao
participarmos do pão e do vinho, na Ceia do Senhor, o ato
nos recorda e nos assegura que, pela fé, podemos verda-
deiramente receber o Espírito de Cristo e ser o reflexo do
seu caráter.

109
b) Como Celebrar a Ceia
No ato da celebração da Ceia, Cristo deixou-nos o
exemplo de como devemos ministrar. Todos os discípu-
los participaram do pão e do vinho, e esta fórmula foi re-
petida no ensino do apóstolo Paulo (1 Co 11.24-26). Por
ser a Ceia do Senhor a maior festa espiritual da Igreja,
interrompê-la com outros assuntos se constitui profana-
ção. Este tipo de atitude representa, na verdade, falta de
zelo para com as coisas de Deus. Se por um lado a reve-
rência cristã condena o mero formalismo, ao mesmo tem-
po não pode aceitar que a Ceia do Senhor seja celebrada
sem nenhuma solenidade, de modo relaxado e desprezí-
vel. Isto é profanar aquilo que é sagrado. Somos, igual-
mente, admoestados sobre o modo como devemos parti-
cipar da Ceia do Senhor: “Examine-se pois o homem a si
mesmo...” (1 Co 11.28). Portanto, erram clamorosamente
aqueles que, ao invés de examinarem a si mesmos, ficam
a investigar as outras pessoas.
c) A Atitude Correta Face à Celebração da Ceia
Em 1 Coríntios 11.24,26,28, o apóstolo Paulo chama a
atenção do comungante da Santa Ceia do Senhor, para
três direções que essa cerimônia o leva a olhar:
Primeiro: O olhar retrospectivo: Como memorial, to-
das as vezes em que celebrarmos a Ceia do Senhor, deve-
mos fazê-lo com um olhar retrospectivo, - em direção ao
Calvário, onde o Senhor, com o seu próprio sangue, pa-
gou o preço exigido pelo resgate de nossas almas. O Cal-
vário deve ser permanentemente o tema de nossas vidas!
Segundo: O olhar introspectivo: Este é o olhar interior,
pessoal uma espécie de sondagem para saber como está a

110
nossa vida diante do Senhor a quem celebramos quando
participamos do pão e vinho. Que valor temos dado ao
seu sacrifício. Em que posição nos encontramos concer-
nente à nossa comunhão com o Salvador? Este é um dos
propósitos Ceia do Senhor. Ela nos estimula a uma refle-
xão interior sobre os nossos passos na vida cristã.
Terceiro: O olhar expectativo: Finalmente, a Ceia do
Senhor também um fator de esperança. Todas as vezes
que dela participamos, nossa mente se volta para aquele
glorioso dia quando nos assentaremos com o Senhor nas
Bordas do Cordeiro (Maturidade Cristã N° 4 – 4° Trimes-
tre - C PAD). O próprio Jesus Cristo assim se expressou: “E
digo-vos que, desde agora que, desde agora, não beberei
deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo
convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29). Paulo, em ou-
tras palavras reiterou a mesma mensagem: “... anunciais a
morte do Senhor até que venha” (1 Co 11.26).

2 – A PROCLAMAÇÃO PROFÉTICA DA IGREJA


PRIMITIVA
Um dos termos originais usado no Novo Testamento
para descrever a proclamação da igreja é kerygma, tradu-
zido por “pregação” (Rm 16.25; 1 Co 1.21; 2 Tm 4.17; Tt
1.3), e “proclamação” (Lc 4.18; 1 Ts 2.9 - ARA).
1. Demonstrada na revelação do mistério da vontade
de Deus.
As Sagradas Escrituras descrevem a proclamação das
boas-novas e o seu conteúdo doutrinário como a revelação
do “mistério que desde os tempos eternos esteve oculto

111
em Deus” (Rm 16.25; 1 Co 2.7; Ef 1.9; 3.3,4,9; 5.32; 6.19).
Esse mistério não é descrito apenas como uma mensagem
(Rm 16.25; Ef 3.3; 6.19), mas como o Verbo encarnado
(Cl 1.26-28; 2.2,3; 4.3). Este revelou a Deus (Jo 1.18; 8.16;
10.30), a vontade divina (Mt 7.21; Jo 4.34) e a Palavra de
Deus (Jo 14.24; 17.6,14,17).
a) O mistério revelado à Igreja. 
Segundo o Novo Testamento, o mistério foi revelado à
Igreja para a glória dos santos (1 Co 2.7; Cl 1.26,27); como
está escrito: “descobrindo-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito” (Ef 1.9). O mistério revelado
da salvação em Cristo deve ser anunciado a todos os ho-
mens (Ef 3.9; 6.19; Cl 4.3; 2.2).
b) O mistério desvendado em Cristo. 
Deus havia planejado a Igreja antes da fundação do
mundo e a sua concretização haveria de acontecer na his-
tória da humanidade. Todo o plano de restauração e sal-
vação que estava oculto cumpriu-se em Jesus Cristo (Ef
1.9,10; Cl 1.27; 2.2) “na plenitude dos tempos” (Gl 4.4; Ef
1.10), quando Deus enviou seu Filho para salvar o homem
(Lc 19.10), e despojar a Satanás e seus anjos, triunfando
sobre eles (Cl 2.15; 1 Jo 3.5,8). Este é o “mistério da pieda-
de” que inclui os fatos da encarnação, morte, ressurreição
e triunfo glorioso de Jesus Cristo (1 Tm 3.16).
2. Revelada na missão de anunciar o reino de Deus. 
Os Evangelhos são enfáticos quanto à mensagem de
Cristo e dos seus discípulos no sentido de proclamar o
Reino de Deus a todas as gentes (Mt 3.1,2; Mel.14,15; Lc
18.16,1 7). A centralidade da mensagem está no Reino de

112
Deus — o foco principal da proclamação da Igreja em
seus primórdios (At 1.3; 8.12; 14.22; 19.8; 20.25; 28.23,31).
Quando se diz “é chegado o Reino...” (Mt 4.17), o sentido
é profético, referindo-se tanto à presença do Reino no pre-
sente quanto no futuro. A atual manifestação do Reino de
Deus implica salvação do poder do pecado, mas quanto
ao futuro, a libertação da presença do pecado (1 Co 15.20-
25,42-57).

3 – DIMENSÕES DA MISSÃO PROFÉTICA DA


IGREJA
1. A Grande Comissão (Mt 28.18-20). 
A missão profética da Igreja está implícita na Grande
Comissão que lhe foi outorgada por Cristo. Vários textos
dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos falam da abran-
gência ilimitada da missão profética da Igreja (Mt 28.18-
20; Mc 16.15-20; Lc 24.46,47; At 1.8). Essa missão profética
de pregar o evangelho tem seu alicerce na autoridade de
Jesus. É função da Igreja proclamar a todos que se arre-
pendam, para que sejam perdoados os seus pecados (Mc
1.14), e possam ingressar no Reino de Deus.
2. O Novo pacto de Deus (Êx 19.1,2; Ef 3.2-5). 
Da semente de Abraão, Deus suscitou Israel e fez um
pacto com esse povo para ser o seu representante na Terra.
Israel recebeu de Deus uma missão profética, mas falhou.
Então, o Todo-Poderoso elegeu um novo povo constituí-
do de judeus e gentios, estabelecendo através de seu Filho
Jesus um novo pacto. Deste modo, as promessas de Deus
a Abraão cumpre-se na Igreja (Ef 3.10,11; Hb 8.6).

113
4 – A MENSAGEM PROFÉTICA DA IGREJA (At
3.18-26)
1. Arrependimento (At 2.38; 3.19; 17.30). 
O arrependimento requer uma mudança completa na
vida de rebelião e pecado do homem contra Deus, para
uma nova vida de fé e obediência ao Senhor. Jesus orde-
nou que em seu nome se pregasse o arrependimento a to-
das as nações (Lc 24.47). A mensagem de João Batista (Mt
3.2), de Jesus (Mt 4.17) e dos apóstolos (At 2.38) era uma
veemente chamada ao arrependimento: “Arrependei-vos
e crede no evangelho” (Mc 1.15). Uma igreja morna perde
sua função profética e não prega o arrependimento dos
pecados. Todavia, a Igreja do Deus vivo, a coluna e fir-
meza da verdade (1 Tm 3.15), não se associa ao mundo
inconverso e perdido; ao contrário, conclama a todos que
se arrependam e se convertam, para que sejam perdoados
de seus pecados (At 3.19).
2. A segunda vinda de Cristo (vv.20,21; 1 Ts 4.13-18). 
A pregação do evangelho pelos apóstolos anunciava o
retorno triunfante de Cristo à Terra, como cumprimento
da palavra profética anunciada pelos santos profetas do
Antigo Testamento. A missão profética da Igreja, portan-
to, inclui a proclamação do retorno triunfante de Cristo
como juiz dos vivos e dos mortos (At 10.42; 17.31), não
apenas dos cristãos, mas também dos pecadores. Segundo
o texto de 1 Pe 2.9,10, a igreja deve cumprir plenamente
o seu tríplice ministério: real, sacerdotal e profético, para
que a sua missão satisfaça o projeto de Deus na Terra.

114
O progresso real de uma igreja é avaliado por seu al-
cance evangelístico, juntamente com seus frutos espiri-
tuais, como resultado da semeadura da Palavra de Deus.
Todas as demais atividades são importantes, mas a prio-
ritária e incessante é a evangelização.

5 – DEFINIÇÃO DE TERMOS
Existem três palavras interligadas na proclamação das
Boas-Novas que merecem a nossa atenção: evangelho,
evangelismo e evangelização. Estas definem e explicam a
missão máxima da igreja na terra.
1. Evangelho (Mc 16.15). 
Só entenderemos a importância da missão evangeli-
zadora da igreja compreendendo o significado de evan-
gelho. O que é evangelho? No sentido mais simples, o
evangelho é definido como “boas-novas de salvação em
Cristo”. Noutras palavras, “evangelho” é o conteúdo da
revelação de Deus, em Jesus como Salvador e Senhor de
todas as criaturas que o aceitam como seu Salvador pes-
soal. Evangelho, portanto, é o conjunto das doutrinas da
fé cristã que deve ser anunciado a toda criatura.
2. Evangelização. 
Mateus 28.19,20 apresenta o imperativo evangelístico
de Cristo à sua igreja, com quatro determinações verbais:
a)  Ir.  No sentido de mover-se ao encontro das pessoas,
a fim de comunicar a mensagem salvífica do evangelho;
b) Fazer discípulos. Com o sentido de “estar com” as pes-
soas e torná-las seguidoras de Cristo; c) Batizar. É o ato

115
físico que confirma o novo discípulo pela sua confissão
pública de que Jesus Cristo é o seu Salvador e Senhor;
d) Ensinar as doutrinas da Bíblia, com o objetivo de aper-
feiçoar e preparar o discípulo para a sua jornada na vida
cristã.
3. Evangelismo. 
Possui um caráter técnico, pois se propõe a ensinar o
cristão a cumprir, de modo eficaz, a tarefa da evangeliza-
ção. O evangelismo na igreja local implica uma ação or-
ganizada e ativada pelos membros, para desenvolver três
ações necessárias à pessoa do evangelista: informação,
persuasão e integração do novo convertido.

6 – AS DIMENSÕES DA IGREJA NA TERRA


1. Universal. 
A Igreja universal é o conjunto de todos os salvos em
Cristo. É citada no Novo Testamento no singular — “igre-
ja” — nos textos de At 20.28; 1Co 12.28; Ef 1.22; 5.27; 1Tm
3.15; Hb 12.23. No plano eterno de Deus, a Igreja univer-
sal foi arquitetada por Ele antes da fundação do mundo
(Ef 1.4,9,10), e, tem um caráter geral porque inclui todos
os cristãos remidos por Cristo, dentre todos os povos.
2. Local. 
A palavra igreja, em sentido literal, abrange o conceito
de “congregar” e “reunir”, pois se trata da reunião dos
fiéis em um local específico. A Bíblia emprega o plural
“igrejas”, a fim de referir-se às igrejas locais (At 9.31; 16.5;
Rm 16.4; 16.19; 2Co 8.1; Gl 1.2). No entanto, quando o

116
termo está no singular, cita-se a região na qual a igreja lo-
cal encontra-se (At 14.23; Rm 16.1; 1Co 1.2; 4.17; 1Ts 1.1).
A perspectiva local da igreja fortalece o fato de que o trato
e relacionamento de Deus com ela não é só universal, mas
local, congregacional e direto.

7 – A ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DA IGREJA


1. A organização administrativa da igreja. 
A Igreja é tanto um organismo espiritual quanto uma
organização que necessita do trabalho de pessoas nos vá-
rios órgãos funcionais da igreja local. Organização fun-
cional da igreja refere-se à administração dos recursos
materiais e humanos de que ela dispõe, para que não haja
interrupções no seu crescimento quantitativo e qualitati-
vo.
2. A organização ministerial da igreja. 
Esta forma de organização diz respeito ao governo da
igreja local através de homens vocacionados e capacita-
dos por Deus para o exercício do santo ministério ecle-
siástico. Ao longo da trajetória da igreja, temos várias
formas de governo eclesiástico: local, distrital, regional e
nacional. Por meio do Novo Testamento, verificamos que
a autoridade administrativa e espiritual da igreja local é
competência do pastor. Todos os demais cargos e funções
submetem-se à autoridade pastoral. Na igreja também há
cargos de caráter espiritual, conforme expõe a Escritura
em Ef 4.11: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e
mestres.

117
3. A organização espiritual da igreja. 
Essa organização refere-se, essencialmente, à sua litur-
gia. Trata-se da ministração do culto, da adoração cole-
tiva, das ordenanças deixadas por Jesus, como a Ceia do
Senhor e o batismo em águas (Mt 28.19,20; Lc 22.16-20).
Mesmo que não haja uma forma prescrita e específica de
liturgia dos cultos, devemos primar em manter os prin-
cípios ensinados por Jesus, no sentido de promover a co-
munhão com Deus e com os irmãos.

118
Bibliografia

BRANCOFT, E.H – TEOLOGIA ELEMENTAR, Páginas 280 a


152, Imprensa Batista Regular.
DO COUTO, Geremias – TEOLOGIA SISTEMÁTICA PENTE-
COSTAL – Páginas 386 a 389 – Editora CPAD.
BRUNELLI, Water – TEOLOGIA PARA PENTECOSTAIS –
Uma Teologia Expandida – Volume 4, Páginas 63 a 80 – Edi-
tora CENTRAL GOSPEL – Rio de Janeiro 2016.
OLIVEIRA, de Raimundo – AS GRANDES DOUTRINAS DA
BÍBLIA – Páginas, 209-211, Editora CPAD – Rio de Janeiro
1987.
ANDRADE, de Claudionor – VERDADES CENTRAIS DA FÉ
CRISTÃ – Rio de Janeiro – Editora CPAD, 2006, Páginas,
209-10.
COLEMAN, Robert – COMO AVIVAR A SUA IGREJA. Janei-
ro – Editora CPAD, 2005, Páginas, 87-88.
BENTHO, Esdras Costa – HERMENÊUTICA FÁCIL E DES-
COMPLICADA – Janeiro – Editora CPAD, 2005, Páginas,
37-8.

119
Contatos

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