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A

IGREJA
DE
JESUS
CRISTO

1
Dr. Reynaldo Purim. Ph. D.

CDD – 262

2
APRESENTAÇÃO
Qual é a tarefa primordial da Igreja de Jesus Cristo? Varias
respostas têm sido dadas ao longo dos séculos a esta pergunta. Sem
sombra de dúvida, a expansão do Reino de Deus na face da terra
como resultado da propagação da vida e do ministério de Jesus
Cristo por parte dos seus seguidores é sempre a resposta mais
frequente. Essa propagação acontece como resultado da atuação do
Espírito Santo no coração e na mente dos crentes. A função do
Espírito, no dizer de Jesus, é de guiar os cristãos a "toda a verdade".
Á medida em que os que creram no Senhor Jesus Cristo começam a
compreender o significado da sua pessoa e da sua obra começa a
tomar corpo a Igreja de Jesus Cristo.
Glorificar a Jesus Cristo poderia ser apontado como a função
básica da Igreja. Mas, de acordo com a terminologia bíblica,
glorificar é sinônimo de revelar. É manifestando o que Jesus fez em
seu favor que os crentes revelam, ou glorificam, o seu nome na face
da terra. Assim, adoração e evangelização assumem conotações bem
próximas. A adoração da Igreja deve ser uma adoração consciente,
coerente e 1ógica (Romanos 12.1). Através dessa adoração, que
serve de base para sua proclamação, a Igreja está realmente
repetindo ao mundo o convite de Filipe a Natanael "vem e vê" (João
1.46). A vida da Igreja no mundo deve ser uma repetição desse
convite.
Ninguém melhor do que o Dr. Reynaldo Purim, pesquisador
experiente, durante longos anos, da verdade bíblica e teológica, para
escrever este livro sobre a Igreja de Jesus Cristo. De forma
resumida, mas profunda e substancial, o veterano obreiro nos
conduz os pensamentos no sentido de uma reflexão séria a respeito
da natureza e função da Igreja, lança as bases para uma eclesiologia
firmemente ancorada em o Novo Testamento.
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SUMÁRIO
Apresentação
Introdução
1. A Formação da Igreja
2. A Missão da Igreja
3. O Ideal Ético e Escatológico da Igreja
4. A Igreja Como Esfera da Atuação do Espírito Santo
5. A Igreja Como Intérprete Final de Todas as Coisas
6. A Igreja Como Apoio e Coluna da Verdade
7. A Glorificação de Deus na Igreja.

4
INTRODUÇÃO

O cristianismo é essencialmente subjetivo ou espiritual. A


Igreja é sua expressão externa ou histórica; é a sua manifestação
visível no homem como individuo e coletividade. A Igreja é o
fruto do cristianismo e também a forma pela qual este atua e se
propaga no mundo. Como religião pessoal e espiritual, o
cristianismo se propaga de individuo para indivíduo. A Igreja
surge como fruto espontâneo da sua natureza coletiva ou
significado objetivo no homem. Para cumprirmos
adequadamente a nossa tarefa na propagação do cristianismo,
precisamos compreender o que é a Igreja. Disto depende, enfim,
a nossa aptidão para interpretarmos o cristianismo no seu
significado pessoal e coletivo para a vida humana.
Aqui pretendemos estudar a Igreja principalmente em sua
relação com Jesus Cristo. O assunto poderia ser estudado
também dos pontos de vista de Deus Pai e de Deus Espírito
Santo. Em última análise, a Igreja é a obra da Triunidade toda.
Aqui, porém, colocaremos em destaque os seus aspectos
relacionados com Jesus Cristo, pois são estes, para nós, os mais
imediatos e práticos. Sem estes, o estudo dos outros aspectos
seria mediato e de mais difícil alcance. Certamente, os aspectos
relacionados com Deus Pai e Deus Espírito Santo não ficarão
omitidos aqui. Eles serão abordados do ponto de vista de Jesus
Cristo. Devemos acrescentar que, na realidade, é em relação com
a Igreja de Jesus Cristo que podemos ter um conhecimento
adequado de Deus Espírito Santo, como também de Deus Pai,
como autor da obra de salvação e criador de todas as coisas.
Inicialmente, devemos explicar ainda que o nosso estudo, ao
invés de seguir o método geralmente usado na teologia
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sistemática, no qual o autor organiza a matéria à sua vontade,
será essencialmente histórico. Será baseado na história do Novo
Testamento, onde temos as origens, o estabelecimento e o
desenvolvimento da Igreja. Cremos que a interpretação
doutrinária da Igreja, como a de qualquer outro assunto
pertencente ao cristianismo, deve partir ou ter por base a história
ou a experiência e o processo pelo qual esta se verificou.
Desejamos abordar aqui os seguintes tópicos: 1. "A Formação da
Igreja"; 2. "A Missão da Igreja"; 3. "O Ideal Ético e
Escatológico da Igreja"; 4. "A Igreja Como Esfera da Atuação
do Espírito Santo"; 5. "A Igreja Como Intérprete Final de Todas
as Coisas"; 6. "A Igreja Como Apoio e Coluna da Verdade"; 7.
"A Glorificação de Deus na Igreja". Abordaremos apenas as
diretrizes ou algumas ideias principais, e estas mesmas de modo
muito elementar, deixando de lado os detalhes.

1
A FORMAÇÃO DA IGREJA
As origens, ou o processo da formação da Igreja, a nosso
ver, ainda não tem merecido a devida atenção por parte dos
teólogos e dos mestres da História Eclesiástica. No entanto, sem
conhecermos as origens da Igreja, não podemos compreender
devidamente a sua natureza essencial, seu fundamento e a sua
obra. Aqui procuraremos focalizar apenas alguns rudimentos do
assunto, sem entrar em pormenores.

1. A Origem e o Sentido do Termo "Igreja"


O termo "igreja" que nós usamos vem do grego
"ecklessia", através do latim, com que na
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antiguidade designava-se uma assembleia do povo, reunida em
lugar público, para deliberar sobre negócios públicos. O sentido
do termo era social ou coletivo. Referia-se a chamados ou
escolhidos. A Septuaginta emprega o termo quando traduz a
palavra hebraica "kahal", que designava a congregação dos
israelitas como uma coletividade nacional. No Novo
Testamento, o termo "ecklessia" é empregado para designar uma
reunião de crentes de uma determinada localidade para fins de
culto, ou uma assembleia religiosa organizada com os seus ritos
e ordem de funcionamento. Neste sentido, o termo foi
empregado por Jesus quando se referiu a crentes como um grupo
local e também a todos os crentes. O sentido do termo "igreja",
empregado nas línguas inglesa e alemã, "church" e "kirche", tem
a sua procedência do termo grego "KURIAKE", cujo significado
é "pertencente ao Senhor". Tem o sentido de ser obra ou de
pertencer a Jesus Cristo.

2. O Processo da Formação dos Constituintes da Igreja:


A Igreja Como Obra de Jesus Cristo
Não basta conhecermos o sentido, a história e o emprego do
termo "igreja". A própria ideia e a formação desta como
realidade, à qual o termo veio a ser aplicado depois, é, a nosso
ver, mais importante para a compreensão do assunto do que a
simples história ou análise do termo. O processo da formação da
Igreja já estava em andamento mesmo antes que houvesse a
Igreja ou que se adotasse o termo técnico para designa-la. Nós
não podemos depender só da linguagem teológica ou
ec1esiástica para estudarmos a formação e implantação do
cristianismo como realidade histórica. Precisamos estudar antes
a própria experiência, nos seus aspectos psicológicos e
espirituais, para podermos interpretar os seus aspectos externos
ou formais.
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Jesus empregou o termo técnico "igreja" pela primeira vez
por ocasião da grande confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe.
Em todo o seu ministério, ele mencionou o termo "igreja" só três
vezes e isto em duas ocasiões (Mateus 16.18; 18.17). Nestas
duas ocasiões, no entanto, disse o suficiente para definir a
natureza e a tarefa da Igreja como realidade histórica. Mesmo
assim, a preparação dos constituintes da igreja já estava em
andamento desde o começo do seu ministério, embora Jesus não
empregasse o termo ou expressasse a ideia explícita da Igreja
como realidade objetiva, que seria formada depois. A ideia de
igreja, no seu sentido histórico, como nós hoje a conhecemos, de
modo algum pôde existir, aparecer, ou ser estabelecida no
ministério de Jesus e nem mesmo nos começos da própria
história do cristianismo, narrada no livro de Atos. Para verificar
a realidade do fato, basta averiguar onde aparece o termo
"igreja" no livro de Atos. A Igreja só pôde aparecer, como de
fato isto aconteceu, quando o processo psicológico e espiritual
de sua formação havia assumido a sua forma objetiva.
Embora falasse poucas vezes sobre a Igreja no sentido
formal do termo, Jesus o empregou com referência ao grupo dos
seus discípulos, o termo "escolhidos". Empregou este termo com
referência aos discípulos imediatos, como também a todos os
crentes (Mateus 24.22,31). As origens secretas ou psicológicas
da Igreja precisam ser estudadas, então, através do emprego
deste termo feito por Jesus. O termo ou a ideia de "escolhido" já
vem do Antigo Testamento. Lemos, por exemplo: "Bem-
aventurado o povo ... que ele escolheu para a sua herança"
(Salmos 33.12).
A escolha ou a formação do grupo dos discípulos imediatos
de Jesus, que historicamente vieram constituir depois o
fundamento da Igreja, foi um processo divino e unilateral. Jesus
mesmo disse: "Vós não me escolhestes a mim, mas eu vos
escolhi a vós" (João 15.16). Na chamada dos doze, ele separou-
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os do mundo. Ele disse: "Não sois do mundo, antes eu vos
escolhi do mundo" (João 15.19). Na sua oração, antes de entrar
no Getsêmane, ou a prestação de contas ao Pai, da sua missão ou
atuação no mundo, Jesus não só relatou o que fora a sua obra
para com estes "escolhidos", como também caracterizou mais de
perto o que tinha sido a sua escolha. Disse que eles lhe tinham
sido "dados" por Deus Pai "Manifestei o teu nome aos homens
que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste" (João
17.6). A constituição do grupo dos apóstolos como fundamento
histórico da Igreja foi a obra divina de Deus Pai e também de
Jesus. Da parte de Deus Pai, eles tinham sido "dados" a Jesus, e,
da parte de Jesus, eles tinham sido "escolhidos", processo este
que estava em andamento desde o começo do ministério de
Jesus, cujos maiores detalhes aqui não examinaremos.
Mencionaremos apenas que os discípulos se encaminharam para
Jesus mediante uma ação divina conjunta. Mediante a atuação de
Deus Pai, sobre eles e pela ação de Jesus, os discípulos
chegaram a crer em Jesus. A sua escolha para serem apóstolos
foi feita por Jesus só depois de ele ter meditado e orado (Marcos
3.13; Lucas 6.12,13). Mais tarde, em Cesaréia de Filipe,
mediante a revelação de Deus Pai, os discípulos confessaram
que Jesus era o Cristo. Assim, mediante esta atuação do Pai
junto a eles e neles, os discípulos foram trazidos ou "dados" a
Jesus. Quando as multidões todas abandonaram a Jesus, os
discípulos preferiram ficar com ele. Disseram: "Para quem
iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna" (João 6.68).
Vejamos, agora, a obra de Jesus para com os discípulos
como "escolhidos". Esta obra está formalmente relatada na
oração de Jesus à entrada do Getsêmane. Nela Jesus focaliza a
finalidade para a qual Deus tinha dado os "escolhidos" a ele,
como também focaliza a sua própria obra neles. Os discípulos
tinham sido dados por Deus a Jesus para que lhes concedesse a
vida eterna, vida esta que consiste em conhecer a Deus como o
"único Deus verdadeiro e Jesus Cristo, a quem tu enviaste"
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(João 17.3). Na referida oração, Jesus declarou ter cumprido esta
missão. Disse: "Manifestei o teu nome aos homens que do
mundo me deste ... e guardaram a tua palavra" (João 17.6).
Eles "verdadeiramente conheceram que sai de ti, e creram que
tu me enviaste" (v. 8). Eles estavam no mundo, disse Jesus, mas
não eram mais do mundo. Pelo contrario, eram aborrecidos pelo
mundo. Jesus intercedeu por eles junto ao Pai, dizendo: "Eu não
estou mais no mundo; mas eles estão no mundo... Pai Santo,
guarda-os no teu nome, o qual me deste... Enquanto eu estava
com eles, os guardava no teu nome, ... e nenhum deles se
perdeu, senão o filho da perdição" (João 17.11,12). Até a
entrada no Getsêmane, os "escolhidos" ou discípulos tinham
estado aos cuidados de Jesus. Dali por diante ficaram entregues
por Jesus aos cuidados de Deus Pai. Foi neste ponto que Jesus
terminou a sua obra histórica junto aos seus discípulos, que
constituíram mais tarde a sua Igreja. A obra de Jesus para com
eles, como se vê, estava ainda inacabada. Jesus ainda não havia
completado a sua obra no Calvário e na ressurreição. Aos
discípulos faltava também ainda a união espiritual. Jesus orou ao
Pai para que eles fossem um. Faltava neles ainda a santificação
na verdade. Creram em Jesus, mas não o compreenderam como
sendo ele a verdade. Daí a oração de Jesus: "santifica-os na
verdade" (João 17.17,19). A obra de Jesus junto aos discípulos
não chegou a formar a Igreja. Eles ainda não estavam preparados
para isto.

3. A Formação da Igreja Como Obra do Espírito Santo


No tópico anterior, vimos que, no fim do ministério público
de Jesus, a sua obra relativa à Igreja ainda estava inacabada. A
redenção ainda não estava consumada. Não pôde, portanto,
haver o estabelecimento da Igreja, que só pôde vir como fruto da
obra completa da redenção. Durante o seu ministério, Jesus
levou os discípulos a crerem nele como tendo vindo de Deus.
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Pelo seu convívio e experiência de Jesus, os discípulos já
ficaram limpos e separados do mundo (João 15.3). Não
constituíram, porém, ainda a Igreja de Jesus Cristo. Faltava neles
ainda a unidade. Faltava ainda a compreensão da sua própria
experiência que tinham tido com Jesus. Faltava quem os guiasse
na verdade, para que compreendessem e pudessem testificar de
Jesus. Dai a promessa de Jesus, na despedida, de que lhes
enviaria o Espírito Santo, para continuar e consumar a sua obra
nos discípulos e no mundo. Daí também a oração de Jesus, ao
entrar no Getsêmane, para que Deus os guardasse do mal e os
santificasse na verdade. Nesta altura da obra de Jesus, os
discípulos ainda não estavam em condições de formar a Igreja de
Jesus Cristo.
Mesmo depois da morte e ressurreição de Jesus, os seus
discípulos ainda não estavam aptos ou em condições para
formarem a Igreja. A experiência dos discípulos com a morte e
ressurreição de Jesus não tinha mudado o seu sistema mental ou
modo de pensar. Não compreenderam ainda o que Jesus havia
dito sobre a sua própria ressurreição. Esta não exercera neles
ainda nenhum significado transformador. Eles não haviam
esperado a ressurreição e, mesmo quando o Jesus ressurreto
apareceu várias vezes, isto em nada mudou o seu modo de
pensar. Para os discípulos e os outros que nele creram, a morte
de Jesus representava o fim de suas esperanças messiânicas. Os
dois discípulos, no caminho de Emaús, por exemplo, disseram:
"Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de remir
Israel" (Lucas 24.21). Após a ressurreição de Jesus, a tendência
dos discípulos era voltar a sua vida anterior, como se tudo
estivesse acabado. Pedro disse: "Vou pescar" (João 21.3). Os
outros disseram o mesmo. O fato de se manterem e1es juntos de
algum modo durante os quarenta dias depois da ressurreição foi
devido aos aparecimentos frequentes de Jesus, como, por
exemplo, aquele num monte na Galiléia, que fora marcado ou
anunciado com antecedência. Finalmente, antes da sua ascensão,
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Jesus Cristo ordenou explicitamente aos discípulos que
permanecessem em Jerusalém até que recebessem poder para se
tornarem suas testemunhas. Esta ordem de Jesus levou os
discípulos e outros a se reunirem e a esperarem a promessa do
Pai. Mesmo assim, eles não revelaram que possuíssem uma
compreensão do que estava diante de1es para acontecer. A
reunião dos discípulos durante os dez dias entre a ascensão de
Jesus e o Pentecostes não teve ainda as características de uma
igreja. Estavam certamente no caminho ou no processo para se
tornarem igreja, mas esta, no momento, ainda não existia.
Foi na vinda do Espírito Santo no Pentecostes que a Igreja
de Jesus Cristo teve a sua origem histórica ou visível. Embora, a
princípio, ela não se apresentasse com as características
completas que veio a possuir depois, surgiu, no entanto, naquele
dia, uma comunidade religiosa ou espiritual, que mais tarde veio
ser chamada de "igreja". Aqui certamente não poderá ser
analisado em detalhes o evento do Pentecostes. Para o nosso fim,
notamos apenas que a experiência dos discípulos no Pentecostes
com o Espírito Santo foi coletiva ou comum a todos e1es.
Constituiu ne1es, portanto, o elemento comum ou a "unidade de
Espírito", e1emento essencial na formação da Igreja. Outro
efeito da vinda do Espírito Santo nos discípulos foi a
compreensão que receberam referente à sua própria experiência
que tinham tido com Jesus. Na sua pregação, Pedro não somente
interpretou o acontecimento do próprio dia de Pentecostes, como
também colocou a obra de Jesus e a sua própria experiência com
ele em suas perspectivas históricas. Foi a pregação de Pedro que
constituiu o significado essencial de Pentecostes na experiência
humana. Assim, a unidade empírica do Espírito Santo nos
discípulos ficou fortalecida por uma compreensão racional das
coisas ou experiências objetivas. Esta experiência coletiva,
histórica e racional unificou os discípulos em uma comunidade
espiritual que os separou do mundo ou que os distinguiu do seu
meio social. Os discípulos possuíam alguma coisa que os outros
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não tinham. Pela vinda do Espírito Santo sobre e1es, os
discípulos tomaram-se um grupo, ou comunidade, ao qual foram
agregados os que se converteram naquele dia pela pregação de
Pedro e os outros que se converteram depois. Todos eles então
espontaneamente perseveraram na doutrina dos apóstolos e em
outras atividades coletivas. Depois todos foram referidos como
tendo uma união que está expressa nestes termos psicológicos:
"Da multidão dos que criam, era um só o coração e uma só a
alma" (Atos 4.32). Assim, a vinda do Espírito Santo no
Pentecostes, operando estes efeitos imediatos e mais outros no
convívio posterior, constituiu os discípulos de Jesus e os outros
que creram em uma comunidade, que veio a ser chamada depois
de "igreja". Assim, os discípulos, que foram iniciados e
preparados por Jesus durante o seu ministério ao ponto de eles
crerem nele como tendo vindo de Deus, mediante a atuação do
Espírito Santo neles, vieram a formar a Igreja de Jesus Cristo.
Nos seus aspectos empíricos e redentores, que são aceitos
mediante a fé a Igreja é obra de Jesus Cristo. Nos seus aspectos
coletivos e racionais ou interpretativos ou que dependem da
compreensão, a Igreja é obra do Espírito Santo, glorificando ou
realizando o significado de Cristo naqueles que nele creram.
4. A Igreja Como Expressão Visível do Cristianismo
Como já dissemos, o cristianismo implantou-se nos
apóstolos e outros pela obra de Jesus e do Espírito Santo como
uma nova vida, da qual resultou a Igreja como uma comunidade
espiritual. Inicialmente, esta comunidade não possuía nenhuma
forma externa que a distinguisse do seu meio social. Não teve,
por exemplo, nenhuma organização formal ou oficial. O
cristianismo não surgiu como sistema, ou igreja organizada,
coisas que nós enfatizamos.
As formas visíveis que caracterizaram o cristianismo mais
tarde na história do Novo Testamento surgiram espontânea e
gradativamente, motivadas pela própria natureza deste mesmo
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cristianismo e por necessidade de circunstâncias externas. A
organização de trabalho e a constituição de oficiais, por
exemplo, surgiram como consequência do desempenho das
atividades essenciais do próprio cristianismo, que foram acima
mencionadas. Inicialmente, tanto no Pentecostes como depois,
os próprios apóstolos atuaram como os únicos dirigentes de
todas as atividades da nova comunidade cristã em Jerusalém.
Eles haviam estado com Jesus e sobre eles havia vindo o
Espírito Santo, que abriu a sua mente e os vestiu de poder para
serem testemunhas e intérpretes da obra e Pessoa de Jesus
Cristo. Devido a estas circunstâncias históricas, os apóstolos
tornaram-se naturalmente os líderes do cristianismo insipiente e
coletividade visível. Foram eles os que pregavam, ou davam
testemunho da ressurreição de Jesus Cristo; foram eles os que
doutrinaram os novos convertidos e cuidaram da vida
econômica; foram os apóstolos que eram tidos pelas autoridades
em Jerusalém como os responsáveis pelo movimento do
cristianismo. A divisão de trabalho na nova comunidade ou
eleição de diáconos, por exemplo, foi motivada pela necessidade
das circunstâncias. A organização do trabalho e o
estabelecimento de funções formais na Igreja surgiram como
resultado do seu crescimento. Os aspectos formais da Igreja não
eram finalidades em si, mas meios para os objetivos do
cristianismo a serem alcançados. A Igreja surgiu como
expressão visível do cristianismo, não por um ato formal de
Jesus Cristo ou dos seus apóstolos como expressão de sua
autoridade. Antes, surgiu como resultado da nova vida que se
havia implantado naqueles que creram em Jesus como o Cristo.
A Igreja surgiu como expressão prática do cristianismo em suas
relações e efeitos sociais. As suas formas externas de
organização e de funcionamento eram apenas meios para a
realização das finalidades espirituais do cristianismo.

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5. A Igreja Como Corpo de Cristo
Para compreendermos a formação e o alcance do
significado maior da Igreja, não basta mostrarmos que ela é a
expressão visível do cristianismo. Isto não interpreta ainda, com
a devida ênfase, a sua relação ideal com Cristo. De acordo com o
ensino de Jesus e também de Paulo, a Igreja representa ainda a
identificação do próprio Cristo com aqueles que nele creem
como Salvador e Senhor. Em última análise, cristianismo é
Cristo no homem. Jesus disse: "Se alguém me amar, guardará
a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e
faremos nele morada" (João 14.23). Quando Jesus falou,
dizendo: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mateus
16.18), expressou a ideia de sua identificação, como possuidor,
com a Igreja ou a coisa possuída. Falou da sua identificação com
a "minha Igreja" como fato que ainda estava por vir.
No seu livro A Glória de Deus na Vocação Cristã, o Dr.
Carver diz que a Igreja é a encarnação permanente de Cristo, ou
a sua crescente ou progressiva realização própria no processo de
alcançar as finalidades da sua encarnação quando, como Verbo
de Deus, se fez carne e habitou entre nós. É através da Igreja que
o próprio Cristo prossegue e leva a efeito a sua missão na
história. Na sua encarnação, o Cristo revelou-se na humanidade
como poder criador e redentor, missão esta que continua a levar
a efeito através da Igreja. É neste fato que está o caráter divino
da Igreja. Ela é divina não somente no seu estabelecimento ou
implantação na história; é divina também na sua continuação e
atuação como corpo de Cristo neste mundo e na subordinação a
ele como seu cabeça ou Senhor. Aqui está o significado supremo
da Igreja. Pertencer à Igreja, pois, não significa pertencer apenas
a uma instituição ou organização. Significa pertencer a Cristo,
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que está identificado, habitando na Igreja e operando nela e no
mundo, através dela. Pertencer à Igreja não é apenas ser membro
de uma comunidade humana de pessoas salvas, mas é ser
membro do corpo de Cristo ou do próprio Cristo, que continua
operando na história.

2
A MISSÃO DA IGREJA

A missão ou finalidade da Igreja só pode ser estudada


adequadamente nos moldes em que o seu cumprimento se
apresenta na história do Novo Testamento no livro de Atos.
Deve ser estudado primeiramente o ensino de Jesus e depois a
sua aplicação prática pelos apóstolos. No ensino de Jesus temos
a doutrina da Igreja, que veio primeiro. A sua aplicação prática
veio depois, quando Jesus havia completado a obra da redenção
e constituído, assim, a base para a formação da Igreja. E o
método essencial para a interpretação do cristianismo, estudar a
doutrina enunciada em tese, à luz da sua exemplificação
posterior na história, ou, em caso contrário, estudar experiências
históricas para o estabelecimento da doutrina ou a interpretação
dos princípios operantes na história. Vejamos, agora, vários
aspectos da missão da Igreja.
1. A Missão em Tese: A Conquista das Portas do Inferno
Como já dissemos antes, no seu ministério, Jesus pouco falou
sobre a Igreja. Mencionou-a apenas em duas ocasiões. Numa ele
a mencionou no seu sentido universal e, na outra, no sentido de
congregação local. No ensino de Jesus, embora resumido,
encontramos, no entanto, a tarefa da Igreja apresentada de modo
16
completo. Por ocasião da grande confissão de Pedro, em
Cesaréia de Filipe, Jesus enunciou tanto a base da constituição
da sua Igreja como também focalizou em tese a sua missão ou
finalidade no mundo. Disse: "As portas do Hades não
prevalecerão contra ela" (Mateus 16.18). Segundo este ensino
de Jesus, a tarefa da Igreja é destruir as portas ou o poder das
trevas, ou o poder do pecado no mundo. Jesus identificou a
tarefa da Igreja com a sua própria tarefa. Ele mesmo veio,
segundo a palavra de João, para "destruir as obras do diabo" (1
João 3.8). Quando Jesus falou sobre a edificação da sua Igreja,
deixou claro também, na ocasião, que caberá a esta Igreja tomar
a iniciativa e dar combate às portas do inferno e assegurou-lhe a
vitória, dizendo que estas mesmas portas não prevalecerão
contra ela. Deixou claro que a obra da Igreja será agressiva, e
não defensiva.
Após a sua ressurreição, Jesus Cristo deixou clara também a
modalidade pela qual a sua Igreja ou os componentes desta irão
levar a efeito a sua tarefa. Será pela pregação do arrependimento
e da remissão dos pecados (Lucas 24.47). É a missão da Igreja
fazer discípulos mediante o testemunho pessoal dos crentes e
mediante a obra missionária até os confins da terra. Cabe à
Igreja não só fazer discípulos, mas também ensinar estes
mesmos discípulos a guardar todas as coisas que Jesus ordenou.
A tarefa universal da Igreja, aqui apenas citada em resumo, é
idêntica à tarefa de Jesus e é baseada na sua obra de redenção.
Cabe à Igreja aplicar ou levar a efeito a obra de Jesus pela
pregação do arrependimento e da remissão dos pecados; cabe a
ela atuar como o corpo de Cristo ou como Cristo em pessoa
atuou no mundo. A Igreja é responsável, pois, pelo combate e
destruição das portas do inferno. É da atuação da Igreja que
depende a destruição do poder do mal que opera no mundo. A
tarefa de destruir as forças do mal no mundo não cabe, em
última análise, a nenhuma instituição humana, mas à Igreja
como instituição divina.
17
2. Aspectos Práticos do Seu Cumprimento
Depois de examinarmos a missão da Igreja em tese, ou a
sua missão espiritual propriamente dita, precisamos abordar
agora os seus aspectos práticos. A Igreja no sentido universal,
como comunidade espiritual, não possui forma visível nem
exerce atividades no terreno prático. A missão em tese, acima
enunciada em termos universais, é e precisa ser cumprida pe1o
cristianismo através das igrejas como congregações locais. É
nestas que a Igreja espiritual assume forma e cumpre as suas
atribuições no terreno prático. Portanto, precisamos estudar aqui
a atuação da Igreja como congregação local ou no seu trabalho
ec1esiástico propriamente dito. Esta atuação prática acha-se
revelada no ensino de Jesus e no exemplo dos seus apóstolos.
É na igreja local e através dela que o cristianismo cumpre,
na prática, a sua missão espiritual. É nela que o homem como
individuo põe em prática os princípios do cristianismo. É na
igreja local que ele cumpre, por exemplo, o seu dever de
confessar a Jesus Cristo como Salvador. É ali que ele exerce a
sua obediência a Jesus Cristo como Senhor referente à conduta
moral e à propagação do cristianismo. Esta propagação cabe
essencialmente ao crente como individuo. Esta tarefa, porém, ele
só pode cumprir quando ele mesmo pertence à Igreja. O
indivíduo pode converter-se sem a Igreja, mas não pode
obedecer a Cristo a não ser na Igreja. O cristianismo em si, bem
como a sua propagação possuem aspectos sociais ou coletivos,
cuja observação depende da Igreja. A pessoa que aceitou a
Cristo pela fé, precisa, por exemplo, confessar a Cristo e ser
reconhecida por outros crentes. Para isto o convertido precisa de
igreja. Precisa batizar-se e pertencer à Igreja de Jesus Cristo.
Também para este mesmo convertido cumprir, por exemplo, a
Grande Comissão de Jesus de fazer discípulos ou de evangelizar,
ele depende da Igreja. Ele precisa encaminhar os evangelizados
ou convertidos à obediência, ao batismo e à Igreja. O exemplo
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disto, temos na atuação dos apóstolos. No Pentecostes e depois
vemos que os que creram foram batizados e agregados. Foi na
comunidade local que os convertidos obedeceram a Jesus Cristo,
confessando-o como Salvador. Depois de salvos e fazendo parte
da Igreja, eles obedeceram a Jesus Cristo na Igreja, junto com os
outros crentes como coletividade.
Outro aspecto prático da tarefa espiritual da Igreja é o
doutrinamento dos crentes como seus componentes. Jesus
ordenou aos apóstolos que não somente fizessem discípulos, mas
também que os ensinassem a guardar todas as coisas que ele
tinha ordenado. Portanto, os que se converteram e se batizaram
perseveraram na doutrina dos apóstolos. Fizeram isto em
obediência a Jesus Cristo, como também por uma necessidade
inerente ao próprio cristianismo que tinham aceito. Para que os
convertidos pudessem viver a vida cristã adequadamente,
precisaram aprender; precisaram ser ensinados pela Igreja. Por
estarem salvos não significava que já soubessem viver como
crentes em todas as relações da vida cristã. Para guardar os
mandamentos de Jesus os crentes precisaram ser ensinados.
Precisaram conhecer o ministério e ensino de Jesus. Para isto,
dependeram da Igreja, que teve como uma das finalidades
ensinar os convertidos. Estes precisaram cultivar entre si a
comunhão, ou aprender como amar uns aos outros. A comunhão
ou a fraternidade não brota espontaneamente dos crentes.
Depende do ensino e convivência na Igreja. Também a
observação da ceia do Senhor e a cooperação na oração coletiva
só pode ser cumprida na Igreja.

3. A Função Normativa e Práticas Internas da Igreja

Aqui vamos examinar mais de perto a tarefa da Igreja de


orientar a conduta prática do crente, para a qual ele depende do
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ensino e compreensão. No tópico anterior vimos que o
cristianismo em si ou espiritual, baseado na fé em Cristo e a sua
propagação essencial, e imutável ou o mesmo para todos os
tempos e lugares. O cristianismo prático, porém, é mutável em
suas aplicações externas. Os princípios do cristianismo ideal
precisam ser interpretados e aplicados às condições externas ou
sociais e culturais do meio onde o mesmo se implanta. Estes
aspectos externos ou sociais do cristianismo dependem de uma
compreensão e interpretação do que é essencial e do que é
mutável, ou transitório, do que é lícito e do que não é. Cabe à
Igreja, como coletividade local e organizada, orientar a conduta
dos crentes em matéria que em si não é essencial, mas que nos
seus efeitos sociais pode ser essencial. Esta missão da Igreja é
exercida sob a orientação do seu ministério, segundo o plano de
Deus e através do doutrinamento dos seus membros quanto à
conduta e serviço.
Os princípios da atividade normativa da Igreja foram
enunciados por Jesus Cristo quando a ela se referiu no seu
ministério. Segundo o seu ensino, cabe ao crente, como
indivíduo, na base da sua própria consciência cristã, "ligar ou
desligar", desaprovar ou aprovar, as coisas de conduta referentes
ao reino de Deus. Para orientar a conduta do crente, o critério é a
sua própria consciência cristã. Como indivíduo, ele tem em si as
"chaves" ou recursos para conhecer ou interpretar o que os céus
desaprovam e o que aprovam. Na base da sua consciência, o
crente julga não somente a sua própria conduta, como também a
conduta do seu irmão ou dos outros. Caso o seu irmão peque,
por exemplo, o crente deve orienta-lo primeiramente sozinho e
depois, caso necessário, também em cooperação e com o apoio
da consciência de mais outros crentes, devendo cada um agir na
base da sua própria consciência, motivada e orientada pelo
próprio Cristo, que nele habita.

20
Para orientar e julgar a conduta visível do crente individual
com relação a outro, porém, a autoridade máxima objetiva ou
social é a igreja local. Cabe a esta, para fins sociais, ligar ou
desligar o irmão que peca e fazer isto com a concordância mútua
dos membros e com oração. Cabe à igreja local não somente
admitir pessoas convertidas no seu meio, como também deve
exc1uir, no caso de haver conduta pecaminosa. A base para a
atuação da Igreja está na consciência cristã de cada membro seu,
como individuo. A ação prática ou externa desta consciência
individual, porém, depende da ação coletiva da igreja baseada
em duas ou três testemunhas. A decisão da igreja precisa basear-
se neste princípio, para cujo cumprimento Jesus prometeu a sua
presença. Os aspectos práticos da conduta cristã dependem não
somente de motivos espirituais, mas também da sua
compreensão racional; dependem da fé em Cristo e do amor para
com ele, como também do conhecimento do que Jesus ordenou.
Para exercer-se a conduta cristã, não basta haver fé em Cristo. É
preciso haver também uma compreensão racional. Dai o
mandamento de Jesus: "Fazei discípulos ... ensinando-os a
observar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mateus
28.19,20). O ensino dos crentes é uma tarefa da igreja como
coletividade local. Nela todos os membros devem concorrer ou
cooperar para a sua edificação mútua. Foi em relação ao
cumprimento deste mandamento de fazer discípulos e de ensina-
los que Jesus prometeu aos seus apóstolos e a todos os crentes a
sua presença até a consumação dos séculos. A conduta cristã
depende de conhecimento; depende de o crente ser guiado em
toda a verdade; depende da atuação humana e da divina por
parte do Espírito Santo e da presença de Jesus Cristo. Nisto está
o poder dos crentes para atuarem como testemunhas e intérpretes
de Jesus Cristo. Como exemplo do cumprimento deste ensino e
mandamento de Jesus, temos a atuação dos seus apóstolos e dos
que se converteram no dia de Pentecostes e depois. Após serem

21
batizados e agregados, os novos convertidos perseveraram na
doutrina dos apóstolos.
4. Preparo no Desenvolvimento e Ministérios Eclesiásticos
Locais
Reafirmamos aqui que as igrejas não se estabeleceram como
sistemas ou organizações com funções e cargos prescritos.
Essencialmente, uma igreja de Cristo não é um sistema ou
organização formal, mas uma coletividade espiritual.
Certamente, a igreja precisa ter e tem organizações. As relações
entre os seus constituintes e Cristo, porém, são vitais e se
exercem semelhantemente às relações que há entre os membros
de um corpo como organismo vivo. Escrevendo sobre a
constituição da Igreja, o apostolo Paulo diz: "Pois em um só
Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo" (1
Coríntios 12.13). A organização formal não é uma finalidade em
si. Na Igreja, a forma não é o essencial. O essencial nela são as
atividades espirituais e vitais que nela funcionam como
expressões da própria vida.
Nas igrejas do Novo Testamento, as organizações e funções
surgiram da necessidade que tiveram de determinadas
atividades. Na igreja em Jerusalém, por exemplo, foram eleitos
diáconos só quando surgiu a necessidade de dividir o trabalho
devido ao crescimento do mesmo. A atividade em si era mais
importante do que o cargo formal ou a pessoa que o ocupasse. O
crescimento da igreja em Jerusalém exigia que fosse feita uma
distribuição de suas atividades para que o seu progresso não
sofresse. Não sabemos ao certo se o diaconato, que mais tarde
encontramos como cargo formal em algumas igrejas, realmente
teve a sua origem com a eleição em Jerusalém. Sabemos, no
entanto, que a eleição de diáconos se fez ali por necessidade do
momento.

22
A princípio, todas as atividades da igreja em Jerusalém eram
exercidas ou presididas pelos apóstolos. Eles davam testemunho
da ressurreição de Jesus Cristo, da qual eram testemunhas
pessoais. Também ensinavam. Eram os únicos que tinham
estado com Jesus e que puderam ensinar aos novos convertidos a
vida e obra de Jesus. Por circunstâncias históricas, inicialmente
os apóstolos eram os primeiros e únicos que atuaram e que
podiam atuar na igreja em Jerusalém, que estava em formação.
A preparação dos apóstolos para esta tarefa tinha sido obra de
Deus Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. O trabalho todo da
nova comunidade a princípio estava ao seu cuidado. Em face do
crescimento da igreja e da impossibilidade dos apóstolos
sozinhos darem conta do trabalho, levaram a igreja a eleger
diáconos que servissem às mesas ou na vida material da
coletividade. Tal decisão de trabalho foi possível diante do
doutrinamento que tinha sido ministrado pelos apóstolos.
Mais tarde encontramos, nas igrejas do Novo Testamento,
também outras funções para se atender às necessidades do
trabalho que precisava ser feito. Na enumeração das categorias
de obreiros que encontramos nas igrejas do Novo Testamento,
parece que a sua ordem obedece a cronologia do aparecimento
na igreja, ou igrejas, de determinadas funções. Na igreja em
Antioquia, por exemplo, que se estabeleceu depois da igreja em
Jerusalém, havia "profetas e doutores", ou pregadores e
professores (Atos 13.1). As atividades principais exercidas ali
eram evangelização e ensino. Não aparece ali nenhuma
referência a "apóstolos" no sentido histórico do termo.
Escrevendo aos coríntios, porém, sobre o aparecimento histórico
das categorias de obreiros na igreja, Paulo menciona os
seguintes: apóstolos, profetas e doutores (I Coríntios 12.28). Na
Carta aos Efésios, em que Paulo apresenta uma interpretação
completa do desenvolvimento e significado da Igreja, ele
menciona como seus obreiros: apóstolos, profetas, evangelistas,
pastores e doutores (Efésios 4.11). Parece que foi nesta ordem
23
crono1ógica que estas atividades e categorias de obreiros
surgiram nas igrejas. Paulo menciona em primeiro lugar os
apóstolos. Por circunstâncias históricas, como já vimos, estes
eram os primeiros. Depois surgiram outras categorias, uns como
obreiros itinerantes, outros como permanentes ou efetivos nas
igrejas. Na sua Carta aos Romanos (12.5-8) Paulo só se refere às
operações na igreja, sem mencionar obreiros. Vê-se que, no
começo do cristianismo histórico, não havia nas igrejas nenhuma
organização, cargos ou funções, formas preestabelecidas ou
oficiais como pré-requisitos para a sua existência e
funcionamento. O que nelas havia eram determinadas atividades
essenciais à sua vida e que eram exercidas pelas pessoas· mais
qualificadas pelo Espírito Santo que podiam ser encontradas
para este fim.
Na história do cristianismo insipiente, a forma ec1esiástica ou
governo da Igreja, ou igrejas, surgiu gradativamente e
paralelamente com o crescimento do próprio trabalho. As igrejas
do Novo Testamento, repita-se, eram comunidades locais. No
Novo Testamento não encontramos nenhuma igreja ou sistema
de igrejas organizado de caráter geral ou regional. Não
encontramos nenhum sistema acima da igreja local. A igreja em
Jerusalém, por exemplo, era local por circunstâncias históricas.
No início, naturalmente, era esta que orientava a expansão do
cristianismo, não só na cidade, como também fora dela. Vemos
como esta igreja, ou os apóstolos, que ali estiveram, atuaram
com relação ao estabelecimento ou reconhecimento do trabalho
em Samaria e na Judeia. Na história do cristianismo, até a altura
dos acontecimentos narrados em Atos 9.30, só aparece o termo
"igreja" no singular. Até esta altura da história parece que o
trabalho todo, na expansão do cristianismo, estava diretamente
relacionado com a igreja em Jerusalém.
O estabelecimento da igreja em Antioquia, porém, foi um
trabalho praticamente independente da ação da igreja em
24
Jerusalém. O evangelho entrou em Antioquia por intermédio dos
crentes dispersos por perseguições havidas em Jerusalém. A
igreja em Jerusalém certamente enviou Barnabé para Antioquia
em comissão. Este, porém, não era apóstolo no sentido histórico
do termo; não era um dos doze. A sua atuação no
estabelecimento da igreja em Antioquia foi de caráter local e
independente da igreja em Jerusalém, que o havia enviado. A
igreja em Antioquia não se estabeleceu como se fosse
dependente ou ligada à igreja em Jerusalém. Pelo contrário, a
igreja em Antioquia surgiu unindo-se os crentes ao Senhor (Atos
11.24). Surgiu como comunidade independente de Jerusalém
subordinada diretamente e exclusivamente ao Senhor. Depois o
trabalho desta igreja continuou independente de Jerusalém.
Barnabé, todavia, que tinha visto o estabelecimento e
desenvolvimento da igreja em Jerusalém sob a orientação dos
apóstolos, seguiu o método deste na orientação do trabalho em
Antioquia. Tomou providências, por exemplo, para que os
crentes em Antioquia fossem doutrinados e para que a
evangelização se intensificasse. A igreja em Antioquia cresceu
como comunidade local e sob a orientação de duas categorias de
atividades e obreiros: profetas e doutores, todos completamente
dedicados à obra. Na igreja em Antioquia não se mencionam
apóstolos como se tivessem sido obreiros seus. Estes não
tiveram nenhuma atuação imediata ou oficial ali. A igreja em
Antioquia surgiu como congregação local, autônoma e soberana.
Mais tarde, pela sua consulta à igreja em Jerusalém sobre a
questão da lei mosaica, de modo algum ela colocou-se em plano
de inferioridade ou dependência.
Também as igrejas que surgiram depois como fruto do
trabalho missionário de Paulo e Barnabé eram comunidades
locais e autônomas, independentes da igreja em Antioquia, de
onde haviam saído os missionários. Eram igrejas compostas de
convertidos em suas localidades, doutrinados pelos missionários
e que, sob a orientação destes, haviam escolhido para si bispos
25
ou pastores (Atos 14.23). Mais tarde, no Concílio de Jerusalém a
liberdade e autonomia destas igrejas não foram postas em dúvida
pelos apóstolos (Gálatas 2.4,5,9). Assim, vemos na história do
cristianismo do Novo Testamento que a natureza da sua obra
exigia que as igrejas que se estabeleceram fossem locais, tendo
seus próprios obreiros, organização e funcionamento. O
estabelecimento de igrejas locais, autônomas e soberanas foi a
expressão da natureza do próprio cristianismo como religião
espiritual ou pessoal e coletiva no funcionamento. O
cristianismo atua através de igrejas locais, para a evangelização
ou para fazer discípulos e para o doutrinamento destes
discípulos, para a sua edificação espiritual e prática.
5. Relações e Cooperação entre as Igrejas do Novo
Testamento
O presente tópico sobre as relações das igrejas dos tempos
apostólicos realmente devia ser apresentado por um especialista
em Eclesiologia ou em História Eclesiástica, e não por um quase
leigo na matéria. Estudar as relações que devem existir entre as
nossas igrejas à luz do Novo Testamento não é tarefa fácil. No
Novo Testamento não encontramos nenhuma eclesiologia formal
ou estabelecida que servisse de orientação. Nem tampouco
temos ali uma terminologia eclesiástica que nos ajudasse no
estudo.
Precisamos tratar aqui de relações entre igrejas no plural. O
Novo Testamento fala da Igreja e de igrejas, ponto este que
ainda pode parecer para nós um tanto obscuro. Nós, os batistas,
usamos o termo "igreja" no plural, como certamente o
encontramos no Novo Testamento. Os outros evangélicos
geralmente empregam o termo no singular. Também este
encontramos no Novo Testamento. Como é que vamos nos
orientar à luz do Novo Testamento, onde ambas as formas
ocorrem? Hoje em dia há muita discussão sobre a Igreja mesmo
entre os batistas. Para nossa orientação em matéria de relações
26
entre igrejas, parece-nos o método acertado buscar descobrir as
relações que havia entre as igrejas daquele tempo.
Para o estudo deste tópico, precisamos buscar descobrir não
declarações formais ou doutrinárias, mas, sim, o exemplo e a
atuação prática das igrejas do tempo do Novo Testamento,
quando ainda não havia nenhuma organização ou relações
eclesiásticas estabelecidas pelo uso. Precisamos depender de
casos práticos e particulares quando ainda não havia praxes
como as que temos hoje em dia. Precisamos aprender dos
cristãos primitivos quando eles mesmos estavam dando os
primeiros passos na vida eclesiástica, não dependendo de
nenhuma doutrina já estabelecida, mas, sim, na base de
princípios inspirados pelo Espírito Santo, que estavam
motivando a sua vida cristã.
Para nós nos orientarmos hoje em dia na matéria de relações
entre igrejas na base do exemplo do Novo Testamento,
precisamos examinar a história do cristianismo insipiente, o
processo pelo qual se estabeleceu a Igreja cristã e como se
estabeleceram também as igrejas; precisamos procurar conhecer
a atuação e as relações que espontaneamente iam se
estabelecendo entre elas, relações estas que não surgiram na base
de alguma doutrina, mas que estavam sendo estabelecidas pelos
próprios cristãos, sob a direção do Espírito Santo. Precisamos
aprender daqueles crentes primitivos, assim como eles
aprenderam da direção divina. Nós aqui não podemos partir de
alguma doutrina já formulada. Antes precisamos formular
doutrinas, partindo estas da experiência e dos exemplos
históricos que encontramos no Novo Testamento. Este é, enfim,
o único caminho para estabelecermos uma doutrina adequada
sobre qualquer assunto pertencente à vida cristã. Devemos partir
da experiência ou dos exemplos, e não necessariamente de
qualquer doutrina formulada por terceiros.

27
Para termos uma ideia das relações entre as nossas igrejas
hoje em dia, precisamos examinar como se estabeleceu a Igreja e
como se estabeleceram depois as igrejas (no plural) nos tempos
apostólicos, cuja história é relatada no Novo Testamento, ou
melhor, no livro de Atos. Vamos examinar aqui, portanto, a
história do cristianismo primitivo em Atos, dando atenção
especial a este aspecto particular de relações entre igrejas.
Certamente, não podemos estudar aqui a história do cristianismo
nos seus outros aspectos. Vamos examinar aqui, pois, o
desenvolvimento do cristianismo no livro de Atos com atenção
ao estabelecimento das igrejas e de relações que houve entre as
mesmas, processo este que, em última análise, constitui um
exemplo para nós hoje em dia e para todos os tempos. Vamos
notar primeiro como foi estabelecida a igreja em Jerusalém e
depois como foram estabelecidas as outras igrejas e em seguida
quais foram as relações entre elas.
a) O estabelecimento da igreja em Jerusalém.
O nosso assunto não exige nenhuma análise de como se
estabeleceu o cristianismo como a religião histórica ou a
primeira igreja cristã em Jerusalém. Para o nosso fim aqui, basta
mencionar que a igreja em Jerusalém teve o seu início no dia de
Pentecostes, como fruto da obra do Espírito Santo. Basta
mencionar que ela surgiu como comunidade espiritual. Depois
foi doutrinada e desenvolvida em organização e disciplina. Neste
seu processo de desenvolvimento, esta comunidade recebeu o
nome de "igreja". Os seus componentes, depois de doutrinados,
levaram o evangelho para outras partes quando foram dispersos
pelas perseguições. A princípio o cristianismo em Jerusalém era
uma só comunidade. Em Jerusalém havia uma só igreja. O
crescimento do cristianismo foi o crescimento desta igreja. A
esta iam sendo agregados todos os que iam se convertendo.
Nesta altura da história não havia outras igrejas. Isto continuou
assim por algum tempo.
28
b) A expansão do cristianismo fora de Jerusalém.
O cristianismo passou a se propagar fora de Jerusalém como
resultado do trabalho dos crentes dispersos pelas perseguições.
Este foi o trabalho de leigos que tinham sido doutrinados e cujas
atividades já tinham aparecido também em Jerusalém, como, por
exemplo, de Estevão e outros. A expansão do cristianismo fora
de Jerusalém, como trabalho de leigos, estava sendo
supervisionada pela igreja em Jerusalém, ou pelos apóstolos.
Estes nunca vieram a ser dispersos pelas perseguições (Atos
8.1). A princípio a propagação do cristianismo fora de Jerusalém
estava relacionada com a igreja em Jerusalém ou sendo
acompanhada com seu interesse. Estava aos cuidados dos
apóstolos. Quando, por exemplo, os apóstolos ouviram da
pregação de Filipe em Samaria, enviaram Pedro e João para fins
de reconhecimento e de integração daquele trabalho de Filipe na
igreja em Jerusalém. O trabalho em Samaria ficou fazendo parte
da igreja em Jerusalém.
Também a entrada do evangelho para o meio dos gentios, que
se verificou no caso de Cornélio, em Cesaréia, foi uma extensão
do trabalho relacionado com a igreja em Jerusalém. Embora a
ida de Pedro à casa de Cornélio fosse da iniciativa divina, a
pregação ali foi testemunhada por um grupo de irmãos judaicos
vindo de Jope (Atos 11.12). O batismo na casa de Cornélio foi
feito com o consentimento silencioso dos fieis da circuncisão
(Atos 10.45). Depois, quando Pedro subiu a Jerusalém, os
apóstolos o chamaram para dar explicações e finalmente
admitiram que Deus tinha dado aos gentios o arrependimento
para a vida. Assim o trabalho feito na casa de Cornélio ficou
relacionado com a igreja em Jerusalém ou foi reconhecido por
ela. Até esta altura não havia ainda igrejas locais, a não ser a de
Jerusalém. Esta era a única. Era o trabalho desta que estava se
estendendo. A igreja em Jerusalém compreendia o cristianismo
29
espalhado em toda a Judeia, Galiléia e Samaria. No tempo da
perseguição de Saulo, o que havia era "igreja" no singular, e não
"igrejas" (1 Coríntios 15.9; Gálatas 1.13). Até esta altura na
história do cristianismo ainda não havia lugar para o nosso
assunto sobre relações entre igrejas.
c) O estabelecimento da igreja em Antioquia.
Até esta altura da história, repetimos, só havia a igreja em
Jerusalém, com a qual estavam relacionados todos os cristãos,
tanto nessa cidade como também os dispersos em outros lugares.
Foi só com a entrada do evangelho em Antioquia da Síria que se
estabeleceu ali, vamos dizer, a segunda igreja neotestamentária.
O processo do seu estabelecimento é de suma importância para
nós, visto que estamos interessados nas relações entre as igrejas,
à luz do Novo Testamento. O evangelho entrou em Antioquia
pela atuação de crentes leigos dispersos, vindos de Jerusalém. O
estabelecimento da igreja foi, porém, orientado por Barnabé, que
tinha sido enviado pela igreja em Jerusalém, e não somente
pelos apóstolos (Atos 11.22), como o tinha sido o caso de Pedro
e João, que foram enviados a Samaria pelos apóstolos(Atos
8.14).
No estabelecimento da igreja em Antioquia, Barnabé seguiu o
exemplo e método que tinham sido postos em prática pelos
apóstolos em Jerusalém. Ao que parece, o estabelecimento da
igreja em Antioquia verificou-se num plano mais elevado do que
foi o da igreja em Jerusalém. Aqui, por exemplo, os novos
convertidos "agregaram-se" (Atos 2.41); em Antioquia os
crentes uniram-se "ao Senhor" (Atos 11.24). Constituiu-se ali
uma igreja autônoma. Barnabé não era apóstolo, um dos doze,
mas, no estabelecimento da igreja, fez um trabalho semelhante
ao dos doze apóstolos em Jerusalém. Providenciou, por
exemplo, para que os novos crentes em Antioquia fossem
doutrinados como o tinham sido os que se converteram em
Jerusalém no Pentecostes e depois. A igreja em Antioquia seguiu
30
o método da igreja em Jerusalém, mas num plano mais
espiritual. No seu desenvolvimento não são mencionados sinais
e maravilhas como os que os apóstolos tinham feito em
Jerusalém. Em Antioquia os discípulos, pela primeira vez, foram
chamados "cristãos". Ali Cristo foi glorificado mais do que em
Jerusalém. O ponto de interesse para nós, no momento, é que o
estabelecimento desta nova igreja se fez nos moldes que os
apóstolos haviam seguido na igreja em Jerusalém.
d) O estabelecimento de mais outras igrejas.
Como resultado do desenvolvimento da igreja em Antioquia
veio o início formal do cumprimento da Grande Comissão de
Jesus no seu aspecto universal. Depois de doutrinada, aquela
igreja tornou-se, sob a direção do Espírito Santo, a primeira
agencia da obra missionária e concorreu para o estabelecimento
de mais outras igrejas como comunidades autônomas e
soberanas, e ligadas entre si pelos laços da fraternidade. Os
missionários que foram enviados pela igreja em Antioquia
saíram com o apoio desta para a sua primeira viagem
missionária, por exemplo, e organizaram outras igrejas como
comunidades locais, doutrinando-as e organizando-as e
estabelecendo nelas anciãos, por comum consentimento (Atos
14.23). Fizeram o trabalho como missionários de Antioquia,
trabalho este do qual depois deram relatório à igreja de onde
tinham sido enviados (Atos 14.27). É a missão suprema de uma
igreja cuidar que novas igrejas se estabeleçam. É o exemplo que
encontramos no Novo Testamento. Inicialmente, era a tarefa
empreendida deliberadamente só pela igreja em Antioquia.
Depois também outras igrejas, como a dos filipenses, por
exemplo (Filipenses 4.15,16), tomaram parte. O objetivo no
estabelecimento de uma igreja é que ela seja uma agência
missionária, tarefa esta que é obra cooperativa, pois é maior do
que os recursos de uma só igreja.

31
e) À luz do exemplo prático do Novo Testamento, a
evangelização do mundo é o dever e ideal não só dos crentes
como indivíduos, mas também das igrejas como agremiações
locais. Vemos isto exemplificado na igreja em Jerusalém, cujo
trabalho se estendeu não somente naquela cidade, através dos
apóstolos, mas também pelas regiões ao redor através dos
crentes como indivíduos. Vemos isto exemplificado na igreja em
Antioquia, que por iniciativa deliberada enviou os seus melhores
obreiros a levar o evangelho para outras partes do mundo, com o
fim de estabelecer novas igrejas e centros de irradiação desse
mesmo evangelho.
As relações entre as igrejas do Novo Testamento começam
exatamente no fato de que cada igreja deve trabalhar para o
estabelecimento de outras igrejas como ela mesma foi
estabelecida. Cada igreja deve crescer, pois, através do
estabelecimento de novas igrejas que, por sua vez, venham a ser
centros para a propagação do evangelho, fazendo todas esta obra
em cooperação umas com as outras. Nos tempos apostólicos não
encontramos ainda organizações especializadas, como as nossas
convenções e juntas de missões, por exemplo, mas encontramos
o crescimento e expansão como o fruto da vida espiritual que
nelas havia. A primeira e principal relação das igrejas que
encontramos no Novo Testamento é a obra missionária, que é
não só a tarefa a ser feita pelas igrejas separadamente, mas
também em cooperação. É a primeira relação também que deve
unir as nossas igrejas.
f) Cooperação no estabelecimento de doutrinas ou na
solução de problemas de interpretação. Nos tempos
apostólicos, as igrejas cooperaram não só para fins
evangelísticos e missionários, mas também para a solução de
seus problemas de conduta cristã e para a interpretação
doutrinária do cristianismo. Além de crescerem numericamente,
as igrejas precisavam também definir-se doutrinariamente. As
32
Escrituras Sagradas que as igrejas de então estavam usando eram
as do judaísmo - o Antigo Testamento. O cristianismo precisava
ser interpretado nos seus próprios termos em face do judaísmo,
por exemplo, do qual já se achava separado no terreno espiritual,
e cujas relações precisavam ser definidas formal ou
doutrinariamente.
A relação entre o cristianismo e a lei mosaica foi definida
formalmente no Concílio de Jerusalém. No terreno prático, já era
matéria vencida. O concílio nada modificou (Gálatas 2.6).
Resolver o problema formalmente, porém, foi uma tarefa que
não cabia apenas a uma igreja, mas a todas, ou ao menos as que
estavam na vanguarda da expansão do cristianismo. Embora
essencialmente já separadas do judaísmo, as igrejas precisaram,
para o fortalecimento dos seus laços de fraternidade e para a
resistência contra movimentos heréticos, de apoio moral mútuo
em matéria de doutrina e na desautorização de qualquer
movimento doutrinário herético. No Concílio de Jerusalém, este
apoio foi dado não somente na deliberação formal sobre a
doutrina, mas também no tratamento de "irmãos" por parte de
igreja para igreja (Atos 15.23), como também pelo envio de
obreiros como testemunhas pessoais da solução do problema
(Atos 15.25-27).
No Concílio de Jerusalém temos, pois, um exemplo de como
as igrejas devem cooperar na solução de conduta e de doutrinas.
As igrejas precisam cultivar e zelar pela unidade da fé. À luz das
igrejas do Novo Testamento não deve haver diferenças de
prática e doutrina entre as nossas igrejas. Embora sejam
congregações locais e autônomas, em matéria de fé/doutrina e
prática, as igrejas devem cultivar a unidade. Todas devem
obedecer a Cristo como seu cabeça e Senhor. A relação entre as
igrejas deve ser expressa como sendo um só "corpo" e um só
"espírito"; como um só Deus, uma só fé e um só batismo
(Efésios 4.4). Esta unidade de fé e prática precisa ser mantida e
33
cultivada através de encontros de crentes e principalmente de
obreiros, como foi o caso de Antioquia e Jerusalém. E tarefa,
principalmente dos obreiros, zelar para que a evangelização não
seja prejudicada por divisões entre as igrejas em matéria de
doutrina e prática. No tempo do Novo Testamento as igrejas
eram responsáveis pelo que seus membros pregavam. A igreja
em Jerusalém, por exemplo, desautorizou os judaizantes que,
tendo saído dela, perturbaram a igreja em Antioquia. Uma igreja
não pode permitir que a unidade da fé seja perturbada por
elementos seus.
g) Entendimento quanto a campos de atividade. No
Concílio de Jerusalém ficaram também definidos os campos de
atividades externas das duas igrejas, de Jerusalém e de
Antioquia, e outras igrejas gentílicas. Ambas eram centros de
irradiação do evangelho. Cada uma teve suas preferências
naturais de nacionalidade. Conforme o que Paulo escreveu aos
gálatas (Gálatas 2.9), no Concílio de Jerusalém, ficou entendido
que ele e Barnabé trabalhassem entre os gentios; Pedro, Tiago e
João entre os judeus ou os da circuncisão. À luz deste exemplo,
há lugar para planejamento no trabalho da evangelização. As
igrejas nunca deviam criar problemas por causa de campos de
trabalho. A liberdade de cada um poder trabalhar onde quisesse
nunca devia prejudicar as relações de fraternidade entre as
igrejas.
h) Cooperação econômica para fins de beneficência.
Quando o cristianismo começou em Jerusalém, diz a Escritura
que não havia entre os crentes, necessitado algum (Atos 4.34).
Mais tarde, vemos que este mesmo espírito refletiu também nas
relações entre as igrejas do Novo Testamento. Depois que
cessou a comunidade de bens em Jerusalém, o livro de Atos
relata (11.27) a primeira cooperação econômica entre as igrejas
apostólicas. Foi quando o profeta Ágabo e outros visitaram a
igreja em Antioquia. Depois de ter sido doutrinada sob a direção
34
de Barnabé e Paulo, a igreja recebeu a visita destes profetas
vindos de Jerusalém. Ágabo predissera em Antioquia que viria
uma grande fome em todo o mundo ou Império Romano. Os
crentes da igreja em Antioquia, quando ouviram da situação dos
irmãos na Judeia, resolveram enviar, como de fato enviaram,
ajuda por intermédio de Barnabé e Paulo. Os irmãos em
Antioquia certamente tiveram conhecimento da comunidade de
bens que tinha havido em Jerusalém depois de Pentecostes,
quando ali entre os crentes não tinha havido necessitados.
Manifestaram a mesma atitude. Sentiram estarem unidos com os
irmãos da Judeia e também participaram das suas necessidades.
Fizeram o mesmo que tinha sido feito em Jerusalém, entre os
irmãos, para que entre eles não houvesse necessitados.
Contribuíram com o que estava ao seu alcance para as
necessidades dos irmãos na Judeia. Atuaram como possuidores
do mesmo sentimento de união e comunidade de bens que deve
haver entre os crentes como igrejas.
As outras atividades cooperativas dos crentes no terreno
econômico nos tempos apostólicos eram também relacionadas
com o mesmo socorro aos pobres na Judeia e com a obra
missionária. Em Gálatas 2.10, Paulo declara que, depois da sua
primeira viagem missionária e depois do Concílio em Jerusalém,
ele e Barnabé foram solicitados por Pedro, Tiago e João para
que, no seu ministério entre os gentios, se lembrassem dos
pobres. Paulo acrescenta também que se esforçou por fazê-lo.
Na segunda Carta de Paulo aos Coríntios, capítulos 6 a 9, vemos
como os macedônios cooperaram sacrificialmente para este fim.
Embora nos tempos apostólicos não houvesse instituições de
beneficência, havia, no entanto, o espírito e prática de
beneficência. Para socorrer os necessitados na Judeia, tomaram
parte, por exemplo, os macedônios e coríntios. Embora as igrejas
fossem locais e independentes, na necessidade sentiram-se
unidas como membros do mesmo corpo. As igrejas precisam
zelar pelos necessitados que são domésticos da fé, mesmo
35
quando estes sejam de outras igrejas (2 Coríntios 8.1,7). É o
espírito que deve caracterizar as relações entre as igrejas. Os
métodos não são prescritos, mas estão a cargo das próprias
igrejas.
i) Relações entre as igrejas na formação do ministério da
palavra. Na história das igrejas apostólicas, é interessante
observar nelas o desenvolvimento e o estabelecimento formal do
ministério da palavra. Certamente não podemos examinar aqui o
assunto em detalhes. Notemos apenas o seguinte: Na história do
livro dos Atos notamos que, inicialmente, a evangelização e o
doutrinamento dos convertidos era a tarefa que estava a cargo
dos obreiros. Em Jerusalém, por exemplo, e por circunstâncias, a
tarefa era dos apóstolos. Estes pregaram e ensinaram. Depois
também outros crentes, doutrinados pelos apóstolos, tornaram-se
obreiros, diáconos e pregadores. Os apóstolos acompanharam e
orientaram também o desenvolvimento do trabalho externo. O
reconhecimento de novos trabalhos e estabelecimento de novas
igrejas era a tarefa dos obreiros, apóstolos, profetas e outros.
Foi através dos obreiros que as igrejas de Jerusalém e
Antioquia vieram a estabelecer outras novas igrejas. Barnabé,
por exemplo, foi enviado de Jerusalém a Antioquia. Depois
Barnabé e Paulo foram enviados pela própria igreja em
Antioquia para a obra missionária. Foram estes obreiros que
orientaram a organização ou a eleição de bispos nas novas
igrejas. A escolha de pessoas para o ministério nos seus aspectos
humanos, conforme o exemplo do Novo Testamento era uma
tarefa principalmente a cargo dos obreiros, e não só das próprias
igrejas. Assim como Paulo e Barnabé, por comum
consentimento das igrejas (Atos 14.23), estabeleceram bispos
nas igrejas implantadas na sua primeira viagem missionária, por
exemplo, assim também, mais tarde, Paulo incumbiu Timóteo e
Tito para estabelecerem bispos nas igrejas de Éfeso e Creta,
respectivamente (1 Timóteo 1.3; Tito 1.5). No tempo do Novo
36
Testamento, a constituição do ministério não pertenceu
exclusivamente a uma igreja local, mas era uma tarefa
cooperativa das igrejas através dos seus obreiros. As instruções
quanto a qualificações de bispos, por exemplo, não foram dadas
a igrejas, mas, sim, a obreiros, que tiveram esta missão a
cumprir. A chamada para o ministério é obra de Deus; a
constituição de bispos em uma igreja é obra do Espírito Santo
(Atos 20.28). Se alguém deseja entrar no episcopado, então os
outros que já estão no ministério devem examinar as suas
qualificações. As igrejas do Novo Testamento cooperaram, para
este fim, umas com as outras, através dos seus obreiros. É
exemplo também para todos nós. O reconhecimento do
ministério era, portanto, um laço de união entre as igrejas do
Novo Testamento. Igrejas havia que dependiam de ajuda
espiritual de obreiros de fora e estes eram enviados por Paulo,
como, por exemplo, Timóteo, Tito e outros.
j) Relação entre as igrejas expressas pelo uso de cartas
de recomendação ou de apresentação. Elas podiam ser
favoráveis, como também desfavoráveis. Os judaizantes, por
exemplo, foram desautorizados pela carta do Concílio de
Jerusalém. Temos também outros exemplos de obreiros
recomendados favoravelmente, como, por exemplo, Febe
(Romanos 16.1) e Apolo (Atos 18.27). As igrejas do Novo
Testamento eram responsáveis umas perante as outras pelo que
seus membros, obreiros e conhecidos estavam fazendo. É
interessante observar, nas cartas de Paulo, o seu zelo pela
uniformidade de doutrina, ordem e disciplina nas igrejas.
Algumas das suas cartas eram, por exemplo, cartas circulares.
Os ensinamentos dados a uma igreja eram também para as outras
(1 Tessalonicenses 4.16). Escrevendo particularmente aos
coríntios, Paulo diz que determinadas recomendações dadas a
eles foram dadas também as outras igrejas. Ele diz: "É isso o
que ordeno em todas as igrejas" (1 Coríntios 7.17). Diz ainda:
"Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus nem a gregos,
37
nem a igreja de Deus" (1 Coríntios 10.32). Menciona a igreja
aqui no singular. Qualquer escândalo numa igreja é ofensa a
todas ou a Igreja de Deus em geral. Toda conduta irregular é
desprezo a Igreja de Deus (1 Coríntios 11.22). À luz do ensino
do Novo Testamento cada igreja deve zelar pela sua conduta,
pois esta atinge a todas, ou para o bem ou para o mal. À luz das
recomendações as igrejas do Novo Testamento, as igrejas de
hoje devem manter o espírito de fraternidade, unidade
doutrinária, disciplina, beneficência e cooperação ministerial.

3
O IDEAL ÉTICO E ESCATOLÓGICO
DA IGREJA

1. O Alvo de Perfeição Para a Igreja


Além de cumprir a sua missão objetiva na história, a Igreja
de Cristo, como comunidade espiritual, é também uma
finalidade em si. As suas formas visíveis não são finalidades em
si. Estas surgem e desaparecem no decorrer do tempo. Como o
corpo de Cristo é fruto da sua redenção, porém a Igreja é uma
finalidade em si. Tem também diante de si um alvo a ser
alcançado. Em sua Carta aos Efésios 4.13, o apóstolo Paulo
apresenta o ideal da perfeição da Igreja, a ser visado em suas
atividades na história e a ser alcançado na consumação desta
mesma história. Vamos mencionar aqui, então, as características
da igreja perfeita. São características de personalidade e de
relações pessoais ou éticas dos crentes em Cristo.
A primeira característica como alvo da perfeição da Igreja
de Cristo, mencionada por Paulo, é a união. É o desejo e ideal
expresso por Jesus na sua oração em João 17.11,21. Como
38
coletividade espiritual, a Igreja é uma unidade espiritual. Não é
mero agrupamento de pessoas salvas, mas um corpo ou
organismo em que cada crente é integrado como elemento vital.
Inicialmente, esta unidade é a do Espírito. Esta é dada pela graça
aos que creem em Cristo. Não basta, porém, os crentes
receberem ou possuírem este dom apenas na base da fé. Esta
precisa ser também conscientemente mantida e cultivada pelos
próprios crentes. O ministério estabelecido por Deus na Igreja
visa o cultivo desta unidade do Espírito através do crescimento
no conhecimento do Filho de Deus. Não basta haver na Igreja a
unidade do Espírito; é necessário haver também a unidade de
conhecimento ou da interpretação da Pessoa de Jesus Cristo,
unidade esta a ser alcançada mediante a cooperação dos próprios
crentes com o Espírito Santo.
A segunda característica da perfeição da Igreja, mencionada
por Paulo, é realização da personalidade de cada um dos seus
componentes. Nos seus aspectos positivos, a salvação cristã visa
esta realização da personalidade dos crentes. Uma vez salvo do
pecado e fazendo parte de sua igreja, o crente tem diante de si
oportunidades e recursos para alcançar o alvo que Deus tem para
a sua vida. A realização da personalidade é essencialmente
coletiva, dependente e condicionada às relações éticas. O
homem se converte e se salva como individuo. Para se
desenvolver ou crescer espiritualmente como personalidade,
porém, ele necessita da Igreja, do convívio com os outros
crentes e dos recursos nela oferecidos por Deus. O alvo para a
realização da personalidade do crente está expresso em Cristo
como o Filho de Deus ou nas suas relações com a Igreja. É na
Igreja e através dela que o crente, como Filho de Deus, cultiva e
alcança, em si e nas suas relações pessoais, a plenitude de Cristo
como Filho perfeito de Deus.
A perfeição da Igreja, na linguagem de Paulo, é ainda o
funcionamento perfeito ou harmonioso dos seus componentes,
manifestando-se a unidade e maturidade dos crentes no exercício
39
de suas relações éticas. No cristianismo, a perfeição não é um
estado metafísico, mas um processo ético, espiritual e
harmonioso no exercício de relações pessoais. A perfeição
verifica-se na personalidade quando esta atua não motivada por
influências externas, ou ventos de doutrina, mas quando ela atua
na base do seu próprio conhecimento e vontade. A personalidade
perfeita dirige-se a si mesma em obediência a Cristo. A
perfeição está em praticar a verdade por uma vontade própria e
não motivada apenas por um conhecimento racional desta
verdade. O funcionamento ético perfeito é crescimento em
Cristo; é processo espontâneo e também consciente. É a atuação
do próprio crente como parte integrante num processo orgânico
de crescimento da comunidade. É crescimento para a edificação
em amor como o laço da perfeição, perfeição esta, como
comunhão perfeita, e não como perfeição absoluta do nosso ser.

4
A IGREJA COMO ESFERA DA ATUAÇÃO DO
ESPÍRITO SANTO

Não somente o estabelecimento da Igreja como corpo de


Jesus Cristo ou meio de sua atuação no mundo foi obra do
Espírito Santo, mas também tem sido sua obra o
desenvolvimento e a operação da Igreja no mundo. O
cristianismo, como religião histórica, surgiu da interpretação da
40
obra e pessoa de Jesus Cristo como realidade histórica. Esta
interpretação, no seu processo subjetivo, foi obra do Espírito
Santo naqueles que creram em Jesus. A sua obra está evidente
não somente no estabelecimento da Igreja, como também no seu
desenvolvimento. O Espírito Santo atua na Igreja. Interpreta o
Cristo nela e através dela. Não podemos estudar a obra de Jesus
Cristo sem darmos atenção ao Espírito Santo. Aqui vamos
enunciar alguns marcos na história do cristianismo que revelam
a atuação do Espírito Santo na Igreja, glorificando a Cristo e sua
obra.
A Igreja teve o seu início histórico em Jerusalém no dia de
Pentecostes, quando os apóstolos foram batizados no Espírito
Santo. A conversão e a aceitação dos que se converteram
naquele dia e depois são designadas, na linguagem das
Escrituras, como o recebimento do "dom do Espírito Santo".
Inicialmente, as atividades dos apóstolos e a dos convertidos que
a eles foram agregados, quanto à sua motivação, foram a obra do
Espírito Santo. A unidade dos crentes que entre eles havia é
descrita como sendo "uma só alma". Foi a unidade do Espírito.
O Espírito Santo habilitou os apóstolos a darem testemunho da
ressurreição de Jesus Cristo e a enfrentar com ousadia as
perseguições. Quando, em consequência do crescimento da
Igreja, tornou-se necessária a distribuição do trabalho, esta foi
feita pelos apóstolos e demais crentes, na base do raciocínio
orientado pelo Espírito Santo. Assim, a implantação da igreja em
Jerusalém, sua organização e desenvolvimento como
coletividade distinta, foi obra do Espírito Santo.
No início do cristianismo, a igreja em Jerusalém era o centro
de todas as atividades, não somente na cidade, como também ao
seu redor. A pregação do evangelho em Samaria por Filipe e o
reconhecimento do seu trabalho, por exemplo, dependeu da
igreja em Jerusalém. Dai, a comissão de Pedro e João foi
enviada pelos apóstolos que estavam em Jerusalém. No
reconhecimento dos crentes samaritanos houve a manifestação
41
do Espírito Santo. Com isto ficou evidente que os samaritanos
convertidos estavam em mesmo pé de igualdade com os crentes
em Jerusalém. Houve também uma atuação sensível do Espírito
Santo quando o evangelho entrou para o meio dos gentios. A
manifestação do Espírito Santo em casa de Cornélio, em
Cesaréia, levou os crentes em Jerusalém a admitir que o
evangelho era também para os gentios. Os gentios convertidos
foram reconhecidos estarem no mesmo pé de igualdade com os
crentes em Jerusalém. Assim, a expansão do cristianismo e a sua
transcendência das fronteiras de nacionalidade foi levada a efeito
sob a atuação especifica do Espírito Santo. Também a
evangelização individual, como o trabalho de Filipe, por
exemplo, foi orientada pelo Espírito Santo. Estas atividades
todas estavam relacionadas com a igreja em Jerusalém. O
cristianismo propagou-se mediante a atuação dos crentes
dispersos vindos de Jerusalém. O reconhecimento do trabalho
feito por eles era a tarefa da igreja em Jerusalém, havendo uma
atuação específica do Espírito Santo, quando começou uma nova
etapa no desenvolvimento da obra, como nos casos de Cornélio,
do etíope e da conversão de Saulo, por exemplo.
Quando o cristianismo transcendeu as fronteiras da Palestina e
chegou à Antioquia, através dos crentes dispersos por
perseguições, encontramos um novo marco na sua história e
também uma nova modalidade na atuação do Espírito Santo.
Embora o estabelecimento da igreja naquela cidade estivesse
sendo orientada por Barnabé, enviado pela igreja em Jerusalém,
o trabalho dele se processou praticamente independente da igreja
que o havia enviado ou sem qualquer participação desta. Em
matéria de método, o estabelecimento e desenvolvimento da
igreja em Antioquia seguiu o exemplo da igreja em Jerusalém.
Embora na história daquela igreja e do seu crescimento não
apareça nenhuma atuação sensível do Espírito Santo, o que se
fez ali foi, em última analise, obra do Espírito Santo. Quem
orientou o trabalho ali foi Barnabé, do qual a Escritura diz que
42
era homem "cheio do Espírito Santo" (Atos 11.24). A iniciativa
de Barnabé para trazer Saulo para Antioquia e para promover
uma campanha de evangelização e o doutrinamento dos crentes
foi obra orientada pelo Espírito Santo. Certamente, ali não
aparece nenhuma menção específica como isto aconteceu em
Jerusalém.
Embora não houvesse em Antioquia manifestações sensíveis
do Espírito Santo, houve, no entanto, naquela igreja, uma
atuação do Espírito mais elevada do que aquela que tinha havido
em Jerusalém. Em Antioquia o Espírito Santo falou à igreja
através dos seus obreiros. Foi a primeira vez esta em que o
Espírito Santo falou a uma igreja. A Escritura não nos diz que o
Espírito Santo falasse à igreja em Jerusalém, mas diz que ele
falou em Antioquia. Em Jerusalém, no Pentecostes, o Espírito
Santo apenas veio sobre os apóstolos. Ainda não havia igreja ali.
Quando a Escritura fala da atuação do Espírito Santo em
Antioquia, ali já havia igreja desenvolvida, doutrinada, com
ministério dedicado à obra. A atuação do Espírito ali foi sem
manifestações sensíveis, mas foi ideal, pois apresentou a Grande
Comissão de Jesus. O Espírito Santo orientou os obreiros e a
igreja com referência à necessidade de eles estenderem a
evangelização até os confins da terra. Foi uma interpretação da
Grande Comissão de Jesus. A igreja em Antioquia, estando sob a
orientação do Espírito Santo, não procedeu à semelhança da
igreja em Corinto, onde os crentes estavam interessados em
dons. A igreja em Antioquia colocou em primeiro plano a obra
missionária, glorificando, assim, a Jesus Cristo. É na propagação
do evangelho através da igreja que se revela por excelência a
obra do Espírito Santo. A partir de Antioquia, a obra do Espírito
Santo está toda relacionada com missões, orientando
missionários, abrindo as portas da fé para os gentios e
estabelecendo novas igrejas como centros ou coletividades
autônomas para a propagação do cristianismo.

43
Não somente a igreja como comunidade local, mas também as
igrejas coletivamente constituem o campo de atuação do Espírito
Santo. Disto temos exemplo no Concílio de Jerusalém ou na
reunião de elementos das igrejas em Antioquia e em Jerusalém.
Embora poucas vezes apareça mencionado o Espírito Santo com
relação àquele concílio, está evidente que o que se fez ali foi
feito com a cooperação ou direção do Espírito Santo. Tanto a
própria ideia de se realizar aquele concílio foi obra do Espírito
Santo, como também o foi o seu resultado final. A solução do
problema doutrinário ali lançado foi o parecer do "Espírito
Santo" (Atos 15.28), embora não apareça nenhuma menção de
uma atuação específica. É através das igrejas e a sua cooperação
mútua que o Espírito Santo guia os crentes para a solução dos
seus problemas doutrinários. É através das igrejas que o Espírito
Santo leva a efeito a obra de Jesus Cristo na evangelização do
mundo. É ele quem guia os crentes em toda a verdade, através
do raciocínio coletivo baseado nas Escrituras Sagradas.
É nas igrejas como comunidades locais, ou por intermédio do
culto e da pregação que nelas se fazem, que o Espírito Santo fala
ao crente como indivíduo, interpretando para ele a revelação
dada por Cristo e por sua ordem escrita para ser lida nas igrejas.
O Espírito Santo não fala de si mesmo. Quando ele fala, fala de
Cristo. Guia o crente na compreensão da verdade que está em
Cristo como pessoa histórica e também glorificada. A Igreja é o
campo por excelência, onde o Espírito Santo glorifica a Cristo
nos crentes, interpretando a Escritura Sagrada, a qual, na
linguagem de Paulo, é a "espada do Espírito". Certamente, o
Espírito fala também ao crente como indivíduo, mas o campo e
o método por excelência e estabelecido de modo permanente
para a atuação do Espírito Santo é a igreja como coletividade
local. Daí a importância desta como lugar onde se lê e estuda a
Palavra de Deus e onde o Espírito Santo glorifica a Cristo como
Salvador e Senhor. Por esta razão, disse o próprio Cristo
glorificado a João: "Bem-aventurado aquele que lê e bem-
44
aventurados os que ouvem as palavras desta profecia"
(Apocalipse 1.3). Para justificar a sua razão de ser e para
cumprir a sua missão, cada igreja precisa estar compenetrada de
que ela é esfera por excelência da operação do Espírito Santo
para aqueles que nela se reúnem. O crente não pode negligenciar
a sua igreja, a congregação, sem desprezar a Cristo e o Espírito
Santo. Grande é o privilegio em ser a Igreja de Jesus Cristo.
Grande é também a responsabilidade desta como esfera da
operação do Espírito Santo. É através da igreja como
congregação local que Cristo e o Espírito Santo falam através da
palavra de Deus escrita aos que nela se reúnem.

A IGREJA
COMO INTÉRPRETE FINAL DE TODAS AS COISAS

Além do fato de ser o corpo de Cristo, a Igreja tem ainda o seu


significado escatológico. E, nela e por intermédio dela, o Cristo,
como seu cabeça, levará a efeito a realização do significado de
todas as coisas. Escrevendo aos efésios, Paulo diz que Deus
"sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser
cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, que é o seu corpo,
o complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas"
(Efésios 1.22,23). Este propósito baseia-se no fato de que "tudo
foi criado por ele e para ele" (Colossenses 1.16), ou por ele e
nele todas as coisas serão interpretadas. A redenção da Igreja e a
sua vida, que vem de Cristo, tem uma finalidade. É através dela
que o Cristo Exaltado levará todas as coisas à realização do seu
significado (Efésios 4.10). Por isso, tendo ascendido aos céus,
ele comunica dons à Igreja. Ele o faz, diz Paulo, por ser o cabeça
45
de todas as coisas, tanto das que estão nos céus como também
das que estão na terra.

Para levar todas as coisas ao seu objetivo, Cristo cumpre


primeiro as finalidades intrínsecas da própria Igreja como seu
corpo. É através do seu corpo e de cada membro seu que a
cabeça leva a efeito os seus propósitos. O poder criador e a
plenitude de Cristo revelam-se na Igreja e, em todas as coisas,
através dela. A existência da Igreja representa, pois, o poder de
Cristo, tanto na relação vital para com esta, como também
representa o seu propósito e atuação em relação a todas as
coisas. É através da Igreja que o Cristo exerce seu governo ético
no universo e revela a finalidade deste.
O significado de todas as coisas ou do universo para homem
e a humanidade, em última análise, não será interpretado pela
ciência ou pelo cientista, mas por Cristo, e isto ele fará por
intermédio da sua Igreja. Dizendo isto, não estamos
menosprezando o significado da ciência para a vida humana.
Estamos apenas colocando-a no seu lugar. Dizemos
simplesmente que, por mais que a ciência progrida, pelo
desenvolvimento e trabalho do raciocínio, e por mais que ela
beneficie a vida humana com suas conquistas dos recursos que
se encontram no universo, ela, a ciência, não cumprirá ou dará a
interpretação final de todas as coisas.
A ciência está limitada à esfera de fenômenos e suas causas
imediatas e não alcança as verdadeiras finalidades das coisas. A
ciência apenas descobre os recursos, mas não orienta o homem
como deve usa-los. As finalidades da ciência pertencem à esfera
da personalidade no homem e principalmente à do Cristo, como
seu criador e sustentador. Estas finalidades só serão cumpridas
pelo seu Autor e isto através da sua Igreja como coletividade
espiritual e ética.
46
6

A IGREJA COMO APOIO E COLUNA DA VERDADE

O apóstolo Paulo, dando instruções a Timóteo sobre a


orientação da conduta dos crentes na igreja, referiu-se a esta, de
passagem, como "coluna e alicerce da verdade" (1 Timóteo
3.15). É a única passagem do Novo Testamento onde
encontramos referência simbólica e ao mesmo tempo técnica
referente à igreja. O termo "coluna" expressa a ideia de
sustentáculo no edifício. O termo "firmeza" expressa a ideia de
alicerce sobre o qual o edifício repousa. O termo "verdade"
refere-se à revelação de Deus. No tempo do Antigo Testamento
esta revelação estava escrita em tábuas de pedra. No Novo
Testamento ela veio na Pessoa de Jesus Cristo e depois
concretizou-se na Igreja. Nesta referência casual, Paulo
apresenta o significado prático e objetivo da Igreja de Jesus
Cristo neste mundo. Para ele a Igreja significava:

1. A Igreja como Depositária da Verdade


Antigamente, como ainda hoje, colunas eram construídas não
só para sustentarem edifícios como também para receberem
inscrições e registros de fatos históricos. Colunas há cuja
finalidade é servir de monumentos históricos. São monumentos
que, como simples obra e também como portadores de
inscrições, ainda hoje servem de testemunhas de fatos históricos.
No Antigo Testamento, a lei ou revelação da vontade de Deus
aos homens foi escrita por ele mesmo em tábuas de pedra
(Êxodo 31.18). A revelação foi dada e posta em forma escrita,
ou por ordem expressa de Deus ou por necessidades externas e
47
por inspiração do Espírito de Deus. Daí a existência, hoje, da
Escritura Sagrada como depositária e coluna da verdade. No
Novo Testamento a revelação de Deus apresenta-se numa
modalidade mais elevada.
João mostra esta diferença quando diz: "Porque a lei foi dada
por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus
Cristo" (João 1.17), vieram na vida e Pessoa de Jesus Cristo.
Depois esta verdade, com os seus efeitos práticos nos homens,
encarnou-se nos crentes e na Igreja. A verdade do cristianismo
não está primariamente nas escrituras do Novo Testamento, mas
na vida dos crentes como indivíduos e como Igreja.
A verdade que veio na pessoa de Jesus Cristo está agora
perpetuada no mundo na vida da Igreja que, na linguagem de
Paulo, constitui a coluna e firmeza da verdade.

2. A Igreja Como Exemplo e Interpretação da Verdade


A verdade propriamente dita não pode ser dada, interpretada
nem perpetuada na letra, mas tão somente na vida: A verdade é
vida. Não pode ser dada em forma de lei, mas pode ser revelada
em forma de experiência.
Para revelar-se ao mundo, o Verbo se fez carne e habitou entre
nós.
A graça, ou o aspecto belo da vida, não se transmite através da
palavra falada ou escrita, mas, sim, através da experiência nas
relações de comunhão. É na igreja e através dela, nos seus
membros, nas suas relações como de um corpo, que Deus e
Jesus Cristo revelam-se ao mundo no seu sentido espiritual e
racional. Para interpretar-se, na experiência e inteligência, a
verdade encarnou-se no crente e na Igreja mediante a atuação do
Espírito Santo. Por isso, na palavra de Pedro, os crentes são
"cartas vivas" neste mundo (1 Pedro 2.9). O mundo só pode
conhecer a revelação de Deus quando ela está encarnada e
48
exemplificada na vida. A Igreja é o templo ou a "habitação de
Deus" neste mundo. No Antigo Testamento a tenda do
tabernáculo e o templo simbolizaram a presença de Deus entre o
seu povo israelita. Hoje a igreja não somente simboliza, mas
também ativamente testifica da presença e atuação de Deus e de
Jesus Cristo entre os homens. Para isto, ela precisou ser
edificada sobre o fundamento dos apóstolos, que tiveram
contatos e experiência com Jesus (Efésios 2.10; Gálatas 2.9).
Em outras palavras, a Igreja é a "família de Deus", a habitação
de Deus, testemunha e sustentáculo da revelação divina e do que
ele significa para o mundo.

3. Necessidade de Conhecimento na Igreja


Esta caracterização da Igreja como "coluna e firmeza da
verdade" dá a entender, ainda, que ela precisa ser instruída e ser
uma agência de ensino. Para cumprir a sua missão no mundo,
não basta a Igreja estar constituída de pessoas que apenas são
portadoras de experiência cristã. É necessário também que elas
tenham o conhecimento ou a aptidão para interpretar em termos
de raciocínio a sua própria experiência. A verdade pertence e
opera na esfera da inteligência. Quando Paulo referiu-se à Igreja
como coluna e firmeza da verdade, ele estava dando instruções a
Timóteo de como orientar a conduta dos crentes na Igreja. A
conduta depende de uma compreensão racional. Não basta o
crente ter fé ou experiência de conversão e boa vontade, ele
precisa ser também ensinado. A Igreja precisa não só fazer
discípulos, mas também ensinar esses mesmos discípulos. Os
vários ministérios na Igreja revertem para esta finalidade (1
Coríntios 12.28).
Estando composta de pessoas convertidas e atuando sob a
direção do Espírito Santo como guia na verdade, a Igreja entra
na posse da revelação da verdade no seu sentido mais completo;
resolve os problemas de conduta visíveis e coletivos. O ensino
sobre a conduta é dado ao crente na Igreja e através dela
49
(Mateus 28.20). Para conduzir-se como cristão e para ser a
coluna da verdade, o crente individual precisa da Igreja e do seu
ministério de interpretação. Por outro lado, também o mundo,
para conhecer o cristianismo como verdade na sua aplicação
prática, precisa e depende da Igreja como exemplo e interprete
da verdade ou da revelação de Deus para todas as fases da vida
humana.
Como depositária e agência da verdade, a Igreja é a instituição
que merece toda a atenção e respeito. Paulo refere-se à Igreja
como a "casa do Deus vivo". Esta linguagem realça o zelo de
Deus, que não permite abuso ou que não se deixa escarnecer
(Hebreus 10.30). Com isto dá a entender a responsabilidade da
Igreja e dos seus membros, seus depositários e intérpretes da
verdade e do que esta significa para os homens.

A GLORIFICAÇÃO DE DEUS NA IGREJA

O ponto culminante na interpretação do significado da Igreja


dada pelo apóstolo Paulo acha-se na doxologia, na Carta aos
Efésios 3.21. Ele diz: "A esse seja glória na Igreja e em Cristo
Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém."
Aqui esta o alvo ético e escatológico do que significa a Igreja
para nós, para Jesus Cristo e, finalmente, também para Deus Pai,
criador e autor de todas as coisas, cuja glória se revela e há de se
50
revelar em sua perfeição na Igreja e em Jesus Cristo. Ali o
apóstolo expressa em oração e em doxologia o ideal sempre
presente a cuja realização será levada a efeito na Igreja pelo
Espírito Santo e pelo próprio Cristo de Deus. Para termos uma
ideia do sentido do que o apóstolo Paulo aqui diz, precisamos
examinar os termos do texto e do contexto.
Que significa a "glória" em Deus e a "glória" que será rendida
a ele na Igreja em sua expressão máxima? Bastaria
examinarmos, se pudéssemos examinar exaustivamente aqui o
termo "glória", que é essencialmente um termo ético ou de
relações pessoais. No seu sentido original e elementar o termo
"glória" significa "ideia", conceito, reconhecimento, estima,
honra, crédito, admiração. São os significados do termo do
ponto de vista do homem em relação para com Deus. O ideal
presente e escatológico do homem é glorificar a Deus com todas
as suas potencialidades. Sendo pecador, o homem, embora tenha
o conhecimento de Deus, não glorificava a Deus como Deus
(Romanos 1.21).
O sentido do termo "glória", porém, na sua expressão mais
elevada, não está no conceito ou sentido externo que o homem
lhe dá ou com que se dirige a Deus. A glória de Deus não é a
que os homens lhe rendem, mas o que ele mesmo é no seu
próprio ser. A glória é a expressão da própria natureza de Deus,
do seu poder, da sua sabedoria e da sua plenitude. A sua glória
não está simplesmente no que possa impressionar a vista com
manifestações de brilho, como são, por exemplo, as belezas do
universo físico. A glória de Deus por excelência é o que atrai a
apreciação no terreno das qualidades e relações de
personalidade. A glória e essencialmente ética, e não apenas
sensível. A glória em Deus é a plenitude do caráter de Deus, da
sua bondade, amor, o segredo, enfim, da nossa salvação. A
glória de Deus é essencialmente a expressão do seu caráter
redentor. A obra redentora em Cristo é a expressão da glória que
está em Deus, e o que desperta no crente o desejo de enaltecê-lo
51
na sua vida individual e principalmente na coletividade ou na
igreja. No Antigo Testamento, o lugar por excelência para
contemplar e para render glória a Deus era o templo na presença
do seu povo (Salmos 116). No Novo Testamento, a glorificação
de Deus não depende de um lugar determinado, mas é a
comunidade espiritual, a Igreja, o povo de Deus. A g1ória não
está no que apela aos sentidos, mas ao espírito. A g1ória
verdadeira atrai o espírito, e não os sentidos. A verdadeira
g1ória e glorificação dispensam templos ou brilho de aparências.
Ela se expressa numa comunhão perfeita entre Deus e seu povo.
É na Igreja que Deus está com o seu povo. Na revelação de
Cristo, dada a João na ilha de Patmos, Cristo se apresenta como
quem anda entre os castiçais de ouro, que são as igrejas. A
g1ória se manifesta na presença, na comunhão. Está naquilo que
as palavras e imaginação não podem contemplar. Na
consumação das coisas, tudo se completará em termos de g1ória
e glorificação de Deus, do Cordeiro e o povo de Deus.

Pastor Dr. Reynaldo

52
Pastor Dr. Reynaldo Purim

53

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