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ÍNDICE Clique em um assunto, se quiser ir direto para a página.

1. O que é a igreja?..............................................................03

2. A origem da igreja...........................................................06

3. A natureza da igreja.........................................................11

4. Os modelos de governo da igreja.....................................14

5. A doutrina do Batismo.....................................................19

6. A Ceia do Senhor.............................................................24

7. Panorama dos credos e confissões.................................28

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1. O QUE É A IGREJA?

​​E
clesiologia fala sobre a doutrina da igreja. Todo domingo, os cristãos reúnem-se nas suas igrejas para celebrar o Senhor.
Lá é onde nós louvamos, onde ouvimos pregações, participamos da Ceia do Senhor e onde todo aquele que professa o
nome de Jesus é batizado. É na igreja que nós clamamos para que Jesus Cristo volte e nos leve para viver com ele. É na

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igreja que nós temos comunhão íntima como irmãos. A igreja Claro que esse não é um curso de exegese ou de grego do
também sofre perseguições, torturas, mortes e já esteve Novo Testamento, mas é importante entender que esse é
muitas vezes, aparentemente, prestes a deixar de existir. É a um recurso muito equivocado para explicar o significado de
igreja que, muitas vezes, presta assistência aos necessitados palavras do grego.
desprezados pela sociedade comum. A igreja é o povo de
Deus que foi salvo pelo sacrifício de Cristo. O significado da palavra limita-se a indicar um grupo de
pessoas que se reúnem em prol de alguma coisa. O termo
Diante disso, é imprescindível que conheçamos a igreja, ekklesia era usado para assembleias seculares, assembleias
a sua origem, suas funções, suas práticas e suas tarefas. judaicas e assembleia políticas, por exemplo. A palavra
Neste módulo, você vai aprender sobre a instituição mais para “igreja” deriva do conceito de “ajuntamento de cristãos
importante da terra, uma instituição que não é edificada por reunidos em nome do Senhor”. Ora, afinal de contas, não é
mãos humanas, mas pelas mãos do próprio Cristo. isso que nós somos enquanto igreja: pessoas reunidas para
se edificarem, servirem e ajudarem uns aos outros e, então,
Nessa primeira aula, vamos abordar brevemente o conceito dar glórias ao nome do nosso Deus?
de igreja. O termo “igreja”, conforme utilizamos hoje,
provém da palavra grega ekklesia. A tradução para ekklesia Filósofos como Heródoto, Tucídides, Xenofonte, Platão e
é “assembleia”, é a palavra usada para uma reunião de Eurípedes já usavam, em suas obras, a palavra ekklesia
pessoas, é um ajuntamento. Alguns tentam explicar o para se referir à assembléia de cidadãos que se reunia com
significado de ekklesia baseando-se em uma falácia determinada frequência. A palavra é usada nesse sentido.
exegética muito famosa: a de decompor a palavra em outras O mesmo significado pode ser encontrado no livro de Atos:
palavras menores para tentar descobrir o seu significado. qualquer reunião de pessoas referida por ekklesia.
No grego, ek significa “para fora” e kletós, “chamar”, o verbo
grego utilizado para se chamar alguém. Ekkletós ou ekklesia É curioso que no Novo Testamento as ocorrências de ekklesia
seria, então, “chamar para fora” ou “ser chamado para fora”. estejam distribuídas de forma um tanto desproporcional. Nos
Nesse sentido, a igreja seria aqueles que foram chamados Evangelhos, ocorre duas vezes, em Mateus. A palavra não
para fora para pregar a boa nova, para sair das quatro ocorre em 2 Timóteo, Tito, 1 e 2 Pedro, 1 e 2 João e Judas.
paredes ou algo parecido. Mas isso não faz nenhum sentido.

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No entanto, não podemos supor que a ausência da palavra
significa ausência do conceito, como se o significado da
igreja e dessa reunião de santos não estivesse lá porque
a palavra em si não é usada. No Novo Testamento, a
palavra ekklesia pode se referir a congregações de locais, à
comunidade dos redimidos e à igreja invisível e universal.
O seu conceito está presente quando, em 1 Pedro 2.9, ele
fala de “geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo
adquirido para anunciar as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a maravilhosa luz”. Por mais que não se fale,
às vezes, diretamente, da palavra ekklesia, o conceito de
igreja ou de povo de Deus ali está.

No cristianismo primitivo, o conceito não estava limitado à


mera organização ou assembleia qualquer, mas adquiriu um
conteúdo teológico no seu significado. A palavra ekklesia não
é usada para falar diretamente do prédio da igreja ou de uma
influência cristã na sociedade, mas de grupos locais que se
reuniam em torno de Jesus para louvá-lo através de receber
da sua palavra, participar da ceia e do batismo, e viver em
comunhão dos santos. A palavra também é usada para falar
do povo de Deus reunido ao longo das eras. Nós somos igreja
e somos igreja quando estamos reunidos em torno de Jesus.
Você já é igreja? Você já faz parte de uma igreja e já congrega
como membro de uma igreja?

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2. A ORIGEM DA IGREJA

​​O
s teólogos diferem muito quanto à origem da
igreja. Alguns acreditam que ela deriva já do Antigo
Testamento, ao ponto de afirmar que a igreja começa
com Adão e Eva. Alguns pensam que Israel era a igreja do
Antigo Testamento. Outros vão dizer que a igreja começa a
partir do Pentecostes, em Atos 2. Estas últimas são as duas
posições principais que vamos trazer nesta aula.

É comum que presbiterianos e reformados, de forma geral,


argumentem que a igreja começou no Jardim do Éden.
Mauro Meister, por exemplo, um dos grandes nomes do
presbiterianismo no Brasil, argumenta que Adão e Eva eram
os primeiros crentes e que, ainda que eles tenham pecado,
foram salvos pela graça de Deus e creram na promessa do
descendente que viria para pisar na cabeça da serpente
(Gn 3.15). Assim, para Meister, o que consiste em “ser
igreja” é ser crente na palavra de Deus. Nessa mesma
linha de raciocínio, ele continua propondo que a igreja se
desenvolveu primariamente como povo de Israel, a igreja no
Antigo Testamento. Quando Jesus vem, ele muda o rumo
dessa igreja, estabelecendo novos meios de operação.

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Esse novo rumo seria dado nos Evangelhos, mostrado no Novo Testamento. A igreja, então, "abrangeria todos que
historicamente no livro de Atos e esclarecido teologicamente foram salvos pela fé em Cristo ou que virão a ser salvos
nas epístolas que aparecem depois. Herman Bavinck, como dessa maneira" (BAVINCK, 2012, p. 304). Como o povo do
um dos clássicos dos reformados, argumenta que "sob a Antigo Testamento foi salvo pela fé em Cristo - como você
dispensação do Antigo Testamento Israel era o povo que viu em sotereologia -, então o povo do Antigo Testamento
havia sido reunido e convocado para o serviço de Deus. No também seria igreja. Bavinck conitnua: "pertencem à igreja
Novo Testamento, então, o povo de Israel seria substituído todos os crentes que viveram nesta terra desde a promessa
pela Igreja, que agora é a nação santa, o povo escolhido, o feita do Paraíso até esse exato momento e que foram levados
sacerdócio real" (BAVINCK, 2012, p. 300-301). Ou seja, uma não para o limbo ou para o purgatório, mas para o céu" (p.
vez que o Antigo Testamento usa a palavra Hebraica qahal 305). Os crentes que vivem hoje na terra e os que viverão
para falar do povo reunido (no grego há ekklesia para dizer até a volta de Cristo também fazem parte dessa igreja. É o
a mesma coisa), no sentido de povo reunido ou assembléia, famoso do sistemático Louis Berkoff que vai afirmar que
as expressões então apontariam para a mesma realidade. o povo de Israel não só se organizou como nação, mas
Assim, qahal e ekklesia seriam a mesma coisa: a igreja como também constituiu-se igreja, mesmo que ele não fosse
povo de Deus. "uma organização independente tendo sua existência e
institucional na vida nacional de Israel" (BERKHOF, 2007, p.
Para Bavinck, igreja é essencialmente 524). Na sua organização externa, a igreja possuiria tantos
crentes verdadeiros como crentes falsos e a diferença entre
Antigo e Novo testamento seria essa divisão entre o aspecto
um termo desse mundo, uma comunhão de nacional e o aspecto organizacional, independente da igreja
pessoas dotadas de ofício e ministério que da Cidade-Estado.
funcionam no mundo visível como povo reunido
de Deus. A igreja consequentemente é o meio pelo
qual Cristo distribui os benefícios do reino e lança Franklin Ferreira e Alan Myatt têm uma posição um pouco
os alicerces para a sua conclusão (p. 302) mais descontínua acerca do uso de qahal e ekklesia no
Novo Testamento em relação à igreja e ao povo de Israel.
Eles dizem que no Antigo Testamento não está contida uma
Portanto a igreja seria o povo de Deus, fosse no Antigo ou noção de igreja plenamente desenvolvida. Num sentido

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descrição do povo de Israel no Antigo Testamento e as preciso, não é correto falar de igreja no Antigo Testamento,
descrições da igreja no Novo Testamento são um tanto pois o povo de Deus existia num contexto político-nacional
intercambiáveis e parecidas. No Antigo Testamento, nós sem paralelo com o Novo Testamento. Não obstante, o
vemos que o povo de Israel era congregação constituída conceito de povo de Deus, Israel, mostra o início de ideias
pelo povo de Deus, apresentada como edifício de Deus (Êx centrais para entender a natureza da igreja. Ou seja, não
25.8; Sl 132; 135), Israel sendo escolhido por Deus para dar há igreja no Antigo Testamento, mas uma instituição que
testemunho às nações (Dt 7.7; Is 42.1), Deus estando no lançaria luz sobre o que significa, de fato, ser igreja no Novo
controle de tudo, ainda que Satanás e o pecado afetassem Testamento, já que, no antigo pacto, a relação do povo de
o mundo e afetassem o próprio Israel e eles passassem Deus é muito diferente. Ela é nacionalista e ainda muito
por períodos de idolatria (Sl 93.1; 95.3; Êx 15.18; Is 43.15). focada ainda em etnia e raça, enquanto no Novo Testamento
Ainda assim, esse seria o povo de onde surgiria o Messias há uma instituição que é independente das forças nacionais
que reivindicaria sua soberania. étnicas.

Essas seriam características, vão argumentar alguns Franklin Ferreira e Alan Myatt usam o conceito de qahal para
sistemáticos como próprio para Ferreira e o Alan Myatt, falar da congregação do povo de Deus como Israel no Antigo
que há ampliação disso para o povo da igreja no Novo Testamento (Êx 35.1; Nm 20.4, 6; Dt 9.10). Eles também
Testamento. É uma evidência favorável a uma continuidade citam o uso da palavra hebraica êda, que também significa
espiritual entre o povo do Antigo Testamento e o povo do congregação ou assembleia, usada para falar da comunidade
Novo Testamento. Eles argumentam que, apesar de serem religiosa nacional à qual alguém pertencia (Êx 12.3; Nm
partes de duas instituições diferentes, a unidade do Povo de 16.9, 26; 31.12). As palavras são basicamente sinônimos.
Deus justifica a conclusão de que ambos são membros de Além disso, a septuaginta traduz qahal como ekklesia. Já no
um único corpo em Cristo: a igreja invisível, que inclui todos Pentateuco, com exceção de Deuteronômio, o termo hebraico
os remidos de todos os tempos (1999). Eles ainda dizem: "no é traduzido para o grego como synagogue.
modelo do povo de Deus reunido na congregação de Israel
podemos ver a sombra da realidade que haveria na igreja No Antigo Testamento, há algumas imagens da congregação
de Jesus Cristo com a revelação plena da Nova Aliança" constituída pelo povo de Deus (Êx 6.7; 19.5; Lv 26.12;
(p. 948). Mas, mesmo assim, Ferreira e Myatt apresentam Jr 30.22; Ez 36.28; Os 2.23). Alguns argumentam que a

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algumas distinções na congregação do povo de Deus entre feitas a eles são herança de crentes no Novo Testamento.
os Testamentos. No Antigo Testamento, argumentam que Nós, os membros da igreja, somos a semente espiritual de
existe uma adoração centralizada em Jerusalém, mediadores Abraão . Dessa forma, as Escrituras previriam, já no antigo
de Deus e o povo - como levitas, sacerdotes e sumo testamento, a justificação dos gentios pela fé (Rm 4.13-16),
sacerdotes -, festas religiosas e o sábado, enquanto no Novo além de falar da Nova Aliança, a qual seria aplicada à igreja
Testamento a adoração era descentralizada. Ela não estava (Jr 31.31-33). Essas bênçãos seriam dadas à igreja através
restrita a um só local, não era neste ou naquele monte, mas da habitação do Espírito Santo e da lei que ser escrita o
em espírito, em verdade. Todo cristão seria, ele mesmo, coração dos crentes (2 Tm 1.14; 2 Co 3-6).
um sacerdote e não havia mais necessidade das festas
nacionais e da guarda sabática. Jesus é prometido ser o redentor dos judeus, assim como
dos gentios (Is 42.6; 49.6; 60.3). Baseado nisso, Norman
Ainda há quem seja ainda mais descontínuo na percepção Geisler afirma que não era um mistério no Antigo Testamento
entre as duas alianças. Há quem defenda que Israel e a Igreja que os gentios sejam trazidos para uma comunidade
são duas instituições totalmente diferentes, para o quais redentiva de Deus. Era o mistério a forma como judeus e
a igreja não é uma substituição do povo de Israel e não é gentios seriam unidos como coerdeiros em um corpo, a
o novo Israel, e Israel não é a igreja do Antigo Testamento. Igreja de Cristo. Logo, para ele, a igreja seria essa instituição
Norman Geisler entende que mesmo que a igreja tenha sido que uniria o povo de Deus no Antigo Testamento e os salvos
planejada desde a eternidade passada (Efésios 1.4; cf 2 Co do Novo Testamento. Por isso, a igreja teria surgido em
5.17), a igreja na terra começou depois do tempo de Cristo, Pentecostes (At 2). Ele, então, dá quatro motivos para isso.
ainda que o Antigo Testamento tenha feito a preparação para
a vinda da igreja. 1. A igreja envolve o mistério não conhecido nos tempos
do Antigo Testamento. Interpretando Paulo, afirma que a
Geisler diz que a igreja envolve o mistério que não foi igreja não existiu no Antigo Testamento nem foi prevista
entendido no Antigo Testamento (Ef 3.1-5 cf. Cl 1.26). como tal, porque era um mistério que judeus e gentios
Também podemos constatar que, de acordo com a promessa seriam unidos em um corpo, coerdeiros das bênçãos
que foi feita a Abraão (Gn 12.1-3), algumas das bençãos de Deus. Esse mistério só foi revelado em em período
posterior (Ef 3.1-6). O fato de ser um mistério implicaria

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que estava oculto antes e que agora foi revelado. Tal 4. A igreja surge com o derramar do Espírito Santo e isso
revelação aconteceu no tempo do Novo Testamento. A aconteceu em Pentecostes (At 2; 1 Co 12.13, 27 cf Jo
igreja foi fundada pelos Apóstolos e, como não havia 7.39). Os dons existem para operar na igreja (Ef 4.11-12)
apóstolos no Antigo Testamento, não havia igreja e não foram dados até o dia de Pentecostes.
ainda. Cristo é a pedra angular dessa igreja (Ef 2.20),
então a igreja não poderia ser fundada antes. No Antigo
Testamento, os gentios eram separados da comunidade
de Israel e estrangeiros com relação às alianças das
promessas (Ef 2.12), então eles não estavam fixos na
igreja como estão agora.

2. Jesus mesmo disse que a igreja seria a realidade futura


(Mt 16.17-18). Ele edificaria a sua igreja, portanto ela não
existia antes disso. Ela é construída por Jesus. Portanto,
teria de ser posterior à vinda de Cristo. Como ele não
estava fisicamente presente no Antigo Testamento, não
havia igreja.

3. As referências a ekklesia na septuaginta não se referem


à igreja do Novo Testamento. O termo também é usado,
por exemplo, para descrever uma multidão, assembleia de
israelitas no Monte Sinai (At 7.38), uma assembleia que
louva ao Senhor (Hb 2.12; Sl 22.22). Essas descrições,
ainda que utilizem a palavra para descrever o que
acontecia, não apresentam semelhanças com a natureza
da igreja do Novo Testamento.

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3. A NATUREZA DA IGREJA

​A
igreja carece de várias analogias para que a
grandeza do significado do que ela representa seja
compreendida. A Bíblia apresenta várias analogias
para falar da natureza da igreja.

Ela é descrita como o corpo de Cristo (1 Co 12.12-27): é


vista como uma unidade, como um corpo, e como diversa,
com muitos membros. Todos os crentes estão unidos nela,
como único organismo vivo, em um relacionamento de
mutualidade, tendo em vista que os membros edificam uns
aos outros.

A igreja também é descrita com a noiva e a esposa de


Cristo (Ef 5.24-25; Ap 21.9): Cristo é descrito como um
noivo e o marido da igreja. Ele é aquele que se sacrifica por
ela e que vem buscá-la para as suas bodas. Nós estamos
em um relacionamento íntimo com esse Jesus. No antigo
testamento, a idolatria era descrita como um adultério
espiritual, porque os homens estavam se separando e
quebrando um relacionamento de amor com Deus.

Nós somos tratados como primogênitos (Hb 12.23): como

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os primeiros frutos, os primeiros filhos. Jesus o mediador escolhidos por ele desde antes da fundação do mundo para
da Nova Aliança que ajunta para si nomes nos céus. Ele estarmos unidos com ele para sempre.
é o primeiro dentre os mortos e, assim, a igreja também
ressuscitará com ele, uma vez que ele foi abrindo o caminho Nós somos tratados por rebanho (Jo 10; At 20.28): um
desse trabalho e desse serviço. rebanho de ovelhas cujo sumo pastor é o próprio Jesus
Cristo. Ele cuida de nós, ele nos alimenta, ele nos salva
Nós somos o edifício de Cristo (Ef 2.20; 1 Pe 2.7): Ele é a do perigo, ele nos adverte e sai em nossa busca. Ovelhas
Pedra Angular sobre a qual a igreja está posta. Nós somos costumam ser um tanto estúpidas, um tanto carentes, pois
uma casa espiritual edificada e construída por Cristo (1 Pe precisam de cuidado. Talvez, não haja ilustração melhor para
2.5). os cristãos do que ovelhinhas do Deus vivo.

Nós somos sacerdócio Santo (1 Pe 2.5): Diferentemente do A igreja é descrita como o grupo de amados de Deus (1 Ts
Antigo Testamento, em que poucos eram sacerdotes, na 1.4), como a noiva (Ef 5.27; Ap 19.7) cujo noivo é Cristo,
igreja todo crente é um sacerdote, porque Cristo é o sumo como um corpo (1 Co 12.12, 27), um santuário de Deus (1 Co
sacerdote em prol de todos. 3.16) e habitação do Espírito Santo (Ef 2.22). São analogias
que mostram a riqueza da natureza da igreja. Essas
Somos sacerdócio real (1 Pe 2.9): Não apenas um sacerdócio analogias servem, justamente, para lançar luz sobre várias
santo, separado e exclusivo, mas o sacerdócio real, no características da igreja que, às vezes, como proposições
sentido de reis. Esse aspecto enfatiza a natureza de Jesus simples, são difíceis de ser interpretadas e precisam ser
como Rei sobre cada um de nós. Ele é o Rei dos Reis, o vistas como imagens para poder chamar mais atenção de
Senhor dos Senhores, O Sacerdote dos Sacerdotes. Nós cada um de nós, a fim de que cada um desses aspectos seja
estamos debaixo de seu reinado e intercessão. explicado melhor.

Somos também povo escolhido (1 Pe 2.9 cf Ef 1.4): a igreja Diante disso, a igreja possui uma característica dual. Ela é
faz parte desse povo de Deus, aqueles que desfrutarão de tanto espiritual quanto social. Ela é espiritual, porque Paulo
suas promessas, herança e salvação para sempre. Somos declara que a nossa cidadania está nos céus (Fp 3.20).

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João fala daqueles que nasceram de novo ou nasceram de locais são manifestações visíveis da Igreja Universal, da
cima (Jo 3.3,7). A igreja é uma realidade espiritual sobre a igreja invisível. Nessa comunidade local, nem todos são
qual as portas da morte não podem vencer. A igreja não é salvos, mas a igreja, de fato, é composta apenas dos salvos
meramente uma reunião de pessoas, mas também apresenta e dos eleitos. No antigo pacto, homens não-salvos estavam
essa realidade. Por ser composta de indivíduos, a igreja não debaixo da aliança, mas a Nova Aliança, como superior,
deixa de ser uma assembleia, uma reunião com propósito recebe apenas salvos. Assim, a igreja local deve crescer à
único. Nesse sentido, a igreja pode ter os seus intrusos, medida que mais salvos são adicionados à sua comunidade
pessoas que se intrometem na comunidade e vivem dentro o (At 2.47)
povo, mas que de fato não são salvos. Na realidade local da
igreja, haverá pessoas salvas e pessoas não salvas. Porém, É muito triste que igrejas locais cresçam por mais joio se
temos que sempre lembrar que o Senhor conhece aqueles manifestando no meio do trigo. Paulo fala constantemente
que lhe pertencem (2 Tm 2.19). Nesse sentido, não existe de um crescimento do corpo que é feito por Deus (Cl 2.19b).
igreja local perfeita. Embora isso não seja desculpa para Essa igreja não está sujeita a divisão, como igrejas locais,
admitir libertinagem e mau uso da graça de Deus, o completo mas está unida em um único corpo, em um único espírito, em
extermínio do mal só vai acontecer na volta de Cristo, quando uma única esperança, em um único Senhor e em um único
ele separar os bodes das ovelhas, quando tirar o joio do meio batismo (Ef 4.3-4). Ela não pode ser derrotada. Igreja locais
do trigo. Até lá, através da pregação fiel, das ordenanças podem fechar, mas a Igreja de Cristo nunca vai morrer. O seu
e das disciplinas espirituais é que a Igreja será, de fato, propósito é glorificar a Deus (Ef 1.6). Ela é apostólica, não
edificada, não por meio de um esforço meramente humano, no sentido de que ainda existem apóstolos ou algum tipo de
mas do poder do próprio Deus. sucessão apostólica, mas porque está fundamentada naquilo
que os apóstolos ensinaram (Ef 2.20). Ela é composta de
A igreja também tem esse caráter universal. Ela foi escolhida pessoas de todos os povos, tribos, línguas e nações. Todos
desde a eternidade passada (Ef 1.4) e é invisível. É uma os que pertencem, de fato, à igreja universal são salvos, não
comunidade espiritual em que o nome daqueles que se podendo afirmar o mesmo de todos os que pertencem às
pertencem a ela está escrito nos céus (Hb 12.22-23), até igrejas locais.
que então todos sejam revelados pelo poder do Evangelho,
enquanto esperamos e clamamos por esse dia. As igrejas

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4. OS MODELOS DE GOVERNO DA IGREJA

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inda que a igreja tenha um caráter essencialmente
universal, ela também se expressa localmente e,
como toda organização local, ela precisa de uma
metodologia e de um governo para que funcione da forma
como ela deve para cumprir adequadamente o seu papel no
mundo. Nesse contexto, os diferentes grupos evangélicos
têm sugerido diferentes formas de governo de igreja. Assim
como a questão da continuidade da descontinuidade entre a
Igreja e Israel é afetada pela nossa hermenêutica, a forma de
governo também é.

Existem pelo menos três formas mais famosas de interpretar


governo de igreja: A forma episcopal, a forma congregacional
e a forma presbiteral. O primeiro modo de governo é o
episcopal. Quem exerce autoridade sobre a igreja nesse
caso é o bispo, o episkopós, o supervisor. Fazem parte
desse modelo, a Igreja Metodista, Igreja Anglicana, Igreja
Católica Romana. Cada uma dessas tem diferentes níveis de
complexidade hierárquica onde a metodista é mais básica, a
católico-romana é mais complexa.

O primeiro nível de ordenação nessas igrejas geralmente é a

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do ministro ou do sacerdote comum. Eles são autorizados a diziam. Nesse Concílio, foi definido que, quando o Papa
pregar e a ministrar os sacramentos. O segundo nível seria fala ex cathedra, na sua posição oficial em questão de fé
a do bispo, o qual é central para o funcionamento da igreja. e prática, ele é infalível. Cada Papa é eleito pelo colégio de
Alguns chegam a afirmar que o episcopado é tão central para cardeais, mas foi o Papa que os designou e os novos Papas
igreja que é ele é a própria igreja e sem o episcopado a igreja são eleitos desse grupo. A visão do episcopado é derivada
não existiria. No entanto, essa não é uma visão monolítica, de que toda autoridade foi dada a Cristo e ele enviou os
pois alguns entendem que o episcopado é o melhor modelo onze apóstolos com essa mesma autoridade. Os apóstolos
para o funcionamento da igreja, mas não é imprescindível também seriam quem eles nomeassem presbíteros e os
para a sua existência. diáconos. O Papa atual é alguém que vem da sucessão de
Pedro como o primeiro Papa. Claro que nem todo episcopal é
Os bispos estão hierarquicamente acima dos pastores. Católico Romano, mas católicos romanos são os episcopais
Enquanto pastores cuidam das igrejas locais, os bispos mais famosos. Há igrejas evangélicas e protestantes que
cuidam de várias igrejas. Eles possuem autoridade para possuem um governo episcopal também. Muitas delas
designar os pastores das igrejas locais ainda que, na igrejas reais. Muitas delas não possuem essa visão sobre
prática, possam consultar a congregação para saber a quem sucessão apostólica que geralmente está associada ao
designar, mas a última palavra é sempre dos bispos. Eles catolicismo romano.
geralmente devem preservar a sã doutrina na sua região a
partir das igrejas que estão sob sua autoridade. Eles são O segundo modelo é o modelo presbiteriano ou presbiterial
escolhidos por bispos e são superiores e assim por diante. ou presbiteral. Nesse modelo, um corpo de presbíteros é
Alguns chegam a considerar que os bispos são sucessores quem tem a maior autoridade sobre a igreja, não apenas
dos apóstolos e que possuem a mesma autoridade que eles. um único bispo. O presbiterianismo, nesse sentido, entende
Essa, por exemplo, é a visão da Igreja Católica Apostólica que os anciãos do Antigo Testamento eram aqueles que
Romana. Para eles, o Papa é o Bispo Supremo que governa desempenhavam funções de liderança. Eles também
a igreja por meio dos arcebispos. Abaixo deles, estariam seriam encontrados no Novo Testamento e tratados por
os bispos e, abaixo destes, os padres. Durante o Concílio presbíteros. As cartas pastorais nos mostram que o termo
Vaticano I (1869-1870), o Papa era visto como autoridade presbítero e o termo bispo são termos intercambiáveis. São
Suprema quando estava de acordo com que os outros bispos uma referência ao mesmo grupo de pessoas que seriam os

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pastores. Presbítero, bispo e pastor seriam exatamente a A leitura bíblica que os presbiterianos fazem para defender o
mesma coisa. Era o povo, aqui no caso a igreja, que escolhia posicionamento é a de que Israel já mostrava ser governada
seus presbíteros e, ao fazer isso, a igreja confirmava que por um ancião em suas sinagogas e, uma vez que a Igreja é
compreendia que Deus estava agindo por meio deles. o novo Israel, esse elemento continua sofrendo adaptações.
Uma base são as referências do Novo Testamento, onde
É um grupo de presbíteros eleitos que toma decisões que a igreja deve se reportar a líderes constituídos, igrejas
regem a igreja local no modelo presbiteriano. Acima deles, há possuindo conselho de presbíteros e não apenas um
muitas vezes um sínodo, formado por presbíteros escolhidos pastor único cuidando de tudo. Um exemplo também é
pelos presbíteros locais e, aqui no Brasil, acima deles, há do Concílio de Jerusalém como exemplo dos concílios da
uma assembleia geral formada também por presbíteros igreja que são usados para embasar os concílios dentro do
eleitos. No Brasil, esse papel é desempenhado pela Igreja presbiterianismo.
Presbiteriana do Brasil. Eles possuem uma federação, que
é uma denominação que se manifesta como uma federação O terceiro modelo que é congregacional ou
de igrejas, fundada em 1859 por Ashbel Green Simonton que congregacionalista, onde a congregação guia toda a igreja. O
juntamente com José Manoel da Conceição remontam a modelo que se prega democrático e autônomo. Ao dizer que
história do presbiterianismo brasileiro. a igreja é autônoma, queremos dizer que ela é independente
e autogovernada. Isso significa que não há nenhum conselho
Nem toda a igreja presbiteriana é da denominação acima da igreja que tenha uma autoridade maior do que
Presbiteriana. Há algumas igrejas batistas que possuem ela. Por democracia, nós queremos dizer que cada membro
um governo presbiteral, um presbitério local sem nenhuma tem voz nas questões a serem tratadas. É claro que nem
autoridade acima da igreja. Eles não possuem sínodos, todos congregacionais vão gostar dessa linguagem, muitos
não possuem supremos concílios, mas possuem um vão dizer que congregacionalismo não é democracia,
conselho local de liderança. Esse modelo se chama de que são coisas diferentes, mas é uma ilustração útil para
presbiterianismo local, o qual é diferente do presbiterianismo entendermos o que está acontecendo. Cada membro da
comum das igrejas presbiterianas. igreja tem voz e poder de voto sobre cada uma das decisões
que são tomadas. A igreja seria governada não por um
corpo de presbíteros, não por um único pastor, o bispo, mas

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por toda a congregação em acordo acerca de cada decisão. disciplina eclesiástica, eleições de liderança decisões
Diferente do modelo episcopal onde a autoridade é do bispo, ou secundárias, às vezes a cerca de finanças, administração
no modelo presbiteral, onde a autoridade está no presbitério, no de ofertas e outros assuntos. O modelo congregacional se
modelo congregacional, a decisão é de cada membro, é de toda baseia também em alguns pontos que são encontrados na
a igreja. Bíblia, obviamente. Eles argumentam que Matias, o sucessor
de Judas, foi escolhido pelo povo em Atos 1. Argumentam
A autonomia da igreja quer dizer que cada uma elege o seu que foi a igreja que selecionou os primeiros diáconos (At 6).
próprio pastor e determina o seu próprio orçamento e suas Paulo e Barnabé apresentaram um relatório à igreja inteira
próprias decisões. A prestação de contas está limitada à em Atos 14. Foi a igreja que enviou Paulo e Barnabé para
própria igreja. Isso não impede que igrejas que seguem o resolução do problema envolvendo a circuncisão (At 15).
modelo congregacional não possam encontrar comunhão ou
orientação em outras igrejas, seja para organizar uma tarefa Assim, os congregacionalistas defendem o seu modelo
específica, fazer um evento, ou simplesmente uma amizade, de governo, porque a igreja toda participou de decisões
ou uma comunhão. No entanto, a igreja congregacional não importantes acerca do ministério. Eles também argumentam
está obrigada a seguir o conselho ou a decisão dada para outra que tanto Paulo como Jesus responsabilizaram a igreja toda
igreja. Igrejas locais independentes costumam participar de pela aplicação da disciplina, não somente os presbíteros.
associações livres de igrejas, voluntariamente participando de Argumentam que as cartas de Paulo foram endereçadas às
cooperações entre comunidades locais. Essas associações igrejas de forma geral e não a um indivíduo ou um conselho.
existem para trocas de experiências, aconselhamento As cartas pastorais foram escritas a Tito, Filemom e Timóteo,
mútuo, tomadas de decisões estratégicas, além de promover como indivíduos, sobre como deveriam proceder, mas as
comunhão e demonstrar o caráter universal da igreja de Cristo. cartas gerais são escritas às igrejas.

Às vezes, na igreja são tomadas com base na votação dos Uma subdivisão do modelo congregacional é quando a
membros. Muito geralmente, a causa suscitada é posta para igreja elege um corpo de presbíteros para tomar algumas
se decidir em votação pelos membros da congregação, onde decisões e minimizar as assembleias, ou quando eles
é visado um conselho naquela atitude que deve ser tomada. escolhem conselhos para tomar certas decisões dentro de
Essas questões envolvem aceitação de novos membros, áreas específicas, sejam conselho de patrimônio, o conselho

17
orçamentário ou um conselho de presbíteros para as regiões nenhuma para esse tipo de governo. A Bíblia foi que instituiu
pastorais. Nesse modelo, os presbíteros tomam decisões mestres sobre a igreja e nós temos pastores dados por Deus
acerca de algumas questões, mas, quando elas são postas para cuidar da comunidade. Eles, simplesmente, apelam
em assembleia, os membros podem reivindicar ou aprovar para uma unidade formada pelo Espírito Santo sem nenhuma
suas decisões. Geralmente, as decisões de inclusão de novos evidência bíblica para defender esse tipo de metodologia de
membros e exclusão de membros também são expostas à cuidado de igreja.
congregação para que ela decida o procedimento.

Há ainda um quarto modelo que não é posto, porque ele é


um que não está dentro daquelas estruturas mais cristãs
tradicionais e que não é bem o modelo de governo, porque é
a ideia de uma igreja sem governo. Certos grupos religiosos,
como os quackers e os famosos irmãos de Plymouth,
defendem que a igreja não precisa de lideranças, porque o
Espírito Santo capacitaria cada irmão conforme o interesse
de Deus. O Espírito Santo daria inspiração interior que guiaria
igreja em cada assunto e em cada necessidade de governo
e liderança. As decisões seriam tomadas mediante orações,
com o Espírito Santo como guia. Os irmãos de Plymouth
entendem que a igreja existe na terra principalmente em sua
forma invisível e que, por causa disso, não há necessidade
de organizações que envolvam cargos oficiais. A direção do
Espírito Santo é que seria a autoridade governante.

Não obstante, a atuação do Espírito Santo não poderia ser


tomada como um pressuposto para exclusão de liderança e
de uma organização eclesiástica. Não há evidência bíblica

18
5. A DOUTRINA DO BATISMO

O
batismo é uma etapa fundamental na vida da igreja. Ele é o rito de entrada na comunhão cristã. No batismo,
testemunhamos e celebramos novos membros que fazem agora parte da mesma comunidade. Entretanto, existem
diferentes teorias acerca de como o batismo é compreendido.

19
TEORIAS BÁSICAS DO BATISMO ele se tornam agradáveis”. Quanto ao modo de operação
do batismo, Erickson afirma que os luteranos não são tão
Batismo como um meio de graça criteriosos.

A doutrina da regeneração batismal entende que o ato do A posição da ICAR entende que o batismo é rito de entrada
batismo concede graça à pessoa batizada. Segundo essa para os demais sacramentos (sete no total). Por meio do
doutrina, o batismo produz regeneração espiritual pela batismo, a pessoa é liberta dos pecados e regenerada como
qual uma pessoa é transformada, passando de um estado filho de Deus. Visto que todos nascem com natureza decaída,
de morte espiritual para vida. Essa é a forma como a ICAR as crianças devem ser batizadas para que seja removido o
e algumas correntes do luteranismo entendem o batismo. pecado original e elas sejam libertadas do poder das trevas.
Entretanto há diferença entre elas. Por meio do batismo, todos os pecados são perdoados,
tanto o original, quanto os pessoais, além de todas as penas
do pecado serem retiradas. O batismo purifica de todos os
Martinho Lutero entendia que o batismo “opera a remissão pecados e torna o neófito uma nova criatura. Assim, dentro
dos pecados, livra da morte e do diabo e dá a salvação eterna da visão católica, o batismo é selo da vida eterna, o qual,
a quantos creem, conforme rezam as palavras e promessas se for guardado pelo fiel - ou seja, se ele se manter firme
de Deus.” (Apud FERREIRA e MYATT, 1999, p. 938) A igreja às exigências do batismo - ele poderá ter esperança de
luterana segue essa tradição, entendendo que aos que ressurreição com o Senhor. Para os católicos, o sacramento
creem o batismo concede esse tipo de graça. Dessa forma, o da penitência é instituído a todos os membros pecadores
entendimento luterano é uma forma pela qual Deus distribui de sua igreja, especialmente para aqueles que depois do
a graça que salva e dá remissão dos pecados àqueles que batismo cometeram algum pecado grave e assim perderam
são membros da igreja. Eles batizam os adultos que creem e a graça batismal. O sacramento da penitência, dessa forma,
os infantes para que lhes seja removido o pecado original. A oferece uma nova chance de salvação.
Confissão de Augsburgo, que é seguida por luteranos, afirma
no seu artigo IX que: “Do batismo se ensina que é necessário
e que por ele se oferece graça; que também se devem batizar O ponto essencial em que diferem a posição luterana e a
crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a católica é que a posição luterana entende que o batismo é
ineficaz, a menos que a fé já esteja presente. Já a posição

20
católica entende que o batismo concede graça pelo ato Batismo como sinal e selo da aliança
em si. Essa é diferença entre ex opere operato e ex opere
operandi. Os católicos acreditam no ex opere operato, pela Presbiterianos tradicionais entendem que o batismo é um
operação em si da coisa que algo acontece, enquanto os sinal e um selo da aliança que Deus faz com seu povo.
luteranos creem no ex opere operandi, por meio daquele que Apesar de também chamarem de sacramento, o batismo e
opera, o Deus vivo. Ou seja, a posição luterana entende que também a ceia, eles não os entendem como meios de graça,
a fé é um pré-requisito, enquanto a católica entende que o mas como “sinais e selos visíveis de algo interior e invisível,
ato do batismo é suficiente por si só. O batismo infantil, para mediante os quais Deus atua em nós pelo poder do Espírito
os luteranos, tem justamente a função de remover o pecado Santo” (Confissão Belga, artigo 33). O batismo, e, como
original da criança, porque ela não pode exercer fé e estaria veremos mais adiante, a ceia, no entendimento presbiteriano,
sujeita à condenação, por isso essa mancha do pecado é um selo da aliança que Deus estabeleceu com a
original deve ser removida por meio da purificação batismal. humanidade. Eles seguem a Confissão de Fé de Westminster
(CFW), que afirma o seguinte:
Batistas, de uma forma geral, também acreditam no batismo
como meio de graça, mas não como luteranos ou católicos. O batismo é um sacramento do Novo Testamento,
Eles entendem que o batismo é uma das formas como a instituído por Jesus Cristo, não só para solenemente
graça de Deus se manifesta na vida daquele que é salvo. admitir na Igreja a pessoa batizada, mas também para
O batismo concede graça, porque a obediência concede servir-lhe de sinal e selo do pacto da graça, de sua união
graça. É um ato de obediência a Deus de declaração pública com Cristo, da regeneração, da remissão dos pecados e
de fé. A declaração pública de fé aos homens é uma das também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo a
formas como Deus concede graça a cada um de nós. Para os fim de andar em novidade de vida (XXVIII. 1-7).
batistas, o batismo é um meio de graça no sentido em que
Deus a manifesta por causa da obediência do rito público de
declarar fé em seu nome. O batismo é o sinal e selo da aliança que dá certeza ao fiel
das promessas de Deus. A aliança é a base da justificação e
salvação, já o batismo é o ato de fé por meio do qual somos
introduzidos nessa aliança e, dessa forma, experimentamos

21
seus benefícios. Eles batizam crianças por entenderem que batistas, o batismo é um rito de iniciação que torna o fiel
os filhos dos crentes são herdeiros da aliança. Na medida em um membro da igreja local e pressupõe a fé e a salvação.
que essa criança crescer e manifestar a fé, ela confirma sua O batismo é como os discípulos são feitos (Mt 28.19-20).
fé através de confissão pública. Adultos que creem também Ele não é entendido como sacramento, porque não causa
devem ser batizados. Ainda que o modo pelo qual o batismo mudança espiritual nem comunica graça, diferente da graça
seja ministrado seja geralmente a aspersão, presbiterianos que é manifesta dentro da obediência, mas uma ordenança.
concordam de forma geral que o mais importante são as Os crentes praticam o batismo porque Jesus ordenou
consequências do batismo. O batismo não é a mera entrada que assim o fosse. Isso não significa que o batismo não
na igreja, mas é uma forma de comunicar as bênçãos comunica graça, mas é uma comunicação de graça como
alcançadas pela fé em Cristo. Ele é um meio de graça para a outras comunicações de graça que Deus nos concede
fé do crente. através da obediência.

Presbiterianos entendem que crianças devem ser batizadas Aqueles que vão se batizar já devem ter sofrido o novo
porque Deus abençoou Abraão e a sua descendência (Gn nascimento e o testemunham por meio do batismo. Eles
17.7). Essa aliança vigora até hoje. Assim, os crentes do NT devem crer em Cristo e evidenciar sinais de regeneração.
são herdeiros espirituais dessa aliança (At 2.39; Rm 4.13- Não é propriamente tarefa da igreja ou daquele que ministra
18; Gl 3.13-18; Hb 6.13-18). Uma vez que as crianças no o batismo julgar o candidato, mas há uma obrigação de se
AT eram circuncidadas como testemunho da aliança, as certificar de que ele entendeu o significado e importância do
crianças dos crentes de hoje também devem ser. O batismo batismo. Aqueles que devem ser batizados são os que creem
é um substituto da circuncisão. É por isso que esse grupo é (Mt 28.19; At 2.37-41; 8.12; 18.8; 19.1-7). Segundo essa
chamado de pedobatista, porque batizam infantes. visão, o batismo infantil não tem embasamento claro e é
argumentado em cima de inferências, suposições e silêncio.
Batismo como símbolo da salvação
Acerca do modo, há variação de opiniões. Alguns são
A terceira posição entende o batismo como um símbolo restritos quanto ao modo, sendo por imersão, porque esse
ou uma indicação externa da salvação do crente. Para os modo simboliza a morte do velho homem e ressurreição
para a nova vida. Já outros, como os menonitas, praticam o

22
batismo de crentes, mas de modo diferente da imersão. É por
isso que, independente do modo, esse grupo é chamado de
credobatista, porque batizam mediante uma fé já confessada.
Pedobatistas são aqueles que batizam crianças. Muitos
batizam por imersão – mergulhando na água – outros por
aspersão – lançando um pouco de água na cabeça – ou por
efusão – derramando um pouco de água. O importante é o
que batismo se dá em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, de
forma a glorificar o nome do Filho, convocando a presença
daquele em quem somos batizados, a Trindade.

23
6. A CEIA DO SENHOR

​J
esus instituiu a Ceia para os seus discípulos. Por causa disso, é importante que entendamos sua importância, os pontos
de concordância e discordância entre as denominações cristãs.

24
PONTOS DE CONCORDÂNCIA bebe para a própria condenação. É ilógico que alguém que
não creia que Cristo é salvador celebre aquilo que relembra
Os Evangelhos nos mostram Jesus instituindo a Ceia o seu ato redentivo, porque, se ela não crê, o que acontece
(Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19-20). Paulo também é que ele está comendo a própria desgraça. Ele rejeita o
apresenta um relato de instituição semelhante ao sangue, rejeita o corpo, rejeita a salvação, mas come e bebe
apresentado nos Evangelhos (1 Co 11.23-29). O verbo aquilo que simboliza e que celebra essa morte e ressurreição.
“recebi” [παραλαμβάνω - paralambano] sugere que isso Então, esse indivíduo estaria comendo e bebendo a própria
tenha sido transmitido por outros. Provavelmente, Paulo condenação, porque rejeitar a Cristo é ser condenado por
recebeu isso dos apóstolos por meio de tradição oral. Isso ele. O corpo que comemos representa o corpo que foi
nos mostra que a tradição da Ceia já era vigente antes da partido. Assim como o pão é mordido e mastigado, o corpo
composição do primeiro Evangelho. Dessa forma, também de Jesus foi partido e mastigado por nós. O suco ou vinho
constatamos a necessidade de que ela seja repetida. Ainda que tomamos representa o sangue da nova aliança que foi
que somente no texto de Lucas esteja o texto “fazei isso em derramado por nós.
memória de mim”, cremos que, porque o texto é inspirado, a
Ceia deveria ser uma tradição transmitida pelos discípulos. PONTOS DE DISCORDÂNCIA
Paulo também inclui a ordem e acrescenta que devemos
repeti-la até a volta de Cristo (1 Co 11.24-26). A Ceia aponta Acerca da natureza da presença de Cristo, há pontos de
para o passado ao representar a morte de Cristo. Ela também discordância que devem ser avaliados.
tem significado presente por celebrar a comunhão da igreja
e aponta para o futuro, porque um dia celebraremos a Ceia
juntamente com Cristo. Uma vez que celebra a salvação por A posição católico-romana formulada no Concílio de Trento
meio da morte de Cristo, a Ceia é restrita àqueles que nisso (1545-1563) é a base de fé para o entendimento de muitas
creem. A Ceia não pode ser celebrada por descrentes, porque doutrinas católicas, inclusive a Ceia. A ICAR defende que há
eles não creem em Cristo. É preciso que uma pessoa creia, uma transubstanciação dos elementos, ou seja, ainda que
arrependa-se e saiba seu significado, para que coma o pão o pão e vinho tenham aparência, gosto e forma de pão e
e beba o vinho. Se ela o faz sem entender, sem discernir o de vinho, há uma transformação metafísica nos elementos
corpo, o faz em pecado, sem arrependimento, ela come e quando o sacerdote ministra durante a ceia e eles passam a

25
ser o corpo e o sangue de Cristo. Ou seja, o pão e o vinho se elementos não se transformem no corpo e sangue de Cristo,
transformam em sua essência, respectivamente, no corpo e na Ceia estão realmente o corpo e o sangue de Jesus,
no sangue de Cristo. Segundo o catolicismo, a Ceia também segundo a posição luterana. Os benefícios espirituais da ceia
é um ato sacrificial. Durante a missa, há um sacrifício de advêm da fé de uma pessoa.
Cristo por seus fiéis que faz propiciação, satisfazendo as
demandas de Deus. Dessa forma, há expiação de pecados A posição de Calvino defende que Cristo está presente
imperdoáveis. Por causa disso, a pessoa deve examinar- espiritualmente na Ceia. Assim, os crentes comem
se seriamente antes de participar para que não profane verdadeiramente pão e vinho em todos os aspectos, mas
o sacramento. Segundo a ICAR, somente um sacerdote Cristo irradia sua presença espiritual à Ceia assim como o
ordenado pode consagrar a hóstia. Sem ele, os elementos Sol irradia seus raios. O benefício da ceia não é gerado por
permanecem como são. Porém, com a correta ministração, aquele que a ministra, mas é dado pelo próprio Cristo. Assim,
eles se transformam no corpo e sangue de Cristo. na Ceia, o fiel recebe a vitalidade de Cristo por meio da fé.

A posição luterana rejeita essa ideia de que o pão e o Ulrich Zuinglio entende que a Ceia é simplesmente um
vinho se transformam no corpo e sangue de Cristo, mas memorial da morte de Cristo. O pão e o vinho continuam
entende que o corpo e sangue estão presentes “em, com sendo o que são. O corpo e o sangue não estão presentes na
e sob” o pão e o vinho. Esse entendimento é chamado de ceia e não há presença de Cristo na ceia, diferente daquela
consubstanciação. O corpo e o sangue passam a estar que há em outras ocasiões. Ou seja, a posição zuingliana não
presente fisicamente nos elementos, mas os elementos não nega que Cristo esteja presente espiritualmente na Ceia, mas
se tornam o corpo e o sangue. Por Cristo dizer “isto é o meu não afirma que há presença espiritual especial na Ceia que
corpo...isto é o meu sangue”, a posição luterana entende é ministrada aos crentes que seja diferente da que já ocorre
a presença física deles nos elementos. Lutero rejeitou o durante a vida deles. Assim, os fiéis relembram o sacrifício
aspecto sacrificial da missa: Cristo morreu de uma vez por de Cristo, entendendo sua importância e valor durante a
todas por nossos pecados e não precisa ser “ressacrificado”. Ceia. Não há também papel especial sacerdotal nem um
Ele também rejeitou o sacerdotalismo: a presença do corpo ressacrifício durante a ceia. A ceia é uma proclamação da
e do sangue não se dá por causa da presença do sacerdote, fé do crente que entende ter sido salvo por Cristo e que está
mas por causa do poder de Cristo. Assim, ainda que os unido a um corpo.

26
Em muitas igrejas, o batismo é um pré-requisito para Ceia.
Sem ser batizado, não é possível cear. O batismo, como
declaração pública de fé, é o que dá autorização para
participar da Ceia do Senhor. Os elementos da Ceia são muito
importantes. Muitos julgam que os elementos podem ser
mudados (em vez de pão e vinho, outros elementos). A Ceia
provém diretamente de um rito judaico da Páscoa. A partir dela
é que eles comiam pão, tomavam vinho, comiam o cordeiro.
Por causa disso, há o ato de comer do pão e beber do vinho
como uma representação daquilo que Jesus fez. Por isso, os
elementos são importantes.

O termo vinho no NT faz referência ao sumo da uva. Sabemos


que eles tomavam vinho velho, que é alcoólico. O vinho novo,
que ainda não foi fermentado, também é elemento da Ceia e
poderia ser tomado sem nenhum problema. Usar suco não é
mudar o elemento da Ceia porque o suco da uva, que é o sumo
não fermentado, também seria chamado de vinho no NT. Por
mais que seja óbvio que eles ceassem com vinho velho (1 Co
11), igrejas batistas que não usam vinho não estão trocando
os elementos.

Em contextos missionários difíceis, elementos podem


ser adaptados, mas sempre tentando preservar alguma
semelhança com elementos da Ceia tradicional. Trocar os
elementos da ceia por outra coisa, ou adicionar algo, é quebrar
a representação que a ceia tem dentro do cristianismo.

27
7. PANORAMA DOS CREDOS E CONFISSÕES

A
o longo da história da igreja, vários credos e
confissões surgiram para sintetizar a crença dos
discípulos de Jesus. A própria Bíblia nos apresenta
alguns credos do povo de Deus. O Shemá (Dt 6.4-9) é
considerado um credo do povo judeu. Ele deveria ser repetido
três vezes por dia e era usado como liturgia nas sinagogas.
No NT, temos vários indícios da existência de um corpo de
doutrinas que era compartilhado com a igreja (At 2.42; 2
Ts 2.15; 1 Tm 1.19; 6.20; 2 Tm 1.13-14; Tt 1.13; Jd 3). “Os
credos em princípio não pretendem ser uma exposição
exaustiva da fé, antes consistem numa declaração de fé dos
pontos considerados essenciais à existência da Igreja Cristã”
(COSTA, 2014, p. 44).

Muitas igrejas possuem credos e confissões. São


documentos que registram aquilo em que se acredita acerca
de Jesus. Temos a Bíblia como a nossa regra normatizadora,
mas também alguns credos.

Os credos e confissões têm duas funções básicas: doutrina


e liturgia. Como doutrina, credos e confissões servem
como ensino proposicional de assuntos que competem à fé

28
cristã. Eles também servem para combater falsos ensinos CREDO ATANASIANO
e dar identidade à igreja para que ela seja diferenciada de
outras denominações e até mesmo seitas ou falsas igrejas. Segundo a tradição, teria sido escrito por Atanásio (295-
Credos e confissões dão uniformidade aos convertidos para 373 d.C.) refletindo a teologia dos quatro primeiros sínodos
que estejam alinhados seguindo um mesmo propósito. E ecumênicos em várias sentenças. Atanásio teria escrito
também, quando credos e confissões são memorizados, eles esse credo durante seu exílio em Roma e foi oferecido ao
podem ser recitados como exercício da fé e, assim, fortalecê- Papa Julius como confissão de fé. Porém, essa hipótese tem
la. Liturgicamente, os credos e confissões podem ser citados sido rejeitada desde que Gerhard Jan Vossius (1577-1649)
em batismos, ceia e no culto. O simples rito de declarar “creio apresentou pontos que contrariavam essa ideia. Desde então,
no Pai, no Filho e no Espírito Santo” no momento do batismo a teoria mais aceita é a de que o Credo foi escrito por volta
é um credo. do ano 500 e ainda sua autoria é contestável. Esse credo
enfatiza a cristologia e a defesa da doutrina da Trindade
CREDO APOSTÓLICO segundo os Concílios de Nicéia (325), Constantinopla (381) e
Calcedônia (451) e reflete a teologia de Agostinho (354-430
O Credo Apostólico não teve sua origem nos apóstolos, d. C.). Esse credo foi muito usado na Idade Média e pelos
como pode se pensar, mas é derivado do conteúdo do ensino Reformadores, sendo referenciado pelas confissões luteranas
apostólico. Ele tem sua origem no Credo Romano Antigo do (Augsburgo e Fórmula de Concórdia) e reformadas (Trinta e
século II e sofreu alguns acréscimos de declarações, vindo à Nove Artigos, Primeira e Segunda Confissão Helvética, Belga,
sua forma final por volta do século VII. Ele era usado para a Gaulesa), exceto a Confissão de Westminster.
preparação dos que seriam batizados e também servia para
a devoção privada dos cristãos. Depois, ele passou a ser CREDO NICENO-CONSTANTINOPOLITANO
recitado em culto público. No século IX, foi sancionado pelo
imperador Carlos Magno para uso na igreja e, então, o Papa o O Credo Niceno foi elaborado no Primeiro Concílio Ecumênico
inseriu na liturgia da ICAR. de Nicéia (325). O Concílio foi convocado pelo imperador
Constantino para resolução do conflito sobre o arianismo.
Em 381, o imperador Teodósio I convocou o Concílio de

29
Constantinopla, o qual ampliou o Credo Niceno que passou surgir várias denominações diferentes que precisavam de
a ser chamado de Credo Niceno-Constantinopolitano. Esse diferenciação entre si. Assim, as Confissões e Catecismos
credo “revisto e atualizado” foi lido e aprovado no Concílio também foram úteis para distinções internas.
de Calcedônia (451). Atualmente, ele é utilizado em igrejas
luteranas e anglicanas. As Confissões e Catecismos elaborados visavam à
preservação da sã doutrina e buscavam tornar clara e
CREDO DE CALCEDÔNIA objetiva a fé dos crentes. A primeira obra a receber o nome
de Catecismo foi de Andreas Althamer, um reformador
Em 451, a cidade de Calcedônia realizou o Quarto luterano, em 1528. Porém, Lutero ficou mais conhecido com
Concílio Ecumênico. Além de ratificar o Credo Niceno- seu Catecismo Maior (abril de 1529) e Catecismo Menor
Constantinopolitano, teve o objetivo de estabelecer uma (maio de 1529). Em seu prefácio, Lutero fala das motivações
unidade teológica na Igreja. Esse Concílio rejeitou o que o levaram a escrevê-lo e em cada capítulo sempre
nestorianismo e o eutiquianismo ao formular o Credo de inicia com expressões como “Como o chefe de família deve
Calcedônia. ensiná-lo à sua casa” ou semelhantes, evocando, assim,
a responsabilidade de instrução da Bíblia em casa como
iniciativa do homem.
PERÍODO DA REFORMA

Calvino também elaborou um catecismo (1536-1537).


Uma vez que até o século V a igreja precisava firmar sua Diferentemente do que Lutero fez, este não era composto
identidade diante de heresias, sendo os credos, por isso, de perguntas e respostas, mas da forma que julgou ser
elaborados, durante o período da Reforma Protestante, a mais acessível a toda a igreja. Ele o nomeou de Instrução e
igreja precisou se distinguir da ICAR e de seus ensinos. Confissão de Fé, Segundo o Uso da Igreja de Genebra. Sendo
Nesse contexto, as Confissões e Catecismos foram originalmente escrito em francês, foi traduzido para o latim
elaborados nos séculos XVI e XVII como uma formulação em 1538. Calvino revisou sua obra quando passou um tempo
doutrinária que visava a resgatar conceitos bíblicos que em Estrasburgo e, por causa disso, sua teologia passou a ser
foram perdidos, deturpados ou negligenciados pela ICAR. acessível às crianças, especialmente entre 10 e 15 anos. Ele
Além desse resgate de doutrinas bíblicas, a Reforma fez a ampliou e mudou a sua forma que passou a ter perguntas e

30
respostas, contendo 373 questões. consistiu dos Artigos de Schwabach e a segunda parte
dos Artigos de Torgau. A Confissão visava a fazer uma
Essa nova versão foi publicada em 1541 e em 1545 foi declaração luterana conjunta para que os luteranos
lançada a versão latina. A partir de 1561, o catecismo passou encontrassem união. Era Felipe Melanchton que estava
a ganhar maior importância, porque o ministro da igreja preparando o documento e Martinho Lutero era consultado
deveria jurar fidelidade a seus ensinos e comprometer-se a por cartas. As emendas e revisões resultaram na Confissão
ensiná-los. de Augsburgo que em 25 de junho de 1530 foi assinada por
sete príncipes e pelos representantes das cidades livres.

CONFISSÃO DE AUGSBURGO
FÓRMULA DA CONCÓRDIA

O Imperador Carlos V convocou em 21 de janeiro de 1530


uma dieta imperial que deveria se reunir em Augsburgo, Foi elaborada em 1577 é uma reiteração da Confissão de
Alemanha, para discutir operações militares contra os turcos. Augsburgo para solucionar pontos de desacordo entre os
Para isso, as diferenças religiosas provenientes da Reforma teólogos envolvidos nela. Já em 1580, o livro da Concórdia
precisariam ser deixadas de lado para que houvesse uma foi elaborado como sendo o conjunto completo de manuais e
cooperação entre os príncipes e representantes. Ele pediu documentos luteranos.
para os teólogos de Wittenberg produzissem um material
com o conjunto de crenças de sua terra. Um ano antes, havia CONFISSÃO DE WESTMINSTER
sido produzido um material chamado Artigos de Schwabach
e agora bastava ver o que foi introduzido nas igrejas da Em 1643, William Twisse reuniu teólogos em uma assembleia
Saxônia. Esse material de introduções foi preparado pelos que visava dar maior uniformidade à fé e prática no reino
teólogos de Wittenberg e chamado de Artigos de Torgau, por de Charles I. Inicialmente, eles deveriam revisar os Trinta
ter sido preparado em Torgau. e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, mas acabou tendo
maior especificidade e delineamento de material que
Os Artigos de Schwabach e Torgau foram levados a conduzisse a Igreja da Inglaterra a estar de acordo com a
Augsburgo. A primeira parte da Confissão de Augsburgo Igreja Presbiteriana da Escócia. Ela é dividida em trinta e três

31
capítulos que abrangem vários elementos da fé cristã. Ela é SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA
tradicionalmente confessada em igrejas presbiterianas.
Esse documento foi escrito por Johann Heinrich Bullinger,
PRIMEIRA CONFISSÃO HELVÉTICA que procurou unir as tradições protestantes alemã e suíça.
Ela mantém a mesma estrutura da Primeira Confissão,
A Primeira Confissão Helvética também é conhecida como sendo redigida por Bullinger. Em 1565, o príncipe Frederico
Segunda Confissão Batista. Duas coisas a motivaram: uma III pediu que Bullinger desse uma descrição detalhada da fé
convocação de um concílio feita pelo Papa Paulo III para reformada para que fosse apresentada no Parlamento. Em 12
reunir-se em Mântua em 1537 e a tentativa reconciliação de março de 1566, ela foi apresentada e aceita pelos cantões
dos reformadores Martin Bucer e Wolfgang Capito de unir reformados e depois propagada pela Escócia, Hungria,
zwinglianos e luteranos. Assim, entre 1 e 4 de fevereiro Holanda, Polônia e Inglaterra.
de 1536, vários teólogos se reuniram em Basiléia. Os
reformadores eram: Henrique Bullinger e Leo Jud, de CÂNONES DE DORT
Zurique; Osvaldo Micônio e João Grineus, de Basiléia; Gaspar
Megander, de Berna; e, claro, Bucer e Capito. Em 27 de março Um dos principais documentos de tradição calvinista é
do mesmo ano, a confissão foi aprovada. Nessa Confissão, exatamente os Cânones de Dort. O Sínodo de Dort teve
todas as cidades suíças de língua alemã que aderiram à 180 sessões entre 13 de novembro de 1618 e 29 maio de
Reforma estavam em acordo na sua fé. Ela é considerada de 1619 visando a dar uma resposta à controvérsia trazida
alta estima no meio zwingliano, sendo a primeira confissão pelos seguidores de Jacó Armínio, um aluno de Teodoro de
com autoridade nacional. A Confissão não foi apresentada Beza. Conhecidos como os remonstrantes, os discípulos de
em Mântua, porque o concílio convocado pelo Papa só Armínio começaram a questionar a relação da predestinação
veio ocorrer em 1545 em Trento e não uniu reformados e na salvação do homem. O Sínodo convocou 58 pastores
zwinglianos, mas continuou por muito tempo como um de provícias e 28 teólogos de diversas cidades inglesas,
forte documento de fé dos reformadores suíços. Trinta anos escocesas, alemãs e suíças. Os Cânones de Dort foram
depois, ela foi substituída pela Segunda Confissão Helvética. preparados como uma resposta aos remonstrantes e contam
de 59 artigos divididos em cinco tópicos. As declarações

32
de Dort podem ser resumidas no famoso acróstico TULIP:
Total Depravation (Depravação Total); Uncondicional
Election (Eleição incondicional); Limited Atonement
(Expiação Limitada); Irresistible Grace (Graça Irresistível); e
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).

33
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- MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica,


bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo:
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