Você está na página 1de 43

1

TEOLOGIA CATEQUÉTICA

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 3
1. Missão de Cristo e missão da Igreja ................................................................ 3
2. Dimensão profética do mistério da Igreja ...................................................... 5
3. Evangelização e catequese ................................................................................ 6
4. Teologia Catequética: descrição, fontes e metodologia................................ 8
5. História da catequese ...................................................................................... 9
6. Importância da Teologia Catequética ........................................................... 11
II. MENSAGEM DO EVANGELHO ......................................................................... 13
1. Depósito da fé e transmissão da fé ................................................................ 13
2. Kerigma-Catequese-Teologia ......................................................................... 18
3. Fé professada, celebrada, vivida ................................................................... 19
4. Evangelização e Sacramentos da Iniciação Cristã ....................................... 23
5. Finalidade e tarefas da catequese ................................................................. 23
II. PEDAGOGIA E METODOLOGIA CATEQUÉTICA ......................................... 27
1. Pedagogia de Deus .......................................................................................... 27
2. Inspiração catecumenal e Catequese de adultos ......................................... 30
3. Questão da linguagem .................................................................................... 31
4. Psicopedagogia das idades............................................................................. 31
III. CATEQUESE NA IGREJA PARTICULAR ........................................................ 35
1. Carismas e ministérios .................................................................................... 35
2. Catequese na Diocese ...................................................................................... 36
3. Importância da Paróquia na ação catequética ............................................. 38
2
3

I. INTRODUÇÃO

1. Missão de Cristo e missão da Igreja

O Pai enviou o Filho e o Espírito Santo para a salvação e a santificação dos


seres humanos e a renovação do universo. Cristo e o Espírito Santo cumpriram
essa missão e ao mesmo tempo permitiram que ela permanecesse até a
consumação dos tempos, por meio de sua Igreja. A missão da Igreja decorre da
missão de Cristo e do Espírito Santo. Dessas palavras iniciais não é difícil concluir
que a missão da Igreja tem o seu fundamento no mistério da Trindade, ela mesma
é um dom da Trindade Santíssima (Ecclesia de Trinitate). A Igreja é uma obra (“ad
extra”) da Trindade e, portanto, comum às três pessoas da Trindade. Contudo,
como somente o Filho e o Espírito Santo foram enviados, a Igreja – em sua missão
– mantêm uma relação especial com Jesus Cristo e o Espírito Santo para levar a
todos à casa do Pai. A Igreja é, como disse o Concílio Vaticano II, “sacramento
universal de salvação” (cfr. LG, 48) porque ela é sinal e instrumento da salvação
que Cristo realizou uma vez por todas no seu Mistério Pascal. Mediante a
Palavra, os sacramentos e a caridade, a Igreja torna a ação de Cristo e do Espírito
Santo presentes neste mundo.

Do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica


143. Qual a relação entre o Espírito e Cristo Jesus, na missão terrena?
[CCE 727-730; 745-746]
O Filho de Deus é consagrado Messias através da unção do Espírito na sua humanidade desde a
Encarnação. Ele o revela no seu ensinamento, cumprindo a promessa feita aos antepassados e o
comunica à Igreja nascente, soprando sobre os Apóstolos depois da Ressurreição.

150. Qual é a missão da Igreja?


[CCE 767-769]
A missão da Igreja é anunciar e instaurar no meio de todos os povos o Reino de Deus inaugurado
por Jesus Cristo. Ela é, na terra, o germe e o início desse Reino salvífico.

É muito importante compreender que a dimensão sacramental (atribuída a


Cristo) e a carismática (atribuída ao Espírito Santo) da Igreja não se separam, mas
apenas se distinguem numa profunda compenetração. Assim como não podemos
4

separar Cristo do Espírito Santo, tampouco podemos separar os sacramentos dos


carismas. Cristo e o Espírito Santo realizam a salvação na Igreja por meio dos
sacramentos e dos diversos carismas doados ao Povo de Deus.

Até agora fixamo-nos no fundamento trinitário da missão da Igreja, mas esta


também tem uma vertente antropológica: a Igreja se dirige ao homem sabendo
que somente Cristo revela o homem ao próprio homem (cfr. GS 22). O rosto
humano de Jesus Cristo é o projeto do Pai para todo ser humano. Todo ser
humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cfr. Gn 1,26-27), é chamado a
viver segundo a semelhança de Cristo, isto é, ser filho no Filho (cfr. Rm 8,29).

A missão da Igreja é uma só: ser sinal e instrumento da salvação que Cristo
realizou, isto é, a Igreja deve tornar Cristo acessível a todos os homens. Essa única
missão é realizada por cada um dos seus membros (leigos, ministros ordenados,
membros da vida consagrada) de acordo com a variedade de cada um deles e nas
mais diversas formas de evangelização, como, por exemplo, a catequese. Não
obstante, qualquer que seja a modalidade de tal evangelização, é muito
importante ter em conta as pessoas às quais nos dirigimos. A Igreja olha
constantemente ao ser humano procurando descobrir como ele se encontra, quais
as suas necessidades concretas e como anunciar-lhe Cristo, tendo em conta as
diversas mudanças que influenciam nos seus hábitos e costumes. A Igreja que se
dirige ao homem é mestra em humanidade e sabe muito bem o que convém ao
ser humano em cada momento. Cabe a cada cristão, em sua tarefa apostólica, e
mais concretamente na catequese, descobrir os anseios mais profundos das
pessoas às quais se dirige e encontrar novas maneiras de anunciar a verdade que
não muda.

O cristão, e em especial o catequista, não pode esquecer que o cristianismo se


pode definir como um encontro com a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré. A
verdade no cristianismo não é um argumento racional, mas uma pessoa (cf. Jo
14,6), portanto o anúncio da verdade tem que passar necessariamente a ser
encontro com Jesus Cristo. Essa dimensão de “encontro” no cristianismo é de
grande importância, já que depois do encontro com Cristo, as verdades
enunciadas no Símbolo da Fé ganham vida. Isso acontece porque o Espírito
Santo, “Senhor que dá a vida”, já está atualizando a obra salvífica de Cristo na
pessoa que com Ele (com Cristo) se encontrou.

Nós cremos no amor de Deus — deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua
vida. Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com
5

um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo
decisivo (BENTO XVI, Encíclica Deus caritas est, n. 1).

O que foi dito até agora sobre a vertente antropológica da missão da Igreja,
levará tanto o catequeta quanto o catequista a trabalhar de olho nas ciências
humanas que o ajudam a descobrir realidades próprias da cultura do momento
e que têm influência nos seus contemporâneos como a história, a psicologia e a
pedagogia.

2. Dimensão profética do mistério da Igreja

Cristo é sacerdote, profeta e rei. Essas três funções de Cristo (tria munera
Christi), unificadas pela sua mediação sacerdotal, encontram-se também na sua
Igreja. Ela é também um povo sacerdotal, profético e régio. Cada pessoa, ao fazer
parte da Igreja, Corpo místico de Cristo, participa também dessas três funções de
Cristo. Cada cristão é sacerdote, profeta e rei. Alguns o são tão somente pelo
sacramento do Batismo, por meio do qual passa-se a ser um fiel de Cristo. É o que
a Igreja chama sacerdócio comum dos batizados, que inclui também as dimensões
profética e régia. Outros membros do Povo de Deus, além do sacerdócio comum,
participam da missão de Cristo Cabeça por meio do sacerdócio ministerial. Nesse
nível, essencialmente distinto do anterior, também se encontram as funções
profética e régia. Os fiéis de Cristo, que participam da dimensão ministerial do
sacerdócio de Cristo, estão a serviço do sacerdócio comum dos demais batizados.

Do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica


190. Como [os leigos] participam na sua função profética?
[CCE 904-907; 942]
Participam nela acolhendo cada vez mais na fé a Palavra de Cristo e anunciando-a ao mundo com
o testemunho da vida e da palavra, a ação evangelizadora e a catequese. Esta ação evangelizadora
adquire uma particular eficácia pelo fato de ser realizada nas condições ordinárias da vida
secular.

Dentro da Teologia Catequética, interessa-nos sublinhar especialmente a


dimensão profética de Cristo e de sua Igreja. Afinal, a catequese nada mais é que
um determinado tipo de anúncio da fé. Este anúncio se realiza mediante os
profetas, isto é, as pessoas que entraram no Mistério de Cristo por meio da
Palavra e dos Sacramentos, viram e experimentaram a força do Mistério Pascal
6

em suas vidas e, com essa visão clara das coisas, procuram compartilhar com seus
irmãos as maravilhas contempladas em Deus1. Os catequistas exercem o múnus
profético e, devem, portanto, estar imbuídos da realidade de Deus em suas vidas.
Uma das coisas importantes no anúncio da fé na catequese é a vida espiritual dos
catequistas. Os catequistas devem ser testemunhas do que viram e ouviram (cfr.
At 4,20), testemunhas que sabem quanto vale a amizade com Cristo e a salvação
que Ele por nós realizou no seu mistério de morte e glorificação.

A verdadeira formação alimenta, sobretudo, a espiritualidade do próprio catequista, de maneira


que a sua ação nasça, na verdade, do testemunho de sua própria vida. Todo tema catequético que
transmite deve alimentar, em primeiro lugar, a fé do próprio catequista. Na verdade, catequizam
os demais, catequizando primeiramente a si mesmos (Diretório Geral da Catequese, 239).

3. Evangelização e catequese

A catequese se insere na missão evangelizadora da Igreja. Tal como


concebemos a catequese em nossos dias, ela deve inserir-se na dimensão da nova
evangelização, indicada e estimulada pelo Papa São João Paulo II. Ele tinha
utilizado pela primeira vez essa expressão na Polônia em 1979, pensando
especialmente no anúncio do Evangelho que devia ser feito na Europa.

Ali onde se levanta a cruz aparece o sinal de que já lá chegou a Boa Nova da salvação do homem
mediante o Amor. Ali onde se levanta a cruz, está o sinal de que teve início a evangelização. Outrora,
os nossos pais levantavam, em vários lugares da terra polaca, a cruz como sinal de que já ali tinha
chegado o Evangelho, que se tinha iniciado a evangelização, a qual devia continuar
ininterruptamente até hoje. Com este pensamento foi também levantada a primeira cruz em
Mogila, nas vizinhanças de Cracóvia, nas proximidades de Stara Huta.

A nova cruz de madeira foi erguida não longe daqui, precisamente durante as celebrações do
Milénio. Com ela recebemos um sinal, isto é que nas vésperas do novo milénio — nestes novos
tempos, nestas novas condições de vida — volta a ser anunciado o Evangelho. Iniciou uma nova
evangelização, quase como se se tratasse de um segundo anúncio, embora na realidade seja sempre
o mesmo. A cruz está erguida sobre o mundo que gira (JOÃO PAULO II, Homilia no Santuário da
Santa Cruz, Nowa Huta - Polônia, 9 de junho de 1979).

1Segundo o teólogo francês Jean Daniélou, o profeta é alguém que, pela graça de Deus, penetrou
nos desígnios de Deus e recebeu a missão de comunicá-los (cfr. DANIÉLOU Jean, Dieu et nous,
Grasset, Paris 1956, p. 103).
7

Posteriormente, utilizou-a também em diferentes documentos magisteriais,


como na Exortação apostólica Christifideles laici (n. 33). No Haiti, em 1983, João
Paulo II falou da evangelização “nova no seu ardor, nos seus métodos e na sua
expressão”. O que significa isso?

O ardor evangelizador diz respeito especialmente aos anunciadores do


Evangelho, às suas qualidades humanas e espirituais. Trata-se da coerência de
vida e da capacidade de saber propor a fé, respeitando a liberdade das pessoas,
sem fanatismos. As testemunhas do Evangelho precisam estar convencidas de
que somente Aquele que elas anunciam pode preencher todos os desejos de
felicidade que se encontram no coração de toda pessoa humana. Para isso, é
precisa uma vida de oração, de experiência com Deus, a tal ponto que cada
evangelizador se torne uma testemunha autêntica.

Com relação aos novos métodos, deve-se afirmar o seguinte: os projetos


pastorais serão novos em seus métodos se observarem especialmente o homem
ao qual se dirigem, se personalizarem a sua tarefa e fugirem da tendência de
uniformizar. Os métodos devem, portanto, respeitar a diversidade de vocações,
carismas, tarefas e ministérios na vida da Igreja; devem respeitar os diversos modos
de realizar a única missão da Igreja.

A nova expressão da evangelização implica duas coisas: fidelidade ao


conteúdo da mensagem salvadora e capacidade de adaptar-se à linguagem
hodierna. O Evangelho deve suscitar uma resposta que comprometa toda a
pessoa humana, em vista do surgimento de uma cultura impregnada de valores
cristãos. Primeiramente, o Evangelho vivifica a cultura, mas depois a cultura
oferece diversos elementos para que o Evangelho continue se expandindo2.

O Diretório Nacional para a Catequese coloca-se nesta linha:

Nossa realidade pede uma nova evangelização. A catequese coloca-se dentro desta perspectiva
evangelizadora, mostrando uma grande paixão pelo anúncio do Evangelho (DNC 29).

Para que possamos afirmar que uma pastoral catequética se encontra na linha
da nova evangelização, devemos detectar nela três elementos:

2 Sobre a nova evangelização, veja-se: PELLITERO Ramiro, Teología pastoral – Introducción a una
teología de la acción eclesial. Pro manuscrito. Pamplona 2003, p. 83-85.
8

1) O catequista deve ser uma testemunha de fé, atenta às necessidades reais


das pessoas e que lhes propõe o seguimento de Cristo, por suas palavras
e obras;
2) Os projetos pastorais de catequese não podem sufocar as iniciativas
pessoais. Os subsídios para a catequese devem ser utilizados para
fomentar a unidade na diversidade, respeitando a sadia variedade;
3) Fidelidade à doutrina da fé cristã e adaptação da linguagem aos ouvintes.

Ora, não há nenhuma oposição entre evangelização e catequese, mas a


catequese é uma parte da grande obra evangelizadora da Igreja.

A Evangelização é uma realidade rica, complexa, dinâmica, que compreende momentos


essenciais, e diferentes entre si (...): o primeiro momento é o anúncio de Jesus Cristo (Querigma);
a catequese, um desses “momentos essenciais” é o segundo, dando-lhe continuidade. Sua
finalidade é aprofundar e amadurecer a fé, educando o convertido para que se incorpore à
comunidade cristã. A catequese sempre pressupõe a primeira evangelização. Por sua vez à
catequese segue-se o terceiro momento: a ação pastoral para os fiéis já iniciados à fé, no seio da
comunidade cristã (DNC 33).

Mas há que ter em conta que tais momentos “não são etapas concluídas:
reiteram-se, se necessário, uma vez que darão o alimento evangélico mais
adequado ao crescimento espiritual de cada pessoa ou da própria comunidade”
(DGC 49).

4. Teologia Catequética: descrição, fontes e metodologia

A missão da catequese (katechéo = ensinar em alta voz) é fazer ressoar a


Palavra de Deus nos nossos dias (cfr. DNC 27). E a teologia catequética pode
definir-se como “a reflexão sistemática e científica sobre a catequese visando a
definir, compreender, orientar e valorizar o exercício desta importante ação
educativa pastoral”3.

Como se pode intuir, a fonte da qual mana a reflexão da teologia catequética


seja a própria atividade catequética da Igreja, iluminada pela Palavra de Deus à
luz da Tradição e segundo as orientações do Magistério da Igreja.

3SOTOMAYOR Emilio A., Catequética, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.),
Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 190.
9

Quanto à metodologia, valem essas palavras de Sotomayor:

Toda ciência é definida, ademais, pelo método utilizado em seu desenvolvimento.


Pois bem, o método da pesquisa catequética deve corresponder à variedade de
dimensões e aspectos que apresenta a catequese como processo e como ato. Daqui
pode-se coligir grande multiplicidade de métodos: técnica de conhecimento e de
análise da realidade (psicológicas, sociológicas, históricas); instrumentos
hermenêuticos de interpretação e discernimento (sobretudo teológico e filosófico);
métodos de projeção e organização catequética (metodologia pastoral, pedagógica,
didática); técnicas de expressão, de comunicação de interação, de animação de
grupo, etc.

Pode-se concluir, portanto, que a disciplina catequética se configura como um


saber necessariamente multidisciplinar, já que recorre à multiplicidade de
métodos e procedimentos científicos. Ainda mais: hoje considera-se necessário
orientar-se para uma autêntica interdisciplinariedade, com o intento de fazer
dialogar entre si e levar a uma recíproca interação os distintos processos
disciplinares implicados na reflexão catequética.4

5. História da catequese 5 6

Pequeno esquema histórico:

a) IDADE ANTIGA
- Hb 5,12-13: leite, alimento sólido.
- NT: “Didaskein” (95x) = ensinar; “katekein” (17x) = ressoar, instruir de viva voz.
Catequese é instrução, isto é, “a iniciação à vida de comunhão com Cristo”. O NT
não é o Catecismo da Igreja primitiva, mas nele há esquemas.
- Didaqué 1-6
- Carta a Barnabé 18-20
- Séc. III: catecumenato
* Roma: “Traditio apostolica” (Hipólito):

4SOTOMAYOR Emilio A., Catequética, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.),
Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 191.
5 RODRIGO Angel M., História da Catequese, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE
J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 564-73.
6NERY Israel J., História da Catequese no Brasil, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.;
SASTRE J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 573-85.
10

+ interrogatório;
+ duração do catecumenato: 3 anos dedicados à doutrina e à vida;
+ o catequista (clérigo ou leigo) orava pelos catecúmenos e lhes
impunha as mãos;
+ exame;
+ eleitos: preparação imediata:
- escuta do Evangelho;
- imposição das mãos;
- exorcismos;
- jejum na Sexta-Feira Santa e no sábado;
- batizados no domingo, recebiam também a
confirmação e a eucaristia.
- Até aqui, vemos uma grande seriedade nas exigências de conversão. Quem não
estava disposto a viver conforme o Evangelho, era dissuadido de seguir em
frente.
- Séc. IV: o cristianismo passa a ser uma religião lícita. As conversões são
numerosas. Na Páscoa, realizavam-se as chamadas “catequeses mistagógicas”,
nas quais se saboreavam os mistérios celebrados.
- Séc. VI: praticamente desapareceu o catecumenato. Começa o regime de
cristandade.

b) IDADE MÉDIA
- No regime de cristandade, o cristianismo é a religião oficial do Estado. Os
batismos acontecem em grande número. Desaparece até mesmo o termo
“catequese”. Aparece o “cathechismus” que significa “instituição catequizadora”,
não o livro, e com ele se designava o ensinamento anterior ao batismo conferido
às crianças.
- São Tomás de Aquino fala da “instructio” (cf. S.Th. III,71,4; 71,1,ad.2) e diz que
ela serve para converter à fé, trata sobre os fundamentos da fé para receber os
sacramentos e para alimentar a vida cristã; aplica-se também ao mistério
profundo da fé e da perfeição da vida cristã.

c) IDADE MODERNA (SÉC. XVI-XVIII)


- há ignorância e deterioração moral;
- também os adultos recebem catequese;
- catecismo: menores (crianças e jovens) e maiores (adultos);
- elaboração do Catecismo Romano.
11

d) ÉPOCA CONTEMPORÂNEA
- Necessidade de catequese, também os adultos, CIC 1917.
- A partir dos anos 1950, recuperou-se o catecumenato com a consciência de que
todo cristão necessita de catequese; de que ela deve abarcar não somente o ensino
da doutrina, mas todo a existência cristã (iniciação, instrução, educação); de que
ela deve ter duas atitudes: olhar os primeiros séculos do cristianismo e olhar o
catequizando e seu clima sociocultural.
- Os impulsos do Vaticano II.
- O Magistério de Paulo VI e o de João Paulo II.
- RICA: Ritual de Iniciação Cristã de Adultos.

6. Importância da Teologia Catequética

O Diretório Nacional de Catequese deixou registrada a importância dessa


disciplina com as seguintes palavras:

Em todos os institutos teológicos haja a disciplina “catequética” no currículo, estimulando os


participantes a um aprofundamento continuado na teoria e na prática, da educação da fé do povo.
É aconselhável que os seminaristas participem das escolas catequéticas junto com catequistas
(DNC, 288).

O mesmo documento afirma que a formação catequética deve alcançar os


seguintes fins (DNC, 287):
a) Suscitar, animar e acompanhar as vocações próprias para o serviço
catequético;
b) Motivar as comunidades cristãs para o crescimento da fé;
c) Cuidar da formação humana, bíblica, litúrgica e moral dos catequistas;
d) Suscitar um amadurecimento da fé entre catequistas, catequizandos e
famílias;
e) Integrar a ação catequética com as demais pastorais;
f) Garantir a conexão entre a catequese e a comunidade, por meio dos
projetos pastorais diocesanos e paroquiais;
g) Cultivar nos catequistas uma espiritualidade do seguimento de Jesus
Cristo e o espírito de pertença à comunidade eclesial.
12

Bem cedo se chamou catequese ao conjunto de esforços empreendidos na Igreja


para fazer discípulos, para ajudar os homens a acreditar que Jesus é o Filho de
Deus, a fim de, pela fé, terem a vida em seu nome, e para os educar e instruir
nessa vida, construindo assim o Corpo de Cristo.
«A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, que
compreende especialmente o ensino da doutrina cristã, ministrado em geral dum
modo orgânico e sistemático, em ordem à iniciação na plenitude da vida cristã».
Sem se confundir com eles, a catequese articula-se com um certo número de
elementos da missão pastoral da Igreja que têm um aspecto catequético,
preparam para a catequese ou dela derivam: o primeiro anúncio do Evangelho
ou pregação missionária, para suscitar a fé; a busca das razões de acreditar; a
experiência da vida cristã; a celebração dos sacramentos; a integração na
comunidade eclesial; o testemunho apostólico e missionário.
«A catequese está intimamente ligada a toda a vida da Igreja. Dependem
essencialmente dela não só a expansão geográfica e o crescimento numérico, mas
também, e muito mais ainda, o crescimento interior da Igreja e a sua
conformidade com o desígnio de Deus».
Os períodos de renovação da Igreja são também tempos fortes de catequese.
Assim, na grande época dos Padres da Igreja, vemos santos bispos consagrarem
parte importante do seu ministério à catequese, como por exemplo São Cirilo de
Jerusalém, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho e tantos
outros Padres, cujas obras catequéticas continuam a ser modelo.

(Catecismo da Igreja Católica, n. 4-8)


13

II. MENSAGEM DO EVANGELHO

1. Depósito da fé e transmissão da fé

O Papa São João XXIII, na abertura do Concílio Vaticano II, deixou bem clara
a diferença entre o depósito da fé e a evangelização de acordo com os nossos
tempos. Será interessante reler as palavras do Papa Roncalli:

V. FIM PRINCIPAL DO CONCÍLIO: DEFESA E DIFUSÃO DA DOUTRINA

1. O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina
cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz.
2. Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós, peregrinos nesta
terra, manda-nos tender para a pátria celeste.
3. Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que cumpramos os nossos
deveres de cidadãos da terra e do céu, e consigamos deste modo o fim estabelecido por Deus.
Quer dizer que todos os homens, tanto individualmente quanto reunidos em sociedade, têm o
dever de tender, sem descanso e durante toda a vida, para a consecução dos bens celestiais, e de
usar só para este fim os bens terrenos sem que seu uso prejudique a eterna felicidade.
4. O Senhor disse: « Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça » (Mt 6, 33). Esta palavra
«primeiro» exprime, antes de mais, em que direção devem mover-se os nossos pensamentos e as
nossas forças; não devemos esquecer, porém, as outras palavras desta exortação do Senhor, isto
é: «e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33). Na realidade, sempre existiram
e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com todas as forças praticar a perfeição
evangélica, não se esquecem de ser úteis à sociedade. De fato, do seu exemplo de vida,
constantemente praticado, e das suas iniciativas de caridade, toma vigor e incremento o que há
de mais alto e mais nobre na sociedade humana.
5. Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana, que se referem aos
indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do
patrimônio sagrado da verdade, recebido dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também
olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno,
que abriram novos caminhos ao apostolado católico.
6. Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso das descobertas do
gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo esses progressos, não deixa de
avisar os homens para que, bem acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte
de toda a sabedoria e beleza; e eles, aos quais foi dito: «Submetei a terra e dominai-a» (Gn 1, 28),
não esqueçam o mandamento gravíssimo: «Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás» (Mt
4, 10; Lc 4, 8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas visíveis impeça o
verdadeiro progresso.
14

VI. COMO DEVE SER PROMOVIDA A DOUTRINA

1. Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do Concílio quanto à
doutrina.
2. O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante soma de experiências
jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer transmitir pura e íntegra a doutrina, sem
atenuações nem subterfúgios, que por vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se
tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo,
riqueza sempre ao dispor dos homens de boa vontade.
3. É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos preocupássemos unicamente
da antiguidade, mas também dedicar-nos com vontade pronta e sem temor àquele trabalho hoje
exigido, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos.
4. A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da
doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos
antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito.
5. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranquila adesão
a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares
desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera
um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta
doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma
a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do « depositum fidei », isto é,
as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas,
conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e alcance. Será preciso atribuir muita importância
a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira
de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente
pastoral7.

No espírito do que disse o Vaticano II, o catequista procurará – por meio de


todos os meios possíveis – aproximar seus catequizandos à Palavra de Deus. Sem
dúvida, uma das realidades a ter em conta será a diversidade das culturas. Neste
sentido, o DGC (nº 203) fala das tarefas de uma catequese para a inculturação da
fé:
• Conhecer a cultura das pessoas de maneira profunda;
• Reconhecer a dimensão cultural presente no próprio Evangelho que, sem
nascer de um húmus cultural, não pode ser isolado da cultura da sua
época;
• Anunciar que o Evangelho transforma e regenera as culturas;

7 JOÃO XXIII, Discurso de abertura do Concílio Vaticano II: www.vatican.va/content/john-


xxiii/pt/speeches/1962/documents/hf_j-xxiii_spe_19621011_opening-council.html (Acesso em
13/02/2023).
15

• Testemunhar a transcendência do Evangelho e reconhecer os germes


evangélicos presentes nas mais diversas culturas;
• Promover novas expressões do Evangelho de sempre que estejam de
acordo com uma cultura evangelizada;
• Evangelizar, na fidelidade aos conteúdos da fé da Igreja, tendo em conta a
situação cultural e histórica na qual se move.

Ao aproximá-los da Palavra de Deus, não se deve preocupar somente com a


dimensão intelectual, mas com todas as dimensões da pessoa e procurar envolvê-
los de tal maneira que compreendam que “são” cristãos, isto é, filhos de Deus em
Cristo. Diz o DGC 53: “Ao anunciar ao mundo a Boa-Nova da Revelação, a
evangelização convida homens e mulheres à conversão e à fé. (...) A fé cristã é,
antes de mais nada, conversão a Jesus Cristo, adesão plena e sincera à sua pessoa,
e decisão de caminhar na sua sequela. A fé é um encontro pessoal com Jesus
Cristo, é tornar-se seu discípulo”.

CONVERTEI-VOS E CREDE NO EVANGELHO


De conversão, fala-se em três momentos ou contextos diversos do Novo
Testamento. Cada vez, vem à luz um novo componente dele. Juntas, as três
passagens nos dão uma ideia completa sobre o que é a metánoia evangélica. Não
está dito que devemos experimentá-las todas as três juntas, com a mesma
intensidade. Há uma conversão para cada fase da vida. O importante é que cada
um de nós descubra a que serve para si neste momento.

Convertei-vos, isto é, crede!


A primeira conversão é aquela que ressoa no início da pregação de Jesus e que
está resumida nas palavras: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Procuremos entender o que significa aqui a palavra conversão. Antes de Jesus,
converter-se significava sempre um “voltar atrás” (o termo hebraico, shub,
significa inverter a rota, voltar nos próprios passos). Indicava o ato de quem, a
um certo ponto da vida, percebe estar “fora do rumo”. Então se detém,
reconsidera; decide voltar à observância da lei e à aliança com Deus. A conversão,
neste caso, tem um significado fundamentalmente moral e sugere a ideia de algo
penoso a se cumprir: mudar costumes, deixar de fazer isso ou aquilo...
Nos lábios de Jesus, esse significado se transforma. Não porque Ele se divirta em
mudar os significados das palavras, mas porque, com sua vinda, mudaram as
coisas. “Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus!”. Converter-se não
16

significa mais voltar atrás, à antiga aliança e à observância da lei, mas significa dar
um salto adiante e entrar no Reino, abraçar a salvação que veio aos homens
gratuitamente, por livre e soberana iniciativa de Deus.
“Convertei-vos e crede” não significam duas coisas diversas e sucessivas, mas a
mesma ação fundamental: convertei-vos, isto é, crede! «Prima conversio fit per
fidem», escreveu S. Tomás de Aquino: a primeira conversão consiste em crer (cf.
S.Th, I-IIae, q. 113, a. 4). Tudo isso requer uma verdadeira “conversão”, uma
mudança profunda no modo de conceber as nossas relações com Deus. Exige
passar da ideia de um Deus que pede, que ordena, que ameaça, à ideia de um
Deus que vem com as mãos cheias para se entregar totalmente a nós. É a
conversão da “lei” à “graça”, tão querida a São Paulo.

“Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças...”


Escutemos agora a segunda passagem em que, no Evangelho, volta a se falar de
conversão: “Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e
perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos Céus?’ Jesus chamou uma criança,
colocou-a no meio deles e disse: ‘Em verdade vos digo, se não vos converterdes
e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus’” (Mt 18,1-
3).
Esta vez, sim: converter-se significa voltar atrás, até mesmo à época em que se
era criança! O próprio verbo usado, strefo, indica inversão de direção, de rota.
Essa é a conversão de quem já entrou no Reino, acreditou no evangelho, já está
há tempos no serviço de Cristo. É a nossa conversão!
O que supõe a discussão sobre quem é o maior? Supõe que a preocupação maior
não é mais o Reino, mas o próprio lugar nele, o próprio eu. Cada um deles tinha
algum título para aspirar a ser o maior: Pedro tinha recebido a promessa do
primado; Judas, a caixa; Mateus podia dizer que tinha deixado mais do que os
outros; André, que tinha sido o primeiro a segui-lo; Tiago e João, que estiveram
com ele no Tabor... Os frutos desta situação são evidentes: rivalidades, suspeitas,
confrontos, frustração.
Jesus, de imediato, tira o véu. Deste modo, nem como primeiros, entra-se no
reino! O remédio? Converter-se, mudar completamente perspectiva e direção.
Jesus propõe uma verdadeira revolução copernicana. É preciso “descentralizar-
se de si mesmo e recentralizar-se em Cristo”.
Jesus fala mais simples: tornar-se criança. Tornar-se criança, para os apóstolos,
significava voltar a como eram no momento do chamado às margens do lago ou
no posto de arrecadação: sem pretensões, sem títulos, sem confrontos entre si,
17

sem invejas, sem rivalidades. Ricos apenas de uma promessa (“Farei de vós
pescadores de homens”) e de uma presença, a de Jesus; voltar a quando eram
ainda companheiros de aventura, não concorrentes pelo primeiro lugar. Também
para nós, tornar-se criança significa voltar ao momento em que descobrimos
sermos chamados, ao momento da ordenação sacerdotal, da profissão religiosa,
ou do primeiro verdadeiro encontro pessoal com Jesus. Quando dizíamos: “Só
Deus basta!”, e acreditávamos.

“Não és frio, nem quente”


O terceiro contexto, em que recorre insistentemente o convite à conversão, é dado
pelas sete cartas às Igrejas do Apocalipse. As sete cartas são dirigidas a pessoas e
comunidades que, como nós, vivem há tempos a vida cristã e, ainda mais,
exercem nelas um papel de guia. São endereçadas ao anjo das diversas Igrejas:
“Ao anjo da igreja que está em Éfeso”. Não se explica este título senão em
referência, direta ou indireta, ao pastor da comunidade. Não se pode pensar que
o Espírito Santo atribua a anjos a responsabilidade das culpas e desvios que são
denunciados nas diversas igrejas, muito menos que o convite à conversão seja
dirigido a anjos em vez de a homens.
Das sete cartas do Apocalipse, a que deve nos fazer refletir mais do que as outras
é a carta à Igreja de Laodiceia. Conhecemos seu tom severo: “Conheço as tuas
obras. Não és frio, nem quente... porque és morno, nem frio nem quente, estou
para vomitar-te de minha boca... Sê zeloso e arrepende-te” (Ap 3,15ss). Aqui,
trata-se da conversão da mediocridade e da tibieza.
Na história da santidade cristã, o exemplo mais famoso da primeira conversão,
do pecado à graça, é Santo Agostinho; o exemplo mais instrutivo da segunda
conversão, da tibieza ao fervor, é Santa Teresa d’Ávila. O que ela diz de si em
seu Livro da Vida é certamente exagerado e ditado pela delicadeza da sua
consciência, mas, em todo caso, pode servir a todos nós para um útil exame de
consciência.
“Comecei, pois, assim, de passatempo em passatempo, de vaidade em vaidade, de ocasião em
ocasião, a pôr novamente em risco a minha alma [...]. As coisas de Deus me davam prazer, e eu
não sabia desvencilhar-me daquelas do mundo. Queria conciliar estes dois inimigos entre si e tão
contrários: a vida do espírito com os justos e os passatempos dos sentidos”.
O resultado deste estado era uma profunda infelicidade:
“Caía e me reerguia, e me reerguia tão mal que voltava a cair. Eu estava tão por baixo em relação
à perfeição, que quase não me dava conta dos pecados veniais, e não temia os mortais como
deveria, pois não fugia de seus perigos. Posso dizer que a minha vida era das mais penosas que
se possam imaginar, pois eu não me deleitava nem com Deus, nem me sentia contente com o
mundo. Quando estava nos passatempos mundanos, o pensamento daquilo que eu devia a Deus
18

me fazia transcorrê-los com pena; e quando estava com Deus, vinham-me distrair os afetos do
mundo” (cf. Teresa d’Ávila, Livro da Vida, cc. 7-8).
Muitos poderiam descobrir nesta análise o real motivo da própria insatisfação e
descontentamento.8

2. Kerigma-Catequese-Teologia

Depois do primeiro anúncio (kerigma), tem lugar a catequese como período


formativo em vista do aprofundamento da fé. “Na prática pastoral, todavia, as
fronteiras entre as duas ações não são facilmente delimitáveis. Frequentemente,
as pessoas que acedem à catequese, necessitam, de fato, de uma verdadeira
conversão. Por isso, a Igreja deseja que, ordinariamente, uma primeira etapa do
processo catequético seja dedicada a garantir a conversão” (DGC, 62). Essa etapa
que visa a conversão do catequizando é conhecida também como “catequese
kerigmática”9.
A catequese kerigmática sublinha os seguintes aspectos da mensagem de
Jesus (cf. DGC, 102):
- Deus é Pai e ama a todos os seres humanos;
- o amor de Deus é operativo: atua em favor dos homens em Jesus Cristo,
único Salvador da humanidade;
- o ser humano responde afirmativamente aos apelos de Deus por meio da fé
e, consequentemente, da conversão;
- Jesus Cristo é o Senhor que, em sua própria Pessoa, já inaugurou o Reino de
Deus, que será consumado na sua segunda vinda;
- a vida de fé e de conversão deve-se viver na Igreja, comunidade de todos os
discípulos de Jesus;
- a nossa história tem um fim último: a vida eterna, a felicidade, Deus mesmo.
Encontramo-nos em “peregrinação rumo à casa do Pai” (DGC, 102).

8 CANTALAMESSA Raniero, Primeira Pregação de Quaresma, Vaticano 2021.


9“A partir da década de 1950, grandes pastoralistas, sobretudo franceses (A. Rétif, P. A. Liégé, A.
M. Henry), têm a consciência aguda de se encontrarem diante de novas situações que exigem
respostas de estilo missionário (...). Liégé sugere um tipo de catequese que nunca se separa da
primeira evangelização (...). A renovação catequética europeia, que se iniciou com a chamada
catequese querigmática, suscita a aproximação do mundo das missões à catequese (...). O conceito de
missão começa a se modificar e não fica restrito a certos âmbitos geográficos” (GUTIÉRREZ M.,
Catequese de caráter missionário, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª; LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.),
Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 146).
19

Num contexto de nova evangelização, postula-se “que as duas ações, o


anúncio missionário e a catequese de iniciação, sejam concebidas de forma
coordenada e oferecidas, na Igreja particular, mediante um projeto evangelizador
missionário e catecumenal unitário. A catequese deve ser vista, hoje, antes de mais
nada, como a consequência de um anúncio missionário eficaz. O ensinamento do
decreto conciliar Ad Gentes, que coloca o catecumenato no contexto da ação
missionária da Igreja, é um critério de referência muito válido para a catequese”
(DGC, 277).
Contemplada a catequese querigmática e a de iniciação cristã, existe
também a chamada “catequese permanente”, como pode ser a lectio divina, o
estudo da Doutrina Social da Igreja, a catequese litúrgica. Entre essas formas,
encontra-se o estudo da teologia ou “catequese de aperfeiçoamento” ”(cf. DGC,
72).

3. Fé professada, celebrada, vivida

O Catecismo da Igreja Católica, publicado em 1992, pretende prestar um


serviço à transmissão da fé, especialmente na catequese, que “encontrará nesta
exposição genuína e sistemática da fé e da doutrina católica um caminho
plenamente seguro para apresentar o anúncio cristão, com renovado fervor, em
todas e em cada uma de suas partes, aos homens do nosso tempo”10.
Segundo o Catecismo, a fé é professada (primeira parte: profissão de fé),
celebrada (segunda parte: a celebração do Mistério Cristão), vivida (terceira
parte: a vida em Cristo) e feita oração pessoal (quarta parte: a oração cristã). Para
melhor entender essa obra a serviço da fé, a Constituição Apostólica “Fidei
Depositum” com a qual se publicou o Catecismo, é grandiloquente por si mesma:

INTRODUÇÃO

GUARDAR O DEPÓSITO DA FÉ é a missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre
em todos os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, aberto há trinta anos por meu predecessor
João XXIII, de feliz memória, tinha como intenção e como finalidade pôr em evidência a missão
apostólica e pastoral da Igreja e, fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os
homens a procurar e acolher o amor de Cristo, que excede toda a ciência (cf. Ef 3,19).

10 JOÃO PAULO II, Carta apostólica Laetamur magnopere, 15 de agosto de 1997.


20

Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e apresentar melhor
o precioso depósito da doutrina cristã, para o tomar mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os
homens de boa vontade. Portanto, o Concílio não devia, em primeiro lugar, condenar os erros da
época, mas sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da fé.
"Iluminada pela luz deste Concílio dizia o Papa a Igreja... crescerá em riquezas espirituais...e,
recebendo a força de novas energias, olhar intrépida para o futuro... E nosso dever... dedicar-nos,
com vontade pronta e sem temor, àquele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim
o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos."'

Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um
conjunto considerável de exposições doutrinais e de diretrizes pastorais oferecidas a toda a Igreja.
Pastores e fiéis encontram ali orientações para aquela "renovação de pensamentos, de atividades,
de costumes e de força moral, de alegria e de esperança, que foi o objetivo do Concílio".

Depois de sua conclusão, o Concílio não deixou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude
afirmar: "Para mim que tive a graça especial de nele participar e colaborar ativamente em seu
desenvolvimento o Vaticano II foi sempre, e é de modo particular nestes anos de meu Pontificado,
o constante ponto de referência de toda a minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir
suas diretrizes em aplicação concreta e fiel, no âmbito de cada Igreja e da Igreja inteira. E preciso
incessantemente recomeçar daquela fonte".

Neste espírito, em 25 de janeiro de 1985, convoquei uma Assembleia Extraordinária do Sínodo


dos Bispos, por ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do Concílio. A finalidade dessa
Assembleia era celebrar as graças e os frutos espirituais do Concílio Vaticano II, aprofundar seu
ensinamento para aderir melhor a ele e promover seu conhecimento e sua aplicação.

Nessa ocasião, os Padres sinodais manifestaram o desejo "de que seja composto um Catecismo
ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que seja
como um texto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados
nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao
mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada à vida atual dos cristãos". Depois do encerramento do
Sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele "corresponde à verdadeira necessidade da
Igreja universal e das Igrejas particulares".

Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer
a toda a Igreja, com o título de Catecismo da Igreja Católica, este "texto de referência" para uma
catequese renovada nas fontes vivas da fé?

Depois da renovação da Liturgia e da nova codificação do Direito Canônico da Igreja Latina e dos
cânones das Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um contributo muito importante
àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Concílio Vaticano II.

ITINERÁRIO E ESPÍRITO DA REDAÇÃO DO TEXTO

O Catecismo da Igreja Católica é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos
de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.
21

Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal
Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do
Sínodo. Uma Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e
em catequese, coadjuvou a Comissão em seu trabalho.

A Comissão, encarregada de dar as diretrizes e de vigiar o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu


atentamente todas as etapas da redação das nove sucessivas composições. A Comissão de
redação, por seu lado, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e inserir nele as
modificações pedidas pela Comissão e de examinar as observações de numerosos teólogos,
exegetas e catequistas, e sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A
Comissão foi sede de intercâmbios frutuosos e enriquecedores para assegurar a unidade e a
homogeneidade do texto.

O projeto tornou-se objeto de vasta consulta de todos os Bispos católicos, de suas Conferências
Episcopais ou de seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética. Em seu conjunto, ele
teve um acolhimento amplamente favorável da parte do Episcopado. E justo afirmar que este
Catecismo é fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu
com generosidade meu convite a assumir a própria parte de responsabilidade numa iniciativa
que diz respeito, intimamente, à vida eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo
sentimento de alegria, porque o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que
se pode chamar a "sinfonia" da fé. A realização deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza
colegial do Episcopado: e testemunha a catolicidade da Igreja.

DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA

Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada


Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual
dos Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e
reavivar a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso
dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja. E também necessário que ajude a iluminar, com a
luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda não tinham surgido no passado.

O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma
e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas.

Para responder a esta dupla exigência, o Catecismo da Igreja Católica por um lado retoma a
"antiga" ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em
quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão,
exposto a partir dos mandamentos; e, por fim, a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo
é com frequência expresso de modo "novo", para responder às interrogações de nossa época.

As quatro partes estão ligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé (primeira parte); é
celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte); está presente para iluminar e
amparar os filhos de Deus em seu agir (terceira parte); fundamenta nossa oração, cuja expressão
privilegiada é o "Pai-Nosso", e constitui o objeto de nossa súplica, de nosso louvor e de nossa
intercessão (quarta parte).
22

A Liturgia é ela própria oração; a confissão da fé encontra seu justo lugar na celebração do culto.
A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação
na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, está morta (cf. Tg 2,14-16) e
não pode dar frutos de vida eterna.

Lendo o Catecismo da Igreja Católica, pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus,
de seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus,
enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo,
para ser nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele está sempre presente em sua Igreja,
particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre de nossa
oração.

VALOR DOUTRINAL DO TEXTO

O Catecismo da Igreja Católica, que aprovei no passado dia 25 de o junho e cuja publicação hoje
ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina
católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo
Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão
eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito
Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem
sombras do Reino!

A aprovação e a publicação do Catecismo da Igreja Católica constituem um serviço que o Sucessor


de Pedro quer prestar á Santa Igreja Católica, a todas as Igrejas particulares em paz e em
comunhão com a Sé a Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a fé de todos os,
discípulos do Senhor Jesus (cf. Lc 22,32), como também de reforçar os laços da unidade na mesma
fé apostólica.

Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de
comunhão e que o usem assiduamente ao cumprir sua missão de anunciar a fé e de convocar para
a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva de texto de referência, seguro e
autêntico, para o ensino da doutrina católica e, de modo muito particular, para a elaboração dos
catecismos locais. E também e oferecido a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento
das riquezas inexauríveis da salvação (cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos
animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo
e a harmoniosa coerência da fé católica. O Catecismo da Igreja Católica, por fim, é oferecido a
todo o homem que nos pergunte a razão de nossa esperança (cf. lPd 3,15) e queira conhecer aquilo
em que a Igreja Católica crê.

Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos locais devidamente aprovados pelas
autoridades eclesiásticas, os Bispos diocesanos e as Conferências Episcopais, sobretudo se
receberam a aprovação da Sé Apostólica. Destina-se a encorajar e ajudar a redação de novos
catecismos locais, que tenham em conta as diversas situações e culturas, as que conservem
cuidadosamente a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica.

CONCLUSÃO
23

No final deste documento que apresenta o Catecismo da Igreja Católica, peço à Santíssima
Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com sua poderosa
intercessão o empenho catequético da Igreja inteira em todos os níveis, nestes tempos em que ela
é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira fé libertar a
humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para conduzi-la à única liberdade digna
deste nome (cf. JO 8,32): a da vida em Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no Reino
dos Céus, na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf. 1 Cor 13,12; 2Cor
5,6-8)!

Dado no dia 11 de outubro de 1992, trigésimo aniversário da abertura do Concílio Ecumênico


Vaticano II, décimo quarto ano de meu pontificado.

JOÃO PAULO II

4. Evangelização e Sacramentos da Iniciação Cristã

A vida sacramental pressupõe pessoas evangelizadas. Nem sempre é assim!


Contudo, ao menos a evangelização básica faz-se necessária. Essa questão é
matéria de uma preocupação constante da Igreja. É facilmente constatável: no
Brasil (e não só), há muitas pessoas que receberam os sacramentos, mas não estão
evangelizadas. O Catecismo da Igreja Católica (n. 1122) nos ajuda a compreender
essa realidade de maneira bastante clara:

“Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as nações o
arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem
discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A missão de
batizar, portanto, a missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o
sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento a esta Palavra:

“O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A proclamação da Palavra é
indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra” (PO
4)”.

5. Finalidade e tarefas da catequese 11

11Cf. ZUGAZAGA MARTIKORENA L., Finalidade da Catequese, em: PEDROSA V. Mª; NAVARRO Mª;
LÁZARO R.; SASTRE J. (dir.), Dicionário de Catequética, Paulus, São Paulo 2004, p. 515-523.
24

DGC, 80-81: Finalidade da Catequese - a comunhão com Jesus Cristo

80. « A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em
contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo ».

Toda a ação evangelizadora tem o objetivo de favorecer a comunhão com Jesus Cristo. A partir
da conversão « inicial » de uma pessoa ao Senhor, suscitada pelo Espírito Santo, mediante o
primeiro anúncio, a catequese se propõe dar um fundamento e fazer amadurecer esta primeira
adesão. Trata-se, então, de ajudar aquele que acaba de ser converter a « ...melhor conhecer o
mesmo Jesus Cristo ao qual se entregou: conhecer o seu « mistério », o Reino de Deus que Ele
anunciou, as exigências e as promessas contidas na Sua mensagem evangélica e os caminhos que
Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir ». O Batismo, sacramento mediante o qual «
configuramo-nos com Cristo », sustenta, com a sua graça, esta obra da catequese.

81. A comunhão com Jesus Cristo, por sua própria dinâmica, impulsiona o discípulo a se unir
com tudo aquilo com que o próprio Jesus Cristo sentiu-se profundamente unido: com Deus, seu
Pai, que o enviara ao mundo, e com o Espírito Santo, que lhe dava impulso para a missão; com a
Igreja, seu corpo, pela qual se doou, e com os homens, seus irmãos, cuja sorte quis compartilhar.

DGC, 85: Tarefas fundamentais da Catequese

– Favorecer o conhecimento da fé

Aquele que encontrou Cristo deseja conhecê-Lo o mais possível, assim como deseja conhecer o
desígnio do Pai, que Ele revelou. O conhecimento da fé (fides quae) é exigência da adesão à fé (fides
qua). Já na ordem humana, o amor por uma pessoa leva a desejar conhecê-la sempre mais. A
catequese deve levar, portanto, a « compreender progressivamente toda a verdade do projeto
divino », (253) introduzindo os discípulos de Jesus Cristo no conhecimento da Tradição e da
Escritura, a qual é a « eminente ciência de Jesus Cristo » (Fil 3,8).

O aprofundamento no conhecimento da fé ilumina cristãmente a existência humana, alimenta a


vida de fé e habilita também a prestar razão dela no mundo. A entrega do símbolo, compêndio da
Escritura e da fé da Igreja, exprime a realização desta tarefa.

– A educação litúrgica

De fato, « Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas ». A
comunhão com Jesus Cristo leva a celebrar a sua presença salvífica nos sacramentos e,
particularmente, na Eucaristia. A Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis cristãos sejam
levados àquela participação plena, consciente e ativa, que exigem a própria natureza da Liturgia
e a dignidade do seu sacerdócio batismal. Por isso, a catequese, além de favorecer o conhecimento
do significado da liturgia e dos sacramentos, deve educar os discípulos de Jesus Cristo « à oração,
à gratidão, à penitência, à solicitação confiante, ao sentido comunitário, à linguagem simbólica...
», uma vez que tudo isso é necessário, a fim de que exista uma verdadeira vida litúrgica.

– A formação moral

A conversão a Jesus Cristo implica o caminhar no seu seguimento. A catequese deve, portanto,
transmitir aos discípulos as atitudes próprias do Mestre. Eles empreendem assim, um caminho
de transformação interior, no qual, participando do mistério pascal do Senhor, « passam do velho
para o novo homem aperfeiçoado em Cristo ». O Sermão da Montanha, no qual Jesus retoma o
25

Decálogo e o imprime com o espírito das bem-aventuranças, é uma referência indispensável na


formação moral, hoje tão necessária. A evangelização, « que comporta também o anúncio e a
proposta moral », difunde toda a sua força interpeladora quando, juntamente com a palavra
anunciada, sabe oferecer também a palavra vivida. Esse testemunho moral, para o qual a
catequese prepara, deve saber mostrar as consequências sociais das exigências evangélicas.

– Ensinar a rezar

A comunhão com Jesus Cristo conduz os discípulos a assumirem a atitude orante e contemplativa
que adotou o Mestre. Aprender a rezar com Jesus é rezar com os mesmos sentimentos com os
quais Ele se dirigia ao Pai: a adoração, o louvor, o agradecimento, a confiança filial, a súplica e a
contemplação da sua glória. Estes sentimentos se refletem no Pai Nosso, a oração que Jesus
ensinou aos discípulos e que é modelo de toda oração cristã. A «entrega do Pai Nosso », resumo de
todo o Evangelho, é, portanto, verdadeira expressão da realização desta tarefa. Quando a
catequese é permeada por um clima de oração, o aprendizado de toda a vida cristã alcança a sua
profundidade. Este clima se faz particularmente necessário quando o catecúmeno e os
catequizandos encontram-se diante dos aspectos mais exigentes do Evangelho e se sentem fracos,
ou quando descobrem, admirados, a ação de Deus na sua vida.
27

II. PEDAGOGIA E METODOLOGIA CATEQUÉTICA

1. Pedagogia de Deus

Talvez Irineu de Lião seja o Padre da Igreja que mais tenha falado sobre a
pedagogia divina. Segundo essa pedagogia, Deus habitua o homem a acostumar-
se com Ele12. Deus age de maneira semelhante nas diversas fases da história da
salvação fazendo, dessa maneira, com que o homem se acostume à sua maneira
de atuar. Então, o homem se habitua a Deus e Deus “acostuma-se” a habitar entre
os homens. A consideração dos “costumes de Deus” deve ser feita, portanto, bem
unida à questão dos costumes dos homens.

Irineu de Lião teve que combater uma heresia muito perigosa, o


gnosticismo13. Fê-lo no seu Adversus haereses. Segundo o gnosticismo, a criação
teria sido feita por um demiurgo, uma espécie de deus intermediário, nem bom
nem mal, mas que pode ser chamado de justo. Tal demiurgo seria o deus do
Antigo Testamento; o Salvador, ao contrário, não somente é justo, é também bom.
Ou seja, os gnósticos apresentavam o Deus bom do Novo Testamento como uma
realidade oposta ao que eles chamavam “demiurgo” do Antigo Testamento14.
Eles interpretavam os dados da Sagrada Escritura fora da fé. Irineu, ao contrário,
interpretava a Escritura, imbuído da Tradição viva. O Doutor da Unidade15 falava

12«Verbum Dei quod habitauit in homine et filius hominis factus est, ut adsuesceret hominem percipere
Deum et adsuesceret Deum habitare in homine secundum placitum Patris [O Verbo de Deus que habitou
no homem e se tornou Filho do homem a fim de acostumar o homem a perceber a Deus e
acostumar a Deus a habitar no homem, conforme o agrado do Pai]» (IRINEU DE LIÃO, Contre les
hérésies, III, 20, 2, SC 211, Cerf, Paris 1974, p. 392).
13 Sobre as controvérsias gnósticas e antimarcionitas, afimava Jean Daniélou: «A l’occasion de ces
controverses, les auteurs chrétiens sont amenés à définir l’attitude de l’Église à l’égard de la Loi ancienne
et à poser les fondements à la fois de l’exégèse et de la théologie chrétienne de l’histoire. C’est la gloire
d’Irénée d’avoir dégagé le premier dans toute sa rigueur cette théologie [No decurso destas
controvérsias, os autores cristãos foram levados a definir a atitude da Igreja em relação à Lei
Antiga e a lançar as bases tanto da exegese como da teologia cristã da história. É a glória de Ireneu
ter sido ele o primeiro a expor esta teologia em todo o seu rigor]» (DANIELOU J., Saint Irénée et les
origines de la théologie de l’histoire, « Recherches de Science Religieuse » 34 [1947], p. 228).
14Cfr. DANIELOU J., Message évangélique et culture hellénistique, Desclée et Cie, Paris-Tournai 1961,
p. 205.
15O Papa Francisco declarou Santo Irineu de Lião como Doutor da Igreja, em 21 de janeiro de
2022, atribuindo-lhe o título de Doctor unitatis (Doutor da Unidade):
28

do poder da tradição manifesta, por exemplo, no fato de ela não mudar em meio
a tantas línguas diferentes16.

Em relação à pedagogia divina, Irineu afirma que Deus foi acostumando


pouco a pouco o homem às realidades divinas. Há, portanto, uma educação do
povo no Antigo Testamento: o Verbo educava o Povo para que, no meio daquele
Povo, Ele viesse a ser recebido no futuro17. Segundo o Bispo de Lião, Deus
educava o seu Povo para que acolhesse a Nova Aliança no Sangue de Jesus. Nesse
sentido, pode-se afirmar que o que Cristo realizou já estava anunciado pelos
profetas. A atuação do único Deus forma um plano único de salvação que se foi
realizando pouco a pouco: tal plano tem começo, meio e fim.18

No plano de Deus há um progresso segundo o qual uma etapa sucede-se


à outra e cada momento contém uma continuidade – o mesmo Deus, o mesmo
projeto – e uma descontinuidade, já que em cada etapa acontece uma maior
abundância de graça e universalidade.19 O conceito de progresso, em Irineu,
encontra-se, portanto, muito unido ao de pedagogia divina, à educação pela qual
Deus ensinava o seu povo mediante os sacramenta [sacramentos], que são
manifestações do Verbo como figuras do que será realizado ao seu tempo. Na
linha das manifestações figurativas (sacramentais), são de especial importância
narrações bíblicas como a arca de Noé, a passagem do mar vermelho, a Lei dada
a Moisés e a entrada na terra prometida20.

Progresso e pedagogia marcam a grande variedade que existe no único


plano salvífico de Deus.21 A pedagogia divina chega ao seu momento mais alto
em Cristo, que realiza em si a recapitulação. Para Irineu, no coração da sua visão

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/events/event.dir.html/content/vaticanevents/pt/20
22/1/21/decreto-santireneo.html (Acesso em: 13 de fevereiro de 2023).
Sobre o conceito de Tradição em Irineu, veja IZQUIERDO C., Parádosis – Estudios sobre la Tradición,
16

Eunsa, Pamplona 2006, p. 24-27.


17 Cfr. DANIELOU J., Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 206-208.
18 Cfr. Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 160.
O progresso no plano de Deus consiste « dans une abondance de grâce plus grande et une
19

universalité plus grande [em uma maior abundância de graça e uma maior universalidade]»
(Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 160).
20 Cfr. DANIELOU J., Sacramentum futuri, Beauchesne, Paris 1950, p. 23-24.
21 Cfr. Sacramentum futuri, op. cit., p. 24.
29

da história está o grande acontecimento: a Encarnação22. O acontecimento


“Cristo” é um resumo do anterior, mas não fica só num resumo, pois Cristo veio
também para conquistar e restaurar tudo o que estava sob o poder do diabo, veio
realizar a nova criação23.

Em toda a história da salvação, portanto, Deus é fiel: seu agir é constante


e o que ele quer e permite acontece em vista do cumprimento do seu plano
salvífico. O ser humano, ao contrário, nem sempre foi fiel à Aliança, e o Povo de
Israel tampouco. Diante dos costumes de Deus e das suas tentativas de educar o
Povo do Antigo Testamento, este preferiu frequentemente desprezar os planos
de Deus. No entanto, graças à fidelidade de Deus, os tempos chegaram à sua
plenitude e, então, o Pai enviou o Messias, que cumpriu, em sua própria
humanidade, os desígnios salvíficos do Pai.

O objetivo da catequese não é outro senão anunciar Jesus Cristo. O


Diretório Nacional para a Catequese afirma que “a mensagem evangélica, integral
no sentido acima, será proposta de maneira gradual, seguindo o exemplo da
pedagogia divina, como se manifesta na Bíblia” (DNC, 128). Temos aqui a
orientação de irmos pouco a pouco no anúncio: o todo se entrega de maneira
gradual. Note-se que não se diz “de maneira parcial”. A catequese tem que ser
sempre fiel à mensagem de Jesus Cristo, não pode propor uma conversão pela
metade nem uma doutrina fragmentada. Ela propõe o Cristo todo, mas
gradualmente, por dois motivos: em primeiro lugar, a mensagem de Jesus, ao
convidar a uma conversão total, inclui em si mesma a totalidade; em segundo
lugar, porque ainda que a nossa decisão de seguir Jesus Cristo seja plena, a nossa
mente e o nosso coração vão assimilando as coisas progressivamente.

Já que “a pedagogia catequética tem uma originalidade específica, pois seu


objetivo é ajudar as pessoas no caminho rumo à maturidade da fé, no amor e na
esperança” (DNC, 146), o catequista, ao concretizar essa especificidade mediante
os diversos meios deve, antes de mais nada, “estar entusiasmado por aquilo que
crê, alegre por estar em processo de permanente conversão, disposto a fazer

22 «L’Incarnation est au cœur de cette vision de l’histoire du salut, dont elle représente le sommet. Irénée
l’exprime dans la doctrine de l’ἀνακεφαλαίωσις, de la récapitulation [A Encarnação está no centro
desta visão da história da salvação, cujo cume ela representa. Irineu o exprime na doutrina da
anakephalaiôsis, da recapitulação]» (Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 161).
23 Cfr. Message évangélique et culture hellénistique, op. cit., p. 165-166.
30

diferença num mundo marcado por tanta coisa contrária ao projeto de Deus”
(DNC, 146).

Jesus é modelo de pedagogia, ele foi educando os seus discípulos pouco a


pouco: contava-lhes parábolas, tinha paciência com eles, aumentava-lhes a fé por
meio da sua companhia constante. “A pedagogia catequética tem como modelo,
sobretudo o proceder de Jesus Cristo, que, a partir da convivência com as
pessoas, deu continuidade ao processo pedagógico do Pai. Levou à plenitude,
por meio de sua vida, de suas palavras, sinais e atitudes, a revelação divina,
iniciada no Antigo Testamento. Motivou os seus discípulos a viverem de acordo
com os seus ensinamentos e plantou a semente da sua comunidade, a Igreja, para
transmitir, de geração em geração, a mensagem da salvação e a pedagogia que
ele mesmo ensinou com a sua vida” (DNC, 140).

Depois, o DNC diz quais são as características da pedagogia de Jesus para


que a catequese possa imitar (nº 141):

1) Acolhida: Jesus acolhe a todos, o seu amor não exclui ninguém;


2) Anúncio: o Reino de Deus é o Evangelho da verdade, da liberdade e do
amor;
3) Vida: trata-se de viver de fé, a mensagem de Jesus no convida à vida
em plenitude;
4) Envio: a catequese deve inspirar-se na maneira como Jesus prepara
aqueles que mais tarde enviaria para proclamar a Boa Nova;
5) Amor: a radicalidade evangélica levou os discípulos ao crescimento
contínuo na fé mediante o amor, que é “princípio pedagógico
fundamental”;
6) Atenção às necessidades dos demais em vista de uma mudança de vida
em todos os aspectos;
7) Conversa simples e acessível;
8) Firmeza diante das tentações, sabendo que a força se encontra na oração.

2. Inspiração catecumenal e Catequese de adultos

- Hipólito de Roma, Traditio Apostolica;

- RICA;
31

- DNC 147-148.

3. Questão da linguagem

“A inculturação da fé, sob certos aspectos, é obra da linguagem. Isto faz


com que a catequese respeite e valorize a linguagem própria da mensagem, antes
de mais nada, a linguagem bíblica, mas também a linguagem histórico-
tradicional da Igreja (Símbolo, liturgia) e a chamada linguagem doutrinal (fórmulas
dogmáticas)” (DGC, 208).

Trata-se, em definitiva, de entrar no mundo do outro, tentar compreendê-


lo e explicar a mensagem a partir do ponto de vista alheio, não do meu próprio.
Tudo isso exige sensibilidade para as coisas de Deus e das pessoas. A catequese
não abandonará a maneira de falar que encontramos na Sagrada Escritura e na
vida da Igreja, contudo está chamada a propor a mensagem de sempre de uma
maneira compreensível ao interlocutor que tem diante de si.

Tendo em conta a cultura midiática, faz-se necessário “estimular novas


expressões do Evangelho com linguagens renovadas e comunicativas como a
linguagem sensorial e midiática (rádio, TV, internet) e outras” (DNC, 163).

4. Psicopedagogia das idades

CONHECENDO NOSSO CATEQUIZANDO24

Introdução

“A Catequese, segundo as diferentes idades, é uma exigência essencial


para a comunidade cristã” (Diretório Geral para a Catequese, 171).
Catequese eficaz: conhece os catequizandos, conteúdo e estratégias mais
apropriados para as diferentes idades e realidades.

24Texto preparado pelas Irmãs de Belém, Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Anápolis-GO e
adaptado pelo autor desta apostila.
32

Processo de educação permanente da fé


– Crescem juntos o homem e o cristão. A Boa Nova é proclamada para
transformar a pessoa;
– Os catequistas são testemunhas e educadores da fé; devem apresentar
uma metodologia dinâmica e adequada;
– O catequista deve saber: a) com quem fala; b) o que fala; c) como fala.

O ser humano possui


– corpo – dimensão física;
– inteligência – dimensão cognitiva;
– emoção – dimensão afetiva;
– vontade – dimensão volitiva;
– sociabilidade – dimensão social;
– religiosidade – dimensão religiosa.

Traços característicos do comportamento humano

0 – 6 anos
– apaixonado por tudo que o cerca;
– voltado para si mesmo;
– aprende de forma concreta (vendo, apalpando, ouvindo...)

7 – 9 anos
– abertura para o grupo;
– relacionamento pessoal mais amplo;
– idade propícia para a recepção dos sacramentos da Reconciliação e
Eucaristia.

9 – 12 anos
– volta-se para o mundo exterior;
– mundo da lei;
– pressão do grupo;
– pedagogia do herói.

Adolescência
– passagem do pensamento lógico-concreto para o abstrato;
– alargamento dos interesses;
33

– amadurecimento da concepção de Deus;


– ruptura com o passado;
– desejo de se afirmar;
– capacidade de admiração;
– desejo de tudo conferir;
– imensa afetividade;
– necessidade de atividade;
– sonhos e idealismo;
– necessidade de amizade;
– espírito de imitação.

Juventude
– fase de grandes opções;
– muitas vezes excluída da participação social e eclesial;
– diversificada;
– em busca da maturidade.

Adultos
– maior conhecimento de si mesmo;
– maior enfrentamento da realidade;
– relacionamento estável com os outros;
– integração da personalidade;
– busca de unidade interior.

Conversando um pouquinho sobre...

Catequese na terceira idade


“Nova e específica tarefa pastoral para a Igreja, visto que em muitos
países cresce o número de pessoas da terceira idade”. É necessária “uma
catequese da esperança que provém da certeza do encontro definitivo com Deus”
(DGC 187).

Catequese de pessoas com deficiência


“O amor do Pai para com estes filhos mais frágeis e a contínua presença
de Jesus com o seu Espírito nos dão a confiante certeza de que toda pessoa, por
mais limitada que seja, é capaz de crescer em santidade” (DGC 189).
34

Catequese das pessoas marginalizadas


“Dirigida a pessoas em situações de marginalidade, ou próximas a ela, ou
já caídas na marginalização, tais como os imigrados, os refugiados, os nômades,
as pessoas sem habitação fixa, os doentes crônicos, os toxicômanos, os presos...”
(DGC 190).

Catequese para grupos diferenciados


“... a catequese para o mundo operário, para os profissionais liberais,
para os artistas, os homens a ciência, para a juventude universitária...” (DGC
191).

Catequese ambiental
“O serviço à fé, atualmente, tem grande consideração pelos ambientes ou
contextos de vida” (DGC 192).

Importância da formação
– formação na fé;
– formação da consciência;
– formação para a vida de oração;
– formação para o apostolado.
35

III. CATEQUESE NA IGREJA PARTICULAR

1. Carismas e ministérios

O prof. Ramiro Pellitero25 afirmou que foi a reflexão pós-conciliar a


desenvolver a teologia dos carismas e, em síntese, podem ser delineadas as
seguintes aquisições: na Igreja existem unidade de missão e diversidade de
tarefas; os carismas podem recair sobre qualquer fiel (leigos, ministros ou
membros da vida consagrada); devem-se valorizar os carismas denominados
“ordinários”; captar que a ação carismática em si é essencial à Igreja.

É muito importante dar-se conta de que a estrutura fundamental da Igreja


é uma estrutura tanto sacramental quanto carismática em si, ou seja, o fato de
existirem carismas é essencial à Igreja. Também é importante entender que as
missões do Filho de Deus e do Espírito Santo constituem uma missão conjunta.
O que se quer dizer, com outras palavras, é que não se pode separar Cristo do
Espírito Santo. Não podemos perder de vista também a importância que têm os
carismas ordinários, que também são graças concedidas pelo Espírito Santo.

“Jesus revela o Espírito Santo que, com o Pai, envia à sua Igreja. O Espírito nos une a Jesus Cristo,
formando um único Corpo, a Igreja, Povo santo de Deus. Jesus de Nazaré, Filho Unigênito do
Pai, e de Maria sempre Virgem, é a Palavra encarnada do Pai: Palavra única e definitiva que fala
ao mundo em todas as línguas, com o seu Espírito, no seu Corpo eclesial e católico (cf. Ap 2,11).
Particularmente na Confirmação, a catequese aprofunda mais a presença e a ação do Espírito com
seus dons e carismas e seu impulso para a missão” (DNC 99).

“Nenhuma metodologia dispensa a pessoa do catequista no processo da catequese. A alma de


todo método está no carisma do catequista, na sua sólida espiritualidade, em seu transparente
testemunho de vida, no seu amor aos catequizandos, na sua competência quanto ao conteúdo, ao
método e à linguagem. O catequista é um mediador que facilita a comunicação entre os
catequizandos e o mistério de Deus, das pessoas entre si e com a comunidade” (DNC 172).

“Os carismas fundacionais tornam-se atualizados quando os religiosos assumem a catequese


especialmente com adultos e jovens. O carisma traz em si uma ação educativa e catequética.
Monges e monjas contemplativos, com sua vida oculta em Cristo (cf. Cl 2,2-8; 3,1-4), fornecem à
catequese um exemplo de radicalidade evangélica” (DNC 247).

25PELLITERO R., El Espíritu Santo y la misión de los cristianos, unidad y diversidad, XIX Simposio de
Teología de la Universidad de Navarra: “El Espíritu Santo y la Iglesia”, Pamplona 1999.
36

2. Catequese na Diocese

DNC, 219

No conjunto dos ministérios e dos serviços, com os quais a Igreja particular


atua a sua missão evangelizadora, ocupa um posto de relevo o ministério da
catequese. Deste, destacamos o seguinte:

a) Na Diocese, a catequese é um serviço único, realizado conjuntamente


pelos presbíteros, diáconos, religiosos e leigos, em comunhão com o Bispo. Toda
a comunidade cristã deve sentir-se responsável por este serviço. Ainda que os
sacerdotes, religiosos e leigos realizem em comum a catequese, fazem-no em
modo diferenciado, cada qual segundo a sua particular condição na Igreja
(ministros sagrados, pessoas consagradas, fiéis cristãos). Através deles, na diferença
das funções de cada um, o ministério catequético oferece, de modo completo, a
Palavra e o testemunho da realidade eclesial. Se faltasse qualquer uma dessas
formas de presença, a catequese perderia parte da própria riqueza e do próprio
significado.

b) Trata-se, por outro lado, de um serviço eclesial fundamental,


indispensável para o crescimento da Igreja. Não é uma ação que se possa realizar
na comunidade a título privado ou por iniciativa puramente pessoal. Atua-se em
nome da Igreja, em virtude da missão por ela conferida.

c) O ministério catequético, no conjunto dos ministérios e dos serviços


eclesiais, tem um caráter próprio, que deriva da especificidade da ação
catequética, no âmbito do processo de evangelização. A tarefa do catequista,
como educador da fé, difere da que cabe a outros agentes da pastoral (litúrgica,
da caridade, social...), ainda que, obviamente, deva agir em coordenação com estes.

d) A fim de que o ministério catequético na Diocese seja frutuoso, ele


precisa apoiar-se sobre os demais agentes, não necessariamente catequistas
diretos, os quais apoiam e sustentam a atividade catequética, realizando tarefas
que são imprescindíveis, tais como: a formação dos catequistas, a elaboração do
material, a reflexão, a organização e o planejamento. Estes agentes, juntamente
com os catequistas, estão a serviço de um único ministério catequético diocesano,
37

ainda que não todos desempenhem os mesmos papéis, e nem o façam sob o
mesmo título.

Na diocese de Anápolis26
A formação dos catequistas é, atualmente, uma das tarefas mais urgentes
de nossas comunidades, pois, “o catequista é de certo modo, o intérprete da Igreja
junto aos catequizandos” (DGC, 35).
A catequese, que tem como finalidade “fazer com que alguém se ponha,
não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo”
(Catechesi tradendae [CT], 5), está ao serviço da Palavra, da transmissão da fé.
Está é sempre um dom gratuito de Deus, no qual Ele se dá a conhecer à
humanidade, mostra-lhe Seu mistério, convidando cada pessoa a uma relação
pessoal de amizade com Deus, que quer salvar a todos. Este desígnio salvífico de
Deus é dado a conhecer por palavras e gestos, que têm o seu ponto culminante
em Jesus Cristo: mediador e plenitude da Revelação.
A catequese, como serviço eclesial de transmissão de fé, tem como missão
dar a conhecer Jesus Cristo: sua vida, palavras, milagres e gestos. Aliás, é Cristo
o centro da catequese. “Tem que se dizer, portanto, que na catequese é Cristo,
Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado — e tudo o resto sempre em
relação com Ele; e que somente Cristo ensina; qualquer outro que ensine, fá-lo na
medida em que é seu porta-voz, permitindo a Cristo ensinar pela sua boca”(CT
6).
A mensagem de Cristo está presente na Igreja, que a guarda e transmite
a cada geração, por meio da Sagrada Escritura e da Tradição; por essa razão, a
transmissão da fé é um ato essencialmente eclesial. É a Igreja que guarda os
documentos da fé, e todos eles são parte integrante das fontes da catequese, a
saber: textos bíblicos, textos litúrgicos, escritos dos Padres da Igreja, formulações
do Magistério, símbolos da fé, testemunhos dos santos e reflexões teológicas (cf.
DGC 96).
Esta transmissão de fé há de possibilitar o acesso e a assimilação da
linguagem própria da fé, de dialogar com a cultura, dizendo qual é a fé em que
se acredita, mas há de ser capaz, sobretudo, de gerar uma nova cultura: uma
cultura cristã.
O catequista precisa estar em contínua formação humana e cristã. Por
isso, não bastam os cursinhos de início de ano. Estes são momentos de
sensibilização para o trabalho catequético e não indicadores de que, ao participar

26 Texto informado pela Equipe Diocesana de Catequese no dia 05/06/2012.


38

deles, o catequista esteja em condições de realizar bem sua tarefa pastoral. Assim,
a diocese de Anápolis, juntamente com a Faculdade Católica de Anápolis, oferece
a Escola Catequética que se realiza uma vez ao mês, no sábado, de 8 às 17 horas.
Cada escola tem a duração de 12 meses (conferir a atualização desses dados).
Além da Escola Catequética, a pastoral da Catequese na diocese busca
oferecer a todas as paróquias subsídios para que o catequista consiga transmitir
a mensagem de Cristo, por meio de congressos que acontecem de dois em dois
anos, formação regionais e paroquiais. Quando solicitada, a equipe da pastoral
vai até as paróquias para formar o catequista dentro de um conteúdo específico:
montagem de encontros, espiritualidade catequética etc.

3. Importância da Paróquia na ação catequética

Desde os primeiros tempos do cristianismo, os filhos e filhas de Deus


reuniam-se para celebrar a Eucaristia. São Paulo, entre outros testemunhos que
poderíamos colher no Novo Testamento, menciona tais reuniões cristãs ao
exortar a comunidade de Corinto: “Portanto, irmãos meus, quando vos reunis
para a ceia, esperai uns pelos outros” (1 Cor 11,33); o motivo dessa exortação era
a desordem que essa comunidade vivia em suas celebrações.

Não só em tempos de paz, mas também quando perseguidos, os cristãos


sempre insistiram em ter as assembleias eucarísticas. Com a Paz Constantiniana
(ano 313), a Igreja começa a organizar-se melhor para atender às mais variadas
necessidades e ao grande número de cristãos. O sistema paroquial começou no
século IV.27 Na prática, à medida que iam aparecendo necessidades de cuidado
pastoral nos povoados, simples sacerdotes encarregavam-se de exercer a cura de
almas, como o bispo exercia nas cidades. Essas comunidades cristãs foram
chamadas paróquias (paroikiai), e os sacerdotes foram chamados párocos.

As primeiras paróquias eram as catedrais, nelas se administravam os


sacramentos e se celebravam os divinos ofícios. No século XI, surgem as
paróquias urbanas; além da catedral, outras igrejas (paróquias), mas ainda no ano

27 O que aqui escrevemos é praticamente a tradução de textos dos seguintes livros: LLORCA B.,
Historia de la Iglesia Católica I – Edad Antigua – La Iglesia en el mundo grecorromano, BAC, Madri 1996,
p. 800; GARCIA-VILLOSLADA R., Historia de la Iglesia Católica II - La cristiandad en el mundo europeo y
feudal, BAC, Madri 1988, p. 222-23.
39

1032 por ocasião do Concilio de Limoges, houve protestos do cabido contra certas
igrejas nas quais se administrava o sacramento do Batismo.

Observando o fenômeno da paróquia em perspectiva ampla, encontramos


uma variedade muito grande, com um núcleo substancial:

– As paróquias formam basicamente a estrutura diocesana;


– Nela há uma igreja, chamada matriz, rodeada por outras chamadas
capelas;
– Ela é um lugar da celebração da Eucaristia e dos demais sacramentos;
– Existe uma variedade de pastorais, movimentos e grupos;
– Orientações diferentes e lícitas na maneira de realizar o apostolado em
comunhão com o bispo diocesano.

A Exortação apostólica Christifideles laici [CL] diz que “embora, por vezes,
pobre em pessoas e em meios e, outras vezes, dispersa em territórios vastíssimos
ou quase desaparecidos no meio de bairros modernos populosos e caóticos, a
paróquia não é principalmente uma estrutura, um edifício, mas é sobretudo ‘a
família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade’, é
‘uma casa de família, fraterna e acolhedora’, é a comunidade de fiéis.” (CL 26).

Na Diocese de Anápolis, por exemplo, temos 61 paróquias distribuídas em


4 regiões pastorais com seus respectivos sacerdotes coordenadores.28 Em todas
elas, podemos observar o que acima já tínhamos dito: um núcleo substancial com
diversidades enriquecedoras – que contribuem para a comunhão eclesial (cf. CL
26).

“Em definitivo, a paróquia está fundada sobre uma realidade teológica,


pois ela é uma comunidade eucarística. Isso significa que ela é uma comunidade
idônea para celebrar a Eucaristia, na qual se situam a raiz viva do seu edificar-se
e o vínculo sacramental do seu estar em plena comunhão com toda a Igreja” (CL
26).

Já que a paróquia é uma comunidade eucarística, ela é uma realidade que cai
sob o prisma da teologia. Não importa tanto o edifício feito de pedras, mas as
pedras vivas, os fiéis de Cristo que se reúnem para celebrar a Eucaristia. Por isso
não é possível que exista uma paróquia, uma verdadeira comunidade de fiéis
chamada Igreja, sem que haja também um sacerdote. Se pensamos na paróquia

28 Dados apresentados na página do sítio eletrônico da Diocese de Anápolis (GO):


https://www.diocesedeanapolis.org.br/caracteristicas/ (Acesso em: 14 de fevereiro de 2023).
40

como “comunidade idônea para celebrar a Eucaristia”, vemos consequentemente


a importância do sacerdócio ministerial. Por outro lado, “para realizar a missão
de pastor numa paróquia, missão que comporta a cura plena das almas, requer-
se absolutamente o exercício da ordem sacerdotal. Portanto, além da comunhão
eclesial, o requisito explicitamente exigido pelo Direito Canônico para que
alguém seja validamente nomeado pároco é que tenha sido constituído na ordem
sagrada do presbiterato”29.

A Constituição Dogmática Lumen gentium sobre a Igreja (n. 26) fala do


múnus episcopal de ensinar. Traz-nos a verdade de que o bispo é o
“administrador da graça do sacerdócio supremo”. Diz ainda que a Igreja de
Cristo “está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais
de fiéis, que, unidas com seus pastores, são também elas no Novo Testamento
chamadas ‘igrejas’”.

O que faz que sejamos tão unidos, tão próximos uns dos outros, ainda que
muitas vezes tão distantes uns dos outros é a comunhão no Corpo e Sangue do
Senhor. A Igreja vive da Eucaristia; é a Eucaristia quem faz a Igreja.30 “Nestas
comunidades (...) está presente Cristo, por cuja virtude se consocia a Igreja uma,
santa, católica e apostólica”.

Com relação aos párocos, o Concílio Vaticano II diz que devem cuidar para
que “a celebração do Sacrifício Eucarístico seja o centro e cume de toda a vida da
comunidade cristã” (Decreto Christus Dominus, 30).

A Eucaristia é o tesouro da Igreja. As nossas comunidades deveriam levar


isso mais a sério, celebrá-la com mais amor e dignidade. Também e
principalmente isso é catequético, pois os catequizandos então sendo preparados
para a Eucaristia. A união com o Corpo Eucarístico do Senhor promove a união
com o Corpo Místico do Senhor, que é a Igreja.

A Igreja faz a Eucaristia. Seu sacerdócio foi instituído principalmente para este fim. “Fazei isto
em memória de mim” (Lc 22,19. Cf. 1Cor 11,25).

Sem dúvida, em um primeiro sentido e muito profundo, todo cristão é sacerdote, embora, para
evitar uma confusão muito séria, isso deve ser explicado imediatamente. Todo cristão participa
do único Sacerdócio de Jesus Cristo. “Assim como chamamos de cristãos todos os que receberam

CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Instrução Presbítero – Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, nº 20,
29

Paulinas, São Paulo 2003, p. 56.


30Sobre essa temática, tenha-se em conta este belíssimo texto de JOÃO PAULO II, Carta Encíclica
Ecclesia de Eucharistia, 17 de abril de 2003.
41

no batismo a unção mística, também devemos chamar de sacerdotes todos os que são membros
do único Sacerdote”. “Na unidade da fé e do batismo, toda dignidade é comum; ...o sinal da cruz
torna reis a todos os que foram regenerados em Cristo, e a unção do Espírito Santo consagra a
todos como sacerdotes” (Leão Magno, Sermo 4). Israel era “um reino de sacerdotes e uma nação
santa”. O mesmo vale para toda a Igreja, porque todo Israel está concentrado em Cristo, único
verdadeiro Sacerdote, com o qual todo cristão está identificado. O “sacerdócio régio” que São
Pedro e São João atribuem a todos nós, não é uma espécie de metáfora: não se poderia sequer
dizer que não é mais do que um “suposto sacerdócio”: somos justamente chamados sacerdotes porque
fomos ungidos com o crisma do Espírito Santo; é uma realidade “mística”, realidade que em sua
ordem não pode ser superada ou intensificada por qualquer instituição ou consagração
acrescentada, por nenhum outro sacerdócio. Porque é Ele que faz do cristão membro do Rei e
Sacerdote universal, um Cristo. Para confirmar sua dignidade, basta recordar que é Aquele com
o qual a Virgem Maria foi eminentemente revestida.

(DE LUBAC H., Méditation sur l’Église, Cerf, Paris 2012, p. 113-15)

A Exortação apostólica Christifideles laici, depois de falar da celebração


eucarística como fundamento da realidade teológica que é a paróquia, diz que a
idoneidade da comunidade paroquial para celebrar a Eucaristia “mergulha no
fato de a paróquia ser uma comunidade de fé e de uma comunidade orgânica, isto é,
constituída pelos ministros ordenados e pelos outros cristãos, na qual o pároco –
que representa o bispo diocesano – é o vínculo hierárquico com toda a Igreja
particular” (nº 26).

A Igreja é comunhão com Deus e comunhão dos homens entre si, ela
sempre manterá essa comunhão. Ela, em seus três estados (triunfante, padecente
e militante), encontra-se unida na caridade. No nosso caso, Igreja militante, a
união precisa ser invisível, através da graça, e visível, na Fé, nos Sacramentos, no
Governo. A Paróquia, como expressão mais imediata e visível da comunhão
eclesial vive esta grande realidade que é a Igreja: comunhão.

Comunhão na Fé. É preciso professar toda a fé cristã, sem omitir um só


artigo da mesma. Escutemos com expressava-se São Cirilo de Jerusalém, autor
do século IV:

“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprendê-la e confessá-la,
protegida pelos muros de toda a Escritura. Já que nem todos podem ler as Escrituras, uns por
falta de preparo, outros por qualquer ocupação que os impede de conhecê-la, para que não
pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos do Símbolo todo o dogma da fé.
Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais”
(Catequeses de S. Cirilo de Jerusalém, PG 33,519-523 De Fide et Symbolo).
42

Daqui passamos para a comunhão nos Sacramentos. Temos todos os mesmos


Sacramentos, meios de salvação para todos nós e não podemos menosprezá-los
de maneira alguma. Da comunhão na fé e nos sacramentos, segue-se a comunhão
no governo. É preciso que estejamos unidos ao Romano Pontífice e aos Bispos em
comunhão com ele. Essa unidade é tão importante que o Concílio Vaticano II diz:
“Como nem sempre e em todos os lugares o Bispo, em sua Igreja, pode estar
pessoalmente à frente do rebanho todo, deve necessariamente organizar
comunidades de fiéis. Entre elas sobressaem as paróquias, confiadas a um pastor
local, que as governe, fazendo as vezes do bispo: pois, de algum modo, eles
representam a Igreja visível estabelecida por toda a terra. Por isso, a vida litúrgica
da paróquia e sua relação para com o Bispo deve ser favorecida na mente e na
praxe dos fiéis e do clero” (Constituição Sacrossanctum Concilium, nº 42).

Quanto ao empenho pastoral da paróquia, podemos fazer uma primeira


distinção: a cura animarum [cuidado pastoral das pessoas], própria do pároco,
ajudado por outros sacerdotes eventualmente associados a ele no cuidado
pastoral paroquial, e o apostolado dos demais fiéis.

A paróquia precisa viver o apostolado como uma verdadeira missão: ad


intra, para o bem de todos os que lhe estão mais próximos e daqueles que ainda
que batizados não participam na comunidade paroquial; ad extra, com a
finalidade de fazer novos discípulos de Cristo. Dizia Paulo VI:

“Acreditamos simplesmente que esta antiga e venerada estrutura da paróquia tem uma missão
indispensável de grande atualidade: pertence-lhe criar a primeira comunidade do povo cristão,
iniciar e reunir o povo na expressão normal da vida litúrgica, conservar e reanimar a fé nas
pessoas de hoje, dar-lhe a escola da doutrina salvadora de Cristo, praticar no sentir e na ação a
humilde caridade das obras boas e fraternas”.31

O Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja (nº 15), do


Concílio Vaticano II, diz que o Espírito Santo chama a todos os homens para o
seguimento de Cristo. Os que escutam a Palavra de Deus e creem na mensagem
evangélica, deve-se oferecer-lhes o dom do Batismo. Os batizados unem-se
formando comunidades, “associações de fiéis que, caminhando dignamente na
sua vocação, exerçam as funções sacerdotal, profética e régia, que Deus lhes
confiou”. As comunidades cristãs são “presença de Deus no mundo”. Enumera-

31 PAULO VI, Discurso ao clero romano, 24 de junho de 1963.


43

se uma série de qualidades e iniciativas da comunidade cristã que deve imbuir


toda a sociedade onde se encontra:

– florescimento de famílias formadas do espírito evangélico;


– escolas competentes para a educação dos filhos;
– associações e grupos, por meio dos quais o apostolado dos leigos possa
impregnar do espírito evangélico toda a sociedade;
– resplendor da caridade entre os católicos de ritos diferentes;
– espírito ecumênico: sem indiferentismo e confusões, excluindo
insensatas competições; promovendo a colaboração entre com todos os
cristãos;
– os cristãos são homens e mulheres comuns, em nada se distinguem de
seus compatriotas, a não ser pelo grande amor de Deus que fervilha
em seus corações. São patriotas, sem racismos e nacionalismos
exacerbados; falam a mesma língua de seus compatriotas e adotam os
mesmos costumes sadios da vida da sua nação. O coração do cristão é
universal, nele cabem todas as pessoas.

Você também pode gostar